Última atualização: 15/04/2022

Prólogo

O carro deslizou quando seguiu pela estrada de terra e precisou firmar as mãos no volante, especialmente pelo desnível da estrada. Ir para uma fazenda com carro esportivo não era a melhor coisa a se fazer, mas ela não tinha muita escolha.
Ela guiou o carro por cerca de seis quilômetros por entre os pastos esbranquiçados pelo fim de ano, sentindo o carro rebaixado reclamar com os buracos e pequenas subidas e ela só queria pegar o pescoço de Danny e sacudir. Não podia fazer isso com seu carro novo.
Ela respirou aliviada quando encontrou a grande casa no meio do pasto com diversos carros estacionados em volta do mesmo, mas o seu Renault RS01 amarelo foi o único a destoar dos outros. Estacionou em frente à entrada da casa e desligou o carro, ouvindo o som alto desligar junto e ela saiu do mesmo, puxando somente a chave da ignição consigo.
Subiu as escadas na pressa e tocou a campainha com força, ouvindo-a ecoar baixo do lado de fora e a menina franziu a testa. Ninguém apareceu para recebê-la e, se não fossem os diversos carros, poderia suspeitar que a casa estava vazia. Ela insistiu na campainha mais uma vez e notou a vibração das paredes, revirando os olhos. É óbvio que estaria uma balada ali dentro.
Ela tentou a maçaneta da porta de vidro e riu sarcasticamente quando a porta se abriu e todo o som alto saiu de lá de dentro, deixando-a levemente desorientada por alguns segundos. Empurrou a cortina para o lado e puxou a porta antes de seguir por dentro da casa. Passou por alguns cômodos, ouvindo a diferença de altura do som, até chegar na cozinha, encontrando os pais de Danny.
- Oi, gente! – Sua voz saiu falha, mas ela tocou o ombro de Grace.
- ! – Sua voz saiu mais alta e riram juntas quando a mais velha a abraçou fortemente e a irmã de Danny sorria para ela, além de seu pai que mandava o restante do pessoal abaixar o volume, aliviando os ouvidos de todos.
- Ah, agora sim! – Ela suspirou. – Como você estão?
- Que saudades de você! – Grace a abraçou fortemente de novo, fazendo-a rir. – Você demorou para aparecer esse ano!
- Me desculpe, acabei estendendo minhas viagens, depois fui visitar minha avó... – Ela revirou os olhos.
- E como estão todos? – Grace acariciou seu rosto.
- Ah, tudo bem. – A mais nova ponderou com a cabeça. – Nada de novo.
- Você passa 10 meses fora e não tem nada de novo para contar? – Riram juntas e se afastou de Grace para abraçar Michelle.
- Alguém são para me salvar desse mundo! – Ela disse dramática e ambas gargalharam juntos.
- Ah, que saudades de vocês. – suspirou. – Saudades dessa bagunça toda, confesso! – Ela sorriu.
- Você viaja mais do que o Daniel e não tem nada para contar? – Grace repetiu e riu fracamente.
- Quanto ao trabalho, está tudo muito bem, mas fora isso, nada de novo. – A menina abraçou Joe, ficando levemente na ponta dos pés para alcançá-lo.
- Bom te ver, garota! – Ele falou perto de seu ouvido. – Parece que esse ano te fez bem. – Riram juntos. – Você está linda.
- Obrigada, Joe! – Sorriu. – E como ele está? – Ela se afastou do homem.
- Conseguiu acompanhar alguma coisa? – Joe perguntou.
- Só o resultado. Oitavo, né?! – Ela mordiscou o lábio inferior.
- Sim. Ele está um pouco chateado após sair de um terceiro lugar, mas... – Grace ponderou com a cabeça.
- Chateado? Essa bagunça toda é o Daniel chateado? – Eles riram juntos e a menina encontrou o bebê no berço.
- Forma de escape dele, você conhece a fera. – Michelle disse.
- Até demais. – Ela se aproximou do bebê loirinho. – Esse é o Isaac? – Ela disse surpresa.
- Para você ver! – Michelle se aproximou de ambos e se abaixou para acariciar a bochecha do bebê.
- Oi, lindinho! – Ela sorriu para o mesmo que a olhava confuso. – Eu sou sua madrinha, lembra de mim? – Ela se inclinou para dar um beijinho na testa do menino.
- Você fica fora por um ano e perde todas as coisas boas. – Riram juntas. – Ele fez um ano agora no começo do mês. – suspirou.
- Sinto por não estar aqui, mas prometo que tentarei compensar. Madrinha trouxe presentes de vários lugares do mundo! – Ela fez careta para Isaac que lhe deu um sorrisinho. – Meu lindo!
- Você sempre fala isso. – Joe disse e derrubou os ombros.
- Tentarei de verdade agora. – Ela segurou a mão de Joe. – Agora, onde está ele?
- Está lá no fundo. – Grace disse.
- Alguma namorada? – Ela perguntou.
- Não, finalmente terminaram! – Michelle disse.
- Uh, parece que praga de melhor amiga realmente funciona! – falou animada, fazendo-os rirem.
- E o término veio da parte dele. – Michelle frisou e a menina ficou mais surpresa ainda.
- Eu vou falar com ele e depois eu preciso comer alguma coisa! – Ela disse sugestivamente.
- Cadê suas malas? – Joe perguntou.
- No carro, depois eu descarrego. Com o presentinho novo do Daniel, eu ainda não sei abrir o porta-malas. – Ela fez uma careta e todos riram enquanto ela seguia pelo outro cômodo, encontrando os quatro amigos de infância largados nos sofás, além do marido de Michelle.
- Uh, olha quem chegou! – Tom disse.
- Hum, chegou, hora de ir embora, galera! – Blake disse, fazendo-a revirar os olhos.
- Agora a atenção do nosso Danny boy vai ficar totalmente para ela. – Michael comentou.
- Isso tudo é ciúme, Michael? – A menina apoiou as mãos na cintura e ele fez uma careta. – Onde ele está?
- Na academia. – Jason disse.
- Academia? – Ela perguntou confusa.
- Não pergunte! – Blake disse e abanou a mão.
- Onde está Bruce? – Ela andou pela sala, batendo rapidamente nas mãos dos quatro que estavam jogados nos sofás e pufes.
- Não faz parte do grupo depois que ele tentou te pegar no ano passado. – Tom disse rindo, causando risada de outros.
- Danny? – perguntou confusa.
- Quem você acha? – Ele respondeu rindo e pressionou os lábios em aprovação e seguiu pela sala, andando por entre os corredores até chegar na porta da academia.
a abriu devagar, receosa que Danny estivesse realmente sozinho e o encontrou pelo espelho. Ele fazia supino com os grandes headphones na orelha e provavelmente uma música bem alta. Mas não demorou muito para a feição séria de Danny se transformar em um sorriso quando ele a viu.
- AH, FINALMENTE! – Sua voz saiu alta demais quando ele soltou os pesos e se virou de frente para a garota.
- Sentiu tanta falta minha assim? – Ela perguntou, dando alguns passos para dentro da academia e ele a abraçou com força, tirando-a do chão.
- VOCÊ ESTÁ BRINCANDO? – Ele falou ainda alto e passou os braços pelos seus ombros, erguendo as pernas quando ele a girou.
- Você pode parar de gritar. – Ela disse rindo, sentindo-o afundar o rosto em seu pescoço e ela aproveitou para puxar o fone de suas orelhas.
- Senti sua falta! – Ele disse, a colocando no chão e sorriu, apoiando as mãos em seus ombros.
- Esse bigode é horrível. – Ela comentou.
- Você não me vê há um ano e essa é a primeira coisa que você fala? – Ele perguntou rindo e ela deu de ombros.
- É a primeira coisa que eu vi. – Ele pressionou os lábios em sua bochecha, fazendo-a sorrir e depois apoiou as mãos em seu pescoço. – Você demorou para voltar dessa vez.
- Desculpe. – Suspirou. – Prometo que tem um motivo, mas não vamos falar disso agora.
- Está tudo bem? – O olhar de Danny mudou.
- Sim, é coisa boa! – Sorriu, empurrando-o devagar pelos ombros. – E você? Achei que estava de férias, mas está aqui, levantando peso?
- Só passando o tempo. – Ele se afastou, se aproximando dos pesos novamente.
- Você não me engana, Danny! É pessoal ou profissional? – Perguntou, se aproximando do aparelho de supino e se sentou na mesa.
- Profissional. – Ele disse, levantando-os.
- Eu falei com sua irmã e...
- Ah, Jemma? Ah, não! – Ele riu sarcasticamente. – Você estava certa! Voltar com namoradinhas de infância não rola. – Ela riu fracamente, vendo-o guardar os pesos.
- De alguma forma, ela conseguiu ser mais chata do que na escola. – A menina deu de ombros e ele se sentou ao seu lado.
- Você estava certa. Você estava certa! Não precisa continuar. – Riram juntos.
- Bom! – Sorriu. – Obrigada pelo presentinho de Natal. – Ele virou o rosto surpreso.
- Você recebeu!
- É um pouco difícil ignorar um carro amarelo gigantesco, Danny. – Ela disse exageradamente, fazendo ambos rirem.
- Você gostou?
- Eu prefiro uma McLaren, mas é... – Ele sorriu. – É incrível. Você não precisava, sério.
- Sim, precisava. É meu jeito de dizer que sinto sua falta. – Ela apoiou a cabeça em seu ombro.
- Eu sei, mas você pode sempre mandar mensagem. – Ela disse.
- Eu sei, mas não é a mesma coisa. – Ele sussurrou.
- É... Eu sei.
- Vai ficar comigo até o começo da temporada?
- Sim... Talvez mais dessa vez. – Ela ergueu o rosto e ele a olhava surpreso.
- Mesmo?
- Eu tenho uma reunião antes da virada do ano, espero que esses dias a mais tenham valido à pena. – Falei.
- Então, tem um motivo por que demorou para aparecer dessa vez. – Ele disse e ela riu fracamente.
- É claro que sim! Não trabalharia por mais 20 dias à toa. – Ela disse rindo.
- Bom! – Ele disse firme e a menina pressionou os lábios em um sorriso, analisando seus traços e olhos .
- Eu odiei o bigode...
- ! – Ele disse e ela riu fracamente.
- O nariz com certeza precisa de uma plástica, mas parece que você está mais bonito esse ano, Danny! – Ela se levantou, vendo-o fazer uma careta.
- Eu sempre fui bonito, ! Mas até eu preciso admitir que você sempre foi a bonita da dupla.
- Com uma plástica, talvez... – Ela deu de ombros.
- Vou ficar com esse bigode agora de birra.
- Quem vai ficar feio é você! – Ela disse com obviedade no tom de voz. – Parece um gigolô ou um cafetão. – Ele entreabriu os lábios chocado, fazendo-a gargalhar.
- É por te conhecer e ser seu amigo há quase 24 anos que eu não vou fazer a mesma brincadeira contigo. – Ele a indicou com o dedo.
- Por quê? Não tenho o estilo para prostituta? – Gargalharam juntos.
- Não, você não tem! – Ele disse. – Ao menos espero que não. – Ela sorriu, negando com a cabeça.
- Ah, cara! Eu estou aqui há cinco minutos e já estamos falando besteiras. – Ela jogou a cabeça para trás.
- Nada de novo, ! – Ele esticou o pulso para ela e ambos deram um toquinho.
- ? – A menina virou o rosto, vendo Michelle na porta.
- Ei!
- Só avisando que Tom pegou suas chaves. – Ela arregalou os olhos.
- O QUÊ? NÃO MESMO! TOM! – Ela saiu correndo da academia e a risada de Danny foi atrás dela enquanto ela corria até a entrada da casa, encontrando Tom dentro de seu carro. – SAI DAÍ AGORA! – A menina disse firme.
- Nope! – Ele disse rindo e motor roncou forte.
- TOM! – Ela gritou mais alto e ele deu ré no carro, fazendo a poeira subir, sumindo de sua visão logo em seguida. – Ai, se ele bater meu carro novo!
- Relaxa, eu peço outro para Renault. – Danny falou atrás de si. – E deixo para ele pagar o seguro desse. – A menina riu fracamente, virando para o amigo.
- E vai precisar, porque é horrível chegar aqui com ele! – Ela deu um tapinha em seu ombro.
- Eu esqueci desse detalhe. – Ele fez uma careta. – Enfim, está com fome? – Ele virou o rosto para o lado.
- Sempre. – Ela deu de ombros e Danny esticou o braço, fazendo ambos entrelaçarem e seguiram novamente para dentro da casa.


Capítulo 1

Honey badger (ratel ou texugo-do-mel): "É para ser o animal mais destemido do reino animal. Quando você olha para ele, ele parece muito fofinho, mas assim que alguém cruza seu território de uma forma que ele não gosta, ele se transforma em um selvagem e vai atrás de qualquer coisa, ele muda muito rapidamente, mas ele é um cara bom.” – Ricciardo, 2014

Perth, Austrália, 1992

Grace olhou para os dois lados antes de atravessar a rua, dando alguns passos rápidos quando outro carro começou a se aproximar da faixa que estava. Ela ficou dividida por alguns instantes se ia para a área da escola do jardim de infância ou de ensino fundamental, mas optou pela primeira, já que era o primeiro dia de aula do seu filho mais novo.
O pátio do jardim de infância estava da mesma forma de quando ela chegou: cheio e bagunçado. Crianças corriam de um lado para o outro com mochilas maiores que suas costas e alguns pais conversavam em roda com outros colegas ou professores.
Fazia somente um ano que sua filha mais velha saiu daqui, mas ela se sentiu um tanto perdida enquanto caminhava para a sala do maternal. A professora de Daniel estava na porta, recepcionando os pais e se despedindo dos alunos que já foram.
- Mary? – A voz de Grace foi suave, mas fez a professora de seus 27 anos sorrir para ela.
- Grace! – Ela sorriu, se virando para dentro. – Daniel, sua mãe chegou.
- Como foi? – Ela perguntou, tirando os óculos escuros, vendo seu menino de cabelos cacheados pegar sua mochila e lancheira na pressa.
- Ah, foi ótimo, o Daniel é um garoto muito animado e participativo. – Mary disse. – Difícil falar isso para um garoto de nem três anos, mas ele é uma criança ótima.
- Ah, que bom! – Grace suspirou, pendurando os óculos no decote de sua blusa de frio.
- Oi, mamãe! – Ele disse, carregando mais peso do que devia, e ela se abaixou.
- Ah, meu filho! – Grace o ajudou a pegar a lancheira e o casaco, colocando o último no ombro. – Se divertiu?
- Uhum, é legal! – Ele disse dando um largo sorriso e sua mãe lhe afagou os cabelos antes de dar um beijo em sua bochecha.
- Meu menino mais lindo! – Ela disse antes de se levantar. – Isso é tudo, Mary? Posso ir embora?
- Na verdade... – Mary suspirou. – Aconteceu uma coisinha...
- Ah, o quê? – Grace suspirou, fechando os olhos levemente.
- Ele foi tentar brincar com uma menininha e, sei que foi na brincadeira, mas ela não gostou e... Como a ideia do jardim de infância é...
- Do que ele a chamou? – Grace perguntou suspirando, desviando o olhar para Daniel que parecia alheio à conversa das duas.
- Wandinha. – Mary disse.
- Wandinha? – Grace perguntou sem entender.
- É, a menina da Família Addams, sabe? – Grace franziu o rosto.
- A menina se veste igual ou...?
- Não, não, ela está de marias Chiquinha e o sobrenome dela é Addams. – Ela suspirou. – Foi totalmente na inocência, mas ela não sabe quem é, então acho que ela pensou que fosse ofensa...
- E aposto que ele riu muito disso. – Grace disse e Mary assentiu com a cabeça. – Me dá um minuto, por favor.
- A mãe da menina está conversando com a diretora, se quiser resolver isso antes que aumente.
- Claro! Claro! – Grace disse, puxando seu menino pela mão, afastando-os da porta, e ficou de cócoras na frente dele.
- Eu não fiz nada! – Ele disse e Grace suspirou.
- Não com intenção, eu sei disso. – Ela segurou-o pelo queixo. – Mas a menina ficou triste.
- Mas “A Família Addams” é um filme muito legal! – Ele disse, fazendo um bico e sua mãe sorriu.
- Eu sei, querido, mas nem todo mundo sabe o que é isso. Você tentou falar com ela depois? – Ela perguntou.
- Ela não quis falar comigo... – Ele disse baixo e Grace queria beijar as bochechas do filho que ficavam maiores com o beicinho que ele fazia.
- Vamos conversar com ela? – Grace disse. – Fazer uma amiguinha?
- Uhum! – Ele assentiu com a cabeça e ela se levantou, virando para Mary.
- Mary, onde ela está? – Grace perguntou, acariciando os cabelos de Daniel.
- Ela ‘tá ali! – Daniel disse e Grace procurou entre os baixinhos a pessoa que ele indicava e, pela descrição de Wandinha, a identificou.
A única semelhança da menina com a Wandinha era realmente as marias Chiquinha. O cabelo não era da mesma cor, a pele não era da mesma cor, os olhos não eram da mesma cor e ela com certeza não usava uma roupa completamente preta. Foi somente uma comparação infantil, já que eles tinham visto o filme esses dias. E pensando bem, comparar uma criança de três anos à Wandinha talvez fosse até de mal gosto.
- Vem cá! – Ela deu a mão para ele, vendo a menina de mão dada com uma moça de idade próxima a Grace.
- Ela não vai querer falar comigo! – Ele disse.
- Vai sim! Vem! – Grace disse, segurando firme a mão de Daniel e se virou rapidamente para a professora Mary para acenar.
- O que eu falo? – Ele perguntou.
- Pede desculpas, só isso. – Grace disse antes de tocar o braço da mais velha. – Com licença.
- Oi. – A mulher se virou e a menina se escondeu rapidamente atrás das pernas da mãe.
- Desculpa te incomodar, meu nome é Grace, fiquei sabendo que meu filho chateou sua filha hoje. – Ela disse.
- Ah, que isso! Foi só uma brincadeira de criança. – Ela disse.
- Mesmo assim, não podemos deixar isso acontecer. Será que o Daniel poderia falar com a...?
- . – A mulher disse, passando as mãos nos cabelos da filha.
- Isso. – Grace sorriu, apoiando as mãos nos ombros de Daniel. – Filho...
- er... – A mulher disse a mesma forma.
- Me desculpa. – Daniel disse fofo. – Não queria te deixar triste. – Ele disse, fazendo um biquinho. – A Wandinha é de um filme, ela é legal. – Ele disse sorridente e a menina olhou receosa por trás das pernas da mãe antes de olhar para ele.
- Vai... – Sua mãe a encorajou.
- É...? – Ela perguntou.
- Sim! – Daniel disse rindo. – Ela é legal, ela é diferente... – Ele deu de ombros. – E tem o mesmo sobrenome que você! – Ele sorriu.
- Ela é de onde? – perguntou.
- De um filme, chama “A Família Addams”, dá um pouco de susto, mas é legal. – Ele disse rapidamente.
- A gente pode ver, mamãe? – perguntou.
- Por que você não vê com o Daniel? – Sua mãe sugeriu, acariciando os cabelos da menina.
- Posso? – Ela perguntou.
- Claro que sim, amor. – Ela falou sorrindo.
- Você quer? Você pode ir em casa e a mamãe aluga na locadora! – Ele disse sorrindo.
- ‘Tá bom! – disse, dando um curto sorriso.
- Você me desculpa? – Daniel perguntou franzindo os olhos.
- Desculpo. – Ela disse fofa, fazendo o menino sorrir.
- Eu sou Daniel! – Ele esticou a mão para ela.
- . – Ela fez o mesmo, apertando a mão do menino, fazendo sua mãe sorrir e se virar para a mulher.
- Eu sou Grace.
- Helena! – A mulher disse e ambas sorriram.

JANEIRO
Perth, Austrália, 2016


- WE-E-E-E-E ARE THE CHAMPIO-O-O-ONS, MY FRIE-E-E-END... – Franzi a testa com a cantoria dos caras. – WE-E-E-E-E-E KEEP ON FIGHTI-I-I-ING TO THE E-E-E-E-END!
- Eu preciso de álcool se eu for ter que aguentar isso. – Tio Joe falou e rimos juntos quando ele se afastou para dentro.
Virei o rosto para trás e Danny não estava mais sentado na porta da entrada. Girei os calcanhares para trás e observei a sala de estar, vendo Michelle amamentando Isaac* e sua mãe dormindo no sofá após a virada do ano.
- ! – Ergui o rosto para seu pai à mesa. – Lá dentro. – Ele disse e assenti com a cabeça.
Fui até a mesa junto de Joe e peguei dois potinhos, colocando um pouco do meu mousse de chocolate em cada um, espetei as colheres neles antes de dar a volta. Passei pelo corredor, seguindo para o quarto dos fundos e empurrei a porta com o quadril, vendo Danny jogado em sua cama com os olhos nas grandes portas de vidro que davam para o céu estrelado onde, vez ou outra, subia um fogo de artifício solitário ali.
- Posso entrar? – Perguntei e ele ergueu o rosto para mim.
- Você sempre pode. – Ele disse e entrei no quarto, fechando a porta em seguida. Deixei meus sapatos no chão, andando em sua direção e lhe estiquei um potinho antes de ajoelhar na cama e me arrastar até ele, me jogando ao seu lado. – É a sua mousse, né?!
- É, sim! – Falei e ele riu fracamente, erguendo o corpo na cama, apoiando as costas no encosto e fiz o mesmo.
- Minha mãe tenta copiar quando sinto sua falta, mas nada fica igual a sua. – Ele disse e ri fracamente, dando uma colherada e colocando na boca.
- É boa, vai. – Comentei e ele riu fracamente.
- Minha mãe não é chef de cozinha, . Você é! – Ele encheu a boca de mousse, me fazendo rir.
- É, tem esse pequeno detalhe. – Sorri, tombando a cabeça para trás. – Por que você está se escondendo aqui?
- Eu acho que estou bêbado, mas não o suficiente para ficar ouvindo eles cantarem. – Rimos juntos.
- Eu sei que não é sobre isso. Normalmente você rege eles. – Ele gargalhou, jogando a cabeça para trás. – Você pode falar comigo, vai! Eu sei que a temporada não foi tão ruim assim. – Ele suspirou.
- Bem, pensando que somos em 20 pilotos, eu fiquei em oitavo. – Ele ponderou com a cabeça. – Poderia ser pior...
- Mas...? – Perguntei.
- Mas vir de terceiro e cair para oitavo me deixa meio pensativo. – Suspirei.
- Você escreveu algo no seu caderno? – Perguntei, virando o rosto para ele.
- Algumas coisas... – Ele fez uma careta, me fazendo rir. – Talvez você não entenda minha letra. – Suspirei, me aproximando mais dele, colando nossos braços.
- Você realmente precisa de uma plástica, mas sua letra é bonita. – Ele riu fracamente. – Como foi no geral? – Ele soltou um longo suspiro.
- Dois pódios, segundo e terceiro, não finalizei três circuitos, três posições sem pontos, e o resto foi mediano, 92 pontos. – Suspirei.
- Sinto muito, Danny. – Apoiei a tigela na parte de cima de sua cama e ele suspirou. – Ao menos ficou na parte de cima da tabela. – Ele riu fracamente.
- Sempre tentando ver o copo meio cheio, hein?!
- Ei, o otimista aqui deveria ser você, mas parece que estamos invertendo os papéis. – Ele colocou sua tigela ao seu lado também.
- E você? Como foram as coisas? Quantos países visitou dessa vez? – Suspirei.
- Eu fiquei muito na Oceania dessa vez. – Deslizei meu corpo na cama e me coloquei de bruços. – Eu amo a comida desse lado do mundo. – Ele riu fracamente.
- Distribuiu muitas estrelas por aí? – Sorri.
- 44. – Falei, suspirando, apoiando o queixo na mão. – Muitas coisas legais, diferentes... Você ia gostar.
- Seria bom se pudéssemos aproveitar o trabalho do outro, não? – Ele também deslizou seu corpo, se deitando na horizontal na cama, ficando em minha frente.
- Talvez possamos. – Falei com um curto sorriso.
- Talvez? – Ele se colocou de lado, apoiando a mão na cabeça.
- É, talvez eu consiga te acompanhar nessa próxima temporada. – Ele arregalou os olhos e entreabriu os lábios.
- Você não está brincando! – Ri com ele.
- Não, não estou! – Sorri. – O tempo médio de trabalho por ano é de 200 dias, mas eu trabalhei 220 dias esse ano e analisei mais de 600 lugares... – Ele sorriu em expectativa. – Com isso... Eles me deixaram fazer meu calendário do ano que vem. – Abri um sorriso.
- Ah, cara! – Ele tombou sua cabeça para trás dramaticamente. – Você vai me seguir?
- O que acha? – Falei rindo. – Pensei em começar na Austrália, depois ir para o Bahrein, China, Rússia e seguir meu grande amigo corredor pela primeira vez, já que não posso aproveitar a grana dele. – Ele gargalhou alto.
- Essa é a melhor novidade de todas, ! – Ele jogou a cabeça para trás com seu largo sorriso.
- Não sei como vamos fazer isso ainda, mas...
- Eu posso acompanhar o seu trabalho também. – Ele me ignorou e revirei os olhos.
- Você está mais interessado em comer que eu sei! – Empurrei-o pelo ombro, ouvindo sua gargalhada alta.
- Eu não disse nada. – Sorri. – Quem sabe não seja o estímulo necessário para eu voltar a ganhar?
- Se não for para você ser o primeiro colocado, eu nem vou! – Falei e o vi sorrir.
- Você não tem ideia como eu estou feliz em te ter lá comigo! – Ele me abraçou pela cintura, me fazendo rir quando ele me puxou para si.
- Vamos lembrar que eu não faço a mínima ideia como funciona um Grand Prix e.... – Ele gargalhou.
- Relaxa, também não faço a mínima ideia como você dá Estrelas Michelin para restaurantes sendo que Michelin é marca de pneu! – Gargalhei com ele, sentindo-o apertar minha barriga.
- E ainda precisamos lidar com aquele pequeno probleminha...
- Ah, não tem problema nenhum! – Ele apertou minha barriga. – A gente vai passar fácil por isso.
- Para, Danny! – Pedi, sentindo cócegas.
- Vai dar tudo certo! – Ele continuou me apertando e comecei a fugir de suas mãos, forçando-o a vir mais perto.
- PARA, DANNY! – Gargalhei. – DANIEL, PARA! – Ele me segurou pelas pernas, apertando minha barriga. – DANIEL, PARA! EU VOU VOMITAR! – Ele ficou de joelhos na cama, fazendo cócegas em minha barriga. – DANIEL! – Gritei, sentindo minha garganta doer e suas mãos descansaram em minha barriga.
- Calma, irritada. – Ele disse, se jogando para o lado. – É empolgante ouvir uma mulher gritar assim por mim, mas não precisa ser tão escandalosa. – Rimos juntos.
- Ah, a Jemma era escandalosa assim! – Gargalhei, passando a mão em minha barriga por baixo da blusa, vendo-a avermelhada.
- Há, há, há, engraçadinha! – Ele disse, me fazendo sorrir.
- O quê? Eu não estou mentindo! Dava para ouvir vocês transando há quilômetros de distância. – Gargalhei sozinha, vendo-o revirar os olhos. – Os caras concordam comigo.
- Eles são uns idiotas. – Ele disse.
- Seus amigos! – Suspirei. – Só estou aqui por você! – Dei de ombros.
- Bom mesmo! – Ele disse firme. – Não sei o que seria de mim sem esse mês contigo. – Suspirei.
- Você provavelmente não ganharia nada. – Fui honesta e ele gargalhou.
- Nem par ou ímpar. – Sorri, virando o rosto para ele, suspirando.
- Não sei o que seria de mim sem sua família, Danny. – Pressionei os lábios.
- Está tudo bem com as suas coisas? – Ele perguntou. – Sua avó?
- É! – Assenti freneticamente com a cabeça. – Ela está bem... – Dei de ombros.
- Minha mãe disse que você foi visitá-la antes de vir para cá. – Suspirei fortemente.
- Ela está bem... O problema é para quem fica. – Engoli em seco.
- Ela não lembrou de você? – Ele perguntou cuidadosamente.
- Ela pensou que eu era minha mãe... – Suspirei.
- E o que você fez? – Ele segurou minha mão.
- Eu fingi ser minha mãe. – Suspirei. – Ela esqueceu alguns minutos depois e pediu o travesseiro dela... – Ele pressionou os lábios.
- Me desculpe, . – Assenti com a cabeça.
- Está ok... Já faz seis anos...
- Não é porque faz tanto tempo que para de doer... – Pressionei os olhos. – Você é da nossa família, você sabe disso, certo?
- Há 24 anos, Danny. – Ele sorriu, se deitando ao meu lado novamente. – Talvez eu devesse valorizá-los um pouco mais também. – Suspirei.
- O que está dizendo, ? Você valoriza nossa amizade e essa família sempre.
- Eu sei, mas essas viagens e...
- Não é como se eu ficasse muito tempo aqui também. – Rimos juntos.
- Não é sobre isso, Danny. – Virei meu corpo para ele, apoiando as mãos em seu peito. – Vocês me ajudaram tanto, me acolheram tanto e eu fico 10 meses por ano fora. 11 dessa vez. – Suspirei. – Você deveria ler o que eu escrevi no meu caderninho dessa vez.
- Por você não me conta? – Ele perguntou, passando a mão em meus cabelos e soltei um longo suspiro.
- Eu acho que eu estou fugindo daqui. – Comentei. – Esse trabalho, essa vida... É só uma forma de eu tentar esquecer tudo.
- Eu não sou terapeuta, , mas uma tragédia aconteceu, é compreensível que você queira fugir disso. Te fez mal, te machucou...
- Eu sei, eu só... – Neguei com a cabeça, descansando a cabeça em seu peito. – Não acho que eu deva mais fazer isso.
- E o que você quer fazer? – Ele perguntou, acariciando minha cabeça.
- Eu não pensei direito nisso ainda, mas talvez seja meu último ano na Michelin, talvez seja hora de eu voltar para casa e ficar aqui.
- Agora que você finalmente pode fazer a temporada comigo, vai querer parar? – Abri um sorriso.
- Não é porque eu quero parar que eu não possa te acompanhar, talvez o grande Daniel Ricciardo precise de uma chef? – Ele abriu um largo sorriso e ergui o rosto.
- Si-i-i-im! – Ele disse animado. – Eu amo sua comida!
- Mas você vai ter que comer o que seu nutricionista passar, não vai rolar mousse todo dia. – Apertei seu nariz e ele fez careta.
- Uma vez por mês, pelo menos? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Precisamos falar com Michael sobre isso. – Ele gargalhou. – Talvez quando você conseguir um pódio.
- Hum, uma vez a cada duas semanas? – Ele perguntou rindo.
- Gostaria de ver isso. – Suspirei. – Não é todo lugar do mundo que é fanático por Fórmula 1, então não é fácil te encontrar.
- Não perdeu muita coisa. – Ele disse rindo e sorri.
- Se é importante para você, é importante para mim, Danny. – Ele suspirou.
- 2016 vai ser nosso ano, ! Você vai descobrir o que quer fazer e eu vou conseguir um pódio de novo por você. – Sorri.
- Espero que esteja certo, Danny Ric. Espero que esteja certo. – Suspirei.
- Feliz ano novo, . Feliz que esteja aqui.
- Feliz ano novo, Danny. – Suspirei.

*Isaac: sobrinho de Daniel, filho de sua irmã mais velha, Michelle. Na história ele também é afilhado de Daniel. Daniel possui um afilhado, filho da jornalista Natalie Pinkham, mas não será citado na história.

Daniel

Abri os olhos devagar, sentindo minha cabeça doer e tive dificuldades em girar o corpo, sentindo meu braço esquerdo adormecido. Levei os dedos para os olhos, coçando-os firmemente e virei o rosto para a direção do braço doendo. dormia em cima dele e aquilo me fez sorrir. Fazia muito tempo que não nos encontrávamos. Vê-la somente um ou dois meses por ano era um saco, não tê-la acompanhando minhas conquistas ou não poder acompanhar as dela me irritava demais, mas talvez as coisas mudassem esse ano.
Sua mão estava apoiada em meu peito e o corpo inteiro virado em minha direção. Aquilo me lembrava de quando éramos menores e ela sempre dormia no meio de algum filme que tentávamos ver, apesar do nosso cansaço. Seja pelos seus estudos ou pela bagunça do meu fuso-horário interno.
Levei a mão até seu rosto, empurrando seus cabelos para trás e segurei sua cabeça para puxar meu braço devagar, evitando que ela acordasse. Estiquei o braço, dando uma movimentada nele para ver se parava de doer e dei um beijo em sua cabeça antes de me deslizar para fora da cama.
Não era só meu braço que estava levemente adormecido, meu corpo inteiro também estava. A cabeça doía provavelmente das cervejas que eu bebi e da comemoração sempre exagerada no dia anterior. Deslizei meu corpo para fora da cama, sentindo meu corpo bambear um pouco, a vista escurecer por alguns segundos, e apoiei a mão na parede para me recompor.
Fui até o banheiro, encostando a porta e fui direto para o sanitário, sentindo minha bexiga me incomodar. Dei a descarga ao terminar e segui para a pia, lavei as mãos antes de jogar água no rosto, lavando perto dos olhos, da boca e joguei água na nuca, deixando a água cair no rosto de volta. Ergui meu rosto, suspirando e passei as mãos nos cabelos, jogando-o para trás.
Puxei a toalha com força, apertando-a no rosto e na nuca e saí do banheiro. Fui direto para o closet, tirando a roupa que eu usava e troquei por uma regata e outro shorts antes de voltar para o quarto. A claridade me incomodava um pouco, mas o sol não entrava direto pelas janelas. Com o ar-condicionado ligado, meu quarto estava até que agradável.
Apoiei os braços na cabeceira da cama, vendo dormindo na mesma posição e suspirei, virando o rosto para o lado, vendo que não passava das oito ainda. Talvez tivesse acordado um pouco cedo demais. Suspirei, girando o corpo pelo quarto e franzi os olhos ao ver a bolsa dela em uma das prateleiras do armário. Fui até ela e a abri, fuçando na mesma, encontrando seu caderno com a capa vinho, com suas iniciais e uma caneta presa no mesmo.
Voltei para a cama enquanto o folheava, procurando as anotações de 2015, desde fevereiro de 2015, na verdade. Me sentei ao seu lado, esticando as pernas na cama e encontrei a primeira anotação em março.
“Hey, there, hoje é 16 de março, ou 17, não sei que horas são. Eu estou em Guam, uma pequena ilha em... Lugar nenhum, na verdade. A comida aqui é boa, mas eu comi fajitas, vai entender... Mas não quero falar disso agora... Ontem foi a primeira corrida da temporada de Danny lá em casa. Eu queria muito vê-lo, mas... Meu coração simplesmente não deixa. Quando eu o vejo correr, eu... Talvez em outra oportunidade. Ele finalizou em sexto, mas a temporada só está começando, ele é incrível, espero que esse seja o ano dele.”
“24 de maio de 2015, falei com minha avó hoje, tive alguns minutos de esperança quando ela me chamou pelo meu nome no telefone, mas talvez tenha sido só uma confusão, pois depois ela disse que não tinha neta e desligou na minha cara. As moças da clínica não devem aguentar mais pedir desculpas, mas sei que não é culpa delas, nem da vó e nem minha. É só a vida, certo? A merda da vida! Ao menos hoje tem corrida do Danny em Mônaco, não consigo ver a corrida em si, mas talvez a parte de apresentação. Sei como ele adora aquele lugar e talvez possa finalmente uma posição melhor”.
“24 de maio de 2015: quinto lugar é melhor do que as outras posições, mas não perfeito”.
“21 de julho – Vim para França para resolver algumas coisas com a Michelin e descobri que o Danny está por aqui, mas em Nice, no funeral de Jules Bianchi*, amigo dele. Merda! Eu nem fiquei sabendo que ele faleceu e me pergunto os motivos de Danny não ter me contado sobre. Na verdade, sei muito bem os motivos de ele não ter me contado, mas achei que ele precisasse de um amigo. Eles eram muito amigos nas categorias mais baixas. Preferi ficar quieta sobre o fato, só espero que ele encontre formas para continuar. Apesar de tudo, ele está fazendo uma carreira brilhante e não pode parar”.
“26.07 – Hoje Danny ficou em terceiro. Cara! Finalmente um pódio! Ele estava muito feliz, até me deixou mais feliz com tudo o que tem acontecido. Voltei o contato com minha psicóloga na semana passada, fez seis anos da morte dos meus pais, parece que ela sabe que eu vou ligar para ela, está virando uma rotina. Falando em rotina, a minha não está muito melhor também, começo a duvidar que essa vida de viagens e distribuindo estrelas por aí valha alguma coisa. Parecia ser mais empolgante no começo”.
“13 de agosto. Recebi uma ligação da Grace, Dan está de férias em Perth, ela perguntou se eu não poderia fazer uma pausa e passar o tempo com eles. Eu até poderia, mas voltar só me dá menos vontade de retornar ao trabalho. Eles são minha família e eu amo ficar com eles. Trabalho está pesando de novo, mas não tenho outra escolha com meu contrato.”
“25 de agosto. Depois de quase dois anos, finalmente transei de novo. E ponto. Eu deveria estar feliz por ainda saber fazer isso, mas só de estar optando por escrever isso aqui e não dando atenção para sei lá o nome do cara, já deve imaginar como foi, né?! Ao menos não estou sozinha na noite desastrosa, Danny saiu da corrida na 21ª volta. Besties até nisso”.
“10 de outubro: conversei com meu chefe hoje sobre um alívio no meu calendário e ele me falou que como já estou entrando no meu quinto ano na Michelin, se eu trabalhar mais do que 200 dias no ano eu posso fazer meu calendário para o ano que vem. Imagina só? Eu ficar em Perth ou até criar coragem de finalmente acompanhar o Danny? Seria legal! Mas ele disse que é por melhor colocação, talvez só 200 dias não sejam o suficiente, preciso de mais, muito mais. Danny corre amanhã, preciso mandar mensagem para ele”.
“25 de outubro – hoje é GP dos EUA e sei o quanto Danny gosta de lá – e eu começo a odiar como minhas anotações são todas com base nele, mas acho que essa é a vida da melhor amiga de um corredor. Essa semana fui para França para prestar contas e parei na Itália para um rápido curso de massas e me lembrei como é ser uma chef de cozinha. Não é sobre sentar em mesas, comer e dar detalhes, é sobre cozinhar. E eu amo demais fazer isso! Não é certeza, especialmente pela grana que vem junto disso – que eu preciso – mas talvez meus dias na Michelin estejam contados”.
“30 de novembro: Ontem acabou a temporada da Fórmula 1 e Danny finalizou em oitavo. Muito abaixo dos nossos planos no fim do ano passado. Liguei para ele umas 20 vezes e ele não atendeu, Grace me disse que ele estava chateado demais com tudo. Imagino mesmo. Talvez tenha bebido até desmaiar. Mas ele é novo ainda e tem sempre o ano que vem. Quem sabe possa acompanhá-lo e dar uma força de perto? Decidi viajar até dia 27 de dezembro, vai ser difícil passar o Natal sozinha e não aguento mais ficar aqui, mas preciso dessa folga. Um mês pela frente ainda.”
“15 de dezembro – Está chegando! Está chegando! Está chegando!”
“27 de dezembro – Adeus... Onde eu estou mesmo? Olá, casa!”.

Suspirei ao ver o fim de suas anotações e fechei seu caderno. As anotações de sempre foram cheias de altos e baixos pelos seus pais, por estar longe de nós e afins, mas ela sempre escrevia do seu trabalho com alegria e felicidade, agora parecia alguém decepcionada com tudo e querendo jogar a toalha. Essa não é a que eu conheço. Tem muito mais coisa acontecendo e eu precisava ajudar minha amiga, da forma que fosse.
- Gostou das anotações? – Ergui o olhar, vendo-a se espreguiçar enquanto rolava na cama.
- Não muito. – Falei, deitando ao seu lado e ela suspirou, ajeitando sua roupa. – O que está acontecendo, ?
- Eu... – Ela suspirou. – Começou no meio do ano, mais ou menos. – Ela virou o rosto para mim. – Eu dormi com um cara...
- Eu li... – Ele fez uma careta. – Não preciso de detalhes.
- Nem foi bom o suficiente para eu te dar detalhes. – Rimos juntos e ela pegou um travesseiro, colocando atrás da cabeça. – Mas eu comecei a pensar sobre a vida. – Ela suspirou, olhando para cima. – Ficar viajando sem rumo, sem me apegar a nada ou a ninguém, sem ficar com minha família, com minha avó... – Ela virou o rosto para mim. – Eu sinto falta de cozinhar. – Sorri.
- Também sinto falta da sua comida. – Ela suspirou.
- Eu não sei, pensei em algumas opções com isso... Abrir um restaurante ou um food truck ou talvez até uma barraquinha na praia... – Sorri, rindo com ela. – Talvez seja melhor eu voltar para casa e ficar com vocês... Sua família, na verdade. – Sorri.
- Você pode trabalhar comigo, como falamos ontem... – Suspirei.
- Temos só um pequeno probleminha nisso, né? – Ela ergueu o rosto para mim.
- Você tem que passar por isso, . De uma forma ou de outra.
- Não foi por falta de tentativa, Danny!
- Não, faz não sei quantos anos que a gente tentou, talvez agora que você queira me acompanhar, a gente tenha um pouco mais de sucesso.
- E o que você pretende fazer? Tratamento de choque? – Ela virou o rosto para mim.
- Se for preciso... – Olhei-a firme e sustentamos o olhar um do outro por alguns segundos.
- Eu não gosto disso...
- Eu sei, mas precisamos, pelo menos, fazer você usar o carro que eu te dei acima de 60 quilômetros por hora. – Ela riu fracamente.
- É meu máximo! – Ela jogou a cabeça para trás.
- Uma máquina daquela não pode caminhar, .
- Você me deu ela com essa intenção, não? – Ela apoiou os antebraços na cama, me encarando.
- Talvez um carro mais potente te empolgasse em acelerar um pouco mais forte. – Ela deu um curto sorriso.
- Não foi dessa vez, amigo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Então vai ser na base do tratamento de choque! – Levantei-me apressado.
- EI! EI! Aonde vai? – Ela perguntou rapidamente.
- Agora eu vou encontrar algo para gente comer, já que minha amiga cozinheira fica dormindo demais, depois a gente vai dar uma volta. – Desviei o rosto de quando ela ficou em silêncio e abri a porta devagar, seguindo a passos lentos pela casa.

*Jules Bianchi: Ex-piloto de Fórmula 1 que faleceu em 2015, após meses em coma devido a um acidente no Circuito de Suzuka em outubro de 2014. Ele e Daniel se conheceram em 2007 na Eurocup Formula Renault 2.0 e competiram em várias categorias juntos até a Fórmula Um.


“CAN: terminei a corrida em 13º e não consegui dormir de noite. Conversei com a por alguns minutos, já que ela está mais perto de casa e o fuso-horário deu certo, só ela sabe me animar. Pena que eu tentei fazer o mousse dela e quase explodi a cozinha, talvez eu não sirva para a parte alimentícia, só a de comer mesmo”.
“GBR: Hoje eu lembrei que tenho uma namorada... Tinha, na verdade. sempre esteve certa sobre Jemma, desde a época da escola e, mais uma vez, eu não a ouvi. Ao menos dessa vez eu vi com meus próprios olhos ela dando em cima do Heimgartner. Ela tentou explicar algo, mas também não estava bem pelo resultado da corrida – ou a falta dele – e cortei o mal pela raiz. Nota mental: não falar mais de Jemma, sobre Jemma ou com Jemma na vida”.
“17 de julho: Acabei de receber a notícia que Jules faleceu... Eu... Eu honestamente não sei o que dizer. Depois de quase um ano do acidente, quase um ano sem notícias sobre ele, fui acordado por essa notícia. Maria não sabia o que falar para mim e me abraçou por mais de 10 minutos, eu acho. Eu sempre tive a consciência sobre o perigo do esporte, mas quando acontece perto de você, com alguém que você gosta tanto... Merda! Talvez eu tivesse esperança de que ele sairia do coma um dia e voltaria a correr e que poderíamos tomar uma cerveja juntos, mas... MERDA! Vamos para Nice para o funeral, muitos corredores disseram que vão, só espero conseguir me manter firme na frente dos pais dele. Eu preciso ligar para , mas... Não é a melhor combinação.”
“HUN: Consegui um pódio hoje. 3º lugar. Não sei como consegui fazer isso, talvez pensar em Jules me deu forças para continuar. Como eu sinto falta dele. Minha família e equipe dizem para eu comemorar, já que faz tempo do meu último pódio, mas quando eu penso sobre o funeral de Jules... Merda! Eu só quero voltar a chorar de novo”
“Férias: Vim para casa nas férias e visitei o túmulo dos pais da , queria que ela estivesse aqui. Acabei deixando um brinquedinho na garagem do seu apartamento, só espero realmente que ela sinta vontade de pisar um pouco mais fundo no acelerador e perca o medo por velocidade”.
“JPN: Não vamos comentar”.
“RUS: Vamos comentar menos ainda, eu vou dormir, dois fins de semana seguidos não dá”.
“EUA: Não falo com a faz umas duas ou três semanas, mas quando eu corto a barba, é claro que ela ia mandar mensagem.
Bad move, . Bad move. Mas ela está certa sempre, talvez seja bom eu cortar antes da próxima corrida”.
“MEX: Algumas doses de tequila fazem milagre mesmo, acordei em um hotel com dois mulheres e eu acho que tinha uma terceira na sala. Só quero saber o que eu fiz e, por favor, que eu tenha usado camisinha”.

Me engasguei com a aveia, batendo no peito, deixando o caderno de Danny cair na mesa.
- Oh! Respira! – Ouvi a voz de Joe e suas mãos bateram nas minhas costas e puxei a respiração fortemente, tossindo algumas vezes.
- Eu estou bem! Eu estou bem! – Respirei fundo, pegando o copo e bebi um longo gole de suco. – Eu estou bem! – Soltei a respiração devagar.
- Pronto? – Joe perguntou e assenti com a cabeça.
- Sim, eu estou bem. – Suspirei, sentindo meus olhos cheios de lágrimas e suspirei.
- Bom dia, rapaziada! – Ouvi a voz de Daniel e ergui o olhar para a porta da frente. – !
- Daniel. – Falei séria, revirando os olhos.
- Terminou de ler?
- Acho que depois do México eu prefiro parar! – Joguei o caderno em sua direção e ele o pegou quase no chão. – E depois fala de mim.
- Ah, qual é! – Ele gargalhou, se aproximando. – É legal!
- Para você! – Sacudi a cabeça. – Apesar da nossa amizade, Daniel, aprende, ainda existem limites entre nós!
- Ah, que isso, ! – Ele apoiou o braço em meu ombro. – A gente fica grudado, o que é um detalhe ou outro? – Ele me apertou com as duas mãos.
- Eu quase morri engasgada, mas ok. – Falei, sacudindo a cabeça e ele riu fracamente.
- Prometo que não tem nada mais, vai. – Ele devolveu o caderno e respirei o fundo. – O Brasil é legal.
- Eu sei, já estive lá! – Abri as últimas páginas do seu caderno, encontrando o escrito sobre o México.
- Vou me trocar para ajudar na fazenda e você vai comigo! – Ele apontou para mim e revirei os olhos, acenando com a mão.
- É claro que não podia faltar o passeio de trator anual dos Ricciardo. – Sussurrei, voltando minha atenção para o caderno.
“BRA: Encontrei Felipe hoje e ele me trouxe muitos brigadeiros e caipirinhas. Preciso lembrar de pedir para fazer para mim, a receita parece simples, mas capaz de eu explodir a cozinha de novo.”
“ABU: A pior parte em ficar em oitavo lugar na classificação geral é ainda ficar atrás do meu companheiro de equipe por três pontos. Puta que pariu! ‘Tá bem, de oitavo para sétimo não faz tanta diferença, mas fico feliz por Massa completar em sexto, especialmente por pensar em se aposentar. Agora é seguir em frente e focar na próxima temporada.”
“Férias: Chego em casa e a não está. Ligo para ela e ela me diz que vai ficar mais tempo dessa vez. Isso não estava nos nossos planos, espero que não tenha acontecido nada e que eu a veja antes do Natal”.
“Férias: Não vi”.

Suspirei, fechando o caderno. Prendi a caneta de Danny, afastei-o de mim e voltei a prestar atenção no meu mingau de aveia, finalizando em quatro colheradas. Empurrei a tigela para perto da pia, vendo tia Grace pegá-lo para mim.
- Pronta? – Assustei-me com a voz de Danny de novo e suspirei.
- É... – Falei, rindo fracamente.
- Ok, vamos lá! – Ele disse e pulei o banquinho, seguindo-o pela porta. – Estaremos lá fora! – Ele anunciou para seus pais e o segui para fora com ele, segurando a porta quando ele passou.
- O que você vai fazer antes? – Perguntei, me abaixando por alguns segundos para colocar os cadarços para dentro do tênis antes de descer os degraus da entrada da casa para segui-lo.
- Vem! – Ele me puxou pela mão e ri fracamente, abraçando-o pela cintura e ele passou o braço em meus ombros.
- Você não tem que começar a treinar de novo? – Perguntei.
- Dirigir um trator que não sai dos 30 por hora é um grande treino. – Gargalhamos juntos. – De paciência.
-Você deveria me deixar dirigir o trator e ir treinar. – Ele me apertou.
- Não mesmo... – Seguimos em direção ao celeiro, ouvindo os pés deslizarem pela terra. – Pelo menos não sem você.
- Danny... – Gemi.
- Nã-não! Você vai comigo! – Ele disse. – Eu falei com minha marketeira, você vai! – Ele me apertou com ele.
- Ah, cara! Por que eu fui abrir minha boca? – Suspirei.
- Mesmo se você não tivesse falado nada, . Eu li seu caderno! Você precisa disso! Eu preciso disso! – Nos separamos para abrir o celeiro.
- Sinto muito pelo Jules, afinal. – Falei, pegando-o desprevenido. – É, eu li seu caderno também. – Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. – Você deveria ter me ligado, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Eu sei, eu só... Acho que estava um pouco perdido. – Aproximei-me dele.
- Você deveria ter me ligado. – Falei firme. – Eu estava na França, poderia ter ido até você. – Passei a mão em seu braço. – Como eu não posso sofrer sozinha, você não pode também, ok?! – Ele assentiu com a cabeça e passei meus braços pelos seus ombros, abraçando-o apertado e suas mãos foram para minhas costas.
- Obrigado... – Ele sussurrou perto do meu ouvido e pressionei meus lábios em sua bochecha antes de nos afastar.
- Eu sempre estarei aqui por você, está bem? – Falei, olhando em seus olhos .
- Eu também. – Ele disse, também dando um beijo em minha bochecha, me fazendo sorrir. – Acho que é sobre isso que estava falando. Precisamos disso. – Assenti com a cabeça. – Dar mais valor à essa amizade e a importância dela para gente...
- Sim, talvez seja bom. – Ele sorriu e voltei para o outro lado da porta.
- Um ano sabático, que tal? Bem, nós dois estaremos trabalhando, mas ao menos estaremos nos apoiando nos momentos difíceis. – Sorri, travando a porta com a corrente antes de entrar no celeiro.
- Mas eu estou esperando você me sequestrar e me enfiar em um carro. – Falei, vendo-o seguir até o trator.
- Eu nunca faria isso, ! – Ele disse sério. – Eu vou ser gentil, prometo.
- Oh, cara! – Revirei os olhos. – Eu estou com o México na cabeça, então estou me perguntando se você foi gentil com elas. – Ele gargalhou alto.
- Cara! Esquece isso! – Gargalhamos juntos e coloquei as galochas.
- Eu não queria nem saber disso! A culpa é toda sua! – Ele apertou as mãos no rosto, me fazendo rir.
- Eu não lembro muito. – Vi seu rosto avermelhar e gargalhei.
- Você pode não se lembrar, mas eu tenho certeza de que, se elas ainda estavam no quarto, algo aconteceu depois! Você talvez só tenha deixado de fora, porque a confusão é mais legal do que contar.
- ! – Ele gritou, me fazendo gargalhar.
- Você não me engana, Danny Ric! – Ele ligou o trator, fazendo o barulho nos incomodar. – Ah, seu filho da mãe! – Virei para trás, colocando as luvas antes de pegar o balde.
- EU JÁ VOLTO! – A voz dele ficou alta.
- ESPERA! – Gritei, me aproximando do trator, vendo-o inclinar o corpo para meu lado.
- O quê? – Ele perguntou.
- Eu só tenho um comentário. – Apoiei a mão no trator.
- Sobre...
- México! – Ele apertou o rosto e gargalhei. – Ei! Eu mereço isso!
- Talvez essa seja a desvantagem de ter uma melhor amiga!
- Ah, cala a boca. Você escreveu, então você achou a experiência interessante! – Ele pressionou os olhos com firmeza.
- Ah, cara! Manda! – Ele abriu um sorriso e dei de ombros. – O que você quer saber?
- Eu não quero saber nada, eu quero fazer um comentário! – Falei e ele suspirou.
- Desembucha! – Ele disse, respirando fundo.
- Eu sempre achei que você fosse mais o tipo romântico do que pegador. – Dei de ombros. – Vai ver me enganei! – Dei as costas, vendo-o revirar os olhos.
- Eu sei ser romântico, ok?! – Ouvi seu grito e gargalhei, dando um sorriso antes de seguir para a ração das galinhas.

Daniel

- Onde está ? – Perguntei, jogando a bola para Michael.
- Foi pegar o Isaac por mim. – Ouvi a voz de minha irmã e virei o rosto para Michelle, encontrando-a com o rosto escondido embaixo do chapéu enquanto deitada na espreguiçadeira.
- Ela está demorando. – Comentei baixo.
- Ela deve ter precisado trocá-lo também. – Ela comentou e assenti com a cabeça.
- Eu preciso comer algo. – Falei, sentindo o cheiro da carne vindo da churrasqueira.
- Olha quem está aqui! – Virei o rosto para porta, vendo saindo de casa com Isaac em seu colo. – Lindinho, cheiroso e pronto para piscina! – Ela ajeitou o chapéu na cabeça dele, me fazendo sorrir.
- Ah, obrigada! – Michele sorriu.
- Me dá ele aqui! – Estiquei as mãos.
- Não, deixa ele comigo! – disse, pressionando o nariz na bochecha de Isaac. – Ele está cheiroso.
- Vem para piscina também! – Falei, jogando um pouco de água em sua direção.
- Eu tenho que tirar esse vestido. – Ela disse, deixando seus chinelos perto de uma espreguiçadeira vazia.
- Me dá ele, você tira e entra. – Falei e ela suspirou.
- Posso, Mi? – Ela virou para minha irmã.
- Claro que pode! Vocês dois cuidam dele quase melhor do que eu e o Jason. – Ela disse.
- Cuidado com ele! – disse firme e andei até a parte rasa da piscina, esticando as mãos para ela, e peguei Isaac, apoiando-o em meu peito.
- Cadê o gordo do padrinho? – Dei um beijo em sua bochecha. – Cadê? – Fiz cócegas em sua barriga, fazendo-o rir.
- Não faz ele rir, eu dei mamadeira para ele agora. – pediu e ergui o rosto para ela, vendo-a se afastar alguns passos.
- Com um tio bobão desse, não tem como não fazer ele rir. – Disse, vendo-a puxar o vestido para cima...
Observei o corpo de embaixo do biquini, perdendo alguns segundos ao observá-la ajeitar o biquini na região do quadril, depois subir para seus seios e arrumar o tecido em seu bumbum. As poucas tatuagens em seu corpo, inclusive as que dividíamos, pareceram sumir de sua pele enquanto eu a observava. Ela ergueu os braços, amarrando os cabelos em um rabo de cavalo e pressionei os lábios com o feito.
Desde quando a é gostosa assim?
- UAU! OLHA ELA! – Me distraí com o grito de Michael.
- GATA! – Tom gritou.
- Não fala muito que o Daniel vai expulsar mais do grupo! – Blake disse e revirei os olhos.
- Há, há, há, engraçadinhos! – Revirei os olhos.
- Tenho pena quando a trouxer um namorado para cá. – Grace disse e minha amiga riu fracamente.
- Quem não deve, não teme, mãe. – Falei, vendo se sentar na beirada da piscina.
- Deve o quê, Daniel! Pelo amor de Deus. – Ela chutou água em minha direção.
- Cuidado com o Isaac. – Falei, abraçando-o apertado.
- Não estou querendo atingi-lo, quero atingir você! – Ela disse, impulsionando na piscina, afundando até o quadril. – Eu lidei bem duas vezes com a Jemma, você pode também!
- Não... – Gargalhei. – Você lidou bem uma vez.
- Ah, não me lembra daquela época! – Neguei com a cabeça. – Talvez eu não tenha sido justa, mas ela era uma filha da puta na escola.
- UOU! – Os meninos gritaram, me fazendo gargalhar.
- E depois ela cresceu e virou uma vadia! – Ela disse.
- Eu já falei que você tinha razão! – Falei.
- Ah, mas eu vou continuar dançando em cima de caixão fechado sobre isso. Lide com isso! – Ela disse, afundando o corpo na piscina, abaixando os cabelos e virei o rosto para minha mãe.
- Ela tem razão, sabe? – Ela comentou e apareceu na superfície de novo.
- Me dá ele aqui! – Ela passou as mãos na ponta do rabo de cavalo, tirando o excesso de água e me peguei observando seus seios mais uma vez. – Quer parar de olhar? – Arregalei os olhos.
- O quê? – Ri fracamente e ela tirou Isaac de meu colo. – Eu não fiz nada.
- Uhum, é! Cala a boca e pega a boia dele. – Ela disse, jogando água em meu rosto e gargalhei, nadando até o outro lado da piscina, e Michael me jogou a boia de Isaac.
- Eu vi isso. – Ele disse.
- Cala a boca. – Falei rindo, voltando para perto de , apoiando as duas mãos nas laterais da boia.
- Segura firme. – disse e ela sentou Isaac na boia, fazendo-o gritar rindo. – Cadê meu afilhado mais lindo? – Ela passou as mãos nos cabelos loiros dele, abaixando o pequeno topete. – Gosta da boia? – Ela falou fofa com ele, se afundando até os ombros.
- Claro que ele gosta, tio Daniel que deu. – Falei e ela riu fracamente.
- Você é um idiota. – Ela disse rindo. – Mexe devagar. Não quero que ele vomite. – Ela disse, se afastando alguns passos de costas e mexi a boia devagar.
- Quer ir com a tia ? – Cochichei para ele, vendo-o bater as mãos na boia. – Olha a titia! – Empurrei-o devagar para perto de , ouvindo-o rir e ela bateu as mãos em direção a ele.
- Cadê meu meninão? – Ela perguntou com voz infantil. – Cadê o homem mais lindo dessa família? – Ela disse.
- Ei! – Falei, ouvindo o pessoal gargalhar.
- Assim você acaba com o ego do Daniel, querida! – Grace disse.
- Não estou mentindo, o Isaac ganha de todos vocês! Até de você, Danny, desculpe. – Ela disse rindo.
- Ok, ele é fofo, mas eu ainda sou mais gato. – Falei, esticando os braços para cima em muques.
- Ridículo! – Ela jogou água em minha direção. – Ele começa te ganhando só pelo nariz. – Ouvi minha mãe gargalhar.
- Isso, ri mesmo, esse nariz é teu, dona Grace! – Falei e ela negou com a cabeça.
- E ainda assim você saiu o segundo mais bonito da família! – Minha mãe disse, me fazendo revirar os olhos e ouvi a risada de Isaac.
- Você está rindo, né? – Aproximei-me dele. – Você vai crescer e eu vou voltar a ser o mais bonito dessa família, você vai ver!
- Até um de vocês dois começarem a ter filhos. – Michelle disse, me fazendo rir.
- A é da família, não é? – Meu pai disse.
- É, por quê? – Franzi a testa.
- Porque ela ganha de todos vocês! – Ele disse, fazendo gargalhar.
- Ok, os membros de sobrenome Ricciardo são elegíveis ao cargo de pessoa mais bonita da família. – Falei e gargalhou, negando com a cabeça.
- Lide com isso, Daniel! – jogou água em mim, me fazendo rir.
- Os três são lindos, que tal isso? – Minha mãe disse. – Agora junta os três lindos para uma foto, vai. – Ela se aproximou com o celular.
- Mais uma para o hall da casa. – Alex gritou e virou a boia de Isaac e me aproximei dela, passando a mão em sua cintura.
- Sorriam. – Ela apoiou a mão em meu ombro e sorri para a foto. – Lindos! – Ela disse sorrindo.
- Depois me manda, tia Grace! – disse, afundando o corpo na piscina novamente. – Agora vem cá, meu meninão! – Ela puxou a boia de Isaac para si. – Vamos sair de perto desse feio aí! – Ela sussurrou.
- Addams! – Chamei-a, fazendo-a rir.
- Ah, desculpe, eu não resisto! – Ela sorriu, inclinando o corpo para trás. – Agora tira esse bico da cara e vem brincar com ele, precisamos aproveitar antes da temporada começar. – Ela disse e deixei um sorriso se formar em meu rosto, deslizando o corpo na água para próximo deles.
- Deveríamos brincar de “pega bebê”. – Falei.
- Ah, claro. Aí ele vomita aqui e tem que esvaziar a piscina inteira. – Ela disse sarcasticamente, me fazendo rir.
- Ah, não. Tem tempo para o verão acabar ainda. – Comentei, vendo o sorriso em seu rosto.


Tirei a casca, jogando-a na panela fervente de água com açúcar e fechei-a novamente, suspirando com o cheiro. Coloquei as rodelas de limão dentro da coqueteleira e pressionei-as algumas vezes, extraindo o suco da mesma.
Peguei a garrafa de pinga brasileira e tirei o lacre da mesma, coloquei duas doses dentro da coqueteleira, acrescentei as duas colheres de açúcar e fechei a mesma, sacudindo algumas vezes, ouvindo o barulho do sacudir na mesma.
Abri-a novamente e fui até o freezer, pegando o copo e joguei o gelo dentro da mesma na pia antes de encher novamente com pedras de gelo e despejei todo o conteúdo no copo, vendo o líquido se misturar com o gelo. Coloquei um canudo na mesma, dando algumas mexidas, e acrescentei uma rodela de limão no canto do copo.
Peguei o copo e deslizei os pés para fora da casa de Daniel, sentindo a diferença de temperatura de dentro para fora e estiquei o copo em direção a ele, vendo-o abrir um largo sorriso e coloquei o copo em frente.
- Oh, você fez! – Ele disse animado.
- Não sei se ficou bom, não experimentei. – Falei, me sentando na cadeira livre ao lado de Grace e ele sugou pelo canudo um gole, soltando um suspiro logo em seguida.
- Oh, cara! Você é demais! – Ele disse, me fazendo rir.
- O mais difícil foi achar a tal da pinga, mas a receita é bem fácil. – Comentei, vendo-o esticar o copo para mim e segurei-o também pelo canudo, dando um gole no mesmo. O gosto amargo da pinga se misturava com o limão e o doce do açúcar, deixando aquilo bem agradável para os dias de calor. – Eu dei uma estrela um dia para um boteco por causa dessa bebida, sabia?
- Sério? – Michelle perguntou surpresa e estendi o copo para ela.
- Sim! – Falei rindo. – E com o pastel de bacalhau deles, uma delícia. – Relaxei o corpo na cadeira.
- Então você já se divertiu no Brasil, ! – Daniel disse, me fazendo rir.
- De todas as formas de interpretação da frase, meu amigo Daniel! – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- É bom ver você se divertindo. – Grace disse e dei um pequeno sorriso, pressionando os lábios.
- Tem bons e maus momentos. – Dei de ombros. – E depende do meu humor também. Se eu quero surtar ou se eu estou mais de saco cheio, com sorte cheguei no Brasil com bastante humor. – Eles riram.
- Daniel nos contou que está pensando em ir com ele nessa temporada. – Suspirei ao ouvir a voz de Grace.
- É... Pois é. – Pressionei os lábios.
- O quê, querida? – Ela disse e tombei o corpo para trás, soltando a respiração fortemente para cima. – Vai ser bom vocês dois passarem o ano juntos, vai fazer bem...
- Foi o que eu falei. – Daniel disse. – Faz uns 10 anos que não ficamos um ano inteiro juntos, vai ser bom tanto para mim quanto para ela.
- Eu sei, eu sei, mas não se empolguem tanto, tem um pequeno problema a levar em consideração ainda. – Falei.
- E eu vou te ajudar com isso. Bebe mais umas dessas que eu te levo hoje mesmo. – Daniel disse, me fazendo rir sarcasticamente.
- Uhum, claro, claro! – Falei, vendo-o sorrir para mim.
- Já conversamos sobre isso um milhão de vezes, . Você precisa se deixar abrir e...
- O problema não é eu me abrir, tio Joe. Se fosse isso estava fácil. – Comentei, suspirando. – Meu problema é... – Ergui os olhos para Daniel. – Vocês sabem muito bem qual é. Não preciso falar com todas as letras. – Suspirei.
- Nós sabemos. – Michelle disse, bebendo mais um gole da caipirinha brasileira.
- É um medo meu, é algo que ficou, vamos ver o que vai rolar. – Dei de ombros. – Eu só preciso de tempo.
- Não temos muito, já avisando. – Daniel sorriu largamente e suspirei, jogando a bolinha de guardanapo nele.
- Por favor, Daniel, não quero a também tendo um ataque cardíaco e nem outra crise. Está tudo indo muito bem. – Grace disse.
- Eu sei, mãe! Mas ela não vai melhorar com o poder da mente! Acredite, eu tentei. – Dei um curto sorriso, rindo fracamente.
- Ok, ok, chega! Vamos falar sobre a outra questão, então. – Grace disse.
- Que outra questão? – Foi minha vez de perguntar.
- Seu trabalho. – Tio Joe disse e suspirei. – O que está acontecendo? Você sempre gostou de lá.
- Não banca o pai, pai! – Daniel disse.
- Eu sou o pai dela! – Joe disse firme, olhando para Daniel. – Tenho um pedaço de papel que me coloca como responsável legal por ela. – Suspirei, passando a mão na testa. – Então, sim, eu me sinto no direito de saber o que está acontecendo com ela.
- Gente, por favor... – Michele disse e joguei a cabeça para cima, suspirando.
- Desculpe... – Daniel disse baixo, escondendo os lábios no copo e suspirei.
- Eu só estive pensando um pouco sobre a vida, sabe... – Dei de ombros. – Mudar um pouco as coisas mesmo, ficar mais tempo perto de vocês... – Suspirei. – Tentar algo novo... Sei lá. – Pressionei os lábios.
- Você sabe que sempre estaremos com você, não sabe? Sempre apoiando suas decisões? – Assenti a cabeça com tio Joe e o choro de Isaac me distraiu.
- Opa! – Jason falou.
- Eu vou! – Falei, empurrando a cadeira, querendo sair daquela conversa o mais rápido possível.
Voltei para dentro da casa, passando pelo corredor, seguindo o som do choro e entrei no quarto de Michelle. Encontrei o bebê chorando no berço e tirei meu afilhado de lá, apoiando-o em meu peito.
- Está tudo bem, amorzinho! – Dei um beijo sua cabeça, aproximando-me da poltrona no canto do quarto e me sentei no mesmo. – Madrinha está aqui.
Inclinei meu corpo para trás, ajeitando-o em meu peito e dei um beijo em sua cabeça, ninando-o devagar, ouvindo o choro reduzir aos poucos. Passei a ponta do dedo em seu rosto, acariciando-o devagar, sorrindo quando ele apertou a mão em meu peito.
- Meu amorzinho. – Suspirei, ouvindo dois toques na porta e encontrei Daniel. – Ei...
- O colinho da tia é muito bom, né?! – Dei um curto sorriso.
- Parece que sim. – Suspirei. – Ele dorme como você. – Ele riu fracamente, entrando no quarto e se sentou no braço da poltrona em que estou.
- Acho que eu babo mais. – Ele comentou, apoiando a mão em meu ombro, deslizando o corpo para o meu lado.
- Eu ganho nessa competição. – Falei, ouvindo-o rir fracamente, dando um beijo em minha cabeça.
- Você quer conversar? – Ele perguntou.
- Não... – Falei, suspirando. – É sempre o mesmo assunto.
- Eles estão preocupados contigo. – Ele disse, passando a mão em meus cabelos.
- Eu sei... Eles sempre estão. – Neguei com a cabeça.
- Você não quer que eles se preocupem?
- Não é isso, Danny. É como seu pai disse, eles são meus guardiões legais para tudo o que precisar e vão ser pelo resto da vida. – Suspirei. – Eu só não quero lidar com isso agora. – Neguei com a cabeça.
- Vamos conversar depois? – Ele perguntou.
- É claro! – Ergui o rosto para ele, vendo-o sorrindo para mim e ele apertou meu nariz, me fazendo rir fracamente. – Não agora.
- Posso ficar contigo? – Ele perguntou.
- Sempre. – Falei e ele me abraçou forte, apoiando o queixo em minha cabeça e suspirei, olhando para Isaac dormindo em meu colo.

Daniel

- Vai, mais forte! – Michael me forçou e fechei os olhos com força, sentindo as mãos fecharem. – 10 segundos.
- Isso, garotão, trabalha esse pescoço grosso seu aí! – Abri os olhos, sentindo minha cabeça ser jogada para trás quando perdi a atenção.
- Oh! – Michael reclamou e vi na porta. – !
- O quê? Eu só fiz um comentário, não é minha culpa se ele perdeu o foco. – Ela deu de ombros.
- Quer falar comigo? – Me levantei da bola, tirando o aparelho da cabeça, passando as mãos nos cabelos.
- Sua mãe me pediu para pegar o bolo da sua irmã, mas é na cidade e eu não posso ir a 60 por hora na estrada. Queria saber se podia ir por mim. – Ela fez uma careta.
- Bolo? – Michael perguntou e virei o rosto para ele.
- É, bolo! – Falei sugestivamente. – Vamos comemorar o aniversário da Mi mais cedo por causa da temporada. – Arregalei os olhos e ele franziu os dele, entendendo finalmente.
- Ah, sim! Sim! Ela mencionou. – Ele bateu a mão na cabeça. – Eu estou avoado hoje.
- Sempre, né?! – provocou, me fazendo rir.
- Eu já volto. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Continuamos na volta. – Ele mencionou.
- Por que você não vem conosco? – Sussurrei. – Talvez precise de ajuda.
- Claro! – Ele assentiu com a cabeça, largando o aparelho e dei a volta, afrouxando a camisa suada do corpo.
- Só vou trocar de blusa.
- Fica feliz que eu penso em tudo! – jogou uma blusa em mim antes de sair pela porta e tirei a minha na pressa.
- O que vai fazer? – Mike perguntou enquanto me trocava.
- Tratamento de choque. Não sei se vai dar certo, mas preciso tentar. Não quero ela escondida no camarim enquanto eu corro. Ou pior, em crise de pânico sozinha no hotel. – Ele assentiu com a cabeça e segui pela porta, passando pela casa e encontrei na sala com minha mãe. – Vem, !
- O quê? – Ela perguntou confusa.
- Vem comigo! – Estiquei a mão e ela suspirou.
- Não inventa, Daniel.
- Eu não vou inventar nada, vem logo! – Chamei-a e ela suspirou.
- Abaixo dos 80, Daniel. – Ela disse sério.
- Você sabe que eu dirijo como uma lesma na rua. Não vou me desgastar para pegar um bolo, fala sério. – Falei e ela suspirou.
- Até mais tarde! – Ela disse para minha mãe que também me deu o olhar sugestivo e me senti cometendo algum tipo de crime.
tem medo de velocidade desde que seus pais morreram há seis anos em um acidente de carro. E eu digo velocidade, pois ela não tem problemas em dirigir, o problema dela é quando o velocímetro passa de 60 km/h. O que é um pouco irônico pensando que eu atinjo velocidades acima de 360 km/h em alguns circuitos em linha reta, e é aí que começa o problema dela. Achamos que fosse um medo dela, mas a iminência do perigo na Fórmula 1 não te dá margem para erros, então nem me ver correndo ela consegue fazer sem ter uma crise de pânico.
Tentamos várias vezes quando ela começou a demonstrar as primeiras crises, mas ela sempre fugiu e os psicólogos que a atenderam não conseguiram destravar essa parte do psicológico dela. Minha carreira está em ascensão e eu quero muito minha amiga ao meu lado, então eu tenho uma ideia de que talvez a faça me odiar pelo resto da vida, mas é um bom jeito de começar.
Ela se distrai muito fácil com música, especialmente quando ela está dirigindo, tanto que já notei ela se aproximando dos 100 km/h quando ouve música, quando ela percebe isso, ela trava e reduz, mas enquanto ela está envolvida pela música, ela realmente consegue se soltar.
- Podemos ir no seu? Quero sentir ela. Só dirigi duas vezes. – Perguntei.
- Claro! – Ela disse tirando a chave do bolso e segurei a porta para ela passar.
- Vamos lá!
- Vai conosco? – perguntou para Michael.
- É, não vou deixar os pombinhos sozinhos. – Eu e reviramos os olhos com a brincadeira mais velha de todas e que eu ouço desde meus oito anos.
- Cala a boca. – Ela disse e abriu a porta de carona do carro, entrando no mesmo e fiz o mesmo do outro lado, observando colocar o cinto de segurança e fiz o mesmo ajeitando o banco do carro de forma mais confortável.
- Só falta sentar em cima do volante! – Falei.
- Ah, cala a boca! – Ela disse rindo e puxei a porta.
- Vamos lá... – Suspirei, ajeitando o espelho, vendo Michael no banco de trás e suspirei.
- Posso ligar o som? – Perguntei.
- Minhas músicas! – Ela disse firme e ri fracamente.
- Coloca The Veronicas. – Falei, fingindo desânimo e ela riu fracamente.
A música If You Love Someone começou logo em seguida e depois de tantos anos e até ter a levado em alguns shows quando mais novos, até eu sabia cantar a maioria das músicas, mas aumentei o som e deixei-a aproveitar o passeio até a falsa confeitaria. O aniversário de Michelle era em fevereiro, poderíamos comemorar uns 15 dias antes, mas não vamos exagerar.
Enquanto ela cantava Hook Me Up a plenos pulmões, com a cabeça para trás e as mãos se movimentando no ritmo da música, eu segui para a pista que eu treino, nos arredores da pista de kart dos meus pais. Pena que ela é boa multitarefas, ao contrário de mim, e percebe quando algo está errado.
- O que estamos fazendo aqui, Daniel? – Ouvi sua voz, vendo-a abaixar o som e dei um tapinha em sua mão, aumentando o som de novo. – DANIEL!
- Relaxa, ! – Falei, tentando desviar sua mão do aparelho de som enquanto focava na rua.
- Daniel Joseph Ricciardo! – Ela disse forte e deixei-a abaixar o som enquanto eu freei.
- ... – Virei para ela.
- O que está fazendo? – Ela perguntou forte.
- !
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – Sua voz ficou mais alta e vi os olhos avermelhados.
- ME ESCUTA! – Gritei no mesmo tom. – Por favor, me escuta. – Segurei seu rosto. – Eu amo você, ! Você é a minha melhor amiga em anos, eu quero você perto de mim, mas você precisa perder esse medo! – Falei cada palavra firme, focando seu rosto em mim. – Você gostava disso, nos divertimos muito juntos, por favor... – Acariciei seu rosto com o polegar, vendo uma lágrima deslizar por ali. – Me deixa tentar do meu jeito.
- Eu não consigo...
- Você consegue! – Falei por cima dela, sentindo minha voz apertar também. – Eu quero você comigo esse ano. E eu não quero te ver sofrendo por isso ou fugindo como acontece há cinco anos. – A vi engolir em seco. – Por favor, me deixa tentar. Você precisa passar por isso. – Ela respirou fundo.
- Eu vou surtar, eu...
- Eu cuido de você! – Falei firme. – Por favor... – Suspirei. – Confia em mim.
- Eu sempre confio, Danny, mas não é isso, eu me lembro deles, eu me lembro do que houve e eu penso que algo ruim vai acontecer contigo e eu não posso te perder também... – Respirei fundo.
- Você confia em mim? – Perguntei firme e ela entendeu a seriedade da situação, olhando em meus olhos. A resposta demorou para vir, mas o suspiro deu minha resposta antes de confirmar.
- Sim... – Ela disse fracamente e puxei-a pela nuca, colando meus lábios em sua testa.
- Respira fundo. – Pedi e ela assentiu com a cabeça. – Cinco minutos, ok? – Pedi e ela tombou a cabeça para trás.
Virei o rosto para trás, vendo Michael assentindo com a cabeça e voltei a olhar para frente. Girei o volume do som novamente, ouvindo outra música da The Veronicas tocando e mudei algumas vezes, encontrando alguma mais agitada.
Guiei o carro para a parte externa da pista, focando no circuito redondo e não nas curvas da pista, especialmente por ela ter sido designada para karts, não carros com mais de 500 cavalos de potência e que chegam a 300 km/h, mas não pretendia chegar nem perto disso ainda ou perderia minha amiga e não seria nem de raiva, seria de ataque cardíaco mesmo.
Apoiei minha mão em cima da sua, apertando-a firme e senti suas duas mãos apertarem com firmeza. Meus pés foram para os dois pedais, apertei o freio com força e comecei a apertar o acelerador devagar também, começando a ouvir o barulho do motor. As mãos de começaram a apertar a minha cada vez mais forte quando o barulho do motor fez a música silenciar por alguns minutos.
Quando eu tirei o pé do freio, os pneus cantaram e o carro começou a se movimentar, fazendo as unhas de me apertarem e tentei continuar apertando-a, enquanto mantinha o volante firme e prestava atenção na pista.
O carro atingiu 135 km/h antes de eu desacelerar para a primeira curva e o velocímetro começou a aumentar progressivamente em linha reta. 145, 155, 165, 175. Quando estava para atingir o 180, ouvi um grito e não veio de .
- DANIEL! – Ouvi a voz de Michael, me fazendo sair da pose de corredor e tirar o pé do acelerador, sentindo o carro reduzir a aceleração lentamente, mas de forma progressiva.
Quando o carro finalmente parou, minha mão direita estava amortecida, mas não me importei, só virei o rosto para com pressa. Sua cabeça estava tombada para baixo, com os cabelos caindo no rosto e somente suas mãos apertando a minha e parte do meu braço.
- ... – Chamei-a baixo, mas ela não respondeu.
- Foi muito, cara. – Ouvi Michael e suspirei.
Forcei sua mão para soltar a minha e dei a volta no carro correndo, abrindo a porta de seu lado e abracei-a com força, inclinando seu corpo para trás. Suas mãos foram para as minhas costas e suspirei aliviado, ela ainda estava sã. Colei meus lábios em sua cabeça, dando rápidos beijos em seus cabelos e em sua testa antes de afastar meu rosto do dela, tirando os cabelos de seu rosto, finalmente vendo os olhos e bochechas avermelhadas pelas lágrimas acumuladas em seu rosto e deslizando em suas bochechas.
- Você foi incrível, ! Você foi incrível! – Repeti diversas vezes, ouvindo sua respiração acelerada. – Você foi muito corajosa. – Olhei para Michael por cima dos ombros e ele assentiu com a cabeça. – Está tudo bem.
- Me leva para casa? – Ela sussurrou.
- Sim, eu levo. – Assenti com a cabeça. – E vamos ficar no meu quarto, assistindo Shrek e comendo muita pipoca com chocolate. – Ela riu fracamente. – Você merece. – Ela assentiu com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- Eu acho que eu quero vomitar. – Ela disse e desviei para o lado, dando espaço para ela, puxando seus cabelos para trás enquanto ela inclinava o rosto para frente enquanto a ouvia golfar.
- Isso, deixa sair! – Dei um tapinha em suas costas, erguendo o rosto e respirando fundo. – Deixa sair...

*Michael Italiano: Personal trainer do Daniel. Eles são amigos desde 2001, mas Michael se tornou treinador dele somente em 2017, o que foi alterado na fanfic.

Capítulo 2

Duncraig, Austrália, 1993


ouviu um barulho e levou as mãozinhas para a boca, tentando acalmar sua respiração acelerada. Os passos ficaram cada vez mais altos e ela viu, pelo buraco na madeira, Daniel entrar com os cabelos cacheados que estavam baixos pelo quanto ele já havia suado.
- ? – Ele gritou e a menina apertou as mãos na boca com força, acompanhando-o andar para dentro devagar.
Quando Daniel já estava no meio do celeiro, ela se levantou de seu lugar e passou devagar pelo buraco na madeira, tentando fazer o mínimo de barulho possível no chão sujo de feno. Quando Daniel estava longe o suficiente, ela saiu correndo, chamando a atenção do amigo.
- ! – Ele disse e ela saiu gargalhando pelo gramado na fazenda dos pais de Daniel, correndo por entre alguns animais e assustando algumas galinhas.
- Não me pega! – Ela brincou, fazendo seus cabelos voarem com o vento e os pés de tênis bateram no chão, erguendo um pouco de terra.
A meta de era chegar na pilastra da entrada da casa, mas os pés deslizavam na terra e parecia que Daniel estava mais rápido do que ela. A risada do seu amigo ficou mais alta e ela tentou pegar mais fôlego para bater a mão na pilastra, tropeçando no primeiro degrau.
- Um, dois, três, ! – Ela falou animada, sendo empurrada para o lado quando Daniel a alcançou. – Ah! – Ela abraçou a pilastra quando seu corpo caiu para trás e Daniel gargalhou, caindo de joelhos no chão.
- Foi qua-a-a-se!
- Qua-a-a-a-a-ase! – Ela falou gargalhando e ele se sentou na entrada da casa, puxando a respiração com força. – Cansei. – se sentou ao seu lado, deitando-se no chão em seguida.
- Você corre mais rápido do que eu. – Ele disse e ela riu fracamente.
- Hoje sim, mas ontem você ganhou! – Ela disse rindo. – Acho que estamos empatados.
- Já perdi a conta. – Ele disse apoiando os cotovelos nos joelhos.
- A gente começa do zero amanhã, que tal? – Ela se levantou.
- Combinado! – Ele falou animado e eles bateram as mãos com largos sorrisos nos rostos.
- DANIEL! ! – A voz de Grace foi ouvida do lado de dentro e ambos viraram os pescoços com pressa para ela que logo abriu a porta da casa. – Ah, vocês estão aqui. – Ela sorriu, passando as mãos no avental. – Ah, não fica no chão! Está imundo! – Ela disse.
- Opa! – fez uma careta.
- Para dentro, os dois! Vou dar banho para depois vocês comerem! – Ela disse. – A Helena me mata se eu entregar você assim, ! – A menina gargalhou, seguindo logo atrás de Daniel.
- É só sujeira, tia Grace! – A menina disse rindo enquanto os mais novos seguiam a mãe do menino.
- A gente pode ir na banheira, mamãe? – Daniel perguntou.
- Hum... Deixe-me pensar! – Grace fingiu pensar enquanto ia com eles até o quarto de Daniel, abrindo a porta para ambos entrarem.
- Vai, mamãe! De-e-e-ixa! – Ele disse e Grace riu fracamente. Seria muito mais fácil colocar ambos na banheira e deixar a sujeira sair naturalmente.
- Eu vou ligar a água para vocês.
- ISSO! – Ele comemorou.
- Não sentem na cama, vai sujar tudo! – Grace alertou antes de seguir para o banheiro.
O quarto de Daniel é ideal para um garoto de quatro anos, vários brinquedos espalhados, lençol de carrinhos e alguns pôsteres colados baixo na parede, muitos por influência do seu pai. A corrida faz parte do sangue de Daniel, então pôsteres de Ayrton Senna e Dale Earnhardt era só o começo disso. O pôster do Michael Jordan também estava junto, mas destoava de todo o resto.
- Crianças, podem vir! – Grace falou e ambos riram.
Daniel foi mais rápido que , tirando a blusa e o short antes de correr até o banheiro com a mãe e fez o mesmo mais devagar, mas deixou sua roupa dobrada – do seu jeito – em cima da cama do menino e deixou os tênis no canto, e não tudo jogado como ele. Ela foi para o banheiro, vendo Daniel entrando na banheira que ainda enchia, e Grace esticou a mão para ela.
- Vem! – Ela disse sorrindo e tirou a calcinha antes de Grace ajudá-la a entrar na água fresca do lado de Daniel.
- Aqui, ! – Daniel lhe esticou um coala de borracha e ela sorriu, se sentando ao seu lado.
- Eu gosto dele. – Ela disse apertando o bichinho que fez um guincho e Daniel sorriu para ela.
- Eu quero o carro. – Ele se inclinou para pegar o carrinho de borracha e trazê-lo para sua frente.
- Deixa eu molhar vocês! – Grace disse, pegando o chuveirinho e molhando os cabelos cacheados de Daniel que caíram na cabeça com a água, e depois fez o mesmo com os cabelos de , puxando o lacinho que os prendia. – Fiquem de molho um pouco, ok? Vou pegar as toalhas. – Ela disse e assentiu com a cabeça.
- A gente devia ter ido na piscina. – Daniel disse. – Tá calor.
- A gente numa piscina, Danny! – disse rindo, afundando o coala na água e ele riu.
- Uma maior! – Ele falou rindo e a menina sorriu.
- Amanhã você pode ir em casa. – Ela disse e ele abriu um largo sorriso, fazendo-a retribuir.
- Vou ver se a mamãe deixa! – Ele disse.
- Deixa sim, aí a gente pode ir na piscina! – Ela ri, jogando um fio de cabelo para trás.
- Eu posso levar minha boia de crocodilo. – Ele disse.
- Isso! – Ela falou feliz. – Aí a gente pode brincar na boia, eu posso pedir a bola para mamãe e a gente passa o dia todo lá!
- Isso! – Ele falou na mesma animação, fazendo Grace, que espiava na porta, dar um sorriso. Feliz pelo garoto ter feito uma amizade gostosa como aquela.
- Como vocês não começaram a se ensaboar ainda? – Ela falou, deixando as toalhas na pia e os dois riram. – Vai, pode começar pelo sabonete, Daniel, vou lavar o cabelo da !
- Eu já sei, tia! – Ela disse rindo. – Só precisa pentear depois...
- Eu passo creme e penteio para você! – Ela disse, indo até o box, pegando seu creme de pentear.
- E o meu? – Daniel perguntou, levando as mãos à cabeça.
- O seu também! Preciso cuidar dos meus cachinhos! – Grace disse sorrindo, fazendo rir.
- Eu gosto dos cachinhos! – Ela disse, levando a mão aos cabelos de Daniel.
- Gosta? – Ele falou, sacudindo a cabeça, fazendo água voar para os lados.
- Daniel! – Sua mãe o reprendeu, fazendo fechar os olhos e gargalhar.
- Eu também sei fazer isso, ok?! – jogou água nele.
- Não! – Ele disse rindo, fazendo o mesmo, fazendo ambos começarem uma pequena guerrinha na banheira.
- Parem! Parem! Parem! – A voz de Grace foi ouvida e obedecida, fazendo ambos rirem. – Vocês vão molhar todo o banheiro! – Ela colocou as mãos na cintura, fazendo-os rirem. – Ai, ai, ai, hein?!
- Desculpa, tia Grace! – disse fazendo careta e Grace só conseguiu sorrir.
- Vai, agora vamos tomar banho, depois eu deixo vocês brincarem aqui! – Ela limpou a beirada da banheira com uma toalha antes de se sentar na ponta da mesma. – Dá o xampu, ! Vou começar por você! – Ela pediu e se esticou para dar o vidro azul para Grace. – E você, mocinho, quero todo ensaboado. – Ela falou e Daniel riu, pegando o sabonete e começando a passar na barriga.

Perth, Austrália, 2016

Juntei os cabelos e cuspi de volta na pia, ligando a torneira mais uma vez. Coloquei a boca embaixo da água, enchendo-a, e bochechei algumas vezes antes de cuspir de volta. Coloquei a língua para fora e passei a escova com força na mesma algumas vezes, certificando-me que eu tirasse o gosto de vômito e repeti o movimento várias vezes até o hálito de menta ser a única coisa em minha garganta.
Desliguei a torneira, secando a escova na minha toalha e depois passei na boca, aproveitando para passar no rosto que eu havia lavado antes de começar a escovar os dentes. Olhei para meu reflexo no espelho e eu estava meio empalidecida ainda, mas a cara de susto havia sumido finalmente.
Eu sou louca em achar que Danny vai conseguir resolver isso, mas ao menos ele têm a coragem e cara de pau que eu não tenho, além de ser uma das poucas pessoas que eu realmente confiaria minha vida. Sendo bem honesta, eu confio minha vida em qualquer pessoa da família Ricciardo, mas não tenho certeza sobre a parte de um carro em movimento. Danny é muito bom, teve poucas batidas e nenhuma realmente séria, mas sérias o suficiente para me deixar em surto até ter alguma notícia dele.
Pendurei a toalha de novo e deixei minha escova de dentes ao lado da de Danny e segui para fora do banheiro, abrindo a porta. Danny virou o rosto para mim, transformando seu rosto sério em um largo sorriso e pressionei os lábios em um sorriso também.
- Eu tenho isso... – Ele ergueu o pote de pipoca. – E isso... – Ele indicou a TV e vi o logo da DreamWorks travado e sabia que ele tinha colocado Shrek.
Deslizei meu corpo até a cama, me sentando ao seu lado e ele passou o braço em meus ombros, me trazendo para perto de si. Inclinei minha cabeça para seu ombro, deixando meu corpo deslizar na cama e abracei-o pela cintura.
- Não tinha nenhum bolo da Mi, né?! – Sussurrei.
- Está ok, . Você foi incrível! – Ele disse, dando um beijo em minha cabeça e suspirei.
- Por que eu não sinto assim? – Perguntei baixo.
- Isso é novo para você, mas vamos fazer isso funcionar, ok?! – Suspirei, apertando meus braços em seu corpo. – Um pouco por dia, será que você consegue?
- Eu acho que não...
- A pergunta foi retórica, você consegue! – Suspirei.
- Por que você pergunta, então? – Ele deu play no vídeo, jogando o controle de lado e pegou o balde de pipoca, colocando em suas pernas.
- Tentando ser legal. – Ri fracamente e coloquei a mão no balde, pegando algumas pipocas, levando até a boca, vendo o começo de Shrek 2.
- Você é um corredor de Fórmula 1, Danny. Você é legal...
- Você não acha isso. – Sorri.
- Você é um amigo incrível, Danny. – Suspirei. – E um grande corredor também, não é culpa sua que sua amiga é medrosa.
- Você não é medrosa, ...
- Eu sou!
- Você não é! – Ele falou firme. – Você passou por algo e criou um receio sobre isso. Agora a gente vai fazer esse medo sair. – Suspirei, incapacitada de enfrentar essa briga de novo.
- Eu te amo, Danny.
- Eu te amo também, ! – Ele deu um beijo em minha cabeça. – Pronta para me ver correr? – Ri fracamente.
- Primeiro eu vou, depois eu vejo se consigo assistir à corrida.
- Você vai assistir, você vai ficar lá comigo nos boxes até começar e quero que você seja a última pessoa que eu veja antes de correr e a primeira quando eu ganhar. – Ri fracamente.
- Você está exigindo muito, Danny!
- Não estou... – Ele suspirou. – Isso vai ser bom para mim e para você, você vai ver. – Pressionei os lábios, acompanhando as cenas do filme, passando todas as falas em minha cabeça.
- Você vai ganhar? – Ele riu fracamente.
- Esperamos que sim! – Sorri. – Está na hora de ganhar isso.
- Você tem 26 anos, Danny, espero te ver por muito tempo por aqui.
- Mas não vou parar, só vou continuar ganhando... – Rimos juntos.
- Contanto que você continue com essa sua energia, está tudo bem. – Suspirei.
- E é melhor você voltar a sua, não gosto dessa depressiva. – Sorri.
- Vai melhorar, prometo...
- Vai sim! Shrek sempre melhora tudo. – Ri fracamente e ele indicou a TV. – Lá vai!
- “Ela está em lua-de-mel!” – Fiz a voz do lobo.
- “Lua-de-mel? E com quem?” – Danny fez a voz do príncipe Encantado, me fazendo rir e ergui a cabeça de seu ombro quando Accidentaly in Love começou a cantar.
- "So she said “what's the problem, baby?" What's the problem I don't know, well maybe I'm in love, love, think about it every time, I think about it, can't stop thinking 'bout it! – Comecei a cantar a música baixo.
- How much longer will it take to cure this! Just to cure it cause I can't ignore it if it's love, love. Makes me want to turn around and face me but I don't know nothing 'bout love! – Danny começou a cantar alto, me fazendo rir.
- Come on, come on! Turn a little faster! Come on, come on! The world will follow after! Come on, come on! 'Cause everybody's after lo-o-o-ove. – Cantamos juntos, movimentando os ombros, minha voz aumentando conforme ele se empolgava.
- So I said I'm a snowball running, running down into the spring that's coming all this love. Melting under blue skies, belting out sunlight, shimmering love. Well baby I surrender to the strawberry ice cream never ever end of all this love. Well I didn't mean to do it, but there's no escaping your love. – Daniel levantou, me fazendo gargalhar.
- These lines of lightning mean we're never alone, never alone, no, no! – Ele fingiu um microfone em sua mão, começando a pular aos meus pés na cama. – Come on, come on! Move a little closer! Come on, come on! I want to hear you whisper! Come on, come on! Settle down inside my love! Oh! Oh! – Ele dançava no ritmo da música, fazendo minha gargalhada ecoar pelo quarto acima do som do filme. – Come on, come on! Jump a little higher! Come on, come on! If you feel a little lighter! Come on, come on! We were once upon a time in love!
- SENTA, DANIEL! – Gargalhei, jogando algumas pipocas nele e ele ajoelhou dramaticamente na cama.
- We're accidentally in love! – Ele disse sério, me fazendo gargalhar mais alto, empurrando seu rosto para o lado, fazendo-o cair ao meu lado. - Accidentally in love, accidentally in love! – Ele gargalhou ao meu lado.
- Accidentally in love, accidentally in love! – Cantei baixo, vendo Shrek e Fiona na piscina do pântano.
- Opa, boa ideia! – Ele disse, virando o corpo e ouvi um pum a mais e não tinha vindo do filme.
- AI, DANIEL! – Peguei seu travesseiro, batendo nele, ouvindo sua gargalhada enquanto ele tentava desviar das batidas. – Ai, que nojo! – Ele gargalhava e fiz uma careta quando senti o cheiro. – Ai, Daniel! – Gemi, apertando o travesseiro no nariz, ouvindo-o gargalhar.
- Ah, dramática! – Ele se ajoelhou, bagunçando meus cabelos e desviei, empurrando-o pelo peito para trás.
- A gente já passou da idade disso, Daniel. – Fiz careta, vendo seu largo sorriso.
- Não é porque a gente cresceu que precisa acabar com as piadas. – Ele disse e joguei o travesseiro nele de novo antes de jogar os cabelos para trás.
- As piadas não, mas adoraria não sentir seu cheiro. – Ele gargalhou e neguei com a cabeça.
- Ai, patricinha! – Ele segurou minha cabeça, estalando um beijo em minha bochecha.
- Quando eu falo que gosto do seu perfume, eu disse outro tipo. – Empurrei-o novamente, vendo-o se sentar direito.
- Você não especificou, a culpa é toda sua. – Neguei com a cabeça.
- Ai, eu não mereço isso. – Ele sorriu e soltei um riso fraco.
- “Só estava cuidando do seu ninho de amor!”
- “Ah, sei, tipo, separar a correspondência, dar uma água para as plantas...”
- “Alimentar os peixes”. – Danny disse.
- “Eu não tenho nenhum peixe!” – Falei, ouvindo Danny rir.
- “Agora tem, esse daqui eu chamei de Shrek e o outro de Fiona, o Shrek é um maior safado.” – Gargalhei, jogando a cabeça para trás.
- A gente nota o quão inconveniente você é quando você decorou as falas do Burro.
- Há, há, há, engraçadinha! – Ele foi irônico e sorri. – Ao menos te fiz sorrir.
- Ah, esse showzinho de stripper aí foi perfeito! – Neguei com a cabeça, ouvindo-o rir.
- Tem mais de onde veio esse! – Ele se inclinou para pegar as pipocas e ri fracamente.
- Ah, não, eu deixo isso para suas namoradas no México! – Falei, gargalhando sozinha e o vi revirar os olhos. – Nós dois podemos fazer esse jogo, Danny! Manda ver!
- Ah, cara! – Ele pressionou o travesseiro no rosto, me fazendo rir e relaxei meu corpo na cama, voltando a ver para o filme.

Daniel

- Sim, recebi aqui, obrigado! – Falei, batucando na mesa.
- De nada! Me envia assim que possível e a gente se vê na semana que vem.
- Sim, sim, obrigado! – Falei antes de desligar o telefone, deixando-o de lado.
Coloquei para imprimir os papéis timbrados da RBR e dei uma volta ao redor do meu corpo na cadeira de rodinhas enquanto imprimia. Puxei os papéis da impressora quando terminou e uma caneta, deslizando para fora do escritório.
Suspirei ao sentir o cheiro adocicado de chocolate junto de carne e segui pela casa, ouvindo os poucos barulhos vindo da cozinha. mexia nas panelas quando me aproximei. Ela desviou o olhar para um pano, limpando as mãos antes de passar o dedo em cima do chantili e colocar na boca, me fazendo rir.
- Eu vi isso! – Falei e ela olhou assustada para mim.
- Ah, é você! – Ela disse e sorri, me aproximando dela.
- O pessoal não chegou ainda? – Aproximei-me.
- Não, e a costela está quase pronta. – Ela apoiou as mãos no balcão e sorri.
- Eu sinto cheiro de chocolate. – Falei.
- Brownie. – Ela disse e suspirei.
- Oh, cara! Eu preciso perder peso, ! – Ela gargalhou.
- Você precisa voltar a correr, assim você consegue queimar as calorias mais rápido. – Sentei-me em um banco, rindo fracamente.
- Ah, cara, como eu vou passar uma temporada inteira contigo?
- Eu raramente cozinho nas minhas viagens, ok?! – Ela voltou a focar na panela e ri fracamente. – Eu preciso entregar 12 revisões por semana, pelo menos, eu só como fora. Raramente repito lugar. – Suspirei.
- Parece uma montanha-russa maior do que a minha. – Ela ponderou com a cabeça.
- Com comidas no 0800 e muitas coisas boas. – Ela deu de ombros. – Mas bares e restaurantes de hotel também contam.
- Deve ter algo legal no paddock. – Ela sorriu e coloquei os papéis à mesa.
- O que é isso? – Ela perguntou, colocando uma colher na panela antes de experimentar.
- Um contrato que você precisa assinar. – Ela arregalou os olhos.
- Por quê? – Ela jogou a colher na pia antes de se aproximar de mim.
- Liberar sua entrada em qualquer seção da RBR durante essa temporada. Qualquer seção! – Especifiquei. – Você pode andar no paddock, ficar comigo no vestiário, você vai ficar nos boxes durante a corrida...
- Danny... – Ela gemeu.
- Sem “Danny”. – Imitei sua voz. – Eu posso fingir sua assinatura, caso não se lembre.
- Sua letra é mais bonita que a minha, ninguém vai acreditar. – Ela me mostrou a língua e ri fracamente.
- Assina, . Vamos nos divertir. – Estiquei-lhe a caneta e ela riu fracamente.
- Você vai ter que assinar algumas coisas também, você sabe disso, certo? – Ela me empurrou de leve com o quadril e desviei o banco para ela poder assinar as folhas.
- O quê? – Perguntei, vendo-a assinar um por um.
- Ninguém pode saber que eu sou revisora da Michelin*! – Ela disse firme.
- Eu sei disso, ! – Cruzei os braços.
- Mas você não pode nem mencionar isso. Imagino que você vá comigo em alguns lugares...
- O máximo que eu conseguir. – Ela virou o corpo, apoiando o quadril na bancada.
- Se alguém nos ver, somos só amigos almoçando. – Ela disse. – Ninguém pode saber, ninguém pode me marcar nos lugares. Eu preciso estar incógnita.
- Eu sei! – Falei firme, segurando seus ombros. – Você é Addams e eu sou Danny Ric, como sempre foi desde aquela foto nossa pelados na banheira. – Ela gargalhou alto.
- Ah, cara, não acredito que sua mãe ainda deixa essa foto na sala de estar.
- É algo incrível para contar para meus sobrinhos. “Olhem, crianças, esse é o titio Daniel com a mamãe ”. – Ela riu fracamente.
- Por que “sobrinhos”? Não vai ter filhos, não? – Ela desviou de mim, ficando do outro lado da bancada.
- Provavelmente sim, mas imagino que você vai ter antes de mim. – Ela riu fracamente.
- Se depender das três mexicanas, talvez eu já tenha um sobrinho! – Ela piscou e tombei a cabeça para trás.
- Você não vai esquecer isso, não? – Falei alto e ela gargalhou.
- Talvez quando chegarmos no México! – Ela sorriu, desligando o fogão e neguei com a cabeça.
- Deveríamos falar da sua transa! – Falei e ela riu fracamente.
- Um cara, um quarto de hotel, uma vez em uma posição muito tradicional e eu nem cheguei lá. Eu preferia três caras, honestamente! – Ela deu de ombros e ri fracamente. – Tinha mais chance de eles saberem o que estavam fazendo.
- E você diz para mim sobre limites. – Ela deu de ombros.
- Você que perguntou. – Ela disse e sorri.
- Depois dá uma olhada no contrato direito, tá? – Falei. – Tem algumas questões de patrocinadores que, estando com a RBR, você não pode fazer.
- Como...? – Ela perguntou, sumindo atrás da bancada ao abrir o fogão.
- Ser vista andando em certos carros, beber certas bebidas... – Revirei os olhos.
- Mas eu não sou ninguém, Danny! – Ela tirou a grande assadeira do carro, colocando na bancada.
- Você é minha melhor amiga e eu te coloquei como minha assistente, então as pessoas vão te ver! – Falei.
- Assistente? – Ela franziu a testa. – E eu faço o quê? Seguro seu capacete? Faço sua cabeça caber nele? Ou melhor... Ajudo você a manter esse pescocinho em forma? – Revirei os olhos.
- Vai ser difícil! – Falei e ela gargalhou. – É só uma forma de explicar sua presença constante do paddock. – Ela suspirou, abrindo o papel alumínio e suspirei com o cheiro da costela.
- Me colocava como família que ficava mais fácil. – Dei de ombros.
- Não, não! Te colocar como parte da RBR fica mais fácil. – Indiquei e ela suspirou, dobrando os papéis.
- Não estou gostando de nada disso.
- Vai ser legal! Para de ser reclamona! – Falei, levando minha mão para os ossinhos que tirava com facilidade da carne e senti um tapa em minha mão. – Ai!
- Está quente! – Ela disse e pressionei os lábios. – Por que você não vai colocando a mesa?
- Porque eu estou mais interessado em beliscar.
- Eu vou te beliscar! – Ela disse séria e revirei os olhos, seguindo para os armários. – Você me colocou como parte da RBR para te acompanhar sempre, certo?
- Uhum... – Falei, pegando os pratos dentro do armário.
- Que tanto você quer que acompanhe? – Ela perguntou.
- A competição inteira. – Falei. – A classificatória, os treinos, a corrida... – Dei de ombros. – Ir comigo nas prévias. – Ouvi sua bufada alta.
- Ai, Danny... – Ri fracamente, levando os pratos até a mesa.
- As prévias são legais, vai! Tem umas coisas interessantes. – Ela negou com a cabeça.
- Você sabe que eu não estou falando disso. – Ela tirou as luvas térmicas, jogando-as na bancada.
- Eu sei, , mas estamos tendo avanço. – Distribuí os pratos na mesa. – Você não vê o velocímetro, mas já estamos chegando...
- Eu não quero saber! – Ela disse rapidamente. – Deixa eu pelo menos fingir que eu estou no meu lugar feliz.
- Ok, ok! – Dei de ombros e ela deu um sorriso, desviando o rosto para a panela novamente. – Mas vamos fazer isso funcionar!
- E quando é seu primeiro compromisso da temporada? – Ela perguntou.
- Semana que vem, dia 21, na Inglaterra. – Falei.
- Ok... – Ela pressionou os lábios.
- E você vai comigo!
- Ah, Daniel! – Ela jogou sua luva em mim, me fazendo gargalhar.
- Vamos lá, Wandinha!
- Eu te odeio! – Ela disse rindo e vi a porta se abrir.
- Estão de amor logo cedo vocês dois?! – Meu pai falou trazendo algumas sacolas para dentro e rimos juntos.
- Para não perder o costume. – Falei.
- São quase duas da tarde, mas tudo bem. Está pronto! – disse.
- Ah, vamos comer que eu estou faminta! – Michelle disse e foi em direção à minha irmã, pegando Isaac no colo.
- Deixa eu ficar com esse lindinho aqui! – Ele riu, esticando as mãos para nosso afilhado e ela estalou alguns beijos na bochecha dele, me fazendo sorrir.

*Revisora da Michelin: Pessoas completamente incógnitas responsáveis por viajar entre países e restaurantes de diversos lugares e avaliar os melhores restaurantes no mundo, oferecendo uma, duas ou três Estrelas Michelin, inserindo-os no Guia Michelin.
O Guia foi criado pela empresa de pneus Michelin, inicialmente, como guia para viajantes. Ele cresceu e se tornou a principal publicação para classificar melhores restaurantes e hotéis



- Daniel! Daniel! – Senti minha voz sair com força.
- Está ok! Está desacelerando. – Ouvi a voz de Danny e apertei minha mão no painel do carro.
Senti a mão de Danny apertar meu braço enquanto o movimento do carro desacelerava progressivamente e soltei a respiração forte pela boca. Senti minha mão afrouxar devagar quando o impulso da velocidade me relaxou no banco e abri meus olhos devagar, percebendo que estávamos no mesmo lugar de antes, e suspirei.
- Como está se sentindo? – Virei o rosto para Danny e assenti com a cabeça.
- Eu estou bem. – Engoli em seco, apoiando a cabeça no encosto e ele levou a mão para meu rosto, acariciando a bochecha com o polegar.
- Bom... – Ele sorriu e suspirei, sentindo os batimentos do meu coração voltar ao normal. – Respira...
- Eu estou bem. – Engoli em seco, olhando para os olhos cor-de-mel dele.
- Eu quero tentar algo diferente hoje... – Ele disse.
- O quê? – Perguntei e ele abaixou sua mão antes de sair do carro e suspirei, acompanhando seus movimentos até o porta-malas.
Suspirei e levei a mão até o peito. Respirei fundo algumas vezes, deixando meu corpo deslizar no assento do meu carro e virei o rosto para a porta quando Danny abriu e o vi segurando dois capacetes.
- A-a-a-a-a-ah! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! – Minha gargalhada saiu mais alta, me fazendo forçar a mão no peito. – Ah, cara! Você só pode estar de zoação comigo.
- Não estou! – Ele disse sério.
- Ah, nem vem, Danny boy! Você não vai dar uma de piloto de Fórmula 1 comigo no carro. Muito menos com o meu carro! – Falei antes de gargalhar de novo.
- Não vou mesmo, aqui não tem espaço suficiente para ganhar a velocidade pedida e eu valorizo muito a minha vida e a sua. – Ele disse sério. – E não quero minha marqueteira na minha orelha por um acidente ridículo. – Ri fracamente.
- Então o quê? – Perguntei, virando os pés para fora do carro.
- Está na hora de você dirigir! – Ele me estendeu o capacete.
- Danny! Danny! Danny! – Falei rindo.
- Vamos, ! Vai ser legal! – Neguei com a cabeça.
- Por que eu preciso do capacete?
- Porque eu valorizo muito a sua vida e a minha. – Ele repetiu.
- Mas...
- E você vai passar dos 100. – Ele disse firme. – Com The Veronicas ou não! – Suspirei.
- Já falei que odeio capacetes? – Disse.
- Eu sei, aperta a cabeça, é desconfortável, mas serão só 10 minutos, não uma hora e meia. – Ele me esticou um e segurei-o com as mãos. – Levanta! – Ele disse e o fiz desanimada.
Abaixei o lacinho do rabo de cavalo e Danny segurou as alças do capacete em sua mão antes de enfiar em minha cabeça e fiz uma careta com o aperto do mesmo enquanto Danny ajeitava o capacete em meu queixo.
- Eu não vou respirar aqui dentro.
- Va-a-a-a-ai! – Ele disse alto, provavelmente irritado com minhas reclamações e abaixou a viseira antes de pegar o capacete em minha mão. – Agora vai! – Ele disse. – Para o volante.
- Eu deveria ter dado fim na nossa amizade lá atrás! – Falei, sentindo-o empurrar meu ombro. – Quando você me chamou de Wandinha.
- Mas está dramática, hein?! – Ele disse rindo e suspirei, sentindo-o empurrar minha cabeça para trás e entrei do lado do motorista do meu carro. – Não mexe no banco.
- Mas está longe para caramba! – Falei.
- Temos quase a mesma altura, , está bom! – Ele disse e suspirei, sentindo-o puxar o cinto de segurança.
- Eu consigo colocar! – Falei.
- Quieta! – Ele disse e suspirei, vendo-o entrar com a cabeça no carro, sentindo um tranco quando ele puxou o cinto.
- Oh! – Falei, vendo-o sair do carro.
- Bom! – Ele disse.
- Você acha que eu vou... – Ele fechou a porta, me deixando falando sozinha e o vi abrir a outra porta, entrando já com o capacete. – O que você acha que eu vou fazer? – Falei e ele ajeitou seu cinto de segurança.
- Dirigir! – Ele disse, girando a chave do carro por mim. – Aperta o botão.
- Daniel...
- Aperta o botão! – Ele disse e apertei o freio antes de apertar o botão, ouvindo o motor. – Agora vamos, devagar. – Suspirei, soltando o freio devagar e substituindo pelo acelerador, sentindo o carro começar a andar. – Vai no sentimento.
Firmei minhas mãos no volante e tentei relaxar, andando como se eu saísse do meu apartamento dentro de Perth para a fazenda de Danny do lado de fora da cidade. O carro atingiu 60 por hora como acontece normalmente. Bem, na verdade, normalmente eu pararia aí, mas logo depois Danny ligou a música, aumentando o volume e reconheci a voz das minhas gêmeas australianas.
- Pisa! – Ele disse.
- Dan...
- Não quero ouvir! Pisa! – Ele disse firme e engoli em seco.
Minhas mãos firmaram no volante e senti algumas memórias voltarem em minha cabeça. A ligação, o hospital, Grace e Joe saindo da sala do legista e me dando aquele sorriso triste, os caixões pretos e o abraço de Danny.
- PISA, ! – Ele gritou e meu pé afundou no acelerador, me fazendo ouvir o cantar dos pneus quando o carro sentiu a mudança de velocidade. – OLHA PARA FRENTE! – Ele disse firme e me forcei a seguir o que ele disse, girando o volante para sair da curva.
Senti meu corpo forçando cada vez mais no banco conforme a velocidade aumentava e minha barriga começou a revirar com o movimento. Eu consegui manter a constância por alguns segundos, depois eu simplesmente entrei em pânico quando desci meus olhos para o velocímetro e vi o número 142. Tirei o pé do acelerador e levei os dois pés no freio, impulsionando meu corpo para frente e minhas mãos apertaram o volante com mais força.
Senti uma mão em meu peito, me segurando quando o carro deu uma deslizada pelo asfalto antes de parar completamente. Meu corpo deu um rápido solavanco antes de voltar para trás, mas a mão de Danny pressionava meu peito para trás. Respirei fundo, sentindo minha respiração acelerada e soltei o cinto de segurança com pressa, empurrando a porta e briguei com a fivela do capacete antes de puxá-lo com força da cabeça e soltá-lo no chão.
- ! ! – Ouvi a voz de Danny e puxei a respiração fortemente, soltando-a com a mesma força. – ! – Ele apertou meus ombros, me forçando a olhar para ele. – ! – Ele gritou mais uma vez e me sacudiu a ponto de focar em seus olhos pela abertura da viseira. – Olha para mim!
- Eu... – Suspirei. – Eu... – Ele me sacudiu de novo e sacudi a cabeça, piscando mais forte algumas vezes. – Eu...
- Me escuta? – Ele disse.
- Sim... – Suspirei e ele soltou meu ombro, tirando o capacete de sua cabeça, abaixando-o no chão.
- Olha para mim! Olha para mim! – Ele pediu, apoiando as mãos em minha cintura. – Respira! Respira! – Fazia o que ele pedia a cada vez que ele falava. – Respira...
- Você... – Engoli em seco. – Você...
- Pelo amor de Deus, . Eu vou te dar um tapa na cara. – Ri fracamente, suspirando.
- Você... Você dirige na próxima vez, ok?! – Ele sorriu e me puxou para um abraço, me forçando a passar os braços pelos seus ombros.
- Nessa velocidade? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Não... Vamos ser normais. – Suspirei. – Mas entendi seu ponto. – Me afastei devagar.
- Sim? – Ele perguntou animado, passando a mão em meu cabelo.
- Sim... – Suspirei. – Só não vamos fazer mais isso. Eu sei que te incomoda, mas deixa eu andar na velocidade permitida e você faz as loucuras com o carro, ok?! – Ele sorriu.
- Eu só quero que você supere esse medo. – Ele acariciou meu rosto. – E saiba que eu estou aqui contigo para o que você precisar. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Suspirei. – Mas agora chega de fazer testes, ok?! Acho que meu coração não aguenta muito. – Ele sorriu.
- Tudo bem... Mas acho que você está pronta. – Ri fracamente.
- Espero, honestamente. Agora já assinei o contrato. – Ele sorriu.
- Ei, mas tem um ponto positivo nisso tudo. – Ele se inclinou para pegar os capacetes.
- O quê? – Encostei o corpo no carro.
- Duas, na verdade! – Ele disse rindo.
- O quê? – Repeti.
- Você fica linda encostada no carro. – Revirei os olhos, rindo fracamente.
- Obrigada, e o que mais?
- Você não vomitou. – Ele disse e gargalhei, tombando a cabeça para trás.
- Uma vantagem. – Falei rindo.
- Duas! Você ainda está linda, ! – Neguei com a cabeça, rindo fracamente.
- Agradeço, mas eu sou a garota que gosta de ser levada para passear e não o contrário. – Estiquei a mão para ele. – E eu tenho um amigo corredor para tirar onda ainda! – Ele gargalhou.
- Bom ponto! – Ele disse rindo. – Vamos sair desse buraco! – Sorri.
- Vamos!

Daniel

- Bom dia, John! – Falei no interfone e ouvi o portão destravar. Empurrei o mesmo com as costas, passando pela portaria do prédio.
- Aceita alguma ajuda? – Vi John do outro lado abrir o portão interno para mim.
- Obrigado! – Falei, vendo-o fechar o portão. – está?
- Sim, ela não saiu hoje! – Ele disse.
- Posso subir?
- Sim, vai lá! – Ele disse.
- Obrigado, John! Tenha um bom dia!
- Obrigado! – Ele respondeu e subi os degraus rapidamente, indo em direção ao prédio de .
Entrei no prédio, vendo uma mulher sair do elevador e sorri para ela, piscando em seguida e ela riu fracamente, dando uma volta ao redor do corpo antes de sair pela porta. Sorri sozinho, entrando no elevador e soltei um dedo das sacolas que eu levava e apertei o último botão, esperando o elevador chegar.
- ! – Chamei-a assim que o elevador abriu e me aproximei de sua porta, tentando pegar a chave de seu apartamento no bolso. – ! – Tirei a chave do bolso, vendo a porta se abrir.
- Escandaloso! Eu tenho vizinhos! – Ela disse, entrando no apartamento e fechei a porta com o pé, seguindo-a pelo corredor e observei suas pernas no short curto e pés descalços e pressionei os lábios, rindo fracamente. – O quê? – Ela virou o rosto para mim antes de entrar no quarto.
- Nada! – Falei rapidamente, entrando logo atrás dela no quarto, vendo-a com duas malas abertas em cima de sua cama. – Pronta? – Deixei as sacolas em sua mesa.
- Ainda não, falta só algumas coisas. – Ela colocou uma pilha de roupas na mala. – Como vamos?
- De Qantas mesmo! – Falei, deitando na área livre da sua cama.
- Quando você vai me levar não tem nem um jatinho particular? – Gargalhei, jogando a cabeça para trás.
- Na Europa vai ter. – Passei a mão nos cabelos, sorrindo.
- Me dá um minuto. – Ela disse antes de sair do quarto e suspirei, erguendo o corpo na cama, vendo uma organização melhor do que a minha. – Vai ter espaço para lavar roupas, pegar mais coisas? – Ouvi sua voz mais alta.
- É! Normalmente tem um intervalo de 10 dias até o próximo circuito, alguns menos, mas no geral é isso. – Falei.
- E como funciona as coisas? Onde você fica? Onde eu vou ficar? – Ouvi sua voz mais perto quando ela entrou no quarto novamente.
- No geral ficamos em hotéis, já pedi quartos duplos para você ficar comigo. Só na Europa a gente fica em motorhomes dentro do circuito, mas aí eu vou te colocar em um hotel! – Falei, vendo-a colocar uma necessaire na cama.
- Por quê? – Ela disse rindo. – Me acha patricinha demais para um motorhome? – Ri fracamente, pegando um ursinho de pelúcia e jogando em sua direção, fazendo-a rir.
- Eu sou mauricinho demais para um motorhome! – Falei, ouvindo-a gargalhar. – Eu estou brincando, eles são confortáveis. Maiores do que seu apartamento.
- Há, há, há, engraçadinho! – Ela bateu em minha perna, me fazendo rir.
- Mas eu acho que você vai ficar mais confortável lá. – Ela assentiu com a cabeça.
- Você manda, Danny. – Ela fechou a primeira mala.
- Em Monaco eu tenho um apartamento, então eu prefiro ficar lá... – Sentei na cama, abaixando uma perna para o chão. – Podemos ficar lá.
- Em Monaco eu quero andar no seu iate! – Ela disse, me fazendo rir. – Você me promete isso desde o ano passado!
- Combinado! – Falei, vendo-a sorrir. – Não é um grande iate, mas...
- Ah, cala a boca, Danny! É um iate! – Ela disse rindo.
- Eu vou planejar algo bem legal para nós!
- E restaurantes legais, não se esquece disso, eu ainda preciso trabalhar. – Sorri, vendo-a colocar a primeira mala no chão.
- Combinado! – Sorri.
- Você tem seu apartamento na Itália ainda?
- Não! – Neguei com a cabeça. – Nem era um apartamento, , era uma quitinete. – Ela riu comigo.
- Ah, vai saber! Poderia ter tido certa melhora. – Sorri, negando com a cabeça. – Não tem GP na França, né?!
- Não, por quê?
- Eu tenho um apartamento em Saint-Étienne. – Ela disse, se sentando do outro lado da cama. – Se precisar.
- Acho que nunca fui no seu apartamento lá. – Falei. – É perto de Monaco? – Perguntei, coçando a nuca.
- 650 quilômetros, mais ou menos. – Ela ponderou com a cabeça.
- Duas horas. – Falei rindo.
- A 350 quilômetros por hora! – Ela sorriu, me fazendo gargalhar. – Umas sete respeitando as normas de segurança. – Sorri.
- Podemos ficar na minha casa nos Estados Unidos. – Indiquei.
- Você ama o Austin, Danny, duvido que vá querer fugir para Los Angeles. – Ponderei com a cabeça.
- Talvez nas férias. – Ela sorriu. – Bem... – Dei de ombros, inclinando o corpo para pegar a sacola. – Te trouxe isso.
- O que é isso? – Ela perguntou quando soltei a sacola em sua frente.
- Uniforme da Red Bull. – Ela tirou uma camisa da mesma, tirando-a do saquinho antes de abri-la em sua frente, rindo fracamente. – Com meu número!
- Número 3... – Ela sorriu, abaixando a blusa no colo e virou o rosto para mim. – Isso está realmente acontecendo, Danny? – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Sim! Depois de cinco anos, você vai ver uma corrida ao meu lado. – Ela riu fracamente.
- Metaforicamente, é claro! – Sorri.
- É claro! – Falei rindo.
- Eu estou com medo, honestamente. – Estiquei a mão até a sua, segurando-a.
- Vai dar certo, . – Ela sorriu. – Não te vi vomitar três vezes à toa. – Rimos juntos.
- Pensando nesse ponto... – Ela sorriu. – Como é sua rotina lá? Não quero te atrapalhar.
- Quinta normalmente tem a parte de divulgação, vamos para algum lugar com a equipe, fazemos alguma coisa cultural ou local, depois tem reunião com a equipe, alinhar algumas coisas. Sexta tem os treinos, eu normalmente fico uns 15 minutos na pista, depois checando com a equipe o restante das coisas e fazendo treino pessoal, sábado é o terceiro treino e a classificação e começa a vir a pressão, o nervosismo, e domingo é a corrida. Começa o dia devagar, tomo café, vou para o paddock, dou uma última checada no carro, tem o desfile dos corredores, depois volto, faço alguns exercícios, me troco e começo a meditar até a hora da corrida. – Ela assentiu com a cabeça.
- Repetindo: não quero te atrapalhar. – Assenti com a cabeça.
- Não se preocupe. Vamos nos divertir um pouco, sim? – Ela pressionou os lábios, assentindo com a cabeça.
- Vamos! – Ela suspirou, deixando os ombros caírem. – Que horas vamos para o aeroporto? – Chequei o relógio.
- Temos umas três horas ainda. – Ponderei com a cabeça.
- Rola comer uma última besteira antes de começar sua dieta louca? – Rimos juntos.
- Definitivamente! – Falei. – Por quê?
- Eu tenho hambúrgueres de frango empanados, posso fritar e...
- O-o-o-o-oh, yeah! – Falei rindo. – GEE! GEE! GEE! OIH! OIH!
- Ai, parece um macaco fazendo isso! – Ela me bateu, me fazendo rir.
- Eu só amo fried chicken burger. – Abri um largo sorriso e ela riu fracamente.
- Eu sei! – Ela se levantou. – Vou só guardar aqui, depois vamos para lá. – Ela pegou a sacola, tirando todas as camisetas que trouxe para ela. – Eu tenho uma mala de sapatos também.
- Eu tenho menos mala, a RBR leva tudo. – Dei de ombros e ela riu fracamente. – Preciso só de algumas extras para as folgas, o restante eu fico de uniforme ou macacão.
- Deve ser muito quente! – Ela disse, ajeitando tudo na mala.
- No inverno é até gostoso, mas no calor é quente para caralho! – Ela sorriu, fechando a mala antes de fechar o zíper.
- Vamos fazer isso! – Ela suspirou e estiquei minha mão para ela, sentindo-a bater.
- Vamos lá, Wandinha! – Ela fez uma careta.
- Vamos lá, Honey Badger. – Dei-lhe uma feição séria antes de rirmos juntos.

Bath, Inglaterra

Minhas mãos tremiam um pouco e dificultavam até para fechar o zíper do casaco pesado. Acho que nervosismo e frio não combinavam, me sentia uma pedra de gelo. Puxei o zíper com força, fechando-o até em cima e peguei o gorro e enfiei na cabeça, com dificuldades de erguer os braços pelas camadas de roupa.
- ! Você está pronta? – Ouvi a voz de Danny se aproximar e andei até a porta, abrindo-a encontrando-o na frente da mesma.
Ele está com a mesma roupa do que eu, o casaco pesado, o gorro da Red Bull, mas por baixo dava para ver as calças do macacão e os braços presos em sua cintura, além dos sapatos específicos para automobilismo.
- Sapatos de balé! – Brinquei, dando um sorriso e ele revirou os olhos.
- Não são sapatos de...
- Só zoando com a sua cara! – Dei de ombros. – Você está bem, Danny, mas esse bigode... – Ele riu fracamente, me puxando pelos ombros.
- Você vai mudar de ideia, tenho certeza! – Rimos juntos e me segurei no batente da porta.
- Espera! Preciso pegar meu celular. – Falei, inclinando o corpo para dentro do quarto novamente, pegando meu celular em cima da mesa de cabeceira antes de seguir Danny de novo.
- Você está confortável? – Ele perguntou.
- Não muito. – Estiquei-lhe a mão e ele a pegou.
- Morreu e esqueceu de enterrar, foi? – Ele disse, me fazendo rir.
- Está frio! – Entrelacei o braço no dele, fazendo-o rir.
- É, mas não tanto assim! – Empurrei-o com o quadril, sorrindo.
- Vamos lá! – Falei firme. – O que você vai fazer exatamente? – Perguntei, soltando seu braço quando ele abriu a porta do quarto.
- Você vai ver! – Ele disse e suspirei.
- Mas não é uma corrida, é? – Perguntei, seguindo ao seu lado pelo corredor do hotel.
- Não, é teste de força. – Ele disse. – Uma das loucuras da Red Bull.
- E você vai me levar? – Perguntei rindo.
- Você prometeu me seguir em tudo... – Ele disse e suspirei.
- Ok, ok, me desculpa. – Entrei no elevador, me encostando na parede. Descemos para o térreo e uma van nos esperava na porta com uma mulher mais velha fora do mesmo.
- Ei, Maria! – Danny a cumprimentou.
- Ei, Daniel, como foram as férias? Pronto para voltar? – Ela perguntou.
- É claro! – Ele disse rindo.
- Então, essa é ? – Maria perguntou e dei um aceno com a mão.
- Sim! – Ele disse. – Maria, . , essa é Maria, minha marqueteira da RBR.
- Oi. – Falei, dando um sorriso sem graça e ela me analisou de cima a baixo.
- Você tem certeza de que são só amigos mesmo? – Ela perguntou e eu Danny tivemos a mesma reação de sempre, rir.
- Sim, só amigos. Eu a conheço desde antes dos meus três anos. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Sim! – Falei rindo.
- Ok, vamos, não temos muito tempo! – Ela disse, abrindo espaço na frente da van e Danny indicou para eu entrar e veio logo atrás de mim. – Eu vou te passar o briefing até lá. – Ela disse, antes de entrar, puxando a porta.
Resumindo: eles colocariam oito jogadores de Rugby para competir com um carro de Fórmula 1 tipo um cabo de guerra. Eu não sabia se estava surpresa ou com medo. Eles seguiram para uma residência antiga para fora da cidade e pararam uns cinco quilômetros antes da casa, ao lado do pequeno carrinho de Daniel, onde tinha uma equipe com ele.
- Daniel, você fica aqui. – Maria disse. – O pessoal vai te explicar o que você vai fazer. – Ela disse e Danny olhou para mim. – Ela vai comigo. – Ela disse e nenhum de nós dois respondemos.
Ele saiu e a van seguiu em direção à residência, não demorando mais do que cinco minutos para chegar. Lá, consegui ver o time de Rugby esperando o que é que Danny fosse fazer lá atrás. Eles estavam em seus uniformes, mas não sei como não estavam tremendo de frio como eu.
- , certo? – Ouvi sua voz.
- Sim. – Falei.
- Vamos te deixar perto da casa para você não aparecer no vídeo, mas você consegue ver. – Ela disse. – Principalmente ouvir. – Assenti com a cabeça.
- Não é minha primeira vez. – Falei, esfregando as mãos uma na outra.
- É verdade que você e Daniel são só amigos? – Ela perguntou.
- Sim, é sim. – Falei, erguendo o rosto para ela. – Nos conhecemos desde os três anos e eu o acompanhei desde o começo. Somos quase irmãos. – Dei de ombros.
- E por que nunca veio em algo dele? Digo... Se são como irmãos.
- Só... Motivos pessoais, trabalho, o de sempre. – Ela assentiu com a cabeça.
- Sim, sim... Mas são só amigos? – Ri fracamente.
- Não se preocupe, só amigos, dormindo em camas separadas e tudo. – Ela assentiu com a cabeça. – Não vou atrapalhar seu trabalho.
- Não me importo com quem ele namora, só gosto de saber para não ser pega de surpresa. – Assenti com a cabeça.
- Sim, entendo. – Falei pouco antes da van parar.
Saímos todos da van e ela me indicou a entrada da grande residência tradicional e me sentei na escadaria enquanto ela seguiu até o time de Rugby. Talvez ter vindo tivesse sido uma péssima ideia, estava frio e eu sentada gelando a bunda nos degraus esperando por alguma coisa.
Não sei quanto tempo demorou, mas eu logo ouvi o barulho característico do carro e me levantei. O barulho vinha de longe e conforme se aproximava, algumas memórias voltaram em minha cabeça. Karts quando éramos crianças, suas primeiras corridas, quando ele conseguiu seu primeiro contrato, sua primeira corrida profissional, torcer junto com a plateia... E nada. O acidente veio e eu fugi dessa vida.
O carro azul, vermelho e amarelo passou como um flash em minha visão enquanto entrava pela residência e engoli em seco, sentindo meu corpo travar por um momento. Desci uns degraus, encontrando o carro novamente quando ele apareceu por de trás da casa e o vi passar na frente da casa, fazendo a curva mais fechada. Dei um passo para trás, vendo-o entrar na pequena rua da entrada e engoli em seco quando ele passou a poucos metros da minha frente, me fazendo prender a respiração por alguns segundos e sentir os ouvidos doerem pelo som.
Ele voltou para onde estava o time de Rugby e eu sentei meu corpo para trás, sentindo a respiração pesada. Demorou mais do que alguns minutos para meu coração voltar ao normal. Eu acho, pelo menos. Com a quantidade de roupa que eu usava, não conseguia sentir meu coração.
O barulho parou um pouco enquanto Daniel gravava com o time, mas logo voltou quando o scrum – tipo de jogada que eles queriam fazer – começou. Eu não sabia como, mas oito jogadores de Rugby eram páreos para um carro de Fórmula Um. Quando Daniel conseguia empurrá-los, eles conseguiam se recuperar facilmente, fazendo só bastante fumaça subir. Passados uns quatro ou cinco minutos, o barulho parou, mas demorou mais alguns minutos para a fumaça dissipar.
Enquanto eles faziam outra parte da gravação, soltei um suspiro, sentindo um sorriso se formar em meus lábios quando uma lembrança minha, de Dan e dos meninos brincando de corridas de kart logo que Danny começou, apareceu. O barulho não era o mesmo e tinha muito menos coisa envolvida, é claro, mas eu gostava muito. Fazia-me feliz e lembro da minha risada se tornar muda pelas altas de Danny enquanto ele me passava com muita facilidade, mas ao menos conseguia ficar em segundo lugar.
Agíamos muito como crianças, principalmente quando juntava o grupo inteiro nas férias na casa de Danny, apesar de sabermos que sua preferência era sempre ficar comigo quando eu chegava, é só uma pena eu ter me ausentado tanto tempo por medo. Hoje é só uma prévia e sei que ele pode ir muito mais rápido do que isso, mas ao menos vieram as memórias certas à cabeça.
- Ei, ! – Ouvi-o e me levantei, vendo Danny vir em minha direção com o macacão completo de piloto e o capacete em sua cabeça.
- Ei... – Falei, mas quando ele tirou os protetores de ouvido, suspeitei que ele não tivesse ouvido.
- Como está? – Assenti com a cabeça. – Não era para eles te deixarem sozinha.
- Eu estou bem, Danny! – Pressionei os lábios em um sorriso.
- É? – Ele sorriu e ri fracamente.
- É. Meu coração saiu da boca por alguns segundos, mas estou bem. – Ele riu fracamente.
- É bom, vai! Sentir isso de novo. – Assenti com a cabeça.
- Sim, eu tive umas boas memórias. – Ela assentiu com a cabeça.
- Daniel! – Ele se virou e vi Maria ali.
- Vai trabalhar, Danny boy! – Falei e ele assentiu com a cabeça, se afastando novamente e ri fracamente, me sentando nos degraus novamente.

Daniel

- É assim sempre? – Ela ergueu o rosto e descansei o talher.
- O quê? – Ela perguntou, escondendo a boca com o guardanapo.
- Suas avaliações. – Perguntei baixo. – Fica esse silêncio mortal enquanto você come? – Ela riu fracamente.
- Normalmente estou sozinha, então sim. – Ri fracamente. – Mas não... – Ela negou com a cabeça. – Não estou trabalhando agora, só pensando sobre hoje... – Ela deu um curto sorriso. – Não sobre hoje, na verdade, sobre o passado. – Ergui a taça, dando um gole no vinho. – Senti saudades de ser criança de novo. – Sorri.
- Você ainda pode. – Falei e ela riu fracamente.
- Não, não dá. – Ela tombou o corpo para trás, se esticando na cadeira. – Está faltando muitas partes para isso funcionar. – Ela suspirou. – Minha mãe, meu pai, até você...
- A vida acabou nos levando em direção aos nossos sonhos, mas... – Ela suspirou.
- Nos separou no meio tempo. Não literal, mas eu sinto saudades de não ter tantos compromissos, de ficar papeando contigo o dia inteiro, até das intrigas de ensino médio, do começo da sua carreira. – Ela coçou a testa. – Me desculpe, eu estou emotiva.
- Você pode ser, sabe? – Ele disse rindo. – Está sendo para mim te ter aqui, imagino para você... – Ela sorriu.
- Você se lembra daquele tempo? – Ela deu um sorriso. – Não as brigas e picuinhas adolescente, só as boas partes... – Sorri. – Antes de você ser um corredor famoso, que deixa as mulheres gritando por você e que te deixou um pouco mais metido também. – Rimos juntos. – Na verdade, acho que você sempre foi metido, seu anuário diz isso. – Gargalhei.
- Ah, cara! Aquilo foi épico. – Falei e ela sorriu.
- “Hannah Montana disse que ninguém é perfeito, mas aqui estou eu”*. – Ela jogou a cabeça para trás, gargalhando alto e sorri.
- Amor próprio sempre! – Falei rindo.
- E você nem estava bonito quanto hoje, Danny! Aquilo foi um surto coletivo! – Rimos juntos.
- Eu era um idiota naquela época! – Falei rindo.
- Era? – Ela perguntou rindo.
- Era! – Falei firme e ela sorriu.
- Eu não concordo em nada com isso. – Ela disse rindo. – Você não mudou nada, Danny! Pelo menos não quando está em Perth, vai saber as merdas que você faz e eu não vejo.
- Eu escrevo no caderno. – Ela negou com a cabeça.
- Você não escreve tudo. Eu não escrevo tudo... – Ela suspirou. – Acho que não tenho paciência, na verdade. Eu deveria escrever uma Bíblia se eu escrevesse tudo o que eu penso ou sinto nas minhas viagens...
- Você está me preocupando, . – Falei e ela soltou um longo suspiro, se empreguiçando na cadeira. – Fala comigo...
- Eu me sinto com 17 anos de novo. Quando você foi para Europa e eu entrei em faculdade, mas sem saber muito o que eu ia fazer. Eu estou um pouco perdida. – Ela pressionou os lábios.
- Com o que exatamente? – Ela suspirou.
- Uma vida mais calma. – Ela deu de ombros. – Eu vi Michelle, Jason e Isaac nas férias e ela é só alguns anos mais velha do que e eu estou bem longe de realizar qualquer uma dessas coisas.
- Você quer dizer...
- Se acalmar, ter uma vida mais normal. Casar, ter filhos... – Ela pegou sua taça, virando o restante do vinho para dentro. – Abrir um restaurante talvez. – Estiquei a mão sobre a mesa, procurando a sua e ela olhou para mim. – O quê?
- Eu não sei o que dizer, . Honestamente. – Suspirei. – Mas você é jovem ainda, tem uma visão diferente da Michelle e menos pressão também. – Ela abaixou a taça à mesa novamente. – Eu acho que você está passando por algumas dúvidas depois de trabalhar mais do que devia ano passado. Mas se você realmente quiser ter uma vida mais normal, voltar para Perth ou até ficar em Monaco comigo durante o ano, eu vou te apoiar em qualquer decisão que queira, ok?! Até me dar sobrinhos. – Ela deu um sorriso. – E eu vou ter que aprovar o namorado, é claro.
- É claro! – Ela disse rindo.
- E eu apoio totalmente a ideia de um restaurante, viu?! – Falei. – Seria bom saber onde você está pelo menos. – Ela pressionou os lábios. – Saber que você está bem, saudável... Sem fugir de nós...
- É, acho que o problema está aí, fugir de vocês. – Ela suspirou. – Eu sou uma Ricciardo mesmo sem o sobrenome. – Assenti com a cabeça.
- Sim, e minha mãe já te trata como a filha mais nova, você sabe disso. Você aceitar finalmente o posto não vai mudar nada. – Ela riu fracamente.
- Vamos ver como vai ser esse ano, tenho muitos receios para passar ainda e teremos um longo ano. Mas eu quero uma mudança, Danny. – Ela pressionou os lábios. – Sabe... Quando eu vinha em um lugar novo, eu analisava cada canto, experimentava cada coisa do cardápio, checava se os guardanapos são de um tecido bom, agora... – Ela suspirou. – Só quero comer uma comida gostosa e dormir... – Assenti com a cabeça. – Eu não quero mais isso, eu sei. Quando começo a reclamar demais, quando começo a ver problema demais, é hora de mudar, eu sei... Não precisa ser um gênio para saber isso. – Neguei com a cabeça.
- Eu vou te ajudar com isso, ! – Sorrimos. – Vou te ajudar a descobrir o que você quer fazer e te dar alguns motivos para se empolgar, a começar com muito barulho, muitas corridas...
- Espero que tenha alguns caras envolvidos...
- Você pode conhecer algumas pessoas novas. Só não corredores, pelo amor de Deus. – Falei e ela gargalhou.
- Por que não? – Ela deu de ombros.
- Você odeia velocidade e você quer um corredor? – Ela riu fracamente.
- Eu não estou prometendo amor eterno, só... – Dei de ombros. – Uma boa noite de sono. – Ela piscou para mim e neguei com a cabeça.
- Ah, cara! Não, não, não! A relação dos corredores já é aquela pressão com a imprensa, imagina as notícias?
- Oh! Desacelera, Danny boy! – Ela disse rindo. – Eu cuido da parte romântica e você me ajuda em outras coisas. Combinado? – Assenti com a cabeça, rindo com ela.
- Combinado! – Falei rindo. – Pintar o cabelo de rosa é uma ideia boa? – Rimos juntos.
- Não acho que o problema está no cabelo. – Ela passou a mão nos fios, jogando-os para trás, fazendo-me rir.
- Acho que não, eu gosto! – Ela sorriu. – Mas podemos mudar com algumas ações. – Falei, erguendo a mão, procurando pelo garçom.
- Ah, o que vai fazer? – Ela suspirou e vi o garçom se aproximar.
- Sim... – Ele disse.
- Me traz quatro shots da sua melhor tequila, por favor.
- Claro, com licença. – O garçom disse, se retirando.
- Daniel! – Ela disse.
- Mudanças! – Falei firme, vendo-a negar com a cabeça.
- Eu não bebo tequila. Me dá dor de cabeça.
- Vai beber agora! – Falei firme, afastando um pouco o prato para o meio da mesa.
- A gente bebeu uma garrafa inteira de vinho, eu vou estar estragada amanhã. Você não tem simulador, não?
- Não! – Falei firme. – Relaxa aí, ! Só nós dois bebendo em um bar...
- Onde a dose de tequila custa 22 libras, mas sim. – Ela checou no cardápio e rimos juntos. – E nunca tivemos bons momentos bebendo em bares, você foi embora antes de termos idade para beber. – Ponderei com a cabeça.
- Acho que você tem mágoa disso até hoje. – Ela abriu um largo sorriso, rindo.
- Não, Danny! Sinto muito orgulho do que você conquistou e mal posso esperar para ver você realizando mais. – Sorri. – É só uma pena que seja uma corrida, mas... – Rimos juntos e vi o garçom trazer as quatro tequilas.
- Valeu! – Falei, empurrando duas doses para . – Vamos!
- Foi assim que começou o que aconteceu no México? Eu gosto da minha sanidade. – Revirei os olhos. – Eu não acho que temos muitas opções para você agora...
- Beba, ! – Estiquei a primeira à frente e ela suspirou, fazendo o mesmo. – A uma boa temporada.
- E à nossa amizade. Porque isso com certeza vai afetar nossa amizade e não sei se de uma forma boa. – Ri fracamente.
- Quando foi a última vez que passamos um ano inteiro juntos? – Perguntei e ela respirou fundo.
- Dois mil e... – Ela pensou, fazendo algumas contas. – 2002? – Ela franziu a testa.
- Tudo isso? – Franzi a testa.
- É! – Ela deu de ombros. – Nosso ensino médio foi meio conturbado, caso não se lembre. – Assenti com a cabeça. – Brigamos muito.
- Queria não, mas aqui estamos. – Estiquei o shot novamente. – A novos recomeços, .
- A novos recomeços, Danny boy! – Ela disse e tocamos os shots, virando para dentro.

*Anuário de Daniel: Segundo uma publicação do Reddit, essa é a frase que Daniel escolheu para colocar no seu anuário.

Capítulo 3

Duncraig, Austrália, 1994


- Ei, Grace... – ergueu o rosto com a voz da sua mãe, desviando de pintar o desenho. – Sim, eu soube, como ele está? – largou os desenhos, se levantando de sua pequena mesinha, seguindo a passos lentos até sua mãe.
- É o Danny, mamãe? – Ela perguntou e Helena passou a mão nos cabelos da filha, tirando a franja dos olhos. – Eu posso ver ele?
- Estamos só nós duas aqui. – Helena disse ao telefone. – Podemos dar uma volta, o que acha? – Ela suspirou. – Isso, vai ser uma ótima ideia. Ele vai se sentir melhor. Ela está agitada também, faz três dias que eles não se veem.
- Mã-ã-ãe! – puxou a mão de sua mãe.
- Isso, chego em 20 minutos. – Helena disse antes de desligar.
- Mãe! – a chamou.
- Oi, minha linda! – Ela se ajoelhou na frente da filha.
- Era o Danny? – Ela perguntou, fazendo um biquinho.
- Era a titia Grace. Ela chamou a gente para ir ao zoológico. – Ela disse.
- O Danny vai também? – Ela perguntou.
- Claro que vai, meu amor! – Ela ajeitou os cabelos da filha. – Ele está com saudades de você.
- Eu quero ver ele, mamãe! – fez um biquinho.
- Vamos, vou te levar para lá! Vamos nos aquecer?
- Sim! – disse animada, correndo para seu quarto.
Helena sorriu, seguindo com a filha até o quarto e ajudou-a a colocar uma calça mais quente e um suéter por cima da blusa de bichinhos que ela usava. O mês de maio havia acabado de começar, mas uma pequena frente fria atingiu a cidade de Duncraig, precisando de alguns casacos a mais para sair na rua. O que não era muito comum para eles no Oeste da Austrália, perto do Outback*.
- Vamos aquecer essas orelhas. – Helena falou ao colocar o gorro na cabeça da filha, apertando-o com firmeza. – Sente-se lá no sofá, vou pegar um casaco.
Helena foi para seu quarto, trocando os chinelos por botas e casacos antes de voltar, encontrando sacudindo as pernas no sofá. A menina sorriu ao ver a mãe, levantando-se rapidamente e não demorou para ambas estarem dentro do carro.
Demorou um pouco mais do que de costume para eles chegarem ao zoológico. Duncraig é um dos subúrbios de Perth, então eles precisavam ir para Perth para qualquer programa diferenciado e isso demorava cerca de 20 minutos para atravessar um canto ao outro.
Quando as duas chegaram ao zoológico, ficou animada no banco do carro ao ver os cabelos da Daniel pelo vidro do carro. Infelizmente o menino não estava com a mesma empolgação. No último dia primeiro, um de seus grandes ídolos havia falecido. Mesmo que ele ainda não soubesse muito sobre corridas e afins, seu pai o havia influenciado muito bem e era frequente o garoto acordar às três ou quatro da manhã para assistir corrida, além de falar que é isso que ele queria fazer na vida.
Grace notou uma diferença no humor do filho após a morte de Ayrton Senna*, ele não queria comer, não queria ver e nem sair para brincar, medidas desesperadas precisavam ser tomadas. Daniel gostava e admirava a forma de correr do brasileiro, adorava as passagens, as manobras, tudo isso em uma velocidade altíssima. Joe havia feito uma influência enorme no menino, mas perder um ídolo dessa forma, na carreira que o garoto queria seguir? Parecia muito duro para um menino de quase cinco anos.
- Filha... – Helena se virou para . – Dá um abraço bem forte nele, está bem?
- Por quê, mamãe? – perguntou.
- Porque o Daniel está triste, amor. – Helena disse. – Só o abrace, está bem?
- bem. – Ela disse e Helena saiu do carro, abrindo a porta, vendo a menina pular do carro, saindo correndo em direção a Daniel.
- Danny! – disse e o menino até esboçou um curto sorriso ao ver a menina e o abraçou fortemente, mesmo que sua mãe não tivesse pedido, sentia muitas saudades do amigo. Para ela, era como se fosse uma eternidade. – Saudade!
- Também senti. – O menino apoiou a cabeça no ombro da menina, com um pequeno bico nos lábios.
Enquanto eles davam seu longo abraço, Helena se aproximou de Grace e ambas também trocaram um forte abraço. Haviam se tornado amigas pelos seus filhos e, como donas de casa, acabavam dedicando o tempo completo para os filhos que só queriam saber de se divertir.
- Como ele está? – Helena perguntou.
- Melhorando um pouco, já comeu um pouco mais hoje, mas acho que ele está gostando de ser paparicado. – Helena sorriu, virando para sua filha e seu melhor amigo. – Achei que um passeio fosse fazê-lo se sentir melhor.
- Sim, claro! Mas acho que deve ter sido um pouco demais para Daniel. – Helena disse. – O homem morreu, Grace. – Helena falou mais baixo. – Um grande astro, e morreu fazendo algo que sonhava. Eu tenho medo de ver Fórmula Um por isso.
- Eu também morro de medo, fico pensando nas mães desses meninos*. – Grace passou as mãos nos braços, suspirando.
- E você quer ver o Daniel nisso? – Helena perguntou.
- Honestamente? Não, mas acho que no final das contas eu não vou poder controlar. – Ela deu de ombros. – E o Joe já correu um pouco, ele fez Daniel gostar disso. O que posso fazer? – Ela negou com a cabeça. – Esperar que ele tire isso da cabeça o mais rápido possível, mas e se não?
- Boa sorte. – Helena disse e Grace suspirou, arregalando os olhos antes de respirar fundo.
- Vamos entrar. – Grace disse. – Daniel! ! Vamos! – Ela disse e os amigos soltaram finalmente o abraço.
esticou a mão para Daniel e ele a segurou, andando lado a lado logo atrás de suas mães. Grace e Helena se entreolharam, dando um sorriso entre si. As mães foram comprar o ingresso para o zoológico, liberando a entrada das crianças logo em seguida.
- A gente pode ver os coalas, mamãe? – perguntou animada.
- Podemos! – Helena disse sorrindo.
- E os cangurus? – Daniel perguntou.
- Podemos também. – Grace disse sorrindo e parece que até Daniel tinha um sorriso melhor no rosto. – Nós vamos chegar lá.
- Olha as girafas, Danny! – disse animada, apontando para os animais de pescoços longos.
- Vem, ! – Ele segurou a mão dela, saindo correndo e Grace sentiu um alívio em seu coração. Talvez encontrar a melhor amiga e um pouco de distração era tudo o que Daniel precisava para voltar o sorriso largo em seu rosto.

*Outback: é o nome coloquial para as áreas amplas, não povoadas e predominantemente áridas que compõem o interior e as costas remotas da Austrália, resumidamente, o deserto australiano.
*Morte do Senna: primeiro de maio de 1994 em Imola, Itália.
*No primeiro episódio da primeira temporada de F1: Drive to Survive da Netflix, Grace dá essa mesma declaração.


FEVEREIRO
Le Castellet, França, 2016

- ? – Parei de mordiscar a ponta do dedo e virei o rosto rapidamente para trás, encontrando Michael.
- Ei, Mike. – Suspirei, levantando-me das arquibancadas, vendo outro homem com ele.
- Você está bem? – Ele perguntou e suspirei.
- Sim... Eu acho. – Neguei com a cabeça, afundando as mãos nos bolsos do casaco pesado da Red Bull.
- Não é uma corrida, , é só um treino. – Meu amigo e de Danny de infância* falou.
- O problema não é esse, Michael. E ainda é em pista molhada, não gosto. – Falei.
- Vai ser uma longa temporada. – Ele suspirou e neguei com a cabeça.
- Como ele está?
- Logo é a vez dele, mais alguns minutos. – Ele virou rapidamente. – Enfim, você se lembra do Glenn*? – Ele apontou para o homem atrás de si.
- Empresário do Danny, certo? – Estiquei a mão.
- Sim. – Ele apertou minha mão. – Já nos conhecemos, não?
- Sim, me lembro de você. – Falei e apertamos as mãos.
- Faz tempo que não te vejo. – Ele disse.
- Sim, tive uns problemas e... – Ponderei com a cabeça e ele assentiu com a cabeça.
- Sinto muito, Daniel me disse. – Pressionei os lábios, confirmando, e um silêncio estranho ficou entre nós.
- Então, você viaja com o Danny ou... – Perguntei.
- Ah, não. Eu acabo vindo para algumas situações mais críticas. Começo de temporada acaba sendo complicado, algumas questões contratuais, acabo ficando com ele.
- Ah, que ótimo. – Sorri, pressionando os lábios.
- E você? Finalmente decidiu acompanhá-lo? – Ele indicou o crachá em meu pescoço e ri fracamente.
- Estou precisando de uma mudança, talvez vá me ajudar. – Ele sorriu.
- Bem-vinda de volta, então. – Sorri.
- Obrigada. – Falei e Michael assentiu com a cabeça.
Sentei-me novamente, apertando as mãos dentro do casaco e observei o circuito Paul Ricard vazio. Hoje é dia de teste em pista molhada e o tempo estava nublado, mas sem chuva ainda, pelo menos não mais do que já havia chovido durante a noite toda. Além de Daniel, só Räikkönen testaria com a Ferrari também, mas Danny tinha o primeiro horário.
Como Michael disse, é só um teste, alguns minutos e pronto, mas a intenção era testar quanto os pneus aguentam em diversas situações, então eles teriam que correr como se fosse uma corrida e, apesar daquela brincadeira na Red Bull alguns dias atrás, sei que aquilo não era o ambiente ideal e que o carro não atingiu a velocidade esperada. Agora eu não tinha mesmo como fugir. Ao menos Daniel estava sozinho na pista.
- Ele está saindo. – Michael anunciou e respirei fundo.
Antes que eu conseguisse me mexer, ouvi o som do motor do carro aumentando cada vez mais alto e arqueei os ombros quando ele atingiu níveis altíssimos e o carro de Daniel passou com um raio para mim.
Levei meu corpo até a beirada, vendo os diversos fotógrafos parados abaixo de mim, na saída da garagem da RBR, e apertei as mãos no corrimão. O barulho foi ficando mais afastado até Danny sumir na primeira curva e me impossibilitar de vê-lo. Diferente da corrida, onde eu fiquei bastante nos boxes com Danny, eu não tinha nenhuma tela para ver o desempenho dele, não sabia como ele estava indo, muito menos sua velocidade, o que talvez seja bom, mas sabia que em menos de um minuto e meio, eu o veria de novo.
E foi o que aconteceu quando o barulho voltou a ficar alto e o carro de Danny passou em minha frente mais uma vez, fazendo-me apertar a mão no corrimão. O carro azul, vermelho e amarelo passou no grid de largada, aumentando a velocidade, tornando o barulho cada vez mais alto, fazendo-me mordiscar o lábio inferior, desviando o rosto em seguida.
Encare, ! Encare!
Tinha alguma coisa movimentando dentro de mim, talvez aquela tradicional vontade de vomitar, mas não podia agora. Eu tinha que encarar isso, não dava mais para fugir. Faz seis anos! Seis anos sem eles, mas seis anos sem também poder aproveitar essa oportunidade incrível que é ter Daniel fazendo sucesso na carreira que escolheu.
É loucura pensar em tudo o que ele passou para chegar aqui e tudo o que eu acompanhei até a morte dos meus pais. Depois descobri meu trauma e mesmo com vários médicos, psicólogos e psiquiatras, isso ainda ficou.
Não sei se a forma que Danny lidou com isso nas férias foi a melhor possível, mas eu estou aqui. Com as mãos doendo de tanto apertar o corrimão, sentindo meu pequeno almoço querer sair, mas vendo o carro de Danny passar diversas vezes em minha frente, exigindo ao máximo de seu carro.
Ao que não foi mais do que 15 minutos, o carro entrou na área dos boxes e vi Michael e Glenn aplaudindo, além de poucos apoiadores e respirei fundo, sentindo minhas mãos relaxarem devagar quando os mecânicos o ajudaram a entrar de ré na garagem. Fiz um curto sinal da cruz, sentindo os dedos doerem ao finalmente se mexerem e meu coração se acalmou aos poucos, me fazendo suspirar.
- Vai vomitar aí? – Virei para Michael.
- Não... Eu estou bem. – Suspirei, sentindo a saliva em excesso na boca e ele assentiu com a cabeça, dando um tapinha em meus ombros.
- Respira! – Ele disse e confirmei com a cabeça, suspirando, tombando a cabeça para frente, deixando a respiração sair devagar.
- EI, ! – Ergui o rosto, procurando quem me chamou e encontrei Danny na frente do box com o macacão completo, o capacete na mão, puxando a balaclava da cabeça e dei um sorriso, sentindo aquele alívio passar pelo corpo.
- Ei, Danny! – Falei sorrindo.
- Você está bem? – Ele se aproximou, ficando mais embaixo de onde eu estava e notei os fotógrafos seguindo-o.
- Sim. – Dei um curto sorriso, esticando o polegar para baixo e ele fez o mesmo, erguendo para cima com as luvas, sorrindo.
- Bom! – Ele disse com seu largo sorriso e retribuí, sentindo meu rosto esquentar com a atenção dos fotógrafos.
- Vai trabalhar! – Falei e ele riu.
- Nos falamos depois! – Ele gritou e assenti com a cabeça, recuando meu corpo para trás, sentando-me nas arquibancadas de novo, fazendo-me suspirar.

*Michael Italiano: treinador de performance e desempenho do Daniel. Eles se conheceram aos 12 anos. Originalmente, Michael começou a trabalhar com Daniel no final de 2017.
*Glenn Beavis: ex-empresário de Daniel de 2012 até 2019. Hoje, Blake Friend, outro amigo de infância de Daniel citado na história, é seu empresário. Antes disso, Blake era visto como um assistente a partir de 2017.


Londres, Inglaterra
Daniel

- Ei, Daniil! – Falei.
- Daniel! – Ele falou empolgado e nossas mãos estralaram ao se tocarem. – Como foram as férias?
- Ótimas, como sempre! E contigo? – Ele disse.
- Muito boas também. – Ele sorriu e rimos juntos. – Pronto para recomeçar?
- Nasci pronto! Não aguento mais ficar dentro de casa. – Falei, ouvindo-o rir.
- Vamos nos arrumar, rapazes! – Ouvi a voz de Maria. – Coulthard* já entrou, vocês têm três minutos.
- A gente já se encontra. – Daniil disse e trocamos outro rápido aperto de mãos antes de sair do meu camarim.
Subi o macacão para os ombros, inclinando-os para ajeitar e ajeitei a roupa de baixo antes de puxar o zíper central para cima. Olhei-me no espelho, pressionando os lábios, e estava satisfeito. Já tinha usado esse macacão antes na sessão de fotos e na gravação, mas agora que havia reparado nos diversos touros em um tom mais claro no tecido.
- Hot! – Falei para o espelho, fechando a parte de cima do macacão.
- Dois minutos! – Ouvi a voz de Maria e me sentei na cadeira mais próxima para calçar os sapatos do novo kit da PUMA. Amarrei-os antes de me levantar novamente. Dei uma checada nos cabelos, passando a mão neles.
- Not hot! – Ponderei com a cabeça, deixando isso de lado.
- O vídeo começou, gente! – Maria falou mais alto.
- Estou pronto! Estou pronto! – Saí pela porta e Maria puxou minha gola.
- Está torta. – Bufei, ajeitando-a mais uma vez. – Vamos! Para o palco! – Ela disse e Kvyat saiu pela outra porta. – Vão! – Ela disse firme e subi as escadas, vendo o novo carro da Red Bull ali e outro organizador.
- Quando os mecânicos saírem de perto, vocês entram. – Ele disse.
- Ok. – Falei, respirando fundo, vendo os dançarinos fazerem a apresentação à frente da tela.
Meu carro estava um pouco atrás, pronto para ser empurrado para dentro. Tinha conseguido usá-lo pela primeira vez nos treinos de 15 dias atrás. Era uma máquina incrível para trabalhar, talvez eu estivesse criando expectativas cedo demais, mas talvez consiga o campeonato esse ano.
- Vão! Vão! – O organizador disse e eu e Kvyat seguimos por lados diferentes, entrando no palco, passando pela fumaça e jogo de luzes, e me coloquei na frente do carro, vendo os diversos celulares e câmeras em nossa direção.
- Apresentando o libré da equipe Red Bull Racing em parceria com a PUMA para 2016. Bem-vindos, Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat. – A apresentadora disse e tentei dar meu melhor sorriso enquanto as pessoas tiravam fotos.
- Então, Daniel, temos um libré novo esse ano, como você se sente? – A apresentadora perguntou e as luzes se acenderam, me deixando ver melhor o público.
- É bom! Boa tarde, todo mundo. – Falei um tanto nervoso. – O carro está incrível, para nós, pilotos, o que importa é a performance na pista, mas parecer bonito é parte de tudo também, o kit está bonito, um kit mais funky, espero que isso apresente bons resultados para 2016.
- Como você se sentiu quando colocou ele?
- Me senti foda! – Falei rindo em seguida. – É incrível.
- Então, agora, Christian, estamos vendo um libré totalmente diferente desse ano, quais foram as intenções aqui? – Coulthard, ex-piloto da RBR, perguntou e franzi a testa, encontrando no meio da plateia e ela deu um curto sorriso quando percebeu e fiz o mesmo, me contendo em acenar.
Ela disse que não saberia se conseguiria vir, já que precisava entregar uma revisão até o fim do dia, mas acho que ela tinha conseguido, e se escondia entre os convidados e alguns fãs ali no meio da plateia.
- Então, Daniel... – Virei meu rosto para apresentadora de novo. – Com a Austrália sendo a primeira corrida, isso deve ser um bom incentivo para você.
- É sim. – Falei rindo. – A questão é que é um longo tempo entre a última corrida de 2015 até Melbourne. É uma grande espera. Claro que estamos treinando e fazendo outras coisas fora da pista, mas, sabe, queremos correr, treinamos para correr, então, quando chega em Melbourne, não só por ser a primeira corrida da temporada e por ser meu lar, mas por fazer bastante tempo desde a última corrida. – Falei para ela. – Então sempre tem aquela motivação, empolgação, sentimentos, tem treino na semana que vem, mas poderíamos ir direto para Melbourne. – Falei rindo e ela concordou.
A apresentação durou mais alguns minutos e, após algumas fotos, pude voltar para dentro, colocar o kit do dia a dia antes de seguir para responder algumas perguntas dos repórteres que estavam lá, saindo de novo para o palco, mas dessa vez boa parte das pessoas já tinham saído, então estava mais confortável.
As perguntas foram calmas como sempre. Não tinha começado nem a pré-temporada, então não tinha nada para falar, era mais sobre o novo equipamento e as mudanças, mas sempre tinha aquela pergunta para pressionar sempre.
- Então, Daniel, uma última pergunta: onde você se vê no final da temporada 2016? Você se vê com o troféu de campeão mundial nas mãos?
- Hum... Eu adoraria dizer sim. Eu acredito que estou em um lugar para correr atrás disso, mas sabemos que tem muitas coisas envolvidas na F1... Eu não quero ser pessimista, mas temos um vão enorme para fechar entre outras equipes tipo Mercedes, então dizer agora que serei campeão esse ano, não tem muita margem por trás disso. Então vou esperar alguns pódios, voltar para a fileira de vencedores e ver onde isso nos coloca em novembro.
- Boa sorte! – Ele disse e assenti com a cabeça, vendo-o se afastar e suspirei, virando para Maria.
- Encerrado. – Ela disse e confirmei, apoiando-me na beirada do palco, passando as mãos no rosto.
- Cansado? – Ergui o rosto para .
- Você veio! – Falei, puxando-a pelos braços para um abraço.
- Oh! O que foi? – Ela disse, apertando as mãos em minhas costas.
- Só cansado. – Falei, ouvindo sua risada abafada perto de meu ouvido.
- Podemos ir embora? – Ela perguntou e ergui meu rosto, abaixando minhas mãos.
- Acho que sim. – Passei a mão nos cabelos e ela se apoiou no palco ao meu lado. – O que achou? – Apontei para o casaco da Red Bull.
- Azul fica bem em você. – Ela disse, me fazendo sorrir. – Vamos ver se ajuda a ganhar corridas. – Rimos juntos e suspirei.
- Oh, cara! Nova temporada! Vamos ver o que vai acontecer. – Suspirei.
- Relaxa, Danny, temos umas semanas ainda, mas começar bem em casa acho que é obrigação. – Ela riu fracamente.
- Espero que esteja certa. Depois de 2014, é o que eu mais quero. – Bufei.
- Ainda não entendo que merda aconteceu contigo para te desclassificarem depois de ganhar em segundo... – Apertei as mãos no rosto.
- Ah, , deixa para lá. Não vale a pena voltar isso. – Suspirei. – É difícil acompanhar todas as regras da FIA.
- Se muda tantos as regras, não vejo como isso é justo. – Dei de ombros. – Na verdade, já não acho justo os carros não terem o mesmo motor, aí sim eu queria ver se os primeiros lugares são realmente bons. – Dei um curto sorriso.
- Ela está certa, Daniel! – Ergui o rosto, vendo Christian* se aproximar. – Adoraria ver o que você faria com uma Mercedes ou uma Ferrari. – Ri fracamente.
- Acho que muito é do motorista, Chris. O motor ajuda, mas não é garantido, do contrário não teríamos ganhadores diferentes. – Falei e ele se aproximou, apoiando a mão em meu ombro.
- Quem é ela?
- Chris, essa é Addams, minha melhor amiga de infância. – Falei. – , esse é Christian Horner, chefe da Red Bull Racing. – Falei e ambos apertaram as mãos em minha frente.
- É um prazer te conhecer. – Ela disse com um sorriso no rosto.
- Então, você é a nova pessoa da minha equipe? – Ele perguntou e riu fracamente.
- Não é minha culpa! – Ela deu de ombros.
- A convidei para passar um ano conosco, talvez seja a motivação que eu precise. – Ele riu fracamente.
- Eu sou uma pessoa cética, mas se diz que ajuda, eu acredito em tudo. – Christian sorriu. – Algum talento que eu preciso saber?
- Não sei se ajuda, mas eu sou uma chef profissional. – Ela disse rindo. – Sem restaurante, mas sim...
- A comida dela é boa? – Ele se virou para mim.
- A melhor! – Falei rindo.
- Bom! – Christian disse. – Vai ser um prazer te ter conosco, senhorita Addams. – Ela sorriu. – Nos vemos na segunda, Daniel!
- Até! – O cumprimentei, vendo-o seguir pelo salão.
- Podemos ir também. – Ela disse. – Eu realmente preciso de um banho e um antiácido. – Ela fez uma careta.
- Você está bem?
- Comi algo que não me fez bem. – Ela suspirou.
- Alguém não vai ganhar uma estrela. – Falei e ela riu fracamente.
- Não e eu talvez tenha uma noite de rainha. – Suspirei.
- Eu te empresto o cheirinho de ambiente. – Ela bateu a mão na testa.
- Ah, cara! Nem um mês contigo, até o final do ano eu vou ter virado um homem. – Franzi a testa.
- Espero que não, já tenho testosterona demais na minha vida. – Ela riu fracamente.
- Ah, vamos embora, preciso melhorar e aproveitar alguns restaurantes ingleses antes da viagem para Barcelona.
- Vamos! – Estiquei a mão.
- Sem mãos, muita imprensa aqui. – Ela disse, seguindo em frente.
- Eles vão ter que se acostumar que somos amigos, ! Você vai ficar comigo o ano inteiro! – Segui logo atrás dela, ouvindo-a rir.
- Até explicar que focinho de porco não é tomada, teríamos várias mulheres com o coração partido. – Ela falou sarcástica e ri fracamente.
- Ah, você está certa! Vai ser mais difícil para eu ter encontros casuais sem um relacionamento nas costas. – Ela gargalhou.
- Você não presta mesmo! – Ela me empurrou pelo ombro, fazendo-me gargalhar.
- Só entrei na sua, ! – Falei e ela seguiu à frente, gargalhando.

*David Coulthard: ex-piloto escocês da Red Bull Racing, o primeiro piloto da escuderia, possui dois pódios de 3º lugar. Hoje é um embaixador da Fórmula 1 e aparecia frequentemente com Daniel nos anos da Red Bull.
*Christian Horner: ex-piloto britânico de Fórmula 3, chefe de equipe da Red Bull Racing desde seu lançamento em 2005, onde a Red Bull comprou a antiga equipe da F1 da Jaguar.


Montmeló, Espanha

- Então, aqui fica cheio em dias de corrida. Cada escuderia tem seu prédio com refeitório, lugar para descanso, uma pequena área de treinamento... – Daniel falava enquanto andávamos pelo que parecia ser um largo estacionamento.
- E onde vocês ficam? – Perguntei, ajeitando os óculos de sol no rosto.
- Normalmente mais para ali. – Ele apontou um pouco distante dos caminhões. – Cada piloto tem um motorhome e ficamos aqui durante o fim de semana.
- É bom?
- É confortável. – Ele deu de ombros. – É quieto quando tudo acaba. – Rimos juntos. – Mas a maioria dos pilotos fica por aqui, boa parte da equipe, eu só não tenho muito saco de olhar na cara de ninguém depois do fim de semana. – Gargalhei. – Especialmente se eu tive uma péssima corrida.
- Achei que você fosse mais simpático, Danny boy. – Falei e ele riu fracamente.
- Você me conhece. – Ele suspirou.
- The honey badger! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Ser simpático o tempo todo não é muito bom. – Ele disse. – Parece que você não pode ficar triste ou puto.
- Já vi todos os seus tipos. – Passei o braço pelos seus ombros, puxando-o para dentro e ele gargalhou. – Eles montam tudo na hora?
- Sim! – Ele disse, passando a mão em minha cintura. – É um verdadeiro circo. Desmonta aqui e monta 24 horas depois em outro lugar. – Ele deu de ombros. – Os prédios também, os motorhomes... Quando a gente chega aqui está tudo pronto. Hoje é só treino, então não tem nada, mas vamos chegar aqui em maio. – Ele disse, pensando um pouco.
- O calendário é meio estranho, certo? – Falei, dando um passo mais longo quando mudamos o piso, passando por uma passarela larga, até entrar em uma área com mais pessoas andando por ali.
- Como assim?
- Bem... Austrália, depois vamos para o Bahrein, voltamos para a China e Rússia, ok. Aí temos Espanha, Mônaco... Vai para o Canadá! – Ele gargalhou. – Para voltar para o Azerbaijão. Ah, é muita grana para gastar, vai.
- É a primeira vez que vamos correr no Azerbaijão, estou empolgado! – Ele disse. – Tem algum dessa leva que vai ser novidade para você? – Pensei um pouco.
- Muitos, na verdade. – Falei. – Minha área era mais a parte do Sul do mundo, então Azerbaijão, Bahrein, Hungria, Áustria, Singapura, Malásia, Emirados Árabes... – Ponderei com a cabeça. – Mônaco! – Ele riu fracamente.
- Não acredito que você nunca esteve em Mônaco.
- Vamos dizer que eu nunca tive dinheiro o suficiente para ser liberada a entrada. – Ele gargalhou. – Mas Rússia também. Nunca fui para Rússia.
- Então você viajou o mundo, mas... – Sorri.
- Te garanto que conheço mais países do que você. – Falei. – Muitos da América do Sul, muitos da África. – Ele sorriu.
- Você aprecia mais a cultura dos países do que eu, !
- Além de eu ter mais tempo do que você, sua comida favorita é costela e hamburger e vamos dizer que todo mundo sabe fazer isso. – Falei, ouvindo-o rir.
- Menos eu! – Abri um largo sorriso.
- É, você queima água, Danny! – Pressionei os lábios e ele riu fracamente.
- Estou ferrado se eu me casar com alguém que goste de cozinhar.
- Oh, isso vai acontecer? – Perguntei surpresa.
- Sem graça! – Ele me empurrou, nos afastando, me fazendo gargalhar. – Quando eu estiver com uns 40, 45 anos, depois de ter ganho uns quatro, cinco campeonatos mundiais, é... – Neguei com a cabeça, gargalhando. – Mas ela não pode cozinhar melhor que você!
- Não que seja possível... – Ele gargalhou.
- Metida!
- Convívio demais com você! A essa hora era para eu estar bem longe daqui! Em algum país estranho perto de casa. – Rimos juntos.
- Aqui é mais legal, vai! – Ele passou os braços pelos meus ombros, me inclinando para trás e gargalhei.
- Talvez.
- Mas minha futura esposa não pode cozinhar melhor do que você! Ou vai ter muita treta. – Ri fracamente.
- Bem, você ama minha comida, Daniel!
- É por isso que eu sou seu amigo. Chef particular! – Gargalhamos juntos.
- É, claro! Porque aos três anos eu já era uma chef in-crí-vel! – Falei sarcasticamente, ouvindo-o gargalhar.
- É... Não dá nem para eu fugir dessa. – Ele me soltou, fazendo-me sorrir.
- Ao menos demos sorte, Daniel! – Falei, dando de ombros, e ele segurou a maçaneta da porta.
- Isso é loucura, certo? – Ele falou, mordiscando o lábio inferior e assenti com a cabeça. – Nós dois chegamos aonde queríamos, .
- Sim, Danny! – Suspirei. – Eu estou um pouco perdida, mas se eu pensar no sonho que eu tive lá atrás... Eu realizei.
- Vamos encontrar outro para realizar. – Ele disse e assenti com a cabeça. – Vem, vamos mostrar a garagem. – Ele puxou a porta com força e entrei com ele. – Faz tempo que você não vem aqui, né?!
- O último foi quando você estava na HRT ainda, depois daquela crise, eu parei de vir. – Entrei em sua frente.
- Bem, tem umas diferenças entre as equipes. Uma enorme diferença. – Rimos juntos. – Mas é o mesmo labirinto! – Ele foi ao meu lado.
- E na Espanha você achou melhor eu ficar longe. – Comentei e ele ponderou com a cabeça.
- Ainda acho, mas hoje está mais calmo, meu horário é só mais tarde. – Ele disse e andamos pelo longo corredor. – A direita tem a garagem do Kvyat e a minha é a da esquerda. – Ele seguiu pelo lado com o número 3. – Aqui estão a aparelhagem para os mecânicos para corrida, na hora do pit stop. – Ele indicou os capacetes e saímos para a larga garagem, fazendo-me sorrir.
As cores e o logotipo da Red Bull estavam em todos os lugares, mas o que chamou mais atenção foi o carro no canto direito da garagem. Já tinha visto-o no lançamento há alguns dias, mas ele estava um pouco mais longe do que isso. O carro parecia brilhar ali enquanto os mecânicos mexiam nele. Dava para notar que faltava muitas coisas, inclusive um dos carros não estava lá ainda, e faltava alguns pneus.
- Ei, gente! – Danny disse, cumprimentando algumas pessoas.
- Oi, Daniel! – O pessoal falou e dei curtos acenos.
- Galera, essa é , ela é minha amiga da vida! – Ele disse e pressionei os lábios, acenando. – Amiga mesmo, antes que perguntem! Nos conhecemos desde os três anos, crescemos juntos e tem até fotos pelados em banheira.
- Daniel! – O repreendi, ouvindo o pessoal rir.
- Com três anos! – Ele corrigiu e revirei os olhos.
- Você deveria ter parado no “só amigos mesmo”. – Falei, dando de ombros e os mecânicos assentiram com a cabeça. – Prazer em conhecê-los.
- Prazer! – Eles disseram e sorri.
- Ela vai ficar por aqui durante essa temporada. Ela é legal, eu prometo! – Gargalhei alto. – E ela cozinha muito bem!
- Isso é uma coisa boa! – Um mecânico falou, me fazendo rir.
- , esse é Nigel, mecânico-chefe.
- Oi! – Sorri, esticando a mão.
- Oi! – Ele disse acenando. – Graxa! – Ele disse.
- Eu não ligo, eu estou em uma garagem, certo? – Falei e ele sorriu, apertando minha mão.
- Gostei dela! – Nigel disse, me fazendo rir e o homem mais velho continuou empurrando os pneus para fora.
- Daniel, chegou cedo! – Virei o rosto para trás, vendo outro homem chegar.
- Simon, ei! Só apresentando as coisas para . – Ele indicou para mim. – , essa é Simon Reenie*, meu engenheiro durante as corridas, classificatórias, práticas, entre outros. Simon, essa é , minha amiga que eu te disse.
- Olá, , tudo bem? – Ele disse e trocamos um rápido aperto de mão.
- Tudo bem. Prazer te conhecer. – Sorri.
- O prazer é meu. – Ele assentiu com a cabeça. – Você é mais como Daniel ou mais normal? – Ele perguntou, me fazendo rir e Daniel manter a feição séria.
- Mais normal, com toda certeza! – Falei, ouvindo-o rir.
- Engraçado, Simon! Bem engraçado! – Ele disse, me fazendo rir. – Mas ela é chata, eu sou legal, vamos continuar assim. – Revirei os olhos.
- É bom ter você aqui, . Precisamos de toda ajuda necessária para fazer esse cara voltar a ganhar. – Ele deu um tapinha nos ombros de Daniel, me fazendo rir.
- O que precisar, eu estou aqui para ajudar. – Sorri.
- Kvyat chegando! – Virei o rosto para o lado.
- Vem, eles vão cuidar do Daniil, deixa eu te mostrar lá dentro enquanto isso. – Ele disse, indicando com a cabeça e o segui, segurando o casaco em minhas mãos mais perto para o corpo. – Aqui temos as partes técnicas. – Seguimos pelo longo corredor. – Sala de telemetria, rádios da equipe, sala de análise... – Ele foi indicando as salas, acenando para um ou outro que passava pelo meio do caminho. – Uma garagem interna com peças extras, do lado de lá tem a sala de pneus. – Ele indicou. – Aqui temos a sala da comunicação... – Ele apontou.
- Não lembro de isso ser tão grande! – Falei.
- As vantagens de uma escuderia grande. – Ele virou para mim ao falar e revirei os olhos.
- Apesar do seu ego enorme, eu estou feliz por você, Danny boy! – Baguncei seus cabelos.
- Não toca nos meus cachos, plebeia! – Ele disse e gargalhei, jogando a cabeça para trás.
- Cara de pau! – Empurrei-o, fazendo-o gargalhar.
- Vem! – Ele apoiou a mão em minhas costas. – Aqui é a área dos vestiários. Temos dois desses, um aqui e outro lá no motorhome que eu comentei lá fora. – Assenti com a cabeça. – Esse é mais para o momento da corrida mesmo, um macacão extra, capacetes, coisas para assinar, uma massagem ocasional. – Ele disse abrindo a porta e vi o espaço pequeno. – É bem pequeno.
- Bem pequeno! – Fixei.
- É, aqui temos algumas coisas. – Ele indicou os armários e as coisas. – Eu normalmente me preparo lá atrás, de lá eu sigo para os compromissos pré-corrida. – Assenti com a cabeça. – Aqui é mais pós-corrida e afins.
- É legal, Danny! – Falei, pegando uma imagem promocional em cima da mesa. – É engraçado ver você assim. – Falei, rindo fracamente, sacudindo o card. – Você está novinho aqui ainda. – Ele o puxou de minha mão, fazendo-me rir.
- Isso é do ano passado. Não tiramos as fotos desse ano ainda. – Gargalhei, encostando na parede.
- Meu modelo favorito! – Imitei a voz de sua mãe, fazendo-o revirar os olhos. – Espera! Espera! Deixe-me tirar uma foto. Vou enviar para tia Grace! – Puxei o celular do bolso de trás da calça.
- ! – Ele tentou pegar meu celular, me fazendo desviá-lo, gargalhando com o feito. – ! – Ele falou mais alto.

*Simon Reenie: engenheiro de automobilismo da Red Bull Racing e engenheiro de Daniel do seu primeiro ao último dia na RRB. Daniel já deu uma declaração que a saída de Reenie da Fórmula 1 para trabalhar na fábrica, foi um dos fatores para ele mudar de equipe em 2018.

Londres, Inglaterra
Daniel

- Não sabia que gostava de UFC. – Falei, ouvindo-a rir fracamente.
- Eu não gosto! – Ela disse, me fazendo rir. – Foi uma experiência estranha, mas acho que não é para mim.
- Então, por quê? – Perguntei, colocando o casaco, fechando-o até em cima.
- Porque você gosta. – Ela disse rindo, dando de ombros, com as mãos afundadas no bolso do casaco. – É o que amigos fazem, não?
- Eu te amo! – Falei e ela riu fracamente, abrindo um largo sorriso.
- Talvez eu tenha tirado suas chances de se dar bem com aquela ruiva atrás da gente, mas fique à vontade para fazer o que quiser depois que eu for dormir. – Gargalhei alto.
- Por que você acha que eu transo com uma pessoa diferente cada noite? – Perguntei, puxando a chave do bolso.
- Você é um corredor de Fórmula 1, Daniel. Um famoso e muito bom. Segundo as críticas, o Rei das Ultrapassagens, o mais querido do paddock, e tem esse sorriso lindo e um jeito tonto. Não precisa de muito mais para as garotas quererem. – Ela deu de ombros, seguindo para um lado do carro e fui para o do motorista.
- Ok, ok, vamos precisar explicar umas coisas básicas aqui. – Abri o carro e entramos no mesmo. – Primeiro: eu não sou uma pessoa diferente contigo ou durante a temporada, eu sou o mesmo cara! Agradeço os elogios, mas não! Tenho encontros casuais de vez em quando sim, mas não é dessa forma. Não fico com qualquer pessoa, eu ainda valorizo a minha reputação. Então não dá para levar literalmente qualquer pessoa para casa. – Ela pressionou os lábios.
- Ok, bom saber.
- Segundo: eu namorei quatro vezes na minha vida. Duas vezes com a Jemma, da primeira vez ficamos três anos juntos, da segunda dois anos. Depois tive dois relacionamentos de uns seis a oito meses na época que morei na Itália e é isso. Apesar de você não acreditar, eu sou um cara romântico, eu gosto de me envolver em relacionamentos, mas não é com qualquer uma que dá para criar relacionamentos.
- Ok, próximo. – Ela assentiu com a cabeça e coloquei o cinto.
- Número três: eu não tenho ideia do que aconteceu no México. – Ela gargalhou. – Eu acordei, encontrei três mulheres no meu quarto e mandei uma mensagem discreta para o Michael vir me resgatar porque eu realmente não sabia o que fazer ali.
- Sério? Nada aconteceu depois? – Ela franziu a testa.
- Depois não. – Falei firme, ligando o carro, ouvindo o ronco do motor. – Eu ainda estava de camisinha, e ela estava cheia, então uma vez aconteceu... – Ela gargalhou, tombando a cabeça para trás. – Mas depois que eu estava consciente, não. – Dei um curto sorriso. – Eu sou um cara legal, .
- Acho que a mídia te transformou em uma pessoa diferente até para mim. – Ela virou o rosto para mim.
- Não é sua culpa. Nos vemos dois meses durante o ano inteiro, tenho a sensação de que não te conheço tanto mais também. – Ela pressionou os lábios. – E eu não quero perder isso, por isso sempre insisti em vir. – Abaixei o freio de mão, dando ré, saindo da vaga da Arena O2.
- Desculpe pela má interpretação. – Neguei com a cabeça.
- Você não precisa se desculpar de nada, confesso que até gosto que você me ache esse todo poderoso. – Ela abriu um sorriso, gargalhando.
- Você é para mim. – Ela deu de ombros. – Você é muito bom, Danny! Merece toda essa atenção, com ou sem sexo. – Sorri, focando os olhos na saída do estacionamento.
- Você também merece, ! – Virei o rosto para o lado rapidamente, vendo-a sorrindo. – E isso diz mais sobre você do que de mim, sabia? – Ela riu fracamente.
- Por quê? – Ela perguntou.
- Eu não lembro de transar com três pessoas, mas lembro que você falar que gostaria. – Ela gargalhou alto, virando o rosto para outro lado. – Isso é incrível, senhorita Addams.
- Ah, Danny! – Ela disse rindo.
- Vamos! Fala comigo! Quem está no páreo? – Ela riu fracamente.
- Não tem ninguém no páreo, Danny. Eu só acho que nada em minha vida está dando certo. – Ela suspirou. – Uma loucura talvez seja o que eu preciso para me ajeitar. – Ela negou com a cabeça.
- Ou ganhar uma DST! – Falei, fazendo-a rir.
- É, talvez... – Ela suspirou. – Faz o teste e me conta! – Gargalhei alto, vendo-a sorrir antes de suspirar. – Vamos ver, eu tenho outros 10 meses pela frente. Se eu não conseguir mudar nada ou tiver alguma melhoria pessoal ou profissional, eu vou passar com um psiquiatra antes que eu fique louca.
- Ok, ok! Eu te amo, mas vamos desacelerar aí! E sou eu que estou pedindo isso. – Falei firme. – Você não está louca, você não está com problemas, você está perdida! Pensando sobre algumas coisas. – Falei firme, desviando o olhar dela para a rua. – E eu sou seu melhor amigo, então vou fazer o possível e o impossível para te ajudar. Nem que seja contando piadas ruins até você rir. – Ela deu um curto sorriso.
- O que não é difícil, sou formada em piadas ruins com você, Danny! – Sorri.
- Ao menos vamos nos divertir. – Entrei em uma rua, desacelerando o carro, me aproximando devagar do restaurante.
- Sempre nos divertimos. – Ela disse, abaixando a viseira do carro e se olhando no espelho. – Deus, olha essa cara! Parece que quem levou um soco foi eu!
- Você está dormindo bem? Eu te ouço andando por aí.
- Depende... – Ela suspirou. – Tem dias que durmo 10, 12 horas, agora tem dias que eu mal durmo três horas...
- Você pode dormir comigo, sabia? – Falei. – Como nos velhos tempos, que você deitava comigo quando estava triste... – Ela deu um curto sorriso.
- Obrigada, Danny, mas você precisa dormir muito bem, a temporada vai começar em poucos dias. – Ela disse e o valet abriu a porta para ela, me fazendo suspirar.
Abri a porta do carro, cumprimentando o valet e segui para a calçada, encontrando me esperando nos primeiros degraus. Apoiei a mão em suas costas, entrando no restaurante e me aproximei do maitre.
- Boa noite. – Ele disse e vi outro ajudando a tirar o casaco.
- Boa noite, mesa para dois, por favor. – Pedi, tirando meu casaco, ajeitando a camisa social pela gola e fez o mesmo, entregando para o homem.
- Venham comigo, por favor. – Uma mulher disse e indiquei para ir em minha frente e ela o fez, ajeitando a gola alta da blusa enquanto seguia a mulher. Ela nos colocou próximo da janela, no canto, e puxei a cadeira para se sentar antes de me sentar no sofá próximo à parede.
- Aqui é bonito. – disse, passando a mão nos cabelos, jogando-o para trás e dei uma olhada pelo local, reparando-o.
- É, falaram bem dele. Talvez seja bom o suficiente para Addams. – Ela riu fracamente, negando com a cabeça.
- Boa noite, senhores, eu sou Anita, serei sua atendente do dia. – Ela entregou os cardápios. – Gostariam de pedir algo para beber?
- Que tal um vinho? – Perguntei para e ela suspirou.
- Seu melhor tinto suave, por favor. – Ela pediu e sorri.
- Alguma entrada para começar? – Ela perguntou e indiquei .
- O que você sugere? – Ela perguntou e estava começando a descobrir os padrões de em seu trabalho. Talvez não fosse a intenção, mas estava trabalhando hoje.
- Nossas especialidades são o ceviche de tilápia, o coquetel de camarão e a sopa de alho-poró com batatas. – Ela disse.
- Eu vou querer um de cada, por favor. – disse sorrindo.
- Você, senhor?
- O camarão e a sopa, por favor. – Falei e ela assentiu com a cabeça, se afastando de nós. – Trabalhando, senhorita ? – Ela riu fracamente.
- Eu adorei o lugar, adorei a decoração, preciso aproveitar. – Ela deu de ombros, me fazendo sorrir. – Não quis o ceviche? Você gosta.
- Não sabemos o tamanho das porções e você não come tudo o que pede, aí eu vou comer o seu e o meu. – Ela riu fracamente, sorrindo.
- Cara de pau! – Ela falou.
- Com licença? – Virei o rosto para o lado. – Você é Daniel Ricciardo? Da Fórmula Um? – O garoto de uns 12 anos perguntou, fazendo meu rosto esquentar.
- Sim, sou eu! – Sorri.
- Pode tirar uma foto comigo? – Ele esticou o celular.
- É... Claro! – Sorri.
- Posso...? – ofereceu.
- Obrigado! – Ele disse.
- Vem cá! – Chamei-o, me deslizando pelo sofá e apoiei a mão em seu ombro. posicionou a câmera, tirando algumas fotos, sorrindo em seguida.
- Aqui! – Ela entregou o celular.
- Obrigado! – Ele disse.
- De nada! – Sorri, vendo-o sair correndo para longe da mesa, fazendo-me rir.
- Esse é meu amigo. – Ela disse e neguei a cabeça, sorrindo.
- Com licença. – O garçom se aproximou com a garrafa de vinho. – O que acham? – Ele me mostrou a garrafa.
- Para ela, ela é a entendida aqui. – Falei.
- Ai, idiota! – Ela disse para mim. – Está ótimo, obrigada. – Ela disse e o garçom abriu a garrafa, servindo as taças que estavam na mesa antes de descansar a garrafa. – Vamos ver se é bom. – Ela disse, agindo como uma verdadeira sommelier ao observar o vinho, sentir o cheiro, até o primeiro gole. – Eles começaram bem. – Ela sorriu, descansando a taça e dei um gole.
- Bom mesmo. – Falei e logo as entradas chegaram à mesa com vários tipos de pratos. – Obrigado.
- Obrigada. – Eu e falamos juntos, vendo-o se afastar.
- Bon appétit, . – Falei e ela sorriu, pegando o guardanapo e fiz o mesmo. – Não vai testar os garçons hoje? – Ela riu fracamente.
- Isso não é procedimento padrão, você sabe, né?! – Ri fracamente.
- Sim, mas é legal! – Falei, ela olhou em volta e vi seu guardanapo ir casualmente para o chão.
- E começa a contagem. – Falei e ela pegou a sopa antes, movimentando a mesma.
- Com licença, senhorita. Seu guardanapo caiu, aqui está um novo kit para você. – Um garçom falou, colocando na mesa, fazendo-me sorrir.
- Ah, obrigada, eu não vi. – Ela deu um sorriso antes do cara se afastar e ri fracamente.
- Você é uma ótima atriz, .
- Obrigada. – Ela piscou, me fazendo rir fracamente. – Eles estão muito bons, se a comida for boa, meu coração para. – Ela pegou a colher e mexeu um pouco na sopa antes de levar à boca, suspirando. – Ok, ok... – Ela respirou fundo. – Agora eu estou oficialmente trabalhando. – Ri fracamente, fazendo o mesmo que ela, suspirando.
- Ok, isso é bom! – Falei e ela sorriu.
- Não é? – Ela sorriu, me fazendo rir.

MARÇO
Montmeló, Espanha

“Não me deixem preocupados, agora são dois para eu me preocupar”.
“Relaxa, tia Grace, estamos na Espanha, em alguns dias estaremos em Melbourne, nos vemos lá”. – Enviei, suspirando.
“Já estou com saudades de vocês”. – Ela disse e ouvi o barulho da porta.
Ergui os olhos do celular quando Danny saiu do banheiro e acabei dando uma leve arregalada nos olhos ao ver seu peito nu e a parte de baixo coberta somente pela segunda pele da Red Bull, deixando a área do quadril bem demarcada e parte da cueca aparecendo por cima da mesma.
É sempre estranho ver Daniel assim. Pelo trabalho, sempre pensava nele como alguém muito magro, mas esquecia que isso pedia muita força, então ele sempre estava perfeitamente em forma, e não só o grosso pescoço. Ele tem os braços fortes e um peito liso com um tanquinho pouco demarcado, sem mencionar as pernas torneadas e o volume na área da virilha.
Merda!
Meu amigo é gato. Isso eu não posso negar.

- Está tudo bem? – Ele perguntou e ergui os olhos para seu rosto rapidamente.
- Sim, ok. Sua mãe disse oi. – Falei, indicando o celular, guardando-o no bolso de novo.
- Ela vai te encher o saco agora. – Ele disse, me fazendo rir e o vi se aproximar das roupas em cima da mesa.
- Ela já me enche o saco. – Comentei, apoiando os braços no encosto do sofá. – Ela me manda mensagem todo dia. – Ele pegou a blusa da segunda pele, esticando os braços para colocá-la e observei seu abdome sumir por baixo do tecido branco.
- Não é exatamente surpresa. – Ele disse.
- Não, não é! Eu sei disso! – Suspirei, vendo-o desenrolar o macacão de corrida em minha frente. – Agradeço muito, porque meu trabalho pode ser meio entediante, mas às vezes ela tenta preencher um buraco que não precisa...
- Vou ser bem honesta contigo... – Ele se sentou ao meu lado. – Ela odeia te ver viajando sozinha. – Suspirei.
- Eu sei. – Comentei e ele começou a colocar o macacão, ajeitando-o no quadril antes de se sentar novamente.
- Então, por que você faz isso? – Ele perguntou, virando o rosto para mim e suspirei.
- Agora eu não sei de mais nada. – Dei de ombros, deslizando o corpo pelo sofá. – Mas acho que no começo foi tudo sobre o prestígio. – Passei a mão na ponta do rabo de cavalo. – Eu tenho um emprego que ninguém pode saber o que eu faço e eu dou o prêmio mais importante e mais almejado da culinária. – Ele sorriu.
- E agora? – Perguntei.
- Agora... – Suspirei. – Agora eu sinto falta do primeiro ano da faculdade onde eu cozinhava tudo todo dia. – Ele sorriu, se levantando.
- Você poderia abrir algo seu, . – Ele disse, colocando a parte de cima do macacão.
- Eu não sei, já pensei nisso várias vezes, mas penso se eu não sou nova demais, se vão me valorizar e...
- É claro que eles vão! – Ele disse firme, ajeitando a segunda pele dentro do macacão. – Você é minha melhor amiga, então sou muito imparcial, mas você é a melhor cozinheira da vida, . – Dei um curto sorriso. – Tudo o que você faz é incrível.
- Aí você entra em outro caso, eu gosto de muitas coisas na culinária, tenho nem ideia de que tipo de restaurante eu abriria. – Ele começou a calçar os sapatos.
- Italiana, é claro! – Rimos juntos. – Para valer! – Suspirei.
- Eu não sei... É difícil pensar nisso, honestamente.
- Se o problema for dinheiro, eu te ajudo, não precisa nem pedir. – Ele puxou o zíper.
- Não é dinheiro, Danny. – Neguei com a cabeça. – Meus pais me deixaram uma herança muito generosa, meu emprego paga o suficiente para isso, é só... Voltamos em estar perdida e afins...
- Vamos trabalhar nisso, ok?! – Ele esticou as mãos para mim e me levantei. – Você e eu contra o mundo. – Sorri.
- Vamos começar com “contra o paddock”, depois crescemos. – Fechei o botão em seu pescoço, alisando seus ombros. – Você está bonito, Danny!
- Obrigado, !
- Não acredito que vá tirar as fotos oficiais com esse bigode horrível, mas não dá para ser perfeito. – Ele riu fracamente, passando o braço em meu pescoço, bagunçando meus cabelos. – Ah, Daniel! – Empurrei-o, ouvindo-o rir.
- Daniel! – Ouvi algumas batidas na porta. – Vamos!
- Vamos! – Empurrei-o levemente e fui até a porta, abrindo-a, encontrando Maria.
- Ah, você está aqui.
- Ajudando a Cinderela a se arrumar. – Falei, saindo do camarim.
- Eu estou aqui! – Daniel saiu logo atrás com seu capacete em mãos.
- Vamos! Depois você tem uma entrevista e sessão de fotos com a Fox. – Saímos pelo corredor antes de passar pela porta de fora.
- Vamos lá! – Ele disse, colocando-se ao meu lado, e seguimos Maria.
- Esse é o seu precioso? – Indiquei o capacete e ele me entregou.
- Esse é do ano passado, o novo não está pronto ainda. – Passei a mão no mesmo, dando um curto sorriso.
- Eu sei que isso protege sua vida, e evita você ficar mais idiota... – Maria gargalhou à nossa frente, me fazendo sorrir. – Mas é estranho que essa coisa feia aqui seja objeto de desejo para muitas pessoas. – Ele riu fracamente, puxando o capacete de minha mão, me fazendo rir.
- Não fala mal do capacete! – Sorri.
- Ah, nunca! – Ergui as mãos em rendição, vendo-o sorrir.
- Fiquem quietos. – Maria disse antes de abrir a porta e segui logo atrás dela.
O grande galpão estava bem cheio com outros pilotos, assessores e poucos acompanhantes. Três estúdios estavam montados nos cantos do galpão e me senti levemente incomodada quando alguns olhares se viraram para gente. Talvez para o Daniel, mas me senti incomodada.
- GEE! GEE! GEE! R-R-RAH! – Daniel gritou e apertei a mão no rosto.
- Ele é sempre assim? – Perguntei para Maria.
- Até demais! – Ela disse, suspirando.
- Tem alguém aqui que você gostaria que eu conhecesse? – Perguntei para Danny.
- Tem um pessoal legal, mas eu não sei. – Ele disse.
- A Fox está livre, Daniel, vamos começar aqui. – Maria disse e seguimos logo atrás dela.
- Daniel! – Alguém o chamou e virei o rosto.
- Felipe! – Daniel disse e reconheci Felipe Massa* abraçando Danny. – Bom te ver, cara!
- Você também! Como foram as férias? – Virei para Maria.
- Ele é legal? – Sussurrei para ela.
- Ele é. – Ela assentiu com a cabeça. – Um dos poucos honestamente legais. – Confirmei com a cabeça.
- Bom saber. – Comentei. – Não quero ninguém apagando a felicidade dele.
- Bem-vindo a Fórmula Um! – Ela disse sarcasticamente e suspirei, virando para trás, vendo Daniel com outro piloto e reconheci, Daniil Kvyat*, companheiro de equipe de Daniel.
- , vem cá! – Ele me chamou e suspirei, engolindo em seco antes de seguir até eles. – Quero apresentar você para umas pessoas. – Dei um curto sorriso. – Essa é Addams, ela é minha melhor amiga desde sempre. Ela finalmente decidiu me acompanhar nessa temporada.
- Oi, prazer em conhecê-los.
- Eu sou Felipe. – O brasileiro disse, me dando um rápido abraço. – Você é famosa! Ele fala muito sobre você! – Rimos juntos.
- Ah, mesmo, Daniel? – Virei para ele sorrindo.
- Especialmente sobre sua comida. – Rimos juntos.
- Agora está explicado. – Falei sorrindo antes de apertar a mão de Daniil que a tinha esticado.
- Prazer em te conhecer.
- O prazer é meu! – Falei sorrindo.
- Entende sobre Fórmula 1, ? – Felipe perguntou.
- Somos amigos desde os três anos, ela estava comigo em cada decisão no começo da minha carreira. – Daniel disse e dei um curto sorriso.
- É. – Falei. – Eu fiquei um pouco ausente nesses anos pelo trabalho, eu viajo muito, então nem sempre pude aproveitar.
- Ah, sim, agora tirou umas férias? – Ele perguntou e ponderei a cabeça.
- É, um ano sabático ou algo assim. Daniel está comendo mal, talvez com minha comida ele melhore. – Eles riram juntos.
- Vamos, Daniel! – Maria o chamou e ri fracamente.
- Nos vemos por aí! – Felipe disse.
- Claro! Temos os testes ainda, tem bastante para chegar na Austrália. – Danny disse e acenei para eles.
- Até mais. – Falei e eles acenaram para mim e Daniel passou o braço em meu ombro, seguindo pelo local comigo. – Eles são legais? – Perguntei mais baixo, virando o rosto para checar se os dois já tinham saído.
- Sim! Massa é um amigo próximo, agora Daniil é mais quieto. Não sei se tem a ver com nacionalidades, mas...
- Se for sobre nacionalidades, eu sou tudo, menos australiana! – Comentei, ouvindo-o rir quando chegamos perto de Maria.
- Daniel, James Wigney. James, esse é Daniel.
- Como está? – Daniel abriu um largo sorriso e me afastei alguns passos, me sentando em um dos bancos em volta do estúdio improvisado montado enquanto Daniel conversava com o cara.
- Deixem-no bonito, ok?! – Ouvi Maria e Daniel virou para mim por alguns segundos e sorri, dando uma piscadela para ele. Ele retribuiu, se colocando na área de fotos, passando as mãos nos cachos enquanto o fotógrafo lhe dava instruções.

*Felipe Massa: ex-piloto brasileiro de Fórmula 1, aposentado da categoria em 2017. Ele e Daniel são grandes amigos.
*Daniil Kvyat: piloto russo, foi companheiro de equipe de Daniel entre 2015 e parte de 2016.


Daniel

Curva cinco, volta para quarta marcha, freia, abusa do apex e deixa o carro deslizar um pouco.
Passa pela curva sete, raspa na zebra, o carro começa a patinar e me leva para a zebra novamente.
Curva nove, pequena ladeira, sétima marcha, acelera mais forte.
Curva 10, curva apertada, manter a cabeça firme no HANS*.
12, apex duplo, deslizar com mais rapidez, focar na última chicane.
Última curva, deslizar reto, deixar a velocidade aumentar o máximo possível na reta de grid de largada para refazer novamente o circuito.
- Vamos terminar, Daniel. – Ouvi a voz do meu engenheiro. – Box agora.
Refiz o caminho uma última vez antes de entrar no pit lane. Desacelerei, me aproximando do box da Red Bull até parar. Os mecânicos me ajudaram a guiar o carro para dentro da garagem de ré e mantive o pé no freio por mais alguns segundos, antes de desligar o carro. Destravei o volante, puxando-o e soltei os cintos, sentindo meus músculos darem uma pequena relaxada antes de eu me impulsionar para cima, contraindo os joelhos para sair do carro. Coloquei um pé na parte de cima do carro antes de colocar o outro no chão.
Ergui a viseira e virei o rosto para o lado, encontrando com o mesmo fone dos mecânicos e engenheiros em sua cabeça e um curto sorriso nos lábios. Estiquei o polegar em sua direção e ela retribuiu, assentindo com a cabeça.
Simon soltou meu capacete do HANS e puxou-o para trás, tirando-o de meus ombros. Puxei o capacete da cabeça, depois a balaclava antes de puxar os fones da orelha e tirei o protetor bucal. Movimentei o pescoço lado a lado, relaxando o corpo antes de virar para Simon.
- Como foi? – Perguntei.
- Mesma constância da semana passada. – Simon disse. – Achamos que você pode aproveitar o DRS na curva nove e ganhar três segundos.
- É? – Falei empolgado.
- Não é garantido, mas vale a tentativa, especialmente que você pode aproveitar a linha reta para ultrapassagens.
- Ok, tentamos amanhã.
- Sentiu algum balanço no carro? Algo sacudindo?
- Nada comparado com semana passada. – Disse, apoiando o capacete no braço e puxando a luva com a outra mão.
- Nós ajustamos as asas, trocamos os freios e a suspensão, é para reduzir o sacudir do carro, especialmente no encontro com as zebras.
- Estava perfeito, gostei do novo motor. – Falei e eles riram.
- Vai estar perfeito para daqui duas semanas. – Christian disse e assenti com a cabeça.
- Daniel! – Ouvi a voz de Maria e ela bateu a mão no relógio e suspirei.
- Eu quero falar sobre a roda dianteira esquerda depois disso. – Falei com Simon.
- Muito alta? – Simon perguntou.
- Em algumas situações sim. Não sei se é desregulagem ou só impressão, mas nas partes mais altas dá uma compensação quando desço da zebra.
- Daniel! – Maria me chamou novamente.
- Espera! – Pedi.
- Vai lá, faz suas coisas, depois volta aqui. – Simon disse e confirmei com a cabeça.
- Até logo! – Falei e ele assentiu com a cabeça. – O quê? – Virei para Maria.
- Imprensa, agora! – Ela disse e suspirei, seguindo com ela e virei para , chamando-a com a cabeça e ela se mexeu antes de eu virar de costas novamente.
- Preciso de dois minutos. – Pedi para Maria.
- Dois minutos! – Ela disse e suspirei.
- Só vou guardar as coisas. – Falei, dando uma rápida olhada para trás, vendo nos seguindo.
- Dois minutos. – Ela repetiu e suspirei, atravessei os caminhos dos corredores da garagem antes de empurrar a porta do meu vestiário, colocando o capacete na mesa. entrou e empurrei a porta com o pé, vendo-a se encostar na parede.
- Como você está? – Perguntei e ela tirou o fone da orelha, abaixando-o para seu pescoço.
- Essas coisas machucam. – Ela disse e ri fracamente, virando para ela.
- Tente ficar com esses fones enfiados na orelha, a balaclava e o capacete.
- Eu prefiro um chapéu de chef. – Ela disse e ri fracamente. – Quantas voltas você deu? – Ela perguntou, dando um passo em minha direção e pegando uma toalha atrás de mim antes de passar em meu rosto.
- 120... Algo assim. – Falei, sentindo-a deslizar os dedos devagar pela lateral do meu rosto até meus cabelos.
- É muito! Agora entendo você sair sem sua alma de uma corrida. – Ela disse e observei seus olhos analisando os lugares que ela passava a toalha.
- Está tudo bem, . Quero saber como você está. – Segurei seu braço, abaixando-o devagar e ela suspirou.
- É mais fácil olhar quando é só você na pista. – Ela pressionou os lábios. – Ninguém pode te atrapalhar e o tempo está bom para você bater sozinho. – Sorri, apoiando a mão em sua nuca e pressionei meus lábios em sua testa.
- Você está bem? – Perguntei mais firme.
- Sim, eu estou bem! – Ela deu um curto sorriso.
- Ótimo, da próxima vez eu te coloco dentro do carro. – Ela gargalhou.
- Ah, claro! Mal cabe você, vai me caber também! – Sorri, pegando o boné atrás de mim, colocando-o na cabeça.
- Ok, em cima dele! – Falei.
- Claro, melhor ainda. Não sei se morro de medo ou atropelada, vai ser lindo. – Ri fracamente, virando para ela.
- Eu estou brincando, ! Relaxa. – Ela sorriu e ouvi algumas batidas na porta.
- DANIEL! – Ouvi Maria.
- JÁ VAI! – Gritei. – Ela é bem insistente, não?
- Ela faz você se tornar responsável... – Ela deu dois tapinhas em meus ombros. – Eu gosto disso. – Ela deu de ombros, abrindo a porta. – Vai!
Revirei os olhos e segui com Maria. passou rapidamente na área de comunicadores para deixar o seu e colocou o boné da Red Bull igual o meu e de Maria antes de nos seguir para fora da garagem, saindo por trás, seguindo até a área da imprensa.
- Eles vão perguntar sobre o treino, o carro, sua empolgação no começo da temporada, especialmente sendo na Austrália, tente ser o mais sucinto e rápido sobre isso, ok?!
- Ok, não se preocupe. Quero acabar isso logo para comer algo. – Falei, notando alguns fotógrafos andando ao nosso lado, tirando algumas fotos.
- E precisamos voltar amanhã as quatro da manhã para gravarmos o teaser da nova temporada.
- Ah, esqueci disso! – Tombei a cabeça para trás, suspirando.
- Vai ser uma longa noite, Daniel! – Maria disse, me fazendo suspirar.
- Ei, gente, eu encontro vocês depois. – Ouvi e virei o rosto para trás.
- O quê? Por quê? – Perguntei, indicando-a.
- Ligação importante. – Ela indicou o celular. – Nos falamos depois. – Ela colocou-o na orelha e se afastou, voltando para trás.
- Ok, te vejo depois... – Falei, virando para frente de novo.
- Vamos! Você tem que comer, fazer a reunião com a equipe e descansar para fazer tudo de novo amanhã. – Maria disse.
- Eu sei! Eu sei! Você disse isso ontem, na semana passada e na temporada passada! – Virei para ela, dando um sorriso.
- E ainda assim você enrola, não? – Ela comentou e rimos juntos, entrando na área da imprensa e suspirei.
- Vamos lá. – Sussurrei, respirando fundo. – Hey, hey! – Falei, cumprimentando o pessoal, ouvindo os cliques mais fortes e pesados. – Vamos começar isso! – Falei sorrindo.

*HANS: ou headrest, é o protetor de cabeça que mantém o capacete preso. É comum ver os pilotos com ele nos ombros após o fim de uma corrida.
*DRS: Drag Reduction System, é a asa traseira do carro que abre, permitindo a passagem do ar, fazendo que o carro vá mais rápido.


Capítulo 4

Duncraig, Austrália, 1995

Os pés de batiam tão fortes quanto uma bateria no banco do carro e as mãos pareciam tentar acompanhar o ritmo frenético do batuque no grande embrulho de presente que ela carregava em seu colo. Apesar de tudo o que acontecia dentro do carro, ela parecia alheia à tudo, acompanhando as casas que passavam em seu olhar.
- Mamãe! – Ela chamou.
- O que foi, meu amor? – Helena falou do banco da frente, desviando o olhar para a menina que usava a maria-chiquinha que era sua marca registrada.
- Será que o Danny vai gostar do presente? – Helena sorriu, virando o rosto para Alexander ao seu lado.
- Claro que vai, meu amor! Ele vai amar! – Seu pai disse, dando um sorriso para a menina pelo espelho.
Após a breve pergunta, que já havia sido feita várias vezes nos dias que antecediam o aniversário de seis anos de seu melhor amigo, os três ficaram quietos, fazendo o som das pernas e mãos de voltar a bater em ansiedade no banco do carro e no embrulho de presente até chegar na casa dentro da cidade da família Ricciardo.
- CHEGAMOS! – deu um grito animado, assustando seus pais que caíram na gargalhada logo em seguida, procurando uma vaga para estacionar na rua, o mais próximo do local da festa.
Dentro da casa número três, Daniel estava emburrado e entediado. Fazer aniversário dia primeiro de julho nunca era legal porque todos seus amigos de escola estavam aproveitando as férias viajando e ele já estava cansado de suas avós, tias e tias-avós apertarem suas bochechas e brincar com seus cachinhos. Só tinha uma pessoa no mundo que podia fazer isso e apertar seu nariz, e essa pessoa era . Ok, e sua mãe.
Aniversários existem para serem legais, mas a comemoração dos seus seis anos estava tão animada quanto a comemoração dos cinco e dos quatro. A diferença é que não estava ali e aquilo o deixava emburrado. Ela disse que viria.
- Vamos logo! – disse, soltando o cinto de segurança na pressa e seu pai desceu do carro, abrindo a porta ao seu lado e ela deslizou do carro alto, fazendo seu vestido subir e ela puxar a caixa do presente do banco do carro.
- Calma aí, mocinha! – Helena disse. – Deixa eu arrumar você! – Ela se abaixou na frente da filha.
- Deixa eu ir, mamãe! – Ela disse.
- Calma! – Ela passou as mãos nas tranças de , ajeitando os lacinhos de flores na ponta de cada uma delas. – Deixa eu olhar para você...
- Mãe-e-e! – reclamou.
- Ok, ok. Está linda! – Ela deu um beijo na bochecha da filha. – Agora vai!
não esperou mais nada e saiu correndo em direção à casa da família Ricciardo, e ficou na ponta dos pés para tocar a campainha diversas vezes. Helena e Alexander se aproximaram da filha a tempo de Grace abrir a porta.
- Ah, finalmente chegaram! – Grace falou, se abaixando para abraçar .
- Eu demorei para sair do trabalho, desculpa. – Alexander disse.
- Daniel já está irritado.
- Cadê ele? – A voz de subiu acima dos adultos.
- Lá dentro, vai lá! – Grace disse e desviou das pernas de Grace, saindo correndo para dentro da casa, se surpreendo com vários familiares de Daniel ali.
Ela conhecia muito dos parentes de Daniel pela frequência que passava na casa dele, principalmente os avós de Danny e Michelle, mas agora ela não estava com vontade nenhuma de ser simpática com todos. Depois de parabenizar seu amigo, talvez ela fosse falar com o restante do pessoal.
Logo que o primeiro susto passou, ela começou a andar por entre os móveis e as pessoas da parte de dentro da casa a procura de seu melhor amigo. Quando ela o encontrou, emburrado em uma das banquetas da cozinha, ela abriu um largo sorriso e correu em direção a ele.
- DANNY! – Sua voz saiu mais alta que a voz das pessoas e o menino ergueu os olhos.
- ! – Ele pulou da bancada, caindo de joelhos e correu em direção à ela, dando um forte abraço que só não foi mais apertado pela grande caixa de presente entre eles.
- Feliz aniversário, Danny! – Ela disse, animada, com o queixo apoiado no ombro de seu amigo.
- Você demorou! – Ele disse, fazendo um pequeno bico e ela deu um curto sorriso.
- A culpa foi do papai! – Ela disse, apontando para trás, não necessariamente apontando na direção de Alexander que ainda entrava na casa. – Eu queria ter vindo antes, mas não deu.
- Mas você aqui agora. – Ele disse, abrindo o largo sorriso que estava sumido desde o começo da festa.
- Eu trouxe um presente para você! – Ela empurrou a grande caixa para o peito de Daniel.
- Uau! É grande! – Ele disse, animado e ela sorriu.
- Eu que escolhi! – Ela falou. – Tomara que goste!
- Vou gostar! – Ele disse, sorrindo, se sentando no chão entre a divisão da sala de estar com a cozinha, sob os olhares das tias e avós que observavam a emoção crescente do garoto pela presença da menina.
- Ele vai abrir? – Joe cochichou para Grace de longe.
- É o presente da , quer tentar falar para ele que só pode abrir depois? – Grace sussurrou para o marido.
- É... Acho que não. – Ele disse.
- UAU! – Danny gritou, animado. – É um autorama do Senna! – sorriu, batendo as mãos animadas. – MÃE, A GENTE PODE MONTAR?
- Agora, filho? – Grace disse.
- Deixa, querida! Ele está animado. – A avó materna de Daniel sussurrou. – Ele finalmente se empolgou.
- Alex, me ajuda nessa? – Joe perguntou.
- Eu acabei de chegar, cara! – Alex disse, fazendo Helena e Grace rirem. – Não ganho nem uma cerveja antes?
- Uma Coca-Cola, no máximo! – Joe disse, rindo, se aproximando das crianças. – Culpe eles.
- Pai! Ajuda a gente! – Daniel disse, abrindo a caixa, animado.
- Vamos lá para fora! Os dois! – Joe disse, indicando a porta que dava para fora. – Vamos fazer na mesa lá de fora.
- Isso! – Danny falou, animado. – Vem, ! – Ele puxou a amiga pela mão, fazendo as sandálias da menina e os tênis do garoto baterem fortemente pelo chão. Joe se inclinou para pegar a caixa do brinquedo meio aberto no chão e ele e Alexander riram juntos.
- Sobra sempre para gente, já percebeu isso? – Joe disse.
- Claro que já! – Alex disse, rindo, seguindo com as crianças para fora, dando rápidos acenos para os parentes da família Ricciardo. – E já percebeu que vocês poderiam ter literalmente convidado só a para festa que para o Daniel daria na mesma, não?
- Mas é claro que sim! – Joe disse, rindo. – Meus pais vieram da Itália* para isso e o Daniel está mais interessado na . – Alex gargalhou.
- Aposto que teria economizado bastante.
- Muito! – Joe disse, rindo.
- PAI, VEM LOGO! – Daniel disse antes de ajudar a subir no banco alto.
- Estou indo! Estou indo! – Ele apoiou a caixa na mesa. – Deixa eu ver isso aqui. – Joe abriu a caixa, espalhando as peças pela mesa.
- O que estão montando? – Michelle apareceu perto deles, apoiando o braço na mesa.
- Olha o que a me deu! – Daniel falou, animado.
- Uau! É demais, maninho! – Michelle disse, sorrindo.
- A gente pode correr todo mundo junto. – Danny disse, feliz.
- Eu não sei brincar disso. – disse.
- Eu te ensino. – Ele sorriu, fazendo os outros três sorrirem também para ambos.
- Bem, vamos ver como eu monto isso. – Joe desviou o olhar para o manual de instruções, deixando os dois animados sacudirem as pernas embaixo da mesa, empolgado com o presente novo de Daniel.

*O pai de Daniel, Joe Ricciardo, é italiano, ele nasceu na cidade de Ficarra, no sul do país.

MARÇO
Melbourne, Austrália, 2016 – Terça-feira


- Uau! The Crown Towers! – Falei ao sair da van.
- Nossa casa pelos próximos dias. – Daniel disse ao meu lado, colocando a mochila nas costas.
- Muito bom, Red Bull! – Falei, rindo.
- Vem! – Maria disse e segui logo atrás dela. – Daniel! – Ela indicou os fãs acumulados do lado de fora das grades de contenção.
- Ei, galera! – Ele disse, animado, indo para os fãs e ri fracamente, seguindo com Maria, Michael, Simon, Christian e a equipe de Kvyat, companheiro de Danny, com seu marketeiro, seu engenheiro, seu treinador e um assistente. Agora não sabia se era igual eu era para Daniel ou era realmente alguém que o ajudava mais.
Estamos em Melbourne. Apesar de ser uma cidade há quase 3500 quilômetros de Perth, estávamos em casa, no nosso país, com a nossa cultura, além das temperaturas altas, então era bom depois de passar frio na Inglaterra e na Espanha. E o melhor de tudo isso, era saber que eu não teria que encarar a primeira corrida do Daniel sozinha, sabia que o restante dos Ricciardo estariam lá.
Maria e o marketeiro de Kvyat cuidaram da parte de check-in antes de distribuir as chaves. Christian foi o primeiro a sumir com o engenheiro de Daniel e de Kvyat. Agora a equipe de Kvyat e nós ficamos esperando os dois pilotos passarem pelas portas do hotel.
- É estranho. – Comentei alto.
- O quê? – Michael perguntou e suspirei.
- Eu não... Eu não conheço esse Danny famoso, né?! – Ele riu fracamente.
- Você conhece o Danny, . Não o Daniel Ricciardo ou Danny Ric. – Suspirei.
- E tem uma diferença? – Perguntei.
- Eu não vejo. – Ele disse. – Ele só nos deixa sozinhos um pouco para dar atenção aos fãs, mas dá para se acostumar.
- E ele tem bastante fãs? – Perguntei.
- Sim! – Ele disse, rindo e assenti com a cabeça, pressionando os lábios. – Se acostume com isso.
- Eu não disse nada. – Dei de ombros.
- Eu sei, mas sua cara diz tudo. – Engoli em seco.
- O que você quer dizer com isso? – Virei o rosto para ele.
- Da mesma forma que ele não gosta de te dividir, você também não gosta. – Revirei os olhos.
- Não viaja, Michael! – Virei de costas, apoiando o ombro em uma pilastra ali perto.
- Eu não conheço vocês há... 23 anos. – Ele deu de ombros. – Mas eu conheço há 13. – Suspirei. – E depois de um tempo é fácil entender que ninguém se mete na amizade de vocês.
- Mas eu não falei nada! – Falei, rindo.
- Não, mas esse lábio pressionado diz que você não está gostando de algo.
- Ah, cala a boca, Michael. – Revirei os olhos.
- Primeiro circuito e vocês já estão se matando? – Ouvi a voz de Danny e virei para trás.
- Só para não perder o costume. – Falei, dando de ombros.
- Vem, vamos subir! – Maria disse e me desencostei da pilastra, seguindo logo atrás do pessoal. – Quero passar o briefing para vocês.
Nós quatro entramos em um elevador e ele seguiu para o último andar do hotel. Não era muita novidade eu ficar em hotéis bons quando fazia minhas viagens pela Michelin, mas realmente não era esse nível de hotel.
- Daniel... – Ela entregou uma chave para ele. – Michael. – Ela entregou outra antes de sair do elevador.
- Comigo. – Danny disse e segui logo atrás dele.
- São três horas, tem um tempo para você descansar. – Maria começou a falar com Daniel e eu e Michael seguimos logo atrás. – As sete horas uma van vem te buscar para irmos à festa da Tag Heuer, tiraremos algumas fotos, você vai conversar com alguns poderosos, interagir com as pessoas, nada demais. – Daniel abriu a porta do quarto e entrou logo seguida de Maria, Michael e fui por último.
Uau!
Foi a única reação que eu tive ao entrar no quarto. Não era simplesmente um quarto, era uma suíte inteira. Na entrada tinha uma sala relativamente grande com uma janela inteiriça para Southbank e o rio Yarra, a região do hotel.
- Daniel e do lado direito, eu e Michael do lado esquerdo. – Ela disse e assenti com a cabeça, curiosa com o que tivesse do lado direito.
- Posso levar para a festa? – Daniel perguntou e virei o rosto de volta para a conversa.
- É melhor não. – Ela disse na lata e pressionei os lábios, surpresa pela honestidade.
- É uma festa, Maria, qual é! – Danny disse.
- Eu não tenho nada contra você, ...
- Eu não disse nada. – Falei, erguendo as mãos e virando de costas para o corredor do lado direito.
- Já saiu fotos de vocês dois juntos, a imprensa está começando a falar e é só tempo de ligar os pontos.
- Mas somos só amigos! Nós vamos em festas juntos em Perth. – Ouvi a voz de Daniel e suspirei, encontrando dois quartos divididos por uma porta.
- Outro dia! A festa pós-corrida, mas essa não. Você vai a trabalho, vai de uniforme, por favor. – Maria disse e comparei rapidamente o tamanho dos dois quartos, percebendo que eram meio iguais e entrei no primeiro.
Desliguei minha cabeça da conversa acalorada dos dois, repensando se eu ter vindo era realmente uma boa ideia. Não pela questão geral, mas por atrapalhá-lo em seus compromissos. Tenho uma ideia da quantidade de dinheiro que anda nesses lugares só pela quantidade de patrocínios nos uniformes e o hotel em que estávamos hospedados, mas sei que comigo Danny queria agir como se estivéssemos em Perth. Talvez até eu quisesse isso, mas sabemos que não era a questão em si.
- Desculpe por isso. – Virei o rosto para trás, vendo Daniel.
- Ah, aquilo? Ah, não! Não se preocupe. – Abanei a mão, tirando a mochila das costas, colocando-a na cama. – Você está trabalhando, Danny, a viagem foi longa, talvez eu fique aqui ou saia para encontrar um restaurante interessante e trabalhar um pouco, eu não sei...
- Posso ir contigo. – Michael apareceu logo atrás.
- É, claro! – Virei para Danny. – Viu?! Ficaremos bem. – Sorri e ele suspirou.
- Mas por que as pessoas não entendem que homens e mulheres podem sim ser amigos? – Ele resmungou e ri fracamente.
- Talvez eles não possam. – Michael disse, dando de costas e revirei os olhos.
- Relaxa, Danny. Eu vou ficar bem. – Dei de ombros, me sentando na cama. – Estamos na Straya*, estou em casa. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Me avisa onde vocês estarão, posso encontrar vocês depois. – Assenti com a cabeça.
- Claro. – Dei um curto sorriso.
- Eu vou tomar um banho e deitar um pouco, ok?! Se precisar de algo...
- Eu sei, eu sei! – Sorri. – Vou fazer o mesmo, aproveitar o tempo para ajeitar o cabelo. – Ele sorriu.
- Você está sempre linda, . – Ele bateu a mão na porta e ri fracamente.
- Daniel! – Ouvi a voz de Maria. – Briefing!
- Ah, fala! – Ele disse, parando no meio do corredor à minha frente, até que ela apareceu na mesma direção.
- Festa hoje. Amanhã cedo nós vamos para o Albert Park que você tem uma campanha com a World Run sobre a maratona de Melbourne, você vai dar umas entrevistas também, depois vamos pegar o helicóptero e vamos para o circuito de Sandown para encontrar com Jamie Whincup, da RBR que corre pela categoria Supercars. Na quinta-feira, você vai para Albert Park fazer o tradicional midia day, tem a primeira coletiva da temporada, depois no fim do dia você e o Kvyat vão em um evento de divulgação da parceria da Red Bull com a Aston Martin, além de um encontro com os fãs. Treino na sexta, classificatória no sábado, corrida no domingo.
- Aí então você larga do meu pé. – Danny disse, brincando, mas sabia que o tom escondia uma grande verdade.
- Até o Bahrein. Mas depende muito do seu desempenho. – Ela disse, sorrindo. – Eu vou ajeitar outras coisas. Sete horas, Daniel.
- Sim, sim! – Ele disse, abanando a mão.
- Boa noite, .
- Boa noite. – Falei fracamente, vendo-a sair. – Fim de semana corrido. – Falei para Danny.
- É... – Ele suspirou. – Você está bem?
- Sim, eu estou bem! – Falei, rindo fracamente. – Olha esse quarto, essa vista, essa cama! – Ele deu um curto sorriso.
- Eu sei quando não está bem. E você não está bem agora.
- Eu só não quero atrapalhar, Danny. – Suspirei. – Sério! – Assenti com a cabeça. – Não precisa me incluir em tudo, não precisa se preocupar comigo. Eu vou aos treinos, eu vou às classificatórias, eu vou à corrida. Sobre o restante, vamos ver como as coisas vão ser. Vivemos bem 10 meses longe do outro. Agora você não quer ficar grudado comigo 24 horas por dia, né?! – Ele riu fracamente.
- Só quero você bem. – Sorri.
- Eu estou. Só pelo fato de estar com você e Michael e saber que eu vou ver sua mãe no sábado, vou poder segurar o Isaac, já me deixa mais feliz do que eu estaria se estivesse em... – Pensei por um momento. – Madagascar agora. – Ele riu fracamente.
- É, também acho. – Ele sorriu.
- Vai descansar, depois se arruma que eu vou falar o quão feio está esse bigode. – Ele riu fracamente.
- Ah, ! – Ele abanou a mão, seguindo para o outro quarto e sorri, chutando os pés para os sapatos saírem, antes de virar o corpo na cama, em direção à janela larga, me fazendo suspirar.


*Straya: expressão para "Austrália", muito usada pelos australianos.

Quarta-feira
Daniel

- Ah, cara, eu estou cansado. – Comentei, encostando na parede do elevador.
- Nem só de carros rápidos se vive, Daniel! – Maria disse e suspirei, coçando a cabeça.
- Às vezes somos só nós mesmos. – Falei e ela riu fracamente.
- É, realmente! – Ela disse.
- Tenho mais algum compromisso hoje? – Perguntei.
- Não, só se cuidar, não fazer nenhuma loucura e estar pronto amanhã cedo para o treino. – Assenti com a cabeça.
- Eu vou acordar por volta das seis, sete, fazer meu treino aqui no hotel e te espero às 10? – Falei, vendo o elevador se abrir novamente.
- Sim, vai ter um brinquedinho para você lá embaixo. – Ela disse e ri fracamente, saindo do elevador.
- Assim que é bom! – Sorri, seguindo até a suíte, batendo o cartão na porta.
- Daniel... – Maria me chamou.
- O quê? – Perguntei e ela puxou a porta de volta, travando-a.
- Só quero que você saiba que eu não tenho nada contra a , ok?!
- Eu sei, Maria. É seu trabalho. – Falei.
- Ela está se comportando mais do que seus amigos que costumam vir, mas... – Ela suspirou. – Ela é uma mulher e eles já viram vocês em alguns restaurantes, na luta em Londres, então os boatos começam assim.
- Somos só amigos, Maria. E outra, se fôssemos namorados, qual seria o problema? Tivemos a Jemma por dois anos... – Ela suspirou.
- Não teria problema nenhum, eu sei, mas a expectativa em cima de você fica maior, achar que está se distraindo, perde uma corrida e o povo cai matando em cima... Além da atenção a ela. Os fãs não sabem ser fã só do corredor, eles seguem namoradas, esposas, filhos, familiares... – Ela negou com a cabeça. – É uma atenção que precisa estar preparada para receber. E você me contou a questão dela, acho que antes de colocá-la dentro de uma montanha-russa, é preciso que ela se encontre, não acha? – Suspirei, dando um curto aceno de cabeça. – Eu não vejo problema nenhum entre vocês, a amizade de vocês é muito bonita, de verdade. Vocês são cuidadosos um com o outro e é uma amizade linda de ver. Tão linda que uma foto mal interpretada, um beijo no rosto, mãos dadas e afins, pode causar uma atenção que, como você mesmo disse, não tem nada.
- Entendi, entendi. – Suspirei. – Mas se for preciso dar uma declaração sobre isso, eu dou, porque eu realmente a quero comigo, curtindo tudo o que essa carreira pode oferecer. Ela está passando por uns momentos difíceis, precisando se encontrar e se achando a pessoa mais perdida do mundo. – Pressionei os lábios. – E a não é assim, ela é a melhor pessoa do mundo, ela é bonita, inteligente, tem uma carreira incrível e sempre me faz sorrir. Se possível, me dá umas brechas... – Dei de ombros. – Coloca ela como assistente, mas a coloque comigo, com Michael, no paddock, na garagem... Só deixe-a perto, deixa ela se distrair um pouco. – Maria confirmou com a cabeça.
- Eu vou ver o que eu posso fazer, Daniel. – Confirmei com a cabeça, batendo o cartão na porta novamente, entrando nele.
A sala estava vazia e virando o rosto para os corredores, somente a luz do quarto de estava acesa. Meu relógio de pulso marcava 20:21, o sol começava a se pôr agora e fazia os raios solares entrar pela larga janela da suíte.
- Boa noite, Daniel. – Ouvi Maria.
- Boa noite. – Respondi, dando um curto aceno de mão e segui pelo outro corredor, andando devagar até a porta de , colocando a cabeça para dentro, encontrando-a sentada na cama.
Ela usava um pijama de short e camiseta regata rosa, o computador estava entre suas pernas, uma delas dobrada embaixo do corpo e outra esticada ao lado do computador. Os cabelos estavam molhados, ela usava seus óculos de leitura, e de seu outro lado tinha vários pratos com pequenas porções de comida. Por algum motivo aquilo me fez sorrir.
- Hey, ! – Falei e ela parou de digitar, virando o rosto para mim.
- Ei, apareceu! – Ela falou, abrindo um sorriso. – Uau!
- O quê? – Falei, tirando os óculos de sol.
- Ah, droga! Eram os óculos! – Ela riu fracamente. – Dá uma aliviada nesse look.
- Há, há, há, engraçadinha! – Falei, andando para dentro de seu quarto, fazendo-a rir. – Ia me desculpar por não te ver desde ontem, mas acho que não merece mais.
- Eu gostei disso, me dá aqui! – Ela esticou a mão e lhe entreguei os óculos e ela pulou para fora da cama, trocando os óculos e seguindo para perto do espelho.
- É daquela marca inglesa que eu te dei no Natal. – Comentei, me sentando na cama e roubei um bolinho dos pratos.
- Eu gostei. – Ela virou o rosto para mim, fazendo uma careta.
- Ficou bem em você. – Sorri, mordendo o bolinho e suspirei.
- Posso ficar?
- Não! – Falei, ouvindo-a rir.
- Chato. – Ela disse.
- Isso é bom! – Comentei, colocando a outra parte na boca.
- Eu sei! – Ela disse, empolgada, voltando a se sentar ao meu lado. – Eu pedi pelo iFood e é uma delícia! – Ela suspirou. – Eu estou escrevendo uma revisão, mas vou ter que ir lá, preciso ver como é isso quentinho.
- Eu não me conformo por você não comer tudo isso em cinco minutos. – Peguei outro, fazendo-a rir e desci os olhos para suas pernas descobertas pelo short curto, se acumulando em suas coxas.
- Eu aprecio uma comida, não engulo. – Suspirei. – E você chega literalmente morto de fome, essa é a diferença.
- Mesmo assim! Isso é uma delícia! – Ela sorriu.
- É, deu para aproveitar a noite.
- Sinto por isso. – Falei.
- Pelo quê? Você estava trabalhando, Danny. Deixa disso. – Ela abanou a mão.
- Mesmo assim, não foi só a festa. Quando eu cheguei ontem você já estava dormindo e eu saí antes de você acordar. Foram 24 horas ou mais. – Ela negou com a cabeça.
- Danny, relaxa! – Ela disse firme. – Eu estou bem. Você não se preocupa comigo assim nem quando estou do outro lado do mundo, vai surtar agora que eu estou literalmente no quarto ao lado? – Suspirei.
- Isso foi antes de eu falar contigo nas férias. – Ela apoiou a mão em meu ombro, virando o corpo em minha direção.
- Eu estou bem, Danny! – Ela disse firme. – Posso não ter estado contigo nesses últimos anos, mas eu sei como funciona seu trabalho, sei dessa correria que é, não se preocupe comigo, ok?! Amanhã eu vou contigo, vou ver como funciona sua rotina, vou conhecer seus amigos gatos... – Ri fracamente. – Eu estou bem.
- Você me promete que vai dizer se não estiver? – Perguntei.
- Meu caderno ainda está aqui e você pode pegar sempre que quiser. – Assenti com a cabeça.
- Mas fala comigo também.
- Eu vou. – Ela disse, pressionando os lábios.
- Você tem alguma coisa para fazer?
- Só vou terminar essa revisão e talvez ver algo no Netflix, amanhã começa cedo, né?!
- Eu treino por umas duas horas cedo, faço ioga, alongamento, você pode dormir enquanto isso, mas saímos umas nove. – Falei.
- Ok, vejo o que eu faço. – Ela sorriu. – Como foi seu dia?
- Ah, foi legal, é bom ser o centro das atenções. – Ela negou com a cabeça.
- Delicado, Daniel. Delicado! – Ela disse e rimos juntos. – Achei que tia Grace tinha te ensinado a ser humilde.
- Nah! – Dei de ombros e me levantei. – Não menti! – Ela sorriu.
- Bem vi você na coletiva, todo solto. Até demais. – Ela disse e sorri.
- Faz parte do trabalho! – Falei.
- Não vejo o Hamilton sorrindo para deus e o mundo.
- É por isso que eu sou mais legal! – Dei de ombros. – Eu vou tomar banho e já volto.
- Ok, vai lá. – Ela disse. – Quer que eu peça algo para você comer ou foi só surto?
- Pode pedir! – Falei. – Mais desse aí! – Indiquei e ela riu fracamente.
- Ok. – Ela se sentou novamente. – Os outros são bons também, menos aquele escuro ali, tem pistache.
- Ainda bem que eu não fui naquele! – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, sem pistaches para você! Ainda tenho pesadelos pela última vez. Aquela maldita Jemma... – Ela sussurrou, me fazendo rir.
- Eu logo volto! – Falei.
- Eu estarei aqui! – Ela disse.
- Onde está Michael? – Perguntei.
- Não tenho ideia. – Ela disse, rindo e neguei com a cabeça.
- Depois você tira conclusões erradas de mim. – Ela ergueu as mãos em rendição.
- E você acha que toda risada minha tem pensamentos errados sobre vocês, você conhece o Michael mais do que eu, deve saber onde ele está e se está com alguém. – Ri fracamente.
- Dessa vez você me pegou, . – Ela sorriu.
- Lide com isso, Daniel! – Ela disse, sorrindo, esticando os óculos escuros para mim e peguei-os antes de seguir para meu quarto.

Quinta-feira


Abri os olhos devagar, sentindo os raios solares atingirem em cheio minhas írises e pressionei-o mais algumas vezes antes de apreciar a vista de Melbourne pela janela. Suspirei, me levantando devagar e percebi que estava sozinha na cama. Além da falta de Danny, os pratos haviam sido tirados, a televisão estava desligada e uma coberta fina estava em cima de mim.
Joguei os cabelos para trás, coçando o olho e me sentei na beirada da cama, suspirando. Meus olhos demoraram um pouco para se acostumar com a vista, só depois que eu me levantei e fui até o banheiro. Fui direto para o chuveiro, deixando a água morna cair em meu corpo, me mantendo embalada na preguiça por alguns minutos até eu pegar o sabonete.
Por ter lavado os cabelos na noite anterior, terminei o banho de forma mais rápida. Saí do banheiro enrolada na toalha e escovei os dentes e ajeitei os cabelos em um rabo de cavalo antes de voltar para o quarto. Optei por um short jeans e a blusa do uniforme da Red Bull, sabendo que acompanharia o treino logo mais. Deixei o All-Star no canto da cama e calcei os chinelos antes de sair do quarto.
O cheiro de comida atingiu meu nariz e segui pelo corredor até a grande sala de estar. Quando cheguei lá, Danny e Michael faziam algum tipo de alongamento ou meditação enquanto deitados nos colchonetes. Identifiquei a mesa posta do café da manhã e atravessei a sala em silêncio, fazendo um rápido carinho nos cachinhos de Danny quando passei por ele, vendo-o abrir um dos olhos.
- Bom dia. – Ele disse, sorrindo.
- Bom dia. – Sorri, seguindo até a mesa, me sentando lá.
- Pronta para ficar entediada? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Por que entediada? Achei que fosse animado, emocionante...
- Eu tenho muitas entrevistas, reuniões, acaba sendo poucos os horários que realmente fico na pista. – Ele disse.
- Não se preocupe. – Falei. – Faz seus exercícios aí, depois conversamos.
- Você deveria fazer alguns também. – Ouvi a voz de Michael.
- Eu sei, tenho que voltar. – Comentei. – Mas estou agindo como se eu estivesse de férias, aí bagunça um pouco. – Dei de ombros, pegando duas torradas e colocando em meu prato.
- Eu tenho materiais extras, posso fazer um treino para você. – Michael disse.
- Só se o Danny pagar. – Falei, dando de ombros e Danny gargalhou.
- Pago, né?! Fazer o quê? – Sorri, me esticando para pegar a geleia de morango no meio da mesa.
Tomei meu café da manhã devagar, observando o treino que Michael fazia com Daniel, inicialmente o relaxamento, depois eles passaram para os de fortalecimento com o GS Harness* e a faixa elástica. Danny tinha literalmente uma cara de paisagem nesses exercícios, mas Michael mostrava a força que era deixar o corpo de Danny pronto para as forças de cinco ou seis G que uma corrida pedia.
- Ei, . – Ele apareceu ao meu lado, com o suor deslizando pelo seu rosto.
- Ei. – Falei e ele se abaixou para dar um beijo em minha cabeça.
- Você está pronta? – Ele perguntou.
- Sim, só falta escovar os dentes e passar uma maquiagem. – Ela disse.
- Eu vou tomar um banho, logo saímos.
- Tudo bem. – Sorri e ele seguiu pelo corredor, foi quando Michael se jogou no banco ao meu lado.
- Como você está? – Ele perguntou, pegando um pedaço de queijo.
- Tudo bem e você? – Falei.
- Eu estou bem. Eu quis dizer sobre você e... – Ele deu de ombros.
- Não estava pensando sobre isso até agora, obrigada. – Dei um sorriso sarcástico e ele pressionou os lábios.
- Desculpe. – Ele falou e neguei com a cabeça.
- É como todo mundo disse: preciso perder esse trauma. Então, como algumas pessoas dizem: se estiver com medo, vai com medo mesmo. – Dei de ombros, empurrando a cadeira. – Eu vou terminar de me arrumar.
- Ok. – Ele disse e me levantei.
Segui de volta pelo corredor, espiando dentro do quarto do lado, encontrando Danny descendo a calça jeans pelo corpo seminu e pressionei os lábios pelas costas nuas e musculosas dele. Shit! Por que eu estou olhando para ele? Pior! Por que eu estou olhando para ele e achando gostoso?
Desviei o rosto para meu quarto, encostando a porta e voltei para o banheiro. Escovei os dentes antes de começar a fazer minha maquiagem. Não sabia como seria o clima, se teria contato com outras pessoas, então me mantive em uma maquiagem leve com uma sombra de tons terrosos e um batom rosado de leve.
- Começou a chover! – Ouvi a voz de Michael e engoli em seco.
- Ótimo. – Suspirei sarcasticamente, saindo do banheiro e virei o rosto para a larga janela do quarto, vendo o tempo fechado.
Chuva era literalmente a pior coisa que podia acontecer agora no meu processo de calma. Chuva tornava as coisas um pouco pior e foi assim que aconteceu alguns dos piores acidentes da Fórmula 1, Nikki Lauda, Ayrton Senna, e não posso esquecer de Jules Bianchi, amigo do Danny que faleceu ano passado depois de nove meses em coma.
- Respira, . Respira! – Falei devagar, fechando os olhos e tentado manter a respiração. – O ar ruim sai, o bom entra... – Soltei o ar devagar, me fazendo respirar fundo de novo.
- Isso, respira! – Ouvi a voz de Danny atrás de mim e virei o rosto, encontrando-o mais próximo. – É só um pouco de água, logo melhora. – Ele me abraçou pela cintura, apoiando o queixo em meu ombro.
- Não tente tornar essa situação melhor. – Pedi, apertando sua mão e senti sua mão deslizar pela minha barriga, fazendo-a se contrair e ele se encostou na parede à minha frente com o uniforme do dia a dia da RBR.
- Eu tento! Quero você bem! – Ele disse, rindo e percebi seu novo corte de barba.
- Você conseguiu ficar mais feio. – Falei e ele riu fracamente.
- Quem sabe assim eu te distraio? – Ele disse e sorri.
- É... – Pressionei os lábios.
- Vamos! Pega suas coisas e vamos sair desse buraco.
- Sim, chefe! – Falei, rindo. – Mas posso continuar dizendo como esse corte de barbicha estranho e o bigode não te valorizaram? – Ele revirou os olhos. – E digo isso com todo amor no meu coração.
- Isso vai te deixar melhor? – Ele perguntou.
- Sim! – Falei, rindo.
- Então pode! – Ele deu as costas, me fazendo rir.
Segui pelo quarto e peguei a pequena mochila ali do lado e chequei rapidamente se tinha o que acho necessário para passar o dia inteiro na pista. Coloquei-a nas costas antes de seguir para fora do quarto. Danny e Michael nos esperavam e segui com eles para fora do quarto. Descemos pelo elevador e um Renault esportivo igual ao meu estava na porta do hotel.
- Assim que é bom! – Danny disse, animado e cumprimentei o segurança com um aceno de cabeça.
Deixei que Danny e Michael fossem nos bancos da frente e me escondi no de trás enquanto eles faziam algumas gracinhas para os celulares. O caminho até Albert Park era bem curto, coisa de três quilômetros, então não foi preciso aguentar por muito tempo a cantoria desafinada de Danny. Mas quando nos aproximamos da entrada do circuito, alguns fãs obrigaram o carro a desacelerar.
Eu vinha pouco para Melbourne, fiz faculdade em Sydney, então sempre que eu encontrava com os amigos, era sempre do lado Leste da Austrália, raramente eu ia para o Sul, mas já tendo vindo para cá, foi difícil reconhecer o parque no meio do circuito montado. Infelizmente agora eu estava preocupada com a chuva contínua que caía.
- Vamos para a garagem e fazer sua preparação. – Michael disse logo que saí do carro, sentindo alguns pingos leves em minha cabeça.
- Já vou! – Danny disse, seguindo em direção aos fãs que gritavam seu nome e olhei rapidamente para ele antes de seguir com Michael.
Foi realmente difícil, em um primeiro momento, não ficar surpresa e maravilhada com tudo. Estive em alguns circuitos em minha vida, especialmente na época da Fórmula BMW e na Fórmula 3, até o começo da Fórmula 1 pela HRT, mas o esporte havia evoluído bastante em cinco anos, ou eu que não tinha prestado muita atenção, mas dava para sentir a importância emanando pelo local.
Especialmente quando chegamos na larga rua com os motorhomes de apoio de cada escuderia que Danny me apresentou quando estivemos na Espanha, agora realmente montado para o GP com tudo. Aquilo me deu saudades de quando eu realmente acompanhava Danny no começo da sua carreira quando eu podia, talvez cinco anos tivesse sido muito tempo longe.
A diferença é que agora eu sabia um pouco mais sobre o esporte, apesar do meu afastamento natural, então fiquei surpresa em ver outros corredores famosos como Hamilton*, Button*, Vettel* e Rosberg* andando com suas equipes ali.
- Isso é demais! – Falei, rindo.
- Você se acostuma depois de um tempo. – Michael disse. – Isso que é só o primeiro dia. – Ri fracamente.
- Espero que essa empolgação fique na hora da corrida e o outro lado não ataque. – Falei, sentindo meu corpo inclinar para frente quando Daniel pulou em nossas costas. – Ah, caramba! – Falei, inclinando meu rosto para o outro lado.
- Essa doeu, cara! – Michael reclamou, me fazendo rir.
- O que está achando, ? – Danny perguntou.
- É bem legal, Danny! – Suspirei. – De verdade.
- É assim que se fala! – Ele me sacudiu empolgado, me fazendo rir.
- Fala, Daniel! – Virei o rosto para o chamado, vendo Christian, chefe de Daniel, e outro homem muito lindo passando apressados por nós.
- Oi, gente! – Ele respondeu e sorri.
- Quem é? – Perguntei.
- O Christian. – Danny disse como se fosse óbvio.
- Ele eu sei, o outro! – Falei firme.
- Ah, Toto Wolff*, chefe da Mercedes. – Ele disse.
- Uau, ele é gato! – Falei, rindo e ele revirou os olhos.
- Ah, cara, quando você disse que ia observar os caras, eu achei que estivesse falando dos corredores, não dos caras que são 15, 20 anos mais velhos do que você! – Ele reclamou, me fazendo rir.
- Eu só estou fazendo um comentário. Relaxa! – Ri fracamente. – Além de que não seria nada mal se ele...
- ! – Ele me repreendeu, fazendo Michael gargalhar e eu também. – Ele é velho demais, qual é!
- Levando em conta que a esposa dele é 10 anos mais nova do que ele, acho que ele gosta de alguém mais nova. – Michael cochichou para nós.
- Viu?! – Falei para Daniel, dando de ombros. – Dizer que ele é casado me faz recuar mais do que a diferença de idade, mas ele continua sendo gato. – Pressionei os lábios, andando um pouco mais à sua frente.
- Ah, cara! Falta muito para o fim da temporada? – Ele falou dramaticamente, me fazendo rir.
- Pode reclamar, mas não vou perder a chance de falar o quanto você insistiu para que eu viesse. – Falei, rindo com Michael.


*GS Harness: Um dos aparelhos principais dos corredores, usado para fortalecimento do pescoço para aguentar as altas forças G do carro.
*Lewis Hamilton: piloto britânico da Mercedes, 37 anos, piloto com mais vitórias na Fórmula 1. Ele e Daniel são amigos mais discretos.
*Jenson Button: ex-piloto britânico, 42 anos, campeão mundial em 2009. Possui um ar piadista como Daniel. Constantemente são vistos correndo de kart juntos.
*Sebastian Vettel: piloto alemão, 34 anos, ex-colega da equipe de Daniel em 2014, na história dirige pela Ferrari, ganhou 4 títulos consecutivos pela Red Bull. Ele e Daniel são amigos.
*Nico Rosberg: ex-piloto alemão, 36 anos. Era colega de equipe de Hamilton até sua aposentadoria. A amizade dele com Daniel é mais discreta, mas já teve situações de eles dividirem jatinhos juntos e recentemente Danny esteve no podcast de Nico.
*Toto Wolff: austríaco, 50 anos, atual chefe de equipe da Mercedes, foi piloto em outras categorias. Além de ser lindo, é muito carismático.

Sexta-feira
Daniel

Suspirei antes de me impulsionar para cima e pisei em cima do carro antes de pular para fora. Simon me cumprimentou com um rápido abraço e um largo sorriso antes de eu me livrar do capacete e da balaclava.
- Muito bom, Daniel! – Meu engenheiro disse e abri um sorriso ouvindo os aplausos do pessoal em volta. – É só o primeiro treino, mas você foi muito bem! Conseguimos fazer alguns ajustes, inclusive sobre a nossa estratégia de pneus, mas 1:30.875 é um tempo perfeito.
- Quem está na frente?
- Hamilton com 1:29.725 e Kvyat com 1:30.146.
- Merda! Preciso melhorar isso.
- É só o primeiro, amanhã tem mais, relaxa. Dá uma respirada, temos a reunião mais tarde, aí conversamos sobre as estratégias para amanhã. – Ele disse.
- Não acho que vai chover no domingo, dá para manter com os médios. – Falei.
- Vamos ver como vai estar amanhã antes! E principalmente no sábado. – Ele disse, batendo em minhas costas e Christian esticou a mão para mim.
- Bom trabalho, garoto! – Ele disse. – Vamos melhorar esses números para ver o show da primeira fileira.
- Seria sensacional fazer isso em casa! – Falei, rindo e vi Michael esticando a mão.
- É o jeito perfeito de começar a temporada! – Ele disse, rindo e entreguei o capacete para Michael.
- Vamos fazer isso! – Falei, animado.
- Te espero lá na casa da árvore*! – Ele disse.
- Claro, já estou indo. – Passei a manga na testa.
- Se hidrata. – Michael me esticou a garrafa e a peguei, colocando o sugador na boca, puxando alguns goles fortes para a boca. – Bom treino.
- Obrigado! – Suspirei após engolir. – É bom estar de volta.
- Vejo uma pole em casa? – Michael perguntou e gargalhei.
- Ah, cara! Eu quero muito. Minha primeira e em casa? Seria demais! – Falei, rindo. – Acho que já passou da hora. – Comentei, franzindo a testa e dei uma olhada rapidamente para trás. – Onde está ? – Ele suspirou.
- Ela entrou depois que o Rosberg bateu. – Ele pressionou os olhos e arregalei os olhos.
- ROSBERG BATEU? – Perguntei um tanto mais alto, empurrando a garrafa em cima dele antes de correr para o vestiário.
- Ele está bem! Daniel! – Ele me chamou e empurrei a porta com força, assustando ali dentro.
- Caralho! – Ela disse, se levantando, apressada, colocando a mão no peito.
- Desculpe. – Suspirei, percebendo seus olhos avermelhados. – Você chorou.
- Eu estou bem! – Ela disse, irritada, dando as costas, se sentando na cadeira em que estava antes e virei o rosto para trás, fazendo uma indicação para Michael e ele me entregou o capacete antes de fechar a porta.
- ...
- Eu estou bem! – Ela disse no mesmo tom, apertando a mão no rosto e deixei o capacete em cima da mesa antes de me aproximar dela.
- Olha para mim. – Pedi, me ajoelhando em sua frente e apoiei as mãos em seu colo.
- Danny, por favor. – Seu tom de voz abaixou e apertei minhas mãos em sua cintura.
- Vamos, ... Olha para mim...
- Isso é ridículo, Danny. – Ela disse, deixando suas mãos caírem em seu colo e dei um curto sorriso.
- Nunca é ridículo quando é você. – Falei, tirando uma mecha de cabelo que escapou de seu rabo de cavalo.
- É! Isso não vai dar certo! – Ela suspirou e me levantei, puxando as luvas com força das mãos.
- Você está aqui, já está dando certo.
- Mas você não pode ficar preocupado comigo toda vez que isso acontece. – Ela pressionou os lábios e segurei seu rosto.
- Ele está bem, os mecânicos devem trabalhar um pouco a noite, mas está tudo bem. – Falei, passando os polegares em sua bochecha. – Todo nosso uniforme, tudo é bem protegido para termos o mínimo de impacto possível.
- Eu tenho medo, Danny. – Ela disse.
- O perigo continua se você estiver aqui ou não, . E se algo acontecer, eu vou amar ter você ao meu lado. – Ela negou com a cabeça.
- Eu não quero que nada aconteça contigo. – Ela falou com a voz fina.
- Nada vai acontecer comigo, . E nada aconteceu com Nico também. – Ela respirou fundo, soltando a respiração pela boca. – Respira! Respira!
- Eu estou respirando. – Ela disse, tombando a cabeça para trás.
- E não fica irritada, vamos! – Ela suspirou.
- Você não pode ficar em volta de mim, Danny! As pessoas vão começar a perguntar do seu sumiço e eu não quero você distraído. Estava indo bem até eu ouvir do Rosberg.
- Respira! – Pedi, ouvindo sua respiração forte antes de soltar o ar perto de meu rosto. – Ninguém falou sobre você, Michael segurou até o último segundo e eu estou no meu intervalo. E, me desculpe, mas eu sempre vou me preocupar contigo, ok?! A diferença é que agora eu vou ver seus surtos e tentar controlá-los.
- Você não precisa...
- Eu preciso! – Falei firme, colocando minhas pernas entre as suas. – E não vou ver você assim e deixar rolar. Viva com isso. – Ela suspirou.
- Eu vou melhorar... – Ela disse fracamente e abracei-a, apertando seu rosto em meu peito. – Eu só preciso de mais tempo.
- Temos um ano inteiro. – Falei, ouvindo-a suspirar.
- Eu adoro seus abraços, mas você está pingando suor, Danny.
- Oh, desculpe! – Falei, me afastando dela e a vi esfregar o rosto. – Eu vou trocar de roupa. – Abri o macacão no zíper do centro e puxei as mangas, deixando-as caírem até a cintura.
- Como você foi?
- Terceiro na classificação do dia.
- Isso é bom, certo? – Ela perguntou, passando as mãos no rosto.
- É, é bom, seria melhor ainda se eu passar o Kvyat. – Comentei, apoiando as costas na parede.
- Desacelera, Danny. – Ela disse. – É só o primeiro dia, o primeiro GP. Relaxa.
- Ah, não consigo! – Falei e ela deu um curto sorriso e ouvi duas batidas na porta, vendo-a se abrir e vi Michael.
- Desculpe, mas Christian está te chamando.
- Já estou indo. – Falei e ele fechou a porta de novo.
- Vai trabalhar, Danny. – Ela disse.
- Eu tenho uma reunião agora, na casa da árvore, o escritório aqui atrás... – Ela assentiu com a cabeça. – Você pode vir, sabe?
- Eu não entendo nada dessa parte técnica e estratégica, Danny. – Ela disse.
- Pode começar a entender... – Ela deu um curto sorriso. – Ou sair pela rua e encontrar alguém para te divertir. – Ela riu fracamente.
- Se eu for ficar aqui o ano inteiro, é melhor eu começar a entender. – Abri um largo sorriso.
- Vamos! – Estiquei a mão para ela, sentindo-a pegar e puxei-a para cima para ela se levantar.

*Casa da árvore: além do motorhome de apoio, as equipes costumam ter um prédio exclusivo para reuniões e partes técnicas, normalmente fica à frente do motorhome da equipe no paddock, mas cada equipe pode ter uma configuração diferente.



Fiz um nó com a ponta da blusa e me olhei no espelho de corpo inteiro, tombando a cabeça para o lado com a roupa, mas a pouca pele aparecendo entre a calça jeans e a camiseta de botões me incomodou. Desfiz o nó, bufando quando ficou a marca do nó e dei umas batidinhas no local para tentar desamassar. Juntei a blusa nas costas, deixando-a justa e enfiei a parte de trás para dentro da calça, deixando-a melhor.
Caminhei pelo quarto e calcei os sapatos de salto azuis do mesmo tom da blusa. Apoiei a mão no armário para ajeitar na parte de trás nos pés e voltei a me olhar no espelho. Sorri com o que vi e dei uma passada de dedos nos cabelos escovados, jogando-os para frente e suspirei, relaxando os ombros. Talvez uma saída seja o que eu preciso para dar uma relaxada nesse primeiro fim de semana corrido.
Peguei minha bolsa, apoiando-a no ombro e desliguei a luz do quarto e puxei a porta antes de sair. Chequei se Danny estava no quarto, mas estava fechado da mesma forma. Caminhei até a sala e o encontrei girando em um dos pufes da sala. Ele sorriu quando me viu, se levantando, animado.
Danny fica muito bonito no azul escuro da Red Bull, mas parece que ele ficava melhor com roupas mais claras, especialmente por causa do bronzeado frequente em sua pele, então a calça jeans, camiseta branca, camisa social azul clara aberta junto do Vans branco deixavam-no bem bonito.
- Você está linda, ! – Ele disse, me esticando a mão e segurei a dele, sentindo-o me rodar ao redor do corpo. – Só está mais alta do que eu. – Ele pressionou os lábios, me fazendo rir.
- Não é minha culpa se somos só dois ou três centímetros de diferença. – Falei.
- Três e meio! – Ele frisou, me fazendo rir.
- Tonto! – Passei a mão em seus cabelos, ajeitando-os para trás. – Você só precisa começar a usar roupas do seu tamanho.
- Eu não gosto de roupas apertadas, ok?!
- Mas adora uma calça skinny, né?! – Falei e ele entreabriu os lábios pensando no que poderia dizer antes de fechá-los. – Foi o que eu imaginei.
- Vamos, eles já estão nos esperando.
- Claro! Michael não vai? – Perguntei.
- Não, ele disse que é só algo da família...
- Ah, claro, imagino que família inclua mais de 20 anos de amizade, 13 é pouco, né?! – Ele deu de ombros.
- Acho que tinha outros planos. – Ele disse.
- Espero que sim. – Segui até a porta. – E sua marketeira?
- Saiu também ou se trancou no quarto. – Ele deu de ombros.
- Não é estranho ficar no mesmo quarto que sua marketeira? – Perguntei, saindo na sua frente.
- Um pouco, mas não é em todo lugar, na Europa não, por exemplo.
- Ficar em um motorhome com ela não deve ser nada fácil. – Comentei, apertando o botão do elevador.
- Alguém morre antes das classificatórias. – Rimos juntos e ele parou ao meu lado.
- Provavelmente você! – Falei e ele jogou a cabeça para trás.
- Previsível demais. – Ele sorriu e dei um passo para dentro do elevador, me encostando na parede quando ele fechou.
- Eles vão nos encontrar lá? – Perguntei.
- Sim... – Ele suspirou. – O restaurante é legal, vai trabalhar hoje? – Ele perguntou.
- Não. Apesar da minha curiosidade, estou com minha família hoje. – Ele sorriu.
- Gosto de saber disso. – Ele apoiou seu ombro no meu e suspirei.
- A vida nos colocou juntos por um motivo, provavelmente sabia que eu precisaria de vocês...
- Independente, é bom. – Ele sorriu no espelho da frente e retribuí, ouvindo a porta do elevador se abrir.
- Vamos. – Ele disse e saímos no estacionamento do hotel.
Caminhamos lado a lado pelo local até chegarmos no carro que a Red Bull tinha oferecido para nós. Danny abriu o carro à distância e depois a porta para que eu entrasse. Ele seguiu para o outro lado e me ajeitei no carro, puxando o cinto de segurança.
- Vamos! – Ele disse, ligando o carro e suspirei, ouvindo uma música do Alexisonfire, uma das bandas favoritas de Danny, tocando.
Só conseguimos ouvir a primeira música, já que nosso destino ficava literalmente do outro lado do rio Yarra, nas Rialto Towers. Vue De Monde é um dos restaurantes mais caros e bem avaliados de Melbourne. Além de ele ser bastante escondido por ficar no 55º andar das Rialto Towers. É um restaurante perfeito para ser avaliado, mas é muito difícil conseguir vaga em cima da hora, normalmente a lista de espera passa de seis meses, e minhas viagens nunca tinham essa preparação com antecedência. Mas sendo Daniel Ricciardo, um dos australianos mais bem sucedidos, acho que era mais fácil.
O valet do prédio abriu a porta quando Danny parou e apoiei minha mão na porta ao sair de lá. Me senti estranha por um momento, como uma celebridade, na verdade. É uma das torres mais corporativas e importantes de uma das maiores cidades do país, chegando em um Renault esportivo com Daniel Ricciardo dirigindo, foi como se os olhares e os holofotes se virassem para nós.
- Bem-vindo ao Rialto Towers, senhorita. – O homem disse e sorri, vendo Danny aparecer ao meu lado.
- Obrigada! – Sorri e Danny esticou o braço para mim.
Fiquei receosa por alguns segundos, com medo de ter algum fotógrafo por perto, mas ignorei os pensamentos externos e pensei que somos só Danny e , amigos desde 1992, e segurei seu braço. Caminhamos para dentro do prédio mais alto e nos indicaram um dos elevadores, segurando-o para entrarmos.
- 55º andar, por favor. – Danny disse para a mulher dentro dele e sorri, apoiando as costas na parede, mas não deu para eu respirar, pois o elevador subiu muito rápido, abrindo a porta logo em seguida.
Danny manteve o braço no meu e saí com ele, acenando com a cabeça para a mulher quando saímos. O andar do Vue De Monde era inteiramente preto com detalhes em dourado e luzes que deixavam o local mais aconchegante. Tinha uma longa fila na porta e os olhares se viraram para nós novamente, me fazendo engolir em seco.
Não tive coragem de abrir a boca para falar nada, eu estava travada e sabia que eu estava ferrada. Na verdade, ele, eu só era sua acompanhante em um dos lugares mais badalados da cidade com o corredor mais famoso do país, mas ainda era uma situação bem estranha. Eu sou a amiga dele, gente! Não me olhem assim.
- Reserva para Ricciardo. – Danny disse, me tirando de minha crise interna e a mulher bonita abriu um largo sorriso.
- Me acompanhem, por favor. – Ela disse e o braço de Danny me puxou de novo, acompanhando a mulher.
- Eu estou ficando enjoada. – Comentei baixo para Danny.
- Por quê? Você está bem? – Ele perguntou rapidamente, virando o rosto para mim.
- É assim sair com você na civilização? – Perguntei, engolindo em seco.
- Desculpe por isso. – Ele disse.
- Não vai dar problema para você? – Cochichei.
- Eu lido com isso depois. – Ele disse e suspirei.
- Você deveria ao menos não andar colado em mim...
- Para eles não faz diferença. – Ele pressionou os lábios e ponderei com a cabeça. – Vamos nos divertir um pouco. – Ele disse e virei o rosto para o caminho novamente, sorrindo ao encontrar tia Grace, tio Joe, Michelle, Jason e o carrinho de Isaac.
- Ah, eles chegaram! – Ouvi a voz de Grace e eu e Danny fomos para lados diferentes.
- Oi, gente! – Falei, sorrindo, abraçando Jason primeiro, depois Michelle.
- Ai, que delícia te ver em março! – Michelle me abraçou fortemente, me fazendo rir.
- Ah, nem fala! – Suspirei.
- Como estão as coisas? Relaxando?
- Alongando minhas férias ao máximo! – Rimos juntos.
- Você está bem? – Ela segurou meu ombro.
- Sim, está tudo bem! – Sorri.
- Querida! – Virei para tia Grace, abrindo um sorriso e abracei-a. – Como é bom ver você!
- Ah, nem fala! – Apertei-a fortemente.
- Como estão as coisas? – Ela falou em meu ouvido.
- Está tudo bem, indo devagar. – Ela sorriu.
- Como está a ansiedade?
- Ela ataca de vez em quando, mas está tudo bem. – Ela acariciou meu rosto e sorri.
- Você está mais linda. – Ri fracamente.
- Mais relaxada, talvez. – Ela assentiu com a cabeça.
- Bom, muito bom! – Sorri, erguendo o olhar para Joe e sorri, abraçando-o em seguida.
- Bom ver vocês dois juntos e você sorrindo! – Ele disse, me fazendo rir e apertei-o fortemente.
- Bom ver vocês também. – Sorri, passando por Joe e vi Danny com Isaac no colo.
- Olha a madrinha ali! – Ele apontou para mim.
- Oi, meu lindinho! – Falei para Isaac, vendo-o sorrir.
- Oi, gatinha! – Danny disse, sorrindo e revirei os olhos.
- Ricciardo mais bonito, depois você! – Peguei Isaac. – Como está meu lindinho? – Pressionei os lábios na bochecha de Isaac, fazendo-o rir. – Agora você lembra de mim, né?! – Limpei a bochecha de Isaac suja de batom. – Titia te sujou. – Limpei seu rosto, e Isaac me abraçou, apoiando a cabeça em meu ombro. – Ah, meu amorzinho! – Pressionei os lábios, apoiando minha cabeça na dele. – Te amo, meu amor. – Danny sorriu para mim.
- Vocês dois querem um momento a sós? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Isso é ciúmes. – Falei.
- Eu ainda sou o tio mais legal! – Ele sussurrou.
- Mas ele ainda gosta do meu colo. – Lhe mostrei a língua.
- Aí até eu, né?! – Ele deu de ombros, me fazendo rir.
- Vem, crianças! Sentem-se, vamos comer! – Grace disse e Danny puxou a cadeira para mim e firmei minhas mãos em Isaac antes de sentar e Danny se jogou na cadeira ao lado de sua mãe.
- O que pediram? – Danny perguntou e apoiei minha cabeça na de Isaac, passando a mão nos cabelos loirinhos dele.

Daniel

- Nos vemos amanhã? – Perguntei para minha mãe.
- Nós estaremos lá, provavelmente no Paddock Club. – Ela disse.
- Talvez seja bom vocês estarem lá... – Comentei, dando uma olhada em volta, encontrando com minha irmã.
- Ela não está bem? – Minha mãe entendeu o recado.
- Mais ou menos... – Ponderei com a cabeça. – Ela fica bem, mas ainda tem algumas coisas. – Suspirei. – O Rosberg bateu no treino, algo simples, e ela teve uma crise. – Minha mãe assentiu com a cabeça.
- Estaremos lá... – Ela assentiu com a cabeça. – Mas você sabe que depois só nos encontraremos provavelmente em Monaco, não é?
- Eu sei, mas ao menos no primeiro, sabe? Ela sofre sozinha e eu não quero isso. – Suspirei, passando a mão nos cabelos. – E eu não tenho como saber tudo...
- E você nem pode se preocupar com isso no meio da corrida, filho. – Meu pai disse firme.
- Eu sei, pai, mas me sinto responsável...
- Você não precisa se sentir responsável por nada. – Ele falou com firmeza. – Nada do que aconteceu é responsabilidade de nenhum de vocês dois, vocês só podem cuidar um do outro, mas uma coisa de cada vez. – Suspirei. – Você foque no seu trabalho e depois ou antes, ajude-a, ok?! Porque ela também quer te ajudar, não atrapalhar, ela sabe disso.
- Eu sei, mas...
- Danny! – Virei o rosto na pressa, encontrando abraçando Isaac. – Meia-noite.
- Porra! – Falei baixo.
- Toque de recolher? – Meu pai perguntou.
- É! – Suspirei. – E eu já estou atrasado. – Eles riram e minha mãe me abraçou apertado.
- Vai lá, a gente se encontra amanhã! – Dei um beijo em sua bochecha, sentindo outro em retribuição.
- Vamos sim! – Minha mãe sorriu.
- Se cuidem, ok?! – Abracei meu pai.
- Pode deixar, mãe! – Falei, rindo.
- Não foque cem por cento nisso, mas cuida dela. – Meu pai pediu e assenti com a cabeça, suspirando.
- Pode deixar. – Sorri, dando dois tapinhas em seu ombro.
- Vai lá! – Sorri, me aproximando de , que dava vários beijinhos em Isaac.
- Sabe... Você não pode levá-lo conosco. – Falei e ela fez um pequeno bico em minha direção, me fazendo sorrir. – Vamos, você tem o melhor Ricciardo de companhia.
- Até parece! – Ela disse, sorrindo e dei um beijo na cabeça de Isaac que dormia calmamente em seu colo.
- Boa noite, meu menino! – Falei, vendo sorrindo para mim e dei um beijo na bochecha dela. – Vamos sair desse buraco.
- Vamos. – Ela disse e sorri para minha irmã.
- Nos vemos amanhã?
- Acho que só consigo ir domingo. – Ela disse e abracei-a, dando um beijo em sua cabeça.
- Tudo bem, mas vá! – Falei.
- Pode deixar! Se cuidem, hein?! – Ela falou, apontando para mim e para e assenti com a cabeça.
- Pode deixar! – disse, entregando Isaac para ela e minha mão estalou na de Jason.
- Nos falamos depois. – Ele disse e confirmei com a cabeça.
- Vocês estão no Crown? – Jason perguntou.
- Sim, três minutos daqui! – Falei, abanando a mão.
- Sim, sim! Vocês chegam logo! – Virei o rosto, vendo minha e minha mãe se abraçando.
- Nos vemos amanhã ou no domingo, mas apareçam lá! – Falei.
- Pode deixar, maninho! – Michelle disse e abracei-a de lado, dando um beijo em sua cabeça e virei para .
- Vamos? – Perguntei para ela.
- Sim... – Ela disse, confirmando com a cabeça. – Vamos lá!
- Até amanhã, gente! – Falei, acenando e esticando a mão para .
- Tchau! – Ela disse antes de apoiar a mão em meu braço, entrelaçando-os e sorri, dando um último aceno antes de seguir pelo restaurante.
Algumas pessoas nos olharam, mas eu simplesmente ignorei, como eu sempre fazia. As pessoas viam coisas onde não tinham, então precisava fazê-las se acostumar com isso. Foto com é o que não falta no meu Instagram e comigo no seu, e sempre deixando claro os anos de amizade. Fevereiro sempre rola uma inundação de fotos nossas para comemorar os anos de amizade, já que foi quando nos conhecemos em 1992.
Imagino que os fãs estavam acostumados com isso, agora eles precisavam se acostumar com ela me acompanhando nos lugares, assim como se acostumaram com Michael. Ela é minha amiga mais antiga, minha melhor amiga e estou há anos tentando trazê-la comigo, espero não ter mais problema.
- Se divertiu? – Perguntei para ela quando entramos no elevador.
- É, é sempre bom. – Ela sorriu. – Deu para relaxar.
- Pronta para amanhã? – Perguntei.
- Você está? – Ela virou o rosto para mim.
- Sim! – Sorri. – Empolgado para pegar uma boa classificação em casa.
- Uma pole? – Ela perguntou.
- Esperamos que sim. – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
Dei um aceno para a mulher no elevador e segui com para fora do prédio. Estava mais vazio de quando chegamos, mas a iluminação pareceu mais forte. Entreguei meu bilhete para o valet, mas não demorou mais do que um minuto para o carro aparecer em nossa frente. Abri a porta para e ela sorriu antes de entrar. Dei a volta e entrei ao seu lado, não demorando para sair dali.
Chegamos ao hotel em três ou quatro minutos e logo estava com o carro estacionado na garagem, sem problemas e sem precisar atrasar mais meu horário com Maria para atender aos fãs. Eu e seguimos pela garagem até chegar no elevador e aguardamos alguns minutos até ele chegar.
- Você está cansada? – Perguntei.
- Espero que sim. – Ela disse. – Assim eu durmo rápido e não fico pensando besteira sobre amanhã. – Ela seguiu para dentro do elevador e fui logo atrás dela.
- Vai dar tudo certo. – Ela assentiu com a cabeça.
Seguimos em silêncio até o andar e entrei na ponta dos pés no quarto, vendo a sala principal ser iluminada somente pela luz externa. tirou os saltos dos pés e entrou na ponta também, caminhando pelo corredor.
- Eu consigo te ouvir, Daniel! – Franzi os olhos com a voz de Maria e olhou para trás, fazendo uma careta.
- 12 minutos atrasado, eu sei! – Falei um pouco mais alto, suspirando. – Mas eu estava com minha família, estou sóbrio e vou direto para cama.
- Espero que vá mesmo, vou saber se não for. – Ela disse e fiz uma careta, fechando a porta sem tanto cuidado.
- Boa noite. – Falei, caminhando pelo corredor.
- Boa noite! – Ela disse. – Boa noite, !
- Boa noite. – disse na porta de seu quarto e suspirei, andando até ela. – É melhor você dormir.
- É, só vou me arrumar. – Falei.
- Eu também. – Ela disse, dando dois toques no batente da porta.
- Já venho te dar boa noite. – Falei.
- Ok. – Ela sorriu, seguindo para dentro do quarto.
Fiz o mesmo, encostando a porta um pouco e tirei a roupa que eu usava, seguindo direto para o banheiro. Perdi alguns minutos ali antes de seguir para a pia e perdi mais alguns minutos cuidando dos dentes. Voltei para o quarto, pegando uma bermuda de pijama e fucei no fundo da mala para encontrar uma regata, vestindo-a também.
Fui até minha calça jeans e procurei o celular e a carteira nos bolsos, deixando-os em cima da cama e peguei dois travesseiros, colocando-os embaixo do braço. Peguei meu celular, procurando pelo despertador e conferi que amanhã era outro dia para estar acordado as seis da manhã e começar finalmente a correr.
Saí do quarto, passando devagar pelo corredor e empurrei a porta do quarto de , dando dois toques, vendo-a aparecer no quarto com o pijama que tinha visto ontem e uma toalha em suas mãos.
- O que está fazendo? – Ela pressionou a toalha no rosto, deslizando pela linha do seu cabelo.
- Eu vou dormir contigo. – Dei um curto sorriso, jogando os travesseiros na cama.
- Não precisa, Danny! Qual é! – Ela voltou para o banheiro.
- Você está nervosa, eu provavelmente não vou dormir rápido de empolgação, podemos ficar conversando. – Puxei a coberta, enrolando-a no pé da cama.
- Eu me mexo para caramba para dormir, Danny. Isso se eu dormir, você precisa descansar. – Ela disse, voltando para o quarto, fechando a porta do banheiro.
- Eu vou dormir, relaxa. – Falei. – Direita ou esquerda?
- Danny! – Ela me repreendeu.
- Direita ou esquerda?! – Perguntei novamente e ela suspirou.
- Na janela. – Ela indicou para o lado direito e me joguei na cama, vendo-a revirar os olhos.
Ela foi até a janela, fechando o blecaute e me peguei observando suas pernas pelo short curto mais uma vez, com a mesma tatuagem de uma rosa dos ventos que eu tenho no calcanhar direito, mas na parte de trás de sua coxa esquerda. A parte estranha é que agora eu me peguei checando sua bunda devido a quão curto era os shorts e abanei a cabeça.
Preciso parar de fazer isso, cara! É !
- Se você roncar, eu te sufoco com o travesseiro. – Ela soltou os cabelos da piranha que os prendia, fazendo seus cabelos ondulados caírem em seu peito, antes de se deitar ao meu lado.
- Depende do meu cansaço. – Falei e ela apertou o botão do ar-condicionado antes de puxar o lençol para cima de seu corpo e me senti obrigado a fazer o mesmo e ajeitar meus travesseiros em seguida.
- Minha promessa é independente do seu cansaço. – Ela disse, virando o corpo para mim, colocando um braço embaixo do travesseiro.
- Você é má, Addams. – Falei, virando para ela, apoiando o braço da mesma forma.
- Sabe quem também era má? – Ela disse e franzi a testa.
- Quem? – Perguntei, franzindo a testa.
- Wandinha Addams. – Ela bateu a outra mão na parede, desligando a luz e revirei os olhos.
- Inteligente, ! Inteligente! – Falei e ela riu fracamente.
- Boa noite, Danny. – Ela suspirou.
- Boa noite, . – Falei e ela fechou os olhos.
Ela fez um sinal da cruz, fazendo uma reza em silêncio e me coloquei em oração também. O pedido é sempre o mesmo: segurança e um bom resultado para amanhã e domingo. Mas dessa vez, olhando rezar com os olhos tão pressionados, só consegui pedir para ela ficar bem e que essa dor fosse embora o mais rápido possível para que ela pudesse aproveitar de verdade a competição.



Continua...



Nota da autora: Oi, gente, desculpe a demora, tive problemas com a beta e agora a Naty vai tomar conta deles para mim! <3
Parece que a convivência desses dois está trazendo algumas visões que eles não tinham antes, hein?! Essas checadas pelo corpo um do outro é onde começa o perigo! Hahahaha
E as cenas deles se ajudando? A cena dele apoiando ela após o acidente do Rosberg, depois o "oi, lindinha" no final, só deixa meu coração mais empolgado quando as coisas realmente saírem da amizade!
Nesse capítulo tivemos a introdução de mais personagens que vêm a ser importante para F1 ou para o Daniel em si. Sou muito do visual, então acho interessante mostrar o que eu estou vendo para vocês entenderem como foi a pesquisa para chegar aqui.
Mas e sobre o capítulo? O que acharam? Espero que estejam gostando e não se esqueçam de comentar! <3
E se vocês gostarem de futebol, vou deixar minha fanfic com o Buffon da Itália e Juventus para vocês!
Beijos e até a próxima!

Assista ao trailer da fic aqui!





Nota da beta: A Flávia tenta se livrar de mim, mas não dá muito certo, né? Hahhahaahah bora aprender sobre F1, zero conhecimento kkkkk.


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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