Última atualização: 25/01/2021

Prólogo

Do you mean, do you mean what you say?
[Você quer dizer o que você diz?]
What you said, nah, you can't take away
[O que você disse, não pode retirar]
You're my Gospel but I'm losing faith, losing faith
[Você é meu Evangelho, mas estou perdendo a fé, perdendo a fé]
Do you mean, do you mean what you say?


Você quer dizer o que você diz?
Take a minute, do you need to stop and think?
Tome um minuto, você precisa parar e pensar?
What we had now, we can throw away, throw away
[O que nós tivemos agora, podemos jogar fora, jogar fora]





1 mês antes.



O relógio em meu pulso marcou 21 horas em ponto, eu estava parada na porta do Lótus Royale terminando de fumar meu cigarro de menta antes que congelasse no ar frio de Las Vegas.
Assim que passei pela porta, fui em direção à banca de fichas para dar início a minha diversão. Eu comecei a me interessar por jogos de azar muito cedo, era o negócio da família, e com o passar do tempo conheci a perdição do pôquer. Uma maldita perdição na realidade. Meu pai me ensinou tudo o que sabia e eu me tornei melhor que ele anos mais tarde, comecei jogando em mesas baixas ganhando em torno de 100 dólares por jogo e assim fui tomando espaço.
Hoje me considero bastante experiente e esperta, considerando que eu praticamente me criei em Vegas, a cidade do pecado.

- Boa noite, senhorita Collins!
- Boa noite, Lourenço - sorri amigavelmente abrindo a bolsa. - Quero 1000 dólares em fichas.
- As apostas estão altíssimas esta noite, senhora!

O rapaz abriu um sorriso galanteador e entregou um punhado de fichas coloridas e organizadas por valor. Não precisei conferir pois conhecia o menino de anos.

- Boa sorte!

Antes que eu pudesse responder, uma risada rouca chamou minha atenção e lá estava ele. Baldin abusava da sorte e de outros atributos que fazia qualquer mulher ir a loucura. era o mais conhecido jogador de pôquer em Vegas, jogar contra ele seria um bom jeito de ganhar o título para mim, e se tivesse muita sorte ainda poderia levar o menino para meu quarto de hotel.
Eu rolei os olhos pelo saguão e o encontrei sentado na mesa mais afastada derrotando mais um de seus oponentes. Dei uma risada e me dirigi até o bar do cassino.

- Um whisky, por favor!

Peguei a bebida e segui em direção ao meu alvo.
A mesa que estava sentado não era uma das mais baixas. No Lótus as mesas eram separadas por apostas e necessariamente separava os iniciantes dos experientes. Não era novidade achar sentado nessa mesa.

- Collins!

O dealer falou meu sobrenome chamando minha atenção com o sorriso de escárnio no rosto. Observei ainda em silêncio olhando de relance o outro jogar na mesa, este estava com um semblante irritado e frustrado

- Vai se juntar conosco hoje?
- Se posso te dar um conselho, querida… - o homem se levantou tomando a taça de champanhe nas mãos. - Eu sugiro que não jogue contra ele, vai acabar perdendo dinheiro demais.

Joguei minha cabeça para trás soltando uma risada alta em resposta e tomando mais um gole em meu copo. Não precisei encarar os olhos castanhos de para saber que esses estavam fitando qualquer movimento que eu fazia

- Quer conferir o baralho, senhor e senhora?
- Eu passo, mate - respondeu estalando a língua no céu da boca e sorrindo.

Balancei a cabeça negando e continuei em silêncio, mas agora observava de forma analítica a figura do homem em minha frente.

- Está disposta a fazer isso? - perguntou erguendo a sobrancelha. - Vejo que teu ego é maior do que tua prepotência, Baldin.
- Estamos em desvantagem, você sabe meu nome e eu não sei quem você é. Está se sentindo com sorte hoje, amor?

Ergui a sobrancelha e dei de ombros voltando a olhar o dealer dando o assunto como encerrado.

- Pode distribuir, Jimmy!

No Lótus Royale o jogo começa com cada um dos jogadores recebendo duas cartas e na mesa são aberta cinco. E cabe aos jogadores formar os seus jogos. No pôquer, o Ás é a carta mais alta e o Duque é mais baixa, mas em alguns jogos o Ás pode ser usado como uma carta baixa para formar a sequência A2345. O que nitidamente não era o caso desse jogo.
O pôquer possui diversos tipos de jogos, mas independente de qual você jogar a classificação das mãos permanece a mesma, e ganha quem tiver a melhor mão. Mas nesse cassino os jogos são baseados em:

* A sequência real de 5 cartas, de 10 a A, de um mesmo naipe.
* Four of a kind, quatro cartas iguais, de naipes iguais ou diferentes.
* Full, dupla de cartas iguais, de naipes iguais ou diferentes, mais uma trinca de cartas, de naipes iguais ou diferentes.
* Flush, todas as cartas são do mesmo naipe.
* Trinca de naipes iguais ou diferentes.
* Dois pares de naipes iguais ou diferentes.

Eu tinha uma dama e um rei. Era um jogo bom, jogo alto, mas não me animei. O pôquer não é ganho só com sorte, você precisa ser inteligente e saber blefar.

- Cem dólares - apostou . - Paga ou sai?

Sorri um pouco mais tentando analisar a expressão do jogador em minha frente.

- Dobro - respondi colocando as fichas na mesa - Paga ou sai?
- Pago - respondeu . - Pode abrir, Jimmy.

O dealer abriu as três primeiras cartas e trouxe uma sensação de inquietação em meu estômago. Era uma sequência máxima, um rei, um valete e um ás. Talvez a sorte estivesse realmente comigo hoje.

- Quatrocentos dólares - falei colocando as fichas na mesa. - Paga ou sai?
- Você tem confiança, amor, gosto disso. - ergueu os olhos com uma expressão indecifrável e continuou. - Eu dobro!
- Pode abrir, Jimmy!

Show me that you mean it
[Mostre-me que você está falando sério]
Do you really mean it?
[Você realmente quer dizer isso?]
Everything happens for a reason
[Tudo acontece por uma razão]
Show me that you mean it (do you, do you?)
[Me mostre o que você quer dizer (você, você?)]



O dealer abriu mais uma carta e para minha completa agonia foi um três. Tomei mais um gole de minha bebida e desejei um cigarro, tensa.

- Estou vendo um pôquer face? Não vai me dizer que resolveu desistir?
- Não tente me assustar, . Eu não tenho medo de você.

olhou as cartas mais uma vez e colocou as suas fichas em cima da mesa. Filho da puta!

- Mil dólares, paga ou sai?
- Eu pago, amor! - respondi com a voz mais debochada que pudesse sair de meus lábios.

Que seja um valete. Que seja um valete. Que seja a porra de um valete. O dealer abriu a última carta.
Puta que pariu.
O VALETE!

Respirei fundo limpando as mãos no vestido evitando abrir o sorriso em meu rosto. passou a língua pelos lábios e me olhou sugestivo.

- E então amor, hora de abrir o jogo!
- Eu triplico a aposta.

Jimmy ergueu o olhar incrédulo, mas a feição no rosto de era impagável.

- Você acha que justo eu vá cair em um blefe tão batido?
- Está com medo, Baldin? - estalei a língua no céu da boca antes de continuar. - Sinto muito em te dizer amor, mas eu não blefo!
- Eu pago! - respondeu com os olhos borbulhando em minha direção esperando que eu virasse as minhas cartas. - Tudo bem! Eu tenho dez, valete, dama e às! Cadê o seu blefe?

Tomei o último gole do meu whisky e deixei o sorriso vitorioso brotar em meus lábios.

- All in - respondi virando minhas cartas ainda o encarando. - Como eu disse, eu não blefo!

Eu tinha um par de valetes na mão, par de valetes na mesa, quatro cartas iguais, três mil dólares na conta, mas a cara de era impagável e não eu conseguia esboçar outra reação que não fosse o sorriso relaxado ao observar que ele estava chocado e paralisado na cadeira.
Olhei em volta pela primeira vez percebendo que estávamos sendo observados e logo uma enorme salva de palmas começou se juntando a exclamações de surpresa

- Baldin perdeu uma aposta!

Sorri mais uma vez e me debrucei na mesa para pegar minhas fichas ainda encarando a face rubra do homem em minha frente.

- Foi realmente um prazer. Quem sabe na próxima você tem mais sorte!

Joguei um beijo em sua direção e levantei da mesa indo em direção à varanda do cassino. Eu precisava urgente de um cigarro!

.



- Foi realmente um prazer. Quem sabe da próxima vez você têm mais sorte!

Balancei a cabeça e me levantei da mesa indo até o bar. Antes de mais nada precisava entender quem era aquele demônio em forma de mulher e entender como ela me ganhou. Era uma questão de honra ir atrás daquela garota.
Peguei o copo de Martini e olhei em volta, um sorriso malicioso brotou em meus lábios quando eu a encontrei. A mulher usava um vestido vermelho longo e colado ao corpo com uma abertura que deixava suas coxas grossas a mostra, acompanhei seu busto e olhei com mais atenção os cabelos brilhantes e cacheados que estavam soltos e caindo pelas costas. Ao contrário de outras mulheres no salão que abusavam da maquiagem, apenas os lábios estavam banhados pelo batom vermelho e convidativo.
Como eu não reparei na beleza daquela mulher?

- Ei, amor!- disse com uma voz animada observando o cigarro em seus lábios. - Você me ganha e não me dá direito a revanche? Ou ao menos me diz seu nome!
- Eu não dou segundas chances, amor - ela respondeu rindo.
- Você jogou bem, mesmo apostando na trinca e se arriscando, você jogou muito bem e eu tenho que lhe dar os parabéns.

Ela tragou o cigarro mais uma vez e por Deus, essa mulher exalava sensualidade.

- Na verdade eu estava contando com um Full, mas como eu estava jogando com você eu não poderia simplesmente não me arriscar.
- Bom saber que eu te levo a agir de forma diferente - encostei no batente da varanda e continuei a observando. - Aceita uma bebida?

Ela balançou a cabeça e guardou o isqueiro dentro do decote no vestido ainda com o sorriso convidativo em seus lábios.

- Dessa vez eu passo, ! Amanhã eu tenho um voo importante e não posso perder.

Ela se inclinou e deu um beijo em minha bochecha.

- Não vai nem me dizer seu nome? - disse puxando a cintura dela e a prendendo em minha frente.
- Pode me chamar de !

Observei indo embora com os quadris balançando de uma forma sexy. Agora, eu tinha um objetivo ainda maior no cassino e dessa vez eu não iria perder.
Eu passei aquela noite sozinho em minha cama, pelo simples fato de quem eu queria simplesmente me deixou na mão. era um caralho de uma mulher irresistível. Não que eu fosse mimado o suficiente para achar que todas as mulheres do mundo me querem, mas por ter um ego grande o suficiente para saber que tudo que eu quero eu consigo, mas aparentemente encontrei outra pessoa do mesmo jeito.
Desci pelo elevador indo tomar café e encontrei Jimmy sentado me esperando.

- Acordado antes das oito? Acho que o jogo de ontem realmente mexeu com você.
- Você nem imagina o quanto. Quem é aquela menina, mate?

Escutei Jimmy rir enquanto tomava o café.

- Collins… - ergui meus olhando tentando me lembrar de onde conhecia o sobrenome. - Filha de Edward Collins, o maior jogador que esse lugar já viu.

Eu sabia que a surpresa estava estampada em meu rosto e o único sentimento que se fixou em meu peito foi honra. Ter dividido a mesa com um dos lendários Collins era de longe uma honra.

- Pelo visto você não está interessado apenas no jogo dela. é uma mulher maravilhosa, eu sei, mas se posso lhe dar um conselho, mate. Desista, não procura nada a mais do que sexo!

Ergui o canto dos lábios em um sorriso e terminei meu café em silêncio. Sim, era uma mulher maravilhosa e sim, eu não estava interessado apenas na grande jogadora. Algo naquela mulher me atraia e eu queria descobrir o que.

.



Meu pai sempre me dizia que as luzes de Las Vegas eram tão brilhantes que poderiam ser vistas de qualquer lugar do espaço. E agora olhando o céu da minha cidade luz eu tinha certeza, e era uma pena que meu pai não estivesse comigo.

- Eu resolvo dormir mais cedo e você ganha o lendário no pôquer? - Bella falou bocejando. - Você poderia ter me esperado...
- Não quis atrapalhar seu sono, gracinha...
Três batidas na porta chamaram minha atenção antes que eu pudesse responder. Bella abriu a porta e me olhou com um olhar divertido antes de dar a passagem e deixar o camareiro entrar. Todas as palavras sumiram de meus pensamentos quando eu li o bilhete que acompanhou o banquete que estava sendo entregue.

"Esqueça quando eu digo que me rendo ao cassino. Estou rendido a você, meu amor. ."


- Tem certeza que você só jogou com ele?


Rolei os olhos e deixei o bilhete em cima da mesa e peguei a taça de champanhe que Bella encheu para nós duas.
Champanhe, fondue, frutas, chocolates, camarão, ostras… Eu não sei o que tinha em mente, mas conquistar mulheres pelo estômago era uma boa maneira de começar.

- O Sr. Baldin ficaria muito feliz com a sua presença hoje no cassino. - Agradeça, mas diga que eu vou precisar prolongar esse encontro para daqui a um mês...

O camareiro assentiu e saiu do quarto silencioso. Senti no momento em que um sorriso tímido se abriu em meus lábios, mas no mesmo instante fiz de tudo que ele morresse. Eu não podia me deixar levar por aquele charminho barato de Collins ou esse papinho galanteador dele. Mas não podia negar que ele me atraia demais, porém não era o bastante para me fazer mudar meus planos.
Se estivesse mesmo afim, ele teria que esperar um mês.


Capítulo Único

I hope you mean what you say, girl
[Eu espero que você queira dizer o que você diz, garota]
I hope you ain't lying to my face, girl (lying to my face)
[Eu espero que você não esteja mentindo na minha cara, garota (mentindo na minha cara)]
You said you needed some space, girl
[Você disse que precisava de algum espaço, garota]
I tried to stay out your way, girl
[Gostaria que pudéssemos deixá-los no passado, sim]


Enzo.

1 mês e meio depois.


Eu observava a paisagem pela janela de meu quarto com um frio na barriga desconhecido. A cidade, com um clima sempre alegre, hoje estava banhada no momento por uma tempestade torrencial que refletia os meus pensamentos enquanto eu tentava entender de onde vinha a necessidade doentia de querer estar perto de . Eu esperei um mês, um maldito mês para encontrar esse pedaço do inferno de mulher de novo, e não vou mentir e dizer que não gostei. A relação que começamos a ter por celular foi diferente e boa, mas nada se comparava a sensação de saber que eu iria vê-la de novo.
Suspirei pesadamente tentando colocar minha cabeça no lugar, no início eu realmente não achei que fosse ser tão frustrante dessa forma, não achei que fosse me encantar tanto por alguém sem ter a oportunidade de trocar mais do que umas palavras pessoalmente com alguém, mas ao que parecia, o frenesi de era real. Hoje era um dos dias que minha consciência estava longe demais para eu ser tão produtivo. Especificamente, ultimamente uma figura particular tomava conta de todos os meus pensamentos, tirando meu sono durante a noite e povoando desde meus pensamentos mais leves até os mais sujos maliciosos. E essa figura particular tinha nome e sobrenome: Collins. E eu estava comparado a um adolescente na puberdade.
Não sei se posso dizer que estávamos juntos - e lógico que não estávamos. Mas hoje faz exatamente um mês e meio - sim, eu conto o meio - que nós não nos desgrudamos mais, o que por um lado é maravilhoso e outro bastante perigoso. Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes Jimmy me alertou sobre o assunto e me lembrou que ela não estava a procura de relacionamento, aliás, aparentemente o único relacionamento em que ela estava interessada era sexo, e eu sei que deveria acreditar nas palavras de meu amigo, já que ele a conhecia melhor que eu. Mas, foi inevitável eu não ficar encantado.
A tela do meu celular acendeu e eu observei o horário respirando fundo. Olhei a papelada em cima da mesa e guardei tudo dentro da bolsa, eu já não estava rendendo bem desde que acordei e não adiantaria nada continuar dando murro em ponta de faca e tentar me concentrar nos negócios do cassino. Meus pensamentos eram todos dela e de nosso encontro daqui a algumas horas. Peguei o celular e disquei o número da floricultura que Jimmy me passou, confirmei a reserva no restaurante do hotel e pela primeira vez em tempos me senti nervoso.
Para que tudo saísse perfeito, eu cheguei ao restaurante meia hora antes. Sim! Meia hora antes. Pode me chamar de precipitado, mas eu queria absolutamente tudo perfeito. Reservei uma parte mais íntima e cobri das flores preferidas de : lírios. E agora estou aqui, sentado na mesa, vestindo um dos meus melhores ternos, e com uma leve inquietação dentro do peito. Talvez eu esteja mais nervoso que o normal olhando o meu relógio de pulso a cada um milésimo esperando ela chegar.
A nossa mesa ficava ao lado de uma grande janela que dava uma vista panorâmica para a Fonte do Bellagio. E graças a Deus a chuva não passava de uma garoa fraca e o céu estava dando lugar à algumas estrelas, o que tornava tudo melhor, as fontes funcionam todos os dias em horários pré-determinados, tocava músicas de diferentes estilos em perfeita harmonia com as luzes e o movimento coreografado das águas, e foi exatamente por isso que reservei essa parte do hotel.

- Senhor Baldin? - ouvi o garçom me chamar. - A senhorita Collins acabou de chegar! - Obrigado!

Eu tinha certeza que os segundos se arrastaram porque aquilo estava durando uma eternidade. Finalmente ouvi o barulho do salto de e a risada dela ecoando pela grande porta prata. E puta que pariu! Eu nunca na vida vi uma mulher tão maravilhosa! Ela estava vestida com um longo vestido azul marinho de alça fina e um decote generoso nos seios. O vestido marcava perfeitamente todo o seu corpo e seguia uma linha maravilhosa por suas pernas onde tinha uma enorme fenda. O batom vinho estava presente em sua boca, e isso me deixava louco! me olhou um pouco tímida e abriu o melhor de seus sorrisos, e era o meu sorriso.

- Amor, você é a mulher mais linda do mundo!

Ela sorriu mais uma vez e vi as bochechas dela começarem a ficar mais vermelhas.

- Desculpe se eu demorei! - ela me respondeu. - O voo atrasou. Uau, nunca achei que fosse ficar tão rendida em te ver de terno.

Me aproximei e dei um selinho demorado em seus lábios. Ela sorriu e limpou meus lábios do batom borrado. Ver no rosto dela essa alegria fez todo o dia valer a pena.

- Você fechou uma parte do cassino para nós dois? - a voz dela ficou um pouco mais alta que o normal. - Você ficou maluco?
- Eu acho que você é a primeira pessoa que eu conheço que não fica pelo menos feliz…

Antes de puxar a cadeira para ela sentar ergui seu queixo e encarei um pouco mais sério. - Você merece mais do que isso. Sabe que não me importo com dinheiro... - eu disse olhando profundamente em seus olhos.
sorriu ainda mais e juntou nossos lábios com um beijo mais caloroso.
Eu posso dizer que nunca senti nada parecido com o que eu estava sentindo agora e neste momento nada mais importava. Soltei as mãos dela sobre a mesa e busquei em meu bolso o presente que escolhi.

- ? O que é isso?
- Calma! - falei e sorri. - Eu não estou te pedindo em casamento ou nada disso. Pelo menos não ainda!

Estendi a caixinha de prata na frente de e acompanhei todas as emoções presentes em seu rosto quando ela abriu e viu o cordão.

- Você não existe!

Me levantei da mesa e parei atrás dela para colocar o cordão em seu pescoço. Ela ajeitou o pingente com o ás de copas e deixei um beijo em sua nuca antes de me sentar novamente.

- Não sei o que o futuro reserva para nós, mas estou feliz de estar aqui com você, meu amor!

Nós jantando, bebemos, sorrimos e conversamos pela noite adentro. era a mulher mais fascinante e inteligente que eu havia conhecido, pois falava sobre todos os assuntos possíveis. A noite estava tão maravilhosa que a hora passava voando sem eu perceber.

- Eu fazia faculdade de Medicina quando larguei tudo e me dediquei a cuidar dos negócios de meu pai!
- E qual foi a reação da sua mãe?

O semblante dela se tornou mais triste e seus olhos desviaram para o chão antes de me responder.

- Minha mãe morreu no parto. Quando meu pai morreu, eu enfim virei órfã.

Meu peito se apertou enquanto eu observava a tristeza estampada em seu rosto, os olhos dela estavam um pouco mais brilhantes que o normal pelas lágrimas que se formavam. Estendi a mão sobre a mesa e entrelacei nossos dedos.

- Tenho certeza que sua mãe está orgulhosa da mulher que você se tornou! - E você? - ela perguntou mudando de assunto. - Qual a sua história fantástica?

me olhou com uma cara de incógnita e eu engoli em seco. Família, passado não era um assunto que eu gostasse.

- Nada de muito fantástico. Morei em lares adotivos pela minha vida toda e me formei em administração, agora tomo conta dos negócios!

Forcei parte da verdade da melhor forma possível e me senti um idiota. Eu poderia ter inventado qualquer outra coisa, qualquer coisa mais aceitável porque a julgar por seu olhar, ela não acreditou em nada do que eu disse.

- Eu sei que você conquistou metade das coisas com trabalhos ilícitos, não precisa mentir! Se não quiser conversar sobre, é só falar.
- Tem razão, não é um assunto legal, mas saiba que gosto muito da sensação de poder dividir isso com você!

Respirei fundo e me levantei da mesa. A situação toda era engraçada na realidade, eu treinei durante anos para saber blefar, virei um dos melhores jogadores, mas depois que ela apareceu, a sensação que eu tinha era de ter virado um completo analfabeto, eu poderia abrir minha vida toda para ela só pela sensação de calma que ela me passava.
O céu de Las Vegas começou a clarear e levantou o rosto, nua e ofegante, sorrindo travessa enquanto mordia os lábios e me olhava. A noite foi fechada com chave de ouro e tudo, absolutamente tudo, valeu a pena. Eu não sabia se era possível alguém se apaixonar por outra pessoa em um mês, mas eu estava perdidamente apaixonado por Collins. Ela estava ali, olhando para mim com aquele sorriso que me deixava louco e conseguia ser a pessoa mais envolvente do mundo.

- Vamos ver o pôr do sol?

Balancei a cabeça e levantei abrindo a porta da varanda e puxei a poltrona até lá. Ela levantou e se enrolou na coberta vindo ao meu encontro e sentando em meu colo. A brisa leve balançava seus cabelos e trazia seu perfume inebriante a meu encontro. Eu permaneci ali, com o queixo encostado em seu ombro e observado a forma que seu olho azul contrastava com o dourado, e descobri que eu amava a heterocromia em seus olhos. Eu queria acordar todos os dias com essa imagem, e ao pensar nisso meu estômago se apertou. Coloquei minhas mãos sobre seu rosto e o puxei juntando nossos lábios num beijo. levantou e quando voltou colocou o cigarro entre os lábios e o acendeu dando a primeira tragada e expulsando a fumaça pela boca sorrindo.

- Eu acho essa cena uma das mais sensuais do mundo! - eu disse a admirando. - Em que você está pensando?
- Em você!

Nós dois ficamos ali em um silêncio agradável olhando o horizonte, mas meus pensamentos não estavam tão silenciosos como eu gostaria. Minha língua formiga com a vontade de saber se o que Jimmy falou era verdade, mas eu também tinha receio de saber.

- Sabe que você pode me perguntar qualquer coisa, não sabe amor? - disse ainda tragando o cigarro.
- O que?
- Da para ver que você anda em conflito interno, já deu tempo de te conhecer. - ela se virou e ergueu minha cabeça. - Quero que você saiba que pode confiar em mim!

Respirei fundo e balancei a cabeça.

- Não vale a pena se o risco é ter você distante.
- Minha história não é das melhores, eu concordo, mas nada se compara a isso… - ela apontou para nós dois e sorriu.

Senti a minha respiração descompassada junto a meu coração e esperei até que eu pudesse dizer algo.

- Só me prometa uma coisa! - ela balançou a cabeça concordando. - Sem jogos, mentiras ou blefes!

Senti um aperto no peito depois dessa frase ao encarar seus olhos e perceber que existia algo oculto ali, mas também uma felicidade desconhecida por ela ainda estar ali. Ela virou o rosto e beijou meus lábios com uma leveza de um beija-flor antes de dizer:

- Dessa vez sou eu quem me rendo a você, meu amor.

Dito isso, levantou da cadeira e estendeu as mãos para mim indo em direção à borda da cama. A vontade de beijar cada parte de seu corpo era enorme. me olhava de cima para baixo com o mesmo olhar feroz de horas atrás e aquilo arrepiava até meu último fio de cabelo, eu era sua presa e gostava.
Assim que me jogou na cama e veio até mim engatinhando, ela passou a língua desde minha virilha até meu pescoço e terminou mordendo meu lábio inferior e sorrindo sapeca. Algo naquele olhar falava que ela seria a minha ruína, e eu assinava todos os termos. Eu estava completamente extasiado com a situação e a puxei com mais força para aprofundar o beijo e sentir nossos corpos completamente despidos se tocando mais uma vez. O vai e vem de nossos movimentos era algo hipnótico, e a forma que ela me olhava, com a boca entreaberta e ofegante, chegava a ser mais prazeroso que qualquer orgasmo.

- ... - ouvi meu nome sair de seus lábios e suspirei aliviado abraçando ainda mais o corpo dela no meu.
- Acho que estou apaixonado por você, amor.

You always told me 'bout my past, ayy
[Você sempre me contou sobre meu passado, sim]
Wish we could leave 'em in the past, ayy
[Gostaria que pudéssemos deixá-los no passado, sim]
You said it's hard for you to trust, again
[Você disse que é difícil para você confiar, novamente]
I wonder if you're really over it
[Eu me pergunto se você realmente superou]
Bounce back like a rebound, ooh, yeah
[Recupere-se como um rebote, ooh, sim]
Are you saying what you mean now?
V[Você está dizendo o que você quer dizer agora?]

.



- Acho que estou apaixonado por você, amor. A verdade era que a maioria dos problemas em relacionamentos tinham origem por falta de comunicação, e comigo não foi diferente, assim como parte da culpa era minha. Eu realmente tentei fugir a todo custo do que eu comecei a sentir por , mas falhei a partir do momento em que deixei ele entrar o máximo em minha vida, falhei ao passar todas as noites com ligações intermináveis, falhei ao voltar um mês depois e aceitar me afundar cada vez mais. Pela primeira vez em anos me vi perdida a um sentimento que eu nem sabia que poderia sentir, minha vida não tem ou não deveria ter espaço para isso. Agora eu estava em uma situação que deveria ter evitado ao máximo, mas tudo ficava pior enquanto eu continuava sentada nua em seu quarto e o observava dormir com um sorriso de prazer no rosto.
E ele estava certo, foi um momento especial e diferente, que me trouxe um misto de sensações, e isso me deixava com medo, poderia até dizer que me deixava apavorada. Acho que no fundo eu soube que só voltei a Las Vegas para me despedir, deixar que meu coração se despedisse de uma pessoa que talvez fosse boa o bastante para ele. Eu não poderia deixar meus sentimentos me abalarem e jogar fora toda a minha liberdade para embarcar em algo que começou na mesa de um cassino.

"Nunca confie em um homem que joga, filha, não acredite em nada que saia da boca deles. Tudo faz parte de um blefe."


Se eu não fosse embora agora eu não iria conseguir ir mais, e minha decisão estava tomada no momento em que percebi que estava apaixonada por ele.
Passei os olhos por uma caneta e um pedaço de papel que estava ali em cima e sorri ao perceber que era covarde o bastante para deixar uma carta. Todos os momentos que compartilhamos juntos mesmo por uma tela de celular foram incríveis, e eu os guardarei para sempre em minha memória e no meu coração, então ele merecia desculpas, mesmo que fosse em um pedaço de papel.
Ignorei o horário e bati na porta três vezes ouvindo um barulho transtornado do outro lado do cômodo. Jimmy abriu a porta e só precisou de meros segundos para entender o que estava acontecendo.

- Eu sabia que isso ia acontecer - ele abriu a porta um pouco mais e me deu passagem. - Entra logo!
- Não… Eu só preciso que você entregue isso a ele…
Estendi a carta e esperei até ele pegar, Jimmy continuou me olhando do mesmo jeito que fazia quando eu estava prestes a fazer a maior merda da minha vida. E dessa vez ele estava certo.

- Eu não vou tentar te impedir, te conheço há anos e sei que nada muda a sua cabeça… eu só quero que você pense e me diga se você tem certeza.
- Não, eu não tenho certeza.

Antes que meu amigo pudesse falar qualquer coisa que me fizesse perder ainda mais a coragem, eu virei as costas e saí dali o mais rápido possível. A cada passo dado era um arrependimento ainda maior que acometida meu peito. Eu queria voltar para aquele quarto e acordar com os braços de ao meu redor do jeito que eu sempre sonhei. Mas, não era de estranhar que dessa vez era eu a culpada pelo sofrimento, eu já estava acostumada a correr de relacionamentos, quebrar corações e seguir a vida tranquilamente.
Então porque dessa vez é diferente?
O motivo era óbvio: .

Olhar por a janela do avião e entender tudo o que deixei para trás me causou um vazio, e isso só se intensificou quando eu percebi que estava tão fria por dentro que não era capaz de chorar ou me lamentar em voz alta.
Eu sei que ele merecia mais do que uma carta mal feita, merecia mais do que uma simples noite de sexo, merecia mais do que eu talvez pudesse dar. É isto, ele merecia mais e eu jamais seria capaz de dar.
Meus pensamentos foram interrompidos quando senti o abraço acolhedor de Bella ao meu redor e sorri ao olhar em assimilar que estava em casa, que estava a milhões de quilômetros de distância longe de toda bagunça que eu causei, ou era isso que eu esperei.

- O que você fez, ?

Do you mean, do you mean what you say?
[Você quer dizer o que você diz?]
What you said, nah, you can't take away
[O que você disse, não não pode retirar]
You're my Gospel but I'm losing faith, losing faith
[Você é meu Evangelho, mas estou perdendo a fé, perdendo a fé]
Do you mean, do you mean what you say?
[Você quer dizer o que você diz?]
Take a minute, do you need to stop and think?
[Tome um minuto, você precisa parar e pensar?]
What we had now, we can throw away, throw away
[O que nós tivemos agora, podemos jogar fora, jogar fora]

.



Quando o primeiro raio de sol entrou em meu quarto e irritantemente insistiu em me acordar, eu ainda me sentia cansado, sonolento, mas me sentia feliz. A noite passada valeu a pena de todas as formas possíveis, mas o balde de água fria começou a me molhar no momento em que virei meu corpo e encontrei um espaço vazio e solitário ao meu lado.
Levantei da cama procurando a cueca e encontrei Jimmy sentado na poltrona no canto do quarto e pela seriedade de seus olhos o inferno ia começar.

- Quer se vestir primeiro ou prefere que eu entregue a carta de ?
- Pode me entregar!

Caguei para me vestir e notei que enquanto me dirigia até a cama que qualquer vestígio da noite passada foi apagado, era fácil pensar que ontem foi um delírio de minha cabeça. Puta que pariu, era verdade.

“Para o meu jogador favorito,

Meu amor…

Antes de mais nada, gostaria de te agradecer por esse mês e por tudo o que me
proporcionou nesse período em que estivemos grudados. Mas, apesar de todo o
sentimento bom que você me proporciona, eu não soube lidar quando você
assumiu publicamente que estava apaixonado por mim. Na verdade, minha vida
não tem espaço para esse tipo de relação, e eu de verdade sinto muito.

Eu juro, queria que a gente pudesse embarcar em um romance bem açucarado, do
jeito que você sabe que eu odeio. Você me mostrou que a carta mais valiosa no
pôquer é o amor, e eu sinto muito não estar preparada para nada disso, não agora e
dessa vez não posso fazer você esperar por um mês e meio ou o tempo necessário
que eu preciso para entender o que sinto por você
Eu sei que vou voltar, mas não posso dizer quando. Não espero que você entenda,
mas espero me perdoe, dessa vez eu queria conseguir fazer diferente.

Da sua maior sorte.

."



Na realidade eu não estava em choque, quando olhei nos olhos dela ontem eu soube que iríamos ter um fim bem antes de conseguir ter um começo, mas não doía menos.

- Acho que você estava certo então, mate. Ela me deixou!
- Eu queria que dessa vez fosse diferente, irmão!

Senti meu coração bater com toda a força no meu peito e acho que o ar estava começando a ficar escasso e não tardei a ir até a varanda e abrir a porta, o que foi uma péssima ideia, já que horas antes estava ali comigo. Eu não sei o que eu esperei que fosse acontecer depois de ontem, mas não era nada comparado a isso. E o pior de tudo era que eu entendia os termos dela, fugir para evitar sofrimento era o que eu mais fazia, provar o próprio veneno não era mesmo tão bom.

- O que você vai fazer agora? - Jimmy perguntou assim que eu saí do banheiro já arrumado.
- Ora, eu tenho um cassino para cuidar.

Ele ergueu os olhos alarmados para mim antes de perguntar com a voz beirando a uma preocupação compreensível.

- E a ?

Eu poderia ter respondido de várias formas incoerentes naquele instante porque sentia que a raiva dentro do meu peito existia, mas se pode me ensinar alguma coisa nesse último mês era que agir com imprudência e raiva não levava a nada, e ela estava certa.

- Tudo acontece por uma razão, pelo menos é o que dizem!

Show me that you mean it
[Mostre-me que você está falando sério]
Do you really mean it?
[Você realmente quer dizer isso?]
Everything happens for a reason
[Tudo acontece por uma razão]



Las Vegas

Um ano depois.



Eu estranhamente estava mais animado do que o normal hoje. Poderia dizer que a animação era proveniente da partida de pôquer, já que eu não jogava há um ano, mas não, algo em meu íntimo insistia em dizer que não era isso. Virei as duas doses em meu copo sem receio e sorri ao encontrar os olhos animados de Jimmy, esse jogo estava no papo.
Curiosamente, mesmo tão seguro com a partida, meu coração pulsava mais forte sempre que Jimmy me lançava olhares intensos como se estivesse a espera de alguém. Mas eu não queria pensar sobre isso ou sobre ela. A ferida da partida de ainda não estava 100%, mesmo após tantos meses.
Jimmy distribuiu uma nova rodada de cartas e eu não me impedi de soltar uma risada nasalada em resposta ao perceber que as outras pessoas da mesa ficaram se encarando e murmurando palavrões baixos.

- É verdade quando dizem que o rei nunca perde a coroa... - disse um dos jogadores levantando.
- É só um jogo, eu estou enferrujado.
- Sinto muito, cara. Boa sorte, mas eu já perdi dinheiro demais hoje.

A mesa foi esvaziando e de quinze pessoas só restaram três, eu conhecia os outros dois, eram tão bons quanto eu. Mas a sensação de inquietação continuou me incomodando cada vez mais. Jimmy permanecia sentado me encarando, mas algo em seus olhos mudaram e minha pulga atrás da orelha se intensificou quando escutei um suspiro baixo escapar de seus lábios e um sorriso debochado aparecer.

- Estou vendo um pôquer face? - o senhor ao meu lado perguntou .
- Por que estaria? - respondi sem prestar muita atenção nas palavras dele. - Não tenho medo de perder.
- Querem conferir as cartas, rapazes?

A sensação de dejavu foi inevitável, tão inevitável que eu deixei um sorriso involuntário surgiu em meus lábios no mesmo instante em que minha nuca se arrepiou e eu senti o toque delicado em meus ombros chamando a minha atenção.

- Está se sentindo com sorte hoje, amor?

A sensação que estava em meu peito era que o mundo tinha voltado a rodar da forma correta. Eu não precisei virar meu corpo para saber que ela estava atrás de mim, a sensação de seu toque após tanto tempo foi tão hipnótica quanto a primeira vez que nos beijamos.
Cobri as mãos dela com as minhas e deixei um beijo em seus dedos antes de responder.

- As apostas estão altíssimas hoje, meu amor.




Continua...



Nota da autora: Oi meus amores!!! Primeiro ficstape que eu enfim participo e juro que quando comecei a escrever não achei que eu fosse gostar tanto, além de ser uma coisa diferente do que eu to acostumada, é bem menos longo do que qualquer coisa que eu tenha escrito, me trouxe sensações prazerosas durante a leitura.
Espero de coração que vocês gostem tanto quanto eu, pois escrevi com muito amor para esse álbum lindo.
Com amor e carinho, Analua.





Outras Fanfics:
Between Secrets: Originais, Em Andamento, Restrita.
The Take: Baseado na música de Tory Lanez, Finalizada, Restritas.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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