Finalizada em: Dez/2022

pov: Jeong Jaehyun

É inegável que aquilo não daria certo.
Eu soube disso desde que vi aquele brilho ridículo nos olhos de Johnny. Desde que ele disse aquele “que gata!” todo animado como se eu não estivesse por perto. Quer dizer, não que minha presença significasse alguma coisa. Ele não sabia de nada. Na verdade, ele não tinha ideia. Quase nenhum dos meus amigos tinha.
E por causa disso tive que ser obrigado a aguentar Johnny babando na minha namorada por praticamente 2 semanas.
Preciso voltar por alguns dias pra explicar isso direito.
Tudo começou quando o babaca do Eunwoo decidiu aparecer na festa de Halloween da empresa. Quem não percebe que esse cara é o maior arroz de festa existente da Coreia, tá de olhos vendados. Claro que amo ele, mas às vezes tínhamos que lidar com seus exageros, e talvez eu ainda estivesse um pouco puto com a tentativa dele de beijar na festa do Yug. Talvez isso diminuísse se ele soubesse que ela agora era minha namorada e que já poderia ir tirando o cavalinho da chuva se estivesse cogitando em fazer uma nova tentativa porque se não poderia ficar sem a arcada dentária, mas esse era um tópico que, aparentemente, não estava em discussão, segundo minha namorada. Porque ainda não estava na hora de todos saberem. Fala sério.
Nada contra meu amigo dançar com ela e tudo mais… mas a after party voltou a ser na casa do Yug, então minha preocupação por um Eunwoo chapado e inconsequente tinha algum embasamento.
Durante todo o caminho de volta, Johnny não parou de perguntar sobre a garota fantasiada de Sininho. Confesso que me pegou de surpresa naquele dia e extrapolou todos os limites da perfeição. Estava maravilhosa de um jeito divino. Até mesmo Jungkook tinha ficado paralisado uns bons segundos até balançar a cabeça e decidir que precisava de mais 2 doses de tequila. Não dava pra julgar; ela com certeza era a mais linda da festa, e tinha gerado perguntas demais entre os novos rostinhos que Yugyeom tinha convidado de última hora.
Inclusive perguntas a mim, que parecia ter areia na boca toda vez que precisava responder que era uma amiga minha. Não apenas minha, mas amiga nossa, porque Jungkook também não saía de perto enquanto dizia que era pra manter o nosso disfarce.
Isso já estava me enchendo o saco. Por que não deixar simplesmente que as pessoas tomem suas próprias conclusões e continuar seguindo a vida? Que se danem. Agora ter que negar a Johnny e aos outros tubarões que eu dormia e acordava com a Sininho várias vezes por semana era uma facada no estômago.
Ele disse que ela era linda. E não perdeu tempo pra gastar seu ótimo inglês estadunidense com ela.
Juro que não sei como não bati o carro num poste naquele dia.
E juro que não sei como não estou chutando a cara de imbecil do meu amigo nesse exato momento enquanto me preparo pra virar à esquerda na casa de Jungkook enquanto ele continua repetindo que vai ver a Sininho na festa de Natal.
É isso. Meu amigo quer dar em cima da minha namorada antes mesmo de cantarmos Santa Claus is coming to town.
Êhh! Coisa boa.
Posso enforcá-lo na figueira mais próxima? Acho que aquela árvore medonha no quintal aberto do JK é uma figueira. Existem lendas horríveis sobre ela. Nem o espírito de Johnny vai ter alguma chance.
— Puta merda. O JK precisa deixar menos claro que aqui é a casa dele — Johnny murmurou quando bateu a porta do carro, fazendo uma careta diante da fachada em preto da grande casa de Itaewon que agora estava decorada com tufos de neve e algumas guirlandas de natal na porta.
— Acho que as sasaengs vão descartar a hipótese quando verem aquelas meias de papai noel no interfone.
— De quem foi essa ideia de merda?
— Adivinhe.
Johnny abriu a boca em uma risada alta quando provavelmente se lembrou da loira engraçadinha que namorava com Mingyu. Eu sabia que Felicity era a organizadora da coisa toda antes de entrar pela porta, e sabia que um time de peso precisou pará-la antes que contratasse um balão de gás hélio gigante com a foto de Jungkook vestido de papai noel. Bom, se servisse de alguma coisa, se aquilo fosse pra frente, enterraria de uma vez por todas qualquer possibilidade de pensarem que ali existia um Jeon Jungkook de verdade – era mais provável que pensassem que naquela enorme casa existia só mais uma cópia de garotas iguais a elas. Essa gente só achava aquilo que pensava ser óbvio. Era tosco.
Mal terminei de tocar o interfone e o portão já estava aberto. Deixei Johnny caminhar na frente para pegar o celular do bolso e verificar a última mensagem de . Dei um sorriso involuntário quando ela disse que já tinha ido mais cedo com Felicity porque precisava ser a cobaia para as decorações e sorri mais ainda com o “depois do brinde, ok?” com o emoji de uma piscadinha. Eu esperava mais por aquilo do que pela ceia: o momento em que nós dois seríamos capazes de sair daquela sala e encontrar o nosso canto no estúdio de Jungkook para que eu pudesse olhá-la de perto, tocar nela, dar o seu presente e beijá-la como sempre tenho vontade de fazer.
E que, pelo discurso do “eles ainda não estão prontos pra saber”, sempre era impedido. sempre tinha um espeto para estourar o meu coração inflando como um balão.
— Cheguei! Cadê a cerveja? — foi a primeira coisa que Johnny gritou quando entramos pela porta. Fui engolfado pelo ar quentinho lá dentro, e prontamente já comecei a tirar meu sobretudo, ouvindo os passos rápidos de alguém entrando no hall.
— Johnny Suh! Seu grande sacana! — Eunwoo gritou quando voou para abraçar Johnny, que soltou outra gargalhada intensa ao bater nas costas dele. — E você, Jae! Tão bonito, como sempre! Casaco da Prada? Cuidado com a neve, ela estraga o tecido — ele fez uma careta ao bater nos ombros do meu casaco já posicionado no cabideiro — Estão prontos pra ver toda a breguice que preparam lá dentro? Vocês vão adorar. Vem, vem — ele riu e começou a caminhar.
— Todo mundo já chegou? — perguntei enquanto bagunçava o cabelo, me livrando de um pouco mais de neve.
— Já sim. Quer dizer, parece que o Bangchan esqueceu que hoje era nosso dia de batizá-lo como o mais novo padawan do grupo e não veio com a fantasia de papai noel pornô que a gente mandou…
— Que você mandou.
— … e agora estou pensando seriamente em não passá-lo no teste de seleção e deixar ele tentar de novo no próximo ano — Eunwoo semicerrou os olhos pra mim e deu de ombros — Acontece, fazer o quê. O Bambam tenta há anos também e até hoje não ganhou uma pulseira.
— Coitado. Vocês são bizarros — Johnny fez mais uma careta.
— Não me coloca nisso — murmurei enquanto viramos na direção da enorme sala. Ouvi Eunwoo suspirando.
— Não é bizarro, cara, é seletividade. Você quer mesmo que eu pegue na mãozinha de qualquer marmanjo de 25 anos e transforme ele em amigo só porque nascemos no mesmo ano? Não, cara, não…
— Johnny! Você chegou! — a voz característica de Felicity surgiu na sala pelas escadas, e outro rosto também apareceu.
Sei lá, não sei dizer exatamente como tudo aconteceu. Todas as vezes em que vi com maquiagem e arrumada para algum evento, eu entrava em estado de delay e passava a viver com partes faltando da memória. Era sempre assim. Não que ela não me desmontasse quando estava sem nada e o cabelo bagunçado depois de acordar, ou depois de fazer amor – o que me pegava muito, muito mais – mas, naquela hora, eu não sei o que me deu.
Quando Felicity gritou aos quatro cantos sobre a nossa chegada, olhei pra ela antes de ver o pequeno rostinho que saiu de trás daquela árvore de natal gigante ao lado de um sofá, e imediatamente olhou pra mim. E sorriu. Sorriu tanto com a boca quanto com os olhos, porque ela tinha esse poder. E acho que… Desculpem, não me lembro de mais nada.
Só quando recebi um tapa no ombro que acordei pra realidade. Virei para o lado a tempo de ver Jungkook com um ridículo moletom estampado com desenhos de renas puxando um trenó.
— E aí, cara! Vocês finalmente chegaram, puta merda, que demora. Quase começo a beber sem vocês.
— Você começou a beber — Eunwoo acusou com uma risada sem humor.
— Comecei a beber o vinho, e tudo por causa dessas duas malucas que acham que cerveja não combina com o natal — ele apontou para Felicity, que se aproximava de nós, e , que andou um pouco para o meio da sala com várias bolas, meias e decorações de natal apoiados nos braços.
Abri um sorriso automático. Ela estava muito fofa com aquele suéter vermelho de gola V e a saia branca. As meias altas nos tênis da Adidas tinham uma estampa de um verde berrante com gravuras de árvores natalinas.
Imediatamente, comecei a andar em sua direção, estendendo os braços para que ela me passasse um pouco de coisas, mas a mão de Felicity me parou no meio do caminho.
— Pra onde você pensa que vai? — ela disse em voz baixa, dando uma olhada rápida na direção de e em seguida voltando pra mim — Tem muita gente aqui.
Revirei os olhos. Ela achava mesmo que eu não sabia disso?
— Vou ajudar. Ela não alcança o topo da árvore — apontei para aquele esqueleto verde que concentrava as decorações da metade para baixo, que era o máximo onde podia ir com as pontas dos pés. Arqueei uma sobrancelha para Felicity, como se perguntasse explicitamente: você prefere que suba em uma cadeira? Tem certeza?
Felicity deu um sorriso amarelado na mesma hora. Tinha captado as possibilidades daquele cenário.
— Tudo bem, só… você sabe — disse ela, andando em direção aos outros e gritando coisas como “cerveja só depois da meia noite e olhe lá”.
Com o caminho livre, apressei o passo na direção de e percebi que talvez eu tenha mentido um pouco pra Felicity. Porque vendo-a ali na minha frente, com os olhos brilhando e passando os dedos nos meus quando peguei a caixa de bolas coloridas, talvez eu estivesse muito perto mesmo de me descontrolar.
Caralho, que tortura.
— Felicity está se saindo muito bem como fiscal — sussurrei quando cheguei mais perto, e ela torceu o nariz e riu.
— Ela só fica apreensiva quando temos convidados novos. Acha que eles vão ficar supondo coisas…
— Tipo que eu tô louco pra te beijar? — dei de ombros, falando em voz baixa. Ela baixou o rosto pra rir e perguntei: — Podemos ter o momento mais cedo hoje?
piscou os olhos rápido, como se também tivesse tido um delay momentâneo e, com um sorrisinho contido, assentiu devagar pra mim e logo em seguida apontou para a árvore inacabada.
— Acho que devemos terminar isso logo antes da nossa fiscal voltar.
Revirei os olhos e ri, caminhando com ela para trás daquela coisa gigantesca que literalmente nos escondia do resto do pessoal.
— Me ocorreu que talvez ela não ache que sou muito confiável.
— Ah, você jura? Por que será que ela pensa isso?
O cenho franzido de talvez tenha me dito que ela pensava o mesmo, mas o que eu poderia fazer? Desde que decidi abrir mão de toda a minha estabilidade e embarcar em um relacionamento com a garota dos meus sonhos, meu filtro ia descamando cada vez mais. Eu não respondia mais por mim na maioria das vezes. Meus impulsos se tornaram cada vez mais barulhentos, e tudo que eu queria era que todos soubessem que: Ei, tá vendo essa garota linda aqui? Minha namorada!
A garota que mexe com a bolsa de valores? Minha namorada!
A musa inspiração da minha música autoral? Minha namorada!
Linda, não é? Adivinhe: minha namorada!
— Você não me deixa escolha, — murmurei enquanto prendia uma das bolas cheias de glitter em um dos galhos — Tá tão gata que Felicity vai precisar arrancar meus olhos.
— Mas eu amo seus olhos…
— Eles te amam também, amor, acredita em mim… — dei mais um passo para perto dela — Mas melhor não confiar muito.
mordeu os lábios de novo e soltou uma risada. Bom, pelo menos ela teria diversão garantida por qualquer coisa autodepreciativa que eu dissesse, aparentemente. Eu gostava desse jeito dela de agir como se eu fosse o cara mais engraçado do mundo, quando eu sabia que não era verdade. A única explicação disso era que suas risadas vinham do fato de me achar… um pouco adorável.
E vê-la rindo era comparável a ouvir fogos de artifício. Bom demais, lindo demais. A magia inteira do Natal presa em lábios macios pintados de vermelho. Era injusto. Me dava mais vontade de beijá-la.
Sem pensar muito, estendi um braço para passar por sua cintura, tendo plena consciência de que aquela mega árvore era o suficiente para que ninguém nos visse e torcendo para que o vinho estivesse sendo mais interessante na sala, torcendo para que me deixassem aproveitar pelo menos um segundo…
— Sininho! É você!
A voz de Johnny veio acompanhada do empurrão que recebi no peito, afastando-me a alguns vários centímetros de .
— Johnny… — abriu um sorriso mecânico. Me virei para Suh com uma face de ódio, mas ele nem pareceu reparar. Só tinha olhos pra ela, é claro. É claro.
— O que vocês estão fazendo aqui? Fiquei sabendo que tem vinho rosé, o que é surpreendentemente bacana. A gente para tudo por um vinho rosé — ele sorriu e se aproximou, agora parecendo perceber os enfeites tanto na minha mão quanto na dela — Oh. Querem uma ajuda aí?
— Não precisa… — comecei, mas de repente, Johnny já pegava os pequenos enfeites e, sem nem ao menos levantar os pés, pendurou uma meia de pano há vários metros acima de nossas cabeças.
De alguma forma, aquilo me irritou. Só um pouco.
Acho que percebeu o mesmo, porque logo soltou uma risada engasgada e se colocou na frente dele.
— Não precisa se incomodar com isso, Johnny. Você é nosso convidado, seria indelicado. Por que não vai apreciar o vinho rosé…
— Ah, fala sério, gata, já viu isso aqui? Não tenho 1,85m à toa. Não é, Jae? — ele bateu os ombros nos meus e tentei ao máximo puxar o canto dos lábios para um sorriso quando eu queria pendurar uma de suas orelhas como decoração. — Ninguém nunca te disse que sou o melhor pra alcançar lugares altos? Pode confiar. Onde quer que eu coloque essas aqui?
E então, ele estava se embrenhando entre nós dois, agarrando uma caixa de papais noéis de pano e avaliando qual o melhor espaço para colocá-los.
Olhei pra sem expressão. Ela baixou os ombros. Aquilo era uma piada, certo? Eu estava tendo um derrame, é isso?
Bem, talvez Felicity tivesse alguma razão, afinal. Eu podia não ser muito confiável, e talvez pudesse colocar uma barata no purê de batatas de Johnny.
Com pensamentos felizes e natalinos, soltei uma grande expiração e comecei a pendurar as malditas bolas brilhantes em seus devidos lugares.

🎄🍷🎄


As coisas não foram ficando melhores com o passar das horas.
Grande parte da comida já estava pronta porque Felicity, aparentemente, tinha ficado animada demais com a nossa reunião. Era um ano atípico pra todo mundo; tanto eu quanto Eunwoo estávamos em intensas semanas de promoção, Jungkook também estava trabalhando, Yugyeom se concentrava na sua primeira turnê solo em terras internacionais e Mingyu… bem, Mingyu faria o que Felicity quisesse fazer.
Com o grande acontecimento inédito de todos nós estarmos em Seul na época do natal, nada mais justo do que passarmos a data juntos, trazendo alguns agregados como Bangchan – que estava cada vez mais fazendo parte do grupo –, Bambam, Hoshi, Moonbin, Jimin, algumas garotas que se misturavam entre amigas e ficantes e, claro, Johnny Suh.
Meu grande amigo Johnny Suh.
Ele estava sendo genuinamente a alma da festa, com suas piadas ácidas e imitações ridículas de Lee Sooman que faziam ser impossível que você não morresse de rir como um cavalo relinchando em menos de 5 minutos estando na presença dele. Estou falando muito sério.
Aquela era a realidade de qualquer ambiente que tivesse Johnny. Ele sempre te daria motivos para querê-lo por perto, e eu realmente queria. Johnny era um dos meus melhores amigos, a personalidade ensolarada e animada de nossa dupla, enquanto eu era… bem, o lado contrário. E eu amava esse cara, de verdade. Mas hoje, por Deus, estava torcendo para que ele se sentisse agraciado por sua plateia e quisesse ficar o tempo que fosse necessário naquela sala fazendo as pessoas soltarem as tripas de tanto gargalhar com alguma história engraçada de Chicago, porque finalmente tinha conseguido um momento a sós com . Bem, a sós com um frango que eu tirava do forno enquanto começava a cortar as batatas para colocar em uma travessa, mas depois de 3 horas desde que tinha passado por aquela porta da frente e de ser constantemente interrompido pelos outros, isso podia ser considerado a sós.
— Felicity deu uma pequena exagerada, como você pode ver — ela murmurou ao meu lado na ilha, apontando para a gama de comida enfileirada na outra pia, dispostas em vasilhas com filme plástico de proteção em cima — Acho que ela imaginou que vocês chamariam mais gente.
— Acho que ela sempre espera mais gente — fiz uma careta e ela riu. Puxei o frango para o centro da travessa, que tinha a crosta bem dourada e ainda saía bastante fumaça por ter sido tirado há menos de 5 minutos do forno. Pelo visto, Felicity tinha seguido à risca todas as minhas dicas pelo telefone. — Pode pegar uma faca grande pra mim? — pedi, mas logo me toquei — Se bem que…
revirou os olhos.
— Eu consigo não causar um desastre em 8 metros.
Dei um sorrisinho de deboche e a vi percorrer a cozinha até uma gaveta, olhando atentamente para dentro dela por 2 minutos até fechá-la e abrir a debaixo, procurando de novo e repetindo o movimento de fechar e abrir outra. Depois de ter feito isso em todas, ela se voltou pra geladeira e olhou lá dentro.
— Minha nossa… — arfou e de repente puxou a faca grande lá de dentro, fechando a geladeira e trazendo o objeto pra mim — O quanto Yugyeom pode ser maluco pra cortar um lacre com isso? Inclusive, tem um hambúrguer mumificado bem ali. Tá escondido atrás de um vidro grande de ketchup, por isso Felicity não está quebrando essa casa nesse exato momento.
Soltei uma risada alta, tanto pelo comportamento óbvio de Jungkook em esquecer comida na geladeira por dias quanto pela cena imaginária de ver Felicity entrando em colapso com isso.
— Isso seria tão, tão bom — balancei a cabeça e comecei a tirar a primeira coxa, e depois fatiar o peito. se achegou ao meu lado para ver o processo e abriu um sorriso com a organização da coisa: as tiras da carne sendo perfeitamente cortadas e colocadas no meio de um arranjo perfeito de batatas e outros legumes, tirando as cebolas que a maioria detestava.
— Parece muito bom. Por que nunca fez um desses pra mim? — ela estreitou os olhos na minha direção.
— Mas eu fiz.
— Você fez um frango seco e transformou ele em hambúrguer… seco — ela deu de ombros. Arregalei os olhos na mesma hora.
— Você não tinha reclamado naquele dia.
— Foi a primeira coisa ruim que você cozinhou pra mim, isso não tinha importância. Ainda mais que ainda estava melhor do que tudo que eu já tentei fazer.
— Isso explica tudo — virei pra ela e me lembrei exatamente daquela sexta-feira agora como se fosse ontem. — Eu sabia que tinha alguma coisa estranha. Você bebeu mais vinho que o normal e deixou o hambúrguer meio comido, e você nunca deixa as coisas pela metade.
mordeu o lábio inferior e murmurou um pequeno “ops”.
Que inferno. Que linda.
— Parece que você me pegou.
— Ah, eu queria muito te pegar — falei de repente, sem nenhum filtro. Não que eu me importasse com isso, e agradeci a céu e terra por estarmos parcialmente sozinhos na cozinha – tirando Jungkook que entrava e saía para perguntar o tempo todo se a comida já estava pronta.
me encarou de soslaio e se aproximou despretensiosamente, olhando para os lados antes de sussurrar.
— Podemos ir pegar algumas decorações que faltaram no banco do passageiro do carro de Felicity… A garagem é muito grande e tenho medo de não achar sozinha.
Meu corpo reagiu como se tivesse recebido uma picada da maior abelha do mundo. Pensei rápido, ainda com os dedos pousados sobre a carne, olhando pra ela com as pupilas dilatando, e o coração nem se fala, inchou como um balão. Como era possível que me causasse essas coisas a essa altura do campeonato?
— Não brinca comigo…
— Não estou brincando, tem mesmo enfeites extras no carro dela, e também…
— Então precisamos pegá-los logo antes que o papai noel desvie dessa casa por não achar a estrela da ponta — falei rápido e dei de ombros. Ela baixou os olhos pra morder os lábios de novo! Fala sério!
Eu esperava muito, de verdade, que ela não fizesse aquilo livremente pra todo mundo ver nas horas vagas.
— É, precisamos pegá-lo. E rápido — ela levantou uma sobrancelha e olhou brevemente para as minhas mãos ainda na carne. Me ajeitei na mesma hora, e limpei a garganta.
— Claro… — tirei as mãos daquela coisa, andando meio desorientado na direção da pia, pensando em quantos enigmas eu gostaria de fazer com naquele carro, ou em qualquer outro, e de gravar a voz dela na minha mente de novo quando estivéssemos…
— E aí, essa comida sai ou não sai?
Virei para a entrada da cozinha. Johnny acabava de entrar por ela com um sorriso de orelha a orelha e, é claro… sorrindo como um idiota para .
— Ei, , a loira ali fora disse que só está esperando vocês terminarem com essa parte aqui. Quer ajuda pra colocar a mesa, Jae?
Eu sei que ele estava falando especificamente comigo, sei que seus olhos estavam direcionados pra mim, mas só consegui abrir e fechar a boca algumas vezes e encarar minha namorada, que me encarava de volta com aquele tipo de olhar como: o que eu faço? E eu devolvia com: eu não sei, eu não esperava por isso. Mas pareceu uma tamanha tolice até mesmo pensar nisso porque é claro que estávamos falando de Johnny Suh.
— Johnny, na verdade… — comecei a falar enquanto secava as mãos em um pano — Eu e íamos…
— Pegar enfeites no porta-malas — falou na frente, gesticulando para Johnny, que franziu o cenho rapidamente — Lá embaixo. No estacionamento. Faltou algumas coisas pra serem colocadas em cima daquela lareira artificial, e aí…
— Ir lá embaixo agora? — ele balbuciou, puxando o casaco para olhar as horas — São quase meia noite, gata, a temperatura já está abaixo de zero. Olha a neve lá fora. Não, de jeito nenhum. Johnny aqui vai fazer isso pra você — ele bateu no peito com um sorriso enorme e tive vontade de ter uma síncope. Sim, uma vontade estranha, mas me faria estourar um nervo e não me lembrar disso depois.
certamente olhou pra mim primeiro, buscando um auxílio, mas eu sinceramente perdi todos os argumentos que já tive algum dia na vida.
— Que isso, Johnny, não precisa disso, eu coloco um casaco…
— De jeito nenhum, gata, seria uma falta de cavalheirismo te fazer sair do aquecedor por causa de alguns pedaços de plástico. Nem acredito que Jeong ia permitir isso, seu cuzão — ele me fuzilou com o olhar e então fez um pequeno afago no ombro dela — Não se preocupa, vamos até lá fazer o serviço. Vamos, Jae! Terminou de limpar as mãos? Vamos pegar enfeites de natal! — ordenou, apontando para a porta da cozinha com a cabeça.
De novo: não sei como fui capaz de não pegar aquele osso ainda fumegante do frango e jogar direto nos olhos dele.
Ah, Deus, era pedir muito que eu tivesse um momento a sós com a minha namorada? Só um simples momento onde eu pudesse beijá-la e entregar seu presente?
— Mas… — tentei, e ele logo levantou a mão pra me calar.
— Sem discussão, cara. A galera ali não vai aguentar os petiscos por muito tempo. Você consegue se resolver com a loirinha pra organizar a comida, não é? — ele se virou pra com a voz extremamente dócil. Ela apenas assentiu, um pouco mecanizada — Ótimo. Mas se precisar de ajuda com isso também, vou lá embaixo e volto em menos de 5 minutos.
Ela não precisa de ajuda, idiota! Eu quis mesmo gritar isso, e talvez tenha percebido, porque logo soltou uma risada sem humor e balançou as mãos em negativa.
— Não precisa, eu vou chamar Felicity e vamos organizar tudo… Não se incomoda.
— Claro, mas se precisar de ajuda, você sabe… — e ele deu uma piscadinha pra ela. Aquele tipo de piscadinha que não se dava pra alguém que você não quisesse beijar depois.
Ou coisa pior.
E bom, talvez naquele momento eu tenha planejado descer com Johnny em silêncio e prendê-lo no mesmo porta-malas que tinham os enfeites. Talvez até mesmo embaixo do próprio carro.
Uma palma no ar me tirou da atmosfera do meu ódio e vi que Johnny tinha se aproximado de mim.
— Acelera, Jaehyun! Ou Jungkook vai comer todas as batatas!
Soltei um grunhido ínfimo, sufocando toda a minha frustração. Olhei pra , que ia ficando pra trás à medida que meu braço era puxado por Johnny para o outro cômodo e não soube dizer se ela estava tão indignada quanto eu ou se estava reprimindo uma risada porque era tudo que podia fazer agora: rir.
Maldito Johnny.

🎄🍷🎄


O jantar tinha acabado, mas a bebida estava bem longe disso.
Eunwoo já estava bêbado o bastante para se oferecer para levar os cães de Jungkook para passear na neve. Disse que seria divertido, e que eles precisavam dessa experiência para um crescimento pessoal. Mingyu começou a concordar com o assunto, e Eunwoo pedia para Bangchan amarrar os cadarços de seus tênis enquanto exigia que Yugyeom o trouxesse mais suco porque não importava, ele tinha nascido em novembro e, portanto, era mais novo.
Felicity estava andando por aí com o telefone enfiado entre a orelha e o ombro, alegando que precisava ver se alguma loja de conveniência estaria necessitada o suficiente para ficar aberta no Natal e quisesse vender as malditas cervejas e o soju que ela tinha barrado no início, mas que se viu sem força nenhuma pra sustentar essa ordem diante da pressão de garotos que só queriam beber algo decente.
E no meio de tudo isso, encarei do outro lado da mesa, que ainda mastigava um pouco do cheesecake que Felicity havia feito de sobremesa enquanto tentava fazer um mínimo sinal ao redor para que ela visse a mesma coisa que eu: aquele bando de idiotas totalmente distraídos que não iriam atender seus próprios nomes se fossem chamados, e que essa era a nossa chance.
Mas outra pessoa parecia interferir no meio dessa bolha ao mesmo tempo, um cara que estava rindo da piada escrota de Eunwoo sobre enfiar o suco de Yugyeom em certas partes não mencionáveis e também... estava concentrado demais em se sentar perto da Sininho e fazer perguntas sobre a sua vida.
Sei disso porque ele estava sentado bem ao lado dela. Na minha frente.
E sei porque aquele era o meu lugar. Porque Jungkook tinha feito o favor de, disfarçadamente, colocar um copo de licor de pêssego em cima da cadeira para impedir que as outras pessoas se sentassem, mas então, quando voltamos do estacionamento e saí da cozinha com um minuto de atraso, trombei com esse babaca bem confortável no assento. E me olhando com aquela mesma expressão: o que eu faço?
Nessa situação, ela só poderia tentar me amarrar na minha própria cadeira para que eu não chutasse Johnny dali.
Ainda estava tentando fazer isso.
Tentei rir de Jimin quando ele elogiou a comida, ou quando mencionou sobre meus projetos com a Prada, ou sobre a turnê futura na América Latina, coisas desse tipo que me impediriam de demonstrar o quanto estava fervendo por dentro. E por um momento, achei mesmo que estava exagerando, mas o pequeno pacotinho de estava vibrando nos meus bolsos e achei que seria mais fácil simplesmente dá-lo a ela quando cheguei aqui. Mas eu não estava pronto para uma eventualidade chamada Johnny.
— E adivinha só: minha camisa abriu do nada. Eu juro. Parecia que era parte da performance, mas os botões já estavam frouxos antes de eu entrar e simplesmente decidi, por que ficar com essa coisa, não é mesmo? — disse ele, rindo de um jeito convencido. — Jungkook pode confirmar que essas coisas acontecem de verdade. Não foi ele também que perdeu um botão em Las Vegas?
Jungkook não estava presente. Não mentalmente pelo menos, porque os olhos estavam ocupados sendo sugados pelo telefone.
riu um pouco, ainda concentrada no cheesecake, e Johnny se virou pra mim.
— Você lembra desse dia, Jae? Era pleno inverno, então não tinha como ser agradável. Mas isso já aconteceu com todos nós, independente do grupo. Talvez com o Jae tenha acontecido de perder botões porque as garotas depois o puxavam com muita força, mas...
Quase engasguei com a bebida. parou o garfo da torta no meio do caminho.
— Do que você tá falando? — perguntei enquanto tentava não tossir. Só por isso, minha voz saiu tranquila, o que não combinava em nada com meu rosto retorcido e meus olhos se arregalando.
De qualquer maneira, Johnny apenas deu de ombros, como se não tivesse falado nada de errado.
— Só um fato. Você é o cara mais popular do grupo, lógico que as garotas...
— Você não tá falando sério — interrompo e olho pra logo em seguida — Ele não tá falando sério.
— Eu tô sim.
— Você não está.
jogou os olhos semicerrados na minha direção, e alguma coisa me disse que eu teria muito o que explicar depois de tocar a campainha de seu apartamento mais tarde. Se é que ela atendesse.
Johnny me encarou com o cenho franzido.
— Por que tá falando isso? É só o nosso trabalho: ser gostosos inalcançáveis. É isso que a mulherada quer ver. Acha que as pessoas gostaram mesmo de Sticker de primeira? Claro que não! Mas tem eu, você e Taeyong exibindo vários meses de academia, e isso conta pra caralho. Não concorda, Sininho?
Olhei pra imediatamente, sem mais respostas. Sei que Johnny está errado, mas bem, ele sempre diz idiotices como aquela e eu não me dou ao trabalho de retrucar. Se fizer isso agora, vai ser estranho. Mas o jeito como encarei ela naquela hora já pareceu um pouco diferente.
apenas cruzou os braços enquanto recostou-se para trás, olhando de mim para Johnny.
— Uhum. Claro, acredito que sim. Gostosos e inacessíveis. Aposto que já ficam esperando a tocaia no fim do show.
— Não. — Falei imediatamente. Johnny abriu um sorriso arrogante.
— Pegou o raciocínio da coisa, gata. Você imagina a confusão que fica no aeroporto quando estamos passando?
Tamborilei os dedos na mesa enquanto desviava o rosto para prestar atenção no relato de Johnny. Não sei porque fiquei tão nervoso com tudo que ele falou. Não é verdade. Quer dizer, toda essa coisa de assédio barato e fãs malucas que arrancam botões é mesmo verdade, e em um ponto ele estava certo: são consequências do trabalho. A parte em que me irrita é essa generalização de que seus colegas gostam disso tanto quanto ele. E estava bem longe disso.
Falei pra mim mesmo que entendia isso. Estava rodeada de amigos com a mesma profissão, e mesmo quando era apaixonada por seu melhor amigo, tenho certeza de que não fazia aquela expressão azeda quando Jungkook contava que tinha sido apalpado explicitamente em uma passarela de seguranças. Várias vezes.
Mas por que estava tão nervoso com aquele olhar de esguelha que ela me lançava, como se fosse a primeira vez que escutava sobre isso? É uma mudança de comportamento muito brusca pra quem já sabe bastante coisa ou quase tudo sobre mim.
— E não fica mais tão divertido, entende? — agora Johnny levantou os ombros, mas ainda tinha o mesmo sorriso intenso de antes. — Quando a gente gama em uma delas, acabou. Não quer nem passar perto dessas coisas fáceis. As coisas mudam. Por exemplo… — ele inclina o pescoço para a frente — Se eu tivesse uma namorada como a Sininho, eu andaria por aí com uma camisa de força, sem poder tocar ou ser tocado por outras mulheres.
Ri imediatamente. Aquele tipo de risada perplexa.
— Você tá mentindo — acusei, pegando meu copo com alguma bebida dentro pra tocar os dedos em alguma coisa.
Johnny se virou pra mim com humor.
— Quem te garante isso?
— O seu histórico garante. Quando namorou com aquela garota Amilyn, só fomos descobrir depois de 2 anos e você com certeza não estava usando uma camisa de força durante esse tempo.
Ele me encara por alguns segundos para ponderar a história e em seguida recosta no banco com um suspiro.
— Fazia parte do trabalho esconder o namoro.
— Esconder do mundo, não dos amigos. Aliás, foi por esconder o namoro desse jeito que você acabou perdendo ela. Tem noção do quanto isso não faz sentido? É babaquice.
Juro que falei as primeiras palavras que estavam na minha cabeça. Tenho essa mania quando estou com meus amigos, e ainda mais quando estou com Johnny, já que convivemos mais da metade do dia juntos. Mas não esperava que minha frase saísse naquele tom – aquela coisa que se parecia com ressentimento.
Eu não chegaria a essa conclusão imediatamente, mas cheguei assim que vi a expressão de mudar, com suas costas chegando pra frente e sua boca se abrir ligeiramente enquanto fazia aquela cara de “não acredito que você disse isso”.
— Babaquice?! Já pensou que talvez ele só estivesse tentando protegê-la dos genocidas da internet? A privacidade é um direito básico. As pessoas…
— O que a internet tem a ver com amizades internas? Quer comparar pessoas sem nome e sem rosto com as pessoas que você escolheu manter para levar a vida?
trincou os dentes na mesma hora, como sempre faz quando deixa claro que está nervosa. Ótimo. Era tudo que eu queria: discutir com a minha namorada no meio da ceia de natal.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Que bom, não seria legal escutar.
E acho que isso devo tê-la irritado ainda mais.
Vi as narinas dela inflarem e fiquei louco pra entender o que merda está acontecendo aqui, mas como de praxe, Johnny expirou pelo nariz antes de interromper.
— Ei, cara, que jeito de falar é esse? Graças a mim, você e eu não estamos trabalhando hoje e não fui obrigado a ir á igreja com os meus irmãos, pode agradecer sendo menos idiota? Sininho vai gostar.
— Com licença… — joga a cadeira para trás e se levanta — Vou dar uma volta.
— Como assim? Uma volta onde? — Johnny rapidamente pergunta. Ainda estou exasperado demais para falar, então fico apenas olhando pra ela, esperando suas próximas palavras.
Ela não me olha de volta. Em vez disso, apenas dá de ombros e responde diretamente para Johnny.
— Sei lá. Só vou ver umas coisas.
E sai da mesa.
Não entendo isso. Não entendo absolutamente nada disso. Fico parado por um tempão, tentando analisar que horas falei algo tão grave para deixá-la tão irritada, mas não acho nada fora do comum. Além do meu tom idiota impulsivo, não há nada que justifique sua saída. não era tão emotiva assim.
— Cara, acho que você deixou ela chateada — Johnny analisou enquanto encara as costas de se afastando para outra sala. Ele logo se vira para mim e acrescenta: — Não, você com certeza a deixou chateada. Qual seu problema? Foi o licor?
— Eu não sei — friso enquanto repito os mesmos movimentos para colocar de pé — Vou falar com ela.
— Acho melhor eu…
— Não, ela não vai se enfiar na mata ou coisa parecida, pode terminar o seu vinho rosé — coloco a minha taça bem em frente ao seu queixo e observo os seus olhos confusos para mim.
Apenas dou de ombros e vou na direção em que entrou. Se Johnny inventar de vir atrás de mim para dar uma de herói, juro que ligo pra mãe dele e a faço vir buscá-lo para ir à igreja. Seria hilário e ele com certeza me mataria depois, mas o faria sumir do mapa por umas boas horas até que eu resolvesse isso.
Repito: amo meu amigo. Mas o Natal não estava cedendo a vibe romântica perfeita pro meu namoro secreto tanto quanto eu imaginei.

🎄🍷🎄


Não foi nada complicado achá-la.
Encontrei parada em frente ao piano da sala dos instrumentos de Jungkook. Não sei exatamente porque ele tem uma sala de instrumentos quando não tem tempo de aprender a tocar todos eles, mas aquela bagunça era um ponto harmônico e interessante, que se mesclava ao restante da casa. estava olhando para as teclas sem tocá-las, e eu pararia para admirar isso se não estivesse tão agitado.
— Você quer me explicar o que foi aquilo? — falo assim que fecho a porta. Ela nem se assusta com a minha entrada repentina. — Sei que eu vacilei no tom, mas não falei por mal, era só um assunto que discutimos, e eu pensei…
Seja lá o que eu pensei, não tive a oportunidade de falar. Na verdade, meus pensamentos paralisaram assim que as coisas aconteceram em um pulo. Em um segundo, eu estava tagarelando, e no outro, não falei mais nada porque a boca dela me tomou tão de repente que obrigou todas as palavras a voltarem pela garganta.
Isso era uma confirmação de que talvez eu não tenha vacilado tanto?
Levo um tempo pra me situar na coisa. Tomei só umas 3 taças de vinho, mas toda a agitação daquela possível briga na mesa, que me fizeram pensar que não fosse querer ir pra casa comigo hoje me deixaram um pouco devagar, mas logo me recomponho e estou beijando-a de volta, como sempre, obedecendo a todos os instintos do meu corpo que reconheciam cada centelha da presença de desde que coloquei meus olhos nela.
Quando puxo sua cintura para cima do piano e percebo suas mãos explorando meu peito, levo outro momento pra perceber que ainda estamos no meio de uma maldita festa com mais da metade de pessoas que não entenderiam nada se entrassem por aquela porta de repente.
— Calma aí, linda — me afasto de sua boca com pesar. Puxo seu quadril de volta para baixo, encarando-a de cima com um meio sorriso — Devia ter dito que levaria os cachorros do JK pra passear se queria dar uma escapada.
— Achei que fazer uma carinha emburrada fosse fazer você vir mais rápido.
— Ah, é claro que foi isso — reviro os olhos, e sinto seus lábios nos meus de novo. Macios, provocantes, apressados — Da próxima vez, prometo responder daquele jeito mais cedo pra encurtar o caminho.
Ela faz uma careta e sorri de novo, mas noto algo diferente desta vez. Seus olhos não são mais tão divertidos, e o semblante esconde uma reflexão. E fico extremamente chocado – de novo – por pescar essas coisas tão fácil.
— Tá tudo bem mesmo?
— Claro que sim.
— Você ficou chateada com o que Johnny disse?
— Claro que não. Sei bem dos detalhes que fazem parte da vida de um idol.
— Mas não quer dizer que gosta disso.
desvia os olhos para o lado e tira os braços do meu ombro. Parecia chateada daquele jeito envergonhado, tentando disfarçar. Da última vez, tinha levado uma hora para dizer que se arrependeu por ter me enviado cookies de laranja na empresa e não ter recebido um mísero pronunciamento sobre isso, até que eu explicasse que eu como Jeong Jaehyun não podia receber nem um pedaço de papel de pessoas de fora, quanto mais embalagens sem identificação.
Era isso que acontecia quando as pessoas não sabiam que você estava namorando.
Espero ela dizer mais alguma coisa, mas quando não vejo intenção disso, aproveito o momento para vasculhar meu bolso da frente e puxar o pequeno saquinho de veludo que fiz de tudo para proteger essa noite.
Quando encara aquela coisa na palma da minha mão estendida, seus olhos crescem de tamanho e sua boca se abre imediatamente.
— Você disse sem presentes!
— Não disse, não.
— Disse, sim! Falou que respeitaria meu momento de desemprego e que iríamos transferir o Natal para abril.
— Ah, isso… — mordo os lábios, cerrando os olhos — Ajudaria se eu dissesse que não foi tão caro quanto imagina?
— Jeong Jaehyun…
— Não chegou nem perto do valor do meu carro.
Jaehyun. — Ela repete, com os dentes trincados. Dou de ombros, despreocupado.
— Agora já está feito. Abre.
— Não quero isso.
— Não se recusa presentes de Natal. Vamos — abaixo o pescoço na altura de seu nariz e sussurro — Por favor.
hesita por um momento até decidir pegar o embrulho e abri-lo. Quando o faz, vejo seus olhos acenderem uns quatorze tons mais brilhantes que o normal. O suficiente para me fazer querer buscar um extintor de incêndio.
— Meu Deus, Jaehyun. É lindo — ela suspira quando pega a correntinha de ouro nos dedos, bem onde a primeira letra de seu nome é moldada numa perfeita caligrafia.
— Eu sei. Por isso pensei em você — puxo uma parte da corrente até o fecho. Ali, bem perto do trinco, há a letra J em tamanho menor, travada em uma posição para cair bem na região de sua nuca — Pensei em nós.
encara os dois pingentes separados em cada extremo e solta um suspiro. Então, ergue o queixo e balança a cabeça minimamente.
— Como pensou numa coisa dessas?
— Pensei em algo sutil que não fosse uma aliança de 4 quilates. Na verdade, 10 quilates seria o ideal, mas sei que você não gosta. Então eu só queria uma… uma autenticação. Pra você ver que isso é sério — engulo em seco. Ela está me encarando com muita atenção — Você é o meu compromisso. E se eu não posso andar por aí com um colar com seu nome, pelo menos espero que saiba que eu queria.
não diz nada por um momento. Ela ainda encarava o colar quando finalmente bufou e o guardou de volta na bolsinha, olhando-me com os olhos agitados, procurando o que falar.
— Você não pode ser real.
Olho furtivamente sobre o ombro na direção da porta, com um sorriso divertido.
— Acho que sou o único cara de 97 nessa casa que escovou os dentes com a Sininho ontem de manhã, então não…
Sinto seu beijo me afundar de novo antes que termine a piadinha. Ah, isso não vai cansar nunca. Sei que beijei algumas várias pessoas na vida, mas nenhuma delas se comparou a essa coisa cheia de sentimentos que se apertam entre meus lábios e os lábios de .
Quando ela me solta de novo, está me olhando profundamente.
— Sou uma boba. Uma idiota. Não comprei nada pra você.
— Não, para — acaricio seu cabelo e estalo a língua — Eu fui a pessoa que descumpriu o combinado. Corri o risco de você me odiar por causa de alguns wons não planejados. Na verdade, estou correndo risco desde que entrei aqui com Johnny e as tentativas dele de dar em cima de você.
Foi a vez de rir.
— Ele não desiste fácil, não é?
— E eu costumo admirar isso, mas hoje quero matá-lo.
sorri e estende o pacote em minha direção, com um olhar acanhado.
— Hmm… Pode colocar em mim?
Assinto e pego o pacote enquanto ela se vira de costas e coloca o cabelo para o lado. Ponho a letra de seu nome para a frente e o J para trás, dando um sorriso sozinho por pensar que aquilo estava mesmo acontecendo – e que não precisei pedir para que ela me encontrasse no estacionamento para fazer acontecer.
se vira a tempo de me dar um beijinho rápido, aumentando mais o sorriso a cada segundo.
— Obrigada. Por estar passando o Natal comigo.
— Não trocaria isso por nada.
— Ótimo. Porque em abril vamos poder trocar quantos presentes quiser.
Rio pelo nariz, acariciando sua bochecha.
— Tudo bem, vou pedir algo bem simbólico.
— Vários presentes mesmo. Com direito a roupas e viagens — ela diz de novo e eu balanço a cabeça.
— Claro. Pode me levar naquele restaurante legal de Gangnam.
— E… — ela me olha por um momento com anseio. Depois, entrelaça os dedos nos meus e engole em seco — Um casal de verdade faz isso sem ter medo. Sem se esconder dos próprios amigos.
Quero parecer confuso, mas só consigo ficar parado enquanto ela lida com as engrenagens do cérebro.
— De primeira, eu tive medo das coisas não darem certo, eu admito. Não entre eu e você, mas entre o pessoal. Não queria que pensassem que eu estava indecisa, ou que ficasse um clima desconfortável por causa do feriado passado, ou que nossa relação não fosse mais a mesma. Mas acho que estou exagerando quando sei mais do que tudo que quero ficar com você. Quando não me importa todas as coisas possivelmente ruins que possam vir pela frente, nós estamos juntos e podemos enfrentar qualquer coisa.

— Estou pronta pra ser a namorada de Jeong Jaehyun. Abertamente, pra quem quiser ouvir. Acho que vai ser interessante — ela abre um sorriso grande, bonito, aliviado, como se finalmente tivesse se livrado de um piano nas costas. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela me puxa para a porta e se vira pra mim de novo — Feliz Natal, Jaehyun. Espero que sejamos bons em interrogatórios de uma hora.
Então, respira fundo e abre a porta, puxando-me para fora enquanto fala alto para todos na sala-de-estar:
— Ei, pessoal! Vocês precisam saber de uma coisa!


FIM!


N/A FIXA 📌: Obrigada por ter lido, até a próxima :)
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