Capítulo Único
Sushi?
- Você sabe que eu te amo, baby.
A voz de não passa de um sussurro áspero e rouco, cada palavra pronunciada num perfeito sotaque americano. encara os olhos verdes como vidro, espalmando a mão gentilmente no rosto recentemente barbeado, seu dedo tão próximo dos lábios de que, se ela se mexesse minimamente, poderia tocá-los. O olhar de transmite firmeza, as palavras, tão confiantes ao saírem de sua boca, quase fazem com que ela ache que são verdadeiras.
- Sempre? - Ela pergunta em um sopro.
- Sempre. - Ele assegura.
Continuam se encarando por alguns segundos, ouvindo nada além de suas próprias respirações.
- E CORTAAAAA!
O grito do diretor ecoa por todo o estúdio e rapidamente se senta na cama, movendo-se para longe do rosto de antes que ele pudesse sequer piscar. também se senta, embora muito mais lentamente, cuidando para que mantivesse uma distância segura da colega.
O diretor, Paul, caminha até eles com um grande sorriso no rosto.
- Bom trabalho, vocês dois! - E então, com outro grito: - Por hoje é só, pessoal!
A atriz suspira antes de se levantar, aliviada por finalmente sair de debaixo de todas aquelas luzes que fazem seus olhos doerem depois de...
- Que horas são? - Ela pergunta para ninguém específico.
- Seis e vinte. - A voz que responde vem por trás.
Ela se vira para ver.
- Começamos pouco antes das onze, então foram umas sete horas hoje?! - pergunta retoricamente.
Como o sabichão prontamente a informa, depois de sete horas incessantes de gravações, os olhos de doem.
- Teriam sido menos se você não ficasse rindo toda hora e estragando a tomada. - Ela revira os olhos, antes de dar as costas e sair andando.
- A culpa é sua por ter colocado aquele negócio que faz barulho de peido na minha cadeira! - trota para alcançá-la.
fora quem havia começado com as pegadinhas no set. Ela esperou alguns dias até que ele tivesse esquecido para se vingar e então considerou o caso encerrado, estavam quites. No entanto, levara toda a brincadeira para um outro patamar e pregou outra peça nela logo no dia seguinte. Era um desafio agora, as pegadinhas cada vez mais elaboradas e constrangedoras, as usava como desculpa para descarregar um pouco de seu desprezo por enquanto achava que tudo era mascarado como “uma brincadeira”.
Eles gravavam em uma sala de jantar, era uma cena em que a personagem de chorava e o personagem de precisava fingir que não se importava quando, na verdade, se importava. Era uma cena difícil para ele, pois precisava atuar dentro da atuação. sabia disso e por isso escolheu aquele dia para a armadilha. Ela era muito boa em mudar de emoções rapidamente, chorava com a mesma facilidade que sorria. O único que precisava de tempo para voltar para o personagem era . Demorou um pouco para que ele conseguisse se concentrar de novo depois de rir até chorar quando se sentou na cadeira da mesa de jantar e o ouviu o barulho de peido ecoar por todo o estúdio. E toda vez que ele se lembrava, começava a rir enquanto chorava, estragando a cena que deveria ser séria e tensa.
- Você mereceu. Não se esqueça que você quem começou. - solta uma risadinha, tampando a boca antes de soar muito divertida.
- Eu jamais peidaria daquela forma na frente das pessoas.
- Ah, claro. - Ela dá um tapinha na própria testa. - Me esqueci que você é o senhor perfeito.
- Qual é, . - a chama carinhosamente pelo apelido. - Achei que tínhamos dado uma trégua com a troca de farpas.
Nas últimas semanas de gravação, eles tinham chegado em um ponto insustentável, no qual não conseguiam trocar duas frases sem que a maioria das palavras fossem provocações, então tinham conversado – realmente conversado, pela primeira vez – e combinado que iam dar uma trégua; nas provocações e, consequentemente, nas pegadinhas.
, com certeza, estava com dificuldade em cumprir sua parte da trégua.
- Só porque a gente não se odeia muito mais...
- Quem diria que você admitiria algo assim algum dia. - provoca quase que imediatamente.
- ...Não quer dizer que eu goste de você. - torce o nariz ao continuar. - Você ainda me irrita.
- Eu também não gosto de você, . - dá de ombros, rebatendo o comentário só para não sair por baixo.
- Porque você sabe que você me ama, baby. - apenas cita a fala do personagem de .
- Há-há. - finge rir, embora não ache nenhuma graça. - Apollo ama Daphne. - Pontua, frisando os nomes dos seus personagens. - Uma infelicidade que ela seja você.
se esforça para não deixar que seu sorrisinho de lado cresça. Ela prefere assim, que não tente ser amigo dela, porque ela já tem que suportá-lo todos os dias nas gravações e vê-lo forçando amizades com todas as outras pessoas no set. Já parecia demais para suportar ser a única ali que não comprava aquele sorrisinho simpático e seu jeito amigável demais. Ninguém é assim tão legal como ele finge ser e só ela parece ver isso. Ela sabe que uma hora a máscara dele cairá, e ela será a primeira a dizer.
- Infelicidade para você, que ainda vai precisar me aturar por um tempão. - Ela pisca, esperta.
- Que má sorte! - suspira, fingindo derrota.
A atriz sorri forçado, demonstrando exatamente o que ela gostaria de expressar: desagrado.
- Tchau, . Eu vou embora. - Se despede. - Te vejo amanhã, infelizmente.
- Mas hoje é sexta! - fala em um tom um pouco mais urgente, como se o dia da semana devesse significar algo a mais para .
Não significa nada para também, eles gravarão o final de semana inteiro. E não é como se ele se mantivesse informado dos dias da semana de qualquer forma. Para ele todos os dias são a mesma coisa.
- Você não pode ir para o hotel assim tão cedo, estamos no Canadá, afinal de contas.
gargalha, denunciando incredulidade.
- Como é que é?
Quem ele pensa que é para dizer o que ela pode ou não fazer? Logo quando pensou que poderia começar a aturá-lo sem fazer um esforço doloroso...
- Quem te disse que eu vou para o hotel? - Ela arqueia uma sobrancelha, enquanto encolhe os ombros.
- A gente tá indo jantar naquele sushi lá perto. - a ignora. - Quer ir?
- Sushi?
faz uma careta ao tentar esconder seu interesse pela comida que era uma de suas preferidas.
- A gente quem? - Pergunta indiferente, discretamente pondo a mão sobre o estômago, sentindo-o doer um pouquinho pelas muitas horas sem comer.
- Bem... - enrola. - Eu – pausa. – e você. Se topar, é claro.
- De jeito nenhum eu vou sair sozinha com você. Eu posso acabar tendo que enterrar um corpo. O que não seria problema, mas eu odiaria ter que ver todo mundo em luto por você.
Ela foi cruel, sabe disso. Mas reage com uma gargalhada alta, seus olhos ficando pequenininhos conforme seu sorriso crescia; observa as ruguinhas que vão se formando ao redor deles. Até a risada dele soa irritantemente ensaiada.
- As pessoas esperam que sejamos vistos juntos por aí, como uma questão de relações públicas. Estamos contracenando juntos, afinal.
- Exatamente. - suspira já perdendo a paciência. - Eu já passo tempo demais com você.
É exatamente por isso que tinha simplesmente se cansado de tentar construir uma relação de camaradagem com logo nos primeiros dias no set.
- Por favor, ! Eu não quero ir sozinho! - apela. - Dá pra ser legal comigo pelo menos uma vez?
[...]
olha para a mulher com quem ele divide a mesa, ela tem a cabeça abaixada e próxima demais do cardápio. Ele espera educadamente enquanto ela parece ler item por item disponível. tinha passado o olho pelo menu, procurando por pratos conhecidos, o que havia levado consideravelmente menos tempo.
resmunga alguma coisa.
- O quê? - Ele se debruça levemente sobre a mesa.
- Por que as letras tem que ser tão pequenas? - Levanta a cabeça ao dizer em tom de reclamação.
- Você precisa de óculos. - esfrega a braço esquerdo ao provocá-la quase que inconscientemente.
- Calado. - leva um dedo na frente do rosto de , que engole a risadinha. - E você já escolheu o que vai pedir, sabichão?
sorri de lado e balança a cabeça. A resposta de não passa de um arquear de sobrancelhas e espera que ele diga o que vai pedir.
- Você gosta tanto de sushi assim? Já sabe todos os pratos de cor?! - pergunta após repetir tudo o que pediria sem ler o menu.
- Eu sou pescetariano, é praticamente só o que eu como. - Outra risadinha, como se o que ele estivesse dizendo fosse, de alguma forma, engraçado. - Há alguns pratos padrões que contemplam a maioria dos restaurantes, então... - Ele encolhe os ombros.
Todos os movimentos do cantor são extra graciosos, sua risada, suave como seu olhar. Ele vira as páginas do cardápio com delicadeza, usando as pontas dos dedos. Tudo isso, observa com raiva crescente em seu peito. Nem mesmo ali, num momento de anonimato, nem mesmo assim consegue sair do personagem que havia criado e aperfeiçoado durante todos aqueles anos. Como as pessoas podem passar tempo com ele e não perceber que é tudo um ato? O modo como ele olha por cima dos ombros e para os lados, à procura das câmeras ou pessoas que estão prestando atenção nele, e a forma que ajeita a postura em seguida. Tudo milimetricamente pensado para que nunca o peguem desprevenido. Ele é tão... dissimulado!
- Aham. - murmura.
sente o silêncio constrangedor se assentar em seguida e se pergunta o que havia dito de errado dessa vez.
- Esses dias passaram tão rápido. - começa, cauteloso. - Não acredito que já já estaremos filmando na Califórnia. Você já foi em Berkeley?
A universidade era a próxima localização em que gravariam o filme; o personagem de é professor de música. Por isso, os diretores o consideraram a pessoa perfeita para o papel, precisavam de alguém que não só soubesse cantar, mas que entendesse até certa extensão a teoria. A especialidade de Apollo era em instrumentos de cordas, e, embora não tenha particularmente afinidade com uma gama extensa deles, recentemente tinha aprendido a tocar dulcimer enquanto escrevia seu último álbum.
- Eu estudei lá. - se limita a dizer.
- Sério?
se mostra surpreso, ele sabe que havia crescido em uma realidade completamente diferente da dele. Ele não estava sendo maldoso, mas não consegue evitar se questionar o porquê alguém como iria para a universidade; ela é filha do jornalista Greco-Americano Giorgos Valero, um nome conhecido dentro de sua área, embora isso não necessariamente a classifique como uma nepo baby, ou a garanta um passaporte direto para Hollywood, ela sempre teve recursos suficientes para sair do ensino médio direto a perseguir qualquer carreira do estrelato que fosse de seu interesse. Modelo? Atriz? São os passatempos preferidos de garotas como ela.
- Mas desisti para estudar teatro. - conclui dando de ombros.
Ah, mas é claro, ele pensa.
- O que você planeja fazer nas suas horas de folga no resto dos nossos dias aqui? - Ele pergunta para continuar fluindo a conversa, ele não aguentaria outro silêncio desconfortável.
quer falar sobre a ONG que resgata animais que ela visitará antes das gravações do dia seguinte, mas decide rapidamente que quanto menos detalhes sobre sua vida pessoal souber, melhor.
Ela encolhe os ombros de novo, sem responder nada.
- Vou gastar todo o meu tempo de folga arquitetando a próxima pegadinha que vou pregar em você. - fala em tom de brincadeira.
Quem é que é egocêntrico o suficiente para responder a própria pergunta?, pensa com um quase revirar de olhos.
- A sua foi muito boa, embora eu já tenha algo em mente que será à altura. - sorri de lado e pisca divertido.
sabe que ele se vingará, precisa ficar atenta nos próximos dias, se ela conseguir escapar do que quer que fosse planejado, ficará com a maior cara de tacho e ela sairá, finalmente, triunfante.
- Eu vou esperar aqueles dois dias de folga antes das gravações na América. Preciso de férias da sua cara. - Ela um sorri de lábios fechados.
Embora aquilo soe como uma brincadeira, tem noção de que ela não fala nada além do que pensa. Ele analisa as expressões da colega por um momento, sentindo aquela tensão constrangedora crescer novamente entre eles, o deixando levemente ansioso.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Manda ver.
- Por que você não gosta de mim? - Demanda secamente, sem delongas como costuma fazer.
Àquela altura, ele também não é o maior fã de , ele a acha grosseira e arrogante, características que destoam muito dele, que é sempre amigável e modesto. A naturalidade com que ela age estupidamente o enjoa. No entanto, não se sente bem ficando com raiva das pessoas e por mais que ela o trate mal na maioria do tempo e o deixe desconfortavelmente irritado por isso, ele nunca soube exatamente o porque ela não gosta dele. E, por mais que ele ignore, sempre sente uma coisinha, como se fosse uma coceirinha irritante que nunca passa, quando alguém não gosta dele e não o diz o motivo. Parece inconcebível para que alguém não o explique os motivos quando não gostam dele. Como ele saberá o que ele precisa melhorar?
o encara sem dizer nada por um tempo, pensando sobre o que responder. Ela não acha que pode dizer na cara dele que o acha dissimulado.
Nah, ela pode, sim.
- Porque te acho um impostor.
- Como? - retruca e ela encolhe os ombros.
- Esse seu jeito. Tudo o que você faz e como você age parece que é um ato para que todos pensem que você é super legal e interessante.
- Mas eu sou legal e interessante. - responde com seu sorrisinho de lado, justamente aquele que faz com que todos o achem uma graça.
- Quem mentiu para você assim? - torce o nariz, criando uma ruguinha no topo, entre as sobrancelhas.
- Eu estou brincando, obviamente. - suspira. - Mas eu não faço nada premeditado. Eu sou assim. - Ele tenta se defender.
- Se não é fingimento, então por que se importa se não gosto de você?
- Se você não gosta de mim eu quero saber o motivo. Eu nunca te fiz nada. - franze a testa dessa vez. - Tirando as pegadinhas no set. - se corrige antes que ela o faça.
Se antes de começarem a gravar não tinha nada contra ela, agora ele pode listar vários motivos pelos quais não gosta dela. Essa atitude, é um deles.
Logo naqueles primeiros dias no set, ao mesmo tempo em que percebia que não era uma pessoa que ele consideraria legal, também ficava claro para quaisquer olhos atentos que os dois não estavam se dando tão bem como era esperado do casal protagonista do filme. e eram igualmente divertidos e simpáticos com toda a produção e demais colegas atores, exceto entre eles. Se chegava para almoçar e estava numa mesa com as pessoas que eles tinham gravado naquele dia, decidia se sentar o mais longe possível, não se importando se era com o diretor de fotografia ou um dos cinegrafistas. E fazia o mesmo. Eles se evitavam em todos os momentos que fossem fora das câmeras. Se tivessem que repetir a cena e por algum motivo a ‘culpa’ fosse de , seja porque ele havia errado ou esquecido sua fala, ou não tinha saído como ele queria, não havia ninguém ali que não percebesse o olhar julgador da atriz. Eles não discutiam ou trocavam ofensas na frente das pessoas, era uma guerra fria e silenciosa que ocorria entre eles, cheia de indiretas e atitudes passivo-agressivas. E, claro, as pegadinhas que não deveriam causar sérios danos a ninguém.
tinha o costume de tomar banho no trailer antes de ir embora do set, enquanto , que atraía uma dúzia de fãs onde quer que fosse que estivessem gravando, sempre corria o mais rápido possível para o carro que todos os dias estava o esperando.
Tudo começou quando uma vez eles tinham parado de gravar mais cedo do que o esperado, e , como sempre, foi para o trailer, não prestando nenhuma atenção à , o que ele fazia ou se ia embora. Todo mundo estava alegre e animado porque conseguiram terminar as três cenas que precisavam gravar naquele dia com menos tempo do que deveriam gastar e, com a ideia que surgiu de , pregaram a primeira peça no set. Em .
Ela saiu do trailer, cabelos lavados para tirar o laquê que tinham aplicado, ela sempre vestia roupas que mais pareciam que ela estava indo para um jantar fino, e caminhava em direção ao seu carro distraída respondendo mensagens no celular.
havia frequentado a escola de teatro e atuado em vários papéis de suporte e coadjuvantes antes de conseguir o protagonismo em Lives Between Us. Para ela, parecia injusto que seu par romântico fosse ninguém mais, ninguém menos do que o cantor famoso , que acreditava que, obviamente, só tinha conseguido o papel porque era a celebridade do momento. Ela esperava que fosse contracenar com alguém no mesmo nível, alguém que também havia estudado teatro, um profissional da área. Alguém que merecia uma chance de reconhecimento, tanto quanto ela.
Em todo lugar se ouvia falar de e da comoção gerada por toda a sua fanbase ansiosa pelo seu terceiro álbum de estúdio, o qual ninguém sabia quando sairia. Parecia uma ótima estratégia que o diretor escolhesse o cantor, que estava atraindo mais atenção para o filme do que se fosse só ela e algum ator menos reconhecido.
Alguém gritou por quando ela estava prestes a abrir a porta do carro e, ao se virar para ver de onde vinha o grito, percebeu alguém da produção acenando por ela da porta de um dos sets. Então, ela caminhou até lá para ver do que se tratava. A surpresa veio quando ela pôs o primeiro pé lá dentro, sentindo algo gelado acertar seu rosto instantaneamente.
- Que porra?? - Ela demandou, sentindo um gosto terrível de sabão na boca.
- Ahá! Te pegamos! - Escutou alguém gritar e um alvoroço de risadas se seguir.
Ela começou a rir e afastou as mãos do rosto, para que não as sujasse. Agora sim aquele lugar estava criando um espírito de set de gravação. Sempre tinha visto a produção pregando pegadinhas nos atores, mas nunca tinha sido o alvo delas, nunca tinha interpretado alguém importante o suficiente para que pensassem em trolá-la.
Alguém colocou uma toalha em suas mãos, a qual usou para limpar parte do rosto, encontrando com um prato de papel nas mãos quando conseguiu abrir os olhos.
- Creme de barbear do meu trailer. - Explicou com um sorriso.
fechou a cara imediatamente, não achava mais tanta graça assim na brincadeira. Ele era a última pessoa que ela esperava encontrar. Ele não tinha, sei lá, uma pap walk com alguma modelo para fazer?
- Eu acabei de tomar banho! - Reclamou, encarando especificamente .
Ele tinha a pele do braço um pouco vermelha onde tinha esfregado para retirar a maquiagem que cobria um pedaço das tatuagens.
não precisava se olhar no espelho para saber que tinha creme de barbear não só em seu rosto, mas também no seu cabelo recém lavado e na camisa nova.
Naquele dia, tinha se convocado para uma guerra que nem sabia ter se alistado.
- Eu já te disse o motivo, se você não concorda o problema é seu. - rebate, casualmente comendo uma peça de salmão.
arqueja, um pouco ofendido pela forma com que ela fala com ele. Ele, definitivamente, não tem o costume de ser tratado daquela forma, ou ter pessoas falando sobre ele assim, não na cara dele, pelo menos.
- Achar que sabe algo sobre mim não um motivo plausível. - Ele rebate, desconfortável e se sentindo injustiçado.
- O mundo não gira ao seu redor, eu não preciso ficar te justificando o porquê não gosto de você. E, por favor, não aja como se você morresse de amores por mim também. - A resposta de é rápida e seu contato visual, cortante.
sustenta o olhar, sua boca entreaberta, como se pronto para rebater uma resposta assim que ela vier à sua mente.
- Eu não deveria ter aceitado vir. - fala por fim. - Sabia que era uma má ideia.
Como se não houvesse momento mais propício, uma música de começa a tocar no ambiente. A princípio, ignora, como se ele pudesse fazer com que todos no restaurante não ouvissem se ele próprio fingisse o suficiente que não tinha percebido.
corta o contato visual e se inclina para trás na cadeira no momento em que passa a reconhecer a voz.
- É você, não é? - A atriz bufa e cruza os braços.
- O quê? - finge não saber do que ela fala.
- É a sua voz! É você tocando agora. - Rebate sem paciência.
- Ah... - murmura sem graça, sem saber o que mais poderia dizer nessa situação.
- Agora todo mundo vai saber que está na casa! - levanta os braços para o alto, embora seu tom de voz se mantenha baixo e calmo.
- Shiu! - pede desesperado. - Não torne isso pior do que já está.
presta certa atenção na música que nunca tinha ouvido. Não que ela já tivesse ouvido várias músicas dele; só aquelas que tocavam irritantemente em todos os lugares, como se ele a perseguisse o tempo todo, especialmente depois que o conhecera; passou a notar suas músicas desde quando ia na safeway comprar sorvete ou na porra do restaurante, como agora!
- De repente vim parar na igreja e não tô sabendo? - Debocha depois de ouvir o coro do refrão.
olha para os lados, conferindo se havia alguém prestando atenção neles.
- É o meu último single. - Responde baixinho. - Faz pouco tempo que lançamos, deve ser por isso que está tocando. - Escolhe os ombros, como se de alguma forma devesse se justificar por algo que não pode controlar.
- “If our friends all pass away... It’s okay”??? - repete com dúvida o verso que tinha acabado de ouvir. - No mínimo é um pouco mórbido para o ambiente familiar desse restaurante, não acha? - Sua voz é cheia de deboche. - Sádico, na verdade. - Completa sarcástica.
- Você definitivamente não entendeu a mensagem. - suspira, sem vontade de se explicar.
- Tá tá. - A atriz balança um dos braços, como se o pedisse para calar a boca. - “And we can treat people with kindness la-la-la-dada-da” - Harmoniza no ritmo da música a letra que ela não sabia. - Viu? Entendi sim. - Solta o ar pelo nariz, franzindo-o como se estivesse enjoada.
fica a encarando por alguns segundos. Ela sustenta seu olhar, de cabeça erguida.
- Uau. Até que você é afinada, . - Ele fala por fim, tentando provocá-la ao falar com falsa indiferença.
Mas ele realmente gosta do que ouve. Só não dará o braço a torcer assim tão fácil.
- Bom, essa é uma das muitas coisas que se aprende quando se estuda atuação profissionalmente, não é mesmo? - alfineta.
Quando não tem uma resposta por parte de , que apenas sorri, ela completa:
- Porque eles não me escolheram para o papel de Daphne apenas pelo meu rostinho bonito e minha boa aparência. - Pisca em falsa delicadeza.
- Sério? - finge surpresa. - Eu jurava que era pelo seu rosto bonito. - Sua resposta é como uma flecha certeira perfurando o coração da atriz.
- Você está dizendo que eu não sou boa o bastante para o papel? - A voz de sai um pouco mais aguda enquanto ela sente a ofensa a atravessar.
- O que eu estou dizendo depende da interpretação. - contesta enigmático e estreita os olhos, pensando.
- Então está dizendo que me acha bonita? - Pisca lentamente.
- Você está flertando comigo? - rebate arqueando uma sobrancelha.
arregala os olhos e abaixa a cabeça, sendo completamente pega de surpresa pela resposta de . Aos poucos se recompõe e pensa numa resposta à altura.
- Eu comeria esse peixe vivo primeiro. - Desafia.
gargalhava breve, mas relativamente alto.
- Até que você é engraçada. - Elogia e, então, muda de assunto. - Por falar em peixe, ah, eu não aguento comer mais nada. - Coloca a mão na barriga e deixa-se deslizar levemente pelo assento.
faz uma careta. Excelentes modos para a celebridade pop do momento.
- Eu também estou satisfeita. - Deposita o hashi na mesa.
Ambos olham ao redor na esperança de fazer contato visual com algum garçom. A mesma pessoa que os atendeu durante todo o jantar se aproxima.
- Você pode trazer a conta, por favor? - pede.
- E um chá verde. Gelado. - diz antes que o garçom se afaste.
- Dois. - O cantor desvia o olhar do garçom e o reajusta em .
A atriz tamborila os dedos na mesa enquanto espera seu chá, olha ao redor, embora sinta o olhar de cravado nela, deixando-a constrangida.
O chá chega junto com a conta.
- Quanto deu? - estica o pescoço para ver a conta dentro do porta-contas.
- Não se preocupe com isso. - diz com desdém e coloca dentro do porta-contas um cartão black que havia acabado de tirar da carteira. - Eu não quero que você fique falida. - Brinca.
gargalha ironicamente e reprime a vontade de tomar a conta de sua mão, com o cartão e tudo.
- Você é mesmo arrogante, não é?
- Penso o mesmo de você. - sorri inocente. - Ugh! - Exclama em seguida, enojado ao ver que ela acrescentava leite em seu chá. - O que você está fazendo?
- Matcha latte. - A atriz responde com tom de obviedade. - Você é britânico!
- E?
- Não é, sei lá, protocolo tomar chá com leite na Inglaterra?
- Eu não sou o maior fã de leite no chá. - faz outra careta quando usa uma colher para misturar a bebida e a prova em seguida.
- Isso é bem não-britânico. Falta um pouco de açúcar. - Ela diz, ignorando-o.
arregala os olhos, queixo caído e tudo ao acompanhar a quantidade de açúcar que ela deposita no copo.
- Você vai ficar com diabetes assim, mulher! - bebe do seu próprio chá que tem gosto de mato e água e está refrescante pelo gelo. É exatamente assim que ele gosta.
quase pula da cadeira quando outra de suas músicas começa a tocar.
- Pelo amor de Deus! - exclama aborrecida. - Eles não têm uma outra playlist, não?
- Eu acho que agora chegou ao conhecimento do responsável pelo restaurante que estou aqui. - sorri amarelo, querendo se desculpar pelo constrangimento causado.
O afamado verso parecia um looping nos ouvidos de : Watermelon sugar high, watermelon sugar high. É só o que ela sabe de cor.
- Nossa, mas você não tem uma música que não seja obscura ou obscena? - balança a cabeça em desaprovação. - Bem que você poderia escrever alguma mais adequada para um restaurante, não acha?
sabe que só está agindo... bem, como . Mas ainda assim é muito difícil não levar sua grosseira para o lado pessoal ou, nesse caso, profissional. Não gostar dele sem nem o conhecer é uma coisa, mas ela precisa mesmo criticar todas as suas músicas também? Ele ganhou um Grammy por essa merda, tenha mais respeito!
Ele quer cobrir o rosto e suspirar, mas não pode deixar que ela perceba que seus comentários o afetam.
- Não é que é uma boa ideia? - Ele concorda levemente irônico. - Uma música para um restaurante de sushi... - Harry esfrega o braço esquerdo, como ele fazia sempre que precisava tirar toda a maquiagem pós gravacão.
E não é que não é uma má ideia mesmo?
sorri de lado e, antes de se levantar, promete:
- Eu vou escrever uma música que você vai gostar.
Como um verdadeiro Britânico, chega adiantado em trinta minutos no dia seguinte.
Uma grande parte da atuação é constituída pela espera, especialmente para , que tem que esperar cerca de duas horas todos os dias para que cubram todas as suas tatuagens com maquiagem.
Por aqueles trinta minutos em que espera a equipe de maquiagem/cabelo chegar, caminha pelo set, entrega café e conversa com a equipe técnica e de produção. Ele gosta de tomar esse tempo para conhecer um pouco melhor todas as pessoas que trabalham ali por trás da ação e que fazem com que tudo seja possível, e ele faz isso perguntando um monte de coisas aleatórias para qualquer um que esteja disposto a parar e o responder.
Dessa forma, sequer vê o tempo passar e volta para o trailer somente quando alguém o avisa que já estão prontos para trabalharem nele.
Anisha, a cabeleireira, é uma mulher simpática que tem mais ou menos a mesma idade de . Hoje ela usa um Hijab lilás que adorna com os tons de roxo da sua roupa, ela tem grandes olhos castanhos e um sorriso alegre e divertido. É sempre ela quem começa com , lavando seus cabelos e colocando tantos produtos e sprays que desistiu de saber depois de perder a conta por vários dias seguidos.
teve que deixar seu cabelo crescer até mais ou menos o meio do pescoço para interpretar Apollo. No começo das filmagens, Anisha havia feito um corte que seguia a descrição do personagem no livro: A frente levemente mais curta, com mechas na altura da bochecha como se fossem uma cortina aberta. As pontas, eles optaram por deixar um pouco como os cachos naturais de , arrumando-os para que o cabelo todo parecesse que fosse constantemente penteado apenas com os dedos.
Grande parte do estilo geral do personagem é do agrado de , como, por exemplo, as calças de alfaiataria e os blazers. Mas a infinita coleção de gola alta é algo que não consegue suportar. não acredita que ele fique bom de gola alta com cabelo grande, mas, aparentemente, Apollo acha que essa é uma ótima combinação, e adora brincar na borda entre o sério e o jovial, e precisa colaborar.
Os melhores dias do guarda-roupa do personagem são, na opinião de , quando ele pode usar apenas uma camisa de botões debaixo de um suéter de tricô, ou a jaqueta de couro de quando Apollo leva Daphne para um passeio de moto.
precisa se barbear dia sim, dia não, porque Apollo não vê problemas em ter cabelos grandes, no entanto, precisa de golas altas e um rosto limpo para transmitir maior credibilidade para um professor acadêmico. Ele acredita que tudo é uma questão de equilíbrio.
Enquanto Anisha deixa presilhas por toda a sua cabeça, Yumi, a maquiadora, começa a cobrir seu antebraço; hoje é um dos dias em que ele estará usando somente uma camisa de botões com as mangas dobradas até os cotovelos para uma das cenas.
Yumi é uma mulher transexual no começo da casa dos 20 anos. Descendente de Japoneses, já a conhecia de uma das muitas viagens em que fez ao Japão nos últimos anos. Seus cabelos batem nos ombros e estão pintados de rosa como algodão doce; obra prima de Anisha.
Os três conversam enquanto não precisa ficar calado para a maquiagem em seu rosto. Ele faz questão de perguntar sobre tudo da vida delas assim como faz com o restante da equipe, pergunta o que ambas fizeram no dia anterior e o que farão com o resto de sábado que terão após as gravações, ele se interessa por seus hobbies e planos de curtir a cidade.
O trailer de está cheio de todas as coisas que ele costuma levar consigo em turnê: um sofá amarelo, almofadas da Gucci, um baú aberto que transborda um moletom lilás usado e um par de tênis de corrida ao lado no chão, várias garrafas de água largadas pela metade na mesinha de centro, um relógio digital de parede, um quadro do Elvis Presley, um buquê de flores num vaso com água ao lado de um umidificador de ar na bancada, mais garrafas de água, copos descartáveis de café, um livro, toalhas de papel, fones de ouvido, uma vela aromática, uma arara com as roupas de Apollo para a gravação do dia, uma luminária de piso, uma lixeira, um violão (embora traria um piano se pudesse) e um tapete que cobre grande parte do chão.
Não é casa, mas visualmente é o mais próximo que ele pode chegar.
estranha nenhuma das mulheres terem se ausentado para começar a preparar . Ele passa a prestar atenção na conversa particular delas.
- Eu não sei. - Yumi diz, depositando mais base sobre as tatuagens de , agora quase totalmente apagadas. - Mas no trailer ela não está.
Ele olha no seu relógio de parede. Então está atrasada?!
- Talvez ela tenha chegado e só não está no trailer. - Anisha sugere.
Yumi também estava atrasada na maquiagem de , geralmente ela tinha uma equipe que a ajudava a cobrir suas tatuagens, mas por algum motivo ela estava sozinha hoje.
- Eu avisei que a mandassem direto para cá assim que alguém a achar. Eu vou precisar maquiá-la simultaneamente com , senão ficaremos muito atrás do horário.
Tirando cobrir suas tatuagens, o restante da maquiagem de era simples; um pouco de corretivo nas olheiras e bastante pó para segurar a oleosidade da pele.
A partir daquele momento, não consegue desligar da mente o barulho inexistente do tic tac do relógio, ele se vê ansioso, preocupado com o que possivelmente poderia ter acontecido para a colega não ter chegado ainda.
- O que acontece se ela não chegar?
É uma pergunta estúpida, sabe disso, eles teriam que cancelar as gravações. sequer tem cenas sozinho para hoje. , inclusive, estaria gravando mais tempo do que , pois tinha uma cena sozinha.
- Ela não tem essa opção. - Anisha diz.
Yumi provavelmente sente a tensão de enquanto manipula seu braço.
- Não se preocupe, querido. Ela vai chegar.
não consegue pensar num bom motivo para o atraso de , exceto sua arrogância de garota mimada, pois, assim como , ela sabe muito bem que nada pode ser gravado sem ela.
Eles estavam gravando o script fora da ordem, em Vancouver eles gravariam quase todo o filme, exceto algumas cenas mais românticas e o começo, que será gravado em Berkeley, na Califórnia, que é onde terá mais cenas sozinho.
Toda a premissa do filme gira em torno da aposta que Daphne faz com a melhor amiga. Apollo e Daphne cresceram juntos, frequentaram as mesmas escolas e participaram dos mesmos clubes quando havia música envolvida. Daphne foi o primeiro amor de Apollo, no entanto, conforme entram na adolescência, Daphne descobre ter TDAH quando passa a ficar muito atrás da turma, em contraposto a Apollo, que é um dos melhores. Isso o leva a implicar com Daphne, praticando bullying na frente de seus novos amigos. Enquanto Apollo cresce privilegiado, com os melhores cursos de seu interesse sendo bancados pelos pais e se muda para fazer faculdade de música na melhor universidade do país, Daphne precisa aprender tudo sozinha, enquanto se esforça para conseguir uma vaga na universidade pública mais próxima de casa.
Apesar de tudo, eles terminam se reencontrando quando adultos na Universidade de Berkeley, onde Apollo dá aulas e trabalha na sua tese de pós-doutorado, Daphne acabou de conseguir uma vaga de doutorado juntamente com a de assistente de um outro professor de música, mas terá que conviver muito próximo de Apollo mais uma vez.
Apollo se lembra de Daphne assim que a vê e seu jeito amigável é quase uma ofensa para ela, que ainda não superou todas as lágrimas que ele a fizera derramar. O problema é que Apollo nem se lembra do breve período em que tratou tão mal seu primeiro amor. Ele cresceu para se tornar um homem gentil e refinado, e não mede esforços para se aproximar de Daphne mais uma vez.
Daphne, porém, está determinada a se vingar, só não sabe como. Até que em um desabafo com a amiga, ela se vê apostando que fará Apollo se apaixonar por ela para então, jogar tudo em sua cara quando o largar depois.
se permite refletir e perceber as muitas semelhas entre Daphne e naquele exato momento. Ela é mais perfeita para o papel do que ele jamais havia reparado. tem certeza de que as cenas em que Daphne rejeita Apollo incontáveis vezes antes da aposta serão as cenas que não terá que atuar de modo algum.
Alguém puxa a porta do trailer de com força e rompe através dela.
- Desculpa, desculpa o atraso. - Ela diz exasperada, deixando todos um pouco alarmados pela entrada abrupta.
Anisha olha seu relógio de pulso e aponta com os olhos para se sentar na cadeira ao lado de , ela obedece sem hesitar.
- Onde diabos você estava? - demanda com o maxilar trancado para manter o tom de voz baixo e vira o pescoço em sua direção, mas Yumi endireita sua cabeça antes que ele possa ter uma resposta da colega.
- Ele precisa ficar aqui? - pergunta para as mulheres em tom de aborrecimento.
- Ei, o trailer é meu! - protesta.
- É mesmo, onde você estava? - Anisha a olha pelo espelho. - Uh, preciso buscar algumas coisas no seu trailer. Yumi, você pode me ajudar?
- Não era mais fácil se eu fosse para lá? - implora.
- Não. - Yumi quem responde. - Para nosso azar, ou sua sorte, eu estou cobrindo as tatuagens de sozinha hoje e está demorando mais do que planejei. Estávamos torcendo para você chegar antes que ele ficasse pronto ou teríamos um problema.
- Desculpe. - diz entristecida.
- Quando voltarmos do seu trailer com suas coisas eu vou te maquiar.
mal tem tempo de balançar a cabeça antes das mulheres saírem, a deixando sozinha com .
- Eu sei que você está acostumada a fazer as coisas quando você quer, mas estamos gravando um filme, isso é sério! Você não pode chegar a hora que quiser! - dobra a cabeça completamente para a olhar dessa vez.
Um assistente de produção aparece com um café para ; ela não gosta de usar os copos descartáveis que todo mundo usa, pois quer evitar o acúmulo de lixo desnecessário, seu café é sempre servido em um jogo de canecas que ela havia trazido de ‘casa’, ou melhor, comprado no aeroporto quando pousaram em Vancouver.
analisa a expressão desgostosa de , ela está com os olhos levemente vermelhos e inchados. Seus cabelos, que estavam presos em um rabo de cavalo alto quando ela entrou, agora caem bagunçados pelos seus ombros, um pouco espetados nos lados, como se ela tivesse dormido demais e corrido para chegar até lá.
Ele havia começado a reparar pequenos hábitos em , como ela nunca segura a caneca de café pela alça, cobrindo-a com as duas mãos como se fosse um copo. Completamente irritante. Qual problema ela tem com a alça da caneca? pensa no primeiro dia no set, quando ele levara café do Starbucks para todo mundo, inclusive para ela, que só o olhou feio ao negar. Ela fizera a interação entre eles impossível desde o primeiro dia ali.
jamais imaginaria que seria essa garota desagradável quando o diretor perguntara sua opinião sobre ela logo após o teste de química entre eles. Apesar de tudo, ele não se arrepende de todos os elogios que teceu; como atriz, tem que admitir que ela é surpreendente. Ele já havia atuado em alguns filmes, e, até o teste de química com , ele nunca tinha se sentido como se tivesse desenrolado uma cena tão naturalmente. Agora no set, ela faz com que as cenas fluam e, antes que ele possa notar, todas as suas falas são ditas como se ele contasse a verdade.
- Sério, onde você estava que se atrasou tanto?
não pode acreditar na audácia desse convencido. Ela se explicaria para todo mundo depois. Mas mesmo que e ela contracenem juntos, eles não são amigos e ela não deve nada para ele e o que ela faz ou deixa de fazer não é da sua conta. Ele acha o quê? Que basta pagar um jantar e agora ela precisa se reportar a ele eternamente?
Antes que pudesse cuspir tudo isso nele, pausa e pensa melhor na situação, que já não está a favor dela. Ter que assistir a eutanásia daquele cãozinho na ONG havia drenado toda a sua força e ela sabe que se começar a brigar com acabará chorando de novo.
- Eu fui correr no quarteirão do hotel. Acabei me afastando muito e perdi a noção do tempo. - Oferece um sorriso amarelo.
repara as roupas de : um conjunto de moletom que esconde completamente seu corpo. É o mais desarrumado que já viu a atriz se vestir.
- Você ficou perdida? - sugere desconfiado.
- Talvez. - encolhe os ombros, como se não quisesse admitir.
Clássico comportamento de uma patricinha mimada. Manter sua aparência física é mais importante do que chegar no horário no próprio trabalho! não sabe como pôde esperar que ela fosse melhor que isso.
- E ontem você ainda queria ir sozinha para o hotel. - Bufa para esconder o real motivo da sua irritabilidade. - De noite!
já havia filmado várias vezes em Vancouver, ela poderia andar pelas ruas de olhos fechados que não se perderia.
- Você nunca cala a boca? - Ela reclama. - E você, senhor pontual, chegou aqui que horas?
- Oito e meia.
- Cala a boca. - Diz em descrença.
- É verdade. Você deveria começar a seguir meu exemplo.
- Acha que eu queria ficar perdida? - entra no personagem da história que havia criado e percebe a expressão de se suavizar.
- Não. - Ele nega com a cabeça, calmo. - Ninguém gostaria que você ficasse perdida. - Os olhos de travados no rosto de , ele mal respira. - Me desculpe.
- Je te pardonne. - diz em um francês perfeito e um sorriso condescendente.
- Exibida. - sorri junto.
Ela pula da cadeira meio segundo depois.
- Pelo estilo rockstar, acredito que Grace ainda não veio te vestir?
abaixa o olhar para si mesmo. A camisa de botões da Bode em que chegou está jogada na penteadeira e ele veste apenas uma calça de linho bege.
- Não. - confirma. - Yumi está terminando de cobrir minhas tatuagens.
- Você sabe o que veste para a primeira cena?
- A camisa branca de botões e alguma calça. - rebate.
não o responde, mas sai correndo do trailer, deixando estupefato.
Ela volta menos de um minuto depois, usando um dos braços como cabide para segurar as roupas que traz consigo.
- Yumi e Anisha não estão no meu trailer. - Ela diz e fecha a porta do trailer de .
- Devem ter ido contar do seu atraso para o diretor, vai ver eles te demitem e colocam mais do que um rostinho bonito no seu lugar. - diz sussurrando, como se contasse um segredo.
- Você é um ridículo, sabia disso? - joga o seu mais mortífero olhar e então, puxa sua blusa de moletom por cima do pescoço.
- O que você está fazendo? - diz alarmado, mas tentando esconder.
- Baseado nas suas roupas, eu acredito que vou vestir esse vestido e esse salto - responde enquanto tira as calças. - Apollo leva Daphne para o concerto filarmônico.
olha para o outro lado. Ele já tinha visto nua várias vezes àquele ponto, mas nunca tinha ficado sozinho com ela em um lugar trancado enquanto ela só vestia calcinha e sutiã.
- Você tem certeza de que Apollo iria para um concerto de música clássica sem uma gola alta? - Parte de fazia piada e a outra parte só queria ignorar o que acontecia à sua frente.
- Não. Mas Grace coloca minhas roupas na arara por ordem de cena e essa era a primeira. - revira os olhos. - E Daphne jamais usaria salto se ela não fosse ver Apollo. - Ela acerta a postura e encolhe os ombros.
- Como você sabe? A Daphne odeia o Apollo, por que ela faria algo por causa dele? - E emenda. - Você quer que eu saia para que você troque de roupa?
- Você sempre foi assim tão tapado? - Ela ignora a última pergunta. - É óbvio que a Daphne vai acabar se apaixonando pelo Apollo.
- Eu sei. Eu li os livros.
franze a testa, mais surpresa do que gostaria.
- Mas nessa altura do enredo ela ainda acha que está motivada pela vingança. - completa e revira os olhos.
- Você pode olhar, sabe? Não é como se você não me visse pelada todos os dias.
- Não por opção. - rebate rápido, ainda sem a olhar.
já está completamente vestida e enfia os pés no par de scarpins simples de cor bege.
- Além do mais, o trailer é seu.
- Mas não é certo que eu fique te olhando trocar de roupa, não estamos atuando agora.
- Olha só! - exclama e sente alguma ironia clássica de vindo. - Não é que ele não é pervertido, afinal? Ou isso tudo também é um ato? - Insinua. - Oh, , é porque eu te respeito muito. - Ela diz com um sotaque britânico, embora sua voz não se pareça nem um pouco com a de . - Não é assim que vocês falam quando querem levar alguém para a cama?
Ele esquece que ela está trocando de roupa e se vira para a encarar, mantendo seu olhar fixo em seu rosto mesmo depois de perceber que ela não está mais sem roupas.
- Eu não preciso fingir respeitar alguém para isso.
tenta manter o tom de voz calmo e também se levanta para separar as roupas que vestirá assim que Yumi terminar de o arrumar.
- Ah, é! Que boba eu sou! - Ela balança uma das mãos no ar e força uma risadinha. - Me esqueci que você é .
- O que você quer dizer com isso? Eu não uso minha identidade para conseguir fazer sexo. - Eles estão um de frente para o outro agora, apenas o baú aberto de entre eles.
- , que arrasta legiões de adolescentes excitadas. - diz caricata, como se falasse um anúncio de shampoo na TV. - Diz que a identidade dele não tem nada a ver com suas conquistas.
- Então esse é o problema?
estava começando a perceber que o problema talvez fosse . E o fato de ela acreditar que ele não merecia estar ali tanto quanto ela.
- Deixar pessoas excitadas? Nah, eu acho ser uma solução. - O sarcasmo de é afiado e ela mal pisca enquanto encara absorver suas palavras.
- E você inclusa, não é mesmo? - anda para frente e pisa num dos pares de seu tênis, ainda assim seus olhos não deixam o rosto de .
- Nunca disse que não. - sorri de lado e seu olhar se desvia por um segundo para a boca de . - Até que você é atraente, sabe? Dá pro gasto. - E encolhe os ombros.
sorri também, segurando sua resposta por alguns segundos enquanto pensa em dar outro passo, mas sabe que o seu baú de roupas pode estar mais próximo do que ele imagina.
- Quem sabe nos seus sonhos.
Ele hesita entre dar as costas em uma saída triunfante ou continuar sustentando o magnetismo entre eles.
- HÁ! - solta apenas uma gargalhada, percebendo que aquela batalha tinha sido perdida e não precisa decidir o que fazer em seguida. - Essa foi boa. - Ela aponta um dedo. - Estou orgulhosa.
Ela quebra o contato visual entre eles e volta a se sentar onde estava, deixando atônito ainda olhando para o lugar vazio onde antes a encontrava. Aquilo não tinha tomado o rumo que ele esperava; ele estava certo de que aquela discussão deixaria irritada, mas em vez disso, ela tinha gostado das suas respostas? Respostas que ele jamais daria para qualquer outra pessoa se a circunstância fosse a mesma. Alguma coisa na personalidade de o fazia se esquecer de toda a sua natureza polida e, em vez de ignorá-la como faria, seu corpo urge em rebater à altura.
Isso tudo, as discussões, as grosserias são apenas um jogo para ela? Um dia ela decide se irritar e no outro se diverte? é imprevisível e está aí outro aspecto que adicionaria na lista de coisas que não gosta sobre ela.
- É que ele tão... argh!
não consegue explicar o quanto o esnobismo de a irrita. Porque ninguém além dela parece enxergar a verdade.
- Convencido! - Ela abre os braços numa expressão exagerada
- Convencido? - Jessica sussurra de volta, confusa.
É o horário de almoço, espeta a alface da sua salada como se tentasse cometer um homicídio através de múltiplas facadas.
Jessica, uma das atrizes coadjuvantes do filme senta com ela, sendo muito menos agressiva com a própria comida.
- Eu acho que ele é até um cara legal, considerando...
- Considerando o quê? - bufa.
- A fama. Ele tinha tudo para ser o cara mais escroto do mundo.
- Mas ele é!!
- Desculpa, estamos falando da mesma pessoa? - Jess brinca.
A atriz já está acostumada com essa rotina, sempre que está sozinha com , ela sabe que o único assunto possível é e o quanto ele é repugnante.
- A gente ficou a manhã toda gravando duas cenas. - bufa. - Tivemos que fazer quatro tomadas na cena do táxi. Toda vez que o Paul gritava ‘corta’, perguntava “isso foi ok?” - o imita em uma voz nasalada. - Era como se ele estivesse esperando por aplausos! Não estamos na porra de um show! Ele queria um tapinha no ombro e ouvir um "bom garoto", como se ele tivesse 5 anos?
- Vai ver ele só queria ter certeza que fez tudo certo! - Jessica encolhe os ombros.
- Ah, ele queria muito! - concorda sarcástica. - Todas as vezes que tivemos que repetir o beijo, ele não parava de falar! “Aí, o que acha se eu colocar a mão na sua perna em vez da sua cintura? Ficaria mais natural pela posição que estamos sentados no carro. Me avisa se eu segurar o seu rosto com muita força.” Pelo amor de Deus!! Tivemos uma semana de ensaios! - Ela exclama exasperada. - Se eu tivesse que ouvir ele me perguntando mais uma vez se tudo bem tocar nos meus cabelos, eu os cortaria e usaria as mechas para o enforcar!
A última fala de não arranca nenhuma outra reação em Jessica se não uma risada alta.
- Imagina que tortura ter que ficar se pegando no banco de trás do carro com ele quatro vezes seguidas?
- Ah, sim. Uma tortura se pegar com . - Jess diz em um tom sugestivo.
- Sabe o que eu acho? - pergunta, ignorando-a. - Que ele não faz ideia do que está fazendo! E por isso precisa ficar confirmando tudo! Um bom ator é movido pela cena e age sem esperar por direcionamento.
- Um bom ator também sabe receber direcionamento.
- Claro, claro! - volta atrás, concordando. - Mas não estamos no Ensino Médio, ele não precisa me fazer gostar do beijo, só precisa fazer parecer que sim.
- E a outra cena? - Jessica pergunta com um sorriso de quem acha graça na situação toda.
- No cenário do salão de teatro. Só tivemos que fazer umas tomadas como se estivéssemos assistindo ao concerto e fazer comentários pontuais. Era para ser uma cena rápida, mas isso seria impossível com ele, Paul queria que sussurrássemos um para o outro e parecia que ele falava mais baixo ainda de propósito para eu precisar quase enfiar meu ouvido dentro da boca dele! Eu sei que ele faz essas coisas para me irritar. Paul teve que parar duas vezes para me pedir para chegar mais perto. Pra quê? Eu não precisava ouvir, sei as minhas falas e as dele de cor!
- O que Paul disse?
- Ele disse que queria que parecesse que Daphne ansiava por essa proximidade entre eles e por isso chegava mais perto do que o necessário. Unpff! Como se ela não odiasse a cara do Apollo mais do que eu odeio do .
- Mas ela precisa fingir que não.
- Ela cometeu um deslize?! - sugere, como se a reclamação fosse chegar até Paul e fazer alguma diferença na cena que já estava finalizada.
- Você precisa para de implicar tanto com o garoto.
solta uma risada descrente e vira a cabeça, esquadrinhando o local até que seus olhos travam em .
- Como se ele não me odiasse tanto quanto eu o odeio. - Volta a encarar a amiga ao falar.
Jess encolhe os ombros e decide não responder nada.
- Ah, qual é? Vocês dois estão sempre de papo e risadinhas entre as cenas que gravam juntos, vai dizer que ele nunca reclamou nada sobre mim?
- Hummm. - Jessica olha para cima enquanto pensa. - Não.
- Não? - repete, confusa e surpresa. - Nem um comentariozinho disfarçado de brincadeira?
- Não. - Jess repete. - Ele nunca nem tocou no seu nome comigo.
Antes que possa responder, seu celular começa a vibrar sobre a mesa. Ela se levanta ao mesmo tempo em que gesticula para Jessica.
- É o Dave.
E, sem precisar de mais explicações, Jess acena, ela sabe que não precisa ouvir de que a conversa ainda não terminara.
- Por favor, me diz que eu não acabei de interromper uma cena.
tem um sorriso tão largo que facilmente poderia se transformar numa risada. Ela caminha depressa passando entre as mesas espalhadas no refeitório improvisado.
- Oi, amor!
Nesse mesmo momento, passa pela mesa onde está sentado. Seu sorriso se desmancha quando eles fazem contato visual.
- Eu imaginei que você ainda estaria no almoço, mas eu me sentiria horrível se você já estivesse gravando de novo e você levasse bronca por minha causa.
- Não, eu ainda estou almoçando. - Ela diz e finalmente sai de seu campo de visão. - E você sabe que qualquer bronca valeria a pena só para falar com você.
- Como estão as coisas em Vancouver?
- Chatas sem você.
- Eu também sinto sua falta, amor. Não vejo a hora de voltarmos para os Estados Unidos e dormir todas as noites juntinhos.
David, namorado de , também é ator e está em Londres gravando a sequência de um filme estrelado por ele.
- E você? Não deveria estar gravando também?
- A próxima cena à noite é só amanhã. Hoje fizemos aquelas chamadas para as redes sociais da Netflix, então terminamos cedo.
- Aí! É verdade! Me desculpe, eu esqueci disso.
- Imagina, amor. Como se você não tivesse seus próprios horários para se preocupar.
- É que tem tanta coisa acontecendo. - inconscientemente coloca a mão na testa, enquanto diminui a velocidade de seus passos.
- Ei, está tudo bem? - David pergunta ao notar o suspiro da namorada.
- Você sabe que esse é o meu sonho, não sabe?
agora para de andar de vez, seu trailer à vista a alguns metros de distância.
- Claro que sei, doçura. Tem algo que não está indo bem?
- É só que... - Suspira. - ...eu esperei tanto por esse papel! E eu acho que agora é a minha vez, sabe? Chegou a minha hora... E ele está estragando tudo.
- Uhhh. - David murmura do outro lado da linha, sem saber bem o que responder.
- Parece que ele faz de propósito, Dave!
deixa seu corpo pender na parede do trailer mais próximo. Ela olha para seus pés que calçam uma pantufa simples e branca que ela trouxe do hotel. Ela sequer havia usado o salto alto ainda, já que as cenas gravadas até então foram sentados com close de meio-corpo.
- Parece que isso tudo aqui não passa de um passatempo para ele. Um hobby. “Eu sou um cantor multimilionário saindo de uma pandemia que parou meus shows por mais de um ano e meio, estou entediado, vou atuar nesse filme aqui para passar o tempo”. - finaliza com um tom escarnecedor. - É essa a vibe que ele passa.
- Eu sinto muito, . Isso é uma merda.
- Eu sei! E você precisa ver como ele me tratou porque cheguei atrasada. Como se ele soubesse porra alguma sobre a minha vida!
- Falando sobre isso, você está bem?
- Aí, Dave, foi horrível! Mas quando a organizadora me pediu para ficar, eu não consegui dizer não.
- Eu não consigo imaginar a força que as pessoas que fazem isso todos os dias têm!
- Sim! - concorda.
Eles ficam em silêncio por alguns segundos, não era um silêncio desconfortável, ela poderia ficar ao lado de Dave sem dizer nada por horas; na verdade, eles costumavam passar horas do dia juntos um ao lado do outro cada um estudando seu próprio script e, embora um sempre ajudasse o outro, a maior parte do tempo eles passavam em silêncio.
- Eu não sei como vou sobreviver pelo resto do dia. - fala ao supor que o tempo em silêncio foi o bastante para que ela mudasse o assunto. - Vamos gravar aquela cena que você me ajudou a ensaiar em que Apollo e Daphne saem do teatro, tomam drinks em um bar e terminam a noite transando na banheira. - faz uma careta.
- Você vai se sair excelente nessa cena, sabe todas as suas falas sem hesitar e fiquei impressionado em como você consegue fingir gradualmente ficar bêbada.
- Sem beber uma gota de álcool. - ri.
- E, bem, pelo resto da cena, eu não tenho dúvidas de que você tem um talento nato. - David completa com um tom sugestivo.
- Eca. Nojento. - ria mais ainda. - Eu não sei como Daphne consegue fazer sexo com Apollo mesmo o odiando.
- Você não gosta desse cara e mesmo assim o beija praticamente todos os dias. - Provoca.
- Há-há! Como se eu fosse beijar se eu tivesse outra escolha! Eu estudei para fingir em contextos como esse, é diferente de Daphne que tem uma mágoa profunda e antiga por Apollo e o engana friamente. Se eu passasse por uma situação como essa na minha vida pessoal, eu manteria distância; até porque eu mal consigo disfarçar minha cara toda vez que vejo . Me dá ânsia de vômito só de pensar em transar de verdade com ele.
- E aposto que não disfarça suas palavras também. - Dave, conhecendo a namorada, sabe que ela não esconde nenhum tipo de descontentamento.
Ambos riem do comentário de Dave. sente um aperto pequeno no peito, pensando em como era ruim estar tão distante dele.
- ?
A pessoa que a chama é aquela que não precisa ver para reconhecer, mas mesmo assim ela se vira com o susto, encontrando os olhos verdes como vidro que a escaneiam e fazem par com um sorriso indiferente e pretensioso.
se sente envergonhada e desvia o olhar. Ela não sabe quanto da conversa ouviu e definitivamente não se importa em deixar mais do que claro o quanto o despreza, mas aquele é um momento privado com seu namorado, do qual ela certamente não quer compartilhar com o cantor.
Todos os pensamentos passam como flash dentro de , quando ela o encara novamente, observa-o jogar os cabelos propositalmente desgrenhados para cima. Ele era tão cheio de si que ela não precisava estar a menos de dois metros de distância dele para querer vomitar.
- O que é, ?
não tira o aparelho do ouvido. Dave, entendendo imediatamente o que está acontecendo, fica completamente mudo do outro lado da linha, ele consegue sentir a densidade da tensão na frieza das palavras da namorada.
- Desculpa te interromper, mas Paul me pediu para te chamar, vamos começar em dez minutos.
E, sem esperar uma resposta, ele se afasta.
- Além de tudo ainda não tem educação. - murmura com um revirar de olhos.
- Ele se desculpou por interromper.
- De que lado você está, David?
- Do seu, doçura. Do seu. - Ele solta uma risada misturada com falso pânico.
- Eu vou desligar. Ainda preciso pegar meus saltos no trailer. Estou calçando aquelas pantufas de hotel que você odeia.
- Eca. - Dave reage espontaneamente. - Depois eu que sou nojento.
- Não. é.
- E você, cruel.
- Sério. De que lado você está? - Dave solta uma risada. - Quer parar de o defender?
- Eu gosto do cara. As músicas dele são legais.
- Ah, que gracinha, Dave. Ele vai adorar saber que tem uma nova groupie. Você quer que eu peça um autógrafo para você?
- Bem, eu não me importaria se fosse te buscar no set algum dia e você nos apresentasse.
- Dave, eu juro por Deus...
- Estou brincando, estrou brincado! - Grita rindo. - Boa gravação. Te amo.
- Te amo. Falo com você depois.
sai de seu trailer batendo os saltos no chão como se não soubesse caminhar neles. Ela mal tem tempo de fechar os olhos quando se senta na sua cadeira no set antes de Yumi esfregar um pincel em seu rosto. Ela tosse com o cheiro floral do pó.
- Obrigada, Yumi. Você é uma delicadeza.
- Desculpe. - Yumi ri. - Estamos com pressa. Paul está começando a ficar impaciente.
- Com o quê? A pessoa que ele deveria ficar estressado é na verdade a estrela dele. Impecável. Intocável. Incorrupto.
- está indo bem hoje.
- Eu sei. - admite desgostosa. - Aparentemente as mesas viraram, não é? Todas as tomadas repetidas foram por minha culpa.
- Então agora vá lá e arrasa! Eu sei que você consegue.
troca ideias com Paul quando avista caminhando em sua direção, ele a olha com desdém e desvia o olhar meio segundo depois.
Ele estava de saco cheio da co-star. De vez. É sério. Ela poderia enfiar sua arrogância num lugar não muito gentil.
O cantor tinha preparado uma pegadinha para aquela cena, ele tem ideia de que não espera pelo troco assim tão cedo. Alison, outra atriz no filme, havia sugerido a ideia.
- Teve essa vez em que eu tinha uma cena íntima e eu comi peixe no almoço. - Ali havia contado na semana anterior. - O ator quase vomitou em mim, ele sabia que era de propósito e fez uma cena de brincadeira, o que, claro, deixou todos rindo por uns bons vinte minutos. - Ela ria ao relembrar a história. - É claro que depois eu usei um enxaguante bucal e continuamos.
sempre come peixe no almoço, mas ele escova os dentes e masca chiclete depois. Então ele havia pedido uma entrega rápida pela Amazon de um sabor inusitado de chiclete. Ele sabia que o mínimo já seria capaz de tirar do sério.
Mas agora ele havia desistido. Se ela sentia ânsia só de chegar perto dele, ele não precisaria mais se esforçar para desagradá-la. Bastava apenas ser ele mesmo.
O que ele faz em seguida é o bastante para deixar sem reação.
- Nossa, , eu não tinha reparado em como você é alta. - diz a primeira coisa que vem na sua cabeça e passa um dos braços em volta do ombro dela.
Essa é a primeira vez que eles se tocam fora de seus personagens, com exceção, talvez, de quando eles se cumprimentaram ao se conhecer. se permite sentir prazer ao observar a cara de choque de se transformar em uma careta.
tem certeza que Paul não sabe da rixa estúpida entre seus dois atores preciosos, então ela se esforça para disfarçar.
- Eu tenho 1,73. E não tenho culpa se você é baixo. - Ela empina o nariz e solta uma risada.
A depender do ângulo em que e estivessem lado a lado, ela poderia parecer alguns – poucos – centímetros mais alta do que ele. O que certamente atrapalharia na câmera.
- Ou o seu salto está muito alto. - Paul afirma por . - Graaaaaace! - O diretor grita e anda ao mesmo tempo, se afastando.
- Não leve meu comentário para o lado negativo. Eu até gosto de mulheres altas. - provoca quando já não há mais ninguém ao lado deles.
sente uma onda de irritação.
- Quem liga para o que você gosta? - derruba o braço de do seu ombro.
Em seguida, ela se lembra da noite anterior e como a ironia de havia a deixado sem saber se ele a achava bonita mesmo.
- E você está flertando comigo? - Ela cruza os braços e arqueia as sobrancelhas, esperando que pesque, com a falta de um termo melhor, a piada interna.
O que sai da boca de dessa vez é tão inesperado, ainda que muito bem pensado, até por ele mesmo.
- Eu acho que o peixe vivo me daria mais ânsia de vômito, então eu vou dizer... sim?! Prefiro arriscar um flerte com você, onde tenho melhores perspectivas de não vomitar. Ainda que a chance não seja totalmente nula. - Ele termina abrindo a boca e fingindo uma ânsia, aquela mesma expressão de indiferença e superioridade tomam conta de seu rosto.
Se tinha alguma dúvida que ele não entenderia a “piada interna”, ou que ele não tinha ouvido pelo menos parte de sua conversa com Dave, aquela resposta foi uma confirmação precisa que não poderia ter sido mais clara.
- Se você se acha engraçado, eu odeio ter que te dizer as novidades: você não é. Nem um pouco.
Grace aparece correndo na direção dos dois, carrega nas mãos um par de sandálias, o salto visivelmente menor do que o que ela está usando agora.
- Obrigada, Grace. - diz ao trocar de sapatos com a estilista.
se encurva para fechar a fita da sandália em volta do calcanhar, o vestido que ela usa, no entanto, é apertado nas pernas o bastante para que ela não consiga alcançar mais do que as próprias panturrilhas. Ela endireita o corpo e olha em volta, Grace não está em lugar nenhum onde pode ser vista. Com uma inspiração profunda, ela toma impulso para se abaixar de novo e falha.
encara a situação em silêncio e não espera uma terceira tentativa de para se abaixar e fechar a sandália para ela.
Desconfortável com de joelhos à sua frente, cruza os braços e aceita a ajuda com um bico nos lábios.
tem as mãos leves e, seus dedos, macios. Ele abotoa a primeira fita com a facilidade de quem já fez isso antes. coloca aquele pé para trás e o outro toma o lugar. Dessa vez, faz o processo um pouco mais devagar, estudando as unhas feitas no pé delicado que não hesitaria em lhe chutar a bunda.
Quando ele se endireita, finalmente, não diz nada.
- Obrigada. - é quem dá o braço a torcer.
percebe que aquela é a primeira vez que não há escárnio nas palavras que ela direciona a ele. Ele vê isso como uma abertura.
- Está tudo bem com você hoje? - Pergunta com um tom tão suave e calmo quanto o que ela usou segundos atrás.
- Por quê? - Sua postura é defensiva e ela junta as sobrancelhas.
Leitura errada, . Era melhor não ter abusado.
- Não é nada. Deixa pra lá. - Ele contem o impulso de esfregar o braço coberto de maquiagem.
- Não. Fala. Por quê?
- Você só parece meio... distraída hoje. Eu não estou te julgando, até porque não tenho nada a ver com sua vida pessoal e, obviamente, até mesmo distraída você ainda é a melhor atriz nesse set. Eu só fiquei me perguntando se tem algo a ver com o seu atraso.
Ambos se encararam em silêncio. sentia a expectativa crescendo. Seria aquele o momento em que eles quebrariam aquelas barreiras?
- Você tem razão. Minha vida pessoal não é da sua conta.
[...]
Apollo e Daphne saem cambaleando do bar, entre risadas, eles engatinham no banco de trás de um táxi. Apollo fecha a porta e passa um dos braços em volta da barriga de Daphne, que cruza as pernas, chegando o mais próximo possível dele.
- Você está linda. - Ele elogia ao colocar uma mecha do cabelo de Daphne atrás da orelha.
- E você está bêbado. - Ela responde e faz o mesmo com o cabelo dele. - Eu gosto dessa sua versão descontraída. - O comentário de Daphne é genuíno, pela primeira vez ela sente como se não estivesse exagerando um elogio para enganar Apollo.
- E eu gosto desse vestido. - Apollo retruca e desce a mão da cintura de Daphne, acariciando sua perna até parar em seu joelho.
Eles se beijam e, na velocidade de um filme, chegam ao destino.
Apollo abre a porta do carro e, quando do lado de fora, estende a mão para Daphne se apoiar e descer também. De braços dados, eles entram na casa de Apollo. Daphne sugere o banho e tira o vestido a caminho do banheiro, em seguida, ela se vira para Apollo e o ajuda com os botões da camisa, eles terminam o trajeto caminhando de costas e ele a equilibrando pela cintura. É uma daquelas típicas cenas clichês que funcionam tão bem para os amantes de comédias românticas. Um alívio para todo o drama que em breve o enredo sofrerá.
Se sentar sob o colo de e fingir fazer sexo com ele não havia sido uma tarefa difícil para naquele dia, não mais do que havia sido em todas as outras vezes que filmaram cenas parecidas. O coordenador de intimidade se sentava em frente ao monitor ao lado de Paul, o que a deixava confortável para fazer o que ela havia sido contratada para fazer.
tinha um agradável hálito de chiclete de menta e a fragrância que emanava de seu corpo era nada além de umidade – cenas de sexo te deixam mais suado e ofegante do que realmente fazer sexo – misturada com desodorante masculino.
Nada é gravado em tomadas longas. Às vezes, e esperam quinze minutos para gravar um diálogo de cinco. E, entre uma cena e outra, e estavam sempre recebendo direcionamentos que os deixavam ainda mais seguros e confortáveis para buscar o melhor resultado. E Jessica tinha razão, a visão do conjunto físico de era até bem agradável aos olhos de .
, como Daphne, encara o rosto relaxado de /Apollo, que deriva no mar dos sonhos sob o travesseiro branco. Ali, naquele momento, Daphne pode ser ela mesma, lançando um olhar de puro nojo para aquele homem que há tantos anos a fez se sentir ter menos valor do que o lixo que transborda agora na cozinha.
Ela se levanta da cama e entra no banheiro, ansiando para criar a maior distância possível entre eles e lavar seu corpo sujo de culpa pelo que está fazendo.
E, com a porta trancada atrás de si, escuta Paul gritando.
- Era isso! Isso que eu queria!
Confusa, pois não o tinha escutado cortando a cena, ela abre a porta, encontrando sentado na cama, olhando em sua direção.
Paul a intercede no meio do caminho entre a porta e a cama.
- , a sua atuação foi perfeitamente precisa com o que eu imaginava para essa cena! Nenhuma fala de Daphne poderia ter expressado melhor a transformação sutil que ela vem sofrendo, o sentimento de vingança forte dentro de si e ainda assim a sensação de aversão pelas próprias atitudes. Poético de se assistir. A cena fala por si. Todas as suas ações! - Ele lhe dá um abraço e um beijo no rosto quando se percebe sem palavras para explicar.
- Obrigada. - Ela dá uma risadinha sem graça.
- O desprezo por Apollo não foi uma atuação. - fala baixinho e lhe lança um olhar mortífero. Paul, esperto o bastante para não se meter, finge que não escuta.
- E você, , fez um ótimo bêbado. Engraçado na medida certa, respeitoso como Apollo seria, trouxe toda a leveza que eu esperava para a cena, direcionando as reações de Daphne que, pela primeira vez, perde o controle da situação e se desvia do objetivo, que é a vingança.
também agradece.
- Posso parar de gravar? - Alguém grita perto das câmeras e Paul olha para trás.
- Sim, claro! - Paul acena. - Desculpe, me empolguei.
dá uma risada e sorri ao escutarem, finalmente, o típico grito de Paul.
- CORTA!
e retornam em breve na minha nova longfic, Lives Between Us.
Conteúdo extra:
Someone like a friend
Pela primeira vez em vários dias, tem a chance de ir embora mais cedo. , por outro lado, tem que gravar sozinha.
deixa o set após se despedir individualmente do maior número de pessoas que consegue e parte para seu trailer. Lá, ele toma um banho e troca de roupa. Ele costumava pensar que a pior parte de ter tantas tatuagens era ter que cobri-las por horas antes das gravações, mas ele estava começando a pensar que talvez esfregar a pele até ficar vermelha e mesmo assim não tirar todos os resíduos de maquiagem seja ainda pior. Ainda assim, ele não consegue deixar de pensar em como seu corpo seria sem graça toda vez que ele se observa completamente limpo da tinta preta em um dos monitores do set. É então quando ele decide, por fim, que cobrir as tatuagens ou esfregar a pele para tirar a cobertura são os menores de todos os males.
está acostumado a ficar sozinho. Desde o fim da banda, ele viaja o mundo por meses em turnê sozinho, ele grava todas as entrevistas sozinho, ele divulga seu trabalho sozinho. Claro, ele nunca está sozinho de verdade tendo uma equipe e amigos sempre próximos, mas não é como quando ele dividia os palcos, sofás e todo o resto com quem fazia exatamente o mesmo. Então, sozinho. E, pensando nisso, ele odiaria ter que gravar suas cenas individuais sozinho. O último ator que fica para trás. Sozinho, não! Tem toda a equipe, diretor, cinegrafistas, maquiadora. Ainda assim, sozinho. odeia ficar sozinho.
Longe das vistas de , a observa fazer caretas e vozes engraçadas entre as tomadas. Ela é divertida e amigável. Não se parece remotamente com a pessoa com quem ele interage todos os dias.
Ela pula de um lado para o outro enquanto Yumi tenta retocar sua maquiagem.
- Ok. Ok. Fica calma. - diz numa voz distorcida de falso choro e se abaixa na frente de Yumi como se fosse fazer um exercício de agachamento. Gesto desnecessário, Yumi era quase mais alta do que .
- Você pode parar quieta? - Yumi reclama quando volta a se endireitar.
- Minhas pernas doeram. - Ela encolhe os ombros, embora o resto da sua linguagem corporal não demonstrassem culpa.
se senta na cama de novo e espera Paul dar a ordem para rodar a cena. Ela ainda está sorrindo e na contagem até três antes de ouvir o “ação", sua expressão muda para um semblante sombrio, confuso e quase miserável.
agora observa como Daphne se levantar da cama e se sentar numa escrivaninha. Ela abre um caderno e começa a escrever. tem dificuldade em se lembrar qual cena é aquela, ele acabou lendo somente uma vez o script completo e, depois, apenas as cenas em que precisava decorar. Ele alterna o olhar entre a cena acontecendo na sua frente e o monitor, como se realmente assistisse ao filme na sua TV.
Ele nota que ela murmura para si mesma, mas é tão baixo e ele está tão concentrado na imagem que não entende. Ela se levanta abruptamente da cadeira e reage inclinando o corpo para frente, envolvido pela cena. Daphne “sai” do quarto para pegar uma garrafa de vinho que está fora do enquadro da câmera e para por alguns segundos antes de voltar a se sentar em seguida, bebendo um gole direto do bico.
O silêncio no set é absoluto, consegue escutar o barulho da caneta deslizando pelo papel, como se estivesse, de fato, escrevendo.
- O que ela está fazendo?
escuta alguém sussurrar ao seu lado ao passo em que passa a escrever mais rápido e agressivamente. Paul pede silêncio com um "shiu", também sussurrado.
Uma das câmeras gira e dá zoom no rosto da atriz. lê pelo monitor quando outra das câmeras foca no caderno “eu não quero estar aqui". A página toda está escrita em letras maiúsculas e em versos, exatamente como escreve músicas. Daphne risca essa frase e escreve embaixo “eu não quero querer estar aqui". E a câmera que está em seu rosto capta as bolsas de água ao redor de seus olhos quando ela desvia o olhar para a parede e esfrega a testa. Ela volta a olhar para o caderno e, num ato impensado, rabisca tudo, tão forte e furiosa até a página se rasgar. pisca e quando vê o caderno está voando contra a mesma parede. Lágrimas silenciosas gritam o desespero de Daphne. não percebe, mas está de olhos arregalados e surpresos pela intensidade da cena.
- Ela está chorando? - Paul sussurra. - Ela está mesmo chorando!
- Por quê? - pergunta curioso. - Não era para ela chorar nessa cena?
Paul ignora a princípio, enquanto assiste Daphne por alguns segundos.
- Corta! - Paul grita.
vê limpar as lágrimas e olhar para Paul, encontrando o olhar de no caminho. Ela franze a testa primeiro e então mostra o polegar afirmativo para Paul. Como se perguntasse “isso foi ok?”, Paul devolve o “joinha”.
- Retoquem a maquiagem dela! - Paul grita.
Em seguida, se vira para o câmera.
- Roda a gravação para mim.
A cena começa com Daphne se sentando na mesa. assiste junto.
- Aqui é um momento de mudança. - Paul explica. - Sabemos que Daphne tem mascarado seus sentimentos confusos. Essa cena é quando ela toma conhecimento que ela foi longe demais e não pode mais voltar atrás. No começo, para ela não existia nada que fosse “longe demais”, e perceber que isso mudou implica que a forma como ela vê Apollo mudou.
acena com a cabeça para mostrar que está acompanhando. Mas Paul sequer pisca, menos ainda desvia o olhar do monitor.
- Uma cena sem diálogos num livro tem a vantagem da narrativa que cria camadas e nuances. Perdemos essa vantagem no cinema e depende do ator para criar essa profundidade nas expressões e linguagem corporal. No livro, a atitude de Daphne é fria e indiferente e a mudança gradual e sutil. É por isso que escolhi , pois sabia que ela poderia criar essa atmosfera de um personagem fingindo ser um personagem. Mas eu tinha medo especialmente dessa cena. Ela pode facilmente ficar muito superficial considerando os elementos que vemos no livro: Daphne escrevendo e refletindo, ou muito exagerada se a atuação for muito sentimental.
- Porque se ela exagerar pode revelar demais?! - diz incerto.
- Nós conversamos sobre essa cena. Eu disse que achava chorar um pouco extremo. - Então ela disse “Eu vou pensar em algo. Se você não gostar, gravamos como no script”.
- Claro que ela disse isso. - ri incrédulo.
- Mas eu estava me referindo apenas a um choro sentimental. Um acesso de raiva se encaixa mais no personagem. - Paul completa ao rever o desfecho da cena, jogando o caderno na parede. - Ela não está chorando por remorso ou por estar enganando Apollo, ela chora porque odeia sentir que não é mais uma enganação ou que ela não precisa mais se esforçar para estar com ele e que, no fundo, ela gosta do tempo que passam juntos.
- Uau.
É tudo o que consegue pensar em dizer. não passava de um mero expectador, ofuscado pelo holofote de . Ele sabe disso e a realização de estar naquela posição não o incomoda. Isso é cinema. E ter a possibilidade de fazer qualquer pequena parte dessa história é um privilégio.
- Ei! - o chama ao se aproximar. - O que ainda está fazendo aqui?
- Alguém tem que ser testemunha das suas falhas. Se não sair os erros de gravação, eu ainda posso provar que aconteceram.
- Há-há. - Ela revira os olhos.
- Eu imagino que deva ser ruim ficar para trás gravando sozinha enquanto todos os outros atores vão embora. - explica sério dessa vez.
- Você voltou para trás para me dar apoio moral?
encolhe os olhos.
- Talvez.
- Aí, meu Deus! O que é dessa vez?
- O quê? - pergunta confuso.
- A pegadinha. Você disse alguma coisa para o Paul?
- O quê? Não! Eu não disse nada. Não tem nenhuma pegadinha.
- Ah tá! E você quer que eu acredite nisso?
- Estou falando sério, . Acho que está na hora de honrar a trégua que concordamos dias atrás. Estou aqui porque odiaria ficar para trás gravando sozinho. Além do mais, é legal te assistir.
o olha de cima à baixo, ainda com o fio de desconfiança.
- , se isso é...
- É sério! Eu tô aqui como... algo parecido com um amigo.
FIM
Nota da autora: Eu sei que tem uma galera esperando que isso seja outro spin-off de Mistérios do Destino, uma outra galera que não fazia ideia do que eu ia aprontar e esperaria qualquer coisa MENOS uma nova longfic, mas isso não é um treinamento!!!! Harry Styles na sua era ator vem aí no meu universo kkkkkk Depois de mais de 3 anos me dedicando somente a MDD (que agora tá chegando na fase final), eu decidi começar esse projeto novo que será engajado simultaneamente com os últimos capítulos de MDD.
Confesso que eu não sei ainda se sou capaz de escrever outra coisa, na minha cabeça MDD ainda é surto coletivo (ou individual meu) e se eu tentar outra coisa vai ser flop! É por isso que eu escrevi essa shortfic, que serve como uma pesquisa de campo e uma “degustação” do que está por vir, tudo vai depender do recebimento e engajamento de leitores! Então se você gostou dessa história e da ideia de ser uma longfic, deixa aqui seu comentário! Me fala o que você mais gostou no que leu, ou o que não gostou, o que você gostaria de ver nesses personagens, o que você não gostaria de ver... Enfim, compartilhem suas expectativas e feedbacks comigo, isso vai ser essencial para a continuação (ou morte) dessa história!
Eu volto,
Beijinhos da Cam Vessato.
Outras Fanfics:
Mistérios do Destino - Harry Styles. Em Andamento
De Volta a Dezembro - Um Spin-off de Mistérios do Destino
The Spaniards' Girl - Restrita Harry Styles. Shortfic
The Spaniards' Girl - The Dinner - Restrita Harry Styles. Shortfic
Just Another Hotel Room - Niall Horan. Shortfic
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Caixinha de comentários: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI
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Eu volto,
Beijinhos da Cam Vessato.
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