Finalizada em: 31/10/2020

Deitados em uma cama

Espero aqui pra ver o sol nascer
E redesenhar
Cada curva tua
Cada curva tua
Deitada nessa cama
Teu corpo nu me chama
☀️

Presente

null acordou e seus lábios se curvaram para cima antes mesmo que seus olhos se abrissem, estava quase todo descoberto e aquilo significava sempre a mesma coisa, tinha passado mais uma noite com null.
A italiana adorava dormir com o ar condicionado ligado na menor temperatura possível e sempre acabava com frio e completamente enrolada nas cobertas, deixando null sem ter com o que se cobrir. null, após diversas tentativas falhas em solucionar o problema, passou a deixar uma manta extra ao lado do piloto, sem saber que null tinha aprendido a lidar com aquilo simplesmente programando o aparelho para desligar depois de algumas horas.
O curioso para ele, era que aquela manta sempre desaparecia ao final de cada hospedagem e reaparecia no próximo hotel, na sua casa, onde quer que estivessem. O que null ainda não sabia, era que null dormia com aquela manta, todas as noites que não passavam juntos. Desde que os dois pararam de negar um ao outro (e a todos) o que sentiam, ela pôde finalmente ter sua fragrância favorita em todo o mundo sempre com ela. O cheiro de null.
Ver null dormir ainda era uma novidade para o piloto, estavam juntos há pouco tempo, embora se conhecessem há anos, quando eram ainda apenas dois adolescentes. Pensar naquilo o levou a uma das primeiras memórias que tinha dela, ou melhor, uma das primeiras memórias que ele gostaria de ter reconhecido na época como o momento em que começou a se apaixonar por null null.

2011

null ainda se lembrava com perfeição a primeira vez que ouviu falar sobre null, o burburinho que se instalou sobre as competições de KF3, KF2 e KZ2, quando descobriram que os netos de Enzo null, Federico e null, estavam começando a competir profissionalmente. Muitos reclamaram que eles tinham uma vantagem imensa sobre os outros, algo que null chegara a escutar algumas vezes, afinal, ele mesmo estava trilhando passos parecidos ao do seu pai. Ele queria, como o mais velho, se tornar um grande piloto de Fórmula Um.
Mesmo que ainda tivesse apenas quinze anos, desde pequeno, quando começou a entender a paixão do pai pelo esporte, que ele tomou gosto pela velocidade, pela gana de vencer e mais do que isso, null null descobriu que ele era bom naquilo. Bom não, null era ótimo.
Por isso que, ao ouvir falar sobre os irmãos null, ele não se importou nem um pouco, mesmo quando os resultados deles começaram a aparecer pelo circuito, principalmente os dela. Sabia que venceria quem quer que fosse. Ao menos era o que ele achava até então.
Não demorou muito, pouco mais que um semestre, para que finalmente conhecesse null e Fedez, mas para seu descontentamento, a viu pela primeira vez no kart ao lado do seu, passando por ele e ganhando a corrida. Para alguém competitivo como null, não precisou de mais que meio segundo para que ele imediatamente a odiasse.
Odiou mais ainda o que sentiu quando ela tirou o capacete e a balaclava. Em sua cabeça de menino, imaginou que ela fosse feia, que se vestisse e falasse como os garotos, mas naquele momento, ele não a achava nada feia.
Com os hormônios começando a aparecer junto com a sua adolescência, null se irritou ainda mais consigo mesmo. Ele não perderia para uma garota, muito menos uma que fosse bonita como ela.

null, logo ao lado, sequer tinha notado o garotinho ao seu lado, a fuzilando com os olhos. Estava feliz demais por mais uma vitória, mais um motivo para que seu pai a ligasse a felicitando pela conquista, queria ouvi-lo dizer como ela era sua gioia, sua stellina. A italiana tinha muito orgulho de seu nome, de sua família, mas carregar aquele peso, também tinha como consequência mal ver seus pais, que estavam sempre viajando a negócios. E pior, ainda deixavam Guido, seu irmão mais velho e mais chato, responsável por eles.
Guido era apenas sete anos mais velho do que ela, mas parecia ter quase quarenta, de tão careta que era. Desde pequenos, os irmãos null passavam horas brincando com todos os tipos de carro, até que se tornaram grandes o suficiente para começarem a brincar com karts, e sem que ninguém esperasse, null foi a que mais se deu bem dentro de um, para alegria e orgulho de seu pai e desespero de sua mãe. E, desde então, null era mais feliz quando sentia o volante em suas mãos e deixava seus oponentes para trás.
Aquela era a diferença dela para Fedez, seu irmão favorito e melhor amigo. Ele também era bom, mas ele pilotava somente por diversão, não tinha o mesmo amor, paixão e ambição que ela e talvez fosse por aquele exato motivo que se dessem tão bem, caso contrário, ela não tinha certeza se gostaria tanto assim de competir com Federico.
null necessitava ser a melhor, sentia que com seu sobrenome e ainda sendo uma garota, precisa provar a todos aqueles garotos e mais ainda aos pais deles, que ela não seria derrotada por qualquer um.
De uma forma ou de outra, todos seriam obrigados a aprender na marra que ela não estava ali por ser uma null, ou talvez aprenderiam que ela estava ali exatamente por aquela razão. A velocidade e a adrenalina corriam em seu sangue, em seu DNA e embora null se negasse a admitir em voz alta, ele sabia que ela era boa.
Mesmo sem a menor vontade de se dirigir à menina, ele não teve muita opção, afinal, dividiram o pódio.

– Parabéns, null! – ela o felicitou, após checar seu nome inscrito em seu macacão. – Eu tenho ouvido falar muito sobre você e meu pai me contou que o seu foi um grande piloto, até me pediu para mandar lembranças a ele.
– Obrigado, parabéns também. – retribuiu sem muita vontade.
– Obr… – null interrompeu suas palavras, sabia que estava sendo um babaca, mas ele não se importava nem um pouco.
– Mas não se acostuma, aqui só tem espaço pra um vencedor e pode ter certeza que não é você.

Para sorte de null, a italiana ficou tão chocada com o que ouviu, que o poupou de toda sua fúria ariana, por ora.

Presente


Aquela lembrança fez null soltar uma risadinha, como ele tinha a odiado à primeira vista. A ambição por ser sempre o primeiro era o seu maior triunfo e maior defeito, ainda mais quando a mulher dormindo ao seu lado era igualzinha.
Eles brigavam por todo e qualquer motivo, ainda mais quando competiam por alguma coisa. Desde sempre fora assim e ele tinha certeza que ainda continuariam com aquela rivalidade no jogo para sempre, mas pelo menos com a sorte de, finalmente, se entenderem no amor.
Pensar naquilo o surpreendeu, foram tantos anos tendo a certeza que a odiava, que ressignificar todo aquele sentimento preso dentro de si e identificá-lo como amor, ainda era um choque para ele.
null se remexeu na cama, se soltando de seu casulo e, ainda perdida em sonhos, se aconchegou a null, deixando para trás o único tecido que ainda a cobria. Seu corpo nu era perfeito, mas seu corpo nu colado ao dele parecia simplesmente uma verdadeira obra de arte ao qual null ainda não conseguia desviar o olhar.
null reconheceu em si um novo vício.
Assim como se sentia dentro de um cockpit, ele descobriu que havia mais um lugar no mundo que o fazia se sentir invencível, ao lado dela.
Poderiam passar quantas horas fossem naquele quarto ou em qualquer outro, só havia uma coisa que o tiraria dali, sua outra paixão.

2012

Conforme null, Fedez e null passaram a competir mais e mais nas mesmas datas e categorias, null iniciou uma amizade com o irmão null e, devido a presença constante da garota ao lado do mais velho, ele descobriu que assim como ele, null era competitiva. Ela queria ganhar em tudo, nas corridas, no videogame, quem chegava primeiro no elevador e até mesmo pela afeição de seu irmão.
A companhia de Federico foi o ponto crucial para que que aquele "ódio" que sentia, se tornasse mútuo. Fedez tentava se dividir entre os dois, mas no final, a amizade com null e outros pilotos e a bagunça que faziam nos finais de semana de corridas entre garotos, acabou tomando o espaço que a irmã tinha em sua vida, fazendo com que null ressentisse e culpasse null por perder a exclusividade de seu irmão.
Falante, sorridente e ainda mais bonita do que no dia que a conhecera um ano antes, não demorou para que ela fizesse novas amizades, uma em especial que null decidiu não gostar logo de início, fora Charles Leclerc, que, além de irritá-lo dentro das pistas, passou a andar com null pra cima e pra baixo.
O que no passado ele encarava somente como rivalidade nas pistas, com o tempo ele aprendeu a identificar bem aquele sentimento: puro ciúmes.
Aquele sentimento ambíguo, que sua cabeça adolescente ainda não conseguia compreender, o fizera convencer Fedez que ele devia ficar de olho na amizade de Charles com a irmã e por conta daquilo, que se encontrava naquela situação.


Argh! Eu não acredito que eu dormi com você! – null acordou no meio da noite assustado com o gritinho agudo da garota próximo demais ao seu ouvido. Imediatamente fez uma careta e abriu os olhos sem entender o que estava acontecendo.
– O que foi agora, vogeltje? – perguntou, sabendo bem como ela odiava aquele apelido, unicamente por não ter a menor ideia do que ele significava.
– Você sabe que eu odeio quando você me chama desse negócio, null!
– Você é muito chata, eu ainda estou dormindo e você dando escândalo por nada. - resmungou abrindo os olhos e então se lembrou da situação. Tinham dormido juntos.
– Eu devo estar com alguma doença agora, ficar tão perto assim de você… A noite toda! – choramingou, ainda contemplando os diversos corpos por todo o quarto que dividia com Fedez. Riu ao ver Charles dormindo de boca aberta ao lado de Vivi, outra corredora e sua melhor amiga no circuito, no sofá.
– Tá reclamando agora, mas bem que você veio se encolhendo pro meu lado com frio.
– Eu não lembro disso, você está inventando. – disse confiante demais, embora por dentro sabia que aquilo era verdade. Odiava passar frio e sempre se juntava a quem quer que fosse em busca de calor. – Sai, null! Vai pra outro lugar, vou ter que pedir uma nova cama para o hotel, essa está agora com seu cheiro.
– Não tem mais nenhum lugar pra deitar! - exclamou irritado, se virando para o lado oposto, mas seu semblante era divertido, não tinha nada que ele gostasse mais do que irritar null. – Me acorde às nove – disse qualquer bobeira, apenas para ouvi-la bufar.
– Aff, você é um insuportável fedorento, mesmo. Eu vou dormir com o Charles.
– Sem coberta? - retrucou rápido demais, sem nem saber porque, se ela fosse, teria a cama inteira só para ele.
– Se você me encostar… – null ameaçou de volta na cama, puxando um lado do edredom para si.
– Por que eu te encostaria? Se o Pierre não tivesse dormido ao lado da Viviénne antes, eu preferia mil vezes estar lá. – mentiu sobre a loirinha francesa que vinha chamado a atenção de vários amigos seus e que ele fazia questão de dizer a null como ela era tudo que a italiana não era.
– Seu idiota! Como eu te odeio. – ela se virou para o outro lado irritada e demorou para que sua respiração se acalmasse e conseguisse dormir novamente.


null e Fedez sempre ficavam nos melhores hotéis e maiores suítes durante as competições, embora seus pais nunca viajassem com eles, faziam questão que os filhos estivessem seguros e confortáveis, o que os dava total liberdade para fazerem o que quisessem e era por isso que todo o seu grupinho tinha passado a noite no quarto dos irmãos null.
Após decidirem qual filme veriam, todos se espalharam pelos sofás e pelas duas camas espaçosas da suíte, mas null, como sempre, tinha se recusado a dividir sua cama com qualquer um que fosse do grupo de seu irmão. Vivi, Charles e Pierre Gasly eram os únicos que podiam ficar com ela. Ninguém, além de null e Charles, sabiam que os dois conterrâneos estavam ficando e como bons amigos, os ajudavam a esconder de todos os outros.
Naquela noite, null teve que jantar com o pai e só depois o mais velho o liberou para se juntar aos amigos e quando chegou ao quarto, ele era o único sem espaço em um lugar confortável. null revirou os olhos, antes de anunciar em alto e bom tom que faria uma caridade e permitiu que null ficasse com eles, somente até o final do filme.
Mas antes que ela sequer pudesse expulsá-lo de sua cama, como vinha o lembrando durante todo o filme, pegou no sono com a cabeça nas pernas de null. O garoto pensou em diversas pegadinhas que podia lhe pregar, desenhar algo em seu rosto, jogar um copo de água para assustá-la, mas quando ligou a câmera de seu celular para tirar a foto dela dormindo em seu colo para no dia seguinte chantageá-la, se viu preso nos lábios da italiana e em como ela ficava bonita dormindo tranquila, sem o cenho franzido e narinas infladas, ao qual estava acostumado.
Por isso que null se decidiu por fingir dormir, antes que um de seus amigos notassem o que estava acontecendo. Pôde ouvir Charles, Pierre e Fedez rirem da situação e até tirarem fotos, mas não ligou, estranhamente estava gostando de estar ao lado dela, sem que estivessem brigando.

Vamos fugir
Eu em você
Você em mim
Simples assim
Vamos sumir
Desaparecer
Fala que me ama
☀️

Presente


O relógio indicava que em breve precisariam se levantar, era sexta feira, o tipo de sexta favorita de null. A sexta que antecedia um Grand Prix.
Com todos os seus horários completamente tomado por suas obrigações, null decidiu se levantar para cuidar da mais importante delas, o café da manhã deles, especialmente, o café de null.
A italiana tinha suas particularidades, ou, como ela mesma sabia reconhecer, mimo em excesso, mas null não se importava nem um pouco com aquilo, fazia questão de fazê-la feliz, mesmo que com pequenos gestos. Já a tinha magoado demais por toda uma vida e era afinal, apenas café, puro, forte e italiano, que ele colocara em sua mala antes mesmo de sair de Mônaco às pressas. O piloto não se importava em lidar com isso, se em troca teria o seu sorriso, a sua garota.
Desde que se beijaram pela primeira vez em seu aniversário, ainda pisavam em ovos um com o outro e ele estava cansado daquilo, por isso havia tomado uma atitude e tinha ido ao Japão, bem antes do que deveria, apenas para passar mais tempo com ela.

– Não, null! – null resmungou no segundo que ele tentou se desprender de seus braços.
– Eu achei que você ainda estivesse dormindo, schatje – disse, sem ver os lábios de null se abrirem em um sorriso, ao ouvir um de seus apelidos para ela em sua língua nativa. Era tudo tão novo, tão gostoso.
– Eu estou, mas com você, amore mio. – soltou, arregalando os olhos ao perceber o que tinha dito. – Mas posso acordar e começarmos o primeiro treino livre do dia, se preferir – sugeriu sedutora, se movendo na cama até se colocar por completo em cima de null, tentando evitar ser questionada sobre como tinha acabado de se referir a ele.

null sorriu fechado, levando uma de suas mãos para a cintura de null e a outra passou delicadamente pelos traços marcantes do rosto da italiana, ainda saboreando em sua mente o que tinha acabado de ouvir.
null não era de se declarar em palavras, ele havia percebido que ela se sentia mais confortável com gestos e toques, e mais ainda como eles vinham aumentando pouco a pouco, conforme a italiana abria suas barreiras para ele.
O piloto ainda lutava para que o passado deles ficasse para trás.
Ele lutava para que suas palavras ficassem para trás.
null jamais se esqueceria do que havia lhe dito e se arrependeria por toda uma vida por tê-la magoado da forma que o fez.
Por sua culpa, null tinha perdido tudo e, quatro anos sem vê-la ou sequer ter notícias dela, era punição suficiente para ele.


– Eu não posso me atrasar e nem você. – a lembrou, soltando uma gargalhada ao ver a cara de decepção que ela fez.
– Nós podemos aprender a ser rápidos… – barganhou, distribuindo beijinhos por todo seu nullilar e pescoço. – Rápidos como um pit stop. – brincou com as palavras, finalmente selando seus lábios aos dele.
– Você joga baixo, lekker dingnull a virou na cama, ficando por cima dela e sem o menor pudor ou reticência, mordeu o lábio inferior de null com força e desejo, sabendo que não levantaria tão cedo. Não com ela nua embaixo dele, se insinuando da forma que fazia.
– Hmmm, eu gosto quando você me chama assim. – retrucou mordiscando o queixo de null.
– Como? De sexy, gostosa?! - perguntou num sussurro próximo demais ao seu ouvido. Ficou satisfeito ao vê-la se arrepiar, estavam ainda se conhecendo e a cada dia eles ficavam ainda melhores. Desvendar seu corpo e sua mente era um desafio delicioso a se conquistar.
– Uhum, bem melhor que volt… voge… Argh! Eu ainda não consigo falar isso – resmungou fazendo um biquinho, que null julgou adorável.
Vogeltje. null riu ao pronunciar a palavra que a italiana mais odiava em todo o mundo, por sua culpa.
– Eu não me pareço um passarinho.
Klein vogeltje null frisou o "meu", mas ainda assim, a italiana não parecia contente com o apelido.
– Sua sim, votje sei lá o que não… – Era oficial, null estava perdida. null poderia ter fingido não escutar o amore mio, mas os olhos divertidos dele para ela naquele momento deixaram bem claro que ele tinha ouvido ela se declarar sua antes que ele sequer dissesse algo parecido. Estava perdendo aquela disputa e para a italiana aquilo era inadmissível. – Nós vamos fazer esse treino livre, ou não? – disse rápido demais, sentindo o rosto esquentar.
– Como se você precisasse perguntar, schatje. – null sorriu, sentindo-se vitorioso com os resultados daquela manhã – Mas nada de pit stop, um piloto que se preze corre o tempo que for pra levar esse P1. Ainda mais numa pista como essa, a minha favorita.

2013

Lembrar de como tudo tinha começado a mudar entre eles ainda trazia um misto de sensações para null. Mesmo que na época não enxergasse por completo, tinham se tornado melhores amigos, ainda que fossem seus piores inimigos, tudo porque dormiram juntos "sem querer" pela primeira vez.
Quase um ano daquela "fatídica" noite e a relação de null e null era completamente outra, ainda brigavam como nunca, mas conversavam, competiam e davam muitas risadas juntos, para a surpresa de todos. Menos Fedez, o irmão do meio não entendia como os dois poderiam brigar tanto, sendo tão iguais. Vê-los se divertirem juntos, parecia tão certo quanto sol e mar.

null acabou descobrindo muitas coisas em comum com null, inclusive o temperamento explosivo, o que causava atritos ainda maiores entre os dois, dentro e fora das competições.
Ninguém irritava null mais do que null e ninguém o tirava do sério como ela, mas quando se davam bem, ah como tudo ao redor deles se tornava invisível.
null despontava mais e mais como um futuro campeão e seu talento e disciplina já chamavam a atenção de grandes equipes. null, bem como Charles, Pierre e outros pilotos o davam uma boa competição, mas ele sabia bem do que era capaz, mesmo que por vezes ainda perdesse para eles, especialmente para ela.
Ele se lembrava de um certo dia, onde após vencer mais uma corrida, foi correndo atrás da garota exibir o seu novo troféu, mas para seu completo choque, a encontrou chorando atrás dos boxes, chutando a parede com toda sua força e raiva.


null? – a chamou assustado, em dois anos nunca a vira daquela forma. Zangada, estressada sim, mas chorando por perder uma corrida, nunca.
– O que você quer, null? Parabéns?! – ela perguntou debochada, com seu sotaque ainda mais carregado que o normal – Ai! Mas que droga! – xingou a parede ao se machucar e embora contraditório, a chutou mais uma vez com ainda mais força, como se a dor não tivesse sido causada por ela mesma.
– Mas por que você está fazendo isso, só porque não foi ao pódio dessa vez?
Só porque eu não subi?! – a italiana berrou de volta para ele, o fazendo dar passos para trás. – Você acha que todo mundo tem a vida fácil como a sua? – questionou se sentando no chão de qualquer jeito, segurando o pé, agora dolorido.
– Fácil? – null retrucou na hora – Eu levo tudo isso muito a sério.
– E você acha que eu não? Que estou aqui como o Fedez, para fugir da escola e conhecer garotas? – perguntou tentando tirar a sapatilha, sem sucesso, tamanho seu nervosismo, o que só a irritou mais ainda.
– Do que você está falando? – ele perguntou, confuso com o rumo daquela conversa. Mesmo receoso, colocou seu troféu no chão e se sentou ao lado dela – Deixa eu fazer isso daí. – acrescentou, puxando o pé da garota para si, desamarrando o cadarço para ela antes que ela arrancasse o próprio pé.
– Meu pai. Ele disse que se o Fedez parar de competir, eu também tenho que parar.
– Mas, por quê?! – perguntou surpreso com ambas as novidades. – Por que o Fedez pararia?
– Por que ele não pararia? Ele é péssimo… – desabafou, soltando uma risadinha nasalada ao ver a cara de null para ela – Tá bom, ele não é péssimo, mas ele não quer isso pra ele, não como você quer, como eu quero. Essa semana ele veio com um papo sobre fazer faculdade.
– Eu ainda não entendo… – null soltou, perdido, passando finalmente a sapatilha para ela. Ao tirar as meias, ambos arregalaram os olhos ao ver quão vermelhos estavam seus dedos.
– É simples, null, ser uma garota é uma merda. Se eu fosse o Fedez, ou você, ou o Charles, se eu tivesse "algo" no meio das pernas, poderia ir atrás dos meus sonhos, mas porque sou uma garota, se meu irmão desistir de pilotar, eu também tenho. "Não é seguro para uma menina viajar por aí sozinha e ainda ficar no meio de tantos homens" – disse imitando o tom de voz de sua mãe. – Como se eu não soubesse me defender.
– Disso eu não posso discordar. – ele falou, dando uma risadinha – O que você vai fazer? O Guido não pode continuar vindo?
– Eu prefiro a morte, a ter que viajar só com o Guido. Eu não sei ainda, só é… Injusto.
– Isso é uma droga.

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, até que null soltou:

– Parabéns por hoje, você realmente foi o melhor. – admitiu, gargalhando ao ver a cara desacreditada de null para ela. – Eu estou falando sério, eu nem sei como consegui te segurar tanto tempo atrás de mim. Eu só queria ter ganhado pra provar pro meu pai e pra minha mãe que eu mereço estar aqui. É o sonho da minha vida. - disse voltando a sentir seus olhos se encherem de lágrimas.

null, sem saber como agir numa situação tão incomum entre eles, tentou pensar rápido no que fazer, qualquer coisa que fizesse null parar de chorar.
Naquele momento o piloto percebeu que ele não se importava nem um pouco em vê-la brava, mas chorando, era um pouco demais. Ainda mais quando sabia bem com ela amava o esporte.

– Vamos!
– Pra onde?
– Primeiro é melhor irmos ver esse pé e depois eu vou te dar os meus stroopwafels, mas só dessa vez. Não se acostume.
– Você está falando sério? – perguntou sobre o biscoito mais popular da Holanda, um wafer recheado com caramelo, que ela tanto amava.
– Sim. - ele riu ao ver como ela ainda parecia desacreditada por algo que ele negava a ela por puro prazer de vê-la implorar - Sabe que eu nunca reparei…
– No quê?
– Seu pé consegue ser ainda mais feio do que você.

Tudo o que eu vivi
Foi pra ver o sol nascer
E redesenhar
Cada curva tua
Deitada nessa cama
Teu corpo nu me chama
☀️

Presente

null saiu do banho com a toalha enrolada na cintura e congelou no lugar ao se deparar com null ainda deitada na cama, de bruços, com seu corpo sendo desenhado pelos raios solares, que aumentavam a cada segundo daquela nova manhã.
Quatro anos sem pôr os olhos nela e agora ele agia como se não conseguisse olhar para mais nada. Talvez porque realmente não conseguisse.
Há alguns meses que null via mais do que seu desejo insano de ser campeão mundial de Fórmula Um, ele também via null null.
Os únicos dois motivos que ainda conseguiam fazer o seu coração acelerar na mesma proporção.

null, você vai se atrasar.
– O Charles não se importa. – soltou ainda contemplando o sol entrando pelos vidros da janela.
– Eu me importo, se você continuar assim aí, vai ser difícil sair por essa porta.
Droga! - ela resmungou, porém sorria – Por que eu fui arranjar justo um piloto de Fórmula Um? – divagou consigo mesma, finalmente se levantando, ainda completamente nua. null levaria um tempo para se acostumar com aquele furacão em forma de mulher, de curvas sinuosas. – Você já parou pra pensar onde estaríamos se nada tivesse acontecido, se eu tivesse continuado a ... Você sabe, correr?
Schatje… – a dor nos olhos de null espelhavam a de seu coração.

Seu temperamento explosivo muitas vezes o colocava em maus lençóis, mas por ser ele mesmo o maior prejudicado de suas ações, ele pouco se importava. Aprendera desde cedo a lidar com as consequências de seu humor.
Mas desde que suas atitudes fizeram com que ele perdesse null por mais tempo que a havia conhecido, que ele tentava controlar suas emoçõe. Ao menos com as pessoas que importavam para ele, principalmente as pessoas que se importavam com ele.
Não que fosse difícil, com null ao seu lado, tudo era mais tranquilo, ela era a única a o acalmar. Ele agora só precisava aprender a não mais machucar a sua paz, ou a perderia de novo, daquela vez para sempre.
Era inevitável em momentos como aquele, se lembrar do dia em que, por conta de seu humor, null a perdeu. Uma simples hora errada e ele proferiu as palavras que mais se arrependeu em um dia dizer.
Mesmo com ela na sua frente, ainda parecia surreal demais que a tinha com ele, que a tinha o amando. E era por isso que null achava que tudo aquilo parecia bom demais para ser verdade. Bom demais para que alguém como ele, merecesse alguém como null.

– Foi só um comentário, null. – a italiana se aproximou dele, passando os braços por sua cintura, rindo ao puxar a toalha dele para baixo – Tem coisas que simplesmente não são pra ser. – concluiu selando os lábios aos dele, antes de seguir para o chuveiro, deixando um null pensativo para trás.

Como ele poderia apagar as marcas que havia lhe deixado, se ela tinha outras tão permanentes, a lembrando do sonho de uma vida arrancado de suas mãos tão violentamente?

2014

2014 estava sendo O ano para null null, após algumas competições na Flórida, Estados Unidos, ele estava de volta na Europa, competindo agora pela Fórmula 3. Com apenas duas cidades faltando para o fim do campeonato, ele tinha seu futuro praticamente garantido. Seu maior sonho, prestes a ser realizado.
O piloto estava na Itália, mais precisamente no Autodromo Internazionale Enzo e Dino null - nome dado em homenagem ao avô e tio de null - pronto para lutar pelo título daquele ano.
Só havia dois pilotos que poderiam acabar com seu sonho, mas ele não deixaria de tentar até o último segundo. Enquanto não visse a bandeirada final, null continuaria a buscar por mais aquela conquista. O único problema era que nada estava dando certo para ele.
Após ter que abandonar o primeiro round no dia anterior por conta de um problema nos freios, null acordou naquela manhã disposto a não deixar que o medo de não conseguir pontos suficientes para ganhar o campeonato tomasse conta de si. O que até aquele momento estava dando certo, mas de nada adiantava toda sua atitude positiva, se o seu corpo lutava contra ele. Sentia-se mal e a cada segundo parecia ficar ainda pior, não tinha contado a ninguém seus sintomas, com medo de que não o deixassem correr.
Só de pensar na possibilidade de estar ficando doente, acabou de vez com o resto de bom humor que ele tinha e se em algum dia ele tivesse ficado tão irritado em toda sua vida como se sentia naquele momento, ele não se lembrava.
Pronto para iniciar os treinos para o segundo round, não demorou para que ele notasse que algo estava acontecendo. Outros pilotos o encaravam curiosos e ele não entendia o porque, mas bastou que o canto de seus olhos captassem aquele tom de vermelho atrás de si, para que ele soubesse exatamente quem era. null null, parando todos os boxes e o seu coração.


– Você sabe que descontar a raiva no carro não vai adiantar nada, né? – ela perguntou divertida, segurando em seus ombros. A italiana ainda estava com um de seus vestidos vermelho e com o semblante oposto ao dele. Até seu sorriso, que normalmente o tirava do eixo, estava o irritando.
– Você não deveria estar mais preocupada com a própria corrida? – perguntou, saindo das vistas de todos, indo para o seu próprio box, no canto mais isolado possível e colocou a mão na barriga, sentindo seu enjôo aumentar gradativamente.
Eh, figurati, você consegue ser insuportável quando quer. – null rolou os olhos, o seguindo, irritada com a recepção. Tinha aparecido de surpresa e esperava pelo menos um meio sorriso que fosse do piloto. – É claro que eu estou preocupada com a minha corrida, mas também estou com você. Desde ontem você fica colocando a mão na barriga e eu sei que seu rosto já é assim, meio feio. Mas hoje você tá mais do que o normal.
– Eu estou bem, só preciso me concentrar pra ganhar alguma coisa esse final de semana – disse, empurrando null de leve com os braços, para que ela se afastasse – Ontem não valeu de nada, essa droga de freio me atrapalhou. É melhor você ir, não estou com paciê… – null não conseguiu terminar de falar, vomitou todo seu café da manhã praticamente nos pés de null.
null!! – ela se aproximou dele rapidamente – Você está bem? O que você está sentindo?
– Eu estou bem, vogeltje, para de me…Ei, o que você está fazendo? – null perguntou ao ver null levar as mãos até sua testa.
– Você está queimando! – exclamou preocupada, irritando ainda mais o piloto.
– Eu estou ótimo, preciso treinar.
– Está ótimo sim, ótimo pra perder. null, você precisa ir no médico, de nada vai adiantar treinar agora, se você não conseguir correr à tarde.
– Por favor, não conta pro meu pai.
– Como se ele fosse te impedir de correr. – bufou irritada, não falava muito com o pai de null, mas sabia como ele podia ser bastante rígido. Se dependesse dele, null correria até sangrando. – Você não pode correr assim, você pode passar mal e bater o carro. Não é seguro.
null, por favor, eu te imploro, não conta pra ninguém.
– Seu pai sabe que você tá assim? Você tomou algum remédio? O que você está sentindo?

null encarou a garota e notou com surpresa como ela estava genuinamente preocupada com ele. Algo que antes ele só vira acontecer com Fedez, Charles, Pierre e suas amigas. Suas piadinhas tinham cessado e nem o vômito ao lado parecia a incomodar. Aquilo era novo.
Diferente dos outros anos, 2014 tinha sido um ano atípico para null e null. Eles não se viram tanto quanto os anos anteriores. Enquanto ele corria nos Estados Unidos, a italiana passou por uma das fases mais complicadas de sua vida.
Federico anunciou para toda família que abandonaria o esporte ainda em 2013 e com isso, suas chances de seguir sua maior paixão quase foram para o ralo. Seus pais estavam irredutíveis com a decisão, mas sem que eles soubessem, null tinha ido atrás de diversas equipes em diferentes competições e quando o convite da Double R Racing chegou para que ela se juntasse a eles na Fórmula 3, seu pai, chocado e orgulhoso com a notícia, não pôde fazer nada, a não ser admirar ainda mais a determinação da filha e apoiá-la por mais um ano, mesmo que isso significasse reorganizar toda sua vida, para dar conta de acompanhar ela em quantas corridas fosse possível.
O dia que null a viu chorando pela primeira vez, ainda parecia gravado em sua memória, fora o primeiro dia que eles não brigaram nem uma vez, muito pelo contrário, passaram as últimas horas juntos comendo stroopwafels, enquanto ela mantinha o gelo no pé e dividiam um fone de ouvido, esperando o tempo passar. Embora não tivesse dito nada a ela, se sentiu mal por saber que todo seu talento e determinação seriam desperdiçados para sempre. Meses depois, quando eles passaram a se seguir no Instagram, o piloto não se surpreendeu quando ela lhe disse que talvez suas chances de se tornar uma pilota não tivessem findado. Ver a luta de null só o ajudou a agradecer ainda mais seu pai, por tudo que ele havia feito para ajudá-lo a chegar onde chegou.
Com aquele novo contato virtual, null e null aprenderam a ter uma nova relação, uma muito mais calma e positiva. A italian fazia questão de parabenizá-lo por suas conquistas nos EUA. Já null, acompanhava fervorosamente as viagens de null, principalmente as que ela estava na praia. A italiana ficava cada vez mais estonteante conforme os anos se passavam.
Reencontrá-la na F3 não foi uma grande surpresa para null, por mais que há anos não houvesse mais mulheres na Fórmula Um, ele não se surpreenderia nem um pouco se null null fosse a primeira a voltar ao esporte. Poucas vezes em sua vida conhecera alguém tão parecido com ele e já não se negava em admitir que sentia falta da competição com ela, tinha sempre um gostinho especial ganhar da garota.

– Ok, eu não conto pra ninguém sobre isso, nem pro seu pai, mas com uma condição. Eu vou procurar alguma coisa pra você tomar e assim que esse round acabar, nós vamos no ambulatório.
– Eu tenho alternativa?
– Você sabe que não. – ela sorriu vitoriosa, antes de sair em busca de remédios e qualquer coisa que fizesse null se sentir melhor.

Desde que se reencontraram no início do ano, null tinha aprendido a se importar com null. Sua fase de odiá-lo por completo tinha sumido há muito tempo, sabia que muitas de suas brigas eram por serem muito parecidos e muitas outras apenas porque gostava de vê-lo nervoso. Mas null também gostava de ver null sorrir. Já tinha perdido no videogame apenas para evitar que ele tivesse um ataque de raiva. Por mais que tivesse que engolir o próprio orgulho, quando null sorria, ela sorria.
Com o fim do treino livre, todos os pilotos começavam a se preparar para o início do segundo round e, ao contrário do que sentira naquela manhã, null sorriu ao ver null se aproximar com um chá em mãos.

– Eu pesquisei e dizem que camomila pode acalmar seu estômago. – a garota surgiu, já com o macacão de sua equipe, segurando um copo de papelão. – Consegui esse remédio também, dizem que melhora enjôos.
– Obrigado. – ele respondeu realmente agradecido, ainda se sentia horrível e tomaria o que fosse para que melhorasse logo e pudesse fazer uma corrida decente.
– Ei, null. – null chamou sua atenção, depois de um tempo em silêncio – Sabe como seu pai vive te dizendo pra não fazer a curva muito aberta e manter a velocidade nelas? Se você abrir a curva na Piratella você chega com muito mais espaço na Acque e consegue manter a velocidade e a direção com muito mais facilidade. Dá pra cortar alguns milésimos de segundo.
– Como você sabe disso?
– Aqui é minha casa. – disse orgulhosa de sua história – Eu cresci aqui, conheço cada pedacinho do circuito por dentro e por fora. Já testei essa pista de todos os jeitos possíveis. – confessou e null viu que ela estava realmente sendo genuína.
– Por que você tá me ajudando?
– Eu me recuso a ter perdido pra você tantas vezes, pra não te ver terminar esse campeonato entre os três primeiros.
– Obrigado. – o choque de null ainda era tão grande, que ele não conseguiu dizer mais nada do que aquele simples obrigado.
– Me agradeça subindo naquele pódio.

Segundo lugar.

Maldita null.

null tinha conseguido o segundo lugar, única e exclusivamente por conta de null null. Fosse por causa do remédio, de seu chá ou sua dica, provavelmente uma combinação dos três, mas ele devia tudo a ela. Durante o pódio até a procurou entre os outros pilotos, mas fora em vão. Sabia que ela tinha ficado em sétimo e que pra ela não era algo satisfatório, mas considerando que eram em 30 pilotos, ainda assim era uma conquista e tanto para a italiana.
Ainda se sentindo mal e vomitando tudo que comia, null ficou em seu quarto de hotel o resto do dia, assistindo TV, checando a internet, pensando em seu último round no dia seguinte e correndo para o banheiro, sem nenhuma ordem específica. Seu pai tinha saído pra jantar com alguns dos outros pais e ele se sentiu aliviado por ter alguns minutos de paz, em silêncio, por isso que ele se assustou quando alguém bateu na porta e mais ainda ao abrir, dando de cara com uma null sorridente demais à sua frente.

– O que você está fazendo aqui?
– Encontrei seu pai no restaurante, ele disse que você estava aqui. Eu me ofereci pra trazer a sua janta. Purê de batata e frango grelhado – ela sorriu como se pedisse desculpas pela comida de hospital. – O que você está fazendo? – perguntou curiosa, tentando olhar por cima de seu ombro.
– Vomitando. – respondeu sem pudor ou paciência, tentando pegar o embrulho das mãos de null.
– Você não vai me deixar entrar? – perguntou levemente chateada.
– Eu não estou me sentindo bem.
– E eu não quero ficar sozinha, tá todo mundo no quarto do Ocon e eu não quero ir pra lá.
– Você tem certeza? – perguntou um pouco envergonhado, realmente não estava em seus melhores dias.
null, você acha que nunca ajudei Fedez quando ele chega bêbado em casa? A gente pode assistir a qualificatória da F1, você já viu?
– Ainda não.
– Ótimo, vamos ver juntos.

Os dois se juntaram na cama de null e null se aproximou dele para que pudessem ver a qualificatória para a Fórmula Um. null se sentia um lixo, raras eram as vezes que os dois ficavam sozinhos e ainda mais em paz e tinha que ser justamente quando ele não estava no seu melhor. null parecia sempre pronta para sair, mesmo quando ela estava simples vestindo apenas um shorts e moletom.

null, eu acho que você tem tudo pra conseguir o primeiro lugar amanhã. – ela soltou do nada e null pausou o programa.
– E você não ? – perguntou genuinamente curioso com a afirmação da garota.
– Você merece. Sabe que… Eu me espelho em você.
O... quê?! – sua voz quebrou no meio, tão chocado estava com aquela revelação.
– Sua determinação, seu talento, até sua agressividade… – null levantou uma sobrancelha e null gargalhou – Nas pistas, null. Nas pistas. Eu sempre soube que você ia longe e te ver com assinando com a Red Bull… É só o começo, um dia você vai estar ali. – disse, apontando para a tela do computador.
– Por que você tá me falando isso agora? – perguntou tentando evitar entender os próprios sentimentos confusos que o assolavam naquele momento. null sempre fora tão bonita por dentro, daquela forma?
– Porque eu não sei onde vou estar depois da Alemanha. Falta pouco pra me formar no colégio e já começaram os assuntos sobre o que eu pretendo fazer quando me formar … – Ela confidenciou à null e sentiu lágrimas invadirem seus olhos, mas antes que pudesse deixá-las cair, as limpou tão rápido quanto elas apareceram. – Enfim, isso não importa… Eu só quero que saiba que foi um prazer ganhar todas aquelas vezes de você. – seus olhos voltaram a ter um tom de divertimento neles e null descobriu que aquela era sua null favorita, a que ela era quando estavam apenas os dois.
– Obrigado. Eu estou torcendo para que você faça um bom resultado amanhã.
– De verdade? – ela se virou pra ele curiosa e null percebeu o quão cheio de desconfiança era a relação deles. Aquilo o deixou com vontade de mudar as coisas.
– De verdade. – ele sorriu, voltando a encarar o nada a sua frente.
– Sabe… – null chamou sua atenção depois de um tempo em silêncio. – Vai ter uma festa na minha casa, depois de amanhã. Você acha que seus pais te deixariam ir?

Aquele foi o último dia que null viu null o olhar daquela forma, com carinho. Como alguém com quem ela realmente se importava.
Se null soubesse que aquele momento era um do últimos que teria com ela, ele teria dito mais. Teria tomado a coragem de dizer o quanto se orgulhava da pilota que ela havia se tornado. Da verdadeira amiga que ela era e talvez também dissesse como sentiria falta de chamá-la de vogeltje. Passarinha.
Se null soubesse como aquela comemoração terminaria, ele nunca teria aparecido.


Tudo o que eu vivi
Foi pra ver o sol nascer
E redesenhar
Cada curva tua
Deitada nessa cama
Teu corpo nu me chama
E se nada mais faz sentido
Vamos fugir
Eu em você
Você em mim
Simples assim
☀️

Presente

– Terra para null! - null estalou os dedos na frente do piloto, que tinha voltado a se deitar na cama, vestindo ainda apenas sua cueca.
– Achei que estivéssemos atrasados. – ela perguntou curiosa e levantou a sobrancelha em confusão ao vê-lo levantar o braço, pedindo que ela se aproximasse. – O que foi? null, se for sob...
– Vem aqui, schatje. Por favor. – pediu com o sorriso ainda fechado, assustando null.

null se aproximou, já vestindo uma das peças de sua enorme coleção de lingerie vermelha null, que ela fazia questão de desfilar para ele sempre que estavam juntos. Com null sempre menos era mais, não que null um dia fosse reclamar, oh não, null jamais conseguiria reclamar de null vestindo apenas lingerie para ele, da cor que fosse.
Sempre que a via pelos autódromos atrás de Charles Leclerc, ele sorria internamente, sentindo-se sortudo por ser o único em todo aquele lugar a saber o que ela estava vestindo por baixo daquelas roupas.
E aquele era apenas um, dos mil motivos que null vinha colecionando desde 2011, que o fazia amá-la.
Tinha custado, mas ele já não queria mais negar a si mesmo, amava null e era exatamente por finalmente entender aquele sentimento, que null a tinha convencido a deixá-lo se juntar a ela no início da semana. Precisava tê-la por perto, nem que fosse para vê-la trabalhar dia e noite, em preparação para o Grand Prix do Japão, junto à sua escuderia.
Desde o primeiro beijo, ou mais provavelmente, desde que a reencontrara nos boxes, meses antes, que null não se via mais sem null.
Como se fosse destino. Reencontrá-la estava no dele.
Ele já não se via mais sem seu mal humor matinal, que desaparecia no segundo que ela provava o primeiro café da manhã, sem sua sobrancelha franzida quando algo a incomodava, até mesmo como ela ficava estressada com tanto trabalho, desde que passou a ser a principal RP de Charles.
null não se via sem null fosse nos seus melhores ou piores dias e por mais que ele não pudesse mudar o passado, ele estava disposto a moldar o futuro deles. Juntos.
Ela sendo dele, ele sendo completamente dela.
Mesmo sem entender, null se colocou no colo de null, passando uma de suas pernas pelo corpo do piloto, que imediatamente a puxou para si, envolvendo todo o seu corpo dentro de seu abraço.

– Está tudo bem? – null perguntou, inalando o perfume de null diretamente em seu pescoço.
– Eu só queria ficar mais um pouco aqui com você, deitada nessa cama, schatje. null confessou, com os olhos fechados. Como ele queria poder voltar no tempo – Como eu fui tão cego?
– Com o quê? – null virou o rosto para ele.
– Com a gente, com o que eu sempre senti por você.
– A gente não sabia disso na época, null, estávamos mais ocupados em brigar um com o outro.
– Você é linda.
– Pára, null! – ela sorriu tímida e null levantou o rosto, procurando por seus lábios, os selando em um beijo rápido. Olhos brilhando, sorriso inebriante. null era arte.
– Você não faz ideia mesmo. – disse para a confusão da italiana – A minha vida toda eu estive em busca de velocidade, de adrenalina, sem saber que o momento que eu mais sinto algo verdadeiro, emocionante, é com você, null. A corrida sempre foi a minha droga, mas você… Je betekent ontzettend veel voor me.
– Você está me xingando? – perguntou divertida, mesmo vendo nos olhos de null como ele estava emocionado. Eram raras as vezes em que ele se abria daquela forma por completo, em palavras.
– Não, eu nunca te xinguei em holandês quando te odiava, como poderia agora que… – a frase morreu, mas dentro de null e null algo ainda mais forte nasceu.
, o que deu em você e o que você fez com o meu null? – perguntou divertida, derrapando mais uma vez naquelas palavras tão parecidas: meu, sua.
– O que você faz comigo, schatje – retrucou sorrindo, ainda assustado com a intensidade daquele momento. – Seu… É, eu acho que posso me acostumar com isso.
– Como assim?!
Vogeltje… null riu com a cara que null fez – Você quer namorar comigo?

Fala que me ama
Deitada nessa cama
☀️




Fim?



Nota da autora: Ahhhhh, mas uma história minha surgindo por aqui e eu quero MUITO saber o que vocês acharam?
Sei que a minha escolha de piloto não é geralmente o top 5 de ninguém, mas o Max é o meu piloto atual favorito da vida e eu acho que tem muito mais por trás daquele jeitinho todo nervosinho dele hehehe
E pelo jeito era uma pp como essa que ele precisava pra ser um pouco menos rabugento.

Essa história é uma prequel e sequel ( como eu apelidei) de uma longfic que tenho com o Max sendo escrita aos poucos, para lançar muuuito em breve. Espero que quando esse ficstape sair eu já tenha alguns capítulos prontos.

É isso, se gostaram do que eu escrevi, entrem no meu grupo, que tem sempre algo novo saindo dessa cabecinha. Bjos

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