Prólogo
A noite em Boston estava fria, como sempre.
Era meu plantão e o hospital estava relativamente vazio, apenas com casos simples como: início de infarto ou alguma artéria obstruída, coisas que eu conseguiria resolver em poucas horas dentro da SO, nada que fosse novo para mim. Depois de passar metade da minha carreira no exército como cirurgiã cardiotorácica, eu já tinha melhorado muito o tempo em cirurgia, principalmente as que chamávamos de "simples", lá não se tinha tempo para pensar, apenas para agir.
— Leve ele para UTI. — Falei me referindo ao paciente que se encontrava na mesa de cirurgia ainda, enquanto lavava minhas mãos e o olhava através do vidro.
— Vai descansar, Dra. ? — Archie, meu residente, perguntou de forma simpática.
Soltei um riso nervoso. Descansar era tudo que eu não fazia, nunca.
— Não, eu tenho que cobrir o PS e preciso que monitore meu paciente, foi um procedimento simples.
— Foi uma obra de arte. — Archie concluiu.
Terminei de secar minha mão e voltei para dentro do centro cirúrgico, peguei a ficha dele e anotei algumas informações sobre o que tinha acontecido durante a cirurgia. Sem sangramento excessivo, sem parada cardíaca, sem queda de pressão, de fato tinha sido uma obra de arte. Anotei a hora no prontuário e o passei para Archie, que pegou prontamente.
— O que precisa fazer? — perguntei, para ter certeza de que ele sabia como eu gostava das coisas.
— Checar urina, taxa de sódio, potássio e como está a pressão dele.
— Amo quando você está no meu plantão, Archie.
Saí antes que ele dissesse alguma coisa e fui direto para o banheiro, como não teria tempo e nem apetite para uma refeição, ao menos precisava cuidar dos meus rins para que não ficassem sobrecarregados, algumas horas de cirurgia podem acabar com eles. Terminei minhas necessidades e depois de lavar a mão, olhei meu pager vibrar, não teria tempo nem para uma água, um paciente portador de cardiomiopatia estava chegando.
Fui pelas escadas para chegar mais rápido ao PS e, quando cheguei lá, estava um caos, algumas emergências tinham chegado e ninguém parecia preocupado em organizar aquilo.
— Sarah, preciso que prepare a sala de emergência I. — gritei para uma das minhas enfermeiras enquanto me paramentava. — Andrew, por favor, organize essa emergência.
Terminei de colocar o avental amarelo, as luvas e corri em direção a porta do PS. A ambulância já tinha chegado. Dentro dela pude ver que tinha um homem magro deitado na maca, com cabelos escuros e os olhos também e, a primeira dele foi sorrir para mim quando dirigi meu olhar para ele.
Desviei o olhar e peguei a ficha dele.
— O que temos? — perguntei enquanto Rory, minha outra residente, empurrava a maca dele junto com os internos.
— , , 36 anos, portador de cardiomiopatia há três anos. — A paramédica disse e fiz sinal para que seguissem para a emergência um.
Agora sim, tinha chegado um caso que tomaria talvez todo meu plantão, ou mais.
— Sinais vitais? — perguntei entrando na sala.
— Temperatura normal, mas ele apresenta dispneia, que está causando nele uma forte dificuldade de respirar e ele está com os pés inchados. Acreditamos que os rins estejam sobrecarregados.
Escutei o que a paramédica disse e fiz sinal que era o suficiente, o resto eu poderia checar.
— , meu nome é . — Peguei meu estetoscópio e o encarei. — Você consegue me dizer, se sente alguma dor?
— Meus pulmões.
O puxei com delicadeza e fiz sinal para Rory que começasse a preparar os medicamentos necessários, se ele sentia dores no pulmão provavelmente poderia estar tendo início de edema pulmonar, líquido nos pulmões, e isso poderia levá-lo a algo muito pior, como uma embolia pulmonar.
— Estou escutando um forte barulho. — falei. — Precisamos de um raio-X do tórax, mas, para prevenir, quero fazer uma toracotomia.
Olhei o monitor e vi que a pressão dele estava começando a cair um pouco, minhas suspeitas estavam certas.
— Rory, vá pegar o kit enquanto eu termino os procedimentos, leve seus internos com você.
Eu trabalhava melhor com menos pessoas na sala.
me encarava a cada movimento e isso estava me deixando nervosa, eu não costumava me intimidar com nada, mas tinha alguma coisa nele me fazia sentir um estranho nervosismo.
— Dra. , isso vai doer? — perguntou com a voz calma, enquanto eu colocava um acesso em seu braço.
— , não vou mentir para você. — Olhei par ao monitor novamente, a pressão estava caindo ainda mais e bipei Rory. — Isso vai doer. Nunca precisou colocar rum tubo em seu peito?
— Já. — afirmou e sorriu. — Só queria saber se seria honesta comigo.
— Eu serei, sempre.
— Inclusive quando eu estiver morrendo?
O encarei por alguns instantes, eu estava dividida entre terminar os procedimentos nele, bipar Rory e respondê-lo.
— Sim.
— Sempre tem médicas bonitas aqui? — perguntou calmo.
Soltei um riso fraco.
— E com sorrisos encantadores.
— Obrigada. — respondi enquanto anotava algumas coisas na ficha dele.
— Eu espero ficar melhor. — Ele disse e sorriu encantadoramente.
Bipei Rory mais uma vez e pedi para o outro residente ir procurá-la, ela não era de demorar.
— Você vai.
— Acho que poderíamos fazer uma aposta. — sorriu e permaneci encarando-o. — Se eu sobreviver, você vai em um encontro comigo.
Soltei uma risada.
Terminei o que estava no meu alcance e Rory chegou logo em seguida trazendo o kit. parecia calmo e eu imaginei que deveria ser por já estar acostumado, uma pessoa com a doença dele não costumava passar mais que a metade do ano fora do hospital. Estava acostumada a ser perfurada, cortada, entre outras coisas.
Terminei de arrumar tudo e encarei .
— Pronto?
— Só se você sair comigo, caso eu sobreviva. — me encarou e segurou minha mão quando fiz menção de iniciar o procedimento. — Isso, ou não a deixarei fazer o procedimento, do que sei, posso recusar o tratamento.
Olhei boquiaberta.
— É, você pode.
— O que me diz?
— Eu...
O monitor dele apitou, ele estava entrando em parada.
— Droga! — falei ao vê-lo virar os olhos.
Apertei o botão e logo os enfermeiros vieram com a máquina do desfibrilador. Geralmente eu ficaria responsável pelo desfibrilador e as massagens, mas não tínhamos tempo, então passei a função do desfibrilador para Rory e as massagens para outro residente ali presente. Eu tinha que me concentrar no tempo e o monitor.
O coração dele parecia não querer se recuperar.
— 240. — gritei e ela tentou de novo.
O monitor continuava apitando e o residente continuou com as massagens.
Olhei meu relógio e percebi que mais alguns minutos e eu teria que declará-lo, não sabia dizer por que, mas aquilo estava me incomodando de uma maneira que nunca tinha acontecido antes.
— 360. — gritei e assim ela fez.
Nada.
Encarei um sem vida e senti um aperto no coração.
— Dra. é melhor...
Tomei uma reação inesperada e bati meu punho no peito de e o monitor voltou a mostrar os sinais vitais dele, eu tinha conseguido trazê-lo de volta.
— É, parece que aquele encontro vai acontecer. — Escutei falar, sem muita força na voz.
Não pude conter o sorriso.
Era meu plantão e o hospital estava relativamente vazio, apenas com casos simples como: início de infarto ou alguma artéria obstruída, coisas que eu conseguiria resolver em poucas horas dentro da SO, nada que fosse novo para mim. Depois de passar metade da minha carreira no exército como cirurgiã cardiotorácica, eu já tinha melhorado muito o tempo em cirurgia, principalmente as que chamávamos de "simples", lá não se tinha tempo para pensar, apenas para agir.
— Leve ele para UTI. — Falei me referindo ao paciente que se encontrava na mesa de cirurgia ainda, enquanto lavava minhas mãos e o olhava através do vidro.
— Vai descansar, Dra. ? — Archie, meu residente, perguntou de forma simpática.
Soltei um riso nervoso. Descansar era tudo que eu não fazia, nunca.
— Não, eu tenho que cobrir o PS e preciso que monitore meu paciente, foi um procedimento simples.
— Foi uma obra de arte. — Archie concluiu.
Terminei de secar minha mão e voltei para dentro do centro cirúrgico, peguei a ficha dele e anotei algumas informações sobre o que tinha acontecido durante a cirurgia. Sem sangramento excessivo, sem parada cardíaca, sem queda de pressão, de fato tinha sido uma obra de arte. Anotei a hora no prontuário e o passei para Archie, que pegou prontamente.
— O que precisa fazer? — perguntei, para ter certeza de que ele sabia como eu gostava das coisas.
— Checar urina, taxa de sódio, potássio e como está a pressão dele.
— Amo quando você está no meu plantão, Archie.
Saí antes que ele dissesse alguma coisa e fui direto para o banheiro, como não teria tempo e nem apetite para uma refeição, ao menos precisava cuidar dos meus rins para que não ficassem sobrecarregados, algumas horas de cirurgia podem acabar com eles. Terminei minhas necessidades e depois de lavar a mão, olhei meu pager vibrar, não teria tempo nem para uma água, um paciente portador de cardiomiopatia estava chegando.
Fui pelas escadas para chegar mais rápido ao PS e, quando cheguei lá, estava um caos, algumas emergências tinham chegado e ninguém parecia preocupado em organizar aquilo.
— Sarah, preciso que prepare a sala de emergência I. — gritei para uma das minhas enfermeiras enquanto me paramentava. — Andrew, por favor, organize essa emergência.
Terminei de colocar o avental amarelo, as luvas e corri em direção a porta do PS. A ambulância já tinha chegado. Dentro dela pude ver que tinha um homem magro deitado na maca, com cabelos escuros e os olhos também e, a primeira dele foi sorrir para mim quando dirigi meu olhar para ele.
Desviei o olhar e peguei a ficha dele.
— O que temos? — perguntei enquanto Rory, minha outra residente, empurrava a maca dele junto com os internos.
— , , 36 anos, portador de cardiomiopatia há três anos. — A paramédica disse e fiz sinal para que seguissem para a emergência um.
Agora sim, tinha chegado um caso que tomaria talvez todo meu plantão, ou mais.
— Sinais vitais? — perguntei entrando na sala.
— Temperatura normal, mas ele apresenta dispneia, que está causando nele uma forte dificuldade de respirar e ele está com os pés inchados. Acreditamos que os rins estejam sobrecarregados.
Escutei o que a paramédica disse e fiz sinal que era o suficiente, o resto eu poderia checar.
— , meu nome é . — Peguei meu estetoscópio e o encarei. — Você consegue me dizer, se sente alguma dor?
— Meus pulmões.
O puxei com delicadeza e fiz sinal para Rory que começasse a preparar os medicamentos necessários, se ele sentia dores no pulmão provavelmente poderia estar tendo início de edema pulmonar, líquido nos pulmões, e isso poderia levá-lo a algo muito pior, como uma embolia pulmonar.
— Estou escutando um forte barulho. — falei. — Precisamos de um raio-X do tórax, mas, para prevenir, quero fazer uma toracotomia.
Olhei o monitor e vi que a pressão dele estava começando a cair um pouco, minhas suspeitas estavam certas.
— Rory, vá pegar o kit enquanto eu termino os procedimentos, leve seus internos com você.
Eu trabalhava melhor com menos pessoas na sala.
me encarava a cada movimento e isso estava me deixando nervosa, eu não costumava me intimidar com nada, mas tinha alguma coisa nele me fazia sentir um estranho nervosismo.
— Dra. , isso vai doer? — perguntou com a voz calma, enquanto eu colocava um acesso em seu braço.
— , não vou mentir para você. — Olhei par ao monitor novamente, a pressão estava caindo ainda mais e bipei Rory. — Isso vai doer. Nunca precisou colocar rum tubo em seu peito?
— Já. — afirmou e sorriu. — Só queria saber se seria honesta comigo.
— Eu serei, sempre.
— Inclusive quando eu estiver morrendo?
O encarei por alguns instantes, eu estava dividida entre terminar os procedimentos nele, bipar Rory e respondê-lo.
— Sim.
— Sempre tem médicas bonitas aqui? — perguntou calmo.
Soltei um riso fraco.
— E com sorrisos encantadores.
— Obrigada. — respondi enquanto anotava algumas coisas na ficha dele.
— Eu espero ficar melhor. — Ele disse e sorriu encantadoramente.
Bipei Rory mais uma vez e pedi para o outro residente ir procurá-la, ela não era de demorar.
— Você vai.
— Acho que poderíamos fazer uma aposta. — sorriu e permaneci encarando-o. — Se eu sobreviver, você vai em um encontro comigo.
Soltei uma risada.
Terminei o que estava no meu alcance e Rory chegou logo em seguida trazendo o kit. parecia calmo e eu imaginei que deveria ser por já estar acostumado, uma pessoa com a doença dele não costumava passar mais que a metade do ano fora do hospital. Estava acostumada a ser perfurada, cortada, entre outras coisas.
Terminei de arrumar tudo e encarei .
— Pronto?
— Só se você sair comigo, caso eu sobreviva. — me encarou e segurou minha mão quando fiz menção de iniciar o procedimento. — Isso, ou não a deixarei fazer o procedimento, do que sei, posso recusar o tratamento.
Olhei boquiaberta.
— É, você pode.
— O que me diz?
— Eu...
O monitor dele apitou, ele estava entrando em parada.
— Droga! — falei ao vê-lo virar os olhos.
Apertei o botão e logo os enfermeiros vieram com a máquina do desfibrilador. Geralmente eu ficaria responsável pelo desfibrilador e as massagens, mas não tínhamos tempo, então passei a função do desfibrilador para Rory e as massagens para outro residente ali presente. Eu tinha que me concentrar no tempo e o monitor.
O coração dele parecia não querer se recuperar.
— 240. — gritei e ela tentou de novo.
O monitor continuava apitando e o residente continuou com as massagens.
Olhei meu relógio e percebi que mais alguns minutos e eu teria que declará-lo, não sabia dizer por que, mas aquilo estava me incomodando de uma maneira que nunca tinha acontecido antes.
— 360. — gritei e assim ela fez.
Nada.
Encarei um sem vida e senti um aperto no coração.
— Dra. é melhor...
Tomei uma reação inesperada e bati meu punho no peito de e o monitor voltou a mostrar os sinais vitais dele, eu tinha conseguido trazê-lo de volta.
— É, parece que aquele encontro vai acontecer. — Escutei falar, sem muita força na voz.
Não pude conter o sorriso.
Capítulo 1
Encarei a papelada a minha volta e suspirei pesadamente, eu estava exausta. Dividida entre os plantões do hospital, e buscar também uma forma de prolongar a vida dele até que um coração compatível para transplante aparecesse. Uma luta contra o tempo, era nisso que se resumia a minha vida nos últimos dois anos, tudo que eu fazia era tentar correr contra o tempo que tínhamos para salvá-lo.
Senti se remexer ao meu lado e desliguei a lanterna que estava segurando, ele odiava quando eu ficava até tarde lendo pesquisas sobre sua doença.
— Hum. — Escutei ele reclamar o vi abrir os olhos.
Ele ia me pegar no flagra.
— Pode voltar a dormir, eu só estava terminando umas coisas do trabalho. — Levantei já pegando os papéis na cama.
Vi ficar de barriga para cima e esperei que ele falasse algo, mas isso não aconteceu. Apesar do quarto estar um pouco escuro eu conseguia ver que ele encarava cada movimento meu, mesmo depois de dois anos de relacionamento, eu ainda sentia um certo nervosismo sempre que ele fazia isso.
Deixei os papéis na mesinha e voltei para a cama.
— Por que você ainda tenta?
Me enfiei embaixo das cobertas, mas permaneci sentada na cama. O relógio já estava marcando quatro horas da manhã e, em uma hora, eu teria que me levantar para ir ao hospital, não teria muito tempo de sono mesmo e eu nunca fui muito fã de gastar meu tempo dormindo. Não é algo bom, mas eu simplesmente não consigo evitar.
— , já falamos sobre isso, sua vida...
Senti sua mão sobre a minha perna e pude ver um sorriso se forma em seu rosto.
— Estou falando sobre tentar mentir para mim.
— Isso.
— É, isso.
— Você é muito irritante.
soltou uma gargalha e se ajeitou para também ficar sentado na cama.
— Você disse isso há dois anos, quando já estávamos no nosso décimo encontro.
Revirei os olhos.
— Até parece que você contou.
— Sim, eu contei. Lembro de todos eles.
— Certo. — Me dei por vencida, provavelmente ele lembrava mesmo.
Fiquei em silêncio e suspirei pesadamente, eu estava tensa e ele sabia disso, mas era bom demais para reclamar ou criar caso por conta da minha obsessão e incapacidade de me desligar das coisas.
— Eu vou tomar um banho e me arrumar, quero chegar cedo. — Me levantei, mas ele segurou meu braço. — O que foi? Você pode dormir, seu exame é só as 10 horas.
— Você precisa mesmo chegar tão cedo?
— Sim, meu plantão começa as seis horas e eu quero adiantar algumas coisas, pretendo estar na hora do seu exame. — Dei um beijo nele e me soltei, antes que ele me puxasse de volta.
Escutei resmungar e caminhei em direção ao closet para pegar minha roupa.
— Você não é minha médica!
Ignorei o que ele disse e peguei minha roupa e voltei para o quarto e fui em direção à mesinha pegar meu pager. Eu gostava sempre de ter ele por perto, para o caso de ser chamada antes da hora por conta de alguma emergência.
— Porém, sou sua namorada. — Falei já indo até o banheiro.
— Você é muito controladora.
Soltei uma risada abafada enquanto tirava minha roupa e, assim que terminei, coloquei apenas minha cabeça para fora da porta, encarando-o.
— Do que eu me lembro, no nosso sexto encontro, você disse que eu era a melhor coisa que te aconteceu.
Vi ele revirar os olhos e soltei uma gargalhada, já voltando para o banheiro na intenção de começar meu banho.
Atravessei a porta da emergência e vi no meu relógio que eu estava ao menos 40 minutos adiantada e eu pretendia usar esse tempo o máximo possível, eu não estava brincando, queria mesmo estar no exame do .
O hospital estava vazio, então pela manhã eu me preocuparia apenas em checar meus pacientes em pós-operatório e me preparar para uma cirurgia complicada que eu teria na parte da tarde, tudo estava perfeitamente organizado, eu só precisava checar novamente todo o procedimento.
— Bom dia, Dra. . — Archie disse ao passar por mim.
Apenas sorri, pois estava com um pedaço do meu croissant na boca, mas mastiguei o mais rápido possível.
— Archie!
— Sim, Dra. .
O encarei e sorri, ele era sempre muito educado.
— Já disse que pode me chamar de , Archie. — Deixei meu café no balcão e o pedaço do meu pão também, para me equilibrar melhor com as minhas coisas. — Você sabe quem fará o exame do ?
— Sim, será o Andrew. — Archie disse e soltei a respiração que eu estava segurando.
Andrew é meu ex-marido e o melhor médico cardiotorácico de Boston, depois de mim. Confio nele para qualquer procedimento que eu não possa fazer, não poderia estar em mãos melhores, eu praticamente o subornei para que pegasse o caso quando minha relação médico-paciente passou a ser conflitante para o hospital.
— Ele pediu alguns outros exames. — Archie disse pegando alguns papéis. — Por isso cheguei mais cedo. A Dra. quer dar uma checada?
— Não, eu confio no Andrew. — Desviei o olhar, era difícil ter que me manter longe. — E se a UNOS ligar, quero ser a primeira a saber.
Meu residente apenas afirmou com a cabeça e saiu andando e eu fiquei ali parada, ainda conseguia me lembrar do desespero que senti ao descobrir que eu não poderia mais ser a médica do e correr o risco de talvez deixá-lo nas mãos de qualquer médico.
Andei de um lado para o outro me sentindo completamente frustrada, eu odiava sentir que as coisas estavam fugindo do meu controle. Eu tinha tudo para manter vivo, pesquisas, tecnologia e a minha vasta experiência com doenças como a dele, mas eu simplesmente não poderia mais ser a médica dele já que tomei a estúpida decisão de deixar meus sentimentos falarem mais alto.
Estávamos oficialmente em um relacionamento, eu não poderia mais ser médica dele.
— , entenda uma coisa, não temos nada contra o seu relacionamento. — Amber, a diretora do hospital e minha meia irmã, disse enquanto me encarava na sala deu reuniões. — Estou mais do que feliz, na verdade, é ótimo para você.
Soltei um riso fraco.
— Qual o problema então, Amber?
— Você tem uma relação com ele agora, são namorados. E mais, você o ama.
Revirei os olhos.
— Nem faça essa cara, sei que ama. — Amber me repreendeu.
De fato, eu amo mesmo.
— , só escolha uma pessoa, temos ótimos médicos — Andrew disse de forma carinhosa, ele sabia de perto como isso estava me afetando.
Mesmo com o fim do nosso casamento, mantivemos uma amizade muito especial e ele sabia tudo sobre mim, assim como eu sobre ele, logo, ele sabia desde o início sobre meu relacionamento com .
— Escolho você!
— O que? — Andrew perguntou com os olhos arregalados.
Amber pareceu não se importar com a ideia ao sentar-se em sua cadeira.
— Sou seu ex-marido, ele é seu namorado.
— E vocês se dão superbem. Qual problema?
— É, Andrew, espero que não sinta mais nada pela , Ellie não vai gostar nada. — Amber riu sozinha.
— Não é isso. — Andrew revirou os olhos. — É só que é uma carga pesada, eu saber que vou ter nas mãos a vida da pessoa que você ama.
O encarei e andei até ele.
— Eu confiaria a minha vida a você — falei e peguei a mão dele. — Não confio em mais ninguém, Andrew. Não posso colocar a vida do na mão de ninguém, que não seja a minha ou a sua.
Ele olhou para Amber pedindo ajuda, mas ela deu de ombros e depois voltou a olhar para mim.
— Droga, .
O abracei e soltei a respiração que estava segurando. Não era a opção que eu realmente queria, mas era muito melhor do que eu poderia imaginar.
Mal tive tempo de deixar minhas coisas na sala dos atendentes e trocar de roupa para já começar a ser bipada, aparentemente um dos meus pacientes em pós-operatório tinha começado a entrar em parada, corri para lá o mais rápido que pude. Ele ainda estava na mesma situação e pedi que me dessem espaço para que eu pudesse tomar a frente de tudo.
Não foi preciso nem cinco minutos ali para saber que ele estava em tamponamento cardíaco, eu precisaria agir rápido para que ele não entrasse na tríade de Beck, que é quando o paciente apresenta sons cardíacos abafados, diminuição da pressão arterial e dilatação das veias do pescoço e o caminho para uma morte rápida é quase certa.
— Ele está em tamponamento cardíaco! — Gritei. — Preciso do material para pericardiocentese, agora!
— O que está acontecendo? — Escutei a esposa de Josh, meu paciente, gritar desesperadamente.
Apertei meus olhos e respirei fundo, já era para alguém a ter tirado daqui.
— Tirem-na daqui, por favor.
Escutei a enfermeira pedir que ela saísse, mas a mulher insistia em ficar, ela estava fazendo um escândalo. Eu não podia tirar a razão dela, mas eu não poderia salvar a vida do marido dela com ela implorando que eu não o matasse enquanto eu fazia isso.
— Dra...
— É tão difícil assim tirar um paciente da sala? — gritei. — Cadê o material?
— Dra. , não o mate, por favor.
Tomei a reação que não queria, mas a peguei pelos ombros a empurrei para fora do quarto, ela chorava descontroladamente.
— Não consigo fazer isso.
— Sarah, você consegue. — Continuei segurando-a. — Só que preciso que saia daqui, agora, não consigo fazer isso com você aqui.
Todos me encaravam, esse não era o tipo de coisa que eu costumava fazer.
— Leve ela daqui agora. — Repeti pela milésima vez, para uma das enfermeiras.
O residente apareceu com o material e me voltei para Josh, eu precisava ser rápida. Bloquei qualquer pensamento que eu pudesse ter sobre a esposa dele ou sobre e como me sentiria se fosse comigo e peguei a agulha, era importante que eu não puncionasse demais o coração dele ou teria um sangramento excessivo.
— A pressão está melhorando. — Escutei a enfermeira dizer e fiquei calma.
Ele estava estável e o procedimento tinha dado certo, estava tudo bem. Para ser realista, eu que não estava bem há alguns dias, mas eu simplesmente não conseguia parar, ficar em casa esperando por um novo coração para ou um milagre me deixava ainda pior.
— Dra. , seu paciente...
Era um dia daqueles, mais um paciente estava tendo parada. Caminhei rapidamente até o leito em que ele se encontrava, mas já era tarde, ele tinha sido declarado há menos de um minuto por uma residente responsável. Apenas assinei o papel e fui para o PS, meu pager tinha acabado de apitar e parecia que um paciente tinha acabado de chegar, hoje de fato seria um dia negro, era como eu chamava os dias em que os pires casos chegaram e conseguíamos salvar poucos.
O relógio já marcava quase dez horas, eu não conseguiria estar no exame do como tinha planejado e já deveria ter esperado por isso. Entrei na sala e vi uma garota que aparentava ter por volta de seus 12 anos sentada na maca, peguei a ficha dela da mão de Hory e a primeira coisa que consegui ler foi "Cardiomiopatia Hipertrófica". Era Lisa, uma antiga paciente minha que esperava por um transplante há seis meses.
— Dra. . — A mãe de Lisa em abraçou. — É verdade que nossa menina irá receber o coração dela hoje?
Encarei Hory.
— Desculpa, eu te bipei para o PS e logo depois ela chegou, não vi necessidade em bipar de novo com o código de transplante. — Hory se explicou e eu apenas assenti.
— Então, Lisa. Está pronta para receber seu coração? — Perguntei enquanto pegava meu estetoscópio para examiná-la.
— Vou poder correr?
Soltei um riso fraco e afirmei positivamente.
— Dra. , nossa menina vai mesmo ficar bem? — O pai perguntou apreensivo.
— É o nosso plano. — Terminei de fazer os exames e assinei o papel de liberação. — Nós vamos cuidar dela, o transplante levará ao menos 12 horas, sugiro que vocês se preparem. Tudo bem?
Os dois afirmaram com a cabeça.
— Certo. Hory, pode levá-la, quero que faça todos os exames e me chame assim que tudo estiver certo, quero SO5.
Nem esperei minha residente confirmar e saí da sala. O relógio já passava das dez, então peguei meu celular e liguei para , eu não estava vendo o nome dele no quadro de pacientes que tinham dado entrada e isso estava me preocupando um pouco, ele não costumava se atrasar para os exames.
Peguei um café e fui em direçãoàa sala dos residentes, queria dar uma olhada de novo nos exames dos últimos três meses de Lisa, por sorte o doador dela era deste hospital e eu não precisaria me deslocar para buscar o órgão e teria tempo hábil para deixar tudo preparado para o procedimento.
12 horas. Era um tempo considerável, dentro de uma SO.
— Droga. — Joguei o celular do outro lado do sofá.
Archie entrou na sala e praticamente pulei de onde estava sentada.
— Archie, o já deu entrada?
Ele parecia um pouco tenso ao me olhar e eu pude perceber.
— Sim, mas ele deu entrada no PS.
— O que aconteceu? — perguntei já saindo da sala, mas Archie me segurou.
— Ele reclamou de dores nas costas, Andrew pediu para te avisar que não é para nos desesperarmos ainda. Também pediu que você fique longe, também pediu isso.
Revirei os olhos.
— Ficar longe é uma ova.
Saí da sala antes que ele falasse mais alguma coisa e andei até o elevador, estava demorando demais e decidi descer pelas escadas mesmo. Eu sabia que Andrew costumava usar a sala de dois de emergências e assim que abri a porta encontrei um tranquilo deitado na maca, Andrew, mais dois residentes e mais um homem que estava de costas, que não reconheci, mas sabia que era médico por estar de jaleco.
— Amor...
— Se eu soubesse que precisava ter um defeito no coração para te conquistar, teria feito isso. — Uma voz grossa se manifestou e senti meu rosto corar.
Desviei meu olhar de para o cara que antes estava de costas e vi que era Daniel, um cirurgião geral que me envolvi pouco tempo depois de me separar. Na época ele tinha o sonho de formar uma família, casar-se de novo, mas eu ainda estava superando meu divórcio e como sempre, queria focar na minha carreira.
— Daniel. — Foi tudo que eu consegui dizer.
Ele sorriu calorosamente e andou até mim, me abraçando.
— Estou bem. — Escutei dizer e soltei Daniel, para olhá-lo.
— O que está acontecendo?
— chegou reclamando de dores, achei melhor pedir alguns exames. — Andrew explicou.
— E qual o diagnóstico?
— Ele ainda vai fazer os exames.
— Andrew, você sabe que ele pode ter embo...
— , nós sabemos todos os riscos, somos os médicos dele. — Daniel disse me interrompendo e estreitei o olhar. — Andrew me chamou para acompanhar o caso de , ele acha que é melhor termos o máximo de opiniões possíveis aqui.
Desviei o olhar e depois olhei para , estava pensando no que dizer quando Hory entrou na sala.
— Dra. , Lisa está pronta para o transplante e os exames que me pediu de sangue está para sair. Posso levá-la para a SO?
Por um minuto me esqueci do procedimento.
— Pode, Hory, conseguiu agendar a SO5?
— Sim, fiz tudo como me pediu.
— Certo, pode levá-la então. Eu estarei lá em pouco tempo, vou passar para tranquilizar os pais antes, mas se puder fazer isso agora, seria ótimo — pedi.
Ela afirmou e saiu da sala, então voltei a encarar .
— Você vai fazer o transplante da Lisa? — Andrew perguntou surpreso. — A garota com Cardiomiopatia Hipertrófica?
— Sim.
— Acha que consegue?
Eu sabia que ele estava se referindo a , afinal, ele tinha a mesma doença que a garota.
— Acha que não consigo?
— Sabe que é só pedir. — Andrew me olhou com compreensão.
— Está tudo bem, eu consigo fazer. — afirmei. — Até de olhos fechados.
Andrew riu e confirmou com a cabeça.
— Podem nos dar uns minutos? — Escutei e voltei a olhar para ele.
Todos saíram da sala e senti minha respiração ficar ainda mais pesada, eu deveria estar acostumada a receber notícias ruins sobre o prognóstico dele, mas eu nunca me acostumava. Sempre fui muito profissional, mas eu nunca tinha me envolvido com alguém da forma que me envolvi com ele, nem mesmo com Andrew foi assim, me conquistou desde o momento em que o vi naquela maca de ambulância.
No momento em que olhei para ele, eu sabia que as coisas entre nós seriam intensas, eu resisti o máximo que consegui, nosso encontro aconteceu por causa de uma aposta que ele propôs, salvei a vida dele naquela noite, então precisei cumprir com a minha palavra. A verdade é que eu gostaria de ter escolhido ser médica dele e estar sempre a par de tudo que acontecesse, mas eu o amo e não teria como renunciar a isso.
— Amor? — Escutei me chamar e só então me dei conta de que tinha me perdido em pensamentos.
— , não faz isso.
— Senta aqui. — Ele bateu na cama.
Me sentei e ele segurou minha mão.
— Você sabe que eu amo você, não sabe?
— Isso não é uma despedida.
— Não mesmo. — sorriu e passou a mão pelos meus cabelos. — Você não vai se livrar de mim, Dra. .
— Não quero, mesmo. — respondi dando de ombros.
— Parece que meu novo médico quer.
Soltei um riso fraco.
— Problema dele, já sou apaixonada por outra pessoa.
riu e o vi tossir, fazendo com que meu coração se apertasse.
— É, parece que ficar ainda mais doente, faz você demonstrar seus sentimentos por mim.
— Você é ridículo.
— Você é linda. — disse e depositou um beijo no meu rosto.
Por conta da doença dele e os números de infecções, tínhamos que evitar beijos a todo momento.
— Posso passar meu transplante, se quiser que eu fique com você. — sugeri.
sorriu.
— Não, Lisa é uma boa garota e você é a melhor médica que ela poderia ter. Eu vou ficar bem, só quero que se lembre que eu te amo.
— Também te amo, . — O abracei e senti meus olhos queimarem.
— Eu deveria me casar com você.
Soltei um riso fraco e o soltei, ele adorava fazer piadinhas em momentos inoportunos.
— Muito engraçado. — Falei e me levantei da cama.
— Estou falando sério.
Coloquei as mãos no bolso e ri fraco de novo.
— É, você sempre fala sério, eu...
Meu pager apitou interrompendo minha fala, Lisa estava definitivamente pronta para o transplante.
— Eu tenho que ir, mas você deveria começar a enfeitar suas brincadeiras, ficaria mais divertido e quem sabe eu levaria a sério, pelo menos nos cinco primeiros minutos— falei rindo.
Saí da sala e, antes que Andrew entrasse, pedi ao menos que Archie pudesse me manter informada o máximo possível sobre o quadro de . Passei para dar o último parecer aos pais e fui direto para SO, Lisa já estava sendo preparada na maca e eu coloquei minha touca que tinham cachorrinhos desenhados, eu a considerava minha touca da sorte e quem tinha me dado em meu último aniversário.
Lavei bem minhas mãos e entrei na sala, as enfermeiras colocaram toda a roupa em mim e penduraram a luz na minha cabeça. Respirei fundo e caminhei em direção a cama onde Lisa me encarava com os pequenos olhinhos calmos, eu sempre me surpreendia com a capacidade das crianças de levarem da melhor forma possível situações como esta.
— Lisa, vamos colocar uma máscara que fara você dormir. — falei com a voz abafada por trás da máscara e ela permaneceu me encarando. — Está pronta?
— Prontinha, Dra. .
Apenas sorri e confirmei para o anestesista que ele poderia colocar a máscara nela.
— Tudo bem, pessoal. — falei de frente para a mesa e encarei a galeria, tinham muitos residentes ali para observar minha cirurgia. — Será uma cirurgia longa, se precisarem trocar de posição, façam isso, não quero ninguém aqui sem estar bem. Estamos estendidos?
Todos confirmaram com cabeça.
Como eu sempre gostava de fazer, me desliguei totalmente de qualquer problema de fora que pudesse interferir no meu procedimento e respirei fundo.
— Lâmina 10!
O procedimento estava correndo bem, até Lisa começar a sangrar e eu precisar gastar uma parte do tempo para encontrar a fonte do sangramento dela. Ela tinha um coração bem fraco, o transplante tinha aparecido em boa hora, mais alguns dias e ela não conseguiria sobreviver com um órgão tão fragilizado.
Assim que consegui controlar a situação, voltei para o procedimento, só pelo primeiro problema ter acontecido nos primeiros momentos de cirurgia, eu estava calculando não 12, mas pelo menos 16 horas de cirurgia.
A cirurgia levou 15 horas, eu quase acertei o tempo. Tive alguns problemas esperados durante o procedimento e outros não tão esperados assim, mas tinha sido um sucesso, se Lisa não recusasse o coração e tomasse todos os medicamentos corretamente, logo ela seria uma nova pessoa e com um coração novinho. Pronta para correr, como ela gostava de lembrar.
— Dra. , nossa menina... — Os pais de Lisa começaram a dizer, assim que cheguei na sala de espera.
Abri o melhor sorriso que consegui e puxei minha touca cirúrgica.
— A Lisa está ótima, ela está na UTI. — falei encarando-os. — A Hory vai explicar para vocês como serão as visitas, se tiverem qualquer dúvida podem confiar totalmente em tirar com ela, mas eu acompanharei o pós-operatório dela de perto, então se quiserem podem me chamar também.
— Muito obrigada! — Sarah, a mãe de Lisa, me abraçou apertado.
Retribui o abraço e sorri carinhosamente.
— Bom, se me dão licença...
Eu estava exausta, mas eu não pretendia deixar o hospital até ter a primeira checagem de Lisa e a última notícia que tinha recebido de era que ele estava passando por exames e que o pulmão dele parecia não estar muito bem, por isso Andrew ia pedir mais exames, depois disso mais nada.
Porém, já tinham se passado 15 horas, eu esperava que a essa altura estivesse tudo bem e que ele estaria em casa, mas eu estava errada e soube disso ao escutar meu pager apitando e ler nele "911 , ". Corri até lá o mais rápido que conseguia, se o tinham internado significava que tinham descoberto algo grave e que isso poderia até tirá-lo da lista de transplante.
Entrei no quarto e olhei um pouco confusa, tudo que encontrei foi o lugar vazio e escuro. Meu coração acelerou ainda mais, ele não pod...
— Estava esperando você. — Escutei a voz de atrás de mim e as luzes se acenderam, revelando diversas fotos coladas na parede e balões presos ao teto.
Quarto 16. Era onde ele tinha me pedido em namoro, dois anos antes.
Mais um dia de plantão e eu enlouqueceria, me dividir entre os meus pacientes e não estava sendo fácil, tudo mudou completamente depois que ele entrou na minha vida. Dois meses passou muito rápido, eu mal conseguia me lembrar como era a minha vida sem ele, eu poderia jurar que já tinha se passado um ano desde a noite em que salvei a vida dele.
Tirei meu jaleco, minha touca cirúrgica e saí do centro cirúrgico. Mais um transplante bem-sucedido, sem nada inesperado e o paciente tinha saído completamente estável, mas eu me sentia exausta demais para comemorar, só queria ir para a minha cama e dormir. Só que antes disso, eu precisava checar os sinais vitais de , aí sim depois, eu poderia dormir com um pouco de tranquilidade, a última noite dele tinha sido intensa.
Um tamponamento cardíaco, para nos assustar.
— Ei. — falei ao entrar no quarto e vê-lo acordado.
abriu um enorme sorriso.
— Eu acabei de sair de um transplante, mas quis passar aqui para ver como você está. — o encarei encostada na porta que tinha acabado de fechar atrás de mim.
— Você acabou de sair de um transplante e veio me ver, ao invés de ir descansar?
Concordei com a cabeça.
— Certo. Que horas você entrou em cirurgia?
— Não sei. — respondi dando de ombros. — Só sei que foi depois que passei aqui mais cedo.
— 10 horas da manhã? — parecia surpreso e dei de ombros, de novo. — , são quase meia-noite, isso faz mais de 12 horas.
Eu não entendi onde ele queria chegar, estava cansada demais para raciocinar.
— Qual problema?
— Você deveria estar descansando, não passando aqui e me vendo, quando outras pessoas podem fazer isso.
Soltei um riso fraco.
— Eu não consigo dormir, sem saber que está bem, sabe disso...
sorriu e fez menção de sair da cama, mas caminhei até ele segurando-o.
— , o que você está fazendo?
— Preciso fazer um pedido de namoro oficial, decente. — O escutei dizer e arregalei meus olhos. — Ah, , eu nunca tive ninguém como você.
— , eu...
— Não, eu preciso falar!
O encarei e fiz sinal para que ele continuasse, mas que ficasse sentado.
— Ninguém nunca se preocupou comigo como você, ou me olhou assim. — passou a mão pelos meus cabelos e senti meu corpo todo se arrepiar. — Você fez as coisas tão fácil, .
— Eu?
— Você, eu amo você e quero namorar com você...casar com você!
Abri um sorriso enorme.
— Você sabe que...
— Você é minha médica, eu sei e não estou nem aí. — disse e me beijou.
Parei o beijo rápido, ele estava se recuperando da última infecção ainda e não podíamos correr o risco de eu passar alguma para ele.
— Sabe que não podemos fazer isso, até você melhorar. — respondi rindo e ele bufou.
— Você ainda não me respondeu.
Soltei um riso fraco.
— Não vem com essa, de que não precisa. — colocou a mão no meu rosto. — Preciso ouvir de você.
— Certo. — Ri fracamente. — Eu aceito passar a noite para te ver como sua namorada e, não como sua médica.
Ele soltou uma gargalhada e me beijou de novo.
Olhei as fotos coladas na parede e pude ver que eram fotos minhas e de , desde o nosso primeiro encontro até os dias de hoje. Ignorei a presença dele e caminhei para olhar tudo mais de perto. Eu sabia como aquilo tinha sido um desafio para ele, já que eu não sou nada fã de tirar fotos, principalmente se eu tiver que aparecer muito e ser a atração principal dela.
Terminei de olhar tudo e me virei para encará-lo, ele não estava de terno e nem nada do tipo, ainda bem, porque eu não estava esperando por nada disso.
— , o que é tudo isso? — perguntei curiosa, mas sem a intenção de tentar repreendê-lo. Eu realmente estava confusa.
Ele soltou um riso fraco e caminhou para mais perto de mim.
— Você me disse uma coisa, mais cedo — disse e parou bem diante de mim. — Lembra o que é?
— Eu fiquei 15 horas em cirurgia, a única coisa que consigo me lembrar agora é que o quanto eu queria minha cama por mais algumas horas de manhã. — Respondi soltando um riso fraco em seguida e fazendo rir comigo.
— Gosto quando você é assim.
— Assim como? — perguntei e senti a ponta dos dedos dele na minha bochecha e logo em seguida colocar meu cabelo atrás da orelha.
— Com esse senso de humor. — Ele abriu o melhor sorriso, enquanto me encarava.
Troquei o peso de uma perna para outra, não saberia dizer se era mais pelo cansaço ou pelo nervosismo.
— Eu falei que devia me casar com você e aí você me disse que eu deveria tornar as minhas brincadeiras mais reais. — disse me olhando nos olhos e senti cada parte do meu corpo se arrepiar.
— , eu...
— Você pode me deixar terminar? Só uma vez? — perguntou me interrompendo.
Soltei um riso e fiz que sim com a cabeça.
— Só que antes disso, apareceu aquele médico dando em cima de você e praticamente mostrando o quão arrependido ele estava de ter te perdido. — Soltamos um riso juntos. — Azar o dele.
Afirmei com a cabeça rindo e fiquei olhando para ele, eu amava fazer isso, olhar para era um dos meus passatempos favoritos.
— Por isso. — começou a dizer, já colocando a mão no bolso e se ajoelhou.
Senti meu coração acelerar e fechei meus olhos por um breve momento, na intenção de conter qualquer lágrima que tentasse cair agora. Voltei a abrir meus olhos e vi que ele me encarava, que seus lábios tinham perdido a cor e acreditei ser pelo nervosismo que poderia estar consumindo-o.
— , você...
A frase não foi terminada, tudo no momento seguinte foi muito rápido. A caixinha que estava em sua mão caiu no chão, seus olhos rolaram para trás mostrando o branco dos olhos e minha mão foi até sua cabeça quando seu corpo se curvou para o lado fazendo-o cair com muita força no chão. Era como um filme de terror, era difícil para mim acreditar que aquilo realmente estava acontecendo bem naquele momento.
Me ajoelhei sobre e, enquanto eu gritava o máximo que conseguia por ajuda, iniciei as manobras de reanimação. Eu não podia me deixar levar pelo sentimento, mas era difícil, eu já tinha feito isso antes em , mas foi há muito tempo, agora eu era sua namorada e não sua médica.
Minhas manobras pareciam não funcionar, assim como os meus gritos, já que ninguém aparecia na droga de quarto em que eu estava, então parei as manobras e acionei a emergência através do pager. Ele permanecia totalmente sem vida e eu estava quase desistindo quando senti braços a minha volta e lágrimas em meu rosto que até então nem tinha me dado conta que estavam ali, tudo a minha volta era uma mistura de barulhos de aparelhos e pessoas falando.
— Andrew...
Eu não conseguia formar uma frase sequer, meus olhos só conseguiam enxergar um ali sem vida com diversos médicos e enfermeiros a volta dele. Me inclinei para ver mais de perto o que estava de fato acontecendo e se estavam conseguindo trazer ele de volta, quando escutei Andrew gritar para que o interno me tirasse dali. Fiz o máximo de força que pude, mas senti duas pessoas me puxarem para o lado de fora do quarto e praticamente me carregarem para a sala dos atendentes.
Amber já se encontrava lá.
Quanto tempo isto está acontecendo?
— Amber...
Ela me encarou com seus enormes olhos negros, era a primeira vez que eu a estava vendo tão apreensiva.
— Nós a trouxemos porque o Dr. Andrew pediu. — Um dos internos informou um pouco sem jeito.
Em qualquer outra situação eu pediria para ele sair ou simplesmente daria risada da situação, mas eu não conseguia pensar em absolutamente nada. Tudo que estava em minha cabeça era um completamente sem vida e que dessa vez eu não consegui fazer nada para salvar a vida dele.
Se ele estivesse morto...
— Obrigada, podem sair. — Escutei Amber dizer para os internos, impedindo que meus pensamentos fossem ainda piores.
Respirei fundo e virei de costas para ela, não podia encará-la, na verdade, ninguém.
— , me escuta, eles estão com o e sabem exatamente o que fazer.
Soltei um riso fraco e respirei fundo.
— Eu sei como vo...
— Não, você não sabe. — A interrompi e me virei para encará-la. — Não me venha com essa merda.
— Andrew sabe o que fazer, você mesma disse que ele é o melhor de todos e que confiaria sua vida. — Amber disse sem tirar os olhos de mim.
— Mas eu também te disse que eu era melhor. — rebati e saí da sala antes que ela me falasse mais alguma coisa que me fizesse perde a paciência com ela.
Uma parte de mim sabia que não era culpa da minha irmã, mas a outra precisava de alguém para culpar e tentar aliviar a tensão e ela era a única pessoa ali naquele momento. Escutei os passos dela atrás de mim e andei ainda mais rápido, mas não foi o suficiente, já que ela segurou meu braço e me puxou para encará-la de novo.
— Amber, me deixa em paz, por favor. — pedi.
— Eu sei que você está nervosa, mas eles estão com e não posso deixar você ir lá.
Soltei um riso fraco.
— , por favor.
— Chega! — gritei e vi que todos nos encaravam. — Para de agir como se soubesse como é passar por isso. Sua vida sempre foi perfeita, Amber.
— Você está sendo injusta comigo, .
— Estou? — perguntei com sinceridade.
— Você sabe que sim.
Revirei os olhos e me virei para ir em direção a emergência, mas Amber entrou na minha frente.
— Sai da minha frente, Amber.
— , preciso que venha comigo. — A voz de Archie ecoou fazendo com que a tensão diminuísse um pouco e os fofoqueiros começassem a voltar o que estavam fazendo.
— Cadê o ?
Amber já tinha saído dali, sem dizer absolutamente nada.
— Onde ele está, Archie?
— Eu preciso que venha comigo, por favor. — Archie pediu de maneira educada e eu apenas assenti.
Eu era capaz de contar cada batida do meu coração enquanto caminhava por entre os corredores do hospital com Archie bem a minha frente, ele tinha me falado algo sobre estar na UTI, mas nada disso iria me acalmar, eu precisava vê-lo vivo, senti-lo mais uma vez como tinha acontecido mais cedo quando ainda estávamos na cama. Não adiantava ninguém me dizer que ele estava vivo, nada disso ia me convencer ou fazer com que eu me sentisse melhor.
Cheguei na porta da UTI e Andrew se encontrava bem ali acompanhado de alguns residentes, internos e enfermeiros. Não precisou de muito para que eu soubesse que as coisas não estavam boas, a cara deles já dizia tudo e os braços do meu ex-marido me abraçando disseram ainda mais. estava vivo, mas a situação dele obviamente não era das melhores e como sempre, eu estava certa por ter me preocupado com o líquido no pulmão dele.
— Andrew. O que está acontecendo? — perguntei sem cerimônia.
Sempre odiei o suspense que fazemos para dizer a um parente que o ente querido dele está morrendo ou pode chegar lá.
— Acho melhor você vê-lo primeiro, depois nós conversamos. Tudo bem? — Ele me soltou do abraço e sorriu carinhosamente para mim.
— Por favor...
— , você precisa ir ver ele primeiro. Estarei na sala dos atendentes. — Ele disse e saiu andando antes que eu pudesse questioná-lo.
Respirei fundo e virei meu rosto em direção a porta de vidro da UTI e encarei um desacordado ligado a muito aparelhos. Eu precisava me paramentar antes de entrar ali para evitar qualquer tipo de infecção e assim fiz, não importava se eu estava habituada a fazer aquilo várias vezes no meu dia, agora parecia que nada se encaixava, nem meu avental, nem a máscara e nem mesmo as luvas.
Entrei na UTI e fiquei parada ali na porta mesmo, eu já tinha passado por isso antes com ele, afinal quando ele chegou naquela noite no meu plantão seu estado também era muito grave, mas dessa vez era diferente. tinha me pedido em casamento e simplesmente tido um colapso antes de sequer terminar a frase, antes de podermos ao menos aproveitar aquele momento, que eu sabia que ele tinha provavelmente ensaiado umas mil vezes sozinho.
Soltei o ar e deixei que as lágrimas caíssem.
Puxei um banquinho alto que tinha ali e me sentei ao lado da cama. O único barulho presente ali era do aparelho que mantinha vivo e respirando, sua expressão era calma e mesmo por trás da máscara eu conseguia ver que seus lábios estavam pálidos e sem vida, mas eu ainda o sentia ali, ele ainda era o meu .
— Ei. — falei enquanto segurava a mão dele, que estava fria. — Eu...
As palavras estavam todas na minha cabeça, mas eu simplesmente não conseguia formular nenhuma frase, eu tinha ensaiado para tudo isso, mas não estava preparada. Vê-lo ali ligado a todas aquelas máquinas, tubos e outras coisas mais fazia eu me sentir completamente impotente, ainda mais sabendo que nenhuma decisão poderia ser minha. Eu era só namorada dele, não podia ser médica e pensar em uma forma de salvá-lo.
Tudo estava fora do meu alcance.
— Preciso que me prometa uma coisa. — Escutei dizer, enquanto preparava o molho para a massa no fogão.
Era a primeira vez que eu ia na "humilde" casa — como ele gostava de intitular — que ele morava e apenas o nosso quinto encontro. estava preparando macarronada e eu me encontrava apenas sentada de frente para a bancada, com a minha taça de vinho enquanto tentava me recuperar do meu último plantão.
— , você me ouviu?
Soltei um riso fraco e o encarei.
Que homem perfeito, eu poderia ficar olhando para ele o dia todo. Com os cabelos caindo sobre os olhos, a barba mal feita com um bigode ainda crescendo, camisa azul marinho, calça preta e os pés descalço. Eu poderia imaginar uma vida toda com ele, mesmo sendo apenas nosso quinto encontro.
Isso nunca aconteceu antes.
— Foi um dia ruim no hospital? — perguntou, agora me encarando sério.
— Não. — afirmei e tomei um pouco de vinho. — É que você me distrai.
revirou os olhos e riu fracamente.
— O que você ia dizer sobre prometer?
— Então, você prestou atenção.
— É, acho que sim — afirmei rindo. — Fala logo o que é.
— Bom — ele começou a dizer e caminhou para mais perto de onde eu estava — se eu ficar mais doente...
— Não vai. — o interrompi, fazendo-o bufar.
— , você precisa me deixar terminar primeiro.
— Certo.
— Se eu ficar mais doente e nós já estivermos em um relacionamento consolidado.
— Um relacionamento consolidado? — perguntei tentando segurar a risada.
revirou os olhos mais uma vez, uma mania que eu reparei a partir do nosso terceiro encontro, ser a marca dele.
— Eu estou falando sério. — colocou as mãos nos meus ombros e me encarou.
— Não estou acostumada.
— É, você está mal acostumada mesmo.
Dei de ombros fazendo-o rir.
— Preciso que me prometa que vai continuar vivendo, .
— Por que acha que não iria? — Desviei o olhar, eu odiava falar sobre a possibilidade de ficar doente.
Eu nunca tinha me sentido assim com alguém em tão pouco tempo e isso era novo para mim, mas de uma coisa eu tinha certeza, se algo acontecesse com , eu não iria superar.
— Porque eu vi a maneira que estava me olhando enquanto cozinhava.
— Você se acha muito. — Foi a minha vez de revirar os olhos.
— Já olhei assim para você, — disse e me abraçou.
Aproveitei para envolver meus braços na cintura dele.
— Olhou para mim e imaginou uma vida toda comigo, da mesma forma que eu faço quando fico internado e te vejo andando pelos corredores do hospital. Imagino a vida inteira que quero ter ao seu lado, mesmo que seja apenas o nosso quinto encontro. — disse e beijou o topo da minha cabeça.
Eu não sabia o que dizer, só sentir.
Encarei mais uma vez e me levantei poder me aproximar mais dele.
— Nós ainda teremos a vida que imaginamos quando olhamos um para o outro. — sussurrei e depositei um beijo na testa dele.
Saí da UTI e segui direto para a sala dos atendentes, precisava lavar meu rosto e me recompor porque eu ainda tinha um plantão para cobrir. Entrei na sala onde tinham alguns dos meus colegas lá e fui direto para o banheiro já trancando a porta atrás de mim antes que alguém tentasse falar comigo. Lavei meu rosto e me encarei no espelho por alguns instantes, eu precisava não me deixar abalar, precisava de mim, meus pacientes também e eu só poderia amenizar o que estava sentindo fazendo o que eu faço melhor.
Ser médica.
Desliguei a torneira, prendi meu cabelo novamente em um rabo de cavalo e respirei fundo. Estava pronta para sair e enfrentar qualquer coisa, quando escutei a voz do Archie chamando pelo meu nome. Saí do banheiro e dei de cara com ele e Andrew apenas na sala, o resto do pessoal provavelmente tinha se retirado a pedido do meu ex-marido.
— A julgar pela ficha na sua mão, não é sobre que veio falar comigo. — Encarei Archie, que afirmou com a cabeça. — Algum caso no PS?
— Sim, acabamos de receber um chamado de que teve um grande incêndio no Boston Mall e precisamos nos paramentar. Já separei a equipe para você. — Archie informou e vi Andrew arregalar os olhos.
— Certo, eu estarei no PS em alguns minutos — informei ele se virou para sair, mas Andrew segurou o braço dele.
— Dr. Andrew?
— A Dra. não irá atender hoje, me coloque em todos os casos. — escutei Andrew dizer e revirei os olhos.
— Andrew, eu não vou parar o meu plantão. — informei, enquanto trocava de jaleco e pegava meu estetoscópio nas minhas coisas.
— , o acabou e entrar em coma, eu não...
— Você não precisa achar nada, é o médico dele, não o meu. — informei assim que terminei de tirar meu jaleco e peguei a ficha da mão do meu residente que encarava tudo sem dizer nada.
Respirei fundo e pensei no que mais diria por poucos segundos.
— Aliás, eu sou a chefe do departamento de cirurgia cardiotorácica. Minhas instruções são de que você fique totalmente focado no caso do paciente e do transplante que realizei, leve Archie com você, ele é o melhor residente que tenho e deixe o PS comigo. Fui clara? — informei calmamente.
— , isso é...
— Eu fui clara, Dr. Andrew?
Saí da sala antes que ele pudesse me interromper de novo e segui para mais uma jornada longa de plantão.
Como eu já imaginava, o PS estava um caos, pessoas muito feridas chegando a todo momento. Internos que não sabiam exatamente como agir, residentes tentando orientar seus internos e atendentes tentando manter todo o controle da situação. Não demorou muito para que o meu pager começasse a tocar sem parar, eu tinha mais de um caso para analisar e isso era bom, significava que eu ia manter minha cabeça ocupada o máximo possível e não pensar em mais nada.
Entrei primeiro na sala de emergência I, onde ficam os nossos casos mais graves. Ali encontrei um garoto de apenas 18 anos, o peito todo queimado, mãos e braços também, uma cena difícil de presenciar para quem não está habituado. Eu estava.
— Sinais vitais alterados. — informei enquanto o examinava.
O rapaz segurou meu braço com força.
— Sou a Dra. , nós vamos cuidar de você. — informei na intenção de tranquilizá-lo enquanto ainda o examinava. — Preciso que alguém chame a plástica, de preferência o Jackson.
Os olhos do rapaz me encaravam e ele ainda segurava meu braço com força.
— Qual seu nome? — perguntei, mesmo já sabendo que era Mason, afinal a enfermeira já tinha me passado tudo sobre ele assim que eu entrei na sala, era o procedimento.
— Mason.
— É um ótimo nome. — falei enquanto fazia sinal para a enfermeira, informando que a situação dele era grave e que poderíamos precisar entubar. — Você tem irmãos, Mason?
— Tenho, minha irmã passou por um transplante hoje. — ele disse e senti meu coração disparar. — Neste hospital.
Minha paciente. Ela era a irmã dele.
Droga.
— Vocês se dão bem? — perguntei, sem revelar que eu era a médica dela.
— Muito, somos tudo um para o outro.
Meu coração disparou ainda mais.
Se eu o perdesse, como iria dizer para uma garota com um coração novo que seu irmão morreu nas minhas mãos?
Abri a boca para interagir mais com ele, quando a enfermeira entrou na sala avisando que estava com tudo que eu tinha pedido para ela buscar e, em seguida, o monitor de Mason disparou. Ele estava entrando em parada.
Me preparei para fazer as manobras de ressuscitação, mas o auscultei primeiro, eu não teria como salvá-lo sem abrir seu peito e se eu ele não tinha tempo de chegar até a SO com vida. Abri a gaveta do kit médico e peguei o uma lâmina 10, eu ia ter que abri-lo ali mesmo, sem fazer nenhuma esterilização ou procedimento antes, não tinha tempo para nada disso.
— Dra. — escutei um dos meus residentes me chamar.
— Jay, eu preciso que você fique desse lado e faça a retração. — falei para a interna de Hory e ela me encarou com os olhos arregalados. — Consegue fazer isso?
— Eu acho que sim. — ela respondeu, enquanto eu me inclinava para abrir um corte entre as costelas dele.
— Preciso que tenha certeza, Jay, a vida desse paciente depende disso. — informei e me voltei para o paciente. — Hory, ligue agora para prepararem uma SO.
Abri um corte com tamanho suficiente para que minha mão entrasse ali e logo senti uma quantidade enorme de coágulos lá dentro, quanto mais eu colocava minha mão e jogava coágulos no chão, parecia que mais ainda aparecia. Quando o campo estava limpo comecei a massagear o coração dele e pedir que injetassem as quantidades necessárias de atropina, eu não tinha muito tempo, se ele continuação sem nenhum sinal eu teria que declará-lo.
O problema dele não vinha das queimaduras, o coração já estava comprometido antes disso. Talvez o problema cardíaco fosse hereditário na família dele, eu não saberia dizer agora.
Eu tinha que salvá-lo
— Dra. ...
— Mason, vamos lá, sua irmã está pronta para te ver. — falei enquanto massageava o coração dele e vi algumas ondas aparecerem no monitor. — Isso, por favor.
— Dra., a SO está pronta. — escutei Hory dizer assim que o monitor voltou a apitar.
Os batimentos de Josie tinham voltado.
— Não temos muito tempo. — falei sem tirar a mão de dentro dele e me apoiei na maca de forma que pudesse ser empurrada com ela e destravei o pé da mesma.
Eu o tinha trazido de volta, mas a situação ainda era crítica e eu estava correndo contra o tempo.
Mason tinha sobrevivido a cirurgia.
Contudo, eu sentia que todo meu corpo ia quebrar em vários pedaços. Depois de passar mais de 10 horas na cirurgia dele, quase perdendo-o diversas vezes, eu ainda precisei cobrir mais alguns casos no PS. Mesmo com todas as horas que tinham se passado, minha cabeça simplesmente não conseguia se desligar do , eu pensava nele a todo instante, se via algum paciente não resistir, se tinha que entrar no centro cirúrgico, era como se ele estivesse presente em tudo na minha vida.
Archie estava me avisando sobre cada passo que ele e Andrew estavam dando no caso dele, mesmo assim eu não conseguia relaxar, repassava diversas vezes o caso dele na minha cabeça e mesmo assim não conseguia encontrar nenhuma solução. Eu sabia que precisava falar com Andrew para que pudesse entender melhor o caso como um todo, mas falar com ele significava receber notícias ainda piores e eu não sabia se estava pronta para isso.
Não fazia nem 24 horas ainda.
— , precisamos conversar. — A voz de Andrew ecoou na sala dos atendentes, onde eu me encontrava sozinha.
Respirei fundo e pensei em sair dali, mas eu estava cansada demais para sair do sofá onde estava sentada.
— Andrew, eu acabei de sair de um procedimento difícil. — falei me mantendo de olhos fechados.
— Está todo mundo falando do garoto que você abriu o peito dele na SO. — Escutei ele dizer e pude sentir o peso dele no sofá, sentando-se nele.
Apenas resmunguei, eu realmente não queria conversar.
— Foi arriscado, mas você salvou a vida dele, .
— Pena que não posso fazer o mesmo pelo . — falei com a voz trêmula.
Droga, a presença dele me deixava ainda mais nervosa e apreensiva.
— Não é verdade, você fez de tudo. — Andrew disse e senti ele colocar a mão na minha perna. — Nós estamos fazendo de tudo.
— É, mas parece que não é o suficiente, né? — Abri meus olhos e o encarei. — Você é um ótimo médico, Andrew, mas acho que também precisa admitir que não tem mais nada que possamos fazer.
— , você não pode desistir...
Soltei um riso fraco e me sentei de forma reta.
— Acha que eu quero desistir, Andrew? — indaguei. — Estamos falando do homem da minha vida, não sei se você se lembra.
— Eu sei como...
— Não me venha dizer que você sabe como é! — Esbravejei
— Eu sei que é um saco, quando as pessoas nos dizem isso — Andrew disse e segurou minha mão. — Eu também odiava quando diziam para mim.
O encarei confusa, eu não sabia de nenhum problema de saúde de alguém próximo a ele.
— Do que você está falando, Andrew?
— Quando a Ellie ficou doente, eu achei que fosse enlouquecer...
— O quê? — questionei, não me lembrava de nenhum momento em que ela tenha ficado doente. — Se você está inven...
— Não, eu nunca faria isso. — Ele me cortou revirando os olhos. — Lembra quando eu saí de licença por oito meses?
— Lembro das fotos. — respondi rindo.
— Certo. — ele afirmou e riu fracamente. — Eu não estava de férias acumuladas, aquilo foi só uma desculpa.
Afirmei com a cabeça para que ele continuasse.
— Ellie passou muito mal uma noite, viemos para cá, você lembra? — Fiz que sim com a cabeça. — Depois disso, ela quis ir em um outro médico especialista, disse que aqui estávamos muito envolvidos. Ela foi diagnosticada com falência renal, precisava urgente de um transplante.
— Eu...
— Eu não era compatível, ninguém da família era. — concluiu me interrompendo.
— Parece que vocês encontraram um rim, afinal.
— Sim, nós encontramos. — ele desviou o olhar e pude jurar que estava quase chorando. — Mas foram longos oito meses de muito desespero.
— Podia ter me contado.
— É, eu podia, mas não conseguia falar com ninguém sobre isso...
— O que você fez? — perguntei com sinceridade. — Para lidar com isso.
— Eu surtei, obviamente. — Ele riu da sua própria sinceridade. — Ela entrou em um estado muito grave uma noite e eu peguei um avião, fui para casa, precisava estar com ela, mas não conseguia estar ao lado dela. Então eu fui para o lugar onde podia sentir seu cheiro, sua presença...
— Sinto muito, de verdade. — Abriu um sorriso e apoiei minha mão sobre a dele.
— Quando cheguei lá, eu pensei em tudo que tínhamos construído, eu olhei para cada canto ali. Tudo me lembrava a Ellie, mas não era o mesmo que estar ao lado dela. — Andrew abriu um sorriso enorme, anos antes, eu jamais imaginaria que estaria vendo meu ex-marido sorrindo por outra mulher. — Isso foi necessário, .
— Está me dizendo para deixar o aqui?
— Não, estou dizendo para ir para casa, pensar em tudo isso e desacelerar um pouco — Andrew disse com sinceridade. — Nós vamos cuidar dele, qualquer alteração seu pager vai ser o primeiro a apitar.
— Eu não consigo, não dá. — Minha voz estava trêmula e as lágrimas prestes a cair.
— Consegue sim, . — Andrew disse enquanto segurava minha mão. — Você é a mulher mais forte que já conheci.
Abriu um sorriso e o abracei, deixando que as lágrimas caíssem.
— Eu não posso te prometer que vou salvar a vida do , mas prometo que vou dar o meu melhor. — ele disse ainda abraçado a mim e apenas confirmei com a cabeça.
Me afastei dele e o encarei enquanto limpava meu rosto.
— Só que eu preciso que você vá para casa fazer o que eu disse e volte amanhã.
Respirei fundo e pensei por um instante no que ele havia me dito.
— Promete que serei a primeira a ser chamada?
— Eu prometo.
Por um lado, ele tinha razão, ficar me atolando de trabalho não ia resolver nada. Talvez piorasse tudo, eu poderia estar tão cansada que acabaria cometendo um erro grave e isso não era algo que eu poderia aceitar. iria precisar de mim quando acordasse.
Eu queria muito acreditar que ele ia acordar.
Atravessei a porta de entrada do apartamento e logo pude sentir o vazio dentro dele, estava frio então tudo parecia ainda mais solitário. Joguei minhas coisas no sofá mesmo e fui direto para a cozinha, eu precisava pedir alguma coisa para comer, mas antes ia tomar uma taça de vinho para relaxar. Escolhi um vinho seco de uva carmenére, peguei uma taça e fui para a sacada.
Coloquei um pouco de vinho e vi que tinha um envelope em cima da mesinha. Dei um gole no meu vinho e coloquei a taça ali para poder abrir o envelope, tinha um bloco de papéis. Passei meus olhos com curiosidade sobre ele e comecei a ler, era do .
"ORDEM DE RESPONSABILIDADE MÉDICA"
tinha deixado para mim um papel, me tornando responsável por todas as decisões médicas relacionadas a ele.
Um mês passou muito rápido, claro que me atolar de trabalho e pesquisa para o caso de também me ajudou muito. Contudo, eu pensava nele da hora que eu acordava até a hora de dormir, durante meu plantão — que era a maior parte da semana — eu passava em frente a UTI onde ele estava pelo menos umas sete vezes por dia e pedia para que Archie me informasse cada passo que desse no caso dele.
Hoje fazia duas semanas que tinham retirado os medicamentos de sedação e todos os tubos que ficavam conectados a ele, então isso significava que ele estava há exatos 15 dias respirando sozinho. Só faltava acordar. Eu não podia negar, estava ainda mais ansiosa do que antes e isso estava me matando a cada minuto, não sei até quando eu aguentaria isso.
Ao menos algo bom tinha acontecido nesse meio tempo, Mason estava totalmente recuperado e iria para casa em breve, já Lisa, já estava em casa e aproveitando o seu novo coração.
— , você está me ouvindo? — Escutei uma voz me chamar ao fundo.
Minha visão estava embaçada.
— Dra. ? — A voz me chamou mais uma vez.
Tudo estava rodando.
— Desculpa, eu acho que não estou me sentindo muito bem. — falei enquanto procurava um lugar para me sentar, eu estava me sentindo estranhamente enjoada e minha cabeça parecia que ia explodir.
Passei rapidamente pela porta do centro cirúrgico e corri o mais rápido que consegui até o banheiro, foi o tempo de eu entrar em um box e abrir a tampa da privada e me ajoelhar para que o líquido pulasse para fora da minha boca. Eu vomitei tanto que até parecia que nos últimos dias eu vinha comendo bem, mas não, era o oposto disso, eu raramente fazia as três refeições devido as preocupações e os enjoos que vinha sentindo.
Enjoos.
Sai do box e caminhei até a pia para poder lavar as mãos e o rosto.
— Menina, eu estou com uma cólica horrível esses dias. — Escutei uma enfermeira dizer para a outra assim que entraram no banheiro.
Cólica.
Fazia tempo que eu não sabia o que era isso.
— Bom dia, Dra. . — Uma delas disse gentilmente e me virei para encará-la. — Dra., tudo bem com a senhora?
— Sim, só um pouco de dor de cabeça. — respondi um pouco trêmula.
Enjoos. Cólica.
Não podia ser.
Sai do banheiro o mais rápido que consegui e fui até a ala de obstetrícia, se o que eu estava pensando era verdade eu precisava fazer o exame para confirmar o mais rápido possível. Torci para não esbarrar com Andrew ou qualquer outra pessoa próxima que pudesse notar que eu estava estranha, antes de falar sobre o que se passava na minha cabeça para qualquer pessoa eu precisava ter certeza.
— Dra. . — A recepcionista disse assim que me viu.
— Oi, Sarah. — falei baixo. — Eu vou entrar no consultório 25 da obstetrícia, você pode anunciar a Dra. Ellie sem citar meu nome?
— A senhora, está bem?
— Sim, só preciso que chame ela.
— Certo.
Encarei concentrado em seu trabalho de onde eu estava, atrás da bancada que fazia a cozinha ser uma copa-cozinha. Ele sempre ficava concentrado demais quando estava roteirizando algum livro ou corrigindo-o para enviar para a publicação ou para a avaliação de alguém importante.
Eu adorava ver como ele se perdia em pensamentos fazendo isso.
Eu podia facilmente imaginá-lo lendo para os nossos filhos no futuro em alguma casinha no campo, enquanto eu preparo o jantar ou um lanche da tarde. sem dúvidas é este tipo de cara, que trabalha em casa para ficar mais perto da esposa e dos filhos, que gosta de acompanhar o crescimento deles de perto.
— Ei, vem aqui. — Escutei ele me chamar, me tirando completamente dos meus pensamentos.
O encarei por um instante, antes de dar a volta na bancada e ir até ele.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei ao me sentar em uma cadeira vazia em volta da mesa.
— Por que fica me observando tanto? — perguntou, sem tirar os olhos do computador e sem parar de digitar.
— Quem disse que eu estava te observando? — Ri fracamente.
— Sei que estava.
— Certo. — Dei de ombros. — Gosto de ver você trabalhando.
— Por quê?
— Não sei, me faz pensar em como estaremos daqui há alguns anos...
— E como acha que estaremos?
— Eu chegando de um plantão, preparando o jantar... — falei e dei um gole no meu café —, enquanto você trabalha e lê para os nossos filhos parte dos seus livros.
parou e me encarou, parecia um pouco surpreso.
— O que foi?
— Pensa em ter filhos?
— Sim, um ou dois. — afirmei. — Gostaria de ter mais, mas a minha carreira, infelizmente, não me dá esse privilégio.
— Certo.
— Você não quer ter filhos? — perguntei dando de ombros.
riu fracamente.
— Claro que eu quero. — me encarou. — Só não achei que você quisesse.
— E perder a oportunidade de ter um mini ? Não. — Ri fracamente.
sorriu, mas logo voltou a ficar sério.
— Por que parece que isso te preocupa?
— Porque as vezes eu acho que cometi um grande erro.
— Por que acha isso?
Eu não pude deixar de demonstrar que meu humor tinha mudado, e para pior.
— Porque você estava feliz antes de mim, aí eu vim com essa doença.
— Não, isso não. — Me levantei abruptamente da cadeira. — Não começa com isso, não de novo, .
— Quero te pedir um favor — ele disse e segurou minha mão, me puxando para sentar no colo dele.
— O que? — Falei ao me sentar.
— Que vai abrir uma exceção.
— Uma exce...
— É, que pelo menos uma vez na sua vida, vai tentar ser menos controladora.
— Não estou entendendo.
— Controladora. —afirmou. — Você fica tentando controlar o rumo da minha doença, quero que deixe isso um pouco de lado. Deixe que o Andrew resolva, por favor.
— Tudo bem...
Eu não queria concordar com isso, mas que escolha eu tinha? Por mais que eu odiasse admitir, estava certo, eu não passava um dia sequer sem pesquisar sobre a doença dele e controlar cada passo do tratamento, mesmo sem ser a médica dele.
Eu est...
— , está me ouvindo? — Escutei Ellie me chamar, me tirando completamente dos meus pensamentos.
— Desculpa, acho que me distrai... — Afirmei rindo. — Pode me chamar de .
— Eu acho que nem preciso te perguntar o que te traz aqui e o motivo de toda essa distração. — Ellie disse e sorriu calorosamente.
— Como assim?
— Eu vou pedir o exame, mas não tenho dúvida de que está grávida.
Arregalei meus olhos, não era o que eu queria ouvir. Esperava que ela me dissesse que mulheres ficam sem menstruar por outros motivos também.
— Pode ser algo hormonal, não necessariamente uma gravidez. — afirmei.
— Não no seu caso. — afirmou enquanto digitava em seu tablet. — Eu observei você no jantar da semana passada, sabia que não era só a situação do que tinha te mudado. Algo em você estava diferente.
— É um dom na sua especialidade? — perguntei rindo.
— É, eu diria que sim. — Ela riu. — Eu gostaria que tirasse o resto do dia de folga.
— Por quê?
— Só por precaução, você passou muito estresse nesse último mês. — explicou fazendo sinal para que eu assinasse. — Se você estiver grávida só pode piorar tudo.
— Ellie, vou ficar pior se eu tiver que passar o dia sem fazer nada... Com em coma ainda, então.
— Tudo bem, mas tenta pegar leve.
Eu tentei pegar leve o máximo que pude ao longo do dia, meio que fui obrigada também, eu estava me sentindo extremamente cansada e com um sono de outro mundo. Por sorte o dia não demorou muito para passar e, assim que o relógio bateu oito horas, eu repassei todos os meus serviços para Andrew que seria o atendente de plantão está noite.
Tomei um banho no hospital mesmo e fui direto para UTI onde estava, para hoje eu tinha planejado passar a noite com ele. Já tinha alguns dias que eu ia direto para casa, mas eu estava começando a sentir falta de estar na presença dele, sentir o cheiro ou simplesmente ouvir a respiração dele.
Me sentei na poltrona que tinha na UTI e eu não conseguia tirar o exame da minha cabeça, estar grávida não estava nos meus planos, mas é isso que acontece quando transamos e eu e fazemos muito isso. Também não sabia dizer se eu estava pronta para ser mãe agora, não era algo que se encaixava nos meus planos nesse momento, ainda mais com a minha rotina dentro do hospital, e pior ainda, com a atual situação de .
Eu não sabia se ele ia acordar.
Isso me apavorava sem dúvidas, mas eu não podia me desesperar agora ou perder a esperança. Nós já tínhamos superado muitas coisas nesses dois anos e não ia ser agora que eu ia desistir de salvar o homem que é o amor da minha vida, eu não podia.
— Hum... — Escutei alguém resmungar e dei um pulo de susto da poltrona em que eu estava sentada.
estava com os olhos abertos. Eu nem conseguia acreditar, que isso estava mesmo acontecendo, que eu veria aqueles olhos me observar de novo, mas eu não tinha tempo para ficar paralisada pensando nisso. Dei a volta até o outro lado da cama e apertei o botão que acionava toda a equipe responsável por ele e isso incluía Andrew, que era oficialmente o médico dele.
Peguei meu estetoscópio que estava sempre comigo, mesmos que estivesse apenas em consulta e auscultei ele, que me observava com carinho nos olhos. Aparentemente tudo parecia bem com ele, não tinha nenhum sinal de arritmia ou qualquer barulho estranho vindo do seu coração, mas eu só poderia ter certeza disso quando Andrew chegasse e o avaliasse com precisão.
— Preciso que peguem todo o kit. — Andrew disse já entrando na sala e me afastei de , que segurou minha mão, para que eu permanecesse ali e assim que fiz.
— , vou tirar esse tubo de você, tudo bem? — Andrew disse e fez sinal para que Archie retirasse.
A equipe já estava toda na sala, mas eu permanecia ao lado dele e segurando sua mão.
Depois da retirada do tubo, Andrew começou a examiná-lo e já foi pedindo para que Archie fizesse algumas solicitações de exames e que também retirasse sangue de para pedir todo o tipo de análise, queria ter certeza de que estava tudo bem com ele.
Eu apenas observava, uma parte de mim ainda estava um pouco assustada com tudo que tinha acontecido e a outra não conseguia acreditar que ele estava mesmo ali, acordado e segurando minha mão. Durante todo esse mês, eu comecei a cogitar a possibilidade de que ele nunca mais acordaria e que talvez eu não voltaria a sentir a mão dele, quente, bem na minha.
— , consegue falar comigo? — Andrew perguntou olhando para ele e depois desviou o olhar para mim.
Apenas fiquei em silêncio, esperando-o falar alguma coisa e vi olhar na minha direção e abrir um sorriso, que eu retribui na hora.
— Você é tão linda. — disse com um sorriso no rosto.
Não consegui me conter, deixei que as lágrimas que eu tinha segurado por tanto tempo saíssem de uma só vez e levei a mão dele até próximo de mim e depositei um beijo nela. Eu não era de chorar assim, mas com tudo que tinha acontecido no último mês não tinha como, ver ele bem diante de mim fazia me coração derreter.
— Bom, parece que ele está ótimo. — Andrew comentou rindo e todos na sala riram. — Vamos deixar vocês sozinhos, Archie vai monitorá-lo e eu volto quando os exames estiverem prontos.
Assenti para ele e logo todos saíram do quarto, me deixando sozinha com . Me sentei ao lado dele, ainda segurando sua mão e apoiei nossas mãos sobre o espaço na cama ao lado dele e levei meu rosto até ela, ainda chorando.
Acho que eu estava em um certo estava de choque.
— , olhar para mim, amor. — Escutei pedir e levantei meu olhar até ele. — Está tudo bem agora.
— Eu sei. — afirmei soltando sua mão e limpando meus rostos. — Acho que só estou em choque, só isso.
me encarou, com aqueles olhos que eu tanto amo.
— Eu ia te fazer uma pergunta, antes de tudo isso acontecer... — disse e senti meu coração disparar. — Você quer...
— ... — falei. — Tem uma coisa, que eu preciso dizer, antes de você terminar.
Ele me encarou e fez sinal para que eu continuasse falando, então abri minha boca para começar, mas antes que eu pudesse uma das enfermeiras apareceu no quarto me entregando um envelope e dizendo que o resultado do meu exame estava pronto.
— , o que você tem? — estava visivelmente preocupado.
O encarei e abri o envelope.
Senti um frio na espinha ao ler o resultado.
Positivo.
Eu estava grávida.
Grávida de .
— , pelo amor de deus, você está...
— Eu estou grávida. — Falei interrompendo-o, não tinha outra maneira de dizer aquilo.
— O que? — Os olhos dele brilharam. — Meu Deus.
— Eu sei, não é o que você queria, sinto muito. — Falei nervosa desviando meu olhar.
Escutei soluços e voltei a olhar para o , ele estava chorando.
— Eu sei que você não queria, mas...
— Cala boca, . — escutei dizer, de forma brincalhona. — Está brincadeira?
— Não, eu estou grávida.
— Exatamente. — Escutei ele afirmar. — Eu acordo de um coma e descubro que o amor da minha vida está esperando um filho meu, e você aí dizendo essas coisas.
Ri fracamente e me levantei para ficar perto dele.
— Mas...
— Mas o quê? — Indaguei.
— Acho que cometi um grande erro, fazendo você me amar.
— Eu te amo, — falei e colei meus lábios dele. — Nunca mais diga isso.
— Eu te amo, .
— E sim, aceito me casar com você. — afirmei, com um sorriso enorme no rosto.
Ficamos um empo conversando, era bom ter de volta. Ambos estávamos felizes com o fato de eu estar grávida, mas eu não podia negar que isto ainda me assustava um pouco, mas ele também tinha algumas coisas para dizer. Me pediu para fazer uma exceção e pediu que dessa vez, as coisas pudessem ser do jeito dele e ele queria que nos casássemos em no máximo um mês, não queria mais tempo, relutei, mas acabei aceitando.
Depois que ele caiu no sono, eu segui para a sala dos atendentes, sabia que Andrew estaria lá eu já sabia que ele tinha recebido o resultado de alguns exames, então queria conversar com ele sobre a situação de antes que ele fosse ao quarto, se tinha alguma coisa de errado com ele eu queria saber antes de ele ir até o quarto.
— Ei. — falei entrando na sala dos atendes, só tinha ele ali, estava jogado no sofá.
— . — Ele disse sentando-se.
— Queria conversar com você. — falei ficando de frente para o sofá.
Andrew apenas em encarou, dando a entender que eu podia continuar o que tivesse para dizer.
— Eu queria que você me falasse sobre os exames do .
— , eu...
— Eu estou grávida, Andrew. — Ele arregalou os olhos.
— Isso é incrível! — Ele deu um pulo do sofá e me abraçou, retribui o abraço.
— É, é sim — afirmei com um sorriso no rosto. — Mas, eu preciso saber exatamente qual é a situação do .
— E o que ele disse? — Andrew perguntou curioso. — Uau.
— Ele está feliz, mas está inseguro... — Expliquei.
— Como assim?
— Ele acha que cometeu um grande erro... — afirmei — Me fazendo amá-lo.
Andrew me encarou e voltou a se sentar.
— Imagina se já não é muito tarde. — afirmei.
— Bobagem, ele foi a melhor que aconteceu na sua vida. — afirmou Andrew e sorri.
— Mas, preciso saber, é muito tarde? — Perguntei, voltando a falar sobre a situação do meu noivo.
Eu conseguia ver no olhar dele que as coisas não estavam boas.
— As notícias não são boas, . — assumiu sem fazer rodeios.
— Tudo bem. — afirmei, meio que para mim mesma. — Quero que conte tudo, não quero que me esconda nada.
Apesar de ter acordado do coma, as coisas não estavam boas, o quadro dele só piorava a cada dia e a única solução que tínhamos era o transplante. A equipe no hospital, eu e Andrew passávamos o dia todo ligando para a UNOS para saber se tínhamos algum órgão, mas nada, parecia que o dia do transplante dele nunca ia chegar, que nunca conseguiríamos um coração novo para ele e estávamos correndo contra o tempo.
Era o dia do nosso casamento, já fazia três semanas que tinha saído do hospital e um mês desde que ele tinha acordado. Eu não poderia estar mais feliz, iríamos nos casar de verdade, mas eu não conseguia deixar de pensar na doença dele, que o coração dele poderia parar de bater a qualquer momento e isto me apavorava.
Encarei meu reflexo no espelho e respirei pesadamente, eu já estava pronta e à essa altura todas as pessoas já estavam esperando para iniciar o casamento. Eu tinha escolhido um vestido branco simples com tecido de ceda, com uma fenda grande de renda nas costas e com mangas longas. O vestido era lindo, meu cabelo estava exatamente como eu tinha planejado e a maquiagem estava perfeita, não poderia estar mais feliz.
Tudo andava bem com a minha gravidez também e não parava de fazer planos, sobre como seria após o nascimento do bebê, tínhamos escolhido não saber o sexo até o nascimento e eu gostava da ideia. Porém, eu não conseguia deixar de pensar, que se não conseguíssemos o transplante de , talvez ele nem estivesse aqui para ser pai dessa criança.
Droga, o nervosismo estava me fazendo pensar em coisas assim.
— Está pronta? — Amber, entrou no quarto em que eu estava e pude ver lágrimas nos olhos dela. — Você está maravilhosa, nem acredito.
— Você também. — Afirmei, vendo-a em um vestido rosa claro, ela era minha madrinha de casamento.
— Nem sei como conseguimos organizar tudo em tão pouco tempo. — Amber disse enquanto secava suas lágrimas, tentando não borrar a maquiagem.
— . — afirmei rindo.
— Bom, temos que ir. — ela disse sorrindo para mim.
— Certo. — afirmei, tentando manter a calma.
O caminho até o salão onde seria o casamento — sim, um salão, não queríamos nos casar na igreja — pareceu uma tortura. Minhas pernas tremiam mais do que tudo e minha respiração estava ofegante, sem falar no meu coração que parecia que ia sair pela boca. Amber me acompanhou até a porta de entrada onde encontramos nosso pai, ele estava lindo, todo de terno e não pude deixar de ficar emocionado ao vê-lo ali.
Segurei no braço dele e não demorou muito para que as portas se abrissem. estava perfeito parado no altar, ele estava usando um terno todo preto com uma gravata borboleta e seus cabelos estavam um pouco mais cumpridos, o que dava um charme ainda maior para ele.
O salão estavam cheio, mas nada disso importava, eu só conseguia ver o homem parado lá na frente e a cada passo que eu dava eu sentia que ia desmaiar a qualquer momento, não era a primeira vez que eu estava casando, mas era a primeira vez que iria casar com a o amor da minha vida. E era . Ele era o amor da minha vida, eu o amava, como nunca tinha amado ninguém nessa vida.
— Cuida bem da minha filha. — Meu pai disse para ao me deixar no altar.
Me aproximei dele, ele estava lindo.
— Você está bem? — Sussurrei enquanto ele me guiava até mais próximo do altar.
riu fracamente.
— Você não dá trégua nem no dia do nosso casamento? — perguntou baixinho, soltando uma risada em seguida.
— . — o repreendi, aguardando pela resposta.
Ficamos de frente para o altar e o padre iniciou a cerimônia. Agora nada mais importava, nem os problemas, nem a doença de e nem mesmo as pessoas que estavam ali, eu só conseguia me concentrar nele, no nosso amor e no momento que estávamos vivendo agora. Isso era tudo que importava.
A cerimônia não demorou muito e, finalmente, eu e estávamos oficialmente casados. Tínhamos planejado uma festa e ela seria no mesmo salão que nos casamos, muitas vinham nos cumprimentar e muitas delas perguntavam como ele estava, me fazendo lembrar que ele estava doente, quando eu finalmente conseguia esquecer sobre isso enquanto me concentrava apenas na nossa festa.
Pedi licença para algumas pessoas e para ele, e caminhei em direção ao palco. Eu tinha planejado um discurso, isso não era algo comum para mim, mas eu queria que ele soubesse de todo meu amor por ele enquanto ainda estava comigo para me ouvir dizer.
Bati no microfone e raspei a garganta, para chamar a atenção de todos ali. Não demorou muito para que as pessoas se virassem e começassem a sentar em suas cadeiras.
— Oi. — falei no microfone, enquanto as pessoas ainda se acomodavam.
estava em pé, olhando diretamente para mim.
— Eu sei que geralmente são os convidados que fazem o discurso primeiro e depois o noivo — comecei a dizer e ri fracamente, enquanto fazia sinal para que ligassem o telão —, mas bem, eu decidi mudar um pouquinho essa tradição.
Todos me encaravam com brilho no olhar, mas eu só conseguia olhar para uma pessoa, . Ele permanecia em pé me encarando e era fácil perceber que não estava esperando por isso.
— Bom, como vocês sabem, eu sou apaixonada por aquele carinha ali atrás. — falei apontando para , que acenou para todos que agora olhavam para ele.
No telão estavam passando algumas fotos nossas e a música A Thousand Years estava tocando no fundo.
— Sabe, certa vez, ele disse que tinha refletido. — Afirmei e fiz uma pausa, minha voz estava trêmula, a vontade de chorar era imensa.
— Disse-me que o coração dele teve uma mudança. — Falei encarando-o e passei meus olhos pelo salão. — Me desesperei, claro, sempre me desespero quando fala sobre o coração dele.
Todos riram.
— Ele acha que cometeu grande erro — falei encarando. — Mas não é verdade, ele nunca acertou tanto.
me encarava, seus olhos já estavam marejados e sorri para ele.
— Você faz as coisas tão fáceis, eu que sempre complico tudo. — falei com sinceridade. — Meu coração já era seu muito antes de nos encontrarmos, quero que saiba disso. E ele será sempre seu, porque eu nunca te esquecerei.
A essa altura eu já estava chorando e fui pega de surpresa por do meu lado. Ele me tomou nos braços e começou a me dar vários beijos enquanto todos aplaudiam.
— Já era sem tempo, essa mulher é difícil viu, gente. — disse no microfone fazendo todos rirem e dei alguns tapinhas nele. — Só espero, que nossa filha seja igual a ela.
Senti se remexer ao meu lado e desliguei a lanterna que estava segurando, ele odiava quando eu ficava até tarde lendo pesquisas sobre sua doença.
— Hum. — Escutei ele reclamar o vi abrir os olhos.
Ele ia me pegar no flagra.
— Pode voltar a dormir, eu só estava terminando umas coisas do trabalho. — Levantei já pegando os papéis na cama.
Vi ficar de barriga para cima e esperei que ele falasse algo, mas isso não aconteceu. Apesar do quarto estar um pouco escuro eu conseguia ver que ele encarava cada movimento meu, mesmo depois de dois anos de relacionamento, eu ainda sentia um certo nervosismo sempre que ele fazia isso.
Deixei os papéis na mesinha e voltei para a cama.
— Por que você ainda tenta?
Me enfiei embaixo das cobertas, mas permaneci sentada na cama. O relógio já estava marcando quatro horas da manhã e, em uma hora, eu teria que me levantar para ir ao hospital, não teria muito tempo de sono mesmo e eu nunca fui muito fã de gastar meu tempo dormindo. Não é algo bom, mas eu simplesmente não consigo evitar.
— , já falamos sobre isso, sua vida...
Senti sua mão sobre a minha perna e pude ver um sorriso se forma em seu rosto.
— Estou falando sobre tentar mentir para mim.
— Isso.
— É, isso.
— Você é muito irritante.
soltou uma gargalha e se ajeitou para também ficar sentado na cama.
— Você disse isso há dois anos, quando já estávamos no nosso décimo encontro.
Revirei os olhos.
— Até parece que você contou.
— Sim, eu contei. Lembro de todos eles.
— Certo. — Me dei por vencida, provavelmente ele lembrava mesmo.
Fiquei em silêncio e suspirei pesadamente, eu estava tensa e ele sabia disso, mas era bom demais para reclamar ou criar caso por conta da minha obsessão e incapacidade de me desligar das coisas.
— Eu vou tomar um banho e me arrumar, quero chegar cedo. — Me levantei, mas ele segurou meu braço. — O que foi? Você pode dormir, seu exame é só as 10 horas.
— Você precisa mesmo chegar tão cedo?
— Sim, meu plantão começa as seis horas e eu quero adiantar algumas coisas, pretendo estar na hora do seu exame. — Dei um beijo nele e me soltei, antes que ele me puxasse de volta.
Escutei resmungar e caminhei em direção ao closet para pegar minha roupa.
— Você não é minha médica!
Ignorei o que ele disse e peguei minha roupa e voltei para o quarto e fui em direção à mesinha pegar meu pager. Eu gostava sempre de ter ele por perto, para o caso de ser chamada antes da hora por conta de alguma emergência.
— Porém, sou sua namorada. — Falei já indo até o banheiro.
— Você é muito controladora.
Soltei uma risada abafada enquanto tirava minha roupa e, assim que terminei, coloquei apenas minha cabeça para fora da porta, encarando-o.
— Do que eu me lembro, no nosso sexto encontro, você disse que eu era a melhor coisa que te aconteceu.
Vi ele revirar os olhos e soltei uma gargalhada, já voltando para o banheiro na intenção de começar meu banho.
Atravessei a porta da emergência e vi no meu relógio que eu estava ao menos 40 minutos adiantada e eu pretendia usar esse tempo o máximo possível, eu não estava brincando, queria mesmo estar no exame do .
O hospital estava vazio, então pela manhã eu me preocuparia apenas em checar meus pacientes em pós-operatório e me preparar para uma cirurgia complicada que eu teria na parte da tarde, tudo estava perfeitamente organizado, eu só precisava checar novamente todo o procedimento.
— Bom dia, Dra. . — Archie disse ao passar por mim.
Apenas sorri, pois estava com um pedaço do meu croissant na boca, mas mastiguei o mais rápido possível.
— Archie!
— Sim, Dra. .
O encarei e sorri, ele era sempre muito educado.
— Já disse que pode me chamar de , Archie. — Deixei meu café no balcão e o pedaço do meu pão também, para me equilibrar melhor com as minhas coisas. — Você sabe quem fará o exame do ?
— Sim, será o Andrew. — Archie disse e soltei a respiração que eu estava segurando.
Andrew é meu ex-marido e o melhor médico cardiotorácico de Boston, depois de mim. Confio nele para qualquer procedimento que eu não possa fazer, não poderia estar em mãos melhores, eu praticamente o subornei para que pegasse o caso quando minha relação médico-paciente passou a ser conflitante para o hospital.
— Ele pediu alguns outros exames. — Archie disse pegando alguns papéis. — Por isso cheguei mais cedo. A Dra. quer dar uma checada?
— Não, eu confio no Andrew. — Desviei o olhar, era difícil ter que me manter longe. — E se a UNOS ligar, quero ser a primeira a saber.
Meu residente apenas afirmou com a cabeça e saiu andando e eu fiquei ali parada, ainda conseguia me lembrar do desespero que senti ao descobrir que eu não poderia mais ser a médica do e correr o risco de talvez deixá-lo nas mãos de qualquer médico.
Andei de um lado para o outro me sentindo completamente frustrada, eu odiava sentir que as coisas estavam fugindo do meu controle. Eu tinha tudo para manter vivo, pesquisas, tecnologia e a minha vasta experiência com doenças como a dele, mas eu simplesmente não poderia mais ser a médica dele já que tomei a estúpida decisão de deixar meus sentimentos falarem mais alto.
Estávamos oficialmente em um relacionamento, eu não poderia mais ser médica dele.
— , entenda uma coisa, não temos nada contra o seu relacionamento. — Amber, a diretora do hospital e minha meia irmã, disse enquanto me encarava na sala deu reuniões. — Estou mais do que feliz, na verdade, é ótimo para você.
Soltei um riso fraco.
— Qual o problema então, Amber?
— Você tem uma relação com ele agora, são namorados. E mais, você o ama.
Revirei os olhos.
— Nem faça essa cara, sei que ama. — Amber me repreendeu.
De fato, eu amo mesmo.
— , só escolha uma pessoa, temos ótimos médicos — Andrew disse de forma carinhosa, ele sabia de perto como isso estava me afetando.
Mesmo com o fim do nosso casamento, mantivemos uma amizade muito especial e ele sabia tudo sobre mim, assim como eu sobre ele, logo, ele sabia desde o início sobre meu relacionamento com .
— Escolho você!
— O que? — Andrew perguntou com os olhos arregalados.
Amber pareceu não se importar com a ideia ao sentar-se em sua cadeira.
— Sou seu ex-marido, ele é seu namorado.
— E vocês se dão superbem. Qual problema?
— É, Andrew, espero que não sinta mais nada pela , Ellie não vai gostar nada. — Amber riu sozinha.
— Não é isso. — Andrew revirou os olhos. — É só que é uma carga pesada, eu saber que vou ter nas mãos a vida da pessoa que você ama.
O encarei e andei até ele.
— Eu confiaria a minha vida a você — falei e peguei a mão dele. — Não confio em mais ninguém, Andrew. Não posso colocar a vida do na mão de ninguém, que não seja a minha ou a sua.
Ele olhou para Amber pedindo ajuda, mas ela deu de ombros e depois voltou a olhar para mim.
— Droga, .
O abracei e soltei a respiração que estava segurando. Não era a opção que eu realmente queria, mas era muito melhor do que eu poderia imaginar.
Mal tive tempo de deixar minhas coisas na sala dos atendentes e trocar de roupa para já começar a ser bipada, aparentemente um dos meus pacientes em pós-operatório tinha começado a entrar em parada, corri para lá o mais rápido que pude. Ele ainda estava na mesma situação e pedi que me dessem espaço para que eu pudesse tomar a frente de tudo.
Não foi preciso nem cinco minutos ali para saber que ele estava em tamponamento cardíaco, eu precisaria agir rápido para que ele não entrasse na tríade de Beck, que é quando o paciente apresenta sons cardíacos abafados, diminuição da pressão arterial e dilatação das veias do pescoço e o caminho para uma morte rápida é quase certa.
— Ele está em tamponamento cardíaco! — Gritei. — Preciso do material para pericardiocentese, agora!
— O que está acontecendo? — Escutei a esposa de Josh, meu paciente, gritar desesperadamente.
Apertei meus olhos e respirei fundo, já era para alguém a ter tirado daqui.
— Tirem-na daqui, por favor.
Escutei a enfermeira pedir que ela saísse, mas a mulher insistia em ficar, ela estava fazendo um escândalo. Eu não podia tirar a razão dela, mas eu não poderia salvar a vida do marido dela com ela implorando que eu não o matasse enquanto eu fazia isso.
— Dra...
— É tão difícil assim tirar um paciente da sala? — gritei. — Cadê o material?
— Dra. , não o mate, por favor.
Tomei a reação que não queria, mas a peguei pelos ombros a empurrei para fora do quarto, ela chorava descontroladamente.
— Não consigo fazer isso.
— Sarah, você consegue. — Continuei segurando-a. — Só que preciso que saia daqui, agora, não consigo fazer isso com você aqui.
Todos me encaravam, esse não era o tipo de coisa que eu costumava fazer.
— Leve ela daqui agora. — Repeti pela milésima vez, para uma das enfermeiras.
O residente apareceu com o material e me voltei para Josh, eu precisava ser rápida. Bloquei qualquer pensamento que eu pudesse ter sobre a esposa dele ou sobre e como me sentiria se fosse comigo e peguei a agulha, era importante que eu não puncionasse demais o coração dele ou teria um sangramento excessivo.
— A pressão está melhorando. — Escutei a enfermeira dizer e fiquei calma.
Ele estava estável e o procedimento tinha dado certo, estava tudo bem. Para ser realista, eu que não estava bem há alguns dias, mas eu simplesmente não conseguia parar, ficar em casa esperando por um novo coração para ou um milagre me deixava ainda pior.
— Dra. , seu paciente...
Era um dia daqueles, mais um paciente estava tendo parada. Caminhei rapidamente até o leito em que ele se encontrava, mas já era tarde, ele tinha sido declarado há menos de um minuto por uma residente responsável. Apenas assinei o papel e fui para o PS, meu pager tinha acabado de apitar e parecia que um paciente tinha acabado de chegar, hoje de fato seria um dia negro, era como eu chamava os dias em que os pires casos chegaram e conseguíamos salvar poucos.
O relógio já marcava quase dez horas, eu não conseguiria estar no exame do como tinha planejado e já deveria ter esperado por isso. Entrei na sala e vi uma garota que aparentava ter por volta de seus 12 anos sentada na maca, peguei a ficha dela da mão de Hory e a primeira coisa que consegui ler foi "Cardiomiopatia Hipertrófica". Era Lisa, uma antiga paciente minha que esperava por um transplante há seis meses.
— Dra. . — A mãe de Lisa em abraçou. — É verdade que nossa menina irá receber o coração dela hoje?
Encarei Hory.
— Desculpa, eu te bipei para o PS e logo depois ela chegou, não vi necessidade em bipar de novo com o código de transplante. — Hory se explicou e eu apenas assenti.
— Então, Lisa. Está pronta para receber seu coração? — Perguntei enquanto pegava meu estetoscópio para examiná-la.
— Vou poder correr?
Soltei um riso fraco e afirmei positivamente.
— Dra. , nossa menina vai mesmo ficar bem? — O pai perguntou apreensivo.
— É o nosso plano. — Terminei de fazer os exames e assinei o papel de liberação. — Nós vamos cuidar dela, o transplante levará ao menos 12 horas, sugiro que vocês se preparem. Tudo bem?
Os dois afirmaram com a cabeça.
— Certo. Hory, pode levá-la, quero que faça todos os exames e me chame assim que tudo estiver certo, quero SO5.
Nem esperei minha residente confirmar e saí da sala. O relógio já passava das dez, então peguei meu celular e liguei para , eu não estava vendo o nome dele no quadro de pacientes que tinham dado entrada e isso estava me preocupando um pouco, ele não costumava se atrasar para os exames.
Peguei um café e fui em direçãoàa sala dos residentes, queria dar uma olhada de novo nos exames dos últimos três meses de Lisa, por sorte o doador dela era deste hospital e eu não precisaria me deslocar para buscar o órgão e teria tempo hábil para deixar tudo preparado para o procedimento.
12 horas. Era um tempo considerável, dentro de uma SO.
— Droga. — Joguei o celular do outro lado do sofá.
Archie entrou na sala e praticamente pulei de onde estava sentada.
— Archie, o já deu entrada?
Ele parecia um pouco tenso ao me olhar e eu pude perceber.
— Sim, mas ele deu entrada no PS.
— O que aconteceu? — perguntei já saindo da sala, mas Archie me segurou.
— Ele reclamou de dores nas costas, Andrew pediu para te avisar que não é para nos desesperarmos ainda. Também pediu que você fique longe, também pediu isso.
Revirei os olhos.
— Ficar longe é uma ova.
Saí da sala antes que ele falasse mais alguma coisa e andei até o elevador, estava demorando demais e decidi descer pelas escadas mesmo. Eu sabia que Andrew costumava usar a sala de dois de emergências e assim que abri a porta encontrei um tranquilo deitado na maca, Andrew, mais dois residentes e mais um homem que estava de costas, que não reconheci, mas sabia que era médico por estar de jaleco.
— Amor...
— Se eu soubesse que precisava ter um defeito no coração para te conquistar, teria feito isso. — Uma voz grossa se manifestou e senti meu rosto corar.
Desviei meu olhar de para o cara que antes estava de costas e vi que era Daniel, um cirurgião geral que me envolvi pouco tempo depois de me separar. Na época ele tinha o sonho de formar uma família, casar-se de novo, mas eu ainda estava superando meu divórcio e como sempre, queria focar na minha carreira.
— Daniel. — Foi tudo que eu consegui dizer.
Ele sorriu calorosamente e andou até mim, me abraçando.
— Estou bem. — Escutei dizer e soltei Daniel, para olhá-lo.
— O que está acontecendo?
— chegou reclamando de dores, achei melhor pedir alguns exames. — Andrew explicou.
— E qual o diagnóstico?
— Ele ainda vai fazer os exames.
— Andrew, você sabe que ele pode ter embo...
— , nós sabemos todos os riscos, somos os médicos dele. — Daniel disse me interrompendo e estreitei o olhar. — Andrew me chamou para acompanhar o caso de , ele acha que é melhor termos o máximo de opiniões possíveis aqui.
Desviei o olhar e depois olhei para , estava pensando no que dizer quando Hory entrou na sala.
— Dra. , Lisa está pronta para o transplante e os exames que me pediu de sangue está para sair. Posso levá-la para a SO?
Por um minuto me esqueci do procedimento.
— Pode, Hory, conseguiu agendar a SO5?
— Sim, fiz tudo como me pediu.
— Certo, pode levá-la então. Eu estarei lá em pouco tempo, vou passar para tranquilizar os pais antes, mas se puder fazer isso agora, seria ótimo — pedi.
Ela afirmou e saiu da sala, então voltei a encarar .
— Você vai fazer o transplante da Lisa? — Andrew perguntou surpreso. — A garota com Cardiomiopatia Hipertrófica?
— Sim.
— Acha que consegue?
Eu sabia que ele estava se referindo a , afinal, ele tinha a mesma doença que a garota.
— Acha que não consigo?
— Sabe que é só pedir. — Andrew me olhou com compreensão.
— Está tudo bem, eu consigo fazer. — afirmei. — Até de olhos fechados.
Andrew riu e confirmou com a cabeça.
— Podem nos dar uns minutos? — Escutei e voltei a olhar para ele.
Todos saíram da sala e senti minha respiração ficar ainda mais pesada, eu deveria estar acostumada a receber notícias ruins sobre o prognóstico dele, mas eu nunca me acostumava. Sempre fui muito profissional, mas eu nunca tinha me envolvido com alguém da forma que me envolvi com ele, nem mesmo com Andrew foi assim, me conquistou desde o momento em que o vi naquela maca de ambulância.
No momento em que olhei para ele, eu sabia que as coisas entre nós seriam intensas, eu resisti o máximo que consegui, nosso encontro aconteceu por causa de uma aposta que ele propôs, salvei a vida dele naquela noite, então precisei cumprir com a minha palavra. A verdade é que eu gostaria de ter escolhido ser médica dele e estar sempre a par de tudo que acontecesse, mas eu o amo e não teria como renunciar a isso.
— Amor? — Escutei me chamar e só então me dei conta de que tinha me perdido em pensamentos.
— , não faz isso.
— Senta aqui. — Ele bateu na cama.
Me sentei e ele segurou minha mão.
— Você sabe que eu amo você, não sabe?
— Isso não é uma despedida.
— Não mesmo. — sorriu e passou a mão pelos meus cabelos. — Você não vai se livrar de mim, Dra. .
— Não quero, mesmo. — respondi dando de ombros.
— Parece que meu novo médico quer.
Soltei um riso fraco.
— Problema dele, já sou apaixonada por outra pessoa.
riu e o vi tossir, fazendo com que meu coração se apertasse.
— É, parece que ficar ainda mais doente, faz você demonstrar seus sentimentos por mim.
— Você é ridículo.
— Você é linda. — disse e depositou um beijo no meu rosto.
Por conta da doença dele e os números de infecções, tínhamos que evitar beijos a todo momento.
— Posso passar meu transplante, se quiser que eu fique com você. — sugeri.
sorriu.
— Não, Lisa é uma boa garota e você é a melhor médica que ela poderia ter. Eu vou ficar bem, só quero que se lembre que eu te amo.
— Também te amo, . — O abracei e senti meus olhos queimarem.
— Eu deveria me casar com você.
Soltei um riso fraco e o soltei, ele adorava fazer piadinhas em momentos inoportunos.
— Muito engraçado. — Falei e me levantei da cama.
— Estou falando sério.
Coloquei as mãos no bolso e ri fraco de novo.
— É, você sempre fala sério, eu...
Meu pager apitou interrompendo minha fala, Lisa estava definitivamente pronta para o transplante.
— Eu tenho que ir, mas você deveria começar a enfeitar suas brincadeiras, ficaria mais divertido e quem sabe eu levaria a sério, pelo menos nos cinco primeiros minutos— falei rindo.
Saí da sala e, antes que Andrew entrasse, pedi ao menos que Archie pudesse me manter informada o máximo possível sobre o quadro de . Passei para dar o último parecer aos pais e fui direto para SO, Lisa já estava sendo preparada na maca e eu coloquei minha touca que tinham cachorrinhos desenhados, eu a considerava minha touca da sorte e quem tinha me dado em meu último aniversário.
Lavei bem minhas mãos e entrei na sala, as enfermeiras colocaram toda a roupa em mim e penduraram a luz na minha cabeça. Respirei fundo e caminhei em direção a cama onde Lisa me encarava com os pequenos olhinhos calmos, eu sempre me surpreendia com a capacidade das crianças de levarem da melhor forma possível situações como esta.
— Lisa, vamos colocar uma máscara que fara você dormir. — falei com a voz abafada por trás da máscara e ela permaneceu me encarando. — Está pronta?
— Prontinha, Dra. .
Apenas sorri e confirmei para o anestesista que ele poderia colocar a máscara nela.
— Tudo bem, pessoal. — falei de frente para a mesa e encarei a galeria, tinham muitos residentes ali para observar minha cirurgia. — Será uma cirurgia longa, se precisarem trocar de posição, façam isso, não quero ninguém aqui sem estar bem. Estamos estendidos?
Todos confirmaram com cabeça.
Como eu sempre gostava de fazer, me desliguei totalmente de qualquer problema de fora que pudesse interferir no meu procedimento e respirei fundo.
— Lâmina 10!
O procedimento estava correndo bem, até Lisa começar a sangrar e eu precisar gastar uma parte do tempo para encontrar a fonte do sangramento dela. Ela tinha um coração bem fraco, o transplante tinha aparecido em boa hora, mais alguns dias e ela não conseguiria sobreviver com um órgão tão fragilizado.
Assim que consegui controlar a situação, voltei para o procedimento, só pelo primeiro problema ter acontecido nos primeiros momentos de cirurgia, eu estava calculando não 12, mas pelo menos 16 horas de cirurgia.
A cirurgia levou 15 horas, eu quase acertei o tempo. Tive alguns problemas esperados durante o procedimento e outros não tão esperados assim, mas tinha sido um sucesso, se Lisa não recusasse o coração e tomasse todos os medicamentos corretamente, logo ela seria uma nova pessoa e com um coração novinho. Pronta para correr, como ela gostava de lembrar.
— Dra. , nossa menina... — Os pais de Lisa começaram a dizer, assim que cheguei na sala de espera.
Abri o melhor sorriso que consegui e puxei minha touca cirúrgica.
— A Lisa está ótima, ela está na UTI. — falei encarando-os. — A Hory vai explicar para vocês como serão as visitas, se tiverem qualquer dúvida podem confiar totalmente em tirar com ela, mas eu acompanharei o pós-operatório dela de perto, então se quiserem podem me chamar também.
— Muito obrigada! — Sarah, a mãe de Lisa, me abraçou apertado.
Retribui o abraço e sorri carinhosamente.
— Bom, se me dão licença...
Eu estava exausta, mas eu não pretendia deixar o hospital até ter a primeira checagem de Lisa e a última notícia que tinha recebido de era que ele estava passando por exames e que o pulmão dele parecia não estar muito bem, por isso Andrew ia pedir mais exames, depois disso mais nada.
Porém, já tinham se passado 15 horas, eu esperava que a essa altura estivesse tudo bem e que ele estaria em casa, mas eu estava errada e soube disso ao escutar meu pager apitando e ler nele "911 , ". Corri até lá o mais rápido que conseguia, se o tinham internado significava que tinham descoberto algo grave e que isso poderia até tirá-lo da lista de transplante.
Entrei no quarto e olhei um pouco confusa, tudo que encontrei foi o lugar vazio e escuro. Meu coração acelerou ainda mais, ele não pod...
— Estava esperando você. — Escutei a voz de atrás de mim e as luzes se acenderam, revelando diversas fotos coladas na parede e balões presos ao teto.
Quarto 16. Era onde ele tinha me pedido em namoro, dois anos antes.
Mais um dia de plantão e eu enlouqueceria, me dividir entre os meus pacientes e não estava sendo fácil, tudo mudou completamente depois que ele entrou na minha vida. Dois meses passou muito rápido, eu mal conseguia me lembrar como era a minha vida sem ele, eu poderia jurar que já tinha se passado um ano desde a noite em que salvei a vida dele.
Tirei meu jaleco, minha touca cirúrgica e saí do centro cirúrgico. Mais um transplante bem-sucedido, sem nada inesperado e o paciente tinha saído completamente estável, mas eu me sentia exausta demais para comemorar, só queria ir para a minha cama e dormir. Só que antes disso, eu precisava checar os sinais vitais de , aí sim depois, eu poderia dormir com um pouco de tranquilidade, a última noite dele tinha sido intensa.
Um tamponamento cardíaco, para nos assustar.
— Ei. — falei ao entrar no quarto e vê-lo acordado.
abriu um enorme sorriso.
— Eu acabei de sair de um transplante, mas quis passar aqui para ver como você está. — o encarei encostada na porta que tinha acabado de fechar atrás de mim.
— Você acabou de sair de um transplante e veio me ver, ao invés de ir descansar?
Concordei com a cabeça.
— Certo. Que horas você entrou em cirurgia?
— Não sei. — respondi dando de ombros. — Só sei que foi depois que passei aqui mais cedo.
— 10 horas da manhã? — parecia surpreso e dei de ombros, de novo. — , são quase meia-noite, isso faz mais de 12 horas.
Eu não entendi onde ele queria chegar, estava cansada demais para raciocinar.
— Qual problema?
— Você deveria estar descansando, não passando aqui e me vendo, quando outras pessoas podem fazer isso.
Soltei um riso fraco.
— Eu não consigo dormir, sem saber que está bem, sabe disso...
sorriu e fez menção de sair da cama, mas caminhei até ele segurando-o.
— , o que você está fazendo?
— Preciso fazer um pedido de namoro oficial, decente. — O escutei dizer e arregalei meus olhos. — Ah, , eu nunca tive ninguém como você.
— , eu...
— Não, eu preciso falar!
O encarei e fiz sinal para que ele continuasse, mas que ficasse sentado.
— Ninguém nunca se preocupou comigo como você, ou me olhou assim. — passou a mão pelos meus cabelos e senti meu corpo todo se arrepiar. — Você fez as coisas tão fácil, .
— Eu?
— Você, eu amo você e quero namorar com você...casar com você!
Abri um sorriso enorme.
— Você sabe que...
— Você é minha médica, eu sei e não estou nem aí. — disse e me beijou.
Parei o beijo rápido, ele estava se recuperando da última infecção ainda e não podíamos correr o risco de eu passar alguma para ele.
— Sabe que não podemos fazer isso, até você melhorar. — respondi rindo e ele bufou.
— Você ainda não me respondeu.
Soltei um riso fraco.
— Não vem com essa, de que não precisa. — colocou a mão no meu rosto. — Preciso ouvir de você.
— Certo. — Ri fracamente. — Eu aceito passar a noite para te ver como sua namorada e, não como sua médica.
Ele soltou uma gargalhada e me beijou de novo.
Olhei as fotos coladas na parede e pude ver que eram fotos minhas e de , desde o nosso primeiro encontro até os dias de hoje. Ignorei a presença dele e caminhei para olhar tudo mais de perto. Eu sabia como aquilo tinha sido um desafio para ele, já que eu não sou nada fã de tirar fotos, principalmente se eu tiver que aparecer muito e ser a atração principal dela.
Terminei de olhar tudo e me virei para encará-lo, ele não estava de terno e nem nada do tipo, ainda bem, porque eu não estava esperando por nada disso.
— , o que é tudo isso? — perguntei curiosa, mas sem a intenção de tentar repreendê-lo. Eu realmente estava confusa.
Ele soltou um riso fraco e caminhou para mais perto de mim.
— Você me disse uma coisa, mais cedo — disse e parou bem diante de mim. — Lembra o que é?
— Eu fiquei 15 horas em cirurgia, a única coisa que consigo me lembrar agora é que o quanto eu queria minha cama por mais algumas horas de manhã. — Respondi soltando um riso fraco em seguida e fazendo rir comigo.
— Gosto quando você é assim.
— Assim como? — perguntei e senti a ponta dos dedos dele na minha bochecha e logo em seguida colocar meu cabelo atrás da orelha.
— Com esse senso de humor. — Ele abriu o melhor sorriso, enquanto me encarava.
Troquei o peso de uma perna para outra, não saberia dizer se era mais pelo cansaço ou pelo nervosismo.
— Eu falei que devia me casar com você e aí você me disse que eu deveria tornar as minhas brincadeiras mais reais. — disse me olhando nos olhos e senti cada parte do meu corpo se arrepiar.
— , eu...
— Você pode me deixar terminar? Só uma vez? — perguntou me interrompendo.
Soltei um riso e fiz que sim com a cabeça.
— Só que antes disso, apareceu aquele médico dando em cima de você e praticamente mostrando o quão arrependido ele estava de ter te perdido. — Soltamos um riso juntos. — Azar o dele.
Afirmei com a cabeça rindo e fiquei olhando para ele, eu amava fazer isso, olhar para era um dos meus passatempos favoritos.
— Por isso. — começou a dizer, já colocando a mão no bolso e se ajoelhou.
Senti meu coração acelerar e fechei meus olhos por um breve momento, na intenção de conter qualquer lágrima que tentasse cair agora. Voltei a abrir meus olhos e vi que ele me encarava, que seus lábios tinham perdido a cor e acreditei ser pelo nervosismo que poderia estar consumindo-o.
— , você...
A frase não foi terminada, tudo no momento seguinte foi muito rápido. A caixinha que estava em sua mão caiu no chão, seus olhos rolaram para trás mostrando o branco dos olhos e minha mão foi até sua cabeça quando seu corpo se curvou para o lado fazendo-o cair com muita força no chão. Era como um filme de terror, era difícil para mim acreditar que aquilo realmente estava acontecendo bem naquele momento.
Me ajoelhei sobre e, enquanto eu gritava o máximo que conseguia por ajuda, iniciei as manobras de reanimação. Eu não podia me deixar levar pelo sentimento, mas era difícil, eu já tinha feito isso antes em , mas foi há muito tempo, agora eu era sua namorada e não sua médica.
Minhas manobras pareciam não funcionar, assim como os meus gritos, já que ninguém aparecia na droga de quarto em que eu estava, então parei as manobras e acionei a emergência através do pager. Ele permanecia totalmente sem vida e eu estava quase desistindo quando senti braços a minha volta e lágrimas em meu rosto que até então nem tinha me dado conta que estavam ali, tudo a minha volta era uma mistura de barulhos de aparelhos e pessoas falando.
— Andrew...
Eu não conseguia formar uma frase sequer, meus olhos só conseguiam enxergar um ali sem vida com diversos médicos e enfermeiros a volta dele. Me inclinei para ver mais de perto o que estava de fato acontecendo e se estavam conseguindo trazer ele de volta, quando escutei Andrew gritar para que o interno me tirasse dali. Fiz o máximo de força que pude, mas senti duas pessoas me puxarem para o lado de fora do quarto e praticamente me carregarem para a sala dos atendentes.
Amber já se encontrava lá.
Quanto tempo isto está acontecendo?
— Amber...
Ela me encarou com seus enormes olhos negros, era a primeira vez que eu a estava vendo tão apreensiva.
— Nós a trouxemos porque o Dr. Andrew pediu. — Um dos internos informou um pouco sem jeito.
Em qualquer outra situação eu pediria para ele sair ou simplesmente daria risada da situação, mas eu não conseguia pensar em absolutamente nada. Tudo que estava em minha cabeça era um completamente sem vida e que dessa vez eu não consegui fazer nada para salvar a vida dele.
Se ele estivesse morto...
— Obrigada, podem sair. — Escutei Amber dizer para os internos, impedindo que meus pensamentos fossem ainda piores.
Respirei fundo e virei de costas para ela, não podia encará-la, na verdade, ninguém.
— , me escuta, eles estão com o e sabem exatamente o que fazer.
Soltei um riso fraco e respirei fundo.
— Eu sei como vo...
— Não, você não sabe. — A interrompi e me virei para encará-la. — Não me venha com essa merda.
— Andrew sabe o que fazer, você mesma disse que ele é o melhor de todos e que confiaria sua vida. — Amber disse sem tirar os olhos de mim.
— Mas eu também te disse que eu era melhor. — rebati e saí da sala antes que ela me falasse mais alguma coisa que me fizesse perde a paciência com ela.
Uma parte de mim sabia que não era culpa da minha irmã, mas a outra precisava de alguém para culpar e tentar aliviar a tensão e ela era a única pessoa ali naquele momento. Escutei os passos dela atrás de mim e andei ainda mais rápido, mas não foi o suficiente, já que ela segurou meu braço e me puxou para encará-la de novo.
— Amber, me deixa em paz, por favor. — pedi.
— Eu sei que você está nervosa, mas eles estão com e não posso deixar você ir lá.
Soltei um riso fraco.
— , por favor.
— Chega! — gritei e vi que todos nos encaravam. — Para de agir como se soubesse como é passar por isso. Sua vida sempre foi perfeita, Amber.
— Você está sendo injusta comigo, .
— Estou? — perguntei com sinceridade.
— Você sabe que sim.
Revirei os olhos e me virei para ir em direção a emergência, mas Amber entrou na minha frente.
— Sai da minha frente, Amber.
— , preciso que venha comigo. — A voz de Archie ecoou fazendo com que a tensão diminuísse um pouco e os fofoqueiros começassem a voltar o que estavam fazendo.
— Cadê o ?
Amber já tinha saído dali, sem dizer absolutamente nada.
— Onde ele está, Archie?
— Eu preciso que venha comigo, por favor. — Archie pediu de maneira educada e eu apenas assenti.
Eu era capaz de contar cada batida do meu coração enquanto caminhava por entre os corredores do hospital com Archie bem a minha frente, ele tinha me falado algo sobre estar na UTI, mas nada disso iria me acalmar, eu precisava vê-lo vivo, senti-lo mais uma vez como tinha acontecido mais cedo quando ainda estávamos na cama. Não adiantava ninguém me dizer que ele estava vivo, nada disso ia me convencer ou fazer com que eu me sentisse melhor.
Cheguei na porta da UTI e Andrew se encontrava bem ali acompanhado de alguns residentes, internos e enfermeiros. Não precisou de muito para que eu soubesse que as coisas não estavam boas, a cara deles já dizia tudo e os braços do meu ex-marido me abraçando disseram ainda mais. estava vivo, mas a situação dele obviamente não era das melhores e como sempre, eu estava certa por ter me preocupado com o líquido no pulmão dele.
— Andrew. O que está acontecendo? — perguntei sem cerimônia.
Sempre odiei o suspense que fazemos para dizer a um parente que o ente querido dele está morrendo ou pode chegar lá.
— Acho melhor você vê-lo primeiro, depois nós conversamos. Tudo bem? — Ele me soltou do abraço e sorriu carinhosamente para mim.
— Por favor...
— , você precisa ir ver ele primeiro. Estarei na sala dos atendentes. — Ele disse e saiu andando antes que eu pudesse questioná-lo.
Respirei fundo e virei meu rosto em direção a porta de vidro da UTI e encarei um desacordado ligado a muito aparelhos. Eu precisava me paramentar antes de entrar ali para evitar qualquer tipo de infecção e assim fiz, não importava se eu estava habituada a fazer aquilo várias vezes no meu dia, agora parecia que nada se encaixava, nem meu avental, nem a máscara e nem mesmo as luvas.
Entrei na UTI e fiquei parada ali na porta mesmo, eu já tinha passado por isso antes com ele, afinal quando ele chegou naquela noite no meu plantão seu estado também era muito grave, mas dessa vez era diferente. tinha me pedido em casamento e simplesmente tido um colapso antes de sequer terminar a frase, antes de podermos ao menos aproveitar aquele momento, que eu sabia que ele tinha provavelmente ensaiado umas mil vezes sozinho.
Soltei o ar e deixei que as lágrimas caíssem.
Puxei um banquinho alto que tinha ali e me sentei ao lado da cama. O único barulho presente ali era do aparelho que mantinha vivo e respirando, sua expressão era calma e mesmo por trás da máscara eu conseguia ver que seus lábios estavam pálidos e sem vida, mas eu ainda o sentia ali, ele ainda era o meu .
— Ei. — falei enquanto segurava a mão dele, que estava fria. — Eu...
As palavras estavam todas na minha cabeça, mas eu simplesmente não conseguia formular nenhuma frase, eu tinha ensaiado para tudo isso, mas não estava preparada. Vê-lo ali ligado a todas aquelas máquinas, tubos e outras coisas mais fazia eu me sentir completamente impotente, ainda mais sabendo que nenhuma decisão poderia ser minha. Eu era só namorada dele, não podia ser médica e pensar em uma forma de salvá-lo.
Tudo estava fora do meu alcance.
— Preciso que me prometa uma coisa. — Escutei dizer, enquanto preparava o molho para a massa no fogão.
Era a primeira vez que eu ia na "humilde" casa — como ele gostava de intitular — que ele morava e apenas o nosso quinto encontro. estava preparando macarronada e eu me encontrava apenas sentada de frente para a bancada, com a minha taça de vinho enquanto tentava me recuperar do meu último plantão.
— , você me ouviu?
Soltei um riso fraco e o encarei.
Que homem perfeito, eu poderia ficar olhando para ele o dia todo. Com os cabelos caindo sobre os olhos, a barba mal feita com um bigode ainda crescendo, camisa azul marinho, calça preta e os pés descalço. Eu poderia imaginar uma vida toda com ele, mesmo sendo apenas nosso quinto encontro.
Isso nunca aconteceu antes.
— Foi um dia ruim no hospital? — perguntou, agora me encarando sério.
— Não. — afirmei e tomei um pouco de vinho. — É que você me distrai.
revirou os olhos e riu fracamente.
— O que você ia dizer sobre prometer?
— Então, você prestou atenção.
— É, acho que sim — afirmei rindo. — Fala logo o que é.
— Bom — ele começou a dizer e caminhou para mais perto de onde eu estava — se eu ficar mais doente...
— Não vai. — o interrompi, fazendo-o bufar.
— , você precisa me deixar terminar primeiro.
— Certo.
— Se eu ficar mais doente e nós já estivermos em um relacionamento consolidado.
— Um relacionamento consolidado? — perguntei tentando segurar a risada.
revirou os olhos mais uma vez, uma mania que eu reparei a partir do nosso terceiro encontro, ser a marca dele.
— Eu estou falando sério. — colocou as mãos nos meus ombros e me encarou.
— Não estou acostumada.
— É, você está mal acostumada mesmo.
Dei de ombros fazendo-o rir.
— Preciso que me prometa que vai continuar vivendo, .
— Por que acha que não iria? — Desviei o olhar, eu odiava falar sobre a possibilidade de ficar doente.
Eu nunca tinha me sentido assim com alguém em tão pouco tempo e isso era novo para mim, mas de uma coisa eu tinha certeza, se algo acontecesse com , eu não iria superar.
— Porque eu vi a maneira que estava me olhando enquanto cozinhava.
— Você se acha muito. — Foi a minha vez de revirar os olhos.
— Já olhei assim para você, — disse e me abraçou.
Aproveitei para envolver meus braços na cintura dele.
— Olhou para mim e imaginou uma vida toda comigo, da mesma forma que eu faço quando fico internado e te vejo andando pelos corredores do hospital. Imagino a vida inteira que quero ter ao seu lado, mesmo que seja apenas o nosso quinto encontro. — disse e beijou o topo da minha cabeça.
Eu não sabia o que dizer, só sentir.
Encarei mais uma vez e me levantei poder me aproximar mais dele.
— Nós ainda teremos a vida que imaginamos quando olhamos um para o outro. — sussurrei e depositei um beijo na testa dele.
Saí da UTI e segui direto para a sala dos atendentes, precisava lavar meu rosto e me recompor porque eu ainda tinha um plantão para cobrir. Entrei na sala onde tinham alguns dos meus colegas lá e fui direto para o banheiro já trancando a porta atrás de mim antes que alguém tentasse falar comigo. Lavei meu rosto e me encarei no espelho por alguns instantes, eu precisava não me deixar abalar, precisava de mim, meus pacientes também e eu só poderia amenizar o que estava sentindo fazendo o que eu faço melhor.
Ser médica.
Desliguei a torneira, prendi meu cabelo novamente em um rabo de cavalo e respirei fundo. Estava pronta para sair e enfrentar qualquer coisa, quando escutei a voz do Archie chamando pelo meu nome. Saí do banheiro e dei de cara com ele e Andrew apenas na sala, o resto do pessoal provavelmente tinha se retirado a pedido do meu ex-marido.
— A julgar pela ficha na sua mão, não é sobre que veio falar comigo. — Encarei Archie, que afirmou com a cabeça. — Algum caso no PS?
— Sim, acabamos de receber um chamado de que teve um grande incêndio no Boston Mall e precisamos nos paramentar. Já separei a equipe para você. — Archie informou e vi Andrew arregalar os olhos.
— Certo, eu estarei no PS em alguns minutos — informei ele se virou para sair, mas Andrew segurou o braço dele.
— Dr. Andrew?
— A Dra. não irá atender hoje, me coloque em todos os casos. — escutei Andrew dizer e revirei os olhos.
— Andrew, eu não vou parar o meu plantão. — informei, enquanto trocava de jaleco e pegava meu estetoscópio nas minhas coisas.
— , o acabou e entrar em coma, eu não...
— Você não precisa achar nada, é o médico dele, não o meu. — informei assim que terminei de tirar meu jaleco e peguei a ficha da mão do meu residente que encarava tudo sem dizer nada.
Respirei fundo e pensei no que mais diria por poucos segundos.
— Aliás, eu sou a chefe do departamento de cirurgia cardiotorácica. Minhas instruções são de que você fique totalmente focado no caso do paciente e do transplante que realizei, leve Archie com você, ele é o melhor residente que tenho e deixe o PS comigo. Fui clara? — informei calmamente.
— , isso é...
— Eu fui clara, Dr. Andrew?
Saí da sala antes que ele pudesse me interromper de novo e segui para mais uma jornada longa de plantão.
Como eu já imaginava, o PS estava um caos, pessoas muito feridas chegando a todo momento. Internos que não sabiam exatamente como agir, residentes tentando orientar seus internos e atendentes tentando manter todo o controle da situação. Não demorou muito para que o meu pager começasse a tocar sem parar, eu tinha mais de um caso para analisar e isso era bom, significava que eu ia manter minha cabeça ocupada o máximo possível e não pensar em mais nada.
Entrei primeiro na sala de emergência I, onde ficam os nossos casos mais graves. Ali encontrei um garoto de apenas 18 anos, o peito todo queimado, mãos e braços também, uma cena difícil de presenciar para quem não está habituado. Eu estava.
— Sinais vitais alterados. — informei enquanto o examinava.
O rapaz segurou meu braço com força.
— Sou a Dra. , nós vamos cuidar de você. — informei na intenção de tranquilizá-lo enquanto ainda o examinava. — Preciso que alguém chame a plástica, de preferência o Jackson.
Os olhos do rapaz me encaravam e ele ainda segurava meu braço com força.
— Qual seu nome? — perguntei, mesmo já sabendo que era Mason, afinal a enfermeira já tinha me passado tudo sobre ele assim que eu entrei na sala, era o procedimento.
— Mason.
— É um ótimo nome. — falei enquanto fazia sinal para a enfermeira, informando que a situação dele era grave e que poderíamos precisar entubar. — Você tem irmãos, Mason?
— Tenho, minha irmã passou por um transplante hoje. — ele disse e senti meu coração disparar. — Neste hospital.
Minha paciente. Ela era a irmã dele.
Droga.
— Vocês se dão bem? — perguntei, sem revelar que eu era a médica dela.
— Muito, somos tudo um para o outro.
Meu coração disparou ainda mais.
Se eu o perdesse, como iria dizer para uma garota com um coração novo que seu irmão morreu nas minhas mãos?
Abri a boca para interagir mais com ele, quando a enfermeira entrou na sala avisando que estava com tudo que eu tinha pedido para ela buscar e, em seguida, o monitor de Mason disparou. Ele estava entrando em parada.
Me preparei para fazer as manobras de ressuscitação, mas o auscultei primeiro, eu não teria como salvá-lo sem abrir seu peito e se eu ele não tinha tempo de chegar até a SO com vida. Abri a gaveta do kit médico e peguei o uma lâmina 10, eu ia ter que abri-lo ali mesmo, sem fazer nenhuma esterilização ou procedimento antes, não tinha tempo para nada disso.
— Dra. — escutei um dos meus residentes me chamar.
— Jay, eu preciso que você fique desse lado e faça a retração. — falei para a interna de Hory e ela me encarou com os olhos arregalados. — Consegue fazer isso?
— Eu acho que sim. — ela respondeu, enquanto eu me inclinava para abrir um corte entre as costelas dele.
— Preciso que tenha certeza, Jay, a vida desse paciente depende disso. — informei e me voltei para o paciente. — Hory, ligue agora para prepararem uma SO.
Abri um corte com tamanho suficiente para que minha mão entrasse ali e logo senti uma quantidade enorme de coágulos lá dentro, quanto mais eu colocava minha mão e jogava coágulos no chão, parecia que mais ainda aparecia. Quando o campo estava limpo comecei a massagear o coração dele e pedir que injetassem as quantidades necessárias de atropina, eu não tinha muito tempo, se ele continuação sem nenhum sinal eu teria que declará-lo.
O problema dele não vinha das queimaduras, o coração já estava comprometido antes disso. Talvez o problema cardíaco fosse hereditário na família dele, eu não saberia dizer agora.
Eu tinha que salvá-lo
— Dra. ...
— Mason, vamos lá, sua irmã está pronta para te ver. — falei enquanto massageava o coração dele e vi algumas ondas aparecerem no monitor. — Isso, por favor.
— Dra., a SO está pronta. — escutei Hory dizer assim que o monitor voltou a apitar.
Os batimentos de Josie tinham voltado.
— Não temos muito tempo. — falei sem tirar a mão de dentro dele e me apoiei na maca de forma que pudesse ser empurrada com ela e destravei o pé da mesma.
Eu o tinha trazido de volta, mas a situação ainda era crítica e eu estava correndo contra o tempo.
Mason tinha sobrevivido a cirurgia.
Contudo, eu sentia que todo meu corpo ia quebrar em vários pedaços. Depois de passar mais de 10 horas na cirurgia dele, quase perdendo-o diversas vezes, eu ainda precisei cobrir mais alguns casos no PS. Mesmo com todas as horas que tinham se passado, minha cabeça simplesmente não conseguia se desligar do , eu pensava nele a todo instante, se via algum paciente não resistir, se tinha que entrar no centro cirúrgico, era como se ele estivesse presente em tudo na minha vida.
Archie estava me avisando sobre cada passo que ele e Andrew estavam dando no caso dele, mesmo assim eu não conseguia relaxar, repassava diversas vezes o caso dele na minha cabeça e mesmo assim não conseguia encontrar nenhuma solução. Eu sabia que precisava falar com Andrew para que pudesse entender melhor o caso como um todo, mas falar com ele significava receber notícias ainda piores e eu não sabia se estava pronta para isso.
Não fazia nem 24 horas ainda.
— , precisamos conversar. — A voz de Andrew ecoou na sala dos atendentes, onde eu me encontrava sozinha.
Respirei fundo e pensei em sair dali, mas eu estava cansada demais para sair do sofá onde estava sentada.
— Andrew, eu acabei de sair de um procedimento difícil. — falei me mantendo de olhos fechados.
— Está todo mundo falando do garoto que você abriu o peito dele na SO. — Escutei ele dizer e pude sentir o peso dele no sofá, sentando-se nele.
Apenas resmunguei, eu realmente não queria conversar.
— Foi arriscado, mas você salvou a vida dele, .
— Pena que não posso fazer o mesmo pelo . — falei com a voz trêmula.
Droga, a presença dele me deixava ainda mais nervosa e apreensiva.
— Não é verdade, você fez de tudo. — Andrew disse e senti ele colocar a mão na minha perna. — Nós estamos fazendo de tudo.
— É, mas parece que não é o suficiente, né? — Abri meus olhos e o encarei. — Você é um ótimo médico, Andrew, mas acho que também precisa admitir que não tem mais nada que possamos fazer.
— , você não pode desistir...
Soltei um riso fraco e me sentei de forma reta.
— Acha que eu quero desistir, Andrew? — indaguei. — Estamos falando do homem da minha vida, não sei se você se lembra.
— Eu sei como...
— Não me venha dizer que você sabe como é! — Esbravejei
— Eu sei que é um saco, quando as pessoas nos dizem isso — Andrew disse e segurou minha mão. — Eu também odiava quando diziam para mim.
O encarei confusa, eu não sabia de nenhum problema de saúde de alguém próximo a ele.
— Do que você está falando, Andrew?
— Quando a Ellie ficou doente, eu achei que fosse enlouquecer...
— O quê? — questionei, não me lembrava de nenhum momento em que ela tenha ficado doente. — Se você está inven...
— Não, eu nunca faria isso. — Ele me cortou revirando os olhos. — Lembra quando eu saí de licença por oito meses?
— Lembro das fotos. — respondi rindo.
— Certo. — ele afirmou e riu fracamente. — Eu não estava de férias acumuladas, aquilo foi só uma desculpa.
Afirmei com a cabeça para que ele continuasse.
— Ellie passou muito mal uma noite, viemos para cá, você lembra? — Fiz que sim com a cabeça. — Depois disso, ela quis ir em um outro médico especialista, disse que aqui estávamos muito envolvidos. Ela foi diagnosticada com falência renal, precisava urgente de um transplante.
— Eu...
— Eu não era compatível, ninguém da família era. — concluiu me interrompendo.
— Parece que vocês encontraram um rim, afinal.
— Sim, nós encontramos. — ele desviou o olhar e pude jurar que estava quase chorando. — Mas foram longos oito meses de muito desespero.
— Podia ter me contado.
— É, eu podia, mas não conseguia falar com ninguém sobre isso...
— O que você fez? — perguntei com sinceridade. — Para lidar com isso.
— Eu surtei, obviamente. — Ele riu da sua própria sinceridade. — Ela entrou em um estado muito grave uma noite e eu peguei um avião, fui para casa, precisava estar com ela, mas não conseguia estar ao lado dela. Então eu fui para o lugar onde podia sentir seu cheiro, sua presença...
— Sinto muito, de verdade. — Abriu um sorriso e apoiei minha mão sobre a dele.
— Quando cheguei lá, eu pensei em tudo que tínhamos construído, eu olhei para cada canto ali. Tudo me lembrava a Ellie, mas não era o mesmo que estar ao lado dela. — Andrew abriu um sorriso enorme, anos antes, eu jamais imaginaria que estaria vendo meu ex-marido sorrindo por outra mulher. — Isso foi necessário, .
— Está me dizendo para deixar o aqui?
— Não, estou dizendo para ir para casa, pensar em tudo isso e desacelerar um pouco — Andrew disse com sinceridade. — Nós vamos cuidar dele, qualquer alteração seu pager vai ser o primeiro a apitar.
— Eu não consigo, não dá. — Minha voz estava trêmula e as lágrimas prestes a cair.
— Consegue sim, . — Andrew disse enquanto segurava minha mão. — Você é a mulher mais forte que já conheci.
Abriu um sorriso e o abracei, deixando que as lágrimas caíssem.
— Eu não posso te prometer que vou salvar a vida do , mas prometo que vou dar o meu melhor. — ele disse ainda abraçado a mim e apenas confirmei com a cabeça.
Me afastei dele e o encarei enquanto limpava meu rosto.
— Só que eu preciso que você vá para casa fazer o que eu disse e volte amanhã.
Respirei fundo e pensei por um instante no que ele havia me dito.
— Promete que serei a primeira a ser chamada?
— Eu prometo.
Por um lado, ele tinha razão, ficar me atolando de trabalho não ia resolver nada. Talvez piorasse tudo, eu poderia estar tão cansada que acabaria cometendo um erro grave e isso não era algo que eu poderia aceitar. iria precisar de mim quando acordasse.
Eu queria muito acreditar que ele ia acordar.
Atravessei a porta de entrada do apartamento e logo pude sentir o vazio dentro dele, estava frio então tudo parecia ainda mais solitário. Joguei minhas coisas no sofá mesmo e fui direto para a cozinha, eu precisava pedir alguma coisa para comer, mas antes ia tomar uma taça de vinho para relaxar. Escolhi um vinho seco de uva carmenére, peguei uma taça e fui para a sacada.
Coloquei um pouco de vinho e vi que tinha um envelope em cima da mesinha. Dei um gole no meu vinho e coloquei a taça ali para poder abrir o envelope, tinha um bloco de papéis. Passei meus olhos com curiosidade sobre ele e comecei a ler, era do .
tinha deixado para mim um papel, me tornando responsável por todas as decisões médicas relacionadas a ele.
Um mês passou muito rápido, claro que me atolar de trabalho e pesquisa para o caso de também me ajudou muito. Contudo, eu pensava nele da hora que eu acordava até a hora de dormir, durante meu plantão — que era a maior parte da semana — eu passava em frente a UTI onde ele estava pelo menos umas sete vezes por dia e pedia para que Archie me informasse cada passo que desse no caso dele.
Hoje fazia duas semanas que tinham retirado os medicamentos de sedação e todos os tubos que ficavam conectados a ele, então isso significava que ele estava há exatos 15 dias respirando sozinho. Só faltava acordar. Eu não podia negar, estava ainda mais ansiosa do que antes e isso estava me matando a cada minuto, não sei até quando eu aguentaria isso.
Ao menos algo bom tinha acontecido nesse meio tempo, Mason estava totalmente recuperado e iria para casa em breve, já Lisa, já estava em casa e aproveitando o seu novo coração.
— , você está me ouvindo? — Escutei uma voz me chamar ao fundo.
Minha visão estava embaçada.
— Dra. ? — A voz me chamou mais uma vez.
Tudo estava rodando.
— Desculpa, eu acho que não estou me sentindo muito bem. — falei enquanto procurava um lugar para me sentar, eu estava me sentindo estranhamente enjoada e minha cabeça parecia que ia explodir.
Passei rapidamente pela porta do centro cirúrgico e corri o mais rápido que consegui até o banheiro, foi o tempo de eu entrar em um box e abrir a tampa da privada e me ajoelhar para que o líquido pulasse para fora da minha boca. Eu vomitei tanto que até parecia que nos últimos dias eu vinha comendo bem, mas não, era o oposto disso, eu raramente fazia as três refeições devido as preocupações e os enjoos que vinha sentindo.
Enjoos.
Sai do box e caminhei até a pia para poder lavar as mãos e o rosto.
— Menina, eu estou com uma cólica horrível esses dias. — Escutei uma enfermeira dizer para a outra assim que entraram no banheiro.
Cólica.
Fazia tempo que eu não sabia o que era isso.
— Bom dia, Dra. . — Uma delas disse gentilmente e me virei para encará-la. — Dra., tudo bem com a senhora?
— Sim, só um pouco de dor de cabeça. — respondi um pouco trêmula.
Enjoos. Cólica.
Não podia ser.
Sai do banheiro o mais rápido que consegui e fui até a ala de obstetrícia, se o que eu estava pensando era verdade eu precisava fazer o exame para confirmar o mais rápido possível. Torci para não esbarrar com Andrew ou qualquer outra pessoa próxima que pudesse notar que eu estava estranha, antes de falar sobre o que se passava na minha cabeça para qualquer pessoa eu precisava ter certeza.
— Dra. . — A recepcionista disse assim que me viu.
— Oi, Sarah. — falei baixo. — Eu vou entrar no consultório 25 da obstetrícia, você pode anunciar a Dra. Ellie sem citar meu nome?
— A senhora, está bem?
— Sim, só preciso que chame ela.
— Certo.
Encarei concentrado em seu trabalho de onde eu estava, atrás da bancada que fazia a cozinha ser uma copa-cozinha. Ele sempre ficava concentrado demais quando estava roteirizando algum livro ou corrigindo-o para enviar para a publicação ou para a avaliação de alguém importante.
Eu adorava ver como ele se perdia em pensamentos fazendo isso.
Eu podia facilmente imaginá-lo lendo para os nossos filhos no futuro em alguma casinha no campo, enquanto eu preparo o jantar ou um lanche da tarde. sem dúvidas é este tipo de cara, que trabalha em casa para ficar mais perto da esposa e dos filhos, que gosta de acompanhar o crescimento deles de perto.
— Ei, vem aqui. — Escutei ele me chamar, me tirando completamente dos meus pensamentos.
O encarei por um instante, antes de dar a volta na bancada e ir até ele.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei ao me sentar em uma cadeira vazia em volta da mesa.
— Por que fica me observando tanto? — perguntou, sem tirar os olhos do computador e sem parar de digitar.
— Quem disse que eu estava te observando? — Ri fracamente.
— Sei que estava.
— Certo. — Dei de ombros. — Gosto de ver você trabalhando.
— Por quê?
— Não sei, me faz pensar em como estaremos daqui há alguns anos...
— E como acha que estaremos?
— Eu chegando de um plantão, preparando o jantar... — falei e dei um gole no meu café —, enquanto você trabalha e lê para os nossos filhos parte dos seus livros.
parou e me encarou, parecia um pouco surpreso.
— O que foi?
— Pensa em ter filhos?
— Sim, um ou dois. — afirmei. — Gostaria de ter mais, mas a minha carreira, infelizmente, não me dá esse privilégio.
— Certo.
— Você não quer ter filhos? — perguntei dando de ombros.
riu fracamente.
— Claro que eu quero. — me encarou. — Só não achei que você quisesse.
— E perder a oportunidade de ter um mini ? Não. — Ri fracamente.
sorriu, mas logo voltou a ficar sério.
— Por que parece que isso te preocupa?
— Porque as vezes eu acho que cometi um grande erro.
— Por que acha isso?
Eu não pude deixar de demonstrar que meu humor tinha mudado, e para pior.
— Porque você estava feliz antes de mim, aí eu vim com essa doença.
— Não, isso não. — Me levantei abruptamente da cadeira. — Não começa com isso, não de novo, .
— Quero te pedir um favor — ele disse e segurou minha mão, me puxando para sentar no colo dele.
— O que? — Falei ao me sentar.
— Que vai abrir uma exceção.
— Uma exce...
— É, que pelo menos uma vez na sua vida, vai tentar ser menos controladora.
— Não estou entendendo.
— Controladora. —afirmou. — Você fica tentando controlar o rumo da minha doença, quero que deixe isso um pouco de lado. Deixe que o Andrew resolva, por favor.
— Tudo bem...
Eu não queria concordar com isso, mas que escolha eu tinha? Por mais que eu odiasse admitir, estava certo, eu não passava um dia sequer sem pesquisar sobre a doença dele e controlar cada passo do tratamento, mesmo sem ser a médica dele.
Eu est...
— , está me ouvindo? — Escutei Ellie me chamar, me tirando completamente dos meus pensamentos.
— Desculpa, acho que me distrai... — Afirmei rindo. — Pode me chamar de .
— Eu acho que nem preciso te perguntar o que te traz aqui e o motivo de toda essa distração. — Ellie disse e sorriu calorosamente.
— Como assim?
— Eu vou pedir o exame, mas não tenho dúvida de que está grávida.
Arregalei meus olhos, não era o que eu queria ouvir. Esperava que ela me dissesse que mulheres ficam sem menstruar por outros motivos também.
— Pode ser algo hormonal, não necessariamente uma gravidez. — afirmei.
— Não no seu caso. — afirmou enquanto digitava em seu tablet. — Eu observei você no jantar da semana passada, sabia que não era só a situação do que tinha te mudado. Algo em você estava diferente.
— É um dom na sua especialidade? — perguntei rindo.
— É, eu diria que sim. — Ela riu. — Eu gostaria que tirasse o resto do dia de folga.
— Por quê?
— Só por precaução, você passou muito estresse nesse último mês. — explicou fazendo sinal para que eu assinasse. — Se você estiver grávida só pode piorar tudo.
— Ellie, vou ficar pior se eu tiver que passar o dia sem fazer nada... Com em coma ainda, então.
— Tudo bem, mas tenta pegar leve.
Eu tentei pegar leve o máximo que pude ao longo do dia, meio que fui obrigada também, eu estava me sentindo extremamente cansada e com um sono de outro mundo. Por sorte o dia não demorou muito para passar e, assim que o relógio bateu oito horas, eu repassei todos os meus serviços para Andrew que seria o atendente de plantão está noite.
Tomei um banho no hospital mesmo e fui direto para UTI onde estava, para hoje eu tinha planejado passar a noite com ele. Já tinha alguns dias que eu ia direto para casa, mas eu estava começando a sentir falta de estar na presença dele, sentir o cheiro ou simplesmente ouvir a respiração dele.
Me sentei na poltrona que tinha na UTI e eu não conseguia tirar o exame da minha cabeça, estar grávida não estava nos meus planos, mas é isso que acontece quando transamos e eu e fazemos muito isso. Também não sabia dizer se eu estava pronta para ser mãe agora, não era algo que se encaixava nos meus planos nesse momento, ainda mais com a minha rotina dentro do hospital, e pior ainda, com a atual situação de .
Eu não sabia se ele ia acordar.
Isso me apavorava sem dúvidas, mas eu não podia me desesperar agora ou perder a esperança. Nós já tínhamos superado muitas coisas nesses dois anos e não ia ser agora que eu ia desistir de salvar o homem que é o amor da minha vida, eu não podia.
— Hum... — Escutei alguém resmungar e dei um pulo de susto da poltrona em que eu estava sentada.
estava com os olhos abertos. Eu nem conseguia acreditar, que isso estava mesmo acontecendo, que eu veria aqueles olhos me observar de novo, mas eu não tinha tempo para ficar paralisada pensando nisso. Dei a volta até o outro lado da cama e apertei o botão que acionava toda a equipe responsável por ele e isso incluía Andrew, que era oficialmente o médico dele.
Peguei meu estetoscópio que estava sempre comigo, mesmos que estivesse apenas em consulta e auscultei ele, que me observava com carinho nos olhos. Aparentemente tudo parecia bem com ele, não tinha nenhum sinal de arritmia ou qualquer barulho estranho vindo do seu coração, mas eu só poderia ter certeza disso quando Andrew chegasse e o avaliasse com precisão.
— Preciso que peguem todo o kit. — Andrew disse já entrando na sala e me afastei de , que segurou minha mão, para que eu permanecesse ali e assim que fiz.
— , vou tirar esse tubo de você, tudo bem? — Andrew disse e fez sinal para que Archie retirasse.
A equipe já estava toda na sala, mas eu permanecia ao lado dele e segurando sua mão.
Depois da retirada do tubo, Andrew começou a examiná-lo e já foi pedindo para que Archie fizesse algumas solicitações de exames e que também retirasse sangue de para pedir todo o tipo de análise, queria ter certeza de que estava tudo bem com ele.
Eu apenas observava, uma parte de mim ainda estava um pouco assustada com tudo que tinha acontecido e a outra não conseguia acreditar que ele estava mesmo ali, acordado e segurando minha mão. Durante todo esse mês, eu comecei a cogitar a possibilidade de que ele nunca mais acordaria e que talvez eu não voltaria a sentir a mão dele, quente, bem na minha.
— , consegue falar comigo? — Andrew perguntou olhando para ele e depois desviou o olhar para mim.
Apenas fiquei em silêncio, esperando-o falar alguma coisa e vi olhar na minha direção e abrir um sorriso, que eu retribui na hora.
— Você é tão linda. — disse com um sorriso no rosto.
Não consegui me conter, deixei que as lágrimas que eu tinha segurado por tanto tempo saíssem de uma só vez e levei a mão dele até próximo de mim e depositei um beijo nela. Eu não era de chorar assim, mas com tudo que tinha acontecido no último mês não tinha como, ver ele bem diante de mim fazia me coração derreter.
— Bom, parece que ele está ótimo. — Andrew comentou rindo e todos na sala riram. — Vamos deixar vocês sozinhos, Archie vai monitorá-lo e eu volto quando os exames estiverem prontos.
Assenti para ele e logo todos saíram do quarto, me deixando sozinha com . Me sentei ao lado dele, ainda segurando sua mão e apoiei nossas mãos sobre o espaço na cama ao lado dele e levei meu rosto até ela, ainda chorando.
Acho que eu estava em um certo estava de choque.
— , olhar para mim, amor. — Escutei pedir e levantei meu olhar até ele. — Está tudo bem agora.
— Eu sei. — afirmei soltando sua mão e limpando meus rostos. — Acho que só estou em choque, só isso.
me encarou, com aqueles olhos que eu tanto amo.
— Eu ia te fazer uma pergunta, antes de tudo isso acontecer... — disse e senti meu coração disparar. — Você quer...
— ... — falei. — Tem uma coisa, que eu preciso dizer, antes de você terminar.
Ele me encarou e fez sinal para que eu continuasse falando, então abri minha boca para começar, mas antes que eu pudesse uma das enfermeiras apareceu no quarto me entregando um envelope e dizendo que o resultado do meu exame estava pronto.
— , o que você tem? — estava visivelmente preocupado.
O encarei e abri o envelope.
Senti um frio na espinha ao ler o resultado.
Positivo.
Eu estava grávida.
Grávida de .
— , pelo amor de deus, você está...
— Eu estou grávida. — Falei interrompendo-o, não tinha outra maneira de dizer aquilo.
— O que? — Os olhos dele brilharam. — Meu Deus.
— Eu sei, não é o que você queria, sinto muito. — Falei nervosa desviando meu olhar.
Escutei soluços e voltei a olhar para o , ele estava chorando.
— Eu sei que você não queria, mas...
— Cala boca, . — escutei dizer, de forma brincalhona. — Está brincadeira?
— Não, eu estou grávida.
— Exatamente. — Escutei ele afirmar. — Eu acordo de um coma e descubro que o amor da minha vida está esperando um filho meu, e você aí dizendo essas coisas.
Ri fracamente e me levantei para ficar perto dele.
— Mas...
— Mas o quê? — Indaguei.
— Acho que cometi um grande erro, fazendo você me amar.
— Eu te amo, — falei e colei meus lábios dele. — Nunca mais diga isso.
— Eu te amo, .
— E sim, aceito me casar com você. — afirmei, com um sorriso enorme no rosto.
Ficamos um empo conversando, era bom ter de volta. Ambos estávamos felizes com o fato de eu estar grávida, mas eu não podia negar que isto ainda me assustava um pouco, mas ele também tinha algumas coisas para dizer. Me pediu para fazer uma exceção e pediu que dessa vez, as coisas pudessem ser do jeito dele e ele queria que nos casássemos em no máximo um mês, não queria mais tempo, relutei, mas acabei aceitando.
Depois que ele caiu no sono, eu segui para a sala dos atendentes, sabia que Andrew estaria lá eu já sabia que ele tinha recebido o resultado de alguns exames, então queria conversar com ele sobre a situação de antes que ele fosse ao quarto, se tinha alguma coisa de errado com ele eu queria saber antes de ele ir até o quarto.
— Ei. — falei entrando na sala dos atendes, só tinha ele ali, estava jogado no sofá.
— . — Ele disse sentando-se.
— Queria conversar com você. — falei ficando de frente para o sofá.
Andrew apenas em encarou, dando a entender que eu podia continuar o que tivesse para dizer.
— Eu queria que você me falasse sobre os exames do .
— , eu...
— Eu estou grávida, Andrew. — Ele arregalou os olhos.
— Isso é incrível! — Ele deu um pulo do sofá e me abraçou, retribui o abraço.
— É, é sim — afirmei com um sorriso no rosto. — Mas, eu preciso saber exatamente qual é a situação do .
— E o que ele disse? — Andrew perguntou curioso. — Uau.
— Ele está feliz, mas está inseguro... — Expliquei.
— Como assim?
— Ele acha que cometeu um grande erro... — afirmei — Me fazendo amá-lo.
Andrew me encarou e voltou a se sentar.
— Imagina se já não é muito tarde. — afirmei.
— Bobagem, ele foi a melhor que aconteceu na sua vida. — afirmou Andrew e sorri.
— Mas, preciso saber, é muito tarde? — Perguntei, voltando a falar sobre a situação do meu noivo.
Eu conseguia ver no olhar dele que as coisas não estavam boas.
— As notícias não são boas, . — assumiu sem fazer rodeios.
— Tudo bem. — afirmei, meio que para mim mesma. — Quero que conte tudo, não quero que me esconda nada.
Apesar de ter acordado do coma, as coisas não estavam boas, o quadro dele só piorava a cada dia e a única solução que tínhamos era o transplante. A equipe no hospital, eu e Andrew passávamos o dia todo ligando para a UNOS para saber se tínhamos algum órgão, mas nada, parecia que o dia do transplante dele nunca ia chegar, que nunca conseguiríamos um coração novo para ele e estávamos correndo contra o tempo.
Era o dia do nosso casamento, já fazia três semanas que tinha saído do hospital e um mês desde que ele tinha acordado. Eu não poderia estar mais feliz, iríamos nos casar de verdade, mas eu não conseguia deixar de pensar na doença dele, que o coração dele poderia parar de bater a qualquer momento e isto me apavorava.
Encarei meu reflexo no espelho e respirei pesadamente, eu já estava pronta e à essa altura todas as pessoas já estavam esperando para iniciar o casamento. Eu tinha escolhido um vestido branco simples com tecido de ceda, com uma fenda grande de renda nas costas e com mangas longas. O vestido era lindo, meu cabelo estava exatamente como eu tinha planejado e a maquiagem estava perfeita, não poderia estar mais feliz.
Tudo andava bem com a minha gravidez também e não parava de fazer planos, sobre como seria após o nascimento do bebê, tínhamos escolhido não saber o sexo até o nascimento e eu gostava da ideia. Porém, eu não conseguia deixar de pensar, que se não conseguíssemos o transplante de , talvez ele nem estivesse aqui para ser pai dessa criança.
Droga, o nervosismo estava me fazendo pensar em coisas assim.
— Está pronta? — Amber, entrou no quarto em que eu estava e pude ver lágrimas nos olhos dela. — Você está maravilhosa, nem acredito.
— Você também. — Afirmei, vendo-a em um vestido rosa claro, ela era minha madrinha de casamento.
— Nem sei como conseguimos organizar tudo em tão pouco tempo. — Amber disse enquanto secava suas lágrimas, tentando não borrar a maquiagem.
— . — afirmei rindo.
— Bom, temos que ir. — ela disse sorrindo para mim.
— Certo. — afirmei, tentando manter a calma.
O caminho até o salão onde seria o casamento — sim, um salão, não queríamos nos casar na igreja — pareceu uma tortura. Minhas pernas tremiam mais do que tudo e minha respiração estava ofegante, sem falar no meu coração que parecia que ia sair pela boca. Amber me acompanhou até a porta de entrada onde encontramos nosso pai, ele estava lindo, todo de terno e não pude deixar de ficar emocionado ao vê-lo ali.
Segurei no braço dele e não demorou muito para que as portas se abrissem. estava perfeito parado no altar, ele estava usando um terno todo preto com uma gravata borboleta e seus cabelos estavam um pouco mais cumpridos, o que dava um charme ainda maior para ele.
O salão estavam cheio, mas nada disso importava, eu só conseguia ver o homem parado lá na frente e a cada passo que eu dava eu sentia que ia desmaiar a qualquer momento, não era a primeira vez que eu estava casando, mas era a primeira vez que iria casar com a o amor da minha vida. E era . Ele era o amor da minha vida, eu o amava, como nunca tinha amado ninguém nessa vida.
— Cuida bem da minha filha. — Meu pai disse para ao me deixar no altar.
Me aproximei dele, ele estava lindo.
— Você está bem? — Sussurrei enquanto ele me guiava até mais próximo do altar.
riu fracamente.
— Você não dá trégua nem no dia do nosso casamento? — perguntou baixinho, soltando uma risada em seguida.
— . — o repreendi, aguardando pela resposta.
Ficamos de frente para o altar e o padre iniciou a cerimônia. Agora nada mais importava, nem os problemas, nem a doença de e nem mesmo as pessoas que estavam ali, eu só conseguia me concentrar nele, no nosso amor e no momento que estávamos vivendo agora. Isso era tudo que importava.
A cerimônia não demorou muito e, finalmente, eu e estávamos oficialmente casados. Tínhamos planejado uma festa e ela seria no mesmo salão que nos casamos, muitas vinham nos cumprimentar e muitas delas perguntavam como ele estava, me fazendo lembrar que ele estava doente, quando eu finalmente conseguia esquecer sobre isso enquanto me concentrava apenas na nossa festa.
Pedi licença para algumas pessoas e para ele, e caminhei em direção ao palco. Eu tinha planejado um discurso, isso não era algo comum para mim, mas eu queria que ele soubesse de todo meu amor por ele enquanto ainda estava comigo para me ouvir dizer.
Bati no microfone e raspei a garganta, para chamar a atenção de todos ali. Não demorou muito para que as pessoas se virassem e começassem a sentar em suas cadeiras.
— Oi. — falei no microfone, enquanto as pessoas ainda se acomodavam.
estava em pé, olhando diretamente para mim.
— Eu sei que geralmente são os convidados que fazem o discurso primeiro e depois o noivo — comecei a dizer e ri fracamente, enquanto fazia sinal para que ligassem o telão —, mas bem, eu decidi mudar um pouquinho essa tradição.
Todos me encaravam com brilho no olhar, mas eu só conseguia olhar para uma pessoa, . Ele permanecia em pé me encarando e era fácil perceber que não estava esperando por isso.
— Bom, como vocês sabem, eu sou apaixonada por aquele carinha ali atrás. — falei apontando para , que acenou para todos que agora olhavam para ele.
No telão estavam passando algumas fotos nossas e a música A Thousand Years estava tocando no fundo.
— Sabe, certa vez, ele disse que tinha refletido. — Afirmei e fiz uma pausa, minha voz estava trêmula, a vontade de chorar era imensa.
— Disse-me que o coração dele teve uma mudança. — Falei encarando-o e passei meus olhos pelo salão. — Me desesperei, claro, sempre me desespero quando fala sobre o coração dele.
Todos riram.
— Ele acha que cometeu grande erro — falei encarando. — Mas não é verdade, ele nunca acertou tanto.
me encarava, seus olhos já estavam marejados e sorri para ele.
— Você faz as coisas tão fáceis, eu que sempre complico tudo. — falei com sinceridade. — Meu coração já era seu muito antes de nos encontrarmos, quero que saiba disso. E ele será sempre seu, porque eu nunca te esquecerei.
A essa altura eu já estava chorando e fui pega de surpresa por do meu lado. Ele me tomou nos braços e começou a me dar vários beijos enquanto todos aplaudiam.
— Já era sem tempo, essa mulher é difícil viu, gente. — disse no microfone fazendo todos rirem e dei alguns tapinhas nele. — Só espero, que nossa filha seja igual a ela.
Epílogo
Por algum milagre, era um dia de sol em Boston, o sol raiva tanto que as pessoas estavam todas na rua fazendo suas caminhadas, levando cachorros para passear e seus filhos para fazer atividades ao ar livre. Minha família e a de estava toda reunida para comemorar o aniversário da pessoa mais importante na minha vida, eu tinha passado a noite toda planejando tudo e as minhas costas estavam doendo, mas eu me sentia realizada.
Estacionei de frente para a casa dos meus pais e desci já indo em direção a entrada, como de costume entrei sem precisar tocar a campainha e segui para a parte do fundo da casa onde aconteceria a festa. A organização estava praticamente pronta, estava faltando só algumas coisas que eu tinha acabado de trazer e logo avistei minha mãe vindo na minha direção.
— Os convidados devem chegar logo. — Minha mãe disse e me abraçou.
— Tudo bem, vou só vou terminar aqui. — falei indo em direção a mesa de decoração. — Mãe, a Amber está com ele? Quero que seja surpresa.
— Sim, vou falar que ela já pode vir com ele — ela disse e saiu.
Não demorei para terminar os últimos detalhes, assim como não demorou para que os convidados começassem a chegar para a festa. Amber também me informou que já estava chegando com ele e eu não conseguia conter a minha alegria para ver a reação dele, tudo que eu queria era que ele se sentisse especial em um dia tão especial, para nós dois.
Abri um sorriso, assim que o vi correr na minha direção. agarrou minhas pernas e o peguei no colo, uma criança de cinco anos pesa, tinha quase me esquecido disso porque ele não é mais um bebê e quase não o pego no colo.
— Senti saudades. — Ele disse me abraçando.
— Eu também, filho! — Depositei um beijo na bochecha dele e o apertei em um abraço. — A mamãe precisou fazer isso, para você ter essa surpresa.
Ele me abraçou mais algumas vezes empolgado e dizendo o quanto tinha gostando da surpresa e da decoração do Homem de Ferro e depois correu para se juntar aos amigos dele. tinha os olhos do pai dele, os cabelos e o sorriso, mas não podia negar que ele tinha o meu sorriso e meu temperamento também.
O pai dele. Tudo que eu sentia agora era saudades.
infelizmente não resistiu a doença, depois do nosso casamento ele começou a ficar ainda mais doente e a chances de um transplante foram totalmente perdidas. Foi difícil para mim naquela época aceitar que tinha encontrado o amor da minha vida e que eu o perderia tão rápido, mas foi assim que a vida quis e eu fiz tudo que podia para mantê-lo confortável.
Hoje sou grata, pelos sete meses que tivemos juntos ainda após nos casarmos. Ele não conseguiu ver Chris nascer, mas acompanhou quase toda minha gravidez e eu estive ao lado dele o tempo todo, tive a oportunidade de me despedir antes que ele se fosse e ele pode fazer o mesmo comigo e com nosso filho, que ainda estava na minha barriga.
Quase 5 anos tinham se passado desde então, no início eu não achei que conseguiria. Levar minha gravidez adiante, criar e ainda continuar na minha carreira médica, mas eu tinha feito uma promessa a ele. Que seguiria minha vida, que daria sentido a ela, e eu tinha um novo sentido agora, nosso filho.
Caminhei até a frente do jardim e raspei a garganta, tentando chamar a atenção de todos.
A memória do meu casamento veio a minha mente.
— Bom, como vocês sabem, eu perdi meu marido um três meses antes do nascer. — falei enquanto ligava o telão que tinha ali. — Porém, quis deixar um recado para o filho dele.
Liguei o telão e a imagem de apareceu. Meu coração ainda se acelerava, mesmo que eu o estivesse vendo por uma tela, uma gravação.
— Bom, eu já devo estar morto agora que vocês estão assistindo a esse vídeo e provavelmente já se passaram cinco anos. — começou a dizer no vídeo.
Todos olhavam concentrados, inclusive .
— Eu gostaria de estar aí. — Ele continuou e vi os olhos dele lacrimejarem. — , nem fui e já estou com saudades de você, do nosso filho.
Meus olhos encheram de lágrimas, acho que eu nunca deixaria de sentir saudades.
— Filho, você é a melhor coisa que aconteceu na nossa vida. E apesar de eu não te conhecer, sei que terá o temperamento da sua mãe e espero também, que tenha os olhos dela. — Ele disse isso sorrindo. — Ela tem os olhos mais lindos do mundo.
olhou para mim e sorriu.
— , isso é para você. — começou a dizer e eu senti meu coração acelerar. — Você é o amor da minha vida, e eu quero que você viva, acima de tudo, , viva. Quero que corra atrás dos seus sonhos, você tem um propósito agora e é o . Eu amo vocês.
Lágrimas caiam descontroladamente dos meus olhos, não de tristeza, mas de saudades. Mesmo com quase cinco anos, eu ainda sentia uma falta imensa de , tinha dias que era insuportável, como no início, mas eu tentava sempre me lembrar da promessa que fiz para ele.
— Ah. — O vídeo ainda não tinha acabado, me pegando de surpresa. — E eu nunca te esquecerei, .
Sorri com o que ele disse e vi o vídeo se apagar.
— Eu nunca te esquecei, . — Sussurrei e senti braços me envolverem.
Era , o novo amor da minha vida, um pedaço de que tinha ficado comigo.
Estacionei de frente para a casa dos meus pais e desci já indo em direção a entrada, como de costume entrei sem precisar tocar a campainha e segui para a parte do fundo da casa onde aconteceria a festa. A organização estava praticamente pronta, estava faltando só algumas coisas que eu tinha acabado de trazer e logo avistei minha mãe vindo na minha direção.
— Os convidados devem chegar logo. — Minha mãe disse e me abraçou.
— Tudo bem, vou só vou terminar aqui. — falei indo em direção a mesa de decoração. — Mãe, a Amber está com ele? Quero que seja surpresa.
— Sim, vou falar que ela já pode vir com ele — ela disse e saiu.
Não demorei para terminar os últimos detalhes, assim como não demorou para que os convidados começassem a chegar para a festa. Amber também me informou que já estava chegando com ele e eu não conseguia conter a minha alegria para ver a reação dele, tudo que eu queria era que ele se sentisse especial em um dia tão especial, para nós dois.
Abri um sorriso, assim que o vi correr na minha direção. agarrou minhas pernas e o peguei no colo, uma criança de cinco anos pesa, tinha quase me esquecido disso porque ele não é mais um bebê e quase não o pego no colo.
— Senti saudades. — Ele disse me abraçando.
— Eu também, filho! — Depositei um beijo na bochecha dele e o apertei em um abraço. — A mamãe precisou fazer isso, para você ter essa surpresa.
Ele me abraçou mais algumas vezes empolgado e dizendo o quanto tinha gostando da surpresa e da decoração do Homem de Ferro e depois correu para se juntar aos amigos dele. tinha os olhos do pai dele, os cabelos e o sorriso, mas não podia negar que ele tinha o meu sorriso e meu temperamento também.
O pai dele. Tudo que eu sentia agora era saudades.
infelizmente não resistiu a doença, depois do nosso casamento ele começou a ficar ainda mais doente e a chances de um transplante foram totalmente perdidas. Foi difícil para mim naquela época aceitar que tinha encontrado o amor da minha vida e que eu o perderia tão rápido, mas foi assim que a vida quis e eu fiz tudo que podia para mantê-lo confortável.
Hoje sou grata, pelos sete meses que tivemos juntos ainda após nos casarmos. Ele não conseguiu ver Chris nascer, mas acompanhou quase toda minha gravidez e eu estive ao lado dele o tempo todo, tive a oportunidade de me despedir antes que ele se fosse e ele pode fazer o mesmo comigo e com nosso filho, que ainda estava na minha barriga.
Quase 5 anos tinham se passado desde então, no início eu não achei que conseguiria. Levar minha gravidez adiante, criar e ainda continuar na minha carreira médica, mas eu tinha feito uma promessa a ele. Que seguiria minha vida, que daria sentido a ela, e eu tinha um novo sentido agora, nosso filho.
Caminhei até a frente do jardim e raspei a garganta, tentando chamar a atenção de todos.
A memória do meu casamento veio a minha mente.
— Bom, como vocês sabem, eu perdi meu marido um três meses antes do nascer. — falei enquanto ligava o telão que tinha ali. — Porém, quis deixar um recado para o filho dele.
Liguei o telão e a imagem de apareceu. Meu coração ainda se acelerava, mesmo que eu o estivesse vendo por uma tela, uma gravação.
— Bom, eu já devo estar morto agora que vocês estão assistindo a esse vídeo e provavelmente já se passaram cinco anos. — começou a dizer no vídeo.
Todos olhavam concentrados, inclusive .
— Eu gostaria de estar aí. — Ele continuou e vi os olhos dele lacrimejarem. — , nem fui e já estou com saudades de você, do nosso filho.
Meus olhos encheram de lágrimas, acho que eu nunca deixaria de sentir saudades.
— Filho, você é a melhor coisa que aconteceu na nossa vida. E apesar de eu não te conhecer, sei que terá o temperamento da sua mãe e espero também, que tenha os olhos dela. — Ele disse isso sorrindo. — Ela tem os olhos mais lindos do mundo.
olhou para mim e sorriu.
— , isso é para você. — começou a dizer e eu senti meu coração acelerar. — Você é o amor da minha vida, e eu quero que você viva, acima de tudo, , viva. Quero que corra atrás dos seus sonhos, você tem um propósito agora e é o . Eu amo vocês.
Lágrimas caiam descontroladamente dos meus olhos, não de tristeza, mas de saudades. Mesmo com quase cinco anos, eu ainda sentia uma falta imensa de , tinha dias que era insuportável, como no início, mas eu tentava sempre me lembrar da promessa que fiz para ele.
— Ah. — O vídeo ainda não tinha acabado, me pegando de surpresa. — E eu nunca te esquecerei, .
Sorri com o que ele disse e vi o vídeo se apagar.
— Eu nunca te esquecei, . — Sussurrei e senti braços me envolverem.
Era , o novo amor da minha vida, um pedaço de que tinha ficado comigo.
Fim.
Nota da autora: Oi, lovers!
Estou muito feliz de ter participado desse ficstape e queria agradecer desde já. Eu criei muito carinho por essa short e espero de coração que vocês gostem.
Kisses,
Vane.
Outras Fanfics:
Oblivium (One Direction - Em andamento - Restrita)
Euphoria (Originais - Em andamento - Restritas)
Road so Far (Supernatural - Em andamento - Restritas)
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Estou muito feliz de ter participado desse ficstape e queria agradecer desde já. Eu criei muito carinho por essa short e espero de coração que vocês gostem.
Kisses,
Vane.
Outras Fanfics: