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Capítulo 01 — Dépaysement

“Sentir-se um peixe fora d’água”.

Não havia nada que odiasse mais do que despedidas. Pelo menos era isso o que ela pensava enquanto apertava seus braços ao redor do namorado, que escondia o rosto na curva do pescoço dela e inalava a maior quantidade de perfume que conseguia. Talvez assim ele pudesse manter o cheiro da moça consigo por todo aquele tempo em que precisariam ficar afastados.
Os dias que antecederam sua partida pareceram passar tão rápido que por mais ansiosa que ela estivesse com o que viria pela frente, não conseguiu deixar de praguejar o universo. Se Pietro ao menos estivesse partindo com ela, tudo seria muito mais simples.
Porém, nada nunca foi simples para ela.
— Prometa que vai me escrever todos os dias — escutou a voz do rapaz murmurar, antes dele afastar o rosto de seu pescoço para encará-la nos olhos. deixou um sorriso torto se formar em seus lábios.
— Não preciso fazer isso, você sabe que eu vou — deu um selinho nos lábios dele. — Vai passar rápido, Pietro, você vai ver.
Se ela continuasse repetindo aquilo, talvez o universo conspirasse ao seu favor, certo?
— Mal vejo a hora de estar junto de você — tocou o rosto dela, lhe fazendo um carinho que foi interrompido pela chamada de passageiros, indicando que era a hora de embarcar. — Odeio ter que te deixar ir.
— Pense nisso como uma chance de você realmente se preparar para conhecer o Senhor — ela brincou, piscando de leve para o rapaz. — Preciso ir.
— Boa viagem, gata. Não esqueça de mim — beijou a namorada pela última vez e deixou que ela se afastasse.
— Ih, quem é você mesmo? — brincou. — Pietro Langdon, nem se eu quisesse, esqueceria você.
— Eu te amo, — disse, alto, chamando atenção de algumas pessoas.
— Eu também te amo, babe. Até logo — a garota então apressou seus passos e entregou o cartão de embarque para que pudesse seguir até o avião.
Olhou uma última vez na direção de Pietro e lançou um beijo para o rapaz, sorrindo e lhe dando as costas antes que desistisse de ir embora.
odiava despedidas, mas sempre bancava a mais forte em todas elas. Não derramava lágrimas, mantinha todos os pensamentos o mais positivos possíveis e só quando estava sozinha, devidamente acomodada em seu assento, ela deixava que as emoções tomassem conta de si.
Do lugar onde estava, ela conseguia avistar a janela onde ela sabia que o namorado permanecia ainda parado. Pietro só sairia do aeroporto quando o avião decolasse, não tinha dúvida alguma quanto a isso.
— São apenas alguns meses, — murmurou, para si mesma, sentindo os olhos se enchendo de lágrimas.
Sentia que a saudade já dava as caras em seu coração, junto à ansiedade do que vinha pela frente e o medo do rumo que sua vida tomaria dali em diante. estava deixando toda a sua vida em Ohio para trás e, sendo sincera, esperava que não precisasse mais voltar a morar ali. Não que odiasse, mas todos os seus sonhos lhe aguardavam em Baltimore – Maryland.
Pensou em sua mãe, que só não lhe trouxe ao aeroporto por estar de plantão no hospital onde era enfermeira e praguejou pela milésima vez a chefe que não permitiu a troca de horário. No entanto, no fundo, sabia que a mãe também não gostava de despedidas. Talvez a garota nem tivesse forças para realmente partir se a mais velha estivesse no aeroporto.
Colocou algum filme aleatório para assistir durante o voo e conseguiu se manter entretida até chegar ao seu destino.
Ao ouvir o piloto anunciar que pousariam em poucos minutos, o frio na barriga lhe deixou até meio enjoada e a garota respirou fundo, se achando boba e soltando uma risada baixa.
Desembarcou quase sem acreditar que realmente estava ali, respirando novos ares e prestes a conhecer tantas outras coisas novas.
Assim que cruzou a porta de desembarque, no entanto, viu alguém que não era novo para ela e seu coração se aqueceu porque ali estava uma saudade que ela conseguiria aliviar.
— Pai! — gritou, vendo o mais velho parar de procurar por ela e vir quase correndo em sua direção.
Completamente atrapalhada com as malas, deixou a bolsa de mão cair para pular no pescoço do pai e abraçá-lo bem forte, sentindo-se absurdamente feliz por estar ali com ele.
— Minha menina! — a voz grave do homem soou, com o mesmo alívio que ela sentia, e quando ambos se desvencilharam um sorriso torto se formou em seus lábios. — Não consigo imaginar sua mãe aceitando esse tanto de tatuagens.
Uma gargalhada escapou dos lábios de e ele a acompanhou.
— Ela chorou até a quinta. Depois disso, desistiu de implicar com elas — deu de ombros. — Mas se esse é o seu jeito de perguntar como minha mãe está, Senhor Charles, saiba que ela está ótima. Continua trabalhando feito maluca, mas está ótima — estreitou os olhos para ele, vendo-o coçar a nuca, sem jeito.
— Que bom que ela está bem então. Falando em trabalho, precisamos ir porque o meu está me aguardando — torceu a boca. — Aqui, deixe eu ajudar com essas malas.
O ajudar dele na verdade era carregar todo o peso sozinho e mesmo que dissesse que conseguia levar uma de suas duas malas, Charles insistiu.
Pararam diante do carro e até arregalou os olhos. Não entendia nada de carros, mas logo viu que aquele valia uma fortuna.
— Minha nossa — não conteve seu espanto, observando o pai guardar as coisas no porta-malas.
— Você ainda não viu nada, querida. Ele tem mais dois — riu da surpresa dela.
— E para que tudo isso se ele nem dirige? — questionou, se sentando no banco do carona.
— Quem disse que ele não dirige, ? — Charles deu partida e logo seguiu pelas ruas da cidade.
— É meio óbvio que não, papai. O cara tem motorista, segurança e sei lá mais o quê — deu de ombros, mexendo no rádio do carro, sem nem ligar se era do patrão do pai. — Nenhum cd? Ele deve ser entediante — Charles riu alto.
— Está enganada quanto ao Senhor , . Ele não gosta de andar com motorista e seguranças. Só o faz porque precisa — explicou, em defesa do homem, mesmo que ele nem estivesse ali para ouvi-lo. Sua expressão então adquiriu um tom mais sério. — Tem sido dias difíceis, música não tem adiantado muita coisa.
não soube se deveria ou não questionar o porquê, mas acabou deixando para lá quando pararam diante da casa onde ela moraria dali em diante.
Era muito maior do que havia imaginado e se segurou para não deixar a boca aberta com o quanto só a visão externa a havia agradado.
— É difícil de acreditar que ele não gosta dessas coisas. Olha só o tamanho dessa casa! — Charles desceu do carro e deu a volta, abrindo a porta para a filha e a esperando sair para depois ir pegar suas malas.
— Você queria que um senador morasse onde? Em um apartamento no subúrbio? — comentou, cheio de graça.
— Não sei se consigo me acostumar a morar aqui, pai. Espero conseguir um emprego logo, aí eu alugo um apartamento e...
— Nada disso, . Você não vai gastar com aluguel, filha. Já falei que não tem problema você ficar aqui comigo. O Senhor é gente muito boa, você vai ver — tranquilizou a garota, vendo que ela estava desconfortável.
— Ah, pai — suspirou, pegando a bolsa de mão e acompanhando o mais velho até a entrada dos fundos.
— E o seu namoradinho? Achei que vinha com você — perguntou, indicando o corredor que dava acesso ao novo quarto de .
— Ele vem, mas vai ter que aplicar de novo para a faculdade. Não conseguiu passar dessa vez — fez uma careta e o pai acenou, notando que aquilo lhe chateava.
— Passa rápido, você vai ver — sorriu e ela retribuiu, parando diante da porta que o mais velho indicou. — Vá em frente.
abriu a porta do quarto e seus olhos logo se iluminaram em satisfação. Assim como a casa, era muito maior do que ela esperava. Tinha uma cama king size que parecia tão fofa que lhe deixava louca para sair correndo e pular em cima e a cabeceira era de ferro francesa dourada. Havia um criado mudo em cada lado e na frente um grande espelho.
— Tem sacada e tudo! — quase gritou, observando a grande porta de vidro fechada e seguiu com o olhar para a mesa de estudos próxima do local, o que ela achou perfeito porque seria maravilhoso estudar podendo observar o mundo lá fora.
Uma porta dava acesso ao banheiro, surpreendentemente pequeno comparado ao tamanho do quarto, enquanto a outra guardava um closet.
— Eu nem tenho roupa para isso — deu risada e não conseguiu mais resistir à tentação de se jogar na cama. — Minha nossa! E eu achando que ia dividir o quarto contigo, pai.
Parado na soleira da porta, Charles apenas observava a filha, sorrindo por ver o quanto ela havia gostado.
— O Senhor fez questão de que você tivesse o próprio quarto. Você pode mudar a cor dele se quiser e deixar mais a sua cara.
— O que o senhor faz para ele ser generoso desse jeito? Se eu contar para qualquer pessoa, vai ser difícil de acreditar — riu, boba.
é como um irmão mais novo, filha. Meu pai também era chefe de segurança e meu avô cuidava dos antes disso. Você só não cresceu aqui porque, bem... Eu e sua mãe nos separamos — terminou de colocar as malas da filha no closet, porque ali já facilitava as coisas para ela.
— É verdade. Se é como o senhor diz, faz sentido. Fico feliz que ele não seja nenhum carrasco — Charles balançou a cabeça em negação, rindo. Então olhou para seu relógio de pulso e praguejou baixo por estar quase atrasado.
— Não é, minha querida. Vou deixá-la descansar. Preciso acompanhar o Senhor em um compromisso. Fique à vontade e se você sentir fome, procure pela Julieta na cozinha — se apressou e despediu-se de .
— Tudo bem, pai. Não sei onde é a cozinha, mas eu me viro, não se preocupe — assentiu para o pai, sorrindo.
— Até logo, querida — Charles saiu, encostando a porta e dando privacidade para .
Ainda deitada na nova cama, olhou para o teto, vendo o belo lustre e suspirando sem ainda acreditar que ia mesmo morar em um lugar como aquele. Não ia mentir, ela nunca teve nada daquilo, mas a ideia de ter lhe agradava e muito, era por isso que ela havia se esforçado muito para passar na Universidade de Baltimore. Queria um dia ter um lugar como aquele para chamar de seu e ela teria, não desistiria enquanto não tivesse.
Pensou no tanto que o pai se dedicava ao trabalho e em como ele falava bem de , o que a deixava realmente curiosa para conhecê-lo. Queria tirar suas próprias conclusões sobre o senador e de repente se sentiu um tanto idiota porque nunca nem sequer havia visto a cara dele.
— Você vai cursar Direito e não sabe a cara do senador, como você é esperta, hein, ? — resmungou, resolvendo pegar o celular para pesquisar sobre o dono da casa, então se deu conta de que o pai não havia lhe passado a senha do wi-fi. — Droga — bufou, porque sem internet ela não poderia nem falar com Pietro e contar sobre a casa fabulosa onde agora morava.
Ela devia era arrumar logo as coisas no closet, mas a cama estava tão macia e os olhos de de repente estavam tão pesados que ela parecia até ter tomado sonífero. Só deu tempo de a garota largar o celular ao seu lado na cama mesmo, porque não tinha forças para se esticar até o criado mudo, então ela se rendeu aos braços de Morfeu.


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Meio atordoada, quando a garota despertou, estava até escuro lá fora. Deu um pulo na cama, sentando-se rapidamente e se arrependendo porque ficou levemente tonta. Seu estômago reclamou imediatamente e ela pegou o celular para ver que horas eram. Oito e trinta e sete da noite.
Minha nossa, ela havia dormido demais!
Precisava desesperadamente arrumar alguma coisa para comer, então saiu da cama e conferiu o estado de seus cabelos, caçando a escova dentro da bolsa para penteá-los rapidamente antes de se aventurar pela casa. Acabou tendo que refazer seus planos, porque seus cabelos na verdade estavam em um estado deplorável e se sentiu até meio nojenta por não ter nem tomado um banho antes de se deitar.
Após pegar tudo o que era necessário, entrou no banheiro e ainda não conseguia acreditar que ela tinha uma banheira só para ela. Parecia que havia entrado em um daqueles contos de princesa.
Pena que seu príncipe havia ficado em Ohio.
Torceu a boca em um bico enquanto passava o sabonete pelo corpo rapidamente. Não tinha intenção de ficar esquecida dentro daquela banheira, pelo menos não naquele momento, já que a fome continuava fazendo seu estômago reclamar.
Limpinha e cheirosa, ela logo tratou de vestir algo confortável. Normalmente, não usava pijama para dormir, preferia usar uma de suas camisetas grandes de banda e alguma calcinha que não ficasse lhe incomodando. E como ela não podia sair andando pela casa de calcinha, colocou ao menos um shorts.
Sem a menor paciência para secar os cabelos, ela apenas tirou o excesso de umidade e então saiu do quarto, seguindo por aquele corredor e tentando gravar em sua memória de onde havia saído.
Aquela casa realmente era grande demais, porque em menos de três minutos já estava perdida. Quantos andares aquilo tinha? Balançou a cabeça e mordeu os lábios.
— Bem que podia passar alguma alma viva por aqui — resmungou, para si mesma.
Desceu por uma escada circular, encontrando uma sala pequena, com algumas poltronas e seguiu por outro corredor, indo parar em outra sala.
— Minha nossa, quantas salas! — e ela ia passar reto, como havia feito com a anterior, mas algo ali lhe chamou a atenção.
Bem no canto, próximo a uma janela com as cortinas meio cerradas, havia um belíssimo piano.
Seus olhos brilharam de imediato e um pequeno sorriso quis se formar em seus lábios. Ela não fazia ideia de que tipo de piano era aquele, a marca ou qualquer outra coisa, nem ao menos sabia tocar, mas ela era simplesmente fascinada por aquele instrumento desde pequena.
Sem pensar direito, ela seguiu até o piano e seus dedos o tocaram suavemente, revelando a temperatura fria devido ao ambiente e lhe causando uma sensação agradável, porque seu sorriso então se alargou e seus olhos se cerraram.
Quando era muito pequena, Charles colocava música clássica para que ouvisse e ela prosseguiu com aquele hábito.
Todas as vezes em que ouvia uma música, ela se pegava imaginando como seria se tornar uma grande pianista e tocar para aqueles teatros lotados.
às vezes era tão sonhadora!
— Você toca? — seus pensamentos foram interrompidos por uma voz grave, fazendo a moça pular de susto e olhar rapidamente em sua direção.
Surpreendeu-se quando seus olhos localizaram um homem parado a alguns metros dela, não apenas por ela não ter escutado seus passos, mas também porque tinha gostado imensamente de sua aparência. Podia-se ver os músculos dele ressaltados sob a camisa social clara, que fazia um conjunto perfeito com a calça de lavagem escura e a gravata perfeitamente alinhada. precisou conter a vontade de morder a boca, principalmente, quando subiu seu olhar até o rosto dele e notou o perfeito par de olhos , lhe encarando com curiosidade.
Minha nossa! Como é que ela conseguiria pensar em qualquer coisa que fosse com um deus daqueles trabalhando na mesma casa que ela morava?
Pietro que lhe perdoasse pelos pensamentos, mas socorro?
— Se eu toco? — resolveu falar, antes que ele pensasse que ela era alguma doida e o homem assentiu apenas. — Ah, não. Meu sonho de consumo sempre
foi ter um desses em casa, mas nunca tive condições — sorriu, dando de ombros, sentindo uma enorme dificuldade em desviar o olhar dele. — E você, toca? — perguntou, por pura educação, e ele demorou alguns segundos para lhe responder, encarando-a demoradamente, como se retribuísse a análise que havia lhe feito.
— Eu costumava tocar, agora não mais — disse, por fim, arriscando dar mais alguns passos na direção da moça, diminuindo a distância entre eles.
— Sério? E por que não? Acho que se eu tivesse um desses e soubesse tocar, ficaria várias horas do meu dia só fazendo isso — soltou, de forma sonhadora, então riu um pouco de si mesma. — Não que eu seja uma desocupada, mas... Você entendeu — e ele apenas acenou afirmativamente, achando no mínimo curioso o jeito dela.
— Não sou nenhum grande pianista, na verdade. Minha esposa costumava passar mais tempo do que eu aí e ela sim era fantástica — se surpreendeu pela resposta e só conseguiu pensar que a esposa daquele cara tinha tirado uma sorte grande. Além de bonito, ele exalava um charme quando falava que fez a moça desejar momentaneamente não ter namorado algum.
— Entendi — ela levou uma das mãos aos cabelos, ajeitando uma mecha para trás da orelha e contendo a vontade de olhá-lo de cima a baixo novamente. Parecia que tinha voltado a ter catorze anos e os hormônios à flor da pele. — E onde ela está? Sua esposa? — não sabia por que estava insistindo em prolongar a conversa, mas ela o fazia.
— Infelizmente, está morta — o choque atravessou o corpo de em um arrepio desagradável e ela imediatamente arregalou os olhos, levando suas mãos até a boca.
— Oh, minha nossa! Me desculpe. Eu não sabia... Nossa, desculpa mesmo! — disparou a falar, imaginando o quanto falar aquilo poderia ter custado a ele, mesmo que não soubesse há quanto tempo a esposa dele havia falecido.
— Tudo bem, não se preocupe com isso — fez um gesto que demonstrava isso mesmo, por mais que o olhar dele dissesse o oposto. Falar na esposa morta ainda lhe doía, sim, mas ele precisava se acostumar a isso uma hora ou outra.
— É sério. Não consigo nem imaginar o quanto você deve sofrer por isso. Fui meio idiota e não atentei você ter falado dela no passado. Me perdoe, de verdade — insistiu, sentindo-se tão mal por aquilo que sua vontade foi a de sair correndo dali.
— Eu entendo. É sério — repetiu o que ela havia dito, frisando e lhe lançando um singelo sorriso.
— Eu... Na verdade, está mesmo na hora de eu ir. Meu pai já deve estar chegando e eu não quero causar problemas com o chefe dele... Digo, nosso chefe, certo? — disparou a falar, sentindo-se nervosa, mas repetindo mentalmente que precisava se acalmar porque ela não costumava agir daquela forma. Talvez a gafe a tenha deixado daquele jeito.
— Chefe? — ouviu-o questionar, arqueando uma sobrancelha. Em seguida, um meio sorriso divertido tomou conta das feições dele. — Você deve ser a .
A garota então voltou a encará-lo em surpresa. Como é que ele sabia?
— Isso. , filha do Charles — assentiu e estendeu a mão, em um cumprimento, tentando não se mostrar tão abalada e falhando em tudo.
— o sorriso dele se alargou quando segurou a mão de e ela desejou que um buraco se abrisse abaixo de si para que pudesse se enterrar.
— Socorro, você é o ? O chefe do meu pai? — ele assentiu, achando graça. — Desculpa! De verdade, eu não fazia ideia de como você era, o que é uma vergonha já que eu vim para cá fazer faculdade de Direito. Eu devia ao menos saber quem é o senador, mas enfim. Desculpa mesmo, Senhor ! — então ela o viu negar com a cabeça.
— Primeiro, você precisa parar de se desculpar, — e algo no tom dele fez com que a moça se sentisse um tanto mais calma. — E, segundo, eu ainda não sou senador. Sou apenas candidato, mas seu pai já anda tratando como se eu tivesse ganhado a eleição, então não a culpo por isso não, embora seja preocupante você não saber quem são os candidatos.
— É, eu não andei muito focada em política com todo o lance de passar para a faculdade e fazer a mudança — fez uma careta, mas acabou sorrindo de volta ao ver a expressão leve no rosto dele. — Prazer em te conhecer, Senhor .
— Me chame de . E o prazer é meu, — ela precisava tomar muito cuidado para não ficar imersa no quanto aqueles olhos eram atraentes. Pareciam dizer tantas coisas que sentia-se louca para desvendar o que tudo aquilo seria.
— Ah, ! Aí está você! — a voz de Charles chamou-a de volta à Terra e a moça desviou seu olhar para o pai, que imediatamente se voltou para . — Aposto que ela se perdeu e veio parar aqui sem nem saber como voltar. Espero que não tenha lhe interrompido, Senhor .
— De forma alguma, Charles. estava me contando o apreço que tem por pianos — sorriu para homem, que voltou a encarar a filha brevemente.
— Se deixar, ela fica tagarelando até semana que vem sobre isso — implicou com a moça, que lhe deu língua. — Vamos lá, mocinha. Tenho certeza de que está desesperada de fome.
Para falar a verdade, até havia esquecido da fome, mas não podia e nem ia dizer aquilo ao pai.
— Sim, por favor — assentiu, olhando para ao ouvi-lo rir baixo. — Bom, tenha uma boa noite, — piscou para o homem, que lhe abriu um sorriso.
Honestamente, ela não se importava de ficar parada o tempo que fosse só admirando o quanto aquele cara sorria bonito. Na verdade, estava procurando os defeitos porque não tinha encontrado nada ainda e ninguém era tão perfeito assim.
Foca no Pietro, . Foca no Pietro.
— Boa noite, lhe respondeu, e a moça passou por ele para encontrar o pai. Os olhos do candidato a analisaram discretamente, então ele deu um aceno de cabeça para o homem. — .
Andaram pelos corredores, fazendo um breve silêncio, então Charles relaxou um pouco sua postura profissional.
— Devia ter visto a sua cara, filha. Parecia que estava vendo um fantasma — deu risada dela, que revirou os olhos.
— Pai, acabei de conhecer seu chefe e já o fiz falar na esposa morta! Isso é a definição de querer se enterrar — contou, rindo para não chorar.
— Uh, é mesmo? — Charles pareceu surpreso. — Mas olha só, não precisa ficar com receio de nada. é um cara legal, sei que deve ter percebido isso.
— Sim, muito legal — assentiu.
E muito gostoso também.
— Ele gostou de você, fazia um tempo que eu não o via rir de forma sincera — o comentário fez com que algo dentro de se agitasse e quando deu por si, ela abria um sorriso bobo.
— Isso é porque eu sou maravilhosa, pai — disfarçou, soltando em um tom convencido que fez Charles rir e negar com a cabeça.
— Ô maravilhosa, apenas tenha cuidado ao sair explorando a casa. Hoje você foi parar na sala de música, mas imagino que não seria tão agradável assim acabar entrando no quarto do cara sem querer.
Agradável seria pouco, na verdade.
— Relaxa, senhor Charles. Só esqueci de pegar a senha do wi-fi e não vi sinal algum de Julieta. Tô me sentindo um peixinho fora d’água nessa casa gigante, mas logo eu pego o jeito da coisa — reprimiu um graças a Deus quando viu que finalmente chegaram à cozinha.
— E eu não tenho dúvida alguma disso — o mais velho concordou.
Depois daquilo, não tornou a encontrar com e depois de passar quase duas horas conversando com Pietro via SMS, imaginou que o fogo todo que tinha sentido quando viu o homem certamente passaria.
não fazia ideia do quanto estava enganada.


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permaneceu parado próximo ao piano, virado na direção da porta por onde havia saído com o pai. Não soube explicar, mas a presença da garota emanava uma energia tão agradável que, por alguns minutos, toda a sensação de luto foi embora.
era o completo oposto do que ele havia imaginado quando Charles conversou com ele a respeito da mudança da garota para a sua casa. sabia da idade de , mas, por algum motivo, pensou nela com uma aparência bem mais jovem, praticamente uma adolescente, talvez porque Carter, sua irmã mais nova, sempre seria uma pirralha aos seus olhos e ela era apenas três anos mais nova que a filha de Charles.
Foi inevitável para ele analisar a moça de cima a baixo assim que seu olhar a encontrou, na sala de sua casa. Primeiro, porque ela parecia fascinada diante daquele piano e, segundo, porque era linda.
Ele se sentiu péssimo por olhar a garota daquela forma, principalmente, quando precisou conter a vontade súbita de umedecer os lábios. O sentimento de culpa ameaçou lhe corroer não apenas por Charles, mas por sua falecida esposa. fez o possível para não demonstrar o conflito interno e de repente não precisou mais se esforçar tanto. disparou a falar e, a cada frase afobada da moça, ele sentia vontade de sorrir.
Um suspiro longo escapou de seus lábios assim que seus olhos se voltaram para o piano, então caminhou até a garrafa de uísque, disposta sob uma mesinha de canto, se servindo de uma dose generosa e bebendo um longo gole. Queria expulsar qualquer pensamento e o álcool andava lhe ajudando muito ultimamente.
De forma quase involuntária, ele voltou para perto do piano e sentou-se diante do instrumento. Fixou seu olhar no teclado coberto, então ergueu a tampa para que as teclas entrassem em seu campo de visão. Dedilhou algumas delas e um sorriso triste surgiu em seus lábios ao mesmo tempo em que deixou a lembrança lhe atingir com força.


— Mas o que é que você está fazendo escondido aqui, senador ? — o homem levou um pequeno susto ao ouvir a voz muito próxima. Ele observava o céu sem estrelas através da janela da sala, pensando que sentia falta das viagens que ele e a esposa costumavam fazer.
— Só me peguei sentindo falta de quando ficávamos só nós dois — ele confessou, sentindo as mãos de Amelia tocarem seus ombros e apertarem com delicadeza.
— Devo expulsar todos os seus convidados então? Não acharia nada ruim, para falar a verdade — a mulher brincou, fazendo com que sorrisse e se virasse para encará-la.
— Já que estamos sendo sinceros, eu também não, só que eu perderia vários eleitores fazendo isso — fez uma careta, vendo a esposa imitar seu gesto e então aproximar seus lábios dos dele, lhe dando um selinho calmo. — Gosto quando me chama de senador — tocou o rosto da mulher com uma das mãos, lhe fazendo um carinho.
— Só estou prevendo seu futuro, meu amor. Tenho certeza de que você vai vencer — encarou-o nos olhos, sorrindo pela carícia do marido. — Agora venha, preparei uma surpresa para você — entrelaçou seus dedos nos dele, puxando-o de volta ao salão, onde havia deixado seus convidados.
— Aí está nosso homem do momento! — sorriu para Todd Phillips, seu assessor parlamentar, assim que ele veio em sua direção, abraçando-o pelos ombros e lhe dando um tapinha.
— Aqui estou eu, Todd. Pode respirar sossegado agora. Sei que não vive sem mim — retrucou, em tom amistoso, fazendo com que o assessor balançasse a cabeça em negação, rindo.
— Não posso discordar, você quem paga meu salário — a resposta fez com que gargalhasse.
Suas atenções então se voltaram para Amelia , assim que a mulher as requisitou com o tilintar delicado em uma taça.
— Gostaria de agradecer a todos que vieram prestigiar conosco o lançamento da candidatura de meu marido, — ela disse, em tom educado, abrindo um sorriso ao indicar o homem, estendendo a taça em sua direção. — Esta noite, é tudo sobre ele, o futuro senador do estado de Maryland. , meu amor, essa música é sua, assim como meu coração é todo seu — Amelia largou a taça e sentou-se diante do piano.
abriu um sorriso enorme, sem conseguir ver mais nada ao seu redor além da esposa.

Wise men say
(Homens sábios dizem)
Only fools rush in
(Que só os tolos se apressam)
But I can't help
(Mas eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

Shall I stay
(Se eu ficasse)
Would it be a sin
(Seria um pecado)
If I can't help
(Se eu não consigo evitar)
Falling in love with you?
(Me apaixonar por você?)



Ele reconheceu a música assim que as primeiras notas começaram ao piano e seu sorriso se alargou ainda mais, se é que aquilo era possível. Um misto de emoções tomou conta e ao mesmo tempo em que ele não conseguia desviar seus olhos de Amelia, também não conseguia refrear as batidas de seu coração, que naquele momento eram tão aceleradas que ele sentia quase doer. Era o tamanho de seu amor por aquela mulher.


Like a river flows
(Como um rio que corre)
Surely to the sea
(Certamente para o mar)
Darling, so it goes
(Querido, é assim)
Some things are meant to be
(Algumas coisas estão destinadas a acontecer)

Take my hand
(Pegue minha mão)
Take my whole life too
(Tome minha vida inteira também)
For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)



A voz de Amelia soava tão doce e perfeitamente afinada. Cada uma daquelas palavras exalava o sentimento verdadeiro entre os dois e, sem vergonha nenhuma daquilo, sentiu que seus olhos ficavam marejados.
Ele amava Amelia , tinha se apaixonado por cada detalhe daquela mulher desde a primeira vez em que a havia visto.
O que seria dele sem ela? Não conseguiria viver sem ela.


Like a river flows
(Como um rio que corre)
Surely to the sea
(Certamente para o mar)
Darling, so it goes
(Querido, é assim)
Some things are meant to be
(Algumas coisas estão destinadas a acontecer)

Take my hand
(Pegue minha mão)
Take my whole life too
(Tome minha vida inteira também)
For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)


Um suspiro carregado de tristeza e dor ecoou dos lábios de . Deixou sua mão cair do piano para o colo e seus lábios tremeram, o choro não pôde ser contido.
Como ele viveria sem Amelia? Ele não queria, ele não podia, mas precisava. Precisava porque ela jamais permitiria que ele desistisse.
As lágrimas escorreram pela bochecha do homem e ele soluçou em silêncio, deixando que esse fosse a única testemunha de seu desabafo.
Perdeu as contas de quanto tempo permaneceu ali, tomado pela dor da ausência do amor de sua vida, até que o pranto foi se dissipando e a calmaria chegou ao seu coração dolorido.
Num gole só, virou o restante de uísque de seu copo, seus olhos se voltaram para a porta e por fim ele decidiu se recolher aos seus aposentos. Fechou a tampa do piano e se levantou, deixando o cômodo.
O dia seguinte seria cheio e ele mais uma vez precisava de toda a força do mundo para vencê-lo e conseguir vencer também a eleição.
Por Amelia.


Capítulo 02 — Nepenthe

“Algo que lhe faz esquecer o luto ou o sofrimento”.

— Não faço ideia de quem está acordado a essa hora e tenho certeza de que vou acabar me perdendo, mas eu juro que na próxima vez que nos falarmos por vídeo, vou te mostrar a cada inteira, meu amor. É gigantesca e eu só consigo pensar nas pessoas que limpam isso aqui, sério! — soltava toda empolgada em meio a uma conversa com seu namorado por vídeo chamada. — Quer ver o meu quarto?
Antes mesmo de Pietro responder, já estava de pé, caminhando por todo o cômodo.
Adiantaria eu dizer que não? — ouviu-o responder, então encarou a tela do celular com a testa franzida.
— Você não quer? — Parou de caminhar e talvez ela estivesse agindo com afobação demais diante disso, visto que os dois agora estavam separados por vários quilômetros de distância.
Pietro riu, fazendo com que a garota soltasse a respiração, aliviada. Nem havia percebido que prendia.
Claro que quero, minha linda. Vai, mostra para mim. Só que eu vou querer toda essa ‘tour’ de novo quando eu estiver aí com você. — Aquela piscadela dele derretia inteirinha e ela abriu um largo sorriso.
— Mas é óbvio que você vai fazer a tour outra vez. Não achei que isso estivesse em discussão. — Riu com ele, então virou a câmera para que pudesse mostrar todos os cantos daquele quarto imenso. — Lógico que ainda falta o toque e eu vou dar um jeitinho nisso assim que sair para comprar algumas coisas, mas enfim... Olha o tamanho dessa cama, Pietro! Acho que eu nunca dormi tão bem em toda a minha vida!
Pietro estava achando uma graça a empolgação da namorada, mas prestava atenção em cada coisa que ela mostrava. Sabia que repararia caso ele não o fizesse.
Ela seguiu da cama para a mesa de estudos, mostrou o closet, o banheiro e a sacada que com certeza seria um dos locais favoritos da garota. Pietro Langdon a conhecia bem demais e ela sempre dizia que queria morar em um lugar com sacada só para poder parar nela e pensar na vida.
Não pôde deixar de pensar, no entanto, que, se ele tivesse conseguido passar na mesma universidade que , ambos agora estariam em um apartamento que alugariam juntos e aí eles teriam também a própria sacada.
Sentia-se péssimo por não ter conseguido e deixado a garota partir sozinha, mas tinha algo que lhe incomodava ainda mais nessa história.
Aquilo tudo estava sendo bom demais para a garota, e se ela não quisesse mais dividir apartamento com ele quando Pietro finalmente conseguisse se mudar para Baltimore?
— Pietro, ainda está aí? — A imagem do rosto de havia voltado à tela e ela acenava com uma das mãos de forma frenética, meio preocupada porque a imagem de Pietro parecia ter congelado. — Será que essa porcaria travou? Droga... Vou desligar e ligar de volta para ver se resolve e...
Não, . Desculpe, estou aqui -— se apressou em dizer, sorrindo da forma menos fraca que conseguiu porque aqueles pensamentos estavam lhe deixando maluco.
— Ah, ótimo. Que susto foi esse? — reclamou dando uma risadinha, mas percebeu que a expressão do namorado não era das melhores e suas feições se distorceram em uma careta. — O que foi, amor? Está tudo bem? — questionou preocupada, fazendo com que Pietro se xingasse mentalmente por não conseguir se controlar.
Estou sim, relaxa. — Tentou sorrir de novo, mas suspirou em vez disso. — Só estou sentindo sua falta. Sei que é bem cedo ainda para isso, mas...
— Também estou sentindo a sua — ela se atravessou em sua fala e Pietro a encarou nos olhos, mordendo a boca como se estivesse se contendo para não chorar.
Droga, . Faz menos de vinte e quatro horas que você partiu e eu já estou ficando louco sem você — Pietro confessou. suspirou, então de repente abriu um sorriso esperto.
— Tecnicamente, já passou de vinte e quatro horas. — Ele estreitou os olhos para a garota. — Mas sim, eu também estou. Não imagina o quanto eu queria poder estar aí agarradinha com você. Ou melhor, que você estivesse aqui comigo. Essa cama é grande demais, eu já disse isso?
Pietro abriu um sorriso de canto, ajeitando um pouco a posição em que estava sob a cama do próprio quarto.
Deve ser bem complicado mesmo dormir com todo esse espaço aí, sem ninguém para você se agarrar.
— Dormir até que não foi tão complicado assim. O problema é ficar acordada nela sozinha. Me parece até um desperdício, se é que me entende. — Sentiu vontade de provocar o namorado com aquilo e ele arqueou uma sobrancelha, umedecendo os lábios, sem nem pensar em recusar entrar naquele jogo com .
Imagino que com companhia então o espaço fique esquecido no Tártaro — Pietro disse com uma expressão sugestiva capaz de deixar louca.
— Eu já disse que adoro quando você fala desse jeito? — Mordeu o lábio inferior, percebendo que ele havia acompanhando o movimento com seu olhar.
De que jeito? — perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
— Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo — queixou-se, mas seu tom de voz era o de quem queria era que ele continuasse.
Vai falar em golpe baixo enquanto morde o lábio desse jeito, minha linda? — respondeu, acabando por imitar o gesto dela.
— Algum problema com isso, meu amor? — provocou, fazendo-o mais uma vez.
Para ser sincero, tenho alguns. Quando eu te vejo mordendo os lábios assim, só consigo pensar no quanto eu gostaria de estar fazendo isso e também em como gosto do toque dessa tua boca macia na minha pele. — Talvez devessem parar de se instigar daquele jeito, mas, se ela estivesse gostando tanto quanto ele, qual era realmente o problema?
— Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também. — Observou o namorado fechar os olhos enquanto falava, tendo certeza de que ele imaginava mesmo cada uma das ações que descrevia. Aquela visão mexia com ela, fazia com que seu corpo inteiro esquentasse e de repente o pijama que ela vestia a incomodava até demais.
Se você fizer isso, vou querer levar minhas mãos até os teus cabelos, segurá-los entre meus dedos só para poder observar bem de perto o trajeto e te puxar para beijar teus lábios mais uma vez. Apertar tua cintura contra mim daquele jeito que vai te mostrar o quanto você está me deixando doido. — Droga, por que ela tinha começado aquele jogo mesmo? O que ela faria com o incômodo que as palavras de Pietro causavam entre suas pernas?
— Pietro... — deixou escapar em um sussurro.
O que foi, minha linda? — questionou, sentindo vontade de grunhir com o tom torturado da voz dela.
— Eu quero você — soltou com uma voz chorosa.
Me quer fazendo o que, ? — provocou e ela gemeu baixinho.
— Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
As palavras dela o atingiram em cheio e se antes Pietro já se sentia excitado, naquele momento sua ereção latejava e não havia o que fazer além do óbvio.
Mas antes que o garoto pudesse guiar a mão para dentro dos shorts, , que estava praticamente deitada, arregalou os olhos e se sentou ereta na cama.
— Droga, ouvi um barulho na porta, Pietro. — Levantou apressada e respirou fundo, abanando o rosto para espantar a expressão de quem estava louca de tesão. — Vou desligar porque pode ser meu pai. Desculpa, eu te amo muito!
Pietro sentiu a frustração vir como uma bofetada em sua cara. Teria que se virar com aquela ereção sem a namorada do outro lado da tela.
Tudo bem, linda, eu também. A gente se fala! lhe jogou um beijo e então encerrou a chamada.
— Minha nossa — resmungou baixinho e caminhou até a porta, percebendo que não estava totalmente fechada. Avoada como era, provavelmente nem tinha verificado aquilo antes de ir dormir. Empurrou-a preparada para ver o pai ali e querer se enterrar de vergonha.
Quando deu de cara com o corredor vazio, foi impossível conter o grunhido de frustração.
Provavelmente os passos que ouviu foram coisa de sua cabeça paranoica por estar praticamente transando virtualmente com o namorado em seu primeiro dia naquela casa.
— Eu real vou pirar nesse lugar, pelo jeito. — Voltou a fechar a porta e encarou rapidamente o celular.
Não adiantaria ligar de volta para Pietro, o clima já havia sido quebrado, então apenas lhe restava tomar um banho frio e descer até a cozinha para tomar café. A ideia era a de passar o dia conhecendo a cidade e comprando algumas coisas para seu quarto. Suas aulas começariam apenas na semana seguinte, mas até lá ela já queria estar no mínimo um pouco situada em Baltimore.
— Bom dia! — cumprimentou a mulher de meia idade, que avistou assim que chegou à cozinha. O uniforme dela deixou óbvio que aquela era a Julieta que não tinha encontrado na noite anterior. — Então a senhora é a Julieta! — Sorriu.
— Nada de senhora, menina. Pode me chamar de tudo menos de senhora! — Julieta já lhe repreendeu com um sorriso amistoso. — E você é a . Tão bonita quanto seu pai.
— Julieta então. E onde está meu pai? — perguntou, já gostando da mulher logo de cara simplesmente porque Julieta a olhava de um jeito acolhedor.
— Saiu a pouco com o senhor . Sente-se, vou arrumar o café para você. — Indicou a mesa e fez uma careta.
— Não gosto de tomar café sozinha, Julieta. Sente-se comigo — pediu, fazendo um bico para a mulher.
— Eu já tomei café, menina. Não se preocupe comigo. — Caminhou até a geladeira e foi tirando tudo o que achava que a menina poderia querer comer.
— Vai, eu insisto. — Piscou os cílios de um jeito que fez Julieta rir.
— Tudo bem. Mas só vou me sentar à mesa com você, não vou comer.
— É o bastante. — sorriu satisfeita.

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teve dificuldades para dormir na noite anterior. Na verdade, ele andava com aquele tipo de problema desde que Amelia havia partido. Por mais que tentasse, não conseguia se acostumar com aquele espaço vazio ao seu lado na cama.
Era engraçado porque quando era mais jovem não se imaginava dividindo seu espaço com ninguém e costumava dizer aos quatro ventos que era espaçoso até demais, mas aquilo mudou completamente quando conheceu sua Amelia. É claro que, como em qualquer casamento, as coisas nem sempre eram um mar de rosas, mas a certeza de que ele acordaria no dia seguinte e seus olhos a encontrariam ao seu lado fazia com que ele esquecesse quaisquer que fossem os seus problemas. Amelia lhe trazia paz.
Mas ele não tinha mais a esposa. Seu porto seguro havia partido, levada por um câncer no ovário que já estava em um estágio avançado quando diagnosticado. Ela foi forte, lutou até seu último segundo e ficou o tempo todo ao seu lado, mesmo sob protestos dela porque ele tinha uma campanha para cuidar. não quis saber, nada era mais importante do que ela. No entanto, o câncer é uma doença cruel, que se espalha e traz consigo a destruição. Assistir sua amada cada vez mais frágil não foi fácil e ele lutava todos dias para lembrar apenas dos momentos mais bonitos que tiveram juntos. Era isso que Amelia iria querer.
Se dormir era uma tortura para , acordar era infinitamente pior. Todas as vezes que ele abria seus olhos sentia seu peito se apertar com aquela dor que aos poucos se tornava sua companheira fiel. Sua garganta se fechava com um nó incômodo e ele soltava um longo suspiro, reunindo forças para se levantar da cama e iniciar seus dias. Alguns eram um pouco mais fáceis do que outros, mas não eram os mesmos de antes e nunca seriam. Se Amelia era sua paz, sem ela, ele era o caos completo, dominado pela escuridão do luto. Pela ausência sufocante e a ideia agonizante da inexistência.
não fazia ideia do que estava sonhando, mas sentiu vontade de gritar quando o toque de seu celular o acordou, anunciando que ele recebia uma chamada por ser diferente da música que ele usava como despertador.
Abriu seus olhos rapidamente, piscando-os e os arregalando para conseguir mantê-los abertos, então pegou o aparelho e imediatamente amarrou a cara ao ler o nome no visor.
— O que foi, Phillips? — atendeu mal humorado. Ele devia saber que acordá-lo antes da hora combinada era quase uma sentença de morte.
Bom dia para você também, . — Riu do outro lado, fazendo com que bufasse, mas logo tentasse se recompor e soar pelo menos educado.
— Bom dia, Todd. Foi mal. Eu odeio ser acordado, você sabe disso. — Sentou-se na cama, já imaginando que não poderia voltar a dormir.
Assim está bem melhor. Nunca esteve nos meus planos ser assassinado via celular. — não achou graça naquele comentário, mas preferiu ignorá-lo.
— Ao que eu devo a honra da tua ligação, então? — Talvez ele tivesse soado irônico, mas aquela não era mesmo a intenção.
Liguei porque você vai ter uma entrevista às nove horas na PostFM, depois disso segue para a reunião do partido. — Ficou surpreso com a primeira informação e verificou o relógio que mostrava ser seis e quarenta da manhã.
— E por que eu só fiquei sabendo dessa entrevista agora? Todd, já te pedi para me avisar dos meus compromissos com pelo menos um dia de antecedência — reclamou, embora Todd sempre ignorasse aquele pedido. Não era novidade alguma surgirem compromissos de última hora para .
Eu sei. Desculpe, mas Italia Whitman vai falar com a GeorgetownFM, não podemos ficar um passo atrás. — Não havia muito o que fazer naquele caso, só lhe restava aceitar.
— Já falei que você dá mais importância a Italia do que eu, Todd? — Sorriu de canto, por mais que o assessor não pudesse vê-lo.
Falou e eu disse que você deveria mudar isso. Você não faz ideia de como a popularidade dela anda crescendo entre os eleitores — Phillips frisou, talvez daquela vez conseguisse fazê-lo enxergar.
— Mas está certo, Todd. Vou começar a me mexer então. Nos falamos mais tarde. — Imediatamente cortou a conversa e agradeceu aos céus quando desligou o celular.
Se fosse permitido a ser completamente sincero, sua vontade de vencer aquela eleição havia se esvaído junto com a esposa e ele teria desistido se a voz dela não ecoasse em suas memórias lhe chamando de Senador . Era impossível não sorrir saudoso quando seus pensamentos eram dominados por ela, assim como era inevitável para dar a costumeira encarada no lugar vazio ao seu lado.
— Ninguém me ensinou a viver sem você, Amelia. Dói a cada segundo — a voz de ecoou de forma rouca. O nó na garganta fez com que o homem fechasse os olhos e respirasse fundo. Não conseguiria voltar a dormir, por mais que pudesse tirar mais alguns minutos para um cochilo.
Vamos lá, Senador . Você consegue.
Em uma espécie de delírio, aquele mantra sempre soava no timbre de sua adorada esposa. Era o gás o qual ele necessitava todas as manhãs para que conseguisse sair da cama, mesmo que desejasse se afundar ali, mergulhado em sonhos onde Amelia não havia partido e lhe deixado ali sozinho.
juntou forças e se levantou da cama, encarando o relógio mais uma vez enquanto resolvia que uma corrida matinal lhe faria bem. Fazia dias que não praticava nenhum esporte, o que não era de seu feitio. Desde jovem, sempre se preocupou muito com seu estado de saúde.
Caminhou até o banheiro de seu quarto, fazendo uma careta quando notou suas feições no espelho. Parecia que um elefante havia dançado sapateado em seu rosto e sua expressão não era das melhores. Suspirou e abriu um sorriso que lhe pareceu tão forçado que o desfez de imediato. Praticar esportes e tomar uma bela xícara de café talvez levantassem um pouco o seu astral.
Ou quem sabe a presença jovem da filha de Charles.
Balançou a cabeça em negação, sem acreditar que havia pensado algo daquele tipo e tentando expulsá-lo enquanto erguia a tampa do vaso sanitário para fazer xixi. Por alguns segundos, o alívio lhe deixou isento de qualquer pensamento que fosse, mas quando ele deu a descarga e voltou à pia, lavando as mãos e aproveitando para passar uma água no rosto, o sorriso da garota apareceu em sua mente, o fazendo querer sorrir também, daquela vez de forma sincera.
era diferente, não daquele jeito clichê, mas também não saberia dizer o que exatamente saltou tanto aos olhos dele quando se encontraram. Ela era divertida e ao mesmo tempo doce, mas havia algo no olhar da garota que lhe dizia que ela era muito mais. estava curioso para desvendá-la e com certeza adoraria conhecer melhor, sem segundas intenções, embora ela fosse realmente atraente.
Depois de vestir uma roupa confortável para correr, o homem nem se preocupou em levar o celular porque odiaria ser interrompido em meio aos seus exercícios. Charles o acompanharia por segurança, então era provável que se houvesse qualquer mudança urgente em sua agenda, Todd daria um jeito de contatá-lo.
seguiu pelo corredor em direção à cozinha, onde tomaria apenas uma xícara de café preto que lhe daria a energia necessária, mas quando estava passando por uma das portas algo lhe captou a atenção.
— Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo.
O tom da voz soou levemente familiar, o que fez com que parasse e erguesse uma de suas sobrancelhas. A princípio, imaginou que talvez estivesse imaginando coisas, mas logo mais palavras foram ditas e ele soube que não.
— Algum problema com isso, meu amor?
Escutar conversas do outro lado de portas entreabertas nunca foi seu costume, porém ao notar a quem a voz pertencia, bem como a nota de provocação, a curiosidade foi mais forte do que . Ele se viu até prendendo um pouco a respiração para que pudesse escutar melhor.
— Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também.
De repente, o rosto dele pegava fogo enquanto suas mãos pareceram suar. Não era certo que deixasse sua mente voar em meio àquelas descrições tão precisas, não se tratavam dele, mas não conseguiu evitar. Por mais que não conseguisse ver , era como se ela estivesse ali, sussurrando em seu ouvido e mordendo os lábios, desejando que ele fizesse aquilo em seu lugar.
— Merda — murmurou, tentando forçar seus pés a lhe tirarem dali, mas sabia que não queria. Na verdade, nada lhe pareceu tão convidativo quanto a ideia de invadir aquele quarto.
Como podia se sentir daquele jeito se mal conhecia a garota? Talvez ele apenas estivesse se sentindo sozinho demais.
— Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
Soltou o ar pesadamente ao ouvir aquelas palavras. Correr com uma ereção não seria nada divertido.
Ele só podia estar ficando maluco!
Negou com a cabeça, tentando expulsar os diversos cenários que vinham aos seus pensamentos e quase não percebeu que estava tão próximo da porta, a ponto de esbarrar no local.
Ouviu a voz alerta de e seu corpo se retesou. A garota com toda certeza o veria como o um maníaco ou algo do gênero, então, ainda atordoado, praticamente correu pelo corredor, só parando quando estava na cozinha.
Julieta havia já lhe preparado o café e quando encarou o senhor parado a alguns metros da mesa, sentiu uma dose horrível de culpa lhe dominar.
Charles havia confiado nele o bastante para trazer a filha para morar consigo e era assim que retribuía. Precisava esfriar a cabeça.
— Bom dia, Julieta. Bom dia, Charles. Vou fazer uma corrida de uns vinte minutos — anunciou, não parando para se sentar à mesa, como fazia todas as manhãs.
— Bom dia, senhor . Não vai tomar seu café da manhã? — Julieta questionou com o cenho franzido.
— Hoje não. Estou com um pouco de pressa. — E seguiu para fora da cozinha, sentindo Charles vir em seu encalço.
— Está tudo bem, ? — Ouviu-o questionar em tom preocupado.
— Bem não está, Charlie. Mas vai ficar. — Sorriu fraco na direção do homem. — Preciso só colocar minhas ideias no lugar.
— Não esqueça que estou aqui para o que precisar. Não só como segurança, mas como um amigo. As coisas não têm sido fáceis para você, não sei como não perdeu a cabeça de vez ainda. — O sentimento de culpa aumentou ao escutar aquilo.
— Eu agradeço e, sinceramente, nem eu sei como. — Deu de ombros, então começou o alongamento, recebendo um meio sorriso de Charles e o espaço que ele precisava para praticar seus exercícios e organizar a mente.
Quando se pôs a correr, um turbilhão pareceu anuviá-lo e ele puxou o ar para seus pulmões como se buscasse o fôlego para enfrentar cada um de seus problemas.
Charles tinha razão, eram muitos acontecimentos para se assimilar. Sua candidatura exigia cada vez mais dele e ele não aguentava mais ouvir o nome Italia Whitman sair dos lábios de Todd, que parecia obcecado pela mulher de um jeito que talvez fosse necessário a ele se queria vencer a eleição. A morte da esposa de parecia um pesadelo sem fim, toda vez que achava estar superando, sofria uma recaída e desabava novamente em amargura. Ele também não via sua irmã caçula há dias, o que só poderia significar que logo a encontraria nas manchetes de revistas, envolvida em mais algum escândalo que faria seu assessor querer arrancar os cabelos.
Parecia que sossego era um sonho distante, muito fora do alcance do candidato a senador.
Então se viu mais uma vez lembrando do jeito leve de e do quanto ela sabia sorrir bonito. Com toda a certeza a garota tinha os próprios problemas, mas nenhum deles parecia pesar em seus olhos, como acontecia com . Ela carregava uma luz consigo, uma luz que poderia incendiá-lo a qualquer momento, mesmo que aquela não fosse a intenção da jovem.
As palavras provocantes povoaram sua mente, algo se agitou mais uma vez dentro dele e uma vontade súbita de voltar para casa para ouvi-la repetir tudo o que dissera tomou conta de si.
precisava colocar em sua cabeça o quanto pensar em daquela maneira era errado. Ela era muito mais nova do que ele, era filha de seu chefe de segurança e amigo de muitos anos e era comprometida com o rapaz a quem havia dirigido todas as suas provocações.
Pietro.
Um garoto de muita sorte, com certeza.
, deixe de ser maluco — murmurou, consigo mesmo, decidindo-se a tirar aquilo de vez de sua cabeça.
Apressou seus passos, colocando mais velocidade em sua corrida e dando um jeito de esvaziar sua mente.

💋


A tarde estava sendo extremamente agradável para . Depois do café da manhã reforçado, onde ela não sossegou até fazer com que Julieta também fizesse a refeição, a jovem resolveu colocar em prática seu plano de sair para explorar a cidade. Era importante para ela que criasse familiaridade com aquelas ruas, já que não podia e nem queria ficar dependendo de seu pai para levá-la aos lugares.
Decidiu que primeiro conheceria melhor os arredores do Mount Vernon Cultural District, que era o bairro onde agora morava, e ficou absolutamente encantada com a arquitetura da maioria das residências. Era tudo em um estilo mais colonial, o que tornava a região bastante aconchegante aos seus olhos.
Havia alguns bares e restaurantes que ela definitivamente gostaria de conhecer e a garota também descobriu que a Universidade de Baltimore não era lá muito distante de onde agora residia.
Era uma vergonha a garota se mudar para um local e não ter ideia da distância entre sua nova casa e a Universidade, mas gostava de reforçar que tinha coisas demais em sua cabeça.
De fato, só o estresse de sua mudança e a situação de ter que aguentar a distância entre ela e o namorado já eram o suficiente para justificar sua total falta de atenção.
Enquanto andava pelas ruas de Baltimore, observando cada uma das casas e tentando gravar em sua memória alguns pontos específicos, sentiu suas bochechas esquentarem.
Pensar no namorado trazia lembranças do que quase fizeram por chamada de vídeo. A jovem nunca havia feito nada daquele tipo. Sempre foi muito desconfiada quando se tratava de garotos, mas ela sabia de alguma forma que Pietro era diferente, ou pelo menos era nisso que gostaria de acreditar.
Intrigou-se ao pensar no momento em pensou estar sendo observada e acabou concluindo que não havia de fato ninguém do outro lado da porta. Talvez ela tivesse recebido algum sinal divino de que não deveria se expor para Pietro naquele momento.
O passeio da garota se estendeu para algumas regiões vizinhas e ela perdeu completamente a noção do tempo quando encontrou um outlet. Precisava mesmo comprar algumas coisas para deixar seu quarto mais “a sua cara” e aproveitaria as economias que juntou para isso.
Mesmo carregada de sacolas, ela ainda conseguiu fazer uma chamada de vídeo com Brooke, uma de suas únicas amigas que havia deixado em Ohio.
To chocada com a quantidade de coisas que você comprou, . Juro! Até parece que não levou nada na mudança — a garota comentou com um tom de brincadeira ao final.
— Até parece que você é contida quando se trata de compras. — estreitou os olhos para ela.
Vamos combinar que não sou contida quando se trata de várias coisas, não é? — Abriu um pequeno sorriso malicioso.
— Sua safada! Pode me contar quem é o da vez. — se animou, mesmo que Brooke trocasse de “namorado” toda semana.
Não tem ninguém, garota. Deixa de ser enxerida!
— E por que você está sorrindo com essa cara de piranha? Claro que tem, Brooke Mitchell. Pode desembuchar! — Não conseguia acreditar no doce que a outra estava fazendo para contar.
A cara de piranha não tem como tirar, ela já faz parte de mim — zombou, fazendo desejar estar perto para estapeá-la. — E eu estou falando pra você que não tem ninguém. Você acha mesmo que eu te esconderia isso? — Ergueu uma sobrancelha para a , que acabou se convencendo.
— Tudo bem. Se você diz, eu acredito. — se deu por vencida.
Mas conta pra mim, como é a casa onde você está? É verdade que está morando com o senador de Maryland? — questionou toda interessada.
Por alguns segundos, se distraiu ao lembrar da deliciosa figura do dono da casa. Ela se perderia naqueles músculos apertados pela camisa social dele sem nem pensar duas vezes.
Conseguia até mesmo visualizar os botões saltando para todos os lados quando ela puxasse a peça de roupa daquele corpo.
— Ele ainda não é senador, Brooke. Mas a casa é incrível, sensacional mesmo — frisou a palavra porque não era bem da casa que ela falava mesmo.
Ai que inveja. Me diga que vai me mostrar a casa qualquer dia desses. Melhor, me diga que vai me hospedar! Você precisa de companhia para conhecer todos esses bares. — A empolgação estava presente em cada uma de suas palavras e isso animou a .
— Claro que vou te hospedar. Quando isso deixou de ser uma opção? — Ergueu uma sobrancelha para a mais nova.
Mas, me conta mais uma coisa. Como é esse senador? Eu ouvi dizer que ele é o candidato mais novo ao cargo, é verdade? Ele é bonito?
Claramente, Brooke estava mais informada do que ela, que viu o homem e achou que fosse empregado da casa.
— Ele é...
O celular de apagou de repente e com uma careta de frustração ela constatou que sua bateria havia acabado. Como aquilo havia acontecido se ela tinha quase sessenta por cento no início da ligação?
Talvez estivesse falando com Brooke por tempo demais.
Agora estava ali, no meio da rua, sem bateria e sem o GPS.
Espera, sem o GPS?
Como voltaria para casa?
Sentiu-se apavorada de repente e andou alguns passos a esmo, sem ter muita certeza para onde estava indo enquanto tentava se lembrar de alguma coisa.
O problema era que quando estava nervosa a garota esquecia até mesmo de como respirava.
Suas mãos começaram a tremer e de repente as casas ao seu redor pareceram grandes demais enquanto ela encolhia, sendo cada vez mais engolida por aquelas construções.
Sentiu que a qualquer momento desabaria de joelhos no chão e se renderia ao choro.
— Moça, tá tudo bem? — Uma voz desconhecida, porém gentil, lhe chamou atenção.
Piscando os olhos algumas vezes, tentando conter as lágrimas que haviam se formado, negou com a cabeça. Não podia mentir que estava bem, não quando precisava de ajuda.
— E-eu me perdi. Meu celular simplesmente descarregou antes do que eu planejava e eu não conheço nada daqui. Nem sei ao menos onde estou agora — foi sincera, recebendo um sorriso de canto.
— Você sabe pelo menos onde fica o lugar em que está hospedada?
A pensou por alguns segundos, buscando em suas memórias o endereço do casarão.
— Sei — respondeu depois de um tempo, quando finalmente conseguiu se lembrar dessa parte, sentiu-se aliviada no mesmo instante.
Com a ajuda da gentil desconhecida, conseguiu localizar um metrô e dele seguiria até a estação próxima ao lugar que agora dela chamava de casa.
— Preste atenção às paradas. Na terceira, você desce, tudo bem? — A garota lhe encarou com uma preocupação genuína.
— Certo, eu vou lembrar. Muito obrigada. Eu realmente estava desesperada — agradeceu de prontidão, quase abraçando a outra, que fez um gesto de negação.
— Não se preocupe. Acontece mesmo. Boa sorte.
se viu como uma mal educada por não ter perguntado nem ao menos o nome de sua salvadora, muito menos lhe disse o seu, mas a só foi se dar conta disso quando já estava dentro do metrô.
Concentrou-se no fato de que teria que descer dali três paradas e quando desceu sentiu que a sensação de familiaridade com o ambiente quase lhe fazer chorar. Ao menos ali ela conhecia algumas coisas.
Voltou imediatamente para sua nova casa, se praguejando mentalmente porque já havia anoitecido e isso que ela só tinha planejado dar uma passeio pela manhã e almoçar em casa.
Passou por alguns empregados no jardim, cumprimentando a todos e já não se sentiu tão perdida dentro da residência em si. Sabia que passando a sala do piano logo ela estaria no andar de seu quarto.
No entanto, enquanto passava pelo cômodo a mesma silhueta deliciosamente musculosa da noite anterior se encontrava parada diante da janela. Seu olhar parecia completamente perdido no céu noturno e havia um copo de uísque pela metade em sua mão.
Não sabia se ele gostaria ou não de ter aquele momento de reflexão interrompido, mas de repente não conseguiu se controlar.
— Tenho a impressão de que esse copo de uísque é um velho conhecido seu e você o vê com bastante frequência — comentou, vendo que o mais velho se sobressaltava ao ouvir sua voz. — Desculpe, senhor , não quis assustá-lo. — Deu um sorriso pequeno e sem graça.
— corrigiu a garota enquanto se virava na direção dela.
Diferente da noite anterior, dessa vez ele vestia uma camiseta polo azul marinha e uma calça jeans de lavagem mais tradicional. Um pouco mais casual e absurdamente gostoso.
O que eram aqueles braços? Seria muito esquisito se ela de repente apertasse em um deles?
— Desculpe, . Espero não ter te atrapalhado. Eu estava só passando por aqui e o vi e...
— Não atrapalhou. Na verdade, estava até me pensando que não a vi durante o dia todo.
Ele estava pensando nela?
Precisou se segurar para não fazer nenhuma dancinha da vitória, até porque nem lhe cabia isso. precisava de mais lembretes de que tinha um namorado lhe esperando em Ohio.
— Eu saí para bater perna por aí e conhecer um pouco a cidade — contou, caminhando para um pouco mais perto de e parando ao seu lado diante da janela.
— Baltimore não é uma das cidades mais seguras, por mais que tenha uns lugares aconchegantes — ele comentou, largando o copo de uísque na mesinha porque de repente já não sentia mais vontade de bebê-lo.
, por outro lado, gostaria de tê-lo virado.
— Confesso que nunca pensei nesse lugar enquanto procurava a universidade que faria, mas estou positivamente surpresa.
— Isso é ótimo. Muito bom mesmo, . Estou feliz em tê-la por aqui. — A voz de havia soado tão agradável que a jovem não conseguiu não sorrir.
— Estou feliz em estar aqui também, . Acabei me perdendo nas minhas aventuras de hoje, mas acabou valendo a pena — se referiu ao fato de estar ali conversando com ele naquele momento.
— Você se perdeu? — Havia gostado e muito de ouvir a última parte, mas preferiu se ater à outra parte da conversa. Ainda não havia conseguido tirar de sua mente a cena de conversando com o namorado então precisava evitar perder todo o seu foco.
— Sim. Minha bateria simplesmente acabou e eu quase chorei de desespero — confessou, fazendo uma careta e arrancando um breve riso dele.
— E como conseguiu sair dessa? Da próxima vez, pode levar seu pai com você. Sem problema algum.
— Encontrei uma garota que foi muito gentil e me ajudou a encontrar um metrô.
— Isso é o que eu chamo de sorte. — sorriu abertamente e, pelos deuses, o sorriso daquele homem poderia ser facilmente a sua ruína.
— Nem me fala. Espero que um dia eu a encontre novamente, não peguei nem seu nome e agora estou cansada demais para procurar.
— Você cansada e eu lhe alugando. Vá descansar, . — Riu um pouco da situação.
— Não se preocupe. Não está alugando nada. — Fez um gesto de negação.
— De qualquer forma, eu tenho esse jantar que preciso ir por causa da campanha. Foi bom conversar um pouquinho com você, senhorita . — A voz dele soava mais educada do que parecia. — Boa noite.
— Boa noite. Eu digo a mesma coisa, senhor... . — Ela sorriu um tanto sem graça ao completar com o nome dele.
então caminhou tranquilamente até a saída da sala, deixando perdida em seus próprios pensamentos até que lembrou de algo que simplesmente não conseguiria manter somente para si;
— Apenas um conselho, . — A voz dele fez a garota encará-lo novamente. — Na próxima vez, é melhor conferir se a porta do seu quarto está fechada antes de ter algumas conversas.
Não sabia por que tinha resolvido falar sobre aquilo, mas o fez e quando se retirou acabou deixando uma com o rosto completamente em chamas e uma vontade de entender o brilho que passou pelos olhos de ao falar sobre o ocorrido.


Capítulo 03 — Aquiver

“Sentir-se trêmulo”.

Os gritos na arquibancada eram ensurdecedores. A música trazia batidas bem marcadas enquanto a sequência de passos era reproduzida com precisão pelo grupo que havia tomado uma parte do campo durante o intervalo do jogo de futebol americano.
O time da escola era bem conhecido e prestigiado, mas não como seus líderes de torcida.
Cinco vezes campeão nacional, naquele ano pretendiam manter a dinastia intacta, conquistando o sexto prêmio, e a coreografia impecável apresentada deixava isso muito claro.
Todos os membros daquele grupo se dedicavam como se suas vidas dependessem daquilo. Literalmente davam sangue, suor e lágrimas, praticavam várias horas por dia e a capitã exigia nada além do melhor.
Obviamente, entrar para o time não era fácil. O critério de seleção era elevadíssimo, mas aquele não havia sido um problema para Amélia Stuart.
A jovem era extremamente esforçada, aquilo fora notado desde o primeiro instante, e possuía um talento nato, embora sua mãe houvesse passado longe daquele tipo de prática em seus tempos de escola.
Amélia se dedicava à torcida com devoção. Primeiro, porque amava fazer parte daquilo. Ouvir os gritos e os aplausos a cada passo dado fazia seu coração querer rasgar o peito de felicidade. Segundo, porque todas as conquistas do Red Foxes lhe renderia pontos excelentes em seu currículo, algo que ela precisava para realizar seu sonho de estudar na George Washington University.
Ninguém duvidava da garota. Estava muito claro para todos ali que a jovem Stuart conseguiria qualquer coisa desejada.
E isso, obviamente, também se aplicava a .
Não importava o quanto ela tentasse esconder, era muito nítida a forma como seus olhos brilhavam toda vez que o rapaz estava por perto.
Por esse motivo, ela não se surpreendeu nem um pouco quando seus olhos procuraram por ele na arquibancada, quando a plateia urrou de empolgação, no exato instante em que a garota deu um salto perigoso, sendo aparada no ar pelo seu colega de equipe este a manteve sustentada em pé segurando seus pés.
tinha traços bastante marcantes e característicos. Não foi difícil para ela localizá-lo no meio da multidão, principalmente porque os olhos dele a encaravam de volta.
talvez fosse a pessoa que mais gritava naquela plateia, completamente admirado com todos os feitos da jovem. Ele sempre estava presente nas apresentações de Amélia, mas não havia uma única vez na qual não se surpreendesse com algo que ela fazia. Era como se a garota tivesse sempre alguma carta na manga e isso o deixava completamente embasbacado.
Um enorme sorriso se formou nos lábios dele quando percebeu que Stuart o encarava de volta e ela acabou retribuindo da mesma forma antes de lançar seu corpo para trás, sendo amparada mais uma vez por colegas e fazendo outro grito em comemoração ecoar dos lábios de .
Aquela garota era simplesmente incrível e ele tinha certeza de que todos naquela escola concordavam com seus pensamentos.
Exatamente por esse motivo, embora Amélia estivesse tão próxima a ele, que sabia o quanto ela era inalcançável.
Afinal, estava mais do que claro também que ele era apenas um bom amigo dela, nada além daquilo.
Observou o momento no qual ela correu para a primeira fileira, gritando algumas palavras para animar a torcida, recebendo mais gritos como resposta, levando cada um ali presente ao delírio, o que só deixava o rapaz mais encantado e nervoso consigo mesmo. Precisava deixar aqueles sentimentos de lado ou não conseguiria mais ser amigo de Amélia.
Talvez ele devesse mesmo se afastar dela.
Uma careta se formou em suas feições.
Não conseguia.
Amélia jogou os cabelos para um lado, movendo sua cintura de um lado para o outro, dando uma rebolada e piscando para o público, e perdeu a linha de raciocínio.
Como ela conseguia ser tão linda?
Suspirou.
— Você devia conversar com ela. — Assustou-se ao ouvir a voz ao seu lado, dando um pulo e encarando o dono dela enquanto levava uma mão ao peito, fechando a cara em protesto.
— Eu não faço ideia do que você está dizendo, Berkshire.
Uma sobrancelha foi arqueada em sua direção e o garoto soltou uma risada irônica.
— Claro que faz. Você está de quatro pela Amy.
— Não estou de quatro, nada. Não diga besteiras — ralhou com um revirar de olhos.
— Tá certo. E eu sou o novo capitão do time de futebol — debochou, recebendo um dar de ombros como resposta. — Corta essa, . Te conheço desde que usava fraldas. Você gosta dela.
estreitou os olhos, negando com a cabeça.
— Você não vai parar de me encher o saco enquanto eu não admitir isso, não é? — acabou soltando, também conhecendo bem demais o amigo.
— Que bom que você sabe disso. Agora admita logo o que a escola inteira já percebeu.
se sentiu desconcertado.
— Acha mesmo que a escola inteira percebeu? — Se inclinou para poder usar um tom mais baixo e ainda assim ser ouvido.
— Isso é uma confissão?
— Pare com isso, Vincent! Me responde. — Seu tom de voz agora era aflito, o que arrancou uma risadinha do outro.
Mais uma vez, estreitou seus olhos para o amigo.
— Tudo bem, vou parar de rir. — Tocou o ombro de , acalmando-o. — Foi só um jeito de falar, mas não é algo muito difícil de se perceber, se quer saber. Olha o jeito que você olha pra ela? Só a própria Amy que não se deu conta ainda.
Aquilo fez engolir a seco e as palavras simplesmente fugiram de sua boca. Ele não sabia como reagir àquilo.
— Fica tranquilo, . Eu tenho certeza de que ela também gosta de você. — A convicção dele fez erguer uma sobrancelha. — Vai por mim.
— Não sei se devo, Vincent. Vai que você está errado? Amélia é minha melhor amiga. Não quero arruinar a nossa amizade com isso.
— Então você prefere ficar apenas olhando pra ela com cara de bobo, sendo o bom amigo até aparecer alguém com coragem para tomar uma atitude e conquistar a sua garota?
Ouvir aquilo lhe causou um tremendo incômodo. A ideia de Amélia com alguém chegava a causar uma dor estranha no peito, acompanhada de uma sensação de sufocamento.
— Fala pra ela como você se sente, . Eu tenho certeza de que você não vai se arrepender disso.
dirigiu seu olhar para o campo, vendo que a coreografia dos líderes de torcida finalizava e uma Amélia sorridente parava na ponta esquerda, com uma mão na cintura e a outra erguida em uma pose animada.
Mais uma vez, os olhos dela procuraram os dele e o sorriso se tornou ainda maior quando estabeleceram o contato visual.
acabou sorrindo também, como sempre fazia quando estava com ela.
Vincent tinha razão, ele precisava contar a Amélia como se sentia.
Mas como ele faria isso?
Passou a mão pelos cabelos porque não fazia ideia.
— Como eu faço isso, Vincent? — externou seus pensamentos, de repente ficando ainda mais nervoso.
— Apenas seja sincero. Acho que a festa pós-jogo de hoje pode te ajudar nisso.
— É. A festa. — Engoliu a seco. — Boa ideia.
De repente, ele estava ansioso por uma festa a qual ele nem havia cogitado ir antes.


🏛


— E é por isso que nós precisamos estar em todos os lugares. Quem não marca presença, é esquecido pelo público e eu venho falando isso para o desde o começo.
Um sorriso cordial se formou nos lábios do candidato a senador quando ele se deu conta de que os olhares na mesa haviam se direcionado para ele.
— Eu durmo e acordo com essa frase. Estou surpreso que Phillips não tenha colocado como um mantra em meu despertador — brincou, arrancando algumas risadas dos presentes.
— Sempre engraçado, . Mas está aí uma ótima ideia — Todd retrucou, fazendo balançar a cabeça em negação.
— Mas nós compreendemos o seu pronto, Todd. é uma figura difícil de esquecer, certamente, mas Italia vem conquistando um grupo considerável. Eu diria que ela é, sim, uma adversária à altura.
se esforçou para lembrar o nome do homem sentado do outro lado da mesa, mas era constantemente apresentado a pessoas e sua memória lhe traía diversas vezes.
— Não podemos subestimá-la, isso é um fato. A mulher tem garra e simpatia do povo. — O comentário veio de um segundo homem e não tinha certeza, mas possuía uma vaga lembrança de seu nome. O palpite ia para Ernie.
Tentou prestar atenção ao seguimento daquela conversa, mas naquela noite em especial aquilo estava mais difícil do que o normal.
achava aqueles jantares com o pessoal do partido uma verdadeira tortura, no entanto não tinha muitos problemas em se manter atento às conversas. Talvez porque normalmente ele não ia àquele tipo de evento sozinho. Amélia sempre estava com ele, apertando sua coxa por baixo da mesa toda vez que ele parecia mergulhar nos próprios pensamentos.
Os lábios de tremeram com aquela lembrança, um olhar foi lançado ao lugar ao seu lado, agora ocupado por outra pessoa da qual ele não lembrava exatamente o nome e o homem conteve um suspiro, pegando a taça de vinho tinto e a levando aos lábios, tomando alguns goles discretos.
captou algumas palavras ditas e murmurou qualquer coisa em concordância, porque não era muito difícil de imaginar o andamento da conversa.
A ausência de Amélia era sentida em todas as situações da vida de . Ele ouvira dizer que ficava mais fácil com o tempo, e talvez aquilo fosse verdade, mas não queria dizer que doía menos.
Ter aquele tipo de lembrança dela e alimentá-la era se torturar ainda mais do que aquela situação forçada do jantar — afinal, quem não estava ali o bajulando por puro interesse? —, mas ele não conseguia se controlar e tampouco sabia se queria.
Por mais que doesse, era bom pensar em como as coisas haviam acontecido entre ele e Amélia. Como ele havia demorado a tomar coragem para confessar a ela o quanto era apaixonado e arriscado quase perdê-la para sempre nesse processo.
Não havia acontecido naquele pós-jogo, como Vincent Berkshire havia o encorajado tanto a fazer. Na verdade, aconteceu várias semanas depois, mas ainda assim aquela lembrança era importante para . Foi ali que ele começou a se dar conta de que não conseguiria viver sem ter Amélia Stuart por perto.
Era irônico agora ele ser forçado justamente a isso.
Outra vez a taça de vinho voltou a tocar seus lábios e o candidato focou seu olhar em Todd Phillips. O homem naquele momento discutia algumas estratégias de campanha a serem adotadas nos próximos dias.
teria um comício dali a quatro dias, disso ele já sabia. Da gravação de uma nova vinheta para rádio e televisão também.
— Sem falar na visita à Universidade de Baltimore. Eles terão a reunião para a recepção dos novos calouros, então é uma boa estar presente. Gente jovem espalha as coisas de um jeito absurdo nas redes sociais. precisa desse suporte.
O cenho de se franziu levemente com aquela informação.
— Visita à universidade? — se pronunciou, erguendo uma sobrancelha para Todd quando o assessor o olhou.
— Sim. Na quarta-feira à tarde. — Phillips o encarou como se dissesse que explicaria aquilo melhor em um outro momento.
Era a terceira vez naquela semana que o homem marcava compromissos sem avisar ou consultar o candidato e ele poderia ficar irritado naquele momento, mas uma parte da informação saltou aos seus olhos.
A visita era à Universidade de Baltimore, ele participaria da recepção aos calouros e…
Não era aquela a universidade onde começaria a estudar?
— Perfeito. É difícil acompanhar a agenda lotada que você prepara para mim, Todd. Mas essa é uma excelente ideia — soltou em um tom educado, fazendo o assessor assentir aliviado.
Era ridículo que de repente se sentisse animado com aquela visita. Ele podia ver quando quisesse, afinal, ela morava em sua casa.
Mas o que estava pensando?
Estava quase voltando à própria adolescência, sendo que mal conhecia a jovem e ela poderia muito bem ser uma irmã mais nova.
Pelo visto, o tópico da diferença de idade entre os dois precisaria ser lembrado com maior frequência.
Parar de deixar invadir seus pensamentos daquela forma era uma necessidade, principalmente porque corria o risco de sua mente vagar até aquela fatídica lembrança de como a mulher havia gemido gostoso para o namorado e dito várias sacanagens.
Qual era o problema de ?
De repente, a visão das bochechas de extremamente vermelhas tomou conta, expulsando as outras lembranças e apontando o quanto ele havia errado em ter ouvido atrás de sua porta e ainda por cima ter confessado isso a ela.
Certamente, depois do ocorrido, a jovem pensaria que ele era algum tipo de pervertido e ficava espiando pelas portas das pessoas, tarando a filha do seu chefe de segurança.
Que porcaria ele tinha feito!
Sentiu o próprio rosto esquentar, enquanto a vergonha tomava conta de si.
Havia sido rude e desrespeitoso com , mas quem sabe ainda teria alguma chance de se redimir.
Precisava se desculpar com a mulher o quanto antes.


💋


— Na próxima vez, é melhor conferir se a porta do seu quarto está fechada antes de ter algumas conversas.

As palavras ecoavam em um looping enquanto seguia pelos corredores da mansão, sem sequer ousar olhar para trás mais uma vez.
Seu rosto inteiro pegava fogo e ela tinha certeza de que deixou transparecer o choque ao ouvir aquilo porque captou a reação de , embora não tenha conseguido processar exatamente qual era.
— Você está bem, menina? Tá parecendo que viu alguma coisa que não devia! — A voz de Julieta fez pular de susto, parando de caminhar e olhando para a governanta vindo do lado oposto do corredor.
A jovem abriu a boca para responder, mas nada saiu de seus lábios, o que fez a mais velha franzir o cenho. Não conhecia a mulher direito ainda, mas pelo pouco que haviam conversado já tinha notado o quanto era tagarela.
— Aconteceu alguma coisa, querida? Eu posso te ajudar? — preocupou-se, dando mais alguns passos na direção dela e fazendo menção de tocar seu braço.
— Ah… N-não! — exclamou em sobressalto. — Só estou um pouco cansada, July. Andei pra caramba hoje — deu a primeira desculpa vinda à sua mente.
Como ela ia contar à governanta que o patrão dela havia a ouvido quase fazendo sexo por telefone?
— É mesmo! Como foi seu passeio?
Julieta ia ficar horas conversando ali com ela e provavelmente oferecer que fossem até a cozinha para ela lhe preparar algo.
não podia arriscar encontrar com novamente, ela não fazia ideia de como encará-lo depois daquele aviso.
— Foi bom. Eu consegui comprar algumas coisas pra deixar meu quarto com a minha cara e tudo — contou, tentando conter o nervosismo na voz. — Mas eu acabei quase me perdendo no final. Fiquei sem bateria no celular e se não fosse uma alma bondosa, eu teria dormido nas ruas hoje.
! — Julieta exclamou em espanto.
— Eu sei, July. Posso te explicar melhor tudo amanhã? Sinceramente, eu estou podre de cansada. Mal consigo manter os olhos abertos e…
— Tudo bem, querida, você me conta os detalhes amanhã — soou compreensiva. — Eu vou preparar algo pra você comer e depois levo lá em seu quarto. O que me diz?
não conseguiu conter um sorriso de gratidão.
— Você é incrível, Julieta. Eu aceito, obrigada.
— Agora vá logo tomar seu banho.
riu e passou pela governanta, apressando seus passos e praticamente correndo até seu quarto.
Ela não queria se arriscar a encontrar alguma outra pessoa no caminho, mesmo só tendo contato com três moradores dali até o momento.
Um arrepio percorreu seu corpo e ela o sacudiu quando uma possibilidade surgiu em seus pensamentos.
Não queria nem imaginar o que faria se desse de cara com seu pai.

Seu coração ainda estava acelerado quando ela fechou a porta atrás de si, levando uma mão ao peito e a outra até uma de suas bochechas, sentindo-a absurdamente quente.
Parando para pensar, aquilo não se aplicava somente às suas bochechas, seu corpo todo parecia estar em combustão.
— Puta que pariu! — exclamou as palavras as quais desejava ter dito no exato momento em que ouviu as de .
Então ela não estava louca, realmente havia alguém na porta, ouvindo sua conversa com Pietro.
Seus gemidos para Pietro.
Céus, o que estava pensando dela?
Que era alguma maluca, pervertida e…
A mulher caminhou até a frente do grande espelho de seu closet, observando sua silhueta e mordendo a boca ao fixar o olhar na parte exposta de seu colo, notando a pele avermelhada.
Realmente, ela estava pegando fogo.
Olhou de soslaio para a porta do quarto, devidamente fechada dessa vez, e por alguns segundos imaginou a silhueta deliciosamente musculosa de parada ali.
Por que o homem havia lhe contado aquilo?
Ele havia gostado do que ouvira?
A mulher teve a impressão de ter visto alguém parado do lado de fora. Será que havia mesmo feito aquilo?
Se sim, teria se tocado ao ouvi-la?
Teria visto alguma coisa também, tentado se esgueirar para enxergar melhor e por isso acabou fazendo algum som indevido?
A ideia de um homem gostoso daquele jeito se tocando por causa dela fez seu corpo esquentar ainda mais e desceu a mão de seu colo até seus seios, apertando um deles na região dos mamilos e soltando uma exclamação baixa.
Um incômodo no meio de suas pernas fez ela apertar uma coxa na outra, pressionando ainda mais os dentes em seu lábio inferior.
Ela estava mesmo excitada pensando em um homem a observando?
Mas aquele homem não era um qualquer. Era .
O gostoso do .
Negou com a cabeça.
Só podia estar ficando maluca.
Dois dias em Baltimore e ela já estava enlouquecendo.
Deixou os dois braços caírem ao lado de seu corpo, encarando seu rosto e soltando um suspiro.
Se Pietro estivesse ali, ela não fantasiaria com aquele tipo de coisa.
— Pietro! — Arregalou os olhos, correndo em busca do carregador para seu celular e tratando de conectá-lo ao aparelho.
Se jogou na cama e encarou as unhas por um momento, tentando parar de pensar nas coisas que haviam acabado de acontecer enquanto esperava o celular ligar.
Assim que a tela inicial surgiu, ela buscou pelo contato de Pietro com urgência e iniciou a chamada, jogando para longe a culpa por ter imaginado aquelas coisas com .
— Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens.
franziu o cenho, trazendo o aparelho até seu campo de visão, desligando a chamada e iniciando outra em seguida.
— Sua chamada está…
— Celular desligado, Pietro? — estranhou porque não era bem do feitio dele, mas não ia criar nenhuma neura.
Talvez, como ela, ele tivesse ficado sem bateria.
Mandaria uma mensagem de boa noite e no dia seguinte falaria com o namorado.
Alguma série com bastante investigação teria de ser o suficiente para distraí-la até a mulher cair no sono.

Pietro Langdon
visto por último hoje às 19:39

Oi, meu amor! Te liguei para desejar boa noite e contar como o meu dia foi louco, mas tudo bem. Espero que esteja bem.

Amanhã conversamos, certo?

Boa noite.

Sonhe comigo! 💋


Correu para o banheiro, tomou um banho relativamente rápido e encontrou seu jantar ali sobre a escrivaninha quando saiu.
— Abençoada seja Julieta — exclamou, só então se dando conta do quanto estava faminta.
Assim como ela só se deu conta do quanto estava cansada quando deitou a cabeça no travesseiro e caiu no sono antes mesmo dos cinco primeiros minutos da série.


💋


O ar estava cada vez mais escasso aos seus pulmões. Por mais arejado que fosse aquele ambiente, o calor era quase insuportável, espalhando gotas de suor por todo o corpo de .
Era como se a qualquer momento ela fosse entrar em combustão e os espasmos involuntários em uma frequência crescente eram o sinal claro de que não faltava muito para aquilo acontecer.
Deitada de bruços naquela cama grande demais para a jovem , sua cabeça se afundou no travesseiro e ela o mordeu em uma tentativa falha de abafar um gemido sôfrego que escapou de seus lábios quando, mais uma vez, seu corpo se contorceu de maneira intensa.
Precisou de muita força de vontade para não deixar um certo nome escapar por entre seus lábios, embora aquele homem estivesse bastante nítido em seus pensamentos.
Na imaginação de , os músculos evidentes daqueles braços fortes estavam ao redor dela, apertando cada pedacinho de seu corpo, fazendo uma pressão para que ela ficasse cada vez mais colada ao peitoral deliciosamente bem desenhado. Uma das mãos dele descia até o meio de suas pernas, escorregando seus dedos pela intimidade encharcada, enquanto um grunhido rouco escapava de seus lábios.
Sufocando outro gemido, acariciou seu clitóris inchado com ainda mais afinco, movendo seus dedos em círculos, sentindo o calor lamber seu corpo inteiro com ainda mais intensidade.
Estremeceu imaginando os dedos grossos do homem escorregando para dentro de si e mordeu o travesseiro com mais força ao se tocar da mesma maneira, alargando-se de um jeito delicioso e girando os próprios dedos de forma que sentisse cada pedacinho de sua intimidade os apertando.
— Boa menina. Você gosta disso, ? Gosta dos meus dedos socados dentro de você?
Mais um gemido sôfrego ecoou de seus lábios, dessa vez um pouco mais alto do que ela gostaria.
A risada rouca dele quase fez com que a mulher atingisse o ápice.
— Acho que isso é um sim.
Então ela sentiu a respiração quente do homem bater contra a curva de seu pescoço ao mesmo tempo em que ele aumentou a intensidade das estocadas de seus dedos e mordeu o travesseiro com mais vontade.
— Rebola bem gostoso para mim, .
Obediente, ela moveu seus quadris circularmente, o que a permitiu senti-lo com ainda mais intensidade. Seu corpo estremecia cada vez mais e por mais que estivesse tentando se conter, não conseguiu evitar o nome exalado de seus lábios.
!
Ouvir a própria voz somada ao som alto da respiração dele aumentou ainda mais o estado de excitação no qual ela se encontrava mesmo que, honestamente, não imaginasse aquilo ser possível.
No entanto, enquanto socava os próprios dedos para dentro de si com intensidade, percebeu que aquele som de respiração não estava apenas em sua imaginação.
Estava ali com ela.
Próximo e deliciosamente sedento.
sentiu seu coração pular até a garganta, seu rosto foi tomado pelo rubor conhecido e ela fez menção de se virar para cobrir seu corpo completamente nu.
Antes que fizesse isso, no entanto, viu se aproximar, levando uma mão aos lábios e fazendo um sinal para silenciá-la.
Um misto de excitação e confusão se espalhou pelos seus poros e antes de ela conseguir processar completamente o significado daquilo, sentiu uma mão de pousar em sua nuca, descendo por toda a extensão de suas costas e então se unindo à mão dela.
Seu corpo inteiro tremeu com aquele simples toque e um gemido alto ecoou de seus lábios, ao que respondeu pedindo mais uma vez pelo silêncio dela.
— Por mais delicioso que seja o som dos seus gemidos, nós não podemos ser ouvidos, senhorita .
Puta merda. Como ela ia se segurar com a voz daquele homem soando rouca daquele jeito?
então levou a outra mão até os lábios de , tampando sua boca para abafar qualquer som que escapasse dali e começou a movimentar sua mão junto à dela, retomando os mesmos movimentos circulares que antes faziam o corpo da jovem se contorcer.
Espasmos tornaram a tomar conta de cada centímetro seu, os quadris de passaram a se mover de maneira quase involuntária e ela conseguia ouvir com bastante clareza o som da respiração de se tornar cada vez mais irregular.
Sem aviso, ele escorregou um dedo para dentro de sua intimidade, indo tão fundo que ela pressionou os lábios com força, grunhindo contra a mão dele e apertando seus olhos.
Decidiu que provocá-lo tornaria tudo ainda mais delicioso, então fez uma pressão no baixo ventre, engolindo o dedo dele dentro de si e gemendo de forma abafada e manhosa, e correspondeu enfiando três de seus dedos na boca da mulher, grunhindo com o quanto os lábios cheios dela eram deliciosos.
Ele escorregou para fora da intimidade dela, aproveitando o quanto estava molhada para esfregar seu clitóris com afinco, voltando com dois dedos e os curvando de um jeito tão gostoso que as pernas de oscilaram e ela as abriu ainda mais, facilitando os movimentos dele.
Virou o rosto na direção de , desejando ver a expressão dele enquanto socava seus dedos nela daquele jeito viciante, estremecendo mais a cada segundo e ofegou sonoramente quando notou a ereção presa pelas calças do homem.
De repente, sua boca salivou de vontade de chupá-lo por inteiro, mas havia algo do qual ela necessitava com ainda mais urgência.
Sugou os dedos grossos de com afinco, lambuzando-os intensamente e fazendo ele os afastar para fazer o pedido de forma sôfrega e desesperada.
— Me fode, . Por favor!
Ele grunhiu mais uma vez em resposta, completamente afetado pela forma manhosa com que as palavras escaparam da boca de , então aumentou a intensidade usada para meter os dedos dentro dela, girando-os, tocando cada centímetro dela com vontade.
rebolou obedientemente, aumentando ainda mais a sensação de prazer que percorria seu corpo, completamente entregue ao calor absurdo o qual fazia seu corpo tremer... e tremer… e tremer.
— Por favor, senhor
— Já disse para me chamar de — a voz dele adquiriu um tom um tanto autoritário e mais uma vez as pernas dela oscilaram.
!
Tão subitamente quanto ele começou a preenchê-la com seus dedos, foi a forma como escorregou para fora dela, tocando seu cinto de uma maneira desesperada e passando a se livrar daquelas calças sociais que só faziam a ereção dele ficar mais marcada no tecido.
mordeu a boca com força, ansiosa para ver o quão delicioso era e…



O som de uma explosão fez o coração da jovem saltar até a boca.
Ela abriu os olhos rapidamente, arregalando-os e levando uma mão ao peito, seus batimentos tão acelerados fazendo-a pensar estar prestes a infartar naquele momento.
Completamente atordoada, se ergueu um pouco na cama com a intenção de se sentar, mas suas pernas estavam completamente bambas e seu corpo inteiro parecia em chamas.
— Puta que pariu. — Ouviu sua própria voz ecoar completamente falha.
Aquilo havia sido tão real que ela olhou em volta do seu quarto como se esperasse encontrar ali parado, observando-a com o mesmo olhar faminto, prestes a fodê-la com vontade.
Estremeceu violentamente, então apertou uma perna na outra, percebendo o quanto estava molhada com aquilo. Na verdade, o corpo todo de era apenas suor, calor e excitação.
Bufou de repente. Sentindo-se absurdamente frustrada porque aquilo tudo não passava de um sonho erótico e porque acordou antes de atingir o próprio orgasmo.
Soltou uma risada inconformada, levando uma mão até seus cabelos e os erguendo para deixar um pouco de ar fresco atingir sua nuca. A região parecia ferver de tão quente.
Olhou para o celular posto sobre a mesinha de cabeceira e se inclinou para acender o visor, esperando encontrar ali alguma notificação de resposta à mensagem enviada para Pietro.
Não encontrou nada e, abrindo a conversa, descobriu que ele nem ao menos havia visualizado a mensagem.
Conteve um grunhido e tentou deitar novamente em sua cama, desligando a televisão para que nada lhe assustasse mais, então fechou os olhos, jurando para si mesma que conseguiria voltar a dormir.
Não conseguiu.
As imagens do sonho ainda estavam muito nítidas, seu corpo ainda estava completamente agitado pelos acontecimentos nele contidos e ela rolou no mínimo umas cinco vezes antes de voltar a se sentar, frustrada.
Precisava de água. Na verdade, ela precisava de um banho frio, mas nem fodendo ia tomar banho às três e quarenta da madrugada, afinal, se fizesse isso, podia dizer adeus ao restante de sua noite de sono.
Levantou-se e seguiu para fora do quarto, usando a lanterna do celular para não incomodar ninguém enquanto passava pelos corredores. Seus pés haviam protestado ao tocar o chão gélido, mas preferiu suportar aquilo porque permitiria a ela ser mais silenciosa durante o trajeto.
Fez uma nota mental de que, a partir do dia seguinte, prepararia uma jarra com água para deixar dentro do quarto e não precisar arriscar acordar outras pessoas, fora que seu quarto era consideravelmente longe da cozinha e ela não podia arriscar se perder e acabar indo parar nos aposentos de , por exemplo.
Por que mesmo ela havia pensado nele mais uma vez?
As imagens do sonho brilharam nítidas em sua memória e mordeu a boca, apressando os passos para tomar a água de uma vez e acalmar seus hormônios aflorados.
Ela só não contava encontrar na cozinha justamente o motivo de toda aquela agitação.
estava encostado na pia ao lado da geladeira e a luz da lua o iluminava como se fosse alguma espécie de escultura grega, mesmo ele estando completamente vestido, com uma calça de moletom e uma camiseta de pijama.
desconfiava que aquele homem ficaria gostoso até fantasiado de Pennywise.
Cogitou a presença dele ser apenas fruto de sua imaginação, ou quem sabe ela havia, sim, conseguido voltar a dormir e estava sonhando com aquele homem novamente.
Será que dessa vez ele a colocaria sentada na pia e a foderia novamente tampando sua boca para o resto da casa não escutar?
Por Hades, o que estava acontecendo com ela?
Resolveu recuar e voltar para o quarto, porque não tinha jeito, só o banho frio poderia ajudá-la naquele momento, mas quando fez menção de dar a volta, escutou pigarrear baixo, atraindo sua atenção.
Por alguns segundos, ela permaneceu o encarando paralisada, esquecendo até mesmo de como respirar.
— E-eu… — balbuciou, então respirou fundo, tentando controlar o tremor que percorria seu corpo para formular algo inteligível. — Desculpe incomodá-lo, senhor . Eu só vim buscar um pouco de água. Não foi minha intenção perturbar seu momento.
Um sorriso se formou nos lábios dele.
— Não se preocupe, . Imagino que, como eu, você também esquece de levar uma jarra de água para o quarto, certo? — percebeu a jovem um tanto agitada, mas preferiu não comentar sobre aquilo. Não queria embaraçá-la outra vez.
— É… Digo, certo, é isso mesmo! — Se atrapalhou um pouco, ficando perdida com aquele sorriso dele e acabou retribuindo, levando a mão até os cabelos e colocando uma mecha atrás de sua orelha. — Fiz uma nota mental aqui para passar a fazer isso. Longe de mim incomodar alguém fazendo passeios noturnos pela casa. — Fez uma careta, a qual foi retribuída com um franzir de cenho da parte dele.
— Não irei julgá-la se preferir passear pela casa. Eu mesmo faço isso com frequência. — Deu de ombros e aquele gesto displicente deixou um pouco mais à vontade.
— Você faz?
— A minha vida é muito agitada, como você já deve ter notado. São raros os momentos durante o dia onde eu posso simplesmente parar dentro da cozinha para beber um copo de água. — Soltou uma risadinha levemente frustrada.
— Então você aproveita para fazer isso durante a noite? — A jovem arriscou alguns passos na direção de quando ele assentiu em concordância, percebendo o olhar dele analisá-la discretamente e parar em seus pés descalços.
— Seu pai nunca te ensinou que andar descalça no chão gelado vai te deixar doente? — ralhou com ela, fazendo a mulher rir e erguer uma sobrancelha.
— E eu imagino que o seu não te ensinou o quanto é feio escutar as conversas alheias, senhor .
Não soube o motivo, mas ela simplesmente deixou as palavras ecoarem, percebendo se mexer um tanto sem graça.
teve a impressão de que, se estivesse um pouco mais claro, ela notaria o rosto do homem enrubescer e precisou conter os pensamentos do quanto aquilo era adorável.
— Sobre isso, eu lhe peço desculpas, . Realmente, eu não deveria ter ouvido nada e foi rude de minha parte contar o ocorrido daquela forma. — Levou uma mão até os cabelos, passando os dedos entre os fios em um sinal de nervosismo, fazendo a jovem o achar ainda mais delicioso.
— Não tem problema. Eu estava apenas brincando com o senhor. — Piscou para ele, de repente bem menos trêmula como antes. Na verdade, a ideia de que estava o afetando de uma certa forma deixou curiosa para descobrir até que ponto aquilo acontecia.
— Só vou acreditar nisso quando parar de me chamar de senhor. — riu de leve, fazendo a jovem sorrir, escondendo a expressão afetada pelo arrepio que percorreu seu corpo com as lembranças de uma frase bastante semelhante ecoando rouca dos lábios dele. Então se adiantou para abrir a geladeira e procurar a jarra de água porque sua boca estava absurdamente seca naquele momento.
Um pensamento engraçado de que a água de seu corpo havia escorrido pelas suas pernas de repente trouxe mais um rubor ao seu rosto.
— Tudo bem, . — Encheu um copo e bebeu alguns goles da água, sentindo o olhar de sobre si.
Sem conseguir se conter, lambeu os próprios lábios, soltando um gemido baixo de satisfação e sorrindo mais uma vez para o homem, tendo uma impressão deliciosa de que ele havia ficado afetado.
— Mas me fala mais sobre esses seus passeios noturnos — trouxe o assunto de volta, encarando-o com curiosidade.
— Ah, sim. Os passeios noturnos — seu tom soou distraído, ele pigarreou baixo e a conteve um sorriso. — Depois do que aconteceu, ainda é estranho dormir sozinho e quando fico agitado demais, uma caminhada noturna acaba me fazendo bem — explicou, fazendo com a expressão de oscilar um pouco. Era nítido o quanto o homem ainda sofria pela perda da esposa, mas ela não quis deixar aquele assunto mudar o clima da conversa entre eles, principalmente porque sentia também não ser a intenção de .
— Com uma casa gigante como essa, imagino que seja uma bela de uma caminhada. — Soltou uma risadinha e ele a acompanhou.
— Pode-se dizer que sim. — demorou seu olhar no rosto da jovem.
mais uma vez sentiu um calor pelo seu corpo enquanto retribuía o olhar dele e seus pensamentos mais uma vez a levaram à deliciosa imagem de a colocando sentada na pia.
— Ahn… Mas eu vou te deixar continuar com o seu passeio, . Só vim buscar uma água mesmo. Preciso acordar cedo de novo para dar um jeito de comprar o restante das coisas que tenho em mente. Minhas aulas vão iniciar depois de amanhã — explicou, se aproximando dele para largar o copo sobre a pia.
Se recriminou por ter feito aquilo no mesmo instante, porque a proximidade a permitiu sentir o quanto era cheiroso.
Como ela conseguiria dormir com aquela fragrância deliciosa impregnada em suas narinas?
— Tudo bem. Posso colocar um motorista à sua disposição, se quiser — ofereceu, acompanhando-a com o olhar.
— Não precisa. Você já fez demais por mim e eu prometo que dessa vez não vou me perder. — Piscou um olho para ele.
— Fico mais aliviado sabendo disso. — Sorriu mais uma vez e os hormônios de gritaram para que ela o agarrasse.
Em vez disso, ela se afastou, afinal, ainda tinha um namorado, por mais que ela precisasse se esforçar muito para lembrar dele naquele momento.
— Boa noite então, .
— Boa noite, . Mais uma vez, me desculpe pelo desconforto de mais cedo. Não irá se repetir.
Ela deu alguns passos em direção à porta da cozinha, então se virou para ele.
— Não se preocupe com isso. Prometo falar mais baixinho da próxima vez. — Sorriu ladina para e finalmente se afastou.


Capítulo 04 — Limerence

“Sentir-se afetado por outra pessoa”.

observou a silhueta de se distanciar dele tendo plena certeza do quanto suas reações estavam estampadas em seu rosto.
Não houve como agir de forma diferente. As palavras dela fizeram seus olhos se arregalarem de imediato, seu rosto esquentou por inteiro e a boca se abriu minimamente, de repente tão seca quanto costumava ficar minutos antes dos discursos dados por ele.
só se deu conta de que apertava a bancada da pia com força quando os nós de seus dedos doeram e antes que pudesse se refrear, um suspiro baixo escapou de seus lábios.
Como era possível que uma simples frase fosse capaz de afetá-lo tanto?
Ele sabia que não era apenas aquilo.
Ao pousar seus olhos sobre o copo largado por ela minutos antes, podia jurar ver o desenho perfeito dos lábios da mulher em sua borda enquanto sua mente trouxe à tona a memória recente do sorriso ladino exposto no belo rosto.
Não, não era apenas a frase. Era a expressão do rosto dela, o tom de provocação explícito, a ousadia do caminhar lento.
o atiçou de propósito.
E pensar nisso fez o homem desejar correr sedento na direção dela e revogá-la para si.
Outro suspiro escapou dos lábios dele.
Ou talvez aquilo tudo fosse apenas pirraça da jovem e estivesse interpretando tudo errado.
Por Deus, ela tinha um namorado e, aparentemente, estava muito bem servida com ele.
O tique-taque do relógio despertou o homem de seus devaneios e o encarou brevemente, apenas para constatar que passava das quatro e meia da manhã.
— Merda.
Teria que acordar dali a duas horas. Precisava descansar ao menos um pouco porque desmarcar um ou dois compromissos da manhã estava completamente fora de cogitação.
Todd Phillips jamais permitiria aquilo, a menos que houvesse algum motivo de força maior.
voltou para seus aposentos e um peso o acompanhou quando deitou novamente em sua cama, deixando o espaço vazio ao seu lado como era de costume.
A culpa quis sussurrar em seu ouvido novamente, julgá-lo por todas as reações que havia tido desde o momento em que seus olhos pousaram em , mas o homem decidiu guardar aquilo em algum canto de sua mente, pelo menos por enquanto. O descanso era tudo o que ele queria.
Se ele soubesse que passaria as horas de sono que lhe restavam virando de um lado para o outro, sem conseguir tirar o maldito sorriso de de seus pensamentos, desejando causar aquela reação nela outras vezes, teria preferido a dose de culpa com toda a certeza.
passou o restante da madrugada inquieto e quando o despertador o avisou da necessidade de se levantar, deixou o ar escapar de forma prolongada de seus lábios.
A ardência em seus olhos mostrou que aquele seria um dia longo enquanto o homem seguia para o chuveiro.
Lá dentro, procurou deixar de lado qualquer pensamento e usar a temperatura fria, o remédio para despertá-lo por completo.

— Teve uma boa noite de sono, senhor ? — A voz de Julieta o tirou de seus pensamentos e o homem ergueu seu olhar, que só então percebeu estar fixo na xícara vazia.
— Perfeita. — O tom leve de ironia se fez presente em sua voz e se adiantou para se servir de um pouco de café, dispensando quando a governanta se ofereceu para fazer aquilo por ele.
— Não é o que diz a sua cara. — Qualquer um poderia recriminar uma resposta como aquela, mas Julieta o conhecia desde muito jovem e nunca foi de exigir tratamento diferenciado de seus empregados.
— O que eu posso dizer… — Um suspiro ecoou dos lábios do homem e ele viu um sorriso triste se formar nos lábios dela.
— Eu entendo. Deve ser realmente difícil para o senhor.
— Me disseram que com o tempo seria mais fácil. Ainda estou esperando isso acontecer. — Torceu as feições em uma careta. Por mais que aquilo não fosse verdadeiramente a causa de sua insônia naquela noite, não deixava de ser verdade.
— Não desista disso. Uma hora os pontos de luz aparecem, o senhor vai ver. — Sentiu a mulher tocar um de seus ombros em uma forma de consolo.
não conteve um sorriso.
— Obrigado. A senhora sempre traz as palavras certas.
— Que nada, eu leio essas coisas em livros de autoajuda — dispensou com um gesto, o que fez ambos rirem. — Mas deixa eu voltar para a cozinha antes que o seu assessor me degole.
franziu o cenho ao ouvir aquilo.
— Todd já está aqui?
— Chegou ainda há pouco. Disse que o senhor tem uma entrevista e assim que estiver pronto, deve encontrá-lo no escritório.
— Certo. Muito obrigado, Julieta.
— Não vou mais repetir que precisa de uma folga, senhor . — Olhou para ele de forma significativa.
— Ah, eu bem que gostaria. — soltou uma risada baixa e tomou um gole generoso de seu café.
De fato, não lembrava da última vez que havia tirado nem que fossem algumas horas de folga, porém não importava. Ele teria tempo para isso quando fosse eleito senador dos Estados Unidos.

Não foi surpresa alguma encontrar Todd andando de um lado para o outro dentro do escritório de . Desde que conheceu o assessor, dava de cara com aquela cena ao menos uma vez em seu dia, fazia parte da personalidade do homem.
Todd Phillips vivia pela carreira política de . Sua dedicação já havia chegado a um nível onde era difícil imaginá-lo fazendo qualquer outra coisa na vida. Na verdade, ele sequer parecia lembrar de como as coisas eram antes de começar a trabalhar para .
Depois de recebê-lo com um “aí está você”, Todd passou uma seleção de quais poderiam ser as perguntas da entrevistadora e eles gastaram algumas horas ensaiando as respostas mais adequadas.
não gostava daquela ideia. Pensava diferente de Phillips. Algo espontâneo poderia cativar mais pessoas, porém Todd temia que as palavras erradas fossem ditas em um improviso e em uma campanha contra Italia Whitman aquele tipo de deslize não podia acontecer.
já havia perdido as contas de quantas vezes ouviu o assessor repetir a última frase.
Às vezes desejava que pudesse se livrar daquilo tudo e voltar ao tempo em que sua maior preocupação era levar Amélia ao baile da escola. Então respirava fundo e se conformava com a impossibilidade de seus pensamentos se tornarem realidade.
Naquela manhã, ele precisava vestir a máscara de que estava tudo bem e não lhe restava dúvida alguma quanto ao seu propósito.
A entrevista da vez seria gravada para um programa televisivo local, onde o candidato a senador permitia algumas perguntas sobre sua campanha eleitoral, bem como questões de cunho pessoal que ele responderia de forma treinada para o público se identificar, porém sem revelar coisas demais sobre si. Aquilo tomaria toda a sua manhã e apenas teria um intervalo pequeno para almoçar e depois seguir para o próximo compromisso do dia, uma visita à ala infantil do hospital.
Já fazia alguns minutos que Phillips havia se retirado para preparar o carro que seria utilizado pelo candidato naquele dia. Eles ainda tinham quase duas horas até o início da entrevista, ainda assim chegar adiantado sempre causava uma boa impressão.
estava sentado na cadeira diante de sua mesa do escritório e tentava limpar seus pensamentos naquele momento porque pensar demais antes dos eventos nunca funcionava para ele. Se manter calmo e sereno era a melhor alternativa.
E não era surpresa alguma que Amélia tivesse lhe ensinado aquilo. Ela era responsável por tantas coisas sobre ele…
suspirou e olhou para a janela. O céu lá fora era de um azul límpido e ele imaginou que a temperatura deveria estar agradável.
Seria o dia perfeito para tirar uma folga e apenas aproveitar aquele clima, no entanto, aquilo não aconteceria tão cedo.
O candidato então enterrou qualquer outro pensamento que pudesse surgir sobre o assunto quando Todd retornou ao escritório, acompanhado por Charles .
— Preparado para ser metralhado de perguntas, senhor ? — o homem puxou conversa enquanto os três seguiam para fora da casa, onde o carro já os aguardava.
fez uma careta.
— Já falei do quanto soa engraçado você me chamar de senhor? — brincou com seu chefe de segurança, que acabou rindo.
— Força do hábito. Um dia perco a mania.
— Acredita mesmo nisso? — ergueu uma sobrancelha, cético, e ambos voltaram a rir.
— Agora… Lembre-se, … — Todd começou a falar e sabia que não adiantava cortá-lo, então apenas deixou o assessor repetir as mesmas orientações de mais cedo.

Vou tentar falar mais baixinho da próxima vez.

Por algum motivo, de repente seus pensamentos vagaram para aquele momento, trazendo aquelas mesmas sensações que o atingiram na cozinha de sua casa. Porém não era hora e muito menos lugar para ter rondando sua mente. Afinal de contas, o pai dela estava bem ali.
Por Deus, Charles o mataria se soubesse das coisas que andava imaginando.
O candidato conteve um suspiro, então focou sua atenção no assessor, determinado a realmente escutá-lo porque assim não pensaria no que não devia.


— Hoje temos um convidado muito especial no nosso programa. Ele é um dos candidatos mais jovens pelo estado de Maryland e carrega um legado e tanto nas costas. Com vocês, ! — Ruth, apresentadora do programa, o anunciou e foi orientado a olhar para a câmera focada nele. Tinham optado por iniciar com o homem já sentado na poltrona diante da mesa da mulher com quem trocou algumas palavras antes das gravações começarem.
Uma música de poucos segundos seguiu as falas dela, então dessa vez lançaram um sinal a Ruth, indicando que podia voltar a falar.
, seja muito bem vindo ao nosso programa. Muito obrigada por topar vir até aqui conversar um pouco conosco. — Sorriu abertamente e o homem se endireitou sutilmente para respondê-la.
— Eu que agradeço a vocês pelo convite e pelas boas-vindas. É um prazer estar aqui. — Retribuiu o gesto dela de forma cordial.
— Antes de qualquer coisa, eu preciso falar do quanto esse homem é cheiroso, pessoal. — O comentário foi lançado para descontrair e funcionou porque acabou rindo baixo.
— Oh, muito obrigado. Se quiser, eu passo pra você o nome do perfume que eu uso. — Sentiu-se à vontade o suficiente para devolver.
A mulher conteve um pequeno suspiro.
— Por favor, me passe. Vou fazer meu marido usar — brincou novamente, então trocou sua posição na cadeira, se inclinando um pouco na direção de . — Mas vamos falar um pouco mais sério agora… Ou talvez não. Você sabia que tem uma legião de fãs?
O homem a olhou com uma expressão um tanto surpresa, então sorriu.
— Tenho visto que as pessoas acompanham meu trabalho e têm demonstrado muito apoio à minha campanha, mas, sendo honesto, ainda não tinha ouvido falar em legião de fãs, não.
— Jura? — a mulher acrescentou, sem acreditar que ele realmente não fazia ideia daquela informação.
— Estou falando sério, Ruth. — Achou graça da reação dela.
— Minhas fontes me disseram que talvez você fosse dizer isso. E por esse motivo preparei uma coisa para você, . — Piscou na direção dele, então apontou para uma grande tela ao lado deles.
não hesitou em prestar atenção ali porque no mesmo instante um vídeo começou a rodar.
Primeiro, foi feita uma introdução sobre a candidatura dele, os caminhos que o homem percorreu em sua carreira política, para então chegar ao ponto destacado por Ruth, a popularidade de .
Ela tinha razão, a quantidade de pessoas que o adoravam era grande, principalmente entre as mulheres, e isso fez o homem questionar como não havia percebido antes.
Entretanto, não precisou de muito tempo para descobrir. O motivo era simples: estava feliz demais ao lado de sua belíssima esposa e depois focado demais na campanha.
O vídeo encerrou após algumas declarações de fãs e as câmeras se voltaram para o candidato a senador.
— Agora você acredita? — Ruth brincou, o fazendo sorrir.
— A única coisa que consigo responder é: uau! Agradeço mesmo o apoio e o carinho de cada um de vocês! — Sentiu-se até um tanto sem jeito.
— Acredite, nós é que te agradecemos, viu? — O sorriso que a mulher lhe lançou tinha um tom diferente, porém continuou com a mesma postura educada. — Mas agora vamos mais além no assunto. Vamos falar da sua candidatura ao senado. O que te motivou a isso?
não precisou pensar para responder. Primeiro porque Todd havia o instruído sobre aquela pergunta e segundo porque era mesmo instintivo dele.
— Em resumo, porque quero ajudar as pessoas — foi enfático. — Sabe, Ruth, eu sei que tem a questão do legado que o meu nome carrega. É quase uma espécie de dinastia, já que meu pai foi senador e meu avô antes dele, mas não se trata disso. Eu quero ser mais do que o meu nome ou apenas um rosto bonito, entende? Eu quero ouvir o que as pessoas têm a dizer e ajudá-las a ter uma qualidade de vida melhor.
— Excelente resposta, preciso admitir — Ruth comentou assim que cessou sua fala.
No canto do estúdio de gravação, Todd Phillips estufou seu peito de forma quase instantânea, embora o crédito daquela resposta nem fosse dele. havia usado um discurso próprio.
— Apenas a verdade. — deu de ombros, o que fez a mulher sorrir talvez pela milésima vez.
— De fato, você tem construído uma carreira de muitas conquistas e ajuda ao próximo. O rostinho bonito é o bônus. — Mais uma vez, a mulher piscou em sua direção.
Ruth questionou mais algumas coisas em relação à campanha de , as quais o candidato respondeu com sinceridade, adaptando algumas instruções de Todd. Talvez o assessor não fosse ficar contente com aquilo, mas desde que funcionasse, estava tudo certo.
— O que você tem a dizer sobre Italia Whitman? — A pergunta chamou sua atenção e ele apenas franziu levemente o cenho antes de responder.
— Acho ela uma forte candidata. É determinada, inteligente e é inegável o quanto é competente.
Mais uma vez, Ruth se surpreendeu com a resposta do candidato.
— É isso? Nenhuma alfinetadinha? — questionou em tom de brincadeira.
— Eu não sou de jogar sujo, Ruth. Quero ganhar essa eleição sem precisar derrubar ninguém. — Seu tom de voz soou um pouco mais sério.
— Vem cá, será que você vai continuar pensando assim depois que ver outra coisa que preparei pra você? — Ruth o olhou com a expressão de quem sabia de muita coisa.
— Você só vai saber quando mostrar. — deu de ombros.
— Dá uma olhada então. — Apontou novamente para a tela e o candidato se virou com calma para prestar atenção no vídeo que se iniciou no mesmo instante.
As imagens mostravam Italia sentada no mesmo lugar onde estava.
Então, Italia, o que você tem a dizer sobre ? — Ruth a questionou, da mesma forma que fez com o homem.
O que eu tenho a dizer sobre … Por que você quer saber especificamente sobre ele, Ruth? — a mulher devolveu a pergunta com uma sobrancelha levemente arqueada e um sorriso esperto desenhando os lábios.
Italia tinha uma postura invejável de quem não se deixava abalar por nada, sua determinação e garra estavam bem estampados em seu rosto e era impossível não notar o brilho em seus olhos. Ela lutava com unhas e dentes para vencer aquela eleição.
a admirava por isso.
Bom, ele é seu maior oponente nessas eleições. Qualquer outro candidato seria brincadeira de criança para você, vamos admitir. — O bom humor de Ruth parecia nunca se abalar.
Whitman não hesitou em sua resposta, como se já estivesse muito bem preparada para aquele questionamento.
Não estou preocupada com , Ruth. É claro que ele tem um legado criado pelos seus antecessores, mas, no final das contas, não passa de um rapaz mimado, um rostinho bonito. E o povo quer alguém que faça a diferença, que lute por suas necessidades, não um cara bonito.
Dizer que aquelas palavras não afetaram seria uma tremenda mentira. já havia deixado claro que ser visto como um rosto bonito era a última coisa que desejava.
Aquilo fez o lábio do homem se encrespar sutilmente, mas sua irritação não era apenas com Italia, que não o conhecia e falava como se o fizesse. A raiva de também se dirigia a Ruth, porque estava mais do que óbvio, ela havia conduzido as duas entrevistas daquela forma de propósito, incitando as intrigas entre os oponentes.
Típico, ele devia ter previsto.
Ou, nesse caso, aquele era o trabalho de Todd, não era?
— E agora, ? Você mantém a sua opinião sobre sua concorrente? — A apresentadora continha um sorriso maldoso.
se recompôs rapidamente, tornando a encará-la com serenidade porque não era o suficiente para abalá-lo.
— Mantenho, sim. Veja bem, Ruth, ela tem o direito de pensar o que quiser de mim e discutir sobre isso não vai mudar nada, não é? Continuo admirando o quanto ela é competente e inteligente.
A expressão de choque não poderia ser maior no rosto da mulher e acabou sorrindo de leve.
— Uau. Eu realmente não esperava por essa — Ruth confessou, fazendo o homem rir baixo.
— Imagino que não — deixou aquele comentário escapar.
Embora ainda estivesse desconcertada, a apresentadora tratou de retomar às perguntas logo, explorando mais um pouco sobre a campanha de , em quais lugares ele pretendia ir, algumas lições que tirava ao fazer seus comícios e, é claro, detalhes sobre suas promessas de campanha.
Como já era esperado, o foco da conversa passou para o cunho pessoal. A princípio, Ruth o questionou sobre sua rotina diária, coisas que o homem gostava de fazer em suas horas vagas e se ele imaginava como seria sua vida depois da eleição.
Todd havia o preparado para tudo aquilo, então respondeu sem muitas dificuldades, esquecendo da provocação quanto a Whitman e se divertindo um pouco a uma certa altura da entrevista.
Isso até o momento seguinte.
— Não é segredo algum que você perdeu sua esposa há pouco tempo e sentimos muito por isso. Na verdade, muitas pessoas pensaram que você desistiria de sua campanha, mas aí está você, , firme e forte. Você acha que foi essa perda que o tornou mais forte?
não podia dizer que não estava esperando uma pergunta como aquela, no entanto, aquilo não a tornava menos invasiva e dolorosa.
Ele engoliu a seco, desviando seu olhar de Ruth e precisando de alguns segundos de silêncio, o que preocupou a apresentadora. Ela tinha consciência de como algumas perguntas poderiam deixá-lo desconfortável, mas não queria de maneira alguma feri-lo com elas.
— Se não quiser responder, não precisa. Nós editamos o vídeo e cortamos essa parte, senhor — diminuiu seu tom de voz, deixando de lado a pose de apresentadora por alguns instantes.
negou com a cabeça e voltou a encará-la.
— Tudo bem. Não se preocupe. — Abriu um pequeno sorriso.
Falar sobre Amélia nunca deixaria de ser doloroso.
— Quando quiser, então. — Ela o retribuiu, ligeiramente sem graça, desejando internamente voltar no tempo e impedir a si mesma de fazer aquela pergunta. Sabia bem que alguns limites não podiam ser ultrapassados e aquela era a pior parte de seu trabalho.
precisou de alguns segundos apenas para controlar as próprias emoções. Todd havia lhe orientado sobre o que responder naquele caso também, mas soube desde que colocou seus pés naquele lugar que não conseguiria falar sobre Amélia de outra forma que não fosse com todo o seu coração.
— Desde a primeira vez em que eu vi Amélia, ficou claro para mim o quanto ela mudaria a minha vida. Por um tempo, eu não soube como e algumas vezes até cheguei a cogitar que nunca a teria como esperava, mas eu a tive. Eu conheci Amy por inteiro e ela me conheceu da mesma forma. Amélia fez o que nem eu mesmo consegui fazer por mim. Por causa dela, eu passei a acreditar em mim mesmo, a enxergar o que antes eu não enxergava. Algumas pessoas acham que eu segui a carreira política por causa do meu sobrenome, mas a verdade é que sempre foi tudo por ela. Não, Ruth. Não foi a perda que me fez mais forte. O luto apenas me lembra o que escapou pelos meus dedos. Quem me torna mais forte sempre foi e sempre será Amélia.
Ao terminar sua fala, percebeu-se uma pequena falha na voz de e um silêncio seguiu pelo local. Silêncio esse onde cada pessoa ali presente permaneceu encarando o candidato a senador, ainda absorvendo suas palavras e a intensidade nítida em cada uma delas.
Não havia como negar o quanto amava aquela mulher.
— Uau… — Ruth deixou escapar, respirando fundo para conter a emoção que ameaçou transbordar de seus olhos. — Isso foi… Isso foi realmente bonito de se ouvir. E é algo tão raro. Tenho certeza de que, onde quer que sua esposa esteja, a emoção chegou até ela também. — Então sorriu novamente.
— E eu tenho certeza de que ela deve estar odiando o nó que dei na minha gravata. Ela sempre refazia quando tinha a chance — soltou em um tom de brincadeira para descontrair um pouco o clima e aquilo funcionou perfeitamente. Logo o estúdio voltou ao clima agradável e Ruth resolveu fazer uma chamada para o intervalo.
seguiu em busca de um pouco de água e sentiu que Todd vinha em sua direção, provavelmente desejando criticá-lo por não usar o discurso combinado e o candidato o dispensou com um olhar mais sério.
Não demorou muito para que o último bloco da entrevista iniciasse e mais perguntas um tanto constrangedoras se seguiram. Com elegância, respondia a todas elas.
— Senhor , temos uma penúltima pergunta para o senhor e eu vou pedir de novo para que olhe para o telão.
Imediatamente, o homem atendeu às palavras de Ruth e conteve uma franzida no cenho ao perceber que fotos de uma balada local surgiam na tela.
— Essas imagens tomaram conta do twitter hoje mais cedo. O senhor reconhece a moça que está nelas?
Era óbvio que ele conhecia e Ruth sabia disso muito bem.
— Claro que conheço. É a Carter. — precisou de bastante força de vontade para manter a boa educação.
Aquilo não havia sido planejado.
— Carter ? Sua irmã mais nova? — inquiriu, ao que respondeu com um aceno positivo. — Ela e sua esposa eram muito próximas, certo? As duas se tratavam como irmãs e tudo. Você diria que esse tipo de comportamento da sua irmã é uma maneira dela de lidar com o luto?
Carter estava visivelmente alterada nas fotos. Inclusive, em uma delas, havia tentado acertar um dos paparazzi. não soube dizer se a irmã havia apenas bebido ou usado alguma droga, porém seu estado era deplorável.
Pela primeira vez, o homem ficou sem saber o que dizer. Nada havia o preparado para aquilo e, honestamente, ele não achava que fosse possível. Quem é que responderia aquele tipo de pergunta numa boa?
desviou seu olhar de Ruth e negou com a cabeça, se sentindo irritado com a invasão.
— Isso, Ruth, é algo que você teria que perguntar à própria Carter — respondeu, lutando ao máximo para manter o tom de voz controlado e mais uma vez notou a expressão sem graça da apresentadora quando voltou a encará-la.
— De fato, senhor . — Ruth engoliu em seco. — Vamos à última pergunta então. Que mensagem você gostaria de deixar aos seus eleitores?
repetiu o discurso que Phillips havia o feito memorizar de uma forma automática. Não estava mais confortável naquele estúdio, sentia agonia e o quanto antes aquilo acabasse melhor.
Ele só voltou a respirar enquanto seguia em direção ao seu carro.
, eu sinto muito. Não era para perguntarem sobre Carter. A fotografia vazou antes de conseguirmos tirá-la de circulação — Todd tentou se explicar, recebendo um olhar sério do candidato.
— Apenas cancele o que eu tenho para o resto do dia, Todd. Preciso encontrar minha irmã.


💋


Por mais que não tivesse dormido o tanto que gostaria, as horas restantes de sono foram agradáveis para .
Depois de seguir de volta para o seu quarto sentindo suas pernas trêmulas devido à ousadia de suas palavras, a mulher se jogou na cama, afundou a cabeça em seus travesseiros e deixou outro sorriso ladino estampar seus lábios.
A reação de havia sido realmente deliciosa aos olhos dela. conseguiu distinguir a surpresa, acompanhada pelo que parecia ser uma parcela de interesse mascarada com algum conflito interno.
se sentia completamente afetada pela ideia do homem ter algum interesse nela, porém logo ela voltava a pensar na questão do conflito e ela mesma tinha o seu.
Ele atendia pelo nome Pietro Langdon e pelo restante da noite e uma parte da manhã não se ouviu falar no rapaz.
Nenhuma mensagem de texto, DM no instagram, curtida ou até mesmo um sinal de fumaça.
Aquilo estava muito estranho e foi inevitável para não pensar no pior.
Talvez Pietro já tivesse enjoado daquela vida de chamadas de vídeo e não quisesse mais nada com ela. Algo que passava pela cabeça da jovem com mais frequência do que ela gostaria desde que decidiu se mudar sem Pietro.
— Não, isso é ridículo — murmurou para si mesma.
Faziam o quê… Três dias que estava na cidade?

não soube dizer se não ter encontrado naquela manhã havia sido bom ou ruim. Por um lado, queria ver como o homem reagiria depois do que acontecera na noite passada; por outro, sentia uma pontada de decepção por não ser agraciada com a visão de alguém como ele tomando café.
só percebeu que estava fantasiando com ali naquela mesa quando ouviu a voz de Julieta comentar qualquer coisa com ela.
Aquilo não podia acontecer. Ela precisava voltar a focar em Pietro e era o que faria.
Ao voltar para o quarto, pegaria o celular e tornaria a tentar alguma comunicação. Precisava lutar pelo seu relacionamento, certo?
Mas aquilo acabou não acontecendo. estava chateada com o sumiço do namorado e uma parte sua também clamava pelo amor-próprio, então se ele quisesse vê-la, que corresse atrás.
Resignada, a jovem optou por concentrar suas energias na decoração de seu quarto, usando algumas coisas que havia comprado em seu passeio pela cidade.
Passados alguns minutos, se sentia animada, principalmente ao ver que, aos poucos, aquele lugar parecia de verdade o seu cantinho. Sua estadia naquela casa podia até ser temporária, mas já que haviam lhe dado carta branca, ela ia aproveitar.
Alguma música da banda Royal Blood tomava conta do ambiente e, balançando o corpo de um lado para o outro, ela seguia colocando as coisas no lugar. Precisava tirar mais algumas coisas de uma mala e passou a cantarolar, acompanhando o restante da playlist enquanto se ocupava com aquilo, nem se importando com o passar das horas ou com o roncar de seu estômago denunciando que o almoço se aproximava.
Os pensamentos da estavam tão perdidos naquele momento que ela só percebeu que o celular tocava quando olhou na direção do aparelho.
— Oh, droga! — Se aproximou, acendendo o visor que havia se apagado há poucos segundos, lendo ali o nome que estava desejando desde a noite anterior.
Hesitou em atender, cogitando deixá-lo sofrer um pouco só para se vingar, porém aquela já era a quarta ligação que o rapaz fazia.
Acabou por fim se rendendo e colocou a ligação no viva voz para continuar fazendo suas coisas.
— Pietro. — Sorriu fraco, ouvindo o namorado suspirar baixo do outro lado da linha.
— Eu sei. Me desculpe por ontem, amor. Passei super mal e não consegui te avisar.
continuou estranhando aquilo e seu cenho se franziu.
— Por que não? O que houve com você? — questionou, engolindo a dose de sarcasmo.
— O médico falou que era intoxicação alimentar. Eu passei praticamente a noite inteira vomitando e quando voltei do hospital, já era tarde demais para te ligar. Essa porcaria de celular também está com a bateria viciada, você sabe. Minha bateria morreu logo na sala de espera. — As explicações não paravam e Pietro parecia desesperado em fazer a namorada acreditar nele.
— Intoxicação com o quê? — Foi a primeira coisa que ela indagou, o interrompendo e não conseguindo evitar sentir uma pontada de preocupação. Ainda assim, era difícil de comprar aquela história.
— Aí é que está. Eu não faço ideia. Nós comemos uma torta de carne lá no Jeffrey, talvez tenha sido isso.
assentiu. Pietro não havia dito nada a ela sobre ir até a casa de Jeffrey. não cobrava todos os passos do namorado, porém ele sempre fazia questão de dizer aonde ia.
— E como você está se sentindo agora? — Ainda não sabia se acreditava naquilo e pela centésima vez odiou a distância entre os dois.
— Um pouco melhor. — Langdon sorriu. — Ao menos eu consegui parar de vomitar.
— Tem certeza de que foi intoxicação mesmo? — A pergunta acabou escapando.
— Foi o que o médico disse, amor. Pode perguntar pra mãe. E olha, não fui só eu que passei mal, tá? O Jeff também ficou ruim, só não foi para o hospital.
— Acredito em você. Eu só fiquei pensando que também poderia ser alguma virose por conta dos vômitos.
— Que bom que não era, né? Logo já estarei cem por cento e nós podemos fazer outra chamada de vídeo. Ainda quero terminar o que a gente começou ontem. — Uma nota de malícia tomou conta da voz de Pietro e aquilo arrancou um meio sorriso de .
Ela mordeu a boca quando voltou a pensar em um certo alguém parado lhe olhando e se reprimiu por aquilo.
— Eu também quero. Agora me conta o que você foi fazer na casa do Jeffrey ontem. Me diga que vocês estão fazendo grupo de estudos e não torneio de jogos outra vez.
Pietro riu culpado.
— Maratona de Star Trek.
Ela revirou os olhos.
— A intoxicação alimentar então foi a vingança do universo. Tá vendo só? — Ele continuou a rir e aquilo a fez sorrir mais leve pela primeira vez. — Estou com saudades.
— Eu também, amor. Muita. Me desculpe por ontem — pediu novamente, com uma voz mais branda.
— Tudo bem. Só não me assuste assim outra vez. Eu odeio quando as pessoas tomam chá de sumiço, você sabe disso.
— Sim, eu sei.
Depois disso, outros assuntos vieram à tona na conversa e toda a situação foi ficando esquecida na mente de . Não havia motivos fortes o suficiente para que insistisse naquilo.
Ela contou sobre algumas coisas que viu na cidade, comentou o quanto estava ansiosa para as aulas que começariam no dia seguinte e Pietro lhe atualizou sobre o que andava acontecendo no seu círculo de amizade.
A uma certa altura, até se atirou na cama, se permitindo descansar um pouco porque não faltava muito para a arrumação terminar.
Quando já faziam mais de duas horas que os dois conversavam, Langdon anunciou que precisava desligar porque a mãe o chamava para comer algo e a jovem assentiu, se despedindo com a promessa de que mais tarde eles fariam a tal chamada de vídeo.
largou o aparelho com um sorriso estampado nos lábios, satisfeita pela angústia de antes ter sumido e cogitou levantar e ir até a cozinha comer alguma coisa, já que havia dispensado o almoço quando Julieta foi chamá-la.
Antes que pudesse de fato colocar sua ideia em prática, no entanto, a jovem foi surpreendida pela porta de seu quarto se abrindo com urgência.
O susto a fez levar a mão ao peito e se sentar na cama, arregalando os olhos e notando a figura feminina e desconhecida fechar a porta tão rápido quanto havia a aberto.
Ela não devia ser muito mais nova que , porém era alguns centímetros mais baixa. Seus cabelos negros eram lisos e perfeitamente cortados em um chanel tão estiloso quanto as roupas da garota e o erguer de sobrancelha deixou claro que ela não estava se importando muito em invadir o quarto de alguém.
— Ok, isso é inédito — a garota foi a primeira a falar, avaliando de cima a baixo uma boquiaberta.
— Bota inédito nisso — retrucou, sem se deixar intimidar, retribuindo o olhar da moça com curiosidade, que balançou a cabeça, rindo.
— Seguinte, se você deixar eu me esconder aqui só por uns minutos, eu te conto o motivo.
— Tá me parecendo que eu não tenho a opção de não deixar — brincou e a garota riu mais.
— É meu irmão pé no saco. Ele tá atrás de mim e eu não tô muito afim de ouvir ele me enchendo a paciência só porque ele precisa manter a imagem dele e blá-blá-blá. — Fez uma careta, dando língua.
Os olhos da se arregalaram quando ela percebeu de quem se tratava.
— Você é irmã do ? — exclamou e acabou se xingando mentalmente quando a garota lhe encarou alarmada. — Desculpa. É que eu nem sabia que ele tinha uma irmã. Não que eu saiba muita coisa sobre ele, eu acabei de chegar aqui e tudo mais, mas…
— Relaxa. Uma hora ou outra você ia acabar descobrindo sobre mim. Como o é um bom moço, os paparazzi adoram me perseguir. Por isso mesmo que ele anda querendo falar comigo. Uma baladinha e eles me fazem parecer uma perdida — bufou, revirando os olhos e se aproximando para se sentar na beirada da cama.
— Nem imagino o quanto isso deve ser péssimo, mas acho que seu irmão deve só estar preocupado contigo, sabe? Por que não dá uma chance? Ele não me pareceu tão ruim assim não.
Muito menos chato, né. Na verdade, o achei delicioso.
A irmã do cara na frente dela e estava pensando aquelas coisas.
Ela não valia nada.
— Não é que você pode estar certa? — a outra suspirou. — Qualquer coisa eu também posso sair fora. — Deu de ombros.
— É isso — assentiu e recebeu um sorriso.
— Carter . — A garota estendeu a mão para ela, parecendo ter se atentado ao fato de que as duas não haviam se apresentado só naquele momento.
. — Segurou a mão de Carter e retribuiu o sorriso.
— Ah, você é a filha do Charlie! — Os olhos dela se iluminaram. — Vamos sair qualquer dia desses. Aposto que ainda não te apresentaram a vida noturna desse lugar.
— Não mesmo. E eu aceito. Seria ótimo.
— Bom, eu vou parar de te incomodar e ir atrás do . — Se levantou da cama e foi andando até a porta. — Obrigada por me esconder.
— Sem problemas. — piscou para ela, vendo a garota sair do quarto sem nem de fato se despedir. Aquilo a fez rir.
Carter era uma figura a ser estudada, aquela foi a sua conclusão.


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estava exausto. Toda aquela situação durante a entrevista tinha o deixado chateado de verdade e por mais que tivessem garantido a retirada daquele trecho, as palavras de Ruth continuavam ecoando em sua mente.
Sabia muito bem o quanto o seu luto estava atingindo as pessoas ao ser redor, mas ter aquilo jogado na cara dele daquela forma foi como arrancar os pontos de um ferimento sem ter esperado todo o processo de cicatrização.
Pensar que Carter estava por aí, completamente perdida e agindo de forma imprudente para preencher o vazio deixado pela morte de Amy doía em sua alma.
Era irônico para imaginar que sua esposa saberia exatamente como lidar com a jovem. Ela sempre teve muito mais jeito com Carter do que ele.
Quem olhasse assim, poderia até achar que não se dava com a irmã mais nova, porém aquilo não era verdade. Os dois sempre tiveram uma boa relação e um laço bem forte de amizade, do tipo que lhes permitia compartilharem confidências e estarem sempre prontos para defenderem um ao outro. No entanto, conforme Carter foi crescendo, os dois foram se distanciando e quando o homem iniciou sua carreira política foi como se tivesse nascido uma barreira entre eles. Barreira essa que apenas Amélia parecia capaz de ultrapassar.
Como queria reverter aquilo!
Um suspiro cansado ecoou dos lábios do candidato assim que o carro parou diante da mansão e Todd se virou na direção de pela milésima vez.
— Novamente, , eu sinto muito. A foto da Carter vazou no twitter. Nós tentamos derrubar a conta que publicou, mas você sabe como essas coisas se espalham nas redes sociais.
— Se você sabia que a foto tinha vazado, devia ter avisado sobre esse tipo de pergunta, Todd. Em vez disso, mesmo eu odiando esse negócio de ser treinado para responder às entrevistas, focou em coisas que sequer me perguntaram — foi sincero. Phillips abriu a boca para respondê-lo, porém o cortou, não querendo mais estender aquela conversa. — De qualquer forma, não é com isso que estou preocupado. Vocês localizaram a Carter?
— Sua mãe estava tentando falar com ela, mas sem sucesso. Quem sabe ela tenha voltado para a mansão?
— Quem sabe. — se inclinou para abrir a porta e sair do carro. — Até amanhã, Phillips.
— Não se esqueça que amanhã você vai visitar a universidade.
— Você nunca me deixa esquecer nada, Todd. — Sorriu.
— É o meu trabalho. — O outro deu de ombros, então o candidato seguiu para dentro da mansão.
Sua primeira preocupação deveria ser se livrar daquelas roupas, comer alguma coisa e relaxar um pouco, porém ele não sossegaria enquanto não conversasse com Carter, por esse motivo todos os seus passos foram automáticos até que ele finalmente pudesse ir atrás da irmã.
questionou alguns empregados sobre o paradeiro da irmã e procurou por ela em alguns cômodos da casa, sem sucesso.
Tentou não pensar em certas lembranças assim que avistou o corredor que levava até o quarto de e sentiu uma palpitação engraçada ao ver porta se abrir, seguida por algo que beirava à decepção quando a pessoa que saiu por ela foi Carter e não a filha de seu chefe de segurança.
Negou com a cabeça discretamente, confuso com a própria reação, mas não podia pensar naquilo, então focou sua atenção em Carter.
! — Os olhos da garota imediatamente se arregalaram ao dar de cara com o irmão.
— Carter. — Ele deixou uma sobrancelha se arquear em um questionamento mudo do motivo de ela estar saindo do quarto de .
— Por que não me disse que a filha do Charlie tinha chegado? Eu já podia ter levado ela para conhecer a verdadeira Baltimore. — Um sorrisinho travesso se formou nos lábios dela.
— Sobre isso… Precisamos conversar.
— Ih, lá vem. — Revirou os olhos.
— Podemos fazer isso em outro lugar? Tenho certeza de que a senhorita não vai se sentir muito confortável ouvindo essa conversa ali do quarto dela. Aliás, ainda estou esperando você me dizer o que estava fazendo lá. — foi a guiando pelo corredor em direção à sala de televisão.
— Eu estava conversando com a garota, relaxa. Entrei ali por engano porque queria me esconder de você, só que ela é legal demais e me convenceu a te dar uma chance.
— Ela te convenceu? — arqueou uma sobrancelha.
— Sim. Disse algo sobre você apenas estar preocupado comigo.
Ele não sabia se ficava surpreso ou se sorria pelo palpite correto. Resolveu que mudaria o foco de seus pensamentos porque era um terreno perigoso.
— Bom, ela está certa. Eu realmente estou preocupado contigo. — Esperou a irmã se acomodar no sofá e seguiu para a poltrona ao lado.
— E eu estou ótima. Não precisa disso, irmãozinho.
suspirou.
— Sei que não tenho sido um bom irmão, Carter. Eu ainda estou tentando me ajustar com tudo o que aconteceu e eu sei que isso não é lá uma desculpa, mas quero que saiba que estou aqui agora. Você pode conversar comigo sempre que precisar.
A expressão de Carter não se alterou.
— Obrigada, . De verdade. Mas eu estou bem, é sério. — Deu de ombros, então desviou o olhar, passando a encarar as unhas.
Ela sempre agia daquele jeito quando escondia as coisas.
— Confio em você, minha irmã. Só queria que soubesse disso. Sei que a morte da Amy nos deixou um vazio enorme e lidar com isso é a pior das torturas, mas nós precisamos, não é? — Sorriu fraco.
— É — Carter admitiu, sem saber mais o que dizer.
Um silêncio desconfortável reinou entre eles.
— Todd deve ter te enchido a paciência por causa do twitter, não é? — ela resolveu quebrá-lo.
— Ele me enche a paciência por qualquer coisa. — O comentário a fez rir baixinho.
— Por que você não se livra desse assessor? Melhor, por que não desiste dessa campanha? — Era uma pergunta sincera.
— Por ela, Carter. — suspirou outra vez. — Quero que Amy tenha orgulho de mim de onde quer que esteja.
Ele notou a irmã engolir em seco e respirar fundo, um gesto típico de quem tentava conter o choro.
— Ela vai ter. A mulher era toda louca por você. — Sorriu de canto, então hesitou brevemente antes de se afastar, abrindo um espaço ao lado dela e tocando no lugar, chamando-o para se sentar ali. — Por que a gente não assiste algum filme de terror, como nos velhos tempos? E se enche de porcarias? Eu já sei que você desmarcou tudo por minha causa mesmo — falou convencida.
ponderou, mas no fim sabia que acabaria cedendo.
— Eu desmarquei mesmo.


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O restante do dia havia sido mais tranquilo do que esperava. Ele e Carter resolveram assistir o filme mais recente da franquia Halloween e depois ficaram debatendo sobre os acontecimentos, exatamente como costumavam fazer anos atrás.
não era o maior fã de filmes de terror. Na verdade, ele sempre os assistia por causa de Carter e ver o quanto a irmã parecia feliz pela companhia dele fez com que o candidato a senador se sentisse culpado. Então decidiu que dali para frente buscaria ser mais presente na vida de Carter. Nem que para isso precisasse ouvir Todd Phillips lhe enchendo ainda mais a paciência.
A irmã o fez pedir comida chinesa e depois disso se retirou para descansar um pouco, dizendo a que ele devia fazer o mesmo, já que sua cara estava péssima.
O comentário o fez rir, mas não tinha nem como discordar daquilo. Precisava de um bom banho e um bom descanso.
O homem nem se preocupou em olhar as notificações em seu celular. Sabia bem que encontraria uma infinidade delas e quaisquer que fossem os problemas da vez, deixaria para resolver no dia seguinte. Ele merecia aquilo.
Assim que mergulhou a cabeça embaixo do chuveiro, uma exclamação de satisfação ecoou de seus lábios. Seus músculos relaxaram, agradecidos pela temperatura morna da água os atingindo e procurou esvaziar sua mente.
Não havia nada melhor do que um bom banho. Ao menos era o que achava.
Enquanto se dedicava ao ato de ensaboar seu corpo, eliminando qualquer resquício de sujeira, seus pensamentos foram o guiando pelos acontecimentos mais recentes, contrariando a ideia de não refletir sobre nada. Não se importou, já sabia que aquela era uma batalha perdida desde o início.
Respirou fundo, sorrindo mais uma vez porque as coisas entre ele e Carter pareciam resolvidas, ao menos por hora, e não conseguiu deixar de pensar o quão curioso era a irmã ter ido parar justo no quarto de .
Carter havia lhe dito que pelo pouco que as duas conversaram já tinha adorado a mulher e por algum motivo isso o fez sorrir ainda mais, porém um outro pensamento lhe ocorreu.
Havia alguém que não gostava de ?
Ela era espontânea, inteligente, engraçada e linda. Estonteante, para ser honesto.
fechou os olhos e automaticamente o rosto da mulher surgiu em sua mente, tão nítido como se ela estivesse diante dele, sorrindo daquela forma jovial, dizendo frases onde ele sempre via um duplo sentido e cogitava se estava ficando maluco até notar a expressão travessa de lhe deixando claro que não, não estava imaginando coisas.
A insinuação feita na noite anterior voltou a povoar a mente de e, como uma lufada de ar batendo contra o seu rosto, vieram as lembranças de com a porta de seu quarto entreaberta, dizendo todas as coisas que desejava.

Eu quero você dentro de mim.

sentiu sua respiração falhar de leve, então pressionou um lábio no outro, mergulhando a cabeça na água mais uma vez, tentando espantar aqueles pensamentos, sem sucesso.
De repente, imaginou o que teria visto se a porta estivesse um pouco mais aberta, ou quem sabe se, em vez de implorar pelo tal Pietro, ela implorasse por ele.

Ah, !

Era como se realmente pudesse ouvir a voz de ecoando em um gemido gostoso, então, assim como ele, pressionaria um lábio no outro, abrindo ainda mais as pernas para , deixando exposta ali a intimidade dela, já que a única peça que cobria seu corpo era uma camiseta.
Um grunhido tímido ecoou dos lábios do homem e ele encostou a testa contra a parede fria, mas nem aquilo foi o suficiente para fazê-lo escapar daquela fantasia.
Percebeu então que na verdade ele nem queria. Precisava aliviar aquela tensão, só assim conseguiria tirar a mulher de seus pensamentos de uma vez por todas.
Deixou sua moral de lado e se entregando por fim àquela ilusão, guiou uma mão até seu membro, sentindo o princípio de ereção pulsar assim que seus dedos a tocaram. Envolvendo-o por inteiro, deslizou a mão por toda a extensão e grunhiu de novo, mergulhando ainda mais em seus pensamentos.

usava uma mão para acariciar o clitóris inchado, movimentando três dedos de forma circular, enquanto a outra apertava o seio por cima da camiseta, brincando com o mamilo duro de tesão. Sua cabeça estava inclinada para trás, os lábios entreabertos deixavam a respiração falha da mulher ecoar pelo ambiente e a cada segundo ela aumentava mais a intensidade da fricção.
— Eu quero você me lambendo inteira, . Afundando seu rosto entre as minhas pernas, me sugando por inteira. Eu estou tão pronta pra você…


— Porra… — a voz sôfrega do homem ecoou pelo banheiro quando ele pressionou os dedos na cabecinha de seu membro, sentindo-a cada vez mais melada e aproveitou aquela lubrificação para espalhar por cada centímetro seu, movimentando a mão de forma lenta, aproveitando todas as sensações e imaginando que ali poderiam ser os lábios de .

Ele conseguia ver como ela estava excitada, a intimidade tão molhada que o líquido escorria por suas coxas, seguindo um caminho perigoso que não hesitaria em explorar se assim ela permitisse.
— Eu quero você, . Se afunda em mim.


Apoiou uma mão na parede, buscando apoio porque suas pernas começaram a tremer enquanto os músculos de seu abdômen tensionavam em espasmos de tesão.
— Ah, … — Mordeu a boca ao deixar o nome dela escapar daquele jeito, a voz tão rouca denunciando exatamente o que ele fazia.
A intensidade de seus movimentos aumentou, ele deslizava a mão com afinco, fazendo uma pressão cada vez maior, impulsionando o quadril para frente e para trás, o que tornava tudo aquilo ainda mais prazeroso.

— Eu quero você dentro de mim, . Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
E dizendo aquilo a mulher deslizou dois dedos para dentro de si, afundando-os por inteiro, gemendo de um jeito alucinante enquanto mantinha os olhos fixos nele e um sorriso travesso em seus lábios.
— Me fode, . Se atola em mim assim… Por favor.


— Caralho! Eu vou foder você todinha… — sussurrou desesperado.
Os olhos dele se pressionaram com mais força, a respiração de se tornava cada vez mais falha enquanto ele sentia um calor absurdo.
O vapor do chuveiro parecia ter aumentado, mas aquilo não importava porque de repente ele se pegou imaginando como seria de fato estar dentro de , ouvindo-a gemer mais o nome dele, arranhando-o com suas unhas, rebolando contra seu membro pulsante.
! — O nome da mulher ecoou de novo de seus lábios, o abdômen estremeceu com mais intensidade e os movimentos de sua mão eram rápidos, precisos, espalhando o prazer por cada centímetro seu, queimando-o por inteiro.
— Ah, porra! — Os espasmos aumentaram, o braço do homem afrouxou na parede e ele precisou se apoiar com o antebraço para não desabar.
Ele estava perto. Tão perto!

— Você é delicioso, .

Então deixou um gemido mais alto e prolongado rasgar sua garganta, jogando a cabeça para trás, ofegando de um jeito absurdo enquanto tudo ao seu redor parecia girar e piscar e girar de novo, ao mesmo tempo. A sensação do ápice era tão intensa que seu corpo inteiro tremeu e seu membro expeliu todo o prazer de uma forma alucinante.
— Puta que pariu… — Era tão bom poder xingar daquele jeito. Só os palavrões seriam o suficiente para expressar o quanto estava afetado.
Fazia tempo que não gozava gostoso daquele jeito.
Sua respiração demorou para ser recuperada. Ele se manteve apoiado na parede até sentir que a firmeza nas pernas havia voltado, então soltou um longo suspiro e voltou a se enfiar embaixo da água para espantar o calor absurdo que sentia.
— Minha nossa! — Não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer.
Ele tinha mesmo se masturbado no chuveiro feito um adolescente?
Sim, ele tinha.
E podia ser a própria adrenalina falando por ele, mas naquele momento não se importou com coisa alguma.
As consequências que viessem depois. queria eliminar de seu sistema e sentia que acabava de sair bem-sucedido.
Mal sabia ele o quanto estava enganado.


Capítulo 05 — Hiraeth

“Saudades de um lugar para onde você não pode voltar”.

Algumas pessoas acham que eu segui a carreira política por causa do meu sobrenome, mas a verdade é que sempre foi tudo por ela. Não, Ruth. Não foi a perda que me fez mais forte. O luto apenas me lembra o que escapou pelos meus dedos. Quem me torna mais forte sempre foi e sempre será Amélia.
estava vidrada encarando a televisão enquanto absorvia aquelas palavras. Havia ligado o aparelho para colocar em qualquer canal aleatório enquanto se arrumava para seu primeiro dia na universidade e parado imediatamente ao ver que em um deles passava uma entrevista com .
Com toda a certeza a televisão não mostrava nem um terço do que era aquele homem pessoalmente e era até desconcertante o quanto conseguia ser atraente em qualquer coisa que fizesse. não julgou nem um pouco a apresentadora por falar sobre o perfume do homem, ele realmente era cheiroso e deixava sua marca por onde quer que passasse. A jovem tinha comprovado aquilo nas vezes em que esteve em sua presença.
No entanto, ela julgava Ruth pela quantidade de perguntas invasivas. Sabia que aquele era apenas o trabalho dela, mas precisava ficar instigando-o contra a tal Italia Whitman? Ou ficar perguntando coisas sobre a falecida esposa de ?
Ele se saiu extraordinariamente bem em suas respostas, mas era nítido como havia ficado desconfortável.
Ao ouvi-lo falar de Amélia daquela forma, sentiu seu coração se apertar. A devoção com que dizia cada palavra, o jeito que ele havia fechado suas mãos em punhos sem nem ao menos perceber e a quebra em sua voz ao finalizar sua resposta a comoveram profundamente.
A já havia percebido o quanto amava a esposa, mas foi ali, assistindo-o, que entendeu o quanto aquilo tudo ainda o machucava. E, por algum motivo, de repente sentiu uma vontade absurda de estar ali com ele, para apenas segurar em sua mão ou abraçá-lo. Não achava que palavras seriam necessárias. Apenas a certeza de que não estava completamente só poderia acalentá-lo.
Um suspiro escapou dos lábios dela. Queria ter a chance de falar com ele naquele dia, mas provavelmente aquilo seria complicado. Com as aulas na universidade chegando, dificilmente os dois se encontrariam pela casa.
não gostou daquilo. Por mais que a forma como se sentia afetada toda vez que via fosse completamente errada, já que ela namorava Pietro, não queria deixar de encontrá-lo. Talvez fosse o melhor, talvez a ajudasse a esquecer daquilo, focar em seus estudos e no seu namoro, mas algo dentro dela recriminou a ideia.
Uma careta se formou em suas feições. A entrevista ainda rolava e agora mencionavam alguma coisa sobre Carter enquanto uma foto dela saindo de uma festa era exibida, algo que deixou visivelmente incomodado.
bufou, querendo socar a cara de Ruth, que, além de inconveniente, foi deixando cada vez mais claro como estava se jogando para cima de .
Por Deus, ela era casada!
— Ha, olha só quem fala — resmungou para si mesma, negando com a cabeça.
Então, mesmo à contragosto, pegou o controle remoto e trocou o canal. Ficar ali assistindo ia só afundá-la ainda mais em um lugar onde definitivamente não poderia ir.
Um frio na barriga se fazia presente desde o momento em que havia aberto seus olhos pela manhã. Tudo era novo para ela naquele lugar e a ideia de que passaria pelo seu primeiro dia de aula completamente sozinha aumentava ainda mais seu nervosismo.
Sozinha.
Um suspiro ecoou de seus lábios.
Não era para ser daquela forma.

— Tá feito. Enviei minha inscrição hoje. — se virou na direção de Pietro assim que o viu adentrar seu quarto. A mãe da mulher nem se dava mais o trabalho de avisar que Landgon estava ali, apenas permitia que o rapaz subisse até o quarto da filha.
Os olhos da se iluminaram quando, por fim, assimilou as palavras do namorado.
— Você enviou? — De repente, seu sorriso não cabia mais no rosto.
Pietro assentiu, sorrindo daquele jeito torto que sempre mexia com ela.
— Eu também. — mordeu os lábios enquanto o encarava, se segurando para simplesmente não correr na direção dele e pular em seu colo.
Langdon a conhecia o suficiente para perceber suas intenções e por isso arqueou uma sobrancelha, instigando a fazer exatamente o que tanto queria.
— Tá acontecendo, gatinha. E quando enjoar de mim, não vem dizer que eu não avisei, viu? — brincou, sorrindo mais uma vez.
revirou os olhos com aquilo.
— Até parece que isso vai acontecer, Pietro. Ah, eu nem acredito! — E de repente ela não se segurou mais.
No instante seguinte, seus braços estavam em volta do pescoço do namorado e suas pernas ao redor da cintura dele, que a segurou com firmeza ao colocar as duas mãos na bunda de .
— Acho que, na verdade, nós dois vamos nos divertir muito tendo um apartamento só para nós. — Ela piscou maliciosa para ele, soltando as palavras com os lábios bem próximos aos de Pietro, que soltou um suspiro afetado.
— É? Eu mal posso esperar por isso. — Landgon umedeceu a boca e não conteve o impulso de juntar seus lábios aos da namorada.
Não demorou muito para que sua língua brincasse com a dela de um jeito gostoso que só foi interrompido quando a mulher puxou o lábio inferior de Pietro, sugando com intensidade antes de retomar o beijo.
Era insano o quanto ela o afetava e ele não fazia ideia do quanto aquilo era recíproco.
Ou talvez tivesse uma ideia, porque, vagarosamente, Pietro caminhou com até a cama da jovem, se virando para colocá-la com leveza no colchão e subindo por cima dela logo em seguida.
Uma risada ecoou dos lábios de ambos quando, sem querer, Landgon deu um puxão nos cabelos de . Aquilo acontecia com uma certa frequência quando estavam naquela posição.
Pietro ficou apoiado em um dos cotovelos, parando por alguns segundos para analisar o rosto de . Ele levou uma mão até o rosto dela, tirando uma mecha de cabelo que caía em seus olhos e o gesto a arrancou um sorriso doce.
— Eu realmente mal posso esperar, . É tudo o que eu mais quero.
As palavras dele fizeram o coração dela quase saltar pela boca.
— Mesmo? — ela murmurou, analisando cada canto do rosto dele, como se procurasse qualquer mínimo sinal de hesitação.
Tudo o que menos queria era forçá-lo a tomar qualquer tipo de decisão. E eles estavam falando de seus futuros, das carreiras que queriam seguir. Pietro não podia escolher a mesma universidade que ela apenas por conta de seu relacionamento, mas ele havia garantido que não era nada daquilo, que era sim uma escolha dele, algo que almejava para si.
— Mesmo, gatinha. Eu amo você. — O olhar de Pietro era tão intenso que sentiu seus olhos ficarem marejados.
— Eu que amo você, babe. — Então ela o puxou para outro beijo antes que de fato se derramasse em lágrimas.
Ambos sabiam que ainda precisavam esperar pela aprovação da universidade, mas aquele passo precisava ser comemorado e eles o fariam da melhor maneira.


O olhar de seguiu em direção ao seu celular assim que a realidade a trouxe de volta. Pietro não havia ligado para ela ainda e suspeitava de que nem iria. Ao menos não antes de ela ir para a aula.

Pietro Langdon
visto por último hoje às 10:45

Boa sorte hoje.


Foi o que a jovem recebeu, um pouco depois de acordar e mandar um bom dia para o namorado.
Ele sequer havia respondido ao cumprimento, o que era no mínimo estranho. Pietro não costumava ser frio daquele jeito com ela.
No entanto, aquilo poderia ter a ver com o fato de que naquele dia estava indo sozinha para a universidade, algo completamente diferente dos planos que os dois haviam feito. Era para ele estar ali com ela, vivendo aquela experiência ao seu lado e comemorando muito mais do que já haviam feito.
Uma careta se formou nas feições de e seus lábios tremeram. Ela daria tudo para que as coisas fossem como planejaram.
Mas logo seriam, certo?
Logo Pietro estaria ali com ela e aqueles meses afastados seriam apenas parte de uma longa história para contar. A história deles.
Decidindo que ligaria para o namorado quando voltasse da aula, a seguiu para a cozinha, onde seu pai estava almoçando.
— Finalmente, senhor . Parece que estou te vendo menos do que quando morava com a mamãe! — brincou, puxando uma cadeira para se sentar do outro lado da mesa, de frente para o homem.
Ele negou com a cabeça e soltou uma risada sem graça.
— Sinto muito, filha. O senhor está em plena campanha, o que significa que eu também não tenho muito descanso. — De fato, ele parecia um tanto cansado e só imaginava como deveria ser, apesar de não achar que andar para baixo e para cima com fosse realmente ruim.
Reprimiu aquele pensamento logo em seguida.
— Tudo bem, era só brincadeira, pai. Aposto que você não vê a hora dessa campanha acabar, não é? — Se serviu de uma quantidade generosa de salada, embora seu olhar cobiçasse o macarrão com almôndegas que comeria em breve.
Julieta só não ganhava da mãe de no quesito ótima cozinheira, o que com certeza era bem clichê, mas ela não dava a mínima.
— Sinceramente? Não sei. Provavelmente o trabalho irá dobrar, isso sim — Charles respondeu, após engolir uma garfada.
A jovem franziu o cenho, sem entender.
— Como assim?
— Bom, se o senhor vencer a eleição, os compromissos dele com certeza irão aumentar, ou seja…
— É. Seu trabalho irá dobrar. — Ela fez uma careta, mas sabia que, apesar de estar visivelmente cansado, seu pai gostava do que fazia. Gostava de trabalhar como o chefe de segurança de .
— Faz parte. — O homem sorriu, dando de ombros, mostrando que realmente não se importava tanto assim com as doses extras de trabalho.
— Eu estava assistindo a uma entrevista dele agora a pouco — comentou, observando as reações do pai e levando um pedaço de tomate à boca.
Charles fez uma careta.
— Aquela com Ruth Dawter? — Ela percebeu a nota de irritação quando ele pronunciou o nome da mulher.
— Essa mesma. É bom saber que não fui a única a querer esganar aquela mulher. — Revirou os olhos, sentindo que poderia de fato fazer aquilo se visse Ruth em sua frente.
— Ele ficou bem abalado. Depois do que aconteceu com a senhora , é difícil vê-lo demonstrar alguma emoção, principalmente em público. Mas não tinha nem como, depois daquelas perguntas.
Mais uma vez, sentiu seu coração se apertar. Não podia nem imaginar como as coisas deveriam ser para , e mais uma vez quis que ele soubesse que não precisava passar por nada sozinho.
— Mas esse tipo de pergunta não tem como ser filtrada antes? Como um script ou algo assim? — De repente, a ideia passou por sua cabeça e ela a externou.
— Eu não faço ideia, filha. Talvez tenha, mas isso é coisa que o Todd deveria fazer.
— Todd?
— O assessor do senhor .
Era engraçado como Charles continuava se referindo a daquela forma, mesmo depois do homem reforçar que aquele tipo de tratamento não era necessário. Provavelmente ele repreenderia a filha se a ouvisse o chamando pelo primeiro nome.
— Eu tenho quase certeza de que tem como fazer isso, sim — insistiu, terminando de comer sua salada e se servindo do macarrão com uma animação renovada.
— Bom, eu é que não vou dizer isso ao Todd — Charlie se absteve, erguendo uma das mãos em rendição.
Aquilo fez a jovem franzir o cenho mais uma vez.
— Ué, e por que não? — Quase suspirou de satisfação ao provar uma das almôndegas.
— Se você conhecê-lo, vai entender — o homem respondeu apenas isso, o que deixou ainda mais curiosa.
— Ele é ruim assim, é? — Soltou uma risadinha.
— Pior. — Charles riu de volta.
O almoço então seguiu com alguns momentos de silêncio, quebrados quando o homem perguntava algo aleatório para . Percebeu um certo desconforto na filha quando a questionou sobre Pietro, mas decidiu não se aprofundar muito no assunto. Quem sabe em um outro momento ela se sentiria mais à vontade para lhe dizer o que estava acontecendo.
— Está ansiosa para a aula? — Por fim, Charles perguntou, vendo que terminava de comer.
Ele já havia até se levantado da mesa e lavava a louça que tinha usado. Julieta sempre tentava protestar, mas Charles insistia em fazer a sua parte.
— Muito. — suspirou. — Sonhei com isso por tanto tempo. Tem horas em que eu custo a acreditar que está mesmo acontecendo. E aí vem também o medo de chegar lá e ser um desastre — desandou a falar e lançou um olhar um tanto aflito para o pai.
— Não se preocupe. Duvido que isso vá acontecer, filha. Desastre e não combinam na mesma frase. — Piscou para ela, sorrindo encorajador e vendo a jovem retribuir.
— Obrigada. — quase falou sobre Pietro e o quanto estava chateada por ele não estar ali e ter apenas lhe mandado uma fria mensagem de texto. No entanto, acabou desistindo por algum motivo.
— Você quer que eu te leve até a universidade? Tenho certeza de que dá tempo antes do próximo compromisso do senhor e… — Charles até olhou para o relógio, como se estivesse se certificando de que realmente tinham tempo.
— Não precisa, pai. Eu tenho que aprender a andar de metrô nesta cidade. — Então se levantou da mesa e levou a louça até a pia, também a lavando por mais que soubesse que Julieta reclamaria horrores depois.
Era sempre engraçado vê-la dizer que estavam tirando seu serviço.
— Tem certeza? — o insistiu, olhando para a filha em dúvida.
— Tenho sim. É por isso que vou sair com umas duas horas de antecedência. Se eu me perder, dá tempo de me encontrar de novo. — Soltou uma risada ao ver a expressão de espanto de Charles. — Relaxa, pai. Eu vou sobreviver. — Então deu um beijo na bochecha do homem e se afastou.
!
— Tchau, pai. Até mais tarde. Se é que vamos nos ver.
Antes que ele pudesse protestar novamente, ela já tinha saído da cozinha.


💋


Para a surpresa de — e certamente de seu pai quando ela contasse —, a jovem conseguiu pegar a linha correta do metrô, o que a permitiria chegar à universidade com algum tempo de sobra para também localizar a sala de aula.
Como não estava acostumada com aquele trajeto, prestava atenção em cada ponto, não se permitindo ficar perdida em seus próprios pensamentos como costumava fazer em momentos como aquele.
Segundo a rota que havia traçado, precisava contar sete paradas, descer e pegar outra linha, onde então esperaria até o décimo nono ponto. Aquele trajeto a levaria até a estação mais próxima da universidade e, depois disso, teria que caminhar por cerca de três minutos.
Vez ou outra, a mulher acendia o visor de seu celular, encarando-o na esperança de que teria recebido mais alguma mensagem de Pietro por mais que no fundo soubesse que ela não viria.
Na quarta vez que fez aquilo, no entanto, revirou seus olhos, se xingando mentalmente e desistindo. Entendia que Landgon estava chateado, mas ele não precisava ser um babaca por conta disso.
Estufando o peito, se preparou para descer e caminhou rapidamente até a outra linha onde teria que embarcar. A sensação de orgulho por estar conseguindo acertar o caminho sozinha a fez esquecer momentaneamente o aborrecimento e ela se permitiu abrir um pequeno sorriso enquanto as portas do metrô se fechavam.
Eufórica demais para se sentar, se segurou em uma das barras de ferro, se encostando em um dos cantos. Haviam bancos vagos e por isso a jovem até sentiu alguns olhares sobre si, porém não se importou com aquilo.
Focando sua atenção no letreiro que ia anunciando as próximas paradas, não deixou de imaginar como seriam suas aulas naquele dia e se conseguiria se enturmar com alguém. Ela não era do tipo que ficava sozinha e sentia falta de seus amigos de Ohio.
Lembrou de Carter e do quanto a garota parecia ser divertida. Era bem injusto que a imprensa estivesse a perseguindo apenas por ser a irmã de , no entanto, não era algo que poderia ser evitado. A exposição o acompanhava por todos os lados.
, no entanto, não se importaria em ser vista com Carter e desejou vê-la mais vezes.
Qualquer outro pensamento que pudesse surgir foi cortado por uma repentina sensação de que era observada e, franzindo o cenho, ela se virou na direção em que seu rosto formigava. A poucos metros dela, sentada em um banco duplo, estava uma garota loira, acompanhada por outra muito parecida com ela, que no mesmo instante desviou o olhar, constrangida por ter sido pega em flagrante.
franziu o cenho discretamente, um tanto curiosa. O rosto da moça não lhe era estranho, mas não lembrava como poderia conhecê-la. Na verdade, era um tanto improvável, já que mal havia saído de casa, não teve muitas chances de conhecer ninguém.
Por qual outro motivo ela a encararia?
Como se tivesse dito aquele pensamento em voz alta, de repente a loira voltou a olhar para e as duas ficaram analisando uma à outra silenciosamente, até sentir um solavanco e precisar desviar para se segurar melhor na barra de metal.
Durante o restante do trajeto, elas trocaram mais alguns olhares, porém a interação não passou disso, nem mesmo quando a outra loira murmurou alguma coisa, indicando com um aceno de cabeça.
Quando estava a duas estações de chegar ao destino, voltou sua atenção total ao que precisava fazer. Assim que descesse, não podia se desviar do caminho planejado ou ela se perderia e aquilo era tudo o que menos queria em seu primeiro dia de aula.
Com pressa, a jovem logo desembarcou, esquecendo-se completamente da estranha e seguindo seu trajeto com determinação.
Conteve a vontade de roer as unhas de nervoso e se sentiu um tanto sortuda porque as sinaleiras estavam abertas para que ela passasse nas duas avenidas que precisou atravessar.
Orgulhosa de si mesma, parou para tirar uma foto da entrada da universidade e decidiu enviá-la para seu pai, para Brooke e para Pietro. Estava empolgada e precisava compartilhar aquilo com alguém.
A Escola de Direito ficava em um prédio imponente, moderno e todo espelhado e a jovem não conseguiu evitar ficar boquiaberta com aquilo. Era realmente lindo e seu coração até acelerou enquanto caminhava para dentro dele.
O interior era ainda mais incrível. Havia tantos andares que ficou um tanto tonta olhando para cima e ela precisou conferir mais uma vez qual o número da sala para onde deveria ir, não porque havia esquecido, mas porque queria se certificar.
Pela lógica, a sala 413 era no quarto andar. Sem muita dificuldade, a seguiu para o elevador e quando este estava prestes a se fechar, ouviu alguém gritar, pedindo que ela o segurasse. Num movimento rápido, o atendeu e assim que duas pessoas adentraram o ambiente, não conseguiu conter sua expressão de surpresa.
Eram as garotas do metrô.
— Ah, obrigada! Eu não me importaria em esperar ele descer de novo, mas já estava aqui, né? — Então a loira focou seu olhar na , abrindo um sorriso em seguida. — Ei, é você!
sorriu um tanto sem jeito, deixando o elevador se fechar e começar a subir.
— Sim, sou eu. — Torceu a boca, mas não conseguiu conter a pergunta. — Desculpa, eu te conheço?
— Sabe, eu fiquei me perguntando a mesma coisa enquanto estávamos lá no metrô. — A outra riu. — Até perguntei pra Daria, mas ela jura que nunca te viu. — Apontou para a garota ao seu lado, que apenas deu de ombros.
— Nunca vi mesmo. Mas será que não foi aqui na universidade? — Daria sugeriu, fazendo a loira ficar pensativa.
— Impossível. Hoje é meu primeiro dia aqui — interveio.
— Ah, jura? Seja bem vinda então! Eu sou a Madison e essa aqui é a minha prima, Daria — se apresentou, sorridente, e a outra imitou o gesto.
. — A jovem retribuiu, vendo que o elevador parava no quarto andar. — Vão descer aqui também?
— Sim — Madison confirmou e logo em seguida as três caminhavam pelos corredores, procurando a sala 413.
ficou um tanto animada ao saber que as duas seriam suas colegas naquela aula, principalmente porque havia gostado delas logo de cara.
— Vocês também estão começando o curso agora? — puxou assunto, enquanto elas esperavam do lado de fora da sala.
— Sim, mas fizemos uma pequena tour pela universidade na semana passada, então temos mais ou menos uma ideia de onde será cada aula — Madison explicou e assentiu.
— Muito esperto da parte de vocês. Eu até pensei nisso, mas depois que fui explorar a cidade e me perdi, desisti. — Fez uma careta.
— Ah, você é nova na cidade também? Que incrível! — Daria pareceu realmente animada com aquela informação.
— Espera aí. Agora eu sei de onde te conheço! Você é a moça perdida que ajudei a ir até a estação de metrô. — Madison apontou para , que arregalou os olhos, surpresa.
Olhando bem para a loira, aquilo fazia total sentido. No fatídico dia, estava nervosa demais para realmente prestar atenção nas características da pessoa que havia a ajudado, mas definitivamente se lembrava dos cabelos loiros.
— Nossa, não acredito nisso! Você salvou a minha vida, garota! — Sua voz ainda estava um tanto incrédula.
— Ah, que isso!
— Não, é sério. E depois eu fiquei me sentindo péssima porque não tinha nem perguntado seu nome. Mal agradeci direito! — torceu a boca. — Muito obrigada. Mesmo.
— Que isso! Não precisa agradecer. — Mad fez um gesto de pouco caso. — Fico feliz que deu tudo certo no final e agora você tá aqui.
— E até que enfim esse mistério foi resolvido. Aposto que a Mad ainda ia ficar encucada por horas com essa história de te conhecer de algum lugar. — Daria soltou uma risada, vendo a prima estreitar os olhos para ela e depois rir junto.
— Eu ia protestar, mas é verdade. — Aquilo fez sorrir mais.
— Mas então, quanto tempo faz que você chegou à cidade? — Daria perguntou, curiosa.
— Alguns dias. Me mudei de Ohio e ainda estou me adaptando à vida aqui em Baltimore.
— Já saiu para algum lugar? Além do passeio em que você se perdeu, claro. — Madison desviou o olhar rapidamente quando percebeu que a porta da sala de aula se abriu.
— Esse é o mal de se mudar completamente sozinha. — fez um bico ao negar com a cabeça, então foi acompanhando as garotas para dentro da sala.
— Não seja por isso. Agora você conheceu a gente. Vamos te arrastar para todo o canto. — Mad piscou e Daria assentiu rapidamente em concordância.
— Se eu soubesse, tinha ido falar com vocês dentro do metrô mesmo. — sorriu empolgada.
As duas primas realmente pareciam divertidas e seria ótimo ter a companhia de alguém.
— Há quem discorde de você, viu? Nem todo mundo quer andar com as Vandervoot. — A expressão misteriosa de Daria fez erguer uma sobrancelha.
— Por quê? O que vocês aprontam? — E, mais uma vez, ela acabou se lembrando de Carter, imaginando que provavelmente a garota se daria bem com as duas também.
— A gente diz que não é nada demais, mas vai saber? — Madison deu de ombros.
Aquilo não era uma resposta, mas acabou desviando sua atenção daquilo ao perceber que as carteiras eram dispostas por duplas.
Ela sabia que as Vandervoot se sentariam juntas, então ocupou um lugar na frente delas, se virando para que continuassem conversando.
— Me passa o seu número, . A gente monta um grupinho nosso — Daria pediu, entregando seu celular para a jovem, que o digitou rapidamente.
As três então seguiram conversando, descobrindo algumas coisas em comum além da escolha do curso, enquanto a sala ia se enchendo mais.
achou graça da resposta que recebeu do pai à foto que havia enviado. Um “arrasa, filha” e uma figurinha de uma pessoa dançando. Charlie era o máximo e por isso a ideia de morar com ele no fim das contas lhe parecia ótima.
— Com licença, tem alguém sentado com você? — Uma voz masculina chamou a atenção de , que rapidamente olhou na direção do dono dela.
E como se não fosse tentação o suficiente em sua vida, o rapaz era definitivamente um gostoso.
Ele não tinha tantos músculos quanto o candidato a senador, mas a camiseta um tanto justa deixava ressaltado o seu abdômen definido. O rosto tinha um maxilar quadrado, sua pele era queimada pelo sol e os olhos num verde intenso faziam um conjunto perfeito com os cabelos castanhos-claros. Um sorriso tinha se formado nos lábios dele e precisou de alguns segundos para assimilar a presença dele e o perfume que exalava.
— Não tem, não. Pode sentar com ela. — Foi Daria quem respondeu, o que fez a balançar a cabeça em negação.
— Desculpa. Claro que pode! — Rapidamente, ela se pronunciou e o rapaz riu baixo ao olhar de uma para a outra, logo puxando a cadeira e se sentando ao lado de .
— Foi mal. Eu pegaria outro lugar, mas só sobraram uns mais lá na frente. — Fez uma careta.
— Acho que eu me sentiria pior se tivesse ficado sozinha. — foi sincera, recebendo mais um sorriso dele.
— Então tudo bem! — Ele se abaixou para abrir a mochila e tirar um caderno de dentro dela.
Tudo ótimo, pensou ela e se virou rapidamente para as Vandervoot.
— Que gato! — Madison sibilou.
— Aproveita. — Daria entrou na pilha e negou com a cabeça.
— Eu tenho namorado. — Agradeceu mentalmente por não ter dito aquilo em voz alta, ou seria realmente constrangedor.
Voltou a olhar para frente, ouvindo o professor anunciar o início da aula, então focou sua atenção inteiramente nele.
Como todo início de semestre, o professor explicou como as coisas iriam funcionar, as avaliações que teriam e os trabalhos que deveriam fazer. Com isso, veio a proposta de um estudo de caso a ser feito em duplas.
Os alunos não precisavam formar nada naquele momento, mas ainda assim várias pessoas começaram a cochichar umas com as outras, já combinando com quem poderiam fazer o trabalho.
— Quer fazer comigo? — De repente, ouviu a voz do rapaz ao seu lado, se virando para olhá-lo e o encontrando mais uma vez com aquele sorriso perfeito nos lábios.
— Não sei. Eu nem te conheço ainda. — Ergueu uma sobrancelha, brincando com ele.
— Ah, não seja por isso. Kyle Beltane. — Ele estendeu a mão para cumprimentá-la.
. — A jovem a segurou com a sua, não conseguindo não sorrir de volta. — Eu vou pensar no seu caso, Kyle.
— Ajuda se eu disser que já fiz uma cadeira com esse professor e sei exatamente como ele quer esse estudo de caso? — Beltane lhe lançou um olhar esperto.
— Com certeza ajuda. Como negar essa proposta depois disso? — acabou cedendo. Seria louca se não aceitasse. Fazer aquele trabalho sozinha não era uma opção e Kyle parecia ser divertido. Algo que ela comprovou durante o restante da aula, que os dois usaram para conversar baixinho e se conhecerem um pouco mais.
Não havia mal algum em fazer amizade com ele, certo?
As Vandervoot definitivamente não reclamaram quando Beltane se juntou ao trio depois da aula, enquanto caminhavam em direção ao auditório, onde aconteceria uma recepção aos alunos.


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ainda não queria voltar àquela rotina de compromissos. Ele já havia imaginado que apenas uma tarde de folga não seria o suficiente, mas o que poderia fazer? Além disso, seguir com aquela campanha havia sido uma escolha dele e por mais que às vezes desejasse desistir para passar o resto de seus dias trancado dentro de casa, não o faria.
suspeitava também que a qualquer menção disso, seu assessor brotaria em sua frente com um discurso na ponta da língua sobre a importância de alguém como ele no senado.
Carter não havia mandado mensagem, como disse que faria assim que chegasse à sua casa e, embora aquilo fosse bem típico dela, ainda assim, não conseguiu evitar se sentir preocupado. Talvez convidá-la para passar alguns dias na casa dele pudesse facilitar as coisas e aproximá-los novamente. Ele só não sabia se ela aceitaria, porém não custava tentar, certo?
Ignorando qualquer coisa que Todd dizia, pegou o celular de dentro do bolso do paletó e digitou o número da irmã, trazendo-o à orelha enquanto esperava a ligação ser atendida.
Phillips murmurou algo em protesto, provavelmente que o candidato precisava se concentrar no evento para o qual estavam indo naquele exato momento, porém o homem apenas o dispensou com um aceno.
Não era como se nunca tivesse ignorado os infinitos monólogos de seu assessor.
Charles os aguardava na porta da mansão. Poderia colocar qualquer um dos seguranças para acompanhar o candidato pessoalmente, porém fazia questão de que ele cumprisse aquele papel. Primeiro, porque Charlie era um grande amigo e segundo, porque possuía mais experiência.
o cumprimentou com um aceno de cabeça enquanto passava pela porta e seguia até o carro, dando graças aos céus porque Todd iria em um veículo separado. Charles se adiantou e abriu a porta para o chefe, que lhe lançou uma careta e suspirou alto, tirando o celular da orelha e voltando a discar o número de Carter.
Três foram as tentativas de falar com ela, todas mal sucedidas.
Carter estava bem. Ele tentou mentalizar isso ou não conseguiria se concentrar no discurso que faria naquela tarde.
— Algum problema, senhor ? — Charles acabou perguntando, ao perceber sua expressão preocupada.
sequer havia se dado conta de que o carro já estava em movimento.
— Carter não me atende e ontem não avisou o horário que chegou em casa — suspirou outra vez, desistindo das ligações e guardando seu celular de volta no bolso.
— Com todo o respeito, senhor. É a Carter. A única pessoa que conseguia controlá-la era… — Charlie parou de falar, se sentindo culpado por tocar naquele nome.
— Amy — completou a frase, desviando seu olhar para a janela sem realmente focar nos prédios passando rapidamente.
— Logo ela deve aparecer, ou ligar — o tranquilizou, sem voltar a falar sobre Amélia.
— É, acho que você tem razão. E assim que eu a ver novamente, vou convidá-la para passar uns dias lá na mansão. Acho que vai fazer bem para nós dois. — Charles sabia que estava contando porque queria uma opinião dele, então não o poupou de sua resposta.
— Também acho, senhor . Faça isso! comentou que a conheceu outro dia e gostou muito de Carter. Imagino que elas vão se dar muito bem.
precisou conter seus pensamentos com aquela menção à . Se Charles tivesse sequer noção deles, provavelmente socaria a sua cara sem nem se importar com a hierarquia de patrão e empregado.
— Tem certeza de que você quer Carter e juntas? Segundo os tablóides, minha irmã não é uma boa influência. — acabou rindo irônico. Nunca pensou que seria o tipo de pessoa que odiava a imprensa, mas como não fazê-lo? Ele tinha motivos de sobra.
— É porque você não conhece a minha filha direito. Mas, parando pra pensar nisso agora, provavelmente as duas seriam uma combinação catastrófica. — Charlie negou com a cabeça, rindo também.
não teve chance de processar o que seu segurança quis dizer com aquilo, porque, no instante seguinte, seu carro parava diante do auditório da Universidade de Baltimore e Todd Phillips abria a porta, esperando que ele saísse.
— Lembre-se, você vai fazer o discurso da recepção dos alunos, sem deixar de falar sobre o tempo que estudou aqui. Depois disso, o reitor propôs uma caminhada para você visitar os principais setores. Como você desmarcou a ida ao hospital infantil, eu consegui agendar para amanhã à tarde — o homem desandou a falar, ao que respondia apenas com acenos de cabeça.
Haviam algumas pessoas aguardando por ele e outras pararam para ver o que estava acontecendo. Com educação, acenou alguns cumprimentos e depois seguiu para dentro do auditório.
— Estou confirmando outro jantar para amanhã à noite. Assim que tiver mais informações, já te passo. A doação para as pesquisas está de pé?
— Com certeza — o candidato confirmou, olhando de soslaio para Todd.
— Beleza. Você pode mencionar isso no final do discurso. — Phillips abriu um sorriso satisfeito.
— Não quero que pensem que estou comprando votos, Todd. — fez uma careta ao pensar naquilo.
— Não vão, . Quem te acompanha sabe que você não é assim. — Em momentos como aquele, em que seu assessor dizia algo sensato, o candidato até estranhava.
— Tudo bem então.
Depois disso, foi instruído a aguardar em uma sala separada até o início da recepção. Ele não gostou muito daquilo, preferia se sentar na primeira fileira, onde normalmente ficariam os professores e outros convidados. Não achava necessário aquele tratamento diferente, porém entendia. Como havia sido um aluno da UBALT, a universidade fazia questão de exibi-lo como exemplo.
Ao menos não resolveram chamá-lo exatamente na hora do discurso. Por mais que já tivesse feito aquilo várias e várias vezes, ainda se sentia um tanto nervoso e um cumprimento inicial à plateia ajudaria a quebrar um pouco o gelo.
Assim que ouviu seu nome ser anunciado, ignorou mais alguns cochichos de Todd e entrou no auditório. Como previsto, estava lotado e o som dos aplausos chegava a ser ensurdecedor. O candidato sorriu, acenando enquanto passava seus olhos pelo público, até que um ponto em especial chamou sua atenção.
.
Sim, ele sabia que a encontraria lá, havia até mesmo ficado animado com a ideia de visitar a universidade por conta disso, mas, de alguma forma, ainda não estava preparado para vê-la novamente. Não depois do que havia feito.
Um calor se espalhou pela nuca do homem, que afrouxou um pouco a gravata para tentar disfarçar o rubor. Seu sorriso vacilou um pouco porque o encarava de volta, mas ele tornou a abri-lo quando a viu fazer o mesmo.
Então se forçou a desviar o olhar e se encaminhar para o seu lugar.
Esperava que não tivessem reparado em suas reações. Não podia ficar afetado daquele jeito só de olhar para a mulher. O que estava acontecendo com ele?
tinha certeza de que suas últimas ações a tirariam completamente de seus pensamentos, porém acabava de descobrir como havia se enganado.
Na verdade, depois daquilo, ele a desejava mais.


O discurso de havia sido excelente. Muitos alunos pareciam aprovar cada uma de suas palavras e a eloquência do homem ao falar era realmente impecável. Mais uma vez, resolveu utilizar as próprias palavras. O que Todd havia preparado era adequado, porém ele sentiu a necessidade de trazer algo mais verdadeiro, algo com o qual as pessoas poderiam se identificar.
Honestamente, o candidato nem sabia por que Phillips ainda tentava fazê-lo ditar palavras como um robô treinado.
já chegou a se questionar algumas vezes se Todd Phillips realmente era o assessor certo para a sua campanha, mas, no fim das contas, apesar dos defeitos, Todd era competente e daria a sua vida para que fosse eleito.
A lealdade era algo que tinha muito peso para ele.
Os alunos vibraram quando falou sobre sua doação ao centro de pesquisa e uma sensação boa aqueceu seu peito. Fazer o bem era tudo o que importava para o homem.
O restante da recepção foi seguindo com a apresentação de alguns professores e, para a surpresa de , Vincent Berkshire estava entre eles.
Ele se sentiu um tanto tolo porque não havia o visto na plateia. Tudo bem que o homem estava um tanto diferente e ambos não se viam desde a formatura na faculdade, mas ainda assim era estranho não reconhecer um amigo de infância.
No entanto, algo dentro de sussurrou que o real motivo era que ele estava distraído demais com outro rosto conhecido.
Deixando um suspiro escapar, se levantou do seu lugar assim que encerraram a recepção e permaneceu por ali durante alguns minutos, esperando o auditório esvaziar.
Antes que pudesse se conter, seus olhos procuraram por e a localizaram no exato momento em que saía do lugar e não sabia se se sentia aliviado ou frustrado por não poder falar com ela.
Por Deus, ele só podia estar ficando louco!
, quem diria! — A voz risonha de Vincent chamou sua atenção e ele se virou para o amigo, não contendo o sorriso.
— Vincent Berkshire, eu que o diga, uh? Professor? Você? — Ergueu uma sobrancelha.
Se havia uma coisa que jamais imaginaria Vincent fazendo, era ser professor.
— A vida tem dessas coisas. Se me dissessem que eu acabaria virando professor, provavelmente teria rido na cara, mas a verdade é que a gente não prevê essas coisas, né?
— De fato — suspirou.
Na última vez em que havia encontrado o amigo, Amélia estava viva. sentiu falta daqueles tempos. Falta de caminhar com os dois pelos corredores da universidade sem um destino certo, apenas para conversarem, ou de ficar com Vincent aguardando o momento em que Amy sairia de sua aula.
Talvez um dos piores sentimentos fosse aquele. O de sentir falta de um lugar para onde ele já não poderia mais voltar.
Berkshire percebeu a mudança na expressão de , então o tocou no ombro direito, atraindo a atenção do homem para si.
— Sinto muito pela Amy. — Os dois trocaram olhares significativos.
— Por que você não estava lá? — questionou, se referindo ao dia do enterro.
— Porque fui covarde. Não consegui, . Ela era minha melhor amiga. Vocês dois eram. Eu realmente sinto muito. — Sabia que devia ter estado ali para , mas talvez aquele reencontro pudesse consertar um pouco as coisas.
— Está tudo bem, cara. Eu entendo. — sorriu fraco, então percebeu que o reitor se aproximava deles junto a um Todd inquieto. — Preciso ir. Vou fazer uma tour pela universidade porque aparentemente isso é bom para a minha campanha. Quer me acompanhar?
— Até queria, mas tenho uma aula para dar daqui a pouco. Seu número mudou? — negou com a cabeça.
— Meu endereço também não. Aparece lá qualquer hora dessas. — Estendeu a mão para Vincent, que a segurou, soltando uma risada.
— Não preciso marcar horário, não? — brincou, só para provocar .
— Continua engraçadinho, pelo jeito. Bom te ver, Berkshire.
— Bom te ver também, .
observou Vincent se afastar e logo depois seguiu até o reitor, que estava esperando por ele.
Não sabia dizer exatamente como se sentia com relação àquela visita. Cada canto daquela universidade lhe trazia lembranças e mesmo que sempre se permitisse revivê-las, elas não deixavam de doer.
Sabendo que não teria como fugir daquilo, ele apenas engoliu em seco e seguiu em frente.


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não fazia ideia de que participaria da recepção dos alunos. Seu pai havia comentado algo sobre um grande discurso que o homem precisaria fazer, mas não passou por sua cabeça que aquilo aconteceria ali, no mesmo auditório onde ela e seus novos amigos estavam.
Precisou controlar suas reações quando entrou em seu campo de visão, principalmente quando o olhar dele se encontrou com o seu. Havia algo ali, uma intensidade, quem sabe até mesmo um desejo, e sentiu que poderia simplesmente abrir caminho entre todas aquelas pessoas só para ficar mais perto dele.
Sorriu para o candidato, vendo-o retribuir daquele jeito charmoso que a deixava até tonta, até que ele quebrou o contato visual.
Aparentemente, ninguém havia notado aquela breve troca de olhares entre eles, porém não precisou de muito para que se desse conta de que o principal motivo era o fato de várias pessoas também estarem afetadas por .
Lembrou-se da entrevista que havia assistido, onde Ruth Dawter mencionou como era cobiçado. Antes, não deu importância, mas, por algum motivo, naquele momento ela não conseguiu conter a vontade de rolar os olhos.
— Mais alguém que acha o povo exagerado, uh? — Kyle comentou, chamando sua atenção.
fez uma careta.
— Não é bem isso. É só que ele acabou de perder a esposa, sabe? — Antes mesmo de finalizar aquela frase, já havia se dado conta do quão hipócrita soava.
— Pois se ele precisar de alguém para consolá-lo, eu estou totalmente à disposição. — Madison riu maliciosa.
— Eu também. Como que se nega um homem desses? — Daria concordou e Beltane negou com a cabeça.
— E, simples assim, vocês já me trocaram? — Seu tom era indignado e aquilo fez as três rirem.
— Daqui a pouco elas voltam a disputar você, tenho certeza. — piscou para ele.
Os quatro haviam acabado de se conhecer, mas parecia que já eram amigos há anos. As conversas fluíam muito fácil entre eles e as brincadeiras também.
estava satisfeita com aquilo, por mais que naquele momento estivesse querendo socar as Vandervoot por conta dos comentários sobre .
Pietro. Você é namorada do Pietro.
Perdeu as contas de quantas vezes precisou mentalizar aquilo, principalmente durante o discurso de .
No entanto, a ausência de qualquer contato do namorado só dificultava ainda mais as coisas.


— Minha nossa. Me diz como não votar naquele homem depois daquele discurso? — Daria comentou, enquanto eles seguiam de volta ao prédio de Direito.
— Nessa eu vou ter que dar o meu braço a torcer. O cara realmente sabia do que estava falando. — Kyle torceu a boca, como se confessar aquilo tivesse lhe custado um grande esforço.
— E aquela doação? Fiquei até arrependida de não ter seguido para algo científico. — Madison fez um bico e Daria estreitou os olhos para ela.
— Você sempre odiou biologia, garota. Ele só doou, não é como se fosse estar lá.
— Sempre tão espertona, Daria. — Mad deu a língua para ela, fazendo e Kyle rirem.
— Será que ele já foi embora? — Madison disse, depois de alguns segundos.
— Provavelmente. — Beltane deu de ombros. — A não ser que vá rolar alguma outra coisa por aqui, mas aí eu nem ouvi falar.
tentou lembrar se Charles havia comentado mais alguma coisa, porém não tinha.
No entanto, a resposta para a pergunta foi definitiva quando o próprio dobrou o corredor e vinha na mesma direção em que os quatro estavam. O candidato era acompanhado por seu assessor, o reitor da universidade e mais uns três caras que não fazia ideia de quem eram, mas nem queria saber. Não depois de outra vez sentir os olhos de se fixarem nos dela.
— Olá, . — sorriu, então lhe cumprimentou com aceno de cabeça.
— Oi, . — Ela não devia curvar seus lábios de canto daquele jeito, porém o fez, então assistiu o homem se afastar dela até sumir do outro lado do corredor.
— O que foi isso? — Mad estava chocada.
— Vocês se conhecem? — Kyle havia falado ao mesmo tempo.
riu.
— Ia contar pra vocês quando parassem de babar. Eu moro com ele. — Deu de ombros.
— E você fala isso assim, com essa tranquilidade toda? — Madison estava indignada.
Daria olhava boquiaberta de para o corredor vazio.
— O meu pai é chefe de segurança dele — continuou falando normalmente.
— Me diz o segredo. — Daria finalmente se pronunciou.
— Que segredo? — franziu o cenho, confusa.
— Como você consegue morar com esse homem e não agarrá-lo?
Aquela era a pergunta de milhões.
A jovem riu, mas também sentiu vontade de revirar os olhos.
— Eu tenho namorado.
é o tipo de homem que é a exceção para qualquer namoro, . — Madison a encarou com malícia.
— Vocês não prestam nem um pouco! — negou com a cabeça, porém algo dentro de si concordava e muito com as palavras da amiga.
— E nem você. Por isso estamos nos dando tão bem. — se surpreendeu ao ouvir Beltane dizer aquilo, porém acabou caindo na gargalhada junto a eles logo depois.
Quando o período de intervalo terminou, as irmãs Vandervoot seguiram em direções diferentes de e Kyle. Aquela seria uma das poucas aulas que não fariam juntos, porém a jovem estava feliz por ao menos ter alguma companhia.
Os três haviam a bombardeado de perguntas sobre e como era a convivência com ele, ao que respondeu de forma sucinta porque não sabia tanto assim sobre o homem e porque queria encerrar logo aquele assunto.
Ela não era do tipo ciumenta, de verdade, mas irritava um pouco todo aquele interesse.
Agradeceu mentalmente o fato de Kyle não ter mais tocado no assunto e se despediu rapidamente dele no final da aula.
A tarde havia passado rápido, mesmo com a quantidade de coisas que aconteceram, e enquanto caminhava em direção à estação de metrô, deu uma olhada ao seu redor, procurando algum sinal das amigas.
Ela estava exausta e faminta, o quanto antes fosse para casa melhor, então acabou não procurando muito e nem esperando por algum sinal delas.
Quando estava prestes a atravessar a rua, no entanto, um carro preto parou bem na sua frente e ela assistiu com uma sobrancelha erguida o vidro se abaixar.
A expressão intrigada deu lugar a uma de surpresa em questão de segundos.
? — não sabia se estava mais incrédula por vê-lo ali ou por ele estar dirigindo o carro sozinho.
Onde estava Charles? E Todd? E os outros seguranças?
— Quer uma carona? — Ela precisou de mais alguns segundos para assimilar aquilo, então assentiu rapidamente.
Aquela era o tipo de proposta que jamais conseguiria recusar, principalmente se tratando dele.
Ouvindo o barulho da porta do carona sendo destravada, rapidamente a abriu e entrou.
esperou até que ela colocasse o cinto, então deu partida com o carro.
Alguns segundos de silêncio se seguiram e tudo que conseguia pensar era no perfume daquele homem impregnado em todo canto. Num piscar de olhos, ela tinha se jogado de cabeça à tentação.
— Eu nem perguntei se você estava indo para casa. — se virou rapidamente para olhá-la, precisando se controlar para não descer seus olhos pelo corpo da mulher.
A ideia de dar uma carona a ela havia sido um impulso.
Assim que encerrou sua visita à universidade, decidiu que queria dirigir até sua casa e por isso dispensou Todd e qualquer segurança. Ele precisava espairecer um pouco depois da onda de nostalgia que tomou conta de si naquela tarde.
Então ele viu prestes a atravessar a rua. Sabia que a jovem voltaria para casa de metrô e algo dentro dele disse que não havia nada demais em uma simples carona.
— Onde você deixou o meu pai e o seu assessor? — apenas acenou positivamente para a pergunta de e logo se pronunciou com curiosidade.
— Eles vão em outro carro. Eu precisava dirigir um pouco — explicou, abrindo um sorriso fraco.
— Deve ter sido difícil pra você voltar à universidade hoje, né? — O comentário dela o fez cogitar se podia ouvir pensamentos.
Provavelmente não, porque se pudesse, nem chegaria perto dele.
sentiu seu rosto começar a se aquecer com aquele pensamento e certas lembranças, então se forçou a focar nas palavras dela.
— Muito. Cada corredor traz uma memória diferente. — Torceu a boca. — Mas teve um lado bom. Reencontrei um amigo de infância. — Ele estava genuinamente feliz com aquilo.
— Sério? Isso é incrível, . Me fala mais sobre ele! — Ela parecia de fato interessada no assunto, o que deixou o homem animado para contar.
— Vincent Berkshire. Ele faz parte do grupo de professores agora, mas eu nem perguntei o que ele vai ensinar. Nós costumávamos ser inseparáveis. Eu, ele e Amy. — interrompeu sua fala para se concentrar em uma curva.
— Na escola? — questionou, apenas para incentivá-lo a continuar.
— E na faculdade também. Nós fizemos tudo juntos. Só nos separamos quando Vincent conseguiu um emprego em New York.
Ao ouvir aquilo, a jovem não conseguiu evitar pensar em seus planos com Pietro.
— Eu e meu namorado estávamos planejando fazer isso também. Estudar juntos e morar juntos. Só que aí ele não foi aprovado, então vai ter que aplicar de novo. Eu até cogitei esperar por ele também, mas Pietro não aceitou. Disse que eu tinha que vir. — Era um tanto estranho e ao mesmo tempo fácil falar com sobre aquilo. Ele escutava tudo com atenção e não parecia nem um pouco entediado com a conversa.
— Não posso dizer que ele não tem razão. Eu faria o mesmo. — Deu de ombros, evitando imaginar como seria se ele fosse o namorado de .
Céus, por que tinha que pensar naquelas coisas?
— Então por que agora ele está me evitando? — desabafou, sem conseguir se segurar, porque a ausência de mensagens de Pietro realmente estava entalada em sua garganta.
— Como? — questionou, sem entender.
— Pietro anda meio estranho. Hoje só me mandou um boa sorte super seco e depois disso eu não recebi nem sinal de fumaça dele. Imagino que talvez esteja chateado porque foi meu primeiro dia de aula e ele deveria estar aqui, mas…
— Ele está sendo babaca. — arregalou os olhos ao ouvi-lo completar.
— Está — ela concordou, soltando um suspiro em seguida.
— Talvez ele realmente esteja lidando com o fato de estar longe num momento como esse, porém não pode te culpar ou fazer com que se sinta assim. Não faço ideia de como é porque não passei por isso, mas acho que a única coisa que você pode fazer é esperar ele entrar em contato e, quando isso acontecer, tentar conversar.
A jovem deixou os ombros caírem, então assentiu, resignada.
— Obrigada, . Do nada eu saí contando meus dramas. Espero que não esteja te matando de tédio. — Ela mordeu o canto da boca, incerta.
riu, negando com a cabeça e desejando que não fizesse aquilo.
— Não está. E, para falar a verdade, já ia até te perguntar se está com fome.
O estômago dela roncou como resposta e sinceramente esperava que ele não tivesse ouvido.
— Estou faminta. Por quê? O que você tem em mente? — Estreitou um pouco os olhos, vendo um sorriso esperto se formar nos lábios dele.
— Conheço um lugar que acho que você vai gostar. Topa?
O jeito dele era leve e descontraído, diferente de quando o viu pela primeira vez e também de como se portava ao dar o discurso.
Aquilo a atraiu ainda mais e o certo seria recusar aquele convite e voltar logo para casa.
— Com certeza. — Retribuindo o sorriso dele, aceitou de prontidão, incapaz de fazer o que seu cérebro gritava.
fez mais uma curva e a jovem nem se deu o trabalho de prestar atenção para onde iam. Estava completamente fascinada por ele.
— Posso confessar uma coisa? — De repente, ela se pronunciou, fazendo-o olhá-la e assentir em concordância. — Eu jamais imaginaria você dirigindo o próprio carro.
franziu o cenho, achando graça daquilo.
— Não me diga que achou que eu não sabia dirigir. — Acabou rindo e ela revirou os olhos.
— Não. Só imaginei que você andasse para todo canto com um motorista. — Deu de ombros.
— Bom, na maioria das vezes, sim. Mas só porque eu acabaria perdendo tempo estacionando e tem umas outras questões de segurança. Ao menos é isso que Todd diz.
— Todd é o seu assessor? — assentiu. — Ouvi dizer que ele é um pé no saco.
acabou gargalhando com aquilo.
— Quem foi que falou isso? Aposto que foi o Charlie. — Percebeu que o destino deles estava próximo e acelerou um pouco mais.
— O próprio. Mas, pela sua risada, eu imagino que ele realmente não seja muito popular. — lhe lançou um sorriso esperto.
— Ele tem uma personalidade forte e sempre quer ter tudo sob controle. Em alguns momentos, isso irrita — confessou e ela sorriu mais.
— Alguns momentos… Sei. — Riu baixinho e desviou o olhar de ao ver que estacionava o carro.
não fazia ideia de qual seria o lugar onde iriam comer e esperava algum restaurante super sério. No entanto, para a sua surpresa, se viu em outro lugar.
— Um fast-food? — Ergueu uma sobrancelha para ele.
— Não esperava por isso, não é? Mas esse lugar faz o melhor hambúrguer da cidade. — então desatou o cinto, descendo do carro e rapidamente seguindo até o lado do carona para abrir a porta para .
Ninguém nunca tinha feito um gesto como aquele para ela, o que a deixou paralisada por uns dois segundos antes de reagir e sair do carro, agradecendo pela gentileza.
Não havia muitas pessoas dentro do estabelecimento, mas ainda assim sentiu olhares sobre si no instante em que os dois passaram pela porta.
— chamou, para que ele parasse de andar. — E se te reconhecerem aqui?
— Qual o problema? — a olhou um tanto confuso e voltou a caminhar até encontrar um lugar bom para os dois.
— Ah, você é uma pessoa pública. Vai saber! — deu de ombros, momentaneamente sem jeito, porém acabou deixando de se importar ao ver que ele realmente não ligava.
— Acho que ao menos por algumas horas eu posso parar de me preocupar no que os outros vão pensar.
ergueu seu olhar até o dele ao ouvir aquilo e de repente se perdeu naquelas íris tão . Havia muito ali. Sentimentos com os quais ele precisava lidar todos os dias, que precisava esconder todos os dias. Solidão, dor, luto, frustração e uma sede por mudança. Um anseio de se libertar de tudo, embora ele não fizesse ideia de como.
sustentou o contato visual, se sentindo tão imerso quanto. trazia calor em seu olhar, vivacidade, conforto e uma dose de mistério que o instigava. Ele queria desvendá-lo, mas sabia que não podia. E uma das razões havia sido citada há alguns minutos por ela.
claramente gostava do namorado e a maior ironia do destino era que eles tinham os mesmos planos que um dia foram os dele com Amy.
Foi quem quebrou a conexão, se forçando a voltar para a realidade, onde estava em uma lanchonete com a filha de seu chefe de segurança, vários anos mais nova que ele, com quem só poderia ter no máximo uma amizade.
pegou um cardápio, então abriu um pequeno sorriso.
— Pode escolher o que quiser.
percebeu a repentina mudança nele e mordeu o canto da boca num gesto inconsciente. Não queria que ele tivesse desviado seu olhar, por mais que soubesse o quanto aquilo era errado para os dois.
Assentindo, ela logo escolheu o que desejava comer e se levantou para fazer os pedidos.
Quando retornou, um breve silêncio se formou entre os dois, mas resolveu quebrá-lo de uma vez.
— Quanto tempo faz que você não come um hambúrguer?
abriu a boca, surpreso com a perspicácia dela.
— Que tipo de pergunta é essa? — fingiu estar indignado.
— Uma como qualquer outra. Vai, quanto tempo? — ela insistiu, risonha, e ele suspirou.
Muito tempo. Não é sempre que dá para fugir e vir até aqui. E, na verdade, por um bom tempo eu também não quis. — As coisas sempre voltavam àquele ponto. A perda havia o marcado por inteiro, mas estava disposta a manter a conversa em um tom leve porque sentia que queria o mesmo.
— Depois disso e do prato de macarronada que eu comi hoje, vou precisar ir andando até a universidade por uma semana para queimar tudo. — Ela, de fato, havia saído praticamente rolando da mesa no almoço.
— Não acho que você precise disso. — deixou escapar, dando uma olhada rápida nela por inteira e se xingando mentalmente por isso logo depois.
, por outro lado, adorou aquilo.
— Não preciso? — Sorriu de canto. Não devia flertar com ele, mas era difícil demais. era gostoso, sua voz a deixava arrepiada, principalmente quando ria, e o perfume dele era intoxicante.
— Nem um pouco. — Para o bem dela e sanidade dele, não devia sorrir daquele jeito. Muito menos se mexer na cadeira como se estivesse afetada ou algo do tipo.
Para onde havia ido a determinação dele em manter uma amizade?
Por Deus, ela tinha namorado. Ela era filha de Charlie.
E estava mordendo o canto do lábio outra vez.
Aquilo era proposital?
— Obrigada, eu acho. Você também definitivamente não precisa. — ousou devolver o elogio e aquela atmosfera entre os dois foi quebrada pelo bip anunciando que os lanches estavam prontos.
Os dois seguiram conversando enquanto devoravam os hambúrgueres. sentia como se tivesse voltado ao tempo em que ia para a aula e seguia faminto para a lanchonete.
Não era muito difícil achar assuntos que os agradassem. era divertida e não tinha medo algum de falar o que pensava, algo que ela fez com energia quando de repente a conversa foi parar na entrevista mais recente de .
— É sério. Primeiro que se eu fosse o marido dela, mandava engolir o seu vidro de perfume. E segundo que você respondeu com uma calma que até me assustou. Eu não teria um pingo de paciência, viu? Ela era muito invasiva. — A jovem gesticulava energicamente enquanto falava e acompanhou com o olhar quando ela pegou mais uma batatinha e enfiou na boca.
— Não vou mentir, eu achei que ela ia pular em cima de mim a qualquer momento pra cheirar o meu perfume. — riu. — E a imprensa em geral é invasiva, . Já me acostumei com isso.
— Não sei se eu conseguiria me acostumar. Não sou tão calma quanto você. — Deu de ombros para a confissão.
— Estou vendo que não é mesmo.
estreitou seus olhos.
— O que isso quer dizer?
Ele riu mais uma vez.
— Que você é bem enérgica sobre as coisas. Seria engraçado te assistir em uma entrevista com a Ruth.
tentou se manter séria, mas acabou rindo também.
— Bom, você tem razão. Provavelmente eu sairia no tapa com ela.
Os dois passaram mais alguns minutos rindo e xingando Ruth, até que o celular de tocou e ele suspirou, sabendo que precisaria atender.
— É o Todd? — questionou, vendo-o assentir com uma expressão que dizia claramente que aquela era a última coisa que ele gostaria de fazer naquele momento.
— Um segundo — pediu licença, então se afastou.
A mulher ficou o observando enquanto conversava com o assessor e deixou um suspiro escapar. definitivamente era muito mais do que ela havia imaginado, ou que qualquer pessoa imaginava.
Sabia que ali com ela estava uma versão dele que não costumava mostrar e não conseguiu deixar de pensar em como queria continuar descobrindo mais sobre ela.
Quando voltou para a mesa, sua expressão já deixava claro que precisavam encerrar o passeio por ali.
— Todd ligou para lembrar que tenho um compromisso daqui a — verificou a hora no relógio de pulso — uma hora e meia.
arregalou os olhos.
— Então precisamos ir logo.
— Sim, precisamos — concordou com ela, mas ainda permaneceu ali na mesa, enquanto os dois se encaravam.
Ambos pareciam imersos nos próprios pensamentos, desejando que houvesse alguma forma de adiar o fim daquele momento, porém infelizmente não havia.
— É um jantar — de repente, disse, fazendo focar seus olhos nos dele, erguendo uma sobrancelha em seguida.
— Um jantar? — perguntou, apenas para confirmar.
— Sim — reafirmou e de repente o riso se formou nos lábios do homem.
Eles haviam se empanturrado de hambúrguer e ele precisava ir a um jantar dali uma hora e meia.
— E eu achando que era eu que voltaria rolando para casa hoje. Boa sorte. — deixou escapar, risonha, e aquilo foi o estopim para que ambos começassem a gargalhar enquanto se levantavam e seguiam para fora da lanchonete.
não se lembrava da última vez em que havia rido e sorrido tanto. Bastava olhar para ela que automaticamente seus lábios queriam se curvar, o que só deixava nítido uma coisa.
Aquele era o efeito de sobre ele.


Capítulo 06 — Paroxysm

“Uma súbita explosão de emoções”.

Pietro não disse o motivo de seu sumiço justamente no primeiro dia de aula de , sequer chegou a tocar no assunto. E quando chegou em casa, ela descobriu que já não dava tanta importância. No fim das contas, aquele dia havia sido incrível de diversas formas, principalmente levando em conta a companhia que a teve ao voltar para casa.
De repente, se viu preocupada. Como as coisas chegaram ao ponto de ela não se importar com a ausência de seu namorado? Quando aquilo havia acontecido?
Para a última pergunta, no entanto, tinha uma resposta. E ela estava em algum lugar da mansão, provavelmente há alguns quartos de distância.
Toda vez que se pegava imaginando em seu quarto, tinha uma vontade enorme de saber onde era o cômodo. No entanto, não seria atrevida ao ponto de explorar a casa até descobrir, certo?
Certo?
Estar em dúvida quanto àquilo e ao que sentia sobre seu relacionamento soou como mais um alerta para a mulher. Ela não podia se desviar de seus planos originais. Não podia se deixar levar por um candidato a senador charmoso, bonito e cheiroso até demais.
Por Hades, precisava parar de pensar em daquela forma e focar em seu relacionamento com Pietro Langdon.
E foi por isso mesmo que não questionou a ausência dele naquele dia, muito menos nos outros que se seguiram. Ela estava incomodada com a frequência cada vez menor de suas chamadas por vídeo e com o fato de Langdon não parecer estar realmente ali quando se falavam, mas não tocou no assunto. Foi guardando tudo aquilo para si, se convencendo de que era uma fase ruim, que a distância pesava muito entre os dois, mas que logo tudo iria passar, Pietro se mudaria para Baltimore e os dois ficariam juntos e felizes como sonhavam.
Ao contrário do que imaginava, via com uma certa frequência. Ele quase sempre tomava seu café da manhã no mesmo horário que ela e vez ou outra se encontravam quando voltava para casa. Nesses momentos, os dois ficavam conversando, descobrindo cada vez mais coisas um sobre o outro.
contou a sobre como conheceu Amy e toda a história de como os dois ficaram juntos. Descobriu que era fácil falar sobre a falecida esposa com a . Na verdade, era fácil falar sobre qualquer coisa quando estava em sua companhia.
contou sobre sua vida em Ohio, as bagunças que costumava fazer com seus amigos e com Pietro. Revelou uma tentativa frustrada de entrar para o coral da escola e que precisou deixar para trás sua gatinha, Hela. quis dar um jeito de trazê-la para Baltimore, mas a recusou. Não podia abusar da hospitalidade dele. já havia feito demais por ela.
Era difícil para ele conter seus pensamentos, principalmente quando estava com a mulher. Parecia que ela fazia questão de estar presente em cada um deles, mas se manteve firme. Gostava da amizade dela. fazia bem a ele e por aquele motivo queria tê-la por perto.
O homem não imaginava, no entanto, que se sentia da mesma forma. A cada dia, ela o queria mais. A cada dia repetia que precisava ficar firme em seus planos. Mesmo sentindo que namorava um fantasma ultimamente, se manteria fiel à história que tinha com Pietro. E, enquanto isso, cultivava a amizade com , adorando mantê-lo por perto e descobrir que por trás de toda a imagem que precisava mostrar ao público, havia uma pessoa gentil, divertida e… leve.
Eram quase onze da manhã de um sábado e havia sido surpreendida com uma ligação do namorado. Ela até ficou animada por aquilo, Pietro tinha o costume de ligar todos os dias pela manhã antes da mulher se mudar e as coisas ficarem completamente estranhas.
Qualquer resquício de animação acabou se esvaindo minutos depois. Como nas poucas chamadas que os dois faziam nos últimos tempos, Langdon não parecia estar completamente presente, pausava a câmera com frequência para mexer em seu celular e não prestava muita atenção no que falava. Ele nem ao menos percebeu que a namorada estava há uns bons minutos em silêncio, desistindo de conversar com Pietro e se deixando levar por seus pensamentos.
— É, eu também acho — ele falou, de repente, fazendo-a franzir o cenho. tinha fechado sua câmera, já que Langdon não estava olhando mesmo, mas ligou de volta ao ver o rosto do namorado aparecer.
— Acha o quê?
— Que o Arctic Monkeys vai passar por aí nessa nova turnê. Se não aí, em D.C.
precisou conter um suspiro. Já fazia uns bons minutos que tinha falado sobre aquilo e não era nem o último assunto da conversa.
— É — murmurou, apenas, sem vontade de continuar falando daquilo ou de qualquer coisa, na verdade.
Pietro voltou a mexer em seu celular e revirou os olhos ao ver a câmera dele em pausa pela milésima vez, resolvendo ir até a cozinha arranjar algo para comer.
— Baby, eu acho melhor desligarmos. Você tem suas coisas pra fazer e daqui a pouco Kyle e as meninas vêm aqui. — Seu tom de voz soou firme e despreocupado, diferente de como se sentia.
— Quem? — E subitamente o rosto do namorado tornou a aparecer na tela.
— Meus amigos. — franziu um pouco o cenho.
— Não. Você disse Kyle. Quem é Kyle? — As feições de Pietro eram de desconfiança e não controlou a vontade de erguer uma sobrancelha.
— Isso é sério? — Se estivesse perto dele, talvez tivesse o socado.
Ele ia mesmo bancar o namorado ciumento depois de ignorá-la a chamada toda?
— É, ué. Não lembro de você ter falado nesse cara antes.
— Tem certeza, Pietro? Eu sempre falo dos meus amigos pra você. — Ela não queria usar aquele tom acusatório, não quando seu relacionamento parecia andar em cordas bambas, porém, mais uma vez, não pôde evitar.
— Mas não desse Kyle — Langdon insistiu, teimoso.
— Bom, o Kyle é meu colega de faculdade. Nós estamos fazendo um trabalho juntos. Aquele estudo de caso, lembra?
— Sim. — O tom seco incomodava, mas o pior era aquela expressão de que estava escondendo algo.
— Então. Acabamos virando amigos e ele sempre sai comigo e as meninas.
— Por quê?
— Por que o que, Pietro?
— Um cara no meio de um bando de mulheres? Ele é gay?
o encarou indignada.
— Não acredito que você perguntou isso. Eu não sei, não saio perguntando a sexualidade das pessoas. — Deu de ombros e, vendo que o namorado abria a boca para retrucar, voltou a falar porque estava odiando aquilo. — Antes que diga mais alguma coisa, não precisa se preocupar com Kyle. Eu tenho quase certeza de que rola um clima entre ele e a Daria.
Langdon ficou em silêncio, apenas a observando por alguns segundos, então suspirou, parecendo aliviado.
— Você continua uma graça com ciúmes, baby. — negou com a cabeça, tentando amenizar o clima desconfortável.
— Não estou com ciúmes. — A forma como ele estreitava os olhos dizia exatamente o contrário.
— Eu sou toda sua, meu amor. Apenas sua.
E como se o universo estivesse a testando, assim que chegou à cozinha, deu de cara com perfeitamente confortável em uma calça de moletom e uma camiseta que marcava demais seus músculos.
Precisou se controlar para não demonstrar reações, mas estava até descalço e a forma como olhou para ela, abrindo um largo sorriso, a fez derreter por dentro.
Como ele conseguia ser perfeito daquele jeito?
Odiava por aquilo.
sabia que Pietro havia dito alguma coisa porque ouviu sua voz, mas não fazia ideia de suas palavras.
Respirando fundo, ela voltou a focar seu olhar na tela do celular enquanto adentrava de vez na cozinha.
O que quer que estivesse fazendo no fogão, cheirava muito bem.
— Baby, eu realmente preciso ir, tá? Nós nos falamos mais tarde, se você quiser… — A última parte soou incerta contra à sua vontade.
— Tudo bem. Eu te ligo. — Pietro sorriu e ela retribuiu. — Até mais, gata.
— Até mais.
E desligou.
Sem dizer que sentia saudades, sem dizer que a amava. Completamente diferente do Pietro que se despediu de no aeroporto.
— Tudo bem? — A voz de chamou sua atenção e só então ela percebeu que fazia uma careta.
— Não faço ideia. — riu, um tanto frustrada. — Mas não importa… O que você faz em casa a essa hora?
Ela andou para mais perto dele e tentou espiar o que fazia.
— Hoje é sábado — ele disse, como se fosse óbvio, e estreitou os olhos.
— Você disse isso ao Todd, por acaso?
— Na verdade, sim. Foi exatamente o que eu disse.
A expressão risonha dele fez negar com a cabeça, sem conseguir evitar o riso.
— E você conseguiu convencê-lo? Isso é o que eu chamo de milagre. Já podem te transformar em santo, olha só! — De repente, não existia mais o clima desconfortável da ligação e ela se permitiu brincar com .
Foi a vez dele balançar a cabeça em negação.
— Em partes. Ganhei a manhã livre, mas durante a tarde tenho essa visita ao orfanato que precisa ser hoje. — Deu de ombros, acostumado com aquilo. — E eu posso ser qualquer coisa, , menos santo.
Algo no olhar dele fez a imaginação dela ir longe. De repente, a mulher precisou conter a vontade de responder que queria que ele fosse aquele que a jogaria em cima da mesa, ou a puxaria para cima da pia e a devoraria por inteira.
Seu corpo reagiu imediatamente àquilo. O calor subiu por suas coxas, passando pelo meio de suas pernas e por pouco não esfregou uma na outra. Seu rosto também ficou quente e não desviou seu olhar em momento algum, o que só dificultou as coisas ainda mais.
Por fim, respirou fundo e se inclinou de novo em direção ao que preparava.
— O que você tá inventando aí? O cheiro tá bom, viu?
— Omelete.
Em momentos como aquele, se surpreendia com a simplicidade do homem. Nem parecia que era um candidato a senador dos Estados Unidos e poderia pedir para fazerem aquilo para ele, ou comer qualquer coisa mais sofisticada.
— Por que a cara de espanto? Eu sei fazer uma ótima omelete, obrigado. — riu e, para provar seu ponto, se afastou um pouco para levar a frigideira até o prato que havia separado, despejando a omelete ali.
Pela cara, realmente parecia ótimo.
— Já é surpreendente te encontrar na cozinha descalço, na verdade. — foi sincera, o que o fez rir novamente, negando com a cabeça.
— Que Julieta não te ouça. Ela me chama a atenção mais do que minha própria mãe.
E, sem ao menos questioná-la sobre, pegou outro prato, servindo um pouco de omelete para ela. sorriu com o gesto. Não ia recusar, embora ficasse um tanto sem jeito por se meter na refeição dele.
De repente, precisou conter o pensamento de que não ia achar nada ruim se ela mesma fosse a refeição.
Antes que seu rosto voltasse a esquentar, pegou um garfo e provou um pedaço da omelete, arregalando os olhos segundos depois porque estava muito melhor do que ela esperava.
Tinha alguma coisa que fazia e não era perfeita?
Aquele homem não era real.
— Caramba, ótimo é muito pouco, . Essa omelete é a perfeição — confessou, logo enfiando mais um pedaço na boca.
sorriu convencido.
— Obrigado, obrigado. — Então ele mesmo passou a comer, sem se importar com o fato de que estavam em pé na frente da bancada da cozinha.
— Tem algo que você faz que não seja perfeito? — De repente, ela externou seus pensamentos e sorriu.
— Um monte de coisas. Para começar, minha pontaria é péssima. Quase não consegui entrar na universidade porque matemática não é bem o meu forte e eu finjo gostar de filmes de terror só pra fazer as maratonas de sempre com Carter.
Enquanto ele enumerava, retribuiu o sorriso e não o desfez.
— E que tipo de filme você gosta então?
— Aventura, ficção científica, um pouco de comédia também. — Antes dela comentar sua resposta, já sabia o que ia dizer.
— Filmes de nerd, né? — Riu quando ele apenas deu de ombros. — Você é uma caixinha de surpresas, . Não me diga que é metaleiro ou algo do tipo também?
O homem não respondeu, apenas abriu um sorriso de canto e voltou a comer.
! — O tom manhoso dela o pegou desprevenido e suspirou baixo.
— Na verdade, quanto à música eu gosto de tudo um pouco, mas confesso que não ando ouvindo muito ultimamente.
Não foi preciso perguntar o motivo, já sabia. Pensar que o luto havia adormecido, quase matado, várias coisas nele fazia ela sentir uma tristeza enorme e mais uma vez a vontade de ajudá-lo como pudesse. Se já era maravilhoso daquele jeito mais sério dele, sorrindo era realmente perfeito.
— Quer um pouco de suco também? — Ele foi até o armário para pegar dois copos, trazendo junto à bebida quando assentiu.
— Sobre filmes, os meus favoritos são os musicais. Por causa disso, acabei tentando entrar para o coral da escola aquela vez que te contei. Sonhava que um dia seria uma atriz da Broadway. — Soltou uma risada nasalada. — Depois deles, os filmes de nerd me ganham também. Nunca recuso uma maratona de Senhor dos Anéis.
— Bom saber disso, já sei quem chamar quando quiser fazer uma.
não podia piscar para daquele jeito. Ainda mais depois de praticamente propor uma sessão de filmes com ela.
Antes que pudesse se refrear, a mulher mordeu o canto da boca devagar, então abriu mais um sorriso.
— Pode chamar a hora que você quiser.
sentiu algo se agitar nele e seus olhos se fixaram nos lábios dela por tempo demais para a própria sanidade.
Por que ela o provocava daquele jeito?
Fazendo um esforço descomunal para lembrar de que não podia fazer nada a respeito, acabou lambendo os próprios lábios e desviando seu olhar para encher os copos com suco e entregar um a .
— E música? — Sorriu ao vê-la o olhar confusa. — Que tipo de música você gosta?
— Ah, eu sou metaleira.
— Sério? — ergueu uma sobrancelha ao ver que ela continha o riso.
acabou rindo e negando com a cabeça.
— Na verdade, eu gosto de rock. Todos os estilos possíveis do gênero. E música clássica também. Quando acho uma combinação dos dois, é o paraíso.
— E existe combinação dos dois?
— Ah, existe, sim. Te mostro qualquer dia desses se quiser. — Foi a vez dela de propor algo a ele, piscando um olho.
— Seria ótimo. Você também pode me chamar para ouvir quando quiser. — Sorriu para ela.
— Posso mesmo? Você é sempre ocupadíssimo, senhor . — fez um bico enquanto olhava risonha para ele.
— É só pedir para o Todd remarcar a agenda. — Deu de ombros e arregalou os olhos.
— Compraria essa briga só pra ouvir música comigo?
não devia responder àquilo. Para o próprio bem, o certo seria desviar o assunto, mas, quando se deu conta, já era tarde demais.
— Com certeza.
Como controlar o impulso de agarrar aquele homem e pular em seu colo?
Por alguns segundos, que acabaram passando lentos demais, ela ficou o encarando. Sua respiração um tanto descompassada fazia seu peito subir e descer, denunciando como a resposta dele havia a afetado. Então engoliu em seco, fez menção de dizer algo, mas acabou imitando o gesto dela e… droga, por que os olhos dele tinham que ser daquele jeito?
… — Sua voz ecoou num sussurro tão baixo que a mulher não teve certeza se ele tinha escutado.
Mas tinha.
? — Mesmo completamente imerso no olhar dela e naquela atmosfera que parecia atraí-lo cada vez mais em sua direção, conseguiu dizer em um tom um tanto rouco e absurdamente tentador.
pigarreou, procurando o primeiro assunto aleatório possível para estourar aquela bolha entre eles. Ela queria permanecer nela e seu coração acelerado protestava, mas não era certo. Não era justo com Pietro.
— Eu… Eu convidei uns amigos para virem até aqui. Não é um monte de gente, não. Apenas Maddie, Daria e Kyle. Tudo bem pra você?
Sabia que devia ter perguntado aquilo antes de chamar os amigos, mas a verdade era que não havia pensado naquilo antes. Tudo o que menos queria era chatear .
Ele demorou alguns segundos para processar as palavras dela. Ainda estava imerso em todas as coisas que passavam em sua mente quando olhava para .
— Claro que não tem problema. Você mora aqui agora, . Sinta-se à vontade. — Deu de ombros.
— Jura que não tem problema mesmo? — ela insistiu, estreitando um pouco seus olhos para ele.
— Juro. Pode ficar tranquila quanto a isso. É até bom ter um pouco mais de gente nessa casa de vez em quando. — Riu baixo, sabendo que a culpa era exclusivamente dele. Quando Amy estava ali, costumava fazer festas e sempre havia algum amigo os visitando.
— Mesmo se eu te disser que eles são seus fãs? — Ela segurou o riso e, de repente, o clima mais leve voltava.
— Devo deixar autógrafos prontos? — brincou de volta e negou com a cabeça.
— Pode ser uma boa ideia. — Sorriu, então os dois acabaram rindo.
— Mas, falando sério, você nem precisa me pedir essas coisas, . — Ele foi completamente sincero e ela recolheu os pratos e os copos ao ver que também havia terminado de comer.
— Claro que preciso, . Não é porque você aceitou me hospedar aqui que vou ser folgada ao ponto de trazer pessoas pra cá sem avisar.
— Você não é só uma hóspede. Você mora aqui. — abriu a boca para retrucar de novo e não deixou. — Pare de ser teimosa, mulher!
A boca dela se abriu em espanto e, vendo que o homem segurou o riso, seus olhos se estreitaram.
— Ei, eu não sou teimosa!
— Disse ela, teimando… — completou e acabou rindo alto, principalmente porque pegou um pano de prato e o acertou com ele em seguida.
Julieta voltava para a cozinha naquele momento, mas, ao ouvir a gargalhada de , se deteve e procurou outro lugar para ir.
Fazia tanto tempo que não ria daquele jeito e não seria ela a interromper aquele momento.


💋


Apesar da ligação do namorado não ter sido nem um pouco próxima do que gostaria, ela estava animada e risonha quando foi até a porta receber os amigos. havia dito que eles podiam usar outros cômodos da mansão, mas a achou melhor levá-los ao seu quarto, onde já tinha bastante espaço e eles se sentiriam mais à vontade.
— Caramba, dá pra acreditar que estamos na casa do ? — Madison se atirou na cama de , admirada.
— Você viu os carros lá fora? Quantos deles ele realmente usa? — Kyle não estava diferente e antes que pudesse responder, a mulher foi interrompida por Daria.
— Eu ainda tô tentando processar o tamanho desse quarto, amiga. Acho que me sentiria uma princesa se morasse aqui. — Ela até suspirou de um jeito dramático em seguida.
— Não vou nem julgar vocês, porque tive as mesmas reações quando cheguei aqui. — deu de ombros. — Mas fiquem à vontade, por favor! — E olhou diretamente para Kyle, porque ele foi o único a permanecer de pé, enquanto as Vandervoot se acomodavam na cama da .
Ele passou a mão pelos cabelos, um tanto sem jeito, e seguiu até o pufe onde ela adorava se atirar quando ia ler alguma coisa.
— Bom menino. — Abrindo um sorrisinho, puxou a cadeira de sua escrivaninha e se sentou ali.
Sem fazer cerimônia, Maddie pegou o controle da televisão e logo abriu o spotify para colocar alguma playlist para tocar, enquanto Daria se acomodava melhor na cama, ainda encarando o cômodo como se fosse algo de outro mundo.
Percebendo aquilo, não conteve um sorriso.
— Esse quarto é maior que a minha casa em Ohio, sem brincadeira! — comentou, atraindo a atenção dos três amigos. — Demorei a me acostumar e, na verdade, acho que ainda não consegui totalmente.
— Amiga, só aceita o presente do universo. — Daria riu, mas imaginava que também custaria a se acostumar.
— Ou, nesse caso, o presente do senador gostosão. — Madison lambeu os lábios com uma expressão maliciosa.
— Vocês não perdem uma oportunidade de falar dele, né? — estreitou os olhos, brincando com as amigas. — Por que não falamos do Kyle? Ele também é um gostoso e tá bem aqui.
Beltane ergueu uma sobrancelha, mas logo abriu um sorriso malicioso e estava prestes a responder, quando Daria o interrompeu.
— Ih, já falei várias vezes, mas ele me jogou na friendzone. — Um bico se formou em seus lábios e sua fala arrancou uma gargalhada do homem.
— Mais direta impossível, né, priminha? — Maddie nem se surpreendia mais. Daria era daquele jeito mesmo.
— Mas quem foi que te disse isso, Vandervoot? Agora quero saber. — Kyle tornou a arquear sua sobrancelha enquanto encarava Daria, reprimindo um sorriso.
Madison e olharam de um para o outro.
— E alguém precisa dizer, Beltane? — Ela imitou o gesto dele.
— Nesse caso, acho que eu preciso dizer que não joguei você em lugar algum.
— Eita que o cabaré pegou fogo cedo! — O comentário de Maddie fez gargalhar alto, seguida pelos outros dois, e eles ficaram rindo por uns bons minutos até conseguirem se acalmar.
— Garota, você é impossível. — negou com a cabeça, então se levantou e se voltou para Madison.
— Vamos lá na cozinha comigo?
Vandervoot não precisou de nenhuma explicação, sabia que a ideia era deixar Daria sozinha com Kyle.
— Vamos! — Acompanhou a amiga até a porta.
— Ei, aonde as duas pensam que vão? — Daria se manifestou indignada e ao mesmo tempo apavorada.
Aquilo era engraçado porque ela era super direta, mas na hora de tomar alguma atitude, acabava recuando e culpando Beltane com a história da friendzone.
No entanto, se dependesse de , naquele dia Daria não ia fugir.
— Buscar comida e bebida pra gente — respondeu, não dando brecha para que a amiga se levantasse.
— E por que eu…
— A Julieta vai querer meu pescoço se eu lotar a cozinha dela. Sossega o facho aí que a gente já volta! — cortou a fala dela, que a fuzilou com os olhos.
— Relaxa, eu não vou te morder se você não quiser, Dariazinha. — O tom manso de Kyle fez e Maddison se entreolharem mais uma vez.
— Usem proteção, crianças — Maddie zoou e seguiu para fora do quarto, ouvindo protestos dos amigos, mas nem fazendo questão de entender o que diziam.
Ela e seguiram rindo pelos corredores e comentando o quanto aqueles dois precisavam se pegar de uma vez.
— É engraçado porque eu jurava que você estava afim dele no começo, amiga — Madison comentou, quando as duas entraram na cozinha vazia.
arregalou os olhos, negando rapidamente com a cabeça.
— O Kyle é um gostoso, Maddie, nunca escondi que acho isso. Mas eu tenho namorado. — A mulher realmente achou que aquilo encerrava a questão e foi até a geladeira para pegar alguns frios, no intuito de cortá-los e colocá-los em uma travessa para os quatro beliscarem.
— Um namorado que é um cuzão, né. Por favor, . — Madison revirou os olhos, recebendo uma encarada séria da amiga. — Qual é? Estou mentindo?
suspirou derrotada. Nunca imaginou que pensaria em Pietro daquela forma, mas sim, ele estava sendo um cuzão ultimamente.
— De qualquer forma, nunca fiquei atraída pelo Beltane desse jeito. — Deu de ombros.
— E o ? — Vandervoot mordeu um sorriso e por muito pouco não se cortou, mas fingiu que nada havia acontecido.
— O que tem o , sua doida? — Riu baixo.
— Você é afim dele?
De repente, sentiu seu rosto esquentar, denunciando o que ela sabia que negaria.
— De onde foi que você tirou isso?
— Você fica se remexendo toda vez que alguém fala dele e faz de tudo para mudar de assunto.
Droga, ela fazia aquilo mesmo? Ou Madison que era observadora demais?
parou o que fazia, então fez uma careta.
— Isso tá tão na cara assim?
— Calma, não é como se você estivesse com uma placa anunciando. Eu que presto muita atenção.
As coisas ficaram mais leves e respirou mais aliviada.
— Isso pode ficar entre nós duas? — pediu, olhando nos olhos de Madison.
— É claro, amiga.
confiava em Daria e Kyle da mesma forma, mas naquele momento sentia vontade de conversar apenas com Maddie sobre aquilo.
Outro suspiro escapou dos lábios de .
foi a primeira pessoa que eu encontrei aqui nessa casa. Ele chegou todo gostoso e charmoso lá na sala do piano, onde entrei de enxerida mesmo e, juro, quase caí para trás. — Acabou rindo nervosa. — Achei que fosse só surpresa com o quanto aquele homem é bonito e cheiroso, mas…
— Mas?
— Ele mexe comigo. De um jeito que não pode mexer porque eu namoro e… Droga, Maddie. O Pietro ficou lá em Ohio, está resolvendo tudo pra vir pra cá e morarmos juntos. O que isso me torna?
Madison respirou fundo, puxando duas cadeiras para que elas se sentassem.
— Posso te perguntar uma coisa? Só que eu quero uma resposta sincera, . — A olhou séria, analisando cada traço do rosto de .
— Claro que pode. — não imaginava estar tão angustiada até ter aquela conversa com a amiga.
— Você é feliz?
— Como assim? — Suas feições demonstraram confusão.
— Você é feliz? — Maddie repetiu com mais ênfase.
hesitou por alguns segundos, então deu de ombros.
— Sei lá, eu acho que sim.
— E com o Pietro? — Vandervoot ergueu uma sobrancelha.
— Sim. É claro — respondeu mais rápido dessa vez. Na verdade, rápido até demais.
— Tem certeza?
A insistência mexeu com . Especialmente porque naqueles últimos dias tudo o que ela menos sentia quando falava com Pietro era felicidade.
Como poderia? Nem ele parecia querer estar ali quando faziam chamadas.
— É difícil ser feliz com alguém que está mais para um fantasma — confessou, soltando o ar pesadamente. — Mas eu tenho tentado acreditar que tudo não passa de uma fase, sabe? Nós já tivemos outras crises no namoro e sempre acabamos dando um jeito depois.
— Eu entendo, amiga. Mas às vezes não vale a pena. E, honestamente, eu não acho que é isso que você quer.
ficou ligeiramente indignada. Como Madison poderia saber o que ela queria?
— Eu sei, como posso saber, né? Você acabou de dizer que ele é um fantasma. E fantasmas a gente precisa deixar para trás.
— Não acho que consigo fazer isso, Maddie. — torceu a boca, de repente sentindo seus olhos marejarem e se controlando ao máximo para não chorar. Tinha prometido para si mesma que não o faria.
— Claro que consegue. E se estiver muito difícil, eu tenho certeza de que o senador gostosão pode te ajudar na motivação — Madison brincou, tentando descontrair o clima ao perceber como a amiga estava.
Funcionou, porque não conseguiu não rir daquilo.
— Não sei se ele me vê dessa forma, amiga. Eu sou bem mais nova que ele.
Em algumas ocasiões, ela até percebia a encarando demoradamente, além de dizer coisas que pareciam ter outros significados, mas ainda assim não tinha como saber se o homem se sentia afetado por ela do mesmo jeito.
— O que tem a idade? Olha bem pra você, garota! Se o não te quiser, eu tô na fila, viu? — Maddie a olhou de cima a baixo e assobiou, o que fez gargalhar.
— Se as duas toparem um trisal, eu assino essa lista também. — Uma terceira voz ecoou na cozinha, fazendo as duas pararem de rir imediatamente.
arregalou seus olhos ao olhar para a porta. Estavam tão distraídas com a conversa que não viram Carter se encostar no batente da porta.
Madison estava tão surpresa quanto, mas não ficou tão assustada quanto a amiga. Ela não fazia ideia de que a irmã de tinha acabado de ouvir as duas falando dele.
— Relaxa. Não vou te odiar se pegar o meu irmão. Na verdade, acho até que vocês dois combinam — Carter comentou, se aproximando das duas.
Foi a vez de Vandervoot arregalar os olhos, enquanto processava o que havia acabado de ouvir.
— Espera, você é irmã do ?
— A única e exclusiva. — Riu e puxou uma cadeira para sentar ao lado de . — Carter .
Madison se sentiu um tanto burra porque já havia visto Carter estampada em vários sites de fofocas, porém não a reconheceu ali.
— Madison, mas pode me chamar de Maddie. — Resolveu se apresentar de volta quando o choque passou.
— Maddie. Gostei, hein? De você e do seu nome. — Piscou para a mulher, que acabou abrindo um pequeno sorriso.
— Perfeito. Se o shipp ali der certo, podemos ter um só nosso. — Vandervoot piscou de volta, indicando com a cabeça.
— Querem que eu deixe as duas sozinhas também? — brincou e Carter ergueu uma sobrancelha.
— Meu irmão chegou, é?
Madison riu alto.
— Você é das minhas. Adorei.
— Juro que não te conto mais nada, Vandervoot. — estreitou seus olhos para ela.
— Duvido muito. E, voltando ao assunto, tem um jeito bem simples de você saber se o sente o mesmo.
— Qual é? — já sabia a resposta, mas perguntou mesmo assim.
As três se entreolharam cúmplices.
— Provocando ele, é claro. — Foi Carter quem respondeu.
Ainda soava um tanto inesperada a forma descomplicada com que ela estava levando aquilo, mas gostou, realmente queria se aproximar mais de Carter.
Talvez ser uma caixinha de surpresas fosse um lance dos .
sorriu sozinha com aquilo, então passou a língua pelos lábios, sem conseguir evitar pensar que provocar era uma ideia deliciosa.
Ela nem precisou dizer nada para as outras duas, dava para perceber em suas feições.
— Vamos voltar lá para o quarto? — Maddie sugeriu, porque já tinham montado a travessa de frios.
— Será que não vamos empatar alguma foda ou interromper? — riu maliciosa e Madison soltou um muxoxo alto.
— Duvido, amiga. A Daria é muito amarelona. Se o Kyle quiser mesmo, vai ter que insistir e ter paciência.
— Bom, nesse caso… — deu de ombros e foi pegar algumas cervejas na geladeira. — Vem com a gente, Carter?
— Com certeza. — Ela sorriu abertamente, sendo retribuída pelas duas e logo as três seguiram para o quarto da .
Como Madison havia dito, realmente não rolou nada entre Kyle e Daria. Os dois passaram aquele tempo conversando e tinham tirado do spotify para assistir Brooklyn Nine-Nine.
— Só perdoo vocês porque essa é a minha série favorita — Maddie resmungou e ninguém soube se ela se referia à música que desligaram ou ao fato de os dois não terem se pegado.
— Gente, essa aqui é a Carter, irmã do apresentou a mulher, que sorriu para os dois. — Carter, esses são Kyle e Daria.
— É realmente um prazer conhecer vocês. — Ela deu uma bela encarada nos dois, que sorriram de volta enquanto Maddie e soltaram risadinhas.
— Igualmente, hein. Os pelo jeito são todos gostosos. — Daria lambeu os lábios, fazendo Carter sorrir mais uma vez.
— Eu digo o mesmo do lugar que vocês estudam. Até deu vontade de entrar lá também — retrucou sem pestanejar.
Do mesmo jeito natural que o quarteto se formou, Carter se juntou ao grupo e o transformou em um quinteto. A afinidade entre todos foi instantânea.
Passaram o resto do dia conversando besteiras e rindo. Ao anoitecer, Kyle e as Vandervoot se despediram e Carter seguiu para seu quarto na mansão, mas não sem antes dizer algo a , assim que ficaram sozinhas.
— Obrigada por isso. Acho que já fazia um tempo que eu não ria como hoje. E é por isso que shippo você com o meu irmão. — Piscou um olho e sorriu.
ficou assistindo a mulher se afastar sem saber o que dizer.
No entanto, por mais que algo se agitasse dentro dela com relação a , ela ainda tinha Pietro, ainda tinha sentimentos por ele e precisava arrumar a confusão que estava em sua cabeça.


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não sabia dizer o que o deixava mais inebriado naquele momento. Se era o calor do corpo embaixo do seu, se era o cheiro gostoso que vinha dos cabelos espalhados pelos lençóis, ou quem sabe a risada única de Amélia.
Ele podia simplesmente ficar ali, a observando, sem mover um músculo qualquer enquanto gravava cada pedacinho do rosto da mulher. Não se importava por estar parecendo um bobo, sabia muito bem que o era desde o início. Não havia como não ficar.
Caralho, Amy era linda demais. Era definitivamente a mulher mais linda que ele havia visto. E quando se dava conta de que havia se casado com ela, de que Amélia carregava o seu sobrenome e aceitou seu coração de bom grado, tinha certeza de que era o homem mais sortudo de todos, e o mais feliz também.
— O quê? — Amy o olhava ainda risonha, mas um tanto confusa pela expressão dele.
Segundos demais haviam passado enquanto o marido tinha seu olhar fixo nela, carregando uma intensidade que fazia cada parte de seu corpo estremecer e seu coração acelerar como se estivesse prestes a explodir.
Despertando de seus pensamentos, tornou a sorrir, levando uma mão ao rosto de Amélia e deslizando seus dedos por sua bochecha.
— Só estava aqui mais uma vez me dando conta de que isso tudo é mesmo real.
Outra risadinha escapou dos lábios dela.
— Quase três anos de casados e você ainda tem dúvidas disso? — Amy arqueou uma sobrancelha e acabou rindo um tanto desconcertado.
— Claro que tenho. Olhe bem pra você! — disse, como se fosse óbvio.
— O que tem eu, ? Me diga. — Ele sabia que a intenção da pergunta era só de ouvir mais uma vez todas as coisas que via nela, e exatamente por isso respondeu de bom grado.
— Você é incrível, Amélia . É a mulher mais linda e inteligente que eu já vi. E mesmo a sua risada sendo um tanto escandalosa, eu amo ouvi-la. Assim como amo o cheiro bom dos seus cabelos e o calor do seu corpo no meu. — Os olhos dele não se desviaram do dela em nenhum momento e Amy ficou ligeiramente sem fala. A intensidade de sempre a atingia em cheio.
Seu corpo estremeceu um pouco mais, suas mãos apertaram os ombros dele, como se quisesse se fundir inteira a ele naquele momento. Então Amélia sorriu, puxando o rosto de para mais perto, roçando seus lábios aos dele.
— Ah, . Toda vez que você me diz essas coisas eu me apaixono mais por você — confessou, num sussurro.
— É por isso que não canso de repetir. — Ele sorriu de canto e não hesitou em corresponder quando os lábios dela tomaram os seus com vontade.
sentia que seu coração poderia pular a qualquer momento enquanto seu corpo pressionava cada vez mais o dela, eliminando a distância, fazendo o calor da pele de Amy incendiar a sua.
— Eu amo você, Amy. — se afastou minimamente para sussurrar, com uma necessidade urgente daquilo. Ele já havia dito várias e várias vezes, mas nunca se cansaria de repetir.
— Eu também amo você, querido. — Amélia abriu mais um de seus belos sorrisos e seus olhares se conectaram, dizendo milhares de outras coisas que as palavras não eram capazes de traduzir.
— A maior alegria da minha vida é saber que você está comigo, que você é minha esposa e será a mãe dos meus filhos.
— Filhos, é? — De repente, ela ergueu uma sobrancelha, apenas para ver como reagiria.
— Você quer ter filhos, não é? — Amy já havia dito que sim em uma conversa que parecia ter acontecido no dia anterior, mas seus pensamentos poderiam ter mudado e não havia problema algum naquilo, continuaria a amando mesmo se fosse o caso.
— Depende. — A mulher conteve um sorriso, ainda o testando. — De quantos filhos estamos falando?
Foi a vez de erguer a sobrancelha e uma análise rápida, porém minuciosa, de seu rosto foi o suficiente para o homem perceber as intenções da esposa.
Então resolveu entrar na onda.
— Uns seis. O que me diz? — Prestou atenção nas feições de Amélia, que imediatamente se chocaram.
— Seis?
— A princípio, sim. Mas se você quiser mais, podemos negociar.
Amy abriu a boca, chocada.
— Não quer logo doze, não? Aí vamos viver que nem o casal daquele filme. — Soltou uma risada sarcástica.
— Gosto dessa ideia. Assim teremos nosso próprio time de… qualquer esporte que eles queiram jogar.
Dessa vez, Amélia gargalhou e acabou rindo junto.
— Estou começando a achar que você não bate bem das ideias, meu amor. — Ele conteve a vontade de fechar os olhos quando a sentiu passar os dedos pela lateral de seu rosto, colocando uma mecha dos cabelos de para trás da orelha.
— Só agora, é? Mas saiba que não tem devolução. Casou comigo, não tem mais volta. — Piscou, vendo a esposa negar com a cabeça.
— Você vive falando do quanto sou incrível, , mas você é muito mais. — Amy tornou a aproximar os lábios dos dele. — E não me importa se vai ser um ou doze, mas nada me faria mais feliz do que ter filhos com você.


— Senhora , peço que fique à vontade, por favor. O senhor também, senhor . — Os dois acompanharam o gesto do médico para as duas cadeiras diante de sua mesa, então se entreolharam.
Era de praxe convidar o paciente a se sentar, mas suas feições e seu tom de voz estavam sérios demais, diferentes do jeito descontraído de sempre. O Doutor Francis Kaufmann os atendia há anos e havia uma amizade entre eles que não exigia pisarem em ovos uns com os outros.
foi o primeiro a puxar a cadeira na frente de Amélia, indicando com um breve aceno que ela se sentasse. Amy hesitou por alguns segundos, ainda tentando decifrar as feições do médico, então ocupou o lugar, vendo o marido se sentar ao seu lado em seguida.
Era nítido que o comportamento de Francis estava deixando Amélia nervosa e, sem pensar muito naquilo, estendeu uma das mãos, pegando a dela e entrelaçando seus dedos de um jeito mais firme, tentando passar segurança à esposa.
— Por Deus, Francis! Vá direto ao assunto de uma vez. Meus exames ficaram prontos? — Amy não conseguiu se segurar, olhando determinada para o homem.
teria sorrido com aquele gesto tão dela, mas o clima estava tenso demais e ele apenas respirou fundo, trincando o maxilar ao ouvir o amigo suspirar.
— Sim, seus exames chegaram. Não tem outro jeito de dizer isso, Amy, mas infelizmente as notícias não são boas.
Os dedos de Amélia apertaram com força os de e a mulher engoliu em seco, sentindo as coisas começarem a girar ao seu redor. No entanto, ela assentiu, indicando que Francis podia prosseguir.
— Quando vi seus primeiros exames, tive algumas suspeitas, mas era preciso uma investigação mais a fundo para confirmar ou não o que eu imaginava. E, infelizmente, a biópsia do seu ovário mostrou que as minhas suspeitas estavam corretas. A senhora… — Doutor Kaufmann hesitou. Nunca era fácil dar aquele tipo de diagnóstico, ainda mais quando a paciente era uma grande amiga. — Amy, você está com um câncer no ovário. E, sinto muito em dizer, ele já está no estágio de metástase.
— E… E o que isso quer dizer? — Os olhos de Amélia estavam arregalados e estáticos. Se antes as coisas giravam, de repente ficaram todas em câmera lenta, como se ela estivesse em alguma espécie de sonho bizarro.
— Quer dizer que o câncer já está se espalhando para outros órgãos do seu corpo. O diagnóstico para o câncer de ovário é muito difícil porque os estágios iniciais não mostram sintomas. No seu caso, foi isso mesmo que aconteceu. Os sintomas só apareceram quando o câncer avançou para outros lugares.
sentia a esposa apertar sua mão cada vez mais, porém aquilo não o incomodava. Na verdade, seu peito doía tanto que era como se alguém pegasse seu coração e esmagasse com força. Ele lutava para não deixar que lágrimas escorressem pelo seu rosto, mas a cada segundo ficava mais difícil, seus olhos se enchiam d’água e tudo o que ele mais queria era ouvir do Doutor Kaufmann que ele tinha se equivocado, ou que havia uma saída, uma cura para a esposa.
não suportaria perdê-la. Não a sua Amy.
— Quanto tempo eu tenho? — Amélia havia compreendido as palavras do médico e sabia o suficiente para entender que não havia como salvá-la.
— Um ano. Talvez mais se iniciarmos os tratamentos logo. — Francis notou que a amiga tentava parecer forte, principalmente porque , ao seu lado, estava prestes a desabar.
— O quê? Como assim, ela tem um ano, Francis? — o homem se exaltou, com a voz trêmula e Amélia colocou a outra mão por cima da dele, acariciando devagar.
— Eu vou dar um pouco de privacidade pra vocês. Sinto muito. — Kaufmann murmurou, vendo-a assentir e se retirando do consultório.
— Querido… — ela começou, mesmo não sabendo muito bem o que dizer.
— Não pode ser verdade, Amy. Não pode… Esse diagnóstico, vamos consultar com outros médicos. — Amélia nunca havia o visto tão transtornado e todo o seu interior se revirava com aquilo.
Um medo terrível crescia dentro dela. No entanto, não era um medo de morrer.
Era um medo de deixá-lo. E deixar que todos os planos que fizeram se perdessem com o tempo.
— Meu amor — chamou carinhosa, tirando a mão de cima da dele e a levando ao rosto do marido, tocando a lateral e guiando os dedos até o queixo, num sinal mudo para que a encarasse.
— Amy… — Todo o esforço dele para conter as lágrimas se foi e de repente elas escorreram por suas bochechas.
Amélia nunca tinha o visto chorar daquele jeito.
— Amor, está tudo bem.
— Não, Amy…
— Me escute, por favor. Está tudo bem. E você quer saber o porquê?
A resposta de foi um breve aceno com a cabeça.
— Porque eu vivi os melhores dias da minha vida ao seu lado. Você me fez a mulher mais feliz do mundo e a mais amada também, sem dúvida. — Ela sorriu e de repente lágrimas também molharam seu rosto. Amélia nem havia se dado conta de que chorava.
— Isso não é justo, Amy. Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos encontrar uma cura e comemorar lá na frente, com nossos seis filhos correndo à nossa volta. — Os lábios da mulher tremeram ao ouvir aquilo e deixou escapar um soluço. — Eu não vou desistir de você.



Um suspiro alto escapou dos lábios de . Sentado na banqueta diante de seu piano de cauda, um copo quase vazio de uísque repousava no apoio ao lado do gabinete de som e seus dedos roçavam as teclas de forma distraída.
Aquela visita ao orfanato havia sido mais difícil do que esperava. Não por questões de desenvoltura ou situações desconfortáveis, mas porque em cada uma daquelas crianças ele via uma parte de Amy que havia partido.
Ele realmente teve esperanças de reverterem o quadro da esposa. Mesmo quando os médicos lhe disseram que a única coisa a ser feita era proporcionar conforto a ela, não conseguia aceitar. Esteve com Amélia até o último suspiro, mas a sensação de que poderia fazer mais não o abandonava. E ali, naquele orfanato, não conseguiu deixar de pensar que se ele tivesse feito mais, talvez Amy estivesse ali ao seu lado, vendo aquelas crianças e até falando em adotarem alguma delas porque Amélia era assim.
Ela era a mulher mais incrível do mundo e a perdera. O câncer a arrancou dele.
pegou o copo de uísque, bebendo todo o restante do líquido e, ao largá-lo de volta no mesmo lugar, apertou seus olhos com força. A dor sempre voltava para sufocá-lo. As lembranças sempre o aqueciam, porém depois mostravam a ele o quanto sentia falta de Amélia.
Ela não estava mais ali para ampará-lo toda vez que desabava. Ninguém mais estava.
? — A voz dela soou quase angelical e, como um ponto de luz em meio à escuridão, fez o homem abrir os olhos e olhar em sua direção.
— Perdida de novo? — brincou, tentando disfarçar que estava à beira de uma crise.
abriu um sorriso de canto, entendendo a referência ao dia em que se conheceram.
— Na verdade, não. Eu costumo vir aqui de vez em quando para admirar essa coisa linda. — Chegou mais perto, então tocou no piano, realmente olhando para o instrumento como se fosse a coisa mais linda do mundo.
Era um tanto surpreendente para ele o quanto parecia gostar daquele piano sem nem mesmo saber tocar.
— Aposto que ele está se sentindo lisonjeado por isso. — Sorriu de volta para a mulher, que acabou percebendo algo de errado nas feições dele.
— Ei… Está tudo bem? — Se aproximou, fazendo menção de se sentar ao lado dele na banqueta, porém acabou se contendo.
engoliu em seco, sem saber o que responder. Não fazia ideia se estava pronto para expor aquilo a ela, mas poderia tentar, não poderia?
— Está — murmurou, então fez uma careta e encarou os olhos dela. — Eu só estou cercado de coisas e situações que me trazem lembranças. E por mais que goste delas, não as torna menos dolorosas.
De certa forma, ela entendia. Não havia passado por nada semelhante àquilo, mas entendia.
— Não deve ser nada fácil. — Foi analisando cada traço do rosto dele, tendo novamente aquela sensação de querer abraçá-lo forte.
— Não, não é. — O olhar dele vacilou e encarou algum ponto atrás dela. — Confesso que na maior parte do tempo parece que vou sufocar.
— Então se permita sentir a dor, . De certa forma, ela sempre vai te fortalecer.
O homem sorriu com aquilo, concordando com . Suas palavras faziam sentido. Talvez o melhor era realmente se permitir desabar, chorar até as lágrimas secarem e tornar a se erguer.
A vida continuava, e só daquela forma ele conseguiria seguir em frente.
— Obrigado por isso, . Faz bastante sentido.
Ela então retribuiu seu sorriso. Um silêncio que não era nem um pouco desconfortável se formou entre os dois, então tornou a encarar o piano, analisando cada parte do instrumento com adoração.
— Você realmente gosta de pianos, uh? — puxou assunto, depois de alguns minutos em que ele a observava.
Ela havia sentido o olhar sobre si e a forma como tudo dentro dela se agitava era um grande alerta para sair correndo. estava sofrendo pela morte da esposa ainda e ceder ao impulso de tomá-lo para ela era completamente insano.
— Uhum. Gosto muito — murmurou, não tendo tanta certeza se falava do piano, de , ou de ambos.
— Por que não faz aulas? — De repente, a sugestão parecia bem óbvia para , mas a riu, negando com a cabeça.
— Não é algo que eu consiga pagar ainda, . Quem sabe quando eu me formar e ficar mais rica que você. — Piscou, fazendo um pouco de charme, o que arrancou um riso baixo dele.
Era linda a expressão do rosto dela quando piscava daquele jeito e a forma como de repente tornava as coisas mais leves surpreendente.
— Não seja por isso. — Deu de ombros e quando estava prestes a dizer mais algo, o interrompeu.
— Nada disso! Você não vai pagar aulas pra mim, . — Seus olhos se estreitaram na expressão mais mandona e adorável de todas.
ergueu os braços em rendição.
— Na verdade, eu ia dizer que posso te ensinar.
Os olhos da foram para o piano, para e de volta ao instrumento de cauda.
Ele sendo seu professor de piano?
Sem que pudesse se controlar, pensamentos completamente inapropriados vieram à sua mente. Pensamentos onde tudo começava com uma aula inocente e acabava com ele curvado sobre ela enquanto se apoiavam no piano.
Por Hades, a mulher precisou se conter para não apertar as pernas uma na outra.
— Eu… Ahn… Como funcionaria isso? Você é super ocupado, .
— Sei disso. — sorriu, percebendo algo se alterar na expressão dela e tentou não levar seus pensamentos para outro lado ao observar o rubor aumentar no rosto da mulher. — Mas podemos fazer o seguinte: te ensino quando estiver com um tempo livre e você pode praticar o quanto quiser e a hora que quiser.
arregalou os olhos, surpresa com a última parte.
, não sei. Esse piano não era da sua esposa? — Ela se sentia um tanto estranha, não queria que ele estivesse fazendo aquilo apenas para ser gentil ou algo do tipo.
— Era. E exatamente por isso eu sei que precisa de alguém que o trate como merece. Amy odiaria vê-lo aqui apenas acumulando poeira. — Era verdade e algo dentro dele reafirmava suas palavras.
hesitou por mais alguns segundos, mas no fundo queria muito aceitar. Sabia bem que uma parte era pela chance de ficar mais próxima de , mas, sinceramente, qual era o problema naquilo?
Ainda estava tentando entender o que estava acontecendo em seu relacionamento com Pietro, porém que mal havia em aprender a tocar piano com ?
— Senta aqui comigo. — A voz dele chamou sua atenção e foi um pouco mais para o lado, dando um espaço melhor para ela. Havia percebido que a mulher ainda hesitava. — Vou te mostrar que posso ser um bom professor.
Droga, será que ele tinha noção de como algumas coisas que dizia soavam?
Mesmo assim, foi para o lado dele e se sentou. O cheiro amadeirado do perfume de já estava bem marcante em toda aquela sala, mas a proximidade o intensificou mais e ela quase o inspirou fechando os olhos, inebriada.
Em vez disso, observou respirar fundo e começar a dedilhar algumas teclas. A introdução da música surgiu como se ele estivesse planejando tocá-la desde o início e executou as primeiras notas devagar.
— Tenta me acompanhar ali com as notas mais agudas. — Indicou o lado em que estava.
Ela hesitou, então, do mesmo jeito dele, respirou fundo e posicionou a mão esquerda sobre as teclas, tentando imitar o que tocava.
errou nas três tentativas, então abriu um pequeno sorriso.
— Aqui… — Num impulso, segurou a mão dela, posicionando-o sobre a tecla que ela precisava tocar. — Você esqueceu essa.
sentiu seu coração saltar até a boca com aquele contato repentino. Sua pele pareceu ferver ao toque dele e o homem engoliu em seco ao se dar conta do que havia feito.
Ele não conseguiu recuar, no entanto, muito pelo contrário. Sentir como a pele dela estava quente fez algo dentro dele despertar mais uma vez e se agitar. Era exatamente o que vinha tentando refrear toda vez que estava com , mas com apenas um toque se viu completamente perdido.
Seu polegar deslizou devagar pelas costas da mão dela, alisando, explorando e quando a mulher prendeu a respiração, os dedos de seguiram para baixo, tocando sua palma e voltando a deslizar num carinho gostoso e capaz de fazer o restante do corpo dela ser tomado pelas chamas.
encarou nos olhos, segurando qualquer fio de controle dentro dela para resistir à vontade de avançar para cima dele e beijá-lo.
Mas por que resistia?
E por que ele resistia?
já não sabia mais responder. Ela estava ali, tão perto, tão quente… Bastava que se inclinasse e provaria aqueles lábios convidativos.
Como se ouvisse seus pensamentos, passou a língua devagar, umedecendo-os e como resposta fez um pouco mais de pressão com os dedos, ameaçando subir pelo braço dela.
Aquilo a deixou desesperada. E de repente ela estava cega para qualquer outra coisa que não fosse .
aproximou seu rosto do dela, engoliu em seco, buscando qualquer resquício de protesto da parte da mulher e quando não veio, encarou a boca de mais uma vez e por fim aproximou a sua para beijá-la.
No entanto, antes que o ato se consumasse, um barulho estridente ecoou pela sala.
Assustada e frustrada, pegou o celular, que havia deixado em cima do piano, arregalando os olhos e sentindo seu coração parar ao ler o nome no visor.


Capítulo 07 — Ephemeral

“Passageiro”.

O rosto de estava tão quente que qualquer um que o tocasse diria que a jovem estava com febre, e a forma como o resto de seu corpo ardia em chamas apenas confirmava aquilo.
Ela permaneceu encarando seu celular por mais alguns segundos, sem desfazer a expressão de susto e certa de que uma parte dela não queria atender aquela ligação.
estava bem ali, a mão dele ainda tocava a sua, seu cheiro bom ainda invadia as narinas dela, a inebriando, a trazendo para ele, e estava tão perto de beijá-lo, de saciar a vontade absurda que só crescia dentro dela.
O aparelho parou de notificar a ligação e se pegou desejando que não resolvesse se afastar dela, porém, segundos depois, outra chamada foi iniciada e a mulher precisou conter a vontade de revirar os olhos.
, por outro lado, soltou um suspiro, só conseguindo pensar no quanto queria que aquele aparelho explodisse.
— Acho que… — Sua voz saiu mais rouca do que o normal, o que fez se arrepiar. Então o homem pigarrou. — Acho que você precisa atender.
Ela engoliu em seco, assentindo com um aceno de cabeça e deixando uma careta se formar.
— Me desculpe por isso. Adianta alguma coisa se eu disser que vou te recompensar uma outra hora? — Um sorriso de canto se formou nos lábios dela e sentiu suas mãos formigarem para puxá-la para ele.
Provavelmente sua consciência cobraria cada uma de suas atitudes mais tarde, mas não se importou. Não com ela ali, bem diante dele, com seu corpo tão próximo que ele podia sentir o calor que emanava.
— Vou cobrar essa recompensa, senhorita . — A forma como o homem sorriu de volta fez as pernas de vacilarem quando ela se levantou, se afastando dele em completa relutância e aceitando a chamada prestes a cair novamente.
a assistiu se afastar, lutando contra mais um impulso de ir atrás dela.
Precisava lembrar que aquela mulher não era sua e, pela sua reação, certamente quem ligava era o namorado de .
O homem suspirou alto, passando as mãos pelo rosto e bufando logo em seguida, negando várias vezes com a cabeça.
O que ele estava fazendo? O que ela estava fazendo com ele?
Cada minuto ao lado daquela mulher apenas aumentava o desejo que sentia por ela, mas não era apenas isso. Quanto mais a conhecia, mais a queria em sua vida, mesmo não sendo da forma que ansiava.
mordeu o lábio inferior com tanta força que seus dentes estavam a ponto de cortá-lo. Agradeceu mentalmente por aquela ligação ao menos não ser de vídeo e levou o aparelho à orelha, caminhando rapidamente em direção ao seu quarto e contrariando cada célula de seu corpo implorando que ela voltasse para .
Alguns segundos passaram e tudo o que conseguia ouvir era uma respiração um tanto ofegante do outro lado. Franziu o cenho, afastando o celular para olhar o visor de novo e tornou a trazê-lo à orelha.
— Brooke? — chamou, em dúvida, sentindo uma pontada de preocupação surgir, afinal, a amiga havia insistido na ligação.
Mais silêncio se seguiu e parou de caminhar. Seu coração deu um salto, como se de repente soubesse que receberia uma notícia horrível.
— Brooke, é você? Amiga, tô ficando assustada — insistiu, se encostando na parede do corredor e prendendo a respiração ao ouvir Mitchell suspirar.
— Eu… Eu preciso te contar uma coisa. — A voz da garota tremeu e engoliu em seco. A qualquer momento, seu coração saltaria pela boca, tinha certeza disso.
— Estou te ouvindo. — Não pretendia que sua voz saísse tão séria, mas estava nervosa demais e a forma como a outra enrolava estava começando a irritá-la.
, eu… — A voz dela se quebrou e a conhecia o suficiente para saber que chorava.
— Brooke, o que quer que seja, você precisa falar de uma vez. Você está me deixando apavorada!
Mitchell suspirou novamente e parecia sufocar nas próprias palavras.
— Não consigo. — Por fim, soltou e mesmo percebendo o quanto a amiga parecia abalada, não conseguiu controlar a irritação.
— Começou, agora termine, Brooke. Alguém morreu ou sofreu um acidente? Está tudo bem com a minha mãe? — De repente, se alarmou.
— Não. Sua mãe está ótima e… bem, não é nada disso.
— Bom, então desembucha logo, garota. Nada pode ser pior do que isso. — até soltou o ar, um tanto aliviada.
— Desculpa, amiga. Eu não devia ter te ligado.
Mais uma vez, franziu o cenho.
— Como assim? Brooke?
E a ligação foi encerrada.
abriu a boca em indignação e encarou o aparelho como se fosse um animal muito esquisito.
— Que merda foi essa? — resmungou incrédula e procurou o contato de Brooke, tornando a ligar para ela porque não ia deixá-la se esquivar daquele jeito.
E por que estava se esquivando para início de conversa? Nada daquela ligação fazia sentido.
E fez menos ainda quando a chamada foi direto para a caixa postal.
Bufando alto de frustração, retomou o caminho até seu quarto e se atirou no grande pufe logo depois de fechar a porta atrás de si. Tornou a ligar para Brooke e quis gritar ao ouvir de novo cair na caixa de mensagens.
O que poderia ser tão terrível a ponto de ela não conseguir contar e ainda desligar o celular?
Então, por algum motivo, seus pensamentos se direcionaram a Pietro e em como ele andava totalmente esquisito desde a chegada da a Baltimore.
De repente, ela sentiu como se tivesse acabado de levar um tapa na cara, sua garganta se fechou tanto que ficou difícil de respirar e suas mãos tremeram de uma forma absurda enquanto iniciava uma chamada de vídeo com o namorado.
Em poucos segundos, Pietro rejeitou a chamada e ela insistiu mais umas três vezes, até ver uma mensagem dele aparecer.

Pietro Langdon
online

Não posso fazer chamada de vídeo agora.

Por quê?

?

Pietro, ou você me responde, ou atende a droga do celular.



contou dez segundos enquanto tamborilava as unhas no visor de seu aparelho, tentando controlar a onda assustadora de nervosismo que a tomava. Estava prestes a ligar mais uma vez, quando seu celular notificou uma chamada dele. Comum, nada de vídeo.
— Fala. — Sua voz era fria de um jeito que ela nunca tinha ouvido. Engoliu em seco, tentando mandar aquele nó na garganta para a puta que pariu.
— Me fala você. A Brooke me ligou chorando e falando que precisava me contar uma coisa. — Doeu tratá-lo daquela forma ríspida, mas apenas retribuía as atitudes dele.
— E o que isso tem a ver? Olha, eu realmente estou ocupado agora. Será que a gente não pode se falar uma outra hora? — A forma grosseira como se dirigia a ela fez não desejar falar com ele nunca mais.
— Não, Pietro. Não podemos. — Ela engoliu em seco outra vez e criou coragem. — Não minta pra mim. Acho que ao menos a verdade eu mereço, certo? Me fala de uma vez o que tá acontecendo.
Do outro lado da linha, Langdon puxou o ar longamente.
— Não era pra ser desse jeito, . Mas suponho que não tenha uma forma certa de te dizer isso… Eu preciso de um tempo.
Algo dentro dela havia previsto aquilo vindo desde o momento em que Pietro mudou com ela. No entanto, não amenizou em nada a sensação de que uma faca atravessava seu coração.
Realmente as coisas não andavam bem entre eles e ela estava completamente mexida com , mas ainda tinha, sim, esperanças de que tudo se resolveria, que voltariam a seguir com seus planos e…
— E tudo o que planejamos, Pietro? — não queria dar seu braço a torcer, não queria ser do tipo que implorava, mas a pergunta estava entalada em sua garganta.
— Planos mudam, . E, de qualquer forma, essa ideia toda de Baltimore sempre foi um sonho seu, não meu. — Sem dó alguma, ele cravou outra faca no coração da mulher.
Com os olhos marejados, tendo certeza de que a qualquer momento ia desabar, buscou toda a firmeza possível para o que diria.
— Comigo não existe essa de dar tempo, Langdon, você sabe muito bem disso.
— Sim, eu sei. — A voz dele vacilou uma oitava.
— Então estamos terminando, é isso? — Ela ergueu um pouco a cabeça para cima, se abanando com a mão livre para não deixar as lágrimas virem.
— Acho que estamos. — Outra vez, Pietro titubeou em sua fala.
Segundos de silêncio se seguiram, onde continuava se controlando, enquanto seu coração estava dilacerado.
Como ele podia fazer aquilo com ela depois de tudo? Depois de ter dito milhares de vezes que a amava, que queria viver com ela?
O que droga havia mudado?
então entendeu o comportamento de Brooke. Entendeu por que hesitou tanto e por fim não teve coragem de contar que Pietro terminaria com ela.
Só que seu desespero não encaixava, assim como Mitchell ter desligado o celular.
Quando os pontos finalmente se ligaram, ofegou, vacilando a fortaleza que havia montado ao seu redor quando sentiu a terceira e pior facada em seu coração.
— Há quanto tempo? — Se odiou por sua voz soar trêmula daquele jeito.
— O quê? — Pietro balbuciou, porque no fundo sabia muito bem que ela chegaria àquela conclusão.
— Há quanto tempo você e a Brooke estão juntos, Langdon? — desejou estar diante dele apenas para socar cada canto de seu rosto.
Pietro vacilou, então suspirou.
— Aconteceu há algumas semanas. Um pouco antes das… Das suas aulas começarem.
Ela não soube o que responder. Sua mente trazia todas as vezes que Langdon dizia estar ocupado, a forma distraída como sempre estava nas chamadas e até o ciúme repentino de Kyle.
Como não havia captado os sinais?
Se sentiu burra, iludida e sozinha. Não no sentido de não ter ninguém naquele lugar, mas porque Brooke Mitchell era sua melhor amiga desde o jardim de infância.
?
continuou sem respondê-lo. De repente, a bile subiu à sua garganta e a mulher ficou a ponto de correr até o banheiro para vomitar.
— Eu… eu sinto muito. Não queria que descobrisse desse jeito, nem que as coisas tivessem ido tão longe. Eu estava há dias tentando criar coragem para conversar com você e…
— Mas pra foder com a minha melhor amiga você não precisou de coragem, não é? — o interrompeu, sentindo a fúria se juntar à náusea. — Eu nunca mais quero sequer ouvir a sua voz.

— Juro que se você tentar dizer qualquer outra palavra, eu pego um avião até Ohio só para cuspir na sua cara. E eu digo o mesmo sobre aquela filha da puta. Vocês merecem um ao outro, afinal.
Não dando mais nenhuma chance para que ele falasse, encerrou a chamada.
O celular voltou a tocar e ela rejeitou a ligação, repetindo o mesmo gesto duas vezes até perder completamente o controle e atirar o aparelho longe, vendo-o bater contra a parede e se espatifar no chão.
Então os soluços vieram, as lágrimas encharcaram suas bochechas e ela se sacudia tanto que suas costas protestavam. Abraçando o próprio corpo, se encolheu em cima do pufe e só queria que aquela dor fosse embora.
Odiava estar chorando por Pietro e Brooke. Odiava aquela sensação de que os dois foram brutalmente arrancados de seu peito, causando ferimentos profundos, a marcando de um jeito que nunca mais se curaria por completo.
Pensou em todas as vezes que recriminou a si mesma por desejar outro homem enquanto Langdon estava há quilômetros de distância e se sentiu ainda mais idiota por aquilo. Então se arrependeu até mesmo pelo dia em que falou com ele pela primeira vez.
Pelo menos Pietro não tinha entrado na mesma universidade e nem vindo para Baltimore junto a ela.
Uma risada ecoou em meio ao choro, não por achar graça naquilo, mas por conta do desespero que tomou conta de si.
não fazia ideia de quanto tempo passou ali, chorando e deixando seu corpo sacudir, repassando tudo repetidas vezes. E, em algum momento daquela noite, acabou caindo no sono.


💋


Dizem que o processo de um término é muito semelhante ao de luto. Aquela pessoa que estava ali o tempo todo, dividindo sorrisos, lágrimas e os segredos mais profundos de repente já não está mais. A diferença é que em um término existe uma escolha. A escolha de buscar as mesmas coisas em outro lugar, sendo outros braços, outros lugares, ou outras perspectivas de vida.
Pietro não apenas havia escolhido não estar mais com , ele havia decidido que ficaria com Brooke.
Naquela noite, sonhou que nada daquilo tinha acontecido. Que o comportamento estranho do rapaz era porque, na verdade, ele estava planejando uma surpresa para ela. Julieta vinha às pressas dizer que a mulher tinha uma visita, então daria de cara com Langdon e aquele sorriso arteiro de que aprontou horrores e precisava de uma surra, o que ela daria de bom grado.
Quando o puxou pela mão, parando diante de seu quarto, abriu a porta e deu de cara com a dura realidade e os raios solares que machucavam seus olhos.
Com uma terrível dor nas costas, porque havia passado a noite toda no pufe, a mulher se levantou para fechar as cortinas e caminhou até sua cama, se sentando na beirada, com um olhar fixo em algum ponto aleatório do chão.
Sentia-se vazia. Um vazio que sangrava e ficava pulsando dentro dela.
O que faria com aquilo? Como se livraria daquela dor insuportável e daqueles malditos sonhos?
Não queria pensar em Pietro ou Brooke. Não queria lembrar de cada momento que passaram juntos. Não os queria mais em sua vida.
E foi com uma dose forçada de determinação que se levantou para tomar um banho e seguir como se nada daquilo importasse. Quem sabe repetindo que não doía, convenceria a si mesma.
Se surpreendeu ao adentrar a cozinha e encontrar e Carter tomando café da manhã. não sabia dizer se aquilo já era um hábito deles ou se passaram a fazer aquilo porque ela se recusava a ocupar a mesa da sala de jantar.
Mesmo dolorido, seu coração deu um salto assim que os olhos de se encontraram com os seus. De uma maneira estranha, parecia que o quase beijo havia acontecido vários dias atrás, mas pensar aquilo não a deixava nervosa nem nada do tipo, muito pelo contrário.
— Bom dia, . — Sua voz ecoou mais fraca do que gostaria, mas ainda assim os dois sorriram e era até perturbador o quanto aquela família havia sido abençoada com a beleza.
— Bom dia, . — a encarou com o máximo de discrição possível para não deixá-la desconfortável. Ele havia percebido logo de cara que havia algo de errado, mas ela tentava mascarar agindo normalmente.
achava que seria difícil olhar para depois do que havia acontecido. Como havia previsto, sua consciência veio mesmo gritar o quanto sua atitude foi errada. Não importava o quanto a quisesse, era comprometida e se não tivessem sido interrompidos, provavelmente ele a teria feito trair o namorado.
Não que tivesse certeza de que ela o beijaria de volta, mas seu corpo dava vários sinais. Lembrava vividamente do calor que a mulher emanava e de seus lábios entreabertos logo depois de sua língua desenhá-los de forma tentadora.
Uma parte sua queria de fato imaginar o que teria acontecido. Talvez a mesma que o fez cometer aquela loucura em seu banheiro e sussurrava em seu ouvido todas as vezes que estava ao lado daquela mulher.
Queria poder estar com ela. Queria estar no lugar do maldito namorado. Queria ser o primeiro a ver seu sorriso quando acordasse pela manhã. E talvez fosse a pior pessoa do mundo por aquilo, por desejar alguém que não poderia ter.
Porra, tinha a idade da sua irmã. O que Charlie diria se soubesse as coisas que pensava sobre sua filha?
Definitivamente, era uma pessoa horrível.
Engoliu em seco, trazendo a xícara de café à boca e apenas naquele momento se deu conta de que estava com o olhar fixo em .
A mulher havia ocupado o lugar ao lado de Carter e as duas trocaram poucas palavras. Ela queria conversar normalmente, mas simplesmente não conseguia. Era como se toda vez que abrisse a boca, o nó apertasse sua garganta. Então se limitou a prestar atenção em seu café da manhã, se forçando a comer algumas torradas porque também não sentia muita vontade daquilo, mas precisava.
Sentiu o olhar de sobre si e a ideia de ter aquele homem a observando espalhava arrepios por seu corpo, porém não podia encará-lo de volta. Tinha certeza de que, se o fizesse, acabaria desabando.
Mesmo durante seus devaneios, o homem percebeu que havia algo diferente em . Ela havia tentado disfarçar com maquiagem, mas seus olhos estavam vermelhos e inchados, como se tivesse chorado a noite toda e cada mordida que dava em sua torrada parecia lhe custar um grande esforço.
Aqueles detalhes o fizeram franzir levemente o cenho. Alguma coisa havia acontecido e não foi o único a perceber.
? — Carter a chamou, usando um tom cuidadoso e quando ergueu seu olhar para ela, prosseguiu. — Está tudo bem?
Reunindo toda a sua força para não cair no choro, a mulher assentiu com a cabeça, suspirando baixinho e pigarreando para que sua voz não saísse tão fraca.
— Claro. Tudo ótimo, Carter. — Sorriu largamente, mas seus lábios tremeram e ela teve certeza de que acabou fazendo uma careta bizarra.
Carter não soube o que dizer. Estava evidente que a amiga não estava bem e, ao trocar um olhar breve com o irmão, entendeu que ele pensava o mesmo.
— Sério. Eu tô bem. Não se preocupem — reforçou e, sem terminar de comer, se levantou. — Um bom dia pra vocês.
, espera! — Carter tentou, mas a mulher já tinha saído da cozinha.
O que estava pensando? Era lógico que não poderia simplesmente fingir que estava tudo bem simplesmente porque não estava. Ela estava despedaçada por dentro e ao mesmo tempo confusa por todas as coisas que sentia ao estar perto de .
Quando descobriu sobre a traição de Pietro sentiu nojo dele, mas o que teria acontecido se a ligação de Brooke não tivesse a interrompido? Teria beijado ? Langdon não merecia nenhuma consideração, mas ela o teria traído?
Alguma parte dela sabia que sim. E essa mesma parte se sentia aliviada por estar livre.
Ao entrar mais uma vez em seu quarto, se jogou em sua cama e afundou a cabeça nos travesseiros.
Era ruim se sentir aliviada?
Mais uma vez, o choro veio e não se refreou. Resolveu seguir o conselho que deu a e viver a dor até aprender a seguir em frente com ela.


🏛


Fazia três dias que não saía do quarto. Embora ocupado, havia percebido aquilo e tudo se confirmou ao chegar ao hall de entrada da mansão no exato momento em que Charles e Julieta conversavam sobre o assunto.
Charlie comentava que já havia tentado falar com a filha e descobrir o que aconteceu, mas ela simplesmente o dispensou, dizendo que precisava de um tempo sozinha. Julieta contou logo em seguida que fez uma tentativa semelhante e teve o mesmo resultado, acabando por apenas concordar e trazer à mulher suas refeições, que na maioria das vezes retornavam intactas.
Tudo aquilo preocupava , tornando até difícil para ele se concentrar em seu trabalho. E quando soube que dispensou os próprios amigos, o homem se alarmou ainda mais.
Precisava saber o que havia de errado. Descobriu que não suportava a ideia de vê-la daquela forma e sentiu uma necessidade urgente de fazer algo a respeito.
No começo, ele até achou melhor respeitar a privacidade da mulher, mas não podia simplesmente deixar o que quer que estivesse sentindo consumi-la daquela maneira.
Era como se estivesse assistindo a si mesmo.
E foi por isso que, puxando o ar longamente, pegou o celular do bolso da calça social e usou a discagem rápida para ligar para seu assessor.
Pela primeira vez, se sentiu grato porque Phillips sempre o atendia no segundo toque.
— Todd? Cancele meus compromissos de hoje. — Foi direto, dispensando saudações. A urgência realmente gritava dentro de si.
, o quê? Esqueceu que você tem que… — Como já esperava, o assessor começou a protestar, mas ele o interrompeu.
— Apenas cancele ou remarque. Eu preciso cuidar de um assunto aqui.
E sem esperar qualquer outra resposta de Phillips, desligou, percebendo segundos depois que aquilo chamou a atenção de Charles e Julieta e eles o encaravam em um misto de confusão e surpresa.
— Posso tentar falar com ela, Charlie? — Não fez rodeios porque não era necessário, ambos sabiam a quem se referia.
— Claro, senhor . — A expressão do homem ainda era de espanto, mas não poderia dispensar qualquer ajuda. Se conseguisse fazê-la reagir de alguma forma, era tudo o que importava no fim das contas.
assentiu, então tirou o paletó, porque estava pronto para sair. Entregou a peça a Julieta e deu meia volta, seguindo em direção ao quarto de .
Uma sensação de nervosismo tomou conta de si. Desde o dia em que a mulher se mudou para o cômodo, ele nunca mais o adentrou e não fazia ideia de como ela estaria quando a visse.
No entanto, sabia que aquele não era o único motivo. Aquela seria a primeira vez em que ficaria sozinho com desde o quase beijo e era até engraçada aquela sensação de frio na barriga, parecia até que havia voltado à adolescência. Só faltava parar na frente de um espelho para ensaiar suas palavras.
Quando finalmente se aproximou da porta, se surpreendeu ao encontrá-la entreaberta, porém, ainda assim, sua boa educação o mandou bater duas vezes, de forma leve, apenas para anunciar sua presença sem assustar a moça. Não obteve nenhuma resposta, pelo menos não uma audível, então abriu a porta de vez, descobrindo a mulher sentada na cama, com as pernas cruzadas e um olhar perdido para a televisão. Ele sabia que não estava assistindo o que passava porque seus olhos não acompanhavam as imagens e o idioma não era o inglês e, sim, o francês. Os dois já haviam conversado sobre aquilo e contou que não entendia nada daquela língua.
não deu o menor sinal de que percebeu a presença dele, então respirou fundo e deu dois passos para dentro do quarto.
Knock Knock. — Fez o barulho, como se repetisse o som de suas batidas na porta, mas não recebeu o sorriso que esperava como resposta. Não lembrava uma vez sequer em que não havia sorrido para ele antes. Seria algo que teria feito? Talvez por causa do quase beijo? Só saberia se conversasse com ela. — Julieta estava vindo te xingar porque dispensou o croissant dela, mas resolvi eu mesmo vir aqui te pegar pelos cabelos. — Tentou brincar novamente para ver se ela reagia, ignorando um pensamento breve do cenário em que ele de fato faria algo do tipo. Não era hora para aquilo.
— Ninguém me pega pelos cabelos se for assim, resmungou, ainda sem erguer seu rosto para encará-lo, porém soltou uma risada fraca.
— Aí está você. — Se sentiu aliviado por ela ao menos ter respondido e até brincado com ele de volta, mas então ouviu algo que não lhe agradou nem um pouco.
O riso de morreu e ela soluçou baixinho, abaixando a cabeça para que ele não notasse as lágrimas escorrendo por suas bochechas e as enxugando rapidamente. No entanto, reparou. O homem não havia desviado seu olhar dela por um segundo sequer e captou cada momento, sentindo um aperto no peito por vê-la naquele estado.
— Ei, o que houve? — Fez menção de se aproximar, porém se deteve. Não queria invadir seu espaço caso houvesse relutância da parte da mulher.
— Nada. — A resposta foi automática, seguida por um aceno negativo com a cabeça. Há dias repetia aquilo para si mesma, também na esperança de conseguir se convencer de que não era nada mesmo. Pietro Langdon não merecia que fosse algo. Porém ela não aguentou muito tempo e acabou deixando mais um soluço escapar.
A presença de ali trazia uma sensação de que podia simplesmente se permitir desabar.
soltou um longo suspiro, então deu mais alguns passos, concluindo que não havia problema algum chegar mais perto, se sentando ao lado dela na cama e de frente para a mulher, encarando seu rosto com paciência.
— Ninguém chora por nada, . Vamos lá — insistiu, em um tom suave e atencioso, a observando com atenção.
— É algo ridículo. — acabou soltando o ar de forma frustrada e deixou um sorriso fraco estampar suas feições.
— Se é ridículo, você não precisa se importar em me contar, não é? — ergueu a sobrancelha, com uma expressão esperta que fez a garota conter outro soluço em vez de rir, como faria em qualquer outra situação.
suspirou fundo, então levantou seu olhar para o rosto dele, analisando os traços gentis e encarando os olhos de por alguns segundos antes de sentir os seus se encherem de lágrimas novamente.
— Pietro terminou comigo — contou, limpando o rosto com as costas de uma das mãos e desviando seu olhar novamente, encarando o esmalte escuro descascado de suas unhas. estava perto o suficiente para o cheiro de seu perfume ficar impregnado em suas narinas, algo que não achava nada ruim, muito pelo contrário.
— Ok, eu não esperava por essa — murmurou surpreso, então soltou um suspiro, fazendo menção de tocá-la, mas interrompeu o gesto. Alguma coisa se agitou dentro dele, porém o homem tentou ignorar aquilo o máximo que pôde.
— Eu sei, eu também não. Mas ele já planejava fazer isso desde o dia em que levou minha melhor amiga para a cama. — A mulher sentiu os lábios tremerem quando mais lágrimas vieram. Não pretendia dar muitos detalhes, mas algo nele a deixava confortável para dizer o que vinha à sua mente. Havia sido daquela forma desde o dia em que o conheceu.
ficou um tanto embasbacado com aquela informação. Então sentiu que poderia socar o tal Pietro por ser um completo babaca.
Como ele foi capaz de deixar escapar alguém como ela? De magoá-la daquela forma?
Estava odiando vê-la chorar daquele jeito e decidiu que faria qualquer coisa para enxugar cada lágrima.
— Primeiro de tudo, ele é um tremendo babaca. — Ela riu fraco ao ouvir aquilo e sorriu de canto. — E segundo, , só quero que você saiba de uma coisa: eu estou aqui por você. Me diga o que fazer para te ajudar e eu farei. A esse ponto você já deveria saber que eu faria qualquer coisa por você. — Encarou o rosto da garota inundado pelas lágrimas mesmo que ela insistisse em tentar secá-las. Seus olhos se fixaram aos de e, por um segundo, a mulher não soube o que dizer.
— Você não precisa, . Eu só… — murmurou, sem terminar a frase.
— Eu preciso, sim. Não suporto a ideia de vê-la desse jeito e sei de algumas opções para te ajudar. Posso ficar ao seu lado como um bom ouvinte enquanto você me conta tudo e o xinga de todas as coisas possíveis. Posso ir embora e deixá-la sozinha, por mais que essa ideia não me agrade nem um pouco. Posso ficar aqui em silêncio, te fazendo companhia até que cada uma de suas lágrimas vá embora. Ou eu posso tentar te distrair com besteiras, quem sabe assistir com você algum daqueles filmes que gosta. — Cada uma das palavras dele ia aquecendo o coração dolorido de e ela ficou apenas o encarando, sem acreditar que era mesmo real. — E então, , o que vai ser?
deixou-se suspirar novamente, sentindo os olhos arderem pela milésima vez, mas ignorou o choro para encará-lo de volta.
Estava realmente cansada daquelas malditas lágrimas, e em meio às palavras dele, algo chamou sua atenção.
— Faria qualquer coisa mesmo? — Se viu questionando enquanto aquele calor em seu coração aumentava cada vez mais.
— Sim, eu faria. — não hesitou em sua resposta e aquilo mexeu com a mulher. Uma emoção diferente tomou conta de si e, mais uma vez, não conteve suas palavras.
— Então me dê um beijo, . Me abrace e não me solte nunca. Não prometa nada, apenas não me solte — pediu a ele, sentindo a voz falhar.
, embora surpreso, lhe lançou um sorriso doce, eliminando qualquer distância entre eles. Uma agitação cresceu dentro de si e mais uma vez ele fixou seus olhos aos de , como se daquele jeito pudesse mergulhar ali. Com cuidado, buscou uma de suas mãos, a segurando e entrelaçando seus dedos nos dela antes de se inclinar para levar seus lábios até a testa da mulher e beijar sua pele demoradamente.
O corpo inteiro de se arrepiou com aquele singelo contato e o calor em seu coração parecia transbordar. permaneceu daquela forma até sentir que não podia mais adiar o momento de se afastar.
Os olhos dos dois voltaram a se encontrar e ele não soube dizer se os de brilhavam por conta do choro ou algum outro motivo. No entanto, se sentia hipnotizado e tinha certeza de que os dele estavam da mesma maneira.
Abrindo mais um pequeno sorriso, o homem a puxou para o abraço, envolvendo a cintura dela e sentindo as mãos de enlaçarem seu pescoço. Aquele contato fez ambos se arrepiarem. Era a primeira vez que se tocavam daquela forma.
foi inundada pelo cheiro gostoso que vinha dele, pelo carinho que ela percebeu não sentir há um bom tempo, muito antes de vir para Baltimore, e pela segurança e a certeza de que de fato faria qualquer coisa por ela.
sentiu o calor dela o envolver por completo e quis beijar seu rosto até não haver mais nenhum resquício de choro. A mulher pressionou seus dedos na pele dele, o apertando ainda mais contra si e de repente ele soube que poderia morar nos braços de .
— Não vou te soltar, . Isto está fora de cogitação. — Sua voz soou rouca e tão próxima ao pescoço da mulher que o corpo dela se arrepiou. percebeu aquilo e desejou que as circunstâncias fossem outras, que ela não estivesse fragilizada, assim poderia continuar o que haviam começado dias atrás. Poderia de fato provar os lábios dela e mostrar a o quanto ela o afetava e o quanto merecia ser cuidada.
— Você não existe, sabia? — deixou escapar o que não parava de ecoar em seus pensamentos. Então o apertou contra si mais uma vez, precisando controlar a vontade de beijar o pescoço cheiroso dele. Não sabia dizer o que exatamente estava acontecendo entre eles, sua cabeça estava a pura confusão com tudo ultimamente, mas era bom demais tê-lo próximo daquela forma. Se pudesse de fato não o soltar nunca mais, não soltaria.
— Se eu não existisse, você não estaria abraçando meu corpo gostoso, não é? — Mais uma vez, conseguiu sorrir fraco, se afastando minimamente para poder encará-lo com os olhos arregalados.
, eu jamais imaginaria que você tem esse lado convencido — brincou, o fazendo rir.
Se aquilo a fizesse sorrir, poderia chamá-lo de convencido mais umas mil vezes.
— Hm, eu diria que ele só aparece em ocasiões especiais.
— Nesse caso, me sinto honrada.
Dessa vez os dois riram juntos e o rosto de se iluminou.
— Você fica extraordinariamente bela quando sorri, senhorita .
poderia simplesmente ignorar qualquer coisa e beijá-lo naquele momento. Seu coração acelerou feito um louco e seu sorriso aumentou ainda mais.
Será que ela poderia testar de outras formas se aquele homem era real?
— Obrigada, . Por tudo. — Por fim, ela se limitou àquilo e, mesmo à contragosto, se desvencilhou dos braços dele. — E, respondendo a sua pergunta, eu quero que fique para falar besteiras, assistir filmes e xingar aquele babaca.
Foi a vez do sorriso dele se ampliar.
— Ótimo, então chega para o lado — pediu e, não dando a mínima para o fato de que ainda estava de roupa social, apenas tirou os sapatos e ocupou o lugar ao lado dela, a puxando delicadamente para que se aninhasse com ele.
Realmente estava levando a sério a história de não a soltar mais.


💋


mal conseguia conter o sorriso bobo toda vez que pensava no que havia feito. Não soube explicar o porquê, mas foi a primeira pessoa a quem ela conseguiu contar sobre o término com Pietro. Antes disso, não queria falar com absolutamente ninguém e quanto mais enclausurada ficasse, melhor.
Tinha consciência de que agir daquela forma não era nada saudável e odiava ter cedido ao luto apesar de todas as barreiras levantadas. Esperava que tudo aquilo passasse logo para voltar à sua vida, mas, ao contrário do que imaginava, acabou se afundando mais e mais.
Quando estava prestes a sufocar com todas aquelas emoções ruins, os olhos mais intensos vieram resgatá-la e ela deixou. Não aguentava mais estar daquele jeito e, de alguma forma, sabia que estaria segura com ele.
a fez companhia por horas a fio, fazendo até a mulher esquecer por alguns instantes como estava se sentindo péssima. trazia aquele calor gostoso ao seu peito e tudo naquele homem a contagiava, fosse o sorriso, as brincadeiras bobas ou a forma como notava que ele a encarava enquanto assistiam a um filme qualquer.
Não queria se afastar dele. Não queria deixar de sentir o contato de seu corpo ao dela e os arrepios que a percorriam quando falava em uma entonação rouca e perigosamente próxima.
No entanto, no meio do segundo filme que assistiam, sentiu seus olhos pesarem e tentou lutar ao máximo contra o sono, cedendo minutos depois, porque o homem iniciou um carinho gostoso em seus cabelos.
Quando acordou, acabou grunhindo ao perceber que estava completamente sozinha e se não fosse pelo cheiro de impregnado em seus travesseiros, teria achado que tudo aquilo havia sido um sonho.
Com espanto, a mulher descobriu que havia dormido por um dia inteiro, despertando perto das onze horas da manhã do dia seguinte. Julieta havia deixado uma bandeja com seu café, mas decidiu que já estava na hora de sair um pouco do quarto.
Tomada banho e com uma roupa confortável — uma camiseta preta do Slayer e um shorts jeans, com seus chinelos amarelos nos pés —, a mulher seguiu até a cozinha, percebendo que Carter era péssima em disfarçar a surpresa.
— Finalmente, uh? Eu estava quase indo até o seu quarto sem roupa pra ver se te animava um pouco, garota! — Acabou dizendo, deixando de lado qualquer fingimento. Às vezes odiava o quanto era transparente, mas aquilo não vinha ao caso.
ergueu uma sobrancelha e não conseguiu conter um sorriso.
— Nesse caso, vou voltar pra lá e a gente finge que isso aqui não aconteceu — retribuiu a provocação e Carter sorriu de volta.
— Você sabe que quando quiser me ver pelada é só pedir, né? O mínimo que pode acontecer é eu querer que você também fique. — Sua expressão era bastante sugestiva e lambeu os lábios, puxando uma cadeira para se sentar de frente para a amiga.
— O mínimo, uh? Me pergunto agora qual seria o máximo.
— Isso você vai ter que descobrir na hora. — piscou divertida, então bebeu um longo gole de suco e voltou a sorrir abertamente. — Mas, sério, é bom te ver por aqui.
Aquele comentário fez suspirar.
— Eu sei. Sinto muito por deixar todo mundo preocupado. É que… — Hesitou, não entendendo por que travava para contar aquilo a qualquer outra pessoa.
Talvez por ter sido traída pelas duas pessoas mais próximas que tinha depois de seus pais.
. — Carter estendeu uma mão, tocando a da mulher, que estava em cima da mesa, e olhando no fundo de seus olhos. — Por mais curiosa que eu seja, você não precisa me contar o que aconteceu se não se sente à vontade. Eu vou entender, sério.
Retribuindo o olhar de , outro suspiro escapou dos lábios de .
— Não, eu quero te contar — protestou, mas acabou fazendo silêncio de novo e a amiga ficou ali, segurando sua mão, esperando pacientemente.
Pelo jeito, aquela era mais uma qualidade que os dividiam.
— Pietro me traiu com Brooke. — As palavras saíram todas de uma vez e, por alguns segundos, se perguntou se foram inteligíveis, mas, a julgar pela expressão surpresa e indignada de Carter, ela havia entendido muito bem.
— Mas que filho da puta! Me passa o endereço desse moleque que eu vou lá arrancar o pau dele. — A raiva ficou nítida em cada palavra dela e aquilo aqueceu o coração de de um jeito que ela acabou rindo. — Eu tô falando sério, amiga!
— Não duvido que esteja, não. É só que eu acho que ninguém nunca me defendeu tão fervorosamente. — Foi sincera.
— Fervorosamente? Você tá andando demais com o meu irmão — Carter brincou um pouco e precisou disfarçar como ficava afetada a mera menção dele.
tinha uma resposta para a última parte, mas preferiu ficar quieta e apenas negar com a cabeça.
Honestamente? Poderia andar muito mais e não se cansaria.
Mesmo sabendo que Carter não se importava e até shippava e , havia coisas que ainda a deixavam levemente desconfortável em dizer.
— Mas me conta tudo. Como você descobriu?
Engolindo em seco, a mulher começou a revelar tudo que havia acontecido, parando algumas vezes para rir quando Carter xingava Pietro e voltava a ameaçá-lo.
Por mais que quisesse encher Langdon de socos, no fim das contas sabia que não adiantaria em nada. Ele continuaria sendo o mesmo babaca traidor, e até expressou isso para , que ergueu uma sobrancelha e soltou:
— Pelo menos vai ser um babaca traidor com a cara quebrada. — E deu de ombros, fazendo rir mais uma vez. — Mas chega de falar dele ou pensar nele. Hoje você vai se arrumar, colocar a roupa que te deixa mais gostosa, soltar esse cabelo e dançar até esquecer o próprio nome.
A mulher abriu a boca para protestar, principalmente porque era dia de semana.
— E isso não foi uma pergunta, .


Mais tarde naquele dia, Carter não apenas havia carregado consigo para uma boate, mas também Maddie, Daria e Kyle.
Enquanto se arrumavam no quarto de , ela contou aos amigos tudo o que aconteceu e recebeu reações muito semelhantes às de Carter, o que fez seu coração ficar um pouco menos dolorido. Era bom demais saber que ainda havia pessoas em sua vida dispostas a brigar por ela.
A fila do lugar, que descobriu se chamar Heaven, estava gigantesca e nenhum dos quatro se surpreendeu quando seguiu direto para a porta, sorrindo abertamente para os seguranças.
— Aproveite a noite, senhorita . — Um deles sorriu de um jeito que jurou sugerir algo e deu passagem para eles.
— Ah, com certeza eu vou, Lance. — A mulher jogou um beijinho para o segurança e puxou pela mão para que entrassem logo na boate.
— Já ficou com o segurança? — perguntou, sem hesitar.
— Algumas vezes. Ele é deliciosamente bom de cama. — Piscou, sorrindo safada.
— Vai dar outra chance pra ele essa noite, Carter? — Daria ergueu uma sobrancelha, tão safada quanto.
riu baixo.
— Não. Hoje eu tenho outra pessoa em mente. — E seus olhos pararam discretamente em Madison, mas somente Kyle reparou naquilo.
— Saiba que vocês têm a minha benção, viu? — ele sussurrou, parando ao lado dela, um pouco mais atrás das outras três garotas.
— Te digo o mesmo com a Daria, uh? Demorou já, garoto! — Estreitou um pouco os olhos e Beltane negou com a cabeça, sem dar uma resposta àquilo.
Os cinco seguiram para o camarote reservado para e ela deixou claro que poderiam pedir o que quisessem beber.
— Gente rica é outra coisa, né? — Maddie brincou, bebendo um gole de champanhe que todos tomavam para brindar àquela noite.
— Correção: irmã de gente rica. Já que não gasta muito, porque vive trabalhando, eu aproveito.
— E tá certíssima — Daria concordou, erguendo a taça para cima. — Ao !
Todos os quatro riram, mas imitaram o gesto dela.
— Ao !
Enquanto bebia, não deixou de notar mais uma vez a agitação que sentia ao ouvir o nome dele.
Não lembrava de já ter ficado afetada daquela forma com alguém antes.
Um suspiro baixo escapou de seus lábios, então virou o resto do conteúdo da taça todo de uma vez.
Aproveitaria aquela noite e levaria a sério a história de ficar a ponto de esquecer do próprio nome. Tudo o que precisava era de um tempo para ela, onde sua única preocupação era se sentir bem.
Uma taça virou duas, depois quatro, e, a cada minuto, ficava mais desinibida e despreocupada com qualquer coisa ao seu redor.
Shots de tequila apareceram e ela não recusou mais um brinde, deixando que Daria e Kyle a arrastassem para a pista, onde imediatamente começou a dançar.
O riso saía facilmente de seus lábios, uma leveza a dominava e, pela segunda vez em dias, se sentiu feliz.
A primeira havia sido quando passou a tarde com ela.
Precisava parar de pensar nele a todo momento. O que achariam dela se se jogasse em cima de logo depois do fim de seu namoro?
Pelo canto do olho, percebeu que Carter e Madison conversavam extremamente próximas e, mesmo desejando voltar para o camarote e pegar outra bebida, resolveu ficar mais um pouco na pista de dança e dar privacidade às duas. Estava na cara que havia atração entre elas e super aprovava que se beijassem logo.
— Beba isso aqui. — Daria se aproximou e Kyle estendeu um copo com um líquido em três cores.
— O que é? — franziu o cenho. Nem tinha visto os dois saírem para buscar bebida.
— Só beba. É muito bom — Beltane insistiu, mais uma vez, fazendo sinal para que ela pegasse o copo.
— Vocês estão malucos se acham que vou beber um negócio sem saber o que é — recusou, negando com a cabeça e se afastando para voltar a dançar sozinha.
Daria e Kyle riram, dando de ombros e voltando a beber entre eles.
se deixou envolver pela batida da música, esvaziando sua mente, movendo seu corpo conforme o ritmo e não dando importância a mais nada ao seu redor.
Foi na transição para a quarta música que puxou o celular da bolsa, decidida a fazer alguns vídeos para postar nos stories.
Antes não tivesse feito aquilo.

Pietro Langdon postou um novo status.

Sabia que devia tê-lo bloqueado logo no primeiro dia, mas não o fez simplesmente porque não estava dando a mínima para as próprias redes sociais ultimamente.
Engolindo em seco, a mulher ignorou todos os protestos de sua consciência, que diziam para ela ignorar a notificação e voltar a curtir sua festa, e acabou clicando nela.

Pietro Langdon está em um relacionamento sério com Brooke Mitchell.

Mas que porra era aquela? Ele mal tinha esperado uma semana para assumir Brooke?
— Babaca — resmungou, respirando fundo, não deixando as lágrimas virem para arruinar sua maquiagem.
Guardou o celular na bolsa e seguiu apressada até o camarote. Madison e Carter que a perdoassem, mas ela precisava beber.


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Parado diante da porta de vidro que dava para a pequena varanda de seu quarto, os olhos de estavam fixos no céu.
Já fazia uns bons minutos que o homem se perdia em pensamentos, tentando arrumar a confusão instaurada dentro de si.
A cada dia gostava mais de estar perto de e, sempre que acontecia, seu humor melhorava de uma forma impressionante. Na verdade, desde o dia em que a conheceu, era como se não existissem mais motivos para não apreciar a vida.
Não era certo que ansiasse o momento em que a veria novamente. Não era certo que suas mãos formigassem para tocá-la de todas as formas. Não era certo que desejasse tê-la ali com ele naquele momento.
O que Charles diria? Com certeza socaria sua cara e nem o culpava.
Por mais que estivesse solteira naquele momento, isso não mudava o fato de ser muito mais nova do que ele.
Soltando um longo suspiro, desviou seu olhar para a cômoda ao lado da cama, onde havia uma foto de Amy.
Será que ela estaria o odiando naquele momento por conta de seus pensamentos? tinha a idade de Carter!
No entanto, em meio a todos aqueles pontos negativos, havia o fato de que a jovem lhe trouxe de volta a vontade de viver e não apenas sobreviver.
Naquele momento, era como se houvesse duas vozes em sua cabeça disputando qual delas teria mais razão e aquilo o fez grunhir frustrado.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque de seu celular e franziu o cenho, estranhando porque tinha certeza de que era bem tarde.
Sim, eram quatro e dez da manhã. Porém nada daquilo teve importância quando viu o nome da irmã no visor.
— Carter? — chamou por ela assim que atendeu e precisou afastar um pouco o aparelho da orelha, devido ao barulho de música alta.
, eu não sei mais pra quem ligar. — A voz de sua irmã soava alarmada.
— Por quê? O que tá acontecendo, Carter? — O homem sentiu a tensão tomar conta de si.
— A . Não consigo ligar para o Charlie e…
— O que houve com ela? — a interrompeu, sentindo seu peito congelar.
— Ela tá passando muito mal, . Eu poderia chamar um uber, mas achei melhor falar com você primeiro. — Carter estava estranhamente séria.
Madison segurava , que parecia estar prestes a vomitar mais uma vez, enquanto Daria e Kyle tentavam impedir que outras pessoas se aproximassem, porém estavam alterados demais para conseguir um bom resultado.
— Onde vocês estão? — respirou fundo.
— Na Heaven.
— Sei onde é. Não saiam daí e tentem fazê-la beber água, certo? — estava com uma roupa confortável para ficar dentro de casa, mas não se importou, simplesmente desligou a chamada, pegou as chaves do carro e seguiu ignorando qualquer pergunta que pudesse vir.
De qualquer forma, todos estavam dormindo mesmo.
Tentou dirigir o mais rápido que pôde, tendo também um pouco de cautela. A ideia de não estar bem mais uma vez o deixava incomodado, principalmente em um lugar movimentado como a Heaven.
Só percebeu que apertava o volante com força quando parou diante da boate e os sentiu doerem em protesto à menção de soltá-lo.
não precisou se identificar na entrada do lugar. Não havia mais tanto movimento do lado de fora da boate, o que significava que lá dentro estava pegando fogo.
Seu palpite se confirmou quando a lufada de ar quente atingiu seu rosto e procurou por Carter com o olhar, vendo a irmã acenar para ele do canto esquerdo da pista de dança.
Algumas pessoas tentavam passar a “barreira” que Kyle e Daria faziam para ver o que acontecia com a mulher e não se importou com o fato de que acabaria sendo notícia no dia seguinte por aparecer em uma boate.
Carter estava ainda mais apavorada quando o irmão chegou. estava praticamente desmaiada e, sem dizer nada, o homem se aproximou e pegou no colo.
— Ela misturou várias coisas. Não imaginei que ia ficar desse jeito — Carter se justificou e apenas assentiu. Aquilo não vinha ao caso naquele momento.
— Vocês vão vir comigo? — Olhou para os outros três e Kyle negou com a cabeça.
— Acho que agora ela está em boas mãos. Nós pegamos um uber mesmo. — Madison e Daria acenaram em concordância.
Em um outro cenário, insistiria em levá-los para suas casas, mas estava preocupado demais com .
— Certo. Tenham cuidado. — Carter achou graça daquilo, mas não comentou nada, se despedindo dos amigos em seguida.
Seguiram todo o caminho até o carro em silêncio, e quando o homem colocou deitada no banco de trás, escutou um grunhido dela em protesto. Ficou alguns segundos a observando, procurando algum sinal de que havia acordado e mal percebia o quanto suas feições estavam preocupadas, mas exibiam um pequeno sorriso enquanto olhava para a mulher.
Carter, por outro lado, havia captado cada reação dele. Não costumava ser assim tão observadora, mas era esperta e ligava facilmente uma coisa à outra. Tinha certeza de que nem mesmo seu irmão havia percebido o que rolava ali.
Durante o trajeto de volta para casa, os irmãos conversaram um pouco e a mais nova contou que tudo estava bem na festa, até o momento em que viu algo, mas ela não diria o que era, deixaria que a própria o fizesse.
Ao chegarem em casa muito mais rápido do que o normal, agradeceu mentalmente o fato de Charlie não ter acordado. Certamente, não gostaria que o pai a visse naquele estado, então, com a maior discrição possível, carregou a mulher até os aposentos dela.
Carter observou o irmão depositar o corpo da amiga sobre a cama com todo o cuidado e sorriu de canto. Kyle estava certo, ela estava em boas mãos. E também.
— Acho que o meu trabalho aqui tá feito, né? Qualquer coisa, me chama ou manda mensagem. — Ela piscou, indicando com o dedo que ia subir até o próprio quarto.
apenas assentiu e voltou sua atenção para , ouvindo o clique da porta se fechando segundos depois.
Para falar a verdade, não sabia se deveria continuar ali, porém a ideia de que ela poderia passar mal novamente o deixava alarmado.
Com cuidado, tirou os sapatos de , então sentou na ponta da cama.
Fez bem em continuar ali com ela, porque acordou minutos depois.
Sentindo tudo girar e a bile subindo à sua garganta, a mulher se sentou rapidamente, apontou para o banheiro e se levantou, cambaleando o mais depressa que pôde até o vaso.
Seu subconsciente a avisou que estava bem ali com ela, mas não era como se conseguisse se controlar, o mundo girava demais para isso.
Sua blusa se sujou um pouco enquanto vomitava e a mulher tinha certeza de que seus cabelos seguiriam o mesmo caminho, porém, de repente, os sentiu serem puxados gentilmente para trás.
Mesmo completamente embriagada, custava a acreditar que segurava seus cabelos. Toda vez que achava ter sido surpreendida o suficiente por ele, o homem dava um jeito de provar que estava errada.
Da mesma forma paciente, ficou ali com ela até que a mulher se jogou para o lado, se sentando no chão do banheiro e resmungando chorosa.
— Não acredito que você tá me vendo assim. — sorriu ao ouvir aquilo.
— Todo mundo tem seus dias de porre, . Não se preocupe com isso. — Foi sincero, realmente não ligava.
— Mas é você, sabe? É você. — Algo se agitou dentro dele com toda aquela ênfase, porém o corpo da mulher tombou levemente para frente e ela quase apagou outra vez.
— Acho que você precisa de um banho — disse, simplesmente. Não via outra opção, ela precisava recobrar ao menos um pouco a consciência.
riu fraco.
— Vai me dar banho, senhor ? — Talvez a mulher realmente dissesse algo assim se estivesse sóbria, mas naquele momento ela não estava, então se limitou a rir, negando com a cabeça.
— Eu vou ligar o chuveiro pra você. — Se levantou, depois de ter certeza de que conseguiria se manter sem desabar.
Como havia dito, o homem ligou na água fria e após checar a temperatura mais uma vez, se virou para ajudá-la a se levantar. No entanto, havia conseguido se erguer e havia tirado quase toda a roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã.
engoliu em seco, tentando não deixar a visão do corpo exposto dela afetá-lo, então estendeu uma mão para , a ajudando a entrar no box por conta da banheira.
não queria que ele ficasse virado de costas, mas sabia que o álcool estava lhe tirando a razão e tentou se controlar enquanto se lavava rapidamente. A água gelada arrepiou sua pele de um jeito incômodo, a fazendo grunhir, mas, conforme seu corpo foi se acostumando à temperatura, percebeu as coisas passarem a girar um pouco menos.
Se dissessem a que ele viveria uma situação como aquela, o homem daria risada e naquele momento era exatamente o que fazia. A mulher que não saía de seus pensamentos estava seminua bem atrás dele e tudo o que queria era poder puxá-la para si. Ele sempre queria puxá-la, ficar o mais próximo possível dela para devorar cada centímetro de sua pele.
No entanto, aquela situação era diferente. não estava sóbria e ele a respeitaria.
saiu do box quando estava pronta e seu corpo quase se colou ao dele. umedeceu os lábios discretamente, então pegou uma toalha que havia separado para colocar sobre ela.
ficou comovida com a atitude dele. estava cuidando dela desde o dia em que entrou em seu quarto pela primeira vez e era bom se sentir protegida. Não lembrava de ter experimentado algo assim há muito tempo.
A mulher imaginou que a colocaria na cama e depois sairia dali, porém outra vez ele a surpreendeu. havia ido até o closet e rapidamente vestido apenas uma camiseta comprida e uma calcinha, então, ao se deitar, o homem indicou que ela fosse para o lado, para, exatamente como na outra vez, tirar seus sapatos e se deitar com , a aconchegando em seu peito.
— Você realmente não existe, — sussurrou, ainda incrédula.
— Vamos discutir isso outra vez? — Ele ergueu uma sobrancelha, divertido. — Só estou cuidando de você, .
? Isso é muito mais do que qualquer um já fez por mim. — Seus lábios tremeram com a confissão, porém apertou os olhos para não chorar.
— Bom, isso é um problema. Não acho que mereça menos.
Por Hades, ele queria que ela o agarrasse?
— De qualquer forma, obrigada. Não sei o que seria de mim se não fosse por você. — Apertou seus braços um pouco mais em volta dele.
— Sem problema. Fico feliz por ter ajudado.
— Eu não faço essas coisas, . Juro! Mas o idiota do Pietro assumiu Brooke e eu não queria enfrentar aquilo sóbria e chorando pelos cantos.
suspirou. Não era de ter impulsos como aqueles, mas toda vez que a mulher contava algo sobre Langdon, ele sentia vontade de esmurrá-lo com toda a força.
— Tudo bem. Eu jamais julgaria você por conta disso, . — Sua voz era carinhosa, tentando passar mais segurança a ela.
— Sinto que toda vez que estou perto de conseguir fugir dessa sensação de sufocamento, algo vem e me empurra de volta.
foi pego de surpresa por aquelas palavras, principalmente porque ele já havia se sentido da mesma forma e a surpresa na verdade foi se dar conta de que não se sentia mais assim.
Suspirou profundamente, refletindo sobre aquilo por alguns minutos antes de se pronunciar.
— Se teve uma coisa que a morte de Amy me ensinou, , é que tudo na vida é passageiro. A própria vida em si é. — Soltou um riso resignado. — E quando as coisas mudam como não gostaríamos, temos duas escolhas: ou nos afogamos e deixamos a escuridão tomar conta de nós, ou ficamos firmes e acreditamos que, em algum momento, um ponto de luz irá surgir. — sentia a respiração dela contra seu peito e, vendo que não diria nada, apenas prosseguiu. — Confesso que eu não procurei pelo meu ponto de luz. Ele simplesmente entrou pela porta da minha casa e ficou admirando meu piano.
Não era a intenção dele dizer aquelas coisas, mas um impulso repentino não permitiu que se refreasse.
— Talvez seja egoísta da minha parte te dizer essas coisas agora, mas pode ser que nunca mais eu tenha essa coragem. Você é meu ponto de luz, e, honestamente, eu só me dei conta agora de que o luto já não é uma realidade tão vívida pra mim.
Quando terminou de falar, seu coração estava disparado. Não sabia como ia reagir àquilo e talvez se arrependesse no dia seguinte.
Os segundos passaram e ela nada disse. Sua respiração continuou profunda sobre seu peito.
? — chamou, apenas para se certificar de algo que suspeitava.
Ela havia caído no sono.
Abrindo um pequeno sorriso, se permitiu rir baixinho. Era lógico que a mulher dormiria justo naquele momento, mas não a culpava, sabia que estava cansada e seu corpo ficou perfeitamente relaxado após o banho.
então respirou fundo e se preparou para sair do quarto. Não podia passar a noite ali.
Fez menção de se levantar e, de repente, a mão dela o parou.
— Não vai, pontinho de luz. Fica.
desconfiou que o salto em seu coração havia sido bem audível, porém voltou a se aconchegar com a mulher.
As consequências que viessem no dia seguinte. O que importava era que havia, sim, o escutado, e sua resposta dizia que ela estava se sentindo da mesma forma.


Capítulo 08 — Mangata

“O caminho de luz que a lua deixa no mar”.

Um pequeno feixe de luz solar adentrava o quarto através de uma fresta das cortinas. O dia estava tão radiante do lado de fora que sua intensidade foi o bastante para incomodar os olhos de no exato momento em que ela os abriu.
Tão repentino quanto a forma como a mulher despertou foi o grunhido que escapou de sua boca, então ela se virou de bruços, afundando a cabeça no travesseiro ao lado. Tudo nela doía, como se um caminhão tivesse a atropelado e passou uns bons minutos naquela posição, desejando nem ter acordado.
A noite anterior era um borrão em sua mente e ela não fazia ideia de como havia chegado em casa.
Tornando a se virar de barriga para cima, ainda com os olhos fechados, tentou reconstituir os acontecimentos e percebeu que era um tanto difícil. Primeiro porque, em um dado momento, parecia que ela simplesmente havia apagado e acordado em outro lugar, e segundo porque podia jurar que algumas coisas certamente eram fruto de sua imaginação.
lembrava de ter adorado o local onde Carter havia a levado, do segurança doido para agarrar a enquanto ela só parecia ter olhos para Madison e até mesmo de ver Daria e Kyle juntos em todos os lugares, algo que despertou nela uma esperança de os dois finalmente se pegarem.
Talvez as dores em seu corpo se dessem ao fato de ela ter dançado horrores. As músicas eram tão boas que não conseguia parar de dançar, assim como as bebidas que ela foi tomando no decorrer da noite.
De repente, lhe ocorreu que era aquele o seu objetivo. Beber e dançar ao ponto de esquecer de tudo, até mesmo do motivo que a levou àquilo. Mas infelizmente a lembrança do que havia descoberto ao abrir suas redes sociais estava bem nítida tanto em sua mente quanto em seu coração.
Pietro realmente era um filho da puta.
Como ele e Brooke podiam ter feito aquilo com ela?
A sensação era a de que simplesmente não os conhecia mais e desde o momento do término ambos se tornaram pessoas completamente diferentes diante de seus olhos.
E sentia nojo daquela nova versão. Um nojo que a fez respirar bem fundo, procurando pensar em outras coisas porque precisava parar de remoer o que apenas a machucava.
Mais lembranças vieram.
Em algum momento da noite, ela e Daria riam alto enquanto dançavam uma na frente e a outra atrás de Kyle, fazendo um “sanduíche”, segundo as palavras da amiga. Aquilo a fez gargalhar e experimentar mais uma vez abrir os olhos. Sua cabeça parecia prestes a explodir, mas, ainda assim, o humor da mulher melhorou um pouquinho. Era impossível não rir na companhia de seus amigos.
Carter e Madison também passaram o tempo todo juntas, mas, se rolou algo, não fazia ideia. Porém ela só podia imaginar que havia sido a que a trouxe para casa.
E pensar naquele sobrenome lhe trouxe mais algo à mente, mas duvidou que fosse real. Afinal de contas, em que mundo teria simplesmente ido buscá-las sozinho no meio da noite e ainda a trazido nos braços até o quarto? Quer dizer, ela havia notado, sim, que aquilo poderia ser o tipo de coisa que o homem faria, mas não tinha acontecido. Tinha? Sem falar que as próximas imagens também só poderiam fazer parte de sua mente iludida ou outro daqueles sonhos que vinha tendo com ele em uma frequência cada vez maior. Olhando para as próprias roupas, ela havia mesmo tomado banho, mas com ali no banheiro depois de ter segurado seus cabelos enquanto a mulher vomitava? E não havia a menor possibilidade de ele ter ficado ali ao seu lado, como aconteceu na tarde dos filmes. Quer dizer, acordou completamente sozinha e…
Sacudiu a cabeça. Com certeza havia sido um sonho. Delírios de bêbada.
Se virando de bruços outra vez, ela suspirou demoradamente, só naquele momento se dando conta do cheiro gostoso vindo do travesseiro. Um cheiro de perfume masculino o qual a mulher levou meio segundo para identificar a quem pertencia.
A intensidade dava a impressão de que havia acabado de sair dali e de repente soltou mais um grunhido irritado.
Por que ele sempre fugia depois que ela dormia?
Tudo bem, se aquilo era verdade, seria a segunda vez, mas não queria que fugisse. Ela queria acordar com os braços dele ao seu redor, daquele jeito aconchegante só dele, com um cuidado que a fazia se sentir a mulher mais segura do mundo.
Seria errado pedir aquilo a ele?
Não importava. o faria. Estava cansada de ficar cogitando possibilidades e seus amigos tinham razão.
Subitamente decidida a não passar o dia todo na cama, se sentou na cama, se espreguiçando e franzindo o cenho ao tentar ignorar as dores. Ia colocar alguma coisa no estômago e tomar logo uma aspirina antes que sua cabeça de fato explodisse.
No entanto, antes que a mulher colocasse o pé para fora da cama, a porta foi aberta devagar, fazendo-a instintivamente se deitar novamente. Provavelmente era Julieta ou seu pai, prestes a lhe darem algum sermão pelo fiasco da noite passada.
Quando se deu conta de que não era nenhum dos dois, ela sentiu como se seu coração resolvesse tocar bateria dentro do peito e aquela mesma sensação do corpo inteiro esquentar. A figura de ali já era o bastante para causar aqueles efeitos, mas a bandeja com café da manhã que ele trazia para ela simplesmente era demais.
Como aquele homem podia ser real?
Ela se desarmou por inteiro. Só podia estar sonhando ainda.
— Aposto que você achou que eu tinha deixado você sozinha outra vez, certo? — O sorriso exibido por ao vê-la acordada era lindo e estava completamente encantada, tanto que precisou despertar para respondê-lo.
— Para falar a verdade, sim, mas também pensei que estivesse sonhando — ela soltou, sem nem refletir em suas palavras.
O sorriso de aumentou enquanto ele se aproximava. se sentou outra vez e o homem colocou a bandeja diante de si. Não era nada muito exagerado, apenas uma tigela com algumas frutas, um copo com suco de laranja e um comprimido em um pires.
— Pensei que acordaria com fome. — a observou enquanto a mulher analisava tudo sem conseguir conter o sorriso. — E com dor de cabeça — completou, fazendo-a olhar mais uma vez para o comprimido.
— Qualquer dia desses eu vou acabar descobrindo que você realmente não existe, . — Simplesmente não era possível.
Uma risadinha rouca escapou dos lábios dele, que continuou prestando atenção nela, acompanhando quando a mulher tomou o remédio, bebendo um gole de suco e pegando o garfo para começar a comer.
— Então, isso costuma acontecer com você? — puxou assunto, vendo-a tornar a encará-lo no rosto com uma expressão confusa. Segundos depois, pareceu entender e fez uma careta.
— Não! Não, eu juro que não. Para falar a verdade, consigo contar nos dedos quantas vezes na vida cheguei àquele ponto. Me desculpe por isso, . — Estava se sentindo péssima, principalmente porque as cenas dele a trazendo para casa e cuidando dela voltavam à sua mente. Não podia acreditar que havia feito fiasco na frente dele e aquilo a deixou um tanto agoniada. — Sério, me desculpe mesmo. Acabei vendo umas coisas que me deixaram mal e de repente eu só queria esquecer de tudo, sabe? Foi um jeito bem idiota, mas…
a chamou gentilmente, percebendo que ela estava de fato preocupada.
— Eu?
— Não se preocupe. Não é como se eu nunca tivesse tomado um porre na vida, sabe? Eu jamais a julgaria por isso. — Abriu mais um pequeno sorriso ao concluir sua fala.
o encarou por alguns segundos, piscando os cílios devagar e então sorrindo em travessura.
— Você tomando porre? Está aí algo que eu jamais conseguiria imaginar — brincou, comendo um pedaço de kiwi e se controlando para não fechar os olhos com aquilo. Ela simplesmente amava a fruta.
— E por que não? — ergueu uma sobrancelha em um misto de indignação, surpresa e vontade de rir com ela.
— Porque você é você, sabe? O . — O olhou significativamente.
— Estou em um dilema entre te contar a verdade sobre mim ou deixar que descubra, senhorita .
A princípio, não era intenção dele que a frase soasse tão sugestiva, mas sempre havia algo nos olhos de que despertava tantas coisas que ficava cada vez mais difícil de conter seus impulsos.
Um arrepio percorreu o corpo da mulher ao ouvir as palavras dele. Conseguia imaginar várias coisas que gostaria de descobrir com . Mesmo que quisesse, simplesmente não fez questão alguma de se controlar.
— Normalmente, eu sou uma pessoa bem curiosa, mas tenho a impressão de que vou adorar descobrir, senhor . — Ele quem havia começado, ela estava apenas devolvendo.
E aquilo o havia atingido em cheio. Se antes já imaginava, de repente se viu desviando seu olhar para conter mais uma vez o desejo de fazer tudo o que as palavras implícitas sugeriam, porém as coisas só pioraram quando seus olhos pousaram nas coxas descobertas da mulher. ainda usava apenas a camiseta grande e naquele momento a peça estava tão levantada que ele quase podia ver sua calcinha.
Também não era a sua intenção continuar olhando, odiava a ideia de estar desrespeitando-a de alguma forma, mas, de repente, desviar sua atenção dali ficou ainda mais difícil. queria tocá-la. Queria sentir qual seria a textura de sua pele e se era tão quente quanto o calor que ele percebia emanar de seu corpo, puxando o dele quando estavam próximos.
Por Deus, como alguém podia mexer tanto com ele? A ponto de momentaneamente esquecer tudo ao seu redor e apenas ver diante de si?
Porém haviam coisas que não podiam ser ignoradas. Coisas que sua consciência praticamente gritava em seu ouvido e, por esse motivo, suspirou longamente, fechando os olhos momentaneamente antes de mirar os dela.
… — murmurou, tentando usar um tom de repreensão que acabou expondo o quanto ele se sentia torturado.
— O quê? — Ela fingiu inocência, erguendo uma sobrancelha para ele e mordendo um sorriso ao pescar mais uma fruta da tigela para depois colocá-la na boca e mastigar com gosto. não havia só percebido como sentido a intensidade do olhar de sobre ela, o que mais uma vez causou ondas de arrepios por todo o seu corpo.
A forma como o homem deixava claro que estava afetado a instigou e abriu um pouco mais as pernas. Ela poderia colocá-las em volta dele naquele momento se era o que desejava.
— Não faça isso comigo. — A voz dele ecoou tão rouca que fez sorrir ladina.
— Fazer o que, senhor ? — Não, ela não podia atiçá-lo daquele jeito. Não podia convidá-lo a tocá-la a cada gesto que fazia.
ainda estava fragilizada com os últimos acontecimentos. A noite anterior havia deixado bem claro, sem falar em todos os outros motivos que o impediam de simplesmente se livrar daquela bandeja e puxá-la para si.
— Acho que você sabe muito bem, senhorita conseguiu falar, um pouco mais firme.
— Outra coisa que eu vou ter que descobrir, pelo jeito. — lambeu os lábios, fazendo-o acompanhar o gesto com o olhar, então mais uma vez ela se deliciou com um pedaço de kiwi.
Por alguns minutos, permaneceu apenas a observando, percebendo-a escolher mais da mesma fruta e acabou sorrindo com aquilo. Ele não sabia como responder ao que a mulher havia falado sem acabar se deixando levar mais uma vez pelo quanto a queria. E precisava ser prudente. Não queria se afastar dela, mas tinha que entender que estava fora do seu alcance, pelo menos naquele momento.
— Como está se sentindo? — Acabou questionando, depois de um silêncio confortável entre os dois.
sorriu, adorando o fato de ele ainda estar ali, cuidando dela.
— Bem melhor. — Então, num gesto impensado, levou sua mão até a dele e a segurou. — Obrigada, . Por tudo.
— Sem problemas. — retribuiu o sorriso e apertou seus dedos contra os dela.
Como na primeira vez em que haviam se tocado, um calor gostoso irradiou e nenhum dos dois queria se afastar, mas sabiam que era preciso e ela quem tomou a iniciativa, pigarreando baixinho e colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha.
— Sério. Se não fosse por você, sabe-se lá o que poderia ter acontecido, onde eu poderia ter acordado… — Se sacudiu, sentindo um arrepio ruim com o pensamento.
— Se depender de mim, não tem a menor possibilidade de algo ruim te acontecer, .
E mais uma vez a mulher quis agarrá-lo só por aquilo. Que desgraça de homem!
— Você me deixa mal acostumada assim. — Riu fraquinho e o viu abrir mais um daqueles sorrisos perfeitos.
— Não ligo se ficar. — Piscou, então desviou o olhar para o celular dela em cima do bidê ao lado da cama. — Anota o meu número. Sempre que você precisar, não importa a hora, pode me ligar.
mal pôde esconder sua reação ao gesto. Seus olhos se arregalaram levemente e ela acabou rindo mais uma vez.
— Sabe, eu estou admirada por estarmos trocando telefones só agora. Faz o que, dois meses que cheguei aqui?
Não que aquilo fosse obrigatório ou algo do tipo, mas era engraçado, levando em conta a amizade que surgiu entre eles.
— Confesso que fico longe do meu sempre que posso, mas se você tivesse um assessor como o Todd, iria entender. — Uma careta tomou suas feições.
— Não me julgue se eu acabar não gostando do Todd de cara se acabar falando com ele algum dia desses, viu? Se julgar, vou contar que foi você que fez a caveira dele. — A mulher estreitou seus olhos, então desbloqueou o celular e o entregou a .
soltou uma risada mais alta com as palavras dela e pegou o aparelho, um tanto confuso.
— Anota o seu número aí, . Prometo tentar deixar a sua experiência mais interessante. — Piscou para ele, com uma expressão divertida. sabia que, mais uma vez, as coisas poderiam caminhar para um outro tipo de conversa, porém não se importava. Estava adorando vê-lo afetado.
— Vou cobrar isso, . — riu baixo e ficou olhando a foto do fundo de tela do aparelho por alguns segundos. Era ela fazendo graça com Carter e os outros amigos. — Gostei da foto.
— Sua irmã sabe se divertir. Ela sempre vem com algum lugar diferente para irmos. — manteve seu olhar nele enquanto o homem anotava seu número.
— Não diga a ela que falei isso, mas a Carter é a melhor companhia para todos os momentos. Sempre admirei isso nela. — sorriu, então devolveu o celular a ela para que salvasse o contato da forma que quisesse.
— Vou te mandar um “oi” pra você salvar o meu também. — desviou seu olhar para o telefone e depois de gravar o número de , abriu mais um sorriso para o homem. — Pode ficar tranquilo, não vou falar nada. Mas é bonito o jeito que você fala dela. Me faz desejar ter tido algum irmão também.
— Sua mãe não se casou novamente, então?
— Não. E talvez eu apenas seja uma romântica incurável, mas tenho certeza de que ela ainda gosta do meu pai. — acabou sorrindo novamente ao ouvir aquilo.
— Charlie nunca a superou também. Ele já me falou tanto na sua mãe que se um dia eu encontrá-la, vou sentir como se ela já fosse uma grande amiga.
De repente, o pensamento de como seria conhecer a mãe de cruzou sua mente e procurou afastá-lo o mais rápido possível, principalmente por imaginar circunstâncias diferentes de uma simples visita da mulher, por exemplo.
Céus, ele realmente precisava voltar à razão.
— Quem sabe um dia os dois não se reencontram, não é? — O olhar dela indicava que tinha mesmo esperanças. — Acho que ela vai gostar de você, mas quem não gosta? — Riu baixinho.
— Não se engane. Já ouviu falar na minha concorrente? — Era engraçado como os assuntos fluíam entre os dois e por aquele motivo sempre perdiam qualquer noção do tempo.
— Aquela Italia alguma coisa? — fez uma careta. — Ela é uma babaca.
O comentário acabou o fazendo rir.
— Pelo jeito, já ouviu mesmo. Sim, a própria.
— Ela claramente não te conhece, . Sempre faz suposições totalmente absurdas sobre você. Mas nunca deixe ela te atingir. — O encarou nos olhos com uma intensidade que denunciava a preocupação dela em relação àquilo.
— Não deixarei. — retribuiu o olhar e de repente se viu perdido nas íris dela.
Definitivamente, havia algo naqueles olhos capaz de bagunçar tudo dentro dele. Talvez fosse aquele brilho, que sempre o fazia lembrar o da lua sobre o mar.
Durante todo aquele tempo ali naquela manhã com ela, se questionava se lembrava de suas últimas palavras antes de adormecer. A mulher não havia dado sinal, sequer tocou no assunto, então era provável que não lembrasse, porém a única maneira de ter certeza seria questioná-la.
E o homem estava prestes a fazê-lo, porém foi quem quebrou o silêncio.
— Falando em concorrentes, você não tem nada marcado para hoje, não? — A pergunta era apenas por curiosidade e sabia disso, mas acabou deixando uma expressão indignada se formar apenas para brincar com ela.
— Está me expulsando do seu quarto, ?
arregalou os olhos e abriu a boca em surpresa.
— Claro que não, seu bobo. Estou só perguntando porque não quero ser a causa do infarto do seu assessor se você perder algum compromisso.
Ela tinha razão, é claro. Todd teria mesmo um infarto e, sim, tinha um compromisso às dez e quinze da manhã.
Foi a vez do homem arregalar os olhos.
— Que horas são? — , que ainda estava com o celular em mãos, apenas acendeu o visor.
— Nove e quarenta.
— Certo. Todd está a salvo, mas precisarei correr. — Ele se adiantou para pegar a bandeja, porém o impediu.
— Não se preocupe com isso. Eu levo para a cozinha. — Sorriu, vendo-o retribuir e se levantar da cama. — Obrigada, .
Mesmo à contragosto, ele se afastou, então parou diante da porta, se virando para encará-la mais uma vez.
— Tenha um bom dia, senhorita .
o observou por inteiro, mal conseguindo disfarçar o quanto aquele homem mexia com ela. De repente, a mulher nem mesmo se lembrava das dores da ressaca.
Se pudesse, o puxaria de volta e não deixaria que saísse dali, mas precisava se controlar, então se limitou a apenas respondê-lo.
— Você também, senhor .


💋


Conforme os dias passavam, ficava cada vez mais fácil para deixar para trás qualquer lembrança de Pietro e Brooke, ou seus sentimentos por eles. A companhia de seus amigos, assim como os trabalhos e provas que começaram a surgir na faculdade, ajudavam e muito naquele processo, porém não podia negar, ter por perto era o que mais tornava fácil seguir em frente.
Os dois não se encontraram muito depois daquela manhã. No entanto, passaram a trocar mensagens com uma frequência cada vez maior. , que costumava evitar mexer no celular sempre que podia, de repente já não o fazia mais, pelo contrário, se via acendendo o visor a cada oportunidade que recebia, esperando encontrar alguma mensagem dela, mal escondendo o sorriso quando acontecia.
Nenhum dos dois via algo ruim naquilo. Sim, as perguntas com outras intenções implícitas continuavam, assim como as provocações e o desejo de saber qual seria a reação do outro, mas repetia várias vezes mentalmente que os dois eram apenas amigos e precisavam permanecer daquela forma. Talvez o correto fosse se afastar da mulher, mas aquilo estava completamente fora de cogitação. fazia bem a ele, mesmo quando não estava fisicamente ao seu lado, e sentia o mesmo.
Eles não voltaram a conversar sobre a noite em que cuidou de . Embora o homem desejasse saber se ela se lembrava das palavras que trocaram, algo o impediu e ele não sabia explicar o motivo. Quem sabe fosse um receio de constatar que realmente não se recordava de nada, ou talvez de descobrir o contrário e ter de lidar com todos os sentimentos que aquilo despertava nele.
De qualquer forma, não haviam surgido tantas oportunidades para que conversassem a sós. Todd reforçou a agenda de compromissos de , principalmente porque ele foi fotografado na boate em que foi buscar e Carter. Especulações surgiram sobre o candidato estar caindo na farra junto à irmã e Phillips vinha enchendo sua paciência desde então, deixando claro que precisava de outras ações para que tudo fosse esquecido o mais rápido possível.
E falando em esquecer, fez questão de deletar tudo o que tinha a respeito de Pietro e Brooke, além de bloqueá-los em todas as redes sociais. A sensação de alívio que sentiu ao fazê-lo foi realmente libertadora.
Naquele dia, ela estava animada. Não aconteceria nada de especial, era apenas um dia comum na universidade, mas a mulher havia despertado com um enorme sorriso no rosto e tanta disposição que até saiu mais cedo de casa, decidida a malhar na academia da faculdade para depois ir às aulas.
A quem queria enganar? A maior parte de sua animação possuía nome e sobrenome, e naquela manhã, assim como em várias outras, ela havia acordado com uma singela mensagem de bom dia.
Desejou que ao menos o visse mais tarde, quando voltasse.
sabia bem o quanto aquele caminho era perigoso, mas não conseguia evitar. Estava cada vez mais envolvida por .
— Juro que uma hora dessas eu vou roubar o seu celular só pra ver o que tá rolando aí. — A voz de Carter ecoou, numa tentativa sem sucesso de despertar a mulher dos seus pensamentos, enquanto mantinha o olhar fixo na tela do aparelho.
Os cinco amigos estavam reunidos em um dos bancos da área aberta do campus, aproveitando o belo dia de sol.
Mesmo não estudando ali, a jovem de vez em quando aparecia e conseguia imaginar qual seria o real motivo, mas, quando questionada, Carter apenas disse que estava conhecendo o ambiente porque pretendia estudar ali no próximo semestre.
— Pelo jeito é importante, hein? Ela nem te escutou. — Kyle entrou na onda.
Nenhum deles realmente tomaria o celular dela, estavam apenas pegando em seu pé, já que a mulher estava um tanto distraída da conversa do grupo.
Daria, que havia sentado do lado direito de , deu uma cutucada leve na costela da amiga, fazendo-a pular de susto.
— Tá maluca, garota? — arregalou os olhos, passando a mão na região porque mesmo que o gesto tivesse sido fraco, ela sentiu o desconforto. — Eu podia ter virado a mão na sua cara por causa disso!
Não era mentira. costumava ter algumas reações exageradas quando era pega de surpresa. Madison havia descoberto aquilo quando tentou assustá-la no banheiro um certo dia.
— Minha mandíbula tá doendo até hoje com o tapa que essa ogra me deu. — Maddie fez uma careta e arrancou algumas risadas do grupo.
— Primeiro, ogra é você. E segundo, Carter, não tá rolando nada. — abriu um sorrisinho para a amiga que dizia exatamente o contrário.
— Ah, mas tá rolando, sim! Você não sabe disfarçar, sua ridícula. — Carter estreitou os olhos, fazendo gargalhar.
— Se não tá rolando mesmo, você não vai se importar se eu pegar seu celular rapidinho, né, amiga? — Daria fez menção de que realmente ia fazê-lo e reagiu instintivamente, tirando o aparelho de cima da mesa e revirando os olhos ao perceber que tinha caído na armadilha dela.
— Tá legal. Eu conto — suspirou derrotada, porém não disse mais nada além disso. Ficou só encarando os amigos.
Kyle não levou nem dois segundos para perceber o que ela estava fazendo.
— Ela tá enrolando pra que dê o horário da próxima aula, hein. Essa tática aí é minha. Quero os direitos por isso, .
— Cala a boca, Beltane! Você disse que eu podia usar quando quisesse. — Como o rapaz estava sentado ao lado de Carter e de frente para ela, se inclinou e quase se desequilibrou para dar um tapa nele.
— Segura a emoção aí. Não tô lembrado disso, não.
— Para de ajudar ela a enrolar, garoto! — Dessa vez foi que lhe estapeou, fazendo todas as garotas rirem da expressão indignada de Beltane.
— Vocês são muito violentas.
— Achei que você gostasse de uns tapas, meu bem. — abriu um sorriso malicioso e até ele riu dessa vez.
, desembucha! — Carter insistiu, porém, naquele momento, o celular vibrou, notificando uma nova mensagem de e nem teve tempo de tapar o visor, porque todos os quatro se inclinaram para vê-lo.
— Ah, sua safada! — Daria soltou uma risadinha animada.
— Não acredito que você tá trocando mensagens com o gostosão e não contou pra gente. — Madison não escondeu a indignação.
No começo, era um tanto estranho falar de na presença de Carter, mas a garota nunca se importou com aquilo e até concordava quando chamavam seu irmão de gostoso. Adorava dizer que era a genética dos .
— Pela cara do Kyle, ele sabia. — Foi o que ela comentou, estapeando o amigo mais uma vez.
— Acho que foi por isso que ela não contou. Vai que vocês resolvem encher ela de tapas também? — Beltane fez uma careta.
— Desde quando vocês trocaram telefone? — Daria indagou curiosa, mal prestando atenção nos outros dois.
— Gente, vocês são muito exagerados. A gente troca mensagens desde o dia que ele foi lá nos buscar na Heaven. — viu Carter e Maddie abrirem a boca para dizer algo, porém ela as interrompeu. — Não tem nada demais. Ele me conta o que tá fazendo, eu faço o mesmo e acabamos emendando algum assunto. — Deu de ombros.
abriu um sorriso malicioso para ela e negou com a cabeça.
, … Não banque a inocente, amiga. Meu irmão nem gosta de mexer no celular. Se ele tá falando com você, tem coisa aí, sim.
Sem conseguir se conter, abriu um pequeno sorriso, adorando ouvir aquilo. Claro que havia, sim, comentado com ela sua aversão ao próprio telefone, mas era diferente ver alguém comentando de fora, ainda mais esse alguém sendo a irmã dele.
— Tá vendo só? Aproveita, garota. Investe logo nesse macho, ou vou roubá-lo de você! — Daria brincou, fazendo arquear uma sobrancelha.
Mesmo tendo todos os motivos do mundo para não confiar em ninguém, ela sabia que Vandervoot não falava sério. Até porque Daria havia superado o crush em Kyle e estava de rolo com um outro colega da universidade.
— Vocês estão esquecendo que ele é uma pessoa pública.
Carter bufou alto e revirou os olhos.
— Socorro, você pareceu o Todd falando agora.
Aquilo arrancou uma careta de , mas, por mais que o assessor de fosse bastante irritante — e ela dizia aquilo apenas por relatos de e Carter, já que ainda não teve chance alguma de interagir com ele —, não estava errado.
— Credo, garota! Mas nisso ele até tem razão, sabe?
— Então você pega o cara escondido. Pronto, resolvido.
— Kyle! — o repreendeu um tanto risonha. Tinha certeza de que, algum dia desses, os amigos a jogariam em cima de .
Não que ela achasse ruim, é claro. Mas estava tentando fazer o certo.
— É sobre isso. Escondido é até mais gostoso. — pôde jurar que Madison trocou um olhar com Carter ao dizer aquilo, mas qualquer comentário que pudesse fazer foi interrompido por Daria.
— Temos que voltar, gente. Tá em cima da hora e o Figgins não deixa ninguém entrar depois que começa a aula, não esqueçam. — Já foi se levantando e apenas Carter não imitou seu gesto.
— Mais tarde combinamos alguma coisa. Tem um pub que acho que vocês vão adorar. — sorriu, quando os quatro se despediram dela.
— Me diz que tem música ao vivo nesse pub. Se eu passar mais uma noite ouvindo música eletrônica, vou enlouquecer — Maddie resmungou.
— Relaxa, meu anjo. Hoje tem cover do The Neighbourhood. — Vandervoot suspirou aliviada e agradeceu. — , espera aí que eu quero falar com você.
viu Kyle olhar em sua direção, como se estivesse questionando se ela queria que ele ficasse também, porém a mulher apenas sorriu e negou com a cabeça. Beltane sempre agia daquela forma com ela. Como se estivesse disposto a defendê-la em qualquer situação.
— Podem ir. Eu alcanço vocês — dispensou as amigas, então se sentou ao lado de Carter. — Diga, amiga.
— Não vai ler o que ele te mandou? — indicou o celular na mão de , que franziu o cenho, um tanto confusa, mas logo entendeu tudo.
— Carter… — começou, ficando tensa de repente, como se estivesse prestes a ser xingada.
— Tô só zoando com você, meu bem. — Riu, negando com a cabeça, então estalou a língua. — Eu só quero te dar um conselho, amiga. Não dê ouvidos ao Todd.
— Nunca falei com ele, só sei o que você e o me contam.
— Mas se em algum momento ele te falar algo, prometa que não vai dar ouvidos. — se endireitou para que pudesse olhar bem nos olhos de , ficando anormalmente séria.
— Certo. — não sabia mais o que dizer, então apenas esperou, sentindo que a amiga diria mais algo.
— Falo sério, amiga. O Todd é um babaca e acha que meu irmão tem que agir como se fosse um robô sem sentimentos que nem ele é.
ficou intrigada com aquilo. Será que havia acontecido algo entre ela e Todd?
— Carter, você e o Todd…
— Não. Mas é o sonho dele. Por isso enche o saco toda vez que eu apareço em algum tablóide.
— Como assim? E seu irmão sabe disso?
— Sabe. Nós não costumamos esconder nada um do outro, . E é por isso que digo pra você não ouvir o Todd.
suspirou fundo, então abriu um pequeno sorriso.
— Prometo que não irei.
As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, então Carter o quebrou.
— Quando a Amy se foi, levou todo o brilho que o tinha. Eu não acreditava que as pessoas pudessem mesmo chegar ao ponto de viver apenas por viverem até ver acontecer com o meu irmão. Uma parte minha morreu junto com ela, mas ele simplesmente se apagou, sabe?
prestou atenção em cada palavra, percebendo os olhos da amiga ficarem mais brilhantes conforme ela falava. Carter nunca havia se aberto daquela forma.
— Então um dia eu cheguei em casa e estava rindo. Eu me assustei porque fazia tanto tempo que ele não ria! — riu baixinho, abaixando o olhar para encarar as unhas. — Ele estava conversando com você nesse dia, . — Então se voltou mais uma vez para a amiga, que não disfarçou a surpresa.
Com os olhos levemente arregalados, sentiu seu coração bater tão forte que tinha certeza de que Carter podia ouvi-lo.
Naquele momento, uma certa lembrança tomou seus pensamentos. Bem, na verdade, ela não sabia se era mesmo uma lembrança porque não havia mencionado nada sobre o assunto.
“Confesso que eu não procurei pelo meu ponto de luz. Ele simplesmente entrou pela porta da minha casa e ficou admirando meu piano”.
— Você faz bem ao meu irmão e eu sei que ele também te faz. É por isso que apoio vocês juntos.
— Carter… — suspirou, de repente sentindo os próprios olhos marejarem.
— É sério, amiga. Só que o é cabeça dura com algumas coisas. Com certeza ele tá pirado com a ideia de você ser mais nova, ou achando que o Charlie vai bater nele.
riu fraco.
— E o que eu devo fazer?
— Faz ele ver que não tem nada de errado em ser feliz.
— Quem é você e o que fez com a Carter? — acabou brincando para descontrair e também porque não sabia como responder àquilo.
— Vai te catar, sua boba! — esbarrou seu ombro no dela, depois a puxou para um abraço.
a apertou contra si, só percebendo naquele momento o quanto precisava daquilo.
— Agora lê a mensagem. — Tornou a indicar o celular quando as duas se afastaram.
Negando com a cabeça, desbloqueou o visor e leu o que havia escrito.

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Por acaso você tem planos para hoje à noite, senhorita ?



Um tanto surpresa, a mulher estreitou os olhos e encarou Carter.
Ela sabia que o irmão planejava algo.
— O que vocês estão aprontando? — questionou desconfiada.
— Eu, nada. Responde de uma vez.
ia retrucar, mas sabia que não adiantaria nada, então voltou a mexer no celular.

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Além de fazer um balde de pipoca e maratona de Scream?

Acha que sobrevive uma noite sem sua maratona?

Depende do que você tem em mente, senhor .

Uma vez você me disse que sempre quis ver um espetáculo de Ópera.

Talvez eu tenha ingressos para o desta noite.



— Quê? — murmurou impressionada, olhando para Carter e vendo a amiga com um meio sorriso estampado nos lábios.
— Não olha pra mim, foi ele que teve essa ideia toda. Eu só falei que ele precisava parar de ficar pensando nas consequências de cada passo da vida dele. — Deu de ombros.
sentia como se o coração fosse pular do peito. Então, com as mãos um tanto trêmulas, num misto de surpresa, nervosismo e emoção, respondeu a mensagem.

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Impossível recusar um convite desses.

Fico feliz que tenha gostado.

Te encontro às 19 horas, na frente do piano.

Combinado.

Mal posso esperar.

Eu também, senhorita .

Vou deixar uma coisa em cima da sua cama. Espero que me perdoe pela invasão.




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tinha consciência de que Todd falava com ele, mas, honestamente, não prestava atenção a uma palavra sequer. Desde o momento em que soube a respeito do espetáculo em cartaz no Hippodrome Theatre, não conseguiu se concentrar em nenhuma outra coisa. Foi inevitável não pensar em . A mulher era apaixonada por música clássica e, vez ou outra, os dois conversavam sobre musicais e apresentações de canto lírico.
O sonho da era ir a um espetáculo daqueles. Nunca havia tido a oportunidade porque não tinha Ópera na sua cidade em Ohio e, mesmo que houvesse, ela não sabia se teria condições de ir a alguma.
Encarando seu celular, posto em cima da mesa de reuniões, enquanto Todd Phillips continuava tagarelando e discutindo estratégias de campanha com sua equipe, ponderou se seria sensato fazer o que tinha em mente.
Se convidasse a ir com ele, o que aquilo seria? Um passeio entre amigos? Um encontro?
Algo dentro dele dizia que sabia exatamente qual era a resposta e, ao mesmo tempo em que sentia um certo nervosismo e um anseio por aquele significado, havia também aquele lado de sua consciência gritando todos os motivos pelos quais o homem não podia se envolver com .
Enquanto pensava naquilo, uma certa voz ecoou nítida em suas lembranças recentes.

Quando chegou em casa naquele dia, não podia negar que desejava encontrar mais uma vez, porém estava um pouco tarde. O candidato ficou preso na gravação de mais uma entrevista que viria ao ar na noite seguinte e, embora não encontrasse nenhuma dificuldade em responder cada pergunta recebida, não conseguia parar de pensar no que havia acontecido, ou se preocupar com o estado de , já que não a via desde a manhã em que acordou ao seu lado.
Como os dois trocaram telefones e conversavam com uma frequência cada vez maior, poderia simplesmente mandar uma mensagem questionando se a mulher estava bem, mas algo lhe dizia que naquele dia não seria o bastante. realmente queria vê-la e um certo incômodo deixava claro, ele sentia saudades dela.
A meio caminho de seus aposentos, o homem fez uma careta e por fim cedeu ao impulso de seguir por outro corredor que o guiaria até o quarto de . Não faria mal algum bater à porta dela apenas para lhe dar um breve ‘boa noite’, ver se estava tudo certo e olhar para ela mais uma vez.
Um alerta piscava em sua mente. Aquele mesmo que continuava repetindo que não vê-la era bom, assim não se envolveria. não podia se envolver.
Mas o que ele faria se já estivesse envolvido? Ir até o quarto dela assim, sem mais nem menos, não era um sinal de envolvimento?
— Perdeu a viagem, maninho. Ela não está aqui. Foi encontrar com o pessoal no Black Roses.
mal teve tempo de assimilar o momento exato em que sua irmã saiu do quarto de , segurando o que parecia ser um casaco preto em mãos enquanto fechava a porta atrás de si com a outra e o olhava como se estivesse prestes a fazer algum comentário sugestivo.
— Carter? — Foi tudo o que o homem conseguiu dizer, ainda confuso. De todas as possibilidades, ele sequer havia cogitado encontrá-la por ali.
— Desculpa te desapontar, mas, sim, sou eu. — E ali estava o tom de malícia, insinuando que ela sabia o motivo do irmão estar ali melhor do que ele mesmo.
— Deixe de ser boba. Não estou desapontado, apenas surpreso em te encontrar saindo do quarto da . — riu, tentando disfarçar um certo nervosismo ao ser “pego em flagrante”.
— Jura? Acho que posso dizer o mesmo de te encontrar prestes a entrar ali. — Carter piscou, abrindo um sorriso esperto.
O mais velho balançou a cabeça em negação. No entanto, o que diria?
Outra vez, ele sequer teve tempo para formular uma resposta.
— Relaxa. Vou fingir que não vi nada, prometo. — Ela juntou os dois dedos indicadores, dando um beijinho e piscando os olhos, numa tentativa de expressão angelical que funcionaria com qualquer pessoa, menos com seu irmão.
— Mas o que você estava fazendo ali, afinal? Por que não foi ao Black Roses também? — tentou desviar o foco da conversa, se encostando na parede atrás de si e cruzando a perna direita.
Carter ergueu uma sobrancelha, numa indagação muda se ele realmente estava usando aquela tática com ela, porém o respondeu mesmo assim.
— Eles foram direto pra lá depois da aula. Estou indo encontrar com eles agora e a me pediu pra levar essa blusa. — Mostrou a peça em sua mão. — Algum idiota derramou cerveja nela.
Foi a vez de arquear uma sobrancelha e Carter sorriu maliciosa com sua reação.
— Que foi? — Ele não conseguiu evitar questionar, não entendendo a expressão da irmã.
— Não fique com ciúmes, maninho. Aposto que ela vai adorar saber que você estava procurando por ela, se me deixar contar, é claro.
— De onde você tira essas coisas? — riu, sem conseguir enganar nem a si mesmo. — Só vim ver como ela estava, Carter. Desde aquele dia, me preocupo com . — Acabou cedendo e confessando aquilo.
— Desde aquele dia, né? Você acha que consegue disfarçar, . E pra maioria das pessoas consegue mesmo. Mas eu sou sua irmã, lembra? Você baba pela só de ouvir o nome dela.
Mesmo acostumado com a sinceridade de Carter, o homem foi pego de surpresa e ficou momentaneamente sem fala. Era verdade que a cada dia precisava de mais determinação para lembrar que os dois eram amigos e só poderiam ser aquilo, porém não imaginava ter transparecido em algum momento a ponto de ser notado.
Então um outro sentimento tomou conta dele. O de que, mesmo brincando com aquilo, sua irmã achasse que ele traía a memória de Amélia.
Era a primeira vez que lhe ocorria aquilo. A primeira vez que se deu conta de que, depois de anos, havia olhado para outra mulher sem ser sua esposa.
Uma mulher bem mais nova, com a idade de sua irmã.
Por que ele sempre ficava preso àquele argumento da idade?
? — Pelo tom usado por Carter, ela já havia o chamado antes e aquilo só se confirmou quando a mulher se aproximou do irmão, mudando a expressão divertida para uma um tanto preocupada. — Ei, olha pra mim.
O mais velho soltou um suspiro, então focou seu olhar nela, fazendo-a odiá-lo pela milésima vez por ter roubado os olhos só para ele.
— Qual é o problema, maninho? — Era um tanto engraçado ouvi-la chamá-lo daquela forma, tanto pela sua idade quanto pela altura dele.
abriu a boca e a fechou algumas vezes, incerto se deveria mesmo falar o que estava pensando.
— Ela está mexendo com você, não é? — Mais uma vez, Carter tomou a frente, fazendo-o engolir em seco e, por fim, acenar afirmando.
— Não deveria, mas está. E fica cada vez mais difícil fugir disso.
Aquela era a relação de e Carter. No fim das contas, sempre acabavam confidenciando tudo um ao outro. E, no fundo, ambos se sentiam gratos por aquilo.
— Mas por que você tá tentando fugir? — Um vinco se formou na testa dela enquanto franzia o cenho, confusa.
— Porque não é certo, Carter. tem praticamente a mesma idade que você.
— E daí? — Ela continuava sem entender.
— Como assim, e daí? São quase onze anos de diferença, irmãzinha. — Foi a vez de ele ficar confuso.
— Não tô vendo o problema aí, . Você acha que eu nunca fiquei com pessoas da sua idade? — Carter ergueu uma sobrancelha e o mais velho imitou o gesto.
— Ficou? — Sua pergunta ecoou apenas em um tom de curiosidade. Por mais cuidado que tivesse com a irmã, não gostava de interferir nas relações dela. Estaria ali sempre disposto a protegê-la se fosse preciso, mas sabia que ela também poderia fazer aquilo por si mesma.
— Nem preciso responder, não é? E o foco não sou eu, pare de desconversar! — ralhou, quase o fazendo rir. — Você pensa demais sobre as coisas, maninho. Sempre foi assim. Lembra quanto tempo levou para você finalmente falar como se sentia para a Amy? Se teve uma coisa que a partida dela me ensinou, foi que a vida é curta demais para a gente ficar se preocupando com o que os outros vão pensar.
— Você está esquecendo de uma coisa. Charlie está entre essas pessoas, Carter.
— Eu tenho certeza de que o Charlie quer ver a filha dele feliz, . E vocês fazem isso um pelo outro até sem perceberem.
Não era muito comum ver Carter falando coisas daquele tipo e usando um tom sério como aquele. Normalmente, ela fazia comentários maliciosos ou zoava dele. Mas a mulher via o quanto o irmão lutava contra aqueles dilemas e até o entendia, porém só queria vê-lo feliz no fim das contas.
ficou encarando o rosto da irmã por alguns segundos, se perguntando mentalmente quando ela havia amadurecido daquele jeito e obtendo a resposta segundos depois. O luto fez aquilo com Carter, ou melhor, Amy fez.
Uma risada rouca escapou de seus lábios e, sem aviso, ele simplesmente a puxou para um abraço, sentindo a mais nova rapidamente envolver a cintura dele e apertá-lo com força contra si. Carter havia convivido com o pai por um período muito menor que , e, por essa razão, o irmão representava também uma figura paterna a ela. E mesmo adorando bancar a durona na maior parte do tempo, a também precisava daquilo.
Sem dizerem nada, os dois permaneceram daquela forma, até que uma confissão baixinha escapou dos lábios de Carter.
— Sinto tanta falta dela, . — A quebra de sua voz denunciou o quase choro e o mais velho a apertou um pouco mais.
— Eu também sinto. Todos os dias. E não sei o que fazer, irmã. Não quero trair a memória dela, ou… — Os olhos dele marejaram e foi a vez de sua fala falhar.
Carter afrouxou seus braços, se afastando para encará-lo mais uma vez.
— Olha só quem está sendo bobo agora, maninho. Não tem a menor chance de você trair a memória da Amy. Ela te amava e ia gostar de te ver feliz, seguindo em frente. Chega de pensar demais, de ficar medindo consequências, . Chama a pra sair e agarra logo essa mulher.
O último comentário o fez rir, então o homem olhou para cima, a fim de espantar as lágrimas e permitiu à irmã se desvencilhar dele.
Carter tinha razão, ele sabia daquilo. Ainda assim, a hesitação continuava presente.
— Eu não sei, Carter. Não consigo medir ou explicar como mexe comigo, e…
— Não precisa fazer isso agora, mas pensa em tudo que te falei, tá? E caso você ainda não tenha percebido e queira saber, você também mexe com ela”.



Carter estava realmente certa, então por que ainda hesitava? Por que ainda temia consequências? Por que se refreava?
Estava agindo feito um tolo. Não havia mal algum em chamar para ir à Ópera com ele.
Então, antes que sua consciência voltasse a desencorajá-lo, desbloqueou o celular e enviou a mensagem à mulher, sentindo uma nova onda de expectativa crescer dentro de si quando seu convite foi aceito.


🏛


A sensação era de que voltava à sua adolescência. Durante o restante do dia, se esforçou ao máximo para se manter focado em seus compromissos porque quem sabe assim as horas passariam mais rápido, e no início até funcionou. No entanto, conforme a noite se aproximava, a sensação de que algo revirava em seu estômago foi ficando cada vez maior, levando sua concentração junto.
Era engraçado ficar daquele jeito. Primeiro porque ele já havia ficado completamente sozinho com antes e em diferentes situações. Segundo porque jamais imaginaria que se sentiria daquela forma outra vez. Acreditava que, depois de Amy, não seria capaz de sequer olhar para outra pessoa, e, mesmo com todas as palavras de Carter sobre o assunto, não conseguiu evitar outra dose de culpa.
jurou amar e honrar a esposa até que a morte os separasse, e foi o que aconteceu. No entanto, quando a morte levou Amélia, ele teve a certeza de que seus sentimentos por ela iriam muito além daquilo. Por aquele motivo, seu luto foi tão doloroso, a ponto do homem duvidar ser capaz de se reerguer do abismo.
Até o dia em que conheceu .
Encarando seu próprio reflexo no espelho, se deixou mergulhar na própria expressão confusa e contida o tempo todo. Estava cansado daquilo. Cansado de pensar demais em tudo. E mesmo não sabendo ao certo o rumo que as coisas entre ele e a tomariam depois daquela noite, decidiu que tentaria se arriscar.
Duas batidas na porta de seu quarto o fizeram virar para trás.
— Senhor , desculpe incomodá-lo. Só vim ver se ainda vai precisar de mim.
Ao encarar a figura de Charles , precisou se conter para não engolir em seco. Carter não achava que o homem fosse reagir de uma forma ruim se soubesse que estava prestes a sair com sua filha, porém o candidato discordava.
Charles precisou ser dissuadido de ir até Ohio quando soube o motivo do término do namoro de com Pietro, e aquilo era o suficiente para deixar claro que, mesmo não tendo estado completamente presente na vida da filha, faria de tudo para protegê-la.
? — repetiu, e só então percebeu que se perdeu novamente em pensamentos enquanto encarava o homem à sua frente.
— Não, Charlie. Pode ir descansar sossegado. — Incapaz de permanecer o olhando, virou de frente para o espelho mais uma vez e ajeitou o colarinho da camisa social preta que vestia. Como ia a uma Ópera, calças e sapatos sociais compunham o restante de seus trajes, assim como o paletó também preto o faria assim que o vestisse. A única coisa que dispensou foi o uso da gravata, abrindo os dois primeiros botões da camisa para não ficar tão formal assim.
— Tem certeza, senhor? — Charles insistiu, exatamente por ver que o chefe estava arrumado.
— Já falei pra não me chamar de senhor. — Riu um pouco para disfarçar a tensão. — Mas tenho, sim.
assentiu e abriu um sorriso de soslaio ao entender do que aquilo se tratava. ia sair com alguém e mesmo com a natural curiosidade em saber quem era, não questionaria. Se quisesse revelar, ele o faria.
— Tudo bem então. Aproveite a noite.
Assim que a porta se fechou, se sentiu culpado mais uma vez. Deveria ter sido franco com o homem, no entanto sabia que não o havia feito porque uma parte sua temia alguma reação que o impedisse de sair com .

A ansiedade o fez seguir em direção à sala do piano com vinte minutos de antecedência. Depois da breve interação com Charles, cogitou se não deveria ter combinado encontrar em algum local diferente, porém não mudaria aquilo na última hora. Além disso, ele não estava fazendo nada de errado e precisava continuar tentando se convencer daquilo.
se serviu de uma pequena dose de uísque apenas para molhar a garganta e ficar um pouco mais relaxado e, depois de bebê-la, se sentou diante do piano, tentado a dedilhar as teclas mais uma vez. Não costumava sentir falta de tocar. Como ele mesmo havia dito, não era um grande pianista, mas de repente percebeu que agora sentia. Assim com ansiava pelo toque da mão de na sua.
Parecia que ultimamente tudo se convertia nela, tudo o fazia lembrar de algum momento que tiveram juntos.
— Você toca? — se surpreendeu ao ouvir a voz da e sorriu porque sabia que ela se referia ao dia em que se conheceram.
imaginava o que veria, mas quando ergueu seus olhos em direção à mulher, sentiu seu queixo cair ainda assim.
O vestido de cetim, longo e com amarração nas costas, havia caído perfeitamente no corpo dela. havia prendido seu cabelo em um coque alto, com alguns fios soltos, expondo a pele de seu pescoço. A sandália com um pequeno salto e um tom prateado completava tudo perfeitamente, porém o maior destaque ia para o tom azul royal do vestido, que parecia ressaltar ainda mais o brilho nos olhos dela. escolheu uma maquiagem leve, destacando apenas seu olhar com um delineado e cílios bem moldados.
Quando os olhos de pararam nos lábios de , percebeu que um meio sorriso se formou ali, indicando que já fazia um tempo considerável que apenas a encarava, sem piscar ou respondê-la.
Pigarreando baixo, o homem coçou a nuca, então se levantou.
— Você está linda, senhorita .
O sorriso dela se alargou mais e já que havia a analisado tão minuciosamente, não haveria problema se ela fizesse o mesmo, certo?
Duvidava que alguma roupa ficasse feia naquele homem, mas aquele terno com a camisa preta havia lhe caído tão bem que não se importaria em ficar ali apenas olhando para ele.
De onde estava, a mulher conseguia sentir o cheiro inconfundível de e lambeu os lábios discretamente ao pousar o olhar na abertura de sua camisa. Aquele não era um bom momento para ela se imaginar abrindo botão por botão daquela peça.
— Olha só quem fala. — Deu alguns passos na direção dele e engoliu em seco.
Que ideia havia sido aquela de convidá-la para ir à Ópera? Como conseguiria resistir a ela?
— Estava apenas tentando ficar à altura. — Piscou charmoso e sentiu que poderia agarrá-lo por aquilo.
— Normalmente eu não discordo que sou linda e maravilhosa, mas acho que dessa vez o maior crédito é do vestido, tá? Obrigada, mas você não precisava ter comprado ele para mim.
mal havia acreditado quando finalmente entrou em seu quarto e encontrou a caixa branca com fitas prateadas sob sua cama. Reprimindo um grito, a mulher pegou o presente e sorriu maravilhada com o singelo bilhete que o acompanhava.

"Tenho a impressão de que vai combinar com seus olhos.
".


— A graça é essa mesmo. Eu não precisava, mas achei que um presente e um convite para a Ópera seriam uma boa desculpa para nos vermos.
O coração de acelerou dentro do peito ao ouvir aquilo. Ele havia mesmo feito aquilo apenas para vê-la?
Podia escutar a voz de Daria em seu ouvido repetindo que ela devia agarrar aquele homem de uma vez e isso a fez quase rir.
— Cuidado, senhor . Assim eu vou achar que está com saudades do meu rostinho.
— Não só dele. — estava tão hipnotizado por naquele momento que não controlava seus impulsos e nem queria.
Mais uma vez, a mulher ficou surpresa e afetada com aquela resposta. Ele não podia dizer coisas daquele tipo e esperar que ela apenas ficasse o olhando.
No entanto, por alguns segundos, foi exatamente o que a mulher fez. Estava embasbacada com ele desde o início do dia, mas naquele momento chegou a perder a fala.
— Vamos então? — quebrou o silêncio e estendeu seu braço para que ela o entrelaçasse.
— Vamos — respondeu, tentando não demonstrar como seu corpo tremia quando aceitou o gesto.
Toda vez que se tocavam parecia que seus corpos se incendiavam e naquele instante não foi diferente. sentiu o calor vindo dela, enquanto quase ficava sem ar com o dele. Ela podia simplesmente afundar seu rosto no pescoço dele, provar o gosto de sua pele e enquanto pensava naquilo não fazia ideia de que ele queria fazer o mesmo com cada parte exposta dela.
Durante o trajeto até o carro, até cogitou se encontrariam com alguém na casa. Não havia dito nada ao pai sobre sair naquela noite, mas ela normalmente não o fazia mesmo. Charles não era controlador e nem nada do tipo, porém não conseguia imaginar qual seria sua reação se ela dissesse que sairia com , muito menos se ele visse os dois.
A mulher achou no mínimo surpreendente não passarem nem por Julieta, que vivia “zanzando” pela casa, mas desconfiou que tinha dedo de alguém naquilo. Quem sabe de Carter?
Os dois continuaram andando em silêncio até adentrarem o carro de e o homem dar partida.
— Então, você me chamou para esse espetáculo, mas não faço ideia de qual é. — virou o rosto para encará-lo, enquanto dividia sua atenção entre ela e a direção.
— É segredo. — O homem sorriu de canto, fazendo-a estreitar os olhos.
— Você sabe que eu sou curiosa, . E a Carter não me deixou pesquisar o que está em cartaz.
Aquilo o fez rir alto.
— Só mais um pouco e você verá.
— Não acredito que os dois se uniram pra conspirar contra mim. — Fingiu estar emburrada, negando com a cabeça.
— Eu não diria que é contra, mas sim, eu e Carter sempre fizemos um bom time. — Seu tom orgulhoso a fez amenizar as feições.
— Pelo jeito vocês tocavam o terror quando eram mais novos.
— Literalmente. Qualquer época do ano era Halloween para ela e eu sempre fiz de tudo pela minha irmãzinha.
Por alguns segundos, ficou imaginando os dois fantasiados por aí e se pegou suspirando.
— Acho linda a relação de vocês.
sorriu fraco.
— Nós acabamos nos afastando nos últimos tempos. A campanha me consome mais do que eu gostaria e teve a questão da Amy também.
— Não se culpe por isso. Pelo menos agora vocês estão correndo atrás do prejuízo, não é?
— Tenho a impressão de que eu poderia fazer mais, mas suponho que sim. — fez uma careta.
— A Carter te ama, . Tenho certeza de que ela entende que você faz o que pode. — tentou tranquilizá-lo, e ele assentiu em concordância, sentindo algo dentro dele aquecer por conta daquele gesto.
Os dois passaram o restante do caminho desviando o assunto para outros mais descontraídos e assim que percebeu que chegavam ao enorme teatro, sua fala morreu e seus olhos ganharam um brilho imenso.
Ela nunca havia visto um lugar tão lindo, estava maravilhada e ansiosa para descobrir como era por dentro.
poderia dizer que apenas aquela visão já havia feito sua noite, porém não queria se despedir daquela mulher tão cedo. A companhia dela sempre tornava tudo leve e seu riso saía fácil.
o chamou, assim que o candidato estacionou o carro. — Vão reconhecer você, não vão? — Havia um certo receio na voz dela e imaginou que a mulher poderia estar desconfortável com a ideia de ser exposta.
— Não. Nós vamos entrar por outra porta. — Piscou para ela, que soltou o ar aliviada.
Realmente, estava com medo da exposição e do que diriam. Não queria prejudicar a campanha de de jeito nenhum e sabia muito bem que qualquer coisinha poderia se tornar uma verdadeira bomba.
Perdida em pensamentos, tomou um pequeno susto quando a porta do carona se abriu e sorriu com o coração indo até a boca ao encarar com a mão estendida para ela.
Quando achava que aquele homem não poderia ser mais perfeito, ele ia lá e provava o contrário.
Dessa vez, sentiu a mão trêmula dela quando entrelaçou o braço de no seu e tentou tranquilizá-la.
— Ninguém vai nos ver.
No entanto, ela já não estava mais preocupada com aquilo e sim com o fato de que durante aquela noite estava praticamente vivendo um conto de princesas com .
Como tudo já estava combinado com os donos do local, os dois seguiram para a entrada lateral do teatro e foram guiados por um funcionário até um camarote isolado, de onde dava para ver o palco de um ângulo perfeito.
não sabia para qual lado dava mais atenção, estava simplesmente boquiaberta, sem conseguir acreditar que aquele lugar era real.
Sua imaginação não fez jus àquele teatro. A decoração impecável toda trabalhada em ouro, o grande lustre abarrotado de cristais, as cadeiras douradas com um estofado vermelho de veludo que combinava com o tom das cortinas fechadas, em um palco com pinturas renascentistas na parte da frente.
Aquilo tudo realmente era um sonho, só podia ser. Desconfiava de que durante todo aquele tempo estava apenas dormindo e quando acordasse se descobriria de volta a Ohio.
Riu baixinho de si mesma. Ela nunca mais pisaria em Ohio e faria de tudo para tirar sua mãe de lá.
— Fico feliz que tenha gostado — comentou, sem conseguir tirar os olhos de . A expressão maravilhada dela a deixava tão radiante e não havia visão mais linda em sua opinião.
— Eu não gostei, . Eu estou apaixonada por esse lugar. Se pudesse, moraria nesse teatro. Pelos deuses, obrigada! — Precisou de muito autocontrole para não pular no pescoço do homem e abraçá-lo com força.
Conhecer um teatro e assistir a uma ópera era um de seus maiores sonhos e estava o realizando graças a ele. Queria poder retribuí-lo a altura um dia.
— Continuo feliz por isso. — riu e indicou que ela poderia se sentar se quisesse. — Quer beber alguma coisa?
— Me surpreenda de novo, senhor . — Piscou para ele, simplesmente porque estava adorando o quanto acertava em tudo que se propunha fazer por ela naquela noite.
— Acho que podemos comemorar a sua primeira ida à Ópera com um champanhe. O que me diz? — o candidato sugeriu, vendo a mulher sorrir abertamente outra vez.
Para falar a verdade, as bochechas de até doíam de tanto que sorria.
— Primeira ida? — Ela ergueu uma sobrancelha, sem deixar de notar aquilo. sabia muito bem que a jamais conseguiria pagar para ir a um lugar como aquele, pelo menos não enquanto fosse apenas uma universitária.
Aquilo a fez pensar que precisava ir atrás de um emprego, mas guardou aquilo para refletir mais tarde.
precisava admitir, foi pego de surpresa pela pergunta. Não esperava que ela fosse se atentar àquilo, porém ele realmente escondia intenções por trás daquelas palavras.
— Não vejo por que não trazê-la aqui novamente, . — Sorriu simplesmente e a mulher mais uma vez precisou se controlar.
— Fala a verdade. Você não existe, . É só uma invenção perfeita e gostosa da minha cabeça.
Uma sobrancelha dele se arqueou com aquilo e umedeceu os lábios.
— Me acha gostoso, é?
não se deu conta de suas palavras até aquele momento, no entanto, mesmo sentindo as bochechas aquecerem, ela também ergueu a sobrancelha de uma forma sugestiva.
— Não sou cega, senhor . Você é até demais para a minha sanidade.
Àquela altura, já esperava uma resposta daquelas. nunca recuava em suas provocações e ele não tinha intenção alguma de fazê-lo naquela noite.
No entanto, antes que pudesse retrucar, ambos foram interrompidos pelo garçom trazendo a garrafa de champanhe, enchendo as taças para os dois sem ter ideia do que acontecia ali.
Trocando olhares um tanto risonhos, e beberam do champanhe após se acomodarem nos assentos. Um silêncio confortável reinou entre eles até que as luzes do ambiente foram diminuindo e suas atenções se voltaram para o palco.
Se empertigando em seu lugar, estava inquieta. Finalmente descobriria qual era o espetáculo da noite, embora nem ligasse de não ver nada para apenas permanecer ali ao lado de .
Quando as cortinas se abriram, no entanto, a mulher arregalou os olhos, levando a mão à boca ao reconhecer o cenário, os figurinos e até mesmo a primeira nota entoada pela intérprete.
Se sentiu idiota por não ter prestado atenção em nenhum cartaz na área externa do teatro, mas no fundo sabia que não havia como ter percebido. Não quando estava com o braço enroscado no dela.
… — Ela o olhou, sentindo os olhos marejarem de tão emocionada. — , como assim?
— Esse é o seu musical favorito, não é? O Fantasma da Ópera.
— Caramba! Eu poderia beijar você agora por isso! — Num impulso, as palavras foram ditas sem filtro e quando ela percebeu aquilo sentiu as bochechas esquentando outra vez.
sentiu vontade de retrucar que estava ao seu dispor, no entanto, em questão de segundos, foi completamente arrebatada pelo musical.
A mulher era apaixonada demais por O Fantasma da Ópera. O enredo, as músicas cantadas, a atmosfera trágica e ao mesmo tempo sombria de tudo mexia com ela na medida certa, e durante o espetáculo até mesmo cantarolou baixinho algumas canções.
, por outro lado, não conseguiu focar sua atenção completamente no espetáculo. Mesmo se não conhecesse a história, provavelmente ainda assim continuaria observando a mulher ali consigo a todo momento. A expressão radiante dela o deixava vidrado simplesmente por ser genuína. No meio em que vivia, o mais comum eram pessoas fingindo a todo momento, mas não. Era apenas ela e aquilo o encantava.
— Você vai me julgar se eu disser que sempre torço para o Eric nessa história? — A mulher fez uma expressão culpada, indicando o personagem mascarado, que dava nome à peça.
— Você torce para o fantasma? — ergueu uma sobrancelha, surpreso, e levou uma mão à boca, afirmando com a cabeça. — Mas ele é um assassino.
— Eu sei. Mas quando penso em tudo que ele passou, não consigo não pensar que se não tivessem o tratado como um animal, as coisas seriam diferentes. — Deu de ombros.
— Provavelmente seriam, mas ainda assim não consigo torcer por ele. — soltou uma risada baixa.
— Eu sabia que você ia me julgar! — mordeu a boca, negando com a cabeça. — Mas não estou dizendo que Christine deveria ficar com ele, viu? Só que gostaria que o passado dele não fosse tão triste.
— Tá bom, agora estou julgando menos — ele brincou, não conseguindo evitar descer o olhar até os lábios da mulher.
— Ah, essa é uma das minhas músicas favoritas. — bateu palmas animadas quando Music of the Night começou a tocar e, mais uma vez, ficou mais atento a ela do que à performance que acontecia no palco.
Enquanto cantarolava a letra, dominada pela emoção que era ouvir aquela música ao vivo, sentiu que era observada e, de soslaio, pegou em flagrante.
— Está gostando, senhor ? — Se atreveu a perguntar.
— Muito — o homem respondeu, ainda sem tirar os olhos dela e aquilo a fez virar o rosto lentamente para encará-lo, enquanto continha um sorriso.
— É mesmo? E de qual parte você gosta mais? — ergueu uma sobrancelha, então fixou o olhar no seu, percebendo que ela não estava se referindo apenas ao espetáculo.
— Por que escolher uma parte quando eu posso apreciar o todo? — Ele nunca havia se sentido tão livre para expressar o que lhe vinha à mente, e acabou descobrindo como a sensação era ótima. Já nem entendia mais os motivos por ficar se contendo a todo momento.
mordeu o canto da boca mais uma vez, certamente tendo uma ideia de como aquilo o afetava.
— Ah, você pode? — De repente, nem ela prestava mais atenção ao musical. Virando seu tronco na direção dele, a mulher se inclinou para dizer aquilo um pouco mais próxima.
não recuou. Muito pelo contrário, imitou o gesto dela, sentindo que poucos centímetros impediam seus lábios de roçarem um no outro.
Sem conseguir se refrear, ergueu sua mão esquerda, levando-a até o rosto de e acariciando sua bochecha com a ponta dos dedos, deslizando um carinho enquanto ia explorando até os lábios dela. deixou um suspiro escapar e umedeceu a própria boca ao também percorrer a boca dela com os dedos, sentindo o quanto era macia.
Sem nem perceber, foi fechando seus olhos, apreciando os toques dele e ficando cada vez mais sedenta para sentir a boca dele a explorando da mesma forma.
voltou a descer a mão até o queixo da mulher e seguiu até o pescoço dela, encarando-a com tanta intensidade que sentiu seu coração transbordar. Mais um pouco daquilo e ela de fato imploraria que ele a beijasse.
— Eu quero muito poder. — A voz de ecoou em um tom mais rouco do que ele esperava e segurou a mão dele com a sua, entrelaçando seus dedos do mesmo jeito que eles haviam feito aquele dia no piano, então a guiou até sua cintura, num pedido mudo para que o homem a segurasse.
— Você pode, .
E aquela seria a deixa perfeita para que saciasse o desejo absurdo que sentia por ela. A vontade avassaladora que tinha de apertar sua cintura e puxá-la para si.
Uma salva de palmas ensurdecedora então os trouxe de volta à realidade, lembrando-os do lugar onde estavam. E odiaram aquilo.
— Vamos sair daqui. — Num impulso, se viu pedindo e só se dando conta naquele momento de que sua respiração estava ofegante.
— Como? — pensou ter ouvido errado, então franziu o cenho, oscilando seu olhar entre os lábios de e o peito dela, que subia e descia acelerado.
— Vamos embora, . Vamos para qualquer outro lugar.
Os olhos dele se arregalaram levemente e olhou para o palco de soslaio, notando as cortinas se fechando, enquanto se iniciava um intervalo antes do próximo ato.
— Tem certeza? — Ele queria, sim, levá-la para onde ela quisesse, porém aquele era o sonho dela.
— Tenho. Você não disse que me traria aqui novamente? — O sorriso esperto de o fez rir.
— Sim, eu disse.
— Então vamos. — Ainda segurando a mão dele, se levantou e o puxou para que a acompanhasse para fora do camarote.
permitiu que ela o guiasse, embora estivesse cada vez mais perto de simplesmente empurrá-la contra uma daquelas paredes para terminar o que quase haviam começado outra vez.
Não conseguia raciocinar mais nada que não fosse o quanto a desejava e sabia muito bem que era mais um dos efeitos de sobre si.
Apertando os dedos dela com os seus, estava prestes a ceder à tentação, quando a última pessoa que desejava ver saiu de outro camarote.
arregalou os olhos ao reconhecê-la de cara e, num ato reflexo, soltou a mão de , percebendo-o encará-la em confusão e apenas negando com a cabeça.
— Quando digo que esse mundo é pequeno, é a isso que me refiro. Ora, ora se não é . — O sorriso que moldou aquele rosto não era nenhum pouco sincero, tampouco os que e lançaram em resposta.
— Italia Whitman, finalmente nos conhecemos pessoalmente. — Estendeu uma mão, cumprimentando-a rapidamente. — Prazer em vê-la. Essa aqui é…
, assessora do senhor . — A mulher se adiantou, num gesto impulsivo. Pela forma como Italia olhava para , ela usaria qualquer coisa para destruí-lo e mais uma vez temeu ser um motivo para prejudicar a candidatura dele.
— Uau, você é deslumbrante. Foi por isso que ele trocou o Todd Phillips por você? — quis socar a cara de Whitman e fazê-la engolir de volta aquele veneno disfarçado de elogio.
— Não troquei o Todd, não. É perfeitamente normal ter mais de um assessor, certo? — O tom manso de não demonstrava em nada a ironia de sua resposta.
— Ah, com certeza é. — Italia mediu dos pés à cabeça mais uma vez e deixou uma sobrancelha levemente arqueada.
— Além disso, o Todd trabalha demais, né? E ele não é fã de ópera como eu — tornou a se pronunciar, mantendo um sorriso nos lábios, sem demonstrar o desconforto que sentia com a presença de Italia e a forma como a encarava.
detestava qualquer tipo de rivalidade contra outra mulher. No entanto, era quase impossível não sentir aversão à principal concorrente de . Até havia tentado dar o benefício da dúvida, afinal, as coisas fora das telas de tv e lentes de câmeras eram bem diferentes. E naquele momento, em menos de cinco minutos na presença dela, descobriu que Whitman era ainda mais detestável.
— Mas por que estão fugindo do espetáculo se você gosta tanto assim, senhorita…? — Italia franziu o cenho, tentando lembrar o nome dela.
— ela retrucou, sentindo vontade de mandar aquela mulher ir cuidar da própria vida.
— Não tem ninguém fugindo, Italia. Só estávamos aproveitando o intervalo para ir ao toalete. — compartilhava do mesmo sentimento que .
Costumava sempre manter a educação, independente de como o tratassem, porém cada pergunta que Whitman fazia parecia mascarar outras intenções e ele não gostava nada da sensação ruim que aquilo lhe causava.
— Ah, não? Me desculpem. Não era a minha intenção ser invasiva, só estou tentando puxar conversa e, como vocês pareciam estar apressados, acabei deduzindo errado.
— Está tudo certo. Pior seria se você saísse por aí falando sobre algo que “deduziu errado”, não acha? — acabou a alfinetando sutilmente, se referindo às coisas que a mulher insistia em dizer sobre ele em cada uma de suas entrevistas quando questionada a respeito de seus oponentes. O grande foco dela era sempre e o fato de que ele não passava de um homem bonito.
— É claro. Longe de mim fazer uma coisa dessas. — Italia ergueu as duas mãos em rendição, quase derrubando a bolsa de mão que segurava. — Mas, já que não estão fugindo, o que acham de se juntarem a mim e ao meu esposo?
e trocaram olhares discretamente. Nenhum dos dois gostava daquela ideia, principalmente porque arruinaria o plano deles de sair dali. No entanto, entendia que recusar aquilo seria rude e poderia repercutir de uma forma bem errada, justamente por se tratar de Italia Whitman. Então ela conteve um suspiro e, ainda mantendo a discrição, acenou em concordância, demonstrando que não teria problema.
— Não queremos atrapalhar a noite de vocês, Italia. Provavelmente seremos cercados pela imprensa e isso nos tomaria longas horas. Porém agradeço o convite. Quem sabe numa outra ocasião. — tentou escapar daquilo mesmo assim. Havia sido uma recusa educada.
— Ah, não se preocupe. Não estão atrapalhando nada, mas entendo o seu argumento. — E mais uma vez o olhar de Whitman pousou em , como se ela soubesse exatamente o que acontecia ali.
Aquilo deixou nervosa a ponto de querer se intrometer e aceitar o convite, porém foi mais rápido dessa vez.
— Pois então. Não vão faltar oportunidades, não é? — Sorriu cordial.
— Com certeza não. — Italia voltou a encará-lo firme.
— Sendo assim, foi de fato um prazer conhecê-la pessoalmente. — estendeu sua mão para ela, que a segurou prontamente para trocar mais um aperto de mão.
— O prazer foi todo meu, acreditem. — E ali estava mais uma expressão sugestiva que fez desejar estapeá-la.
— Até mais, Italia. — sorriu, lutando ao máximo para não demonstrar a má vontade em fazer aquilo.
— Nos vemos no debate. Eu poderia dizer que espero que esteja preparado, mas, na verdade, é o contrário. — Whitman não escondeu o tom atrevido e riu baixo, permanecendo firme em não deixar aquela mulher desencorajá-lo.
— Nesse caso, você será desapontada então. Eu sempre estou.
E se virando na direção oposta, ele e não tiveram alternativa senão a de voltarem ao seu camarote.


Continua...

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