Respira. Inspira.
Abre os olhos.
Fecha os olhos com força. Respira.
Abre os olhos. Olha ao redor.
Não ouve as vozes.
Sobre algumas coisas você não pode simplesmente falar.

Ele a observava deitada há uma hora praticando o mesmo ritual consecutivamente. Talvez só tivesse tentando acordar, mesmo estando acordada. O desespero dela era palpável, suas unhas partiam a medida que agarrava cada vez mais forte o braço da cadeira. Ele adorava observar os seres humanos e suas emoções desnecessárias, mas algo em o fez sentir pena "aqui não é o lugar dela".

SUDESTE EUROPEU – ROMÊNIA

Chovia.
Eram duas da manhã, e ela não conseguia fechar os olhos e descansar. Chovia o equivalente a uma briga entre os deuses, mas não era isso que tirava seu sono. não conseguia parar de pensar. O barulho da chuva e dos trovões não aliviava o desespero que a massacrava por dentro.
O tempo é relativo! Não conseguimos entender o momento ou segundo que isso se mostra ainda mais presente, mas conseguia...

Keep your helmet, keep your life, son
Just a flesh wound, here's your rifle

O mundo é para os fortes!
Eu descobri muito cedo que o tempo é uma ilusão, te rouba as coisas que mais ama e em troca te devolve o que você menos quer. Meus pais morreram quando eu tinha apenas 12 anos e não demorou muito para que eu quisesse fazer a minha própria vida e colocar uma pedra naquilo. O luto me abraçou, me acolheu, e, infelizmente, fez morada anos depois. O primeiro pensamento quando uma pessoa que você ama está em perigo é incredulidade, se engana quem acha que é tristeza. Você fica tão fora da órbita que se recusa a acreditar. Eu lembro do meu choro, das ondas, do brilho... estava comigo há menos de duas horas, sorrindo, brincando... Vivo! O tempo é relativo, a vida é relativa.
era o tipo de todo mundo. Moreno, alto, forte, olhos escuros que qualquer um se perdia... Era engraçado quando saíamos, mas éramos apenas amigos. Ele era o meu melhor amigo.
Enquanto tentava afastar as lembranças ruins, senti alguém me abraçar por trás com a mesma leveza de sempre.
Isabela. Alegria. Salvação.
- Estou aqui...
- Por que, Isa? Por que justamente com ele? Nao existia outra pessoa para ir? - as lágrimas não saiam, mas o aperto no peito me sufocava.
- Eu sei, eu sei... - ela me abraçou ainda mais. - Você precisa ser forte, meu amor...
A imagem do carro esmagado estava presente em cada pensamento que pairava em minha cabeça, em cada respirar que eu dava, em cada lágrima que infelizmente não saia. O medalhão em meu peito segurava um peso enorme, o peso da saudade. sabia que estava chegando seu fim, e eu não pude fazer nada.

Crawling up the beaches now
Sir, I think he's bleeding out

se lembrou de todos os momentos bons que teve com , a lembrança esmagava seu peito como um caminhão... Como o caminhão. Dia 27 de outubro era o aniversário dele, o aniversário deles... Quatro anos sem o seu mar, sem ele.
jamais conseguiu se recuperar daquilo, mesmo depois de tantos anos. Mesmo olhando a lápide, mesmo após o enterro, mesmo depois de tantas lágrimas.

With you I serve, with you I fall down, down
Watch you breathe in, watch you breathing out, out

Chovia.
Desta vez, não estava sonhando, estava ajoelhada no altar com os olhos fechados, sussurrando baixinho algo em uma língua muito antiga. As palavras fluíam rapidamente com total concentração na imagem que estava em sua frente. Mentalizando todos equinos que viu, em busca de um sorriso acolhedor. Ele. A tristeza ficou tão nociva, a dor ficou tão grande que não houve outra saída para ela. A epifania de deu início a uma aparição e manifestação dele, ficou relacionado com o contexto espiritual e divino que era morte, foi uma sensação profunda de realização. No fim, ela descobriu o significado de compreender a essência das coisas, a essência da morte. Ela não sabia como morrera. Apenas sentiu, apenas soube.
Isabela derramava lágrimas silenciosas, mas exibiu um sorriso pequeno que moldava seu rosto dando uma vida a mais em seu rosto. Mas seu olhar era triste, perdido e distante. Isabela perdeu sua melhor amiga.
O inverno moldava todo o céu da Romênia, as temperaturas estavam abaixo de zero e o período com neve havia começado. estava em paz, mesmo que ninguém pudesse ver, ela sorria calmamente em volta de todos aqueles que sentiam sua falta.
A verdade é que, mesmo mortos, ela ainda tinha uma esperança enorme de que estava vivo, bem, feliz... Isabela terminou sua pequena prece e colocou o medalhão no corpo morto. Pela primeira vez, se perguntou se havia feito a coisa certa, mas sua atenção logo mudou quando um barulho estranho chamou sua atenção.

Only twenty minutes to sleep
But you dream of some epiphany

A chuva engrossou no instante em que chegou ao cemitério, sua cova já estava aberta mas não era o local para onde queria ir, pelo menos não agora.. Não foi fácil fazer todo aquele caminho, era sempre doloroso e triste, mesmo morta. Um arrepio subiu sua espinha ao lembrar que estava na véspera do dia de São George, sempre dizia que era o que seres sobrenaturais eram mais ativos, e mais sombrios.
- Você não deveria estar aqui... – a voz era tensa e havia uma expressão terrível em seu rosto. Suas roupas não condiziam com a época, algo em seu rosto não se suavizava à medida que ia se aproximando ainda mais.
- Estou tentando encontrar uma pessoa... Mas não sei se ele está aqui... Eu conheço você!
- ... – a voz dele se tornou ainda mais tensa, logo em seguida, abriu um sorriso e estendeu a mão para cumprimentá-la com um beijo. O choque térmico em sua mão foi o mais perto de viva que podia estar e gostou da sensação. – Você não deveria ter tomado essa decisão...
- Não... – respondeu prontamente, estranhando o comportamento dele. tinha absoluta certeza que o conhecia, mas estava diferente. - Preciso encontrar uma pessoa...
O homem nada disse, mas se virou e seguiu andando até outra entrada mais próxima. o seguiu com a esperança crescendo ainda mais em seu peito. A cripita estava escura e gelada, ela não se lembrava se alguma vez seus olhos captaram essa entrada, e arriscava dizer que não.
- ? - ouvir aquela voz depois de tantos anos foi capaz de fazer o coração de bater novamente. Era ele. - Você realmente me achou...
só percebeu que estava em seus braços quando o baque de seus corpos estrondou no eco da cripita. a envolveu em um abraço apertado, beijando o topo de sua cabeça e sorrindo ainda mais.
- Se você está aqui... - sua voz retornou a um tom melancólico. – Ah, minha , o que
você fez?
- Não doeu, eu simplesmente acordei depois de um tempo e estava... Bem.
balançou o rosto e algo em sua boca chamou sua atenção. achou que estivesse impressionada demais, ou cansada demais, ou até mesmo doida demais para acreditar que seus dentes deram lugar a presas brilhantes. Todo romeno conhece as histórias e entende o poder delas. Na Romênia, as histórias são reais...
abaixou os olhos e captou o olhar da pessoa que mais o conhecia, não era necessário mentira.
- Acho que há um fundo de verdade nas lendas, então...
No momento em que assentiu, as velas que emolduravam o local se acenderam, iluminando o rosto palido de . Havia algo estonteante em seu rosto, algo vivo, encantador. Mas a feição dele não estava tão terna quanto parecia, mas ao contrário disso, estava em paz, levou suas mãos queixo dele e ergueu seus olhos com a mesma calma e paciência de anos antes.
- Não tenha medo... – murmurou, falando com toda a firmeza que tivesse em sua voz. – Não ligo o que você seja...
sorriu e acariciou o rosto dela, foi a primeira vez que a ficha de caiu, o que sentia em seu peito era tão frustrante e ao mesmo tempo tão imenso que a desmontou por meros segundos.
- Seu lugar não é aqui, mas juro que vou te encontrar...

And some things you just can't speak about

Hoje não chovia.
não pretendia abrir os olhos e perder toda a sensação de acolhimento nos braços dele, mas não aguentou a surpresa quando a voz de Isabela invadiu seu quarto com a mesma alegria de sempre.
Impossível.
Algo se despertou dentro de si, foi o equivalente a um fio pequeno e fraco de luz que começou a se expandir largamente. Fazia anos desde que esse sentimento não habitava seu corpo, e por uns anos ela se recusava a chegar perto de qualquer que fosse o sentimento. não entendia o motivo. mas esse sentimento estava enraizado diretamente em seu coração. , na verdade, sabia as respostas para muitas outras questões, das simples até as mais complexas, achava que poderia dominar todos os assuntos e ignorá-los o quanto quisesse. Mas não estava preparada para se ver apaixonada por seu melhor amigo, não depois de 5 anos morto.
Morto. Morta.
Eu estava morta.
Ela podia imaginar um cenário trágico e talvez até engraçado, mas os desfechos possivelmente alucinados que sua vida tomava. Começou a tossir no momento em que caiu em si.
- Tá tudo bem?
- Isa, eu estava morta... - os olhos de Isabela se arregalaram e sua respiração ficou um pouco mais descompassado. - Eu vi você chorando no meu corpo...
- Do que você está falando? - a amiga chegou um pouco mais perto da cama e observou mais atentamente o rosto dela. Algo de muito grave estava acontecendo. - ?
- Cadê o ?
Isabela respirou fundo e sorriu, suavizando sua expressão.
- Está quase chegando... Nós não sabíamos quando você ia acordar.
De repente tudo fez muito sentido em pouco tempo. pôde sentir seus olhos inchados e seu corpo dolorido, reclamando da falta de movimentação. Sua ficha caiu quando seu corpo reclamou depois de muito tempo sem levantar da cama.
- ?
- Há quanto tempo...
Mas ela não conseguia terminar suas palavras. O tempo era relativo, era nocivo, e entendeu que não estava mais no controle há muito tempo.

Just a flesh wound, here's your rifle

.

Olhei novamente ao sul, através da chuva densa que caía sobre meu corpo, encharcando meus cabelos.
Depois de todas as lágrimas, os machucados, as tentivas de morte... Depois de tudo, eu enfim consegui e entendi. Eu não podia mais ter certeza se morrer bastou, não quando eu entendi que, se não fosse pela minha esquizofrenia, que eu dizia ser uma epifania, nada disso teria dado tão errado.
Mas estava lá dessa vez, ainda segurava minha mão, ainda depositava beijos por meu rosto, ainda estava lá por mim, apesar de se recusar a ver meu rosto jovial preso a diversos machucados, agora frio e imóvel, apesar de também se recusar a ver meu corpo sendo enterrado dentro de um caixão amadeirado e coberto por barro a sete palmos. Eu sofri tanto com sua morte durante quatro anos, que quando descobri ser fruto de minha imaginação perturbada, não me sobrou mais sanidade para enfrentar tudo que eu sentia. O motivo da dor derramava lágrimas silenciosas em meu rosto, me tocava com a mesma delicadeza do beija-flor em voo. Eu não conseguia mais sentir suas correntes elétricas percorrendo meu corpo e chegando até meu coração, mas podia sentir sua dor se misturando na minha. O problema da morte era não o ter mais.
Depois de quatro anos vivendo uma vida imaginária, não era possível recomeçar.
As vozes da minha cabeça me mostraram o caminho a seguir, mas agora eu sei onde me levavam.

I think he's bleeding out
And some things you just can't speak about

Nota da autora: Acho que nunca escrevi algo tão… Difícil, mas eu queria agradecer demais a todos os leitores que chegaram até aqui de paraquedas, a todos que me acompanham, a todos que estão de alguma forma presente na minha vida. Vocês são todo o combustível que eu preciso para não abandonar esse mundo louco, vocês são todo o combustível que eu levo para a vida. Obrigada, obrigada e obrigada: all the love, ever.
As minhas outras ficstapes (E SÃO MUITAS) ainda não foram todas postadas (ou eu não tinha o link na hora que enviei essa) e eu vou disponibilizar todas no meu grupo do facebook, venham!
Sejam bem-vindas a esse mundo louco que eu me meti, e vou esperar ansiosa os feedbacks!!!
Com muito amor e carinho, Analua.

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➺ 12. Chains | Ficstape #086 - Nick Jonas - Nick Jonas


Nota da beta: Estou 100% sem reação para essa história, eu realmente a admiro por ter escrito, porque eu imagino mesmo que tenha sido muito difícil! Criar uma pp assim deve ter sido um grande desafio, parabéns! 💙

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