Capítulo Único
Um ano. 52 semanas. 365 dias. 8.760 horas. 525.600 minutos. 51.536.000 segundos. Um ano que meu coração foi retirado do meu peito. 52 semanas com um vazio que nada preenche. 365 dias que meu sorriso não reflete minha alma. 8760 horas vivendo como um morto-vivo. 525.600 minutos lembrando de cada momento. 51.536.000 segundos lembrando do último segundo que passamos juntos. Sinto-me desconectado do mundo, como se ela fosse a fonte que me deixa enérgico. Como se fosse não, ela é isso.
E, aqui estou eu, mais uma vez descontando tudo na bebida. Não tem como ser diferente, principalmente quando a noite chega e com ela a solidão me sufocando. null null conseguiu virar minha vida ao avesso. Apesar da fala pesada, não me arrependo de nada e se alguém me perguntasse se eu viveria tudo novamente, a resposta sempre seria positiva. Eu a amo e sempre amarei.
Meus pensamentos, como sempre, voltaram para a mulher da minha vida e lembranças de nossos momentos começaram a passar como flashes.
Pode até soar um pouco clichê, mas nos conhecemos em um ônibus. Todos os dias eu pegava o mesmo ônibus, às 7:15h, e ela estava lá. No início, não prestava muita atenção nela, minha cabeça sempre estava cheia de assuntos do trabalho, mas com o passar dos dias, comecei a observá-la. Ela sempre estava vestindo uma blusa qualquer, uma calça jeans, um all star - a cor variava de acordo com o tom da blusa dela - e sempre havia uma mochila consigo. Sempre estava com fones e cantarolando alguma música que ouvia no momento. null null não tinha uma beleza extravagante, onde cabeças viravam para olhá-la, porém, ao meu ver, isso a deixava ainda mais especial.
Eu não sabia como iria falar com ela, não sabia como puxar assunto e isso me deixava nervoso. Mas, eu tinha colocado na cabeça que eu pediria seu número de telefone e puxaria assunto com intuito de chamá-la para um jantar. Minha cabeça rodava ao tentar pensar em estratégias, que tivessem alguma chance de dar certo, contudo nada, que pudesse ser efetivo, passava na minha cabeça.
Olhei pela janela. Faltava pouco para que ela descesse e eu tinha que pensar rápido. Tinha certeza que, se eu não agisse hoje, não conseguiria reunir coragem outra vez. Então, por incrível que pareça, a “brilhante” ideia veio. Peguei um pedaço de papel e uma caneta rapidamente, e comecei a escrever um bilhete para ela.
”Olá, tudo bem? Desculpe se eu estiver incomodando, mas há dias tenho te observado. Você gostaria de sair comigo? Juro que não sou um pervertido hahaha. Se a resposta for sim, amanhã me entregue um bilhete com seu número. Até mais, null.”
Criei coragem, levantei e sentei ao seu lado. Ela levantou os olhos quando me viu sentar, mas logo virou o rosto em direção à janela. Lembro-me de sentir meu coração pulsar fortemente contra meu peito e da minha respiração falhada. Suor escorria na minha testa, mesmo que estivesse frio naquele dia. Saí dos meus pensamentos ao ver ela levantando e toquei em seu braço antes dela sair do ônibus. A moça virou-se, me olhando nos olhos e eu estendi a mão que segurava o bilhete. Só consegui sussurrar, com uma voz extremamente rouca, um “para você” e ela olhou com curiosidade. Apenas balançou a cabeça e saiu. Para ser sincero, eu não entendi se aquilo era um bom ou mal sinal. Até aquele momento, eu ainda não havia escutado sua voz, nem tinha a menor ideia de como seria o som e era algo que eu queria muito conhecer. O que me restava era esperar chegar o dia seguinte, mas a ansiedade e o nervosismo tomaram conta de mim, fazendo com que eu passasse a noite inteira sem conseguir pregar o olho.
Levantei pela manhã e nem consegui comer, meu estômago estava embrulhado demais para isso. Apenas tomei banho, coloquei uma roupa legal dessa vez e saí de casa. Eu estava muito distraído, só conseguia pensar no que viria a seguir. Será que ela iria me responder? E qual seria a resposta? E se ela achasse que eu sou um pervertido? Será que ela foi prestar queixa na polícia?
Eu estava louco com essa situação, tinha que descobrir o mais rápido possível.
Eu estava com os olhos fixos na porta do ônibus, sabia que a parada na qual ela pegava o transporte estava se aproximando e comecei a ficar nervosa e a suar frio. Continuei com os olhos cravados na porta e a vi subir e ela parecia mais linda do que nunca. Nossos olhares se cruzaram enquanto ela entrava, até que se sentou ao meu lado. Não consegui olhar em sua direção, continuei parado feito pedra e continuei todo o trajeto daquele mesmo jeito. Percebi que ela continuou quase imóvel também, só conseguia ouvir o som de sua respiração. Pela primeira vez em minutos sem me mexer, virei a cabeça para o lado oposto e me dei conta que o ponto dela estava se aproximando e não tinha recebido nenhuma resposta de sua parte. Voltei a olhar para minha frente e ouvi ela ajeitando sua mochila para se levantar. Soltei um suspiro triste. Até o momento, eu não tinha nenhuma resposta e senti que não teria mesmo. Pelo canto do olho, a vi se levantar, mas ela continuou parada, sem se mover. Senti o toque de sua mão no meu ombro e virei para olhá-la. Sua mão estava estendida, segurando um pedaço de papel, no qual depositou em minha mão sem dizer nenhuma palavra.
Eu estava com medo de ver. E se tivesse escrito para eu deixá-la em paz? Se ela tiver sido grosseira? Não, espera. O único grosso seria eu, porque eu que a incomodei. Respirei fundo e abri o bilhete. Qualquer pessoa dentro daquele ônibus e ao redor poderia ver o sorriso largo que tinha em meu rosto ao ver que o que estava escrito no papel era o número dela.
Antes de sairmos pela primeira vez, entrei em contato através do número do bilhete. Apesar de ter ficado extremamente feliz na hora, ainda sim fiquei receoso. E se estivesse escrito um número qualquer? Porém, não foi isso que aconteceu. Era seu número mesmo que escrevera no pedaço de papel e começamos a conversar. Conversamos por mensagens de texto, até que perguntei se poderia ligar e ouvir sua voz. Meu Deus, ela tinha uma voz de anjo, tão doce e meiga. Descobri seu nome: null null. null trabalhava em uma escola, era por isso que eu a via todos os dias. Me falou que raramente atrasa e por consequência, pegava um ônibus diferente. Conversamos por horas e horas e parecia que nos conhecíamos há anos. Criei coragem e a chamei para jantar. Perguntei se tinha preferência de comida e ela me falou que amava comida italiana.
Estava muito nervoso, mas confiante. Eu senti que null gostava de conversar comigo. Não sabia se havia despertado algum interesse por mim, contudo eu acreditava que sim. Pedia a Deus que estivesse certo, porque sabia que estava me apaixonando por ela.
Cheguei quase uma hora antes no local combinado para não ter nenhum perigo de atrasar. Será que eu estava ansioso? Eu já havia lido o cardápio tantas vezes que poderia dizer o que estava escrito sem ao menos olhar. Mexi nas mãos, na roupa, até na toalha da mesa que estava sentado. Contava os minutos para vê-la. Quando faltavam dois minutos para o horário combinado, eu a vi cruzando a porta. Meu Deus! Como null null é linda e eu não sabia que poderia ficar ainda mais bonita até vê-la naquele momento. Percebi que cabeças viraram para olhá-la à medida que ela andava ao meu encontro.
-Oi. Faz tempo que chegou? - Ela disse sorrindo e sentou-se à minha frente.
-Oi. Não, cheguei há pouco tempo. - Nunca que eu ia dizer que estava sentado, igual a um pateta, esperando há uma hora. - Você está linda, null. Muito mesmo.
-Obrigada. - A moça respondeu quase sussurrando e vi as maçãs do seu rosto corar de vergonha.
-Vamos escolher? - Perguntei tentando deixá-la à vontade. Ela balançou a cabeça em um gesto afirmativo e chamei o garçom, que logo anotou nossos pedidos.
Conversamos bastante sobre nossas vidas e, a cada minuto que passava, eu me apaixonava mais por ela. null era muito gentil, bondosa e responsável. Morava com uma amiga, dividindo o aluguel, pois havia perdido seus pais ainda na adolescência. Contou que amava lecionar, mas seu sonho era fazer um intercâmbio para Londres, pois estudava relações públicas com foco na língua inglesa.
Disse-me também que treinava taekwondo, mas havia parado há alguns anos, porém tinha desejo de voltar ao tatame.
Nosso jantar havia chegado e em meio a garfadas, continuamos nossa conversa.
Fazia 1 ano desde o nosso primeiro encontro e 11 meses que estávamos namorando. Eu a amava tanto! Porém, o destino nos prega peças e nos coloca em caminhos que fogem do nosso controle. Por acaso podemos fugir do que nos aguarda? Foi esses pensamentos que inundaram minha cabeça quando null chegou, em uma tarde de outono, e me disse que havia sido escolhida para o intercâmbio em Londres. Naquele momento, não tive reação alguma. Minha mente girou, girou e ficou em branco por alguns segundos e, após isso, só me veio à mente como o destino poderia ser cruel.
Como poderia vir à minha cabeça que a mulher que eu amo poderia ir embora, mesmo ela afirmando que seu sonho era esse? Como eu poderia ser tão idiota ao ponto de pensar que null desistiria disso? E como eu poderia querer que ela desistisse de seu maior sonho? Não, eu não poderia prendê-la a mim, isso seria crueldade.
Eu não tinha outra escolha a não ser deixá-la ir. Deixar que ela abrisse suas asas e voasse em direção ao seu sonho.
Mas, não foi fácil. Não foi fácil vê-la partir, abraçá-la pela última vez e ver seu sorriso indo para longe. Porém, tentei demonstrar felicidade ao vê-la feliz. Tentei ser seu apoio, seu porto seguro. Tentei sorrir quando ela me beijou antes de se virar e ir ao portão de embarque. Tentei.
Quando a vi passando pelo portão, desabei. Tudo que eu havia engolido, desde que ela me falou da sua partida, coloquei para fora. Chorei como uma criança, sem me preocupar se alguém iria ver. Chorei de saudade. Chorei pela sua partida. Chorei de medo. Medo dela não se adaptar. Medo que ela se sentisse sozinha. E medo que ela se apaixonasse por alguém melhor do que eu.
Não tinha como esse pensamento não vir à cabeça. Quem sou eu perto daquela mulher maravilhosa? Sou apenas um cara comum, sem muitos atrativos. Mas, ela? null null era a mulher mais maravilhosa que eu conheci na vida. Então, meu corpo estava em um estado de medo misturado com saudade. Ela disse que não tinha como acontecer o que eu mais temia, porque eu era o homem da sua vida. Mas, me pergunto: como? O que eu sou comparado a ela? Aliás, como me comparar a ela? Com seu jeito doce e angelical, null conquista as pessoas por onde passa. Como não se encantar com essa mulher? Era impossível. Antes de conhecê-la, algo já havia despertado em mim, mas quando passei a conhecer, isso ficou ainda mais evidente. A coisa mais fácil da minha vida foi me apaixonar por ela. E o que me resta hoje é a saudade. Saudade dos momentos maravilhosos no qual passamos juntos. Saudade de seus abraços e beijos. Saudade de seu sorriso resplandecente. Saudade até do que não conseguimos viver. Saudade. É o que eu sentia a cada minuto desde que ela partiu.
null disse que voltaria após o término de seu intercâmbio de 30 meses. Porém, se ela não quisesse mais voltar? Se quisesse continuar a viver naquele país desconhecido? Eu sentia pavor apenas por pensar isso. Eu queria tanto sentí-la em meus braços novamente. Olhei para o copo à minha frente. Era assim que eu afogava minha saudade, através de copos de bebida. O que mais poderia fazer, a não ser chorar e beber?
Fui tirado de meus pensamentos ao ouvir meu celular alarmando, me avisando que uma mensagem havia chegado. Olhei e abri um sorriso. Mensagem dela.
”Como você está, querido? Há dias não me responde, estou preocupada. Quando ver essa mensagem, me responda, por favor. Eu te amo,null. Com amor, sua null.”
Eu sorri abobado em meio a lágrimas. Ela disse que me ama! Meu Deus, meu coração bate forte no peito como se eu estivesse ouvindo-a dizer isso pela primeira vez. Fazia dias que null me mandava mensagem, ligava, porém eu não conseguia responder. Eu estava com tanta saudade, se ouvisse sua voz com certeza eu iria chorar piedosamente. Não queria preocupá-la, por isso estava a evitando. Mais uma vez fui tirado de meus devaneios ao ouvir o som da campainha. Estranho, não pedi nada e a portaria não me interfonou. Quem seria e a essa hora? Me propus a levantar e dei passos arrastados até a porta. Ninguém poderia prever o que viria a seguir. Não consegui esboçar reação alguma ao abrir aquela porta. Não consegui me mover, não conseguia piscar o olho e muito menos fechar minha boca que estava totalmente aberta.
- null! Você quer me matar do coração?! - null estava à minha frente. Será que finalmente eu havia enlouquecido de vez? Eu estava vendo e ouvindo coisas? Não conseguia responder, nada saía da minha boca. - Meu Deus, amor! Você está tão magro! - Seu corpo colidiu com o meu em um abraço. Era real. Era ela ali mesmo, na minha frente e me abraçando.
- É você mesmo, meu bem? - Minha voz saiu extremamente rouca e falhada. Não consegui dizer mais nada.
- Sou eu, vida! Que saudade! - Ela disse e não consegui conter o choro. - Não chore, por favor. Eu estou aqui.
- Eu te amo!
- Eu também te amo, meu amor.
FIM...








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