Finalizada em: 04/05/2021

Prólogo

24 de dezembro de 2007:

Deitados na grama de um parquinho próximo de casa, ao lado da garota que me conhecia melhor do que eu mesmo, não poderia querer outra coisa no mundo. Era véspera de Natal e, como sempre, eu tinha tido uma briga enorme com meus pais. havia me encontrado duas horas depois no lugar que sempre chamamos de nosso, desde pequenos.
Foi naquele lugar que nos conhecemos, era para lá que fomos a infância inteira, brincando de esconde-esconde entre os balanços e tubos, até não termos mais tamanho para cabermos nos brinquedos. Foi debaixo da casinha de madeira, mal estruturada, que demos nosso primeiro beijo e também nesse mesmo lugar, eu a pedi em namoro.
Nossos amigos costumavam dizer que iam em nosso casamento e nós acreditávamos. Não havia ninguém como nós. No auge dos nossos dezessete anos, não sabíamos muito o que queríamos da vida, exceto , é claro.
Ela sempre demonstrou todos os sinais de quem sabia exatamente o que estava fazendo e o que queria da vida. E esse foi um dos motivos que fizeram eu me apaixonar perdidamente por ela. Seu coração de ouro, sua força indescritível, sua perseverança e bravura. Era ela quem me segurava nas tempestades e era quem trazia paz e leveza para minha vida. Sempre havia sido ela.
— No que está pensando? — perguntou, deitada em meu peito, ainda olhando para o céu naquela noite fria e estrelada de dezembro.
— Em como vai ser minha vida quando tudo acabar... — suspirei e ela se apoiou no cotovelo, para me olhar de testa franzida.
— O que você quer dizer?
— Você sabe. Em um ano, você vai para a faculdade e eu vou ficar aqui, preso nessa cidade com meus pais. — Não tinha coragem de olhar para ela, mas já sentia que aquele era o começo do nosso fim.
Havia sido esse o motivo das brigas com meus pais. Eles não queriam que eu fizesse faculdade, nem mesmo as locais. Queriam que eu ficasse e tocasse o negócio da família. Não tinha futuro, o Reginald’s já tinha tido seu momento de glória, mas meus pais simplesmente não conseguiam aceitar aquilo.
Eu queria lutar contra, queria ser rebelde e jogar tudo para o alto sem olhar para trás, mas era fraco demais para aquilo.
Apesar de odiar o fato de minha mãe não conseguir se impor sobre as regras estúpidas do meu pai, não conseguia cogitar deixá-la. Eu sabia que ela ia sofrer e me matava por dentro. Eu tinha certeza que meu pai não a maltrataria, mas ele também não era o homem mais carinhoso e romântico do mundo. E minha mãe precisava de amor, de afeto. Eu era a pessoa destinada a fazer aquele trabalho.
Se fôssemos apenas eu e papai, eu não teria dúvidas, mas minha mãe precisava de mim. Eu via isso no olhar dela todas as vezes que a mesma discussão começava. Ela queria o melhor para mim, mas iria sofrer todos os dias, até seu coração não aguentar mais esperando meu retorno. Jamais conseguiria carregar esse peso.
— Não fala assim. A gente vai conseguir. Vamos sair dessa cidade horrorosa e vamos ser muito felizes juntos. — Ela afirmou, com aquele velho sorriso no rosto, aquele que tanto me confortava.
— Você vai conseguir! — Sorri, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, deixando um carinho em sua bochecha com o polegar. — Eu vou ficar. A gente não tem por que se machucar se enganando desse jeito.
ficou calada. Já tínhamos tido aquela mesma conversa mil vezes e ambos sabíamos como terminava. Naquele dia, eu não estava no clima para repassar as mesmas falas. Eu só queria segurá-la o mais perto que conseguisse. E acho que ela percebeu, pois apenas concordou e deitou de novo em meu peito, circulando pelo tecido da minha camisa o dedo, traçando linhas imaginárias.
— Vamos dar um jeito. Mesmo que fiquemos longe um do outro, vamos dar um jeito. Não vamos ser como esses casais que não sobrevivem à distância. Nós vamos ser diferentes. Vamos passar por isso e seremos muito felizes.
Suspirei, fechando os olhos e fazendo um pedido sincero sob a luz daquelas estrelas.
— Eu espero que sim, .



Capítulo 01

— Conseguimos, galera. Estamos livres desse inferno! — pulou em minhas costas, derrubando meu capelo no chão.
Eu ri, empurrando-o de cima de mim, juntando o objeto, encaixando-o em minha cabeça de novo. Aquele seria meu momento de glória. A formatura do ensino médio. Fotos e um baile. E então tudo estaria acabado.
Mas, naquele dia, eu não me permitiria ficar amargurado. Muitos amigos e conhecidos estavam se formando comigo. Eu tinha que ficar feliz por eles. Estava muito orgulhoso, para ser honesto. Todos deram seu máximo e atingiram suas metas e objetivos. Nos separaríamos, mas eles nunca estariam longe de mim realmente. Todos estariam para sempre guardados em meu coração.
— Sim, conseguimos. — Dei dois tapinhas em suas costas, vendo o abraçar em seguida. — Sem mais detenção por grudar chiclete embaixo das carteiras ou ir para a diretoria por darmos um soco em um idiota que resolveu mexer com nossas garotas.
— Eu não posso negar. Vou sentir falta disso! — Gargalhou meu amigo. — Eu adorava irritar esses velhos. Será que ainda podemos?
rolou os olhos, sorrindo e negando com a cabeça.
— Vocês não vão mudar nunca? — Cruzou os braços, olhando-nos em reprovação exatamente como nossa diretora faria.
— Esse é o objetivo. Achei que soubesse disso, ! — apertou sua bochecha, fazendo-a acertar um tapa em sua mão. — Você nem sequer virou uma CEO ainda e já está agindo como uma.
— Eu não-
— Ela vai ser a melhor! — Interrompi, recebendo um olhar significativo dela. Sabíamos o que tinha por trás daquelas palavras.
— Seus pais continuam irredutíveis? — indagou, ficando sério de repente.
Eu havia prometido não ficar triste, mas era difícil. Eu estaria me despedindo do amor da minha vida e meu melhor amigo em menos de um mês. Eu ficaria sozinho.
— Não, mas quer saber? Não tem problema. Quando vocês voltarem para me visitar, e vocês vão, eu vou ter o restaurante mais famoso desse fim de mundo e nós três vamos comer a melhor comida que já provaram, mesmo tendo provado de tudo em suas aventuras. Vamos sentar e rir de como éramos idiotas, relembrando nossos dias atuais. — Respondi, não permitindo que o clima ruim tomasse conta daquele momento.
Era assim que eu queria lembrar meus últimos momentos com meus melhores amigos: felizes. Rindo com a inocência de quem não conhecia absolutamente nada do mundo ainda.
— Quer saber? É isso mesmo. Mas vamos encher muito a cara. — apontou para mim. — Tomar um daqueles porres que te faz se arrepender por ter nascido tão idiota.
Eu cruzei os braços, deixando que um sorriso se espalhasse pelo meu rosto.
— Tudo bem. Combinado.
— É uma promessa? — Ele estendeu o punho, para que eu fizesse nosso toque.
— Você sabe que sim. — Encostei o meu punho no dele, selando nosso compromisso para alguns anos a frente.

•••

— Bom, eu acho que é isso. — Falei, fechando o porta malas do carro que estava indo para a faculdade.
Ela estava indo para a NYU e eu não poderia estar mais feliz. Tinha certeza que ela seria uma mulher de negócios excelente. Seria a mais poderosa e comandaria sua própria empresa em pouco tempo.
Caramba, se deixassem, aquela mulher seria capaz de dominar o mundo inteiro.
— Eu odeio isso! — Ela falou, emburrada. — Queria que estivéssemos indo juntos. Todo mundo foi embora, . Não é justo você ficar para trás. — Segurou minhas mãos. — Ainda dá tempo de você se inscrever. Você pode ir no próximo semestre e-
... — sorri, segurando seu queixo delicadamente. — Está tudo bem. Não vamos tornar isso mais difícil do que já é. Nós prometemos, lembra? — Segurei seu rosto delicadamente, depositando um beijo com gosto de despedida em seus lábios.
— Eu sei, mas é que-
Ah-ah... — sorri. — Sem mais discussões. Você vai entrar nesse carro, seguir seu caminho e eu vou ficar aqui e fazer o que o destino me deu para fazer. — Massageei seus ombros, mantendo o bom humor o mais leve que podia. — Além do mais, eu vou te visitar. Você é minha desculpa perfeita para tirar semanas de folgas a cada mês. Nova York não é tão longe assim, não é mesmo?
— Só a cinco mil quilômetros de distância... — respondeu .
— Só isso? Pfff... Posso ir andando. É aqui do lado! — Ri e ela não resistiu, acompanhando-me.
— Você é um idiota.
— Mas você ainda me ama mesmo assim, não é?
Seus olhos se encheram de lágrimas e meu coração se apertou. Eu não queria que ela dirigisse chorando ou chateada. Poderia ser perigoso.
— É claro que eu amo. Você sabe que sim.
— Então, pronto. Agora sem mais lágrimas, senão eu vou chorar também e você sabe como eu choro feio! — Falei, passando o dedo embaixo de seus olhos, secando-os.
riu, limpando os próprios olhos e fungando.
— Tem razão, estou sendo uma criancinha. Você não vai se aguentar de saudade. Eu sei. — Gabou-se — E aí você vai fazer seu negócio se expandir tanto, que vai abrir uma franquia em Nova York só para ficar perto de mim. Sei de toda sua obsessão sobre mim... — sussurrou a última parte e eu sorri.
Ela estava se esforçando, mas quase podia ouvir seu coração se partir de tristeza. Sabia disso, porque o meu se encontrava do mesmo jeito.
— Droga, você me pegou. Descobriu todo meu plano. E agora?
— Agora só te resta pôr em prática, senão você soa como um quebrador de promessas e o universo te castiga. Não é isso que queremos, não é?
— Claro que não. — Olhei em meu pulso, verificando a hora em meu relógio — Mas se você não quiser que eu te sequestre agora mesmo, você tem que entrar naquele carro em dez segundos.
ergueu uma sobrancelha, desafiando-me.
— É mesmo?
— Está duvidando de mim? — Segurei sua cintura, fingindo que ia carregá-la nas costas.
— Tudo bem, tudo bem. Já entendi! — Riu, afastando-se, indo até a porta do carro.
Depois de mais um beijo, dessa vez profundo e com um toque de tristeza a mais, ela finalmente entrou no lugar do motorista e fechou a porta.
— Você não vai me esquecer, não é?
— Nem em um milhão de anos. — Abaixei a sua altura. — A gente vai se ver mais rápido do que você imagina.
— Tchau, cowboy! — Ela sorriu, puxando-me para um último selinho. — A gente se vê em breve. Não esqueça da sua promessa.
— Não vou.
Fungando uma última vez, ela deu partida no carro, olhando para a frente. Estranhei que ela nunca pisou no acelerador. Ao invés disso, abriu a porta e se jogou em meus braços, dando-me um abraço apertado.
— Eu quero que você vá comigo! — Falou, com o rosto encaixado em meu pescoço.
— Sabe que eu queria isso mais que tudo também... — respondi, passando a mão em seus cabelos. — Mas você vai viver experiências lindas e maravilhosas. Eu amo você, , mas o seu futuro te espera logo ali na frente, a cinco mil quilômetros daqui. Eu nunca conseguiria viver em paz comigo mesmo, se fosse egoísta o suficiente para não te deixar ir. Ou de ir com você. — Olhei em seus olhos, agora inundados de lágrimas. — As coisas são como tem que ser. Lembre-se, estarei sempre segurando seu coração. Tudo bem?
Ela limpou as lágrimas, forçando um sorriso.
— Isso basta. Por enquanto... — e então, entrou no carro, metendo o pé no acelerador, em rumo à vida maravilhosa que ela teria.
E eu fiquei para trás, vendo-a se distanciar aos poucos, até sumir completamente da minha vista.



Capítulo 02

Seis meses haviam se passado. As coisas ficaram meio estranhas entre mim e . Eu já esperava que aquilo pudesse acontecer, agora não éramos mais os adolescentes que tinham todo o tempo do mundo, a vida adulta estava chegando aos poucos e as responsabilidades acabaram consumindo grande parte do nosso tempo.
Ela tinha que se dedicar à faculdade e eu sabia que não deveria estar sendo fácil. Eu tinha o restaurante para tocar e por incrível que pareça, depois que passei a administrar as contas e todo o resto, o Richard’s recuperou grande parte da sua clientela, tanto antiga, quanto recém-chegada.
Meus pais ficaram tão felizes com o resultado de tudo, que resolveram me presentear com uma passagem para Nova York. Uma pequena férias de duas semanas.
Ainda não tinha contado a . Queria que fosse surpresa. Mal podia me conter, enquanto arrumava a mala, preparando-me para a viagem do dia seguinte. Finalmente nos encontraríamos depois de seis meses de distância e estranhamento.
Tinha certeza que aquilo acabaria no momento que estivéssemos nos braços um do outro novamente.
Com esse pensamento, joguei-me em minha cama, fechando os olhos, sorrindo como um idiota, caindo em um sono, viajando para uma terra de sonhos, onde eu e minha garota estávamos felizes e unidos, muito longe daquela realidade que vivíamos.

•••

Atenção passageiros do vôo 454, chamada para embarque no portão 7. — A voz ecoava pelo aeroporto, fazendo-me levantar do banco e seguir em direção ao portão que a moça havia avisado.
Meu coração parecia que ia sair pela boca. Nunca havia estado tão ansioso em toda a minha vida.
Sentei-me em minha poltrona, que por sorte era na janela. Eu poderia ver tudo, as nuvens, o céu de tão perto, as pessoas lá embaixo parecendo formiguinhas de tão pequenas que ficavam. Eu estava feliz, não apenas por estar indo encontrar , mas por aquela ser minha primeira viagem em toda a minha vida. Era tudo uma grande novidade.

Após algumas horas de voo, finalmente aterrizamos. Fui recebido com o frio nova iorquino logo que abriram as portas do avião, senti aquela brisa que cheirava a vida. Era muito diferente de Illinois, claro.
Saí do aeroporto ansioso. Minhas pernas tremiam, meu coração batia cada vez mais rápido. Eu estava indo encontrar com a mulher que eu amava. Depois de tanto tempo, minha vida parecia estar entrando nos eixos de novo.
Eu só precisava fazer aquela surpresa para e todo o resto não ia importar mais. Seríamos felizes juntos. Superar todas as nossas dificuldades e nada nem ninguém ficaria em nosso caminho mais.

O caminho para o dormitório em que ela ficava era muito bonito, muitas pessoas pelas ruas, paisagens bonitas, cara de cidade grande. Não era à toa que ela havia se apaixonado por Nova York. A selva de concreto era mesmo hipnotizante.
Desci do táxi em frente ao endereço que ela havia me mandado por mensagem. Eu tinha pedido a ela algumas semanas antes com a desculpa de que a mandaria um presente. Ela só não sabia que o presente seria eu.
O plano era esperar por ela na porta de seu quarto, já que não sabia direito como funcionava seus horários e eu não queria atrapalhá-la, mas, coincidência do destino ou não, ela estava saindo com algumas amigas exatamente naquele momento.
E, uau! Eu parecia estar vendo uma miragem de outro mundo! Ela tinha conseguido ficar ainda mais bonita e eu nem sabia que aquilo era possível.
Seus lindos cabelos balançavam como em um comercial de shampoo, conforme ela andava. Seu sorriso era contagiante ao redor de tanta energia boa que emanava ela e seus olhos... ah, seus olhos tão marcantes e profundos diziam tantas coisas, que era possível descrever um universo inteiro que cabia neles.
Aquela era minha garota. Minha . A mulher que eu queria casar, ter filhos, formar uma família e viver junto até o fim de nossas vidas.
E era por isso que eu estava ali.
Havia decidido que a pediria em casamento, quando tudo no restaurante começou a dar certo. Eu teria uma boa estabilidade financeira, poderia dar a ela a vida que merecia. Não passaríamos por dificuldade, se tudo continuasse da mesma forma — o que, se dependesse de mim, demoraria muito.
Eu estava na cidade em que ela havia escolhido para ser sua por um tempo por aquele motivo. Sempre que ela se lembrasse do passado, iria se lembrar como aquela cidade lhe trouxe novos horizontes, sempre teria uma boa lembrança. E no meio de tudo aquilo, teria a lembrança que eu, o cara que ela amava, havia lhe pedido em casamento ali, no lugar que ela escolheu para amar.
Andei decidido até , onde ela já quase dobrava a esquina com suas amigas.
! — Chamei, vendo-a parar e virar, procurando de onde chamaram seu nome.
Seus olhos se arregalaram por dois segundos e seu sorriso murchou assim que me viu.
? — Exclamou, surpresa.
, está tudo bem? — Uma de suas amigas perguntou.
— Claro, está sim. Podem ir na frente, eu encontro vocês depois! — Ela sorriu e as garotas apenas afirmaram, seguindo seu caminho. — O que você está fazendo aqui, seu doido? — andou até mim e me abraçou apertado.
— Vim ver você. Não aguentei de saudades. — Dei de ombros.
... Seus pais, eles-
— Eles concordaram, me deram a passagem e tudo. As coisas estão bem por lá! — Falei como se não fosse nada. E não era.
Eu estava tão feliz de ter minha garota de volta em meus braços, mas algo estava estranho.
Quer dizer, passamos meses separados e nos desencontrando, e eu sei que demos uma leve esfriada, mas aquilo era normal, todo casal passava por aquelas dificuldades de distância. Especialmente os casais como nós, que já namoravam há bastante tempo. Então por que eu sentia que não estava feliz como achei que estaria?
— Achei que você fosse ficar mais animada. Já encontrou alguém para me substituir? — Brinquei, cutucando-a de leve.
— Não, nada disso. — Ela sorriu, segurando minha mão. — Deixa de ser bobo. Eu só fiquei surpresa, não esperava que você viesse até aqui. Só isso! — Deu-me um selinho. — Por que não me disse nada?
— Ora, esse é o conceito de uma surpresa. Não contar nada para a outra pessoa.
— Você é maluco, E Reginald.
— Eu sei, mas sou mais louco ainda por você! — Coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. — Mas eu não vim te atrapalhar. Você estava com suas amigas. Volta para elas, eu posso ir para um hotel e esperar. Janta comigo?
me olhava com um vinco na testa, mas, mesmo assim, sorriu.
— Claro, é claro que janto! — Balançou a cabeça, confirmando. — Me pega às oito. Eu deixaria você ficar no dormitório, mas temos regras e-
— Ei, está tudo bem! — Tranquilizei-a. — Eu vou para um hotel e te encontro aqui mais tarde. Não é problema nenhum.
— Ta. Até as oito, então! — Deu-me mais um selinho e saiu.
Não era bem aquele tipo de recepção que eu estava esperando, mas compreendia que ela foi pega desprevenida e não estava conseguindo assimilar tudo. nunca foi boa em processar as coisas muito rápido, especialmente situações que ela não estava preparada.
Peguei minha mala e fui andando até a próxima rua para pegar um táxi novamente até o hotel mais próximo, o que não demorou mais que vinte minutos. Tive sorte de encontrar um local barato e decente para ficar até a hora que iria encontrar de novo com minha namorada.
Instalei-me no quarto, tomei um banho e tirei um belo cochilo de duas horas, bem merecido depois de ter dormido muito mal no voo. Tentei ver TV por um tempo, mas não consegui me aguentar de ansiedade e acabei colocando uma roupa mais arrumada, decidindo explorar um pouco a cidade. Já estava ali, não custava nada olhar por aí.



Capítulo 03

tinha razão. Nova York era um lugar mágico. Eu mesmo estava completamente abismado com a beleza da cidade, a diversidade de pessoas. Parecia um mundo completamente novo para mim. Conseguia entender por que muitas pessoas não queriam voltar para sua cidade de origem depois de conhecerem.
Eu mesmo, se não fosse tão acostumado em cidade pequena, poderia facilmente me adaptar por aqui.
Voltei para o hotel sentindo-me revigorado e feliz. O relógio batia sete horas, o que me fez correr para tomar um banho e me arrumar para encontrar .
Durante o passeio, encontrei um restaurante bem família, atendimento e comida excelentes, além da arquitetura do lugar ser muito bonita, apesar de modesta. Decidi que levaria lá, mesmo que talvez ela já tivesse ido.
Cheguei em frente ao seu quarto, batendo na porta três vezes, antes que ela me atendesse, o que não demorou mais que alguns segundos.
— Oi! — Cumprimentei-a. — Wow, você está linda.
— Ah, obrigada! — Sorriu. — Podemos ir?
— Claro.
Após pegar sua bolsa e rodar pelo quarto umas duas vezes, como já era de costume, saímos a pé mesmo. A noite estava fresca e a brisa era gostosa o suficiente para uma caminhada à luz da lua — ou à luz da cidade, já que a noite parecia um parque de diversões de tão iluminado.
— Como estão as coisas por aqui? — Perguntei, puxando assunto.
Ela estava quieta, até demais para o meu gosto.
— Está tudo bem. E você?
— Não estão perfeitas, mas estão melhor do que eu esperava. — Respondi, colocando a mão no bolso.
O clima estava estranho entre nós dois e eu não sabia direito como consertar aquilo.
Conversamos algumas trivialidades durante o caminho, chegando rapidamente em frente ao restaurante. se virou para mim, seu semblante não me dizendo coisas boas.
, eu não posso fazer isso. — Afirmou e eu franzi o cenho.
— Jantar? Tudo bem, a gente pode ir para outro lugar.
— Não, não é isso. Eu quis dizer, não posso mais continuar com você. — Falou seriamente.
— Mas, por quê? Foi alguma coisa que eu fiz?
— Não, não. Claro que não! — Segurou minhas mãos. — Você não fez nada de errado.
— E é por isso que você está terminando comigo? — Soltei suas mãos.
, por favor... Isso não está funcionando mais. Nós não estamos funcionando. — Gesticulou entre mim e ela. — Vamos acabar nos machucando.
— Isso tudo é porque eu vim te ver? Foi um erro eu ter vindo?
— Sim, foi. — Falou exasperada. — Eu te conheço há muito tempo, . Sei exatamente suas prioridades. Acha que eu não sei seus planos de vir aqui?
— Meus planos?
— Ora, por favor... Vai me dizer que não foi para me pedir em casamento que você veio?
Fiquei calado. Eu realmente tinha essa intenção, mas não imaginava que aquela fosse ser a sua reação. Estava sentindo muitas coisas, mas decepção era a maior delas.
— Viu? Como você é previsível. — Negou com a cabeça. — Eu não posso continuar fazendo isso.
— Você... Não quer se casar comigo? — Abaixei o tom de voz.
— Acho que queremos caminhos muito diferentes, . — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu não posso te prender em uma situação que eu não quero. Pelo menos, não agora.
Corri a mão pelos cabelos, sem saber o que fazer. Aquilo tinha ido ladeira abaixo muito rápido. Eu não esperava que fosse acontecer.
— Então é isso?
... Eu preciso que você entenda que eu tenho outros sonhos, outras prioridades. Eu te amo, mas não vou te deixar me esperando por anos, até eu estar pronta para algo que talvez nunca esteja realmente preparada. Não é justo. — Ela disse, aproximando-se e colocando as mãos em meu rosto.
— Tudo bem, . — Disse, segurando o nó que se engatava em minha garganta. — Eu agradeço sua honestidade, mas lá no fundo eu queria que você continuasse me iludindo...
balançou a cabeça em negação.
— Mas se você quiser se perder por um tempo, eu vou seguir minha própria estrada. — Não tinha mais o que discutir ali.
Vai ver não éramos para ser. Talvez eu tenha me enganado e entendido todos os sinais errados. Talvez eu não tivesse visto que minha amada tinha ido para outro lugar muito diferente da minha realidade.
Era o fim de nós dois.
Não adiantaria ligar, entrar em contato, bater na porta. Eu já sabia que dentro daquela casa não teria ninguém para me atender. Talvez eu pudesse fazê-la mudar de idéia, mas a que preço? Eu esperava por algo mais, estava disposto a segurar seu coração de pedra, mas de que adiantaria?
— Vem. — Chamei, dando meia-volta e seguindo de volta em direção ao seu dormitório.
— O que você está fazendo?
— Vou te deixar no seu dormitório e depois vou para casa. — Falei, andando na frente, olhando rápido para trás, apenas para ter certeza que ela estava me seguindo.

Chegamos em frente ao seu local, num silêncio tão alto, que era difícil escutar qualquer outra coisa.
— Está entregue! — Falei baixo, mal conseguindo olhá-la nos olhos.
...
— Adeus, . — Respondi, dando as costas.
Eu não conseguiria ficar ali por muito mais tempo.
Ela se perdeu e eu iria achar um lugar para me esconder.



Capítulo 04

— Então ela só terminou assim? Sem mais nem menos? — perguntou, enquanto bebericava sua cerveja ao meu lado, no balcão do meu restaurante.
Ele tinha conseguido algumas semanas de folga, algum tempo depois de eu ter deixado para trás e voltado para minha vida pacata e previsível.
— No fundo, eu entendo. — Falei. — Agora que parei de remoer todos os dias sobre isso, eu consigo compreender seu sentimento.
— Mas isso não está certo, cara. — Ele disse, indignado — Achei que eu fosse ser padrinho do casamento de vocês.
— Você ainda pode ser meu padrinho de casamento, só que com outra pessoa. — Sorri.
acompanhou meu namoro com a de perto, era o maior torcedor de nós dois. E ele era como um irmão para mim, compartilhávamos emoções. Sempre foi daquele jeito. Se ele estava triste ou com problemas, eu fazia de tudo para ajudá-lo e vice-versa. Naquele momento, eu estava precisando de um ombro amigo e ele estava lá, como sempre esteve.
— Você deveria ter me ligado... — disse . — Eu teria dado um jeito de vir te ver.
— Acho que você não poderia fazer nada para me ajudar quando acabou, .
— Besteira. Eu teria te levado para várias baladas, encher a cara e pegar muita mulher. — Ele deu um soco de brincadeira em meu braço. — Pelo menos você não teria ficado enfiado em um quarto sofrendo. — Falou e eu nem protestei, porque era verdade. — Viu? Se tivesse saído comigo, não tinha passado por toda essa merda. Tem muito o que aprender ainda comigo. É assim que se supera um grande amor.
— É assim que você supera um grande amor, você quer dizer, né? — Ri.
era o maior galinha. Nunca se prendia em ninguém e sempre que estava se apegando, dava um jeito de pular fora. Ele se apaixonou uma única vez e teve o coração partido. Desde então, nunca mais se envolveu seriamente com ninguém. Dizia que o amor não era para ele.
— Tanto faz. Mas ainda podemos ir para balada pegar muita mulher, né? — Riu, inclinando sua garrafa em direção à minha.
— Claro, cara. Vamos lá! — Bati a garrafa no balcão, levantando-me.
— Assim que se fala.



Epílogo

Doze anos depois...

Lá estava eu, mais uma vez sentindo-me vazio e sem rumo, acordando de ressaca, após mais uma noite de balada e bebedeira. Eu não sabia mais o que tinha que fazer para sentir tudo entrar nos eixos de novo.
Perguntava-me o que eu havia feito da minha vida. Olhando para trás, percebi que não tinha aproveitado absolutamente nada. Eu era apenas mais um cara desesperado por amor, que não se encontrou rápido o suficiente e acabou se metendo por caminhos que não tinham volta.
Depois de ter terminado com , minha vida inteira se resumiu ao restaurante e festas, onde encontrava uma parceira por noite. Aquilo me supriu por um tempo, mas não o bastante.
A bebida não amortecia mais a dor da solidão e o olhar decepcionado dos meus pais me matava sempre que eles me viam no dia seguinte. Mesmo que eu tivesse levando minhas obrigações seriamente, mantendo o restaurante funcionando melhor do que nunca e conseguindo até mesmo abrir algumas franquias pela cidade com o passar dos anos, eles tinham a esperança de que o filho deles não se tornasse exatamente a pessoa que eu estava me tornando.
Foi quando Carlie apareceu. E sua presença foi como um sopro de vida e eu me senti jovem e imaturo outra vez. Tínhamos tanto em comum, sonhos e metas iguais. Em pouco tempo, ela se tornou minha parceira completa. A peça fundamental que faltava em meu quebra-cabeça.
Meus pais ficaram felizes com sua chegada e ela parecia adorar a companhia deles. Então, eu a tornei minha esposa.
Longos e felizes oito anos, até as brigas começarem. Todos os dias. Era exaustivo e ninguém sabia. Não sabia mais o que fazer. Eu não aguentava mais, Claire também não. Não havia uma saída para o labirinto que criamos. Então, optamos pelo divórcio e foi como um sopro de liberdade. Eu fiquei feliz por ela, pôde reconstruir sua vida longe do lugar que não conseguia mais nem pôr os pés sem que se estressasse logo na entrada.
Mas eu fiquei para trás, perdido e sem rumo, sozinho, sem ter um lugar para chamar de meu. Ainda podia contar com , mas, assim como eu, ele cresceu e achou o amor da sua vida, vivia muito feliz com sua amada. Jamais poderia ser o amigo que atrapalhava a vida do casal, só porque estava com problemas. Nunca faria aquilo com meu melhor amigo, meu irmão.
Eu baguncei minha vida, eu mesmo tinha que consertar.
Mas não naquele dia.
Em outro momento, quando tivesse me sentindo preparado para enfrentar o mundo de frente. Sim, eu era um covarde.

Seis meses após o divórcio e aquela era minha vida: bebidas, baladas e sexo vazio com mulheres desconhecidas. Eu precisava achar meu caminho de novo.
Eu não precisava continuar perdendo o controle.
Pensando nisso, levantei-me do sofá, com a cabeça explodindo, ainda não estava pronto para sair daquela situação, mas com certeza estava começando a ficar cansado.
Tomei um banho gelado, arrumei-me decentemente e saí para comer. Não estava com a menor disposição para preparar algo para mim mesmo.
Entrei no primeiro estabelecimento que vi que não tinha cara que seria fechado pela vigilância sanitária, sentando-me em uma das mesas, sendo rapidamente atendido pela garçonete — muito simpática, aliás, quem sabe depois eu não pedisse o número dela?!
Fiquei mexendo no celular, esperando minha comida ficar pronta, quando uma sombra se formou em minha mesa.
— Com licença, será que eu posso me sentar aqui? — Ouvi a voz, antes mesmo de levantar a cabeça para olhar.
Quase caí para trás, quando reconheci aquela voz. Eu jamais esqueceria aquele tom doce e gentil.
Olhei para a mulher parada em minha frente, com um sorriso genuíno nos lábios.
Céus, ela estava tão bonita!
? Meu Deus.
— Oi, . Quanto tempo?
— Tempo demais! — Apontei para a cadeira em minha frente e ela se sentou, colocando a bolsa no encosto.
— Que bom te encontrar de novo. — Ela sorriu e eu senti meu rosto repetir seu ato automaticamente. — Parece que nossos caminhos se cruzaram novamente...
— Digo o mesmo, , digo o mesmo.



FIM!



Nota da autora: Sem nota.

Outras Fanfics:
Best Years (5 Seconds of Summer)
Sight of You (5 Seconds of Summer)

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