Capítulo Único
Quatro anos antes
Tic toc, tick tock, tic toc
— Você está sentindo esse cheiro? É um aroma peculiar de fracasso. O fracasso de !
implorou para os Céus que o seu último fio de paciência não viesse a se desprender do seu genial cérebro.
Antes mesmo da voz da mulher preencher todo o cubículo que se dava como aquele corredor, o rapaz não se deu ao trabalho de vê-la finalizar a colocação que não serviu para nada além de perturbar os seus neurônios.
Não que estivesse surpreso no final das contas — não quando estava falando daquela criatura em particular.
A pouquíssimos passos de distância estava , fitando com um interesse recheado de glória e graça, na dosagem ideal para fazê-lo ter vontade de explodir aquelas paredes e ficar o mais longe possível da mulher.
Era uma tortura dos infernos, se ele tivesse o mínimo de coragem para admitir, ficar sob o mesmo metro quadrado que , a sua infortunadamente parceira de seleção.
Quando decidiu que seguiria na carreira de agente secreto e que enfrentar a academia não seria a missão mais difícil que ele viria a vencer, o rapaz sentiu-se infinitamente desapontado por ter concluído que os seus pressentimentos são sempre teleguiados para a ironia e que, sim, passar pelas etapas da academia poderia acabar se tornando na sua pior missão de vida.
Ele tendia a ignorar as alfinetadas de , pouco fazia questão de direcionar algum comentário malévolo para a sucessora ao trono da presidência. Certas pessoas acreditavam que o autocontrole e paciência de provinham do profundo medo de rebater uma das pessoas mais poderosas do país, mas ele nem se dava o deleito de se importar com os bolões particulares que rolavam entre os inúmeros quartos da academia — a sua verdade era uma só: ele simplesmente sentia mais prazer em fingir que não existia.
O que, de certa forma, acabou se tornando o seu pior pesadelo. A filha do presidente de uma das maiores potências mundiais não estava acostumada a ser esnobada e, isso, digamos que, de certa forma, fez com que a mulher abrisse os olhos para notar a existência de .
Foi tentando fugir da destemida que acabou, sarcasticamente, caindo nas unhas bem lixadas e pintadas da mulher.
Ou de sua boca, mais precisamente.
— Você fica linda de lábios fechados. — rebateu tardiamente a colocação de . A mulher estava posta entre ele e a porta divisória, ridiculamente pesada por ser feita de urânio, mas sabia que ela não iria pedir por sua ajuda para abrir. De toda forma ele empurrou o peso da sua lateral para pressionar as dobraduras e impulsionar o corpo de contra o contato gélido da porta, atribuindo força tanto no material quanto na mulher, fazendo a porta se abrir brevemente após encaixar o seu corpo entre a fissura e empurrar por conta própria o restante da abertura. — É quase como uma obra de arte.
— Essa é a sua tática para me fazer esquecer do seu péssimo empenho em decifrar o enigma da senha?! — murmurou no pé do ouvido de , ainda um pouco deslocada no ambiente desde que adentrou por completo no recinto. — Você costumava ser mais genioso com as suas artimanhas, .
— E houve uma época em que a sua língua costumava servir para coisas mais produtivas. — desceu as mãos na altura da cintura, sentindo a ponta da arma roçar entre os seus dedos. acompanhou o movimento corporal do companheiro e sorriu cabalística, remexendo os fios fartos de cabelos e desfilando despretensiosamente pelo lugar. Aquela era uma das coisas que mais amava na aspirante à agente: ela era conectada ao perigo através de um fio invisível que só poderia ser eletrocutado por uma imensurável energia de inconsequência.
O mundo parecia um playcenter e possuía uma entrada VIP para a diversão. Ela não tinha um senso de preocupação com o que a vida poderia lhe trazer em retribuição dos seus atos.
tinha a plena certeza de que é intocável.
tinha a plena certeza de que é cheia de si.
E é por isso que só ele permanecia com a mão no coldre da arma.
— Você nunca foi de esconder as suas vontades, . — A voz de soou como uma melodia perambulando pelos tímpanos do concorrente. O homem franziu o cenho, passando a se sentir muito lento em relação aos seus reflexos, buscando uma força paranormal para impedir os efeitos de sob o seu psicológico. — É por isso que te saciar se torna uma missão tão fácil. — perdeu a sombra de em algum momento, principalmente porque o seu cérebro estava processando toda a abstinência que andava sentindo por aquela mulher. Ele rodopiou sob os pés para encontrá-la, mas era uma mulher-gato. Tão habilidosa com as palavras quanto com os toques, sabia perfeitamente movimentar-se contracenando com o silêncio da noite. — E até mesmo enganá-lo.
Custou alguns segundos para que compreendesse em qual situação ele se enfiou. Naquele momento, a única coisa que o agente soube reconhecer foi que tem uma ótima lábia. No próximo, o que notou foi que ele precisava fugir e revidar. Nessa sequência. Nessa prontidão. Nessa mesma jogada.
O primeiro tiro foi disparado na altura de sua orelha e a bala deslizou tão delicadamente pela lateral de seu lóbulo que entendeu bem qual era o recado da mulher: ela não achava que ele era um concorrente à altura, por isso estava sendo tão solene.
Um riso sobrecarregado com a ira da rivalidade ecoou pela garganta de e chegou aos ouvidos de vagarosamente, estrondosamente e decisivamente.
decretou um conflito.
iria oferecer uma guerra.
— Vamos lá, . — elevou o tom de voz e correu em direção a um tanque de gasolina, usando o potente escape como um encosto provisório. Ele odiava com toda a força do seu ser a habilidade da mulher não colocar a sua presença em evidência, mas em contrapartida ele amava como era mil vezes mais inteligente do que ela quando conseguia uma rota alternativa nas competições. — Brincando de pique-esconde com essa idade? Sério? — se ocultou por trás do tanque. — Venha para o papai, meu docinho. — O apelido que havia designado unicamente para a mulher, em sua mente, soou tão estúpido quando pronunciado que ele não achou que teria uma oportunidade mais vexatória para dizê-lo como agora. Ele já havia perdido a primeira etapa do desafio, então que tudo “fedesse” de vez. — Terei que admitir que você foi ótima com esse teatrinho. Todo o joguinho de dupla dinâmica chegou a me cativar, mas como é que eu iria acreditar por muito tempo na rainha da trapaça? — colocou as cápsulas em cada niple e engatilhou totalmente a arma, recuando o cão até que ele estivesse na posição de armado. — Quem foi que te deu a ideia de me enganar? O sargento Phillips?
— Eu tenho total crédito nesta jogada, . — disparou duas vezes no vazio. — Me surpreende você achar que sou mulher de jogar sob as instruções alheias. — mirou mais uma vez no ponto desfalcado, mas o tiro explodiu em pólvora e não atingiu nada.
Não que ele quisesse. A única coisa que ele, de fato, pretendia, era fazer perder.
Aquela vaga, desde o princípio, era para ser sua. teria de aprender a suportar a dor da derrota e da desclassificação, por bem ou por mal.
— É claro que não penso isso. — tombou o corpo entre a brecha do tanque de gasolina, pegando impulso para se posicionar no ponto sem iluminação e visão. deveria estar em algum ponto não tão distante dali, mas cá estava uma das suas dificuldades: uma das pouquíssimas falhas de se encontrava na sua controvertida visão noturna. Por ela não ser tão rápida quando está em situação deste tipo, acreditava que poderia atribuir aquilo como a sua cartada final. — Como eu poderia, quando você é irritantemente tão mandona?
Num tique consciente, percebeu a finalidade daquela prova em específico.
A missão de era derrubar o inimigo em um verdadeiro ringue cego.
A missão de era arrumar uma forma de não deixar a sua dificuldade se tornar o seu próprio inimigo.
Alguém armou aquela prova para tirar da competição. Não seria a primeira vez nem a última — a mulher conquistou certo número de desafetos durante a sua batalha pelo título de agente secreta. Poderia ser por ostentar o status de filha do presidente do país ou por ser uma das melhores soldadas naturalmente já vistas na academia, o que importava era que era temida.
Essa pessoa que ele nem tinha vontade em descobrir quem é, achava que era o único capaz de desbancar .
E estava louco para provar que ele era digníssimo desta confiança.
Se a prova se constituía em fazer os companheiros virarem inimigos, se forçaria a não ter problemas em enxergar como ele se obrigava a vê-la: apenas mais um obstáculo no meio do seu trajeto para a vaga e promoção de agente secreto.
preparou o seu ataque da maneira mais óbvia: esperou tomar o segundo passo. Ela já havia desferido o primeiro tiro e retribuiu, o que colocava os dois em um pé justo no contra-ataque. Ele queria que viesse até ele, devagarzinho, o suficiente para que ele criasse todo o arcabouço para içá-la em seu plano.
fazia do tipo que tinha sangue nos olhos e não iria perder tempo articulando um bom planejamento; era muito mais intensidade do que controle, o que fazia com que ela tivesse tamanho destaque nas suas vitórias, mas o que contribuía para lhe colocar em alguns poucos problemas no percurso do sucesso.
E foi em cima disso que iria trabalhar.
A mulher estava camuflada em alguma espécie desconhecida de teia que a fazia ficar submersa na dúvida do possível, mas encontrou uma forma de desvendá-la.
O homem passou os olhos pelo seu relógio Tactix, o companheiro de todas as horas e missões.
Com o “modo de visão noturna” a configuração de luz de fundo do ecrã é reduzida para facilitar a utilização de óculos de visão noturna. Graças à função TracBack, pôde usar o relógio para criar e seguir rotas ou para marcar lugares de interesse para os quais pretende regressar facilmente.
É por isso que o agente confiava praticamente toda a sua vida naquele acessório. O Tactix era a arma mais poderosa que usara em sua experiência como futuro agente e ele amava a sensação de usá-lo porque o relógio era muito mais tático do que executório. Uma arma branca pode ser finalista quando necessário, mas era o Tactix que fazia chegar até o “grand finale” da missão.
Foi analisando as instruções no relógio que ele teve a vaga lembrança de ter visto conectando o seu próprio Tactix com o seu para que eles se localizassem caso precisassem. Poderia ser parte da armadilha, mas ele já não tinha muito em mãos para driblar a agente, então preferiu seguir com o bem bolado.
As setinhas verdes indicavam que estava próxima de . O agente sorriu diabólico, sabendo muito bem onde a mulher estava se escondendo. A medição foi algo entre cinco até dez metros, a distância ideal para poder se preparar para o confronto. Ele levantou a arma em punhos e abaixou os óculos noturno, tendo uma visão periférica da zona armada no galpão. O balançar do guindaste amenizou os sentidos de e ele por pouco não se perdeu na distração, mas conseguiu ser ligeiro o suficiente para contornar a área apertada e ficar longe do centro do choque de ferro e corpo humano.
, lá em cima, no teto do galpão, conseguia ver se locomover com facilidade entre os túneis de cimento, provavelmente achando que ele estava à frente dela. A mulher se enrolou na corda de cobre e chacoalhou o corpo até pegar a inclinação ideal para a pousada no chão, esperando chegar ao ponto exato de sua armadilha. Quando o homem passou pelo caminhão do guindaste, deixou o seu corpo se desprender da corda, progressivamente, até ficar suspensa numa altura de cinco metros.
começou a suar de apreensão. A sua visão já estava turva e os sentidos não aguçavam mais como o esperado, deixando-o profundamente irritado. A luzinha verde ainda indicava que continuava parada no mesmo lugar e ele passou a duvidar daquela sugestão.
O agente parou com os seus passos, mas infelizmente tardiamente. Ao ter cruzado todo o galpão para confrontar a companheira, mal sabia que estava justamente no epicentro da armadilha desenvolvida unicamente para ele.
não esperou que tivesse um lapso de sanidade. As suas mãos deslizaram bruscamente pelas cordas e ela despencou o corpo pelo resto do percurso, encontrando os pés na trave de bloqueio do guindaste.
Levou pouquíssimo tempo para a cápsula de ferro encontrar o corpo de , aprisionando o agente num encontro de presa e predador.
voou pelo ar até pousar em cima da cápsula, encarando os olhos bem abertos de através dos óculos noturnos. O rapaz abaixou o acessório, empurrando as mãos contra as grades de ferro e tentando se libertar da cabine, um pouco atônito por ter preparado uma armadilha tão amadora, mas tão fatal.
, por fim, apoiou o rosto na grade e suspirou cansado, aceitando a vitória de . A reviravolta foi ridícula, por céus, como foi, mas era digna, no final das contas.
descruzou os braços, satisfeita pelo teor de trégua que o rival confirmou em seu semblante. Por um momento ela se lamentou por ser tão cruelmente bonito, o que dificultava a sua concentração no troféu e no pódio.
— Lição do dia: nunca acredite em sua companheira de missão, .
afastou-se minimamente de , relaxando a musculatura após ter seu corpo estar firme no chão. A arma de descansava no seu coldre porque ela não gostava da sensação de usá-la contra , jamais gostaria. O homem acreditava que era voltada às práticas menos tradicionalistas do sistema interno, mas a verdade é que ela não se via apontando uma arma para . Embora precisasse e sentisse que talvez um dia iria realmente ter de apontar, hoje ela não queria.
Se fosse ser sincera consigo mesma, odiava ter encontrado um homem como na dada situação. Ele era tudo o que ela secretamente idealizava como o homem ideal para fazê-la questionar a veracidade daquele sentimento titulado como amor, mas como toda desgraça que vinha desprogramatizada para a sua vida, não tinha tempo para luxúrias como descobrir se as falácias românticas realmente existiriam em sua vida.
tem um país para cuidar, uma nação para zelar.
Ela tem um pai para proteger e um Governo para tornar justo.
A futura agente sorriu encoberta de palavras não ditas, aos quais não precisaria ouvir para compreendê-las.
retirou a arma do coldre e apontou a boca da trinta e oito em direção ao alto, assegurando que os seus dedos estivessem bem firmes no gatilho. Ela disparou e, quando a pólvora da bala incendiou a visão parcial do local, deixando que o seu rosto ficasse rapidamente iluminado pela claridade, colocou o seu sorriso em evidência.
— Regra número um, : nunca acredite na ideia de ter um companheiro de missão. Você sempre está completamente sozinho.
730 dias, 17.520 horas, 1.051.200 minutos;
Dois anos antes
Tic toc, tick tock, tic toc
Entre todas as coisas que poderiam acontecer dentro da Agência Central de Inteligência, não esperava ver sendo escoltado para fora da Organização com as duas mãos algemadas.
Por um ínterim temporal ela acreditou que estava diante de uma ilusão ótica. aproximava-se cada vez mais do ponto onde permanecia petrificada e encabulada, assegurando que aquilo não se passava de uma criação de sua mente e, realmente, tudo indicava que o mundo de estava desabando sob os seus ombros.
O agente estava de cabeça suspendida, é claro que ele estaria, fitando os glóbulos estarrecidos e incrédulos da sua companheira de equipe.
Não havia sequer uma única pessoa que estivesse menos absorto na cena do que . O mundo pareceu se congelar ao seu redor e todo e qualquer indício de vida não beirava a fazer sentido em sua mente.
Aquele era , o homem mais honesto e confiável que já chegou a conhecer.
Então por que diabos ele está sendo escoltado pela CIA como se fosse um terrorista de perigo iminente?!
— Alguém pode me explicar que merda é essa? — A voz de soou como um relâmpago. Não houve respostas, mesmo que cada olhar desferido à sua pessoa indicasse que eles possuíam as próprias especulações. , endurecido sob o seu uniforme, suspirou minimamente entre as frestas dos lábios, mantendo a sua postura no mais alto nível de profissionalismo. — Por que infernos vocês estão escoltando o inútil do ?
sorriu, embora se odiasse por ainda ser tão tolo e não conseguir suportar a vontade de expor uma de suas fraquezas — o estúpido sorriso que só causava em seu rosto.
mantinha a mão firme e presa na extensão de seu braço, pressionando uma potencial força que resultaria em hematomas caso ela não desistisse da ideia de mantê-lo parado.
Antes de alguém prestar a devida satisfação para a sua colega de trabalho, repousou o olhar na fisionomia da mulher, no último momento em que ainda o reconheceria como o que ele queria que ela visse.
Ele sentiria falta daquele protótipo de peste.
Por céus, ele enlouqueceria por sentir tanta saudade dela.
O agente que mantinha sob custódia não parecia estar interessado em prestar esclarecimentos à líder da equipe, muito menos poupá-la da polêmica notícia que viria a causar uma série de confrontos na Base.
O homem sorriu motivado, observando o nuance confuso e apreensivo de mesclar-se com a ira e a frieza, uma característica que, quando conhecida, jamais poderia ser esquecida.
abaixou parcialmente o rosto, suspirando fundo até que a sua garganta latejasse de dor.
A verdade, então, viria a seguir.
— Ele não é quem você acredita que seja, agente . é um traidor do Governo e, como qualquer outro, terá de pagar pelas consequências de seus atos.
Ano 2018; 182º dia, 11 horas, 20 minutos;
Dias atuais
Tic toc, tick tock, tic toc
— Nós não resolvemos as coisas desta forma, Köhler. Preciso traduzir em quantas línguas para que você entenda? — O cansaço aparente nas olheiras de indicava que a mulher não estava tendo um de seus melhores dias. O agente alemão, em contrapartida, não esboçava nenhuma empatia ou solidariedade pela superior. O seu único interesse era matar. Ceifar uma vida. Se vingar.
— Ele tem vínculos com o grupo terrorista, ! — Köhler não tardou em rebater, o que deixou ainda mais zangada e impaciente. — Qual problema há com você, de repente deixou seu coração de gelo ser derretido pelo charme dos terroristas?! — O homem nem precisou continuar com a proliferação dos seus pensamentos depravados, já estava centralizada entre ele e a porta, apontando a sua P-35 Browning diante da cabeça de Köhler. O alemão enrijeceu-se no apertado, engolindo em seco as prováveis palavras que não teve tempo de finalizar. tinha o famoso indício de ultraje eclodindo de seus olhos, provocando — ainda mais — o receio do homem.
— Quem você pensa que é para insinuar tamanha absurdez? — A voz da mulher diminuiu em alguns graves e as suas palavras saíam como sussurros quase ilusórios ao ouvido do alemão. Ele remexeu-se esperando que se afastasse de seu corpo, mas a líder estava tomada de ódio. Ela jamais se deixaria ser comparada a ele. — Quem você pensa que eu sou? — O canil gelado da arma ralava pelos cabelos loiros do alemão, provocando-lhe náuseas. — Olhe bem para a minha cara, agente Köhler, e diga-me se você realmente acha que um dia fui ou um dia serei capaz de escolher um terrorista em vez de meu povo.
Köhler só se deu por si do que havia sugerido quando repetiu o seu comentário. Ele sentiu-se estúpido numa medida imensurável, começando a duvidar se chegaria vivo ou inteiro até o final daquela conversa. Onde estava com a cabeça colocando tudo em risco daquela maneira?!
O alemão nem tinha ideia de que havia feito inesperadamente menção à . Desde que o ex-agente fugira da prisão e se encontrava como um dos inimigos do Governo, não deixava de evidenciar o seu profundo desgosto e decepção acerca do homem. Ele foi o agente que trabalhou por mais tempo ao lado da líder, o único que era dado como o seu braço direito. Muitos acreditavam que o nível de proximidade e intimidade entre eles emergia de um outro fator, aquele rotineiro no lugar de trabalho, mas que poderia colocar tantas coisas em perigo.
Apesar de Köhler saber que algo existiu entre o ex-agente e a agente , o alemão sabia que a mulher era excepcional em seu trabalho e sempre priorizaria a justiça, bem como a segurança do seu país.
Se é, ou não é, um infiltrado, para não haveria dúvidas — ela escolheria o lado da verdade.
E esse lado aponta, berrantemente, de que é, de fato, culpado.
— O que está acontecendo por aqui? — não virou o rosto para contemplar o portador da voz, mas Köhler o fez, praticamente cuspindo alegria por ter visto quem havia chegado. A agente permaneceu com o gatilho pronto contra o seu dedo.
— Estamos apenas esclarecendo alguns fatos. — A agente relatou. Köhler acenou em concordância no mesmo segundo, ignorando os litros de suor que transpareciam em seu rosto.
— Poupe-me, , sabemos bem que você não conseguiu se conter e fez o que todos queriam já ter feito. — Um dos três homens que estava no recinto ressaltou a sua fala com humor. — Apontar uma arma para a cabeça do agente Köhler com esse empenho é o sonho de todo interno.
— Ela é uma , o quê você esperava? — O presidente do país indagou, divertindo-se com a cena. — Aprendeu a não esperar alguém fazer algo que ela pode fazer primeiro.
— Certamente, senhor, filha de peixe, peixinho é. — O comandante Oslen parou ao lado de , retribuindo o olhar piedoso que Köhler oferecia a ele. — Que situação temos aqui, ?
A agente afrouxou os dedos pelo cano da arma, agora passeando o bico do objeto pelo pescoço do alemão, ainda encarando-o com uma determinação preocupante.
— Köhler espera que eu autorize a execução do suspeito de terrorismo só porque ele tem a vaga impressão de que o homem é um dos infiltrados da suposta nova organização. — Köhler entortou o nariz porque fez a sua tese soar esdrúxula. Ele pensou em rebater a colocação da líder, mas a P-35 ainda estava pressionada contra o seu pescoço e, bem, não tinha um bom histórico em oferecer perdão tão rapidamente. — E ele acha que eu irei sujar o nome da minha equipe e do meu departamento baseando-me apenas em suas suposições sem provas concretas. — finalmente olhou para o comandante Oslen. — Ingênuo, não?
— A essa altura você deveria saber que assassinar não irá resolver todos os nossos problemas, Köhler. — Oslen pontificou, deixando a entender de que apoiava a decisão de .
— Mas resolveria grande parte deles, senhor. — Köhler é destemido e ousado, isso precisava reconhecer e admirar, mas é inconsequente e inexperiente da forma perfeita para causar eventos desnecessários.
— Ordens são ordens, agente. — Oslen apontou o indicador em frente ao rosto do alemão. Se havia algo que o comandante desprezava, era a falta de respeito perante aos superiores. Köhler tendia a passar dos limites e Oslen era quem estava do outro lado da linha, prontamente aguardando para colocá-lo novamente no seu devido lugar. — O que a ordena, você acata. Sem mais, sem menos. Ela está acima de você por uma razão. — Oslen aproximou-se. — E acho bom que você não se esqueça disso.
— Não o quero mais em minha equipe. — afastou seu corpo do agente, cedendo ao cansaço. Seu pai estava sentado próximo à janela, encarando o tumulto dos agentes em treinamento, virando-se apenas para saudar a aproximação da filha. A mais nova acenou para ele, forçando um sorriso amolecido, só querendo chegar a sua casa e dormir por horas intermináveis. — Quem o deixou chegar até aqui, para começo de conversa? Esse comportamento não era aceitável na minha época. — A alfinetou Oslen. O homem sorriu humorado, aceitando a provocação. Oslen segurou nos ombros do agente alemão, guiando-o para fora da sala, entendendo por completo qual era o almejo da líder.
— Ficarei mais do que feliz em dá-lo o devido tratamento à moda da casa, agente .
— Eu imagino, comandante. — A mulher fechou a porta num solavanco estrondoso após o comandante partir para longe ao escaldo do alemão.
— Então quer dizer que você aponta uma arma na cabeça de um agente só porque ele sugere uma execução antecipada? — O pai de arqueou a sobrancelha, atingindo em cheio no ponto que a filha esperava não ter de discutir sobre. A agente tombou a cabeça no sofá e fechou os olhos, fugindo dos raios do pôr do sol, esperando que o pai simplesmente desistisse das intenções de abordar o tópico.
— Você sabe, às vezes sou explosiva demais.
O pai sorriu dengoso, esfregando a palma da mão pelo cabelo da filha, ajudando a sua caçula a se acalmar.
— Está tudo bem em assumir que você ainda se sente sensível quando falam dele, filha.
elevou o rosto em direção ao pai e deixou que a sua fisionomia respondesse. O homem padeceu sobre o óbvio: não haveria nenhum momento em que a filha aceitaria, de vez, o que aconteceu.
— A culpa não é sua, entende? Você não era obrigada a perceber as intenções do . Ele enganou a todos nós. — suspirou frustrada, remexendo a cabeça em negativa.
Como ela poderia dizer para ele que sim, era sua responsabilidade descobrir que era uma fraude? Como poderia dizer que foi ela quem compartilhou com o homem os anos de academia, as missões, a convivência de equipe, o posto de líder e, meu Deus, havia sido ela quem foi para a cama com o ?!
sentia-se no auge da amargura, precisava aceitar. A verdade é que ela acabou se apaixonando por e nunca foi fácil trabalhar os seus sentimentos porque nenhum dos dois estava em posição de se apaixonarem. Quando acreditou que poderia haver alguma chance para eles, acabou descobrindo que era um infiltrado no governo e que trabalhava para uma das maiores organizações terroristas do território mundial.
Céus.
Logo ela, tão centrada em seus princípios, tão crente de que era ótima em julgar o caráter alheio e tão boa em conhecer aqueles que a cercavam... Logo ela havia se apaixonado pelo seu inimigo.
Pelo tipo de pessoa que ela mais odiava.
A agente deslizou as mãos pelo rosto, compenetrando em seus compromissos do dia, deixando de lado todo terror que lhe assombrava.
Talvez realmente a culpa não fosse dela. Talvez ela precisasse aceitar que foi uma vítima.
Uma miserável vítima do maldito e estúpido amor.
— Ele trabalhava comigo. — disse. — Ele foi o meu companheiro, pai. — O homem sorriu entristecido para a filha. Não precisava apontar o óbvio, mas é claro que até ele sabia que a relação entre e foi além do contato profissional. Por um breve período de tempo ele acreditou que o rapaz poderia ser o homem a quem ele confiaria à segurança da filha. Era só olhar para a cara do agente e tudo se tornava claro as margens daquele sentimento: ele parecia amar . Após a revelação vir à tona, o presidente por si próprio sentiu-se traído e inexplicavelmente decepcionado. — Por causa daquele bastardo eu tenho péssimos problemas de confiança até hoje!
— Você nunca foi fácil de conquistar, filhota. — O homem brincou. — Köhler que o diga. O alemão tenta até hoje ter a sua benção, mas você não dá o braço a torcer. — A mulher cruzou os braços, apática e nervosa.
— Aquela criatura é um caso a parte, francamente. — Ela tentou se defender. — Ele está preso no século retrasado! — O pai gargalhou, enchendo a sala da filha de alegria e um sentimento único de paz. Ela ajeitou-se no abraço dele, sentindo uma falta absurda de momentos como aquele. O pai passava grande parte do tempo viajando ou em seus afazeres de presidente do país, enquanto que dedicava o seu tempo tomando conta da “sujeirada”.
A agente se iludiu com a ideia de poder ter tranquilidade por um momento em seu dia. A leveza invadiu o seu ser de uma forma desconhecida, fazendo com que o seu corpo fosse tomado pela sensação de estar atingindo o ápice da paz espiritual.
Ela estava sorrindo de olhos fechados, apreciando o carinho dócil do pai, quando o primeiro sinal ecoou pelas paredes do escritório.
Em menos de um segundo uma dezena de seguranças adentraram pelo escritório, prontamente arremessando dos braços do pai e envolvendo-a em um sufocado aperto de mãos, gritando uma centena de ordens que ela não teve ao menos tempo para processar.
As mãos do pai de se desprenderam dela ao passo que os seus olhos continuavam conectados pelo contato visual. Por um único contato.
— Estamos sob ataque, senhor Presidente! — Algum segurança compartilhou.
— Precisamos recuar o senhor do prédio urgentemente.
— Código vermelho, soldados! Fiquem em posição!
— Onde diabos está a minha equipe?! — gritou. Havia tantos homens e mulheres misturados na sua sala que o ambiente de repente tornou-se apertado e ela sentiu um breve sufoco para respirar. Muitas mãos apalpavam o seu corpo e ela tinha uma enorme dificuldade em aceitar que aquelas pessoas achem que ela precisa da maldita proteção que eles poderiam oferecer. — Oslen, por céus, apareça nesse lugar!
— Estou aqui, . — O homem se destacou entre os brutamontes que protegiam o presidente numa barreira humana e se preparavam para guiá-lo para a área segura de escape. — Quais são as ordens?
— É sempre um bom dia para recepcionar os nossos convidados! — A mais audaciosa sorriu sugestiva para o comandante. Os dois trocaram uma significativa olhada e ele assentiu, apressando-se para terminar de repassar as boas novas. Köhler surgiu de algum lugar ao seu lado, tentando barrar a aproximação de qualquer pessoa estranha e incrivelmente nem se importou com a presença do alemão naquele segundo.
— Venha logo, ! — O pai quase ordenou. A mulher virou seu corpo parcialmente em direção ao pai, antes de sair pela porta do corredor, olhando bem nos fundos dos olhos do mais velho e sorrindo verdadeiramente pela primeira vez no dia.
— Verás que sua filha não foge à luta, meu pai. — enviou um beijo ao ar e empurrou o soldado que ainda estava posto ao seu lado. — Vão, levem o Presidente para um lugar seguro e me deixem por dentro de qualquer minúsculo problema! — Os homens não sabiam se acatavam as ordens da agente ou do Presidente. Eles se fitaram por um período interminante e o Presidente murmurou algum xingamento incompreensível.
— A sua mãe não vai gostar disso! — Ele elevou a voz.
gargalhou, retirando a arma do coldre e explodindo o pé na porta de metal.
— Vá logo, papito, nós ainda temos um país para salvar antes da hora do jantar.
Quando a lua criou uma sombra e a segunda mão apontou para o céu, esse “feitiço” do azar anunciou o começo da catástrofe.
jurou para si mesmo que manteria a postura e não deixaria o nervosismo assumir as rédeas da situação, mas foi um tanto impossível não surtar quando o pico da Casa Branca explodiu em fogo e a construção afundava a cada segundo.
Era só concreto, pensou, e concreto é fácil de substituir.
Vidas, por outro lado, não.
Os seus “companheiros” estavam fascinados com as rajadas de fogo alastrando pelo ambiente e a sequência de gritos emergindo pelo casulo do Governo. Eles adoravam a sensação de destruir e exterminar toda e qualquer coisa que entrasse em seus caminhos, impedindo que tornassem o mundo no desgracento playground que eles esperavam que o país se tornasse.
Eles tinham desejo por vingança e tinha desejo de impedi-los.
Mas ainda não estava na hora. Não enquanto a equipe tinha em mãos o controle para a destruição total do prédio.
Ele precisava tirá-la de lá de dentro antes de acabar com a raça daqueles maníacos.
— O que ainda está fazendo aqui, ? — O mascarado que nem ao menos sabia quem poderia ser cutucou o seu ombro e o empurrou para frente, enfiando o cabo da arma em suas costas e o estimulando a continuar andando. — Vá pegar a vagabundinha da e traga aquele traseiro esbelto para as minhas mãos. — Se pudesse contar quantas vezes ele precisou inspirar e respirar para controlar a sua ira e não matar cada um daqueles homens, ele certamente perderia as contas depois do primeiro bilhão.
divagou um ódio depravado em direção do homem. Os seus pulsos quase racharam com a força que ele depositava nos músculos dos dedos e por um segundo ele cogitou que perderia o controle e causaria o caos ali mesmo, naquele segundo, colocando tudo a perder.
Ah, como ele queria matar aquele desgraçado que ousava em mencionar o nome de daquela maneira.
A segunda explosão levou ao chão e a sua cabeça encontrou a grama recém-regada, chocando-o com a pavorosa realidade. Não adiantaria em nada matar aquela escória humana quando provavelmente ainda estava naquele prédio tentando salvar o maior número de pessoas.
conhecia a sua companheira de equipe.
E é por isso que ele infelizmente teria que sequestrá-la.
— Lembre-se. — Alguém o advertiu antes de cruzar a propriedade e adentrar no primeiro lugar que não poderia nem em sonho pisar. — Você tem mais a perder do que nós. Qualquer passo em falso e você morrerá junto com todos os vadios da sua equipe.
— Ex-equipe. — corrigiu o homem a tempo. O inimigo deu de ombros, dando a indicar que um sorriso sacana brotava entre a máscara de disfarce.
— Isso é o que veremos quando você estraçalhar a cabeça de cada um deles.
estava questionando a veracidade da sua sanidade quando chegou ao subsolo e encontrou uma fileira de carros centralizados para escape. A sua equipe estava posicionada em sentido de ordens, aguardando que ela proferisse o comando.
Mas ela não acreditava no que testemunhava.
— O que é isso? — Ela apontou com a arma para os carros. — Vocês acham que estamos indo passear?
O comandante Oslen abaixou a cabeça, pois previu com exatidão que a mulher não teria outra atitude a não ser aquela. Ele iria dialogar, mas ela não abriu espaços para argumentações.
— Esse era o plano de vocês? Colocarem os esqueletos moles dentro de fortalezas blindadas e fugir, deixando para trás à mercê do destino cada cidadão trabalhador que luta diariamente para apoiar o nosso governo? — Ela andou em frente ao grupo. — Cada uma daquelas pessoas entra todos os dias nesse prédio tendo a única certeza de que iremos garantir a segurança de suas vidas. Eles acreditam em nós, não porque defender o nosso povo é a nossa obrigação, mas porque só nós poderemos lutar contra as pessoas que estão no nosso país achando que podem tirar de nós o que conquistamos por direito! —A mulher elevou o tom de voz, passando a se exaltar. — O nosso povo é livre, o nosso povo é batalhador e o nosso povo é o nosso sangue! São eles quem votaram para que vocês pudessem ter a posição que têm hoje! São eles quem confia em vocês! São eles quem merece uma maldita revanche! — socou o capô do carro e grunhiu de indignação. — Esse é o nosso território e nós não simplesmente entregamos o que é nosso de mão beijada para o primeiro grupo de psicopatas que nos atacam. — A equipe estava novamente de cabeça erguida, encarando o ponto mais distante do estacionamento. — Entrem na merda desse prédio e mostrem a eles como é que nós recepcionamos os nossos visitantes!
Um urro de motivação eclodiu pelas gargantas dos agentes e cada um correu para dentro do prédio como se sua vida dependesse daquilo.
As explosões soaram mais altas e mais estrondosas no topo do prédio, mas estava movida pela força da determinação e da vingança.
Ela é imparável.
Ela é intocável.
Ela é cheia de si.
E é por isso que ela foi a primeira a disparar.
reconhecera que nada havia mudado no prédio desde que ele tinha sido literalmente expulso de lá. Agradecendo às forças divinas pela ajudinha extra, o ex-agente driblou das câmeras postas nos pontos cegos que ele ainda conhecia, perambulando pelos corredores com uma capacidade praticamente animalesca.
Apesar dos anos terem se passado, ainda continuava péssimo em armar planos decentes. Ele tinha uma séria dificuldade em finalizar os seus planejamentos, mas o que podia fazer se estava acostumado a ter consigo para resolver os furos nos problemas?
Só por ter se lembrado da mulher o corpo todo de se estremeceu. É verdade que ele estava ali unicamente por causa dela, mas não tinha chegado a pensar em como lhe abordaria ou como conseguiria conter os nervos explosivos da quando ela se deparasse com a sua ilustríssima presença.
A estrutura do prédio gemeu como se um terremoto tivesse acabado de acontecer. As luzes piscaram e pôde visualizar as nuvens espessas de poeira escurecer o ambiente como um fusível toda a imagem nítida que ainda tinha daquele monumento.
O ar estava pesado e tenso, transmitindo a costumeira sensação de perigo alarmante que conhecia de volta aos dias de ação. Ele nunca mais esteve dentro da Casa Branca depois de tudo o que aconteceu, muito menos como um inimigo do Governo e, por isso, os seus pulmões estavam queimando em seu peito, em consequência do nervosismo em estar correndo o risco de cruzar com algum interno e não ter tempo de encontrar .
Ele continuou correndo mesmo quando o céu se apagou do lado de fora do prédio e as paredes continuavam a desabar próximo a si. Antes de pular no poço do elevador e se firmar nas cordas de sustentação, observou a fuligem do fogo atravessar as janelas quebradas e tocar nas bochechas de seu rosto, queimando brevemente. Apesar de tudo e depois de tudo, ele se sentia vivo.
escondia muitas coisas. Infinita delas. Toda a sua vida era uma mentira e ele só desejava que fosse outra pessoa, alguém livre daquele estigma que o amaldiçoa com uma culpa que não lhe pertence.
Entretanto, aquela era a única oportunidade que teria de se validar perante o que aconteceu no passado e poder se redimir com , a CIA, o governo e o país.
Tudo o que ele fez teve um propósito. Tudo o que ele ainda faria teria um propósito.
— Posição! — estava perto de se camuflar entre o nevoeiro escuro que tomou conta do corredor, mas o sussurro quase inaudível fez com que ele ficasse preso sob os calcanhares e se equilibrasse nos destroços de teto para ter encontrar o ponto de onde aquela voz proveu. Um estalo veio em seguida e o ex-agente reconheceu o que aconteceria nos próximos segundos.
Ele só teve tempo de se encolher em seus braços e reduzir o seu grandalhão corpo ao tamanho de um feto, escondido atrás dos tijolos. Esperou que o clarão do raio cegante diminuísse sua energia e inalou o ar tóxico com dificuldade, afundando o nariz dentro do embolado de sua camisa e focando a sua atenção em apenas respirar uma vez a cada segundo.
Depois dos minutos se prolongarem no espaço físico e estar correndo contra o tempo, o ex-agente lançou o seu corpo em direção à escadaria vazia e deu largas pesadas para o andar superior, ainda ouvindo os estardalhaços que a CIA causava no andar de baixo. Por pouco o grupo não o vira.
O prédio estava entrando em ruínas e não era mais possível distinguir em qual andar ele estava. Um buraco negro abriu-se no meio do andar em que ele se encontrava e por pouco não tropeçou no vazio. Ele precisou pegar equilíbrio na porta de madeira que restara na lateral do corredor e apoiou as mãos na maçaneta, suspendendo o corpo parcialmente para ter uma vaga noção do que o aguardaria naquela dimensão. Uma chama de fogo estava em evidência logo no fim do buraco, aparentando estar numa distância significativa, advertindo de que ele precisava continuar correndo. O prédio logo desmoronaria.
Enquanto fazia a sua escalada em busca de , a agente seguia perfurando cada vestígio de destruição, em busca de um único indício de que o seu inimigo estava por perto.
O seu Tactix apitava uma porção de numerações que ela não se atentou a checar. O relógio ainda lhe deixava nos nervos e se ela pudesse jamais usaria o acessório novamente, mas ordens eram ordens e, por mais que se recusasse a aceitar os guias do dispositivo altamente desenvolvido, ela passou os olhos pelas linhas vermelhas indicando que em um raio de cem metros haveria uma passagem oculta para escape.
— Atenção! — A agente coordenou o grupo. Dois dos homens ficaram ao seu lado, enquanto que quatro seguiam à frente e mais seis vinham atrás. A mulher ao seu lado olhou rapidamente para o rosto da chefe, esperando que ela ordenasse a entrada nas salas. , todavia, compadeceu em olhar para a estranha setinha verde que estava no canto extremo do mapa traçado no seu Tactix.
— Ao seu comando, chefe. — A segunda agente prendeu os olhos no semblante fechado e indecifrável de .
— Sigam com a missão. — indicou com os dedos para as direções que eles deveriam ir. — Eu tenho que averiguar uma situação no andar de cima.
— Tem certeza de que é uma boa ideia? — O agente demonstrou insegurança.
— A minha intuição é uma desgraça, agente Hernandez. — sorriu divertida para o homem, abanando as mãos no ar. — Eu não irei ficar contente se não matar essa bendita dúvida. — O agente deu um passo à frente, mas levantou o indicador para ele. — Se eu não voltar em três minutos, você sobe. Enquanto isso termine de sondar o andar. — Ele demorou em consentir com a ordem, apesar de já ter cruzado metade do andar no espaço de tempo que ele gastou cogitando a hipótese de ir atrás dela.
— Eu darei cobertura a ela, Hernandez. — Köhler elucidou o plano. Hernandez olhou por um longo segundo para a feição do colega de equipe e concordou por fim após o alemão sorrir encorajador para ele. — Dê continuidade às ordens da chefa. — Köhler trocou um toque com Hernandez e sumiu na escadaria.
No andar de cima estava , agachado atrás de uma porta, rezando todas as orações que lembrava para fazer com que confiasse em seu instinto e viesse de encontro a ele. tinha a esperança de que ainda fazia uso do Tactix e iria suspeitar da setinha verde no monitor do relógio. Aquele era um lance entre eles, uma antiga forma de ambos se localizarem enquanto estavam em uma missão, apenas para saberem que estavam por perto.
acreditava que seria curiosa o suficiente para seguir os rastros da setinha verde.
estaria pronto para quando ela o encontrasse.
queria gritar de frustração, mas poupou-se da reação quando chegou à altura do andar superior e não pôde enxergar nenhum palmo à sua frente. Ela tentou empurrar a neblina para longe dos seus olhos e forçou a sua traqueia a não inspirar a toxina no pó, embora aquilo fosse totalmente impossível.
A agente empurrou com o pé vários restos de portas e subiu em cima da metade do teto que havia desabado no andar. Sua perna ralou nos cabos de ferro, enferrujados e quentes, causando-lhe um ardor e um corte que ela sabia ser profundo.
— Maldição. — Ela esbravejou quando criou ânimo nas pernas e tentou se afastar daquela parte comprometida do andar. Os seus olhos estavam embaçados, mas ainda via a setinha verde parada no mapa. Ela, então, rasgou na altura da barriga a camisa social que vestia e usou o pequeno pedaço de pano para prender em volta de sua perna e estancar o ferimento.
apoiou o corpo na lateral da parede e limpou o monitor do relógio, mantendo o olhar preso no campo escuro à sua frente e na luz fluorescente que conseguiu projetar com a ajuda do dispositivo.
O tactix apitou e, em seguida, a setinha verde começou a se movimentar. A advertência sonora parecia escapulir de mais de um Tactix, o que deixou momentaneamente confusa. O seu relógio possuía um apito singular, diferente do segundo que ouvia, deixando claro que ela não estava sozinha ali.
A agente sentiu o primeiro solavanco repercutir por dentro de suas paredes de concreto. Foi assim, sem aviso prévio, sem menção de tornar mais fácil reconhecer aquele sentimento, sem permitir com que tivesse um breve segundo para se preparar.
O seu coração pulsava como se estivesse explodindo em uma noite de Ano Novo, chegando até mesmo a causar uma dor no seu peito e uma falta de ar.
Ela não mais encarava a setinha verde se aproximar da sua setinha azul.
A luz fluorescente abriu um friso de espaço no meio da polvorosa fumaça e, a cada fogo de artifício se explodindo dentro do céu escuro que existia dentro de si, contemplava a inconfundível forma física de um homem formar-se diante dos seus olhos.
— E aquela sua regra número um, ? Ainda acredita que está completamente sozinha?
perdeu o fôlego quando criou forma. Os traços do ex-agente eram tão singularmente familiares que ela quase sentiu um choro indignado alfinetar a sua garganta. Seus olhos rolaram por todas as elevações do rosto de e a sensação foi de sentir um soco diretamente no estômago.
Ele sorriu, porque o seu peito doía de saudade por aquela mulher e porque ele só se deu conta da magnitude do amor que sentia por ela quando teve de perdê-la. se sentia tão impotente diante dos olhos de que qualquer insinuação fria que ela retribuísse poderia destruí-lo por fim, mas não era desta forma que ela foi capaz de saudá-lo depois de tanto tempo distantes.
Ali, de frente para , debulhou-se em lágrimas.
Ela chorou. Genuinamente.
Cada lágrima significava uma mágoa que a mulher carregara durante todos os dias que precisou ter de lidar com a dor de ter sido enganada. Cada lágrima significava que chegou a amar .
Cada lágrima significava que não era tão intocável e cheia de si como um dia a vira.
Cada lágrima significava que só queria que a vida tivesse sido diferente consigo.
A princípio ele ainda estava a observá-la, aguardando o vislumbre fugaz de suas pupilas realçarem algo além de lágrimas agressivas e magoadas.
Então ele só tinha que tocá-la.
Ele precisava senti-la novamente.
Ele fez sua escolha e se comprometeu com o plano que só existia em sua cabeça. Agora era só uma questão de tempo para que soubessem quem verdadeiramente ele é e o que ele estava disposto a causar.
Enquanto isso, lá estava , fitando o ex-companheiro como se a sua alma houvesse desprendido de seu corpo e ela só significasse uma irrelevante massa física. Ela sentia-se um tanto atordoada, não entendendo o porquê de seu coração estar tão vacilante sob a sua pele, provocando um tremor na sua musculatura e um arrepio considerável no fundo do seu ventre.
Aquilo não deveria fazer sentido.
Por que infernos ela precisava se sentir daquela maneira até hoje?!
O que havia de errado com ela?
grunhiu em raiva e descrença, esfregando as mãos pelos cabelos e tentando, de sua forma, ou de qualquer forma, jogar para fora aquele aperto no coração e voltar a deixar a decepção falar mais alto.
Aquele não era o que fez parte de sua vida.
O foi uma fraude. O nunca existiu.
A agente sorriu, por fim cansada, negando-se a deixar que o sorriso do homem entrasse na sua cabeça e a fizesse voltar para a estaca zero.
— Eu acreditei em você, . — O golpe veio na velocidade da luz. As palavras de rasgaram o peito de e fez o homem quase cair sob os próprios joelhos.
— Como assim você chegou a acreditar em mim alguma vez, ?! — brincou porque seu cérebro já não era mais capaz de processar qualquer coisa útil. O seu nervosismo deixava a sua expressão beirar ao nível mais baixo da babaquice e ele queria provar à de que aquele homem em sua frente ainda era ele.
— Como é que você tem coragem de dizer isso? Depois de tudo você ainda foi covarde o bastante para fugir! Nem mesmo foi capaz de enfrentar os seus erros! — A agente voou até , empurrando o corpo do homem contra a parede e desferindo centenas de soco em seu peitoral.
— Eu não fugi. — deixou despejar o ódio que sentia por sua pessoa naquelas golpeadas. Ele mesmo se sentiu feliz por ainda nutrir alguma espécie de sentimento por ele, significava que a mulher não o esquecera e ainda guardava algo por ele em seu coração.
— Abandonar furtivamente a sua cela na cadeia de segurança máxima sem autorização seria o quê, especificamente? — Ela freou os socos e se sentiu esgotada emocionalmente. A dor latejante na perna só piorou a situação. Ela ganhou aquele troféu por causa do ridículo . Mais uma vez o demônio em forma de pessoa vinha lhe trazer prejuízos!
teria um ataque de arritmia cardíaca em um piscar de segundos.
Entre todo aquele caos que o reencontro se tornou, teve capacidade de ouvir uma movimentação próxima à escadaria. Ele tentou segurar no pulso de , mas ela o afastou com a mesma ira e desespero de antes, passando a descer a mão pelo coldre da calça e segurou a arma. sorriu.
— Não tenho tempo para te fazer entender o que aconteceu. Nós precisamos sair daqui.
— É claro, , você nunca tem tempo para cumprir com o seu dever de me dizer quem diabos é você! Meu Deus, nós dividimos missões juntos! Anos juntos, ! Ter um companheiro na CIA é praticamente um casamento! Nós tínhamos responsabilidades um com o outro. — Sua voz saiu fracionada. Maldita fraqueza, ela pensou. — Eu te defendi com unhas e dentes quando te levaram para a prisão. Estive lá por você, . Acreditei que encontraria um furo naquela armação e poderia te livrar das acusações, mas caí nos meus sentidos quando notei que você não estava em estado de negação. — Ela fitou os glóbulos do homem, recheada de decepção. — Você estava ciente de tudo o que estavam apontando em sua direção e ainda assim você não moveu um dedo para se defender. Você não fez nada para que eu não cogitasse a hipótese de você ser tudo aquilo que descobrimos, .
— Eu não sou, . — se esforçou com todo o empenho de sua vida para que sentisse o quão profundamente verdadeiro ele estava sendo naquele momento. Tentou se aproximar dela, mas foi afastado com a brutalidade de um golpe no braço. — E é isso que irei te provar agora, nesse exato momento, aqui mesmo.
— Oh, ora essa, Lansky deveria ter acredito em mim quando eu disse que jamais seria um traidor do Governo! — Köhler surgiu no meio da fumaça e não soube dizer se estava feliz ou emputecida pela presença do alemão. O momento de desmascarar era unicamente dela, mas por que diabos Köhler parecia estar chapado numa hora como aquela?!
— Deixe comigo, Köhler. Esperei todo esse tempo para acertar as contas com o . — O alemão expeliu um riso debochado na cara de e ela virou-se totalmente para o homem, encarando-o incrédula e desafiada. segurou no pulso da mulher e a todo custo tentava afastá-la dele. — Me solte, !
— Faça isso, . Você sabe que quem irá tocá-la essa noite é só Lansky. — olhou estupefata para o agente. Ela revezou o olhar entre o alemão e , sofrendo o famoso “click mental” que a fizera cair em consciência e entender o que acontecia naquele momento.
Ela riu. Oh, como riu. Sua barriga chegou a doer e lágrimas de êxtase escorreram pelo seu rosto, obrigando Köhler a duplicar o seu ódio pela mulher.
— Não me diga que você também está do lado da força inimiga, Köhler? — cruzou o braço direito por baixo do esquerdo, apoiando a arma nos dedos e fingindo estar se divertindo com a cena. O alemão retribuiu a carranca irônica e pautou um sorriso asqueroso demais.
— Surpresa pela reviravolta, ?
— Preciso admitir que sim. — esboçou um bico de consentimento e acenou com a cabeça. — Eu esperava que fosse mais seletivo com o seu bando. O Köhler, sério, ? — se virou para . — A situação estava tão crítica para você ter de apelar a isso? — Ela apontou para o alemão como se ele não estivesse ali. engoliu em seco, pois sabia quem Köhler poderia ser quando movido pelo ódio.
— Se eu fosse você não agiria tão prepotente, . Não quando sou eu quem está com o botão mágico capaz de fazer a nave de seu pai explodir em um piscar de olhos no céu da cidade. — A feição de enrijeceu e sabia que não haveria voltas. já estava com a arma suspensa em sua mão, apontada para o centro da cabeça de Köhler, marchando para onde o homem se encontrava, jorrando desprezo e enfuriamento.
— E sou eu quem está com uma arma apontada para a sua cara, um tiro capaz de explodir os seus miseráveis miolos. — rosnou. segurou na cintura da mulher e, apesar de ela também estar remoendo um ódio por ele, ficou momentaneamente cega de desespero com a insinuação do alemão, ignorando o contato físico entre eles.
— Sabe, , eu cheguei a me perguntar o que de interessante você havia visto na filha do Presidente, além do seu dinheiro e do seu corpo esculpido por alguma deusa desocupada. — Köhler ignorou . A mulher quis pular no traidor e matá-lo com a força das suas mãos, sufocando-o com toda a ira que a tomava naquele segundo. Em razão de a sua sanidade estar mais aguçada que o seu autocontrole, manteve a arma encostada na testa do homem, pela segunda vez do dia, agora movida por um prazer ainda pior. — Mas quando eu me infiltrei no Governo e passei a responder pelas ordens da , bom... Digamos que eu entendi completamente a razão. — O sorriso foi direcionado para , que se enfiava entre e o alemão, mas a agente considerou aquela provocação direcionada a ela. — É uma pena que tenhamos estragado a sua vida e ela jamais irá te perdoar pelas coisas que fez, porque, para começo de conversa... — O homem finalmente olhou para . — Um defunto não tem poder de oferecer perdão. — Köhler sacou a arma e numa fração de segundos aproximou-a do rosto de , pronto para atirar. O botão em sua mão livre estava piscando a luz vermelha, enquanto que o seu dedo repousava com firmeza sob ele.
se viu entre a corda bamba, despencando no penhasco da sua vida. Ela poderia morrer, mas não permitiria que seu pai e todos que estivessem na nave morressem também.
Ela só precisava de um único segundo para matá-lo. Nem mesmo que o tiro custasse a sua vida.
E ela atirou.
O único problema é que ele também.
Por causa da brisa gelada roçando em suas bochechas, abriu os olhos. Preguiçosamente as suas pálpebras tremeram até que ela se acostumasse com a sensação irritante de areia sendo expelida de suas bordas, mas não foi isso que a fez girar a cabeça em cento e quarenta graus, sondando com urgência e afobação tudo que se passava ao seu redor.
— Não faça tanto esforço. — notou que ela havia despertado. — Você acabou de ser arremessada a cinco metros de altura.
— E quem foi o asqueroso culpado por isso?
caçoou da entonação de . A mulher desembaraçou-se do que parecia ser dois braços fortes, já que a sua visão ainda estava turva e desfocada.
— Eu.
— Aish, … — esbravejou. — O que diabos aconteceu lá atrás?
— Ele atirou e errou. — deu de ombros. — Eu atirei e não errei.
— Corrigindo: eu atirei e não errei. — resmungou. — E o que aconteceu com aquele botão?
— Na verdade você atirou e acertou de raspão, mas quem acertou diretamente no alvo fui eu. — persistiu. — O botão está comigo.
— Me dê, agora! — partiu para cima do ex-companheiro. — , se você ousar tocar nesse botão, eu juro que…
— , francamente, me espanta perceber que você criou essa imagem tão suja de mim! — rebateu, atingindo a sua inconformação, colocando a mulher apoiada na parede.
— Você se ouve quando fala?! — Ela empurrou-o com as mãos. — Oh, coitadinho, ele é o santo imaculado! O mundo todo está errado e só ele, o desafortunado, é inocente!
— É sério que você está levando tanto tempo para juntar os pontos? — parou em frente à . — Você não percebeu que o Köhler é O traidor?
— Sim, , conte-me mais alguma coisa óbvia! — Ela rebateu zangada. O seu humor não estava nos melhores picos, ironicamente, fazendo-a desferir palavreados nada acolhedores. , no entanto, não se insultava.
— Por que você acha que ele tinha tanto interesse em executar aquele homem que a CIA capturou? — deixou adentrar no seu cérebro e instaurar a dúvida. Ela refutou a ideia por alguns segundos e, num lampejo de consciência, tudo se acertou com clareza.
— O homem não era terrorista, apenas tinham informações que comprometeriam a organização de Köhler. — sorriu entristecido, batendo palmas pela rapidez no raciocínio.
— Assim como fizeram comigo.
— Do que você está falando? — não compreendeu. engoliu o sorriso, esfregando as pontas dos dedos pela barba recém-feita.
— Eu havia descoberto podres da organização do Köhler. Ele já estava na nossa equipe há um tempo e, para não correr o risco de perder a oportunidade de ficar por dentro do que acontecia no governo, ele ameaçou te matar. — estava estupefata e incrédula. Sua feição beirou à descrença e pediu por um único minuto. Ele precisava contar. — Ele instaurou uma bomba dentro do seu TACTIX e, depois disso, fez com que todas as provas sobre ele, que eu iria vazar, virassem contra mim e aparentasse que o Agente era o terrorista. Sempre foi ele. Eu só tive um péssimo azar em descobrir tarde demais.
não sabia entender o turbilhão de emoções que lhe atingiram naquele momento. a encarava com uma expressão de quem estava cutucando uma ferida recém cicatrizada e ela, que nunca ao menos havia cogitado aquela hipótese, sentiu o mundo desabar sob as suas costas, a mesma sensação que a tomou quando viu sendo algemado como um traidor.
— Foi por isso que você tentou tirar o relógio do meu braço dias antes de ter sido preso. — concordou. — Você queria desarmar a bomba. — Ela apoiou-se na parede, escorregando o corpo no concreto até alcançar o chão. — Eu estive com uma bomba presa em meu punho durante todos esses anos… — Ela olhou para , encontrando o pavor que sentiu em cada maldito dia de sua vida. — Meu Deus, . Esse tempo todo… Não houve uma prova sequer que eu consegui confrontar. Não houve um detalhe que eu pudesse me apegar para defendê-lo.
Eles ficaram em silêncio porque não havia muito mais a ser dito. O breu da noite indicava que a fumaça já estava se dissipando e as explosões tinham sido interrompidas.
retirou o TACTIX de seu pulso como se o objeto lhe causasse náuseas e nojo. Ela o arremessou para longe, querendo apenas que houvesse uma barreira física desmedida entre ela e o relógio. Por tanto tempo confiou a sua vida no relógio, acessório indispensável para cada agente da CIA, que mal podia acreditar que a sua vida, de fato, estava sob os poderes do objeto.
— Como ele foi capaz? — indagou a dúvida, consternada pela revelação. — Nós só fizemos o bem para ele. Nós o acolhemos em nossa equipe como se ele fosse família. Oh, céus… — Ela tampou a boca. — Ele ficou incontáveis vezes sozinho em uma sala com o meu pai! Ele poderia tê-lo matado, !
— Shh, , não se preocupe. Você nunca teve culpa dessa confusão. Eu sei que para você foi um inferno passar por isso, como não seria? Não havia nenhuma forma de você me proteger. Não havia nenhuma forma de você não acreditar que eu era realmente o infiltrado. Ele fez tudo minuciosamente para nos separar. — Apesar de anos separados e todos os sentimentos e revelações terem os distanciado emocionalmente, não poupou a sua reação instantânea; ele abraçou , com todo o fervor de sua vida, conectando os seus ritmos cardíacos e tranquilizando-a. — Mas agora estamos bem, você está bem e temos um jeito de expor toda a Organização. Você só precisa confiar em mim.
esfregou os longos dedos pelas bordas de seus olhos e limpou cada vestígio de lágrimas que se desprenderam sem autorização. Ela odiava chorar, odiava sentir-se fraca e, acima de tudo, odiava mostrar essa versão de si para . Ainda estava confusa quanto às descobertas, não sabia ao certo no quê acreditar, em quem confiar, mas a resposta se oficializou em seu coração tão rápido quanto à velocidade que a dúvida gastou se instalando.
Ela sempre confiaria em — Ainda enquanto se forçava a desconfiar dele, , instintivamente, com todo o seu coração, confiava em .
— Qual é o seu plano? — Durante todo aquele tempo era quem liderava as escolhas de planos ou trazia uma nova tática. cumpria com excelência porque sabia que a mulher era infinitamente mais capacitada do que ele trazendo abordagens, enquanto que o seu trabalho se dava em executá-las. Agora, passava o bastão da escolha para e ele não deixaria de se esquecer deste momento.
— Nós vamos entrar naquele helicóptero e dar o pé daqui, . — anunciou, tendo certeza de que a única coisa que precisaria era sumir daquele lugar. A sua justiça ficaria em segundo plano. Contanto que estivesse a salvo, poderia se preocupar com isso em outro momento.
— , estou sem o meu TACTIX e só ele está conectado ao sistema de altímetro das naves, o seu dispositivo foi excluído logo que você foi preso e… Sem o altímetro... Não iremos muito longe. — gesticulou exacerbada, arrependendo-se de nunca ter optado por um relógio extra.
— Está tudo bem. — sorriu com carinho. — Nós somos capazes de lidar com isso. Você é capaz, .
— O altímetro é chamado de melhor amigo do piloto por uma razão, . — Ela mal notou que havia soltado o apelido do ex-agente. , que tentava abrir a porta do helicóptero, olhou por cima dos ombros e sorriu largo, embasbacado pela forma de mal reparar na leveza que a antiga intimidade entre eles ainda existia. — Como nós vamos medir a pressão atmosférica e achar pelo radar um ponto seguro no solo para pousarmos?! Nada mais por aqui é confiável.
escorregou as suas mãos pelos braços de até que ela levantasse as orbes brilhantes e o fitasse com um sentimento que ele nunca a viu ostentar: o receio.
Ela amoleceu os ombros e bufou inexplicavelmente fofa, fazendo expandir o sorriso e cativá-la a respirar com tranquilidade, pensando em um passo de cada vez.
conduziu até o helicóptero quando percebeu que ela estava mais calma e convencida de que eles precisavam fazer aquilo. Ao entrar na cabine da nave, fitou a traseira desta. Suas pupilas se dilataram e ela estava pronta para descer, mas as mãos de a impediram para tal. Incrédula e considerando que o ex-agente havia surtado de vez, a agente desferiu o comentário alto demais:
— O que você está fazendo?! O helicóptero está sem a cauda!
— Eu sei. Nós não precisamos de uma.
A única coisa que conseguiu manifestar foi o seu riso beirando ao choque e ao pavor. Ela olhou rapidamente para o chão, encontrando apenas destroços e fumaças, um caminho que não abria nenhuma zona de escape confiável. A única nave que sobrara do ataque era essa que estava no topo do prédio, mas a propriedade do Governo já entrava em ruína e se preparava para eclodir. O chão tremia por baixo de seus pés e lhe advertia que, a qualquer segundo, tudo aquilo viraria pó.
içou o seu braço na lateral do helicóptero, encarando por um momento que poderia perdurar séculos.
— Sim, , nós precisamos de uma para voar.
, ajustando o headset nos ouvidos, não olhou para , mas desmanchou um sorriso intrigante.
O primeiro tremor de forte impacto desequilibrou no ar e, por uma graça divina, ou porque é extremamente ágil, o homem segurou o braço da agente e a suspendeu no ar com o impulso que ela pegou. adentrou na cabine, por mais que estivesse refutando a ideia, com uma aparente cisma.
— E quem disse que precisamos voar?
bufou, pois sabia bem qual era o plano de .
bufou, pois sabia que era a única opção que tinham.
— Você já parou para pensar que eles irão acreditar que você me sequestrou? — lembrou-se do fato para tentar se distrair do que viria a seguir. percorreu ferozmente pelo painel e ativou cada botão de comando necessário, deixando os apitos soarem eletrizantes em seus tímpanos.
— Você já parou para pensar que eles irão acreditar que a agente fugiu comigo porque traiu o Governo pelo fato de estar perdidamente apaixonada por mim? — não ia perder a oportunidade porque é e não se esqueceria deste minúsculo detalhe. A agente sorriu sem reação, fitando o homem por longos segundos, só para em seguida mexer a cabeça de forma negativa e não acreditar que estava realmente vivendo aquele momento.
— Nem em um milhão de anos-luz eu fugiria com você, .
— Isso significa que você acaba de assumir que é perdidamente apaixonada por mim e trairia o Governo por isso?
As sobrancelhas grossas e delineadas da mulher se franziram ligeiramente quando ela se deu por si da afirmação que afundou através de sua mente. lhe ofereceu um aceno esbanjando dualidades maliciosas e apenas assentiu em conformidade com aquilo porque realmente merecia se gabar por ter virado o jogo daquela maneira.
O som ensurdecedor do helicóptero se movimentando e decaindo no espaço-físico do ar não foi o bastante para fazer desprender os felinos olhos da fisionomia serena e realizada de . Os dois sustentaram o contato visual por uma sequência de tempo que poderia ser eterna e imortal, deixando claro, entre os nuances deleitosos e genuínos de cada piscadela de pálpebras, que aquela era a missão da vida deles.
Aquela era a missão deles.
E é o TACTIX de .
é o TACTIX de .
E ambos estavam confortáveis em finalmente aceitarem esse simplório fato.
— Isso significa que talvez — Ela levantou o dedo indicador, apontando-o diante do rosto de , sorrindo amolecida em seguida. — Talvez eu tenha estado errada uma vez na minha vida quando disse que um agente estará sempre completamente sozinho. Pelo menos eu não estou. Nós não estamos.
Missão em Andamento
Agente-Chefe e Acusado de Terrorismo,
Procurados pelo Governo
TARGET DETECTED
Fim.
Nota da autora: AYOOOOOOO MY SOFT BABIES!
E olha que saiu o plot que eu tanto queria desenvolver! HALLELUJAH!
Foi na correria? Foi. Entretanto, todavia, já queeeeeeeee, aconteceu!
Esse casal me deixou só emoções! O PP todo baby boy e amável enquanto que a PP é toda rabugenta, frozen heart e difícil de lidar HAUAHUAHUAHUAHA espero que eles tenham dado uma match boa aos olhos de quem ler!
Não tenho muito mais a dizer, (esse ficstape consumiu a minha capacidade de raciocínio HAUAHUAHUAHS) então espero que essa estória não tenha decepcionado ninguém!
Muitíssimo obrigada para quem chegou até agora e por ter clicado nesse link. Só isso já significa o mundo para mim! ❤
Nos vemos na próxima atualização, na próxima fic, no próximo ficstape e nos ‘corredores’ desse site maravilindo! Até muito em breve, babies! We are one ❤
Outras Fanfics:
08. Hurt
Unbreakable Destiny
The Chairwoman
04. Lightsaber
01. Electric Kiss
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
E olha que saiu o plot que eu tanto queria desenvolver! HALLELUJAH!
Foi na correria? Foi. Entretanto, todavia, já queeeeeeeee, aconteceu!
Esse casal me deixou só emoções! O PP todo baby boy e amável enquanto que a PP é toda rabugenta, frozen heart e difícil de lidar HAUAHUAHUAHUAHA espero que eles tenham dado uma match boa aos olhos de quem ler!
Não tenho muito mais a dizer, (esse ficstape consumiu a minha capacidade de raciocínio HAUAHUAHUAHS) então espero que essa estória não tenha decepcionado ninguém!
Muitíssimo obrigada para quem chegou até agora e por ter clicado nesse link. Só isso já significa o mundo para mim! ❤
Nos vemos na próxima atualização, na próxima fic, no próximo ficstape e nos ‘corredores’ desse site maravilindo! Até muito em breve, babies! We are one ❤
Outras Fanfics:
08. Hurt
Unbreakable Destiny
The Chairwoman
04. Lightsaber
01. Electric Kiss