Capítulo Único
Neville sempre se assustava ao perceber o quão sábia a natureza era. Haviam se passado exatos sete dias desde que a batalha contra Voldemort e seus Comensais finalmente se findara, e não tivera um só dia dentre esses que não estivesse chovendo; parecia até que o tempo estava colaborando com o sentimento geral de luto por todos aqueles que se foram lutando pelo bem, pelos pais que perderam seus filhos e pelos filhos que cresceriam sem seus pais.
Hogwarts estava devastada, e era esquisita a sensação de não saber o que viria a seguir, por toda sua vida aquele lugar fora o que ele chamara de lar, fora onde conhecera seus amigos e a garota que ele amava e, apesar dos pesares, era onde ele havia se formado. Ainda assim, era muito estranho partir sem a certeza de que voltaria no ano seguinte.
Não havia visto a namorada desde então. decidiu passar alguns dias na Itália para visitar seus pais e ele ficou para prestar apoio e condolências aos que ficaram. Eles não haviam trocado cartas, Neville acreditava que aquilo se devesse à quantidade de coisas que ambos presenciaram na batalha. Assim como ele, também deveria estar com a cabeça cheia de medos, traumas e incertezas. Ela ainda carregava a somatória de torturas que enfrentara por ser uma aluna da Sonserina que se aliou ao lado oposto, mesmo com os falsos documentos que Minerva a ajudou a conseguir para que não descobrissem suas origens trouxas. Sem esses, talvez, Longbottom considerava que as coisas tivessem sido bem piores para a namorada, que poderia nem ter sobrevivido a tudo isso.
Ao mesmo tempo que a perspectiva de não saber o que viria a seguir era assustadora, Neville não podia negar que, por outro lado, essa se mostrara ser bem empolgante também. Era como se agora tivesse uma página em branco e precisasse escrever os próximos capítulos, com um mundo de possibilidades e planos para explorar. Em todos eles o nome de estava lá, era inegável que ela era a pessoa perfeita para ele, visto que durante todos os anos anteriores eles sempre estiveram juntos e ajudando um ao outro. Queria conhecer lugares com ela, andar de mãos dadas e fazer as coisas jovens e bobas que eles haviam sido impedidos por precisarem amadurecer sob a ameaça de morte constante. Queria arrumar um bom emprego, torcia para que ela conseguisse um também e que pudessem construir um futuro juntos. Neville Longbottom queria tudo aquilo que a vida havia lhe tirado, desde que estivesse incluída.
Enquanto observava a chuva cair forte pela janela de sua casa, o rapaz observou um barulho vindo da cozinha, seguido de passos e uma voz suave chamando por seu nome.
— Nev? — era , o que o fez abrir um sorriso instantaneamente. Ela não sorria, tinha uma feição cansada e parecia ter chorado muito. Neville andou até ela, passando seus braços pela cintura dela e juntando seus corpos em um abraço apertado.
— Senti sua falta. — admitiu e pode ouvi-la inspirar profundamente. A verdade era que procurava guardar o cheiro do namorado em sua mente, como um lembrete diário do que pretendia fazer e porque precisava se esforçar para voltar.
— Eu… Também. — se separou do abraço, ainda assim permanecendo perto o suficiente. — Neville nós precisamos… Conversar.
Longbottom a encarou por longos segundos enquanto ela parecia organizar-se mentalmente para falar o que precisava. Diferente de seu tom habitual, que esbanjava confiança e certeza, disse aquela frase com a voz baixa e repleta de cautela.
— Eu não sei o que quero fazer. — começou, mais uma vez incerta — Mas sei que quero ir embora daqui, viajar o mundo e me sentir livre, entende?
— Claro que entendo. — Neville suspirou aliviado e soltou um risinho nervoso, a conversa parecia se afastar do rumo que ele imaginou que teria — Pra onde quer ir, amor? Nós podemos conhecer a Escócia ou ir pra Ásia…
— Nev… — ela tentou interrompê-lo, com os olhos ardendo pelo esforço de conter as lágrimas.
— Quem sabe a Oceania ou até mesmo a América do Sul! Soube que lá tem muitas plantas exóticas e…
— Neville! Isso não foi um convite. — finalmente o interrompeu, com a voz firme, alta e ligeiramente trêmula. — Eu acho que precisamos de um tempo.
A garganta de ambos pareceu secar. Longbottom olhava para a namorada sentindo-se extremamente confuso; o que quer que aquilo significasse, era bem diferente de tudo que ele havia planejado para os dois.
— Eu sinto que agora é um momento em que precisamos nos reencontrar, nos descobrir sabe? A vida nos deu uma chance de começar de novo e eu não quero ficar presa a um lugar que só me trará lembranças ruins. — não era lá uma mentira completa, mas sabia que poderia viver ali e ressignificar tudo aquilo, mas precisava convencer Neville de que não podia. — As torturas, as perdas…
— Eu… Entendo. Juro que entendo, . — a voz dele assumira um tom baixo e extremamente vulnerável. — Mas você acha mesmo que não podemos criar novas memórias boas juntos?
— Eu... — recomeçou, soluçando — Sinto muito, Nev, preciso mesmo me afastar de tudo isso.
Neville assentiu, embora também chorasse e então a abraçou uma última vez. prensou os lábios até que esses formassem uma linha fina, seus olhos já não faziam mais o trabalho árduo de manter as lágrimas presas ali. Não imaginou que aquilo seria tão difícil, que ele tentaria até o fim manter o relacionamento, ou que ela ficaria a um triz de trair a si mesma e desistir de tudo.
— Se é isso que quer, , eu respeito sua decisão. — Neville sussurrou e então beijou o topo dos cabelos dela. — Espero que possamos continuar sendo os amigos que sempre fomos…
Ela não soube o que dizer, então só assentiu enquanto escondia a cabeça na dobra do pescoço dele. Neville já havia perdido tanta coisa, era injusto que ela o abandonasse e se negasse a falar com ele. Mesmo que estivesse indo embora em busca de algo que o faria feliz, ainda podia falhar e ela se negava a ter que dar a aquele que ela tanto amava, e que já tanto sofrera, falsas esperanças.
— Vou te mandar cartas sempre. — prometeu baixinho e então se separaram do abraço. abraçou a si mesma, tentando se proteger da estranha sensação de vazio que aquilo a causara e em seguida o olhou nos olhos. Tão vermelhos e chorosos quanto os dela, mas ainda assim como o lugar onde ela sempre encontrava paz e calmaria.
Neville assentiu e então ambos caminharam até a porta, não havia mais o que pudesse ser dito ali. Se permanecesse, apenas duas coisas poderiam acontecer: ou tudo se tornaria apenas mais doloroso ou ela desistiria de sua missão. Aquilo era tudo que tanto sonhou e planejou no último ano, havia prometido a si mesma que se sobrevivesse à batalha buscaria até no fim do mundo para conseguir fazer com que Longbottom tivesse seus pais de volta. Não podia simplesmente desistir, precisava enfrentar aquela forte ventania, precisava enfrentar seus medos.
Só assim conseguiria voltar e, com sorte, tê-lo de volta um dia.
Então, ela passou pela saída e Neville não conseguiu se despedir ou sequer fechar a porta. Ficaram ali, no teto coberto da varanda sob o barulho da chuva torrencial que caía, se olhando por longos minutos. Havia tanto a dizer, mas ao mesmo tempo nada parecia se encaixar naquele momento.
— Eu amo você. — Longbottom se ouviu dizer alto, em meio ao barulho dos pingos caindo fortemente na telha. — Sempre vou amar.
— Eu também sempre vou te amar, Neville Longbottom. — sorriu e ergueu a mão até que pudesse limpar as lágrimas que caíam do rosto do, agora, ex-namorado. — Em qualquer lugar do mundo que eu esteja.
Embora no peito de ambos aquilo fosse uma ferida que nunca se cicatrizaria, o significado ainda era de recomeço. Ela selou seus lábios uma última vez em um beijo breve e suave no mesmo momento que a chuva milagrosamente parou e então deu alguns passos para se distanciar o suficiente para que conseguisse aparatar. Aquela dor latente tinha que passar, como a chuva que parecia não ter fim simplesmente se findou, como a manhã chega depois da noite, como o verão chega após a primavera, como os frutos crescem quando as flores morrem. Precisava doer para que só assim pudesse cicatrizar.
Assim que ela sumiu, Neville finalmente fechou a porta, com os olhos ardendo, a garganta ainda seca e o mantra ininterrupto sendo repetido mentalmente como um hino: tem que passar. Até quando a vida lhe tiraria todas as pessoas que amava? Era pedir demais que ela, apenas ela, ficasse? Ele suspirou frustrado enquanto se sentava no sofá e deixava que os soluços e lágrimas finalmente saíssem.
Eventualmente, claramente, certamente vai passar.
Vai passar.
Tinha que passar.
Hogwarts estava devastada, e era esquisita a sensação de não saber o que viria a seguir, por toda sua vida aquele lugar fora o que ele chamara de lar, fora onde conhecera seus amigos e a garota que ele amava e, apesar dos pesares, era onde ele havia se formado. Ainda assim, era muito estranho partir sem a certeza de que voltaria no ano seguinte.
Não havia visto a namorada desde então. decidiu passar alguns dias na Itália para visitar seus pais e ele ficou para prestar apoio e condolências aos que ficaram. Eles não haviam trocado cartas, Neville acreditava que aquilo se devesse à quantidade de coisas que ambos presenciaram na batalha. Assim como ele, também deveria estar com a cabeça cheia de medos, traumas e incertezas. Ela ainda carregava a somatória de torturas que enfrentara por ser uma aluna da Sonserina que se aliou ao lado oposto, mesmo com os falsos documentos que Minerva a ajudou a conseguir para que não descobrissem suas origens trouxas. Sem esses, talvez, Longbottom considerava que as coisas tivessem sido bem piores para a namorada, que poderia nem ter sobrevivido a tudo isso.
Ao mesmo tempo que a perspectiva de não saber o que viria a seguir era assustadora, Neville não podia negar que, por outro lado, essa se mostrara ser bem empolgante também. Era como se agora tivesse uma página em branco e precisasse escrever os próximos capítulos, com um mundo de possibilidades e planos para explorar. Em todos eles o nome de estava lá, era inegável que ela era a pessoa perfeita para ele, visto que durante todos os anos anteriores eles sempre estiveram juntos e ajudando um ao outro. Queria conhecer lugares com ela, andar de mãos dadas e fazer as coisas jovens e bobas que eles haviam sido impedidos por precisarem amadurecer sob a ameaça de morte constante. Queria arrumar um bom emprego, torcia para que ela conseguisse um também e que pudessem construir um futuro juntos. Neville Longbottom queria tudo aquilo que a vida havia lhe tirado, desde que estivesse incluída.
Enquanto observava a chuva cair forte pela janela de sua casa, o rapaz observou um barulho vindo da cozinha, seguido de passos e uma voz suave chamando por seu nome.
— Nev? — era , o que o fez abrir um sorriso instantaneamente. Ela não sorria, tinha uma feição cansada e parecia ter chorado muito. Neville andou até ela, passando seus braços pela cintura dela e juntando seus corpos em um abraço apertado.
— Senti sua falta. — admitiu e pode ouvi-la inspirar profundamente. A verdade era que procurava guardar o cheiro do namorado em sua mente, como um lembrete diário do que pretendia fazer e porque precisava se esforçar para voltar.
— Eu… Também. — se separou do abraço, ainda assim permanecendo perto o suficiente. — Neville nós precisamos… Conversar.
Longbottom a encarou por longos segundos enquanto ela parecia organizar-se mentalmente para falar o que precisava. Diferente de seu tom habitual, que esbanjava confiança e certeza, disse aquela frase com a voz baixa e repleta de cautela.
— Eu não sei o que quero fazer. — começou, mais uma vez incerta — Mas sei que quero ir embora daqui, viajar o mundo e me sentir livre, entende?
— Claro que entendo. — Neville suspirou aliviado e soltou um risinho nervoso, a conversa parecia se afastar do rumo que ele imaginou que teria — Pra onde quer ir, amor? Nós podemos conhecer a Escócia ou ir pra Ásia…
— Nev… — ela tentou interrompê-lo, com os olhos ardendo pelo esforço de conter as lágrimas.
— Quem sabe a Oceania ou até mesmo a América do Sul! Soube que lá tem muitas plantas exóticas e…
— Neville! Isso não foi um convite. — finalmente o interrompeu, com a voz firme, alta e ligeiramente trêmula. — Eu acho que precisamos de um tempo.
A garganta de ambos pareceu secar. Longbottom olhava para a namorada sentindo-se extremamente confuso; o que quer que aquilo significasse, era bem diferente de tudo que ele havia planejado para os dois.
— Eu sinto que agora é um momento em que precisamos nos reencontrar, nos descobrir sabe? A vida nos deu uma chance de começar de novo e eu não quero ficar presa a um lugar que só me trará lembranças ruins. — não era lá uma mentira completa, mas sabia que poderia viver ali e ressignificar tudo aquilo, mas precisava convencer Neville de que não podia. — As torturas, as perdas…
— Eu… Entendo. Juro que entendo, . — a voz dele assumira um tom baixo e extremamente vulnerável. — Mas você acha mesmo que não podemos criar novas memórias boas juntos?
— Eu... — recomeçou, soluçando — Sinto muito, Nev, preciso mesmo me afastar de tudo isso.
Neville assentiu, embora também chorasse e então a abraçou uma última vez. prensou os lábios até que esses formassem uma linha fina, seus olhos já não faziam mais o trabalho árduo de manter as lágrimas presas ali. Não imaginou que aquilo seria tão difícil, que ele tentaria até o fim manter o relacionamento, ou que ela ficaria a um triz de trair a si mesma e desistir de tudo.
— Se é isso que quer, , eu respeito sua decisão. — Neville sussurrou e então beijou o topo dos cabelos dela. — Espero que possamos continuar sendo os amigos que sempre fomos…
Ela não soube o que dizer, então só assentiu enquanto escondia a cabeça na dobra do pescoço dele. Neville já havia perdido tanta coisa, era injusto que ela o abandonasse e se negasse a falar com ele. Mesmo que estivesse indo embora em busca de algo que o faria feliz, ainda podia falhar e ela se negava a ter que dar a aquele que ela tanto amava, e que já tanto sofrera, falsas esperanças.
— Vou te mandar cartas sempre. — prometeu baixinho e então se separaram do abraço. abraçou a si mesma, tentando se proteger da estranha sensação de vazio que aquilo a causara e em seguida o olhou nos olhos. Tão vermelhos e chorosos quanto os dela, mas ainda assim como o lugar onde ela sempre encontrava paz e calmaria.
Neville assentiu e então ambos caminharam até a porta, não havia mais o que pudesse ser dito ali. Se permanecesse, apenas duas coisas poderiam acontecer: ou tudo se tornaria apenas mais doloroso ou ela desistiria de sua missão. Aquilo era tudo que tanto sonhou e planejou no último ano, havia prometido a si mesma que se sobrevivesse à batalha buscaria até no fim do mundo para conseguir fazer com que Longbottom tivesse seus pais de volta. Não podia simplesmente desistir, precisava enfrentar aquela forte ventania, precisava enfrentar seus medos.
Só assim conseguiria voltar e, com sorte, tê-lo de volta um dia.
Então, ela passou pela saída e Neville não conseguiu se despedir ou sequer fechar a porta. Ficaram ali, no teto coberto da varanda sob o barulho da chuva torrencial que caía, se olhando por longos minutos. Havia tanto a dizer, mas ao mesmo tempo nada parecia se encaixar naquele momento.
— Eu amo você. — Longbottom se ouviu dizer alto, em meio ao barulho dos pingos caindo fortemente na telha. — Sempre vou amar.
— Eu também sempre vou te amar, Neville Longbottom. — sorriu e ergueu a mão até que pudesse limpar as lágrimas que caíam do rosto do, agora, ex-namorado. — Em qualquer lugar do mundo que eu esteja.
Embora no peito de ambos aquilo fosse uma ferida que nunca se cicatrizaria, o significado ainda era de recomeço. Ela selou seus lábios uma última vez em um beijo breve e suave no mesmo momento que a chuva milagrosamente parou e então deu alguns passos para se distanciar o suficiente para que conseguisse aparatar. Aquela dor latente tinha que passar, como a chuva que parecia não ter fim simplesmente se findou, como a manhã chega depois da noite, como o verão chega após a primavera, como os frutos crescem quando as flores morrem. Precisava doer para que só assim pudesse cicatrizar.
Assim que ela sumiu, Neville finalmente fechou a porta, com os olhos ardendo, a garganta ainda seca e o mantra ininterrupto sendo repetido mentalmente como um hino: tem que passar. Até quando a vida lhe tiraria todas as pessoas que amava? Era pedir demais que ela, apenas ela, ficasse? Ele suspirou frustrado enquanto se sentava no sofá e deixava que os soluços e lágrimas finalmente saíssem.
Eventualmente, claramente, certamente vai passar.
Vai passar.
Tinha que passar.
FIM
Nota da autora: Olá! Muito obrigada a você que chegou até aqui e já vai me desculpando pela fic triste hahahah essa história faz parte do universo de Homeostase, que você encontra os links das continuações logo abaixo. Em Undique e em Aeternum você pode acompanhar o que aconteceu em seguida com esse casal, e em Homeostase pode entender um pouco de todo o universo onde eles se inserem. Espero que tenha gostado!
Até a próxima!
Com amor,
Ju 🤍
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Até a próxima!
Com amor,
Ju 🤍
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