Última atualização: 03/10/2018

Capítulo Único

Já era a quarta vez naquela semana que eu e brigávamos; nós ainda estávamos na terça-feira. O motivo era sempre o mesmo, o fato dela não largar o marido babaca dela, que um dia fora meu melhor amigo.
Revirei os olhos mesmo que ela não pudesse ver, já que discutíamos através do WhatsApp.
"A gente pode conversar mais tarde?"
"Com calma e pessoalmente."

"Ok, ."

E com isso se encerrava mais uma discussão. Se mais tarde ela realmente teria tempo para conversar comigo pessoalmente, já seriam outros 500. Suspirei olhando o principal motivo de nossas brigas passar na frente da minha sala, Igor, seu marido. Acabei lembrando como aquilo tinha começado... Há cinco anos atrás.

Tínhamos acabado o jantar com os acionistas da empresa e eu agradeci aos céus. Não aguentava mais as piadinhas por eu ser o único solteiro do grupo. Igor riu da minha cara, ele me conhecia bem e sabia que eu já estava de saco cheio, mas mesmo assim ele tinha se juntado aos outros homens para me zoar vez ou outra.
Nos levantamos para sair da mesa – depois das despedidas – e eu tive que ajudar a se equilibrar, visto que ela estava se embolando nos próprios pés.
- Acho que eu bebi um pouquinho demais. – Ela disse rindo e fazendo todos da mesa rirem também. – Estou bem. – Sorriu para mim e soltou minha mão.
Saímos do restaurante em direção ao estacionamento e vi Igor agir como eu nunca tinha visto.
- Você como sempre me fazendo passar vergonha, não é, ? – Apertou o braço dela a puxando em direção ao carro.
- Ai, Igor! – Ela tentou se livrar, mas ele puxou mais.
- Você não tem modos. – Continuou praguejando e a apertando. Não pude me segurar.
- Igor, qual foi, não tem necessidade disso. – Disse e a puxei, livrando-a do aperto dele.
- Não se mete, . – Tentou se aproximar dela, mas eu me pus no meio.
- Já deu, cara. Ela não fez nada demais. O vinho só bateu quando ela levantou, acontece com todo mundo.
- Eu falei para você não se meter. – Disse entredentes e me empurrou para chegar perto dela de novo.
- Está tudo bem, . – tocou meu ombro e deu um sorriso para me tranquilizar. No instante seguinte, Igor a tinha puxado pela mão em direção ao carro de novo, continuando a falar besteiras. – Está machucando minha mão, Igor. - Ela puxou a mão e esfregou um pouco as juntas do dedo.
Igor parou no mesmo instante a olhando e rindo pelo nariz.
- Você está machucando a droga da minha reputação e nem por isso estou fazendo drama.
- Igor... – Falou com a voz um pouco chorosa. – Para com isso, eu só tropecei. – Ele revirou os olhos.
Toquei no ombro dele, o pedindo para se acalmar, mas ele me empurrou mais uma vez.
- Eu já falei para você não se meter. Nunca ouviu falar que briga de marido e mulher não se mete a colher? – Aumentou um pouco o tom de voz me fazendo arquear as sobrancelhas.
- Cara, acho que você quem bebeu demais. – Disse devagar tentando evitar mais conflito.
- Vai arrumar uma mulher para você cuidar, . – Respondeu e puxou a mulher para a direção contrária de antes.
- Onde você está indo? – Perguntei confuso, já que ele ia de carona comigo.
- Nós vamos de táxi.
- Igor. – Chamei, mas ele já tinha entrado no restaurante de novo.


Depois daquele dia nossa amizade nunca mais foi a mesma. Primeiro porque eu não admitiria uma atitude dessa vinda de um amigo meu, principalmente depois de ligar para e descobrir que aquela cena era mais comum do que eu imaginava; segundo porque Igor realmente não gostou de eu me meter no casamento dele, ainda mais depois que descobriu que eu tinha conversado com a sobre isso.

Ouvi a porta da minha sala se abrir num rompante e parei de ler o novo contrato que tinha recebido para olhar o autor da palhaçada.
- Qual é a tua, ? – Igor perguntou claramente insatisfeito, mas eu não entendi.
- Você entra na minha sala batendo porta e eu que estou errado? – Arqueei as sobrancelhas. Ultimamente eu estava sem paciência para qualquer coisa vinda de Igor.
- Eu quero saber que merda você tem com o meu casamento. Por qual razão você está mandando mensagem para minha esposa? – Ele falou fazendo as coisas ficarem claras para mim.
- Ah! Isso? Eu só queria saber se estava tudo bem depois daquele dia. – Dei de ombros. – Você me pareceu meio transtornado e eu fiquei com medo pela .
- Você não me viu transtornado, . Eu quero você longe da
minha esposa. – Apontou o dedo para mim e eu levantei.
- Igor, está acontecendo alguma coisa? – Eu era amigo de Igor desde que entrei na faculdade, isto é, há 7 anos, e nunca o tinha visto ter aquele tipo de comportamento.
- Está sim, . Você se intrometendo na minha vida. Fica longe de mim e, principalmente, longe da . – Disse e saiu da sala. Batendo a porta mais uma vez.


Eu até tinha tentado me manter longe dele e da , mas, cerca de uma semana depois, ela me ligou chorando. Igor tinha batido nela.
Tentei ajudar de todas as formas, inclusive me dispondo a ir na delegacia com ela, mas ela não quis. Só queria alguém para conversar. A cena se repetiu mais algumas vezes e ela sempre voltava na minha casa. Tinha vergonha de contar para a família e para as amigas.
Uma coisa levou a outra e acabamos nos envolvendo.

Cheguei em casa cansado e frustrado. A qualquer momento chegaria ali para desabafar as merdas que o marido fazia com ela e eu me sentia impotente por não poder ajudá-la verdadeiramente. Fui até o banheiro para tomar uma ducha e tirar o suor do trabalho.
Terminei na hora certa, pois, quando estava colocando a calça moletom, escutei a campainha tocar. Fui apressado atender, já sabendo que era , a recebi com um abraço.
Como se recusava a buscar ajuda por não confiar em ninguém – além de mim –, eu tinha virado seu refúgio. Pelo menos uma vez no mês ela vinha até minha casa para conversar – sobre
qualquer coisa –, assistir um filme e se livrar um pouco do que lhe afligia. Eu tentava ajudar da melhor forma possível – sempre insistindo que ela precisava de ajuda profissional.
Dei espaço para ela entrar e fomos nos sentar no sofá.
- Eu tenho certeza que você ainda não comeu, então eu passei no italiano que tem aqui perto e trouxe massa para gente. – Levantou a sacola em suas mãos e eu sorri.
- Vou buscar os pratos. – Me levantei indo em direção à cozinha. – Você quer comer aqui na mesa ou na sala mesmo? – Aumentei o tom da minha voz para ela ouvir.
Escutei o som opaco de seus saltos batendo no chão e logo ela estava na cozinha também.
- Não quero bagunçar, então é melhor aqui. – Colocou a quentinha em cima da mesa e a abriu, servindo nos pratos que eu tinha colocado ali.
Comemos praticamente em silêncio, se não fosse contar as piadinhas bobas que eu contava de vez em quando para fazê-la sorrir. Eu amava o seu sorriso. Depois que terminamos, ela fez questão de lavar a louça e nós voltamos para o sofá.
Ficamos algum tempo apenas nos olhando – e rindo por não estarmos falando nada – até que ela resolveu falar.
- Ultimamente, o único momento que eu me sinto em paz é quando estou com você. – Respirou profundamente. – Gosto muito de passar o tempo com você, . – Eu sorri.
- Também gosto muito de passar o tempo com você. – Ela sorriu de volta.
Então, como nos filmes clichês que gostava de assistir, nos aproximamos até estar com nossas bocas grudadas. Mas ao contrário dos filmes, não nos sentimos arrependidos e paramos instantes seguintes, nós queríamos aquilo.
Puxei para o meu colo, onde ela se sentou com uma perna de cada lado. Desci os beijos pelo pescoço dela, já abrindo os botões de sua blusa social para descer o beijo para além daquilo. segurou meus cabelos e rebolou no meu colo, fazendo-me gemer pela pressão causada no meu membro. Tirei sua blusa e rapidamente levei a mão no fecho do sutiã para abri-lo.
O gemido que ela deu quando passei a língua por seu mamilo era como música. Levantei a saia dela até a cintura, permitindo um contato maior entre nossas intimidades
- Eu quero tanto te provar. – Sussurrei no ouvido dela e coloquei a mão por dentro de sua calcinha, sentindo-a completamente molhada.
Enfiei dois dedos nela e a masturbei por pouco tempo, depois trouxe meus dedos até minha boca e os chupei. mordeu o lábio inferior e esfregou uma perna na outra, enquanto cravava as unhas em meus ombros. Correu com a boca procurando a minha e pegou uma das minhas mãos a levando até sua intimidade novamente. Sorri durante o processo e atendi seu pedido.
Depois de parar novamente de masturbá-la, me levantei e a coloquei sentada no sofá, tirei sua calcinha e abri suas pernas, colocando-as por cima dos meus ombros. Dei uma olhada na boceta totalmente encharcada dela e passei a língua pelo meu lábio inferior. Senti meu pau latejar dentro da cueca. era um sonho.
Comecei estimulando seu clitóris com o dedo, mas logo desisti. Queria sentir seu gosto diretamente. Passei a língua de sua entrada até o clitóris e o suguei. arfou e jogou o corpo para frente. Desci a boca até sua entrada de novo e a penetrei com a língua, fazendo ela segurar meus cabelos me impulsionando para ela.
Seus gemidos ficaram mais altos e ela trancou as penas ao meu redor, o que provavelmente significava que estava chegando ao orgasmo. Continuei no mesmo ritmo, ouvindo-a gemer cada vez mais alto até gozar em minha boca.


- Maldito dia que eu tinha caído nas garras daquela mulher. – Pensei alto e revirei os olhos em seguida, rindo para o meu próprio drama.
As horas se passaram lentamente naquele dia, mas isso era normal de todas as vezes que eu ia me encontrar com a ... o tempo demorava para passar. E quando estávamos juntos passava muito rápido.
Quando cheguei em casa, já estava lá, sentada no sofá e mexendo no celular. Ela se levantou sorrindo quando me viu e veio até mim.
- Oi. – Passou os braços ao redor do meu pescoço e me deu um selinho. Espremi minhas sobrancelhas enquanto olhava sua boca.
- O que é isso? – Estendi a mão até ela, notando um machucado no canto da boca. – Foi por isso que não podia me ver? Ele te bateu de novo? – revirou os olhos e se soltou de mim imediatamente.
- Não vim para sua casa para falar sobre o Igor. – Se jogou no sofá.
- Claro que veio, . A gente sempre acaba falando sobre ele no final. Eu realmente não entendo. – Passei a mão pelos cabelos e andei até a cozinha para beber água. – Não entendo como pode preferir ficar com um cara que te bate e te humilha, enquanto eu estou aqui te colocando em um pedestal e pedindo para ficar comigo.
- Eu não prefiro ele, . – Ela apareceu na porta da cozinha e eu ri sem vontade.
- Então por que ainda está com ele? – Cruzei meus braços.
- Porque somos casados, ! Há quase 10 anos.
- Século XXI, . Você não precisa ficar com um cara que te espanca só porque cometeu o erro de se casar com ele no passado. – bufou.
- , eu não vou ter mais essa conversa. Estou cansada da mesma ladainha. Se para você não está bom assim, a gente termina. – Ela falou e arqueou uma das sobrancelhas.
- Ok. Então acho que é o fim. – Respondi e me virei para a pia para lavar o copo que tinha acabado de usar.
- Como? – Perguntou com a voz em um fio.
O negócio era que eu sempre estive nas mãos dela, então sempre que ela ameaçava terminar, eu colocava meu rabinho entre as pernas com medo de perdê-la. Só que, agora, quem estava cansado era eu.
Cansado de me doar tanto em um relacionamento para ser sempre o amante e a segunda opção. Eu sabia que não merecia isso. Sabia que merecia uma mulher que fosse minha de verdade. Mas também sabia que era tão errado nessa história quanto a ... ela nunca me prometera largar o marido, pelo contrário, eu entrei nessa já sabendo que ela não era minha.
- Eu concordo com você. – Disse devagar e dei os ombros, ainda de costas para ela. – Acho que deveríamos terminar.
- Você está falando sério, ? – Escutei a voz dela aumentar alguns tons, mas não respondi imediatamente.
Me virei para ela e me aproximei, suspirando e fazendo um carinho na sua bochecha, eu disse:
- Foi bom enquanto durou, . – Sorri e saí da cozinha em direção ao meu quarto. – Por favor, deixa a cópia da chave na mesa antes de sair. – Disse por último.
A minha esperança era que viesse atrás de mim e falasse que me amava, assim como eu a amava, mas não foi essa a realidade.
Quando eu saí do banho, não tinha um vestígio de que ela tinha estado ali. Nem hoje, nem nunca. A gaveta que eu tinha cedido para ela estava aberta e sem suas roupas, seus cremes e perfumes também já não estavam mais no criado-mudo e o chinelo que eu a emprestava estava de volta a minha sapateira. A única coisa que provava que tudo aquilo não tinha sido ilusão da minha cabeça, era a escova de dente no meu banheiro e a chave em cima da mesa.
Suspirei e me deitei no sofá, me permitindo chorar por não poder mais estar com a mulher que eu realmente amava. Balancei a chave acima de mim e ri de como eu era idiota. Com a chave na mão, peguei no sono no sofá mesmo.

(...)


A vida, sinceramente, tinha se tornado meio monótona sem . Antes não era algo que me incomodava, mas, depois de viver alguns anos de pura intensidade, passou a ser. Eu não tinha virado um daqueles caras depressivos, introvertidos, nem nada do tipo, mas era notável que eu tinha nada além de uma rotina sem graça... Trabalho, casa, casa, trabalho. Decidido a mudar isso, comecei a aceitar os convites dos meus amigos para happy hour ou alguma festa que eles iam. Eu precisava viver por mim, não por outra pessoa.

Sorri apreciando o pagode que estava tocando no bar que meus amigos escolheram. Eu tinha me descoberto um homem boêmio durante esse tempo. Procuramos uma mesa e nos sentamos já ordenando um balde de cerveja para o garçom, mais conhecido como consagrado.
Gargalhei da piada idiota que Geovani estava contando e dei mais um gole na minha cerveja. Senti Felipe me cutucar com o ombro e olhei para ele, que apontou um canto do bar. Duas mulheres olhavam para nossa mesa.
- Elas estão olhando desde que chegamos. – Felipe comentou.
- Claro, eu estou aqui. – Dei de ombros como se fosse óbvio e depois gargalhei.
Felipe revirou os olhos e voltou a prestar atenção no que nossos amigos falavam. Fiz o mesmo e acabei esquecendo das mulheres que nos olhavam.
Estava voltando da área de fumantes com Felipe quando as moças de antes pararam na nossa frente. Com um sorriso, uma delas disse:
- Gabriela, prazer! – E estendeu a mão para mim.
- . – Sorri de volta e estendi a mão.
A gente acabou não voltando para a mesa de amigos. Eu fiquei conversando com a Gabriela, enquanto Felipe conversava com a sua amiga, Helena.
Gabi era gente boa, tinha um sorriso bonito e uma risada que fazia você querer rir também. Ela me chamou para dançar o samba que estava tocando e eu, mesmo não sendo muito bom nisso, acabei indo com ela. Depois de algum tempo, já tínhamos trocado alguns beijos, mas eu só conseguia pensar na e isso fez com que eu me sentisse culpado.
Acabei saindo mais cedo que o planejado, me despedindo de Gabi com a desculpa de que tinha trabalho no dia seguinte. Com a cabeça pesada, saí do bar. Pelo menos Felipe tinha se dado bem.


Perdi a conta de quantas vezes eu cheguei a digitar uma mensagem para e apaguei em seguida, principalmente quando , minha fiel melhor amiga, me xingava de otário para baixo. apreciava muito – já que eu as tinha apresentado – e gostaria que nosso relacionamento tivesse dado certo, mas não gostava da atitude que tinha tido comigo; então ela continuava amiga da , mas não apoiava que eu fosse atrás dela.
Com o tempo, eu estava aprendendo a viver sem . Pelo menos era o que eu achava.
Mas o dia em que me vi realmente ferrado foi quando recebi o convite para a festa da empresa. Eu sabia que odiava esse tipo de festa – com roupas extravagantes, vestidos longos e gente de nariz em pé -, mas, mesmo assim, tinha implorado para ela ir comigo. Era por um bem maior! estaria lá e eu sabia que cairia no momento que ela me olhasse, mas foi incisiva em dizer que não iria.
- Você é uma péssima melhor amiga, . – Eu apontei o dedo para ela.
- Observe eu me importar. – Disse e bebeu um pouco do suco que eu tinha feito.
- Me dá meu suco. – Puxei o copo da mão dela. – E sai da minha casa. – Apontei a porta. – gargalhou e puxou o copo da minha mão de volta, voltando a beber.

(...)


Dei graças a Deus ao chegar na festa e constatar que todos finalmente tinham percebido que eu já não era mais amigo de Igor, isso porque não tinham nos colocado na mesma mesa – como tinham feito em todos os anos anteriores. Mexi no celular e mandei mais uma mensagem para :
“Você realmente é uma péssima melhor amiga.”

Junto anexei uma foto minha fazendo bico. Em menos de 5 segundos ela respondeu:
“Foda-se.”
Realmente... Deus tinha me dado uma amiga excelente.
Olhei para os lados procurando achar um rosto conhecido, mas me arrependi no mesmo momento. Eu tinha achado um rosto conhecido.
Conhecido até demais.
Eles não tinham colocado Igor na mesma mesa que eu, mas tinham o colocado na mesa ao lado.
E lá estava ela. . Olhando para mim sem parar.
Senti meu coração dar um pulo e suspirei, não conseguindo evitar olhá-la também. estava simplesmente incrível. Bom, ela era incrível, mesmo de pijama e descabelada, mas quando ela se arrumava... não tinha para ninguém. Passei a língua pelos lábios observando o vestido justo – ombro a ombro, até o meio da canela – que lhe caia tão bem.
Tratei de me virar, ficando de costas para onde ela estava e olhando para qualquer lugar que não fosse a mesa do meu lado direito, mas sentia minhas costas queimarem com seu olhar. Toda vez que me permitia olhá-la, ela estava me olhando também. Eu era um homem morto.
Em um ponto da noite, saiu de sua mesa e caminhou em direção à minha – porém, obviamente, passando direto -, mas foi nesse momento que eu percebi a fenda convidativa, a partir da metade da coxa, que seu vestido tinha na perna direita. Engoli em seco e fiz uma careta, quase chorando, aquilo era muita judiação. Acho que percebeu o efeito que aquela fenda teve em mim, porque, depois daquilo, ela não parou de andar para lá e para cá, sempre passando em frente à minha mesa.
Levantei, já me sentindo sufocado, e andei até a mesa que Felipe estava sentado para pedir um cigarro. Eu não era de fumar, só o fazia quando estava muito estressado, por isso nunca tinha comigo, mas Felipe era um viciado convicto, então sempre me salvava. Com o maço de cigarro e o isqueiro já em mãos, rumei para fora do salão.
Saindo na grama molhada pela chuva de mais cedo, caminhei até a parte de trás do local, onde não tinha gente. Me apoiei na cerca baixa que cercava o local, coloquei um cigarro na boca e acendi, começando a tragar.
- Oi. – Escutei, atrás de mim, a voz da pessoa que assolava meus pensamentos quando já estava terminando o cigarro. Me virei um pouco para vê-la, mas logo voltei a posição inicial, fazendo-a suspirar. – . – Ela tocou meu ombro.
- , - Me virei totalmente para ela, já que agora já tinha acabado o cigarro. – Seu marido está lá dentro e eu não estou em um dia bom, se ele vier arrumar confusão comigo por ciúme, eu vou enfiar ele na porrada, então sugiro que você não fique perto de mim. – piscou algumas vezes e mordeu o lábio inferior. Eu tinha certeza que ela estava reprimindo o choro.
- Eu sinto sua falta. – Ela disse com a voz por um fio e eu senti meu estômago afundar.
Continuei parado, tentando controlar o impulso de fazer alguma loucura, desviei o olhar do dela.
- . – Chamou chegando mais perto de mim, passou os braços pela minha cintura e deitou a cabeça em meu peito, me abraçando. Senti minha respiração ficar pesada.
Eu não me movi. Não conseguia.
Ficamos nessa posição por alguns minutos, até que ela se afastou. Com os olhos brilhando pelas lágrimas, logo em seguida, ela deixou algumas lágrimas caírem e, ainda me olhando nos olhos, falou:
- Eu te amo tanto, tanto, tanto. – Fungou e eu senti minha garganta fechar, queria chorar junto com ela. – Eu sei que você não entende porque as coisas são assim. – olhou para o chão. – Na verdade, nem eu entendo muito bem. – Fungou mais uma vez e voltou a me olhar.
Ainda com os olhos molhados, ela sorriu para mim. As coisas dentro de mim borbulhavam quando fazia isso... sorrir. Então, deixando de lado qualquer coisa que estava acontecendo no momento, eu a puxei pela cintura e lhe beijei.
Beijei do jeito que queria ter feito por todo esse tempo que ficamos separados. Levei uma de minhas mãos até sua nuca e puxei os cabelos ali, fazendo-a gemer contra minha boca, a outra eu levei até sua bunda, dando um aperto forte.
- Vamos para minha casa, . – Pedi, quase em um choro, assim que finalizamos o beijo, com a testa colada na dela.
- Vamos. – Ela disse em um sussurro.
Com os dedos de entrelaçados aos meus e passos apressados, andamos rapidamente até o estacionamento. Entramos no meu carro e em menos de 20 minutos estávamos em casa.
Saí do carro e andei até o lado do carona para abrir a porta para como eu sempre fazia, mas quando cheguei lá, ela já tinha saído. Sem paciência, ela se jogou em mim, enroscando as pernas na minha cintura e os braços no meu pescoço, começando a me beijar.
Passei pela porta da garagem que saía na cozinha e fui andando até meu quarto, onde a coloquei na cama. Levantei, sobre os joelhos, tirando a gravata e o paletó e chegou até mim para me ajudar tirar a blusa social. Deu beijos molhados no meu pescoço, enquanto passava a camisa por meus ombros e eu suspirei. Depois que a camisa saiu, os beijos subiram de volta para minha boca e suas unhas foram até minhas costas deixando algumas marcas.
Procurei pelo fecho de seu vestido, ainda a beijando, descendo o zíper assim que o achei, na lateral, e paramos o beijo apenas para livrá-la do vestido. Desci a boca para seu pescoço dando generosos chupões ali e levei a mão para dentro de sua calcinha, começando a estimular seu clitóris. gemeu e levou as mãos até meu rosto para puxar-me em direção a sua boca.
Deitei na cama e a puxei, fazendo-a ficar por cima de mim. levou as mãos até minha calça, desafivelou o cinto e abriu-a, já a empurrando para fora das minhas pernas. Chutei os sapatos do meu pé para facilitar.
Puxei os cabelos de fazendo-a ficar com o pescoço exposto para mim e beijei a região, descendo até chegar em seu seio, enquanto ela rebolava na minha ereção. Mordi o bico do seu peito esquerdo e a ouvi gemer, apertando as unhas no meu ombro. procurou minha boca mais uma vez e, enquanto me beijava, desceu minha cueca começando a me masturbar. Gemi contra a boca dela e mordi seu lábio inferior.
Céus! Eu tinha sentido falta daquilo.
Virei, já aproveitando para me livrar da cueca, ficando por cima dela. Segurei meu membro o esfregando de seu clitóris até a sua entrada algumas vezes, o que fazia a mulher abaixo de mim arquear as costas. Sem querer esperar mais, me enfiei dentro dela de uma vez só, abriu a boca, segurando nos lençóis, mas não emitiu som nenhum. Entrei e sai algumas vezes de dentro dela e, durante isso, beijei seu pescoço.
me segurou pelos cabelos, levando a boca até meu ouvido e gemendo baixinho como sabia que eu gostava. Cruzou as pernas ao meu redor e fez o salto de sua sandália apertar o fim das minhas costas, causando uma dor prazerosa.
Continuei com os movimentos de vai-e-vem ritmado até ouvi-la gemer mais alto e pedir por mais. Em poucos minutos, seu orgasmo tinha chegado; o meu veio logo em seguida.
Saí de cima dela e me deitei de barriga para cima, tentando controlar a respiração. se achegou perto de mim, me dando um beijo na boca e deitando no meu peito. Dormi bem, de um jeito que não tinha dormido durante todo aquele tempo longe dela.
Quando acordei, ela já tinha ido embora.
Revirei os olhos pela ironia daquilo. Era claro que ela ia embora. Ela tinha a droga do marido dela a esperando.

Acordei no sábado de manhã e escutei um barulho na cozinha, me levantei rapidamente com os olhos arregalados. Assustado, me pus de pé e corri até lá para ver o que tinha causado o barulho.
Era uma mulher. Mais especificamente, . Ela sorriu ao me ver e eu sorri de volta.
- O que está fazendo aqui? – Caminhei rápido para perto dela e lhe dei um selinho.
- Vim passar o final de semana com você. – Deu de ombros e passou os braços pelo meu pescoço. Eu sorri a abraçando pela cintura e sentindo-a deitar a cabeça no meu ombro.
- Como conseguiu isso? – Semicerrei os olhos para ela. Afinal de contas, ela era casada.
- Eu disse a Igor que tinha uma viagem de trabalho. Estou aqui desde a madrugada. – Apontou uma mala pequena no canto da sala. Eu gargalhei e segurei em seu rosto a puxando para um beijo.
- Se for um sonho, não me acorde. – Disse com a testa colada na dela.
- Nada de sonho, bonitinho. – Ela apontou o dedo no meu nariz. – Você vai ter que me recompensar por isso. – Falou me fazendo sorrir malandro.
- É? Como? – Mordi o lábio inferior a olhando e ela cruzou os braços.
- Sessão de filmes românticos na Netflix. – Deu um sorriso esperto e eu desfiz o meu.
- Ah, . – Sai de perto dela e fui beber água, fazendo-a gargalhar.
Sentindo o cheiro, me virei para o fogão e notei algumas panelas sujas.
- Você fez café da manhã? – Virei, apoiando o corpo na pia, para olhá-la.
- Pão com ovos e bacon e panquecas. – Sorriu para mim. – Para entrar no clima dos clichês americanos que vamos assistir. – Bufei.
- Odeio você. – Apontei para ela, enquanto andava até a mesa pegando um pouco do ovo.
enroscou os braços no meu pescoço, como ela gostava de fazer, tombou a cabeça para o lado e, com um sorriso, disse:
- Eu amo você. – Mordi o lábio inferior, tentando conter a euforia que aquilo causava em mim. A acompanhei no sorriso e afundei minhas mãos em seus cabelos a puxando para um beijo.
- Eu amo você. – Sussurrei com um sorriso na boca e a testa colada na dela.


Mandei mensagem para implorando por ajuda, ela, como a boa amiga que sempre fora, mandou uma primeira mensagem mandando eu me foder e uma segunda dizendo que chegava em 20 minutos.
- Você está atrasada. – Disse assim que abri a porta para . Ela tinha passado 5 minutos do prazo estipulado.
- Vai tomar no cu. – Passou direito por mim e sentou-se no sofá. – O que houve? – Cruzou os braços.
- . – Fechei um dos olhos, já esperando pela bronca que viria.
Mas não veio. abriu e fechou a boca algumas vezes, suspirou, olhou para mim e ficou quieta.
- Você não vai falar nada? – Perguntei confuso.
- Ela me mandou mensagem, . Pedindo para cuidar de você, porque sabia que você iria estar detonado hoje. – Pisquei algumas vezes assimilando a informação. – Na verdade, - suspirou. – Ela tem me mandado mensagem desde que vocês terminaram.
- O quê? – Senti o interior fervilhar por descobrir que estava me escondendo aquilo. – Por que você não me contou? – Elevei um pouco o tom de voz e ela revirou os olhos.
- Por isso, . – Apontou para mim. – E também porque eu não sou obrigada. – Deu de ombros e eu revirei meus olhos.
- O que eu faço, ? – Perguntei choramingando e ela me deu um tapa.
- Para de drama, porra. Maior homão da porra, se valoriza, caralho. – Me deu outro tapa e eu ri. – Flavia está de volta na cidade. – Deu um sorriso sapeca e eu abri e fechei a boca algumas vezes.
- Você quer me botar em outra confusão, ?
- Que outra confusão? Flavia é um amor de pessoa e, o mais importante, é solteira.
- E mora do outro lado do país, razão pela qual terminamos.
- Qual parte do “voltou” você não entendeu? – Juntou as sobrancelhas.
- Ela voltou para ficar? – confirmou com a cabeça e abriu um grande sorriso.
- Vocês fariam lindos filhos. Aliás, ela é louca para fazer um filho com você, né. – Riu. – Quem não é, ? Você deve ter um pinto de ouro, porque não é possível.
- Quer experimentar, gatinha? – Passei a mão pelo braço dela levemente e ela fez cara de nojo.
- Vai se foder, . – Gargalhei. Eu tinha como uma irmã e ela me via da mesma forma. – Mas manda mensagem para a Fla. Certeza que vai dar bom. Você era bem caidinho por ela.
- Eu era um homem lindo e saudável e aí a me deu uma bela de uma chave de buceta. – gargalhou do meu drama.
Eu não estava mentindo.
não era a mulher que eu sempre sonhei. Longe disso. Mas ela era tão maravilhosa e especial que tinha se tornado a mulher que eu queria. Ela tinha mudado todos os meus padrões e me feito fazer coisas que eu nunca pensei fazer; e eu não me arrependia.

- Me compra uma casquinha? – pediu feito uma criança quando passamos em frente ao McDonald’s. Eu ri assentindo com a cabeça.
- Você já decidiu qual filme vamos assistir? – Perguntei enquanto estávamos na fila.
- Jumanji ué.
- Ai, , pelo amor de Deus.
- Você não se satisfaz com nada. – Ela cutucou minha costela.
- Me satisfaço com muita coisa. – Dei um sorriso de lado e ela revirou os olhos.
- Podre.
- Você gosta.
- Infelizmente.
- Pede seu sorvete. – Eu disse apontando que era nossa vez na fila.
- Oi, boa noite. – Ela sorriu para o caixa me fazendo sorrir junto dela. – Eu vou querer um McFlurry Alpino. – Eu fiz uma careta confusa para ela.
- Achei que você tinha dito uma casquinha, .
- Cala boca. – Ela respondeu sem me olhar. – Pode acrescentar cobertura extra, por favor. – Se dirigiu ao caixa.
- Você quer me falir. – Eu disse em um drama exacerbado e ela gargalhou, me dando um selinho após.
Depois de pegar o sorvete, caminhamos até o cinema para a escolha do filme. No meio do caminho ela olhou para mim, com a mais cara de pau possível, e disse baixo:
- Você me paga um sorvete, eu te pago um boquete. – Arregalei os olhos e ela gargalhou, enfiando uma colherada de sorvete na boca em seguida.
- Qual filme, ? – Perguntei ignorando o que ela tinha falado e ela riu de novo.
- Jumanji, .
- Qualquer um menos esse, .
- Jumanji, .
- Eu te odeio, . – Falei revirando os olhos.
- Eu te amo, . – Sorriu para mim e me deu um beijo na bochecha.
Sorri e passei o braço por seus ombros a puxando para mim.
- Eu te amo mais.


(...)


Eu tinha decidido seguir o conselho de , ela sempre me dava bons conselhos, por isso tinha mandado mensagem para Flavia naquele dia, assim que acordei, a chamando para fazer alguma coisa. Quando cheguei ao trabalho, ela já tinha respondido com a localização da nova filial da empresa que ela, agora, trabalhava e um: “Meu almoço é às 13h.”. Uma das vantagens de ser chefe de setor é que eu poderia fazer meu horário de almoço à hora que eu quisesse.
Pela localização o trabalho dela não era muito longe, então deixei para sair às 12h20. Dado o horário, desci até o estacionamento, mandei uma mensagem avisando que estava a caminho e dirigi até lá.
Juntei as sobrancelhas ao chegar no local, era o mesmo prédio onde a revista que trabalhava tinha uma filial. Filial que ela, também, trabalhava. Revirei os olhos pela ironia e mandei outra mensagem para Flavia avisando que estava na recepção.
Implorei a todos os anjos para que não me deixassem encontrar com , já que ela almoçava naquele mesmo horário. Não queria que ela pensasse que eu estava ali numa espécie de vingança ou algo do tipo, eu era mais maduro que isso.
Em poucos minutos, eu vi uma figura loira e sorridente caminhar em minha direção. Flavia passou da roleta de segurança e caminhou até mim já de braços abertos. Eu retribuí o abraço.
- Você realmente fica um pedaço de mau caminho vestido assim. – Passou as mãos pela lapela do meu terno e eu ri.
- São seus olhos. – Respondi sorrindo e ela fez uma careta desacredita. – E então? Aonde vamos almoçar? – Ela mordeu o lábio inferior, atitude típica dela de quando estava pensando.
- Uma colega disse que tem um restaurante italiano super gostoso aqui perto, Spedini.
Felizmente minha conexão com Flavia não tinha mudado. Nós sempre fomos bons amigos, então era quase impossível não nos darmos bem. Aos risos, caminhamos até o tal restaurante e nos sentamos em uma mesa no cantinho para conversar melhor.
- Como soube da minha volta? – Ela semicerrou os olhos para mim enquanto tomava suco que tinha pedido enquanto a comida não chegava.
- .
- Aquela cachorra. – Flavia gargalhou. – Ela me disse que você estava namorando.
- E eu estava. Bom, mais ou menos, é complicado.
- Complicado como?
- Deixa isso para lá. – Abanei o ar com a mão. – Quer dizer que você tinha perguntado sobre mim para ? – Apoiei os braços na mesa me jogando para mais perto dela e ela sorriu.
- É claro que eu tinha. Você terminou comigo, mas eu nunca te ressenti, sabe? – Franziu o nariz e se jogou para frente também.
Observei a loira do outro lado da mesa, que agora estava bem mais perto, e passei a língua pelos lábios.
Era óbvio que eu não tinha esquecido , nem achava isso possível, mas não dava para negar que eu e Flavia tínhamos conexão. Fla era digna de uma modelo – alta, loira, belos olhos azuis e um sorriso de tirar o fôlego de qualquer marmanjo –, mas ela tinha optado por ser arquiteta. E eu não era louco de ignorar uma conexão com um mulherão daqueles.
- Sei. – Respondi depois de um tempo e sorri de lado.
- Odeio esse sorriso. – Ela apontou para mim. Eu ri e voltei a minha posição inicial.
- Fala para mim, há quanto tempo está de volta?
- Uns três meses, eu acho. A empresa precisou de alguém bom de verdade nessa nova filial para botar as coisas no lugar, sabe? – Sorriu convencida e eu a acompanhei.
- Sei bem, dona Flavia.
- Estamos na cobertura. Nada chique. – Fez um bico. – Eu que a reformei. Modéstia à parte, ficou linda.
- Eu tenho certeza que sim. – Falei e Flavia franziu a sobrancelha. – O que foi?
- Tem uma mulher que não para de olhar para cá desde que chegou. Estou tentando ignorar, mas consigo ver com a visão panorâmica. – Revirou os olhos. Olhei para ver quem era e me arrependi.
- É a minha ex. – Flavia arqueou as sobrancelhas.
- Ela não é casada?
- Como você sabe? – Perguntei confuso.
- Sei lá. – Deu de ombros. – Deve ser meu guia me contando. Ou a aliança enorme no dedo dela. – Suspirei.
- Eu disse que era complicado.
- Não acredito que você era amante dela.
- Vamos trocar de assunto, por favor. – Pedi e ela assentiu.
Não demorou muito para engatarmos em outro assunto, mesmo que Flavia reclamasse de vez em quando sobre . Nossos pedidos chegaram e, a amiga de Flavia tinha razão, a comida estava deliciosa. Depois que acabamos eu pedi a conta e teimamos sobre quem pagaria, por fim, ficou decido que dividiríamos. Caminhei com ela de volta até seu prédio de trabalho e nos despedimos.
- Queria que tivesse tempo para a sobremesa. – Flavia passou os braços pelo meu pescoço e sorriu mordendo o lábio inferior. Levei as mãos até sua cintura.
- Seria ótimo. – Respondi sorrindo. – Tem um bolo de chocolate perto do meu trabalho que é sensacional. Um dia te levo lá. – Ela gargalhou.
- Você é ridículo, . – Deu um beijo no canto da minha boca e me soltou. – Até outro dia. – Deu tchau e se virou.
Eu ri e saí de dentro do prédio. A tempo de ver parada do outro lado da rua, esperando para atravessar.

(...)


Já tinha um mês que eu estava saindo com a Flavia – e, claro que, fazia questão de dizer que ela tinha nos juntado de novo –, apesar disso, nós estávamos apenas conversando. Eu tinha deixado claro para ela que ainda gostava de e, por isso, não tinha como entrar nesse novo-velho relacionamento de cabeça. Flavia não ligou, disse que não estava a fim de algo muito sério por enquanto. Nós trocávamos mensagens quase sempre, mas, por conta de nossa agenda, não nos víamos regularmente. Era meio que uma amizade com benefícios.
Eu estava descendo para almoçar, quando recebi uma notificação de mensagem no celular.
"Você tem um tempo para conversar? Estou naquele restaurante que nós vínhamos de vez em quando, atrás do seu prédio."
Era , espremi minhas sobrancelhas. Nós não conversávamos desde o dia da festa da empresa, não tinha me mandado uma mensagem sequer. O que ela poderia querer agora?
Mesmo confuso, enviei um “ok” de volta e fui até o restaurante encontrá-la. O mesmo restaurante que nós nos encontrávamos escondidos para ter um falso momento de casal, o mesmo restaurante que quase fez Igor nos descobrir, o mesmo restaurante que ela tinha me dito “eu te amo” pela primeira vez.

- O que você vai pedir? – Perguntei olhando o cardápio enquanto ela olhava para mim.
- Não sei ainda. – Não se moveu.
- Eu vou querer almôndega. As daqui são maravilhosas. – Observei o cardápio – Seu prato preferido está na promoção hoje. – Sorri para ela, que enrugou a testa confusa.
- Qual o meu prato preferido?
- Frango à parmegiana com purê ué. – abriu a boca algumas vezes, mas não falou nada. – O que foi?
- Eu te amo. – Ela soltou de repente e eu senti meu coração acelerar.
- Como? – Pisquei algumas vezes sem acreditar.
- Eu te amo. – Ela repetiu. – Eu demorei pra acreditar quando você me falou isso. – Ela riu nervosa. – E acabei demorando pra perceber que sinto o mesmo por você. – Pisquei de novo, ainda absorvendo aquela informação. – Nós estamos juntos há dois anos, , e eu posso dizer com total certeza que você me conhece melhor que qualquer pessoa. – Ela mordeu o lábio inferior e começou a esfregar as mãos nas pernas, coisa que ela fazia quando estava muito nervosa. – Eu nunca pensei que ouvir alguém falando qual era o meu prato preferido me faria enxergar as coisas com tanta clareza. – Deu de ombros e riu de novo. – Droga, eu te amo demais. – Abaixou o cardápio da minha mão e se jogou para frente na mesa. – Fala alguma coisa, por favor.
- Eu também te amo. – Disse e recebi o sorriso estonteante dela que eu tanto amava. Me apoiei na mesa para ficar mais perto dela também e acariciei seu rosto. – Eu te amo demais, .


Bufei com raiva de tudo aquilo. Raiva de por ter me feito gostar tanto dela, raiva de mim por ter me sujeitado a passar por isso, raiva de Igor por ser um tremendo babaca. E raiva por eu não conseguir me arrepender de ter vivido tudo que vivi com ela.
Quando cheguei ao restaurante, ela já estava sentada na mesa de sempre. De costas para mim. Caminhei até ela.
- Oi. – Eu disse puxando a cadeira para me sentar e fazendo-a levar um susto.
- Oi, . – Ela deu um meio sorriso e parou de brincar com o guardanapo em cima da mesa.
- O que aconteceu? – riu e começou a esfregar as mãos na coxa, mas não falou nada. – ?
- Estou me separando de Igor. – Ela falou tão rápido que eu quase não entendi. – Estou finalmente me separando dele. – Ela respirou fundo antes de continuar. – Contei para os meus pais tudo que aconteceu. Tudo. Desde as vezes que ele me bateu até o momento que você me acolheu. – Ela se mexeu um pouco e eu pude enxergar algumas marcas no pescoço dela.
- Ele te bateu de novo? – deixou algumas lágrimas caírem e assentiu com a cabeça.
- Não estou te contando isso para você voltar para mim, . Não sou uma megera desse tipo para tentar acabar com seu novo relacionamento, sei que está com a Flavia, e nós temos amigos em comum, então sei também que ela é uma ótima pessoa. Só sinto que preciso te dar essa explicação por todo tempo que ficamos juntos. – Eu assenti.
- Eu sei que você não é, . Não teria passado tanto tempo com você se não acreditasse que você fosse uma boa pessoa. – Ela sorriu para mim.
- Fiquei muito tempo ouvindo as barbaridades que Igor falava para mim, recebendo o que ele fazia comigo e deixei de acreditar em mim mesma. Deixei de acreditar que poderia ser realmente amada, por isso levou tanto tempo para eu retribuir o seu “eu te amo”. Eu me arrependo disso agora, porque sei que poderia estar muito bem se tivesse aceitado as inúmeras vezes que você me pediu para ficar com você.
continuava a esfregar suas mãos nas coxas e eu fiquei preocupado dela acabar se machucando pelo movimento repetitivo. Me escorei na mesa e puxei suas mãos, a segurando e fazendo um carinho leve.
- A estava me ajudando e me apresentou a uma amiga dela que é psicóloga. Eu só fui porque sempre confiei muito na . Há um mês eu descobri que estava grávida, na verdade, descobri no dia que vi você e Flavia pela primeira vez. – Ela riu pelo nariz. – Fiquei muito nervosa e quase perdi o bebê. Mas daí fiquei nervosa de novo. Não queria estar grávida dele. – As lágrimas voltaram a cair e ela levou as mãos até o rosto, as secando. – Fiz o exame para descobrir com quantas semanas eu estava e surtei mais uma vez. Eu estava com seis semanas. – Ela continuou. – Você sabe o que teve há 6 semanas atrás? – Ela me olhou nos olhos e então minha ficha caiu.
- A festa da empresa. – Respondi um pouco chocado. – A última vez que... ... – Ela me interrompeu.
- Sim. Nós vamos ser pais. – Ela abaixou a cabeça. – Eu não fiz de propósito. Eu juro. Não espero que você fique comigo por causa disso, não quero isso. Na semana passada, Igor descobriu que eu estava grávida e, pelo tempo, ele sabia que não tinha como ser dele. Você o conhece... ele enlouqueceu e acabou fazendo isso. – Apontou para o próprio pescoço. – Ele tentou socar minha barriga, você acredita? Aquilo foi a gota d'água, . Eu não entendia como as coisas chegaram aquele ponto, mas entendi que eu nunca deveria ter ficado tanto tempo com uma criatura como aquela. Entendi que o erro, durante todo esse tempo, tinha sido ele e não eu. Eu já tinha conversado com meus pais sobre tudo isso, então eu corri para a casa deles e estou lá desde então. Os advogados dos meus pais já mandaram a papelada do divórcio para ele. E é isso. – Ela levou as mãos até os cabelos e os prendeu em um coque. – Eu, sinceramente, estou perdida agora, . Não sei o que fazer. – fungou e eu levantei indo me sentar ao seu lado. Passei um dos braços pelos seus ombros e a abracei de lado.
- Eu disse que sempre estaria aqui, não disse? – Fiz um carinho leve no rosto dela e ela assentiu com um pequeno sorriso.
- Disse.

- E se você estivesse? – Perguntei olhando o teste na mão dela.
- Hm? – Olhou para mim confusa. Ainda estava focada no resultado do teste.
A menstruação de estava atrasada há quase um mês, pelas contas só poderia ser meu, e nós quase nos descobrimos pais, mas tinha sido apenas um alarme falso.
- E se você estivesse grávida mesmo?
respirou fundo antes de responder.
- Bom, não teria muito o que fazer, né? – Deu de ombros. – Eu amaria, mas prefiro que isso não aconteça agora. – Mordi o lábio inferior mediante a sua resposta.
- Mas você quer? Digo... um filho comigo.
- Como eu poderia não querer, ? – Perguntou sorrindo. – Você é um cara sensacional e eu tenho certeza que será um ótimo pai.
- Mas você é casada. – Eu disse brincando com os dedos como se fosse uma criança.
- Eu sou. E seria muito complicado. – Ela suspirou e passou a mão pelo meu rosto. – Mas você estaria comigo, certo? – Perguntou me olhando nos olhos e eu assenti sorrindo.
- Para sempre. – Respondi e ela sorriu junto comigo, se aproximando e me dando um selinho. – Menos na hora de sair de madrugada para realizar seus desejos. – Ela gargalhou.
- Esse negócio de desejo é mentira.
- Que bom então. – Ri junto dela.


(...)


3 MESES

Como os pais de moravam do outro lado da cidade – o que era longe do seu trabalho – e eu queria acompanhar cada passo da gravidez, nós tínhamos decidido que, por ora, ela ficaria morando na minha casa. Ela não gostou muito da ideia de início, principalmente por não querer inimizade com Flavia, mas eu deixei claro que não tinha problema algum, já que eu e Flavia não tínhamos nada sério – e, ainda assim, eu comuniquei a ela o que estava acontecendo.
já estava morando comigo há três semanas, ou seja, há três semanas eu era constantemente acordado de madrugada por causa de algum desejo maluco que ela tinha. Ver a satisfação dela depois de comer, o que quer que ela tinha me feito buscar, era satisfatório, entretanto.
Eu rezei para estar sonhando quando escutei aquela voz me chamar baixinho, mas não adiantou, não era um sonho. Abri os olhos e me deparei com quase em cima de mim, cada braço de um lado da minha cabeça, mas do quadril para baixo na cama.
- O que foi, ? – Perguntei choramingando.
- Estou com desejo. – Fechei os olhos e passei a mão pelo rosto.
- Ai, , será possível? – Me sentei na cama. – O que você quer dessa vez? – Ela deu de ombros. – , eu vou chorar.
- Na hora de fazer foi bom, não foi? – Ela cruzou os braços.
- Foi ótimo, , um orgasmo sensacional, mas você falou para mim que era mentira esse negócio de desejo. – Apontei o dedo para ela. mordeu o lábio inferior tentando reprimir o riso. – O que você quer?
- Batata frita com sundae de morango. – Acenei com a cabeça e me levantei da cama.

(...)


4 MESES

sorriu para mim animada e eu não pude evitar sorrir também. Era o dia que descobriríamos se teríamos uma menina ou um menino. Eu tinha pedido folga do trabalho no dia para irmos à consulta.
Estacionei em frente ao consultório para descer e depois parti com o carro para procurar uma vaga. Deus tinha sido misericordioso e eu consegui achar uma vaga poucos metros à frente.
- Vamos? – Perguntei quando cheguei ao lado de e ela confirmou com a cabeça. Agarrou no meu braço e entramos.
Fomos atendidos poucos minutos depois, já que a consulta era com hora marcada. conversou com a médica cheia de sorrisos, me apresentou – eu não tinha ido com ela lá ainda – e deitou na cama, já levantando a blusa.
Apesar da médica indicar o tempo todo o que era o que, eu não conseguia entender bulhufas, mas balançava a cabeça para cima e para baixo como se estivesse entendendo perfeitamente. Depois de alguma enrolação, chegamos a parte que eu mais estava ansioso.
- É uma menina. – Falou e eu dei um sorriso tão largo que não cabia na minha cara.
me olhou rindo, ela sabia que eu queria uma menina. Já tínhamos até escolhido o nome.
- Felizes? – A médica voltou a falar e eu confirmei com a cabeça, ainda olhando para o monitor. – E os senhores já escolheram o nome? – Perguntou limpando o gel na barriga de .
- Já. – respondeu. – Vai ser Sol.
- Nome lindo.
Nos despedimos da obstetra e, com algumas observações, fizemos nosso caminho para casa. No meio do percurso, ligou para para dar a notícia e a louca da minha melhor amiga surtou do outro lado do telefone dizendo que eu não fazia nada direito, porque ela queria um menino. Não podia fazer nada por ela.
Eu aproveitei o pouco trânsito para contar a novidade para Fla. Ela e se davam bem, apesar de deixar bem óbvio o ciúme de vez em quando, então eu sempre contava as coisas da gestação para ela.

(...)


Desde que e Flavia tinham falado que comer chocolate ajudava a fazer o bebê se mexer, isso era tudo que fazia. Era óbvio que ela usava isso como desculpa para comer as barras de Alpino – ou Twinx – dela, mas também tinha o lado de que não víamos a hora de Sol dar pelo menos um chutezinho.

- Ela já mexeu? – perguntou e negou com a cabeça.
- É preguiçosa.
- Dizem que comer chocolate ajuda. – Flavia, deitada no meu ombro, deu a ideia e concordou.
- Já ouvi falarem isso também.
- Eu falei isso para o , mas ele disse que é gordice minha. – Revirei meus olhos escutando a reclamação.

Eu vinha do trabalho todos os dias com três barras de chocolate, agradecendo a Deus pela promoção das Lojas Americanas, mas não tinha adiantado de nada até agora. Sol continuava na dela. A princípio, tínhamos achado que ela poderia ter algum problema, mas a médica de nos tranquilizou dizendo que ela só não estava com humor para se mexer mesmo.
Como todas as vezes que eu chegava do trabalho, deitei a cabeça nas pernas de e virei o rosto na direção da sua barriga dando beijinhos.
- Oi, filha. – Falei e dei mais um beijinho. – Está tudo bem aí dentro? – Acariciei a barriga de , enquanto ela fazia carinho no meu cabelo.
- Você é muito bobo. – deu um tapa leve na minha cabeça. Sorri para ela, fazendo-a sorrir de volta e voltar a fazer o cafuné de antes.
- Eu amo você. – Voltei a falar com a barriga e dei mais três beijos. – E não vejo a hora de você sair daí para o papai te mimar bastante. Tá bom? – Perguntei e cutuquei a barriga de leve e, logo em seguida, senti um cutuque de volta. Arregalei os olhos e eu olhei para que já estava olhando para mim. - Você sentiu isso? – Ela fez que sim com a cabeça, também olhando atenta para a barriga. - Filha, você estava chutando para o papai? – Outro chute. – Não aguentei e soltei um grito, me ajoelhando em frente a e dando vários beijos em sua barriga. – Que menina mais esperta que o papai tem, não é? – Mais um chutinho. – Eu ri.

(...)


5 MESES

Ouvi a porta se abrir e bater em um estrondo e saí da cozinha para ver o que era. . Com algumas – muitas – bolsas na mão. Ela tinha saído com mais cedo para fazer – pelo que ela tinha me dito – pequenas compras, mas não era isso que eu estava observando.
- Oi, querido. – Ela disse jogando as bolsas no chão e se sentando no sofá.
- Eu achei que seriam só algumas comprinhas. – Falei com os braços cruzados.
- Boa tarde para você também. – Ela sorriu cínica. – Vem ver. – Bateu a mão no espaço ao lado dela.
Peguei uma das bolsas e me sentei no sofá. Abri e vi um macacãozinho lilás com patinhas brancas.
- Ela já não tem muitos macacões?
- Quanto mais, melhor. – respondeu rindo. Definitivamente ela iria me levar à falência.
Passamos cerca de meia hora vendo todas as roupas que ela tinha comprado e comentando sobre. Eu não podia negar que era prazeroso demais fazer isso. Não via a hora de estar com minha filha nos braços e estava contente demais por poder compartilhar esse momento com a .
Fiz um lanche para a grávida da casa e fui me deitar na cama para esticar as costas. Depois de um tempo, se juntou a mim e deitou em meu peito, começando a ler um livro sobre maternidade. A observei por um instante e suspirei, o que fez ela me olhar.
- Está pesando? – Perguntou se ajeitando para deitar no travesseiro, mas eu a puxei de volta e neguei com a cabeça.
- Eu ainda não contei para a minha mãe sobre a gravidez.
- Você precisa fazer isso logo. Dona Cláudia vai surtar quando souber que você demorou esse tempo todo para contar isso. – Eu assenti.
Ela e minha mãe já se conheciam. E se adoravam.
Minha mãe, uma vez, invadiu meu apartamento, a procura do meu irmão, e por pouco não nos pegou pelados. Depois disso, ela quis virar amiga da – suas palavras aqui – nora dela. Claro que eu expliquei toda situação para ela, mas minha mãe era meio pra frentex, ficou extremamente triste com o fato de sofrer nas mãos de Igor, brigou comigo por ser amante de alguém e depois falou que não via a hora de se separar e casar comigo.
- Eu amo a dona Cláudia.
- Claro que você ama. Não foi você que foi obrigada a conviver com aquela louca.
- Liga para ela. Acho que por telefone pode ser melhor.
- Ela vai surtar demais. – Fiz cara de choro. – Aquela fofoqueira.
- É sua mãe. – disse com o tom de obviedade na voz e eu gargalhei, já pegando o telefone.
Disquei o número de minha mãe e sorri ao lembrar do meu pai.
- Meu pai iria gostar de ser avô. – Eu comentei sorrindo ao me lembrar do meu velho. Tínhamos o perdido há alguns anos para o câncer. mordeu o lábio inferior e me deu um beijo na bochecha. Sorri. – Se você acha que eu vou mimar a Sol, você não tinha ideia do que ele iria fazer. Ele ia estragá-la completamente. – Gargalhei e sorriu para mim.
- Você puxou ele então?
- Eu acho que sim. Minha mãe diz que sou meu pai todinho, que ela só emprestou o útero.
- Então tenho certeza que ele era um cara sensacional. – falou e eu dei um largo sorriso.
Coloquei o número, antes já discado, para chamar e não demorou muito para eu ouvir a voz de minha mãe do outro lado do telefone, coloquei no viva-voz e me preparei.
- Oi, mãe.
- Fala, filho desnaturado. – Eu ri.
- Então... eu tenho uma coisa para te contar.
- Que coisa, ? – A voz dela ficou um pouco mais grossa e eu ri.
- Eu vou ser pai. – Demorou um pouquinho até ela responder.
- Pai de quem, ? – Gritou do outro lado e eu gargalhei junto com , agradecendo de ter posto no viva-voz ou não teria meus tímpanos agora.
- Da minha filha, ora.
- , eu não estou brincando. Quem você engravidou? Foi aquela tal de Flávia? – Fiz careta já me arrependendo do viva-voz.
me olhou no mesmo instante com uma das sobrancelhas arqueadas, provavelmente questionando porque eu tinha contado sobre Flavia, mas não sobre a gravidez. O ciúme que eu falei que ela tinha de vez em quando.
Minha mãe sabia que eu e tínhamos terminado, assim como sabia que eu tinha voltado a conversar com a ex, que eu tive antes de , graças a .
- Mãe. – Falei exasperado. – É a que está grávida, o telefone está no viva-voz e ela está do meu lado.
- Pois ele estava mesmo com a Flávia. – Minha mãe recomeçou, sem saber que já sabia sobre a Fla. – E foi ideia de . – Revirei os olhos.
- Cláudia Maria! – Chamei a atenção dela, enquanto escutava sussurrar: "aquela traíra".
- Quando foi que vocês voltaram que você não me falou? Hein, ?
- Olha, é uma história meio complicada.
- Ela está de quantos meses? – Ela gritou me fazendo rir.
- Cinco, mãe.
- Cinco meses, ? Cinco meses e você só me conta agora?
- Eu esqueci.
- , eu vou dar na sua cara. – Ri de novo.
Eu ainda tive que escutar bastante reclamação da minha mãe, e explicar para ela o quanto eu estava feliz, antes de finalmente desligar. Depois que o fiz, preparei a janta. Nós comemos e nos sentamos no sofá para assistir um filme antes de irmos dormir.
Percebi que tinha algo estranho quando, em menos de cinco minutos, suspirou três vezes seguidas. Enruguei a testa e me virei para ela, que estava do meu lado esquerdo, sentada no sofá.
- O que foi? – Perguntei com os olhos semicerrados já sabendo que vinha alguma coisa.
- Desejo. – Eu ri. Já tinha me acostumado com aquilo.
- De q... – Ela não me deixou perguntar. No instante seguinte, ela já estava com a boca colada na minha.
Coloquei minhas mãos em sua cintura a puxando para o meu colo e depois levei uma das mãos até sua nuca puxando seus cabelos levemente. gemeu contra minha boca e eu sorri.
Ela se afastou de mim para respirar e sorriu, logo depois voltou a me beijar. Enfiou as mãos por dentro da minha camisa para tirá-la e, após isso, passou as unhas pelos meus ombros.
- Eu amo tanto você. – Ela sussurrou com a boca ainda na minha.
Sorrindo, acariciei sua bochecha e respondi:
- Eu também amo você.

(...)


Apesar de ter firmado com Flavia que não tínhamos nada sério, me senti na obrigação de contar para ela o que tinha acontecido entre eu e . Marquei de almoçar com ela e nos encontramos no mesmo lugar da primeira vez, o Spedini.
- O que houve? – Eu nem tinha me sentado ainda quando ela perguntou. Mordi o lábio inferior. – Você matou alguém, ? – Arqueou uma das sobrancelhas.
- Não. – Ri. – Bom, eu não sei se deveria estar te contando isso, mas acho que sim. – Dei de ombros e observei meus próprios dedos fazerem círculos na mesa. – Eu e ficamos. – Disse e levantei os olhos para observar sua reação. – Anteontem. – Flavia continuou com a mesma feição. – Foi uma vez só e... – Ela me interrompeu.
- Era isso? – Juntou as sobrancelhas, claramente confusa, e eu assenti. – Ai, , pelo amor de Deus. Eu achei que fosse algo sério. – Respirou fundo e chamou o garçom para fazer um pedido. – Eu sabia que isso aconteceria uma hora ou outra. – Disse depois que o garçom foi embora. – Você é louco por ela. E, o mais importante, você foi sincero comigo desde o início sobre gostar dela. Fora que nós combinamos que seria algo sem compromisso, certo? – Eu assenti.
- Achei que por se tratar da teria algum problema. – Flavia negou.
- Como eu disse, eu sabia que uma hora iria acontecer. Só estava aproveitando seu corpinho enquanto não acontecia. – Deu um sorriso sem vergonha e eu ri negando com a cabeça.
- Você não vale um centavo, Flavia.
- Ainda bem. – Ela gargalhou. – Que bom que eu conheci um ótimo rapaz mês passado. – Flavia deu um sorriso de lado. – Um moço de família, sabe?
- Belo, recatado e do lar igual você? – Perguntei prendendo o riso e ela assentiu.
- Exatamente. – Piscou um dos olhos e eu gargalhei.

(...)


- . – Escutei chamar e ri comigo mesmo. – . – Ela me balançou.
Demorei um pouco para abrir os olhos e, quando abri, me arrependi por ter feito isso. tinha o rosto molhado por algumas lágrimas e a cama embaixo dela tinha sangue. Levantei em um pulo e a peguei no colo, levando-a até o carro. Ela soluçou enquanto eu a colocava no banco da frente e afivelava seu cinto.
- Fica calma, por favor. Vai ficar tudo bem. – Dei um beijo em sua testa e fui até o banco do motorista, já dando partida no carro e saindo.
Aproveitei para ligar para no meio do caminho.
- Está doendo muito? – Perguntei para saber informar rápido assim que chegássemos ao hospital. negou com a cabeça. – Quando você acordou já estava assim ou acordou por causa da dor?
- Estava doendo um pouquinho. – Ela disse baixinho, segurando o choro. – Eu ia levantar para tomar o remédio de cólica. – Soluçou de novo.
Por morar ao lado do hospital, já estava no hospital quando chegamos lá. Ela me ajudou com e eu fui passando as informações para o enfermeiro que veio nos auxiliar. Levaram ela para algum quarto e nos pediram para aguardar.
Depois de meia hora, que mais me pareceram três anos, um homem apareceu na sala de espera chamando pelo acompanhante de . Eu e nos levantamos rapidamente e o homem se apresentou como doutor Fernando, médico obstetra.
- E então? – Perguntei nervoso.
- Bom, não precisa se preocupar. – Ele sorriu para mim. – Está tudo bem com as bebês e com a mamãe. Apenas um descolamento de placenta – Franzi o cenho, mas foi mais rápida que eu.
- As bebês?
- Ah, verdade. A senhorita me falou que vocês não sabiam que eram gêmeas. – Sorriu de novo. – Mas são. – Mostrou para mim a ultrassonografia e apontou duas coisas, que eu não entendi o que eram, mas fingi entender. – Duas meninas. É raro chegar até essa fase sem saber, mas, por serem univitelinas, uma estava provavelmente escondendo a outra, o que fez a obstetra de vocês não perceber. – Sorriu novamente e colocou a prancheta abaixo do braço. – O quarto da paciente já está liberado para visita, vão querer vê-la? – Eu assenti imediatamente, o fazendo rir de meu desespero.
Fernando nos encaminhou até o quarto que estava e nos deixou a sós. Sorri ao vê-la acariciando a barriga calmamente.
- Você está bem? – Perguntei e ela sorriu afirmando com a cabeça. – Fiquei tão preocupado, . – Falei sentindo o choro querer vir e ela estendeu uma das mãos para mim. Segurei firme e me aproximei dela dando um beijo em sua testa.
- O médico falou o que aconteceu? – perguntou e mordeu o lábio inferior movendo a cabeça para cima e para baixo. arqueou uma das sobrancelhas.
- Descolei a placenta com exercício físico exacerbado. – Continuou mordendo o lábio inferior e eu cocei a nuca.
- Que exercício físico você está fazendo? E sem acompanhamento? – olhou para mim e depois desviou o olhar. – Oh meu Deus! Vocês estão transando?
- A libido aumenta quando se está grávida. – deu de ombros e eu mordi a carne por dentro da bochecha tentando segurar o riso.
- Libido porra nenhuma, , o seu fogo é natural. Meu Deus do céu. Vocês estavam transando de cabeça para baixo?
- A gente não sabia que eram gêmeas, . – revirou os olhos. – O problema foi esse. – Respirou fundo. – A gravidez gemelar é mais delicada.
- Agora, pelo menos, faz sentido o tanto de roupa que você comprou. – Falei.
- Era intuição.
- Cara de pau. – Dei um tapa em sua testa e ela riu.

(...)


- Gêmeas, hein! – falou assim que chegamos em casa.
Ela teve que ficar em observação por mais um dia e acabamos não tendo tempo para discutir sobre a nova notícia, estávamos mais preocupados com a saúde dela e das meninas.
Mordi o lábio inferior e a observei sentar-se no sofá e passar a mão pela barriga.
- Está preparado? – Perguntou e eu neguei com a cabeça. gargalhou. – Imagina só quando elas chegarem em casa falando que estão com um crush. – Revirei os olhos.
- Não quero falar sobre isso, . – Ela gargalhou de novo.
- Temos que contar a novidade para os meus pais. E para sua mãe. – Eu assenti me jogando ao lado dela.
Nós ligamos para anunciar a novidade aos nossos pais e acabamos marcando um almoço com todos no fim de semana, já que minha mãe queria rever e os pais de queriam me conhecer.
Saí no outro dia para trabalhar sob os protestos de , que queria ser paparicada a todo instante. Fui para o trabalho contente, as coisas pareciam estar finalmente se acertando. Mandei uma mensagem para avisando que estava tudo bem com as mulheres da minha vida e ela respondeu de volta mandando eu parar de ser brega.
No horário do meu almoço, recebi uma foto de Flavia com o novo affair dela, um piloto que ela tinha conhecido por causa das viagens que tinha que fazer pela empresa.
Quando voltei para casa, estava deitada no sofá dormindo, com um novo livro de maternidade acima da barriga dela. Eu ri e ajoelhei ao seu lado para acordá-la.
- Ei. – Cutuquei seu braço, mas fui ignorado. – Dona . – Sussurrei perto do ouvido dela, ainda a cutucando, e observei ela ficar arrepiada. Ela abriu os olhos preguiçosamente.
- O que foi? – Se virou de lado, ficando de frente para mim.
- Você não vai jantar, não? – negou com a cabeça.
- Estou sem fome.
- , se você me acordar de madrugada dizendo que está com fome, eu vou sair de casa. – Ela riu ainda sonolenta. – Estou falando sério.
- Tá bom.
- Vem. – Me levantei e a puxei devagar. – Vamos para a cama. – Ajudei-a caminhar até a cama e a ajeitei por lá. – Boa noite. – Dei um beijo em sua testa.
- Boa noite. Eu te amo. – Respondeu me fazendo sorrir.

(...)


No fim de semana, ficou feito uma louca com medo de seus pais não gostarem de mim. Como sempre, eu cozinhei – visto que todo trabalho que sabia sobre cozinha, era comer – e toda hora ela vinha experimentar para ver se iria ficar ao gosto deles. Eu estava menos preocupado do que ela, na verdade, eu estava fazendo as coisas normalmente, mas toda hora ela parava no batente da porta da cozinha me olhando assustada.
- , vai sentar no sofá. – Apontei para fora da cozinha e ela me olhou com cara de cachorro que caiu da mudança. – Anda, , vai. – Continuei com o braço estendido e apontando.
Ela levantou bem molenga, enrolando como nunca, e foi.
Cinco minutos depois, ela já tinha voltado.
- O que você está fazendo? – Respirei fundo procurando manter a paciência.
- Terminando a torta, . – Ela mordeu o lábio inferior e depois fez um bico.
- Não me chama de . – Falou com uma voz chorosa. – Eu só quero que eles gostem de você, porque eu quero que as coisas deem certo para a gente. – Fungou e eu passei a mão pelo rosto.
Caminhei até ela e a abracei. Eu tinha que ter paciência, porque sabia que isso era efeito colateral das gêmeas; estava mais sensível que nunca. Beijei sua testa, depois a pontinha de seu nariz e depois lhe dei um selinho.
- Vai dar tudo certo. – Fiz um carinho com o dedão na maçã da bochecha dela. – Se não der, a gente foge, pode ser? – Ri e ela me acompanhou assentindo.
Cerca de meia hora depois, minha mãe chegou e foi só amores com – palavras dela aqui novamente – a norinha dela, dona Cláudia só faltava lamber o chão que pisava. Eu dei graças aos céus porque aliviou um pouco a tensão de . Elas ficaram conversando, enquanto eu fui tomar um banho.
Quando voltei à sala, os pais de já haviam chegado e meu irmão também – que eu nem sabia que viria. Dei um "oi" geral e anunciei que iria arrumar a mesa.
- Quer ajuda? – perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não precisa, amor.
- Ai, amor. – Arthur, meu irmão, zombou e ri do tapa que minha mãe deu nele.
O almoço se passou sem problemas, acho que os pais de tinham gostado de mim, e nós comemos em um clima bem leve, graças as piadas bobas do meu irmão.
Os pais de foram embora quando estava anoitecendo, mas minha mãe e Arthur continuaram lá em casa enchendo o saco. Pouco tempo depois, apareceu com Flavia para o enterro dos ossos, segundo elas – modéstia à parte, eu cozinhava muito bem.
Eu cheguei ao ponto de precisar expulsar todos da minha casa, porque precisava dormir. chamou um Uber e dividiu com a minha mãe, visto que moravam na mesma direção, e Arthur deu carona para Flavia.
- E aí? – Chamei a atenção de que estava concentrada no celular editando uma foto da reunião de hoje.
- O que?
- Eles gostaram de mim? – Ela sorriu e acenou positivamente com a cabeça.
- Minha mãe disse que você é um sonho de genro. – Falou toda boba e eu gargalhei.
- Que bom! Não tinha motivo para tanta preocupação, viu?
- Viu. – Ela riu e colocou a foto para enviar.

(...)


Segundo o esperado, Igor viu a foto e não gostou. Como ele tinha ordem de restrição para não chegar perto de , ele resolveu vir tirar satisfação comigo, mas, conforme dizia o filósofo contemporâneo Chapolin Colorado, ele não contava com a minha astúcia.
Nós sabíamos que ele veria a foto, assim como sabíamos que ele iria querer briga e chegou a ficar receosa quanto a isso, mas eu estava tranquilo. Tinha deduzido que ele não se daria o esforço de ir até minha casa, já que trabalhávamos no mesmo lugar; e assim ele o fez.
Eu simplesmente o deixei gritar e fazer o escândalo que quisesse, me contentando em pedi-lo para se acalmar. Até o momento em que ele quis partir para a briga física, como era de praxe dele, então eu simplesmente chamei os seguranças e acionei a justiça para aumentar a restrição dele, de forma que ele não pudesse chegar perto de ninguém da nossa família.
No fim, ele acabou demitido por justa causa, já que ele trabalhava no setor que eu era chefe.

(...)


6 MESES

- Você não acha que a Flavia está estranha? – Perguntei a assim que fechei a porta, Flavia tinha acabado de ir embora, e ela tentou prender o riso, o que acabou resultando numa espécie de grasno. – O que foi?
- Nada. – Ela desviou o olhar.
- ! – Chamei com o tom de voz um pouco mais alto e ela olhou para mim com a mais falsa inocência possível. – Não era você que tinha tanto ciúme da Flavia? Agora está até de segredinho.
- Shiu! – Ela apontou o dedo para mim. – Nunca desgostei dela, só tinha ciúmes. – Deu de ombros, olhando as unhas. – Agora que ela não quer nada com você, eu não tenho motivos para não gostar dela.
- E o que está acontecendo?
- Eu não vou te contar.
- Então você sabe?
- É claro que eu sei. Ela vai ser madrinha de uma das minhas filhas, nós não temos segredos. – Cruzei os braços a olhando. – Na hora que ela quiser, ela te conta. – sorriu para mim. – Ou não. – Se levantou do sofá e andou em direção ao corredor. – Vou tomar um banho.
Passei o resto do dia perturbando para ela me contar o que estava acontecendo, mas ela se mostrou irredutível e ainda disse que eu deveria estar preocupado em encontrar um nome para nossa outra filha, não em saber da vida particular de Flavia.
- Mas você sabe da vida dela, por que eu não posso saber? – Perguntei emburrado.
- Porque a vida é dela e ela não quer te contar. – Falou como se fosse óbvio e se virou de costas para mim para dormir.
- Você não me ama, ? – Fiz um bico e escutei ela rir.
- Amo, . – Ela se virou para mim. – Demais. Mas não vou te contar algo particular dela, assim como eu não gostaria que ela contasse algo meu. Agora vai dormir. – Me deu um selinho. – Amanhã você trabalha e daqui a poucos meses, você terá mais duas bocas para sustentar. – Eu assenti ainda inconformado e virei a abraçando.

(...)


7 MESES

Já que não tinha mais condições de ir para festas e muito menos podia beber, eu tinha combinado com ela que também não faria essas coisas, não era justo ela passar por restrições sozinha. Reunimos , Flavia e até Arthur lá em casa para uma noite de jogos. Flavia e estavam sempre por lá, numa disputa de quem seria a melhor madrinha, e Arthur começou a aparecer também, estranhei um pouco, mas não liguei, eu amava aquele cabeça oca.
- Quero jogar uno. – pediu e Arthur revirou os olhos.
- Uno não.
- Não se nega coisa para grávida. – Ela respondeu com o dedo em riste.
- , eu não sei como meu irmão te aguenta.
- Amor. – Eu respondi. – Muito amor. – riu me dando um beijo na bochecha.
- Então vai ser uno. – Flavia falou.
- Por que você está concordando com ela? – Arthur perguntou indignado e eu ri.
- Porque é minha comadre ué.
- Você vai ser esse tipo de grávida? – Fez careta e ela riu negando.
- Juro ser uma grávida boazinha.
- Obrigado. – Juntei as sobrancelhas e riu chamando minha atenção.
- Eu sou chata? – Perguntou com um biquinho e eu sorri negando com a cabeça. – Nem um pouquinho? – Juntou o polegar e o indicador na frente do rosto e eu ri.
- Só um pouquinho. – Juntei os dedos a imitando.
- Estou sobrando aqui, né. – reclamou.
- Está nada. – Flavia negou prontamente.
- Então vai ser uno? – Perguntei e todas as meninas concordaram; Arthur revirou os olhos. – Beleza, então. – Separei as cartas no chão, onde todos estavam sentados.
Observei fazer uma caretinha enquanto olhava suas cartas e ri.
- Eu começo porque estou grávida. – gargalhou da fala de .
- Eu vou ser muito a quando estiver grávida. – Comentou e eu ri.
- Me lembre de ficar bem longe.
- Mas você falou que eu não era chata. – fez outro biquinho e colocou uma carta no chão. Um sete vermelho.
- Só um pouquinho, lembra? – Coloquei um sete amarelo.
- Amarelo não. – Arthur reclamou e comprou.
- Amarelo sim. – Flavia jogou um oito.
Já na quarta rodada, observei fazer careta mais uma vez e tentei olhar seu jogo para ver se estava ruim, mas não consegui. Ela soltou um muxoxo, passando a mão pela barriga e pressionando em um ponto.
- O que foi? – Perguntei baixinho para ela.
- Cólica.
- Quer que eu pegue o remédio? – Ela assentiu, enquanto jogava um zero vermelho, depois da carta especial de . Coloquei um dois e fui buscar o remédio que estava no quarto.
Quando voltei à sala, estava com a cabeça encostada no sofá, com os punhos cerrados, e todo mundo a olhava sem piscar.
- O que houve? – Perguntei confuso.
- Eu acho que ela está tendo contrações. – Flavia falou baixinho, como se as bebês pudessem nascer pelo seu tom de voz, e fez cara de choro negando.
gemeu de dor e eu arregalei os olhos.
- Como assim contração? A gente nem escolheu o nome da outra menina ainda. – Falei estático.
me olhou e revirou os olhos, se levantando rapidamente e se pondo ao lado de .
- Ah, claro, . – Senti o sarcasmo escorrer de sua boca. – Fala para elas esperarem porque você não sabe o nome ainda, porra. – Segurou a mão de .
- Pode ser as contrações de treinamento. – falou. – Elas não podem nascer agora, . – Fungou, prestes a chorar. – Está muito cedo. – Deixou algumas lágrimas caírem.
- O que eu faço? – Perguntei sussurrando, em desespero, e olhadinha para Arthur que deu de ombros.
- Conta o intervalo de tempo das contrações. – respondeu apontando para o meu relógio e eu obedeci.

(...)


Acho que o momento mais incrível da minha vida foi segurar Sol e Eloah – nós escolhemos o nome dentro do carro a caminho para o hospital – no meu colo. Era uma sensação que eu não conseguia descrever, só que fazia tudo que um dia eu já passei para chegar até ali ter valido tão a pena.

O caminho para o hospital foi bem confuso. Quando nós realmente nos demos conta que estava prestes a parir, nos levantamos feito loucos.
Flavia e eu arrumamos a bolsa das gêmeas e a de as pressas, enquanto tentava acalmá-la.
Alguns instantes depois eu ouvi um urro vindo de e um grito de :
- A bolsa estourou. – Flavia me olhou com os olhos arregalados, mas eu já tinha entrado no modo automático e continuei arrumando as coisas.
- Anda, Flavia. – Falei colocando as coisas dentro da bolsa das meninas, que ela estava encarregada.
Voltei à sala, já com a chave do carro na mão e as bolsas no ombro, e ajudei , que repetia sem parar que ainda não era a hora, a ficar de pé.
- Arthur no banco do carona comigo. – Indiquei no caminho para a garagem. – Flavia e com no banco de trás. – Eles entraram no carro.
Joguei as bolsas no colo de Arthur e corri para o banco de motorista.
- Qualquer coisa diferente, me avisa. – Anunciei, olhando pelo retrovisor, enquanto dava partida no carro. e Flavia assentiram.
- A gente ainda não escolheu o nome. – Escutei choramingar e passei a mão pelo rosto.
- Quais nomes a gente têm, amor? – Perguntei para distraí-la.
- Hope, – Ela respirou fundo antes de continuar. – Eloah e Vitória.
- Vitória, não. – Arthur falou e eu ri concordando.
- Eu prefiro Eloah. – Escutei opinar.
- Eu prefiro Hope. – Flavia falou.
- Eu também. – Arthur concordou e no instante seguinte começou uma discussão sobre qual nome era melhor.
- Ei! – Elevei meu tom de voz. – O que você prefere, ? Eu escolhi o nome da Sol, agora é sua vez. – A olhei pelo retrovisor.
- Eu gosto de Eloah. – falou e eu sorri.
- Então será Eloah.

Infelizmente, por terem nascido apenas com 30 semanas, as meninas tiveram que ir para incubadora, mas isso não nos impedia de babá-las a todo instante. já tinha dito que nós éramos os pais mais melosos do mundo, mas ela mesma vinha pelo menos duas vezes no dia visitar Eloah e Sol.
Já faziam duas semanas que as meninas estavam no hospital e hoje, finalmente, elas teriam alta. Arrumei a bolsa das gêmeas e de – que se recusou a deixar o hospital, mesmo que eu ou outra pessoa estivéssemos lá – e a chamei.
- Já estou indo. – Ela respondeu do banheiro. Segundos depois passou pela porta e sorriu para mim.
foi até o berço e pegou Eloah, eu já estava com as bolsas em um dos braços e Sol no outro. Me esforçava ao máximo para ajudar , já que sabia que a cesárea causava bastante dor.
Era final de semana e não tinha trânsito, mas para não incomodar , nem as gêmeas, eu preferi dirigir mais devagar. Com pouco mais de meia hora chegamos ao nosso destino e eu me senti plenamente feliz por estarmos finalmente todos reunidos em casa.

(...)


Acordei sentindo a cama balançar feito um pula-pula, mas não abri os olhos, sabendo o que viria depois que eu o fizesse. Mesmo assim, o movimento na cama continuou.
- Acho que ele está acordando. – Ouvi Sol sussurrar.
E então os pulos pararam.
Segundos depois eu senti joelhos na minha barriga e cabelo no meu nariz, passei a mão incomodado e escutei uma risada, era Eloah.
- Ele está acordado! – Eloah gritou voltando a pular na cama e eu finalmente abri os olhos. – Eu quero panqueca. – Ela anunciou pulando.
- Eu também. – Sol pediu, deitou do meu lado e me abraçou. – Bom dia, papai.
- Bom dia, meu amor.
- Eu também. – Amara gritou e se juntou a prima na pulação.
Passei as mãos pelo rosto, já cansado, e me levantei. Conferi se tinha alguma mensagem no celular e fui direto para a cozinha fazer a tal da panqueca.
fora promovida no trabalho, isso significava ganhar mais, porém não ter horário fixo para trabalho, já que ela era encarregada de viajar para fazer as matérias mais sérias da revista que trabalhava. E isso significava que eu tinha que cuidar das gêmeas sozinho, o que me fazia ganhar cinco cabelos brancos a cada três minutos.
Eu já era quase um Papai Noel. E quem conhecia as gêmeas sabia que eu não estava exagerando. Eram quase quatro anos de puro terrorismo. E Amara, claro, tinha participação nisso.
Amara era filha de Flavia e Arthur e a razão pela qual Flavia tinha ficado alguns meses estranha comigo, até eu descobrir que ela estava grávida do meu irmão mais novo. Fla achava que eu ia ficar ressentido, mas eu fiquei feliz. Ela estava com um cara que eu julgava bom e ele estava com uma mulher maravilhosa. Felizmente eles estavam juntos até hoje.
Enquanto preparava a massa das panquecas, mandei mensagem para o meu irmão perguntando que horas ele buscaria a terrorista em treinamento e ele respondeu: “depois do almoço”. Bem sucinto. Certeza que ele e Flavia estavam aproveitando as mini-férias.
- Que horas a mamãe chega? – A rainha das terroristas, mais conhecida como Eloah, perguntou.
- Antes do almoço. – Respondi.
- Mas antes do almoço pode ser várias horas. – Ela rebateu me fazendo rir.
- Até que horas pode ser o almoço? – Perguntei e ela parou de mastigar por alguns instantes, parecendo pensar.
- Umas três horas.
- Então até antes de três horas ela chega. – Disse e voltei a comer, mas a olhei por tempo o suficiente para vê-la semicerrar os olhos para mim antes de voltar a comer também.
- Quando que a gente vai para casa da dinda ? – Sol perguntou fazendo um bico e eu sorri.
Ao contrário do terrorismo de Eloah e Amara, que te venciam pelo cansaço, o tipo de terrorismo de Sol era do tipo que tocava na alma, por isso fazia você dar tudo que ela queria.
- Semana que vem. – Eloah foi quem respondeu.
- Quando é semana que vem? – Sol indagou.
- Tipo um dia que nem esse só que depois. Entendeu? – Perguntou e a irmã balançou a cabeça para cima e para baixo.
- Entendi.
- Você não está quieta demais, não? – Perguntei a Amara.
- Estou comendo né. – Respondeu como se fosse óbvio e eu ri.
Como dizia dona Claudia, as mulheres só emprestavam o útero para os homens da família . Embora Amara fosse a cara de Flavia, sua personalidade era meu irmão todinha, assim como Eloah e Sol tinham me puxado – nesse caso, não só na personalidade como também na aparência. Existiam controvérsias, no entanto, em respeito ao lado respondão de Eloah; eu jurava de pé junto que aquilo vinha de , mas ela afirmava com toda certeza que era tudo minha culpa.
Pouco tempo depois, para minha felicidade, chegou. Me contou as novidades da entrevista, ajudou a preparar o almoço – só cortando as coisas, claro – e tirou um tempo para brincar com as crianças, o que me fez ficar enciumado. Eu fazia charme dizendo que não as aguentava mais, mas na verdade não saberia viver sem elas.
Apenas depois de jantarmos foi que meu irmão apareceu.
- Achei que você ia vir depois do almoço. – Semicerrei os olhos para ele, enquanto arrumava as coisas dentro da mochilinha de Amara.
- É depois do almoço, não? – Respondeu cinicamente.
- Não, Arthur. É depois da janta.
- Mas a janta é depois do almoço. – Sorriu e eu revirei os olhos. Sim, as respostas de Eloah eram da minha parte.
Me despedi de minha sobrinha e despachei meu irmão para a casa dele. e eu tomamos um longo banho – separados infelizmente – e colocamos as meninas para dormir, indo fazer o mesmo em seguida. Deitei de lado, e de frente para , que estava deitada de barriga para cima e disse:
- Enfim sós, querida. – Levei a mão até sua cintura, puxando-a e fazendo-a ficar de frente para mim, e entrelacei minhas pernas com as dela, o que fez rir.
- Bobo. – Sussurrou e me deu um selinho. – Mas há controvérsias. – respondeu me imitando e eu ri.
- Por quê? – Ela mordeu o lábio inferior e se desvencilhou dos meus braços.
caminhou até a mini mala de sua viagem e puxou uma caixinha preta.
- Vai me pedir em casamento? – Brinquei e ela negou prendendo o riso.
- Você já fez isso há dois anos atrás. – Me entregou a caixinha, que agora eu observava ser maior do que uma de pôr alianças.
- Renovação de votos? – revirou os olhos.
- Abre logo isso, .
- Tá bom, tá bom. – Levantei as mãos me fazendo de rendido e abri a caixa.
Fiquei alguns segundos parado, olhando o que tinha ali sem acreditar. Já fazia algum tempo que eu pedia a mais uma criança. Queria muito tentar um menino, mas ela sempre foi tão incisiva ao dizer o não que eu parei de pedir. Peguei o sapatinho de lã azul nas mãos e a olhei, ainda surpreso.
- É sério? – Perguntei a que ainda estava em pé, roendo as unhas e com um dos joelhos apoiado na cama, e ela afirmou com a cabeça, sorrindo. – Droga, , você não está brincando? – Pedi sentindo minha garganta fechar e a voz embargar. – Nós vamos ter um menino. – Ela acenou com a cabeça novamente.
Me levantei no mesmo instante, reprimindo um grito de felicidade para não acordar as meninas, e a abracei.
- Eu te amo tanto, tanto, tanto. – A ouvi rir.
- Eu também te amo. Muito.
- Como isso aconteceu? Você falou que não queria outro filho. – riu novamente.
- Só falei aquilo para acabar com suas esperanças. – Passou os braços pelos meus ombros e fez um carinho na minha nuca. – Estou sem tomar o anticoncepcional desde que você me pediu.
- Você é má. – Escondi o rosto em seu pescoço e a senti arrepiar.
- É uma boa surpresa, não?
- É uma ótima surpresa. – Dei um sorriso enorme e a beijei.
Nos deitamos na cama de novo e eu não conseguia parar de sorrir.
- Valeu à pena, não valeu? – Perguntei e , confusa, juntou as sobrancelhas. – Tudo que a gente passou para chegar até exatamente aqui. – sorriu largamente e balançou a cabeça sem parar.
- Valeu muito a pena.




Fim



Nota da autora: Não tem nota. A autora foi internada no hospital psiquiátrico, pois deixou de estudar para as provas da faculdade para escrever ficstape do Exaltasamba - que é o ex-grupo brasileiro preferido dela.
Gente do céu! Espero que vocês gostem disso, porque deu trabalho e eu escrevi duas versões dela, mas eu gostei.
Novamente peço obrigada a todas as minhas amigas que aturam meu surto durante o momento de escrita e espero que vocês amem a fic. Comentem bastante!





Outras Fanfics:
AICS
Burned
06. Rainbow

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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