Finalizada em: Abr/2023

pov: 20 milhões ou um encontro com seu namorado

Não sei porque eu deveria usar uma gravata.
O terninho plissado já era o bastante. Era mais do que eu pretendia usar, do que já pensei em usar. Ainda que o grande objetivo da minha vida fosse encarar a cidade grande do topo de um belo prédio espelhado, típico dos escritórios fodões de filme americano, que tinham o padrão feminino representado por uma loira gostosa de terninho, eu pretendia criar um cenário diferente: a da morena gostosa que usava jardineiras e tênis All Star, pronta para fazer milhões na bolsa de valores enquanto come salgadinhos com as pernas erguidas por cima de uma placa de vidro escrita CEO.
Mas enquanto esse dia não chegava, eu precisava parecer alguém que estava se preparando para aplicar os exames finais em alguma turma universitária, daquelas que não te deixariam tirar mais do que um B.
A ideia de merda tinha sido de Eunwoo, é claro. O discurso que o desgraçado me convenceu foi o de que, aparentemente, ele tinha um tio com nome de prestígio no Congresso e garantiu que a parte mais difícil do mundo corporativo coreano era entrar. Depois, você andava com as próprias pernas e se virava para construir seu império. No entanto, na frente de quem já tinha passado por todas essas etapas, precisava seguir as regras como todos eles já seguiram. Foi a parte que eu entendi e absorvi. Até Felicity me dizer, em um SMS de 3 horas atrás, que o idiota só tinha dito aquilo porque acharia que eu ficaria uma “tremenda gostosa tropical em uma fantasia de advogada.” E claro, isso deveria ficar entre nós. Meu namorado ainda não tinha superado o ataque de seu amigo a mim naquela festa de meses atrás, e Eunwoo até que estava andando na linha desde que descobriu nosso relacionamento no Natal, mas bem… os idiotas ficam ainda mais idiotas quando não tem ninguém olhando.
A porcaria da gravata tinha sido ideia minha. Uma ideia bem idiota, ou melhor, bem Eunwoo.
A secretária estava lá fora há séculos, mexendo em papéis, discando números no telefone fixo ou apenas encarando as unhas pintadas enquanto eu apodrecia naquela cadeira desconfortável debaixo do ar condicionado. Não sabia se eles separavam as piores salas do prédio para os pobres coitados candidatos porque queriam testá-los física e emocionalmente, ou porque escondiam o quadro original da Monalisa no gabinete do gerente de Recursos Humanos, impossibilitando qualquer visita à ele. Se fosse a segunda opção, todo o mármore branco, lustres e taças de cristais luxuosas que vi ao passar pelos corredores faziam muito sentido.
Mas eu não era uma candidata. Era uma empreendedora. E aquela era a minha última chance.
Antes que eu mandasse a postura e etiqueta para o quinto dos infernos e retirasse aqueles saltos bicudos por 1 minuto milagroso, a porta foi aberta devagar e, finalmente, o homem alto de terno cinza estava entrando.
— Bom dia, senhorita . Desculpe a demora, estávamos em uma reunião sobre as novas atualizações das criptografias do Blockchain*. Levou mais tempo do que pensamos.
Endireitei-me no assento, soltando o ar. Ali, na minha frente, usando a palavra “Blockchain” com o tédio de quem já sabe demais sobre o assunto, estava Oliver Hammer, um dos maiores investidores e corretores financeiros do mundo.
O vice-presidente da Hoslos & Chain, o genial conglomerado que tinha começado como uma startup de garagem na Escócia e hoje espalhava filiais pelo globo inteiro. Inclusive na Coreia, inclusive em Seul.
Demorou cerca de 3 meses para que eu conseguisse ter a sola desses sapatos idiotas passando para dentro da enorme porta giratória de vidro desse lugar, que imitava uma estrutura de Wall Street mais do que a própria Wall Street.
Eles com certeza também tinham alguma propriedade por lá.
Por isso, ter Oliver Hammer no mesmo continente era uma oportunidade rara e impossível de se perder.
— Obrigada, senhor — soltei sem perceber, escondendo as mãos suadas ao lado das pernas. Quando Oliver levantou uma sobrancelha para mim, me preocupei de já estar agindo como uma idiota. — Digo, está tudo bem, a espera não foi tão longa. Bitcoins são uma tremenda dor de cabeça.
— Criptomoedas foram criadas para darem dor de cabeça. São só mais uma forma de enriquecer por 30 minutos e desabarem logo depois. É por isso que amamos e odiamos o Blockchain — A enorme cadeira presidente não fez barulho quando se sentou. Atrás dele, pude ver livros enfileirados com lombadas grossas e um pequeno barco à vela feito de artesanato. Já tinha lido milhões de vezes sobre o interesse de Oliver sobre história náutica, seja ela qual fosse. Mas aquele cubículo não podia ser a sala dele — Mas você não trabalha com moedas digitais, certo?
Ele perguntou como quem já soubesse a resposta. Apenas assenti, atenta.
— Não, não trabalho.
— E com o que sua empresa trabalha?
Prensei os lábios, tentando me lembrar do discurso que tinha feito na frente do espelho.
— Mercado organizado de bolsa de valores. Investi na NYSE nos Estados Unidos por um tempo, mas também consegui brechas na SZSE de Shangai e TSE no Japão. Quero muito conseguir iniciar na KRX aqui na Coreia, mas não passo do mercado primário. Eles exigem fundos mais sólidos.
— De quanto estamos falando?
— Para bater a média de 20 bilhões, no mínimo uns 500 milhões.
— O market cap* já está na casa do trilhão?
— 2 trilhões no ano passado. Em dólar.
Oliver arqueou uma sobrancelha, parecendo mais impressionado com o fato de eu saber disso do que pelo valor em si.
Ele não podia achar que não tinha nada para aprender comigo.
— E quanto a sua empresa fez no ano passado?
Sorri penosamente para o painel do relógio digital sobre a mesa, mas não pareci confiante nem no meu pensamento.
— A minha empresa… — tentei encarar seu rosto impassível por mais tempo, mas não dava. Ele era Oliver Hammer, caramba! — Na verdade, nós estamos tentando…
— Você ainda não tem uma empresa, não é?
Baixei os ombros imediatamente, e não tive coragem de abrir a boca para confirmar ou negar. Por mais que estivesse um pouco aliviada por não ter que dizer aquilo sem parecer uma idiota, ainda assim, eu estava tão longe de me sentir esperançosa como jamais estivera.
— É. — Confirmei com um sussurro, e voltei a levantar o queixo. — Quero dizer, minha empresa sou eu. Comecei a investir na B3 no Brasil como um teste, comprando fundos imobiliários, ações aleatórias de companhias abertas, dissecando o tesouro direto, revendendo e perdendo, e assim por diante. Trabalhei na Phelse nos Estados Unidos por 1 ano até notar o potencial dramático da bolsa de valores asiática. Tecnologia e automóveis são bem mais empolgantes do que casas, ações diretas, barcos ou museus arqueológicos…
Parei imediatamente quando o vi estreitar os olhos rapidamente, muito rapidamente ao mesmo tempo em que me lembrei da droga do barco de madeira bem atrás dele.
Barcos, cacete! Os barcos são coisa importante para Oliver, você leu sobre isso, sua tonta! Barcos nessa sala precisam ser melhores do que gente, melhores do que carros, melhor do que dinheiro!
— Entendo — foi sua única resposta por um minuto inteiro, enquanto ele olhava para algo na tela aberta do computador e trocava a posição de uma folha de papel por outra — E qual o motivo da nossa conversa de agora, exatamente?
— Uma proposta de investimento.
Ele não ficou surpreso com a resposta tão imediata e tão direta. Que se dane, eu não jogaria meus 3 meses de espera no lixo. Oliver visitava todas as filiais espalhadas durante o ano, e nada me garantia que retornaria à Coreia ainda naquele. Eu seria capaz de segui-lo fora do expediente e implorar por um autógrafo se eu já não estivesse na skin empresária.
— Sabe quantas pessoas nos fazem pedidos como esse por dia, senhorita ?
— Eu sei…
— Empresas como a Amazon, Volkswagen, Walmart e até a própria Apple. Prédios gigantes que arriscam 10 milhões ou mais por dia porque tem uma expectativa de retorno maior do que a expectativa de perdas. Entram para ganhar, e quando nos mostram resultados excelentes, fazemos a nossa jogada. Neles. É uma via de mão dupla. A senhorita possui resultados quantificáveis para se gabar ou só brincou na bolsa aos fins de semana e acha que isso é o suficiente para inseri-la na selva do Home Broker*?
Abri a boca para responder, mas o homem havia me tirado a reação. Sabia que estava encarando aquele rosto anguloso com a face explicitamente chocada e até um pouco ofendida. Ele pensa que brinco na bolsa aos fins de semana?!
A coisa estava virando uma questão de honra pra mim.
— Senhor, não tenho experiência na bolsa de valores como empresa, mas minhas experiências pessoais são surpreendentes. Em menos de 1 ano, vendi mais de 40% das ações que adquiri na Phelse através da mesma empresa, e auxiliei compradores na Underlake da Noruega a conseguirem ações ordinárias na Yamaha. E recentemente também vendi algumas que aumentaram da YG quando o BigBang estava se preparando para um comeback…
— Então também tem interesse em empresas de entretenimento? — Ele perguntou com uma pontada de interesse, dando por encerrada a carranca com a qual estava me intimidando até então.
— É um dos melhores investimentos desse país — retruquei com confiança, sentindo-me mais capaz de convencê-lo. — O K-Pop e toda a questão cultural crescem a cada ano, se difundem para o outro lado do mundo com a ajuda da tecnologia em alta e alcançam diversos compradores. As expectativas por trás de cada lançamento são altas, então preciso reconhecer que ter ações ativas em agências específicas é um ótimo negócio.
Torci os dedos em cima do colo. Graças a deus havia trazido aquela bolsa carteira que fazia um par combinado com aquela roupa tenebrosa, e ela me cedia uma bela distração, onde eu poderia parecer nervosa sem que Oliver percebesse.
Pelo tempo que ele ficou em silêncio, genuinamente pensei que tinha falado uma merda enorme e que ele estava pronto para me chutar para fora da sala, onde eu teria que correr para o primeiro banheiro para soltar o palavrão preso na garganta.
— Eu concordo — Oliver disse, por fim. Arrastei um sorriso educado para o canto da boca — Nossas filiais do continente estão justamente ponderando sobre a ideia de obter ações preferenciais dentro das agências de entretenimento, principalmente da Big3 e empresas pequenas que aceitem uma fusão ou outra para alavancar o negócio. As gravadoras musicais aparecem pouco nos telões da bolsa, mas são um negócio em intensa expansão, como a senhorita disse. Seria interessante conhecer as tendências desse meio para saber qual a melhor hora para comprar ou não — seu tom de voz foi carregado de sugestão, assim como os olhos cerrados quando me encararam — É o que a sua empresa faria?
— Futuramente, sim. Já fiz uma vez, certamente poderia fazer de novo.
Comecei a sorrir, mas não tive nenhum retorno daquela face de pedra, então logo me contive.
Oliver ergueu as costas para a mesa e entrelaçou os próprios dedos por cima dela para me fitar ainda melhor.
— Conhece o meio do entretenimento coreano, senhorita ?
Pergunta inesperada do cacete. Como eu responderia? Não esperava que tivesse que mentir nessa reunião assim que deixei meu apartamento de manhã.
Porque é lógico que eu tinha que mentir.
— Não muito. Trabalhei no escritório da Vostras & Co. desde que cheguei e alguns clientes faziam parte do meio, mas sabe como é, longe das câmeras são apenas pessoas comuns. Um deles até dirigia um Peugeot de segunda mão sem banco do passageiro — Taemin, aquela figura. Tinha vontade de gargalhar só de lembrar do fato mas, novamente, Oliver não parecia tão inclinado a ser extrovertido.
— Algum desses clientes fazem parte da SM Entertainment?
Ofeguei discretamente.
— Hum… Sim?
— E seu cliente tem contato direto com o CEO, o senhor Nick Patinkin?
— Talvez? — Arrisquei. Qual o intuito de me fazer essas perguntas? Ele achava que eu sabia dessas coisas?
Mesmo que eu realmente soubesse um pouco, um conhecimento adquirido por filetes de conversas com meu namorado, que, por acaso, trabalhava na SM e, por acaso, tinha várias reuniões com Nick Patinkin.
Mas Oliver não podia nem pensar nisso.
Vi seus dedos tamborilarem em cima da mesa nada chique para quem estava sentado atrás dela, e pelo tempo que passou fitando a janela lá fora, achei mesmo que ele tinha entrado num círculo de fogo do Doutor Estranho, sumido para outro universo e me deixado aqui. Mas então seu corpo endireitou na cadeira e ele puxou mais uma pasta.
— Disse que vendeu mais de 40% no ano passado?
Assenti rapidamente. Ele não parecia surpreendido, mas também não estava entediado.
— Para uma simples funcionária, é um alcance razoável. Podemos fazer uma aliança.
Aliança?
— Minha estadia em Seul se estendeu por mais 3 dias devido ao convite ao evento de Turismo e Cultura sediado pelo prefeito. Todos os maiores nomes da política estarão lá, junto com a elite dos monopólios não só da capital, mas do país. Incluindo CEOs de agências de entretenimento.
Fui intensamente observada nessa parte, como se ele quisesse que eu entendesse tudo sozinha.
Eu já estava entendendo, mas não queria entender.
— Pode ser mais claro, senhor?
— Vá ao evento, consiga convencer Patinkin a nos vender 10% de suas ações majoritárias e conversamos sobre o seu caso.
— Meu caso?
— 20 milhões é bom um começo? — Ele arqueou as sobrancelhas, resoluto — De dólares.
Pisquei os olhos várias vezes, tentando parecer menos afoita com a simples ideia de ver 20 milhões de dólares.
Era dinheiro pra caralho. Aquele homem estava simplesmente me seduzindo com a beleza de lábia certa, usando o único motivo que tinha feito eu me deslocar até ali.
Com 20 milhões eu obviamente abriria minha corretora, brincaria na bolsa e faria uma fortuna do jeito mais sórdido que ele pudesse imaginar.
— Puxa… — Foi tudo que consegui dizer, ainda prendendo a expiração forte na garganta. Oliver me encarava com serenidade, atestando o rato que caiu diretamente na ratoeira. — O senhor está falando sério? Não apenas sobre os 20 milhões, claro, sei que não brincam com dinheiro, mas sobre eu falar com Patinkin? Como eu poderia fazer isso?
— O seu cliente do Peugeot parece ser uma ótima opção. Tenho certeza de que ele pode fazer a ponte.
Engoli em seco. Queria dar um jeito de dizer a ele que estava doido da cabeça se achava que tinha contato com qualquer cliente da Vostras a não ser Jeon Jungkook, que não era a opção que queriam, mas era impossível que não parecesse grosseira assim que abrisse a boca.
Depois de minutos seguros, perguntei:
— Por que não tentam a aquisição diretamente, quando eles abrirem o capital?
— Porque não vemos ações majoritárias em nenhuma I.P.O*, senhorita . E as pessoas são mais suscetíveis à barganha quando não estão esperando por ela. O evento é uma comemoração, as pessoas não vão estar lá para trabalhar — ele frisou com um dedo, e o vi abrindo o primeiro meio-sorriso do dia — E também gostamos de um pouco de diversão. Reuniões formais não tem graça.
Ele estava brincando comigo. Era claro e límpido quanto a porta de vidro ao nosso lado que ele estava zoando com a minha cara.
Pensei que você fosse mais profissional, Oliver.
Ou eu que não acreditava nem por um segundo que aquilo podia realmente dar certo?
— É claro que também podemos fazer uma ligação nesse instante e oferecê-los os devidos 100 milhões por cada porcentagem cedida, mas não garanto que consigamos passar da primeira pergunta. A SM é uma empresa em constante ascensão e devem receber ligações como essa o tempo inteiro, por isso nos ignoram por meses. Não estão nem aí para o nosso histórico ou nosso nome. Me faz enxergá-los como um desafio — Oliver deu de ombros levemente, sem nenhum resquício de receio ao ser sincero — No entanto, ela nos parece um bom lugar para começar e vamos continuar tentando. Mas aqui e agora estamos falando de você — ele correu uma palma distraída sobre a mesa, verificando se havia pó — Se conseguir convencê-lo a marcar uma reunião de negociação, vai merecer os 20 milhões. Talvez até 50. É assim que lidamos com as solicitações novas.
Encarei o homem com os olhos semicerrados, sabendo que estava nítido o meu pavor e ainda choque daquela ideia, mas ele parecia estar se divertindo. Oliver Hammer se divertia propondo desafios bizarros à ralé jovem que ousavam marcar 30 minutos de sua presença para pedir dinheiro.
Em resumo, era o que eu estava fazendo mesmo.
Mas era a Hoslos & Chain. E era Oliver Hammer. E eu tinha 23 anos, com menos de 23 mil dólares na conta da corretora, e que caso conseguisse entrar nas graças de qualquer empresário daquele império, eu, , poderia surfar por cima de cabeças muito mais velhas e com mais oportunidades do que eu e ir parar na primeira página da InfoMoney ou no conjunto de nomes pequenos de um artigo que seria lido e discutido por qualquer grupo de estudos das universidades de economia.
Era uma chance, por mais bizarra que fosse.
Sem saber o que estava fazendo, perguntei:
— Que dia é o evento?
Olhando para mim como se pudesse determinar, de última hora, o estado de minhas capacidades mentais e físicas, Oliver respondeu:
— Amanhã, dia 14.
Merda.
— Mas é dia dos namorados.
— A senhorita tem um namorado?
— Na verdade, tenho.
Soltei sem perceber. Oliver se recostou na cadeira, assentindo devagar.
— Pode levá-lo com você. É um bom lugar para tirar fotos.
Tudo que consegui fazer foi rir. Meu cérebro transformou sua sugestão em uma piada. Bacana! Levar meu namorado. É claro. Ideia ótima e tranquila.
Exceto pelo fato de que meu namorado era uma celebridade e nosso relacionamento era cultivado bem longe das luzes dos flashes. E eu nem podia dizer isso.
— Creio que ele não vai poder ir, senhor — balancei a cabeça em desculpas.
— Está fora da cidade?
— Exatamente.
— E você pretende ir vê-lo?
— Na verdade, nã-
— Então por que questionou sobre ser dia dos namorados?
Trinquei os dentes, porque quase fiz a burrice de parecer encabulada.
— Só surpresa. Achei que não marcavam um evento como esses nesse dia — e de novo: tentei rir. Mas Oliver continuou me olhando com a face séria de um boneco de cera — Um dia comum, que não tem nada demais e não faz realmente meu tipo. A que horas preciso estar lá?
Ele sorriu um pouco mais. E senti como se tivesse acabado de vender minha alma para o Diabo.

📈❤️


— Você está atrasada — Felicity despejou a embalagem de papelão cheirando a carne de porco e molho de soja dentro do bowl de plástico da cozinha improvisada que não passava de um armário de madeira e uma mesa de metal — Mas estou surpresa que a sua lata-velha tenha conseguido trazê-la até aqui, então está perdoada.
A comida veio até mim com um deslizar na superfície do tampo, que cabia apenas os nossos braços, que disputavam espaço para inserirem cotovelos e os recipientes em questão. O estúdio de Felicity não podia ser considerado confortável, mas ela se recusava a se mudar. Dizia que sua criatividade seria afetada.
Peguei o hashi enquanto ela se sentava do outro lado, pronta para atacar seu almoço perfeito: frango frito com cerveja.
— Você não estava de dieta?
— Você não disse que chegaria 20 minutos antes? A salada já acabou. Não posso te deixar almoçar sozinha.
Revirei os olhos para ela. Felicity odiava meu carro novo, e também odiava fazer dieta. Éramos ótimas desculpas para sua missão de ceder aos próprios desejos.
Mas o Chevy Suburban 1995 não era exatamente novo. Tinha sido uma pechincha que consegui nos arredores da capital, simplesmente pelo fato de que não tinha Airbags e ar condicionado, mas tinha disponibilidade de peças caso algo desse errado. O algo que com certeza daria errado, na verdade. Eu morria de medo de dirigir, mas estava cansada de pedir carona e pagar por um Camaro para que ele batesse numa cerca ou ficasse pegando poeira na garagem não pareciam uma boa opção.
Portanto, tinha sido uma escolha minha e totalmente minha aceitar andar por aí, de poucos em poucos quilômetros de vez, em uma máquina barulhenta, lenta e que cheirava a gasolina.
O cheiro foi uma observação de Jaehyun. Ele odiava aquela coisa tanto quanto Felicity, mas era mais pela preocupação de que eu poderia morrer numa explosão.
— Estou esperando — Felicity mordeu um pedaço grande do frango crocante, e eu conseguia imaginá-la comemorando os defeitos do Suburban estacionado lá embaixo. Graças a ele, ela estava comendo aquilo — Como foi a reunião com o super cérebro de terno?
— Eu já esperava que ele me fodesse — falei, distraída. Felicity engasgou — Não assim, pelo amor de Deus. Pode me esperar acabar de falar?
— Desculpa, me descontrolei — ela tentou não rir, mas dava para ver as maçãs do rosto vermelhas com a tentativa. Levou as mãos para trás da caixa do frango, puxando alguns guardanapos que deixava lá para esconder o vazamento de óleo daquela coisa. Se não visse, poderia fingir que não tinha ingerido — Vai lá, fala logo o que o bonzão disse.
— Ele me acha razoável. Isso é um boazinha na melhor das intenções. E isso não é bom.
— Mas você já esperava por isso, não?
— Ainda tinha esperanças de estar errada.
— Nunca estamos errados em esperar o pior, não é isso que você diz?
— É o que o meu pai diz.
— Bom, seu pai é rico, não é? Ele deve saber de alguma coisa. Mas talvez seja por isso que você sempre foi azarada. Sabe? Esperar o pior também é atraí-lo.
Fuzilei ela com o olhar na mesma hora. Estava tentando pensar, até aquela hora, que meu possível fracasso na entrevista não havia tido nada a ver com minha síndrome de Murphy.
— Tá bom, para de me olhar assim. O que ele fez, afinal?
Mastiguei a carne por algum tempo até suspirar e contar a história toda.
Absolutamente toda, até os cifrões impecáveis que ele havia prometido.
— Ele quer que você seduza o CEO da SM no dia dos namorados?
— Felicity!
— Tá, ok, palavra errada, mas seduzir é um sinônimo para persuadir, não precisa ter exatamente uma conotação sexual — ela devolveu a coxa de frango pela metade à caixa, finalmente abrindo a cerveja — E não importa para o que seja, ele quer que você faça isso no dia dos namorados?
— Sim.
— Que, coincidentemente, também é aniversário do seu namorado.
— É exatamente o que ouviu.
— Mas você tem planos com Jaehyun.
— Sim.
— Planos que fez há mais de 3 semanas.
— É isso aí.
— Mas você aceitou ir ao evento.
Eu duvido que ela não estava vendo a minha cara de desespero.
— Sim, sim, eu disse tudo isso! Ainda não entendeu que eu preciso que você me diga o que fazer?
— Como eu vou dizer uma coisa dessas, ? A casa dos pais do Mingyu fica muito longe para que eu possa te ajudar de lá.
— Vão mesmo para a casa dos pais dele?
— Durante o dia, sim — ela respondeu com um sorriso malicioso — E achei que você e Jaehyun fossem para Seongsan Ilchulbong. Ficar em um chalé, fazer um passeio nas pedras, serem amigáveis com os velhinhos no templo e transarem como coelhos em uma banheira quente.
— Esses eram os planos. Na verdade, o plano surpresa, já que tudo que marcamos até agora foi o jantar no Blind Spot.
— Ele vai te levar para jantar no Blind Spot?!
— Não sei porque está surpresa, ele é um idol.
— Mas é o Blind Spot. Eu daria pra ele com força até naquele banheiro de tão excitada que ficaria em um lugar tão chique.
— Você raramente não fica excitada com qualquer demonstração de poder — revirei os olhos, puxando sua cerveja para desentalar o nó na garganta. O fato de eu dar ou não para o meu namorado não era a pauta principal do dia — Eu estou fodida. Completamente. Posso dizer que meu ídolo me fodeu. Uma pena, porque ele parecia um homem adorável pelas fotos.
— Seu pai também, e as coisas que ouvi… — Ela parou imediatamente diante do meu olhar. Que porra? Felicity ainda não estava vendo percebendo a emergência? — Ok, desculpa, temos que resolver isso. E caso consigamos, seria interessante vender a fórmula criada de permitir uma pessoa a estar em dois lugares ao mesmo tempo. Existe isso em algum filme, não existe?
— Não temos um vira tempo, Hamilton. Podemos lidar com situações reais aqui?
— É só dizer à Jaehyun para trocarem o horário.
— Já vamos nos encontrar duas horas antes do Blind Spot fechar, o mais vazio que encontramos.
Felicity levou uma das unhas nos dentes, refletindo por quase um minuto até arfar.
— E se jantarem em outro lugar?
— As reservas já foram feitas e os mercenários cobram uma fortuna de multa em caso de cancelamentos com menos de 48 horas de antecedência.
— Tudo bem, por que você simplesmente não conta pra ele? Fale da entrevista, do desafio ridículo e milionário do senhor investidor, e que você vai precisar mudar os planos. É mais simples do que parece, tenho certeza que Jaehyun vai entender, ele tem muita energia azul de budismo.
Arqueei as sobrancelhas diante da afirmação. Minha língua coçou para retrucar que Jeong Jaehyun era sim um protótipo do Dalai Lama, e as pessoas diziam que era o seu charme, mas graças a Deus o charme de verdade daquele homem estava escondido nos centímetros elevados que guardava dentro das calças e nas ordens que pronunciava bem perto do meu ouvido.
Eu poderia remarcar com o Dalai Lama, mas de jeito nenhum queria fazer isso com Jeong Jaehyun. Não apenas pela inconveniência, mas porque ele já estava há 2 semanas na Itália e eu não estava mais conseguindo vê-lo sempre sorrindo nas chamadas de vídeo porque acabava tendo uma síncope e tirando as roupas para ter algum consolo, exibindo-me para ele pelo simples prazer de ver seus olhos pegando fogo em minha direção.
Subindo pelas paredes era pouco. Eu era o próprio incêndio florestal, a Supernova crepitando na Via Láctea. E isso já estava me tirando do sério.
— Eu não posso contar pra ele, Felicity — reiterei, fazendo-a continuar confusa.
— Minha nossa, mas por que? Eu tenho certeza que ele…
— Porque ele faria alguma coisa pra me ajudar — bufei, denotando o óbvio — É o chefe dele, Jaehyun com certeza mexeria alguns pauzinhos e puf, eu teria um contrato em menos de 1 hora de evento. O máximo que eu faria seria aproveitar o champanhe e agir como uma daquelas figuras de nobreza, mas não seria uma conquista minha. Eu não me testaria, e não ficaria nem um pouco confiante em relatar a vitória para Oliver. Resumindo: não posso contar pra ele.
Felicity olhou para mim como se eu fosse uma peça estranha de sua coleção, a que tinha ido parar ali por questões de força maior.
— Céus, mas não seria muito mais fácil?
— Eu não quero que seja fácil, quero que seja justo. Se Oliver quer que eu consiga uma reunião, eu vou consegui-la. Só preciso pensar… Em alguma coisa.
Alguma coisa que não faça meu namorado super lindo, gostoso e perfeito ficar chateado por eu precisar seduzir o chefe dele.
Persuadir. Porra de Felicity.
Minha amiga suspirou ao colocar os cotovelos na mesa minúscula, levando o dedo indicador no queixo em uma expressão pensativa.
— Tem uma coisa que você pode fazer, mas… — disse ela, e empinei os ouvidos — Você vai precisar de sorte.

📈❤️


Um dos homens mais ricos do país estava espiando por buracos na parede, procurando falhas na tapeçaria bem ao lado do toalete feminino, crente que ninguém estava olhando.
Outro deles pareceu muito orgulhoso ao relatar que mantinha um diário de coisas que haviam acontecido no dia 14 de todos os meses de todos os anos desde o começo da história.
Outro estava olhando o seu próprio reflexo por tempo infinito em pratos de bronze horrorosos que custavam 3 mil dólares.
E eu permanecia parada, com os olhos fixos na entrada.
Estava sentindo na pele de novo todo o desconforto e desejo de fugir a cada vez que era arrastada para aqueles eventos com minha mãe. Ficava genuinamente com raiva dela, porque a junção de narizes empinados dentro de vestidos de gala e jóias exageradas parecia uma brincadeira de mau gosto com o resto da sociedade.
Verifiquei o telefone pela quinquagésima vez, e senti o estômago revirar ao dobro quando recebi a foto divertida de Jaehyun em uma selfie na frente do espelho acima da pia do banheiro de sua casa, trajando nada mais e nada menos do que uma toalha bem frouxa em volta da cintura, cabelos molhados de pós banho e a escova de dentes presa dentro da boca.
A mensagem embaixo dizia: “aposto uma sobremesa de mirtilo que fico pronto primeiro do que você.”
Nunca na vida achei que iria gostar dessa dinâmica de envio de nudes – ou quase isso – entre casal, mas antes eu não tinha um namorado gostoso e não precisava ficar tanto tempo longe dele, então digamos que sim, qualquer pedaço de pele que vinha de Jeong Jaehyun era o suficiente para me transformar em um vulcão em erupção ou um pedaço patético de vidro assando no microondas, prestes a explodir.
No entanto, como a boa mentirosa ardilosa que estava sendo naquele dia, apenas respondi com um “Tenho licença poética para me atrasar hoje.
Um par de ombros esbarrou nos meus enquanto estava entretida no telefone, e na hora exata em que levantei a cabeça para me desculpar, vi finalmente o homem deixar o andar de cima.
Nick Patinkin era uma figura imponente de nascença, mas não muito diferente dos outros personagens de ternos no ambiente. A área do salão do grande hotel Park Hyatt Seoul fazia todo aquele evento parecer mais do que era, o que só me fazia refutar a afirmação de Oliver de que as pessoas não estavam ali para trabalhar. Fala sério, a coisa toda cheirava a contratos e conferências disfarçadas, a diferença é que essas tinham o adicional de vinho caro e comida boa à vontade.
Falando nele, meu grande ídolo parecia bem familiarizado com a etiqueta da situação. Sabia sorrir nos momentos certos e fazia comentários pertinentes que envolvia as pessoas. Ele era bom com o público e me perguntei porque diabos não fazia o serviço que me passou a fazer, mas impedir um vexame não era exatamente a intenção de um sádico.
Tentei falar com ele mais de uma vez, mas percebi logo que estava sozinha na situação.
Encarei o relógio. Eram quase 21:00, o que significava que precisava agir rápido. Olhei para Patinkin, ainda rodeado de gente, ainda rindo com o champanhe, ainda parecendo completamente envolto numa aura inalcançável. Por um momento, ele ficou apenas ali, conversando sem grandes mudanças de expressão, parecendo com meu pai em jantares executivos quando era perguntado minuto por minuto como estava a família e seus negócios.
— Você está pensando em quando gostaria de dar a partida? — A voz de Oliver sibilou atrás das minhas costas, e me virei rápido demais pelo susto. O homem nem estava olhando para mim; tinha os olhos cravados no executivo do outro lado do salão.
— Eu não me importaria de chegar cumprimentando com um boa noite, mas parece falta de educação fazer isso agora — respondi com um suspiro, igualmente olhando o homem. Se ele prestasse atenção o suficiente, veria meus joelhos balançando de ansiedade, a necessidade de encontrar uma brecha e virar a chave na ignição para acabar logo com aquilo.
Meu namorado estava me esperando, cacete. E eu nunca atrasava mais do que 15 minutos.
— Você está muito elegante, ele não teria problemas em lhe responder um boa noite.
— As roupas certas não me dão exatamente palavras certas também.
— Não pensou no que dizer?
— Eu pensei. Mas pelo tanto que ele se manteve dentro da cerca dos urubus, já comecei a me esquecer — grunhi entre os dentes. Quando percebi o que falei, girei para Oliver no ato — Quer dizer, eu não quis chamá-los assim…
Com a ponta dos lábios encostando na taça esguia de champanhe, pude ver a sombra de um sorrisinho no meu ídolo, tão rápida que podia ter sido minha imaginação. O que perdurou mesmo foi um suspiro cansado e sua voz dura quando se virou para mim.
— Ele vai ficar sozinho alguma hora. Até lá, lembre-se do que planejava. Ainda temos 3 horas.
E os sapatos de couro se viraram para o outro lado, onde ele andou por 5 passos até voltar a embalar outra conversa com uma senhora montada de pérolas.
Fiquei atônita no meu lugar. 3 horas?! Eu não tinha 3 horas, cacete! Eu tinha menos de 20 minutos até o jantar com meu namorado do outro lado da cidade! Pelo amor de Deus!
Era impossível que ele não tenha visto o meu desespero anormal com a situação estampado bem na minha cara, mas Oliver não devia ter uma namorada. Ou um namorado. Ele não devia nem ter um cachorro, para início de conversa.
Portanto, eu precisava correr. Despertando para a vida obediente, estufei o peito de ar, agarrei uma taça da bandeja do primeiro garçom que passou e caminhei do jeito mais gracioso que consegui imaginar que pessoas ricas caminhavam. Ou pessoas que tinham um Camaro em vez de um Surburban.
— “Baia quatro, aberta”. Foi isso que o narrador disse, desse jeito tão escancarado no meio da transmissão da ESPN, um erro absurdo que me deixou com vontade de pegar o telefone na mesma hora e dizer… Ah, me desculpe, senhorita!
Esbocei a minha melhor expressão de susto, levando teatralmente a mão até o ombro que propositalmente tinha esbarrado no dele.
— Não precisa se preocupar, está tudo bem, senhor… — semicerrei os olhos, fingindo estar buscando seu nome na mente. Quando “lembrei”, arregalei os olhos de surpresa — Minha nossa, você é Nick Patinkin, o CEO da SM Entertainment?
O homem assentiu rapidamente.
— Sim, sou eu.
— estendi as mãos antes que ele inventasse de desviar os olhos de novo — Uma grande, imensa, astronômica fã sua!
Ele olhou para a minha mão por um longo tempo até apertá-la, hesitante e confuso.
— Fã minha?
— Exatamente. Claro que também caio na graças das lendas que foram administradas através dos anos na empresa, mas o que o senhor fez em termos de negócios nos últimos 2 anos, a implementação das novas políticas de defesa dos artistas, contratação de profissionais qualificados, e a disseminação das turnês mundiais… — Soltei um suspiro admirado — É impossível não ser sua fã.
Um brilho peculiar resplandeceu no rosto do homem, que vagarosamente inclinou a cabeça para o lado para deixar claro aos outros tubarões que havia encontrado uma possível conversa agradável, e quando os engravatados me lançaram cumprimentos breves, o sorriso de Patinkin começou imediatamente a se abrir diante de mim.
— Então, no que a senhorita trabalha?
Agora o sorriso cintilante foi o meu e virei rapidamente para a mesa para pegar outro drink. Quando vi o olhar de Oliver há muitos metros à esquerda, soube que o teste tinha finalmente começado. E tentei ver cifrões ao invés de olhos no rosto do CEO, torcendo para que fosse motivação o suficiente.
Ao beber um gole pequeno do champagne, soltei a língua e comecei a falar.

📈❤️


A cada minuto, eu ficava com mais raiva de Oliver e daquele plano idiota.
A começar por Nick Patinkin ser um amante de barcos e ter a capacidade infinita de falar sobre eles, sem abrir qualquer brecha para uma mudança de assunto. Tentei explicar que não manjava do tópico, mas isso o deixou ainda mais animado para explicá-lo para mim.
Meu ídolo era desumano. Teve essa ideia de me mandar ali por causa daquele breve e inofensivo comentário sobre eu detestar barcos?
Falando nele, não o vi mais em lugar algum. Pelo menos, não antes de ser arrastada pelo CEO até a mesa de iguarias italianas, que aparentemente tinham sido servidas como comemoração do 1º lugar na competição nacional de Remo há 15 anos atrás, o único título significativo da Coreia na modalidade. Minhas respostas variavam tanto entre “sim! Não! Não mesmo!” que parecia que eu tinha instalado comandos de voz na garganta, reagindo proporcionalmente à sua animação.
E o tempo! A porra do tempo estava passando!
Como eu convenceria esse cara de alguma coisa se eu mal podia falar? Ele pareceu interessado na minha profissão apenas nos primeiros 3 minutos.
— Ah, bons tempos. A equipe náutica de Gwangju era uma das maiores esperanças do esporte, eles tinham garra, tinham perspectivas, tinham…
— Mas não tinham investimento — soltei de repente, balançando distraidamente a taça, e percebi que ele tinha se calado dois segundos depois — Quero dizer, perdoe a arrogância, mas estamos falando de esporte, e em competições grandes, não adianta ter apenas garra, mas boa estratégia, bons equipamentos, um bom técnico, essas coisas que valorizam os atletas. Acho que o único problema que fez a equipe de Gwangju não alcançar mais vitórias foi justamente esse.
O CEO me estudou com cautela, como se fosse a primeira vez que estava realmente olhando para mim naquela noite. Que ele não percebesse meu nervosismo, porque agora em vez de ver cifrões em seu rosto, eu via relógios com ponteiros que gritavam comigo que meu tempo já tinha acabado.
Pude sentir meu telefone vibrando duas ou três vezes na bolsa carteira, mas quão indelicado seria se eu o atendesse naquela hora? Jogaria a chance no lixo e ainda mentiria ainda mais para Jaehyun.
— A senhorita sabe o percentual de investimento do governo em atletas?
— Não entendo de governo e tenho certeza de que ele não pode fazer tudo, senhor Patinkin. O senhor é muito inteligente para saber que conglomerados privados movem esse país, e o mundo. Gritar muito alto em competições não faz com que ninguém seja campeão — levantei os ombros delicadamente, buscando não parecer tão afiada — A sua empresa, por exemplo. A SM promove talentos indiscutíveis na rede de entretenimento, mas se não investissem em aulas de canto, inglês, dança e visual no geral, como esses garotos iriam se aperfeiçoar? Selecionar alguns talentos durante audições é só uma porta de várias que eles irão abrir. Vocês os tornam fortes e capazes o suficiente para darem o seu melhor e conquistarem o mundo, é magnífico — vendo que ele sorriu, engoli em seco e completei: — E obviamente, por esses e outros motivos, as ações majoritárias só tendem a crescer e atrair mais compradores.
O homem ergueu as sobrancelhas, e parecia, finalmente, que não começaria a falar sobre barcos.
— A senhorita acompanha a Kospi*?
— Claro que sim. Tenho um grande interesse na abertura de capitais e no mercado primário de empresas de entretenimento, já que fazer 40 bilhões por ano não era comum para as agências até 2017, então era inevitável que a SM não ficasse na linha da globalização. Pelo menos, é o que eu e a Hoslos acreditamos.
Hoslos & Chain?
— O senhor conhece?
— Com meu trabalho, estranho que eu não conhecesse — ele levou o champagne aos lábios, tomando um grande gole. De repente, senti minha própria boca ficando seca e lutei contra a vontade de olhar o telefone, focando na vitória de ter chegado ao quintal que tanto esperava — Quanto fizeram no ano passado?
— 100 bilhões. Tanto na corretora quanto na bolsa — frisei, aproximando-me casualmente a um passo — As ações de mercado imobiliário que vendem são seguras e comandam a economia de muitas cidades, sem exatamente ser um monopólio. É interessante como agora estão trabalhando para adquirir ações preferenciais de empresas como a sua logo depois que pisaram no país que anda alavancando essa área em todo o mundo. E o pontapé inicial seria na SM — aquilo era uma tentativa de arrombamento explícita. Patinkin franziu levemente o cenho, tentando raciocinar e entender onde eu queria chegar, mas não tentou me parar em nenhum momento — Soube que eles tentaram falar com o senhor, mas não chegaram nem na porta da frente do prédio. É uma pena, porque eles realmente poderiam…
— Com licença, senhor Patinkin.
Um infeliz estupidamente alto brotou de lugar nenhum para se inclinar e cochichar nos ouvidos do CEO. Em um instante, a postura do homem se endireitou e ele me encarou com um sorrisinho de desculpas.
— Sinto muito, senhorita , vou precisar me retirar agora. Com licença.
Se retirar?
E com uma breve reverência, ele se mandou dali a passos rápidos com o outro.
Fiquei parada, em choque, como se tivessem instalado um sistema de pesos nos meus pés. A porta que eu estava prestes a abrir se fechou com força na minha cara. E infelizmente, eu não podia agir como uma criança chorona e tentar abri-la com toda a angústia que estava sentindo.
Imediatamente, abri a bolsa para verificar o celular, mas desisti antes de desbloqueá-lo. Eu sabia que ele estava me ligando. Sabia que Jaehyun devia estar repetindo às garçonetes que esperassem mais um pouco para trazerem os pratos principais, ou a sobremesa de mirtilo que com certeza já tinha encomendado, uma com muito chantilly escrito “Minha Murphy” em português enquanto eu tinha mandado preparar um bolo igualmente lindo e grande para o seu aniversário, junto com as passagens e um outro presente. Um que não tinha comentado com Felicity.
Era a porra do aniversário do meu namorado e eu o deixei plantado no restaurante. Pior: o deixei plantado com a minha mentira.
Sem saber o que fazer, comecei a andar. Mal completei dois metros de trajeto até que o grandalhão maléfico estacionasse bem na minha frente, gracioso e silencioso como uma serpente.
— E então? — De novo, Oliver não estava olhando para mim; apenas se abaixou o suficiente para puxar um dos canapés.
Bufei forte, crendo que merecia a licença poética de não ser uma atriz perto dele.
— Está bloqueando minha saída, senhor? — Fiz uma exibição de dentes, porque sorrir já era demais — Acha que eu vou fugir?
— Suas expectativas estão baixas a esse ponto? — ele comeu a iguaria toda de uma vez, encarando-me de cima com certo divertimento. Desafiador e nada sofisticado.
— Não. Isso é só…
— O seu cliente do Peugeot não está aqui? Achei que ele pudesse ajudar.
— Eu estava quase conseguindo — murmurei, tentando não parecer que quebraria aquela taça em suas mãos — Faltava muito pouco, mas o tempo…
— O tempo é um aliado, senhorita , não o inimigo. Pelo jeito como o prendeu por 40 minutos, ele parece ter gostado de você. Ainda temos mais 2 horas.
Eu teria engasgado se tivesse ido à frente com a ideia de tomar um gole de água.
40 minutos! Porra! Que horas eram?
E eu tê-lo prendido pareceu uma piada escrota, porque a situação não poderia ser mais contrária.
Tentei conter meu abalo, mas os 40 minutos me desnortearam completamente.
Eu estava na bifurcação que fugi a noite inteira: Jeong Jaehyun ou 20 milhões de dólares?
— Olha, senhor Hammer, eu não acho…
— Ele ainda está bem ali — seus olhos se inclinaram agora na direção do bar decorado com lustres de cristal e esferas de luz pelas paredes, dando a entender que o espaço era reservado para poucos. Aqueles poucos — Se está com tanta pressa, devia resolver a situação. Ainda não acho que tudo tenha sido um fracasso.
Não sei dizer exatamente o que captei naquele olhar – se era um encorajamento genuíno ou só mais uma chance de me ridicularizar –, mas Oliver não me deixou adivinhar por muito tempo, já que logo estava andando de volta para outro canto que eu não vi.
Respirei fundo. Não tinha escolha. Não era uma situação alarmante de vida ou morte, mas era alarmante. Jaehyun entenderia. Acho que entenderia, já que nossa relação de confiança era muito sólida e não mentíamos um para o outro.
Até eu quebrar isso justo no dia de hoje. Que merda, .
Trotei os saltos com maior determinação na direção do homem cercado por um casal mais velho, provavelmente pertencentes a mais uma fração da alta sociedade abarrotada no lugar. A mulher reluzia em joias e pedras preciosas mais do que todas aquelas luzes juntas.
— Com licença, senhor Patinkin — interrompi a conversa descaradamente, desta vez tendo a visão incomum de alguém não deixando que o homem falasse. Nick se virou para mim lentamente, e confesso que meu sorriso já não estava tão disposto a ficar aberto — Me desculpe a intromissão, mas gostaria de um tempinho com o senhor…
— Você veio! — Arfou a senhora das pérolas ao nosso lado, olhando diretamente para a entrada às minhas costas.
Eu não me atreveria a virar e perder tempo da conversa se não notasse a empolgação transformando o rosto de Patinkin, deixando-o com um sorriso aberto e casual, junto com um lampejo de satisfação nos olhos. Em um instante, sua atenção não estava mais em mim, e sim na voz que sibilou:
— Achou que eu não viesse te dar um oi, noona?
O timbre dele me atingiu como uma avalanche letal. Se parasse para pensar, eu nem precisaria me virar para saber quem era. O perfume característico teria dito tudo, revelado tudo.
O perfume que eu tinha dado.
— Garoto! Feliz aniversário!
O CEO animado desapareceu da minha frente para ir de encontro à nova presença. Tentei mover meus pés, mas eles estavam grudados no chão. Vi as senhoras, uma a uma, irem em sua direção com cumprimentos formais, risadinhas e parabenizações. Tive certeza que meus lábios estavam brancos por baixo do batom vermelho. Só depois de quase 1 minuto de drama interno, consegui virar o torso de perfil e olhar para ele, torcendo para que fosse alucinação.
Mas ali estava ele. Meu namorado, Jeong Jaehyun. Em carne, osso e simpatia.
Seu corpo estava sendo enclausurado pelo abraço de Nick, que logo o soltou com uma pergunta seguida da outra: “Por que não me avisou que viria? Eu teria pedido sua bebida favorita”, ou “Não estava em um compromisso importante hoje? É seu aniversário!”
Jaehyun olhou para mim, e o mármore chique abaixo das minhas solas derreteu.
Um smoking elegante desenhava perfeitamente o seu corpo, e ele poderia facilmente parecer que estava ali desde o início da noite, com a gravata um pouco frouxa e uma taça de champagne nas mãos. O anel que delineava seu dedo cintilou sob aquele monte de luzes, e não sei explicar a sensação sufocante que eu tive de correr e abraçá-lo.
Senti um súbito e irrepreensível amor por ele, mesmo que não conseguisse olhar diretamente em seus olhos agora.
— É uma festa bacana, devia ter me convencido a aceitar antes. Quanto deixou na entrada?
— Deixamos a contribuição de sempre, garoto. Até mais do que os outros.
— Sempre muito esperto, senhor Patinkin. Tenho certeza que isso vai trazer resultados positivos para toda essa selva de economia — seus olhos cintilaram em minha direção de novo, desta vez para a área do meu pescoço, onde o colar que ganhei no Natal estava inseparável junto do meu colo.
Talvez ele tenha olhado demais, porque logo Nick estava se virando em minha direção, lembrando-se da minha presença fantasmagórica.
— Perdão, senhorita , este é um dos membros da nossa empresa, Jeong Jaehyun. Creio que já o conhece.
Engoli em seco. Jaehyun continuou fitando a minha imagem sem expressão, sem o feroz brilho característico no olhar, aparentando nenhum traço de reconhecimento.
Enquanto eu, por outro lado, mantinha a boca entreaberta no choque que demorava a passar, perguntando implicitamente sem falar: como você está aqui?
Quando deu um passo à frente, meu namorado estendeu a mão direita para mim, a mesma em que usava o anel simplista que simbolizava nosso compromisso.
— É um prazer conhecê-la.
Puta merda. Puta. Merda.
Estar ali com certeza foi a pior decisão da minha vida.
Não havia mais saliva para passar pela garganta, e olhar para ele naquela situação fazia eu querer me encolher ainda mais, então apenas encarei os pés quando apertei sua mão estendida, sentindo o calor singular que ela emanava, querendo puxar a mesma para qualquer canto e vomitar uma sequência infinita de explicações.
— Prazer. — Foi tudo que minha mente conseguiu ligar.
Jaehyun soltou minha mão devagar, deixando-a automaticamente mais gelada e solitária. Quanto mais tempo passava com ele, mais tinha certeza de que não me acostumaria nunca com ficar sem ele.
E algo me dizia que ele não estava nada feliz em me ver ali, em uma festa que não comentei, por um motivo que muito menos revelei.
— Esse é o menino de ouro — Nick deu um breve tapinha no ombro de Jaehyun, sorrindo tal qual um pai orgulhoso do filho — Devia ter me avisado que viria, garoto. Prefiro conversar com você do que escutar pessoas querendo fazer uma reunião no meio de uma festa.
Desviei os olhos para o chão de novo, me dando tempo suficiente para limpar a garganta e voltar o queixo para cima. Jaehyun estava rindo, e olhou novamente para mim, sem rancor, apenas com um brilho de compreensão.
Ele sabia. Sabia de tudo.
— O senhor não ignoraria as pessoas, por mais inconvenientes que fossem. Falando nisso, como anda a equipe de Remo?
Os olhos do homem faiscaram como estrelas cadentes.
— Muito bem! Estão melhores do que no ano passado, inclusive. O treinador Hughes disse que é possível ir ao Nacional, e a reitoria da Universidade de Seul também aprovou a compra de novos equipamentos. Você viu na TV?
— Vi sim. Junto com o campeonato de surfe.
Quase ri de perplexidade. O que ele estava dizendo?
Jaehyun não gostava de remo. Uma vez o ouvi dizer que eram a equipe mais desvalorizada do país na questão de esporte, e que provavelmente nunca chegariam nas Olimpíadas. Não podia nem dizer que eles tinham potencial.
— O surfe, é claro! Como anda a equipe de Busan?
— Abaixo da média, mas melhores que a da Itália. Confesso que às vezes ainda dá vontade de quebrar a TV quando começam a fazer merda boba, se o senhor me permite ser sincero.
Nick espalmou o ar com a palma, totalmente tranquilo em ver o garoto falar informalmente.
— Você com certeza é melhor do que os caras com a prancha. A senhorita entende de surfe, senhorita ?
Abri e fechei a boca algumas vezes antes de dizer:
— Na verdade, não. Esportes são um assunto muito complexo para mim.
— Eu entendo. E devo concordar com o que disse antes, que falta investimento nas equipes para que possam alavancar ainda mais. A Coreia merece ser reconhecida em todas as facetas, não concorda?
Assenti lentamente, olhando de soslaio para meu namorado que tinha um sorrisinho pequeno por trás da borda da taça que levava à boca. Ele parecia estar se divertindo. Por que diabos ele preferiu se divertir daquele jeito e não simplesmente me desmascarou na frente de seu chefe?
Eu o responderia que sim, por uma noite, tinha escolhido 20 milhões de dólares. Uma fortuna que agora parecia mais distante a cada minuto.
— Ah, essa foi justamente a ideia da Quinn para o NCT Life, senhor Patinkin — Jaehyun se virou para o homem, animando-se — Jeju, pranchas e remo. Confesso que dei a sugestão do surfe, mas acho que agora sei porque ela decidiu incluir mais uma modalidade na água.
Nick riu abertamente.
— Um dia ela teve uma conversa comigo sobre o orçamento anual do grupo e comentou sobre um episódio na praia. Achei interessante, você e os outros garotos vão gostar da viagem. Ela já preparou tudo?
— Sim, compramos as pranchas e as roupas de neoprene. Vai ser um ótimo preview do nosso projeto futuro com todos os membros, vai aumentar as visualizações em exponencial. Até eu como leigo sei o que isso significa, senhor Patinkin — vi Jaehyun virar os olhos em minha direção disfarçadamente, por milésimo de segundos — Vai ser outra balbúrdia no setor financeiro da empresa, onde eles soltam gritos e dizem que as ações subiram, seja lá o que signifique.
Patinkin piscou um pouco os olhos.
— Acha que o episódio vai alavancar as ações dessa maneira?
— Tenho certeza. Os projetos do NCT 23 sempre chamam a atenção, principalmente por serem bianuais. O senhor se lembra da loucura que foi há dois anos atrás. As vendas ultrapassaram as expectativas.
Agora pisquei para Jaehyun. Eu não sabia o que ele estava dizendo, não sabia o motivo, e analisar o que o estava levando a suportar minha mentira até agora me deixava perturbada, mas no fim, foquei no senhor Patinkin e seus dedos irem para o queixo, em posição reflexiva.
— Você está certo. Os sócios estão se preparando para abrirem o capital em alguns dias para arrecadar fundos para o grande projeto do NCT, e a notícia está se espalhando desde o início do ano.
— Eu fiquei sabendo. Mas creio que esperar até o dia do anúncio seja uma confusão sem tamanho. Não disse uma vez que tinha uma grande empresa que sabia das coisas querendo comprar?
— Sim, eles queriam comprar várias ações majoritárias, mas não falaram de mais detalhes, e isso envolve um grupo grande além de mim, e…
De repente, ele parou e olhou em minha direção, enrugando a testa enquanto tentava se lembrar de alguma coisa.
— Onde disse que trabalhava mesmo, senhorita?
— Não trabalho — corrigi imediatamente, temendo soar desesperada — Digo, conheço a Hoslos & Chain e sua excelência com o trabalho, e concordo com o que Jaeh… O senhor Jeong disse. Se o maior pico de vendas vier no momento de abertura do capital, o lucro pode ser vasto, mas não tanto quanto esperavam, principalmente se outros grupos em alta como BTS ou Seventeen resolverem fazer a mesma coisa. Talvez seja uma boa ideia fazer um cálculo aproximado de quanto pretendem arrecadar e fazer a oferta à Hoslos. 100 milhões não são absolutamente nada para eles, e a Kospi vai estar no Home Broker das principais corretoras do mundo antes do sol se pôr, ganhando o triplo do valor que pretendiam ganhar. Se é que vocês pretendiam alguma coisa.
Segurei a respiração. O senhor Patinkin me encarou com um pouco de surpresa, ainda tentando organizar e absorver meu raciocínio, que sairia com mais clareza se eu não estivesse tão nervosa. A situação agora tinha sofrido mudanças bruscas, e o tempo não era mais apenas meu inimigo, ele tinha me acertado com um soco no estômago. Completamente.
No entanto, Jaehyun estava sorrindo. Não parecia um sorriso inteiramente para mim, parecia apenas com uma apreciação do quanto eu era mais capaz de dirigir aquela conversa do que eu imaginava.
Tenho certeza de que o senhor Patinkin estava pronto para responder alguma coisa quando o mesmo cara de antes, irmão gêmeo do gigante Golias, se achegou na parte de trás de sua orelha, resmungando com a mesma rapidez anterior que fez o homem se empertigar no lugar e lançar a mim o mesmo sorriso de desculpas.
— Eu sinto muito por abandonar a conversa mais uma vez, mas terei que fazer minha palestra em 3 minutos. Continuem aproveitando a festa — ele levantou a taça quase vazia em um brinde imaginário, e virou-se para Jaehyun — O que vai fazer agora? Encontrar o Kun? Soube que ele está no estande da Hyundai.
Meu namorado esboçou o melhor sorriso elegante que vinha sem esforço, denotando ainda mais o quanto conseguia ficar confortável em um lugar daqueles. Aquele smoking realmente era um envoltório condizente com o seu conteúdo.
— Acho que por enquanto vou experimentar aquela bebida de frutas.
— Boa escolha. Nos vemos na próxima semana, faremos um jantar de aniversário — e com um inclinar de cabeça para mim, ele apenas disse antes de sair: — Até mais, senhorita.
Acompanhei suas costas até que elas desaparecessem na massa de ternos caros e similares antes de ter a coragem de encarar Jaehyun. Ele estava parado, com uma mão no bolso enquanto segurava pacificamente a taça na outra. Estava tão lindo que precisei me concentrar na situação urgente e imediata de sua presença ali, naquele momento.
Com um suspiro fundo, abri a boca.
— Amor, olha…
— A senhorita já conhece o estande da Corporação Doosan?
— O quê? — Franzi o cenho. Ele deu de ombros.
— Uma das nossas investidoras. Acho que seria interessante para alguém com ambições em conseguir uma reunião de vendas com o senhor Patinkin conhecê-los. Fica perto da recepção.
E sem mais explicações, começou a andar em direção à entrada lateral do hotel, sem me esperar ou olhar para trás.
Rangi os dentes. É claro que ele estava zangado, o que eu esperava? Menti para ele em uma situação que, tecnicamente, não era necessário que eu mentisse. Deixei-o esperando no próprio aniversário. No nosso primeiro dia dos namorados!
Os 20 milhões imaginários pareciam muito, muito sem graça agora.
Fui atrás dele, tentando manter a cabeça erguida, sem demonstrar para nenhuma daquelas pessoas o quanto estava lentamente definhando. Jaehyun estava propositalmente andando mais devagar, e quando o alcancei, fiz questão de me aproximar por uns centímetros até perguntar em voz baixa:
— Como você soube?
Ele não me encarou. Apenas engoliu toda a bebida de uma vez e largou a taça na primeira bandeja ambulante de um garçom antes que entrássemos em um corredor estreito.
— Felicity não é exatamente a pessoa que leva segredos para o túmulo.
Felicity! É claro! Como eu não tinha pensado nisso assim que o vi passar pela porta?
Talvez as vibrações no meu celular podiam não ser exatamente de Jaehyun, mas sim um aviso desesperado de minha amiga traidora avisando que tinha dado com a língua nos dentes e que eu precisava resolver a situação.
— Espera — tomei seu pulso sem perceber, olhando brevemente para os lados e constatando que estávamos no único espaço sem pessoas — Me escuta… Eu sinto muito, de verdade, e sei que isso não melhora as coisas, mas perdi a noção do tempo e…
— ele finalmente disse meu nome, mas afastou lentamente do meu toque — Só vem comigo.
E então, ele continuou seguindo até a área aberta e ampla da recepção, onde duas mulheres vestidas de uniformes impecáveis não demonstravam a menor mágoa em estarem trabalhando ao invés de participando daquela mega festa chique.
Ele parou em frente ao guichê de uma delas, repetindo seu próprio nome e falando mais baixo uma sequência de comandos que não captei. Não duvido de que eu estava sendo incapaz de captar qualquer coisa, na verdade. A curiosidade pulsava nos meus ouvidos. Toda a negociação fajuta dessa noite já nem importava por um centímetro. Que se foda Oliver Hammer e a Hoslos, que se foda se acabei atrapalhando mais do que ajudando com minha insistente tentativa de falar com Patinkin, eu só queria puxar meu namorado para um canto e perguntar se ainda poderia chamá-lo assim.
Se ele parecesse por dentro como aparentemente estava parecendo por fora, eu não estava tão ferrada assim. Ele não parecia com raiva, mas também não parecia que me agarraria cheio de tesão acumulado como disse que faria.
E tinha o fato de que ele queria que eu o seguisse para seja lá onde sem ter me explicado porcaria nenhuma, e igualmente mal olhado na minha cara.
Então, reparando em todas essas coisas naqueles breves minutos de silêncio enquanto a moça digitava algo rapidamente no teclado, comecei a me irritar.
— Por que você tá complicando tanto as coisas pra mim? — trinquei os dentes, falando apenas para ele. Eu só queria conversar. Me explicar.
— Complicar? Estou melhorando as coisas — ele lançou aquele sorrisinho odioso e pacífico antes de tomar o cartão da recepcionista, que fez o possível para esconder o reconhecimento do rosto estampado do meu namorado.
Tentei abaixar a cabeça para passar por ela, mas já era tarde demais. Jeong Jaehyun já tinha sido visto seguindo para o interior de um hotel com uma garota. Bom, pelo menos, se publicassem aquilo, não poderiam dizer que a garota não era deslumbrante. Um vestido brilhante fazia milagres.
Ele já estava no elevador enquanto eu ainda refletia atrás, apressando o passo em sua direção antes que as portas duplas se fechassem. Jaehyun as segurou até que eu entrasse, e o desgraçado ainda sorria tanto que fazia com que eu me sentisse completamente patética por ter pensado que eu podia enganá-lo.
— Você vai me explicar pra onde está me levando que não seja para o saguão lotado de pessoas lá embaixo?
— Achei que já tinha falado com todas elas.
— Eu falei! Mas... — perdi as palavras, me sentindo mais nervosa a cada segundo. Jaehyun colocou as duas mãos nos bolsos, inclinando um pouco a cabeça para o lado, esperando que eu desse mais uma desculpa esfarrapada para burlar o nosso compromisso de hoje — Olha só, se você está chateado comigo por hoje e está fazendo...
O barulho agudo de chegada da caixa metálica interrompeu meu próximo discurso, e as portas se abriram mais rápido do que pensei. Jaehyun deu um sorrisinho agradável e meteu um braço para travar a mesma, dizendo polidamente:
— Primeiro as damas.
Olhei pra ele por 2 segundos antes de marchar pra fora, sentindo o estômago se contorcer de estresse, um medo gelado invadir minha corrente sanguínea à medida que ele não me dava respostas. Era isso que Jaehyun queria? Me afastar de todos pra terminar comigo? Pra dizer que era inviável que eu mentisse pra ele da forma como menti, e que fugisse de conversas importantes como já fiz uma vez, e todas essas coisas que no fundo eu não conseguia imaginá-lo dizendo, mas que ainda era possível que dissesse?
Logo seus passos estavam do meu lado, caminhando calmamente pelo corredor revestido de tapeçaria vermelha e marrom, e quando parou na porta alta do fim do caminho, seus dedos deslizaram pelo cartão adquirido no andar debaixo, usando-o para abrir a entrada com um clique.
Sério? Ele terminaria comigo dentro de um quarto?
Um quarto muito chique, ainda por cima. Meu queixo quase se arrastou pelo chão à medida que fui entrando, descobrindo os milhares de detalhes transparecidos pelo luxo da colcha, dos tapetes, da mesa e, principalmente, da enorme janela do chão ao teto que me deu uma certa ânsia só por observar a altura.
A altura. Era bizarro a forma como Seul estava espalhada sob nossos pés, como os pontinhos brilhantes se pareciam com estrelas e como os prédios vizinhos pareciam tão longe e tão perto ao mesmo tempo.
Petrificada, mal notei quando o gelo molhado tocou meus ombros, e virei para trás instantaneamente no momento em que Jaehyun estendia a taça para mim, já completa até a metade com um cheiroso vinho branco.
— O que é isso? — Olhei com dúvida, a garganta seca ainda pelo choque do lugar. Jaehyun franziu o cenho, olhando para a mesa ao lado equipada com um bar completo.
— Hum... Acho que é Chablis Fourchaume, ano recente, da Borgonha…
— Corta essa, Jaehyun — interrompi, com a voz trêmula. Se ele ia terminar comigo, que fizesse logo, de forma rápida e limpa. Talvez assim eu também chorasse e sofresse de forma mais rápida, mas duvidava muito disso — O que estamos fazendo aqui? Por que você está aqui? Por que não está gritando comigo e me acusando da mentira que falei? Por que precisa me trazer aqui para...
Não consegui dizer. Estava na cara o que eu diria, mas não consegui dizê-las. Se você quer acabar com tudo, faça logo! Era o que eu tinha que proferir, bem dramática talvez, mas eu enlouqueceria se ele usasse seu lado galanteador até mesmo para terminar um relacionamento.
O rosto dele não mudou. Isso já estava me deixando loucamente furiosa. A única coisa que se mexia em sua fisionomia eram as pálpebras piscantes e os lábios finos que pareciam diminuir e alargar o sorriso frequentemente, como se estivesse se controlando.
— São muitas respostas, meu bem. Mas uma delas é que te chamei pra ver a vista — ele deu de ombros e se virou para a janela, bebendo um gole do vinho — Você gostou dela?
Trinquei os dentes e me virei também.
— Sabe que eu tenho medo de altura.
— Mas a questão não é a altura. É a vista — de repente, senti seus dedos lentamente fustigando pelas minhas costas, um movimento muito leve e muito simples para que eu desse importância no momento — Devia prestar mais atenção. É uma vista muito bonita mesmo.
Olhei para ele com um grunhido. Ele parecia estar me enrolando, levantando sobrancelhas com inocência descarada e saboreando aquele vinho com lentidão, como se estivesse preso em um mundo só seu. Abri a boca para protestar, mas ele apertou mais os dedos em volta de mim e apontou um dedo para fora:
— A vista, . Um minuto.
Revirei os olhos na cara dura e me virei para o amontoado de prédios e luzes faiscantes que tomavam as pequenas ruas, que daquela distância pareciam meras linhas invisíveis rodeadas por sombras. O edifício de vidro logo à frente espelhava o monumento em que estávamos, e pude ver uma mísera silhueta de nossos corpos juntos num borrão da estrutura um pouco torcida, duas sombras que pareciam grudadas uma na outra, ainda que não fosse assim na realidade.
Estava começando a me irritar de novo. Não estava entendendo onde ele queria chegar. Não estava vendo como pagar um quarto caríssimo no mesmo lugar onde eu não o tinha avisado que estaria resolveria o fato de eu ter sido duas caras com meu namorado.
Ele queria brincar comigo antes de me chutar?
Pronta para acabar com a palhaçada, me preparei para virar para ele e dizer que tinha entendido seu jogo e que poderíamos parar de jogá-lo, mas um clarão repentino fez meus ombros tremerem de susto, e de repente o reflexo do prédio havia sumido.
Pelo canto do olho, vi Jaehyun verificar rapidamente o relógio no pulso e sorrir divertidamente para a frente.
Antes que eu perguntasse, as primeiras letras foram surgindo, uma a uma, na fachada do prédio magnífico, formando uma frase que fui entendendo aos poucos à medida que meus joelhos tremiam com fúria.

F E L I Z D I A D O S N A M O R A D O S

D O S E U A N I V E R S A R I A N T E

J.


Corri para a janela, pouco me lixando para a altura, metendo as duas mãos no vidro temperado, abrindo e fechando a boca sem acreditar. Tão logo as palavras surgiram, todas elas foram envolvidas por balões em formato de coração, liberados de algum lugar do andar debaixo, ascendendo para os confins do espaço, balançando sutilmente pelo vento remanescente do inverno e desaparecendo alguns minutos depois.
— Jaehyun... — Nem acredito que tinha conseguido dizer o nome dele. Era como se meu próprio coração fosse um daqueles balões bonitinhos, saindo de mim e acompanhando seus colegas até estourarem no limite da atmosfera. A cidade inteira, no mínimo, devia estar lendo aquela declaração, e isso me deixava ainda mais desnorteada.
Quando me virei para olhá-lo, no entanto, Jaehyun estava com a expressão séria, quase raivosa, segurando a taça com força enquanto olhava para o céu, nas dezenas de balões sobrevoando a capital.
— Estão atrasados... — ele murmurou, e juntei as sobrancelhas na mesma hora — Devia acontecer assim que soltassem os balões, e não estou vendo... — ele grunhiu e caminhou com passos fortes para a janela, tentando ver algo lá embaixo, mas se frustrou por topar com apenas pontinhos móveis e luzes.
— O que foi? O que aconteceu? — perguntei, tentando não parecer que ainda estava retornando da bolha de amor que tinha inchado no meu peito, puxado meu sorriso para o máximo da orelha e que eu estava sedada de felicidade enquanto o cara dos meus sonhos parecia agitado, um pouco aflito e pegava o telefone dos bolsos em meio a resmungos.
— Não, desculpa, eu... — ele tentou dizer, mas largou a taça na mesa e ligou o telefone.
— Jae...
— Os fogos, amor. Eles se esqueceram dos fogos. Não acredito nisso!
Mal pensei. Simplesmente avancei para ele, tomando aquele telefone antes mesmo que discasse algum número e ataquei sua boca com força, em um selar violento, como se estivesse desesperada apenas para que aquela bolha diminuísse antes que eu mesma saísse voando.
Me afastei dele apenas o suficiente para olhar em seus olhos, tentando engolir algumas vezes antes de sussurrar:
— Então não vai terminar comigo?
Jaehyun, ainda um pouco desorientado pelo beijo repentino, puxou as sobrancelhas até o meio da testa.
— Quê? — Eu parecia ter dito a ele que era louca. Umedeci os lábios e ri engasgada.
— É, eu... Eu menti pra você hoje, disse que estaria no nosso jantar, não te contei sobre esse evento, não te falei da conversa na entrevista, você deve estar me achando uma vaca babaca, mas eu juro que não quis te magoar. Não ia usar o seu nome para conseguir um investimento, não queria fazer as coisas que não fosse pelo meu esforço, eu não...
Jaehyun me calou com mais um beijo, o que fiquei aliviada porque tinha perdido todas as travas na língua e a dele era o melhor jeito de fazê-la voltar ao eixo, acendendo cada parte de mim que ainda não tinha sido acesa.
— Você é inacreditável, — sussurrou em cima dos meus lábios, e a proximidade de seu corpo no meu causava um incêndio nas minhas coxas — É tão maluca que às vezes me deixa um pouco louco também. Mas me deixa muito mais orgulhoso, feliz, marcado em todos os sentidos. Não vai existir um dia sequer que eu não apoie os seus sonhos e objetivos. E, por Deus, se eu chegar ao ponto fodido da minha vida em que eu termine com você, é porque não resta mais nada em mim. Dá pra me entender? Sou louco por você, — seu rosto se aproximou da base das minhas orelhas, e o vapor de seu hálito quente nas minha bochechas ativaram pontos luminosos no meu cérebro, agitando as células, tecidos, órgãos, o corpo inteiro — Amo você e todas as suas conquistas. Não duvide mais, nem por um segundo, que eu não vou querer assisti-las.
Meus joelhos tremeram. Uma arfar forte escapou da minha boca, e aproveitei a proximidade da sua para sanar essa necessidade que crescia e crescia e crescia. Ele provavelmente me faria chorar se não estivesse vestindo um smoking. Provavelmente eu repetiria tudo aquilo e com ressalvas, dizendo-lhe que o amava mais do que ele imaginava, que eu tinha mais planos do que contava, e que um futuro sem ele não existia mais na minha agendinha.
Mas repito: isso tudo aconteceria se ele não tivesse pagado um quarto, comprado meu vinho favorito, feito uma declaração brega e fofa para a cidade inteira e eu não estivesse usando uma lingerie que combinasse. Por isso, com o fogo percorrendo cada articulação do meu corpo, levei a boca até seus ouvidos e murmurei:
— O que você quer primeiro? A dança ou o boquete?
Jaehyun enrijeceu os músculos imediatamente, e a protuberância no meio de suas pernas alcançaram as minhas, velozes ao menor som da minha voz ou ao menor toque de minhas mãos. Ele vasculhou meu rosto com rapidez, prestes a perguntar se eu estava falando sério, mas minhas mãos já estavam voando para o seu cinto da calça social ao mesmo tempo que chutava os saltos maravilhosos para longe.
... — A voz dele não tinha ruído. Seu senso moral devia estar gritando para que ele pelo menos me perguntasse alguma coisa, que dissesse que com certeza não tinha pagado o quarto para isso, e eu acreditava fielmente nisso, mas isso me deixava mais em frenesi. Ele tinha acendido o fósforo, o fósforo que apenas Jeong Jaehyun conseguia, a linha de dinamite que estava instalada no meu corpo e que colocavam meus joelhos no chão com um sorrisinho enquanto puxava sua boxer para baixo mais rápido do que seu raciocínio da situação.
Uma respiração ofegante escapou dele quando viu o membro pra fora, se endurecendo a cada segundo que era vítima do meu olhar faminto, e ele ainda tentou murmurar:
— Amor, você não...
Com água na boca, ataquei-o com vontade. Levou menos de 1 segundo para que ele desistisse de protestar e soltasse uma respiração ruidosa, derrotada, automaticamente descendo um pouco mais a calça pelas coxas, levando uma mão gentil para a lateral do meu rosto até deslocá-la firmemente para o meu cabelo, deslizando os dedos pelos fios que poderiam atrapalhar o movimento.
Fiz questão de levantar o rosto e encará-lo enquanto trazia-o cada vez mais para dentro da garganta, segurando-o com as duas mãos enquanto Jaehyun mantinha a boca entreaberta, os dedos e dentes cerrados em puro controle, seguindo os movimentos contínuos de minha cabeça que ia para a frente e para trás, cada vez mais certeira e rápida, sentindo-o mais duro e pulsante, molhando-o com minha saliva, língua, garganta, a ponto de sentir as pernas dele tremerem.
— Porra, ... — ele chiou quando me afastei de seu pau e desci o queixo para os testículos, levantando seu volume para deter a língua neles, fazendo Jaehyun arquejar e apoiar uma mão na mesa com a garrafa de vinho, resmungando palavrões enquanto minha língua passava pela área sensível, ao mesmo tempo em que minha mão fazia o trabalho de masturbá-lo, com o adicional de não tirar os ao olhos dele durante todo o processo. — Caralho, isso é muito gostoso...
Aumentei os movimentos das mãos até finalmente voltar a abocanhá-lo, sentindo o líquido pré gozo expelir na minha glote, imaginando que ele poderia estar perto, mas que não havia garantias porque Jaehyun se segurava como ninguém. Antes que eu sugasse ainda mais de suas veias, ele colocou ambas as mãos de cada lado do meu rosto, e delicadamente mexeu o quadril para se enfiar na minha boca, puxando meus olhos para cima, respirando com dificuldade até que eu sorrisse enviesado em meio a umidade de minha boca, permitindo que ele se enterrasse dentro dela com destreza e maestria.
Larguei as mãos e senti seu pau até o fundo, raspando no céu da minha boca, contornando minhas bochechas e suas duas mãos agarraram com força no meu cabelo, onde mantive minha cabeça parada enquanto ele se mexia para dentro de mim, resmungando palavrões e gemidos deliciosos que arruinaram minha calcinha e endureceram meus mamilos em um piscar de olhos.
Jaehyun meteu, rápido e devagar, fazendo o pau dançar na minha língua, o membro se esfregando em meu queixo, até que minhas duas mãos voltassem a trabalhar nele enquanto meus olhos só miravam acima. Passei a língua nos lábios, espalhando seu gosto por toda a minha boca e a ação deve tê-lo causado um ímpeto de loucura, porque imediatamente tive os braços agarrados para me colocar de pé, e os lábios foram atacados pelos dele em questão de segundos.
Procurei o botão de sua camiseta, do blazer maldito que cobria-lhe grande parte do tórax, do restante da calça e tudo que ainda me impedia de sentir seu corpo por completo, mas percebi que ele sozinho já tinha se livrado de tudo isso enquanto assaltava minha língua para sua boca, deslocando minhas pernas até que minhas costas encontrassem a parede mais próxima, onde ele se afastou em busca de um pouco de ar.
— Você faz eu me sentir um tirano maluco — a voz saiu como um rosnado, estremecendo a linha de dinamite em mim. Ele me olhava com tanto desejo e paixão que achei que desabaria ali mesmo — Você e essa boca...
— Posso continuar, se quiser — ofeguei, agarrando seu pau completamente exposto, mas suas mãos foram por cima das minhas.
Eu vou continuar, amor — e então, fui parar em cima da cama king size, caindo sobre os cotovelos enquanto ele movia o peito para cima e para baixo em uma respiração entrecortada, puxando os cabelos para trás enquanto a luz fraca do abajur pegava em todo seu corpo nu como se iluminasse uma escultura grega, me deixando admirá-lo por breves segundos até que ele se colocasse por cima de mim, tomando minha boca novamente, com o desejo e a expectativa que pulsava entre minhas pernas.
Suas mãos foram rápidas para se livrar do meu vestido pela cabeça, deixando meus seios pularem pra fora e ventilando meus mamilos duros e quentes, recebendo o aperto de seus dedos em um deles. Soltei um gemido fraco entre o beijo, e Jaehyun se afastou para fazer o de sempre, para colocar os dedos em cada lado do meu quadril, puxando a barra da calcinha para baixo. Levantei as pernas para cima para que ele fizesse, mordendo os lábios enquanto o desespero no meu ventre ficava mais evidente. Por 30 segundos, ele fez o mesmo de sempre: parou e admirou, da mesma forma que eu fazia com ele, incinerando minha pele com aquele olhar furioso, um olhar que antecipava as coisas loucas e selvagens que ele faria comigo, ou nós faríamos conosco.
Seus olhos brilharam quando chegaram no ponto em que queria, e prontamente puxou meus joelhos para cima, abrindo-os totalmente para que não houvesse nenhuma barreira para que sua cabeça se encaixasse ali e sua língua me tomasse completamente.
Puta merda. Essa era a largada para a viagem cósmica que eu estava prestes a entrar.
Pude ver um sorriso sacana pintar seus lábios assim que notou o quanto eu já estava totalmente derretida por dentro, umedecendo seu queixo e língua quando enterrou-se dentro dela. Sufoquei um grito quando ele, não satisfeito com detonar o meu clitóris com as sugadas constantes, colocou um dedo grande para dentro de mim, adiantando a explosão, adiantando o bater descompassado do coração, me fazendo xingá-lo em alto e bom som quando começou a movimentá-lo como certamente movimentaria seu pau.
Insanos gritos me tomaram quando ele usou a mão livre para agarrar um dos meus seios, e fui obrigada a eu mesma segurar as pernas para cima, balbuciando coisas ininteligíveis, desejando por mais e mais e mais e mais, necessitada por uma dose brusca, sedenta por calar o desespero que me devorava por dentro, pedindo e pedindo...
— Cacete! — grunhi com mais força quando ele abriu ainda mais as minhas pernas, lambendo toda a extensão da minha boceta como se fosse uma coisa só, como se só sentir o líquido quente que lentamente saía de mim pelo seu dedo não era o suficiente, chupando o clítoris com fervor, descendo a língua para a parte dianteira entre as nádegas, apertando mais os meus seios, tirando tudo de mim até que eu me tornasse miserável, implorando com sussurros, tremendo pernas e braços enquanto reiterava que não aguentaria.
Jaehyun puxou os dois dedos para a própria boca, jogando-se em cima de meus seios sem atenção imediatamente, raspando os polegares úmidos pela minha cintura e tomando meus mamilos com força, com desejo. Gemi descaradamente, agarrando seu cabelo com o fogo queimando na minha pele, ativado pela parte sensível e por sua ereção roçando na minha perna, me deixando perdida no mundo, desorientada, ansiosa em busca de alívio...
— Vira de quatro.
Obedeci imediatamente, agarrando um travesseiro qualquer enquanto me empinava com totalidade para ele, que agarrou uma das minhas nádegas com força enquanto trincava os dentes. Gemi, balançando a bunda com sensualidade, chamando-o com provocação, demonstrando a necessidade intensa que escorria pela minha perna.
— Quando você quiser — implorei, olhando-o por sobre o ombro. Jaehyun mordeu a boca e espalmou minha bunda, como se fosse o único jeito para que se controlasse e não se enterrasse de uma vez como um louco, ainda que eu quisesse isso, quisesse muito.
— Não vou parar até você gozar gostoso — senti a cabeça de seu pau roçar entre minhas pernas. Sua voz era prensada pelo desejo, e a libido não me deixava pensar direito, mas sabia que tinha arranhado meus dentes e murmurado como uma ordem:
— Não pare nem se eu gozar.
As estocadas vieram sem pudor. Agarrei ainda mais o travesseiro à medida que meu corpo balançava como um terremoto, e minha língua se embolava e falhava para emitir qualquer coisa que não fossem gritos e gemidos de um filme pornô. Quando Jaehyun queria, era capaz de meter com tanta força e rapidez que me tirava as reações. Meu corpo se movia sozinho, indo de encontro a ele inutilmente, como se ainda não fosse suficiente, como se o tudo dele ainda não me preenchesse, e eu precisava de mais, de mais, de muito mais até que...
Ele parou por 1 segundo para permitir que minha perna tremesse até voltar a meter com força. Sentia seu pau raspando nas minhas paredes, suas mãos estapeando minha pele e os dedos se embrenhando vez ou outra por lugares que eu não mais sentia. Tremi mais uma vez quando ele puxou meus braços para erguer minhas costas, tomando meu cabelo com furor enquanto delineou meu pescoço com lábios e dentes, e segurei em suas pernas enquanto me movimentei agora por cima de seu pau, torcendo o pescoço em um malabarismo digno de cinema para beijá-lo com força, com violência impulsionada pelo tesão absurdo, querendo tocar tudo e todas as coisas que o pertenciam, clamando implicitamente que ele fosse meu para sempre.
— Tão gostosa... — ele grunhiu no meu ouvido, rasgando toda a minha sanidade, agarrando meus dois seios com as mãos enquanto o quadril se movia por conta própria, metendo em mim com maestria, rosnando palavras chulas que certamente ninguém esperaria que dissesse um dia — Linda, perfeita, como é bom te foder.
— Então me fode — choraminguei, mal terminando a frase antes de gritar, sentindo que ele aumentou a velocidade sabe-se lá de que forma, emitindo palavrões enviesados e grotescos que jamais ouvi, estremecendo os próprios braços quando me segurou com mais força e adiantava o que não estava mais suportando segurar.
— Espera... — Arfei, sabendo que interrompê-lo naquela hora era uma tortura, mas agi rápido quando o derrubei de costas para a cama, subindo em cima dele com elegância, recebendo imediatamente suas mãos na minha cintura, e a respiração entrecortada que escapava de sua garganta mostrava um controle terrível — Quero que você goze olhando pra mim.
Apertei meus próprios seios enquanto roçava em seu pau erguido. Olhei para o membro, mordendo a boca com desejo, arrancando um som grotesco de Jaehyun, que apertou ainda mais a minha bunda semi erguida, respirando fundo em pura concentração.
— Se encostar sua boca nele mais uma vez, não vou aguentar, amor.
— Então me acompanhe — sorri com lascívia, endireitando-me em cima de seu pau com pressa, buscando o alvo certo até achá-lo e me encaixar completamente, arrancando um arfar pavoroso de sua garganta, e vi pelas veias no pescoço que ele se concentrava para não explodir imediatamente, se concentrava para me deixar aproveitar um pouco mais, olhando para os meus seios pulando junto com o corpo com a fascinação etérea de alguém que me achava divina, um pedaço de perfeição, e puta merda, eu não sabia que esse cara ainda tinha tanto poder de me deixar completamente apaixonada, mesmo quando estava literalmente cavalgando nele.
Jaehyun ergueu levemente as costas, apoiando-se nos cotovelos enquanto prensava os dentes no lábio inferior, expulsando sua explosão iminente para que eu tivesse meu momento de luxúria, para que meu quadril se mexesse e rebolasse como bem ele gostava, como bem o fazia sofrer, e quando segurou na minha cintura com os dedos de ferro, clamou com a voz atarracada de tesão e lamúria, abafada pela angústia:
— Caralho, não vou aguentar. Vou gozar, amor, vou gozar agora...
— Eu também...
A corrente elétrica que tomou conta do meu corpo atravessou toda a espinha, costelas, braços, ombros como uma rajada de gelo, espatifando-se logo em seguida com a lava que era o meu sangue, e perdendo-se no buraco negro que era minha própria mente. Jaehyun gemeu deliciosamente na curva de meu pescoço, explodindo dentro de mim como uma Supernova, me preenchendo com ele e tudo que ele me oferecia. Joguei a cabeça para o teto, arqueando as costas para trás, sentindo o corpo flutuar e pairar no ar, sedada pelas suas mãos e pelo hálito quente na minha clavícula, detalhes dele que embaçavam minha visão, reinavam sobre minhas vontades, tragavam meus princípios, me faziam ouvir o nada, e ao mesmo tempo fogos de artifício...
Minha nossa.
Quando ouvi o barulho, virei a cabeça devagar para a janela grande, ainda grogue, enxergando a cidade abaixo de nós como a plateia do espetáculo, e que agora saudavam o fim da primeira rodada. O brilho colorido tomou o céu por pelo menos 5 vezes, os estouros vindos de algum lugar desconhecido abaixo, passando pela parede espelhada que antes estava escrita a declaração do meu namorado.
Perdi o ar por um segundo. Os fogos. Ele tinha mesmo contratado fogos de artifício.
— Filhos da puta — xingou Jaehyun, e precisei olhar pra ele com olhos ligeiramente arregalados, porque ele nunca chamava ninguém de filho da puta — Estão atrasados. Pra caralho.
— Estão, é? — me mexi delicadamente em cima dele, que ofegou mais um pouco antes de me encarar, ainda com as mãos tomando minha cintura, olhando para a minha boca como se olhava para uma joia rara dentro de um recipiente de vidro. — Acho que as coisas deram bastante certo por aqui, sem os seus fogos.
— Não era o que eu planejava, mas... — sua boca se aproximou da minha, e um sorriso lindo e sacana veio acompanhado de um aperto na minha bunda encaixada em seu colo — Feliz dia dos namorados, .
E abrindo mais as pernas, beijei-o com voracidade até sentir, sem grande dificuldade, o membro endurecendo de novo, e aproveitei lara movê-lo para a parte de trás das minhas nádegas até murmurar:
— E feliz aniversário, Jeong Jaehyun.

📈❤️


Por um momento, imaginei que acordaria na manhã do dia 15 de fevereiro sem Jaehyun.
Cada passo que tinha dado na noite passada foi pensando em um acordo que eu não fazia a menor ideia se ainda estava de pé, um acordo que significou muito mais do que o encontro com o cara que eu amo, porque sentia, em algum lugar aqui dentro, que estava caminhando para a possibilidade de merecê-lo ainda mais.
Não era nada fácil namorar um cara super rico e influente quando você não tinha absolutamente nada para se igualar a ele.
No entanto, quando senti a luz do sol invadindo o quarto pelas frestas das cortinas e me virei para o lado a tempo de ver o rosto dele próximo ao meu, dormindo pacificamente e lindamente como sempre era, soube que tinha me deixado afundar nos meus medos e esquecido que já tinha metade do que precisava. Não tudo, mas uma grande parte.
Se eu e minha incrível capacidade de auto sabotagem não me permitissem estar aqui agora, espreguiçando o corpo dolorido ao lado do homem que eu amava nessa manhã específica, não poderia viver comigo mesma.
Levantei preguiçosamente, agarrando a camiseta social dele jogada ao chão e caminhando para o banheiro grande. Olhar para o espelho não pareceu uma decisão muito inteligente. Por fora, meu estado entregava toda a noitada de sexo e tapas, e sabia que eu parecia bastante um panda com aquela maquiagem borrada abaixo dos olhos. Mas por dentro, me sentia extremamente relaxada, como se tivesse corrido para aquela janela imensa e jogado todos os pesos dos meus ombros pelos 25 metros abaixo.
Puxei meu telefone apoiado na pia, vendo pelas notificações as mensagens de Felicity, que ainda tentava se explicar sobre os motivos de ter falado o que não devia, mesmo eu tendo dito que as coisas já estavam bem.
Lavei o rosto e prendi o cabelo em um coque para começar a escovar os dentes. Em um minuto, ouvi o barulho mínimo de movimento no colchão, e dois minutos depois, Jaehyun estava entrando no banheiro.
Lindo. E pelado.
Gostaria de parecer mais com ele quando acordava. A réplica em tamanho real de um Deus do Olimpo, o que significava dizer: um homem perfeito para caralho, mesmo com a cara de sono.
— Bom dia — ele se achegou pelas minhas costas, e murmurei um cumprimento enquanto me abaixava novamente na pia para cuspir.
Imediatamente, senti os dedos deslizando levemente pela minha cintura e a pressão na minha bunda ao mesmo tempo que recebia um beijo no ombro.
Sério? Era tão simples.
— Esse é o seu duro matinal ou o seu duro de estou pronto pra outra? — Perguntei, sem fazer a menor ideia das horas. Era cedo, com certeza, e pensar nisso me fez debilmente mover um pouco do quadril. A ideia de sexo matinal mexia mais comigo do que com ele.
Jaehyun deu uma risada, inclinando-se para colocar as duas mãos apoiadas na pia em volta de mim, prendendo-me em uma cerca de braços.
— Não faz diferença quando o assunto é você. Aliás, sexo anal de aniversário? — soprou ele no meu ouvido, roçando-se ainda mais, deixando meu corpo recém desperto em uma nova infusão de relaxamento — Você é um gênio ou só é safada mesmo?
— Não foi seu presente — senti que ele se aproximou mais, e automaticamente empinei a bunda por debaixo da camisa. Automaticamente a respiração já falhava — Foi uma lembrancinha.
O sorriso dele cintilou através do espelho. Senti todas as partes de mim se contraírem e voltarem. Ele se apertou no meu corpo, e seu dedo foi lentamente por entre minhas pernas, acariciando lentamente meu clitóris, promovendo a queda da minha pressão e da minha dignidade quando, em apenas 1 minuto, já estava molhada, vergonhosamente molhada entre seus dedos, que continuavam a tortura do carinho bem ali.
A respiração dele na minha nuca me fazia fechar os olhos e desejar. Parecia que não tínhamos trepado por uma noite inteira, e eu queria que ele aproveitasse que estava sem nada e se livrasse daquele pedaço de pano ridículo que era muito fácil de tirar do meu corpo.
Sem esperar uma atitude, tirei eu mesma, deixando a camisa cair aos meus pés, começando muito rápido a ficar desesperada.
— Eu pedi café da manhã — avisou ele, com um certo tom de repreensão enquanto avaliava meu torso igualmente nu. Movi o quadril por cima de seus dedos idiotas que continuavam brincando comigo, ardendo tudo em mim.
— Sou melhor do que o café, Jeong — trinquei os dentes, jogando um aviso claro de que precisava do que quer que ele estivesse tentando fazer. Mordendo o lábio, ele juntou mais um dedo à farra na minha boceta, e senti os dois se enterrando para dentro de mim em um gancho surpreendente, me arrancando um gemido sôfrego, algo que já me preparava para jogar a outro universo.
— É até injusto comparar, meu bem.
Então, sem eu precisar perguntar a que horas ele pretendia começar, tive o torso virado para ele, e recebi um beijo de tirar o fôlego, um beijo que terminou de me arruinar por completo.
— Temos cerca de 10 minutos até alguém nos interromper.
— Cancela a porcaria do café — gemi entre seus lábios. Jaehyun os mordeu.
— Não. Você precisa comer, não comeu nada desde ontem.
Você precisa me comer — pontuei, movendo o quadril por cima de seu dedo ainda dentro de mim. Jaehyun deu um sorriso perverso, e senti que eles se afundaram ainda mais.
— Preciso. Mas não quero que você desmaie de exaustão — ele me deu mais um beijo forte e, de repente, tive o corpo impulsionado para cima da pia, um corpo que mal parecia meu, completamente mole e inerte como um castelo de areia — Por isso vou te deixar bem segura enquanto termino de acordar.
Não entendi o que ele quis dizer, e acho que ainda estava desnorteada quando senti as pernas sendo puxadas para frente e, em um piscar de olhos, eu tinha sua língua insana me invadindo de novo, junto com os dois dedos rápidos.
Meus neurônios entraram em curto circuito. Gritei no primeiro momento em que ele chupou meu clitóris, fazendo movimentos de vai e vem que eram rápidos demais para que o meu cérebro assimilasse. Afundei os dedos no seu cabelo, pendendo a cabeça para trás enquanto não tinha capacidade cognitiva de frear os gritos, de pausar a queimação na pele.
E de repente, totalmente de propósito, seus dedos cessaram até sua língua começar a se mexer preguiçosamente dentro de mim, tentando abrandar a porra do incêndio que ele tinha iniciado, sorvendo o ar e meu cheiro da região como se fosse inebriante, causando um arrepio por toda a minha coluna.
— Seu imprestável — grunhi com raiva, choramingando, apertando mais seus cabelos enquanto me mexi descompensadamente embaixo de sua língua. Senti seus braços estabilizarem minha cintura de novo, e sua voz veio banhada de tanta sensualidade que não sei como não definhei.
— Quietinha, amor. Só temos mais 7 minutos.
Achei que minha alma me abandonaria para sempre quando ele voltou a lamber com mais agilidade, concentrando-se no clitóris, chupando e mordiscando enquanto me deixava sem saída. Não conseguia permanecer quieta. Não conseguia ficar parada. Todo o meu corpo ardia em chamas, todo o meu ventre se apertava e me sentia mais acordada do que nunca, me alimentando de desespero antes da porra do café.
Quando ele agarrou meu mamilo, tive certeza que não conseguiria pronunciar meu próprio nome caso perguntassem. A língua violenta raspava e levava tudo de mim, me deixando apenas com fogo, fogo e agonia. Chamei seu nome tantas vezes que perdi as contas, tensionei os músculos cada vez mais à medida que algo me devorava por dentro, e jurei que minha voz ficou aguda quando repeti um “eu te odeiamo” quando finalmente os choques elétricos percorrendo meu corpo se juntaram todos de uma única vez e explodiram, escapando na forma de um gemido seco e me dando espasmos tão fortes que precisei apoiar as costas no espelho.
Jaehyun continuou me chupando por quase um minuto inteiro até erguer as costas e passar as costas das mãos preguiçosamente nos lábios lambuzados de mim, me encarando de forma intensa e predatória, algo que me deixava presa em outro mundo e propensa a ficar de pernas abertas pra ele por 1 semana.
— Isso foi… — comecei, ofegante, mas acho que eu não precisava dizer como foi. Ainda estava vendo pontos pretos e brancos, caramba! Mal conseguia me lembrar de onde estava.
Puxei-o para um beijo ao mesmo tempo que ele se aproximou, tomando a minha boca com uma fome escaldante, devorando a minha língua com um desejo desenfreado, expondo a parte mais rústica e selvagem que só eu tinha acesso.
— Meu Deus, como senti sua falta — ele arfou por entre as poucas passagens de oxigênio. — De você inteira, em cada detalhe. Porra, eu te amo demais.
— Também te amo. Muito, muito — o beijei com voracidade. Quando ele estava prestes a abandonar a ideia de esperar e fazer o que seu pau totalmente ereto em minha direção queria fazer, as batidas na porta ressoaram como o som mais inconveniente do planeta.
— Serviço de quarto — disse a voz horrorosa. Fiz uma careta pidona e Jaehyun me soltou imediatamente, como se estivesse saindo de um transe.
— Não olha assim pra mim — ele esquadrinhou meus seios expostos, descendo até parar no meu par de pernas abertas. Fracas, mas ainda abertas, e ainda úmidas de tesão e da sua língua. Era nítido o fogo ardendo nos seus olhos — Infelizmente, um orgasmo não vai encher sua barriga. Fica aqui por um minuto.
Ele se aproximou de uma gaveta embaixo da pia e pegou um roupão, levantando-se rapidamente para puxar meu queixo para um beijo forte, porém rápido demais para o meu gosto.
— Vamos tomar esse café e aí você vai empinar essa bunda pra mim naquela cama, e depois vai fazer a mesma coisa na banheira, até que eu esqueça que as duas últimas semanas existiram.
Não soube o que dizer. Apenas assenti a cabeça com força, perdendo o foco com aquele sorriso malicioso e com seus olhos, que desapareceram para o quarto um segundo depois.
Respirei fundo até saltar da pia, puxando um outro roupão idêntico da gaveta, contentando-me com a espera e aceitando a fome voraz que tomou meu estômago naquele mesmo instante, como se Jaehyun tivesse feito toda aquela algazarra comigo porque sabia que despertaria meu corpo de vez.
Ouvi a voz dele em uma conversa breve com a camareira e me virei novamente para o espelho, mas logo escutei a vibração do meu telefone, uma e duas vezes seguidas, recebendo mensagens, e imaginei que Felicity tinha finalmente conseguido pensar em algum argumento.
Meu coração parou quando vi o número de Oliver Hammer.
Como seria a dispensa de um dos reis dos conglomerados da economia? Ele me humilharia com palavras boazinhas ou não teria escrúpulos no vocabulário, garantindo assim que eu nunca mais sequer pensasse em tentar de novo?
Estava tudo bem. Eu tinha fracassado e assumia isso, porque absolutamente nada poderia estragar meu dia de hoje.
Abri a mensagem enquanto ele ainda digitava.

Bom dia, senhorita .

Para ser breve, meu tempo nesse país foi estendido mais uma vez. Recebemos um e-mail importante no primeiro horário do dia e parece que temos uma reunião marcada com o senhor Patinkin na próxima semana às 14 horas, no prédio da SM Entertainment.

Não sei como conseguiu, e sinceramente, não é o que importa. Provavelmente serão várias horas de reunião de negociações até conseguirmos algo grande, mas mencionar o pico baixo de vendas como precedente da grande aquisição foi genial. Você definitivamente se mostrou alguém fora da palavra razoável.

Verifique a sua conta. E bem-vinda à selva do Home Broker.”


Apoiei os ombros na parede, levando a mão à boca quando abri o aplicativo do banco. 100 milhões.
Oliver Hammer tinha triplicado o acordo como se estivesse me dando 20 dólares.
Segurei o grito na garganta, mas os pés deram pulinhos animados. É isso, eu estava dentro! Eu estava dentro! Embarquei numa catapulta que me lançaria direto para a plaquinha de CEO. Eu estava chegando perto! Oliver Hammer falaria de mim para os seus colegas! seria um nome dito por Oliver Hammer, abriria sua empresa em menos de 2 meses, seria…
— Você conseguiu, não é?
A voz de Jaehyun me deu um susto inesperado, e me virei ainda animada para a porta, esquecendo-me por um segundo que ele sabia de tudo e que tinha sido uma grande ajuda no processo.
Me joguei em seu abraço sem pestanejar, tão forte que tirou meus pés do chão.
— Consegui! Graças a você, eu…
— De jeito nenhum, . A única coisa que fiz foi te dar tempo — ele acariciou minha bochecha — Nick é um cara muito bem decidido, que sabe da sua posição e que não hesita em dispensar conversas que não está afim. Se não estivesse interessado no que você dizia, não teria te mantido por perto. E talvez testado um pouco a sua paciência.
Ri pelo nariz, balançando a cabeça em descrença.
— Obrigada, de qualquer forma. Por não ter ficado bravo e por não ter ido embora.
— Eu prometo que não vou ficar chateado quando a minha namorada me der um bolo pra seduzir outro homem por dinheiro — ele fez uma continência ridícula e dei um soco em seu ombro, rindo com ele. Jaehyun entrelaçou nossos dedos e começou a me puxar de volta para o quarto.
— Vem, vamos comer. A omelete não é igual à do Blind Spot, mas nós…
— Puta merda, o Blind Spot — ofeguei, soltando nossos dedos automaticamente — Jaehyun, seu presente! Deixei o seu presente lá!
Ele franziu o cenho.
— Como deixou o presente lá?
— Era pra ser entregue junto com o bolo. De chocolate com ameixa, seu favorito. Também tinham passagens para Seongsan Ilchulbong que deveríamos ter feito check in há 2 horas. Como eu não apareci, eles não devem ter achado uma boa ideia. Merda — grunhi novamente, voltando a sentir toda a raiva de mim mesma por toda a situação. Jaehyun se aproximou de novo, pegando meu rosto entre as mãos.
— O presente era tão legal assim? Porque já fiquei imensamente feliz com a sua lembrancinha — seu rosto se abaixou para me dar um selinho, mas resmunguei um “idiota” e o empurrei com o ombro, fazendo-o rir — Tá bom, o que era o presente? Agora tenho o direito de saber, já que a data passou.
Olhei para ele com cautela. Não pretendia contar pra ele antes que visse, e não tinha parado para pensar em como seria sua reação, mas algo me dizia que meus medos não deveriam existir diante da minha relação com Jaehyun.
— Era uma cópia da chave do meu apartamento.
Ele piscou os olhos rapidamente enquanto a boca se entreabria.
— Isso é…
— Não, não estou pedindo pra você ir morar comigo, Jeong, tenho plena certeza de que ainda não estou pronta pra isso, por mais que eu não consiga imaginar um futuro sem dormir e acordar com você, ou te ver cozinhando o café da manhã pelado enquanto conversamos sobre a vida — suspirei, abaixando suas mãos lentamente — Mas… Não tenho mais portas ou fechaduras a manter com você. Quero que você entre por elas, tenha livre acesso, se sinta em casa e traga as suas coisas. Aos poucos, no nosso tempo. Amo a minha vida e amo a sua vida, mas quero passar a construir e amar uma vida nossa. Você com seu otimismo e confiança inabaláveis massacrando os meus medos e as minhas inseguranças frágeis. Eu quero isso. Quero você.
Jaehyun me lançou um sorriso lindo, um que eu sabia que era exclusivo, que acompanhava as laterais de seus olhos e a inflamação de suas pupilas.
— Então você quer que eu coloque uma escova de dentes no seu banheiro?
— Uma escova de dentes parece um ótimo começo.
Fui beijada mais uma vez com toda a força de seus braços, apertando meu corpo dentro daquele roupão que se repente se tornou grosso e quente e sufocante, maluco para ser liberto, impedindo que meus braços pegassem em seu pescoço como deveria, ou que eu sentisse sua possível nova ereção nascendo entre as coxas.
Jaehyun se forçou a se afastar, segurando uma expiração ao dizer em voz rouca:
— Você tem sorte de estar com fome.
— Eu não tenho sorte — retruquei, levantando os pés para um selinho rápido — Só com você. Você é minha sorte.
E era a única que eu precisava.

*Blockchain → é um sistema de livros de registros compartilhável (sistema de banco de dados) que facilita o processo de gravação de transações e rastreamento de ativos em uma rede de negócios.
*Market cap → “capitalização de mercado”, o quanto vale todas as ações de uma empresa.
*Home Broker → plataforma online utilizada para investir em ações. Conecta o investidor às empresas que estão oferecendo ações no mercado.
*I.P.O → é a estreita pública de uma empresa no mercado de ações, significa oferta pública inicial.
*Kospi → índice da bolsa de valores sul-coreana.


FIM!


N/A FIXA 📌: Obrigada por ter lido, até a próxima :)
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