Capítulo Único
Cedrico Diggory nunca foi a pessoa mais sensitiva do mundo. A propósito, esse cargo sempre foi ocupado por sua irmã caçula, Juliane. Ele tentava ao máximo entender e não menosprezar esse lado da irmã, embora nunca tivesse de fato acreditado em tais coisas.
Para ele não era como se seu corpo ou o próprio universo dessem sinais enigmáticos e completamente subjetivos de coisas boas ou ruins que iriam acontecer em um futuro próximo. Cedrico acreditava que o universo tinha coisas demais para se encarregar, então as coisas só aconteciam.
Sem avisos ou preparações, simplesmente aconteciam quando tinham que acontecer.
Isso é, até aquela manhã a caminho do início de seu quarto ano letivo em Hogwarts, onde ele vira pela primeira vez seus cabelos rosados e levemente bagunçados, pela provável corrida até o trem, se tornarem loiros, seu sorriso tímido se abrir e sua tagarelice sem fim se iniciar. No momento que Cedrico Diggory repousou seus olhos em ele soube que sua vida havia mudado.
Ele não sabia dizer se havia simplesmente acontecido, ou se tinha sentido aquilo. Ele só soube.
Desde o modo como ela falava até o modo que ela se movia era único. E ele? Ah, ele havia se tornado um satélite em torno de seu planeta.
— Licença, posso ficar aqui com vocês? — disse assim que surgiu na porta da cabine. Seu sorriso era tímido, seu sotaque melodioso e suas mãos não paravam quietas demonstrando claramente seu nervosismo — É que… Bem, todas as cabines estão cheias…
— É que estamos esperando nossos… — Juliane começou, mas fora interrompida prontamente pelo irmão, que lhe lançou um olhar de censura.
— Claro!
A colorida pareceu perceber, retraindo os ombros envergonhada.
— Olha eu não quero atrapalhar… Se estão guardando os lugares eu procuro outro sem problemas.
— Estamos guardando sim, mas creio que ainda assim não haverá problemas se você ficar. Tem espaço para todos… — Hermione sorriu, dando uma cotovelada discreta em Juliane, que desmanchou a carranca e sorriu para a colorida.
— Não tem problema algum… — Ju cerrou os cílios sem saber como chamá-la, e então a garota notou que ninguém ali sabia seu nome, abrindo a boca e soltando um risinho sem graça.
— … Sou aluna nova. Mas por favor, me chamem de . Acho meu nome comprido demais e bem, parece que ‘tô levando uma bronca da minha mãe, sabe… — ela riu e logo Cedrico a acompanhou. Juliane e Hermione apenas assistiam a cena, trocando olhares engraçados.
— Bem, esses são Cedrico, meu irmão e Hermione, minha amiga. — Ju apontou para ambos e então para si mesma. — E eu sou Juliane, mas pode me chamar de Ju.
— me desculpa a intromissão, mas não pude deixar de notar que você não parece uma aluna primeiranista… — Hermione comentou e então se sentou ao seu lado.
— Ah sim, realmente. Estou no quarto ano. Fui transferida, vim de Beauxbatons.
— E seus cabelos…? — começou Cedrico, sentindo-se envergonhado por ser tão invasivo, mas a curiosidade era tão grande que fora inevitável.
— Também tem isso… — deu de ombros com um sorriso para o lufano e então seu cabelo assumiu um tom loiro bem claro, quase platinado. — Sou metamorfomaga.
— Puxa! — ele exclamou, não conseguindo disfarçar o tom encantado. Em toda sua vida havia conhecido apenas uma pessoa assim: a veterana Ninfadora Tonks, com quem havia trocado apenas algumas palavras por pura educação. — Deve ser incrível!
retesou um pouco a postura, sem saber ao certo como falar aquilo sem soar grosseira. Na verdade estava surpresa, nunca alguém havia se dirigido a sua condição de forma tão gentil antes. Nem mesmo seus pais ou seu irmão consideravam aquilo algo incrível, era mais algo como um empecilho, um fardo na idealização de família perfeita que eles tinham.
Ela mesma nunca havia parado para pensar naquilo como algo positivo a respeito de si mesma.
— As pessoas não costumam lidar bem com o que é diferente. — deu de ombros, tentando sorrir, afinal não queria que aquilo soasse como uma resposta áspera.
— Bem, as pessoas costumam ser tolas. — Diggory sorriu abertamente.
assentiu perguntando a si mesma se era possível alguém sorrir tanto sem sentir dor no maxilar nem parecer algo forçado como o lufano fazia, mas ela decidiu deixar de lado suas observações e voltar sua atenção para a paisagem que começava a se mover enquanto aproveitava o próprio silêncio. Era raro que alguém tagarela como ela se calasse, então seus próprios ouvidos — cansados demais de ouvir a própria voz — também agradeciam o momento de paz.
— Você acha que irá para qual casa? — questionou Cedrico.
A garota virou-se para ele, confusa por não ter prestado atenção. Diggory repetiu a pergunta, pacientemente, e então ela murmurou um “ah”.
Tradicionais que eram, a opção dos sonhos da família seria a Sonserina, mas já estava completamente adaptada ao papel de decepção da família, ela tinha certeza de que não tinha nada a ver com a casa das cobras.
— Eu não sei… — ela deu de ombros e respondeu sincera.
— Qual é, todo mundo tem um palpite.
ponderou por alguns segundos antes de sorrir.
— Sei lá, Grifinória talvez?
Cedrico fez uma careta, que a fez arquear a sobrancelha confusa.
— Grifinória não é uma opção válida, .
— Ué, por que não?
— Todo mundo que não conhece nada de Hogwarts fala que vai para a Grifinória. É um chute seguro! — explicou Cedrico enquanto a assistia se tornando cada vez mais confusa.
— Então qual é o seu palpite, senhor Diggory, ou devo chamá-lo de chapéu seletor?
Ele observou a expressão desafiadora dela e fingiu pensar com o indicador apoiado no queixo.
— Lufa-lufa.
— Só por ser a sua casa?
Cedrico riu alto. Ele tinha certeza de que se outra garota dissesse aquilo ele cavaria um buraco para se esconder de vergonha por ter sido mal interpretado. Mas não com ela. tinha algo que fazia as pessoas se sentirem confortáveis, íntimas dela. E de certo modo, ele não se importaria nem um pouco se ela entendesse errado, aquilo até facilitaria as coisas na verdade.
— Também, mas principalmente pelo que você mostrou ser nesses poucos minutos.
— Você tem alguma capacidade de ler as pessoas ou algo assim? — ela tombou a cabeça para o lado, analisando-o.
— Você costuma perguntar tanto assim?
— Sim e você… Costuma fugir das perguntas assim?
— Não, eu não fujo. E na verdade não, você é a primeira pessoa na vida que consigo ler com facilidade. — Cedrico disse simplesmente e sentiu o estômago gelar. Ela pigarreou e franziu o cenho o analisando.
— Mas você não tem certeza, pode ser um charlatão.
Cedrico passou a analisá-la também.
— Prometo que eu nunca a decepcionaria, . Tenho certeza de que será uma lufana no final deste dia.
A maneira que ele sorriu após dizer isso foi irrefutável, como se qualquer coisa que ela dissesse depois fosse completamente tolo. Então ela deu de ombros, desviando o olhar e coçando a nuca enquanto escondia um sorriso discreto.
Horas mais tarde, quando o chapéu apenas confirmou a tese de Diggory e ela se dirigiu à mesa dos texugos, simplesmente soube que Cedrico Diggory levaria a promessa que fizera a sério.
Ela só não sabia se aquilo a aliviava ou a assustava, mas era bom ter alguém legal por perto, de qualquer modo.
O dia seguinte iniciou-se com um solzinho tímido invadindo as frestas das persianas, mesmo diante do outono já impiedoso que se iniciava trazendo os ventos gélidos e o clima seco. abriu os olhos e sentiu a animação perpassar por cada parte de seu corpo.
Se sentia péssima pela conversa que tivera com seus pais antes de embarcar na plataforma. Era inacreditável que eles tivessem desistido do pequeno — mas realmente promissor — negócio deles e de uma vida pacata e confortável em Paris para vir a Londres e se tornarem respectivamente mordomo e governanta da casa dos Malfoy. sabia que no fundo seus pais eram pessoas boas em busca de um futuro bom para ela e seu irmão, mas a sede por poder sempre os cegava e ela não podia negar que aquilo a assustava muito.
Nova demais para ser ouvida, a garota apenas seguia os mais velhos por onde quer que optassem ir. Torcendo, com todo o seu ser, para que eles não se metessem em problemas maiores. Problemas esses que ela sentia que os Malfoy exalavam a quilômetros.
Mas ela estava animada. Gostava de recomeços e estava prestes a viver um com toda a intensidade e magnitude que a energia do sol lhe proporcionava naquele início de manhã. Seus cabelos loiros se tornaram rosa, pela determinação e positividade que a inspiravam. não deixaria que seus problemas familiares estragassem seu primeiro dia em Hogwarts.
Ainda energizada, a garota se vestiu e seguiu pelos corredores confusos. Ela não lembrava que era tão difícil assim chegar ao Salão Principal, mas também não era como se ela tivesse prestado atenção no que o monitor que apresentava a escola aos novatos dizia no dia anterior. Estava esgotada mental e fisicamente depois da longa viagem, então tudo que ela fez foi, basicamente, seguir o fluxo.
Mas não se aborreceu com aquilo. Restava tempo e certamente alguma alma apareceria por ali, ela só tinha que disfarçar e seguir o primeiro que surgisse, visto que o primeiro destino óbvio de qualquer um era o café da manhã.
— Não deu tudo errado. Eu não estou perdida. Alguma pessoa vai aparecer e eu vou simplesmente fingir que não estou seguindo-a, é bem simples. — disse a si mesma. Não era um plano perfeito, mas ela não era a melhor em planejar absolutamente nada, então aquilo devia bastar.
— Ou você pode apenas me acompanhar.
enrijeceu a postura, mas seus cabelos a denunciaram, assim como seu rosto completamente rubro quando a voz de Cedrico Diggory soou atrás dela.
— Hm, oi… O que disse? — ela se virou sorrindo tímida.
— Eu disse que você pode me acompanhar — Cedrico a olhou prestativo, sabia como era difícil se acostumar com os corredores de Hogwarts. — Não é incomum se perder nos primeiros dias.
— Eu não estava perdida. — tentou disfarçar com um tom de quem realmente sabia o que estava falando enquanto Cedrico arqueou uma das sobrancelhas e observou a garota voltando a andar na direção contrária da que pretendia.
— Certo, então você sabe que o Salão Principal é para o outro lado, né? — ele sorriu, começando a ir na direção certa.
— Sei sim… Eu só queria pegar um atalho! — o tom de agora era brincalhão.
Os passos dela podiam ser ouvidos por Cedrico, que caminhava um pouco mais a frente, sorrindo.
— Sei…
O Salão já estava cheio, por incrível que pareça. Assim que se sentaram, a professora McGonagall passou distribuindo os horários. não pode analisar sua grade por muito tempo, visto que logo as corujas invadiram o ambiente deixando cartas e outros objetos para seus respectivos donos. Seus olhos brilharam em expectativa, mas ela nem conseguiu fingir surpresa quando não recebeu nada. Mais uma vez a garota fora impedida de levar seus pensamentos adiante, visto que dessa vez uma voz feminina, vinda de um berrador na mesa da Grifinória, descia a lenha naquele que julgava ser seu filho.
Aquilo fez o pedaço de pão descer seco por sua garganta. Pensando melhor, era melhor não ter recebido nada vindo dos pais mesmo… Suspeitava que sua mãe fizesse pior quando soubesse que, mais uma vez, ela tinha destruído seus planos perfeitos.
Mesmo diante a ansiedade que aquele fato lhe causava, sorriu fraco e tornou a comer. Sabia que seus cabelos haviam mudado de cor por conta dos olhares e cochichos que repentinamente se voltaram para ela, de repente os pães não pareciam mais tão apetitosos.
— Podemos ir? — se virou para Cedrico, que terminava de beber seu suco. Ela parecia acelerada, nervosa, visto que ela batia os dedos na mesa e não conseguia se manter parada.
— Aonde? — ele perguntou devagar, em contrapartida.
— Pra aula de poções, oras. — ela apontou para o pedaço de pergaminho que havia recebido com os horários. — Já desistiu de ser meu guia?
O sorriso dela automática e inexplicavelmente o fez sorrir também. E aquilo bastou para que o lufano soubesse que seria extremamente difícil não gostar dela.
As semanas se passaram rapidamente e não demorou para que se adaptasse à nova rotina. As aulas eram cansativas e as matérias difíceis, mas nada que o tempo não resolvesse. Estudar não era lá uma coisa que ela costumava fazer com frequência por conta de sua hiperatividade, para a garota se concentrar em uma coisa só era um tremendo desperdício de intelecto e de oportunidades. Afinal, havia tantas coisas lindas a serem vistas através das janelas, tantos detalhes únicos e especiais esquecidos pelos olhos humanos unicamente por estes estarem presos a livros. Soava quase como um crime.
De qualquer forma, mesmo que a rotina já não a assustasse mais, as pessoas faziam isso em dobro. Por que as pessoas em Hogwarts eram daquela forma? Algumas eram fúteis demais, outras grossas demais, outras simplesmente pareciam loucas, mas não sentia que estava em posição de julgar ninguém. Na verdade, era simplesmente esquisito, principalmente para alguém que adorava conversar e fazer amizades como ela, que as pessoas não retribuíssem isso com o mínimo esperado: educação.
Mas havia sim feito amigos legais e eles faziam com que todo o resto parecesse insignificante. Os segundanistas Charlotte Schiavone, Neville Longbottom e Juliane Diggory, com quem costumava passar parte das tardes na biblioteca ou no gramado. Eram pessoas que renovavam sua energia, era impossível não rir ou se sentir leve perto deles. De seu ano, os únicos que realmente conversavam com ela eram Cedrico e seus amigos, Byron Cadwallader e Jadrien Summers. Esses inclusive, eram os responsáveis por fazer com que ela estivesse de pé tão cedo em um sábado tão frio como aquele.
— Você vai nos agradecer mais tarde, . — Bible disse quando a loira o lançou um olhar fulminante. Seus cabelos se tornaram vermelhos, era completamente contra qualquer tipo de compromisso antes das onze da manhã em dias de final de semana.
— O teste vai ser rápido. — prometeu Cedrico, bagunçando os cabelos da amiga — O capitão me disse que o teste da Sonserina será logo depois do nosso, então não vai demorar.
— Logo você vai poder voltar a dormir. — completou Summers, feliz demais para o gosto da garota — Prometemos sumir do seu campo de visão até amanhã!
olhou para os três, que sorriram cúmplices, e bufou dando-se por vencida. Seria legal fazer parte do time de quadribol, então ela sorriu entrando no clima animado dos amigos.
— Eu odeio vocês. — ela apontou para Jadrien e Bibble e então para Cedrico, apertando os olhos — Principalmente você, por arrastar um fã clube por onde quer que ande.
Cedrico desviou o olhar dela para a arquibancada, onde algumas garotas estavam e então tornou a olhar para a amiga, rindo.
— Está com ciúmes, ?
Ela gargalhou e ele não pôde deixar de esperar que seus cabelos se tornassem rosados ou arroxeados, mas pelo contrário, esses começavam a tornar ao tom claro de loiro mais uma vez.
— Claro. — ela retrucou debochada — Não tem nada a ver com o fato delas me odiarem só pelo fato de eu andar com você, muito menos com a possibilidade de passar vergonha na frente dessa gente toda.
— Você vai se sair bem, . — Diggory tentou tranquilizá-la — E essa gente toda não tem nada a ver comigo!
, Byron e Jadrien se entreolharam.
— Ah, tem sim… — Summers começou, mas recebeu um olhar nada gentil do amigo, que o fez pigarrear e recalcular a fala. — Mas o que importa é que vamos sair daqui hoje com uma artilheira nova no time!
A garota bufou mais uma vez, nervosa por toda a expectativa que os amigos depositavam nela, mas seguiu caminhando pelo gramado sob os olhares atentos e raivosos das Diggory Stans.
O teste naquele ano seria basicamente uma partida entre os candidatos às vagas disponíveis, enquanto os titulares escolheriam os melhores por meio de votação. Os três garotos seguiram até as arquibancadas enquanto prendia os cabelos azuis em um coque. “Ela está nervosa”, Cedrico ponderou.
Os dez candidatos se posicionaram em suas marcações e antes que o apito soasse, lançou um último olhar para a arquibancada, onde encontrou os amigos assobiando e torcendo por ela e Cedrico lhe oferecendo um sorriso terno. Ele acenou com a cabeça e ela repetiu o gesto, havia entendido e aquilo fez seus cabelos se tornarem rosados, demonstrando a empolgação corrente em suas veias. Tudo ficaria bem.
Cedrico imaginou que fosse boa, mas não imaginava que ela era rápida como uma bala graças a leveza com que comandava a vassoura. Ela marcou três dos cinco gols que foram feitos pelo time de candidatos vencedor. Quando a lufana pousou no chão, a decisão do time era unânime: era a mais nova artilheira da Lufa-Lufa.
— Eu disseeeeeeeee! — Summers correu até ela primeiro, fazendo uma dancinha animada e dando um toque em sua mão.
— Bem-vinda ao time, ! — Bibble a cutucou com o cotovelo sorrindo. Ela só conseguia sorrir, até o momento que Cedrico parou em sua frente e ambos pareceram ficar horas ali, se encarando. achava que seria impossível encontrar na terra um tom de azul tão lindo quanto o dos olhos do amigo. Ela parou de analisar a beleza de Cedrico quando sentiu o ar faltar em seus pulmões assim que o garoto a envolveu pela cintura com os braços, erguendo-a a centímetros do chão em um abraço apertado. Não parecia tímido, pelo contrário, parecia que não havia mais ninguém ali.
— Me coloca no chão, Diggory! — ela murmurou tentando parecer brava, embora quisesse ficar ali em seus braços por mais um tempo. Ele obedeceu, deixando-a novamente no chão, mas definitivamente não mais longe dele do que antes, o que a fez engolir seco com a proximidade. E então, a manifestação que Cedrico tanto queria ver finalmente acontecera, os cabelos de mudaram para um tom de lilás bem claro. — Suas fãs vão me trancar no banheiro com a murta que geme!
— Pelo menos saberei onde procurar se você sumir de repente. — ele deu de ombros, sorrindo e levou um empurrão em resposta.
— Eu não sabia que seus pais tinham dinheiro para comprar uma vassoura decente, … — franziu o cenho, não reconheceu a voz de imediato, então virou encontrando Draco Malfoy e mais alguns amigos da Sonserina rindo dela.
— Não é pra mim que você tem que dizer isso. — tentou parecer calma, embora sua vontade fosse esfregar a cara daquela criança mimada na lama. — Quem cuida do salário deles são os seus pais, se acha que eles pagam mal pode sugerir um aumento… Meus pais adorariam!
— Seus pais adorariam até beijar o chão que os meus pisam, se tivessem a oportunidade. — o garoto debochou com um sorriso maldoso, chegou a dar um passo na direção dele com a mão fechada em punho, mas antes de que o sonserino covarde corresse ou que Cedrico a segurasse, ela abaixou a mão por conta própria, mesmo que ainda estivesse fechada.
Seus cabelos pareciam chamas flamejantes de um fogo vermelho e intenso e seus olhos brilhavam com as lágrimas contidas, afinal, chorar de ódio e vergonha era a única vontade que tinha. Draco estava certo, mas ela não choraria na frente dele nem se sua vida dependesse daquilo, então apenas se desvencilhou das mãos de Cedrico e passou pelos sonserinos esbarrando no loiro que provocara tudo aquilo com raiva.
E então, quando saiu dali e ouviu risadas que certamente eram sobre sua demonstração de fraqueza, correu. Para longe daquelas pessoas, para longe do ideal ridículo de sua família, para longe de si mesma. Não queria ter que pensar.
Ela não sabia exatamente para onde estava indo, mas aquilo era o que menos importava. Seu coração parecia bater na altura da garganta, o vento parecia muito mais forte agora que seus cabelos haviam se soltado e ricocheteavam por seu rosto. Quando sentiu que seu pulmão poderia facilmente ser expelido graças à exaustão, ela parou na parte do gramado próxima ao lago e apoiou as mãos nas coxas para tentar se recuperar. Os ruídos da busca por ar foram aos poucos tornando-se soluços e, quando a lufana percebeu, já estava sentada na grama chorando. Era um choro alto, exausto, como se ela quisesse jogar fora tudo que lhe afligia.
— ? — a voz ofegante de Cedrico fez com que ela se virasse para olhá-lo e logo em seguida escondesse o rosto. — Se quiser ficar sozinha eu vou entender…
passou a mão pela grama curta, encontrando uma pequena pedra e passando a brincar com ela entre os dedos. Ela assentiu silenciosamente e Diggory se sentou ao seu lado.
— Não se aborreça com o que Draco diz. — começou Cedrico depois de um período longo e confortável de silêncio. — Ele é só um garoto mimado que não tem noção do que diz.
— Não é como se ele tivesse dito algo errado… Meus pais realmente largaram uma vida confortável em Paris para passar por humilhações naquela mansão. Eles achavam que seriam exaltados e valorizados no mundo bruxo, que os Malfoys se tornariam seus “amigos”, mas é claro que Draco teve com quem aprender a ser tão arrogante. E ainda assim eles ainda idolatram aqueles que tanto os humilham.
riu sarcasticamente e usou a manga do suéter que usava para secar as lágrimas.
— A verdade é que eu não consigo não pensar que essa ambição dos meus pais pode ser perigosa, sabe?
— E não é como se eles ouvissem o que você diz… — ele deduziu recebendo um aceno de cabeça como resposta.
— Exato, segundo eles sou “nova demais para opinar nisso”. — ela revirou os olhos.
— Mas você não pode deixar que as ações dos seus pais te impactem. Você não é igual a eles… É dolorido, eu posso imaginar, mas você é uma pessoa incrível com um coração muito bom. As pessoas conseguem ver isso!
arremessou a pedra que segurava no lago, sem olhar para o amigo.
— As pessoas daqui não estão interessadas em ver quem eu sou, se limitam aos comentários ridículos e fazem suposições em cima disso. Isso tem me deixado cansada, sabe? — ela confessou com pesar — Não consigo mudar isso e é algo que me dói, sempre fui recebida tão bem em Beauxbatons, sou uma pessoa que gosta de fazer amizades… Foi um choque perceber que aqui as pessoas já decidiram quem eu sou sem ao menos me ouvir dizendo uma palavra.
— Muitas pessoas daqui não valem a pena, . Não vale a pena perder seu tempo com a maioria delas. — ele sorriu sincero e foi como se ela sentisse todo seu corpo se aquecer — Já parou para pensar que a maneira que pensa sobre si mesma passa a imagem que as pessoas têm de você?
A lufana retesou os ombros, sem entender.
— Você é uma pessoa interessante e todo mundo tem essa perspectiva só ao te olhar. As pessoas têm curiosidade, são instigadas e você faz o quê? Fica sem graça, muda de assunto, evita falar sobre… Isso distancia , não só as pessoas, mas te distancia de você mesma.
— É difícil ouvir coisas assim, Cedrico. Ainda mais tendo crescido com essa ideia… De que eu era anormal, esquisita, um fardo. — ela rebateu com amargura — Meus pais saíam de casa escondidos para festas e eventos, porque para eles a aparência é tudo que importa, ter alguém como eu por perto é uma vergonha, quebra a unidade deles, sai do padrão de perfeição, como o pontinho fora da curva.
— O que seus pais acham de você não precisa definir a pessoa que você é, . Você tem que exercitar seu amor-próprio e sua autoconfiança… — Cedrico aconselhou com um sorriso compreensível. — Isso também vai refletir no modo que as pessoas a enxergam. Não é um processo fácil, mas só de tentar é um passo enorme. É algo que todo mundo tem que trabalhar em si mesmo…
— Você já pensou em se tornar psicólogo?
— O que é isso?
— Uma espécie de ouvinte e conselheiro dos trouxas. — aquilo a fez sorrir.
— Não… Na verdade eu não sou bom em dar conselhos. — Cedrico deu de ombros com um meio sorriso nos lábios.
— Você é ótimo nisso e só a minha opinião importa!
Cedrico ergueu as mãos em rendição, rindo.
— Voltarei aqui mais vezes para pensar… Me sinto bem melhor agora. — ela inspirou o ar fresco enquanto Cedrico a olhava admirado.
— Talvez esse seja nosso lugar… — ele pensou ter dito mentalmente, mas havia de fato verbalizado aquilo. Ele arregalou os olhos e esperou que desse risada ou desconversasse.
— Gostei disso… Esse é o nosso lugar então. — apenas sorriu, deitou a cabeça no ombro do amigo e disse como se fosse algo bem simples, na verdade. E então eles aproveitaram para ficar ali contemplando o silêncio, a natureza e a presença um do outro.
Meses se passaram e havia seguido o conselho de Cedrico, estava ignorando as piadinhas e tentando melhorar sua autoconfiança, embora fosse difícil desfazer anos e anos de palavras vindas de seus pais, que contribuíram em grande parte para que ela se tornasse insegura em relação a si mesma. Estava se divertindo com os jogos de quadribol, feliz em ter seus amigos e se sentindo cada vez mais em casa.
Naquela tarde de sábado em especial , Charlotte e Juliane estavam jogadas no dormitório da lufana comendo os doces que ela havia trazido em sua última visita a Hogsmeade e usando máscaras faciais que Lottie havia preparado enquanto conversavam e riam.
— Mas é sério, não há um só dia que eu não me arrependa de ter escolhido Adivinhação! — resmungava a respeito de uma tarefa enorme que a professora Trelawney passara para sua turma realizar em menos de uma semana, enquanto as duas mais novas riam.
— Meus pêsames, . — Lottie desejou, fazendo um carinho na cabeça da colorida, que fingiu chorar. — Pensa pelo lado positivo, as férias finalmente estão chegando!
— Eu sinto dó de você amiga. — Ju lamentou com a boca cheia de alcaçuz, mas em seguida sorriu aliviada — Mas fico feliz, Cedrico esteve tão ocupado com essa lição que esqueceu de me seguir em todos os cantos.
não pôde deixar de rir, entendia o lado da mais nova que não conseguia dar um passo sem o irmão estar atrás dela parecendo um guarda costas. Já havia até mesmo tentado conversar com Cedrico para entender qual era o objetivo dele com isso, mas ele era sempre enigmático dizendo um “é para a segurança dela”.
Ela entendia o lado dele, visto que Juliane tinha realmente um talento para se meter em problemas, mas ainda achava que o amigo estava exagerando. Por esse motivo até dava cobertura para a corvina vez ou outra.
— Não seja tão dura com ele, Ju. — riu e a amiga revirou os olhos.
— Você pode pelo menos fingir que gosta mais de mim do que dele quando estiver na minha frente, por favor? — a corvina jogou um travesseiro em que adquiriu um tom roxo nos cabelos.
— É claro que eu gosto mais de você! — ela devolveu o ataque com o mesmo travesseiro — Vivo te acobertando pirralha!
— Então você não nega que gosta dele? — Lottie cutucou, fazendo com que os cabelos da mais velha se tornassem azuis enquanto ela piscava e olhava pros lados sem parar, atrás de uma resposta que não a comprometesse.
— Claro que gosto, nós somos amigos. — riu, coçando a nuca.
— Meu irmão definitivamente não gosta de você apenas como amigo. — Juliane comentou com um risinho sacana — Nunca parou pra pensar que o fã clube dele quer te matar única e exclusivamente porque sabem que ele não tira os olhos de você?
— Isso não tem nada a ver. — a lufana engoliu seco, dando de ombros.
— Mas e a cerveja amanteigada que ele pagou pra você? — questionou Lottie.
— Não vale! Nós tínhamos feito uma aposta brincando! E ele também pagaria uma pra vocês duas se tivessem idade para ir a Hogsmeade. — o cabelo dela e seu rosto agora pareciam em uma perfeita harmonia de roxo.
— E quando ele saiu correndo da aula de Aritmancia pra ir te esperar com um guarda-chuva depois da sua aula de trato das criaturas mágicas? — não respondeu e a Diggory sorriu convencida. Era realmente boa em vencer uma discussão. — Se fosse comigo eu tava lá na chuva até hoje, !
— Para de ser exagerada, Diggory! — conseguiu rir enquanto enfiava um sapo de chocolate na boca da mais nova, que se calou apenas para mastigar — Chega de mentira, vai.
— Você que tem que parar de mentir pra si mesma, . — ela murmurou de boca cheia e só tornou a falar quando engoliu o chocolate, a lufana evitava encará-la — Quando vai parar de fingir que não vê o quanto meu irmão gosta de você?
retesou os ombros e suspirou. Não era possível que aquilo fosse sério, já estava acostumada com as brincadeiras das mais novas, mas porque parte dela ainda queria que fosse verdade? Eles não eram só amigos? Com a cabeça extremamente confusa, a garota se levantou.
— Acho que deu a hora de tirarmos a máscara do rosto. — comentou antes de correr para o banheiro.
A lufana jogou água no rosto e esfregou bem os olhos e as têmporas, como se aquilo fosse diminuir a frequência caótica de seus pensamentos ou pelo menos aliviar seu nervosismo. retirou toda a máscara facial e assim que levantou a cabeça e se viu no espelho soube: estava claro como o seu reflexo e seus cabelos rosados, ela gostava de Cedrico Diggory e não sabia como lidar com essa informação sendo dita claramente pelas amigas ou dentro de sua própria mente como um eco.
As aulas do quinto ano haviam finalmente voltado e se sentia aliviada, afinal não teria que aturar a vergonha que seus pais estavam se forçando a passar. No ano anterior não fora para casa no Natal nem na Páscoa, respondera poucas cartas e fora jogando esse assunto para frente, como um problema que claramente não queria lidar. Mas quando o ano acabou o problema caiu como uma pancada de neve acumulada em sua cabeça, passou as férias na mansão Malfoy, trancada no quarto que lhe providenciaram lendo livros e mais livros.
O que já era atípico, visto que não era a maior fã de livros do mundo.
Mas a volta para Hogwarts fora como o fôlego necessário para que ela voltasse a se animar, fazia exatamente um mês que as aulas haviam voltado e a garota já começava a se sentir renovada longe do ambiente tóxico que era sua nova casa. estava saindo do treino de quadribol em direção a Charlotte, Hermione e Juliane, que a esperavam perto do corredor, quando Cedrico — agora devidamente nomeado como capitão do time — a alcançou, correndo.
— Ei, .
A garota sorriu sem mostrar os dentes, pensando como era possível que alguém fosse tão bonito mesmo depois de um treino intenso. Seus cabelos estavam grudados à testa devido ao suor, assim como a blusa do uniforme do time. Certo agora ela precisava de ar e de um buraco para se enfiar já que seus cabelos denunciavam a vergonha que sentia.
— Queria te fazer um convite. — ele disse de uma vez, parecendo nervoso.
— Oi Ced! Qual? — a voz de saiu baixa.
— Queria te convidar para ir junto comigo na próxima visita a Hogsmeade, depois das festas.
A garota congelou, parando de caminhar imediatamente. A próxima visita a Hogsmeade era no dia dos namorados, o que aquilo significava? De qualquer forma, não era como se ela tivesse condições de negar, seria completamente louca se o fizesse.
— Claro! — ela disse rápido e alto demais — Digo, eu adoraria. Seria muito legal, você sabe...
Diggory riu e bagunçou os cabelos rosados da garota, achando fofa a maneira como ela tagarelou de nervoso.
— Certo, então está combinado…
— Está!
E então ela foi na direção das amigas que se entreolharam com uma expressão divertida.
— Quer ir junto comigo na próxima visita a Hogsmeade, ? — Ju imitou a voz do irmão para Lottie, que levou as mãos ao peito parecendo ter visto um fantasma. O que levou a concluir que aquela era a representação dela.
— Claro! Sim! Mil vezes sim! Digo, eu adoraria! — Lottie juntou as mãos ao queixo e foi impossível até para a lufana não rir.
— Você esqueceu do “seria muito legal, saaaaaaabe!” — Hermione imitou a última parte.
— Quando foi que eu me tornei uma piada? Até você, Mione?
— Nós fazemos isso porque te amamos, amiga! — Ju a abraçou — FINALMENTE vocês dois vão se declarar!
— Isso não é um encontro, Ju. Não quer dizer nada…
— GAROTA? — Lottie quem gritou, parando na frente da amiga — Ele quer que você vá com ele na visita a Hogsmeade que será no dia dos namorados e isso não é um encontro?
— Você é mais inteligente que isso, . — Hermione comentou e a lufana enrubesceu.
— Nós já fomos a Hogsmeade juntos outras vezes, não é um encontro. — cruzou os braços, começando a se irritar com a insistência das amigas. Não queria criar expectativas em algo tão rotineiro e se frustrar com isso.
— Claro que vocês foram, mas com o Jadrien e o Bibble de vela! É diferente dessa vez… — Schiavone quem disse.
— Mas se é assim que prefere pensar… Não é um encontro então! — Ju sorriu fraco e as demais deram de ombros, mudando de assunto.
finalmente estava pronta. Já havia pensado em desistir de ir milhares de vezes? Sim. Já havia cogitado um milhão de micos que poderia pagar? Também. Mas depois de atacar uns doces ela se encontrava perfeitamente estável e até começara a rir de si mesma. Por que estava tão nervosa afinal? Era só Cedrico, seu melhor amigo e cara por quem ela tinha uma quedinha branda e razoável.
Piada. Por quem ela tinha um verdadeiro abismo, mas ninguém precisava ficar sabendo disso, não é mesmo? E essa ideia bastava para confortá-la.
Ela havia combinado de encontrar o amigo na entrada da comunal, então quando o horário marcado chegou, ela subiu e passou pela passagem. Cedrico a esperava encostado no batente da porta de entrada e, se é que aquilo era possível, estava mais lindo que nunca. Ele parecia bem concentrado nos próprios pés, tanto que nem percebeu quando a garota parou ao seu lado.
— Cheguei! — ergueu a mão até o ombro do lufano e o cutucou levemente, fazendo-o dar um pulo de susto.
— Quer me matar, ? — ele levou a mão ao peito, fechando os olhos enquanto a garota ria.
— Você tinha que ver sua cara. — ela disse entre risos. Cedrico balançou a cabeça, rindo também e então procurou a mão da garota com a sua própria até que pudesse entrelaçar seus dedos.
— Acho que minha cara pareceu um pouco com essa que você fez agora. A propósito, você está linda! — agora era ele quem ria da expressão assustada da garota com os cabelos, agora, roxos devido ao susto e a vergonha graças ao elogio. — Vamos, se não vamos perder a hora de ir.
não soube ao certo se ele sequer a viu assentindo com a cabeça, visto que ele já andava alguns poucos passos à frente, arrastando-a até onde Filch liberava a passagem para o vilarejo bruxo.
As visitas a Hogsmeade eram sempre onde os alunos encontravam uma distração em meio a tensão do ano letivo, era possível distinguir um dia normal de um dia de visitas simplesmente pelas conversas altas e risadas contagiantes tomando conta do local. Como Hermione, Juliane e Charlotte haviam dito, Bibble e Jadrien não apareceram em momento algum. Mal sabia que aquilo era devido ao pedido — lê-se suborno — solene e sutil de Diggory para que os amigos os deixassem sozinhos pelo menos naquele dia.
— Eu não planejei nosso passeio, por saber que você não é muito chegada em planos e tudo mais… — ele começou dizendo, agora que ambos caminhavam de mãos dadas pelas ruas agitadas e repletas de alunos. — Onde gostaria de ir primeiro?
umedeceu os lábios, mordendo-os em seguida em uma clara demonstração de seu nervosismo. Ela podia sentir alguns olhares em si, mas estava disposta a ignorar e aproveitar o dia na companhia de Diggory.
— Acho que uma cerveja amanteigada e um fish & tips devem servir. — sorriu.
— Você que manda. — o lufano piscou e a puxou levemente para mais perto — Vem, vamos entrar, está frio demais aqui fora!
O Três Vassouras não estava tão lotado, os alunos gostavam de entrar lá principalmente quando a tarde estava para se findar. Os dois escolheram uma mesa e ficaram conversando enquanto a comida não chegava. Esse era o lado bom de sair com o seu melhor amigo, as conversas fluíam e não precisava de muita coisa para que eles se divertissem.
— Eu estava morrendo de medo de que você não aceitasse meu convite, sabia? — Cedrico confessou envergonhado — É um encontro sabe, fiquei receoso se isso poderia estragar a nossa amizade e tudo mais…
, que segurava o potinho com o molho das batatas nas mãos, arregalou os olhos quando ele constatou o óbvio: aquilo realmente era um encontro.
— Eu… Isso é… Eu seria louca se recusasse e nunca deixaria nossa amizade acabar por uma coisa dessas. — ela disse com gestos agitados para que ele entendesse, mas quando percebeu o conteúdo do pote de vidro já estava em suas roupas. — Droga, por que eu tenho que ser tão idiota?
Cedrico riu, mas estendeu alguns guardanapos pra ela.
— Se não acontecesse algo do tipo não seria você, . — ela pegou o guardanapo que ele estendia e então ele aproveitou para passar o dorso do indicador no nariz dela em uma carícia breve.
— Eu… É… Vou tentar limpar isso e já volto. — apontou para a blusa suja com uma careta e Cedrico sorriu em compreensão.
— Leva meu casaco, qualquer coisa se não der pra resolver… — Diggory ergueu o sobretudo creme e ela aceitou de bom grado, mesmo que envergonhada.
segurou a peça de roupa de maneira que não pudesse sujá-la com a maionese, mesmo assim o cheiro do perfume de Cedrico ainda podia invadir com clareza seu canal olfativo, deixando-a inebriada. Sentindo-se patética, ela balançou a cabeça negativamente e riu baixinho enquanto caminhava até o banheiro praguejando a si mesma por ser tão desastrada. Assim que adentrou o cômodo bem iluminado, ouviu risadas altas que a fizeram se assustar.
Em claro ato de reflexo, a lufana levou a mão à maçaneta porta, temendo ser intrometida ou inconveniente, no entanto algo a fez ficar. Não era errado ficar, não quando seu nome havia sido dito.
— Eu sabia que ela estava tentando algo com ele, essa cara de sonsa boazinha da nunca me enganou! — uma das vozes disse alto e a outra riu pedindo pra ela falar mais baixo.
— Para de gritar, Marieta! Quer que todo mundo lá fora te escute? — cochichou a outra voz, que provavelmente era da corvina Cho Chang acompanhada de sua melhor amiga Marieta Edgecombe.
— É bom que ela escute mesmo, só assim ela se coloca no próprio lugar. — ela ergueu mais um tom da voz e Chang riu baixinho — Relaxa, Cho! O que mais pode acontecer, o cabelo dela mudar de cor?
nem percebeu que apertava a peça de roupa com tanta força até o momento que seus dedos ficaram doloridos, aquilo tudo era mesmo real? Ela se sentia péssima, não pela piada envolvendo suas características físicas, mas pelo fato de duas garotas perderem tempo falando mal dela sem nunca tê-la dado a oportunidade de se defender ou de mudar aquela perspectiva. Era cruel, gratuito e desconfortável.
Antes que pudesse decidir o que faria em seguida, as garotas se dirigiram até a porta e a encontraram lá, parada. Elas sabiam que a garota havia escutado e o rubor no rosto delas demonstrava claramente o constrangimento por terem sido pegas em uma situação como aquela.
Mas, diferente do que as corvinas imaginaram que ela faria, apenas as ofereceu um sorriso fraco e passou em direção a pia, para que pudesse fazer o que de fato era a sua intenção principal: limpar sua blusa.
A mancha permaneceu da mesma maneira, o que a fez desistir e vestir o sobretudo ofertado por Cedrico. Mas assim que viu seu reflexo no grande espelho do ambiente, sua garganta secou, aquilo só resultaria em mais e mais brincadeiras a seu respeito. Não podia continuar ali, não podia magoar outra pessoa com suas inseguranças.
Enquanto ela fosse o empecilho aquilo não podia continuar.
Ela suspirou, tentando conter a vontade de chorar e retirou o casaco, o reposicionando no antebraço como antes e caminhou lentamente até a mesa onde Cedrico a aguardava com um sorriso no rosto.
— Deu certo? — ele apontou para a blusa, mas percebeu que a mancha continuava da mesma forma. Seus olhos imediatamente foram de encontro aos dela, que estavam quase arregalados em uma tentativa de segurar as lágrimas ali mesmo. — ...
— Eu… Me desculpa… Eu não posso… Eu… Tenho que ir.
Ela entregou o casaco a ele e antes que ele pudesse sequer falar algo, partiu sem mais explicações deixando o lufano extremamente confuso e preocupado.
Cedrico pagou a conta e saiu do estabelecimento completamente aéreo ao seu redor, havia esbarrado em mais de uma pessoa e tropeçado algumas vezes em seus próprios pés por causa do nervosismo, mas não importava só queria encontrá-la e saber o que estava acontecendo. Procurou por todo o vilarejo e por todos os lugares comuns que ela poderia estar em Hogwarts, mas não estava em lugar nenhum. Caminhou frustrado até a comunal, pensando se deveria bater na porta do quarto dela, mas assim que levantou a mão para isso a porta se abriu e sua irmã saiu do cômodo.
Juliane parecia furiosa.
— Ju? O que está acontecendo?
A corvina suspirou, fechando a porta atrás de si e logo em seguida arrastando-o para longe dali.
— Algumas garotas da Corvinal resolveram tirar uma com a cara da e ela ouviu, elas foram bem sem noção e isso a chateou bastante… — Ju cochichou com a expressão fechada. — Eu sei que você quer conversar e acertar as coisas, mas dá um tempinho pra ela pensar... A é uma pessoa muito sentimental que prefere digerir as situações sozinha, procurar um aprendizado e depois falar sobre quando ela estiver melhor.
Cedrico bufou, passando a mão pelos cabelos.
— Ela disse quem foi?
— Porque você acha que eu tô brava desse jeito? — a corvina cruzou os braços — Ela disse que não ia me contar para que eu não arrumasse problemas... Eu tenho cara de alguém que procuraria problemas por causa disso, Cedrico?
O lufano prensou os lábios, segurando o riso.
— Você sabe que tem.
— Sei, mas poxa! O que custava? Eu prometi que não ia bater em ninguém, só ia falar umas boas verdades e… — Cedrico interrompeu a mais nova com um “shh” enquanto levava as mãos até seus ombros e a direcionava para a porta de saída.
— Vamos deixar a pensar, enquanto isso eu levo você pra sua comunal… Já está tarde pra você perambular sozinha nos corredores.
— Ah claro, eu nunca fiz isso antes. — a Diggory caçula debochou.
— Prefiro não saber das suas aventuras noturnas com o Potter, obrigado.
A mais nova parou de andar e o fuzilou com o olhar.
— Você tá piadista demais pra quem tá quase perdendo o namoro que nem começou. — ela disse arisca e Cedrico bufou, Juliane sabia tocar na ferida para mostrar que estava certa — Você já tem um plano?
— Que plano?
— Pra falar com ela, ué! — ela disse como se fosse óbvio — Suas fãs a assustaram, idiota! Se eu estivesse interessada em um cara como você eu também fugiria, ninguém merece essa encheção de saco.
— Obrigado pela parte que me toca e quantas vezes eu vou ter que dizer que não tenho fã nenhuma? — o mais velho retorquiu impaciente. — E desde quando você se tornou expert em relacionamentos?
— Sou uma mera observadora, irmãozinho. — ela piscou — E não importa o nome que você dá pra essas garotas pé no saco!
Juliane parou na frente da aldrava de sua comunal, mas virou-se para o irmão e afagou seu ombro em uma demonstração de incentivo.
— Você vai conseguir pensar em algo e resolver isso tudo. Eu sei que vai...
— Mas o que eu tenho que fazer? O que você sugere? — ele franziu o cenho confuso, as coisas não eram exatamente fáceis com como costumava ser com outras meninas com quem conversara. O desespero do lufano fez a garota rir.
— Só se coloque no lugar dela… — Ju falou simplesmente — Você encontra alguém que te faça sentir borboletas no estômago, mas não se sente boa o suficiente porque sempre tem alguém falando que você não é, isso claro, graças aos idiotas daqui aos idiotas que ela tem como pais. Ela só quer se sentir aceita, se sentir suficiente… Você vai pensar em um bom plano.
Era isso.
— Você é incrível, irmãzinha! — Cedrico deu um beijo na bochecha da irmã mais nova e saiu correndo dali para preparar tudo que havia pensado.
— De nada? — Juliane murmurou, mas ele já estava longe demais para ouvir. A mais nova balançou a cabeça de um lado para o outro rindo sozinha e então respondeu o enigma da aldrava para que pudesse finalmente ir para seu dormitório.
agradeceu mentalmente a Ju por tê-la convencido a aplicar gelo nos olhos para que esses não ficassem tão inchados. Afinal, ela ainda precisava ir comer em algum momento e ser vista com os olhos inchados de tanto chorar certamente lhe conferiria o atestado oficial de patética. Era cerca de meio-dia do domingo quando ela decidiu que não dava mais para enrolar na cama e viu que seu reflexo no espelho não estava tão acabado quanto imaginou que estaria.
Seus cabelos ainda tinham um tom de azul intenso e seus olhos pareciam mais fundos, mas nada que não pudesse estar pior. Depois de vestir algo confortável e apresentável para aparecer no Salão Principal, a lufana decidiu que era finalmente a hora de subir e caminhou até a porta, mas batidas na janela a fizeram voltar com uma expressão confusa.
Bilks, a coruja dos Diggory batia no vidro com o bico, enquanto um bilhete estava preso em sua garra dianteira. abriu a janela de imediato, permitindo que a ave entrasse.
— Oi garotinha, o que você tem aí?
Depois de acariciar levemente a cabeça da coruja, a lufana pegou o pequeno pedaço de papel que tinha poucas palavras gravadas em tinta preta. E aquilo bastou para que ela soubesse quem era e para onde deveria ir.
O dia estava mais quente que o anterior, um sol fraco iluminava o céu azul e fazia com que o cheiro da grama ficasse mais intenso. Quando chegou no lago e viu que ninguém estava ali, suspirou chateada e decidiu não sair procurando por Cedrico. Queria ficar ali para aproveitar a luz do sol e refletir um pouco, pelo menos aquilo lhe faria algum bem. Era incrível como se sentia renovada todas as vezes que passava um tempo apreciando a natureza.
— Não gosto desse tom do seu cabelo… — a voz de Cedrico fez com que ela o encarasse indignada.
— Eu deveria agradecer? — ela apertou os olhos para tentar enxergá-lo, visto que o sol brilhava bem atrás dele.
— Não, não foi isso que eu quis dizer… Droga! — ele bufou, caminhando até o lado dela — Você é linda, . Quis dizer que de todos os tons do seu cabelo esse é o que menos gosto porque significa que você está triste, com medo ou nervosa.
o analisou por alguns segundos, sem conseguir evitar de sorrir.
— O que você sabe sobre as cores do meu cabelo?
— Sei que eles ficam vermelhos quando você está com raiva ou impaciente. Quando você está envergonhada, assustada ou tímida eles se tornam lilás. E a minha cor preferida é o tom rosado que eles ficam quando você está feliz ou empolgada. — seus olhos não desviaram dos dela em momento algum e ele falava com tanta convicção que era praticamente impossível discordar ou tirar os olhos dele — Eu deveria saber mais algo sobre sua metamorfomagia?
deu de ombros.
— Nada que você não tenha lido em um livro de transfiguração, para ser bem sincera… Consigo mudar o tom da minha voz, o formato do meu nariz e meus cabelos refletem minhas emoções. Eu consigo controlar bem as outras coisas, mas no geral as emoções são as mais difíceis pra mim. Durante a meia noite tem aquela chatice de ficar meio descontrolada imitando a primeira pessoa que aparece na minha frente e também gosto de ficar me torturando e olhando meu reflexo no espelho… É um desconforto necessário às vezes, quase como uma crise de consciência. Não! Esclarecedor é a palavra certa… Na verdade eu consigo me tornar o que você quiser. — ela suspirou, terminando de falar.
Cedrico a olhava com atenção, fazendo-a se sentir importante, quase como um artigo caro e cheio de detalhes que ele olhava com carinho e admiração, de certa forma tentando ver todos os detalhes. Era nítido que ele não tinha curiosidade para importuná-la, mas sim para entendê-la, decifrá-la.
— Eu só quero que seja você mesma, … Sem se preocupar com o que as pessoas dizem sobre você. — Diggory disse sincero enquanto sua mão prendia-se a dela, fazendo com que não pudesse se afastar demais, essa por sua vez parecia ter desaprendido a respirar.
— Eu sei que deveria estar acostumada com as pessoas me acharem esquisita por ser diferente. — ela riu sem humor, abaixando a cabeça — Mas parece que cada vez mais eu só consigo me machucar com isso.
— Nós sempre podemos ver as coisas de duas perspectivas, . O copo meio vazio é que as pessoas vão te olhar torto até se acostumarem. Enquanto o copo cheio é que ser diferente te torna única, excepcional… Isso me lembrou o porquê de eu ter te chamado aqui.
olhou para ele com os olhos marejados por saber que aquele era o modo que ele a via, nem mesmo ela costumava ver a si mesma daquela maneira. Cedrico tirou a varinha das vestes e a apontou para cima.
— Papilionibus. — murmurou simplesmente, fazendo com que algumas borboletas surgissem em volta dela. Algumas só voavam fazendo voltas em torno dela, outras brincavam com seus cabelos rosados e uma simplesmente parou em seu nariz, fazendo-a soltar uma gargalhada leve. Então o lufano deixou-se contagiar pela risada dela e a puxou para mais perto, fazendo com que a pequena borboleta voltasse a voar e que suas testas se colassem.
— Eu tenho sido um completo bobo apaixonado por você desde quando a vi no trem, tagarelando e sorrindo. Não sei mais como deixar claro que sou completamente louco por você… Então achei que funcionaria mostrar pra você como meu estômago fica toda vez que te vejo. — ele dizia em um tom baixo — Eu acho que você é excepcional, e isso quer dizer que no mundo não vai existir ninguém pra mim como você.
— Preciso te dizer algo também…
roçou o nariz no dele e sorriu.
— Meu cabelo estar rosa significa que eu gosto de você mais do que eu pude sequer imaginar que seria possível um dia, Cedrico Diggory.
Ele podia sentir a respiração acelerada dela se misturando a dele e aquilo o fazia se sentir incrivelmente pertencente aquele momento. Quando seus lábios se tocaram fora como se aquilo estivesse destinado a acontecer, como se o universo tivesse se encarregado especialmente de cada detalhe daquela cena que sua memória gostaria de guardar para todo sempre.
Estava se contradizendo? Sim. Mas amar era como viver em uma constante antítese e ele a viveria de bom grado se pudesse beijá-la mais vezes daquela forma. Talvez Cedrico até acreditasse mais em intuição agora, visto que desde o primeiro momento em que colocou os olhos nela ele simplesmente soube que aquela cena aconteceria hora ou outra e que depois disso passaria a acontecer mais e mais vezes.
FIM
Nota da autora: Oie! Eximia surgiu de um surto na época do especial de HP no ano passado que, por conta da correria da vida eu só consegui escrever agora. Espero que vocês tenham gostado de conhecer um pouquinho mais da Maddy! Vocês poderão ver algumas coisas mais sobre ela e o Ced em Homeostase, por ora, mas prometo que em breve vem aí a parte dois desse casal que é SÓ FOFURA! Se você gostou não esqueça de comentar aqui em baixo, por esse link AQUI caso a caixinha do Disqus não apareça, ou lá pelo insta @juscairp. Beijinhos e até a próxima!
Com amor, Ju 💙
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Com amor, Ju 💙
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