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Última atualização: 05/10/2024

Prólogo

2 de julho de 2003, 14:35 - Winchester, IL - A famigerada bronca

rolou os olhos mais uma vez e ganhou um tapa na cabeça.
— Não revire os olhos, moleque! Eu te criei melhor que isso — sua mãe, Linda, reclamou.
Ele fez uma careta, irritado.
— Você também me disse que devo aceitar um não quando receber um. Então por que aquela garota não pode fazer o mesmo?
— Ela gosta de você. Não esqueça o que eu sempre te disse, . Seja gentil e respeitoso com as mulheres e não as magoe propositalmente.
— Mas não foi de propósito, mãe! — ele retrucou, indignado com a bronca. — Eu só disse que não tenho interesse e ela começou a chorar.
Linda estreitou os olhos, desconfiada.
— Tem certeza?
— Absoluta — garantiu ele, sem nem hesitar, olhando no fundo de seus olhos, azuis estupidamente claros e frios como os que ele havia herdado dela.
Sua mãe respirou fundo e pareceu se acalmar um pouco.
— Só tome cuidado, filho. Tem homens por aí que são insensíveis e cruéis com as palavras. Só não quero que você seja um deles — ela justificou, olhando pela janela que dava uma visão da casa vizinha.
Era ali que sua melhor amiga morava com o marido e o filho caçula. O mais velho, , era o melhor amigo de e os dois basicamente conviviam juntos desde que ainda usavam fraldas. Tinham só três meses de diferença um do outro. No entanto, à medida que foi crescendo, e o pai pararam de se dar bem e fazia cerca de três anos que ele havia ido morar na casa do avô, que ficava a dois quarteirões dali.
Winchester era uma cidade minúscula onde todos se conheciam e meio que não era segredo de ninguém como o pai de tratava mal a esposa. Era um homem completamente imprevisível e até alguns anos antes ele tentava disfarçar quando alguém ouvia, mas até isso parecia ter sido deixado de lado, especialmente quando o filho saiu de casa.
suspirou e assentiu para a mãe, que veio até ele e o envolveu em um abraço carinhoso.
— Não vou me tornar um escroto que nem aquele cara, mãe. Além disso, tenho o papai como exemplo. Nunca vi ele te tratar mal.
— Até porque se ele fizesse isso eu o expulsava de casa — ela resmungou, fazendo-o rir.
No entanto, ambos sabiam que aquela brincadeira tinha um fundo de verdade. Diferente da casa vizinha, na deles era sua mãe quem mandava. Linda não deixava ninguém pisar nela, mas também era um poço de gentileza.
tinha certeza de que seu pai estava mais do que satisfeito em deixar que ela mandasse nele. Tinham casado cedo, logo após se formarem na escola, e dois anos depois, ele nasceu. Eram só os três ali e embora já tivessem perto de completar vinte anos juntos, nunca tinha conhecido nenhum casal tão apaixonado quanto seus pais.
Eles tinham o tipo de amor, amizade e companheirismo que ele almejava ter um dia, em um futuro distante provavelmente. Tinha só dezesseis anos e havia muito que ele queria fazer na vida antes de querer casar com alguém.
A primeira delas era sair daquela cidadezinha.

27 de janeiro de 2005, 17:36 - Winchester, IL - Uma semana antes do baile de formatura

— Não acredito que você fez isso, ! Você é um idiota escroto! — Ela o empurrou com força, fazendo-o dar um passo para trás.
Estavam no gramado da escola e era fim de tarde, com poucas pessoas ali, mas que estavam bem curiosas pela súbita discussão.
— É só um baile idiota, Stacy — ele falou com calma.
— Não é um baile idiota. É a nossa formatura! Achei que íamos juntos. Estávamos indo bem e... Podíamos concorrer ao rei e à rainha do baile.
respirou fundo e lutou para não revirar os olhos.
— Eu nunca disse que iria ao baile. Sinto muito se te passei essa impressão. Mas eu não vou nem estar aqui.
— E o que tem de tão importante que não pode ir?
— Eu vou embora em uma semana, Stacy. Bem, e eu vamos.
— Embora? — Ela arregalou seus grandes olhos castanhos em surpresa. — Pra onde?
e eu conseguimos um emprego em Chicago. Além disso, queremos formar uma banda e não vamos conseguir nada ficando presos nessa cidade minúscula.
Ela abriu a boca em choque.
— E você não pensou em me contar? — A voz dela falhou e imediatamente um par de lágrimas escorreu. — Nós estávamos juntos!
— Estávamos? Olha... Sinto muito, Stacy. Mas eu nunca te pedi pra ser minha namorada nem nada.
— Como assim? A gente até transou.
— É. Três vezes. Sendo que a última vez foi em setembro — ele lembrou. — A gente nem ficou mais depois. Não sei de onde você tirou isso.
— Mas... A gente sempre andou junto e... Eu achei que era porque você não gostava de ter muito toque físico.
— E eu achei que éramos só amigos. Ficar algumas vezes não quer dizer namorar e você sabe disso.
Ele não entendia que tipo de lógica era aquela. Tinha certeza de que não havia demonstrado nenhum interesse em ter um relacionamento desde o período em que se envolveram, em julho do ano anterior.
Foi com Stacy que perdeu a virgindade, aos dezessete anos. Não estava bem nos planos acontecer durante aquele encontro que alguns caras da escola sugeriram que acontecesse, mas ele tinha bebido um pouco, o que o deixou bem mais relaxado que o normal, embora não estivesse bêbado.
Uma coisa levou a outra e sua primeira vez aconteceu no banco de trás do carro de Stacy. Foi desajeitado, rápido e... honestamente, ele não tinha gostado muito. No entanto, , que tinha um pouco mais de experiência que ele, garantiu que era normal na primeira vez.
Stacy era um ano mais velha e mais experiente também, mas tinha reprovado um ano e os dois acabaram na mesma turma da escola. Foi ela quem o conduziu da primeira e da segunda vez, quando quis dar mais uma chance ao sexo. Ela o ensinou como agradar uma garota e foi até divertido arrancar suspiros e gemidos baixos de seus lábios antes de se fundirem mais uma vez. Foi melhor, durou mais e os dois chegaram lá juntos, o que animou a querer um pouco mais.
No entanto, quando acabou, ele se sentiu vazio. Era um alívio momentâneo e embora tivesse sido bom, ele colocou na cabeça que era porque não estava acostumado ou, talvez, porque era apenas um lance físico.
Ele mudou de ideia duas semanas depois, quando ele e Stacy transaram pela terceira e última vez. Como na segunda, foi bom e deixou os dois satisfeitos, mas aquela coisa física não era bem algo que ele queria a longo prazo, a não ser que gostasse da pessoa.
O problema era que ele não sentia absolutamente nada por Stacy.
Fazia quatro meses desde então e os dois andavam na mesma rodinha de colegas na escola e se davam bem como amigos. Não tinham conversado mais a respeito nem tomado iniciativa de fazer aquilo de novo, mas Stacy era uma presença constante ao lado dele, ainda que não fossem tão próximos.
— Todo mundo meio que achava que a gente namorava. Achei que tivesse implícito. Você nunca foi de demonstrar sentimentos, mas achei que tivesse só sendo tímido…
— Hm... Eu não sou tímido, Stacy. Você sabe que eu falo o que penso. O que tivemos foi legal, mas... Foi só isso. Não tenho sentimentos por você.
Ele falou isso com uma voz suave, tentando se manter o mais gentil possível, mas mesmo assim…
Pá! Um tapa forte estalou em seu rosto, um instante depois.
a encarou meio atordoado e franziu o cenho.
— Que porra você acha que tá fazendo? — ele rosnou, irritado.
Seus olhos de repente eram como um par de blocos de gelo enquanto a encarava. Ele podia sentir toda a gentileza se esvaindo de seu corpo ao mesmo tempo em que o sangue fervia de indignação.
Ninguém havia batido nele antes, nem mesmo seus pais. E os petelecos que ganhava de sua mãe não contavam.
Quem aquela garota pensava que era para se achar no direito de bater nele?
— Você mereceu — foi o que ela respondeu, em seguida, se achando a dona da razão.
— Por que eu disse que não tenho interesse em você? Isso é justificativa pra me bater? Eu não te tratei mal, Stacy. Não sou um daqueles idiotas que você namorou, mas acho que pra você não faz diferença.
O olhar dela vacilou por um instante e ele viu seu lábio inferior tremer.
, eu…
— Vê se me esquece — ele a interrompeu, dando um passo para frente até ficar bem próximo dela. — E aprende a receber um não, porra.
não se importou em ser gentil daquela vez, mesmo que ganhasse uma bronca da sua mãe uma vez que ele contasse sobre aquilo.
Tinha aprendido bem cedo que era melhor contar tudo antes que ela ficasse sabendo por outras pessoas e era algo que funcionava bem entre ele e os pais. Mas sua gentileza também tinha limites e ele não ia deixar aquela garota tratá-lo como quisesse só por causa de um ego ferido.
Enquanto caminhava para longe dos olhares curiosos, com a bochecha esquerda ainda ardendo, agradeceu aos céus por aquela ser sua última semana em Winchester.
Sabia que o futuro era incerto e que ele e teriam muito trabalho pela frente morando longe de casa, mas estavam preparados.
Em uma semana, estariam livres daquele buraco e se tudo desse certo, não precisariam mais voltar a não ser para fazer visitas.

Capítulo 1

14 de agosto de 2017, 16:32 - Apartamento de Hero, Nova York, NY

— Que vaca! — xingou assim que terminou de ler o artigo que tinha acabado de mostrar. — vai ficar puto quando chegar e souber disso. Não acredito que ela fez isso.
— Pois é...
Nem ele, com certeza.
definitivamente não tinha sorte com mulheres que não fossem parentes ou amigas. A prova disso era que Hannah Smith, a sua até então ficante e com quem ele tinha terminado há cerca de um mês, havia tido a brilhante ideia de vender uma notícia sobre eles para um tabloide duvidoso em troca de algum dinheiro.
A questão era que a notícia era completamente mentirosa. A manchete grande ainda brilhava na tela de seu celular:

"Ex de afirma que ele teria provocado um aborto após rejeitar gravidez"

Logo abaixo, havia um texto enorme contando como havia terminado o relacionamento após Hannah contar sobre a gravidez, deixando claro que não queria mais nem ela, nem a criança e, por conta do choque, ela acabou tendo um aborto espontâneo uma semana depois. A pilantra tinha até mesmo conseguido um maldito teste de gravidez positivo para colocar na notícia.
— Você tem que processar ela — comentou, batucando um dedo no balcão da cozinha. — Isso é mentira, né? Esse lance da gravidez? Porque te conhecendo, você já teria contado pra mim ou . Você conta tudo pra gente.
Quase tudo, ele pensou. Mas aquele tipo de coisa? Com certeza.
— Óbvio que é. Ela nunca disse que tava grávida e eu sempre usei proteção nas vezes em que estivemos juntos. Até onde sei, o período dela foi umas duas semanas antes de eu terminar nosso caso, mas essa doida tá por aí agindo como se fosse minha namorada em primeiro lugar.
— Eu bem que falei pra você que eu não ia com a cara dela.
a encarou, inexpressivo.
— Sem ofensas, , mas você não vai com a cara de um monte de gente e mal faz amigos.
— Ei, eu fiz uma amiga nova. A Lexi, lembra?
— A Lexi é sua agente, ela praticamente nem conta.
— E a irmã dela, a Cami? — Ela estreitou os olhos. — A gente até saiu umas vezes, nós três.
.
— Tá bom, eu admito. — Ela suspirou. — Não sou muito aberta a novas amizades, mas eu não ter ido com a cara da Hannah não tem nada a ver com isso. Mas só pra você saber, eu tirei a prova de que ela era maldosa há uns dois meses.
Aquilo era novidade.
— Quando? — Ele quis saber.
— Sabe aquela vez que vim deixar ratatouille pra você? Você tava no banho e eu esbarrei nela. A desgraçada me acusou de querer você e ao mesmo tempo.
— Como é?! — arregalou os olhos, chocado.
— Eu tive essa mesma reação. Quase voei em cima dela, mas pensei que se causasse uma cena ia fazer parecer que ela tinha razão. — Ela deu de ombros. — Então eu só sorri e falei que inveja causava rugas, depois fui embora.
— E por que você não disse isso antes?
— Sei lá, você parecia feliz com ela, e eu não queria atrapalhar isso. Mal te vi saindo com alguém em anos e você nunca assumiu um relacionamento público. Se é que já assumiu algum.
respirou fundo e esfregou o queixo, sentindo a barba por fazer.
— Eu não gostava dela assim. A Hannah era divertida e o sexo era bom, mas... Eu nunca consegui ficar com ninguém a longo prazo porque não consigo desenvolver sentimentos românticos.
— Como assim, não consegue? — riu, incrédula. — Você é uma das pessoas mais carinhosas que eu conheço, .
— Não na minha vida amorosa, aparentemente. Hannah começou a dar sinais de que queria levar o relacionamento adiante, ser mais do que só uma ficante. Mas foi ela quem sugeriu uma amizade com benefícios desde o início, com um papo de que não queria se prender a ninguém.
— E se foi um plano? Você disse que a viu em eventos algumas vezes, né?
— Sim, até que ela veio até mim, a gente flertou e... Bem, o resto você sabe. Mas durou só dois meses. Bem mais do que eu esperava, se quer saber.
— Vou começar a fazer uma triagem de pretendentes — A amiga disse, determinada. — Elas vão ter que passar por mim antes se quiserem se envolver com você.
riu pelo nariz e passou um braço pelo pescoço dela, a puxando para perto. Em seguida, depositou um beijo em sua têmpora.
— Sim, senhora. Acho bom mesmo, porque pelo visto parece que meu senso de julgamento é falho quando se trata da minha vida amorosa. Além de eu ter um talento nato em ferir o ego das mulheres com quem me envolvo, mesmo sem ter a intenção.
— Tipo a Stacy? — perguntou com um sorriso e revirou os olhos, se afastando dela.
— A Stacy não era de guardar rancor por muito tempo. Ela era mais do tipo falar e não fazer. A Hannah ficou quieta antes de soltar a bomba. Mas... — Ele franziu o cenho. — Porra, ? Um aborto? Isso é sério. Ela tinha que ser tão baixa?
Pela primeira vez naquela manhã, a ficha finalmente começou a cair, assim como a máscara de tranquilidade de . Será que ela não tinha noção de como uma mentira daquelas poderia impactar na imagem e na carreira dele? Seu telefone não tinha parado de vibrar desde a publicação daquele artigo e uma rápida olhada nas notificações foi o suficiente para ele saber que centenas de pessoas estavam enchendo suas redes sociais de xingamentos.
Henry já tinha ligado uma vez, informando que já estava tomando providências e tudo até então tinha passado como se fosse um sonho ruim. passou bons minutos esperando acordar a qualquer momento daquele absurdo, porque era isso o que aquilo era.
Ele rejeitar um filho? Provocar um aborto? Ele não tinha nem sido rude com Hannah quando terminou com ela. Até trocaram um abraço amigável no fim da conversa, mas lá estava ela, o esfaqueando pelas costas com uma mentira daquelas apenas para ganhar dinheiro.
suspirou e foi até ele, passando os braços ao redor de sua cintura, o envolvendo em um abraço.
— Eu sinto muito, . Essa acusação é grave demais e ainda acho que você tem que processar ela por isso. É o seu nome que tá em jogo, então me promete que não vai deixar essa idiota sair ilesa.
— Prometo sim. Mas antes quero conversar com ela na presença do meu advogado. Eu também tenho uma carta na manga que talvez faça ela desistir.

***


15 de agosto de 2017, 04:53 - Mansão , Nova York, NY

Ela estava cansada.
Terrivelmente cansada.
Não havia um músculo em seu corpo que não estivesse doendo e tinha certeza de que ensaiar toda a rotina de dança de uma vez só no dia anterior tinha contribuído para isso.
respirou fundo, sentindo um peso no peito enquanto puxava o ar. Em seguida, pegou um dos frascos de medicamentos, tirou uma cápsula e a colocou na boca, engolindo no seco. Sacudiu o frasco de um lado para o outro e conseguiu contar mais onze cápsulas restantes. Não ia dar nem para passar o resto daquele mês, pelo visto.
Uma grande merda, como sempre.
Fechou os olhos e soltou o ar devagar, tentando não chorar.
Não havia tempo para chorar, de todo modo. Era quase cinco da manhã e ela tinha que se aprontar para mais um dia de trabalho, embora mal tivesse dormido quatro horas durante a noite passada.
Além disso, seu medicamento não iria se comprar sozinho.
E custava malditos seiscentos dólares que ela tinha que ganhar nos próximos dez dias. Porque de jeito nenhum ela ia mexer em suas suadas economias e atrasar ainda mais o tempo de estadia naquele lugar.
Então, em um último momento de autopiedade, encarou o teto do quarto que era apenas grande o suficiente para caber uma cama e uma arara de roupas que ela podia apenas esticar o braço e alcançar. O cubículo era um pouco maior que o armário embaixo da escada onde Harry Potter tinha dormido e umas quatro vezes menor do que o quarto que ela costumava ocupar antes, naquela mesma casa.
Até os funcionários que viviam lá tinham cômodos maiores, com condições melhores, mas tudo o que deram a foi um antigo armário de vassouras. Um quartinho da bagunça que havia sido esvaziado assim que seu pai faleceu, um ano antes.
Havia sido um mal súbito. Uma parada cardíaca repentina, decorrente do mesmo problema de saúde que ela tinha herdado dele.
Em um momento, tinha um teto, plano de saúde e tempo suficiente para ensaiar e estudar dança enquanto trabalhava como garçonete em um emprego de meio período; então no próximo, menos de uma semana depois do funeral de Peter , ela descobriu que teria que pagar aluguel no lugar que tinha sido seu lar nos últimos anos.
Porque seu pai não havia nem mesmo colocado seu nome no testamento. Ele tinha uma mansão, dezenas de funcionários e uma empresa de sucesso no ramo de construção, mas não havia deixado nem uma mísera moeda para ela, como se não fosse nada, como se ela nem mesmo tivesse morado com ele por três anos antes de sua morte.
E eles nem mesmo tinham um relacionamento ruim. Não chegava a ser perfeito também, mas havia carinho entre eles e nunca tinha se sentido rejeitada até então. Foi para os Estados Unidos para fazer faculdade e tentar formar uma carreira ali no ramo da dança, e seu pai a tinha apoiado desde o início, garantindo que pagaria sua faculdade. E por mais que não precisasse trabalhar enquanto estava debaixo de sua asa, ela resolveu fazer mesmo assim.
Ai dela se não tivesse feito isso. Provavelmente estaria na rua àquela altura. Depois da leitura do testamento, sua madrasta, Sandra, exigiu pagamento pela sua hospedagem na mansão como se ela fosse uma estranha. Como se precisasse daquele dinheiro, quando ela e seus dois filhos — que nem mesmo tinham parentesco de sangue com seu pai — tinham herdado tudo.
havia se transformado em uma pária da noite para o dia e perdido quase todas as suas economias quando, de repente, foi excluída do plano de saúde familiar e teve que arcar com os custos exorbitantes de seus medicamentos.
Além disso, ainda havia a faculdade. Faltava dois anos para terminar o curso, mas tinha trancado porque seria impossível lidar com os custos sozinha. Ao menos não quando ela tinha uma irmã mais nova no Brasil, a quem tinha prometido ajudar a pagar a faculdade, e não fazia ideia de que aquela era sua nova realidade.
Ninguém da sua família, aliás.
Maia havia ficado bastante irritada quando anunciou que iria morar com o pai, em busca de seus sonhos. Acusou a irmã mais velha — meia-irmã, como ela sempre gostava de enfatizar — de abandoná-la com a avó materna das duas, para ir morar com o pai rico.
Mas aquele tipo de comportamento mesquinho e invejoso não era nenhuma novidade para . Maia nunca conheceu o pai, que abandonou a mãe delas quando ela ainda era um bebê, e saber que tinha uma boa relação com o dela só tornava tudo pior.
As duas mal se falaram nos últimos quatro anos. Suas conversas eram sempre resumidas a diálogos de menos de dez minutos, uma vez a cada quinze dias ou às vezes nem isso. Maia sequer agradeceu, nem mesmo uma vez, pelo dinheiro que mandava todo mês. Ambas sabiam que ela não tinha nenhuma obrigação legal de fazer isso, mas Maia agia como se lhe devesse algo, por ter ido embora sem ela. Por tê-la abandonado, assim como o pai e a mãe, que havia falecido alguns anos antes.
tinha que respirar fundo toda vez que ia falar com ela. Haviam discutido algumas vezes nos últimos anos, mas no último, depois da morte de Peter e de ter que colocar seus sonhos em segundo, terceiro plano para trabalhar dia e noite e arcar com os custos de seus medicamentos, mal teve energia para aquilo. Qualquer reclamação de Maia entrava por um ouvido e saía pelo outro, por mais que às vezes ela tivesse que se segurar para não falar algo ruim movida pela frustração causada pelas suas péssimas condições financeiras e situação de saúde precária.
vivia com um medo constante de passar mal e morrer, assim como tinha acontecido com o pai. Mas além disso, ainda havia o medo de passar mal e ter que arcar com custos hospitalares altíssimos que ela sabia que não teria como pagar.
O governo provavelmente deportaria alguém nessa situação, mas ela tinha cidadania americana desde que nasceu e, para todos os efeitos, era como qualquer um deles, mesmo tendo passado a maior parte da vida no Brasil, após o divórcio dos pais.
Suspirando mais uma vez, ela se arrastou pela cama, tentando ignorar cada músculo dolorido e pegou algumas peças de roupa, antes de sair do quarto até um dos banheiros dos funcionários que tinha certeza de que estava vazio àquela hora, considerando que todos se levantavam perto das seis horas, quando ela já estava de saída.
Meia hora mais tarde, passou na cozinha e roubou uma banana e um pacote de biscoitos do armário para comer no caminho até o trabalho.
Sandra era arrogante e idiota demais para se dar conta de qualquer comida faltando, assim como Charlie e Claire Taylor, seus dois filhos igualmente idiotas.
Às vezes, só queria cair na cama à noite um pouco mais cedo, mas passava mais tempo na rua só para evitar esbarrar com qualquer um dos três.
Funcionava, na maioria das vezes. Especialmente quando ela usava apenas os percursos de entrada e saída dos funcionários, com exceção do jardim. Às vezes, ela esbarrava em Charlie e seu carro caríssimo de última geração quando voltava para casa, enquanto ele saía para alguma festa, mas noventa por cento das vezes, ele a ignorava.
De todo modo, qualquer falta de interação com aquela família não fazia diferença para . Nunca haviam sido próximos e assim que seu pai faleceu, ela se deu conta de que todos os sorrisos e gentilezas eram pura falsidade para agradar Peter.
Mal via a hora de sair dali e ter seu próprio cantinho. Mas manter sua saúde em ordem e ainda bancar Maia era meio caro e não a permitia juntar dinheiro quanto seria possível se tudo o que ganhasse fosse direcionado com ela mesma. Isso sem contar com as moradias extremamente caras de Nova York.
Então ela tinha que aguentar mais um pouco. Talvez só mais uns seis meses até encontrar um lugar razoável e coragem para sair dali também. Querendo ou não, aquela casa era tudo o que conhecia e não tinha nenhum amigo ou amiga próxima que pudesse lhe dar apoio moral para enfrentar o mundo.
Era por ela mesma.
E um novo dia estava apenas começando.

Capítulo 2

19 de agosto de 2017 - Escritório de Advocacia Greenville, Nova York, NY

"No último domingo foi relatado pela Srta. Hannah Smith que o Sr. , meu cliente, teria a rejeitado após a mesma contar sobre uma suposta gravidez que teve um triste fim após o término do relacionamento dos dois.
O Sr. e a Srta. Smith terminaram seu relacionamento — cujo não havia qualquer tipo de compromisso — há pouco mais de um mês, em bons termos e com um sorriso no rosto.
O que ela relata sobre ter sido maltratada e rejeitada são argumentos irreais e não havia qualquer possibilidade de uma gravidez em que meu cliente seria o pai.
Infelizmente, a Srta. Smith resolveu expressar seu descontentamento com o fim do relacionamento um mês mais tarde, através de uma mentira mesquinha, cabulosa e completamente irresponsável, acusando meu cliente de ser culpado por algo que nunca aconteceu. O Sr. em nenhum momento expressou ser o tipo de pessoa que ela relata, e nunca esteve envolvido em escândalos pessoais em mais de uma década de carreira.
Temos provas concretas que podem facilmente refutar tais argumentos irreais, mas para preservar a privacidade das duas partes, isso será tratado em particular.

Nota por Derick Greenville, advogado representante de ."


encarou Hannah de braços cruzados por um instante, em silêncio. Derick, seu advogado, estava ao seu lado, ambos sentados no sofá de seu escritório, com Hannah em frente a eles.
— Você só pode ser muito sem noção pra me acusar de uma coisa dessas. — Era a primeira vez que ele falava com ela desde o término. A primeira vez que a via também.
Algumas horas depois que soube do artigo mentiroso que tinha sido publicado, entrou em contato com Derick, que sugeriu que ele não tentasse entrar em contato com ela sozinho. Durante a semana inteira ele evitou sair de casa e até mesmo entrar nas redes sociais, cheias de pessoas o bombardeando com xingamentos, o acusando de ser misógino e irresponsável, além de outras coisas, como se ele não fosse uma figura pública há mais de dez anos, conhecido por ser exatamente o contrário do tipo de pessoa que Hannah o tinha acusado de ser.
Era inacreditável.
— Eu estava com raiva. — Ela deu de ombros. — Além disso, você não pode provar que era mentira.
— Não posso? — arqueou uma sobrancelha. — Pelo visto, você não me conhece direito, Hannah. Posso fazer muita coisa por você, assim como você fez comigo.
Ela riu, irônica, não parecendo nem um pouco preocupada.
— Tipo o quê? A gente mal saía em público. Até onde sei, você podia mesmo ser um manipulador idiota.
— Pelo menos eu não te mantive em banho maria enquanto saía com outra pessoa. — Ele sorriu, vendo a expressão dela vacilar.
— Como assim? — Hannah quis saber.
então encarou Derick e ele empurrou uma pasta de arquivos que estava em cima da mesa de centro até ela.
Hannah abriu e arregalou os olhos.
Ele sabia exatamente o que ela estava vendo. Bem ali, na primeira página, havia uma sequência de fotos datadas de duas semanas antes do término. Nelas, Hannah estava abraçada e aos beijos com outro homem em um passeio no Central Park.
— Eu não terminei com você sem motivo, sabe. Você era divertida, Hannah.
— Nós não tínhamos compromisso. Não pode me culpar por-
— Mas tínhamos um acordo de sermos exclusivos pelo tempo que durasse. Não menti quando disse que não tinha sentimentos por você. Não fiquei com o ego ferido nem magoado por descobrir que você tava saindo com outro cara enquanto tava comigo. Se você quis sair com ele, foi porque nosso acordo não tava mais te deixando feliz. Não posso te culpar por isso. Mas posso te culpar por não me dizer e ficar com nós dois, como se nada tivesse acontecendo.
— Quando você descobriu? — ela perguntou e ele a viu engolir em seco.
— Umas duas semanas antes de terminar com você. Eu tava esperando pra ver se você ia me contar, mas como não aconteceu, resolvi tomar a iniciativa — ele contou. — Mas preferi fingir não saber pra evitar uma discussão. Foi um término amigável, e eu supus que você tivesse ficado aliviada.
— Você não me queria como sua namorada. Arranjei alguém que quis, mas...
— Mas você preferiu me trair a ser honesta. E ainda falar um monte de merda sem se importar com como isso ia me afetar. — Ele concluiu. — Eu fui muito paciente, Hannah. Mas não aceito esse tipo de coisa de jeito nenhum, então porque você não termina de ver os arquivos?
Hannah apertou os lábios em uma linha fina e passou as próximas páginas, seu olhar paralisando quando leu as palavras que estavam ali.
— O que é isso?
— A prova que você disse que eu não conseguiria. Não subestime minha inteligência, por favor. Não sou só um rostinho bonito com quem você transava às vezes.
Derick pigarreou ao seu lado.
— Como você pode ver, srta. Smith, temos provas contra suas mentiras. No entanto, para evitar levar isso para a corte, o Sr. prefere fazer um acordo.
— Que tipo de acordo? — Hannah perguntou, encarando , mas ele permaneceu em silêncio, a encarando com seus olhos azuis frios e quase transparentes.
— Você deve se retratar publicamente, assumindo que o que relatou no artigo é mentira, e assinar um acordo de confidencialidade sobre o que acabou de ver — Derick explicou. — Em troca, meu cliente vai deixar esse assunto de lado e não te processar. Desde já adianto que caso aceite o acordo e o quebre depois, darei início a um processo imediatamente.
Hannah franziu o cenho, mas por fim assentiu.
— Tudo bem, onde eu tenho que assinar?
conteve um sorriso de escárnio assim que ouviu.
— Eu devia ter ouvido a quando ela disse que não gostava de você. E você ainda a acusou de ter um caso comigo enquanto namora meu melhor amigo. — Ele riu, sem humor.
Hannah terminou de assinar e empurrou o documento de volta para Derick.
— Você passou mais tempo com ela do que comigo. Você até saía com ela.
— Ela é minha melhor amiga. Não há quaisquer sentimentos românticos entre nós, assim como não havia entre a gente, Hannah. Além disso, eu nunca trairia o cara que cresceu comigo como se fosse meu irmão.
— Eu gostava de você, . Fiquei com ciúmes.
— Devia gostar mesmo, já que sempre te tratei bem e nada como o que você disse no artigo — ele comentou, se inclinando para assinar os documentos também. — Espero que isso sirva de lição pra você refletir e parar de ser mesquinha por causa da porra de um ego ferido. Você não tava apaixonada por mim, Hannah. E a partir de agora, somos desconhecidos. Não quero ver ou ouvir nada de você falando de mim depois da sua retratação.
Hannah suspirou, soltando o ar de uma vez.
, eu... Sinto muito.
— Você tem quarenta e oito horas pra consertar a merda que fez — ele disse, a encarando uma última vez, antes de se levantar e deixar a sala sem olhar para trás.

***


19 de agosto de 2017, mesmo dia, algumas horas mais tarde - Apartamento de , Nova York, NY

encarou a tela do celular por um instante e respirou fundo, antes de retornar a ligação perdida, já se preparando para levar uma bronca. Vinha evitando a mãe há dias e ela já estava ameaçando caçá-lo se ele não respondesse nas próximas vinte e quatro horas.
Linda continuava a mesma de sempre e provavelmente era a única mulher que o assustava. Então sabendo que postergar aquela conversa só pioraria as coisas, ele decidiu fazer a ligação de uma vez.
Dois toques depois, ouviu a tão familiar voz.
! Eu já estava prestes a arrombar o seu apartamento! Quem mandou você evitar as minhas ligações? E que história é essa na internet? Quem é aquela tal de Hannah Smith?!
— Mãe, aquele artigo não tem nenhuma verdade. Eu mandei mensagem te dizendo, não atendi antes porque eu queria resolver logo isso antes da gente conversar — ele começou. — A Hannah era uma ficante. A gente saiu por uns três meses até eu descobrir que ela tava vendo outro cara.
— Ela te traiu?! Ah, meu amor, sinto muito — ela murmurou do outro lado, o tom de voz um pouco mais suave.
— Não sinta. Eu não tinha sentimentos por ela, era só... Bem, você sabe. Ela demonstrou interesse em algo mais, só que nunca dei bola — ele explicou. — Pensei que ela tava infeliz com nossa... Amizade. Até esperei ela me contar sobre o outro cara, só que isso não aconteceu. Eu nem disse pra ela que eu sabia quando a gente terminou e-
A campainha tocou, o interrompendo no meio da frase.
— Só um instante, mãe. É a campainha. — Ele rapidamente se dirigiu até a porta e quando a abriu, encontrou uma garota de cabelo escuro que o encarou como se estivesse vendo um fantasma. Os olhos dele rapidamente pousaram no crachá ao redor do pescoço dela. — Oi, pode entrar. — Ele abriu espaço para ela e fez sinal para que esperasse um minuto.
— Então, mãe. Ela tava de boa quando a gente terminou, a gente até se abraçou depois. Daí agora ela me vem com essa mentira sem noção um mês depois. — Ele se afastou por um momento, para terminar a conversa.
Ainda parada à porta, a garota checou a hora no celular e olhou ao redor do apartamento grande e chique que aquele cara tinha.
Aquele era o terceiro lar que visitava naquele dia. Não parecia muito sujo, mas sabia por experiência própria que não devia se animar até ver a cozinha. Geralmente era a pior parte de se limpar e a mais negligenciada, chegando a ser um certo choque cultural para ela que cresceu acostumada a viver em um lugar limpo, especialmente a cozinha.
Sua avó brasileira nunca deixava sujeira acumular no fogão, que dirá do forno, como era costume de muitos cidadãos daquele país. Ela perdeu a conta de quantas vezes teve que raspar crostas grossas de sujeira preta e restos de comida que não fazia ideia nem de quando estava ali.
Da primeira vez, quase vomitou de nojo. Passou a usar máscaras desde então, além das luvas grossas de borracha que já eram habituais para manipular os produtos fortes de limpeza que a ajudavam.
Felizmente, nem todas as casas eram assim. Algumas davam menos trabalho e ela não precisava ficar por quase uma hora presa na frente de um fogão sujo, só que a maioria das pessoas que contratavam aquele tipo de serviço não fazia isso com tanta frequência. nunca esteve na mesma residência por mais de duas vezes, mas a agência também a mandava para locais aleatórios na maioria delas.
Não foi diferente daquela vez, mas ela estava habituada a visitar lares de famílias bem tradicionais, não apartamentos chiques.
Quando desceu do ônibus e chegou ao endereço indicado, teve que ligar para sua chefe, Rose, para confirmar se não havia algum engano.
— O lugar é esse mesmo — ela confirmou. — O cliente pediu sigilo, inclusive. Esqueci de avisar. Também solicitou limpeza duas vezes por semana.
— Duas vezes por semana? — perguntou, surpresa.
— Resolvi mandar você porque ele foi bem específico sobre isso e como queria alguém que trabalhasse bem. Você é uma das nossas melhores garotas, . Vou te manter nessa casa se o cliente gostar do seu trabalho. Ele disse que pagaria a mais pela exclusividade, e sei que você precisa do dinheiro. É uma ótima oportunidade.
sentiu os olhos arderem quando ouviu. Depois da família e dos funcionários de seu pai, havia poucas pessoas que sabiam de sua dificuldade em conseguir pagar os medicamentos cardíacos. Uma delas era Rose. As outras, suas chefes da cafeteria que ainda trabalhava alguns dias por semana, e do clube onde dançava, fora algumas outras colegas dançarinas.
Querendo ou não, precisava avisar nos trabalhos sobre sua condição de saúde, apenas para o caso de acontecer alguma coisa. Não tinha nenhum contato de emergência depois que o pai se foi e a dança, além dos trabalhos físicos, às vezes exigiam um pouco mais de energia dela do que costumava ser com outras pessoas.
O certo era moderar tudo, mas mesmo assim, ela ainda trabalhava de domingo a domingo, com raras exceções que faltava quando não estava se sentindo bem.
— Muito obrigada, Rose. Vou garantir que ele goste.
— Ótimo, menina. Boa sorte.
A questão era que ninguém tinha contado a que o dono daquele apartamento era , a celebridade. Ela não o conhecia até alguns dias atrás, no domingo, quando ouviu as meninas no clube comentando sobre um tal escândalo que estava envolvido.
Uma ex o acusou de abandoná-la grávida e que o choque da rejeição dela e da criança teria ocasionado um aborto espontâneo pouco depois. Isso além do relato de como ele a tinha tratado mal e coisas do tipo. se compadeceu por ela e odiou o cara no mesmo instante.
Era um pouco sensível com isso, porque o pai de Maia abandonou sua mãe e a filha ainda bebê, e isso resultou numa jovem traumatizada pelo abandono. Ao menos naquela situação não teria nenhuma criança inocente sofrendo por consequência da babaquice do pai que se recusava a assumir sua responsabilidade.
Quando abriu a porta, ela piscou, surpresa. Por uma parte, porque era ele; e outra, porque ele era ainda mais bonito pessoalmente.
De um jeito quase inacreditável.
Tipo o homem mais lindo do mundo e ela nem estava sendo irônica. nem sabia que pessoas bonitas assim existiam mesmo. A foto que ela viu não fazia justiça a ele nem mesmo um pouquinho, porque pessoalmente era ainda melhor.
O cara a chamou para entrar e então teve que se policiar para lembrar que aquele homem lindo era um babaca.
Só que um babaca que poderia render dinheiro extra a ela, então isso não era da sua conta. Àquela altura, poderia limpar a casa do diabo e do papa ao mesmo tempo, se aquilo pudesse garantir que ela tivesse dinheiro suficiente para ela se manter saudável e um pouquinho menos cansada.
Depois de uma olhada rápida no apartamento, observou andar de um lado para o outro ainda falando ao telefone, como se ela nem estivesse ali.
— Não tem possibilidade nenhuma daquela gravidez ter existido e ela ainda jogou na minha cara que eu não podia provar que ela tava mentindo.
Eita, ele tava fofocando com a mãe sobre o escândalo. E era mentira mesmo? Talvez ele só estivesse tentando enganar a própria mãe para ficar do lado dele. Tinha visto Charlie fazer isso com Sandra diversas vezes.
pressionou os lábios, fingindo não ouvir a conversa, mas era praticamente impossível não prestar atenção.
— Sim, mãe. Já resolvi isso, não vou processar ela e nós fizemos um acordo pra ela assumir o erro. Ela tem quarenta e oito horas ou vamos nos ver no tribunal. Ela aceitou porque viu as provas... É, eu sei. Vou usar a agora como filtro. — Ele riu, de repente. — Eu tenho que ir agora. Tudo bem. Também te amo.
E então ele finalmente desligou.
checou a hora no celular outra vez e notou que cinco minutos tinham se passado.
veio até ela um momento depois.
— Olá, boa tarde. Você deve ser a moça da limpeza. Desculpa por te fazer esperar — ele disse gentilmente, estendendo uma mão para ela. — Eu sou , seja bem-vinda.
Bem-vinda? Aquilo era novo. A maioria das casas que tinha frequentado estavam vazias ou com donos prestes a sair que mal olhavam na cara dela enquanto cuspiam ordens. Parte daquilo era provavelmente por sua descendência latina, ela tinha certeza. Por mais que tivesse pele clara igualzinha a deles, bastava um olhar para seu corpo um pouquinho mais curvilíneo e ouvir seu sotaque que a encaravam de cima a baixo como se fosse uma anomalia.
Xenofóbicos filhos da puta.
Felizmente, passou apenas uma vez pela casa da maioria deles.
Só que ninguém, absolutamente ninguém, tinha se dado ao trabalho de cumprimentá-la com educação antes. Mas aquele cara sim.
encarou a mão estendida dele por um segundo antes de apertá-la e ver a própria desaparecer sob a dele. sorriu, tranquilo, e por um momento ela se perdeu no céu que eram seus olhos azuis.
— ela se apresentou. — Boa tarde, Sr. . E obrigada.
— Apenas , por favor. Vamos, vou te mostrar minha casa.
— Sim, claro.
Ela o acompanhou de cômodo a cômodo, franzindo o cenho um pouco mais a cada minuto que passava. O apartamento era enorme, mas... Não estava sujo. Ao menos não o sujo que ela estava acostumada e que fazia pessoas contratarem serviços de limpeza.
Quando chegaram à cozinha, ele abriu o forno e...
— Tá um pouco sujo porque eu andei fazendo biscoitos e deixei cair um pouco de massa, mas...
se abaixou ao lado dele para ver e sorriu amarelo.
— Claro.
Só tinha um tiquinho de sujeira. Aquilo era uma pegadinha, por acaso?
— Vou te mostrar agora a despensa onde fica os produtos de limpeza.
Em seguida, a levou para uma portinha escondida ao lado da geladeira. Quando a abriu, quase arregalou os olhos e, naquele momento, finalmente entendeu.
Bem ali, de forma super organizada, continha uma série de produtos de limpeza para basicamente todos os tipos de coisas, além de esfregões, panos de chão, luvas, máscaras e um aspirador de pó portátil.
Era o paraíso das funcionárias de limpeza e só podia significar uma coisa:
era um maníaco por limpeza.
— Acho que aqui deve ter tudo o que eu preciso. Obrigada.
— Eu gosto de ter a casa sempre limpa, mas não ando com muito tempo pra fazer isso e tenho que trabalhar. Eu sei que parece muita coisa, mas... — Ele encolheu os ombros, de repente parecendo meio sem jeito. — Eu juro que não sou um maníaco por limpeza. Só gosto de arrumação.
Ah, não, claro que não é, querido. De jeito nenhum.
— Claro. — sorriu, simpática. — Você prefere que eu comece pela cozinha?
— Sim, sim. Pode ser. Eu vou ficar no quarto enquanto isso, mas... se você preferir ficar sozinha, posso ir pro apartamento do meu amigo e ficar lá até você terminar.
— Ah, não, não precisa. — sacudiu as mãos, negando. — A casa é sua, então por mim, tudo bem.
— Tem certeza? Não quero atrapalhar nem nada.
— Não vai, eu prometo. — Ela sorriu, achando fofa aquela preocupação.
— Certo, então eu vou ficar no quarto e saio depois, quando você for limpar lá. Qualquer coisa, é só chamar.
— Tudo bem. Vou começar agora — ela avisou, enquanto ele se afastava e se virou para a despensa, finalmente respirando aliviada.
O que tinha sido aquilo?



Continua...



Nota da autora: Se você chegou aqui, provavelmente leu HERO ou caiu de paraquedas. De toda forma, seja bem-vinda <3 Essa história está QUASE totalmente escrita, mas relaxem porque os capítulos que faltam só vão ser postados lá pra março hahaha. As histórias vão ser individuais, mas fazem parte do mesmo universo de HERO, a ordem de leitura tanto faz~ Aqui também temos plots diferentes e uma pegada mais diferente também em relação a Hero, mas espero que gostem. Serão postados dois capítulos por semana. E nos finais de semana, teremos att de uma outra fic: DEPOIS DA MEIA-NOITE, que é um romance contemporâneo com elementos de fantasia. Dá uma olhadinha nela também! É o meu xodózinho ♥ Agora deixe aqui um comentário sobre o que você achou do início de RIVER! Ou comenta um emoji pra eu saber que você tá lendo <3 Até a próxima att! XxAlly
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