Toda a escola estava obcecada com a final da taça de quadribol. A partida entre Grifinória e Sonserina fora marcada para o primeiro sábado das férias de páscoa, e Sonserina liderava o campeonato, ou pelo menos era isso o que Fred Weasley não parava de me falar. "Precisamos vencer por um número superior a duzentos pontos para ganhar a taça", "Jorge e eu temos que proteger a retaguarda de Harry toda a partida para que ele consiga capturar o pomo quando obtivermos a vantagem de mais de cinqüenta pontos". Considerava que a pressão nos gêmeos era ainda maior, em vista que a casa não ganhava a Taça de Quadribol desde que o segundo irmão mais velho dos Weasley, Carlinhos, jogará como apanhador. Eles queriam levar aquela glória para o nome da família, e talvez até mesmo por eles próprios, deveria ser realmente difícil crescer numa família com tantos irmãos mais velhos, sempre que você fizer alguma coisa legal, não vai ter tanta importância assim, porque um dos seus irmãos já vai ter feito antes, eventualmente fosse por isso que os gêmeos fossem inegavelmente do jeitinho que eles eram, mas no final de contas, ter uma dúzia de irmãos, ainda era melhor do que não ter nenhum, na humilde opinião de .
A verdade é que a tensão entre as duas casas estava a ponto de explodir, todos os alunos portavam expressões carregadas; brigas e discussões de Grifinorios e Sonserinos se tornavam a cada dia mais comuns, e um tanto trágicas. Sentia os olhares ofuscantes de seus companheiros da Sonserina sempre que se aproximava de algum aluno da Grifinória, e não se sentia nada bem com aquilo, por hora mantinha relacionamentos estáveis com vários de seus colegas de casa, e em algumas situações eram eles os primeiros a lhe advertir com expressões fechadas se quer acenasse para Fred. Veja bem, nunca fora de ter mais do que um ou dois amigos próximos, feito e Draco, pelo menos o que fora Draco, ainda era difícil falar sobre aquilo. Enfim, poderia citar todas as 1001 ervas e fungos mágicos, mas era muito leiga quando o assunto lhe era convivência social, ela simplesmente não sabia lidar. Fosse por sorte ou por azar, nos dias que transcorreram antes da partida final andara passando pouquíssimo tempo na companhia de Fred e Jorge, que diariamente treinavam e discutiam táticas incansavelmente sob comando de um capitão louco e bonitinho, era assim que descrevia Olívio Wood, que era um colírio para os olhos de qualquer garota, mas que também era maníaco por quadribol, sua casa e vitórias, em especial se tratando daquela, aquele seria o último ano do rapaz em Hogwarts, e não vencerá a final de quadribol em nenhum dos anos que se sucederam como líder da equipe.
Num ato de fuga de todo aquele show de horror, debandara-se para junto de seus colegas da Lufa-Lufa, não era estranho encontrar na companhia de Cedrico e dos outros alunos da Casa. Na noite que antecedia a partida, ficará até tarde na biblioteca estudando para os exames que estavam a cada dia mais próximos, dividia uma mesa com Helsemann, Luftkin e Diggory, os dois primeiros cuidavam de suas próprias tarefas, enquanto Cedrico ajudava com alguns cálculos de Aritmância, mesmo que não fosse lá tão necessário, era uma matéria em que ela se saia razoavelmente bem, e que Ced dominava de olhos fechados, parecia não existir nada no mundo que ele não soubesse um pouco melhor que qualquer um, Cedrico dissertou sobre numerologia e propriedades mágicas até Madame Pirce ter com eles e os mandar de volta para suas respectivas salas comunais quando já estava para fechar a biblioteca por aquele dia. Lufa-Lufa e Sonserina por um acaso tinham suas passagens secretas muito próximas, o que levou a estar acompanhada em boa parte do caminho para seu dormitório, se despediram em frente a entrada escondida para a cozinha.
- Vá direto para seu dormitório, . - Cedrico dizia conforme de distanciavam, cada um seguindo pela lado oposto ao outro.
- É, sem visitas a cozinha. - Dimitri emendou, fazendo os amigos rirem.
- Eu odeio vocês. - resmungou, rindo com eles.
- Até amanhã, baixinha. - Ced se despediu, marchando para sua sala comunal, com os outros dois logo atrás, os assistiu se afastar, até que as sombras dos três sumissem de vez, prosseguiu por seu próprio caminho, lutando contra a ideia de realmente passar pela cozinha, e quando virou num dos corredores adjacentes há poucos metros das masmorras sentiu seu corpo ser puxado e bater de encontro a parede oposta, iria protestar e lançar a maldições a quem quer que fosse mas ele fora mais rápido novamente e tampou-lhe a boca com a mão, olhou fixamente para aquele rosto encoberto pelas sombras que lhe pedia silêncio, a primeira parte daquele ser que desvendou foram os olhos, eram claros, feito a luz do dia, desceu o olhar, passando pelas sardas em excesso que cobriam aquele rosto, tão perfeitamente esculpido, e continuou descendo, até chegar aos lábios, abertos num sorriso que atormentava seus sonhos a noite, mas que também era tão seu, era seu Fred Weasley.
Mantiveram-se naquela mesma posição por mais algum tempo, poderiam ter se passado horas, ou infinitos, e nem ao menos notaria, apenas sentia a presença de Fred e a calmaria que aquele encontro inesperado lhe trouxera. Há dias que sentia uma aflição imperial atravancar-se contra seu peito sem ter certeza de causa ou consequência, e agora as coisas lhe faziam um mínimo sentido, abstinência de Fred Weasley. Queria tanto dizer isso a ele, que sentira saudades, queria falar da falta que ter-lhe ao seu lado fazia, mas as palavras sumiam-lhe a mente sempre que Fred Weasley estava por perto, seu corpo travava e passava a trabalhar contra ela. Era uma droga o que ele causava a ela, principalmente a sua cabeça, mas também era tão bom.
- Encontrei Madame Nora quando estava vindo para cá. Há essa altura Filch deve estar perto procurando quem é o miserável que está fora da cama. - Ele sussurrou em seu ouvido tão baixo que ela própria quase não ouviu, mas sentiu tremores por suas pernas todo o tempo pela proximidade em que estavam. conseguia ouvir os batimentos do coração de Fred, só esperava que ele não pudesse dizer o mesmo do seu, cujo ela tinha certeza que pareceria uma orquestra sinfônica.
- E o que vamos fazer? Como vai voltar para sua sala comunal? - perguntou num fio de voz.
- Não vim até aqui para voltar agora. - Fred.
- Fred, isso é loucura, se lhe pegarem andando pela escola a noite você será detido, não vai poder jogar na final amanhã. - Preocupou-se.
- Eu não jogaria de qualquer jeito se não falasse com você antes. - Ele tinha aquele brilho característico no olhar.
- O que você precisa? - .
- Só de um tempo com você. - riu e Fred voltou a tapar-lhe a boca - Quer que nos descubram?
- Seremos pegos mais cedo ou mais tarde se continuarmos aqui.
- Pois vou arriscar. Gosto de colocar minha sorte em xeque. - Acariciou uma das bochechas da menina.
- Fred. - o chamou, alcançando as duas mãos do garoto, sua voz tinha tom de urgência, ela estava ansiosa, com medo de serem pegos sem ao menos esperarem. Fred respirou fundo, e depois soltou o ar, em seguida entrelaçou seus dedos aos de e se aproximou um pouco mais, como se isso fosse possível.
- Escute. - Ele começou. - O dia de amanhã será um dos dias mais importantes de toda minha vida, e eu posso ter passado os últimos dias treinando feito um desgraçado, suprindo o frenesi que antecede a partida com piadas e badernas aos montes, até li e reli todo o esquema tático de Olívio, mas sinto que só estarei verdadeiramente preparado se... Bem, sei que você estará por lá, e também sei o quanto você ama quadribol. - Ele disse sarcasticamente essa última parte. - Por isso não faço ideia de para quem estará torcendo, mas queria saber se você por um acaso olhará por mim? - Ele soou receoso durante todo o pequeno monólogo. E ouviu sentindo que tinha a resposta na ponta da língua. Aos seus ouvidos parecia que Fred Weasley sempre entoava nervosismo, e gaguejava aos montes, quando tinha algo importante para dizer, e tal importância vinha das razões fundamentadas em seus corações, podia sentir isso, e de qualquer forma, já havia aprendido a ler o que havia por trás dos olhos claros e brilhantes de Fred haviam-se tempos.
- Fred, vá para a sala comunal da Grifinória - Ela disse com firmeza, e o sentiu congelar, se equilibrou nas pontas do pés para alcançar um dos ouvidos de Fred, onde cochichou: - E saiba que estarei amanhã no campo de quadribol por você, Fred Weasley. - Segurou-o pelos ombros e o fez olhar-lhe diretamente nos olhos. - Posso até odiar o jogo, mas gosto bastante de um dos jogadores. - Piscou um dos olhos para ele. E num segundo estava com as costas batendo contra a parede novamente, ao tempo em que Fred avançava contra seus lábios.
* * *
Era um dia estranho, e tudo começou antes mesmo do café da manhã, como sempre fora a última em dormitório a acordar, só levantou depois de Tracey Davis derrubar-lhe da cama e arrancar suas cobertas, porque nunca haveria em sua cabeça tempo ruim para não dormir.
- Você é foda, . - Esse era normalmente o "bom dia!" que Davis lhe dava todos os dias.
Antes de todo o seu desentendimento sem pé nem cabeça com Draco Malfoy, fora o primo que tomara conta para que a menina acordasse no horário e não se atrasasse para as aulas, ele normalmente pedia para outra garota ir até o quarto das meninas do terceiro ano e acordar , e por mais que a intensão fosse boa, odiava. Essas meninas sempre atingiam os dois extremos, ou era mais grossas que um gigante, ou eram tão amáveis que acordava achando que ainda estava dormindo, e que estava presa num pesadelo.
Mas com Tracey era totalmente diferente, aquela estranha amizade surgira feito o pôr-do-sol, sem que nenhuma das duas esperassem, Davis foi se aproximando logo que e Draco pararam de se falar, no começo fora simplesmente porque queria as botas Dolce & Bruxanna de emprestadas, ela confessou, mas já estava envolvida demais, principalmente porque tinha um sério problema em ser dependente demais das pessoas, a começar que precisava de alguém para lhe acordar todas as manhas, ou caso contrário, passaria o dia e o resto da vida numa cama. E Davis era a antítese no meio disso tudo, por mais carregada de meiguice que fosse sempre que precisava, ela também não lhe negava tapas na testa e "vá se foder" também sempre quando a amiga mostrava indícios de precisar, e a amava por tudo isso.
No grande salão, se deliciava com seu café da manhã, enchera um prato com torradas, pegara uma tigela de mingau, e outras tantas coisas mais, bebia seu suco de abóbora matinal quando a gritaria começou na mesa da Grifinória, duas jogadoras da equipe de quadribol da casa cruzavam as enormes portas de carvalho do grande salão. Angelina Johnsson e Katia Bell tomaram seus lugares em meio a aplausos e assobios. O mesmo espetáculo se repetiu com os demais jogadores tanto da Grifinória quanto da Sonserina. Parecia a final da Copa Mundial, mas era apenas um torneio estudantil, não entendia como todos poderiam ficar tão fora de si, era algo ao qual ia além de sua linha tênue de conhecimento, mas de todo jeito, já havia dito incansáveis vezes em seu monólogo interior que ainda tinha um longo caminho a percorrer no estudo da dinâmica social.
- Essas pessoas não estão normais. - Comentou com Tracey, a amiga estava sentada a seu lado folheando alguma revista adolescente, ela dobrava a ponta das páginas que tinham alguma coisa que ela queria, então, tinha uma revista com quase todas as páginas dobradas.
- E o que você classifica por normal, ? - Blásio Zabini perguntou do outro lado da mesa.
- Lá vem o Zabini. - Davis resmungou, dobrando a ponta de mais uma página.
- Tenho certeza que lhe disse ontem para você não me fazer perguntas no café-da-manhã. - disse, atirando um pedaço miúdo de bolo contra ele.
- Ah, qual é, ontem eu só quis saber se o Diggory já havia falado de mim alguma vez. - Ele se esquivou do arremesso de , e arrancou algumas risadas dos amigos próximos, com a menção do episódio do dia anterior.
- Acho que você é quem não é normal, no final de contas. - mandou-lhe língua.
- Posso saber por que a está falando de normalidade, quando todos sabemos que ela não é? - Pansy Parkinson, que estava sentada mais perto do que seria saudável, na opinião de , perguntou entoando um tom de voz que atraiu atenção de outros alunos que dividiam a mesa.
- Você pode calar a sua boca, Parkinson. - respondeu, e sua mente forjou cento e cinquenta mortes lentas e desagradáveis contra Pansy.
- Eu gostava mais de você quando você não abria a boca. - Ela disse rindo histericamente, e fazendo suas amigas que guinchavam de forma parecida a ela rirem também.
- E eu nunca gostei de você. - segurava no tampo da mesa com suas duas mãos, podia sentir o sangue fluindo naquela região, tudo o que mais queria era se levantar e lançar algumas maldições contra Parkinson, pode perceber que a rival tinha ainda mais a dizer, ela sempre tinha alguma coisa desagradável para falar aos outros, e aguardou extasiadamente, tinha pretensões de fazê-la engolir as próprias palavras, mas o som de palmas as suas costas a desconcertaram, e pareceram fazer o mesmo a Parkinson que encarava a figura atrás de com olhos arregalados, tornando seu rosto redondo de Bulldog em algo ainda pior de se olhar.
- É assim que funciona a mesa de café da Sonserina? - Ele ria divertindo-se com a cena, Cedrico Diggory se aproximava com o riso preso ao seu rosto, ele cumprimentou Tracey Davis, e achou que a amiga poderia desfalecer naquele momento. - Mas e aí, , você ainda não acabou ou já podemos ir? - Dessa vez se voltara para ela, puxando-a pela manga das vestes negras.
- Eu não vou sair de mãos vazias. - se esticou na mesa pegando mais algumas torradas para comer no caminho até o campo de Quadribol. - Te conto tudo depois. - Cochichou para Tracey antes de se afastar com Ced, ainda lançando olhares furtivos para Pansy Parkinson. Cedrico a empurrou com o ombro levemente quando a menina se pôs de pé ao lado dele, foram necessários alguns muitos minutos para que ele se recuperasse de seu ataque de risos, ele narrava como tinha sido sua reação ao assistir a briga de , e jurava ainda não acreditar que aquela fosse realmente ela.
- Acho que agora eu tenho medo de você. - Ced comentou fazendo o sinal da cruz nos dedos.
- Às vezes até eu tenho que parar de ser otária.
- Ah, , você sempre vai ser minha otária favorita. - Ele a abraçou de lado, afagando sua cabeça, de forma que bagunçava todo o cabelo de .
- Você é péssimo. - resmungou tentando se soltar do abraço sufocante de Cedrico.
- Tenho certeza de que não sou.
- Pelo menos agora me sinto pronta para começar a lutar pelas coisas que eu acredito. - .
- Aé? Tipo o que? - Ele perguntou já esperando por alguma resposta absurda.
- Tipo calças. Não aguento mais usar saia.
Há alguns metros estavam os fiéis companheiros da Lufa-Lufa, Megan Jones e Dimitri Helsemann, estavam entre eles, quando os alcançaram os amigos falavam da final de quadribol, e não achou que pudesse ser mais entediante, em pouco tempo, acabou soltando suas verdadeiras ideologias a respeito daquela partida específica, e do quanto os alunos haviam enlouquecido naquele dia, que a escola parecia um campo de batalhas, e que tudo o que ela mais queria era ainda estar em sua cama, ou pelo menos, sozinha no grande salão, ainda comendo seu café-da-manhã. Os outros riram, os amigos riram de suas maluquices e pontos de vista. Ainda permaneceram um tempo jogando conversa fora e dando algumas risadas antes de se despedirem e cada um seguir para a arquibancada de sua casa.
Avistou Tio Lúcio na arquibancada junto aos professores e demais espectadores, por sorte ele não viera falar com ela, e esperava que um possível encontro não acontecesse, num primeiro momento por não saber o que dizer, e depois porque simplesmente não queria ver ninguém de sua família, ao menos até o fim daquele século. Não mandava notícias aos pais haviam meses, desde que voltará das férias de Natal, mais precisamente, e também não sentia o mínimo remorso. Balançou a cabeça, afastando tais pensamentos. Família nunca era o melhor dos assuntos para ela. E de qualquer forma já estavam todos gritando a plenos pulmões. Sonserina e Grifinória estavam em campo.
Não poderia dizer que entendeu lá muita coisa do jogo, Blasio Zabbini que sentara-se ao seu lado tentou lhe explicar alguma coisa e outra, não fizera diferença alguma, sabia quando as equipes marcavam gols porque Lino Jordan, da Grifinória, narrava o jogo e fazia vários comentários pessoais maldizendo a equipe da Sonserina e recebendo incontáveis vaias de volta. Os piores momentos eram quando arremessavam balaços uns nos outros, e ela pegou Jorge atingindo o braço de Draco uma vez, tentou não se importar, mas logo se viu com expressões de horror e lágrimas nos olhos, era um jogo um tanto violento afinal. Já estivera em jogos de quadribol antes, nas finais da liga Mundial, por exemplo, sempre haviam lugares no camarote do ministro para ela e sua família, mas nunca fora de dar muita atenção, até porque lhe era muito mais interessante e conveniente irritar Draco enquanto ele tentava assistir as partidas. Se perguntou se talvez algum dia conseguiria entrar num limbo existencial e não pensar em Draco Malfoy. Provavelmente não. De qualquer forma também não gostava quando os jogadores trombavam com os do time adversário, todas as vezes de propósito. Marcus Flinch, era capitão da Sonserina, e também um dos caras mais obstinados em serem maus que ela jamais conhecera, parecia sentir prazer em derrubar os outros da vassoura. Por Merlim, ainda não havia obtido resultado positivo naquela disputa, procurava sempre desviar o olhar dele, a não ser quando um dos Weasley acertavam-no com um balaço errante, era até bonito de se ver, por mais contraditório que isso pudesse soar.
Encostara-se em Tracey Davis que parecia tão preocupada com a partida quanto ela, a amiga ainda tinha sua revista em mãos, e não a vira olhando para o campo de quadribol momento algum.
- Ainda falta muito? - Perguntou a amiga, e soltou em seguida um longo bocejo pensando numa possível soneca da tarde e nas mais remotas possibilidades de Zabini lhe carregar nas costas até a sala comunal, quando o apito de Madame Holch soou, olhou para os lados um tanto atônita, e a arquibancada vermelho e ouro vibrava em urras, com muitos de seus estudantes já invadindo as barreiras que levavam ao gramado, Lino Jordan anunciava "Harry Potter capturou o pomo de ouro, É NÓIS OLÍVIO". Os jogadores da Grifinória planavam sobre o campo, estavam todos abraçados e carregados de expressões de felicidade, pelo o que viu ao longe, aos poucos foram descendo até atingirem a grama verde do campo de quadribol, e logo a deixarem novamente, sendo levantados aos ombros dos outros estudantes da casa. Seus companheiros Sonserinos lançavam maldições a torta e a direito contra Grifinória, os assistiu deixar o campo de quadribol, um a um, ao tempo em que o diretor Dumbledore entregava a gigantesca taça nas mãos do capitão, Olívio Wood. O majestoso troféu passou por cada um deles e poderia dizer que quando chegou em Fred Weasley ele olhava exatamente na direção em que ela ainda estava.
- . - Ouviu chamarem a seu nome, e sabia exatamente de quem era a voz rígida e fria que pronunciava aquelas poucas letras, estava de braços dados a Cedrico, tinham pretensões de subir os degraus de pedra em direção ao lado Negro, mas teriam de adiar o passeio, pelo visto.
- Não pode ser bom. - Ela cochichou para o amigo, sem se virar.
- E não é. - Ele garantiu, alisando sua mão. - Eu não vou até lá. - Cedrico cruzou os braços e balançou a cabeça negativamente, desviando-se do olhar de misericórdia da amiga. - Vai logo, ele continua olhando pra cá, eu prometo que te espero aqui. - A contragosto retrocedeu alguns passos até parar defronte a figura de Lucio Malfoy.
- Tio Lucio. - O cumprimentou com um abraço rápido, cujo o tio correspondeu com palmadinhas em suas costas.
- Aquele é o garoto dos Diggory? - Fora a primeira coisa que ele disse, de que importa se ela estava bem, ou que não se viam há meses, para um Malfoy tanto quanto a um , só o que lhe condiz respeito é o seu domínio. E era a exceção nisso tudo. Conteve-se apenas em acenar a cabeça afirmativamente. - Creio que não seja da Sonserina. - O Tio supôs.
- Não é. - o assegurou.
- Hum. - Ele resmungou. - De todo jeito, estamos preocupados com você, Draco não a mencionou em suas últimas cartas, e você não nos manda notícias há tempos, sua tia está num estado de calamidade, Merlim sabe quantas vezes tive de impedi-la de vir pessoalmente até aqui. - Sentiu-se mal por sua tia, Tia Cissa sempre fora mais do que sua tia, propriamente dita, não se sentiu bem consigo mesma ao pensar que poderia estar causando dor a ela.
- Desculpe, Tio, não foi minha intenção, andei ocupada, prometo escrever para ela hoje mesmo.
- Faça isso. E vá atrás de Draco, ele com certeza deve ter se escondido de mim, envergonhado, e não é pra menos. - Não respondeu a última parte, apenas assentiu a tudo o que lhe era dito, Lucio Malfoy se aproximou beijando-lhe a testa e em seguida se retirou.
- Pode até estar fazendo o maior sol, mas eu senti a frieza desse cara daqui.
- Tio Lucio é amável a seu próprio jeito.
- E eu diria que esse jeito é jeito-nenhum. - deu de ombros, ainda um tanto desconcertada pelas poucas palavras que trocara com o tio, e aquele sentimento de culpa atravancando-lhe a alma, por ter feito mal a Tia Cissa. - Então, você vai procurar o Malfoy?
- Você ouviu a conversa toda?
- Ah, não deu pra evitar. - Cedrico levantou os braços em sinal de paz.
- Eu até deveria. Mas com certeza não vou.
- Ainda estão estranhas as coisas entre vocês? - Ela acenou afirmativamente com um bico no rosto e olhos brilhantes, Cedrico achou que poderia esmaga-la em seus braços, passou um deles pelo ombro da menina e seguiu caminhando ao lado dela, distanciando-se cada vez mais do campo de Quadribol. – Ah, baixinha, acho que você deveria ir atrás desse idiota do Malfoy.
- Essa talternativa está fora de cogitação, Diggory.
- Escuta o que eu vou te dizer agora, , desde a primeira vez que eu coloquei meus olhos em você eu soube que você era feliz, e que você era triste, tudo isso ao mesmo tempo, e que você estava tentando entender como é que você poderia ser assim. Você depende das outras pessoas, , e a sua felicidade é equivalente a daqueles que estão ao seu redor, porque você não quer ficar sozinha, e eu te entendo por isso.
- Como assim? - apertou o passo, ultrapassando a Cedrico, e parando em frente ao garoto, obrigando-o a parar também.
- Eu somente sei pelo o que você está passando. - Ele disse sutilmente, olhando por cima da cabeça de quantos dos alunos viravam na direção oposto as portas do castelo, esperando que a maioria não tivesse a mesma ideia que ele de ir até o Lago Negro.
- Então você é o primeiro. - Voltou-se para a menina parada a sua frente, ela tinha uma luminosidade diferenciada em seus dois globos claros, feito o mar de ressaca, eram olhos agitados, feito ondas ao vento.
- A não querer ficar sozinho também? - Ele perguntou receoso por não ter entendido o significado daquela resposta hipotética.
- Não, a me entender.
- ... - Ele a abraçou forte, repousando a cabeça da amiga em seu peito, jurou que ela começaria a chorar naquele momento, mas era mais forte do que ele julgava. Ela fungou, e se aconchegou entre os braços de Cedrico. Permaneceram em silêncio. Sabiam como ninguém respeitar o tempo do outro. E quando achou que poderia explodir se não dissesse seus ideais, Ced soltou: - Você tem que ir atrás de Draco.
- Cedrico...
- Por favor, não fale nada, só vá, e faça isso por você, . Eu sou apenas um observador nisso tudo, e eu me lembro de ver seus olhares de soslaio sempre que Malfoy está por perto, ou quanto seu rosto perde o brilho quando ele lhe trata feito uma desconhecida, mesmo que vocês dividam a mesma herança sanguínea. - Àquela altura ele a segurava pelos ombros, encarando fixamente aqueles olhos de ressaca. - Algumas coisas não se disfarçam ,, e eu sei que você está com medo, mas há apenas uma vida para viver, então dê um tempo ao seu coração, baixinha. Eu sei que ele lhe feriu antes, posso ver em seus olhos que sim, mas talvez ele também seja o único que consiga aliviar essa dor. - Ela não mostrou reação, pelo menos, não de início, mas logo estava se aproximando novamente, e dessa vez, passando seus próprios braços ao redor do pescoço de Ced. Como se fosse possível, a quietude já estava presente entre os dois, uma segunda vez, em tão pouco tempo.
- Você sempre deixa o silêncio colocar as coisas no lugar em que elas deveriam estar. - sussurrou, só para ele ouvir, descansando a cabeça num dos ombros de Cedrico.
- É, talvez no final de tudo, sejamos os dois apreciadores de um bom silêncio.
Não era fácil lidar com o que estava prestes a fazer, por mais que detivesse o sentimento, era sim uma garota orgulhosa, difícil de se abrir, mas fácil de se magoar, era feito um flor, mas uma com vários espinhos. O sol ardia em seu rosto, ainda era cedo, e havia vários alunos espalhados pelos jardins de Hogwarts, o que dificultava sua busca consideravelmente, debatia em sua mente prós e contras de ser ela, quem daria o braço a torcer e iria atrás do primo, melhor amigo. "A parte boa em ir falar com Draco, é que, é o Draco. E a parte ruim, é o Draco" Pensou. Se perguntou como deveria ser levar uma vida sem problemas, e aquilo lhe rendeu mais alguns momentos de debate entre ganhos e perdas. Talvez fosse melhor se atirar contra a grama verde do terreno da escola, entrar numa espécie de limbo existencial, e só sair quando sua própria mente se dissuadisse e chegasse a um consenso. Porém temia que isso pudesse durar a vida toda. E não tinha tanto tempo assim. O tempo que passara longe de Draco teria influenciado tanto assim em seu relacionamento com o garoto que não conseguisse nem mesmo mais descobrir onde é que ele estaria, parando-se para pensar, realmente tinha um tipo de conexão mental, onde sempre acabavam juntos, mas de todo jeito, aquela teoria deveria ser repensada, para o momento em que viviam, o que poderia ser dito era que, mesmo que seguissem por caminhos opostos, acabariam se encontrando no final. E a risada alguns tons mais alta que a de todo o resto do corpo discente de Hogwarts fez com que localizasse Draco naquele mundo de pessoas.
Para sua surpresa, ou talvez nem tanto assim, ele estava com alguns alunos da Sonserina, ocupando alguns dos bancos espalhados pelos jardins da escola, Draco tinha a cabeça deitada nas pernas de ninguém mais que Pansy Parkinson, que mexia nos cabelos excessivamente claros do garoto. Pansy parecia maravilhada, tendo the time of her life, estando tão perto de Draco. Foi o que constatou com uma rápida varredura pela cena. Alguns rostos lhe eram conhecidos entre aqueles que sentavam-se próximos ao primo, nenhum, em compensação, lhe passava confiança. Examinou a melhor maneira de abordar Draco, deveria se sentar com os colegas e puxar algum assunto com ele num momento oportuno? Não. Sútil demais. E temia que por um viés acabasse tímida e não conseguisse chegar aonde pretendia com Draco. Por Merlim. Quando que havia se tornado tão difícil as coisas entre aqueles dois?
- Ora, ora, vejam que veio se juntar a nós. - Não precisou mexer um músculo que fosse, Pansy cuidara de tudo para ela, e como sempre, da pior forma possível, àquela altura, todos os pares de olhos estavam voltados para , inclusive aqueles num tom acinzentado, que independente do tempo, do orgulho, e de tudo mais, ela conhecia tão bem.
- Eu realmente senti umas forças negativas quando estava chegando perto daqui. - Rebateu com desdém.
- Me poupe, , dá o fora. - Pansy apontava para o outro lado do jardim.
- Cala a boca, Parkinson, pode se sentar com a gente. - Por mais que fossem palavras potencialmente bonitas, preferia que tivessem sido proferidas por outra figura, Zabini encontrava-se sentado descontraidamente pela grama com a varinha pendendo ao lado, sorriu ao amigo, ao qual não reconhecera entre os outros Sonserinos, talvez pelo mente bagunçada, talvez pela visão turva de um dia com um som tão brilhante, ou talvez, por não ter olhos a nada que não tivesse sobrancelhas arqueadas, cabelos claros, e olhos intensamente cinzas.
- Como sempre um verdadeiro cavalheiro, Blásio. - Reverenciou-o.
- Eu confesso que tento, princesa. - Zabini.
- Para vossa alegria, Parkinson, não vou ficar muito tempo, só preciso falar com Draco.
- E o que você teria para falar com Draquinho? - Pansy tinha os braços envoltos no pescoço de Malfoy de forma possessivamente psicótica.
- Isso não é assunto seu, não é mesmo, Pansy?. - voltou-se ao primo, finalmente. - Draco? - Chamou. - Draco? - Ele virara a cabeça para o lado oposto, numa falha tentativa de fugir de , mas deixando claro que não tinha a mínima vontade em falar com a menina.
- Ele não quer falar com você, . - Sera que teria como odiar Pansy Parkinson ainda mais? passou pelos alunos sentados no gramado e se aproximou do banco em que Draco e Pansy estavam, ela o puxou pela gola das vestes e o fez encarar-lhe fundos nos olhos.
- Eu vim falar com Draco, e não com o ó-tão-poderoso-Malfoy. - Disse firmemente, ele virou o rosto, mas assentiu minimamente com a cabeça.
- Draquinho. - Pansy segurou-o por um dos braços quando ele enfim se levantou.
- Dá um tempo, Parkinson. - Se soltou bruscamente, arrancando um gemido da menina. - E para com essa história de Draquinho. Eu nunca ouvi nada mais ridículo. - Draco saiu a passos largos na direção oposta de onde estava há segundos antes, obedientemente, o seguiu, tinha um sorriso preso ao rosto. Em poucos minutos estavam longe o suficiente, tanto que se olhasse por cima do ombro não veria o menor vestígio de Parkinson e nenhum dos outros colegas da Sonserina. O garoto ao seu lado, mantivera-se carrancudo por todo o tempo, com os braços cruzados, e expressão fechada. Não conseguiria dizer o que se passava na cabeça de Draco nem mesmo que quisesse, teria ele achado seu iniciativa tão ruim assim? Com alguns pensamentos soltos por sua mente, se sobressaltou-se com a parada brusca que Malfoy dera de repente, colidiu minimamente contra as costas do menino, ele pareceu não sentir, ou, mais certamente, não demonstrar, ainda tinha os dois braços cruzados na altura do peito, com a diferença que enfim a encarava, mas ainda assim, parecia fugir de seus olhos.
- Você pode tirar esse sorrisinho do rosto. - Fora a primeira coisa que dissera. - Escuta, se você quer falar com Draco, então eu quero falar com , a minha . - Não admitiria ter sentido calafrios na espinha com a intensidade de sua voz. - Estamos longe o bastante? O que é que tem para me dizer? O quanto meu pai me odeia por perder o jogo de hoje?
- Draco, a gente pode até estar passando por uns tempos de estranheza um com o outro, mas sempre vai ter essa parte de mim que é incompreensível a qualquer um, mas que você sabe ler tão bem. - Pareceu amolecer um pouco da expressão mal-humorada que carregava, rastros de um rosto que conhecia feito ao seu próprio pareceram surgir, enxergou além dos olhos acinzentados de Draco, e o que viu, foi que ele não conseguiria manter aquela postura por muito mais tempo.
- Eu senti saudades. - Ele sussurrou, num tom de voz mínimo, mas ao qual estivera sempre acostumado a usar com , ele sabia que não precisaria usar de um tom mais alto do que aquele, porque simplesmente sabia que ela sempre o iria escutar. Ao menos, era a isso que se apoiava.
- Eu também. - Sussurrou de volta.
- Mas não parece. - Ele endureceu. - Levou um tempo consideravelmente rápido para me substituir, te vejo andando pelo castelo, sempre com uma companhia diferente, até mesmo com o babaca do Zabini deu para falar. Faz isso tudo para me atingir.
- Draco, ele também é seu amigo. - disse brandamente, buscando trazer de volta o ambiente fechado só daqueles dois, de milésimos antes.
- Amigo? - Draco cuspiu. - Você acha que me dou ao luxo de ter amigos? É tudo parte da mais longa e tortuosa reunião de negócios, que se chama vida. - Ele balançava a cabeça negativamente. - E a pior parte de tudo, é que você sempre foi a minha única certeza, eu sabia que sempre estaria pra mim, como sempre estou por você, mas de que isso me valeu? Se nem ao menos me olha nos olhos mais. - Ele abaixou a cabeça, escondendo o rosto. - Tem certeza que quer estender isso? Por que simplesmente não me diz de uma vez o que papai quer. - Quando levantou a face, já não era a mesma, havia indícios da máscara que usava com frequência.
- Ele disse para vir atrás de você, e usei como desculpa. - arriscou se aproximar minimamente. - Queria te ver.
- É muito mais fácil não saber das coisas de vez em quando. - Suspirou longamente. - Você sempre faz com que seja tão difícil te odiar.
- Será que dá por favor pra você tentar ouvir o que eu estou dizendo? Será que você pode me deixar tentar explicar o quanto você significa pra mim? - Segurou-o pelos ombros. Estavam perto.
- Eu sei o quanto eu amo você. - Draco sussurrou diretamente contra um de seus ouvidos.
- Está perto, bem perto.
- Tem alguma coisa errada comigo, . - Ele apoiou a testa na curva do pescoço de . Estavam ainda mais perto. - E eu não sei o que é.
- Draco, você se sente sozinho. - Acarinhou-lhe as costas. - No fundo não importa quem você é, sempre precisamos de um lar para chamar de lar, porque sem as pessoas que você ama, você não pode evitar se sentir só no mundo. - Draco deu a deixa, transpassando seus braços ao redor de , abraçaram-se como se estivessem enfim se encontrando, depois de um longo tempo longe um do outro.
- Quando eu te abraço, meus braços conseguem segurar o mundo. Porque meu mundo é você. - Ainda não era preciso deixar de sussurrar. - Eu não quero mais errar contigo, não quero mais te fazer mal, não quero olhar pra seu rosto e ver vestígios de lágrimas, e pensar que fui eu mesma quem as causou. - Suspirou. - Demorou um pouco de tempo, mas eu descobri que você não machucou meu coração, ele já estava partido há mais tempo que isso, desde o momento em que desapontei a você. - Draco se pôs ereto, e pegou-lhe a mão direita, ele acariciou-a e a sentiu, antes de dizer alguma coisa. - Então, se não receber notícias minhas por um tempo, não é porque eu não te ame... É porque eu amo. - Levou a mão que ainda tinha segura entre a sua própria até os lábios e ali deixou um beijo, com um segredo sussurrado. Ele se virou, e parecia pronto para ir embora.
- Mas... - não o compreendia, e isso era pior do que qualquer outra coisa que jamais havia sentido antes, não conseguir decifrar Draco Malfoy. - Draco, eu não entendo, eu vim até você, e depois de tudo que eu te disse, tudo vai continuar do mesmo jeito? Continuaremos nos tratando feito dois estranhos?
- Se duas pessoas foram feitas para ficarem juntas, eventualmente acharão o caminho de volta.
* * *
A festa da vitória se estendeu por dias, e segundo os boatos, a professora Minerva havia sido chamada em algumas delas, não para vadiar, como seus estudantes, mas para colocar ordem na sala comunal e mandar os alunos para cama. Fred tentara inúmeras vezes arrastar-lhe para algumas das tais festanças, e era uma missão difícil rejeitar aos chamados principalmente porque sentia-se um tanto enciumada com o que ele poderia estar fazendo na surdina de sua sala comunal, mas mantivera-se firme negando a todos os convites, tudo entre eles já era estranho o suficiente, atravessar a passagem secreta do retrato da mulher gorda seria o mesmo que ultrapassar uma linha tênue do senso comum.
De todo o jeito, até o tempo parecia estar comemorando com a Grifinória, o clima voltará a esquentar, e dias em que a melhor coisa seria deitar-se as margens do lago negro com uma garrafa de suco de abóbora assistindo os espetáculos da Lula Gigante, mas não era, os exames finais estavam mais próximos do que nunca, e todos estudantes sentiam na pele a pressão, até Fred e Jorge haviam dado um tempo em seus logros e brincadeiras para estudar, fariam naquele ano os NOM's (níveis ordinários em magia).
Encontrava-se numa batalha com seu déficit de atenção, as letras miúdas, de seu exemplar do Livro Padrão de Feitiços para o 3º ano, dançavam pelas páginas, sentia como se já tivesse lido os mesmos parágrafos um milhão de vezes, e em nenhuma delas captou o que estava escrito, sua cabeça era uma bagunça, odiava a pressão que a proximidade dos exames finais lhe causavam. Tudo o que mais queria era estirar-se na grama verde dos jardins de Hogwarts com um saco tão grande de sapos de chocolate maior que sua fome.
Mas ao contrário, seguindo a premissa que sua vida seguia, onde quando algo estivesse fadado a dar errado, daria errado, sendo assim, estava na biblioteca apinhada de alunos, dividindo a mesa com mais três estudantes que nunca vira antes, todos concentradíssimos com seus respectivos estudos, e ela, bem, batucava a ponta de sua pena contra um pedaço de pergaminho. Já havia lido tantos livros, viajado pelos cantos mais remotos do mundo, debatido os avanços da medicina e os sabores exóticos dos feijõezinhos de todos os sabores com conhecedores da comunidade mágica, aprendido tanta coisa, descoberto outras tantas, que tinha conhecimento de sobra, seu problema estava em que, era uma pessoa do mundo, só queria viver sua vida, e não desperdiçar seu potencial com testes acadêmicos. Era tudo um absurdo em sua cabeça. Mas se você está para nada, é melhor cair para qualquer coisa. E foi naquele momento que fechou o livro Padrão de Feitiços e saiu a passos largos da biblioteca, não sem antes acenar para Madame Pince, que a olhava desconfiada, porque no final das contas, os alunos sempre seriam suspeitos para ela.
Andava descontraidamente pelos corredores sem fim de sua escola, poucos eram os alunos que circulavam pelos mesmos, estava todo o mundo tão focado em seus próprios estudos para não se foderem nos exames, que considerou ser possível encontrar até mesmo Crab e Goyle com livros abertos, estudando, mesmo que já tivessem lhe dito que aqueles dois não soubessem ler. Realmente se deliciava com sua mente melancólica quando não tinha que pensar em nada. E foi com essa ideia que decidiu continuar a seguir para lugar nenhum, tendo a certeza que encontraria a Fred Weasley mais rápido se simplesmente parasse de procurar. O universo gostava de jogar contra ela. Exatamente quando pôs fim e busca. Lá estava ele. De costas, não a veria se aproximar. Aproveitou o descuido de Fred para abraçá-lo por trás. Eram tão poucos os momentos afetivos entre eles. Que não considerou ser plausível perder uma oportunidade dessas. Sem se importar com o corredor abarrotado de estudantes que lançavam olhares a torto e a direito na direção deles, deitou sua cabeça nas costas de Fred, podia ouvir as batidas de seu coração ritmizado.
- Achei que estivesse na biblioteca estudando paramos exames. - Fred disse logo que prendeu em seus braços.
- E estava. Mas não conseguia parar de imaginar o que é que você deveria estar fazendo. Então vim conferir por mim mesma.
- Estou limpo, meu bem. - Ele lhe piscou um dos olhos. - Hm, digamos que seus estudos foram muito parecidos com os meus hoje. Perdi as contas de quantas vezes passei pelas masmorras da Sonserina tencionando um encontro com a senhorita.
- Que cortês da sua parte, Fred Weasley.
- Eu respondo a sinceridade da minha Lady, com sinceridade. - E dito isso. Fred beijou a testa de . Assim permaneceram. Abraçados. Sentido a presença um do outro.
- Fred? - Chamou. Ele descansava o queixo sob sua cabeça.
- Hmm? - Ele murmurou.
- Você está contente demais hoje sabia? E estou lhe dizendo isso com a certeza de que não se deve só a minha ilustre presença. Ou estou errada?
- Você sabe que tu basta para me fazer feliz. Mas realmente, hoje recebemos uma coruja de meu pai dizendo que conseguiu ingressos para a final da copa mundial de quadribol, não é incrível? - Ele sorriu de forma que poderia-se dizer que havia tomado uma dose da poção felix felices.
- Acredito que sim, e onde vocês vão ficar? No camarote do ministro? - Ela poderia ter esperanças...
- Não, devemos ficar em alguma arquibancada acho... Espera aí um minuto. - Fred olhava para ela com um olhar desconfiado. - Como é que você sabe dessas coisas, ? Até onde seu detesta quadribol, e ainda assim tu sabe que o ministro tem um camarote só dele. Pode começar a falar, meu bem.
-Talvez, hipoteticamente falando, eu posso já ter assistindo um ou dois jogos da final de quadribol... - pensava em maneiras de fugir daquele assunto.
- Um ou dois jogos? - Desde quando ele a conhecia tão bem?
- Ok. - Suspirou longamente. Adiando aquilo mais um pouco. - Já fui em todas as finais da Liga Mundial. - Cruzou os braços na altura do peito. - Não é minha culpa que o camarote mágico tenha o nome do meu ta-ta-taravô!
- Oras, isso é uma pena então. - Fred disse e olhou para ele sem entender nada. Ele, por sua vez, assimilando a falta de compreensão da menina a sua frente, transpassou um dos braços pelo pescoço dela, trazendo-a para perto. Mais perto. - Tinha planos de lhe chamar para ir comigo. - sentiu uma pontada em seu estômago, sabia que poderia começar a chorar a qualquer instante. Aconchegou-se um pouco mais a Fred e escondeu o rosto na curva do pescoço do garoto.
- Por que é que a gente sempre tem que complicar tudo um com o outro? - Ela suspirou.
- Se bem me lembro você deixou claro pra mim "eu nunca vou aliviar para você, Fred Weasley". - Ele repetiu letra por letra todas as palavras que lhe havia dito há um tempo atrás.
- É verdade, não espere nada menos que isso de mim.
- Se quer mesmo saber, sempre gostei do desafio. - Encostou os lábios aos de .
- Nunca subestime Fred Weasley. - Ela sussurrou. E Fred enterrou o rosto em seus cabelos, longos e claros, tinham cheiro de baunilha, e ele sentiu que poderia passar o resto de sua vida preso aquele momento.
- Já decidiu quando vai me visitar nas férias? - Perguntou conforme encostava suas testas, dando a garota uma visão privilegiada aquele mar sem fim que eram os olhos de Fred Weasley.
- Fred...
- , temos menos de dois meses nessa prisão. - Ele tinha uma expressão de dor no rosto, mais entrelaçada a ideia de ainda ter todo aquele tempo na escola, do que as tentativas frustradas de em recusar seus convites infinitos.
- Eu sei. - passou o nariz pelo o de Fred. Não havia distancia entre eles.
- Não vai sentir minha falta nas férias? - Ele fez bico.
- É claro que vou. - Disse rapidamente, beijando-lhe em seguida, numa forma de selar aquela jura.
- Estou com medo de não lhe ver por esses três meses, e tenho certeza que vai doer. - A dor em seu rosto agora era verdadeira, e condizia significamente com o momento em si. achou que poderia chorar. Doía nela também.
- Eu não vou fazer isso.
- Você promete? - Fred sussurrara.
- Mas tem mesmo que ser na sua casa? - Hesitou.
- Qual o seu problema com a Toca? - Ele parecia calmo, como sempre o era, mas podia sentir um fio de angústia em sua voz.
- Eu não tenho problema nenhum com sua casa, meu problema é a sua família não gostar de mim. Quer dizer, já não sou a pessoa favorita de Ronald. - confessou.
- Você é a minha pessoa favorita.
- Não deixe Jorge lhe ouvir falando isso. - Riram juntos, e se abraçaram um pouco mais, como se fosse possível, como se distância fosse uma palavra desconhecida em ambos vocabulários.
- Mas é a verdade. - Afirmara.
- O que quer de mim, Fred?
- Quero você. - Selou seus lábios aos dela, beijando-a profundamente. E assim permaneceram. Por infinitos.
- Acho que estava errada. - Encostara a cabeça no ombro largo de Fred. - Talvez as coisas não sejam lá tão difíceis assim para nós.
- Eu nunca tive tanta certeza em nada como tenho quando olho para você. - As pernas de falharam, mas talvez Fred não tivesse chego a perceber, ele tinha as duas mãos bem seguras na cintura da garota.
- Sempre tão galante.
- Sempre seu. - Passou o nariz pela bochecha dela, fazendo um caminho, pra seguir pela trilha em direção aos lábios rosados de . - ? - Chamou.
- Hum? - Ela resmungou de volta.
- Não pense que essa conversa acaba aqui. - tinha um sorriso grudado em seu rosto.
Tudo poderia parecer tão fácil quando dito num sussurro por Fred Weasley.
Não lhe era mais tão comum assim, virar para trás e encontrar com os olhos de Fred, tão azuis, quase não o vira nos dias que seguiram, algumas poucas vezes se esbarravam entre um corredor e outro do castelo, e ele sempre com expressões de culpa no rosto lhe enviando olhares de desculpa, com livros debaixo do braço, Weasley cursava o quinto ano de Hogwarts, e no final deste, prestaria os N.O.M's, Níveis Ordinários da Magia, eram provas duradouras e exaustivas, que além da pressão pelos exames em si, condizia também com as matérias que se cursaria no ano seguinte, servindo como indicativo daquilo o que cada um seguiria no futuro, e isso tudo pode ser o suficiente para fazer qualquer um pirar. Mas de todo o jeito, tinha seus próprios dilemas, no caso, os seus exames para desconcertar-lhe, em poucas semanas seriam as provas finais, e não poderia afirmar que estava confiante. Seu cérebro andara mostrando-se um péssimo amigo, e falhando sempre que se sentava para estudar, há dias não conseguia guardar nada do que lia de seus livros e anotações, e para piorar, recentemente descobrirá que o teste de Defesa Contra as Artes das Trevas seria prático, e só mesmo Merlim saberia dizer o que iria fazer se um dementador aparecesse em sua frente. Ainda tinha pesadelos a noite, onde um enxame desses monstros surgiam para roubar seu suco de abóbora.
Derrubará a pena contra o piso de madeira da biblioteca, haviam muitos alunos próximos, tanto que todas as mesas estavam ocupadas com ao menos três estudantes cada, e poderia dizer com firmeza que nenhum levantará os olhos de seus livros para verificar quem quebrava o silêncio continuo da sala. Respirou fundo sentindo os tremores que atravessaram seu corpo se dissiparem conforme se teletransportava mentalmente para seu lugar feliz, como era difícil se concentrar quando tudo o que lia não fazia o mínimo sentido, declarava guerra a Aritmância, era no mínimo lastimável que não pudesse contar com a ajuda de Cedrico nos estudos, logo ele que era tão bom em, bem, tudo. O amigo sentara-se com ela algumas noites antes, explicando-lhe certos conceitos que ela própria não assimilava, desde que seu cérebro decidira sair de férias mais cedo. Fora a única vez, depois de dias frustrados de estudo inválido que conseguira entender alguma coisa. Cedrico era realmente alguém que vencia na vida. E em tudo o mais. Avistou-o há algumas mesas de distância de onde se sentava, e pensou pela milésima vez se não deveria mesmo arriscar e pedir-lhe para explicar numerologia uma última vez, como ele costumava fazer, mesmo quando não era preciso. Agradeceu-se mentalmente por nunca tê-lo interrompido quando não tinha relevância ouvi-lo falar daquilo que já sabia, caso contrário, certamente que estaria repetindo o terceiro ano sem nem ao menos terminá-lo.
Estava exausta e sentia-se vencida pelos problemas sem solução nos milhares de pergaminhos que carregava debaixo do braço, não estava sendo proveitosa aquela tarde de estudos, era um sentimento novo para , não ir excepcionavelmente bem em alguma matéria, e com toda a certeza não gostava nem um pouco, apegara-se a ideia de que era a pressão pré-provas-finais que lhe causavam isso, levando-se em conta que em sua antiga escola, a tão querida Beauxbatons, a dinâmica dos exames era completamente diferente. Sendo que em alguns casos, como as aulas de Etiqueta, os alunos simplesmente tomavam chá. As vezes, como naquele momento, sentia saudades de sua antiga vida, aparentava fazer tanto tempo desde que pisara no castelo da Academia de Beauxbatons pela última vez, ou talvez, parecia ser a vida de outra pessoa, que não a sua. Fosse por bem, fosse por mal, a coisa mais sensata que fizera por todo o dia fora quando decidirá voltar ao dormitório, se jogar na cama e dormir até a hora do jantar. E realmente teria feito isso se não fossem as incessantes batidas e farfalhar de asas que ouvirá a suas costas. Do outro das janelas que atravessavam os corredores de Hogwarts estava Mardy, sua coruja Bufo Real, indicando um envelope preso a uma das patas. Aquilo era no mínimo curioso, não enviará nenhuma correspondência ao amigo de Beauxbatons há um certo intervalo de tempo, e ele era o único marjoritariamente a quem enviava cartas, de quem seria aquela? Por que sua própria coruja a trouxera correspondências de um remetente desconhecido? E por que é que fazia tantas divagações quando tudo o que tinha de fazer era ler a tal da carta. Acariciou as penas de Mardy quando a coruja pousou no peitoril da janela, Desamarrou a carta e sem esperar resposta a Bufo Real levantou vôo, não havia lhe mordido os nos dos dedos esperando um petisco em troca do bom serviço prestado, e aquele fora o segundo sinal de que alguma coisa estava realmente muito errada.
Cara ,
Infelizmente perdemos. Tive permissão para trazer Bicuço de volta a Hogwarts. Ele gostou tanto de Londres.
A data da execução ainda será marcada.
Estou enviando uma carta para Harry, Rony e Hermione também, onde os aviso para permanecerem no castelo, seria esperto de sua parte fazer o mesmo, não quero que se metam em encrencas.
E jamais esquecerei de toda a ajuda que nos deu.
Hagrid.
Era um bilhete escrito as pressas em letras garrafais, com enormes manchas causadas por lágrimas que rodeavam todo o espaço útil do pergaminho. Um nó se formou em sua garganta. E talvez não conseguisse segurar aquilo que escorria por suas bochechas. Só conseguia pensar em como Hagrid deveria estar se sentindo. Sozinho. Ele dizia no bilhete que avisará ao trio de ouro para que não fossem até sua cabana, que ela deveria fazer o mesmo e não se meter em encrencas, bom, nunca fora lá muito de ouvir conselhos, o único problema, quer dizer, haviam várias adversidades, contudo a majoritária era sair do castelo, principalmente devido as medidas de segurança contra o então ainda foragido Sirius Black, lembrou-se ocasionalmente de quando o Prisioneiro de Askaban fez uma visitinha ao castelo de Hogwarts, mais precisamente, a torra da Grifinória, o boato que corria, era que ele estava atrás de Harry Potter, e ele mesmo lhe confirmara isso. O garoto não tinha descanso. Não era legal ser , poderia afirmar isso com certeza, mas também acreditava que não deveria ser diferente se tratando de Harry Potter. Bom, pensando no próprio, decidiu ser forte, e lutar por aquilo o que acreditava, então, mesmo sem preparo algum, e nas atuais circunstâncias, sabia que precisaria de reforços, mas ela já sabia bem a quem deveria chamar numa situação dessas.
- Está louca? - Fora a primeira coisa que Jorge dissera quando contará aos gêmeos de sua empreitada. - O castelo está mais protegido que nunca, garota, ainda é dia, até mesmo Flitwick nos veria andando pelos jardins, e olha que ele não da altura no menor dos parapeitos dessa escola, qualquer um que nos visse saberia que nada de certo sairia dali. Estou fora. - Ele cruzou os braços e permaneceu firme em seu posto, dividindo seu olhar entre o irmão e a garota. Fred parecia imparcial a tudo, mantinha-se a encarar com um olhar sonhador, e um sorriso de canto característico. Ele aceitaria ir a plutão num tapete voador barato se ela lhe pedisse. Só não admitiria isso em voz alta. Não ainda.
- O legal de conviver tão perto de vocês, é que realmente te faz acreditar que meio que nada é impossível. - proclamou, assistindo a expressão de Jorge suavizar.
- Droga, , eu te odeio. - Ele esfregou as costas das mãos no rosto. - Fred, sua garota sabe usar as palavras. - Fred sorriu, e passou um dos braços pelos ombros do irmão encostando as testas idênticas uma na outra. Pareciam gêmeos siameses. E era tão bonito de se ver. - Peguem suas capas de invisibilidade queridos, nós vamos sair!
- Não temos capas. - o lembrou, entrelaçando seus dedos aos de Fred Weasley.
- Não estrague esse momento, . - Jorge.
Esgueiraram-se até uma sala de aula vazia no primeiro andar, os gêmeos não tinham mais o falecido e sempre útil mapa do Maroto, haviam presenteado Harry Potter com o mesmo, e os repudiava secretamente por isso, ainda tinha desejos em possuir o precioso objeto para si, mas de todo jeito, Fred e Jorge dançavam pelas sombras do castelo de Hogwarts, e escapuliam de qualquer ameaça que pudesse interferir em suas empreitadas. Quem é que precisava de um mapa estúpido quando se tinha aqueles dois? Pareciam verdadeiros aurores em missão. Trancafiados no aposento vazio, eles dividiam uma mesa, observando os rabiscos de Jorge num pedaço de pergaminho, ele fizera uma simples projeção dos arredores do terreno de Hogwarts, por onde teriam de passar para chegar a cabana de Hagrid. Nenhum dos três dizia uma única palavra, somente Jorge em meio a seus desenhos resmungava uma coisa ou outra. sentava-se na metade da mesa que não era ocupada pelo pergaminho, balançava as pernas descontraidamente, um tanto nervosa, sentia os braços tremerem. De soslaio, lançava olhares a Fred, ele tinha as pernas cruzadas e o queixo apoiado por uma de suas mãos, observava a tudo o que o gêmeo fazia, das queixas aos riscos traçados. E ambos pareciam se entender tão bem quanto se estivessem debatendo fervorosamente a tudo aquilo.
- Preparados, senhores? - Jorge disse de repente, empurrando a cadeira que ocupava segundos antes com um dos pés, e pondo-se de pé, sendo seguido pelo irmão. os olhou assombrada, mas não chegou a dizer nenhuma palavra, apenas esperando para ver aonde aquilo iria dar. Feito um daqueles jogos de azar, em que você sabe que vai perder, mas quer jogar mesmo assim, só para ter certeza. Os gêmeos se posicionaram defronte a uma das janelas dos fundos da sala, cada um abriu a uma das vidraças e logo se estabeleceram as sombras das mesmas, para que não fossem vistos por qualquer um que pudesse estar pelos jardins. - Quem vai primeiro?
- Do que é que você está falando, Jorge Weasley? - , que já estava entendendo nada muito antes daquilo, se prontificou.
- Quer ser a primeira a pular, ? - Jorge tinha uma sobrancelha arqueada, desafiando-a.
- Você está maluco? - Queria gritar com ele, mas se retesara, querendo ou não, Jorge estava lhe prestando um favor, e se colocando em risco por ela, já fizera mais do que deveria, ao seu ver.
- Fred, sua garota diz que estou maluco. - Jorge olhava para o irmão, e apontava um dedo contra , como se a louca fosse ela. - É claro que não sou. Se quer saber sera o jeito mais promissor para que cheguemos a Hagrid sem sermos pegos. Você ainda vai me agradecer muito, . - ainda não estava convencida. - É uma queda de sete, ou oito metros, no máximo, lhe garanto que você não vai morrer. - Piscou um dos olhos para ela, tão azuis quanto aqueles que tanto estimava.
- Mas que inferno. - puxou alguns de seus próprios fios de cabelo, irritada, e um tanto nervosa com as chances de acabar na enfermaria sem um braço. - E se eu fizer muito barulho pulando?
- Fredinho cuidara disso pra gente. - Jorge deu tapinhas nas costas da menina, tranquilizando-a, ou pelo menos tentando. - Irmão?
- Abaffiato. - Fred apontou a varinha para fora da colossal janela de estilo vitoriano.
- E vocês também sabem feitiços de proteção? - Sentia-se desconcertada, o que é que aqueles garotos faziam numa escola? Quando sabiam mais da vida que, eu não sei, o ministro em pessoa.
- Só esse. - Jorge usou de seu tom mais humilde, mas seus olhos pareciam ocultar um coisa, ou duas. - Fazemos algumas experiencias em nosso quarto que mamãe arrancaria a pele de nossas costas se soubesse, então como você pode ver, foi a vida que nos fez assim.
- Também gostamos de nos desafiar em duelos. - Fred completou, dizendo alguma coisa que não fosse monossilábica em horas.
- Adoro os duelos. - Jorge concordou, dando um soquinho contra o peito do irmão.
- Vocês tem sorte de serem bonitos, porque são completamente desajuizados. - disse, conforme também subia pelo parapeito da janela. - Se eu morrer eu volto pra te pegar, Jorge Weasley.
- Estarei esperando ansiosamente. - não o olhava, mas acreditava fielmente que haveria um sorriso brincando no rosto daquele Weasley. - Pule de uma vez, juro que a grama é fofa lá embaixo. - E assim ela o fez. Engoliu um grito que ardia em sua garganta. Caiu de joelhos no gramado, o mesmo amortecera a queda, mas podia sentir suas articulações reclamarem. Nem dois segundos depois, Fred e Jorge pousaram majestosamente cada um de um lado seu, ambos agachados com os joelhos dobrados, só conseguia imaginar o quão ridícula deveria estar caída no chão, enquanto os gêmeos mantinham-se imponentes. Mostrando-se os cavalheiros que eram, cada um tomou um dos braços de e a levantaram de sua aterrissagem espalhafatosa.
- Vocês faz melhor na próxima, . - Jorge cochichou. - Comigo, grupo. - Ele indicou o caminho em frente e se curvou seguindo a passos rápidos, fazendo com que precisasse correr para alcança-lo, Fred protegia a retaguarda daquele excêntrico trio.
Sentia-se perseguida, parecia que havia uma figura por trás do sombreado de cada uma das milhares janelas iguais que formavam a fortaleza de Hogwarts, e por mais estranho que possa parecer, todas tinham a forma do professor Severe Snape, não admitiria nunca, mas tinha um certo receio quanto a ele. Estavam próximos as estufas, já podia ouvir os sons abafados e ruidosos das mandrágoras, ainda curvado, Jorge liderava à frente, parecia atento a tudo, o via constantemente em alerta, virando a cabeça de esquerda à direita, só parecia não se preocupar com o que acontecia ás suas costas, e sabia que isso era devido ao fato de Fred estar cobrindo-a. Contornavam o galpão das estufas, sentindo o vapor quente que escapava do mesmo, junto ao odor silvestre, àquela altura ainda não haviam se deparado com nenhuma autoridade que poderia lhes dar uma passagem de volta para casa, e isso só lhe deixava ainda mais obsessa com a premissa de que estavam sendo observados. E de repente, Jorge parou. Ele tinha as costas apoiadas a parede externa que contornava a estrutura das estufas, fez sinal com uma das mãos para que os outros dois mantivessem-se em silêncio, e assim o fizeram. O assistiu quando ele fechou os olhos e pareceu respirar profundamente. Em seguida, estendeu minimamente a cabeça para fora, ele espiou, quando voltou a posição inicial, lançou um olhar para o lado onde e Fred permaneciam, tudo o que fez foi assentir, e aquilo o que entendeu de menos, Fred captou demais. Dois segundos e estavam correndo por dentre a horta de Urtigas Secas e Begônias. O cheiro característico de ambas as espécies vegetais era inegável. Quando viu fim naquela selva Herbológica, Jorge aumentou ainda mais o ritmo da corrida. Fred murmurou atrás de si o feitiço de proteção anti-ruídos, talvez para amenizar os sons que saiam daquela desventura, a verdade é que não conseguia pensar direito, só o que tinha em mente era que precisava alcançar Jorge, fosse por bem ou por mal, deveria estar funcionando, passavam pela clareira em que normalmente se reuniam os alunos das aulas de Trato das Criaturas Mágicas, ministradas por Rúbeo, e logo a frente, era possível ver imponentemente a cabana do professor, e também amigo. Jorge foi o primeiro a saltar os três degraus que haviam em frente a porta duas vezes maior que uma de tamanho normal. emparelhou-se logo atrás dele, e pode sentir Fred fazer o mesmo. Cada um bateu uma vez no grande portal, e todos ouviram os lamentos e suspiros que vinham de dentro da cabana. A porta se abriu, e um Sr. Hagrid com o rosto inchado e vermelho, e os cabelos talvez duas vezes mais despenteados, ele parecia à beira de um colapso, mas a surpresa em seus olhos não poderia ser maior ao enxergar aqueles três parados a sua frente.
- Por Merlim, que fazem aqui?
- Hagrid agradeceríamos se começasse esse inquérito quando já estivermos todos protegidos pelas paredes de sua casa. - Jorge dizia, alguns tons mais baixo que o usual. - Estamos sob muitos riscos aqui fora, meu amigo.
- Pois entrem, entrem. - Hagrid empurrou gentilmente pelas costas cada um dos três para dentro. - Muito arriscado o que fizeram, sem falar que devem estar quebrando no mínimo vinte regras da escola. - Ele dizia conforme fechava a grande porta da cabana, mas que comparada a seu próprio tamanho, já não era tão extensa assim. - E ainda por cima me fazem cooperar com suas desventuras.
- Sabemos disso. Mas como sempre, vale o risco. - Jorge rebateu, já buscando uma cadeira para se sentar, ele tinha o rosto corado, e os cabelos ruivos, da cor do fogo da lareira que crepitava num canto do cômodo, estavam uma bagunça. Imaginou que Fred estaria da mesma maneira, mas não se retesou quanto a verificar essa ideia, ele estava ainda em pé, bem ao seu lado, diferente do irmão, e daquilo o que pensara, Fred tinha as sardas que cortinavam todo o seu rosto em total evidência, talvez pela proximidade em que estavam, talvez por sempre que colocava os olhos em Fred o enxergava mais a fundo, ele tinha uma gota de suor escorrendo-lhe pelo pescoço, e num movimento abriu os dois primeiros botões de sua camisa, tinha os lábios ressecados e respirava pela boca, sua respiração ainda descompassada, e foi só quando chegou nos olhos, de um azul profundo que brilhava e falava com você, que chegou a perceber, que ele olhava para ela. Pensou em desviar rápido. Mas já havia sido petrificado pelo poder de atração daquele par de globos claros. Fred sorriu, e jurou que poderia beija-lo naquele momento.
- Vocês não vão sentar? - Jorge os chamou, destruindo um momento, mas trazendo-a de volta a razão ao qual fizera com que arriscasse a vida acadêmica dos três. Hagrid ocupara sua poltrona, de tamanho equivalente ao trono de um rei, coberta de pele de urso das Montanhas, ele tinha Canino com a cabeça apoiada em suas pernas, parecia nem se importar com o fato do cão babar em sua calça, Hagrid tinha o olhar perdido contra a parede oposta, e parecia não enxergar a nada.
- Hagrid? - o chamou se aproximando. - Recebi sua carta, precisava vir lhe ver, ver a Bicuço, é uma injustiça o que fizeram, tínhamos material suficiente contra as acusações. - Parara de frente a ele, obrigando-o a encara-la. - Sei que meu Tio persuadiu a Comissão para que incriminassem o hipogrifo. São todos uns velhos estúpidos que devem ter se intimidado por ele. Nós temos de recorrer, pedir uma nova audiência, temos de fazer alguma coisa.
- Ah, jovem . - Hagrid se inclinou alcançando a mão da menina, algumas lágrimas escorriam pelo belo rosto dela. - Me dói dizer mas não há mais o que fazer. Sei que a culpa foi minha, me atrapalhei com as anotações e as datas dos fatos que inocentariam Bicuçinho. Mas estavam todos lá sentados e vestidos de preto, e então Lúcio se levantou e pôs se a falar, maldito Lúcio, fizeram exatamente o que ele mandou. - Hagrid fungou uma vez. - Eu disse em meu recado o quanto lhe agradeço, e sei que ainda não é o suficiente, me ajudou muito, a mim e a Bicuço, não teríamos a menor chance sem os recursos que nos arrumou. Mas Malfoy é alguém muito mais poderoso e influente que eu. Só vou tomar as devidas providências para que os últimos dias de Bicuço sejam os mais felizes que teve na vida.
- Eu queria poder fazer mais. - apertou a mão de Hagrid.
- Você fez o que podia. - Hagrid deu-lhe palmadinhas nas costas.
- E não foi o suficiente. - quase não ouviu sua própria voz, de tão baixa que saiu.
- Foi sim. Pra mim foi. - Sentara-se no braço da poltrona em que Hagrid estava, apoiou sua cabeça no ombro do gigante e ali ficaram, sofrendo juntos.
- Eu vim até aqui para te consolar, mas foi você quem acabou fazendo isso por mim. - Sentia o peito doer.
- Estou bem, , é triste, eu sei, mas foi pior no fim do julgamento, não dormi por duas noites, passei todo o tempo desde então com esse pobre hipogrifo, Bicuçinho ainda tinha tanto que viver, mas parece que vão adiar seus dias agora. Estou aceitando aos poucos. Por mais trágico que isso possa soar.
- E se o soltarmos? - Jorge perguntou do outro lado da cabana. Ele e Fred mantiveram-se quietos enquanto e Hagrid conversavam, tinham colocado água na caldeira e faziam um pouco de chá, pelo menos era isso o que parecia ser. - Poderíamos deixá-lo fugir, ele iria para longe, bem longe disso tudo. - Ele continuou a dizer, com um plano começando a ser estrutura em sua mente.
- Não, não, não podemos. - Hagrid o vetou.
- Como não? Podemos esperar anoitecer e... - Jorge tentou dissuadi-lo.
- Não posso fazer isso com Dumbledore. - Hagrid pôs fim aquela ideia. - Grande homem, Dumbledore. Esteve aqui comigo, fez me várias visitas desde que voltamos do ministério da magia. Foi ele quem pediu a corte dos Bruxos permissão para trazer Bicuço para Hogwarts, para sua casa. Se soltarmos esse hipogrifo saberão que fui eu. E cairão para cima de mim, e de Alvo também, tenho certeza. E não posso deixar isso acontecer. Já fiz estrago demais.
- A única coisa que você não fez foi afogar Malfoy no lago negro depois que Bicuço deu-lhe uma surra. - Jorge parecia desconcertado por não ter sua ideia bem aceita.
- Se conseguíssemos fazê-lo confessar... - Fred deixou a frase no ar, com os olhos em , como ela pode perceber, o menino deveria achar que ela conseguiria convencer ao primo, mas mal sabia ele que na atual situação não faria Draco nem mesmo comer seus legumes antes da sobremesa.
- Hum seria mais fácil ensinar a um Trasgo o alfabeto. - Jorge desestimulou o irmão, sem perceber a verdadeira intenção de Fred.
- Mas você tem certeza, Rúbeo? Soltar Bicuço seria o melhor que poderíamos fazer por ele a essa altura. Jorge está certo. - Viu surgir um sorriso de triunfo no rosto do gêmeo Weasley.
- Não posso, , vira o Ministro Fudge em pessoa, e o carrasco, que parece ser velho conhecido dos Malfoy... - O interrompeu.
- Macnair. - sentiu o estômago embrulhar quando proferiu aquele nome.
- Ele. - Hagrid tremia. - E se não virem a Bicuço só poderão presumir que fui eu quem o soltou.
- Está certo, o Ministro precisa ver o hipogrifo antes de o matar. - tinha uma luz brilhando por trás de seus olhos. Podia sentir. - Isso ainda não acabou, Hagrid, eu lhe garanto. - A menina se levantou jogando alguns fios rebeldes de seu cabelo por cima do ombro, deu um abraço de despedida em Rúbeo, não tão grande quanto ele próprio, e ainda caçou atrás das orelhas de Canino, antes de sair sendo seguida por duas criaturas impecavelmente idênticas.
- Você tem um plano? - Fora a primeira coisa que Jorge dissera quando colocaram os pés para fora da cabana de Hagrid.
- Na verdade, a ideia foi sua, Jorge Weasley. - Já era noite, e fazia frio pelos arredores da escola, viu-se cruzando os braços na altura do peito, abraçando o próprio corpo, os três permaneciam próximos, mas não diziam mais nada, ainda era arriscado o que estavam fazendo, não poderiam correr o risco de serem pegos, e se perguntava qual seria a carta na manga dos gêmeos que os faria subir de volta para o castelo pela janela que pularam mais cedo. O atrito de seus pés contra a grama era o único som que seus ouvidos captavam. Tentava ao máximo se abster dos uivos e gemidos que provinham das profundezas da Floresta Proibida, ainda não superara seu prévio encontro com a morte quando haviam sido atacados por uma Acromântula em uma de suas expedições fora do castelo com os gêmeos, e já estavam próximos o suficiente daquele antro selvagem, para seu próprio gosto, caminhavam a passos largos circundando a clareira de entrada da floresta, e podia sentir seu coração saltar contra seu peito.
Não conseguia imaginar qual seria sua reação se em algum momento de sua vida passasse por outra situação de quase-morte como aquela, só esperava duas coisas disso, que em primeiro lugar, seus membros não falhassem, trabalhando contra ela, para que pudesse lutar com louvor por sua existência, e em segundo lugar, esperava que estivesse com Fred e Jorge, quando, e se, esse momento chegasse. Olhou para os gêmeos, cada um de um lado, ambos compenetrados na missão para que voltassem sem maiores complicações para a escola. Fred voltara a usar o feitiço anti-ruídos, e Jorge achara que seria melhor darem a volta pelo lado contrário ao que haviam usado para chegar a cabana de Hagrid. Estava convicto que conseguiriam entrar sem serem vistos, pelo lado sudeste do castelo, que seria exatamente a parte oposta do Grande Salão, onde era servido o jantar àquela hora. Sentiu seu estômago doer ao pensar nas Tortas de Carne e Rins que deveriam encher o tampo da mesa da Sonserina, e que seriam devoradas por Crab e Goyle. Chutou uma pedra que brilhava em meio a grama úmida daquela noite fria, o pedregulho voou batendo contra o tronco de uma árvore logo a frente, produzindo um som oco. Com o timing perfeito, naquele exato segundo Fred a segurou por um dos ombros, fazendo-a parar, Jorge fez o mesmo do outro lado. Virou-se de um para o outro, e ambos tinham um dedo levantado defronte a seus respectivos lábios, indicando silêncio, em sua cabeça, pensou que estavam advertindo-a por ter chutado a pedra, mas o som que se sucedeu, de passos e a luminosidade que provinha de dentro dos domínios da Floresta Proibida, e que parecia se aproximar do trio, fizeram seu cu trancar. O clarão estava cada vez mais próximo, e os sons provinham com maior intensidade também. Os três trocaram olhares rápidos uns com os outros, presos ao chão, pelo medo de serem pegos, com o invasor a cada segundo mais perto de onde estavam, ainda parados. Por dentre as raízes altas de árvores que marcavam a entrada para a floresta surgiu um gato magro, cor de poeira, este se aproximou, e quando colocou seus olhos no grupo de alunos, olhos esses que eram saltados feito lâmpadas, ela pôs-se a miar, e todos sabiam bem de que se tratava, era Madame Nora, a demônia da gata do zelador Argo Filch. Não deram um segundo depois de identificar a personalidade do animal para desatarem a correr na direção do castelo.
- Minha querida, mas o que? Alunos na floresta? - Ouviram a voz embargada de Filch soar exatamente onde estavam poucos segundos antes. - Alunos fora da cama? Alunos fora da cama! - Ele bradou, fazendo , Fred e Jorge apertarem o passo ainda mais.
- Filch vai nos fazer limpar troféus por um mês. - Jorge disse com a fala entrecortada.
- Que se foda, Argo, mamãe vai nos matar. - Fred o cortou, passando o irmão na corrida. Eles estavam um tanto desesperados com a possibilidade de serem enfim pegos. não se sentia diferente. Não queria ir pra detenção. Era um dos piores lugares da terra.
- Ai caralho, é hoje que mamãe nos manda aquele berrador. - Jorge pulou por sobre um formigueiro que havia em sua frente.
- Não parem de correr, pelo amor de Merlim. - Fred soou exausto.
- Ele ainda está atrás de nós? - perguntou, arquejando, já não sentia suas pernas.
- Ele não consegue correr tanto assim, vai chamar um professor. - Fred.
- QUE NÃO SEJA SNAPE! - Ressoaram todos juntos, disparando pelo gramado de Hogwarts em seguida. já não fazia a menor ideia de onde poderiam estar, se estava longe ou perto de alguma entrada para o castelo, ela não saberia dizer, contava que Fred e Jorge fizessem sua mágica, por mais redundante que isso pudesse soar.
- Vamos mais rápido. - Fred pegou pela mão, levando-a consigo, e Jorge resmungou ao lado, quando teve de se por a correr ainda mais depressa.
- Que falta faz a licença para aparatar na vida de um bruxo. - Jorge murmurou, perfaziam numa aceleração que poderia ultrapassar a velocidade da luz.
- Jorge, pare. - Fred puxou o irmão pela parte detrás das vestes, obrigando-o a parar. - Tem que dar a volta pelo outro lado. - Dizia apontando para a grande árvore que havia em frente do grupo. - Estamos perto demais do Salgueiro Lutador.
- Fred a gente não vai conseguir. - Jorge balançava a cabeça negativamente, tinha a voz falha. - Vamos correr pra floresta, ficar por lá até a área ficar livre, podemos voltar para a cabana de Hagrid.
- Eu não vou pisar na floresta Proibida, vão sem mim. - Anunciou, sentindo seu corpo gelar com a menor menção de ter que entrar na floresta maldita.
- Não me peça para escolher entre você e . - Fred exclamou vendo o olhar que o irmão lhe lançava.
- Eu vou lançar uma maldição imperdoável em vocês dois agora mesmo, já que estamos mortos de qualquer jeito. - Jorge se jogou contra o chão, respirando profundamente, como se estivesse há um longo tempo sem receber ar em seus pulmões.
- A gente se fodeu. - Fred se queixou, estendendo a mão para ajudar o gêmeo a se levantar.
- Eu só ainda não sei se o pior é ser pego pelo nojento do Filch, ou eu não saber o que fazer ´pra tirar a gente dessa. - Jorge transpassou os braços ao redor do irmão, abraçando-o, e desejou não estar em meio a uma desgraça para poder apreciar aquele momento de demonstração de afeto. A menina sobressaltou-se com a figura escura que surgia pelas sombras da noite, tinha a forma de um monstro, e se aproximava do trio cada vez mais. Nenhum deles tinha a menor força para voltar a fugir. Talvez tivessem chego a um consenso mental de apenas deixar as coisas acontecerem. Quem sabe não poderia ser até mais fácil. Haviam corrido o suficiente para uma vida toda. Prometia-se mentalmente que nunca mais se meteria com aventuras noturnas pela escola se saíssem vivos daquela desventura. De todo jeito, nunca fora muito boa em manter promessas, principalmente as que fazia para si mesma.
- Uou! - Jorge foi o primeiro a se manifestar com os contornos que tomavam forma daquela figura da noite.
- Não! - Fred surpreendeu-se quando o Cão Negro surgia em meio a escuridão.
- Que diabos... - Jorge exclamou, dando um passo de segurança para trás.
- Esse cão persegue a gente ou o que? - Fred posicionou-se na frente de . Mas aquele ato não impediu o enorme cachorro, tão escuro quanto a noite, de se aproximar da menina mesmo assim.
- Sai daqui, rapaz, vai ser pego com a gente, vão te usar como tapete na masmorra do professor de Poções. - tentou empurrar o cão na direção de onde ele viera.
- Volta pra floresta. - Fred advertiu ao cão, como se ele pudesse entender o que diziam.
- Vamos seguir ele. - Jorge ergueu os braços, acreditando que poderia ser um boa ideia, entrar na floresta. Ele chegou a tentar compelir o cachorro a ir com ele, mas o Cão Negro estava andando em círculos a volta de .
- Eu não vou. - A menina exclamou.
- Fred, dê um jeito na sua garota. - Jorge parecia à beira de um colapso.
- Jorge, tem que ter outro jeito. - Fred pediu.
- É claro que tem, isso depende se você quer ser morto pelo Salgueiro Lutador.
- Então vamos ficar aqui parados? - Os gêmeos estavam perdidos, nunca deveriam ter passado por algo do tipo, não saber o que fazer. Eles eram sempre tão confiantes em si mesmos.
- Filch vai nos alcançar. - lembrou.
- Merlim, me leva. - Jorge voltou a se estirar na grama úmida devido a noite neblinosa. Acreditou vilmente que aquele poderia ser o fim para aquele trio.
- Ei... - Talvez tivesse pensado cedo demais, lá estava o Cão Negro, era tão companheiro, quanto era sujo, ele tinha a ponta das vestes de entre os dentes, e saiu puxando a menina consigo, sem ter o que fazer, apenas o seguiu, orando para todas as entidades que conhecia para que não fossem parar na Floresta Proibida.
- O que esse cão quer? - Jorge recriminou.
- Sai fora, cachorro mal. - Fred seguiu correndo atrás do cão e de , que já estavam há alguns bons passos adiantados a frente dos gêmeos.
- O que ele tá fazendo? - Jorge perguntou, seguindo o irmão.
- ! - Fred não deu ouvidos ao gêmeo, e apressou-se para alcançar a menina e o cachorro maluco.
- Fred, me diz, por favor, que a gente não tá seguindo um cão? - Jorge olhava para o rosto de Fred, tão igual ao seu, era como assistir a sua própria imagem, o irmão, por outro lado, não tinha olhos para nada que não fosse a menina de cabelos rebeldes que corria a frente com um enorme cão a tiracolo. O animal parou numa clareira com um grosso toco de árvore no meio, o cão farejou aquele tronco, dando voltas e mais voltas ao seu redor, até que enfiou o fucinho por dentre duas raízes, e extraordinariamente o toco se abriu numa passagem, quer dizer, estava mais para um túnel, era difícil dizer, estava muito escuro, poderiam entrar e estar a salvos, como poderiam acabar com uma passagem só de ida para o inferno.
- Mentira. - Ouviu Jorge exclamar.
- Não pode ser. - Fred parecia incrédulo.
- O que é? - não entendia suas respectivas reações.
- É uma das sete passagens secretas. - Jorge disse como se ela fosse doente mental, ou algo do tipo.
- Só que essa foi destruída há anos. - Fred foi mais sútil, repreendendo o irmão com o olhar, mesmo ele não lhe dando a menor atenção, Jorge estava impressionado com o que tinham as suas frentes.
- Vocês sabem onde isso vai dar? - A garota perguntou.
- Sim, tem entrada pro castelo, não sei em que andar, mas é estranho, nunca descobrimos onde saía, achei que nem mesmo existia mais essa passagem. - Fred parecia receoso.
- Estava inutilizável há anos, porque construíram essa árvore estúpida em cima. - Jorge ajoelhara-se próximo ao toco de árvore, e examinava atentamente o caminho.
- O que me faz imaginar... O que é esse cão? - Fred agora encarava ao Cão Negro com olhos inquietos, cheios de perguntas, e temerosos pelo animal, que para , nada mais era do que inofensivo, e até um tanto fofo.
- Alunos fora da cama. - Os três se atentaram ao ecoar da voz de Argo Filch, não parecia estar longe dali.
- Pelo visto não vai ser hoje que vamos descobrir. - Jorge disse se esgueirando para a passagem não-mais-tão-secreta.
- Não temos tempo a perder. Cachorrinho, parece que você é mais esperto que meu irmão. - Fred.
- Eu não acredito que vou dizer isso, mas nós estamos em dívida com um cão. - Fora a última coisa que Jorge dissera antes de se atirar contra a escuridão sem fim do túnel.
- Eu não sei o que você é Cão Negro, mas obrigada mesmo assim, é a segunda vez que me salva, tenho certeza que nós vamos nos ver outra vez.
Se ao menos tivesse conjurado algum espectro de luz com sua varinha saberia pelo o que é que passava, a passagem secreta era um escorregador sem fim, sua bunda e todo o resto do corpo reclamava quando bateu contra as costas de Fred, deslizaram até sabe-se lá onde, estavam todos assustados e exaustos, mas ainda tinham um caminho a percorrer.
- Lumus. - A frente do grupo, Jorge acendeu a ponta de sua varinha.
Estavam num espaço subterrâneo, parecia uma caverna, e por Merlim, só havia uma via a frente para seguir, marcharam em meio a tropeços constantes, as respirações entrecortadas, os pés cansados, tinha de andar de cabeça baixa, pois o túnel não lhes dava altura, e por mais que caminhassem, não parecia nunca chegar a algum lugar. Fred entrelaçara sua mão a de . Andavam próximos. Com Jorge mais adiante, resmungando palavras desconexas. Quando a passagem afunilou ainda mais, não andaram muito e chegaram a seu fim, havia uma porta a frente deles, com maçaneta inclusive, e mais nada, para trás só o caminho ao qual já haviam percorrido, Jorge voltou-se aos outros dois com um olhar duvidoso antes de juntar forças para descobrir o que havia do outro lado. Ele pôs a cabeça para fora, e virou-se com um sorriso aberto cobrindo o rosto, Jorge pulou para fora, e segurou a tal porta para que Fred e fizessem o mesmo. Estavam no terceiro andar, o portal pelo qual passaram era na verdade um quadro, uma moldura com o retrato de cavaleiros com espadas. Era bom estar de volta.
- A gente não vai fazer isso outra vez! - Jorge apontara um dedo na direção dos outros dois.
- Você sabe que a gente vai sim, Jorge. - Fred respondeu se aproximando e depositando uma mão no ombro do irmão.
- É, eu sei, só quis soar dramático. - Riram.
- Quase me convenceu. - Fred.
- Não vão me faltar oportunidades. - Ele disse, dando uma palmadinha nas costas do gêmeo, e se distanciando, a caminho de sua sala comunal. - Até a próxima, queridos. - Jorge foi desaparecendo, e Fred permaneceu em pé, assistindo ao irmão. recostou-se nele, e o abraçou pela cintura, apoiando a cabeça no peito de Weasley.
- Com tudo isso, não tive tempo de agradecer a você, e Jorge, por me acompanharem e se arriscarem por mim, eu precisava de vocês.
- Sempre que você quiser, foi uma honra.
- Eu juro que não sabia que nos meteríamos em tantos problemas.
- É, mas eu sabia que tudo daria certo no final. - Fred beijou o topo da cabeça dela. - Desde que lhe conheci me sinto com sorte.
- Hoje estivemos a um palmo de sermos expulsos, ou até mortos, você tem certeza do que está dizendo?
- Minha sorte existe simplesmente por ter você.
- Você torna mais fácil quando a vida fica difícil.
Do momento em que conseguira entrar no castelo de Hogwarts, sem que algum professor ou até mesmo o feioso do Argo Filch os interceptasse, acreditou que estivessem fora de perigo, mas como em muitas ocasiões de sua vida, pensara cedo demais, ao cruzar a passagem secreta para as masmorras da Sonserina, sobressaltou-se para com o vulto escuro que a interceptou e sufocou num abraço. Pelo cheiro de morangos que exalava dos longos cabelos loiros, supôs que somente Tracey Davis faria uma demonstração de afeto para em seguida dar-lhe um tapa oco na cabeça.
- Você ficou maluca de vez, ? - Ainda haviam alguns alunos espalhados pela sala comunal, e por se tratar da casa Sonserina, todos prestavam atenção nas duas meninas, aquela gente era arrogante até o ultimo pelo do cu, mas também eram adoradores de uma boa fofoca como ninguém.
- Mais baixo, Davis. - Tracey a olhou carrancuda, e diminui o tom de sua voz resplandecente.
- Tu sumiu a tarde toda mesmo sabendo que devíamos estudar para os exames. Tem ideia de como ficou minha carta solar? Só pra você saber, eu não sei nem onde colocar o sol. E essa não foi nem a pior parte, porque achei que você estaria com Cedrico, mas quando o próprio veio me perguntar de você, eu sabia que tinha coisa errada nisso, e eu não consegui pensar em nada o que dizer ao Ced, aí acabei gaguejando palavras desconexas até ele me olhar estranho e se afastar. - Ela tampou os olhos com as mãos, incrédula. quis rir da amiga, mas sabia que acabaria levando outro dos tapas de Davis. - Cedrico deve me achar uma menina sonsa. Nunca mais vou ter a menor chance com ele.
- Tracey. - a abraçou pelo ombros, respirando fundo para não sucumbir em risadas. - Cedrico não é esse tipo de garoto, ele é mais velho e mais interessante que os outros idiotas dessa escola, não vai fazer piadas de você. Escute, eu prometo falar com ele e dizer que você estava sobrecarregada demais com seus exames, quem sabe ele não acabe até mesmo se voluntariando para te ajudar nos estudos?
- Droga, , é impossível te odiar. - Tracey a empurrou delicadamente, com um sorriso nos lábios e a franja escondendo parte de seu rosto.
- Eu também te amo, Tracey. - As duas deram os braços uma a outra e caminharam juntas até uma poltrona vazia próxima a lareira, que ainda crepitava, sentaram-se lado a lado no espaço mínimo porém aconchegante do estofado.
- Não vai me dizer onde se meteu a tarde inteira? Só pode ter sido algo sério para lhe fazer perder a hora do jantar. - Riram.
- Estive dando um passeio noturno, só isso. - Viu os olhos de Tracey se curvaram ao tempo em que a menina abria um sorriso malicioso.
- Aé? E com quem? - Perguntou.
- Fred.
- Argh! - Tracey fez uma expressão consternada. – , eu não entendo o que você vê nesse garoto.
- Qual é Davis, só porque ele é da Grifinoria? - Cruzou os braços na altura do peito.
- Também. - Tracey concordou com a cabeça.
- Vai me dizer que se você, hipoteticamente falando, fosse da Grifinória, não ficaria com nenhum dos meninos da casa? - tinha uma sobrancelha arqueada.
- É claro que não, ninguém lá é bom o bastante para mim. - Tracey disse pomposamente.
- Ninguém?
- Como você é pentelha. - Davis puxou alguns fios de cabelo de , fazendo graça. - Já que esta fazendo tantas perguntas hipotéticas, eu, figurativamente, digo que se fosse pra escolher entre um garoto da Grifinória, seria Olívio Wood, e ele teria que estar montado numa vassoura. - Não poderia discordar da amiga, que agora tinha o olhar perdido, com certeza relembrando cenas da final do campeonato de Quadribol da escola quando Olívio tirou a camisa, e por Merlim, que final de jogo foi aquele.
- E se tivesse que escolher entre os Weasleys? - Tracey riu escandalosamente, chamando a atenção dos companheiros Sonserinos que permaneciam na sala comunal. a acotovelou nas costelas, sem entender a reação da menina.
- Você não tem jeito mesmo, . - Ela ainda ria. - Ok. - Falou baixo, em meio aos olhares ameaçadores da amiga. - É que realmente são vários Weasley, né? Cruzes, temos inclusive essa opção, de poder escolher entre um deles. - Tracey parara de gargalhar, e agora coçava o queixo, pensativa. - Bem, se eu tivesse que pegar um dos meninos Weasley, acho que seriam os gêmeos, sim, com certeza os gêmeos Weasley, mas entenda que quando digo isso quero dizer os dois ao mesmo tempo.
- Como você é cobra.
- Sou Sonserina meu bem. - bateu com a almofada que descansava em seu colo na cara de Tracey Davis, que voltou a rir.
- Eu tenho que lhe dizer uma coisa. - começou, num de voz muito mais baixo que o usual, fazendo Tracey entender de que se tratava de algo sério, ao qual ninguém mais poderia ouvir. - Preciso de um serviçinho seu.
- Do que você precisa? - Davis curvou os olhos, ansiando.
- Antes de qualquer coisa, necessitamos de Cedrico Diggory.
- Você acaba de dizer minhas duas palavras favoritas e tenho certeza que sabe bem disso.
Não era que fosse ingrata ou algo do tipo, estava mais para aquele arquétipo cujas ideias se mostravam mais valorosos que o próprio senso comum. Há menos de uma hora atrás vira a morte á sua frente enquanto aventurava-se pelos jardins sombrios dos terrenos da escola, e agora, cruzava o corredor escuro que a levaria para a passagem secreta da sala comunal de Lufa-Lufa, sentia Tracey Davis andando colada a sua traseira, a amiga não estava acostumada a quebrar regras, e tinha um tremendo medo de Pirraça, o Poltergeist da escola, por menor que fosse a distância entre os respectivos dormitórios, de Sonserina e Lufa-Lufa, a cada dois passos que davam, Tracey puxava pelas vestes, alegando ter ouvido alguma coisa, receando que fosse o Poltergeist, além de atrasar a operação, era um tanto inconveniente se ver arrastada por Davis, mas seu medo era compreensível, nenhum estudante de Hogwarts gostava de se deparar com Pirraça, ainda mais quando estavam quebrando normas da escola. Passavam pelo retrato de uma tigela de frutas, vislumbrou a pera verde, aguardando alguém para fazer-lhe cócegas, transformando-a numa maçaneta que dá para as cozinhas de Hogwarts, nesse momento sentiu o estômago se contrair fortemente, não havia comido nada desde mais cedo, sentia tanta fome que não conseguia nem se lembrar qual fora sua última refeição. Era tarde, talvez já se passassem das dez horas, a noite escura e sombria irrompia pelos corredios da escola de Magia, possivelmente não se sentiria tão segura se estivesse percorrendo aquele claustro sozinha, por mais que Tracey estivesse cagando de medo, poderia contar que a amiga estaria atrás de si, e em todo caso, na possibilidade de serem pegas fora de suas camas, ao menos teria companhia na detenção. Com esse pensamento, virou-se focalizando os brilhantes olhos claros de Tracey Davis, que tinha bem seguras as pontas das vestes de , sorriu para a menina, mesmo que ela não pudesse ver, não haviam acendido as pontas das varinhas, para não chamarem atenção até onde estavam, deslocavam-se da forma mais incógnita possível pelos passadiços, contando somente com o senso de navegação de , e por Merlim, agradecia imensamente por ambas as salas comunais serem próximas, levando-se em conta a imensidão daquele castelo. De todo jeito, acessível no mesmo corredor das cozinhas, estava a passagem para o salão da casa Lufa-Lufa, tateou em meio a escuridão a procura da mão de Tracey, e entrelaçou seus dedos aos da amiga, apertou o passo, levando-a consigo, até dar-se de frente a parede cheia de barris, acesso á sala comunal da casa de Cedrico Diggory, sabia que para entrar era preciso bater num certo barril seguindo o "ritmo de Hufflepuff" e assim o tonel iria se abrir revelando a passagem para o salão, porém, se bater-se fora do ritmo, ou até mesmo se escolher o barril errado, a barrica explode e consequentemente encharca o visitante em vinagre, os boatos eram de que o método nunca havia falhada na história de Hogwarts, e ela não queria ser quem iria comprovar o rumor. Desde que convencera Tracey a deixar o calor provindo da lareira de sua sala comunal e o conforto que as poltronas de couro ofereciam, para acompanhá-la nessa pequena aventura até o salão da Lufa-Lufa em busca de Cedrico. Fora exatamente este fato que persuadira Davis, encontrar Ced. Porém, em sua mente, imaginara que confrontaria algum outro estudante da Lufa-Lufa para ir atrás de Cedrico em intermédio por ela, não levara em conta momento algum que poderia não se deparar com nenhum aluno da casa vizinha, só o que tinham era um corredor e escuro, a empreitada não seria um desperdício total, pois de todo jeito poderia fazer uma de suas visitas ás cozinhas de Hogwarts, mas ainda assim precisava falar com Cedrico, sabia que não dormiria bem a noite se não o fizesse já. Com Davis encostada a uma das paredes choramingando qualquer coisa, e os minutos passando depressa, sentiu algumas gotas de suor escorrendo-lhe a nuca, mexia em um barril e outro, receosa, e sem saber o que poderia encontrar, a verdade era que poderia ter de desistir daquela desventura, e a ideia lhe causava calafrios, oras, será que não servia de nada sozinha? E estaria sempre destinada a recorrer aos serviços de Fred e Jorge? Ao menos, com os gêmeos de um jeito ou de outro sempre chegavam a algum lugar, e naquele momento, não sabia exatamente aonde ir. Um tanto irritada consigo mesma, e com todo o resto também, chutou o tonel a sua frente, com isso, quase imediatamente, o som de risadas preencheu o corredor sombrio.
- ... - Lamuriou-se uma ainda mais assustada Tracey Davis, a menina correu para se esconder ás costas de , e mais uma vez, não poderia culpá-la, quando ela própria sentia as pernas tremerem a ponto de congelarem no mesmo lugar. Quem seria? O que queria? E por que diabos gargalhava tão alto? Fosse quem fosse, aproximava-se lentamente, porém não de forma incógnita, e somente quando já estava próximo o suficiente foi que o viu, a figura prateada e translúcida, conseguia ver além de sua forma, e num primeiro momento considerou que poderia se tratar de Pirraça, levando-se em reflexão a desordem, mas as feições indulgentes e alegres, juntamente a aprencia do fradinho gorducho, era inegável não dizer com certeza de que tratava do Frei, fantasma da casa Lufa-Lufa. Sentiu o peso do mundo escapar de seu ser, tinha vontade de correr, abraçar e beijar as bochechas gordas do fantasma, uma pena que não fosse humano.
- Não deveriam estar em suas camas, crianças? - Fora a primeira coisa que dissera quando viu as duas garotas, soava severo mas seu olhar era bondoso.
- Sim, Frei, você tem toda a razão, mas não poderia dormir sem fazer uma coisa antes, não conseguiria... - E deixou o resto no ar, observando a expressão de interesse surgir no rosto redondo do Frei, a verdade era que, ele adorava uma boa história.
- E o que seria, ? - Tinha de pensar rápido, e acima de tudo, carecia imensamente de soar convincente.
- Preciso ver alguém. - Lançou ao Frei seu melhor olhar de coitada.
- Oras, e quem seria, Srta? - Ele tinha uma sobrancelha arqueada, e parecia ansiar pela resposta da menina.
- Vai rir de mim. - escondeu o rosto atrás das mãos.
- Não vou. - Frei se aproximou tentando segurar as mãos da menina, mas as suas próprias acabaram atravessando a palmas das dela. Ele ainda era um fantasma e uma ótima atriz.
- Jura? - Encarou-o enviesadamente.
- Seu segredo estará a salvo comigo criança. - Podia ver o quão havia tentado o pobre Frei, que sonhava se tornar cardeal.
- É Cedrico. - Cochichou achegando-se ao fantasma.
- Cedriquinho? - Ele exclamou boquiaberto.
- Preciso vê-lo. - confidenciou.
- Não a culpo por isso. - Frei repousou a mão no peito, sob o exato espaço onde deveria bater seu coração.
- Você me ajuda, Frei?
- Humm... O menino anda estudando tanto, não o vi uma noite com menos de dois livros em mãos nesta sala comunal, houve um episódio em que dormiu numa mesa abarrotada de pergaminhos - Ele coçava o queixo com um brilho intrigado no rosto. - Cedrico é todo NIEM's, e tu queres tirá-lo de seus estudos? - Vergou os supercílios.
- Frei... - Chamou.
- Eu sei. - Ele assentiu.
- Eu...
- Diga. - Os olhos do Frei Gorducho ardiam em fogo almejando que terminasse com aquilo de uma vez por todas, proferindo as palavrinhas mágicas.
- Eu o amo. - Proferiu finalmente as três palavras com sua melhor entoação de fascínio.
- Aww. - O Frei saltou com as mãos apertadas contra uma de suas bochechas, olhava para com adoração, acreditando que a menina estivesse realmente enfeitiçada por Cedrico Diggory. - Amor adolescente. - Ele flutuava sob suas cabeças. - É por conseguinte que estou vivo há três séculos minhas queridas. - Voltou a posição inicial, defronte a menina , ainda a encarava com idolatria - Pois bem, jovem Srta., irei atrás de seu estimado Cedrico. - Ainda a vislumbrou por mais alguns segundos, com aquele mesmo fanatismo, e em seguida desapareceu por detrás da parede coberta por barris.
- Garota - Sobressaltou-se com Tracey que a olhava com uma expressão cômica de puro deleite. - Você é uma cobrinha, . - A amiga a empurrara com o ombro.
- Sonserina. - respondeu usando as mesmas palavras que Davis ostentara numa cena que se sucedera a pouco tempo entre as duas.
- Ah, , tenho que tomar lições sobre como ser legal de você.
- ? - Surpreendeu-se com o chamado repentino de seu nome na forma da voz profunda de Cedrico Diggory, este que saía às pressas pela passagem não-tão-secreta-assim de sua sala comunal. - O que houve? Frei me chamou, disse que tu precisava...
- Ced, me abraça forte. - , que quando o viu surgir ainda tinha vestígios de um sorrisinho sacana que trocava com Davis, teve de vestir a carapuça mais uma vez, e enroscar os braços envolta do pescoço de Ced, afim de que o Frei não levantasse a menor suspeita contra ela.
- O meu trabalho aqui está feito. - O fantasma do Frei Gorducho se retirou atravessado a parede oposta, ele tinha os olhos marejados de lágrimas tão transparentes quanto ele próprio, e não perdeu a oportunidade de piscar para antes de sumir de vez.
- Você está bem? Precisamos levá-la a enfermaria? - Ced perguntou receoso por ainda continuar lhe abraçando.
- Tive de recorrer a um dos serviços de Frei Gorducho, e você sabe o quanto ele gosta de um showzinho.
- Eu quero saber? - balançou a cabeça negando inúmeras vezes consecutivas.
- Melhor não.
- Justo. - Cedrico deu de ombros. - Posso ao menos perguntar o motivo dessa visita noturna?
- Como assim? Viemos lhe ver. - Disse com sarcasmo.
- Corta essa. - Cedrico a empurrou com o ombro.
- Por que você sempre tem que esperar o pior de mim, Cedrico? - Seus lábios formaram um bico.
- Porque eu te conheço . - Riram.
- Ok, preciso de ajuda. - Ela admitiu, lançando um olhar cobiçador a Cedrico Diggory.
- Não é em Aritmancia, é? Vou ficar te devendo essa , tenho meus próprios exercícios, e...
- Não é esse tipo de ajuda, Ced! - O cortou.
- Oh, então o que é? - Ele tinha uma sobrancelha arqueada.
- Bom, necessito que você quebre algumas regras da escola, por mim. - proferiu cada uma das palavras sutilmente, assistindo a expressão no rosto de Ced mudar conforme as declamava.
- O que você esta aprontando, ? - A olhava como se não a comprasse.
- Não posso dizer. - Tapou a boca com ambas as mãos.
- E como você quer minha ajuda se não pode nem me dizer a que estou colocando o meu na reta?
- Você teria que confiar em mim. - Cedrico estava apreensivo.
- Não sei...
- Por favor, Ced, não vamos conseguir sozinhas, e não existe mais ninguém em quem eu possa confiar essa missão.
- O que vai ser? - Perguntou, ainda com ar de suspeita.
- Olha, o que posso te dizer é que preciso de cinco minutos sozinha na sala comunal da Sonserina.
- Ha, e como eu vou fazer isso? Até onde sei nenhum aluno tem permissão de entrar na sala comunal de uma das casas da escola senão a sua própria. - E nesse meio segundo ele a olhou profundamente em seus olhos claros como o céu ao meio do dia, e focalizou o que a menina de rosto puro tinha em mente. - Você não... Tu tá querendo que eu entre no salão da Sonserina? Você endoidou de vez, ? Eu gosto de você, somos amigos e tudo mais gatinha, mas isso é... Merlim... Me sinto até ofendido.
- Você entendeu tudo errado. - atirou os braços para o alto, impaciente.
- Por que você não tenta então me explicar tudo de uma vez para que eu não tenha que ficar fazendo suposições estúpidas? - Ced não parecia estar com seus sentimentos difusos aos dela. - Ainda estou um pouco tonto com essa factível possibilidade.
- Ced nunca iria lhe pedir uma coisa dessas, se acalma por favor. - Segurou-o pelos ombros, e por mais que Cedrico fosse alguns palmos mais alto, encarou profundamente os olhos cor de ouro do garoto, e o fez fazer o mesmo com ela, mas para que enxergasse a verdade obtusa. - O que eu preciso é do tempo, vou usar a lareira de minha sala comunal para me comunicar com alguém fora da escola, e careço que você e Davis fiquem de vigias, para que ninguém entre.
- Você sabe que isso é pode ser mais difícil do que, eu não sei, fazer o Snape sorrir talvez? - Ced se soltou de , cruzou os braços na altura do peito, e ficou a balançar a cabeça negativamente inúmeras vezes consecutivas.
- Estou cuidando para que não existam falhas. Com você e Tracey vigiando a passagem, só tenho de me certificar de que não aja mais nenhum aluno nos dormitórios. - Voltou a procurar os olhos de .
- Então vai ter que ser em alguma horário do dia em toda a Sonserina esteja em aula, e para isso vamos ter que cabular as nossas próprias. - Emendou suas ideias aos pensamentos da amiga, já mais participativo daquela idealização suicida.
- Seria um problema para você?
- O meu problema seria ter de entrar no antro da Sonserina, mas como essa ideia esta fora de cogitação, conta comigo. - Ele disse arrancando um sorriso dos lábios daquela garota.
- Você é incrível. - Se abraçaram. - Bom, então vamos para a parte 1 desse plano. - começou enumerando nos dedos.
- Você o dividiu em partes?
- Você considerou por algum momento que eu não fosse profissional?
- Cara, você tem sorte em ser bonita, porque é maluquinha. - Ced esticou o braço até a cabeça de bagunçando seus cabelos. - Diz logo o que a gente vai fazer?
- Primeiro precisamos lançar um boato.
- De que a Sonserina é mal assombrada? Porque isso todo mundo já sabe. - Cedrico comentou rindo de sua própria piada.
- Engraçadinho, mas não. - tinha um sorriso sádico no rosto. - Todos precisam acreditar que você e Tracey estão saindo.
- Como? - Cedrico estava tão pálido quanto surpreso.
- Ced, é o melhor álibi que poderíamos ter, se chegar alguém com o intuito de entrar na sala comunal, e eu ainda estiver lá dentro, vocês terão de improvisar, eu não sei, fingir uma briga, e meter o intruso no meio.
- E você acha que isso vai dar certo? - Precisava ouvi-la proferindo as palavras.
- Eu quero acreditar que sim. - as disse com convicção.
- E você concorda com isso tudo, Davis? - Cedrico voltou-se a Tracey Davis, que até então não abrira a boca, e que sabia ser pela presença de Diggory, deu forças a amiga com o olhar, e mesmo assim tudo o que Tracey conseguiu fazer foi acenar positivamente ao questionamento de Cedrico.
- Esta bem então. - Ele sorriu. - Parece que amanhã irei carregar alguns de seus livros Tracey. - Levantou um dos braços passando-o pelos ombros de Tracey, a menina parecia em êxtase, e a ponto de desfalecer. - E quando iniciamos a parte 2?
- Amanhã vou verificar os horários dos alunos da Sonserina e decidir o melhor dia para agirmos. - estimou.
- não se esqueça que Snape faz varreduras constantes pelos corredores das masmorras. - Ficou surpresa em ouvir a voz de Davis, ela ainda tinha um sorriso besta no rosto voltado completamente a Cedrico.
- Sim, havia me esquecido disso, Severo tem de estar em aula, preferencialmente, ele pode por tudo a perder.
- Voto para o uso de safe words caso Snape apareça. - Cedrico não parecia estar brincando naquele momento.
- Tem medo dele? - questionou-o.
- E quem é que não tem? - Ced disse olhando-a como se ela tivesse algum desvio mental.
- É, você tem um contraponto. - Ponderou. – E, Ced, prometo que será muito bem recompensado por toda sua ajuda.
- E posso saber como? - Ele arqueara a sobrancelha e tinha um sorriso reto nos lábios, medindo-a.
- Você saberá. - Devolveu com a mesma expressão.
- Nhé, já que não vou arrancar mais nada de você espertinha, estou indo para o meu dormitório, é sério, estou morto garotas. - Cedrico esticou o outro braço, puxando para um abraço, juntamente a Tracey, que ainda tinha um dos braços de Ced sob seus ombros. Ele tinha o rosto cansado, não percebera aquilo até então. Devido a que preferia não encará-lo tão abruptamente, incontáveis eram as vezes em se perdia por sob os olhos intensos de Cedrico, e achar o caminho de volta, as vezes era impossível.
- Durma bem, Ced, amanhã se inicia a fase 1. - Disse se soltando do amigo, e se despedindo finalmente com um high Five.
- Que Merlim nos proteja. - Ouviu-o dizer antes de desaparecer pela passagem secreto de sua sala comunal.
* * *
O caminho de volta, tão sombrio e sinistro quanto haviam atravessado-o pela primeira vez, agora também estava silencioso e ecoavam o som de seus sapatos contra o mármore que cobria todo o chão do castelo. Ainda temia que tivessem um encontro inesperado com alguém que pudesse lhes dar uma passagem só de ida para de volta a suas casas, aquele sentimento se atracava contra seu peito a cada passo, a cada segundo que permanecia desprotegida por aqueles corredores taciturnos. Tinha de manter-se firme por Tracey, que mais uma vez, a seguia praticamente colada a reta guarda, com um pedaço das vestes de em mãos. Ao longe, pensou ter ouvido cochichos, e talvez até mesmo alguém espirrando, considerou que Davis havia escutado o mesmo, em vista de que a amiga puxou a camisa de com mais força, sendo assim, ao menos tinha certeza de que não estava a ouvir coisas, e mais importante, de que não estavam sozinhas, sabia que não poderiam correr, o atrito do salto de seus sapatos as entregaria a quem quer que fosse que estivesse perambulando pelo castelo, igual aquelas duas. Por isso, quando chegaram ao corredor sem saída localizado nas masmorras, sentiu seu coração bater suavemente contra seu peito, estava em segurança, e por mais difícil que fosse de se acreditar, sentia-se em casa, ao se ver defronte a parede de pedra vazia, uma porta se materializou diante de seus olhos, a regra era que, somente um verdadeiro sonserino poderia entrar, e mais uma vez, era penoso crer que ela se enquadrasse neste fadado perfil. De qualquer forma, o longo salão, localizado abaixo do Lago Negro de Hogwarts, com paredes de pedra e a luz das tochas pendendo do teto que crepitavam fogo esverdeado, nunca lhe pareceu tão acolhedor, caminhou preguiçosamente, sentindo o corpo finalmente sucumbir a resmungos por todas suas terminações nervosas, e estirou-se num dos sofás de couro de frente a enorme lareira, que nunca se apaga, até mesmo no verão, em vista da umidade constante e largos corredores que formam as masmorras, dando a sensação de frio todo o tempo, não viu sinais de Tracey Davis, que sorrateiramente já deveria estar no dormitório das garotas, escondida pela acortinado de sua cama de dosséis, acredita que deveria ter feito o mesmo, porém, por mais que sua carcaça reclamasse, seu cérebro estava a mil, com premissas de ideias do que poderia fazer quanto a missão suicida em que se colocara, e ainda por cima, arrastara seus amigos consigo. Chutou os sapatos que calçavam seus pés, e encolheu o corpo, abraçando uma almofada fofa que estava próxima a sua cabeça. Por Merlim, será que tudo daria certo no final? Não conseguia se apegar a concepção, uma vez que tinha uma vida toda sem saber lidar, de exemplo. Aquela era sua última chance para conseguir ajudar Hagrid e o Hipogrifo, se afeiçoara aos dois, e não queria vê-los separados, Rúbeo amava como a um filho Bicuço. Recusava-se a sentir inveja de um hipogrifo, mas ele tivera mais amor paterno na vida por um meio-gigante, do que ela jamais tivera com seus próprios pais. Fez sua mente desanuviar a imagem de seus pais sorrindo com taças de hidromel em mãos. Há meses não os via, nem recebia a menor notícia dos dois, e sabia que era melhor assim para ambos. Imaginava se daria certo o contato que faria com sua arma secreta, e última esperança no caso do hipogrifo, sabia o quanto as coisas tenderiam a dar errado, por simplesmente se tratar de sua vida, mas quem sabe dessa vez não poderiam dar um pouco certo? Pensou no que Fred e Jorge fariam em seu lugar, desde que a presença dos gêmeos se tornou figura constante em sua vida, encontrava-se em momentos onde supunha qual seria o caminho que aqueles dois tomariam. Eram tão seguros de si. Achou-se no direito de invejá-los por isso. E mesmo sabendo o quão Fred e Jorge poderiam ser eficientes em situações de vida e morte, não poderia colocá-los nessa desventura, justamente porque se expunham de forma tamanha e estavam sempre a querer seguir em frente, até alcançar o final, fosse ele favorável ou não, a vida para eles, quando ligadas a essas eventualidades, era feito um jogo de azar, daqueles em que você sabe que vai perder, mas quer jogar só para ter certeza. Se entrassem, iriam até o fim, e com isso ela não poderia contar, chamou a Davis e Diggory, mas não se arriscariam a algo maior que uma detenção, o que viria depois disso era maior, e não deixaria que se arriscassem por ela, já haviam feito demais. Sentia-se num campo minado. Perdeu-se admirando uma das tapeçarias medievais que adornavam a sala comunal da Sonserina, este, em especial ilustrava as aventuras de algum bruxo famoso. Somente quando fechou os olhos, e sentiu o corpo ceder, foi que ouviu a harmonia, num primeiro momento, acreditou ser sua mente brincando pregando-lhe uma peça, estava sozinha, todos os colegas Sonserinos deveriam estar enrolados em suas colchas bordadas com fios prateados, uma das cores símbolo da casa, era impossível que uma alma viva estivesse emitindo melodia tão cativante. E a sonância continuou, num arranjo que dançava por sua mente, era encantador, e percebeu que conhecia aquelas notas, o ensaio era seu, bem, não só seu, mas lhe provava que sim, havia alguém ao piano, e sabia exatamente quem o era. Se levantou do espaçoso sofá de couro, sentindo o corpo reclamar, mas suas pernas tinham vida própria, levaram-na até o sobre palco, num dos cantos do salão, defronte a uma janela de corpo inteiro, se aproximou com um sorriso tímido no rosto, ele estava de costas, e seus dedos pareciam conversar com as teclas do majestoso instrumento, vestia um roupão de couro de morcego, por cima de seus pijamas, estava descalço, e tinha os cabelos, sempre bem penteados, para trás, o admirou enquanto ele virava a cabeça para ver por cima de seus ombros, vislumbrou alguns mechas do cabelo louro escorrendo-lhe o rosto, sendo que os fios mais longos chegavam até o maxilar trincado, perdeu-se quando os brilhantes e incompreensíveis olhos acinzentados se encontraram com os dela, ele a chamou com um movimento de cabeça, indicando o pedaço do banco de madeira ao seu lado. E assim o fez. Os dedos longos movimentavam-se livremente pelo teclado do piano de calda, tão parecido com aquele que tinham na Mansão Malfoy, ao qual passaram tantas tardes da mesma forma que naquele momento, lado a lado, somente os dois, e a música, nada precisava ser dito, nunca precisaram recorrer ao uso de palavras em si para que se comunicassem, só precisavam sentir a presença um do outro, escorregou a cabeça descansando-a na curva do pescoço dele, e assim eram Draco e .
* * *
- .toUpperCase())! .toUpperCase())! ACORDA! VOCÊ NÃO ESTA MORTA, , MAS SE NÃO LEVANTAR DESSA CAMA EM DOIS SEGUNDOS EU JURO QUE VOU FAZER DA SUA VIDA UM INFERNO. - A voz estridente chegava entrecortada em sua mente, o que não a impediria de voltar a dormir, mas as sacudidelas e as travesseiradas que recebera na cara não tiveram o mesmo efeito, esperava que estivessem em meio a uma terceira guerra mundial, caso contrário, ela própria começaria uma.
- Me deixa em paz. - Brandiu puxando o cobertor até que cobrisse sua cabeça.
- Você só pode estar brincando comigo, . - Puxaram de volta seu cobertor, e abriram o acortinado das janelas, revelando uma terrível luminosidade por todo o quarto, quem é que estivesse fazendo isso com ela, só poderia ser o diabo em pessoa. - Você tá me levando de trouxa ? - Sentiu mãos se fecharem contra seus tornozelos, e seu corpo ser puxada para fora da cama. Ah, isso não iria aceitar.
- Não! - Ela gritou, e tentou se arrastar de volta para sua cama de dossel, mas já era tarde demais, e acabou caindo feito um monte de bosta-de-dragão contra o piso de madeira do quarto. Revoltada, abriu seus olhos finalmente, e com tamanha dificuldade pela claridade do cômodo, um tanto fora de foco, vislumbrou duas figuras projetadas a sua frente.
- Blásio, me ajuda a levantar essa babaca. - Sentiu cada um se posicionar de um lado seu segurando um de seus braços e erguendo-a.
- Por que vocês estão fazendo isso comigo? - Resmungou, pressentindo suas pernas falharem, por sorte aqueles dois a colocaram sentada sob o baú que tinha em frente a sua cama.
- Por quê? Esta louca de vez, ? Você esta atrasada, garota, e está nos atrasando também. - Aquela voz aguda penetrava seus ouvidos enervando-a, qual era o problema das pessoas em respeitar o silêncio matinal? Acordava com o maior mau humor. Percebendo que não poderia voltar a dormir, passou as mãos pelos olhos coçando-os, soltou um longo bocejo, e lá estavam Tracey Davis andando de um lado para o outro com vestes negras nos braços, e Blásio Zabini parado a sua frente sacudindo uma mão em frente a seus olhos. Não poderia ser mais estranho.
- O que você está fazendo aqui? - Disse rispidamente.
- Bom dia pra você também, Nervosinha. - Blásio saudou, sentando-se a seu lado sob o baú. - Você esta sorrindo enquanto dormia, sonhava com o que? Era comigo?
- Se fosse, seria um pesadelo, Zabini. - Tracey respondeu por ela, depositando um par de sapatos e knee socks pretas em suas pernas. - Você precisa se vestir rápido, a aula começa em dez minutos, e você já perdeu o café-da-manhã.
- Como se espera que um dia seja bom quando ele já começa sem meu suco de abóbora? - resmungou cruzando os braços na altura do peito.
- Ninguém mandou você não acordar quando te chamei da primeira vez, há meia hora atrás. - Tracey bateu na cabeça de . - Vá se vestir. - Disse entregando as vestes negras para a amiga.
- Qual dessas é a cama da Parkinson? - Ouviu Zabini perguntar, já estava trancada no banheiro abotoando a camisa, e calçando os sapatos ao mesmo tempo.
- Não te deixei subir para que pregasse uma peça nas minhas companheiras de dormitório. - Tracey ralhou com ele.
- Tem certeza? - Blásio sabia barganhar. E não era nem preciso de muito.
- Tá, é aquela do canto.
- Ela tem uma foto do Malfoy na mesa de cabeceira? - Zabini sucumbiu em gargalhadas.
- Ela tem um diário com histórias de como ela e Draquinho vivem um amor ardente. - Eles riam. - Eu e as outras meninas sempre roubávamos pra ler alto quando ela não estava, mas acabou ficando meloso e doentio demais.
- Estou bonita? - saiu pela porta do banheiro vestindo seu uniforme da escola, com os cabelos despenteados e a cara inchada de alguém que dormiu demais, ou no seu caso, de menos.
- Como se tivesse acabado de cair de um precipício. - Zabini zombou, rindo ainda mais da expressão furiosa que tomava o rosto de .
- Então estou bonita? - Ela voltou a perguntar, fazendo graça, e não se deixando abalar pelo comentário de Blásio. Eles trocavam faíscas com os olhos, e Tracey Davis apenas observava a cena balançando a cabeça em negação, ela alcançou uma escova de cabelos e foi para trás de tentar deixar a amiga apresentável.
- Bonito vai ser quando estiver em minha sala cumprindo detenção por um mês, . - As expressões no rosto de cada um deles indicava perfeitamente o que sentiam naquele momento, não chegava nem a ser um susto, estava mais para terror, encaravam a figura que cruzava a porta do dormitório sentindo que seus olhos poderiam fugir-lhes o rosto a qualquer segundo. Os cabelos sedosos, nariz pontudo e vestes negras, não negavam, era Severo Snape. - Você tem ideia de que horas são, Srta. ? - Ele não a deixou responder. - Deveria estar em sua sala de aula, e não dando uma festa no dormitório. Inclusive, o que faz aqui, Zabini? - Blásio parecia querer explodir naquele momento, e o entendia perfeitamente. - Eu não quero saber se seu pai é o embaixador ou vendedor de plantas carnívoras, enquanto estiver na casa ao qual sou diretor, vai dançar conforme minha própria música. - Ele se aproximou de e Tracey, arrancando a escova de cabelos da mão da segunda e atirando-a num canto qualquer do quarto. - Sabe como me sinto quando não a vejo no Grande Salão na mesa da Sonserina, ? Como se eu não tivesse controle de meus próprios alunos. Você acha que não tenho poderio, ? Desdenha de minha autoridade? - Severo não lhe dava espaço para responder nenhuma das indagações, e de todo jeito, mesmo se tivesse a oportunidade de dizer alguma coisa, não diria nada. - Você é a aluna com mais faltas e atrasos de toda Hogwarts, e o que mais me instiga é que, se não esta em aula, esta aonde, ? O que você tem de tão improtante para fazer que não pode comparecer a suas aulas? Tem algum problema em seguir regras, minha jovem? - Snape tinha o rosto em fúria á milímetros do seu, quando falava podia sentir vestígios de sua saliva batendo contra seu rosto, poderia vomitar a qualquer segundo, vivenciava o seu próprio inferno.
- A culpa não foi dela, professor. - E quando já haviam personagens o suficiente contracenando aquela tragédia, eis que surge o inesperado, Draco Malfoy cruzava a porta do dormitório das garotas.
- Sr. Malfoy ,acredito eu que não tenha nada a ver com isso, saia daqui agora, na verdade, vá e leva Zabini com você, cuidarei dos dois mais tarde, eu não achei que estaria vivo para ver tantos alunos de minha casa quebrando regra atrás de regra desta instituição, ao menos não comigo como seu diretor, os senhores estão desgraçando o nome Sonserina.
- Professor, senhor, sou o responsável pelas transgressões de minha prima, ela tem ficado acordada até tarde da noite me ajudando com os estudos para meus exames. - Malfoy se aproximou colocando-se entre Severo e . - O senhor tem conhecimento de minhas notas, e deve ter notado uma melhora, bem, é todo o resultado do trabalho que minha prima tem tido comigo.
- Eu não tenho que acreditar em nada do que me diz, Malfoy, vejo em seus olhos que esta amparando com falsas alegações, mas francamente, esse ainda não será o dia em que começarei a descontar pontos de minha própria casa. Quero todos na aula, agora. - Ele disse apontando para cada um de seus alunos. - E o próximo relato de atraso ou falta que eu receber de qualquer um dos senhores, saibam que é quem ira pagar, já que gostam tanto de protegê-la, lhe deixo detida até o próximo ano letivo. Ficam avisados. - Severo sacudiu a capa que carregava sob um dos ombros, tão negra quanto suas próprias vestes, e saiu do quarto deixando-os finalmente.
, Tracey e Blásio trocaram olhares difusos e assombrosos, todos diziam o mesmo, que aquela havia sido por pouco, Draco tinha a cabeça baixa, e respirava profundamente, estavam tão próximos que podia jurar ouvir as batidas de seu coração, o observou mais a fundo, e viu que ele tinha os olhos fechados, sentia-se em dívida com ele, um débito exorbitante maior que uma vida inteira, aquele havia sido mais um episódio em que Draco a salvara de si mesma, como o vinha fazendo desde que eram pequenos, fosse por um corte no joelho, uma briga com os pais, as fugas de casa, ou a falha tentativa de suicídio. era uma bomba relógio, e ele sabia disso. Por piores que as coisas estivessem ele permanecia ali, por ela. Estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do garoto, sentiu a mão fria de Draco em contato com sua pele que emanava calor, ele se sobressaltou com a atitude da prima, levantou o olhar, passando pelos ombros, pescoço, maxilar, boca, até chegar aos olhos da menina, olhos claros, que tinham o poder de atrair e prender ao seu lado por toda eternidade. Sem quebrar a intensidade do olhar, Draco elevou as mãos de dedos trançados a altura de seus lábios, e ali plantou um beijo, logo após, demoradamente, ele desceu o braço, e escorregou seus dedos dos de , ele já não a olhava mais, quando deixou o dormitório, se foi levando uma parte do coração da prima consigo, e ambos sabiam disso, tanto Draco que sentiu algo pesar dentro de si, quanto que em seu íntimo tinha alguma coisa faltando. A menina permaneceu a encarar a porta, esperando que ele voltasse, mesmo sabendo que não o faria, as pernas falharam, e ela se viu escorrendo até atingir o chão, estava de joelhos, e sentia-se vazia, os dois amigos que se mantiveram a seu lado, chegaram mais perto a abraçando, cada um de um lado, Tracey acariciou os longos cabelos da amiga, ainda bagunçados e mal penteados.
- Sabe. - Ouviu Tracey começar a dizer. - Quando estávamos no grande salão, para o café-da-manhã, eu falava com Zabini do quão atrasada você estava, jurávamos que não havia se quer se levantado ainda, e que iria se atrasar. - queria rir, mas não conseguia, imaginou Tracey nervosa com sua pessoa, ela era uma boa amiga, nisso se aconchegou mais nos braços de Davis. - Eu vi que Draco não tirava os olhos de nós, acho que ouviu a conversa sem querer, e quando percebeu que falávamos de você, logo já estava mais envolvido do que poderia admitir. Então quando fiz Zabini vir me ajudar a acordar a princesa, ele deve ter nos seguido, para conferir por si mesmo. - Tracey apertava uma das mãos de entre uma das suas. - Ele quis te ajudar. Por mais que diga o contrário, não é isso o que ele acaba fazendo no fim. Como quando te trouxe para cama noite passada. - arregalou seus olhos incrédula com o que ouvia, Draco a levara para seu quarto? Parando para pensar, realmente não conseguia se lembrar de como fora parar em sua cama na última noite, sua mente apagara o que poderia ter acontecido, o que na atual conjectura poderia ser qualquer coisa, até mesmo Draco a levando para a cama. - Quando voltamos para a sala comunal eu fui direto para a cama, mas minha mente estava num surto de adrenalina, não consegui dormir, eu sabia que tinha deveres atrasados para terminar, mas acabei lendo a última edição da Marie Bruxarie, e... - Tracey viu que havia se prolongado um pouco em sua narração. - Enfim, quando ouvi mexerem na porta, não fazia ideia de quem poderia ser, achei que você já estivesse em sua cama, por isso fingi que dormia, e de repente surge Draco, com você encolhida e adormecida em seus braços, ele lhe colocou em sua cama, a cobriu, e permaneceu ao seu lado depois disso, tirou alguns fios de cabeços que escorriam por seu rosto, e se aproximou de seu ouvido, foi tudo tão meigo, achei que estivesse sonhando, ele lhe confidenciou algo, e levantou-se logo em seguida, beijou-lhe delicadamente a testa, e então saiu pela porta, como se nada tivesse acontecido. Draco sempre estará para você, .
Se perguntava se algum dia chegariam a encontrar o caminho de volta.
Pra variar, e fazer coro a sua história de vida, acordara atrasada naquela manhã, temendo o que poderia acontecer com sua alma se Severo descobrisse que andara descumprindo as regras novamente, tinha menos de cinco minutos para chegar á sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, corria pelos corredores vazios, é claro, todos já estavam em suas respectivas salas de aula, passou por baixo de Pirraça que flutuava descontraidamente.
- Ho ho ho, vai se dar mal, . - Ele gritou ficando pra trás.
Agradeceu pelo Poltergeist não a segui-la, ele poderia ser pior que a fúria de Snape, que para sua própria sorte, estaria nas masmorras, há uns bons metros de distância, e de todo jeito, ainda poderia barganhar com o Professor Lupin os minutos de atraso, ele era sempre tão querido com ela. Parou derrapando diante da classe de Defesa Contra as Artes das Trevas, a porta estava aberta e seu interior silencioso, em sua mente uma luz brilhou, com a ideia de que algo estava errado, os colegas estavam sempre fazendo um alarde naquela sala, cruzou a passagem de entrada e logo se sobressaltou com a figura a sua frente, caminhando a passos firmes, com suas vestes negras escorrendo pelo corpo feito um dos mantos da própria morte, congelou ainda próxima a porta, o que estaria Severo Snape fazendo em sua aula de Defesa Contra as Artes das Trevas?
- , a Srta. por um acaso não estaria atrasada, estaria? - Snape, da escrivaninha do professor perguntou, organizando seus livros e pergaminhos com uma expressão pouco amigável no rosto.
- Não, professor, cheguei junto ao senhor. - respondeu sentindo um calafrio percorrer-lhe o corpo.
- Então, não chegou no horário, até onde sei deveria estar em sua sala antes do professor chegar. - Ele puxava um dos livros que havia trazido consigo, o abriu folheando algumas páginas. - Por que não se senta aqui na frente, Srta. ? Vejamos... - Ele varreu com um olhar os alunos próximos a sua mesa. - Ah, Sr. Malfoy, perfeito, sente-se com ele, , gosto de vê-los trabalhando juntos, me dão menos trabalho também. - se aproximou de onde Draco estava, e ocupou o lugar vago ao seu lado, ele virou o rosto logo que ela se sentou. Era um sentimento novo para ela sentir-se incapaz, normalmente criava um próprio inferno, mas não se rendia a um professor tirano. Mas Severo era diferente, ele fazia jus a seu nome, parecia que cada e toda ameaça que proferia hei de se concretizar. De todo jeito, havia tempos que muitas das coisas as quais tinha tanta certeza sobre a vida e sobre si mesma haviam tomado direções totalmente diferentes daquelas as quais sempre tivera tanta certeza. O maior exemplo disso tudo ainda seria seu fragilizado relacionamento com Draco Malfoy.
- Abram os livros. - Ele ordenou e o som de livros sendo pegos e abertos, junto a páginas sendo viradas preencheu o ambiente.
- Senhor, com licença. - Dividiam aquela aula com os alunos da Grifinória, e uma garota da casa havia levantado a mão chamando a atenção de Snape. - Onde está o professor Lupin?
- O que me passaram foi que ele estava de cama e não poderia dar a aula de hoje, me deixando com vocês e suas perguntas nem um pouco pertinentes a aula. - Snape tinha um sorriso enviesado, e uma expressão de tédio tomando-lhe o rosto. De repente, a porta se abriu num impeto, todos viraram suas cabeças para trás a fim de ver quem ousava interromper uma aula de Severo Snape, então lá estava em pé com uma cara de espanto maior que a de todos os seus expectadores, Harry Potter, ele parecia ter congelado no lugar.
- A aula começou há dez minutos, Potter, por isso acho que vou tirar dez pontos da Grifinória. Sente-se. - Snape o encarava da escrivaninha do professor, e Harry, que parecia ofendido não só por fazer sua casa perder pontos, mas por ter sua aula favorita ministrada por aquele a quem ele menos gostava.
- E o professor Lupin? - Harry não se mexeu, e quando perguntou, soube que ele havia traçado sua sentença.
- Acho que o mandei sentar-se. - Os olhos de Severo reluziram. E a seu lado, Draco ria com a cena, sendo seguido por Crab e Goyle que sentavam-se na fileira detrás. - Cinco pontos a menos para Grifinória, e se eu tiver que pedir para você se sentar novamente, serão cinquenta. - Harry bufou, dirigindo-se lentamente para um lugar vago. Snape olhou para a turma.
- Então, como eu ia dizendo antes de ser interrompido por Potter, o professor Lupin não registrou os tópicos que já abordou até hoje...
- Professor, por favor, já estudamos os bichos-papões, os barretes vermelhos, os kappas e os grindylows - Informou Hermione depressa, como ela tinha o costume de fazer nas aulas, normalmente rendiam alguns pontos para sua casa, mas não naquela aula, ao menos, não ministrada por aquele professor, sabia disso, e sentia que todo o resto da sala também o faziam. - E íamos começar...
- Fique calada - disse Snape friamente. - Não lhe pedi informação, estava apenas comentando a falta de organização do Professor Lupin.
- Ele é o melhor professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivemos - falou Dino Thomas, soando corajosamente, porém acreditou que ele havia perdido uma boa oportunidade de permanecer calado, de todo jeito, ouviu-se um murmúrio de aprovação do resto da turma. Draco resmungara palavras feias demais para se repetir aos alunos da Grifinória. Snape pareceu mais ameaçador que nunca.
- Vocês se satisfazem com muito pouco. Lupin não está puxando nada por vocês. Eu esperaria que alunos de primeiro ano já pudessem cuidar de barretes vermelhos e grindylows. Hoje vamos discutir... - Observou-o folhear o livro-texto até o último capítulo, que ele certamente sabia que a turma não poderia ter estudado, e se não estivesse com a corda no pescoço com aquele professor, teria pedido para ir ao banheiro, e quando saísse não voltaria mais para a aula, bem, talvez fosse por aquele tipo de pensamento que estivesse tão ferrada com Snape. - ... Lobisomens - disse Snape.
- Mas, professor. - Protestou Hermione, aparentemente incapaz de se conter, naquele momento decidiu que seria melhor esconder a cara por seu livro, a assistir mais um dos assaltos entre Snape e Mione. - Não podemos estudar Lobisomens ainda, vamos começar os hinkypunks...
- Srta. Granger - Disse Snape com uma voz letalmente calma - Eu tinha a impressão de que era eu que estava dando a aula e não a senhorita. E estou mandando todos abrirem a página 394 do livro. - Ele correu os olhos pela turma outra vez. - Todos agora! - Com muitos olhares rancorosos de esguelha e gente resmungando, a turma abriu os livros. - , tira a cara da mesa, postura, acha que esta na sua casa? - Preguiçosamente se levantou, fazendo mais uma das vontades de Snape, aquele era um exemplo de alguém difícil de se gostar. Se esticou para ver a página que Draco abrira seu livro para fazer o mesmo. Percebeu que ele a encarou por um segundo, ou dois, mas logo quebrou o contato. - Qual de vocês sabe me dizer como é que se distingue um Lobisomem de um lobo verdadeiro? - Perguntou Snape. Todos ficaram calados e imóveis, todos exceto alguém que vocês já devem saber bem quem, Hermione é claro, cuja mão, como acontecia tantas vezes, se erguera imediatamente no ar. - Alguém sabe? - Insistiu Snape, fingindo não ver a mão da garota. Seu sorriso enviesado reaparecera. ainda pensava em sua cama, não seria útil naquela aula, por mais que soubesse praticamente tudo o que havia sobre lobisomens na biblioteca do Ministério da Magia. - Vocês estão me dizendo que Lupin sequer ensinou a vocês a diferença básica entre...
- Nós já lhe informamos - interrompeu-o Parvati de repente, só sabia quem ela era porque a menina tinha uma irmã gêmea que estudava na Corvinal, e há tempos havia desenvolvido essa adoração por gêmeos. - Ainda não chegamos aos Lobisomens, ainda estamos...
- Silêncio! - Mandou Snape com rispidez. - Ora, ora, ora, nunca pensei que um dia encontraria uma turma de terceiro ano que não soubesse reconhecer um Lobisomem quando o visse. Vou fazer questão de informar ao diretor Dumbledore como vocês estão atrasados... - apoiara o queixo num dos braços apoiados na mesa que ocupava, fechara os olhos por alguns segundos imaginando se conseguiria ir até as cozinhas antes da próxima aula, seu estômago rebolava de tanta fome dentro de si, de todas as coisas horríveis que lhe aconteciam quando acordava atrasada, o que era constante em sua vida, perder o café da manhã era definitivamente a pior de todas.
- Professor, por favor - Tornou a ouvir a voz de Hermione, escancarou os olhos dormentes com rapidez, e viu que a mão da garota continuava erguida. Desejou poder se comunicar telepaticamente com ela para fazê-la se contar com os comentários nas aulas lecionadas por Snape, ou quem sabe, se estivessem sentadas próximas, poderia simplesmente tapar-lhe a boca para que se calasse. Por Merlim, não entendia como alguém conseguia falar tanto aquela hora da manhã. - O Lobisomem se diferencia do lobo verdadeiro por pequenos detalhes. O focinho do Lobisomem...
- Esta é a segunda vez que a senhorita fala sem ser convidada - disse Snape friamente. - Menos cinco pontos para Grifinória por ser uma intragável sabe-tudo.
- Essa aula esta ficando melhor a cada segundo. - Draco murmurou ao seu lado, arrancando risadas de seus seguidores que sentavam na fileira logo atrás. Rolou os olhos para o comentário do garoto. Voltou-se para Hermione, a menina estava vermelhíssima, olhava para o chão com os olhos cheios de lágrimas, era de se partir o coração, quer dizer, todos os alunos daquela sala já haviam chamado Hermione de sabe-tudo pelo menos uma vez, e olhavam feio para Snape mesmo assim, por que não era como se ele tivesse algum direito quanto a humilhar alguém, mesmo que fosse Hermione. E então, Rony, que xingava Hermione de sabe-tudo pelo menos duas vezes por semana, falou em voz alta:
- O senhor nos fez uma pergunta e Hermione sabe a resposta! Por que perguntou se não queria que ninguém respondesse? - A turma percebeu instantaneamente que o colega fora longe demais. Snape caminhou até Rony lentamente, e a sala prendeu a respiração. abaixou a cabeça sob sua mesa novamente, sem intenções de ver até onde aquilo poderia dar.
- Detenção, Weasley. - Disse Snape suavemente, o rosto muito próximo ao do garoto. - E se algum dia eu o ouvir criticar o meu modo de ensinar outra vez, o senhor vai realmente se arrepender. - Severo voltou para sua mesa varrendo a sala com um olhar, bem, severo. - Diga, . - tinha uma mão levantada, não tão alto quanto Hermione quando sabia a resposta de alguma pergunta, mas ainda assim...
- Posso ir ao banheiro?
- Vocês são uma decepção. - O olhar enviesado não deixava mais o rosto de Snape. - Está na hora de alguém dar um jeito nesta turma. Cada aluno vai escrever uma redação para me entregar, sobre as maneiras de reconhecer e matar Lobisomens. Quero dois rolos de pergaminho sobre o assunto e quero para segunda-feira de manhã. - voltara a levantar o braço. – , se você pedir para deixar essa sala mais uma vez irá para detenção com Weasley. - Ela abaixara o braço.
- Perdeu uma oportunidade de ficar quieta, baixinha. - Draco a cutucava com o cotovelo, ele tinha um sorriso brincalhão, curvara os ombros para que somente ela visse a seu rosto.
- E você, a minha ajuda na sua redação sobre lobisomens. - Mandou-lhe língua.
- Coitada, fala como se eu precisasse.
- Você pode conseguir informação suficiente para preencher metade de um pergaminho, mas não dois rolos. - deixou ao primo de sobre aviso, com sua melhor expressão de I am devil.
- Hum, não posso correr esse risco, então, ãh, aceitaria almoçar comigo hoje? Para que possamos discutir o quão insensível eu posso ser, mas acima de tudo, o quanto você me ama, para fazer minha redação. - Draco passou uma mão cuidadosa pelo rosto da menina, tirando uma mecha de cabela e prendendo-a atrás de uma das orelhas dela.
- Boa tentativa. - concordou, acariciando os fios que antes haviam sido tocados por Draco. - Mas deixa eu te lembrar que almoçamos juntos todos os dias.
- Na mesma mesa , mas há tempos não sentamos lado a lado, como sempre o fizemos, e como deve ser feito, pensei em fazermos algumas tentativas de aproximação, em vista que as aulas estão acabando e não podemos voltar para casa brigados, mamãe e papai vão estranhar, e nós dois sabemos que você não vai querer explicar o porque disso.
- Como você pode ter tanta certeza assim? Eu posso dizer o quão babaca você tem sido comigo. - Fez graça.
- Ai, essa doeu. - Draco tocou seu peito, por onde deveria estar seu coração, e que por mais escondido que pudesse estar, ela sabia que ele permanecia ali.
- É uma pena que perdoar e esquecer não funcione com a gente. - procurou a mão de Draco que repousava sob uma das pernas do garoto.
- De jeito algum. - Ele assistia enquanto a menina entrelaçava seus dedos aos dela.
- Nem se tentássemos com muito afinco, Draco? - apertou a mão do primo.
- Eu poderia fazer uma tentativa por você, mas minha mente não me deixaria esquecer com tanta facilidade as famílias com quem você decide se juntar.
- Draco, nós somos família, deveríamos nos apoiar. - tinha os olhos brilhando.
- Ah, me desculpe, desde quando você me apóia?
- Eu te apoio em ser você mesmo! - Talvez tivessem elevado alguns decibéis a mais que aqueles sussurros fervorosos, que não passaram despercebidos por Snape.
- Malfoy, , desculpem-me, mas a minha aula esta atrapalhando a conversa de vocês? Devo eu me calar?
- É claro que não professor, peço perdão se passamos essa ideia, apenas discutíamos tamanhas as informações que minha prima tem quanto a lobisomens e que serão muito úteis em nossos respectivos trabalhos. - Draco fora rápido em reagir a censura do professor.
- Calados. - Severo os repreendeu mais uma vez.
Ninguém mais deu um pio durante o resto da aula. Ficaram sentados copiando dados sobre os Lobisomens do livro-texto, enquanto Snape rondava as filas de carteiras, examinando o trabalho que os alunos tinham feito com o professor Lupin. Draco e ainda trocavam olhares de soslaio. Quando a sineta finalmente tocou, Snape os liberou, o que parecia até mesmo uma piada, porém reteve a Ronald Weasley.
- Weasley, você fica, precisamos combinar a sua detenção. - Alegou.
O resto da turma deixou a sala a passos rápidos, em um segundo só sobrara Rony e o próprio Severo na classe de Defesa Contra as Artes das Trevas, a , pareceu que os colegas esperaram até estarem bastante longe para não serem ouvidos e prorromperam em furiosos discursos contra Snape. O grupo era formado imensamente por alunos da Grifinória. Enquanto os da Sonserina, cuja casa tinha Severo como seu diretor, passaram empurrando aos primeiros, ficara um pouco para trás dos colegas que deixaram a sala antes dela, com isso, assistiu a cena de longe, imaginando se em Durmstrang seria daquele mesmo jeito, imaginava que seriam assim as escolas militares. Sabia que tinha alguns minutos antes de sua próxima aula, e debatia mentalmente se deveria ir até seu dormitório pegar alguns dos doces que guardava em sua mesa de cabeceira. Porém, a fome ainda não lhe era maior que a preguiça, descer até os confins das masmorras, para em seguida, subir incontáveis degraus até o andar da sala de Feitiços, sua segunda aula do dia, não parecia atraente de ângulo algum. Mais alguns passos, e desordenadamente, com a mente em outro universo trombou com um garoto que vinha correndo na direção oposto a qual andava, além do susto, derrubou os livros e pergaminhos que carregava, o brutamontes não teve nem ao menos a decência de se desculpar, bufando, bateu um dos pé contra o chão com força, abaixando-se em seguida para apanhar seus pertences. Ao tempo em que recuperava o primeiro exemplar estirado ao piso, uma mão estendia-lhe o segundo livro, surpresa, levantou o olhar, procurando descobrir a figura que lhe prestava ajuda, e talvez tivesse caído sentada, aproveitando que já estava tão próxima assim do chão.
- Como és espalhafatosa. - Draco terminava de recolher tudo o que havia derrubado segundos antes. - Pronto, esta tudo aqui. - Ele ergueu os objetos entregando-os a dona, e ela, por sua vez, não conseguia desprender os olhos do garoto.
- Está sempre me surpreendendo. - disse, ainda olhando para os pés.
- Eu não sou o monstro que você pensa, . - Sentiu a mão certeira de Draco tocar-lhe o queixo, e levantar seu rosto, na altura do dele.
- Não, o que eu quis dizer foi que, pensei que fossemos voltar a fingir que não nos conhecíamos quando a aula acabasse. - pegou a mão do garoto que ainda permanecia em seu rosto, e a segurou entre as suas, com medo de que ele pudesse lhe escapar a qualquer segundo. - Não é isso o que sempre fazemos aqui?
- O mundo talvez ainda não esteja preparado para receber dois seres que se completam a partir de suas diferenças, feito nós. - Draco disse torcendo o lábio.
- Talvez você esteja certo. - Ele a ajudou a se levantar.
- Mas de todo jeito, posso lhe acompanhar até sua próxima aula, feitiços? Se eu não estiver errado. - Disse conforme caminhavam pelo longo corredor do terceiro andar, onde ficava a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Não vai te atrasar? - Perguntou erguendo o rosto para encontrar os olhos de Draco, ele era alguns palmos mais alto que ela.
- Não é como se eu me importasse. - Ele deu de ombros.
- Mas me importa, não se esqueça que qualquer atraso ou falta sua e Severo me manda pra detenção. - o cutucou na barriga, fazendo-o rir, mas sentiu que não ria apenas pelas cócegas no abdômen.
- E você levou isso a sério? - Draco ainda ria.
- Tem como levar o que ele diz a outro lugar? - Argumentou.
- Baixinha, calma aí, você esta se esquecendo de quem você é. Ou mais importante, de quem eu sou. - rolou os olhos. - Não vêm com essa, nem Snape nem ninguém vai fazer nada com um de nós.
- Só você mesmo pra se sentir tão seguro de si dizendo uma coisa dessas. - se afastou de Draco, porém, ele mais ágil, passou um dos braços pelos ombros da menina trazendo-a de volta para o seu lado.
- Você deveria experimentar fazer o mesmo. - Apertou gentilmente o braço ao redor do pescoço dela encostando sua cabeça a dele, e ali depositando um beijo.
- Não dá, parece que esse cara esta me perseguindo, não me surpreenderia nada que ele aparecesse em nossa frente quando virarmos o corredor. - Trocou um olhar assustado com Draco, que mantinha-se indiferente. - Merlim, não, tenha piedade. - Cruzaram o corredor, e fechou os olhos, realmente temendo um encontro inesperado com Severo.
- Abra os olhos, , ele não esta te perseguindo, posso assegurar-lhe disso. - Draco disse, acariciando o braço da menina, passando confiança.
- Agora deu pra surgir até mesmo em aulas que não são dele, quer dizer, o que ele estava fazendo na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas? Dumbledore não poderia simplesmente nos dar a aula vaga? - resmungou atirando os braços para o ar.
- Eu gostei da aula de Snape, diria até que foi a melhor aula de Defesa Contra as Artes das Trevas que tivemos em muito tempo. - Draco franziu o rosto, ponderando o que lhe era dito.
- Concordo que ele sabe exatamente do que esta falando, mas eu gosto de Lupin, mil vezes ele. - discordou.
- Argh, qual é , Lupin tem cara de sofrimento, parece que esta com dor o tempo inteiro, e ele era aluno da Grifinória por isso sempre acaba dobrando-se em prol daqueles débeis mentais, um peido que um cara da Grifinória solta e lá vai ele lhes cedendo vinte pontos, Severo pelo menos sempre os coloca em seu devido lugar, como fez com a Granger hoje, e olha que essa não é nem a pior parte, qual é, você já viu as vestes do cara? Todas remendadas, ele usa aqueles trapos há quantos milênios? - Draco a encarava como se ela tivesse dito a maior babaquice de todas.
- Isso não é algo gentil de se dizer, não sabemos que dificuldades as quais ele pode estar passando, Draco. - respondeu incrédula com os ideais de Draco.
- Você sempre tende a ceder a favor do lado mais fraco. - O fuzilou com os olhos antes de se soltar bruscamente dos braços de Draco. - Eu não quis começar uma discussão entre nós. - Pela segunda vez naquele dia ele a puxava de volta para si com palavras firmes e um olhar penetrante.
- Draco, essa é a última vez que eu vou dizer isso para você, então presta bem atenção. - o pegou pelo rosto para que olhasse diretamente em seus olhos, ela tinha a voz séria, e uma expressão austera. - Eu não preciso de você para julgar quem eu sou, pra isso eu tenho meus pais, e todo o resto da nossa família. - Terminou acarinhando uma das bochechas coradas de Draco.
- Que tal andarmos em silêncio? - Ele considerou.
- Nos comunicamos melhor assim. - deu de ombros, e voltaram seu caminho para o segundo andar, até o corredor da sala de Feitiços. Mantinham-se quietos, ouvindo os sons do castelo, mas prendendo a atenção um no outro, com olhares de esguela, e sorrisos fechados.
- Não posso nem mesmo fazer uma nota? - Draco questionou, levantando um dedo, firmando que era realmente apenas um comentário. - Você esta com o cabelo todo bagunçado, mas não poderia estar mais linda. - pode sentir seu rosto corar. - Voltou a me amar? - E Draco, sendo quem era, captou logo em seguida.
- Não me lembro de algum dia não ter o feito. - Daquela vez, por vontade própria, voltou para os braços de Draco, sem que ele fizesse o menor movimento, voltou por querer, por saber que aquele era o lugar ao qual pertencia.
- Ah, baixinha. - Draco a apertou contra si, sentindo a presença da garota em seus braços. Estavam próximos da sala a qual seria a próxima aula de , mas não estavam prontos para dizerem adeus aquele momento. Caminharam até um banco próximo, e por ali ficaram, ainda sem dizer nada, porém, palavras nunca haviam sido necessárias antes. Estavam em seus respectivos limbos existenciais, porque em cada um, havia o outro. - Ei, temos que começar a falar sobre o que vamos fazer nas férias, pra onde quer ir? - Draco quebrara o silêncio. - O Egito é legal, mas fiquei sabendo que ultimamente qualquer um esta indo pra lá - Ele endureceu ao mencionar o lugar, e tinha suas suspeitas do porque. - Talvez Rússia, ou Africa, a gente nunca foi a um Safári, o que você acha?
- Eu sinceramente... - Murmurou sem saber exatamente o que dizer.
- ? Estava lhe procurando... - O chamado repentino de seu nome, sobressaltou aos dois, que se viraram imediatamente a figura que se aproximava do outro lado do corredor. Ele tinha um sobrancelha arqueada, porém, com de costas ainda não havia visto quem estava a seu lado, ao menos não até estar a poucos passos da garota. - ... Ah, você!
- Weasley, eu não quero ter que perguntar o que é que você esta fazendo na minha frente. - Draco e Fred trocavam faíscas com seus olhares furtivos. Poderiam explodir um ao outro com o poder da mente a qualquer segundo. E , tinha o rosto escondido pelas mãos e balançava a cabeça não querendo acreditar que estava realmente vivendo aquele momento.
- E eu não quero ter que te lembrar o peso desse punho Malfoy. - Fred respondeu no mesmo tom seco de Draco, e se aproximou do garoto com a mão fechada em punho, Malfoy se levantou também, e talvez tivessem começado uma briga sem motivo aparente, se não tivesse se posto entre os dois.
- Parem já com isso. - Ela disse empurrando-os pelo peito, cada um com uma mão.
- Foi ele quem começou. - Disseram em uníssono, e era quase impossível de se crer que pudessem ter pensado a mesma coisa e dito ao mesmo tempo. Não acreditaria se lhe contassem.
- Eu não consigo lidar com vocês dois. - Dividia seu olhar entre um e outro, com as mãos apertando-lhe as têmporas, sentindo que seu cérebro poderia pular para fora de seu corpo.
- , será que eu posso falar com você um segundo. - Fred pediu.
- , eu estava te acompanhando até sua sala, se lembra? - Draco interpelou por cima do que Fred dizia.
- Eu sei que... - Começou a dizer num murmúrio inaudível. - É verdade que tenho... - Não conseguia encontrar palavras, e recebia olhares frustrados das duas partes a sua frente. - Arrr! - Explodiu. - Eu simplesmente não posso lidar com isso agora. - passou entre os dois garotos empurrando-os novamente, e correndo para longe, e por pior que pudesse ser, para sua próxima aula.
- O que você fez com ela. - Ainda ouviu a voz de Fred, antes de encostar a porta atrás de si, o que a fez diminuir consideravelmente o ritmo com que fazia tal movimento.
- Não encoste em mim, traidor do sangue. - Draco rugiu logo em seguida fazendo-a fechar a porta imediatamente.
Sentiu que a aula de feitiços seria mais um teste do universo contra sua vida, e concordara mentalmente que se fossem aprender algum encanto destrutivo, usá-lo-ia contra ela própria, provando que tamanha era sua vontade de deixar a sala e lidar com os dois problemas que deixara do lado de fora. Sentou-se numa mesa vazia no fundo da sala, esperava manter-se invisível por aquele período, e deixar sua mente fazer seu trabalho de lhe atordoar, cruzou os braços e escondeu a cabeça dentre eles por cima de sua mesa, a imagem de Fred, e depois a de Draco, logo surgiram em meio a seus pensamentos, ambos sorriam para ela, com sorrisos presos a seus rostos, sorrisos eram aqueles que ela conhecia tão bem. Queria poder alcançá-los, mas lhe faltavam mãos e pernas, só podia enxergá-los, e estavam tão bonitos, conforme foi surgindo, os dois garotos estavam em pé, sob uma balança de metal, parecia que tinham o mesmo peso, ao menos era o que constava no medidor, eram tão iguais e tão diferentes. Examinava os traços de cada um, era tudo o que podia fazer, sabia o que sentia por cada um deles, e era um sentimento tão diferente aquele que dividia com os meninos. Havia Fred, que surgira feito o por do sol, sem que percebesse, ele ocupava um parte tão exorbitante dentro de si, que as vezes se perguntava, como ele poderia ter conseguido chegar até lá? Com ele era tudo tão fácil, como se conhecessem um ao outro por toda a vida, ele era cheio de surpresas, era seguro estar com Fred, e era tão bom. Mas do outro lado, ela tinha Draco, e uma expressão esperta no rosto pálido, com bochechas coradas, e olhos indiferentes, que tanto gostava, ás vezes precisava admitir para si mesma, que as vezes tinha medo, medo de amar Draco, o conhecia desde o dia em que nascera, ás vezes sentia que sabia tudo sobre Draco Malfoy, e em outras vezes ele era um mistério, por trás do acinzentado de seus olhos escondia coisas tão profundamente dentro dele próprio, coisas que ninguém nunca entenderia, e ela tinha medo de falhar, assim como os outros. Draco, para , era como o oceano, e ela era apenas uma menina, que amava as ondas, mas que tinha um medo terrível de se afogar. O som de livros sendo abertos e varinhas sendo pegas, a despertaram de seus pensamentos, sentou-se de forma apropriada na cadeira, não queria perder pontos para sua casa por se importar de menos com tudo aquilo. Para sua própria surpresa, a voz fina do professor Flitwick anunciou que naquele dia aprenderiam feitiços para animar, tinha certo conhecimento quanto aquele encanto, e logo procurou por alguém conhecido para fazer dupla, conforme o professor lhes instruía, mesmo que preferisse fazer aquilo sozinha, uma vez que, já tinha domínio no encantamento, e não admitiria em voz alto que enfeitiçara a si mesma uma vez ou trinta. De todo jeito, quando a aula chegou ao fim, não havia um aluno naquela sala que não tivesse um sorriso aberto no rosto. Acabara ficando com Neville Longbottom, e por mais que alguns engraçadinhos tivessem tirado sarro dele por motivos x, no caso, ele se levantara derrubando algumas cadeiras que estavam próximas, o aconselhou bem sobre como malear a varinha, e a concentração necessária para que o poder do feitiço do garoto fizesse com que ela enxergasse unicórnios voando pela cabeça dele. Quando juntou seus pertences na mochila, e deixou a sala, nem mesmo o semblante que a esperava de braços cruzados de frente para a saída da porta, com um olhar enviesado e uma sobrancelha arqueada, fez-lhe perder o sorriso que tinha no rosto. Talvez ele não quisesse sucumbir a um sorriso, perdendo a expressão fechada que carregava, porém, a menina lhe sorria tão abertamente que era quase impossível.
- Não me diga, feitiços para animar? - Fred se aproximou, pegando a mochila das mãos de , e passando-a por seu ombro.
- Como é que você sabe? - Ela questionou, ainda sorrindo.
- Seu sorriso pode enganar, mas seus olhos... - Maldito dia aquele em que ele aprendeu a ler por trás de meus próprios olhos, pensou a menina. - E tem outra coisa, é claro, ainda estamos longe demais da hora do almoço para você estar tão feliz assim.
- Raios, você me conhece tão bem. - Riram, porém, nem mesmo feitiços para animar poderiam segurar o riso em seu rosto quando percebeu que estariam virando para o corredor onde Draco tinha aula de adivinhações naquele exato período. - Não, vamos pelo outro lado, não quero encontrar Draco, e deixar as coisas mais estranhas do que já estão. - Sentiu que não deveria ter mencionado o nome do garoto, em vista do torcer de lábios de Fred, porém não seria aquele o dia em que começaria a fazer o que as pessoas esperavam de si.
- O que ele esta querendo com você? - Fred vociferou.
- Como assim? - Realmente não havia entendido aquele questionamento.
- , o cara te tratou feito uma meleca de Trasgo, e agora esta todo cheio de sorriso pro seu lado? - Abrira a boca em "o" incrédula que ele havia dito aquelas exatas palavras para ela.
- Isso se chama família Fred, você deveria saber bem o significado. - Ela tinha a testa franzida, deixando claro que não havia gostado do comentário.
- Nada a ver, se Jorge faz comigo o que Malfoy fez a você, só existiria um gêmeo Weasley. - andava depressa, tencionando fugir de Fred, porém, ele havia apertado o passo também, acompanhando-a.
- Você não está tentando fazer minha cabeça contra Draco, está? - Parou de repente, apontando um dedo contra Fred.
- Estou pedindo a você que tenha cuidado. - Ele pegou o dedo da menina no ar, e escorregou sua mão até que esta se encontrasse com a dela, entrelaçando seus dedos, ele tinha um olhar triste, e não a encarava nos olhos, olhava para sua mãos, perdido, e sentiu o coração doer.
- Fred. - O chamou.
- Nunca pediria que se afastasse de Malfoy, sei o quão é importante para você, só nunca vou querer saber o quanto exatamente. - Ele murmurou, num fio de voz.
- Eu precisava ouvir isso de você. - Ela disse encostando a cabeça contra o peito de Fred, e ali permanecendo. - Draco é minha família, Fred, e já lhe contei das adversidades de minha árvore genealógica, mas ele sempre esteve tão acima de tudo isso, somos sangue e fogo, amo Draco de todo meu coração, e te agradeço por me entender quanto a essa parte de minha vida, eu o amo por isso.
- Não vou mentir, , sua família é terrivelmente problemática, mas isso nunca foi um problema pra mim, só fica comigo, por favor, é só o que eu preciso.
* * *
Sentia-se ofegante pelo longo caminho que separava o castelo de Hogwarts do corujal, tinha o primeiro período livre naquela manhã, e depois de permanecer na mesa de sua casa no Grande Salão por tempo suficiente para comer mingau e torradas suficientes para uma vida inteira, decidiu rumar até a biblioteca e estudar um pouco, os exames finais seriam em poucos dias, e não poderia mais arrumar desculpas para adiar o estudo, ou talvez poderiam fazer isso por ela, folheou algumas poucas páginas do livro, que não saberia dizer exatamente o nome, quando sentiu um cutucão em sua barriga, e logo em seguida, uma mão tapar-lhe a boca, sobressaltada, voltou-se para o agressor, focalizando o maxilar travado e os olhos dourados que cintilavam em contraste com a luz que penetrava a enorme janela ao qual estavam defronte, Cedrico tinha um sorriso esperto em seus lábios, e naquele momento soube que não chegaria nem mesmo a descobrir o título do livro que ainda tinha aberto na mesa. Ambos tinham cartas para enviar a suas respectivas famílias, no caso de , para seu amigo no sul da França, e para isso, decidiram fazer essa pequena excursão até o corujal. Sempre tinha uma preguiça maior que seu professor de Trato das Criaturas Mágicas, eram muitos os degraus para se chegar ao coruja, e para completar, o chão estava úmido devido a noite neblinada que havia feito. Talvez não tivesse sido uma ideia tão boa afinal, visitar o corujal, mas já vinha adiando há muitos dias sua ida, e tinha uma carta cheia de perguntas e saudades para , a última correspondência que recebera do amigo viera com doces e ameaças de morte se ela não lhe mandasse sinais de vida, por mais irônico que pudesse soar, sentia falta dele, e de tudo o que fazia parte de seus tempos em Beauxbatons, mas pareciam lembranças tão distantes, pensando-se nelas por agora. Ao menos as coisas eram mais fáceis, como se não tivesse preocupação alguma, e até como se tudo fizesse algum mínimo sentido. Estudava na mesma escola que toda a família de seu pai, inclusive, uma de suas ta-ta-ra-avós haviam sido diretora no colégio. Não tinha muitos amigos, mas nunca fora de os ter de qualquer forma. Tinha a . E era o suficiente. Em Hogwarts, a única certeza que tinha era a de que estava lá, mas nunca chegara nem ao menos perto de saber o porque. E esse pensamento andava perturbando-a como nunca nos últimos tempos.
- , eu realmente considerei que quando lhe chamasse para ir comigo ao Corujal teríamos uma conversa séria, mas vejo que você esta ocupada demais em sua própria mente. - Ced a cutucou com o ombro próximo, ele tinha uma sobrancelha arqueada, encarando-a.
- Foi mal, Ced, só tenho muito o que pensar ultimamente, você sabe, a minha mente mente. - Se desculpou, voltando-se para o amigo, finalmente.
- Não esta pensando naquele barraco de ontem com os dois otários, está? - riu amargamente, lembrando-se do que acontecera naquela mesma hora no dia anterior.
- Por incrível que pareça, não, não estou. - Ced alcançava os últimos dos milhares de degraus da escadaria até o corujal, esperava por , enquanto debruçava-se sob um parapeito. - Nunca te perguntei isso, mas você tem alguma coisa contra Draco ou Fred por eles serem de uma casa diferente da sua?
- Não tenho nada contra ninguém, . Mas entendo o que você esta querendo perguntar, você não entende por que eles se odeiam? É isso? - Ela assentiu com uma expressão tímida no rosto, por ter sido descoberta com tanta avidez, não estava acostumada a isso. - Olhe, é consideravelmente normal que tenhamos maiores laços com alunos de nossa mesma casa, porque são com essas pessoas que você esta destinado a conviver na maior parte do tempo. Mas no seu caso, acho completamente aceitável que você procure amigos em outras que não a sua casa, porque a Sonserina não é de longe a casa mais amigável dessa escola. É claro que tem suas exceções, assim como nas outras casas você vai encontrar caras que deveriam estar numa cela em Askaban, tá, posso ter exagerado, mas é quase isso. E agora, voltando ao ponto principal nesta divagação. Draco é de uma das famílias puro sangue mais importantes de nosso mundo , e por mais que Weasley seja um nome conhecido entre os bruxos, jamais terá o mesmo prestígio que um Malfoy, e você sabe que é exatamente isso o que os difere.
- Eles são dois opostos. - Confirmou cabisbaixa.
- E posso lhe garantir que nenhum deles estão dispostos. - Ced complementou, passando um dos braços pelo ombro da amiga. - Mas você já sabia disso, pode não ser um problema na sua cabeça, mas para aqueles dois eu diria ser pior que A Primeira Guerra Bruxa.
- Agora você esta exagerando. - enxergava além de Cedrico, mesmo encarando-o diretamente. - Fred foi compreensivo, mas não espero nada parecido de Draco.
- Eu nunca vou entender você e esse seu relacionamento incestuoso com o Malfoy. - Ele balançou a cabeça negando.
- Cala a boca, Ced, isso não tem nada a ver. - o acotovelou nas costelas.
- Eu não sei, vocês são grudados demais pra primos, se quer saber, tem parente meu que eu não sei nem o nome. - Cedrico ria.
- Agradeça por isso. - usava de um tom sério, família sempre era um de seus assuntos mais difíceis com que lidar. - Se você tivesse que crescer sozinho se apegaria a primeira pessoa que lhe oferecesse a mão. E Draco sempre esteve comigo, do céu ao inferno, era como nomeávamos meus melhores dias dos não tão bons assim. - Ela tinha olhar sonhador, recordando tais momentos. - Bem, ele sempre esteve por mim, e sabe como me sinto quanto a ficar sozinha, minha família se resume a ele, e por mais que tenha seus próprios demônios, sempre foi bom pra mim.
- Eu não consigo ver o Malfoy do jeito que você descreve. - Ced ainda negava com a cabeça.
- Justamente por isso, você conhece ao Malfoy, ele nunca lhe mostrou quem é Draco, você não sabe o que existe dentro dele. - sorria ao mencionar o nome do garoto.
- E você sabe? - Ele tinha uma sobrancelha arqueada.
- Spoiler alert, ele tem até mesmo um coração. - Riram.
- Mas então, você tem que dar algum crédito ao Weasley, ele aceitou bem essa história toda, quer dizer, acho que no começo ele considerou que só teria de mandar alguns chamegos e tal, o cara não sabia que por trás do rostinho bonito, haviam tantos problemas. - Ced fez graça, arrancando mais algumas risadas da menina ao seu lado.
- Fred é realmente bom demais para se envolver com alguém tão ruim. - Ela disse deixando algumas mechas de cabelo caírem por seu rosto, dando-lhe um ar misterioso.
- Ele agiu feito homem. - Cedrico cruzou os braços na altura do peito, concordando mentalmente com as ações do gêmeo Weasley, e quase se afeiçoando a ele, isso se os gêmeos não tivessem arremessado um número imensurável de balaços errantes contra ele na última partida entre Lufa-Lufa e Grifinória.
- Nunca que nessa vida Draco faria o mesmo. - disse, debatendo seus próprios pensamentos.
- Será que podemos parar de falar da sua vida amorosa e nos atermos ao que realmente importa? A minha. - Cedrico apontava para si mesmo com um sorriso presunçoso no rosto, daqueles que te faz sorrir junto. - Quer dizer, você achou que seria simplesmente me jogar a bomba de que eu teria que sair com Tracey, sem me dar a chance de dizer não?
- Desculpe, Ced, mas foi a melhor forma que encontrei, te disse que ela esta cheia de amores por você.
- Isso explica porque ela fica tão estranha e quieta me lançando olhares furtivos quando estou por perto, mas não é desculpa pelo o que você me fez.
- Eu prometi que te ajudaria com a Cho. - Jogou os braços para cima cansada de defender seu lado com aquela mesma história.
- E eu repito, ISSO-NÃO-É-DESCULPA. - Cedrico usara do mesmo tom de voz agudo que ela, só para irritá-la um pouco mais.
- É por uma boa causa. - disse baixinho.
- Me diz qual? - Ced também cochichou.
- Você vai estar ajudando uma amiga. - Ela tinha um sorriso fechado e bochechas coradas.
- Isso é. - Cedrico concordou, erguendo os braços até alcançar a cabeça da menina a sua frente para bagunçar seus cabelos. - Só espero que valha a pena, .
- Só preciso de mais alguns dias para colocar o plano em prática, eu prometo, mas até lá você terá que continuar andando com Tracey por aí. - Pediu.
- Pelos menos ela ri de tudo o que eu falo. - Cedrico deu de ombros.
- Ela é legal, e é bonita... - começou.
- Se eu fosse dar um chance pra toda garota legal e bonita que me aparece... - Ced a interrompeu.
- Seu convencido. - Cutucou o ombro dele.
- Não é convencimento quando é a verdade. - Ele disse levantando o queixo, e se fazendo de ainda mais convencido. - A única parte boa nisso tudo é que no final das contas você vai ficar me devendo um favor.
- Você não pode pedir nada que custe minha vida ou que possa me humilhar publicamente. - deixou claro.
- Me aguarde. - Ele piscou um dos olhos para ela. - Vamos enviar essas cartas de uma vez? Tenho certeza que minha mãe cronometra os segundos que eu levo para responder suas extensas cartas, e briga comigo por isso depois, esta sempre alegando que não a amo mais, e coisas desse tipo. - Ced sorria com a memória de sua mãe nervosa olhando para o relógio mágico na parede da sala de estar, mas logo se arrependeu do comentário em voz alta, quando viu o rosto sem cor da menina a seu lado. Família nunca era o melhor dos assuntos para ela. - Vai mandar alguma coisa pros seus pais também? Se eu não estivesse vendo por mim mesmo não conseguiria acreditar. - Tentou mudar o clima que se instaurara.
- Então pode começar a descrer, não tem nada para os velhos aqui, é uma carta para um amigo de Beauxbatons. - procurava por sua coruja Bufo Real que ainda não havia vindo pousar em seu braço, como a de Cedrico. Haviam duas possibilidades, ou ainda dormia, ou estaria ressentida com sua dona por algum motivo ao qual ela não fazia a mínima ideia, afinal de contas, era uma coruja um tanto orgulhosa.
- Hmm, você nunca o mencionou antes. - Cedrico coçava ao queixo com a mão livre de sua Coruja das Torres, de plumagem branco amarelado, e olhos negros, feito a noite. - Devo me preocupar?
- Eu não sei se quero falar sobre isso. - disse virando-se de costas para que ele não pudesse ver a expressão que tomava conta de seu rosto. Sentiu o corpo febril. E um misto de saudade e tristeza debatia-se contra seu peito.
- Então ele é uma ameaça. - Com a falta de resposta de , Cedrico tirou suas próprias conclusões. - Eu sabia!
- Me dói lembrar dele. - Confidenciou em murmúrios e com a cabeça baixa, escondendo a uma lágrima solitária escorrer-lhe o rosto. - Só não vamos mais falar disso, ok?
- , esse é um daqueles momentos em que eu sei que você precisa de um abraço. - Cedrico disse com os braços aberto, esperando a menina correr para si, e esconder-se contra seu peito. Esperou o tempo dela, em meio a soluços e resfolegadas, acarinhou suas costas e deu palavras de conforto. Quando levantou o rosto, Ced passou suas mãos pelas bochechas coradas da menina, limpando qualquer vestígio de choro e dor. Terminou depositando um beijo em sua testa. No fim, já havia até mesmo sinais de um sorriso fechado surgindo nos lábios avermelhados da garota.
- E então, o que vai fazer nas férias? - De forma eficaz dessa vez, tentou buscar um assunto que não deixasse a amiga fragilizada emocionalmente.
- Estou pensando em ir pra França. Ficar um pouco longe de toda a confusão que minha família pode criar, mesmo que despretensiosamente. - Ela disse dando de ombros e sem retribuir seu olhar, mantinha-se concentrada em sua coruja, que mordia gentilmente os nós entre os dedos da menina.
- Também queria tirar algumas férias de meus pais, mas estou com saudades de casa, só não conte isso para ninguém, por Merlim. - riu, fazendo Cedrico sorrir junto.
- Seu segredo esta seguro. - Ela falou conforme cruzava dois dedos firmando a promessa.
- Você deveria ir me visitar nas férias. - Ced disse de repente.
- Tem certeza que vai querer me ver nas férias? Você já tem que aguentar todos os dias nessa escola, juro que posso te dar esse descanso. - lhe deu uma chance de repensar naquela proposta.
- Meus pais iriam adorar te conhecer, e me envergonhar na sua frente, tenho certeza. - Cedrico tinha convicção em sua fala.
- Gosto dos seus pais, pelas histórias que me conta deles. - garantiu, lembrando-se de algumas delas, imaginando o pai de Ced idêntico a ele, e a mãe com um sorriso gentil, o mesmo que ela passara para o filho.
- Eles são legais, só meio protetores em excesso, posso te garantir que meu pai contaria uma história de algo que fiz aumentando consideravelmente para se tornar um grande feito. - Ced dizia com uma careta, e achou que ele não poderia ficar mais fofo.
- Você fala isso como se realmente não fizesse tudo incrivelmente bem. - Dizia com firmeza.
- Pelo menos se um dia eu precisar de um empresário não vou ter que ir muito longe para encontrar, meu pai sabe me vender como ninguém. Inclusive, já me desculpo por isso, para o caso de você o conhecer um dia desses. - Ced atestou.
- Seja grato por isso, Ced. - pronunciou-se procurando pela mão do amigo, e segurando-a entre as suas duas. - Se você quer saber, em minhas preces, eu nem mesmo canso mais a Merlim pedindo por pais que se importem comigo, eu simplesmente peço que eles me deixem em paz de vez. - A voz da menina foi falhando conforme chegava ao fim de seu discurso.
- Outro abraço? - Cedrico perguntou com uma sobrancelha arqueada.
- Nunca vou recusar. - Ela garantiu, se enroscando mais uma vez entre os braços protetores de Cedrico Diggory.
- , sua família pode até ser uma droga, mas olha só, se não fosse por isso você não teria amigos verdadeiros que realmente lhe querem bem.
- Você é tão você, Ced. - Escondeu seu rosto no peito do amigo, e sua voz saiu nasalada conforme continuava a falar. - Dá pra perceber fácil porque seu nome esta escrito em todas as portas dos banheiros das meninas.
- Tá, isso era algo que eu não precisava saber.
A euforia que os alunos sentiam com a proximidade das férias em seus respectivos calendários parecia ser a única e majoritária razão para que continuassem seguindo em frente sem cometerem nenhum ato de violência contra suas vidas. Todo o ar que ambientava o castelo de Hogwarts estava carregado de pressão, era difícil andar-se pelos corredores da escola sem que visse alguém com a cara escondida por um livro maior que a cabeça, as mesas na biblioteca a cada dia estavam mais lotadas, vira inclusive alunos no chão da sala estudando, e em contra partida, o número de alunos no Grande Salão para cumprir os horários das refeições rareava cada vez mais.
Certa noite, haviam tão poucos estudantes da Sonserina na mesa da casa que pudera comer tantos pudins de chocolate na sobremesa que tivera de passar horas no banheiro, em seguida. De todo jeito, ainda não conseguia compreender tamanho pavor e preparação dos alunos de Hogwarts para com seus exames de final de ano letivo, debatia mentalmente se seriam todos relaxados a maior parte do ano, e tivessem de correr atrás do tempo perdido nos últimos dias de aula, ou se as provas finais eram tão tenebrosas como diziam ser. Fosse por um, fosse pelo outro, , que ainda contava com parte de seu coração, e lealdade, a uma tal casa Noble, de sua antiga escola no Sul da França, a Academia Beauxbatons, não se sentia ameaçada por seus exames e adjacências dos mesmos, em sua cabeça haviam duas preocupações preponderantes; uma estava bem relacionado com o cardápio do jantar, e a outra, era uma indagação continua sobre o paradeiro do Cão Negro, antigo companheiro de aventuras que burlam as regras da escola, e que acaba por salvar sua vida nas piores das hipóteses sem fim.
Nunca dissera em voz alta que sua mente era o melhor dos lugares. A figura escura do animal tomava forma em seus pensamentos, a forma como balançava o rabo quando coçado atrás de suas orelhas, de como parecia não tomar banho há um milênio ou mais, e ideias de onde poderia estar viajavam a torto e direito, não tinha o menor dos sinais quanto ao enorme Cão desde sua contingência de quase morte envolvendo uma perseguição do zelador Filch pelos jardins escuros do castelo de Hogwarts. Em sua atual situação lembrava-se do episódio com um riso preso ao rosto, é claro, esquecendo-se a parte em que quase molhara as calças pelo nervosismo e peso dos acontecimentos daquela fatídica noite.
Bom, aquele era um dia que a lembrava muito particularmente a seu próprio humor, começara com uma manhã cinza, e que aos poucos fora desanuviando e se tornando mais quente, um dia daqueles em que só o que as pessoas tinham vontade de fazer era passear pela propriedade e se largar no gramado com vários litros de suco de abóbora gelado do lado, e talvez jogar uma partida descontraída de bexigas ou apreciar a lula gigantesca nadar, sonhadora, pela superfície do lago. Mas isso não era possível.
Os exames estavam às portas e em lugar de se demorarem pelos jardins, os alunos tinham de permanecer no castelo, e tentar obrigar o cérebro a se concentrar em meio aos sopros mornos de verão que entravam pelas janelas. Até mesmo Fred e Jorge Weasley tinham sido vistos estudando, e talvez por isso um dos gêmeos, aquele ao qual você deve saber bem qual, não estava sentado ao lado de Srta. num dos últimos degraus das escadarias para o terceiro andar do castelo. estava descontraidamente escolhendo moscas de chocolate de dentro de uma caixa não tão grande quanto sua fome, a menina tinha a mochila jogada a seus pés, com alguns dos compartimentos abertos deixando o material ali guardado escorrer para o lado de fora, suas longas meias, que faziam parte do uniforme do colégio e que deveriam chegar até acima de seus joelhos, estavam estacionadas na altura de sua canela, e por fim, os cabelos que não sabiam bem o que era um pente para pentear, naquele dia, viam-se escondidos por um chapéu. Indecisa quanto as recheios dos doces que tinha, decidiu por engolir duas moscas de uma vez, e em meio ao deleito juntamente a explosão de sabores dentro de sua boca, não tinha como não se sobressaltar com o que antecedera aquele momento que refletia o paraíso astral na opinião da menina. Arregalou os olhos e admirou intrigada as duas pessoas mais inusitadas para estarem diante de si, sendo que uma delas encarava sua caixa de chocolates com tamanha obsessão, e a outra tinha um cicatriz em forma de raio no meio da testa, era impossível de não acarar, sendo que aquilo na opinião de era a coisa mais maneira que poderia existir, talvez tatuasse algo parecido em sua própria testa um dia desses.
- Vão ficar só me olhando sem dizer nada? - soltara revesando seu olhar entre um e outro, Harry Potter sorria para ela, e Rony Weasley, bem, digamos que ele não olhava exatamente para a menina a sua frente. - Se quer uma, pegue de uma vez. - Disse a Ronald que permanecia com sua fixação pelos doces de , ele a olhou carrancudo por um momento, mas não se retesou em se aproximar e estender o braço pegando algumas das moscas de chocolate.
- Temos algo importante para falar com você. - Harry começou, lançando caretas ao amigo que se deliciava com os doces, sentindo-se tão desinibido que aquela altura até mesmo sentara-se no degrau ao lado de , com alguns centímetros de distância, mas ainda assim ali.
- Então digam o que é. - Ela deu de ombros, sem saber exatamente o que esperar daquele encontro.
- Eu não sei por onde começar. - Harry disse um tanto incerto, coçando a nuca.
- Alguém muito sábio me disse um dia para se começar pelo começo. - tinha as sobrancelhas franzidas e uma expressão esperta em seu rosto.
- Engraçadinha, nem parece ser da Sonserina. - Harry rebateu, batendo seu pé ao de , que estava dividindo o mesmo degrau que a menina.
- E você é tão corajoso para ser da Grifinória que nem consegue formar frases concretas para falar com alguém do sexo oposto. - Ela mandou língua ao menino-que-sobreviveu.
- Caramba, Harry, então o que andam dizendo é verdade? - Não deixou de se voltar a Rony Weasley, quando ele enfim disse alguma coisa, e por mais incrível que pudesse parecer, na sua presença, ele nunca abria a boca quando estava por perto. Ah, as pequenas vitórias do dia-a-dia. - aprendeu a se defender sozinha? - Perdera de um segundo para o outro a recente simpatia por Ronald.
- Eu sempre soube, Weasley. - Rebatera com olhos chamuscados em chamas contra Rony. - Só que ainda prefiro privilegiar algumas pessoas com meu silêncio.
- Você quem sabe. - Ele deu de ombros mexendo-se desconfortável logo ao lado da menina.
- E vocês vão me dizer de uma vez o que querem ou não? - indagou com um pouco de nervosismo na voz, aquele garoto conseguira irritá-la. Se existia uma coisa que não aceitava mais era um desaforo contra sua pessoa, principalmente quando não fizera nada para recebê-lo, quer dizer, estava quieta em seu próprio limbo existencial quando os dois garotos apareceram de repente tirando-a de sua bolha, e fazendo-a se lembrar de que estava presa num internato com proteções mágicas impedindo-a de fugir.
- É sobre Hermione. - Harry soltou.
- Que tem Mione? - Preocupara-se.
- Ainda não me acostumei com você a chamando assim. - Potter tinha o rosto franzido numa careta, e o encarou com tédio.
- Supere. - Foi o que ela disse.
- Estamos preocupados com ela. - Ele voltou a firmar aquilo o que dizia, ao perceber que a razão principal daquela conversa havia tomado outro rumo por sua causa.
- Acreditem, vocês não são os únicos. - concordou.
- Então você também esta sabendo? - Harry olhava a menina boquiaberto.
- Que ela não consegue se controlar na frente de Snape? É claro, falei exatamente isso a ela "Mione, cale a boca!" é simples, mas você acha que ela me escuta? Merda nenhuma. - dizia balançando a cabeça negativamente, como se não pudesse acreditar no que ela mesma dizia.
- O que? - Harry espantou-se. - Não. - Ele negou sinalizando com as mãos que não tinha nada a ver com o que dizia.
- Não? - Ela o encarava incerta, com uma interrogação no rosto.
- Não é isso, . - Ele garantiu com um riso preso por conta da expressão cômica que ainda tomava conta do rosto da menina.
- É, você esta comendo moscas de chocolate demais, garota. - Rony concordou com o amigo, arrancando a caixa de doces das mãos da menina, o encarou com descrença.
- Eu não entendo... - Ela resmungou.
- E nem nós. - Harry consentiu, ao tempo em que puxava um pedaço de pergaminho muito bem dobrado do bolso interno de suas vestes. - Veja, encontramos isso enrolado a um pergaminho que pegamos com Mione.
- Ah, Merlim. - admirou o papel que tinha em mãos sem demonstrar espanto algum. Na primeira coluna lia-se:
Não se prolongou a ver o que havia sido programado para o restante da semana. Sabia qual era o segredo de Hermione. A amiga ganhara um vira-tempo da professora de Transfiguração no inicio do ano letivo, com o objeto mágico conseguia voltar o tempo para que pudesse assistir a todas as aulas que o curso do terceiro ano oferecia em Hogwarts. Era loucura. Ela não havia contado nada ainda nem a Harry, muito menos a Rony. E não seria que o faria.
- E tem mais, não é segredo que ela frequenta varias aulas ao mesmo tempo. - arregalou os olhos com a constatação de Harry. Ele realmente conhecia a melhor amiga. Sentiu um pouco de inveja de Hermione por isso. - Mas já havíamos desistido de perguntar a ela como o fazia, porém esse horário que ela preparou para si mesma muda um pouco as coisas.
- E o que fizeram? - questionou, tensionando descobrir quais seriam os próximos passos de Harry Potter, e imaginando se teria de intervir por Hermione, já que a amiga ainda não sentia-se confortável em revelar seu segredo aos garotos.
- Primeiro achamos que fosse brincadeira. - Harry constatou cruzando os braços na altura do peito, pensativo, sua mente parecia estar em outro lugar, e provavelmente em um em que Hermione também o estivesse.
- Mas ela é a única pessoa mais ansiosa que meu irmão Percy para os exames. - E Rony não parecia estar brincando, até mesmo seu tom de voz mudara, sabia de Percy Weasley devido as milhares de reclamações que ouvia de Fred e Jorge sobre o irmão mais velho, alegavam que ele estava se preparando para os exames de N.I.E.M.’s (Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia), o diploma mais avançado que Hogwarts oferecia. E como tinha esperança de ingressar no Ministério da Magia, precisava de notas muito altas. Por isso, a cada dia ficava mais nervoso, e passava castigos severos para qualquer aluno que perturbasse a tranqüilidade da sala comunal à noite. Só o que poderia fazer era desejar-lhe sorte, e muita, por decidir seguir carreira no ministério, quando desse seu tempo de escolher uma profissão, seria algo que a deixasse há anos luz de distância do antro bruxo. - Eu tentei falar com ela... - Rony continuou em meio ao silêncio continuo de , fazendo a menina perceber que hiperventilara por tempo demais. - Perguntei se ela tinha certeza de que havia copiado direito os horários.
- E como ela reagiu? - Perguntou só por perguntar.
- Entoou que tinha feito tudo certo, aí eu perguntei como ela pretendia prestar dois exames na mesma hora... - Ele se calou, parecia absorto em pensamentos, como se revivesse a cena em sua própria mente.
- E? - Pressionou-o para que ele continuasse a narrar os fatos conforme o eram.
- Ela ameaçou me azarar com o feitiço das pernas bambas. - Rony disse por fim, dando de ombros, mas sentindo um arrepio perpassar por todo o seu corpo ao lembrar do ocorrido.
- Adorável, como sempre. - riu, por pior que fosse tudo aquilo.
- Noite passada ela estava ocupando duas mesas com seus materiais na sala comunal da Grifinória, e de repente começou a chorar pelas noticias do hipogrifo de Hagrid e por não poder fazer nada, porque simplesmente não poderia parar de estudar. - Harry lembrou.
- Foi de partir o coração. - Rony começou a dizer. - E olha que eu nem gosto muito dela. - E logo se corrigiu quando viu que os outros dois tinham os olhares voltados para si.
- Vocês não pensaram em nenhum momento, eu não sei, em talvez ajudar Hermione com seus estudos? - Estava se cansando de tudo aquilo, os dois garotos vieram atrás de si para que ela fizesse alguma coisa, em vista de que nenhum deles haviam feito nada para realmente ajudar Hermione.
- A gente ta falando da mesma pessoa? É Hermione Granger, . - Harry a encarava como se ela tivesse algum desvio cerebral.
- É, eu preciso primeiro me ajudar pra depois ajudar Hermione. - Rony lançou-lhe seu melhor olhar de descaso, como se tudo aquilo tivesse sido uma perda de tempo, tirando a parte dos chocolates, é claro. - Esta vendo, Harry? Eu disse que não seria uma boa ideia falarmos com ela.
- Vocês são péssimos. - rolou os olhos para eles, e se pôs de pé em seguida. - Eu vou falar com Hermione, sabem ao menos onde ela está?
- Biblioteca. - Responderam os dois em uníssono, e ela imaginou que poderia ter deduzido aquilo sozinha.
- E devolve meus chocolates. - Disse por fim arrancando sua caixa de moscas de chocolate das mãos de Rony Weasley. Eles trocaram olhares de faíscas depois disso.
- Não gosto dela. - saiu com a ideia em sua mente de que um dia aquele garoto que era tão chato quanto era ruivo, poderia vir a se tornar seu cunhado, balançou a cabeça dispersando aqueles ideais, e buscando por pensamentos felizes. De alguma forma, poderia contar com a pouca sorte que tinha, levantara-se sentindo o corpo todo doer, era alguém muito preguiçosa, e estar sentada nas escadarias para o terceiro andar fora a maior das bênçãos, porque era exatamente onde estava localizada a biblioteca da escola.
Andou com passos firmes pelo longo corredor que a separava da sala, passou por alguns rostos conhecidos, a quem mandou sorrisos, mas que não chegara a parar para conversar, não tinha tempo, nem simpatia para isso. Chegara defronte as portas duplas de entrada para a biblioteca, tendo consciência de como Madame Pince, a bibliotecária da escola, tinha fortes laços afetivos com os alunos, decidiu por fazer uma varredura das mesas em busca de Hermione, é necessário dizer que penara nos primeiros minutos, como já mencionara anteriormente, todos os alunos estavam com seus respectivos cus trancados pela proximidade dos exames, e andavam estudando demasiadamente nas últimas semanas que haviam se seguido.
Era difícil enxergar o rosto de cada um dos estudantes que ocupavam as vastas mesas de estudo da biblioteca, todos com as cabeças baixas escondidas por de trás de livros do tamanho de Hogwarts: Uma História. Coincidência ou não, avistara Hermione pelos espessos cabelos castanhos claro da menina. Era impossível não reconhecer. Finalmente passara pelas portas da biblioteca, adentrando a enorme sala, com suas dezenas de milhares de livros, milhares de prateleiras e centenas de corredores estreitos. Passando o mais despercebidamente que poderia, alcançou a mesa em que vislumbrara Hermione, a menina não percebeu sua aproximação, nem mesmo quando puxara a cadeira vaga em sua frente, bem a verdade, Mione ocupara sozinha uma mesa inteira com seu livros e pergaminhos esparramados por todos os lados.
- Oi. - chamou quando percebeu que nem mesmo um feitiço para animar faria Hermione tirar os olhos do livro que escondia seu rosto.
- Não posso falar. Runas. - Ele levantou os olhos somente a tempo de distinguir a figura de e logo em seguida voltou-se para seu estudo.
- Mione, eu tenho esse mesmo exame para fazer semana que vem e não estou me matando como você. - esticou o braço para que conseguisse cutucar a menina a sua frente.
- Nem todos nasceram bonitos, sangues-puro e inteligentes igual a você . - Hermione disse sutilmente, porém de tênue não havia nada em sua fala.
- Autch! - se ofendeu, porém tentou relevar em vista da carga emocional que imaginara que assolava o interior de Hermione.
- Desculpe. - Mione pediu perdão, ao perceber o que dissera. - Não estou nos meus melhores dias, mas também não posso parar, faria melhor se ficasse longe de mim.
- Mione, eu vim aqui para te ajudar, tem alguma coisa que eu possa fazer? - suavizou o momento com gentileza, por mais que seu cérebro mandasse ondas por todo o corpo noticiando que estava preguiçoso demais para fazer qualquer coisa que fosse.
- Sim, pode me matar. - Quis rir com o que Hermione dissera, exatamente pelo tom de verdade que carregava a resposta da amiga.
- Creio que o uniforme de Askaban não cairia bem em mim. - Queixou-se.
- Então você não pode me ajudar. - Hermione abaixou o livro grosso que tinha em mãos por um segundo, e passou a varrer a mesa, levantando pergaminhos e tinteiros esparramados pela extensão da mesa, parecia procurar alguma coisa, e imaginou que qualquer um poderia se perder em meio aquela bagunça toda de material, ela própria estava cansada, e olhe que tudo o que fazia era observar. - Viu meu livro de Numerologia e Gramática? - Hermione perguntou, sua voz num tom de nervosismo.
- Hermione, você precisa se acalmar! - frisou, segurando as mãos da amiga entre as suas, obrigando-a a parar por um segundo. - Respire fundo.
- Eu não tenho tempo para isso! - Hermione rebateu, soltando-se bruscamente de . Já era o segundo ataque contra sua pessoa num mínimo intervalo de tempo.
- Ah, que ótimo, agora Madame Pince vai nos expulsar. - Resmungou , ao vislumbrar os olhares mal intencionados que a bibliotecária lançava na direção das duas garotas.
- Eu não queria ter de ser grosseira. - Mione e sua falha tentativa de pedir desculpas.
- Ah, não queria? - tinha um sobrancelha arqueada.
- É, mas você esta me atrapalhando, . - Hermione disse levando dois dedos, cada um de um lado de sua cabeça, massageando suas têmporas.
- Mione, eu estou tentando te ajudar. - cochichou, ainda nervosa com as olhadelas de Madame Pince, não queria perder seus privilégios na biblioteca.
- Eu já disse que não preciso de ajuda. - Hermione virou o rosto, fugindo do olhar de .
- Você precisa sim, só não quer admitir. - Mais uma vez alcançou uma das mãos da amiga, acarinhando a mesma dessa vez, numa demonstração de que tudo ficaria bem, sabia que o que Hermione precisava naquele momento era exatamente disso, de uma amiga. - Vem comigo, Mione. - A menina se deixou levar, soltando a pena que antes corria pelo pedaço de pergaminho, ela tinha o rosto marejado em lágrimas e seu corpo tremia, guardou o material de Hermione na mochila da menina, eram tantos livros, anotações, e tudo, que fora uma tarefa árdua conseguir fechar o zíper da bolsa, só não pior do que quando saiu em direção as portas da biblioteca com a mochila de Mione nas costas, sentia o peso do mundo sob seus ombros, se perguntando como que a amiga deveria estar lidando com tudo aquilo, e ainda por cima, sozinha. Fechou as portas duplas da biblioteca logo que deixaram a sala, para sua surpresa, Harry e Rony as esperavam do lado de fora, sendo que Harry tinha em mãos a sua própria mochila, que deveria ter esquecido jogada num dos degraus que ocupava quando os dois foram lhe procurar mais cedo naquele mesmo dia. O agradeceu com um sorriso, pegando sua bolsa e passando a de Hermione para ele, sentindo-se um pouco mal pelo o que estava fazendo, em vista da gentileza da parte de Harry, mas logo que sentiu seu corpo agradecer por tirar aquele peso de suas costas, esqueceu-se temporariamente do por que de sentir-se mal num primeiro momento.
- O que vocês fazem aqui? - Fora Hermione quem perguntara, encarando aos dois garotos com a testa franzida e as bochechas coradas, pelo recente choro.
- Hermione, eu sei que você esta sobrecarregada pelo tanto de coisas que tem para fazer, mas isso não é razão para nos destratar, somos seus amigos, queremos ajudar. - Harry e Rony lançavam olhares pedindo ajuda a que mantinha-se ao lado de Hermione, poderia ter rido se a situação não fosse tão péssima.
- Eu disse que não preciso de ajuda, vocês estão me atrasando, eu preciso estudar, tem Runas, e feitiços, preciso rever minhas anotações, resumir o capítulo sobre... - Hermione descontrolara-se novamente, ao perceber que estava em pé parada num corredor, e não sentada com cem livros e rolos eternos de pergaminho. bufou antes de segurar a menina pelos ombros e sacudi-la fazendo-a redobrar os sentidos.
- Você sabe que não precisa fazer isso, pode falar com McGonagall quando quiser, ela vai entender. - Disse olhando profundamente para Hermione.
- Sim, ela vai ter certeza de que não fui capaz. - Lamuriou-se.
- Hermione, isso não está te fazendo bem. - tinha em sua voz dor e seriedade, fazendo a amiga entender que suas ações não eram ruins só para ela própria, mas também para os amigos que a cercavam e tinham de conviver com tudo aquilo.
- Quer saber o que não me faz bem? Injustiça. Eu sei que estaria totalmente focada nos meus estudos para os exames finais se não fosse a imagem de Lucio Malfoy ao lado do corpo inerte de Bicuço depois que decapitarem-no, e a pior parte, é saber que eu não posso fazer nada sobre isso. - Ela voltara a se desmanchar em lágrimas, e sentiu seu coração apertar, sufocando-a, sentia a dor de Hermione em si, era um sentimento novo, realmente havia criado laços com aquela garota, por mais estranha e mal humorada que ela pudesse ser. - NADA!
- Mione, você fez o que pode. - Fora Harry quem dissera primeiro, em meio ao choro desordenado da amiga.
- Nada disso é sua culpa. - Rony tentara.
- Então, por que eu me sinto como se fosse? Eu não poderia ter feito mais? Será que se eu não tivesse tanta coisa para fazer eu não teria me dedicado mais na procura de recursos para a defesa de Bicuço? Ele poderia não ter seu destino traçado agora. Poderia viver. - Hermione tinha a voz falha em meio aos prantos.
- Eu não quero mais que você se preocupe com isso, nem que se culpe, Mione, porque não existe um culpado, e sim, a coisa certa a se fazer. - a abraçou, passando forças para a menina, não queria vê-la daquela maneira, tão frágil, queria a Hermione decidida e cheia de si de volta. - Você precisa confiar em mim, eu vou dar um jeito nisso tudo.
- O que você vai fazer? Quer dizer, mesmo que conte com Fred e Jorge, é muito perigoso, , se algo der errado você não vai pra detenção, é algo mais serio que isso, você estaria infringindo as leis mágicas, batendo de frente contra o Ministério da Magia, e ao Ministro em pessoa. - Mione ainda fungava, mas já não estava num estado tão desesperador como segundos atrás. Ela ainda tinha os braços apertados em torno do pescoço de , e elas conversavam aos sussurros.
- Não vou envolver os gêmeos nessa, na verdade, eles não podem nem saber o que pretendo fazer. - disse com a imagem sorridente e sardenta de Fred Weasley em sua mente, aquilo lhe fez bem.
- E como você vai fazer isso sozinha, ? - Hermione se soltou de , encarando-a diretamente nos olhos.
- Bem, tudo o que posso dizer é que pretendo trazer reforços. - Ela disse isso com a imagem de um ex-auror mercenário e desprezível, mas com um rosto tão bem esculpido que poderia ser confundido com um deus.
* * *
A semana dos exames começou e um silêncio anormal se abateu sobre o castelo, se já considerara estranho os dias que antecederam as provas finais, de agora em diante, beliscava-se frequentemente, achando que talvez pudesse estar dormindo. Não parecia real, nunca vira nada do tipo, os alunos que lotavam a biblioteca e suas respectivas salas comunais com seus materiais de estudo, cada um preso a seu próprio inferno pessoal, depois disso, andavam para todos os lados com os livros e anotações, até mesmo na hora das refeições, momento sagrado para , haviam alunos com um olho na comida e outro em rolos sem fim de pergaminhos. Não estava acostumada com aquilo.
Em sua antiga escola contavam até mesmo com uma aula para lhes ensinar como se portar quando servissem o banquete. Haviam cronogramas e horários a se seguir em Beauxbatons. E em Hogwarts, a então escola de magia mais renomada do mundo todo, era uma bagunça. De todo jeito, mesmo a frente de deveras adversidades, ainda debatia os benefícios que usurpava naquele castelo, fosse a liberdade que tinha adquirido em Hogwarts, a recém descoberta confiança em si mesma, aos amigos que fizera, ou talvez, a uma figura ruiva, sorridente e com sardas em demasiado espalhadas pelo rosto. Porém, de tudo isso, Hogwarts pecava num ponto específico, que somente Beauxbatons lhe fornecera nos bons tempos que passara por lá, o sossego. Com os pais e todos os problemas que condiziam em pertencer a sua família há milhas de distância, a Academia Beauxbatons fora o melhor esconderijo que tivera para fugir das situações difíceis. Também fora lá onde conhecera o melhor amigo que a vida poderia lhe dar, , ainda era penoso lembrar-se do amigo, sem tê-lo por perto, por três anos ele representara o papel de um Patrono para si, expurgando tudo o que existisse de ruim, era sua fonte inesgotável de luz, lembrava-se sentindo o coração apertar de como não existiam vestígios dos menores de seus sufocos quando estava com ele. Saudade era o pior dos sentimentos que alguém poderia sentir.
O primeiro exame dos alunos do terceiro ano que estudavam na casa Sonserina, foi de Transfiguração, dividiam essa aula com estudantes da Corvinal, e as maiores mentes daquela escola encontravam-se na casa azul e bronze. De qualquer moda, não havia um de seus colegas que não estivesse com expressões tensas por todo o rosto. Aquele seria só o primeiro de infinitos dias que se transcorreriam com provas dificílimas das matérias que cursavam. Era duro acreditar, que somente quando tiveram início que sentia-se enfim com o cu trancado, por falta de expressão melhor. Batucava os dedos pela mesa que dividia com Luna Lovegood, por ordem da professora Mcgonagall cada aluno deveria se sentar com um da casa oposta. Houvera um alarde na troca de lugares, já que ao chegarem a sala os estudantes sentaram-se junto daqueles a quem tinham maior intimidade e que corriqueiramente seriam de suas casas, porém com a mudança do mapa de lugares, que nem ao menos se movera, somente assistira revirando os olhos enquanto os amigos procuravam por alguma cadeira vaga com um aluno de vestes contrárias as suas, por fim, acabara com a menina loura e de olhar sonhador ao lado, toda a escola costumava lançar olhadelas de terror e até mesmo maldizer em brincadeiras de péssimo gosto a Lovegood, mas como era de se esperar, que fugia do comum, achava a garota incrível, só era tímida demais para dizer isso em voz alta.
Perdeu-se em pensamentos quando colocou seus olhos avistaram uma cabeleira bem penteada para trás, fios tão louros que poderiam ser confundidos com branco, ombros rígidos e vestes com caimento perfeito, lá estava seu primo, melhor amigo, e também um de seus maiores problemas, Draco Malfoy. Ele parecia relaxado e atento ao mínimo movimento de qualquer pessoa da sala. Estava sempre em alerta. Não sabia se ele estudara para o exame, se estava nervoso, ou se conseguira comer todo o seu café-da-manhã, diferente dela que levantara-se enjoada com a vida naquele dia, nos últimos tempos, inclusive, eram poucas as coisas que sabia com exatidão a respeito de Draco. E este era um dos maiores tormentos de sua mente para consigo mesma, quando deitava sua cabeça no travesseira toda noite sentia sua cabeça a ponto de explodir com os pensamentos a respeito do garoto que surgiam tirando-lhe a calmaria. A bem da verdade, sentia falta de Draco. E não tinha ninguém com quem pudesse conversar quanto a isso, porque simplesmente ninguém entendia como ela poderia ter tantos sentimentos por alguém feito Draco. E essa era uma pergunta que nem mesmo ela própria tinha uma resposta concreta.
A professora Mcgonagall não precisou de mais que um arquear de sobrancelhas para fazer o menor dos burburinhos que circundavam a sala calarem de imediato. Ela era exatamente aquele tipo de mestre que tem o controle total de sua sala de aula, muitos deveriam invejá-la por isso, talvez até mesmo Severo o fizesse, e é claro que ele nunca admitiria isso em voz alta. considerara até aquele exato momento que os exames seriam provas com perguntas e respostas, ao menos era dessa maneira que era feito na Academia Beauxbatons, tamanha foi sua surpresa quando Minerva ordenou que todos guardassem qualquer material que estivesse sob as mesas, e que empunhassem nada mais que suas respectivas varinhas, e em seguida, com um aceno da sua própria fez surgir um botão do tamanho do dedo indicador na frente de cada aluno. E aquele seria somente o primeiro teste de deveras que fariam até o fim daquela fatídica aula. Começaram com objetos pequenos, do tamanho de um pequenino botão, como aquele primeiro, e seguindo contínuos intervalos de tempo Minerva fazia com que surgissem elementos maiores e com maior grau de dificuldade para seus alunos, por fim, tiveram de transformar um bule de chá em um cágado, e , quem transfigurara o utensílio numa tartaruga, fugindo completamente do animal proposto pela professora, não achou que o bicho deveria cuspir tanto de um certo líquido esverdeado que cheirava a Camomila.
De todo jeito, quando foram dispensados finalmente, já era hora do almoço, e aquela segunda-feira não poderia soar pior do que já fora, admirando os rostos cansados e pálidos de seus colegas que deixavam a sala de Transfiguração e seguiam numa marcha desmantelada em direção ao Grande Salão, considerou que não deveria soltar lamentos sobre as tarefas propostas, principalmente porque muitos dos alunos já o faziam, e suas comparações soariam mínimas em relação a dos demais.
- O meu tinha um bico no lugar do rabo, que pesadelo... - Tracey Davis comentava ao seu lado, com as mãos ao redor da cabeça, segurando-a com força como se estivesse prestes a explodir.
- Era para os cágados soltarem vapor? - Ouviram outro aluno que andava mais a frente comentar com seus colegas.
- No final, o meu continuava com uma pintura de salgueiro estampada no casco, vocês acham que vou perder pontos por isso? - Fora a vez de Zabini as surpreender com seus dilemas a respeito do exame de transfiguração. e Tracey riram do garoto que passara um braço pelo ombro de cada uma delas, e andava cabisbaixo entre as duas, tentaram elevar sua moral alegando que ao menos ele ainda era o garoto mais bem visto entre as duas casas que dividiram a sala para o exame de Transfiguração. Até chegarem enfim ao Grande Salão e ocuparem lugares vagos na extensa mesa da Sonserina, Zabini já era ele mesmo mais uma vez, fazendo piadas e rindo de seus amigos. partilhou algumas risadas com eles, mesmo que sua mente estivesse em outro lugar, mais precisamente em um cujo alguém com olhos acinzentados e um sorriso de canto de boca o estivesse também.
Fora um almoço apressado, mas que não deixara de comer mais de um Pudim de Rim como sobremesa, somente deixara a mesa quando Tracey Davis praticamente a carregara para fora do Grande Salão, a amiga tinha lágrimas no olhos e tremia por todo o corpo, devido a uma rápida aparição de Cedrico que viera lhes desejar sorte nos exames daquela tarde, e por mais bonito que fosse, ele não parecia diferente de nenhum outro aluno naquele salão aquela Segunda-feira, também começara os NIEM's e cama ou descanso pareciam palavras desconhecidas por Cedrico Diggory, de todo jeito, antes de se despedir das garotas, ele bagunçara os cabelos de como de praxe, porém ao dizer um até logo murmurado para Tracey, ele se abaixou beijando-a numa das bochechas, não fora muito, nem durara mais do que um segundo, mas para a menina significara o mundo.
Cedrico ainda jogava conforme as regras de e sua desventura ainda não realizada, porém, ninguém dissera a Tracey que ela não poderia ter esperanças. De uma maneira ou de outra, sentira-se feliz pela felicidade de sua amiga.
Depois do almoço, e do momento mais importante da vida de Tracey Davis até então, todos os alunos do terceiro ano da Sonserina voltaram direto para cima para fazer o exame de feitiços. Por sorte, e também por mil livros que lera a respeito da arte das azarações e seus derivados, poderia afirmar com veemência que fora excepcional em sua prova, mais uma vez o exame fora prático, o que ainda lhe era uma novidade, e o professor Flitwick pedira a seus alunos que fizessem alguns dos feitiços mais simples que aprenderam até então naquele ano letivo, sendo um deles os que eram para animar. fizera dupla com Davis, que não precisara de feitiço algum para ter um sorriso aberto em seu rosto, em um dos momentos, o professor que circulava pela sala avaliando seus estudantes parara ao lado de , que tinha a varinha erguida apontada na direção do rosto de Tracey, e lhe dissera:
- Muito bem, Srta. , usou o grau certo em seu feitiço, vou dar dez pontos a Sonserina por isso, e a você também. Parabéns.
Mas o que o professor Flitwick não notara era que não estava lançando feitiço algum contra Tracey Davis. Fora o dez mais fácil, e talvez mais merecido, que conquistara em toda a vida.
O jantar fora de longe dos mais sem graça desde sua primeira noite no castelo, não se ouvia conversa ou riso de mesa alguma, na verdade, ninguém ao menos se olhava, todo aluno tinha seu olhar perdido sob seu prato de comida, uma espiada por cima do ombro lhe garantiu que até mesmo os gêmeos Weasley estavam em silêncio, cada um preso a sua própria mente, os NOM's deveriam estar arrasando com aqueles dois, não vira nem um nem outro por todo o dia, o que lhe era estranho, aquela altura do jogo, sempre se via surpreendida por um deles em algum momento de seu dia.
Nem toda batata caramelada que aguentasse comer lhe foi suficiente para aquietar o abismo que sentia dentro de si, descobrira sua tensão pelos exames somente quando estes tiveram seu início, e estava sendo uma barra difícil demais de aguentar. Eram segundos como aquele que lhe faziam sentir a saudade de sua vida de um ano atrás atravancar-se contra seu peito. Aos poucos, os alunos foram dispersando-se do Grande Salão, os do terceiro ano por si só, no dia seguinte, teriam seus exames de Trato das Criaturas Mágicas, Poções e Astronomia. era sempre uma das últimas a deixar sua mesa depois do jantar, mas aquela noite, sentia seu corpo clamar pela cama, como nunca fizera antes, ou ao menos não com tantos protestos, queria afundar o rosto em seus travesseiros e esconder-se debaixo das cobertas, não se preocuparia nem mesmo em fechar o acortinado de sua cama de dossel, tamanha era a certeza de que apagaria antes disso. Quando ultrapassara as pesadas portas de carvalho do Grande Salão, deparou-se com sua amiga, Tracey Davis sentada num dos primeiros degraus das escadarias do castelo, ela não estava sozinha, e também não percebeu a aproximação de , deveria estar mais alto que o próprio céu, porque ao seu lado, e com um braço transpassado por sua cintura ela, Cedrico Diggory, com sua melhor pose de cavaleiro de vestes negras. Diferente da garota que ria de tudo o que ele dizia, Ced logo reparou em que estava a poucos passos do casal, abriu um sorriso para a garota, daqueles que iluminava mesmo diante da mais completa escuridão.
- Não está cedo demais para você não, ? - Cedrico questionou conforme avistava a amiga se aproximar com uma expressão tímida, talvez até cansada, em seu rosto angelical.
- , sente-se conosco. - Tracey disse logo em seguida, sorrindo abertamente para , tinha um olhar de plena gratidão a idealizadora de todo aquele momento e todos os outros que andava tendo com seu man crush Cedrico Diggory.
- Não quero atrapalhar. - argumentou torcendo os lábios. - E também estou morta, não vejo a hora de encontrar minha cama, nem mesmo a arrumei essa manhã esperando que pudesse voltar logo para ela.
- Eu te disse que os exames de Hogwarts poderiam acabar com você. - Cedrico apontou para ela, com sua melhor sentença de I told you so.
- É, e eu não levei fé no que você me disse. - Lamentou, lançando um olhar perdido a seus sapatos.
- Eu te daria um abraço agora, , você sempre esta precisando de um não é mesmo? - Ced formara um bico em seus lábios, e tinha olhos espertos, prontos a captar o menor sinal que o rosto de pudesse emanar. A garota riu minimamente. E sentiu os pulmões reclamarem, juntamente a todo o resto de seu corpo, estava fazendo um tremendo de um esforço mantendo-se em pé, e com vida.
- . - O chamado lhe fez perder o pouco ar que circulava por seus pulmões já desfalecidos. - Por favor. - O ouviu pedir, mas demorou a se virar, sabia exatamente quem era o dono daquela voz grave e ríspida, tudo ao mesmo tempo, quando espiou por cima de seu ombro e focalizou a figura, sentiu as pernas tomarem vida própria, e a levarem para perto dele, sentia a respiração dele bater contra seu rosto, poderiam estar perigosamente próximos, mas sentia-o mais distante do que nunca, ele estava fazendo de tudo para entrar, mas há muito havia perdido as chaves que o levavam ao coração e a mente daquela menina.
- Draco. - Proferiu o nome daquele que atormentava seus pensamentos fosse por bem, fosse por mal.
- . - Ele repetiu as palavras de minutos antes, dessa vez, usando do mesmo tom de voz da garota a sua frente.
- Pensei em te acompanhar até a sala comunal. - Sussurrou, causando arrepios por todo o corpo de , mesmo que ela nunca fosse admitir tal coisa. - Seu rosto não me engana. - Ele tomou um olhar sério, examinava cada centímetro da face da menina - O que tem?
- Sinto que estou a ponto de explodir. - Confidenciou, escondendo o rosto sob a curva do pescoço de Draco Malfoy, e sentindo o cheiro de seu perfume invadir suas narinas, e hipnotizar seus sistema nervoso.
- Diz isso pelos exames? - Ele perguntou, abraçava-a pelos ombros e se punha a andar, na direção das masmorras, e consequentemente, de sua sala comunal.
- Não. - ela disse simplesmente deixando-se levar pelo garoto.
- Então pelo o que é? - Havia desespero em sua voz, assim como ela, ele não aceitava que houvesse algo sobre a garota ao qual ele não soubesse e compreendesse.
- Por todo o resto. - Confessou, aconchegando-se um pouco mais aos braços que a rodeavam.
Na manhã seguinte, desejou que não tivesse levantado de sua cama, tal aspiração lhe ocorria todos os dias de sua vida, mas naquele em especial, a vontade era maior, em vista do ar deveras preocupado do professor de Trato das Criaturas Mágicas, Hagrid parecia estar com seu coração longe dali, e sabia exatamente bem o que porque, sentia seu peito doer toda a vez que focalizava o rosto pálido de Rúbeo. Por Merlim, Hagrid aplicara o exame mais fácil que qualquer aluno teve de prestar, providenciara uma grande barrica com vermes frescos para a turma e avisou que para passar, os vermes de cada aluno deveriam continuar vivos ao fim de uma hora. Uma vez que os vermes se criavam melhor quando deixados em paz, não tivera que fazer nada mais do que isso, o que lhe deu tempo o bastante para conversar com Rúbeo.
- Bicucinho esta ficando um pouco deprimido. - Contou o amigo, curvando-se sob o pretexto de verificar se o verme de ainda estava vivo. - Está preso em casa há tempo demais. - Naquele momento avistou Harry, Hermione e Ronald se aproximarem, a garota vinha com sua própria barrica cheia de vermes, como justificativa para o acercamento de Hagrid, examinando os rostos de cada um dos três, vislumbrou o seu próprio, todos pareciam sentir a mesma coisa, aquele sentimento que se seguia junto a abstinência de falhar em ajudar um amigo. - Ainda assim, tenho o resto dessa semana com Bicuço, na sexta-feira a gente vai saber se vão julgar a favor ou contra. - E era essa a parte que fazia o corpo de tremer. Não sabiam o que a comissão decidiria, mas era inegável que Lúcio Malfoy tomaria parte. A menina sentiu o coração apertar e sabia perfeitamente que assim ficaria até o veredito do hipogrifo. Precisaria agir mais rápido do que antes imaginara. Não podia seguir com o plano de usar a lareira de sua sala comunal para se comunicar com o único bruxo no mundo que poderia ajudá-la, em tempos como aquele o que mais se encontrava eram alunos em suas respectivas salas comunais revisando as matérias para seus exames, não havia horário em que não houvesse ninguém no salão de sua casa, com exceção é claro das horas em que estivessem todos realizando seus exames, e esse era o único momento ao qual ela não poderia se abster. Evidente que vivia seu próprio inferno astral.
Naquela tarde tivera exame de Poções, que ao seu ver, não foi um desastre inominável comparando seus resultados com os de outros alunos que também estavam nas masmorras. Sonserina dividia aquele tempo com ninguém menos que Grifinória, a tenção falava por si só naquele período, e nada tenderia a melhorar, ao menos não, com Snape andando pela sala escura observando a todos fracassarem em suas infusões para confundir, com um ar de satisfação infinita. Depois veio o exame de Astronomia á meia-noite, na torre mais alta do castelo, Zabini costumava fazer de suas brincadeiras para com os amigos alegando que iria atirá-los abaixo quando estavam na torre de Astronomia, e era normalmente seu alvo favorito, em vista de que a garota tinha seus medos naturais de altura, mas não aquela noite, só o que ouviram de Zabini foram seus resmungos repassando pontos estratégicos para sua carta solar. Não estava sendo fácil para ninguém. História da Magia da quarta-feira de manhã, em que escreveu tudo o que já lera a respeito da caça as bruxas na Idade Média, enchera dois pergaminhos com facilidade, e ainda acrescentara comentários que ouvira a respeito de Mr. Beric, um bruxo mais velho que o próprio mundo, e também chegado amigo da tão nobre família . Sentiu vontade de beijar seu próprio cérebro quando entregou rolos e mais rolos de pergaminho ao Professor Binns. Na quarta-feira à tarde foi a vez de Herbologia, nas estufas, sob um sol de cozinhar os miolos, o calor só não era pior que o grito das mandrágoras provenientes da estufa usada pelos alunos do segundo ano para seus próprios exames, era uma distância de duzentos pés, e ainda assim era possível ouvir os berros.
Depois voltaram mais uma vez à sala comunal, com as nucas queimadas, imaginando que no dia seguinte, àquela hora, os exames finalmente teriam terminado. O último exame, na quinta-feira pela manhã, foi Defesa contra as Artes das Trevas. E mais uma vez, sendo surpreendida, o Profº Lupin preparara o exame mais incomum que já tinha feito; uma espécie de corrida de obstáculos ao ar livre, debaixo de sol, em que tinham que atravessar um lago fundo o suficiente para se remar, onde havia um grindylow, em seguida, uma série de crateras cheias de barretes vermelhos, depois um trecho de pântano, desconsiderando as informações enganosas dadas por um hinkypunk , e, por fim, subir em um velho tronco e enfrentar um novo bicho-papão. Por Merlim não estariam realizando aquele exame pela manhã, não era muito humana pela manhã, e era coisa demais para se fazer pra um exame de Defesa Contra as Artes das Trevas. Por que não poderiam estar sentados numa sala, como na maioria dos outros exames? Detestava surpresas, e aquela era a terceira que tinha em Hogwarts em menos de uma semana. Definitivamente estava em seu inferno astral.
- Grindylows se alimentam de peixes... E eles... Ai Merlim. - Ouvia Tracey Davis sussurrar ao seu lado, temerosa com o último, e mais desgastante dos exames, bem, talvez não mais do que o de Poções, em suma pela presença constante de Severo.
Os alunos esperavam sua vez sentados na relva, eram chamados pelo sobrenome sem ordem alguma, podendo serem surpreendidos a qualquer momento, o que deixava a menina alguns decibéis mais nervosa, não estava acostumada com aquele sentimento, era tão certeira quanto uma flecha, e por mais que costumasse a guardar as coisas para si mesma, era tão segura quanto o próprio ministro da magia. Era estranho sentir o estômago flutuar dentro dela, como se houvesse um abismo do tamanho do mundo. Queria estar com suas anotações, talvez a mente ocupada bloqueasse seus pensamentos obscuros, estava precisando distrair-se de si mesma, sua mente mentia, era difícil conviver consigo mesma, se perguntava se fosse outra pessoa em seu lugar, se esta saberia lidar, tal como ela nunca soubera.
Olhou para o lado oposto, e avistou Hermione de olhos fechados mas com os dedos trabalhando e os lábios em movimento, incrível era como Mione estava sempre estudando, mesmo quando não havia como, ou porque, sorriu a menina, mesmo que ela não pudesse ver. De seu outro lado, havia Tracey Davis, era única amiga que tinha a certeza de ter, esta desistira de nomear as características de um demônio aquático Grindylow, e estirara-se na grama verde, com o sol resplandecendo, seus cabelos dourados brilhavam, poderia jurar haver inclusive vestígios de um sorriso no rosto da amiga, como se estivesse há milhas de distância, e não a minutos de um exame de Defesa Contra as Artes das Trevas, a invejou por um momento. Seu nome fora um dos últimos a serem chamados, restando apenas mais uns três alunos para depois de si, assistindo aos colegas que examinaram antes dela, sentiu que faria aquele exame em dois minutos, e que se não fosse pela demora a ser chamada já poderia estar em seu dormitório escondida sob o acortinado de sua cama de dossel, mas não precisaria dizer que estava em seu inferno astral. Muitos dos alunos haviam se dispersado da turma, sendo liberados ao terminarem seus respectivos exames, ficaram apenas aqueles que esperavam por um amigo, ou que não tivessem mais forças depois daquele último exame, deitando por ali mesmo. Conforme imaginara, passara desfilando pelo demônio Grindylow, pelos barretes vermelhos e o feioso Hinkypunk, quando chegara ao velho tronco, onde encontraria o Bicho Papão só conseguia pensar na cama de dossel nas masmorras da Sonserina, queria sair de uma vez por todas dali, e só levou um minuto, para que o sol que antes brilhava ardentemente sob sua cabeça, esconder-se, dando lugar a escuridão, não havia som tão pouco, só o vazio, pensou em correr, fugir daquele lugar, mas seu corpo não a obedecia, estava sozinha e perdida, e era frio, só soube que estava chorando quando as lágrimas tocaram seus lábios, ela não sentia nada, também não sentiu quando caiu sendo sugada por aquele abismo sem vida, sem nada.
Sentiu o corpo pesado, e seus olhos doeram quando se abriram minimamente, ainda não via ao sol, mas dessa vez sabia que ele estava por lá, haviam cabeças demais sob si, vislumbrou alguns rostos conhecidos, mas talvez não se lembrava de seu próprio nome, haviam braços fortes apertando-a contra um peito estarrecido, levantou seu olhar para o maxilar travado e os fios louros escorrendo pelo rosto de Draco. Talvez tivesse acordado num universo paralelo. Mas não muito diferente de minutos atrás, ainda não conseguia se mexer. Ouvia as vozes, cada uma com mil perguntas sendo soltas, escutava tudo e nada. Até que um pedido de ordem se sobressaiu, e ela viu ao professor Lupin, com seu sorriso gentil e feições sofridas, ele nunca lhe parecera tão bonito. Passou uma mão por sua testa, e examinou seu rosto, antes de se aproximar, cochichando somente para que ela ouvisse.
- O que houve, ? - Ele perguntou.
-A escuridão. - Fora tudo o que conseguira dizer num fio de voz, antes dos olhos fecharem por uma segunda vez, e dois braços apertarem-na com mais intensidade.
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