06. Best Mistake

Finalizada em: Fanfic finalizada

Capítulo Único

Os raios mornos de sol entravam sem permissão no quarto, despertando-me. Espreguicei-me ainda deitado enquanto sentia uma pontada na parte de trás da cabeça, fazendo-me levar uma das mãos até a região dolorida. O espaço ao meu lado estava vazio e frio, indicando que já havia levantado, sabe-se lá há quanto tempo. Observei a porta da sacada aberta e suspirei pesado, tendo flashes da noite passada: gritos, lágrimas, palavras tortas. Outra briga. e eu tentávamos, mas a cada dia que passava qualquer mínima coisa tornava-se motivo para discussões. Mais uma vez, não estávamos dando mais certo. Caminhei em direção à porta passando a mão no rosto, ainda sendo consumido pela preguiça. Encontrei-a debruçada sobre o parapeito da sacada, com o olhar perdido sobre a cidade movimentada. Ela vestia sua camisa preferida, que era minha antes dela roubá-la. A barra da camisa terminava um pouco abaixo de suas nádegas, deixando suas pernas completamente expostas. Seu cabelo estava desgrenhado e sem brilho, jogado de qualquer jeito em suas costas. Parei ao seu lado, observando também a cidade. Limpei a garganta preparando-me para formular uma frase, sem noção do que poderia dizer.
- Nós precisamos conversar, . – Soltei em meio a um sussurro. Pelo canto do olho pude observá-la respirar fundo umas duas, três vezes. Seus olhos entraram em foco enquanto ela virava a cabeça em minha direção, encarando-me. Minha garganta apertou ao vê-la assim. estava com enormes olheiras que deixavam seus olhos fundos, o brilho azul que eles tinham já não estavam mais ali; haviam dado lugar a um par de olhos opacos e vermelhos, denunciando o fato de que ela havia chorado por um bom tempo. Algumas horas, talvez. Suas bochechas estavam marcadas pelas lágrimas e seu rosto, sem nenhuma expressão. Alguns segundos de confusão passaram pela minha mente. Onde estava aquela garota jovem, bonita e alegre que havia esbarrado em mim há tantos anos atrás e me xingado como se eu tivesse sido o culpado? Onde estava aquele sorriso enorme que ofuscava qualquer outro, aquele pelo qual eu me apaixonara perdidamente desde a primeira vez em que a vi? Aquela parecia não ser mais minha , parecia não ser mais a garota pela qual eu cometi tantas loucuras no passado, aquela garota a quem eu jurei meu eterno amor, aquela garota que me fascinava a cada dia mais. Aquela garota, agora mulher, perdeu-se no tempo, deixando seus trapos para trás. E eu não estava melhor, não. Eu estava acabado também. Aquele jovem centrado, maravilhado com cada coisa nova descoberta, grato ao destino ou a qualquer coisa que houvesse sido responsável pela entrada daquela garota em sua vida; seu ponto de luz, de paz, de amor. Aquele jovem já não estava mais ali há um bom tempo. Eu não me reconhecia mais. Nós estávamos nos destruindo.
- Estou esperando, . – Sua voz rouca me fez voltar ao presente, tirando-me de meus devaneios. Engoli em seco sentindo seus olhos queimarem meu rosto com a intensidade com que ela me encarava, esperando uma resposta.
- , eu não quero mais brigar. Chega. Eu não aguento mais e sei que você também não. Isso só vem nos fazendo mal e nós dois sabemos disso, . Não é de hoje que nós estamos nos ruindo e não foi hoje que percebemos isso. Nós tentamos e não deu certo e eu não sei porque não deu certo. Eu te amava, . Com todo o meu coração, com todas as minhas forças eu te amava e posso estar certo em dizer que ainda te amo. Tudo o que eu sentia por você está guardado aqui dentro, em algum lugar, bem protegido. Tão protegido que não se manifesta mais, não a ponto de me fazer lutar mais por isso. – Engoli a saliva fazendo extrema força para não deixar uma lágrima cair e para que minha voz não saísse embargada. voltou a olhar para a cidade, secando as lágrimas que já rolavam de seus olhos. – Eu cansei, . Olhe para nós, olhe para você. Nós não somos mais os mesmos. Terminamos e nos reconciliamos tantas vezes, tentando fazer isso funcionar, mas foi tudo uma total perda de tempo. Não dá mais para ficar nesse vai e vem. Podemos, por favor, nos decidir? Afinal, ambos sabemos a resposta.
- Você está certo, .
- Estou? – Questionei confuso, surpreso com sua reação. Eu esperava que ela fosse chorar mais, se debater, fazer qualquer coisa, mas não dizer que eu estava certo.
- Sim, está. Vamos parar de agir como se fôssemos cegos. Tudo o que você disse é exatamente o que somos agora, o que estamos passando agora. Não tem mais paixão, o mar de rosas tornou-se espinhos. Nós esquecemos como nos sentíamos e não vamos lembrar tão fácil. Precisamos parar de fingir o que não somos mais: um casal. Você está certo, . Nós tentamos, mas não conseguimos. Acabou. – deu de ombros, analisando intensamente meu rosto, como se quisesse guardar todos os detalhes. Desencostou-se do parapeito e seguiu para dentro do quarto a fim de recolher suas coisas, creio eu. Não a segui com o olhar; deixei-o vagando pela cidade agitada, enquanto minha mente refletia sobre a ironia da vida. Abaixo de mim as ruas encontravam-se movimentadas, pessoas caminhavam rapidamente, aleatórios “bom dias” eram entoados e carregados pelo vento. Na imensidão do azul do céu o sol brilhava aquecendo a Terra, tudo parecia tão alegre, tão colorido, tão vivo. Um perfeito contraste com o ambiente no qual eu me encontrava. O clima ali estava pesado, frio, o silêncio era torturante. Dei as costas ao parapeito quando ouvi pigarrear, parada em minha frente.
- Por mais momentos maravilhosos que tivemos juntos, foi um erro continuar com isso. Eu sinto muito, . – Deu seu último adeus, tirando o anel dourado que ainda repousava em seu dedo anelar direito e colocando-o em cima da cama bagunçada. pegou suas coisas e saiu sem olhar para trás, deixando-me sem saber o que fazer.

***


- , conte-nos como foi que você fez para conquistar a ! – O Sr. pediu-me, vermelho pelas risadas e pelas taças de vinho ingeridas.
- Ah, não, pai. De novo? já contou umas quinhentas vezes! – Pude ouvi-la reclamando ao meu lado, como sempre fazia. Dei um sorriso fraco, admirando-a ao meu lado. estava impecável em seu vestido vermelho, o cabelo preso deixava a mostra seu pescoço e o colar que eu havia lhe dado no natal anterior. Há exatamente um ano atrás eu tomava o passo mais importante da minha vida; pelo menos eu julgava ser. O sorriso enorme que ela me entregou valeu muito mais do que se eu tivesse ganhado na loteria.
- Deixe-o contar! Nós adoramos ouvir a história! – Maggie, a irmã mais velha de , completou, lançando-me um olhar pidão.
- Tudo bem, tudo bem. Eu conto. – Sorri, ouvindo suspirar ao meu lado. – Nós nos conhecíamos desde a sétima série, sempre estudamos juntos. E eu sempre fui encantado por aquela menina que só tirava dez nas provas e vivia com livros mela-cuecas nas mãos. era uma romântica nata, na verdade ela é até hoje. Não acreditem quando ela lhes disser que não chora assistindo as adaptações do Nicholas Sparks, pois ela chora em todos os filmes. Todos! – Minha risada foi abafada pelo leve tapa que ela me deu no braço. Sua família gargalhava ao redor da mesa. – Então, eu sempre fui fascinado pela , mas naquela época eu não entendia nem sabia dizer o que sentia. Eu só sabia que a achava incrível e que, quando eu crescesse, eu teria que me casar com uma garota como ela, porque sempre quando ela sorria meu coração parecia apertar-se e derreter ao mesmo tempo. Era incrível. – Pude ouvir um coro feminino sussurrando um “awwwn” enquanto eu falava. apoiou os cotovelos na mesa escondendo o rosto com as mãos. Pousei minha mão em suas costas fazendo carinho, voltando a contar. – Quando chegamos ao ensino médio, eu já não sabia o que fazer. Eu era louco por ela, mas tinha muito dela não estar nem aí para mim ou que ela não gostasse de mim nem como amigo, afinal nós trocávamos pouquíssimas palavras. Eu coloquei a ideia de que ela esperava um príncipe encantado ou um dos galãs dos livros que ela lia na cabeça, dizendo a mim mesmo que eu não era nenhum desses tipos e nunca chegaria a ser. Aí ela começou a sair com uns colegas do colégio, todos ridículos demais para ela e eu ficava em casa, sabendo que ela estaria com eles e tendo certeza de que nenhum deles a merecia. Nenhum deles sabia que ela chorava escutando Jonas Brothers todas as noites, nenhum deles sabia que ela sonhava viver um amor à la Romeu e Julieta, mas sem a parte das mortes. Nenhum deles a conhecia como eu e eu só me irritava ainda mais ao pensar nisso. Toda vez que eu a via de mãos dadas com alguém que não fosse eu, meu coração acelerava e as palmas das minhas mãos suavam e eu contava até dez para tentar me acalmar. Sempre em vão, pois eu sempre me perdia e voltava pro quatro. – Ri fraco, quando ela entrelaçou nossas mãos. – E eu percebi que nunca poderia tentar ser um daqueles caras se eu não me aproximasse dela, não fizesse amizade com ela. E foi assim que começamos, sendo amigos. Um dia nós estávamos caminhando até um parque e ela contava-me que gostava muito de romance, como se eu não soubesse. “Eu acho que sou muito boba, isso sim. Sou muito mole, sabe? Meu coração é minha ‘carta na manga’.”, ela disse. “Então tome cuidado com os trombadinhas”, eu repliquei numa piada sem graça que ela não entendeu. Tive que explicar que eu queria dizer para ela ter cuidado com qualquer cara que chegasse nela e não percebesse que ela era frágil demais e que o coração dela estaria sempre aberto. Ela me disse que muitos já haviam feito isso com ela, fazendo-a desacreditar no amor. “Não faça isso”, pedi. “Não desista de uma coisa tão incrível apenas por uma ou duas decepções. Em algum lugar existe alguém que te admira como você é, que conhece seus sonhos, seus defeitos, suas manias. É só questão de tempo até ele tomar coragem e vir até você.” “Bobagem, . Olhe para mim, o que eu tenho de bom para oferecer a alguém?”, ela me perguntou e foi aí que eu vi a deixa. Me declarei para ela sem nem mesmo perceber, acreditam? E depois eu fiquei com medo de ter feito besteira, porque ela olhou-me assustada e deu as costas para mim assim que terminei de falar que, talvez, eu fosse o homem do qual ela precisava. Três dias passaram e ela nem a escola tinha ido, acreditam? E eu quase tendo um ataque, pensando no que teria acontecido, pensando se eu teria parecido louco demais. Mas no quarto dia, eu a vi passar correndo pelos portões da escola e vir direto em minha direção; quando eu a vi parar em minha frente, ofegante e com um dos sorrisos mais belos do mundo, ali meu coração pareceu parar de funcionar. E eu entendi que a tinha ganhado no segundo em que senti seus braços me esmagando num abraço apertado. Ali eu me descobri totalmente apaixonado pela . – Olhei em seus olhos mareados, como sempre ficavam quando eu contava essa história. Quatro anos haviam se passado desde aquele dia, e eu me descobria mais e mais apaixonado pela mulher sentada ao meu lado.
A mãe de servia a sobremesa enquanto tagarelávamos sobre qualquer assunto. Passei a observá-la; alguns fios brancos apareciam em meio aos fios castanhos e as rugas perto de seus olhos faziam parecer mais velha do que era. Seu sorriso era aconchegante e transmitia calma a quem ela o lançava. Eu via muito dela em e talvez fosse por isso que eu gostava tanto da minha sogra. Ela era a mais velha e eu me sentia muito sortudo ao saber que teria essa mulher incrível ao meu lado pelo resto da vida.”


***


Como pode uma coisa tão pura e ingênua apenas dissipar-se com o tempo? Eu me questionava constantemente sobre isso desde o dia em que fechara a porta do meu apartamento, há vinte e três dias, para nunca mais abri-la. Isso não parecia certo. Eu a amava, tinha certeza disso. A amava com todas as forças, a amava como nunca amei ou amaria alguém, mas não era o suficiente. E se amor não era o suficiente para construir uma relação, o que seria? Qual coisa na Terra seria mais forte que o amor? Essas e muitas outras dúvidas passavam pela minha mente. Eu sabia que ainda me amava também. Nossa relação não era um erro como ela tinha dito, mas caso fosse, seria o melhor erro que eu já havia cometido. Mas não fazia sentido... Eu tentava, em vão, perceber e entender qualquer coisa que apontasse um engano, buscava em minha mente o momento em que as cordas começaram a arrebentar-se. Era tudo um emaranhado de pensamentos circulando meu cérebro e deixando-me ainda mais confuso. Levantei-me da mesa em que eu estava e segui para o caixa a fim de pagar minha conta, quando uma risada me chamou a atenção. Do lado de fora da cafeteria três mulheres passavam com grandes pastas nas mãos. Pareciam ter saído de algum escritório, julgando as roupas que usavam, mas o que mais me chamou a atenção foi terceira mulher, mais distante de mim. Eu nunca ia deixar de reconhecer aquele sorriso, que um dia já foi motivo do meu próprio. Ela contava algo para as demais, fazendo-as gargalharem, e sua aparência estava razoável, muito melhor do que era nos últimos dias em que a vi. Uma angústia tomou conta de mim ao pensar que, talvez, eu fosse o causador de sua ruína. Talvez não me amasse tanto quanto eu a amava. Ela se cansara de mim? Eu não soube tratá-la como ela merecia? Fora por minha causa que aos poucos fomos nos desfazendo? Eu não sabia e nunca iria saber. Toda e qualquer ideia que eu tinha de ir atrás dela automaticamente se dissipou. Eu podia ver em seus olhos que ela estava mais alegre, mais segura de si, podia vê-los retomando seu brilho rotineiro aos poucos e eu não queria estragar isso. Rebecca estava se refazendo aos poucos e não parecia certo abalá-la outra vez. Talvez ela estivesse muito melhor sem mim. Talvez ela já tenha me superado há tempos, talvez eu também consiga esquecê-la algum dia. Ri de meus próprios pensamentos. A quem eu queria enganar? Nunca poderia esquecê-la, nunca poderia deixar de amá-la. Tão rápido surgiu, ela saiu de meu campo de visão deixando-me com apenas uma certeza dentre todas as dúvidas que enegreciam minha mente: mesmo que a água da Terra secasse, que a lua parasse de brilhar ou que as estrelas caíssem do céu e o mundo ficasse cego, meu amor sempre seria destinado a e ela sempre seria o melhor erro que eu poderia cometer.


Fim


Nota da autora: Queria dizer que esse pp me deixou meio agoniada, mas enfim. Espero que a leitura tenha agradado alguém; comente, por favor! Acredito que não tenha sido difícil encontrar trechos da música no decorrer da fic, certo? Um beijo e até a próxima!



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