Postada em: 15/01/2018

Capítulo Único

Um longo suspiro escapou de meus lábios quando larguei o copo agora vazio sobre a mesinha de centro da sala. A sensação amarga já havia se tornado parte de mim e não fazia a mesma careta que apareceu quando tomei o primeiro gole de uísque daquela noite.
Não fazia ideia de quantas horas eu estava ali, na mesma posição, me sujeitando apenas a encher mais uma vez o copo e deixar o líquido escorrer para dentro de minha garganta.
Eu me movia mecanicamente desde que havia recebido aquela maldita ligação.
Cada célula de meu corpo protestava de cansaço, a bebida não conseguia suprir aquele vazio gigantesco e por mais que meus olhos lutassem para se fechar, eu me negava disso. Os pensamentos iam e vinham como em turbilhões.
Eu deveria dar ouvidos aos protestos de meu organismo e minha cabeça até se virou na direção da porta de meu quarto, insistindo que eu pusesse minha ideia em prática e fosse me deitar de uma vez, mas então ela veio novamente.
A dor imensurável, aquela mesma que cutucava o vazio monstruoso em meu peito.
Não podia entrar naquele quarto, não podia me deitar em minha cama e sentir aquele cheiro impregnado em meus lençóis. Eu não estava preparado para aquela realidade monstruosa, que fazia meu corpo inteiro sacudir em agonia.
Se ao menos eu tivesse a chance de voltar no tempo e corrigir meus erros estúpidos, poderia apagar aquele dia e todo o peso que carregava consigo.
09 de Dezembro de 2016, o dia em que eu perdi o amor da minha vida.
.
Sem forças para voltar a encher meu copo com uísque e me recusando a caminhar até aquele quarto, deixei meu corpo cair sobre o sofá e me encolhi como um feto na barriga da mãe.
Quem me dera poder voltar a ser uma criatura indefesa, por mais que minha mãe tivesse me visto como uma aberração desde a primeira vez que me viu.
Puxei o ar profundamente, tentando acalmar a dor lancinante em meu peito enquanto sentia meus olhos serem tomados pelas lágrimas, mas foi totalmente em vão.
O cheiro dela também estava ali. Desconfio que estivesse impregnado na minha alma.
.
Minha .
Uma chuva agonizante de memórias tomou conta de meus pensamentos e então eu já não consegui mais refrear as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Meu peito se sacudiu, gritando por finalmente eu poder fazer isso sem ter olhares curiosos direcionados para mim porque agora eu estava completamente sozinho.
Sozinho.
Tão sozinho e tão mergulhado no luto que ao menos senti quando o sono finalmente me carregou consigo.

Durante breves segundos era como se aquele dia não houvesse existido, mas a dor insuportável martelou meu peito e então eu soube que não havia sido um pesadelo.
Apertei meus olhos com força, me recusando a abri-los e ter que encarar a realidade. Talvez se eu voltasse a dormir conseguiria superar mais rápido, mas eu queria superar de verdade?
Eu não queria, mas eu precisava. E precisava arrancar a sensação de culpa, porque eu não havia matado , não é?
Senti a onda de lágrimas chegar pra me mostrar que eu ainda tinha um estoque enorme delas dentro de mim, então tomei coragem para levantar daquele sofá, por mais que meu corpo protestasse violentamente.
Foi então que eu me dei conta de que não estava no sofá.
Toquei a textura macia de meus lençóis, senti o cheiro de entorpecer meus sentidos e estava quase me convencendo de que havia ido dormindo para a cama.
Abri meus olhos e foi inevitável conter o meu espanto ao ver o corpo esguio do amor da minha vida deitado ao meu lado na cama. Os cabelos ruivos caindo por suas costas e a camisola de bichinhos levemente levantada.
Seria este um daqueles sonhos tão bons que te fazem chorar de agonia quando a realidade te força a abrir os olhos? Pude ouvir a respiração serena de , como se ela estivesse em um sono profundo, então dei um pulo assustado quando o barulho do despertador tomou conta do ambiente.
Trêmulo, eu me inclinei para desligá-lo, evitando que meus olhos deixassem a minha garota, como se sentisse que ela desapareceria a qualquer segundo.
Quando o barulho cessou, ela se mexeu preguiçosamente e virou na minha direção, um sorriso lindo foi se abrindo em seus lábios e ela estendeu uma de suas mãos para tocar o meu rosto com carinho.
- Você precisa trocar o som desse despertador. Qualquer dia desses vai acabar enfartando e a culpa vai ser inteiramente de sua preguiça - brincou, com a voz meio rouca e eu estava tão espantado por ela estar ali, viva e radiante como sempre foi, que não consegui rir. - ?
- Eu... - balbuciei, não conseguindo encontrar as palavras.
- Quer panquecas pra hoje? Roubei uma das receitas do Damian e to sentindo que hoje meu lado cozinheira vai me ajudar a não queimar nada - ela soltou ainda risonha e de repente eu consegui recuperar a minha fala.
- Você ainda vai enlouquecer o seu primo mexendo nas coisas dele e depois sumindo pra passar a noite aqui comigo, . Mas você já tentou fazer essa receita ontem, não lembra?
Por um breve momento, me ocorreu que talvez todo aquele cenário de dor onde eu havia perdido para sempre pudesse ser um terrível pesadelo e a realidade não era tão cruel como eu definia.
- Ontem, ? Ontem era aniversário do Damian. Quem andou fazendo panquecas pra você aqui no seu apartamento? - franziu o cenho, desconfiada, e eu acabei imitando seu gesto, mas em sinal de confusão.
Como assim ontem era aniversário do Damian? Não, o aniversário de Damian Lovtsi, o meu amigo e primo superprotetor de , que não fazia ideia de que eu e ela estávamos juntos, era no dia 08 de Dezembro. Ele havia feito uma festa na mansão de sua família e de repente sumiu com a namorada, o que acabou dando a oportunidade perfeita para que eu e pudéssemos sumir dali também.
Como eu poderia ter sonhado com o dia seguinte?
- Terra chamando, . Você tá estranho hoje, sabia? - despertei de meus questionamentos, sentindo me puxar para que eu a abraçasse, o que eu não hesitei em fazer, apertando-a contra mim e juntando meus lábios nos seus, tentando provar pra mim mesmo que eu só tinha realmente tido um pesadelo.
- Cupcakes. Ontem você fez cupcakes e queimou todos eles. Eu to meio bêbado de sono, - sorri, ouvindo ela rir baixinho e sentindo ela me beijar novamente.
- E aquela sua palestra de hoje, que horas vai ser mesmo? - ela questionou, quando por fim nos desvencilhamos do abraço.
- Às dez. O que significa que você precisa correr se quer me surpreender com essas panquecas aí - brinquei, enquanto me espreguiçava e levantava da cama.
Caminhei até o banheiro, na intenção de tomar uma ducha rápida e parei diante da porta para encarar a bela figura ruiva deitada em meus lençóis.
Era uma tremenda loucura eu e juntos. Se Damian descobrisse, iria me matar depois de uma longa sessão de tortura.
Eu não podia negar que me sentia culpado por apunhalar meu amigo daquele jeito, principalmente porque ele era um caçador e havia poupado minha vida quando nos conhecemos e ele reconheceu de súbito o que eu era.
Um lobo da tempestade, renegado pela mãe no nascimento e que procurava justiça pelo pai obrigado a render sua alma ao filho de Lúcifer.
Damian havia ignorado o lema de seu legado para me estender a mão e eu lhe respondia me envolvendo com sua prima de dezessete anos.
- Se você ficar aí me olhando assim, eu não vou conseguir fazer panqueca alguma, . - abri um meio sorriso ao ouvir o comentário dela, então segui por fim até o banheiro, me largando embaixo do chuveiro e deixando toda a culpa escorrer pelo ralo.
Errado ou não, eu estava absurdamente apaixonado por .
Eu talvez nunca tivesse tido exemplo de amor verdadeiro para poder afirmar com todas as palavras, mas pelo que eu conhecia, eu amava . Era louco por ela.
O que tornou ainda mais dolorosa a ideia daquele pesadelo terrível.
Mergulhei a cabeça na água, sentindo o ar quase fugir dos meus pulmões para dar lugar ao líquido enquanto minha mente se inundava com as cenas. Tudo havia sido real demais.
E se na verdade eu estivesse sonhando que nada daquilo tinha acontecido?
Certo, chega de falar em sonhos, minha cabeça já estava dando nós.
Abri a porta do box, enrolei a toalha na cintura depois de me secar e assim que coloquei o pé para fora do banheiro escutei o barulho de vidro estilhaçando no chão da cozinha.
Meu coração disparou em pânico e eu corri até o cômodo, encontrando segurando uma mão que sangrava diante de um copo quebrado. Ela me encarou meio chorosa de dor, mas fora o corte em sua mão estava ilesa.
- Fui pegar do armário e por pouco não caiu na minha cabeça - ela se explicou, fazendo um bico que me arrancou um leve sorriso.
- Então ele mereceu esse destino que teve - pisquei para ela e me aproximei mais, a segurando com cuidado e a levando até a bancada para pegar um kit de primeiros socorros e colocar um curativo em sua ferida recente.
Eu não precisava daquele tipo de coisas em casa porque quando eu me feria curava instantaneamente como qualquer outra espécie de lobisomem, mas acabei adquirindo depois que conheci .
não era desastrada, mas tinha um dom infalível para arrumar problemas.
Na primeira vez em que nos vimos, ela havia entrado em uma briga com uma colega de escola e havia chegado em casa toda machucada e acompanhada pela colega em questão. Na época eu fiquei surpreso por ela se tornar amiga da garota, mas depois de um tempo descobri que era perfeitamente normal vindo dela.
Limpei o sangue de seu ferimento com um algodão embebido em água oxigenada e notei que seu corte era mais fundo do que eu imaginava.
- Sei que odeia agulhas, mas vai ter que tomar pontos aí, . - fiz uma careta para ela, vendo seu olhar aflito em resposta e quase sorrindo quando ouvi seus protestos.
- Pontos? Não dá pra colocar um band-aid aí não? Droga, o Damian vai me matar - ela praguejou e só então eu lembrei também desse detalhe. - Colocar band-aid vai só piorar a situação. Sorte sua que eu tenho agulha de sutura aqui.
- Você tá me dizendo que previu que eu ia me machucar desse jeito? Que tipo de namorado é você? - dei risada de sua cara indignada.
- O tipo que já sabe que seu sobrenome deveria ser ‘problema’. Além do mais, eu sou um lobisomem. Vai que mordo você ou algo assim? - tentei soar engraçado, mas ela fez uma careta e revirou os olhos.
- Já te disseram o quão ruim você é fazendo piadas? Ainda bem que você é gostoso. - a sinceridade dela era realmente preciosa.
- Bom saber que só está comigo por causa do meu corpo. - ergui uma sobrancelha, preparando tudo para suturar seu corte.
Depois de protestos de dor de , eu havia fechado seu ferimento com precisão e devia isso à experiência que eu tive trabalhando como professor de anatomia na Universidade de Death Valley.
Sei o que deve estar pensando, um lobisomem professor de universidade, namorando uma menor de idade, prima de um caçador de criaturas sobrenaturais.
Minha vida era repleta de ironias.
Mas a maior delas deu um soco na minha cara quando eu olhei para a recém cicatriz de na palma de sua mão e me dei conta de que eu já havia vivido aquela cena.
E repassando o que já havia acontecido naquela manhã e olhando para o copo quebrado no chão da cozinha eu tive certeza de que já havia vivido tudo aquilo. As mesmas situações, as mesmas frases, os mesmos olhares.
No mesmo instante, achando que talvez eu estivesse louco, mas sabendo que em Death Valley, a cidade onde o sobrenatural caminhava livremente, absolutamente tudo era possível eu soube o que aquilo tudo significava.
09 de Dezembro de 2016.
morreria naquele dia.
Eu havia recebido a chance que eu tanto queria de fazer tudo diferente.

- Mas você não tinha aquela palestra que fez questão de mencionar a cada cinco segundos? - soltou, surpresa quando eu sugeri passarmos o dia juntos, quem sabe ir para a cidade vizinha, onde nada poderia lhe fazer mal.
- Vou ligar cancelando a minha presença. - dei de ombros, como isso fosse completamente normal da minha parte.
- , você tá esquisito. Eu já falei isso hoje, não falei? O que foi que você bebeu ou, sei lá, fumou? - ela estreitou os olhos, se aproximando de mim, tocando meu rosto e observando meus olhos com atenção.
- Não bebi e nem fumei nada, . Eu só quero estender a nossa fuga pra aproveitar um tempo com você. Há algo de errado nisso? - questionei, num tom chateado, tentando disfarçar o quanto eu estava apavorado com o desfecho daquele dia.
Se eu fosse para a palestra, acabaria morta no chão da mansão Lovtsi.
Ela não podia de forma alguma voltar para casa naquele dia.
- Claro que não, meu amor. Eu só fiquei surpresa. Você nunca cancela as suas palestras. Não quando isso pode deixar o Dam desconfiado - ela ainda me encarava com um tom de desconfiança, mesmo que tivesse suavizado um pouco.
- Hoje eu não dou a mínima pra palestra alguma ou para o que Damian pode pensar sobre eu e você, . Só consigo pensar que quero ficar com você. - soltei, sincero, e ela por fim cedeu, abrindo um sorriso lindo e enlaçando meu pescoço com suas mãos.
- Ai! - exclamou, esquecendo dos pontos na palma de sua mão ao me puxar contra ela.
- Cuidado, mocinha. Nós dois sabemos que infelizmente só eu aqui tenho os genes de lobo - sorri de canto para ela.
- Já pensou que me morder resolveria isso tudo? Poderíamos eu e você formar a nossa matilha de lobos da tempestade. - ela me encarou persuasiva e pela primeira vez eu cogitei aceitar aquela oferta.
Se eu mordesse , ela poderia ser como eu, o que lhe daria mais chances de sobreviver àquele dia, mesmo que eu provavelmente fosse morto quando Damian Lovtsi descobrisse.
Mas não era todo humano que aceitava de bom grado o gene de lobisomem. Eu poderia também matá-la tentando evitar isso.
- Você sabe que é arriscado, . Não posso perder você por um erro estúpido. - toquei a maçã de seu rosto com carinho, alisando sua pele pálida e macia.
soltou um suspiro e antes que pudesse protestar, como eu sabia que faria, aproximei meus lábios dos dela e a beijei.
Senti uma agonia terrível ao imaginar não poder mais sentir todas as sensações que o toque dela me proporcionava e isso fez com que eu segurasse sua cintura e a apertasse contra mim, aumentando a intensidade do beijo e quase fundindo nossos corpos ali mesmo. Ela não hesitou em retribuir, por mais que não estivesse entendendo minhas ações naquele dia e essa era uma das coisas que eu descobri que amava nela. A capacidade de compreender mesmo sem ter todas as respostas.

Poucas horas depois, estávamos de volta à minha cama. Ela deitada com um de meus braços envolvendo seus ombros, aconchegada enquanto prestávamos atenção a uma série de comédia qualquer que passava na televisão.
Quer dizer, ela prestava atenção, porque eu não conseguia manter o foco. Eu estava neurótico de medo de tudo dar errado de novo. Tanto que não sabia se o certo era passarmos o dia inteiro ali naquela cama ou se eu deveria levar ela pra longe da mansão Lovtsi.
Qualquer que fosse a escolha certa, eu precisava fazer de uma vez ou tudo poderia se perder novamente.
Apertei meu braço ao redor de e senti uma lágrima teimosa escapar de meus olhos.
Droga, eu não podia deixar que ela percebesse. Como eu explicaria o motivo de estar sentindo tanto medo?
Enxuguei a lágrima, disfarçando ao esfregar meus olhos e me espreguiçar, o que a fez olhar pra mim, mas sem notar o que acontecia comigo.
- Quer ficar aqui o dia todo ou quer fugir pra mais longe? - propus, pensando que fazer ela decidir fosse uma boa ideia, mas depois me praguejando por isso porque soava como se eu pedisse a ela para escolher se morreria ou não.
Eu precisava parar de pensar que tudo daria errado. Eu havia cancelado a palestra, tudo estava resolvido, certo?
Certo.
- Ir para bem longe me parece tentador. Onde exatamente seria isso? - ela questionou, me encarando enquanto disfarçava sua empolgação. Eu sabia o quanto quebrar regras a excitava.
- Talvez a gente possa passar o dia em Brighton, vi em algum lugar que é aniversário da cidade - propus a ela, que sentou de imediato na cama, seus olhos brilhando animados.
- E o que nós estamos esperando? Vamos, vamos! - soltou um gritinho e levantou pra vestir suas roupas.
Eu permaneci deitado por uns dois segundos, observando cada movimento dela enquanto sorria feito um bobo.
- Anda, ! Eu adoro ficar deitada com você, mas passar o dia todo em outra cidade, sem precisar esconder de todo mundo que nós estamos juntos é tudo o que eu poderia querer - então suas palavras me convenceram e minutos depois nós dois estávamos na minha moto, eu lhe entregando o capacete e acelerando pela estrada que levava à saída da cidade.
Para longe daquele pesadelo.

Eu a olhava com uma admiração boba enquanto ela corria pela grama verdejante. Era talvez uma típica cena de filmes de romance, mas ali eu não precisava me importar com aparências.
Me sentia tão leve que poderia ser levado pelo vento e concordei com . Poder estar ali com ela, sem receios e sem limitações era a melhor sensação do mundo.
Eu estava genuinamente feliz e o sorriso estampado nos lábios dela me dava a certeza de que ela também estava. Minha audição aguçada detectava a confirmação em seus batimentos cardíacos e de repente estes se aceleraram quando ela voltou a se aproximar de mim.
tocou uma de minhas mãos e me puxou em sua direção, fazendo um sorriso enviesado se formar em meus lábios.
Então éramos dois malucos correndo na grama de um parque qualquer de Brighton.
- Você é incrível, . - ela soltou, em meio a risadas, quando nos jogamos no solo fofo. Ela com os dois braços esticados ao seu redor, eu me virando de lado para manter meus olhos em cada centímetro dela.
- E você é o amor da minha vida - respondi, sem conseguir controlar a onda de emoções que tomavam conta de mim naquele momento. Principalmente porque a cada hora que permanecia viva era um passo a mais que eu dava para vencer a morte.
- Repete isso? - ela também se virou para mim, sorrindo radiante enquanto eu notava seus olhos ficarem um tanto marejados.
- Você é o amor da minha vida, . Eu faria qualquer coisa por você - soltei, com toda a convicção que eu tinha e ela talvez nunca soubesse o quanto.
- Qualquer coisa? Até enfrentar o meu primo superprotetor? - arqueou uma sobrancelha, em desafio.
- Até enfrentar Damian Lovtsi - afirmei, sabendo naquele momento que havia tomado a difícil decisão que eu não tinha dúvidas que chegaria desde que me envolvi com .
Ela arregalou seus olhos, em completa surpresa e permaneceu boquiaberta por poucos segundos.
- Você tá mesmo dizendo o que eu acho que tá dizendo? - questionou, sem desviar seus olhos dos meus.
- Eu amo você, . Não quero mais esconder isso de ninguém e o dia de hoje serviu para me dar mais certeza disso - por fim tomei a decisão que sabia que tomaria um dia, desde a primeira vez que me envolvi com aquela linda garota.
Vi uma lágrima escorrer pela bochecha dela e no instante seguinte pulou em minha direção, me fazendo envolver meus braços ao redor de sua cintura enquanto as pernas dela se enroscavam nas minhas e seus lábios se encontravam com os meus em uma intensidade absurda.
Completamente inebriado, percebendo que o sol começava a se pôr e que o dia 09 de Dezembro de 2016 estava chegando ao fim, eu pude por fim acreditar que havia recebido uma nova chance.
Meu mundo estava perfeito.

Por mais que quiséssemos permanecer ali pelo resto da eternidade, nós precisávamos voltar e encarar tudo o que nos aguardava em Death Valley.
Não foi fácil montar na moto, nem para mim e nem para , mas então estávamos nós dois sentindo o vento bater contra nossos corpos novamente. Ela apertou seus braços em minha cintura e eu suspirei ao acelerar a moto mais um pouco.
Já havia escurecido, eu não fazia muita ideia do horário, mas sabia que isso não importaria quando eu estacionasse na frente da mansão Lovtsi.
Eu não iria deixar nada para o dia seguinte, faria tudo hoje.
E talvez devido ao meu desespero em fazer tudo certo, a vida resolveu ser uma grande vadia outra vez.
Eu cheguei a descer da moto com e arrumava os capacetes no compartimento. A entrada estava vazia, mas eu sabia que um dos Lovtsis sentiria nossa presença. Como caçadores de criaturas sobrenaturais, todos eles tinham uma marca que queimava quando suas caças se aproximavam. Eu sabia disso porque Damian havia me contado. Antes que eu olhasse para a porta, no entanto, escutei a voz de ecoar fraquinha e um tanto esganiçada ao meu lado.
- - ela chamou, com tanto medo que eu estranhei porque ela não temia Damian. Ela sempre dava um jeito de jogar na cara do primo que por mais superprotetor que ele fosse, ela acabava dando um jeito de fazer o que queria.
- ! - escutei Damian gritar, de pânico e não de raiva como eu havia imaginado, ao chegar ao hall de entrada.
Eu era um lobisomem da tempestade, me transformava em um lobo branco que soltava raios se assim eu quisesse e isso porque minha linhagem era descendente do deus japonês da tempestade. Tinha super audição e isso me permitia ouvir inclusive os batimentos cardíacos de quem estava dentro da mansão.
No entanto, eu não ouvi nem o farfalhar do vulto que cruzou da porta escancarada da mansão e seguiu na direção de .
Quando me virei para minha garota, a criatura maligna atrás dela soltou uma risada diabólica e estendeu uma mão sangrenta em nossa direção.
Meus olhos desceram para a direção do peito de quando ela tombou de joelhos, com os olhos ainda arregalados de surpresa e dor. O buraco em seu peito perfurava em minha alma e quando o demônio jogou o coração de minha aos meus pés, senti o mundo se esvair outra vez.

Meus olhos se abriram de súbito, meu peito se sacudia rapidamente conforme eu buscava por oxigênio e minha visão esquadrinhava cada canto do local em que eu me encontrava, buscando alguma pista de sua origem, já que eu não fazia ideia de onde estava. Minhas pupilas estavam dilatadas, buscando qualquer resquício que fosse de luz, mas a encontrando tão escassa que não poderia me dar por satisfeito. Um arrepio percorreu minha espinha e o vento gelado atingiu meu corpo em cheio, fazendo com que eu me encolhesse reflexivamente, trincando meus dentes e batendo um no outro, rangendo como resposta. Então percebi que algo gelado batia em meus ombros, aumentando ainda mais o frio em meu pescoço e não deixando que eu parasse de ranger os dentes por um minuto sequer.
Ergui meu tronco de súbito, assustado com a perspectiva do que poderia ser e sacudi meus ombros, sentindo a mesma coisa gelada bater em meu rosto e me dando conta, com um revirar de olhos, que era meu próprio cabelo, que por algum motivo estava encharcado.
Levei uma de minhas mãos ao meu rosto e esfreguei os olhos, notando que gotas escorriam por minhas costas e mais uma vez me perguntei onde diabos eu me encontrava.
Por mais que tentasse, por mais que esforçasse minha mente, eu não tinha a mínima ideia do motivo de estar naquele lugar, muito menos como havia ido parar naquela situação tão bizarra e foi quando meus pulmões se encheram de fôlego para soltar um longo suspiro que eu vi. O primeiro resquício de luz. Um mísero ponto que havia piscado e se apagado logo em seguida.
Arregalei meus olhos o máximo que pude, como se assim eu pudesse voltar a enxergá-lo, mas não havia mais nada, eu estava mergulhado na escuridão novamente.
Minhas mãos tremeram ainda mais e eu as cerrei em punho, me praguejando por não ter prestado muita atenção, pois assim eu poderia levantar e seguir na direção da luz.
Então mais uma vez fui surpreendido.
Definitivamente a luz havia piscado um pouco mais adiante do que antes.
Novamente não fiz nada, dessa vez porque queria ver até onde aquilo levaria.
E como eu havia previsto, ela voltou a piscar, ainda mais longe, como se estivesse me chamando em sua direção e como se fosse um ímã eu decidi levantar e seguir o que quer que aquilo fosse.
Meus joelhos fraquejaram, doendo absurdamente e fazendo com que eu quase caísse, mas acabei conseguindo me conter, respirando fundo e começando a correr quase desesperado para não perder a luz novamente.
Talvez fosse burrice seguir para uma luz sem saber qual era a sua origem, mas eu não estava me importando, era a única chance que eu tinha de entender onde eu estava e o que estava acontecendo.
E enquanto eu corria, notei que algumas coisas ao meu redor me pareciam familiares. Com espanto, prestando mais atenção nas construções que passavam por meus olhos, percebi que aquela era a cidade que eu morava há algum tempo. A cidade que sempre acabava me atraindo de uma forma ou de outra e que carregava uma maldição consigo.
Death Valley.
Merda, eu não podia estar ali. Eu estava justamente fugindo daquele lugar e voltar significava que tudo estava completamente perdido.
Estaquei, embasbacado com minha descoberta, sentindo meus joelhos travarem mais uma vez, sem conseguir me mover porque cada célula de meu corpo agora protestava em desespero. Eu não podia seguir em frente, eu não podia ir para onde a maldita luz me guiava porque agora eu sabia do que se tratava.
Eu não deixaria que minhas lembranças me arrastassem de volta. O melhor que eu podia fazer era o caminho inverso, retornar para o ponto de início, me jogar de volta naquela poça e rezar para que fosse o suficiente para aquele pesadelo acabar. Era tudo um sonho de novo, não era? Provavelmente eu estava dormindo sereno em algum lugar, abrigado, quente e completamente sereno.
Convencido de que era o certo a se fazer, então meus pés se responsabilizaram do trabalho de me levar de volta, como sempre faziam, mas antes que sequer o primeiro passo pudesse ser dado, eu ouvi.
O som que meu cérebro gritava ser o que eu menos queria ouvir, mas que meu coração desesperado em suas batidas dizia ser tudo o que eu precisava. Um aperto fez com que aquela dorzinha chata adormecida há pouco voltasse a despertar, então meu rosto se virou de súbito na direção de onde eu acreditava ser a origem do som.
Era clara como água límpida, doce como o mel mais puro e penetrante como a faca mais afiada. Clamava meu nome. Repetidamente.
- !
Ela ecoou novamente e eu já não consegui mais obedecer minha mente. Meu coração guiava meus passos e quando dei por mim voltava a correr na direção da luz, vendo os prédios ao meu redor passarem rápidos num misto de luz verde. Os batimentos de meu coração foram se tornando cada vez mais acelerados e de repente era mais fácil aumentar a velocidade. Minha visão adquiriu mais acuidade, os sons eram mais vívidos, assim como a voz dela, que não cansava de me chamar, tão desesperada por mim como eu estava por ela.
A terra abaixo de meus pés descalços agora não lhes arranhava mais e conforme atingiam o solo eu o sentia acariciá-los de forma quase macia. Mais sons ao meu redor denunciaram estalos de eletricidade e um trovão alto denunciou o que estava acontecendo. Eu conseguia sentir o cheiro de cada flor ou folha ao meu redor, conseguia sentir o gosto da chuva fina que ia chegando aos poucos e quando voltei a encarar meu corpo notei sem espanto as imensas patas brancas que agora me conduziam na penumbra.
Eu não sentia mais frio, somente euforia. Estava novamente aquecido, seguro de mim e determinado a alcançar meu objetivo.
Eu não sentia mais medo, somente a vontade de tê-la nos meus braços.
Eu não me sentia mais fraco, somente o poder que exalava de cada poro de meu corpo.
Quando passei na frente da imensa porta de um estabelecimento, parei por poucos segundos e me admirei, focando os brilhantes olhos azuis nos da imagem ali refletida. O enorme lobo branco questionava o que eu estava fazendo porque eu precisava voltar a correr, então inclinei meu focinho e um uivo profundo cortou o silêncio da noite.
- !
Voltei a ouvir a voz dela me chamar e me pus a correr novamente, sem prestar atenção ao lugar onde minhas patas me conduziam, mas sabendo que me levariam ao lugar certo.
E a enxurrada de lembranças tomou conta de minha mente enquanto ganidos baixos ecoavam de minha garganta.

Era clichê estarmos deitados em cima do capô do carro? Eu não ligava muito porque eu faria qualquer coisa para ver o sorriso dela do jeito que eu via agora. Seus olhos claros e radiantes me encaravam com uma felicidade genuína enquanto seus cabelos cor de fogo se espalhavam sobre meu peito.
Levei uma de minhas mãos ao seu rosto e acariciei sua bochecha macia, sua pele era quente e seus lábios me chamavam para tocá-los com minha boca. Me inclinei para alcançá-los e ela não ofereceu resistência, deixando que nossas línguas se enroscassem cúmplices enquanto partilhavam de nosso segredo, aquele sentimento proibido desde o momento em que havíamos nos conhecido.
O que seria de nós dois se nos descobrissem ali? Atados um ao outro, tão grudados que dificilmente algo poderia nos separar. Tão perigosamente unidos por aquela paixão avassaladora que não nos permitia enxergar quão errada era aquela relação.
Eu podia sentir o julgamento de qualquer ser vivo ao nosso redor, o que me tornava a pior pessoa do mundo. Que tipo de cara se envolvia com a prima do melhor amigo?
Mas como eu poderia me conter quando ela me olhava daquele jeito apaixonado e pedinte ou quando seus lábios tomavam os meus com o desejo ardente como ela fazia naquele exato momento? Se enroscando em mim, colando cada centímetro de seu corpo no meu e fazendo com que os arrepios dominassem minha razão. Então eu não tinha alternativa a não ser puxá-la para mais perto de mim, beijar cada centímetro de sua pele exposta e descobrir o que até então estava perfeitamente coberto.
Eu ouvia ela gemer baixinho, aprovando cada toque de minha boca em sua pele enquanto se contorcia pelos efeitos que eu lhe causava, efeitos esses que refletiam em mim, fazendo com que eu estremecesse e avançasse com mais desejo, ansiando por ter mais daquelas sensações.
As unhas dela se fincavam em minhas costas descobertas e a dor prazerosa era viciante, torturante. Eu não conseguia esperar mais nenhum minuto. Estava nu e exposto para ela assim como ela estava para mim.
Sem hesitação então éramos um só, mergulhados e entorpecidos pelo prazer que somente um poderia proporcionar ao outro. E eu ouvia a voz doce dela ecoar meu nome delirantemente excitada, fazendo com que eu pronunciasse o dela de volta em coro.
- !
Minha doce e amada . A luz que eu havia encontrado em meio à escuridão. A perdição que me conduziria à minha redenção.
Meu amor, minha pequena.
- !
O ápice fazia meu corpo sacudir sem controle e eu conseguia sentir ela estremecer logo abaixo de mim, suas unhas me arranhando tão forte quanto seus dentes cravados em meu ombro. Eu não me importava com a dor, eu mal a sentia em meio ao prazer.
Como eu a amava, céus!

- !
Era como se meus uivos ecoassem o nome dela em resposta e quando eu dei por mim minhas patas haviam diminuído sua velocidade, atingindo uma clareira em meio à floresta enquanto as gotas de chuva se tornavam mais grossas.
Minha forma humana estava de volta assim que a percebi parada a apenas alguns metros, me encarando doce e serena, com seus braços estendidos para que eu corresse ao seu encontro, do jeito que sempre estava quando esperava por mim.
Enquanto eu agora caminhava na sua direção, senti uma lágrima solitária escorrer por minha bochecha enquanto meu peito se apertava, entendendo o que tudo aquilo significava.
- Você precisa me deixar ir – as palavras dela soaram tristes e me agarrei a ela, num abraço desesperado antes de tocar a pele macia de seu rosto, meus olhos se conectando aos dela cheios de dor.
- Não posso – minha voz era sofrida e falha, os soluços tomaram conta de meu ser.
- Você precisa, meu amor. Precisa também seguir em frente. Há tanto que precisa fazer – ela sorria pra mim e eu não conseguia acreditar no que estava me dizendo.
- Como espera que eu siga sem você? Isso é tudo culpa minha.
- Nada disso é culpa sua, . Por acaso você agora é o rei dos demônios e eu não sabia? – sua voz soava brincalhona, mas eu não conseguia rir, eu não conseguia fazer nada a não ser chorar em meio àquela dor insuportável.
- Não consigo, . – insisti, como se aquilo fosse fazer tudo voltar ao que era antes.
- Faça por nós. Você consegue sim. Me deixe ir, . – ela também insistiu, então eu entendi que não tinha jeito.
E com a dor ainda me cortando por dentro, meus lábios tocaram os seus uma última vez e consegui distinguir um ‘obrigada’ ecoar dela quando então meus olhos voltaram a se abrir, agora para a realidade fria e cruel.
estava em meus braços e seu corpo estava sem vida.
Meu coração havia partido com ela e então eu entendi.
Mundos perfeitos não existiam.



FIM



Nota da autora: Certo, dessa vez eu maltratei o coração de vocês de novo, mas aaaaaaa, eu amo essa história hahaha.
Eu queria de coração que a história desses dois tivesse dado certo, mas não era pra ser e vocês ainda vão ver nosso pp de novo em outra história, assim como Damian Lovtsi (guardem esse nome, prometo que vem tiro dos grandes por aí!).
Muito obrigada a quem leu e aguardo vocês na próxima!
Leiam as outras fics desse ficstape lindão, porque Simple Plan merece e entrem lá no meu grupo pra saber mais novidades!
xx Ste.





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Nota da beta: Eu to é morta! Que sofrimento, Ste, nossa senhora, aguento isso não. Fiquei agoniadinha do começo ao fim, é tortura isso aí. Mas ficou muito boa a fic, meus parabéns!!
E vão ler as outras fics mesmo eim, tão demais! Xx-A

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