Sagrado Profano


contador gratuito
Última atualização: 06/09/2024

Memórias

A poeira cinzenta dançava nos raios de sol que se infiltravam pelas frestas das tábuas do porão. , com um casaco velho para se proteger do frio, vasculhava caixas empilhadas e seus dedos deslizando sobre objetos esquecidos. A casa de seus avós, agora vazia e silenciosa, era um labirinto de memórias.

A morte da avó havia a trazido de volta à pequena cidade onde crescera. A herança da casa antiga a obrigava a ficar ali por um tempo, e não podia negar que sentia uma estranha necessidade de se conectar com suas raízes. A casa, com seus quartos escuros e corredores longos, era um lugar sombrio, mas também era o único lugar onde poderia encontrar vestígios de sua infância.

Ela parou diante de uma caixa de madeira, as letras douradas na tampa quase apagadas pelo tempo. “Lembranças da infância”, lia-se. Com cuidado, levantou a tampa e começou a retirar os objetos um a um. Bonecas de pano, carrinhos de brinquedo, desenhos infantis... E então, lá estava: uma fotografia emoldurada.

Na imagem, duas crianças sorriem para a câmera. Um menino de cabelos escuros e olhos brilhantes segurava uma boneca de pano, enquanto uma menina de cabelos loiros e sardas espalhadas pelo nariz o observava com admiração. reconheceu imediatamente a menina: era ela mesma, com apenas cinco anos. E ao lado, estava ele. .

Ou melhor… Padre .

Uma onda de nostalgia a invadiu. havia sido seu melhor amigo na infância. Passavam horas brincando no quintal, construindo castelos de areia e inventando histórias. Ele a protegia dos outros meninos e a fazia rir muito. Mas com a mudança dela para outra cidade, seus caminhos se separaram.

se lembrava vagamente da última vez que o viu. Quando ela falou que iria embora e talvez nunca mais se vissem, falou que esperaria por ela e nunca a esqueceria. A partir dali, suas vidas tomaram rumos completamente diferentes. Ele se tornou padre e ela, uma estudante de medicina. Durante esse meio tempo, havia ficado noiva. , seu noivo, havia ficado na capital.

Ao tocar a fotografia, sentiu um aperto no coração. Aquele menino de olhos brilhantes havia se transformado em um homem de fé, dedicado a servir a Deus. Mas e se, em algum lugar dentro dele, ainda existisse aquele menino apaixonado? Uma parte dela ansiava por reencontrá-lo, por reviver aqueles momentos de felicidade.

Flashback on

O sol começava a se pôr, e o céu se tornava cada vez mais bonito. a convidou para dar um passeio pela praia, e ela, sem hesitar, aceitou.

Caminharam lado a lado em silêncio por um tempo, apenas apreciando a companhia um do outro. De repente, parou e a encarou, seus olhos brilhando intensamente. O coração de disparou. Com um gesto suave, ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela e se aproximou lentamente.

Seus olhares se encontraram, e o tempo parecia ter parado. Aquele momento era puro e intenso. se inclinou e seus lábios se tocaram em um beijo leve e delicado. Era como se uma explosão de sentimentos percorresse seu corpo.

Flashback off

Com a fotografia em mãos, desceu as escadas. A descoberta daquela foto havia despertado em seu interior uma curiosidade que a impulsionava a buscar respostas.

-------

O som do órgão, grave e envolvente, ecoava pela igreja, criando uma atmosfera de profunda espiritualidade. , acomodada em um banco discreto, observava com uma mistura de admiração e nostalgia. Seus olhos, que um dia haviam brilhado apenas para ela, agora transmitiam uma paz serena, quase angelical. As vestes sacerdotais o envolviam em uma aura de mistério, acentuando sua beleza e elegância. decidiu ir à missa naquele domingo para ver com seus próprios olhos que o amigo havia se tornado um homem de fé. A cada gesto, a cada palavra, ela sentia uma profunda conexão espiritual com ele. Lembrava-se dos momentos que passaram juntos, das promessas que fizeram e das lágrimas que derramaram. A culpa a consumia por dentro. Aquele amor que um dia fora tão intenso agora se transformava em uma saudade dolorosa.

O interior da igreja estava imerso em uma tranquilidade que só aqueles espaços santos possuem. O cheiro de incenso ainda pairava no ar, e a luz suave que passava pelos vitrais criava um jogo de cores sobre o chão de pedra fria. avançou em silêncio, seus passos ecoando suavemente, até que seus olhos o encontraram.

estava ajoelhado diante do altar, a cabeça baixa, em uma oração que parecia tão intensa quanto o próprio ambiente. A visão dele assim, tão submerso em sua fé, trouxe um aperto no coração de . Ele parecia diferente, mais sério, mais... distante. Mas, algo nela sabia que, por trás daquele exterior calmo, ainda havia o que ela conhecia, o que ela amava.

Ela parou a alguns metros de distância, observando-o por um momento, até que ele, como se sentisse a presença dela, ergueu a cabeça e olhou para trás. Seus olhos se encontraram, e o tempo pareceu parar.

… — a palavra saiu quase como um suspiro, e ele se levantou lentamente, sem desviar o olhar. A surpresa em seus olhos logo foi substituída por uma mistura de emoções que ela não conseguiu decifrar de imediato.

— Oi, . — ela respondeu, com um sorriso nervoso nos lábios, mas o coração martelando no peito. Por mais que tivesse imaginado esse reencontro, nada a preparou para o impacto de estar diante dele novamente.

Ele deu alguns passos em direção a ela, e quando finalmente estavam frente a frente, uma distância mínima os separando, percebeu como ele estava mudado. Os traços de menino que ainda existiam em sua memória haviam desaparecido, substituídos por uma maturidade que o tornava ainda mais fascinante. Mas, seus olhos... seus olhos ainda eram os mesmos, aqueles olhos que sempre a fizeram sentir que ele podia ver diretamente sua alma.

— Você voltou… — ele murmurou, como se ainda estivesse processando a realidade diante dele.

— Sim. — ela assentiu, sem saber exatamente o que mais dizer. O silêncio entre eles era carregado de coisas não ditas, de anos que se passaram, de sentimentos que nunca foram resolvidos.

Aquele reencontro era como um sonho que ela nunca imaginou que se tornaria realidade. Mas, também era um pesadelo, trazendo à tona tudo o que ela havia tentado enterrar no passado.

— O que faz aqui? — ele perguntou, quebrando o silêncio com uma voz que tentava soar casual.

— Vim visitar a casa da minha avó. Ela faleceu recentemente e me deixou a casa. — respondeu, tentando manter a compostura.

franziu ligeiramente a testa, como se estivesse tentando lembrar de algo.

— Eu soube da sua avó... Rezei por ela no enterro, mas não me lembro de ter visto você lá.

— Eu não consegui chegar a tempo para o enterro. — ela disse sinceramente, uma ponta de tristeza tingindo suas palavras. — Foi tudo tão rápido...

— Que bom que você voltou para cá. — respondeu, e desta vez, havia um sorriso genuíno em seu rosto, o tipo de sorriso que ela sempre amou, que iluminava os olhos dele e fazia seu coração acelerar.

— Eu também estou feliz por ter voltado. — respondeu, sentindo o calor do momento suavizar as arestas de sua ansiedade. — E você? Lembra de mim?

— Como eu poderia esquecer? — Ele sorriu novamente, mais amplo, revelando dentes brancos e alinhados. — Você foi minha melhor amiga, . Achei que nunca mais a veria.

sentiu uma onda de nostalgia invadir seu peito.

— Eu também senti sua falta, . Mais do que você imagina.

Ele deu um pequeno aceno de cabeça, como se estivesse absorvendo suas palavras, e o silêncio entre eles voltou a se instalar, mas desta vez, era um silêncio mais confortável, carregado de memórias e de um carinho mútuo que o tempo não conseguiu apagar.

— Além de resolver as coisas da casa da minha avó... acho que precisava de um pouco de paz, de clareza. Minha vida tem sido... complicada,— admitiu, sem querer entrar em detalhes, mas sabendo que ele entenderia o suficiente. assentiu, o olhar compreensivo.

— Entendo. Às vezes, voltar para onde tudo começou é o melhor jeito de encontrar respostas. — sorriu levemente, sentindo-se estranhamente em paz ao lado dele, como se os anos que passaram separados tivessem apenas fortalecido o vínculo que sempre existiu entre eles.

— Acho que sim.

E, por um breve momento, parecia que nada havia mudado. Eles eram apenas e , os mesmos amigos de infância, mas com uma história muito mais complexa e profunda para compartilhar.

Enquanto caminhavam lado a lado, relembraram histórias engraçadas da infância. Riam alto, como se fossem adolescentes novamente.

— Lembra quando construímos aquela cabana no quintal da minha casa? — perguntou, seus olhos brilhando com uma alegria nostálgica.

— Claro que lembro! E quando a gente se escondia lá dentro, fingindo ser princesa e cavaleiro? — respondeu, seu sorriso ampliando-se ao ver a mesma expressão nos olhos de .

— Ah, aqueles tempos! Eram tão simples e felizes. — ele disse, rindo.

assentiu, o sorriso ainda em seus lábios, mas por trás daquela expressão de alegria, havia uma tristeza que ela não conseguia esconder. Aquele sorriso carregava anos de arrependimentos e perguntas sem respostas. Enquanto relembravam os melhores dias de suas vidas, não pôde deixar de se perguntar: e se as coisas tivessem sido diferentes? E se ela nunca tivesse partido? Será que estariam ali agora, juntos, mas de uma maneira completamente diferente?

— Foram os melhores dias da minha vida. — ela disse, sentindo uma pontada de dor ao perceber o quanto desejava voltar no tempo.

— Eu também acho. — respondeu, e o silêncio que se seguiu entre eles foi cheio de significado, repleto de tudo o que não foi dito e de tudo o que nunca poderia ser.

--------

A caminhada se tornou uma jornada nostálgica. A cada passo, uma nova memória aflorava, trazendo sorrisos e um aperto no coração. e falaram sobre tudo: a escola, os amigos, os sonhos que tinham na infância.

À medida que caminhavam, a luz do sol começava a suavizar, pintando o céu com tons de laranja e rosa. O cenário ao redor era perfeito, a brisa suave trazendo consigo o perfume das flores que os cercavam, mas mal conseguia apreciar aquilo. Sua mente estava presa em um passado que ela não podia mudar, e em um presente que a deixava dividida entre o que deveria ser e o que seu coração realmente desejava.
olhou para cima, observando o céu, e o sorriso que apareceu em seus lábios era um tanto triste quanto nostálgico.

— A vida nos leva por caminhos que nunca imaginamos, não é?

— Sim, leva. — concordou, sentindo o peso do passado e do presente se acumulando entre eles. Ela hesitou por um momento antes de interromper o silêncio, sua voz mais firme do que pretendia. — Por que você escolheu esse caminho, ? — A pergunta pairou no ar, carregada de significados ocultos. respirou fundo, e a intensidade de seu olhar quase a fez recuar.

— Eu escolhi esse caminho, porque... precisava de paz, precisava de algo que me desse propósito, algo que... me afastasse dos sentimentos que eu não conseguia controlar.

Enquanto caminhavam, se viu cada vez mais imersa nas lembranças. A conversa fluiu de forma quase natural, mas havia uma tensão subjacente, uma corrente de emoções que ambos tentavam ignorar. Eles falaram sobre a escola, os amigos, os sonhos que tinham quando crianças, mas a cada palavra, sentia o peso de tudo o que não podia dizer. De repente, quebrou a tranquilidade da caminhada com uma pergunta inesperada.

— E você, ? Como tem sido sua vida desde que se mudou daqui?

— Tem sido boa. Mudei muito desde aquela época. Fiz faculdade, comecei a trabalhar... E estou noiva. — Ela mostrou a aliança em seu dedo anelar, mas a joia não brilhava em seu dedo como deveria. A palavra “noiva” ecoou no ar, carregada de um peso inesperado. parou de andar e a encarou, surpreso. Um misto de felicidade e tristeza se refletia em seus olhos. Começou receoso:

— Noiva? Isso é maravilhoso, ! Meus parabéns. Quando será o casamento? — sentiu um nó na garganta. A pergunta de a pegou de surpresa. Ela não esperava que ele reagisse daquela forma.

— Ainda não definimos a data, mas estamos pensando em algo para o próximo ano.

— E a igreja? Gostaria que a cerimônia fosse aqui? A igreja ficaria honrada em celebrar a união de dois de seus filhos.

— Obrigada, Padre . Vou conversar com meu noivo e te aviso. — sorriu agradecida, mas a felicidade em sua voz era forçada. Ela queria fugir daquela conversa, queria se afogar nas lembranças do passado.

colocou a mão no ombro de , e ela sentiu um tremor percorrer seu corpo. Queria se aproximar mais, queria sentir o calor de seu abraço, mas a razão a impedia.
< sorriu olhando seus sapatos pretos, que combinavam com a batina.

— Prometa-me que voltará.

— Eu prometo. — respondeu , seu coração pulsando forte no peito.

Ao voltar para casa, se sentia confusa e nervosa ao mesmo tempo. O reencontro com havia reavivado sentimentos que ela achava que estavam enterrados há muito tempo.

-------

olhou para o telefone em sua mão, a tela iluminando seu rosto hesitante. Respirou fundo e digitou o número do noivo. A chamada foi atendida rapidamente.

— Oi, amor! Tudo bem? — A voz de , seu noivo, ecoou do outro lado da linha.

— Oi, amor. Tudo sim, e com você?

— Tudo ótimo. Só trabalhando muito ultimamente. — aproveitou a oportunidade.

, queria te falar uma coisa.

— Pode falar, meu amor.

— Você se lembra que eu te falei sobre a igreja da minha cidade? Aquele lugar onde eu ia quando era criança?

— Sim, lembro. Por quê?

— Eu estava pensando... E se a gente fizesse o casamento lá? Seria um lugar especial para mim. — Houve um silêncio do outro lado da linha. podia sentir a tensão crescente.

, você tá falando sério? — A voz de saiu carregada de ironia.

— Sim, estou. Seria uma forma de homenagear minha avó e celebrar minhas raízes.

, aquela cidade é o fim do mundo! Não tem nada lá. E organizar um casamento lá seria um inferno! Você não imagina a burocracia, a falta de estrutura… — A voz de se elevou, e sentiu um aperto no peito. Ela não esperava uma reação tão negativa.

— Mas, é o lugar onde eu cresci, . Tem um significado especial para mim.

— Eu sei, amor, mas você precisa pensar no que é melhor para nós dois. Imagine ter que levar todos os nossos convidados para lá? E a logística do casamento? Seria um pesadelo!

— Mas, podemos encontrar uma solução, . Podemos contratar uma empresa de eventos para nos ajudar a organizar tudo.

, por favor, não insista nessa ideia. Vamos casar em um lugar bonito, moderno, onde todos possam aproveitar.

A discussão se arrastou por mais alguns minutos, e percebeu que não iria mudar a opinião de . Ela se sentia frustrada e desamparada. Tinha a sensação de que seus sonhos e desejos não eram importantes para ele.

Ao desligar o telefone, se sentiu perdida e confusa. A ideia de se casar em um lugar que não tinha nenhum significado para ela a deixava triste. Mas, por outro lado, ela não queria colocar em risco seu relacionamento.

A decisão de onde iria casar era apenas mais um dos desafios que ela estava enfrentando. era um pessoa difícil, foi seu primeiro namorado sério, foi com quem passou seus últimos anos planejando o futuro. Mas, agora não fazia mais tanto sentido. E não só por causa de sua mudança para outra cidade, mas era uma pessoa difícil. No começo do relacionamento ele era completamente diferente, comprava buquês e escrevia bilhetes de amor. Isso foi antes do incidente. O incidente chamado Verônica.

Verônica era a secretária de . Loira, olhos verdes e a cintura mais perfeita que alguém já imaginou. Ela estava empenhada demais em ajudar ele no trabalho, enquanto o chupava entre turnos no almoxarifado.

descobriu sobre Verônica numa tarde aparentemente comum, quando decidiu fazer uma visita surpresa ao escritório de . Ao bater na porta, encontrou-a trancada e percebeu passos apressados do lado de dentro.

— Oi, amor. — disse , ofegante e sem a gravata, abrindo a porta apenas o suficiente para deixá-la entrar.

— Por que a porta estava trancada? — perguntou , com um sorriso curioso ao notar a desordem de .

— Eu estava tirando um cochilo. — respondeu ele, tentando parecer descontraído, mas os olhos de , afiados como os de uma águia, examinavam cada detalhe da sala.

— Entendo... e por que tem uma calcinha vermelha no seu sofá? — perguntou , a voz fria e controlada. não teve tempo de formular uma resposta antes de sentir o impacto do tapa de , rápido e certeiro.

— Nunca mais me procure. — disse ela, saindo do escritório sem olhar para trás. Verônica então emergiu de seu esconderijo no armário, o rosto pálido e os olhos arregalados.

havia traído , quando o casamento estava prestes a ser celebrado. Ela, no entanto, o perdoara um mês após o incidente, não porque seu coração estivesse cicatrizado, mas para que a vergonha de ser traída permanecesse oculta, longe dos olhos de todos. Sua família adorava ; seus pais e avós frequentemente o convidavam para as festas de família. se via incapaz de revelar a verdade, então, optou por dizer que estava disposta a tentar perdoá-lo. Mas, em momentos como aquele, sentia-se uma tola por ter aceitado tão facilmente o perdão.

O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Era , dizendo que aceitava a ideia de se casar na cidade do interior. , aliviada, agradeceu-lhe pela mudança de opinião.
Talvez, essa nova decisão o aproximasse mais dela, ou talvez, apenas obscurecesse ainda mais a verdade.

------

Nos dias que se seguiram, começou a frequentar a igreja com mais frequência. Cada visita era uma mistura de alívio e tormento. Ela buscava a orientação de para escrever seus votos de casamento, mas, no fundo, sabia que também estava buscando algo mais — talvez uma confirmação de que ainda havia uma conexão entre eles. , com sua paciência característica, fazia perguntas simples, tentando ajudá-la a expressar seus sentimentos.

— O que você mais admira em ? — ele perguntou, sua voz suave, mas com uma firmeza que a fazia sentir que ele via além de suas palavras. — hesitou, sentindo o peso da pergunta.

— Ele... é um homem responsável, sempre faz o que é certo. — respondeu, mas até para seus próprios ouvidos, as palavras soaram vazias, como uma desculpa que ela repetia para si mesma.

Enquanto respondia, seus pensamentos inevitavelmente voltavam para . O que ela mais admirava nele? Era fácil demais responder essa pergunta — era a bondade em seus olhos, a forma como ele sempre a fazia se sentir segura, a profundidade com que ele a entendia. Mas isso era algo que ela não podia admitir, nem para si mesma.

— O que você espera do casamento? — perguntou em seguida, sua voz gentil, mas os olhos observando atentamente cada expressão no rosto de . — Ela tentou focar em , mas a imagem de parecia sempre se sobrepor.

— Espero... companheirismo, respeito. — disse, mas a voz falhou ligeiramente, traindo a falta de convicção por trás das palavras.

A cada encontro, sentia o nó em sua garganta apertar mais. As perguntas de a faziam confrontar verdades que ela não queria encarar. , que deveria estar ao seu lado, mal aparecia, deixando-a sozinha para planejar o que deveria ser o dia mais feliz de sua vida. E isso a deixava ainda mais confusa.

Por que, então, ela continuava? Porque era um padre. Essa era a verdade inescapável que a mantinha presa a , apesar de todas as suas falhas. tinha escolhido um caminho que o afastava dos sentimentos que, secretamente, ela esperava que ele ainda tivesse. Mesmo quando estava com , sentindo a conexão entre eles reacender, sabia que ele nunca poderia ser mais do que um conselheiro espiritual.

Mas, o que a dilacerava por dentro era que, mesmo sabendo disso, seu coração teimava em bater mais forte por . Quando estava com ele, ela sentia algo que nunca havia sentido com — uma mistura de paz e paixão, como se estivesse exatamente onde deveria estar. E essa percepção a aterrorizava, pois significava que estava presa a um noivado com um homem que não amava verdadeiramente, tudo por causa de um amor que não podia ter.

, por sua vez, percebia o conflito em . Suas respostas evasivas e a tristeza em seu olhar não passavam despercebidas. Ele queria ajudá-la a encontrar clareza, mas também sabia que estava pisando em território perigoso, tanto para ela quanto para ele.

Enquanto lutava para encontrar palavras sinceras para seus votos de casamento, também lutava contra os sentimentos que, embora enterrados, nunca haviam desaparecido completamente. Cada encontro entre eles tornava mais difícil ignorar o que estava acontecendo — não só dentro de , mas dentro dele também.

-------

Mais um encontro, que não apareceu. estava inquieta. notou seu semblante. Sentada em uma poltrona antiga, frente a ele, seus olhos brilhavam com uma mistura de tristeza e decepção. , sentado à sua escrivaninha, observava-a com preocupação. Ele conhecia aquele olhar — era o mesmo que tinha quando mais jovem, quando algo a perturbava profundamente.

— Sobre ...— começou ela, a voz hesitante, como se as palavras fossem difíceis de formar. inclinou-se ligeiramente para a frente, os olhos fixos nela, oferecendo toda a sua atenção.

— O que houve? — perguntou ele, com uma suavidade que só fez se sentir ainda mais vulnerável. Ela respirou fundo, tentando reunir coragem.

— Eu não sei se ainda quero me casar com ele.

As palavras pairaram no ar, carregadas de um peso que parecia sufocar os dois. parecia surpreso, a linha de seus ombros tensionando ligeiramente com a revelação. Ele conhecia os dilemas de , mas ouvir aquilo era diferente — era a confirmação de que algo estava realmente errado.

— Por que diz isso? — Ele perguntou, a voz firme, mas os olhos transmitindo uma empatia que só fez o nó na garganta de apertar ainda mais.

— Eu não sei… Eu não sinto amor por ele. Todas as vezes em que estamos juntos, parece que tem algo de errado, eu não confio mais nele desde que… — parou, a verdade travada em sua garganta. Ela nunca havia confessado aquilo em voz alta, e a ideia de fazê-lo agora a aterrorizava.

esperou, paciente, sem forçá-la, mas a intensidade de seu olhar lhe dava a segurança de que podia continuar. Quando ficou claro que ela não encontraria forças para prosseguir, ele completou, com uma serenidade que a desarmou completamente:

, desde que me tornei padre, já escutei mais pecados do que você imagina. Todo mundo tem seus problemas, não estou aqui para julgá-los. E bem, você também sabe coisas de mim que ninguém mais sabe.

Aquela última frase mexeu com de uma forma que ela não esperava. A intimidade implícita em suas palavras a fez sentir um calor percorrer seu corpo, um calor que ela sabia ser proibido, mas que não conseguia ignorar. O conflito dentro dela era quase palpável, e ela se sentiu culpada por se sentir tão atraída por , um homem que havia feito votos sagrados, e que não deveria despertar esse tipo de desejo.

assentiu, mas a verdade era que a traição de parecia distante, quase irrelevante naquele momento. Com ao seu lado, o mundo ao redor parecia se dissolver, e a existência de se tornava apenas uma sombra tênue. Tudo o que ela podia sentir era a presença de , o perfume amadeirado que ele exalava, a força serena em seu olhar.

— Obrigada. — murmurou ela, os olhos se fixando nos dele, como se buscasse neles uma resposta que sabia que não podia ter. O silêncio entre eles era carregado de algo não dito, algo que ambos pareciam compreender, mas nenhum ousava mencionar. E assim, naquele momento, sentiu que estava em uma encruzilhada, entre um futuro que a aterrorizava e outro que ela sabia ser impossível, mas que seu coração desejava mais do que qualquer coisa.
respirou fundo, sabendo que precisava continuar. A confissão que estava prestes a fazer pesava em seu coração, mas ela não podia mais esconder a verdade. — ... ele me traiu. — disse, sua voz tremendo ao finalmente verbalizar o que havia guardado por tanto tempo.

Por um instante, o mundo pareceu parar. , que sempre mantinha uma expressão serena e controlada, franziu o cenho de maneira quase imperceptível, mas notou. A raiva brilhou em seus olhos, um lampejo que foi rapidamente suprimido, mas não antes que ela pudesse ver. Ele endireitou a postura na cadeira, como se estivesse tentando recuperar o controle sobre suas emoções.

— Ele te traiu? — repetiu, a voz firme, mas havia uma tensão subjacente, algo que nunca tinha ouvido antes. Ver aquela reação nele a deixou atônita. sempre fora o equilíbrio, a calma em meio à tempestade, mas ali estava ele, lutando para conter a ira que começava a se formar.

assentiu, incapaz de encontrar palavras. Vê-lo assim a fez perceber a profundidade do que sentia por ele, e também a feriu, pois sabia que, de alguma forma, sua dor havia se tornado a dele.

— Como ele pôde fazer isso com você? — A voz de era baixa, quase um murmúrio, mas carregada de uma intensidade que a fez estremecer. — Você merece mais, . Muito mais.
Ela sentiu um nó se formar em sua garganta novamente, não apenas pela traição de , mas pela reação de , que parecia profundamente pessoal.

— Eu o perdoei... ou pelo menos, achei que tinha perdoado. Mas, não consigo esquecer. Não consigo confiar nele. — olhou para ela, seus olhos fervendo com uma mistura de raiva e algo mais, algo que não conseguiu identificar completamente.

— Você perdoou por conveniência, , não por amor. — disse ele, a voz grave, mas sem julgamento, apenas uma constatação dolorosa.
Ela desviou o olhar, sentindo-se exposta, mas ao mesmo tempo, estranhamente aliviada por ter compartilhado aquilo com ele.

— Eu sei. — admitiu, sua voz um sussurro. — Mas, eu não sei o que fazer agora…— fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Quando os abriu novamente, viu a tempestade que ele tentava conter.

, você não merece estar presa a alguém que não te valoriza e você não precisa decidir nada agora. O que você sente é importante, e você tem o direito de pensar sobre isso com calma. Mas. não se force a ficar em uma situação que só te machuca.

sentiu os olhos marejarem, mas manteve a compostura. Aquele era o que ela sempre conhecera: protetor, sábio, e sempre colocando os outros em primeiro lugar.

--------

Certa tarde, enquanto e estavam mais uma vez sentados nos bancos de madeira da igreja, finalmente apareceu. Ele entrou de forma inesperada, seu rosto exibindo um misto de cansaço e ansiedade. levantou os olhos para ele, surpresa e esperançosa, mas a tensão no ar era inegável.

— Desculpe pelo atraso. — disse , tentando forçar um sorriso. — Tive uma reunião que se estendeu mais do que o previsto.

observou a interação com um olhar atento, notando o desconforto de . Ele decidiu intervir com uma abordagem mais direta.

, estamos trabalhando nos votos de . Talvez você pudesse compartilhar conosco o que admira nela e o que espera do casamento. — sugeriu , tentando trazer para a conversa de maneira significativa.

hesitou por um momento, seus olhos encontrando os de , que aguardava ansiosa por suas palavras.

— Eu... admiro a força e a bondade de . — começou ele, a voz ligeiramente trêmula. — Ela é incrivelmente dedicada e sempre se preocupa com os outros. Quanto ao casamento, espero que possamos construir uma vida juntos baseada em respeito e amor.

sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. percebeu que, embora as palavras de fossem bonitas, faltava algo essencial: sinceridade. O padre decidiu que era hora de abordar a questão com mais profundidade, mas naquele momento, optou por dar espaço ao casal.

— Obrigado por compartilhar, . — disse suavemente. — Talvez devêssemos continuar essa conversa em uma sessão conjunta. Pode ser útil para ambos expressarem seus sentimentos e expectativas.

concordou, e , embora ainda apreensiva, sentiu um leve alívio com a possibilidade de finalmente enfrentar os problemas de seu relacionamento de maneira aberta.

-----

Na semana seguinte, e retornaram à igreja para a sessão conjunta sugerida pelo Padre . A tensão era palpável no ar enquanto os três se sentavam na sala de aconselhamento, iluminada por uma suave luz que entrava pelas janelas coloridas.

— Vamos começar de onde paramos. — disse , tentando criar um ambiente acolhedor. — Gostaria que ambos compartilhassem o que esperam deste casamento e como podemos trabalhar juntos para superar qualquer obstáculo.— , com um nervosismo visível, começou:

— Eu espero que possamos reconstruir a confiança, . Quero que possamos ser honestos um com o outro, sem segredos. — suspirou, mexendo-se desconfortavelmente na cadeira.

— Eu já pedi desculpas, . Estamos aqui para seguir em frente, não para ficar relembrando o passado. — interveio calmamente.

, o perdão é um processo. Às vezes, é necessário revisitar o passado para entender como construir um futuro melhor. — bufou, cruzando os braços.

— Certo, mas isso já está ficando cansativo. Toda vez que tentamos seguir em frente, voltamos a essa mesma conversa. Estou começando a pensar que nunca vai ser o suficiente para você, . — sentiu uma onda de frustração e dor.

— Não se trata de ser suficiente, . Trata-se de realmente enfrentar o que aconteceu e mudar. Eu preciso sentir que você está comprometido com isso tanto quanto eu.

— Comprometido? — exclamou, a voz elevando-se. — Eu estou aqui, não estou? O que mais você quer de mim? — levantou uma mão, tentando acalmar a situação.

— Vamos manter a calma, ambos têm sentimentos válidos e é importante que sejamos respeitosos uns com os outros. — Mas, estava além de ouvir.

— Sabe o que mais, ? Talvez, o problema seja que você não consegue deixar de ser a vítima. Você adora se fazer de mártir, não é?— As palavras de atingiram como um golpe. Ela ficou em silêncio por um momento, lágrimas começando a se formar em seus olhos.

— Eu não acredito que você disse isso. — ela sussurrou, a voz tremendo. — interveio novamente, a voz firme.

, essas palavras são prejudiciais e não ajudam a resolver a situação. Precisamos focar na comunicação aberta e honesta, sem ataques pessoais.

— Talvez eu não queira mais isso. — respondeu, levantando-se abruptamente. — Talvez esse casamento seja um erro.— sentiu um frio na espinha ao ouvir essas palavras.

— Então é isso? Você vai desistir de nós? — olhou para ela, os olhos cheios de raiva e frustração.

— Eu não sei, . Talvez seja o melhor. — tentou intervir uma última vez.

— Por favor, ambos, sentem-se e respirem. Podemos resolver isso, mas precisamos de calma. — , no entanto, já estava a caminho da porta.

— Estou saindo daqui. Preciso de um tempo para pensar.

ficou sentada, atônita, enquanto saía apressado, a porta batendo com força atrás dele. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.
olhou para , a compaixão em seus olhos.

, estou aqui para você. Vamos trabalhar nisso, independentemente do que decida. — Ela hesitou por um momento antes de responder.

— Esse noivado tem sido muito difícil. Era a minha última esperança de ter uma família, de ser feliz. — colocou a mão em seu ombro, transmitindo conforto.

, você não precisa se casar por obrigação. O casamento deve ser uma celebração do amor, e não uma prisão. Se você não se sente pronta, não tenha medo de seguir seu coração.— Esse era um conselho que ela não poderia seguir, não quando seu coração palpitava em velocidade máxima para o homem à sua frente.

, a decisão de se casar é uma das mais importantes da vida. É natural sentir dúvidas e inseguranças nesse momento. Mas, é fundamental que você ouça a sua intuição.

— Padre, como o senhor sabe tanto sobre amor? A vida religiosa não o afasta dos sentimentos? — sorriu levemente, seus olhos se perdendo em algum ponto distante.

, a fé não anula a humanidade. Antes de dedicar minha vida à igreja, eu também experimentei o amor. Os sentimentos são parte intrínseca da vida, e a igreja não os nega, mas os transforma. A paixão, por exemplo, pode se transformar em um amor mais puro e altruísta.

sentiu um aperto no peito. Aquelas palavras ecoaram dentro dela. Será que ele estava falando sobre ela? Será que ele também havia sentido algo por ela? A ideia a deixou inquieta, mas ao mesmo tempo, a confortou.

— Eu já fui jovem, . Já sonhei com um futuro ao lado de alguém. Mas, a vida nos leva por caminhos inesperados, e às vezes precisamos fazer escolhas difíceis.

não disse mais nada, mas seus olhos falavam por ele. entendeu que ele havia vivido um grande amor e que essa experiência havia moldado sua vida. Ela não sabia se ele estava falando dela, mas a possibilidade a deixava esperançosa.

Com o passar dos dias, se sentia cada vez mais próxima de . Ele era mais do que apenas um padre para ela, era um confidente e um amigo. A cada conversa, ela se sentia mais leve e mais forte.



Reaproximação

Após aquele tumultuado encontro, começou a frequentar cada vez mais as missas, mas não apenas pela fé. Ela buscava conforto na presença de .

e haviam sido amigos inseparáveis durante a infância. Eles compartilhavam segredos, sonhos e uma conexão profunda que transcendeu o tempo. se lembrava vividamente da última vez que estiveram juntos antes de seguir seu caminho para se tornar padre e ela deixar a cidade. Era uma tarde ensolarada, e eles estavam sentados sob a antiga árvore de carvalho no parque da cidade. O vento suave agitava as folhas enquanto eles conversavam sobre o futuro

. — Vou sentir sua falta, . — disse uma de 15 anos, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas.

— Eu também vou sentir a sua falta, ,— respondeu , a voz embargada. — Mas, prometo que estarei sempre aqui para você, não importa onde estejamos.

Naquele momento, um silêncio carregado de emoções se instalou entre eles. , impulsionado por um sentimento avassalador, aproximou-se e, antes que pudesse reagir, beijou-a ardentemente. Foi um beijo cheio de paixão reprimida, de sentimentos não confessados e de um adeus que deixava marcas profundas. retribuiu o beijo, sentindo a intensidade do momento e a inevitabilidade da despedida.

Agora, anos depois, enquanto assistia às missas e via no altar, não conseguia evitar que essas lembranças voltassem à tona. O carinho e o respeito que sentia por ele eram inegáveis, mas também havia um turbilhão de emoções não resolvidas. A presença de oferecia uma sensação de segurança, mas também uma constante lembrança do que poderia ter sido.

-------

Na manhã seguinte, acordou com uma única ideia fixa em sua mente: precisava descobrir o que realmente sentia por ela. Não podia mais ignorar os sinais, nem a crescente tensão entre eles. Sabia que era arriscado, mas estava disposta a correr o risco. Algo dentro dela a impelia a seguir esse caminho, mesmo que tudo o que ela conhecia estivesse em jogo.

Ela passou a manhã pensando em um plano. Sabia que não poderia ser direta; era um padre, e a responsabilidade de sua vocação o impedia de falar abertamente sobre seus sentimentos. Mas, conhecia melhor do que ninguém, e sabia que, se ele sentisse algo por ela, isso transpareceria em seu comportamento.

escolheu com cuidado o que iria vestir. Procurou algo que não fosse vulgar, mas que ainda assim chamasse atenção. Escolheu um vestido de cor vinho, justo, que delineava suas curvas sem ser excessivo. A abertura lateral da saia revelava suas pernas a cada passo, e o decote sutilmente sugeria mais do que mostrava. Ela prendeu os cabelos em um coque alto, deixando apenas alguns fios soltos, o que suavizava seu rosto. Queria parecer elegante, mas inegavelmente feminina.

Quando chegou à igreja, o coração de batia forte. Caminhou até o escritório de , tentando controlar o nervosismo. Não sabia exatamente o que esperava encontrar, mas estava decidida a ir até o fim.

estava em sua mesa, envolto em papeis e livros. Ele levantou o olhar quando ouviu o som dos saltos de ecoando no chão de mármore. Ao vê-la, sua expressão mudou de leve. Seus olhos percorreram a figura dela, e por um instante, algo diferente brilhou em seu olhar, uma hesitação, uma surpresa.

,— ele a cumprimentou, sua voz grave, mas com um leve traço de tensão. — Eu não esperava te ver aqui tão cedo. — Ela sorriu, tentando parecer descontraída.

— Eu precisava conversar, se você tiver um momento.

— Claro,— ele disse, gesticulando para que ela se sentasse. Enquanto se acomodava, percebeu que os olhos de evitavam os dela, um comportamento diferente do habitual. Normalmente, ele a olhava diretamente, mas agora, parecia relutante em sustentar o olhar.

— Sobre o que gostaria de falar? — Ele perguntou, tentando manter a voz neutra, mas notou um leve tremor em suas mãos quando ele ajeitou os papeis em sua mesa.

— Ah, nada específico,— ela respondeu, como se fosse algo trivial. — Só queria discutir algumas coisas sobre o casamento, talvez revisar os votos novamente. — Ela sabia que a desculpa era fraca, mas o objetivo não era a conversa em si, e sim observar como ele reagiria.

Enquanto falava, notou que parecia desconfortável. Ele estava mais sério do que o habitual, sua postura rígida, quase como se estivesse lutando para manter o controle. , por outro lado, fingia não notar, mantendo um tom leve na conversa, mas por dentro, estava analisando cada detalhe.

Ela se inclinou levemente para frente, como se estivesse interessada no que ele dizia, mas na verdade queria testar a reação dele à sua proximidade. engoliu em seco, desviando o olhar para um ponto qualquer na parede.

Depois de alguns minutos, ela notou que estava lutando contra algo dentro de si. As perguntas que normalmente fluíam com facilidade vinham agora com pausas e hesitações. Quando mencionou que ainda estava distante, pareceu mais tenso, o que a fez acreditar que sua presença estava mexendo com ele mais do que ele admitia.

Quando finalmente decidiu ir embora, agradeceu e se levantou lentamente, como se estivesse relutante em partir. Antes de sair, lançou um último olhar para , que agora parecia aliviado, mas havia algo nos olhos dele que não pôde ignorar — uma mistura de desejo contido e conflito interno.

A caminhada de volta para casa foi cheia de pensamentos. estava mais certa do que nunca de que sentia algo por ela, mas sabia que ele jamais o admitiria facilmente. No entanto, aquilo era apenas o começo. Ela não ia descansar até ter certeza, até forçar a encarar o que realmente havia entre eles. Por mais que ele tentasse esconder, ela sabia que não estava sozinha naquela luta. E isso a encorajava a seguir em frente, mesmo que o caminho fosse perigoso.

-------
/p>

No domingo seguinte, entrou na igreja com uma determinação perigosa nos olhos. Se vestiu como havia se vestido quando viu pela última vez, e sentiu os olhares discretos dos fieis. Mas, não era por eles que ela se vestira assim. Seus olhos procuravam apenas uma pessoa, e quando o encontrou no altar, sentiu o coração disparar.

estava dando a missa com a mesma serenidade de sempre, mas por trás da fachada calma, havia um turbilhão de emoções. Quando seus olhos encontraram os de , ele engasgou levemente com as palavras, mas rapidamente retomou o controle, terminando a missa sem incidentes. Porém, ele sabia que a presença dela ali, especialmente daquela forma, não era acidental.

Após a missa, esperou pacientemente até que a igreja esvaziasse. Quando finalmente encontrou uma oportunidade, dirigiu-se ao confessionário. As sombras do pequeno espaço a envolviam, criando um contraste perturbador com o brilho intenso que ela sentia em seu peito. se aproximou do confessionário, sem saber que era ela ali dentro.

— Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...

. — a voz de soou trêmula, quase inaudível. — Ele congelou ao ouvir seu nome, reconhecendo instantaneamente quem estava do outro lado da tela. Seu coração acelerou, mas ele manteve a voz firme.

... este é um lugar sagrado. O que deseja confessar? — Ela hesitou por um momento, mas depois as palavras começaram a fluir, uma após a outra, carregadas de desejo e confusão.

— Eu... tenho pensado muito em você, . Não só pensado... eu tenho sonhado com você. Sonhos que não são certos, que não deveriam existir. E eu não consigo parar. Eu... eu desejo você de uma forma que me assusta. Eu sei que é errado, mas não consigo evitar. Preciso de ajuda... você pode me ajudar?

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. lutava para encontrar uma resposta, seu coração em conflito com seu dever. Depois do que pareceu uma eternidade, ele finalmente falou, a voz carregada de uma tensão que ele não conseguia esconder.

... isso que você está sentindo, precisa ser resolvido. Mas, não aqui, não assim. Por favor, venha ao meu escritório mais tarde. Precisamos conversar... em particular. — assentiu, embora ele não pudesse vê-la.

— Sim, eu irei. — ela sussurrou antes de sair do confessionário, deixando para lutar contra os próprios demônios que suas palavras haviam despertado.

A tarde prometia ser um teste para ambos, um teste que poderia mudar o destino de suas vidas para sempre.

------

Mais tarde, quando a igreja finalmente ficou vazia e o silêncio absoluto tomou conta do lugar, caminhou até o escritório de . Suas mãos tremiam levemente enquanto girava a maçaneta da porta, entrando no pequeno ambiente que cheirava a madeira e incenso. estava de pé, de costas para ela, olhando para uma cruz na parede como se procurasse forças em sua fé para o que estava por vir.

Ele se virou lentamente quando a porta se fechou atrás dela, e seus olhos encontraram os dela. A tensão no ar era palpável, quase sufocante. hesitou por um momento, mas depois deu alguns passos à frente, parando a poucos metros dele.

...— sua voz saiu mais suave do que ela pretendia, mas carregada de emoção. — Eu não sei como começar… — Ele deu um passo à frente, interrompendo-a.

, eu... nós precisamos ser honestos um com o outro. Eu sei que o que você sente não é fácil. E... você precisa entender que para mim também não é. Eu sou um padre, mas antes disso, eu sou humano. — Ela engoliu em seco, sentindo o coração acelerar.

— Então... você também...? — desviou o olhar, lutando para manter o controle.

— Eu tenho tentado ignorar, fingir que não sinto nada além de carinho fraternal por você. Mas... a verdade é que não consigo. Toda vez que você está perto, sinto algo que não deveria. Algo que me faz questionar tudo o que eu escolhi para a minha vida. — sentiu uma mistura de alívio e culpa. O que ela mais temia era real; ele sentia o mesmo que ela. Mas isso apenas tornava tudo mais complicado.

, eu não quero te machucar. Eu não quero ser a causa de um conflito na sua vida... mas, eu não consigo continuar fingindo que o que eu sinto por você não existe. — Ele fechou os olhos, respirando fundo, como se estivesse reunindo toda a força que possuía.

— Eu sei. Mas, , nós precisamos tomar cuidado. O que sentimos... não pode ser consumado. Isso nos destruiria, destruiria tudo em que acreditamos.

permaneceu ali, o coração batendo freneticamente no peito, enquanto o olhar de parecia atravessá-la. A tensão no ar era quase palpável, e cada segundo que passava parecia carregar um peso insuportável.

...— ela começou, a voz suave, mas determinada. — O que você sente por mim? Preciso ouvir de você, preciso saber a verdade. — fechou os olhos por um momento, como se lutasse para encontrar as palavras certas, mas quando finalmente as abriu, havia uma intensidade em seu olhar que nunca tinha visto antes.

— Desde o momento em que você foi embora, , nunca consegui deixar de pensar em você. Você sempre esteve na minha mente, mesmo quando tentei seguir em frente, mesmo quando me dediquei à minha fé. Mas, a verdade é que... você sempre foi a presença mais ameaçadora à minha fé.

sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir aquelas palavras. Ela sabia que estava sendo honesto, mas ainda assim, o peso do que ele estava dizendo era quase esmagador.

— Ameaçadora? — Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles, o aroma amadeirado de seu perfume preenchendo o ar ao redor dela.

— Sim. Porque quando você está por perto, eu sinto coisas que um homem de fé não deveria sentir. Eu sinto desejo, sinto uma necessidade incontrolável de estar perto de você... de te tocar. — sentiu o coração disparar ainda mais, e sua respiração ficou entrecortada.

— O que você sente, ? O que exatamente você sente quando está perto de mim?

avançou mais um passo, encurralando-a suavemente contra a mesa de seu escritório. Ele estava tão próximo agora que podia sentir o calor de seu corpo, a corrente prateada com a pequena cruz de metal gelada em seu pescoço roçando levemente contra a pele dela. O contraste entre o frio do metal e o calor que emanava dele era quase sufocante, e ela mal conseguia pensar em outra coisa senão no quão bonito ele era, como as sombras da sala realçavam as linhas fortes de seu rosto, os olhos escuros que pareciam carregar o peso do mundo.

, — ele murmurou, a voz rouca. — quando estou perto de você, sinto uma atração tão forte que me consome. É como se todo o meu controle, toda a minha fé, fosse colocada à prova. Eu desejo você de uma maneira que não deveria... desejo seu corpo, seu toque, tudo o que há em você. E isso... isso me assusta. — O coração de parecia querer explodir. Ela não conseguia mais manter a fachada de resistência que tinha construído ao longo dos anos.

— Eu sinto o mesmo, . Eu penso em você o tempo todo. Eu sonho com você, desejo você de uma forma que não consigo controlar. Mas... por que você se contém? Por que você não deixa isso acontecer? Não acha que Deus quer que você seja feliz, que você sinta prazer?

recuou levemente, como se suas palavras tivessem o atingido com força. Ele estava ali, tão próximo, a respiração dele misturando-se com a dela, o calor do momento tornando tudo mais intenso.

... isso… — Mas, antes que ele pudesse completar a frase, ergueu a mão, tocando suavemente o rosto dele, seus dedos deslizando pela pele macia.

— Você não precisa resistir, . Não quando é isso que nós dois queremos. Deus nos criou com esses desejos, e Ele não nos faria sentir algo tão forte se não fosse para seguirmos o que nossos corações desejam.

fechou os olhos ao sentir o toque dela, um suspiro escapando de seus lábios. Cada fibra de seu ser queria ceder, queria esquecer de tudo e se entregar ao que seu coração ansiava. Mas, havia algo dentro dele que ainda lutava, uma parte que ainda se agarrava à vida que ele havia escolhido.

Mas, naquele momento, com tão próxima, ele sabia que a escolha que teria de fazer seria mais difícil do que qualquer outra que já havia enfrentado.

via em uma tentação quase insuportável, algo que ele deveria resistir, mas que, ao mesmo tempo, o atraía de uma maneira quase irresistível. Para ele, ela representava uma provação, uma espécie de demônio disfarçado que parecia determinado a desviá-lo de seu caminho sagrado. No entanto, a ironia cruel da situação era que essa tentação não era apenas perigosa — ela era deliciosamente sedutora.

Cada vez que estava por perto, a luta interna de se intensificava. Ele sentia como se estivesse sendo testado, como se toda a sua fé estivesse em jogo. Mas, por mais que tentasse, a resistência se tornava cada vez mais difícil. , com seu sorriso provocante, seus olhares carregados de significado, e aquela energia que parecia pairar ao seu redor, fazia com que se sentisse dividido, tentando equilibrar seu dever espiritual com desejos que ele sabia que não deveria ter.

Por mais que a considerasse uma tentação, sabia, lá no fundo, que essa tentação estava ganhando terreno. Ele estava se deixando levar, porque a sensação era avassaladora, como um doce veneno ao qual ele não conseguia resistir. E, por mais que se culpasse por isso, por mais que orasse para ser forte, ele sabia que cada encontro com o empurrava mais perto do abismo — um abismo que, em seus momentos mais fracos, ele não tinha certeza se queria evitar.

ficou imóvel por um breve momento, os olhos fechados enquanto o toque de queimava sua pele. Era como se todo o controle que ele tinha se desintegrasse em um segundo. O desejo que ele tanto lutava para reprimir finalmente transbordou. Antes que ele pudesse reconsiderar, suas mãos se moveram, segurando delicadamente o rosto de , puxando-a para mais perto.

O primeiro toque de seus lábios foi suave, quase hesitante, mas a intensidade que ambos sentiam logo tornou impossível qualquer tentativa de contenção. O beijo rapidamente se transformou em algo mais urgente, mais voraz. Era como se anos de sentimentos reprimidos finalmente encontrassem uma saída. As mãos de se moviam para a cintura de , trazendo-a para mais perto, sentindo o calor do corpo dela contra o seu.

retribuiu o beijo com igual fervor, seus dedos deslizando pelo cabelo dele, puxando-o para mais perto. O cheiro amadeirado de a envolvia completamente, e ela não conseguia pensar em mais nada além dele, além do desejo que parecia crescer exponencialmente dentro dela.

Sem se dar conta, a levantou levemente, colocando-a sentada sobre sua mesa. Os movimentos apressados fizeram com que alguns itens que estavam sobre a mesa caíssem no chão — canetas, papeis e uma pequena cruz de madeira. Apenas uma Bíblia permaneceu sobre a mesa, aberta, como um testemunho silencioso do conflito que eles viviam. Mas, nem nem notaram; eles estavam perdidos um no outro.

começou a beijar o pescoço de , seus lábios quentes encontrando a pele macia dela, provocando um suspiro baixo e trêmulo. Cada beijo era como uma chama acendendo dentro dela, e a sensação de ter tão próximo, tão entregue, era quase surreal.

As mãos dele deslizaram pelo corpo dela, tocando, explorando, enquanto o desejo entre eles aumentava. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas o calor de seus corpos, a urgência de seus beijos e o som de suas respirações entrecortadas.

O choque frio da cruz de , ainda pendurada em seu pescoço, contrastava com o calor de seus corpos, um lembrete silencioso da tensão entre o sagrado e o desejo que os consumia. Mas, naquele momento, e estavam além de qualquer racionalidade, entregues à paixão que por tanto tempo negaram a si mesmos.

parou por um instante, os lábios ainda próximos ao pescoço de , a respiração dele quente contra a pele dela. Ele a observou, os olhos cheios de desejo, mas também de uma profunda intensidade.

...— ele sussurrou, como se as palavras falhassem em expressar tudo o que ele estava sentindo.

Mas, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, puxou-o de volta para si, selando seus lábios em mais um beijo cheio de volúpia, como se quisesse apagar qualquer dúvida, qualquer hesitação, qualquer obstáculo entre eles.
E naquele momento, com a Bíblia aberta ao lado deles, o que antes era inatingível agora parecia inevitável.

HOT

desceu sua mão até o meio das pernas de . Com uma expressão de surpresa ao senti-la escorrendo para ele.

— Esqueceu da calcinha? — Perguntou com a voz mais grossa de excitação.

Quando ia responder foi pega de surpresa com os dedos do padre adentrando sua buceta molhada. Deixou escapar um gemido de prazer. O padre desceu as alças do vestido, deixando os seios de à mostra. A sala do padre era fria, o que fez os mamilos da garota enrijecerem.



— O que foi? Você não veio até aqui para me provocar? Agora você vai aguentar… — Inseriu mais um dedo dentro dela. Fazia um vai e vem delicioso enquanto chupava seus peitos. Sua língua era maravilhosa, rápida, quente e molhada. Ele brincava com os mamilos enquanto a fodia com os dedos.
se sentia nas nuvens. Era como um sonho. foi descendo até se encontrar entre as pernas de .

— Você está escorrendo… — Falou como se tivesse encontrado um tesouro. — Tudo isso pra mim? — estava incapacitada de falar, então apenas concordou com a cabeça.

Foi quando caiu de boca nela. Chupando com vontade cada centímetro de sua buceta. Era como se quisesse se afogar entre suas pernas. Sua língua era pontual e firme, ele sabia muito bem o que estava fazendo e isso a excitava cada vez mais.
parou e levantou-se.

Beijou enquanto abaixava seu zíper. Seu intuito era fazê-la provar de seu próprio mel. não acreditava que esse era o mesmo que conversara com ela a pouco. Esse parecia mais selvagem. E ela adorava. Apenas se perguntava onde ele havia aprendido essas coisas.

— Você tem camisinha? — Ele perguntou. quase riu da ironia, óbvio que ele não tinha.

apenas disse que não era preciso se preocupar. Sem esperar, enquanto ele segurava seu pescoço, meteu seu pau sem nem perguntar. revirou os olhos de prazer.

— Você é uma puta. Veio pra igreja pra ganhar pau e é isso que eu vou te dar, enquanto o corno do teu noivo não sabe que você tá sendo bem comida aqui. — Sussurrou em seu ouvido. Ele estocava com força fazendo gemer alto a cada estocada.

As paredes da igreja eram grossas e ela esperava do fundo do coração que não ouvissem as heresias a qual ela clamava.

retirou-se de dentro dela apenas para deixá-la de bruços na mesa. Em frente a um grande retrato da Virgem Maria.

Por um momento se sentiu culpada por estar pecando em um lugar sagrado, mas logo foi retirada de seus pensamentos pela ardência que sentiu ao levar um tapa de . Antes de reagir veio outro, e outro. E logo estava dentro dela novamente.

— Você não sabe a quanto tempo eu quero fazer isso. — Falou segurando o quadril da mulher com força. — Ver você gostosa desse jeito foi a gota d'água.

era rápido e forte, mas ao mesmo tempo seguro e confiante. Ele não a machucava, ele sabia que ela queria isso tanto quanto ele. Porque ela a conhecia como ninguém.

— Você é perfeita, meu Deus! — Soltou ofegante, entre estocadas.

— Você não pensou duas vezes antes de me fuder, não é? — Perguntou entre gemidos.

— Você é o único motivo pelo qual eu largaria tudo. — e a beijou.



Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Que fanfic, meus amigos! Você é maravilhosa, Lari, entenda!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.