Capítulo Único
1973
dava os últimos retoques em seus cachos que estavam bem escuros devido ao uso de um novo produto químico lançado a poucos dias. Seus cachos pareciam molinhas de tão enrolados. Olhou-se no espelho, vestia um vestido com estampas florais de manga comprida, uma faixa no cabelo da mesma cor, botas brancas e batom vermelho para finalizar a produção.
Estava animada, seria a primeira vez que ela iria a um baile. Seu pai nunca a deixava dizendo que aquele lugar não era adequado para moças de família ou ainda que os militares pudessem encrencar com ela. não era louca de ficar na rua após as 22 horas sabia do risco que estaria se expondo.
Dessa vez ela sabia que daria certo, tinha pedido com antecedência, mas precisamente há duas semanas. Seu pai lhe disse que ela poderia ir desde que fosse com Julio, seu irmão mais velho. saiu do quarto dando uma última checada no espelho e caminhou até a sala, encontrando os pais assistindo a uma luta de boxe. Seu pai quase socava a tela da tevê junto com o lutador tamanha era a emoção. Ela riu levemente, chamando a atenção dos pais pra si.
- Oi, mamãe! Papai! – o pai a encarou dos pés a cabeça.
- Filha, aonde você vai vestida assim? – ele perguntou ciumento. Dona Lia só observava a cena, Carlos sempre super protegeu a filha.
- Pai! Eu vou para o baile – ela falou animada. – Eu te avisei faz um bocado de tempo e você deixou.
- Sim, eu deixei caso seu irmão fosse com você, – ela fez um biquinho.
- Ele já foi, papai, dá um taime - ela respondeu mau humorada.
- Olha o jeito que você fala com seu pai, ! Mais respeito! – a menina abaixou a bola rapidamente – Antônio, Julio já está no baile, deixe-a ir. – o pai respirou fundo, enciumado.
- Por que ele não a esperou? E se ele não estiver lá mesmo e ela ficar sozinha? De jeito nenhum. – ele respondeu a contragosto.
- Papai, por favor, não faça isso comigo... – já tinha lágrimas nos olhos. Lia sentiu pena da filha. Era sempre esse martírio para qualquer lugar que ela tentasse sair.
- Antônio, o Julio sempre vai para esse baile. Pare com isso, já – ela o encarou feio. O homem suspirou, derrotado.
- Ok, se Julio já está lá você poderá ir – ela dava pulinhos animados, limpando rapidamente as lágrimas, antes que borrassem sua maquiagem – Mas, lembre-se, se Julio tiver uma queixa sua, você não sairá mais.
- Ele não terá nenhuma queixa minha, papai, fique tranquilo – ela sorriu animada. Aproximou-se eufórica dos pais e os beijou.
Ela segurou a bolsa firmemente, e se despediu dos pais. Como de costume havia pedido que eles lhe abençoassem.
- Deus abençoe, filha! – eles abençoaram juntos. O pai acrescentou – Cuidado com os militares, minha filha! Esteja em casa às 20h00min, avise ao seu irmão.
- Tá bom, papai - Ela assentiu com a cabeça, e saiu para o ponto de ônibus.
Enquanto aguardava procurou na bolsa drops de anis, uma bala refrescante para lhe dar um hálito gostoso. Não demorou muito e o ônibus veio, ela embarcou animada, não via a hora de chegar ao baile e encontrar Lana, sua melhor amiga. Mesmo que seu irmão estivesse lá, ela se divertiria, ignoraria a presença dele.
Ela levantou animada quando viu que era no próximo ponto que ela teria que desembarcar. Chegou ao local, procurou por sua amiga e logo a avistou em pé ao lado de seu irmão, estavam conversando.
- Oi, Lana – ela cumprimentou a amiga e deu um tapa no braço do irmão – Por que não me esperou? Papai quase não me deixa vir por causa disso!
- Você demora um montão de tempo pra se arrumar, parece noiva. – ela deu mais um tapa nele.
- Vocês dois, por favor! – Lana ralhou – Oi, . O importante é que você está aqui e nós vamos dançar a noite inteira. – ela sorriu, tentando amenizar o clima que se instaurou ali.
- Certo, certo – ela suspirou – Alguém já te convidou pra dançar?
- Ihhh, lá vem esses assuntos... Tô caindo fora – elas riram de Julio que se afastou rapidamente dali.
- Três rapazes me convidaram, mas eu só aceitei um convite... – Lana respondeu animada.
- E de quem foi? – olhava o local estudando o terreno. Avistou um rapaz que lhe fitava intensamente. Ela ficou tímida e desviou o olhar.
- Do seu irmão – rapidamente virou-se completamente para a amiga.
- Eu sabia! Ele tá tão na sua – ela balançou os ombros da amiga, com um sorriso enorme.
- Para de ser boba, é claro que não. – Lana direcionou o olhar para o chão, tímida.
sentia que o estranho rapaz ainda a encarava do outro lado do salão, acabou voltando os olhos a ele. Sentiu as bochechas esquentarem e sorriu fracamente para ele, voltando o olhar para Lana.
- Confessa que você tá gamada nele, eu vi quando eu cheguei o quão próximos vocês estavam. Conversinha ao pé do ouvido e tudo – riu alto com a cara que Lana fazia.
- Papo furado esse seu – ela disfarçou, tentando ignorar a amiga.
olhou em direção ao lugar no qual o rapaz misterioso estava, mas só encontrou o vazio. Achou estranho, em um piscar de olhos ele havia sumido.
- Tá bom, eu desisto. Um dia a verdade aparece e... – foi interrompida com a chegada daquele rapaz.
- Oi – o rapaz cumprimentou as duas moças – Quer dançar, moça? – ele virou seu corpo totalmente para .
- Claro – ela sorriu acanhada. Lana deu um positivo com uma das mãos, alegre por ela.
Ele a conduziu pela cintura até estarem no meio do salão. Segurou a mão dela e sua outra mão ele enlaçou na cintura da moça. Começaram a dançar com passos tímidos.
- Você é tão linda... – ele sussurrou no ouvido dela. acabou se arrepiando com a voz rouca do rapaz – Como se chama?
- Obrigada. Eu me chamo – ela falou próxima do ouvido dele – E você?
- – ele a girou levemente, e a trouxe pra si – Feche os olhos – ele sussurrou no ouvido dela. Ela assim o fez. – Você sente a música?
- Sim – ele a trouxe mais para frente, enquanto deslizava com ela pelo salão. – E você? Sente? – ele a girou, e de súbito ela abriu os olhos, lhe encarando.
- Eu sinto a música e sinto você – ele sorriu, segurando firmemente a cintura dela. Aquele rapaz... Tinha algo nele que a deixava de pernas bambas.
Do outro lado do salão, Lana encarava a cena encantada, era lindo de ver como os dois dançavam, pareciam plumas. Tomou um susto quando viu que o irmão da moça caminhava bravo em direção ao casal, correu conseguindo o alcançar.
- Não faça isso! – ela o segurou pela mão.
- Como assim, Lana? Eu conheço esse cara, bicho. – ele tinha raiva no olhar – Ele é o , estudou comigo na escola, nunca valeu um cruzeiro.
- Ele não me parece uma má pessoa, Julio. De qualquer forma é só uma dança, deixe-os dançar – ele bufou – Julio! A música já esta para acabar.
- Tá certo! Só essa música! – ele voltou para o bar com ela.
e ainda dançavam, não notaram qualquer ameaça que pudesse estragar aquele momento. Ela apertou as costas do rapaz, timidamente.
- Ah, você também é muito lindo – ela sorriu, agora afagando as costas dele. – E cheiroso – ele riu contra o ombro da moça.
- Não mais do que você – ele devolveu o gracejo para ela.
A música foi acabando, eles foram se separando devagar, não querendo quebrar o contato que em tão pouco tempo haviam conquistado.
- Dança mais uma comigo? – ele perguntou persuasivo.
- Danço – logo pode se ouvir o acorde de uma música mais agitada.
Julio levantou-se bravo, aquilo não estava certo, aquele rapaz não era para sua irmã. Lana tentou impedi-lo novamente, mas dessa vez não obteve êxito.
- Larga minha irmã! – ele deu um leve empurrão no rapaz. ficou assustada com a aproximação repentina de Julio.
- Ei, fica calma, bicho. Não precisa se grilar – ele levantou as mãos fazendo sinal para que o rapaz se acalmasse. Afastando-se de .
- Pare com isso, Julio, não seja careta! – ela estava morta de vergonha do irmão.
- Você nunca mais se aproxima da minha irmã – ele deu um empurrão no peito de .
- Não estávamos fazendo nada errado, mas eu me afastarei se é o que quer – percebeu que se batesse de frente com Julio se prejudicaria, e ele necessitava conhecer melhor aquela moça tão encantadora.
- É melhor mesmo – o irmão mais velho bufou - Vamos embora agora, ! – ele a puxou pelo braço.
- Eu não quero ir embora – ela suplicou a ele.
- Vai ficar me desafiando mesmo? – ele respondeu irônico – Vou contar ao papai.
- Não faça isso, Julio – Lana que até então assistia a cena calada interviu por sua melhor amiga – Por favor, se não o pai de vocês nunca mais deixará que saia.
- Vamos ver se ela merece que eu não conte a ele... Vamos embora, ? – ele perguntou irônico, refazendo a pergunta. que não era boba rapidamente entendeu o recado.
- Vamos – ela respondeu mal humorada. Sentiu quando seu irmão a puxou e ela o acompanhou a passos rápidos.
- Você vem, Lana? – o irmão mais velho de perguntou, quando viu que a moça os acompanhava na caminhada.
- Sim, eu vou – ela suspirou cansada com a ceninha que o rapaz fizera há pouco. Estava enraivecida com ele, tinha perdido alguns pontos com ela por tratar sua melhor amiga daquela forma.
olhou para trás, chateada, e pode avistar o rapaz que ainda permanecia a fitando. Ela sibilou um desculpa e ele deu de ombros, para que ela se não se preocupasse. Ele mandou um beijo para a moça e apontou seu próprio coração. Ela sorriu fofamente para o gesto dele.
, aquele nome não saía de seus pensamentos. sorria enquanto abraçava seu ursinho de pelúcia surrado se imaginando nos braços cheirosos do rapaz novamente.
Escutou batidas leves na porta. Assustou-se acordando de seus devaneios e acabou autorizando a entrada de quem quer que fosse.
- Filha? – a mãe entrou no quarto e a viu deitada na cama. – Você voltou com um sorriso tão bonito desse baile... Viu passarinho verde?
- Mãe! – olhou para qualquer lugar, evitando ao máximo olhar para a mais velha.
- Ah, não agora quero saber, filhota – a mãe sorriu, animada. Sua bebê já estava no auge de seus dezoito anos e tinha se tornado uma bela moça.
- Tinha um rapaz, ele... – ela suspirou – Me convidou para dançar, eu não sei explicar, mas eu gostei muito dele, mamãe.
- Ah, minha boneca, vocês se verão novamente... – suspirou, tristemente.
- Creio que não. Julio ficou de bronca com ele. – ela abraçou mais o ursinho de pelúcia.
- Mas por quê? Ele te disse? – Lia perguntou curiosa.
- Disse que ele é um homem de muitas mulheres. – ela respondeu chateada.
- Então ele fez o certo em te afastar dele. Homens como esse não fazem bem para moças como você. – suspirou fundo.
- Tudo bem, mamãe – a mais velha lhe sorriu – Tô com sono – quis despachar a mãe logo para que assim pudesse pensar sossegadamente.
Ela lhe beijou a testa e saiu do quarto, não sem antes lhe desejar bons sonhos. Sabia que só seria possível se sonhasse com o
***
Era sábado, já fazia uma semana que havia visto o seu galã de cinema. Hoje ela iria ao baile, queria encontrá-lo, e dessa vez nada lhe atrapalharia. Ela já tinha arquitetado um plano inteiro com Lana para despistar Julio. Estava pronta e torcia para que estivesse lá.
- De novo baile, !? – ela suspirou fundo, a vontade era de revirar os olhos.
- Papai, eu não aprontei. Julio te disse, não se lembra? – ela o olhou suplicante.
- Antônio, toda vez que ela for sair vai ser isso? Deixa a menina se divertir um pouco – ela o olhou brava.
- Se acontecer algo a responsabilidade é sua, Lia – ele balançou as mãos em descaso.
- Não vai acontecer nada. – ela o respondeu e se dirigiu a filha - Julio já foi, filhota. Bom passeio – ela agradeceu a mãe, pediu a benção aos pais e partiu.
Chegou ao baile procurando por Lana, a avistou ao lado de seu irmão. Era certo como dois mais dois são quatro que eles namorariam em breve, estava feliz, ambos fariam bem um ao outro.
- Olá – ela os cumprimentou, animada.
- Está contente... O que há? – Julio lhe olhou, desconfiado. Lana interviu pela amiga.
- Julio, pare com isso! Olá, – ela segurou as mãos da amiga sorrindo e se aproximou do ouvido dela e sussurrou – Ele veio – faltou rasgar o sorriso em sua face.
- Queria retocar o batom, vamos ao banheiro? – chamou Lana para colocar o plano dela em prática.
- Vamos sim – Lana direcionou o olhar ao paquera – Já voltamos, Julio – o rapaz assentiu, enquanto se encostava na parede, observando o movimento.
- Você fica na porta do banheiro, e eu vou procura-lo e o chamo aqui, combinado? – sorriu, nervosa.
- Estou gamada naquele rapaz, me sinto um pouco tola, nem sei se ele sente o mesmo – ela comentou, alarmada.
- Só saberemos se nos aproximarmos dele, mas do jeito que ele lhe olhava aquele dia, você não sente sozinha, sem bronca, . Vai dar tudo certo – a amiga lhe abraçou rapidamente – Estou indo.
Lana foi pelo canto do salão, sabia onde o rapaz estava. alisou a roupa, dessa vez usava um vestido de listras brancas e pretas, bota branca e rabo de cavalo alto. Puxou um espelhinho da bolsa, checando o batom, as mãos dela tremiam muito e estavam geladas.
- A moça mais bonita da cidade veio ao baile hoje... – ele comentou, a assustando. Ela mordeu os lábios.
- Oi, – ela suspirou – Muito obrigada, você também está muito bonito. – ele segurou a mão dela e a entrelaçou na sua.
- Você está tão gelada, está com frio? – ele perguntou, preocupado. Ele se aproximou dela e a abraçou apertadamente. Aquela menina tinha algo que lhe clamava atenção. O jeito tímido dela lhe encantava.
- Ah, não, minhas mãos são assim mesmo – ela quis se enfiar em um buraco.
- Queria dançar com você de novo, , mas seu irmão está aqui. Estou terminantemente proibido de me aproximar de você – ele continuava abraçado à menina, agora falava bem próximo do ouvido dela. Ela fechou os olhos ao escutar a voz dele no ouvido dela. Separaram-se devagar.
- Por que Julio tem tanta bronca de você? – ela perguntou curiosa. Queria escutar da boca dele
- ... – ele olhou para baixo, envergonhado – Bom, eu gosto de me divertir quando saio, paquero muitas meninas, não vou mentir. Seu irmão já me viu com várias garotas, então eu entendo o receio dele. – ela lhe olhou, decepcionada. Então era mesmo verdade, ele era mulherengo.
- Então eu devo me afastar mesmo – ela desentrelaçou as mãos com as dele, se afastando do rapaz.
- Com você as coisas são diferentes, eu nunca me senti assim com nenhuma garota. Você me encantou desde o primeiro momento em que te vi chegando naquela tarde, linda como um raio de sol. Eu me sinto tão estranho... Esse seu sorriso, sua timidez, você é tão doce. Eu estou tão na sua, moça bonita.
- Eu... não sei o que dizer – ela estava ofegante. Ele sorriu para ela, quando escutou a introdução daquela música.
- Não diz nada, só dança comigo? – ele a puxou para o canto do salão, no qual Julio não conseguiria enxergá-los.
- Eu danço com você – ela sorriu lindamente.
Ele segurou a mão dela, a colocou no pescoço dele e segurou firmemente a cintura dela. Ele sussurrava os trechos da música no ouvido dela, enquanto ela fechava os olhos sentindo-se ser conduzida por ele.
a rodou rapidamente, e a trouxe para si, segurou ambas as mãos dela enquanto dançavam. A virou de costas, sentindo o cheiro bom que vinha do seu cabelo, enquanto ela tinha o sorriso mais lindo.
Ele a virou de frente a encarando, enquanto a conduzia no balanço da música.
- Eu quero tanto fazer uma coisa... – ele o encarou, sorrindo tímido.
- O quê? – ela sussurrou com os olhos brilhantes.
- Isso – ele se aproximou dela, roçou seus narizes e a beijou.
Ela se desesperou, nunca tinha beijado na vida, ela abriu a boca, e ele enfiou a língua, tornando o beijo mais íntimo. Ele explorava cada canto da boca dela, e ela só o imitava timidamente, temendo fazer algo de errado. Eles finalizaram o beijo com selinhos. Ela o abraçou querendo esconder seu rosto no peito dele.
- Foi seu primeiro beijo, moça bonita? – ela balançou a cabeça de forma tímida, assentindo – O primeiro de muitos que eu lhe darei. – ele lhe deu um selinho carinhoso.
Eles continuaram a dançar, sem se preocuparem com Julio, era certo que ninguém os separaria. enfrentaria céus e terras, por aquela garota que havia roubado o seu calejado coração.
dava os últimos retoques em seus cachos que estavam bem escuros devido ao uso de um novo produto químico lançado a poucos dias. Seus cachos pareciam molinhas de tão enrolados. Olhou-se no espelho, vestia um vestido com estampas florais de manga comprida, uma faixa no cabelo da mesma cor, botas brancas e batom vermelho para finalizar a produção.
Estava animada, seria a primeira vez que ela iria a um baile. Seu pai nunca a deixava dizendo que aquele lugar não era adequado para moças de família ou ainda que os militares pudessem encrencar com ela. não era louca de ficar na rua após as 22 horas sabia do risco que estaria se expondo.
Dessa vez ela sabia que daria certo, tinha pedido com antecedência, mas precisamente há duas semanas. Seu pai lhe disse que ela poderia ir desde que fosse com Julio, seu irmão mais velho. saiu do quarto dando uma última checada no espelho e caminhou até a sala, encontrando os pais assistindo a uma luta de boxe. Seu pai quase socava a tela da tevê junto com o lutador tamanha era a emoção. Ela riu levemente, chamando a atenção dos pais pra si.
- Oi, mamãe! Papai! – o pai a encarou dos pés a cabeça.
- Filha, aonde você vai vestida assim? – ele perguntou ciumento. Dona Lia só observava a cena, Carlos sempre super protegeu a filha.
- Pai! Eu vou para o baile – ela falou animada. – Eu te avisei faz um bocado de tempo e você deixou.
- Sim, eu deixei caso seu irmão fosse com você, – ela fez um biquinho.
- Ele já foi, papai, dá um taime - ela respondeu mau humorada.
- Olha o jeito que você fala com seu pai, ! Mais respeito! – a menina abaixou a bola rapidamente – Antônio, Julio já está no baile, deixe-a ir. – o pai respirou fundo, enciumado.
- Por que ele não a esperou? E se ele não estiver lá mesmo e ela ficar sozinha? De jeito nenhum. – ele respondeu a contragosto.
- Papai, por favor, não faça isso comigo... – já tinha lágrimas nos olhos. Lia sentiu pena da filha. Era sempre esse martírio para qualquer lugar que ela tentasse sair.
- Antônio, o Julio sempre vai para esse baile. Pare com isso, já – ela o encarou feio. O homem suspirou, derrotado.
- Ok, se Julio já está lá você poderá ir – ela dava pulinhos animados, limpando rapidamente as lágrimas, antes que borrassem sua maquiagem – Mas, lembre-se, se Julio tiver uma queixa sua, você não sairá mais.
- Ele não terá nenhuma queixa minha, papai, fique tranquilo – ela sorriu animada. Aproximou-se eufórica dos pais e os beijou.
Ela segurou a bolsa firmemente, e se despediu dos pais. Como de costume havia pedido que eles lhe abençoassem.
- Deus abençoe, filha! – eles abençoaram juntos. O pai acrescentou – Cuidado com os militares, minha filha! Esteja em casa às 20h00min, avise ao seu irmão.
- Tá bom, papai - Ela assentiu com a cabeça, e saiu para o ponto de ônibus.
Enquanto aguardava procurou na bolsa drops de anis, uma bala refrescante para lhe dar um hálito gostoso. Não demorou muito e o ônibus veio, ela embarcou animada, não via a hora de chegar ao baile e encontrar Lana, sua melhor amiga. Mesmo que seu irmão estivesse lá, ela se divertiria, ignoraria a presença dele.
Ela levantou animada quando viu que era no próximo ponto que ela teria que desembarcar. Chegou ao local, procurou por sua amiga e logo a avistou em pé ao lado de seu irmão, estavam conversando.
- Oi, Lana – ela cumprimentou a amiga e deu um tapa no braço do irmão – Por que não me esperou? Papai quase não me deixa vir por causa disso!
- Você demora um montão de tempo pra se arrumar, parece noiva. – ela deu mais um tapa nele.
- Vocês dois, por favor! – Lana ralhou – Oi, . O importante é que você está aqui e nós vamos dançar a noite inteira. – ela sorriu, tentando amenizar o clima que se instaurou ali.
- Certo, certo – ela suspirou – Alguém já te convidou pra dançar?
- Ihhh, lá vem esses assuntos... Tô caindo fora – elas riram de Julio que se afastou rapidamente dali.
- Três rapazes me convidaram, mas eu só aceitei um convite... – Lana respondeu animada.
- E de quem foi? – olhava o local estudando o terreno. Avistou um rapaz que lhe fitava intensamente. Ela ficou tímida e desviou o olhar.
- Do seu irmão – rapidamente virou-se completamente para a amiga.
- Eu sabia! Ele tá tão na sua – ela balançou os ombros da amiga, com um sorriso enorme.
- Para de ser boba, é claro que não. – Lana direcionou o olhar para o chão, tímida.
sentia que o estranho rapaz ainda a encarava do outro lado do salão, acabou voltando os olhos a ele. Sentiu as bochechas esquentarem e sorriu fracamente para ele, voltando o olhar para Lana.
- Confessa que você tá gamada nele, eu vi quando eu cheguei o quão próximos vocês estavam. Conversinha ao pé do ouvido e tudo – riu alto com a cara que Lana fazia.
- Papo furado esse seu – ela disfarçou, tentando ignorar a amiga.
olhou em direção ao lugar no qual o rapaz misterioso estava, mas só encontrou o vazio. Achou estranho, em um piscar de olhos ele havia sumido.
- Tá bom, eu desisto. Um dia a verdade aparece e... – foi interrompida com a chegada daquele rapaz.
- Oi – o rapaz cumprimentou as duas moças – Quer dançar, moça? – ele virou seu corpo totalmente para .
- Claro – ela sorriu acanhada. Lana deu um positivo com uma das mãos, alegre por ela.
Ele a conduziu pela cintura até estarem no meio do salão. Segurou a mão dela e sua outra mão ele enlaçou na cintura da moça. Começaram a dançar com passos tímidos.
- Você é tão linda... – ele sussurrou no ouvido dela. acabou se arrepiando com a voz rouca do rapaz – Como se chama?
- Obrigada. Eu me chamo – ela falou próxima do ouvido dele – E você?
- – ele a girou levemente, e a trouxe pra si – Feche os olhos – ele sussurrou no ouvido dela. Ela assim o fez. – Você sente a música?
- Sim – ele a trouxe mais para frente, enquanto deslizava com ela pelo salão. – E você? Sente? – ele a girou, e de súbito ela abriu os olhos, lhe encarando.
- Eu sinto a música e sinto você – ele sorriu, segurando firmemente a cintura dela. Aquele rapaz... Tinha algo nele que a deixava de pernas bambas.
Do outro lado do salão, Lana encarava a cena encantada, era lindo de ver como os dois dançavam, pareciam plumas. Tomou um susto quando viu que o irmão da moça caminhava bravo em direção ao casal, correu conseguindo o alcançar.
- Não faça isso! – ela o segurou pela mão.
- Como assim, Lana? Eu conheço esse cara, bicho. – ele tinha raiva no olhar – Ele é o , estudou comigo na escola, nunca valeu um cruzeiro.
- Ele não me parece uma má pessoa, Julio. De qualquer forma é só uma dança, deixe-os dançar – ele bufou – Julio! A música já esta para acabar.
- Tá certo! Só essa música! – ele voltou para o bar com ela.
e ainda dançavam, não notaram qualquer ameaça que pudesse estragar aquele momento. Ela apertou as costas do rapaz, timidamente.
- Ah, você também é muito lindo – ela sorriu, agora afagando as costas dele. – E cheiroso – ele riu contra o ombro da moça.
- Não mais do que você – ele devolveu o gracejo para ela.
A música foi acabando, eles foram se separando devagar, não querendo quebrar o contato que em tão pouco tempo haviam conquistado.
- Dança mais uma comigo? – ele perguntou persuasivo.
- Danço – logo pode se ouvir o acorde de uma música mais agitada.
Julio levantou-se bravo, aquilo não estava certo, aquele rapaz não era para sua irmã. Lana tentou impedi-lo novamente, mas dessa vez não obteve êxito.
- Larga minha irmã! – ele deu um leve empurrão no rapaz. ficou assustada com a aproximação repentina de Julio.
- Ei, fica calma, bicho. Não precisa se grilar – ele levantou as mãos fazendo sinal para que o rapaz se acalmasse. Afastando-se de .
- Pare com isso, Julio, não seja careta! – ela estava morta de vergonha do irmão.
- Você nunca mais se aproxima da minha irmã – ele deu um empurrão no peito de .
- Não estávamos fazendo nada errado, mas eu me afastarei se é o que quer – percebeu que se batesse de frente com Julio se prejudicaria, e ele necessitava conhecer melhor aquela moça tão encantadora.
- É melhor mesmo – o irmão mais velho bufou - Vamos embora agora, ! – ele a puxou pelo braço.
- Eu não quero ir embora – ela suplicou a ele.
- Vai ficar me desafiando mesmo? – ele respondeu irônico – Vou contar ao papai.
- Não faça isso, Julio – Lana que até então assistia a cena calada interviu por sua melhor amiga – Por favor, se não o pai de vocês nunca mais deixará que saia.
- Vamos ver se ela merece que eu não conte a ele... Vamos embora, ? – ele perguntou irônico, refazendo a pergunta. que não era boba rapidamente entendeu o recado.
- Vamos – ela respondeu mal humorada. Sentiu quando seu irmão a puxou e ela o acompanhou a passos rápidos.
- Você vem, Lana? – o irmão mais velho de perguntou, quando viu que a moça os acompanhava na caminhada.
- Sim, eu vou – ela suspirou cansada com a ceninha que o rapaz fizera há pouco. Estava enraivecida com ele, tinha perdido alguns pontos com ela por tratar sua melhor amiga daquela forma.
olhou para trás, chateada, e pode avistar o rapaz que ainda permanecia a fitando. Ela sibilou um desculpa e ele deu de ombros, para que ela se não se preocupasse. Ele mandou um beijo para a moça e apontou seu próprio coração. Ela sorriu fofamente para o gesto dele.
, aquele nome não saía de seus pensamentos. sorria enquanto abraçava seu ursinho de pelúcia surrado se imaginando nos braços cheirosos do rapaz novamente.
Escutou batidas leves na porta. Assustou-se acordando de seus devaneios e acabou autorizando a entrada de quem quer que fosse.
- Filha? – a mãe entrou no quarto e a viu deitada na cama. – Você voltou com um sorriso tão bonito desse baile... Viu passarinho verde?
- Mãe! – olhou para qualquer lugar, evitando ao máximo olhar para a mais velha.
- Ah, não agora quero saber, filhota – a mãe sorriu, animada. Sua bebê já estava no auge de seus dezoito anos e tinha se tornado uma bela moça.
- Tinha um rapaz, ele... – ela suspirou – Me convidou para dançar, eu não sei explicar, mas eu gostei muito dele, mamãe.
- Ah, minha boneca, vocês se verão novamente... – suspirou, tristemente.
- Creio que não. Julio ficou de bronca com ele. – ela abraçou mais o ursinho de pelúcia.
- Mas por quê? Ele te disse? – Lia perguntou curiosa.
- Disse que ele é um homem de muitas mulheres. – ela respondeu chateada.
- Então ele fez o certo em te afastar dele. Homens como esse não fazem bem para moças como você. – suspirou fundo.
- Tudo bem, mamãe – a mais velha lhe sorriu – Tô com sono – quis despachar a mãe logo para que assim pudesse pensar sossegadamente.
Ela lhe beijou a testa e saiu do quarto, não sem antes lhe desejar bons sonhos. Sabia que só seria possível se sonhasse com o
- De novo baile, !? – ela suspirou fundo, a vontade era de revirar os olhos.
- Papai, eu não aprontei. Julio te disse, não se lembra? – ela o olhou suplicante.
- Antônio, toda vez que ela for sair vai ser isso? Deixa a menina se divertir um pouco – ela o olhou brava.
- Se acontecer algo a responsabilidade é sua, Lia – ele balançou as mãos em descaso.
- Não vai acontecer nada. – ela o respondeu e se dirigiu a filha - Julio já foi, filhota. Bom passeio – ela agradeceu a mãe, pediu a benção aos pais e partiu.
Chegou ao baile procurando por Lana, a avistou ao lado de seu irmão. Era certo como dois mais dois são quatro que eles namorariam em breve, estava feliz, ambos fariam bem um ao outro.
- Olá – ela os cumprimentou, animada.
- Está contente... O que há? – Julio lhe olhou, desconfiado. Lana interviu pela amiga.
- Julio, pare com isso! Olá, – ela segurou as mãos da amiga sorrindo e se aproximou do ouvido dela e sussurrou – Ele veio – faltou rasgar o sorriso em sua face.
- Queria retocar o batom, vamos ao banheiro? – chamou Lana para colocar o plano dela em prática.
- Vamos sim – Lana direcionou o olhar ao paquera – Já voltamos, Julio – o rapaz assentiu, enquanto se encostava na parede, observando o movimento.
- Você fica na porta do banheiro, e eu vou procura-lo e o chamo aqui, combinado? – sorriu, nervosa.
- Estou gamada naquele rapaz, me sinto um pouco tola, nem sei se ele sente o mesmo – ela comentou, alarmada.
- Só saberemos se nos aproximarmos dele, mas do jeito que ele lhe olhava aquele dia, você não sente sozinha, sem bronca, . Vai dar tudo certo – a amiga lhe abraçou rapidamente – Estou indo.
Lana foi pelo canto do salão, sabia onde o rapaz estava. alisou a roupa, dessa vez usava um vestido de listras brancas e pretas, bota branca e rabo de cavalo alto. Puxou um espelhinho da bolsa, checando o batom, as mãos dela tremiam muito e estavam geladas.
- A moça mais bonita da cidade veio ao baile hoje... – ele comentou, a assustando. Ela mordeu os lábios.
- Oi, – ela suspirou – Muito obrigada, você também está muito bonito. – ele segurou a mão dela e a entrelaçou na sua.
- Você está tão gelada, está com frio? – ele perguntou, preocupado. Ele se aproximou dela e a abraçou apertadamente. Aquela menina tinha algo que lhe clamava atenção. O jeito tímido dela lhe encantava.
- Ah, não, minhas mãos são assim mesmo – ela quis se enfiar em um buraco.
- Queria dançar com você de novo, , mas seu irmão está aqui. Estou terminantemente proibido de me aproximar de você – ele continuava abraçado à menina, agora falava bem próximo do ouvido dela. Ela fechou os olhos ao escutar a voz dele no ouvido dela. Separaram-se devagar.
- Por que Julio tem tanta bronca de você? – ela perguntou curiosa. Queria escutar da boca dele
- ... – ele olhou para baixo, envergonhado – Bom, eu gosto de me divertir quando saio, paquero muitas meninas, não vou mentir. Seu irmão já me viu com várias garotas, então eu entendo o receio dele. – ela lhe olhou, decepcionada. Então era mesmo verdade, ele era mulherengo.
- Então eu devo me afastar mesmo – ela desentrelaçou as mãos com as dele, se afastando do rapaz.
- Com você as coisas são diferentes, eu nunca me senti assim com nenhuma garota. Você me encantou desde o primeiro momento em que te vi chegando naquela tarde, linda como um raio de sol. Eu me sinto tão estranho... Esse seu sorriso, sua timidez, você é tão doce. Eu estou tão na sua, moça bonita.
- Eu... não sei o que dizer – ela estava ofegante. Ele sorriu para ela, quando escutou a introdução daquela música.
- Não diz nada, só dança comigo? – ele a puxou para o canto do salão, no qual Julio não conseguiria enxergá-los.
- Eu danço com você – ela sorriu lindamente.
Ele segurou a mão dela, a colocou no pescoço dele e segurou firmemente a cintura dela. Ele sussurrava os trechos da música no ouvido dela, enquanto ela fechava os olhos sentindo-se ser conduzida por ele.
a rodou rapidamente, e a trouxe para si, segurou ambas as mãos dela enquanto dançavam. A virou de costas, sentindo o cheiro bom que vinha do seu cabelo, enquanto ela tinha o sorriso mais lindo.
Ele a virou de frente a encarando, enquanto a conduzia no balanço da música.
- Eu quero tanto fazer uma coisa... – ele o encarou, sorrindo tímido.
- O quê? – ela sussurrou com os olhos brilhantes.
- Isso – ele se aproximou dela, roçou seus narizes e a beijou.
Ela se desesperou, nunca tinha beijado na vida, ela abriu a boca, e ele enfiou a língua, tornando o beijo mais íntimo. Ele explorava cada canto da boca dela, e ela só o imitava timidamente, temendo fazer algo de errado. Eles finalizaram o beijo com selinhos. Ela o abraçou querendo esconder seu rosto no peito dele.
- Foi seu primeiro beijo, moça bonita? – ela balançou a cabeça de forma tímida, assentindo – O primeiro de muitos que eu lhe darei. – ele lhe deu um selinho carinhoso.
Eles continuaram a dançar, sem se preocuparem com Julio, era certo que ninguém os separaria. enfrentaria céus e terras, por aquela garota que havia roubado o seu calejado coração.
Fim!
Nota da autora: Manhê, muito obrigada por me ajudar a escrever a fic, com as muitas dicas que você me deu, com as gírias, as roupas e tudo mais! Anos 70 é a sua praia mesmo! <3
Gente, ficou curtinha? Ficou, mas não tinha como me alongar muito nela, porque essa música é tão neném, que a fic tinha que ser neném tbm <3 <3!
Muito obrigado você que leu até aqui, fico imensamente agradecida. Só não esquece de deixar um comentário aqui embaixo!
Beijos <3
Outras Fanfics:
I Wont Forget You
Originais/Finalizada
03. Sk8er Boi
06. Don't Forget
Beijos <3
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