Jamie
Por Mariana Lorandi



Capítulo 1

Ele sorriu para ela e colocou uma mão em sua cintura e a outra em sua nuca, puxando-a para um beijo, que começou forte e intenso, mas foi ficando suave e macio. Ela girou a maçaneta que estava logo atrás e o guiou para dentro da casa.
Espere, pare! Acho que esse não é o melhor jeito de se contar uma história. Que tal começarmos pelo começo?
Primeiramente, devo me apresentar. Sou , Jamie . Você deve estar pensando, “Mas que sobrenome familiar!”. Pois sim, sou filha do único e próprio (, para os mais íntimos – e quando digo íntimos, quero dizer família, amigos e todos os fãs de sua banda). Estou aqui para contar a história dos meus pais. Devo dizer que não é nenhum conto de fadas, porque contos de fadas têm finais felizes, e eu não garanto nada nesse caso. Por quê? Bom, se você quiser saber, senta que lá vem a história...

Era junho de 2005, e o sol batia no concreto das ruas da boa e velha cidade de Londres. Minha mãe, lá pelos seus dezesseis anos, andava pela calçada com um sorriso no rosto, feliz por mais um ano letivo ter acabado. Estava exausta, e tudo que conseguia pensar era naquele sanduíche de atum que comia toda sexta-feira em sua lanchonete preferida.
– Oi, Tony! – disse ela para um homem de boné que estava atrás da bancada, assim que abriu a porta.
! Chegou cedo hoje! – exclamou ele, com as mãos na cintura.
– Se tivesse que ficar mais um segundo naquele colégio, tudo que veriam seria meu cérebro espalhado pela parede por causa do tiro que dera em minha própria boca! – ela sentou no banquinho em frente a Tony.
– Ah, menina, um dia você vai sentir falta de tudo isso...
– Quem sabe... Por enquanto, quero apreciar uma boa comida e esquecer de tudo que aprendi esse ano.
– Já trago seu sanduíche.
– Você poderia me dar um muffin também? O nível de açúcar no meu sangue está baixo hoje. Até agora só comi duas barras de Snickers, um pacote de Mentos e uma balinha de hortelã a caminho daqui. Pode acreditar?!
– Você vai acabar com diabetes desse jeito!
– Que nada! Crianças nascem preparadas para comer besteira o dia todo.
– É, mas você não é mais criança.
– Isso não é verdade. Moro na Terra do Nunca, não sabia? – ela sorriu. – Agora, meu muffin, por favor.
– Desculpe, mas acabou.
– Como assim?! Eu sou uma cliente regular, você tem que deixar esse tipo de coisa reservada para mim! Até parece que não me conhece!
– Eu não pensei que você fosse escolher isso hoje, então vendi para aquele rapaz ali, sentado naquela mesa – Tony apontou para um garoto de costas para eles, tomando uma caneca de café. – Que tal um brownie?
– Nada disso! – Ela se levantou do banquinho e foi até o garoto. – Esse muffin é meu.
– Perdão? – disse ele, confuso.
– Esse muffin que está no seu prato é meu – repetiu ela.
– Não, é meu. Eu paguei por ele – respondeu o garoto calmamente.
– Bom, então eu te pago de volta com juros, que tal?
– Você é maluca – ele se voltou para a caneca de café.
– Não, eu apenas estou com fome – ela pegou o bolinho.
– Ei, me devolve!
– Não. – Disse ela, lambendo o doce. – Ainda quer?
– Existem milhões de bactérias em tudo que a gente usa, toca e come. Uma lambidinha sua não vai me assustar.
– Então divida comigo!
– Garota, vai se internar! Por que você quer tanto esse muffin idiota?
– Porque sim!
– Porque sim não é resposta.
– Ok, é porque... Porque tem o mesmo gosto dos que a minha mãe costumava fazer. E... É a única lembrança que eu tenho dela. Ainda me lembro dela cantarolando enquanto esperava a massa assar... – ela começou a chorar. – Ela morreu tão cedo! Meu irmão teve que cuidar de mim, porque meu pai parecia não superar a morte dela...
O garoto se calou, olhando com pena para minha mãe.
– Tá, você pode ficar com o muffin.
– Ahá! – Ela sorriu maliciosamente, secando as lágrimas e mordendo o bolinho com vontade.
– Você estava mentindo?! Sua louca! Você tem sérios problemas mentais!
– Desculpa, mas é tão difícil escutar quando eu simplesmente não me importo – disse ela, com a boca cheia. – Mas olha – ela pegou uma nota no bolso da calça –, toma aqui cinco libras pelo doce.
– Eu não quero isso – os olhos do garoto estavam cheios de raiva.
– Pô, cinco libras é muito mais do que você pagou por isso e você não quer? Tá bom, então, melhor para mim. Assim posso comprar a Top Of The Pops desse mês.
– Ah, mas isso vai ter troco! – ele se levantou da cadeira e parou na frente dela. – Ah, se vai!
– Sabe... – ela colocou a mão no ombro dele. – Você realmente tem que aprimorar suas técnicas de ameaças.
Ele apenas a encarou com os olhos fulminando e saiu pela porta da lanchonete.

Já deu para perceber que esse garoto é o meu pai, certo? Ok, só estou dizendo para garantir que todos estejam acompanhando comigo.
É claro que eles se odeiam! Não seria uma boa história se começasse com pura química logo de primeira. Mas também é bem óbvio que as coisas vão mudar, senão eu não existiria.
Bom, para continuar a história, devo incluir mais uma personagem: tia , também conhecida como minha madrinha. Toda garota tem sempre uma melhor amiga, um braço direito, uma pessoa com quem você sempre pode contar. E é isso que tia é para a minha mãe. Ela não é realmente minha tia, mas como ela sempre foi como uma irmã para a dona , passei a considerá-la como tal.

, sua maluca! – tia jogou um travesseiro nela. – Como você pode fazer isso com ele?!
– Qual é o problema? – perguntou minha mãe, sentando na cama.
– O problema é que é o ! Sabe aquele cara que veneramos todos os dias? Pois então!
– Pensei que você venerasse o – comentou ela calmamente.
– É, mas eu não iria reclamar se desse de cara com o seu preferido. O que eu quero dizer é: quando encontramos , é para pedirmos autógrafo no mínimo, e não para ficarmos lambendo o muffin dele!
– Você tem noção do quão estranho isso acabou de soar?
, estou falando sério! Como você deixou um momento desses passar desse jeito?
– O que eu posso dizer? Sou louca por doce e faço tudo para conseguir um... Até mesmo roubar muffins do membro favorito da banda que eu amo, sem ao menos me importar com quem ele é – ela analisava as unhas da mão direita. – Além do mais, ele é meio idiota, e um pouco retardado. Pode acreditar que ele recusou as cinco libras que eu ofereci pelo muffin? Cinco libras!
– Ai, meu Deus... – Tia bateu na própria testa.

Você deve estar se perguntando como eu sei de todos esses detalhes, certo? Bom, vou juntando as informações que me dão e o resto eu preencho com a minha imaginação. Mas devo dizer que essa história é 99% real, então não pense que a maioria é pura invenção.
Minha mãe disse que naquela época, McFly – odiei o nome, mas meu pai disse que foi tirado de um filme famoso dos anos oitenta. Sei lá, né? A gente deixa passar – estava começando a se mostrar para o mundo, então não era muito difícil encontrar alguém que já tivesse ouvido pelo menos uma música deles.

Capítulo 2

– Ué, pensei que, pelas aulas terem acabado, você viria menos aqui! – comentou Tony ao ver a minha mãe entrar na lanchonete, enquanto passava um pano na bancada.
– Que isso, Tony! Você sabe que eu nunca te abandonaria! E veja só quem eu trouxe! – Ela apontou para a amiga ao seu lado.
! Faz tempo que você não vem!
– Pois é, estava começando a esquecer de seu rosto! – brincou ela.
– Sentem-se, sentem-se! Hoje é por conta da casa!
– Oba! Então quero tudo que tem no menu! – disse minha mãe (boba como sempre), enquanto sentava.
...
– Ok, ok! Então me dê um muffin.
– Ahm... acabou.
– O quê?! Tony! Depois do ocorrido de ontem era para você ter feito a mais hoje!
– E eu fiz! Juro que fiz! Mas... Alguém comprou todos.
– Todos?! – Tia perguntou. – Nossa, essa pessoa deve ser pior que você, .
– Quem fez essa atrocidade?
– Eu! – as duas olharam para trás e viram um (já é estranho chamar meu pai pelo primeiro nome, não me façam colocar o apelido) sorrindo triunfante.
– Seu pentelho! – gritou minha mãe. – Parece que não aprende a lição! Os muffins daqui são meus!
– Ei, abaixe o tom – avisou Tony.
– Venha, , vamos mostrar para esse idiota o que é bom para tosse – ela levantou do banquinho, mas logo percebeu que a amiga não a seguia. – ?
Minha madrinha parecia estar hipnotizada pela visão que estava tendo. Meu pai é bonito, vamos assim dizer, mas ainda não entendo porque suas fãs gostavam tanto dele.
– Uau! na minha frente! – Foi tudo que tia conseguiu dizer.
– Como assim? Vocês sabem quem eu sou? – perguntou ele, confuso.
– O quê? Não, é claro que não! – minha mãe tentou disfarçar. – Deixe de ser tão egocêntrico! Sabe, o mundo não gira em sua volta, garoto!
– Pare com isso, eu sei muito bem o que eu ouvi, e sua amiga acabou de dizer meu nome!
– É porque... O Tony nos disse – mentiu ela.
– Impossível, ele não sabe meu nome.
– Ah, , pare de mentir e diga a verdade para ele! – disse minha madrinha ao sair do transe.
– Não, não vou falar!
– Certo, então eu falo!
, não se atreva!
– Ops, tarde demais! – Ela colocou a mão na boca. – , ela não só te conhece como também te ama! Ela se apaixonou por você desde que viu vocês tocando 5 Colours In Her Hair no CD:UK!
– Ah, é? – um sorriso enorme surgiu no rosto dele. – Quer dizer que você é minha fã, huh?
– É, a... Música de vocês me agrada – respondeu minha mãe, tentando parecer casual e descontraída.
– Não sei, não, viu. Pelo jeito que a sua amiga disse, parece que a nossa música faz muito mais do que te agradar.
– Tá, o que seja! Eu amo McFly! Está melhor assim?
Ela começou a andar em direção à porta, mas meu pai segurou seu braço, impedindo-a de sair da lanchonete.
– Paz? – disse ele, oferecendo um dos milhões de muffins que comprou.
Ela olhou de para o bolinho, e do bolinho para , até que finalmente aceitou e sorriu para o garoto.

E foi assim que tudo começou. Mas, calma, ainda tem muito chão pela frente, esse é só o começo do começo. Eu ainda nem apareci! Quando isso acontecer, aí sim que vai ficar bom...

Capítulo 3

Era mais um dia de verão e, como de costume, minha mãe e tia foram para o Tony's. É muito clichê ter uma lanchonete com o nome do dono, mas hey, eu só estou contando a história.
– E aí, meninas, o de sempre? – Tony perguntou, quando elas sentaram-se à mesa ao lado da porta.
– Não, acho que hoje vamos escolher outra coisa – disse minha madrinha. – Cadê o menu?
Tony entregou o cardápio e elas o analisaram atentamente.
– Nossa, não sabia que tinha tanta coisa boa aqui! – comentou minha mãe.
– Claro, essa deve ser a segunda vez que vocês olham para o menu!
– Segunda?
– A primeira foi quando escolheram o sanduíche de atum.
– Ah, sim – (já mencionei como chamá-la assim é estranho?) olhou para cima, viajando completamente. – Ainda me lembro desse dia...
– Mesmo? – perguntou tia .
– Não. – Ela riu.
– Ah, esqueci-me de avisar... – Tony pegou dois crachás de dentro do bolso da camisa. – Aquele garoto dos muffins passou aqui hoje de manhã e falou para te entregar isso.
– E o que seria isso? – perguntou minha madrinha, enquanto minha mãe pegava os crachás da mão de Tony.
– Ah, meu Deus, são passes para o backstage do show do McFly que a gente não conseguiu comprar ingressos!
– D-do s-show d-de hoje?
– Aham!
– Posso desmaiar?
– Ai, , deixa disso! Você já até conheceu o !
– E daí? Não é por causa dele que eu quero desmaiar...
Tia sempre foi uma pessoa extremamente exagerada, mas toda vez que eu digo isso para ela, quando ela conta dos seus dias de fã de McFly, ela me manda calar a boca porque eu não sei do que estou falando.

Você deve estar pensando, “até parece que as coisas são tão fáceis assim!”. Bom, não é comigo que você deve reclamar. Eu estou nada mais e nada menos que passando a história para frente. Ok, talvez um pouquinho mais, mas nada que faça grande diferença.

– Será que é aqui? – perguntou tia parada na frente de uma porta onde havia um papel colado, escrito ‘McFly'.
– Não, , tem outra banda chamada McFly que vai se apresentar no mesmo dia e no mesmo lugar que a nossa banda preferida – ironizou minha mãe.
– Sabe, , às vezes as suas palavras machucam.
– É só porque eu te amo – ela beijou a bochecha da amiga, que soltou uma risadinha de leve.
As duas bateram na porta ao mesmo tempo e a abriram sem esperar uma resposta.
– A gente deixou vocês entrarem? Porque eu não me lembro de ter respondido à batida – brincou meu pai.
– Há-há, muito engraçado.
– Gente, essas são e – ele se virou para as duas. – Acho que vocês sabem os nomes de todo mundo, não é?
– Se não soubéssemos, que tipo de fãs seríamos? – comentou minha madrinha.
– Muffin? – meu pai, com um sorriso no rosto, ofereceu uma bandeja que estava em cima da mesa.
– Não, obrigada – respondeu minha mãe.
– O quê?! Ah, não! O Tony deve ter dado o crachá para a pessoa errada, porque a que eu conheci há uma semana atrás faria de tudo para comer um desses!
– Ei, que imagem distorcida é essa que você tem de mim? – Ela sorriu. – Você simplesmente me pegou em um dia ruim naquela vez.
– Bom, caso você queira, já sabe onde está – ele colocou a bandeja em seu local de origem.
Alguém – que minha mãe ou tia não souberam me dizer quem – entrou no camarim, avisando que o show já ia começar, então as duas se posicionaram no canto do palco e assistiram ao melhor show da vida delas – pelo menos foi o que elas me disseram.
– Então, gostaram do show? – tio perguntou para as duas, mas não tirava os olhos de tia .
– Aham – ela respondeu, sem acreditar que estava realmente falando com ela.
Tia deu aquela clássica mexida no cabelo (começando pela franja, passando por trás da orelha e acabando nas pontas dos fios) que, de acordo com a minha mãe, fazia qualquer um ficar caidinho por ela – já que beleza é o que não lhe falta. Como todo homem, tio ficou literalmente de queixo caído.
– Vê se não baba – comentou tio , ao passar ao lado dele.
– Acho que já é um pouco tarde, – disse tio .
Minha madrinha diz que não foi tão fácil assim impressioná-lo, mas prefiro confiar nos olhos de quem estava vendo por fora.
Em algum outro canto estavam meus pais, conversando sobre sabe-se lá o quê (se eles não se lembram, provavelmente não era importante, então não vou me dar o trabalho de inventar alguma coisa, pois quero manter isso o mais original possível).
– Bom, acho melhor eu ir, senão minha mãe vai começar a pensar coisa errada sobre mim – disse ela. – Mas a gente devia se encontrar um dia, sabe? Talvez no Tony's mesmo.
Poxa, queria conseguir ser direta assim que nem ela.
– Só se você não lamber meu muffin – ele brincou.
– Eu prometo – ela riu.
Meu pai se curvou para beijá-la, mas ela recuou para trás.
– O que você está fazendo? – perguntou ela. – Você nem me conhece.
– Eu posso tentar te conhecer, se você deixar.
Meu pai se curvou um pouco mais, mas minha mãe permaneceu imóvel dessa vez. Seus lábios se encontraram, e ela finalmente cedeu, envolvendo as mãos no pescoço dele.

Capítulo 4

Vou pegar o controle remoto e apertar o botão de avançar, ok? Porque tudo que acontece nesses próximos oito meses é aquela velha história de começo de relacionamento. Tem algumas partes realmente tocantes, como a primeira vez deles, mas não vamos entrar em muitos detalhes. Se eu contar cada momento da vida dos dois juntos, ficaremos aqui uma eternidade.

– Um brinde ao Danny! – minha mãe disse, levantando seu copo de tequila, enquanto os outros cinco faziam o mesmo.
– Ao Danny! – todos disseram e viraram seus copos na boca.
– E aí, Danny, como se sente agora que tem 20 anos? – perguntou tia .
– Hum... Um ano mais velho do que ano passado – respondeu ele, fazendo todos rirem.
As duas garotas e os quatro membros da banda tomaram mais algumas doses naquela boate que havia acabado de abrir.
Devo dizer que aquela época foi o auge desse lugar, porque depois de tantos anos, ele ainda existe, e não é um lugar que eu recomendaria para as pessoas que eu gosto.
– É melhor eu parar de beber – comentou minha madrinha, encarando o teto. – Já estou ficando tontinha...
– Você nem deveria estar bebendo, para começar – disse tio , envolvendo seu braço no pescoço dela. – Você ainda é menor de idade.
– Ui, vô! Vai me delatar para o segurança da boate?
– Só se você não me deixar fazer isso – ele a puxou para mais perto e deu um beijo apaixonado na tia .
Não pensem que essa foi a primeira vez. Não, eles já estavam juntos há uns seis meses nessa época. Acho que estou apenas contando esse detalhe para mostrar, “Hey, veja! Eles também estão juntos!”.
Naquela época, a banda morava na mesma casa, então lá pelas três da manhã, tudo que se pode ver foi cada um indo para seus respectivos quartos. Como tio e tio eram solteiros, existem duas opções para o que fizeram naquela noite: dormiram profundamente ou tiveram um cinco contra um. Como só eles sabem a verdade, você escolhe em qual das duas opções deseja acreditar.
Tia e tio sumiram no momento em que passaram pela porta de entrada da casa (então pode-se imaginar para onde eles foram e o que eles foram fazer). Meus pais também não foram muito inocentes, não, já que essa foi a noite em que eu fui concebida.
– Se divertiu hoje? – minha mãe envolveu as mãos no pescoço do meu pai, assim que ele fechou a porta do quarto.
– Claro que sim – ele colocou as mãos na cintura dela. – Eu estava com você.
– Você sabe que não precisa mais ficar me xavecando! Nós já estamos juntos, caso você não tenha percebido.
– Não estou te xavecando, estou falando a verdade.
– Uau, , você é um sonho! – brincou ela.
– Para de me zoar – ele riu.
Ele aproximou seu rosto ao dela, fazendo os dois narizes se encostarem. Ela fechou os olhos e beijou os lábios dele, assim que seus corpos se aproximaram mais. Ele a deitou na cama e voltou a beijá-la.

Devo avisar: Não haverá cenas de sexo. Por quê? Bom, o motivo é simples: imagine seus pais transando. Pois é, não é algo que te agrada muito. Gosto de pensar que meus pais se beijam e nada mais – apesar de saber que não é só isso que acontece. A cena que acabei de descrever para vocês é o máximo que eu consigo. Compaixão, gente, por favor. é dos meus pais que estamos falando aqui!

Capítulo 5

... – Tia chamou minha mãe, que se encontrava sentada no chão do banheiro, de frente para a privada.
– Fala, – ela disse, abraçada às pernas.
– Você sabe né, que eu sempre vou estar aqui para te apoiar?
– Eu sei, . Obrigada – respondeu ela, com a voz falha. – Já é hora?
– Hm... – Tia olhou para o relógio do seu pulso. – Já.
– E... O que diz?
Minha madrinha pegou o teste de gravidez de cima da pia e comparou com a embalagem.
– Deu... Positivo.

Minha mãe me disse que essa foi a melhor notícia que ela já recebeu na vida toda, mas eu duvido muito. Pois sejamos realistas: que tipo de garota aos dezesseis anos gosta de descobrir que está grávida? Nenhuma que esteja com a mente sã. É claro que ela me ama, isso eu tenho certeza, porque eu também a amo muito, e devo minha vida a ela. Mas não deve ser nada fácil receber uma notícia dessas, principalmente quando tudo que você quer fazer nessa idade é simplesmente aproveitar a vida.

– Oi, linda! – disse meu pai, com apenas uma toalha enrolada na cintura, quando viu minha mãe entrando em seu quarto. – Tudo bom?
– Tudo, e você? – ela encostou levemente seus lábios contra os dele.
– Também – ele tirou a toalha e colocou a samba-canção. – Acabei de tomar banho, e agora preciso arrumar as malas, porque amanhã nós vamos para a Irlanda gravar o novo álbum, e eu não tenho nada pronto.
– Ah, é verdade. Mas... Tem como a gente conversar antes de você fazer tudo isso? – ela perguntou, sentando na cama.
– Claro – ele sentou ao lado dela. – Aconteceu alguma coisa ruim?
– Ruim? Não sei. ‘Grande' é o melhor jeito de descrever.
– Você está me deixando preocupado. O que houve?
– Ahm... Não tem outro modo de te falar isso, então acho que vou simplesmente... Falar. – Ela respirou fundo e o encarou bem nos olhos. – Eu... Estou grávida.
Meu pai ficou apenas encarando o nada, como se tivesse entrado em choque.
? – minha mãe chamou, tirando-o do transe.
– Oi!
– Você não vai falar nada?
– Eu... Eu nem sei o que falar. Isso... Isso é... – Ele passou a mão nos cabelos. – Como? Quando?
– Você se lembra daquela noite, duas semanas atrás, depois da comemoração na boate, e nós estávamos meio... Alterados?
– Ah.
– Pois é.
O silêncio voltou a reinar naquele quarto, e meu pai nem sequer olhava minha mãe nos olhos.
– Então? – ela perguntou.
– Então o que, ? – O tom de voz dele subiu. – O que você quer que eu diga?
– Não sei... Que você está feliz.
– Feliz?! – Ele se levantou da cama. – Você realmente acha que é isso que eu estou sentindo nesse momento?
– Caramba, ! Que ótimo pai você vai ser, hein?
– O quê?! Nós não vamos ter esse filho!
– Mas é claro que vamos! – ela também ficou de pé. – Pelo menos eu sei que eu vou!
– Você realmente pretende estragar a sua vida desse jeito?!
– Isso se chama responsabilidade, ! Se eu fui idiota o suficiente para entrar nessa, então que eu arque com as consequências!
– Ok, ok – ele colocou as mãos na cintura, se acalmando. – Nós temos que pensar direito aqui.
– Obrigada.
– Nós vamos nos casar.
– O quê?! Você está maluco!
– Como você pretende criar essa criança aos dezessete anos sem estar casada?!
– Eu tenho dezesseis!
– Mais um motivo para casar! Você é muito nova para isso!
– Ah, e casar é a solução?! Eu não vou fazer isso só porque estou grávida!
– Olha, eu... – Ele começou a andar de um lado para o outro. – Eu não posso lidar com isso agora. Amanhã vamos para a Irlanda e eu preciso estar preparado, eu não posso... Eu não posso estar com a cabeça cheia desse jeito.
– Ótimo, . Vai cuidar da sua bandinha enquanto eu fico aqui me preocupando com a pessoa que está crescendo dentro de mim.
Ela desceu as escadas e bateu a porta de entrada ao passar, deixando os outros três moradores de lá imaginando o motivo da briga.

Ela nunca admitiu para mim, mas tia me disse que ela chorou por três dias seguidos depois disso, porque meu pai nem sequer ligou durante aqueles quatro meses que passou gravando o álbum.
Ele foi realmente idiota, não foi? Mas eu não o culpo. Afinal, ninguém gosta de ter filhos nessa idade. Ele só estava tentando encontrar uma boa solução para tudo isso. Não estava fazendo um bom trabalho, mas pelo menos estava tentando.
Minha mãe, no entanto, ah, essa eu admiro! Eu não conseguiria encarar um problema desses de cabeça erguida como ela estava fazendo. Assim como meu pai, tentaria me livrar dessa, não importa como.

Capítulo 6

Os quatro meses já haviam passado, e minha mãe sabia que meu pai estava de volta a Londres, já que tia namorava o tio .
Minha mãe sempre ficava triste por causa da reação do meu pai e do fato dele não ter ligado, mas era fácil ocupar a mente com a escola e tudo mais. Mas quanto mais perto o dia dele voltar ficava, mais difícil era para não pensar nele, pois era julho e ela estava entrando em férias.
A campainha da casa tocou, e a minha avó foi atender, deixando de lado os pratos sujos da pia. Ela abriu a porta e se deparou com a pessoa que menos esperava ver.
– Olá, senhora – disse meu pai, com as mãos nos bolsos da calça e sorrindo como se estivesse pedindo desculpas.
– disse ela secamente. – O que você está fazendo aqui?
– Eu... Vim falar com a .
– Ela não quer falar com você.
Minha avó começou a fechar a porta, mas foi impedida pela mão do meu pai.
– Olhe, eu sei que o que eu fiz foi completamente ridículo e irresponsável – começou ele –, mas... Por favor, senhora , deixe-me falar com ela.
Ela o encarou por alguns segundos, até que finalmente deu espaço para ele passar.
– Ela está no quarto – disse minha avó, voltando para a cozinha.
Meu pai subiu as escadas e parou na frente de uma porta branca. Respirou fundo e girou a maçaneta.
– Posso entrar? – ele perguntou, colocando a cabeça para dentro do quarto.
Minha mãe, que estava sentada ao computador, assustou-se ao ouvir aquela voz familiar. Ela se levantou da cadeira e ficou encarando meu pai, que já estava alguns passos dentro do quarto. Ele reparou que a barriga dela já estava um pouco saliente.
– Não – ela respondeu, tentando não chorar.
– Não? Por que não?
– Porque você se esqueceu de mim – ela sentiu a primeira lágrima rolar por sua bochecha.
, eu não me esqueci de você – ele se aproximou um pouco dela, mas ela deu um passo para trás, encostando as costas na parede.
– Certo... Então você simplesmente resolveu não me ligar – agora ela não conseguia mais segurar as lágrimas. – O que eu acho pior ainda.
– Eu... Eu simplesmente... Não sabia o que fazer.
– E você achou que deixar tudo como estava era a melhor coisa a se fazer?
– Eu pensei em te ligar milhões de vezes, juro! Mas... Eu ficava com tanto medo de que você estivesse brava comigo, que acabava desistindo. E cada dia que passava, ficava pior ainda.
– É, mas isso não justifica nada, . Você não ligou e eu continuo brava, fim de história. Agora é tarde demais.
– Não é tarde demais, . – Ele foi até ela, que dessa vez não recuou, e pegou suas mãos. – Eu estou aqui, pedindo para você me perdoar, pedindo para que você me dê uma segunda chance. Eu prometo que não vou mais sumir desse jeito. Deixa eu voltar a fazer parte da sua vida, deixa eu fazer parte da vida dessa pessoinha aqui – ele colocou as duas mãos na barriga dela. – Eu juro que não vou te desapontar, mas, por favor, me perdoa.
Ela fechou os olhos, sentindo mais lágrimas escorrerem por seu rosto, e respirou fundo.
– Esteja aqui amanhã às quatro, porque eu tenho uma consulta no médico – ela finalmente disse.
– Obrigado.
Meu pai se aproximou a ela para beijá-la, mas ela virou o rosto. Ele a olhou sem entender porque ela havia feito aquilo.
– Eu estou perdoando o pai da minha criança – ela disse. – Só isso. Agora você pode ir.
Ele concordou com a cabeça e encarou o chão enquanto seguia para fora do quarto. Quando ele fechou a porta, ela arrastou as costas na parede até sentar no chão, soluçando desesperadamente.

Por que a minha mãe tem que ser tão orgulhosa, né? Por que ela não pode simplesmente esquecer tudo e perdoá-lo? Sempre tem que ter essa enrolação! Se bem que eu também não perdoaria um cara que ficasse fora por quatro meses sem dar sequer um telefonema.
Mas tudo acabou dando certo, sabe? Eventualmente, aquela raiva guardada dentro do peito da minha mãe foi se esvaecendo e ela acabou o perdoando. Principalmente porque eles começaram a passar muito tempo juntos, por causa da gravidez e do namoro da tia e do tio .
Quando minha mãe estava lá pelo seu sétimo mês de gestação, meus pais compraram um apartamento para que pudessem me criar por conta própria (com uma certa independência dos meus avós), o que eu achei um pouco estranho, já que minha mãe ainda era menor de idade. Mas, hey, dezessete é quase dezoito. Não é como se meu pai fosse um pedófilo que raptara uma criança de dez anos.

Capítulo 7

Faltava uma semana para o Natal e minha mãe já estava de saco cheio. Já era para eu ter nascido há alguns dias, então dá para imaginar como ela estava desconfortável.
! – ela gritou impaciente, enquanto mudava de canal pelo controle remoto.
– Fala, linda – ele disse, ao entrar na sala.
– Cadê o sanduíche de atum que eu te pedi há séculos?!
– Na verdade, , você me pediu há dois minutos, então ainda não deu tempo de acabar – ele respondeu suavemente. – Mas eu vejo se dou uma apressada, ok?
– Não, se você apressar não vai sair bom!
– Tá, então vai demorar mais um pouco – ele voltou para a cozinha.
– Mas faz logo! – ela gritou.
Naquela época, minha mãe estava a pessoa mais chata do mundo, mas meu pai nunca reclamava das coisas que ela falava ou fazia, já que ele sabia que ela só estava assim por causa da gravidez.
Ele levou o sanduíche pronto para a minha mãe e colocou na mesa de centro, sentando-se ao lado dela. Ela pegou o sanduíche e deu uma mordida.
– O que é isso?! – ela perguntou de boca cheia.
– Sanduíche de atum – ele respondeu calmamente.
– Você chama isso de atum? Pelo amor de Deus, ! Vai lá no Tony's aprender a fazer um desses decentemente!
– Desculpa, – ele queria rir de tão insuportável que ela estava. – Deixa que eu como, então.
– Não, eu como assim mesmo.
Ele a ouvia reclamar baixinho a cada mordida que dava, mas não falava nada para não aborrecê-la.
– ela disse, assim que terminou de comer.
– Fala, amor.
– Sabe o que eu percebi? – Agora a voz dela estava meiga e suave.
Eita! Olha só o que os hormônios podem fazer com uma pessoa!
– O quê?
– Nós ainda não temos um nome para a nossa filha – ela acariciou a barriga.
– É, eu sei. Escolher nome é uma coisa tão difícil. Que tal se a gente fizer isso agora?
– Ok! Eu estive... – Ela colocou as duas mãos na barriga, com os olhos extremamente abertos.
– O que houve? – meu pai perguntou preocupado.
– Eu acho que... Minha bolsa estourou!

Pois é, eu estava fazendo meu caminho para entrar no mundo. Meu pai me disse que, quando eles estavam indo para o hospital, ele colocou um dos CDs da minha mãe para tentar acalmá-la, e isso acabou resultando no meu nome. A última música que eles ouviram antes de descer do carro era sobre um rapaz que amava a advogada dele, Jamie. Minha mãe acabou percebendo o quanto gostava desse nome, então resolveu me nomear assim.

Capitulo 8

Minha infância foi um período normal na minha vida. Quero dizer, “normal”, né? Porque enquanto as mães das minhas amigas ficavam esperando as filhas na porta da escola e conversando sobre como era a vida delas na época da faculdade, a minha ainda estava passando por essa fase.
E essa era uma das coisas que eu mais odiava: o fato dela ser nova demais. As mães das minhas amigas sempre olhavam torto para ela, e eu era um pouco excluída do meu grupinho, já que essas mães eram amigas entre si e sempre se reuniam, levando suas filhas junto. Então, às vezes, eu odiava minha mãe, pelo simples fato de ter me tido cedo demais. Pensando nisso agora, eu percebo como fazer uma coisa dessas é ridículo, mas quando você tem cinco anos, você não percebe toda a complexidade da vida, já que tudo que você quer é ter amigos e nada mais.
Agora eu gostaria de compartilhar uma memória com vocês, ao invés de repassar uma história que me contaram. Essa memória eu vou sempre guardar no coração, porque foi nesse dia que eu percebi que meus pais foram feitos um para o outro, e eu pude assistir tudo de camarote.

Eram lá pelas dez e meia da noite, e eu, uma baixinha de quase seis anos (isso é que dá nascer no final do ano), havia me levantado para ir ao banheiro. Percebi uma certa movimentação vindo da cozinha, então olhei pela fresta da porta semiaberta para ver o que estava acontecendo. Vi meus pais sentados à mesa, fazendo um jantar à luz de velas.
– Que pena que não deu para a gente ir ao restaurante – comentou meu pai, logo após ter tomado um gole do vinho.
– Culpa daquela babá idiota que deu cano na gente de última hora! – disse minha mãe, fazendo-o rir.
– Bom, mas isso não importa mais. – Ele pegou na mão dela, que estava em cima da mesa. – Nós conseguimos fazer esse jantarzinho improvisado, e isso já é suficiente. O importante é que estamos juntos.
– Mas eu queria que fosse especial, sabe? Porque você já vai embora amanhã por causa da turnê.
– Mas eu vou voltar. Eu sempre volto.
– Eu quero te ter aqui comigo para sempre.
– Então tenha – ele a olhou profundamente nos olhos, acariciando os dedos dela com seu polegar. – , desde a primeira vez que eu te beijei, eu sabia que você iria ter um grande impacto em mim. E eu estava certo, você mudou totalmente minha vida. Não só por causa da Jamie, mas porque... O que eu sinto por você é completamente inédito. Você diz que quer me ter para sempre. Pois então me tenha – ele tirou uma caixinha de dentro do bolso da calça e a abriu, revelando um anel de diamante, que brilhava intensamente, apesar da pouca luz refletindo na cozinha. – Casa comigo?
Ela o encarou imóvel, e acho que, por um momento, meu pai pensou que ela fosse recusá-lo. Os olhos de minha mãe começaram a lacrimejar e um sorriso largo surgiu em seu rosto.
– Mas é claro que sim! – ela respondeu, sentindo as lágrimas caírem.
Meu pai sorriu e colocou o anel no dedo da mão esquerda dela. Ele encostou uma mão no rosto dela e a puxou devagar para um beijo terno, doce, macio.
Eu voltei para meu quarto com um sorriso bobo no rosto e deitei na cama, esquecendo-me completamente da vontade de ir ao banheiro.

Devo dizer que esse foi um casamento e tanto. Sabe quando você pega uma revista de decoração, vê uma sala e fala “cara, eu quero que minha sala seja desse jeito”, de tão linda e perfeita que é? Pois é, foi assim que foi o casamento deles (Eu poderia ter usado um exemplo com revista de noiva, não é? Seria muito melhor do que essa metáfora idiota que eu usei. Bom, mas tanto faz).
Foi em um dia ensolarado, ao ar livre, e tudo era simplesmente perfeito. Na cerimônia, entre as cadeiras brancas dos convidados, havia um tapete vermelho que dava até um belo arco florido. Flores vermelhas davam cor a todo o cenário, combinando com o vestido das damas de honra. Meu pai parecia ter dormido com um cabide na boca, porque não tinha como vê-lo sem um sorriso no rosto naquele dia. Se é que era possível, aquele sorriso se abriu ainda mais quando ele viu minha mãe. Mas não posso mentir, ela estava realmente incrível. Com um buquê de rosas vermelhas na mão, ela seguiu pelo tapete em seu vestido branco tomara-que-caia que se arrastava pelo chão. Ela tinha um brilho natural no rosto que dava para perceber que ela não tinha dúvidas de que era aquilo que queria fazer.
Ah, não pense que eu me lembro de tudo isso com todos esses detalhes. Pelo amor de Deus, né, gente! Eu tinha só seis anos! Você realmente acha que eu estava prestando atenção no brilho da minha mãe? Que nada! Minhas memórias verdadeiras desse dia são: anéis de ouro, vestido branco e pessoas arrumadas. Só isso. É que ontem eu assisti o DVD do casamento deles para poder contar tudo certinho para vocês.

Capítulo 9

Ok, respondam-me: aos doze anos, época de puberdade, quando você está começando a entrar na adolescência, você já começa a odiar o mundo todo e um pouco mais, certo? Pois é, alguma força maior parecia me dizer que isso não era suficiente para mim, eu tinha que sofrer só mais um pouco.
– Aí ela começou a falar as coisas mais absurdas que eu já ouvi nessa vida! – eu disse para minha mãe, que dirigia concentrada. – Só para você ter noção, ela falou que ele não sabe tocar nada! E isso é só um pedacinho do que ela disse! Pelo amor de Deus, não saber tocar? Então de onde vem o dinheiro que paga a minha escola, né? Tipo, eu sei que você trabalha mãe, mas não vamos negar que o emprego do papai ajuda bastante na poupança. Quem ela pensa que é para falar do meu pai assim? Essa Rachel Thompson não passa de uma metida, né, mãe? – estendi minha mão esquerda, virando a palma para cima. – Toca aí!
Pois é, fiquei no seco. Aparentemente, minha mãe não ouviu nada do que eu havia dito. Parecia que ela estava sozinha no carro, ao invés de estar ao lado de uma garotinha que não parava de tagarelar.
– Tá bom, mammys. Não queria que você tocasse mesmo – eu disse ironicamente, abaixando a mão.
Ela continuou me ignorando – ou seja lá o que ela estava fazendo naquele momento (Até hoje ela jura que nunca me ignora, somente não me ouve. Mas, hey, não é a mesma coisa?).
– Mãããe? – passei a mão na frente de seu rosto.
– Oi! – ela respondeu, finalmente saindo do transe.
– Você ouviu alguma coisa que eu disse?
– Ouvi, claro que ouvi!
– Então o que eu disse? – perguntei, desafiando-a.
– Você disse que... Teve um dia ruim na escola – ela respondeu, estacionando o carro na frente de nossa casa.
– Não, mãe – bato a porta ao sair do carro. – Eu falei muito mais do que isso.
– Eu sei, James, eu só resumi o que você disse – ela disse, andando até a porta de entrada, sendo seguida por mim.
– Mãe, já falei, não me chama de James.
– Não é minha culpa, é seu nome.
– É sua culpa, sim! – entro em casa, logo após ela. – Você que me deu esse nome!
– É – ela respondeu, ainda com a cabeça distante.
Fico parada na sala, apenas observando minha mãe ir até a cozinha e pegar uma garrafa d'água de dentro da geladeira. Ela se apoiou na bancada e, apesar de só poder ver suas costas, pude sentir que havia algo de errado.
– Mãe? – Entrei na cozinha devagar. – Você está bem?
– Estou sim – ela colocou a garrafa na bancada, ainda de costas para mim.
– Eu sei que não está. Fala. O que aconteceu?
Ela se virou de frente para mim e pude lágrimas escorrendo por seu rosto, as bochechas manchadas de rímel.
– Eu... Seu pai e eu... Nós... Nós vamos nos divorciar.

Ficou chocada? Pois é, eu também. Eu sabia que eles estavam brigando mais do que o normal, mas nunca pensei que fosse chegar a isso.
Naquele mesmo dia teve a conversa oficial, onde eu, minha mãe e meu pai sentamos no sofá e eles falaram que isso não tem nada a ver comigo, que eles ainda se amam – mas de um jeito diferente, que sempre serão amigos e toda aquela história que os pais contam quando estão se separando, sabe?
E foi aí que tudo ficou passou a ser mais difícil. Não só porque meu pai saiu de casa ou porque os dois viviam brigando, mas o simples fato de pensar que meus pais não estavam mais juntos simplesmente... Doía.

Capítulo 10

– Ele ainda não chegou? – perguntei para minha mãe, que colocava alguns salgadinhos em uma bandeja.
– Ainda não, Jamie – ela me olhou como se pedisse desculpas. – Mas tenho certeza de que daqui a pouco está chegando.
– Ele não vai vir – eu disse cabisbaixa. – Até tio , tio e tio estão aqui!
– Claro que ele vai vir – falou tia (agora também conhecida como ), que estava ajudando minha mãe.
– É, ele deve estar preso no trânsito ou algo do tipo, mas não se preocupe. Vá brincar com suas amigas que ele chega já, já.
– Brincar, mãe? – coloquei as mãos na cintura. – Eu tenho quinze anos, pelo amor de Deus!
– Certo – ela riu. – E eu nem sequer posso usar a desculpa de que quando eu tinha sua idade era o que eu fazia, porque não faz tanto tempo assim. Então vá falar mal das garotas vadias da sua classe que dão para os garotos quando estão ficando por menos de um mês.
– Mãe! – arregalei os olhos e saí da cozinha antes que ela começasse a falar mais coisas absurdas.
O que minha mãe dissera era algo realmente horrível para sair da boca de uma mãe, mas ela até que não estava errada. Ah, vai dizer que você não fica fofocando sobre o que as putas que você conhece fizeram no fim de semana? Não estou dizendo que eu vivo por essas informações, mas quando alguém tem alguma fofoca suculenta, eu faço de tudo para saber.
Era minha festa de quinze anos e meu pai não estava lá. Ele nunca fora um pai ausente, então não conseguia entender por que ele não estava comemorando comigo esse dia tão importante.
Nem mesmo quando tinha algum compromisso com a banda (quero dizer, quando a banda ainda existia, né? Porque conseguir sobreviver por dezoito anos é algo que nem sempre acontece, e McFly não foi uma das sucedidas... Infelizmente) ele deixava de comparecer a algo importante para mim, como uma apresentação de balé da escola.
– Hora de cantar ‘Parabéns'! – minha mãe apareceu com um bolo nas mãos, e o colocou na mesa de jantar da sala.
– Venham, garotas – disse tia . – Fiquem em volta da mesa.
Eu fui para trás do bolo e sorri enquanto meus amigos e meus familiares cantavam para mim, mas tudo que eu conseguia pensar era o fato de meu pai não estar fazendo o mesmo que eles.
Quando estava pronta para assoprar as velas, alguém abriu a porta da frente de casa. Era ele. Ele não se esqueceu de mim. Eu sabia que era um pai responsável. Não importava mais o porquê dele ter demorado. O importante é que ele estava lá.
Meu pai sorriu para mim e eu o correspondi com um sorriso que ia de orelha a orelha, mas isso durou pouco. Meu rosto foi de felicidade para confusão para seriedade em menos de dois segundos. Quem era aquela vadia loira que veio logo atrás dele?
– Oi, lindinha – ele me deu um beijo na bochecha após pendurar o casaco. Eu permaneci estática. – Feliz aniversário.
– Oi, pai. Quem é a sua amiga? – perguntei diretamente.
– Essa é a Deena. – Ele se virou para a oxigenada. – Deen, essa é a minha filha, Jamie.
– Eu ouvi muito falar de você – ela estendeu a mão para mim.
– Tá – fui para perto dos meus amigos, ignorando-a completamente. – Depois a gente come o bolo. Vamos assistir a algum filme, agora!
– Jamie, volta aqui – chamou meu pai, mas não o obedeci. – Jamie!
– Posso falar com você? – Minha mãe chegou ao lado dele. Ela olhou para Deena com desdém e se voltou para meu pai. – Em particular.
Ela foi até a cozinha e foi seguida por ele, que no caminho, deu um olhar de ‘sei lá o que essa doida quer comigo' para Deena.
– O que você pensa que está fazendo? – perguntou minha mãe, apoiando-se na bancada.
– O mesmo que você, comemorando o aniversário da minha filha – ele respondeu cinicamente.
– Eu estou falando sobre essa daí que você trouxe.
– ‘Essa daí' tem nome.
– Gina.
– Deena – ele corrigiu.
– Tanto faz – ela rolou os olhos. – O que eu quero dizer é: como você pode fazer isso? E sem me avisar antes!
– Desde quando eu preciso te avisar quem eu apresento para minha filha?
– Ela é minha filha também! – Ela estava quase gritando. – Então sim, eu tenho que ser avisada quando ela vai conhecer alguém, principalmente quando é mais uma de suas namoradas!
– Essa é a única namorada que ela conheceu! E eu não tive tantas assim!
– Tanto faz.
– E não é como se Deena fosse te substituir! Jamie sabe muito bem quem é a mãe dela!
– Você realmente acha que é por isso que eu estou assim?! Eu não sou tão egocêntrica como você, .
– Então por que, ?
– Como você pode achar que era uma boa ideia apresentá-la a Jamie no dia do aniversário dela?
– Qual é o problema disso?
– O problema é que já é difícil para ela ver os pais separados. Ver você com outra pessoa deve ser extremamente devastador! Ela tem esperado por essa festa por semanas, e você vem e estraga desse jeito!
– Quem garante que eu estraguei?
– Ah, certo, porque aquela cara que ela fez quando Deena falou foi de pura felicidade – disse minha mãe sarcasticamente.
Os dois pararam de falar por alguns minutos e ficaram apenas encarando o chão. Era melhor encarar o chão do que encarar um ao outro.
– Eu não estou dizendo que Jamie não deveria conhecer Deena – agora a voz de minha mãe estava calma e suave. – Apenas acho que você deveria ter contado a ela antes, ter... Preparado-a psicologicamente.
– Desculpe – ele respondeu no mesmo tom.
– Não é para mim que você tem que se desculpar – ela o olhou nos olhos e saiu da cozinha.

Capítulo 11

Meu pai é realmente lesado, não é? Mas é claro que eu não gostei de conhecer essa bruxa no dia do meu aniversário! Ok, para falar a verdade, eu até que simpatizei com ela. Ela não é tão chata quanto eu imaginava, e ela até que é engraçada. Outro dia ela estava falando que... Não! Não, não, não! Ela pode não ser o monstro que eu imaginava, mas não vou vê-la como uma pessoa potencialmente boa para meu pai!
Certo, voltando à minha sanidade, vou contar uma história curtinha que aconteceu com meus pais mais ou menos um ano e meio depois desse episódio que ocorreu no meu aniversário...

Minha mãe bateu na porta de entrada da casa e esperou que alguém viesse atender. Ela viu uma sombra passar pela janela e sorriu quando meu pai abriu a porta.
– Tem alguém aqui? – ela perguntou.
– Não, estou sozinho – ele respondeu, com uma expressão um pouco abatida.
– Eu soube que a Jamie passou aqui de tarde com leite e biscoitos.
– É – ele sorriu fraco. – Ela é uma boa garota.
– Bom, eu trouxe leite para gente grande – ela levantou uma garrafa de vodca que escondia atrás das costas.
– Entra – ele riu.
– Como está sua mãe? – ela perguntou, enquanto fazia seu caminho pela sala.
– Ela está... Bom, a saúde dela está fora de perigo, mas o ataque cardíaco a abalou muito. Mas ela deve sair do hospital daqui a alguns dias.
– Essa é uma boa notícia – ela se sentou no sofá.
Ele apenas concordou com a cabeça e foi até a cozinha pegar dois copos. Quando voltou, sentou-se ao lado de minha mãe e se serviu com um pouco da bebida.
– Por que você está aqui? – ele perguntou de repente.
– Acima de tudo, sou sua amiga, certo? Apenas pensei que você precisasse de alguém para conversar.
– Obrigado – ele sorriu.
– De nada – ela sorriu de volta. – E como está Deena?
– Ela está bem, está na Irlanda por causa do trabalho. Ela disse que iria voltar depois que contei da minha mãe, mas insisti que não fizesse isso.
– Você não deveria passar por isso sozinho.
– Não estou sozinho. Tenho você.
Ela o olhou sem saber se aquilo fora uma indireta ou se era porque ela havia dito que estava lá para conversar com ele. Não sabia o que dizer e ficou aliviada quando ele voltou a falar.
– Vamos beber – ele levantou seu copo, e ela fez o mesmo. – Saúde.
Os dois brindaram e viraram aquele pouco de bebida que havia em seus copos.

Aviso importante: nunca ingira bebida alcoólica sem supervisão. Ou seja, já dá para saber em que estado eles ficaram, certo?
Pois é, vodca + vodca nunca dá em um resultado bom, e eu digo por experiência própria – por favor, não contem a minha mãe, senão ela me mata! Se bem que eu acho que ela fazia a mesma coisa quando tinha minha idade.

– Daí você falou... ‘Espera, espera', mas... Ele não te ouvia... – minha mãe tentava falar entre ataques de riso. – Você não se lembra?
– Não! – meu pai riu, perdendo o fôlego. – E o que aconteceu depois?
– Aí depois... Não lembro! – houve uma explosão de risadas.
Eu posso já ter me embebedado com vodca, mas nunca fiquei nesse estado em que eles estavam. Isso não é exemplo que se dê, vocês não acham?
– Ai, ai... – minha mãe enxugou as lágrimas. – Posso não me lembrar do que aconteceu direito, mas sei que foi muito engraçado!
– Da próxima vez você tenta lembrar.
– Vai ter outra próxima vez? – ela deu uma risadinha, mantendo um sorriso no rosto.
– Claro! Não foi você que disse que somos amigos?
O sorriso de minha mãe foi se desfazendo devagar enquanto ela parecia refletir no que iria fazer depois. Em um impulso, ela se aproximou rapidamente de meu pai, encostando firmemente seus lábios nos dele. Ele se afastou um pouco dela depois de perceber o que ela havia feito, mas logo voltou a beijá-la.
Ele a deitou no sofá, tirando rapidamente sua blusa, enquanto ela se livrava da regata que vestia. Ele a encarou por alguns segundos e a beijou novamente.

Desculpa, gente, esse é o máximo que posso contar. Hey, já dei minha explicação anteriormente! Se quiserem ver sexo, então abram na página 55 do livro Férias, de Marian Keyes, e se divirtam.
Agora você me pergunta: eles transaram? Sim. Eles vão ficar juntos? Deixa eu te responder de outro jeito...

O sol que invadia a sala fazia os olhos de minha mãe doerem. Ela se sentou e percebeu que não eram só os olhos que doíam, e sim, a cabeça inteira. Não, espere aí, era o corpo inteiro. Quem mandou ela dormir no chão?
Ela olhou para o lado e viu meu pai dormindo completamente nu. Ela olhou para seu próprio corpo e notou que também estava sem roupas, e foi aí que percebeu o que havia feito.
Ela tentou ficar em silêncio enquanto se vestia, mas quando estava colocando o segundo sapato, perdeu o equilíbrio e esbarrou em um abajur, derrubando-o no chão e fazendo meu pai acordar.
– Bom dia – ele disse, coçando os olhos.
Ele se levantou com dificuldade e procurou por seu samba-canção. Encontrou-o debaixo de uma das almofadas do sofá e o vestiu devagar, ainda sonolento. Olhou de volta para minha mãe e percebeu que ela já estava vestida.
– Aonde você vai? – ele perguntou.
– Para casa.
– Mas por quê? Fique aqui, , eu vou fazer um ótimo café da manhã.
– Não posso, .
– Por que não?
– Você sabe muito por que.
– Não, não sei. Só sei que nós tivemos uma ótima noite e eu acordei achando que estava tudo bem.
– Não está tudo bem. Você está noivo, pelo amor de Deus! Você vai se casar daqui um mês! Como você pode fazer isso com Deena?
– Ei, não jogue a culpa em mim! Foi você que começou aquele beijo!
– Mas eu não vi você me impedindo! Além do mais, não sou eu que estou comprometida – ela o encarou e ele não disse nada. – Eu preciso ir, .

Sim, você entendeu certo, meu pai estava noivo. É, eu sei, eu omiti essa informação de vocês. Acho que é porque nunca achei que essa fosse uma notícia boa, então não gosto de sair divulgando por aí – apesar de que foi o que eu acabei de fazer.

Capítulo 12

– Ai meu Deus, , o que eu faço? – minha mãe andava de um lado para o outro do banheiro.
– Calma, , a gente ainda nem tem certeza!
– Mas isso já aconteceu antes, e você sabe no que deu!
! – Tia segurou minha mãe pelos ombros. – Acalme-se, por favor.
– Tá bom. – Ela se sentou na privada, com a tampa fechada. – Já é hora?
– Não, ainda não – disse tia , olhando no relógio de seu pulso.
– Ai, que saco...
, se você estiver certa... É tão ruim assim?
– Não... Não é ruim, é que... Ele vai se casar daqui duas semanas, né? Mas... Não é ruim.
– Então é nisso que você tem que se focalizar – Tia olhou novamente para o relógio. – Pronto. Eu ou você?
– Você. Eu não consigo.
Minha madrinha pegou o teste de gravidez de cima da pia e comparou com a embalagem – do mesmo jeito que fez quando minha mãe descobriu que estava grávida de mim.
– Deu...
Antes que tia pudesse terminar a frase, a porta se abriu escancaradamente, fazendo as duas pularem de susto. Era eu.
– Mãe, estou te chamando há séculos! – eu disse, antes de perceber o que estava na mão da minha madrinha. – O que é isso?
– Isso? É... É um... – ela tentava procurar uma desculpa.
– Um teste de gravidez? – perguntei.
– Nada a ver, Jamie! – tia ria nervosamente. – Isso é um... É um...
– É um teste de gravidez – repeti. – Eu não sou criança, eu sei o que é isso. De quem é?
– Isso... É... É meu – disse tia .
– Seu? – Fui até ela e comparei o teste com a embalagem. – Deu positivo?
– Deu! Deu... Positivo.
– Você e o tio vão ter um filho?
– Aham! – ela sorriu.
– Não, Jamie, eles não vão ter um filho – minha mãe finalmente falou. – Eu é que vou.
– V-você?! – perguntei chocada. – M-mas... Mas... Você nem sequer tem um namorado!
– É... Do seu pai.
– Do meu pai?! – Fiquei mais chocada ainda. – Mas... Como? Ele... Ele está com a Deena! Ou não está mais? Vocês voltaram?
– Sim, ele ainda está com ela e não, nós não voltamos. Foi apenas... Um erro bobo que... Resultou nisso.
– Mãe, mas... Mãe! Mãe, mas... Mas, mãe!
– Sim, Jamie, eu sei. É loucura e eu não faço a mínima ideia de como isso foi acontecer, mas... Aconteceu.
– Ai, meu Deus... Ai, meu Deus, mãe!
– Jamie... – ela se sentou na privada e colocou as mãos no rosto, apoiando os cotovelos nas coxas. – Eu nem sei o que vou fazer.
– Como assim? – perguntei suavemente, agachando-me ao seu lado. – Você... Não pretende ficar com o bebê?
– Para falar a verdade... – ela tirou as mãos do rosto e olhou para mim. – Eu não sei.
– Mas eu sei! Mãe, você não pode fazer isso. E daí que ele vai casar com aquela vadia idiota?
– Jamie!
– Desculpe. Aquela piranha idiota! – consertei, fazendo minha mãe rir. – E daí que vocês não estão juntos? O importante é que é uma pessoa nova, uma vida nova, e isso já é bom demais. Por favor, não faça nenhuma burrada que fará você ficar arrependida.
– Não se preocupe, querida – ela passou a mão nos meus cabelos. – Eu não vou.

Tem gente que não gosta quando a mãe fica grávida, porque acha que vai perder a atenção que recebe, mas essa foi uma das melhores notícias que eu já recebi na minha vida. Tudo bem que poderiam ser em melhores circunstâncias, mas – como eu mesma disse – é uma pessoa nova, uma vida nova. Um amor novo.

Capítulo 13


– Como estou? – perguntei à minha mãe.
– Parecendo uma dama de honra – ela respondeu.
– Mãe, isso não me diz nada. Parecer uma dama de honra é bom ou ruim?
– É ótimo, Jamie – ela riu.
– E se eu tropeçar quando estiver andando entre todas aquelas pessoas?!
– Você não vai tropeçar! Vai dar tudo certo, você vai ver.
Olhei-me no espelho. Até que eu não estava tão mal assim. Estava com um vestido rosa que ia até os joelhos e uma sandália da mesma cor, enquanto meu pequeno buquê combinava com a cor do vestido de Deena.
– Mãe – chamei, enquanto encarava minha imagem.
– Fala.
– Por que você não vai também?
– Porque...
– Não, espere aí, já sei. Porque, além dele ser seu ex-marido, você está grávida do filho ou filha dele, sendo que ele nem sequer sabe.
– Jamie, pare com isso. Eu só... Quero contar no momento certo.
– Mãe, contar antes ou depois do casamento faz muita diferença, acredite. Porque se for antes, dá uma chance à Deena desistir tudo e não se envolver à nossa família. Se for depois, terá todo o processo de confiança marido-mulher ou eles gastarão uma baita de uma grana se divorciando.
– Eu sei disso.
– Então conte logo! O casamento é amanhã!
– Eu sei disso também!
– Mãe...
– Jamie... – minha mãe me imitou.
– Estou falando sério.
– Eu também. Eu vou contar, não se preocupe.

Eu conheço minha mãe muito bem para saber a verdade do que ela iria fazer. Não estou dizendo que ela tinha desistido de contar, mas não foi como se ela tivesse ido até meu pai e contado a notícia. Não. A verdade foi assim...

Minha mãe fechou seu livro ao ouvir a campainha soar. Ela se levantou da cadeira e atendeu a porta, dando de cara com meu pai, que não parecia estar em seus melhores dias.
! O que você está fazendo aqui? – ela perguntou. – Jamie não está, ela saiu com as amigas.
– Não estou aqui por causa dela.
– Seu casamento é amanhã, você não tinha que estar descansando ou algo do tipo?
, eu... Eu preciso falar com você.
– O que foi? – minha mãe fechou a porta atrás dela e focalizou sua atenção em meu pai, que estava inquieto na varanda da casa.
– Eu... Eu...
, estou ficando preocupada. Me diga, aconteceu algo?
– Se você disser que ainda me ama, eu desisto disso tudo! – ele finalmente disse.
– O quê?!
– Me diga que me ama... Me diga que me ama e eu não caso.
, eu...
!
, eu acho que você está apenas com medo. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo – minha mãe tentava consolá-lo. – É normal se sentir assim antes do casamento.
– Não, , não é isso. Eu... Eu te amo. Eu sei que ainda te amo. Foi uma besteira ter me divorciado de você!
– E-eu... Eu não sei o que dizer...
– Apenas me diga que ainda me ama!
– Eu... Eu te amo, . Sempre te amei – ela sorriu. – Mas...
– Mas o quê?
– Eu preciso te contar algo, algo que eu já sei faz um tempo, e que pode deixá-lo...
– Extremamente irritado? – meu pai completou a frase dela.
– Eu ia dizer ‘bravo', mas ‘extremamente irritado' também serve.
– O que é?
– Eu... Estou grávida.
Minha mãe esperou por uma reação dele, mas esta demorou para vir. Ela tentava procurar seu olhar, mas ele encarava o chão, até que reagiu. Ele sorriu para ela e colocou uma mão em sua cintura e a outra em sua nuca, puxando-a para um beijo, que começou forte e intenso, mas foi ficando suave e macio. Ela girou a maçaneta que estava logo atrás e o guiou para dentro da casa.

Pois é, acabou sendo um final feliz. Bom, na verdade, nunca se sabe né, já que eles ainda estão vivos e brigando uma vez por mês, em média. Mas descontando isso, realmente foi um final feliz.
Eu sempre esperei que eles fossem ficar juntos novamente. Afinal, para mim, eles são o casal perfeito. Simplesmente não existe um homem tão apaixonado quanto meu pai, e não existe uma mulher que faria de tudo por seu marido como minha mãe. Eles podem ter suas diferenças e podem existir conflitos de vez em quando, mas a realidade é: eles se completam, e ponto final.
Ih, espere aí que meu irmãozinho está chorando e meus pais foram ao supermercado, então tenho que trocar sua fralda – ou seja lá o motivo pelo qual está gritando desse jeito. Já volto!

Fim!



N/a: Atendendo a pedidos [pedidO, né, porque foi só uma pessoa xD], segundo filho acabou sendo menino o/
Obrigada à minha querida amiga Ellen! Você é tudo para mim, cupcake! Você é minha super heroína, você me ensinou o significado de melhor amiga! Te amo mto! :**
Obrigada também à todas as pessoas que leram e apoiaram minha fic. Vocês não tem noção de como me fizeram feliz com todos esses comentários e elogios que fizeram x)
Se vocês acham que a fic acabou muito rápido, sorry .__. Mas minha intenção nunca foi mantê-la por muito tempo, porque esse é o tipo de história que se conte apenas os pontos mais importantes, e nunca há tantos pontos importantes na vida de uma pessoa, por isso que eu não podia prolongar mais =P
Agora que essa fic acabou, podem se divertir também com I'll Love You Always And Forever e Make It Happen, que também são de autoria minha o/
Um beijo e um queijo xD



N/b: Qualquer erro na fic mande para leeh.rodriigues@gmail.com :) Não utilizem a caixa de comentários, por favor. Agradeço desde já.

comments powered by Disqus