27. Forever Winter

Última atualização: 25/02/2022

Prólogo

O amor às vezes dói muito mais do que as pessoas nos contam. Minha mãe costumava me dizer que ele era aquele friozinho na barriga misturado com a adrenalina do desconhecido. Eu sempre duvidei que fosse mesmo possível sentir as coisas dessa forma ou as tais borboletas que todos comentam por aí.
Obviamente eu estava errada.
Conhecê-lo foi algo totalmente inesperado. Eu não tinha sequer planejado ir àquela festa, na verdade, eu havia recusado todas as vezes que Julie tentou me convencer, dizendo que era sua única chance de ficar com um dos caras mais lindos do time de futebol americano.
Nada daquilo me atraía.
E, mesmo assim, lá estava eu, fazendo as vontades da minha melhor amiga, porque, bem… ela era uma das melhores pessoas da minha vida e já tinha feito muito por mim.
O barulho da música era absurdamente alto, assim como o tom dos grupos de pessoas que conversavam de forma acalorada. A casa onde a festa acontecia estava abarrotada, mas aquilo não me incomodava nem um pouco, eu não era uma daquelas pessoas frescurentas que não gostava de ser tocada a todo custo. Eu gostava do calor humano, das conexões, me fazia sentir viva.
O fato é que eu estava próxima das provas finais no meu último ano do colegial, logo, precisava de boas notas para conseguir ótimas faculdades. Meu plano era sair dali, no máximo, meia-noite, para que pudesse acordar no outro dia bem cedo e recuperar todo o estudo que havia perdido durante todo o sábado.
Julie não apenas me arrastou para a festa, mas, também, para suas compras e conversas sobre o tal cara gato.
Eu não era uma ótima amiga. Eu era uma amiga do caralho.
O mais engraçado é que, pensando em todos os palavrões que eu xingaria a minha amiga por ter sumido — algo totalmente previsível —, eu esbarrei em um dos caras mais desejados do meu ensino médio. Mas a verdade é que, apesar de ouvir falar sobre ele o tempo todo, eu nunca havia demonstrado interesse algum em realmente conhecê-lo.
Não devido ao clichê da garota perfeita que se desinteressa pelo popular da escola. Não. Eu definitivamente não me interessava por ninguém.
Simplesmente porque eu tinha um plano e nada poderia arruiná-lo.
Exceto, é claro, que ele foi.
Quando entrou na minha vida.

Capítulo 1

S U M M E R


He says: Why fall in love
Just so you can watch it go away?


— Não, isso não faz sentido algum — o cara sentado em minha frente riu, totalmente desacreditado do que eu dizia.
— Estou te dizendo, está nas pesquisas. Noventa e nove por cento dos jovens encontram seu verdadeiro amor entre os dezoito e vinte e cinco anos — afirmei, convicta, parando para tomar um pouco do café quente que eu havia pedido.
Ele me olhou incrédulo, abrindo a boca como se estivesse simplesmente desacreditado na minha audácia em dizer aquilo, então caiu na risada. Aquilo teria soado completamente normal e não me afetaria de maneira alguma, se ele não tivesse um dos jeitos mais contagiantes e únicos de rir. Cada vez que eu dizia algo que ele achava muito engraçado, desde que tínhamos nos esbarrado naquela festa da fraternidade, eu o via jogar a cabeça para trás, gargalhando, e depois abrir um sorriso contagiante.
Aquele maldito sorriso.
— Não vou comprar essa até eu chegar à minha casa e ler algum artigo com, no mínimo, uns bons nomes confiáveis assinados no final. — Ele tinha um sorriso brincalhão no rosto ao dizer aquilo. — De qualquer forma, acho que deveríamos nos conhecer melhor. Fale sobre você.
— Já falei — dei de ombros, dando mais um gole em minha bebida. — Meu nome é…
— me cortou, cruzando os braços. — Me conte algo real sobre você, além do seu nome.
O encarei por alguns instantes, sem acreditar em como ele era direto sobre as coisas e acabei sorrindo.
— Certo, — o chamei pelo nome completo, me recostando na cadeira enquanto pensava. — O que você quer saber?
— O que gostaria de me contar?
Tombei a cabeça levemente, ponderando o que ele havia me perguntado. Eu não tinha pensado no que diria.
Ninguém nunca tinha me questionado daquele jeito tão intenso.
— Meu maior sonho é entrar para a Juilliard — deixei um sorriso escapar.
Eu não sabia exatamente porque aquela tinha sido a primeira coisa a cruzar meu pensamento. Afinal, eu mal o conhecia para sair despejando informações sobre o maior sonho da minha vida.
Mas tinha algo naquele cara que me atraía como um imã.
Seus olhos me encararam por alguns instantes e eu notei que engoliu em seco, desviando a atenção para tomar um gole de sua bebida. Ficou claro que não ajudou em nada quando vi sua expressão um pouco mais séria do que antes e os olhos se estreitaram.
— Desculpa…eu falei algo?
De repente, me senti nervosa pela primeira vez em sua presença.
— Não! Claro que não — negou com a cabeça, rindo nervoso. — Só achei coincidência que o seu sonho seja o mesmo da minha irmã mais nova e, bom, minha melhor amiga.
De repente me dei conta de uma coisa, talvez eu soubesse quem era a irmã dele.
… — murmurei o sobrenome. — Sua irmã é Samantha ? — riu com a minha reação, assentindo brevemente.
A garota era simplesmente uma lenda entre todas as pessoas que estavam dispostas a seguir carreira em algo que envolvesse instrumentos musicais. Ela era simplesmente uma das pianistas jovens mais talentosas que já haviam existido.
Ela, sem dúvida, já tinha uma vaga garantida na Juilliard desde sua infância.
— Ela é simplesmente incrível.
— A Sam é sim. — Tinha um brilho em seu olhar ao falar dela e aquilo não passou despercebido aos meus olhos. — Posso apresentar vocês duas.
— Já querendo me apresentar para a família? — brinquei, risonha.
Eu não sabia o que ele tinha, mas me deixava levemente nervosa e à vontade ao mesmo tempo.
— Qual problema? — arqueou uma das sobrancelhas, dobrando os braços sobre a mesa.
— Acho que precisamos, no mínimo, estar apaixonados para isso, — o encarei bem no fundo dos olhos.
Não sabia exatamente como tínhamos chegado àquela conversa com apenas uma hora dentro daquela cafeteria, mas não importava, eu queria desesperadamente saber mais sobre ele.
— Por que se apaixonar? — Seu tom de voz era calmo e ele me encarava sem sequer piscar. — Só para ver isso ir embora?
Engoli em seco ao escutar aquilo.
Só, então, me dei conta de que existia uma tristeza profunda em seu olhar, algo que eu não havia notado até então.
era como um quebra cabeça e eu não conseguia parar de querer encontrar todas as suas peças só para ver onde aquilo iria dar. E, por mais que algo dentro de mim clamasse, me avisando que ele provavelmente iria me destruir, eu estava disposta a tentar.


OUR SUMMER

I’ll be summer sun for you forever.


O verão estava passando mais rápido do que eu gostaria, então eu tinha me comprometido a aproveitar cada pedacinho dele. Não era exatamente a minha estação favorita do ano, mas, naquele ano, tudo parecia estar se encaixando tão bem, que eu queria dar uma oportunidade a ela.
Da espreguiçadeira onde eu me encontrava, o sol batia forte contra minha pele e eu tinha uma visão incrível do céu mais azul que eu já havia visto no verão de Nova Iorque. Uma música animada tocava no som que meus amigos tinham escolhido, deixando o ambiente ainda mais agradável.
falava sobre alguns detalhes sobre o último jogo do 49ers que ele havia assistido na última temporada enquanto eu tentava compreender algumas das coisas que ele tentava me explicar. Apesar de fazer parte das líderes de torcida do time de futebol americano do colégio, eu entendia pouquíssimas coisas sobre o esporte.
Não era falta de interesse. Eu apenas estava focada no que eu fazia durante o jogo.
Apesar da pouca compreensão, eu não conseguia deixar de encará-lo, sempre tão disposto a me contar sobre suas experiências antes de me conhecer. Era visível que aquele esporte não era a paixão de sua vida, mas ele tinha dado o seu melhor enquanto esteve nele.
Um acidente o tinha tirado completamente daquela carreira e, desde então, parecia estar tentando se encontrar em meio à confusão que era a sua vida atualmente.
Pisquei algumas vezes, tendo certeza que me perdi em algum ponto da conversa, quando ele disse algo sobre um jantar com sua família e que me buscaria às seis.
— Como? — Minha voz de surpresa era nítida, mas nem me importei.
soltou uma risada alta, inclinando-se para selar nossos lábios.
Inferno de homem lindo. Pensei comigo, conforme ainda o encarava.
— Não tem graça — baixei o olhar momentaneamente, fingindo que aquilo não havia mexido comigo. — Não se brinca com isso.
— Não estou brincando, baby. — Era a segunda vez no dia que ele usava aquele apelido e senti meu coração bater forte. — O jantar vai ser só para eles te conhecerem, .
Arqueei uma sobrancelha, ainda um pouco intrigada, e ele se ajoelhou ao meu lado.
— E a história de não se apaixonar, ? — indaguei.
Uma risada nervosa escapou de seus lábios enquanto ele negava com a cabeça.
— Te busco às seis, ! — Ele me roubou um beijo e, então, saiu correndo, não me dando uma chance de o contrariar.


⚓️ ⚓️ ⚓️


Eu estava nervosa.
Mais do que isso, apavorada. Conhecer os pais de não era algo dentro dos meus planos, não tão cedo assim. Só passou um mês desde aquela noite no bar e, desde então, passávamos quase o tempo todo juntos.
Cheguei a acompanhá-lo até mesmo em suas consultas de fisioterapia.
Eu já havia sido apresentada à famosa Samantha , a irmã dele, mas conhecer os pais era algo muito mais… sério. O meu número de relacionamentos era o total de zero, logo, eu nunca tinha feito nada assim.
Passei a mão no meu vestido, acho que pela vigésima vez desde que ele tinha ido me buscar, e o vi me encarar de canto de olho. Estava mais do que na cara o quanto eu me sentia insegura, mas o que eu poderia fazer? tinha me pegado completamente de surpresa.
O cara ao meu lado dirigia tranquilamente, como se fôssemos fazer algo completamente corriqueiro. Como surfar, ir ao clube, dar uma volta ao centro ou só assistir a um filme juntos.
Se ele estava, sequer um pouquinho nervoso, conseguia disfarçar muito bem.
Foi só quando ele segurou minha mão, que eu me dei conta de estar suando tanto.
Cara, eu precisava relaxar.
, não precisamos fazer isso, se não quiser. — Seu tom era calmo e ele mantinha os olhos no caminho, brincando com meus dedos.
— Não é isso — recostei a cabeça no banco, bufando, frustrada. — E se eles não gostarem de mim? E se me acharem entediante? E se…
Droga, eu estava surtando. Tudo por ser insegura demais.
Esperei que ele ficasse irritado comigo, mas sua reação foi totalmente oposta, caindo na gargalhada, conforme dividia-se entre me olhar e conferir o caminho.
— Não tem graça! — dei um tapinha em seu braço, me deixando rir também.
Tomei um susto quando o vi entrar em uma rua qualquer e parar o carro no primeiro espaço que encontrou, o deligando e virando-se para me olhar. Seus olhos ficaram fixados aos meus e acho que ficou claro o quanto eu estava confusa com a sua atitude, pois um suspiro curto escapou dos lábios de .
Mesmo depois de todo aquele tempo, eu ainda sentia um frio na barriga com cada olhada direcionada a mim que viesse dele.
— Não me importo com a opinião deles. — Existia sinceridade em suas palavras. — Eu te acho… incrível exatamente como é. Não quero que mude nada, .
Eu tinha certeza que meus olhos estavam brilhando de admiração.
— Eu não queria parecer paranoica, me desculpa… — sorri, sem jeito, levando minha mão até a sua e ele rapidamente tocou meu rosto com a outra, fazendo um carinho gostoso na minha bochecha.
— Paranoica não, mas digamos que eu arrumei uma namorada bem medrosa. — Aquelas palavras saíram absurdamente naturais de sua boca, mas me atingiram como um soco.
Nunca nem havíamos conversado sobre estabelecer algum tipo de rótulo para nossa relação — se é que tínhamos uma — e escutá-lo jogar aquilo tão suavemente foi inesperado, mas fez meu coração disparar cem vezes mais.
Até aquele momento, eu não tinha sequer me dado conta do quanto aquilo significava para mim.
Ou, talvez, eu só tenha me enganado desde que o conheci.
Era mais do que óbvio o quanto meus sentimentos por haviam crescido ao longo dos meses.
Quando consegui sair dos meus pensamentos e da bolha que me enfiei, notei que o cara em minha frente ainda me olhava com naturalidade.
Ele não tinha se dado conta do que disse?
— O que foi que você disse?
Droga! Aquela reação era totalmente imatura e de uma adolescente apaixonada pelo primeiro carinha no ensino médio. Mas eu não tinha ideia de como simplesmente repetir a palavra usada por ele.
Um sorriso arteiro brotou na sua boca e eu soube que ele tinha, sim, se dado conta.
— Não tem graça — o encarei no fundo dos olhos. — Prometemos não brincar um com o outro.
— Não estou brincando com você. — Seu tom de voz ficou mais firme e vi seu maxilar se enrijecer.
Respirei fundo, tentando processar tudo. Eu estava prestes a conhecer os pais dele e não queria estragar tudo.
— Eu sei que eu disse…
— Você não precisa fazer isso — o interrompi.
Minha mão, que estava sobre a sua, começou a suar e eu preferi afastá-la, mas ele a puxou de volta.
— Me deixa terminar… por favor — pediu, então assenti, positiva. — Eu sei o que eu disse naquela noite que nos conhecemos… fui um idiota ou era só o que eu acreditava. Mas aí você entrou na minha vida e as coisas mudaram completamente. Eu não planejei isso, baixou o olhar brevemente, então voltou a me encarar.
Acho que respirei fundo algumas vezes, mas eu ainda sentia que ia sufocar de ouvir aquelas coisas vindo dele. Eu tinha me preparado para não ter nenhuma relação consolidada com ele, não só pelo que me disse naquela noite, mas, também, por todos os problemas que o envolviam.
Mas quem eu queria enganar?
Eu estava perdidamente apaixonada por .
E, pior do que isso, eu queria desesperadamente ser capaz de salvá-lo de todos os seus demônios.
— Mas eu tenho pensado nisso e eu planejei te pedir de outra forma... —continuou, antes que eu pudesse dizer algo, suas revelações fazendo meu corpo todo quase tremer. — Mas aí eu te olho, me perco completamente e eu simplesmente soltei, porque já sinto que somos mais do que apenas amigos que ficam juntos.
Pisquei algumas vezes enquanto o encarava, tentando processar todas as suas palavras e ter certeza de que aquilo não era apenas uma imaginação da minha cabeça.
— Se você não quiser… ainda assim eu ficarei, da forma que quiser, .
Tombei levemente a cabeça, sentindo uma lágrima teimosa escorrer de um dos meus olhos, mas acabei sorrindo quando ele tocou meu rosto, limpando.
— Eu não queria te machucar… — Tinha uma apreensão evidente em seu olhar e eu não me segurei em selar meus lábios aos dele por alguns segundos, sorrindo logo em seguida.
Era totalmente o contrário do que se passava em sua cabeça.
— É claro que eu quero — brinquei com os fios de cabelos que caíam sobre seus olhos, sorrindo largo. — E eu poderei dizer que tenho o namorado mais romântico do mundo.
revirou os olhos, negando com a cabeça em uma falsa irritação, e acabei caindo na gargalhada, algo que foi acompanhado por ele em seguida.


A tensão naquele jantar era quase tangível. Olhares eram trocados a todo momento, mas o silêncio já se fazia presente desde que a comida fora servida e eu tentava ao máximo não criar paranoias na minha cabeça de que poderia ter dito ou feito algo errado.
O nervosismo em era evidente e por isso deslizei minha mão até a dele, que se encontrava sobre sua coxa. Ele passava os dedos de forma nervosa sobre a calça e eu os apertei, lançando-lhe um olhar de conforto.
Um sorriso encantador brotou em seus lábios e eu não me refreei em retribuir. Apesar das pessoas presentes naquela mesa, por uma fração de segundos eu senti como se apenas nós dois compartilhássemos daquele momento.
Respirei fundo pela milésima vez na última meia hora, ao menos era esse o tempo que eu achava ter passado devido à tensão no ar.
— Então, como vocês se conheceram? — Mike, o irmão mais novo do meu namorado, se manifestou, pegando todos de surpresa.
trocou um olhar comigo e abriu um sorriso, que eu acompanhei.
— Em uma festa — ele explicou enquanto me encarava de canto de olho e apertei sua mão abaixo da mesa. — Ela precisou de ajuda e eu me ofereci.
— Estava bêbada, suponho — John, o pai dele, comentou de maneira ríspida, mas sem nos olhar.
— Querido… — foi a vez de a mãe dele dizer algo, em repreensão ao marido.
Uma raiva muito maior do que eu esperava me consumiu. Não por estar ofendida ou qualquer coisa do tipo, mas pela falta de sensibilidade do homem em me acusar daquela forma sem ao menos me conhecer direito.
Será que ele sequer conhecia o próprio filho? Eu duvidava muito.
A expressão do cara ao meu lado havia mudado completamente e, por isso, eu acariciei a pele de sua mão, abrindo um sorriso para demonstrar que estava tudo bem, quando ele fez menção de se levantar da mesa. — Não. Eu tenho um problema de pressão e ele me levou para comer alguma coisa. Não consumo bebidas alcoólicas — abri um sorriso amarelo.
Samantha soltou um suspiro, apertando os olhos, e aquilo chamou a minha atenção. Ninguém naquela mesa parecia surpreso com a atitude do homem, o que me deixou ainda mais irritada.
— Claro… — Sua resposta saiu seca e cheia de dúvidas.
A ironia era evidente.
Não tive muito tempo para processar quando levantou da mesa em um rompante com uma expressão que não era das melhores. Seus olhos encaravam o pai com raiva, mas, mais do que isso, tinha uma mágoa profunda… que fez meu coração se despedaçar ao meio conforme o observava.
Sua mãe acompanhou aquela ação, com os olhos cobertos de lágrimas que ela provavelmente se esforçou para segurar. Aquilo estava muito claro.
Permaneci sentada, esperando que ele voltasse ao seu lugar, mas não aconteceu.
— Agora vai ser sempre assim, não é? — tinha uma voz que eu jamais havia escutado antes.
Vi a mãe dele apertar os olhos, não demonstrando surpresa alguma que o jantar havia chegado àquele rumo. Mike encarava tudo, conforme balançava a cabeça em desaprovação, e Samantha tinha o olhar mais triste que eu já havia presenciado.
Ali eu soube que aquele jantar havia sido uma péssima ideia.
— Senta e deixa de drama — John soltou ríspido e impaciente.
Acho que a minha expressão boquiaberta ficou evidente, pois seus olhos recaíram sobre mim e depois foram em direção ao filho.
— Você deveria se envergonhar de estar enganando a garota dessa forma.
Do que ele estava falando?
Meu coração começou a bater forte e eu senti uma vontade incontrolável de vomitar, implorando desesperadamente para aquilo ser uma brincadeira de mal gosto.
— Pai, por favor! — Samantha levantou de sua cadeira, com o olhar fixo ao irmão.
O desespero era tangível ao encará-lo.
— Cala a boca! — rosnou, afastando-se da mesa, e aquela foi a deixa para eu me levantar.
— O que ele te ofereceu? — John levantou-se, me encarando com desprezo. — Quantas vezes já ficaram chapados juntos?
Não…
Meu estômago doeu e senti minhas pernas fraquejarem.
Eu não conseguia acreditar que ele estava falando do filho daquela forma tão fria e sem empatia alguma.
direcionou o olhar até mim e meus olhos instantaneamente encheram-se de lágrimas ao verem os seus vermelhos e o desespero que continha ali. Eu queria poder arrancar toda aquela dor de dentro dele e apagar as malditas palavras de seu pai.
— Desgraçado. — Seu tom de voz foi um pouco mais alto dessa vez e eu me aproximei, segurando sua mão.
dividia o olhar entre mim, seu pai e os outros dois presentes.
— Você deveria se envergonhar de se afundar dessa forma, mocinha.
— Filho da puta! — falou alto, jogando o corpo para frente, mas eu o puxei. — Se falar dela de novo…
, olha para mim! — chamei sua atenção para mim, segurando em seu braço com força. Seu olhar era de partir o coração. — Vamos sair daqui, por favor…
Um silêncio se formou por alguns instantes. A mãe dele apenas encarava tudo, respirando rapidamente. Mike estava com a cabeça entre as mãos e Sam derramava lágrimas sem parar.
Me mantive firme, porque ele precisava de mim naquele momento, e, então, só me dei conta de que havíamos finalmente saído daquele inferno quando senti a brisa quente do lado de fora.


entrou no apartamento e seguiu direto para o quarto enquanto eu ainda tentava processar o que tinha acabado de acontecer.
Ele não havia trocado sequer uma palavra comigo durante todo o caminho. Aquilo me preocupava, mas preferi dar espaço a ele por aqueles longos vinte e cinco minutos dentro do carro.
Tirei meus sapatos enquanto tentava processar como iria abordar o assunto com ele e, quando terminei, segui calmamente em direção ao quarto.
Eu precisava ser forte, porque ele precisava de mim naquele momento.
Adentrei o espaço, pronta para iniciar uma conversa, mas perdi completamente as palavras ao ver o que ele fazia. estava retirando todas as minhas roupas das gavetas que havia disponibilizado para mim e colocava-as em minha mala.
Ele estava terminando comigo?
Minha garganta ficou seca e um desespero tomou conta de todo o meu corpo, me fazendo engolir em seco conforme sentia minhas pernas fraquejarem.
Fiquei por um tempo observando o que ele fazia, até me dar conta de que precisaria falar de uma vez por todas, ao invés de apenas assumir o que se passava dentro dele.
— Onde a gente estava com a cabeça? — Para a minha surpresa, ele falou primeiro.
— O que você está fazendo? — Eu estava nervosa, minha mão suava de forma que havia acontecido poucas vezes.
Ele não respondeu e continuou fazendo a mala em sua frente.
Não importava de onde tinha vindo aquela atitude, mas eu apenas coloquei minha mão sobre a dele, impedindo-o de continuar.
— Para, por favor — implorei, conforme encarei seus olhos. — Me fala o que está acontecendo, ok? Nós podemos resolver.
respirou fundo, parecendo dar-se conta do que fazia, e seus olhos encontraram os meus. Eles estavam cobertos de lágrimas e aquilo quebrou meu coração.
Com calma, tirei sua mão da mala e o puxei para virar em minha direção.
— Eu sinto muito… — levei minha mão até seu rosto, onde fiz um carinho de leve — que sua família não te veja da mesma forma que eu te vejo.
O vi engolir em seco, fechando os olhos e os apertando, fazendo uma lágrima cair.

— Eu sei o que está fazendo. Mas não aceito, — engoli em seco, tentando ser forte por ele. — Você acha que está ferrando com a minha vida, mas não é isso.
Ele negou com a cabeça.
— Você me quer fora da sua vida? É isso? — Tentei segurar, mas as lágrimas saíram. A ideia de que ele poderia não me querer mais era dolorosa.
soltou o ar de forma pesada, então se inclinou, tocando seus lábios aos meus, conforme seus braços me envolveram em um abraço. Retribuí aquilo colocando os meus em torno de sua cintura e o escutei respirar profundamente algumas vezes, então se afastou, me encarando nos olhos.
— Nunca mais diga isso — pediu, calmo, e eu apenas assenti, sorrindo. — Eu te quero na minha vida, só não quero ser um problema, , como sou para a minha família.
— Você não é um problema para mim. Nunca será! — selei meus lábios aos dele.
Um sorriso brotou em seus lábios, conforme ele acariciou meu rosto.
l’ll be summer sun for you, forever… — sussurrei um pedaço da música que eu estava escrevendo sobre nós para um dos meus ensaios. — Eu te amo, .
Seus olhos brilharam por alguns instantes, então, dessa vez, ele tomou meus lábios de um jeito muito mais desesperado. Correspondi, levando meus braços em volta de seu pescoço, conforme ele me ergueu, e enlacei sua cintura com as minhas pernas. O beijo foi aprofundado de uma forma tão intensa, que me vi perdendo o ar por um momento.
caminhou em direção à cama e não interrompeu o que fazíamos, nem mesmo quando me deitou sobre a cama, ficando em cima de mim. Minhas palavras ditas a ele ainda reverberavam na minha cabeça e eu estava assustada por, talvez, ter sido cedo demais para dizer aquilo a ele, apesar de sua reação.
Eu já estava quase sem ar de novo quando ele se afastou minimamente, me encarando bem nos olhos.
— Eu te amo tanto, — soprou baixo, tirando uma mecha de cabelo que caía sobre meus olhos.
Tenho certeza que meu sorriso foi de ponta a ponta, pois ele me correspondeu da mesma forma, antes de voltar a me beijar. Aproveitei a deixa para puxar sua camisa para cima, em um pedido silencioso para ele a retirar, então o fez e eu prontamente levei a mão até a barra de sua calça e ele me olhou, surpreso.
— Eu quero você, agora. — Meu olhar foi fixado ao dele.
Apesar do tempo que já estávamos juntos, nunca tínhamos passado de beijos e amassos. Não porque eu não quisesse, mas existia sempre algo que me segurava, talvez por medo de me arrepender ou de não ter certeza de quais eram meus sentimentos por ele e vice-versa.
Mas ali, naquele momento, eu estava convicta de que o queria.
— Você tem certeza?
Apenas assenti e o puxei.
Aquela não era a minha primeira vez, mas, com certeza, era a primeira em que eu faria aquilo amando alguém tão plenamente.


MY W I N T E R


My voice comes out screamin.
I’ll be forever winter….


Quando o inverno chegou, eu não tinha mais esperança alguma de que as coisas poderiam melhorar. Meus dias eram exaustivos e a maioria das minhas noites eram passadas em claro, sempre me preocupando se ele chegaria em casa ou não. Era meio difícil explicar como as coisas tinham chegado àquele ponto e, para ser honesta, eu nem queria.
Lidar com a faculdade, a pressão de Juilliard, de meus pais e as mudanças repentinas de humor repentinas de estavam me matando.
Muitas vezes eu só queria poder fechar os olhos e dormir por incontáveis horas ou até dias.
Pior do que todas aquelas coisas era o fato de sequer nos conhecermos mais. Não trocamos uma palavra quando ele voltava para casa tão bêbado que mal conseguia lembrar o que tinha acontecido na noite anterior ou entender porque havia acordado deitado no chão do banheiro sem roupa alguma.
Aquilo precisava parar. Mas era como se eu estivesse presa, completamente afundada e sem chance alguma de escapar dali ou, pior ainda, salvá-lo.
Eu me sentia patética, por mais uma vez estar ali, sentada naquele sofá da pequena sala — que, naquele momento, parecia gigantesca e solitária —, derrubando lágrimas por alguém que simplesmente parecia se importar cada vez menos.
Levantar e ir embora é o que eu deveria ter feito no último mês, em todas as noites que me senti simplesmente impotente diante das consequências causadas pelas minhas escolhas.
Mas lá eu estava encarando a porta, esperando pelo exato momento em que ele entraria e me pediria um milhão de desculpas, com falsas promessas de que na manhã seguinte seria diferente.
— Desculpa, eu… — Interrompi sua fala com apenas um olhar, quando ele adentrou o apartamento, então me levantei rapidamente. — Não vai perguntar onde eu estava?
Ri, fracamente, e saí andando em direção à cozinha.
Já passava de uma hora da manhã.
— Não — comecei a pegar as coisas em cima da mesa, repetindo o mesmo ritual do último mês, afinal ele nunca comia.
Um silêncio se formou e eu não fiz questão de dizer mais nada, indo em direção à pia e deixando os pratos caírem de qualquer jeito lá dentro. Claramente alguma coisa havia sido quebrada, mas eu não me importava nem com aquilo nem com nada.
— Engraçado, porque é tudo o que você sabe fazer no último mês. — Seu tom de voz era seco e sarcástico ao mesmo tempo.
— Como é? Tudo o que eu sei fazer? — indaguei, completamente sem acreditar. — Tudo o que eu sei fazer é esperar igual a uma otária todas as noites. Achando que alguma coisa vai ser diferente.
Dessa vez me virei, encarando-o, para que pudesse ver o quanto aquilo tinha me machucado profundamente. Mas, ao contrário do que eu esperava, não esboçou absolutamente nada ao me encarar.
Eu simplesmente não conseguia reconhecer o cara diante de mim.
, qual é! — Aquilo saiu mais alto do que eu estava acostumada a escutá-lo falar e senti minha garganta queimar junto com as lágrimas que se formaram em meus olhos.
Eu não queria fazer aquilo de novo. Chorar, só para depois vê-lo implorar pelas desculpas que sabia que eu daria.
Dessa vez seria diferente.
Precisava ser.
— Eu só estava com alguns amigos, tudo bem? — Aquilo era a maior mentira do mundo e estava evidente em seu olhar.
Limpei a lágrima teimosa que caiu e caminhei até ele, parando bem em sua frente e encarando-o nos olhos.
— Se isso é verdade, quero que olhe bem nos meus olhos e me diga que não estava se afundando em mais umas dessas substâncias que todo dia levam embora um pouquinho do cara que eu conheci e me apaixonei.
Os lábios dele tremeram e ele desviou o olhar no instante seguinte.
não precisava me dizer nada, ali estava a minha resposta.
— Não consigo mais fazer isso — admiti ao passar por ele, indo em direção ao quarto.
Sem olhar para trás e ver se me seguia, adentrei o quarto e peguei a mala que ele havia segurado há alguns meses para guardar minhas coisas e eu mesma a usei dessa vez. Um milhão de coisas estava se passando dentro de mim, mas eu estava tão cansada e desgastada que simplesmente não queria parar, me convencendo, do fundo do meu coração, que aquela era a coisa certa a se fazer.
Precisava ser.
Acompanhei de soslaio quando entrou no quarto e observou o que eu fazia, mas não se moveu em momento algum para me impedir. Sua atitude quebrou meu coração mais uma vez ou, ao menos, o que havia restado dele e eu terminei de colocar a última peça de roupa.
Como se tivesse se dado conta de que o que eu fazia era sério, ele pegou no meu braço levemente, fazendo um pedido silencioso para eu parar.
Baby, me escute, por favor... — O tom de voz agora era diferente e eu sabia muito bem onde aquilo ia dar.
Não. Dessa vez não.
Me desvencilhei de sua mão e caminhei pelo apartamento, terminando de pegar mais algumas coisas que me pertenciam.
— Eu vou procurar ajuda, eu… — estava visivelmente apavorado, mas eu estava decidida, nada me faria ficar. — Se você se for… eu serei para sempre inverno, , não posso ficar sem você.
Não tive coragem de olhar para ele ao escutá-lo dizer aquilo, pois eu sabia que nunca sairia por aquela porta se o fizesse, então apenas a atravessei, deixando que o frio me abraçasse para sempre.


FIM



Nota da autora: Oi, amores, tudo bem?
Eu estou APAIXONADA por essa short! É um spin-off de Euphoria e eu estou MUITO feliz que consegui escrever alguma coisa com esse personagem.
Espero que vocês gostem também! ❤️


Nota da beta: Depois dessa spin-off, eu não posso deixar de ler Euphoria! Os personagens me deixaram muito curiosa e agora eu preciso entender todos os dramas que os cercam hahahaha amei a fic, parabéns ❤️


Outras Fanfics:
➽ Euphoria (Longfic - Em andamento)


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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