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Capítulo Único

2 de janeiro de 3001



- E a gente também podia... - Ela vira a cabeça viajando por um segundo e logo em seguida encontrando uma ideia incrível. - E se a gente fizesse um vídeo caseiro de sexo?
- ? Ficou maluca? - Pergunto de volta, talvez mais chocado do que quando descobri que Darth Vader era pai de Luke Skywalker naquela antiga saga de filmes estelares.
Por que bem, vamos combinar, isso pareceu estranho e meio confuso. Por que, , a minha melhor amiga está aqui me pedindo uma coisa dessas? Melhor a gente voltar um pouco no tempo.
Tudo começou a alguns minutos atrás.

15 minutos atrás

As coisas eram bem mais fáceis quando eu morava na casa dos meus pais, onde existem passarelas rolantes por toda a casa. Eu só tinha que colocar os meus pés no chão que elas me levavam para os lugares necessários, tipo para o banheiro em direção as máquinas de higiene pessoal. Agora preciso andar e fazer todas essas coisas chatas. Pelas palavras do nosso não tão amado reitor: “é proibido trazer passarelas rolantes para os alojamentos da Universidade, elas vislumbram um sedentarismo pouco explorado. Vocês já possuem máquinas de agilidade e proficiência demais, os nossos alunos precisam ser ativos.” Como se eu já não fosse ativo o suficiente.
Quisera eu que os cientistas tivessem tido êxito com os implantes cerebrais a centenas de anos atrás. Era uma ideia incrível, chips implantados com arquiteturas de eletrodos superficiais no cérebro que se comunicavam com o córtex cerebral. Seria possível incluir informações na mente de 50 livros em questão de segundos. Mas infelizmente não deu certo sucumbindo ao homem a necessidade de ainda frequentar escolas e fazer faculdade, isso é tão anos 2000.
Longe de mim, estar falando mal dos anos 2000, sou completamente fissurado na época.
E até que a faculdade não está sendo de todo mal. Tenho bastante tempo para pesquisar e organizar os meus projetos e mais ferramentas ao meu dispor para desenvolvê-los e quem sabe concluí-los. Soube de um cara que cursa Engenharia Mega Eletrônica chamado Stanley, há boatos que ele está construindo um submarino blaster aquático com a ajuda de um professor. Seria um locomotor crucial na minha busca a Atlântida, eu só teria que achar um jeito para convence-lo a me ajudar.
Mas esse não é bem o meu foco no momento. Meu foco vai todo para entrando no meu quarto, sem bater, sem perguntar se pode entrar, sem dizer “oi”. Pelo menos consegui vestir alguma roupa antes da porta abrir e bater. Ela se joga na minha cama e não diz absolutamente nada, o que é bem normal. fica esperando-me questionar, mesmo sabendo que não vou ficar adivinhando o que há com ela. Minha melhor amiga tem essa mania de achar que todos vão saber decifrar o que ela está pensando. Eu até consigo, às vezes, só às vezes.
Acontece que não é o que a gente pode chamar de esquisitona da classe média (eu), ‘normal demais’ ou ‘gente irrelevante para ir às festas do Cool”. Ela é a garota das melhores ideias, a socialmente ativa e dona das mídias sociais da Universal University ( UU), além de ser bonita pra caralho. Pra resumir, ela é popular.
E o que uma garota como ela tá fazendo com um cara como eu? Me pergunto isso todo dia desde que nos conhecemos quando ainda estávamos na escola.
- O que foi mané, desembucha.
Ela tem o rosto virado para o meu travesseiro, só espero que não esteja chorando. É muito difícil tirar aquelas super máscaras para cílios quando elas mancham algum tecido. Mas ela não chora, só parece extremamente cansada. Ela levanta a cabeça e apoia o queixo ali para poder olhar para mim.
- Nada. Só estava trabalhando no meu projeto de para a aula de Escassez.
- E precisa de ajuda?
A aula de Escassez não é bem um curso que nos dá notas reais, mas uma reprovação nos impede de nos formar. Todos na UU têm que cursá-la por pelo menos um semestre não importa qual curso você faça, a matéria tem que estar incluída na sua grade em algum momento da formação. A maioria odeia, tem o mínimo de interesse, talvez seja porque uma das regras é que durante a aula, todos os meios de tecnologia são desligados nos forçando a confiar nas nossas próprias mentes. Igual às pessoas faziam antigamente, usar cadernos, canetas livros, coisas do tipo. Porém todos costumam ter o mínimo esforço para passar logo de primeira, ninguém quer ter que passar outro semestre assistindo todo aquele povo faminto e doente.
Só que ao contrário de todos, eu adoro a aula. Claro que é ruim ficar sem o meu headspace, o que inclui ficar sem a minha agenda, minha câmara de flutuação, marcador de dia..., mas como sou fascinado pelos nossos miseráveis antepassados, vale a pena.
- Está sendo horrível, . Pra que caralhos precisamos fazer isso? Uma hora de aula de Escassez já não é o suficiente?
O professor Sivan tinha passado um trabalho onde nós deveríamos escolher algum feito antigo e encará-lo pelo resto do semestre, para nos ensinar como as coisas eram realmente anteriormente.
- O que é que você tá fazendo? - pergunta e no mesmo instante lembro do meu projeto.
- Teletransporte. Pelas próximas semanas nada de me teletransportar pelos lugares.
- Por que? - Ela arqueia as sobrancelhas na minha direção. Estou encostado na cabeceira na cama e quando ela se aproxima acabo me movendo. - Isso significa que você vai ter que tipo, andar? Com as próprias pernas ou usar veículos comuns. Sabe quanto tempo vai perder fazendo isso?
- Sei, mas não consegui pensar em mais nada que não me atrapalhe com os meus projetos. Sei que Tina escolheu dormir por mais de quatro horas e Gilbert ficar sem o seu headspace.
- Eles são loucos? Jamais escolheria qualquer uma dessas coisas meu tempo é precioso.
- E o que você escolheu? - Pergunto curioso, desconfiando do que seria. está muito mais alterada ultimamente e só podia ter haver com esse projeto. Se irrita facilmente, não está tendo muita paciência ou cuidado, não lembro de vê-la assim a muito tempo. As expressões no seu rosto estão sempre marcadas, os lábios comprimidos, os olhos desconfiados, as veias saltando. É como se o seu nível de estresse estivesse triplicado.
- Suspendi meus equilibradores de hormônios. - Seu rosto desaba num desanimo de dar dó. E aí entendo o porquê de ela estar tão esquisita. - Sabe como isso é horrível?
A cara que faço é como se uma enorme interrogação flutuasse em cima da minha cabeça o que dá espaço para que continue.
Conflitos adolescentes, aí vou eu.
O problema de deixar falar é que quando ela fala, ela não para. Mas ouvir os impasses da vida perfeita da minha melhor amiga é um dos meus afazeres do dia.
- Acho que estou ficando louca. No acampamento de viagem para Antártica eu congelei, achei que fosse morrer de hipotermia. Isso foi o início de uma semana ocupada: fiz escalada nos Alpes, shopping com a minha mãe na Lua, atuei no haedspace no trabalho de teatro e construí uma Habitação Polo Sul para as festas do pessoal de comunicação. Sem falar dos meus cursos na Ásia e as aulas de skin-diving nas Bahamas, e em todas elas tive algum problema.
Quando para de falar leva um tempo para inspirar e recuperar o folego. O rosto dela está vermelho, ela fica cada vez mais bonita, não importa o que faça.
- Se sabia que ia enlouquecer porque diabos suspendeu seus equilibradores?
- Por causa da intensidade, mané. E com a minha vida não dá pra dispensar outras coisas como o teletransporte por exemplo. Como vou estar em todos esses lugares usando transportes comuns? Levaria uma vida para chegar. – Com uma vida ela quer dizer, algumas poucas horas. Sorri satisfeita e levanta ficando de joelhos, como se estivesse enfrentando um dos desafios mais seletos para a humanidade. Seus olhos brilham como duas estrelas das mais cintilantes. - Mas não achava que seria tão difícil.
cai de volta na cama, e eu aproveito para dar uma olhada no seu headspace. Meus olhos se abrem e franzo a testa com o que vejo.
- Caramba, seus níveis de estresse estão altíssimos. Adrenalina, cortisol, norepinefrina todos lá em cima.
Um arrepio é o que vejo quando toco a sua pele, ela levanta os olhos para mim. Aqueles olhos sensíveis que fazem você aceitar qualquer coisa vindo deles. Oh não, estou ferrado. Pego meu laptop para dividir a minha atenção em mais de uma coisa.
- Acha que não sei disso? Preciso tentar diminuí-los.
- Achei que você tivesse um namorado por um motivo.
- Nunca tive. Aaron é um idiota e ele não atende as minhas necessidades. Tantos anos de estudo e evolução tecnológica, mas a ciência ainda não descobriu um jeito de deixar os homens menos babacas.
Eu ri seco enquanto ela insulta me insulta indiretamente, mas não contesto porque ela tem razão. Sem tirar os olhos da tela holográfica no meu laptop percebendo erros lógicos em uma das minhas pesquisas sobre Atlântida. Sem me importar muito com a cara feia que me lança.
- você tá ouvindo o que eu to falando? - Olho para ela, mas não respondo o que a faz se ajeitar na cama, ficando ao meu lado. O corpo extremamente junto ao meu tentando xeretar o que há na minha tela. - Eu não acredito! De novo isso? Voltamos de um feriado prolongado e você não deu uma pausa dessa cidade perdida a mais de trocentos anos?
- A ciência nunca para. Eu vou encontrar Atlântida , nada vai me impedir.
- Argh. Pelo jeito vou ter que fazer o que vim fazer.
- Como assim? - Ergo os olhos para ela que detém um sorriso maléfico.
Planos de não dão certo. Tento manter isso na cabeça, mesmo que sejam incrivelmente divertidos.
- Você não consegue largar isso e me dar um pouco de atenção seu mané? - , sem a minha permissão, tira o laptop de cima da minha barriga e deita ali apoiando os braços, com o rosto virado na minha direção. Ela tem algum problema com não receber atenção das pessoas, sempre foi assim. - Eu tive uma ideia que vai ser bom pra você e para mim.
Fico desconfiado. e suas ideias não são nada consideradas normais e dentro do limite de segurança. Estão mais para pular de um penhasco no Alabama ir aos espaços restritos da Lua.
- Eu preciso diminuir meus níveis de estresse, e você precisa ser um ser mais social. - Aponta um dedo na minha cara. - Foi essa a minha missão quando começamos a faculdade e tá cada vez mais difícil de concluí-la depois que você começou essa sua obsessão por essa cidade perdida.
Bagunço o seu cabelo. Apesar de todo o seu discurso sabe que a minha busca por Atlântida é importante para mim, mas ela vem pegando no meu pé direto por causa do meu antissocialismo, que não frequento muitos lugares e fico mais tempo no meu quarto ou em laboratórios fazendo pesquisa do que bebendo em festas. Eu aprecio todo o seu esforço em me socializar e me ajudar a fazer amigos, mas me preocupo com cada minuto. O tempo que estou ‘socializando’ eu poderia estar encontrando coordenadas importantes.
- O que você propõe?
Ela se aproxima ainda mais. Sinto seu queixo ir de encontro com a minha clavícula e os seus olhos em cima de mim. Sorte que eu ainda tenho meus equilibradores hormonais caso contrário ficaria mais tenso que quando assisti o Homem Invisível.
- A excursão pra Marte é em dois dias e eu proponho que a gente use essa semana no planeta vermelho pra se divertir. Você esquece Atlântida nesse tempo e eu acredito que com a cabeça mais relaxada vou conseguir lidar melhor com os meus hormônios e com essa droga de projeto pra Aula de Escassez.
Oscilo em relação a essa proposta e em qual sentido de diversão está falando, mas ignoro essa parte e ao focar na outra, não posso evitar rir.
- , você ficou doida? Acha que se eu tivesse bitdolars pra bancar a excursão pra Marte eu já não teria gastado num protótipo para as minhas pesquisas?
Ela revira os olhos. - Argh eu vou pagar seu bobo.
Bem a vida toda que a gente se conhece - mais ou menos onze anos - sempre foi assim. a patricinha rica que possui uma forte influência e um poder de persuasão incrível e.... eu. Um cara não muito ligado nas atualidades do mundo juvenil de aparência duvidosa e vidrado em coisas do passado, dos anos dois mil. as vezes diz que sou careta por gostar tanto de coisas de mil anos atrás, mas não posso evitar. Tudo é incrível, os filmes, livros, as músicas. Achavam que estavam vivendo o auge de tudo. Hunf, elas nem imaginavam.
- Nem fodendo.
Respondo de imediato.
- Sim.
Ela rebate fazendo uma cara feia.
- Não.
- é oportunidade única.
- Não ligo.
- Liga sim.
- Um dia os passeios a Marte vão ser tão comuns como na Lua e eu vou poder visitar Ares em outra década.
A excursão para Marte é algo anual na UU, exclusiva para os terceiros anos de qualquer curso. Marte é uma parada nova, conseguiram cultivar vida no planeta a somente 50 anos. A UU tem uma parceria gigante com a NASA9 que concede a viagem aos alunos dos terceiros anos. Mas somente no terceiro ano. O problema é que não é nem um pouco barato.
- Qual o problema de eu pagar pra você?
- O problema é que eu não quero. Acho que você tem que ir vai ser bom pra você desestressar, mas eu não to a fim de parar o meu projeto.
- Mas eu quero ir com você, vai ser só uma semana , vamos!???
- Não.
- Por favorzinho?
Depois que aprendeu essa palavra eu nunca mais tive paz. É assim que ela faz para conseguir as coisas de mim, desde o início. É tipo um pacto nosso. Ela não pede caso não seja sério e eu só aceito se de fato não for me atrapalhar. Não consigo responder de imediato sentindo algo esquisito.
- Caramba , você não percebeu o que tá acontecendo? O que eu to te propondo? Se tivesse percebido não demoraria tanto para aceitar. - Ela passa a língua sobre os lábios e desvia o olhar do meu.
Que porra é essa . Nem todo controle hormonal do mundo seria capaz de controlar os impulsos nervosos dentro da minha cueca.
- O que?
Faço a pergunta mais idiota do mundo. É por esse motivo que garotas como não ficam com caras como eu.
- A minha mente tá a mil, to te pedindo pra me ajudar a desacelerar.
Wow. Meus olhos se acendem como dois faróis numa rodovia escura, se essa proposta é mesmo séria. A maior surpresa da minha vida em 22 anos.
- ?
- ?
Ela fica bem atenta, talvez fitando minha cara de choque esperando uma resposta. Mesmo que um lado meu ainda tenha uma ponta de dúvida. parece adivinhar isso quando deixa as coisas bem explícitas.
- É, é isso mesmo. Quero que a gente transe. Faça sexo na estação espacial. Fala sério. Não pode ser. Irrefutável. Antes fosse algumas de suas ideias loucas de pular de um penhasco. Mas é, não que eu esteja dizendo que eu não gostaria de ficar com , a ideia é tão incrível e excitante que deixa as minhas chances mais baixas que a temperatura do Polo Norte. Era o que eu pensava, pelo menos até agora.
Nesse momento minha cabeça parece que dá um estalo. Aquela aproximação, o jeito insinuativo e as frases ambíguas. estava dando em cima de mim todo esse tempo? Com o intuito a me levar a uma viagem sexual pelo espaço. É um adendo importante.
- E a gente também podia... - Ela vira a cabeça viajando por um segundo e logo em seguida encontrando uma ideia incrível. - E se a gente fizesse um vídeo caseiro de sexo?
- ? Ficou maluca?
E é nesse impasse que tínhamos parado. Sexo e ainda gravar um vídeo????? Ela só pode ter batido a cabeça para chegar e me propor isso. Se precisa de sexo consegue com qualquer outra pessoa por aí. Todo mundo é louco pra ir para cama com ela. Não que eu também não seja, ela é atraente.... Cara. É difícil explicar quando a gente é tão amigo.
Se tem uma coisa que os avanços tecnológicos ainda não conseguiram superar essa coisa com certeza ainda é: o sexo.
Não tem nada comparado a carne com carne resultando em uma explosão de serotonina por todo o corpo. Nada pode substituir isso.
- Maluca? Por que? Estou te propondo sexo, isso não é tão incomum.
- É só que a gente... É amigo né?
Não doí dizer isso. Eu gosto de ser amigo de e sempre tenho o cuidado para que nenhum outro sentimento usufruísse dessa amizade. Um milênio de experiências mal sucedidas na espécie humana entre relações de melhores amigos mostra o total fracasso quando um deles decide se declarar.
- E daí? Você não quer transar comigo?
Ela pergunta e não é como se isso a afete. Por mais que isso nunca tenha acontecido, não se importa se levar um fora. Ela é muito confiante para esse tipo de coisa.
- Não é não querer transar, é as consequências que o ato vai trazer e interferir na nossa relação pessoal.
- O Ato. - Ela começa a rir imitando o modo que falo e eu reviro os olhos e acabo rindo junto com ela. - Ninguém fala o ato.
- A foda então, melhorou mané? - continua rindo enquanto balança a cabeça concordando.
- Mas se é isso que te incomoda, eu te prometo que se a gente seguir adiante com isso, nada vai mudar. Vamos continuar do mesmo jeito.
cruza os dedos e dá um beijo em cada um e ainda não sei como encarar essa proposta. É um risco claro, visto que ela está totalmente alterada por conta da falta do controle hormonal. Deveres da Aula de Escassez às vezes nos levam ao auge da insensatez. Me pergunto se se sente assim também, deve estar sendo horrível ficar sem os equilibradores, e um lado meu quer muito ajudá-la apesar do medo.
- Tem certeza?
- Absoluta, .
A segurança dela mexe com coisas dentro de mim o suficiente para me fazer aceitar essa ‘loucura’. Surreal demais para minha realidade. Se checasse meu headspace agora conseguiria ver meu cortisol nas alturas, tamanha inquietação. Mas uma coisa ainda batuca na minha cabeça.
- Por que logo eu?
- Por que claramente você tá vendo que eu preciso de ajuda. Eu sei que só você vai conseguir fazer isso e sei que só você vai se importar realmente em como eu estou me sentindo porque você é o meu melhor amigo.
Eu suspiro vendo que ela tem uma ótima justificativa. É , ela sempre tem um bom ponto, um ótimo argumento para rebater.
- Tá, tudo bem. - Digo por fim vendo que essa batalha ela venceu. abre um sorriso de orelha a orelha e cai em cima de mim me abraçando.
- Perfeito.
- Mas nada de vídeo caseiro.
Faço questão de lembrar e ela faz um bico e dá de ombros. - Tudo bem.
olha para mim e se aproxima. Quando percebo seus lábios estão sobre os meus é uma coisa rápida, mas o suficiente para me deixar mais desnorteado que uma bússola quebrada. Ela se afasta sorrindo novamente.
- Vou passar aqui daqui dois dias pra gente ir juntos. - agarra o meu pulso mexendo no meu headspace e intercomunicando com o dela. Percebo que está copiando os meus dados. - Preciso dos seus dados para nos inscrever na excursão.
Quando termina ela levanta da cama satisfeita.
- Por que você tem que ser tão persuasiva?
- É um dom. - pisca e se dirige a porta. - , espero que você faça o maior número de pesquisas nesses dias envolvendo a cidade perdida, porque você não vai levar esse laptop para a excursão. Nada de Atlântida nessa semana.
Concordo com a cabeça, mas nem imagina que depois do que aconteceu nesse quarto, a última coisa que consigo pensar é em Atlântida.

4 de janeiro de 3001



Estou com tanto calor, esse é o preço que pago por um trabalho da aula de escassez. E não é como se pudesse usar o teletransporte para ir até as Bahamas e dar um mergulho nas piscinas naturais. É o dia da excursão para Marte e eu já estamos bem atrasados. Devemos estar na estação 13W em 15 minutos.
Uso os airspin para levitar toda a minha bagagem e parto para o quarto de , com as malas flutuando logo atrás de mim. Maldito diretor, se não proibisse as esteiras rolantes pelo campus universitário já estaria lá.
Bato rápido na porta do meu melhor amigo, ele não vai mesmo fugir dessa viagem. Acontece que estou ansiosa, sem o meu controle hormonal tudo em mim está multiplicado por dez.
- , ! Abre! - Digo ainda batendo e ele finalmente abre.
- Calma ... Nossa você tá suada. - Ele diz ao abrir a porta, passo por ela, mas não sem antes de notar seu visual simples. Está de camiseta branca e jeans azul, os fios do cabelo desalinhados. insiste em dizer que não se acha bonito por não ser um tipo de padrão, mas eu sempre soube que tem uma beleza escondida nele. Ainda bem que sou uma das pessoas capazes de enxergar.
- Eu sei, não me olha eu to horrível. - Digo colocando as mãos no rosto.
- Eu diria adorável com essas bochechas vermelhas. - Ele mostra aquele sorriso branco e agora tenho certeza que meu rosto está mais vermelho do que um pimentão.
- Obrigada. - Agradeço e olho em volta vendo as malas dele fechadas em cima dos airspins. - Você já tá pronto? Temos 15 minutos pra chegar na estação.
- Só vou colocar os tênis. - Ele me dá as costas indo até a cômoda e tira da gaveta duas meias brancas. Vem na minha direção e me entrega uma espécie de cubo colorido. - Toma, pega. Pra você deixar as mãos ocupadas e distrair a cabeça.
- O que é isso? - Pego o cubo e o examino, são seis lados perfeitos cada qual de uma cor, e as peças giravam facilmente em torno de um eixo principal bagunçando todas as cores. Consigo ler “”, tem uma letra riscada em cada quadradinho do lado vermelho com uma caneta preta. É a sua marca registrada, sempre marca seu nome nas antiguidades que consegue. Sempre a mesma: o seu nome em letras de forma na cor preta.
Começo a brincar com o negócio, que de certo modo adorei.
- Um cubo mágico. As pessoas usavam no passado para melhorar a concentração e raciocínio lógico, coisa do tipo.
- Meu deus, quanto tempo tem essa coisa?
- Uns mil anos. - diz enquanto senta na ponta da cama para calçar os tênis.
- Eu tenho que combinar as cores de novo?
- Esse é o objetivo.
Responde e coloco resolver aquele cubo mágico como minha missão de vida. Não tiro as mãos nem os olhos dele nem por um minuto. tem que agarrar o meu braço e me guiar o caminho todo até a estação.
Quando finalmente estamos na nave junto de todos os outros alunos do terceiro período, é que paro para respirar lentamente. Olho para pelo canto do olho. Estamos sentados um do lado do outro e ele lê um panfleto. Olho para o cubo nas minhas mãos e percebo que não sofri tanto nos últimos minutos quanto estou sofrendo sem os meus equilibradores hormonais.
- Isso é impossível, já vai fazer uma hora que estou tentando.
- Não é não, me dá aqui. - Ele o pega e começa a girar as peças de um jeito que não entendo, mas parece funcionar já que em um segundo monta um lado. Ele me mostra e viro os olhos para sua tentativa de se gabar. - Tenta.
Me entrega novamente e começo a girar descontroladamente. Ele ri, mas logo começa a me ajudar.
- Gira esse lado depois esse.
- Onde você consegue tanta velharia, hein?
- Tenho meus contatos. - Responde dando de ombros. Os dedos de tocam os meus enquanto ele me ajuda. Ergo uma sobrancelha para ele lembrando do principal motivo de estarmos naquela excursão. Eu nem mesmo sabia que uma pessoa podia ser tão ansiosa, como estou agora.
- , você não desistiu né?
- Hã... do que?
- Da gente! - Quase lhe dou um tapa na cabeça. pode ser inteligente para várias coisas, mas é uma lerdeza sem tamanho para outras.
- Ah! Quando? Vai ser hoje?
Começo a rir percebendo que ele está nervoso. Eu pagaria pra ver como ele estaria se não estivesse com os equilibradores dele.
- Relaxa, quando chegar a hora você vai saber. - Digo próximo do seu ouvido e lhe dou uma piscadela. Ele dá um sorriso afobado.


6 de janeiro de 3001



Estou ficando louco, com certeza. Essa tensão sexual de é sufocante.
Já faz dois dias do início dessa excursão, ela vem agindo normalmente, mas fico esperando pelo momento em que ela vai me atacar e me puxar para dentro de alguma dispensa marciana até tirarmos todas as nossas roupas e isso me deixa aflito. A última frase dela na nave antes de pousarmos não ajudou em nada, só temos mais três dias de excursão e definitivamente não sei quando vai ser a hora. Tenho dúvidas até mesmo de que ela tenha esquecido, o que é bom já que assim nada vai interferir na nossa amizade. Ao mesmo tempo que não consigo tirar a ideia da cabeça, está grudada no meu córtex como aquelas gosmas de chiclete que grudam no sapato.
Nossa primeira atração foi uma trilha nas crateras até o Monte Olimpo, um vulcão extinto, a montanha mais alta do sistema solar, 3 vezes mais alta que o Everest. A partir daí, comecei a achar que essa ideia nem era tão ruim já que estou aprendendo coisas legais. Meu nível de conhecimentos gerais no headspace subiu 5%. Mas o ponto é que tivemos que usar máscaras de oxigênio lá, pois o nível do oxigênio nas crateras era muito baixo e decidiu que devíamos andar abraçados pois ela era a única ali com os equilibradores hormonais desligados e alegou que se desmaiasse estaria nos braços da ‘pessoa certa’. Palavras dela, não minhas. Tentei explicar que a falta dos equilibradores não alteraria a sua pressão, mas ela simplesmente ignorou.
Quando fomos na The Space Shop comprar roupas que tivessem uma película refletora - para nos proteger dos raios ultravioleta, do frio e dos gases prejudiciais - insistiu para que eu entrasse no provador com ela alegando que não ia conseguir fechar a parte de trás. Eu parecia um tomate de tão vermelho, mas fui.
Seguindo o cronograma, hoje é dia de conhecer as praias vermelhas de Marte. Confesso que estou ansioso. Ouço três batidas na porta imagino ser , ela sempre passa no meu quarto para que possamos ir juntos comer e logo em seguida nos juntar a Ailin, nossa guia na excursão, e aos outros alunos. Mas quando abro a porta do meu alojamento não há ninguém, apenas um recado passado por debaixo da sola.

“Venha me encontrar .”
- .


Saio em direção ao refeitório da estação e não a encontro em lugar algum, decido mandar uma mensagem pelo headspace, mas também não tenho resposta. Percebo que ao pedir que eu fosse encontra-la eu teria mesmo que procurar.
De volta ao quarto, depois de comer, pego tudo que é necessário para ir à praia. Protetor solar 700, os óculos que adaptem meu headspace e um boné dos Yankees. Não costumo ir tanto a praias porque na verdade não gosto nem um pouco de areia e água salgada, mas as praias vermelhas de Marte com certeza chamaram a minha atenção.
- Muito bem, essa é a praia de Swaya, a mais frequentada de toda área coberta do planeta. Espero que se divirtam nesse calor de 35º graus, sem se esquecerem de voltar a base antes das seis horas, a partir daí a temperatura abaixa podendo chegar a -63º graus. Aparentemente o El Ninõ andou zoando até o tempo por aqui. – A nossa guia Ailin diz logo que chegamos aos limites da praia.
A areia é cristalina e cor de rosa, bem suave. E o mar é vermelho, reflexo das nuvens e do céu certamente, mas não deixa de ser impressionante. Entre os alunos procuro por , mas não tenho sinal algum dela. Ela jamais facilitaria as coisas para mim mesmo. Logo os alunos começam a se dispersar com seus próprios amigos e companheiros.
Olho ao redor vendo diversos quiosques, um enorme outdoor em vídeo me chama a atenção. Um cara muito pálido está falando, consigo ler “Hydro Flipida, CEO do Mars Tourist Board” no subtítulo do vídeo. Como eu, talvez ele não seja fã de sol. Fico parado vendo o vídeo enquanto a sua boca mexe.

“Estamos nos abrindo aos mercados por toda a galáxia, não importa a cor, comprimento da língua, número de cabeças, todos são bem-vindos. Com as nossas diversas atrações temos algo para todo mundo, até os que já tem 400 anos vão adorar. Você é a razão para a nossa hospitalidade!”


E o vídeo repete com os mesmos dizeres. Acho surreal e ao mesmo tempo incrível. Uma risadinha ao meu lado chama minha atenção.
- Acho que esse cara odeia sol, tanto quanto você . – Grace diz do meu lado. Nem tinha percebido que ela está aqui esse tempo todo.
Grace Woodley é basicamente a garota por quem eu sempre tive uma quedinha meio que a vida toda, mas nunca tive coragem de chamar ela pra sair.
Também tenho vergonha de demonstrar, mas diz que todo mundo sabe que sou a fim dela, até mesmo ela. E isso me deixa extremamente sem graça perto dela. Felizmente meu rosto está bem coberto graças aos óculos e ao boné. Enquanto ela está perfeitamente linda com uma flor entre os cachos do cabelo e um biquini amarelo.
- E ele não tá errado.
- Ah fala sério, doenças causadas pelo sol já foram erradicadas a muito tempo. Você bem sabe.
- Claro, mas ainda queima a pele superficialmente e a insolação ainda existe. E onde você descobriu isso?
- Talvez eu preste um pouco de atenção nas aulas de escassez. – Ela piscou e eu ri. Tirou a mão do bolso e abriu na minha direção. Tinha três moedas ovais ali, uma de bronze, uma de prata e uma de ouro. – Olha.
- Mars coins? – Digo encantado. Sou encantado com objetos do passado, mas as do futuro também tem o meu fascínio.
- O pi é a de bronze, o teepi de prata e o tanpi de ouro. Uma mars coin vale $0,0023 em bitdolar.
- Onde conseguiu
? - Por acaso o nosso amigo Hydro ali – Ela indicou o cara da tela com a cabeça. – Tem outro televisor indicando uma casa de câmbio marciana.
- Nossa, legal. – Sorri, me sentindo um estúpido.
Grace começou a me olhar com aqueles olhos escuros e envolventes e a única coisa que consegui dizer foi “Nossa, legal”. Começo a ficar nervoso demais e não há controle hormonal que ajude. É melhor procurar por .
- Hã, to procurando a , você a viu por aí?
- Acho que eu a vi pegando um bronze nas rochas vermelhas.
- Obrigado Grace.
- Tudo bem, a gente se esbarra por aí .
Ela diz encostando ombro no meu e sorrindo antes de se afastar. Se estivesse aqui com certeza diria que ela estava dando em cima de mim, e bem eu não consigo ter essa autoestima toda.
As rochas ficam mais afastadas da onde a maioria do pessoal se encontra. E consigo ver um único corpo deitado sobre elas na direção do sol. Me aproximo o suficiente para fazer sombra. está estirada e usa um biquini vermelho. Ela tira os óculos e olha para mim quando faço sombra onde ela se encontra.
Me pergunto como ela chegou aqui antes de todo mundo.
- Nossa, mas finalmente você apareceu. – Se levanta depressa segurando um tubo na mão e me entrega. – Preciso de alguém para passar bronzeador nas minhas costas.
fica de costas para mim e coloca todo o cabelo para frente deixando as costas livre. Me preparo para fazer o que pediu, até ver desamarrando a parte de cima do biquini e a tirando completamente. Mesmo de costas fico estático.
- O que você tá fazendo? – Pergunto imaginando se ela pensa em tirar a parte de baixo também. Pode parecer loucura, até porque essa não é uma praia de nudismo, nem mesmo sei se Marte possuí leis a respeito disso, mas lembro que possuí loucura no seu DNA e para ela isso é completamente normal.
- O que você acha? – Ela olha para mim mordendo os lábios. – Vai, já pode passar.
Eu pisco algumas vezes antes de finalmente fazer o que ela pediu. Tento não ficar olhando, mas é difícil não focar enquanto as minhas mãos deslizam sobre a sua pele espalhando o produto.
- Você me achou bem rápido.
- É... Eu... – Quase não consigo formular uma frase. – O Hydro... Quer dizer, a Grace! Ela me disse que te viu aqui.
- Grace Woodley? A sua crush?
- Ela não é a minha crush... – Perco a fala quando vira de frente. Ela solta os cabelos que ficam entre os seus seios. Olho para o lado e ela ri do meu constrangimento. – Você não vai se vestir?
- Pra que? Sabe qual foi a primeira coisa que pensei quando cheguei nessa praia?
- Ficar pelada?
- Exatamente, por isso pare de olhar para os lados. - segura meu o meu rosto e o gira até que os nossos olhos se alinhassem. - Eu não me importo que você olhe, na verdade é exatamente o que eu quero. - Ela dá um sorriso desinibido, já o meu tá quase para morto de vergonha. - E falar alguma coisa também né, parece sempre que to falando sozinha .
- Desculpa, eu... Achei legal, lindo o seu topless, maravilhoso de verdade, adorei, parabéns.
Solto as palavras tão rápido que até entendo quando fala rápido demais, ela apenas ri, mas não ajuda em nada minha tensão.
Lembro da sua proposta, não ia querer fazer isso justamente aqui? Não é?
- Anda, senta aqui. - Ela senta e puxa meu pulso com tudo para baixo, por pouco não caio. Ficamos sentados um ao lado do outro. abraça as pernas e seu ombro direito fica rente ao meu esquerdo. Está um dia bonito, o mar e o céu fazem um lindo degrade vermelho a horizonte. começa a fuçar a própria bolsa. - Olha o que eu consegui. - E joga o cubo no meu colo, percebo que há dois lados com as cores certas. - To quase conseguindo montar completamente esse cubo doido.
- É cubo mágico, .
- Tanto faz, .

7 de janeiro de 3001



Só há mais dois lugares para irmos antes de voltarmos para a Terra: a cratera Proctor e os cânions Valles Marineris. Eu já tinha lido um pouco sobre os lugares nos panfletos que me empurrou e ele me contou muita coisa quando estávamos na praia ontem e quando dei uma passada no seu dormitório.
Valles Marineris é tão bonito quanto mostrava nas fotos do panfleto. Tudo é pavimentado ao redor do Cânion e uma longa ponte de aço liga os dois lados, quase não dá para imaginar que alguns anos atrás tudo isso aqui era pó e terra. O espaço é grande e muita gente circula por aqui além dos alunos da UU, principalmente entre os carrinhos de comida. Estou me sentindo como se estivesse no Coachella, mas o chão não é grama e não há um enorme palco com atrações e até agora ninguém se atreveu a tirar selfies. De acordo com a nossa instrutora tirar selfies soa como uma ofensa aos moradores locais, mas até que estou tranquila com isso esquecendo um pouco o mundo virtual nesses últimos 4 dias. Contudo, ficar sem o meu equilibrador hormonal ainda é péssimo e sinto que cada vez mais estou fazendo as coisas por impulso. Para minha sorte esse maldito trabalho está acabando.
tinha saído para nos comprar raspadinhas, olho em direção aos carrinhos, mas pela quantidade de gente não consigo enxergá-lo. A voz de Ailin chama a minha atenção e a de todo mundo no grupo.
- O grande vale se estende por mais de 3000 quilômetros, se espalha por aproximadamente 600 quilômetros de largura e tem mais de 8 quilômetros de profundidade. Para vocês terem uma ideia comparativa o Grand Canyon, da Terra localizado no estado americano do Arizona, é quase três vezes menor. A origem do Valles Marineris ainda é misteriosa, embora a principal hipótese assegura que ele teve seu início como uma fratura a bilhões de anos atrás à medida que o planeta se resfriava. Vocês podem circular por toda a área protegido pelos corrimãos, lembrem-se de que é proibido ultrapassar a linha de segurança.
Ailin abre os braços com toda aquela pose de guia que admira o que apresenta e imagino que adoraria ouvir tudo isso. Dou outra olhada e finalmente o encontro segurando as nossas raspadinhas e caminhando ao lado de Grace. Eles estão conversando de um jeito amigável e parece feliz ao mesmo tempo que envergonhado. Quase rio comigo mesma pois ele nunca levou jeito com as garotas, mas ao mesmo tempo que gosto de vê-lo interagir com Grace - garota por quem sempre foi caidinho - também me sinto estranha, um mal estar no estômago, não sei o que está causando isso, mas é péssimo vê-los juntos. Estou delirando, a falta dos meus equilibradores hormonais deve estar causando isso e embaralhando os meus reflexos e sentimentos. É, deve ser isso. Os equilibradores não são nada menos do que aparelhinhos que nos mantêm calmas, contidas e monótonas sempre.
Mas no momento estou voraz, inquieta e um pouco enciumada. Enlouqueço diante do fato de ele estar tão longe, fora do alcance da minha pele torturada ou quando percebo que não está me dando o mínimo de atenção. O que não é nem um pouto justo já que não é o meu namorado.
Percebo que a cada dia mais os meus hormônios se modificaram, ainda não cometi um ato de loucura, já a respeito de revelações estarrecedoras... Não sei o que passou na minha cabeça quando propus a que fizéssemos sexo, também não sei porque estou com uma imensa vontade de pular desde cânion como se tivesse num bungee jumping na Austrália. Embora a minha bioconstituição impede que eu me mate, o querer ainda é fixo e sim, ainda quero muito o meu melhor amigo.
sempre foi o meu melhor amigo e não nego que já pensei muito nele de outro jeito, porque ele era incrível e seria um ótimo namorado, mas fico com medo de perdê-lo, acho que ele sente o mesmo já que nunca, em anos de amizade, insinuou quaisquer outras intenções além da amizade. Prometi a que nada mudaria se fizéssemos isso, mas sequer aconteceu e já estou contestando minha própria promessa.
É, preciso me livrar logo dessa dúvida.
O calor sob a minha pele parece tão pior agora, de dia Marte é quente, mas eu duvido que os outros aqui estejam com mais calor do que eu.
começa a se aproximar de mim com um sorriso ressabiado no rosto depois de se despedir de Grace.
- Desculpa a demora a fila tava meio grande. - Diz ele me entregando meu copo de raspadinha azul, é quase um alivio segurar o objeto gelado tanto quanto encostar nos dedos gelados dele.
- Tudo bem, sabe que algo gelado era a segunda coisa que eu mais queria agora?
Ele junta as sobrancelhas. - Por que?
- Porque estou pegando fogo. - Digo me aproximando do seu ouvido. - E hoje você não me escapa .
Sinto seu corpo ficar estático e pisca atordoado, ele abre a boca, mas não consegue dizer alguma coisa. Já eu, fico completamente satisfeita.



É um barulho irritante que não me deixa dormir por nada e o sinto vindo do corredor. Olho o relógio projetado na parede e são duas da manhã. Os dormitórios da estação são pequenos, mas a vantagem é que são individuais, logo ninguém vai reclamar depois de eu perceber que só uma pessoa poderia desobedecer aos códigos aplicados pela companhia de viagem a Marte que proíbe qualquer locomoção de visitantes perambulando pela estação fora do horário permitido.
- Eu desisto dessa porcaria! - É o que diz quando eu abro a porta e ela joga o cubo mágico primeiro antes de entrar.
- Achei que você estivesse gostando.
- E estava até que percebi uma coisa .
- O que? – Pergunto com a inocência de uma criança de 10 anos.
Seus passos são determinados quando vem até mim e joga os braços ao meu redor, eu ando para trás até não ter mais chão. pega as minhas mãos e coloca ao redor do seu quadril.
- Eu preciso de suas mãos em mim, mané.
- Das minhas mãos?
- Exato.
- Eu?
- , você disse que tinha topado! – Exclama ansiosa. olha para o lado como se tivesse acabado de perceber alguma coisa. – Não quero te obrigar a nada tá legal, só faça o que você quiser. Vamos sentar no chão e só vou te deixar voltar a dormir quando eu conseguir montar esse cubo idiota.
Ela sorri e com certeza não está esperando quando me inclino e a beijo. Na verdade, até eu fico surpreso comigo mesmo por tal atitude, mas achei a melhor opção a ter que ver minha melhor amiga surtar. E que opção. A língua dela brinca com a minha enquanto nos empurra até a cama e caio sentado. Ela firma as pernas ao meu redor e senta do meu colo eu abraço sua cintura e beijo seu pescoço, tudo no automático, porque, se eu começar a pensar muito, quem vai surtar sou eu.
- No que você tá pensando? - Pergunto e cada pelo arrepia quando desce as mãos pelo meu tronco até encontrar a barra da minha camisa. Sua mão gelada encosta na minha pele enquanto ela puxa a peça para cima para tirá-la.
- Desde quando você ficou atrevidinho? – questiona fincando as unhas na minha pele como se quisesse arrancar um pedaço e eu sorrio sem fazer ideia de como responder aquilo.
- Não faço ideia, você gostou?
- Quase.
segura o meu rosto e olha bem para mim e dá um sorriso lascivo. Em seguida desce as mãos até as minhas e as leva até o seu quadril, meio que de imediato aberto bem o local e a puxo mais para perto. Jogo ela no colchão com não tanta delicadeza, ela ri pelo susto e prende as pernas em volta da minha cintura.
Estou tão focado nisso, minhas ações estão sendo realizadas pelo puro de desejo de transar com ela aqui mesmo, neste exto momento. conseguiu me despertar isso e nada está querendo fazer a vontade de adormecer de novo. Nós olhamos por algum tempo, e ela meche com a corrente no meu pescoço. Observo seus cabelos espalhados pelo lençol, seus lábios vermelhos e os olhos famintos. Nós dois sabemos que se existe alguma vontade de desistir o momento é esse. Mas ela não faz nada para impedir, muito menos eu quando volta a me beijar de um jeito quase desesperado novamente.



“Você nunca esquecerá dessa viagem!”


É o que está escrito no teto do dormitório de , na verdade, não só no dele, mas no de todos que abrigam os visitantes ao planeta vermelho nessa excursão. E tem um que de veracidade nessa frase, mas não por conta de Marte com toda certeza. Estamos deitados, um do lado do outro olhando para o teto, completamente nus embaixo do lençol e a minha cabeça viaja ainda pensando no doce alívio de alguns minutos atrás. Na última hora, desde que entrei nesse quarto, me senti como uma leve pena seguindo a correnteza da brisa, dando círculos no ar, como se nada existisse embaixo. Um arrepio parece subir por toda a minha espinha novamente.
Sinto se move ao meu lado, ele senta, encosta na parede e acende um baseado.
- Maconha é legalizada em Marte? - Levanto o rosto e o vejo tragar.
- É legalizada no mundo todo, porque não em Marte? Caso contrário eu estaria cometendo um crime universal, não acha?
- Tráfico de maconha interespacial, quem diria hein .
Ergo uma sobrancelha e ele dá um sorriso convencido. Gosto de vê-lo quando está confiante, é um diferente. Ele vira para mim e parece empolgado, fico instantaneamente interessada no que tem a dizer.
- Esqueci de te contar. Sabe quando a gente tava no cânion dos Valles Marineris? - Concordo balançando a cabeça. - Grace me chamou para sair.
A última frase se choca nos meus ouvidos, parece ficar presa nos meus tímpanos por que não quer sair de jeito nenhum.
- E você disse...?
- Que sim, é claro!
Sorri estonteante, já eu não sei mais o que dizer ou fazer. Acabamos de transar e esse não seria o melhor assunto do mundo para conversar agora, mas isso caso eu e ele tivéssemos alguma coisa, mas como somos só amigos não há restrição. Eu sei disso, mas no momento tento disfarçar o meu desconforto com a ideia. vai sair com Grace. Não amigavelmente, mas amorosamente e ela pode ser a candidata perfeita para o posto de futura namorada dele. Eu devia estar feliz, mas ao invés disso estou me sentindo em um daqueles filmes onde as personagens principais vivem engolindo sapos quando veem algo que não gostam e não sei porque estou me sentindo assim. Não existe sentimento amoroso da minha parte, é meu amigo, ou existe?
Fala sério, sentimentos não surgem assim do nada. Ou talvez surgem, como os problemas, numa hora a sua vida tá perfeita e na outra te aparecem brigas, problemas com a família, dívidas... O que eu estou sentindo não se compara nada disso, na verdade é bem pior e isso me assusta. O pior de tudo é que não posso dizer nada pois fiz uma promessa a e não costumo quebrar promessas. A última coisa que quero é que ele surte e jogue na minha cara que isso não ia dar certo e que não era uma boa ideia. Eu o conheço, sei que jamais faria isso, mas eu não poderia julgá-lo se o fizesse.
No Valles Marineris tomei para mim que precisava tirar essa dúvida se esse meu equivoco era fruto de uma necessidade sexual ou outra coisa. Agora, tenho quase certeza que não se tratava apenas de algo carnal.
E encontro nisso uma motivação para levantar da cama, tão rápido quanto o Flash dentro da força de aceleração. Localizo todos os pontos do quarto onde estão as minhas roupas como se os meus olhos fossem radares de luz que alguns robôs utilizam para inspecionar um ambiente de forma mais prática.
- Que legal, alguém tinha que tomar essa iniciativa. – Forço um sorriso. Sei mais do que ninguém o quanto quis - ou queria - ficar com Grace, mas nunca teve a famosa coragem para chegar nela e finalmente aconteceu. Mas não consigo ficar feliz com isso.
- Você já vai?
- É melhor voltar logo para o meu dormitório. – Respondo catando as minhas peças intimas e as vestindo.
- Você tá bem? Ficou estranha do nada. – Ele traga o baseado. Eu o observo enquanto tento subir o meu jeans surrado. tem o corpo meio inclinado, um braço dá o apoio necessário atrás das costas e a visão me faz querer pular em cima dele novamente e atacar seu corpo com as minhas mãos. Nunca achei que pudesse ser uma mulher tão cheia de libido como nos últimos dias.
- estou estranha a semana inteira. Trabalho de Escassez esqueceu?
Digo, sendo essa a melhor desculpa que arranjo sem que ele perceba que estou mentindo enquanto visto a minha camiseta.
- Ah claro.
- Estou feliz por você e por mim. Obrigada.
É a última coisa que digo antes de sair pela porta.

21 de janeiro de 3001



Hoje é o último dia do trabalho para a aula de Escassez, também é o dia em que completam duas semanas que não fala comigo e não faço ideia do motivo. Sempre tento contato pelo headspace, mas ela está off-line, estou começando a desconfiar que tenha me bloqueado. Nunca está no seu quarto no alojamento e se esconde sempre que a vejo no campus. Outro dia a vi se espreitando atrás de uma lata de lixo e quando fui contestá-la correu mais rápido que um guepardo atrás de uma presa.
A aula de escassez é a única que temos em comum visto que os nossos cursos são completamente diferentes. Ela vinha faltando nas últimas aulas, mas não vai poder fazer isso dessa vez já que precisamos apresentar o resultado dos nossos trabalhos e entregar o relatório caso queiramos ser aprovados e é nesse ponto que vou encurralá-la. - Qual foi o seu projeto?
- Resfriado comum. - Responde Grace fazendo uma careta ao lembrar do seu trabalho para a aula de Escassez. Ela tinha cursado a matéria no semestre passado e, logo, já está livre. Estou encostado na parede ao lado da porta da sala dela. Grace mexe nos fios do meu cabelo enquanto minha mente parece plenamente interessada em como deve ter sido para ela passar quase um mês com um resfriado comum.
Eu e ela estamos saindo a duas semanas e tem ocorrido tudo bem e se eu soubesse que nós daríamos tão bem teria chutado a minha própria bunda e ido falar com ela antes.
- Foi tão horrível assim?
- , você não faz ideia de como é ter que ficar assoando o nariz o tempo inteiro. O atrito do papel com a minha pele foi horrível, meu rosto descascou todo na região da boca e nariz.
Ela cruza os braços lembrando do péssimo momentos e seguro o impulso de apertar suas bochechas, mas dou uma risada. Hoje em dia ninguém mais fica doente por qualquer besteira, a medicina erradicou resfriados a tanto tempo, lembro de ter lido a respeito em “O Milênio da Evolução” que o senhor Sivan nos passou no início do semestre, mas não me recordo do ano exato em que isso aconteceu. Um resfriado é quase raridade, todas as pessoas com rinite, sinusite, alergia agradeceram por isso, inclusive eu. Minha mãe me disse uma vez que nós éramos geneticamente propensos a sofrer com esses problemas respiratórios crônicos.
- Não estou sofrendo tanto assim com o meu, ficar sem teletransportar é moleza. Acabou hoje.
- Ótimo. - Grace se aproximou segurando o meu rosto. - Assim a gente vai finalmente poder ir naquele restaurante chamado em Roma sem eu precisar ficar te esperando por 3 horas de voo.
Dou um sorriso cúmplice antes de ela me beijar, eu seguro o seu rosto gentilmente. Nos separamos e a deixo ir para sala e depois vou para a minha.
O professor entra quando já estou sentado. Tem papéis embaixo do braço e usa o seu valoroso cinto de fivela. O senhor Sivan é velho, e não me arrisco a dizer a sua idade. Apesar dos laterais cabelos brancos o denunciarem, sua dicção é incrivelmente boa e não conheço outra pessoa que adore mais o mundo antigo. Acho que ele é tão obcecado quanto eu. Às vezes me pergunto se estou destinado virar professor da aula de Escassez quando o senhor Sivan morrer, porque, querendo ou não, alguém precisa substituí-lo. Apesar de gostar muito, não é o futuro que eu quero ter.
Todos entram na sala e é a última, eu sabia que ela não iria faltar. Quando ela anda tendo sua cadeira como destino consigo perceber o quanto ela parece... melhor. Está bem, normal e não parece mais em um estado cem por cento de alerta como quando fomos a um safari na selva africana. Seus reflexos estavam tão rápidos, preocupada que algum animal fosse nos atacar a qualquer momento. Dias convivendo com o seu lado intenso e eu até tinha me esquecido como é conviver com a que tem os equilibradores hormonais.
Ela senta duas cadeiras a frente da minha, na fileira do lado no lugar de sempre e quando todos estão acomodados com qualquer tipo de aparelho tecnológico ligado, o senhor Sivan dá início a aula parado em frente ao quadro de giz. Isso mesmo, giz, a sala de Escassez é diferente de qualquer outra sala. São mesas comuns, cadeiras comuns, janelas comuns e lousas comuns, tudo remetendo ao milênio passado.
- Pelo visto todo mundo aqui adorou o projeto! – Fala com a maior empolgação e não como alguém que já tem 176 anos. Eu disse, a dicção do velho é surpreendente. Todos resmungam em negação e senhor Sivan ri. – Ora, não acredito que deva ter sido tão ruim, vamos me contem. Vamos começar por você Tina.
O senhor Sivan anda até onde Tina está sentada, ou melhor deitada na mesa enquanto dorme.
- Tina?
- O que?! Onde? – A garota acorda assustada, ela está dormindo na aula e todos seguram a risada.
- Parece que alguém aqui levou a tarefa a sério demais. – O professor proferiu bem humorado enquanto Tina coça os olhos. – Então nos diga Tina, como foi dormir mais do que quatro horas?
- Foi... Difícil, senhor Sivan é praticamente impossível grudar os olhos por mais tanto tempo. Pedi ajuda de amigos que trabalham no setor farmacêutico da UU, para perguntar se eles têm algum daqueles soníferos que as pessoas costumavam usar, sabe? Até que funcionou.
- Maravilha, estou louco para ler toda a sua experiência no relatório. Quem é o próximo?
Uma mão levanta uma cadeira a frente de e acho esquisito, ela seria a primeira pessoa a querer contar a sua experiência, mas não é o que acontece. Reconheço a mão como sendo de Gilbert Leroy. Ele arruma o nó na gravata antes de responder com a permissão do senhor Sivan.
- Sem o meu headspace consegui a proeza de me atrasar para todos os meus compromissos. O senhor me desculpe, mas a didática desse trabalho é uma merda. Anos de evolução tecnológica e biotecnológica são justamente para isso, ajudar os seres humanos, é por isso que usamos tudo que inventamos e o que está ao nosso alcance.
- Se com ajudar você quer dizer nos deixar preguiçosos, talvez eu concorde. - O senhor Sivan sorri satisfeito ignorando a soberba de Gilbert Leroy que acha que merece algum tipo de tratamento especial por se vestir igual ao Riquinho e ter sotaque puxado. Ninguém liga se a família dele é dona de um quarto da cidade. – E bom saber que não pode confiar na sua própria mente, senhor Leroy. Escolhesse melhor da próxima vez. - Gilbert cerra os olhos odiando a crítica e consigo ver pelo perfil de que ela gostou tanto quanto eu do sacode que esse playboy levou. – Senhor ?
- Foi tranquilo, ficar sem fazer teletransporte não foi o fim do mundo. – Sinto todos virando a cabeça para me olhar como se eu tivesse dito um dos maiores absurdos da humanidade, mas a minha fala parece ter deixado o senhor Sivan contente. – Isso é, se você tem paciência para usar o modo convencional para chegar nos lugares. Olhei para isso como tempo livre e tentei aproveitá-lo ao máximo. As pessoas antigamente viviam tranquilas sem o poder de se teletransportar mesmo.
- Ótimo, fico feliz em saber que alguém tenha compreendido a pedagogia dessa aula. – E eu fico feliz em saber que ele vai me aprovar. O senhor Sivan olha de relance para Gilbert e depois muda de foco. – , poderia compartilhar sua experiência.
Viro a cabeça de imediato porque de todos aqui é quem eu mais quero ouvir falar, quem sabe encontro algumas respostas para o motivo de estar me ignorando por tanto tempo.
- Eu... – Ela começa, mas para de repente sem expressar movimentos. Em algum outro dia pressionaria uma mão na outra e morderia os lábios, mas ela está tão sã como todos aqui. – Sobrevivi. O senhor disse que desligar os equilibradores poderia ser perigoso e estava certo.
- Interessante, conte-nos mais senhorita . – O senhor Sivan dá a costas e o olha como se pudesse lançar mil facas pelos olhos direto nas costas dele. Franzo a testa atento a cada palavra que sai de sua boca.
- Fiz algumas coisas não calculadas cai numa armadilha guiada pela tentação da intensidade. Se a intenção dessa aula é fazer com que nós valorizemos mais o nosso presente próspero, acredite, eu valorizo muito.
- Adorei o nível reflexivo.
O senhor Sivan continua falando e pedindo que mais alunos deem uma prévia da sua experiência, mas não quis ouvir mais nada. Fico procurando em cada palavra que disse alguma coisa que me envolvesse. Nem cogito sussurrar algo na sua direção, seria impossível conversar com ela aqui dentro. Espero até o fim da aula.
- , pare aí mesmo. - Digo quando ambos saímos da sala e percebo que ela está iniciando seus passos rápidos. para imediatamente vendo que dessa vez, eu a peguei. Ando até ficar na sua frente.
- Não dá pra falar agora , tenho uma reunião com o pessoal de artes visuais em Amsterdam.
- Você realmente tem ou é só mais uma desculpa pra não falar comigo? - Vejo seus olhos procurando uma saída e quando finalmente percebe que não tem nenhuma, cede.
- Tá, tudo bem, você venceu.
- O que tá rolando? Você não fala comigo desde aquele... Dia. - Quase vacilo ao lembrar de quando foi a última vez que nos falamos. Naquela noite, naquela maldita e magnífica noite. Droga. Que merda. - Não está chateada comigo, não é?
- Não foi só com você, eu precisava de um tempo sabe? Pra acertar as coisas na minha cabeça até o fim desse trabalho idiota.
- Tem certeza? - Reforço na esperança que ela me diga se estiver me escondendo algo. Não consigo ler suas emoções, estão bem mais equilibradas. - , você me prometeu que as coisas não iam mudar entre a gente, então se eu fiz alguma, você precisa me dizer.
ficou em silêncio por alguns segundos, mas apesar da situação ela nunca esteve tão serena.
- Ei , Roma não vai nos esperar para sempre. - Eu e viramos o rosto aí mesmo tempo. Grace está a alguns metros de distância da gente. - Oie . Ela diz e sorri e acena para a minha quase namorada. Depois olha para mim com o mesmo sorriso.
- Você não fez nada, . Tá tudo bem, você não precisa se preocupar. Nunca estive melhor.
Não dá nem para descrever o alívio que sinto dentro de mim ao ouvir aquelas palavras. Sem mais nem menos a puxo para um abraço que é retribuído na mesma intensidade.
- Que bom, porque eu senti a sua falta mané. - Também senti a sua, mané. - Quando nos separamos sorri, a mesma de antes. Ela aponta Grace com a cabeça. - Confesso que estou surpresa, finalmente alguém para abalar a sua vida social. Tô orgulhosa.
- Pois é. - Concordo meio sem graça.
- Agora vai lá, não deixa ela esperando .
Antes que eu sequer dar um passo lembro de algo dentro na minha mochila e ela me olha curiosa.
- Tava quase esquecendo. - Digo abrindo o zíper e tirando o cubo mágico de lá. - Não desiste tá? - pega o cubo suspirando e eu solto uma risada. - Vou sempre estar aqui caso você precise de ajuda.
Ela assente e sei que entendeu que eu não me referi somente ao cubo.



Fico um tempo ainda observando sair de mãos dadas com Grace, realmente, um belo casal.
- Porque caralhos você fez isso? - Justine, uma das minhas melhores amigas, aparece atrás de mim.
Olho para ela, com a face cheia de dúvidas. Justine sabe a verdade, ela viu o que passei nas últimas duas semanas enquanto fugia de para organizar os meus sentimentos.
Aperto firmemente o cubo que ele me devolveu passando o polegar ao redor da letra “”, do nome de , que ele escreveu ali. Quando entrei na sala e tive que firmar contato visual com ele depois de dias foi quase como uma pequena morte. E não da boa como as que os franceses inventaram. Só não foi pior porque estou emocionalmente equilibrada, mas tem algo dentro de mim muito mais forte, que passa por cima de qualquer outra coisa que queira domar esse sentimento e mantê-lo preso.
- Por que era o certo a se fazer.
- Não, você gosta dele , devia ter dito.
- está com Grace, Justine! E ele está feliz, não vou estragar isso apostando tudo na minha fase eufórica e bagunçada resultante de uns dias sem meus equilibradores hormonais.
- Os equilibradores voltaram, mas o seu sentimento não foi embora.
Quase solto um gemido sôfrego por que infelizmente, ela tem razão.
- Pode até ser, eu só preciso de mais tempo. Querendo ou não, sempre vou ter o amor amigo de , sempre, e isso deve bastar.
- Bom, espero que você não se arrependa amiga.
Eu também, Justine, eu também.
Penso, mas não lhe digo isso. Abro a boca em um sorriso passando os braços pelo seu ombro e pegando a direção contrária a que e Grace tinham tomado.
- E o que eu vou ter que fazer pra te convencer a tomar um sorvete comigo nas sorveterias do Polo Sul?
Ela resmunga e faz uma careta.
- Você sabe que eu odeio neve e gelo!
Dou risada já programando o teletransportador antes de proferir minha palavrinha mágica:
- Por favorzinho?


Fim?



Nota da autora: Meu Deus, finalmente!! Essa foi a shortfic que eu mais demorei para escrever porque tinha o pilot todo na cabeça, mas não consegui trazer pro papel de maneira nenhuma, tive que usar quase todo o prazo do ficstape, e aos poucos as ideias foram vindo e consegui terminar!!! Inclusive vieram outras ideias que estão me motivaram a dar continuidade para essa história, não prometo ser breve, mas tenho certeza que vai sair sim! Sempre tive vontade de escrever algo diferente, nessa pegada mais futurística, achei o Future Nostalgia perfeito para encaixar, então me digam ai se vocês curtiram. Até a próxima!



Outras Fanfics:
Best Mistake (Outros/ Em Andamento)
24. Insomnia (Shortfic/Finalizada – Ficstape Icaus Falls)
07. Make Up (Shortfic/Finalizada – Ficstape Thank U Next)
12. Break Up With Your Girlfriend, I’m Bored (Shortfic/Finalizada – Ficstape Thank U Next)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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