06. Straight For The Knife

Finalizada em: 01/05/2015

Capítulo Único

- Princesa? – chamou baixinho, achando que eu ainda estava dormindo.
- Huuumm – murmurei, aconchegando-me mais ainda a ele.
- Ei, preguiça, tenho que ir trabalhar, e você também.
- Não! – Reclamei, escondendo minha cara em seu peitoral.
- Saudade antecipada? – perguntou, com aquele sorriso sem vergonha.
- Bastante, queria ficar aqui o dia inteiro – resolvi ceder, sim, eu não queria sair de perto daquele homem inconstante, mas meu homem. - Verei você de noite, isso ajuda um pouco, mas não é o suficiente, não mata a minha sede de você. – informei, e vi uma expressão de dúvida passar pelo rosto dele. Ah, não, de novo, não. – Você não se esqueceu, certo? – perguntei, apreensiva.
- Não, claro que não. Vamos, preciso ganhar dinheiro para calar a língua do seu pai. – falou com sua habitual carranca de volta, e eu não tive vontade de discutir e nem forças para debater.

Eu já estava no trabalho, e, agora, poderei me apresentar com mais elegância. Sou , trabalho na empresa de meu pai, a , a mais lucrativa de toda Austrália. Aquele que você acabou de conhecer é o , meu namorado, ele trabalha como economista na bolsa de valores da Austrália. Meu pai não gosta muito dele, além de achá-lo rude e introvertido, acredita que ele não é do meu “nível”; mas eu creio que meu pai está sendo ignorante o categorizando como inferior por questões financeiras, esquecendo-se que tem uma mente brilhante, uma língua afiada como faca e um corpo de tirar o fôlego de qualquer um.
Bom, posso dizer que estou extremamente entediada na empresa e adoraria ligar para o , só que ele ficaria muito irritado, odeia quando eu o interrompo; diz que pode perder milhões por causa de uma mera ligação minha, ainda acho que ele exagera. Eu, com o tempo, acabei aceitando essa situação, ora, é o trabalho dele e ele não quer perder o emprego que tanto gosta.
- Filha, onde você passou a noite? – não tinha percebido a presença do meu pai, até que ele perguntou. Sim, por mais que eu fosse maior de idade, com 23 anos nas costas, ainda morava com meus pais. Já estava providenciando um local só para mim, mas ainda não achei algo que me inspirasse.
- No apartamento do , papai. – respondi e vi quando ele fez uma cara esquisita de quem comeu e não gostou.
- Com aquele homem desprezível de novo? – perguntou, assumindo sua cara habitual de quando falávamos do meu namorado: seu rosto assumia uma postura dura e ríspida e sua voz aumentava e o tom ficava um pouco grosso.
- Ele é meu namorado – respondi, sem paciência, e rolei os olhos, torcendo para que ele não começasse aquela história tudo de novo.
- Não gosto dele.
- Não cabe a você gostar ou não. – retruquei, ríspida.
- Não quero discutir agora, mais tarde nós falamos desse homem. – finalizou vindo dar um beijo na minha testa e dirigindo-se para a porta. Assim que colocou a mão na maçaneta, parou e voltou a olhar para mim, estava triste. – Só não quero que ele mate você por dentro. – e saiu.
- Quer que eu case com alguém do meu “nível”, como você diz – reclamei baixinho e ele, provavelmente, não ouviu.
Voltei ao trabalho e torci para que o relógio, milagrosamente, acelerasse.

Put on my best dress
I wanted to impress
I put a little make-up on
Put a bow in my hair
Wore pretty underwear
Hoping you might take it off


Estava saindo do banho quando a mulher que cuida da casa de meus pais chegou com o meu melhor vestido, agradeci e ela se foi com um sorriso no rosto. Fiquei admirando o vestido preto, até que resolvi colocar a minha mais nova lingerie e, na minha opinião, a mais bonita de todas. Admirei-me no espelho, até que eu tinha um corpo bonito.
Coloquei meu roupão verde água, sentei na minha antiga penteadeira da adolescência e comecei a escovar meus cabelos, passei um creme para evitar que ele armasse, mas ele armou mesmo assim; então, resolvi fazer uma trança que dava o aspecto descabelada com um pequeno laço discreto apesar da cor, vermelho, para segurar, o que raramente ficava bonito em mim, mas, dessa vez, ficou. Tirei meu óculos de grau e os troquei pela lente, demorei uns bons quinze minutos para conseguir colocá-las, odiava colocar aquelas coisinhas. Comecei a fazer a maquiagem, nunca fui uma deusa nisso, sempre borrava o delineador, a sombra nunca ficava boa e o blush me odiava. Resolvi investir no que eu sabia passar com maestria; passei o rímel com cuidado e coloquei o meu famoso batom vermelho, de fato era pouca coisa, mas era o único jeito de saber que não estava pagando um gorila na frente de todos do restaurante.
Coloquei meu vestido que ficou do jeito que eu imaginei, colado ao corpo e a um palmo do joelho. Para finalizar, calcei meu par de salto alto vermelho sangue. Olhei-me no espelho e estava pronta, sentei na cama, peguei meu notebook, chequei meu e-mail e fui assistir House, tinha certeza que ele demoraria para chegar e eu estava adiantada. Só precisava esperar.

Tinha acabado de assistir meu terceiro episódio de House - assisti com meu irmão que veio dar um “olá” em todos da casa, mas já tinha saído, para mais uma de suas festas - e ele já estava duas horas atrasado. Ele devia ter um motivo, tenho certeza. Estava decidida a ligar quando desse três horas de atraso.

Mais dois episódios de House se passaram e eu, finalmente, liguei para ele.
- Alô? – atendeu.
- Você não vem? – perguntei, um pouco irritada, mas fazendo de tudo para ele não perceber.
- Estou chegando.
- Para onde vamos? Já perdemos a reserva. – dessa vez, falhei um pouco em disfarçar a minha raiva.
- Veremos quando eu chegar, sem chilique infantil. – E desligou, sem me dar o direito de protestar. Com ele sempre é assim, quando ele faz merda, não aconteceu nada, tudo tem que voltar ao normal; quando eu faço, o mundo só falta cair. Aquilo estava começando a me irritar profundamente.
Bom, eu esperei. Meia hora depois ele me ligou, dizendo que estava me esperando lá embaixo e que não era para eu demorar, tem como ser mais idiota? Ele atrasa horrores e eu não posso demorar meio segundo.
- Boa noite – ele cumprimentou-me assim que entrei no carro, tentou dar um selinho em mim, mas eu desviei o rosto.
- Bom começo de madrugada – rebati, furiosa. Ele ignorou e rumou para um lugar conhecido por nós, seu apartamento. Eu sabia, era sempre assim, não sei por que ainda me arrumo toda, é sempre em vão. Respirei fundo e tentei me acalmar, só tentei, ainda estava bufando ruidosamente. E ele continuava a ignorar as minhas reações.

Don't know your etiquette
But I'm strapped to my chair
And it ain't cause you're pretty
You were charming until
You saw your chance to kill
Your chance to make a story


Entrou na garagem, estacionou e saiu do carro, não erámos daqueles casais que o homem abre a porta para mulher. Sai do carro e rumei para o elevador, ainda pude ouvir o barulho do carro sendo trancado e os passos dele ecoando atrás de mim. Entramos no elevador em silêncio e assim foi até chegarmos no andar dele e entrar no apartamento dele.
- Vou pedir uma pizza – ele quebrou o silêncio.
Eu sentei no sofá e respirei fundo, queria chorar. Chorar de raiva.
- Não íamos sair? – perguntei, cínica.
- Poupe-me. – respondeu, bufando e sentando-se no sofá a minha frente. ELE ESTAVA FICANDO IRRITADO?! ELE?!
- Poupar você?! Que merda de namorado você é?! EU LEMBREI VOCÊ HOJE DE MANHÃ! Coloquei minha lingerie mais bela, meu melhor vestido, eu achei que, pelo menos uma vez na vida, você se lembraria de mim! – não consegui me conter e liberei tudo que queria falar, olhando nos olhos dele.
- Eu sou a merda do seu namorado! Aquele que se mata de trabalhar, pois, ao contrário de você, se eu não trabalho não tenho ninguém para me dar dinheiro! Eu fiquei até aquela hora tentando não perder dinheiro, enquanto você tomava a porra do seu banho de princesinha do papai e se arrumava toda, EU TRABALHAVA! Eu não sou a merda do seu cachorrinho de raça! E, se não está satisfeita comigo, o que diabos ainda faz aqui? Pode me largar, vou ficar contente em transar com outras mulheres. – ele berrava tão alto que chegou a me fazer lacrimejar, mas suas últimas palavras, além de me corroerem por dentro como ácido, fizeram-me chorar de verdade e ter repulsa do cara pelo o qual eu sou apaixonada.
- Fique à vontade com as suas putas. – respondi, levantei-me do sofá, peguei minha bolsa e sai pela porta sentindo seu olhar fuzilar minhas costas, mas não olhei para trás.
Não pensei que acabaria com uma briga daquelas, mas sei que não foi só aquela briga, foi o conjunto de todas as coisas que estavam dando errado. Estou tentando ser racional, mas está cada vez mais difícil.
Bati a porta com força e liguei para o meu irmão ir me buscar, ele, por sua vez, ficou extremamente preocupado e disse que chegaria em dez minutos. Enquanto ele não chegava fiquei curtindo minha solidão, lágrimas e a tristeza que se apossavam de mim cada vez mais. Lado racional deu o lugar para o emocional que tomou conta de tudo. Olhei para a janela do apartamento dele e o vi, era tão complicado distinguir suas feições de longe, mas acredito que ele tinha uma carranca nada bonita no rosto. Ele saiu da janela e eu suspirei.
Como ele podia ser tão lindo e encantador, mas, ao mesmo tempo, tão dolorido. Nunca soube escolher o cara certo para me apaixonar, mas eu realmente amava o e amá-lo era como ir direto para a faca.
Porém suas palavras chegaram no fundo da minha consciência, e me cortaram como uma faca bem afiada rasgaria uma garganta. Eu tinha que fazer algo por mim, algo que não precisasse da ajuda de ninguém, algo totalmente meu.
Meu irmão chegou e eu entrei no carro, nem preciso falar que ele me aconchegou em um abraço e eu voltei a chorar mais ainda. Fez bem para mim quando ele aumentou o rádio e abaixou os vidros, o vento batendo no meu rosto e a música animada eram uma terapia e tanto.

You went straight for the knife
And I prepared to die
Your blade, it chines
Looked me straight in the eye
You turned the gas on high
Held the flame alight
You wonder why I'm scared of fire
You wonder why you make girls cry


Assim que cheguei em casa fui correndo chorar tudo que tinha para chorar no meu lindo travesseiro com a fronha personalizada, onde lia-se “Acorde para a vida!”. Eu me lembrava de quando pedi aos meus pais para me darem uma fronha verde água com aquela frase, eu tinha treze anos, se não me falha a memória, quis aquela frase, pois queria acordar e ver aquele trocadilho que me intrigou tanto na adolescência, talvez porque eu queria viver uma vida cheia de coisas, viagens e etc, eu achava que o dia que tivesse isso seria livre. Eu, no atual momento, sempre pude ter minha tão sonhada liberdade, ou o que eu achava que era, mas não tive, porque preferia ficar agarrada ao do que viver minha vida, sem ninguém metendo o nariz nela. Mas eu mudaria isso e seria agora.
Sempre quis casar, ter filhos e ter aquelas famílias de comercial de margarina, mas, quer saber? Se eu tivesse uma família de comercial de margarina e comesse margarina todas as manhãs, estaria ferrada, margarina é uma das grandes causas do entupimento de veias, e eu não quero isso para mim e nem para minha família imaginária.
Ouvi a porta do meu quarto fazer um leve ruído, que conseguiu me arrancar dos meus devaneios. Olhei para o lugar de onde vinha o barulho e vi meu irmão sorrindo triste para mim e vindo na minha direção, abraçar-me. Abracei-o de volta com todo o carinho e voltei a me entregar as lágrimas, gordas e abundantes.
- Quer falar sobre o que aconteceu, ? – Antony perguntou, exalava preocupação.
- Ele alguma vez já me amou, Antony? – falei com a voz embargada.
- Não sei, devia fazer essa pergunta a ele, o que ocorreu? – retrucou abraçando-me mais forte ainda.
- Se a intenção dele foi me amar, errou feio.
- Conta, por favor, nunca fui bom em enigmas.
- Então somos duas pessoas horríveis em enigmas, e é um enigma, acho que nunca o entendi – suspirei e, logo depois, continuei: - Eu não sei o que aconteceu, só sei que queria que ele evaporasse das minhas lembranças, ia doer menos, entende? Meu coração foi direto para a faca.
- Não diga isso, seu coração está batendo, eu posso senti-lo. Você vai se apaixonar de novo e, dessa vez, o cara vai ser um príncipe de conto de fadas.

My mascara, a mess
Harsh words for your princess
Boy, you and your promises
And if you goal was to love
You scored an epic mess
Now you'll just have memories


- Isso não existe, eu queria meu sapo, mas ele conseguiu acabar com a minha maquiagem.
- Então vai limpar o estrago do sapo.
Não respondi, só me levantei e fui para o banheiro. Não me olhei no espelho, só limpei meu rosto às cegas, olhando para o ralo da pia, qual seria o fim daquele cano? Um cano sombrio, arrepiante e assustador, assim como o , talvez ele não fosse um sapo e, sim, um cano da pia do meu banheiro. Será que a desilusão amorosa causava loucura? Estou igual a um louco, acabei de comparar o a um cano, agora não consigo parar de rir. A loucura devia ter me atingido.
Voltei para o quarto onde Antony me esperava com os braços abertos, pulei nos braços dele e fiquei por lá, prestando atenção nos pelos do braço dele.
- Já que não vai me contar, o que quer fazer? Algo que coloque um sorriso no seu rosto, por favor. – Antony pediu com um sorriso encantador, ninguém pode com aquele sorriso.
- Pular de bungee jump na Nova Zelândia – respondi, mas eu só queria rever os episódios mais tristes de Game Of Thrones pelo resto da noite, e chorar e chorar e chorar.
- Tudo bem, vamos planejar a viagem o quanto antes, desde que você sorria – respondeu sorrindo, e eu deixei meu queixo cair, mas logo sorri.
- Vamos, depois podemos assistir os episódios mais tristes de Game Of Thrones que era o meu pedido verdadeiro, mas adorei o fato de você ter topado o meu pedido fantasioso. – respondi e ele revirou os olhos.
- Vamos começar com a primeira temporada: a morte da Lady, do Ned Stark e do Khal Drogo, tudo bem?
- Vou morrer de chorar – coloquei a verdade para fora. – Antes de dar play traz água para mim e chocolate amargo, para combinar com a minha vida no exato momento. – pedi e ele só assentiu com a cabeça, depois de rolar os olhos novamente.
Ninguém aguentava o fim do meu relacionamento com o mais a morte do Ned Stark, é pedir para desidratar, sem contar a morte da Lady e do Khal Drogo.

Depois de planejar a viagem para Nova Zelândia, o que nos custou quase quatro horas, mas a noite é uma criança quando se tem café e nem um pouco de sono, assistimos todos os três episódios, chorei e chorei e chorei. Quase esqueci de dizer que decidimos viajar dali a sete dias, seria uma loucura das grandes, mas eu estava precisando daquilo, ficaríamos por sete dias.
- Não vai para sua casa? – perguntei ao meu irmão.
- O que foi? Está me expulsando? Estava pensando em dormir na sua cama, ué, vê algum problema? A casa é dos nossos pais, não se esqueça – respondeu com falsa indignação.
- Vou ficar feliz se você ficar.
- Se não ficasse feliz, eu ficaria do mesmo jeito – informou e piscou enquanto fazia uma careta exagerada, o que me fez rir e fazê-lo sorrir.

Um lugar limpo, bonito e neutro. Corretora de imóveis. É, eu estava procurando um apartamento, decidi que já era hora de ter meu próprio lugar.
- Senhorita ? – o corretor perguntou e eu assenti, indo com ele para uma sala separada. Esperava do fundo do meu coração que, finalmente, encontrasse um lugar inspirador para morar.

You went straight for the knife
And I prepared to die
Your blade, it chines
Looked me straight in the eye
You turned the gas on high
Held the flame alight
You wonder why I'm scared of fire
You wonder why you make girls cry


- Eu nem acredito nisso – Antony começou a discursar, eu previa que seria longo... -, você está se mudando da casa dos nossos pais e está, no momento, no avião indo comigo para a Nova Zelândia.
- Pode acreditar, agora me deixa dormir. – respondi cansada, até que não foi um discurso.
- Preguiçosa.

Estava na cama do e ele fazia um carinho gostoso nas minhas costas, tão mágico.
- Princesa, – chamou e eu murmurei algum som inaudível. – ei, vou acender a lareira, faz alguma coisa para comermos. – avisou e eu murmurei algo em concordância.
Lareira? não tinha uma lareira. Despertei e corri atrás dele. Agora ele tinha? Que lareira esquisita, o fogo era intenso e alto, aquilo não era uma lareira, era uma fogueira. UMA FOGUEIRA DENTRO DE CASA?
- , isso é uma fogueira dentro de casa? – perguntei, estava começando a me apavorar.
- Sim, tem medo do fogo, princesa? – retrucou com outra pergunta e o seu olhar estava queimando igual ao fogo.
- Por favor, apague ele, é perigoso, . – clamei, mas ele só gargalhou e seu olhar virou gelo.
- Não irei apagar, princesa.
E eu comecei a chorar do nada, por que diabos eu estava chorando?! O que estava acontecendo?! PARE DE CHORAR, !
- Eu fiz você chorar, princesa? – perguntou, preocupado e com os olhos opacos. Eu consenti com a cabeça, mas eu não queria me movimentar, era como estar presa no próprio corpo. O que diabos estava acontecendo?! – Por que eu faço as garotas chorarem? – perguntou mais a si mesmo do que a mim. Eu vi lágrimas cair do rosto dele e ele sair para cozinha. Corri até a cozinha atrás dele, sem ter a real vontade, eu só via, mas não comandava nada. Aquilo não era a cozinha, era a casa de campo dos meus pais. – Eu não quero fazer você chorar, eu não quero sufocar você, eu não quero te matar com esse amor ruim.
O amor ruim dele que me levava ao céu, mas também me trazia direto para a faca. Direto para a faca que tinha ali no gramado. Direto para faca.


- ! – Antony chamava enquanto me chacoalhava, murmurei algo e o abracei forte enquanto comecei a chorar, pesadas e doloridas lágrimas. – Você estava sonhando? – perguntou e eu fiz algo com a cabeça assentindo. – Quer me contar o que acontecia no sonho? – balancei a cabeça em negação. – Era sobre o ? – eu fiquei como uma estátua. – Era. – Antony abraçou-me mais forte ainda, enquanto eu despejava toda a minha dor e aquele sonho maluco em lágrimas.

- Respira e pula! – Antony gritava para mim. Sorri para ele e ele correspondeu.
Eu respirei fundo e pulei de braços abertos. O vento batia tão forte que meus olhos não conseguiam ficar abertos, mas, ainda assim, lacrimejavam. Eu gritava alto, não era medo, só era aquele negócio que nos faz gritar por puro prazer. A sensação era de uma liberdade e um friozinho na barriga que deixavam qualquer um louco, meu pai e diriam que eu sou louca, não se gostam, mas são tão parecidos. Quando a queda parecia ter parado, eu abri os olhos, estava sendo alavancada ainda, havia um rio e uma ponta afiada de uma provável rocha, que fazia a água mudar seu caminho para contorná-la. A única coisa que veio na minha cabeça foi: Direto para a faca. Se eu caísse iria direto para lá.
Quando percebi que tinha acabado e que já estavam me pegando, comecei a chorar. Não estava sendo fácil ficar longe dele, mas ficar sem o amor é melhor do que ficar com um amor ruim que, mesmo estando ao seu lado, só te faz chorar.
Chega uma hora que devemos prestar atenção no quanto aquele amor faz você sorrir e chorar, ele traz mais coisas boas ou ruins? O amor de me fazia muito feliz, mas as vezes que eu ficava triste com aquele amor eram extremamente abundantes.

- Antony! Para de fazer bagunça e vem me ajudar a colocar isso aqui! – gritei enquanto gargalhava da criancice do meu irmão.
- Antony chegando! – gritou em resposta, ainda gargalhando da própria brincadeira.
Tentava arrumar minha mudança no novo apartamento e os novos móveis. Meu pai não tinha gostado muito da minha repentina saída, mas ele não tinha o que gostar; minha mãe ficou feliz e triste, ela não queria perder a última filha para o mundo, nas palavras dela, mas feliz porque eu estava, na explicação dela, tendo mais confiança para fazer as minhas próprias escolhas, para levar a minha vida sem ninguém meter o dedo, estava tornando-me mais independente.

Boy you draw me back in
I'm hungry for your bad loving
But will someone find me swinging from the rafters
From hanging on your every word


Já era noite quando meu irmão saiu da minha casa, como era bom ter um cantinho só meu. Tinha tomado banho, colocado o pijama, estava pronta para dormir quando resolvi dar uma checada básica no meu celular e vi uma mensagem brilhar na tela. Uma mensagem do . Meu coração bateu tão rápido que tive a sensação que ele iria rasgar minha pele e sair saltitando pela cobertura. Respirei fundo e abri:

Comprou uma cobertura?


Como ele sabia? Eu podia estar tremendo, decepcionada por ser só aquilo e com o coração fora do meu peito, mas consegui ficar chocada ao saber que ele, de alguma forma, descobriu que eu comprei um apartamento. Ele sempre soube de tudo.

Como sabe?


Esperei a resposta que veio em cerca de um minuto, sim, eu contei mentalmente. Achei que pensar nos números me acalmaria, mas não, só me lembrava dele.

Meu primo é seu vizinho de baixo, e ligou perguntando se você havia se mudado, ou se os olhos dele o enganavam. Parabéns, fico feliz em saber que saiu da casa do seu pai.


Suspirei, por acaso você, mente malvada, pensou que ele viria correndo dar uma amostra grátis de seu ser sensível e pontual? CLARO QUE NÃO! Ele nunca foi pontual e muito menos a sensibilidade em pessoa.

Ah... Obrigado. Boa noite.


Educação em primeiro lugar. Tenho que focar na minha preparação para achar meu coração e colocá-lo no lugar novamente. Ele e sua educação quase nula não me respondeu, mas não me importava, era melhor assim para a minha sanidade já maltratada.
Voltei a me deitar e tentar relaxar para ter uma noite de sono tranquila, mas minha cabeça não parava de pensar e eu não entendia nada. Revirar na cama e revirar e revirar, estava tornando-se uma ação constante daquela noite.
Quando, finalmente, estava conseguindo dormir, a campainha tocou. Só podia ser o Antony, mas o que diabos aquele homem queria?
Fui olhar o olho mágico, não era maluca o suficiente para abrir a porta sem saber quem é que está do outro lado. Para a minha completa surpresa e total volta ao estado não-relaxado de antes, era o , de terno, aquele homem de terno matava qualquer sanidade que eu conservava desde que eu o conheci. Abri a porta relutantemente.
- , o que está fazendo aqui? – falei sem ter terminado de abrir a porta.
- Vim atrás de você – e com aquelas lindas palavras naquela voz grossa de homem das cavernas – o que ele era, devia ser seu apelido - e aqueles olhos pegando fogo, ele me tomou nos seus braços e me beijou sem pudor algum ali mesmo.
Conseguimos entrar para a casa e fechar a porta sem desgrudar nossos lábios. Minha mente gritava para parar, que eu iria me arrepender depois; mas meu coração implorava pelo amor ruim dele, suplicava para sermos um só corpo, um só coração. Eu queria desafiar as leis da física aquela noite, queria ser só dele e aquietar o meu coração. Por outro lado, eu morria de medo de amanhã meu coração ser encontrado balançando em uma viga por ter me prendido nele de novo, em todas as palavras que um dia ele já me disse e na frase dessa noite. Enquanto os olhos enigmáticos dele ardiam em chamas, os meus estavam divididos em desejo e medo. Mas, só por aquela noite, eu deixaria que meu coração parasse de sangrar. Sim, meu coração sangrava com o fato dele estar tão longe do coração-metade-da-laranja dele. Só por essa noite, eu vou deixar meu coração sorrir para o coração-metade-da-laranja dele, e eu torcia para que o amanhã não o levasse direto para a faca. Ah, o amor próprio, amanhã eu trabalho com você.

Hoje, eu vou direto para a faca, direto para o meu . Amanhã, irei ver o que vou fazer com seu amor ruim. A chama do nosso amor era atraente do mesmo jeito. Não sabia se voltaria ou não com ele, só sabia que deixaria o amor incendiar por aquela noite.

You went straight for the knife
And I prepared to die
Your blade, it chines
Looked me straight in the eye
You turned the gas on high
Held the flame alive
You wonder why I'm scared of fire
You wonder why you make girls cry


FIM!



Nota da autora: Olá! Espero que gostem. Entrem no grupo das minhas fanfics clicando aqui:



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