07. Espresso

Finalizada em: Março de 2025

Prólogo - Insônia e outras maldições


Desde que me entendo por gente, sempre consegui o que queria.
Não por birra, nem por teimosia, mas porque o mundo ao meu redor sempre se dobrava para me agradar. Quando você nasce null null, filha de Daniel null, uma estrela renomada de cinema ganhador de 3 Oscars, e Sophia Laurent, diva do teatro com a Broadway inteira aos pés, as portas simplesmente se abrem. E quando você cresce em meio a holofotes, aplausos e elogios vazios, aprende rápido que nada é inatingível.
Mas também aprende que, no fundo, tudo é passageiro.
Eu sabia que tinha talento. Minha voz, minha presença, meu instinto para a música — nada disso veio dos meus pais, veio de mim. Mas nunca soube dizer se as pessoas me admiravam de verdade ou se só me tratavam como mais uma null, a herdeira de um império artístico. Não importava quantas músicas eu escrevesse, quantos shows lotasse, quantas vezes provasse que o meu nome era meu e não uma sombra da minha família. No fim das contas, o que eles queriam mesmo era a ideia de mim.
E com os homens, era ainda pior.
Eu via nos olhos deles. No começo, era sempre fascinação. Eles queriam a experiência, a história para contar: "Eu estou saindo com null null." Uma fantasia cuidadosamente montada, onde eu era sempre um pouco mais intensa, um pouco mais misteriosa, um pouco mais impossível de resistir.
Mas a verdade? Eles nunca queriam a null de verdade.
Nenhum deles fazia ideia de quem eu era quando não estava no palco, sem maquiagem, sem o jogo de provocações. Nenhum deles me enxergava além daquilo que projetavam. Então, quando o desejo era satisfeito, quando eu provava para mim mesma que podia ter qualquer um deles, já não havia mais motivo para ficar.
E foi aí que minha fama começou.
"Ela deixa os homens sem dormir."
"Nenhum deles consegue esquecê-la."
"É como um vício: um pouco e você está perdido."
As revistas diziam isso como se fosse algum tipo de feitiço, como se eu tivesse sido amaldiçoada para arruinar noites de sono alheias. Mas a verdade era bem menos poética.
Eu não os deixava acordados porque era misteriosa ou irresistível. Eu os deixava acordados porque, quando eles achavam que tinham me conquistado, eu já tinha ido embora.
E era sempre assim. Sempre.
Bom, até eu conhecer ele.

Capítulo 1 – O Primeiro Encontro


A primeira vez que vi null null, meu primeiro instinto foi pedir outro drink.
E talvez um pedido de socorro.
Porque, se tem uma coisa que eu detesto mais do que jornalistas metidos a críticos de arte, são jornalistas metidos a críticos de mim. E null? Ah, ele era campeão nisso. Escreveu umas dez matérias sobre mim nos últimos anos, todas afiadas, todas cheias daquele tom presunçoso de quem acha que me decifrou como se eu fosse um enigma barato.
"null null sabe provocar, mas será que sabe surpreender?"
"Sua voz é marcante, mas até quando?"
"Ser desejada é fácil. Ser lembrada é outra história."
Eu me lembrava de todas. Principalmente porque nunca gostei de nenhuma.
Então, claro, ele estava ali. No mesmo evento que eu. Encostado no bar, girando um copo de uísque na mão, olhando para mim com aquela expressão de quem já decidiu qual vai ser o título da próxima crítica.
Idiota.
Respirei fundo e fui até o balcão. Poderia simplesmente ignorá-lo, mas isso seria um desperdício da oportunidade perfeita de provocar alguém que claramente adorava me analisar.
Me sentei ao lado dele, pedi meu drink e fingi que ele não existia. O que, obviamente, só o incentivou.
— Não vai pedir nada? — ele perguntou, ainda olhando para o próprio copo.
Revirei os olhos e fiz sinal para o bartender.
— Martini. Duplo.
null sorriu de canto. Maldito.
— Acho que você vai precisar. Sou eu quem vai te entrevistar hoje.
Ótimo. Como se minha noite já não estivesse cansativa o suficiente.
Peguei meu martini e dei um gole generoso antes de virar para ele.
— Eu realmente preciso descobrir quem, na minha equipe, achou que isso era uma boa ideia.
Ele deu de ombros, aquele maldito ar relaxado que me irritava e me instigava ao mesmo tempo.
— Talvez eles quisessem te dar uma chance de se defender.
— Defender do quê?
— De mim.
Eu ri. Não porque era engraçado, mas porque null null realmente acreditava que eu precisava me preocupar com ele.
Cruzei as pernas e me inclinei um pouco, fingindo analisá-lo. O terno escuro caía bem nele, a barba por fazer dava um charme displicente, mas o que me prendeu foi a postura. A confiança de quem sabia que me incomodava e gostava disso.
— Você já escreveu sobre mim umas dez vezes. Nunca pediu minha opinião antes.
— Achei que você preferisse o mistério.
— Achei que você preferisse suas próprias teorias.
Ele riu, e foi nesse momento que percebi: null null não estava ali para me atacar. Pelo menos, não ainda. Ele queria me entender.
E isso era bem mais perigoso.
Bebi um gole do martini, deixando que o silêncio se prolongasse. Ele apenas me observava, esperando.
— Então, me diz, null… o que você quer saber?
Ele girou o copo de uísque, pensou por um segundo e então disse, calmo:
— Quero saber quem você é quando ninguém está olhando.
Minha sobrancelha arqueou sozinha.
Teria sido uma boa pergunta, se não viesse de alguém que achava que já sabia a resposta.
Segurei a taça perto dos lábios e sorri devagar.
— Você não tem nem ideia no que está se metendo.
null não desviou o olhar. Não sorriu daquela vez. Apenas inclinou levemente a cabeça e respondeu, tranquilo:
— Não se preocupe, null. Eu durmo muito bem à noite.
E foi ali, naquele exato momento, que eu decidi.
Ele não ia dormir mais.

Capítulo 2 – Acordo


Eu não sabia exatamente por que tinha concordado com aquilo.
Talvez porque quisesse ver até onde null null aguentaria. Talvez porque gostasse da ideia de ter um jornalista cético me seguindo por um dia inteiro, sendo obrigado a conviver comigo sem poder distorcer minha imagem em palavras afiadas.
Ou talvez, e eu odiava admitir isso, porque algo nele me intrigava.
Ele chegou cedo, como se não quisesse me dar chance de mudar de ideia. Vestia uma camisa preta com as mangas dobradas nos antebraços e segurava um caderno de anotações — um detalhe que me fez rir.
— O que foi? — perguntou ele, franzindo a testa.
— Você realmente usa um caderno? O grande null null não faz anotações no celular?
Ele deu de ombros.
— Tecnologia falha. Confio mais no papel.
— Você soa como um avô.
— E você soa como alguém que ainda não me disse por onde vamos começar.
Cruzei os braços e sorri.
— Meu dia é longo. Tem certeza que aguenta?
— Eu só preciso acompanhar.
— Tudo bem — respondi, me virando. — Mas aviso logo: eu gosto de testar limites.

Passamos a manhã no estúdio, onde eu tinha uma reunião para discutir a produção do meu próximo álbum. null ficou quieto durante a maior parte do tempo, observando, anotando, ocasionalmente levantando a sobrancelha para alguma exigência minha. Quando a reunião terminou, sentei-me ao lado dele e perguntei:
— Qual foi sua primeira impressão?
Ele me olhou de lado, fingindo pensar.
— Que você gosta de ter controle sobre tudo.
Sorri.
— Isso é novidade para você?
— Não. Mas é diferente ver ao vivo. Você entra em um ambiente e ocupa cada espaço dele.
Pisquei, surpresa com a resposta.
— Isso foi um elogio?
— Só uma observação.
Bufei.
— Você é difícil de decifrar, null null.
Ele riu.
— Isso vindo de você é quase cômico.

Mais tarde, no carro, enquanto éramos levados para um evento beneficente, ele finalmente mencionou o verdadeiro motivo para estar ali.
— Ganhar o prêmio de Melhor Matéria do Ano ajudaria minha família — ele disse, de repente.
Virei a cabeça para ele.
— Como assim?
Ele hesitou por um instante, mas então suspirou e explicou:
— A casa onde cresci está prestes a ser vendida. Minha mãe tentou segurar as pontas, mas as dívidas se acumularam depois que meu pai morreu. Se eu conseguir esse prêmio, posso usar o dinheiro para pagar o que falta.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo a informação.
null não parecia o tipo de pessoa que falava sobre sua vida pessoal facilmente. O fato de ele estar me contando aquilo significava alguma coisa.
— Então é por isso que você me escolheu?
Ele me olhou nos olhos, sério.
— Eu te escolhi porque você me intriga. O prêmio é consequência.
Por algum motivo, aquilo me deixou inquieta.

No evento, o vinho circulava livremente, e a formalidade da noite logo se dissolveu em conversas descontraídas.
Em algum momento, null e eu encontramos um canto mais reservado, onde ríamos sobre alguma história absurda de infância que ele tinha acabado de me contar.
— Você não tem cara de quem fazia merda quando era criança — comentei, segurando a taça.
— Eu era um terror — ele confessou. — Um dia, tentei vender ingressos para ver a garagem do meu vizinho porque achei que ele escondia um carro de corrida secreto.
Engasguei com o vinho.
— Você era um pequeno golpista!
Ele sorriu, um sorriso genuíno, que me pegou desprevenida.
— E você? Que tipo de criança era null null?
Suspirei, fingindo pesar.
— O tipo que sempre teve tudo o que queria, mas nunca sabia o que fazer com isso.
null ficou em silêncio por um instante, me observando como se tentasse me entender. Então, apenas disse:
— Isso faz sentido.
— Faz?
Ele bebeu um gole de vinho, sem desviar o olhar.
— Você sempre parece estar esperando alguma coisa. Algo que te surpreenda.
Fiquei sem resposta. Pela primeira vez no dia, ele tinha me deixado sem palavras.
— Você disse que esse prêmio salvaria sua casa, certo?
Ele assentiu, mas sem aquela expressão despreocupada que ele costumava usar. Dessa vez, havia algo mais sério em seu olhar.
— Minha mãe ainda mora lá — ele explicou. — É onde eu cresci, onde minha irmã aprendeu a andar. Depois que meu pai morreu, ela tentou segurar as pontas, mas as contas foram se acumulando. O banco quer a casa. Se eu ganhar o prêmio, consigo pagar o suficiente para mantê-la.
Eu não sabia o que responder de imediato. Talvez porque não estivesse acostumada a homens me contando coisas assim. Homens, no geral, queriam me impressionar, me seduzir, me prender em alguma ideia fixa que tinham de mim. Mas null? Ele só estava me contando um fato.
E eu não sabia o que fazer com isso.
Então, fiz o que sempre faço quando estou desconfortável: provoquei.
— Você quer que eu te dê uma história que ninguém tem para ganhar esse prêmio?
null sorriu, mas era um sorriso afiado, calculado.
— Quero que você me dê algo verdadeiro.
Virei o restante do vinho e deixei a taça na mesa ao nosso lado.
— Tudo bem, null. Eu vou te ajudar.
Ele piscou devagar, surpreso por um segundo antes de recuperar a compostura.
— Assim tão fácil?
— Fácil? — ri. — Eu nunca disse que ia ser fácil.
Ele me olhou por um longo instante, como se tentasse decifrar o que eu estava aprontando.
Eu também não sabia.
Mas, por algum motivo, naquele momento, a ideia de ajudá-lo não parecia tão absurda. Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, alguém estivesse tentando enxergar null de verdade — e não apenas a null que o mundo esperava.

Capítulo 3 – Demasiado null


null estava em todo lugar.
No começo, foi divertido. Um jogo de provocações sutis, uma brincadeira para testar os limites dele e os meus próprios. Mas, de alguma forma, sem que eu percebesse, sem que eu tivesse qualquer controle sobre isso, ele foi se infiltrando na minha rotina.
Agora, onde quer que eu olhasse, ele estava lá.
Se eu tinha uma entrevista na rádio? null estava no canto do estúdio, tomando notas no celular, ouvindo cada palavra com aquele olhar atento que me dava nos nervos. Se eu ia para um jantar com investidores? Ele se acomodava à mesa como se sempre tivesse feito parte do meu círculo social. Se eu estava no estúdio gravando, ele aparecia com um copo de café e um olhar de quem sabia mais do que deveria.
E o pior? Ninguém parecia se importar.
Minha equipe já o tratava como um acessório inevitável. Meu empresário dizia que era “ótimo para a publicidade” ter um jornalista de prestígio tão imerso na minha vida. Os fotógrafos o registravam como se ele fosse parte da cena.
E eu?
Eu estava começando a odiar o quanto eu gostava daquilo.
— Você tem ideia do quanto é irritante? — soltei, certa noite, no meio do meu camarim.
null, que estava casualmente encostado no sofá, lendo alguma coisa no celular, nem levantou o olhar.
— Não faço ideia.
Revirei os olhos e continuei passando o demaquilante no rosto.
— Sério. Eu estou começando a achar que você não quer uma matéria. Você quer um crachá de acesso total à minha vida.
Ele finalmente ergueu os olhos, arqueando uma sobrancelha.
— Se quiser, eu posso providenciar um.
— Você não está entendendo, null — me virei para encará-lo, irritada com a tranquilidade dele. — Eu já estive cercada de jornalistas antes. Mas você é diferente.
Ele inclinou a cabeça, como se estivesse genuinamente interessado.
— Diferente como?
Suspirei, jogando os lenços demaquilantes na pia e sentando na poltrona em frente a ele.
— Você não quer escândalo. Não quer uma fofoca. Você nem sabe o que quer e isso me assusta.
Ele não respondeu de imediato. Apenas me observou, como fazia quando achava que eu ia falar algo importante.
Então, com a voz calma, ele disse:
— Você não acha estranho que ninguém realmente saiba quem você é?
Aquilo me pegou desprevenida.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso da pergunta.
— Ninguém precisa saber. O público já tem a mim, minha voz. Eu tenho o controle sobre o que sabem. Poucas pessoas como eu têm isso.
Me inclinei para frente, olhando diretamente para ele.
— Você e eu somos opostos. O que você faz é invadir a vida das pessoas, como se elas não tivessem sentimentos.
null não esperava ouvir um sermão sobre sentimentos de null null.
null, a mulher que fugia deles.
Ele havia compreendido isso nas últimas semanas. Ela pegava o telefone de alguém e, depois de alguns dias, ignorava suas ligações. Desviava de laços, de expectativas, de qualquer coisa que a fizesse sentir algo real.
Mas agora, ao encarar null, sentia como se estivesse diante de um espelho.
E isso a assustava.

Capítulo 4 – No elevador


O elevador subia devagar demais.
O silêncio entre nós era pesado, carregado de algo que eu não queria nomear. Eu podia sentir null ao meu lado, a presença dele grande demais naquele espaço apertado. Eu odiava quando ele fazia isso — quando conseguia me incomodar sem precisar dizer uma palavra.
Ele tinha insistido em me levar para casa depois do evento. Disse que seria mais seguro do que chamar um motorista. E eu, exausta demais para discutir, aceitei.
Agora, subíamos juntos até meu apartamento, e eu queria que a porra do elevador fosse mais rápido.
— Então… — ele quebrou o silêncio, sem olhar para mim. — Medo de dirigir à noite? Isso não combina com você.
— Medo, não — rebati, encarando os números digitais trocando devagar acima da porta. — Precaução.
Ele soltou um riso baixo, cético.
— Precaução? Você é a pessoa menos cautelosa que eu conheço.
Revirei os olhos.
— Ah, me desculpe. Não sabia que você era especialista em mim agora.
Ele se virou ligeiramente, cruzando os braços.
— Eu só acho curioso que a mulher que não tem medo de acabar com carreiras, corações e noites de sono tenha medo de uma estrada escura.
Eu apertei os punhos.
— Você é um idiota.
— E você foge de tudo que pode te atingir de verdade.
Eu virei para ele.
— O que diabos isso quer dizer?
— Quer dizer que você escolhe seus medos. Escolhe quando sentir. Escolhe quando se importar. Mas quando algo sai do seu controle, você surta.
O elevador parou no meu andar. As portas se abriram, mas nenhum de nós se moveu.
Minha respiração estava curta. Meus dedos tremiam de raiva.
— Você não sabe nada sobre mim, null.
Ele deu um passo à frente, e eu não recuei.
— Eu sei que você odeia o fato de que eu estou aqui.
— Odeio mesmo.
— E odeia que eu te entenda mais do que deveria.
— Você não entende nada.
— Então me diz, null — a voz dele era baixa, desafiadora —, por que eu sou o único homem que ainda está aqui?
Meu coração bateu forte.
Estávamos a centímetros de distância. O elevador parecia menor, o ar mais pesado. null continuava me encarando com aquele maldito sorriso presunçoso, o cabelo bagunçado como se soubesse exatamente o que fazia comigo.
Ele queria uma reação.
E eu dei.
Antes que eu pudesse pensar, antes que eu pudesse hesitar, fechei o espaço entre nós e o beijei.
Foi como um incêndio instantâneo. Quente, faminto, explosivo. Eu senti a surpresa dele por um segundo antes que suas mãos corressem para a minha cintura, me puxando com força contra ele.
Um gemido rouco escapou de sua garganta, e aquilo só me fez querer mais.
Minhas mãos deslizaram para os cabelos dele, puxando sem delicadeza. null correspondeu com o mesmo ímpeto, me prensando contra a parede metálica do elevador.
Eu já deveria ter feito isso antes.
A porta se abriu atrás de nós, e sem pensar, empurrei-o para fora. Ele tropeçou ligeiramente para trás, ainda me segurando, ainda sem quebrar o contato.
Nós dois respirávamos pesadamente.
— Você realmente me irrita — murmurei, a voz mais rouca do que gostaria.
null passou a língua pelos lábios, os olhos fixos nos meus como se quisesse me provocar ainda mais.
— O sentimento é completamente recíproco.
E então estávamos colados novamente.
O apartamento parecia longe demais, as roupas pareciam desnecessárias demais. Minhas costas bateram contra a porta antes que eu conseguisse destrancá-la, e null aproveitou o momento para pressionar o corpo contra o meu, beijando minha mandíbula, descendo para meu pescoço com beijos e mordidas lentas.
— Abre logo essa porta — ele murmurou contra minha pele.
— Para de me apressar — rebati, mas minha mão já girava a maçaneta.
Assim que a porta se abriu, tropeçamos para dentro, ainda colados, ainda consumidos por aquele desejo sufocado.
Eu nunca deixava ninguém entrar tão fundo na minha vida. Nunca permitia que chegassem perto o suficiente para conhecer esse lado de mim.
Não havia mais volta.
Merda.

Capítulo 5 – Espresso


A porta do apartamento se fechou com um estalo surdo, abafando o mundo lá fora. O silêncio entre mim e null não era vazio. Era carregado, denso como eletricidade antes de uma tempestade.
Ele ainda estava perto demais. A respiração dele quente contra a minha pele, o cheiro de uísque e algo amadeirado me cercando. Eu deveria ter me afastado. Mas não fiz.
As luzes estavam apagadas, e a penumbra fazia tudo parecer ainda mais irreal. Meus olhos se ajustaram devagar, mas meu corpo já sabia exatamente onde ele estava. Sentia cada centímetro da presença dele.
null ergueu a mão devagar, os dedos roçando meu rosto como se testasse um limite. Meu coração martelava, minha pele formigava sob o toque.
— Você sempre precisa ter o controle, não é? — a voz dele veio baixa, rouca.
Eu poderia ter respondido. Poderia ter desviado. Mas minhas mãos já estavam nos botões da camisa dele antes que eu percebesse. Desfiz um, depois outro, sentindo o calor da pele sob meus dedos.
null sorriu contra minha boca quando me puxou para perto. O beijo não foi suave. Não foi cuidadoso. Foi exigente, faminto, um embate entre vontades. Ele provava, testava, tomava, e eu fazia o mesmo.
Minhas costas encontraram a parede fria, o contraste me arrancando um suspiro. Os dedos dele deslizaram pelo meu quadril, apertando, guiando, como se tentasse me dobrar a ele. Mas eu não me dobrava. Eu o puxava com a mesma força, cravando as unhas na nuca dele, arrancando um som baixo da sua garganta.
O ar entre nós estava rarefeito quando nos afastamos por um instante. A testa dele encostou na minha, a respiração entrecortada. Eu podia sentir a dúvida pairando no ar, a linha tênue entre razão e desejo prestes a se romper.
— Você quer que eu pare? — null perguntou, a voz tensa.
Olhei nos olhos dele. Profundos, escuros, carregados de algo perigoso. Algo que espelhava o que eu sentia.
— Nem pense nisso.
Ele sorriu contra minha pele antes de me erguer no colo, me prendendo contra ele. Minha risada escapou, rouca e baixa, logo cortada pelo próximo beijo. Fogo e fúria, desejo e desafio. Dois corpos testando limites, explorando territórios proibidos.
E aquela noite estava apenas começando.

Capítulo 6 - Dream came true


No dia seguinte, null mandou uma mensagem.

null: "Você está ocupada?"
EU: “Sempre. Mas fala."
null: "Qual é sua pizza favorita?"
EU: "Isso é uma pergunta ou um convite?"
null: "Se eu disser que é só uma pergunta, você vai mentir na resposta só para me irritar?"
EU: "Com certeza."
null: "Então é um convite. Estou pedindo. Você tem exatamente dez minutos para decidir.”

Dez minutos depois, eu estava na casa dele.
E foi assim.
Dia após dia. Encontro após encontro disfarçado.
Até que não havia mais desculpas.
Até que estar longe um do outro começou a parecer errado.
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Nas semanas seguintes, acostumada a romances fugazes e relações descartáveis, null se viu envolvida por algo que nunca esperou—uma conexão que não exigia máscaras ou jogos. Com null, tudo parecia mais simples. Sem roteiros ensaiados, sem olhares de julgamento. Apenas os dois, aprendendo a conviver com suas diferenças.
Passavam horas discutindo sobre música e cinema, cada um tentando provar que seu gosto era superior. Ele zombava das comédias românticas que ela adorava, enquanto ela criticava os documentários densos que ele insistia em assistir. No entanto, era nos silêncios que moravam os momentos mais intensos. Deitados no sofá, compartilhavam um único livro, revezando as páginas. Cozinhavam juntos—ou tentavam—com null falhando miseravelmente em qualquer tarefa que exigisse mais do que ferver água.
Os dias passavam entre risos, provocações e madrugadas em que nenhum dos dois parecia disposto a dormir. null escrevia e null observava, encantada com o brilho em seus olhos quando encontrava a palavra certa. Ele dizia que ela o distraía, mas nunca pedia para que parasse. Pelo contrário, sempre encontrava uma desculpa para mantê-la por perto.
Em uma dessas noites, deitados na cama, null deslizou os dedos pelo peito dele, o rosto sereno, mas a mente inquieta. "O que você vai escrever sobre mim, afinal?"
null virou-se para encará-la, um sorriso brincando em seus lábios. "Talvez eu diga que você é insuportavelmente teimosa e que tem um gosto duvidoso para filmes."
Ela riu, revirando os olhos. "Muito profissional da sua parte."
Ele passou os dedos pela linha do maxilar dela, mais sério agora. "Ou talvez eu conte que você é muito mais do que o mundo vê. Que você sorri quando acha que ninguém está olhando e que tem o hábito de cantarolar desafinado quando está distraída. Que, por trás dessa pose de inatingível, existe alguém que sente... e sente muito."
null prendeu a respiração por um segundo. "E você acha que o mundo está pronto para essa versão minha?"
null sorriu. "A questão é: você está?"
Ela não respondeu. Apenas puxou-o para perto, selando aquele momento com um beijo. Um beijo que carregava promessas que nenhum dos dois ousava dizer em voz alta.
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A casa estava silenciosa quando entramos, como se soubesse que a noite ainda não havia terminado.
Depois de horas de sorrisos calculados, conversas ensaiadas e olhares furtivos que ninguém além de nós parecia notar, finalmente estávamos sozinhos. Finalmente, eu podia respirar sem me preocupar com quem estava observando.
— Vou fazer algo para nós comermos — anunciei, caminhando para a cozinha.
null arqueou uma sobrancelha, recostando-se na bancada.
— Você cozinha?
— Não se atreva a duvidar das minhas habilidades — provoquei, pegando os ingredientes.
Ele apenas sorriu, aquele sorriso preguiçoso que sempre me desarmava. E, claro, não demorou a vir atrás de mim.
Eu ainda estava de vestido, os saltos abandonados no caminho. Abri a geladeira, sentindo a presença dele se aproximando mais e mais.
— Precisa de ajuda? — A voz dele veio baixa, perto demais.
— Você não sabe cozinhar.
— Verdade. Mas sei atrapalhar.
Foi tudo o que ele disse antes de me puxar contra si, os lábios quentes e exigentes contra os meus.
— Passei a noite toda querendo tirar esse vestido de você... — Sua voz estava rouca, carregada de desejo.
Um sorriso brincou nos meus lábios.
— É? Então é melhor não esperar mais.
O zíper do vestido desceu lentamente sob meus dedos, o tecido deslizando pela minha pele. Eu suspirei contra a boca dele, sentindo seus dedos explorando meu corpo com a mesma paciência de alguém que já sabia exatamente onde tocar.
Minhas costas encontraram a bancada da cozinha, fazendo um arrepio correr em meu corpo. Os ingredientes que eu mal tive tempo de pegar ficaram esquecidos ao lado.
— Você não ia cozinhar? — null provocou, os lábios traçando um caminho lento pelo meu pescoço.
— Mudei de ideia.
Ele riu contra minha pele antes de segurar minhas coxas, me levantando para a bancada de mármore. Minhas pernas se apertaram ao redor dele por instinto, puxando-o mais para perto.
As mãos de null deslizaram pela lateral do meu corpo, desenhando caminhos quentes contra minha pele nua. Meu vestido, agora uma lembrança no chão, foi substituído pelos lábios dele, que exploravam cada centímetro de mim com uma devoção perigosa.
— Você tem um gosto melhor do que qualquer jantar que poderíamos ter — murmurou contra minha pele, sua voz rouca e carregada de desejo.
Meus dedos enterraram-se nos cabelos dele, um gemido escapando antes que eu pudesse evitar.
null me observou, os olhos escuros, enquanto eu soltava o tecido dos meus ombros e deixava o vestido deslizar pelo meu corpo, caindo suavemente no chão.
Ele soltou um suspiro pesado, os dedos traçando um caminho lento pela minha cintura.
— Você sabe que isso está ficando perigoso, não sabe? — ele sussurrou contra minha boca.
Minhas unhas cravaram levemente nos ombros dele, a única resposta que consegui dar.
— Se não fosse perigoso, não seria tão bom.
null riu contra meus lábios, aquele riso rouco que sempre fazia meu estômago revirar.
null era não era musculoso mas era forte o suficiente para que meu peso não significasse quase nada pra ele. Suas mãos passeavam pelo meu corpo como se quisessem memorizar cada detalhe dele. Seus lábios eram quente e úmidos e com certeza seus dentes deixariam marcas que ficariam aparentes amanhã. Mas eu não me importava, eu só queria que ele não parasse.
— Você tá com muita roupa ainda — Comentei, desabotoando sua camisa.
Enquanto isso sentia sua ereção pulsar contra mim e isso estava me deixando maluca. Ele então abriu seu zíper o suficiente para que seu pau ficasse exposto. Passou a mão em mim e sentiu o quanto eu estava molhada pelo seu toque.
— Tão safada… Assim vou ter que te foder… Aqui mesmo no balcão da cozinha. — Sua mão segurava meus cabelos enquanto ele sussurrava em meu ouvido.
Eu já não aguentava mais, me esfregava em seu colo, implorando para ser fodida por ele. Com minhas mãos em seu rosto, sussurrei contra seus lábios.
— Me come por favor. — Aquilo acendeu algo dentro dele. E então ele entrou em mim. Senti cada centímetro do membro duro e pulsante dele dentro de mim, o que me fez revirar os olhos e contrair ao seu redor, o que fez ele gemer em meu ouvido.
— Tão apertada para mim. — Falou entre gemidos e aquele vai e vem gostoso.
Logo a velocidade foi aumentando, e eu fui me sentindo cada vez mais próxima do ápice.
— Goza pra mim, amor — Pedi com a expressão mais de puta que consegui fazer.
— Só depois de você — Respondeu aumentando a velocidade das estocadas. Sentia ele tão fundo e rápido que se alguém me perguntasse meu nome eu não saberia responder. Suas mãos apertavam minha bunda e sua boca beijava meu pescoço. E assim gozamos nós dois juntos.
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Mais tarde, após a janta e mais um round, deitada ao lado dele, a respiração ainda descompassada, percebi que algo havia mudado.
Eu já havia feito isso antes. Inúmeras vezes. Homens entravam e saíam da minha vida com a mesma facilidade que eu colocava um novo álbum no topo das paradas. Mas nunca foi assim. Nunca foi desse jeito.
null estava me atravessando de um jeito que ninguém jamais conseguiu.
E eu não sabia se isso me excitava ou me aterrorizava.
Talvez os dois.

Capítulo 7 – Control Freak


3 semanas depois…
O apartamento de null ainda estava mergulhado na penumbra quando eu acordei.
Os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas, tingindo o quarto com uma luz suave. Virei-me preguiçosamente, deixando um sorriso escapar ao ver null ao meu lado, a respiração calma, o cabelo bagunçado pelo sono.
As últimas semanas tinham sido inesperadamente leves. Pela primeira vez em anos, eu não sentia que precisava atuar, manter uma fachada. Com null, eu podia apenas existir, sem precisar controlar cada detalhe.
E, talvez por isso, tudo tenha doído ainda mais.
Levantei-me devagar, ainda envolta no lençol, e caminhei pela sala, apreciando o silêncio do apartamento. Peguei uma camiseta de null largada no sofá e a vesti, respirando o cheiro dele no tecido.
Foi quando vi a revista sobre a mesa.
Meu nome gritou da capa. Minha foto, impecavelmente calculada para chamar atenção, estampava a manchete cruel:
"null null: a diva mimada que nunca perde o controle."
Meu estômago revirou.
Peguei a revista com dedos trêmulos e folheei as páginas até encontrar a matéria. Meu peito apertou conforme as palavras saltavam diante de mim.
"Extravagante, viciada em controle e cercada por um mundo que gira apenas ao seu redor, null representa tudo que o público adora admirar e odiar. Seu sorriso ensaiado e sua atitude enigmática são escudos para esconder o vazio de conexões reais. Seu império não permite falhas, e ela se recusa a mostrar vulnerabilidade, mesmo quando a oportunidade surge."
Cada frase era um golpe.
null havia escrito isso. Ele, que dividiu suas madrugadas comigo, que me viu sem maquiagem, que conhecia meu riso verdadeiro, que me escutou falar sobre meus medos mais íntimos. Depois de tudo que compartilhamos, depois de tudo que fomos... era assim que ele me via?
Senti um gosto amargo na boca.
Sem hesitar, voltei ao quarto e comecei a vestir minhas roupas. Meus movimentos eram bruscos, descontrolados. O barulho acordou null, que piscou, confuso, ainda preso entre o sono e a realidade.
null? O que aconteceu?
Peguei a revista e a joguei sobre ele.
— O que diabos é isso, null?
Ele se sentou, pegou a revista e franziu o cenho.
— O quê?
— Você me chamou de mimada, obcecada por controle, como se tudo que aconteceu entre a gente não tivesse significado nada. Como se eu fosse... um clichê ambulante!
null passou a mão pelos cabelos, parecendo reunir os pensamentos.
null, espera...
— Não! — minha voz saiu mais alta do que eu queria. — Eu sabia que você era crítico, mas pensei que, pelo menos, fosse profissional. Isso aqui parece uma coluna sensacionalista! Você não disse nada de novo, nada que fosse real. Isso é o melhor que você pode fazer?
Os olhos de null brilharam de raiva.
— Sério? É isso que você pensa do meu trabalho? Eu passei dias tentando capturar algo verdadeiro sobre você, e tudo que você faz é desmerecer o que eu escrevi?
Meu peito subia e descia em respirações irregulares.
— Capturar algo verdadeiro? Que ironia! — dei uma risada incrédula. — Parece que você já tinha sua opinião formada antes mesmo de me conhecer.
null ficou em silêncio.
E eu soube naquele instante que estava certa.
— Talvez você devesse olhar para si mesma antes de vir reclamar — ele disse por fim, a voz dura. — Quem sabe a verdade só machuca porque você não quer enxergá-la.
A dor veio como um soco.
Minha garganta apertou, mas não deixei que ele visse minha hesitação.
— Sabe de uma coisa? Eu achei que você fosse diferente. Mas você é como todos os outros.
null cerrou os punhos.
— E eu achei que você se importava mais com quem você é do que com o que os outros pensam. Mas parece que me enganei.
O silêncio entre nós foi cruel.
Não havia mais nada a dizer.
Peguei minha bolsa e saí, sentindo o peito pesado, a raiva misturada com algo que eu não queria nomear.
null não me impediu.
E isso doeu ainda mais.

Capítulo 8 – Sem Dormir


Narrado por null

null não atendeu minhas ligações.
Nem respondeu às minhas mensagens.
Durante dias, tudo que eu tive foi silêncio. E isso estava me matando.
Desde que a matéria foi publicada, algo dentro de mim não parava de se contorcer. No começo, tentei justificar. Sim, eu era um jornalista. Sim, meu trabalho era analisar e questionar. Mas, conforme relia cada palavra daquele texto, sabia que tinha ferrado tudo.
Porque aquelas palavras não eram sobre null.
Elas eram sobre quem eu achava que ela era antes de conhecê-la.
E, por algum erro estúpido, foi essa versão que acabou sendo publicada.
No final da tarde, estacionei em frente ao prédio dela e subi. Eu não sabia se ela ia me ouvir. Mas precisava tentar.
Respirei fundo e bati na porta.
Nada.
Tentei de novo.
Depois de um longo silêncio, a maçaneta girou e null apareceu.
Os olhos estavam frios, cansados.
— O que você quer, null?
Tentei encontrar as palavras certas, mas tudo o que saiu foi:
— Conversar.
Ela cruzou os braços, impaciente.
— Acho que você já disse tudo que precisava na sua matéria.
Meu peito apertou.
— Não fui eu que enviei aquela versão.
null arqueou uma sobrancelha, cética.
— Ah, claro. Agora vai me dizer que foi um engano?
— Foi, sim! — Passei a mão pelos cabelos, frustrado. — Eu sou péssimo com tecnologia, null. Escrevi aquilo antes mesmo de te conhecer de verdade, quando ainda achava que você era só uma pose. Era um rascunho. Mas, por algum erro, foi essa versão que foi publicada.
Ela não respondeu. Apenas me olhou, tentando decidir se acreditava.
Engoli em seco.
— Eu nunca quis que você lesse aquilo.
null continuou imóvel.
— E o que você realmente escreveu?
Sem hesitar, saquei o celular e abri o arquivo certo.
— Isso. Era isso que eu queria que o mundo visse sobre você.
Ela pegou o telefone e começou a ler.
Eu observei enquanto sua expressão mudava. Enquanto os ombros dela relaxavam imperceptivelmente. Enquanto seu coração se abria, mesmo que só um pouco.
Quando terminou, seus olhos estavam brilhando de algo que eu não conseguia decifrar.
— Eu estou completamente fascinado por você, null — disse baixinho. — E não estou dizendo isso só para consertar as coisas. Eu queria que você soubesse disso antes de decidir se pode me perdoar ou não.
Ela desviou o olhar, segurando o celular com força.
O silêncio se prolongou, denso.
Respirei fundo e dei um passo à frente.
null, eu achei que seria só uma noite. No começo, pensei que era apenas mais uma história, mais um encontro passageiro. Mas agora... agora eu não consigo dormir sem sentir você ao meu lado. Sem ouvir sua voz, sem compartilhar nem que seja o silêncio com você.
Ela mordeu o lábio, hesitante.
Abaixei a cabeça, frustrado.
— Eu vou pedir para republicarem a matéria correta. Você merece isso. Mesmo que não queira me ver nunca mais.
null olhou para o celular em suas mãos.
Sua mente dizia para me mandar embora. Mas seu coração...
Seu coração hesitava.
A questão agora era: ela estava pronta para me perdoar?



Fim.



Nota da autora: Oiii gente, desculpem qualquer erro, talvez eu possa escrever uma continuação se vocês gostarem, quem sabe? Obrigada por lerem <3.



Outras Fanfics:
Blood and justice
Sagrado profano
AU: Journey to redemption

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