Capítulo 1 – Primeiro Dia
30 de novembro de 2022
Estádio Al Janoub, Doha, Qatar
Copa Do Mundo – Oitavas de final
Inglaterra x Bélgica
O placar marca 1x1 aos dez minutos do segundo tempo da prorrogação e não pode ser um resultado mais preocupante para mim e todos que estão nesse campo. Qualquer simples erro pode nos eliminar nas oitavas de final. Não quero isso, é a primeira copa que jogo e estou no auge da carreira, seria torturante ter que esperar por mais quatro anos.
O Estádio Al Janoub está lotado e as cores da torcida se misturam entre as da seleção inglesa com a belga. Todos estão na expectativa. Esse é um jogo grande.
Kevin De Bruyne dispara com a bola após um bom lançamento de . O ótimo cruzamento só me faz odiá-lo mais. De Bruyne está correndo todos sabemos para onde. Ele dribla Joe e Ben com tanta facilidade que fico tenso. Ele vai marcar e vai nos eliminar. Quando o último fio de esperança inglês está indo pelo ralo, Stones aparece. O que é ruim porque sua tentativa de impedi-lo resulta em um encontrão malvisto aos olhos do juiz, que apita e marca uma falta perigosa perto da pequena área.
Merda. O árbitro para o jogo. Stones ajuda De Bruyne a se levantar e Kane fica próximo dele para evitar possíveis reclamações com o árbitro, a falta é clara e ninguém aqui quer levar um cartão. Vejo ir até o juiz exigir um cartão para Stones, mas o árbitro ignora e faz as marcações no gramado para a cobrança de falta.
Definitivamente, eu odeio esse cara. Não nos damos bem fora, nem dentro de campo. Cada encontro do Chelsea com o Tottenham pela Premier League é uma guerra. No último clássico, no final da temporada, nós dois fomos expulsos por briga. Eu teria dado um soco na cara dele sem arrependimentos.
Kevin De Bruyne cobra a falta, a bola voa, mas é alto o suficiente para Trippier cabeceá-la para a frente. A bola vai parar no pé de Jadon Sancho, que puxa um rápido contra-ataque enquanto a torcida, de pé, se empolga com a situação. Jadon tem duas opções: eu e Kane, visto que Rashford está um pouco mais atrás. A bola passa por Kane e vem parar nos meus pés. Eu corro em disparada, mirando no gol, e vejo Thibaut Courtois. Eu o vejo focado, olhando para mim, tentando adivinhar para onde eu vou mandar essa bola. Estou correndo como se essa fosse a minha única missão na Terra, esse é o gol da classificação, mas quando estou perto o suficiente e prestes a chutar, um enorme incômodo vem no tornozelo direito e no segundo seguinte estou no chão. A dor é incômoda, mas a fúria é maior ainda quando vejo que quem me derrubou foi . Porra, de onde esse cara surgiu?
. Zagueiro sujo do caralho.
Um furdunço belga aparece ao redor do árbitro quando ele puxa um cartão amarelo para e marca um pênalti para nós sem ao menos checar o VAR. A torcida é barulhenta.
— Ei, . — Diz Ben preocupado.
Meus companheiros de equipe me ajudam a levantar e aos poucos a dor vai passando. Olho para e ele está reclamando com o árbitro. Quero ir até lá xingar o filho da puta, mas a taxatividade do juiz é o suficiente para me conter.
O estádio inteiro está vibrando, mas ainda estou tenso. Harry Kane se posiciona na marca do pênalti, coloca as mãos na cintura e aguarda o apito do juiz. Ele encara Courtois e quando o barulho do apito vem, ele vai. Todos estamos posicionados para um possível rebote, mas Kane não desperdiça a oportunidade, finalizando no canto esquerdo, enquanto Courtois pula para o canto direito.
Ele corre como um doido depois que vê a rede balançar e o juiz validar o gol. Vou em sua direção junto com o resto do time e a torcida vibra. Os últimos dois minutos de acréscimo são uma tortura e tanto para nós, quando o árbitro finalmente apita e é o final do jogo. A Bélgica está eliminada e a Inglaterra segue para as quartas. Eu tiro a blusa, comemorando, a sensação é muito boa.
Cumprimento alguns jogadores belgas e troco camisa com Charly Musonda, meu companheiro de equipe no Chelsea. Por eles sinto algum tipo de empatia, uma eliminação como essa é dolorosa, diferente de , que está puto em algum canto do campo. Passo por ele correndo e rindo, abraçado com Ben e Jadon.
O sonho está vivo.
— Chato do inferno, mete a porrada nos jogadores, pressiona o juiz, fica putinho quando tá errado, faz uma cera da porra todo santo jogo. Eu odeio esse cara. — rosna para mim. Tinha decidido sair do camarote e encontrá-lo na sala de espera reservada para a família dos atletas, ainda dentro do estádio.
Eu o olho, preocupada. Eu, assim como todos os belgas, estou triste pela eliminação da Bélgica na Copa do Mundo. Aquele pênalti no final da prorrogação foi o fim, mas sabia que para seria muito pior do que foi para mim. É o sonho dele ganhar uma copa e agora terá que esperar por mais quatro anos.
Papai, mamãe e a Val – a namorada dele – também estão chateados. Todos aqui tinham alguma expectativa. É ruim ver meu país indo embora tão cedo porque o jogo foi bem equilibrado, mesmo que a mídia esportiva e a maioria dos setoristas estivessem cravando a Inglaterra como a favorita.
— , se acalme. Sei que é péssimo, mas você não está mais no campo para continuar agindo como um animal.
— Eu não encostei nele, porra. Eu juro que não encostei, . Mas aquele filho da puta do conseguiu fingir muito bem e o juiz comprou, aquele desgraçado!
Respiro fundo quando meu irmão toca no nome de . Não tenho muita simpatia por , é difícil ter. Ele o meu irmão são rivais declarados, jogam um contra o outro na Premier League e toda vez que se encontram, seja em campo, ou fora dele, você pode esperar que algo ruim aconteça. Penso que eles só não se mataram hoje no campo porque é esperto, ele sabia que o time dele ia passar e não queria correr o risco de ficar fora do jogo.
O que não sabe é do meu pequeno deslize com o seu rival no The Best da Fifa, na Champions League desse ano.
já deu em cima de mim várias vezes, mas eu sempre neguei dizendo que nunca ficaria com ele. Não gosto de ficar com jogadores e a sua má relação com o meu irmão só dificulta tudo, é uma dor de cabeça que não sei se quero ter.
Nesse dia em específico, eu acabei bebendo mais do que deveria no pós-festa da premiação e fiz uma declaração patética para ele. Lembro de tê-lo beijado também. Lembro dele me levando para casa porque eu não me aguentava em pé. Foi tudo tão constrangedor. Eu vivo fugindo de encontrar com ele, pois, toda vez que nos vemos, ele faz questão de lembrar desse infeliz episódio. é aquele tipo de cara que sabe usar sua solteirice a seu favor e é raro de levar um fora de alguma mulher. Talvez eu tenha sido a única. Isso, bem, até aquele dia.
É insuportável vê-lo com aquele sorriso branco convencido. Ele sabe que é um filho da puta gostoso e não economiza no charme. Fugir dele é mais fácil que resistir.
— Bem, papai e mamãe estão no camarote ainda. Junto com a Val. Quer que eu chame eles aqui? — Pergunto, não tendo nada melhor para dizer.
— Não consigo nem olhar para eles depois dessa humilhação.
— Não foi uma humilhação, . — Afirmo, mas meu irmão é irredutível. — O placar foi pequeno, o jogo foi difícil.
— Tanto faz. Diga a eles que vou vê-los no hotel. — me dá as costas, talvez vá encontrar o resto da seleção belga para voltarem para o hotel no ônibus da seleção.
— Tudo bem.
Antes que eu me mova ele olha para mim.
— Você vai voltar com eles para Londres?
— Não posso, Jenna me avisou que tenho algumas campanhas para fazer. Estão usando o badalo da Copa para alavancar o marketing. — Ele assente. — Eu acordo cedo amanhã para me despedir.
confirma mais uma vez e segue o seu rumo cabisbaixo. Eu respiro fundo.
Por jogar no Tottenham, todos nós moramos em Londres. Quer dizer, eu costumava morar em Paris quando jogava pelo PSG Feminino, mas desde que saí do time e abandonei essa vida, decidi me mudar para onde está a minha família.
Eu volto para o camarote para dar o aviso a eles e mando uma mensagem a Jenna, a minha assessora, para que ela me explique a minha agenda para os próximos dias.
Capítulo 2 – Segundo Dia
1º de dezembro de 2022
Hotel The Ritz-Carlton, Doha, Qatar
Temos cinco dias até as quartas de final, por isso Gareth Southgate, o técnico, decide nos dar o dia seguinte de folga e algumas horas de amanhã. Acho que isso é o máximo que vamos ter se chegarmos à final. Foi um pouco cômico como G. virou para nós no vestiário logo depois do jogo contra a Bélgica e gritou "seleção liberada para sexo, churrasco e chocolate com moderação e responsabilidade. Nos encontramos na tarde de segunda!"
Mas quando venho ao saguão do The Ritz-Carlton, hotel em que a seleção está hospedada, não venho atrás de nenhuma dessas coisas. Estou usando o meu dia de folga para conseguir um quarto para a minha mãe. Desde que nos classificamos para as quartas, surgiu na cabeça dela a ideia de ficar no mesmo hotel que eu. Por mais que as distâncias aqui no Qatar sejam curtas.
A atendente pede que eu aguarde um pouco enquanto ela verifica no sistema.
Bem, usar a folga para relaxar e ficar com a família é o que quase todo mundo no time faz (pelo menos os casados), visto que nos próximos dias a concentração será puxada. Uns que tem mulher, se encontram para trepar. Outros que gostam de ir para festinhas, tem uma festinha organizada não sei onde. Foden chegou a comentar comigo, mas preferi não ir. Gosto de ficar no hotel, há diversão por aqui, isso se você procurar bem.
A moça pede para eu aguardar mais um pouco e decido me encostar na parede ao lado das portas do elevador enquanto isso. Até entendo a demora, o hotel está lotado e em época de Copa do Mundo não imaginaria diferente. O saguão está cheio de gente rica, pessoas importantes e paro para tirar foto com alguns fãs. Quando olho para a entrada, vejo arrastando sua mala de rodinha até a pequena fila do check-in.
.
Ela tem um óculos plantado no topo da cabeça de onde caem os fios sua cabeleira preta brilhante. A calça skinny delineia bem as suas curvas. Só olhar quase me faz salivar. Ela é sensacional, tenho que admitir. Com certeza, uma das mulheres mais gostosas que já vi na vida. Mesmo com um pouco de distância, consigo ver sua boca, sempre preenchida por um batom vermelho vivo.
Lembro bem dos seus lábios carnudos sobre os meus, foi um dia inesquecível, mesmo que não tenha passado disso e que finja que nunca aconteceu. Acho que ela prefere morrer a me beijar de novo. Eu não. Por mais que ela seja a irmã de , não seria esforço nenhum para mim encostar a boca na dela de novo.
Uma dúvida agita o meu cérebro. O que ela está fazendo aqui? A Bélgica foi eliminada, seu irmão já deve ter ido embora há muito tempo. Por que ela ainda está no Qatar e porque está se hospedando aqui? Um pensamento sujo invade a minha mente quando ela me vê e, após fazer o check-in, marcha pela sala até o elevador. Ela parece boa o suficiente para comer e imagino que talvez possamos dar um bom amasso nos corredores deste hotel até chegar em um dos quartos. Meu pau se agita atrás do zíper.
Ah, porra.
Obrigo-me a empurrar o pensamento de lado.
Dou um sorriso de agradável surpresa, porque é muito bom vê-la de novo. aperta o botão ao meu lado e cruza os braços para esperar o ascensor.
— Oi, .
Eu digo sugestivamente, percebendo que ela não ia iniciar um papo comigo. Abaixo os óculos para ela conseguir ver os meus olhos.
— . — Rosna, olhando para o chão.
— Que mau-humor, gata. Você não vai me dar os parabéns?
Faço um carinho na sua bochecha e ela afasta a minha mão como se fosse um mosquito irritante.
— Parabéns? Mais fácil eu te dar um chute na bunda.
— Eu sei, a eliminação, ela dói mesmo, mas estou aqui para te consolar.
Toco o seu ombro e vejo sua pele arrepiar. Adoro quando resiste a mim, isso só me cativa mais.
— Cavar um pênalti ridículo para se classificar? Olha, eu teria vergonha.
— Eu cavei um pênalti? Seu querido irmão me deu um carrinho por trás. Se vocês foram eliminados, a culpa é dele.
— Tanto faz. Quando o juiz quer roubar para um lado, não adianta discutir. — Resmunga eu dou risada do seu clubismo. Seu humor é ácido e quente. — Nós teríamos ganhado se não fosse por isso. Iria para os pênaltis e Lukaku, Hazard, De Bruyne e Martens fariam a boa.
— Se depender de mim, não. Eu cobro muito bem e Dean pegaria todos.
— Você se acha muito, isso sim.
Ela acusa, mas solta uma risadinha logo em seguida. É o que gosto em : diferente do irmão dela, ela sabe ser divertida. E tenho quase certeza de que, se não fosse pela nossa rivalidade, eu e ela nos daríamos bem.
— Tá fazendo o que aqui? Me procurando?
— Não? Vou fazer mais algumas campanhas aqui no Qatar por mais alguns dias. A empresa me transferiu para esse hotel.
— Interessante. — A campainha do elevador nos interrompe. espera as portas abrirem para entrar e eu olho para ela. — Bom, a seleção está ficando no 17° andar, meu quarto é o 171.
— Por que acha que eu quero saber disso?
Dou uma piscadela, vejo o rosto de corar e a porta fecha. Segundos depois, a atendente da recepção me chama.
Tenho que admitir que o encontro com ela me deixa entusiasmado.
A manhã foi dura.
O tempo que fiquei no meu quarto foi minúsculo. Assim que levei minhas malas para lá, Jenna me encheu de mensagens, avisando dos meus próximos compromissos. O que foi uma pena, pois queria ir até o estádio ver os jogos das outras seleções. Desde que me lesionei e a minha carreira de jogadora foi para o espaço, eu tenho que me contentar com apenas assistir. Acabei virando modelo comercial e comentarista de alguns jogos femininos na ESPN. Nesse período de Copa, vim ao Qatar para campanhas de alguns patrocinadores esportivos. É assim que eu tento me manter no mundo futebolístico sem precisar depender do meu irmão.
Por falar em , ele não pode nem sonhar do meu 'encontro' com . Penso que na cabeça dele estou a uns cinquenta quilômetros de distância desse cara. Eu e somos bem amigos, costumamos compartilhar muito da nossa vida um com o outro, mas decido não dizer a ele nada do que acontecer nessa minha permanência no Qatar.
Ao meio-dia, eu e Jenna almoçamos, ela me libera e sai. Viagens assim são meio solitárias porque ela também agencia outras pessoas, então, quando acaba comigo, ela parte para outro. Decido procurar entretenimento pelo hotel e a piscina é o meu primeiro alvo. Vou até o quarto trocar de roupa e pego um biquíni da mala. Apesar de estarmos no inverno, a temperatura aqui é de 27 ºC e está quente. Vantagens e desvantagens do Oriente Médio. Me pergunto como seria se a copa tivesse acontecido no verão. Seria quase impossível ficar em ambientes sem ar condicionado. Visto um short e separo uma bolsa com toalha e protetor solar. Não tem muitas pessoas na piscina, então consigo uma cadeira de descanso vazia e perto de uma sombra fresca.
Tiro o short e me sento ali, coloco os óculos e dou início ao processo de me encher de protetor solar. Deslizo sobre as pernas, os braços e me contorço da melhor forma para tentar passar nas costas.
— Quer ajuda, ?
A voz de surge atrás de mim e quase pulo de susto. Ele apoia as mãos nos meus ombros e chega bem próximo do meu ouvido para falar, quase me arrepio inteira porque suas mãos estão geladas e o choque é muito bom. Quando olho para trás, ele senta na cadeira de descanso ao lado da minha. Ele tem uma toalha em cima do ombro e está sem camisa, usa apenas um calção azul-petróleo. O Sol bate no seu tronco definido e nas suas pernas torneadas de jogador e ele parece brilhar, como se fosse um astro celestial ou coisa do tipo.
é um território perigosamente delicioso, por isso é tão proibido para mim.
— Você tá me seguindo, ?
Ele nega com a cabeça e rouba o meu frasco de protetor solar.
— Não. Apenas aproveitando a folga.
Ele coloca as mãos nos meus ombros de novo e me deixa de costas para ele. Eu sinto o líquido frio do protetor cobrir as minhas costas e o movimento sutil dos seus dedos. mal me toca, mas já estou tremendo. Que merda é essa?! Depois ele começa a espalhar o produto com maestria, tocando cada centímetro de pele. Sei que eu deveria levantar e ir embora, mas algo está grudando a minha bunda nessa cadeira.
— Apenas hoje?
— Hoje e algumas horas de amanhã. Por quê? Quer saber quando estou livre para um sexo selvagem?
— Pelo contrário. Espero que você fique o mais ocupado possível com a seleção.
— Quer evitar os nossos encontros? Assim não tem graça! A diversão começa quando a gente se encontra, .
Eu balanço a cabeça para os lados e quase dou risada. Fugir de é fácil, o problema é quando ele vem até mim. Não sei qual é a coisa dele comigo. Nós mal nos conhecemos, nunca conversamos muito e a única vez que lhe dei um pouco mais de intimidade foi na festa do The Best, e julgo que nem conta, porque eu estava bêbada. Sei quando um cara quer transar comigo e deixa isso bem explícito, mas ele teve uma chance e isso nunca aconteceu.
Percebo que dessa vez ele não fez questão de lembrar desse episódio, como sempre faz quando nos vemos. Então, decido eu mesma perguntar.
— Por que não transamos naquele dia?
Consigo sentir sua respiração na minha nuca enquanto suas mãos continuam trabalhando.
— Não transo com mulheres bêbadas. Por mais que elas implorem pelo meu pau como você fez naquele dia, não acho que alguém bêbado esteja apto para consentir algo.
— O quê? — Meu tom de indignação é alto. — Eu não estava implorando.
— Sim, estava. — Ele afirma e reviro meus globos oculares. é uma mula convencida.
— Não tava nada.
Quase me viro para ele, mas aí percebo que está fazendo muito mais do que passar protetor nas minhas costas, ele está fazendo uma verdadeira massagem relaxante e ele é bom nisso. Suas mãos vão dos meus ombros até a lombar, firmando bem os dedos. Ele toca os pontos de maior tensão das minhas costas: a minha nuca, meus ombros, a área do trapézio e entre as costelas com movimentos suaves, sustentando uma leve pressão, sem movimentos circulares. Suas mãos deslizam tão facilmente que sou capaz de ficar aqui o dia todo se ele continuar me tocando assim.
— Tava sim, . Nossa, eu devia ter gravado. — Ele ri e acho que a massagem quase me deixa tonta, pois não percebo quando ele se aproxima. De um instante para outro, estou entre as suas pernas e está sentado atrás de mim, com as mãos embaixo da linha do meu biquíni, arrastando-as até as laterais do meu corpo, contornando a minha silhueta. Sua boca encosta na minha orelha e é difícil meu corpo inteiro não arrepiar. — Você me beijou, depois subiu na mesa e disse que era para eu te comer ali. — Ele sussurra e beija o meu ombro. Vai beijando até alcançar a lateral do meu pescoço. — Se você estivesse sã, eu teria feito o que pediu.
— Você nunca vai me ver sã pedindo uma coisa dessas. Não com você, pelo menos.
Com dificuldade, eu me esquivo dos seus beijos.
— Nunca? — Ele belisca a minha cintura. — É uma palavra forte demais.
Ele lambe os lábios secos. É um movimento ridiculamente sexy. Tudo nele é sexy. É por isso que o odeio tanto.
Ou pelo menos devia.
Penso em responder e prolongar nosso contato de peles, mas logo me dou conta que estamos em um local público e que o Sol está torrando o topo da minha cabeça. Não tem nada melhor que água gelada para te fazer voltar para a realidade, por isso fico de pé. Meu quadril fica na altura do seu rosto e tenho certeza que ele possui os olhos, faiscando de desejo, em mim.
Viro de frente para ele e dou um sorriso enquanto ele me devora com o olhar.
— , você precisa cair na realidade.
É a última coisa que digo antes de lhe dar as costas e mergulhar na piscina.
— Não foi isso que aconteceu!
É a primeira coisa que escuto quando entro na área do bar do restaurante. Logo depois dá uma risada estridente. Ela está sentada no balcão com Ben ao seu lado. Eles começam a conversar mais baixo, cheios de risadinhas.
Quase todos os meus companheiros de time estão aqui, aproveitando a noite para tomar uma cerveja, jogar sinuca ou um baralho nas mesas. Jadon está em uma mesa com Foden, Marcus, Eric e Winks, mas eu olho para Ben e de novo e decido ir até eles ao invés de ir até a mesa com os meus amigos.
Eles parecem estar se divertindo, sei que são amigos e se conhecem há algum tempo. Uma pontada de ciúmes incomoda o meu peito. Ben é um cara legal e extremamente atraente. Sei disso porque ele é um dos meus melhores amigos e nada o impede de ficar com . Eu imagino completamente sã pedindo para ficar com Bem.
Na verdade, até eu pediria para ficar com Ben.
— Atrapalho?
Sento na banqueta ao lado dela e apoio os braços no bar. Peço uma cerveja ao barman, diferente de e Bem, que compartilham alguns drinks. Não sou de beber muito. Quando tenho folga, venho e tomo uma ou duas cervejas, mas é só.
— ! — Ben está feliz em me ver, diferente de , que revira os olhos.
— Ehhh, o chegou. — Ela diz com falsa animação.
— Eu já tava quase indo no quarto te buscar, cara.
— Ei! Qual desses lugares vocês acham que é melhor para comemorar o meu aniversário? — Jadon aparece e fica entre mim e com o celular nas mãos. Eu dou uma espiada e são diversas fotos de pubs e clubes de dança.
— Oi, Sancho.
— Oi, . — Eles se cumprimentam, mas Jadon logo volta à pauta principal e olha para mim e para Ben. — Então?
— Jadon. — Eu digo calmamente. — Ainda faltam mais de três meses para o seu aniversário.
— Eu sei. — Ele rouba o copo de Ben e, de um minuto para o outro, troca de assunto. Jadon Sancho é a pessoa mais aleatória que eu conheço. — Eric e Marcus estão fazendo uma aposta com Foden para ele raspar aquele bigode.
— EI, SANCHO VOLTE PARA CÁ. — Eric grita e todos nós olhamos para trás. — VOCÊ TEM QUE SER A TESTEMUNHA. WINKS É LERDO DEMAIS PARA ISSO.
Eu e Ben damos risada e Jadon se vira para voltar à mesa.
— O que foi, ? — Ben pergunta, pois ela foi a única pessoa que não riu.
— Nada.
— Ela ainda está chateada pela Bélgica. — Eu afirmo e a encaro bem. está bonita, quer dizer, ela sempre está bonita, mas há um toque a mais quando ela se arruma para sair de noite.
— Ah, que pena, mas agora você vai torcer pelo seu amigo, certo? — Ben questiona com um fio de otimismo.
— Sinceramente, Chilwell? — Ela o encara. vai de triste para afiada e desafiadora em instantes. Ela vira o resto do drink e bate o copo no balcão. — Vocês não passam das quartas.
— Agora eu fiquei magoado.
— Sinto muito, bebê, mas você odeia a seleção que eliminou o seu país. Mesmo que temporariamente, essa é a regra. Está escrito no livro da FIFA.
— Você acha que vamos perder para a Espanha?
Eu pergunto quase desacreditado. Desde que a Espanha ganhou de 3x1 do Uruguai nas oitavas, ficou definido o nosso próximo adversário. E não tem nada a ver com essa coisa de ser soberbo, mas acredito no nosso time e também acredito que temos fortes chances de vencer. E acho que também sabe disso. Se você enxergar de uma maneira não clubista, é a verdade, por mais-que-tudo possa acontecer no futebol. Contudo, ela jamais vai concordar comigo.
— Acho. Kane vai ficar no bolso de Ramos e Martínez.
— Eu duvido. — Afirmo. — Por mais que eles tenham uma boa defesa, mesmo após a saída do Piqué, não dá para ganhar só com isso. Na frente, a Espanha tem boas opções para criação, mas eles parecem ter dificuldade em encontrar um atacante que se encaixe no esquema tático. E você não ganha copa do mundo sem fazer gols.
— Mas eles conseguiram consertar as falhas e não sofreram com lesões, o que, a meu ver, era o principal desafio. Agora se você quer falar de gols, , eles fizeram três gols no Uruguai e conseguiram anular completamente o Fede Valverde. — Ela passa a mão pelo cabelo escuro. Se parece um anjo, a personalidade, com certeza, é do diabo. E não de um jeito ruim. — Às vezes a nostalgia não permite que a gente veja o potencial do time atual, por isso eu cravo: a Espanha vai ganhar da Inglaterra.
Cara, eu adoro discutir com . Ela é aguçada, sabe sempre o que falar e tudo flui naturalmente. Ela expõe as próprias opiniões sem medo de quebrar a cara depois e consegue ser coerente. Interagir com alguém que só concorda com você é um saco.
Ela faz um bico teimoso que eu daria tudo para morder.
— Quer apostar?
Desafio e arqueia uma sobrancelha para mim. Ben dá um gole na cerveja, sendo um mero espectador do nosso jogo. Ela me encara e algo dentro de mim sabe que ela não vai recusar.
é o tipo de mulher que não dá para trás.
— O que diabos você vai querer se ganhar?
— Não sei... — Dou um sorriso sugestivo, escalando meus dedos pelo seu braço até os ombros. — Estou com saudade do seu beijo.
Ela ri e inclina a cabeça para frente, depois volta para mim.
— Está fazendo isso de propósito, não é?
— Claro que estou. — Ofereço minha mão direita para selarmos o acordo. — Apostado?
— Apostado. — Ela aperta a minha mão de volta e não hesito para puxá-la e depositar um beijo ali. — O Ben é testemunha.
— Sim, o Ben é testemunha.
— Ei! O que... — Ben diz confuso, mas já está se preparando para ir embora. Ela desce do banco e dou uma checada na sua bunda gostosa revestida apenas por um vestido sem alças de busto transparente.
— Espero que vocês deem o melhor naquele campo. — olha de Ben para mim. — Porque você não vai querer saber o que eu vou pedir se vocês perderem, .
Capítulo 3 – Terceiro Dia
2 de dezembro de 2022
Campo de Golf – Centro de Concentração, Doha, Qatar
O CT fica a apenas 10 minutos do hotel. Ainda acho genial terem transformado um Campo de Golf em uma base que abrange cinco CTs em uma mesma área. Temos Brasil, Alemanha e França a poucos metros de distância. Cada seleção tem seu próprio espaço individual com dois campos e uma estrutura interna com vestiário, academia, salas de vídeo, de massagem e até de oração.
Southgate decide pegar leve conosco nessa manhã. Enquanto os reservas treinam com bola no campo, eu e os outros titulares revezamos nos aparelhos de musculação da academia. Como o trabalho é só para manter a musculatura, ninguém pega pesado.
Estou trabalhando na Cadeira Extensora. Winks está ao meu lado, trabalhando no Pulley, seguido por Dele Alli e Marcus Rashford.
— Dele, se Marcus pular de um penhasco, você também pula? — Pergunta Harry.
— Sim.
— Por quê!?! — Eu questiono.
— Porque eu sei que Marcus descobriria uma maneira de me pegar antes que eu caísse. — Ele responde como se a sua lógica fizesse muito sentido e Marcus acena com a cabeça em concordância. Harry parece confuso.
— Mas como Marcus vai te pegar se ele também está caindo?
Marcus se vira para Dele. — Eu disse, cara, que precisamos pensar mais neste plano.
— Podemos fazer isso na hora do almoço. — Dele concorda. — Será que o hotel deixa suco de noz no bufê?
— Você pode, por favor, parar de chamar manteiga de amendoim disso? — Diz Kane quando passa por nós.
— O que há de errado com 'suco de noz'?
— Tudo. É bizarramente errado. — Ele repreende como um pai, sentindo responsabilidade por todos nós.
— Não pode comer pasta de amendoim depois do treino. Tem que comer antes. É bastante caloria. — Jordan Henderson surge e fala, chamando nossa atenção. Ele tem um haltere em cada mão fazendo movimentos repetidos. — Não acredito que eu tenho que cuidar desse estúpido time.
— Não, Hendo, você não precisa. — Todos gritamos em uníssono.
— Agora eu vou. — Ele diz soltando os halteres e arregaçando as mangas. Nós caímos na risada.
Saio da cadeira extensora e deixo a discussão da pasta de amendoim para trás. Vou até uma das esteiras ergométricas ao lado de um Sterling com fones de ouvido. A música está tão alta que consigo ouvir daqui, mas acho que Raheem não se importa se isso vai ou não estourar seus tímpanos. Eu ligo a esteira e começo um treino rápido.
— , você está nisso com a irmã do ? — Eric liga outra esteira do meu lado e em segundos estamos correndo juntos. Às vezes esqueço que estou cercado de jogadores do Tottenham que convivem diariamente com .
— Quem te contou?
— Ben.
— Chilwell fofoqueiro. — Eu xingo baixo e Eric ri. — Então, depende. Na verdade, acho que ela prefere beber cloro a ter algo comigo.
— não te odeia?
— Odeia e é recíproco.
— E você ainda acha que isso é uma boa ideia?
— Eu quase nunca tenho boas ideias, Dier.
Damos risada. Foi isso que eu aprendi porque diante de situações desfavoráveis, não adianta lamentar. Você ri e tenta fazer dar certo.
Depois de aumentar o ritmo da esteira por alguns minutos, faço uma pausa para beber água. Penso por alguns segundos, decido tirar o celular do bolso e abro o Instagram.
* 10 seguiu você*
* 10 curtiu sua foto*
* 10 curtiu sua foto*
* 10 curtiu sua foto*
* 10 curtiu sua foto*
Eu largo o celular na cama depois de checar as notificações no Instagram. São várias, mas as de são difíceis de passar despercebidas. Ele fez uma boa análise no meu feed e curtiu quase todas as fotos. Ainda bem que não comentou nada, porque eu poderia justificar uma curtida, mas não um comentário.
Meia hora depois, eu decido descer, porque meu estômago está roncando. Vou até o restaurante, ataco o bufê e me sento em uma mesa próxima da janela. Estou tranquila dando garfadas na comida quando uma agitação começa na porta do restaurante. E aos poucos o lugar está lotado de jogadores ingleses famintos. Eles estão em volta do bufê e consigo achar ali.
Mensagens de Jenna chamam a minha atenção e desbloqueio o celular ainda em cima da mesa. Começo a rolar a conversa com o dedo quando percebo que tem alguém parado próximo de mim.
— A cadeira está ocupada, ? — pergunta e se senta na cadeira ao meu lado. É uma surpresa, porque juro que não achei que ele tivesse me visto aqui.
— Não me chame assim, é esquisito.
— Por quê?
— Porque só o meu pai me chama de . Quando você fala, eu lembro dele.
— Interessante, conte mais. — Ele puxa a cadeira para frente. — Gosto de saber da sua vida.
Eu rio baixo.
— O que deu em você com o meu Instagram?
— Aquilo se chama engajamento. — Ele dá um sorriso, convencido. — E eu te dei muito.
— Stalker. — Murmuro. — Achei que eu tinha te bloqueado.
— Fez pior, você não me seguiu de volta. Como vamos ser um casal se você não me segue no Instagram? — Quando penso em responder, ele pega o meu celular na mesa. Até tento pegar de volta, mas é inútil, sem falar na atenção necessária que atrairia para nós. Ergo a cabeça para espiar o que ele está fazendo. — Pronto, agora você segue.
Ele diz satisfeito, mas continua com o meu celular na mão.
— Tudo bem, stalker, agora você já pode me devolver?
— Espera um pouco. — dá um sorriso diabólico e começo a temer o que vem aí. Dependendo do que for, sou capaz de quebrar essas taças de vidro na cabeça dele. — Agora você pode pegar.
Pego o iPhone da mão dele. O meu perfil do Instagram está aberto, agora sigo uma pessoa a mais e a minha bio diz:
— Você ficou maluco, ? — Meus olhos se arregalam e trato de apagar aquilo imediatamente antes que alguém veja. — Imagina se o meu irmão vê isso.
— O que ele ia fazer? — ri. — Está a milhares de quilômetros de distância.
Eu não digo nada porque de fato não sei o que faria, mas ele não ia gostar, com toda certeza. fica mais à vontade na cadeira e paro para olhar para ele. Ele usa uma polo preta da Seleção Inglesa e o cabelo está molhado. O cheiro do seu perfume é inebriante. Tenho que admitir que ele está lindo e cheiroso como na noite passada, no restaurante.
Começamos a comer em silêncio e vez ou outra eu olho para o outro lado do restaurante, onde todos os seus companheiros de time estão juntos, distribuídos em mesas. Estão quase todos lá, mas ele está aqui e a dúvida surge na minha cabeça.
— Por que está comendo comigo? — Questiono, mas não quero que ele vá embora. — Sabe, seu time está todo lá.
— Porque você está aqui sozinha. — Ele diz quando termina de mastigar. — E não é legal comer sozinha.
— Tem razão.
— Você não tem um agente ou coisa do tipo?
— Tenho, a Jenna. — Brinco com as batatas do meu prato. — Mas ela apenas me acompanha nos trabalhos e depois vai encontrar outro cliente.
— Bem, quando for assim, me manda uma mensagem. Podemos comer juntos. Quer dizer, meus horários de almoço são uma bagunça, porque tudo depende da hora do treino, mas qualquer coisa, eu te aviso. — pisca para mim.
Tento evitar, mas é impossível não achar isso fofo. Quer dizer, essas viagens são sempre bem solitárias. Desde que o meu irmão e a minha família foram embora de Doha eu venho fazendo tudo sozinha, e quando não estou sozinha, é a minha única companhia. Mesmo que eu implique bastante com ele na maior parte do tempo, cada dia mais eu gosto de tê-lo por perto.
— Essa é a sua tática para conseguir que eu te passe o meu número?
— Não preciso que você me diga o seu número. Alguém já me deu e eu já salvei.
— O quê? Quem foi?
— Para que você quer saber quem foi?
— Para eu poder matá-lo. — Digo e ri na mesma hora, eu continuo com a minha falsa pose de indignação. — Foi o Chilwell, não foi? Aquele traíra.
Ataco o bife de carne com o meu garfo. Agora está roubando as batatas do meu prato que eu não comi.
— E se for?
— Ben não pode ficar do seu lado, ele tem que ser imparcial!
— E se ele não for? Essa vai ser sua desculpa para desistir da nossa aposta?
— Claro que não. — Cruzo os braços. — Eu não desisto.
— Ótimo, eu também não.
E o resto do almoço é agradável, ele é mais divertido do que eu imaginava. Eu e conversamos mais algumas banalidades enquanto tento, o tempo todo, me convencer de que não há uma sintonia aqui.
Lista de coisas que você pode fazer se se hospedar em hotéis de luxo:
1. ir ao spa e à hidromassagem.
Fim da lista.
Nesse hotel, as suítes deluxe são quase uma casa, mas mesmo gostando muito do meu espaçoso quarto, também gosto muito de ficar aqui embaixo. Os espaços do Haltz Carlton são incríveis, é uma mistura do moderno com o tradicional, criando uma autêntica experiência multicultural. Combina a opulência contemporânea com o calor de uma tradicional acolhida árabe.
Jenna não poderia ter escolhido melhor. É o que penso quando olho para ela. Estou dentro da hidro, deixando que o meu corpo seja abraçado pelas águas borbulhantes enquanto ela está do lado de fora, sentada em um banco com o celular na mão. Seu terninho ainda está impecável apesar de já estar de noite e não sei como ela não está morrendo de calor com isso.
— Então o que temos para amanhã? — Pergunto.
— Mais fotos.
Eu gemo de insatisfação.
— Por favor, não me diga que são ao ar livre.
— Não, essas são no estúdio. — Ela analisa algo no celular. — Depois uma pequena publi para a Nike e a participação no PodCast da CBS Sports. Tranquilo, não?
— É, tranquilo.
— Bom, por hoje é só. Acho que vou indo dormir, . — Ela diz enquanto se levanta sem ao menos bloquear a tela do celular que permanece acesa.
— Boa noite, Jenna.
Agora que a minha agente foi embora, estou sozinha. Pego meu celular porque não há muito o que fazer aqui. Decido dar uma olhada no Instagram da CBS Sports quando aparece uma notificação no topo da tela, é uma mensagem de .
: onde vc tá?
Eu: na hidro
Decido responder, pois as falanges dos meus dedos estão coçando de curiosidade. Passa das nove da noite, o que será que ele quer? Eu mergulho até que a água passe o topo da minha cabeça e minutos depois de emergir consigo ver a sua silhueta se aproximando. E cada vez os seus detalhes ficam mais visíveis para mim.
Ele está de camiseta branca e bermuda, e o cabelo está molhado como na hora do almoço. Imagino que ele tome um banho toda vez antes de me ver. Quer dizer, higiene é importante, não é? Eu mesma tomaria um banho a cada cinco minutos se ficasse horas embaixo do Sol treinando com uma bola e outras suando dentro de uma academia.
Quando ele se aproxima o suficiente, meus olhos crescem e traçam um rastro invisível por todo o seu corpo. Fala sério, é um dos caras mais bonitos que já vi. Ele tem uma pele muito beijável, e se isso for uma qualidade, é toda dele. Mas ainda quero ganhar essa aposta, o meu orgulho é muito maior do que as minhas vontades reprimidas.
— Por que me disse que estava aqui? — Questionou e eu viro de costas, ainda na água, para poder olhar para ele.
— Foi o que você perguntou, .
— Eu sei, mas você podia ter mentido. — Ele senta no banco que antes estava Jenna, ficando atrás de mim. apoia os antebraços na parede da hidro e o ângulo do corpo dele faz com que todos os músculos do braço esculpido aumentem sedutoramente. — Eu ia te procurar pelo hotel igual um idiota.
— E não iria me achar.
— E provavelmente iria dormir tarde hoje. — Ele afirma balançando a cabeça.
— E perderia o treino amanhã.
— Não. James é meu colega de quarto, ele jamais deixaria isso acontecer. Inclusive, ele deve estar cronometrando o meu tempo, acho que ele só vai dormir quando eu voltar.
— Então vá, não faça o pobre Madders perder o sono.
— Não, ele pode esperar. — apoia o queixo nos braços e eu recuo um pouco, porque agora estamos verdadeiramente próximos. Não consigo parar de encarar os seus olhos, são um bonito marrom escuro que também não saem de cima de mim. — O que você fez hoje?
— Você prefere ficar aqui para saber do meu dia entediante? — Ele assente como se fosse a melhor história que poderia ouvir. — Bem, fiquei a tarde inteira na praia fazendo fotos e enfurnada em carros indo de uma ponta a outra na cidade. Quando cheguei aqui, quase fui escrota com o atendente porque queria um milkshake, mas eles já tinham encerrado esse serviço e eu não estava a fim de sair de novo.
— Foi mais legal que o meu.
— Ah, fala sério! Você está numa concentração para um jogo importante. Eu daria tudo para ter essa vida de volta.
Um suspiro nostálgico sai pela minha boca e lembro da pior época da minha vida. Eu estava na minha melhor fase, acertando uma transferência para o Lyon quando essa merda de lesão estragou tudo. Eu estava tão animada, a mudança de clube ia alavancar tudo, porque como a minha amiga, Lucy Bronze, já disse uma vez, você não pode dizer 'não' ao Lyon. E contra a minha vontade, eu tive que dizer.
percebe que o assunto me deixou chateada e tenta atenuar a situação.
— Ah, merda, sinto muito, . Esqueci que você teve que parar de jogar.
— Tudo bem.
— Ah, mas porra... — parece extremamente inconformado, tanto quanto eu fiquei quando tudo aconteceu. — Eu lembro de você ser muito boa. Não teve mesmo jeito?
— Eu tive fratura dupla na tíbia e fíbula depois de uma entrada atrasada de uma jogadora do Frankfurt em um jogo da Champions. — Explico, me aproximando dele. — Eu até consegui voltar a jogar, mas o meu retorno não foi sustentável. No começo da outra temporada, a minha perna cedeu de novo. Os médicos disseram que era definitivo, eu não ia aguentar o ritmo dos jogos nem dos treinos.
— Sério, que merda.
— É mesmo. — Dou de ombros. — Mas já superei isso, nós temos que aceitar as coisas como são.
— É você está certa, não posso reclamar, mas... — Sua mão desliza no meu rosto e ele sussurra: — Você foi a parte mais legal do meu dia.
— Pare de flertar comigo. — Eu desvio o olhar querendo rir.
— Por quê? — Ele finge me estudar, deliberadamente. — Está funcionando?
— Nenhum pouquinho.
— Então o que eu tenho que fazer para funcionar?
De repente, estou de joelhos na hidro e o meu corpo submerge, fico quase da altura de tentando desvendar o que se passa na cabeça dele. Ele é charmoso e doce ao mesmo tempo que consegue ser ousado e pretensioso sem aquela merda de ser ardiloso.
Eu provoco e dessa vez sou eu quem tem a primeira atitude audaciosa. Me aproximo mais e toco o seu tórax com as minhas mãos molhadas. A água molha cada linha e vai deixando o tecido transparente. Felizmente, com isso, ele entende que também quero que ele me toque.
— Você não iria querer saber.
Consigo sentir a sua respiração no meu rosto e as suas mãos mergulham e as sinto na minha cintura. Os seus dedos esfregam contra a minha pele, um pouco acima do laço da calcinha do meu biquíni.
— Quem está flertando agora?
Eu encaro seus olhos escuros, subo as minhas mãos pelos seus braços fortes até os ombros e, em seguida, até o seu pescoço. Quase pressiono sua nuca com as unhas quando suas mãos sobem para minha cintura e a sua boca se aproxima do meu ouvido:
— O que deu em você?
Ele diz baixo, quase que em um sussurro e, em seguida, deixa um beijo no meu pescoço.
— O que quer dizer?
está distribuindo beijos por toda extensão do meu pescoço e eu quase gaguejo quando ele dá uma mordida leve.
— Não sei, parece que você está sendo anormalmente legal comigo. Já se passaram... — Ele checa a hora no relógio. — Cinco minutos e você ainda não me mandou ir embora.
Puxo seu rosto para ele olhar para mim, e falo com nossas bocas separadas por milímetros:
— Bem, eu te daria um soco na cara agora se você quisesse.
Ele ri surpreso, mas não se afasta. Estou quase mandando essa porra de aposta para o espaço, porque não tenho juízo algum quando ele está perto assim, mas um barulho estridente interrompe o nosso momento. Vem do bolso dele.
— Bem, acabou o nosso tempo.
Ele diz depois de checar o celular e me mostrando uma mensagem de James. Eu me afasto e ele levanta.
— Que pena.
Apoio as mãos no fundo da hidro e dou uma risadinha, observando-o, porque não sou eu que tem uma ereção para esconder. Ele passa as mãos pelos cabelos e acho que está se controlando ao máximo para não ficar aqui.
— Boa noite, . Sonhe comigo. — Ele diz e começa a se afastar, então eu falo de volta.
— Só se eu quiser ter pesadelos, .
Apoio a cabeça no encosto na hidro e olho para o céu estrelado. Não tenho moral nenhuma para rir do seu desespero sexual, porque estou do mesmo jeito.
E se essa nossa brincadeira continuar assim, ele vai me enlouquecer.
Capítulo 4 – Quarto Dia
3 de dezembro de 2022
Hotel The Ritz-Carlton, Doha, Qatar
Três horas é o tempo mínimo que fico dentro daquele estúdio, isso sem contar o tempo de cabelo e maquiagem. Mas eu gosto de tirar fotos, do contrário não teria virado modelo comercial. Pego um Uber para chegar ao hotel, porque o estúdio fica quase do outro lado de Doha. O meu plano é passar no meu quarto e tomar um banho antes de ir com Jenna encontrar os representantes da Nike. Vejo aqui uma grande oportunidade, porque, quem não quer ser patrocinado pela Nike?
Depois que saio do banho olho a paisagem, da varanda. O Ritz-Carlton fica colado no mar e dá acesso a um trecho para uma praia privativa. Se eu pudesse, iria para lá agora mesmo, mas preciso terminar de me arrumar.
Abro a mala e decido por um maiô preto Chanel de uma peça sob jeans namorado de cintura alta. Completo com salto alto da Dior, uma bolsa de couro preto na cintura e penduro um óculos de Sol ao redor meu do pescoço. Estou penteando os cabelos quando meu celular vibra na cama.
Jenna: Desça, . Não podemos nos atrasar.
Começo a me apressar e quando estou quase terminando a maquiagem, ouço batidas e uma voz ecoa do corredor:
— Serviço de quarto.
Eu abro a porta e encaro o funcionário bem-arrumado.
— Não pedi serviço de quarto.
— Foi outro hóspede que enviou para a senhorita.
Franzo a testa, mas pego o pacote. Quando o abro, já no quatro, vejo um copo de 500 mL de milkshake de baunilha junto de uma cartinha. Eu abro o envelope e começo a ler:
Para:
– .
Acho graça do bilhete. A letra dele até que é bonitinha, mas não tenho muito tempo para pensar, porque Jenna já está me ligando de novo. Apenas pego o copo e corro para o elevador. Enfio o canudo ali e vou tomando enquanto o elevador desce até o térreo. Eu amo milkshake, mas não posso tomar muitos porque sou uma viciada em açúcar.
As portas mal se abrem e Jenna já me puxa para fora, em direção à saída.
— Eles vão fazer uma proposta?
Pergunto enquanto caminhamos rápido. Há um carro esperando por nós na calçada quando atravessamos as grandes portas do hotel.
— Conversei com um deles, alguns dias atrás. É provável, estou confiante.
Um sorriso estampa o meu rosto. Tiro o celular da bolsa e abro a câmera frontal. Tiro uma selfie com o canudo na boca e mando para . Ele não demora a responder.
Eu: obrigada pelo milkshake, stalker
: de nada,
estamos trocando fotos agora? 🤔
Reviro os olhos pelo '', mas isso parece dar uma ideia a ele. Segundos depois é a vez de ele me mandar uma selfie, sorrindo, em cima de uma bicicleta ergométrica. Ele está sem camisa e suado. Eu fico um bom tempo analisando seu peito nu. Isso é covardia, muita covardia.
O ar-condicionado do carro está ligado, mas mesmo assim estou quase suando aqui.
Eu: vista uma roupa,
: pq? vc n gosta do meu corpo?
Eu: pelo contrário, já está quente e você está dificultando as coisas aqui
Sério, eu preciso urgentemente tomar juízo e vergonha na cara. É o que a minha mãe vive me dizendo, mas não consigo, porque eu gosto disso. Sou péssima em esconder o que estou pensando tanto pessoalmente, como na internet, mesmo que se trate de . Quando percebo, eu já falei ou digitei, mas meio que já aceitei que sou sim, atirada, e não acho isso um termo pejorativo. Eu gosto de sexo e falo tão sujo quanto um homem, e se eles não são julgados por isso, eu também não vou ser.
Isso é cômico porque eu deveria ficar longe, mas o meu corpo não consegue simplesmente obedecer.
: todo seu , suba a bordo
Ele envia outra foto e dessa vez é uma em pé, no espelho, mostrando todo o seu longínquo e musculoso corpo. Na minha opinião, os atletas têm sim algo especial. Dou risada e olho para Jenna, que conversa algo com o motorista antes de pensar no que falar.
Envio uma foto tentando imitar aquele emoji pensador focando a câmera no meu colo superior, onde o meu body aperta os meus seios. Não estou usando sutiã e se ele tem uma poderosa arma no tórax eu também tenho.
: isso é quase um sim
Eu: talvez...
: a propósito, linda roupa, mas eu preferia te ver assim
Mais uma imagem, mas não é uma foto dele ou qualquer outra roupa. Na verdade, é uma foto em branco.
Eu: mas aí não tem nada
ESPERA
isso foi bom pra caralho
Começo a rir e ele envia uma foto piscando.
: preciso voltar pro treino
mais tarde eu volto pra vc me dar atenção
Eu: que homem carente
Isso é pura provocação. E acredito que até o jogo das quartas, um de nós vai explodir.
Bloqueio o celular e o momento coincide com o carro estacionando. Logo estou andando com Jenna pelo local.
Campo de Golf – Centro de Concentração
Depois do almoço, Southgate arma um treino técnico. Durante uma hora e meia, ficamos trocando passes e dando chutes no campo. Ainda temos um pouco de dificuldade em manter a posse de bola contra as seleções tradicionais mais fortes e como a Espanha é o nosso próximo adversário, isso é um problema. Por isso, depois realizamos uma Transição Defensiva, que são basicamente exercícios para o treinamento da reação pós-perda da bola.
Apesar de as críticas dizerem que Southgate não é uma peça capaz de mudar a dinâmica do time, eu discordo, acredito no nosso técnico. Nosso desempenho na Eurocopa ano passado não foi excepcional, mas melhoramos muito e creio que o nosso nível tático cresceu significativamente.
Não somos mais uma seleção classificada apenas por talentos individuais, mas o trabalho não pode parar.
— Por que quando algo ruim acontece, são vocês três? — Southgate pergunta no final da tarde, quando entramos no vestiário. Ele olha para Trent, Marcus e Jesse, mas apenas Jesse é capaz de se pronunciar:
— Acredite em mim, Southgate, já me pergunto a mesma coisa há alguns anos.
O técnico balança a cabeça para os lados enquanto Trippier está sendo examinado pela equipe médica. Os quatro fizeram uma pequena brincadeira no campo no final do treino que acabou em problemas musculares na coxa para ele.
Todos esperamos que não seja sério, senão Trippier pode dar adeus à Copa, e isso é uma merda porque ninguém aqui quer ser forçado a fazer isso.
Gareth chama a nossa atenção, sua expressão é séria e seu tom de voz é alto. Todos nós o encaramos:
— Agora, quem quiser, se masturba, porque o negócio é ganhar a Copa. Quero foco total. Amanhã vamos decidir como faremos a substituição de Kieran.
Todos concordamos e o técnico nos deixa livre para tomar um banho e voltar ao hotel.
Depois do jantar, nos reunimos em um dos Lounge Bar do hotel que a FA* reservou para a seleção. Normalmente, depois de um dia de treino, ficamos aqui matando o tempo por uma ou duas horas até a hora de dormir, visto que só podemos sair do hotel na folga.
Uma hora depois, fico entediado das conversas e das garrafas de H2O e sou um dos primeiros a decidir ir para o quarto. Eu aviso a James e ele me diz que vai ficar mais um pouco. Sigo meu rumo até o elevador. No cubículo, vou checando algumas coisas no celular. Tento responder algumas mensagens de fãs e torcedores, e reposto um stories que Ben e Eric postaram comigo.
Uma nova atividade nas notificações me chama atenção e abro o Whatsapp.
*Jadon Sancho adicionou todo o time Borussia Dortmund, seleção da Inglaterra e alguns outros para um chat em grupo*
*Jadon nomeou o grupo 'Festa de aniversário surpresa de Jadon'*
*Jadon Sancho saiu do grupo*
Marco Reus: ele está falando sério?
Reiss Nelson: sim, ele tem feito isso todos os anos desde que o conheço
Eu: ele só vai parar quando lhe dermos uma bendita festa
Raheem Sterling: pq ele é assim?
Jude Bellingham: me pergunto quase sempre
Erling Haaland: onde vai ser a festa?
Mats Hummels: vc n pode estar falando sério
Dou risada e bloqueio o telefone quando a porta do elevador abre. Passo o cartão na porta e entro no quarto vazio. Acendo as luzes e começo a me despir, ficando só de cueca, e jogo as roupas na mala antes de subir na cama. James é meu companheiro de quarto e se ele visse as roupas no chão, me acordaria só para arrumá-las ou ele mesmo faria. Ele é o sujeito mais ordeiro do mundo. Além de ele ser extremamente disciplinado em campo, o Madders é um fenômeno da arrumação.
Às vezes eu deixo no chão de sacanagem porque sei que ele vai arrumar e é meio engraçado vê-lo resmungando. Eu juro, não precisamos nem de camareira no quarto, porque ele coloca tudo no lugarzinho certo, deixa tudo limpinho. É um hábito dele, sempre assim.
Pego o celular e abro na conversa com porque não nos falamos o dia todo, quase. Desde o nosso encontro da hidro, tenho andando meio obcecado por ela. Quer dizer, em alguns momentos, é tudo que na minha cabeça de cima e a de baixo conseguem pensar.
Eu: qual é o andar do seu quarto?
Apago as luzes, deixando só o abajur acesso e volto para cama, esperando a sua resposta.
: vc nunca saberá
Eu: poxa o pessoal da recepção não quis me dizer
eles só podem ser belgas 🤔
: fizeram bem então os funcionários da recepção
pra vc ver né, sua cara bonitinha nem sempre consegue tudo o que quer
Eu: mas consegue quase tudo 😜
: convencido
Eu: o que posso fazer? sou charmoso e irresponsável irresistível**
: acredito mais no irresponsável
Eu: 🙄
queria te ver
: instagram.com/_
Eu: engraçadinha 😑
: 🤣
Bloqueio a tela, estou quase no banheiro quando meu celular começa a tocar. O pego de novo. está me ligando pelo FaceTime. Volto para cama e clico no botão verde. Estou surpreso, pois pensei que a nossa conversa acabara ali.
Seu rosto aparece na tela. está sentada à mesa e o celular apoiado em algum lugar, ela não usa as mãos, pois está passando algum produto estranho na cara e o cabelo está jogado para trás por uma tiara de unicórnio. Por algum motivo, acho ela ridiculamente linda desse jeito.
— !
— Sério, , você precisa urgentemente parar de me chamar assim.
— O que você tá fazendo?
— Skincare e você... — Ela me encara, fazendo círculos na bochecha com os dedos. — Está pelado?
Penso em negar de imediato, mas tenho uma ideia melhor. A câmera só mostra até a minha cintura e esconde a barra da boxer, por isso lhe lanço um olhar sedutor.
— Por quê? Você quer ver?
— Quero!
A resposta é completamente o oposto do que eu espero. é direta e isso me excita.
Posso vê-la acenando com as mãos para abaixar mais o telefone. Quem sou eu para decepcionar? Mas quando ela move a própria tela para que eu pudesse espiar as suas pernas, eu mudo de ideia. usa uma camisa cinza da Nike três vezes maior do que ela. E bem, é a única peça de roupa que consigo enxergar.
— Não, não acho isso muito justo. — Eu pondero olhando para a blusa dela. — Você está tentando se aproveitar do meu corpo nu. Sério, estou me sentindo um manequim despido na "Vitrine da ". Pare de me secar, .
da risada, mas não tira os olhos de mim.
— Você aparece assim na minha câmera e não quer que eu seque? — Ela encolhe os ombros, com esse rostinho inocente que de puro não tem nada. Não acho isso ruim. É a coisa mais natural do mundo. Somos humanos e temos essa necessidade avassaladora, não importa se você é homem ou mulher, ficar negando isso só adia o inevitável. — Eu colocaria esse seu corpinho para ficar o dia todo de pé, exatamente desse jeito, atrairia muitos clientes, com certeza.
me quer. Eu tenho certeza disso. Eu vejo isso nos olhos dela e em toda sua forma de agir.
É diferente do primeiro dia, mas sei que ela não vai dizer isso com essas exatas palavras. Não agora. Ainda não é o momento. Não podemos tirar toda a emoção da nossa aposta. E é isso que me deixa cada vez mais instigado em querer conhecê-la melhor. Parece que mil placas invisíveis nos avisam que essa nossa aproximação não é a melhor coisa a se fazer, mas eu simplesmente ignoro. Não gosto de ficar pensando no futuro, foco no que aqui e no agora. E se está me dando abertura, por que não aproveitar?
— Mas você está certo. — Ela continua. — É muito injusto mesmo, só me dê um minuto.
Balanço a cabeça confirmando, ela sai e a câmera fica apontada para a cama vazia. Olho a conversa do grupo da seleção pelas notificações. Estão conversando banalidades, já o grupo da "festa" de Jadon virou uma discussão cômica a respeito do nosso querido amigo que prefiro nem olhar.
— Voltei. — aparece na câmera de novo. Agora ela está sentada na cama ao invés da cadeira e seca aquele rostinho lindo com uma toalha. — Onde estávamos?
— Você estava dizendo como era injusto...
— Ah, claro. — Nem termino a frase e ela me interrompe. leva as mãos a barra e arranca a camiseta por cima da cabeça, revelando um belo par de peitos em um sutiã vermelho e um short jeans minúsculo em baixo. Eu fico um tempo encarando seus seios. Cara, que peitos. Aposto que dariam um encaixe perfeito na minha mão. — Melhorou?
— Nossa, demais.
Respondo, ainda estático, porque não consigo parar de olhar para eles. O meu pau pulsa na cueca e sinto uma semiereção chegando, e o pensamento da minha boca chupando os peitos de não ajuda em nada.
— Ótimo. Eu estava falando sério sobre você. Já pensou em ser modelo? — Ela pergunta normalmente, como se não estivesse eletrizando as minhas bolas. Quando ela tira a tiara da cabeça e o cabelo cai no seu rosto, é o meu fim. — , você faria sucesso nas passarelas ou nas despedidas de solteiras como um gogoboy gostoso.
Ela pisca e morde o lábio inferior. Eu estanco uma risada. Um lado do meu cérebro diz: Filha da mãe gostosa do caralho. Pare de me seduzir. Já o outro: Não, . Não pare.
E não sei o que fazer.
— Claro que faria, mas não sei se eu ia curtir a atenção.
— Mentiroso, você ia amar se exibir e ter as mulheres caindo aos montes em cima de você. Quer dizer, elas já caem, né?
Ela levanta as sobrancelhas brevemente e quase tenho uma crise de riso, há um quê de verdade aqui.
— Eu só ia gostar se fosse você. — Pisco e ela me dá aquele sorriso tímido que eu adoro. — Você parece lidar bem com isso.
— Mais ou menos. Quer dizer é o meu trabalho, eu gosto, mas trabalhar nessa área é ter força de vontade para ignorar muita coisa. As pessoas vão sempre caçar um motivo para falar do seu corpo e se você der muita bola, fica cada vez mais complicado. — Ela faz uma pausa para tirar o cabelo dos olhos. — Por exemplo, algumas coisas que já ouvi me fazem não gostar da minha bunda.
— Sua bunda é bonita, você é toda bonita, bonita demais, mas seus peitos são internacionais.
Decido fazer um adendo importante que a faz rir. Gosto de vê-la sorrindo e não pensando nessas merdas que destroem sua autoconfiança. Acho muito segura, mas todos nós temos inseguranças.
— Você nem os viu.
— Você resolveria esse problema facilmente se tirasse o sutiã.
— Certo, vamos jogar. — Franzo a testa, profundamente interessado na sua proposta. Ela com certeza, sabe como me atiçar. — Se você ganhar, eu tiro o resto da roupa.
— Fechado. — Eu assobio sem pensar muito. Quem seria o doido de recusar? — Qual o jogo?
— Você está duro? — A sua voz sedutora murmura e eu olho para baixo. Meu pau parece uma barra de ferro tentando arrebentar o tecido.
— Que tipo de pergunta é essa?
Ela começa a rir e levanta para pegar o celular.
— Vou considerar isso sim. — anda com ele até a cama e deita ali. Seu rosto e parte do tórax continuam bem visíveis para mim. — Bata uma punheta para mim, eu vou bater uma para você. Se eu gozar primeiro, você ganha e vice-versa.
Eu pisco meio deslumbrado, mas lhe lanço um sorriso devasso.
— Você parece ser tão inocente. É difícil de acreditar que pode ser tão deliciosamente perversa.
— Apague essa versão de mim que você tem na mente. Ela expirou há muito tempo. Novas regras agora. — Ela pisca. — Vamos começar e nada de trapaça, hein? Eu sei ler expressões. Se você parar eu vou saber, .
— Você também!
— Eu sou muito honesta!
Abaixo a boxer para expor meu pau latejante. Já estava pré-gozando. Eu imediatamente o agarro e começo a acariciá-lo, lentamente, é quase um alívio.
— Mesmo?
— Uhum.
Ela diz e é quase como um gemido. fecha os olhos, mas só dura alguns segundos. Posso ver o outro braço dela se movendo e imagino como ela deve estar se tocando. Se ela apenas abaixou um pouco os shorts como eu fiz ou se tirou tudo até os tornozelos. Droga, isso só me deixa mais excitado. Eu daria tudo para ver isso, mas tenho que me contentar com o seu rosto de anjo perverso.
— Que merda, não faz essa cara.
Eu xingo, tentando ir mais devagar, controlando a minha respiração descompassada.
— Que cara? — Ela ri inocentemente, abafando outro gemido com os dentes. — Sabe o que é uma merda? Esqueci meu vibrador em casa, então estou tendo que usar os dedos, enfiando-os bem fundo.
É oficial, estou preso no feitiço dessa mulher e as suas palavras só fazem meu pau implorar para que eu acelere os meus movimentos. Fecho os olhos, firmes, e sei que com isso ela está sorrindo vitoriosa.
Merda. Merda. Merda. Eu odeio perder.
Decido me recompor. Qual é, eu não sou mais a porra de um adolescente. Estou me sentindo bem, mas tentando ir um pouco devagar para assistir o quanto eu puder.
— E quem você está imaginando aí com você, ? Nesse exato momento? — Ela geme e o meu pau incha de excitação na minha mão. Continuo um movimento longo e constante enquanto falo. — Apertando os seus peitos, brincando com os seus cabelos, beijando o seu pescoço, te ajudando com essa tarefa?
— Droga. Eu queria ter outra mão. — Resmunga, comprimindo os seios com os ombros. Vejo nos olhos de a imensa necessidade de tocá-los, mas nessa posição ela precisa segurar o celular e parar não é permitido no nosso jogo. Decido continuar a provocar no nosso louco jogo quente.
— Responda à minha pergunta. — Exijo.
Eu estou mexendo com ela e talvez ela ceda primeiro.
— Hm. Não... Consigo... Falar... Agora.
Estou tentando urgentemente controlar meu orgasmo, mas não há chance disso pelo jeito que eu estou observando, vendo ela se foder. Seus olhos estão fixos nos meus para me encorajar a gozar. Para gozar para ela. não para de se contorcer e de soltar gemidos baixinhos.
— Me diga, , quem.
Pressiono e a frase sai quase como uma ordem. Jogo a cabeça para trás e solto um gemido sôfrego quando olha profundamente nos meus olhos ao invés de responder. Acho que ela gostou disso. Observo o seu peito subir e descer incontrolavelmente, respirando com dificuldade, e acho que ela está incapaz de formar alguma frase.
— Você.
Ela diz baixo, quase não consigo ouvir e acho que finalmente cede, a câmera muda de foco total, mas ainda sou capaz de escutar seus gritos e o gemido intenso e prazeroso do seu orgasmo. Isso me dá adrenalina porque finalmente posso parar de segurar o meu. Começo a punhetar meu pau tão rápido e forte que meus joelhos dobram um pouco enquanto eu apenas inclino a cabeça para trás. Meu corpo inteiro se contraí por pelo menos dois minutos e logo em seguida uma onda de espasmos atinge toda a minha musculatura. Agora estou sujo, mas plenamente satisfeito.
Vou até o banheiro me limpar rapidamente e quando volto, a câmera de ainda está sem foco, mas ela ainda está ali, pois consigo escutar a sua respiração ofegante. Ela posiciona o celular e consigo ver o seu rosto. Dou um sorriso quando ela me vê.
— Ganhei. — Anuncio. Seus cabelos estão amassados no travesseiro e a sua boca está entreaberta. Lembro da última palavra que ela disse e quase fico duro de novo.
— Isso foi divertido. — Ela de repente fica sentada e o celular passa a focar somente no seu rosto, mas logo percebo a acrobacia que está fazendo para alcançar o feixe do seu sutiã nas costas e se livrar das peças de baixo com apenas uma mão. As alças do seu sutiã escorregam e não há mais nada ali, mas a sua clavícula nua é o máximo que posso ver. — Acho que vou dormir agora.
Ela boceja e coça um dos olhos.
— Ei, espera aí! — Eu protesto me sentindo um advogado em um júri e ela levanta os olhos para mim.
— Eu disse que ia tirar. Não disse que ia te mostrar.
solta umas risadinhas irritantes e eu bufo, porque a maldita tem razão. Balanço a cabeça para os lados, a encarando. Até quando eu ganho, eu perco.
— Você é má, . Muito má.
— Boa noite, .
Ela encerra a chama e eu percebo que é a hora de dormir quando, instantes depois, James aparece no quarto.
A gente pode continuar a nossa brincadeira uma outra hora.
*: The Football Association, é a entidade que controla o futebol na Inglaterra.
Capítulo 5 – Sétimo Dia
6 de dezembro de 2022
Estádio Education City, Doha, Qatar
Copa Do Mundo - Quartas de final
Espanha x Inglaterra
Em dia de jogos gosto de estar no estádio no mínimo duas horas antes do início da partida, para chegar tranquila e sentar no meu lugar com calma. Sem falar que é muito mais fácil ir até a barreira de vidro para tirar fotos sem ter que ficar pedindo licença para não pisar no pé das pessoas.
Faltando uma hora, já é quase impossível sair do meu lugar, o local está praticamente lotado. Tentei convencer Jenna a vir comigo, mas, mais uma vez, estou sozinha. O meu celular tem sido a minha distração, olho para o campo e penso em e quando vejo, já abri o contato dele e enviei uma mensagem.
Eu: boa sorte,
Encaro a tela e... Misericórdia, o que estou fazendo? Desde quando gosto da seleção Inglesa? Eles são uns cretinos que nos eliminaram em Al Janoub. Além disso, estou sentindo falta da porra do meu orgulho competitivo na nossa aposta. Não quero que ele ganhe. Ou quero, mas não posso deixar isso tão explícito assim. Na verdade, não sei mais de nada só estou deixando as coisas acontecerem, por isso decidi completar:
Eu: vc vai precisar muito!
As duas mensagens chegam, mas ele não responde e acredito que nem vá. Nos últimos dois dias não chegamos a nos ver pessoalmente, o contrato com a Nike me deixou ocupada e tinha treino o dia todo basicamente e dormia, mas não posso ignorar nossa aproximação, mesmo que virtualmente. Quando tínhamos alguns minutos, estávamos nos falando. Às vezes ele me ligava do nada só para encher o saco ou perguntar se eu queria almoçar com ele, mas os nossos horários não batiam. Fiquei numa luta interna entre querer muito encontrar com ele e achar melhor não.
Estou usando a câmera frontal do celular como espelho para retocar o meu batom vermelho, quando uma notificação de mensagem brota no topo da tela.
Ashley: faz mais de 5 dias q vc n me manda mensagem 😠
sua PUTA
quem é o macho? pode falando
Eu: o macho se chama trabalho, Ash
É o que respondo a uma das minhas melhores amigas quando chego no estádio. Ela me manda mensagem logo após ver as fotos que postei no estádio. Eu e Ashley Lawrence somos amigas de longa data, desde quando jogava com ela no PSG. A maioria das minhas amigas são todas jogadoras e esse é o motivo de eu estar no Qatar sozinha. O calendário do futebol feminino simplesmente não parou por causa da Copa.
Ashley: trabalho, sei
Eu: vcs ganharam ontem?
Ashley: ganhamos!!! Echouafni mudou completamente o esquema tático, mas está funcionando
Sébastien está nos matando com o preparo físico, mas tá valendo a pena
Eu: aí que sdds do Sébastien
Digito lembrando do nosso Fitness Coach. Sébastien era rígido, mas vivia de gracinhas. Nós nunca tivemos o que reclamar dele.
Ashley: ele sempre fala de vc quando pode
Eu: tenho que tirar um dia pra visitar vcs em paris
Ashley: sim vc tem
posso te ligar? estou com preguiça de digitar 😪
Eu: estou no estádio agr
a propósito fechei outra parceria
Ashley: com quem? a Nike?
Eu: sim! há dois dias fiz uma publi e eles gostaram, assinei no mesmo dia
Ashley: vc já contou pra Jordyn? ela já teria te arrastado pra mil baladas diferentes pra comemorar
Dou risada, sentindo falta das minhas amigas e de jogar com elas. Imagino como seria se as duas estivessem aqui e acompanhando de perto a loucura que essa viagem está sendo para mim. O que gosto em Ashley e Jordyn é que elas são o completo oposto uma da outra. Na minha situação com , Ashley diria para eu pensar melhor, já Jordyn me jogaria em cima do colo dele sem pensar duas vezes.
Não sei se quero falar de para Ash, ela com certeza vai fazer disso uma grande coisa. Mas a minha amiga é mais dramática que os filmes de Frank Darabont e se ela souber depois por outra pessoa, vai ficar chateada.
Por falar no diabo, o vejo entrando no campo junto com o resto da seleção para o aquecimento. Estou na arquibancada inferior, bem perto do campo, logo, não é muito difícil de ver. parece tranquilo, mas acredito que deva estar uma pilha de nervos. Ele usa uma daquelas camisas de treino da seleção, e tenho que admitir: são magníficas e caem bem no corpo dele. É um tesão apenas observá-lo.
Olho no relógio e faltam 30 minutos para o início da partida.
Eu: ainda n, nem aí ter tempo pra isso, as coisas estão corridas por aqui
Ashley: ah pelo amor de deus , isso é quase umas férias
n venha me dizer que vc está no qatar há uma semana e só vem pensando em trabalho
Olho para o abençoado novamente no campo. Ele está sorrindo, trocando passes com Declan Rice e algumas outras atividades da preparação e decidi abrir o jogo com Ash.
Eu: bem, às vezes eu almoço com ...
Almoço. Faço apostas. Troco videochamadas indecentes...
Eu penso seriamente em completar a mensagem com essas coisas, mas definitivamente Ash não precisa saber do resto agora.
Ashley: espere aí
que ?
não me diga que é o
Eu: então...
Ashley: porra vcs tao se comendo e vc n me conta nada??? sabe?
Eu: O QUE
n, n estamos nos comendo
e o n sabe de nada nem tem pq ele saber
Ashley: vc acha q eu vou acreditar nessa lorota ?
tem boba aqui?
Eu: é sério, Ash, n rolou nada
a gente se provoca às vezes, faz umas brincadeiras e tal
Ashley: vc é maluca
sério tanto gostoso nessa porra de cidade e vc vai atrás do pau q mais pode te dar problema
inferno menina pq vc sempre quer o mais difícil
Eu: EIIIIII
eu n fui atrás dele coisa nenhuma
n é como se eu estivesse caçando problema, as coisas simplesmente aconteceram
e... eu poderia dizer que o pau dele vale a pena, mas eu ainda n vi ☹️
Ashley: queria te bater mt agora
fodasse vou contar tudo para Jordyn
Puta merda. Não vejo problema nenhum de Ashley contar as coisas para Jordyn, quer dizer, eu mesma contaria, somos amigas, mas Jordyn tem um namorado fofoqueiro, Steban, que curiosamente é um dos melhores amigos do meu irmão. Eu confio nas minhas amigas, mas não tem pessoa mais distraída que Jordyn e ela sempre acaba soltando as coisas sem querer. O que posso fazer agora é torcer para que o pior não aconteça. Eu não estou com saco nem com cabeça para essa bomba explodir agora.
Eu: vê se fala pra ela n abrir esse bocão pro Steban pq o n pode nem sonhar q isso tá acontecendo
Ashley: trate de nos atualizar senhorita
Eu: pode deixar
Minutos depois, os jogadores estão formando aquela fileira para cantar o hino. Logo depois, a sequência de sorteio e escolha do campo é rápida e o pontapé de saída é da Espanha. Koke, Rodri, e José Gayà trocam passes na linha de meio-campo por alguns minutos até tentarem uma investida pela lateral direita com Pedro Porro, que é barrada por Kyle Walker e a bola vai para fora. Eu grito junto com a torcida espanhola, reivindicando a posse da bola.
É arremesso lateral para os espanhóis.
Marcos Llorente arremessa para Rodri, que toca, e Pedro González recebe a bola na intermediária. Ele tenta um lançamento em profundidade para Álvaro Morata, que penetra na pequena área para o desespero da torcida inglesa. Estou gritando a plenos pulmões quando Harry Maguire se atrapalha ao tentar cortar o passe e o ponteiro espanhol livre, ele desvia a bola na direção do gol que só não entra pela ação rápida do goleiro Dean Henderson.
Um certo tipo de alívio cai em cima de quase metade do estádio. Seria péssimo um gol contra logo no início do jogo. Já eu fico superanimada, esse jogo vai ser bom. Eu como toda boa amante de futebol gosto de emoção, isso claro, quando não é um dos meus times jogando. Quando você é só uma mera espectadora você torce por um verdadeiro show em campo.
A bola é dos ingleses.
Henderson chuta para Declan, ele toca para Reece James que domina o ponta esquerda espanhol, Mikel Oyarzabal, no seu flanco e lança para a área. Entra Foden, que toca ligeiramente de cabeça e completa o lance golpeando no canto esquerdo. Iñigo Martínez ainda chega a tocar na bola, mas não consegue evitar o gol da Inglaterra.
Grande parte do estádio vibra, torcedores ingleses, com rostos pintados e todo tipo de apetrecho com as cores da Inglaterra, estão descontrolados. Eu olho para isso desacreditada, mas um sorriso brota no meu rosto. Estou seguindo com os olhos, ele para de frente para a câmera do canto esquerdo do gol sorrindo e o meu queixo vai no chão quando ele forma um "" com os dedos e depois beija a inicial do meu nome antes dos seus companheiros de time pularem em cima dele para abraçá-lo.
Ainda estou abnegando essa informação, quer dizer, isso foi mesmo para mim?
Claro que foi, né, sua ridícula.
A voz irritante surge no fundo do meu cérebro e acho que ela tem razão, o que mais esse "" poderia significar? É para mim ou ele é um cachorro safado comprometido tentando se divertir comigo. A primeira opção parece ser mais agradável.
Balanço a cabeça para os lados para esquecer isso enquanto o árbitro reinicia a partida. Não, não pode ser, estou delirando. Isso é o meu cérebro tentando me pregar peças, mas comprometido ou não, é um cretino safado, esse foi o brilhante jeito que ele encontrou para me dizer que ganhou a nossa aposta.
Ele é criativo, tenho que dar isso a ele.
Olho no relógio e vejo que tudo isso aconteceu nos primeiros dez minutos de partida. Não posso culpá-lo por cantar vitória antes da hora. Eu também cantaria.
Estádio Education City, Doha, Qatar
— Eu vou chutar a bunda de cada um de vocês! Me soltem. — Diz Foden sendo segurado na cadeira por Marcus e Jadon, o último tendo na mão uma maquininha de barbear ligada.
— O que está acontecendo aqui? — Andy Anson, presidente da comissão técnica, aparece e juro que é a primeira vez na vida que vejo esse cara sorrindo.
Estamos no vestiário nos arrumando para voltar para o hotel, ainda contagiados com a classificação para a semifinal.
— Doutor, é uma aposta. — Diz Eric abrindo e fechando uma tesoura. Andy olha para Foden com pena, mas sem deixar o bom humor de lado.
— Não, não façam isso.
— Ele concordou! — Fala Sancho.
— Eu não concordei com essa merda coisa nenhuma! — Phil consegue se soltar e foge das lâminas enquanto os outros três vão atrás dele.
O vestiário está uma loucura, os quatro patetas correm de um lado para o outro. Maguire, Kane e Winks estão fazendo um compilado de vídeos e é uma overdose de Harrys. Jesse puxa um coro e tudo o que o resto de nós quer fazer é cantar Three Lions* a plenos pulmões.
Foi um jogo emocionante. Com o meu gol, saímos na frente, mas a Espanha emplacou dois gols em sequência e viraram. No segundo tempo reassumimos o controle da partida e Dominic, Sterling e Jadon marcaram juntos mais três gols. Foi um 4-2 alucinante. Southgate ficou orgulhoso e nos deu parabéns pelo bom resultado, mas sem perder a dureza de sempre. No mesmo horário, a França ganhou do Brasil, então já sabemos qual será o nosso próximo adversário. Vai ser o jogo mais difícil até aqui, mas por enquanto o clima é de comemoração. É apenas a quarta vez que chegamos nas semifinais do mundial, mas o objetivo é ir até o fim.
O caminho para o ônibus é uma curta caminhada. Vou checando o Instagram e respondendo as mensagens dos meus pais falando para encontrar com eles no hotel e comento a foto que a minha irmã postou.
jazbenham meu irmão vai pra semifinal🏴❤️🏴
10 obrigado sis, te amo
Abro a conversa de e visualizo novamente as duas mensagens que me enviou antes do jogo. Depois da minha família, é a pessoa com quem eu mais quero falar, mas quero fazer isso pessoalmente. Eu nem pensei muito depois do gol, mas queria fazer a comemoração para ela, acredito que ela viu, de qualquer parte do estádio que estivesse.
Eu venci a nossa aposta, mas não posso ignorar que isso se tornou muito maior do que o nosso simples acordo. Gosto da companhia dela e não quero que isso mude.
— Chame ela para o Lounge hoje à noite. — Ben aparece ao meu lado de repente. Com certeza ele viu a tela do meu celular antes de eu bloquear. Subo os degraus do ônibus e ele vem logo atrás de mim. — E cobre o seu prêmio.
— Não é só isso. — Respondo sentando no banco da janela e ele ao meu lado.
— Tá gostando dela?
— Não... Não sei.
Ben dá uma risadinha.
— Só mande logo a mensagem.
Aos poucos o ônibus vai ficando cheio e só pego o celular quando partimos.
Eu: lounge bar hj 19h
vou deixar seu nome na lista
Há uma pequena comemoração no Lounge, mas nada de bagunça, estamos guardando isso para quando vencermos a final. Toda a equipe técnica, a gestão, o departamento médico, os observadores, o conselho de administração, até mesmo o presidente honorário da FA, o príncipe William, estão aqui. Trocamos algumas boas palavras e ele me parabenizou pelo gol.
Estou acompanhando Michelle Farrer, nossa coordenadora técnica, num drink quando olho a hora no celular. Passa das 20h e ainda não desceu. Na verdade, ela sequer me respondeu. Não sei se aconteceu alguma coisa ou ela só se cansou de mim, mas não faz do tipo que foge. Ela fala as coisas na cara se precisar.
— Ei, , sinuca? — James pergunta. Aceno e ele me entrega o taco. — Certo, agora precisamos de uma dupla para o Dier.
— Tem uma vaga? Estou disponível. — A voz de surge atrás de nós. De um segundo para o outro fico animado, porque achei que ela não viria. Eu olho para trás e a vejo em um minivestido justo preto, botinhas com cordões e uma jaqueta jeans de lavagem escura com franjas extragrandes. Sua marca registrada está ali: lábios vermelhos feito rubi e segura um taco o apoiando no chão e marcando uma das suas coxas.
— Claro! — Dier responde por mim e por James. No momento, sou quase incapaz de me mover. Ou falar. Ou respirar. — Sempre há uma vaga, principalmente pra você, .
— Muito obrigada, Eric.
— Vamos acabar com esses filhos da puta. — Eles batem o taco.
— Não deixe ele te enganar. — Fala James arrumando o triângulo das bolas enquanto eu escrevo nossos nomes na pequena lousa pendurada na parede. — Dier é uma péssima dupla de sinuca.
— Não sou nada!
— Sim, você é. — Sou obrigado a concordar.
Eric dá a primeira tacada na bola branca para dispersar as bolas. Na segunda, ele não encaçapa nenhuma e é a vez de James.
— Eu avisei! — Diz ele se preparando para jogar. Nós quatro nos movemos ao redor da mesa e fico de frente para . Ela me olha curiosa da mesma forma que estou olhando para ela. Madders encaçapa a bola 2 nos dando a nossa sequência e é a vez de .
— Se a França for igual ao Eric na sinuca, esse jogo é nosso! — Digo anotando cinco pontos para mim e para James.
— Eu não contaria com isso. — se inclina na mesa e a sua tacada é certeira na 9, marcando os dois pontos que Eric não fez.
— O que você acha da França, ? — James pergunta.
— Não pergunte a ela, não está do nosso lado. — Eu acuso e ela ri, caminhando sedutoramente na minha direção arrastando o taco.
— Vocês querem saber o que eu acho da atual campeã? — Ela diz de frente para mim, mas logo me dá as costas para se posicionar de frente para a mesa para sua segunda tacada. Sua maldita bunda se curva na minha e percebo aqui a sua tentativa de me provocar. — Todo mundo espera que os Bleus** consigam repetir a trajetória nessa Copa, mas o último país que conseguiu segurar o título foi o Brasil, em 1962.
estala os lábios, acerta a bola 13 e sou obrigado a anotar 6 pontos no quadro.
— Está vendo... — Eric fala animado e eu interrompo.
— Espere, ela ainda não acabou.
olha para mim por cima do ombro com um sorriso namorador, prestes a pisar em cima das nossas esperanças com os saltos das suas botinhas de cordões.
— Exatamente, a França tem tudo: juventude, experiência, maturidade, talento, resistência, intensidade, inteligência, espírito de equipe... Não estou dizendo que vocês não têm alguma dessas coisas, mas vai ser uma briga de gigantes boa de ver.
— E os problemas? — Pergunto passando por ela e procurando a minha sequência de bolas na mesa.
— Comodismo. Arrogância. — dá de ombros e eu jogo a minha vez. — Fáceis de resolver.
O jogo segue por mais algumas rodadas enquanto eu seguro a minha vontade de arrastá-la para algum lugar onde possamos ficar sozinhos. Quero ter sua atenção só para mim e descobrir se a sua pele é tão macia quanto aparenta.
— Pausa para um drink. — Ela anuncia se dirigindo ao bar.
— errou a pontuação! — Ouço Eric reclamar, mas só consigo olhar para se inclinando na mesa, pedindo um drink vermelho.
— Não errou nada! — Me defende James.
— Errou sim. Vocês estavam perdendo, como do nada estão dois pontos na frente? Ladrões de merda.
— Cale a boca, Dier.
Cometo o erro de prestar atenção neles porque quando eu olho para o bar de novo não está mais lá. Procuro com os olhos por todos os lugares até ver a porta fechando e um vento passar por ali. Encosto o taco na parede e começo a andar naquela direção com Eric e James abandonando sua pequena discussão para nos xingar por termos abandonado o jogo.
Chego ao corredor, olho para os dois lados, mas ele está vazio.
— Parabéns pela vitória, stalker.
murmura atrás de mim, com as mãos nos meus ombros dando um aperto leve. Isso me faz lembrar de como ela passou as mãos por mim naquele dia na hidro e chego à conclusão de que gosto muito dos toques dela. Eu me viro, ficando de frente para ela. Os seus saltos nos deixam quase na mesma altura.
— Você duvidou. — Minhas mãos estão formigando para tocá-la, então a seguro pela cintura e a guio até a parede. — Perdedora.
— Não sabia que você era do tipo desses que humilham.
— Desculpe, não consigo evitar. — Entre o meu corpo e a parede só existe ela. Eu posso sentir a nossa aproximação conforme suas pernas encaixam nas minhas e a sua respiração fica mais quente. — Para quem estava confiante, você parece estar bem conformada.
— Não ligo de perder, , eu gosto de competir. — Ela dá de ombros.
— Então vai cumprir a aposta? — Eu olho para a boca acobreada dela querendo borrar qualquer pigmento da cor. Brinco com uma mecha do seu cabelo, contendo a vontade de segurar o seu pescoço, mas me contenho, pois as mãos de permanecem junto ao corpo dela.
— Foi o combinado.
— Você não precisa me beijar se você não quiser. — Digo apoiando uma mão na parede, ao lado da sua cabeça. — Apenas admita que a Inglaterra é melhor e que você estava errada.
— Isso vai massagear o seu ego?
— Muito.
— Então, não. Eu não aceito isso, não sou pipoqueira e... — Ela olha para os lados como para se certificar de que não há ninguém e depois volta para mim. — Eu quero te beijar.
Meus olhos se acendem. É uma informação nova. Eu meio que já sei disso, mas é a primeira vez que ela fala com palavras tão diretas.
— O problema é... — Ela diz enquanto se inclina, trazendo a boca para perto do meu ouvido e me abraçando pelos ombros. Uma onda energizada passa por todo meu corpo, pois sinto o toque dela em cada músculo nervoso. — Se eu te beijar agora, não sei se vou ser capaz de parar.
roça os lábios no meu lóbulo e o estado de sua mente fica mais claro quando ela planta um beijo suave, mas firme, no meu pescoço, e isso começa a inflamar os hormônios dentro do meu corpo.
— Então não pare.
Meus lábios encontraram os dela, sua língua perfurando minha boca quase que instantaneamente. Ela me puxa para mais perto dela e me abraça com firmeza e mais força do que antes. Aperto o abraço na sua cintura e pressiono mais o seu corpo contra a parede, não deixando nem mesmo o ar ficar entre nós dois. Esse beijo é uma explosão das nossas vontades reprimidas dos últimos sete dias e não consigo parar de beijá-la.
O que era para ser um beijo de dez segundos, acaba virando uma sessão de amasso de cinco minutos. Minhas mãos se movem e quando toco a lateral do seu quadril, percebo que ela não tem nada por baixo do vestido. Porra, essa mulher vai me enlouquecer. Deslizo pela barra do seu vestido e agarro a sua coxa, ergue um pouco a perna e só a imagem de erguê-la e ela se encaixando em mim é o suficiente para me deixar duro. Mas ela arranca os lábios dos meus antes que eu possa dar vida à cena.
— Nós não vamos fazer isso aqui, de jeito nenhum. — se afasta e eu gemo frustrado. Pego na sua mão antes que ela fuja completamente de mim e vamos andando até o elevador.
— Isso não te excita? Ser pega?
— Sim, mas não aqui, onde um monte de famílias, repletas de crianças, estão circulando.
— Você tem um bom ponto.
Acho que eu não poderia viver sabendo que traumatizei os filhos de alguns dos meus colegas.
Quando entramos, o elevador estava vazio. digita o número dez no painel e as portas se fecham.
— Décimo andar. Vou guardar a informação.
— Ah pronto, vou ter que pedir para me trocarem de quarto depois.
Dou risada. Encosto no espelho e a puxo para abraçá-la por trás, encaixando minha cabeça na curva do seu pescoço.
— Porra, pare de fingir que não gosta de mim. — Lhe dou um beijo na bochecha.
— Nunca! — Ela ri.
Quando desbloqueia a porta do quarto com o cartão, dá acesso a uma pequena sala. entra primeiro, mas eu passo por ela quando ela se vira para trancar a fechadura. É uma suíte individual, apesar de grande. acende somente as luminárias amarelas embutidas no teto, então não fica muito escuro nem muito claro.
— À vontade? — Pergunta enquanto eu me aconchego no sofá.
— Muito. — Abro as pernas e apoio os braços no encosto do sofá, assistindo-a se aproximar e apoiar uma mão na parede ao lado da TV para tirar as botas e aproveito para me livrar dos meus tênis. — Mas mais ainda se você viesse aqui para o meu colo.
entorta a cabeça e solta uma risadinha. No minuto seguinte, tenho ela sentada na minha perna direita com os braços ao redor do meu pescoço. Estamos nos beijando novamente enquanto eu passeio minhas mãos pelas suas coxas nuas. Dou um aperto considerável na sua bunda e ela geme na minha boca. tem um gosto fabuloso, sua boca é gentil e encantadora ao mesmo tempo que faminta, feroz. O beijo vibra dentro de mim e ela invade o interior da minha blusa com as mãos. As sinto por toda a minha extensão, marcando bem as formas do meu abdômen. Elas estão frias, mas é um contato bom.
— Por que você é tão gelada?
— Sou uma mulher de extremidades frias, , mas muito quente por dentro. — Ela diz a última frase bem perto do meu ouvido e dou um sorriso sacana. — Tire a prova.
Desafia e eu escorrego uma mão da sua bunda para o interior das suas coxas. Conforme subo meus dedos, vou sentindo a sua umidade. Lembrar que ela está sem calcinha faz meu pau pulsar contra o tecido da calça. Deslizo um dedo para dentro de e ela geme no meu ouvido enquanto move meu dedo para dentro e para fora dela. A beijo de novo enquanto a masturbo. Quero lamber tudo, seus lábios, sua língua, sua mandíbula, seu pescoço, com a minha mão pressionando contra seu clitóris e enfio outro dedo.
— Não pare nunca, pelo amor de Deus! — Ela pede e continuo.
, me provocando, passa a mão sobre a minha calça, sentindo o meu pau duro, me olha com um sorriso safado, lambe e morde o meu pescoço. Nesse momento, estou quase tão louco quanto ela. Nós dois ofegamos quando ela desfalece na minha mão, atingindo o seu orgasmo. Um maravilhoso som sai da sua boca e ela tinha razão. É bem quente por dentro, quero sentir isso de novo, só que dessa vez com o meu pau.
— Puta que pariu, eu preciso estar dentro de você.
acaricia o meu pau por cima do jeans e ele responde ao toque dela. — Foda-me, .
Ela fala sensualmente, mas não posso evitar soltar um risinho que de alguma forma desencadeia uma ira dentro dela.
— Do que você está rindo, idiota?
— É apenas engraçado como fomos de "Vá se foder, " para "Foda-me, ". — Ela cala a minha boca com um beijo nada calmo e morde o meu lábio inferior, tão forte que sinto o gosto de sangue. Estranhamente, isso me excita mais. — Porra, gata.
— Mais uma gracinha eu chuto a sua bunda para fora desse quarto. E a sua mão vai ter que te satisfazer hoje.
— Que agressividade, , espere pelo menos a gente chegar na cama.
Sem aviso prévio, eu levanto e a pego no colo, dá um gritinho de surpresa e abraça a minha cintura com as pernas. No caminho do pequeno corredor até o quarto ela se livra da minha camiseta e da jaqueta dela.
Sento na cama com ela em cima de mim e trocamos um beijo lento antes de ela ficar de pé e me encarar.
— Sua calça me incomoda. Tire-a.
Eu obedeço quase de imediato porque o incômodo é o mesmo em mim e quando já estou de cueca joga uma pacote de camisinha na minha direção e eu pego no ar. Depois, ela tenta puxar o zíper do vestido nas costas com certa dificuldade.
— Vem cá pra eu tirar para você. — Tento me aproximar, mas ela corta o meu contato me fazendo sentar novamente na cama.
— Sente aí! — Ordena. Adoro quando ela fica mandona.
alcança o zíper e começa a exibir um show de nudismo somente para mim e eu aprecio a plenitude dos peitos dela enquanto eles se movem. Não consigo ficar parado e a puxo pela cintura para senti-los mais de perto.
— Estava louca por não poder te tocar. — Murmura se posicionando no meu colo e passando as unhas pelo meu peito. — A noite toda eu só pensava em arrancar as suas calças e sentar no seu pau.
Nossa, isso foi sexy e sujo. Eu acaricio os seios em resposta.
tem os peitos perfeitos: macios, de tamanho perfeito e lindos. Eu os chupo e, em seguida, coloco meu rosto entre eles. Não consigo tirar as mãos desses peitos bonitos. Ela joga o cabelo de lado e eu olho por cima do seu ombro e vejo uma mesa ali. E de uma hora para outra essa cama não me parece mais tão interessante.
— O que foi? — Ela pergunta, percebendo a minha sucinta paralisia momentânea quando já deveria ter me livrado da boxer. Então ela se vira e vê para onde estou olhando. — Aí meu Deus, você quer me comer ali!?
— Por favor, vai satisfazer uma fantasia de meses! — Eu peço manhoso, ela revira os olhos e resmunga. — Ei! A ideia foi sua. — Faço questão de lembrar.
sai de cima de mim e caminha até a mesa, ela dá um pulinho para se sentar. Eu me livro da cueca rapidamente e coloco o preservativo. Ela me abraça com as pernas quando eu deslizo meu pau dentro de suas paredes aveludadas. Foder alguém novo é tão maravilhoso. Isso coloca todos os sentidos da pessoa em hiperatividade. E acho que nós dois estamos assim agora.
Sua risada se transforma num gemido gutural e sinto suas unhas quase dilacerarem as minhas costas enquanto a preencho com movimentos lentos e doces. é muito expressiva e aberta. Não consigo parar de morder a boca dela e seus peitos são tão satisfatórios de tocar, parece celestial vê-los se mover enquanto eu continuo fodendo ela.
Meus quadris recuam, depois num impulso de flexionam para frente, joga os cabelos para trás e geme alto. Ela rebola os quadris, tentando me acompanhar, e continuamos nesse ritmo por um bom tempo.
Quando seu orgasmo chega, ela grita, sem vergonha nenhuma, e se agarra em mim. Eu engulo seus gemidos gananciosos e alucinados com um beijo logo depois cedo ao meu próprio prazer.
Eu sou uma mulher de Áries, sou quase uma fogueira no quarto, mas também espero uma sessão de carinho logo depois, quem pode me culpar? Por isso relaxo completamente quando começa a mexer no meu cabelo enquanto estou deitada em cima dele. Eu deveria mandá-lo de volta para o quarto dele porque esse é o rumo que as coisas deveriam tomar, mas depois do que fizemos em cima da mesa não consegui mais me desgrudar dele. Nós apenas tomamos um banho e voltamos para a cama, estamos assim a há pelo menos meia hora, como se o mundo atrás dessa porta não existisse.
— Agora seja sincera , você pensava cegamente que a Espanha ia ganhar da gente?
— Eu achava que eles tinham chance sim, tá? — Digo fechando os olhos enquanto a sua mão afaga o meu cabelo. Eu trancaria nesse quarto para sempre se pudesse. — Mas escolheram a pior estratégia.
— Qual?
— A estratégia deles era entregar a bola para vocês e jogar no erro, mas eles se perderam completamente no segundo tempo.
— Exatamente. — Ele concorda vitorioso. — E tomaram quatro gols.
Eu olho para cima para ver o seu sorriso convencido. Lembro do seu gol e da comemoração logo em seguida. Agora estou apoiando o queixo na sua clavícula e olhando diretamente para ele.
— Por falar em gol... O que foi aquilo? Foi para mim? — Questiono e sei que sabe exatamente do que eu estou falando.
— Para quem mais seria?
— dedicando um gol para mim, quem diria.
— torcendo para mim, quem diria.
— Ei, eu não estava torcendo para você! — Protesto apoiando os cotovelos no colchão. Ele aproveita a deixa para roubar um beijo.
— Estava torcendo para a Inglaterra então? Que traíra. La Belgique aurait honte de vous.*** — Sussurra em cima da minha boca.
falando em francês acende algo em mim. Um arrepio eletrizante passa por todo o meu corpo enquanto uma de suas mãos acaricia as minhas costas. Eu apenas vesti a minha calcinha e roubei a camiseta dele e os lençóis estão fazendo o resto do trabalho de aquecer nossos corpos seminus.
— Claro que não! É que se você for embora eu vou perder meu brinquedinho, vou ficar aqui sozinha. — Faço um bico tristonho.
— Nossa, quanta consideração. — Ele cruza os braços chateado e acabei de decidir que o seu modo 'emburrado' é o meu preferido.
Eu me sento de joelhos e me jogo em cima dele. não resiste e acaba me abraçando de volta.
— Dramático. — Lhe dou um selinho e ele abaixa o olhar.
— Você fica bonita com a minha camisa. — desliza uma mão e dá um aperto na minha bunda. — Assez chaude.****
— Ah é? E desde quando você fala francês?
— Kanté e Giroud me ensinaram alguma coisa ou outra. — Dá de ombros.
— Fale de novo, por favor, eu imploro. — Peço. Só estou acostumada a falar com ele em inglês, agora que descobri isso, não sei se sou capaz de parar.
— Qu'est-ce que tu veux savoir?
— Prêt pour le second tour?
— Absolument.*****
Responde antes de me jogar na cama e me beijar intensamente.
*: música lançada em 1996 pela banda inglesa The Lightning Seeds para marcar a sede do time de futebol da Inglaterra no Campeonato Europeu daquele ano. O refrão "o futebol está voltando para casa", tornou-se um canto popular para os fãs nos jogos da Inglaterra desde então.
**: apelido da Seleção Francesa.
***Em francês: A Bélgica teria vergonha de você.
****Em francês: Muito gostosa.
*****Em francês: O que você quer saber? | Se você está pronto para a segunda rodada | Absolutamente.
Capítulo 6 – Décimo Dia
9 de dezembro de 2022
Campo de Golf – Centro de Concentração, Doha, Qatar
Só mais dois jogos, apenas duas partidas nos separam do troféu de cinco quilos de ouro de dezoito quilates. É o que todo mundo aqui está pensando enquanto tenta se concentrar nos treinos. O jogo é amanhã e dessa vez não tivemos dia de folga entre as partidas. Pensei que o processo seria parecido com o da temporada regular, mas aparentemente jogar menos de dez partidas em um mês e meio é mais difícil do que setenta em nove meses. O desgaste físico e mental aparece com mais força, por isso estamos sendo liberados uma hora mais cedo.
Ontem, utilizamos botas pneumáticas e fomos submetidos a ondas de calor, massagens e exercícios específicos na piscina para potencializar a recuperação ocasionada pela intensidade do jogo. No campo, treinamos jogadas de bolas paradas, cobranças de faltas e escanteios. Foi um treino completamente fechado, Southgate não permitiu a entrada de ninguém da imprensa ou de torcedores com suas câmeras.
Hoje, fomos a campo e treinamos aspectos técnicos. Na primeira atividade, Southgate nos colocou para praticar embates de um contra um. Todos nós tínhamos que driblar e arrematar ao gol. Caso Dean, Nick ou Sam defendesse, o duelo continuava com a bola com o oponente até sair o gol. Fiz um revezamento com Lingard e posso dizer que nos saímos bem. Na sequência, mais jogadores foram incorporados até um seis contra seis, e a dinâmica seguiu a mesma.
Gosto de dar tudo de mim tanto nos jogos quanto nos treinos. Sou um jogador muito combativo, de tomar embaixo das pernas e correr. Me dribla uma vez, vou lá para me driblar a segunda, mas chego lá e tomo a bola. Isso aconteceu duas vezes no jogo contra a Espanha, uma com o Sergio Ramos e outra com Iñigo Martínez. Gosto de participar, de suar a camisa. Então, eu, meia ofensivo, perco peso muito fácil e tenho que compensar seguindo a dieta.
— Pro vestiário! — Gareth diz depois que terminamos um período da sequência. — Depois do almoço continuamos. Ainda quero realizar sessões físicas passando por estacas e revisar jogadas com bola parada.
— 'Iifa 'Abal Place. — Eu ouço Jesse dizer com certa dificuldade quando já estamos no vestiário. Ele tirou o celular da bolsa e vou percebendo que não é só ele que a minutos está com os olhos grudados na tela.
— Que merda é essa? — Pergunto tentando espiar por cima do ombro de Reece.
— Estamos procurando apps de mercado aqui em Doha para comprar balões, confete, velas, essas porras... — Reece explica.
— Para que tudo isso?
— Vamos dar uma festa a Jadon se ganharmos. — Fala Hendo olhando para Sancho. Ele está em um canto do vestiário, mais afastado, conversando com Steerling.
— Por que a festa é só dele se nós é quem vamos ganhar juntos? — Ben murmura do meu lado.
— Para ele parar de encher a porra do nosso saco. — Diz Jordan. — Como é o nome, Jesse?
— 'Iifa 'Abal Place.
— Como diabos escreve isso?
— Sei lá, tá em árabe. — Jesse dá de ombros.
— Me dê isso aqui. — Hendo toma o celular da mão dele e passa alguns segundos analisando. Depois, ergue a cabeça e encara Jesse. Todos nós o olhamos com certa expectativa. — Lingard.
— O quê?
— Isso não é um mercado. É um sex shop! — Hendo exclama impaciente, jogando o celular de volta para Jesse, e caímos na risada.
— Se você parar para analisar, é um mercado sim. — Eu digo e todos, com exceção de Jordan, dão risada.
— Que merda. — Reece se intromete apontando para a tela do celular. — Parem de ser imbecis, aqui tem Carrefour e Mia me disse que onde ela foi há outro mercado chamado Spinneys Market.
— Então pronto! Usem um desses dois. — Jordan diz por fim. — Fiz uma lista, reservem cinco minutos do tempo livre de vocês para isso e avisem os outros. — Hendo faz uma pausa e olha para Rashford. — Marcus, ajude o Jesse, é capaz dele comprar pênis de borracha ao invés de velas.
— Vá se foder, Hendo.
Dou risada, olho no grupo e vejo que o meu item são os balões. Guardo o celular na bolsa e tiro a camisa para entrar na ducha. Sento no banco para tirar as chuteiras quando Jesse tosse atrás de mim.
— Caralho, , você caiu em algum arame farpado?
Eu olho para ele e percebo que está se referindo às minhas costas arranhadas.
— Sim, o arame se chama . — Zomba Eric e sou obrigado a concordar. As unhas de são tão afiadas quanto a língua dela.
— Achei que odiasse o irmão dela.
— Ele odeia. — Ben confirma.
— Isso não te incomoda?
— Por quê? Eu beijo a boca dela, não a dele.
Pego uma toalha e saio rindo até um dos boxes. Ligo o chuveiro pensando nela. Não me permiti fazer isso o dia inteiro porque o meu primeiro foco aqui é o mundial. Oportunidades como essas só vêm uma vez na vida e não quero desperdiçá-la, é bem raro acontecer de novo. Mas tenho que dizer que está sendo uma experiência e tanto conhecê-la, não só devido ao sexo, se fosse só isso, eu não teria notado o quanto é uma pessoa corajosa, ousada e honesta. Dentro de um quarto ela é SUPER apaixonada, mas não no sentido romântico da coisa. É divertida, descontraída e brincalhona, além de ter um marra capaz de fazer qualquer um tremer da cabeça aos pés.
é um ser humano ousado. Metade das pessoas que conheço não teria a menor chance ao lado dela. Apesar da casca-grossa, ela tem um lado doce, atencioso, compreensivo e gosto do jeito que não hesita em expressar suas opiniões e prefere enfrentar os problemas de frente. A compostura dela é um pouco contagiosa. Ela sabe que tudo o que é importante para ela será dela, não importa o que aconteça. Ela não se preocupa com coisas que ela não pode controlar. concentra-se em ser seu eu mais sólido em todos os momentos. Quanto ao resto, ela não se importa. tem uma imaginação fértil e está muito aberta para experimentar coisas novas na vida. Descobri que temos esses pontos em comum, apesar de eu ser mais contemplativo e ela, ativa.
Quando estou com alguém, gosto de me sentir conectado com a pessoa, mesmo que seja apenas sexo, e senti isso com . Mesmo que nos últimos dias não tenhamos tido tanto tempo. Nos vemos nos intervalos de almoço e às vezes usamos um minuto do tempo para dar um amasso, mas é tudo muito rápido. Por mais que o meu pau queira muito, fiz uma promessa a mim mesmo: futebol primeiro, mulheres depois. Nada de sexo até o jogo contra a França terminar. Eu jamais me perdoaria se errasse em algo devido à distração, a culpa seria toda minha. Nos treinos, Gareth não tem o que reclamar de mim então acredito que estou no caminho certo, mas não quero dar sorte para o azar.
Lembro de me dizer mais cedo que ficaria o dia todo fora, gravando para uma campanha, e que almoçaria fora, mas esqueci de perguntar sobre a noite. Em vésperas de jogos, dormimos mais cedo, mas acredito que dê para nós jantarmos juntos. Por isso, saco o celular da bolsa quando saio do boxe com uma toalha ao redor da cintura.
Eu: jantar hj à noite?
: sim! que horas mais ou menos?
Eu: talvez Gareth nos libere às 17h, então umas 19h30, pode ser?
: te encontro lá
Studio Philli Product Photography, Doha, Qatar
— Foi tudo incrível, e Ibtihaj. Gravaremos mais, à tarde. Vou enviar os horários a suas agentes, por enquanto, estão dispensadas! — Diz Jack, o diretor da campanha, eu e Ibtihaj damos um sorriso cúmplice de agradecimento.
— Uau, você foi incrível. — Eu digo-lhe, admirando sua roupa de esgrima e o seu hijab esportivo criado pela própria Nike. Ibtihaj Muhammad é simplesmente uma das melhores esgrimistas do mundo e se tornou a primeira mulher a usar um hijab durante uma competição olímpica.
Quando Jenna me falou sobre a campanha ontem, fiquei muito empolgada, não via a hora de começar. Vem sendo uma diligência alucinante desde as olimpíadas de Tóquio no ano passado e meio que uma continuação da primeira que fizeram em 2019: "A celebração das Mulheres no Esporte."
Sério, acabei de falar com Serena Williams pelo FaceTime, e, além delas, vou dividir a tela com Becky Hammo e Kathrine Switzer que também estão filmando ao redor do mundo. Estou louca para ver o resultado. A manhã foi intensa, acredito que nunca gravei e tirei tantas fotos em um só dia, mas até que passou rápido. A companhia de Ibtihaj foi ótima, formamos uma boa dupla.
— Imagina, , você que foi, eu queria ter tanta habilidade assim com os pés.
— Ah, fala sério, estou meio enferrujada. — Solto a bola embaixo do meu braço e ela cai no meu pé. Faço duas embaixadinhas e a seguro de novo.
— , vamos. — Jenna diz um pouco distante, com um óculos de Sol cobrindo suas olheiras.
— Te espero à tarde.
Despeço-me de Ibtihaj e sigo Jenna. Segundo os designers e os analistas, da campanha vamos gravar a outra parte fora dos estúdios em alguns pontos turísticos de Doha. Confesso que estou ansiosa para isso, pois desde que cheguei aqui não tive tempo para conhecer quase nada. Sou uma turista engajada, não curto ir a um país só por ir, gosto de conhecer os lugares, pessoas e culturas diferentes.
— Belo trabalho. — Jenna me diz enquanto começamos a andar. Preciso ir até o camarim tirar as roupas da campanha mesmo que tenham ficado de presente para mim.
— Eu e Ibtihaj trabalhamos bem juntas, não achou?
— Com certeza. Vão rasgar elogios a vocês, eu daria tudo para ver a cara daqueles velhos da Protein World te vendo hoje.
Jenna se joga no sofá quando chegamos no meu camarim e fecho a porta. Começo a me despir. Dou uma risada, adoro o humor ácido de Jenna. Ela é uma mulher esforçada que teve que batalhar muito para estar onde está. Sei que ela tem uma família difícil que nunca a apoiou, mas mesmo assim ela nunca desistiu. A conheci um pouco antes de me aposentar de vez. Antes, o meu empresário era o mesmo que o de , mas depois da minha lesão, ele decidiu rescindir o contrato comigo, alegando que só assessorava jogadores. E foi aí que eu recorri a Jenna. Ela já tinha certa experiência no ramo comercial, e olha, não poderia ter escolhido melhor.
— Eu também daria tudo para ver a cara.
Há uns dois anos eu comecei os trabalhos comerciais e a Protein World, uma marca britânica de remédios para perda de peso, me chamou para uma campanha que eu tive o prazer de recusar. Basicamente eu teria que posar para um anúncio com roupas de banho, e até aí tudo bem, o grande problema era que junto da foto também vinha a seguinte pergunta: “O seu corpo de praia está pronto?”. Achei um absurdo, dava a entender que um “corpo de praia” somente poderia ser considerado como tal se fosse semelhante ao meu. Eu me cuido, gosto de me manter saudável e vou à academia periodicamente, mas jamais faria parte de algo que fizesse as pessoas se sentirem fisicamente inferiores à imagem irrealista mostrada na campanha para promover remédios para perda de peso.
Os donos da empresa não ficaram muito felizes com a minha recusa e alegaram que eu estava me achando demais para uma novata no ramo comercial. Arranjei uma boa briga com eles porque não admito que falem uma coisa dessas de mim e eles juraram que iam queimar o meu nome e a minha imagem no mercado, e eu não seria convidada para comerciais tão cedo. Felizmente, Jenna trabalhou muito bem e isso não aconteceu.
Eles fizeram a campanha mesmo assim com outra modelo e não fiquei surpresa de ver a empresa sendo massacrada. Assim que os cartazes foram postos nas estações de metrô de Londres, eles sofreram uma série de intervenções, como colagens que traziam corpos mais diversos e mulheres sorridentes. Mais de setenta mil pessoas assinaram uma petição para que o anúncio fosse retirado, e eu fui uma delas. Eu diria que o karma é uma coisa linda.
— Seu celular, seu irmão está te ligando a horas. — Quando termino de me vestir, ela me entrega o aparelho e vou checando enquanto andamos para fora do estúdio.
Primeiro abro o Instagram, posto uma das fotos da campanha que um dos fotógrafos me enviou. Em seguida, vejo que Ibtihaj me seguiu e sigo ela de volta. Num segundo a minha foto é bombardeada de comentários dos meus amigos e decido dar uma olhada.
jordynhuitema um arrasoooo
ashleylawrence te amo garota
hammon.becky 👏👏👏
colin_kaepernick JUST DO IT
ME LIGUE ME LIGUE
Reviro os olhos para o comentário de , já não bastasse ele ter enchido a minha caixa de voz. Juro que não tem nada mais irritante do que essa bola vermelha do Voicemail. Decido ligar para ele de uma vez para saber o que quer.
— .
— Que desespero todo é esse, ? Estou trabalhando. — Falo quando ele atende.
— Foi mal, você não respondeu as minhas mensagens ontem à noite. Pensei que tivesse acontecido algo.
— Estou bem, acabei dormindo ontem, tava exausta. O que foi?
Jenna chama um carro que chega rápido e em poucos minutos estamos a caminho do Yasmine Palace, uma restaurante no porto de Doha.
— Nós só queremos saber se você vai estar aqui no aniversário da vovó. Mamãe está perguntando quando você volta.
— Puts, eu não faço ideia.
Respondo com sinceridade. Não sei mesmo o dia que vou embora. De acordo com Jenna, já quitei quase todos os meus compromissos, logo, a única coisa que ainda me 'prende' nesse país é a nova campanha para a Nike, mas o que deixo de contar a é que não estou nenhum pouco interessada em ir embora. Jenna sondou o pessoal do marketing e não há nada certo, pode durar até a final da Copa ou até mesmo antes.
— Tem certeza?
Acho que é a pessoa mais desconfiada que eu conheço.
— Absoluta. Estou em uma campanha nova, não terminamos ainda.
— OK então, vou avisar eles, mas saiba que a vovó vai ficar chateada.
Ele lamenta e eu também porque dia quinze de dezembro é o aniversário da nossa avó paterna. Ela mora em Bruges, na Bélgica, então não a vemos com tanta frequência, mas o que pega é que aniversários são uma coisa importante na nossa família. Não deixamos de comemorar um sequer. Somos uma família unida, sempre colocando uns aos outros acima de qualquer coisa, quando possível.
— Vou ter que ir atrás do melhor presente para ela então para compensar.
— Ah você vai sim, e traga algo para mim também.
— Para você?
— Sim, você está tendo o privilégio de passear, eu mal tive tempo para conhecer algum lugar. Me traga um daqueles Bules Dallah, mas um pequeno e fino, acho os grandes feios.
— Folgado! Você ganha mais do que eu, e eu tenho que te comprar presentes? — Acuso, mesmo pretendendo levar lembrancinhas para todo mundo. Ainda quero tirar uns minutos do meu dia para comprá-las. Os shoppings de Doha parecem palácios celestiais e não quero me privar de conhecê-los. — Tenho que desligar, tô indo almoçar.
— Certo, seja uma boa irmãzinha e não esqueça.
— Tá! Eu levo o seu bule, mas vou cobrar o frete.
— Acho justo.
— Tchau, .
Eu desligo e entro no restaurante com Jenna. Escolho uma mesa enquanto ela fala com alguém no celular. Respondo à mensagem de me chamando para jantar. Ai, que droga, é duro de admitir, mas ele é um dos motivos de eu não querer ir embora. Estamos nos dando bem e isso devia me assustar, mas estou cada vez mais aberta a conhecê-lo. Cada vez mais ele parece quebrar as barreiras que existem entre nós e às vezes não dou a mínima se ele é um jogador ou inimigo mortal do meu irmão.
Que merda, estou parecendo uma daquelas mulherzinhas dos clássicos da literatura trovadoresca, só falta começar a suspirar. Eu sou uma romântica incurável patética com uma mente suja e padrões elevados. Quero ser tratada como uma dama em público, devastada em privado e cortejada pela eternidade. Esse é o mínimo que nós mulheres deveríamos exigir de qualquer pessoa e me dá isso, que culpa eu tenho de gostar?
Contudo, não é para isso envolver sentimentos, fizemos um sexo bom e gosto da sua companhia. Não vou me importar se continuarmos a fazer um sexo bom, mas já coloquei na minha cabeça que não posso me apaixonar por ele. E se tudo acabar como eu imagino, não vai acontecer.
Hotel The Hitz-Carlton
— O que vocês vão fazer depois? — Jordyn me pergunta. Estou conversando com ela e Ashley pelo FaceTime enquanto me arrumo para jantar com . Contei-lhes tudo o que aconteceu entre nós e agora elas agem como se fôssemos praticamente casados.
— Vão brincar com bichinhos de pelúcia. — Ashley ironiza e dou risada. Estou ajoelhada de frente para a minha mala, escolhendo uma roupa. — O que você acha, J?
Eu vejo Jordyn balançar o seu rabo de cavalo e revirar os olhos. Ver ela assim me dá uma nostalgia, porque ela joga bola com o cabelo preso assim e sua headband da Nike segurando os fios no lugar.
— Não vai rolar. Ele tem jogo amanhã.
Jogo o celular na cama para poder tirar o roupão e vestir as roupas. O tempo deu uma esfriada, então decidi por um suéter que cai no ombro de cor creme, jeans branco e botas brancas sobre o joelho.
— Ah, claro. Deixe o sexo para a comemoração. — Fala Ash. Elas estão lado a lado dividindo a tela quando sento de frente para o espelho para me maquiar.
— Vocês devem parecer dois coelhos.
Olho para Jordyn.
— Quem me dera! Mal temos tempo para respirar.
— Ah, mas isso é temporário... — Jordyn se interrompe e olha para trás então escuto a voz de Steban ao fundo. Eu reviro os olhos ao ouvir a voz do homem e Ashley segura a risada ao me ver fazer isso. — Me deem um minuto.
Jordyn sai do foco da câmera e eu continuo a passar a minha maquiagem. Elas estão no apartamento de Jordyn, então não duvidava que esse cara fosse aparecer em algum momento. Espero que não tenha escutado enquanto falávamos sobre . Estou ocupada passando um batom e a conversa deles é a única coisa audível.
— Com quem estão falando?
— Com a . — Responde Jordyn.
— Ah, claro. Nem milhares de quilômetros separam as mulheres das suas fofocas.
Ele usa aquela voz entediante. Sinceramente, não gosto muito de Steban. Ele é um tenista metido que acha que as únicas coisas que nós três fazemos quando nos juntamos são futilidades. Morro de tédio toda vez que escuto um desses comentários caretas que ele solta, preferia quando Jordyn namorava Alphonso Davies. Eu olho para Ash e ela mantém a mesma cara de desgosto que eu, como se nós nos perguntássemos por telepatia em que buraco Jordyn arrumou esse cara.
— Steban, por favor, não encha o saco agora. O que você quer?
Paro de prestar atenção na conversa dos dois e acredito que Ashley faz a mesma coisa, pois está muito mais interessada em me ajudar a escolher a cor do batom.
— Ele já foi. — Jordyn se volta para mim minutos depois e levo os dedos a garganta e coloco a língua para fora como se fosse vomitar. Vejo as tranças de Ashley balançando enquanto ela ri. Jordyn sabe que não simpatizamos muito com o seu namorado. — Parem com isso, vocês duas.
— Não temos culpa se o seu namorado é um porre, amiga.
— Sim, volte com Davies, por favor. — Eu peço.
— Vou voltar com Davies quando você se casar com . — Ela brinca e faço uma pausa quando estou passando o rímel para gargalhar.
— Essa foi muito boa, J.
— Ai, Deus. — Ashley ri e Jordyn me olha sugestiva.
— , queria pedir uma coisa.
— Não! Não peça isso! — Ash diz sem paciência, como se já soubesse o que ela vai falar. Eu acho tão engraçado o contraste de personalidade das duas. Ashley é muito mais impaciente e bruta, ao contrário de Jordyn, que é mais dócil e sentimental. Quanto a mim, julgo que sou uma mistura das duas, penso que por isso nos encaixamos tão bem. Eu não poderia pedir um trio melhor.
— Pedir o quê?
— Tirem uma foto. Você e . Por favorzinho. — Jordyn pede e Ashley resmunga ao seu lado.
— Uma foto? — Franzo a testa.
— É, para marcar esse momento.
— Momento, Jordyn? Que momento?
— O primeiro encontro sério de vocês sem apostas e joguinhos. — Dou uma risada desacreditada.
— De onde você tirou que isso é um encontro sério? — Faço uma pausa, sentindo a necessidade de explicar para elas o que está rolando aqui. Talvez não tenha ficado muito claro. — Estamos nisso pelo puro prazer da luxúria. Nosso "relacionamento" tem data de validade. Pode acabar amanhã mesmo se a Inglaterra for eliminada. vai voltar para Londres e eu vou continuar a minha vida.
Huitema entorta a cabeça com a minha infeliz resposta.
— Por que você fala assim?
— Assim como?
— Como se vocês se apaixonarem fosse a pior coisa do mundo.
— Não é que é a pior coisa do mundo, é que nós não viemos aqui atrás de um relacionamento. Eu vim ver o meu irmão jogar e fiquei devido ao trabalho e veio ganhar a copa. Não somos a prioridade um do outro aqui.
— E daí? Não é como se vocês fossem ficar aí para sempre. As coisas acontecem justamente quando nós não planejamos, . Vocês deviam pensar no depois, diga a ela, Ashley.
Vejo Ashley passar a língua sobre seus lábios grossos e os seus olhos escuros piscam.
— Não. Isso nunca vai dar certo. — Diz Ash com sinceridade e Jordyn a olha indignada. — O que foi? Eu sou o cerne realista aqui. É minha função puxar vocês duas para a realidade quando estão caminhando no mundo da Lua por muito tempo.
— Obrigada, Ashley.
Eu concordo porque acredito que Ashley tem razão. Isso nunca daria certo. Eu conheço a minha teimosia, ela bate de frente com a cabeça dura do meu irmão e talvez isso colocasse em risco a paz da nossa unida família. Se eu quisesse muito, eu arriscaria todas as minhas fichas, mas no momento não sei de nada. Só passa pela minha cabeça que não é uma boa ideia.
— Ei, Lawrence, não a desmotive!
— E você, Huitema, pare de se iludir!
— Ei, mamães, ainda estou aqui! — Eu digo vendo que já são quase sete e meia e decido pentear o cabelo. — E sei viver a minha vida, OK?
— OK, foi mal.
— Tudo bem. Vocês vão sobreviver sem mim?
— Nós? Sim, mas não prometo deixar Steban sair ileso se ele vier aqui nos aborrecer novamente. — Ash estala os dedos das mãos, entortando a cabeça. Não a julgo, às vezes dá mesmo muita vontade de quebrar um tijolo na cabeça de Steban.
— Ashley!
— Vou descer, falo com vocês depois.
Nos despedimos e encerro a chamada. Pego meu celular e a carteira e desço até um dos quatro restaurantes do Hitz-Carlton. Não perco tempo e localizo com os olhos, ele está em uma mesa separado do resto do time.
— Vamos pedir à la carte? — Questiono quando chego perto. Ele tira os olhos do cardápio para olhar para mim e um sorriso surge na sua boca.
— Não, você vai pedir à la carte. — se levanta e se aproxima de mim. — Eu vou seguir a dieta da nutricionista.
Ele aponta para o buffet e me dá um beijo na bochecha antes de ir até lá. Eu sento no estofado com formado de "U" ao redor da mesa e pego o cardápio. Dou uma passada de olho, tem tanta coisa aqui e eles misturam a cozinha da Arábia com a do Irã, por isso decido optar pelos iranianos dessa vez. Um garçom aparece e ele anota rapidamente o meu pedido: um Shahane Kabab, que são basicamente kebabs de cordeiro e bife, acompanhados de arroz com açafrão, cebola e picles grelhado, além do pão fininho lavāsh.
Logicamente chega primeiro com o prato dele e quatro garrafinhas de água de 500 mL, mas ele diz que vai esperar o meu prato chegar e se recusa a comer. Eu passo um tempo brigando com ele porque a comida dele está esfriando, mas nada o convence. Felizmente o meu prato não demora muito e logo estamos comendo.
— Você está me maltratando com isso aí. — Ele aponta para os meus kebabs.
— Você quem me deu a ideia de pedir à la carte.
— Se eu soubesse que seria uma tortura, não teria nem mencionado.
— Come só um pãozinho então, vai. — Eu ofereço o lavāsh, mas nega.
— Não posso sair da dieta, inferno, pare de me tentar ou não vou te dar o seu presente.
A última palavra me deixa curiosa e, ao mesmo tempo, confusa. Eu acho presentes uma coisa íntima demais. Visto que nos aproximamos a poucos dias, acho que não sei como lidar com isso agora.
— Presente? — tira uma caixa quadrada fina de debaixo da mesa e desliza na minha direção. Tem um laço vermelho bem bonito em cima. — Não posso aceitar isso. Não tenho nada para te dar.
— Apenas abra, . — Eu o repreendo com o olhar, mas ele continua me instigando a pegar a caixa, então eu cedo e desfaço o laço. Quando eu abro, vejo que é uma camisa da seleção inglesa. Sendo mais específica, é uma camisa dele com nome e número estampados na parte de trás. Ele dá uma risada fraca e eu lembro que não devo levar muito a sério, se não ele começa essas gracinhas. — Gostou? Eu usei essa no jogo contra a Bélgica.
A última informação apenas me deixa mais perplexa.
— Você é muito cara de pau, . — Giro o tecido da blusa para chicoteá-lo no braço.
— Ei, muitos desejam uma dessa, e estou aqui te dando. Vai ficar linda em você.
— Obrigada, então! — Ironizo, guardando a blusa na caixa novamente. — E vou usar sim, agora tenho um paninho para limpar os meus sapatos.
— Porra, o que eu vou ter que fazer para te ver torcendo por mim? — cutuca a minha mão apoiada na mesa.
— Vai ter que se esforçar mais. — Decido entrar na brincadeira perfurando sua pele com a minha unha. Ele começa a tentar me beliscar e isso vira uma guerrinha entre nossas mãos. — Mas pode começar me dizendo para que tanta água?
Ofereço novamente a ele um lavāsh. o pega, colocando na boca após secar a terceira garrafa de água. Ele sorri enquanto mastiga.
— Tô perdendo peso muito rápido.
— Desidratação?
Pergunto porque já passei por isso uma vez. O atleta meio que perde muitos quilos desidratando através da sudorese. E isso não é um problema, na verdade, é ótimo porque indica que uma atividade física de alto rendimento. Para um atleta, a sudorese é o mecanismo mais eficiente de dissipar o calor do corpo. Nós só precisamos ter um cuidado redobrado com a reposição de água. Eu andava com quase três garrafas de água para todos os lados na época.
— Sim.
— Que bom, então.
— Pois é. — Ele concorda porque é algo positivo. — Me frusta muito colocar a mão na camisa e ver que não tá suada o suficiente.
— Duvido que você tenha tido problemas com isso. — Digo limpando a boca no guardanapo e pego a minha taça cheia de gin tônica porque, diferente de , não quis pedir água.
— Mais ou menos. Em alguns jogos da fase de grupos, tinha hora que eu tocava a minha camisa e a sentia muito seca. Isso melhorou depois do terceiro jogo, também senti que melhorei, mas sei lá, não está bom ainda, posso fazer mais.
— Você tá brincando comigo, ?
Ele levanta os olhos para mim. Acho que é a primeira vez que ouço ele falar de si mesmo dessa forma, depreciativa.
— O quê?
— Pare com isso, está fazendo um bom trabalho. Não consegui ver todos os jogos da Inglaterra na fase de grupos, mas os que eu vi até agora, não acho tenha ido mal em nenhum.
— Mas é que...
— Pare agora mesmo, ou vou enfiar esse garfo na sua mão.
Ele olha para o garfo e depois tira a própria mão de cima da mesa e dá risada.
— Tudo bem! É que eu me cobro demais às vezes. Eu quero estar lá em cima o tempo todo.
Estou surpresa e curiosa. Eu não fazia ideia desse lado inseguro dele. Acho insuportável o seu lado pretensioso, mas começo a perceber que é só um mecanismo de defesa.
— Eu sei como é, também era assim.
— Não é mais?
— Quando você sai do ambiente altamente competitivo fica mais fácil lidar com a autocobrança. — Dou um sorriso de lado e decido quebrar um pouco esse clima. — Mas... cadê a droga do seu lado convencido? Estou sentindo falta dele. Parece até que você esqueceu que até aqui já ganhou dois Man Of The Match.
Ele dá um sorriso, mordendo o lábio debaixo.
— Não me contento com MOTM. — estufa o peito, e se eu estava sentindo falta da sua imodéstia, ela voltou com tudo. — Eu quero o The Best.
— Depois do mata-mata da Champions as coisas vão se definir, mas mesmo assim, boa sorte. Quando tem Copa, tudo fica mais acirrado.
— Se eu ganhar, você vai tá lá para me beijar depois que eu receber o prêmio?
— Não. — Cruzo os braços, desviando meu olhar do dele. — Você nunca vai se cansar de ficar lembrando daquele dia?
se arrasta pelo lado de dentro do "U" até ficar ao meu lado. Ele passa os braços ao redor dos meus ombros e deposita um beijo no meu pescoço. Oh céus, um formigamento atinge a região que seus lábios tocaram porque quero que ele beije mais.
— Nunca.
Continuamos conversando e trocando pequenas provocações e em algum momento eu fico satisfeita e acabo deixando alguns restos no prato, diferente de , que comeu tudo do prato dele. Decido pedir uma sobremesa porque me recuso a voltar para o meu quarto sem comer um docinho e ficamos conversando sobre o meu dia. Conto-lhe sobre a campanha da Nike e o tour que fiz pela cidade à tarde quando ele pergunta a respeito do stories que postei em Corniche.
A Corniche é um calçadão que se estende por 7 km pela baía de Doha, do MIA ao West Bay. Eu, Ibtihaj e o resto da equipe tivemos a oportunidade de conhecer a melhor vista do Skyline da cidade. Queríamos ter feito um passeio de barco que os barqueiros do calçadão ficam oferecendo, mas não deu tempo. É um lugar limpo, florido e agradável para caminhar, ainda que meio deserto no fim da tarde.
também me conta algumas coisas da vida dele que me surpreendem positivamente. Acho que anos ouvindo meu irmão falar tão mal de me deu uma imagem muito negativa dele que está aos poucos indo embora. Eu acho isso bom, dá um aviso ao meu subconsciente para parar de julgá-lo tanto. Você nunca vai conhecer uma pessoa de verdade com base apenas no que outras pessoas falam dela. E me intriga querer saber porque guarda tanto ódio naquele coração. Não lembro direito como tudo isso começou, eu estava ocupada demais focando na minha própria carreira em Paris para me importar com o que estava fazendo com a vida dele em Londres.
— O que é essa agitação aí? — Ele pergunta apontando para o meu celular que não parou de vibrar a noite toda. Apenas o peguei para ver as horas, mas até percebeu a quantidade de chamadas na tela.
— Ash e Jordyn estão me perturbando. — continua me olhando confuso e resmungo. — Elas querem uma foto nossa.
Ele tenta pegar o meu celular, mas eu sou mais rápida. Então ele pega o próprio e abre a câmera do Instagram e aproxima o rosto do meu.
— O que está fazendo? — Pergunto antes que ele dê o clique.
— Elas querem uma foto, dê isso a elas.
— , você não vai postar isso, né?
— Relaxe, , e dê um sorriso bonito. — segura o meu rosto e me força a olhar para a tela. Ele passa o braço em volta de mim, dou um sorriso tímido para a câmera e está aí a nossa selfie. Ele foca no aparelho por alguns instantes e meu celular vibra na minha mão. Quando vejo, ele enviou a foto para mim. — Mande para elas.
Decido matar a vontade das duas, ou só a de Jordyn, e envio.
Jordyn: CASAL BONITO ❤️❤️❤️
Eu: 🙄
Ashley: Huitema, acorda pra vida
💀💀💀
O som alto da minha risada chama atenção de .
— O que elas acharam?
Ele tenta espiar no meu celular, mas eu desvio. Eu que não vou deixá-lo ver como Jordyn nos ‘shippa’. — Nada de mais!
tenta pegar meu celular, mas quando consegue, eu já bloqueei a tela.
— Merda, já são nove e meia.
— O que tem?
— Preciso subir.
— Cumprindo bem o toque de recolher. Gostei de ver, hein?
Nós nos levantamos e após pedir ao garçom que anotasse a conta no número do quarto e vamos juntos até o elevador. pega na minha mão no caminho e quase a solto porque andar de mãos dadas é muito ‘coisa de casal’. Acho que andar de mãos dadas é mais íntimo que sexo. Já dei para tanta gente, mas pouquíssimas eu caminhei entrelaçando os dedos.
No elevador, eu aperto o número do meu andar. tenta me roubar alguns beijos, mas eu desvio porque tem câmera aqui, e todo mundo sabe que as câmeras de elevadores veem tudo.
Quando chegamos no décimo andar, eu saio, mas ele vem atrás de mim ao invés de subir para o próprio andar.
— Ué! Você não vai subir?
— Só vou te acompanhar até a porta. — Ele responde com o ar mais inocente do mundo, eu finjo que acredito e deixo ele me seguir até a porta.
— Pronto, pode ir agora.
Eu encosto na madeira e não responde, ele olha para os dois lados antes de envolver os lábios nos meus em um beijo rápido e terno. Sua boca se afasta da minha e depois sinto seu corpo me pressionar na porta. Eu me agarro a ele e deixo sua língua invadir a minha boca e nos envolvemos em um beijo quente. Aos poucos, sinto o peso das suas mãos em mim, primeiro elas apertam meus quadris, depois sobem até a minha cintura por dentro do meu suéter e tocam a pele nua da minha barriga.
me beija calorosamente enquanto toca toda a extensão das minhas costas e o meu nível de excitação dispara. Ele puxa a alça única do meu sutiã para baixo e sinto o meu tomara que caia ir parar na cintura. Não seguro um gemido baixo quando uma de suas mãos aperta os meus peitos, agora livres do sutiã, por debaixo da blusa. Ele chupa o meu pescoço, deixando arrepios de desejo por onde sua língua viaja em cada célula do meu corpo e noto o meu suéter sendo puxado para baixo e a boca dele descendo pela minha clavícula. Acho que ele quer chupar os meus peitos e, mesmo que eu queira muito que ele faça isso, decido que é hora de parar. Estou quase implorando para ele me foder aqui mesmo, isso é quase uma tortura.
— . — Eu repreendo baixinho encolhendo os ombros e ele ri no meu pescoço. A ideia é tentadora, mas não estou interessada em dar a algum outro hóspede ou funcionário do hotel um topless. Ele continua me beijando, me tocando e a sensação de seus lábios me derrete por dentro cada vez mais. — Merda, , pare com isso! Se não, vou ser obrigada a te arrastar para dentro. A culpa vai me consumir e vou descontar tudo em você depois.
— Ah, caralho, não faça isso.
— O quê?
— Quando você me ameaça, me dá um tesão da porra. — Ele me pressiona com as mãos no cós do meu jeans e sinto sua ereção se formando no meio das minhas pernas. Isso não ajuda em nada no meu autocontrole e piora quando sussurra no meu ouvido: — Porque eu sei que é só pose, depois você se desmancha embaixo de mim. Adoro a sua boca suja.
— Ah é? — Arrumo o meu sutiã no lugar e depois o viro de costas com as mãos nos seus ombros e começo a empurrá-lo em direção ao elevador. — Então talvez em outro momento eu deixe você me comer no corredor de um hotel de luxo.
Aperto o botão e ele se vira para mim com um sorriso sacana, enquanto espera as portas abrirem.
Não posso negar que adoro isso. Gosto de homens com vocabulários enormes e latejantes porque me identifico completamente. Veja bem, os homens são programados em seus cérebros para nos agradar sexualmente. Isso remonta aos dias do homem das cavernas. No entanto, na vida moderna, existem tantos sinais confusos que ambos os sexos dão que podem atrapalhar o fato de ele saber que "fez o seu trabalho" de satisfazê-la. Odeio jogos de adivinhação sobre como excitar alguém, é muito mais fácil quando eu digo à pessoa exatamente o que eu quero. faz a mesma coisa e acredito que é por isso que não somos frustrados sexualmente.
Quando a porta abre, ele entra no cubículo e eu fico do lado de fora.
— Porra, você acabou de plantar uma nova fantasia na minha cabeça. — aperta os botões do andar dele no painel e depois olha para mim de novo.
— Então sonhe com ela, bebê.
Estou pronta para seguir rumo até o meu quarto quando ele se inclina para frente e me rouba dois beijos antes que as portas fechem.
— Boa noite, .
Quando penso em responder, a porta já fechou e ele já se foi.
Solto um suspiro que eu nem sabia que eu estava prendendo e penso na noite de hoje. Foi uma noite diferente, hoje completou três dias desde que começamos a nos envolver fisicamente e que entrei nessa loucura. Fico imaginando quando vai acabar. Não é bem o que eu quero, mas é o fluxo normal que as coisas deveriam seguir.
Lembro de como fiquei apreensiva quando Steban entrou no quarto de Jordyn quando estávamos conversando pensando se ele ouviu alguma parte da nossa conversa. Acho que por isso estou tentando ser discreta. Não vale a pena arrumar uma discussão com por algo que sei que não vai durar. Eu conheço o meu irmão, ele é a minha família e o amo, somos bastante unidos, mas às vezes ele tem esse defeito de não me deixar viver a minha vida. Acho que em alguns momentos ele esquece que eu não tenho mais dez anos e não preciso da sua proteção. Eu e ele temos alguns bons anos de diferença e teve uma época em que ele sempre foi muito presente na minha vida, até ele mudar para a Inglaterra e eu iniciar a minha carreira. Até entendo o seu instinto protetor, mas já brigamos feio pelas vezes que ele invadiu a minha privacidade sem a minha permissão. Não sou a porra de uma boneca moldada por ele que apenas faz o que o agrada, ele não entende isso em alguns momentos.
Talvez, só talvez, se essa coisa com tivesse futuro, eu mergulharia de cabeça e tentaria colocar de vez essa ideia na cabeça de . As coisas seriam dessa maneira e ele teria que aceitar. Eu jamais me privaria dessa felicidade por causa de .
Ah, fala sério, nos aproximamos há pouco menos de duas semanas, não sei porque estou me preocupando com essa merda agora.
Porém, quando fecho a porta do quarto e fico sozinha, eu me preocupo com o que Jordyn falou para mim pelo FaceTime hoje, porque esse jantar pareceu muito com um 'encontro sério.'
Capítulo 7 – Décimo Primeiro Dia
10 de dezembro de 2022
Estádio Al Bayt, Al Khor, Qatar
Copa Do Mundo - Semifinal
Inglaterra x França
Deus salve nossa bondosa Rainha,
Longa vida à nossa nobre Rainha,
Deus salve a Rainha;
Ó Senhor, nosso Deus, venha
Dispersar seus inimigos
E fazê-los cair.
Gosto do hino do Reino Unido, é quase uma súplica abençoada que pede a queda dos nossos inimigos e hoje o nosso inimigo é a França. Estar nesse campo hoje é quase uma dádiva e o estádio lotado passa a melhor das energias, já que considero sempre a torcida como o 12º jogador que um time precisa.
Logo no início da partida já temos a primeira falta na lateral da grande área, Declan faz em Rabiot e o juiz marca, é quase um escanteio. Lucas Hernández cobra, cruzando para a pequena área, Maguire tira a tempo, vencendo o duelo de cabeça com Raphaël Varane. A bola vai parar nos pés de Tolisso que toca para Benzema. Karim finaliza de canhota, mas a bola vai para fora. Sem desvio algum, a bola é de Dean.
Eles começam tendo mais chances e isso não é bom.
Foden recebe a bola de Stones, que toca para Kane, percebendo que ele está mais adiantado. Harry domina e cruza, mas Hugo Lloris faz a defesa. O capitão francês acaba se machucando na trave na hora de agarrar a bola, mas logo se levanta e o jogo procede.
Eles chegam com uma jogada eficiente de Pogba e Tolisso, Griezmann ajeita de fora da área chuta, a bola passa por cima da trave. Puta que pariu. Consigo ouvir Southgate gritar na beira do campo daqui.
Dean cobra o tiro de meta para Kyle, que toca para Stones e lança para Sterling que está sendo marcado por Rabiot. Os dois se envolvem em um embate um a um, que Raheem consegue sair com um drible sensacional, ele corre e passa a bola para mim, que estou livre. Continuo correndo e quando chego perto da pequena área, não há muita opção, estou cercado. Kimpembe me olha com fogo nos olhos, como se me deixar passar com essa bola fosse a última coisa que ele faria vivo. Decido arriscar um chute daqui mesmo, a bola passa perto do lado esquerdo de Lloris.
Estamos aumentando as finalizações, o que já é bom, mas não o suficiente.
Depois de uma parada técnica devido ao calor, não sei direito o que acontece. A França parece tomar conta do jogo. Os franceses conseguiram duas chances claras: a primeira numa jogada de Pavard para Griezmann parada por Ben e o juiz marcou a falta. Kylian Mbappé bateu e Dean teve que fazer uma difícil defesa para impedir o gol. Já a segunda aconteceu quando Ben perdeu para Pogba e eles partiram para um contra-ataque mortífero que só foi parado pelo bandeirinha indicando o impedimento de Benzema depois do cruzamento de Mbappé.
Também tivemos algumas boas chances com três escanteios e algumas roubadas de bola, mas ambas foram para fora. Foi um primeiro tempo agitado, para os dois lados, mas sinto que estamos muito abaixo do nosso real potencial e a França está dominando. Isso me deixa puto, porque de maneira nenhuma poderíamos deixar isso acontecer. Conseguimos ficar 45 minutos sem tomar gol, Ben, Harry, John e Kyle estão fazendo um bom trabalho na parte defensiva, mas isso é um esporte passível de erros, não dá para depender da sorte e o volume de ataque deles é muito grande.
— Eu tenho uma sensação de que vocês estão cansados. — Diz Southgate quando entramos no vestiário.
— Não creio que fomos capazes de fazer o que treinamos, Southgate. — Harry Kane, nosso capitão, decide se pronunciar primeiro.
— Vocês sabem disso e esse é o desafio. Uma partida como essa pode ser decidida nos detalhes. E nestes detalhes precisamos estar concentrados, no tempo, no espaço, em tudo. Com jogadores de hierarquia, como a França têm na frente, vão continuar nos castigando e vão conseguir se vocês deixarem. Temos que mostrar que somos capazes de jogar! — Ele diz firmemente e concordamos em uníssono. Eu não quero nem pensar em sair de Al Khor hoje se não for com a vitória. — O espírito é seguir buscando o ataque. Não temos que guardar nada porque eles não vão parar. Por filosofia e espírito. Temos confiança nisso por tudo que já foi conquistado. Não temos compromisso com a derrota e nem vocação para ela!
Concordamos, Southgate tem razão. Ninguém aqui está satisfeito com o nosso desempenho. Ouvimos atentamente enquanto ele dá instruções à defesa e ao ataque para podermos corrigir as falhas. Tudo fica mais difícil com o Sol quente e a péssima marcação, estamos ficando mais lentos. Ver a velocidade dos franceses está me incomodando. Eles têm um trio de ataque poderoso. Por isso captei perfeitamente quando Gareth mandou que começássemos a atacar pelos lados e mais rápido. No primeiro tempo, jogamos muito lentamente e jogamos por dentro. Isso deu certo com a Espanha, pois os meias deles eram mais lentos, mas não está dando certo hoje.
O tempo do intervalo passou rápido e logo voltamos para o segundo tempo.
Como ganhamos o sorteio no primeiro tempo, o pontapé de saída agora é da França. Pogba e Lucas Dign, que entrou no lugar de Tolliso, trocam passes até Declan roubar a bola de Lucas que acaba saindo. Lucas Hernández cobra o arremesso lateral para Pavard que joga a bola lá para frente, muito longe, com Mbappé e Griezmann armados, mesmo assim dá certo. Stones e Maguire correm para tentar recuperar, mas lento demais para parar Antoine que chuta e a bola desvia na perna de Ben, e é escanteio para os franceses. Maguire consegue cabecear o cruzamento, recebo a bola na intermediária e corro para o lado oposto. Toco para Sancho, que entrou no lugar de Sterling. Ele dá um belo passe para Phil que é parado por Varane. Os dois caem no chão, e o árbitro marca a falta a nosso favor.
Sancho bate a falta e a bola passa triscando a barreira, teria entrado se Lloris não pegasse no cantinho. A jogada segue do lado deles, mas a bola acaba voltando para nós com Jude que é derrubado por Varane, logo após entrar no lugar de Declan.
— Porra, nenhum cartão?
Vejo Kane começando a ficar irritado, mas o cartão que o árbitro mostra para o francês parece acalmar os seus nervos. Varane tenta argumentar que “não foi nada”, mas o juiz permanece com a sua decisão em lhe levantar um amarelo.
Jadon pega a bola e me chama. É uma falta na esquerda da grande área, uma bela oportunidade para uma das nossas jogadas ensaiadas.
— Você vai bater?
— Vou. — Confirmo, vendo que quase todos do nosso time estão posicionados para o cabeceio.
— Chuta direto no gol. — Ele me aconselha quando pego a bola e a posiciono na marca que o árbitro fez no chão.
— Não estou convencido de que consigo marcar nessa posição.
— Eu vou me deslocar para trás, vai confundir a barreira deles e abrir ângulo para o seu chute. Confia.
Ele sorri cheio de confiança e decido tentar. O árbitro apita, autorizando. Na bola, eu rolo para Sancho, que só pisa na bola e me devolve. E ele tem razão, o movimento faz a barreira francesa se abrir e eu aproveito para bater de chapa. A bola voa na direção do gol num ângulo fechado e seria um gol espetacular se Hugo Lloris não operasse um milagre. Eu o vejo defender com a ponta dos dedos.
— Merda. — Digo para mim mesmo.
Nesse meio-termo, Southgate faz outra alteração, colocando Reece no lugar de Kyle.
Nos próximos minutos de jogo, o duelo, como quase em toda decisão de campeonato, fica mais tenso e menos atraente. Estamos na metade do segundo tempo e o placar ainda está zero a zero. Ambas as equipes mais se estudam do que atacam, apesar de algumas boas chances que tivemos.
Na cobrança de um escanteio, a bola de Griezmann vai para fora e penso que vai ser apenas um tiro de meta quando o apito do árbitro ecoa, marcando um pênalti a favor deles. É quase tão ensurdecedor quanto o barulho da torcida. Não vi ninguém caindo na área e percebo que ele está marcando um toque de John.
— Não teve mão! — Eu ouço John tentar dialogar com o árbitro.
— A bola bateu abaixo do limite superior do braço e houve desvio claro. — O árbitro diz.
— Bateu no meu ombro.
Aproximo-me sugestivamente, estamos cercando o juiz para que ele repense melhor na sua decisão.
— Porque não checa no VAR? — Se essa merda serve para alguma coisa. Penso seriamente em completar, mas não quero levar cartão por xingamento. Pressionamos tanto que ele decide ir checar no VAR. Estou tenso e irritado por levar tanto tempo para decidir se ia checar.
Pouco tempo depois ele volta e é bem clara a sua decisão quando faz o sinal confirmando a penalidade.
Todos nos posicionamos atrás da linha da grande área e Griezmann se prepara para bater. O juiz apita e ele chuta, é surreal a velocidade de Dean para defender essa bola, mas Benzema chuta novamente e por um milagre de Deus ele erra o rebote, mas a bola não sai. Phil está ali no meio da pequena área, e ele é rápido iniciando um contra-ataque pelo meio, ao invés dos lados como Southgate indicou. Ele toca para mim, Kimpembe e Pavard estão se aproximando para me marcar, então não perco tempo e lanço para Kane que chuta, Lloris espalma de volta para o campo e, diferente de Griezmann, Kane não desperdiça o rebote e chuta para o fundo da rede.
Corremos para comemorar o que pode ser o gol da classificação. Tudo acontece muito rápido, o contra-ataque, o gol, a euforia dos torcedores, tudo é tão intenso e surreal quanto a jogada que ninguém aqui sonhou que ia acontecer. Nos abraçamos todos juntos compartilhando esse momento mágico. Fico feliz de ter passado a bola para Kane naquele momento, como uma forma de compensar aquela falta que eu bati e que Lloris pegou, mesmo que a ideia de Jadon tenha sido muito boa.
Agora temos duas opções: segurar o resultado pelos próximos 15 minutos ou continuar atacando, mas Gareth foi bem claro no seu discurso no vestiário. Por isso, mesmo com a vantagem, decidimos continuar pressionando para mostrar a qualidade que a Seleção Inglesa possui. Não viemos aqui brincar ou entregar, nosso objetivo é só um e vamos fazer de tudo para alcançá-lo.
Didier Deschamps faz boas alterações no meio-campo francês, o que nos complica um pouco, mas conseguimos nos entrincheirar e aguentar a pressão. Stones e Maguire conseguem segurar bem Benzema e Griezmann e anular suas jogadas deles com Mbappé, mas o momento mais tenso veio nos minutos finais.
Dign passa para Pogba, que, adiantado, rola para dentro da área. Ele está preso, tentando se livrar da marcação, consegue tocar para Kylian, que é incrivelmente rápido, ninguém consegue pará-lo. Ele chuta de fora da área e todos os olhos estão voltados para a curva que essa bola faz e, para mim, é como se tudo estivesse em câmera lenta e a tensão atinge cada célula dos meus músculos. Estou paralisado. Um gol de empate agora seria péssimo, mas a bola bate na trave e vai para fora. Solto o ar que eu nem sabia que estava segurando. Os franceses estão frustrados, são bem claras as suas reações. Quanto a nós, acredito que seríamos capazes de beijar essa barra de metal de 10 centímetros de espessura.
Quando o jogo termina, não há um sentimento certo para descrever. Loucura, explosão, orgulho, alívio e o choro emotivo na torcida inglesa. Respiramos com o sonho do bicampeonato vivo enquanto apreciamos a emoção dos torcedores. Já a França lamenta a derrota amarga no placar que exibe o 1–0 a nosso favor.
Hotel The Hitz-Carlton, Doha, Qatar
“Three Lions derrotam a França em Al Bayt.”
GOL INACREDITÁVEL E UM JOGO ELETRIZANTE: INGLATERRA AVANÇA
“Um passe decisivo de para Harry Kane que marcou no rebote.”
A ATUAL CAMPEÃ MUNDIAL: FINALMENTE DERROTADA
“Depois de uma campanha invicta, Griezmann perde pênalti e Les Bleus estão fora do mundial.”
TUDO DECIDIDO!
“Inglaterra enfrenta a Argentina na final. França e Alemanha disputarão o 3º lugar. Veja as datas e horários dos jogos.”
Qualquer aplicativo que eu abra, é sobre isso que estão falando e não estou surpresa, apenas prefiro ver as mesmas notícias, posts e tweets sobre a copa do que responder à mensagem de Jenna.
Jenna: acho que tudo vá terminar em Londres
então, vc quer que eu compre suas passagens pra depois, ou antes, da final da Copa?
Basicamente, ela veio me explicar que amanhã a Nike quer encerrar as filmagens da campanha no Qatar e fazer um pequeno pedaço em Londres ou Nova Iorque no dia dezoito para finalizar tudo, e é ela quem cuida de toda a minha tramitação, ou seja, compra passagens, providência vistos etc. Ela não faz nada disso sem falar comigo antes.
Balanço os polegares no ar porque não faço ideia do que responder. Amanhã é dia onze, ou seja, eu teria quase uma semana de folga até o dia dezoito, por isso, para Jenna não faz diferença. Já para mim, o certo seria ir embora logo, organizar as minhas coisas e comparecer ao aniversário da vovó no dia quinze, mas essa vida aqui em Doha parece que me puxou para dentro de um buraco negro do qual eu não consigo mais sair. É como se estivesse vivendo uma realidade paralela.
Não sei o que fazer, preciso pensar mais um pouco.
Eu: tenho que decidir isso agr?
Jenna: me avise até o dia 13
Eu: ok
Meu celular apita de novo e dessa vez a mensagem é de .
: , vc já comprou meu bulê?
Eu: ainda não
: qnd vc vai comprar? quero muito aquele bule
Eu: eu n sei
vc vai ficar enchendo o meu saco até comprar essa merda?
: claro?? sou seu irmão mais velho, eu nasci pra te encher o saco
Reviro os olhos. é um bom irmão, mas ele sabe ser chato quando quer. Me aborrecer é o seu passatempo favorito. Nada anormal numa relação fraterna.
: oq vc anda fazendo por aí pra te deixar tão ocupada???
Decido ignorar a pergunta dele. Ele nem imagina que uso o meu tempo livre para me atracar com o seu maior rival.
Olho a hora no celular, vejo que são sete e meia e lembro que me avisou que subiria às oito. Tive um dia cansativo. Trabalhei a manhã inteira, às três da tarde fui até o estádio para ver o jogo e depois disso tive que voltar para o estúdio e cheguei a pouco tempo. Decidi não encontrar com ele no Lounge, não estava a fim de beber hoje.
Tomo um banho rápido e deixo o cabelo secar naturalmente. Paro para dar uma olhada no meu rosto no espelho do quarto, coloco uma tiara para afastar os fios do meu rosto e decido usar os minutos que restam para dar um jeito na minha pele. Minha pele é muito oleosa, por isso trato as minhas rotinas de skincare como se fossem rituais sagrados. Quando a minha pele está boa, parece que tudo dá certo na minha vida.
É verdade que estou cansada, mas não me importo nenhum pouco em gastar meus últimos resquícios de energia com , principalmente se formos transar, estamos nisso para isso. Estou tentando não levar isso com tanto compromisso porque, querendo ou não, é um dos motivos de me deixam sem saber o que fazer quanto à pergunta de Jenna. Desde ontem à noite, Jordyn vem tentando me convencer que tivemos, sim, um encontro sério. Ela até pode estar certa, mas mesmo assim, não se coloca tanta expectativa em um primeiro encontro. E se as pessoas colocam, bem, não deveriam. É uma aposta perigosa.
Desde o meu último relacionamento, venho tentando ser mais pé no chão quando o assunto é amor. Não foi uma experiência terrível, mas posso dizer que eu me entreguei muito mais do que a outra pessoa. Nesse caso não tem nada a ver com ou qualquer outra pessoa. Isso se aplica especialmente a mim.
Estou passando um tônico fácil quando ouço batidas na porta. Franzo a testa e levanto para abrir. está ali com seu sorriso de finalista de uma orelha a outra. Por um lado, estou um pouco amuada, porque, bem, eu não queria que a Inglaterra passasse, a eliminação ainda (dói) um pouco, mas por outro estou feliz por ele e meio orgulhosa. Foi um jogo tenso, difícil e vi o quanto ele e os outros jogadores se esforçaram para sair de lá com a vitória. Admito que foi merecido.
— Ué, pensei que você só ia vir às oito.
— E ia, mas achei que se viesse mais cedo nós teríamos mais tempo.
Eu dou espaço para entrar, mas ele me agarra quando ainda estou pendurada na porta.
— Não! — Eu me esquivo de um beijo. Não que eu não queira beijá-lo, mas o meu rosto está cheio de produto e os meus lábios cobertos por bepantol. — Você chegou bem na hora da minha skincare.
Solto-me dos seus braços e fecho a porta.
— Você é obcecada com isso?
— Cuidar da pele nunca é demais.
— E isso funciona?
— Eu não perderia meu tempo fazendo todo dia se não funcionasse.
— Tá, eu quero testar.
— Mesmo? — Franzo a testa curiosa e ele confirma. — OK, vai lá no banheiro e lava o rosto com isso. — Entrego-lhe um gel de limpeza e acena, se movendo para o cômodo ao lado. — Com água gelada!
Tiro alguns dos meus produtos da necessaire enquanto ouço o barulho da água da torneira. Se dias atrás alguém me dissesse que estaria aqui, no meu quarto, fazendo skincare comigo, eu teria crises seguidas de riso e diria que essa pessoa está sob o efeito de algum narcótico pesado. Os barulhos inquietantes das notificações das mensagens de não param, por isso decido colocar no silencioso. Ele que me desculpe, mas vai continuar no vácuo.
— Pronto! — anuncia quando volta e me abraça por trás, encaixando a cabeça na curva do meu pescoço.
— Qual máscara você quer? — Mostro-lhe os pacotinhos na minha maleta.
— Vitamina C.
— Sente.
Nós viramos para a cama e ele obedece, tirando os chinelos. Sento no seu colo com uma perna de cada lado do seu corpo e começo a aplicar o produto no seu rosto do jeito que eu fiz com o meu. Ele apoia as mãos no meu quadril quase que de imediato.
— Não é melhor você responder logo? — Ele pergunta indicando o celular na mesa que não para de vibrar.
— É só o meu irmão.
De um segundo para o outro, a expressão de muda. Se antes ele estava contente com um sorriso ansioso, agora uma carranca sombria e mal-humorada estampa a sua face.
— Porra, o que esse chato quer?
— Nada de mais, coisas de irmãos. — Digo com franqueza. Se fosse algo importante, eu não estaria o ignorando.
— Pela saco, insuportável. — Ele resmunga e repreendo com o olhar.
— Ei! Não precisa ficar falando mal dele.
— Só estou sendo sincero. — Ele dá de ombros. — O seu querido irmão é arrogante para caralho, temperamental, quer reclamar quando sabe que tá errado. Sem falar das merdas que ele vive postando no Twitter, parece uma adolescente de 15 anos jogando indireta.
Bufo entediada, meus olhos quase saem de órbita de tanto que os reviro. Concordo com que pode ser estourado e um pouco infantil, mas não estou nem aí para essa briga dos dois, não tem nada a ver comigo. Eu gosto de com todos os defeitos dele, ele é o meu irmão mais velho, e apesar de encher a minha paciência cem por cento do tempo, ele me ama e sempre me ajudou quando precisei. Não sou obrigada a ouvir falar mal de a troco de nada.
— Acredite, , eu conheço bem os defeitos de mais do que qualquer pessoa. — Falo friamente e dou indícios de sair do colo dele, mas ele me impede, me segurando firme. Não consigo esconder quando algo me aborrece, então não é difícil para perceber que não gostei do que ele falou. Na verdade, achei totalmente desnecessário.
— Ei, foi mal. — Ele lamenta e de alguma forma vejo arrependimento nos seus olhos. — Vamos parar de falar dele.
— É a sua melhor ideia. — Acabo cedendo porque não quero discutir. entende isso como uma abertura para me beijar e consegue um selinho, mas eu me reclino antes que ele aprofunde o beijo. Estamos com o rosto cheio de produto, não seria um beijo muito gostoso. — Não faça isso. Esse negócio cheira bem, mas garanto que o gosto é horrível!
Ele me olha de forma contemplativa e um sorriso sacana preenche os seus lábios. Gosto desse sorriso, porque ele atiça cada célula minha e arrepia cada pelo do corpo.
— Então vamos lavar! — Sem aviso, ele levanta e me leva junto, segurando as minhas coxas. No caminho, a minha tiara cai da cabeça. Eu me agarro nos seus ombros em um reflexo e abraço sua cintura com as pernas. Ele anda tão rápido que estamos no banheiro em segundos.
— O que você tá fazendo? — Pergunto confusa quando ele entra no box ao invés de parar em frente à pia. abre o chuveiro e a água cai sobre nós num jato forte e quente, nos molhando por inteiro. Eu esfrego as mãos no rosto para me livrar do produto e faz o mesmo com uma das mãos enquanto a outra ainda me segura. — Ficou doido? Eu já tomei banho, .
— Não foi comigo, então não conta.
— É? E como você vai voltar para o seu quarto com as roupas encharcadas?
— Isso é problema do do futuro.
Sou pega de surpresa olhando em seus fascinantes olhos marrons. Seus lábios começam a se mover para mais perto do meu rosto, eventualmente travando nos meus. Sua língua engole a minha num beijo ensandecido. gira nossos corpos até que as minhas costas choquem contra a parede e acho bom porque assim é bem mais fácil de me livrar da camisa dele. Seus lábios começam a fazer um caminho lentamente pelo meu pescoço enquanto puxo sua camisa um pouco antes de arrancá-la sobre sua cabeça. O tecido encharcado faz um som quando atinge o chão. separa nossos corpos por alguns centímetros e os meus pés alcançam o chão novamente. Ele alcança a barra da minha camiseta e faz o mesmo que eu fiz com a dele. Seus olhos se acendem como dois faróis numa rodovia escura quando caem nos meus peitos.
— Sem sutiã?
— Esqueci.
— Eu gostei. — Jogo os braços ao redor do seu pescoço e se inclina, pressionando-me na parede de ladrilhos. Ele me beija de volta com fervor e chupa minha língua para o interior de sua boca. É delicioso, sinto que está devorando todo o meu ser, e esse é só o começo.
traça a linha do meu esterno e quando chega ao fim, agarra a parte de trás do meu pescoço. Seus dedos se fecham ao redor da minha nuca com força e a sua boca se aproxima do meu ouvido direito. Eu estremeço e quase derreto na palma da sua mão. — Vou te fazer gozar tanto hoje, , que você só vai sair desse banheiro de perna bamba.
— Se você não cumprir, posso cortar suas bolas e vender no mercado clandestino?
— Para de cortar o clima, porra! — Ele acompanha a minha risada jogando o cabelo para trás, mas é quase inútil já que o jato do chuveiro é muito mais forte. — Eu prefiro que você as chupe.
Olha para mim e abre um sorriso sugestivo, já eu olho para a sua virilha quase de imediato. Quero sentir sua ereção dura pesando na minha mão, mas antes que eu consiga encostar no cós da sua bermuda da Nike ele trava as minhas mãos em cima da cabeça.
— Quietinha, , se não eu paro.
Diz rente aos meus lábios e sou forçada a engolir as palavras. solta as minhas mãos para agarrar a minha bunda e começa outra trilha de beijos descendo pelo meu pescoço e, oh, muito lentamente, pela minha clavícula e busto, enviando arrepios por toda a espinha. Ele continua dando beijos e mordidas leves até alcançar a linha dos meus seios, chupando-os suavemente, o que revela uma série de gemidos constantes que escapam pela minha boca.
Tento abaixar o meu short, mas não deixa e afasta as minhas mãos. Isso me frustra e me excita ao mesmo tempo. Ele está enrolando de propósito, mas gosto que assuma o controle. Minha personalidade é tão dominante que às vezes o meu segredo é ser submissa.
— Dá para você me chupar logo? Eu não aguento mais.
— Eu disse para você ficar quietinha. — Ele aperta o meu nariz.
— Já, já você cala a minha boca. — Dou uma mordida na sua boca e acredito ser suficiente para ele iniciar o que eu pedi, visto que começa a descer até se ajoelhar no chão. Ele puxa o meu short junto com a calcinha e em segundos estou completamente nua.
— Era nisso que você tava pensando? — Sinto sua língua se movendo por toda a minha virilha e pelo interior das minhas coxas, enviando fogo pelo meu corpo. Meu coração está batendo forte e tudo que eu consigo pensar agora é na sua língua me invadindo.
— Exatamente isso. É isso que eu quero. Use a língua e quantos dedos você quiser, mas não menos que dois.
Eu pisco e ele balança a cabeça. — Entendido.
Não tenho problemas nenhum em dizer a um cara exatamente o que eu quero que ele faça, é o meu prazer que está em jogo aqui e eu o levo bem a sério, mas também dou alguma liberdade para eles. É coisa de homem, a maioria gosta disso, saber que de alguma forma estão no controle e te satisfazendo ao mesmo tempo. abre as minhas pernas, ergue uma delas, a apoia em cima do seu ombro e faz exatamente o que eu pedi.
Eu agarro o seu cabelo enquanto o vejo consumir cada contorno da minha intimidade como um leitor voraz e clarividente. Seus dedos lambem para cima e para baixo entre os lábios da minha boceta e a sua língua circunda e chupa o meu clitóris habilmente. Os ritmos vêm tão naturalmente, até eu senti-los mergulharem dentro de mim uma, duas vezes, mais fundo. Meus quadris acompanham o tempo dos seus impulsos, encorajando-o a não vacilar. Meus gemidos, antes silenciosos, se transformam em gritos altos de prazer.
— Nossa, que delícia!
A tensão que irradia do meu corpo reunida ao vapor da água quente engrossa tanto o ar que parece que os meus pulmões vão ferver. Eu nem ao menos preciso pedir que vá mais rápido ou devagar enquanto ele faz uma alternância perfeita com a língua e os dedos. Meus quadris se torcem e pressionam contra seu rosto à medida que aumenta a velocidade e a pressão dos seus dedos enquanto continua a acariciar o interior da minha vagina com a língua.
— Continua assim, eu vou gozar.
Procuro apoio nos seus ombros, arqueando as costas. Eu grunho, gemo e mordo com força os meus lábios quando aquelas maravilhosas ondas de prazer se alastram por cada centímetro do meu corpo até quase entrar em colapso.
— Isso definitivamente foi um orgasmo! — Eu digo-lhe depois de me recompor e ele levanta, ficando de frente para mim. Pego o frasco de shampoo, despejo um pouco na minha mão e depois na cabeça dele. Ele esfrega a cabeça até formar uma espuma, eu devolvo o frasco no lugar em que estava para esfregar o meu próprio cabelo apesar de ele já estar limpo.
— Essa era a ideia, linda. — me agarra pela cintura unindo nossos corpos novamente enquanto os meus braços estão suspensos. Meu cabelo é bem maior que o dele, então logicamente eu demoro mais para ensaboá-los. — Como você o chamaria?
— Hm... Incrível?
— Pois eu o chamo de primeiro. — A luxúria nos seus olhos explode tudo dentro de mim de novo e eu o beijo ardilosamente enquanto a água faz escorrer todo o shampoo. — Então esse é o shampoo que você usa? Bambu? Sempre senti o cheiro, mas nunca consegui identificar o que é.
— Não acredito que parou de me beijar para falar do meu shampoo.
— Tem razão.
concorda puxando minha nuca com as duas mãos até que as nossas bocas se choquem novamente em um beijo energético. Decido que ele já me atiçou demais, está na minha vez. Desço as mãos até a sua virilha sem parar de beijá-lo e quando aperto seu pênis ereto por cima do tecido, solta um suspiro na minha boca. Beijo o seu pescoço e pressiono meus lábios ali, mas não forte o suficiente para deixar uma marca.
— Se você chupar o meu pau igual chupa o meu pescoço, nossa... — Ele chia, aquele som gutural e rouco que me deixa fora de órbita.
— Olha, eu me garanto muito no boquete. — Me gabo, passando os dedos ao redor do elástico da sua bermuda de algodão. Incomoda-me o fato de ele ainda não estar nu, por isso o despojo das últimas duas peças que faltam de forma frenética. Quero seu corpo robusto e atlético apenas para mim.
Eu olho para o seu pau enquanto o masturbo lentamente, lambendo os lábios. segue o meu olhar e arfa com o ritmo dos meus movimentos. Eu olho para o seu rosto sedento, acho que ele não vê a hora que vou me ajoelhar e engoli-lo completamente.
— Faça, , faça agora.
— Depois. — Dou uma pequena risada do seu desespero. Vejo sua decepção reluzir rapidamente então completo antes de virar de costas: — Fode a minha boceta primeiro, eu quero que você goze na minha boca.
— Caralho, você vai me deixar louco.
Começo a respirar um pouco mais pesado e responde segurando minha bunda e me puxando para ele. Uma onda de desejo percorre o meu corpo quando sinto sua respiração na minha nuca e ele me empurra até o meu corpo atingir o vidro do box. passa levemente as mãos pelo meu corpo, os dedos pelo meu cabelo e puxa minha cabeça para trás antes de beijar o lado do meu pescoço enquanto começa a me penetrar lentamente. Eu empino o quadril o máximo que consigo, gemendo de puro prazer conforme ele desliza para frente e para trás rapidamente.
Aqui dentro está ficando quente demais, não tenho nem ideia de quanto tempo se passou, e é ótimo não ter que me preocupar com isso. não para de me tocar, ele passa os dedos pelos meus ombros, pela minha clavícula e desce até os meus seios, amassando-os nas mãos enquanto me fode forte e rápido. Exatamente do jeito que eu queria. Deixo as minhas inibições se esvaírem completamente e gemo mais alto cada vez que ele desliza para dentro de mim. É algo animalesco e sensacional. Tento me esforçar ao máximo, pois sei da minha missão de gozar primeiro e está facilitando muito isso.
— Porra, , estou quase gozando.
Meu orgasmo é mais suave, menos desgastante do que o primeiro. Meu corpo fica tenso em torno da minha pélvis antes de ondas de relaxamento absoluto tomarem conta de mim de novo.
Eu o empurro, travando seus movimentos e ele sai de dentro de mim, olho para ele ensandecida. Seus olhos são duas esferas escuras brilhando para mim e o desejo de prová-lo é esmagador.
— Eu cumpro com tudo que eu falo, OK? — Espalmo as mãos sobre o seu peito.
— Eu jamais duvidei. — assobia olhando enquanto eu me abaixo ficando de joelhos e seguro seu pau ereto. Ele geme baixinho quando lentamente me inclino para frente até que meus lábios toquem apenas a ponta. Chupo a cabeça por alguns segundos, depois avanço um centímetro de cada vez, mantendo os olhos fixos nele. Esse é o meu jeito preferido de saber se um cara tem autocontrole e até agora está passando no teste. Ele suspira pesadamente e sinto seu abdômen subir e descer.
Continuo com o mesmo ritmo até ter o meu rosto enterrado contra sua pélvis. Seguro aqui por alguns segundos, em seguida, puxo a cabeça para trás lentamente e volto a devorá-lo. Continuo no mesmo ritmo, levando tudo dele em minha garganta. Os sons que saem da sua garganta me incentivam mais e pego uma de suas mãos e as levo até o meu cabelo. entende rápido e deixo que ele tome o controle daqui para frente. De imediato, sinto seus quadris impulsionarem com força para frente, empurrando seu pau excitado garganta abaixo. Passo a mão direita ao redor de sua coxa para segurá-lo perto e não perder o equilíbrio.
— Quer mesmo que eu goze na sua boca?
Eu não respondo, apenas subo meus olhos até os dele, mantendo os lábios apertados em torno de seu comprimento. acena e se concentra nas últimas bombeadas, me dando aquilo que pedi. Estou completamente perdida na sensação notando com prazer o vazamento revelador da porra salgada. Engulo uma, duas vezes enquanto ele desmancha dentro de mim. Quando termino, eu levanto e deixo a água do chuveiro lavar a minha cara.
acaricia meu rosto, antes de me puxar para um beijo longo e lento. Não tenho paciência alguma para homens cheios de nojinho. Gosto de fazer tudo que o sexo pode oferecer e é interessante como nós dois estamos dispostos a isso.
Eu me sinto excitada novamente quando ele se pressiona contra mim e acaricia as minhas coxas, e quase envolvo uma perna ao redor dele. Mas decido pegar um sabonete ao invés disso e passar condicionador no meu cabelo.
— Quanto tempo você acha que nós estamos aqui? — Pergunto ao ver os meus dedos enrugados.
— Não sei, mas não tô fazendo muita questão de sair agora.
Encaro o seu sorriso lascivo e plenamente satisfeito e brincamos com o sabonete tentando prolongar mais esse banho sem fim.
— .
— O que foi? — Desligo o chuveiro e olho para ele. Estou quase pegando uma toalha pendurada no box quando ele me freia.
— Sabe, eu tenho uma nova opinião sobre banhos. Um só nunca é o suficiente.
— O que tem na sua mente perversa? — Arqueio uma das sobrancelhas e sigo o seu olhar que vai até à banheira vitoriana branca no canto do banheiro.
— É uma banheira individual, . Não cabe nós dois ali!
— Essa é justamente a ideia. — Ele dá um beijo no meu pescoço quando passa por mim e puxa a minha mão naquela direção. — Eu sou finalista! Deixe eu me divertir um pouco.
Fico sentada de frente para na banheira. Temos as pernas dobradas porque realmente o espaço não é muito grande para nós dois. A banheira está cheia de água pura e límpida, mas um banho de banheira não é bom sem a espuma de alguns sais.
— Espere um minuto! — Exclamo e levanto. No mesmo instante sinto os olhos de circularem sobre o meu corpo, mas isso não me intimida. Eu gosto quando ele me deseja.
— Estou decepcionado, tava te imaginando sentando no meu colo. — Ele diz e vou até a pia onde está uma das minhas necessaires, atrás do frasco de óleo de calêndula, o meu sal preferido.
— Ah é? — Pergunto olhando para ele com o frasco na mão.
— Vem, senta essa bunda gostosa aqui!
me puxa pela mão e eu volto para a banheira derramando todo o conteúdo do sal e fazendo muita espuma enquanto ele me beija.
— Caralho, você vai precisar me dar uns desses frasquinhos. Essa merda é boa. — Digo enquanto aliso o meu rosto na frente do espelho com uma toalha na cintura. Depois de quase uma hora, eu e decidimos sair da banheira, também porque nem eu, nem ela aguentávamos mais ficar ali e, se ficássemos, provavelmente transaríamos de novo. Ela está do meu lado, de frente para a pia de cuba dupla.
— Eu disse que era. — me responde enrolada com uma toalha branca do hotel no corpo enquanto pega as nossas roupas do chão e as torce para sair o excesso de água. Estou ajudando-a a dar um jeito na água do chão porque a nossa última brincadeira na banheira quase alagou o chão inteiro. — Então, do futuro, como você vai fazer para ir para o seu quarto?
— Não faço ideia.
Solto uma risada. Não foi uma boa ideia entrar no chuveiro de roupa e tudo, mas quando você só pensa com a cabeça de baixo, é isso que acontece.
— Vocês têm mesmo que dormir nos próprios quartos todas as noites? — Eu a olho sugestivamente. coloca nossas roupas já torcidas em cima da pia e pega um pente para pentear o cabelo.
— Sim, por quê? Isso é um convite? — Me aproximo por trás e deixo um beijo no seu pescoço.
— Não! — Ela responde e se esquiva rápido. me olha meio assustada, depois volta a se concentrar no enorme espelho a sua frente e nos movimentos do seu pente nos fios.
Não é um movimento pelo qual estou esperando, como se a ideia de dormirmos juntos fosse absurda. Essa atitude gera uma dúvida na minha cabeça, não pode ser a respeito de intimidade, porque, porra, eu tinha meu pau na sua boca há uma hora, mas decido ignorar isso e responder a sua pergunta.
— Bem, Southgate está fazendo um pequeno controle com isso para que nada saia do eixo. Quer dizer, todos temos responsabilidade e compromisso, sabe? Mas ele não quer ter que lidar com outro problema como teve com Foden e Greenwood a um tempo atrás.
— Ah, entendi.
Encosto o quadril na pia e cruzo os braços. Ficamos em silêncio por algum tempo e eu decido observar ela penteando o cabelo como se estivesse vendo uma obra no Museu do Louvre.
Ela mudou de atitude e está fingindo que nada aconteceu. Consigo perceber isso facilmente e me incomoda demais. Não lembro de ter falado alguma besteira como quando comecei a falar mal do seu desprezível irmão.
O olhar dela reveza entre mim e o espelho.
— O que foi?
— O que foi pergunto eu. Você ficou estranha de repente.
— Não é nada. — deixa o pente na pia e olha para mim. Sua expressão está mais suave e eu estou mais confuso. Ela sorri e pega as nossas roupas em cima da pia. — Vem, vamos dar um jeito de secar isso aqui.
me puxa pela mão até o quarto. Eu a sigo, esperando que não seja nada mesmo, nosso lance é casual, mas estou curtindo demais ficar com ela, e, apesar do nosso futuro incerto, não queria que algo estragasse isso agora.
Capítulo 8 – Décimo Segundo Dia
11 de dezembro de 2022
Hotel The Hitz-Carlton
Eu: vcs vão ou não?
Digito depois que saio do banheiro. Ontem, o dia foi incrível: classificação para a final e horas de sexo com , eu não poderia estar me sentindo melhor, por isso acordei cedo hoje. A minha ideia é dar um mergulho no mar. O hotel é vinculado a uma praia particular que eu ainda não tive o prazer de conhecer. Gosto de praias, mas para ir em uma, morando em Londres, tenho que dirigir por pelo menos uma hora. A concentração hoje começa às dez da manhã e a partir daí serão quatro dias de total foco, sem pausas ou folga. Quero relaxar um pouco antes de iniciar, apesar da ansiedade. Ser assíduo e pontual sempre é uma das minhas preocupações, por isso acordo cedo hoje para não me atrasar para o treino.
Acendo o abajur para terminar de me arrumar e enquanto visto uma camisa ouço o alto resmungar de James.
— Mas que merda, , apague isso.
— Foi mal, já tô saindo.
— Saindo? São sete da manhã. — Ele checa olhando a janela.
— Seis e meia, na verdade.
— Como se isso deixasse tudo melhor.
— Eu te avisei ontem que ia dar um mergulho hoje cedo antes do treino. Não quer mesmo ir?
— Entrar naquela água gelada quando posso continuar aqui dormindo por mais uma hora? Não mesmo. — Finaliza e volta a enfiar a cara debaixo do travesseiro. Calço os chinelos e o meu celular vibra, vejo que finalmente responderam a minha mensagem.
Eric: eu já estou no elevador
Ben: já estou saindo, é o Reece q tá enrolando
Reece: tô apenas verificando se a Mia vai tbm
Eu: beleza, vou passar no quarto da pra chamar ela, encontro vocês lá
Eric: claro se o Reece pode levar a namoradinha vc também pode
Eu: n estamos namorando
Ben: quero ver até quando
Reviro os olhos e guardo o celular. É apenas a verdade, eu e não temos nada sério, eu não costumo confundir isso, mas confesso que é uma das coisas que eu quero resolver depois do jogo.
O comentário de Eric me faz lembrar de uma coisa e vou até a mesa ao lado da minha capa e tiro dali a credencial. Depois do jogo com a França, eu solicitei um Fan ID* especial que desse acesso ao gramado depois do jogo para a minha família, isso, claro, se ganharmos, e acabei pedindo um a mais para dar para . Nem pensei muito quando pedi, apenas fiz.
Isso está tomando um rumo que eu não imaginei. Eu queria muito ficar com ela, de verdade. De início, achei que nem ia acontecer, e achava que seria algo apenas carnal, de uma dia só. Gosto de me dedicar cem por cento às coisas que eu faço, por isso, quando o meu foco tem que estar no futebol, eu deixo o resto em segundo plano. Não gosto de iniciar relacionamentos em momentos decisivos da minha vida, não acho justo com a pessoa eu não poder me dedicar totalmente a ela e à minha relação com ela. Por isso que, normalmente, quando é uma dessas ocasiões, mas eu quero transar com uma mulher, deixo bem claro as minhas intenções luxuriosas de uma noite e nós nem sequer conversamos no dia seguinte. Mas não foi isso que aconteceu com , e, de alguma forma, não é o que eu queria que acontecesse.
Ela tem alguma coisa que me prende e me puxa para perto. Se existe poção da loucura, da paixão, da obsessão, com certeza há algumas gotas no perfume dela. Ainda me deixou surpreso que ela não tenha me dispensado no dia seguinte ao jogo contra a Espanha. Eu imaginei que ela me botaria para correr do quarto dela assim que gozasse e voltasse à plenitude das suas faculdades mentais. Querendo ou não, quero continuar preso a ela, por isso acho que devíamos conversar sobre, mas não agora. Acho que depois do jogo vai ser um momento mais propício, por isso pedi a credencial, nem que troquemos umas cinco palavras, apenas para eu saber se é recíproco ou não. Quero voltar para Londres com o título e com essa resposta.
Apago a luz e saio do quarto. Desço até o décimo andar. Tenho que tocar a campainha do seu quarto algumas vezes até finalmente acordá-la e abrir a porta. Ela está de pijama, bocejando, com os olhos um pouco fechados. Descubro que ela fica linda até mesmo com essa cara amassada de sono.
— Você atrapalhou o meu sono, espero que por um bom motivo.
— Como sabia que era eu?
— Quem mais ia vir aqui encher o meu saco a essa hora da manhã?
— É por um bom motivo. — Digo entrando e ela fecha a porta. Fico um tempo analisando enquanto ela prende o cabelo e vai até a mesinha ao lado da cama para conectar o celular no carregador. — Eu, Eric, Ben, Reece e a namorada dele estamos indo para a praia. Vim te convidar para ir junto.
— Por que tão cedo? — Ela coça os olhos e descubro que talvez não seja tão fã de acordar cedo. — Minha nossa.
— Porque temos treino às 10h. Planejamos chegar lá umas sete para conseguir sair no máximo umas nove. — Digo com orgulho do meu planejamento. — Topa?
— Hm... — fica um tempo checando a tela do aparelho e logo responde. — Quanto tempo eu tenho para me arrumar?
— 30 minutos.
— Beleza.
Ela abaixa para tirar roupas da mala. Por um momento, quase esqueço da credencial que está na minha mão e digo antes que ela vá para o banheiro.
— Ah, trouxe isso para você. — me olha curiosa e estendo o crachá de plástico transparente em sua direção. — Para a final. — Explico.
Ela paralisa por um bom tempo, encarando o crachá, e fico tentando descobrir o que ela está pensando. Estou prestes a perguntar quando ela se move para pegá-lo da minha mão e logo em seguida dá um sorriso de gratidão.
— Obrigada, .
o guarda na bolsa e depois vai até o banheiro.
Demora vinte minutos até ela estar pronta para que possamos sair. Eric me manda uma mensagem avisando que eles já estão na praia e que é para encontrá-los lá.
— Por que essa vontade de ir para a praia? — pergunta quando estamos no elevador. Olho para ela pelo reflexo no espelho, ela está checando alguma coisa na sua face imaculada livre de qualquer maquiagem. Ela é bonita para caralho, nunca vou cansar de dizer isso.
— Quero dar um mergulho no mar. — Digo friccionando os dedos no seu ombro direito. Abaixo os olhos para as unhas do seu pé pintadas e subo devagar pelo seu corpo. Ela colocou um biquíni verde-água e uma saída de praia branca rendada nada comportada por cima. Fiquei igual um idiota encarando quando ela saiu do banheiro e ainda estou.
— E não trouxe nenhuma toalha?
— Porra, esqueci.
— Eu tenho uma aqui. — Responde balançando sua bolsa amarela transparente.
— Você pensa em tudo, mulher? Case comigo. — Eu brinco e ela solta uma risada estridente, se apoiando na moldura embaixo do espelho.
— Nunca, imagina casar com um inglês metido desse?
— É você quem perde. — Respondo arrumando a gola da camisa de frente para o espelho e ela revira os olhos. — Seria uma ótima oportunidade para mudar seu sobrenome. Odeio ele, é difícil de falar e escrever.
— Uma pena, jamais vou tirar o meu .
Bufo com a falha tentativa. Eu estaria mentindo se não associasse toda hora o “” com o irmão dela, e não gosto de pensar nesse cara.
Quando o elevador chega ao térreo, nós saímos. É uma caminhada bem curta do saguão até o início da praia. Está praticamente vazia, por isso eu e os localizamos facilmente. Eric, Reece e Ben estão jogando futevôlei próximo à água e Mia está deitada na areia lendo um livro, um pouco mais afastada. As nuvens escondem o Sol e está ventando um pouco, não é à toa que quase não tem ninguém aqui.
Decidimos ir até onde Mia está primeiro.
— , Mia. Mia, .
Eu as apresento e elas se cumprimentam rapidamente. estende uma canga ao lado da de Mia enquanto eu tiro a camisa.
— Faz muito tempo que vocês chegaram? — Eu pergunto a Mia e ela levanta os olhos do livro para olhar para mim.
— Quase nada, no mínimo uns cinco minutos.
— Droga, esqueci o protetor. — Olho para quando ela resmunga. Está ajoelhada na areia com a bolsa entre as pernas.
— Pode usar o meu. — Mia diz, lhe oferecendo o frasco.
— Obrigada! — dá um sorriso e pega a embalagem. Ela vira o pescoço lentamente e olha para cima, na minha direção. — Passa para mim? Daquele jeito que você fez da outra vez?
A minha mente viaja até o dia em que nos encontramos na piscina e dou um sorriso para o seu pedido sugestivo. Apesar de parecer querer distância, eu sabia que ela tinha gostado da minha massagem. Sento atrás dela e desliza a saída de praia pelos braços. Espalho o protetor na mão antes de tocar seus músculos tensos que aos poucos vão relaxando.
— Para que passar isso? Está nublado.
— Os raios UV ainda passam pelas nuvens, .
— Você é sempre espertinha assim, ?
— Sou. — Dou risada na sua nuca e deixo um beijo ali enquanto as minhas mãos continuam trabalhando nas suas costas.
— Ah é. — Eu falo lembrando do que estava fazendo ontem à noite. Nós do time, decidimos deixar a surpresa do Sancho para depois da final, antes de voltarmos a Londres. Hendo disse fazer mais sentido e todos nós concordamos. Isso me fez perceber que eu ainda não fui atrás da minha parte. — Me ajude a escolher isso aqui.
vira o rosto para mim, curiosa, e eu tiro o celular do bolso, abro o APP e entrego para ela.
— Balões? Para quê? — Ela pergunta depois de checar a tela. Aproximo um pouco mais o nariz da sua nuca só para sentir o cheiro de bambu do cabelo dela.
— Para a "festa" de Jadon.
— Isso é para ele se sentir importante? — dá uma fraca risada.
— Exatamente. — Confirmo, apertando os seus ombros. arqueia as costas em resposta.
— Hm, pegue esses dourados de gás hélio, com as iniciais do nome dele. Acho que ele vai gostar. — Ela arrasta a tela e me mostra.
— Achei ótimo. — Dou um sorriso e deposito um beijo no seu ombro. sorri de volta e devolve o celular. Decido deixar com as coisas dela e a minha camisa que dobrou e colocou em cima da bolsa. Ouço ela resmungar quando deixo de tocar as suas costas para ficar de pé. Dou uma curta risada ao saber que é refém das minhas massagens, eu posso usar isso ao meu favor no futuro.
— Um mergulho, mulheres? — Pergunto de frente para elas, alongando as costas e os braços.
— Meu livro parece mais convidativo. — Mia fala erguendo o exemplar e olho para , que está balançando a cabeça para os lados. Ela abriu a saída de praia e agora tem os cotovelos apoiados onde eu, antes, estava sentado.
— Nem fodendo eu vou entrar nessa água gelada.
— Então, por que colocou um biquíni?
Ela não responde nada, apenas desce os olhos até o seu corpo esguio depois olha para mim e dá um sorriso satisfeito ao perceber que eu fiz o mesmo e agora estou desejando beijar cada pedaço da sua pele.
Maldita .
Queria me provocar e conseguiu.
— A água gelada parece muito atrativa para mim agora. — Digo lhe dando as costas, vou em direção à água com o som da risada dela e de Mia atrás de mim.
Observo correr em direção ao mar. Eu até teria ido com ele, mas nem todo tesão do mundo me faria enfrentar essas ondas frias. Noto que Reece e Ben se juntaram a ele e Eric está ocupado tirando fotos de alguma coisa com o celular.
— Vocês estão juntos? — Eu olho para o lado quando Mia pergunta. Ela tem o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo e usa um maiô preto que eu particularmente gostei muito. — Tipo, namorando?
A pergunta parece dar um choque no meu sistema, como se eu tivesse pisado em alguma enguia-elétrica, mas tento parecer o mais natural possível.
— Não, por quê?
— Parece. — Ela dá de ombros simpática. No momento, não sei o que está acontecendo comigo. Se fosse qualquer outro cara, eu não estaria agindo desse jeito. Olho para ele no mar, ele está tranquilo, em momento algum agiu estranho, então eu também não deveria ficar. Cometi um pequeno vacilo ontem, quando ele fez uma pequena brincadeira sobre eu estar o convidando para dormir no meu quarto. Aquilo me pegou desprevenida. Não costumo dormir com os meus casinhos. Normalmente eles vão lá em casa, transam e vão embora.
— Nos conhecendo, eu diria. — Olho para Mia e ela parece entender bem.
— Você vai ver a final, não vai?
Aí está outra pergunta que não sei responder. Ainda não decidi o que fazer quanto a isso, nem estava com tanta pressa. Jenna me deu até depois de amanhã para responder, mas não sei porque me sinto cada vez mais pressionada.
— Vou sim. — Decido afirmar, talvez dizer “não sei” geraria mais perguntas desnecessárias e não estou a fim de encher a pobre Mia com os meus dramas.
— Eu e Ava também.
— Você e quem...?
— A Ava, é o novo casinho do Dier. — Balanço a cabeça entendendo bem e nós duas olhamos para Eric. — Podemos ir juntas se você quiser.
— Nossa, eu adoraria! — Exclamo animada com o convite, mesmo sem saber se vou mesmo estar aqui. Seria a primeira vez que tenho companhia no estádio desde as oitavas.
— Ótimo, nos avise quando estiver pronta.
— Eu costumo chegar bem cedo.
— Ah, nós também!
Passo meu número para ela, já que deixei o celular no quarto e ela me avisa que vai me seguir no Instagram. Eu e Mia ficamos conversando e observando eles na água quando, um tempo depois, Eric se aproxima e senta ao meu lado.
— Ei, vocês duas, uma selfie para a posteridade!
Dou um sorriso quando ele aponta a câmera para a nossa cara, já Mia, diferente de mim, foge da lente.
— Não mesmo, estou horrível. — Ela se inclina, escondendo o rosto no livro e somente eu acabo aparecendo na foto.
Conheço Eric um pouco melhor já que ele e são amigos, então sua pequena mania de registrar tudo me é familiar.
— O que achou? — Ele me pergunta mostrando a foto.
— Gostei.
— Posso postar? Nos melhores amigos.
— Só se você me adicionar.
— Beleza.
Dou um sorriso e ficamos em silêncio algum tempo, Eric mexendo no seu celular, Mia com seu livro e eu aproveitando a brisa. O Sol aos poucos está saindo das nuvens, mas ainda assim venta muito.
— ... — Eric me chama, cauteloso, e viro o rosto para olhar para ele, o estimulando a continuar.
— sabe que você anda saindo com o ?
— Não. Por quê? Você não falou nada para ele, né? — Pergunto desconfiada, apesar de acreditar que Eric não faria isso, homens são homens, e eles também possuem seus pactos masculinos, códigos de honra e toda essa baboseira.
— Jamais. Apenas me diga o que responder a isso aqui.
Ele me mostra a tela do celular novamente. Vejo que ele postou somente duas coisas: uma foto da praia sem marcação de nenhum dos seus colegas de time e depois a nossa. Abro o direct e tem uma resposta do meu irmão.
Eu paraliso ao ler. Mas que droga! Uma coisa que você pode ter certeza a respeito de é que ele nunca levanta desconfianças sem ter alguma pista clara. Mesmo sendo uma simples pergunta, isso acende um alerta na minha cabeça.
— Merda! Diga que não. — Respondo devolvendo o aparelho para ele e me levanto depressa. Fecho a saída de praia e calço os meus chinelos porque sei que vou ter que voltar para o quarto para resolver isso agora. — Responda que nos encontramos por acaso.
— Pode deixar! — Ele balança a cabeça, entendendo bem.
— Vou ter que voltar agora, lembrei que começo mais cedo no estúdio hoje. — Junto todas as minhas coisas lembrando de deixar a toalha para ali. Olho para Eric e Mia, não me importando muito se eles acreditaram na minha desculpa mal elaborada. — Podem avisar para o , por favor?
— Eu aviso. — Mia afirma e volto para o hotel em passos apressados.
Quando chego no meu quarto e vejo as notificações no meu celular, não dá outra, mas as de Jordyn são as que mais me chamam atenção. Tiro o celular da tomada para poder ler mais confortavelmente na cama.
Há umas mil mensagens desesperadas dela.
Jordyn:
PELO AMOR DE DEUS CADÊ VOCÊ
É URGENTE
n pode ficar com raiva de mim
EU JURO QUE N FALEI NADA
APARECE PUTA
eu e steban estávamos fazendo uma brincadeira inocente
qnd fomos tirar fotos ELE PEGOU MEU CELULAR
juro q tentei impedir
steban viu a foto e mandou pro
BRIGAMOS FEIO INCLUSIVE
ACORDA CARALHO
Eu: to acordada porra
do q vc tá falando? não me diga que é aquela foto...
Minhas mãos estão tremendo e estou torcendo internamente para que ela não esteja falando da minha foto com , mas isso é querer que o impossível aconteça.
Jordyn: aquela mesmo
a sua com
por favor, diga que não está com raiva de mim
Eu sabia que tirar essa maldita selfie não era uma boa ideia, mas agora que a merda já foi feita, nem tenho muito o que fazer. Há outras mil mensagens de e esse deve ser o motivo, percebo também que Jenna me ligou quatro vezes e há um áudio pendente dela para eu escutar.
: , pode me explicar que porra é essa?
vc me odeia caralho???
é por isso que tava evitando as minhas perguntas?
trabalho uma porra
está faltando compromissos com a sua própria família pra dar pra esse filho da puta?
A última frase quase faz o meu sangue ferver.
Maldito Steban fofoqueiro. Esse cara é um hipócrita, vive de dizer que nós mulheres que somos fúteis por fofocar, mas quando ele e se juntam, parecem duas Marias Fifi. Babaca machista.
Continuo lendo querendo jogar meu celular na parede de tanta raiva. não está on-line, mas ele aparece assim que eu começo a responder.
: esperava mais de vc
Eu: cuida da sua vida
: termine isso
termine essa porra agora mesmo
se vc tem alguma consideração por mim
Eu: quem vc acha que é pra me dizer oq fazer
: sou seu irmão mais velho
se estou fazendo isso é pq só quero o melhor pra vc
Eu: acho q eu tenho idade suficiente para decidir sozinha o que é melhor pra mim
: esse cara é um lixo, ele não presta
ou vc me ouve ou vai descobrir da pior forma
As palavras dele são tão duras. Lembro dos últimos dias e me recuso a acreditar nisso. Não tem nada a ver com o que mostrou para mim durante esse tempo.
Eu: acho q vc n o conhece
: conheço ele a mais tempo do que vc
Eu: tempo n quer dizer nada
seu ódio está te cegando
: para de defender esse maldito,
Eu: n estou defendendo, tão pouco atacando, eu só n acho q ele é esse monstro que vc diz
: sério n acredito q vc fez isso
Eu: e eu n acredito que vc está me tratando como se eu fosse a sua propriedade
eu n fiz nada de mais, esse problema é todo seu
: para de se fazer de sonsa, vc sabe que eu e temos problemas
Dou um longo suspiro, faz minutos que estamos nessa discussão e já não aguento mais, decido ouvir o áudio de Jenna porque isso sim parece importante.
Jenna: “, preciso que você desça uma hora antes hoje, falei com os diretores da campanha e eles querem começar uma hora mais cedo. Acorde, pelo amor de Deus, e me encontre lá embaixo às 8h. Não atrase, hoje é o último dia, pode ser corrido.”
Olho a hora, já são 7:40 e a única higiene que fiz desde que acordei foi escovar os dentes, sem falar que ainda estou só de biquíni. Levanto para começar a me arrumar quando meu celular toca. É me ligando, decido atender e coloco no viva-voz porque sei que ele não vai parar.
— O que você quer? — Digo desamarrando o biquíni e separando uma roupa.
— Quero que você me responda! — Suas palavras são firmes e consigo sentir a raiva dele pela entonação delas, não estou surpresa, era essa a reação que eu estava esperando. Só não queria ter que lidar com ela.
— Não tenho tempo para essa discussão agora, preciso me arrumar.
— Foda-se, não quero nem saber. Você não vai fazer como das outras vezes, me ignorando e fingindo que o problema não existe, parecendo uma criança.
— É sério, eu preciso ir trabalhar agora.
— De novo essa desculpa do trabalho? É para você se sentir melhor depois de me trair por que não consegue fechar as pernas?
— Vai se foder, ! Sério, vai tomar no seu cu. — Eu xingo, conseguiu despertar a minha ira com esse comentário machista. Traição. Ele não podia ter inventado uma palavra melhor porque agora estou quase rindo.
— , você é inacreditável, está errada e acha que tem o direito de me xingar?
— Eu não estou errada porcaria nenhuma, para de se meter na minha vida sexual. Eu vou xingar mais se você não me pedir desculpa após ter dito uma merda dessa. — A linha fica muda por alguns minutos. tem um defeito horrível, ele nunca consegue perceber na hora as merdas que faz. Na maioria das vezes, ele acaba se redimindo depois, mas demora bastante. Na última vez que brigamos, ficamos quase três meses sem nos falar. — Me deixa em paz, porra!
— Vou te deixar em paz quando você me garantir que não está mais vendo ele. — Encaro o celular, é inacreditável. Estava segurando a ligação até agora torcendo para que alguma luz atingisse o meu irmão e o fizesse tomar consciência de si, mas acabou a minha paciência.
— Ah eu sinto muito, você vai sim.
Eu desligo e bloqueio o seu número, essa é a grande vantagem de estarmos a milhares de quilômetros, quem me dera poder bloquear as pessoas na vida real desse jeito.
Respiro fundo e antes que possa ir até o banheiro, lembro que Jordyn ainda está esperando uma resposta minha.
Jordyn: ???
Eu: relaxa amiga, não estou com raiva de você
desculpa a demora, estava falando com
Jordyn: ufa
oq aconteceu?
Eu: o esperado, ele surtou
Jordyn: e vc mandou ele se foder n foi?
Eu: exatamente
Jordyn: minha garota!
mas e aí... oq vc vai fazer?
Eu: n faço ideia, nem consigo pensar nisso direito agr
Jenna tá me esperando
Jordyn: certo, qualquer coisa fala comigo
Eu: pode deixar
Finalmente eu largo o celular e começo de fato a me arrumar para descer, esperando que o dia de trabalho me distraia dessa confusão e que o tempo me dê algumas respostas.
Uma das coisas que mais vou sentir falta dessa campanha com certeza é a companhia de Ibtihaj. Acho que fiz uma nova amiga. Passamos o dia todo juntas. No almoço, conversamos bastante e ela me chamou para assistir algumas das suas partidas no campeonato mundial. Nunca fui fã de esgrima, mas ela me deixou realmente interessada após ver suas habilidades. Ela realmente é ótima, não é à toa que já foi campeã do ouro olímpico. Trabalhar é a melhor coisa que eu faço com o tempo, me distraiu bastante, mas quando volto ao hotel, no fim da tarde, tudo parece me esmagar novamente, inclusive essa sensação ruim de confusão.
Apesar de estar focada no trabalho, não tive paz com o meu celular nem para olhar a hora. Mesmo tendo o bloqueado, deu um jeito de me mandar mensagens por todas as redes sociais possíveis e até pelo aplicativo do banco ele tentou. Quanto mais ele me perturba, mais eu entendo porque Caim matou Abel.
Agora estou tendo a mesma sensação de quando éramos mais novos. Entenda bem, quando eu e estamos juntos, somos invencíveis. Agora quando estamos brigando, saia de perto porque a briga fica mais feia que a dos Vingadores em Ultimato. Uma vez, quando ele quis bancar uma de pai ciumento com o meu primeiro namorado, me fazendo passar vergonha no jantar em família, eu me vinguei colocando creme depilatório no shampoo dele. Eu era uma adolescente quando ele já tinha a vida encaminhada no futebol, nem morava mais conosco, mas quando voltava para visitar, era sempre assim. A careca envelheceu ele uns dez anos e eu dei muita risada. Claro que continuamos brigando naquele período, mas valeu muito a pena. No final, antes de voltar para Londres, ele me pediu desculpas e ficou tudo bem.
Não falei com o dia todo, primeiro porque nem se eu quisesse eu teria algo para dizer para ele e segundo porque acho que ele ficou ocupado demais com o treino, nem teria como responder.
Ele também não me mandou nada, até agora:
: , vc vai descer?
reservei a sauna para gente
cabine 03
preciso devolver a sua toalha 👀
Fecho a conversa. É uma proposta tentadora que eu aceitaria sem pensar duas vezes se eu não estivesse dentro nesse mini pesadelo. Estou deitada na cama encarando o teto e procuro o número de Jordyn na lista de contatos. Paris e Doha tem apenas duas horas de diferença, sendo lá mais cedo, por isso não preciso ficar me preocupando com fuso horário.
— Jordyn.
— Oi, . O que foi?
— Me ajuda, não sei o que fazer.
Decido explicar a ela o que aconteceu hoje e da resposta que tinha que dar a Jenna. Querendo ou não, está tudo interligado e a minha maior indecisão é em relação a .
— Ha! Eu sabia. — Ela exclama animada quando termino de falar.
— Sabia do quê, doida?
— Que você ia acabar gostando dele, e ia pensar no futuro enquanto você negava até a morte.
Reviro os olhos porque ela tem razão, mesmo que os meus neurônios agora pareçam estar dando piruetas e não formulo nada racional.
— Já eu penso que Ash estava certa. Olha o problemão que estou tendo com , Jordyn.
— Mande para a terapia e vai ser feliz!
Dou um sorriso com o comentário dela, é com certeza uma das minhas maiores vontades.
— É que... — Mordo a pontinha da unha do dedão, indecisa. Quem me dera fosse o único obstáculo. — Não é só esse o problema.
— Então o que foi?
— Eu não sei se é isso que quer. — Digo logo de uma vez, acho que é a primeira vez que admito isso em voz alta. — Nunca conversamos sobre o que íamos fazer quando acabassem nossos dias aqui. Não penso que ele está atrás de um namorinho, não quero parecer uma emocionada que espera casamento e flores depois de uns diazinhos de sexo.
— Porra, quem é você? E o que fez com a minha amiga ? Porque a que eu conhecia perguntaria na lata sem medo de levar um não na fuça, porque a autoestima dela é boa demais para se abalar com isso.
— Eu sei. Pelo amor de Deus, Jordyn, o que esse país fez comigo? — Choramingo, porque esse não é o meu estilo. Rejeições nunca são legais, mas eu costumo lidar bem com elas, sempre focando nas minhas qualidades e taxando as pessoas de burras por ignorá-las. Vai sempre existir alguém para querer aquilo que você esnoba. — Em outra situação ou com qualquer outra pessoa eu seria tão mais direta, agora me sinto pisando em ovos.
Suspiro frustrada, me tira completamente da minha zona de conforto, não consigo ser cem por cento eu quando estou com ele, ele amolece a minha parte durona. Não acho isso ruim porque não vejo como uma forma de deixar de ser quem sou e sim como uma oportunidade de mudar, e sou flexível a mudanças. Do contrário, eu nunca teria aceitado tão rápido a minha aposentadoria do futebol, mas eu precisava seguir a vida e ficar chorando por isso eternamente não me levaria a lugar algum.
Eu levo muito as coisas no cara a cara, no chove ou não molha, ele me faz querer encontrar um meio-termo. Acredito que é por isso que estou evitando uma conversa direta, porque não quero ouvir um “não” sair da sua boca. Isso vai me abalar.
— Tá, primeiramente, ... — Ela faz uma pausa, como se estivesse articulando minuciosamente um jeito de me ajudar. — Você quer?
— Não sei... — Hesito. Começo a imaginar a gente como um casal e quase tenho uma crise de riso. Namorar seria uma tentadora montanha-russa de emoções. Nós dois somos muito criativos, acredito que nunca ficaríamos entediados. — Acho que sim.
— Você quer sim, você gosta dele, admita logo. — Eu resmungo e Jordyn ri, sabendo que isso significa um sim. — Mas se você se sente tão desnorteada e não consegue perguntar, faça um teste. Ele não te deu a credencial?
Eu olho para o Fan ID em cima da mesa, que está ao lado da caixa com a camisa que ele me deu no dia daquele jantar. Lá também está o ingresso para o jogo da final. Fico me perguntando como conseguiu essa foto minha para colocar na credencial, mas para um jogador de futebol cheio de contatos, eu não devia estar surpresa.
— Deu.
— Só por isso eu já acho bem claras as intenções dele. — Ela faz uma pausa, bem confiante do que afirma. Eu discordo de Jordyn, não acredito que só pelo fato dele ter me dado esse acesso seja suficiente para explicitar claramente suas vontades. — Mas se você ainda tem dúvida, fala com ele e dá um jeito de puxar o assunto para o seu trabalho, diga que já acabou e que Jenna comprou sua passagem para amanhã.
— Mas ela não comprou, ainda não dei a resposta a ela. — Interrompo Jordyn e a sua brilhante ideia.
— Mas diga que ela comprou, se ele apenas concordar e não dizer nada mesmo depois de te dar o Fan ID... Você vai saber.
Fico uns segundos pensando porque a ideia de Jordyn não é nenhum pouco ruim.
— Certo, vou fazer isso. — Levanto da cama e vou em direção à mala para separar um biquíni branco.
— Me conte depois o que acontecer, preciso atualizar a Ashley ou ela vai ficar brava.
— Parem de fofocar sobre mim.
— Jamais, isso edifica muito nas nossas vidas, .
Dou risada e nos despedimos. Antes de largar o celular para começar a me arrumar, respondo para :
Eu: me encontre lá
: vou te esperar lá dentro
ah, e venha só de toalha
Penso no pedido dele. Olho para o biquíni que estou segurando e decido largá-lo ali.
Eu: 😊
Estou sentado no segundo degrau da cabine de tiras de madeira de cedro quando vejo os olhos de através do vidro temperado. É uma pequena janela retangular que fica na porta, o único material transparente em toda cabine. Ajustei no microcomputador embutido para ficar não muito quente, mas bastante fumegante. Os jatos de vapor libertam um aroma precioso e intenso. Gosto de saunas, são demasiadamente terapêuticas.
abre a porta e entra. Quando ela vira para fechar dou uma boa checada no seu corpo coberto apenas por uma toalha minúscula, ela tem longas pernas espetaculares. O cabelo está preso, dando uma boa visão da sua clavícula e dos ombros. Começo a imaginar se ela está completamente nua por debaixo, só o pensamento desperta a minha libido, mas se está, acredito que ela perdeu um bom tempo no banheiro do Spa se trocando, ou melhor, se despindo, visto que não acho que seja permitido andar pelo hotel seminu.
— Cadê a minha toalha? — Ela pergunta quando olhou para mim.
— Está bem aqui. — Eu levanto apontando para a toalha amarrada na minha cintura, ri como se já esperasse esse tipo de coisa vindo de mim e vou até ela.
— Como você conseguiu reservar isso aqui só pra gente?
— Molhei a mão do recepcionista, mas só temos 30 minutos. — Digo puxando ela pela mão. Sento no mesmo lugar e puxo para o meu colo. me abraça pelos ombros e sinto suas unhas roçarem a minha pele.
— Não acredito que fez isso.
— Conheço pessoas que já fizeram isso e muito mais por um pouco de privacidade. — Aperto o braço na sua cintura e com a outra mão, guio o seu maxilar até que a sua boca encontre a minha. Iniciamos um beijo lento e profundo, enrolo a minha língua na dela quando sinto suas mãos deslizarem pelas minhas costas. Estou sentindo meio tensa por alguma razão e não era esse bem o motivo de eu ter convidado ela para cá.
— Nossa! — Ela diz passando as costas da mão em algumas gotículas de suor na testa. — Quantos graus você colocou nesse negócio? Desse jeito não vai levar nem dez minutos e já vamos estar pingando.
— Descobri ontem à noite que gosto de nós dois assim. — Faço uma pausa para dar dois beijos no seu pescoço, lembrando da noite passada no seu quarto. — Molhados.
dá uma risada fraca e quando tento beijar ela de novo, ela diz:
— Por falar em ontem à noite, tava pensando numa coisa.
— O quê? — Pergunto, passando a mão pelas suas coxas e beijando a sua clavícula. A minha vontade agora não é bem conversar, mas mesmo assim mantenho os ouvidos atentos às suas palavras.
— Não usamos camisinha ontem.
Depois que saí do quarto de , eu tinha parado para pensar nisso porque em nenhum momento no banheiro tocamos no assunto. Acredito que entramos num acordo de confiança mútuo e nem percebi que confiei nela cegamente e talvez isso tenha sido um erro. Sou um atleta, meu corpo é o meu templo e me preocupo muito com a saúde dele. E mais, não quero ter filhos agora.
— É, a gente vacilou. — Respondo quando ela olha para mim. Porra, era isso que estava deixando ela estranha, só pode ser.
— Mas se era isso que vinha te preocupando, os resultados dos meus exames pré-copa e antidoping foram tão limpos quanto água cristalina.
— Que bom, os últimos que eu fiz também.
— Você toma pílula?
— Aquela bomba? Tomo. — frisa bem a palavra ‘bomba’ e dou risada. — A injeção a cada três meses. Não quero um filho agora.
— Nem eu. — Nós nos encaramos e damos risada. Eu jamais poderia imaginar que uma aposta nada indecente nos levaria a isso e uma dúvida atiça a minha cabeça. — Posso perguntar uma coisa?
— Depende. — Ela balança a cabeça ponderando.
— Por quê?
— Não posso te dar muita liberdade, você se aproveita muito disso. — Meu sorriso se alarga porque ela tem razão.
— Então... Estou curioso, o que você ia pedir se tivesse ganhado a nossa aposta? — ri no meu pescoço, depois encaro seus olhos mirabolantes.
— Bem, eu ia te alugar por um dia inteiro. Por vinte e quatro horas você ia ter que fazer as minhas vontades sem reclamar. Claro que ia esperar voltarmos para Londres para eu não ter nenhum tipo de limitação!
— Hm, isso não parece tão ruim. — Digo lembrando das suas palavras finais no dia que apostamos. Se o meu prêmio era um beijo, eu queria muito saber qual seria o dela.
— Coitado, , você ia ser tão judiado. — Ela zomba e lembro que pode ser muito má quando quer, de um jeito que deixa qualquer homem maluco. — Eu ia te provocar tanto que você ia ter que pedir misericórdia a Deus, principalmente na hora que fôssemos dormir...
— Ainda não entendi. — Franzo a testa e sinto suas mãos alisando o meu cabelo para o lado que aos poucos está começando a cair na testa devido ao suor. — Isso era para ser um castigo?
— Aí é que tá, você só ia ver. Não ia fazer nada. A primeira regra que eu estabeleceria é que nesse período você não ia poder me tocar.
— Ainda bem que você é azarada. — Respondo apertando a parte interna da sua coxa.
— Ei! — Ela resmunga, não gostando nada do que eu disse.
— Só estou falando a verdade, ganhei os dois últimos dos nossos jogos. — Dou de ombros e lhe roubo um selinho e a sua face emburrada desfalece. — Acho que a gente já pode fazer outro.
me olha, divagando. Quando julgo que vai fazer uma nova proposta, ela pergunta:
— Então, agora posso eu te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Por que você e o meu irmão brigaram?
Não era mesmo isso que eu estava esperando ouvir. Eu e quase não falamos sobre o irmão dela e todas as vezes que tocamos no assunto, quase discutimos. Opiniões contrárias demais geram atritos desnecessários. Aprendi da pior forma que se um dia eu quiser me queixar de , não vai ser com ela.
— Você não sabe?
— Não.
— Ele nunca te contou?
— Eu nunca tive interesse. — Ela balança a cabeça para os lados e segura os meus ombros quase que numa súplica. — Por favor, não me diga que tem a ver com mulher.
— Queria poder dizer que não.
— O que você fez?
— Eu? Por que você pensa que eu sou o errado da história?
— É apenas o que diz. — Ela dá de ombros e decido relevar. deve fazer a minha caveira para qualquer pessoa com quem ele converse. — Quero saber o seu lado.
— Certo... — Me surpreende ela nem saber do que se trata pelo menos. Tenho essa história tão clara na cabeça e não tenho nada a esconder. — Você deve lembrar da Katrina, né?
— Claro, era a namorada mais antiga dele, ele era completamente louco por ela. Eu realmente achei que eles iam casar e ser felizes para sempre. O que rolou?
— Conheci a Katrina no Chelsea. Quando eu subi para o profissional, ela tinha acabado de ser contratada para a equipe do marketing.
“Na verdade ‘conheci’ é uma palavra muito forte, eu só a vi lá. A primeira vez que falei de verdade com ela aconteceu semanas depois, o num bar no centro de Londres, e nem estávamos sozinhos, o time quase todo foi para descontrair um pouco. Eu fiquei até o final, e ela e Connor, um estagiário mais novo, estavam precisando de carona, eu me ofereci e foi só isso. No dia seguinte, não sei o que aconteceu. Eu conversei com o Dier porque ele veio me dizer que escutou falando muito mal de mim e veio me perguntar o que tinha acontecido. Tirei a conclusão que o seu irmão deve ter visto alguma foto aleatória e interpretou muito mal. Na semana seguinte, íamos a um jogo contra o Tottenham e eu queria aproveitar para falar com ele e explicar as coisas, porque eu nunca nem tinha falado com ele, queria saber o que estava acontecendo. Ia fazer isso quando a partida acabasse, mas durante o jogo ele me deu uma entrada forte e eu sabia que foi de propósito porque nem com a bola eu tava, . Eu relevei e mesmo assim decidi esperar o jogo acabar para trocar uma ideia com ele. Nem preciso dizer que isso não aconteceu, né? A partir daí o seu irmão começou a difamar o meu caráter por aí para todo mundo e eu cansei de tentar esclarecer as coisas.”
não tirou os olhos de mim enquanto eu falava, também percebi que ela não expressou reações, apenas um semblante bonançoso. Não ligo se ela estiver me julgando internamente, minha consciência é mais tranquila que as águas de Sands Beach nas Bahamas. Acredito que não fiz nada de errado, apenas cansei de ser chutado sem motivo e comecei a revidar.
— Então você não transou com ela?
— Sim, transei, mas foi bem depois. Quando rolou, ela me disse que eles já tinham terminado oficialmente e nem ficamos juntos tanto tempo, foi no máximo um mês. Perguntei para ela se ela tinha dito a ele que não rolou nada naquele dia, ela disse que sim, mas que ele não acreditou. Bem, seu irmão é um teimoso de merda.
Aquele mês com Katrina tinha sido legal, uma pena que durou tão pouco, entendi porque gostava tanto dela. Não me arrependi nenhum pouco de ter ficado com ela depois e ainda fiz questão que isso chegasse nos ouvidos do . Foi uma sensação boa, me permito admitir. Ela rompeu comigo porque disse que ia sair de Londres para buscar outras oportunidades fora do país. Foi um término amigável, mas que nunca apagou minhas desavenças com .
— E um tempo depois ele ainda voltou com ela e eles terminaram de novo... — diz mordendo a pontinha da unha do dedão. Percebo que ela faz muito isso quando está nervosa ou pensativa. — Não acredito que vocês têm essa briga toda por conta de um mal-entendido. Não ficou no passado? Não dá para resolver? Você nunca tentou de novo?
Há algo aqui que me incomoda, o jeito que ela joga tudo para cima de mim, mesmo que sem perceber. Por isso, respondo mais firme e meio sem paciência:
— Eu devia ficar correndo atrás de quem não devo nada? nunca foi meu amigo, ele só me julgou desde o primeiro minuto.
abre e fecha a boca e pisca algumas vezes depois, olha para mim e vejo penitência nos seus olhos.
— É, desculpe, você tem razão. — Percebo que ficou desconcertada. Eu realmente odeio falar disso com ela. — Nossa, mas é tão difícil? Até Courtois e De Bruyne se resolveram depois, e a traição de fato aconteceu.
— Por mim essa história já estaria enterrada há muito tempo, mas pelo que parece, nunca vai esquecer e eu não sou obrigado a sofrer calado todos os ataques que o seu irmão faz a mim.
Dessa vez ela concorda comigo e encerramos o assunto de vez. fica o resto do tempo mordendo a pontinha da unha e fico curioso imaginando a respeito do que as engrenagens da sua cabeça estão trabalhando.
Depois que me conta toda a história, eu decido trocar de assunto para aproveitar os minutos que nos restavam. Primeiro porque esse tópico é meio insuportável, segundo porque uma dúvida fica encasquetada na minha cabeça e sinto que falta algo nessa história. Não penso que mentiu, eu vi muita sinceridade nos olhos dele, mas se voltou com a Katrina mesmo depois desse mal-entendido, ele devia ter passado uma borracha em cima de tudo e parado de implicar com . Homens são tão previsíveis e às vezes possuem a maturidade de uma criança de cinco anos. Porém, decido deixar isso de lado porque essa briga continua sendo insignificante para mim, só perguntei a título de curiosidade e para confirmar se o que falava era mesmo tão grave. Acabei de descartar essa possibilidade.
Ficamos pouco tempo na cabine e quando saímos vou até o banheiro feminino colocar o meu biquíni para lavar o suor do meu corpo na ducha. As duchas são separadas em femininas e masculinas, por isso eu e nos separamos por alguns momentos.
De baixo do chuveiro fico pensando que se a nossa conversa não tivesse tomado aquele rumo eu não suportaria ficar tanto tempo com ele ali dentro com apenas uma toalha separando nossos corpos nus, mas a decisão que eu tinha que tomar não saía da minha cabeça nem por um minuto. Afinal, foi para isso que eu desci, mas fiquei enrolando durante todo o tempo que estivemos ali dentro. Quando encontro com ele novamente no corredor, constato que não dá mais postergar.
— ... — Eu começo quando ele se aproxima, contudo, ele me interrompe antes que eu possa terminar.
— Você já comeu? O cara da recepção me disse que eles adicionaram pratos no cardápio iraniano. Não que eu possa provar agora, mas achei que você ia gostar.
Ele está com um sorriso tão bonito e animador que eu tenho que me segurar para não retribuir.
— Não... — Eu mesma me corto e decido completar antes que ele decida me convidar para jantar com ele. — Mas vou pedir no quarto. Hoje foi cansativo, foi o último dia, então não parei quieta. Jenna ainda pediu para falar comigo porque ela vai me passar os detalhes do meu voo... De amanhã.
Sei ser minuciosa em cada palavra, mas sou uma péssima atriz, não sei mentir, não sei fingir. É que para mim não tem meio-termo, ou eu ardo tudo que tem dentro de mim ou eu não demonstro nada. Por isso não olho para ele enquanto falo isso e mantenho as mãos ocupadas enrolando uma mecha molhada do meu cabelo.
Na teoria, enquanto Jordyn estava me explicando, parecia tão mais fácil de contar essa mentira.
— Espera... — Ele faz uma pausa e fica de frente para mim quando chegamos ao elevador. — Você vai embora amanhã?
— Isso, eu já terminei os meus trabalhos. Na verdade, já deveria ter ido se não fosse a campanha para a Nike.
Sabe, eu não tenho nada contra o amor e nem faço parte do grupo de pessoas que tem como “regra” não se apaixonar. Gosto de amores intensos e julgo isso ser a melhor sensação do mundo, só que eu sou meio durona e resistente, porque, na minha vida, o amor só aparece nos mais importunos momentos. Eu resisto no começo? Sim, mas sempre acabo cedendo.
Ele não diz nada, e isso me traz um pequeno surto. Por que ele não fala nada? Meu coração bate um pouco mais rápido e uma vozinha irritante parece vibrar: Fale algo, sua estúpida! Desde quando você fica esperando algo de homem?
Eu me calo porque está seguindo o roteiro de colocar um fim nisso. Pela primeira vez não estou pensando em . Eu não 'terminaria' com por causa dele, assim como também não ficaria com ele só para provocar o meu irmão. As minhas vontades vêm acima das de qualquer outro e eu não brincaria com os sentimentos de ninguém.
A campainha do elevador nos chama a atenção quando as portas se abrem.
— Isso foi intenso e divertido. — Minha voz profere e suspira ao meu lado enquanto nós entramos no pequeno espaço. Digito o número do meu andar no painel e ele faz o mesmo.
— O quê? — Olho para ele o seu cenho está franzido.
— Nós. — Tento sorrir.
— É, foi legal.
Não sei se estou alucinando ou percebo uma pontinha de tristeza na fala dele, mas apenas estou cumprindo o nosso acordo silencioso. Nós sabíamos, desde o dia que isso começou, que não teria como continuar. Também não consigo decifrar nada pela sua expressão, mas é isso, ele não vai dizer mais nada e está aí a minha resposta. Espero que Jordyn lide com a desilusão melhor do que eu.
O elevador é rápido e logo chega ao décimo andar. segura o meu braço antes que eu possa sair.
— Boa viagem, .
A minha garganta se fecha e a minha vontade de dizer “quero ficar com você” e a frase fica engasgada na minha garganta, me sufocando. A frase também espetou meu coração com uma agulha fininha e a vozinha irritante morreu. Ele tem um sorriso fofo estampado que eu retribuo tão falsamente que nem sei se a mais ingênua das crianças acreditaria.
— Obrigada. Boa sorte com o jogo domingo, você merece.
Agora sou eu quem está no controle de novo e tenho que usar o meu lado racional. Eu quase me inclino para lhe dar um beijo na bochecha, mas não o faço, apenas lhe dou as costas e inicio passos firmes até o meu quarto porque agora eu tenho uma resposta para dar à minha agente.
*: Credencial de acesso pendurada no pescoço que garante uma identificação instantânea para jogadores, técnicos, funcionários e público durante a Copa do Mundo.
Capítulo 9 – Décimo Quinto Dia
14 de dezembro de 2022
Campo de Golf - Centro de Concentração, Doha, Qatar
No treino, quando Southgate nos libera para o almoço, o Sol está reluzente e não tem uma nuvem no céu. Estou deitado na grama no limite da lateral do campo, apoiando a cabeça em uma das bolas, como se fosse um travesseiro. Declan está de pé, virando uma garrafinha de água, ele foi a minha dupla no treino tático de hoje. A maior parte de nós já se dispersou até o vestiário para se trocar antes de irmos comer, com exceção de nós dois, Jesse, Ben e Trent. Os últimos três estão sentados na grama e um silêncio enorme perdura, todo está mundo tenso, como é normal em véspera de um jogo tão importante, quando Jesse solta:
— Tive um sonho.
— Ih, lá vem. — Trent diz e nós rimos antes mesmo que ele comece.
— Qual é, me deixem falar. — Ele pede. Tentamos cessar a risada enquanto focamos a atenção nele. — Sonhei que fiz três gols na final, todos no primeiro tempo. — Nós quatro começamos a gargalhar de novo. Jesse fala com tanta convicção e confiança que é hilário.Não que algum de nós duvide da capacidade dele, mas isso com certeza descontraiu o ambiente. — Southgate, pode me colocar que eu garanto que vou fazer os três.
— Lingard, nem você acredita nisso. — Diz Ben.
Eu ergo a cabeça para olhar para ele. — Sabe qual foi a última e única vez que um jogador marcou hat-trick numa final de Copa? Hurst, em 66 no nosso primeiro título inclusive.
— Estou aqui para repetir o feito e trazer o segundo título.
O Jesse é uma peça. É meio bobo da corte, porque todo mundo fica atiçando, e aí ele vai falando e não para. No almoço de ontem, Marcus pediu um momento da nossa atenção e nos mostrou um caderninho que Jesse levava para o quarto e ficava decorando as frases que ele ia falar no microfone, na zona mista, caso ganhássemos o título. Rashford leu cada uma e foi hilário.
— Estou aqui para repetir o feito e trazer o segundo título.
— Acorde, Jesse. No último jogo, ele nem te relacionou. — Trent dá um tapa na sua cabeça.
— Toma, bebe uma água, o Sol deve estar afetando a sua cabeça. — Declan joga a garrafa de água na sua direção, que quase o acertou, mas Jesse tem reflexos rápidos e a pega no ar.
— Quer saber? — Ele responde se levantando. — Vou me arrumar para ir almoçar e fugir dessa negatividade de vocês, porque amanhã essa camisa... — Ele faz uma pausa para apontar para o brasão dos Three Lions. — fica com duas estrelas!
O movimento dele parece ser o convite para os meus amigos fazerem o mesmo, já eu continuo deitado, cobrindo os olhos da luz solar. Merda, se o Sol está afetando a cabeça de Lingard como Declan disse, também está afetando a minha, estou com uma leve tontura e dor de cabeça.
O incômodo é tanto que só percebo que Ben ainda está aqui quando ele me dá um chute leve na perna, chamando a minha atenção.
— , você vai almoçar com a , hoje? Alex queria falar com ela. — Ergo a cabeça para olhar para ele, o corpo de Ben está fazendo uma sombra, então não é difícil. A menção à sua irmã clareia a dúvida sobre de onde eles já se conheciam e... Caralho, eu não parava para pensar em até esse momento, agora parece que o meu incômodo não é mais só físico.
— Ben, foi embora já tem uns dois dias.
— O quê? Por quê?
— Ela estava a trabalho, acabaram as obrigações e ela foi embora. — Explico e volto a deitar na bola com a esperança de que a tontura passe.
— Ah, por isso que você está meio quieto. — A afirmação dele me faz refletir por alguns momentos. Há dois dias eu parecia tão certo do que queria, agora tudo é um misto de sentimentos.
— Não sei, eu devia?
— O quê?
— Ficar assim por causa disso.
— Depende, vocês não estavam só transando?
— É, mas... — Eu admito, não sei quando isso passou de pura tensão sexual para algo a mais, mas passou. Quando a vi no saguão do hotel naquele dia, eu nem imaginava, até porque me detestava. Acredito que ela comprava seriamente as brigas do irmão.
— Você não queria que ela fosse embora.
— Isso. — Levanto o tronco e apoio os braços no joelho. Limpo o suor da testa e sinto a tontura aumentar.
— Você falou isso para ela?
— Não...
Nos últimos dois dias eu vinha tentando não pensar nesse assunto, pelo menos até agora. Quando aterrissamos no Catar, eu coloquei na minha cabeça que o mundial seria a minha única preocupação no próximo mês e o envolvimento com foi uma surpresa. Na maioria das vezes, eu consigo separar bem problemas pessoais e profissionais, mantendo o foco na minha carreira, e agora não seria diferente. Talvez eu tenha deixado ela ir por perceber que não seria mais tão simples.
— Porra, , você não se ajuda, hein? — Ben estende o braço para me ajudar a ficar de pé mesmo que eu sinta que a vontade dele mesmo é me fazer cair.
— Pense comigo. Eu dei um Fan ID para ela de manhã e ela aceitou. Se ela já soubesse que não ia ficar para a final, por que ela aceitaria?
— E se ela soube depois?
— Na hora eu não parei para pensar nisso. A minha cabeça ficou girando em torno do "vou embora amanhã" e eu me senti meio rejeitado? — Aquilo feriu o meu ego, tenho que admitir, senti como um claro aviso de que não estávamos na mesma sintonia e doeu, não de uma forma avassaladora, mas não era o que eu estava esperando. — E eu não podia ficar chateado por isso se foi uma escolha dela, entende? Eu simplesmente não reagi e aceitei, por mais que não fosse o que eu queria.
Começamos a caminhar em linha reta para sair do campo. Há apenas nós dois aqui. Ben assobia, analisando a situação.
— Você sabe se ela está de férias? Se ela podia ficar até a final? — Questiona e eu faço uma careta. Isso nem sequer passou pela minha cabeça na hora.
— Eu não sei, não perguntei.
— Então pare de reclamar e não coloque a culpa nela. Faça algo se vale a pena. — Eu olho para ele como se estivesse perguntando o que Ben quer dizer com isso e ele continua invocando o seu jovem espírito aconselhador: — Cara, se ela já sabia que ia embora antes e mesmo assim aceitou o Fan ID, deve ter tido algum motivo, né? Pense nisso.
Ben tem razão, eu devia pensar melhor antes de tomar qualquer atitude, mas não vou conseguir fazer isso agora com essa maldita dor.
— Vamos almoçar.
— Vai na frente, vou falar com o Dr. Ersgaard sobre essa dor de cabeça primeiro. — Aqui qualquer queixa é motivo para ir até o Peter, um dos médicos da seleção. Eu prefiro sempre prevenir, nada pode me impedir de jogar a final amanhã, nada. Espero que não seja sério, ou Peter pode me barrar para o Southgate.
— Beleza, não demora.
Eu e Ben tomamos caminhos contrários, ele segue para os vestiários e eu para a ala médica do CT.
— Hey, Peter. — Eu digo passando pela porta. O Dr. Ersgaard está sentado à mesa do consultório quando me vê.
— ? Confesso que não esperava te ver aqui hoje.
— Pois é, nem eu. — Respondo, isso é frustrante. Não tem nada pior do que começar a passar mal na véspera de um jogo importante.
— O que eu posso fazer por você?
Lambo os lábios, os sentindo secos antes de começar a falar da tontura e da dor de cabeça. Ele pede que eu sente na maca que tem ali para me examinar melhor.
Peter está checando os meus sinais vitais quando a porta abre.
— ?
— Mãe? — Uma figura feminina bem conhecida por mim entra e franzo a testa. Não é comum esse tipo de visita.
— Meu Deus, o que aconteceu? Você está bem? — Ela questiona, vindo na minha direção. Peter dá uma risada porque certamente isso atrapalhou ele. Minha mãe é um tanto protetora.
— Eu tô bem. Como sabia que eu estava aqui?
— Esbarrei com Benjamin no corredor, me preocupei. — Ben fofoqueiro. Lembro de quando falou isso da primeira vez e não evito um sorriso. — Eu e o seu pai estávamos aguardando do lado de fora. — Explica e logo em seguida o meu pai passa pela mesma porta.
— Ele vai poder jogar amanhã, doutor? — Meu pai questiona, preocupado. O Dr. Peter pede licença para a minha mãe para ele checar a minha pressão com o esfigmomanômetro.
— Claro que vai. Pelo que examinei, é apenas uma desidratação de estágio leve. — Peter explica, retirando o aparelho do meu braço. É um alívio tanto para mim quanto para os meus pais. — Nesse caso, uma reposição de líquido resolve.
— Viu? Não precisam se preocupar. — Eu digo mais para mim do que para eles. — Onde está a Jas? — Pergunto sentindo falta de Jasmine, porque dos meus irmãos mais velhos, ela foi a única que pôde vir me acompanhar no Catar. Lewis não pôde vir devido ao trabalho e Stacey teve assuntos para resolver na Austrália, que é onde ela mora.
— Passeando com Sam e Summer na cidade. — Meu pai explica, analisando o consultório como o bom observador que ele é. — Disseram que iam conhecer Corniche hoje.
Corniche. Essa palavra não me é estranha porque já ouvi antes saindo da boca de . Talvez a minha irmã e o meu cunhado aproveitem tanto quanto ela.
— Que bom que ela está aproveitando, acho que vocês podiam se divertir um pouco, juro que estou bem.
— Você acha que eu não disse isso a ela? — Meu pai fala e mamãe revira os olhos. Dou risada e olho para o Dr. Ersgaard que se volta para mim, estendendo uma receita que indica bebericar pequenas quantidades de água e ingerir bebidas isotônicas pelo resto do dia e parte da manhã de amanhã. Eu agradeço o doutor e nós três saímos do consultório.
Despeço-me de Tony e Debbie na porta do vestiário, não sem antes prometer para minha mãe que ia falar com ela de noite, antes de dormir. Naquele dia eu não consegui o quarto para ela no Hitz-Carlton, mesmo bajulando muito a recepcionista, então acredito que agora só vou encontrar com eles após a partida para celebrar ou me consolar. Aliás, foi devido ao pedido da minha mãe que encontrei com no saguão aquele dia, então devo isso a ela. Talvez, se não fosse por isso, nós até teríamos nos esbarrado, mas não acredito que seria a mesma coisa.
Tenho que tomar um banho rápido, pois a passada na sala do Dr. Ersgaard me custou tempo e sou um dos últimos a sair do vestiário até o ônibus.
No restaurante, estou na fila indiana do bufê que a nossa seleção forma. Trent e Jesse estão atrás de mim, rindo de algo enquanto Marcus pede para eles pararem. Por recomendação médica, coloco uma garrafinha de Gatorade na minha bandeja, estou quase indo para a mesa quando vejo uma cesta cheia daqueles pãezinhos lavāsh.
"Não posso sair da dieta, inferno, pare de me tentar ou não vou te dar o seu presente."
Dou um meio sorriso e coloco um no meu prato. Sento à mesa ao lado de James e é meio involuntário, mas eu pego o celular do bolso e tiro uma foto do prato antes de comer e posto nos stories do Instagram com a seguinte legenda:
Porque querendo ou não ainda estou pensando no que Ben me disse mais cedo, ou melhor, em quem.
Villaggio Mall, Doha, Qatar
O olhar de Jenna é sereno e eu invejo a sua placidez. Acho que é a primeira vez, desde que chegamos a Doha que vejo ela sem usar roupas formais de trabalho. Ela decidiu se dar um dia de folga e me acompanhar no turismo pela cidade. Estamos em Villaggio Mall, um shopping chique, cheio de canais de inspiração veneziana. Soube dos passeios de gôndola e pensei que seria divertido fazer isso hoje. Jenna só conseguiu me arrumar uma passagem para Londres para a madrugada de hoje para amanhã, logo tive que ficar dois dias mofando nessa cidade sozinha, tirando o melhor do turismo que Doha pode me oferecer.
Ontem mesmo fiquei o dia todo em SouqWaqif, um animado mercado centenário localizado em um dos quarteirões de Corniche, comprando coisas que eu não preciso, como joias de ouro, tecidos coloridos, lâmpadas de bronze no estilo do Aladim e até o bule que pediu – mesmo ainda com muita raiva – eu comprei, somente para me distrair. Juro que se eu tivesse como transportar, teria comprado um camelo também.
Quando digo que fiquei o dia todo fora é literal, só estou voltando para o hotel tarde da noite. Não quero encontrar com por acidente, seria desconcertante e é melhor que ele continue acreditando que já fui embora.
Nós duas visitamos todo o tipo de loja e decidimos almoçar em um dos restaurantes do shopping. Estamos sentadas juntas numa mesa que fica do lado de fora.
— Você já arrumou as malas, ?
— Ainda não. — Respondo, observando a agitação do mercado. — Ia fazer isso quando chegasse ao hotel hoje.
— Seu voo é às duas da manhã, não esqueça.
— Não vou esquecer, Jenna.
— Tem certeza? Vou colocar um despertador no seu celular para duas horas antes. — Ela limpa a boca num guardanapo e pega o meu celular.
— Qual é, eu não sou uma criança.
— Mas a sua capacidade de se atrasar para qualquer tipo de compromisso me surpreende, . — Eu dou risada, porque ela tem um pouco de razão. Tenho essa mania de viver em cima da hora, é uma coisa que estou tentando melhorar.
— Prometo que vou chegar na hora. — Respondo levantando três dedos para cima, como um escoteiro.
— Agora deixa eu ir se não eu que não vou chegar na hora. — Jenna diz, abrindo a carteira e deixando o dinheiro da metade da conta do nosso almoço. Nós íamos voltar para Londres juntas, mas ela teve um imprevisto com outro cliente e precisa estar lá ainda hoje para resolver. Ela levanta, arrumando a bolsa no ombro e deixa o meu celular na mesa. — Nos vemos em Londres?
— Sim.
— Qualquer coisa você me avisa.
— Pode deixar. — Eu levanto para lhe dar um abraço de despedida e depois disso Jenna vai embora. Estou sozinha de novo.
Chamo o garçom para acertar a conta, e, após isso, saio do restaurante. Dou um passeio pelo shopping, pensando no que eu vou fazer no resto da tarde até de noite porque esse lugar já me deixou entediada. Decido parar em um quiosque do Bob's para comprar um milkshake, sou um pouco viciada em açúcar e para mim não tem sobremesa melhor. Meu pai está me ligando, então sento em um banco para atender.
— !
Não tem pessoa que diga o meu nome melhor que o meu pai.
— Oi, pai! — Exclamo animada porque estou com saudade, mas não parece ter sido esse o motivo dele ter me ligado. — Seu irmão me disse que você está namorando um sujeito problemático... Que história é essa? — Seu tom é acusatório e eu quase mordo a língua ao ouvir isso.
— Não é nada disso, o seu filho está inventando coisas.
— Se disse, eu acredito.
Uma curiosidade sobre a minha família: o meu pai e possuem uma ligação inexplicável, eles estão sempre do mesmo lado da corda. Acredito que seja por essa coisa de ser o primogênito que realizou o sonho de ser jogador de futebol que o meu pai não conseguiu. Minha mãe diz que isso é viagem minha e é o ciúme falando mais alto, mas não tem como acreditar quando a palavra do meu irmão vale mais para o meu pai do que a de qualquer outra pessoa.
Meu pai tem noção que já sou uma adulta independente que não precisa mais da autorização dele para nada, mas o homem é um tanto quanto antiquado, ele gosta de esquecer disso de propósito.
— Quando foi que a palavra de virou a verdade de Deus que não pode ser contestada? — Pergunto com cautela e ouço papai resmungar.
— Ele me disse que você está fazendo uma grande besteira. — O seu tom de voz muda, dessa vez ele está insinuando: ei, filha, só quero te proteger.
— O conceito dele de besteira é não fazer o que ele quer.
— Mas você está bem?
— Estou sim e não estou namorando ninguém. — Digo e de certo modo não é nenhuma mentira. Não gosto de brigar com o meu pai como eu brigo com , por isso com ele eu tento ficar mais na defensiva. Papai está ficando cada vez mais velho e cheio de problemas no coração, por isso evito conflitos entre nós dois ao máximo.
— Isso me deixa mais tranquilo, quer dizer, com homens desse país... Terroristas. Infiéis. Exuberantes. Não dá para confiar em ninguém. — O comentário dele me indigna e de fato não me agrada, além de me fazer perceber que não citou o nome de para o meu pai e ele tirou outras conclusões. — Fique longe deles! Não quero ninguém brincando com a minha garota.
— Pai, isso foi extremamente preconceituoso.
— Apenas a minha opinião. — Eu respiro fundo procurando paciência, porque se eu insistir, essa discussão vai ser longa.
— Não há ninguém, e mesmo que houvesse, isso não é opinião, pai. Chamar alguém de terrorista é um crime contra a honra. — Ele resmunga de novo e dessa vez solta uma risada.
— Uma grande besteira.
Estou quase desligando e se isso não o fizesse voltar a me ligar, eu faria.
— Era só isso que você queria perguntar?
— Jenna disse a sua mãe que você vai voltar hoje, é verdade? Sua mãe, seu irmão e eu estamos indo para Bruges agora, quer que te esperemos?
— Melhor não, vou chegar de madrugada. Talvez não chegue a tempo para o aniversário da vovó. Vou passar no meu apartamento, fazer as malas, descansar um pouco, depois vou para lá.
— Se é assim, então tudo bem.
— Vou desligar agora, certo?
— Certo, , se cuide.
Eu desligo, procuro o nome de nos contatos e o desbloqueio para fazer a ligação. Esse sem noção vai me ouvir ele querendo ou não. Não contei que não estou mais vendo e nem vou, isso não é da conta dele, e também porque agora quem não quer fazer as pazes sou eu. Esse dia só vai chegar quando ele me pedir desculpas de joelho por ter sido tão babaca, mas isso eu não vou deixar barato.
Levanto do banco e começo a andar porque quando estou irritada eu não consigo ficar parada.
— Tô sem acreditar que você meteu o nosso pai nisso. — Eu digo quando ele atende, jurei que ia me ignorar. — Não somos mais crianças, , não precisamos mais de intervenção adulta.
— Ora, ele apenas me perguntou o que estava acontecendo e eu fui sincero. — Ele fala com um sarcasmo maçante. — Eu não sou um mentiroso, diferente de você.
— Eu só te liguei para avisar que não vou deixar você envenená-lo contra mim.
— Nosso pai não é idiota, diferente da mãe que se derrete por cada coisa que você faz.
Penso neles, nossos pais divergem bastante na forma de agir e de pensar, eles nos amam igualmente, mas é claro para todo mundo ver que mamãe é muito mais flexível e prefere apoiar a repreender, ela é bem mais compreensiva. Acho que faltou essa característica em quando ele nasceu.
— Nossa, é impressionante como você torce para a minha felicidade, viu? — Eu ironizo, olhando para os meus pés na escada rolante.
— Sim, eu torço muito. — Faço uma careta porque ele parece estar sendo sincero, mas me recuso dar uma trégua.— Mas não com esse cara.
Solto um sorriso soturno, ele nem imagina que nem estou mais falando com , isso colocaria um fim na nossa briga, mas não vou dar esse gostinho a ele.
— Um dia você vai aprender que algumas coisas você não decide.
— O que eu tenho que fazer para você desistir disso?
— Nada. — Eu minto. Queria que ele se redimisse por ter consciência de que está sendo um otário, não por isso.
— Então, de verdade? — Ele faz uma pausa dramática, mas vendo que não vou rebater, continua: — Espero que você se arrependa muito, .
O meu irmão desliga sem esperar que eu diga mais nada e eu guardo o celular na bolsa. Eu olho para o copo vazio de milkshake na minha mão e o jogo no lixo, pensando que tem razão, eu vou sim me arrepender, mas por outra coisa.
Hotel TheHitz-Carlton
Acho que hoje é o último dia que nos reunimos nesse Lounge após jantar. É quase nove e meia, e a maioria de nós já subiu para os próprios quartos. Eu, Declan, James e Ben ainda estamos em uma mesa jogando cartas. Gosto de jogos de cartas, são uma boa distração.Todos aqui estão procurando algo para aliviar a tensão, o nervosismo vai sempre estar lá, mas é legal encontrar uma forma de controlá-lo. Uma noite tranquila antes de um jogo sério é quase tão importante quanto o dia da partida.
O jogo da vez é Blackjack, ou o famoso 21, e Rice é o nosso dealer. Os ânimos estão exaltados aqui porque costumamos apostar fichas que convertemos depois para libras e James jura de pé junto que Declan está roubando.
— Para de me olhar com essa cara. — Declan pede e eu olho para James que está encarando-o firmemente, sem piscar.
— Não, tenho que ter certeza de que não está fazendo nenhum truque com o baralho.
— Porque vocês dois não ensinam ao James a ser um bom perdedor e fazem as suas apostas? — Ele diz embaralhando as cartas e todos nós deslizamos duas fichas de 25 no centro da mesa, a aposta mínima.
— Se ele está roubando ou não, não sei, mas precisa melhorar suas habilidades como dealer. — Eu digo após ter visto Declan derrubar o baralho três vezes. Numa delas, as cartas voaram por toda a mesa.
— Quem foi que deixou ele ser a banca mesmo? — Pergunta James.
— Ei! Eu trouxe o baralho, Maddison, e a ideia foi minha, nada mais justo! — Declan se defende, distribuindo as cartas. Uma para cada um de nós com a face virada para cima depois uma para ele e repete até que todos nós tenhamos duas cartas, tendo ele uma carta para baixo.
Nosso jogo segue até que estamos todos com três cartas, com exceção de Declan.
— Estourei! — Exclama Ben quando vê que a soma das cartas dele deu vinte e seis.
— Merda. — James resmunga porque ele sabe que vai perder para mim ou para Declan, a soma dele deu dezenove. Foi o máximo que ele chegou de vinte e um nesta noite.
Eu olho para Declan, esta rodada está entre ele e eu. Tenho um valete, um três e um sete. 20. Ele tem um dez virado para cima, tudo depende da segunda carta dele virada para baixo. Se ele tiver um ás, estou fodido, as apostas vão todas para ele. Apesar de não estar tão indignado quanto James, eu odeio perder, confesso que estou sentindo falta de apostar com , pelo menos dela eu ganhava.
. . . Tudo nesse maldito lugar me lembra ela.
Talvez o Catar me proporcione a melhor experiência da minha vida ou a pior, só o tempo vai dizer.
— Qual é a possibilidade de Declan ter um ás ali? — James diz e Declan dá um sorriso cínico, tranquilo, fazendo um floreio com as cartas que sobraram.
— E aí, , vai aumentar a aposta?
Gosto de ser desafiado, então deslizo duas fichas de cem para o monte. Ele põe a mão em cima da carta virada para baixo, mas não faz nada.
— Vai logo com isso, homem! — Ben pede impaciente e damos risada. Não é como se tivéssemos tempo para tanto mistério.
— Nossa, mas não pode nem mais fazer um pouco de suspense.
— Não! — Nós três dizemos juntos. Acredito que estamos fazendo muito barulho, isso porque nem estamos bebendo.
— Filho da puta! — Eu xingo quando ele vira a carta e é um ás, mais indignado que eu, apenas James que bate na mesa enquanto Declan abraça as fichas na mesa e arrasta todas para si.
— Porra, não é possível que ele ganhou de novo. — Fala Ben. — Não está embaralhando essa porra direito.
— Eu tenho culpa de vocês serem azarados?
— Roubando, tudo é possível. — James aponta.
— Chorem mais enquanto cada um de vocês... — Ele analisa as fichas na mesa rapidamente e depois nos olha exibindo seu sorriso vitorioso. — Me deve duas mil libras. Favor pagar até semana que vem!
— Vamos com Jack para Vegas, se ganharmos a Copa, quero ver se lá ele vai conseguir trapacear! — Eu respondo e ele me olha tão indignado quanto quando Ben lhe contou que nunca tinha provado comida chinesa.
— Até você, ?
— Sinto muito, mas você me fez aumentar a aposta. Caralho, como podia ter tanta certeza?
— Você caiu no meu blefe! — Ele dá de ombros, orgulhoso, começando a juntar as cartas de novo. Não sei se vamos iniciar outra partida ou se James vai juntar todas as fichas para atirar em Declan. Jordan Henderson atrapalha os meus pensamentos quando se aproxima segurando um caixote de madeira.
— Ei, vocês trouxeram as coisas?
— Sim! — Nós respondemos sabendo que ele se refere aos objetos de decoração para a festa. Eu jogo os balões que pedi no aplicativo hoje de manhã na cesta.
— O que vamos fazer com tudo isso se perdemos? — Pergunta Ben, observando tudo que já tem no caixote que Hendo carrega.
— Não vamos perder. — Jordan é confiante, mas acredito que todos nós estamos tensos com uma certa preocupação.
— Mas e se...
— Não vai acontecer! Sem negatividade. O que vocês estão jogando?
— Vinte e um. — Declan responde. — Venha, se junte a nós.
— Agora não dá, tenho que terminar de recolher isso de forma sigilosa. Sabe como é difícil esconder as coisas daquele cara? Quase que ele descobriu. — Nós olhamos para Jadon do outro lado da sala e depois rimos. Jordan se vira para ir embora, mas diz antes de partir: — A propósito... Vi Declan escondendo um oito embaixo da mesa.
Ele solta e sai antes que o caos aconteça.
— O QUÊ?! — Maddison levanta indignado e dá um tapa na mesa. — Devolva o meu dinheiro, seu trapaceiro de merda!
— Mas você nem me pagou nada ainda! — Declan exclama rindo de nervoso e usando a mesa como escudo. — , me ajuda aqui! — Ele clama, contudo, eu ignoro porque me fez apostar mais duzentas libras e o rancor aqui é recente.
Eles entram numa discussão boa de assistir, mas eu acabo me distraindo quando pego o celular. Há várias mensagens de outros amigos e de toda a minha família desejando boa sorte e vibrações positivas. Tento responder algumas e deixo o resto para responder antes de dormir. Acabo indo até o perfil dela no Instagram só para saber se já está na Inglaterra, acredito que sim, mas não postou nada novo.
— Conquiste-a. — Ben diz do meu lado, com certeza deu uma espiada na minha tela e sabe no que estou pensando. Acho que ele cansou de tentar apaziguar a discussão de Declan e James.
Eu dou uma fraca risada e olho a mensagem de novo.
— Para conquistar essa daí eu tenho que ganhar três Copas do Mundo, cinco Champions League e a Premier sete vezes pelo menos.
— Desistiu então?
Desistir. Parece uma palavra tão insignificante para mim.
É legal como alguém pode simplesmente aparecer na sua vida de repente e se tornar tão importante para você em tão pouco tempo. Acho que é isso que torna a vida tão interessante. Sempre há ressonâncias para ter esperança no futuro, porque você nunca sabe que coisas boas acontecerão em seu caminho. E acredito que foi a melhor coisa que aconteceu em algum tempo.
Lembro que um gesto simples pode significar algo grandioso e isso me dá uma ideia porque não, eu definitivamente, não desisti.
Quando entro no meu quarto, descarrego todas as sacolas no chão e suspiro aliviada. Estão demasiadamente pesadas e subi carregando todas elas sozinha. O atendente da recepção e outro funcionário do hotel até me ofereceram ajuda, mas eu neguei, queria subir o mais rápido possível. Tiro os sapatos e olho a hora, são dez da noite, tenho duas horas para arrumar todas as minhas coisas, fazer o check-out e ir até o aeroporto.
Estou organizando todas as coisas que comprei quando meu celular toca. É Ashley pedindo uma chamada de vídeo no FaceTime. Eu atendo após organizar as sacolas, rezando para tudo isso caber nas malas que eu trouxe.
— !
— Oi, Ash. — Respondo quando ela aparece na tela e estranho seu visual. É uma noite de sábado e ela parece estar no conforto da sua casa. — Ué, vocês não têm jogo hoje?
— Temos, mas Didier me cortou. Estou com um fodido edema na coxa direita.
— Melhoras. — Dou um sorriso tentando confortá-la.
—Obrigada, mas e você? Tudo bem? Pode falar?
Engulo a saliva parada na minha boca e prendo o cabelo com um elástico. "Bem" não é a palavra certa, acho que eu poderia estar um pouco mais animada, mas não queria fazer disso uma grande coisa por mais que tenha me abalado um pouco, então apenas confirmo com a cabeça. É claro que eu tive que contar tudo para elas do que aconteceu com , inclusive foi Jordyn quem me deu ideias para me distrair até eu ir embora.
Não é a minha primeira desilusão amorosa e a vozinha na minha cabeça volta:
Ele é só um cara, , e você já superou outros caras antes.
— Se você não se importar de me ver quase pelada.
— Já tô acostumada. — Nós duas rimos. Eu jogo quase todas as minhas roupas na cama para poder dobrá-las, fazer mala é sempre um saco e eu gosto de começar pela parte chata. Apoio o celular em uma das minhas necessaires para conseguir ficar com as duas mãos livres. — Então, nessa solidão aqui em casa estava pensando e sei que ainda faltam uns dias, mas o que você vai fazer no final do ano?
— Bem, vou para a casa dos meus avós assim que chegar em Londres e volto dia 18 para terminar a campanha. — Respondo enquanto dobro um vestido. Percebo que não parei para pensar que vou ter que conviver com durante tantos dias com essa nossa pequena briga. — Depois volto para lá para o natal.
— E no ano novo? Estava pensando que você podia vir pra cá. Eu, você e Jordyn, solteiras e felizes na virada do ano em Paris!
Sorrio animada com o convite, mas a pluralidade da palavra me chama atenção.
— Espera aí... solteiras?
— Estou contando que até lá, Jordyn já vai ter dado um pé na bunda no Steban. — Ela encolhe os ombros e eu dou risada, concordando com a cabeça.
Jordyn nos disse que ainda está sem falar com Steban por causa da foto e nem estou achando ruim. Aquele babaca merece até coisa pior, mas eu e Ash sabemos o quanto Jordyn gosta dele e o quanto é difícil. Quando ela e Davies terminaram, ela ficou arrasada. Às vezes eu acho que ela ainda gosta dele.
— O que você acha?
— Acho perfeito. — E acho mesmo. Se eu voltar com dor de cabeça da casa dos meus avós, vou ter com quem e onde me divertir.
— Amo, vai ser demais! — Ela diz animado e dou um sorriso verdadeiro. —Espera só um minuto, pedi comida no aplicativo e já chegou.
Balanço a cabeça afirmando e ela some da câmera. Aproveito a saída de Ash e termino de dobrar as roupas para já colocá-las nas malas. No quarto há uma grande mesa retangular colada na parede onde eu deixei absolutamente tudo que se relacione a acessórios além de todas as minhas maquiagens e produtos. Eu guardo tudo bem rápido quando percebo que só falta uma coisa, ou melhor, duas: a caixa com a camisa que me deu e o Fan ID.
Estão aí a um tempo, e nos últimos dois dias são as primeiras coisas que eu olho quando acordo e quando vou dormir. De noite ainda consegue ser pior porque parece que essa credencial e essa camisa têm olhos que ficam me desafiando a noite inteira e me chamando de covarde. E os pego e volto para a cama. Faço uma pausa na arrumação porque nem sei onde vou guardar isso.
Olho para o celular e vejo que Ashley ainda não voltou, então eu abro o Instagram para passar o tempo. Ia abrir os stories, mas ao invés disso vou até o perfil de . Eu devia dar unfollow nele, mas ao invés disso eu checo os seus stories. Há algumas fotos do último treino da Seleção e uma foto de um prato focando em um lavāsh. Tem a seguinte legenda:
Eu devo ser muito idiota por estar sorrindo por causa disso. Significa: "você e eu" em francês. Congelo os meus dedos quando percebo o que estava quase fazendo: respondendo os stories dele. Volto a tela para a chamada com Ashley porque parece mais segura. Que droga! Isso foi quase automático.
Dou um longo suspiro lembrando do dia que eu estava de bobeira no Twitter quando apareceu na timeline um tweet aleatório de um casal chamado Marc e Angel que falava assim: “É engraçado como superamos o que antes pensávamos que não poderíamos viver sem, e então nos apaixonamos por aquilo que nem sabíamos que queríamos.” Eu salvei isso e tirei daí que a vida continua nos guiando em jornadas que nunca faríamos se dependesse de nós e que nós precisamos ter fé, não ter medo, encontrar lições e confiar na jornada.
Foi a vida que colocou no meu caminho nesses últimos dias porque se dependesse de mim isso jamais aconteceria, e vejo agora nesse stories que ele postou um claro sinal de que eu devia confiar na jornada. A minha vontade sempre foi muito maior do que aceitar as coisas como deveriam ser. Meu pai diz que esse é um defeito horrível, já eu diria que depende do ponto de vista.
— Voltei... — Ash diz. Vejo ela segurando uma pequena bandeira de plástico. Eu paraliso por alguns momentos, ainda pensando, e não a respondo. — , eu conheço essa cara, o que você vai aprontar? Pisco por alguns segundos, voltando para a realidade.
— Você vai me xingar muito se eu disser que talvez eu vá fazer uma grande besteira e que talvez eu corra o risco de me humilhar? — Mordo os lábios apreensiva.
— Depende, isso tem a ver com um inglês metido?
— O único. — Ela balança a cabeça ponderando enquanto mastiga e continua:
— E essa grande besteira vai te fazer feliz? A humilhação vai valer a pena? — Eu entorto a cabeça.
Olho para o Fan ID na minha mão e não preciso pensar muito para ter certeza do que sinto. — Vai, vai sim.
— Então faça.
— Desculpa, o quê? — Levanto o rosto para olhar para a tela, Ashley está comendo o seu yakissoba como se não houvesse preocupação maior no mundo.
— Falei algo errado?
— Não. — Solto uma risada porque ela parece tão confusa quanto eu. — É que eu tava esperando uma resposta diferente, mas deixa pra lá.
— Eu sei o que você acha que eu ia falar, , e queria que você soubesse que eu não te liguei só para perguntar do ano novo. — Ela parece aflita. — Queria te pedir desculpas.
— Desculpa? Pelo quê?
— Por ser tão chata. — Ash lamenta olhando para baixo e eu continuo sem entender.
— Mas você não é chata, Ash.
— Sou sim! — Ashley exclama e o seu incômodo é bem claro para mim. — Desculpa se parece que eu critico tudo ou só boto negatividade em vocês duas, . É que eu acho que deixo muito o meu lado racional falar e esqueço do resto. Isso estava me incomodando porque só agora percebi como você tava feliz, agora não parece tanto. Eu vou apoiar vocês em tudo aquilo que fizer vocês duas felizes. — Você jurou mesmo que eu estava chateada com você? — Ela balança a cabeça, mas ainda não olha para mim. — Ashley Lawrence, eu te conheço melhor do que ninguém, sei que você só quer o melhor para nós, sempre. Então levanta essa cabeça e saiba que eu e Jordyn não seríamos nada sem a sua rédea dura.
Faço um drama ao dizer as duas últimas palavras e depois dou risada, torcendo para que isso faça com que ela se sinta melhor. Eu nunca pensaria que Ashley é menos nossa amiga por ela ter um jeito de agir e pensar diferente de nós.
— Poxa, , obrigada. — Ela ergue a cabeça e sorri, isso me deixa satisfeita.
— Não precisa agradecer, meu amor.
— Bom, então vá fazer a sua besteira. — Aconselha, dessa vez mais animada e ansiosa, acho que até mais que eu. Parece que tem um bicho sambando no meu estômago. — Arrisque e enfrente todos os problemas, porque às vezes, vale a pena.
Talvez eu esteja com um pouco de medo, gostar é começar o inferno tudo de novo e é arriscado, mas a vida me ensinou a ser mais persistente e aguentar as coisas que abalam o meu chão. não é só um cara. Eu não quero mais só um cara. E ele é tudo que eu quero hoje. Então, espero que Jenna não me mate por perder esse avião.
Capítulo 10 – Décimo Sexto Dia
15 de dezembro de 2022
Hotel The Hitz-Carlton, Doha, Qatar
Ontem eu quase cometi uma loucura.
Ficou marcado na minha mente o andar e o número da porta do quarto dele. Eu nunca esqueço informações preciosas. Tinha fibra o suficiente para fazer como canta aquela artista brasileira: vou bater na sua porta de noite, completamente nua. Claro que não estava levando a parte do nudismo a sério, mas eu ia mesmo subir até o quarto de . Ashley estava me incentivando até eu falar a ideia, aí ela conseguiu colocar um pouco de juízo na minha cabeça e me fazer esperar até de manhã. Estava ansiosa, então tomei um calmante e dormi.
Hoje o jogo vai ser em Lusail, então tive que acordar um pouco mais cedo para me arrumar. Perguntei a Mia se o convite para acompanhar ela e Ava ao estádio ainda estava de pé e ela me confirmou que sim e disse que ia passar no meu quarto antes de sair.
Eu: não ficou tão ruim né?
Pergunto depois de enviar a foto que tirei no espelho do banheiro. Combinei a camisa que me deu com um jeans claro e coloquei o Fan ID logo no pescoço para não esquecer. Estou me sentindo estranha com essa jersey e não acredito que vou mesmo fazer isso. A Bélgica teria mesmo vergonha de mim, mas nada parece tão certo. Ashley disse para eu manter em mente que estou indo por ele e não pelo time, que assim a “traição” ao meu país não parece tão horrível.
Jordyn: nada fica ruim em você
Ashley: nem mesmo uma camisa da inglaterra 🤮
Jordyn e Ashley, assim como eu, não são as maiores fãs da seleção inglesa, mas estão me apoiando. Sorrio com a resposta e quando penso em responder, meu celular simplesmente morre. Merda. Estou indo ligar na tomada quando alguém bate na porta. Confirmo serem Mia e Ava quando abro.
— Bom dia, garota! — Mia me dá um sorriso animado.
— Bom dia!
Eu olho para a outra mulher que a acompanha: ela é alta com um físico ectomorfo. A pele dela é branca e o cabelo é bem preto e escorrido, mais escuro que o meu, e sua aparência lembra muito a Cher quando era mais nova, só que de olhos verdes. — Essa é a Ava. Ava, essa é a .
Nos cumprimentamos amigavelmente e não perdemos tempo no meu quarto. Iniciamos um papo e Mia diz que alugou um carro para nos levar até Lusail. A cidade fica a vinte minutos de Doha e, saindo agora, chegamos pelo menos uma hora antes do início da partida.
Enquanto nos movemos, percebo uma certa semelhança entre nós. Estamos ambas de jeans com jerseys com o nome de jogadores atrás. Eu e Mia usamos o modelo branco, já Ava optou pelo azul. Pela minha blusa ser literalmente de , fica bem mais comprida e larga em mim. Apesar de ser da Inglaterra, eu tenho que admitir: me caiu como uma luva. Isso me dá vontade de saber se outras camisas dele também ficariam bem assim.
Estádio Nacional de Lusail, Lusail, Qatar
Copa do Mundo – Final
Inglaterra x Argentina
Há pelo menos setenta e oito mil cabeças nas arquibancadas que circundam esse estádio hoje aguardando essa final inédita. Eu e as meninas chegamos um tempo depois do planejado, mas ainda o suficiente para pegarmos o início da cerimônia de encerramento. O dia da final está bem mais barulhento do que todos os outros e no momento o público está sendo agitado pelos remixes do DJ Snake.
— Uma cerveja? — Ava nos pergunta quando chegamos ao camarote, aquela parte intermediária entre a arquibancada inferior e a superior. Arrodeia todo o estádio e há várias pessoas espalhadas. Estamos apoiadas no parapeito de vidro aguardando o show.
— Prefiro água. — Mia diz a Eva que olha para mim.
— Se possível a mais gelada que tiver.
Ela confirma e se dirige ao bar que fica atrás de nós. Eu e Mia ficamos assistindo aos melhores momentos do mundial no telão, desde a fase de grupos ao mata-mata. Com certeza foi um misto de emoções, é bem diferente quando você acompanha tudo de perto ao invés de apenas assistir pela TV, vou sentir muita falta.
Ava volta alguns segundos depois e me entrega uma long neck bem gelada já aberta e uma garrafa de água para Mia.
— Vocês acham que vamos ganhar? — Mia pergunta. Estamos olhando para o campo. São 11h30 quando se inicia a solenidade das bandeiras da Inglaterra e da Argentina e o show de danças representando os 32 países enquanto toca uma música clássica.
— Bom, se você pensar que a Argentina começou o primeiro jogo, acho que temos sim, chances. — Respondo, achando graça nesse “nós”, como se eu estivesse aqui pela seleção inglesa.
— Como assim? — A loira questiona. Dou um gole na minha cerveja antes de falar.
— Argentina fez o jogo de estreia com o Catar. Se você quer ser um campeão mundial, você não deve começar no primeiro jogo. — Explico, mas as duas ainda parecem um pouco confusas. — Apenas a Inglaterra conseguiu isso no primeiro jogo real de abertura da Copa de 1966. Depois disso, o novo detentor do título sempre subia mais tarde na competição.
— Não sabia dessa. — Diz Ava.
— Nem eu, então temos mesmo mais chance! — Mia dá pulinhos de felicidade. Ela é relativamente mais baixa que eu e Ava, então diria que acho muito fofa sua empolgação.
— Você é inglesa? — Eu pergunto a Ava. Não tenho dúvidas sobre Mia, consigo reconhecer um sotaque inglês a quilômetros.
— Não, italiana. — Faço uma careta. A Itália foi eliminada nas quartas e foi de favorita a humilhada em segundos pela Alemanha. Ela me olha e lamenta, certamente lembrando do 3x1. Um resultado que ninguém esperava, mas aconteceu. — Eu sei, foi horrível.
Eu olho para o telão, estão reprisando a jornada das duas seleções finalistas durante o torneio e no justo momento passam os melhores do jogo contra a Bélgica.
— Pelo menos vocês chegaram nas quartas, né?
— Wow! A Inglaterra eliminou a Bélgica, e você está aqui?! — Mia exclama como se uma luzinha acendesse no topo da sua cabeça.
— Pois é. — Dou um sorriso amarelo, mas acabo soltando uma risada, desviando o olhar para o palco. Daddy Yankee está cantando Relación, é um espetáculo com painéis luminosos de LED, preparando a entrada de The Black Eyed Peas e Mohamed Ramadan para cantarem a música-tema oficial da Copa do Mundo de 2022.
— Vocês duas não namoram eles, mas deve ser muito amor para apoiar seus homens e a Inglaterra. — Mia puxa eu e Ava pelos ombros para um abraço, nós nos entreolhamos. Acho que Ava concorda comigo que talvez a loira esteja empolgada demais, mas isso parece fazer parte da sua personalidade. Ela é calma, agradável, e amorosa, lembra uma criança. Juro que sinto que Mia me trata como se fôssemos amigas de anos.
— Amor? Isso é apenas tesão! — Ava arregala os olhos e gargalha, já eu queria tanto poder dizer o mesmo.
— E você, ? Também é só tesão?
— Vou descobrir isso hoje.
Eu rio de nervoso. Não mencionei em nenhum momento que eu e não estamos nos falando.
O silêncio entre nós três vem automaticamente conforme paramos para prestar atenção no show. Habib, a mascote da Copa, entra em campo e faz uma performance animada. É um gato do deserto charmoso, se posso dizer. Tudo termina rapidamente em uns dez minutos e o estádio vibra quando a supermodelo árabe Hind Sahli e Hugo Lloris, o capitão da última seleção campeã, caminham pelo gramado apresentando o tão desejado troféu de ouro.
A taça das duas figuras humanas segurando a Terra fica posicionada entre as duas seleções que começam a entrar no campo em fila indiana. Quando finalmente aparece, eu não consigo parar de olhá-lo. Esse cara tem um tipo de campo magnético que me atrai instantaneamente. Posso jurar que senti, com um formigamento na espinha e um calafrio nos mamilos, o momento em que ele pisou os pés nesse campo.
Ele entra sério, mas logo abre um sorriso. Há algo sobre o sorriso dele, está sempre lá e tem o tipo de sorriso que faz você querer sorrir junto. Deve estar caindo a ficha para ele de que isso é real, infelizmente eu nunca vou saber qual é a sensação de jogar a final de um mundial. Ashley e Jordyn foram ouro nas olimpíadas do ano passado em Tóquio pelo Canadá, e assim como fiquei feliz por elas, estou feliz por , mesmo que ele não ganhe.
Ele está olhando para todos os lados enquanto os outros jogadores se organizam para iniciar a execução dos hinos nacionais. Talvez eu esteja delirando, mas parece estar olhando diretamente para cá, porém nem se ele quisesse muito ele ia conseguir me ver aqui, devo estar do tamanho de uma formiga, e a sua cabeça deve estar certamente na sua família.
Durante a execução dos hinos, Mia está com a câmera do seu celular para o campo, deve estar procurando Reece no banco de reservas da Inglaterra.
— Vamos tirar uma foto? — Ela pergunta e eu e Ava concordamos. Sorrimos para a selfie com o estádio saindo no fundo.
— Ah, merda, meu celular está descarregado. — Digo quando lembro. Ava também tirou uma com o dela e eu queria tirar uma com o meu. — Coloquei para carregar ontem, mas acho que meu cabo deve estar com mau contato.
— Tenho um power bank aqui, quer emprestado? — Mia diz.
— Por favor!
Ela me passa o carregador portátil e eu deixo o celular carregando na bolsa porque o jogo está para começar.
Eu acredito que Gareth Southgate é o homem mais fora do convencional que eu já vi, e não tenho certeza se isso é uma coisa boa. Parei um pouco para analisar, ele usa uma filosofia comum para comandar o time da Inglaterra, mas mostra uma coisa diferente a cada partida, como a escalação e o esquema tático. Na minha opinião, é arriscado, mas de alguma forma está dando certo. Kane e Messi fazem o sorteio e o pontapé de saída é da Argentina.
O juiz apita e começa a final da 22ª Copa do Mundo da Fifa.
A primeira chance da Argentina veio aos cinco minutos do primeiro tempo. Lautaro Martínez recebe de Otamenti perto da grande área, se antecipa a Harry Maguire e fica na cara do gol, mas bate fraco, em cima de Dean que não demora a devolver a bola num passe curto para Stones. Declan começa a jogada de trás, mas acaba perdendo a bola para Marcos Acuña, que até tenta uma infiltrada pelo meio com Rodrigo de Paul, mas Kalvin Phillips a recupera.
A Inglaterra inicia novamente uma tentativa de invasão da grande área da Argentina com e Sterling. Shaw e Ben estão nas alas, mas eu não vejo opção nenhuma de passes para eles. Kane está isolado lá na frente pelos zagueiros, um verdadeiro paredão argentino.
Ángel Di María aparece para marcar Luke Shaw antes que ele faça o cruzamento, mas uma dividida entre eles faz a bola ir para fora. aparece e cobra o arremesso lateral que cai nos pés de Declan. Ele rola para Jadon Sancho que toca para Harry Kane, mas a bola morre mais uma vez na pequena área pelo zagueiro Germán Pezzella e vai para fora. É um escanteio. Há cinco jogadores para quem Shaw e Ben podem lançar, mas há um fodido argentino marcando cada um deles. Deve estar sendo frustrante e faz apenas dez minutos que a partida começou.
Jadon cobra o escanteio, mas a cabeçada de John na bola vai para fora. Emiliano Martínez cobra o tiro de meta, mandando a bola tão longe, ela passa na cabeça de uns cinco até finalmente cair no chão, nos pés de Lucas Martínez. Eles iniciam uma jogada com passes lentos e longos até Lionel Messi decidir finalizar do bico da grande área e a bola passar rente ao travessão.
Nada muito emocionante acontece nos próximos quinze minutos. Com o time instalado no campo de ataque, os comandados de Southgate buscam tabelas rápidas e movimentação para criar oportunidades, mas param em uma ótima marcação argentina. A chance mais clara foi a de Kane, de uma bola que recebeu de Raheem, mas ele acabou desperdiçando. Os argentinos novamente se seguram mais atrás e tentam ligar contra-ataques, mas sem muito sucesso também.
— Ainda bem que o Messi não está em um bom dia. — Eu ouço Ava dar uma risadinha e tenho que concordar com ela. O camisa 10 da Argentina teve pouco espaço para jogar, marcado de perto por Declan e Phillips sem um centroavante.
— Coloquei o nome dele no congelador do hotel. — Mia admite e nós damos risada, mas logo meu ânimo desaparece quando o juiz apita marcando uma falta e eu vejo que quem está no chão é .
— Merda. — Digo baixinho, fechando os olhos, esperando que ele levante logo.
— Ele está bem. — Mia me conforta. Abro os olhos e o vejo de pé, voltando para a sua marcação.
— Essa parte é horrível, né? — Pergunta a morena. — Vê-los jogar e saber que a qualquer momento eles podem sair do campo com uma perna quebrada.
— Sim, mas queria que Reece entrasse.
— Ele vai entrar no segundo tempo. — Eu garanto a Mia. Ava busca mais uma rodada de cerveja para nós e volto a minha atenção ao campo. Stones está nos dando a chance mais clara de gol do primeiro tempo da Inglaterra com uma cabeçada que exige uma grande defesa de Emiliano.
A decisão de Lionel Scaloni de usar Messi como falso 9 não está dando certo, mas se as coisas estão ruins para eles, para a Inglaterra não está melhor. Está tudo tão agonizante e piora quando Di María acha um gol. Um golaço, na verdade. Abro a boca sem acreditar no que os meus olhos estão vendo. Aos 40, sem ser incomodado, ele arrisca um petardo de fora da área, e Dean demora a cair na bola. Um gol que parece cair do céu para a Argentina.
— Por que isso não está dando certo? — Mia bate no vidro frustrada e eu entendo. Estamos quase nos acréscimos e as coisas não parecem que vão mudar.
— Os dois times estão em um 5-2-3. Estão praticamente se anulando. — Respondo, mordendo a pontinha da unha do dedão.
— Como assim? — Ava pergunta. — Não entendo nada de esquema tático, meu único papel como apreciadora do esporte é assistir.
— O meu também.
— Estão vendo Luke e Ben? Sem a bola, eles fecham uma linha de cinco junto Stones, Walker e Maguire. Com a posse, avançavam até mais que os atacantes, abrindo os lados do campo. Estamos com a posse, mas não conseguimos bater nesse muro da Argentina, os sistemas estão se anulando. — Tento dar uma breve explicação a Mia e Ava que parecem estar entendendo bem. — Ben e Luke estão sendo marcados pelos alas. Já , Kane e Sterling estão sendo neutralizados toda vez que a dupla de volantes dá cobertura aos zagueiros. Declan e Kalvin têm espaço, mas sem opção alguma de jogo.
— Como você sabe tudo isso? Estou cansada só de olhar, imagina analisar tanto.
Penso em responder à pergunta de Ava, mas antes o apito do árbitro chama a minha atenção. Ele está marcando uma falta para a Argentina não tão longe da entrada da grande área, mas o que realmente me chama atenção é o movimento de até a beira do campo. Ele está conversando com Gareth Southgate e não parece ser bom. Aperto os meus olhos naquela direção, é como se ele tivesse pedindo água. Gareth balança a cabeça e lhe dá um tapa nas costas. sorri e volta para a sua posição antes da cobrança. Ele estar voltando para o campo me atenua de alguma forma.
Messi cobra a falta, a bola bate na barreira formada pelos três zagueiros ingleses e vai parar nos pés de Declan que chuta para , mesmo estando marcado por Otamendi. não dá um toque para trás, ao invés disso, dá um jeito de driblá-lo e a bola passa por debaixo das pernas do zagueiro. Ele dá um simples toque para Sterling, já que Kane está praticamente impossível. Raheem não pensa muito no que fazer com a bola e chuta de fora da área. É a melhor chance, a bola balança a rede onde a coruja dorme, deixando a defesa quase impossível para o goleiro argentino.
— GOL!
Nós três gritamos juntas, eu e Ava não tão animadas quanto Mia, mas igualmente felizes. A torcida vibra e cerveja voa para todo lado. O camarote vira uma loucura com ingleses gritando e festejando. Os jogadores no campo celebram todos juntos. Apesar de observar tudo isso, não estou realmente interessada. Eu olho para o campo, procurando a camisa 19 entre os ingleses que solenizam. Tenho para mim que quando você começa a querer explodir de felicidade por alguém, como se fosse entrar em combustão, significa que você está fodido, e quer saber? Não tem melhor sensação.
O primeiro tempo acabou com o empate em 1x1. Aproveito o início do intervalo para acompanhar Mia e Ava até o buffet oferecido para comer algo. Estou faminta, pois saí daquele hotel com só o café da manhã na minha barriga. Escolhi um hambúrguer e decidimos sair do parapeito para sentar em uma das várias poltronas distribuídas pelo local, para comer.
Estamos comendo tranquilamente quando sinto minhas mãos tremerem. Eu paro o hambúrguer na metade, pois a maldita ansiedade está embrulhando o meu estômago. Deve ser por isso que estou na quarta cerveja, o bom é que são necessárias bem mais do que quatro garrafas para me derrubar. Percebo que quanto mais rápido o jogo passa, mais perto fica a hora em que vamos descer até o gramado, seja para celebrar ou lamentar e isso está me deixando louca.
— ...Você não acha, ? — Mia me puxa para a realidade segurando seu canolli de baunilha. Olho para o canolli, parece saboroso, eu devia ter pegado um doce, açúcar me ajuda quando fico taciturna.
— O quê? Desculpa.
— Que Southgate vai ter que fazer alterações no segundo tempo se quiser levar esse título. — Mia responde, rindo da minha falta de atenção.
— Ah, com certeza. Talvez ele saque Jack, descanse Declan com Bellingham ou Henderson.
— Vocês acham que Eric vai entrar? Ele jogou tão pouco. — Ava carpe.
— Se você lembrar que ele entrou no finalzinho de quase todos os jogos... — Digo-lhe após virar o máximo que consigo de uma garrafa de cerveja. — Então sim.
— , tem algo acontecendo com ? Ele parecia, sei lá, estranho quando estava falando com Southgate. — Mia questiona e reparo que eu não fui a única a prestar atenção naquilo.
— Bem, não sei... — Confesso, desviando o olhar. — Não estamos nos falando.
— Sério? — Mia arregala os olhos e bate na mesa levemente, tentando demonstrar sua insatisfação. — O que o bastardo fez?!
— Nada, na verdade... — Digo rindo com a mão na boca e no minuto seguinte estou contando-lhes o que aconteceu. É bom porque julgo que preciso de outras opiniões.
— Então ele não sabe que você está aqui! — Ava conclui e parece uma grande descoberta. Elas percebem que não estamos no mesmo pé em relação aos homens da Inglaterra.
— Não. — Balanço a cabeça para os lados.
— Isso está te preocupando? — Mia questiona.
— Para ser sincera, sim. — Eu me apoio, segurando a garrafa na mesa. — Vocês acham que eu devia ter mandado uma mensagem antes?
— Sim. — Ava dá de ombros. — Mas talvez ele nem visse, com a preparação do jogo e tudo.
— Relaxa, vai dar tudo certo. — Mia balança o meu ombro e eu oscilo a cabeça, querendo parar de falar disso.
Nós acabamos mudando de assunto, falando das nossas carreiras. Mia e Ava ficam curiosas quando digo que sou ex-jogadora e ficamos os minutos restantes do intervalo conversando sobre a minha curta, porém emocionante carreira no futebol. Digo-lhes que um ano antes ajudei Silvie Schillaci com uma matéria para a ESPN. Silvie Schillaci é uma querida amiga que me chamou para isso na hora que eu mais precisava, por isso há tantas curiosidades a respeito do torneio gravadas na minha cabeça.
Quando o segundo tempo começa, nós voltamos para o parapeito e eu decido parar de beber porque se vou fazer mesmo isso, não posso ficar bêbada. Ou poderia, beber me encoraja, mas também me dá passe livre para fazer besteira e não quero fazer besteira.
Nos primeiros minutos, a Argentina tem ligeira vantagem ao subir a marcação, morder a saída de bola da Inglaterra e criar chances a partir de roubadas de bola. Numa delas, Messi recebe na intermediária, avança e chuta para fora. É um tiro de meta tranquilo para Dean, ele chuta para Walker, mas a jogada que os ingleses tentam iniciar pelo lado direito não resulta em algo, a bola sai na lateral, tendo último toque o argentino. A temperatura chega a aumentar quando Sterling acerta o braço em Pezzella e recebe uma encarada de Scaloni. O árbitro levanta um cartão amarelo para o inglês. A argentina cobra a falta e fica com a posse.
— Pare de roer as unhas, Mia. — Ava diz.
— Não consigo, o milagre é eu não estar arrancando meus cabelos. — Nós rimos, mas não a julgo, eu estava quase do mesmo jeito no jogo das oitavas contra a Bélgica. Olho para o campo procurando por . Eu presto atenção no jogo em si, mas minha visão está sempre focada nele. A única vez que a Bélgica deveria sentir algum apreço em relação à Inglaterra foi antes da Primeira Guerra, quando a Alemanha nos invadiu, mas acho que encontrei outro motivo, pessoal.
No duelo de estudos, Lautaro faz a diferença ao arriscar de longe, aproveitando a sobra na entrada da área. Ele arrisca e a bola desvia em Maguire, tirando Dean do lance. A Argentina desempata o jogo aos dez minutos. Ouço Mia lamentar ao meu lado.
— Está vendo?! Que merda!
— Calma, Mia, ainda tem mais vinte e cinco minutos, fora os acréscimos. — Eu suspiro. — Acho que eles vão pelo menos empatar novamente.
Southgate está andando pela lateral do campo e não parece gostar nada do que vê, eu também não gostaria. Jack Grealish, Jordan Henderson e mais alguns outros reservas estão aquecendo, então concluo que ele vai fazer uma mudança.
— Ah, ele vai mudar, finalmente! — Mia exclama.
— Oh, sim.
— Por que me sinto tão entediada? — Ouço Ava falar.
— Porque isso está um tédio, eles precisam de movimento, de dinâmica. — Sou obrigada a concordar com Ava e Mia grunhe de frustração entre nós.
— Falem por vocês, eu estou quase morrendo do coração aqui.
Quando Gareth põe Jack no lugar de Jadon, a Inglaterra, que parecia acomodada em campo, acordou e foi para cima. Fez três finalizações em menos de seis minutos. , Kane e Kalvin exigiram defesas do goleiro argentino, a mais difícil em chute do capitão da seleção. Nenhuma resultou no gol de empate, mas deu para perceber a enorme diferença com as substituições. Deixaram o meio-campo inglês mais leve e com chegada ao ataque, além de conseguir se fechar bem e neutralizar as infiltrações argentinas.
Estou feliz que ele não tirou , quero vê-lo jogando e não sentado em um banco, a não ser que esteja sentindo alguma dor. Eu o vejo constantemente mexendo na camisa e solto um sorriso. Acho que deve estar checando para saber se está suada o suficiente.
A dúvida de Acuña e Molina sobre se devem permanecer cobrindo a linha de cinco ou se devem saltar e acompanhar o movimento de Grealish gera um espaço. Jack se posiciona nas costas dos atacantes, no espaço de De Paul. Sterling fica com a bola, se movimenta nesse sentido porque a defesa argentina tem apenas Guido Rodríguez para proteger a linha defensiva. Pezzella se move, obrigado a sair do alinhamento e marcar o camisa 10.
O drible deixa o zagueiro para trás e Sterling ajeita para Grealish, que está livre justamente pela indecisão do adversário, e Jack toca para Harry. É GENIAL! Eu nem tenho palavras para descrever. Kane vira em lance de oportunismo e dá um tiro de misericórdia aos 32, numa jogadaça que envolve todo o time da Inglaterra, desde a defesa até o ataque. Nós vibramos muito mais que no primeiro gol.
Assisto animada a Argentina indo para o desespero, percebendo a dificuldade que estão tendo para chegar ao gol de Dean, e volta da pausa de hidratação com Agüero e Palacios substituindo Lautaro e Pezzella, enquanto Henderson entra no lugar de Declan.
— Eles estão desesperados! — Mia exclama, porém, depois se acalma. — Mas não, não vou cantar vitória antes da hora já que ainda está empatado.
— Argentina é e sempre foi dependente de Messi. — Eu comento, mais satisfeita com o empate. — Mas ele estava sendo anulado totalmente, marcado por Declan. Então, acredito que colocar nome no congelador ajudou, Mia.
— Ufa!
— Sim, mas esse jogo está me cheirando a prorrogação.
— Não fala isso, Ava!
Mas Ava tem razão, nos 11 minutos restantes nenhum gol a mais saiu. A Inglaterra ensaiou uma pressão, mas não conseguiu marcar. Já a Argentina até criou algum perigo com uma arrancada do camisa 10 argentino, mas a bola não entrou. A partir daí, o jogo ficou lá e cá, com chances para os dois lados, mas sem bola na rede.
— Eu disse que ia para a prorrogação!
— E você está feliz com isso? — A loira franze a testa.
— Claro, porque talvez Eric jogue.
2x2 no placar e eu não vejo a hora desse jogo acabar. Julgo que estou pegando o nervosismo de Mia para mim e ainda vamos ter mais trinta minutos de prorrogação. Gosto de dramas e suspense, mas isso poderia ser banido do futebol permanentemente.
A pausa é rápida e logo ambas as delegações já estão no campo novamente.
Sinto a minha bexiga apertar e a necessidade de fazer xixi após tanta cerveja. Digo às meninas que vou ao banheiro e me dirijo até o mesmo. De fora do camarote, é uma curta caminhada de trinta segundos. Há televisores espalhados nas cabines do toalete, então não perco muito tempo da partida. O jogo está morno, por isso, após dar descarga e lavar as mãos eu decido ficar um tempo na frente do espelho retocando o meu batom vermelho.
Olho para a tela e quando ouço essas palavras do narrador eu fecho o batom e saio rápido do banheiro porque algo me diz que se eu ficar aqui vou perder algo. Eu chego ao camarote bem a tempo de ver. abre espaço nas defesas intransponíveis e de pé, em uma multidão na área de pênalti, com as costas voltadas para o gol, ele acerta um passe alto de Luke com o peito, bate a bola na cabeça enquanto é marcado por um zagueiro, dá meia-volta e bate no gol de Emiliano. Sou capaz de sentir toda a energia dessa rede balançando.
Mia, quando percebe que voltei, me abraça e me espreme tanto que sinto como a presa de uma jiboia. Eu não consigo me virar para retribuir porque estou presa em algum momento do espaço-tempo em que não escuto nada, não tem som algum e a única coisa que eu vejo é ele. Estou mantendo meus olhos no campo porque, depois de ser atacado pelos seus colegas de time, ele para na frente da câmera, faz um “” com os dedos e beija a inicial do meu nome. Exatamente como da outra vez. Meu coração aperta de uma maneira diferente e é como se eu estivesse assistindo tudo em câmera lenta.
Gradualmente o barulho do estádio vai voltando e concluo que não estou ficando surda, mas o momento ainda me segura e chacoalha todos os meus sentidos. Dessa vez eu tenho certeza, esse gol foi para mim e de um segundo para o outro não me sinto mais uma idiota, de idiota só o meu sorriso. Ainda faltam dez minutos e o segundo tempo da prorrogação, mas eu sinto que tudo acabou aqui. Ou melhor, está apenas começando. E falando sério? Se desisti de ir embora para estar neste lugar, usando esta camisa e estou feliz em ver a seleção da Inglaterra ganhando um título, acredito haver algo aqui que não posso ignorar. Eu estaria cometendo um grande erro se o fizesse.
— Meu Deus! Vocês viram isso? Viramos! Eu nem consigo acreditar. — Mia grita sem fôlego entre mim e Ava. Estamos rindo dela. Sua maquiagem foi-se junto com a ornamentação dos fios do seu cabelo, mas acredito não haver sentimento melhor.
— Sim, e olhe quem está entrando. — Eu aponto para o campo no momento que Southgate tira e põe Reece no lugar dele, dá alguns minutos de jogo a Jesse e também a Bellingham. senta no banco aliviado com o sentimento de dever cumprido e o meu peito se enche de orgulho.
— Ah! — Mia escorrega no corrimão e suspira apaixonada ao ver o namorado.
Quando o árbitro encerra a partida é uma festa no campo, na arquibancada, até mesmo no céu. Alguns jogadores ingleses que não estavam no campo se encontravam de pé na beirada, agoniados nos minutos finais. Quando vem o barulho do apito, todos correm. É mágico e emocionante.
Eles ganharam. Foi um jogo confuso e houve muitas disputas sobre as decisões do árbitro, mas eles ganharam. Eu aplaudo alto o suficiente para causar dor de garganta até o momento da entrega da taça depois da organização do palanque. Decido parar porque se não vou ficar rouca. Mia não está se aguentando de tanto chorar, ela tira fotos e grava tudo que pode.
Eu vejo quando recebe a sua medalha. Se eu estou feliz, ele deve estar explodindo internamente como fogos de artifício na virada do ano. Os ingleses se reúnem sem conseguir conter os sorrisos e aguardam o capitão Harry Kane se posicionar no centro para levantar a taça. Quando ele o faz, o Estádio de Lusail eclode em gelo seco, confete e muito barulho.
— , você vai descer conosco? — Mia pergunta, minutos depois, me tirando do meu transe. O camarote VIP gradualmente está sendo esvaziado, as pessoas estão saindo para comemorar lá embaixo e eu nem sequer percebi.
Confirmo e as sigo escada a baixo, somos umas das últimas a descer. Passamos por um estreito corredor que leva à entrada interna do gramado. As nossas credenciais especiais fazem com que os seguranças nos liberem da primeira barreira. Há tanta gente aqui, não tenho problemas com claustrofobia ou multidões, mas a movimentação parece estar me esmagando. Por isso eu travo na entrada da relva. Meus pés não chegam a triscar na grama. Há tantas câmeras ao redor do campo, da imprensa e do público, tanta gente na arquibancada e fora dela. Os olhos do mundo inteiro estão focados no que está acontecendo nesse estádio, é aí que eu percebo que esse é um nível elevado de exposição.
Que merda eu estou fazendo?
Minha cabeça chacoalha e eu esfrego as unhas nas palmas das mãos. As meninas continuaram andando, mas Mia volta, percebendo que eu não saí do lugar. Ela está tão feliz por Reece e pela Inglaterra, mas desmancha o sorriso quando me olha.
— Por que você parou? — Ela pergunta entortando a cabeça. Estamos a uns cinco passos de distância. Eu olho para a grama cheia de papel picado como se ela fosse me queimar caso eu pise em cima.
— Por Deus, Mia. Essa é uma ideia precipitada, acho que vou deixar para falar com ele no hotel. — Quando estou quase lhe dando as costas, ela vem até mim em passos rápidos e segura o meu braço.
— Você está fugindo, ? — Mia pergunta, cética.
— Oh, merda, não. Eu quero isso.
— Então qual o problema?
— Se eu fizer isso aqui... — Eu olho para os lados e falo baixo como se estivesse acobertando um crime. — Todo mundo vai ficar sabendo.
— Mas todo mundo já não sabe?
— Não, todo o mundo. — Dou ênfase na última frase. Ela parece entender, mas a determinação de me fazer seguir não parece sumir.
Sinto-me estúpida por não ter pensado nisso antes. Eu e éramos um segredo guardado pelas paredes decoradas e portas de luxo do Hotel The Hitz-Carlton, um segredo que eu amei guardar. Eu não tenho um problema em revelar esse segredo agora, já que a pior pessoa que poderia descobrir sobre ele já sabe. Simplesmente não sei o que vai pensar. Nós nunca conversamos sobre nada que envolvesse assunção.
Os últimos dezesseis dias me deram a calorosa oportunidade de conhecê-lo melhor, mas não julgo que foi o suficiente para eu conseguir prever suas futuras ações. Não faço ideia de qual vai ser sua reação, e de um jeito cômico isso me excita em querer saber mais. Eu quero ir a todos os lugares do seu corpo e partes da sua mente que eu não consegui ir.
Faço uma breve explicação disso para Mia e ela segura os meus ombros, mantendo o meu foco.
— Você está bem com as câmeras?
— Sim.
— Então, veja bem, eu concordo que, devido a vida de vocês ser pública, isso tem que ser decidido em conjunto, e não posso te dizer o que de fato vai acontecer porque não sei prever o futuro. — Eu solto uma risada e ela me acompanha. — Mas posso te dar a certeza de que mesmo que ele não goste da sua atitude, não vai fazer uma cena ou ser rude, . — Ela se move ficando ao meu lado, me abraçando pelos ombros e o seu rosto fica quase colado ao meu. Sei porque ela fez isso, quer que eu tenha uma ampla visão do campo e de todos os jogadores. Desviando de alguns corpos, eu consigo achá-lo.
está de pé a poucos passos de distância da marca do pênalti, rodeado de pessoas da sua família e segurando sua sobrinha no colo. Summer está brincando com a medalha do seu pescoço e é a coisa mais linda que eu já vi.
— Anda logo, vá lá. — Mia ordena, quase me empurrando, porque ela deve estar olhando para a mesma coisa que eu.
— Ele tá com a família, vou atrapalhar. — Teimo e Mia revira os olhos para mim.
— Não vai nada.
— Vou sim. — Insisto. — não vai parar de dar atenção a eles para falar comigo.
— Ele não fez o gol para você?
— Fez.
— Então ele te quer aqui.
Ela garante, mas não dou um passo. Parece que as minhas botas estão grudadas no chão com uma fortíssima cola. Estou me sentindo uma adolescente de quinze anos indo conhecer a primeira paquera. Lembro do que Mia falou sobre não fazer uma cena ou ser rude. Eu acredito nela, não há uma gota de maldade ou indelicadeza naquele coração. Tento usar isso como incentivo para me mover, mas Mia tem uma ideia melhor.
— Se o problema é a família dele, vou pedir para o Reece chamar o para tirarmos uma foto, OK? Aí você vai lá. — Eu apenas confirmo com a cabeça, meu coração está batendo tão rápido que está difícil formar frases. — , se você não for, eu venho aqui te puxar pelos cabelos!
— Tudo bem, eu vou, prometo!
Dou uma risada fraca e concordo com a cabeça. Levanto as mãos como sinal de rendição e ela me olha como se dissesse “acho bom!” antes de ir.
Incluir Mia no meu grupo de amizades parece uma grande ideia, ela me lembra muito o jeito de Ash. Eu fico observando ela ir ao encontro de Reece. Praticamente pula no colo dele e ele acaricia o seu rosto. Deve estar perguntando porque ela demorou tanto para encontrá-lo. Paro de olhar quando o meu celular, ainda conectado no power bank, começa a vibrar loucamente no meu bolso. Estão chegando notificações de hoje mais cedo, o aparelho ligou quando conectei no carregador, mas acho que o bloqueador de sinal do estádio estava impedido as mensagens de chegarem.
Dou uma rápida olhada enquanto alterno meu olhar entre Mia e a tela. Estou quase bloqueando o monitor quando vejo que tem uma mensagem de não aberta. Ou melhor, várias, dois áudios e alguns textos. De hoje mais cedo. Se antes eu estava tremendo, agora sou o próprio brinquedo que quando liga é uma dentadura batendo os dentes. Levo o microfone a orelha para começar a ouvir os áudios.
: “Oi, , sou eu, mas acho que você sabe disso (risos). Você chegou bem em Londres? Espero não estar atrapalhando, mas eu queria te contar que tive uma epifania ontem escutando Mr. Brightside. Você gosta de The Killers? Por que estava pensando que podíamos ir em um show, juntos, eles estão em turnê pela Europa. Na verdade, nem sequer perguntei a respeito do seu gosto musical, esse é um erro terrível quando se está conhecendo alguém (risos), mas me deixe parar de enrolar e te falar o motivo da minha epifania.”
Acho que a minha arritmia está atacando, estou sorrindo para o gramado com o celular na orelha. Mas que merda, por que eu não ouvi isso antes?
: “Eu queria fazer mais, se não estivesse aqui agora prestes a iniciar o jogo mais importante da minha carreira, até aqui eu faria. Pierre Jeanty escreveu num livro: ‘não quero nunca parar de fazer memórias com você’, mas não queria usar as palavras de outra pessoa. Então ontem te escrevi um poema não rimável depois que ouvi a música. Na minha cabeça era a melhor forma de te dizer isso. Mas vou te avisando que não ficou bom, porque se tivesse ficado bom, eu seria um poeta e não jogador de futebol (risos).”
Eu dou risada da última frase, imaginando-o gravando esses áudios, e leio as últimas mensagens.
: meu bem,
talvez isso que a gente tem
não vá pra frente
mas aquele período com você foi tudo
você me fez querer não viajar de volta pra casa
aliás, lar é o que nos aquece por dentro
e nós dois juntos poderíamos incendiar esse hotel inteiro com um encontro
é só uma fase, tem que passar
porque como canta o Brandon Flowers
começou com um beijo
como foi terminar assim?
eu não queria ter voltado
até porque depois de tanto tempo com os pés no chão
você me fez querer voar
desculpa se demorei demais pra te falar isso
e agora eu tenho uma coisa importante pra fazer agora que precisa do meu foco total então talvez não esteja mais on-line quando você vir isso
então veja o jogo hoje e foque os olhos em mim
porque , mesmo que você não esteja aqui, eu só tenho olhos pra você 🤍
Eu ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. A onda de alegria e de adrenalina não passa por nada. Quando subimos no palanque e Kane levantou a taça, eu me senti no topo do mundo, como se tudo fosse possível e a sensação permanece. Nem todo mundo consegue alcançar aquilo que mais almeja na vida, e sei que tudo é tão efêmero, mas o sentimento que fica é o de realização plena. Poucos segundos que vou lembrar para a vida inteira.
Eu tento reunir algumas palavras quando alguns outros jornalistas me abordam na lateral do campo reservada para a imprensa, depois da entrega da taça.
— Não dá para descrever. Quando Southgate me substituiu, eu só consegui ficar sentado no banco durante cinco minutos de tanta inquietude. Vi o estádio lotado e 'pontos' de ingleses eufóricos acompanhando e parei para olhar para todos nós como time. É um sonho que virou realidade para nós. Estou muito feliz, tenho muito orgulho da seleção e do que aconteceu aqui no Catar. Estar em uma Copa do Mundo é um grande privilégio, uma grande honra e um enorme prazer. Mas vencer uma Copa do Mundo com a Inglaterra é inefável, quase como um belo conto de fadas. A disputa é acirrada, as equipes lutam até o fim. Isso coroou ainda mais esta competição e tudo o que fizemos neste campeonato. Avançamos como uma verdadeira equipe.
Estamos fazendo uma grande festa nesse campo, tirando fotos, gravando vídeos, deslizando pela grama e gritando ao ponto de ficarmos roucos. Olhar o troféu é admirável, mas poder tocar nele é espetacular. Nós agora temos esse privilégio, porque somos os campeões.
Comemorei muito com todos os meus companheiros de time, mas também pensei em todas as pessoas que me ajudaram. Meus pais desceram até o campo junto com Jas, segurando Summer, e Sam ao seu lado. Eu queria muito ganhar, mas também queria dividir esse momento com eles. Eles são tudo para mim, minha base, minha essência, minha referência. Estão comigo em todos os momentos! Só tenho a agradecer-lhes pelo suporte. Isso certamente não estaria acontecendo se lá no começo da minha carreira eu não tivesse o apoio de todos.
Eu digo isso a eles, e agora minha mãe não consegue parar de chorar e o meu pai não contém o orgulho enquanto faz uma videochamada com Lewis.
— Caralho , estou tão feliz por você. — O meu irmão diz pela tela, acho que ele, como todos nós, ainda parece não acreditar. Isso é um sonho.
— Sim, agora não vai parar de se achar. — Jas provoca, me abraçando de lado. Summer está do meu colo, com as mãozinhas gordas e rechonchudas na minha medalha.
— Vou me achar o quanto eu quiser, poucos têm o privilégio de ganhar a Champions League e a Copa na carreira. — Respondo estonteante e eles riem.
Pela tela do visor vejo as duas estrelas, na camisa nova que recebemos, acima do escudo dos Three Lions quando Summer se move. Nós realmente conseguimos, não poderia ser melhor, quer dizer...
— Ei, , pode vir aqui? — Eu ouço Reece chamar atrás de mim, atrapalhando os meus pensamentos, e me viro para ele. — Mia deu a ideia de você, Ben e eu tirarmos uma foto com a taça. Algo para a torcida dos Blues.
Dou de ombros confirmando.
— Podem me dar um minuto?
— Claro, filho. — Meus pais e minha irmã concordaram e passo Summer para o colo dela. Acompanho Reece até onde Ben está com Mia. Chilly está segurando a taça.
— Quem vai tirar? — Pergunto e Mia levanta a mão com o celular.
— Eu!
— OK, Reece no meio. — Ben fala, estendendo a taça para ele.
— Por que eu no meio? — Ele questiona, mesmo atendendo ao pedido, e nos posicionamos lado a lado.
— Porque você é o mais baixinho. — Ben responde, eu e ele damos risada.
— Ah, claro, grandes três centímetros de diferença entre nós três. — Reece ironiza porque eu e Chilwell temos a mesma altura, e revira os olhos. Nós rimos mais e Mia chama a nossa atenção.
— Ei, garotos! Prestem atenção aqui.
Nós cessamos a risada, mas sem tirar o sorriso do rosto para a câmera do celular que Mia aponta para nós. Tiramos no mínimo umas dez fotos trocando posições, mordendo as nossas medalhas, erguendo a taça e fazendo caretas. É uma coisa bem rápida porque essa taça está sendo disputada, todo mundo quer ficar com ela.
Declan pede a taça para Ben e reclama que nós não o chamamos para a foto e eu o alfinetei dizendo que se ele voltasse para o Chelsea estaria na foto. Esse é um dos meus pequenos objetivos para quando a janela de transferências abrir.
Depois de Ben entregar a taça para ele, nós nos reunimos ao redor de Mia para ver como ficaram as fotos. Nós brincamos que Mia é uma péssima fotógrafa, apesar de termos gostado das fotos, quando eu ouço:
— Ei, stalker. — A voz de surge atrás de mim e arrepia os pelos da minha nuca. Eu sei que é ela, reconheceria em qualquer lugar. Eu me viro devagar, está de pé a alguns passos de distância, com uma das mãos no bolso de trás do jeans de lavagem clara extremamente justo. Eu capto cada parte do seu corpo, mas o que realmente me chama a atenção é a jersey da Inglaterra, mas não é qualquer camisa, é a minha. — Belo gol. — Ela completa quando eu a olho.
Deixo Ben, Reece e Mia para trás e dou alguns passos em sua direção, mas não perto o suficiente.
— Obrigado, . — Porra, parece que neste fodido estádio só existe eu e ela. — Bela camisa.
Dou-lhe um olhar de aprovação, segurando o queixo.
— Alguém me deu de presente.
dá uma olhada em si mesma e dá de ombros, ela está sorrindo. Estou sorrindo também, não consigo conter. Ela apenas parece tão boa para caralho. Há uma flutuação estranha no meu peito. Felicidade. O júbilo está me transbordando e não sei o que fazer com tanta energia. Estou tão feliz em vê-la, minhas pernas querem andar e forçar um ritmo constante e agarrá-la, mas me obrigo a esperar um pouco.
Gosto da conversa descontraída, mas prefiro ir direto ao ponto.
— O que está fazendo aqui? — Tento dizer de uma forma que não pareça insensível. É apenas um título de curiosidade. — Não devia ter pegado um avião dois dias atrás?
— E devia, mas se eu te contasse como a vida gosta de brincar com a gente, você daria risada. — Ela ri meio tímida e suas bochechas assumem um novo tom de rosa. Adorável. — Era para eu ter ido hoje de madrugada e quase fui, estava arrumando as minhas malas, e acho que como você, eu também tive uma epifania. Agora estou achando engraçado como demos tantas voltas para chegar até aqui e que criamos alguns dos nossos próprios empecilhos...
— Ei, pare de falar. — Eu digo calmo e esse é o combustível que eu preciso para me aproximar e agarrar seus cotovelos, e também como prova para mim mesmo que ela não é uma miragem. É tão impulsivo que eu quase travo ao tê-la tão perto. Como quando você está começando a conhecer alguém e faz um movimento automático, como arrumar uma mecha de cabelo ou acariciar o rosto, que você não sabe se vai ser aceito bem. — Não precisa me explicar nada, o que importa para mim é que você está aqui agora.
O rosto dela entorta num sorriso de lado e eu sinto o calor emanando do seu peito. O estádio é uma verdadeira festa, mas o turbilhão de emoções está aqui entre a gente.
— Não, foi você quem já falou demais, . — Ela afirma, porém, tampouco se afasta. está me olhando nos olhos e admiro seus cílios mascarados e a sua sexy boca vermelha.
— Não, , não falei não. Eu fui tão estúpido naquele dia no spa. Entendi tudo errado, deixei você fugir e um ego ferido me impediu de tomar uma atitude na hora. — Lembrar isso quase me quebra, sinto a tolice torturar toda a minha mente.
— Também fui estúpida, eu devia ter sido direta.
— Pare de tomar uma parte da culpa, eu fui o estúpido. — Eu a puxo para mais perto e seguro o seu rosto com as mãos. É algo que guardei para mim que rostos centralizados captam uma maior informação. O cheiro de bambu do seu cabelo inebria as minhas narinas e, cara, eu nunca vou me cansar desse cheiro.
— Mas é verdade, eu sou assim, só que com você, não sei o que aconteceu... — olha para os lados, como se estivesse procurando algo para lhe ajudar a vencer a acanhação. — , você tá alugando uma parte da minha cabeça que não achei que fosse impossível. — tateia a minha barriga, depois entrelaça os braços e me abraça. Cada palavra e gesto acelera meu batimento cardíaco e eletriza a minha espinha. — O seu poema foi uma das coisas mais lindas que eu já li, e quando eu terminei, eu entendi porque você me deu isso. — Ela balança o Fan ID pendurado no pescoço. — Você me disse tudo ali, resumiu cada comoção.
Estamos falando baixo totalmente focados um no outro, como se estivéssemos dentro de um tubo de vidro exclusivo, sem falar que eu poderia soltar lasers pelos olhos mais mortais que os de Scott Summers caso alguém nos interrompa. Eu e trocamos as posições das nossas mãos e agora eu enlaço ela pela cintura, forte, e o seu corpo se alinha ao meu. Ela passa as mãos pela minha mandíbula, roça as unhas na minha nuca e joga o meu cabelo de lado.
— Não queria ter feito isso por mensagem, mas a apreensão estava me matando. Um fodida agonia nas falanges dos dedos. — Até agora ainda penso que não seria capaz de entrar nesse campo sem antes fazer aquilo. Foi como tirar o peso de um dos ombros apesar de ainda ter ideias maiores. — Eu ia atrás de você em Londres, quando toda essa euforia passasse e as coisas acalmassem um pouco. Você não ia se livrar de mim tão fácil, .
ri no meu pescoço. — Jura? Eu não ia facilitar para você, ia querer no mínimo uns vinte gols.
— Bem, eu já fiz dois. — Meu córtex viaja até a hora do gol. Eu só pensava no título e nela. — Antes de entrar no campo, eu já sabia que ia te dar aquele gol, mas espero que eu possa fazer bem mais.
Sussurro no seu sorriso. Quero tanto beijá-la agora que é possível que os meus lábios estejam formigando, mas vira o rosto quando eu me inclino. Ela ri da frustração que ecoa da minha garganta.
— Espera, vamos mesmo fazer isso, porque... — Estou beijando a sua têmpora direita quando ela se afasta com as mãos no meu peito para olhar para mim, conspícua. — Você nunca vai poder participar dos natais da minha família, ou dos aniversários, ou qualquer feriado. — Ela roça o dedo indicador na costura das estrelas. — Bem, vai ser difícil.
— Estou ciente dos termos de uso e aceito continuar. — Respondo balançando a cabeça e ri de novo. Eu tenho plena consciência de que talvez as coisas não sejam das mais fáceis para nós e não poderia me importar menos. Gosto de pensar que vamos ser aqueles tipos de casais que têm tudo para dar errado, mas vencem as estatísticas com a sua paixão fulminante.
— Bobo. — Ela aperta o meu nariz e mais uma vez eu penso na direção dos seus lábios. Outra falha tentativa. — Espera um pouco.
— ! — Eu resmungo, ela se remexe nos meus braços para pegar o celular e abre a câmera. — O que está fazendo?
— Sorria. — Seus lábios encostam na minha bochecha e eu sorrio para a foto. Quando olho a tela do seu celular eu entendo o sentido disso. Ela está mandando a foto para .
— Tem certeza de que vai fazer isso? — Pergunto com certo ceticismo.
— Absoluta.
Há algo novo aqui, mas se não está preocupada, não sou eu que vou esquentar a cabeça com isso. Ela tem um sorriso mais que satisfeito na boca. Eu também sorriria, mas não quero saber de agora, esse momento é nosso e quero a sua atenção em mim.
— Se eu disser que por você eu paro de brigar com o seu irmão, você me deixa te beijar?
Ela ri da minha impaciência e em seguida ergue uma sobrancelha pra mim. — Ah, tá, eu duvido. Isso nunca vai acontecer.
— Quer apostar?
A pergunta parece nos teletransportar para o mesmo momento. Vejo o seu rosto brilhar, tão doce, como se saísse mel dos seus poros. Nós fizemos uma bagunça. Eu criei mais muros desnecessários. Acontece. Talvez fôssemos feitos um para o outro agora. Até esse momento. Fizemos o que tínhamos que fazer e acho que não poderia ser mais perfeito.
prende meu maxilar na mão e me puxa até que a minha boca finalmente toque a dela como resposta para a minha pergunta. Eu retribuo e aperto a sua cintura, extremamente eufórico, porque só hoje ganhei o mundo duas vezes.
FIM.
Nota da autora: Olha, primeiro de tudo eu queria dizer que usei muita licença poética pra escrever essa fic, então ignorem se algo saiu um pouco da realidade principalmente a respeito da profissão dos personagens.
Em segundo eu queria pedir desculpa se decepcionei com o final. A minha ideia desde que eu escrevi "O placar estava 1x1" era finalizar tudo aí mesmo, na final da Copa do Mundo. Eu pensei em 16 Dias para ser uma shortfic, de no máximo uns cinco capítulos, até achei que ia escrever tudo em uma semana. Mas conforme eu fui tendo ideias percebi que não ia ter como encaixar tudo no tamanho que pudesse classificar uma short, e acho que vocês perceberam que ficou alguns furos em aberto e um monte de pontas e de fato eu fiz isso de propósito (rs) para que eu pudesse trabalhar eles numa possível continuação.
Então vai ter continuação? Bem se você me perguntasse isso alguns meses atrás, eu te diria que eu não sei, ia falar pra você não ficar esperando, mas de lá pra cá eu tive bastante tempo pra pensar. Eu já pensei em um arco principal muito bom pra fazer uma continuação, mas pra mim não é o suficiente, preciso de arcos secundários e terciários pra fechar uma estória porque é assim que eu gosto de escrever, como a minha mente trabalha.
Infelizmente esse processo é lentíssimo, então sim, vai ter continuação!!!!! Bem eu ainda estou trabalhando em alguns detalhes dela para começar a postar porque preciso de algo que tenha coesão, desenvolvimento, porque caso o contrário eu nem faço nada, então peço que vocês tenham um pouco de paciência rs. Eu vou avisar no grupo do Facebook quando isso começar a acontecer, então entrem, o link tá aí embaixo, ou me siga nas outras redes sociais como no Twitter (que o link tbm ta aí embaixo) eu tô sempre falando das minhas fics por lá.
Agora, finalmente, se você leu até aqui, queria agradecer por cada voto e cada comentário (eu li todos com muuuito carinho). Obrigada por acompanhar o , a , o surtado do e as loucuras do Southgate (aqui elas dão certo e a gente finge que ele é um bom técnico rs). Especialmente para a Na e a Marih que estavam aqui a toda att, obrigada de verdade, meninas, pelo apoio!
Queria agradecer a Daphne também, a minha beta, por ter aceitado betar a minha fic e ter feito com tanta dedicação, obrigada amor.
Amei escrever 16 Dias tanto quanto vocês gostaram de ler e a gente se vê em breve ♥♥♥
Outras Fanfics:
Best Mistake (Outros/ Em Andamento)
24. Insomnia (Shortfic/Finalizada – Ficstape Thank U Next)
12. Break Up With Your Girlfriend, I’m Bored (Shortfic/Finalizada – Ficstape Thank U Next)
04. Lose You To Love Me (Shortfic/Finalizada – Ficstape Rare)
Nota da beta: E o fim veio. Antes de mais nada, queria deixar aqui registrado que VAI TER CONTINUAÇÃO SIM, AMÉM. Me paixonei por esse casal de uma forma que não tá escrito.
Um beijo pra Triz que confiou em mim pra betar essa fic marvilhosa. Que venham as próximas!
Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Em segundo eu queria pedir desculpa se decepcionei com o final. A minha ideia desde que eu escrevi "O placar estava 1x1" era finalizar tudo aí mesmo, na final da Copa do Mundo. Eu pensei em 16 Dias para ser uma shortfic, de no máximo uns cinco capítulos, até achei que ia escrever tudo em uma semana. Mas conforme eu fui tendo ideias percebi que não ia ter como encaixar tudo no tamanho que pudesse classificar uma short, e acho que vocês perceberam que ficou alguns furos em aberto e um monte de pontas e de fato eu fiz isso de propósito (rs) para que eu pudesse trabalhar eles numa possível continuação.
Então vai ter continuação? Bem se você me perguntasse isso alguns meses atrás, eu te diria que eu não sei, ia falar pra você não ficar esperando, mas de lá pra cá eu tive bastante tempo pra pensar. Eu já pensei em um arco principal muito bom pra fazer uma continuação, mas pra mim não é o suficiente, preciso de arcos secundários e terciários pra fechar uma estória porque é assim que eu gosto de escrever, como a minha mente trabalha.
Infelizmente esse processo é lentíssimo, então sim, vai ter continuação!!!!! Bem eu ainda estou trabalhando em alguns detalhes dela para começar a postar porque preciso de algo que tenha coesão, desenvolvimento, porque caso o contrário eu nem faço nada, então peço que vocês tenham um pouco de paciência rs. Eu vou avisar no grupo do Facebook quando isso começar a acontecer, então entrem, o link tá aí embaixo, ou me siga nas outras redes sociais como no Twitter (que o link tbm ta aí embaixo) eu tô sempre falando das minhas fics por lá.
Agora, finalmente, se você leu até aqui, queria agradecer por cada voto e cada comentário (eu li todos com muuuito carinho). Obrigada por acompanhar o , a , o surtado do e as loucuras do Southgate (aqui elas dão certo e a gente finge que ele é um bom técnico rs). Especialmente para a Na e a Marih que estavam aqui a toda att, obrigada de verdade, meninas, pelo apoio!
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Outras Fanfics:
Best Mistake (Outros/ Em Andamento)
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Nota da beta: E o fim veio. Antes de mais nada, queria deixar aqui registrado que VAI TER CONTINUAÇÃO SIM, AMÉM. Me paixonei por esse casal de uma forma que não tá escrito.
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