10. Fucked Up Kids

Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

They’ll wright a story of the lives we lived


A história que vou contar não é sobre mim, não tive uma vida tão interessante assim. Não como a de nas semanas em que conheceu a turma do . Foram dois mundos colidindo de uma maneira bruta e emocionante, em que Phoenix desconheceu o sentido da palavra sossego. era a típica garota tradicional americana de 22 anos. De uma família conservadora, era simplesmente perfeita, sempre viajava para a Europa, estudava Direito na renomada Universidade de Phoenix, Arizona. Com notas sempre altas, participava do conselho estudantil, ia a encontros com o reitor e até representava a universidade em outros Estados.
Ela não havia do que reclamar, exceto que se sentia extremamente mal aproveitada, sentia que sua vida estava se esvaindo aos poucos, sem ter realmente feito nada que pudesse contar aos netos. Onde estava a garota que com 15 anos se via viajando por todo o mundo, vivendo as melhores experiências e sendo feliz? sabia bem que havia preferido ser o exemplo dos seus pais, continuar com as tradições da família, chefiar no futuro o renomado escritório do seu pai, mas de uns tempos para cá estava se sentindo muito quadrada para aquela vida de saias envelopes e suéteres.
Ansiava por mais.
No entanto, logo naquela dramática noite, ela tinha um compromisso inadiável. Seria uma das alunas a participar do jantar de boas-vindas organizado pela reitoria, junto aos professores e principais doadores da faculdade. Mais do que nunca, precisava estar impecável.
Se contrariando e esboçando o seu melhor sorriso, foi em direção ao salão Geoffrey Slattery, nome de algum doador puxador de saco do reitor do século passado. Havia cerca de 100 pessoas no lugar, sendo que apenas 15% eram de alunos.
- Graças a Deus, ! Não suportava mais aguentar as piadas ridículas do professor Meyers, a quem ele tá tentando impressionar assim? - Helen, uma das participantes do conselho e colega de classe correu ao seu encontro no mesmo momento que atravessou a porta. - Desse jeito ele vai fazer os doadores saírem correndo.
- Alguém precisa parar ele. - riu, pegando uma taça de champagne de um garçom que deveria ter pouco mais que a sua idade. Os olhos dos dois se cruzaram e não puderam evitar o sorriso simpático formando nos lábios dos dois.
Helen logo percebeu e cortou o momento dos dois.
- Para, . Não vem me dizer que você agora sai com qualquer um. Garçom é forçar demais a amizade.
- Por favor, Helen. Até parece. - rolou os olhos em desaprovação. Não tinha mais 17 anos para ficar flertando com o garçom.
- Senhorita ! - O reitor Sturgeon fez um sinal a poucos metros de onde estavam, forçando a ir ao seu encontro. - Gostaria de apresentar o Sr e a Sra Linder. Eles se formaram com seu pai. Que grande turma tivemos naquele ano. manteve seu sorriso de miss.
- Seria maior se não tivéssemos o Richard nela. - o Sr. Linder brincou sobre o pai de .
- Todos falam que ele aprontou demais, mesmo. - a garota comentou.
- Certeza que nós não éramos muito fáceis naquela época. - a Sra Linder brindou com o Sr. Linder, trocando olhares confidentes. imaginou o quão divertido poderia ter sido todos eles na faculdade. Seu pai nunca negou o quão feliz foi durante seus anos estudando na UP, o que a fazia perguntar por que não conseguia ter tantas recordações quanto eles tiveram dessa época.
- Caso queira deixar o velho Richard nervoso, tenho uma vaga especial para você no meu escritório. - o Sr Linder ofereceu. – Já ouvimos muitas coisas boas sobre você, tenho certeza que puxou a mãe.
- Quando eu quiser matá-lo, irei com certeza!
Todos riram e logo cada um foi chamado para um lugar diferente.
- A senhorita aceita? - era o mesmo garçom novamente, dessa vez oferecendo um canapé de salmão.
Um pouco intrigada com aquela aproximação, ela aceitou o petisco, franzindo divertidamente o cenho. Logo o garoto saiu cumprindo o seu trabalho, largando-a com o sabor diferente nos lábios e ela voltou ao seu papel.
No entanto, muitas conversas aleatórias depois, parecia que o tempo havia parado de passar. não conseguia mais sustentar sua cara de barbie princesa e tudo o que passava pela sua cabeça era o seu pijama surrado e sua cama quentinha e confortável. Não podia sair pela porta principal ou todos veriam que estava saindo sem se despedir, seria uma verdadeira afronta ao reitor, coisa que não poderia fazer. Tudo o que precisava era tomar um ar, então se recarregaria para voltar a ser sociável. De longe viu aquele garçom entrando por uma porta, quase ao lado do caminho para o banheiro e uma ideia excelente passou pela sua cabeça: poderia sair para tomar um ar pela cozinha, se reestabeleceria e voltaria a desfilar sua beleza e simpatia pelo local.
Disfarçadamente, seguiu o garçom bonitinho e deu de cara com um vento abafado. Tinha muito ruído de panelas batendo, gente gritando com pressa e coisas fritando. Se arrependeu na mesma hora, levaria umas 4 lavagens para tirar aquela gordura do cabelo.
Estavam todos tão compenetrados nos seus trabalhos que nem sequer notaram a presença de uma estranha na cozinha, ela só queria a saída. Só a saída.
Finalmente viu o aviso iluminado indicando a porta que daria para os fundos, mas assim que passou por ela, seus olhos levaram a um cara encostado em um carro antigo, soltando a fumaça do cigarro. Ele estava de uniforme, o que a fez deduzir que se tratava de um cozinheiro do buffet.
Ele a olhou incerto.
- Você não deveria estar aqui. - afirmou num tom um pouco duro, consertando sua postura. - Está perdida?
pôde reparar o quão alto e charmoso ele era. Seus olhos verdes, de um tom tão diferente, chamavam atenção mesmo com a luz fraca que o iluminava.
- Não, eu já vou entrar. - ela respondeu no mesmo tom e se afastou um pouco. Sabia que precisava manter a distância, não que tivesse um problema, mas ela era uma das melhores alunas daquela faculdade, não podia ficar de intimidade com os encarregados.
Ele sorriu de lado e deu de ombros, sem se surpreender com a distância da garota. Voltou a se concentrar em seu cigarro, ignorando completamente a existência de , que batia o pé a poucos metros de distância, mostrando um tédio mortal.
- Ahhh, liberdade! Palavra tão simples para um sentimento tão intenso. - o garçom que achava que estava flertando com ela saiu teatralmente da cozinha, pela mesma porta que havia passado, indo em direção ao amigo que ainda estava encostado junto ao carro.
- Mas é apenas um intervalo, . - o cozinheiro disse, rindo por ter acabado com a alegria do amigo. – Ainda tem mais algumas horas pela frente.
- , aprende a apreciar os pequenos momentos, cara! - comentou enquanto tirava do bolso sua carteira de cigarro.
cutucou o amigo, chamando a atenção para avisá-lo que não estavam sozinhos ali. Com a cabeça inclinada, virou seu pescoço para ver fingindo que não prestava atenção aos dois amigos.
- Ué. Você não deveria estar lá dentro? - , com toda sua disposição, perguntou confuso.
- Deveria, mas um ar é bom também. - respondeu simpática. Numa atitude completamente diferente.
- Você se importa? - tirou um cigarro diferente da carteira e mostrou para ela. - Você não vai denunciar a gente a polícia do campus ou coisa assim, não é?
A confusão tomou conta do rosto da garota.
- Por que eu faria isso? Todo mundo fuma cigarro nessa faculdade. - disse inocente. - Seu amigo não pediu permissão.
riu novamente de lado, apreciando a ingenuidade da garota.
- Bom, não é bem o mesmo cigarro que vamos fumar.
sentiu as bochechas ficarem vermelhas. Odiava se sentir constrangida como estava agora. É claro que não estavam falando do cigarro normal, provavelmente ela era a única da sua idade que nunca havia sequer experimentado maconha na vida.
Ela deu de ombros, tentando fingir que estava tudo bem.
- Você não quer? - ofereceu depois de dar um profundo trago.
- Para, . Não vê que a garota nunca fez isso na vida? - cutucou bem forte o amigo. Não sabia por que, mas pareceu muito errado oferecer droga para uma mulher como ela.
Acontece que era teimosa e odiava que alguém decidisse as coisas por ela. Além disso, achou que o convite veio a calhar. Ela precisava começar a fazer o que nunca havia feito, antes que fosse tarde demais. Era por isso que não queria estar naquele jantar, não era? e só podiam ser obra do destino mandando um sinal.
Caminhou pesadamente, fazendo seu salto gritar a cada passo com o ultraje que estava sentindo.
- Quero sim. - ela pegou o baseado da mão de . - Não preciso de ninguém dizendo o que eu posso ou não posso fazer. Principalmente um cara que eu não conheço.
Ela puxou o ar, tentando tragar algo do cigarro suspeito, mas só veio o ar com gosto ruim. A sua cara de desgosto foi involuntária, o que fez gargalhar alto, enquanto tentou esconder a risada colocando a mão disfarçadamente no rosto. Logo depois, pegou seu isqueiro e o acendeu.
- Apagou. - disse ele didaticamente, indicando para ela colocar o baseado novamente na boca. - Vamos tentar de novo.
Ela assim o fez, engasgando, jogando a fumaça toda na cara de . O fazendo rir de verdade dessa vez.
- Perai, bonita. Ele pode – apontou para que ria também. - Eu to a fim de manter meus dedos bem onde eles estão. Se eu trabalho fumado, adeus a esses dedos magrelos. Falando nisso, eu já to aqui há mais tempo do que deveria, vou entrar.
- Eu vou ficar, ainda tenho 20 minutos. - respondeu, dando de ombros.
acordou dos seus pensamentos, se lembrando que deveria voltar para o evento, mas era extremamente difícil manter a concentração e lembrar da cara do reitor a fez querer rir.
- Era o que eu deveria fazer também. - disse tragando mais uma vez, tentando não rir. – Mas vou ficar.
apenas trocou um olhar cúmplice com .

There’s a crowd inside, free in spirit, nothing dazzling in appearence


nunca precisou se preocupar com sua segurança, afinal, sempre esteve cercada de muros, câmeras de vigilância e pessoas preocupadas com a sua integridade. Além disso, no seu mundo violência era um conto de ficção e não digo isso sem razão, é que quando ela acordou aquela hora, se sentindo desconfortável por estar em um carro, nos braços de uma pessoa que não era ninguém que conhecia, tudo o que sentiu era que o perigo era real.
Soltou um grito agudo, assustando , que estava ao seu lado.
- Onde é que eu to? Por que eu to com você? O que aconteceu? - ela disparou sem respirar.
- Calma! - ele se afastou rápido, dando espaço para ela se recompor.
olhou para fora da janela, reconhecendo aquela parte da cidade.
- Eu conheço essa rua! Meus pais moram no outro quarteirão.
- Sério? Isso pode ser muito bom ou muito ruim. - e comentou isso porque, claro, eles não estavam ali sem motivo.
- Por que você diz isso? - ela o olhou intrigada, mas depois continuou seus milhões de perguntas. – Como eu vim parar aqui? O que aconteceu, pelo amor de Deus?
- Ok, vamos recapitular. Você, eu e no fundo da cozinha. Vocês fumaram um. Eu voltei a trabalhar. - ele iniciou a explicação detalhadamente.
- Isso eu me lembro, também lembro de ficar conversando com o e depois de algumas horas sentir coisas estranhas. Eu achei que fosse morrer. Vi meus cadernos, meus relatórios e minhas provas criando vida e me perseguindo, socorro. - contou um pouco mais calma, porém preocupada. - Mas depois disso é um borrão. O que é isso? Por que eu me senti assim? Essa maconha do tá com a validade ultrapassada?
Ele deu um meio sorriso.
- Parabéns, você acabou de ter sua primeira bad trip. - esclareceu.
- E isso sempre acontece?
- Bom, depende da pessoa. - ele se ajeitou no banco, acendendo um cigarro “normal” - Geralmente, é pior quando temos alguma coisa na nossa cabeça que nos preocupa, mas pode ser bem aleatório também, mas enfim, vou terminar a história, porque tá rolando uma festa super maneira lá dentro enquanto eu estava de babá.
se ofendeu com as palavras dele. Não precisava que ninguém tomasse conta dela, se não quisesse.
- Era só me deixar sozinha, não lembro de ter pedido para você ficar comigo.
- Tem certeza? - levantou a sobrancelha, deixando a dúvida no ar. se encolheu, sem saber se havia pedido ou não, tudo estava muito confuso em sua cabeça. – Olha, relaxa. Você não pediu, porém, não sei, achei que estivesse fazendo o certo. Não precisa me agradecer, sei que não era minha obrigação e que você não pediu, apenas fiz. Simples. - ele continuou. – Enfim, você realmente ficou sozinha, porque de repente se lembrou que precisa pagar as contas e voltou a trabalhar, mas você tava bem morta. Acho que champagne e maconha não são a sua mistura preferida. E entre fugir de provas, aguentar acordada e sentir o cheiro de óleo, você achou que vomitar em uma cozinha era aceitável e foi assim que eu e você fomos expulsos de lá.
- Mas você foi despedido por causa de mim? Não, né? - ficou realmente receosa de ter acabado com a vida daquele cara.
- Não, fica tranquila. Na hora o chefe não foi tão simpático, mas depois ele viu que você precisava mesmo de ajuda e deixou para lá.
Ela respirou aliviada. Não queria ser o tipo de pessoa que faz as outras serem despedidas por que simplesmente resolveu ficar louca naquele dia.
- já está lá dentro, você vem? - ele convidou sem pensar, então, complementou. – Ou quer ir para casa?
Aquele sentimento de mudança invadiu novamente e apesar de não confiar 100% naquele tal de , sabia que teria uma noite cheia de surpresas ao lado dele. De alguma forma seu destino cruzou com o dele e não podia desperdiçar a oportunidade de continuar experimentando novas sensações, quais histórias teria para contar para os netos? Ela achava que nenhuma até conhecê-los horas antes.
Ela estava certa.
- Eu conheço alguém que esteja aí? - perguntou receosa, não queria ninguém do seu ciclo de vida ali naquela noite. Queria poder ser livre.
- Duvido. Não tem muita gente, não é bem como se pudéssemos fazer uma festa grande.
- Por quê? - ela perguntou, novamente, demonstrando sua inocência que o fazia sorrir misteriosamente, segundo ela.
- Não sabemos de quem é essa casa. - ele disse tranquilamente enquanto abriam o portão do quintal da casa e se depararam com algumas pessoas na piscina.
engoliu o choque ao ouvir aquelas palavras, estava invadindo uma propriedade privada e não conseguiu evitar a lembrança das suas classes de direito penal, imaginando a multa e até mesmo quantos meses de cadeia aquilo poderia acarretar.
- Achei que tivessem ido embora. – não se deu o trabalho de se levantar da cadeira de sol em que estava sentado. – Ta melhor, ?
Sorriu ao ouvir o apelido. Ninguém nunca a chamava por nenhum. Era sempre , nunca pôde ser ou Nana ou qualquer coisa que combinasse com seu nome e adorou escutar aquilo.
- Foi apenas um mal estar passageiro.
- Seeeei. - alongou a sílaba para deixar claro que não acreditava nenhum pouco na garota.
- O que temos no cardápio de drinks dessa noite? - perguntou, sentando na borda da piscina, perto de e colocando seus pés dentro d’água.
- Vocês acharam que não teria suco gummy hoje? - um loiro disse, jogando em seguida uma garrafa plástica com um líquido avermelhado.
deu um gole e passou a garrafa para , que fez uma cara engraçada ao beber.
- Nossa, mas nem tá forte.
- Calma, moça. Daqui a 10 minutos você tá vendo os ursinhos dançando do seu lado. – um outro de cabelos grandes riu dela.
E lá eles ficaram, conversando, brincando, se divertindo até agarrar uma das garotas e ameaçá-la jogar na piscina.
- Você quer morrer, ? - a garota disse furiosa. - Se você me jogar nessa água imunda, eu te arranco suas bolas fora.
- É só isso que te impede? - ele disse calmo, a colocando no chão novamente.
- Claro que sim. – respondeu revoltada. – Imagina a quantos dias não limpam essa piscina?
- Mas isso a gente resolve em 5 minutos! - o de cabelos grandes correu os olhos pelo lugar, procurando alguma coisa. – Se eu fosse rico, onde eu colocaria o interruptor do filtro da piscina?
- A do meu pai fica escondido dentro de um armário na churrasqueira. - respondeu apontando para o lugar. – As casas nesse bairro são todas iguais.
- Olha, a realeza está entre nós? - tirou sarro com a sua cara, dando um leve empurrão em seu ombro, enquanto o amigo ia até onde havia indicado.
abaixou a cabeça, deixando o exagero nas emoções serem dominados pelo álcool. Ela estava tentando ignorar essa barreira que sabia que existia e o comentário de a fez lembrar do lugar de onde vinha, lugar que atualmente odiava vir. Ele sentiu a mudança de atitude da garota e para reverter esse quadro, a agarrou num abraço apertado e deixou a gravidade tomar conta, os levando diretamente para dentro da piscina.
Foi a atitude que estava faltando para que todos começassem a se jogar, fazendo muito barulho, sem se importar se eram ouvidos ou não.
- Seu louco! - gritou para , em meio os milhares jatos de água que se misturavam por conta da bagunça que estavam fazendo.
Ele a segurou, impedindo que voltasse a atacá-lo, aproximando seus rostos.
- Quem são vocês? O que vocês estão fazendo aqui? - uma voz grossa gritou da frente do portão do quintal, fazendo todo mundo parar o que estavam fazendo. Era o vizinho. - É melhor vocês correrem, estou ligando para a polícia agora mesmo! Eles vão pegar vocês, seus arruaceiros!
Os meninos e as meninas, saíram correndo da piscina, pegando atrapalhadamente as coisas espalhadas e saindo pelo outro lado, para não serem reconhecidos, mas estava muito bêbada para pensar nisso e seu rosto ficou visível ao passar pela luz do quintal.

Take a left on college avenue


Naquela manhã, acordou quase sem acreditar no que havia acontecido. Tinha sido tão emocionante aqueles momentos da noite anterior, todas as risadas que havia dado, pareciam ter sido tão intensas como as que dava quando era criança, não se lembrava da última vez que havia gargalhado daquela maneira.
E seus pensamentos a levaram diretamente a . Como ele parecia ser reservado no início, no entanto depois, com os amigos, uma pessoa tão amável e alegre. Se perguntou por que ele havia ficado cuidando dela durante boa parte da madrugada quando não precisava e como havia sido muito legal de sua parte lhe fazer companhia. De repente, sentiu seus pelos arrepiarem ao lembrar do seu toque ao jogá-la na piscina e depois, quando tremia de frio dentro do carro. Se arrependeu de não tê-lo beijado ali mesmo. Tinha certeza de que ele era diferente e a chamava atenção, se odiou por perder a oportunidade, quando iria vê-lo novamente? Talvez nunca, pois esqueceu de uma coisa muito importante: pegar seu contato.
Levantou-se preguiçosamente, só pensando em um café bem quente para começar sua jornada. Deu graças a Deus que era sábado e a reunião do conselho era após o meio-dia.
- Finalmente a Cinderela acordou, hein? - Ursula, sua amiga com quem dividia apartamento, chamou a atenção.
- Não tá confundindo um pouco as histórias? - respondeu com um sorriso enorme no rosto, sentindo a felicidade sair por seus poros.
- Whatever. – a amiga fez pouco caso do erro, estava mais interessada no sorriso de . – O que aconteceu ontem à noite?
- Resumindo? Teve de tudo um pouco. - a cara de espanto de Ursula fez com que a gargalhada de ressonasse pela casa.
- Não me espanta que seu pai tenha ligado já umas 10 vezes atrás de vocês então.
- Meu pai? - disse assustada, procurando o celular e constatando, com as 28 chamadas perdidas, que sim, seu pai estava louco atrás dela. - Opa, acho melhor eu ver o que está acontecendo.

Se arrumou rapidamente e dirigiu em direção ao centro comercial da cidade, onde havia muitos arranha-céus de arquitetura moderna. O escritório do seu pai tomava dois andares de um desses edifícios. O prédio era espelhado e monótono, não havia nada de diferente para um outro grande prédio comercial. O elevador ia da garagem ao 46° andar em segundos e ali era onde deveria ir.
– Ai, , graças a Deus você apareceu. - a secretária levantou-se visivelmente aliviada em ver a garota na sua frente. – Seu pai já estava mandando o motorista ir na sua casa por que você não atendia o telefone.
- Mas o que foi que aconteceu? - começava a ficar preocupada com esse interesse repentino do pai em vê-la. Não se lembrava de haver nada tão importante assim para fazer com ele hoje.
- O que aconteceu? - o pai de bradou da porta do seu escritório, dando um leve susto em todos que estavam no corredor. – Não me venha com esse ar inocente agora, . Entre aqui, agora mesmo.
Surpresa com a reação do Sr. , a garota apenas obedeceu.
- Que diabo estava passando pela sua cabeça ao invadir uma casa de madrugada? Você não tem mais idade para ficar bancando a adolescente, . - reclamou, sem rodeios. - É a melhor aluna da sua classe, um exemplo para o reitor, que tipo de advogada você será com atitudes como essa?
- Mas, pai… - ela tentou reagir, porém sua tentativa foi minada.
- Mas, nada. Não adianta negar, é o nosso bairro! Todos os vizinhos nos conhecem, você achou que o Sr. Desjardim não iria se lembrar de você? Que vergonha. Sinceramente, que vergonha.
abaixou a cabeça, sentindo-se com raiva e ao mesmo tempo magoada. Não era justo com ela, não era possível que logo na noite em que mais tinha se divertido, seu pai havia descoberto tudo. Queria sair correndo e gritar que não queria ser perfeita. Queria ser somente mais uma jovem que estava na faculdade, que podia cometer seus erros sem que isso afetasse seu bom julgamento, mas sempre parava no modelo perfeito que seus pais a criaram para ser.
- Com quem a senhorita estava? - perguntou sério e impaciente.
E mesmo assim, não encontrava coragem para se rebelar.
Suspirou fundo, chateada consigo mesma.
- Com algumas pessoas que conheci ontem, no jantar do reitor.
- E o que eles estudam? Não acredito que estejam aceitando qualquer pessoa na universidade de Phoenix. Quem são seus pais?
- Pai, eu não, sei ok? – disse, se jogando na cadeira cansada de tantas perguntas. - Eles tavam trabalhando para o buffet. Foi só uma vez, eu prometo.
- Meu Deus, . Agora você quer se misturar com esse tipo de gente? Com os empregados de um buffet? Sinceramente, eu esperava mais critério. Você merece mais, minha filha. Não pode andar com qualquer um. Será que não lembra da frase que eu sempre repito?
- Eu sei. - rolou os olhos ao lembrar daquela frase ridícula. - Quem anda com porcos farelo come.
- A família é uma família de tradição, . - o pai disse sério, se encostando na sua mesa – Não me venha com essa agora. Você está terminantemente proibida de sair com pessoas que não estejam na faculdade ou que não tenha um nome conhecido. E se eu souber que você voltou a encontrar esse tipo de gente, pode esquecer os seus cartões!
Apesar de internamente dar de ombros para aquelas palavras, apenas acenou com a cabeça, indicando que obedeceria o comando. Além do mais, pensou, qual eram as chances de voltar a encontrar com novamente? Nenhuma.

E assim a vida seguiu para a jovem estudante, na sua rotina habitual e cheia de compromissos com o futuro. Assim como havia imaginado, seu destino e o de não mais se cruzaram e sua vontade de ir contra o seu mundo foi diminuindo dia a dia. estava resiliente e já não conseguia ver motivos para tentar mudar. Se essa era a sua realidade, era melhor aceitá-la e parar de brincar de revoltada.
Porém isso não queria dizer que precisava ficar triste pelos cantos ou ser antissocial e aquela festa do centro acadêmico de ciências sociais veio a calhar; apesar de que, com certeza, seria uma festa dos estudantes que estavam quase sendo jubilados, encontraria também com a elite da escola, os alunos de medicina, engenharia e direito, e seria uma de suas representantes.
- To bonita para o meu futuro engenheiro ou médico? - deu uma volta sobre si, fazendo sua saia levemente rodada se movimentar junto, calçando a sua marca, um salto alto.
- Pode ser um advogado? - Ursula franziu o cenho.
- Por favor, amiga, não quero casar com meu pai. Basta de leis em minha vida. - se olhou mais uma vez no espelho, garantindo que tudo estava no seu devido lugar. - Vamos?
Ursula acenou positivamente com a cabeça e pegou as chaves do carro. Em poucos minutos, estavam no local da festa e encontraram Helen, com uma cara de poucos amigos, segurando um copo na mão.
Era uma república de andar, com um grande jardim na parte da frente. A árvore do lado de fora estava enfeitada com leds luminosos, a música alta ecoava pelos cômodos e já não era tão tranquilo caminhar por entre os corredores.
- Sério, para que tipo de festa vocês me convidaram? - soltou assim que as garotas chegaram perto, estava com sua particular cara de nojo. – Não tem uma pessoa merecedora da minha atenção, só tem essa ralé das ciências sociais. Não suporto estudante de antropologia.
- O Marco disse que viria, ainda não chegou? - Ursula perguntou.
- Espero que ele e o povo de medicina chegue logo para salvar minha visão.
Mas não estava bem prestando atenção, pois só conseguia enxergar aquela pessoa do outro lado da sala, mostrando os dentes numa risada gostosa, sendo inevitável sorrir de volta. Agradeceu ao destino, por poder encontrá-lo mais uma vez e fazer o que não fez da vez passada. Sem pensar duas vezes, seus pés apenas a levaram para perto de .
- Então, temos aqui alguém que também frequenta as festas da Universidade.
- Se você me dizer onde eu encontro uma festa que tenha bebida de graça e não pague para entrar, eu estarei lá, bonita. – sorriu, olhando diretamente nos olhos de .
A tensão entre os dois era óbvia. Para ela, o mundo simplesmente parou, nem sequer notava que estava em uma festa barulhenta, cercada de olhos curiosos por saber quem era aquele cara com quem a princesa da faculdade estava conversando.
- Parece que alguém é famosa aqui! - chamou a atenção, dando um abraço apertado em , o que fez com que a garota acordasse do pequeno transe, o cumprimentando com um beijo na bochecha.
- Famosa nada, eles só estão esperando que eu pise na bola para me tirarem do conselho, mas estamos aqui firmes e fortes. - disse a última frase mais alto, para que os olhares se dispersassem. Que foi o que aconteceu.
- Não achei que fosse te ver de novo. - apoiou seu braço ao redor do pescoço da garota, depositando um leve beijo na testa dela.
- Nem eu, mas estou feliz que nossos caminhos se cruzaram novamente. – respondeu, dando um leve beijo no pescoço dele. Era isso, estavam entregues.
Exceto pelo fato de Helen chegar, dando dois toques leves no ombro de .
- Você pode vir aqui comigo, por favor? - disse num tom autoritário.
Com um olhar de arrependimento, pediu com licença a e deixou ser levada pela amiga para outro canto, onde sequer possível contato visual com ele.
- Você está louca. - foi tudo o que Helen disse ao lado de Ursula.
- Amiga, deixa dessa coisa clichê de patricinha e vagabundo, ok? - a outra mandou. – Você já ouviu tudo o que seu pai disse, vamos parar de queimar o filme assim de graça.
- Mas, gente, vocês não conhecem eles! - tentou contra-argumentar.
- Por favor, , não conheço e nem vou. Onde já se viu Helen Gottenburg sendo vista socializando com um garçom e um cozinheiro? Só se ele fosse o Gordon Ramsey, mas não é. Então nem vem com isso que eu não vou te deixar entrar em decadência assim. Sem conseguir abrir a boca, Helen agarrou a mão da amiga e não soltou nem por um decreto. Toda a noite, Ursula e Helen ficaram na cola de para que não voltasse a encontrar com e sua turma. Elas estavam determinadas a não deixar que a amiga estragasse toda a boa reputação que havia construído durante esses anos na faculdade por conta de alguém sem um nome e pior, sem dinheiro. Elas achavam absurdo que se quer cogitasse a ideia de apenas beijar alguém que ganhava menos do que 10% do seu limite do cartão de crédito. Era impensável. Era uma afronta.
No entanto, não estava pensando nisso. Era justamente por ter tanto financeiramente que não precisava se preocupar, queria se permitir a não pensar nessas coisas uma vez. Não queria ser lógica com seu coração, queria apenas se entregar ao que ele estava gritando. Odiava suas amigas, odiava aquela festa.
- Posso ir ao banheiro, mães? - perguntou retoricamente emburrada, com os braços cruzados enquanto assistia Helen e Ursula conversavam com os futuros médicos do Arizona.
- Não demore, senão chamo a polícia. - Helen ameaçou.
rolou os olhos e saiu. Claro que era uma desculpa, apenas torcia para que não tivesse ficado entediado com aquela festa chata e ido embora. Deu a volta por todos os cômodos da casa e não conseguiu encontrá-lo, deixando sua frustração tomar conta. Não acreditava que havia deixado que suas amigas mandassem em si daquela maneira, ela tinha idade suficiente para decidir sozinha o que era melhor. Por que deixou que elas a impedisse de ser feliz mais uma noite?
Estava se xingando mentalmente quando chegou ao jardim da casa e viu em pé, se apoiando naquela árvore iluminada. Seu olho reluziu ao encontrar o que tanto procurava.
Num impulso, correu em sua direção e sem precisarem trocar nada além dos olhares, as bocas se encontraram num momento único de satisfação. podia sentir toda a energia que trocavam ao movimentar seus músculos e a certeza de fazer a coisa certa.
retribuía o beijo sorrindo satisfeito com o que ocorria.
- Muito obrigada por ainda estar aqui. - ele disse quando se separaram, passando seus braços em volta da cintura de , fazendo com que ela envolvesse seu tronco com as pernas.
Deram uma gargalhada eufórica, para logo em seguida continuarem se beijando felizes.

- Por que é que é a tá fazendo beijando o cozinheiro do restaurante do meu pai? - Marco, o cara com quem Helen conversava, comentou ao olhar para o jardim através da janela.
A boca de Helen foi ao chão e num impulso, saiu correndo.
- , o que você está fazendo? - Ursula chegou com Helen ao seu lado. O casal já havia se separado.
- Posso chamá-las? - perguntou para , incerta. Mas ele apenas respondeu positivamente, ele realmente não se importava com quem ia ou não. - Eu estou indo para um after, perto da College Avenue, é só pegar a esquerda. Querem ir?
- De jeito nenhum que você vai! - Helen gritou. – Eu não vou deixar.
Calmamente, a respondeu:
- Helen, você sabe que não manda em mim, não é? - então se virou para a outra amiga. - Ursula?
- Você tá completamente fora de si.
Dando de ombros, deu a mão para e foram embora.

We are those who sit up in the rafters.


escolheu não ouvir a ninguém mais, mas sabia que não contaria com a compreensão das pessoas que conhecia, então manteve ela e em segredo, pois só assim pensava que estaria em paz.
No entanto, morar com uma amiga que não estava ao seu lado não era fácil e Ursula começou a atacá-la da forma mais baixa que poderia ter pensado: contando ao seu pai o que estava acontecendo. A surpresa veio quando, depois da palestra cheia de ameaças, ficou esperando que algo ocorresse, porém: nada. Seus cartões ainda passavam quantias exorbitantes, seu carro ainda estava na garagem, seu aluguel foi pago corretamente.
Pensou que talvez seu pai tivesse finalmente engolido a sua decisão.
- Não tá um pouco tarde para estar aqui? - ela disse, chegando na beirada de uma viga, numa construção abandonada, perto de onde morava.
Era ali que ele e os amigos iam de vez em quando, um lugar livre de vizinhos incomodados com o barulho ou com o cheiro dos seus cigarros. Quando o sol se punha, um novo dia começava bem ali naquele lugar. E ele havia mandado uma mensagem para se encontrarem.
deu de ombros, tragando seu baseado.
- Amanhã você não trabalha? - ela perguntou interessada.
- Não. - ele respondeu, sorrindo.
o olhou confusa.
- Sua folga não era na quinta?
- Senta, . Vem cá. - ele pegou na sua mão e quando ela se sentou ao seu lado ele a abraçou, dando um beijo carinhoso no seu pescoço. Ela adorava quando ele fazia isso e retribuiu o gesto. Após se separarem ele continuou. – Eu fui despedido.
recebeu a notícia com uma grande surpresa. nunca falou que estava passando por problemas em seu trabalho, inclusive achava que ele adorava, pois todos os dias vinha com uma novidade.
fazia aquilo por que gostava, não por obrigação, ficava muito claro para ela quando eles conversavam sobre isso. A animação dele sobre seu trabalho a contagiava, não importava se ele ganhava mal ou se trabalhava muito, se sentir bem era o bastante e isso a fazia o admirar ainda mais.
Por isso, a notícia chocante do desemprego de abalou a realidade de .
- Por quê? - perguntou mais nervosa com a notícia que ele.
- Sabe o que é engraçado? - ele se virou, sorrindo. – Eles não me disseram nada, apenas mandaram eu juntar minhas coisas e passar amanhã para acertar as contas. Aparentemente eu era bem desnecessário.
- E agora? O que você vai fazer?
Ele acariciou o cabelo da garota, tentando acalmá-la.
- O que todo mundo quando perde o emprego faz, . - ele riu sem graça. – Procurar outro. Na pior das hipóteses eu volto para a casa da minha mãe, no norte do estado.
Ela segurou forte na sua mão, sem querer pensar nessa hipótese. Para ela, aquilo que estavam vivendo era sério e se a resposta era ele viver em outro lugar, cogitava a possibilidade de ir junto a ele, apesar de não exteriorizá-la.
- Vai dar tudo certo, . Logo, logo você vai encontrar outro lugar para trabalhar.
E ali eles ficaram, se beijando carinhosamente.

Don’t forget, we won’t forgive


O sol de agosto naquele deserto podia ser brutal, fazer com que o suor pingasse da testa incessantemente e tornar a água sua melhor amiga, num banho gelado. Viver aqueles dias com estava sendo tão prazeroso que sequer se lembrava dos seus compromissos ‘oficiais’.
Ver a vida da forma que eles viam, com tanta liberdade de serem quem eram, sem se preocupar em serem modelos para alguém e tirando sempre o melhor do que possuíam era inspirador para . Fazia com que tivesse coragem de fazer o que estava querendo há muito tempo: Largar a faculdade.
Nessas semanas, aprendeu uma coisa muito importante: Não deveria ouvir a ninguém sobre seu futuro, pois apenas ela saberia dizer o que ocorreria com ele e assim o fez, saiu da secretaria da faculdade e foi diretamente para o escritório do pai, estava feliz por ter tomado uma atitude em relação a si mesma.
Estava feliz por fazer alguma coisa por ela.
E se alegrou ainda mais quando aquele nome, com aquela foto apareceu na tela do seu celular. Era a telefonando.
- Que dia bonito, não? - atendeu animada.
- Que voz animada, o que aconteceu? - ele perguntou curioso.
- Mais tarde, quando eu te ver, te conto, ok? - não achava que deveria dar essa notícia por telefone. – Mas a que devo o prazer da ligação?
riu sem graça do outro lado, se calando por alguns segundos.
- Fui para uma entrevista hoje. - disse simplesmente, sem entrar em detalhes, o que fez perguntar como foi, torcendo por uma boa notícia. – Eles disseram que tenho um ótimo currículo, que seria uma boa aquisição para o restaurante, no entanto, o meu antigo chefe, que me despediu, não passou boas referências e por isso, não podiam arriscar. - respondeu num tom de quem não acreditava que estava repetindo aquelas palavras.
- Meu Deus, . Sinto muito. - ela não soube como expressar seu pesar ao ouvir a notícia. Não fazia sentido para ela ouvir aquilo, a mostrou o currículo e com aquele conteúdo, qualquer restaurante o contrataria sem pensar duas vezes.
- Tudo bem, tudo bem. Só queria ouvir sua voz mesmo, vou continuar minha busca. Nos vemos mais tarde.
- Ok, boa sorte! Sei que você vai encontrar algo logo.
Desligou o telefone, ainda muito curiosa com essa demissão repentina. Ninguém despediria um funcionário assim, sem dar uma explicação, por mais sem desculpas que o patrão estivesse, mas então uma pessoa passou pela sua cabeça, fazendo tudo se encaixar perfeitamente.

- Como você pode fazer isso? - entrou no escritório de Richard como um furacão, sendo seguida pela secretaria desesperada com a invasão da garota.
- Sr, me desculpa, ela simplesmente não esperou ser anunciada. - a secretaria pedia encarecidamente pelo seu emprego.
Sr estava reunido com um cliente e teve que esconder sua raiva com aquela cena criada pela sua filha.
- Boris, me dê licença, já retorno para terminarmos nossa conversa. - o pai de a agarrou pelo braço, a levando para fora da sala. - Beth, leve um café para Boris, por favor.
A secretária correu para fazer o que o patrão havia mandado.
Sem opor resistência, deixou que seu pai a carregasse para a sala de reunião ao lado. Ela estava possessa com o que havia deduzido, mas não poderia estar errada. Tinha que ter sido muito idiota para achar que sairia ilesa por contrariar o poderoso Richard desse jeito.
Mas se ele havia sido capaz de atingir uma pessoa inocente, também teria que aguentar as decisões que sua filha havia tomado.
- Isso é maneira de entrar em meu escritório? - Ele ralhou assim que fechou a porta da sala.
- O não tinha nada a ver com isso! - ela gritou em resposta.
- Primeiro, abaixe o seu tom para falar com seu pai. E segundo, que esse moleque precisava de alguém que o colocasse no devido lugar. - continuou num tom duro. - Não sei desde quando você se tornou tão iludida, . Para mim você sempre foi muito realista, pensei que sabia muito bem que existem coisas que não devem se misturar e pessoas são um delas. Você acha que eu vou deixar um qualquer entrar na nossa vida assim e destruir tudo o que eu construí para você? Destruir seu futuro? Não. Você vai continuar com o nosso plano e esquecer essa insensatez.
- O nosso plano? O NOSSO PLANO? O SEU PLANO, VOCÊ QUER DIZER. - se descontrolou com aquele discurso surreal. – Eu nunca pude participar ativamente desse plano, ninguém nunca me perguntou o que eu queria para mim. Quem eu queria ser. Apenas esperaram que eu aceitasse sem reclamar, como um bom bichinho de estimação. E agora, você atinge uma pessoa que nada tem a ver com você ou comigo nessa tentativa frustrada de ainda me fazer obedecer? Quem está sendo o iludido agora? NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA, SENHOR : Eu cansei! - ela jogou uma pasta em cima da mesa, que com a força, se abriu mostrando um monte de papel, cartões de crédito e a chave do seu carro. - Aí está tudo o que me liga a você, seu dinheiro. Tranquei a faculdade e só volto quando puder pagá-la sozinha.
- Ou seja, nunca. - seu pai debochou da atitude da garota.
- Que assim seja!
deu meia volta, ainda ouvindo seu pai chamar por seu nome e saiu correndo do escritório. Nunca mais queria olhar para a cara do pai, estava decidida a seguir em frente sozinha e não deixaria ninguém a atrapalhar.

We’re raw and invicible


Sem saber para onde ir, tudo o que fez foi arrumar uma mala e sair de casa, sem falar com Ursula, sem se importar com os telefonemas da sua mãe e sem nenhum dinheiro no bolso. Se jogou na sua decisão, de braços abertos.
Tudo o que pensou era em ir até , sentir que tudo estava no seu lugar.
Foi para receber um abraço e recebeu um teto.
Quando abriu a porta e a viu de malas, tomou o susto, mas a abraçou sem muitas perguntas, tudo o que quis saber foi como havia conseguido achar o ônibus certo para chegar ali, tirando um sorriso da boca de . Nem ela mesmo acreditava que havia pegado o transporte público, sem nenhum problema.
Os dias foram passando com os dois enviando currículos, indo a entrevista, voltando frustrados, até que ele finalmente conseguiu uma vaga num restaurante menor, ganhando menos do que antes, mas o suficiente para se manter.
- Como foi que você descobriu que queria ser cozinheiro? - perguntou enquanto preparava um jantar especial em comemoração ao seu novo emprego.
- Não foi nada: ‘oh meu deus, nasci para isso’. - ele riu enquanto mexia a frigideira. – Eu nunca gostei de estudar, sempre fui muito mais de ação do que sentar a bunda na cadeira e esperar para que minhas palavras se transformassem em alguma coisa, além disso, minha coordenadora meio que me ameaçou me expulsar do ensino médio. Então, ou era sair da escola ou entrar num ensino técnico, tinha vaga em gastronomia e voilà! Aqui estou.
- Mas foi uma decisão sua. E você acabou adorando. - ela comentou retoricamente, recebendo um aceno com a cabeça - Eu gosto de Direito. Eu sei que minhas notas refletem isso, mas não sinto como se tivesse tomado essa decisão. Às vezes sinto como se estivesse ali apenas por uma imposição dos meus pais e isso me incomoda.
- , você não precisa se preocupar como chegou ali, mas porque chegou. Se você gosta, não tem que se questionar como foi que aconteceu, só é importante que você saiba que está fazendo por você, não por ninguém.
- Mas não consigo evitar. - suspirou pesarosa. – Talvez eu precise de terapia.
- O que você precisa é experimentar esse delicioso molho que eu fiz. - lhe ofereceu a colher, a fazendo rir. - E aprender a ver as coisas de outra ótica. Você já está certa sobre o que quer fazer, só não consegue enxergar isso.
Ela deu de ombros, observando o celular de apitar seguidamente com inúmeras mensagens de , ela leu rapidamente.
- Onde vocês encontram criatividades para fazerem festas nos lugares mais inusitados? - franziu o cenho, fazendo rir da sua cara. – Sábado Pat está organizando uma fogueira no deserto e quer saber se você pode dar carona a ele.
- Como se eu já não soubesse que eu sou o motorista desse viado!

Sábado não demorou muito a chegar. e já estavam sentados, esperando sair do trabalho para pegá-los, quando ele buzinou avisando que era hora de irem se divertir.
- E o trabalho novo, está bem? - perguntou já no banco do carona, depois de dar um beijo na bochecha do namorado.
- Não é muito bem o que eu quero, mas não posso reclamar no momento. - respondeu dando de ombros, fazendo se sentir culpada por atrapalhar sua vida profissional. - Comprou tudo, ?
- Já está tudo no ponto de beber, inclusive. - disse com animação.
Em cerca de 30 minutos, eles passarem por uma placa que estava escrito ‘reserva ambiental’, onde a paisagem do deserto se misturava a estrada. jogou o carro por dentro da terra seca, o que fez pensar onde diabo estavam indo, no entanto, percebeu que havia pequenas fitas penduradas nas árvores secas e cactos, que pareciam indicar um caminho e era exatamente isso.
Ao final da rota, podia-se ver um grande clarão iluminado apenas pela enorme fogueira montada e as pessoas ao seu redor. Os olhos de também se iluminara com a paisagem, ali era realmente bonito a noite e ficava ainda mais especial quando via o reflexo das chamas nos olhos de . O abraçou com mais vontade, não só para aplacar o frio, mas por se sentir tão bem quando o fazia. Todos eram apenas risadas altas, danças estranhas ao redor da fogueira e conversas malucas.
- Estou muito feliz de ter me juntado a vocês. – declarou liberta pelo álcool, abraçando e ao mesmo tempo, depois dando-lhes um beijo na bochecha.
O que ninguém esperava é que o som alto vindo do carro de Pat abafasse outro som: o da polícia.
Quando os dois carros da polícia pararam logo atrás do carro de e gritaram, mandando todos ficarem parados, ninguém obedeceu. Houve uma enorme correria para todos os lados e por fim, e acabaram escondidos por entre a vegetação esparsa, torcendo para que o escuro os escondessem.
- Podemos voltar caminhando. - sugeriu quase inaudivelmente.
quis chorar arrependida por estar sempre de salto alto, precisava aprender a dar mais oportunidades a sapatilhas e tênis.
- Não vou conseguir. - respondeu, mirando os próprios pés.
Se encararam por longos minutos, observando de longe os policiais se movimentarem apagando a fogueira e recolhendo os restos da bagunça, até que uma das duplas retornou ao carro e gritou para os outros.
- Estamos sem sinal. Vamos pegar o reboque e já voltamos para levar esse carro, ok?
Os outros dois levantaram as mãos em um sinal positivo, ligando suas lanternas buscando por algo entre os arbustos.
- Eles vão nos ver. - tremeu.
- Precisamos chegar até o carro e de lá arrancamos, você consegue? - dividiu sua ideia, com a esperança que ambos saíssem ilesos de lá.
- Acho que sim. - respondeu incerta. - Mas caso eu seja pega, não olha para trás. Eu consigo sair dessa sem consequências, .
Eles balançou a cabeça negativamente, não a deixaria para trás tão fácil.
- Nada disso. Se você for pega, eu serei também. - sussurrou teimosamente segurando forte a mão da garota.
- . – ela pegou delicadamente no seu rosto. – É sério. Ninguém quer um funcionário com ficha criminal, eu ainda não sou nada, posso me virar.
- , nós vamos sair daqui junto.
- Ok, ok. – concordou, querendo acabar logo com a discussão. – Vamos logo, antes que os outros policiais cheguem. Você vai primeiro, estarei logo atrás.
Silenciosamente, concordou e seguiu passo a passo o seu caminho. No entanto, um dos agentes apontava sua lanterna cada vez mais em direção ao garoto, que estava cada vez mais perto do seu objetivo.
Quando tentou sair dos arbustos, o barulho de galhos e folhas se movendo tomou conta do lugar. se apavorou com a possibilidade dele ser pego e antes que o policial apontasse sua lanterna para a direção certa, a garota se lançou por entre os arbustos, entregando seu esconderijo.
A luz das lanternas a iluminaram imediatamente e uma ordem clara para que colocasse as mãos para cima foi ouvida.
- Vai embora! - gritou nervosa, num aviso claro para sair dali.
Quando os dois agentes chegaram perto de , o som do pneu levantando poeira invadiu o espaço e ela pôde respirar aliviada.
estava a salvo.

We prefer do things on our own


A espera para que um defensor público chegasse fez com que a pele de se acostumasse com o frio das algemas, mas a cabeça estava pesada demais para seu corpo, por isso manteve-se com ela apoiada a mesa.
O som da porta se abrindo a fez acordar imediatamente, esperançosa com a sua saída. No entanto, ver quem estava ali tirou todas as suas forças.
- Eu não te chamei, pai. – disse, escondendo novamente seu rosto.
- Aparentemente você encontrou um namorado pobre, mas não burro. - Sr. comentou contente, se sentando confortável na cadeira. não conseguia acreditar que de todas as pessoas que pudesse procurar, ele iria logo falar com seu pai, a pessoa que mais odiava na terra no momento. – Você quer ouvir a lista de crimes imputados a você? Vamos lá, crime ao patrimônio público, invasão de propriedade em horas não permitidas, crime contra o meio ambiente e, por fim, crime de favorecimento pessoal, que caso você ainda não tenha estudado, é auxiliar a fuga de um criminoso. Que ideia mais desvairada foi essa? O que diabo você estava fazendo ali?
- Só falarei na presença do meu advogado. - respondeu ironicamente, fazendo um sorriso debochado se formar no rosto do seu pai.
- Então pode começar. Mas antes, aqui vai uma grande lição para a sua futura carreira. O melhor advogado não é aquele que conhece as leis, mas que conhece o juiz. - o Sr. jogou dois pequenos montes de folhas na frente de . - Você tem algumas horas para decidir o que quer fazer da sua vida, mais tarde eu volto.
E saiu a deixando sozinha olhando para aqueles montes.
Óbvio que seu pai encontraria uma saída fácil para ela. Era mais importante que ver sua filha sendo processada, afundando o sobrenome da família. No primeiro monte reconheceu os papéis do processo. As folhas de responsabilização pelo crime, a procuração do seu pai e a intimação para a audiência inicial que ocorreria nas primeiras horas do próximo dia.
Na primeira folha leu o nome do juiz do seu caso e o reconheceu imediatamente, suas famílias eram amigas, havia frequentado alguns eventos em que estavam. No fundo, se sentiu aliviada por ser alguém que seu pai tinha influência.
Podia querer negar, mas era somente assim que conseguiria sair com menos danos possíveis. Ainda pensava em sua carreira como advogada e como até então havia sido dispensada em cada emprego que procurou. Apesar de gostar tanto de , não queria levar uma vida medíocre.
Não conseguia negar que havia se divertido muito, mas estar ali significava que tudo havia ido longe demais.
Passou para os outros papéis e não pode acreditar no que viu, era sua carta de saída livre da prisão.


Epílogo

quase não havia dormido direito pela noite. Mal os primeiros raios de sol saíram, ele se levantou para se arrumar e ir até o fórum, ver como se sairia na sua primeira audiência. Pegou seu ônibus e antes do horário marcado, estava na porta esperando anunciarem o início da sessão.
Ainda estava na delegacia na noite passada, quando o Sr. chegou. Não quis falar com ele, já havia sido muito difícil avisá-lo que sua filha tinha sido presa por sua culpa. Ficou apenas ao longe, até que viu o delegado entregar a intimação nas mãos dele e correu para saber quando poderia vê-la, não poderia ficar sem notícias.
- Amanhã, no primeiro horário ela será ouvida. - foi tudo o que o delegado disse antes de sumir pelos corredores.
E ali estava , esperando chamarem o nome da sua namorada.
Porém as horas foram passando e o tão esperado nome não foi chamado em nenhum momento daquela manhã. Toda a informação que recebeu da recepção foi que o processo havia sido arquivado. Não haveria audiência.
Procurou as amigas de , foi até o escritório do seu pai, mas nada. Ninguém sabia o que aconteceu, ninguém sabia para onde tinha ido e desde aquela noite, desapareceu para sempre da vida de .


Fim



Nota da autora: Podem pedir continuação lol:





Outras Fanfics:
Show Girl - All Time Low/Andamento
- 10. Rat a Tat
- 11. I Dont Wanna be Sad
- Secrets Overloaded - Outros/Restrita - Finalizada
- É verão, sei lá! - McFly - Finalizada
- Uma Aposta Perdida - Outros - Finalizada



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