Capítulo Único
Fechei meus olhos ao sentir o vento no rosto. Não fazia ideia do que estava fazendo na Torre da Astronomia tão tarde da noite. Anos atrás eu teria me sentindo um verdadeiro rebelde fora da cama depois do horário. Mas, apesar de termos um toque de recolher, professores não precisavam obedecer a ele.
A lua estava crescente e eu já começava a sentir nas minhas veias o poder que ela tinha sobre mim. As dores que viriam na semana seguinte. O peso que todo mês eu tinha que passar. Tinha vez que eu jurava que não ia conseguir. Não era a primeira vez que eu subia até o ponto mais alto do castelo e pensava em me jogar de lá.
Mas sempre que chegava aqui, lembrava dele. Do seu cabelo, do sorriso que ele tinha nos lábios e como demorou anos até que eu os visse de novo. As cicatrizes tão profundas quanto as minhas que contavam duas versões de uma mesma história.
— Você vai ficar com rugas se continuar franzindo o cenho assim. — Abri meus olhos para ver Harry ao meu lado.
— Como você entrou aqui?
— Eu tinha uma reunião com McGonagall e fiquei de te encontrar depois do jantar, esqueceu?
Eu havia esquecido. Tantos dias esperando que meu namorado pudesse enfim vir me ver e, no dia em que ele chegou, eu havia esquecido. Harry abraçou minha cintura me puxando para si, também observando a paisagem que apenas Hogwarts poderia ter.
— Eu costumava amar o ano escolar, agora odeio que você fique tanto tempo longe de casa. — Ele virou seus olhos verdes para mim. — Especialmente em semanas como a que vem.
— É mais seguro que eu fique aqui. — A parte mais bizarra nessa minha fala é que anos atrás eu tinha dito o oposto quando outro professor de Hogwarts com a mesma condição que a minha ocupou o mesmo cargo que hoje eu ocupava.
— Eu sei. Mas ainda sinto sua falta, Draco. Prefiro quando posso estar com você nos seus piores dias.
Nunca entendi como Harry conseguia ficar ao meu lado. Depois de tudo que eu havia feito, depois que eu fui mordido como vingança por, mais uma vez, os Malfoy terem escapado sem grandes consequências. Eu já havia cortado relações com meu pai, mas isso não havia sido o suficiente para os seguidores de Fenrir Greyback que sobreviveram.
Três anos depois que a guerra tinha acabado, enquanto via Harry e seus amigos trabalhando no Ministério, abrindo lojas em Hogsmeade e tendo filhos, a sentença do meu pai enfim havia saído: Prisão domiciliar. Eu me mudei no mesmo dia que ele voltou de Askaban.
Não consegui nenhum emprego no ministério ou que pagasse um valor digno de um "Malfoy". Sobrevivi com o pouco que mamãe conseguia me mandar e um emprego de barista no Três Vassouras. Ou o que havia sobrado dele. Vi meus amigos se casando e formando alianças. Tradições que sobreviveriam ao mais rígido conflito.
Então veio Harry. De todas as pessoas, Harry Potter era a última que eu esperava me oferecer a mão.
Era um dia quente de julho, talvez uma semana antes do seu aniversário. Potter entrou no Três Vassouras parecendo que havia apanhado de um trasgo, mas ele apenas estava só. Ginny Weasley havia terminado com ele alguns meses antes e, no final de semana, Rony e Hermione tinham enfim se casado.
Sempre invejei quantos amigos Potter tinha. Como que, mesmo sem pais, ele conseguira ter pessoas que de fato lhe importassem com ele ao seu lado. Mas agora era eu quem estava sozinho.
Ofereci-lhe uma bebida e, já alcoolizado, Harry contou como que passara os últimos seis meses se entupindo de trabalho para não ter que pensar em quem havia sobrado. Em quem havíamos perdido. Três anos e as feridas ainda estavam abertas.
— Você chegou a conhecer o Ted? — Ele me perguntou, já com a fala arrastada.
— Não. — Eu havia me afastado de toda a minha família. Até mesmo da única tia que havia me restado. Ela que também havia perdido mais do que deveria na guerra e agora criava Ted Lupin, meu primo.
— Deveria. Quando sinto o peso de tudo isso, vou até a casa de Andromeda. Eu sou padrinho dele, sabia? — Eu sabia, mas não admitiria isso a Potter. — É quase como um looping de erros.
Ele tomou um gole da bebida e servi mais uma dose, dessa vez o acompanhando.
— Aos amigos. — Levantei meu copo, o convidando a um brinde.
— Ao Recomeço. — Ele piscou apenas com um dos olhos e senti meu corpo esquentar. Fazia anos desde que eu havia superado Harry Potter, mas bastou que aqueles olhos verdes me encarassem que me senti um adolescente de novo.
Talvez tenha sido o álcool, o luto compartilhado ou o cansaço, mas levei Harry para o pequeno quarto que alugava em uma das piores pensões. Aquela foi a primeira noite que ficamos juntos. Nada fazia sentido, mas ao mesmo tempo tudo parecia completo.
Na manhã seguinte Harry havia ido embora antes que eu acordasse, mas havia deixado um bilhete:
Me encontre em Hogwarts na terça-feira, às 15h.
Eu não tinha certeza se deveria ir. Mas eu não tinha mais nada a perder. Potter agora trabalhava no Ministério no departamento de aurores. Um cargo alto e que constantemente visitava Hogwarts em busca de livros da biblioteca. Uma vez ele chegou a dizer que era irônico o quanto ele evitava aquele lugar na época da escola e como agora era o que o salvava.
McGonagall me esperava com uma xícara de chá. Harry estava impecável. O cabelo sempre bagunçado, mas o uniforme escuro alinhado.
— O senhor Potter me disse que você estava precisando de um recomeço Sr. Malfoy. É verdade? — Eu assenti. O orgulho ferido não me deixaria dizer mais uma palavra. — Nós oferecemos uma vaga para Harry que ele insistiu em recusar. Mas então propôs que você fizesse uma entrevista. Conhecendo o seu histórico escolar e a suas experiências, pensei em dar-lhe o benefício da dúvida.
E foi assim que eu conseguira um namorado e o cargo de Professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Eu daria aula para muitos filhos de amigos e ex-aliados. Como também conheceria crianças que perderam os pais, avós, tios. Cicatrizes de uma guerra que nenhum de nós se recuperaria tão cedo. Se é que algum dia poderemos dizer que havíamos recuperado.
Me mudei para casa de Harry ainda naquele verão, mesmo que escondendo o nosso relacionamento. Em poucas semanas eu estaria de volta a Hogwarts. O primeiro ano passou rápido demais e, quando eu e Harry começamos a pensar que as coisas iam bem, o acidente aconteceu.
— Eu não te culpo, sabia? — Sua voz me trouxe de volta para o presente.
— Hm?
— Eu sei para onde sua mente foi. E eu não te culpo. Você fez e segue fazendo tudo o que pode. Eu tenho muito orgulho de você, Draco. — Ele se virou para mim, puxando meus lábios para os seus.
Estar nos braços de Harry era como estar em casa. Uma paz que há muito eu desconhecia. Há cinco anos ele havia me resgatado e seguia me salvando a cada dia.
— Eu te amo. — Falei olhando em seus olhos, levando minha mão ao seu rosto e acariciando sua bochecha.
— Eu sei. — Ele respondeu antes de me beijar de novo.
Ficamos abraçados por algumas horas apenas observando o luar sob Hogwarts. Quanto a gente tinha vivido para chegar ali. E quanto ainda tínhamos para viver.
...
Nas primeiras férias após minha chegada a Hogwarts fui visitar meus pais. Eu havia prometido que jamais entraria naquela casa de novo, mas minha mãe disse que papai estava doente. Por mais que eu não quisesse, eu era o único herdeiro.
— Filho, que bom que você veio. — Ela me recebeu com um abraço, mas já na porta senti que havia algo estranho. O lugar parecia mais frio do que eu me lembrava, mas coloquei na cabeça que era apenas o tempo. Harry insistiu para ir comigo, mas não permiti. Nosso relacionamento ainda era secreto, apesar dos amigos dele saberem e ser de conhecimento público que eu havia me mudado para sua casa.
Pensei que minha mãe fosse reclamar que eu estava morando com Potter, mas seu nome não foi mencionado nem uma vez.
— Vem, seu pai está te esperando no escritório.
Achei estranho, ele não estava doente? Mas, como sempre, não tive coragem de fazer as perguntas certas. Meu pai estava sentado na cadeira atrás da sua mesa, o rosto abatido, olheiras e o cabelo mais curto do que eu lembrava. As entradas na sua testa mostravam que ele estava ficando careca, mas não consegui lembrar de algum caso de calvície na minha família.
— Draco. — Sua voz estava rouca, como se tivesse fumado alguns maços de cigarro nas ultimas horas.
— Lúcio. — Usar seu nome o irritava, mas me recusava a chama-lo de pai novamente. — Mamãe disse que você estava doente.
— Sim, verdade. E, por isso, acho que está na hora de você parar com essa birra idiota e voltar para casa.
Segurei uma risada e desviei o olhar para a janela.
— Não é uma birra, pai. Eu não quero mais saber dos Malfoy.
— E vai passar o resto da sua vida enfurnado em Hogwarts tal qual o traidor do Snape? — Ele se inclinou sobre a mesa e me obriguei a encará-lo.
— Eu gosto de onde estou. E não sou mais uma criança para você dizer o que eu posso ou não fazer. Vim aqui porque a mãe pediu, mas se foi para ouvir mais do mesmo, estou indo embora. Que se foda os negócios da família. Não quero nada a ver com os Malfoy.
O rosto do meu pai ficou vermelho de raiva, mas nada daquilo me atingia mais.
— Então se você não quer ser um Malfoy, você não será.
No segundo seguinte uma luz me cegou e, quando conseguir focar o olhar novamente, eu havia sido excluído do testamento e das fotos da família.
— Espero que Hogwarts esteja pagando o suficiente.
Sorri para ele sem dizer uma palavra. Minha mãe esperava na porta do escritório com os olhos arregalados, mas também não disse nada a ela. Eu havia feito minha escolha e não arrependeria dela.
Assim que fechei a porta da mansão, meu coração já estava mais leve. Aparatei até Londres, como sempre evitando as ruas trouxas mais movimentadas. E talvez esse tenha sido meu erro.
O beco não estava vazio quanto eu esperava.
— Olha só o que temos aqui. — Me virei assim que escutei a voz rouca.
— Um Malfoy caindo direto na toca dos lobos. Esse deve ser nosso dia de sorte.
E, antes que eu conseguisse identificar aqueles lobos, eu fui atacado. Pensei que morreria ali. Talvez o cargo de DCAT fosse mesmo amaldiçoado e mais um professor o deixaria após o primeiro ano. Pensei nos olhos verdes de Harry, da textura da sua boca na minha.
— Isso é por Greyback. — Eles foram embora me deixando sangrando na calçada.
Reunindo todas as forças que ainda restava, acionei o alarme de emergência do setor que Harry trabalhava. Algo que ele havia criado e instalado pensando nas crianças como nós havíamos sido: A mercê de adultos que nos jogavam no meio de uma guerra sem direito de escolhas.
Potter aparatou para onde estava e me levou ao St. Mungus. Fiquei um mês até que recuperasse. E então veio a notícia que eu já esperava: Toda lua cheia eu me transformaria.
...
Acordei de madrugada respirando curto. Harry estava deitado a meu lado no quarto que eu usava em Hogwarts. Provavelmente não era certo ele estar ali, mas ninguém iria impedir Harry Potter de fazer o que ele quisesse.
Minhas veias arderam quando me sentei na cama. Os pés descalços sentindo o chão gelado. Tinha sido mais um pesadelo. Ou talvez uma lembrança em forma de sonho. Tanto eu quanto Harry tínhamos essas com frequências.
— Está tudo bem? — Me virei para Harry que me encarava com os olhos franzidos.
— Sim. Só outro pesadelo.
— Vem cá. — Ele se virou na cama me puxando para seus braços.
Se falassem para o Draco de 15 anos que ele teria encontrado conforto em Harry Potter, ele teria começado a rir. Talvez com algumas borboletas no estômago e uma ansiedade de algo que poderia ou não acontecer. O Draco de 25 agradecia aquele homem que acariciava meus cabelos.
— Harry, será que um dia a gente vai ter paz? — Levantei meus olhos para os dele. Potter mordeu o lábio e fechou os olhos.
— Eu queria poder te prometer que sim, mas não vejo como isso é possível. — Me deitei em seu ombro. — Mas eu posso te prometer que, se vier outra guerra, eu e você estaremos do mesmo lado dessa vez.
Fechei os olhos para sentir seus lábios nos meus. O quanto ele seguia firme frente ao meu medo. Harry sempre tinha sido o corajoso entre nós dois. O honesto, que não media as palavras por mais pesadas que poderiam ser. E eu só poderia agradecer por ter ele ao meu lado. Já haviam mentido para mim por tempo demais.
A lua estava crescente e eu já começava a sentir nas minhas veias o poder que ela tinha sobre mim. As dores que viriam na semana seguinte. O peso que todo mês eu tinha que passar. Tinha vez que eu jurava que não ia conseguir. Não era a primeira vez que eu subia até o ponto mais alto do castelo e pensava em me jogar de lá.
Mas sempre que chegava aqui, lembrava dele. Do seu cabelo, do sorriso que ele tinha nos lábios e como demorou anos até que eu os visse de novo. As cicatrizes tão profundas quanto as minhas que contavam duas versões de uma mesma história.
— Você vai ficar com rugas se continuar franzindo o cenho assim. — Abri meus olhos para ver Harry ao meu lado.
— Como você entrou aqui?
— Eu tinha uma reunião com McGonagall e fiquei de te encontrar depois do jantar, esqueceu?
Eu havia esquecido. Tantos dias esperando que meu namorado pudesse enfim vir me ver e, no dia em que ele chegou, eu havia esquecido. Harry abraçou minha cintura me puxando para si, também observando a paisagem que apenas Hogwarts poderia ter.
— Eu costumava amar o ano escolar, agora odeio que você fique tanto tempo longe de casa. — Ele virou seus olhos verdes para mim. — Especialmente em semanas como a que vem.
— É mais seguro que eu fique aqui. — A parte mais bizarra nessa minha fala é que anos atrás eu tinha dito o oposto quando outro professor de Hogwarts com a mesma condição que a minha ocupou o mesmo cargo que hoje eu ocupava.
— Eu sei. Mas ainda sinto sua falta, Draco. Prefiro quando posso estar com você nos seus piores dias.
Nunca entendi como Harry conseguia ficar ao meu lado. Depois de tudo que eu havia feito, depois que eu fui mordido como vingança por, mais uma vez, os Malfoy terem escapado sem grandes consequências. Eu já havia cortado relações com meu pai, mas isso não havia sido o suficiente para os seguidores de Fenrir Greyback que sobreviveram.
Três anos depois que a guerra tinha acabado, enquanto via Harry e seus amigos trabalhando no Ministério, abrindo lojas em Hogsmeade e tendo filhos, a sentença do meu pai enfim havia saído: Prisão domiciliar. Eu me mudei no mesmo dia que ele voltou de Askaban.
Não consegui nenhum emprego no ministério ou que pagasse um valor digno de um "Malfoy". Sobrevivi com o pouco que mamãe conseguia me mandar e um emprego de barista no Três Vassouras. Ou o que havia sobrado dele. Vi meus amigos se casando e formando alianças. Tradições que sobreviveriam ao mais rígido conflito.
Então veio Harry. De todas as pessoas, Harry Potter era a última que eu esperava me oferecer a mão.
Era um dia quente de julho, talvez uma semana antes do seu aniversário. Potter entrou no Três Vassouras parecendo que havia apanhado de um trasgo, mas ele apenas estava só. Ginny Weasley havia terminado com ele alguns meses antes e, no final de semana, Rony e Hermione tinham enfim se casado.
Sempre invejei quantos amigos Potter tinha. Como que, mesmo sem pais, ele conseguira ter pessoas que de fato lhe importassem com ele ao seu lado. Mas agora era eu quem estava sozinho.
Ofereci-lhe uma bebida e, já alcoolizado, Harry contou como que passara os últimos seis meses se entupindo de trabalho para não ter que pensar em quem havia sobrado. Em quem havíamos perdido. Três anos e as feridas ainda estavam abertas.
— Você chegou a conhecer o Ted? — Ele me perguntou, já com a fala arrastada.
— Não. — Eu havia me afastado de toda a minha família. Até mesmo da única tia que havia me restado. Ela que também havia perdido mais do que deveria na guerra e agora criava Ted Lupin, meu primo.
— Deveria. Quando sinto o peso de tudo isso, vou até a casa de Andromeda. Eu sou padrinho dele, sabia? — Eu sabia, mas não admitiria isso a Potter. — É quase como um looping de erros.
Ele tomou um gole da bebida e servi mais uma dose, dessa vez o acompanhando.
— Aos amigos. — Levantei meu copo, o convidando a um brinde.
— Ao Recomeço. — Ele piscou apenas com um dos olhos e senti meu corpo esquentar. Fazia anos desde que eu havia superado Harry Potter, mas bastou que aqueles olhos verdes me encarassem que me senti um adolescente de novo.
Talvez tenha sido o álcool, o luto compartilhado ou o cansaço, mas levei Harry para o pequeno quarto que alugava em uma das piores pensões. Aquela foi a primeira noite que ficamos juntos. Nada fazia sentido, mas ao mesmo tempo tudo parecia completo.
Na manhã seguinte Harry havia ido embora antes que eu acordasse, mas havia deixado um bilhete:
Eu não tinha certeza se deveria ir. Mas eu não tinha mais nada a perder. Potter agora trabalhava no Ministério no departamento de aurores. Um cargo alto e que constantemente visitava Hogwarts em busca de livros da biblioteca. Uma vez ele chegou a dizer que era irônico o quanto ele evitava aquele lugar na época da escola e como agora era o que o salvava.
McGonagall me esperava com uma xícara de chá. Harry estava impecável. O cabelo sempre bagunçado, mas o uniforme escuro alinhado.
— O senhor Potter me disse que você estava precisando de um recomeço Sr. Malfoy. É verdade? — Eu assenti. O orgulho ferido não me deixaria dizer mais uma palavra. — Nós oferecemos uma vaga para Harry que ele insistiu em recusar. Mas então propôs que você fizesse uma entrevista. Conhecendo o seu histórico escolar e a suas experiências, pensei em dar-lhe o benefício da dúvida.
E foi assim que eu conseguira um namorado e o cargo de Professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Eu daria aula para muitos filhos de amigos e ex-aliados. Como também conheceria crianças que perderam os pais, avós, tios. Cicatrizes de uma guerra que nenhum de nós se recuperaria tão cedo. Se é que algum dia poderemos dizer que havíamos recuperado.
Me mudei para casa de Harry ainda naquele verão, mesmo que escondendo o nosso relacionamento. Em poucas semanas eu estaria de volta a Hogwarts. O primeiro ano passou rápido demais e, quando eu e Harry começamos a pensar que as coisas iam bem, o acidente aconteceu.
— Eu não te culpo, sabia? — Sua voz me trouxe de volta para o presente.
— Hm?
— Eu sei para onde sua mente foi. E eu não te culpo. Você fez e segue fazendo tudo o que pode. Eu tenho muito orgulho de você, Draco. — Ele se virou para mim, puxando meus lábios para os seus.
Estar nos braços de Harry era como estar em casa. Uma paz que há muito eu desconhecia. Há cinco anos ele havia me resgatado e seguia me salvando a cada dia.
— Eu te amo. — Falei olhando em seus olhos, levando minha mão ao seu rosto e acariciando sua bochecha.
— Eu sei. — Ele respondeu antes de me beijar de novo.
Ficamos abraçados por algumas horas apenas observando o luar sob Hogwarts. Quanto a gente tinha vivido para chegar ali. E quanto ainda tínhamos para viver.
Nas primeiras férias após minha chegada a Hogwarts fui visitar meus pais. Eu havia prometido que jamais entraria naquela casa de novo, mas minha mãe disse que papai estava doente. Por mais que eu não quisesse, eu era o único herdeiro.
— Filho, que bom que você veio. — Ela me recebeu com um abraço, mas já na porta senti que havia algo estranho. O lugar parecia mais frio do que eu me lembrava, mas coloquei na cabeça que era apenas o tempo. Harry insistiu para ir comigo, mas não permiti. Nosso relacionamento ainda era secreto, apesar dos amigos dele saberem e ser de conhecimento público que eu havia me mudado para sua casa.
Pensei que minha mãe fosse reclamar que eu estava morando com Potter, mas seu nome não foi mencionado nem uma vez.
— Vem, seu pai está te esperando no escritório.
Achei estranho, ele não estava doente? Mas, como sempre, não tive coragem de fazer as perguntas certas. Meu pai estava sentado na cadeira atrás da sua mesa, o rosto abatido, olheiras e o cabelo mais curto do que eu lembrava. As entradas na sua testa mostravam que ele estava ficando careca, mas não consegui lembrar de algum caso de calvície na minha família.
— Draco. — Sua voz estava rouca, como se tivesse fumado alguns maços de cigarro nas ultimas horas.
— Lúcio. — Usar seu nome o irritava, mas me recusava a chama-lo de pai novamente. — Mamãe disse que você estava doente.
— Sim, verdade. E, por isso, acho que está na hora de você parar com essa birra idiota e voltar para casa.
Segurei uma risada e desviei o olhar para a janela.
— Não é uma birra, pai. Eu não quero mais saber dos Malfoy.
— E vai passar o resto da sua vida enfurnado em Hogwarts tal qual o traidor do Snape? — Ele se inclinou sobre a mesa e me obriguei a encará-lo.
— Eu gosto de onde estou. E não sou mais uma criança para você dizer o que eu posso ou não fazer. Vim aqui porque a mãe pediu, mas se foi para ouvir mais do mesmo, estou indo embora. Que se foda os negócios da família. Não quero nada a ver com os Malfoy.
O rosto do meu pai ficou vermelho de raiva, mas nada daquilo me atingia mais.
— Então se você não quer ser um Malfoy, você não será.
No segundo seguinte uma luz me cegou e, quando conseguir focar o olhar novamente, eu havia sido excluído do testamento e das fotos da família.
— Espero que Hogwarts esteja pagando o suficiente.
Sorri para ele sem dizer uma palavra. Minha mãe esperava na porta do escritório com os olhos arregalados, mas também não disse nada a ela. Eu havia feito minha escolha e não arrependeria dela.
Assim que fechei a porta da mansão, meu coração já estava mais leve. Aparatei até Londres, como sempre evitando as ruas trouxas mais movimentadas. E talvez esse tenha sido meu erro.
O beco não estava vazio quanto eu esperava.
— Olha só o que temos aqui. — Me virei assim que escutei a voz rouca.
— Um Malfoy caindo direto na toca dos lobos. Esse deve ser nosso dia de sorte.
E, antes que eu conseguisse identificar aqueles lobos, eu fui atacado. Pensei que morreria ali. Talvez o cargo de DCAT fosse mesmo amaldiçoado e mais um professor o deixaria após o primeiro ano. Pensei nos olhos verdes de Harry, da textura da sua boca na minha.
— Isso é por Greyback. — Eles foram embora me deixando sangrando na calçada.
Reunindo todas as forças que ainda restava, acionei o alarme de emergência do setor que Harry trabalhava. Algo que ele havia criado e instalado pensando nas crianças como nós havíamos sido: A mercê de adultos que nos jogavam no meio de uma guerra sem direito de escolhas.
Potter aparatou para onde estava e me levou ao St. Mungus. Fiquei um mês até que recuperasse. E então veio a notícia que eu já esperava: Toda lua cheia eu me transformaria.
...
Acordei de madrugada respirando curto. Harry estava deitado a meu lado no quarto que eu usava em Hogwarts. Provavelmente não era certo ele estar ali, mas ninguém iria impedir Harry Potter de fazer o que ele quisesse.
Minhas veias arderam quando me sentei na cama. Os pés descalços sentindo o chão gelado. Tinha sido mais um pesadelo. Ou talvez uma lembrança em forma de sonho. Tanto eu quanto Harry tínhamos essas com frequências.
— Está tudo bem? — Me virei para Harry que me encarava com os olhos franzidos.
— Sim. Só outro pesadelo.
— Vem cá. — Ele se virou na cama me puxando para seus braços.
Se falassem para o Draco de 15 anos que ele teria encontrado conforto em Harry Potter, ele teria começado a rir. Talvez com algumas borboletas no estômago e uma ansiedade de algo que poderia ou não acontecer. O Draco de 25 agradecia aquele homem que acariciava meus cabelos.
— Harry, será que um dia a gente vai ter paz? — Levantei meus olhos para os dele. Potter mordeu o lábio e fechou os olhos.
— Eu queria poder te prometer que sim, mas não vejo como isso é possível. — Me deitei em seu ombro. — Mas eu posso te prometer que, se vier outra guerra, eu e você estaremos do mesmo lado dessa vez.
Fechei os olhos para sentir seus lábios nos meus. O quanto ele seguia firme frente ao meu medo. Harry sempre tinha sido o corajoso entre nós dois. O honesto, que não media as palavras por mais pesadas que poderiam ser. E eu só poderia agradecer por ter ele ao meu lado. Já haviam mentido para mim por tempo demais.
FIM
Nota da autora: Sem Nota.
Em andamento:
Illicit Affairs (Restrita/Harry Potter - Gêmeos Weasley)
Malfeito Refeito (Livros/Harry Potter - Marotos)
Where The Demons Hide (Restrita/Harry Potter - Draco Malfoy)
From the Dust (Restritas/Original)
Outras fics:
Perfeita Simetria (Restrita/Original)
I Found Peace in Your Violence (Livros/Short - Drarry)
The Last Malfoy's Chritmas (Livros/Short - Malfoy Family)
Em andamento:
Illicit Affairs (Restrita/Harry Potter - Gêmeos Weasley)
Malfeito Refeito (Livros/Harry Potter - Marotos)
Where The Demons Hide (Restrita/Harry Potter - Draco Malfoy)
From the Dust (Restritas/Original)
Outras fics:
Perfeita Simetria (Restrita/Original)
I Found Peace in Your Violence (Livros/Short - Drarry)
The Last Malfoy's Chritmas (Livros/Short - Malfoy Family)
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