De Volta a Dezembro

Última atualização: 25/12/2021

In Between

*** ATENÇÃO: Este é um spin-off da fanfic Mistérios do Destino. A história abaixo contém spoilers e cenas dos capítulos 15, 16 e 17 da fanfic citada e é completamente narrada do ponto de vista do personagem principal fixo, Harry Styles.
O intuito desse spin off retratando um tempo já passado na fanfic principal é reavaliar os eventos acontecidos através de outra perspectiva e, assim, esclarecer pontos-chaves da história.




DEZEMBRO, 2018


Eu encarei adormecida ao meu lado. Ou talvez fosse eu quem estivesse ao seu lado, já que, pelo menos pelos últimos dias, aquele quarto pertencia a ela.

Provavelmente já era oficialmente natal, e, mesmo sabendo que acordaríamos cedo na próxima manhã, eu não conseguia dormir.

- Por que não conseguiu dormir? - havia me perguntado há pouco menos de 30 minutos, quando, depois de tanto me revirar na minha “própria” cama, eu tinha vindo para cá.

- Acho que já me acostumei a dormir com você. - Foi a resposta nada original e completamente sincera e impensada que eu dei.

É isso o que acontece quando você se sente tão completamente confortável na presença de alguém, você diz a verdade mais direta que passa pela sua cabeça, sem pensar, sem querer, sem medir consequências. Quando percebe, sua voz já saiu, as palavras já foram ditas e pairam no ar como um quê de desconforto, porque você e a pessoa sabem que você gostaria de ter usado um filtro.

Mas é isso, já foi. E eu não me arrependo.

Hesitação demais me deixa ansioso. Eu gosto de ser impulsivo na medida do saudável, se é que algo assim existe.

Olhei para mais uma vez, ela dormia de lado na cama e virada para mim, as duas mãos entre o rosto e o travesseiro. Saí da posição de barriga para cima e me virei de frente para ela, porém eu preferia colocar as mãos entre o colchão e o travesseiro. Daquela forma, eu tinha seu rosto a poucos centímetros de distância do meu. Sua respiração era ritmada e ela tinha os lábios entreabertos, produzindo um som que só era perceptível porque o mundo lá fora estava em tão completo silêncio que parecia estar em pausa.

A serenidade em sua expressão transmitia uma paz que só reforçava a sensação de estar em um mundo em pausa. Olhando para seu rosto que beirava o angelical, eu não acreditava ser possível achar alguém tão belo ao ponto de me sentir reproduzindo uma cena de filme clichê. Eu queria tocar o seu rosto e afastar os poucos fios de cabelo que caíam sobre ele, era o que o próximo passo do filme clichê mandava. Só que era tudo, menos um clichê, e eu sabia que o seu sono leve não me permitiria encostar nela sem a acordar.

Agora eu só conseguia pensar que ainda bem que eu havia decidido vir aqui. A batalha travada comigo mesmo quase havia sido perdida. Eu estava deitado na minha cama, pensando e pensando se eu deveria ou não bater na porta do outro lado do corredor, eu não queria estar longe de , nem mesmo ao dormir, mas depois da nossa discussão pela manhã, eu não sabia se aquela era a opção mais inteligente.

Tínhamos chegado em Holmes Chapel no dia anterior à véspera de natal. e eu tínhamos passado o dia inteiro hoje – ou ontem? – juntos, o que era esperado, já que essa é a casa da minha família e eu a trouxe para cá. Mas o que eu quero dizer com juntos não tem absolutamente nada a ver com fisicamente juntos propriamente dizendo, porque eu saí para correr de manhã e ela ficou dormindo, por exemplo. Não passamos as vinte e quatro horas do dia colados, mas o tempo em que estivemos juntos foi como se só existissem nós dois. Desculpa, mãe.

Talvez seja ainda menos original dizer que essa foi a melhor época de feriado de fim de ano que eu tive em muito tempo. Mas era verdade. Eu vivi esses últimos sete dias na Inglaterra ao lado de como se aquela fosse a minha vida principal, cujo tempo tivesse sido congelado, inerte no espaço, enquanto tudo o que eu vivi antes disso fosse apenas uma realidade paralela; uma vida reserva na qual eu treinava inconscientemente para voltar à estrada principal, olvidada, mas intrinsecamente familiar.



Fomos recepcionados pela chuva em Londres. Aquilo não era algo que me surpreendia, ainda mais estando a apenas uma semana de distância do natal.

Eu parei o carro na vaga mais próxima da entrada do mercado, porque mesmo que a chuva houvesse cessado no dia seguinte à nossa chegada, eu esperava que seus trabalhos pudessem ser resumidos a qualquer momento. pulou para fora e fechou a porta antes que eu pudesse concluir o desligamento do carro, ela estava animada para a nossa noite de pizza-e-vinho. Eu sentia meu estômago se revirar, tão desconfortável quanto eu ao voltar àquele lugar depois de tudo o que aconteceu.

tinha nos pés um dos meus pares de chelsea boots, os quais eu raramente usava mais. Mas já muito usados, como era visível pelas marcas e arranhões no couro de veludo. Eu tive dois pares iguais a esse antes. Um logo no começo da minha carreira, quando a banda começou a ser vestida por uma estilista; eu gostei tanto que usei até rasgar o solado, então pedi para comprar outro igual e outros de cores diferentes. O segundo par, também um pouco desgastado, mas ainda longe de ser considerado descartável para mim, foi jogado no lixo pela mesma estilista que o comprou, porque eu entrei na piscina de um hotel no Brasil calçado nele.

- Você está andando muito engraçado. - Zombei enquanto entrávamos no mercado, uma tentativa para me distrair.

- Bom, deve ser porque o seu pé é enorme?! - Ela empurrou meu ombro com uma das mãos. - Mas pelo menos o cano é apertado e a bota não vai sair do meu pé.

Eu sorri ao ouvi-la dizer isso. Eu respeitava e admirava o lado prático de . Enquanto eu era um otário que havia agido pela emoção ao escolher o meu par de botas preferido para que ela usasse, ela, que obviamente não fazia ideia disso, apenas via o sapato como uma peça útil para minimizar os efeitos do frio da Inglaterra em seu corpo acostumado com o clima Californiano.

- Vou pegar algumas coisas para tomarmos café amanhã e uns lanches para os próximos dias. Quer alguma coisa?

- Não, como o que você escolher. Eu vou pegar o vinho. - Respondi e entrei no corredor que me levaria pelo caminho mais rápido até a área de bebidas.

não era nada além de uma amiga muito querida. Eu ousaria dizer até que ela era a minha melhor amiga. Nesse ponto, nos conhecíamos há meses e compartilhávamos tudo sobre as nossas vidas.

sabia que eu era apaixonado por uma mulher que havia me enganado e quebrado o meu coração. Eu me se sentia bobo, Sophie já havia seguido em frente há meses e, mesmo jurando nunca mais voltar ali, eu deveria seguir o conselho de e também seguir em frente.

Eu mal cheguei a entrar no corredor e minha visão já havia enquadrado seus cabelos loiros.

- Harry! - Sophie moveu o olhar da prateleira, de onde havia acabado de tirar uma garrafa nosso vinho favorito, para me encontrar travado na entrada do corredor.

Ela era obviamente a última pessoa que eu queria encontrar sem aviso; o que não foi tão sem aviso assim, levando em consideração que só conhecíamos aquele lugar que vendia o nosso vinho. O que eu esperava? Que eu poderia voltar a frequentar aquele mercado tão pequeno e sair ileso?

Eu tinha tantas perguntas para Sophie. Eu queria perguntá-la o porquê ela havia me vendido para a mídia, por que vazou coisas que contei para ela em momentos de confiança e vulnerabilidade, coisas que contei porque confiava nela, porque eu a amava. Eu criei na minha cabeça o momento em que a encontraria depois de tudo o que aconteceu, ensaiei o confronto, mesmo sendo o eu-evito-confrontos tipo de pessoa. Eu reproduzi as minhas falas em looping comigo mesmo e, agora que ela estava ali materializada em carne e osso na minha frente, eu simplesmente não sabia como fazer funcionar as minhas pernas, quanto menos falar tudo o que eu queria dizer.

Eu pisquei algumas vezes, para garantir que aquilo era real.

- Harry? É você?

É claro que ela sabe que sou eu... Quem mais ela encontraria procurando a porra do vinho que ela vinha comigo comprar?

Eu finalmente recuperei o controle sobre as minhas pernas, me forçando a caminhar em sua direção, automaticamente parando em frente ao item que eu originalmente procurava, o vinho.

- Oi, Soph. - A minha voz saiu tão baixa que, após alguns segundos, eu não tinha mais certeza se eu realmente havia falado ou se eu só tinha pensado.

Eu não pude evitar, mas meus olhos desceram até a garrafa de vinho dentro de sua cesta, jogada em meio a produtos de limpeza, uma caixa de morangos e farinha. Encarei Sophie, então o vinho e Sophie de novo. Aquilo estava sendo mais difícil do que eu jamais projetei.

- Quanto tempo! - Sophie pareceu forçar um sorriso, como se tentasse trancar bem longe todas as memórias de como as coisas terminaram entre nós.

Quanto tempo?! Quanto tempo?

Isso é algo que você diz para um velho amigo, porque a última vez que o viu foi na festa de aniversário de algum conhecido em comum, ou, no meu caso, na última premiação de música.

Você não diz “quanto tempo” para o cara que você fodeu por meses enquanto vazava todas as informações profissionais dele e dos seus amigos próximos, além de estar fodendo outro ao mesmo tempo e depois, quando o cara descobre tudo, simplesmente aceitar o pedido de namoro do outro.

Eu não sabia como reagir, eu não conseguiria fingir que nada havia acontecido. Como se eu não houvesse enviado milhões de mensagens que foram ignoradas, como se eu não tivesse me declarado no último show da minha turnê, como se eu não soubesse que ela estava com outro, como se eu não soubesse do que ela tinha feito. Mas eu sabia. E ela sabia que eu sabia.

- Como você está? - Sophie perguntou, tentando manter algum tipo de conversa fiada.

- Sophie, não. - Eu desviei o olhar para a sua cesta de novo, encarando qualquer coisa ali que não fosse ela.

- Harry, eu sinto muito. - Sophie se aproximou o suficiente para conseguir tocar meu rosto e meus olhos encontraram os seus antes que eu pudesse me deter.

- Eu não sei o que dizer...

Eu sabia, sim! Onde estavam todas as falas que eu havia ensaiado????

- Sophie, você sumiu. - Eu completei.

- Eu achei que o silêncio fosse a melhor opção para nós dois, você sabe o que eu fiz e eu só não queria te deixar mais desconfortável com toda a situação. - Ela deu um sorriso triste.

- Silêncio confortável é superestimado. - Eu citei sem pensar e ela abaixou a cabeça.

- Eu imaginei.

- O que você imaginou? Que todas as minhas músicas eram sobre você? Isso sempre foi tão escancarado que eu não esperava tal modéstia. - Eu soltei algo parecido com uma risada amargurada.

- Eu sinto muito, Harry... Eu... O contrato...

- Você sabe que eu teria te ajudado, eu teria feito tudo por você! Bastava você me dizer que estava com problemas! Mas você preferiu mentir, preferiu me enganar. Eu realmente achei que conhecia você.

- Eu não sei o que eu queria profissionalmente, o contrato... eu não sabia quem eu era antes. - Sophie confessou soltando o braço que segurava a cesta abruptamente ao lado do corpo, atraindo a atenção de duas senhoras que estava mais perto, embora alheias a nossa situação. - Eu não deveria ter aceitado.

- E você sabe quem você é? Agora?

- A única coisa que eu sei é que eu errei. Eu sei que nada pode consertar o que eu fiz com você.

Eu balancei a cabeça em negativa.

- Eu ultrapassei todos os limites falando sobre você no último show, eu acho que eu estava realmente desesperado, não é mesmo? - Eu soltei outra risada irônica. - Eu estava desesperado para te dar uma chance de consertar isso!

- Depois do show tudo foi um pesadelo. - Sophie suspirou. - De repente todo mundo sabia quem eu era. Era como quando eu me apresentava em peças na escola, você está em posição no palco esperando tudo começar e então todas as luzes se acendem de uma vez, te cegando.

Eu havia sido cruel, eu sabia disso. Eu havia agido sem pensar e tornado as nossas vidas um inferno nos últimos meses. Eu até mesmo contratei seguranças para ficarem à paisana no prédio dela, pois tive que a proteger do caos que causei.

- Você faz ideia de por quanto tempo eu esperei que você ligasse? Que dissesse que tudo tinha sido um mal entendido e que você sentia muito?

A nossa conversa estava mais intensa do que eu imaginei. Eu não planejava agir daquela forma, queria explicações concretas sobre a única coisa que importava, a venda das minhas informações privadas, mas eu estava deixando a mágoa passar na frente, o que me fazia dizer o que realmente importava para mim.

- Mas, Harry, eu queria ligar, eu só achei que fosse tarde demais...

- Mas não era!

- E depois do seu show, tinham outras pessoas envolvidas e...

- E você nunca sentiu o mesmo, não é?

Sophie acenou desconfortavelmente com a cabeça.

- Mas você sempre foi um bom amigo, Harry. Sinto falta de todos aqueles momentos ao seu lado. Eu gostava de ser sua amiga.

Eu nem sabia se algum dia teria a chance de falar com ela novamente, mas ali estávamos nós dois. Nada saindo como o planejado.

- Eu gostava de ser seu amigo. - Confessei em um sussurro, de repente me esforçando para não chorar.

- Por que nós não continuamos só na amizade, em que ponto foi que mudamos? - Ela questionou ressentida.

- Seria ótimo se as coisas tivessem permanecido como eram antes de eu me apaixonar.

- Eu sinto sua falta, Harry. Eu queria que pudéssemos ser amigos de novo. Eu queria ser sua amiga. - Repetiu.

Eu estava tão envolvido naquela conversa e nas minhas emoções, que tudo em volta de nós parecia apenas um som de fundo distorcido.

- Eu também gostaria. - Concordei.

E poderíamos ser amigos de novo. O que ela havia feito era triste, mas a verdade é que tantos meses depois aquilo pouco me importava, pois o meu ego ferido por não ter sido escolhido pesava mais do que toda a traição, as informações vazadas, o contrato... Soph estava ali, confessando que queria começar de novo do jeito certo, disposta a reparar seus erros, dizendo exatamente o que eu queria ouvir.

- Eu não quero forçar nada... - Sophie tentou sorrir e a vi passando a mão no rosto, provavelmente limpando alguma lágrima. Eu mesmo me esforçava muito para não ser aquele quem limpa o rosto. - Mas se você não estiver ocupado, quer ir jantar? - Sophie levantou a cesta com suas compras, dando a entender que me convidava a ir para sua casa e que ela cozinharia.

Só que... era a minha amiga. Tudo o que ela havia feito por mim, todo o apoio que recebi dela, sua confiança e sinceridade; aquilo que compartilhávamos todos os dias, sim, se parecia com uma amizade. me escutava, ela me enxergava! E infelizmente o que me fazia associar à amizade diferia de tudo o que eu havia vivido com Sophie.

- Deus sabe o quanto eu desejo ficar... - E provavelmente ela também sabia o quanto eu queria, mas querer e poder são duas coisas diferentes, eu queria ficar e descobrir uma nova Sophie, eu poderia ficar...

Mas eu não queria voltar atrás, para o passado. Tudo o que havia acontecido havia me ensinado alguma coisa, havia me trazido . Tudo aquilo havia me ensinado a me conhecer melhor, a saber o que eu queria e o que eu não deveria aceitar. E, quando se tratava de Sophie, eu merecia mais.

- Mas eu não posso, sinto muito. - Neguei com a cabeça em seguida. Nesse momento, eu senti uma mão em meu ombro e, sem que eu precisasse me mexer, eu sabia perfeitamente de quem se tratava.

- Está tudo bem, eu entendo. - Eu vi o olhar de Sophie se desviar do meu e se fixar em que estava bem atrás de mim. E eu acho que o que ela entendeu não tinha absolutamente nada a ver com o que realmente era verdade. - Eu preciso ir, foi bom te ver. - Ela deu alguns passos para trás, como se estivesse intimidada. - Se cuida, ok? - Ela sorriu de lábios fechados antes de se virar e ir embora de vez.

A sua saída havia sido tão abrupta quanto a sua chegada, me deixando congelado mais uma vez. Não era assim que eu queria terminar aquela conversa.

Eu senti tomar a cesta que eu carregava da minha mão e colocar a garrafa de vinho dentro. Sem dizer nada, ela nos guiou até o caixa, pagando pelas coisas e em seguida as guardando no carro.

- Era ela, certo? Sophie? - perguntou ao fechar o porta-malas do carro e eu só consegui assentir. - Você está bem?

A sua pergunta em tom de preocupação me deixou com um aperto no peito. era para mim exatamente o que Sophie havia sido no começo, aquela amiga bonita e engraçada que é fácil estar junto e conveniente de ter uma relação casual, porque é descomplicado, porque é amizade colorida e, por isso, você não precisa dar satisfações e nem começar tudo do zero toda vez que quer transar.

Exceto que se preocupava comigo de verdade e queria o meu bem. Exceto que era realmente minha amiga. E era exatamente por isso que eu não poderia deixá-la cometer os mesmos erros que cometi. Se ela se apaixonasse por mim, ela poderia acabar como eu com Sophie. E eu não queria ser uma Sophie.

- Eu vou ficar. - Tentei lançar um sorriso para despreocupá-la.

Havia começado a chover de novo. E eu tinha essa dorzinha de cabeça irritante que eu sabia só se tratar de uma coisa

- Você pode dirigir? Preciso escrever algo.

- Pode apostar que sim! - Ela respondeu animada e correu para pegar as chaves que eu estendia no ar bem à sua frente.

Antes que eu pudesse corrigi-la, ela já havia aberto a porta do lado esquerdo.

- Ops! - Ela coçou a cabeça, sem graça.

Eu não consegui segurar a risada. tinha esse poder de fazer com que qualquer coisa ruim desaparecesse sem fazer nenhum esforço.

E era exatamente por isso que eu não poderia cometer os mesmos erros. Nós precisamos permanecer os mesmos.

- Me esqueci da mão inglesa. Nem acredito que vou dirigir em Londres.

Assim, me sentei no banco do passageiro e imediatamente abri o porta-luvas do carro, procurando na imensa bagunça um pequeno bloco de notas e caneta que eu sempre deixava ali para casos como aquele.

Lights up and they know who you are
Know who you are
Do you know who you are?


*


- Vamos lá! Vai ser divertido!

- Harry, são seis da manhã e provavelmente está fazendo 6 graus lá fora. Correr já não é nada divertido, nessas condições então...

- , são oito e meia!

- Dá no mesmo!

- Qual é! Estamos em Londres, você está de férias, é natal!

começou a gargalhar e voltou a cobrir a cabeça com o edredom.

- O que é tão engraçado? - Ela se sentou na cama abruptamente, fazendo com que o edredom caísse para seu colo.

Tudo bem que ainda não era realmente natal. Mas estava perto o bastante para usar como desculpa?!

- Eu não acredito que estou de férias em Londres e você está me acordando de madrugada para correr! - Reclamou. - Você tem noção do quanto isso soa absurdo?

- Precisamos aproveitar que a chuva estiou! Além do mais, eu só quero me manter em forma e ser saudável...

- Pois vá em frente!

- ...Em sua companhia.

- Ah, não, Harry! Sem chantagem emocional. Você não precisa da minha companhia para correr, eu só te atraso.

- Bem, isso talvez seja um pouco verdade. - Eu fiz uma careta, infelizmente sendo obrigado a concordar. - Mas eu adoro a sua companhia.

bufou e afastou o edredom enquanto colocava as pernas para fora da cama.

- Estou com fome.

- Ok. - Concordei com a cabeça. - O que você quer comer?

- Wrap? - sugeriu.

- Vegano?! - Impus.

- Eu tenho alguma outra opção? - Ela reclamou.

- Não.

- Só uma fatiazinha de bacon, por favor? - tentou barganhar.

- Eu não vou fritar bacon. - Eu neguei, sabendo que ela também não ia querer fritar, mas que se ela insistisse, eu acabaria cedendo.

- ‘Taaaa! - reclamou em tom de ultraje e eu explodi em uma gargalhada. - Então podemos passar naquele lugar que vende aquele smoothie azul?

Eu sorri e acenei em concordância. Não havia nada naquele mundo que me pedisse que eu pudesse negar, especialmente quando ela sabia tão bem quais os pontos certos de pressão.



Naquele mesmo dia tínhamos um almoço antecipado de natal com alguns dos meus amigos. Eu era muito sortudo quando se tratava de amizades, pois todos os meus amigos eram realmente muito próximos de mim e, por isso, todos sabiam com detalhes sobre o desastre que havia acontecido comigo no ano anterior. O ressurgimento de Sophie na minha vida logo agora era um assunto que eu mal esperava para dividir com eles. Eu precisava de reafirmação de que havia feito a coisa certa.

Por outro lado, eu me sentia um pouco nervoso, todos também sabiam que não passava de uma amiga, mas eu conhecia meus amigos muito bem para saber que as piadinhas não seriam contidas mesmo assim.

Mas uma coisa que eu podia contar era que não sairia por baixo.

Eu percebi o quanto ela se esforçou para parecer completamente à vontade naquele ambiente estranho e, sendo bem sincero, se eu não a conhecesse tão bem também acreditaria que ela não estava tendo nenhum problema para socializar ali. Ela só era muito boa em ser autoconfiante e decidida, que era quase impossível notar quando era apenas uma atuação.

tinha feito brigadeiros para levar para o almoço, as bolinhas marrons, dispostas em uma vasilha na mesa junto com as demais comidas, chamaram toda a atenção, consequentemente trazendo muitas perguntas de cada um dos convidados que chegava.

- O que é isso? - Foi a pergunta clássica que quase todos os convidados fizeram.

- Brigadeiro. Um doce brasileiro. - respondia em todas as vezes com um sorriso no rosto.

- Ah, você é do Brasil? - Quase sempre era a pergunta que se seguia, geralmente feita pelas pessoas mais comunicativas ali.

Todo grupo social há pessoas em que você pode separar facilmente entre dois grupos: comunicativas e retraídas. E, no meio dessas, havia aquelas que podiam se sentir retraídas em determinados contextos e comunicativas em outros, era uma dessas pessoas. Eu tentava balancear seu constrangimento por ser a única pessoa ali que não conhecia ninguém, então, nesse ponto, eu sempre me intrometia para fazer a sua apresentação.

- Essa é a , minha amiga do Brasil e que está passando o feriado aqui na Inglaterra.

Como britânico, era completamente comum para mim que as pessoas sequer perguntassem o nome dela, mas naturalmente começassem a interagir com objetividade sobre o que estavam interessados em saber.

- . - Ela sempre me corrigia e acenava timidamente com a cabeça completando: - Prazer em te conhecer.

Ela era simplesmente muito educada e radiante, enquanto todos os britânicos eram frios e distantes. Não era por mal, no entanto, mas não queria que pensasse que era algo pessoal.

- É muito estranho que as pessoas mal dizem oi quando chegam. - confessou para mim em um canto. - Se fosse no Brasil, a pessoa que chegou e encontrou alguém desconhecido ia se apresentar, ou ser apresentado com um abraço e um, ou alguns, beijos no rosto.

- Todo mundo aqui já se conhece entre si, fazemos esse almoço todos os anos, de vez em quando alguém traz alguém novo, mas é sempre alguém igualmente britânico que entende a cultura. Então não é nada pessoal.

- Eu sei.

- A maioria aqui já ouviu falar de você.

- Coisas boas ou coisas ruins? - Ela brincou.

- Hum, olha, vou confessar que é difícil ter coisas boas para dizer e...

- Harry! - Ela riu e deu um tapa no meu braço.

- Claro que só coisas boas, babe. Principalmente sobre como você é uma amiga leal e generosa para mim lá em LA. Meus amigos sempre se preocupam se eu tenho com quem conversar quando estou longe de casa.

- Entendi. - Ela acenou com a cabeça.

- Dê uma chance para eles.

- Eles que precisam me dar uma chance.

- Não seja boba, você é tão minha amiga quanto eles. - Eu assegurei. - Vamos lá, está na hora.

- De quê?

- Nick comprou Fifa 2019, nós vamos jogar.

- Você jogando futebol? - perguntou em tom de descrença.

- É vídeo game! - Não consegui evitar revirar os olhos.

- Tudo bem. Eu só vou assistir vocês jogando, porque ao contrário de você, eu sei admitir que sou péssima. - Fechei a cara diante da cutucada de e sai andando.

Eu me sentei no meio de um dos sofás e puxei o console da mão de Arthur que passava para se sentar também.

- Eu vou primeiro! - Cantei enquanto o via bufar.

Era um sofá grande e se sentou em uma das extremidades, tentando se manter fora o máximo possível. Eu olhei para ela tentando fazer um contato visual que transmitisse que ela não precisava se sentar tão distante. Quando seus olhos finalmente encontraram os meus, ela apenas deu de ombros como quem não se importava.

Nick veio da cozinha trazendo uma taça de champanhe em uma das mãos e o outro console na outra, mas em vez de se sentar, passou direto por mim e parou em frente à .

- O anfitrião e dono do jogo vai primeiro. - Ele informou enquanto estendia a taça para ela.

odiava champanhe.

- Obrigada. - Ela respondeu e lhe lançou um sorriso.

- Por que ela ganha champanhe no sofá? - Max reclamou enquanto Jess se sentava ao seu lado.

- Porque ela é convidada. - Nick respondeu caminhando até Max. - Se você quer champanhe vá buscar. - Completou lhe dando um cascudo que fez todos rirem.

- Babe? - Ele choramingou para Jess.

- Tudo bem! - Ela revirou os olhos. - Mais alguém quer algo?

- Não, obrigado. - Eu levantei meu copo de whiskey do chão.

- Pode me trazer uma cerveja? - Maya pediu e Jess assentiu.

- Você é a melhor! - Finn, que até então nos observava apenas rindo, gritou e levantou sua própria taça.

Pelo canto do olho, vi bebericando o champanhe e olhando para os lados para ver se alguém estava prestando atenção ao fato de que ela só fingia beber.

Eu queria dizer que ela não precisava fingir gostar de champanhe e menos ainda fingir bebê-lo, mas eu também não queria deixá-la sem graça dizendo aquilo na frente de todos, porque ela claramente não queria atrair atenção.

No entanto, ela me pegou a observando e fez uma careta, depois encarou a taça dando de ombros e realmente dando um gole generoso na bebida em seguida. Outra careta, dessa vez de desgosto. Eu sorri, e ela sorriu de volta.



Já estava escuro quando “almoçamos”, porque naquela época do ano anoitecia mais cedo.

Na sala de jantar iluminada apenas pelas luzes da árvore de natal de Nick, nos sentamos para a troca de presentes do nosso amigo secreto. Eu havia tirado Jess, me ajudou a escolher o ‘presente’.

Max e Jess eram meus amigos desde o ensino médio, eles estavam juntos por tanto tempo quanto me lembro de ser amigo deles. Também Nick e alguns dos outros.

Geralmente fazíamos um ‘amigo ladrão’, que consiste em todos levarem um presente e os dispor em uma mesa, sortear números e, em ordem, cada um se levanta e escolhe um presente da mesa ou rouba o presente que alguém já tenha escolhido. Por exemplo: Eu tirei o número 14, então eu posso escolher um presente da pilha ou roubar o presente de uma das outras 13 pessoas que já pegaram um presente antes de mim. É bem legal. Sempre acaba em xingamentos.

Embora esse ano tenhamos decidido fazer diferente; sorteamos os nomes como em um ‘amigo secreto’ padrão, porém, em vez de compramos presentes legais, deveríamos levar os piores presentes, como coisas constrangedoras e engraçadas.

Antes de entregarmos o presente, seguimos a regra de fazer com que os outros adivinhassem quem era a pessoa que havíamos tirado. Então quando foi a minha vez, eu me levantei e, na frente de todos, tentei dar dicas engraçadas e um pouco controvérsias sobre Jess. Todos riam enquanto eu gesticulava e tentava falar rápido ao mesmo tempo. Eu via ao fundo, tirando fotos minhas com seu celular e rindo tanto que me fazia querer rir também.

- Isso é para Jess usar em você. - Nick disse depois de adivinharmos que Max era seu amigo secreto. - Eu sei que você gosta. - Completou quando Max desembrulhou um pênis de borracha.

Todos nós caímos na gargalhada, meu primeiro instinto foi procurar no meio de todos para conferir se ela ria também. Eu dei a volta na mesa e, sem ter lugar ao seu lado, me sentei em seu colo.

- Aí, Harry! Você é pesado! - reclamou imediatamente.

- Você também e eu não reclamo. - Rebati só para alfineta-la.

- Não é você quem dizem por aí ser capaz de levantar mais de 225 quilos na academia? - Alfinetou de volta.

- É isso que estão dizendo sobre mim?

- Eu não sei, é verdade?

- Eu não sei. - Pontuei com um sorriso de lado, achando graça das coisas aleatórias que sabia sobre mim.

- Qual é a graça do presente? - sussurrou a pergunta. - Não entendi como um homem gostar de qualquer coisa relacionada a isso – ela apontou para o objeto que agora jazia na mesa – é uma piada. Eles sabem que você...?

- Que eu fico com homens? - Eu sussurrei de volta. - É claro que sabem. Finn e eu tivemos um caso uns seis meses antes de eu ir para o programa. - fingiu deixar o queixo cair.

- Eu entendo o que você viu nele. - Ela se abanou com uma das mãos e eu revirei os olhos. - Agora o que ele fazia com você?

- Há-há. Muito engraçada. Ele definitivamente não se parecia com isso quando estávamos juntos. - Falávamos aos sussurros, pois não queríamos interferir no meio da troca de presentes que ainda acontecia. - A questão é que Max tentou uma vez, com Jess... E ele odiou.

- E tudo bem. Ele não é obrigado a gostar.

- Sim, mas essa é a graça. Nick sabe disso, e é exatamente por isso que ele disse que sabe que Max ‘gosta’, porque na verdade ele não gosta. É sarcasmo. Não tem nada a ver com estarmos usando o fato de ele gostar ou não como tentativa de ofensa.

- É uma piada interna de vocês.

- Pode se dizer que sim.

- Hum. Ok. - concordou relutante.

- Ok. - Imitei seu tom de voz. - Agora mereço um beijinho? - Ela me respondeu com uma careta e eu sorri de lado. - Você tem sido uma distração essa noite. - Flertei. - Irresistível usando batom vermelho nesse vestido preto.

- Aí, para! Você está me deixando sem graça. - tentou ficar brava, mas o sorriso nos seus lábios que não demoraram a tocar os meus me diziam outra coisa. - Só um beijinho, porque não quero borrar meu batom...



quis fazer uma parada na estrada quando voltávamos para casa, ela queria sorvete e eu aproveitei para completar o tanque.

- Você quer entrar ou vai esperar no carro? - Ela me perguntou apontando com o dedão para a loja de conveniências atrás de nós.

- Vou entrar.

Caminhamos lado a lado assim como fizemos no mercado, só que dessa vez eu pude jurar que uma das mãos de ficou encostando na minha de propósito.

Eu abri a porta para ela, ouvindo o sino tocar imediatamente.

- Você ouviu isso? - Ela havia parado bem no vão da porta.

Por um momento eu pensei que ela falava sobre o sino, dei um passo para frente, ocupando o restante do vão da porta e parei para ouvir. A loja tocava como música ambiente uma da banda.

- Tem pelo menos umas seis meninas caminhando para o fundo e cantando. - advertiu ao espichar o pescoço para ver melhor dentro da loja.

- Eu acho que vou esperar no carro. - Eu ri e estendi meu cartão para que pudesse pagar pelo combustível. Por algum motivo meu cartão não estava funcionando na bomba.

- Okay. - Ela concordou, mas não pegou o cartão. - Pode deixar que eu pago.

- Não! , pega aqui o cartão!

- Eu não demoro. - Ela soltou a porta e tive que dar um passo para trás para que não batesse em mim. Essa mulher era articulada como o diabo!

Voltei para o carro e esperei.

- Você tem que parar de ficar pagando as coisas para mim! - Eu reclamei quando ela voltou.

- Eu também andei no carro. - Ela riu, achando graça no meu nada convincente tom de braveza.

- Ah, cala a boca. - Eu revirei os olhos. Olha essa desculpa!

- Olha o que comprei. - Ela mostrou dentro da sacola todas as coisas que ela havia comprado para que pudéssemos relaxar em casa.

Dei partida no carro e imediatamente apertou o botão de ‘próximo’ no rádio, mudando a música que mal havia começado a tocar.

- Ei! - Eu reclamei, ela era muito abusada.

- H, cala a boca e dirige. - Ela falou em meio a uma risada.

- Você é quem deveria estar dirigindo. - Acusei. - A volta é sempre sua.

- Ah, não. ‘Tô com preguiça.

Eu dirigi o caminho todo reclamando que era a vez dela de dirigir e nem percebi quando chegamos em casa.

- Viu? - Ela jogou na minha cara. - Ficou reclamando o caminho todo e dirigiu sem perceber.

- Obrigado por pontuar o óbvio. - Debochei, batendo a porta do carro e caminhando para a parte da frente para esperá-la. - Se eu não dirigisse, ninguém ia. - Completei, me virando para encará-la e apertando o alarme do carro enquanto ela caminhava até mim.

- Até que você é esperto às vezes. - Ela gracejou ao parar ereta a um abraço de distância.

- Posso borrar seu batom agora? - Perguntei enquanto passava os braços pelo seu pescoço.

- Uh-hum. - Murmurou sem desviar os olhos dos meus e me beijou.

Absolutamente nada passava pela minha cabeça naquele momento, nada além das sensações que aquele beijo tão familiar me causava. Os lábios de eram macios sobre os meus e me se moviam com calma e leveza, como se condicionados a acreditar que não há temor no tempo.

E, naquele momento, eu podia acreditar que tínhamos todo o tempo do mundo.

- Quarto? - Ela sussurrou entre meus lábios.

- Quarto. - Concordei e segurei uma de suas mãos enquanto nos guiava pela casa.

O meu quarto em Londres não era tão amplo e iluminado quanto o da minha casa em LA, mas era muito mais aconchegante. Tinha um cheiro de lar, nostalgia e muitas, muitas memórias.

Eu deitei no colchão e puxei para cima de mim, nos beijamos de novo como tínhamos feito lá fora. Não tínhamos mais nenhum problema no mundo e se alguma coisa surgisse eu jurava que seríamos capazes de resolver antes que esse dia acabasse.

Deixei seus lábios vermelhos de lado, repentinamente interessado em sua clavícula parcialmente coberta pela alça grossa do vestido, e também em seu pescoço completamente exposto e sombreado pela pouca luz do ambiente. Eu distribui beijos enquanto sentia o ar dos suspiros de no meu ouvido.

Meu coração batia veloz e opressivo em expectativa. A minha respiração saía do compasso leve e ritmado, passando a ser curta e pesada, pouco a pouco se misturando com a respiração de enquanto despíamos um ao outro.

Eu inspirava e me expirava quando estávamos dentro um do outro. E eu queria mais e mais e mais e mais.

Era como se a minha cabeça girasse, me deixando tonto, extasiado. Vidrado. Viciado.

Eu queria manter os olhos abertos e encarar os seus, que pareciam tão em transe quanto os meus. Não existia tempo, espaço, Sophie, mídia, vergonha ou culpa. Só a minha respiração se tornando a sua, o meu corpo se tornando o seu. Seu.

- Harry... - A voz de saiu fraca.

- Hum? - Eu murmurei concentrado.

Procurei suas mãos no emaranhado de roupas, lençóis e suor. Eu não sei quantos graus fazia lá fora, mas ali dentro parecia verão.

- Eu vou... - Ela gemeu em vez de terminar a frase.

Demos as mãos, eu era ela, ela era eu. Nossos corpos se fundiam e se confundiam. A minha perna não era mais a minha perna, mas podia ser. O seu braço não era mais seu braço, mas talvez não fosse meu também. Era uma confusão de membros com desejos próprios. Meus lábios queriam reencontrar todos aqueles lugares já visitados. Uma vez me disseram que isso se chamava saudade.

- Espera, eu... - Tentei falar, mas ela me segurou firme pelo pescoço, em uma tentativa de me imobilizar ali. Quaisquer que fossem as coisas que eu estivesse planejando, agora não mais importavam.

- Não para! - Protestou em claro desespero. A voz autoritária.

E eu obedeci.



- Sabe, Harold... - começou a falar enquanto ainda fazia carinho em meus cabelos. - Eu fiquei curiosa sobre aquela história... - Ela fez uma pausa dramática, segurando uma risadinha e eu esperei, não fazendo ideia do que ela queria dizer. - ...você e Finn.

- Ohhh! - Exclamei em entendimento. - Quer ir dar uma volta de carro? - Brinquei e levei uma tapa na cabeça como resposta. - Você sabe que estamos quebrando um padrão aqui, não é?

- Que padrão?

- Não conversamos sobre outras pessoas na cama. Na cama, contamos coisas íntimas, pessoais, aquelas que precisamos abrir o coração. - Terminei com um sorriso de lado.

- O quê? De onde você tirou isso, Harry?

- Você me contou sobre seu irmão, eu te contei sobre Sophie, a parte vulnerável, pelo menos. E no carro você me contou sobre Henry, eu contei sobre Himawari.

- Não contou, não. Falamos sobre ele na sua casa. - Arqueei uma sobrancelha. - Em LA. - Ela revirou os olhos ao esclarecer.

Era verdade, na manhã seguinte à noite em que escrevi Sunflower.




- Você está fugindo do assunto. - retrucou na defensiva

Eu sorri. Eu não queria falar sobre Himawari, estava de saco cheio de me sentir miserável por causa dele. Eu não estava fugindo do assunto, propriamente falando, eu estava apenas mudando o foco. Nada do que falei sobre era mentira, no entanto. Ela era muito perspicaz quando se tratava em observar coisas de um ângulo afastado, mas ela parecia ignorar todos os seus melhores instintos quando se tornava pessoal.

- Eu estou?

Ela escolheu encerrar o assunto ao entrar no banheiro. Pouco mais de um minuto depois, eu ouvi o barulho da água correndo no chuveiro.

Pulei da cama, levando a bandeja de café da manhã de volta para a cozinha. Aquela música... era alguma coisa... eu tinha gostado. E precisava mostrar para Mitch. Enviei a gravação de voz, ouvindo de novo duas vezes antes para ter certeza que nada além da música estava sendo enviada. Mitch era meu amigo, mas era ultrapassar todos os limites enviar para ele, mesmo sem querer, trechos do meu sexo na noite anterior. Assim que a gravação carregou e eu consegui clicar em ‘enviar’, imediatamente iniciei uma chamada por facetime, a qual ele também atendeu da cama. Eu esperava que ele não estivesse dormindo.

- Oi, mate. - Cumprimentei. - Acabei de te enviar uma música.

- Bom dia para você também. - Ele disse se sentando na cama.

- Dude, são mais de uma da tarde.

- Que seja. Me deixa ouvir aqui e eu te ligo de volta.

- Mitch...

- Cinco minutos, Harry. Eu te ligo de volta.

Olhei para a tela, sem acreditar que aquele canalha havia desligado na minha cara.

Eu tinha cinco minutos? Eu não queria discutir sobre a música na frente de . Se Mitch odiasse, achasse um fiasco do meio musical, eu não queria que ela estivesse junto para saber. Ela havia gostado, mas ela não era nenhuma profissional, então sua opinião não poderia realmente ser utilizada como argumento para dizer que era uma boa música. E se não fosse uma boa música, eu não queria que ela soubesse. Eu queria que a música permanecesse boa para ela, sem más influências do mundo exterior.

Eu ouvi o chuveiro sendo desligado e entrei em pânico, só tinha se passado três minutos, Mitch ainda não havia ligado de volta. Fui para a porta da cozinha e esperei o barulho da porta do banheiro se abrindo, mas ele não veio. Em vez disso, ouvi o chuveiro sendo ligado novamente. Suspirei de alívio, aquilo significava que ela estava lavando o cabelo. E que ia demorar.

Sete minutos se passaram até Mitch me ligar de volta.

- E então?

- É boa. - Prendi a respiração, porque ali vinha um “mas”. - Mas eu acho que podemos mudar a melodia da ponte um pouco, talvez deixar mais parecida com a da intro.

- Okay. Me mostre o que você tem.

- Calma lá, Bukowski, eu ainda preciso pensar.

- O que você quer dizer com isso?

- Quero dizer que eu preciso pensar.

- Não, eu quero dizer com “Bukowski”. - Fiz aspas com a mão que eu não segurava o telefone.

- Qual é, Harry?! Acha que eu não te conheço?! - Foi uma pergunta retórica. - Esse álbum é sua própria versão de ‘Burning in Water, Drowning in Flames.’, cheio de mulheres – e homens. – Acrescentou. - Culpa, arrependimento e drogas.

Eu fiz uma careta através da tela.

- E daí que eu escrevi umas músicas tristes? Não faz nem uma semana que tem mandei ‘lights up’ e, até a última vez em que chequei, zero arrependimentos ou culpa nessa.

- ‘Sunflowers keep it sweet in your memory’. - Mitch citou um dos trechos da música que eu tinha acabado de enviar. - Porque a realidade não tem nada de doce, já uma memória distorcida pelo tempo... - Deixou o raciocínio em aberto. - ‘I was tongue-tied', ‘I’ve got your face hung up high in the gallery’. - Ele parecia ler os versos anotados de algum lugar. - Por que ‘no alto da galeria’? Parece alguém intocável, adorado de longe. Você está sufocado com alguma coisa.

- Ah, não. Você também não. - Choraminguei.

- Por que eu também não? Você mostrou essa música para mais alguém?

- Mostrei para , e ela disse a mesma coisa que você... mais ou menos. - Dei de ombros. De uma forma não tão irritantemente analítica, pelo menos.

Eu não queria ter que explicar o significado das minhas músicas para cada uma das pessoas que a ouvirem. Mas, porra, eu estava sendo assim tão transparente? E eu queria simplesmente entregar todo o jogo assim?

- Isso é sobre ? - O nome dela me fez ficar alarmado. Olhei para a porta para garantir que ela ainda estava no banheiro. - Você está obcecado por ela também como ficou por Sophie?

- O quê? Não! - Neguei imediatamente. - Eu não estou obcecado por ela. E eu não fiquei obcecado por Sophie. - Revirei os olhos quando meu tom de voz saiu mais defensivo do que planejei.

- Mas isso é sobre ela? - Voltou a repetir a pergunta.

- Não! Talvez. - Confessei. - Em parte. é ótima. Uma ótima amiga. - Enfatizei. - Eu estou tendo dificuldade para superar Himawari.

- Isso explica ‘tired eyes are the death of me’ e o verso sobre pasta de dente.

- Quer parar de dar uma de Freud comigo?

- É, você já me disse isso antes. - Mitch rebateu jocoso. - Mas, Harry, o cara é um babaca esnobe e pomposo, for fuck’s sake!

- Acha que eu não sei disso?

- Então suponho que ‘kiss in the kitchen like it’s a dancefloor’ é uma fantasia.

- Não, cara. Isso é sobre . - Rebati imediatamente, eu sentia que a qualquer momento terminaria o banho.

- Como você conseguiu misturar todos esses elementos? - Mitch criticou.

- Jesus, Mitch! Você vai analisar toda a porra da letra agora? Não temos tem...

- Harry, você é um gênio, você não vê isso?

Eu não esperava pelo elogio.

- Eu... eu-u, ah. - Cocei a bochecha, que começava a crescer uma barba que já me incomodava. - Ent-então você gostou mesmo?

- E alguma vez você escreveu algo que eu não gostei?

- Bem, teve aquela vez, antes de Kiwi...

- Cala a boca.

- Olha, cara, não me entenda mal, eu não quero interferir na sua vida pessoal e nem em como você a transcreve para a música, mas eu gosto da . Só não... Tenha certeza que ela sente o mesmo antes de cair de cabeça.

- Mitch, quantas vezes eu vou precisar dizer que a é só minha amiga e eu não sinto nada além de... - Eu ouvi a porta se abrir junto com o vapor de um banho que devia ter sido escaldante. - Eu preciso desligar, conversamos depois.

Apertei o botão vermelho e enfiei o celular no bolso.

- Hey! - Gritei para que desenrolava a toalha da cabeça.

Eu não poderia ter soado mais suspeito.

- Oi?! - Ela me encarou com um vinco entre as sobrancelhas.

- Então... Como foi o banho? Lavou o cabelo, é? - Eu não estava me ajudando.

fixou o olhar em mim sem se mexer por alguns segundos antes de dar uma volta de 360 graus em seu próprio eixo.

- O que foi? - Me perguntou.

- Nada. Nada. - Balancei a cabeça. - Quer sair para almoçar fora hoje?





- Eu sei que você está certa, mas estamos na minha casa, então... - Eu comecei a falar em meio a um sorriso trapaceiro.

- Então, nada! - Ela me corrigiu. - Não vamos fingir que eu estou errada só porque você tem o controle do ambiente. - Me deu uma piscadela seguida de um sorriso amplo. - A gente não tem padrão nenhum.

- Okay. - Eu me levantei da cama.

- Não. Não diga “okay”, tipo “okay” - me imitou em tom zombeteiro. - Como se eu estivesse errada e você não quer discutir.

- Okay. - Repeti da mesma forma e ela revirou os olhos enquanto eu me virava para entrar no banheiro.

- Mas e então, – ela gritou – qual a história?

- Não foi nada demais. - Comecei a falar voltando a me deitar na cama e me cobrindo com o lençol. - Só éramos amigos, sentíamos uma certa atração um pelo outro e queríamos experimentar. Eu fui para o X-Factor, continuamos amigos, de vez em quando o assunto vem à tona, mas na maioria do tempo nem nos lembramos de que já aconteceu. - Eu virei de barriga para baixo e o lençol ficou preso embaixo do meu corpo.

deu um tapa na minha bunda.

- Mas que bunda, hein! - Disse pervertida.

Eu comecei a rir e me levantei de novo.

- Você diz essa bunda? - Parei de lado, apontando para a minha própria bunda que eu havia estrategicamente posicionado de frente para ela. Nos meus lábios havia um sorriso ladino de quem teve o ego inflado.

- Bem, é a única que você tem, certo? - Minha resposta foi um revirar de olhos. - Então basicamente o que você está me dizendo – dizia enquanto se sentava na cama – é que essa bunda é a mesma bunda que esteve com Finn? - Ela balançou a cabeça como quem aprova.

- Pare de me sexualizar! - Gritei em um tom de voz grosso e consegui manter o rosto sério por dois segundos depois disso, e então explodi em uma gargalhada.

- Não, mas sério, até que você tem uma bunda legal, H.

- Isso é o bastante, . Chega! Dá para pararmos de falar de bunda?

- De bunda no geral ou só da sua bunda? - debochou.

- Ambos!

- Okay. - Ela debochou, de novo imitando o meu tom de voz.

também se levantou, dando a volta na cama e caminhando em minha direção nas pontas dos pés, me abraçando pela cintura e me dando um beijo inocente em seguida.

- Ei! - Eu dei um pulo de susto quando suas mãos deslizaram da minha cintura e apertaram os dois lados da minha bunda.

- Você mexe comigo de um jeito que eu não sei explicar, Harry Styles. Você me deixa alarmada, com todos os meus sentidos no limite. Como uma dose de adrenalina adormecida, e o seu toque é o mecanismo de ação.

Suas palavras me deixaram arrepiado, principalmente porque talvez fosse assim que eu me sentisse com ela também, mas nunca teria sido capaz de identificar melhor. Isso era atração, química e o desejo mais primitivo e profundo conhecido pela humanidade.

- É só estar assim bem perto de você... - Ela continuou ao tocar meu rosto com uma das mãos. - E então eu estou em estado de alerta, elétrica, só esperando que você me segure firme e me faça sua mais uma vez.

Suas mãos deslizaram calmamente pelo meu peito, seu olhar acompanhando onde elas passavam, atravessando para as laterais e parando pouco acima do meu quadril, seus dedões pressionaram as pontas das minhas duas idênticas tatuagens. Seu olhar voltou a encontrar os meus, mas suas mãos ficaram ali.

Assim, me beijou e eu, automaticamente, retribui, colocando uma das minhas mãos no seu rosto. Empurrei-a caminhando cegamente em direção a parede mais próxima e coloquei minha outra mão nas suas costas para minimizar o impacto na parede. Senti sua perna direita se levantar e se prender quase na altura do meu quadril, enquanto nos beijávamos de um modo totalmente diferente de mais cedo. Suas mãos já passeavam pelo meu pescoço e cabelo, puxando-o com uma força quase dolorida.

Tínhamos mais urgência um pelo outro dessa vez, mas isso teria que esperar. Eu quebrei o beijo e, quase ao mesmo tempo, comecei a me agachar em sua frente, ela tombou a cabeça para trás por um momento antes de me encarar novamente enquanto mordia o lábio inferior. Já era claro o que eu tinha em mente, mas eu verbalizei mesmo assim:

- Eu quero te provar.

*


Dois dias antes de irmos para Holmes Chapel conheceu minha irmã. Gemma veio passar esses dois dias na minha casa e iríamos juntos para a casa da nossa mãe para o natal.

Gemma tinha feito panquecas de café da manhã para todos nós e queria retribuir a gentileza, então fazia o jantar.

- Estou com fome! Falta quanto tempo? - Gritei somente para irritá-la.

Gemma e eu estávamos sentados na mesa de jantar, que era localizada em frente à porta, daquele ângulo conseguíamos ver a outra porta, onde ficava a cozinha, e entrava no nosso campo de visão vez ou outra quando se movia lá dentro.

- Cala a boca. Boa comida leva tempo. - Ela gritou de volta.

- Há! Piada.

- Harry! - Gemma chamou minha atenção e eu dei de ombros e fiz uma careta de quem não sabia do que ela estava falando.

Puxei meu celular do bolso e desbloqueei a tela, intuitivamente abrindo o aplicativo de mensagens.

Rolei a página, passando por todas as mensagens não lidas e fui respondendo alguns assuntos pontuais e outros que me interessavam, até que passei pelo contato de Mitch, o qual não havia novas mensagens, apenas o registro da última vez que nos falamos. Havia sido há poucas horas. Gemma e eu saímos para comprar alguns presentes de natal que faltavam na nossa lista e Mitch e eu trocamos mensagens breves sobre o que ele estava compondo para acrescentar às últimas músicas que eu havia o enviado.

A nossa última ligação, as mensagens e todas as letras das músicas engatilharam uma lembrança antiga, ou talvez a lembrança de quando tudo definitivamente começou...




- Você precisa de uma carona, ? - Eu perguntei enquanto caminhávamos pelo estacionamento para ir embora.

Eu tinha ido ao boliche em LA com Mitch e Sarah e outras pessoas que eles conheciam, claro que eu não esperava encontrar lá depois do clima tenso que passamos no dressing room do meu show. Eu realmente achei que nunca mais fôssemos nos ver depois daquele fiasco.

- Não, vim de moto. Obrigada. - Ela gritou sem olhar para trás, logo se sentando na única moto em todo o lugar.

Para a minha surpresa, era uma moto maior e visivelmente mais pesada do que eu esperava. Definitivamente não era o tipo de moto esportiva que víamos com homens que participavam de clubes de motociclistas. deu partida quase que imediatamente, o barulho forte no estacionamento fechado fez com que nós cinco, os únicos além de ali, olhássemos para ela.

Eu entrei no carro bem a tempo de arrancar a moto e parar ao lado da minha porta, agora recém fechada. Abaixei o vidro para que pudéssemos nos ouvir.

- Então, até mais, galera. Obrigada pela noite, foi muito divertida. E Lucy, te vejo na segunda. - Ela se despediu.

Mitch foi o primeiro a falar depois que nos despedimos.

- Cara, eu gostei dessa garota. Ela parece ser foda.

- Uh-hum. - Eu murmurei quase inaudível ao apertar o botão para fechar a janela enquanto observava colocar o capacete.

- Posso ser sincero? Parece ser uma das melhores que já vi com você e também já estava na hora de você seguir em frente. - Mitch completou e eu ainda olhava para .

E então ela partiu. E eu terminei de fechar a janela do carro.

- Do que você está falando? - Perguntei em um tom alterado, cruzando olhar com Sarah pelo retrovisor e me lembrando que não estávamos sozinhos. - Ela não está comigo. - Completei falando mais baixo, mas em um tom levemente debochado. - Eu a vi, tipo, duas vezes. Ela parece ser legal.

Mitch me lançou um olhar que seria engraçado se não tivesse tido como efeito me irritar. Devolvi o olhar apontando com a cabeça para o banco de trás. Eu dizia “Não é o momento para falarmos disso". Ele provavelmente entendeu, pois mudou de assunto me pedindo para colocar uma música para tocar.

Eu me perguntei o quanto da conversa fora audível do banco de trás e se Lucy conseguiu ouvir algo. E se ela contaria para sobre isso. Provavelmente, sim.

Lucy foi a primeira que eu deixei em casa. Mitch e Sarah ficariam na casa dos pais de Charlotte. Provavelmente sentindo que queríamos conversar, Sarah e Charlotte entraram primeiro, deixando Mitch para trás.

Eu sai da vaga da garagem e manobrei o carro, parando rente ao meio fio, coloquei a marcha em P e apertei o botão para desligá-lo, tudo isso enquanto sentia Mitch me observar, embora eu não retribuísse.

- O que foi? - Revirei os olhos ao finalmente encará-lo. Maldita mania que essa garota havia me passado.

- Revirar os olhos é falta de educação, Harry.

- Reclame com a super fã nove-nove. - Vociferei irritadiço.

- Quem?

- ! - Bati as mãos no colo.

- Uh. Isso é rude. - Eu suspirei alto. - Você não precisa ser babaca e ficar se referindo a ela com esse tom debochado como se achasse que o fato de ela ser sua fã fosse um defeito gravíssimo.

- Sabe quem era “minha fã”, Mitch? Sophie!

- Ah, cara. - Mitch respondeu como quem tivesse entendido tudo. - “Eu a vi, tipo, duas vezes.” - Zombou me imitando.

- O que não é mentira.

- Mas foi suficiente.

- Suficiente para o quê, Mitchell? Não viaja.

- Você gostou dela. - Afirmou com veemência, o dedo apontado para mim.

- Eu não...

- Eu não estou perguntando, cara. - Ele me cortou. - É uma constatação. Fato inegável. - Ele deu um tapinha no meu ombro. - E você está aterrorizado. Por quais forem os motivos, você está associando essa garota legal com uma não tão legal.

- Okay, Sigmund Freud. Isso já é o bastante.

- Cara, eu só quero te ver feliz.

- Eu estou feliz! - Mitch tombou a cabeça para o lado.

- Harry, dois dias atrás você me mandou uma música cujo título se chama “To Be So Lonely".

- E daí? Isso não quer dizer nada.

- Então o que você está me dizendo aqui é que eu estou delirando e você não escreveu essa música para a Sophie?

Eu não respondi.

- E que você não ficou nem um pouco interessado naquela garota?

- Interessado não seria a palavra certa... - Admiti relutante. - Mas ela me deixou intrigado, curioso.

- Interessado.

- Não, cara. Não é romanticamente interessado. Ela só parece divertida, engraçada, alguém que você acha maneiro e quer ter a presença em todas as suas festas, sabe? Autêntica. Eu gosto de conviver com pessoas assim.

- Então por que você não...?

- Porque eu já errei antes! E muito recentemente! Não sei se posso confiar no meu instinto. Ela pode não ser nada do que ela aparenta... E mesmo se ela for exatamente como ela tem se mostrado, eu não quero ter problemas de novo. E menos ainda quero misturar as coisas.

- Eu te amo, Harry, mas o seu ego é grande demais. - Mitch falou tão sério que eu comecei a rir e ele acabou me acompanhando.

Demorou algum tempo para que nos recuperássemos das risadas.

- É sério. - Mitch retomou. - O que te faz pensar que ela ia querer algo com você?

Hum. Até que ele tinha razão. Eu poderia ser amigo dela sem me preocupar com nada disso, eu só precisava acalmar meu ego...

- Eu não sei sobre ela, mas eu realmente queria conhecê-la...





O que me faz pensar que ela ia querer algo comigo, Mitch, é o fato de que quatro meses depois ela está na porra da minha casa em Londres cozinhando o jantar para mim e para a minha irmã e prestes a viajar comigo para a casa da minha mãe!

Mas se Mitch estivesse aqui, ele diria que eu é quem está confundindo as coisas. Afinal, agora é minha amiga, não é mesmo? Se eu estava transando com ela algumas horas atrás, a culpa era somente minha, eu me deixei levar, eu que comecei isso. No entanto, não queria dizer que para ela isso tinha um significado mais profundo do que aparenta. Era casual. Consentido. Acordado dessa forma. Eu sabia disso, ela sabia disso e estava tudo certo.

- Aqui vai o melhor Fetuccine Alfredo que vocês comerão na vida. - entrou na sala de jantar trazendo uma marinex de vidro grande demais para três pessoas.

- Me deixa te ajudar. - Fiz menção de pegar o recipiente de sua mão, mas ela não deixou.

- Obrigada, Harry. Você pode voltar na cozinha comigo? Tem coisas suficientes lá para você trazer. - Acenei com a cabeça e a segui.

Caminhei atrás de observando toda a parte de trás do seu corpo, ela vestia uma calça jeans preta e uma camiseta minha cuidadosamente arrumada por dentro da calça. Os quadris balançavam levemente conforme ela andava. Seu cabelo, que havia sido pintado há dois meses, começava a dar sinais de crescimento por causa da raiz de cor diferente.

Acelerei o passo para alcançá-la e abracei suas costas. rapidamente levou seus braços para trás, contornando por cima dos meus em uma tentativa de também me abraçar.

Sincronizamos os nossos passos.

Bem, eu andava como se estivesse com a bunda assada, mas pelo menos estávamos grudados.

- Gostei da calça. - Comentei quando ela virou a cabeça para conseguir me ver.

- Você já me viu nessa calça milhões de vezes essa semana, não é como se eu tivesse variado muito. - Ela rebateu divertida e eu sorri.

- Está linda, . - Elogiei e a segurei no lugar para que pudesse lhe dar um selinho.

- Eu ou a calça? - Fingiu não saber.

- Hum... - E eu fingi pensar. - Você na calça. - Ela riu.

- Certa resposta.

Era consentido. Acordado dessa forma. Eu sabia disso, ela sabia disso. Era casual, mas eu não estava facilitando que fosse. E ainda assim, de algum modo, não parecia errado.

*


Voltando para Holmes Chapel, ou melhor, chegando em Holmes Chapel...

A culpa foi minha por começar por Holmes Chapel e depois passar a falar do tempo em Londres e agora Holmes Chapel de novo, espero que isso não fique confuso demais.

Mas agora estávamos em Holmes Chapel. Na casa da minha mãe.

Eu não havia gostado nem um pouco quando pediu um quarto separado ao chegarmos de Londres. Eu havia dirigido por quatro horas na chuva enquanto ela e a minha irmã cantavam absolutamente todas as músicas que tocavam no carro, o mínimo que eu esperava é que fôssemos dormir na mesma cama.

Eu estou sendo egocentrista de novo?



00:42: Ei! Você já dormiu? - Eu enviei a mensagem para .

00:42: Ainda não, agitada pela viagem.



A resposta veio mais rápida do que eu esperava, tanto que me peguei encarando a tela sem saber o que responder.



00:43: Quer vir para o meu quarto?



00:43: Harry...




Esperei pacientemente que ela digitasse o resto. Pelo menos eu esperava que ela fosse completar a mensagem.



00:45: H, já falamos sobre isso.

00:45: Falamos sobre o quê?



00:46: Somos amigos, Harry!
Amigos não dormem na mesma cama.
Não quero causar uma má impressão
com a sua mãe.

00:47: E daí que estamos na casa da minha
mãe? Somos adultos! E como se ela não
soubesse que a gente se pega.





Eu acabei revirando os olhos mesmo estando sozinho naquele quarto escuro.



00:48: Além do mais, eu não estou pedindo
para você dormir aqui.

00:49: Vem para cá, vamos conversar até o sono vir
e você volta para dormir aí, se quiser.





Digitando...
Digitando...
Digitando...


For God’s sake, ! Quanto tempo demorava para digitar ‘sim’ ou ‘não’?

A batida na porta me sobressaltou.

Eu pensei em gritar que a porta estava destrancada, mas se fosse , ela me xingaria porque eu poderia acordar alguém, então me levantei e fui abrir a porta.

- Caralho, você demorou. - Ela reclamou ao me empurrar e ir entrando. - Fecha logo a porta antes que alguém veja que eu entrei aqui.

Fiz o que ela mandou como resposta automática e fiquei parado atrás da porta após fechá-la, estático.

- O quê? Está frio! - Ela se justificou ao se deitar na minha cama e se cobrir em seguida.

- Você veio.

- Você me chamou.

- Chamei.

- Então estou aqui.

Eu já disse que a praticidade de era uma das coisas que eu mais admirava nela? Não tinha hesitação. Era tudo muito simples, objetivo, sem jogos, sem significados ocultos. “Você me chamou? Então eu vim” ou “Você sentiu vontade de me beijar? Então vamos nos beijar”, ela não ficava esperando nada além do que estava ali na frente dela, palpável. Não ficava procurando coisas onde não tinha.

Conversamos por horas, sobre minha adolescência aqui, meus amigos, os lugares que eu gostava de ir, sobre o que fizemos e os lugares que ela mais gostou de ir em Londres, os planos para o dia seguinte e para o outro depois dele, sobre meu padrasto e o quanto eu sentia falta dele e queria que ele estivesse aqui para conhecê-la. Ele adoraria , não que ele desgostasse efetivamente de alguém, mas ela só era muito extraordinária para que alguém não gostasse dela.

E, é claro, dormimos. Foi sem perceber, estava tarde e ainda conversávamos, ela dormiu primeiro enquanto eu ainda falava sobre o que poderíamos fazer no dia seguinte. Eu estava cansado e dormi imediatamente após ela, me sentindo seguro, despreocupado e acolhido.



também acordou primeiro no dia seguinte e tivermos a maior briga. Ela insistia em usar o fato de sermos somente amigos como desculpa para não dormirmos juntos, mas não dormimos juntos todos os outros dias em que estávamos em Londres? Isso não fazia o menor sentido para mim. Só porque estávamos na casa da minha mãe? Ela não ia sair por aí insinuando que e eu estávamos mentindo sobre não estar juntos só porque dormimos na mesma cama.

Eu não queria que ficássemos brigados, porque nossos dias ali eram contados. Então pedi desculpas e seguimos em frente. Ou pelo menos eu esperava que seguíssemos.

O dia foi bem cheio, o que me preveniu de pensar ou tocar no assunto com ela. Decoramos biscoitos, minha mãe mostrou todos os álbuns de fotos da família para e eu até mesmo arranjei uma chamada de vídeo entre ela e Louis para que ele pudesse receber feliz aniversário dela.

A parte em que conversamos com Louis foi bem engraçada, confesso. A essa altura, eu sequer me lembrava que era uma fã, ela raramente tocava no assunto, tirando a sua impressionante habilidade de referenciar nossas músicas em qualquer oportunidade, não tínhamos nenhuma situação desconfortável por causa do detalhe ‘fã’.

No entanto, sempre que nos encontrávamos em qualquer cenário em que qualquer coisa da minha vida profissional era citada, ela simplesmente se tornava a pessoa mais apoiadora que eu já conheci. Daquele tipo que deixa a impressão de que realmente está ali por você, para qualquer coisa que você precisar, por mais loucura que pareça. A é a pessoa que você chama para esconder um corpo. Ela é esse tipo de pessoa.

É nesse ponto em que voltamos para quando eu fui para o quarto de .

Já pela noite, depois de tudo o que fizemos durante o dia, eu ainda assim não consegui dormir. Eu me revirei na cama até bem tarde. Em algum momento desisti de tentar dormir e peguei meu celular. Já passava das duas.

Eu queria mandar uma mensagem para ela perguntando se eu poderia ir para seu quarto, mas eu sabia que ela não ia gostar da ideia.

Eu digitei e apaguei várias vezes alternadamente duas perguntas: Você está acordada?e Posso ir para o seu quarto?

Quando finalmente desisti da mensagem e criei coragem para ir até o seu quarto, eu já tinha exaurido minha cota de hesitação pelo resto do ano, pelo menos. Somando com todas as vezes em que me segurei, em que me privei de sentir e pensar coisas nesses últimos dias, eu poderia até ser mais ousado e dizer que minha cota de hesitação havia sido esgotada pelo resto da minha vida. E, talvez (mais provável certamente), seja por isso que a verdade havia escapado logo agora.

Acho que já me acostumei a dormir com você.

E enquanto tentava abafar a sua risada, eu pensava em como era um pé no saco ser sincero demais! Mas o que eu podia fazer se eu era tão aberto? Vulnerável? Eu não ia me sentir culpado por isso.

- Para, né! - finalmente conseguiu responder enquanto ainda tentava controlar sua risada.

Seu tom de descrença me machucou. Por que ela não acreditava que eu realmente gostava de passar tempo com ela?

- Por que você nunca leva a sério nada do que eu falo? - Eu perguntei sem conseguir me conter.

- Eu sempre levo a sério o que você fala. - Ela rebateu adquirindo uma postura séria.

- Então por que está rindo?

- Porque isso é engraçado, só dormimos juntos por uma semana.

- Os meus sentimentos são algum tipo de piada para você, ? - Eu me virei de frente para ela; seu rosto tão próximo me deixava tenso, porque eu poderia perder o controle e beijá-la a qualquer momento. - Eu sei que nós dormimos juntos por só uma semana, mas você não facilita as coisas, sabe? - Eu a abracei, inspirando seu cheiro.

- O que eu fiz agora????

O que você fez agora, ?, eu queria responder. Você não fez nada agora, mas vem fazendo por quatro meses e eu só não sei explicar que porra é!

Não conseguir explicar como ela podia me deixar tão confuso me tirava do sério. Eu queria dizer que eu amava ser amigo dela, que eu amava seu espírito sempre animado, seu humor ácido e seu tom sarcástico. Eu queria dizer que ela era a melhor coisa que havia me acontecido esse ano e que eu era grato por tê-la em minha vida. Eu queria dizer que eu sabia que ela era minha amiga, mas que eu percebia que ela agia como mais do que isso às vezes. E que, talvez, às vezes eu me deixava levar e também passasse dos limites.

Eu queria dizer que pensar no fato de que ela poderia sentir algo a mais por mim me aterrorizava, porque eu adorava sua companhia e não queria acordar um dia e descobrir que era só isso que eu sentia: Um enorme carinho e sentimento de amizade. Eu não queria me tornar a sua Sophie. Não queria dar nenhum indício de que algo estava acontecendo, porque nem eu mesmo sabia o que eu queria! E eu estava muito confuso. E, se eu fosse ser bem sincero, talvez estivesse com medo de confiar em alguém de novo.

Então tudo o que eu disse foi:

- Você tem o melhor cheiro do mundo! Eu durmo sem perceber, quase embalado por ele.

O que também não era mentira. Mas estava longe de ser toda a verdade.

*


Era quase a hora da ceia de natal, estávamos todos, , minha mãe, minha irmã e seu namorado, meus primos, tios e sobrinho, espalhados pelos sofás, cadeiras e demais assentos na sala de estar, jogávamos um jogo de perguntas e respostas e estava na vez de Michal, namorado da minha irmã.

- Com licença. - falara do nada e toda a minha atenção foi para ela imediatamente. Ela se levantou e balançou o celular, atravessando a sala e saindo pela porta da frente em seguida.

Michal acertou sua pergunta, ou talvez tenha errado; o jogo não importava mais. A questão era: Quem havia ligado e por que tinha saído para a rua para atender?

Me ajeitei no sofá, o cão da casa, que estava deitado no meu joelho, acabou acordando com o meu movimento, e eu fiz um carinho em sua cabeça como pedido de desculpas.

Será que esse jogo ia demorar muito para acabar?

Eu sabia que sim, jogávamos todos os anos.

- Ei, o jantar está pronto? - Eu perguntei para ninguém específico.

- Mais cinco minutos, H. - Chloe, minha prima e anfitriã, respondeu.

- Okay, vou avisar . - Essa era a minha deixa para ir atrás dela.

Sem pensar direito, eu me levantei antes que alguém falasse comigo e fui até a porta de entrada. Enxerguei parada ao lado da entrada da garagem assim que abri a porta. Ela gesticulava com uma mão enquanto a outra segurava o celular no ouvido.

Soltei a porta, deixando-a aberta e caminhei até , escutando sua risada quando cheguei mais perto. Eu quis rir junto num primeiro momento, mas me senti abatido ao perceber que não era comigo que ela ria assim.

- Aceite, Campbell, eu sou a mais legal de nós dois. - Eu a ouvi dizer e quis revirar os olhos.

Esse Campbell só podia ser o cara do trabalho dela com quem ela sai às vezes. Nada contra, mas eu preciso dizer que obviamente não gosto da competição? É claro que eu não posso exigir nada de , até porque isso seria muito estranho, mas isso não me impede de não gostar nem um pouco de ter que dividi-la. Eu sou egoísta, eu sei.

Sem pensar melhor na minha abordagem, eu coloquei uma mão em seu ombro e ela se virou abruptamente.

- Você me assustou! - Reclamou alto. - Não, não você, Campbell. Só um momento. - Ela completou antes que eu pudesse abrir a boca.

- Desculpe, eu não quis te assustar. É porque te chamei lá da porta e você não ouviu. - Inventei a primeira desculpa que passou pela minha cabeça. - O jantar já vai ser servido. Só vim te chamar.

- Tudo bem. Só vou me despedir. - Eu concordei com a cabeça. - Eu já vou.

Constrangido, eu dei as costas e voltei para a porta. Virei para olhá-la e a encontrei também me olhando.

Menos de um minuto depois, parou ao meu lado na porta, ficamos nos encarando por alguns segundos. Incomodado pelo silêncio, eu disse:

- Henry, uh? Nem no natal você se desliga do trabalho? - Era para soar como uma piada, mas havia muita ironia no meu tom de voz.

- Ele só me ligou para desejar feliz natal. - Ela deu de ombros, como se não fosse nada demais.

E realmente não era, então porque eu estava com... esse embrulho no estômago, esse aperto esquisito no peito? Como se eu pudesse vomitar ou começar a hiperventilar a qualquer momento.

- Entendi. - Assenti com a cabeça.

- O que foi?

Eu me sentia patético.

- Nada. - Dei de ombros também. - Posso te dar um beijo?

Patético ao quadrado.

- Só um? - Soltou um riso divertido e eu sorri de lado.

Não tão patético assim. Obrigado, , por fazer tudo ser mais fácil. Por me colocar em um outro lado da luz, onde é mais claro e límpido.

- Quantos você me deixar te dar.

*


O natal veio e foi embora. E eu estava no meu quarto vendo se arrumar para também ir embora.

- Vem aqui. - Eu a chamei quando terminava de guardar suas roupas na mala. - Volta para a cama, .

- Harry, eu preciso tomar banho e ir para o aeroporto.

- Você não precisa ir embora agora, nosso feriado não precisa acabar.

Ela me olhou com uma sobrancelha erguida, aquela expressão dizia “sério?”

- Você é mais do que fofo! - Ela se aproximou e me deu um beijinho. - Mas muito inocente.

- Eu sei que você precisa trabalhar. - Eu cruzei os braços, emburrado. - Mas também sei que você pode dizer que está doente, ou sei lá.

- No seu mundo. - Respondeu séria. - Mas eu estou em uma realidade completamente diferente. Eu não sou rica e famosa, as coisas não são simples assim.

Sua resposta me magoou. Eu sabia que eu tinha uma realidade diferente da maioria das pessoas, eu não precisava me preocupar em bater ponto, cumprir horários ou me preocupar em trabalhar, de fato. Eu podia fazer dessa a sua realidade também, , mas eu sei que você jamais aceitaria.

- Okay. Eu vou te esperar lá embaixo. - Eu respondi me dando por vencido. Eu sai do quarto ainda a tempo de a ver entrando no banheiro.

Minha mãe estava sentada sozinha na sala.

- Cadê a Gemma? - Perguntei ao me sentar ao seu lado no sofá.

- Saiu com Michal.

- Para onde?

- Não sei.

- Como assim você não sabe onde a sua filha está? - Reclamei fingindo indignação.

- Sua irmã - enfatizou - é uma mulher adulta.

Eu cruzei os braços e me aconcheguei melhor no sofá. Minha mãe assistia a algum programa na TV que não me interessava o bastante para que eu perguntasse o nome.

Eu também estava completamente envolvido no meu próprio caos de pensamentos, envolvido o bastante para que as vozes na TV se tornassem nada além de barulho de fundo. Eu tinha muitos conflitos internos naquele momento. Muitos sentimentos confusos, muitas sensações novas para catalogar.

Em dois dias eu iria para o Japão. Eu passaria o ano novo lá, voltaria para passar alguns dias entre LA e Londres trabalhando e então voltaria ao Japão para o meu aniversário. tinha recusado meu convite para ir junto em qualquer uma dessas duas ocasiões.

Tudo o que eu queria era que ela me deixasse mudar suas passagens para LA para dali dois dias, eram só dois dias! Que mal ia fazer?

Teríamos tempo de ir jantar no meu restaurante de comida Chinesa favorito, ao lado da antiga casa em que eu morava. Podíamos passar na padaria em que trabalhei na adolescência e assim eu poderia a apresentar para Barbara, uma velha amiga. Ela era uma senhora que trabalhava na padaria há anos e era como uma mãe para mim. E no dia do voo, podíamos ir mais cedo para Manchester, andar nas lojas e almoçar por lá.

Tantas coisas que perderemos nesses dois dias em que ficarei sozinho.

- O que vocês dois têm, hein?

Minha mãe falou de repente, me causando um sobressalto.

- O quê? - A encarei confuso.

- Você diz que vocês dois são amigos, mas desde que ela foi para o quarto se arrumar para ir embora você está com essa cara, como se alguém tivesse... não sei, morrido.

- Somos amigos! - Reforcei, um pouco devagar com a mudança repentina do foco do meu raciocínio. - Mas é claro que eu queria que ela pudesse ficar mais.

- Por quê?

- Como assim “por quê?”? Porque ela é minha amiga, porque eu gosto da companhia dela.

- Vá com ela.

- O quê? E você? Eu já vou para o Japão daqui alguns dias, quero passar o resto do tempo com você.

- Eu vou sobreviver.

Silêncio. Suspirei.

- Eu-eu não sei o que estou sentindo. - Admiti. - A gente diz que é só amigos.

- Mas para você não é mais só isso.

- Não. Quero dizer, eu não sei. - Sussurrei, de repente com medo de que escutasse. - Você sabe tudo o que aconteceu ano passado, mãe. Eu tinha certeza que estava apaixonado pela Sophie até uma semana atrás.

- O que aconteceu há uma semana?

- e eu a encontramos em Londres. Foi por acaso, mas eu fiquei confuso. - Expliquei.

- Você não sabe se ainda gosta da Sophie?

- Eu tenho certeza que não gosto mais da Sophie. - Minha mãe me deu um olhar confuso e eu tentei me explicar. - Eu só não sei se eu... não sei se eu consigo confiar, sabe? Não sei se estou pronto para isso de novo. Não sei se quero me envolver assim agora.

- Você acha que talvez não devesse confiar na ?

- Não! Claro que não! - Neguei imediatamente. - Ela é incrível, mãe. Sério. Foi por causa de termos visto a Sophie que eu percebi que não me sinto da mesma forma que me sentia pela .

- Harry, não deixe o passado interferir nas suas decisões do futuro. Mas você precisa descobrir se realmente gosta dela, para não a magoar.

- Eu sei. - Passei uma mão na testa, um pouco nervoso. - Eu vou deixar as coisas como estão por enquanto... Eu só vou falar com ela quando tiver certeza do que sinto e do que quero. - Me interrompi, percebendo algo de súbito. - E-e por que você acha que eu a magoaria?

- Vai dizer que você não percebeu que ela gosta de você também?

Quem eu estava querendo enganar aqui? A mim mesmo eu já não enganava fazia tempo. Eu achava mesmo que poderia enganar aquela que me pôs no mundo?

Era a primeira vez que eu tocava nesse assunto com a minha mãe, e eu nem falaria nada sobre ter encontrado Soph se eu não tivesse sido forçado pelas circunstâncias.

Eu não via minha mãe há meses, eu não queria vir para casa justamente no natal e parecer mal. Eu não queria ter que explicar porque eu me sentia miserável com indo embora. Eu me despedia das pessoas todos os dias, não que eu achasse fácil, mas era o que eu sempre fazia.

Então por que me despedir dela parecia ainda mais difícil?



- , obrigado por ter vindo passar o feriado comigo. - Eu agradeci quando nos despedimos dentro do meu carro.

Eu tinha a levado para o aeroporto em Manchester para que ela pegasse um voo para Londres e depois outro para LA. Não que isso tenha acontecido sem que antes discutíssemos. Ela era uma mulher muito teimosa e achava que independência consistia em se locomover até o aeroporto sozinha só porque era “perto”.

Eu sabia que ela era plenamente capaz de chegar até lá sem se perder ou se ferir gravemente. Mas será que ela não percebia que eu queria passar todo o resto do nosso tempo juntos?

“Passamos os últimos dez dias juntos.”, foi sua justificativa quando eu disse que queria aproveitar o tempo que gastaríamos de casa até o aeroporto.

Cada uma de suas respostas era um banho de água fria. Será que minha mãe estava tão certa assim ao dizer que ela gostava de mim de uma maneira diferente? Será que eu estava interpretando as coisas de modo claro ao pensar que ela agia como mais que amiga, mesmo que fosse somente em certos momentos específicos?

- Obrigada por me receber. - Ela sorriu, porque ela fazia muito isso. Ela falava sorrindo, falava gargalhando, dentes sempre a mostra. Tão simpática, tão alegre, tão... iluminada.

“Você sabe que eu queria passar mais tempo com você.”, ela se corrigiu depois. E eu queria passar todo o meu tempo com você, . Com você, sua falta de organização física e seu transtorno obsessivo-compulsivo quando se trata de trabalho.

Eu quero te ensinar, assim como eu aprendi, que não estar no controle o tempo todo não é sempre algo ruim. Seu trabalho pode te esperar, sua vida em LA pode te esperar. Fica aqui comigo? Vamos juntos para o Japão, passar semanas por lá, conhecendo cafeterias e passando tardes inteiras lendo, como se isso fosse a vida real, esquecer das nossas responsabilidades, dos nossos traumas, do passado. Tudo pode te esperar, . Eu posso te esperar.

Porque tudo o que eu queria de natal era que você ficasse.





Continua em Mistérios do Destino



Nota da autora: OI, PODEROSAS!! VOCÊS SENTIRAM A MINHA FALTA???????
Eu sei, eu sei! MDD ainda não atualizou, mas é porque eu estava trabalhando nesse projeto para vocês, porque final de ano é sempre especial né?
Além do mais, eu tô com várias ideias sobre MDD e tô preparando tudo para vocês, fiquem de olho no instagram da PP, porque eu sempre posto as novidades lá! Mas se você quer conteúdos ainda mais exclusivos, spoiles a qualquer hora, várias teorias e um bom bate papo, então entra no nosso grupo do whatsapp. Se você não gosta de whatsapp lotado de grupos não tem problema, acompanhe as minhas histórias por meio do grupo no facebook

Como vocês já sabem, cada título dos capítulos de MDD são retirados de trechos de música e temos uma playlist com todas as músicas em ordem dos capítulos e spoiler alert: eu sempre posto a música do próximo capítulo antes dele sair, então já segue lá porque ainda essa semana sai a música-título do capítulo 26!!!!!!!

Agradecimento especial para a Duda Portuga por revisar para mim de última hora. E obrigada, Carol do Vinho, como sempre sendo minha co-piloto e fazendo a leitura crítica. Amo vocês!

UFAAAA! Acho que é só isso! Pelo amor de Deus não deixa de comentar!! Se a caixinha não aparecer, logo aqui embaixo tem o link DIRETO para você comentar. Então sem desculpas, hein?

Eu volto logo,
Beijinhos da Cam Vessato ♥

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The Spaniards' Girl - Restritas, Cantores, Harry Styles, Shortfic
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