Capítulo 1
A brisa matinal soprava, levando lentamente para longe as poucas nuvens que manchavam o extenso céu de Ahch-To. O brilho do sol era tão intenso que o azul praticamente se misturava com a cor das águas embaixo, sendo distinguíveis apenas por conta da linha do horizonte que os separava de uma extremidade à outra.
As montanhas rochosas estavam repletas de árvores que aproveitavam o calor e a luz para se desenvolver e os animais permaneciam entre a parte mais fechada da vegetação, deixando a área aberta para os imigrantes que haviam chegado há pouco tempo. Fugindo da Primeira Ordem, o que havia restado da Resistência estava ali graças aos esforços de Luke Skywalker e de sua antiga aprendiz, .
Luke havia partido, mas sua esperança continuava entre eles. A garota ainda estava lá, pronta para auxiliar a rebelião contra os opressores e o lado negro da Força. Seguiria os passos do seu mestre e salvaria Ben Solo e a galáxia. No fim, tudo ficaria bem.
Respirando fundo concentrou-se, mantendo a postura ereta e as pernas cruzadas. Sua posição era de meditação, mas não havia entrado em transe, apenas sentia a Força fluir ao seu redor da maior árvore da floresta até a menor gota de água. Sua respiração estava leve e os batimentos do seu coração calmos. Tudo naquele lugar favorecia a sua tranquilidade.
Enquanto permanecia ali não tardou a senti-la. Sua luz dançava sobre a ilha, iluminando os locais por onde passava. Era capaz até de brilhar mais do que o sol. Ainda assim, não mudou de posição. Foi só quando Rey a chamou que abriu os olhos, deparando-se com a garota que matinha o cenho franzido por conta da claridade.
- Algum problema? – perguntou como quem não quer nada.
- Te procurei pela ilha toda, mas ninguém sabia onde poderia estar. – a outra respondeu enquanto terminava de escalar algumas rochas. – Deveria sumir com menos frequência, sabia?!
- E você deveria usar a Força com mais frequência, pois assim conseguiria me encontrar mais rápido. – rebateu, abrindo um sorriso sereno quando ela revirou os olhos.
- Como acha que cheguei aqui? – apoiou as mãos na cintura, demonstrando cansaço pela longa caminhada.
Todos os dias saía cedo para meditar, mas daquela vez havia ido para praticamente o outro lado da ilha, muito longe da base onde os rebeldes se encontravam. Apesar da distância, Rey não estava preocupada, pois sabia que a amiga poderia se cuidar sozinha. Seu interesse era continuar seu treinamento.
Desde que haviam chegado ali, havia se tornado sua nova mestra e era responsável pelo seu avanço no caminho Jedi. Luke a havia confiado aquela missão, por isso a garota confiava nela. Em pouco tempo sua relação foi além da de mestre e aprendiz e agora eram grandes amigas.
- Deveríamos começar o treinamento. – Rey disse, já completamente recuperada.
- Ah, claro. – balançou a cabeça positivamente. – Por que não vem até aqui?
Sorrindo, a aprendiz começou a levitar e então cruzou as pernas, imitando sua mestra. Lentamente, se aproximou dela e quando percebeu, já estava à sua frente, com poucos metros as separando. Olhou para baixo e então pôde ver a imensidão de águas sob seus corpos.
Há algum tempo jamais teria coragem de flutuar sobre algo tão vasto e misterioso como o fazia agora. Com as instruções que recebia de , suas habilidades estavam muito mais desenvolvidas e sua coragem para enfrentar o novo aumentava. Sabia que ainda faltava um longo caminho pela frente, todavia precisava concluir seu treinamento para poder enfim ajudar seus amigos.
- Feche os olhos. – disse e imediatamente Rey o fez. – Concentre-se em sua respiração, concentre-se em seu ser.
A aprendiz seguiu as instruções, lentamente deixando que sua mente estivesse pronta para a meditação. Sua respiração tornou-se como uma pluma e os sentidos se aguçaram.
- Veja a Força. – a Jedi instruiu.
- Eu vejo a Força. – murmurou ao mesmo tempo em que via a energia fluir em toda a ilha.
- Agora junte-se a ela. – sua voz era suave.
Focou sua mente ainda mais e então lá estava ela. Em suas veias, em seus órgãos, até a última célula a Força avançava sem pressa, como se lhe pertencesse. A sensação de estar ligada a algo tão poderoso era boa, Rey deveria admitir. Passaram um tempo incalculável ali, apenas sentindo a Força. Quando a meditação finalmente acabou, as duas jovens levitaram até estarem de volta ao chão.
- Está indo muito bem. – sorriu e levou a mão até o sabre-bastão pendurado no quadril. – A cada dia que passa tem mais facilidade em se conectar com a Força.
A ex-sucateira sorriu e fez o mesmo que a , apoiando os dedos no sabre azul que levava consigo. Quase no mesmo instante retiraram as espadas lasers do cinto e se afastaram alguns passos. De longe era possível distinguir o azul e o das lâminas quando foram ativadas.
- Vamos ver se ainda se lembra do que eu disse. – girou o sabre-bastão com apenas uma mão, mantendo-o atrás do tronco.
- Eu também gostaria de saber. - Rey segurava o sabre azul verticalmente com as duas mãos, próximo ao rosto.
- Se continuar tensa desse jeito, não vai adiantar nada treinar nem por mil anos. – debochou, abaixando-se e encostando um joelho no chão.
- Eu não estou tensa. – engoliu seco, apertando o sabre com mais vigor. – Só... Eu... Precisamos logo terminar isso.
- Rey, sabe que não é assim que funciona. – disse de forma compreensiva. – Mesmo que force o seu corpo até o limite, precisa terminar o treinamento no tempo correto.
- Eu sei... – suspirou. – Apenas penso se temos todo esse tempo.
- Não se preocupe, é pra isso que estou aqui. – piscou para a amiga.
Mais uma vez ativou o sabre e levantou, erguendo a mão livre na altura do ombro. Rey entendeu o que aquilo significava, tratando de erguer a espada laser que havia baixado no momento de reflexão. Puxando o ar para dentro, contou até três antes de avançar. Colocou toda a sua potência no primeiro ataque, que foi imediatamente barrado por sua mestra com um leve movimento de dedos.
- Não precisa de tanta energia. – ressaltou e empurrou o sabre para trás com a Força. – Use sua velocidade e tente encontrar os pontos onde seu oponente vai ser obrigado a se defender. Se continuar nesse ritmo, logo vai estar cansada e vulnerável.
Retomando a postura, a garota de Jakku fez o que lhe foi dito. O segundo golpe veio com menos força, porém com mais precisão e finalmente usou o lado direito do sabre para se defender. Em questão de minutos logo estavam numa batalha frenética que ressoava pela calmaria do ambiente.
- Mova mais as pernas. – instruiu, segundos antes de golpeá-la ali.
No último segundo a aprendiz usou a Força e saltou para trás, pousando delicadamente. Assustada, olhou para a mais velha e franziu a testa.
- Isso foi muito rápido! – abriu os braços. – Poderia pelo menos ter avisado.
- Mas eu avisei. – começou a rir da expressão dela. – Me desculpe, mas seus inimigos não vão fazer um anuncio antes de atacar.
A outra pensou em retrucar, porém, logo fechou os lábios ao perceber que a Jedi estava correta. Se ela também quisesse se tornar uma Jedi, deveria evoluir em todos os sentidos. Respirando fundo, resolveu deixar a questão de lado.
- Então quer dizer que já sabe saltar tão longe. – chamou sua atenção.
- Eu andei praticando. – falou meio sem jeito.
- Meus parabéns. – sorriu orgulhosa. – Mas que tal aprimorarmos essa habilidade?
- Aprimorar? – fez uma careta.
não respondeu, apenas lhe deu as costas e começou a correr. Confusa, a ex-sucateira a seguiu. Logo estavam lado a lado indo na direção da mata mais fechada.
- Vamos fazer o percurso? – perguntou, curiosa.
- Sim, mas com uma diferença. – respondeu, seguindo entre as rochas sem grande dificuldade.
- Que diferença? – foi a última coisa que pôde dizer antes de ver sua mestra tomar impulso e saltar a uma altura incalculável, parando sobre o galho de uma árvore.
- Hoje nós vamos por cima. – rindo pela cara de surpresa da amiga, se virou, buscando um novo galho para saltar. – Vamos exercitar sua agilidade e equilíbrio em conjunto.
Deixando a surpresa para trás, logo assumindo uma expressão entusiasmada, Rey tomou impulso e conseguiu chegar ao galho da árvore ao lado.
- Tente me ultrapassar e chegar até o ponto demarcado antes de mim. – deu as últimas instruções e então a fitou com atenção. - Não precisa me seguir, encontre o seu próprio caminho, padawan.
- Sim, mestra. – sorriu, respirando fundo.
Após uma breve contagem regressiva, as duas jovens avançaram. No começo, Rey mantinha-se logo ao lado, todavia não tardou a buscar um novo percurso, começando a se afastar. sorriu, aprovando a coragem dela e manteve as passadas, saltando para uma nova árvore. Essa estava mais longe do que as demais, mas esse não era um problema.
Retirava o sabre do cinto para cortar alguns galhos menores que tapavam a visão, porém, travou assim que sentiu uma leve tontura. Como flashs, a figura de uma pessoa com uma mascará semelhante à de Kylo Ren apareceu em sua frente. O fundo era escuro, mas a luz era suficiente para distinguir a figura vestida completamente com roupas negras. A visão não tardou a passar, mas a mulher sabia que não estava bem.
Sem forças, perdeu todo o equilíbrio e antes que chegasse ao outro galho, seu corpo começou a despencar. Tentou agarrar-se ao tronco, mas apenas machucou a mão. Em desespero, tentou usar a Força em seu auxílio, entretanto não obteve resultado. Sem poder reagir, sentiu o vento açoitar seu corpo, balançando os cabelos soltos à medida que o solo ficava cada vez mais perto.
Quando todo seu corpo atingiu o chão, urrou de dor e o impacto espalhou folhas secas para todos os lados. Com a respiração falha, automaticamente levou a mão a barriga escondida pelo tecido marrom.
- Não... – murmurou, deixando uma lágrima escorrer pelo canto dos olhos.
Sequer tentou recobrar os sentidos e, ainda que quisesse, o choque a havia abalado demais. Antes de apagar, ouviu a voz de Rey lhe chamando com preocupação e a última imagem que viu foi da garota se abaixando ao seu lado, segurando seu rosto enquanto chorava.
As montanhas rochosas estavam repletas de árvores que aproveitavam o calor e a luz para se desenvolver e os animais permaneciam entre a parte mais fechada da vegetação, deixando a área aberta para os imigrantes que haviam chegado há pouco tempo. Fugindo da Primeira Ordem, o que havia restado da Resistência estava ali graças aos esforços de Luke Skywalker e de sua antiga aprendiz, .
Luke havia partido, mas sua esperança continuava entre eles. A garota ainda estava lá, pronta para auxiliar a rebelião contra os opressores e o lado negro da Força. Seguiria os passos do seu mestre e salvaria Ben Solo e a galáxia. No fim, tudo ficaria bem.
Respirando fundo concentrou-se, mantendo a postura ereta e as pernas cruzadas. Sua posição era de meditação, mas não havia entrado em transe, apenas sentia a Força fluir ao seu redor da maior árvore da floresta até a menor gota de água. Sua respiração estava leve e os batimentos do seu coração calmos. Tudo naquele lugar favorecia a sua tranquilidade.
Enquanto permanecia ali não tardou a senti-la. Sua luz dançava sobre a ilha, iluminando os locais por onde passava. Era capaz até de brilhar mais do que o sol. Ainda assim, não mudou de posição. Foi só quando Rey a chamou que abriu os olhos, deparando-se com a garota que matinha o cenho franzido por conta da claridade.
- Algum problema? – perguntou como quem não quer nada.
- Te procurei pela ilha toda, mas ninguém sabia onde poderia estar. – a outra respondeu enquanto terminava de escalar algumas rochas. – Deveria sumir com menos frequência, sabia?!
- E você deveria usar a Força com mais frequência, pois assim conseguiria me encontrar mais rápido. – rebateu, abrindo um sorriso sereno quando ela revirou os olhos.
- Como acha que cheguei aqui? – apoiou as mãos na cintura, demonstrando cansaço pela longa caminhada.
Todos os dias saía cedo para meditar, mas daquela vez havia ido para praticamente o outro lado da ilha, muito longe da base onde os rebeldes se encontravam. Apesar da distância, Rey não estava preocupada, pois sabia que a amiga poderia se cuidar sozinha. Seu interesse era continuar seu treinamento.
Desde que haviam chegado ali, havia se tornado sua nova mestra e era responsável pelo seu avanço no caminho Jedi. Luke a havia confiado aquela missão, por isso a garota confiava nela. Em pouco tempo sua relação foi além da de mestre e aprendiz e agora eram grandes amigas.
- Deveríamos começar o treinamento. – Rey disse, já completamente recuperada.
- Ah, claro. – balançou a cabeça positivamente. – Por que não vem até aqui?
Sorrindo, a aprendiz começou a levitar e então cruzou as pernas, imitando sua mestra. Lentamente, se aproximou dela e quando percebeu, já estava à sua frente, com poucos metros as separando. Olhou para baixo e então pôde ver a imensidão de águas sob seus corpos.
Há algum tempo jamais teria coragem de flutuar sobre algo tão vasto e misterioso como o fazia agora. Com as instruções que recebia de , suas habilidades estavam muito mais desenvolvidas e sua coragem para enfrentar o novo aumentava. Sabia que ainda faltava um longo caminho pela frente, todavia precisava concluir seu treinamento para poder enfim ajudar seus amigos.
- Feche os olhos. – disse e imediatamente Rey o fez. – Concentre-se em sua respiração, concentre-se em seu ser.
A aprendiz seguiu as instruções, lentamente deixando que sua mente estivesse pronta para a meditação. Sua respiração tornou-se como uma pluma e os sentidos se aguçaram.
- Veja a Força. – a Jedi instruiu.
- Eu vejo a Força. – murmurou ao mesmo tempo em que via a energia fluir em toda a ilha.
- Agora junte-se a ela. – sua voz era suave.
Focou sua mente ainda mais e então lá estava ela. Em suas veias, em seus órgãos, até a última célula a Força avançava sem pressa, como se lhe pertencesse. A sensação de estar ligada a algo tão poderoso era boa, Rey deveria admitir. Passaram um tempo incalculável ali, apenas sentindo a Força. Quando a meditação finalmente acabou, as duas jovens levitaram até estarem de volta ao chão.
- Está indo muito bem. – sorriu e levou a mão até o sabre-bastão pendurado no quadril. – A cada dia que passa tem mais facilidade em se conectar com a Força.
A ex-sucateira sorriu e fez o mesmo que a , apoiando os dedos no sabre azul que levava consigo. Quase no mesmo instante retiraram as espadas lasers do cinto e se afastaram alguns passos. De longe era possível distinguir o azul e o das lâminas quando foram ativadas.
- Vamos ver se ainda se lembra do que eu disse. – girou o sabre-bastão com apenas uma mão, mantendo-o atrás do tronco.
- Eu também gostaria de saber. - Rey segurava o sabre azul verticalmente com as duas mãos, próximo ao rosto.
- Se continuar tensa desse jeito, não vai adiantar nada treinar nem por mil anos. – debochou, abaixando-se e encostando um joelho no chão.
- Eu não estou tensa. – engoliu seco, apertando o sabre com mais vigor. – Só... Eu... Precisamos logo terminar isso.
- Rey, sabe que não é assim que funciona. – disse de forma compreensiva. – Mesmo que force o seu corpo até o limite, precisa terminar o treinamento no tempo correto.
- Eu sei... – suspirou. – Apenas penso se temos todo esse tempo.
- Não se preocupe, é pra isso que estou aqui. – piscou para a amiga.
Mais uma vez ativou o sabre e levantou, erguendo a mão livre na altura do ombro. Rey entendeu o que aquilo significava, tratando de erguer a espada laser que havia baixado no momento de reflexão. Puxando o ar para dentro, contou até três antes de avançar. Colocou toda a sua potência no primeiro ataque, que foi imediatamente barrado por sua mestra com um leve movimento de dedos.
- Não precisa de tanta energia. – ressaltou e empurrou o sabre para trás com a Força. – Use sua velocidade e tente encontrar os pontos onde seu oponente vai ser obrigado a se defender. Se continuar nesse ritmo, logo vai estar cansada e vulnerável.
Retomando a postura, a garota de Jakku fez o que lhe foi dito. O segundo golpe veio com menos força, porém com mais precisão e finalmente usou o lado direito do sabre para se defender. Em questão de minutos logo estavam numa batalha frenética que ressoava pela calmaria do ambiente.
- Mova mais as pernas. – instruiu, segundos antes de golpeá-la ali.
No último segundo a aprendiz usou a Força e saltou para trás, pousando delicadamente. Assustada, olhou para a mais velha e franziu a testa.
- Isso foi muito rápido! – abriu os braços. – Poderia pelo menos ter avisado.
- Mas eu avisei. – começou a rir da expressão dela. – Me desculpe, mas seus inimigos não vão fazer um anuncio antes de atacar.
A outra pensou em retrucar, porém, logo fechou os lábios ao perceber que a Jedi estava correta. Se ela também quisesse se tornar uma Jedi, deveria evoluir em todos os sentidos. Respirando fundo, resolveu deixar a questão de lado.
- Então quer dizer que já sabe saltar tão longe. – chamou sua atenção.
- Eu andei praticando. – falou meio sem jeito.
- Meus parabéns. – sorriu orgulhosa. – Mas que tal aprimorarmos essa habilidade?
- Aprimorar? – fez uma careta.
não respondeu, apenas lhe deu as costas e começou a correr. Confusa, a ex-sucateira a seguiu. Logo estavam lado a lado indo na direção da mata mais fechada.
- Vamos fazer o percurso? – perguntou, curiosa.
- Sim, mas com uma diferença. – respondeu, seguindo entre as rochas sem grande dificuldade.
- Que diferença? – foi a última coisa que pôde dizer antes de ver sua mestra tomar impulso e saltar a uma altura incalculável, parando sobre o galho de uma árvore.
- Hoje nós vamos por cima. – rindo pela cara de surpresa da amiga, se virou, buscando um novo galho para saltar. – Vamos exercitar sua agilidade e equilíbrio em conjunto.
Deixando a surpresa para trás, logo assumindo uma expressão entusiasmada, Rey tomou impulso e conseguiu chegar ao galho da árvore ao lado.
- Tente me ultrapassar e chegar até o ponto demarcado antes de mim. – deu as últimas instruções e então a fitou com atenção. - Não precisa me seguir, encontre o seu próprio caminho, padawan.
- Sim, mestra. – sorriu, respirando fundo.
Após uma breve contagem regressiva, as duas jovens avançaram. No começo, Rey mantinha-se logo ao lado, todavia não tardou a buscar um novo percurso, começando a se afastar. sorriu, aprovando a coragem dela e manteve as passadas, saltando para uma nova árvore. Essa estava mais longe do que as demais, mas esse não era um problema.
Retirava o sabre do cinto para cortar alguns galhos menores que tapavam a visão, porém, travou assim que sentiu uma leve tontura. Como flashs, a figura de uma pessoa com uma mascará semelhante à de Kylo Ren apareceu em sua frente. O fundo era escuro, mas a luz era suficiente para distinguir a figura vestida completamente com roupas negras. A visão não tardou a passar, mas a mulher sabia que não estava bem.
Sem forças, perdeu todo o equilíbrio e antes que chegasse ao outro galho, seu corpo começou a despencar. Tentou agarrar-se ao tronco, mas apenas machucou a mão. Em desespero, tentou usar a Força em seu auxílio, entretanto não obteve resultado. Sem poder reagir, sentiu o vento açoitar seu corpo, balançando os cabelos soltos à medida que o solo ficava cada vez mais perto.
Quando todo seu corpo atingiu o chão, urrou de dor e o impacto espalhou folhas secas para todos os lados. Com a respiração falha, automaticamente levou a mão a barriga escondida pelo tecido marrom.
- Não... – murmurou, deixando uma lágrima escorrer pelo canto dos olhos.
Sequer tentou recobrar os sentidos e, ainda que quisesse, o choque a havia abalado demais. Antes de apagar, ouviu a voz de Rey lhe chamando com preocupação e a última imagem que viu foi da garota se abaixando ao seu lado, segurando seu rosto enquanto chorava.
Capítulo 2
O pesado som de botas indo de encontro ao solo ecoava em meio aos escombros. Os calçados negros eram quase imperceptíveis graças à escuridão da madrugada, assim como a capa que esvoaçava suavemente a medita que seu dono caminhava. Com o rosto coberto por um capacete, parou por um segundo e mirou o ambiente ao redor, encontrando apenas destruição.
Casas em chamas caindo aos pedaços, mercadorias reviradas e vasos de barro despedaçados. Mas o ápice de tudo aquilo eram as pessoas. Em cada esquina do pequeno vilarejo era possível ver os que haviam sido mortos por terem se recusado a submeter-se à Primeira Ordem. O sangue manchava as paredes e calçadas, mas para o Supremo Líder não havia motivos para lamentar. Qualquer sinal de rebeldia deveria ser eliminado pela raiz antes que se tornasse uma grande árvore.
Um grupo de stormtroopers passou ao seu lado segurando seus rifles, seguindo para a próxima rua. Mais gritos de desespero puderam ser ouvidos, porém, aquilo não causou nenhum efeito em qualquer um deles.
- Supremo Líder, estamos prontos. – de repente alguém disse.
Lentamente, a ex-aprendiz virou-se até quem a chamara, encontrando-a com mais algumas pessoas. Todos vestidos com roupas semelhantes à sua, também usando capacetes negros. Caminhando até o grupo, parou a poucos passos deles.
- O que devemos fazer agora? – outro entre eles perguntou.
- Vamos terminar o que começamos. – a voz saiu metalizada por conta do aparato. – Então venham comigo, cavaleiros de Ren.
- Sim, Supremo Líder! – responderam em uníssono.
Concentrava-se em sua missão quando sentiu algo estranho, então virou-se, mirando um ponto à frente. Levando as mãos enluvadas até o capacete, o retirou, permitindo que o longo cabelo negro caísse sobre as costas, enquanto a franja era bagunçava pelo vento noturno. Apesar da escuridão, o fogo que crepitava permitia que os olhos ficassem em evidência, exalando toda a vilania que havia dentro de si.
- Então você finalmente me encontrou. – o riso de desdém veio logo em seguida. – É uma pena que seja tarde demais.
Levou a mão até o cinto, pegando seu sabre e então o ativou, deixando a luz vermelha intensa surgir como uma labareda pronta para destruir tudo que tocasse. Deu dois passos e logo os cavaleiros de Ren a seguiram, parando em suas extremidades. O olhar continuava o mesmo. Todavia, nada se comparou ao meio sorriso que desenhou seus lábios. Foi como se uma aura obscura houvesse se formado em volta da mulher, deixando claro o quanto ela pertencia unicamente à escuridão.
abriu os olhos subitamente. Sua respiração descompassada fazia seu peito subir e descer e seu coração pulsava ferozmente contra suas costelas. Sem saber o que se passava, levantou-se rapidamente, mas logo mãos agarraram seus ombros, impedindo que continuasse. Olhou para quem o fazia, encontrando o olhar preocupado de Poe Dameron. Tentou dizer algo, porém, o homem foi mais rápido.
- Ei, vai com calma! – balançou uma vez a cabeça.
- O que... – tentou formular uma frase, mas não encontrou palavras.
- Está tudo bem agora. – o rapaz percebeu sua confusão. – Rey te trouxe pra cá e os enfermeiros já cuidaram dos seus ferimentos.
Franzindo o cenho, a mulher olhou ao redor e só então percebeu que estava na enfermaria improvisada da Resistência, sentada numa maca. Não deixou de notar o curativo que cobria parte de sua mão direita. Quando Poe se afastou, voltando para a cadeira onde estava antes, ela finalmente começou a recobrar os sentidos.
- Disse que a Rey me trouxe. – passou uma das mãos nos olhos.
- Sim, ela é mais forte do que pensei. - soltou um leve riso.
- Onde ela está agora? – o encarou.
- Provavelmente deve estar com a General explicando o ocorrido. – balançou os ombros, recostando-se na cadeira. – Leia deve estar uma fera.
- Não foi culpa dela, eu me desequilibrei e caí. – passou a língua entre os lábios e cruzou as pernas.
- A Jedi treinada por Luke Skywalker, enviada até nós como umas das últimas esperanças da galáxia, simplesmente perdeu o equilíbrio e caiu? – Poe a fitou com as sobrancelhas erguidas. – Qual é, conta outra.
Revirando os olhos, abraçou os joelhos e apoiou o queixo sobre eles. Gostava muito do Poe, ele era um cara legal que sempre a fazia rir, porém, aquele não era o momento para suas piadas. Precisava apenas colocar a cabeça no lugar e saber se tudo estava mesmo bem.
Antes que um deles dissesse mais alguma coisa, a Jedi ergueu a cabeça ao sentir quem se aproximava. Quando Leia e Rey adentraram o recinto, mordeu os lábios com força, pois pelo olhar da mais velha, sabia que teriam uma longa conversa. Poe pareceu perceber a tensão que se instalara no ambiente, levando-se cautelosamente.
- Então... – pigarreou. – Acho melhor eu ver como os pilotos estão indo com o conserto das naves.
A general Organa apenas o encarou e balançou a cabeça positivamente, mostrando que estava tudo certo. Quando o homem deixou o lugar, apenas as três mulheres permanecendo ali, Rey correu até a amiga, sentando na maca. De frente para a Jedi segurou sua mão livre com cuidado.
- Como está se sentindo? – perguntou e a urgência em sua voz era visível.
- Eu estou bem, não se preocupe. – sorriu para sua aprendiz.
- Por favor, não banque uma de mestre agora, agindo como se nada tivesse acontecido. – a mais nova demonstrou indignação.
- Rey, eu... – tentou dizer, mas foi interrompida.
- Estávamos treinando como em qualquer outro dia e um minuto depois te encontro machucada e inconsciente. – a garota limpou com rapidez uma lágrima que escorreu. – Quer mesmo que eu não me preocupe?
- Eu não disse isso. – apertou a mão dela entre a sua. – Foi algo inesperado, eu sei, mas agora está tudo bem, eu prometo.
As duas jovens permaneceram a se encarar por breves instantes até que a voz de Leia encheu o ambiente e ambas olharam para ela.
- Rey tem razão. – caminhou devagar, sentando-se na cadeira onde antes Poe estava. – Não podemos simplesmente ignorar um fato como esse pelo simples fato de você estar envolvida.
- E qual a diferença entre mim e qualquer outra pessoa? – balanços os ombros.
- Você, minha cara, é a Jedi que resta na galáxia. – a mulher ressaltou. – Qual a probabilidade de um acidente como esse lhe acontecer?
não respondeu. Nem ao menos precisava, pois todos os presentes tinham a plena convicção que um descuido como aquele não deveria existir. Não para alguém tão poderoso e disciplinado. Então, algo mais estava envolvido, algo que a não queria contar.
- Minha querida, o que está acontecendo? – Leia questionou.
Quando a voz gentil chegou aos ouvidos da Jedi, seus olhos encheram-se de lágrimas, evidenciando o quão vulnerável estava. Queria contar a verdade, mas por que era tão difícil?
- Me desculpem... – murmurou, sentindo um nó na garganta. – Eu só não... Eu...
- Não peça desculpas. – a mulher se levantou, sentando na beirada da cama. – Não quando um milagre aconteceu.
Confusa, franziu o cenho e apenas quando a mão da General pousou sobre seu abdômen é que ela compreendeu. Leia já sabia. E seu sorriso era uma clara evidência disso.
- Como... – sussurrou surpresa.
- Eu posso senti-lo através da Força. – respondeu sem deixar o sorriso morrer. – Ele é como o meu Ben, um raio vivo de luz que às vezes escurece.
- Ela... – murmurou.
- Eu disse que seria uma menina. – Rey, que antes permanecia angustiada, voltou a sorrir largamente.
- Você também?! – espantou-se com a habilidade da aprendiz.
- Demorei um pouco, mas logo me toquei. – deu de ombros. – E então... Já pensou em um nome? Se quiser, eu posso ajudar, sou boa com essas coisas e...
Assustando as duas sensitivas, as lágrimas que a Jedi segurava até o momento, finalmente escaparam. Baixando o rosto, o escondeu entre os braços apoiados nos joelhos, tentando esconder seu pranto, mas este apenas aumentou quando a mão de Leia pousou em suas costas.
- Esperei que me contasse, mas deve ter seus motivos para esconder algo tão importante por tanto tempo. – a princesa afagou o local.
- ... – Rey parou por um instante, pensativa. – Não ter nos dito que estava grávida tem a ver com o que aconteceu hoje mais cedo?
Mais calma, a garota ergueu a cabeça e a encarou, balançando a cabeça positivamente. Pelos olhares delas, soube que desejavam saber o que se passava. Tomando coragem, ajeitou a postura e limpou o rosto com a mão sã. Já estava cansada de levar aquele fardo sozinha, precisava confiar nelas.
- Hoje de manhã eu... Eu tive uma visão. – começou hesitante. – Não é a primeira vez que a tenho, na verdade.
- Visão?! – Rey franziu a testa.
- Eu a vi... – engoliu seco antes de continuar. – Minha filha já adulta.
Nenhuma delas disse nada, apenas prestando atenção ao que falava. Respirando fundo, voltou a narrar o que não conseguia tirar de sua mente.
- Ela era tão bonita. – sorriu inconscientemente - Os cabelos negros com os de Ben e os olhos como os meus.
- E qual o problema nisso tudo? – Rey disse impaciente.
- Ela não estava sozinha. – fitou o nada. – Estava comando os Cavaleiros de Ren e eles a chamavam de... Supremo Líder. E seu olhar... Meu Deus, seu olhar era tão perverso, tudo nela era tão...
Sem conseguir continuar, mordeu os lábios e passou as mãos nos cabelos soltos. O choro voltou apenas de pensar que aquele poderia ser o futuro reservado para a criança que estava em seu ventre.
Comovida, Leia a puxou para si, a abraçando como uma mãe o teria feito. Sem resistir, a Jedi apoiou a cabeça em seu peito, soluçando graças à agonia que sentia no coração. Já havia perdido tanto e agora, o seu bem mais precioso estava destinado a também ser arrancado de seus braços.
- Eu não queria ter mentido por tanto tempo. – disse entre as lágrimas. – Você, mais do que ninguém, merecia saber a verdade. Antes de encontrá-los eu estive com ele, em tentei salvá-lo.
- Não peça desculpas. – repetiu, afagando seus fios. – Nada disso é culpa sua.
Permaneceram caladas, até Rey segurar a mão da Jedi novamente. a encarou, encontrado nela um olhar determinado. Não precisou perguntar o motivo, pois logo ela o deixou claro.
- Não vamos permitir que isso aconteça! – disse decidida. – Não vai perder sua filha para a escuridão, eu prometo.
Após aquela sentença, as três voltaram a ficar quietas e apenas a respiração pesada da podia ser ouvida. Em sua mente, a promessa de Rey ecoava. Desejava que ela realmente pudesse cumpri-la e assim acabar com a dor em seu intimo.
Casas em chamas caindo aos pedaços, mercadorias reviradas e vasos de barro despedaçados. Mas o ápice de tudo aquilo eram as pessoas. Em cada esquina do pequeno vilarejo era possível ver os que haviam sido mortos por terem se recusado a submeter-se à Primeira Ordem. O sangue manchava as paredes e calçadas, mas para o Supremo Líder não havia motivos para lamentar. Qualquer sinal de rebeldia deveria ser eliminado pela raiz antes que se tornasse uma grande árvore.
Um grupo de stormtroopers passou ao seu lado segurando seus rifles, seguindo para a próxima rua. Mais gritos de desespero puderam ser ouvidos, porém, aquilo não causou nenhum efeito em qualquer um deles.
- Supremo Líder, estamos prontos. – de repente alguém disse.
Lentamente, a ex-aprendiz virou-se até quem a chamara, encontrando-a com mais algumas pessoas. Todos vestidos com roupas semelhantes à sua, também usando capacetes negros. Caminhando até o grupo, parou a poucos passos deles.
- O que devemos fazer agora? – outro entre eles perguntou.
- Vamos terminar o que começamos. – a voz saiu metalizada por conta do aparato. – Então venham comigo, cavaleiros de Ren.
- Sim, Supremo Líder! – responderam em uníssono.
Concentrava-se em sua missão quando sentiu algo estranho, então virou-se, mirando um ponto à frente. Levando as mãos enluvadas até o capacete, o retirou, permitindo que o longo cabelo negro caísse sobre as costas, enquanto a franja era bagunçava pelo vento noturno. Apesar da escuridão, o fogo que crepitava permitia que os olhos ficassem em evidência, exalando toda a vilania que havia dentro de si.
- Então você finalmente me encontrou. – o riso de desdém veio logo em seguida. – É uma pena que seja tarde demais.
Levou a mão até o cinto, pegando seu sabre e então o ativou, deixando a luz vermelha intensa surgir como uma labareda pronta para destruir tudo que tocasse. Deu dois passos e logo os cavaleiros de Ren a seguiram, parando em suas extremidades. O olhar continuava o mesmo. Todavia, nada se comparou ao meio sorriso que desenhou seus lábios. Foi como se uma aura obscura houvesse se formado em volta da mulher, deixando claro o quanto ela pertencia unicamente à escuridão.
abriu os olhos subitamente. Sua respiração descompassada fazia seu peito subir e descer e seu coração pulsava ferozmente contra suas costelas. Sem saber o que se passava, levantou-se rapidamente, mas logo mãos agarraram seus ombros, impedindo que continuasse. Olhou para quem o fazia, encontrando o olhar preocupado de Poe Dameron. Tentou dizer algo, porém, o homem foi mais rápido.
- Ei, vai com calma! – balançou uma vez a cabeça.
- O que... – tentou formular uma frase, mas não encontrou palavras.
- Está tudo bem agora. – o rapaz percebeu sua confusão. – Rey te trouxe pra cá e os enfermeiros já cuidaram dos seus ferimentos.
Franzindo o cenho, a mulher olhou ao redor e só então percebeu que estava na enfermaria improvisada da Resistência, sentada numa maca. Não deixou de notar o curativo que cobria parte de sua mão direita. Quando Poe se afastou, voltando para a cadeira onde estava antes, ela finalmente começou a recobrar os sentidos.
- Disse que a Rey me trouxe. – passou uma das mãos nos olhos.
- Sim, ela é mais forte do que pensei. - soltou um leve riso.
- Onde ela está agora? – o encarou.
- Provavelmente deve estar com a General explicando o ocorrido. – balançou os ombros, recostando-se na cadeira. – Leia deve estar uma fera.
- Não foi culpa dela, eu me desequilibrei e caí. – passou a língua entre os lábios e cruzou as pernas.
- A Jedi treinada por Luke Skywalker, enviada até nós como umas das últimas esperanças da galáxia, simplesmente perdeu o equilíbrio e caiu? – Poe a fitou com as sobrancelhas erguidas. – Qual é, conta outra.
Revirando os olhos, abraçou os joelhos e apoiou o queixo sobre eles. Gostava muito do Poe, ele era um cara legal que sempre a fazia rir, porém, aquele não era o momento para suas piadas. Precisava apenas colocar a cabeça no lugar e saber se tudo estava mesmo bem.
Antes que um deles dissesse mais alguma coisa, a Jedi ergueu a cabeça ao sentir quem se aproximava. Quando Leia e Rey adentraram o recinto, mordeu os lábios com força, pois pelo olhar da mais velha, sabia que teriam uma longa conversa. Poe pareceu perceber a tensão que se instalara no ambiente, levando-se cautelosamente.
- Então... – pigarreou. – Acho melhor eu ver como os pilotos estão indo com o conserto das naves.
A general Organa apenas o encarou e balançou a cabeça positivamente, mostrando que estava tudo certo. Quando o homem deixou o lugar, apenas as três mulheres permanecendo ali, Rey correu até a amiga, sentando na maca. De frente para a Jedi segurou sua mão livre com cuidado.
- Como está se sentindo? – perguntou e a urgência em sua voz era visível.
- Eu estou bem, não se preocupe. – sorriu para sua aprendiz.
- Por favor, não banque uma de mestre agora, agindo como se nada tivesse acontecido. – a mais nova demonstrou indignação.
- Rey, eu... – tentou dizer, mas foi interrompida.
- Estávamos treinando como em qualquer outro dia e um minuto depois te encontro machucada e inconsciente. – a garota limpou com rapidez uma lágrima que escorreu. – Quer mesmo que eu não me preocupe?
- Eu não disse isso. – apertou a mão dela entre a sua. – Foi algo inesperado, eu sei, mas agora está tudo bem, eu prometo.
As duas jovens permaneceram a se encarar por breves instantes até que a voz de Leia encheu o ambiente e ambas olharam para ela.
- Rey tem razão. – caminhou devagar, sentando-se na cadeira onde antes Poe estava. – Não podemos simplesmente ignorar um fato como esse pelo simples fato de você estar envolvida.
- E qual a diferença entre mim e qualquer outra pessoa? – balanços os ombros.
- Você, minha cara, é a Jedi que resta na galáxia. – a mulher ressaltou. – Qual a probabilidade de um acidente como esse lhe acontecer?
não respondeu. Nem ao menos precisava, pois todos os presentes tinham a plena convicção que um descuido como aquele não deveria existir. Não para alguém tão poderoso e disciplinado. Então, algo mais estava envolvido, algo que a não queria contar.
- Minha querida, o que está acontecendo? – Leia questionou.
Quando a voz gentil chegou aos ouvidos da Jedi, seus olhos encheram-se de lágrimas, evidenciando o quão vulnerável estava. Queria contar a verdade, mas por que era tão difícil?
- Me desculpem... – murmurou, sentindo um nó na garganta. – Eu só não... Eu...
- Não peça desculpas. – a mulher se levantou, sentando na beirada da cama. – Não quando um milagre aconteceu.
Confusa, franziu o cenho e apenas quando a mão da General pousou sobre seu abdômen é que ela compreendeu. Leia já sabia. E seu sorriso era uma clara evidência disso.
- Como... – sussurrou surpresa.
- Eu posso senti-lo através da Força. – respondeu sem deixar o sorriso morrer. – Ele é como o meu Ben, um raio vivo de luz que às vezes escurece.
- Ela... – murmurou.
- Eu disse que seria uma menina. – Rey, que antes permanecia angustiada, voltou a sorrir largamente.
- Você também?! – espantou-se com a habilidade da aprendiz.
- Demorei um pouco, mas logo me toquei. – deu de ombros. – E então... Já pensou em um nome? Se quiser, eu posso ajudar, sou boa com essas coisas e...
Assustando as duas sensitivas, as lágrimas que a Jedi segurava até o momento, finalmente escaparam. Baixando o rosto, o escondeu entre os braços apoiados nos joelhos, tentando esconder seu pranto, mas este apenas aumentou quando a mão de Leia pousou em suas costas.
- Esperei que me contasse, mas deve ter seus motivos para esconder algo tão importante por tanto tempo. – a princesa afagou o local.
- ... – Rey parou por um instante, pensativa. – Não ter nos dito que estava grávida tem a ver com o que aconteceu hoje mais cedo?
Mais calma, a garota ergueu a cabeça e a encarou, balançando a cabeça positivamente. Pelos olhares delas, soube que desejavam saber o que se passava. Tomando coragem, ajeitou a postura e limpou o rosto com a mão sã. Já estava cansada de levar aquele fardo sozinha, precisava confiar nelas.
- Hoje de manhã eu... Eu tive uma visão. – começou hesitante. – Não é a primeira vez que a tenho, na verdade.
- Visão?! – Rey franziu a testa.
- Eu a vi... – engoliu seco antes de continuar. – Minha filha já adulta.
Nenhuma delas disse nada, apenas prestando atenção ao que falava. Respirando fundo, voltou a narrar o que não conseguia tirar de sua mente.
- Ela era tão bonita. – sorriu inconscientemente - Os cabelos negros com os de Ben e os olhos como os meus.
- E qual o problema nisso tudo? – Rey disse impaciente.
- Ela não estava sozinha. – fitou o nada. – Estava comando os Cavaleiros de Ren e eles a chamavam de... Supremo Líder. E seu olhar... Meu Deus, seu olhar era tão perverso, tudo nela era tão...
Sem conseguir continuar, mordeu os lábios e passou as mãos nos cabelos soltos. O choro voltou apenas de pensar que aquele poderia ser o futuro reservado para a criança que estava em seu ventre.
Comovida, Leia a puxou para si, a abraçando como uma mãe o teria feito. Sem resistir, a Jedi apoiou a cabeça em seu peito, soluçando graças à agonia que sentia no coração. Já havia perdido tanto e agora, o seu bem mais precioso estava destinado a também ser arrancado de seus braços.
- Eu não queria ter mentido por tanto tempo. – disse entre as lágrimas. – Você, mais do que ninguém, merecia saber a verdade. Antes de encontrá-los eu estive com ele, em tentei salvá-lo.
- Não peça desculpas. – repetiu, afagando seus fios. – Nada disso é culpa sua.
Permaneceram caladas, até Rey segurar a mão da Jedi novamente. a encarou, encontrado nela um olhar determinado. Não precisou perguntar o motivo, pois logo ela o deixou claro.
- Não vamos permitir que isso aconteça! – disse decidida. – Não vai perder sua filha para a escuridão, eu prometo.
Após aquela sentença, as três voltaram a ficar quietas e apenas a respiração pesada da podia ser ouvida. Em sua mente, a promessa de Rey ecoava. Desejava que ela realmente pudesse cumpri-la e assim acabar com a dor em seu intimo.
Capítulo 3
Rey não sabia há quanto tempo estava ali. O sol de Ahch-To começava a se aproximar do horizonte, indicando que o dia terminaria. Ainda assim a padawan continuava a segurar o sabre azul, realizando com ele movimentos rápidos e precisos. O suor escorria pelo rosto, fazendo alguns fios de cabelos grudarem na testa, mas a garota não se importou.
Estava tão focada que sequer notou quando sua mestra se aproximou, sentando-se numa rocha larga, mantendo-se a poucos metros de distância. Apenas quando girou o corpo uma vez, simulando um novo ataque, foi que conseguia vê-la. A mais velha mantinha as sobrancelhas erguidas e os braços cruzados e logo Rey soube que ela não estava muito contente.
- Quando eu disse há duas horas que o treino havia acabado, eu realmente quis dizer que havia acabado. – manteve a voz serena.
- Eu sei... – a aprendiz suspirou, limpando o suor da testa. - Só estou tentando esvaziar a mente.
- Esvaziar a mente?! – repetiu sugestiva. – Não sei se esse é o melhor modo.
- Acredite, eu já tentei meditar, mas sempre que o faço ele aparec... – começou a dizer, entretanto, interrompeu-se no meio da sentença.
franziu o cenho ao perceber que sua aprendiz havia hesitado. Ela tinha algo a dizer, todavia, parecia ter medo. Se bem a conhecia, poderia dizer que ela não queria magoá-la de alguma forma. Suspirando, ajeitou-se sobre a pedra e cruzou as pernas, ficando numa posição semelhante à de meditação. Rey ainda ofegava por conta do esforço, evitando encará-la.
- Bem... – a Jedi passou a língua entre os lábios. – Parece que eu não sou a única que tem segredos.
A ex-sucateira arregalou os olhos diante da sentença, abrindo a boca algumas vezes para tentar se justificar. Porém, não conseguiu formar uma frase decente. Desistindo de tentar mentir, soltou o ar pelos lábios e desativou o sabre, colocando-o no cinto. Com cautela, se aproximou de sua mestra, parando em sua frente.
- Parece que não aprendi a lição, não é mesmo? – sorriu meio sem jeito e subiu na rocha, sentando-se como a outra.
- Nunca é tarde para aprendermos com nossos erros e é isso que importa. – sorriu para ela e então segurou sua mão. – Rey, sabe que pode confiar em mim.
- Você é uma das poucas pessoas em quem confio de verdade. – disse com sinceridade.
- E então, o que a incomoda tanto? – a incentivou a prosseguir. – Talvez eu possa ajudar.
- Não sei isso é possível. – mordeu os lábios.
A mulher franziu a testa às suas palavras e a garota de Jakku percebeu sua confusão. Pigarreando, decidiu ser direta e acabar logo com aquilo. Temia a reação de , mas não podia mais esconder dela o que se passava.
- É sobre Ben. – disse e logo sentiu a mão dela apertar a sua de forma inconsciente. – Nós meio que... Meio que temos uma ligação.
- Ligação?! – murmurou, ainda tensa.
- Eu não sei bem como descrever, mas não importa onde eu esteja, às vezes ele aparece. – continuou, fazendo uma careta. – É sério, ele apenas surge por meio da Força e é como se estivéssemos no mesmo lugar e isso é muito estranho.
- Então... – a Jedi murmurou, largando a mão de Rey. – Vocês estão conectados por meio da Força.
- Acho que sim, mas... Não é intencional. – tentou se explicar.
não estava mais prestando atenção às palavras da amiga. Fitando o nada, lentamente desceu da pedra e caminhou alguns passos até estar perto da beirada do precipício onde Rey treinava. Seus fios dançavam com a brisa de fim de tarde, enquanto observava o sol que já começava a se pôr. Seu semblante permanecia inexpressivo, porém seu interior fervilhava de emoção.
Inconscientemente levou às mãos à barriga agora um pouco crescida e fechou os olhos. Imediatamente, o momento em que teve a última conversa com Luke Skywalker lhe voltou à mente.
- Quer que... Eu vá até ele? – cerrou os punhos, tentando esconder o quanto tremiam.
- Ainda não. – Luke negou.
- Então o quê? – questionou.
- Antes de tentar resgatá-lo, preciso que vá até a Resistência. - O Jedi explicou.
- Por quê? – perguntou, arregalando os olhos ao notar que a figura de Luke se tornava cada vez mais transparente. – Mestre, você...
- Está tudo bem, minha jovem. – Luke sorriu para ela. – Lá vai encontrar alguém que pode ajudá-la. Mas antes precisa treiná-la.
- Não posso fazer isso sem o senhor. – engoliu seco. – Por favor...
- Eu acredito em você. Acredito que será uma grande Mestre Jedi. – o Skywalker disse num tom que tentava transmitir reconforto. – Encontre os outros e comece tudo do zero. Como eu disse, vai encontrar ajuda.
Então era isso. No primeiro instante, não conseguiu compreender o que o homem havia dito, mas agora estava claro. Luke designou a ela a missão de terminar o treinamento de Rey porque sabia que a garota seria a salvação para Ben Solo. Eles estavam conectados e agora também compreendia o motivo da mente de Ben ressoar seu nome com tanta força.
Rey era a chave que precisavam para abrir o coração do homem que se tornara Kylo Ren. Virando-se para a moça, viu que também havia levantado, mas continuava mantendo distância. Pela sua expressão, aguardava algum tipo de represália. Por isso, quando caminhou até ela, a abraçando, demorou um pouco a retribuir.
- E isso agora? – sua confusão era evidente.
- Ainda não entendeu, não é?! – se afastou, abrindo um sorriso gentil. – Essa conexão... É tudo o que precisamos.
- Como assim? – inclinou a cabeça pra o lado.
- Rey, podemos salvá-lo. – a segurou pelos ombros. – Você pode!
- Eu já tentei, mas a escuridão que há nele é muito forte para que eu possa enfrentá-la sozinha. – balançou a cabeça negativamente.
- Antes você não estava pronta. – a Jedi imitou seu gesto. – Mas agora seu treinamento está concluído e falta apenas uma coisa para que se torne uma verdadeira Jedi.
Rey não conseguia acreditar no que ouvia. Sabia que, depois de alguns meses todas as lições necessárias haviam findado, todavia, não sabia se isso seria o suficiente. Desejava ajudar a Resistência e assim salvar a galáxia e essa parecia ser a parte menos complexa diante do que lhe dizia.
- Talvez... Eu não seja a pessoa certa. – murmurou. – Vocês dois tem uma conexão muito maior e você o conhece muito melhor do que eu.
- Essa não é a questão, afinal também já tentei trazer Ben de volta. – suspirou pesado. – Antes não estávamos prontas, mas agora a situação mudou.
- Acredita mesmo? – Rey a fitou esperançosa.
- Sim. – falou com convicção. – Vamos salvar Ben Solo e a galáxia das mãos da Primeira Ordem.
A ex-sucateira sorriu diante do otimismo de sua mestra e então voltaram a olhar para o horizonte, deixando que a brisa fria as açoitasse.
- A propósito... – Rey retomou a conversa. – Qual a última coisa que preciso fazer antes de me tornar uma Jedi?
- Amanhã você saberá. – soltou um riso anasalado.
- Amanhã? – franziu o cenho ao vê-la começar a caminhar na direção do acampamento da Resistência. – Que horas?
- Assim que o sol nascer me encontre na minha nave. – ela continuou a andar. – Vamos dar um passeio.
A aprendiz permaneceu confusa vendo a Jedi se afastar. Com aquelas palavras, a deixara com a curiosidade a mil. Tentando conter a ansiedade, suspirou e resolveu também voltar, pois já estava quase na hora do jantar.
~o~
Kylo Ren havia perdido a noção de quantos papéis já havia lido. Sua mente estava tão cansada que seus olhos apenas corriam pelas páginas, devorando as palavras num ritmo constante. Quando seus olhos pesaram, suspirou fundo e baixou os documentos, deixando-os sobre a mesa escura.
Sabia de suas responsabilidades como Líder Supremo, porém, decidiu deixar a burocracia para o dia seguinte. Levantando-se, caminhou pelo escritório espaçoso, aproximando-se de uma mesa de vidro onde alguns vasos de cristal estavam. Pegando um deles, removeu a tampa e despejou o liquido num copo ao lado.
Deu um pequeno gole na bebida e foi até uma grande poltrona escura, sentando-se nela. Seus músculos estavam tensos e a cabeça latejava. O notório efeito de passar noites em claro. Sem poder mais resistir, deixou que a cabeça pendesse sobre o recosto do estofado e logo suas pálpebras fecharam. Num minuto foi vencido pelo cansaço e, enquanto o peito desnudo subia e descia suavemente, adormeceu profundamente.
O sol brilhava intensamente, conseguindo adentrar por entre a folhagem da floresta que ficava a certa distância da academia Jedi. Apesar do calor intenso, os jovens padawans não se importavam, permanecendo deitados sobre um fino tecido à beira do rio.
Estavam ali há certo tempo e Ben Solo já desistira de tentar disfarçar o quanto admirava a garota deitada ao seu lado. As estações haviam mudado e agora o verão fazia os raios solares ainda mais intensos e quando estes refletiam no rosto de , a garota parecia fazer parte daquele brilho.
Quando ela o olhou de volta sorrindo, ele tentou desviar o rosto para qualquer outra coisa, o que não deu muito certo. Notando o rubor que começava a pintar as bochechas dele, a menina riu alto. Isso serviu apenas para deixar o filho de Leia Organa ainda mais envergonhado.
- Me desculpe... – disse sem conseguir conter o riso. – É que você fica tão fofo quando está com vergonha.
- Eu não estou com vergonha. – rebateu, fazendo uma careta.
- E continua sendo fofo. – o provocou, rindo mais ainda quando o viu fechar a cara.
Ignorando a repentina mudança de humor do namorado, se aproximou dele, tentando abraça-lo. Ao perceber que Ben não cederia, suspirou, sentando-se com as pernas cruzadas.
- Vai mesmo continuar assim? – o cutucou, mas ele afastou sua mão. – Foi só uma brincadeira.
Indignada por estar sendo ignorada, a garota retirou as botas que calçava e se ergueu. Sem olhar para trás adentrou o rio, pisando sobre algumas pedrinhas redondas sob a água. Caminhou até estar com as panturrilhas cobertas e se abaixou brevemente para pegar algumas das pedrinhas. Com a mão direita cheia, começou a jogá-las para longe, as fazendo quicar duas ou três vezes antes de afundarem novamente.
Quando lançou a última pedrinha, esta sequer chegou a tocar a água cristalina, permanecendo parada no ar por certo tempo. O pequeno objeto começou a flutuar em sua direção e a padawan olhou para trás, vendo Ben se aproximar. O aprendiz realizava tal proeza e fez com que a pedra chegasse até ao mesmo tempo em que ele. Com destreza, fez o objeto ir até a garota, que o pegou após certa hesitação. Agora permaneciam parados frente a frente, com poucos passos os separando.
- Achei que estava sendo ignorada. – apoiou uma mão na cintura.
- Me desculpe... – falou após suspirar. – Às vezes eu posso ser um pouco...
- Mimado?! – completou a frase, visivelmente irritada. – Ou talvez imprevisível.
- , eu estou tentando melhorar. – ergueu as mãos em sua direção. – Você sabe disso.
- Eu sei. – ela voltou a olhar para frente, finalmente lançando a última pedrinha. – Mas às vezes parece que sequer se esforça.
Ben não disse nada, apenas observando as pequenas ondas formadas na água graças ao impacto. Ele não tinha porque falar, pois sabia que estava certa. Ela estava se esforçando tanto para ajuda-lo e ele continuava a agir como um garoto birrento. Não poderia mais continuar fingindo, precisava se esforçar de verdade para que pudesse vencer a escuridão que tanto lhe atormentava.
A passos lentos, parou atrás dela e a abraçou pela cintura, apoiando o queixo em seu ombro. A garota se surpreendeu com tal ato, pois não esperaria algo assim vir dele. Todavia, constatou que havia gostado muito daquele contato e logo apoiou suas mãos sobre as do padawan.
- Eu fiz uma promessa. – Ben disse próximo ao seu ouvido. – E quero que saiba que vou me esforçar para cumpri-la.
- Por acaso são mais palavras? – brincou.
- É apenas uma lembrança... Para mim mesmo. – ressaltou. – Para que eu nunca esqueça que prometi ser alguém melhor.
Sorrindo, virou-se para ele. Agora estavam cara a cara, tão próximos que podiam sentir as respirações um do outro. Fitando-o de forma gentil, passou os braços em seu pescoço, o que os uniu ainda mais.
- Eu também tenho uma promessa para cumprir. – disse e o rapaz ergueu as sobrancelhas. – Prometi que nunca te abandonaria e vou cumprir o que disse. Não importa o que aconteça.
Kylo despertou subitamente, puxando uma considerável quantidade de oxigênio para os pulmões. Levou certo tempo para perceber que não tivera um sonho, mas sim que sua mente fora invadida por uma lembrança. Mais uma vez ela estava lá e ele conseguia se lembrar perfeitamente dos seus olhos refletindo contra os raios de sol.
Suspirando, se levantou e caminhou até estar em frente à sua grande estante repleta de livros. Não procurou por nenhum volume, pois sua mão foi diretamente ao livro de capa azulada numa das prateleiras à altura de seus ombros. O retirou com cuidado e analisou a capa sem título, tentando entender o que ela havia visto de especial nele.
- Pegue-o. – ele disse, retirando o livro azul-marinho da prateleira e o estendendo para a garota.
- Obrigada. – ela disse, aceitando-o.
- Não precisa me agradecer. – ele falou e ela o encarou por cima dos ombros. – Tudo isso que viu pertence a mim agora e pode pertencer a você também.
- Era isso que queria me mostrar? – se virou até ele, os deixando frente a frente.
- Venha para o meu lado. – Kylo deu mais um passo em sua direção sem deixar de encará-la. – Fique comigo e vamos governar a galáxia juntos.
- Você é o Supremo Líder. – a Jedi sussurrou.
- Eu sou. – concordando, Ren ergueu uma mão, apoiando-a no rosto da garota. – E posso fazê-la ter o que quiser.
Um novo suspiro escapou pelas narinas ao se lembrar do que havia oferecido a ela e mesma assim fora rejeitado. Não entendia o porquê, já que havia prometido que sempre estaria ao seu lado. Aquela não havia sido a primeira vez que ela o deixava, fazendo-o pensar se sua promessa não eram apenas palavras ditas da boca para fora.
Analisou a capa mais um pouco antes de colocar o livro de volta. Mesmo que ainda tivesse sentimentos por ela, sabia que agora era tarde para voltar atrás. Precisava se concentrar em sua missão: destruir a Resistência e toda aquela escória rebelde. Sabia que eles haviam fugido com a ajuda de Rey, apenas precisava saber onde.
O homem havia tentado inúmeras vezes sondar a mente da sucateira para descobrir sua possível localização, mas ela havia se tornado muito boa em bloquear seus pensamentos. Era como se tivesse sido treinada para afastá-lo e sua conexão se tornava cada vez mais fraca. Da última vez que se conectaram, não havia durado mais do que alguns segundos e Ren sabia que tinha a ver com seu domínio cada vez maior da Força.
Tentando mandar embora aquelas preocupações, voltou para a mesa, sentando-se na grande cadeira acolchoada. Pegou os documentos e reiniciou a leitura muito mais concentrado do que antes. Depois do sonho que tivera, havia desistido de descansar.
Estava tão focada que sequer notou quando sua mestra se aproximou, sentando-se numa rocha larga, mantendo-se a poucos metros de distância. Apenas quando girou o corpo uma vez, simulando um novo ataque, foi que conseguia vê-la. A mais velha mantinha as sobrancelhas erguidas e os braços cruzados e logo Rey soube que ela não estava muito contente.
- Quando eu disse há duas horas que o treino havia acabado, eu realmente quis dizer que havia acabado. – manteve a voz serena.
- Eu sei... – a aprendiz suspirou, limpando o suor da testa. - Só estou tentando esvaziar a mente.
- Esvaziar a mente?! – repetiu sugestiva. – Não sei se esse é o melhor modo.
- Acredite, eu já tentei meditar, mas sempre que o faço ele aparec... – começou a dizer, entretanto, interrompeu-se no meio da sentença.
franziu o cenho ao perceber que sua aprendiz havia hesitado. Ela tinha algo a dizer, todavia, parecia ter medo. Se bem a conhecia, poderia dizer que ela não queria magoá-la de alguma forma. Suspirando, ajeitou-se sobre a pedra e cruzou as pernas, ficando numa posição semelhante à de meditação. Rey ainda ofegava por conta do esforço, evitando encará-la.
- Bem... – a Jedi passou a língua entre os lábios. – Parece que eu não sou a única que tem segredos.
A ex-sucateira arregalou os olhos diante da sentença, abrindo a boca algumas vezes para tentar se justificar. Porém, não conseguiu formar uma frase decente. Desistindo de tentar mentir, soltou o ar pelos lábios e desativou o sabre, colocando-o no cinto. Com cautela, se aproximou de sua mestra, parando em sua frente.
- Parece que não aprendi a lição, não é mesmo? – sorriu meio sem jeito e subiu na rocha, sentando-se como a outra.
- Nunca é tarde para aprendermos com nossos erros e é isso que importa. – sorriu para ela e então segurou sua mão. – Rey, sabe que pode confiar em mim.
- Você é uma das poucas pessoas em quem confio de verdade. – disse com sinceridade.
- E então, o que a incomoda tanto? – a incentivou a prosseguir. – Talvez eu possa ajudar.
- Não sei isso é possível. – mordeu os lábios.
A mulher franziu a testa às suas palavras e a garota de Jakku percebeu sua confusão. Pigarreando, decidiu ser direta e acabar logo com aquilo. Temia a reação de , mas não podia mais esconder dela o que se passava.
- É sobre Ben. – disse e logo sentiu a mão dela apertar a sua de forma inconsciente. – Nós meio que... Meio que temos uma ligação.
- Ligação?! – murmurou, ainda tensa.
- Eu não sei bem como descrever, mas não importa onde eu esteja, às vezes ele aparece. – continuou, fazendo uma careta. – É sério, ele apenas surge por meio da Força e é como se estivéssemos no mesmo lugar e isso é muito estranho.
- Então... – a Jedi murmurou, largando a mão de Rey. – Vocês estão conectados por meio da Força.
- Acho que sim, mas... Não é intencional. – tentou se explicar.
não estava mais prestando atenção às palavras da amiga. Fitando o nada, lentamente desceu da pedra e caminhou alguns passos até estar perto da beirada do precipício onde Rey treinava. Seus fios dançavam com a brisa de fim de tarde, enquanto observava o sol que já começava a se pôr. Seu semblante permanecia inexpressivo, porém seu interior fervilhava de emoção.
Inconscientemente levou às mãos à barriga agora um pouco crescida e fechou os olhos. Imediatamente, o momento em que teve a última conversa com Luke Skywalker lhe voltou à mente.
- Quer que... Eu vá até ele? – cerrou os punhos, tentando esconder o quanto tremiam.
- Ainda não. – Luke negou.
- Então o quê? – questionou.
- Antes de tentar resgatá-lo, preciso que vá até a Resistência. - O Jedi explicou.
- Por quê? – perguntou, arregalando os olhos ao notar que a figura de Luke se tornava cada vez mais transparente. – Mestre, você...
- Está tudo bem, minha jovem. – Luke sorriu para ela. – Lá vai encontrar alguém que pode ajudá-la. Mas antes precisa treiná-la.
- Não posso fazer isso sem o senhor. – engoliu seco. – Por favor...
- Eu acredito em você. Acredito que será uma grande Mestre Jedi. – o Skywalker disse num tom que tentava transmitir reconforto. – Encontre os outros e comece tudo do zero. Como eu disse, vai encontrar ajuda.
Então era isso. No primeiro instante, não conseguiu compreender o que o homem havia dito, mas agora estava claro. Luke designou a ela a missão de terminar o treinamento de Rey porque sabia que a garota seria a salvação para Ben Solo. Eles estavam conectados e agora também compreendia o motivo da mente de Ben ressoar seu nome com tanta força.
Rey era a chave que precisavam para abrir o coração do homem que se tornara Kylo Ren. Virando-se para a moça, viu que também havia levantado, mas continuava mantendo distância. Pela sua expressão, aguardava algum tipo de represália. Por isso, quando caminhou até ela, a abraçando, demorou um pouco a retribuir.
- E isso agora? – sua confusão era evidente.
- Ainda não entendeu, não é?! – se afastou, abrindo um sorriso gentil. – Essa conexão... É tudo o que precisamos.
- Como assim? – inclinou a cabeça pra o lado.
- Rey, podemos salvá-lo. – a segurou pelos ombros. – Você pode!
- Eu já tentei, mas a escuridão que há nele é muito forte para que eu possa enfrentá-la sozinha. – balançou a cabeça negativamente.
- Antes você não estava pronta. – a Jedi imitou seu gesto. – Mas agora seu treinamento está concluído e falta apenas uma coisa para que se torne uma verdadeira Jedi.
Rey não conseguia acreditar no que ouvia. Sabia que, depois de alguns meses todas as lições necessárias haviam findado, todavia, não sabia se isso seria o suficiente. Desejava ajudar a Resistência e assim salvar a galáxia e essa parecia ser a parte menos complexa diante do que lhe dizia.
- Talvez... Eu não seja a pessoa certa. – murmurou. – Vocês dois tem uma conexão muito maior e você o conhece muito melhor do que eu.
- Essa não é a questão, afinal também já tentei trazer Ben de volta. – suspirou pesado. – Antes não estávamos prontas, mas agora a situação mudou.
- Acredita mesmo? – Rey a fitou esperançosa.
- Sim. – falou com convicção. – Vamos salvar Ben Solo e a galáxia das mãos da Primeira Ordem.
A ex-sucateira sorriu diante do otimismo de sua mestra e então voltaram a olhar para o horizonte, deixando que a brisa fria as açoitasse.
- A propósito... – Rey retomou a conversa. – Qual a última coisa que preciso fazer antes de me tornar uma Jedi?
- Amanhã você saberá. – soltou um riso anasalado.
- Amanhã? – franziu o cenho ao vê-la começar a caminhar na direção do acampamento da Resistência. – Que horas?
- Assim que o sol nascer me encontre na minha nave. – ela continuou a andar. – Vamos dar um passeio.
A aprendiz permaneceu confusa vendo a Jedi se afastar. Com aquelas palavras, a deixara com a curiosidade a mil. Tentando conter a ansiedade, suspirou e resolveu também voltar, pois já estava quase na hora do jantar.
Kylo Ren havia perdido a noção de quantos papéis já havia lido. Sua mente estava tão cansada que seus olhos apenas corriam pelas páginas, devorando as palavras num ritmo constante. Quando seus olhos pesaram, suspirou fundo e baixou os documentos, deixando-os sobre a mesa escura.
Sabia de suas responsabilidades como Líder Supremo, porém, decidiu deixar a burocracia para o dia seguinte. Levantando-se, caminhou pelo escritório espaçoso, aproximando-se de uma mesa de vidro onde alguns vasos de cristal estavam. Pegando um deles, removeu a tampa e despejou o liquido num copo ao lado.
Deu um pequeno gole na bebida e foi até uma grande poltrona escura, sentando-se nela. Seus músculos estavam tensos e a cabeça latejava. O notório efeito de passar noites em claro. Sem poder mais resistir, deixou que a cabeça pendesse sobre o recosto do estofado e logo suas pálpebras fecharam. Num minuto foi vencido pelo cansaço e, enquanto o peito desnudo subia e descia suavemente, adormeceu profundamente.
O sol brilhava intensamente, conseguindo adentrar por entre a folhagem da floresta que ficava a certa distância da academia Jedi. Apesar do calor intenso, os jovens padawans não se importavam, permanecendo deitados sobre um fino tecido à beira do rio.
Estavam ali há certo tempo e Ben Solo já desistira de tentar disfarçar o quanto admirava a garota deitada ao seu lado. As estações haviam mudado e agora o verão fazia os raios solares ainda mais intensos e quando estes refletiam no rosto de , a garota parecia fazer parte daquele brilho.
Quando ela o olhou de volta sorrindo, ele tentou desviar o rosto para qualquer outra coisa, o que não deu muito certo. Notando o rubor que começava a pintar as bochechas dele, a menina riu alto. Isso serviu apenas para deixar o filho de Leia Organa ainda mais envergonhado.
- Me desculpe... – disse sem conseguir conter o riso. – É que você fica tão fofo quando está com vergonha.
- Eu não estou com vergonha. – rebateu, fazendo uma careta.
- E continua sendo fofo. – o provocou, rindo mais ainda quando o viu fechar a cara.
Ignorando a repentina mudança de humor do namorado, se aproximou dele, tentando abraça-lo. Ao perceber que Ben não cederia, suspirou, sentando-se com as pernas cruzadas.
- Vai mesmo continuar assim? – o cutucou, mas ele afastou sua mão. – Foi só uma brincadeira.
Indignada por estar sendo ignorada, a garota retirou as botas que calçava e se ergueu. Sem olhar para trás adentrou o rio, pisando sobre algumas pedrinhas redondas sob a água. Caminhou até estar com as panturrilhas cobertas e se abaixou brevemente para pegar algumas das pedrinhas. Com a mão direita cheia, começou a jogá-las para longe, as fazendo quicar duas ou três vezes antes de afundarem novamente.
Quando lançou a última pedrinha, esta sequer chegou a tocar a água cristalina, permanecendo parada no ar por certo tempo. O pequeno objeto começou a flutuar em sua direção e a padawan olhou para trás, vendo Ben se aproximar. O aprendiz realizava tal proeza e fez com que a pedra chegasse até ao mesmo tempo em que ele. Com destreza, fez o objeto ir até a garota, que o pegou após certa hesitação. Agora permaneciam parados frente a frente, com poucos passos os separando.
- Achei que estava sendo ignorada. – apoiou uma mão na cintura.
- Me desculpe... – falou após suspirar. – Às vezes eu posso ser um pouco...
- Mimado?! – completou a frase, visivelmente irritada. – Ou talvez imprevisível.
- , eu estou tentando melhorar. – ergueu as mãos em sua direção. – Você sabe disso.
- Eu sei. – ela voltou a olhar para frente, finalmente lançando a última pedrinha. – Mas às vezes parece que sequer se esforça.
Ben não disse nada, apenas observando as pequenas ondas formadas na água graças ao impacto. Ele não tinha porque falar, pois sabia que estava certa. Ela estava se esforçando tanto para ajuda-lo e ele continuava a agir como um garoto birrento. Não poderia mais continuar fingindo, precisava se esforçar de verdade para que pudesse vencer a escuridão que tanto lhe atormentava.
A passos lentos, parou atrás dela e a abraçou pela cintura, apoiando o queixo em seu ombro. A garota se surpreendeu com tal ato, pois não esperaria algo assim vir dele. Todavia, constatou que havia gostado muito daquele contato e logo apoiou suas mãos sobre as do padawan.
- Eu fiz uma promessa. – Ben disse próximo ao seu ouvido. – E quero que saiba que vou me esforçar para cumpri-la.
- Por acaso são mais palavras? – brincou.
- É apenas uma lembrança... Para mim mesmo. – ressaltou. – Para que eu nunca esqueça que prometi ser alguém melhor.
Sorrindo, virou-se para ele. Agora estavam cara a cara, tão próximos que podiam sentir as respirações um do outro. Fitando-o de forma gentil, passou os braços em seu pescoço, o que os uniu ainda mais.
- Eu também tenho uma promessa para cumprir. – disse e o rapaz ergueu as sobrancelhas. – Prometi que nunca te abandonaria e vou cumprir o que disse. Não importa o que aconteça.
Kylo despertou subitamente, puxando uma considerável quantidade de oxigênio para os pulmões. Levou certo tempo para perceber que não tivera um sonho, mas sim que sua mente fora invadida por uma lembrança. Mais uma vez ela estava lá e ele conseguia se lembrar perfeitamente dos seus olhos refletindo contra os raios de sol.
Suspirando, se levantou e caminhou até estar em frente à sua grande estante repleta de livros. Não procurou por nenhum volume, pois sua mão foi diretamente ao livro de capa azulada numa das prateleiras à altura de seus ombros. O retirou com cuidado e analisou a capa sem título, tentando entender o que ela havia visto de especial nele.
- Pegue-o. – ele disse, retirando o livro azul-marinho da prateleira e o estendendo para a garota.
- Obrigada. – ela disse, aceitando-o.
- Não precisa me agradecer. – ele falou e ela o encarou por cima dos ombros. – Tudo isso que viu pertence a mim agora e pode pertencer a você também.
- Era isso que queria me mostrar? – se virou até ele, os deixando frente a frente.
- Venha para o meu lado. – Kylo deu mais um passo em sua direção sem deixar de encará-la. – Fique comigo e vamos governar a galáxia juntos.
- Você é o Supremo Líder. – a Jedi sussurrou.
- Eu sou. – concordando, Ren ergueu uma mão, apoiando-a no rosto da garota. – E posso fazê-la ter o que quiser.
Um novo suspiro escapou pelas narinas ao se lembrar do que havia oferecido a ela e mesma assim fora rejeitado. Não entendia o porquê, já que havia prometido que sempre estaria ao seu lado. Aquela não havia sido a primeira vez que ela o deixava, fazendo-o pensar se sua promessa não eram apenas palavras ditas da boca para fora.
Analisou a capa mais um pouco antes de colocar o livro de volta. Mesmo que ainda tivesse sentimentos por ela, sabia que agora era tarde para voltar atrás. Precisava se concentrar em sua missão: destruir a Resistência e toda aquela escória rebelde. Sabia que eles haviam fugido com a ajuda de Rey, apenas precisava saber onde.
O homem havia tentado inúmeras vezes sondar a mente da sucateira para descobrir sua possível localização, mas ela havia se tornado muito boa em bloquear seus pensamentos. Era como se tivesse sido treinada para afastá-lo e sua conexão se tornava cada vez mais fraca. Da última vez que se conectaram, não havia durado mais do que alguns segundos e Ren sabia que tinha a ver com seu domínio cada vez maior da Força.
Tentando mandar embora aquelas preocupações, voltou para a mesa, sentando-se na grande cadeira acolchoada. Pegou os documentos e reiniciou a leitura muito mais concentrado do que antes. Depois do sonho que tivera, havia desistido de descansar.
Capítulo 4
O sol de Ahch-To havia surgido pleno, refletindo sua luz sobre a vasta imensidão de águas que cobria a maior parte do planeta. Seus raios aqueciam o rosto da Jedi que fitava o horizonte, desfrutando do breve momento de paz.
permanecia de pé, apoiando-se sobre as botas marrons. Vez ou outra passava as mãos sobre o robe de mangas longas da mesma cor que ia até os joelhos e cobria suas calças escuras. Suspirando, fechou os olhos e tentou manter a mente vazia, afinal aquele era um dia especial não apenas para sua aprendiz.
Assim que pensou em Rey, ouviu suas passadas contra o solo rochoso e se virou para ela. A garota trajava as mesmas vestes brancas de sempre, porém, usava uma capa longa de cor bege sobre elas.
- Bom dia. – a mais velha desejou com um leve sorriso.
- Bom dia e desculpe o atraso. – respondeu, parando a poucos metros. – Estava decidindo se não levar o sabre era uma boa ideia.
- Eu pedi que não o trouxesse. – relembrou.
- E como eu confio em você, eu não o trouxe. – piscou um dos olhos.
- Muito bem, padawan. – se aproximou a passos lentos.
- É bom saber que aprova o que faço, mestra. – Rey disse num tom de debochado e riu quando revirou os olhos. – Sobre a viagem, vamos mesmo na sua nave? Se quiser, podemos usar a Millenium Falcon.
- Faz um tempo que não piloto e gostaria de ter essa sensação novamente. – negou com a cabeça. – Além do mais, o percurso já está traçado em meu sistema.
- Se é assim, tudo bem. – deu de ombros.
Juntas, passaram a caminhar na direção da nave estacionada a certa distância. Entraram e logo estavam na cabine de comando, sentadas lado a lado. Com destreza, a acionou os comandos, passando algumas instruções para que Rey pudesse auxiliá-la. Em minutos estavam deixando a atmosfera do planeta onde um dia o primeiro templo Jedi ficava, encontrando a vastidão de estrelas.
- Tem certeza que vamos precisar dessas capas de frio? – a padawan questionou antes que entrassem em modo de hiperpropulsão.
- Paciência... – riu abafado apoiando a mão sobre a alavanca.
Quando a acionou, os astros em volta se tornaram como feixes brancos de luz, que se esticavam cada vez mais, dando-lhes uma visão peculiar. O salto não durou mais do que alguns segundos e logo a nave surgiu em outra parte da galáxia. As estrelas haviam voltado ao normal, brilhando como pequenos pontos na vasta escuridão.
Por um segundo, Rey pensou em perguntar para onde iriam a partir dali, todavia não teve tempo para falar, pois logo o globo esbranquiçado surgiu em sua frente. Encantadas com a aparência do planeta, as duas sensitivas permaneceram caladas apenas observando pelo vidro o quanto este se destacava no véu negro.
- É aqui que vamos pousar? – finalmente a mais nova disse.
- Sim. – a mestra respondeu. – Sabe onde estamos?
No princípio, ela não teve a resposta, mas não tardou a ligar os pontos. Estavam usando botas e roupas de frio. havia dito que não trouxesse o sabre que costumava usar. Além disso, no dia anterior sua mestra revelou que faltava apenas mais uma coisa para que se tornasse uma Jedi. Após meses de estudo e treinamento, Rey sabia que lugar era aquele e também o motivo de estarem ali.
- Ilum... – murmurou, sentindo o coração palpitar de entusiasmo. – Estamos em Ilum.
- Sim. – concordou. – E é aqui que dará o último para que se torne uma verdadeira Jedi.
Ilum era o planeta coberto de geleiras onde os cristais Kyber podiam ser encontrados. Cristais esses usados na construção dos sabres de luz. Todo padawan precisava passar por esse teste antes de ser considerado um Jedi. Sozinho deveria construir sua arma, utilizando-se somente da Força e por isso trouxera Rey ali, para seguir a tradição.
Não demoraram a pousar, preparando-se para conhecer o território. já estivera ali com Luke para construir seu próprio sabre e conhecia os lugares onde deveriam ir. Entretanto, isso fora há muitos anos e tudo em Ilum era imprevisível, por isso deveriam tomar cuidado.
colocou o sabre-bastão no cinto e Rey ajeitou seu bastão no ombro. Colocaram as capas, cobrindo parte do rosto com os capuzes e então deixaram o veículo. Imediatamente foram pegas pelo vento forte e Rey agradeceu por ter ouvido sua instrutora. Olhou em volta e quase não enxergou nada, podendo apenas distinguir a silhueta das grandes montanhas cobertas de gelo. Não havia como saber se era dia ou noite por conta do tempo.
Caminharam pela neve e ia à frente, as levando para uma das cavernas do lugar. Sem dificuldades, adentraram por um espaço razoável, onde duas pessoas andavam lado a lado com folga. Ouvindo apenas o assobio da ventania, a aprendiz de Luke retirou o capuz, analisando o ambiente. Não estava tão frio quanto lá fora, porém, deveriam continuar agasalhadas, pois as paredes eram cobertas de gelo.
A camada era grossa o suficiente para parecer que a montanha era feita de neve e refletia um brilho azulado, deixando o ambiente com um aspecto puro. No teto, gotas de água cristalizadas pendiam, se assemelhando a lustres naturais, mas não havia luminosidade suficiente. Tirando o sabre do cinto, a Jedi o ativou, fazendo com que o gelo reluzisse seu brilho. Foi como acender luzes fluorescentes e agora enxergavam tudo claramente.
Olhando para Rey, acenou com a cabeça uma vez, mostrando que deveriam seguir. A aprendiz sabia qual seu objetivo ali. Sabia que deveria encontrar um cristal para montar o próprio sabre e isso a deixava num estado de euforia. Estava tentando se conter, mas o fato de que lhe confiara aquela missão era algo difícil de ignorar. Ainda mais por estar grávida e mesmo assim fazer questão de acompanhá-la.
Em silêncio, caminharam um pouco mais pela caverna de gelo, e então o que tanto buscavam começou a surgir. Cravados nas paredes e no teto, os cristais eram transparentes e passariam despercebidos. Mas os olhos da Jedi eram apurados, assim como seus sentidos e não tardou a senti a Força fluir com mais intensidade ali.
Rey olhava atentamente para as pequenas pedras translúcidas, sentindo o quão conectadas com a Força eram, porém, não se aproximou de nenhuma delas. Não havia sido tocada ainda. Respirando fundo, olhou o redor e então um pequeno cristal lhe encheu os olhos. Parecia com todos outros, tanto em tamanho como em aparência. Todavia, era como se ele a chamasse e a garota logo foi ao seu encontro.
viu quando ela caminhou vidrada até um dos cristais Kyber. Em silêncio, resolveu deixá-la desfrutar daquele momento em que se conectava com o que se tornaria a energia do seu sabre. Afastou-se um pouco e com um pequeno sorriso observou quando a garota estendeu a mão, tocando a pedra. O gesto foi rápido. Tão rápida quanto a sensação de mal-estar que lhe atingiu.
Confusa, olhou para Rey que permanecia abaixada com o cristal nas mãos. Porém, a garota olhava para frente com os olhos arregalados, como se visse uma aparição. Ainda sem entender, fitou o mesmo lugar que ela e então pôde compreender seu terror. Parado a poucos passos de distância, Kylo Ren encarava a ex-sucateira com interesse. No segundo que tocou o cristal, Rey sentiu que estava conectada com o homem. Até tentou impedir, mas havia sido tarde demais.
Diante da visão de Kylo em sua frente, finalmente conseguiu entender mais plenamente o que sua amiga lhe contara sobre a conexão que tinha com ele. Era como se compartilhassem o mesmo ambiente. O homem usava roupas pretas casuais e estava sem sua máscara; os cabelos negros puxados para trás fazia ainda mais visível a cicatriz no rosto e os olhos negros brilhavam... Como os dela.
Ao se lembrar da filha, a mulher levou a mão ao peito e deu um passo para trás, tropeçando numa pedra escondida pela neve. Cambaleou, logo recobrando o equilíbrio, mas aquele movimento fora o suficiente para chamar a atenção dos dois mais à frente.
Kylo percebera que havia se conectado a Rey assim que sentiu a friagem na pele pálida. Algo muito forte na Força era o motivo daquela repentina ligação e quando viu o cristal Kyber na mão da garota, entendeu bem. Então ela finalmente estava construindo seu sabre, significando que em breve se tornaria uma Jedi. Com o ódio fervilhando em seu interior, sequer notou a presença de uma terceira pessoa, que os observava com espanto.
Apenas quando se moveu é que soube que estava ali. Olhando na sua direção, franziu o cenho ao vê-la depois de tanto tempo.
- Você... – murmurou, sem esconder a surpresa no timbre de voz.
Instintivamente, tentou senti-la por meio da Força e constatou que continuava a se esconder. Ela segurava seu sabre na frente do corpo, como se estivesse numa posição defensiva e ele não entendeu o porquê, afinal estava desarmado. Puxando o ar para os pulmões, inconscientemente, fez menção de ir até a mulher.
Rey tentou se levantar e impedi-lo, entretanto, foi mais veloz. Permitindo que o temor tomasse conta de seus sentidos, ergueu a mão livre, num sinal óbvio do que faria a seguir.
- Não! – gritou amedrontada, fazendo com que Kylo parasse imediatamente.
Seus nervos estavam à flor da pele e seu coração batia violentamente. Suas emoções estavam fora de controle e isso foi o suficiente para que também perdesse o domínio sobre seus poderes. Ainda com a mão levantada, usou a Força sem perceber, fazendo com que as paredes em volta tremessem. Os três jovens olharam para cima no exato momento em que estacas de gelo se desprenderam, vindo de encontro ao chão.
Com agilidade, Rey se levantou e correu até sua mestra, a puxando para longe do local de perigo. Caíram sobre a neve que diminuiu a força do impacto, ficando ali alguns segundos antes de se levantarem para verem o estrago causado.
- Você está bem? – a padawan perguntou preocupada.
- Sim... – sussurrou, olhando em volta.
o procurava, porém, Kylo Ren não estava mais lá. Com o seu poder havia conseguido, mesmo que de maneira inconsciente, quebrar a conexão deles. Respirando pesado, levou a mão ao rosto e se ajoelhou. Como pôde ter permitido que os sentimentos lhe dominassem de tal maneira?
- ... – sua amiga se abaixou ao seu lado. – Eu sinto muito... Eu tentei impedi-lo, mas...
- Não... Nós sabíamos que isso poderia acontecer. – balançou a cabeça. – Eu deveria estar pronta para esse momento.
- Ainda está com medo, não é?! – disse, apoiando a mão no seu ombro. – Medo de perder a sua filha para ele. Teme que Kylo possa levá-la consigo.
- Ele sabe que estamos em Ilum. – a encarou. – Ele viu o cristal.
- Então vamos embora daqui. – sugeriu. – Posso terminar meu sabre em Ahch-To.
A Jedi ponderou por alguns minutos. Gostaria que sua discípula pudesse ter a experiência de criar a própria espada laser naquele lugar repleto de Força. Mas sabia que Ben poderia aparecer a qualquer momento e colocar não só a sua segurança e a de Rey em perigo, mas a de sua filha. Concordando com ela, se levantaram e seguiram o caminho de volta para a entrada da caverna.
Logo estavam no corredor inicial, com a luz do sabre-bastão em seu auxílio, mas para sua surpresa a entrada estava bloqueada. Uma imensa parede de neve cobria a cratera impedido que qualquer coisa entrasse ou saísse. Arfando desolada, soube que ela havia sido a causadora da situação. Com o uso indevido de suas habilidades causara um deslizamento de neve e agora estavam presas.
- Podemos tentar encontrar outro caminho. – Rey murmurou, virando-se para sua mestra.
- É melhor não. – a segurou pelo pulso quando esta começou a caminhar. – Não sabemos até onde a caverna vai ou o que podemos encontrar.
- Então vamos continuar aqui, paradas? – rebateu descontente.
- Não vamos ficar paradas. – disse e a puxou pelo pulso para um canto.
- O que está fazendo? – ela tentou contestar, mas a Jedi a ignorou. – , sabe que ele virá até nós.
- Não se preocupe com isso, eu darei um jeito de nos tirar daqui. – disse com toda a calma que conseguiu. – Apenas sente-se e continue com o que veio fazer.
- Quer que eu... Construa meu sabre? – franziu o cenho.
- É o que falta para ser uma Jedi. – explicou mais uma vez.
- Sei disso, mas... – Rey tentou falar, mas foi interrompida.
- Confie em mim e logo estaremos longe daqui em segurança. – a segurou pelos ombros.
A garota mordeu os lábios, encarando a mulher por breves instantes. Não sabia o motivo, mas tudo nela lhe inspirava confiança. Desde que haviam se conhecido soube que criariam um grande vinculo e estava certa. Balançando a cabeça em concordância, retirou o bastão do ombro e sentou-se sobre a capa, evitando ter contato com a neve. Colocou o objeto à sua frente e com a postura ereta e as pernas cruzadas, ergueu a mão direita onde seu cristal estava. Quando abriu os dedos, o artefato começou a flutuar suavemente à altura de seu rosto.
Agora com as mãos livres, as uniu pouco abaixo do peito e fechou os olhos. Sabia bem como proceder a partir dali. Enquanto se conectava com o cristal, aos poucos este deixou de ser transparente, adquirindo uma coloração amarelada. Quando o amarelo brilhava intensamente, a padawan fez com que seu bastão também levitasse, o desmontando parte a parte apenas com a força da mente, pois iria usá-lo como base de seu sabre.
A Jedi sorriu orgulhosa enquanto a outra continuava com o ritual, completamente concentrada. Percebendo que Rey não teria problemas, deu-lhe as costas e caminhou até a entrada da caverna que continuava bloqueada. Permaneceu pensativa por alguns minutos, pois buscava uma forma de abrir caminho para que deixassem Ilum e voltassem para a nova base da Resistência assim que o sabre de Rey estivesse terminado.
Fechando os olhos, concentrou-se na Força. Gradativamente, pôde sentir tudo ao redor. Da menor partícula de gelo até a maior montanha. Apesar de inabitado e de aparência inóspita, em Ilum havia a Força em abundância. Com facilidade, a Jedi focou a mente exclusivamente na montanha onde estavam presas e em segundos soube que os riscos de mais deslizamentos eram remotos, assim prosseguiu com seu plano.
Mantendo as pálpebras cerradas, abriu os braços deixando as mãos viradas para cima. Tranquilamente, seu corpo começou a levitar à medida que alguns cristais de gelo soltos a acompanhavam, girando ao seu redor. Permaneceu assim, esvaziando a mente para conseguir utilizar plenamente suas habilidades. Quando finalmente abriu os olhos, fitou a grande muralha em sua frente e apontou as mãos em sua direção.
- Eu posso fazer isso... – murmurou para si mesma, buscando coragem para prosseguir.
Canalizando seus poderes, conectou-se com a parede de neve à frente, manipulando-a. No início foi complicado, mas quando abriu ainda mais a mente, foi como se a natureza se rendesse aos seus comandos. Aos poucos partiu o gelo ao meio, abrindo espaço para que pudessem escapar. Flutuou mais para perto da saída e com movimentos suaves de mãos, empurrou a parede esbranquiçada para lados opostos. Logo sentiu a ventania vir de fora e açoitar seu rosto, confirmando que estavam livres.
Tendo a certeza de que não haveriam mais acidentes, baixou as mãos e voltou devagar ao chão. Ofegando graças ao esforço realizado, passou a mão na testa, limpando um pouco de suor que surgira em sua pele. Então se virou para a padawan para saber se esta havia terminado seu trabalho, encontrando-a com uma expressão espantada.
Rey estava impressionada com o que acabara de presenciar e notou que segurava o sabre recém-montado com força. O objeto estava desativado, mas era perceptível que teria o formato de um bastão, mesmo com metade do tamanho do que a ex-sucateira carregava anteriormente.
- Podemos sair agora. – anunciou, vendo-a piscar algumas vezes antes de balançar a cabeça positivamente.
- Vamos antes que seja tarde. – caminhou apressada.
- Só uma coisa. – ergueu a mãos para que parasse. – Concluiu o seu último teste?
- Sim, mestra. – respondeu, inflando o peito.
Então segurou o próprio sabre com as duas mãos antes de ativá-lo. Ao fazê-lo, duas lâminas amarelas - quase douradas - estenderam-se pelas extremidades, brilhando como uma estrela.
- Muito bem, Jedi! – sorriu em aprovação. – A sua jornada acaba de ser concluída.
A mais jovem pensou em dizer algo, porém, parou assim que o som de propulsores pôde ser ouvido. Estava longe, mas os ouvidos aguçados foram capazes de perceber e as duas encararam-se temerosas. Haviam demorado demais ali.
- Vamos! – foi a última coisa que disse antes de se virarem e saírem correndo pela entrada da caverna de gelo.
permanecia de pé, apoiando-se sobre as botas marrons. Vez ou outra passava as mãos sobre o robe de mangas longas da mesma cor que ia até os joelhos e cobria suas calças escuras. Suspirando, fechou os olhos e tentou manter a mente vazia, afinal aquele era um dia especial não apenas para sua aprendiz.
Assim que pensou em Rey, ouviu suas passadas contra o solo rochoso e se virou para ela. A garota trajava as mesmas vestes brancas de sempre, porém, usava uma capa longa de cor bege sobre elas.
- Bom dia. – a mais velha desejou com um leve sorriso.
- Bom dia e desculpe o atraso. – respondeu, parando a poucos metros. – Estava decidindo se não levar o sabre era uma boa ideia.
- Eu pedi que não o trouxesse. – relembrou.
- E como eu confio em você, eu não o trouxe. – piscou um dos olhos.
- Muito bem, padawan. – se aproximou a passos lentos.
- É bom saber que aprova o que faço, mestra. – Rey disse num tom de debochado e riu quando revirou os olhos. – Sobre a viagem, vamos mesmo na sua nave? Se quiser, podemos usar a Millenium Falcon.
- Faz um tempo que não piloto e gostaria de ter essa sensação novamente. – negou com a cabeça. – Além do mais, o percurso já está traçado em meu sistema.
- Se é assim, tudo bem. – deu de ombros.
Juntas, passaram a caminhar na direção da nave estacionada a certa distância. Entraram e logo estavam na cabine de comando, sentadas lado a lado. Com destreza, a acionou os comandos, passando algumas instruções para que Rey pudesse auxiliá-la. Em minutos estavam deixando a atmosfera do planeta onde um dia o primeiro templo Jedi ficava, encontrando a vastidão de estrelas.
- Tem certeza que vamos precisar dessas capas de frio? – a padawan questionou antes que entrassem em modo de hiperpropulsão.
- Paciência... – riu abafado apoiando a mão sobre a alavanca.
Quando a acionou, os astros em volta se tornaram como feixes brancos de luz, que se esticavam cada vez mais, dando-lhes uma visão peculiar. O salto não durou mais do que alguns segundos e logo a nave surgiu em outra parte da galáxia. As estrelas haviam voltado ao normal, brilhando como pequenos pontos na vasta escuridão.
Por um segundo, Rey pensou em perguntar para onde iriam a partir dali, todavia não teve tempo para falar, pois logo o globo esbranquiçado surgiu em sua frente. Encantadas com a aparência do planeta, as duas sensitivas permaneceram caladas apenas observando pelo vidro o quanto este se destacava no véu negro.
- É aqui que vamos pousar? – finalmente a mais nova disse.
- Sim. – a mestra respondeu. – Sabe onde estamos?
No princípio, ela não teve a resposta, mas não tardou a ligar os pontos. Estavam usando botas e roupas de frio. havia dito que não trouxesse o sabre que costumava usar. Além disso, no dia anterior sua mestra revelou que faltava apenas mais uma coisa para que se tornasse uma Jedi. Após meses de estudo e treinamento, Rey sabia que lugar era aquele e também o motivo de estarem ali.
- Ilum... – murmurou, sentindo o coração palpitar de entusiasmo. – Estamos em Ilum.
- Sim. – concordou. – E é aqui que dará o último para que se torne uma verdadeira Jedi.
Ilum era o planeta coberto de geleiras onde os cristais Kyber podiam ser encontrados. Cristais esses usados na construção dos sabres de luz. Todo padawan precisava passar por esse teste antes de ser considerado um Jedi. Sozinho deveria construir sua arma, utilizando-se somente da Força e por isso trouxera Rey ali, para seguir a tradição.
Não demoraram a pousar, preparando-se para conhecer o território. já estivera ali com Luke para construir seu próprio sabre e conhecia os lugares onde deveriam ir. Entretanto, isso fora há muitos anos e tudo em Ilum era imprevisível, por isso deveriam tomar cuidado.
colocou o sabre-bastão no cinto e Rey ajeitou seu bastão no ombro. Colocaram as capas, cobrindo parte do rosto com os capuzes e então deixaram o veículo. Imediatamente foram pegas pelo vento forte e Rey agradeceu por ter ouvido sua instrutora. Olhou em volta e quase não enxergou nada, podendo apenas distinguir a silhueta das grandes montanhas cobertas de gelo. Não havia como saber se era dia ou noite por conta do tempo.
Caminharam pela neve e ia à frente, as levando para uma das cavernas do lugar. Sem dificuldades, adentraram por um espaço razoável, onde duas pessoas andavam lado a lado com folga. Ouvindo apenas o assobio da ventania, a aprendiz de Luke retirou o capuz, analisando o ambiente. Não estava tão frio quanto lá fora, porém, deveriam continuar agasalhadas, pois as paredes eram cobertas de gelo.
A camada era grossa o suficiente para parecer que a montanha era feita de neve e refletia um brilho azulado, deixando o ambiente com um aspecto puro. No teto, gotas de água cristalizadas pendiam, se assemelhando a lustres naturais, mas não havia luminosidade suficiente. Tirando o sabre do cinto, a Jedi o ativou, fazendo com que o gelo reluzisse seu brilho. Foi como acender luzes fluorescentes e agora enxergavam tudo claramente.
Olhando para Rey, acenou com a cabeça uma vez, mostrando que deveriam seguir. A aprendiz sabia qual seu objetivo ali. Sabia que deveria encontrar um cristal para montar o próprio sabre e isso a deixava num estado de euforia. Estava tentando se conter, mas o fato de que lhe confiara aquela missão era algo difícil de ignorar. Ainda mais por estar grávida e mesmo assim fazer questão de acompanhá-la.
Em silêncio, caminharam um pouco mais pela caverna de gelo, e então o que tanto buscavam começou a surgir. Cravados nas paredes e no teto, os cristais eram transparentes e passariam despercebidos. Mas os olhos da Jedi eram apurados, assim como seus sentidos e não tardou a senti a Força fluir com mais intensidade ali.
Rey olhava atentamente para as pequenas pedras translúcidas, sentindo o quão conectadas com a Força eram, porém, não se aproximou de nenhuma delas. Não havia sido tocada ainda. Respirando fundo, olhou o redor e então um pequeno cristal lhe encheu os olhos. Parecia com todos outros, tanto em tamanho como em aparência. Todavia, era como se ele a chamasse e a garota logo foi ao seu encontro.
viu quando ela caminhou vidrada até um dos cristais Kyber. Em silêncio, resolveu deixá-la desfrutar daquele momento em que se conectava com o que se tornaria a energia do seu sabre. Afastou-se um pouco e com um pequeno sorriso observou quando a garota estendeu a mão, tocando a pedra. O gesto foi rápido. Tão rápida quanto a sensação de mal-estar que lhe atingiu.
Confusa, olhou para Rey que permanecia abaixada com o cristal nas mãos. Porém, a garota olhava para frente com os olhos arregalados, como se visse uma aparição. Ainda sem entender, fitou o mesmo lugar que ela e então pôde compreender seu terror. Parado a poucos passos de distância, Kylo Ren encarava a ex-sucateira com interesse. No segundo que tocou o cristal, Rey sentiu que estava conectada com o homem. Até tentou impedir, mas havia sido tarde demais.
Diante da visão de Kylo em sua frente, finalmente conseguiu entender mais plenamente o que sua amiga lhe contara sobre a conexão que tinha com ele. Era como se compartilhassem o mesmo ambiente. O homem usava roupas pretas casuais e estava sem sua máscara; os cabelos negros puxados para trás fazia ainda mais visível a cicatriz no rosto e os olhos negros brilhavam... Como os dela.
Ao se lembrar da filha, a mulher levou a mão ao peito e deu um passo para trás, tropeçando numa pedra escondida pela neve. Cambaleou, logo recobrando o equilíbrio, mas aquele movimento fora o suficiente para chamar a atenção dos dois mais à frente.
Kylo percebera que havia se conectado a Rey assim que sentiu a friagem na pele pálida. Algo muito forte na Força era o motivo daquela repentina ligação e quando viu o cristal Kyber na mão da garota, entendeu bem. Então ela finalmente estava construindo seu sabre, significando que em breve se tornaria uma Jedi. Com o ódio fervilhando em seu interior, sequer notou a presença de uma terceira pessoa, que os observava com espanto.
Apenas quando se moveu é que soube que estava ali. Olhando na sua direção, franziu o cenho ao vê-la depois de tanto tempo.
- Você... – murmurou, sem esconder a surpresa no timbre de voz.
Instintivamente, tentou senti-la por meio da Força e constatou que continuava a se esconder. Ela segurava seu sabre na frente do corpo, como se estivesse numa posição defensiva e ele não entendeu o porquê, afinal estava desarmado. Puxando o ar para os pulmões, inconscientemente, fez menção de ir até a mulher.
Rey tentou se levantar e impedi-lo, entretanto, foi mais veloz. Permitindo que o temor tomasse conta de seus sentidos, ergueu a mão livre, num sinal óbvio do que faria a seguir.
- Não! – gritou amedrontada, fazendo com que Kylo parasse imediatamente.
Seus nervos estavam à flor da pele e seu coração batia violentamente. Suas emoções estavam fora de controle e isso foi o suficiente para que também perdesse o domínio sobre seus poderes. Ainda com a mão levantada, usou a Força sem perceber, fazendo com que as paredes em volta tremessem. Os três jovens olharam para cima no exato momento em que estacas de gelo se desprenderam, vindo de encontro ao chão.
Com agilidade, Rey se levantou e correu até sua mestra, a puxando para longe do local de perigo. Caíram sobre a neve que diminuiu a força do impacto, ficando ali alguns segundos antes de se levantarem para verem o estrago causado.
- Você está bem? – a padawan perguntou preocupada.
- Sim... – sussurrou, olhando em volta.
o procurava, porém, Kylo Ren não estava mais lá. Com o seu poder havia conseguido, mesmo que de maneira inconsciente, quebrar a conexão deles. Respirando pesado, levou a mão ao rosto e se ajoelhou. Como pôde ter permitido que os sentimentos lhe dominassem de tal maneira?
- ... – sua amiga se abaixou ao seu lado. – Eu sinto muito... Eu tentei impedi-lo, mas...
- Não... Nós sabíamos que isso poderia acontecer. – balançou a cabeça. – Eu deveria estar pronta para esse momento.
- Ainda está com medo, não é?! – disse, apoiando a mão no seu ombro. – Medo de perder a sua filha para ele. Teme que Kylo possa levá-la consigo.
- Ele sabe que estamos em Ilum. – a encarou. – Ele viu o cristal.
- Então vamos embora daqui. – sugeriu. – Posso terminar meu sabre em Ahch-To.
A Jedi ponderou por alguns minutos. Gostaria que sua discípula pudesse ter a experiência de criar a própria espada laser naquele lugar repleto de Força. Mas sabia que Ben poderia aparecer a qualquer momento e colocar não só a sua segurança e a de Rey em perigo, mas a de sua filha. Concordando com ela, se levantaram e seguiram o caminho de volta para a entrada da caverna.
Logo estavam no corredor inicial, com a luz do sabre-bastão em seu auxílio, mas para sua surpresa a entrada estava bloqueada. Uma imensa parede de neve cobria a cratera impedido que qualquer coisa entrasse ou saísse. Arfando desolada, soube que ela havia sido a causadora da situação. Com o uso indevido de suas habilidades causara um deslizamento de neve e agora estavam presas.
- Podemos tentar encontrar outro caminho. – Rey murmurou, virando-se para sua mestra.
- É melhor não. – a segurou pelo pulso quando esta começou a caminhar. – Não sabemos até onde a caverna vai ou o que podemos encontrar.
- Então vamos continuar aqui, paradas? – rebateu descontente.
- Não vamos ficar paradas. – disse e a puxou pelo pulso para um canto.
- O que está fazendo? – ela tentou contestar, mas a Jedi a ignorou. – , sabe que ele virá até nós.
- Não se preocupe com isso, eu darei um jeito de nos tirar daqui. – disse com toda a calma que conseguiu. – Apenas sente-se e continue com o que veio fazer.
- Quer que eu... Construa meu sabre? – franziu o cenho.
- É o que falta para ser uma Jedi. – explicou mais uma vez.
- Sei disso, mas... – Rey tentou falar, mas foi interrompida.
- Confie em mim e logo estaremos longe daqui em segurança. – a segurou pelos ombros.
A garota mordeu os lábios, encarando a mulher por breves instantes. Não sabia o motivo, mas tudo nela lhe inspirava confiança. Desde que haviam se conhecido soube que criariam um grande vinculo e estava certa. Balançando a cabeça em concordância, retirou o bastão do ombro e sentou-se sobre a capa, evitando ter contato com a neve. Colocou o objeto à sua frente e com a postura ereta e as pernas cruzadas, ergueu a mão direita onde seu cristal estava. Quando abriu os dedos, o artefato começou a flutuar suavemente à altura de seu rosto.
Agora com as mãos livres, as uniu pouco abaixo do peito e fechou os olhos. Sabia bem como proceder a partir dali. Enquanto se conectava com o cristal, aos poucos este deixou de ser transparente, adquirindo uma coloração amarelada. Quando o amarelo brilhava intensamente, a padawan fez com que seu bastão também levitasse, o desmontando parte a parte apenas com a força da mente, pois iria usá-lo como base de seu sabre.
A Jedi sorriu orgulhosa enquanto a outra continuava com o ritual, completamente concentrada. Percebendo que Rey não teria problemas, deu-lhe as costas e caminhou até a entrada da caverna que continuava bloqueada. Permaneceu pensativa por alguns minutos, pois buscava uma forma de abrir caminho para que deixassem Ilum e voltassem para a nova base da Resistência assim que o sabre de Rey estivesse terminado.
Fechando os olhos, concentrou-se na Força. Gradativamente, pôde sentir tudo ao redor. Da menor partícula de gelo até a maior montanha. Apesar de inabitado e de aparência inóspita, em Ilum havia a Força em abundância. Com facilidade, a Jedi focou a mente exclusivamente na montanha onde estavam presas e em segundos soube que os riscos de mais deslizamentos eram remotos, assim prosseguiu com seu plano.
Mantendo as pálpebras cerradas, abriu os braços deixando as mãos viradas para cima. Tranquilamente, seu corpo começou a levitar à medida que alguns cristais de gelo soltos a acompanhavam, girando ao seu redor. Permaneceu assim, esvaziando a mente para conseguir utilizar plenamente suas habilidades. Quando finalmente abriu os olhos, fitou a grande muralha em sua frente e apontou as mãos em sua direção.
- Eu posso fazer isso... – murmurou para si mesma, buscando coragem para prosseguir.
Canalizando seus poderes, conectou-se com a parede de neve à frente, manipulando-a. No início foi complicado, mas quando abriu ainda mais a mente, foi como se a natureza se rendesse aos seus comandos. Aos poucos partiu o gelo ao meio, abrindo espaço para que pudessem escapar. Flutuou mais para perto da saída e com movimentos suaves de mãos, empurrou a parede esbranquiçada para lados opostos. Logo sentiu a ventania vir de fora e açoitar seu rosto, confirmando que estavam livres.
Tendo a certeza de que não haveriam mais acidentes, baixou as mãos e voltou devagar ao chão. Ofegando graças ao esforço realizado, passou a mão na testa, limpando um pouco de suor que surgira em sua pele. Então se virou para a padawan para saber se esta havia terminado seu trabalho, encontrando-a com uma expressão espantada.
Rey estava impressionada com o que acabara de presenciar e notou que segurava o sabre recém-montado com força. O objeto estava desativado, mas era perceptível que teria o formato de um bastão, mesmo com metade do tamanho do que a ex-sucateira carregava anteriormente.
- Podemos sair agora. – anunciou, vendo-a piscar algumas vezes antes de balançar a cabeça positivamente.
- Vamos antes que seja tarde. – caminhou apressada.
- Só uma coisa. – ergueu a mãos para que parasse. – Concluiu o seu último teste?
- Sim, mestra. – respondeu, inflando o peito.
Então segurou o próprio sabre com as duas mãos antes de ativá-lo. Ao fazê-lo, duas lâminas amarelas - quase douradas - estenderam-se pelas extremidades, brilhando como uma estrela.
- Muito bem, Jedi! – sorriu em aprovação. – A sua jornada acaba de ser concluída.
A mais jovem pensou em dizer algo, porém, parou assim que o som de propulsores pôde ser ouvido. Estava longe, mas os ouvidos aguçados foram capazes de perceber e as duas encararam-se temerosas. Haviam demorado demais ali.
- Vamos! – foi a última coisa que disse antes de se virarem e saírem correndo pela entrada da caverna de gelo.
Capítulo 5
Kylo Ren terminava de vestir seu traje de combate parado em frente a um grande espelho. Terminando de colocar as luvas, mirou o próprio reflexo, tendo certeza de que tudo estava no lugar. Antes de colocar o capacete, pegou uma longa capa negra e a prendeu em volta do pescoço, permitindo que descesse dos ombros até os pés.
No segundo que conectou com Rey e viu o cristal Kyber em sua mão, soube exatamente onde a garota estava. Ilum era o local aonde praticamente todos os padawans iam com seus mestres para que pudessem construir o próprio sabre de luz. Havia sido assim em seu caso quando ainda era um dos alunos de Luke. O planeta era coberto por grandes geleiras e nevascas eram comuns, assim como o forte vento e as nuvens densas que quase não permitiam que a luz do sol penetrasse.
Por um momento, pensou que a sucateira estivesse sozinha, porém, ficou visivelmente perturbado ao perceber que não. estava com ela e, pelo que parecia, era sua nova mestra. No momento não conseguiu digerir muito bem a informação, afinal, nunca esperaria vê-la daquela maneira. As vestimentas eram as típicas de um Jedi, assim como o sabre. Todavia, a expressão da mulher carregava certo terror. Algo que nunca vira nela antes.
Soltando o ar pelos lábios entreabertos, deus as costas para o espelho e foi até o capacete que ficava sobre uma plataforma num canto do seu quarto. Pegando-o, analisou o metal negro antes de finalmente colocá-lo, cobrindo o rosto inexpressivo. Por dentro, porém, pensava no que viria. Estava preste a encontrá-la. Sabia que poderiam escapar antes que chegasse, mas precisava tentar contatá-la uma última vez, por isso convocou apenas os cavaleiros de Ren para acompanhá-lo. Ninguém precisaria saber o que pretendia fazer.
Como derradeiro preparativo, pegou o sabre e prendeu à cintura, deixando seus aposentos. Enquanto percorria o corredor até sua nave, o pensamento de que aquele encontro seria decisivo para ambos pairava em sua mente. De uma maneira ou de outra aquele assunto seria finalizado. Ou vinha para seu lado ou então morreria com todo o restante da escória rebelde, começando pela garota de Jakku.
Não demorou a estar na pista de decolagem e os outros cavaleiros já estavam à sua espera. Sem dizer uma só palavra, adentrou o veículo e os homens que também utilizavam capacetes pretos, o seguiram segurando suas armas de combate. Não demoraram a decolar, seguindo na direção de Ilum.
- Supremo Líder, vamos entrar em modo de hiperpropulsão em um minuto. – o piloto anunciou.
- Entendido. – Kylo disse apenas, sentando-se em sua poltrona ao centro.
- Entrando em modo de hiperpropulsão em três, dois, um... – o mesmo cavaleiro disse antes de acionar a alavanca.
Passando de um lado a outra da galáxia em instantes, Kylo Ren sequer notou os feixes de luz que brilhavam contra o vidro das janelas. Seu objetivo era apenas enxergar o planeta de gelo e quando este foi encontrado, ergueu-se, aproximando-se mais para poder enxergá-lo melhor.
- Em quanto tempo estaremos lá embaixo? – perguntou com a voz tipicamente metalizada.
- Em pelo menos cinco minutos, senhor. – o piloto respondeu, acionando alguns botões.
O homem permaneceu parado com as mãos cruzadas para trás. Seus olhar, ainda que ocultado pela máscara, mantinha-se fixado no globo esbranquiçado. Da última vez que estivera ali era um seguidor do lado luminoso, mas agora a situação era outra. Ele não era mais um garotinho assustado que não sabia qual o seu verdadeiro lugar. Era o Supremo Líder e logo teria domínio sobre toda a galáxia.
~o~
corria a todo vapor, buscando alcançar sua nave. Rey a seguia a poucos passos de distância e as duas usavam seus sabres para iluminar o caminho. O vento soprava furioso e dificultava a vida das duas Jedi, que tentavam manter a todo custo seus capuzes sobre a cabeça. A sabia que não deveria se esforçar tanto, porém, não havia escolha.
Com poucos quilômetros de distância o som da nave de Kylo Ren pousando sobre o solo coberto de neve tornou-se mais audível. Em breve ele estaria em busca delas e não seria difícil encontrá-las. A caverna para onde levou Rey era a mesma que Luke usara com seus aprendizes e Ben sabia muito bem por onde ir para localizá-la.
- Por aqui! – gritou para a mais nova, indicando um novo caminho.
- É um atalho? – quis saber sem diminuir a velocidade.
- Sim. – respondeu, já ofegante. – Talvez ganhemos um pouco mais de tempo.
Sem duvidar de sua mestra, a garota a seguiu e logo estavam traçando uma nova rota que as levaria ao mesmo destino. Correram mais alguns minutos até que parou subitamente, obrigando a outra a imitá-la.
- O que houve? – questionou confusa.
- Isso... Não estava nos planos. - com a respiração pesada, apontou para o chão à frente.
Apertando os olhos, Rey enxergou o que lhe era mostrado. Seguindo-se além da luz dos sabres, um lago congelado tomava boa parte do ambiente. Era largo e não haveria como circundá-lo. Fechando os olhos, respirou fundo. Deveriam ter continuado pelo caminho correto.
- Vamos voltar. – murmurou.
- Não, não temos tempo. – Rey a encarou surpresa. – Ele já deve estar aqui.
Baixando a cabeça, a mulher abraçou o próprio corpo e se ajoelhou. Por que estava tão dispersa? Que tipo de mestra era quando nem sequer sabia conduzir sua aprendiz sem colocá-la em perigo? Tentando não sucumbir ao desespero, concentrou-se, iniciando uma breve meditação. Olhou apenas para a Força. Lentamente, seu coração acelerado se acalmou e seus membros trêmulos voltaram ao normal.
Naquele instante, buscou a força de vontade para seguir em frente não demorando a senti-la em todo seu corpo. Abrindo as pálpebras fitou a amiga e então se ergueu. Com a respiração muito mais leve, balançou a cabeça uma vez e ela entendeu. Estava pronta para continuar. Juntas, viraram-se para o lago e deram o primeiro passo. O gelo trincou levemente, mas nada que causasse medo. Assim, seguiram passo a passo com os sabres de luz ativados.
Avançando, não encontraram nada que as impedisse. Na metade do caminho Rey parou de repente e olhou para o nada. Virando-se, franziu o cenho.
- Rey, o que houve? – questionou, recebendo atenção.
- Ele sabe que mudamos de caminho... – disse abismada. – E está vindo pra cá.
Enquanto falava, sem querer, a ex-aprendiz deixou que o sabre pendesse, fazendo com que a lâmina amarela encostasse no gelo. Foi por um milésimo de segundo, mas o suficiente para que este começasse a trincar. Quando as jovens sentiram o perigo, encararam-se e sem que ninguém mandasse, começaram a correr com todo o fôlego que tinham. Ao mesmo tempo, o espelho de água congelada começava a partir-se, seguindo suas pegadas.
O ruído do gelo se quebrando em pedaços era semelhante ao de vidro sendo estilhaçado e em questão de segundos as rachaduras as alcançaram. Estavam quase chegando a outra margem e num último gesto de bravura, empurrou Rey com seus poderes, tirando-a de perigo. Entretanto, antes de pisasse em solo estável, foi pega pela rachadura e gritou antes que seu corpo mergulhasse de uma só vez na água congelante.
- ! – Rey berrou, ajoelhando-se próximo ao buraco formado, sacudindo a água com a mão livre. – , pegue a minha mão!
A mulher conseguia ouvi-la. Não tão bem, pois o líquido e camada de gelo serviam como um isolante. Seus chamados eram mais como um murmúrio distante e a única coisa que via era o brilho do sabre dela, lhe servindo como guia. Prendendo a respiração com facilidade, tentou ignorar o frio mortal que praticamente rasgava seus músculos e começou a nadar na direção da luminosidade.
Estava perto, quase pegando a mão de Rey quando ouviu outra voz lhe chamar. Assustada, virou-se para trás e não viu nada, apenas escuridão. Confusa, voltou a nadar, conseguindo distinguir a mão da outra. Porém, antes que a segurasse, uma imagem cobriu seus olhos e a voz voltou como se estivesse dentro de sua cabeça.
- Mamãe, mamãe! – uma garotinha de cabelos negros gritava, tentando segurar sua mão. – Eu não quero ir, quero ficar com você, por favor!
As palavras se repetiam vez após, assim como a imagem da menina que ela soube ser sua filha. Não havia como duvidar, não quando aqueles olhos lhe fitavam com tanto medo.
Em choque, largou o próprio sabre e não soube mais para onde ia. Pensou que não conseguiria sair dali nunca mais, mas então seu pulso foi agarrado e puxado para fora. Com toda a força que tinha Rey a tirou da água, a levando para fora da zona de perigo. Retirando a própria capa, a enrolou, pois tremia violentamente.
- Eu peguei você, está tudo bem agora. – murmurou, tentando prender as lágrimas ao ver a amiga naquele estado. – Vamos sair daqui.
- Obrigada... – agradeceu ainda que seu queixo tremesse.
- Onde está seu sabre? – perguntou ao vê-la sem o objeto.
- Lá embaixo. – apontou para o lago com a cabeça.
As garotas não tiveram mais oportunidade de trocar palavras, pois logo ouviram passadas contra o chão. Na realidade, antes mesmo que as ouvissem, puderam sentir o homem que se aproximava com os cavaleiros de Ren. Olhando para trás, o viram surgir em meio à ventania com a capa negra balançando. Usava o capacete e vinha à frente dos outros, que logo também foram vistos.
- Ora, ora... – Kylo tirou o sabre do cinto. – Veja só quem finalmente encontramos.
No momento que ativou sua arma, a lâmina vermelha brilhou, deixando o lugar com um aspecto sombrio. Determinada a proteger a amiga, Rey se ergueu e ativou o próprio sabre-bastão, assumindo uma posição de combate.
- É melhor não se aproximar. – o ameaçou.
- Então quer dizer que agora acha que é uma Jedi. – o Supremo Líder desdenhou. – Saiba que isso não fará nenhuma diferença, pois continuará sendo uma ninguém.
- Você não sabe de nada! – gritou furiosa.
observava tudo sentada no chão. Respirando pesadamente, usava a Força para tentar normalizar sua temperatura antes que tivesse uma hipotermia. Um pouco melhor, ergueu a mão na direção do lago e chamou seu sabre que em segundos obedeceu a seu comando, quebrando uma parte do gelo antes de alcançar seus dedos. A ação chamou a atenção dos presentes, especialmente quando se levantou, parando ao lado de Rey.
- O que está fazendo? Eu cuido disso! – a novata a repreendeu.
- Não se preocupe comigo. – não olhou para ela enquanto falava, mas sim para Kylo. – Eu tenho uma questão a resolver.
Rey entendeu o que sua mestra quis dizer e sabia que não deveria interferir. tinha algo pessoal a resolver com Kylo Ren e o futuro da filha deles dependia disso. Lado a lado, assumiram suas posições de luta, mostrando que não queriam mais conversas.
- Acabem com a sucateira. – o Supremo Líder ordenou. – A Jedi é minha!
Semicerrando os olhos, a correu em sua direção. Ele esperou que chegasse para erguer sua arma e defender o golpe que veio forte. Enquanto Rey era cercada pelos cavaleiros de Ren, os dois afastavam-se cada vez mais, lutando com os nervos à flor da pele. Não era a primeira vez que batalhavam, mas agora era diferente. Da primeira vez, a mulher tentou convencê-lo a não ir com Snoke. Agora, lutava para proteger o seu bem mais precioso. Mesmo que precisasse feri-lo. Ainda que precisasse matá-lo.
Quando o pensamento radical tomou sua mente, deu um passo hesitante para trás e suas mãos perderam um pouco da força. O que estava pensando? Que tipo de Jedi era para cogitar aquele ato? Onde estava sua esperança? Com a confusão em sua mente, não teve como se defender do golpe que atingiu seu ombro de raspão, arrancando-lhe um grito.
Voltando à realidade, afastou-se ainda mais dele e olhou para Rey. Apesar de enfrentar seis pessoas ela se saía bem e, por mais que quisesse ir a seu auxílio, sabia que Ben não a deixaria passar. Mordendo os lábios, pensou por um pouco e então se virou, correndo para longe dali. Imediatamente foi seguida e era isso que esperava. Continuando, viu uma nova caverna de gelo e entrou. Essa era um pouco menor, mas também se estendia mais para dentro.
Após adentrar alguns metros, parou e se virou para ele. A espada vermelha não a fez temer, abaixando assim o próprio sabre e o usando apenas para iluminar o lugar. Kylo percebeu que ela não estava mais em posição de combate e estranhou a atitude.
- Está se rendendo? - a pergunta veio carregada de sarcasmo.
- Antes de falar comigo, tire essa coisa. – praticamente cuspiu as palavras.
A encarou por alguns instantes antes de, finalmente, desativar o sabre e colocá-lo no cinto. Quando retirou o capacete, os fios escuros caíram sobre a testa e a garota arfou. Aquele era o rosto do homem que amava, apenas não sabia se ele ainda existia.
- Por que nos trouxe aqui? – o rapaz questionou.
- Porque temos algo a resolver. – falou firme. – Algo muito importante.
- Só há um jeito de resolvermos nossa questão e sabe qual é. – ressaltou, dando dois passos até ela.
- Ainda quer que eu vá com você. – murmurou, sacudindo a cabeça negativamente. – Mas isso não tem a ver com nós dois.
O antigo aprendiz de Luke Skywalker franziu o cenho em confusão ao ouvir aquelas palavras e continuou a encará-la quando esta fechou os olhos. Porém, quando voltou a senti-la por meio da Força, soube que ela estava desbloqueando sua mente. Quando os orbes voltaram a fitá-lo, engoliu seco.
- Em toda essa história, nós somos os que menos importam, Ben. – falou com calma.
- E o que mais importa? – indagou, não tardando a receber sua resposta.
sequer abriu a boca, ainda assim, ele foi capaz de sentir algo a mais na Força. Era como um pequeno feixe de luz que brevemente escurecia, mas logo voltava a brilhar plenamente e ele o localizou imediatamente. Olhando abismada para a Jedi, deixou que a respiração pesasse. Sem conseguir acreditar, cambaleou para trás e soltou o capacete, que atingiu a neve com um baque surdo.
O sensitivo conseguia enxergá-la e sabia disso. Ele havia encontrado a própria filha e a surpresa era notável em cada músculo do seu rosto. Segurando o sabre com vigor, a garota soltou o ar de uma só vez, tentando segurar o choro.
- Eu já perdi tudo o que tinha mais de uma vez. – disse apesar do nó que se formava na garganta. – Minha família, meus amigos, meu mestre. E eu perdi você.
Mordendo o lábio inferior com força, não conseguiu mais conter as lágrimas, que escorreram como cachoeiras pelo rosto úmido. Buscando um último filete de coragem, o encarou sem desviar e Kylo fez o mesmo.
- Eu não vou perdê-la. – travou o maxilar. – Não vou deixar que tire de mim a única coisa que me restou.
Antes que pudesse reagir, ele a viu vir em sua direção com o sabre-bastão estendido. Estava furiosa, mas o homem entendia a razão. Era apenas uma mãe defendendo seu filho, tentando salvá-lo da escuridão e ele não poderia pará-la. Ainda perturbado com o que acabara de descobrir, ativou sua arma no último segundo para se defender, mas ela usava toda a sua energia e velocidade.
Com destreza, segurou o sabre com as duas mãos e girou, usando as duas extremidades para atacá-lo. Ele nunca a tinha visto assim. A determinação em seu olhar era diferente da forma gentil como sempre o encarava, mesmo após deixá-la para trás. A Jedi usava toda habilidade para derrotá-lo e quando percebeu que não conseguiria mais se defender, Kylo ergueu a mão livre e usou a Força para lançá-la para longe.
voou por alguns metros antes de recobrar os sentidos e pousar suavemente. Respirando pelo nariz, ergueu a mão direita até o teto e fez com que algumas estacas de gelo se desprendessem e viessem em sua direção. As estacam pontiagudas pararam à sua frente e lentamente as virou na direção do homem, que a encarava incrédulo.
Quando os projeteis vieram em seu encontro numa velocidade alarmante, Kylo Ren discerniu algo. Aquela não era a mulher que amava, ela estava se tornando outra coisa. Algo que ele quis que se tornasse por muito tempo. Mas por que agora desejava que não? Enquanto destruía o gelo com a espada, tinha a plena certeza de que todo o medo que a dominava a faria se tornar como ele e de uma forma ou outra perderia sua criança para a escuridão.
Ao perceber que seu ataque não surtira efeito, urrou e correu até ele, que foi ao seu encontro. Enquanto a ventania soprava do lado externo, a única coisa audível ali dentro era o ruído dos sabres chocando-se com violência. A mulher estava cega e Kylo se aproveitou disse para desarmá-la. Girou o sabre contra o bastão e o fez pender para o chão. Em seguida, usou os poderes e a obrigou a largar a arma, que deslizou pela neve.
olhou desacreditada para o objeto que se afastava, o que a deixou com ainda mais raiva. Voltando-se para Kylo, usou a Força para paralisar o braço que segurava o sabre e então o tomou para si, não deixando tempo para reações. Quando o segurou, o girou uma vez antes de apontá-lo para pescoço dele. Num derradeiro movimento de defesa, ele ergue sua mão, agarrando seu pulso. Imediatamente, a energia dos dois corpos se agitou e por um momento foi como se tivessem se tornado um.
Com suas mentes conectadas, os jovens não puderam evitar a imagem que seus olhos compartilharam. Após um clarão, viram-se em meio a um campo repleto de flores. Era estranho, pois sabiam que não eram eles realmente, mas sim como poderiam ser no futuro.
- Mamãe, papai! – de repente uma voz os chamou com urgência e os dois olharam para lá.
A garotinha de cabelos negros corria em meio à vegetação e uma coroa de flores enfeitava seus fios escuros. Quando parou perto dos pais, o homem se abaixou em sua frente para que pudesse ficar de sua altura e os olhos brilhantes o fitaram.
- O que trouxe para nós dessa vez? – perguntou com carinho.
- Vejam o que aprendi a fazer! – a menina respondeu entusiasmada.
Então abriu a pequena mão, revelando a flor cor de rosa. Fechando os olhos, fez com que o objeto levitasse até sua mãe, que a pegou com um sorriso orgulhoso. Em seguida, sorriu para eles e voltou a correr para longe com os braços abertos, deixando que o vento sacudisse seus cabelos.
No momento em que a figura da garota se afastando perdeu-se em meio a uma nova onda de luz, olhou para Ben, percebendo que ainda mantinha a lâmina apontada para o seu pescoço. Havia parado seu ataque apenas por conta da visão repentina. Assustada com as próprias ações, deu dois passos para trás, largando o sabre sem pensar duas vezes.
Estava tão atordoada que apenas sentiu que o homem ainda a segurava pelo braço quando ele a largou, caindo de joelhos num só baque. Voltando a encará-lo, franzindo o cenho, pois em todos os anos após terem se separado, jamais imaginou que o veria com lágrimas nos olhos. Enquanto travava o maxilar, o líquido deslizou singelo pela pele pálida e suada graças ao esforço.
- Eu a vi... – ele murmurou e a Jedi percebeu que tremia. – Eu a vi... E ela é tão linda!
Ao ouvir suas palavras, a mulher permitiu que as próprias lágrimas escorressem. Abaixando-se em sua frente, pegou sua mão direita e a envolveu com as suas, levando-a até seus lábios.
- Sim, ela é! – sussurrou de volta e então encostou suas testas.
Continuaram naquela mesma posição por um tempo incalculável, compartilhando a mesma dor e os mesmos sentimentos. Os corações pulsavam em harmonia como se soubessem exatamente em qual ritmo bater e as respirações próximas se misturavam tornando-se praticamente uma. Quando a mão livre do jovem tocou seu rosto, a garota fechou os olhos e suspirou.
imaginou por muitos anos como aquele momento seria. Como seria sentir a luz dentro de Ben Solo subjugar sua escuridão e assim voltar a brilhar plenamente. Pensou onde poderiam estar e até as circunstâncias. Todavia, nada chegou nem perto do que vivenciava naquele instante. Não sabia que palavras usar, mesmo que tivesse desejado aquele momento por boa parte de sua vida.
Um dos motivos para permanecer no caminho Jedi foi justamente salvá-lo das trevas. Ainda assim, teve forças apenas para lançasse em seu pescoço, abraçando-o com todo o amor que ainda guardava. Ao sentir seus braços em volta de sua cintura a trazendo para mais perto, escondeu o rosto no ombro largo, chorando copiosamente.
- Me desculpe por deixá-lo. – disse entre os soluços. – Eu havia feito uma promessa, mas falhei.
- Você sempre esteve aqui por mim. – o homem a apertou mais contra si. – Durante todo esse tempo foi a única que cumpriu o que disse. Agora eu farei o mesmo.
Saindo do abraço, a o olhou nos olhos e sorriu automaticamente. O brilho dos orbes negros que tanto conhecia estava regressando. Ben Solo estava ressurgindo e seu coração se aqueceu diante daquele fato.
Ainda na mesma posição, a Jedi deixou o sorriso morrer ao ouvir algo em sua mente. Arfou ao reconhecer a contato que Rey fazia e ela parecia estar em apuros.
- Precisamos ir. – o encarou com urgência.
Ben entendeu e então se ergueram ao mesmo tempo. olhou ao redor, buscando seu sabre e ao avistá-lo, esticou a mão e o trouxe até si. Ele a imitou, levantando o braço até a própria espada, porém, para a surpresa dela, o sensitivo usou a Força para enterrá-la cada vez mais no gelo. A ação foi rápida, mas suficiente para que o objeto fosse perdido de vista. Trocando um último olhar, finalmente, deixaram a caverna indo de encontra à outra Jedi.
Correram pelo planeta gelado, tentando enxergar em meio ao vento que soprava com violência. Não tardaram a encontrar a garota de Jakku e a cena que avistaram foi interessante. A nova Jedi havia atraído os cavaleiros de Ren para a parte congelada do lago que permanecia intacta. Os homens formavam um círculo ao seu redor e pelos machucados da garota, eles estavam lhe dando certo trabalho.
Rey os sentiu antes que os inimigos os vissem e no começo não conseguiu acreditar. Na realidade, não poderia digerir a ideia de Ben Solo estar acompanhando sua mestra, lado a lado. Todavia, não havia tempo para pensar, assim, rapidamente fez um pedido. Ben e o entenderam no mesmo segundo e, sem diminuir a corrida, chegaram até a beirada no lago.
Aquele foi o tempo suficiente para que fossem notados, porém, estavam preparados. Parando de uma vez, ergueram as mãos na direção do gelo e usaram suas habilidades contra ele. No segundo que a estrutura cedeu, Rey deu um salto na Força e levitou, girando uma vez no ar, antes de pousar no solo firme. No mesmo momento, os homens vestidos de preto afundaram nas águas congelantes, não deixando para trás nenhum vestígio.
Com a respiração pesada, se virou para os dois e foi até eles mantendo o sabre ativo. Não sabia bem como agir.
- Ben?! – ergueu as sobrancelhas, curiosa.
- É uma longa história. – ele acenou a cabeça uma vez. – Antes, vamos sair daqui.
Concordando com as palavras do filho de Leia, os três correram até a nave da mestra Jedi. Sabiam que os cavaleiros conseguiriam escapar de alguma forma, assim usaram o tempo restante para escapar. Adentraram o veículo e se dirigiram à cabine de comando. As duas foram aos seus lugares, acionando os comandos da nave. Antes de entrar em modo de hiperpropulsão olhou para Ben, parado a certa distância. Trocaram um breve sorriso e então a mulher voltou a olhar para frente. Em segundos, deixaram Ilum para trás.
No segundo que conectou com Rey e viu o cristal Kyber em sua mão, soube exatamente onde a garota estava. Ilum era o local aonde praticamente todos os padawans iam com seus mestres para que pudessem construir o próprio sabre de luz. Havia sido assim em seu caso quando ainda era um dos alunos de Luke. O planeta era coberto por grandes geleiras e nevascas eram comuns, assim como o forte vento e as nuvens densas que quase não permitiam que a luz do sol penetrasse.
Por um momento, pensou que a sucateira estivesse sozinha, porém, ficou visivelmente perturbado ao perceber que não. estava com ela e, pelo que parecia, era sua nova mestra. No momento não conseguiu digerir muito bem a informação, afinal, nunca esperaria vê-la daquela maneira. As vestimentas eram as típicas de um Jedi, assim como o sabre. Todavia, a expressão da mulher carregava certo terror. Algo que nunca vira nela antes.
Soltando o ar pelos lábios entreabertos, deus as costas para o espelho e foi até o capacete que ficava sobre uma plataforma num canto do seu quarto. Pegando-o, analisou o metal negro antes de finalmente colocá-lo, cobrindo o rosto inexpressivo. Por dentro, porém, pensava no que viria. Estava preste a encontrá-la. Sabia que poderiam escapar antes que chegasse, mas precisava tentar contatá-la uma última vez, por isso convocou apenas os cavaleiros de Ren para acompanhá-lo. Ninguém precisaria saber o que pretendia fazer.
Como derradeiro preparativo, pegou o sabre e prendeu à cintura, deixando seus aposentos. Enquanto percorria o corredor até sua nave, o pensamento de que aquele encontro seria decisivo para ambos pairava em sua mente. De uma maneira ou de outra aquele assunto seria finalizado. Ou vinha para seu lado ou então morreria com todo o restante da escória rebelde, começando pela garota de Jakku.
Não demorou a estar na pista de decolagem e os outros cavaleiros já estavam à sua espera. Sem dizer uma só palavra, adentrou o veículo e os homens que também utilizavam capacetes pretos, o seguiram segurando suas armas de combate. Não demoraram a decolar, seguindo na direção de Ilum.
- Supremo Líder, vamos entrar em modo de hiperpropulsão em um minuto. – o piloto anunciou.
- Entendido. – Kylo disse apenas, sentando-se em sua poltrona ao centro.
- Entrando em modo de hiperpropulsão em três, dois, um... – o mesmo cavaleiro disse antes de acionar a alavanca.
Passando de um lado a outra da galáxia em instantes, Kylo Ren sequer notou os feixes de luz que brilhavam contra o vidro das janelas. Seu objetivo era apenas enxergar o planeta de gelo e quando este foi encontrado, ergueu-se, aproximando-se mais para poder enxergá-lo melhor.
- Em quanto tempo estaremos lá embaixo? – perguntou com a voz tipicamente metalizada.
- Em pelo menos cinco minutos, senhor. – o piloto respondeu, acionando alguns botões.
O homem permaneceu parado com as mãos cruzadas para trás. Seus olhar, ainda que ocultado pela máscara, mantinha-se fixado no globo esbranquiçado. Da última vez que estivera ali era um seguidor do lado luminoso, mas agora a situação era outra. Ele não era mais um garotinho assustado que não sabia qual o seu verdadeiro lugar. Era o Supremo Líder e logo teria domínio sobre toda a galáxia.
corria a todo vapor, buscando alcançar sua nave. Rey a seguia a poucos passos de distância e as duas usavam seus sabres para iluminar o caminho. O vento soprava furioso e dificultava a vida das duas Jedi, que tentavam manter a todo custo seus capuzes sobre a cabeça. A sabia que não deveria se esforçar tanto, porém, não havia escolha.
Com poucos quilômetros de distância o som da nave de Kylo Ren pousando sobre o solo coberto de neve tornou-se mais audível. Em breve ele estaria em busca delas e não seria difícil encontrá-las. A caverna para onde levou Rey era a mesma que Luke usara com seus aprendizes e Ben sabia muito bem por onde ir para localizá-la.
- Por aqui! – gritou para a mais nova, indicando um novo caminho.
- É um atalho? – quis saber sem diminuir a velocidade.
- Sim. – respondeu, já ofegante. – Talvez ganhemos um pouco mais de tempo.
Sem duvidar de sua mestra, a garota a seguiu e logo estavam traçando uma nova rota que as levaria ao mesmo destino. Correram mais alguns minutos até que parou subitamente, obrigando a outra a imitá-la.
- O que houve? – questionou confusa.
- Isso... Não estava nos planos. - com a respiração pesada, apontou para o chão à frente.
Apertando os olhos, Rey enxergou o que lhe era mostrado. Seguindo-se além da luz dos sabres, um lago congelado tomava boa parte do ambiente. Era largo e não haveria como circundá-lo. Fechando os olhos, respirou fundo. Deveriam ter continuado pelo caminho correto.
- Vamos voltar. – murmurou.
- Não, não temos tempo. – Rey a encarou surpresa. – Ele já deve estar aqui.
Baixando a cabeça, a mulher abraçou o próprio corpo e se ajoelhou. Por que estava tão dispersa? Que tipo de mestra era quando nem sequer sabia conduzir sua aprendiz sem colocá-la em perigo? Tentando não sucumbir ao desespero, concentrou-se, iniciando uma breve meditação. Olhou apenas para a Força. Lentamente, seu coração acelerado se acalmou e seus membros trêmulos voltaram ao normal.
Naquele instante, buscou a força de vontade para seguir em frente não demorando a senti-la em todo seu corpo. Abrindo as pálpebras fitou a amiga e então se ergueu. Com a respiração muito mais leve, balançou a cabeça uma vez e ela entendeu. Estava pronta para continuar. Juntas, viraram-se para o lago e deram o primeiro passo. O gelo trincou levemente, mas nada que causasse medo. Assim, seguiram passo a passo com os sabres de luz ativados.
Avançando, não encontraram nada que as impedisse. Na metade do caminho Rey parou de repente e olhou para o nada. Virando-se, franziu o cenho.
- Rey, o que houve? – questionou, recebendo atenção.
- Ele sabe que mudamos de caminho... – disse abismada. – E está vindo pra cá.
Enquanto falava, sem querer, a ex-aprendiz deixou que o sabre pendesse, fazendo com que a lâmina amarela encostasse no gelo. Foi por um milésimo de segundo, mas o suficiente para que este começasse a trincar. Quando as jovens sentiram o perigo, encararam-se e sem que ninguém mandasse, começaram a correr com todo o fôlego que tinham. Ao mesmo tempo, o espelho de água congelada começava a partir-se, seguindo suas pegadas.
O ruído do gelo se quebrando em pedaços era semelhante ao de vidro sendo estilhaçado e em questão de segundos as rachaduras as alcançaram. Estavam quase chegando a outra margem e num último gesto de bravura, empurrou Rey com seus poderes, tirando-a de perigo. Entretanto, antes de pisasse em solo estável, foi pega pela rachadura e gritou antes que seu corpo mergulhasse de uma só vez na água congelante.
- ! – Rey berrou, ajoelhando-se próximo ao buraco formado, sacudindo a água com a mão livre. – , pegue a minha mão!
A mulher conseguia ouvi-la. Não tão bem, pois o líquido e camada de gelo serviam como um isolante. Seus chamados eram mais como um murmúrio distante e a única coisa que via era o brilho do sabre dela, lhe servindo como guia. Prendendo a respiração com facilidade, tentou ignorar o frio mortal que praticamente rasgava seus músculos e começou a nadar na direção da luminosidade.
Estava perto, quase pegando a mão de Rey quando ouviu outra voz lhe chamar. Assustada, virou-se para trás e não viu nada, apenas escuridão. Confusa, voltou a nadar, conseguindo distinguir a mão da outra. Porém, antes que a segurasse, uma imagem cobriu seus olhos e a voz voltou como se estivesse dentro de sua cabeça.
- Mamãe, mamãe! – uma garotinha de cabelos negros gritava, tentando segurar sua mão. – Eu não quero ir, quero ficar com você, por favor!
As palavras se repetiam vez após, assim como a imagem da menina que ela soube ser sua filha. Não havia como duvidar, não quando aqueles olhos lhe fitavam com tanto medo.
Em choque, largou o próprio sabre e não soube mais para onde ia. Pensou que não conseguiria sair dali nunca mais, mas então seu pulso foi agarrado e puxado para fora. Com toda a força que tinha Rey a tirou da água, a levando para fora da zona de perigo. Retirando a própria capa, a enrolou, pois tremia violentamente.
- Eu peguei você, está tudo bem agora. – murmurou, tentando prender as lágrimas ao ver a amiga naquele estado. – Vamos sair daqui.
- Obrigada... – agradeceu ainda que seu queixo tremesse.
- Onde está seu sabre? – perguntou ao vê-la sem o objeto.
- Lá embaixo. – apontou para o lago com a cabeça.
As garotas não tiveram mais oportunidade de trocar palavras, pois logo ouviram passadas contra o chão. Na realidade, antes mesmo que as ouvissem, puderam sentir o homem que se aproximava com os cavaleiros de Ren. Olhando para trás, o viram surgir em meio à ventania com a capa negra balançando. Usava o capacete e vinha à frente dos outros, que logo também foram vistos.
- Ora, ora... – Kylo tirou o sabre do cinto. – Veja só quem finalmente encontramos.
No momento que ativou sua arma, a lâmina vermelha brilhou, deixando o lugar com um aspecto sombrio. Determinada a proteger a amiga, Rey se ergueu e ativou o próprio sabre-bastão, assumindo uma posição de combate.
- É melhor não se aproximar. – o ameaçou.
- Então quer dizer que agora acha que é uma Jedi. – o Supremo Líder desdenhou. – Saiba que isso não fará nenhuma diferença, pois continuará sendo uma ninguém.
- Você não sabe de nada! – gritou furiosa.
observava tudo sentada no chão. Respirando pesadamente, usava a Força para tentar normalizar sua temperatura antes que tivesse uma hipotermia. Um pouco melhor, ergueu a mão na direção do lago e chamou seu sabre que em segundos obedeceu a seu comando, quebrando uma parte do gelo antes de alcançar seus dedos. A ação chamou a atenção dos presentes, especialmente quando se levantou, parando ao lado de Rey.
- O que está fazendo? Eu cuido disso! – a novata a repreendeu.
- Não se preocupe comigo. – não olhou para ela enquanto falava, mas sim para Kylo. – Eu tenho uma questão a resolver.
Rey entendeu o que sua mestra quis dizer e sabia que não deveria interferir. tinha algo pessoal a resolver com Kylo Ren e o futuro da filha deles dependia disso. Lado a lado, assumiram suas posições de luta, mostrando que não queriam mais conversas.
- Acabem com a sucateira. – o Supremo Líder ordenou. – A Jedi é minha!
Semicerrando os olhos, a correu em sua direção. Ele esperou que chegasse para erguer sua arma e defender o golpe que veio forte. Enquanto Rey era cercada pelos cavaleiros de Ren, os dois afastavam-se cada vez mais, lutando com os nervos à flor da pele. Não era a primeira vez que batalhavam, mas agora era diferente. Da primeira vez, a mulher tentou convencê-lo a não ir com Snoke. Agora, lutava para proteger o seu bem mais precioso. Mesmo que precisasse feri-lo. Ainda que precisasse matá-lo.
Quando o pensamento radical tomou sua mente, deu um passo hesitante para trás e suas mãos perderam um pouco da força. O que estava pensando? Que tipo de Jedi era para cogitar aquele ato? Onde estava sua esperança? Com a confusão em sua mente, não teve como se defender do golpe que atingiu seu ombro de raspão, arrancando-lhe um grito.
Voltando à realidade, afastou-se ainda mais dele e olhou para Rey. Apesar de enfrentar seis pessoas ela se saía bem e, por mais que quisesse ir a seu auxílio, sabia que Ben não a deixaria passar. Mordendo os lábios, pensou por um pouco e então se virou, correndo para longe dali. Imediatamente foi seguida e era isso que esperava. Continuando, viu uma nova caverna de gelo e entrou. Essa era um pouco menor, mas também se estendia mais para dentro.
Após adentrar alguns metros, parou e se virou para ele. A espada vermelha não a fez temer, abaixando assim o próprio sabre e o usando apenas para iluminar o lugar. Kylo percebeu que ela não estava mais em posição de combate e estranhou a atitude.
- Está se rendendo? - a pergunta veio carregada de sarcasmo.
- Antes de falar comigo, tire essa coisa. – praticamente cuspiu as palavras.
A encarou por alguns instantes antes de, finalmente, desativar o sabre e colocá-lo no cinto. Quando retirou o capacete, os fios escuros caíram sobre a testa e a garota arfou. Aquele era o rosto do homem que amava, apenas não sabia se ele ainda existia.
- Por que nos trouxe aqui? – o rapaz questionou.
- Porque temos algo a resolver. – falou firme. – Algo muito importante.
- Só há um jeito de resolvermos nossa questão e sabe qual é. – ressaltou, dando dois passos até ela.
- Ainda quer que eu vá com você. – murmurou, sacudindo a cabeça negativamente. – Mas isso não tem a ver com nós dois.
O antigo aprendiz de Luke Skywalker franziu o cenho em confusão ao ouvir aquelas palavras e continuou a encará-la quando esta fechou os olhos. Porém, quando voltou a senti-la por meio da Força, soube que ela estava desbloqueando sua mente. Quando os orbes voltaram a fitá-lo, engoliu seco.
- Em toda essa história, nós somos os que menos importam, Ben. – falou com calma.
- E o que mais importa? – indagou, não tardando a receber sua resposta.
sequer abriu a boca, ainda assim, ele foi capaz de sentir algo a mais na Força. Era como um pequeno feixe de luz que brevemente escurecia, mas logo voltava a brilhar plenamente e ele o localizou imediatamente. Olhando abismada para a Jedi, deixou que a respiração pesasse. Sem conseguir acreditar, cambaleou para trás e soltou o capacete, que atingiu a neve com um baque surdo.
O sensitivo conseguia enxergá-la e sabia disso. Ele havia encontrado a própria filha e a surpresa era notável em cada músculo do seu rosto. Segurando o sabre com vigor, a garota soltou o ar de uma só vez, tentando segurar o choro.
- Eu já perdi tudo o que tinha mais de uma vez. – disse apesar do nó que se formava na garganta. – Minha família, meus amigos, meu mestre. E eu perdi você.
Mordendo o lábio inferior com força, não conseguiu mais conter as lágrimas, que escorreram como cachoeiras pelo rosto úmido. Buscando um último filete de coragem, o encarou sem desviar e Kylo fez o mesmo.
- Eu não vou perdê-la. – travou o maxilar. – Não vou deixar que tire de mim a única coisa que me restou.
Antes que pudesse reagir, ele a viu vir em sua direção com o sabre-bastão estendido. Estava furiosa, mas o homem entendia a razão. Era apenas uma mãe defendendo seu filho, tentando salvá-lo da escuridão e ele não poderia pará-la. Ainda perturbado com o que acabara de descobrir, ativou sua arma no último segundo para se defender, mas ela usava toda a sua energia e velocidade.
Com destreza, segurou o sabre com as duas mãos e girou, usando as duas extremidades para atacá-lo. Ele nunca a tinha visto assim. A determinação em seu olhar era diferente da forma gentil como sempre o encarava, mesmo após deixá-la para trás. A Jedi usava toda habilidade para derrotá-lo e quando percebeu que não conseguiria mais se defender, Kylo ergueu a mão livre e usou a Força para lançá-la para longe.
voou por alguns metros antes de recobrar os sentidos e pousar suavemente. Respirando pelo nariz, ergueu a mão direita até o teto e fez com que algumas estacas de gelo se desprendessem e viessem em sua direção. As estacam pontiagudas pararam à sua frente e lentamente as virou na direção do homem, que a encarava incrédulo.
Quando os projeteis vieram em seu encontro numa velocidade alarmante, Kylo Ren discerniu algo. Aquela não era a mulher que amava, ela estava se tornando outra coisa. Algo que ele quis que se tornasse por muito tempo. Mas por que agora desejava que não? Enquanto destruía o gelo com a espada, tinha a plena certeza de que todo o medo que a dominava a faria se tornar como ele e de uma forma ou outra perderia sua criança para a escuridão.
Ao perceber que seu ataque não surtira efeito, urrou e correu até ele, que foi ao seu encontro. Enquanto a ventania soprava do lado externo, a única coisa audível ali dentro era o ruído dos sabres chocando-se com violência. A mulher estava cega e Kylo se aproveitou disse para desarmá-la. Girou o sabre contra o bastão e o fez pender para o chão. Em seguida, usou os poderes e a obrigou a largar a arma, que deslizou pela neve.
olhou desacreditada para o objeto que se afastava, o que a deixou com ainda mais raiva. Voltando-se para Kylo, usou a Força para paralisar o braço que segurava o sabre e então o tomou para si, não deixando tempo para reações. Quando o segurou, o girou uma vez antes de apontá-lo para pescoço dele. Num derradeiro movimento de defesa, ele ergue sua mão, agarrando seu pulso. Imediatamente, a energia dos dois corpos se agitou e por um momento foi como se tivessem se tornado um.
Com suas mentes conectadas, os jovens não puderam evitar a imagem que seus olhos compartilharam. Após um clarão, viram-se em meio a um campo repleto de flores. Era estranho, pois sabiam que não eram eles realmente, mas sim como poderiam ser no futuro.
- Mamãe, papai! – de repente uma voz os chamou com urgência e os dois olharam para lá.
A garotinha de cabelos negros corria em meio à vegetação e uma coroa de flores enfeitava seus fios escuros. Quando parou perto dos pais, o homem se abaixou em sua frente para que pudesse ficar de sua altura e os olhos brilhantes o fitaram.
- O que trouxe para nós dessa vez? – perguntou com carinho.
- Vejam o que aprendi a fazer! – a menina respondeu entusiasmada.
Então abriu a pequena mão, revelando a flor cor de rosa. Fechando os olhos, fez com que o objeto levitasse até sua mãe, que a pegou com um sorriso orgulhoso. Em seguida, sorriu para eles e voltou a correr para longe com os braços abertos, deixando que o vento sacudisse seus cabelos.
No momento em que a figura da garota se afastando perdeu-se em meio a uma nova onda de luz, olhou para Ben, percebendo que ainda mantinha a lâmina apontada para o seu pescoço. Havia parado seu ataque apenas por conta da visão repentina. Assustada com as próprias ações, deu dois passos para trás, largando o sabre sem pensar duas vezes.
Estava tão atordoada que apenas sentiu que o homem ainda a segurava pelo braço quando ele a largou, caindo de joelhos num só baque. Voltando a encará-lo, franzindo o cenho, pois em todos os anos após terem se separado, jamais imaginou que o veria com lágrimas nos olhos. Enquanto travava o maxilar, o líquido deslizou singelo pela pele pálida e suada graças ao esforço.
- Eu a vi... – ele murmurou e a Jedi percebeu que tremia. – Eu a vi... E ela é tão linda!
Ao ouvir suas palavras, a mulher permitiu que as próprias lágrimas escorressem. Abaixando-se em sua frente, pegou sua mão direita e a envolveu com as suas, levando-a até seus lábios.
- Sim, ela é! – sussurrou de volta e então encostou suas testas.
Continuaram naquela mesma posição por um tempo incalculável, compartilhando a mesma dor e os mesmos sentimentos. Os corações pulsavam em harmonia como se soubessem exatamente em qual ritmo bater e as respirações próximas se misturavam tornando-se praticamente uma. Quando a mão livre do jovem tocou seu rosto, a garota fechou os olhos e suspirou.
imaginou por muitos anos como aquele momento seria. Como seria sentir a luz dentro de Ben Solo subjugar sua escuridão e assim voltar a brilhar plenamente. Pensou onde poderiam estar e até as circunstâncias. Todavia, nada chegou nem perto do que vivenciava naquele instante. Não sabia que palavras usar, mesmo que tivesse desejado aquele momento por boa parte de sua vida.
Um dos motivos para permanecer no caminho Jedi foi justamente salvá-lo das trevas. Ainda assim, teve forças apenas para lançasse em seu pescoço, abraçando-o com todo o amor que ainda guardava. Ao sentir seus braços em volta de sua cintura a trazendo para mais perto, escondeu o rosto no ombro largo, chorando copiosamente.
- Me desculpe por deixá-lo. – disse entre os soluços. – Eu havia feito uma promessa, mas falhei.
- Você sempre esteve aqui por mim. – o homem a apertou mais contra si. – Durante todo esse tempo foi a única que cumpriu o que disse. Agora eu farei o mesmo.
Saindo do abraço, a o olhou nos olhos e sorriu automaticamente. O brilho dos orbes negros que tanto conhecia estava regressando. Ben Solo estava ressurgindo e seu coração se aqueceu diante daquele fato.
Ainda na mesma posição, a Jedi deixou o sorriso morrer ao ouvir algo em sua mente. Arfou ao reconhecer a contato que Rey fazia e ela parecia estar em apuros.
- Precisamos ir. – o encarou com urgência.
Ben entendeu e então se ergueram ao mesmo tempo. olhou ao redor, buscando seu sabre e ao avistá-lo, esticou a mão e o trouxe até si. Ele a imitou, levantando o braço até a própria espada, porém, para a surpresa dela, o sensitivo usou a Força para enterrá-la cada vez mais no gelo. A ação foi rápida, mas suficiente para que o objeto fosse perdido de vista. Trocando um último olhar, finalmente, deixaram a caverna indo de encontra à outra Jedi.
Correram pelo planeta gelado, tentando enxergar em meio ao vento que soprava com violência. Não tardaram a encontrar a garota de Jakku e a cena que avistaram foi interessante. A nova Jedi havia atraído os cavaleiros de Ren para a parte congelada do lago que permanecia intacta. Os homens formavam um círculo ao seu redor e pelos machucados da garota, eles estavam lhe dando certo trabalho.
Rey os sentiu antes que os inimigos os vissem e no começo não conseguiu acreditar. Na realidade, não poderia digerir a ideia de Ben Solo estar acompanhando sua mestra, lado a lado. Todavia, não havia tempo para pensar, assim, rapidamente fez um pedido. Ben e o entenderam no mesmo segundo e, sem diminuir a corrida, chegaram até a beirada no lago.
Aquele foi o tempo suficiente para que fossem notados, porém, estavam preparados. Parando de uma vez, ergueram as mãos na direção do gelo e usaram suas habilidades contra ele. No segundo que a estrutura cedeu, Rey deu um salto na Força e levitou, girando uma vez no ar, antes de pousar no solo firme. No mesmo momento, os homens vestidos de preto afundaram nas águas congelantes, não deixando para trás nenhum vestígio.
Com a respiração pesada, se virou para os dois e foi até eles mantendo o sabre ativo. Não sabia bem como agir.
- Ben?! – ergueu as sobrancelhas, curiosa.
- É uma longa história. – ele acenou a cabeça uma vez. – Antes, vamos sair daqui.
Concordando com as palavras do filho de Leia, os três correram até a nave da mestra Jedi. Sabiam que os cavaleiros conseguiriam escapar de alguma forma, assim usaram o tempo restante para escapar. Adentraram o veículo e se dirigiram à cabine de comando. As duas foram aos seus lugares, acionando os comandos da nave. Antes de entrar em modo de hiperpropulsão olhou para Ben, parado a certa distância. Trocaram um breve sorriso e então a mulher voltou a olhar para frente. Em segundos, deixaram Ilum para trás.
Capítulo 6
A pequena nave flutuava em meio à imensidão do espaço, rumando para Ahch-To. Rey havia assumido o controle do veículo enquanto trocava suas roupas ainda úmidas e Ben era seu copiloto. Não haviam trocado uma palavra sequer, afinal, nenhum deles saberia como iniciar uma conversa. A jedi o encarou de soslaio e ele permanecia concentrado à frente, nas estrelas. Suspirando, ela decidiu quebrar o gelo, pois detestava ficar em lugares muito silenciosos por muito tempo.
- Então você é mesmo Ben Solo? – questionou e logo ganhou a atenção dele.
- Que tipo de pergunta seria essa? – franziu o cenho.
- Eu nunca o conheci antes, então não sei o que esperar. – balançou os ombros uma vez. – Percebi que confia plenamente em você agora, mas as coisas não são tão simples.
- Sei que não. – rebateu sem alterar o tom de voz.
- Bem... Parece que Ben Solo não gosta de discussões. – disse pensativa, mas logo voltou a mirá-lo. – Eu acredito na sua redenção, afinal mestre Luke também achava ser possível. Mas existem os outros membros da Resistência e eles podem não ser tão amigáveis.
- Seria estranho se fossem. – suspirou cansado. – Mas não se preocupe, eu posso lidar com isso.
- Sabe que não está mais sozinho, não é? – a garota ressaltou. – Tem uma família agora.
Ben permaneceu calado, pensando no que Rey acabara de dizer. Quando abandonou o caminho Jedi e foi até Snoke, achou que estava finalmente encontrando seu lugar. Quando se tornou o Supremo Líder, pensou que tinha quase tudo o que precisava e para ele dominar a galáxia seria uma questão de tempo.
Mas agora, com a mente limpa, conseguia enxergar o quão enganado estava. Era apenas um fantoche na mão de um ser desprezível e foi usado para machucar pessoas inocentes. Pessoas que amava. Fechando os olhos, recordou-se nitidamente da face da sua família. Seu pai o ensinando a usar uma blaster, seu tio lhe auxiliando com paciência na construção do próprio sabre. E havia também sua mãe. Por pouco não perdera Leia também e apenas cogitar essa situação era suficiente para abrir mais uma rachadura em seu coração.
Abrindo as pálpebras, voltou a fitar a Jedi que analisava alguns dados no painel de controle. Respirando fundo, criou coragem para dizer o que sabia que não diria depois.
- Obrigado... – pigarreou meio sem jeito.
- Eu ouvi mesmo isso? – ela o encarou sem acreditar.
- Sim, você ouviu. – continuou agora num volume mais alto. – Sei que não temos uma história muito boa, mas agradeço por nos ajudar.
- É dever de um Jedi nunca perder as esperanças. – sorriu. – Toda essa conexão tinha um objetivo. Eu sabia que deveria ter. Mas nada é mais forte na galáxia do que o que vocês dois têm e saber que pude ajudar é suficiente pra mim.
Seguindo viagem, os jovens não demoraram a avistar o planeta coberto de água. havia voltado para a cabine de comando e Ben até o quarto se livrar de suas antigas vestes. Removeu tudo, ficando apenas com a calça, a camiseta de mangas longas e as botas negras. Embolando o que restou, deixou num canto, resolvido a queimar as vestimentas assim que tivesse oportunidade.
Levemente perturbado por conta da mudança tão repentina, sentiu quando a nave pousou, causando em seu corpo uma sensação que não tinha há tempos. A ansiedade o consumia sem pena. Levando as mãos aos fios, os jogou para trás antes de se sentar sobre o colchão fino. Não soube quantos minutos permaneceu paralisado. Só quando ouviu batidas na porta é que despertou, olhando para lá.
disse que entraria e apertou um dos botões para abrir a porta automática. Assim que entrou, o encontrou sentado em sua cama. Ao perceber seu olhar transtornado, o sorriso que carregava sumiu. Fechou a porta e foi até ele, abaixando em sua frente.
- Ben, o que houve? – apoiou as mãos em seus joelhos.
- Nada... Eu só... – passou as mãos no rosto. – Aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo e preciso digerir todas elas.
Sensibilizada, a mulher levou a mão até o rosto dele, do lado da cicatriz. O toque foi suficiente para que ele a encarasse fixamente. Sem mais palavras se inclinou até ela e a beijou. Um beijo singelo, puro, que falava tudo o que não conseguiram dizer pelo tempo que permaneceram separados. Quando se separaram, a Jedi se ergueu e sentou ao seu lado, encostando suas testas. Imediatamente, o homem sentiu quando se conectaram.
- Está tudo bem agora. – sua voz ecoava serena – Apenas fique conosco. Não por mim, mas por ela. Salve nossa filha do futuro que eu vi, por favor.
- Não, não eu... – segurou as mãos dela sem quebrar a conexão mental. - Você já a salvou.
- Ben... – mordeu o lábio inferior.
- E me salvou também... – deu um mínimo sorriso. – De maneiras que não consigo explicar.
Finalmente se afastaram e de mãos dadas se levantaram. Antes que pudessem sair do quarto, parou e o beijou mais uma vez. Foi rápido, mas suficiente para que ele sorrisse e isso foi gratificante. Voltando à cabine, encontraram uma Rey impaciente e de braços cruzados.
- Até que fim! – abriu os braços. – Vamos, os outros já estão nos esperando.
A garota foi na frente, abrindo a saída para eles, que não demoraram a segui-la. Desceram pela rampa e era claro que muitos as esperavam, afinal, Rey havia saído com um objetivo e todos gostariam de saber se o havia completado. Primeiro, as dezenas de rebeldes avistaram a garota de Jakku e ao verem seu novo sabre começaram a tecer comentários entusiasmados.
De repente, todo o burburinho cessou. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor e não precisava adivinhar o motivo. Os presentes olhavam abismados para Ben. Alguns até se afastaram, sem saber o que esperar. Apenas uma pessoa veio até o trio, abrindo espaço na multidão. Quando o rapaz a sentiu, arfou e soltando a mão da Jedi, foi até ela.
Ao parar cara a cara com Leia, Ben permaneceu mudo. Nenhum dos dois disse nada. Para a surpresa de todos, a general ergueu a mão e tocou a face dele, que tremeu ao sentir os dedos quentes sobre a pele.
- Meu filho... – murmurou cheia de emoção. – Meu Ben está de volta!
- Mãe... – sem forças, ajoelhou-se perante Leia e chorou quando as mãos delicadas afagaram seus cabelos.
- Está tudo bem agora, querido. – o consolou. – Você está em casa.
Ainda parada na entrada da nave, observava o momento sem poder conter as lágrimas. Rey também chorava e, um pouco mais afastados, Finn e Poe assistiam tudo pasmados. Apesar daquele belo reencontro, todos sabiam que haviam consequências a serem assumidas e Ben Solo sequer pensou em fugir delas. Não importasse o que decidissem, ele estaria disposto a aceitar. Era o mínimo que poderia fazer depois de todo o mal que causou.
~o~
Os dias seguintes passaram devagar. Pelo menos para o jovem que permanecia confinado nos aposentos da mãe. Após a recepção nada agradável que tiveram, alguns comentários sobre o ocorrido começaram a circular pelo acampamento e Leia achou melhor que ele ficasse ali até que os ânimos se acalmassem.
Sentando no chão com as pernas cruzadas, Ben havia tomado coragem para meditar da maneira Jedi pela primeira vez desde que havia retornado para a luz. Fechou os olhos e esvaziou a mente. Precisava daquele momento de paz interior, especialmente depois de descobrir qual seria sua sentença. Exílio. Ficaria afastado do mundo até que a Resistência achasse ser necessário.
Apesar do futuro desfavorável, não discordou um segundo sequer. Precisava pagar pelos seus pecados. Mesmo merecendo a morte, eles ainda foram compassivos e lhe deram essa opção. Buscando mais concentração, juntou as mãos à frente do peito. No começo não foi tão simples, mas então se lembrou do que aprendera com Luke Skywalker. Sabia que não havia completado o seu treinamento com ele, mas tinha conhecimento suficiente. Logo estava em transe e não soube por quantas horas.
Quando despertou, deparou-se com Leia sentada numa cadeira, o encarando com um leve sorriso. Se levantou e foi até ela, pois desejava saber mais sobre o seu destino.
- Mãe... – parou a poucos passos. – Há quanto tempo está aí?
- Tempo suficiente para sentir como sua luz brilha. – se levantou e estendeu a mão para ele.
- Decidiram mais alguma coisa? – segurou os dedos entre os seus.
- Eles querem testar a sua lealdade. – suspirou e caminhou até.
- Querem informações sobre a Primeira Ordem. – deduziu.
- Antes que parta... – a mulher engoliu seco antes continuar. – Precisamos saber se está do nosso lado.
- Tudo bem. – concordou.
- Ah, meu querido... – o puxou para si num abraço forte. – É uma pena que tenhamos que nos separar mais uma vez.
- Agora é diferente. – riu abafado. – Dessa vez eu ainda sou seu filho e vamos nos ver novamente.
Após ser deixado sozinho outra vez, o sensitivo arrumou os novos pertences que havia ganhando dentro de uma mochila. A deixou num canto e calçou as botas marrons, pois sairia para procurá-la. Desde o dia que receberam a notícia de sua sentença, não aparecera mais e ele já estava preocupado. Arregaçando as mangas da camisa branca, deixou o local.
Sem se importar com os olhares e comentários que recebia, cruzou o acampamento a passos largos, pois tinha pressa. Seguiu pelo terreno íngreme da ilha, escalando as pedras com facilidade. Quando estava sozinho num ponto bem alto, fechou os olhos e a buscou. Ao finalmente achá-la, voltou a caminhar apressado até lá. Alcançou seu destino em poucos minutos e de longe a localizou. Na realidade, a Jedi não tentava se esconder.
Quando o notou, se levantou rapidamente e correu em sua direção, se jogando em seus braços. O abraçou forte, pois teve medo que o homem desaparecesse num piscar de olhos.
- Desse jeito vai me deixar sem ar. – brincou e só então a mulher se tocou da força que usava.
- Me desculpe. – se afastou e sorriu.
- Por que não foi me ver esses dias? – foi direto.
- Eu queria... – desviou o olhar, fitando o horizonte. – Mas depois que soube qual seria o seu destino, fiquei com medo de me despedir.
- Ei... – a segurou pelo pulso, virando-a para si. – Não é para sempre.
- Não sabe disso. – negou com a cabeça.
- Não importa o tempo, essa é a punição que mereço pelos meus erros. – a trouxe para mais perto. – Mas não é um adeus e sabe por quê.
- Por quê? – ergueu as sobrancelhas.
- Fizemos a promessa de sempre estar juntos. – passou os braços em sua cintura. – E isso não são só palavras, é algo muito maior. Vamos continuar juntos, mesmo que a distância de uma galáxia nos separe. Desde que lutou por mim até o derradeiro segundo, eu soube disso.
- Ben... – sussurrou, se aninhando em seu peitoral. - Eu te amo tanto!
- Eu sei. – beijou a testa dela. – Eu também te amo.
Ficaram ali parados, aproveitando o calor que emanavam. Não sabiam quanto mais tempo teriam para desfrutar de momentos como aquele, por isso, enquanto a brisa soprava, se esqueceram de tudo ao redor. O mais importante era saber que, mesmo após tudo o que ocorreu, as palavras haviam sido cumpridas e estariam juntos onde quer que fossem.
- Então você é mesmo Ben Solo? – questionou e logo ganhou a atenção dele.
- Que tipo de pergunta seria essa? – franziu o cenho.
- Eu nunca o conheci antes, então não sei o que esperar. – balançou os ombros uma vez. – Percebi que confia plenamente em você agora, mas as coisas não são tão simples.
- Sei que não. – rebateu sem alterar o tom de voz.
- Bem... Parece que Ben Solo não gosta de discussões. – disse pensativa, mas logo voltou a mirá-lo. – Eu acredito na sua redenção, afinal mestre Luke também achava ser possível. Mas existem os outros membros da Resistência e eles podem não ser tão amigáveis.
- Seria estranho se fossem. – suspirou cansado. – Mas não se preocupe, eu posso lidar com isso.
- Sabe que não está mais sozinho, não é? – a garota ressaltou. – Tem uma família agora.
Ben permaneceu calado, pensando no que Rey acabara de dizer. Quando abandonou o caminho Jedi e foi até Snoke, achou que estava finalmente encontrando seu lugar. Quando se tornou o Supremo Líder, pensou que tinha quase tudo o que precisava e para ele dominar a galáxia seria uma questão de tempo.
Mas agora, com a mente limpa, conseguia enxergar o quão enganado estava. Era apenas um fantoche na mão de um ser desprezível e foi usado para machucar pessoas inocentes. Pessoas que amava. Fechando os olhos, recordou-se nitidamente da face da sua família. Seu pai o ensinando a usar uma blaster, seu tio lhe auxiliando com paciência na construção do próprio sabre. E havia também sua mãe. Por pouco não perdera Leia também e apenas cogitar essa situação era suficiente para abrir mais uma rachadura em seu coração.
Abrindo as pálpebras, voltou a fitar a Jedi que analisava alguns dados no painel de controle. Respirando fundo, criou coragem para dizer o que sabia que não diria depois.
- Obrigado... – pigarreou meio sem jeito.
- Eu ouvi mesmo isso? – ela o encarou sem acreditar.
- Sim, você ouviu. – continuou agora num volume mais alto. – Sei que não temos uma história muito boa, mas agradeço por nos ajudar.
- É dever de um Jedi nunca perder as esperanças. – sorriu. – Toda essa conexão tinha um objetivo. Eu sabia que deveria ter. Mas nada é mais forte na galáxia do que o que vocês dois têm e saber que pude ajudar é suficiente pra mim.
Seguindo viagem, os jovens não demoraram a avistar o planeta coberto de água. havia voltado para a cabine de comando e Ben até o quarto se livrar de suas antigas vestes. Removeu tudo, ficando apenas com a calça, a camiseta de mangas longas e as botas negras. Embolando o que restou, deixou num canto, resolvido a queimar as vestimentas assim que tivesse oportunidade.
Levemente perturbado por conta da mudança tão repentina, sentiu quando a nave pousou, causando em seu corpo uma sensação que não tinha há tempos. A ansiedade o consumia sem pena. Levando as mãos aos fios, os jogou para trás antes de se sentar sobre o colchão fino. Não soube quantos minutos permaneceu paralisado. Só quando ouviu batidas na porta é que despertou, olhando para lá.
disse que entraria e apertou um dos botões para abrir a porta automática. Assim que entrou, o encontrou sentado em sua cama. Ao perceber seu olhar transtornado, o sorriso que carregava sumiu. Fechou a porta e foi até ele, abaixando em sua frente.
- Ben, o que houve? – apoiou as mãos em seus joelhos.
- Nada... Eu só... – passou as mãos no rosto. – Aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo e preciso digerir todas elas.
Sensibilizada, a mulher levou a mão até o rosto dele, do lado da cicatriz. O toque foi suficiente para que ele a encarasse fixamente. Sem mais palavras se inclinou até ela e a beijou. Um beijo singelo, puro, que falava tudo o que não conseguiram dizer pelo tempo que permaneceram separados. Quando se separaram, a Jedi se ergueu e sentou ao seu lado, encostando suas testas. Imediatamente, o homem sentiu quando se conectaram.
- Está tudo bem agora. – sua voz ecoava serena – Apenas fique conosco. Não por mim, mas por ela. Salve nossa filha do futuro que eu vi, por favor.
- Não, não eu... – segurou as mãos dela sem quebrar a conexão mental. - Você já a salvou.
- Ben... – mordeu o lábio inferior.
- E me salvou também... – deu um mínimo sorriso. – De maneiras que não consigo explicar.
Finalmente se afastaram e de mãos dadas se levantaram. Antes que pudessem sair do quarto, parou e o beijou mais uma vez. Foi rápido, mas suficiente para que ele sorrisse e isso foi gratificante. Voltando à cabine, encontraram uma Rey impaciente e de braços cruzados.
- Até que fim! – abriu os braços. – Vamos, os outros já estão nos esperando.
A garota foi na frente, abrindo a saída para eles, que não demoraram a segui-la. Desceram pela rampa e era claro que muitos as esperavam, afinal, Rey havia saído com um objetivo e todos gostariam de saber se o havia completado. Primeiro, as dezenas de rebeldes avistaram a garota de Jakku e ao verem seu novo sabre começaram a tecer comentários entusiasmados.
De repente, todo o burburinho cessou. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor e não precisava adivinhar o motivo. Os presentes olhavam abismados para Ben. Alguns até se afastaram, sem saber o que esperar. Apenas uma pessoa veio até o trio, abrindo espaço na multidão. Quando o rapaz a sentiu, arfou e soltando a mão da Jedi, foi até ela.
Ao parar cara a cara com Leia, Ben permaneceu mudo. Nenhum dos dois disse nada. Para a surpresa de todos, a general ergueu a mão e tocou a face dele, que tremeu ao sentir os dedos quentes sobre a pele.
- Meu filho... – murmurou cheia de emoção. – Meu Ben está de volta!
- Mãe... – sem forças, ajoelhou-se perante Leia e chorou quando as mãos delicadas afagaram seus cabelos.
- Está tudo bem agora, querido. – o consolou. – Você está em casa.
Ainda parada na entrada da nave, observava o momento sem poder conter as lágrimas. Rey também chorava e, um pouco mais afastados, Finn e Poe assistiam tudo pasmados. Apesar daquele belo reencontro, todos sabiam que haviam consequências a serem assumidas e Ben Solo sequer pensou em fugir delas. Não importasse o que decidissem, ele estaria disposto a aceitar. Era o mínimo que poderia fazer depois de todo o mal que causou.
Os dias seguintes passaram devagar. Pelo menos para o jovem que permanecia confinado nos aposentos da mãe. Após a recepção nada agradável que tiveram, alguns comentários sobre o ocorrido começaram a circular pelo acampamento e Leia achou melhor que ele ficasse ali até que os ânimos se acalmassem.
Sentando no chão com as pernas cruzadas, Ben havia tomado coragem para meditar da maneira Jedi pela primeira vez desde que havia retornado para a luz. Fechou os olhos e esvaziou a mente. Precisava daquele momento de paz interior, especialmente depois de descobrir qual seria sua sentença. Exílio. Ficaria afastado do mundo até que a Resistência achasse ser necessário.
Apesar do futuro desfavorável, não discordou um segundo sequer. Precisava pagar pelos seus pecados. Mesmo merecendo a morte, eles ainda foram compassivos e lhe deram essa opção. Buscando mais concentração, juntou as mãos à frente do peito. No começo não foi tão simples, mas então se lembrou do que aprendera com Luke Skywalker. Sabia que não havia completado o seu treinamento com ele, mas tinha conhecimento suficiente. Logo estava em transe e não soube por quantas horas.
Quando despertou, deparou-se com Leia sentada numa cadeira, o encarando com um leve sorriso. Se levantou e foi até ela, pois desejava saber mais sobre o seu destino.
- Mãe... – parou a poucos passos. – Há quanto tempo está aí?
- Tempo suficiente para sentir como sua luz brilha. – se levantou e estendeu a mão para ele.
- Decidiram mais alguma coisa? – segurou os dedos entre os seus.
- Eles querem testar a sua lealdade. – suspirou e caminhou até.
- Querem informações sobre a Primeira Ordem. – deduziu.
- Antes que parta... – a mulher engoliu seco antes continuar. – Precisamos saber se está do nosso lado.
- Tudo bem. – concordou.
- Ah, meu querido... – o puxou para si num abraço forte. – É uma pena que tenhamos que nos separar mais uma vez.
- Agora é diferente. – riu abafado. – Dessa vez eu ainda sou seu filho e vamos nos ver novamente.
Após ser deixado sozinho outra vez, o sensitivo arrumou os novos pertences que havia ganhando dentro de uma mochila. A deixou num canto e calçou as botas marrons, pois sairia para procurá-la. Desde o dia que receberam a notícia de sua sentença, não aparecera mais e ele já estava preocupado. Arregaçando as mangas da camisa branca, deixou o local.
Sem se importar com os olhares e comentários que recebia, cruzou o acampamento a passos largos, pois tinha pressa. Seguiu pelo terreno íngreme da ilha, escalando as pedras com facilidade. Quando estava sozinho num ponto bem alto, fechou os olhos e a buscou. Ao finalmente achá-la, voltou a caminhar apressado até lá. Alcançou seu destino em poucos minutos e de longe a localizou. Na realidade, a Jedi não tentava se esconder.
Quando o notou, se levantou rapidamente e correu em sua direção, se jogando em seus braços. O abraçou forte, pois teve medo que o homem desaparecesse num piscar de olhos.
- Desse jeito vai me deixar sem ar. – brincou e só então a mulher se tocou da força que usava.
- Me desculpe. – se afastou e sorriu.
- Por que não foi me ver esses dias? – foi direto.
- Eu queria... – desviou o olhar, fitando o horizonte. – Mas depois que soube qual seria o seu destino, fiquei com medo de me despedir.
- Ei... – a segurou pelo pulso, virando-a para si. – Não é para sempre.
- Não sabe disso. – negou com a cabeça.
- Não importa o tempo, essa é a punição que mereço pelos meus erros. – a trouxe para mais perto. – Mas não é um adeus e sabe por quê.
- Por quê? – ergueu as sobrancelhas.
- Fizemos a promessa de sempre estar juntos. – passou os braços em sua cintura. – E isso não são só palavras, é algo muito maior. Vamos continuar juntos, mesmo que a distância de uma galáxia nos separe. Desde que lutou por mim até o derradeiro segundo, eu soube disso.
- Ben... – sussurrou, se aninhando em seu peitoral. - Eu te amo tanto!
- Eu sei. – beijou a testa dela. – Eu também te amo.
Ficaram ali parados, aproveitando o calor que emanavam. Não sabiam quanto mais tempo teriam para desfrutar de momentos como aquele, por isso, enquanto a brisa soprava, se esqueceram de tudo ao redor. O mais importante era saber que, mesmo após tudo o que ocorreu, as palavras haviam sido cumpridas e estariam juntos onde quer que fossem.
Epílogo
O planeta árido sequer tinha vegetação e o sol escaldante faria qualquer viajante desavisado desfalecer caso fosse exposto aos seus raios mais do que deveria. Apesar da dificuldade para encontrar água ou alimentos, o homem já havia se adaptado e se virava sem muita dificuldade.
Caminhando pelo lugar desértico, cobria a cabeça com o capuz da grande capa bege que utilizava e por baixo dela segurava um pequeno jarro de barro com água. Voltava para o lugar que chamava de casa, mas não poderia reclamar, afinal, ele mesmo havia escolhido o planeta para onde seria enviado. Ficava num canto remoto da galáxia e sequer tinha nome. Desde o dia que chegou não encontrou nenhuma outra pessoa. Por sorte, a Resistência foi generosa e lhe forneceu tudo o que precisaria para viver ali.
Continuando sob o sol da manhã, parou de repente ao ouvir um ruído familiar. Mas tão rápido quanto veio, ele se foi e pensou estar delirando graças ao calor excessivo. Voltou a caminhar, todavia, o mesmo som voltou. Dessa vez bem próximo e Ben Solo teve certeza do que se aproximava. Olhou para cima no instante que uma nave surgiu por entre as montanhas. Ficou parado até vê-la pousar um pouco afastada e a rampa não demorou a descer.
Quando a pessoa que pilotava o veículo foi revelada, o homem arfou surpreso. A Jedi vestia um macacão preto sem mangas e os cabelos estavam na altura do queixo. Largando tudo que tinha em mãos, foi correndo até ela. Quando a alcançou, a beijou com força e recebeu o gesto com a mesma intensidade. Não sabia o quanto precisava vê-la até aquele momento.
- É você mesmo? – se afastou, tocando o rosto da Jedi. – Ou é apenas mais uma de minhas alucinações?
- Sou eu. – riu abafado.
- Por que agora? – questionou.
- Por que está na hora de voltar pra casa. – ela abriu um largo sorriso.
Ben encarou por longos instantes sem acreditar em suas palavras. Então, finalmente, poderia voltar. Poderia conhecer a sua filha que vira apenas numa breve visão.
Enquanto ponderava, o rapaz viu um movimento perto da nave e olhou para lá. Parada na rampa, uma garotinha de cabelos negros que aparentava ter uns seis anos de idade os observava com curiosidade. No mesmo segundo soube quem ela era e seu coração se aqueceu apenas com imagem da pequena.
- Filha, pode vir. – de repente a chamou. – Não tem nenhum cara mau por aqui.
Um pouco receosa a menina a obedeceu e veio. A passos curtos e lentos se aproximou e quanto menor a distância se tornava, mais o coração do homem palpitava. Quando a garota finalmente parou ao lado da mãe, se agarrou em sua perna, olhando para ele com certo interesse. Sem quebrar a conexão de olhares, Ben se abaixou para que pudessem ficar da mesma altura.
- Ei, não precisa ter medo. – a mulher tocou o ombro da mais nova e a empurrou para frente. – Se lembra quem ele é?
A garotinha se aproximou dele e ficaram cara a cara. Enquanto permaneciam calados, o homem percebeu que a pequena usava o colar com o pingente de diamante que havia dado à . Ela o analisou por alguns segundos e então sacudiu a cabeça positivamente várias vezes.
- É o papai! – a fala veio cheia de certeza e os dois adultos sorriram.
- Sim, eu sou o papai. – ele imitou o gesto. – E você quem é?
- Eu sou a Fani. – respondeu com a vozinha infantil.
- Não sabe como é bom ver você, Fani. – disse, tocando o rostinho com os dedos.
observava tudo com o interior transbordando em felicidade. Era a melhor vista que poderia ter depois de todos aqueles anos. Fez questão de inculcar na mente da filha a imagem do pai para que sempre soubesse que ele a amava e saber que havia dado certo era a melhor parte.
Deixando o ar sair pelos lábios entreabertos, levou a mão ao cinto e tirou de lá um sabre. Aquele não era o que lhe pertencia e era hora de devolvê-lo. Sem cerimônias o estendeu para Ben que o fitou curioso. Se levantando, pegou o objeto mesmo que ainda estivesse confuso.
- Eu disse que o devolveria quando o merecesse. – ela explicou.
- O guardou por todo esse tempo? – a fitou admirado.
- Sim. – se aproximou, apoiando uma mão no ombro dele. – E agora é a hora de terminar o seu treinamento.
Ben Solo puxou o máximo de ar que conseguiu para os pulmões. Então aquele era o momento em que finalmente deixava tudo para trás. Todo o seu ser estava limpo e agora poderia voltar e se juntar à sua família. Olhando para o sabre, o segurou com firmeza. Ao ativá-lo, a lâmina azul surgiu e esta cintilava. Era semelhante ao brilho dos orbes da pequena garotinha que olhava para o pai. Seus grandes olhos que exalavam apenas pureza.
Caminhando pelo lugar desértico, cobria a cabeça com o capuz da grande capa bege que utilizava e por baixo dela segurava um pequeno jarro de barro com água. Voltava para o lugar que chamava de casa, mas não poderia reclamar, afinal, ele mesmo havia escolhido o planeta para onde seria enviado. Ficava num canto remoto da galáxia e sequer tinha nome. Desde o dia que chegou não encontrou nenhuma outra pessoa. Por sorte, a Resistência foi generosa e lhe forneceu tudo o que precisaria para viver ali.
Continuando sob o sol da manhã, parou de repente ao ouvir um ruído familiar. Mas tão rápido quanto veio, ele se foi e pensou estar delirando graças ao calor excessivo. Voltou a caminhar, todavia, o mesmo som voltou. Dessa vez bem próximo e Ben Solo teve certeza do que se aproximava. Olhou para cima no instante que uma nave surgiu por entre as montanhas. Ficou parado até vê-la pousar um pouco afastada e a rampa não demorou a descer.
Quando a pessoa que pilotava o veículo foi revelada, o homem arfou surpreso. A Jedi vestia um macacão preto sem mangas e os cabelos estavam na altura do queixo. Largando tudo que tinha em mãos, foi correndo até ela. Quando a alcançou, a beijou com força e recebeu o gesto com a mesma intensidade. Não sabia o quanto precisava vê-la até aquele momento.
- É você mesmo? – se afastou, tocando o rosto da Jedi. – Ou é apenas mais uma de minhas alucinações?
- Sou eu. – riu abafado.
- Por que agora? – questionou.
- Por que está na hora de voltar pra casa. – ela abriu um largo sorriso.
Ben encarou por longos instantes sem acreditar em suas palavras. Então, finalmente, poderia voltar. Poderia conhecer a sua filha que vira apenas numa breve visão.
Enquanto ponderava, o rapaz viu um movimento perto da nave e olhou para lá. Parada na rampa, uma garotinha de cabelos negros que aparentava ter uns seis anos de idade os observava com curiosidade. No mesmo segundo soube quem ela era e seu coração se aqueceu apenas com imagem da pequena.
- Filha, pode vir. – de repente a chamou. – Não tem nenhum cara mau por aqui.
Um pouco receosa a menina a obedeceu e veio. A passos curtos e lentos se aproximou e quanto menor a distância se tornava, mais o coração do homem palpitava. Quando a garota finalmente parou ao lado da mãe, se agarrou em sua perna, olhando para ele com certo interesse. Sem quebrar a conexão de olhares, Ben se abaixou para que pudessem ficar da mesma altura.
- Ei, não precisa ter medo. – a mulher tocou o ombro da mais nova e a empurrou para frente. – Se lembra quem ele é?
A garotinha se aproximou dele e ficaram cara a cara. Enquanto permaneciam calados, o homem percebeu que a pequena usava o colar com o pingente de diamante que havia dado à . Ela o analisou por alguns segundos e então sacudiu a cabeça positivamente várias vezes.
- É o papai! – a fala veio cheia de certeza e os dois adultos sorriram.
- Sim, eu sou o papai. – ele imitou o gesto. – E você quem é?
- Eu sou a Fani. – respondeu com a vozinha infantil.
- Não sabe como é bom ver você, Fani. – disse, tocando o rostinho com os dedos.
observava tudo com o interior transbordando em felicidade. Era a melhor vista que poderia ter depois de todos aqueles anos. Fez questão de inculcar na mente da filha a imagem do pai para que sempre soubesse que ele a amava e saber que havia dado certo era a melhor parte.
Deixando o ar sair pelos lábios entreabertos, levou a mão ao cinto e tirou de lá um sabre. Aquele não era o que lhe pertencia e era hora de devolvê-lo. Sem cerimônias o estendeu para Ben que o fitou curioso. Se levantando, pegou o objeto mesmo que ainda estivesse confuso.
- Eu disse que o devolveria quando o merecesse. – ela explicou.
- O guardou por todo esse tempo? – a fitou admirado.
- Sim. – se aproximou, apoiando uma mão no ombro dele. – E agora é a hora de terminar o seu treinamento.
Ben Solo puxou o máximo de ar que conseguiu para os pulmões. Então aquele era o momento em que finalmente deixava tudo para trás. Todo o seu ser estava limpo e agora poderia voltar e se juntar à sua família. Olhando para o sabre, o segurou com firmeza. Ao ativá-lo, a lâmina azul surgiu e esta cintilava. Era semelhante ao brilho dos orbes da pequena garotinha que olhava para o pai. Seus grandes olhos que exalavam apenas pureza.
Fim.
Nota da autora: Então... Não sei por onde começar. Só queria agradecer a quem acompanhou essa história até aqui e dizer que foi muito bom escrevê-la. Talvez eu nunca supere o crush que tenho pelo Kylo/Ben, mas a culpa é exclusivamente do Adam Driver. Enfim... Até uma próxima vez!
Para um melhor entendimento leiam as duas partes anteriores da fanfic:
Primeira parte: 13. The Way You Make Me Feel
Segunda parte: 09. Thought Of You
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para um melhor entendimento leiam as duas partes anteriores da fanfic: