PRIMEIRO
“Tinha você
Tinha eu
e um nós que quase existiu
um ‘quase’ nunca me doeu tanto.”
— Guilherme Victor
Tinha eu
e um nós que quase existiu
um ‘quase’ nunca me doeu tanto.”
— Guilherme Victor
No começo, era estranho que sua única saída fosse morar com um desconhecido. E em tão pouco tempo, ele já era mais que isso. Ele era um porto seguro. chegou naquele apartamento perdida na vida.
Perdida de si.
Mas foi um momento. Entre duas pessoas que tentaram se amar. E foi como deveria ter sido, como às vezes acontece nos melhores ou piores relacionamentos. O momento surgiu, ficou suspenso no ar e permaneceu, até que não existia mais “eles” e talvez nunca tenha existido mesmo. Na cabeça de , existiu. Na cabeça de , existiu. Ela nunca acreditou que o sentimento dele tivesse sido tão fiel como o dela havia sido. Mas era e talvez ainda fosse.
1 ANO ANTES
— O morador do apartamento de cima está procurando alguém para dividir os custos. Talvez seja uma alternativa para você. Quer o número dele? — a vizinha pronunciou, dando uma alternativa para a garota desesperada que estava em seu sofá.
— Não precisa, eu vou lá nesse exato momento. Mas muito obrigada! — a morena agradeceu rapidamente a atenção da mulher grisalha.
Então, saiu do apartamento como se aquilo fosse caso de vida ou morte, porque talvez fosse. Os lances da escada pareciam mais distantes naquele momento, mas em minutos a garota parou em frente à porta amadeirada com o “6001” pendurado em metálico. Enxergou o número em sua frente como o seu milagre e enfim tocou a campainha. Uma voz podia ser ouvida.
— Já vai!
Escutar os passos chegando mais perto dela e o tintilar frenético do molho de chaves a deixou mais tensa. Podia até jurar que o escutou xingando um pouco, até que finalmente a porta se abriu e a fez dar de cara com um homem branco, com tatuagens que corriam ambos os braços, alto e de cabelos longos que chegavam aos ombros.
— Oi, eu sou — a garota estendeu a mão.
— Sou — pegou a mão dela em cumprimento.
— Então, a Dona Lourdes me disse que você estava à procura de alguém para dividir apartamento. Eu tô muito desesperada, me diz que você não achou ninguém — seu tom de voz era pura súplica.
— Não estou mais, porque acabei de encontrar... — ele disse com um sorriso que logo murchou quando viu que a garota se desesperou.
— Fudeu! Que droga! Não acredito que eu vou ter que ir embora — ela choramingou enquanto colocava as mãos na cabeça, tentando processar aquela informação.
— Você sabe que eu estava falando de você, não é? Acabei de encontrar... você! — ele disse, calmo.
— Quê?! — seus olhos estavam marejados naquele momento.
— Você está chorando? Meu Deus, calma! Entra aqui — afastou-se da porta, permitindo que a morena passasse.
— Obrigada, eu... — tentou entrar, mas seus olhos acumulados de lágrimas a impediram de enxergar. — AI! — ela se desequilibrou e tropeçou em seu próprio pé, mas logo sentiu os braços do homem na sua frente segurá-la.
— Cuidado! Vem comigo — ele contornou seu ombro e guiou-a até o sofá.
— Hoje eu estou muito desastrada — ela riu enquanto se sentava.
andou até a cozinha e voltou em instantes com um copo d’água, em seguida entregando na mão dela.
— Acho que você não entendeu o que falei antes e se desesperou.
— Me desculpa, é que eu preciso muito disso. Minha cabeça tá um caos!
— Tá tudo bem, não se preocupe. Quer conhecer seu quarto? — ele se levantou e deu a mão para que a guiasse.
— Adoraria — sorriu e o acompanhou. — Mas calma, você não vai me fazer nenhuma pergunta?
— Você é um serial killer? — arqueou a sobrancelha em sinal de incerteza.
— Não, eu tenho cara de louca?
— Você é muito linda para isso!
sorriu e olhou para baixo, então entrou no quarto.
DIAS ATUAIS
Nas sextas-feiras à noite eram os únicos momentos que eu conseguia ficar em paz sem que estivesse no apartamento me perturbando. Eu me demorava na biblioteca da faculdade para não ter que esbarrar com ele, e consegui trazer minhas amigas para ficar comigo e jogar conversa fora.
Jogadas no sofá da sala e uma perfeita taça de gin tônica, elas tentavam me convencer a ir para uma viagem.
— A turma toda vai, amiga. Sinceramente, você deixar de ir por causa do é o fim! — Talita soltou. — Ele nem tá ligando pra isso mais.
— Ele não está ligando? disse isso? Ok... — prendi o riso, sabendo que era a mentira mais mal contada da história.
— Ele disse mesmo, inclusive que já se acostumou com a nova rotina de quase nunca se esbarrar com você pela casa — concluiu Amanda.
— Ah, gente! Sendo bem sincera, eu não acredito nele. Mas eu não quero ir, vou ficar aqui com a Luna. Né, meu amor?! — a cadela branquinha se pôs ao meu lado e colocou a cabeça em meu colo para ser alisada.
— Luna, diga a sua mãe que ela tem que ir! — a cacheada gesticulou para o animal em sua frente, que jogou a cabeça de lado para tentar talvez compreender o que ela estava falando.
— Tá assustando minha filha! — abracei a cadela.
— Por favor, amiga! Floripa vai ter tanta gente linda nessas férias — a loira choramingou.
— Não tenho certeza de nada, mas pelo menos eu ia ter uma semana sem ouvir a voz dele. Isso já é um livramento pra minha alma — tomei um gole da minha bebida, ouvindo minhas amigas resmungarem em resposta.
Todo ano elas escolhiam um lugar para passar parte das férias, e o lugar da vez era Florianópolis. O único problema era que os meus amigos eram o mesmo do meu ex-ficante/namorado – ainda não decidi ao certo o que fomos –, e eu sabia que seria difícil quando terminamos, porque eu não queria que nossos amigos escolhessem um lado. Então, eu tentava ao máximo estar tranquila nos rolês e sempre reunida com eles, o que de fato foi ótimo para eu aprender sobre términos.
Eu não tinha que estar na solidão. Não precisava esquecê-lo para seguir em frente. Eu poderia fazer isso no mesmo ambiente que ele, assistindo viver, estudando como ele era sem mim. Precisei fazer isso porque era a única solução para que eu não sofresse tanto, mas talvez todo mundo deveria conseguir superar alguém dessa forma: a mais natural que poderia ser.
A vida te dá um limão e você faz uma limonada, então era isso que eu estava fazendo. Eu vinha me tornando uma pessoa diferente de quem eu era, mas esperava mais ainda que conseguisse isso. Ainda assim, parecia que esse novo estilo nosso de viver – superar um ao outro ainda “grudados” – de alguma forma o fez piorar suas inseguranças, mas isso já não cabia mais a mim. O relacionamento não existia mais, então ele poderia conviver com seus ciúmes sozinho.
Nós ainda morávamos juntos. Ainda compartilhávamos os amigos. Ainda tínhamos uma vida juntos. Mas eu não devia satisfação da minha vida amorosa para ele, pelo menos ainda não tínhamos chegado nesse patamar de evolução.
— A Luna vai ficar com quem, se eu for?
A viagem era em menos de dois dias e eu ainda não havia decidido se iria ou não. Na verdade, eu estava colocando defeito em todas as ideias do , mas sabia que em algum momento ele iria se irritar e me deixar falando sozinha.
— Dona Lourdes ama animais, acho que ela não se incomodaria.
— Eu não quero incomodar ela, .
— Deixamos ela em algum hotel de cachorros. Ela ainda gasta toda energia existente nesse corpinho — ele deitou no sofá e a cadela o acompanhou, pousando o olhar canino em mim. Até parecia que sabia que estávamos discutindo sobre ela.
— Ela não é um pouco antissocial pra isso? — sentei-me na bancada da cozinha, esperando sua resposta.
— Então não vai, — bufou. — Tô tentando encontrar soluções pra que você vá, mas só te vejo colocando empecilhos.
— Só não queria deixar Luna sozinha. Você sabe como ela fica quando não estamos em casa.
— Sabe aquela sua amiga da faculdade?
— A Patrícia? — perguntei, e ele assentiu. — Ela vai viajar também.
— E com quem ela deixou o cachorro dela?
— Num hotel de cachorros.
— Ela sim é inteligente!
— Você por acaso tá me chamando de burra?! — joguei o que tinha por perto em direção a ele.
— AI! Sua maluca! Você é muito complicada, o que custa deixar Luna num hotelzinho?
— E se não cuidarem dela direito?
— Caô, ! Você quer mesmo ir ou só está querendo me irritar com esse papo todo?
— Eu quero ir, óbvio!
Ele levantou-se e veio em direção a mim. Por um momento, até pensei que estava chegando mais perto para me xingar, mas foi pior do que isso.
— Tenho uma possibilidade a mais — o vi levantar a mão, indicando o número um.
— Ok...
— Levar ela com a gente. Mas já adianto logo que VOCÊ vai cuidar dela.
— QUÊ?! Ela é NOSSA filha. Você só pode estar de brincadeira para me dizer que eu tenho que cuidar dela sozinha! — me pus de pé, tentando sair da cozinha e sair de perto dele, mas pôs as mãos nos meus ombros e me interrompeu de continuar andando.
— É pegar ou largar — disse, debochado.
— VAI SE FUDER! Eu vou resolver isso agora! — peguei o celular do meu bolso e abri a lista de contatos.
— Você está ligando pra quem?
Saí da cozinha com ele em meu encalço e fui andando até meu quarto. Até que escutei a voz doce de sua mãe.
— Oi, tia, como você está? — Prendi o riso quando se desesperou na minha frente, então fechei a porta em seguida.
— , meu bem. Que saudades!
— Tô bem e você?
— Tudo tranquilo, só estou com saudades do meu filho. Ele está por aí?
— Claro, está aqui na minha frente. Mas antes queria lhe pedir um favor.
— Para você, todos, meu bem.
— Semana que vem vamos viajar e precisamos deixar a Luna em algum lugar...
— Nem precisa perguntar, pode deixar ela aqui!
— Obrigada, tia, você é a maior! E acredita que o queria me fazer levá-la? E ainda disse que eu ia cuidar dela sozinha?
— O quê?! Passe o celular pra ele agora!
— Tá certo. Um beijo. Te amo.
— Também te amo, meu bem.
Eu sabia que o moreno estava escutando atrás da porta, e tive a confirmação quando a abri e ele desequilibrou o corpo em seguida. Convencida, olhei para ele e recebi um olhar furioso daqueles olhos verdes.
— Sua mãe! — entreguei o celular nas suas mãos.
— Oi, mãe...
Caminhei para o sofá e peguei o livro que eu estava lendo algumas horas antes – “Amor Líquido”, do escritor, sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman – e dentre as incríveis palavras descritas nesse livro, ele explana que, quando se trata de amor, posse, poder, fusão e desencanto, são os quatro cavaleiros do apocalipse. Eu tinha vivenciado isso com , os dois primeiros, que inclusive nos fizeram chegar ao que somos hoje.
O motivo do término foi o excesso de posse. Ele não conseguiu se recuperar do antigo relacionamento o qual fora traído, e tudo que eu queria em um novo relacionamento era liberdade. Então, o melhor a se fazer era que cada um seguisse para o seu lado. Porém, eu ainda tinha muito poder sobre ele e ele sobre mim, mas eu conseguia disfarçar melhor. Não saberia se a fase da fusão chegaria, se um de nós iríamos ceder ou nos render e sermos um só – mas, por enquanto, estávamos bem assim.
— Você consegue tudo o que quer, sério. Podia jurar que você nem queria ir nessa viagem — ele sentou ao meu lado, tirando o livro do meu rosto.
— Eu não estou muito feliz porque sei o que vai acontecer lá, mas queria ir sim. Só queria ter certeza que devo ir nessa viagem, estava esperando Deus impedir de alguma forma.
— O quê, exatamente?
Acompanhei com os olhos quando ele colocou a mão na minha coxa.
— Nada, . Só não quero estresse nos próximos dias — me levantei, tirei sua mão e fui até meu quarto.
Eu sabia o que poderia acontecer, e tudo que eu pedia a Deus era que não nos magoássemos.
SEGUNDO
“Um dos olhares mais raros
é o que percebe.”
— Duranti
é o que percebe.”
— Duranti
— Oi, mãe! — entrei pela cozinha com Luna em meu encalço, balançando o rabo para a senhora.
— Oi, meu filho — ela me abraçou e depois alisou a cabeça da cadela, que estava encostada em sua perna. — Cadê minha nora?
— Você ainda tá nessa, dona Ana? ficou arrumando a mala dela. Se ela viesse, ia enrolar, e amanhã precisamos estar no aeroporto às cinco da manhã.
— Ah, tudo bem. Mas venha com ela quando voltarem, ok?
— Você não tem jeito — ri em negação, sabendo que o sonho da minha mãe era que a gente voltasse.
— Quem não tem jeito é você, garoto! Trate de virar homem e não perder aquela mulher.
— Ela não quer, mãe. Eu só faço tudo errado.
— Então comece a fazer o certo, oras!
Minha mãe era a primeira pessoa que eu corria para contar tudo sobre minha vida. Ela quem me deu todo apoio quando descobri que a pessoa que eu achava que mais amava na vida estava me traindo com a pessoa que eu achava ser meu melhor amigo. Estávamos noivos, íamos nos casar. Eu sempre tinha feito de tudo por aquela mulher, e então me vi sozinho.
Um mês depois, surgia na minha porta com uma carinha de quem ia desgraçar minha vida.
E desgraçou.
Eu estava frágil. Eu a vi também frágil. Fiquei muito protetor em relação a ela e tudo que envolvia nosso redor. Eu a sufoquei. O ciúme já estava fora de controle, e acabei sendo uma pessoa que ela não merecia. Além de tudo, eu também não estava me reconhecendo naquele momento. Minha mãe disse que eu precisava aceitar mudar por mim, então decidi começar a terapia, onde pude trabalhar um pouco das minhas inseguranças. Eu não tinha falado com a . Ela nem imaginava, mas eu estava desesperadamente disposto a tentar o que quer que fosse para que eu pudesse conquistá-la novamente.
QUATRO MESES ATRÁS
Nunca havia ficado tanto tempo sem contato com ela. Se o máximo foram dois dias em algum momento de toda relação deles, um mês era indício de que algo não andava bem. Eu tinha vacilado mais uma vez, enquanto só estava fazendo seu trabalho. O ciúme exagerado de tê-la visto gravando o clipe de “Perdição” tinha sido a gota d’água, e agora eu estava residindo na casa de Gabriel há tempo o suficiente para ficar preocupado com todo o silêncio da mulher.
— Você viu a foto que a postou? — Gabriel deu um gole em sua cerveja antes de se levantar rapidamente para mostrar o celular.
— Não. O que tem?
— Olha — apontou o aparelho para mim.
Aquela foto era a própria representação do que eu estava perdendo. gostava de me provocar, principalmente com uma legenda daquelas:
“Acabei de ver o story desse fera, e fiquei tão feliz em ver mó galera cantando essa música com ele ❤️ Projeto que amei fazer parte! E você, já escutou/viu o clipe?”
O céu em um perfeito degradê do pôr do sol e ela de biquíni branco com o logo da música. Depois que assisti o clipe, o sentimento piorou. Era angustiante para mim vê-la toda linda, com seu olhar ressacado praiano. Uma verdadeira perdição mostrando toda sua singularidade dourada. Eu conseguia lembrar de todos os detalhes da sua pele eriçada toda vez que ela saía do mar. Era demais para mim.
Foda-se. Talvez seja a bebida falando comigo, mas eu ia quebrar aquele silêncio agora.
— Caralho, ela postou foto com ele nos stories também! Eles estão abraçados.
Arregalei os olhos e o vi abrir a boca assustado.
— QUÊ? — peguei o celular nas pressas e vi os stories. — PORRA! Pergunta a Talita o que tá rolando, por favor!
— Você jura que ela vai falar? Mas Amanda me falou que encontrou com eles no K08.
— Eu vou mandar mensagem — digitei rapidamente.
— Mano, vai com calma. Você vai piorar as coisas sem pensar. Além de tudo, olha o tanto que a gente já bebeu — ele apontou para as long necks em cima da bancada da cozinha.
— Foda-se, não tenho tempo pra perder.
O que foi aquwlas fotos? 20:07✓✓
Você está com elr? 20:07✓✓
Me fala, por favor 20:07✓✓
? 20:08✓✓
Visualizado.
Digitando...
Sem respostas.
Rolei pela tela de contatos e toquei no botão verde.
“Sua chamada está sendo encaminhada...”
— PORRA!
E tentei mais algumas vezes, até que ela me atendeu.
— ? — mantive minha voz calma de primeiro momento.
— Quem está falando?
— Você nem sequer tem meu número salvo mais? — detectei sua voz rouca de quando ela bebe mais do que o normal.
— É sério que você tá me ligando… às três da manhã pra me perguntar onde eu estou? TÔ NA PORRA DA MINHA CAMA, !
— Que bom que está em casa, segura. Mas por que não respondeu às minhas mensagens?
— Você quer parar de ser sonso?! A pergunta que eu faço é por que você está me ligando se eu nem sequer quis responder sua mensagem?
— Então você não vai responder nenhuma das minhas perguntas?
— Não vou.
— Por que você simplesmente não assume? Tô que nem um trouxa ainda atrás de você, ...
— Atrás de mim? Essa é a primeira vez que você me liga desde da última briga, isso faz vinte dias? Não sei ao certo. Mas se você não tem a PORRA da coragem de me ligar quando está sóbrio pra resolver o que se passa na sua cabeça, eu não tenho a mínima obrigação de lhe responder nada! Se eu postei qualquer foto, se eu falei o que quer que seja, não foi pra você. Se estou com alguém ou não, eu não te devo satisfações, . Tô cansada disso. Você pode, por favor, me deixar em paz?
— Te viram com ele esses dias...
— Se disseram, então é provável que seja verdade! , você só tá piorando as coisas. Eu achei que esse tempo ia pelo menos colocar sua cabeça no lugar, mas estou vendo que não. Só dá um tempo, sabe?
— E se eu quiser voltar pra casa?
— Você pode voltar e eu saio, mas morar com você desse jeito não vai rolar.
— , por favor...
— São três da manhã, . Vai dormir, depois a gente conversa.
Tu-tu-tu...
É, desligou.
E ainda citou meu sobrenome. Ela de alguma forma estava deixando nas entrelinhas que, de fato, estava escondendo algo.
DIAS ATUAIS
— Tive um sonho ontem à noite.
— Você quer conversar sobre?
Faz dois meses que eu já estava nesse processo de autoconhecimento. Como minha psicóloga dizia, “vou te ajudar a encontrar consciência sobre suas próprias emoções”. Sinto que eu precisava disso muito antes da avalanche – ser traído//ciúmes – acontecer. Não tive um pai presente, e isso me deixou com algumas lacunas emocionais que obviamente eu tentava suprir nos meus relacionamentos.
— Eu estava em uma espécie de “fim dos tempos”. A cidade estava completamente um caos. Carros se chocando, pessoas correndo de todos os lados… E eu estava parado, observando tudo, ou contemplando, não sei...
— Por que você acha que sonhou com isso?
Senti minha testa franzir.
— Talvez porque eu esteja fazendo isso na minha vida, sentindo que tudo está um completo caos, e eu só consigo olhar.
— E por que você só está parado?
Cocei minha cabeça, e os olhos da psicóloga foram para meu ato.
— Não precisa responder — ela disse.
— Estou com medo.
— Do quê, exatamente?
— De que nada saia do jeito que eu quero.
— Mas nada vai sair do jeito que você quer.
Ela tinha razão. Eu sabia disso. Mas minha cabeça não assimilava que NADA ia sair do jeito que EU quero. Por que as coisas simplesmente não podiam acontecer do jeito que eu queria?
— Tenho medo de perder o controle novamente, meter os pés pelas mãos e perder completamente a razão.
— Você ainda está falando do sonho?
— Não.
— Então é sobre o quê?
— — relaxei meus músculos quando finalmente falei seu nome.
— Por que você acha que sonhou com isso? — diante de mais uma pergunta, franzi a testa pela segunda vez.
— Mas você já me perguntou isso.
— Já? — ela questionou, e eu soube o porquê da repetição.
— O fim do mundo pode ser uma metáfora para todos os sentimentos que ainda estão desorganizados em relação a ela.
— Então por que você estava parado, apenas observando?
— Eu não quero mexer em algo que está quieto. Não posso! Não consigo!
— Você prefere ficar observando?
— Sim.
— Não tem problema nenhum você ser intenso, nós trabalhamos a sua insegurança por dois meses inteiros. Mas você precisa se colocar à prova ou vai continuar assistindo sua vida passar.
— Nós vamos viajar juntos essa semana, vou me colocar à prova sem querer.
— E o que espera dessa viagem?
— Me acertar com ela.
— Você acha que está pronto?
O som do despertador tocou, demonstrando o final da sessão.
E a pergunta ecoava na minha mente. Eu estava pronto?
TERCEIRO
“Você parece não se importar
ou talvez você realmente não se importe
mas ultimamente eu tenho me cansado.”
— Léon
ou talvez você realmente não se importe
mas ultimamente eu tenho me cansado.”
— Léon
O rendado da saia branca transparente balançava com a brisa daquela tarde na Praia do Forte. Uma das melhores festas sunset acontecia sempre por ali e reservava um dos mais bonitos pôr do sol de Floripa.
— Um brinde à essa viagem! — o tintilar dos copos fizeram todos gritarem em comemoração.
Cante Por Nós – Vintage Culture, KVSH, Breno Miranda
Naquele dia, observava de canto todos os movimentos da amada. Estava cuidadoso em todo momento, nada poderia dar errado nessa viagem – era o que ele pensava.
estava distraída na maior parte do tempo. A cada hora que passava, ela se desligava mais do que sua mente e espírito pensavam quando decidiu se jogar de cabeça nessa viagem – ela queria viver.
— Você está linda — ele chegou atrás dela e falou próximo ao seu ouvido.
— Você também não está de se jogar fora — sorriu.
Permaneceram assim por alguns minutos. A golden hour levava toda a beleza dos seus olhos verdes – que pareciam ostensivos naquele momento – para o olhar admirado dela. Talvez tenha sido a bebida ou o instante, mas, naquele minuto, parecia que havia esquecido as reais intenções daquela viagem e não era para estar perdida na Órbita .
— “Teu sorriso me livra da Babilônia” — ele cantou em seu ouvido enquanto ela estava de olhos fechados.
abriu os olhos e encontrou os dele mais uma vez. A aproximação de suas respirações misturava-se ao hálito alcoólico, mas podia-se notar o gosto doce de alguma pastilha que ele havia chupado, já premeditando aquele momento. sorriu no meio do beijo e passou a mão pela bochecha da garota de forma terna. Sentia medo daquele tocar de lábios, por isso tanto cuidado a cada toque em sua pele. Seus corpos pressionados traziam sentimentos que há tempos não sentia. Uma excitação. Os lábios pareciam apressados e torturantemente sedentos para fazer com que eles perdessem o controle aos poucos. Antes que pudessem continuar em seu próprio mundo, foi puxado pelos amigos.
Seus olhares ainda permaneciam estacionados um no outro.
Ambos sorrindo.
— Amiga, vem aqui! — Talita puxou um pouco mais distante. — O QUE FOI ISSO?!
— E eu que vou saber?! Tô aqui pra curtir, eu não resisti e cedi — deu de ombros.
— MEU CASAAAL! — Amanda também gritou.
— Calma, eu ainda vou pegar todo mundo nessa viagem, começando por ele! — apontou para o loiro que trocava olhares com ela um pouco à frente. — EI!
Absoluta certeza que ela não se lembraria da metade ao acordar no dia seguinte, mas se entregou ao momento e se jogou no homem tatuado de cabelos dourados. A única coisa que pensava era em como aquele bronzeado poderia estar solteiro naquele lugar, tudo enquanto sentia seus lábios pressionados sobre os dele.
Ali foi onde ela se deu conta que as férias finalmente tinham iniciado. Uma pena que era tudo sob o olhar insatisfeito do seu ex/atual/roommate – sabe-se lá o que eles eram no presente momento.
— Que merda, cara! Achei que depois desse beijo tava rolando maior climão — Gabriel falou, também observando a cena.
— Que vocês fizeram questão de estragar! — reclamou, emburrado.
— Ah, mano, e eu ia adivinhar?
— Eu que não vou sair por baixo — disse, puxando a primeira mulher que passava ali.
Na maior parte do tempo daquela madrugada, aconteciam provocações de todos os lados. Me manter sã era uma tarefa fácil para mim nessas situações, porque sempre gostei de fazer isso com . Apenas quando eu era a única a fazer. Mas saber que ele respondia na mesma moeda, cada passo que eu dava me tirava do sério, do eixo, um descontrole totaaal.
Eu sempre estava com a boca e mãos ocupadas – não o que vocês estão pensando, já que a pegação com Lucas não passaria de beijos e mãos bobas. Estávamos todos em casa, cada casal se pegando em algum canto. Quando passou das quatro da manhã, eu já não conseguia me manter em pé, então tive que me despedir do loiro antes de me jogar na cama e ter um sono tranquilo.
— Lucas, eu tô com muito sono. Se você quiser ficar com aqui, está mais do que convidado.
— Não, eu vou indo. Te deixar descansar — ele se levantou, deu adeus aos que estavam por perto e eu o acompanhei até a porta.
— Obrigada pela noite, espero te encontrar mais vezes por Floripa — me despedi e ele me deu um selinho.
Subi disposta a esquecer de tudo o que tinha acontecido naquele dia. Mas o dia ainda não havia terminado. A cada degrau da escada, eu conseguia escutar barulhos cada vez mais altos. Até que travei em frente ao quarto e desci as escadas para procurar as meninas a desvendar quem estaria lá dentro.
— Gente! Acho que algum dos meninos possa estar com alguém no quarto — puxei Amanda e Talita.
— MEU DEUS! Dá pra escutar daqui — gargalhamos.
— Vamos ver quem é!
Chegando na porta, colocamos o ouvido mais próximo para ouvir melhor.
— Isso são...
A voz eu conhecia muito bem. E os gemidos também.
— Vou gozaaar, !
As meninas olharam para mim e eu só consegui dar meia-volta e descer para dormir no quarto de baixo. Minutos depois, vi a brecha da porta sendo aberta e eu sabia que era uma das meninas querendo saber como eu estava.
— Vim dormir com você — Talita falou, e senti o lado oposto da cama afundar pelo peso do seu corpo.
— Obrigada, amiga.
— Ela já foi — disse, mas permaneci em silêncio. — Amiga, você precisa falar sobre o que rolou, não gosto quando fica calada — senti seu olhar sobre mim.
— Eu achei que tinha superado, eu juro que achei, mas ela tava gemendo o nome dele... — minha voz travou quando senti o turbilhão de lágrimas que sairiam se eu continuasse a declarar.
— Mas veja bem, você tem que pensar que poderia ser você no lugar dele. Vocês são livres para fazer o que bem entenderem.
— Não, eu não faria isso porque eu tenho caráter!
— Você tá levando a situação pra outro lado, calma. Primeiro que vocês voltaram a morar juntos dois meses atrás e nem sequer conversaram sobre o término. Só quis dar por encerrado sem comunicação!
— Eu disse que podíamos ser amigos e que não estava preparada para me relacionar com ele, não daquela forma.
— Mas nem sequer deu chance de ele falar. Eu não estou te colocando contra a parede, só quero que você reflita que, apesar de doer, ele não está errado em se permitir a viver novas coisas porque você não deu brecha de nada. Quantas vezes eu te disse que ele estava mal? Sem querer puxar saco, mas essa deve ter sido a primeira mulher que ele ficou depois de você. ainda gosta muito de você, mas sem dar chance de ele demonstrar isso, você não pode exigir nada.
— Gosta de mim e transa com outra?
— Isso não é critério de nada e você sabe disso!
— Ele podia ter beijado, mas transar com alguém é um outro patamar. Principalmente comigo na mesma casa. Isso eu nunca faria com ele. Sexo é muito íntimo pra ser escancarado dessa forma.
— Você é muito cabeça dura, sério! Só reflete sobre o que eu te falei, pelo menos algo tem que entrar nessa cabeça — ela se virou para dormir.
Nunca em um milhão de anos eu me imaginaria sentindo o que eu estava sentindo, muito menos desejava essa dor para o meu pior inimigo. Não conseguia distinguir se aquilo era ruim ou bom por um certo ponto, o que significava que eu ainda sentia algo por . Mas não sabia até que ponto eu aguentaria essa viagem inteira sem poder dar um pio sobre isso.
Quando a vi com alguém na festa, nada conseguia expressar o tamanho da minha insatisfação. Uns minutos antes estávamos nos beijando; em outro ela já estava agarrada com outro cara. Talvez eu tenha entendido tudo errado, achando que ela estava completamente entregue ao momento. Na verdade, ao momento ela estava sim, entregue, mas eu não era o momento. Eu conhecia o suficiente para saber que ela não pararia por aí. Se dependesse dela, as férias inteiras passaríamos como gato e rato.
Nem toda terapia do mundo me faria sair por baixo de uma situação dessa. Ela poderia se divertir o quanto quisesse e pegar quem quisesse, mas isso daria a mesma liberdade e direito para mim.
Deitei na cama de solteiro depois de tomar uma ducha, encarando o teto. Havia me despedido de Renata há minutos atrás e não conseguia pregar o olho por agora.
— ? — ouvi uma voz feminina.
— Sim?
— ouviu você transando com a garota aqui.
— E...?
— Você não vai falar nada?
— Não tenho o que falar.
— Ela está muito mal, amigo.
— A gente não tem mais nada, Amanda. Ela trouxe alguém também, então estamos quites.
— Só estou avisando que você vai ter que lidar com isso depois, porque sua pose de que não liga para nada não me convence nem um pouco.
— Tá, Amanda. Boa noite! — concluí e me virei para dormir.
QUARTO
“A voz que não fala mas na presença do silêncio
me diz aquilo que se esconde por trás do que penso.”
— Gilsons
me diz aquilo que se esconde por trás do que penso.”
— Gilsons
As férias continuavam de vento em popa, e, naquele dia em específico, resolvemos fazer um churrasco e chamar alguns conhecidos de outras férias. A casa tinha pelo menos umas quinze pessoas. O céu não tinha nenhuma nuvem sequer naquele dia ensolarado. Eu comandava a churrasqueira, como sempre com minha cerveja do lado, e tinha uma visão ampla de tudo que passava naquela social. Desde o ocorrido, não havia proferido uma palavra sequer com – apenas um “bom dia”, o que não contava muito.
Eu a observava dançar algum funk, fingindo muito bem que meus olhares não estavam para ela. Vez ou outra desviava quando ela insistia em virar seu rosto para checar se seu plano de provocação estava dando certo.
Claro que estava. Eu era um trouxa apaixonado e, não como todos os homens, não conseguia esconder.
— Na moral, ela é uma desgraçada! Olha isso — apontei com a cabeça para .
— Eu conversei com ela, — soltou Talita.
— Ela sabe que eu gosto dela — balancei minhas pernas em sinal de inquietude.
— Mas calma, não deixa ela te atingir — Amanda completou.
— Ela joga muito comigo. Se eu tivesse uma câmera, conseguiria mostrar pra vocês o que ela faz comigo o dia inteiro naquele apartamento.
— Eu sei que ela faz isso, mas vai com calma. Ela ficou balançada com o que rolou — a loira explicou.
— Fazia uns três meses que eu não transava com ninguém, a última pessoa foi ela. Eu sou livre, assim como ela, mano — derramei algumas lágrimas ao tentar externar aquilo que eu nunca tinha conseguido.
— Vocês precisam sentar e conversar como duas pessoas civilizadas.
— Tô cansado disso. Eu gosto pra caralho dela, mas é foda. Ela é muito cabeça dura!
— O que acontece é que ela é insegura com tudo o que já rolou na vida dela, e a história de vocês é uma confusão. Mas vai dar tudo certo, amigo. Confia! — Amanda concluiu, e eu me direcionei para a cozinha a fim de esfriar a cabeça.
Com o tronco virado para a janela, eu observava a parte de trás da casa, até que senti a presença de alguém no ambiente. Girei a cabeça para ver quem era, mas me arrependi no momento que o fiz. O que duas pessoas claramente embriagadas fariam se precisasse conversar sobre sentimentos?
— Eu sei o que eu faço e o que eu não faço agora, .
— Tudo bem, , mas tudo tem uma consequência. E essa consequência foi tão foda que eu percebi que eu sentia algo.
Franzi a testa quando percebi o que ela tinha acabado de falar.
— Você só pode estar brincando comigo, velho.
— Não.
— Você tá brincando comigo! — minha voz começava a se exaltar aos poucos.
— Eu tô brincando comigo mesma — ela disse com um riso debochado.
— Mano, você tá brincando comigo — neguei com a cabeça repetidas vezes.
— Não, eu brinco com os meus sentimentos todos os dias naquele apartamento.
— Cê tá brincando comigo!
— Eu tô jogando com meus sentimentos, !
— Para de negar!
— É comigo. Não! É comigo! — ela apontava pra ela mesma, balançando rapidamente as mãos.
— Não. Não. Não — neguei repetidamente com o dedo.
— Por que eu estaria brincando com você, ? Me fala! — ela chegou cada vez mais perto.
— Você não está sozinha nessa.
— Não tô brincando com você!
— Você não tá sozinha... — passei as mãos pelo meu cabelo, completamente nervoso com a discussão.
— Por que eu tô brincando com você, me diz?!
— Porque eu te amo, caralho! — gritei. — Você sabe que tem total controle de tudo sobre mim.
— Eu também te amo — ela travou a voz, e vi seus olhos cheio de lágrimas. — Isso dói falar.
— Ama NADA — respondi, puto.
E assisti saindo apressada da cozinha, sabendo que não ia mais voltar. Ela não conseguia sustentar uma briga por muito tempo.
A viagem para Floripa estava sendo um fiasco, como eu imaginei que seria. Ficar bêbada e beijar seu ex-namorado na primeira noite: check. Pegar quem quiser na viagem: check. Escutar seu ex-namorado gemer com outra pessoa: check. Perceber que todos os meses de superação estavam sendo uma completa farsa: check.
Apesar de toda confusão que ele causou na noite anterior – e pela briga que estragou meu clima –, fiz questão de passar o resto da noite na minha cama até adormecer. Acreditava que o dia seguinte renderia boas risadas e qualquer coisa que nos tirasse desse martírio.
Os equipamentos para o caiaque e stand up estavam à nossa disposição em casa e a qualquer momento para ser utilizado. Utilizei aquilo como meu refúgio e passei o dia me divertindo com as garotas.
— Os meninos chegaram! — Amanda avisou e apontou para eles, gritando e caindo um em cima do outro.
— E bêbados — completei, observando os tropeços de pela escada.
Já era final de tarde e eles haviam ido para uma praia um pouco longe naquele dia.
— Você só pode estar de brincadeira, ! — entrei no banheiro quando o vi lavar o cabelo com minha máscara de hidratação.
— O que foi? Meu cabelo tá seco, precisava disso — jogou a cabeça de lado, gargalhando, e os respingos foram todos em mim.
— Ah! Jura? Me dá isso aqui — puxei o pote da mão dele e o coloquei na bancada.
— Ah, velho, então pelo menos me ajuda aqui. Não estou em condições — ele fez um biquinho e se escorou na parede do box.
— Quem manda ficar podre de bêbado e não se aguentar em pé? — peguei um pente e me aproximei dele. — Senta aí — apontei para um banco que tinha no banheiro.
— AI! DEVAGAR! Meu cabelo é muito precioso para essa brutalidade — ele coçou a cabeça no lugar que eu puxei, me fazendo rir.
Eu sabia que ele queria me falar algo, mas ainda não conseguia se expressar. Com os olhos fechados, estava sentado no banquinho em minha frente enquanto balançava as pernas freneticamente. Nervoso.
— Desculpa — soltou de repente.
— Ok...
— Não, sério — ele se mexeu no banco e ficou em pé. — Me perdoa.
— Tá tudo bem, — fiz menção para sair do box, mas ele me puxou.
— Eu vim pra essa viagem com as melhores intenções. Nunca foi pra te fazer duvidar de mim ou de tudo que a gente passou até aqui. Tive pesadelos com essa viagem. Eu sabia que encarar você beijando outros ia ser difícil, e como eu disse a minha psicóloga, meti os pés pelas mãos.
— Calma aí… Psicóloga? — travei e não consegui acompanhar sua fala. — Desde quando você...
— Desde nosso término, mas eu não quero falar sobre isso agora.
— Olha, eu não esqueci o que rolou. Se você achou difícil me ver beijando outros, avalie quando me senti quando ouvi outra gemendo seu nome.
— Eu sei que sim...
— Não vou prometer passar por cima disso. Eu fiquei muito mal, achei uma falta de respeito você transar com alguém comigo no mesmo ambiente.
— Tá bem, . Mas saiba que você faria a mesma coisa se quisesse. É isso que você não quer entender — ele abriu o chuveiro e continuou o banho.
— Eu sei que sim — reconheci, na força do ódio.
— Então você admite que somos duas pessoas livres e que poderia acontecer sim com você.
— Sim...
— Ótimo, admitir isso já é grande coisa.
— Quando a gente terminou eu precisava que você me desse liberdade. O meu antigo relacionamento me fez prisioneira de uma história que nem sequer era minha. Eu fui amante por três anos seguidos e não sabia! No dia que cheguei na porta do seu apartamento, eu estava desolada, e sou grata por ter te conhecido, mas acho que o momento foi errado. Você também estava machucado.
— Eu te sufoquei, . Fui traído e não consegui te deixar livre, achava que a única maneira de alguém permanecer fosse daquela forma. Você nunca precisou de proteção. Eu enxergo claramente que fui tóxico e te peço perdão, mas eu não sou mais aquele cara. Prometo que a gente pode consertar isso.
— Não sei mais o que te falar, eu... — balbuciei e senti seus lábios me calarem.
Àquela altura do campeonato, eu não ligava mais que estava embaixo do chuveiro e minha roupa estava encharcada. Senti suas mãos tirarem cada peça da minha roupa sem interromper o beijo. Como esse furacão chamado conseguia acalmar toda minha confusão com um toque de suas mãos? Eu não sabia por quanto tempo aquilo iria durar. Um dia, uma semana, até o fim da viagem, fim da vida?
Não queria cair nos mesmo erros do passado. Era amargo lembrar do quanto me feriu saber que eu não podia recorrer a ele. Foram meses difíceis, e mesmo morando juntos, eu enxergava mudanças nele que me faziam acreditar que nunca seríamos um possível match novamente.
— Me desculpa? — perguntei, olhando em seus olhos verdes.
— O pior já passou.
A Cachoeira da Poção era uma das melhores belezas naturais existentes em Floripa. Um pedacinho a mais do paraíso catarinense, abrigando um cenário verde com águas cristalinas.
Carolina Bela – Jorge Ben e Toquinho
Aquele lugar exalava paz, e eu fiz questão de levar meus amigos lá. Ainda percebi distante em alguns momentos, mas sempre tentava deixá-la o mais confortável possível.
Ela estava sentada em sua canga listrada azul e rosa, com seu óculos retrô preto e biquíni da mesma cor, bebericando um vinho branco – Chardonnay, seu favorito. Puxei a minha câmera analógica e soube que aquela foto ficaria perfeita na hora que ela olhou para mim, sorrindo.
— Não acredito, ! — colocou a mão no rosto.
— Você tá linda! — subi as pedras até onde ela estava e coloquei a câmera na bolsa. — Por que que você está pensativa? — dei um beijo em sua bochecha.
pôs sua cabeça em meu ombro e não resisti em acariciar sua perna próxima à minha. Analisei sua expressão, que indicava que seus pensamentos estavam longe.
— Eu queria poder te conhecer de novo — ela disse.
— Precisamos criar novas memórias, . Se não, vamos estar o tempo todo voltando para os mesmos problemas — passei meus dedos pela sua bochecha. — Eu amo você e não quero voltar para o início. Só precisamos dar um restart depois do nosso adeus.
— E como você espera que façamos isso?
Analisei a cachoeira em nossa frente e o barulho dos pássaros em nossa volta, então sorri. Voltei meu olhar para seus olhos curiosos, que esperavam por uma resposta minha. A verdade era que eu não tinha a mínima ideia do que ia acontecer.
Puxei-a para o meu colo, de frente para mim. envolveu seus braços ao redor do meu pescoço e depositou beijos por toda extensão dele. Respirei fundo seu perfume, permanecendo ali por tempo indeterminado. Quanto tempo eu passei esperando que aquele cheiro me consumisse quando estávamos separados e, agora, eu o tinha aqui?
Fiquei em pé e agarrei sua cintura com força, impedindo-a de se soltar de mim.
— O que você tá fazendo? — ela perguntou, desesperada.
— Já pulou em um riacho gelado?
— Você só pode estar… NÃO!
Corri entre as pedras com cuidado para que não escorregássemos, e enfim senti nosso recomeço em nossa frente.
E então, pulamos.
Em nosso recomeço.
Fim
Nota da autora: Sou suspeita para falar desse ficstape, além de ser de uma cantora que eu admiro muito, consegui deixar com a carinha que eu imaginei. Se vocês gostaram, deixem um comentário, surtos, irei amar ler como se sentiram vivendo nesse mundo de Matheus e Carol. BESITOS!
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