CAPÍTULOS: [capítulo único]





Capítulo único


Cleo. Jodie. Romee. Maxine. Devon. Juntas, essas cinco garotas que ganharam o mundo são tudo que você sempre quis ser, ou ter. Com um repertório cheio de ritmo, beleza e poder, as garotas da Sparkly ocupam majestosamente o lugar de maior girlgroup da história da humanidade há mais de cinco anos, tendo batido todos os recordes até hoje e não demonstrando indício algum de que isso mudará tão cedo. Absolutamente nada as segura.
Você, que está assistindo, estaria mentindo para si mesmo se dissesse que nunca quis ter algo que essas garotas têm a oferecer. Desde sua beleza, amizade invejável, talento e individualidade, até as experiências que suas músicas originais nos contam, soando como hinos na voz da girlgroup mais talentosa que já pisou nessa Terra.
Mas que tal conhecer um pouco mais sobre cada uma dessas Beyonces do mundo dos grupos?


- É simples! Nós queremos nos separar! – Maxine gritou, batendo as mãos na mesa de madeira da sala de reuniões. – Qual a merda da dificuldade em entender?!
Aquilo estava virando um caos. Estavam ali desde cedo da manhã, sem conseguirem nem encontrar um modo de conversar sem que a outra começasse a berrar e iniciasse mais uma rodada interminável de discussões onde ninguém parava de falar para ouvir o que a outra dizia.
- Ah, e quem é você para falar sobre dificuldade em entender, não conseguiu nem manter sua boca suja longe do homem dos outros. – Devon rebateu.
E a gritaria começou de novo.
Jodie levou as mãos à cabeça, e apoiou-a na mesa. Não aguentava mais estar ali. Ela era a única de todas que não queria estar ali, e que parecia estar vivendo o pior dia de sua vida. Todas as suas melhores amigas, com quem passava todos os dias, que eram praticamente sua família, estavam ali gritando umas com as outras e querendo acabar com o sonho que elas todas viviam há anos, e que só demonstrava estar ficando melhor a cada dia – até aquilo acontecer.
- Sabemos que existe um contrato! – Romee gritou, de algum modo cessando a voz das outras, olhando para nosso empresário e os cinco advogados ali presentes. – Sabemos que envolve uma tonelada de dinheiro! Nós sabemos! O que nós queremos saber é como quebrar esse contrato o mais rápido possível, porque tenho certeza que todas aqui estão dispostas a pagar o que for para sair daqui sem precisar olhar na cara uma da outra por mais um dia!
- Todas, não. – Jodie retrucou, séria.
No mesmo segundo, as quatro garotas começaram a metralhá-la com explicações e tentando fazer com que ela entendesse o ponto de vista de cada uma, enquanto culpavam umas às outras por coisas absurdas.
Ela não entendia. Quer dizer, sabia mais ou menos o motivo de cada uma, pois ela sempre fora a mais responsável ali e sempre fora aquela para a qual suas amigas se voltavam quando precisavam conversar. Mas ao mesmo tempo em que sabia da versão de todas, ela não conseguia fazer a história se encaixar em sua cabeça, e não conseguia se fazer ser ouvida por ninguém naquela sala. Tudo que sabia era que o único responsável pela separação da maior girlband da atualidade – e pela separação de suas girl friends, também – era ele.
Aquele otário dos infernos.

Cleo
Conhecida como a weirdo do grupo, era assim que Cleo era chamada durante sua infância, devido à sua originalidade e fuga do padrão. Sendo uma das compositoras mais fortes do grupo, ela chama atenção não apenas por sua beleza natural e singular, mas também por sua excepcional criatividade, e por sua voz rouca e profunda, que dá a todas as músicas do grupo um ar de mistério capaz de arrepiar. Apesar de não demonstrar essa parte na frente das câmeras, ela tem um enorme coração e é muito carinhosa com as amigas, que significam tudo para ela, e os fãs do grupo bem sabem.

“A reunião já devia ter começado há alguns minutos, mas como já era esperado, Scott estava atrasado. Cleo odiava aquele tipo de famoso metido a besta, e olha que ela tinha tudo para ser daquele jeito... menos a falta de respeito e consideração, é claro.
A garota olhou em volta, para as quatro amigas dispersas pela sala de reunião bem iluminada, cada qual fazendo alguma coisa enquanto esperavam. Agradecia por suas amigas e colegas de grupo não serem assim, também. Maxine e Devon às vezes davam ataque de estrelismo, mas todas elas sabiam que aquilo era sempre decorrente do cansaço, e ninguém da equipe levava para o pessoal. Além disso, Cleo não conseguia pensar em uma só vez em que ela ou qualquer de suas amigas foi estúpida com um fã, ou se recusou a tirar uma foto ou assinar um autógrafo, mesmo depois de mais de cinco anos.
Por outro lado, o garoto em questão que estavam esperando era exatamente o oposto. Típico famosinho problemático, Scott Dempsey era o próprio rei do mundo do pop atual, dono do coração de legiões de fãs malucas e insensatas, que perdoavam absolutamente todas as maluquices daquele babaca como se ele fosse o próprio Deus. Envolvimento com drogas e prisão por brigas e agressão a paparazzi eram apenas alguns da lista interminável de escândalos dos quais ele já fizera parte. Claro que, para Cleo, o fato de o cara ser um protótipo atlético, moreno e forte, de um metro e noventa, com traços latinos e um sorriso para lá de presunçoso, não o tornava nem um pouco menos babaca ou responsável por seus próprios atos. Mas para todo o resto do mundo, isso parecia dar a ele o aval para fazer o que diabos ele quisesse.
A equipe do garoto tinha sorrisos amarelos e olhares sem graça para as meninas e a equipe delas, enquanto esperavam por algum sinal do garoto que agora estava vinte e cinco minutos atrasado, enquanto a assistente pessoal do garoto andava para lá e para cá fora da sala tentando conseguir com que ele atendesse o celular.
Então, de repente, a porta foi aberta e ele irrompeu para dentro tirando os óculos de sol e se atirando em uma das cadeiras giratórias da mesa de reunião, sem se importar em pedir desculpas pelo atraso.
Todas as garotas e a equipe delas se entreolharam por um momento enquanto as meninas que estavam em pé tomavam seus lugares também, para finalmente começar aquela reunião. As cinco tinham uma entrevista de rádio seguida de um ensaio de fotos para a Vogue do mês que vem em menos de uma hora.
- Ok, como todas as partes estão aqui agora, podemos finalmente começar a conversar sobre essa parceria musical que fará parte do próximo álbum das garotas. Já temos em mãos uma música composta por Bruno Mars, e mais alguns esboços que Jodie e Romee apresentaram...
A reunião não se estendeu muito, e logo depois que escolheram como música a composição de Bruno Mars, por se caracterizar mais como um single – porque a das garotas era romântica demais, e não tinha espaço para tantos vocais assim – todas as partes assinaram o contrato de featuring musical, depois de passarem rapidamente pelas clausulas mais importantes: as que envolviam a divisão dos lucros em cima do single, e as que estabeleciam que a música era tecnicamente de propriedade das garotas, por estar em seu álbum, e por isso elas podiam cantá-la ao vivo sem ele, mas não ele sem elas.
Algumas partes do contrato já estavam devidamente acertadas, então eles se levantaram quando a equipe de ambas as partes pediram para fazer uma pausa e cada um foi para um canto. Cleo foi tomar um copo de água do filtro no canto da sala, e aproveitou para olhar a vista da cidade dali, completamente exposta pela grande janela de vidro que ia do teto até o chão da sala. New York parecia especialmente agitada naquele dia.
- Lugar legal, huh? – Ouviu uma voz masculina falar atrás de si, e apenas riu fraco. Não acreditava que dentre todas elas, ele perderia tempo tentando conversar justo ela, talvez a menos suscetível a cair em seu joguinho ali. Cleo tomou um gole da água e balançou a cabeça ao ver por sua visão periférica o garoto parar ao seu lado, com as mãos nos bolsos. – Nunca me acostumo com esse tipo de vista.
- Não perca seu tempo. – Ela disse, puxando o olhar curioso do garoto para ela. Olhou para ele pela primeira vez. – Você está tentando enrolar a garota errada.
Scott abriu um sorriso de canto, daqueles que seria capaz de fazer qualquer uma de suas fãs perderem a função das pernas. Cleo sentiu uma leve entorpecência no fundo do estômago.
- O que te faz pensar que me aproximei com intenções tão impuras?
- Conheço o seu tipo.
O garoto passou a língua pelos lábios e se virou para ela, Cleo podia ver o ar de desafio nos olhos selvagens do garoto.
- Bem, você sabe o que dizem. Existe conquista mais valiosa do que aquela única pessoa que não te quer?
Ela riu fraco e soltou o copo no canto da mesa.
- Me avise quando descobrir. – Disse, já virando as costas.
- Hum, na verdade... – Ele disse antes que ela se afastasse. – Sinto muito se passei a impressão errada, mas eu só tinha a intenção te perguntar se sabe onde fica o banheiro?
Cleo estacou no lugar, e virou devagar para encarar o garoto, com um olhar um tanto incrédulo e meio duvidoso. Viu o sorriso provocativo estampado no rosto do garoto que a encarava.

As costas de Cleo bateram na parede gelada e ela soltou um gemido, parte por isso e parte por sentir as mãos ágeis e firmes de Dempsey abrirem os poucos botões que haviam no decote de sua blusa. Quando percebeu que aqueles botões eram meramente figurativos, ele não hesitou em descer as mãos pela cintura da garota e arrancar a blusa de seu corpo delineado, descendo os lábios macios por seu pescoço e clavícula até seus seios, beijando a parte deles que estava descoberta por cima do sutiã. A garota subiu as mãos por sua nuca até seus cabelos perfeitamente alinhados – mas que não ficariam assim por muito tempo. Sua pele morena, quente, convidativa a impedia de controlar seu corpo mesmo que ela quisesse. Sua vida era ótima, mas era sempre tão regrada e cheia de reuniões insuportáveis como aquelas. Quando teve a oportunidade de um sexo quente com o cara mais desejado do século, ela não conseguiu evitar. E o garoto era tão maravilhosamente bom naquilo, dando jus à sua fama, que ela nem conseguiu se importar em estar indo contra seus posicionamentos sobre pessoas como ele.
Scott afastou as pernas da garota puxando-a um pouco para frente pelas coxas, e ela sentiu a saia escorregar em cima da pia de mármore do banheiro masculino. Sabia que ninguém entraria ali, pois eles subiram no andar de cima, que estava vazio. Ele continuou com o rosto enterrado no pescoço da garota enquanto subia sua saia com a ajuda dela, e quando menos esperava Cleo sentiu sua calcinha escorregar por suas pernas e ser jogada em qualquer lugar no chão do banheiro. Ela se posicionou mais na ponta do mármore, e suas mãos procuraram o cinto da calça de Dempsey, o abrindo e fazendo o mesmo com o botão e o zíper, deixando o caminho livre para ela.
Entre gemidos e beijos abafados, ambos lutavam para respirar sem desgrudar a boca um do outro. Quando seus corpos se juntaram, Scott segurou com força os cabelos da nuca de Cleo e ela soltou outro gemido, apertando seu ombro.
- Você é tão boa... – ele murmurou em seu ouvido e ela abriu um sorriso.
- Sem conversinhas.
Quando acabaram, ainda ofegantes, Cleo apenas apoiou-se no mármore e abriu os olhos quando sentiu Scott passar as mãos nos cabelos dela e beijar sua testa, antes de descer os lábios para sua boca.
- Eu sempre vi você por aí. Em fotos, eventos, revistas. Sempre sonhei com isso, com você. – Mordeu o canto do próprio lábio, fazendo um arrepio percorrer pela espinha de Cleo com aquele pequeno gesto. – Mal acredito que aconteceu. – Ele balançou a cabeça e ela o olhou, não acreditando no que ouvia. Ela? Entre todas as outras garotas, entre todas as outras modelos e famosas que já foram vistas com ele? E ele tinha desejos sobre ela? Ela abriu um sorriso satisfeito.
Mal podia esperar para a próxima vez que o veria, graças ao contrato que estavam terminando de fechar no andar debaixo.”


Devon
Devon era a Barbiezinha. Vaidosa, perfeccionista e perfeitinha, a garota era vista como a líder do grupo pelo fato de sempre estar no meio de todas e ganhar os maiores mimos de todas as outras quatro, como uma boa leonina. Mas engana-se quem a vê apenas como a bonita, com seus longos cabelos ruivos, pois Dev também é extremamente inteligente, humilde e carinhosa, além de ser a que mais se importa e sente falta da família e de casa quando está longe. Devon, com seu coração de ouro e sua beleza digna de um trono, prova que além de ser a princesa do grupo, também é o cérebro, pois a gata surpreende ao lembrar que, com apenas vinte e dois anos, já é formada em jornalismo e foi considerada uma garota prodígio pela escola e pela faculdade em que estudou.

“- Ah, qual é... – Maxine soltou uma gargalhada, jogada em um sofá de dois lugares que havia ali, atrás do palco do Sirius XM que estava pronto para recebe-las em alguns minutos. As garotas já podiam ouvir o fuzuê de cada vez mais fãs chegando lá fora e se aproximando do palco, enquanto gritavam e pediam por elas em um coro de “Sparkly” e outras coisas bobas que significavam para elas junto da fanbase.
Romee estava sentada/deitada em um dos pufes dispersos no chão naquela pequena área do backstage que foi reservada para que elas descansassem e aquecessem a voz. Ela comia uma maçã verde e ria do que as amigas diziam, tirando com a cara de Cleo. Era tão difícil manter uma dieta saudável e natural estando naquela vida louca e corrida que tinham, principalmente para ela, que além de vegana, se recusava a comer qualquer coisa processada ou industrializada.
- Vocês sumiram por vinte minutos naquele dia, e depois apareceram parecendo a personificação de “sexo selvagem” – Maxine continuou, fazendo todas rirmos e Cleo, que dividia um pufe com Devon, quase sentada em seu colo, revirou os olhos.
Se as fãs vissem aquelas duas sentadas juntas daquela maneira provavelmente morreriam; muitas delas acreditavam verdadeiramente que elas eram um casal por trás das câmeras. Apesar de aquilo ser comum com bandas e grupos, as garotas gostavam e levavam tudo na mais pura das brincadeiras, o que acabava sendo bom para todos os lados.
- É verdade – Jodie concordou, soltando uma risada também quando Cleo voltou-se para ela pedindo ajuda contra as zoações de Maxine.
Romee concordou com a cabeça e Cleo olhou para Dev.
- E o que você acha?
- Bastante falta de respeito que você tenha me traído com Scott Dempsey. Logo você! A “eu nunca ficaria com um babaca daquele tipo”. – Devon gargalhou.
- UGH! – Cleo grunhiu e bateu a mão no rosto deitando a cabeça para trás. – Eu já disse! Fui levar ele no banheiro, e depois conversamos um pouco, e foi só!
Ok, não havia sido apenas aquilo. Ela não sabia por que estavam novamente naquela conversa, já que aquilo já havia sido há dias atrás, mas não queria falar sobre aquilo com as amigas. Ok, Cleo ficou com Scott. Não só uma vez, aliás. Eles ficaram de novo dois dias depois, quando ele deu uma pequena festa apenas com as equipes para comemorar o feat. Estavam todos fazendo um grande alarde em volta daquilo, porque era como se Madonna e Michael Jackson fossem trabalhar juntos, dadas as circunstâncias atuais. O mundo cybernético estava pegando fogo apenas com a hipótese de a notícia de que as Sparkly e Scott Dempsey fossem fazer uma música juntos, aquilo renderia rios e rios de dinheiro para todos os envolvidos. Mas a garota não queria comentar nada com as amigas, porque sabe que elas não entenderiam. Ela contava tudo às garotas, mas ainda não queria dividir aquilo, porque ela com certeza seria julgada, e porque realmente estava gostando do que eles tinham, apesar de ser completamente sem compromisso e apenas físico.
- Por mais de vinte minutos?! – Maxine balançou a cabeça a trazendo de volta à Terra, ainda rindo, se divertindo com toda aquela negação em vão de Cleo. – Vocês foram fabricar o banheiro?
- Olha, quer saber... – Cleo levantou as mãos e se levantou do pufe. – Eu já disse, não rolou nada, e se vocês não acreditam o problema não é meu.
- Uhum. – Romee trocou um olhar risonho com Devon e, um momento de silêncio depois, todas elas caíram na gargalhada.
Cleo bufou e foi para frente do espelho, aquecer a voz.
- Ok, meninas – Jodie levantou-se um momento depois e suspirou. – Vamos aquecer, que tá na hora, logo eles nos chamam.
- Sim, mamãe! – Maxine pulou de pé e bateu continência, antes de sacar o isqueiro e a carteira de cigarros do bolso de trás da calça. – Só vou fumar um antes, não comecem sem mim.
Devon acompanhou a amiga saindo pelos fundos para fora do camarim e comprimiu os lábios. Sentia muito que Maxine estragasse sua saúde assim, mas ela não parecia se importar, e sempre respeitou muito o pedido das garotas de nunca fumar perto delas. Ela e Romee se levantaram e foram aquecer, junto com Cleo e Jodie.

O palco era pequeno perto do que elas estavam acostumadas, com apenas um banco para cada uma e um pedestal com o microfone. Dois músicos ficavam no canto do palco tocando o violão, que era tudo que elas precisavam já que era uma sessão acústica, e na maioria das vezes elas acabavam fazendo versões quase que acapella de seus hits mais atuais, de qualquer modo. Além de duas músicas originais, uma das quais estava, inclusive, indicada ao grammy de best song, elas também interagiram com os fãs, respondendo algumas perguntas e fazendo besteiras, como sempre era, e performaram um cover de Sober, da Pink, que estavam treinando faziam alguns dias para aquela sessão acústica.
Começando por Cleo, com sua voz profunda e grossa, e o tempo todo de olhos fechados, com sua expressão concentrada demonstrando que ela literalmente sentia cada palavra da música, ela introduzia a canção hipnotizando praticamente qualquer pessoa presente com sua voz:
I don't want to be the girl who laughs the loudest Or the girl who never wants to be alone I don't want to be that call at 4 o'clock in the morning 'cause I'm the only one you know in the world that won't be home Ahh, the sun is blinding I stayed up again Oh, I'm finding That's not the way I want my story to end

Então vinha Jodie, com sua voz poderosa, forte e com uma leve rouquidão, e sua excentricidade ao cantar, enquanto gesticulava o tempo todo com as mãos, uma mania que já era dela e todos amavam:
I'm safe up high, nothing can touch me Why do I feel this party's over? No pain inside, you're my protection But how do I feel this good sober?
Maxine seguia após o refrão, com seus solos carregados de ironia e sentimento, seu jeito de cantar encenado e sua mania de mexer nos cabelos revoltados enquanto cantava, levando as fãs à loucura, enquanto na segunda voz Devon fazia um leve couro agudo, como pedia a música:
I don't want to be the girl who has to fill the silence The quiet scares me 'cause it screams the truth Please don't tell me that we had that conversation I don't remember, save your breath 'cause what's the use?

Romee vinha em seguida, com sua voz um tom acima da das outras, diferente e incomum, assim como sua personalidade, mas igualmente poderosa, alcançando seus picos de agudo no final do trecho da música, que só ela seria capaz de fazer com tamanha perfeição e não se igualavam a qualquer outra voz:
Ahh, the night is calling And it whispers to me softly, "you're to blame" I hear you falling And if I let myself go, I'm the only one to blame
O segundo refrão era de Devon, que cantava com tamanha naturalidade que era inacreditável de olhar, quase difícil de acreditar que aquela voz incrivelmente talentosa saísse da boca dela sem esforço algum. Ela cantava enquanto sorria, se divertindo, quase que dialogando com o público, de maneira que pouquíssimas pessoas no mundo da música conseguiam fazer:
I'm safe up high, nothing can touch me Why do I feel this party's over? No pain inside, you're like perfection So how do I feel this good sober?
Essa parte era seguida por Jodie, que novamente usava todo seu poder e destreza em uma parte particularmente difícil da música, sendo acompanhada por Maxine na segunda parte:
Coming down coming down coming down, Spinning round spinning round spinning round Looking for myself, sober
Coming down coming down coming down, Spinning round spinning round spinning round Looking for myself, sober Devon novamente aparecia com sua voz e facilidade inacreditáveis, atingindo com perfeição o ápice da música:
When it's good, then it's good It's all good 'till it goes bad 'till you're trying to find the you that you once had I've hurt myself, cried, never again Broken down in agony Just trying to find a friend Oh

O último refrão fechava a música com um coro das cinco garotas cantando em harmonia, enquanto Romee fazia a segunda voz, sem violão nenhum para ajuda-las, e apenas puxando pequenas palmas da plateia, que as acompanharam até o fim da música, que foi ovacionada assim que acabou.


Acabaram saindo dessa sessão acústica mais relaxadas e preparadas para o resto do dia, que seria puxado. Logo depois de almoçarem, as garotas iriam para o estúdio gravar os primeiros takes da música com Dempsey.
Entraram na van que as levaria para o estúdio onde, se o desejo mais latente de Devon fosse realizado, a comida já as estariam esperando, pronta e quentinha.
- Você acha que ela ficou mesmo com ele? – Max sentou ao lado de Devon nos últimos bancos da van, um pouco afastadas das outras meninas que conversavam sobre algum blog famoso do qual ela não sabia a existência. – Quer dizer, justo ela, a “eu não perderia meu tempo com aquele imbecil”?
Dev abriu um sorriso para a amiga e encolheu os ombros.
- Ele é maravilhoso. Você não ficaria?
Maxine pareceu ofendida em primeiro momento, mas depois pareceu pensar por um segundo e ponderar a questão. Devon riu fraco, vendo as expressões da amiga.
- Ele realmente é um gostoso. Eu acho que não doeria tirar uma casquinha, assim como ele faz com toda garota que chega perto dele, pelo que dizem. Quer dizer, você já percebeu que em toda premiação que ele está, está carregando uma modelo como um troféu ao lado dele, certo?
- Talvez ele só precise conhecer alguém de quem realmente goste para mudar. - Dev sorriu novamente, encolhendo os ombros. Podia ser uma garota ingênua e burra, mas ela realmente acreditava no poder do amor de verdade. E, tirando isso, Scott Dempsey era um tremendo gato. Ele era literalmente o sonho de consumo de toda fantasia adolescente, capaz de fazer seus joelhos tremerem.
- Ah, sua vadia! – Maxine empurrou a amiga, chocada e risonha. – Você ficaria com ele total!
- Ah, por favor, rainha do submundo! – A ruiva revirou os olhos, rindo. – Você não ficaria? Mesmo? Acabou de dizer que não doeria tirar uma casquinha!
- É, mas eu falei de um modo totalmente carnal. Já você vem com essa historinha de contos de fadas de filmes da Barbie.
- Ah, me deixa, vai! – Ela empurrou a amiga com o ombro, e as duas trocaram uma risada.
- Onde estamos indo, a gente não ia comer no estúdio, Jack? – Jodie perguntou ao motorista e chefe da equipe de seguranças.
- Clary não avisou a vocês? Mudança de planos, vocês têm uma reserva no Bellardio. – Ele olhou pelo retrovisor. – Pensei que ela tivesse mandado uma mensagem.
Jodie negou, mas deu de ombros. Desde que comessem, estava tudo bem, não importava se era em um dos restaurantes mais caros da cidade ou no sopão de um dólar.
Chegaram ao Bellardio, e assim que adentraram a grandiosa e luxuosa recepção do local, Devon logo entendeu, ao ver Clary parada perto dos sofás da recepção mexendo em seu celular com um cara bem vestido ao seu lado, falando ao celular. Ela conhecia aquele cara da reunião com Dempsey, ele era o representante do garoto assim como Clary era a delas. E como que para confirmar o que Devon já sabia, ela viu mais ao lado nos sofás da recepção o próprio Scott Dempsey jogado em um dos sofás desleixadamente mexendo em seu celular sem muito ânimo. Ela suspirou. Sabia muito bem da fama dele, mas não podia evitar que seu lado menininha de treze anos o achasse maravilhoso.
- Meninas! – Clary acenou quando as viu entrando. – Estamos tendo um problema com a reserva da mesa, aparentemente eles não entenderam o que significa a palavra local reservado que grafei no e-mail.
Jodie riu. Clary dava umas gafes de inteligência algumas vezes, assim, mas ela era profundamente competente e sabia lidar com trezentas coisas ao mesmo tempo de um jeito que Devon sabia que nunca poderia fazer. A garota apreciava muito o fato de a equipe do grupo ser composta por mulheres em praticamente todos os cargos, inclusive os mais altos da gravadora com que trabalhavam. Elas amavam isso, nada melhor do que mulheres para trabalhar com um girlgroup daquele porte.
- Então, por favor, sentem-se e esperem só um minutinho que já estou resolvendo isso!
Foi exatamente o que elas fizeram, menos Devon que sentiu seu celular vibrar e atendeu ao ver que era sua irmã mais nova.
- Lilly! – Ela sorriu, mas deixou de sorrir assim que percebeu que a irmã estava irada.
Dev ouviu a irmã reclamar por uns segundos, quase chorando de raiva, sobre alguma briga que teve em casa com seus pais. Ela suspirou enquanto ouvia e procurou por um lugar para sentar no único espaço disponível: ao lado de Scott no sofá de dois lugares. Depois de ouvir o monólogo da irmã ela tentou acalmá-la da melhor maneira possível, dizendo palavras tranquilas e tentando averiguar a situação. Mas a irmã de Dev estava recém entrando na fase da rebeldia adolescente, e por isso ela ficava ainda mais irritada com a irmã por ser tão “calma” e não entender o lado dela, quando na verdade aquilo tudo era porque ela sentia falta da irmã estar em casa com eles, e Dev se sentia horrível por isso. Ela morria de saudade de sua família. Era a mais caseira e mais ligada à família de todas as garotas, ela chorava quase sempre de saudade quando estava na estrada.
Devon guardou o celular quando a irmã desligou a chamada e passou a mão no rosto, suspirando pesadamente.
- Sua irmã, né? – Scott disse ao lado dela, casualmente, e ela o olhou meio surpresa. Ele olhou para ela. – Eu ouvi um pouco da histeria. Também tenho uma irmã mais nova, que inclusive é uma fã alucinada sua – riu fraco.
- Ah – Devon riu fraco, envergonhada. Ela geralmente era a preferida das menininhas mais novas, por ser a mais “Barbie” do grupo, como todos a chamavam. Claro que no começo a objetificação de sua pessoa por causa de sua aparência a incomodava, mas ela aprendeu a se importar menos com isso e a trabalhar para que seus cachinhos dourados não fossem a característica principal de sua figura. – É, ela está passando por aquela fase, sabe...
- Em que acha que o mundo todo está contra ela. – Ele concordou, e Devon o olhou novamente surpresa, e concordou com a cabeça.
- Exatamente!
- Adolescentes são todos iguais, só trocam de endereço. Não é o que dizem? – Ele sorriu para ela e a garoa precisou segurar um suspiro.
- Sim.
- Você está me olhando como se fosse uma surpresa que eu soubesse falar como uma pessoa normal. – Ele riu fraco, e a garota prontamente levou a mão ao peito para se desculpar. – Não, tudo bem. Eu recebo muito isso. Não se preocupe, deixei o garanhão dos tabloides em casa.
Devon riu.
- É... Eles podem ser cruéis.
- Com certeza. Imaginei que você fosse a que mais entenderia isso, mesmo. Afinal, você é a mais atacada pela sua beleza e tudo mais. Eles esperam que estejamos sempre perfeitos, e, olha só que surpresa: mesmo quando não somos completos babacas, como eu geralmente sou, eles te julgam por ser perfeita demais, por ser boazinha demais, como se você estivesse escondida atrás de uma máscara e eles estivessem lá, só esperando para...
- Te atacar e desvendar quem você realmente é para o mundo todo ver! – Ela assentiu, virando o corpo mais para ele e apontando para ele. Era exatamente aquilo! Deus, como ele a entendia, era muito mais do que ela sentia que suas próprias colegas a entendiam. – E isso é uma droga, porque você sabe que não está tentando esconder nada, mas eles ainda assim agem como se você não estivesse sendo sincera!
Ambos concordaram com a cabeça enquanto se olhavam, e ela suspirou frustrada.
- Isso é terrível. Você deve sofrer, tipo, em dobro, porque nós somos um grupo, e você é sozinho.
- É, não é a coisa mais fácil. É uma tonelada de pressão em cima de você. Qualquer detalhe vira notícia. Se eu encarar um cachorro por muito tempo eles me acusam de não gostar de cachorros... – Ele deu de ombros, e Devon riu.
- Sinto muito – Ela balançou a cabeça com pena, tocando o braço dele em um reflexo. Scott sorriu sincero para ela e agradeceu.
- Meninas! – Clary chamou. – E Scott – sorriu. – Vamos? A mesa está finalmente pronta, temos coisas a resolver!
O almoço na verdade não era apenas sobre a gravação da música. O single ainda nem havia saído do papel, mas já tinham grandiosos planos para ele. Eles comentaram algo sobre Grammys, e apresentações, e o show do intervalo do Superbowl, e muito mais, e enquanto o resto das garotas estava praticamente afundando dentro daquela conversa, Scott e Devon conversavam baixinho na ponta da mesa tão imersos em seu próprio papo, descobrindo tantas opiniões em comum, que mal ouviram o que estava acontecendo ali.
Em certo momento, Dev levantou para ir ao banheiro. Ela precisava respirar um pouco, processar por uns segundos o fato de ela e Scott Dempsey estarem se dando tão bem e ele ser exatamente o oposto do que todos falavam. Ele provavelmente devia pensar o mesmo sobre ela.
Quando saiu do banheiro do Bellardio, depois de lavar as mãos e retocar o batom, ela deu de cara com Cleo e Scott trocando algumas palavras no final daquele corredor. Cleo viu a amiga se aproximando e cortou o que dizia.
- Enfim, sei lá, o Superbowl parece meio demais. – Ela deu de ombros com descaso e passou por ele, indo em direção ao banheiro. Ao passar pela amiga ela piscou, abrindo um sorriso. – Você tá gata – disse baixinho para a Devon, que sorriu ao se aproximar de Scott.
- Precisei fugir de lá, aquela conversa estava ficando um pouco fantasiosa demais. – Ele riu.
- A Cleo estava falando com você?! – Ela riu fraco. – Sabe, ela é tipo a sua maior hater. – Brincou.
- Ela com certeza dá bastante ouvido aos tabloides – ele riu, e ela concordou rindo também. Devon, controle-se, a garota disse a si mesma quando percebeu que estava rindo exageradamente de coisas que nem eram para ser engraçadas.
- Ham, enfim... – Scott se desencostou da parede e enfiou as mãos nos bolsos, encolhendo os bolsos como se estivesse um pouco sem jeito. Lindo, lindo, lindo, Devon pensou. – É uma pena que nós temos que passar por isso sozinhos. Quer dizer, você não está sozinha, mas ao mesmo tempo, está... Você sabe... – Ele riu, envergonhado, e levou uma mão à nuca. – Caramba, eu estou me afundando cada vez mais aqui.
Devon abriu um sorriso largo, deliciando-se com a imagem de Scott Dempsey derretendo-se em sua frente.
- O que você está tentando dizer?
- É só que, você sabe... Nós sabemos muito um do outro pelo que ouvimos os outros falarem. E estamos sempre frequentando os mesmos eventos... Mas nunca realmente havíamos parado para conversar, e... Você é meio que incrível. Eu já tinha essa sensação. Quer dizer... Eu sempre vi você por aí. Em fotos, eventos, revistas. Sempre sonhei com isso, com você. Com... conhecer você. E agora que estou aqui, eu... – Ele riu fraco. – Cara, eu perdi completamente o jeito, eu pareço um menininh-
Devon cortou o garoto, ficando na ponta dos pés e levando a mão à nuca dele, o puxando para um beijo que durou apenas o suficiente para que o coração dela acelerasse. Ela se afastou, o olhando um pouco surpresa e um pouco empolgada, e abriu um sorriso quando ele fez o mesmo.
- Uau. – Foi tudo que ele disse, apenas a fazendo sorrir mais.
Devon sabia. Sabia que era só uma questão de ele conhecer a pessoa certa. E não queria apressar as coisas, como sempre fazia, mas já podia imaginar a si mesma descobrindo cada pedaço de Scott Dempsey que pensava que conhecia, mas na verdade não sabia nada a respeito.
- Vamos passar a tarde no estúdio hoje. Você e eu só temos alguns takes. Quando terminarmos, a gente se fala mais. – Ela sorriu, e ele concordou com a cabeça.
- Ok – o garoto murmurou. Devon mordeu o lábio e assentiu com a cabeça, tocando o braço dele antes de se afastar, para voltar para a mesa. Antes de sair do corredor, porém, ela olhou para trás uma vez e ele estava olhando para ela. A garota suspirou de novo.”


Romee
A doidinha do grupo, como suas amigas e seus fãs carinhosamente chamavam, era conhecida assim por ser bastante avoada, e estar sempre com a cabeça um pouco longe dali. Romee era sempre aquela da qual todo mundo, mesmo que involuntariamente, ria nas entrevistas. Não por mal, mas porque ela era quase sempre tão perdida, e tinha uma calma incomum ao falar, além de ter a risada mais contagiante de todas. Talvez por sua singularidade, assim como por sua convicção em seguir as coisas em que acreditava, ela era a protegida do grupo e também de todos os fãs, sendo, além de a mais nova em idade, tratada como o bebê do grupo também por causa disso. Romee ficara marcada não apenas para os fãs, mas em frente ao mundo todo, por organizar e militar em diversas passeatas pacíficas relacionadas às causas que apoiava, como contra os maus tratos aos animais e a xenofobia. Além de ter uma das vozes mais marcantes do grupo, por seu tom forte e marcado, e também por sua beleza simples e suave, a garota ainda é um grande e belo exemplo para a juventude.

“- Eu matei esse solo de Twisted Love! – Jodie sorriu, balançando a música com os fones nos ouvidos.
As garotas haviam recebido a primeira demo da música que viria a ser o single mais ouvido do ano e topo da Billboard por um tempo recorde. Era assim que todos estavam se referindo à música delas com Scott Dempsey que, apesar de não ser a música mais sincera de suas vidas, era uma boa venda.
Jodie não era a maior fã disso. Da parte da venda do trabalho delas. Para ela, música era arte, era paixão, era dor e sofrimento, eram coisas reais que precisavam ser sentidas, e ela odiava o fato de seu trabalho, suas composições feitas com muito custo de seu suor e suas vivências pessoais, fossem transformados em hits do verão com uma batida que grudava na cabeça. Mas, bem, ela sabia que o seu trabalho ela fazia, e para Jodie – e o resto das meninas também – o amor e o vínculo que tinham com os fãs valia a pena por tudo aquilo. Elas estavam apenas vivendo os anos dourados de suas vidas, e quando aquela fase passasse, ela teria tempo para fazer suas músicas profundas e sofridas, tendo a certeza que seu nome já teria sido consagrado na história da música e que por isso todas as suas letras seriam ouvidas.
- Todos os vocais ficaram perfeitos – Romee sorriu, empolgada ao ouvir a música pela terceira vez. – Max, você arrasou. – Comentou para a amiga, que estava entrando pela porta do estúdio logo depois de ter ido fumar, e sorriu para ela indo correndo para se jogar no colo da amiga e a abraçar.
Romee riu. Maxine era ao mesmo tempo uma porra louca que mandava foda-se para tudo e todos e também uma fofurinha, que adorava abraços e brincadeiras idiotas, assim como estar com os amigos e rir de qualquer coisa. Ela sabia se divertir. Romee a amava, assim como amava a todas as suas garotas. Ela se sentia tão protegida e bem estando no meio delas.
- Ok, vamos falar sobre esse cara. – Maxine soltou um tempo depois, enquanto ela dividia o fone de ouvido com Romee e as duas ouviam pela quarta vez a música, no solo dele. – Gostoso: confere. Gato: confere. Má influência: confere. Se acha o fodão: confere. O que falta para ele ser tipo o cara mais atraente do mundo?
- Ele não é assim.
- Ele não é atraente. – Jodie comentou, como se corrigisse o que Devon falou, mas Maxine ignorou, olhando, assim como as outras, para Dev.
- Você acabou de defender Scott Dempsey?
- Sim. O que tem? – Devon deu de ombros, as olhando.
- Você sabe que as únicas pessoas que fazem isso são as fãs dele de treze anos que são completamente insensatas, né?
Devon revirou os olhos.
- Olha. Só o que eu acho é que nós, como pessoas que estão sempre no topo das mais faladas da mídia internacional, assim como ele, deveríamos tentar não julgar pelo que lemos e ouvimos por aí sem conhecer o Scott. Nós sabemos como os tabloides podem ser injustos. Você lembra daquela vez que saiu para comprar café com o Jace e eles inventaram uma história sobre você estar namorando um dos dançarinos da turnê e isso foi tão longe que eles chegaram a falar que ele te passou clamídia?! – Ela disse, apontando para Jodie. É claro que lembrava, todas elas lembravam, aquela história entrou para os anais das bizarrices mais hilárias daquele grupo. Todo mundo lembrava. – Só o que quero dizer é que devíamos dar uma chance a ele de verdade.
- Eu discordo – Romee disse. – Acho que é bem nítido quando uma coisa é inventada e quando é real, e exatamente por sermos desse meio e estarmos constantemente metidas nas mesmas coisas que ele nós sabemos bem. Mas eu acho que o garoto não é um escroto completo porque ele é assim; eu acho que ele só precisa de um bom exemplo. Ele começou nessa estrada muito cedo, meninas. Eu tinha quinze anos quando entrei naquele reality show e conheci vocês; o Dempsey já fazia shows no Madison Square Garden nessa época! Cara, o empresário dele é o pai dele! A mãe dele ninguém sabe onde tá, e até onde sabemos, ela ainda deve estar internada naquele hospital psiquiátrico desde 2011. O garoto é tipo a cria da Amy Winehouse com o Kurt Cobain. Eu acho que ele vai sossegar quando encontrar alguém de quem realmente goste e que coloque rédeas nele.
- E essa pessoa pode ser a Devon... – Maxine cantarolou, tirando onda, e foi atingida por uma almofada vinda de Devon, que riu.
- Só porque eu defendi o garoto?! Vocês sabem que eu sempre vejo o lado bom de todo mundo!
- Isso é verdade – Jodie observou, como uma contribuição à conversa.
- Não por isso, mas porque em todas as vezes que nos encontramos pra gravar vocês não paravam de conversar, se isolaram em um canto e tudo!
- Nós simplesmente entendemos um ao outro! Nós estávamos trocando uma ideia exatamente sobre isso, sobre a mídia, a pressão. A gente se entende. Por isso eu estou defendendo ele. – Devon deu de ombros.
A verdade era que dizer aquilo era difícil para ela, porque como alguém super aberta e comunicativa ela gostava de sempre dividir absolutamente tudo com as amigas. Mas se lembrava de Scott pedir para ela que não comentasse sobre as coisas que estavam rolando entre eles com ninguém ainda, porque ele se sentia muito inseguro em dividir aquilo com qualquer pessoa, exatamente pelos rumores que poderiam rolar, e estragar o que quer que fosse que eles estavam vivendo, que era bom. Devon concordou, porque sabia que ele estava certo. Os rumores arrasariam o que quer que fosse aquilo.
- Eu não acho que ele se interessaria pela Devon. – Cleo comentou, tirando um pirulito da boca. Todas olharam para ela, que estava deitada na ponta do sofá perto dos pés de Romee, com as pernas para cima. – Sem ofensa, baby – ela deu de ombros para Devon. – Eu só acho que vocês não têm nada a ver. Ele parece ser do tipo... mais hardcore. – Ela abriu um sorrisinho.
Devon apenas retribuiu o sorriso. Cleo estava errada, mas ela descobriria isso quando fosse a hora certa.
- Você tá com ciúme? – Maxine riu.
- Não – Cleo se virou para ela. – Mas o que eu realmente acho é que você está obcecada por ele, porque não para de falar sobre isso e sondar minuciosamente cada uma de nós sobre o que sentimos pelo cara.
Todas elas riram, e Maxine suspirou.
- Ok, ok. Eu quero dizer, eu ficaria com ele. Se a gente fosse tipo 1% compatível. Mas acho que pelo mesmo motivo que a Devon não é o tipo dele, ele não é o meu. Sou muito hardcore para ele. – Ela disse, em ar emblemático, as fazendo rir de novo. – Beleza, mas vamos ser sinceras agora. Quem aqui não ficaria com ele, não é mesmo? – Ela deu de ombros. – Cleo?
- Eu não sei... – Ela fez a pensativa, fazendo com que Maxine a xingasse e fazendo as outras rirem.
- Devon?
- Ok, ok... se ele fosse o meu tipo... – olhou para Cleo e Maxine. – Talvez.
- Romee? – Max olhou para a miga, da qual estava praticamente no colo.
- Eu acho improvável, vocês sabem que eu me atraio por pessoas interessantes, a beleza não vale nada.
Aquilo era verdade. Todas lembravam das fotos dos ex horrivelmente feios fisicamente falando que Romee mostrou uma vez, quando elas estavam falando sobre isso. Elas riram tanto da garota, mas no fundo todas elas respeitavam e admiravam isso. Romee realmente, 100%, não se importava com o físico. Elas nem entendiam como isso podia ser possível.
- É, sei, sei. Jodie?
- Ah, por favor. – Jodie apenas revirou os olhos sem parar de lixar sua unha.
- Ah, qual é! Fala a verdade, para de pagar de boazona! – Max provocou.
Jodie soltou a lixa, olhando para cada uma delas como se estivesse completamente de saco cheio de falar daquilo.
- Pelo amor de deus, cara, vocês sabem que eu sou lésbica. Se ainda não tinham certeza, então agora sabem. Eu não podia estar menos interessada naquele cara.
O silêncio reinou no camarim do estúdio por um momento. Em algum momento aquilo chegou a beirar o embaraçoso, mas não chegou a acontecer, porque logo Cleo respondeu:
- Graças a deus, meus cinco anos de curiosidade desapareceram.
Todas elas caíram na gargalhada.
Jodie nunca havia namorado ninguém desde que elas se conheceram. Ela não tinha ex namorados, ela não participava das conversas de garotas sobre os meninos, ela não demonstrava nenhum interesse em assistir Os Vingadores para ver a guerra de testosterona na tela. Todas as garotas desconfiavam daquilo há anos, mas nunca chegaram a conversar sobre. Nenhuma delas tinha absolutamente problema nenhum com aquilo, mas todas estavam esperando o momento em que a amiga se sentiria confortável para falar sobre. E aparentemente ele havia chegado, e foi realmente natural. Todas ali se sentiam aliviadas com acabar com aquilo.
- Cara, eu sempre soube. – Maxine disse.
- Nós todas sempre soubemos. – Romee assentiu para Jodie, sorrindo para a amiga que retribuiu.
- Eu sei. Quer dizer, nem sabia que era um segredo. Eu simplesmente nunca falei, não sei... Acho que nunca precisei.
- Agora, qual é, abre o jogo, então. Tem alguma crush?
- No momento não. – Ela riu. – Mas eu era afim de você quando a gente se conheceu. – Apontou para Maxine e ela gritou.
- Não!
- Sim! – Jodie gargalhou. – Foi só quando vi a sua audição, mas logo eu descobri que você é insuportável.
- Ah, você me ama!
Ela riu.
- Então sem Scott pra você, é?
- Ok, gente, é melhor parar de falar sobre o cara que ele já deve estar chegando aí. – Romee lembrou, afastando Maxine e sentando decentemente no sofá. – A gente devia ir fazer o cabelo antes que essa maquiagem derreta toda, temos um longo dia pela frente.
E foi o que foram fazer. Enquanto arrumavam os cabelos e retocavam as maquiagens, todas juntas com a equipe, eles conversavam. Um tempo depois Dempsey chegou com sua equipe e eles todos foram para o estúdio de gravação, lá mesmo, onde gravariam as partes fechadas e individuais do videoclipe. Estavam ali para isso: gravar o clipe de Twisted Love, a música que lançaria há uma semana dali para frente.
Aquela parte era a mais fácil, porque todos os seis artistas tinham enorme desenvoltura e facilidade em trabalhar em frente às câmeras. Por isso dublar partes da música enquanto dançavam ou pousavam com figurinos caros em cenários estranhos fora bastante rápido e não chegou a tomar nem metade do dia deles.
Foram todos almoçar, logo depois do meio dia, quando terminaram aquilo. As meninas colocaram roupas e calçados mais confortáveis e entraram todos em um ônibus que levava todos e mais suas equipes e equipamentos para o local onde gravariam os takes externos. Fariam aquilo ao ar livre, eles sabiam, mas ainda não sabiam onde.
Scott não teve problemas em se relacionar com todas elas naquela tarde, diferente dos outros dias. Talvez tivesse sido a conversa que elas tiveram mais tarde com os argumentos que Devon usara, ou talvez só fosse um bom dia para todos eles. Romee não pode deixar de notar que Devon o olhava diferente, e ria um pouco demais de piadas que ele às vezes fazia. A garota imaginou que a amiga talvez estivesse afim do garoto, mas esperou que não, porque apesar de tudo, ele não tinha a melhor fama quando se tratava de relacionamentos.
Ao chegar, a pequena vã que foi na frente do ônibus carregando a equipe de filmagem já estava ali, desembarcando suas câmeras e equipamentos. Devon, Max, Jodie e Cleo desceram, e por último Scott deixou que Romee passasse em sua frente e pulasse para fora do ônibus. Assim que olhou em volta e se deu conta de onde estavam, ela ficou furiosa e pode logo sentir seu rosto queimando.
- Não. Nem pensar. – Foi o que disse, em alto e bom tom, no mesmo momento. Terminou de olhar em volta e seus olhos então procuraram por Clary no meio das equipes. – Nem pensar. Você ficou louca? Eu não vou gravar porcaria nenhuma nesse lugar e quero ir embora daqui imediatamente!
As meninas já esperavam por isso. Devon e Max assistiam ao pequeno ataque nervoso da amiga, também nervosas, e Cleo e Jodie logo pensaram em ir falar com as equipes. Clary demorou uns segundos para entender do que Romee falava, e então quando percebeu, ela arregalou os olhos e levou a mão à boca. A assessora era tão ocupada e atarantada que se esquecia desses detalhes. Porcaria!, xingou internamente, se perguntando como deixara aquilo escapar. Quando a equipe que trabalhava com Scott lançou a ideia de parte do vídeo se passar no zoológico do Central Park ela deu de ombros e concordou sem ver problema, imaginando que a equipe que cuidava do vídeo com certeza sabia mais o que estava fazendo do que ela.
Só que Romee detestava zoológicos com todas as suas forças. Não apenas isso, mas há apenas cinco meses atrás a garota quase fora presa em uma confusão num protesto que estava liderando pelos direitos dos animais e pelo fim dos zoológicos no estado de Nova York. O episódio fora um caos completo, fazendo com que a garota quase não chegasse a tempo de se apresentar no Britt Awards em Londres, eles precisaram correr atrás de um jatinho particular de última hora e aquilo tudo custara uma grande fortuna – sem contar o incômodo com a polícia. Fora quase tão ruim quanto a vez, no ano passado, que Cleo e Maxine foram detidas no aeroporto de Vancouver por estarem portando maconha. Uma semana depois, em uma premiação local, demonstrando que não haviam aprendido nada com o episódio, vazou um vídeo no Twitter das duas componentes da girlgroup fumando um debaixo de uma mesa, escondidas.
Romee logo estava gritando com todo mundo, e as amigas não se meteram. Quase nada tirava Romee do sério, mas mexer com as coisas que ela acreditava era algo imperdoável para a garota. Só o que Cleo e Jodie tentaram fazer foi conversar com Clary, que parecia horrorizada e nervosa, enquanto Romee discutia ao longe com um homem escroto e que só falava merdas sobre as opiniões da garota quanto aos direitos dos animais. Eles discutiam tão seriamente que ela estava quase enfiando o dedo na cara dele, enquanto ele só o que sabia fazer era ofendê-la, sem pensar em argumentos reais.
- Ei, ei, ei, o que está rolando aqui?! – Scott se meteu entre Romee e o homem, que há essa altura já exalava raiva. Ele era, tipo, o dobro do tamanho dela; como tinha coragem?
- Essa louca está dando estrelismo só porque tem pena de bichos que nem sentem nada, caralho! – Gritou o homem, que Scott sabia, era o diretor de imagem do vídeo. – O único animal aqui é você,, que devia ser afastada da sociedade e considerada um perigo, também! Jovens malucos como você que propagam a anarquia, faça-me o favor! Saindo por aí vendo problema em tudo que nunca antes incomodou!
Devon e Maxine se olharam, boquiabertas, e Cleo já roía as unhas, nervosa com como aquilo estava ficando sério.
- Eu não poderia me importar menos com o que a sua mente arcaica tem a pensar sobre as causas que eu defendo, e saiba que o único animal irracional aqui é você, que a única coisa que consegue pensar em fazer é ofender a minha sanidade como se eu fosse louca por discordar de você! Eu NÃO VOU gravar porcaria nenhuma em zoológico nenhum, e se fizerem que QUALQUER PARTE DESSE VÍDEO se passe nesse lugar eu juro por Deus que peço para retirarem minha voz dessa música e processo essa sua cara tosca por todos os absurdos que estão saindo da sua boca! Eu não vou me arrepender de acabar com sua carreira, como uma boa jovem louca e anarquista, que vê problema em tudo. Saiba também que o verdadeiro câncer dessa sociedade são homens como você, que pensam estar no topo do mundo!
Houve um silêncio quase ensurdecedor. Jodie, e também o resto das meninas, pensou naquele momento que tinha tanto orgulho de sua amiga, que apesar de ser a melhor e mais bondosa pessoa que ela conhecia, lutava feito uma leoa pelas causas em que acreditava.
Um momento depois, em que os dois se encararam com raiva nos olhos, Scott se pôs mais no meio deles e virou-se para o homem, o empurrando um pouco para trás para ter uma palavrinha com ele. Só que como todos ali estavam olhando e estavam em silêncio, o negócio não foi exatamente particular:
- Eu doei doze milhões de dólares ano passado para uma ONG de defesa aos animais na África. Romee – apontou para trás, para a garota. – Doou muito mais. Doou seu tempo, seu nome, e sua imagem por uma responsabilidade dessas. Pensa que uma pessoa que doa tanto por uma causa está realmente só tentando aparecer? Você ofendeu minhas colegas de trabalho, aqui. Eu vou te dar uma chance de sumir daqui nos próximos dois minutos sem levar um processo milionário nas costas, se não abrir mais a boca para falar nada. Temos diversas testemunhas aqui, e tenho certeza que você não vai querer arriscar. – Dempsey disse, fazendo silêncio e suportando o olhar raivoso do homem por um tempo.
- O que vão fazer sem mim aqui?! – Ele vociferou. Dempsey riu, divertido.
- Dude, você é um diretor de imagem. Romee é uma cantora internacional com dois Grammys e disco de platina. Quer mesmo que eu te responda?
Todas as garotas sorriram, deliciadas. Mais verdade que aquilo, impossível.
O homem então, irritado e provavelmente carregando a maior vergonha de sua vida nas costas, largou seus equipamentos e foi embora dali, se afastando pelo parque.
Romee respirou fundo só quando ele já estava longe, e deixou seus ombros relaxarem. Enquanto as outras meninas voltaram para perto umas das outras para comentar sobre aquilo, Scott voltou até Romee e, depois de hesitar por um momento, tocou seus braços.
- Sinto muitíssimo por isso. De verdade, eu... Ugh. – Revirou os olhos, respirando fundo. – Esse é o pior de só ter homens em minha gestão. Meu pai, você sabe. O homem é quem realmente manda em tudo, e ele é machista para caralho. Só contrata esses caras escrotos. Eles sabem que não podem pisar fora da linha comigo. Quer dizer, acho que nem todos sabem. – Explicou. – De qualquer maneira, me desculpe, Romee, quero realmente te ressarcir. O que eu posso fazer?
Ela bufou.
- Não pode fazer nada para mudar a cabeça dessas pessoas que já estão perdidas. – Ela balançou a cabeça, a raiva aos poucos indo embora, e então o olhou por um momento. Talvez aquela fosse a primeira vez na vida que via o semblante de Scott Dempsey parecido com algo como preocupação e sensibilidade, não fosse dentro de seus antigos videoclipes romantizados. Ele parecia um cara normal e bastante decente naquele momento. – Não sabia que você ajudava uma ONG.
- Várias, na verdade. – Ele encolheu os ombros e cruzou os braços. – Vinte por cento do valor dos shows vão para elas. Mas é difícil... Acredito em muita coisa e queria poder ajudar muitas pessoas, por isso vou revezando. Hospitais infantis, direitos dos animais, campanhas contra o bullying, contra a homofobia, para as escolas de países africanos... Esse ano os fundos estão sendo levantados para uma campanha de ajuda a sem tetos. Eu não sei escolher... Espero que todas essas ajudas simultâneas façam a diferença, ajudem pelo menos um pouco...
- Você pode ter certeza que sim! – Ela sorriu, encantada em saber de coisas que nem imaginava sobre como o garoto se importava com essas coisas. Ele parecia só se importar com drogas e bebedeiras. Ela se sentia um pouco embaraçada também por nunca tê-lo julgado capaz daquilo. – Uau, não esperava isso.
- Eu recebo muito isso – ele riu. – Mas, bem, conheço o seu trabalho. É incrível. Eu queria ter essa coragem, mas sabe, eu ia cagar o negócio. Tudo em que relacionam minha imagem eles ligam a algo ruim. É melhor então eu ficar longe.
- Sinto muito. – Ela fez uma caretinha, e ele deu de ombros. Ela então se lembrou de algo e o olhou, empolgada. – Ei! Eu tenho uns projetos... uns projetos anônimos. Ninguém além das meninas, minha família e poucas pessoas mais próximas sabem. Estou por trás de movimentos que circulam por aí, claro que não com tanta força como aqueles que têm a minha cara estampada na frente... Mas faço isso porque às vezes sinto que ter a minha imagem vinculada aos movimentos acaba virando uma venda... Certa vez vi uma garota vendendo camisetas, na internet, com minha caricatura e uma frase de impacto que usei em um protesto, e ela já havia arrecadado tanto dinheiro. Fui procurar, empolgada com para onde podia estar indo todo aquele dinheiro, mas acontece que ela não estava ajudando ninguém. Mentia que estava doando, mas na verdade ia tudo para ela. Você sabe, se eu não estivesse naquelas camisetas, ela não conseguiria ter feito tanto dinheiro. Às vezes até a imagem de uma... – Ela soltou uma risadinha, meio envergonhada – boa moça ganhadora do Grammy, não ajuda.
Ele abriu um sorriso também e assentiu, e Romee não soube dizer se fora ele quem a entendera perfeitamente ou se ela o entendia muito bem. Talvez fosse os dois.
- De qualquer modo! – Continuou, um momento depois ao perceber que o estava encarando no fundo dos olhos. – Você poderia participar. Sem vínculo de imagem, sem precisar se preocupar. O negócio todo é bem seguro, você pode confiar.
- Tenho certeza que sim. Isso seria incrível.
- Legal! – Ela riu fraco e tirou o celular do bolso. – Acabei de te contar sobre meu maior projeto de vida. É bom que você realmente seja empenhado! – Entregou-lhe seu celular. – Anote seu número.
Dempsey sorriu.
Sobre as ONGs? Fora ideia de seu pai. Talvez ajudasse a melhorar sua imagem de garoto perdido. Mas ele nem sabia como aquilo funcionava, nem muito menos era ele que escolhia para onde ia o dinheiro. Só sabia, com pesar, que não era para sua conta bancária. Mas pelo menos era bom para se gabar, como acabara de fazer.

No final o vídeo fora gravado no Central Park mesmo – só que bem longe do zoo. O clipe ficou uma mistura perfeita de romance com humor e diversão, algo jovial e divertido, além de bonito visualmente, com ou sem o diretor de imagem babaca. As gravações levaram pouco mais de uma semana, mas então, logo estava feito.
Há essa altura, quando o clipe foi lançado, a música já estava no topo da Billboard há uma semana e meia – desde o mesmo dia em que fora lançada. Ninguém duvidou que seria um tremendo sucesso, como de fato foi. O clipe alcançou o maior número de visualizações online em menos tempo, quebrando todos os recordes anteriores – vários deles, inclusive, desses mesmos artistas.
Então a vida continuou. As meninas ficaram ocupadas com suas coisas e Scott com as dele.
Cleo e Scott trocavam mensagens vez ou outra, nada muito complexo, apenas emojis e algumas coisas indecentes que planejavam fazer um com o outro da próxima vez que tivessem um tempo. Porém a garota até se espantava as vezes com a intensidade com que esperava aquela oportunidade.
Devon e Scott conversavam bem mais. Suas mensagens eram carinhosas, fofas, o garoto era basicamente outro cara, enquanto dizia tudo que Dev queria ouvir – ou ler. Eles planejavam coisas, não apenas sobre a próxima vez que se vissem, mas sobre um futuro um pouco mais longe, onde talvez pudessem ter tempo para passar juntos, se conhecer bem, e na cabeça de Devon ela já conseguia vê-los serem os próximos Britney e Justin, só que de verdade.
Romee e Scott conversavam também. Eles trocavam ideias, opiniões, compartilhavam planos e vez ou outra entravam em assuntos particulares, onde contavam um ao outro o que realmente sentiam sobre as coisas e sobre como os outros os viam. Eles pensavam igual!, era o que Romee pensava. Ela o achava cada dia mais incrível e diferente do que imaginava, e certo dia, quando ele mandou uma mensagem dizendo que “ele sempre se inspirara nela, e de todas as garotas ela sempre foi a que ele desejou conhecer”, Romee sentiu o coração pular e pensou que, talvez, aquilo fosse mais que apenas uma futura colaboração em movimentos sociais. Eles se entendiam além disso.
Um tempinho depois veio a época de indicações para premiações. O AMAs, o Grammy, o Britt e outros prêmios importantes estavam próximos, e eles já haviam feito algumas apresentações ao vivo de Twisted Love, mas nunca uma juntos no mesmo palco. Como já era de se esperar, a música foi indicada em todas essas e outras premiações, em categorias como melhor videoclipe, melhor música pop e melhor parceria musical. Ambos também foram indicados por seus trabalhos individuais. Scott, era engraçado, tinha quase cinco anos a mais de carreira do que elas e em número ele acumulava muito mais troféus, mas ainda não tinha nenhum Grammy, enquanto elas tinham dois: por canção do ano no ano anterior, e por artista revelação, há quatro anos atrás.”

Maxine
Maxine era a garota má do grupo, que de má, realmente, não tinha nada. Apesar de sua ironia, de estar pouco ligando para qualquer coisa e de na maior parte das vezes ser a responsável pelas atividades ilícitas do grupo, a única coisa de ruim que a garota era capaz de fazer era a si mesma, com as coisas pouco saudáveis que usava ou consumia. Não era nada preocupante, é claro, porque afinal a garota adorava a vida, adorava as amigas e adorava seu trabalho. Era mais questão de hábito e de criação: tendo sido criada na periferia de Nova York, a garota nunca antes de participar do reality show que a descobriu havia tido nenhuma perspectiva de vida. Ela mesma jurava que seria caixa de mercado para o resto da vida, e moraria com sua família enquanto usava seu pouco dinheiro para sustentar seus vícios e festas. Até que a sorte grande a arrebatou, e agora ela era um dos maiores ícones mundiais de beleza e talento, com sua voz provocante e seus cabelos verde azulados que viraram moda. Apesar de ter aquele ar de deslocada no meio das outras garotas, aquilo era na verdade até mesmo um charme para os fãs e quem olhava de fora. Ela era a mais real das cinco, pois já vivera no mundo real, e sabia como tudo funcionava. Maxine era divertida, engraçada e carinhosa de seu próprio jeito, como seus amigos, fãs e as pessoas mais próximas sabiam. Ela era a alegria e a diversão do grupo, sempre aprontando algo para manter o alto astral.


“Certo dia, em uma semana de folga que as garotas tiveram no meio do planejamento de seu próximo álbum, elas todas receberam convites para uma comemoração que ocorreria na casa de Scott em Manhattan, sobre as nomeações e também sobre o recorde de vendas do single. Só que no dia todas as meninas estariam em outras cidades, com as famílias, e nenhuma desmarcou de visitar sua cidade natal para ir à festa. A única que estava livre era Maxine, que morava em Nova York mesmo, e não era lá tão chegada da família. Ela tinha certeza que a “festinha” na verdade seria uma puta festa, e não queria perder aquilo por nada, era o que ela mais gostava.
Então foi. Já estava lá, na enorme mansão do garoto, há pelo menos duas horas e nem sequer o havia visto, de tanta gente que havia lá. E não só gente comum, ela vira algumas caras bem famosas por lá. Maxine dançou, bebeu, conversou com umas pessoas bacanas que nunca havia visto, dançou mais e bebeu mais, até que cansou e decidiu sentar em um sofá de couro na sala completamente de vidro que dava para o mar de Long Beach. Quem disse que em Nova York não dava praia? Aquela casa, ela pensou por um momento, enquanto pescava algo de seu bolso, com certeza era a melhor casa dali. Era como estar na Califórnia: A casa do garoto dava para um barranco que acabava no mar, e se estivesse silencioso provavelmente o barulho das ondas podia ser ouvido lá de fora.
Ela tirou de dentro do bolso da calça de moletom larga um pequeno saquinho com erva e um pedaço de papel. Puxou a mesinha de vidro do centro para mais perto e começou a enrolar seu baseado sem pressa, a maioria das pessoas ali nem se importando em olhar. Não era novidade aquilo ali, é claro.
Ela terminou de enrolar o baseado e passou a ponta do papel na língua, o prendendo com perfeição e então pescando um isqueiro do outro bolso para acender.
- Uh! Eu quero! – Scott Dempsey se jogou ao seu lado no sofá e passou as mãos uma na outra. El abriu um sorriso de canto antes de tragar pela primeira vez.
- Incrível como um baseado atrai as pessoas!
- Ora, você está na minha casa, anda logo. – Ele disse rindo, e tirou da mão dela assim que ela tragou, tragando também e suspirando, quase com alívio. As pupilas do cara já estavam dilatadas e ela sabia que algo ele já havia tomado. Olhou para o copo que ele havia soltado na mesinha, e como havia água, ela presumiu que com certeza havia papel diluído ali. O LSD triplicava de efeito quando misturado com água. Era até engraçado, a garota se lembrava, de quando tinha seus quinze anos antes da banda e antes de tudo, e ia nas baladas no subúrbio e via a galera, loucona, dançando muito chapados enquanto seguravam uma garrafinha de água na mão. Era normal por lá.
- E o resto das garotas?
- Não estão na cidade, foram visitar a família.
- E você não?
- Moro por aqui, posso ver eles quando quiser – deu de ombros, tragando novamente o cigarro. Entregou-o a Scott e pegou aquele copo de água. – Vamos ver se o seu bagulho é de qualidade.
Ele riu, divertido, e a viu tomar o resto do copo.
- Espere dez minutos. Você vai ficar louca.
- Se não fosse para ficar eu nem estaria aqui! – Ela levantou as mãos e voltou a soltar o copo. Virou o corpo para ele no sofá, o vendo tragar o cigarro, deitando a cabeça para trás no sofá, onde estava literalmente atirado. Suas tatuagens, que subiam por seu peito até seu pescoço e iam por seus ombros até boa parte dos braços, eram um verdadeiro tesão. Ela mesma tinha uma extensa coleção de desenhos em sua pele, um dos seus braços era quase fechado e haviam outras, espalhadas por lugares estratégicos de seu corpo, que só via quem tinha sorte. Maxine passou a língua pelos lábios quando o viu soltar a fumaça para cima, se deliciando com o efeito. Ele a entregou e olhou-a.
- Três nominações, então? – Ele comentou, e ela deu de ombros assentindo. Ele falava sobre o Grammy. – Não estou surpreso.
- Pois é. Que vença o melhor – ela sorriu, provocativa, e ele riu fraco.
- Vamos dançar. – Decidiu, levantando-se depois de a fitar por um tempo. Ela o seguiu e foram para o meio da sala, dançar enquanto dividiam o baseado. Quando ele acabou ela já estava vendo as coisas pulsarem em luzes coloridas, por causa do LSD, e ao mesmo tempo vendo as coisas mais lentas, pela erva. Nem percebeu quando fora que as mãos dele puxaram ela para perto do seu corpo, mas agora já dançavam com os corpos colados, e ela vez ou outra se virava de costas e rebolava enquanto ele segurava sua cintura, a fazendo ficar cada vez mais quente. Já estavam perdidos.
Havia também mais uma coisa a se saber sobre Maxine: ela fazia o que queria quando queria. Não havia nada nem motivo racional nenhum pelo qual ela não pudesse ficar com Scott, e como naquele momento era o que mais queria, ela nem pensou duas vezes. Sabia que ele não a intimidava, e nem a machucaria, pois ela sempre soube se cuidar muito bem.
Ele a puxou para um corredor escuro próximo aos quartos no segundo andar, onde a música também estava mais fraca, e antes mesmo que conseguissem chegar lá de fato, já estavam se beijando. Foram apalpando as paredes forradas com uma mão no escuro enquanto se beijavam, soltando sons de agrado e gemidos baixos vez ou outra, e em algum momento ele a suspendeu no ar e a pressionou contra a parede do corredor, enfiando as mãos dentro de sua blusa e a fazendo soltar um gemido. Até que Dempsey encontrou a maçaneta de seu quarto e a puxou para dentro ao abrir a porta, a batendo novamente com um baque sem parar de beijar a garota e a pressionando contra algo, que descobriu ser a cômoda, quando Maxine se virou de costas para ele e empurrou algumas coisas para o chão. No escuro, eles só conseguiam usar o tato, por isso enquanto ela se segurava na base de madeira da cômoda sentindo os beijos e mordidas do garoto em sua orelha, pescoço e ombro, ele apertava a cintura dela com força e a pressionava contra sua pélvis.
- Sempre quis você, de todas elas. É a mais gostosa, a mais maravilhosa... Eu sempre sonhei com isso. – Murmurou ele no ouvido dela, com tom safado, e ela abriu um sorriso.
- Cale a boca e faça direito, então.
Em meio à excitação e aos efeitos de tudo que haviam usado, a pressa era imperativa para ambos, e no mesmo momento, para a satisfação de Maxine, ele já estava abaixando o cós de sua calça com a calcinha e tudo.
- A camisinha...
- Na primeira gaveta – ele disse, sem parar de chupar a pele do seu pescoço. De olhos fechados no escuro, a garota procurou desajeitadamente dentro da primeira gaveta da cômoda onde estava encostada, sentindo tecidos macios e, enfim, por baixo deles, alguns pacotinhos de plástico. Pegou um, rasgou a ponta com os dentes e entregou a ele, que já havia levado a roupa dela até os joelhos enquanto descia também com beijos por sua pele e por dentro da virilha até os joelhos. Ela esperou por um momento que ele se preparasse, e então ele a pegou de surpresa, a fazendo gemer alto.
Era o que precisavam, ambos os dois. Maxine não gostava de jogos, se queria alguém ela queria na hora. Scott só queria aquilo, e nem pensou duas vezes, não estava perdendo nada. Sabia que aquela ali seria a mais fácil, ela não ligava para nada. Por isso, também, fora a melhor transa das Sparkly que já havia provado.
Então, tudo certo, certo? Todo mundo conseguiu o que queria.
Errado.
No dia seguinte, enquanto estavam cada um em suas casas, aconteceu: uma foto bastante clara de Maxine e Scott Dempsey no maior dos amassos no corredor da casa dele estava rodando por todos os sites da internet, sendo vista e compartilhada umas duzentas vezes por segundo, até alcançar todas as pessoas que fosse possível.
A internet explodira.
E aparentemente a Sparkly também.”

Jodie
Conhecida por todos como a mãe do grupo, Jodie era a mais responsável e sensata das garotas, apesar de não ser a mais velha. Era madura, séria quando precisava ser, e tentava manter o controle quando as meninas não estavam dispostas a colaborar para isso. Ela era respeitada e acabava sempre sendo a porta voz da banda em quase todos os casos, mas sua postura não mudava o fato de que Jodie também sabia ser bem humorada, muito engraçada e divertida. Não havia ninguém que não amasse Jodie, ela era uma força da natureza, uma mulher a ser reconhecida, uma inspiração para as outras quatro garotas e para toda a sua legião de fãs também. Tendo sofrido preconceito durante grande parte de sua vida por ser negra, a garota era engajada em algumas lutas, principalmente de empoderamento feminino e negro, e por esse motivo era que talvez ela fosse quem mais se importava com a questão do significado do conteúdo que passava com seu trabalho. Jodie controlava tudo isso muito bem, com a ajuda da gestão da banda: ela nunca deixara que a imagem da banda fosse usada incorretamente sem o consentimento das garotas, e sempre correra atrás de punir qualquer veículo que utilizasse sua imagem como modo de vender sexualidade e reduzi-las a corpos, estereótipos, produtos e roupas. Jodie levava isso muito a sério, assim como tentava sempre criar projetos que tinham por trás significados, desde composições até videoclipes e coreografias, e sempre era a primeira a saber e a se posicionar quando algo de errado ou injusto acontecia com as fãs.

“Scott Dempsey tentara se aproximar dela primeiro, foi a primeira coisa que Jodie pensou quando viu a foto da amiga no maior amasso com ele na internet. Foi no dia da primeira reunião com a gestão dele, para falar sobre a possível parceria. Jodie nunca gostou do garoto. Não pelo que a mídia falava, não pelos boatos, mas porque reconhecia um babaca quando via um, mesmo em fotos, e foi por isso que no momento em que ele se aproximou dela durante a pausa daquela reunião querendo falar sobre como a vista era legal, ela logo o mandou ir a merda e ir incomodar outro.
Jodie via as coisas, ela percebia as coisas. Ela percebeu logo de cara o que ele estava tentando fazer, mas não soube dizer com qual das suas amigas ele obteve sucesso – ou com quantas. Não sabia qual era seu objetivo, provavelmente ele só estava entediado, e queria provar algo a si mesmo, provar que podia fazer aquilo. Pensou também que talvez houvesse uma estratégia por trás daquilo, afinal todo mundo sabia que no mundo da música atualmente as grandes concorrentes de Dempsey eram elas e vice versa, em se tratando de vendas. Mas ela duvidou muito que ele fosse capaz de tamanho raciocínio.
Fato foi que, durante a semana que se seguiu àquela foto, ela ficou com a pulga atrás da orelha e não sabia muito o bem o que esperar sobre quando voltassem a se encontrar, as cinco.
A primeira a liga-la, ainda no mesmo dia em que a foto vazou, foi Devon.
- Você sabia?
- Do quê?
- Que ela estava ficando com ele.
- Não acho que ela estava ficando com ele. Acho que ela ficou com ele.
- Ah, meu Deus, eu não acredito.
- O quê?
Fez-se silêncio por um momento.
- Sabe como é a Maxine, não sabe? Sabe como ela é! Sabe como ela faz com os caras, ela pula em cima deles, ela não dá chance, certo? Você sabe, não é, Jodie?
- Não entendo onde você quer chegar com isso.
Mais silêncio.
- Eu e ele estamos meio que juntos. Já faz um tempo!
Ponto, Jodie pensou. Esse foi o primeiro pilar a desabar, trazendo a crise.
Dois dias depois, ainda aproveitando as férias em casa, ela recebeu uma mensagem de Romee:
“Maxine e Scott. Desde quando isso está acontecendo? O que você acha?”
“Provavelmente só aconteceu, você conhece eles, e era uma festa. Por que, algum problema?”
“Hum, não. Eu só não esperava isso dela.”
“Ela sempre disse que gostaria de ficar com ele.”
“Mas a Maxine fica com todos. Não dá para levar ela a sério.”
Jodie estava começando a ficar frustrada e preocupada ao ver o padrão: as amigas, inconscientemente, culpando a outra garota e a julgando sem conversar com ela, e por algo que ela, até então, teria todo o direito de fazer. Ela então resolveu conversar com Max.
- Aconteceu só uma vez?
- É, foi só naquela festa. Foi legal, ele é bom no sexo, mas... – Soltou uma risada. – Sabe como é, eu enjoo fácil. Não repetiria. E além disso ainda tenho outras pessoas na lista. Quem sabe te dou uma chance, hum? – Brincou, e Jodie riu fraco. – Por que a pergunta?
- Nada, nada, curiosidade. Não imaginava vocês dois ficando.
- Ainda bem, imagina um pesadelo hétero nos seus sonhos lésbicos!
- Vai a merda, Maxine. – Ela riu, antes de desligar.
No outro fim de semana, voltaram. Internamente, Jodie esperava esperançosamente que nada fosse acontecer, mas já se preparava para o boom que estava pestes a acontecer. Elas tinham uma apresentação em um programa ao vivo, e o clima estava estranho. Maxine, sem saber o que rolava, fazia piadinhas a todo momento, de bom humor, o que parecia apenas fazer as outras três agirem pior. Então segundos antes de entrarem no palco ela pediu emprestado o microfone de Cleo para fazer seu primeiro solo, quando viu que o dela não estava pegando, e foi ignorada. Jodie correu par dividir o seu com ela assim que foram lançadas ao palco, mas aconteceu de novo durante a música, em um solo que Max e Cleo faziam juntas essa última garota simplesmente decidiu ignorar, e passou reto pela amiga indo para o outro lado do palco. Maxine parou a coreografia e olhou para Jodie, ao seu lado, balançando a cabeça com expressão indignada e confusa ao mesmo tempo.
- O que caralhos foi aquilo? – Ela perguntou assim que pisaram fora do palco, seguindo Cleo de perto. – O que você tem hoje, diabo? Olha para mim! – Gritou, quando a garota continuou a ignorando, e Jodie prestava atenção em tudo, nervosa.
Cleo soltou seu microfone com uma calma controlada em cima de seu camarim e se virou para Maxine, tirando os cabelos do rosto e chegando perto o suficiente dela para encará-la de frente, no fundo dos olhos.
- Qual o problema, Max? Nunca se contenta com nada sem pegar o que é dos outros?
- O quê?! – Ela balançou a cabeça, extremamente confusa. – Do que diabos você está...
-Devon soltou uma risadinha debochada, e todas olharam para ela.
- O que é?! Vocês todas ficaram loucas? Podem me explicar o que está acontecendo aqui?
- Eu pensei que não tivesse o direito de ficar brava com você ser uma vadia de primeira classe – Devon comentou, se aproximando da amiga também. – Porque não havia contado a vocês, mas aparentemente tenho todo o direito, porque até Cleo sabe.
Jodie e Romee olhavam a cena um pouco mais de longe, mas por um breve momento Cleo também olhou para Devon com confusão.
- Do que você está falando?
- De mim e Scott. – Ela disse, dando de ombros. – É claro. Se até você percebeu que a promiscua aqui o roubou de mim, então é claro que você também sabia, não é, Max? E decidiu se fazer de sonsa quando teve a chance de pular em cima dele, como você faz com todo mundo?
- Espera aí – Ela levantou as mãos. – Vocês estão falando de Scott Dempsey?! Isso é porque eu fiquei com ele? E você estava ficando com ele? – Olhou, incrédula, para Dev. – Então por que não nos contou?!
- Você ficou com ele? – Cleo olhou para Devon, também incrédula.
- Sim... Naquele primeiro almoço.
- Eu fiquei com ele! Muito antes disso, na primeira reunião!
- O quê? – Dev soltou uma risada meio incrédula e meio nervosa. – Mas...
- É claro, eu devia saber. – Cleo riu, com desdém, e revirou os olhos. – Mas é claro que a princesinha ia querer o garoto para si, para também girar em torno dela como o resto do mundo. Afinal, você é necessitada de atenção, não é, Dev?
Devon agora estava ofendida. Jodie só observava tudo desandar e não sabia quando intervir, desesperada com aquilo e ao mesmo tempo se sentindo de mãos atadas.
- Ok, olha – Max soltou uma risada nervosa. – Eu não fazia ideia dessa merda toda. Ninguém falou nada. Eu transei com ele, sim, mas se soubesse...
- Vocês transaram? – Romee se meteu na história, seu tom de voz entregando que ela se importava até demais com aquele detalhe.
- Não ficou óbvio na foto? – Cleo respondeu. – Você também?!
- Eu não... quer dizer, não chegamos a...
- Ah, meu Deus. – Devon agora parecia perdida, e levou as mãos à cabeça.
- O que foi, princesinha, você não transou? Ficou esperando o momento certo, né? – Cleo atacou, tendo certeza de que era aquilo, e acertando em cheio fazendo Devon se sentir mal, e rindo fraco. – Puritana. Fique sabendo que ele fode muito gostoso. – Provocou, sussurrando para ela, e Max soltou uma risadinha como se concordasse. Cleo a olhou. – E você. Eu devia ter previsto. É claro que você ia pular em cima dele, não se controla perto de homem nenhum. Não te ensinaram isso no lugar de onde você veio, certo?
- Cleo! – Jodie chamou, mas naquele momento elas pareciam nem lembrar que ela existia.
- Como é? – Maxine agora adotou uma postura incrédula e irritada, aproximando-se de Maxine. – Você não tem filtro, né, garota? Você acha que pode falar o que caralhos você quiser, porque sempre teve tudo nas mãos. Repete o que disse sobre mim. Repete, quando foi você a primeira a abrir as pernas para aquele otário.
- Cala a boca, Maxine! – Devon berrou. – Calem a boca vocês todas! Eu não me importo há quanto tempo vocês estão transando com Scott, mas eu e ele temos algo diferente! A gente conversou todos os dias durante todos esses meses, ele me conhece e eu o conheço, eu tenho certeza que vocês foram só passatempos, como sempre são. – Ela disse, agora falando como se estivesse convencendo a si mesma. – As coisas que ele dividiu comigo, vocês nem sonham em saber.
- Como os sonhos e planos mais antigos que ele tem? – Romee comentou, e Devon a olhou. –É, eu sei. Estamos trabalhando em uma coisa juntos. Ele disse que eu sou especial. Acho que está realmente gostando de mim, então seja o que ele tem com vocês, meninas, acho que vocês é quem estão entendendo errado. – Ela falou, encolhendo os ombros em seguida.
Bastou isso para que a gritaria começasse. As quatro, agora, falavam juntas, se atacando e tentando provar seus pontos ao mesmo tempo, enquanto Jodie apenas achava aquilo absurdo demais para sequer pensar no que falar.
E a gritaria se estendeu para outros dias e outras ocasiões. Agora elas ou não conversavam mesmo, ou só discutiam e gritavam umas com as outras, e a cada dia piorava um pouquinho mais. Era como se a cada discussão elas estivessem cavando um buraco mais fundo no chão onde jogariam a todas elas e arrastariam Jodie junto, para acabar com tudo que tinham. Elas nem ficavam mais no mesmo lugar depois que faziam o que tinham que fazer, e Jodie estava enlouquecendo com aquilo. Tentara conversar mil vezes, mas as coisas pioravam, toda vez que ela tentava as discussões recomeçavam. Enquanto isso, a única pessoa com quem as outras quatro falavam era Jodie, e só falavam sobre isso, tentando provar que estavam certas, até que Jodie explodiu, não aguentava mais ouvir falar daquilo, e disse a todas elas de uma vez que se precisasse ouvir mais uma vez sobre a porcaria do Scott Dempsey ela mesma sairia daquela banda.
As coisas foram ficando piores e piores, e em certo momento não era mais sobre ele. Elas se ofendiam tanto, trazendo coisas tão pessoais que só elas mesmas saberiam umas sobre as outras, e Jodie já havia desistido de tentar apartar. A equipe e a gestão estavam um caos, eles nunca ficaram tão amedrontados, os boatos de que elas estavam procurando advogados se espalharam e logo a história toda já estava até na mídia. Claro que era uma confusão, e ninguém exatamente sabia qual era a história certa, quem estava com quem ou quem havia traído quem, mas estava sendo um prato cheio para o mundo todo acompanhar.
Até que o dia chegou. Depois de um pocket show Romee desceu do palco avisando que não apareceria pelo resto da semana e seu advogado entraria em contato com a equipe para marcar uma reunião. Bastou para que as outras três fizessem o mesmo quase que instantaneamente, a agenda da banda foi cancelada, e depois que a reunião já era coisa certa – porque ninguém ali podia impedir as garotas de fazer aquilo – Jodie foi obrigada a também comparecer com seu advogado, porque era um assunto de seu interesse direto.

E é assim que chegamos a essa situação.
Jodie, com a testa já escorada no vidro gelado da mesa, não aguentava mais. Seus ouvidos explodiriam a qualquer momento, enquanto as quatro novamente discutiam. Jodie tentou respirar fundo como vinha fazendo para se controlar, mas na metade do inspiro ela gritou. Soltou um grito, levantando a cabeça e batendo com as mãos na mesa, que fez todos presentes pararem de falar para olhá-la.
- Vocês são umas putas egoístas do inferno! – Foi o que ela gritou. – Não querem calar a porra da boca por um segundo e escutar o que a outra está falando, e nem mesmo eu, porra, eu, que fiz tanto por essa merda de grupo, vocês não escutam mais! Vocês só gritam! Só pensam em si! Não pensaram em mim e no que eu quero nem por um segundo!
- Jodie, eu sinto muito, mas não podemos continuar assim se a gente não suporta mais nem se-
- Cala a boca, merda! – Ela gritou, calando Romee. – Eu não terminei! E além de egoístas são burras! Idiotas! Estúpidas! Começaram tudo isso por causa de um otário de merda desses, que deve estar rindo da cara de todas vocês nesse momento! E continuaram falando cada vez mais merda, e respondendo cada vez mais merda, e mais merda, até que vocês estivessem se machucando deliberadamente, de propósito, só para tentar sair por cima! Vocês estão ignorando completamente os últimos cinco anos, e tudo só porque estão sendo egoístas! Pra! Caralho! – Terminou, ainda berrando, e todas elas a olhavam com os olhos bem atentos, ela sabia que, apenas esperando para que pudessem voltar a falar seus pontos de vista. Mas quando iam começar de novo novamente ela as calou.
Jodie encarou a mesa em silêncio por um tempo.
- Cleo. – Olhou para a amiga. – Você foi a primeira. Vocês transaram numa porcaria de banheiro, e depois ficaram trocando sacanagem por mensagem. Ele te fez ficar esperando a ele como uma cadela no cio, prometendo que ia acontecer de novo, mas que estava muito ocupado, e fazendo você esperar enquanto ele estava enrolando agora a Devon. – Apontou para a outra amiga. – Querida, você é idiota. Você se ilude com o pior dos babacas, só porque ele fez uma carinha fofa e inventou um monte de merda sobre como é sensível e como realmente se sente. E é sempre a mesma coisa, Devon. Sempre. Seus últimos três relacionamentos acabaram por isso. Você é ingênua e boba, e acredita em qualquer coisa como uma criança de dez anos. Homens sempre mentem. E ele te enrolou esse tempo todo, te fazendo ficar lá como um estepe caso ele não tivesse ninguém melhor para foder, e então se precisasse, era só te chamar, que você ia correndo. E Romee – virou para a outra amiga. – Eu esperava muito mais de você. É uma garota esperta, e sei que não se apegou tanto àquele merda, pois sabe da capacidade dos homens de serem uns merdas. Mas você deixou que ele te fizesse descer até o nível mais baixo. Ele te manipulou usando conversas fiadas sobre as coisas que você gosta, e então quando começaram a discutir você começou a dar ouvidos para as ofensas e a ofender as outras garotas como se não fosse inteligente o suficiente para saber que a culpa não é delas. E Maxine. Você ficou com o cara sem saber sobre as outras, o que não é um crime. Mas pare de ser infantil, e pare de botar lenha na fogueira e ofender os outros. Você e Cleo falam tanta merda, não é de se espantar que acabem perdendo todos os amigos que têm desse jeito.
O silêncio novamente reinou por um momento.
E agora estamos aqui, um grupo que vale bilhões de dólares, que rende dinheiro, dinheiro suficiente para dar vidas confortáveis não apenas às nossas famílias, mas a pessoas que ajudamos, a ONGs, a movimentos, a campanhas. E sei que podemos continuar fazendo isso separadas, mas não é assim que tem que terminar. Esse grupo só pode terminar quando for pelo motivo certo, para que daqui há cinquenta anos a gente olhe para trás e lembre que foi bom, que acabou bem, e para que possamos voltar a subir num palco juntas e fazer uma reunião, porque nós amamos o que fazemos, eu sei que amamos, e amamos umas às outras! E vocês querem jogar isso tudo fora por causa de um caralho de um babaca como o Scott Dempsey e algumas ofensas que disseram sem pensar e só precisam pedir desculpa! Estão entendendo? Como isso é ridículo?!
Silêncio. Silêncio sepulcral. Depois de minutos, Devon suspirou, parecendo começar a concordar com aquele discurso.
- Ele disse que sempre quis me conhecer, que esperou por aquilo por muito tempo. – Comentou, desanimada.
Cleo então ergueu os olhos para ela.
- Ele disse?
- É.
- É. – Romee também concordou.
- É. – Max deu de ombros.
Todas se olharam.
- É. – Cleo concordou.
Ao ouvir aquilo, Jodie só conseguiu rir. Ela teve um acesso de riso, que foi difícil de controlar. Quando parou as garotas a olhavam.
- Ele enrolou todas vocês muito bonito.
- Ele nos enrolou. – Devon disse, depois de um tempo, olhando para todas e aceitando aquela verdade inevitável.
- É, ele enrolou. – Romee também concordou.
- Bem... – Maxine deu de ombros. – Eu prefiro admitir isso agora do que em cinquenta anos: isso é ridículo.
Todas se olharam de novo.
- É.
- É.
- É.
Silêncio de novo.
- E o que vamos fazer, então? – Uma delas perguntou.
- Ah, eu sei exatamente o que vamos fazer. – Jodie se pronunciou, e sorriu. – Mas antes, vamos todas pedir desculpas e se perdoar.

O Grammy se aproxima, e junto com ele o que dizem ser a última apresentação de Sparkly como um grupo. Todos estão ansiosos, ninguém sabe o que esperar, e a indústria da música está em polvorosa esperando por uma declaração oficial da banda. Ainda não sabemos, tampouco, se o que causou a briga e a separação realmente foi o que dizem os boatos e todas as revistas: uma briga causada por Scott Dempsey, que supostamente teria ficado com outras garotas do grupo além de Maxine. O garoto não se pronunciou sobre isso em momento algum, e também não sabemos se ele realmente participará da última apresentação do grupo no palco da premiação mais importante da música, que acontecerá nesse domingo, e que dizem as fontes, contará com a performance de Twisted Love, parceria entre os artistas. Mas enquanto o Grammy não chega e não sabemos exatamente o que pensar, que tal acompanhar tudo que sabemos da história na íntegra em nosso site?...


Faltavam cinco dias para o Grammy e os ensaios estavam a toda. Elas já deviam ter começado a ensaiar há pelo menos duas semanas, mas devido aos acontecimentos aquilo não aconteceu. Foi só uma semana antes da premiação que a equipe da Sparkly contatou os organizadores do Grammy para avisar que, sim, fariam aquela última apresentação. É claro que no mesmo segundo todos os sites só falavam nisso: o grupo, aparentemente, realmente ia se separar. E muito provavelmente por causa de Scott Dempsey, que a cada segundo ficava mais odiado, mais falado e mais popular no mundo todo, exatamente o que uma figura como ele gostava.
Entraram em contato com o garoto apenas por telefone, convidando-o a fazer aquela última apresentação com elas, alegando que era parte de uma clausula do contrato que já estava escrita há tempos, e só depois de performarem aquela música ao vivo elas poderiam se separar em paz. Ele, é claro, não tardou a aceitar. Devia estar imaginando que só ganhava cada vez mais e mais com aquele assunto. Estaria no palco do evento mais esperado do mundo da música, em rede mundial, provavelmente com um recorde de audiência os assistindo para saber o que aconteceria.
As garotas estavam, lentamente, voltando aos eixos. Claro que não era fácil simplesmente ignorar as coisas que falaram umas para as outras no calor do momento, mas elas fizeram essa força e estavam tentando, sabendo que elas mesmas haviam falado praticamente tudo da boca para fora. Jodie estava trabalhando feito louca para tudo dar certo, e elas estavam cada dia mais empolgadas, 100% focadas no trabalho e em como aquele episódio daria uma guinada na vida de todas elas e mudaria todo o curso de suas carreiras dali para frente.
- Meninas, meninas! – Jodie subiu no enorme palco vazio da arena onde as outras quatro treinavam a coreografia da música tentando alcançar suas marcas com perfeição. A morena carregava umas folhas que balançava no ar, até parar no meio do palco e sentar no chão. – Terminei a música. Venham! Vejam. Eu preciso que me ajudem a dividir os vocais. Vamos ter que treinar.
Todas elas vieram curiosas e apressadas para perto da amiga e se sentaram próximas a ela num círculo no chão, recebendo uma folha cada uma com a mais nova composição de Jodie, que já estava em andamento há muito tempo, mas esteve guardada no fundo do baú por um bom tempo à espera da devida inspiração. We Know era como ela se chamava, e enquanto liam a letra as meninas balançavam a cabeça, concordando e gostando das palavras bem escolhidas.
- Ela vai ser mais ou menos assim... – Jodie começou a fazer a melodia e cantar a letra baixinho. – Estou trabalhando com o Eddie, ela fica pronta em breve.
- Eu acho que você deve começar. – Devon comentou, olhando para Romee. – Ela começa com um tom bastante baixo, você alcança com perfeição. E você, também, Cleo. – Ela olhou para garota e abriu um sorrisinho fraco. – Consegue fazer isso melhor que nós.
A amiga devolveu o sorriso.
- O último refrão cantamos juntas?
- Uhum. Eu vou ficar com o refrão, porque o resto da música diz coisas que vocês precisam falar mais do que eu. – Riu fraco. - Na segunda parte vem você. – Jodie apontou para Maxine. - Então vai ficar assim: Romee começa, Devon e Cleo fazem a ponte, eu faço o refrão. Depois vem a Max, Dev e Cleo com a ponte novamente, e eu com o refrão. Da segunda parte em diante vamos começar com o coro atrás das meninas fazendo a ponte. Nessas palavras destacadas. – Ela explicou.
Elas novamente trocaram um sorriso simpático e continuaram programando, juntas, como seria. Por fim conseguiram dar uma cantada juntas, mesmo que sem a melodia perfeitamente estruturada, ajudando Jodie a adicionar alguns detalhes importantes, como notas mais agudas e altas, como era da especialidade de Devon. Ainda tinham cinco dias para terminar aquela parte importantíssima do plano.

Então, cinco dias depois, o momento chegou. Era o grande dia do Grammy, a apresentação estava abarrotada dos maiores, melhores e mais importantes artistas da indústria musical, e mesmo assim o que todos esperavam eram elas. Scott chegou mais cedo, passando pelo red carpet e respondendo a algumas perguntas bobas, mas sem contar nada sobre a apresentação. Ele mesmo havia ensaiado sua parte separado da delas, e imaginava o quão putas elas estariam com ele. Ele ria só de imaginar; aquela apresentação entraria para a história da música, assim como Britney, Cristina e Madonna no VMA.
As garotas entraram quase no final, quando a premiação estava prestes a começar. Estouraram o red carpet, é claro, mas não responderam a nenhuma pergunta, apenas pousaram para as fotos. Elas entraram, e seus lugares eram no extremo oposto do local onde ficara Dempsey. Então a premiação começou, e elas sabiam que ficaram para o final, para fechar aquela noite com chave de ouro, porque mesmo que ninguém além delas, poucas pessoas de sua equipe e algumas pessoas da organização do Grammy soubessem o que aconteceria naquele palco, o mundo todo sabia que era algo que ninguém iria esquecer.
A noite passou, com muita música, entrega de prêmios, homenagens e piadas do apresentador. Quando estava na hora, as meninas foram chamadas para o backstage para se ajeitarem e trocarem de roupa, e Jodie se certificou com Clary se estava tudo certo mesmo, com os editores do som e do palco. Ela assentiu positivamente, tão empolgada para aquilo quanto elas. Estava simplesmente orgulhosa de suas garotas.
Depois de prontas, elas entraram naquele palco como se fosse a última vez, ouvindo a plateia ovacionar suas simples aparições no palco antes mesmo de a música começar. Twisted Love começou a tocar e, como de praxe, elas cantaram. A participação de Dempsey vinha na terceira parte, depois do segundo refrão, e era quase que um rap. Cada uma das garotas fez o programado, o que já haviam ensaiado para a apresentação daquela música há muito tempo, seguindo todos os passos. Foi só no final do segundo refrão, quando estava quase na parte de Scott, que elas mudaram o resto dos passos afastaram-se umas das outras, indo cada uma para um canto do palco, que ficara escuro enquanto a música continuava, para a entrada triunfal de Scott. Ninguém percebera nada diferente, as pessoas achavam que era aquela a coreografia mesmo: elas sumiam para que ele aparecesse debaixo do holofote.
Então ele apareceu, vindo do fundo do palco, e quando levou o microfone à boca para começar a cantar, a música subitamente parou. Foi como se houvesse uma queda de energia, mas só o que desligara fora a música, e Scott deixou escapar algumas palavras antes de parar e olhar para cima, confuso e nervoso ao mesmo tempo. Era aquilo um erro grotesco com a edição do som, na frente do mundo todo enquanto ele estava no meio do palco? Aquilo era a pior coisa que podia acontecer naquela noite.
Mas não era.
Foi então que ele olhou em volta brevemente, e percebeu que o resto do palco, tirando o local onde ele estava, não estava iluminado. Um momento depois, uma melodia desconhecida começou a tocar no lugar de sua parte de Twisted Love. Era uma melodia mais lenta, mas provocativa e com poucas notas. Nesse momento, Romee foi iluminada com um fraco holofote ao dar um passo à frente na escuridão, e começou a cantar:

Same words, same thirst (as mesmas palavras, a mesma sede)
Just a different name (só um nome diferente)
Same jokes, same laughs (as mesmas piadas, as mesmas risadas)
Guess that's just your game (acho que esse é seu joguinho)
You gotta have her (você precisa tê-la)
The same way you gotta have me (da mesma forma que você precisa me ter)
You show me everything I need to see (você me mostrou tudo que eu preciso ver)


Scott estava extremamente confuso, plantado no mesmo lugar no palco, enquanto seu rosto desnorteado era gravado para o mundo todo ver. A próxima a surgir do escuro fora Devon, demonstrando ironia enquanto cantava.

Well even though you're so damn fine (Bem, mesmo que você seja tão lindo)
I know I'm better off without ya (sei que estou bem melhor sem você)
Even if you cross my mind (mesmo se você me vier à cabeça)
I will always have to doubt ya (sempre vou ter que duvidar de você)


Ele estava começando a entender que aquilo era um tipo de pegadinha. Mas não sabia como agir. O fato de estar ao vivo para o mundo todo começou a cair em cima dele, o deixando tão nervoso que suas pernas começaram a tremer, pela primeira vez na vida em cima de um palco. Ele não sabia o que fazer. Então seguiu os olhos para onde a próxima luz se acendeu, mostrando Cleo, a primeira das garotas que enganou naquele grupo. Ela abriu um sorrisinho de canto, encarando-o como se seus olhos pudessem comê-lo vivo.

I won't believe a thing you say this time (Não vou acreditar em nada do que você diz dessa vez)
All them other girls told me (todas as outras garotas já me contaram)
How you play your game (como você faz o seu jogo)
Yeah we know all about you (Sim, nós sabemos tudo sobre você)
I know it probably worked for you last time (eu sei que provavelmente deu certo para você na última vez)
But them other girls told me (mas as outras garotas me contaram)
How you play your game (como você faz o seu jogo)
Yeah we know all about you (som, nós sabemos tudo sobre você)


Jodie apareceu dessa vez, trazendo o refrão, com um sorriso desdenhoso para ele, do lugar de onde ele havia entrado. Ele deu um passo para trás olhando em volta, queria sair daquele palco, mas ela estava trancando a saída.

Ooh we know, we know, we know (Ooh, nós sabemos, nós sabemos, nós sabemos)
We know, we know, we know (nós sabemos, nós sabemos, nós sabemos)
Yeah all about you (sim, tudo sobre você)
Ooh we know we know we know (Ooh, nós sabemos, nós sabemos, nós sabemos)
We know we know we know (nós sabemos, nós sabemos, nós sabemos)
Yeah all about you (Sim, tudo sobre você)


Agora Scott estava começando a entender. Elas o enganaram. Estavam castigando-o em frente ao mundo todo, e ele não podia fugir. Parecia um pesadelo.
As pessoas na plateia estavam tão vidradas que nem piscavam, assim como todos em casa também. Maxine surgiu, então, e cantou a sua parte, aproximando-se mais dele que as outras, e o empurrando com dois dedos:

First off you should really be ashamed (Em primeiro lugar, você devia ter vergonha)
You won't entice me with that big 'ol chain (você não vai me seduzir com essa grande corrente)
Can't have my number put that phone away (não vou te dar meu número, guarde esse celular)
Maybe you should just stay in your lane (talvez você deva ficar na sua)


Devon voltou com sua parte, e em seguida Cleo, com a ajuda de todas as garotas no backing vocal, e no começo do segundo refrão, enquanto Jodie cantava, Devon fazia algumas notas por cima e as outras meninas faziam o coro no fundo. Há essa altura, os holofotes a seguiam enquanto elas se aproximavam passo por passo dele, como se o encurralassem, e Scott, agora parecendo espantado, só ficou parado lá, plantado, sem nem reagir. Nem conseguia soltar suas risadas debochadas para fingir que aquilo não o estava abalando, porque ele estava aterrorizado. Sua reputação se destruía mais a cada segundo. Mas ele não sabia que ainda ia piorar: no final do segundo refrão, Cleo repetiu sua parte, com as amigas fazendo os coros:

I won't believe a thing you say this time (Não vou acreditar em nada do que você diz dessa vez)
All them other girls told me (todas as outras garotas já me contaram)
How you play your game (como você faz o seu jogo)
Yeah we know all about you (Sim, nós sabemos tudo sobre você)
I know it probably worked for you last time (eu sei que provavelmente deu certo para você na última vez)
But them other girls told me (mas as outras garotas me contaram)
How you play your game (como você faz o seu jogo)
Yeah we know all about you (som, nós sabemos tudo sobre você)


E então veio o último refrão, onde, ao mesmo tempo em que todas começaram a cantar juntas, com as vozes potentes soando em uníssono e arrepiando qualquer um que ouvisse, as luzes do palco se acenderam, revelando ao redor de todos eles em um círculo no palco que literalmente prendia Scott lá no meio, formado por dezenas de garotas vestidas com macacões pretos, em sua grande maioria modelos, muitas delas super famosas. O público automaticamente reconheceu aquelas todas como sendo ex ficantes, rolos, ou namoradas de Dempsey, que levaram pé na bunda ou foram expostas da pior maneira possível na mídia, enquanto aumentavam a fama de bonzão dele. Algumas delas estavam lado a lado com as garotas pelas quais todos sabiam que haviam sido trocadas, ou traídas, mas todas elas tinham os olhos focados nele, enquanto cantavam alto o último refrão junto com as garotas, como um coral, aumentando ainda mais a força daquelas palavras. O público agora estava alucinado. Aquilo era demais. Era demais em todos os sentidos. Era tão foda, que ninguém conseguia acreditar. Todos sabiam que a partir daquele momento Scott Dempsey seria para sempre a chacota do mundo da música. Todos sabiam que, mesmo que ele tentasse recuperar sua fama de garanhão, nenhuma outra mulher jamais o levaria a sério a partir daquele momento. E era genial. Era tão genial, que quando a música finalmente terminou, o público todo pulou de suas cadeiras quase que no mesmo momento e começou a aplaudir insistentemente. As garotas saíram do palco logo que a música terminou, sendo seguidas pelas outras, de preto, mas Scott foi o único a conseguir sair de lá. Enquanto isso, os aplausos, que ainda se seguiram e continuariam pelos minutos seguintes, apenas faziam o garoto se sentir menor e menor em cima do palco, sem conseguir acreditar naquilo.
Ele jamais recuperaria sua carreira.”

Após a sensacional performance do grupo Sparkly, que fechou o Grammy na semana passada e chocou boa parte do globo com sua música inédita feita especialmente para Scott Dempsey e cantada para o próprio ao vivo no palco do Stemples Center, a equipe da girlgroup anunciou mais cedo nessa semana que o próximo álbum das garotas já está sendo produzido, e que o grupo não tem intenção nenhuma de se separar tão cedo. Em entrevista para a afterparty do Grammy, Jodie Sahara comentou que elas “já pensaram inclusive na capa do próximo disco, e também nos agradecimentos” onde, segundo Devon Sullivan, “agradeceremos com certeza a Scott Dempsey e sua finada carreira por ter nos unido ainda mais, e ter dado início a uma nova era de Sparkly, onde nós nos amamos e nos apoiamos mais do que nunca!”. Pois é, aparentemente não só Scott, mas nós também aprendemos uma valiosa lição com essas garotas. Não mexa com as mulheres. No momento em que descobrem que são melhores juntas, elas são uma arma poderosa e impossível de parar.


Fim!



Nota da autora: É isso, manas. A mensagem não podia ser mais clara. Espero que tenham gostado, e se ficaram curiosas e não viram, cliquem no nome sublinhado de cada uma das garotas na apresentação individual delas, para ver quem elas representariam no mundo real. Beijinhos e por favor, comentem!
Lai xx

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