Finalizada em: 10/12/2020

Prólogo

Me revirei na cama, suspirando fundo, já fazia quase quatro anos depois de todo aquele verão cruel. Eu havia passado seis meses em uma clínica de reabilitação, foi preciso me internar, afinal, eu estava doente mesmo. Síndrome de Estocolmo, mas uma doença para o meu extenso histórico médico... Foi com aquele laudo da psiquiatra e do psicólogo forense que eu consegui ser inocentada das minhas acusações, ser filha da prefeita também pesava e muito, isso era um fato.
Meu ex-namorado não quis olhar na minha cara, eu o havia traído em rede nacional, sendo doença ou não, ele tinha total razão. Desde então eu tinha dado um tempo para mim, eu estava muito bem sozinha, a gente tem que saber quando é o momento de estar só.
Decidi levantar da minha cama, fui ao banheiro fazer minha higiene matinal e pegar meus dois remédios controlados de tarja preta que eu bebia desde então, as minhas crises de pânico ficaram constantes depois que eu havia voltado para casa, eu não podia mais parar de tomar aquilo, e toda semana tinha minhas consultas com psicólogo e psiquiatra. Sequelas de tudo no fim das contas, mas tudo bem, eu estava conseguindo lidar com aquilo.
Desci as escadas, pronta para tomar café da manhã com meus pais que já o faziam naquele momento, mas tudo o que eu encontrei na sala foi um entra e sai de pessoas, e minha mãe conversando impaciente ao telefone. Franzi o cenho, o que estava acontecendo?
– Mãe? O que houve? – Me aproximei dela assim que ela desligou o telefone. Ela me abraçou apertado, e eu retribui com a mesma fervura.
– Meu amor, presta atenção em mim. – Me encarou séria. – fugiu da cadeia ontem à noite. – Arfei, sentindo uma tontura forte, me segurei em minha mãe com força, ela me direcionou até o sofá e eu me sentei. Meu Deus, meu Deus!
– Ele vai vir atrás de mim, mãe, eu estou ferrada, ele vai me matar… – Segurei as mãos na boca, apavorada.
– Eu sei, querida, ele vem atrás de você, e eu não quero que aconteça nada contigo, ok? É por isso que a partir de agora você vai ter um segurança particular. – A abracei apertadamente. – Antônio, traga-o por favor. Vi o assessor da minha mãe sumir das minhas vistas, abaixei meu olhar ao chão, eu tremia dos pés à cabeça.
– Filha. – Chamou minha atenção para si. – Esse é o , ele será seu segurança pessoal. – Suspirei fundo, o encarando, ele balançou a cabeça positivamente, me cumprimentando, e eu só consegui olhá-lo, sem qualquer reação. Desviei meus olhos dele, e senti meu rosto molhado, eu já chorava sem nem perceber. Eu não estava pronta para rever . Eu nunca estaria.



Capítulo Único



Dois meses que eu tive a pior notícia da minha vida, , meu sequestrador, o cara que eu nutri uma devoção e amor doentio, tinha fugido da cadeia. Enquanto dirigia calado pela cidade, eu só olhava a situação de forma apática, às vezes eu queria que me confrontasse logo e essa angústia fosse embora, mas ao mesmo tempo eu tinha medo. A verdade é que naquele momento eu era mais uma confusão ambulante do que tudo.
Percebi olhando minha face pelo retrovisor, provavelmente checando como eu estava, ele era um cara bem simpático e extremamente bonito, isso era incontestável não reparar. No início tentou ser educado, puxar alguma conversa, afinal ele ficava o tempo todo na minha cola eu entendia que ele queria deixar a situação menos estranha possível, eu apreciava isso nele, mas o fato é que eu nunca conseguia lhe dar alguma abertura, sendo sempre monossilábica. Eu havia perdido o jeito de manter uma boa conversa, eu tinha virado antissocial.
Vi o carro encostar, estávamos finalmente chegando à clínica de psicologia, antes que eu pudesse abrir a porta, o fez, com um pequeno sorriso. Eu o agradeci com um gesto e entrei no local. Não demorou quase nada para que ela me chamasse. Cumprimentei-a educadamente, sentando-me no divã.
– Olá, , como passou a semana?
– A mesma coisa de sempre, saí apenas para vir às consultas do psiquiatra e para vir aqui.
– Isso é viver para você, Alice? Consumida pelo medo?
– Uaau, eu nem cheguei direito! – a encarei, com um sorriso trêmulo. – Lilian, entenda, é complicado. – bufei, cansada de quantas vezes mais eu tentaria justificar os meus comportamentos infundados, às vezes eu achava que Lilian desistiria de mim a qualquer momento.
– Eu não vejo nada complicado, você está enfurnada dentro de casa, e está deixando a vida passar emergindo no medo. Alice, entenda, eu sei a gravidade que é solto, porém você está nessa desde antes disso acontecer! Viver dessa forma só te faz ficar aprisionada aos remédios, e eu não gosto de ver você assim.
– Eu sei... – fechei os olhos deixando uma lágrima escorregar por minha bochecha.
– Por favor, Alice, você tem que querer de verdade. E não me prometer com palavras vazias. – peguei o lenço que estava na mesa dela, e enxuguei as segundas, terceiras, e quartas lágrimas que vieram do discurso da minha psicóloga.
Dessa vez ela nem tinha esperado os cinco minutos de sessão, me metralhou logo do início ao fim, e o pior era saber que ela tinha razão, eu precisava viver. E eu definitivamente não tinha argumentos, eu tinha que tentar, eu precisava tentar.
Saí do consultório com os olhos inchados de tanto chorar. estava lá, parado ao lado do carro me esperando, olhou para meu rosto, provavelmente percebendo meu choro, mas, como sempre, nada disse, e educadamente abriu a porta traseira para mim, eu entrei e segui em silêncio. O caminho até a minha residência era de aproximadamente 27 minutos, sem nenhum imprevisto. Chegando em casa, eu me trancaria em meu quarto e por lá ficaria a tarde e noite inteira vendo alguma série da Netflix. Era assim que eu me distraía, essa era a minha diversão.
estacionou o veículo e novamente abriu a porta para que eu descesse, assim que eu coloquei os pés fora do carro meu coração parou, tinha um palhaço do outro lado da rua que olhava fixamente para mim. Eu senti minha boca secar automaticamente, meu coração disparou e eu estava a ponto de ter uma crise de pânico. Eu tinha tanto medo de palhaços, mas desde o sequestro as coisas se tornaram incrivelmente piores.
Como se minha vida dependesse daquilo, e em partes dependia eu abracei apertado, ele a princípio ficou sem reação, mas me abraçou de volta, eu sentia sua cabeça se mover, ele procurava algo. A tarefa de puxar o ar para dentro dos meus pulmões estava muito difícil, eu estava há poucos segundos de ter uma crise de pânico fortíssima, como eu não tinha desde o momento em que fiquei sabendo que estava solto.
– Só me tira daqui, por favor. – consegui sussurrar em meio a lágrimas, enquanto respirar estava virando um fardo para mim. – Eu...
– Eu sei, senhorita , eu sei. – fechei meus olhos fortemente, eu tremia. – Vamos entrar.
Eu não tinha coragem de olhar para lugar nenhum, meu rosto estava encaixado em seu peito e de lá não sairia até que eu me sentisse segura. Eu senti que ele tentava andar, mas eu simplesmente tinha estagnado no chão, então ele me pegou no colo delicadamente e nos conduziu, eu só pude abraçá-lo ainda mais de forma apertada. Eu só queria que aquele inferno acabasse, será que eu teria algum dia de paz?
Eu não tive coragem de abrir meus olhos, então o trajeto até dentro da casa foi assim, eu abraçada ao meu segurança de forma desesperada, eu tremia ainda, e não conseguia respirar direito. Senti meu corpo ser pousado em uma superfície macia, e fui abrindo meus olhos de forma gradativa, meu rosto completamente úmido, era uma mistura de suor e lágrimas.
Me levantei, indo em direção ao banheiro, lavei meu rosto com água, ainda trêmula. Abri o armário do banheiro, e de lá tirei um dos meus remédios, tomando-o sem água mesmo, eu só queria que meu coração parasse de bater tão forte dentro de mim, eu queria voltar a minha calmaria de sempre. Molhei meus pulsos, e minha nuca, tentando ritmar minha respiração.
– Eu vou ficar bem, já passou, já passou… – sussurrei para mim mesma, tentando recobrar minha sanidade. Respirei fundo, expirei, ritmando minha respiração aos poucos. – Já foi, já passou, você está segura. – continuei a sussurrar aquelas palavras novamente. Tinha meus olhos fechados, segurando a pia com as duas mãos, de cabeça baixa. Meu coração voltou a bater calmamente em meu peito. Ainda fiquei respirando com dificuldades por um tempo, eu permaneci ali, naquela posição e não soube dizer por quanto tempo.
Suspirei fundo, fechando a torneira, e secando desajeitadamente meu rosto, voltei ao meu quarto e estava ao lado da porta do banheiro e me olhava apreensivo. Com certeza o meu ataque tinha o assustado, naqueles dois meses de convivência ele ainda não tinha vivenciado aquilo. Deus, a minha situação deplorável conseguia piorar a cada dia mais...
– Você está bem? – ele tinha um copo de água estendido em minha direção, tinha pegado da minha jarra em cima do móvel que ficava ao lado da minha cama, eu a usava para tomar meus remédios controlados.
– Obrigada. – agradeci com a voz trêmula, bebendo o conteúdo do copo. – Estou melhor, grata por perguntar. – voltei a deitar na minha cama, tinha o olhar preso em mim, eu podia sentir.
– De nada. – ele se direcionou a janela, olhava tudo minuciosamente, eu podia reparar. – O sequestrador sabia do seu medo de palhaços?
– Sim, ele sabia. – me ajeitei na cama, deixando o copo em cima do móvel. – Você acha que pode ser…
– Um palhaço parado em frente a sua residência me parece pouca coincidência… – ele tirou o olhar da janela, voltando-se para mim. – Eu preciso dar uma checada no perímetro, senhorita , e também quero ver se os outros seguranças conseguiram algo.
– Eu… – suspirei fundo. – Me desculpe, eu te abracei de forma tão… eu… surtei na sua frente. Me perdoe.
– Está tudo bem, fique tranquila, você estava em pânico. Eu estou aqui para te proteger, sempre. – balancei a cabeça, concordando. – Bom, eu estou indo. Qualquer problema não hesite em me ligar, ok?
– Ok, obrigada mais uma vez. – tentei sorrir, mas saiu mais como uma careta. Ele assentiu com a cabeça.



Como previra eu e os outros seguranças não encontramos nada, eu deveria ter ido atrás daquele cara, era provável que fosse o sequestrador, o problema era a , eu também não podia simplesmente deixá-la daquele jeito... Ela estava tão frágil em meus braços, e aquilo me tocou muito.
Eu nunca tinha a visto daquela forma, e era aterrorizador você ver alguém tendo uma crise na sua frente, e você não saber como agir. Eu só assisti de forma tensa ela ir se acalmando no banheiro de seu quarto, eu queria ter conseguido ajudar mais, me senti patético ali. Só consegui sair daquele quarto quando percebi que ela tinha realmente se acalmado.
Eu sabia que aquilo era errado e antiético, mas desde o momento em que bati meus olhos em eu simplesmente me encantei, eu sabia que ela havia mexido de verdade comigo, eu conhecia aquela sensação que eu sentia no peito toda vez que eu a via, eu já havia sentido uma única vez, por uma mulher que infelizmente quebrou meu coração. Eu tinha prometido a mim mesmo que não sentiria nunca mais, porém foi inevitável, era encantadora.
Entrei na cozinha para tomar um copo de água, eu precisava engolir aquele sentimento assim como engolia aquela água, era nítido que ela precisava de proteção e não de um namorado, ou um cara apaixonado, aquela mulher estava muito quebrada, de inúmeras formas inimagináveis.
Eu fazia parte da equipe pessoal de segurança da prefeita há uns cinco anos, então eu conhecia há muito tempo, desde quando ela namorava Bruce. Eu acompanhei toda a saga dela do sequestro, a angústia da prefeita, a localização dela, o resgate, depoimentos em fórum, síndrome de Estocolmo, enfim, aquela mulher havia passado por muito em um espaço curto de tempo. E eu era só um espectador, até pouco mais de dois meses, que fui apresentado para ela, fui designado para ser seu segurança particular, e ao invés do sentimento sumir, ele simplesmente aumentou ainda mais.
– Cara, você acha que é frescura dessa mulher? – despertei minha atenção para um dos seguranças que adentravam ao cômodo.
– Claramente não é, eu vi como ela se agarrou ao como se sua vida dependesse disso. – Olavo, o segundo cara que havia entrado, se manifestou. Eu fiquei calado, observando a conversa e até onde ela iria.
– Eu não sei não, você sabe que gente rica e poderosa não esquenta cadeira em cadeia, e essa menina tem as costas quentes, quem te garante que ela não deu uma de aventureira, abriu as pernas para o sequestrador, e depois se arrependeu? – senti meu sangue esquentar com a forma suja que Dimitri se referia a . – A menina voltou do sequestro irreconhecível, cabelo curto e descolorido, piercings... é difícil engolir essa história até hoje.
– Ah, cara, será? Porra, ela vai ao psiquiatra e psicólogo direto há mais de quatro anos, não é possível que alguém sustente uma mentira por tanto tempo. – Olavo comentou, e eu concordei internamente com ele, aquilo era doentio, ela tinha problemas sim.
– O que é ir para psiquiatra e psicólogo? Nada demais, eu aceitaria de muito bom grado melhor isso do que o xadrez.
– É, tem razão. – bufei audivelmente. Mas eles ignoraram continuando a conversa. – E grande parte da cidade concorda com você, até agora não sei como a prefeita conseguiu se reeleger, o povo tem comentado da história novamente, ainda mais agora que o moleque fugiu da cadeia. – segurei a pia com força, eu estava fazendo um esforço claro para não estourar a cabeça daqueles dois, era falta de profissionalismo aquele tipo de conversa qualquer um poderia entrar e flagrar.
– Eu estou falando, ninguém é idiota não. – Dimitri concordou.
– Esse cara é muito otário de procurar vingança por ela ter entregado a cabeça dele, se fosse ele fugiria para bem longe. – Olavo complementou.
– Com razão, eu faria o mesmo, cara trouxa! – Dimitri concordou. – Mas vamos lá, ela é gostosinha, não é? Se me desse trela eu com certeza me enfiaria naquelas pernas, e aceitaria a síndrome que ela inventasse. Já sei até o nome, escuta só: síndrome do segurança. Gostou? – os dois gargalharam e a pouca paciência que eu tinha foi embora.
– Já chega! Tenham mais respeito por ela. foi diagnosticada com uma doença grave psicológica, ela não está fazendo teatrinho, é sério, porra! – explodi.
– Ah, cara, para, né? Você fica com a gostosinha para lá e para cá o tempo todo e nunca se sentiu atraído por ela? Você é homem, é óbvio que quer se enfiar nas pernas dela também. Deve ser uma putinha na cama e... – eu não quis escutar mais nada, me direcionei em sua direção desferindo o primeiro soco dos vários que eu dei na cara de Dimitri. Olavo tentou me segurar, mas eu estava cego de raiva, eu só queria quebrar a cara daquele imbecil. Com a confusão foram chegando mais alguns seguranças que conseguiram finalmente me tirar de cima do imbecil. Eu tinha feito um bom trabalho arrebentando a cara daquele infeliz.
– Calma, , meu Deus. Se alguém vê você e o Dimitri naquela briga, vão os dois para rua! – Pietro me levou para longe da cozinha, eu respirava fundo, a adrenalina correndo pelas minhas veias.
– Eu perdi a cabeça. – soltei o ar que eu prendia, passando as mãos pelos meus cabelos. – Dimitri não tem limites.
– Mas o que ele falou para você ficar desse jeito? – engoli em seco, e sem escapatória, já que aquela história vazaria, resolvi que Pietro escutaria a verdade por minha boca.
– Ele falou mal da senhorita .
– Calma, você perdeu a cabeça desse jeito por que o Dimitri falou mal da patroinha?
– Cara, eu… – bufei. – Não se fala de nenhuma mulher da forma suja que o Dimitri se direcionou a ela, eu só…
– Eu já tinha percebido há um tempo, mas diante do que houve hoje não tenho nenhuma dúvida, você é afim dela. – neguei com a cabeça de forma desesperada.
– Tá louco? Ela é minha protegida, eu não poderia... eu seria demitido por isso, a prefeita não aceitaria. Fora que tudo o que essa menina precisa é de cuidado, de atenção…
– Coisa que você poderia muito bem fazer… – eu neguei veemente com a cabeça, aquilo não era cabível.
– Chega, cara! – Pietro riu. – Precisamos redobrar a segurança, esse cara tentou uma abordagem com ela hoje depois de dois meses. – mudei completamente de assunto, desconfortável demais com o rumo da conversa.
– Sim, precisamos. O chefe de segurança vai fazer uma reunião tática daqui a pouco. Assim que você sinalizou, fomos atrás, mas ele tinha se mandado mesmo.
– Eu sei, fiquei sabendo. Eu patrulhei novamente e não vi nada, mas a segurança deve ser reforçada, todo cuidado é pouco.
– Sim, se acontecer algo com essa menina, eu não sei o que acontece com a gente e o principal, com a prefeita. – concordei veemente.

O dia passou sem maiores surpresas, fui instruído é estar ainda mais atento a ela, tomando todos os cuidados possíveis, seria literalmente seu cão de guarda e a segurança na casa seria reforçada. Insisti para que mais alguns seguranças ficassem comigo em sua proteção, mas a prefeita a pedido da filha disse que já era constrangedor demais um segurança, que dirá mais. Aceitei, mesmo não concordando com esse capricho, sua segurança tinha que ser em primeiro lugar.
Eu estava na cozinha da minha casa, jantando, de cueca, como gostava de ficar em casa, como eu sabia que ela não sairia mais, e eu já tinha trabalhado muito, decidi que era hora de ir para casa. Escutei meu celular vibrar. Olhei e vi que se tratava de uma mensagem de :

Eu vou sair daqui 15 minutos!

Franzi o cenho, como ela iria sair se estava muito tarde? Não era adequado, e não fazia nenhum sentido, não resolvi pagar para ver se era uma brincadeira, e corri para me vestir, a primeira coisa que achei foi uma camiseta branca e uma calça jeans, não era o que estava habituado a vestir para trabalhar, mas teria que dar, e corri até a casa dela.
Para a minha sorte, eu morava perto da casa dela, e eu estava com um dos carros particulares da prefeitura, para casos de urgência, e a prefeita sempre permitiu que eu levasse para casa, ela confiava em mim e no meu trabalho. Cheguei ofegante no local, entrei rapidamente na residência e a vi, sentada no sofá, olhava o celular de tempos em tempos, me aproximei e a encarei, ela estava incrivelmente linda, se é que aquilo era possível.
– Oi! Bom, vamos logo, não é? – ela simplesmente se levantou, e eu a encarei.
– Boa noite, senhorita , não é adequado que você saia de casa a essá hora, o pode estar…
– Eu não estou pedindo autorização, . – me respondeu de forma grosseira.
– Mas, senhorita… – tentei argumentar, mas ela me cortou.
– Se você não me acompanhar eu vou sozinha. – pegou a bolsa, caminhou para fora da casa, e eu sem qualquer alternativa a segui, seja lá para onde ela iria. Eu não conseguia acreditar que ela estava agindo daquela forma, ela sempre foi prudente, o que poderia ter motivado aquele comportamento tão estranho? Ela sabia dos riscos que estava se colocando, principalmente saindo naquele horário.
– Senhorita . – a alcancei facilmente. – Onde eu devo levá-la?
– Para o bar mais próximo. – neguei com a cabeça, mas abri a porta traseira para que ela entrasse no veículo quando chegamos na garagem. Ela queria encher a cara, e o pior é que ela tomava remédios controlados e aquilo não lhe faria nada bem. Sua mãe e seu pai não estavam na cidade, tinham ido a São Paulo em viagem para angariar fundos para a prefeitura.
– Senhorita , por favor, repense na ideia e…
– Chega, ! Eu vou e pronto, não estou pedindo sua opinião, e nem a de ninguém, e esse excesso de cuidados está me irritando! – ela entrou no carro e bateu à porta.
Eu bufei e entrei no carro em seguida, fazendo o que ela havia ordenado e dirigindo para o bar mais próximo dali. Assim que descemos do veículo, parou em minha frente e me encarou.
– Fica longe, onde eu não possa sentir sua presença, eu quero fingir que estou sozinha, eu acho que mereço isso pelo menos uma vez nessa droga de vida! – Eu ia falar algo, mas ela entrou, me deixando para trás. Eu nunca a tinha visto daquela forma, sempre foi muito educada.
Me coloquei o mais longe possível como ela havia ordenado, e a observei, ela se sentou em um banco no balcão, e fez seu pedido, pelo líquido transparente tratava-se de tequila, já que o limão e o sal acompanhavam, nem usou os complementos, virando o pequeno copo de uma vez. Continuei a observá-la, preocupado. Peguei meu celular e passei o endereço onde estava com ela para a equipe de seguranças, para qualquer eventualidade. Droga, , o que te deixou assim?

Trinta e sete minutos, era esse o tempo que estava naquele bar, bebendo shots de tequila, um atrás do outro, eu não conseguia desviar meus olhos dela, a não ser para olhar o relógio de tempos em tempos. A vi colocar o cabelo atrás da orelha, de forma displicente, voltando seu olhar vazio para o copo, era melancólico demais observar aquilo.
Observei um cara se aproximando dela, e fiquei em alerta, visualizando com atenção a cena, ele disse algo que a fez revirar os olhos e voltar seu olhar à bebida novamente, ignorando-o. Ele era insistente, continuou falando coisas no ouvido dela, ela o empurrou, e ele não gostou daquilo e segurou o braço dela com certa força, mesmo de longe eu consegui observar, e aquilo foi minha deixa.
– Larga ela. – cuspi as palavras, encarando a forma como aquele imbecil segurava o braço dela.
– E quem é você? O pai dela? – neguei com a cabeça.
– Solta o braço dela! Eu não vou pedir de novo. – me aproximei de forma perigosa eu o vi soltar no susto. – Agora se manda, anda. – o empurrei, e o cara saiu dali cambaleante, estava bêbado.
– Eu estava com a situação sob controle. – sussurrou, me encarando de forma displicente.
– De qualquer forma eu estou aqui a trabalho, é meu dever não deixar que nenhum mal te aconteça. – ela revirou os olhos, voltando seu olhar para seu copo.
– É claro que é, eu sou a porra do seu trabalho mesmo. – soltou um riso amargurado. Eu a encarei, sem saber o que dizer, ou fazer. Ela não estava completamente sã, mas não estava tão bêbada assim. Olhei o relógio e ele marcava exatas 00:22. – Só senta aí, , você já estragou o meu disfarce de garota normal de 25 anos. – eu obedeci.
– Senhorita , já está tarde…
– Primeiro, é ! Você me viu surtar hoje, é o mínimo que você possa usar meu primeiro nome. – ela não estava mesmo sã, ela nunca se importou com a forma como eu me dirigia a ela. – Em segundo lugar, eu ainda não estou bêbada o suficiente para voltar para casa, hoje o meu dia foi uma merda, , e estar nesse bar tem sido a melhor parte dele. – passou as mãos no rosto, pegando o copo e levando-o aos lábios.
– Eu só estou prezando por sua segurança, senhorita… – ela me encarou. – . – abriu um sorrisinho, fazendo um joinha.
– Só me entretém, , já que vai ficar sentado aí quero te conhecer. Você vive tanto na minha cola e eu não faço ideia se você mora sozinho, é casado, tem família, amigos…
– Eu moro sozinho. E, sim, eu tenho amigos também.
– Você tem amigos… eu não tenho nenhum… todos fugiram para as colinas quando viram que eu era uma doente mental, eu não os culpo, não é? Eles têm razão, é toxidade demais. – abanou a mão, voltando o olhar para frente. Eu tinha meus olhos presos a ela, estudando suas reações. – Mas eu sinto falta de cada filha da puta que me abandonou. – riu de escárnio. Bateu o copo, e prontamente o objeto foi enchido pelo garçom. Eu fiz um gesto com a cabeça para o rapaz, pedindo que não servisse mais nada a ela.
– Então eles não eram seus amigos de verdade. Sinto muito, amigos não abandonam amigos, independente de qualquer coisa.
– Sábias palavras, , sábias palavras! – eu acabei rindo de lado, ? Aquilo era novo para mim, a bebida fazia cada coisa... – São lindas, mas é tão difícil colocá-las em prática, você tem uma dica para mim? – virou-se no banquinho e pela primeira vez naquela noite direcionou seu olhar ao meu.
– A minha dica é fazer amigos novos e o principal, verdadeiros. – ela fez um biquinho, negando com a cabeça.
– Assim eu não quero, , eu já não sou capaz de socializar, essa minha habilidade foi tirada de mim há uns bons anos. Não só ela. – deu de ombros, cortando o nosso contato ocular. – Sabia que eu não bebo desde… Você sabe, eu ter sido sequestrado e essa porra toda? Nenhuminha gota de álcool.
– E o que te motivou a beber? O surto? – arrisquei a pergunta, como ela estava com a língua solta, talvez me respondesse.
– Também. – ajeitou os cabelos. Então tinham mais motivos? Quais seriam? – Ei, você é casado? Isso você não respondeu…
– Não. – respondi de forma sucinta, não queria que aquela conversa fosse para aquele lado.
– Ai, nossa, nenhuma namorada? Você é um gato, , tem que ter alguém. – ela levou o copo aos lábios.
– Eu não namoro, senhorita ... – ela me fulminou com o olhar.
– Eu estou tentando criar uma conexão com o cara que fica 24 horas do dia na minha cola e tudo o que ele sabe fazer é me chamar de senhorita , eu posso com isso, garçom? – o homem franziu o cenho, ignorando-a.
– Me desculpe, é força do hábito.
– Tá desculpado, só para de me chamar assim. – assenti, eu não ia contrariá-la.
– Já que você é solteiro, estou tentada a aderir a síndrome do segurança, o que acha? – ela piscou, e eu travei na cadeira. Porra! Aquilo não podia ter acontecido! Ela tinha escutado a conversa na cozinha, agora tudo fazia sentido. Cerrei meus dentes, a vontade de socar Dimitri novamente veio com força.
… Eu sinto muito que você tenha escutado aquilo, eu…
– Está tudo bem, , eu estou acostumada a cochichos, e risadinhas. Por onde eu vou tem gente duvidando da minha inocência, às vezes até eu duvido. – ela mordeu os lábios, virando o conteúdo de seu copo de uma vez.
– Eu não compactuo daquilo que foi dito, e acredito sim em você. , você é uma garota incrível, e que está sendo julgada por uma situação terrível. Ninguém passou por uma situação dessas para saber como iria reagir.
– Ai, não fala assim que eu me apaixono. – ela sorriu de forma sedutora.
– Acho que você já bebeu muito, isso sim. – me levantei, ficando ao seu lado, e verificando o perímetro, vendo se era seguro sairmos naquele momento.
– Ai, que estraga prazeres você, . Eu posso sim ser uma pu... – Meu Deus, ela não podia terminar aquela frase de forma alguma, então a interrompi.
, vamos, hun? – ela negou com um pequeno sorriso.
Peguei sua bolsa, colocando em meu braço, peguei dinheiro da minha carteira, depositando uma quantia que achei que daria para pagar seus gastos, e pela falta de informação do garçom, com certeza o valor era suficiente. Ajudei a se levantar, que ainda resmungava palavras ininteligíveis e fomos embora daquele boteco. Chegamos até o carro, e eu fui estudando o local enquanto fazia uma dança desengonçada, abri o veículo, e a coloquei no banco da frente mesmo, prendendo o cinto nela.
Entrei no veículo em seguida e dei partida, dirigindo até sua casa que não estava distante dali. Observei de lado se movimentar no banco, e quase bati o carro quando senti seus lábios em meu pescoço, ela queria me enlouquecer naquela noite, só podia ser isso.
, assim não, por favor… – tentei empurrá-la de forma delicada, mas ela resmungou. – Para com isso.
– Eu quero usar a síndrome do segurança… Deixa, !.– suei frio quando senti suas mãos pararem em cima do meu pau.
– Pelo amor de Deus. – tirei sua mão dali, vendo que cada vez mais sua casa estava próxima, ela estava impossível, e eu sabia que ela se arrependeria muito daquilo no dia seguinte.
, sabe quanto tempo eu não transo? Quatro anos! A ultima vez foi com o idiota do , eu já nem sei como se transa, você podia me ensinar, eu sou uma ótima aprendiz. – peguei o controle do portão, abrindo-o e soltando o ar que eu prendia sem nem perceber, finalmente eu sairia daquele carro.
– Chegamos! – ela fechou a face. Rapidamente estacionei o veículo, desci do carro, e a ajudei a descer, ela ainda andava de forma desengonçada. Aos tropeços, e sob o olhar dos seguranças noturnos, eu entrei na residência de , foi difícil subir aquela escadaria toda que dava acesso ao seu quarto apoiando-a, seria mais fácil carregá-la, mas diante de suas investidas em mim não era o adequado. Ela se jogou na cama, tentando me puxar para me deitar ao lado dela. – , não. – ralhei, tirei os seus sapatos do pé. – Consegue tomar um banho sozinha?
– Conseguir eu consigo, mas tomar banho com você seria muito mais interessante. – ela segurou o colarinho da minha camiseta, me puxando para cima dela, e nos aproximando de forma perigosa. Engoli em seco, a encarando, ela conseguia ser ainda mais bonita naquele ângulo. Pigarreei me soltando dela, e levantando de sua cama e abrindo seu closet, para pegar uma toalha limpa e um pijama e peças íntimas para que ela fosse tomar um banho.
Escolhi as peças e por muito custo, ela conseguiu se direcionar ao banheiro, virei a chave do chuveiro para que o banho fosse frio, a ajudei a tirar o vestido, e de lingerie eu a lancei no chuveiro, recebendo gritos em desaprovação, mas só assim ela ia conseguir voltar um pouco a sua sanidade. Assim que eu percebi que ela estava um pouco melhor a deixei sozinha para que ela prosseguisse com seu banho.
Ela saiu do banheiro com a roupa que eu tinha escolhido no corpo e os cabelos molhados, a direcionei para que se sentasse na cama. Vi que tinha um secador no banheiro quando entramos lá, o peguei, sentei ela na cama da melhor forma que consegui e sequei seus cabelos, estava mais tranquila depois do banho, ou seja, sem dar em cima de mim, era muito melhor aquilo para minha sanidade, principalmente.
Sequei todo o seu cabelo, a deitei na cama, e no mesmo momento ela pegou no sono, e eu agradeci a Deus por isso, a cobri e saí finalmente daquele quarto. Passei as mãos no meu rosto, negando com a cabeça, mas com um sorriso no rosto. era intensa demais, e eu hoje havia conhecido dois lados dela que eu não fazia ideia que existiam. Será interessante lidar com a sua versão sóbria amanhã… Das duas, uma, ou ela não se lembraria de nada, ou simplesmente fingiria.



Minha cabeça ia explodir, pisquei os olhos várias vezes para acostumá-los com a claridade que invadia meu quarto. Droga, eu não tinha fechado a cortina ontem à noite. Tentei abrir meus olhos, tateei pela mesinha do lado dela e não achei meu celular; opa, tinha alguma coisa errada por aqui. Levantei bruscamente, e gemi de dor, olhei a mesa e lá tinha um dipirona, sem pensar duas vezes a engoli sem água, pois minha jarra estava vazia.
Olhei meu quarto, ainda confusa, mas me lembrando aos poucos da noite que eu havia tido, Meu Deus! Coloquei as mãos na boca, o que eu tinha feito? , fechei meus olhos fortemente, que papel desprezível eu me prestei naquela noite, eu simplesmente dei em cima do meu segurança, eu… merda, eu realmente coloquei a mão no pênis dele! Eu não acredito que eu fiz isso! Eu não podia ver uma vergonha que eu queria passar, não era possível. A ideia de beber ontem me pareceu perfeita, mas eu não sabia que eu ia sair tanto do eixo, céus!
Ontem, depois de toda a confusão com o palhaço, e a crise de pânico, eu me acalmei, gradativamente, mas percebi que minha jarra não tinha mais água, foi quando eu decidi descer as escadas, mas detive meus passos quando escutei uma conversa que acontecia na cozinha no qual, mais uma vez, alguém duvida de minha inocência naquele episódio do assalto ao banco.
Eu tinha que ter saído no momento em que percebi que a conversa era sobre mim, mas eu simplesmente não consegui, eu tinha que ouvir até o final, e eu o fiz. Putinha, gostosinha, síndrome do segurança, mentirosa, uau, eu achei que não podia me afetar ainda mais, mas me afetei, bom, já fazia um tempinho que eu não escutava nada ao meu respeito daquela forma, eu também não saía mais de casa.
E o mais surpreendente daquele desfecho foi me defendendo, e batendo em um dos rapazes, e somente naquele momento eu saí dali, eu sabia que mais seguranças iriam aparecer para apartar a briga. Eu esqueci a jarra, eu esqueci de tudo e só quis me afundar na minha cama e sumir. Passei o começo da tarde e o início da noite inteira me debulhando em lágrimas, como eu deveria seguir os conselhos de Lilian tentar socializar se a cada momento que o fizesse alguém me julgasse? Aquelas palavras me feriram como lâminas afiadas, eu acho que tudo tinha se intensificado devido à crise, eu não saberia dizer com precisão.
Era tarde quando eu decidi que somente umas boas doses de tequila me ajudariam a esquecer a droga de vida que eu tinha, foi então que eu resolvi tomar um banho, vestir uma das minhas melhores roupas e ir para um bar qualquer. Mandei mensagem a , eu não pensei que talvez ele estivesse descansando, ou dormindo, eu só queria sair mesmo, agora pensando nisso vejo o quão egoísta eu fui com ele… Fora a grosseria gratuita em que eu o tratei, ele me defendeu, me ajudou e eu simplesmente descontei tudo nele, e o resto é história. Eu não ia sair daquele quarto nunca mais, definitivamente. Eu simplesmente não teria coragem nenhuma de encará-lo.
E assim eu o fiz, desci para fazer o meu desjejum e depois pedi a Célia que levasse todas as minhas refeições no quarto, e inclusive fiquei assim por mais dois dias, mas como sempre, eu tinha consulta com meu psiquiatra e encará-lo seria uma consequência, eu não sabia bem como agir, eu só não podia simplesmente pedir desculpas, mordi os lábios, enquanto andava em círculos pelo meu quarto, a vergonha me corroendo.
Escutei batidas na porta, era Célia me lembrando de minha consulta e que me aguardava na sala. Concordei e disse que já desceria. Peguei minha bolsa, suspirei fundo e desci as escadas, vendo com o terno preto habitual, lembrando-me como ele tinha ficado bem com calça jeans e camiseta. Ele não tinha me notado ainda, então eu pigarrei, chamando sua atenção, ele se virou em minha direção, e eu perdi o ar, sentindo que minhas bochechas explodiriam de tão quentes que elas ficaram.
– Olá, senhorita . – eu não fui capaz de proferir nenhuma palavra, então eu assenti com a cabeça, caminhando em direção a saída para a garagem. Entrei no banco traseiro como o habitual, não esperando abrir ou fechar a porta para mim.
O caminho era rápido até o consultório, porém me pareceu uma eternidade, e quando eu percebia que me encarava pelo retrovisor eu só queria sumir ainda mais. Eu tinha feito a cama, agora eu teria que lidar com aquilo. Assim que o veículo estacionou, eu pulei de dentro dele, correndo para fora dali.
A consulta foi como o habitual, com o psiquiatra era sempre mais comum, ele me perguntava sobre minhas medicações, como eu estava lidando com ela. Contei a ele sobre o episódio do palhaço, e tive que contar que bebi algumas tequilas, sendo fortemente repreendida, dizendo que eu não poderia misturar bebida com remédios de tarja preta, eu já sabia daquilo tudo, mas tive que ouvir calada, ele tinha razão. Por fim, me recomendou mais uma vez que eu não bebesse e me dispensou da consulta.
Soltei o ar que estava preso no meu peito, vendo parado ele olhava a rua, atento, não sei o que havia acontecido dentro de mim, mas… Céus, ele estava tão atraente. Minha mente queria me pregar peças, isso sim, me envolver sexualmente ou emocionalmente não estava em meus planos, eu não tinha estabilidade emocional para estar em um relacionamento, eu tinha consciência disso.
– Podemos ir. – consegui proferir aquelas palavras, e ele me encarou, assentindo, e abrindo a porta do automóvel para mim, que o agradeci com um sorriso fechado.
Peguei meu celular, e tinha uma mensagem de um número desconhecido. Achei estranho, porque poucas pessoas me mandavam mensagens, que dirá de números desconhecidos. A abri e arregalei os olhos:

Gostou da minha última visitinha? Eu sei como você ama palhaços, querida! Isso é só o começo.

Derrubei meu celular no colo, minhas mãos tremiam absurdamente. Era , eu tinha certeza absoluta disso, e com certeza eu me sentia desmontar. Não percebi, mas eu já suava frio.
– Está tudo bem, senhorita ? – escutei ao fundo me questionar. Eu tentei falar alguma coisa, mas as palavras simplesmente não saíam. Eu me sentia muito impotente. Eu não sei quando ou como aconteceu, mas havia parado o carro, e tinha se sentado ao meu lado. – O que houve? Fala comigo, quero te ajudar. – eu não conseguia, eu sentia meu dedo ser levado até meu celular, desbloqueando-o. – Porra! – me encarou. – Olha para mim, , eu não vou deixar nada acontecer a você, eu te juro. – e eu o abracei. Eu simplesmente o abracei porque aquelas palavras de alguma forma me confortaram mesmo eu sabendo que esse era o seu trabalho.
– Obrigada. – consegui sussurrar ainda presa aos seus braços.
Não sei por quanto tempo fiquei ali, escutando o coração de bater calmamente, mas ele havia me acalmado. Levantei meus olhos, percebendo que agora eu estava em mim, e o soltei, a vergonha gritando dentro de mim. Depois de tudo aquilo naquela noite, eu me agarrava ao rapaz como se minha vida dependesse daquilo. Isso era vergonhoso demais.
– Você está bem? – senti seu olhar em mim. Eu soltei o ar que tinha prendido desde o momento que me toquei na situação que me encontrava com ele.
– Está… podemos ir. – abri um sorriso forçado. – Me desculpe te abraçar dessa forma novamente, é extremamente inadequado. – ele abriu um singelo sorriso.
– Não tem porque se desculpar. – sorri, tímida. Ele abriu a porta, entrou novamente no carro, conduzindo-o em direção a minha casa.
Suspirei fundo enquanto olhava a janela, eu estava confusa, e tinha dúvidas sobre o que eu sentia no momento, era um misto de medo, angústia, receio, vergonha, meu corpo estava dormente, afinal eu quase tive uma crise de pânico. Como , depois de quatro anos, tinha tanto poder sobre mim? Não tinha que temê-lo daquela forma, eu sabia disso, mas agir diferente não cabia a mim.
Olhei pelo retrovisor e vi … o rapaz estava me ajudando tanto, ele tinha virado uma válvula de escape, a forma como ele me acalmou em ambas as vezes foi muito bom. Pensar nisso me fez sentir ainda mais vergonha. Apesar de tudo, eu devia um pedido de desculpas a ele… eu sabia que eu deveria me desculpar. Remoí aquilo dentro de mim até vê-lo estacionar o carro dentro da garagem. Eu estava finalmente em casa. Desci do carro, e o vi fazer o mesmo, fiquei o encarando, ele me olhava parecia intrigado e antes que ele me perguntasse, eu comecei:
? Você está sendo mais do que um segurança, está sendo um amigo, eu preciso mesmo te agradecer. Eu… – suspirei fundo, escolhendo as palavras para continuar. – Quero te pedir desculpas por tudo o que eu fiz naquela noite, eu dei em cima de você. – engoli em seco. – Eu fui muito insistente, e bem… descarada. Agradeço por cuidar de mim, e até secar meu cabelo de forma tão cuidadosa. E agradeço também por ter me defendido dos seguranças na cozinha, é, você já deve suspeitar do que eu estou falando, mas eu escutei tudo. – ele ficou calado, e eu achei melhor sair e dar um espaço para ele, mas o meu segurança segurou meu pulso, eu o encarei.
– Está tudo bem, senhorita . Não quero que você se sinta estranha com relação ao que aconteceu, você não estava em seu juízo, e eu sei disso. Não precisa mesmo se desculpar. – ele me olhava de uma forma tão acolhedora, ele sempre tinha aquele olhar tão delicado para mim. – Acho que a relação entre protegida e segurança tem que ser a mais desconstruída possível, eu sei que ter alguém atrás de você o tempo todo incomoda, então eu penso que é muito melhor que seja assim.
– Eu concordo, você tem razão. Obrigada, de verdade. – eu me aproximei dele, e incerta ainda, lhe dei mais um abraço no rapaz, seria rápido, mas se prolongou quando ele me abraçou de volta, e eu senti o cheiro de seu perfume adentrar minhas narinas, apertei os olhos enquanto o abraçava ainda mais apertado, naquele gesto eu queria agradecê-lo por tudo o que tinha feito por mim. Me separei dele, com um pequeno sorriso. – Só não me arrependo de algo que disse naquela noite...
– Do que seria? – ele me encarou.
– Pode me chamar só de , por favor. – ele sorriu de forma desconcertada, e eu tinha achado aquilo adorável demais.
– Ok, eu o farei. – acenei, com um pequeno sorriso, e entrei na residência.



Me despedi de naquele dia e contei ao meu chefe que ela tinha recebido aquela ameaça, e prontamente decidimos que a teria que mudar de número de celular, não era adequado que ela o mantivesse, ele a amedrontaria ainda mais, eu novamente a vi tão frágil em meus braços, se sentir impotente por algo era incrivelmente assustador.
Trocamos o número, mas as ameaças ainda continuaram, estava testando a sorte com outros meios possíveis de contato, ele ameaçava , eu tentava impedir que qualquer ameaça chegasse a ela, mas seus e-mails eu não conseguia controlar, e a cada vez que ela os lia, sentia-se mal. Ela não sabia das cartas ou bilhetes deixados em sua caixa de correios, era o melhor para ela.
– Ei, cara, o que tanto pensa ai? – encarei Pietro me olhando.
– Nada demais.
– Pensando na patroinha? – arregalei os olhos, negando com a cabeça.
– Claro que não, que mania chata é essa, Pietro. – ralhei com ele, mas mal ele sabia que nunca deixou de povoar meus pensamentos.
– Se você quer se enganar… – o fulminei com os olhos. – Mas não vim falar dos seus sentimentos por ela, e sim para te mostrar que o filho da puta deixou um bilhete. – peguei o bilhete da mão do meu amigo, e bufei.

Eu vou te pegar, , uma hora você vai se descuidar!! Sua vadia ingrata!

– Esse cara não cansa? – devolvi o bilhete às mãos de Pietro. – E a incompetência da polícia me deixa ainda mais puto.
– Pois é, cara! Já são quase três meses nessa, e ninguém tem uma pista de onde ele possa estar. Esse cara vigia a garota de perto, e ninguém pega.
– Me sinto um idiota também, esse joguinho de gato e rato que ele tem construído é deprimente.
– Pois é, ele é muito esperto. Não tem como previmos o que ele pode fazer, ou até onde ele está disposto a agir.
– Esse é o problema, Pietro, até onde esse cara é capaz de ir para se vingar, e o que mais me preocupa é que ele não tem nada a perder…



As ameaças estavam escassas, mas eu sabia que as coisas estavam estranhas, estava ainda mais protetor comigo, eu não tinha surtado como das outras vezes, mas eu tinha um medo e uma angústia muito grandes dentro de mim.
… suspirei fundo, mordendo os lábios para evitar sorrir. Com o tempo, eu fui me permitindo ter um diálogo com ele, e quando eu tinha que ir às consultas eu já não sentava mais no banco de trás, eu ia na frente ao lado dele. estava se tornando um amigo, e eu sentia uma falta tão grande de ter alguém daquela forma na minha vida. Inclusive, isso foi pauta durante minha consulta com Lilian naquela semana.
– Às vezes é difícil olhar para o e não me lembrar daquela noite em que eu dei em cima dele de forma tão descarada. – sorri. – Eu sei que agora somos amigos, mas eu ainda sinto um pouco de vergonha.
– Você sabia, , que quando fazemos algo bêbados, é porque nós tínhamos vontade de fazer enquanto estamos sóbrios? – ri com vontade, o que ela estava querendo dizer com aquilo?
– Você acha mesmo que eu queria dar em cima do naquela noite? – consegui proferir depois da crise de risos.
– Talvez, ou também pode ser seu corpo implorando por um contato mais, digamos assim, íntimo.
– Traduzindo, eu estou subindo pelas paredes, é isso? – eu ri, incrédula.
– É normal sentir essa súbita vontade desse contato. Antes de tudo você tinha uma vida sexual ativa, certo? – assenti.
– Talvez você tenha mesmo razão. Mas eu prometi que não ia mais me relacionar com ninguém, eu sou insanamente instável.
– Você está se punindo e sabe disso, não é? , veja bem, não estou te incentivando para que tenha um relacionamento sexual ou amoroso com seu segurança, até porque ele está se mostrando a você como uma figura de proteção, e há uma linha tênue aí. Você sabe. – umedeci meus lábios, concordando. – Estou te dizendo que você se pune há quatro anos, e quer continuar com sua penitência pela vida toda. É justo com você mesma?
– Não, eu sei. Mas e se eu sentir aquilo tudo de novo? – eu a encarava, ansiosa.
– Você estava sob pressão, passando por uma situação traumática, você achou que ia morrer, foi uma defesa da sua mente. Você não quis sentir aquilo, , você precisou sentir aquilo para lidar com aquela situação. Percebe a diferença? – mordi os lábios, mexendo a cabeça, concordando.
– Sim, na teoria, Lilian, mas na prática é bem diferente. – suspirei. – Eu não queria admitir, mas você tem razão, não é só uma vontade de um contato mais íntimo com alguém, eu quero mesmo é o . Eu já o achava bonito, mas naquela noite, algo dentro de mim despertou, e de repente eu comecei a enxergá-lo de um jeito diferente. Mas como eu vou saber se isso não é minha mente me pregando peças?
– Resolveu parar de se enganar? – mordi os lábios, prendendo um sorriso. – Essa resposta eu não posso te dar, , cabe a você refletir e ver os sinais, hum? – suspirei fundo, assentindo.
E com as suas últimas palavras martelando pela minha cabeça eu olhava a janela do veículo enquanto ele andava pelas ruas da cidade. Lilian sabia muito bem jogar as bombas e me fazer refletir, eu me punia, inconscientemente eu me punia. Eu tinha medo de sentir aquela devoção que eu senti por enquanto estive sequestrada, eu não tinha controle sobre mim, e pensar em estar com alguém novamente me deixava extremamente ansiosa, e nervosa. Suspirei fundo, jogando minha cabeça para trás, o que eu queria para mim?
– Está tudo bem? – me encarou.
– Está, é só que consultas com psicólogos não são tão legais assim, eles jogam as cartas na mesa e esfregam as verdades que a gente não quer enxergar. Às vezes eu saio chorando, reflexiva, com raiva, sem vontade de voltar no próximo atendimento, depende do contexto. – ele sorriu.
– Eu sei, já fiz terapia por uns bons anos. – ele voltou sua atenção à rua.
– Mas por qual motivo? Ah, que indelicado, não precisa responder. – me repreendi.
– Minha mãe, eu a perdi para uma doença terminal, eu só não estava sabendo lidar com o luto. – o vi tensionar a mandíbula, aquele assunto não deveria ser fácil para ele.
– Sinto muito. – soprei aquelas palavras, e o vir abri um sorriso triste.
– Está tudo bem. – ele deu de ombros. Ficamos calados por um tempo, e voltei a bagunça ambulante que estava na minha cabeça. Eu não sabia mais como tomar as rédeas da minha vida, eu não sabia de mais nada, como sentia falta de um amigo.
, eu preciso te perguntar algo, por favor, não me entenda mal, ok? – ele assentiu, eu com certeza deveria tê-lo assustado. – Bom, você me acha atraente? – o vi apertar o volante, ele tinha ficado desconfortável.
– Que pergunta é essa? – senti que eu estava atravessando uma linha tênue ali, afinal, não era ético, então resolvi me explicar de uma forma melhor.
– Eu preciso saber, e eu não tenho com quem conversar, você é um cara legal, então, me senti segura em perguntar. Só responde, por favor. – declarei, eu só precisava escutar dele se ele se sentia atraído por mim também ou se era coisa da minha cabeça.
– Bom… – ele suspirou. – Você, hum, é atraente. – o vi manobrar o carro, para entrar na garagem como de costume.
– Agradeço pela sinceridade. – sorri, o encarando, e o vendo meio sem graça, e era muito fofo aquilo. estava se mostrando uma pessoa tão adorável naquele tempo de convívio que eu me praguejava mentalmente sobre o porquê eu nunca me permiti ter uma conversa com ele.
… Hum… Você é linda tanto por dentro, como por fora, mesmo de longe é possível notar isso. – suspirei fundo, estudando sua face, eu queria beijá-lo.
Ele estendeu sua mão em minha direção para me ajudar a descer do carro, eu a peguei, mas na hora de passar a perna direita, me desequilibrei, e quase cai se não fosse me segurando firmemente, foi inevitável que meus olhos não fossem direcionados aos dele.
Engoli em seco, mas aproximei meu rosto do dele, que não se moveu, eu só queria sentir aqueles lábios tão convidativos nos meus. Ele me encarava sem piscar, e naquele momento eu soube que não sentia sozinha, e antes que eu terminasse a distância mínima que nos separava, um segurança apareceu ali, e se separou de mim rapidamente. Eu o encarei mais uma vez, e me despedi com um aceno de cabeça, que foi correspondido com um pequeno sorriso, é, não tinha mais volta.



– O que foi isso, ? Porra, se não sou eu, você estaria em maus lençóis. – Pierre chamou minha atenção, eu ainda estava tentando absorver o que tinha acontecido há pouco.
Eu sabia que as coisas entre nós estavam diferentes, como segurança eu não gostava de ficar calado, queria que ficasse à vontade para o trabalho não se tornar tão maçante, sempre foi assim com a mãe dela, não é à toa que eu fui o escolhido para protegê-la apesar de minha pouca idade. É claro que eu sei do meu papel na vida de e sei também que não deveria ultrapassar as coisas, porém eu sempre a amei, e saber que ela estava atraída, mesmo que minimamente por mim, estava me deixando louco, era antiético, mas eu não podia evitar não querê-la.
– Ela só se desequilibrou, e eu a amparei, não tem nada demais. – tentei disfarçar, mas sabia que não tinha como.
, eu não nasci ontem, vocês iam se beijar. – bufei.
– É, nós íamos mesmo. E eu já sei que isso é errado, antiético, mas eu simplesmente não posso evitar. – me encostei no carro, Pierre era meu amigo, não tinha como negar, ele tinha mesmo visto. – Eu realmente gosto dela, sempre gostei, desde que ela nem sabia da minha existência. Agora ela me notou, e porra, tá complicado.
– Você sabe o que isso significa, não é? – assenti. – A prefeita ama seu trabalho, você está com ela desde os seus 20 anos, já são cinco anos nessa, mas porra, é a filha dela! – concordei veemente.
– Eu sei, eu sei mesmo, isso não vai mais acontecer, eu vou brecar ela. – afirmei, mas eu mesmo sabia que essa seria a tarefa mais difícil da minha vida.

, … eu não conseguia tirar da minha cabeça o quase beijo que tivemos. Minha vontade era subir as escadas, e beijá-la. Me encaminhei até a cozinha, pegando um copo de água para tirar aqueles pensamentos da cabeça, não podíamos, era errado.
. – engoli em seco ao escutar aquela voz direcionada a mim. – Eu não consigo mais ignorar tudo o que eu estou sentido, eu preciso terminar o que começamos. – ela se aproximou de mim, e me beijou. Ter os lábios dela pressionados sobre os meus me fez me sentir completo como não me sentia há anos. Aprofundei o beijo, eu queria senti-la ainda mais, a peguei em meus braços e a coloquei sentada sobre a mesa, e nos beijávamos como se não houvesse amanhã. Saber que poderíamos ser pegos a qualquer momento tornava tudo aquilo ainda mais intenso e bom.
Aquela mulher estava tirando meu sono e minha sanidade também. Nos separamos ofegantes, nos fitamos de forma intensa. sorriu, e eu sorri junto. Ela aproximou seu rosto do meu me dando mais um beijo, mas esse foi rápido. Vi seu peito subir e descer, ainda com a adrenalina passando por suas veias. Levei meus lábios ao seu pescoço, a fazendo soltar alguns suspiros, voltei a beijá-la intensamente.
– A gente deveria subir… – e aquelas palavras me fizeram perceber que estávamos indo longe demais, não queria que as coisas com chegassem a aquele ponto, mesmo que cada partícula do meu corpo implorasse por ela.
– Vamos com calma. – a encarei. A vi assentir, com um sorriso pequeno. – , você mexe comigo de uma forma intensa também. – alisei seu rosto, e o segurei com as duas mãos, lhe beijando mais uma vez. – Isso não podia ter acontecido, se eu me distraio eu não te protejo com efetividade, e eu não me perdoaria se algo acontecesse a você.
, você me quer, e esse beijo só mostrou isso. A gente não pode ignorar o que sentimos um pelo outro. Eu sei o que isso implica, eu sei, mas eu simplesmente não posso ignorar. Eu refleti, tentei tirar você dos meus pensamentos, mas eu não consigo. É diferente de tudo o que já senti antes, e agora eu tenho certeza disso.
– Não quero que ache que estou me aproveitando de você, mas prefiro que vamos com calma. Um passo de cada vez.
– Um passo de cada vez, gosto disso. – ela me encarou. Escutamos alguns passos vindo em direção a cozinha, eu corri para abrir a geladeira, e desceu da bancada.



– Assim que eu saí da sessão eu me joguei nos braços do , e Lilian, foi a coisa mais incrível que eu poderia ter feito. – ela sorriu.
...
– Calma, Lilian. Eu estou em êxtase, não fizemos nada demais, só uns bons beijos trocados, claro, mas porque ele não quis, porque se fosse por mim a gente já tinha transado loucamente.
– Como você está se sentindo? O que passa na sua cabeça? – suspirei profundamente.
– É diferente do que eu já senti na vida, não me sinto devota como era com , também não é a mesma coisa que eu sentia com Bruce, é bom, eu tenho controle das minhas emoções. Eu me sinto viva depois de quatro anos, desejada…
– E a linha tênue que eu tinha te dito? Faz sentido para você? Acha que pode ser isso?
– Não, eu não acho, eu estou atraída por , mas não pela figura de ele ser meu segurança, o interesse por ele veio exatamente no dia que eu o vi sem o terno e gravata, eu me sinto bem. Claro que eu me sinto segura nos braços dele, mas não é só isso.
– Está gostando dele? – a encarei, eu não saberia responder.
– Talvez, eu não sei, só sei que o que eu sinto é genuinamente bom, e eu quero continuar a sentir ainda mais, afinal, eu não sentia nada há muito tempo.
– Então sinta, . – sorri. – E o ? – mordi os lábios.
– Continua me ameaçando, eu não vou mentir, eu sinto medo, mas não tenho deixado esse medo me dominar, não mais.
– Fico feliz de escutar isso, temos que ter medo, mas não nos deixar dominar por ele. Estou gostando muito dessa evolução.
– Eu também estou feliz por mim. – sorri, a encarando.

Saí da consulta, abriu a porta para mim, ele entrou no veículo e a primeira coisa que fiz foi me jogar nos braços dele, e me deixei ser abraçada ainda mais por ele. Eu gostava da sensação de estar presa em seus braços. Levantei meu rosto, encostando meus lábios aos dele, e iniciando um beijo lento e que foi ganhando intensidade. De repente estava em seu colo e as mãos já trabalhavam a todo vapor explorando seu abdômen, e que barriga aquele homem tinha. Paramos de nos beijar, e eu permaneci em seu colo, o estudando.
– Como foi a consulta? – ele alisou meu rosto.
– Tudo bem. – lhe roubei um selinho. – Eu não queria que fôssemos tão rápido para casa hoje, quero ainda te roubar mais uns beijos, porque lá eu preciso fingir que não temos nada, e eu detesto isso.
– Não sei o que seus pais achariam disso, talvez eu fosse demitido, e colocassem outra pessoa para ser seu segurança.
– Isso não, , pelo amor de Deus. – eu o abracei, me aconchegando em seus braços.
– Eu gostei muito quando me chamou de quando estava bêbada aquela noite, pode me chamar assim de novo. – franzi o cenho, daquilo eu não me lembrava.
– Forcei intimidade ainda mais com você? Céus! – sorri, sem graça. Como eu tinha passado dos limites.
– Eu gostei, então pode continuar chamando. – mordi meus lábios, prendendo um sorriso.
– Feito, , só te chamo assim a partir de agora. – pisquei para ele, e juntamos nossos lábios novamente, de forma intensa. Eu ameacei desabotoar sua camisa, mas ele deteve minhas mãos, nos separando. Eu sabia que ele queria, ele estava excitado, eu não entendia aquela resistência toda. – O que foi?
– O lance da calma, . – bufei.
– Eu estou há quatro anos sem transar, não me peça isso. – ele sorriu.
– Eu entendo, mas não quero que a gente vá na afobação, vamos curtir as coisas com calma e tempo, você já sofreu muito, teve seu coração machucado, a calma é o caminho para nós.
– Como você me tortura, homem! – suspirei fundo. – Que seja, vamos como você preferir.
– Você não vai se arrepender. – ele me deu um selinho, tentando desarmar minha cara emburrada. Era uma droga, era irritantemente lindo e fofo, eu não sabia lidar com aquilo, nem ter raiva.



e eu estávamos ficando escondidos há um mês, eu sabia que Pietro suspeitava de algo, mas não tinha provas então ficava calado, era o melhor assim, eu já estava envolvido demais e eu sabia que não tinha mais volta. Eu a amava muito. E eu não havia contado nada sobre os meus sentimentos para ela, por medo do que ela pudesse achar.
Estávamos os dois andando por um parque na cidade, fiquei surpreso com o pedido dela, inclusive a indaguei sobre os riscos, mas ela foi incisiva sobre sua decisão, que queria sair, se divertir, que não queria mais viver com medo de , eu aplaudia sua decisão, mas temia por aquilo. Por via das dúvidas, sem que ela soubesse eu havia pedido reforços, eu não sabia o que esperar daquilo, e meu sexto sentido gritava para eu estar preparado.
– Aqui está bom. – ela estendeu uma canga em frente a um lago, e se sentou. Eu ia me afastar, afinal, eu estava a trabalho ali, mas antes que o fizesse, ela me chamou. – Senta comigo, por favor.
… – ela tinha os olhos tão pidões em minha direção e aquilo me desarmou por completo, o problema era que não estávamos sozinhos.
, eu queria vir até aqui, em um dos meus lugares preferidos da cidade, para compartilhá-lo com você. – ela me encarava em expectativa. – Por favor.
, estamos em um lugar público, e…
– Eu sei, , mas não vejo problema nenhum, eu vou ter que ordenar? – sorri, negando com a cabeça, mas me sentando ao seu lado. – Pronto, obrigada. – sorriu, e seu sorriso era encantador. – Eu sei que estou forçando a barra com você, , é só que…
– Está tudo bem, , eu não me sinto pressionado, gosto do seu jeito, e gosto também como as coisas estão entre a gente. – sorri para ela.
– Eu te abraçaria aqui mesmo, se eu pudesse, e você me deixasse. – deu de ombros. – Eu estou tentando ter minha vida de volta, e esse parque sempre foi um lugar que gostei, cresci aqui, nos balanços, no escorregador, e você é o cara que eu quero para o meu futuro. Estar com você nesse tempo, mesmo que escondidos, me trouxe serenidade, genuína felicidade, coisas que eu achei que não seria capaz de sentir nunca mais.
– Eu gosto mesmo de você, desde a primeira vez que te vi. – ela me encarou, surpresa. – E não, não foi quando fomos apresentados, e sim quando comecei a trabalhar com a sua mãe e você estava lá com o seu namorado Bruce.
– Mas isso já faz cinco anos…
– É, eu estava também no dia que você ligou para sua mãe pedindo para voltar, eu sempre te observei. Era uma paixão platônica, eu nunca achei que pudesse ser notado por você, então para mim está sendo um sonho.
, eu não imaginava que você sentisse tudo isso por mim, e há tanto tempo. Deus, você deveria ter me contado.
– Não, as coisas tinham que ser do jeito que foram, , eu não te ajudaria em nada em sua recuperação, creio que atrapalharia. Ver sua evolução é algo maravilhoso para mim.
– Obrigada, de verdade. Por ser tão especial, eu nunca vou cansar de te elogiar. – alisou meu braço de forma delicada, e eu sorri abertamente para ela. – Eu finalmente estou bem, apesar de esse filho da puta ainda estar solto e incessantemente me ameaçando.
– Eu sei, e nós estamos fazendo de tudo para pegá-lo.
– Eu conheço o , e se ele foi pego foi porque eu realmente entreguei a cabeça dele em uma bandeja, ele é esperto, ele é astuto, e muito inteligente. – suspirei, sabendo que o tempo em que ele estava foragido provava e muito a tese dela.
– Só quero que tenha a sua vida por completo, senhorita . – brinquei, a fazendo rir.
– Eu estou tendo, aos poucos, mas estou tendo. Tenho um amigo agora, com benefícios, claro – rimos. – E isso é incrível.
Escutei um barulho, e não pude fazer nada, se não me jogar na frente de , para que ela não fosse acertada. Era um tiro, seria certeiro, se eu não tivesse a empurrado, e tomado o tiro por ela. Coloquei a mão na minha barriga, sentindo um liquido quente escorrer por ela. Vi que havia sido pego, e pude enfim, respirar aliviado.
– Não, não, fica comigo. – escutei se direcionar a mim, eu piscava os olhos, mas a tarefa estava sendo difícil. – Olha para mim, vai ficar tudo bem, tudo bem. – lágrimas escorriam de seus olhos, eu sabia que ela estava tendo uma crise, mas eu não podia e não conseguia ajudá-la, meus olhos não conseguiam ficar abertos, e eu os deixei se fecharem...



Epílogo

Pisquei meus olhos devagar, os abrindo e visualizando que estava em um quarto branco, percebi que tinha um aparelho enfiado em minha garganta que me impedia respirar adequadamente. Procurei por alguma campainha ou botão que avisasse para que alguém tirasse aquilo de mim.
– Ah, meu Deus, você acordou. – escutei uma voz familiar soar. estava em minha frente. – Meu Deus, graças a Deus. Espera, eu vou chamar o médico.
Não demorou muito para que o médico viesse e me tirasse aquele cano da garganta, e que sensação horrível foi tirar aquilo de mim, mas eu finalmente conseguia respirar sozinho. O homem me explicou que o tiro havia pegado em meu abdômen, mas que felizmente não havia acertado nenhum órgão vital. Ele me disse que em breve eu teria alta, mas não me deu um prazo concreto. Ele saiu, e vi se aproximar e segurou minha mão direita.
– Tive tanto medo de te perder, . – sorri, levei sua mão até meus lábios, dando lhe um singelo beijo ali.
– Eu te disse que nada aconteceria a você, e que eu te protegeria com a minha vida. – consegui falar, mas minha voz saiu bem fraca.
– Por favor, não me assuste mais desse jeito, eu… – ela suspirou, negando com a cabeça. – , minha família sabe, eu não consegui esconder minha preocupação com você.
– O que eles disseram? Estou desempregado? – brinquei, a fazendo rir.
– Não, mas você oficialmente não trabalha na minha proteção. Voltou para a proteção da prefeita. Mas não vai escapar de um interrogatório com ela e meu pai.
– Eu já tomei um tiro, o que é encarar pais bravos pela garota que eu gosto? – ela me abraçou, e eu gemi de dor, minha barriga ainda estava dolorida.
– Desculpa. – assenti. – Eu quero te dizer algo. – a vi me encarar e seus olhos tinham um brilho incrível no olhar. – , eu quero te dizer que durante toda essa loucura que foi, você me ensinou tanto nesse tempo, mas de uma forma tão natural, tão neutra. Eu tenho que agradecer por ser sempre o que eu precisei no momento em que eu precisei.
– Eu já disse... – tossi, minha garganta ainda estava estranha. – Não precisa me agradecer de nada.
– Preciso, preciso sim! – sorri. – E para de banalizar, eu preciso te enaltecer e também quero te pedir em namoro. E ai, aceita? – arregalei os meus olhos, surpreso com aquela pergunta.
– Você tá brincando, né? – ela negou com a cabeça.
– Eu falo bem sério, já não aguento esperar para te chamar de meu. Diga o que você acha, .
– Você ainda pergunta? Eu esperei você por tanto tempo, . Eu te amo, mulher. – ela riu, me dando um breve selinho.
– Eu te amo mais. – nos encaramos e encostamos nossos lábios novamente.

Enséñame
A quererte un poco más y a vivir contigo
Que no aguanto la ansiedad
De saberte mío
Quiero ir donde vas





FIM.



Nota da autora: Oi, gente! A continuação veio, eu não disse? Essa pp precisava mesmo de um final feliz, não é? E que segurança mais fofinho ela arrumou, rs! Amei escrever a fic, espero que gostem também. Agradeço imensamente a Lala por me incentivar sempre a escrever a continuação, e a Flá pela capinha linda! Beijoos <3



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02. Cruel Summer
09. Santa no Soy
As demais vocês encontram na minha página de autora!

Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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