Última atualização: 26/04/2021

Capítulo 1

- Dave, acalme-se. – Roger dizia, vendo o guarda/grande amigo andando de um lado para o outro na sala de reuniões.
- Roger, minha filha sofreu um atentado por um de nossos guardas por mandato de alguém daqui. – Dave respondeu, furioso. – Minha filha poderia estar morta.
-Eu sei, vamos resolver isso. – Rei Roger passou as mãos nas costas do amigo e logo depois viu o filho mais novo de Dave entrar em fúria na sala, junto com seus dois filhos. – Benjamin? ? ?
- Era para parecer suicídio. - Ben falou, tremendo.
- Encontramos essa carta de suicídio. - , abalado, disse, entregando ao pai a carta que encontraram na cabeceira da cama de .
- Não é a letra do Kendrick. – começou a falar. – Também não é a letra de , mas é uma letra que eu conheço, só não me recordo de quem.
- Vamos interrogar aquele homem pela manhã novamente, até que ele fale quem mandou para matar , caso ele não fale, iremos começar as investigações, pegaremos as letras de todos desse castelo. – Roger falou e depois encarou Dave, que estava chocado lendo a carta. – Vamos pegar e punir essa pessoa, meu amigo, eu te prometo. - assim que ele terminou a frase, Lady Devimon entrou na sala como um foguete, ao lado de Denver.
- Dave, Benjamin, Denver, eu sinto muito pelo que acabou de acontecer com . – ela segurou as mãos de Dave. – Eu lhe prometo segurança máxima para a garota pelos próximos dias, até pegarmos o monstro que fez isso. Rei Alan disse que vai deixar guardas aqui apenas para proteger .
- Céus, tem o Alan ainda para cuidarmos. – passou as mãos no rosto. – Pelo menos acho que vamos conseguir o acordo.
- Única coisa boa por aqui. – Dave sorriu sem mostrar os dentes. – Vou avisar Karin que está bem, ela deve estar enlouquecendo depois da ligação de um certo alguém.
- Me desculpe, não podia deixar de contar para a mãe dela que a filha quase morreu. – Denver falou, na defensiva. – Vou rondar o castelo e mais tarde fico com .
- Não, filho, vá descansar, você e sua família estão dispensados por hoje. – Lady Devimon falou, prontamente. – Vão se cuidar.
- Obrigado, majestade. – Ben fez uma reverência e saiu da sala com Denver, indo para seus quartos. Já Dave, foi resolver mais problemas.
Em Avallon, estavam tendo ataques diários em diversas cidades, especialmente nas divisas de Taim com South Camp, cidade do reino de Vantron, estava tudo sem controle. Avallon precisava fechar contrato com Agartha, para uma maior proteção para os dois países. Avallon, Agartha e Vantron faziam a maior tríade do mundo nesse século, eram os países maiores e poderosos, uma guerra entre si causaria o maior estrago para o resto do mundo, mas o maior problema para todos ali, era o atentado contra a vida de .

~ POR ~


Eu tremia, eu não tinha palavras para descrever o que estava sentindo. Uma mistura de medo, raiva, tristeza, e para ser sincera, curiosidade e receio, para saber os motivos que levaram alguém a tentar me matar. Kendrick e eu nunca fomos próximos, eu atazanava a vida dele e deixava bem claro que não gostava dele, assim como ele fazia comigo, mas não havia motivos suficientes para isso. Não queria acusar ninguém, e ao mesmo tempo em que queria saber quem foi, eu não queria. Estava tão confusa.
- , seus exames estão ok. – Dr. Poirot entrou no meu quarto hospitalar. - Você é minha paciente mais frequente, se continuar assim, vou colocar sua foto como paciente do mês. – ele conseguiu tirar um sorriso de mim, mas na realidade, eu estava me segurando para não chorar. – Oh, minha querida. – ele me abraçou enquanto eu respirava fundo, tentando conter o choro. - Você é a pessoa mais forte que eu conheci, eu sou muito grato por ter te conhecido.
- Forte? - ri pelo nariz, secando uma lágrima teimosa que insistiu em cair.
- Não conheço ninguém tão jovem que passou por tantas coisas e ficou de cabeça erguida. – Poirot se sentou ao meu lado. – Sei que você não está pensando na Coroa agora, e, sinceramente, você nem pensa nela, mas eu, um mero senhorzinho metido a médico, iria me curvar para você e amar ter você como rainha.
- Eu acho que não me querem. – disse, sorrindo sem mostrar os dentes. – Mas obrigada por isso...
- Respire fundo, leve o tempo necessário para se recuperar, erga a cabeça e volte para a sua luta. – ele segurou minha mão antes de levantar. – Muita gente conta com você, minha filha, não deixe que uma pessoa infeliz tire de você a sensação de ser amada e querida. Provando isso para você, tem um carinha e três moças ali fora, esperando para falar você.
Sorri, triste, vendo-o partir e respirando fundo para receber a próxima pessoa. Me surpreendi ao ver Alan ali, ele carregava uma rosa branca, não pude nem ter qualquer reação, Alan veio e me deu um abraço que me aliviou, um pouco, pelo menos.
- Ah, ... Vim assim que soube. – me ajeitei na cama. – Não imagino como você deve estar se sentindo, mas queria que soubesse que estou aqui e minha proposta ainda está de pé.
- É horrível isso que eu estou sentindo. – comecei a falar e olhei para ele. – E eu te acho um partidão. – ri, vendo-o dar aquele sorriso brilhante. – Mas você merece ficar com alguém que ame. – ele abriu a boca, mas eu o interrompi. - Não importa a sua opção sexual, você é um líder incrível e seu povo é igual a você. Talvez sua sexualidade seja um tabu ainda, mas você passará por isso.
- Se eu ordenar, você aceita? - rimos juntos e logo depois ele segurou minha mão. - Nem depois de um atentado você deixa de ser sensata?
- É um dom. – sorri, recebendo um empurrãozinho dele. – Eu adoraria ser sua rainha, mas nós dois seriamos infelizes... Você merece toda a felicidade. – ele sorriu, me dando um longo beijo na testa.
- Eu espero que um dos três paspalhões te faça feliz. – mal sabia ele que eu não podia ficar. - E você sempre terá um lugar em Agartha. Sempre.
- Pelo menos eu arrumei um amigão... Obrigada, Alan. - abracei ele. Era inevitável, eu tinha feito amigos incríveis, e tudo foi graças à Seleção.
- Espero não estar atrapalhando. – era a voz de Summer, uma das últimas pessoas que esperava ver. – Sinto muito pelo que você passou hoje. – ela me surpreendeu com um abraço, ultimamente ela vinha me surpreendendo demais. – Tem algo que eu possa fazer por você?
- Nós. - Beth apareceu, me fazendo rir.
- Eu também. - era Sam. Aquela foi a deixa de Alan, que saiu rindo daquela cena, mas prometendo que voltaria.
- Vocês me acompanham até o meu quarto? – sorri, estendendo a mão.
Minutos depois, esqueci completamente do que havia acontecido, pois por alguns minutos, furacão Summer e Beth terremoto eram de torrar a paciência de qualquer um, mas eu estava amando ver o improvável. Summer sendo uma das melhores pessoas que passaram na minha vida naquela estadia do castelo, e Lizzie sendo a pior delas. As meninas não tocaram no assunto que havia acontecido, tentavam me distrair e eu apenas aceitava essa ajuda, estava funcionando.
- O que é isso? - perguntei para três guardas na porta de meu quarto, eu não conhecia nenhum deles. Havia segurado o braço de Sam, foi involuntário.
- Nós ficaremos de guarda para você, senhorita . – um deles começou a falar.
- Não, eu nem conheço vocês, eu não quero. – falei, mais alterada que o normal. Escutava as meninas pedindo para que eu tivesse calma, mas eu não conseguia.
- Entendo, senhorita, mas são ordens, e...
- Vão embora, eu não quero vocês aqui. – o homem olhou para mim e seu olhar mostrava empatia, eu não queria ser rude, mas as circunstâncias mudaram para mim. Ele me encarava, mas percebi que o olhar havia desviado para quem vinha atrás de mim. Segui aquilo e dei de cara com meu pai e .
- O que está havendo aqui? - Dave perguntou, sério.
- Major. – os três fizeram uma reverência e um deles explicou o motivo.
- Meninas, obrigado por acompanharem ... Peço que se cuidem, os guardas de vocês estarão atentos para qualquer coisa, cuidaremos dela agora. – , carinhoso, começou a falar. Agora sim eu reconhecia aquela personalidade. Elas se despediram de mim com um abraço longo, respirei fundo e observei elas indo embora, todas deslumbrantes com seus vestidos de festa, afinal, o baile ainda estava acontecendo. - Senhores, façam a ronda, nós cuidaremos de . – eles fizeram mais uma reverência e se retiraram. Entrei no meu quarto e assim que a porta se fechou, corri para os braços de meu pai. Naquele instante, parecia que tudo iria ficar bem, realmente parecia que ele nunca iria me soltar e eu ficaria protegida pra sempre.
- Minha filha... - ele disse, depois de alguns minutos abraçado comigo. - Nós pegaremos a pessoa que fez isso.
- Já não pegaram? - perguntei, assustada.
- Filha, foi o Kendrick. – Dave começou a falar, me soltando do abraço. Por incrível que pareça, eu não estava tão surpresa quanto achava que ficaria.
- Então por que você disse que vai pegar quem fez isso?
- Encontraram uma carta aqui, . – falou pela primeira vez desde que havia entrado no quarto. – Era uma carta de suicídio. Era para parecer que você tinha se matado... Nós não sabemos de quem é a letra ainda, mas vamos começar uma investigação amanhã.
- Eu quero ver a letra. – o encarei, séria. - A gente sabe quem pode ter feito isso.
- Não vamos tomar decisões precipitadas. – meu pai colocou a mão em meu ombro. – Vamos fazer isso do jeito certo, ninguém entra e ninguém saí desse castelo até resolvermos tudo isso.
- Por isso a segurança está redobrada. – se aproximou de nós.
- Não conheço aqueles homens, não quero que eles cuidem de mim, é mais fácil me deixarem com uma arma. – eles se encararam. Ambos pareceram pensar na hipótese, mas fizeram uma careta juntos e negaram com a cabeça. - Eu ficaria mais à vontade.
- Eu não, minha filha com uma arma? Ainda mais nessas circunstâncias? - Dave começou a falar, andando pelo quarto e analisando as coisas. - Você seria o terror do castelo.
- Eu não confio neles. – eu parecia mimada, mas naquela situação, eu realmente não confiava em ninguém quase.
- Eu confio, filha.
- Confiava em Kendrick, e olha o que aconteceu. – ele olhou para , que fez uma cara de “touché”.
- Nunca confiei nele. – ele admitiu, me fazendo respirar fundo. – Montei a minha equipe de confiança, , você estará segura.
- Como vou saber quem são da sua equipe de segurança?
- Ben sempre estará por perto, Denver quer ficar aqui para cuidar de você também. - aquilo partia meu coração, meus irmãos tinham uma vida antes de virarem babá.
- E para você ficar mais segura e eu ficar mais seguro de que você está bem... Podemos fazer um sinal com eles, para fazerem sempre quando forem se aproximar de você. - colocou a mão em meu ombro.
- Isso não basta, qualquer um pode perceber isso e fazer para tentar me enganar. – eles se encararam. – Pai, faça uma marca na roupa da sua equipe, sei lá, um ponto branco na boina, um ponto vermelho no punho, é uma segurança a mais e a que vai provar que estou com sua equipe mesmo, só assim vou me sentir segura sem um de vocês por perto.
- Você é um gênio. - ele sorriu, me dando um abraço. - Deixarei tudo pronto e te aviso assim que fizer isso. Nosso sinal vai ser na reverência, três segundos a mais curvado, esse é o código.
- Obrigada, pai.
- A marca na roupa pode ser o ponto vermelho no punho, o Major pode fazer isso com tinta quando tirarem o uniforme, caso contrário, só dê ordens de que isso é feito apenas para marcarem quem está perto da promoção de cargo, eles vão cair. – se sentou na cama, Dave o fuzilou e o mesmo levantou rapidamente. Eu quis rir da cena, mesmo nos piores momentos, eles conseguiam tirar o melhor disso.
- Perfeito, vamos comigo fazer isso, alteza? - Dave perguntou, segurando o braço do garoto.
- Nã...
- Vamos sim, precisa descansar.
- Mas eu queria...
- Me ajudar. – Dave completou, observava a cena com a sobrancelha arqueada. bufou, me deu um longo abraço prometendo em meu ouvido que voltaria, e logo saiu, acompanhado de meu pai. Era uma surpresa ver que Dave era do tipo ciumento, achei engraçado, meu pai querendo me proteger. Eu achava que não precisava de ajuda de ninguém, mas apenas em uma situação, eu vi que tudo havia mudado, eu precisava sim de ajuda.
Alguns minutos depois disso, Olivia entrou em meu quarto e disse que passaria a noite comigo. Pela primeira vez, eu não insisti para ficar sozinha, eu queria ela ali comigo. Ela chorou quando me abraçou, dizia que não imaginava uma monstruosidade dessa acontecendo comigo, que eu sempre passava por uma situação ruim, que não aguentava me ver sofrer. Aquilo me deixava triste, afinal, ela era uma pessoa tão importante para mim, eu não queria vê-la triste.

(Coloque para tocar)


- Querida, está tudo bem, quer dizer... Vai ficar – sorri, fazendo-a sentar-se na cama, a barriga estava enorme e tão linda, nem acreditava que haviam se passados tantos meses desde que cheguei no castelo.
- Sinto muito por tudo isso.
- A culpa não é sua. – segurei sua mão. - Eu estou bem.
- , eu sei que o momento não é oportuno, mas eu preciso te dizer uma coisa. – olhei para ela, esperando que continuasse. - Você é a pessoa mais incrível que já conheci na vida, é boa, é generosa, é justa, certa, batalhadora, forte, boa índole, sei que não demonstra, mas no fundo, eu sei que você mima muito quem ama, eu tive o prazer de ser uma dessas pessoas. – ela riu, me fazendo ficar com os olhos marejados e rindo junto com ela. – Eu quero que minha filha seja igual a você.
- Filha? - perguntei, sorrindo.
- Descobri hoje. – ela sorriu.
- Oh, Olivia, estou tão feliz por você e pela nossa bebezinha. - dei um abraço nela.
- Peyton Robins... Ela vai levar o sobrenome do pai. – ela sorriu.
- É perfeito. – passei as mãos em suas costas.
- Peyton Hilarie Robins. – dessa vez, eu senti uma lágrima escorrer, Hilarie era meu nome do meio, quase ninguém sabia daquilo. – Meu discurso te bajulando não foi à toa, eu quero que você saiba o tanto que te admiro e o tanto que eu gosto de você.
- Olivia, assim você vai me matar. – ri, secando as lágrimas.
- Quero que minha filha seja assim como você, e quero que você esteja presente na vida dela. – segurei sua mão, ouvindo aquilo tudo. – Sei que você é... Uma figura Real, é besteira você querer participar da vida de uma ninguém, mas sei que você não acha isso, sei que somos amigas antes de qualquer coisa e eu quero que você seja madrinha da minha filha.
- Espero que você nunca mais repita que é uma ninguém. - comecei a falar. - Você é uma das pessoas mais importantes para mim, e eu nunca imaginaria que você fosse querer que eu fosse um exemplo para sua filha. – rimos juntas enquanto eu deixava as lágrimas escorrerem. – Eu vou adorar ser madrinha da sua filha, Olivia.
- Ela vai ter a melhor do lado dela. – ela sorriu e me abraçou. Eu não gostava de chorar, eu sabia que não estava chorando apenas por isso, na realidade, esse convite foi o estopim de tudo, eu estava mais feliz do que nunca, aquela tristeza que eu havia sentido mais cedo havia passado, dando espaço para um novo sentimento. Eu não poderia me sentir mais forte.
- Claro que vai, ela vai ter você.

~


No dia seguinte, acordei com as minhas meninas me arrumando para uma reunião de emergência com os meninos e o Rei. Me arrumei e parti ao lado de Ben e Denver, eu estava de cabeça erguida, decidida para o que faria nos próximos minutos. Vestia um vestido longo e simples, em um tom lilás, meu cabelo estava preso e eu me sentia bonita. Cheguei na sala, diferente das que eu conhecia, ela parecia um lugar que ninguém poderia saber. Os meninos estavam estonteantes, estava em pé, olhando a janela, estava em outro canto da sala, olhando uns papéis ao lado de meu pai, e estava sentado ao lado do pai.
- , minha querida. – Rei Roger me recebeu com um abraço. - Sinto muito pelo que você passou, novamente.
- Obrigada, majestade.
- Acho que você notou que essa sala é bem afastada dos lugares que você costuma passar. – concordei com a cabeça, sorrindo. - É porque estamos prezando pela sua segurança, e pela segurança do caso.
- Eu sou muito grata por isso, majestade. – segurei sua mão e olhei para , que deu um sorriso de canto e uma piscadinha. Depois olhei para , que deu aquele enorme sorriso que eu amava ver. Aí veio , que acenou com a cabeça, e levantou a mão.
- Leigh não está presente e nem sabe que isso está acontecendo. – ele continuou falando. – Não posso ser... Irresponsável, e ignorar o fato de que minha esposa pode vir a ser uma das suspeitas disso, e sinto muito por isso, . - fiquei surpresa com o que havia acabado de ouvir. – Tomarei as devidas providências caso isso exploda para o lado dela.
- Espero que não precise chegar nesse ponto. – mantive a cabeça erguida.
- Bom, tenho outro ponto importante para dizer. – o encarei. - Você sofreu um atentado de um dos nossos guardas, bem, segundo nosso contrato, você pode sair da Seleção sem precisar da autorização dos meus filhos, é um poder que você tem. - olhei para os meninos. não me encarava mais, parecia ter perdido a respiração, ainda olhando os papéis junto com meu pai, que me encarava com um sorriso no rosto. Eu conhecia aquele sorriso, era o sorriso triste. permanecia olhando a paisagem. - Você não precisa viver em um local onde não se sente segura, nós iremos sustentar você até que ache um marido. – arregalei os olhos, ainda digerindo aquilo tudo. passava as mãos em seu rosto, balançava a cabeça e riu baixinho. - E por mais que me doa dizer tudo isso, você pode decidir entre ir e ficar.
- Você conseguiu, , a sua liberdade. – falou, com a voz triste, mas ainda debochado. Era sua essência, afinal.
Olhei para toda aquela situação, pensei em todo mundo daquele castelo que importava para mim, pensei na Olivia e na Peyton, na Robin, no meu pai e nos meus irmãos. Lembrei do meu projeto e pensei em todas as pessoas que precisavam de mim, em todo o povo Avallonês que precisava de alguém que lutasse por eles. Não iria deixar que nada interferisse no que fui destinada a fazer, eu havia descoberto o meu propósito e lutaria por ele. Olivia, mesmo sem perceber, havia feito com que eu ficasse mais forte, eu lutaria por um país melhor para minha afilhada, mulher em um reino machista; pelas minhas irmãs e por todas que precisavam de uma luz, pois aquilo que eu sofri com Merck e aquilo que passei com Kendrick, me machucaram, mas eu não permitiria que mais ninguém fizesse isso comigo.
Naquele instante eu havia decidido que ninguém me machucaria mais, e que não permitiria que acontecesse com mais ninguém.
- Majestade, eu vou ficar!

Capítulo 2

~Por ~


- A cerimônia da Caneta vai acontecer hoje, ao pôr do sol. – meu pai dizia para nossa equipe e para a equipe de Alan, ele finalmente havia aceitado o acordo.
- Fico muito honrado de assinar com vocês. - ele respondeu, sorrindo.
- Vai ser um momento histórico para Agartha e Avallon. – eu falei ao lado de meu pai. – A Cerimônia da Caneta vai ser o elo mais forte e abrirá portas para outros elos. - eles levantaram a taça de champagne. – Viva à Agartha! Viva à Avallon!
- VIVA! - Um coral uníssono saiu dali, era de arrepiar, a cerimônia da Caneta era basicamente um acordo sendo assinado perante às câmeras e perante ao povo. Era um momento histórico, já que a última cerimônia da Caneta foi feita no século passado, quando meu tataravô assinou um acordo com Fighyt, um país do outro lado do mundo. Em poucos minutos a sala foi se esvaziando e restou apenas eu, meus irmãos, meu pai, Dave e Alan.
- Estou tão ansioso, obrigado, Alan. – falei, apertando a mão dele.
- Eu que agradeço, , vocês me mostraram como é importante ter essa aliança, sei que teremos aliados fortíssimos e dispostos a defender uns aos outros.
- Nosso povo aprendeu muito com vocês nesse pequeno período juntos, acredito que juntos possamos acabar com essa guerra sem força bruta. – meu pai disse, fazendo todos concordarem. – Pensei que não conseguiríamos esse acordo.
- As selecionadas nos receberam muito bem, meu povo logo de cara se identificou aqui, meus guardas trabalharam bem com os seus. – Alan começou a falar. – mostrou que está disposto a qualquer coisa pelo bem do país, nunca vi alguém tão dedicado e fazendo isso por amor, acredito que esse é o líder que todo mundo precisa, eu queria ser assim. – ele riu, enquanto eu ficava grato e maravilhado com o que ele dizia. Realmente, eu fazia aquilo por amor. – Ah, também tem muito dedo nisso, ela está disposta a muita coisa para defender o povo, mesmo tendo passado por coisas horríveis, quais ela esquece pelo povo. - Dave pareceu ficar com os olhos brilhando ao ouvir a filha sendo elogiada, não era para menos. - Eu a convidei para ir comigo para Agartha.
- O QUÊ? - só faltou gritar. – Quer dizer, como assim?
- Não me levem a mal, mas eu adorei aquela garota, preciso de alguém com aquela garra ao meu lado, sei que ela é propriedade de Avallon, mas não custava nada tentar...
- Você não pode... - começou a falar.
- Eu posso, mas ela não quis. – por uns minutos eu fiquei aliviado, essa é a minha garota. – Ela não quis, pois está apaixonada por algum de vocês, mas vocês são infantis o suficiente para brigarem entre si, quando na verdade, quem tem que tomar uma decisão, é ela!
- Alan, concordo com você. - Dave começou a falar enquanto o encarávamos. – Minha filha não merece isso, e nem vocês.
- Acredito que ela será uma líder fantástica, tudo que falta por aqui. – Ok, ele se referiu à minha mãe?
- Como sabe que ela será boa líder? - minha mãe disse. Era o que faltava naquela situação, ela estragaria o acordo se pudesse, apenas pelo fato de Alan estar ao lado de .
- Ela tem garra e luta pelo povo, Majestade... Você sabe melhor do que ninguém que aquela garota é “A” garota.
- Ela realmente vai ser uma líder incrível. - concordou. Eu concordei com ele, já que contra verdades, não há argumentos.
- Isso todos aqui fazem, não precisamos de uma qualquer para fazer o óbvio. - minha mãe novamente começou a atacar.
- Com todo respeito, Majestade, você não faz nem o mínimo. Por ser rainha e levar a coroa, poderia fazer muito mais. - encarei meus irmãos, que seguraram a risada, e meu pai, que arregalou os olhos, mas não interviu, sinal de que ele concordava com aquilo. - merece a coroa e merece alguém que faça de tudo por ela, nesse quesito, vocês estão bem...
- Alan, você é apenas um jovem que está no começo da carreira, irei relevar sua falta de educação e aguardar sua retratação, não é e nem será digna de usar uma dessas três coroas. – ela não aguentou ficar quieta. – Ela não saberá governar.
- Você também não sabia. – dessa vez, foi meu pai quem falou, fazendo-a arregalar os olhos. – E acredito que você tenha se esquecido de tudo que foi ensinado a você até hoje. tem sangue de líder nas veias.
- Ela é filha do soldado. – Alan falou, sorrindo, e todos olhamos para Dave.
- Tenho certeza de que ela será uma líder magnífica, assim como e assim como e , nas áreas em que escolherem seguir. – ele sorriu para mim, eu queria abraçá-lo. Dave sempre foi um dos poucos que acreditava em mim e no meu potencial para Rei.
- será o próximo Rei. – Leigh-Anne riu com deboche, olhando aquela situação toda. – Ele foi criado desde sempre para isso. , meu filho, você mais do que ninguém sabe que não tem culhão para algo desse porte.
- Mãe! - a repreendeu, eu apenas a encarei, já era acostumado com aquilo que ela fazia. – Nascemos no mesmo dia, são minutos de diferença entre nós, isso não deveria validar ele como incapaz.
- Que fosse o primeiro, então. - ela deu de ombros e se retirou, senti as mãos de em minhas costas e meu pai indo até mim.
- Eu ainda sou o Rei de Avallon, meu filho, e de Rei para príncipe, você será um rei incrível, não importa se precise esperar anos para isso acontecer. - sorri. Era importante aquilo, ver que meu pai me achava digno. – Depois desse acordo, você é digno.
- Obrigado, meu pai. – o abracei e logo pude ouvir a voz de , que nos fazia rir.
- Querem um lencinho? - ele fez careta. – Todos aqui sabemos que você é o único que quer essa coroa, eu a renuncio desde que descobri que sou herdeiro.
- Você nunca gostou de nenhum compromisso, . – nosso pai falou, sorrindo e lhe dando um empurrão leve. – Mas eu amo vocês por essa individualidade de vocês. Vieram ao mundo juntos, mas, biologicamente falando, a única coisa que vocês têm de igual, é o sangue e alguns traços, mas de resto, são diferentes.
- Engano seu, Roger, eles são diferentes, mas são iguais, você criou bons homens. – Alan sorriu, caminhando até a porta. - Não é à toa... Tal pai, tal... Filhos.

~Por ~


- O que iremos comemorar hoje? - Beth perguntou, chegando no salão de festas, sorrindo. – Eu não sei se aguento mais uma noite de bebedeira.
- Céus, ser um agarthano definitivamente não é para mim. – Summer disse, passando as mãos na testa.
- Cerimônia da Caneta. – falei, animada e dando pulinhos de alegria, elas até estranharam aquela minha atitude. – Gente? - encarei elas. – Esperamos por esse acordo há séculos, é dia de comemorar!
- Eu sei que é dia de comemorar, mas você é a garota que foi atacada dois dias atrás? Ou foi um delírio coletivo? - Sam colocou a mão na minha testa, me fazendo rir junto com as outras meninas.
- Acho que foi apenas para chamar a atenção. - Lizzie falou de longe, arrumando um enfeite de mesa. Não queria pensar que ela podia ser a mandante do meu assassino, mas às vezes eu achava que sim, era ela.
Desde que as investigações começaram (coisa de dois dias), minha vida se resumia em me esconder e ser vigiada a cada segundo. Eu havia dito que não me abalaria, pelo menos, não mais, aquilo me deu forças para continuar e terminar o que comecei. Estava muito interessada em saber quem havia mandado me matar, mas ao mesmo tempo, não queria saber, uma hora essa pessoa apareceria. Por incrível que pareça, eu não havia entrado naquele meu transe de estresse pós traumático, o que preocupava o Dr. Poirot, minha psicóloga, meu pai e meus irmãos, os meninos e minhas amigas.
Conseguimos o acordo com Agartha, finalmente. Alan havia me contado que iria assinar alguns minutos antes de aceitar, o que foi motivo de festa na noite anterior e mais festas na noite de hoje. Agartha realmente era festiva demais, qualquer motivo era razão para pegar os galões de cerveja e o arsenal de vinho. Conheci o lado bêbado de pela primeira vez e ele começou a fazer piadas no microfone principal, foi cômico. Sam deu um show de dança e puxou Alan para dançar, o que causou uma cara muito feia em . e começaram um torneio de quem bebia mais, o que resultou em ambos sendo carregados para seus aposentos e muitos xingos da Rainha pela irresponsabilidade. Rei Roger e Lady Devimon junto com Alan começaram um torneio de baralho, em Avallon, baralho era jogo de azar e as pessoas eram muito supersticiosas, mas Agartha veio para mudar até isso e descobrimos que Rei Roger e Devimon eram truqueiros de mão cheia. Até eu aprendi como jogar, e com a minha dupla, Summer, vencemos várias partidas.
Por um momento, achei que Avallon fosse capaz de deixar o anacronismo histórico para trás.
- Sim, eu quis me vitimizar. – falei para ela, sorrindo. - Aliás, deu super certo, você não percebeu?
- Estou farta de você. - ela jogou a toalha em cima da mesa. - Você não passa de uma coitada que busca por atenção. Não suporta o fato de não poder e nem ter postura para se tornar uma líder. Volte para aquele buraco de onde você veio...
- Sabe de uma coisa? - cheguei perto dela, ficando cara a cara. – Eu é que estou farta de você. Cansei dessa sua cara amargurada, dessa sua inveja, de você se sentir ameaçada e fazer um monte de coisa ruim para conseguir o que quer... Você não vai ser a próxima princesa. Você não vai ser a próxima rainha. Você... - eu não entendia o porquê eu havia começado aquilo, eu estava me igualando a ela, mas não conseguia parar. – Não. - falei pausadamente, vendo o rosto dela ficando vermelho. – Vai. Ficar. – sorri antes de terminar. – Com o .
Em segundos, senti meu corpo cair no chão com ela em cima de mim, sentia suas mãos puxando meu cabelo e suas unhas arranhando o meu braço logo depois, eu tentava segurar seu braço e ouvia as meninas tentando tirá-la de cima de mim, mas ela havia incorporado.
- VOCÊ... MERCK DEVIA TER FEITO TUDO COM VOCÊ, VOCÊ É NOJENTA. – naquele instante, quem havia incorporado era eu. Em um movimento que não entendia, eu estava por cima dela. – SUA FAMÍLIA MERECE TODAS AS COISAS RUINS QUE PASSARAM, AQUILO FOI POUCO.
- Eu vou te ensinar o que é uma briga de verdade sem precisar usar as unhas e puxar cabelo. – disse, dando um tapa em sua cara. – Você se lembra que eu falei para você nunca mais falar de mim ou de minha família? A ameaça era verdadeira. – lhe dei outro tapa, e assim se seguiram mais três tapas seguidos. Acho que eu estava descarregando toda a minha raiva nela, lembrar de Merck me fazia ter mais ódio. A lembrança de Merck em cima de mim e de todas as vezes que ele passou a mão em meu corpo vinha forte, e logo depois disso, a lembrança de Kendrick tentando me matar também veio, o que me fez fechar o punho e levantar para dar um belo de um soco naquela garota, mas fui impedida, alguém segurou meu braço.
O barulho das meninas havia cessado, tudo estava quieto. Até mesmo Lizzie havia se calado, a vadia nem estava chorando, mas começou um escarcéu. Fui tirada de cima dela e vi quem me segurava. Ótimo.
- O que é que está havendo aqui? - me segurava. segurava Lizzie.
- Eu nunca me senti tão humilhada. – ela começou a falar, chorando e abraçando , que estava chocado com a situação. - Olha o que ela fez comigo. – tínhamos encontrado uma atriz ali. – Ela... Ela surtou! Disse coisas horríveis para mim e ainda falou... Falou que você nunca vai me querer.
- Eu não menti. – dei de ombros, vendo-a fazer mais escândalo, e me repreendeu. – Desculpa, eu estou mentindo? – perguntei, apontando para Sam, que arregalou os olhos sem entender.
- Você entende o que acabou de acontecer aqui? - me virou para ele, tirando o cabelo da minha cara.
- Sim e não me arrependo, se quiser entender o meu lado da história, estarei em meu quarto e pode perguntar para as meninas, elas viram tudo. – encarei os olhos verdes dele. – Eu cansei de passar pano para essa vadia. Ela sabotou meu vestido no dia do baile, ela já sabotou outras meninas aqui ela falou mal da minha família e disse que o Merck deveria ter terminado o trabalho.
- Céus, , como você tem coragem de mentir tanto? - ela colocou as mãos no peito. Ri, balançando a cabeça
- Espero que essa cara inchada fique bem focada nas fotos de hoje. – olhei para as mãos de ainda me segurando, foi a deixa para ele me largar e eu sair dali.

~


- Você entende que uma briga é sinal de expulsão? - Robin andava de um lado para o outro.
- Eu não posso interferir nisso. – meu pai caminhava no sentido oposto de Robin, os dois no meio do meu quarto.
- Eu vi pelas câmeras a surra que você deu nela. – Ben falou, animado, recebendo um olhar de reprovação dos dois. – Sinto muito, Lizzie merece isso há tempos, eu vi com o vestido detonado.
- Ela perde a razão quando bate igual uma lutadora. – Robin quase gritou. Ah, que saudade que eu estava daqueles gritos dela.
- Eu faria de novo e faria pior, deveria ter socado aquele olho dela. – falei, dando de ombros, vendo os dois se encararem e começarem a falar juntos um discurso de que violência não era a solução e várias coisas. Respirei fundo enquanto ouvia.
- Você claramente está surtando pelo que aconteceu. – Robin dizia, cruzando os braços. - Creio que isso amenizará tudo.
- Sabe o que vai amenizar? - me levantei e fui até o armário, tirando o vestido que ela destruiu e entregando para eles. – Isso aqui, o que ela fez de verdade. Isso aqui. – mostrei os arranhões de meu braço e meu cabelo cheio de nó. - E se eu pudesse mostrar as memórias dela jogando o veneno em cima de mim, eu mostrava e comprovava tudo. O que vale aqui é o meu caráter, quem eu sou e o que eu fiz nesse lugar. – me levantei, caminhando até a varanda. – Eu nunca fiz isso sem motivo.
Eles pareceram concordar comigo. Ficaram calados e se retiraram em alguns minutos, Ben foi o único que ficou.
- Eu não tiro a sua razão, . – ele se sentou ao meu lado na varanda, olhando a paisagem e sentindo o vento fresco. – Mas... Eu devo ficar preocupado?
- Com o quê?
- Com você. - se virou para mim. – Isso não é uma forma de escape para o que aconteceu?
- Eu não vou chorar porque tentaram me matar. – dei de ombros. – Se é isso que vocês esperam de mim, podem esquecer.
- Eu não quero que você chore. – ele pareceu ficar chocado com aquilo. – Eu quero que você converse comigo, com alguém... Só quero que você fale.
- Falar o quê? Ben, tentaram me matar, estou muito triste com isso. – ele balançou a cabeça negativamente.
- Eu estarei aqui quando acabar o deboche e a armadura em volta de você, se você precisar. – Ben caminhou até a porta. - E chorar não significa que você é fraca.
Senti a porta batendo e me tremi, meus olhos encheram de lágrimas, mas eu não as deixei cair. Eu não tinha que chorar porque bati em Lizzie Frost, ela mereceu. Aquela garota havia deixado de ser minha amiga fazia tempo, talvez até a lembrança dela sendo legal e gentil fosse um delírio. Eu estava mais forte do que nunca, e permaneceria daquela forma.
Durante a tarde, fiquei esperando alguém ir falar comigo, já que provavelmente eu seria expulsa. Talvez fosse meu destino sair de lá, talvez a realeza não fosse parte do meu destino e não adiantasse nada eu tentar lutar contra isso. Ninguém apareceu. Erámos apenas eu e minhas damas tentando esconder as marcas de unha e arrumar o meu cabelo. Meu maior receio era perder a Cerimônia da Caneta, era um momento importante para Avallon, para Alan e, principalmente, para .
Ouvi alguém abrindo a porta e minhas damas saindo rapidamente. Era . Esperei por um xingamento e mais gritos, mas o que recebi foi um abraço.
- Lutadora é mais um adjetivo na sua lista? - não o soltei do abraço, moraria ali se fosse possível. - Você sabe o que isso significa?
- Expulsão.
- Nenhuma das duas serão expulsas. – ele me afastou um pouco para olhar meus olhos.
- Nenhuma das duas? - por um momento, achei que fosse gritar.
- O caso foi apurado, ... Você foi provocada e reagiu.
- Aykroyd. – me soltei dele, querendo explodir o pensamento que tive de morar no abraço dele, eu colocaria fogo lá se pudesse. Ele caminhou rapidamente até minha cama, pegando um travesseiro e colocando em sua frente. – Aquela demônia me sabotou, sabotou várias outras meninas, me provocou, e foi ELA QUE COMEÇOU A ME AGREDIR.
- Você perdeu a razão quando deixou a cara dela roxa, acho que se tivesse deixado menos hematomas, ela teria chance de ser expulsa. – ele deu de ombros, se protegendo do que eu iria jogar nele, eu nem havia pego nada, mas estava cômico vê-lo daquela forma.
- E os meus hematomas? – mostrei. – Aquela vadia me arranhou inteira.
- E você deixou a cara dela roxa.
- Vocês estão defendendo-a! - quase gritei.
- Nós estamos protegendo você! - me assustei com ele quase gritando comigo. - Você está fazendo de tudo para ser expulsa da Seleção e a gente sempre está arrumando um motivo para você ficar, e se para você ficar, a condição é conviver com a Lizzie, você vai fazer isso! - fechei a cara, não sabia o que dizer, na realidade, não queria dizer nada. - É isso que você faz, você não aceita críticas, não aceita outra opinião. Quer ser ajudada, mas apenas nos SEUS termos. – o encarei, esperando que ele terminasse logo. – Lizzie se sente ameaçada e eu a entendo.
- Pois então, fique com ela. – falei, explodindo. – Se você tem o mesmo nível de insegurança que aquela garota, você precisa de um tratamento tanto quanto ela! Que bom que você disse o que pensa de mim. – caminhei até a porta, saindo de lá, mas depois de alguns passos, me dei conta de que não precisava sair do MEU quarto, então voltei. – Eu não preciso sair daqui, este quarto é meu. Saia daqui.
- Está vendo só? - ele balançou a cabeça e caminhou até a porta. - Você não deixou nem eu terminar.
- Não precisa, eu já ouvi bastante. – cruzei os braços, respirando fundo. – Boa Cerimônia e parabéns.
- Você não vai? - ele pareceu chateado e chocado ao mesmo tempo.
- Não sei, acho que vou estar com dor de cabeça. - sorri, devia estar óbvio o meu deboche. Ele não disse nada, apenas concordou com a cabeça e saiu.
Respirei fundo ao ouvir a porta batendo.
O que estava acontecendo comigo?

Capítulo 3

As cores rosa e laranja que começavam a aparecer no céu azul, combinavam em um tom espetacular naquele início de pôr do sol, o vento que vinha da minha varanda dava indícios de que a primavera estava chegando junto com as pequenas mudas de flores que começavam a dar nas árvores e no jardim. Naquele instante, as pessoas começavam a ir para a Cerimônia da Caneta. Eu, permanecia em meu quarto, com raiva de ; com raiva de Lizzie; com raiva de Merck, que mesmo morto, ainda continuava estranhamente me assombrando; de Kendrick, que tentou me matar; e da pessoa que mandou ele fazer isso. Me sentia péssima por tudo que estava acontecendo.
Ouvi a porta abrir e nem me importei em ver quem era, mas ao sentir aquele cheiro familiar, me virei rapidamente. Era Eric. Travei assim que o encarei. Ele estava mudado desde a última vez que eu o vira na cozinha.
- Pensei que você estivesse precisando de um amigo, e... - ele tirou o pano da mesinha que empurrava. – Comida.
- A comida pode ficar. – falei, dando de ombros, e ele riu.
- Você precisa de um amigo agora. – arqueei a sobrancelha.
- Eu tenho muitos amigos, não preciso de você.
- Você precisa de alguém que esteve com você a vida toda. – comecei a rir, só podia ser piada.
- Eric? Onde você esteve nesse tempo todo? – perguntei, o encarando. - Você deixou de ser meu amigo no momento em que eu entrei nessa seleção, não tente agir como se fossemos amigos, porque não somos.
- Eu estou tentando, . – ele suspirou. - Você precisa de alguém que te faça voltar à sua essência.
- Minha essência? - comecei a rir novamente. – Eu cansei disso e não preciso de você também.
- Você percebeu que está tão fora de si que está perdendo um dos momentos mais importantes para Avallon? - Eric perguntou, me fazendo encará-lo. – Acho que ainda pior, você percebeu que está perdendo um momento extremamente importante para seu amigo? Ou até mesmo o seu futuro esposo?
- Você não tem esse direito. – levantei o dedo e tinha quase esquecido dos olhos debochados de Eric. Ele tinha razão.
- Ainda dá tempo, . – ele sorriu, apontando para o relógio.
- Eric? - Lauretta perguntou assim que entrou junto com Olivia e Taihne.
- Lauretta. – ele sorriu, indo até ela.
- O que faz aqui? Sabe que é proibido funcionários homens não autorizados nos quartos das selecionadas. – ela falou, me encarando, nervosa.
- Eu vim te ver, achei que a srta. estaria na cerimônia, mas já me desculpei com ela. – encarei aquilo sem entender, ela sorriu para mim e eu, ainda chocada, apenas balancei a cabeça, concordando.
- Vocês têm a minha benção. – falei, meio baqueada com aquilo. – Eu... Eu vou para a Cerimônia.
Não tinha nenhum guarda na porta do meu quarto, nem mesmo Ben, eu sabia que a Cerimônia estava acontecendo nos portões de Avallon, tinha que atravessar a ponte e lá estariam os avalloneses, vendo tudo. Eu não chegaria a tempo.
Corri até as portas principais e tinha alguns guardas ali, uns com cavalos e outros andando, apenas observando tudo, afinal, todo cuidado era pouco. Eu podia correr, não chegaria a tempo, mas chegaria para ver sendo aplaudido. Independentemente de qualquer coisa, eu torcia por ele e ele precisava de mim.
-Hey, soldado. – falei para o guarda montado em um cavalo. – Preciso do seu cavalo.
- Mas... Senhorita...
- Eu imploro, e depois eu mesma me resolvo com o Major Walker. – falei, me aproximando dele. – Prometo que cuidarei dele e sua carreira permanecerá intacta. – ele olhou para o colega e pareceu querer negar. – Quer que eu ordene? - perguntei, sem paciência, e ele desceu do cavalo.
- Cuidado, eu te ajudo a... - ele começou a falar e antes mesmo de terminar a frase, eu já havia subido no cavalo. Obrigada, . - Subir.
- Obrigada, soldado. – sorri, dando partida no meu mais novo amigo.
- Vá com ela! - ouvi ele ordenando para o outro colega com cavalo para me seguir, mas eu já estava muito longe.

~Por ~


Não entendia o ódio de por Lizzie, na verdade, entendia, mas sabia que o que Lizzie fez foi apenas por desespero. era a mais privilegiada da Seleção inteira, seria inocência a nossa imaginar que algo desse tipo não ocorreria. Por mais que a voz sensata na minha cabeça dissesse “Isso é bizarro, não pode viver cheia de perigo dessa forma”, a outra dizia “Você sabe que uma boa conversa com Lizzie resolveria tudo”. Meus irmãos não concordaram com a ideia de deixarem Lizzie na Seleção, mas seria privilégio nosso expulsar uma e deixar a outra, sendo que as duas fizeram coisas ruins.
Optamos por deixar as duas e conversar com elas sobre isso.
não gostou da nossa conversa, me expulsou do quarto e com razão. Se eu tivesse no lugar dela, também iria me odiar, ainda mais estando naquela situação. Eu estava fazendo de tudo para ela me odiar. Talvez assim, ela escolhesse um dos meus irmãos. Eu abriria mão dela para ficar bem com meus irmãos e sabia que ela seria mais feliz com um dos dois, isso não significava que eu não faria de tudo pra deixá-la feliz, caso ficasse comigo. Acho que é assim que pessoas maduras agem. E estava me matando agir assim.
- Preparado? - apareceu ao meu lado, sorrindo. Estávamos fazendo a concentração na varanda do meu quarto.
- Estou nervoso. – ri. Ele balançou a cabeça, me dando uns tapinhas nas costas.
- Você só vai assinar o maior acordo de todos os tempos, não é nada demais. – e o seu sarcasmo, balancei a cabeça, rindo. – Vai dar tudo certo, isso é só o começo.
- Um grande começo. - falou da varanda dele, ao lado de Alan. – Estou orgulhoso.
- Você deveria assinar. – falei, claramente nervoso.
- Não! - ele falou rapidamente. - Você vai assinar e pronto. Isso é mérito seu.
- Mas você que é o próximo Rei, e...
- Eu renunciaria a Coroa por você. - disse, tomando um gole de seu champagne. Aquilo bateu em mim como um soco.
- Obrigado, irmão. - sorri para ele.
- Eu renunciaria a Coroa por você também. - falou, olhando para a paisagem. – Se isso não fosse matar nossa mãe.
- Que bom que alguém aqui tem senso. – revirei os olhos, só podia ser minha mãe, atrapalhando mais um dos únicos momentos meu com meus irmãos. - Está atrasado para a cerimônia, não deixe Agartha esperando.
- Agatha está aqui. – Alan falou do quarto de . – E ainda acho que a melhor escolha para Rei, é .
- Cuide do seu reino, Alan, nós cuidamos do nosso. – sentia que a qualquer momento ela iria estragar tudo.
- Chega, mãe. - falou, sem paciência. - Estou cansado de você sendo amarga com tudo e todos, até mesmo com o Monarca que vai ajudar nosso reino. Você é péssima. Sinto falta daquela mulher doce e gentil, só fale comigo ou com meus irmãos de novo quando ela retornar.
Ela nos encarou com raiva, mas não disse nada, saiu do quarto e o clima ficou pesado, sempre foi o mais direto de nós e não importava se sua sinceridade ia ou não machucar alguém, ainda mais quando se tratava de nossa mãe.
- Alguém tem que colocar ela de volta no eixo. – falou, depois de alguns minutos em silêncio. - E seremos nós a fazer isso antes que ela se destrua. Vamos começar ignorando-a até que ela perceba que agindo assim, irá nos perder.
- Você sabe que isso é impossível. – falei e concordou. – Lembra da greve de silêncio que fizemos quando criança?
- Aquilo foi por ela não deixar a gente comer doces. – revirou os olhos, nos fazendo rir. – E funcionou depois de umas semanas.
- Greve de silêncio. - repetiu, dando de ombros.
- Está na hora, vamos. – Alan falou depois de um tempo e me encarou, sorrindo. – Para o seu momento.
- Nosso momento. – sorri e fomos atrás do acordo que mudaria tudo.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, conversando e dando risadas, afinal, estávamos felizes e meus irmãos e eu voltamos a ser como antes. Depois do ataque que sofreu, percebemos que a vida era muito curta para ficarmos discutindo por alguém, mesmo essa pessoa sendo . Fizemos nosso novo acordo de tentarmos conhecer outras garotas da Seleção e não brigarmos ou ficarmos estranhos um com o outro caso um de nós ficássemos com ela. E isso seria totalmente escolha dela.
Assim que chegamos na recepção do castelo, vimos que se formava uma concentração de pessoas ali dentro, todos esperando para irem ao local onde ocorreria a Cerimônia, fomos recebidos com palmas e isso aqueceu meu coração, mas me deixou extremamente nervoso. Quando deu o horário de sairmos todos juntos, vi que realmente cumpriu o que disse, não apareceu para ir conosco. O meu dia era para ser perfeito, mas a única pessoa que eu queria que estivesse ali, não estava.
Pegamos nossa carruagem e juntos nos dirigimos até a abertura do reino, que separava o povo do palácio. No percurso, eu tive que fingir que estava feliz, na realidade eu estava, mas era bizarro o fato de a ausência de ter me afetado tanto. Éramos amigos antes de qualquer coisa, e seu transtorno de estresse pós traumático se juntou com o ódio dela por Lizzie e de quebra, a nova personalidade dela que se aconchegou na situação, estava atrapalhando tudo e qualquer coisa. Era difícil lidar com ela em tempos normais, mas em tempos assim era ainda pior.
Chegamos no local e estava lotado. Eu sorri ao ver o povo gritando, animado. Era importante ver o meu povo feliz. Assim que descemos, acenei para eles e subi no palco improvisado, havia cadeiras para nós ali e assim que subimos aguardamos uns instantes para o nobre papa começar a dar sua benção. O discurso dele foi bem emocionante, ele agradecia e falava muito feliz que finalmente poderia presenciar um marco histórico e ficava muito feliz por ter sido eu, , a fazer isso. Logo após, meu pai começou a falar, esse foi o mais importante para mim, ele não falou muito, o mais importante foi seu abraço e ver em seus olhos que ele estava orgulhoso. Alan pegou o microfone logo depois e agradeceu também e falou que estava fazendo o que Agartha deveria ter feito há décadas e ficava feliz em ser ele a assinar o acordo. Quando chegou a minha vez de falar, foi impressionante ser amado pelo povo daquele jeito.
- Sou muito grato por ter a oportunidade de fazer algo importante. Esse acordo não teria acontecido se Alan não fosse tão disposto a cuidar de seu reino, não teria acontecido se meu pai não tivesse me dado essa oportunidade, não teria acontecido se nossas belas selecionadas não tivessem feito um belo trabalho para Agartha ver como um todo que merecemos nos unir. – sorri, olhando para algumas pessoas próximas, procurando uma em específico. - Eu não quero crédito algum disso. Eu fiz por vocês. Nós fizemos isso por vocês!
Larguei o microfone e fui aplaudido novamente, olhei em volta na esperança de vê-la, mas não achei. O papa abençoou o acordo e fez um ritual para assinarmos em seguida. Fiquei frente à frente com Alan, em frente da mesa com o acordo. Respirei fundo e peguei a caneta dourada.
Assinei o Acordo primeiro.
Alan assinou em seguida.
Fomos recebidos com palmas e gritos, não cabia tanta felicidade em mim, senti meus irmãos me abraçando e meus pais também. Olhei em volta e a vi. Em cima de um cavalo. sorria de longe para mim e acenava feliz, seus cabelos voavam por conta do vento e parecia uma pintura de tão bonita.
Me virei novamente para erguer o acordo junto com Alan. Os gritos ficaram estridentes ao ouvirmos um barulho extremamente alto, e não era barulho de fogos de artifícios. Senti meu braço arder, tudo virou uma bagunça, pessoas no chão, pessoas gritando e eu sendo envolto por vários guardas e sendo direcionado para a carruagem imediatamente. Não entendi nada no momento, pois foi muito rápido, mas ao ver as meninas chorando ao entrarem desesperadas em suas carruagens, eu entendi o que estava acontecendo. Um ataque.

(Coloque para tocar :) )


- Cadê o ? - minha mãe perguntou, desesperada. – ROGER, CADÊ O MEU FILHO?
- Dave está lá fora. – ele falou, tentando manter a calma. – Alan, você está bem?
- Eu sabia que isso iria acontecer. – ele falou, balançando a cabeça em negação. - Esse acordo mexe com a estrutura de Vantron, a gente podia ter evitado esse ataque.
- Estamos... Estamos preparados para um ataque assim. – falei, respirando fundo. – Nossos homens estão sempre a postos para algo assim, e se juntando com os seus homens, nós ficaremos bem... Fomos só... Pegos de forma cruel, só espero que ninguém tenha se ferido.
- Você se feriu? - perguntou, pegando em meu braço. - Você levou um tiro, !
- Eu estou bem! - disse, tentando ficar acordado.
- Roger, se meus filhos morrerem... - ouvi minha mãe dizer, mas não consegui escutar tudo, desmaiei na hora.

~POR ~


Cheguei a tempo de ver dando o seu discurso, curto, mas sincero e inspirador. Do jeito que ele era, não via a hora de falar isso para ele, que briguinha idiota alguma iria me afastar dele, principalmente briguinhas causadas por Lizzie. Eu me dei conta que meu surto era desnecessário e eu falaria isso para ele. merecia o meu melhor agora.
Após o seu discurso, o papa deu a sua benção antes dos meninos finalmente se aproximarem do acordo, que me deixou ansiosa por algum motivo. Vi segurando a caneta e se curvando para assinar o acordo, depois que ele fez isso, Alan assinou logo em seguida. Foi naquele instante que a multidão foi à loucura, não só eles, eu também. Não tirava os olhos dele e foi lindo vê-lo sorrir daquela forma, foi mais lindo ainda ele olhar para mim por uns instantes, eu levantei a mão, lhe dando um aceno tímido, ele sorriu de volta e se virou para sua família.
- Srta. , que bom que te encontrei. – o guarda em cima do cavalo apareceu ao meu lado. – Venha, vamos voltar para o castelo, podemos evitar broncas para nós dois. – ele riu e eu ri junto, não era uma má ideia, evitar broncas era importante e eu não queria problemas para ele. Me preparei para segui-lo, quando de repente fomos surpreendidos, o guarda caiu ao levar um tiro, me desesperei, não sabia da onde tinha vindo, do nada os barulhos não pareciam mais ser de fogos de artifícios e os gritos não eram mais de alegria. Olhei para onde os meninos estavam e gritei ao ver um tiro vindo diretamente na direção de e logo depois vários guardas indo para cima deles, para protegê-los. Não poupei esforços ao ir na direção deles, mas fui impedida pela grande movimentação de pessoas desesperadas. Do nada, tudo virou uma bagunça, eu não entendia mais nada e me preocupava com todos ali, vi de longe algumas pessoas sendo escoltadas até as carruagens, mas o que mais me assustou foi uma explosão, um pouco distante da onde estávamos. Senti uma mão em meu braço, olhei para o lado, já me preparando para bater em quer que fosse.
- O que você está fazendo aqui? - era meu pai, extremamente bravo. – E o que está fazendo aqui em cima de um cavalo? Desce daí! Está sendo um alvo muito mais fácil aí de cima.
- Pai, eu... - desci do cavalo, ficando ao lado dele que tratou logo de ficar em cima de mim.
- Todas as carruagens estão saindo. – ele falou, preocupado. – E sendo bem sincero, eu não quero que você fique longe dos meus olhos agora. – Pegue o cavalo, vá em direção à nossa cabana, você sabe chegar lá, certo?
- Sei. – disse, arregalando os olhos. Como entrar na floresta a noite poderia ser mais seguro do que a carruagem? - Eu estou com medo.
- Não tenha, eu vou te buscar assim que tudo acabar. – ele me abraçou e me entregou uma arma. Ótimo, meu pai havia me dado uma arma. - Faça esse percurso escondida atrás do cavalo, não suba nele ainda, só faça isso quando estiver na floresta, pegue essa lanterna se necessário e vá com o meu cavalo, Greiguer sabe chegar na cabana, é o melhor cavalo. – respirei fundo, segurando a corda de Greiguer, eu estava preocupada com meus amigos e com o meu pai. - Você é filha do soldado.
Não pensei duas vezes antes de sair correndo para a floresta ao lado de Greiguer, o animal era bravo demais e chegou a dar um coice em um pobre guarda que ousou passar por nós durante o pequeno trajeto. Subi nele assim que pude e me surpreendi com a esperteza do animal, não fiz movimento algum e ele começou a correr em direções que eu nem pensaria.
- Greiguer, onde estamos indo? A Cabana não é por aqui. – sussurrei, nervosa. Ele não estava mais correndo, estava bem devagar, o que me deixava ainda mais preocupada, podíamos ser pegos. O cavalo estava atordoado e estava tudo escuro, tinha medo de ligar a lanterna e chamar a atenção errada. Respirei fundo e deixei ele nos guiar, afinal, eu não iria contra ele. Após alguns minutos, ele simplesmente parou. – Greiguer? - perguntei, nervosa. Queria que ele soubesse falar, mas o que ele fez foi praticamente uma leitura da minha pergunta, ele se abaixou. Eu saí de cima dele logo após isso. Ele, super protetor, bufou, como se quisesse dizer para eu ficar atrás dele, foi o que eu fiz. Minutos depois, ouvimos outro cavalo, foi o suficiente para eu entender o motivo das atitudes dele. Fiquei ainda mais escondida, com a arma preparada para qualquer situação.
Quando o outro cavalo se aproximou da gente, eu senti que não conseguia respirar, era o meu fim?
- Que droga. – ouvi a pessoa falar assim que o cavalo parou do nada, bem perto da gente. Foi o suficiente pro outro cavalo reconhecer que tinha alguém ali, foi o suficiente pra Greiguer se levantar bruscamente e assustar o outro cavalo, que derrubou o cara de cima dele. Liguei a lanterna e me aproximei do homem caído no chão, a arma na outra mão não escondia o meu desespero.
- O quê? - falei ao ver que conhecia o corpo reclamão no chão. - Como me achou aqui? – perguntei, o encarando completamente chocada.
- Segui meu coração. - respondeu, me fazendo arquear a sobrancelha e aguardar a risada dele logo depois. – Certo, isso foi horrível. - tentei segurar a risada, mas foi impossível, o ajudei a levantar. - Eu vi você saindo com o cavalo na direção da floresta, eu te segui logo depois. Na verdade, eu fugi de um cara que apontou uma arma pra mim, achei um cavalo e corri, você foi só um pretexto.
- Você arriscou sua vida. – falei, me tremendo só de imaginar os Vantronis o pegando. – , como será que eles estão?
- Espero que estejam bem, . – ele suspirou e resmungou de dor novamente. – Não sei ainda se são os Selvagens ou Vantronis.
- São os Vantronis. – falei sussurrando, e ele suspirou. – Os Selvagens não atacariam a gente, não hoje, com duas tropas preparadas para qualquer ataque possível. Os Vantronis atacaram a gente logo após o acordo, céus... quase levou um tiro. – comecei a tremer novamente e ele me puxou para baixo de uma árvore, peguei Greiguer e fomos juntos até lá. O outro cavalo havia saído correndo.
- Ele está bem. Todos estão bem. – acho que ele falou isso mais para si mesmo do que pra mim.

Capítulo 4

- Acho que podemos encontrar a cabana. – falou depois de um tempo em silêncio e vendo que eu estava congelando.
- É perigoso sair agora, está escuro demais. – falei, tentando não mostrar que estava congelando mesmo.
- Podemos ser picados por algum bicho. – liguei a lanterna na cara dele e comecei a rir. – O quê?
- Achei uma coisa que tira Aykroyd da pose de macho alfa. – ele bufou, revirando os olhos. – Meu Deus, você tem medo de aranha e cobra!
- Quem não tem medo de animais peçonhentos? - perguntou na defensiva. - Você não é desse mundo, !
- Eu convivo com duas najas todos os dias. – ele arqueou a sobrancelha. - Não me assusto tão facilmente.
- Eu sei que uma é Lizzie, quem é a outra? - arqueei a sobrancelha e ele entendeu. – Ah, minha mãe...
- Desculpe, não aguentei. – falei, me aconchegando em seus braços.
- Se você não falasse, eu falaria. – ele riu, me fazendo o acompanhar, era bom quando não estávamos os dois na defensiva. – Eles vão nos resgatar mais facilmente se formos para lá.
- Certo, vamos! – me levantei com a ajuda dele e subi no cavalo de meu pai. subiu atrás de mim. – Se você ousar se aproveitar disso, eu te derrubo daqui. – falei, ligando a lanterna e apontando para cara dele assim que senti suas mãos em minha cintura.
- Estávamos indo tão bem. – ele fez biquinho, me fazendo revirar os olhos, mas não era de todo mal, eu estava gostando da companhia dele.
Rodamos por muito tempo por aquela floresta, não sei exatamente o quanto, mas foi o suficiente para começarmos a sentir fome e eu não aguentar a vontade de fazer xixi. Greiguer parecia confuso no caminho, mas depois do que pareciam horas, ele pareceu se encontrar e começou a correr. Estava morrendo de medo de sermos vistos, foi nesse momento que Greiguer parou em um lago, eu reconhecia aquilo, na verdade, eu o parei.
- A cabana é atravessando esse lago, estamos do outro lado da floresta. – eu disse, olhando em volta.
- Vamos atravessar o lago, chegaremos mais fácil. - falou e eu neguei rapidamente. – Por que não?
- É perigoso. – eu estava com medo nos olhos.
- Greiguer é treinado para esse tipo de situação, é só nadar ao lado dele, próximo de sua corda. Acredito que o lago não seja tão fundo. – ele disse, me fazendo negar novamente com a cabeça. - É nossa melhor opção.
- Como pode ser nossa melhor opção? Olha o frio que está fazendo! - quase gritei. E voltamos ao normal.
- Céus, você só quer me contrariar! Sabe que essa é nossa melhor chance.
- Se o lago não é tão grande, podemos contornar ele, e... - escutamos um tiro um pouco distante dali de onde estávamos. Encarei , que parecia ter se assustado e depois me encarou como quem dissesse “Eu avisei”. - Vamos atravessar o rio.
Eu sabia nadar, eu não nadava tão bem, mas sabia. Tinha medo de sobrecarregar Greiguer, por isso optei por não ficar em cima dele enquanto atravessávamos o lago. puxou Greiguer e os dois entraram juntos enquanto eu criava coragem para entrar naquele lago terrivelmente gelado.
- Eu ainda sinto o chão, pelo jeito você... - debochou, a água ainda batia em seu peito, e, no meu caso, eu estava literalmente só com a cabeça para cima e nadando feito cachorrinho.
- Que bom, , espero que você se afogue com o seu deboche. – resmunguei, me concentrando para não sofrer nenhum karma do meu pedido.
- Não é legal falar essas coisas estando em um lago. – ele estava feliz com aquilo, na realidade, ele estava tão tranquilo que chegava a me irritar. Havia esquecido o quanto ele amava água.
- Eu estou congelando. – choraminguei, mas pelo menos já havíamos atravessado a metade do lago.
- Chegando na cabana você tira essa roupa. – o encarei e ele sorriu. – E coloca uma camiseta seca, deve ter algo dos seus irmãos lá.
- Sim, você ficará do lado de fora da cabana, otário. - retruquei, desta vez segurando a corda de Greiguer, pois estava cansada e sem fôlego. O que me confortava era que estávamos chegando no final do lago. Depois de uns minutos, com fazendo comentários que eu tive que me concentrar para não rir, já que ele era um idiota, chegamos do outro lado do rio, eu estava tão pesada que estava amaldiçoando aquele vestido, me prepararia para situações inusitadas como a de agora, ninguém merece. - É por ali. – apontei, segurando Greiguer e indo ao seu lado.
- Vamos, rápido, não é seguro aqui. – foi ao meu lado, me cobrindo quase inteira com o seu corpo.
- Vamos ter que esconder Greiguer, é perigoso para ele ficar aqui fora, e é perigoso para nós que o vejam aqui. – falei, olhando para cima e vendo ele respirar fundo, era muita coisa a se pensar. – Acho que no fundo dessa casa tem um lugar para os cavalos. – comentei assim que chegamos na cabana onde eu e meus irmãos nos “tornamos” irmãos “de verdade”. Fiquei aliviada por estar ali.
- Eu vou ver se a casa está livre de qualquer perigo, fique aqui fora. – ele falou assim que chegamos na entrada. Passei a mão em Greiguer, concordando com a cabeça. Peguei a chave que ficava escondida dentro de um vaso de flor e entreguei a ele. Por uns minutos, nos quais eu fiquei do lado de fora com Greiguer, decidi levá-lo para o fundo da cabana, onde ele teria água e comida junto com um lugar quentinho para dormir. O lugar estava limpo, o prendi ali e prometi que pela manhã eu voltaria.
Conforme voltava para dentro da casa, escutei uns barulhos estranhos, o que mais me assustou foi o barulho de algo quebrando.
- . – falei, correndo para dentro e vendo a segunda cena mais desesperadora do dia, um homem em cima de . A primeira coisa que vi, foi a arma no chão, próxima da janela. Corri até ela e não pensei duas vezes antes de encostá-la no pescoço do homem, que travou. – Eu não me importo de explodir sua cabeça aqui e agora. – eu disse, vendo que ele tinha um sorriso sádico nos lábios. - Sai de cima dele. – falei pausadamente e ele obedeceu. Levantou calmamente as mãos e começou a se levantar. – Fique ali. – apontei para o meio da sala. - Você está bem? - perguntei para , que concordou com a cabeça, se levantando também. – Procure uma algema, deve ter em algum lugar por aqui, no quarto de Dave.
- Acho melhor eu ficar aqui e você pegar a algema. – o encarei, brava, e ele pareceu entender que aquilo não iria rolar. - Já volto.
- Ora, ora, se não é a coroa dois, ao lado da selecionada problema. – o homem falou pela primeira vez, ele era novo e estava bem vestido, com total certeza era um Vantroni. - Você era um de nossos alvos de hoje, sabia?
- E olha só como o karma é engraçado, não é? - debochei, me referindo a nossa situação.
- Nosso alvo era o maldito Aykroyd que assinou o acordo, ele nos paga. – o homem disse, me fazendo respirar fundo, pois eu estava prestes a vomitar de nervoso. – Depois o tolo de Alan, o pai dele deve estar se remoendo no túmulo que nós cavamos.
- Por sorte, Alan não liga para o que o pai pensaria, ele está fazendo isso pelo povo.
- Povo? - ele riu pelo nariz. – O povo nunca teve voz em lugar algum.
- Talvez em Vantron essa ditadura funcione bem, a nova geração está mudando a monarquia e vai ser assim daqui para frente. – dei de ombros, ainda apontando a arma para ele, que começou a rir.
- Você é nosso próximo alvo exatamente por isso. – ele continuou rindo. - Você está tentando fazer uma revolução, e isso prejudica nossos negócios.
- É uma honra ser considerada uma ameaça para um reino tão grande como Vantron. – sorri, me sentando na frente dele.
- Vai ser uma honra acabar com você. - ele se levantou e pulou em cima de mim, foi o suficiente para que eu me assustasse e apertasse o gatilho. – Vadia... - ele sussurrou depois de alguns segundos. – Isso é só o começo, avise-os, tigre dourado. – empurrei-o de cima de mim, minhas mãos tremiam, aquele sangue em minha roupa me deixava nervosa.
- Eu lutarei até o final. – passei por cima dele, vendo chegar correndo, desesperado, até a sala e vendo aquela cena toda.
- Você está bem? - ele segurou meu rosto, olhando em meus olhos, e depois tirou a arma de minha mão.
- Eu estou. – respondi, olhando para o homem no chão com o ferimento na barriga. – Ele é que não está. - ele olhou para o cara, que estava respirando ainda. - Eu cansei de sentir medo. – falei, olhando nos olhos dele, eu estava com os olhos marejados.
- Vem cá. - senti os seus braços me envolvendo, foi o suficiente para que eu sentisse uma lágrima teimosa escorrer.
Depois de uns minutos daquele jeito, pegou o corpo e arrastou para fora da casa e jogou perto de umas madeiras que Dave usava para a fogueira. No dia seguinte, quando fossem nos buscar, seria importante que vissem o que eu tinha feito, em autodefesa, obviamente. Ele entrou de volta na casa e trancou a porta.
- Vamos ficar bem. – concordei com a cabeça e depois olhei para minhas mãos, com sangue. - Vá tomar um banho, vou procurar alguma roupa limpa por aqui e toalhas.
- Você não precisa cuidar de mim. – ele balançou a cabeça, sorrindo sem mostrar os dentes, e revirando os olhos, indo calmamente até um dos quartos.
- Eu sei, mas eu quero.
Fui para o banheiro, ainda baqueada com tudo, era informação demais ter que pensar em como estava Avallon e principalmente as pessoas que eu amava e me importava, queria que todos estivessem bem. As pessoas que estavam lá fora no evento, tinham mais ajuda dos guardas para se proteger, eu torcia para que os funcionários tivessem tido o mesmo tratamento, ou que nem tivesse dado tempo de entrarem no castelo. Esse cara que nos atacou aqui na cabana também havia me deixado ainda mais nervosa, pelo jeito Vantron não estava mesmo contente com o acordo e aparentemente eu estava irritando até eles. Que ótimo, mais um inimigo para minha lista de suspeitos. Tigre dourado significava o quê? Assim que a gente saísse de lá, contaria para meu pai e os meninos, rei Roger e rei Alan devem saber que Vantron tem algo preparado para nós e que eu sou um dos alvos, talvez se usássemos isso, daria para termos algumas cartas nas mangas, proteger os meninos e Alan, proteger o povo. Eu faria de tudo por isso.
Sentia a água quente escorrendo pelo meu corpo e consequentemente o chão sujo, misturando a terra e a sujeira que havia acumulado da floresta com o sangue em minhas mãos, eu estava um pouco aliviada, eu me sentia mais forte, mas a que preço? Eu teria que machucar as pessoas que eu gostava para me sentir melhor? Não me importava em machucar um desconhecido que havia me atacado e atacado o cara que eu gosto, mas me importava por ter magoado e Ben com a minha boca sincera, só conseguia rezar para que os dois estivessem bem e eu conseguisse me desculpar. Desliguei o chuveiro e fui até a porta, vendo que tinha apenas a toalha ali, me sequei e me cobri com ela, indo até um dos dois quartos, torcendo para não dar de cara com .
- Eu achei só essa camiseta por aqui. – ele falou assim que me viu, me dando um belo de um susto. – Eu falei para me esperar no banheiro, nem adianta me xingar de tarado.
- Só branca? - fiz careta e ele sorriu.
- Nunca percebeu que sem a farda, sua família só usa branco?
- Eu nunca os vi sem farda. – peguei a camisa da mão dele e a coloquei, por cima da toalha. – Obrigada.
- Vou tomar um banho, não faça besteira nos meus cinco minutos de ausência.
- Vou desligar a água quente se você me atazanar mais um pouco. – ele deu aquela gargalhada gostosa e saiu em direção ao banheiro, fiquei sentada na cama até que ele saísse realmente do banheiro. Tinha medo de mais alguém aparecer, mas estava doida para reagir a qualquer coisa. Ouvi o chuveiro sendo desligado e depois de um tempo apareceu no quarto, com uma calça de moletom e secando os cabelos, obviamente sem camisa, o que me deixou um pouco nervosa, não tinha o visto sem camisa e tê-lo tão perto me assustava. – Coloque uma camiseta. – falei, vendo que o bonitinho havia sorrido para aquilo e depois olhado descaradamente para minhas pernas.
- Coloque uma calça. - ele retrucou, me fazendo revirar os olhos. - Não gosto de dormir de camiseta, mas pode ficar tranquila, eu vou ficar na sala. – sorriu, saindo do quarto e me deixando sozinha mais uma vez. Eu não estava com sono. Fiquei mais alguns minutos sentada na cama até que ele voltou com algumas frutas. – Foi o que eu achei aqui para você comer.

(Coloque para tocar)


- Não precisava... - sorri e ele concordou com a cabeça, indo em direção à porta. – ...
- O que foi? - ele se virou para mim e encostou na porta.
- Já comeu? - eu queria dizer uma coisa, mas não conseguia.
- Não, só achei isso e você precisa comer.
- Deixe de ser bobo, venha aqui, isso dá para nós dois. – ele caminhou até a cama e se sentou ao meu lado, comendo o pêssego. - Eu sei que não sou uma pessoa muito fácil de lidar, mas... Me desculpe por tudo e estou feliz que você esteja bem.
- Eu sei que não sou uma pessoa muito fácil de lidar, mas... Me desculpe por tudo e estou feliz que você esteja bem. – ele repetiu o que eu disse, mas eu sabia que não era por deboche, rimos daquilo. Éramos complicados o suficiente para nos entendermos. - Você está em um momento complicado da sua vida, eu não te culpo por estar agindo dessa forma, e sendo bem sincero, eu gosto de você com a sua grosseria e deboche apenas quando você está bem consigo mesma, porque aí eu sei que você está apenas sendo você e não tentando machucar alguém.
- E eu gosto dessa sua nova versão. – sorri, o encarando. - Você continua chato, mas agora está suportável. Obrigada por não desistir de mim.
- E tem como? - ele riu, me encarando. - Você vale a pena.
- Eu não sei reagir quando você fala essas coisas. – ri, nervosa. Acho que as únicas vezes que eu ficava sem palavras era quando eles faziam isso comigo. – Eu não tenho nem para onde fugir aqui.
- Então não foge. – sorriu, tímido. Era a primeira vez que eu via aquilo. – Vamos ter uma noite só nossa, sem ataques, deboches ou provocações... Uma noite que ninguém possa nos atrapalhar e que amanhã a gente só fique com ela em nossas memórias, torcendo para termos uma próxima. - ele segurou meu rosto delicadamente. – A gente faz o que você quiser. - o encarei nos olhos e depois encarei seu corpo exposto. Encostei minha testa na dele e respirei fundo.
- Se lembra da noite em que eu bebi todas? - perguntei e ele concordou com a cabeça. - Eu lembro que você não quis fazer nada comigo e disse que só faria algo quando eu estivesse sóbria e quisesse. Por quê? – ele arregalou os olhos
- Achei que não lembrava.
- Eu lembro. – ri, balançando a cabeça. - Por que você não fez nada? Você me teria de mão beijada.
- Eu nunca faria nada com você fora de si. Nem ninguém para ser mais exato. Além do mais, se for para termos algo, quero que você se lembre de tudo, para você nunca se esquecer de Aykroyd.
Ele deu um riso nasalado e me encarou, como se esperasse uma resposta o contradizendo, mas tudo o que eu consegui fazer foi agarrar sua nuca e beijar sua boca. ficou surpreso pelo meu ato, já que arregalou os olhos. Na real, até eu mesma fiquei, mas logo após ambos fecharmos os olhos e quando ele contornou toda a extensão dos meus lábios com a língua, eu cedi sua passagem, começando um beijo suave e que poderia dizer muitas coisas.
Inconscientemente, comecei uma contagem muda, como se tivesse algo prestes a explodir, o porquê, eu não sabia.

3


As mãos dele saíram do meu rosto, contornando todo o meu corpo cautelosamente até pararem na minha cintura, onde ele apertou com força, me incentivando a levantar e sentar em seu colo, colocando cada perna de um lado e me encaixando nele sem nos separarmos. Aprofundei o beijo, sendo mais agressiva e rápida. Eu estava enlouquecendo aos poucos, descontava tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos meses naquele beijo, às vezes mordendo com mais força sua boca, outras, sugando com mais precisão, e só parei quando se afastou de mim devagar, levando seus lábios ao meu ouvido.
- Está tudo bem? - perguntou antes de pegar meu lóbulo com seus dentes, dando leves mordidinhas.
- ... - sussurrei ao passo que seus beijos iam descendo, até pegarem a pele arrepiada e quente do meu pescoço. passou sua língua ágil e experiente entre minha clavícula e o começo do meu rosto, para no final, me deixar um beijo estalado próximo ao queixo e depois voltar a dar leves chupões no meu pescoço. Se ele deixasse uma marca, ele ia se ver comigo.
Por um instinto, pressionei a minha bunda em sua já evidente ereção, fazendo separar a boca do meu pescoço e murmurar coisas desconexas de olho fechado. Pressionei de novo e dessa vez ele aprofundou o contato, colocando as mãos na minha bunda e fazendo mais força, tendo nós dois gemendo baixinho em resposta. Já podia sentir minha calcinha úmida e quente.
2

Segurei a barra da camiseta comprida que eu usava, indecisa se eu tirava ou não, já que não estava vestindo mais nada por baixo além da calcinha, mas pareceu compreender minha batalha e me encarou, passando toda a confiança que eu precisava através daquele olhar antes de me ajudar a tirar a peça de roupa, sentindo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem quando minha barriga desnuda teve contato com a sua.
Encarei seu rosto novamente, passando minha mão em sua bochecha e franzindo o cenho. O que estava acontecendo? Tudo dentro de mim se revirava de ansiedade. Uma ansiedade que eu nunca senti antes. Eu nunca havia feito aquilo, parecia que eu estava fora de controle
- Você é tão linda, . - não liguei para seu olhar em direção aos meus seios já enrijecidos pela tamanha vontade dele que eu estava, na verdade, eu até estava gostando dessa atenção que recebia, me sentia desejada como nunca. Quando senti sua mão gelada em contato com meu seio esquerdo, gemi baixinho em resposta.
Não respondi nada e voltei a procurar seus lábios, iniciando novamente um beijo afoito e bruto, enquanto ele mantinha as mãos em meus seios. Mais uma vez pressionei minha pélvis na sua e praticamente senti seu membro pulsar por debaixo da calça de moletom, rebolando mais um pouco, a fim de tentar melhorar o formigamento que sentia, fazendo gemer mais uma vez contra a minha boca.
Ainda o beijando, comecei a brincar com o cós da calça dele, morrendo de curiosidade sobre o que me aguardaria. Me levantei de seu colo, dando a ele uma visão mais precisa do meu corpo desnudo (com exceção da calcinha) e pude ver seus olhos quase pulsarem de tanto desejo enquanto com as mãos ele contornavam meu corpo todinho.
Fiquei de joelhos à sua frente, pronta para tirar aquele moletom, mas um barulho alto lá fora nos fez nos encararmos assustados. Não tão assustados quanto quando ouvimos quem era.

1

- ? - era uma voz familiar... Era Dave. Benção aos céus que tínhamos lembrado de trancar aquela porta. - , é você?
Quando cai na real, pulei em direção à minha blusa, a vestindo de qualquer jeito e nem ligando se estava virada do avesso ou não, enquanto tentava arrumar meu cabelo e dar menos na cara o que estávamos prestes a fazer.
Abri a porta rapidamente e nem tive tempo de responder nada, pois senti os braços de meu pai me apertando forte assim que me viu. Eu estava tão aliviada por vê-lo bem, mas morrendo de medo também.
- Céus! Achei que tinha acontecido algo com você, me arrependi de ter te mandado para cá no meio daquele caos. – ele respirou fundo, ainda me abraçando. - ? - meu pai encarou com o cenho franzido enquanto se soltava de mim e encarava-o por completo, parecendo compreender algo.
- Que bom ver você, Dave. – ele sorriu, meio nervoso, ainda sentado na cama com a almofada no meio das pernas. - Já acabou a confusão? Podemos voltar? - perguntou o príncipe, coçando a cabeça.
- Conseguimos conter tudo faz uns minutos, então vim verificar se a estava aqui. – falou, ainda encarando , mas dessa vez numa expressão raivosa. - Nós podemos conversar? De preferência no celeiro, onde eu guardo minhas armas. - disse essa última frase em um sussurro de arrepiar os pelos, vendo o príncipe dar de ombros.
- Pai, er... - cocei a cabeça, nervosa, e depois segurei seu braço. - Vocês viram um corpo ali fora?
- Corpo?
- Sim, era um vantroni, ele nos atacou e eu atirei nele. – falei, um pouco confusa.
- Não tem corpo algum lá fora. – Dave falou, balançando a cabeça. - Além de tudo, você deu a arma para minha filha? Aykroyd, você vai levar tanto tiro de borracha que nunca mais vai chegar perto da minha filha. – ele sussurrou essa última frase novamente.
- Pai, isso não importa agora, ele deixou uma ameaça bem clara aqui. – o encarei. – Alan e são os primeiros alvos deles, ele disse também que eu sou uma ameaça para eles, me chamou de tigre dourado, o que isso significa?
- Eles deixaram bem claro o que vieram fazer hoje nesse ataque. – Dave balançou a cabeça. - Precisamos de mais acordos antes que isso vire um mar de sangue... Tigre dourado?
- Isso muda muita coisa, Dave. – falou, o encarando, sério.
- Alguém pode me explicar? - perguntei, sem paciência. - Ninguém vai falar nada? Quero falar com , ele vai me contar tudo que eu quiser saber. – Dave olhou para baixo e depois encarou . – O que aconteceu? Pai, o que aconteceu com ?
- Filha, eu preciso que você se acalme. – aquilo foi o suficiente para o meu coração parar uns instantes. – Ele levou um tiro, está em cirurgia.

Capítulo 5

O barulho do relógio começava a me irritar. Aquele tic-tac não ajudava nada e parecia que quanto mais barulho ele fazia, menos a hora passava. Aquela madrugada havia sido bem conturbada, e às quatro da manhã, sem qualquer informação sobre o estado de , nos deixava ainda mais ansiosos e nervosos. Eu não deveria estar ali, mas Dave havia conseguido que eu ficasse com a família e Alan.
Avallon foi atacada cruelmente, havia muitos feridos e alguns mortos por conta daquele ataque. Summer havia levado um arranhão na correria e foi a única selecionada a se machucar, as pessoas do castelo que foram machucadas, também não sofreram muito, foi um grande susto. O guarda que me ajudou havia morrido, e nada tirava da minha cabeça que aquilo foi culpa minha. Os vantronis não chegaram a entrar no castelo, e ao menos isso me deixou tranquila.
Dr. Poirot estava operando , a bala havia entrado e tinha que ser retirada se ele quisesse mexer o braço novamente, aquilo me assustava. Depois do que aconteceu na cabana com , eu nem conseguia me perdoar por ter me divertido enquanto estava sofrendo, aquilo havia sido tão errado. A rainha não estava presente, ela havia tomado calmantes e ido para seus aposentos, rei Roger estava sentado apenas encarando a parede branca, havia saído para buscar algo para eles tomarem e eu fiquei muito feliz ao finalmente poder tomar um café quente, estava olhando a janela, um pouco distante da gente. Caminhei até ele.
- Não acredito que meu irmão está passando por isso. – ele falou, tomando o café que eu entreguei a ele. Assim que chegamos da cabana, nem nos trocamos, ele estava com uma camisa branca de Dave e eu estava com o casaco de meu pai. Dave havia surtado por ter nos encontrado juntos e ele não era bobo, havia entendido o que estava acontecendo. - Podia ter sido eu, não ele.
- Não fale assim, não deveria acontecer com nenhum de vocês. - falei, o encarando. – Isso que aconteceu foi horrível, mas vai ficar bem. – falei mais para mim do que pra ele. – Ele é forte e ele vai se reerguer.
- Eu sei que você gosta dele. – falou baixinho. - Você ainda não percebeu, mas você gosta dele.
- ? – falei, rindo de nervoso. – Eu estava até agora com você.
- Eu não estou falando que você não gosta de mim. – ele sorriu sem mostrar os dentes. – Eu só estou dizendo que você gosta do meu irmão e isso pode magoar alguém...
- Eu não quero magoar nenhum de vocês, . – balancei a cabeça e ele olhou para janela.
- Eu sei que não. - fomos chamados a atenção quando Dr. Poirot saiu da sala e todos levantaram, indo até ele.
- é forte. – ele sorriu, fazendo com que ficássemos aliviados. – Ocorreu tudo bem, uma semana de repouso e mais algumas de fisioterapia e ele estará pronto para causar mais um ataque. – rimos daquilo, era verdade. – Ele está acordado.
- Céus, vou avisar a Leigh! - Rei Roger saiu da sala correndo.
- Podemos vê-lo? - perguntou e Dr. Poirot me encarou.
- Ele quer ver a primeiro. – arregalei os olhos e todos olharam para mim. suspirou e incentivou que eu fosse. – Venha, minha filha.
Caminhei um pouco confusa até a sala especial, destinada apenas para membros da realeza, dr. Poirot falava algumas coisas, mas eu não conseguia ouvir o que ele dizia. Tinha muita coisa ali envolvida, coisa demais. Ao entrar na sala, estava de olhos fechados, ainda era efeito da anestesia. Me aproximei em silêncio e observei ele, estava pleno e sereno, lindo como sempre, fiquei extremamente aliviada por vê-lo e meu coração parecia que ia sair pela boca. Alguns segundos depois, ele abriu os olhos e deu um sorriso lindo, me fazendo sorrir de volta com os olhos marejados.
- Eu preciso quase morrer para te ver chorar? - ele brincou, rindo ainda, um pouco baqueado.
- Nunca mais faça isso comigo, Aykroyd. – falei, segurando a mão dele. – Foi uma bela cerimônia, eu fiquei feliz por ter chegado na melhor parte, o seu discurso.
- A melhor parte foi ver você ali. – eu tombei a cabeça para o lado, passando a mão em seu rosto. – Desculpe se eu fui grotesco falando sobre Lizzie, não quero que nada fique no nosso caminho, nem que você fique brava comigo.
- Esqueça essa vadia, eu nunca mais vou deixar nada ficar entre nós, nem mesmo ela. - ele sorriu, recebendo o carinho. - Nós dois não podemos deixar nada abalar o que temos.
- É uma bela amizade. – ele falou, fechando os olhos e sorrindo sem mostrar os dentes. – Poderia ser mais que isso.
- ...
- Tudo bem, eu sei. – suspirei, vendo-o segurar minha mão e levá-la até seu peito. – Eu estou te esperando, me desculpe por ter sido um idiota.
- Eu ainda estou confusa... Me desculpe fazer você se sentir assim, mas você não deve esperar eu escolher alguém.
- Você vai me escolher. – me deu uma piscadinha. - Você só não sabe disso ainda, e sabe por que eu sei disso? - arqueei a sobrancelha, sorrindo para aquela cena. – Porque eu te conheço.
- Você é um idiota. – deitei ao seu lado, lhe abraçando. - Céus, eu estou tão feliz por você estar bem.
Ficamos abraçados por muito tempo, quietos. Era um silêncio bom, daquele que ficávamos confortáveis um com o outro e que nada precisava ser dito. O alívio que eu sentia por ele estar bem era indescritível, estava tão feliz que queria apenas ficar ali com ele e esquecer que tinha um reino muito poderoso querendo as nossas cabeças, ou que tentaram matar o cara mais legal do mundo. Por um momento, esqueci o que havia acontecido na cabana e me senti culpada, pois eu havia gostado, me fez e me faz muito bem, só que descobrir isso, não faria bem. Além disso, eu sabia que era errado o que eu estava fazendo, e esse dilema estava me matando.
- Hey, irmão. - eu estava de olhos fechados, e por algum motivo, eu permaneci assim, mas sabia que era .
- Que bom que você está bem. – falou, baixinho, mas sabia também que ele sorria.
- Você que leva o tiro e se preocupa com os outros? - riu, se sentando ao lado de . – Melhore logo para você revoltar mais Vantronis.
- Devo dizer que você causou uma revolução. - dessa vez era . - Deu um susto enorme na gente.
- Desculpe, mas aconteceu o que eu esperava. – os irmãos pareciam surpresos com aquilo. – O tiro no meu braço e a explosão contra nosso povo foi inesperado, mas aconteceu o que eu queria. Vantron tem medo da gente, isso faz com que possamos formar mais elos, estamos mais fortes.
- A cerimônia ao vivo foi uma afronta para eles. – pareceu ter entendido o pensamento. – Eles vão lutar pesado, .
- Nós estamos preparados para isso, Alan sabia das consequências desse acordo e nós vamos fazer acordos com vários reinos agora, gente, nós acabaremos com Vantron.
- A que custo? - perguntou. - Você se machucar mais?
- Ninguém vai se machucar, confiem em mim!
- Então você tem que saber que Vantron colocou na lista de próximas mortes. – pareceu ficar um pouco abalado e se mexeu delicadamente, tentando não me acordar, pena que eu não estava dormindo. – Ela é o tigre dourado.
- Como você sabe disso?
- Não importa, isso muda tudo, . – falou, dando de ombros. – Ela corre perigo.
- Ela é quem vai mudar tudo. – falou, um pouco abalado.

~


- Temos um comunicado para vocês. - Rei Roger falou na frente de todos no jantar, Agartha já tinha ido embora, tudo havia voltado ao normal. Já fazia algumas semanas desde o atentado, estava na fisioterapia e eu estava de castigo, sim, meu pai havia me deixado de castigo desde que me pegou na cabana com . – Eu e meus filhos iremos para duas missões diferentes, nos dividiremos para visitar esses destinos que não poderemos falar para vocês por motivos de segurança, vocês ficarão seguras, triplicamos a segurança do reino nas últimas semanas.
- Levaremos uma tropa conosco. Durante a madrugada, sairemos escondidos daqui. – tomou a palavra, aquilo havia me feito ficar nervosa, não sabia como me sentir em relação aquilo. – Voltamos em alguns dias.
- Durante o período que eles vão ficar fora, eu ficarei no controle. – agora sim eu estava preocupada, a rainha Leigh-Anne no controle era a última coisa que eu precisava. – Vamos ficar bem.
- Vamos viver em uma ditadura. – falei baixinho e as meninas que estavam perto de mim começaram a rir.
- Algum problema? - ela perguntou, me encarando.
- Só queria desejar uma boa viagem aos meninos, cuidem-se. – falei, encarando-os, mesmo sabendo que não estavam falando muito comigo, por causa da cabana.
deixou uma marca no meu pescoço e aquilo deixou uma consequência devastadora para todos à minha volta. não falava comigo desde que ligou os pontos, me ignorava como se eu não existisse, algumas meninas que queriam também. Meu pai me deixou de castigo e eu magoei , dizendo que aquilo não havia significado nada, quando, na verdade, havia sim. A última coisa que eu queria era magoar eles.
Depois do comunicado, terminei meu jantar e fiquei na mesa, esperando a fila da despedida diminuir, para que eu conseguisse tentar me despedir de algum deles. Pude ver todo amoroso com Sam e Lizzie, aquilo me deu enjoo, pela Lizzie, é claro, Sam e estavam muito mais próximos que antes e eu estava distante dele. estava bem mais próximo de Courtney, o que era bizarro, já que ela estava afim de , esse estava bem mais próximo de Summer, uma união que eu não imaginava, mesmo estando surpresa em como Summer havia mudado para melhor, ela também estava próxima de . Quando ficou finalmente sozinho, foi a minha deixa de me aproximar.
- Eu sei que está bravo comigo, mas... Independente de onde for, tome cuidado. – ele estava sério e me encarou.
- Não finja que se importa, .
- Céus. - balancei a cabeça, rindo. – O que eu vou ter que fazer para você me desculpar? , nós prometemos guardar aquele dia para nós, mas você deixou uma marca no meu pescoço, você viu como fui perseguida por todos, até mesmo meu pai surtou! Eu estava nervosa e falei sem pensar, não quis magoar você.
- Esse é o seu problema. – começou a dizer, coçando a cabeça, visivelmente sem paciência. - Você nunca quer magoar a gente, eu sei disso, mas o faz mesmo assim. Não querer, não te impede de fazer. – aquilo me atingiu como um soco no estômago, ele tinha razão.
- Você está certo. – concordei com a cabeça alguns segundos depois, indo até ele e lhe dando um beijo no rosto. - Você é importante para mim, sinto muito.
olhou para mim por cima de Courtney e pareceu visivelmente não querer papo, aquilo foi o suficiente para que eu me retirasse de perto deles, não antes de olhar para , que sorriu sem mostrar os dentes, mas logo tratou de sair... Pela outra porta. Fui em direção ao meu quarto pensando nas palavras de .
Eu era a pior pessoa do mundo. Encontrei as meninas no meu quarto e logo pedi para que elas tirassem uma folga. Os guardas que estavam na minha porta eu tinha confirmado que eram os amigos do meu pai, então fiquei mais tranquila.
Elas saíram e eu ouvi uma batida na porta, abri e era meu pai.
- Veio se despedir?
- Voltamos logo. – ele sorriu sem mostrar os dentes, fechando a porta.

(Coloque para tocar)


- Vocês são burros o suficiente para saírem no meio de uma pré-guerra? – falei, visivelmente irritada. - VOCÊS SÃO OURO PARA OS VANTRONIS!
- Filha, não tem motivos para se preocupar! Iremos disfarçados e sem chamar atenção. Vamos sair junto com os aviões de exportação, foi tudo muito planejado! - meu pai sorriu, se sentando na cama.
- Como não me preocupar? As pessoas que eu amo serão enviadas como pacotes de uvas, vinhos, patês e doces! - ele me puxou para um abraço. - Se cuida, por favor.
- Denver ficará aqui cuidando de você e ficando no meu lugar no período fora, mas Ben vai, para ficar com e . - concordei com a cabeça. - Eu ligo assim que possível dando notícias.
- Voltem bem, para quando retornarem, eu poder bater em vocês sem culpa. – meu pai riu, aquilo tirou um sorriso de mim. Ele me deu um beijo na testa e saiu, logo Benjamin entrou, foi o suficiente para que meus olhos enchessem de lágrimas, eu estava sensível. - Vocês são burros, eu não acredito que vão sair em missão suicida, e o pior de tudo é que vão os seis juntos!
- Você terá que virar rainha para impedir atitudes idiotas desse tipo. – o encarei feio enquanto ele ria e se sentava ao meu lado, me abraçando pelos ombros.
- Homem em si já é idiota, mas vocês, além de idiotas, são burros e irresponsáveis. – Ben começou a rir.
- Se comporte nesse tempo que ficaremos fora, você e a megera não se dão bem, então, por favor, se comporte!
- Ela fica na dela e eu fico na minha. - dei de ombros e ele sorriu. – Se cuida e cuida daqueles idiotas.
- Pode deixar, eu te amo, patetinha.
- Eu também te amo, Ben. – abracei ele.
- Vou pegar minhas coisas, sairemos um de cada vez a cada hora, o primeiro foi assim que ele terminou as despedidas, agora sou eu. – ele se levantou, me dando um beijo na testa. – Te vejo em breve.
Fiquei sozinha com os meus fantasmas, não sabia o que fazer, me sentia incapaz de fazer qualquer coisa e aquilo era horrível. Rezaria para que eles ficassem bem, eu não era muito crente, mas rezaria por eles. Era a maior burrice o que eles estavam fazendo, eu estava com ódio dos seis, ainda mais por causa das ameaças claras de Vantron contra nós. A RAINHA AINDA ME ENTREGARIA PARA ELES.
Alguém bateu na porta novamente, um tempo depois da última visita, mas me surpreendeu ver aquela pessoa em específico.
- ? - ele se virou, sorrindo sem mostrar os dentes. – Entre!
- Decidi que não posso ficar bravo com você por fazer algo que teve vontade. – ele se sentou na poltrona. – Que tipo de pessoa eu seria se ficasse bravo por você ter atitudes que eu tive? Não serei hipócrita.
- Tem razão. - concordei com a cabeça. - Mesmo assim, me desculpe por te magoar.
- Não se desculpe, você sabe que não precisa. – sorriu, segurando minha mão. - Nenhum de nós pode te condenar por isso, nem mesmo , por ter escutado errado, sim, eu sei, eles me contaram.
- Você é a melhor pessoa do mundo, sabia? - passei a mão em seu rosto. – Sam é uma garota de sorte.
- Você também é, você me tem a hora que quiser. – o encarei, assustada. – Desculpe, falei sem pensar... Mas sim, eu gosto muito dela, ela me faz bem e me entende.
- Isso é o que mais importa para mim. - sentei ao seu lado, o abraçando. - Tome cuidado, isso é uma missão suicida!
- Ficaremos bem, não se preocupe. – dei um tapa em sua testa.
- Se mais alguém mandar que eu não me preocupe, eu terei uma síncope! VOCÊS SÃO BURROS? QUEREM SE MATAR? ALÉM DE TUDO VÃO TODOS E DEIXAM O CASTELO NA MÃO DAQUELA MEGERA METIDA A HITLER! SE ACONTECE ALGUMA COISA, ESTAREMOS TODOS FERRADOS! TODOS FERRADOS!
- Ei! - ele me segurou pelos ombros. - Não vai acontecer nada! Vocês ficarão bem e nós também. Minha mãe tem ordens para não encostar em você.
- Ela só faz o que quer. – balancei a cabeça. - E que se dane, eu não vou me deixar intimidar por ela!
- Nós sabemos disso e ela também! - ele me abraçou novamente. – Bem, tenho que ir.
- Já? - fiquei triste, mas por um momento, um fio de esperança brotou em meu peito, poderia se despedir de mim.
- Sou o último antes de Dave e meu pai. – a minha expressão não passou despercebida. – e já foram. – concordei com a cabeça e ele sorriu sem mostrar os dentes. – Mas mandou essa carta para você. - ele tirou do paletó a carta e me entregou, o encarei, um pouco receosa. - Vocês ficarão bem.
- Obrigada, . – sorri, o abraçando forte.
- E se não ficarem, eu estarei aqui. – ele depositou um beijo em minha testa e saiu.
Respirei fundo antes de abrir aquela carta, não esperava por ela, na realidade, não esperava que ele fosse sair sem se despedir de fato, mas a carta foi o ponto final para provar o quanto ele estava chateado comigo. Mas estava certo, eu não tinha que me desculpar. Encarei aquela carta por muito tempo até criar coragem de abrir e ler, mas logo comecei a ficar com os olhos marejados, assim que peguei a primeira folha. Era uma foto nossa, no primeiro baile, ambos sorridentes e felizes. Eu não tinha a mínima noção de que me importaria tanto com nenhum dos três. Respirei fundo e comecei.

“Ei, ... Sei que nesse exato momento você deve estar sentada em sua cama, com várias lembranças graças a essa foto. Eu também fiquei assim por um tempo. Sei também que deve estar nos xingando de burros e estar completamente brava por termos saído dessa forma, pode parecer estupidez agora, mas quando terminarmos, você vai entender que tudo foi pelo seu bem.
Sinto muito não ter me despedido pessoalmente de você, ainda não estou pronto para encarar essa situação, peço que não se culpe, sei que está fazendo isso, pare imediatamente! Você é tudo para mim, só é difícil ficar por perto quando não é recíproco.
Dói.
Isso não é culpa sua, eu sou responsável pelo o que eu sinto, você só é responsável pelo que faz em relação a ele. Espero que esse tempo longe de nós, você coloque a cabeça no lugar e descubra de quem gosta mesmo. Independente da sua resposta, eu continuarei te amando e estarei com você.
Ah, não deixo de me preocupar com o castelo, com você e minha mãe se odiando, espero que quando voltarmos, vocês não tenham destruído tudo e ainda estejam vivas.
Fique bem.
Sempre e...?
Com amor, .”


- Para sempre. – completei, sorrindo ao terminar de ler.

Capítulo 6

Já haviam se passado quatro dias desde que os meninos viajaram, eles davam notícias uma vez por dia, mas não se estendiam nas ligações, elas eram sempre rápidas e específicas. O castelo parecia que havia perdido o brilho e tudo estava cinza. A megera havia mudado absolutamente tudo e criado ordens que não cabiam a ela.

• Horário para sair do quarto;
• Horário para voltar;
• Horário de atividades diárias;
• Nada de se dirigir a ela sem que fosse importante;
• Nada de sair para o jardim;
• Obrigatório o horário do chá, que era claramente o momento que ela precisava que bajulassem ela;
• Ou fazíamos o que ela queria, ou ficaríamos de castigo, e o castigo era sentir dor.

Entre outras regras idiotas e desnecessárias, mas havia prometido evitar criar caso com aquela megera, então só me preocupava em terminar o dia e rezava para que os meninos voltassem logo. A carta de me fez pensar muito e eu não havia chegado à conclusão nenhuma, parecia que quanto mais eu ficava longe deles, pior era a decisão.
Estava em meu quarto, me recusando a sair dele e querendo matar aquela desgraçada que me fazia levantar às cinco e meia da manhã para estar no saguão às seis para as atividades diárias, a minha era limpar a biblioteca. Segundo ela, precisava de organização. Café da manhã apenas após as atividades, e eu queria matar aquela mulher fazendo o inferno na minha vida em plena TPM. Fui até a maldita biblioteca e comecei a fazer o que era necessário, completamente irritada por estar organizando livros, eu os amava, mas odiava a pessoa que me obrigava estar ali.
- Nós não podemos fazer isso assim. – escutei uma voz bem conhecida falando em uma das prateleiras, era Denver.
- Eu sei, mas eu senti tanto a sua falta! - fiquei surpresa ao ver que a outra voz era masculina. Observei os dois se beijando e achei meigo, mas a parte protetora que existia em mim começou a se preocupar com aquilo, meu irmão era gay, ser gay em Avallon era... Crime. Sem querer, chamei a atenção dos dois ao derrubar os livros que segurava.
- Me desculpe, eu não vi nada, eu juro! – falei, saindo dali quase correndo.
- ! - Denver me chamou, indo até mim. – Sinto muito, eu...
- Não se desculpe! - eu disse, visivelmente brava por ele achar que eu era como todos os outros. - Você não deve se desculpar por amar! Nenhum de vocês. - olhei para o parceiro dele, reconheci ele como um dos guardas que ficava de vigia em meu quarto, era Ted.
- Eu sei... Eu esqueço que tenho um tigre dourado às vezes. – ele sorriu, me abraçando.
- Estou triste, se eu não tivesse visto vocês sem querer, eu nunca saberia! - os dois riram. – Estou com vocês, certo?
- Obrigada, srta. . – Ted falou, se curvando.
- Deixe disso, me chame de ... Cunhado. – Denver sorriu e encarou Ted, que sorriu para mim. Eu estava feliz. – Se cuidem, estarei de vigia ali na porta, eu toco o sininho se chegar alguém. Fiquem à vontade.

~


Depois do café, que mais parecia um regime militar, fui para o meu quarto fazer minhas atividades e ler sobre as partes finais do meu projeto, aquele que já estava em andamento em algumas cidades, de forma de teste para melhor solução no resto. O castelo iria entrar no teste, mas então a rainha assumiu o poder e deixou claro que era contra. Patética.
Southampton e outras duas cidades eram as testadas, e em todas, o treinamento para mulheres estava quase completo, as psicólogas estavam preparadas para conversar com qualquer pessoa e o telefone especificado para mulheres estava sem andamento. O atendimento seria feito apenas por mulheres, mulheres sem emprego algum que ganhariam uma renda através daquilo. Me deixava tranquila saber que nenhuma estaria desamparada.
Ouvi uma batida na porta e era Denver.
- Hey, patetinha.
- Oi, idiota. – sorri, esperando que ele sentasse.
- Eu queria agradecer por hoje mais cedo. – eu concordei com a cabeça. - Você vai ficando mais legal a cada dia que passa...
- Benjamin e Dave sabem? - perguntei, curiosa.
- Nunca escondi isso deles. – ele respondeu, sorrindo. – Nosso pai nem se abalou, ele é muito especial, ... Benjamin, bom, ele sempre soube, quando eu assumi, ele só me abraçou e nada mudou.
- Eu amo vocês mais a cada dia que passa. – falei, sorrindo com aquilo. Denver contou a história dele com Ted e eu descobri que os dois se conheceram através da Lady Devimon e ela também sabia daquilo e havia apoiado. Ninguém mais sabia. Óbvio que nada sairia da minha boca, eu guardaria aquilo para sempre, se necessário. Agradeci por ter uma família evoluída e torcia para que as pessoas fossem assim algum dia, temia pelo preconceito que ele sofreria, ainda mais estando na posição que ele estava, seria um massacre.
- Obrigado por ser você, é muito bom saber que a tenho ao meu lado para qualquer situação. - ele me abraçou. - Podemos dar uma volta com os cavalos hoje, sair desse lugar e conversar um pouco sobre você sabe o que e quem.
- Mas e a megera?
- Ela nem vai saber, voltaremos antes do almoço, e se não voltarmos, as suas damas podem falar que você não está bem. – ele deu uma piscadinha e se levantou, se meu irmão mais velho falou, quem era eu pra discordar?
Me arrumei rapidamente e avisei minhas damas, Olívia concordou com aquilo e eu saí com Denver. Fomos escondidos até o estábulo e logo pegamos os cavalos, eu escolhi o Greiguer, o cavalo do meu pai. Começamos nossa corrida para a floresta em meio a risadas e comentários ridículos sobre nós mesmos, nunca havia tido tantos momentos íntimos com Denv, mas isso não significava que não tínhamos nossa proximidade perfeita, o que eu tinha com Ben era igual o que eu tinha com Denv, só não precisávamos estar juntos o tempo todo. Paramos depois de um tempo em uma clareira, um lugar diferente dos que eu conhecia ali.
- Esse é meu lugar preferido. – ele falou, se sentando próximo ao lago. – Ted e eu costumamos vir aqui, longe de tudo. Temos paz.
- É um bom lugar. – falei, olhando a paisagem, o sol estava bem forte, mas em Avallon, fazia frio naquele dia, então era bom. - Quanto tempo estão juntos?
- Ah, uns seis anos já. - ele sorriu, se lembrando de algo. – Nos conhecemos na época de treinamento, desde então nós não nos desgrudamos, nosso pai me transferiu para cuidar da Lady Devimon, mas eu retornava algumas vezes, foi difícil, mas deu certo. Então um dia ele foi recrutado para o mesmo lugar que eu estava, finalmente deu certo... - ele suspirou e me encarou. – E quando eu descobri que tinha uma irmã, a eterna rainha Devimon me fez voltar para cá... Eu amei!
- Oh, Danv. – sorri, o abraçando, completamente apaixonada pela história dele. – Isso é lindo, e obrigada por ter vindo por mim.
- E perder o marco histórico que é ? Jamais! - ri daquilo, eu não estava entendendo nada e muito menos o motivo de sempre se referirem a mim dessa forma. – Bom, mas vamos falar de você...
- Minha vida amorosa é muito complicada, Denv. – ele tirou do bolso dois saquinhos de salgadinhos e começamos a comer.
- Estamos com tempo, e quem sabe eu não te ajudo? - contei toda a história desde o dia em que eu cheguei, falei de cada um dos meninos e como eu me sentia em relação a eles, contei o que aconteceu na cabana com , foi muito fácil falar tudo pra ele. - Você está confusa ainda?
- Eu te contei tudo isso, é óbvio que estou. – Denver sorriu, balançando a cabeça. - O que foi?
- Você já escolheu, . – o encarei, sem entender. - Você só fica achando motivos e colocando nos outros meninos para ficar se martirizando na hora de escolher realmente.
- Então quem é? – perguntei, realmente confusa.
- Eu não posso fazer isso por você. - Denv segurou minha mão. - Eu iria te influenciar e não posso fazer isso com você.
- É tão errado isso que estou fazendo.
- Eles aceitaram isso e estão esperando você, no seu tempo. – concordei com a cabeça, mesmo não achando que aquilo era certo. - , eu sei o quanto eles gostam de você e o quanto você gosta deles. Independente de tudo, você vai ficar bem e vai ficar bem com eles. – respirei fundo e ele sorriu. – Mas eu simplesmente amo o , ele é o meu preferido, e o jeito que vocês dois se complementam é surreal, mesmo achando que você e combinam demais, o jeito que ele mudou pra melhor por você e tal... Épico! Ah, mas não posso esquecer que e você juntos tem química, e ele também mudou muito depois de você, parece que agora ele fala por si só e não é a marionete da rainha.
- Você não me ajudou. – comecei a rir e ele me acompanhou. – De qualquer forma, obrigada... Posso pensar nisso tendo a sua visão dos fatos.
O tempo passou tão rápido que quando percebemos eu já sabia tudo da infância dos meus dois irmãos e como Dave era um pai super protetor e babão, parece que depois que eu apareci, ele tinha triplicado, mas o ciúme de Dave havia aparecido apenas depois que ele percebeu que eu era um interesse amoroso dos meninos e que tinha que me proteger das armações deles. Quando nós nos demos conta, já era bem tarde e corremos para o castelo, uma corrida fantástica, daquelas que a barriga chegava a doer de tanto rir. Eu amava o meu irmão e ficava muito feliz por ter um cara tão incrível na minha vida. Senti falta de Kurt naquele momento, fazia um tempo desde que eu não o via, Kiara e Kira me mandavam cartas, mas Kurt só falava comigo pelo telefone, minha mãe falava comigo pelo menos uma vez por semana, mas a saudade batia forte deles.
Chegamos ao castelo, me despedi de meu irmão o abraçando bem forte, depois fui diretamente para o Salão Principal, onde estava acontecendo a maldita reunião do chá, horário obrigatório da bajulação. Estava super atrasada, mas conseguiria aparecer dando o meu melhor sorriso falso, o que a rainha odiava. Entrei no salão chamando a atenção de todas as pessoas que ali estavam, principalmente da megera.
- Melhorou do seu mal-estar, ? - ela perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Estou me recuperando, mas não quis perder a hora mais importante do dia, certo? O chá das três. – falei, me sentando em uma das mesas, sendo servida imediatamente com aquele chá horrível.
- Que bom que se juntou a nós, mas não me lembro de ter permitido a sua ausência no almoço. - me segurei para não revirar os olhos e engoli qualquer resposta malcriada.
- Perdão, eu vou me atentar na próxima vez e aparecer com um baldinho para segurar meu vômito. - as meninas seguraram a risada e a cara da rainha foi impagável. - Não quero ir contra as suas ordens, majestade.
- Que bom, . – ela sorriu sem mostrar os dentes, também havia usado o sarcasmo.
Um tempo depois, ouvi toda a baboseira que se tratava da rainha e em como as meninas a elogiavam e depois tive que aguentar ela mesmo se bajulando, como se brigar com uma criada por ter deixado uma manchinha em seu lençol fosse a tornar boa. Me levantei na hora em que a música começou a tocar, naquele instante eu podia comer todos os docinhos e salgadinhos da recepção, quando resolvi comer um salgadinho de queijo, ouvi a última pessoa falando ao meu lado.
- Eu sei muito bem o que você fez hoje, .
- Perdão? – perguntei.
- Você e seu irmão desrespeitaram as minhas regras. – arqueei a sobrancelha. – Meus filhos não estão aqui e nem meu marido pode te defender das consequências desse ato.
- Eu não tenho medo de você. - respondi, pegando mais um salgadinho. – Desde quando você começou sua própria ditadura no castelo?
- Não me subestime, . – ela segurou meu braço. - Eu sou capaz de muita coisa.
- Estou sendo ameaçada? - perguntei, sorrindo, e depois encarei a mão dela. – Me solte antes que eu comece a gritar e estragar sua falsa imagem de boazinha.
- Me aguarde, . Você vai se curvar a mim em algum momento. – revirei os olhos, sentindo sua mão se afrouxar. – E você vai ver que quem manda aqui, sou eu. Você não tem chance contra mim, esse reino é meu.
- Eu nem quero isso. – falei, sorrindo. – Mas se for para tirar você da vida de tantas pessoas inocentes, eu faço.

~


Estava deitada em minha cama, visivelmente cansada do dia bom que eu tive, aquele sol que tomei com Denver me deixou totalmente vermelha, então eu precisava de cuidados com a minha pele, estava coberta de creme relaxante que Olivia havia passado, não durou muito tempo até Taihne aparecer com uma cara não muito boa e Olivia ir até ela. Logo depois, Lauretta, Taihne e Olivia entraram juntas com a mesma cara que me assustaram uma vez. Havia acontecido algo muito ruim.
- Tudo bem? – perguntei.
- Não tivemos notícias de , Rei Roger e Dave hoje, . – Olivia falou, me fazendo levantar, um pouco assustada. – Mas , Benjamin e deram notícias e estão bem. – respirei aliviada, mas meu coração começou a ficar preocupado.
- Não deve ser nada, . – Lauretta falou, se aproximando do meu guarda-roupa e me entregando um vestido preto. – Eles estão bem... Você pode se vestir?
- O que está acontecendo? – perguntei, confusa, estava escurecendo e Taihne nem conseguia olhar pra minha cara.
- Vocês têm um evento de última hora. – Olivia falou, mexendo em meu cabelo, arrumando-o. Taihne tirava o excesso do creme de meu corpo e Lauretta passava maquiagem rapidamente, fui vestida em questão de minutos e já estava sendo retirada do quarto, ao lado das três. Elas nunca saíam do quarto, em qualquer evento, elas ficavam lá e eu era acompanhada de algum guarda. Encontrei Summer e suas damas no caminho.
- O que está acontecendo? - perguntei para ela, com medo. As damas estavam de cabeça baixa e aparentemente todos os guardas estavam fora de seus postos.
- , eu estou com medo. – ela falou, choramingando. – Elas nunca saem com a gente, os guardas ficam onde devem ficar e agora está tudo bagunçado, aconteceu alguma coisa grave. Já ordenei as minhas damas falarem, mas elas não abrem a maldita boca, eu nunca pensei que fosse odiar a rainha Leigh-Anne, mas ela é uma megera!
- Eu concordo. – falei, descendo as escadas e dando de cara com o salão principal cheio, tanto de guardas, como de selecionadas e serviçais, eu nunca fiquei tão nervosa.
A angústia só piorou quando a rainha Leigh-Anne desceu as escadas com as suas damas. Robin estava logo atrás dela, com uma cara muito triste. Quando nossos olhares se encontraram, ela sorriu sem mostrar os dentes. Todos estavam de preto. Procurei por Denver, mas não o vi em lugar algum. Respirei fundo várias vezes até que Leigh caminhasse até a porta principal, todos nós entramos nos carros, os quais nos levaram até a ponte onde Alan e assinaram o acordo, mas o que me assustou mesmo, foi o cadafalso, era diferente do que o Merck fora executado, e tinha duas pessoas presas ali, com um pano preto escondendo o rosto.
Meu coração parou quando eu vi quem eram as pessoas.

Capítulo 7

(Coloque para tocar)


Antes do pano preto ser tirado do rosto dos dois homens, eu já sentia que algo ruim estava por vir, mas quando vi o pano sendo retirado, eu travei.
Pânico.
Era tudo que eu sentia vendo aquela cena.
Em cima daquele cadafalso estava Denver, o meu irmão, meu doce e amado irmão. Também estava Ted, seu namorado e um grande homem.
Meu estômago se revirava e eu me concentrava em não vomitar ali mesmo, meu coração estava quase saindo do peito e eu estava apoiada nas minhas criadas, que naqueles meses no castelo se tornaram minhas amigas e sabiam da minha relação com Denver. Minhas pernas vacilaram várias vezes até eu chegar perto daquele palco horroroso de madeira, meu irmão estava bem, fisicamente, tirando a boca e o supercílio cortados. Ted havia levado alguns socos na cara, estava com o olho roxo, eu senti as lágrimas escorrerem ao ver tamanha maldade. A rainha se aproximou da gente, ficando com as selecionadas, a sua postura de nobre não passava de fingimento, ela tinha o coração podre.
As cornetas, as que eu morria de medo de escutar, tocaram alto, a última vez que eu as escutei foi quando Merck foi executado, eu não conseguia acreditar naquilo, parecia um pesadelo. O mesmo homem que executou Merck subiu ao cadafalso e as pessoas presentes urravam ao vê-lo.
- Nos encontramos de novo, Avallon! - ele falou, sorridente. Patético - Mas, dessa vez, é para punirmos mais pessoas que foram contra a coroa! - mais urros, meu coração permanecia quase saindo de mim, minhas damas me seguravam, assim como Robin, que estava atrás de mim. – Esses dois homens foram pegos juntos! - a multidão fez um coral surpreso. – Sim! Aos beijos! Isso é crime! Eles vivem um romance debaixo do teto do Rei! Isso é uma ofensa. - olhei para as meninas, que estavam de cabeça baixa. A Rainha permanecia plena, encarando o assassino naquele palco. – Denver Patrick Walker, soldado, filho, e braço direito do nosso majestoso General Walker, braço direito do rei, e Teodore Aid Winter, soldado das forças terrestres Avallonesas, vocês estão condenados a sofrer o açoitamento até a morte! - eu gritei, eu gritei tão forte que todos olharam assustados para mim, até mesmo Denver e Ted. Vi dois homens gigantes entrarem com seus chicotes, estalando-os no chão, fazendo um barulho horrível, escapei dos braços das minhas damas e dei um soco na cara de um guarda que tentou me segurar. Quando vi, estava na frente de Denver, ele estava de costas, esperando o primeiro chicote em suas costas, mas não foi na dele.
Foi na minha.
A dor foi cruel, mas não era nada perto do que eles estavam prestes a sentir. Todos ficaram surpresos e do nada tudo ficou em silêncio, os homens não sabiam o que fazer, todos olhavam para mim, a Selecionada que havia sido chicoteada no lugar de um guarda. Segurei o grunhido de dor e encarei os homens, que ousaram se aproximar de mim. Eu os encarei.
- Vão mesmo? - perguntei ameaçadoramente. - Vão mesmo ousar colocar as mãos em mim depois dessa chicotada? Tenho três príncipes que me protegem custe o que custar, eles não vão gostar nada de ver essa cicatriz. – senti meu vestido molhado nas costas. Era sangue. Aguentei firme.
- , saia daqui! - Denver falou, baixinho. Meus olhos se encheram de lágrimas. - Você vai se machucar. Vamos ficar bem, eu prometo.
- Eles vão matar vocês. - encostei minha testa na dele assim que fiquei em sua frente, ele respirou fundo, se concentrando para não mostrar fraqueza, assim como eu. – Eu não posso permitir.
- Eu te amo, patetinha. – ele sorriu, beijando minha testa enquanto eu chorava descompassadamente. - Não chore, eu falei que vamos ficar bem.
- ELES SÃO UMA ABERRAÇÃO! - o assassino com microfone falou, se aproximando de mim e pegando em meu braço, o suficiente para Denver e Ted tentarem se soltar para me defender, mas foi em vão. Por sorte, eu estava com tanta raiva que fiz isso sozinha, dei um chute no meio de suas pernas, fazendo-o se ajoelhar de dor.
- VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO! - gritei, com ódio. Olhei para a multidão, que antes gritavam ansiosos para o açoitamento. - E vejam só vocês! - peguei o microfone, olhando para cada rosto. - Vocês são meros marionetes da rainha, não passam de súditos que trabalham para os elitistas! Estão torcendo para o fim dos seus! ESSES HOMENS VÃO PARA GUERRA DEFENDER SUAS VIDAS E É ASSIM QUE ELES SÃO RETRIBUÍDOS. - comecei a rir, passando a mão no rosto. - Não, eu devo corrigir, para defender a vida de quem está lá dentro. – aponto para o castelo. – Porque aquela mulher não está nem aí para vocês. Enquanto estivermos servindo a coroa, ela não tem com o que se preocupar... ELES SÃO COMO VOCÊS, SÃO MARIONETES DELES! - gritei novamente, chutando o assassino que estava de joelhos, ameaçando se levantar, nenhum guarda se mexia diante ao meu discurso, eles se encaravam. A rainha me encarava com ódio. - E do que se trata essa Seleção? Amor, não é? Mas vocês... Isso é um espetáculo, não param até ver a última gota de sangue, essa mulher não é superior a ninguém, ninguém aqui é. - uma multidão urra contra mim, aquilo me irritou. – ESSA SELEÇÃO PREGA O AMOR, MAS QUANDO O AMOR DE FATO ACONTECE, VOCÊS O CONDENAM! VOCÊS NÃO ESTÃO AQUI PARA VER AS PESSOAS SE AMANDO, VOCÊS QUEREM O SANGUE! - senti a mão de um guarda segurando meu braço, bem forte. Grunhi de dor. – Se continuarem assim, o próximo sangue será o de vocês! - foi a única coisa que consegui falar antes de ser arrastada pelo cadafalso, de joelhos.
Sentia minha pele ralando, mas nada doía mais do que ouvir o estalo nas costas de meu irmão e de Ted, os dois se encararam e eu pude ver o tanto de amor que existia ali. Denver não gritava, ele aguentava a dor, quieto, assim como Ted. Ele me encarou enquanto eu lutava para não ser tirada de lá, dando socos e chutes em quem tentava me segurar, li o que saía de seus lábios: “Você é o Tigre Dourado, lembre-se disso.”
Não conseguia mais encarar aquilo, havia feito o que eu podia, havia dado o meu melhor, mas não era o suficiente. Meu irmão estava sofrendo apenas por amar, era egoísta eu sentir dor por uma chicotada que havia cortado minhas costas enquanto eles estavam sendo massacrados. Me colocaram junto com as minhas damas, e mesmo que eu não conseguisse olhar para eles, eu escutava os chicotes acertando-os. Olívia tentava cuidar de mim, mas não conseguia cuidar de si mesma, estava passando mal com sua gravidez e ainda estava ali, sendo obrigada a assistir ao espetáculo.
Eu sentia a raiva dentro de mim, era algo que não diminuía, aumentava conforme eu ouvia os grunhidos quase silenciosos de Ted, sentia meu irmão sofrendo, lembrava das atrocidades que ela fez enquanto eu estava ali. Dei dois passos para o lado, onde a megera estava, ela sorriu.
Ela sorriu.
Senti a mão que eu havia dado os socos nos guardas encostando dura e friamente no rosto dela.
Foi um choque para todos os presentes, até para ela.
Eu soquei o rosto da rainha.
Ela me encarou, com as mãos onde foi agredida, eu vi em seu olhar o medo, eu senti vários homens me segurando enquanto eu relutava e tentava agredi-la mais um pouco. Eu iria morrer mesmo. Vi que no meio da confusão, ela gritava para me prenderem, eu só tentava me soltar dos guardas, mas era em vão. Eu havia perdido.
Não consegui salvar meu irmão, meu cunhado, nem a mim.
Senti uma picada em meu braço, era Dr. Poirot. Ele me pediu desculpas, eu não entendia o que estava acontecendo, minha visão foi ficando turva e a última coisa que vi antes de desmaiar, foi meu irmão caindo no chão.
Morto.

~


Acordei, com dificuldade para abrir os olhos, sentia dores em todas as partes de meu corpo. Não reconheci o local que me encontrava, era diferente. O lugar que eu estava era escuro, tinha uma janelinha quadrada e algumas luzes, vi um guarda passando pelo corredor e então tudo fez sentido, eu estava em uma cela. As grades pareciam reais agora que tudo havia parado de girar. Senti minha mão doer, a mão que eu havia socado os guardas e a rainha. Ninguém cuidou de mim enquanto eu estava ali, e tinha medo de quanto tempo eu tinha dormido. As roupas ainda eram as mesmas e eu temia pelas minhas costas, o corte ardia e eu sentia o pano transparente do meu vestido grudado. Por ironia, ele era aberto nas costas, mas com o pano transparente. Continha alguns detalhes, era uma obra de arte, mas agora, estava acabado.
Só conseguia pensar em Denver, meus olhos se encheram de lágrimas novamente, mas eu não iria chorar, não mais. Parte de mim queria que os meninos estivessem ali, queria que tentasse impedir aquilo com suas ordens, que gritasse com a sua mãe e que controlasse seus homens, mas a outra parte sabia que eles não iriam contra a mãe e a coroa, não naquela situação. Pensava em meu pai e em Benjamin, que assim que voltassem, receberiam a pior notícia do mundo. O que o rei faria? Ele permitiria o filho do General sofrer dessa maneira? No fim das contas, eles eram aquilo. Eles eram a Coroa.
Escutei uma risadinha vindo da cela da frente, era um homem, visivelmente machucado, mas pelas vestimentas, ele era um Vantroni. Na cela ao lado, estava um garoto e uma garota, não estavam machucados, mas se vestiam com roupas rasgadas e maltrapidas, deduzi que eram selvagens.
- Eu diria “A pobre garotinha”, mas disso você não tem nada. – permaneci com a postura ereta, mesmo que minhas costas doessem. – O que você fez? Deixe-me adivinhar, foi contra o sistema!
- Céus, cale a boca. – falei, sem paciência. Ele gargalhou novamente.
- Há boatos, enquanto a bela adormecida dormia, que você socou a rainha Leigh-Anne. – olhei para o lado, não querendo prolongar o assunto. - Não achei que isso fosse acontecer tão cedo. Você está ficando um Tigre Dourado bem violento.
- O que diabos é isso? - perguntei, me levantando, com raiva.
- Você não sabe? Ah, ninguém te contou? - ele usou o deboche, me irritando ainda mais. – Claro que não te contariam, você sem saber já faz esse estrago, imagina se soubesse!
- Não acredito em você.
- Não tenho motivos para mentir, minha eterna lady, eu vou morrer mesmo, mas posso falar o que vão fazer com você, quer ouvir? - o encarei. - Você vai morrer.
- Quer me contar alguma novidade? Isso eu já sei.
- Entenda, você vai morrer por fazer uma Revolução. - agora ele havia me deixado curiosa. - Você é o fenômeno apagado da dinastia. Existe uma lenda, criada há mais de mil anos, uma garota como você, causou um rebuliço enorme em todos os países. Milhares de civis se juntaram a luta da Tigre Dourado, tentaram derrubar a monarquia, mas foi em vão, nós éramos mais fortes, vocês quase conseguiram.
- O que eu tenho a ver com uma lenda infantil? - me segurei na cela para não cair, estava muito fraca.
- Você é a lenda, . – comecei a rir, mas parei aos poucos com as pontadas na minha cabeça. - Não digo que lá está escrito que é VOCÊ, mas VOCÊ está causando uma revolução pelo mundo todo, vários povos estão se virando contra o seu reino e isso é ofensivo, pelo menos para nós.
- Ele está falando a verdade, srta. . – a garota da outra cela falou pela primeira vez, sendo repreendida pelo colega de cela, mas isso não a impediu de falar. - Nós, os “selvagens”, como vocês chamam, vemos em você a revolução. Você é o rosto dela. O fenômeno. A lenda. Nós lutamos pela mesma coisa, no final das contas, você só não tem um lado, se esconde entre eles, mas no final, você sabe que é como nós.
- Eu não sou como vocês. – falei, claramente ofendida. - Vocês matam pessoas, querem ser diferentes deles, mas agem igual!
- Não chega nem perto dos que eles matam e deixam morrer. - ela respondeu friamente. – Vamos começar pelos homens que estão sendo obrigados a se alistar para proteger o castelo deles. – ela apontou para o vantroni ao lado, que estava entediado. – Mas esquecem da divisa que temos com eles, que todos os dias é bombardeada, matando sempre muita gente. A maioria? Pobres. Os que vão ao rio pegar água para beber, tomar um banho, tentar viver estando na miséria. - ela estava falando de Taim. – Imagine, , seu irmãozinho indo pegar água para tomar e recebe uma bomba.
- Não ouse falar da minha família, não vai ser assim que você vai me fazer abraçar a sua causa. – falei ameaçadoramente. Só de pensar em perder mais um irmão, meu coração doía.
- Você já abraçou nossa causa, Tigre Dourado, hoje foi a gota d’água para você, para todos nós. - dessa vez, quem falou foi o rapaz. – Como você se sentiu, vendo seu irmão sendo açoitado? Sei que você lutou contra isso, as suas costas não mentem, você foi açoitada junto com ele. Quem faz isso por alguém, ? Seu irmão está muito orgulhoso de você, nós temos certeza disso. – como eles sabiam que Denver era meu irmão? Aquilo havia tocado friamente nas minhas feridas.
- Não sei do que vocês estão falando. – dei de ombros, negando o fato de Denver ser realmente meu irmão.
- Nós sabemos de tudo. – ele falou, sorrindo. - Nós estamos por todos os lugares, . Como esse imbecil diz, você está mudando muita coisa.
- Mas vocês vão morrer. – ele falou, rindo.
- Então por que vocês a enxergam como uma ameaça? - Ophelia retrucou, fazendo o outro calar a boca. - Foi o que eu pensei.
- O que me diz, Tigre Dourado?
Respirei fundo, aquilo era loucura, os Selvagens eram ruins, eles causavam morte e destruição. Nós sofremos em suas mãos, Olivia foi abusada por um deles, eles quase mataram no primeiro ataque que eu presenciei no castelo, mataram muitos inocentes.
Mas eu reconhecia que lutávamos pela mesma coisa. Eu estava cansada da rainha, daquela monarquia injusta, de ver as mulheres serem abusadas, das crianças serem obrigadas a crescer cedo para conseguir dinheiro para sustentar a casa, já que haviam perdido o pai em uma missão. Pedi para pensar antes de responder qualquer coisa, muita coisa estava envolvida ali.
Pensei nos meninos, o que eles pensariam ao me ver fazendo uma aliança com os selvagens? Mas então me subia uma raiva gigantesca ao lembrar das mentiras que eles não me contaram. Por que eles esconderam isso de mim?
- Me provem que vocês não são esses monstros que eles pintaram. – falei depois de algumas horas, depois que o vantroni dormiu, sabia disso pois ele roncava e babava feito um porco. - Não tenho um lado, eu tenho a minha verdade, isso basta para mim.
- Provaremos, . – Ophelia sorriu, animada. Ela era morena dos olhos verdes, seus cabelos tinham vários cachos, mas diante da situação, eles estavam bagunçados, ela não parecia ligar. Era uma garota bonita e jovem, me doía vê-la ter que crescer tão nova.
- O nosso lado é o seu.

~


Parecia que pelo menos três dias haviam se passado desde que Denver e Ted morreram. Não recebi nenhum cuidado médico nesse período e temia por isso, me sentia muito fraca, minha mão estava extremamente inchada e minhas costas ardiam. Eu rasguei meu vestido para tentar limpar com a pouca água que a gente recebia no dia, tentava não gritar de dor, não daria esse gosto para a rainha. Nem para ninguém. Eu seria forte como Denver. Com o lençol do colchão, eu cobri minhas costas para não infeccionar, mas era em vão, já estavam infeccionando. Os guardas ali embaixo me tratavam feito lixo, ordens da rainha, é claro.
O vantroni havia irritado tanto o guarda de plantão, que ele lhe cortou a língua, ordens da rainha, depois que soube que o linguarudo falou demais por lá, agora tínhamos um companheiro de cela sem poder falar. Não senti um pingo de dó, ele mereceu. Ophelia e Cayto permaneciam presos, o motivo da prisão: roubo de comida. Por sorte, segundo eles, era uma maneira de entrar no castelo e conversarem comigo, já que os últimos não conseguiram, eles achavam que também não conseguiriam, até eu ir parar na cadeia. A rainha tentava me punir de várias formas, começando pelo meu irmão, depois, com a maldita cadeia sem comida, apenas água. Eu me sentia suja.
Nos meus sonhos, eu encontrava e nós mudávamos o mundo juntos, mas sabia que ele nunca aceitaria ficar ao meu lado sendo aliada dos Selvagens, ele tinha sangue de Rei. Algo em meu peito dizia que ele aceitaria, pelo povo, mas não com essas alianças, não teríamos muita escolha. Em outro sonho, eu via claramente comigo, nós dois lutando contra Vantron, as injustiças, menos a sua mãe, ela era a minha maior inimiga, ela tinha que cair. Com , eu via uma vida totalmente diferente, sem alianças com Selvagens e aguentando aquilo tudo, sendo repreendida - não por ele – e vivendo infeliz. Com nem um dos três eu poderia contar. Eu queria vingança e eu queria a Revolução, mais do que tudo. Ouvi a voz de , achei que era um sonho, mas quando eu abri os olhos, eu o vi.
- ABRA ESSA CELA! - ele gritou com raiva para o guarda que estava de plantão, o guarda gaguejou e disse que não podia, ordens da rainha. – ELA É UMA SELECIONADA, A RAINHA NÃO TEM PODER ALGUM SOBRE ELA ENQUANTO EU E MEUS IRMÃOS ESTIVERMOS POR PERTO.
- Sinto muito, alteza. – ele abaixou a cabeça. - Por mais que eu queira abrir, a chave está com a sua mãe.
- Cadê a cópia? - O guarda negou com a cabeça, alegando não saber. me encarou, com os olhos desesperados, eu sabia o porquê, estava deplorável, desidratada, machucada e completamente detonada. - Eu vou te tirar daí, eu prometo. – ele começou a socar a fechadura da cela, mas era em vão, ele só iria de machucar daquele jeito. Me levantei, desajeitada e me apoiei na porta, pegando a sua mão, ele parou, assustado, analisando a minha mão machucada. – Sinto muito, , sinto muito mesmo.
- Eu sei. – respondi, sorrindo fraco. – Eu fiz amigos na cadeia. – ele riu, sem nem acreditar na minha piada sem graça, olhou para Ophelia e Cayto, que acenaram de qualquer jeito.
- Nós voltamos assim que soubemos da maldita merda que minha mãe fez. – encostou a testa na minha. – Ela denunciou que não estávamos no castelo, ela acabou com a nossa missão, ela... Ela açoitou Denver. – ele estava com os olhos cheios de lágrimas, Denver era um grande amigo dele.
- Não foi só ele. – falei, tirando o lençol das minhas costas e mostrei a ele, arregalou os olhos e quando eu me virei para ele, ele deu outro soco na maldita fechadura. – Isso não vai resolver, .
- Como ela deixou chegar nesse ponto? - perguntou, chocado.
- Eu preciso ver meu pai, eu preciso ver Ben. – falei, séria, e ele entendeu o motivo.
- Benjamin está chegando, eles chegam daqui a pouco. – fiquei aliviada por saber que ao menos eles estavam bem. - Não vou permitir que você perca mais ninguém, .

Capítulo 8

~Por ~


- Pai, conseguimos! Nós estamos quase fechando o acordo de proteção para nosso povo! - eu falei, animado, assim que o rei Speyk nos deixou em sua sala gigantesca.
Speyk era o rei de Valaydes, um reino que ficava distante de Avallon, atrás das montanhas frias do outro lado do oceano. Valaydes se recuperava de uma guerra civil, na qual poderosos lutavam contra os pobres, que lá eram chamados de Inferiores. Com tamanha força do povo pobre, Valaydes cedeu e ouviu seu povo, tirando os seus interesses que beneficiariam apenas a classe alta e focando no que realmente importava. Era nossa melhor chance de proteger o nosso povo e vencermos Vantron, o país que aterrorizava todas as dinastias. Eles não lutavam só para derrubar Avallon, eles lutavam querendo conquistar nosso território, e isso não acontecia só com a gente, vários outros reinos eram ameaçados por Vantron, Agartha que o diga, certo?
Meu pai sorriu, apertando minha mão, Dave estava em pé, atrás da gente, mas senti sua mão em meu ombro, aquilo era gratificante. Rei Speyk voltou a sala, mas com três pessoas ao seu lado. Uma garota, um homem fardado e uma mulher.
- Essa aqui é Ellie, minha filha, será rainha no dia em que eu morrer. – Speyk falou, apontando para a menina, ela devia ter uns 16 anos, no máximo. Nós nos curvamos e ela também. - Esse é Linus, ele representa nossos guardas, o meu braço direito. – ele também se curvou. – E essa é Titânia, a representante dos rebeldes.
- Ou líder da rebelião dos Inferiores, se preferirem. – ela deu de ombros, quase me fazendo rir, lembrava .
- Depois do que passamos aqui em Valaydes, eu decidi que mesmo em uma monarquia, é necessário que tenhamos equilíbrio para com os nossos. – eu assenti. – Eles precisam ser ouvidos, então agora eles têm um lugar na nossa corte, para defender os seus interesses.
- Não é o que merecemos, mas é um começo, eles estão tentando. - Titânia falou novamente.
- Juntos nós decidimos o que é melhor para o nosso reino. – meu pai coçou a cabeça, ele não concordava tanto assim com aquele liberalismo todo, significava fraqueza. – Se, eles concordarem, mando nossas tropas voluntárias para Avallon. – tropas voluntárias? Aquilo era perfeito. Aquele país era de outro mundo.
- Eu acho arriscado. – Linus respondeu prontamente. – Vantron enfim nos esqueceu e agora iremos cutucá-los novamente?
- Ninguém sabe que estamos prestes a fechar um acordo. – Ellie falou pela primeira vez. – Avallon veio aqui na surdina, nossas tropas podem se camuflar com a deles e agir como avalloneses. – meu pai admirou a garota, aquilo fazia todo sentido.
- Muito bem, alteza. – Dave a parabenizou. - É uma bela estratégia.
- Eu aceito o acordo. – Ellie concordou. Era um sim e um não, estava nas mãos de Titânia agora.
- Meus homens estão recuperados de uma luta feia contra a coroa, alteza. – ela começou a falar. - Não os deixaria lutar novamente. – fechei os olhos, já aceitando que não rolaria acordo algum. – Mas então eu vi aquela garota na TV... A namoradinha de vocês. - arqueamos a sobrancelha. - Há meses nós a observamos e foi ela que me incentivou a lutar, e agora nós estamos aqui, juntos e nos reerguendo... Aquela garota lutou muito e não a deixaria só, eu e meus homens topamos.
- Eu agradeço pelo apoio, Titânia, mas do que exatamente você está falando? - meu pai perguntou pela primeira vez.
- A selecionada, a bonitona bocuda. . - ela continuou falando. – Eu não ia querer formar uma aliança com um país que condena gays com açoitamento público, mas diante à bonitona, aquele discurso que ela fez e a forma que lutou para defender os rapazes, foi impressionante, sem falar no soco que ela deu na cara da Rainha... - Dave ficou inquieto e perdeu totalmente a postura de general, não o culpo, parecia que meu coração ia sair pela boca, meu pai ficou travado por alguns segundos, mas logo tratou de tentar acalmar Dave. - Vocês não sabiam?
- De qualquer forma, fechamos o acordo. – Ellie falou, não se importando com o que Titânia havia dito e nem com o nosso choque. - Não por vocês, condenar alguém pela opção sexual ainda é horrível, mas sim pela Tigre Dourado, ela vale a luta. E eu quero ver Vantron em chamas.
- Eles mataram minha esposa, eu quero a queda daquele império logo. - Speyk falou, terminando o assunto e assinando uma papelada, os outros assinaram também, restávamos eu e meu pai. Eu estava em choque, pensando em quem havia sido açoitado, o quanto devia estar sofrendo com as consequências do soco que deu em minha mãe. Respirei fundo antes de assinar e logo meu pai também o fez. Nunca vi Dave tão perdido, ele estava nervoso e eu imaginava o motivo, . - É um ótimo acordo... Venham conhecer o castelo, tomar um vinho para comemorarmos e...
- Sinto dizer, mas não poderemos ficar, temos uma longa viagem de volta para Avallon. – falei antes de Dave ou meu pai. - Não sabíamos desse açoitamento, queremos averiguar tudo de perto.
- Façam isso, mandaremos nossas tropas voluntárias em dois dias. Por precaução, mandaremos roupas, cobertas, mantimentos para os desabrigados, faz frio em Avallon.
- Será muito bem-vindo. – meu pai respondeu, sorrindo.

~Por ~


- Precisamos achar um lugar para avisar que estamos bem. – Ben falou, depois de alguns minutos perdidos em Demph, um reino que ficava atrás de Agartha, em cima de uma grande montanha. – Ligar para Cavalry. – o príncipe herdeiro de Demph. Estávamos em uma cidade litorânea, eu sabia que estávamos perto do castelo, mas não tínhamos como chegar lá em três dias em um navio, viemos transportados feito cargas. estava deitado embaixo de uma árvore, se recuperando da viagem conturbada, ele odiava navios.
- Não precisa! Eu estou aqui. – Cavalry falou rapidamente, saindo do meio das árvores. Nos assustamos, mas logo eu abracei o meu mais antigo amigo da linha da dinastia. - Demoraram, hein?
- Me tire daqui. Eu imploro. – suplicou, fazendo-nos rir.
- Ajudem aquele pobre homem. – Cavalry ordenou, nos fazendo rir novamente, parecia morto, carregado, era um palhaço mesmo. Logo nos dirigimos para o meio das árvores e depois de uma longa caminhada, fomos recebidos com um carro que nos levou para o castelo.
Durante a viagem, pude pensar no que estávamos fazendo. Um plano maluco de que eu havia dito que era meu, para ser aceito mais facilmente diante do conselho. Ele me fez jurar que conseguiria fazer aquilo e eu me sentia mal por ter ganhado o crédito por isso. Fazermos alianças na surdina era brilhante. pensava no povo, eu pensava no castelo, era egoísmo? Eu querer proteger o meu lar? Ele criou esse plano pensando em , essa história de Tigre Dourado nos deixou sem ação, então agiu. Quanto mais gente ao nosso lado, menos reinos querendo matar , e de quebra conseguíamos proteção para nosso povo.
Quando chegamos no castelo, fomos dirigidos para nossos quartos, para descansarmos por um tempo, mas fez de tudo para conseguir um telefone para avisar que estávamos bem e sabermos de nosso pai, ele estava preocupado. Quando finalmente teve contato com , sossegou. Cavalry nos chamou pela tarde, para bebermos e falarmos sobre o nosso acordo, o acordo que queria à todo custo e destinou a mim a tarefa.
- Como é? - Cavalry perguntou, chamando a atenção de todos na sala. – Uma Seleção?
Olhei para , que bebericou o vinho, dando de ombros
- As nossas meninas são bem tranquilas, isso é bom. – eu falei, fazendo alguns caras rirem. - É difícil lidar com todas elas, são temperamentos diferentes e elas lutam para conquistar a gente.
- E como vocês fazem? Afinal, são três príncipes com várias meninas. – Vicen, o general, perguntou.
- Nós conversamos sobre todas. – respondeu. – Sabemos quem é área restrita ou não. Somos bem resolvidos. – Mentiroso. Eu pensei, mas não falei, não precisávamos mostrar que estávamos nos reerguendo de uma briga. - Caímos muito antes de entrarmos em um acordo de que independente de qualquer coisa, não brigaríamos.
- Vocês podem ter qualquer uma, por que brigariam? - Cavalry questionou, sorrindo, e eu e nos encaramos, Benjamin estava ao nosso lado, balançando a cabeça, querendo rir.
- Nem todas. – Ben respondeu, sorrindo. Ele se referia à irmã, e tinha orgulho dela.
- Quem é imune aos Aykroyd?
- Bom, Cavalry, vamos falar sobre o que realmente importa. – arqueei a sobrancelha. – O acordo.
- Sabemos que você odeia Vantron. – disse, ele não era ligado em política, nem em tropas de guerra, mas sabia como argumentar e ser persuasivo. Eu focava mais nas malditas táticas de guerra e luta, em vão, ultimamente. – Estamos sofrendo ataques constantes, eles querem nossas terras, querem as terras de Agartha, e não demorará muito para que eles venham até vocês e comecem uma guerra.
- Nós temos um tratado com Vantron, eles não podem pisar em nossas terras. – Cavalry falou, mais sério, e ouvindo atentamente o que tínhamos a dizer.
- É exatamente por isso que um acordo com vocês poderá mudar tudo. – eu respondi, sorrindo.
- O tratado tem furos. – tirou de sua pasta papéis que continham informações que ele estudou durante a viagem, ele conhecia a história, ele amava aquilo, odiava governar, mas amava saber sobre absolutamente tudo, ele era o mais inteligente de nós. tinha amor pelo povo e depois que surgiu em nossas vidas, ele fazia de tudo pela causa dela, que agora, era a dele também. E eu? O perdido. Criado para governar algo que eu não gosto e que não era o meu lugar. - É um tratado arcaico, feito há anos, antes mesmo de você nascer. Se estudado da maneira certa, nós podemos ver aqui que há brechas, eles não podem atacar onde tem a sua bandeira.
Cavalry olhou para o seu braço direito, Vicen, e eu fiquei esperançoso pelas palavras de meu irmão.
- Não vejo o que ganharemos com isso além de nosso nome na lista de Vantron. – Vicen falou, se apoiando na mesa. – Vejo furos apenas em nossas cabeças.
- A Tigre Dourado do lado de vocês. - Ben falou depois de um longo silêncio nosso, já que não tínhamos resposta para aquilo. – Seu povo está se rebelando, não? - Cavalry encarou Vicen novamente. – é a sua melhor escolha para acalmar seu povo e evitar um desgaste em seu reino.
- Cavalry, Demph está condenada na lista de Vantron, você sabe que é questão de tempo até eles atacarem, se acabarmos com eles antes, temos chances de sobreviver, juntos nós podemos. - eu falei e ele estava com os olhos nas folhas de .
- Se eu, um mero príncipe que foge da Coroa, consegui decifrar esse furo no Tratado, não demorará muito para eles fazerem o mesmo e darem um jeito de burlar ele para atacar vocês. - falou, tirando risada de alguns presentes, todos membros do conselho de Demph. - Juntos nós conseguimos.
- Meu pai está vegetando em sua cama há meses, , eu não sei se posso tomar uma decisão tão grande desse jeito sem ele. – eu o entendia, ele era como eu. Treinado para ser rei sem querer ser um.
- Por que ele está vegetando? - arqueou a sobrancelha. – Vantron, certo? - Você não é burro, meu grande amigo, você sabe, no fundo você sabe, que Vantron está armando algo grande.
- Faça o certo, Cavalry, se não por nós, pelo seu povo e pelo legado de seu pai, ele é um bom homem, sempre foi! - eu o encarei. - Não foi por acaso esse acidente dele, está acontecendo aos poucos... O pai de Alan foi morto, ele caiu para que ficasse mais fácil a entrada de Vantron lá. Seu pai é mais uma vítima, eles acreditavam que você não estava preparado para governar... Prove que eles estão errados.
Ele respirou fundo e se levantou, parecendo nervoso. Nós o deixamos respirar um pouco, ele precisava. Cavalry se retirou rapidamente da sala e nós permanecemos lá com o seu povo.
- Você usou a para barganhar? - perguntou para Ben e ele deu de ombros.
- Ela é nossa maior vantagem. – ele deu de ombros. – Ela não vai negar ajudar um reino em troca de proteção para com os seus.
- Ela vai nos odiar. – balancei a cabeça, tentando não surtar com a possibilidade de tudo dar errado.
- Não é o reino de vocês? - um homem falou, olhando para o visor da grande sala.
Nós nos deparamos com a cena de muita gente concentrada na praça principal de Avallon, aquela que se encontrava na frente do Portal, onde assinou o Acordo. Achei estranho, era pra Avallon ficar sem programações aéreas e terrestres ao vivo fora do castelo, somente Marie e Jeremy dando as notícias do país, sem que ninguém percebesse que nós estivéssemos fora do castelo. me encarou, arrumando sua postura, e Ben fez o mesmo. Vimos ali o Cadafalso, meu coração pareceu parar por alguns instantes com aquilo, as ordens eram de minha mãe. Dois homens estavam ali com os típicos sacos preto no rosto. Logo depois, as câmeras focaram nos carros vindo do castelo, todos de preto, tradição em dia de morte.
O que me fez parar de respirar mesmo, foi ver os criados ao lado dos nobres do castelo, isso nunca aconteceu, NUNCA. Minha mãe estava impecável, acompanhada por todas as suas quinze ladies e as criadas. Ela se posicionou ao lado das selecionadas. Alguns minutos depois, o pano do rosto dos dois homens foi retirado, se levantou no ato, como se pudesse mudar alguma coisa, assim como Benjamin. Eram Denver e Ted.
A câmera focou na expressão dolorida de , parecia que ela ia vomitar, aquilo não era para menos, o irmão dela estava ali. As cornetas foram tocadas. Em vinte e um anos em Avallon, eu ouvi aquilo inúmeras vezes, mas nenhuma me doeu tanto quanto ouvirem-nas sendo tocadas para Denver. Kriker, o responsável pelos discursos subiu ao palco, fazendo o seu discurso que me fazia sempre querer vomitar.
- Nos encontramos de novo, Avallon! - ele sorria, aquilo sempre me assustou, ele sorria prestes de a maior desgraça acontecer. – Mas, dessa vez, é para punirmos mais pessoas que foram contra a coroa! - mais urros, o povo gostava daquilo. – Esses dois homens, foram pegos juntos! - a multidão fez um coral surpreso, Benjamin estava com as mãos cobrindo a boca, os olhos estavam tristes, eu também estava assim. – Sim! Aos beijos! Isso é crime! Eles vivem um romance debaixo do teto do Rei! Isso é uma ofensa. - a câmera focou em minha mãe, ela sorria minimamente, e eu sabia o motivo. Foi uma surpresa descobrir daquela forma a sexualidade de Denver, mas não parecia surpreso, nem Ben. – Denver Patrick Walker, soldado, filho e braço direito do nosso majestoso General Walker, braço direito do rei; e Teodore Aid Winter, soldado das forças terrestres Avallonesas, vocês estão condenados a sofrer o açoitamento até a morte! - fechei os olhos, incomodado com aquilo, todos da sala pareciam surpresos e nervosos, assim como nós.
O grito que veio em seguida me fez abrir os olhos. Era . A câmera focou nela. Vimos claramente o momento em que ela socou um dos guardas que tentaram impedir a sua fúria e então ela correu até o irmão, os brutamontes estavam prestes a dar a primeira chicotada em Denver e Ted, mas ela não aconteceu, pelo menos não neles.
Foi nela. Acertaram ela.
Nós nos levantamos juntos, mas era em vão, não podíamos fazer nada. passava as mãos no cabelo, nervoso, Benjamin se sentou e cobriu o rosto, eu olhava para , a câmera focava em seu rosto. Ela fechou os olhos com força contendo o grito de dor, aquilo me surpreendeu e surpreendeu todos ali que assistiam. Os dois brutamontes junto com os guardas ficaram sem saber o que fazer, ela se levantou e ajeitou as costas, como uma verdadeira líder e os encarou, com raiva.
- Vão mesmo? - ela quase urrou, seu rosto estava vermelho. - Vão mesmo ousar colocar as mãos em mim depois dessa chicotada? Tenho três príncipes que me protegem custe o que custar, eles não vão gostar nada de ver essa cicatriz. – ela tinha razão, eu queria estar ali e socar todos eles, salvar Denver e Ted. Ela se virou e foi de frente com Denver, pude ver as costas dela totalmente rasgadas e sangrando, aquela chicotada conseguia cortar um homem como Denver, foi ainda pior na pele delicada de . O chicote pegou de seu ombro esquerdo e ia até o final de sua cintura, do lado direito.
- Filhos da puta. – socou a mesa.
- Eu vou matar todos eles quando chegar em Avallon. – Benjamin grunhiu, vendo a cena.
- , saia daqui! - Denver falou, quase em um sussurro, mas conseguíamos ouvir. - Você vai se machucar. Vamos ficar bem, eu prometo.
- Eles vão matar vocês. - ela encostou a testa na do irmão, Denver era um homem forte, mas eu sabia que ele não demonstraria fraqueza alguma, assim como a irmã. – Eu não posso permitir.
- Eu te amo, patetinha. – ele sorriu, beijando a testa dela, enquanto ela chorava descompassadamente. Meus olhos marejaram ao assistir aquilo. - Não chore, eu falei que vamos ficar bem.
- ELES SÃO UMA ABERRAÇÃO! – Kreik falou, se aproximando de e pegando-a pelo braço, o suficiente para Denver e Ted tentarem se soltar para defendê-la, mas foi em vão. Ela estava com tanto ódio que se defendeu sozinha, chutando-o no meio das pernas e fazendo-o cair, urrando de dor.
- VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO! - ela gritou, seus olhos pareciam fogo enquanto ela olhava para a multidão que crescia cada vez mais. - E vejam só vocês! - pegou o microfone, olhando para cada rosto. - Vocês são meros marionetes da rainha, não passam de súditos que trabalham para os elitistas! Estão torcendo para o fim dos seus! ESSES HOMENS VÃO PARA GUERRA DEFENDER SUAS VIDAS E É ASSIM QUE ELES SÃO RETRIBUÍDOS. - ela ria, nervosa, mas eu temia por ela e por esse discurso. - Não, eu devo corrigir... Para defender a vida de quem está lá dentro. – apontou para o castelo, era assim que ela nos via? Eu e meus irmãos? – Porque aquela mulher não está nem aí para vocês, enquanto estivermos servindo a coroa, ela não tem com o que se preocupar... ELES SÃO COMO VOCÊS, SÃO MARIONETES DELES! - ela berrou, chutando novamente o assassino que estava de joelhos, ameaçando se levantar. Nenhum guarda se mexia diante ao seu discurso, eles se encaravam. Minha mãe a encarava com ódio. - E do que se trata essa Seleção? Amor, não é? Mas para vocês isso é um espetáculo, não param até ver a última gota de sangue. Essa mulher não é superior a ninguém, ninguém aqui é. - uma multidão urrou contra ela. Eu encarei , que estava com os olhos vermelhos. – ESSA SELEÇÃO PREGA O AMOR, MAS QUANDO O AMOR DE FATO ACONTECE, VOCÊS O CONDENAM! VOCÊS NÃO ESTÃO AQUI PARA VER AS PESSOAS SE AMANDO, VOCÊS QUEREM O SANGUE! - um guarda a pegou pelo braço e ela grunhiu. – Se continuarem assim, o próximo sangue será o de vocês! - foi o que ela conseguiu falar, antes de cair e ser arrastada pelo cadafalso. Eu pude ver seu sangue no chão, suas lágrimas não eram pela dor, eu a conhecia o suficiente para saber disso, era por não conseguir salvar os dois.
A câmera focou em Denver e Ted, eles se encararam e sorriram um para o outro, vi Ben sorrindo e secando uma lágrima teimosa que insistia em escorrer e aquilo terminou de partir meu coração. Benjamin nunca havia chorado, não na minha frente, pelo menos. lutou até o final.
Ela não encarava mais nada, estava com a cabeça baixa junto com as suas criadas, que choravam com ela. pulava a cada estalo que ouvia, mas não encarava a cena e eu fiquei aliviado por isso, ela não merecia ver o irmão daquele jeito, o irmão não merecia aquilo. Ted e Denver não gritavam, aguentavam tudo quietos. Minha mãe sorriu para e a câmera pegou o momento exato daquilo, então vimos fechando a mão e batendo diretamente no rosto de minha mãe. Todos da sala soltaram um som, surpresos, até mesmo nós. Menos , ele parecia saber que aquilo iria acontecer. Minha mãe a encarava, assustada e surpresa. lutava para bater mais nela, mas os guardas a seguravam, aquilo havia ficado ainda mais bagunçado. As meninas tentavam tirar das mãos dos guardas, mas Dr. Poirot interviu. Vimos os olhos castanhos de fechando lentamente junto com suas lágrimas. Denver caiu, Ted logo depois. Nós sabíamos o que aquilo significava. Eles morreram, as câmeras foram cortadas e tudo parou.
Todos ficaram em silêncio por uns minutos, os demphianos nos encaravam, esperando uma reação, mas a única coisa que receberam foi choque, não sabíamos o que fazer.
- Aquela é a Tigre Dourado, eu presumo. – nem percebi que Cavalry havia voltado e assistido tudo, eu o encarei e Benjamin se levantou, eu queria poder dizer algo para ele.
- Se ficar ao nosso lado, vai tê-la no seu time, eu te garanto que seu povo vai respeitá-la e não te darão dor de cabeça. - Benjamin caminhou até a porta e encarou o chão antes de dizer o resto. – Arrumem suas coisas, partiremos essa noite no primeiro navio para Avallon.
- Vocês... Vocês já vão? - Cavalry perguntou, confuso, e Ben se retirou sem se dar o trabalho de responder.
- Eles eram importantes para nós. - falou, limpando a garganta. – E aquela garota vai além de um título lendário para mim.
- Nós assinamos o Acordo, vocês terão nossas tropas ao seu lado e nossa bandeira também. – Cavalry falou, assinando o papel que tinha em cima da grande mesa. – Mas quero aqui o quanto antes, precisamos acalmar nosso povo! - assenti com a cabeça, nem conseguindo comemorar aquela vitória. Nem pensei em como a iria se sentir servindo como moeda de troca, ela falava e a gente conseguia proteção.
Saímos da sala, abalados com o que acabamos de assistir. Eu estava enjoado. Só queria estar em casa, teria evitado tudo isso. Minha mãe é má, e aquilo me matava por dentro, ela não era essa pessoa, ela já fora boa, mas mudou totalmente, minha mãe havia morrido há muito tempo, agora só existia uma mulher ambiciosa e cruel. Ela fazia de tudo para afetar .
- Ela vai matar a gente quando descobrir esse acordo. – falou, balançando a cabeça.
- Nós precisamos disso, ela vai entender. – respirei fundo. - Não sei o que dizer para Ben.
- Se acontecesse algo desse tipo comigo, eu não iria querer ninguém em cima de mim, ainda mais o filho da megera que mandou açoitar meu irmão até a morte. - parou na frente de seu quarto e me encarou. – ... Eu... Eu. – sorri sem mostrar os dentes, eu sabia o que ele queria dizer. não era muito sentimental, nem mesmo eu, pelo menos não com os meus irmãos, mas eu sabia o que ele queria dizer, eu sentia o mesmo.
- Eu também, irmão. – ele sorriu sem mostrar os dentes também. - Eles vão precisar da gente, Ben, Dave, .
- Nós vamos cuidar deles, nós também perdemos alguém importante, ... Passe pelo luto mais rápido, daremos conta. – abriu a porta de seu quarto. – Fique bem, nos vemos daqui a pouco.
- Fique bem.

~Por ~


Eu amava o mar, amava a água em si, mas navegar? Odiava. Eu ficava enjoado e me sentia tonto, sempre passava mal. Preferia voar, pelo menos eu não passava mal e não colocava um rim para fora. Engraçado que na viagem de volta para Avallon, eu não sentia nada, na verdade, parecia egoísmo sentir algo enquanto meu amigo sofria por ter perdido o irmão, enquanto nenhum criado sabia me dizer qual o paradeiro de ou como ela estava. Minha mãe nem se deu ao trabalho de nos atender, e meu pai, céus, meu pai surtava, apenas no pouco contato que tivemos, ele berrava aos quatro cantos o quanto estava com ódio. Não era para menos, Dave era seu melhor amigo, e Denver, Benjamin, e agora, , eram importantes para ele, tanto quanto. Ele sempre dizia que Dave dava a vida por nós, protegia eu e meus irmãos, e o mínimo que ele poderia fazer era proteger os filhos dele, mas não conseguiu, Denver estava morto.
Ben estava sério, não havia dito uma palavra sem ser o necessário nos dias em que viajamos, nesses três dias de viagem, eu vi um lado de Ben que conheci uma vez na vida, na morte de sua mãe ele quase não conseguiu se reerguer. Temia por ele e temia por , ela poderia mergulhar na sua depressão e nunca mais voltar para nós. Só queria abraçá-la, tentar dar algum conforto, mas sabia que não adiantaria nada. Nada disso faria Denver voltar para ela.
Já conseguia ver Avallon pelo navio, meu coração parecia não caber mais no peito, não sabia como tudo estaria lá, como encontraria a , e nem sei como encararia a minha mãe, eu nunca pensei que ela fosse capaz disso, não assim, não com Denver.
Algumas horas se passaram até que parássemos no porto de Avallon, as cargas vindas de Demph eram descarregadas junto com a gente. Não perdi tempo até ver que nossos guardas nos esperavam com três cavalos. Um dos nossos guardas eram um dos que tentou segurar no cadafalso, foi o suficiente para que Ben voasse em seu pescoço. Nós o seguramos.
- Acalme-se, ele não teve culpa! - falou, segurando-o, ele tremia de ódio.
- ELE ARRASTOU ! - Fechei os olhos, respirando fundo, me lembrando daquela cena. sangrava pelo chão do cadafalso. - VOCÊ DEIXOU-O MORRER!
- Eu só estava cumprindo ordens da rainha. – o homem grunhiu, abalado com aquilo. - Você cumpre as ordens dela quando ela manda.
- Não. - Benjamin riu, me assustando com a atitude. - Não mais. – ele montou em seu cavalo, saindo em disparada em direção ao castelo. Eu fiz o mesmo, peguei minha égua e parti em direção ao castelo. Em direção à .
Estava muito chateado com ela, por ter entendido que o que fizemos na cabana não significou nada para ela, mas tinha que entender, a situação que ela estava não era nada fácil. Tudo passou quando a vi sofrendo, me senti culpado por ter desejado que ela sentisse como é ser traído, mas não daquele jeito, não daquela forma, ela foi literalmente, atingida nas costas.
Benjamin corria como nunca, e eu tentávamos acompanhá-lo, mas por mais que Anchor fosse veloz, não era páreo para Ben, que queria encontrar a família. Assim que chegamos no castelo, eu comecei a dar ordens para os criados me dizerem onde estava, mas nenhum me sabia dizer, ou melhor, não podia. Fomos diretamente para a sala de reuniões, onde meu pai estava com e Dave. O encontro do pai com o filho foi triste, eles se encararam, não falaram nada, mas Dave estava se segurando muito para não desabar ali mesmo. Benjamin o fortalecia e os dois se seguravam um no outro, vi meu pai, que estava com a cabeça abaixada, e , que foi até nós e nos abraçou. Só eu sabia o quão aliviado eu estava por ter os dois aqui comigo. Não queria sentir o que Ben e estavam passando nunca.
- Cadê ela? - perguntei e Dave ficou em silêncio, serrando os punhos, eu já imaginava o pior.
- Presa. – respondeu. Os ombros caíram e ele suspirou, triste.
- Por que não tiraram ela de lá? - quase berrou.
- Sua mãe sumiu com a chave da cela, todas as chaves. – Dave falou antes que alguém perguntasse da chave extra.
- Cadê ela? - eu perguntei, bravo.
- Saiu para cavalgar, já ordenei para que trouxessem ela, nem que seja amarrada. – meu pai disse, socando a mesa.
- Vou vê-la. – Ben saiu imediatamente, foi com ele.
- É em vão, não vão poder entrar. – Dave falou, respirando fundo.
Não me contive e abracei o general, Dave pareceu surpreso no começo, mas aceitou rapidamente e me apertou forte. Eu sentia a sua dor, não entendia, mas sentia. Ele ficou abraçado comigo por mais algum tempo, até meu pai enfim perguntar sobre Demph. Contei para ele tudo que aconteceu e que Benjamin ofereceu como moeda de troca, ambos odiaram aquilo, não era a melhor pessoa para se contar agora depois desse episódio, mas iríamos arriscar, não tinha o que ser feito. Fiquei aliviado por termos fechado negócio com Valaydes. As missões foram um sucesso, independente da situação. voltou um tempo depois, completamente desolado.
- Não acredito no que ela fez com . – balançou a cabeça, chocado. – Ben não quis subir, ele vai ficar com ela até abrirem a cela.
Minha mãe entrou na sala um tempo depois, se assustando com todos nós ali, ela estava impecável, mesmo com sua roupa de cavalgada. Eu tive nojo dela.
- Ah, já voltaram? - ela falou, caminhando até meu pai, que se esquivou. – O que foi?
- Você denunciou que não estávamos aqui. – começou a falar, com raiva. – Quando nós ordenamos que era para você agir como se estivéssemos aqui.
- Fiz isso, meu filho. – ela o encarou, me fazendo revirar os olhos. – Mas aconteceu o flagrante do crime, eu não pude fazer nada.
- ERA DENVER! ERA O GAROTINHO QUE VOCÊ VIU CRESCER! QUE PROTEGEU NOSSOS FILHOS! - meu pai urrou, se eu não o conhecesse, pensaria que ele fosse bater nela.
- Não é diferente e nem melhor do que os outros. – ela falou, sem se abalar com o surto dele. Parecia que estava gostando.
- Você é uma hipócrita, Leigh-Anne. – Dave começou a falar, se controlando. – Quando seu maior crime, eu quem ajudei a esconder, eu que lutei por você e seu casamento, impedi que fosse você naquele cadafalso e...
- Basta! - ela arregalou os olhos, brava, ficando cara a cara com Dave. - Você está aqui para nos servir.
- Não sirvo mais a você, você morreu para mim. – Dave ficou cara a cara com ela e minha mãe sorriu diabolicamente.
- Como Denver? - eu a puxei para trás antes de Dave levantar a mão para agredi-la, meu pai fez o mesmo, o puxando.
- Por mais que você mereça isso, de novo, devo ressaltar... – meu pai falou, encarando-a. – Dave não merece sujar as mãos. Não com você.
Ela desfez o sorriso na hora.
- Cadê a chave da cela? - Dave perguntou e ela arregalou os olhos.
- Não vamos soltar aquela garota, ela me agrediu!
- Você matou o irmão dela, isso foi pouco. – rebateu, surpreendendo-a.
- Nos dê a chave antes que eu mesmo te acuse de crimes como omissão de socorro, abuso de poder e um crime seu bem antigo que você apagou da sua mente, mas eu tenho até agora em meu coração.
- Eu joguei a chave fora. – ela respondeu, por fim. Mas era mentira. Ela escondia tudo valioso com ela, a chave estava em seu colar, escondido de todos. Eu encarei aquilo, ela seguiu meu olhar e pareceu ficar assustada com aquilo.
- Você é previsível. - arranquei a sua corrente na força, estourando-a e assustando ela. – Fica longe dos Walker, fica longe de , fique longe dos meus irmãos, fique longe do meu pai e fique longe de mim. – peguei a chave e joguei a sua corrente preferida longe, ela estava com os olhos marejados, mas não me abalava. – Espero que a vovó venha logo para casa, você sofrerá nas mãos dela por ter matado os guardas que ela amava e tinha como filho.
- Eu...
- Você não pensou no resto, certo? Só pensou em afetar e machucá-la. Isso tem consequências, e as suas só estão começando. - falou duramente, puxando Dave pelo braço, deixando minha mãe com o meu pai, mas não durou muito, todos nós seguimos até a cela de . Ela ficou sozinha.
A cena que eu encontrei na cadeia foi horrível. Bem sentado no chão, encarando a irmã, que estava sentada ao seu lado. estava acabada, olheiras profundas, boca seca e cabelos desgrenhados, o pano branco escondia suas costas, mas podíamos ver o sangue que secou no lençol. Eu quis agarrá-la e tirar sua dor naquele instante. Seus olhos encontraram os meus, o brilho dele havia sumido. Dave tomou a chave de minha mão e correu até a fechadura, abrindo a cela.
O encontro dos três foi triste, eu tive que segurar as lágrimas. Doía.
Vi Dave desabar nos braços fracos de , ela chorava e Benjamin chorava com eles naquele abraço, não parecia se importar com a dor, acho que nada a abalava mais do que Denver.
- Eu tentei, pai, eu tentei salvá-lo. – dizia, aos prantos. Benjamin tentava acalmá-la, mas não adiantava.
- Eu sei, você lutou como uma Walker. Seja lá onde Denv estiver agora, ele tem orgulho de você. - Dave segurou o rosto da filha, parando de chorar e voltando a ser a rocha que sempre foi, fazendo-a imitá-lo. Em segundo, os Walker engoliram o choro e arrumaram a postura, até , que estava fraca e frágil não parecia mais estar assim. - Eu tenho orgulho de vocês. Venha, , vamos te levar para cuidar desses machucados.
Eles são fortes. Naquele instante eu vi, ia doer, mas eles superariam. Passariam por cima disso, era o que Denver faria.
- , sinto muito por tudo isso, queria poder fazer algo por você, mas... - meu pai começou a falar, estava apoiada em Dave e Ben.
- Você pode, majestade. – ela disse, fraca. – Liberte-os. – ela apontou para os dois selvagens. Nos encaramos por alguns instantes, eles ficaram surpresos com o pedido de . - São apenas pessoas precisando de comida.
- Claro. – meu pai concordou com a cabeça. O guarda ficou receoso, afinal, a rainha não queria que eles saíssem. - Não ouviu a garota? LIBERTE-OS.

Capítulo 9

~Por ~


- Ben, não acho que seja uma boa ideia irmos até lá. - tentei segurá-lo, mas ele se soltou rápido.
- É a minha irmã! - concordei com a cabeça, ele estava certo. - É a única irmã que eu tenho agora, a sua mãe tirou Denver da gente e fará de tudo para tirar também, ela não vai chegar nem perto da minha irmã, nunca mais!
- Não vamos deixar. – falei, o acompanhando, querendo negar que minha mãe era realmente esse monstro. – Minha mãe não é tão cruel como você pensa, você sabe, você a conhece. - nós cruzamos o castelo até a cadeia em minutos. Benjamin estava calado, mas assim que demos de cara com a cena, ele me encarou, com os olhos arregalados.
- Tem razão, ela é pior do que eu pensava. – meu coração se partiu ao ver encostada na grade de sua cela, ela estava sentada no chão, provavelmente por estar fraca e frágil. Ao nos ver, abriu um sorriso fraco. – Meu Deus, oi, – Ben colocou as mãos na boca e se agachou assim que fez questão de se levantar. - Está tudo bem, está tudo bem, não precisa se mexer, eu tô aqui.
- Eu... Eu tentei tanto, Ben. – ela falou, segurando as lágrimas. - Eles amaram vê-lo grunhir de dor, todos são monstros, são cruéis.
- Srta. , eu adorava Denver, não o queria morto. – o guarda que estava de vigia falou, abalado, e ela o encarou, furiosa.
- Você não fez nada para impedir, você é fraco, eu te odeio e tenho pena de Denver por ter amigos tão ruins. – mesmo fraca, ela era cruel. Não a condenava, ela estava em uma das fases do luto, Ben abaixou a cabeça, ele concordava com a irmã. O guarda não falou nada, eu pedi para que ele se calasse apenas com as mãos e ele concordou, provavelmente arrependido e envergonhado.
- Hey, . – me aproximei dela, me sentando ao lado de Ben, que segurava as mãos da irmã, elas estavam machucadas, uma completamente inchada e a outra com hematomas de luta. Ela sorriu novamente, odiava vê-la assim. – Vamos cuidar de você.
- Eu sei que vão. - ela falou, mais como um sussurro. – Mas não é comigo que eu me preocupo agora... Cuide do meu pai e de Benjamin.
- Eu não preciso de cuidado algum. - Ben falou, sorrindo fraco e acariciando o rosto da irmã, ele devia estar pensando o mesmo que eu, ela estava toda ferida e mesmo assim se preocupava com a sua família.
- Precisa sim, tanto quanto eu. – ele concordou com a cabeça, não quis resistir a uma luta na qual ele perderia.
- Vou tentar fazer com que abram essa cela logo, dr. Poirot estará a postos para te atender assim que sair daqui e minha mãe sofrerá as consequências por tudo que ela fez, eu te prometo. – ela concordou com a cabeça, mas nós sabíamos que eu era incapaz de fazer algo contra minha mãe.
Eu nunca imaginei que fosse ver tão entregue assim. Algo em mim pareceu se quebrar, ela era minha amiga, eu a amava e não queria vê-la mal, mas também amava minha mãe e não queria acreditar que a mulher boa que eu conheci um dia, se tornou meu pior pesadelo. Ela havia colocado os interesses dela na frente da sua família e da Coroa.

~


- Sam. – falei, surpreso, assim que vi a menina que fazia meu coração bater mais rápido tanto quanto . Ela arqueou a sobrancelha e cruzou os braços, eu tinha medo dela quando ela fazia isso.
- Eu não sou uma pessoa que cobra atenção de ninguém, Aykroyd, mas a sua educação ficou a desejar nesses últimos três dias. – respirei fundo, esperando mais broncas. – Ia falar comigo quando? Eu fiquei preocupada com você, eu fui até a igreja rezar pela vida de vocês, eu fiquei ao lado daquele telefone tentando atender uma mísera ligação de vocês, eu vi dois homens do bem serem chicoteados até a morte, eu vi minha amiga ser açoitada e não pude fazer nada! Eu tentei tirar ela da cadeia junto com Summer e Beth e nós ficamos presas no quarto por ordens da sua mãe, sem comida! A única coisa que eu esperava, era que você tivesse o mínimo do bom senso de vir até mim e mostrar que minhas orações deram certo!
Abaixei a cabeça, completamente assustado com aquele discurso. Eu não imaginava que minha mãe tivesse tão descontrolada daquela forma. Eu havia errado muito com Sam, ela não merecia.
- Sam, eu... Me desculpa. – falei, sincero, segurando suas mãos. Ela não se afastou, seus olhos não estavam furiosos, como normalmente ficaria, mas sendo bem sincero, eu preferia que ela estivesse brava comigo, ver em seus olhos a decepção era pior ainda. - A gente chegou da viagem e eu fiquei preocupado com a , tive tantos imprevistos para resolver, além de preparar uma busca pelos corpos dos meninos, ninguém sabe onde o corpo de Denver e Ted estão, minha mãe não colaborou com nada e eu não quero que Ben e saibam disso, Dave está destroçado, e...
- Os corpos sumiram? - ela colocou as mãos na boca. - Céus, vai ficar desolada!
- Me desculpe. – repeti, olhando em seus olhos.
- Estou chateada, mas entendo. – ela suspirou. - Porém, ainda sim, estou decepcionada. Eu esperava que você recorresse a mim em tempos de crise, eu estou aqui para isso, para você - sorri com a forma que ela falou, Sam era muito decidida em todas as suas atitudes, mas quando se tratava de coração, ela era tímida.
- Obrigado por isso, eu prometo que vou melhorar. – ela sorriu sem mostrar os dentes.
- Você pode me levar para ver a ? Você estava indo para o leito, eu sei que estava. – eu respirei fundo. Dave havia proibido a entrada de qualquer um, mesmo sendo pessoas que gostasse, por precaução mesmo, mas eu podia fazer esse esforço, ela merecia e precisava.

~Por ~


Estava na enfermaria, estava no soro e sendo cuidada pelos nossos melhores profissionais. Benjamin e Dave estavam com a nossa psicóloga, eles se obrigaram a fazer isso antes, por , eles não estavam bem e queriam matar a minha mãe, três Walker desequilibrados não era exatamente uma coisa boa para nós no momento. Não a deixaria só nem por um segundo. Minha mãe havia se trancado em seu quarto e não sairia de lá tão cedo, afinal, nem mesmo meu pai queria falar com ela. Ele até pediu para arrumarem um quarto para ele, bem longe do dela. Por mais que me doesse admitir isso, eu imaginava que minha mãe fosse capaz de mandar para cadeia, afinal, ela a odiava, mas não imaginaria que seu ódio fosse capaz de fazer matar Denver apenas para afetá-la.
estava destruída, por fora e por dentro. Rezava para que minha mãe não tivesse conseguido acabar com ela, teria que se reerguer.
Eu faria o impossível por isso.
- Ela está dormindo, vai ficar assim por algumas horas. – Dr. Poirot falou assim que saiu da sala. – Bom, o caso dela é crítico, não tanto por fora, é forte, os ferimentos vão se curar rápido, a infecção já está controlada, a cicatriz nas costas não é nada perto da cicatriz que ela tem no coração. Ela se culpa.
Aquilo me deixava ainda pior.
- Sedamos ela, estava surtando e dizendo que devia ter feito mais por ele, que devia ter lutado mais, a culpa vai consumi-la.
- Nós vamos conseguir. – falei, tentando convencer a mim mesmo disso. – Ela é forte, não é? Ela vai passar por isso.
- Nós faremos o possível. Pode ficar com ela enquanto Dave e Benjamin não chegam.
Corri para o quarto em que ela estava. Ela dormia, mesmo mal, ainda estava linda e por um momento, eu quis acreditar que ela estava bem e que aquilo não passava de um sonho ruim. Eu puniria um por um dos homens que machucaram ela. Kreik seria o primeiro, eu havia me cansado daquele homem, ele me amedrontava desde pequeno, mas agora eu não tinha mais medo, eu tinha ódio. Os brutamontes que acertaram ela nas costas, eles seriam os segundos, não tinham o direito disso, não podiam ter feito isso. Fiquei com as mãos na mão que não estava machucada e ficaria ali até alguém me expulsar.

~


- Você corre como uma criança. - Ben gritou, correndo na frente.
Eu estava encarregado de cuidar dele. me fez prometer e eu iria cumprir a promessa. Em uma das poucas vezes que eu a encontrei acordada. Eu preferia ficar com ela pela noite, vê-la dormindo, evitar uma conversa que iria causar briga, nós dois sempre terminávamos em briga, não queria aquilo, não agora, ela não precisava se desgastar mais, pelo menos eu estava lá. Mas, não prometi apenas por ela, mas por mim também, Benjamin era meu melhor amigo, eu amava Denver e os dois estavam lado a lado com e para mim, fomos criados juntos, Denver me pegava pela gola da camisa e me fazia de exemplo para as outras crianças, ele tentava colocar medo delas fingindo que era bravo e forte e eu sempre cooperava, não queria apanhar, mas o engraçado era que ele só fingia ser bravo. A sua força ele nunca precisou fingir, e ela durou até o fim de seus dias. Seus curtos dias.
Benjamin estranhamente estava bem, ou pelo menos fingia bem, ele se parecia muito com , em relação a aparência, mas ele era menos fechado que ela e aguentava muita coisa calado, com os anos de treinamento ele aprendeu como a guardar sua raiva, mas sempre demonstrava o que sentia através de seu rosto (e não ficando calada), a gente sabia quando ela estava brava ou chateada, Ben não era assim, eu só sabia o que ele estava sentindo depois que ele falasse.
- Eu sei o que você está fazendo. – ele falou assim que paramos para beber água e observar as árvores.
- O que estou fazendo?
- Uma parte de mim fica feliz por ver você se importando com alguma coisa que não seja só você. - eu teria ficado ofendido, mas aquilo não era mentira, eu sempre fui egoísta. - A outra parte não gosta de ter babá vinte e quatro horas.
- Nada que eu faça vai trazer Denver de volta. – comecei a falar e ele virou a cabeça, olhando para o nada. – A única coisa que posso fazer, é cuidar de você, de Dave e da sua irmã, para que nada leve vocês também.
- Não preciso de cuidados. – Ben estava na defensiva, eu conhecia bem aquilo, os Walkers eram bons nisso, estava calejado com anos ao lado dos dois irmãos, do próprio irmão, e agora, com a mais nova Walker, era o meu maior treinamento para lidar com pessoas difíceis.
- Vocês cuidaram e cuidam da gente a vida toda, Ben. – falei, suspirando. – Eu vou cuidar de vocês, você querendo ou não.
- Denver está morto, . Sua mãe o matou. – aquilo me atingiu como um soco. – Eu não vou ficar remoendo, não é isso que ele faria. Ele ergueria a cabeça e continuaria a vida. É isso o que eu vou fazer, seguir os passos do meu irmão. - concordei com a cabeça. - Aceito sua ajuda se não for para ficar me tratando como um brinquedo quebrado.
- Ótimo, estava cansado de ficar falando fofo com você. - respirei aliviado, recebendo o primeiro sorriso sincero de Ben em três dias. - Você corre como uma marica! Não aprendeu nada no treinamento?

~Por ~


precisava de espaço. De tempo. Tinha muita gente ao lado dela. Ela podia até achar que não era importante, mas se visse o tanto de gente que ia na enfermaria visitá-la, ficaria surpresa, mas eu não. Eu era uma dessas pessoas. Por mais que eu tentasse ficar distante, eu voltava para o mesmo lugar, todos os dias levando uma flor diferente para ela, esperando que ela ficasse feliz e me abrisse aquele sorriso que só ela conseguia, estava difícil, mas não desistiria. Nenhum de nós desistiria.
Vê-la naquela cela me quebrou de várias formas, não só eu, todos naquele castelo. Vazaram fotos dela na cela, as pessoas se revoltaram. Selvagens. A selecionada açoitada na cadeia por defender um criminoso, era assim que as manchetes saíram por três dias seguidos. Minha cabeça vagava nas lembranças de Denver, ele era meu melhor amigo. Se eu não tivesse feito essa missão, deixado minha mãe sozinha, nem um dos três teriam sofrido isso, não teria feridas externas nem internamente, e Denv, junto com Ted, não teriam aquele fim cruel e injusto. As coisas não estavam fáceis. Benjamin se dedicava totalmente para sua irmã, não saía do seu lado, só quando Dave estava presente, ou eu e meus irmãos.
O casamento de meus pais estava extremamente conturbado. Talvez aquela fosse a maior crise dos dois. Os demônios de minha mãe pareciam que estavam retornando aos poucos, aquilo deveria ser difícil até mesmo para a poderosa e majestosa Leigh-Anne, a rainha regente. Mas meu pai estudava formas de tirar esse título dela, a separação oficial era impossível, principalmente agora com nossos acordos recém-assinados, um casamento em crise era sinal de fragilidade na estrutura política. Eles teriam que atuar. Nós também. Não suportava ver minha mãe caminhando como se nada tivesse acontecido, como se estivesse certa. herdou isso dela, também. Os Aykroyds foram criados para isso, para que apenas a nossa verdade fosse a certa, ao menos eu sabia diferenciar se a minha verdade beneficiaria apenas uma pessoa. Eu, normalmente quando essa possibilidade era levantada, iria na direção oposta, afinal, nunca era uma coisa boa. Infelizmente minha mãe havia se tornado uma víbora e eu temia por ela.
Hoje era o dia em que eu resolveria todas as pendências com os acordos que fizemos, estava com , enquanto levava Ben para fora do castelo, ordens da própria . Três dias se passaram depois que voltamos para o castelo e a encontramos. Ela permanecia sob os olhares de Poirot, a infecção foi controlada no primeiro dia, mas voltou a dar problema ontem. Pelo menos ela estava bem. Pelo menos eu estava com ela. Fiz todas as minhas obrigações o mais rápido possível para vê-la. Corri para o jardim para pegar mais uma flor. Dessa vez uma peônia, ela amava. Não que ela fosse o tipo de garota que gostasse de receber flores, em tempos normais ela jogaria todas elas na minha cara e ainda falaria “Tirou ela do jardim para morrer em um vaso? Que desperdício.”, mas agora, ela sorria. Efeito pós Denver.
Cheguei na porta de seu quarto, a enfermeira nem me parava mais. Ela sorriu. Antes de eu entrar, fiquei escorado na porta, vendo a cena. e Sam, de mãos dadas perto de , ela sorria e conversava com os dois abertamente.
- Você precisa voltar logo, Lizzie está nos atormentando e se achando a próxima rainha.
- É megera igual mesmo. – falou, tirando uma gargalhada da amiga, e eu também ri. - Não tenho estruturas para lidar com aquela garota, se eu soquei a cara da rainha, imagina o que eu posso fazer com Lizzie?
- É melhor manter distância mesmo, pelo seu bem, não pelo dela. – falou, sorrindo sem mostrar os dentes. Ele olhou para trás e me viu escorado na porta com os braços cruzados.
- É um encontro na sala hospitalar? – perguntei, fazendo Sam corar.
- Eu implorei para me deixar ver , a segurança estava bem relutante de nos deixar entrar. – ela explicou, me fazendo concordar com a cabeça. - Vamos deixar eles a sós. - pareceu relutante por um momento, mas logo cedeu. Deu um beijo na testa de , que sorriu fraco, recebendo o carinho. Sam fez o mesmo. – Estamos com você. Até Summer está quase agredindo os guardas, é melhor evitar mais confrontos.
- Eu pagaria para ver essa cena. – riu e observou os dois saírem. me deu um apertão no ombro e eu os observei caminhando pelo corredor branco. – A que devo a honra de ver o príncipe Cabeça das missões secretas em meu leito pela segunda vez no dia de hoje? - continuei encostado na porta com os braços cruzados, escondendo a flor.
- Não fui eu quem tive a ideia dos acordos. – falei, dando de ombros, e ela arqueou a sobrancelha.
- Eu te conheço, eu sei que partiu de você. - Touché. - é um ótimo príncipe regente, mas não tem a visão que você tem, não para algo grande como isso. Ele monta as estratégias de ataque, você monta a defesa.
- As ideias foram totalmente dele, o ajudou a convencer Demph a se aliar com a gente através de dados históricos, foi muito teórico e preciso, o ajudou nas propostas e Ben deu um incentivo. – tentei distraí-la na minha mentira. seria o próximo rei, ele precisa fazer coisas que o colocassem no topo disso, eu nunca seria Rei, não faz sentido eu ir contra a coroa, era o meu povo. não acreditou naquilo, conseguia ver apenas pelo seu olhar.
- Continue tentando me enganar, mas no fundo, o único enganado aqui é você. - ela respirou fundo e eu também. - Vai só contar sobre a vitória dos nossos irmãos ou vai me falar como você se saiu também? - eu sorri, me aproximando dela e me deitando ao seu lado. Ela sabia o quanto eu queria contar tudo logo.
- Céus, eu nunca imaginei que Valaydes fosse aceitar um acordo com a gente. – ela apoiou a cabeça em meu peito, mas logo se ajeitou, com dificuldade, para olhar em meus olhos enquanto eu contava. – Linus, o general deles não quis, ele estava com medo de Vantron, a filha do rei aceitou, mas a chave de mestre deles, pasme, , é uma líder dos rebeldes, eles têm um lugar no conselho em Valaydes, é genial. O país tem inúmeras tropas, mas nem uma pessoa é obrigada, todos são voluntários! - olhava para mim com os olhinhos brilhando, aquilo parecia um sonho para ela, não julgava, eu também achava aquilo perfeito. - Eles toparam o acordo, mas não por nós, por você. - ela ficou surpresa com aquilo e eu ri.
- Eu?
- Você é uma inspiração para eles, os rebeldes. – ela me encarava, ouvindo tudo com atenção, mas para a minha surpresa, ela não estava surpresa. – Em Valaydes, Titânia te chamou de “Bonitona bocuda”. - ela riu, ficando corada.
- Na cabana... – ela começou a falar e eu senti meus ombros ficando rígidos, eu não queria lembrar da cabana, do que ela e viveram lá, eu sentia raiva, ciúmes e... Inveja. Do meu irmão. Estava tentando superar aquilo. – Quando fomos atacados pelo vantroni, antes de eu atirar nele, ele me chamou de ameaça e me chamou de Tigre Dourado, o que isso significa?
- É besteira. – menti, abaixando a cabeça e evitando contato com seus olhos. - Não se pode acreditar nas palavras de Vantronis, eles são inimigos. – achei que ela iria surtar, gritar, me xingar e descobrir que tudo era uma farsa, que eu estava mentindo para ela, mas ela deu de ombros, se aconchegando em meu peito, resmungando de dor. Agradeci por ela ter acreditado.
- Estou tendo um déjà vu. - ela falou, cutucando meu rosto, me fazendo rir.
- Temos que parar de nos encontrar no hospital. – ela gargalhou. Não era mentira, todas as vezes que nós ficávamos bem, eram em um leito.
- Estou cansada disso, quando eu sair daqui, me leve em um encontro de verdade. – fui pego de surpresa com aquilo, mas não me permiti vacilar, sorri e falei o que estava dentro de mim fazia tempo.
- É tudo que eu quero, e já tenho tudo em mente. – sorriu. Eu amava aquele sorriso. Achei que minha mãe tinha tirado isso dela, levado junto com Denver as coisas que a tornavam ela. A tornavam viva.
Nunca a vi sem ser na defensiva, mas agora eu sentia falta.

~Por ~


Nos últimos três dias eu me deixei ser tratada com todo amor, carinho e cuidado que me ofereceram, iria ficar assim até sair desse leito da enfermaria, eu precisava daquilo, eu precisava sentir o que Denver sentia. Ele era amado por todos, eu queria sentir como era aquilo, por alguns instantes, eu o sentia ali. Tinha dias que eu acordava e imaginava que tudo não passava de um pesadelo, mas então sentia minhas costas e a lembrança de Ted e Denver sendo açoitados, em silêncio, vinham com tudo.
Meu pai me tratava como um brinquedo quebrado, às vezes queria gritar para ele parar com isso, mas ele estava sofrendo tanto quanto eu, afinal, eu conhecia Denver há menos de cinco meses, Dave conhecia o filho a vida toda, exatos vinte e cinco anos ao lado dele. A dor era maior nele, então eu o deixava cuidar de mim da forma que necessitava. Deixava todos cuidarem de mim da forma que precisavam. Não foi só eu que perdera Denver, como eu disse, ele era importante.
Ben já agia diferente, ele me tratava como sempre me tratou em tempos normais no castelo, como se nada tivesse acontecido, mas qualquer pessoa que batia na porta, ele ficava preparado para atacar e me defender. As coisas mudaram, por mais que eu quisesse acreditar que não. Benjamin não tolerava ser tratado como um brinquedo quebrado, talvez por isso ele não me tratava como um.
era atencioso, evitava me tratar como uma indefesa, me mantinha informada das coisas do castelo e contava sobre as fofocas reais dos parentes dele, uma de suas tias de Taim foi pega com um Lorde de outro reino, um verdadeiro escândalo real. Ele me levou a maior surpresa que eu podia pedir. Sam. Ela chorou ao me ver e pedia desculpas por estar chorando, pedia desculpas por não ter ajudado, e eu fiquei sabendo que ela, Beth e Summer haviam sofrido consequências com o ato de tentar me tirar da cela, aquilo me fez querer chorar, elas viraram prisioneiras e passaram fome por minha causa. A rainha Leigh-Anne montou uma ditadura nos seus termos.
estava estranhamente ausente, aquilo me assustava, quase não o via, ele se mantinha ocupado o dia todo, talvez estivesse me evitando, não o julgava por isso, a última vez que nos vimos, ele estava chateado, eu merecia seu rancor, mas em uma das poucas vezes que ele me visitou, eu conversei com ele e ele me prometeu cuidar de Benjamin, aquilo valia mais que tudo. Sentia falta das nossas trocas de farpas, ele era a única pessoa que eu esperava que me tratasse normal, mas aparentemente ele nem queria me ver.
era só amor, todos os dias ele me levava flores diferentes e me enchia de afeto e muita risada, isso não era uma mudança total do que éramos antes do... Antes do assassinato de Denver. Era fofo vê-lo pisando em ovos comigo, mas tentando disfarçar que tinha medo de que eu quebrasse, mas era alguém que eu conseguia ler facilmente, eu o conhecia muito bem, sabia quando mentia, quando estava com vergonha, bravo, e até mesmo quando ele estava prestes a ter uma ideia brilhante. Me doía ver ele tentar esconder que tinha feito um marco histórico em questão de semanas, três acordos era mais do que Avallon jamais conseguiu fazer em séculos, sendo bem sincera, não sabia como um reino como o nosso sobrevivia sem alianças fortes como Agartha, e agora tínhamos Demph e Valaydes conosco. A intenção de era boa, ele tentava ajudar o irmão, que não queria a coroa mesmo tendo sido condenado a ela, mas não era o certo. Deixei-o se enganar com a própria mentira, no fundo, ele sabia que eu sabia que a ideia fora totalmente dele, um dia eu o colocaria no topo. Lá era o seu lugar de direito.
Todos estavam sempre me paparicando, mas sempre fugindo da responsabilidade de me contar a verdade, contar sobre a verdadeira causa dos Selvagens, sobre os motivos de Vantron nos atacar tanto, contar sobre a Lenda do Tigre Dourado e me explicar o motivo de eu ser essa lenda e ser a responsável por tantas rebeliões, ser taxada a terror mundial pelas dinastias. Nem meu pai, meu irmão ou meus três príncipes eram capazes de me contar.
Eu precisava ouvir deles.
Não era burra para confiar na palavra de um Vantroni condenado ou na palavra de dois selvagens, poderiam facilmente me manipular. Mas uma voz na minha cabeça gritava: e se eles também estiverem me manipulando? Não. Eles não fariam isso comigo.
Esperava que me contasse, mas a minha última esperança se foi. Ele mentiu para mim. Sabendo que eu sabia quando ele mentia. sempre foi o pior mentiroso, não sabia mentir, mas acreditava na sua própria mentira. Quando ele por fim dormiu, me levantei com dificuldade e fui até o banheiro, eles me observavam, os Selvagens, deixei um recado para eles em meu roupão antigo, no bolso. Quando ele fosse para lavanderia alguém iria resgatá-lo, assim eu esperava.
Mesmo com remédios, minhas costas doíam. Poirot se negou a dar pontos, se tratava de uma ferida artificial, mesmo parecendo ser profunda. Ainda não tinha olhado para ela, não com os milhares de curativos que eles usavam para cobrir, os curativos iam do meu ombro até minha cintura. Os tirei, com raiva. Meus olhos marejaram quando eu senti a dor do vento de Avallon batendo contra a minha pele machucada.
Ardia como fogo queimando a pele.
Uma cicatriz que eu carregaria pelo resto da minha vida.
Graças à maldita Rainha Leigh-Anne.
Ela havia deixado essa marca em mim, e ela pagaria por isso.

Capítulo 10

~Por ~


- Atira no alvo, ! - Dave falava de forma séria. Ali naquele circuito, ele não era meu pai, ele era meu treinador.
Meu projeto estava caminhando para a perfeição desde quando foi aprovado, finalmente chegou ao castelo e todas as mulheres estavam fazendo o treinamento de autodefesa, até mesmo as criadas. Aquele circuito continha várias etapas, começávamos com o alongamento, depois íamos para exercícios que fariam nosso corpo ficar mais rígido, e com isso, para o treinamento em diversas situações possíveis para defesa. Nossos parceiros eram os guardas que cumpriam as ordens de Dave, que não saía de perto todos os dias.
Eu estava na fase da arma. Era uma forma de defesa, principalmente para nós que estávamos cercadas de guardas armados todos os dias, treinamos a nossa mira. Eu estava apontando a arma para um alvo distante e eu via ali o maldito rosto da rainha Leigh-Anne. Ela havia sumido. Não a vi desde o dia que ela matou meu irmão, já se passava um mês desde que Denver foi tirado da gente. Meu pai me contou que o corpo de Denver não foi achado ainda, não tivemos a chance nem de fazer um funeral digno. O corpo de Ted foi encontrado dias depois, perto do mar, mas Denver não.
Todo o meu estresse e tristeza eram descontados naquele treinamento.
- Muito bem. – Dave falou e eu quase sorri, orgulhosa de mim mesma, mas fui levada ao chão em segundos graças a uma rasteira dele.
- Ei! - quase gritei e ele continuou pleno, com as mãos atrás das costas.
- Atira no alvo do chão. - quase rosnei, minhas costas ainda doíam. Fiz o que ele mandou, atirando na cabeça do alvo.
As coisas iam ficando ainda mais difíceis, ele me mandava mais alvos, cada vez mais perto, eu desviava e me defendia, até que um ficou próximo o bastante do meu rosto, apontando uma faca. Aqueles alvos eram de última geração. Minha arma havia ficado sem munição. Grunhi, desviando do alvo maníaco, levantando, e com a perna, chutando a faca para longe, a última coisa que eu precisava era de uma facada de um robô. Arregalei os olhos quando o alvo começou a jogar outras facas na minha direção, eu desviava até chegar no chão onde a primeira faca que eu chutei estava, peguei a mesma e a joguei na cabeça do alvo.
Me ajoelhei no chão, cansada e assustada. Meu coração doía por mulheres que passaram por homens dissimulados que a fizeram temer dessa forma. Os treinos eram baseados em situações de ataques, mas especialmente ataques que já aconteceram e foram denunciados. Aquele não era diferente. Escutei palmas à minha volta.
Eu tinha plateia.
- Muito bem, . – Dave falou, sério, mas eu podia ver seu lábio querendo sorrir de orgulho da filha. Eu era uma Walker, afinal de contas. Olhei em volta e não consegui desviar os olhos dos dois irmãos. e , ambos estavam ajudando no treinamento das garotas. – Creio que hoje você está dispensada.
- Controle o seu robô! – sussurrei, passando por ele, que sorriu.
- Eu não o deixaria fazer isso se não soubesse que você daria conta. – ele respondeu, me fazendo sorrir de volta.
Me sentei longe do maldito circuito e observava as outras garotas. Nem todas tinham sorte, mas todas se defendiam. Summer socava um guarda que estava coberto de almofadas para amenizar a dor, Beth treinava correndo e se defendendo sem armas, apenas com o seu corpo. Sam era uma dama mesmo assim, mantinha a elegância ao chutar as partes baixas de . Comecei a rir, vendo-o chorando no chão, e ela desesperada, não duvidaria se ele não tivesse pedido para ela se defender com tudo.
- Se hidrate, furacão . – fui pega desprevenida com uma garrafa voando até minha testa. Grunhi, colocando a mão na cabeça no local atingido. - Você desvia de cinquenta facas ao mesmo tempo, mas não desvia de uma garrafa de água?
Gargalhei, jogando uma pedra em . Ele se sentou ao meu lado, sorrindo.
- Se formar galo, eu irei me vingar. – ameacei, vendo-o dar de ombros.
- Nada que eu não esteja acostumado. – ele se referia ao tapa na cara que eu dei nele algumas semanas atrás, nos primeiros treinos.
- Aquele dia você me derrubou no chão. - me defendi.
- E você me bateu!
- Você mereceu, não fui avisada de que iria quase quebrar o nariz e ficar dolorida por cinco dias depois. – joguei água nele e ele riu, jogando de volta.
- Você arrasou no treino hoje, nem parece aquela menina desengonçada do primeiro dia de treino. – sorri sem mostrar os dentes. Aquilo era um elogio, ter evoluído desse jeito era bom.
- Tive bons professores. – ele sorriu. Eu tive Dave, Benjamin, e me ajudando todos os dias.
- Eu já tinha comprovado que você era uma Walker, mas ver você lutando só reafirma isso. – respirei fundo, olhando para Dave e Ben que treinavam as meninas, era para Denver estar ali. – Desculpe, fiz você lembrar de Denver, me desculpa.
- Não se preocupe. – segurei sua mão por impulso, eu não suportava as pessoas sofrerem por pisarem em ovos comigo. – Tudo aqui lembra ele, , eu até gosto, sabe? Tira a lembrança da carinha dele sofrendo naquele cadafalso e me faz lembrar dele sorrindo pelos corredores, como se fosse o dono do mundo.
- Sinto falta dele também. - ele disse, apertando de volta a minha mão. - Mas é aquilo, ele nos socaria se nos visse na fossa dessa forma.
Gargalhei, era verdade.
- Então vem, me ajude a treinar. – levantei, o puxando para treinar mais um pouco comigo e ele resmungou.
- Garota? Você estava fugindo de cinquenta facas não faz nem cinco minutos.
- Tá vendo como você é uma marica? - me encarou, fingindo estar ofendido, eu adorava irritá-lo e ele adorava me irritar. Depois do hospital, nos aproximamos mais, brigamos menos e isso é bom, mas as trocas de farpas nunca acabaram.
- Vou te mostrar a marica.

~


Estava em meu quarto, descansando do meu treino bem conturbado, conseguiu me mostrar que não era uma marica, me fazendo cair várias vezes. Parecia mais uma preparação para guerra do que treinamento de defesa, Vantron não desistia da luta mesmo com três países ao nosso lado, talvez fosse bom nos prepararmos para algo pior. Independente das duas alternativas, estaríamos prontas para ambos.
Olivia caminhava de um lado para o outro no quarto, seu barrigão já estava indo para o oitavo mês de gestação e eu nem acreditava que estava no castelo há tanto tempo. A seleção já estava quase completando um ano. Era bizarro, parece que ontem mesmo fazia brincadeirinhas comigo na primeira vez que nos vimos, quando eu descia a escadaria para a minha apresentação oficial. Ou indo contra os guardas e ordenando que me deixassem sair para o jardim. Ou , me provando que não era uma máquina. Um ano que eu havia mudado completamente.
Recebia relatórios sobre meu projeto todos os dias, muitas mulheres estavam se defendendo dos maridos ou estranhos, isso era triste por um lado, mas por outro era super positivo. O que mais eu queria era isso, mostrar a elas que eram fortes o suficiente para não serem caladas. Nosso telefone único para violência contra a mulher também estava funcionando, as guardas mulheres iam até elas e protegiam as meninas, tudo estava indo muito bem.
Escutei um barulho vindo da sacada. Alguém estava jogando pedras na porta de vidro.
Comecei a rir antes de sair e ver quem era.
- Não acredito que você está fazendo isso. – me debrucei, vendo os cabelos loirinhos de bagunçados, enquanto ele sorria para cima, o sol estava deixando os olhos dele ainda mais claros.
- Rapunzel, jogue suas tranças. – falou, fazendo uma pose forçada, me fazendo gargalhar mais ainda.
– Isso é brega, até para você.
- Fazer o que se eu sou um romântico antigo? - revirei os olhos, segurando um sorriso. – Venha, vamos dar uma volta!
- Você não tem obrigações de príncipe? Eu tenho obrigações de selecionada. – ele riu, balançado a cabeça.
- Como príncipe, eu ordeno que você venha até aqui para aquele encontro que você pediu!
- E se eu negar?
- Terei que ir aí e te carregar.
- Então eu vou até você, que saco. – fingi estar indo contra minha vontade e sorriu, me vendo desaparecer em meu quarto. Por sorte, eu estava arrumada para qualquer imprevisto. Deixei um recado para minhas damas, e saí.
Encontrei ele no jardim. estava sorridente e sentado em um banco, me recebeu com um abraço e me fez ir com ele até o celeiro. Pegamos nossos cavalos, que já estavam prontos graças a ele, e eu comecei a segui-lo
- Onde vamos? - perguntei depois de um longo percurso cavalgado.
- Surpresa. – ele respondeu por cima do ombro, bufei e corri até ele, ficando ao seu lado. – Vai ter comida, se é o que te perturba.
- Idiota. – revirei os olhos e escutei a risada dele. – Eu odeio surpresas, você sabe disso.
- Vai amar o nosso encontro, de longe é um dos melhores que já fiz. – fiz uma careta, não queria imaginar tendo encontro com outras pessoas, mas segurei a minha língua. - Entre nessa trilha.
- Que trilha? - olhei para um monte de árvores, ele sorriu com o meu mau humor falso e entrou na trilha que eu jamais teria visto. O segui com meu cavalo, bufando, depois de uns cinco minutos de muita conversa e troca de farpas, chegamos em um lugar lindo, eu não conhecia. Aquela floresta ficava cada vez mais bonita.
Não pude deixar de lembrar de Denver, a última vez que eu o vi antes do açoite, foi em um lago, não era esse, mas me lembrava mesmo assim. O lago era gigante, tinha até uma cachoeira um pouco mais distante, a vista era perfeita. Perto do lago, em uma sombra agradável, estava uma cesta gigante, tinha um pano no chão, sorri ao perceber que tinha planejado nosso encontro realmente. Desci do cavalo facilmente, chegando até a margem do lago.
Senti suas mãos envolvendo minha cintura por trás e me levando delicadamente até seu peito, eu estava de costas para ele. Coloquei minha mão por cima da sua, aproveitando o momento, beijava o topo da minha cabeça. Eu não sabia como deveria me sentir, mas todos os meus problemas desapareceram ali, eu me sentia confortável.
- Aqui é lindo. – falei, sorrindo e me virando para ele.
- Sabia que você ia gostar. – ele retribuiu o sorriso, me puxando de mãos dadas para onde estava nossa cesta. – Como eu disse, eu planejei esse encontro faz tempo. – tirou da cesta uma flor. Ele não deixou de fazer isso mesmo depois que saí do hospital real. Todos os dias eu era surpreendida com uma flor. Normalmente eu acharia ruim, xingaria ele para parar com isso, mas não conseguia. despertava meu lado afetivo. – E olha, muita comida! - Apontou para cesta lotada de comida, comecei a rir. - Venha, sente!
Fiz o que ele falou. estava tão animado e ansioso que eu via que sua mão tremia. Eu não estava diferente àquela altura. Era algo novo para gente. Um encontro oficial, sem ninguém observando, sem câmeras, selecionadas, nossos pais e nossos irmãos. Até mesmo um encontro sem ser numa ala hospitalar, sem brigas ou farpas. As coisas eram simples com .
não deixou de preparar o banquete. Tinha muitas frutas, chocolate, pães, muito queijo, ele sabia que eu amava. Sorri ao ver ele tirando da cesta um suco, logo depois duas taças, arregalei os olhos quando me surpreendeu com uma garrafa de vinho e mais uma garrafa com cerveja, a bebida de Agharta.
- Eu quero chegar viva em casa. – falei na hora que ele abriu o vinho em segundos e nos servia.
- É para comemorar! - peguei a taça. - Nosso acordo com a tríade poderosa da dinastia, seu projeto e as milhares de vida que você está salvando e protegendo. Essas mulheres te veneram. – senti minha bochecha queimar, sorri erguendo a taça.
- A você que teve a ideia dos acordos. Sem você, nada teria dado tão certo. – resolvi alfinetar. Ele negava todas as vezes que eu entrava nesse assunto, mas no fundo ele sabia que tentar esconder isso não o tornava nobre. O tornava burro.
- Você sabe que...
- Não, não vamos abrir uma brecha para discussão, por favor. – choraminguei, ele sorriu e apenas deixou passar, brindamos, e antes de eu beber, soltei. – Eu ganharia a discussão, claro.
- Você não presta. – balançou a cabeça, inconformado com a minha afronta, eu sorri bebendo todo o líquido da taça em segundos. – Mas você tem razão. Sobre tudo. – ele admitiu, sorrindo sem mostrar os dentes.

Coloque para tocar


- , Avallon nunca chegou tão longe, não com tantos acordos assim. – segurei sua mão. - Você fez tanto e não quer os créditos?
- Eu não fiz por reconhecimento, . – ele suspirou e me encarou. – Eu não preciso disso, eu não mereço isso. Nunca serei Rei, está tudo bem, tive a vida inteira para aceitar isso, o que eu puder fazer para ajudar meu reino, eu vou fazer... Não preciso provar nada. – suspirei e apertei sua mão. Me machucava vê-lo lutando por tudo e todos, mas não sendo reconhecido. Não falo de poder, eu falo sobre o coração de ouro que ele tinha. merecia tanto e não sabia aceitar isso.
- Um dia eu vou fazer você perceber o quanto é importante e o quanto merece. – deu um sorrisinho tímido, mas não prolongou esse assunto.
Bebemos tudo em questão de minutos, nossa conversa durou horas, conversamos sobre tudo e nunca citávamos assuntos que acarretaria uma discussão. O sol começava a se pôr, sobrou muita comida ainda. Eu não queria ir embora.
- Temos duas opções. - ele começou a falar, vendo minha cara triste por não querer sair dali. – A primeira, a gente volta para o castelo, bêbados. - comecei a rir, bebemos todo o arsenal alcoólico que ele trouxera. – A segunda, podemos passar a noite aqui.
- A segunda seria perfeita, mas não temos como passar a noite aqui, não tem nem luz. – sorriu e se levantou, de trás de uma árvore gigante ele tirou uma mochila e uma caixa.
- Como eu disse, planejei esse encontro há meses. – arqueei a sobrancelha e ele começou. - Posso montar uma barraca, temos uma lanterna e ainda muita comida. Podemos ficar aqui essa noite, se você quiser.
- Você é cheio de surpresas, Aykroyd. - ele deu de ombros e começou a montar a barraca, talvez aquilo não fosse uma boa ideia, quebraríamos muitas regras passando a noite fora, mas eu não ligava. Nós dois precisávamos de paz e distância do castelo e de seu peso.
- Hoje também vai ter uma chuva de meteoros, aqui é o lugar prefeito para assistir. – sorriu, se sentando ao meu lado depois de longos minutos montando a barraca preta. - Você vai gostar.
Em Southampton, quando era criança, tinha assistido uma chuva de meteoros com a minha família, Kurt nem existia ainda, nem Kiara, mas foi um momento importante para mim, eu não esqueço de minha mãe sorrindo e Kira pulando animada com os meteoros. Assistir isso depois de tanto tempo era emocionante, ainda mais com . Estava muito quente em Avallon, eu tive a brilhante ideia de entrar no lago, mas achou uma péssima decisão.
- Você está com medo da água? – ri, vendo-o revirar os olhos.
- Só quero evitar que você pegue um resfriado. – eu sorri, me levantando e indo calmamente até o lago. A água estava uma delícia quando tocou em meus pés. - ! - a bebida fazia com que eu tomasse decisões erradas, mas aquela nunca pareceu tão certa.
- Tem certeza de que não quer entrar? – perguntei, respirando fundo antes de tirar a alça de meu vestido e sentindo o mesmo escorregando até o chão, me deixando apenas com a calcinha preta.
Ainda de costas para ele, olhei por cima do ombro e ele estava paralisado, sem saber o que fazer e não tirava os olhos de mim. Por um momento, achei que estava se sentindo mal, olhando a marca já cicatrizada em minhas costas, mas ao levantar o rosto, só conseguia ver um fogo diferente. Sorri com aquilo. Entrei no lago e só parei quando a água me cobria até o busto. Eu encarava o horizonte, o céu tinha uma tonalidade laranja e rosa, com algumas estrelas brilhando, estava lindo.
Sorri novamente ao sentir as mãos de em minha cintura, como ele fez quando chegamos, me arrepiando quando minhas costas nuas encostavam no peito nu dele. Ele também havia tirado a roupa e só vestia a cueca, e mesmo dentro da água, calor irradiava de seu corpo.
Em um lapso de consciência, me perguntei o que eu estava fazendo no meio da floresta com o príncipe à noite, com vários ataques acontecendo no reino, com uma seleção que com certeza sentiria falta de uma participante e um príncipe no castelo, com uma rainha maluca sumida que a qualquer momento poderia aparecer para tentar estragar mais ainda a minha vida, mas tudo caiu por terra quando o senti deslizar as mãos da minha cintura ao meu quadril, apertando levemente.
— Você não deveria tentar um príncipe desse jeito. - sua voz rouca fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, levando embora todo e qualquer indício de sanidade que ainda me restava.
— Ah, é? E por quê? – perguntei, deitando minha cabeça em seu ombro e fechando os olhos, tentando desfrutar de suas mãos em meu quadril e seus lábios resvalando em minha orelha.
— Porque eu não vou saber ser misericordioso! - sua voz saiu tão baixa dessa vez que se não fosse o silêncio que só a floresta poderia proporcionar, eu talvez não teria escutado, mesmo com sua boca colada em meu ouvido.
Sem conseguir aguentar mais, procurei seus lábios às cegas ao mesmo passo que redirecionava seu rosto de encontro ao meu, fazendo esforço para beijá-lo ainda de costas para ele. Querendo aprofundar o beijo, me virei num ímpeto, colocando as línguas para jogo quando escorreguei na pedra em que pisava e o puxei junto comigo, sem descolar nossa boca mesmo debaixo d’água.
Ele abriu os olhos rapidamente, assustado com a queda, mas assim que me encarou sorrindo contra seus lábios relaxou um pouco e me fez enlaçar as pernas ao redor de sua cintura, tentando continuar o beijo até emergirmos para buscar o ar novamente.
— Você é doida!? - sua pergunta foi mais uma afirmação enquanto esboçava um sorriso divertido no rosto, puxando o ar com toda a força que podia. Nossos narizes se tocavam de tão próximos que ainda estávamos.
— Você ainda tem alguma dúvida? - sussurrei contra sua boca, ainda o encarando, logo após, passando minha língua em toda a extensão de seus lábios para depois prender o inferior entre meus dentes fortemente. Ele soltou um murmúrio, não sei se de dor ou excitação, mas pouco me importei.
Com a água gelada, consegui colocar meus pensamentos em ordem e já estava quase 100% sóbria da bebida que tomamos, mas agora tinha me embriagado de algo muito pior que álcool: o tesão.
— Cadê a falta de misericórdia que você falou sobre, Alteza? — acho que esse foi o impulso que precisava.
Pude notar uma leve mudança na pupila de seus olhos, algo como um fogo ardendo como brasa. Algo muito diferente do príncipe meigo e divertido que eu estava acostumada, mas não é como se eu não tivesse gostado.
E no segundo seguinte, minhas costas já estavam sendo pressionada contra a parede rochosa da cachoeira sem muita delicadeza e desceu as mãos até minha bunda, apertando com força enquanto procurava meus lábios novamente, me envolvendo num beijo muito mais agitado e agressivo.
Ainda com as pernas entrelaçadas em torno do quadril do príncipe, comecei a sentir algo duro que não sentia antes batendo na minha bunda, me fazendo sorrir sacana entre o beijo e deslizar uns centímetros para baixo a fim de fazer um pouco de pressão, arrancando um gemido entrecortado e outro empurrão contra a parede. Se continuar assim, amanhã estarei toda vermelha nas costas e não posso deixar vestígio nenhum do que fizemos aqui.
... Ir... Barraca... – falei, ainda desconcertada, e duvidava que ele havia me entendido, mas ele apenas assentiu e começou a nadar comigo ainda no colo para sairmos do lago.
— Droga, ! - ele reclamou quando eu decidi recolher com a língua uma gota de água que escorria pelo pescoço dele assim que pisamos em terra firme. Quer dizer, assim que ele pisou. Repeti o gesto do outro lado, vendo-o tremer da cabeça aos pés. - Assim eu vou acabar te derrubando. - quando comecei a fazer o mesmo na parte da frente de seu pescoço, senti o tapa mais forte que alguém já havia me dado na bunda, me fazendo dar um pulinho em seu colo e por reflexo acabar mordendo um pouco a pele em volta do Pomo de Adão dele, arrancando um gemido de excitação e dor de ambos.
Não havia feito sexo com muitas pessoas na vida. Na verdade, apenas com uma já que eu não cheguei a transar com , então eu não tinha muita experiência nisso e sempre pensei em como reagiria a um tapa no meio da transa. Definitivamente foi uma das coisas mais prazerosas que eu já provei.
A barraca até que era espaçosa, com vários cobertores e até mesmo um travesseiro onde me deitou delicadamente e me olhou de cima, se dando conta de que não tinha dado atenção ao meu busto desnudo ainda. Seus olhos me queimaram todinha dos pés à cabeça, parando demoradamente na calcinha de renda preta que eu vestia para logo após fixá-los em meus seios. Podia sentir meus mamilos duros, mas já não tinha mais certeza se era por conta frio repentino que senti quando saímos da água ou pela excitação. Acho que os dois.
— Vai ficar a noite toda me olhando ou vai me beijar? – questionei, já cansada de sua demora.
— Olha, , não quero que você faça nada do que vai se arrepender depois, sabe? - ele tirou uma mecha do meu cabelo de meu rosto, analisando-o. - Não se sinta na obrigação de fazer isso comigo só porque, sei lá, você e o tiveram uma chance. Nós somos amigos acima de tudo e eu...
Aykroyd, cala a boca e me beija agora. - Robin ficaria até orgulhosa se me visse falando com tanta firmeza desse jeito, digno de uma princesa. Culpa das aulas de protocolo. Até pareceu notar meu tom, mas não falou nada, indo me beijar mais uma vez.
Com o príncipe em cima de mim, foi muito mais fácil de sentir o volume que sua cueca guardava, pressionando propositalmente vez ou outra em mim, me fazendo quase implorar durante o beijo, mas foi quando ele desceu a boca para meu seio que eu gritei. O contraste de sua língua quente com minha pele fria foi maravilhoso e eu precisei me controlar a beça para não tremer embaixo dele. Com a ponta dos dedos, ele apertava e puxava o outro mamilo, enquanto eu sentia meu corpo começar a dar pequenos espasmos.
...- gemi arrastado num pedido quase mudo e quando captou o que eu queria, rasgou minha calcinha como quem rasga papel, tirando sua cueca boxer logo em seguida.
E numa afirmação muda, onde nossos olhos falavam mais do que nossa boca, ele me penetrou, me fazendo ver estrelas e meteoros antes mesmo da chuva começar.

Capítulo 11

Entrei em meu quarto antes do sol nascer, e eu planejamos fazer isso sem causar alardes, ninguém precisava saber da noite passada, só a gente. Eu ainda sorria ao lembrar das mãos dele percorrendo meu corpo, ainda parecia que tinha borboletas em meu estômago ao lembrar da sensação de dentro de mim, da gente dormindo brevemente dentro da cabana, de ele me acordando tempos depois com beijos calmos, falando que tinha sido a melhor noite da vida dele. Foi tudo perfeito, melhor do que eu imaginava. Me deitei na cama e senti falta do príncipe mais novo, não podia evitar. Acabei adormecendo e acordando algum tempo depois, com minhas damas entrando no quarto para me arrumar para mais um dia de selecionada.
Entrei na banheira e fiquei lá por alguns minutos, mas pareceram segundos, já que Olivia teve que me chacoalhar para sair da água. Ainda estava com sono. Me cobri com o roupão e esperei elas tirarem do guarda-roupa mais um vestido fantástico.
- A roupa que você usou ontem está toda cheia de terra, . – Taihne fez careta ao pegar meu vestido do chão. Sorri, culpada. – Esses príncipes têm que começar a pensar no trabalho que é para fazer esses vestidos e depois no trabalho que é para lavar! - gargalhei e me desculpei, ela falava de , que deixou meu vestido manchado de terra do lago e o sangue que tinha neles por causa do tiro no Vantroni; e agora de e nosso passeio. – E você é uma Dama, tem que parar de voltar toda suja desse jeito.
- Me desculpe, prometo que vou me comportar na próxima vez. – me levantei da cama e tirei o roupão, pronta para colocar as peças íntimas e o vestido. Pelo espelho, eu vi Olivia olhando para o meu corpo com a cabeça tombada para o lado, com uma expressão surpresa, Taihne estava com os olhos arregalados e Lauretta segurava uma risada. – O que foi? Não se acostumaram com a minha cicatriz ainda?
- É um conjunto de marcas interessante, não acha? - Lauretta comentou com Olivia, que segurava a barriga e ainda olhava para mim, sorrindo, sapeca, e observando meu corpo.
- Agora faz sentido o vestido cheio de barro. – Taihne comentou, segurando a gargalhada.
- Vamos guardar o seu segredo. – Olivia falou, cobrindo a boca. Eu estava quase gritando, perguntando do que elas estavam falando, porque não estava entendendo absolutamente nada. Fui até o espelho e senti meu rosto ficando ainda mais vermelho, só que de vergonha. A marca da mão inteira de na minha bunda tinha uma coloração bem avermelhada, na hora não parecia que ficaria tão forte assim. Arregalei os olhos, pegando o primeiro pano que tinha na frente e me cobrindo.
- Fiquem quietas! - foi então que elas caíram na gargalhada, eu também riria se não estivesse morrendo de vergonha e raiva. Por que eles tinham que me marcar desse jeito?
- não parece ser do tipo agressivo. – Taihne comentou, maliciosa, me fazendo corar mais ainda. vira outra pessoa, e eu amei, pensei.
- Agora nunca mais vou olhar para ele sem lembrar dessa marca. – Lauretta colocou as mãos nos olhos.
- Conta como foi, ! - Olivia apareceu ao meu lado, entregando o vestido. Corri para o banheiro, escutando minhas amigas me zoando.
Droga, .
- Então você já escolheu? É o ? - Taihne gritou, me fazendo querer dar descarga e sumir.
- Não, não pode ser ele, ela quase foi para os finalmentes com o ... A competição ainda continua. – Lauretta disse, me fazendo grunhir. Ainda tinha essa.
- Cuidado, , se não vai acabar como eu. – Olivia provocou, apontando para a barriga. Saí do banheiro com a cara fechada, ainda escutando elas rirem.
- Vocês não vão parar, né? – perguntei e elas gargalharam, negando aquilo. – Vou ter que pedir novas damas. Dessa vez é sério!

~


Saí do quarto acompanhada de Benjamin. Torcia para ele não ter escutado o show das meninas por terem visto que eu tinha “perdido” a virgindade real (existia isso?) na noite passada. foi perfeito em tudo, tínhamos combinado de não contar para ninguém, assim como eu combinei com , mas os dois deixaram vestígios. Era de família?
Ao chegar na mesa do café, já estava lá, sorridente e animado, conversando com as meninas e brincando com os irmãos. Por um instante, minha raiva até passou. Quase sorri ao vê-lo, mas toda a minha raiva voltou quando vi a megera. A rainha Leigh-Anne estava atrás de mim, sorrindo. Segurei o instinto de voar no pescoço dela novamente. Todos pareciam parar para observar esse reencontro.
Foi ela quem deu o primeiro passo.
- Bom ver você, . – ela falou, sorrindo. A encenação estava ótima. Não me curvei, não iria. Ela não era ninguém para mim. Ninguém além da mulher que matou meu irmão e o meu cunhado.
- Não posso dizer o mesmo. – quase rosnei, com ódio. Era muita petulância.
- Nós temos um caminho muito longo pela frente, espero que você possa me perdoar um dia e que possamos ser amigas, afinal, você pode ser uma de minhas filhas se casar com um dos meus filhos. – Dave estava do outro lado da mesa, observando toda a cena ao lado do rei. Os dois guardas que estavam ao lado dela me encaravam, com medo de eu atacar novamente.
- Prefiro a morte do que ser alguma coisa sua. – respondi entredentes. De relance, eu a vi fazer uma careta, rapidamente, mas logo a expressão se tornou serena e sorridente.
- , creio que você sabe que essa não é a forma de tratar uma Rainha. – Robin apareceu ao meu lado, com medo de eu fazer algo.
- Que rainha? Não vejo nenhuma aqui. – antes de dar as costas para a megera, dei uma bela olhada para ela. Se eu pudesse queimá-la, com certeza teria feito.
Me sentei ao lado de Sam, o meu lado esquerdo estava vazio e nem precisei erguer a cabeça quando senti alguém se sentando ali. . estava do outro lado da mesa, ao lado de Robin e Courtney. estava na minha frente, ao lado de Summer e Lizzie. Os três me encaravam. encarava a mãe às vezes, o teatro dela estava forte. Senti segurando minha mão e encarei ele, que sorriu sem mostrar os dentes. Um apoio. Era isso que ele transmitia para mim naquela hora. Nem consegui comer, olhar para Leigh-Anne me dava nojo, eu estava enjoada e irritada. Quando me levantei da mesa, fui acompanhada por e . Que possamos ser amigas, afinal, você pode ser uma de minhas filhas se casar com um dos meus filhos. Não conseguia olhar muito para eles naquele instante, a frase daquela mulher não saía da minha cabeça, eu não suportaria conviver com ela. Eles pareceram ter percebido que eu queria ficar sozinha, parou e parou com ele.
Fui para o meu quarto e coloquei minha roupa de treino, as meninas não fizeram qualquer gracinha, perceberam minha cara e ficaram quietas. Não esperei Ben me buscar, fui sozinha em direção ao local que treinávamos sempre. Parecia ironia encontrar e novamente em um dos corredores, rindo e brincando.
— Mas aí, então, ele foi e...
! - exclamou, olhando para mim com um sorriso fraco. apenas ficou me analisando, tentando achar qualquer vestígio de tristeza ou raiva. Ou de que eu estava prestes a matar uma certa rainha. - Podemos te acompanhar até o treino.
— Eu não preciso de companhia nenhuma.
— Quanta grosseria! - fez um falso gesto de ofendido.
— Por que vocês sempre agem como se eu fosse quebrar ou então quebrar alguém? Tão me vigiando agora também, é? - já ia saindo tomando meu rumo quando eu lembrei e voltei a eles novamente. - Ah, outra coisa: VOCÊS PRECISAM PARAR DE ME MARCAR! – gritei, brava, antes mesmo de eles falarem qualquer coisa. Não pude deixar de lembrar da marca no meu pescoço que fez e muito menos da mão de em minha bunda. Odiava a Leigh-Anne por me fazer ficar descontrolada de raiva. Não dei brecha para discussões, deixei os dois confusos, olhando um para cara do outro, e fui para o circuito. Não tinha muita gente ali, estava cedo e muito sol para isso.
Fiz minhas obrigações, e quando estava pronta, comecei o treinamento, até me cansar e sentir minha raiva saindo de mim e eu me acalmando. Leigh-Anne não podia me descontrolar daquela forma. Ela não podia tirar mais nada de mim.
Dave colocou a mão em meu ombro, deixando claro que era para eu parar, estava pingando de suor e o sol já estava me deixando vermelha. Fiz o que ele mandou, contra a minha vontade. Me sentei no chão, na sombra e vi as meninas chegando todas juntas e sorridentes para mais um treino, elas acenaram para mim e eu retribuí.
Depois de algumas horas parada ali, nem vi que todas já tinham terminado e saído do circuito, agora algumas criadas que entravam ali. Pelo menos eu estava vendo de perto como meu projeto estava funcionando. Novamente senti alguém se sentando ao meu lado. Nem precisei olhar, apenas o perfume muito conhecido denunciou.
- Ela chegou ontem à noite. – falou, quebrando o silêncio. - Eu poderia ter te avisado, mas soube junto com você hoje cedo.
- Você não tem culpa. – suspirei e me lembrei da noite anterior, sorri sem mostrar os dentes e segurei sua mão.
- Poderia ter evitado esse encontro. – ele balançou a cabeça. - Ela disse que mudou, quer dizer, que está mudando. – eu ri dessa vez.
- Ela é má. Leigh-Anne não vai mudar, ela quer que vocês fiquem ao lado dela de novo para manipular todos vocês. De novo. – não disse nada. Ela era a mãe dele, não o culpava por não querer acreditar que a mãe era cruel. - Não vou deixar que ela manipule vocês. Começando por você. , olha o quão longe vocês chegaram nesse último mês, tudo graças a você... Com ela aqui, você está sempre fora do radar, ela não quer que você seja rei e...
- , me deixe acreditar e dar mais uma chance para ela. – ele falou, baixinho. Eu suspirei. – Queria que você acreditasse nela também.
- Não posso fazer isso, você sabe. – balancei a cabeça, foi quem suspirou dessa vez. - E eu vou defender você dela toda vez que for necessário.
- Espero que não seja. – ele sorriu e eu tratei logo de mudar de assunto.
- Você está me devendo uma calcinha. – as bochechas dele ficaram vermelhas. Na hora de rasgar a minha ele não ficou com vergonha, né.
-Te dou uma caixa cheia delas. – revirei os olhos, segurando um sorriso. - De que marca você estava falando?
- A da sua mão na minha bunda, Aykroyd! Minhas damas já descobriram tudo! - ele gargalhou tanto que colocou a cabeça para trás. - Não é para rir!
- Desculpe! – ele segurou a risada. - Você precisa que eu fale para elas não contarem para ninguém?
- Não, elas são de confiança. – admiti. - Só... Não faça mais isso.
- Você não gostou? - eu senti meu corpo se arrepiando inteiro com ele tão perto e em público, a noite passada voltou com tudo.
- Achei que tivesse claro que eu amei. – ele sorriu.
- Prometo ser mais discreto numa próxima vez. – sorri sem mostrar os dentes, lutando para me afastar dele e não pular em seu colo. Só a ideia de ter uma próxima vez me deixava super ansiosa.
- Pago para ver, Aykroyd – olhei para uma das meninas que treinava e me encarava. Era Ophelia. A Selvagem da cadeia. Ela fez um sinal para eu segui-la. Uma reunião a essa hora do dia. - Tenho que ir.
- Até mais tarde, linda.
No dia que eu deixei o recado em meu roupão, eles receberam como eu esperava. Me aliei aos Selvagens e agora sabia de absolutamente tudo que as pessoas que eu gostava escondiam. Eles ainda tentavam esconder, por mais que eu perguntasse. Os Selvagens queriam apenas uma coisa: igualdade. Ninguém aguentava mais ser escravizado ou humilhado baseado na farsa de sua classe. As oportunidades não eram as mesmas. Os salários não eram os mesmos. Avallon precisava mudar. Eu faria de tudo por isso.
Entrei em uma sala designada apenas para os funcionários do castelo, Ophelia sabia todos os horários e, aquele em si, não tinha ninguém. Ela me encarou.
- O que foi?
- Vocês farão uma viagem em breve, vão para Demph. – olhei para ela, sem entender. Não tinha o que fazer em Demph.
- A desculpa é que vocês vão conhecer o país do novo acordo, mas é você que eles querem. – cruzei os braços, a esperando terminar. - Você vai acalmar os rebeldes de lá.
- Como? Isso não faz sentido.
- Você é a Tigre Dourado, você conhece a lenda, . – ela revirou os olhos. – Eles se aliaram com Avallon para ter a tigre dourado ao lado deles.
- Eles querem que eu silencie o povo de Demph. – falei mais para mim do que para ela. Ophelia concordou com a cabeça, esperando que eu explodisse. Mas, em um mês escondendo as informações que os dourados me passaram, eu aprendi a guardar meu ódio para soltar apenas quando fosse necessário.
- Estamos criando alguma estratégia, , vamos ter algum plano. – Ophelia foi até mim, segurando minha mão.
- Que plano, Ophelia? Esse acordo vai proteger o nosso povo dos ataques constantes dos Vantronis. – passei a mão no rosto. – Vou matar meu pai, meu irmão e os três patetas.
- Se controle, nossa vantagem é eles não saberem que temos você ao nosso lado, vamos vencer, , mas, para isso, temos que ir com calma.

~


- Quem será esse horário? - Taihne perguntou, mal humorada. A melhor parte de conviver por tanto tempo com elas, é que elas mostravam todos os lados, Taihne sempre estava de mau humor e eu adorava aquela acidez que só ela proporcionava. Já passava do horário do jantar, não consegui encarar os príncipes, não conseguia encarar meu pai e meu irmão. Muito menos a megera.
- Entrega para a srta. . - uma voz grossa falou, tinha duas caixas na mão dele, uma grande e uma pequena, mais uma carta. Taihne pegou e logo despachou o guarda, acho que ela não gostava dele.
- Pelo jeito, já abriram a caixa para averiguar se não é uma caixa de cobras ou uma de escorpião para não te matarem. – Lauretta comentou, encarando a caixa com o laço desfeito. - Abre logo.
- É do . – falei, rindo ao ver o bilhete.

.

Estou te enviando dois presentes, espero que goste de ambos. Acredito que o comprimido seja importante, por mais que eu fosse adorar uma surpresinha de você, acredito que você não ficaria animada com isso. Não posso ser egoísta com você. Se for para acontecer, vai ser no momento certo. Já a outra caixa, é um pedido de desculpas e uma razão para eu poder rasgar todas elas depois, sem que você fique brava.

Com amor, .


Abri a primeira caixinha, tinha um comprimido, sorri com aquilo. Não tinha me preocupado com isso, mas que bom que ele se preocupou. Na outra, tinha umas trinta calcinhas, todas rendadas e coloridas, formavam um arco-íris com as tonalidades. Comecei a rir daquilo, nem me preocupei de ficar vermelha com minhas damas me zoando, elas não parariam mais de fazer aquilo tão cedo. Minha raiva passou, de novo.

Capítulo 12

— Estou aqui fazendo esse comunicado oficial para Avallon. — Rei Roger encarava a câmera que estava na sua frente. Sua mulher e seus filhos estavam atrás dele, todos sérios. Nós, selecionadas, estávamos do lado direito deles. — Acredito que vocês já saibam qual a situação em que estamos... Estamos sendo constantemente atacados por Vantron. Não posso estar feliz por termos vencido uma batalha, perdemos muita gente ontem à noite. — olhei para baixo, segurando lágrimas teimosas que insistiam em cair.
Avallon foi atacada mais uma vez, só que agora, em Southampton.
Vantron atacou um local que ninguém imaginava, mas deveriam, eles sabiam que eu morava lá e que minha família ainda residia ali. A batalha foi vencida graças aos guardas e alguns soldados que aguentaram o bombardeio até um jato de Demph e Valayde que já estavam em Avallon chegarem, surpreendendo o batalhão de homens que rendiam a cidade. Muitos morreram ontem. Guardas, soldados, vantronis, demphianos, valaydenses... Não recebemos os nomes dos mortos ainda e nem tínhamos como entrar em contato com eles, Vantron acabou com toda a eletricidade da cidade. Meu coração doía ao imaginar que algo poderia ter acontecido com a minha família.
Senti as mãos de Sam afagando minhas costas, Beth segurando minha mão esquerda e Summer segurando minha mão direita. Sum era a única que entendia o que eu estava sentindo naquele instante, Taim também sofreu ataques. Ela perdeu um tio e um primo.
— Vamos nos reerguer e vamos vencer. — A rainha prosseguiu .— Declaro luto oficial em todo o país. O toque de recolher será ajustado para oito da noite. As famílias que sofreram danos em suas casas podem ir até uma escola ou mansões de sua cidade para serem acolhidos, o governo bancará absolutamente tudo, se alojem, não fiquem desprotegidos! Para as famílias que perderam alguém importante, vá até o departamento mais próximo e comunique o ministro de sua cidade, ele resolverá tudo. — quase vomitei com tanta falsidade vindo dela.
— Aguentem! — falou pela primeira vez. — Estamos juntos. Vantron não vencerá.
Durante uns cinco minutos eu ouvi a rainha fazendo promessas vagas, das quais eu não acreditava em nenhuma. Só conseguia pensar na minha mãe, em Kurt, Kiara, Kira e Jordan, sem mencionar o bebê que estava a caminho. Quando o anúncio de emergência por fim acabou, eu corri até Dave, sem me importar se ele estava com a família real ou não.
— Tem notícias? — perguntei, esperançosa. Os olhos do meu pai se abaixaram.
— Estou fazendo o possível, . — ele segurou minha mão, ia prosseguir, mas Leigh-Anne tomou a voz.
— Ben e mais alguns guardas estão a caminho de Southampton para tirar sua família de lá, pedi para que eles fossem levados para um local seguro... — a encarei dos pés à cabeça, com cara de nojo.
— Acredito então que eles estarão mais seguros em Southampton. — cruzei os braços, vendo-a sorrir sem mostrar os dentes.
— Não seja cruel, estou tentando te ajudar. — sua mão delicada se aproximou de meu braço e eu me afastei bruscamente.
— Não preciso e nem quero a sua ajuda
... — falou pela primeira vez, me encarando como se eu fosse um monstro por ter respondido a mãe daquela forma. O encarei de volta, com o rosto vermelho. Por mais que eu gostasse dele, sentimento algum faria eu mudar minhas ações. Não podia tratar Leigh-Anne como se ela não tivesse matado meu irmão. Eu a odiava. Aquele teatrinho não me convenceu. Segurei uma outra resposta grossa para ele também.
— Não complique mais as coisas, mãe. — pareceu entender a situação e tomou a voz, se colocando na minha frente. — Vamos achar sua família. Vamos protegê-los.
— Kira e Jordan também? — senti o choro que eu segurava queimando minha garganta.
— Claro! - ele sorriu, apertando minhas mãos. Fiquei aliviada.
— Eu te acompanho até o seu quarto, você precisa comer e descansar. — colocou a mão em minha cintura. acompanhou o movimento e fez uma careta, segurando meu outro braço delicadamente.
— Fique, , eu a acompanho. — arqueei a sobrancelha para ele. Os dois me encaravam, esperando uma resposta, Dave pareceu entender a situação e tomou a palavra.
— Você tem reunião com o Conselho daqui cinco minutos. — meu pai apontou para , que fez careta. — Você é responsável pelo andamento dos projetos. — resmungou, já tinha perdido a conta de quantas vezes meu pai atrapalhou um momento nosso. — E você tem a Conferência com Valaydes e Demph para resolver as pendências da viagem. — ele não parecia estar animado com aquilo. — Eu cuido da minha filha agora, ficarei com ela até ela me despachar.
— Mas você tem... — Leigh-Anne ia começar a falar, mas todos a encaramos.
— Vai me impedir de ficar com mais um filho, majestade? — quase arregalei os olhos com o afronte que meu pai fez. Apenas arqueei a sobrancelha, sorrindo sem mostrar os dentes
— Claro que não... Cuide da sua filha. — o tom doce dela voltou. era um tolo por acreditar na megera.
— A não ser que o meu rei precise de mim. — segurei uma risada. Ela queria que a gente seguisse suas ordens, mas os Walker haviam deixado claro que ela não existia mais para eles e isso a enfurecia.
— Está dispensado, meu amigo. — Roger parecia cansado e envelhecido. Os olhos azuis estavam vermelhos e isso era estresse. — Não se preocupe, ... Sua família ficará bem e a salvo.
— Obrigada, majestade. — frizei. Não usava esse termo, mas fiz questão de dizê-lo na presença dela. — Sei que você é o rei, mas não custa nada dormir um pouco... Você precisa.
— Você é muito gentil. Quando quer. — ele sorriu pela primeira vez, tirando uma risada de todos nós, até mesmo uma risada forçada da sua esposa. — Farei isso quando puder. Obrigado.
Senti as mãos de meu pai me acompanhando até meu quarto, ele estava muito mais próximo. Nunca ele deixou de fazer o trabalho dele para cuidar de mim, mas depois de Denver, tudo mudou. Não me sentia sufocada como achava que ficaria com Benjamin e Dave em cima de mim como se eu fosse um filhotinho indefeso, mas eu gostava da presença dos dois, afinal, quando eles estavam sob os meus olhos, eu sabia que eles estavam bem e protegidos, do mesmo jeito que eles me faziam sentir.
Antes de chegarmos ao corredor que ligava aos quartos, um guarda nos parou.
— General Walker. — o rapaz fez uma reverência. — Benjamin Walker e seu esquadrão acabaram de pousar em Southampton. Chegaram bem e vão começar a busca.
Meu coração ficou aliviado ao ouvir que Ben estava bem, mas desesperado ao ouvir “busca”. Dave tratou logo de agradecer e pedir para que o chamassem quando Ben aparecesse com novidades.
Fomos para o meu quarto e eu me joguei na cama, derrotada. Dave pediu para que as meninas tirassem uma folga, ele ficaria comigo pelo resto do dia, elas não protestaram, estavam acostumadas com Dave e gostavam dele. Meu pai tirou as botas de soldado e logo esticou as pernas ao meu lado, eu gostava daquilo. Ele pegou um dos meus livros e ficou lendo, nos deixando em um silêncio bom. Só que depois de alguns minutos, ele observou que eu roía as unhas e balançava o pé, sinais da minha ansiedade.
— Como estamos em relação ao ? — engasguei, tendo que me sentar rapidamente, de canto de olho eu o via cruzando os braços, sorrindo sem mostrar os dentes. Exatamente do jeito que eu fazia quando queria ser sarcástica.
— Ah, você me deixou de castigo. — pontuei, vendo-o concordar com a cabeça dando de ombros. — Tenho certeza de que você o ameaçou para que fique longe de mim.
— Sim, mas ele não me obedece. — ele admitiu sem nem ficar vermelho, comecei a rir daquilo. Cara de pau. — Nunca conheci alguém tão atrevido! — arqueei a sobrancelha e ele sorriu. — Você gosta dele?
— Gosto. — dei de ombros, sentindo seus olhos em mim.
— O que te impede de ficar com ele então? E não me diga que sou eu, porque nenhum de vocês respeitam a minha ordem. — sorri, olhando para a cama
— Também gosto do . — Dave olhou para o lado, onde tinha fotos da minha família, incluindo ele, Denver e Benjamin com as fotos minha com os meninos. — Também gosto do , mas a Sam gosta muito dele e eu sei que ele também gosta dela, não vou me meter nisso, não posso...
— Você está encrencada. — ri, concordando com ele. — Eu também gosto dos três, mas não quero te influenciar com a minha opinião.
— O Denv disse a mesma coisa antes de... Morrer — por um instante, achei que fossemos ficar tristes e em silêncio, mas meu pai começou a rir. — O quê?
— Denver sempre torceu por um deles e ameaçava os três constantemente. — sorri, o encarando, esperando que ele falasse mais. — Ele e Ben apostaram sobre com quem você ficaria no final de tudo.
— Desgraçados. — gargalhei, inconformada com aquilo. — E você?
— Eu apostei que você não ficaria com nenhum. — meu pai deu de ombros. — Você é boa demais para qualquer um, filha... — segurei sua mão, suspirando. — Mas, é claro, tenho minha opção secreta.
— E não vai me dizer?
— Claro que não, você já sabe quem é.
Os Walker eram misteriosos demais, não aguentava com aquilo. Não insisti. Não queria que ele entrasse no assunto “”, morreria literalmente se ele descobrisse o que aconteceu no lago. Olhei para ele e quis questioná-lo sobre os próprios sentimentos em relação ao Denver, mas não era o indicado, ele estava bem, pelo menos demonstrava.
— Mas e você? — questionei, cruzando os braços do mesmo jeito que ele fez comigo. — Posso saber quem é a felizarda que está no coração do General?
— Não tenho tempo para namoricos, querida. — ele sorriu, balançando a cabeça. — E não me envolvo com ninguém desde a sua mãe...
— Pai! — arregalei os olhos. — Faz muito tempo!
— Eu sei... Só que nunca tenho tempo, estou sempre ocupado e viajando. — se explicou.
— A minha mãe nunca te esqueceu. — comentei, soltando um suspiro, lembrando dela. — Merck sabia disso, acho que foi um dos motivos do problema mental dele...
— Karen é uma pessoa importante para mim. — observei ele pegando uma foto em que ela estava. Nós duas estávamos juntas e sorrindo, no casamento de Kira. — Queria ter tido coragem de voltar e tirar ela e Kira do monstro que Merck sempre foi, cometemos um erro ao cometermos o crime da traição, mas olhando agora, era o destino...
— Como vocês se conheceram?
— Ah, éramos vizinhos. — ele sorriu, se lembrando de algo. — Para ser sincero, eu não era ninguém... Seus avós me odiavam e nunca aceitaram nosso namoro, acho que pelo fato de eu catar latinhas da rua e não ter muito dinheiro. — conhecer esse lado do meu pai era fantástico, eu nunca imaginei a trajetória dele assim. — A gente não se desgrudava, nos encontrávamos escondidos e assim vivemos até eu ser recrutado. Planejamos muita coisa, mas tudo mudou quando meu nome apareceu na lista dos homens que iam para guerra. Tudo mudou, eu achava que ia morrer, então terminei com ela. — Dave suspirou, triste. — Foi a maior burrada que eu fiz na vida... Antes de eu ir, seus avós planejaram o casamento dela com Merck, mas eu não sabia, ela só me contou por carta depois de ter se casado...
— Meus avós não pareciam bater muito bem da cabeça. — comentei.
— Seu avô era um bom homem... Bravo, que nem você, mas era bom e só fez o que achou melhor para filha, acredito que se ele tivesse vivo, ele mesmo teria matado Merck. — sorri com isso. Não conheci eles. — E sua avó era fantástica, você se parece com ela... Ela era muito bonita, além de sempre ir contra o seu avô. Deixava-o maluco!
— Queria ter conhecido eles... Vovô morreu pouco depois que Kira nasceu e a vovó ficou muito doente e depressiva, não aguentou mais que um ano.
— Quando voltei para Southampton em uma missão, queria encontrá-los, mostrar que eu era bom o bastante pra filha deles, mas eles já tinham partido e eu estava casado... Encontrei Karen na floricultura, Merck estava fora. Conversamos tanto que quando vi, tinha levado ela até em casa, quando percebi, nós dois já tínhamos feito o que por anos escondemos. — ele sorriu, me fazendo sorrir junto. — Merck apareceu, eu ainda era casado, para não dar problemas a ela, eu retornei para Avallon e não voltei mais.
— Se arrepende?
(Coloque para tocar)

— De não ter voltado, apenas... Não teria perdido você por tanto tempo e teria Karen comigo. — abracei ele, agradecida por finalmente meu pai ter desabafado algo comigo. — Vai ficar tudo bem com eles, eu te prometo.
— Me promete também que vai encontrar minha mãe e tentar recuperar o tempo perdido? — Dave balançou a cabeça, rindo de nervoso. — Ótimo, eu sei que vai.
Antes que ele pudesse responder qualquer coisa, bateram na minha porta, meu pai se levantou rapidamente e foi atender, ele saiu do quarto, me deixando sozinha. Estava contente com o que acabara de ouvir, não conhecia muita coisa sobre a minha história, essa história era como eles se conheceram e como estavam destinados a ficarem juntos, eles nunca deixaram de amar um ao outro, não tinham o que perder, não mais.
Saber sobre os meus avós era bom. Minha mãe não falava muito, acho que ela tinha um pouco de rancor por ter sido obrigada a se casar com Merck. Me lembro que ela chorava algumas vezes quando via a foto dos dois, mas não comentava a fundo. Era mórbido.
Quando Dave voltou, a cara dele não era das melhores, eu me sentei rapidamente, esperando pelo pior. Ele suspirou e se sentou na cama, segurando minha mão.
— Ben já está com sua mãe e Kiara. — concordei com a cabeça, não aguentando mais esperar pelo resto. — Jordan estava preso no restaurante, sofreu alguns ferimentos leves, mas está bem.
— E o Kurt? A Kira? — quase gritei.
— Kurt está sendo tratado em um hospital, ele foi atingido na perna por uma bala perdida — Me levantei, já sentindo as lágrimas escorrerem — Fique calma, ele já está bem, Benjamin está com ele, já saiu da cirurgia e está tudo bem, eu te prometo! — concordei com a cabeça. — Benjamin agora é o padrinho do bebê da sua irmã. — arregalei os olhos, completamente sem entender. — Roddy quis sair bem antes do esperado, Kira estava na casa dela, tendo muitas contrações na hora do atentado. Quando Ben apareceu, ela estava gritando com a bolsa estourada. — Dave sorria, orgulhoso do filho. — Kira e Roddy estão bem. Amanhã todos vão para um lugar bom e seguro.
Roddy. Era o nome do nosso avô.
— Preciso vê-los. — falei assim que abracei o meu pai.
— No tempo certo, minha filha. Eu prometo!

~


— Aproveitando que estão todas aqui, gostaria de anunciar nossa viagem com as selecionadas. Iremos visitar Demph! Vamos ser recepcionados pelo nosso acordo, então... Fiquem prontas, partiremos em três dias. — Rei Roger anunciou no jantar, as meninas estavam animadas. Eu não podia dizer o mesmo.
Esperei o jantar acabar para finalmente voltar ao meu quarto. Tinha tido um dia bom, independente das circunstâncias. Consegui falar com Kira e Jordan, Roddy estava bem, para um prematuro de quase oito meses. Kurt estava bem também, a bala perdida não o machucou tanto quanto eu pensava, com um pouco de fisioterapia ficaria bem logo. Minha mãe e Kiara não estavam desesperadas, elas estavam bem e felizes com a chegada antecipada de Roddy. Aquilo me aliviou muito. Benjamin não parava de se gabar por ter feito o parto do meu sobrinho e por ser o novo padrinho. Minha família era tudo para mim.
Quando estava indo para o quarto, senti me acompanhando, por sorte não tinha ninguém nos seguindo, fechei a cara.
— Fiquei sabendo sobre a Kira, parabéns pelo bebê. — concordei com a cabeça, seguindo meu caminho. — , por favor...
— Não dá, ! — falei, com as mãos para cima, nervosa. — Deixa eu te pontuar o que me fez ficar extremamente chateada com você hoje. — levantei um dedo. — Você me repreendeu, na frente de todo mundo por eu não aceitar essa nova fase da sua mãe, que eu volto a repetir, acho uma farsa, ela está mentindo. — levantei outro dedo. — se prontificou de me acompanhar para o meu quarto e você deixou bem claro ali uma crise idiota de ciúminho! Você não é esse cara. — balancei a cabeça. — Não é desse cara que eu gosto.
— Você não pode falar essas coisas, quando ainda faz a gente de idiota. — sorri, mas desta vez para esconder as lágrimas, aquilo doeu. Levei uma das mãos ao rosto dele e carinhosamente depositei um selinho em seus lábios, ele não entendeu nada.
— Desde o começo você sabia que as coisas não seriam fáceis, não tente me machucar com isso. — encostei minha testa em seu peito, respirando fundo e sentindo seu perfume. — Não gosto da sua mãe, nunca vou gostar e se você quiser me odiar por isso, fique à vontade, estarei aqui quando ela magoar você novamente. — levantei o rosto e encarei seus olhos claros. — Eu não menti quando disse que gosto de você. — me retirei, segurando o choro.
— Mas você gosta deles. — se eu não estivesse tão perto, não teria escutado.

~


Estava sentada na sacada do meu quarto, observando o céu. Não via as estrelas, iria chover, as nuvens avermelhadas em tons escuros denunciavam aquilo. As árvores estavam revoltadas junto com o vento, o temporal não demoraria muito para cair. Finalmente choveria em Avallon. Observei os relâmpagos e raios que caíam na grande floresta e suspirei, aquela noite estava linda, independente das circunstâncias. Olhei para o jardim e vi uma sombra nele, sentado em um dos bancos, observando o local. Reconhecia aquela silhueta de longe. Dei um sorrisinho antes de fazer um barulho de pássaro, a pessoa se virou rapidamente na minha direção, dei um aceno com a mão, ele via aquilo muito bem, já que minha sacada era a única iluminada àquela hora.
A sombra retribuiu e em questão de segundos já estava ali embaixo, me fazendo rir da rapidez.
— Posso saber o que você está fazendo a essa hora no jardim escuro? — questionei.
— Eu te faço a mesma pergunta. — respondeu, olhando para cima — Diferente de mim, quem está chamando a atenção é você.
— Culpa de vocês que fizeram um quarto tão grande. — sorri, vendo-o se preparar para escalar até mim. — ! Use a porta como uma pessoa normal.
— Eu amo escalar essas janelas. — ele riu, se pendurando em uma raiz que era grudada na parede. Coloquei as mãos no rosto, nervosa com aquilo. O chão até o meu quarto tinha uma distância bem grande, mas fazia isso sempre para ir ao seu quarto, que era no andar de cima do meu, não era difícil para ele. Quando dei por mim, ele já estava sentado na mureta da minha sacada. — Quer que eu te ensine? Vai ser muito mais simples você escapar dos olhos dos guardas.
— Não preciso disso! — cruzei os braços, ouvindo-o rir e entrar no meu quarto em um pulo. Ele sabia do meu medo de altura.
— Quero só ver você no avião indo pra Demph.
— Iremos de avião? — perguntei rapidamente, já sentindo meu coração sair pela boca.
— Demph é três dias e meio de navio, meu pai decidiu que o avião era menos cansativo. — arqueei a sobrancelha, segurando um sorrisinho.
— Seu pai ou você?
— Fique quieta. — gargalhei da careta que o príncipe fez, eu não era a única com problemas aqui. — Posso pedir para o Poirot te dopar a viagem inteira, o que acha?
— Essa foi a coisa mais fofa que você já fez por mim. — ironizei, vendo-o rir e se jogar em minha cama.
A noite passou rápida e tranquila, não fizemos nada além de conversar e rir muito sobre absolutamente qualquer besteirinha. Não brigamos e aquilo me surpreendeu, já que não éramos do tipo que aguentavam um ao outro por mais que cinco minutos sem se irritar. Partilhamos o mesmo sentimento de gostar dessa nova fase, mas confesso que adorava pegar no pé dele e provocá-lo. também.

Capítulo 13

— Que cara emburrada é essa? — Lauretta perguntou assim que me viu encostada de braços cruzados na sacada. — Anime-se! Vamos viajar!
— Sim... DE AVIÃO — gritei, vendo-a gargalhar do meu desespero. — Uma pena que só posso levar uma de vocês.
— Eu estou dando graças aos céus. — Olívia respondeu, deitada em minha cama com o enorme barrigão para cima. Ela não poderia ir por motivos óbvios, faltava pouco para Peyton chegar e Poirot não a liberou.
— Quanta afronta, Olívia! — fingi estar ofendida. Ela precisava de uma folga. Todas precisavam, mas uma teria que ir comigo. Taihne se negou a pegar um avião, mesmo que nunca tenha saído de Avallon, ela não quis. Sobrou Lauretta, que estava animada com a viagem. Eu já não compartilhava a mesma sensação, aquela viagem só me traria problemas de acordo com Ophelia e os selvagens. — Está na hora, acredito eu. — apontei para o céu quando uma enorme nave se aproximava para pousar próximo do castelo, teríamos que pegar um carro para chegara até ele, mas ainda assim, era perto. Lauretta pegou nossas malas e foi até a porta, entregando para Ben e depois voltando para abraçar as amigas e se despedir. Fiz o mesmo e me despedi de Peyton, ainda dentro da barriga da mãe. — Escuta aqui, garotinha, se você ousar sair antes de eu voltar, eu vou ser a pior madrinha do mundo para você, entendeu? — sussurrei, tirando gargalhadas de Olívia.
Saí então acompanhada de Lauretta e Benjamin, ambos estavam animados com a viagem. O castelo ficaria protegido com os guardas de Demph, Valaydes e Avallon, já a outra metade iria conosco para Demph. Com a gente fora, o risco era menor para Avallon, a proteção teria que estar focada em Demph, que nos receberia em algumas horas.
Ben estava orgulhoso de si mesmo por ter feito o parto de Roddy, não esperava menos dele, mas me dava uma pontada de ciúmes por não ter visto meu sobrinho, o que me deixava aliviada era ver a foto dele. Meu irmão carregava no bolso uma fotografia que tinha Kira na cama do hospital, Jordan ao lado dela, Roddy no colo de Ben, ao lado dos pais, todos sorridentes. Meu sobrinho era bem pequeno e tinha o rostinho gordinho e muito vermelhinho, era um fofo, lembrava Kurt quando nasceu.
Ontem eu consegui falar com a minha família por telefone, eles já estavam em um lugar seguro, sorri, me lembrando da conversa com eles.
“— ? Minha filha! Ah, que saudades! Você está bem? — meus olhos estavam cheios de lágrimas ao ouvir a voz da minha mãe, comecei a rir da preocupação dela.
— Vocês que são atacados e eu que sou a preocupação? Você não existe, Karin!
— Sei que uma parte da minha família está bem e segura aqui ao meu lado... — pude ouvir ela suspirando do outro lado. — Me preocupo com quem não está comigo.
— Eu estou bem e estou segura. — respondi, mexendo nas teclas do telefone, já nervosa por mentir tanto. — Como está aí? E Kurt? Roddy? A casa nova?
— Vou deixar que ele mesmo responda isso. — meu coração só faltou sair pela boca ao ouvir a voz de Kurt do outro lado.
, essa casa é muito maneira! — gargalhei com a animação dele. — Você vai amar aqui, não temos vizinhos, estamos muuuuuuito longe e bem no alto... Kiara falou que estamos em uma montanha, isso não é legal? Roddy é muito fofinho, mas chora muito à noite e não me deixa dormir... Ele é tão pequenininho, mas você ficaria surpresa com a fralda dele, é poderosa! Já até pensei em esfregar na cara da Kiara quando ela me irritar e...
— Céus, Kurt! — balancei a cabeça, rindo de todas as informações que meu irmãozinho me contou em menos de um minuto. — Que bom que gostou da casa nova e está se divertindo, mas pelo que eu sei, você tem que descansar, certo? Não dê trabalho para mamãe.
— Ah, isso? — ele desdenhou, me fazendo rir. — Benjamin falou que é minha marca de guerra!
Vou matar o Ben, pensei.
— Não vai querer entrar em uma outra cirurgia, não é? — ele resmungou. — Então se cuide para logo poder correr pela montanha.
— Você vai correr comigo? — fiquei em silêncio. — , você vem para cá com a gente, certo? Nós sentimos a sua falta e queremos você aqui.
— Logo estarei aí com vocês, eu prometo. — por mais que eu soubesse que isso iria demorar mais do que eu imaginava, não era uma mentira, eu faria de tudo para ficar com a minha família o quanto antes.
— Ah, agora a chata da Kiara está querendo falar com você. — sorri, me lembrando dos dois brigando. — ESPERE, KIARA, EU SOU UM HOMEM FERIDO!
— Agora ele só fala isso... Homens, por que tão exagerados? — escutei minha irmã falando antes de pegar o telefone de fato. — Oi, estamos bem e estamos seguros, sim, a casa é incrível e sim, você vai amar aqui, é do jeito que você pintou uma vez no seu quarto e o Kurt não vai esfregar a fralda do Roddy em mim, pois eu farei isso primeiro!
— Também estou com saudade, pirralha. — pude ouvir ela rindo baixinho. — Vocês precisam de algo? Como você e mamãe estão depois do ataque?
— Estamos assustadas, poderíamos ter perdido Kurt e Kira com Roddy... Não entendo o motivo deles nos atacarem, . — ela suspirou. — Não precisamos de nada, essa casa funciona como uma fazenda, é muito grande e tem tudo que precisamos... Temos muita comida e roupas novas, parece um sonho.
— Fico feliz por isso, Kiara. — concordei com a cabeça, aliviada. — E mais feliz ainda por você estar bem.
— Eu sou a menos problemática dessa família, não é? — fiz uma cara de indignada, mas rindo do que viria a seguir. — Veja você, socou a rainha! Kurt atraiu uma bala perdida! Kira estava sozinha em casa e entrou em trabalho de parto e até o Roddy quis chamar a atenção... Ele pegou o espírito da coisa.
— Você é péssima — ela gargalhou. — Mas, tem razão... Um não é um se não for para chamar a atenção.
— Eu nunca errei, minha irmã. — sorri. Logo ela passou o telefone para Kira, que estava gritando por querer falar ao telefone.
— Cadê o Roddy?
— Larguei ele com Jordan lá em cima, acredita que ele tem medo de ficar sozinho com ele? Meu marido é uma piada. — gargalhei junto com a minha irmã mais velha, imaginando a cena de Jordan com medo de um bebê. — Roddy é tudo para nós agora, sou tão grata ao seu irmão por isso, .
— Você nem imagina o quanto eu sou grata por ele. — admti, olhando para fora da cabine telefônica, onde Benjamin estava sentado conversando com e , que me acompanhavam na ligação. estava em um encontro com Courtney.
— Ele é padrinho do meu filho.
— Fiquei sabendo e estou enciumada, como assim? Eu nem recebi um convite! — escutei ela rindo.
— Querida? Achei que você ser madrinha fosse uma obrigação, imagine só se eu perderia a oportunidade de ter você como madrinha do meu bebê?
— Quero ver vocês logo, Kira. — suspirei, com saudade deles.
— Sei que dará um jeito, tem três príncipes à sua disposição e um paizão preparado pra mimar a filha. — ela tentou me animar. — Sei que logo estará conosco.”

Meus pensamentos foram interrompidos quando Benjamin me empurrou para andar logo, o carro estava esperando. Não deixei de notar que ele e Beth estavam muito mais próximos do que o normal, ficaria atenta com esses dois, não queria e não iria perder mais alguém. Mais duas pessoas, no caso.
O percurso até o avião foi bem tranquilo, dei muita risada com meu irmão, Paolla — criada da Beth— e Lauretta discutindo sobre alguma coisa idiota enquanto eu e Beth ficávamos com cara de paisagem escutando tudo, afinal, não sabíamos nem o que estava acontecendo. Duas contra um.
Chegando na pista, meu estômago já embrulhou, sentia meu rosto ficando verde como nos desenhos animados. estava dando ordens aos guardas que estavam em fila para entrar no segundo avião, conversava com o pai e Dave enquanto falava com o piloto. Os três estavam ridiculamente charmosos e bonitos. Summer e Sam estavam com suas damas, rindo de algo próximo da gente, enquanto Lizzie e Courtney estavam sérias com suas criadas encostadas em seu carro. Coitada da Courtney, andando com a própria naja.
Depois de alguns minutos, fomos instruídos a entrar no avião. Já comecei a dar problema ali. Deixei que todos entrassem antes de mim e torci para que me esquecessem ali no estacionamento, mas minha alegria durou pouco, abusado Aykroyd foi me buscar pelo braço.
— Quer levar outro tapa na cara? — questionei, vendo-o sorrir com deboche.
— Poirot está aqui... Se você quiser eu o chamo e...
— Eu enfio aquela seringa em vocês dois, eu juro por Deus. — desta vez ele gargalhou, me ajudando a subir na escada.
— Pior que eu não duvido da sua capacidade. — o encarei com uma falsa expressão de inconformada. — Dave pode se sentar ao seu lado, Benjamin na sua frente e Lauretta ao lado dele, já planejei tudo para você se sentir segura.
— Em um avião? Essa caixa metálica pode cair e matar todos nós. — o príncipe revirou os olhos com o meu drama.
— Se você continuar nervosa assim, quem vai derrubar o avião apenas com a força do pensamento é você. — me tremi inteira só de imaginar. Entrei no avião, vendo alguns guardas já sentados na última classe, todos a postos ao ver o príncipe, mas logo relaxaram ao ver que se tratava de , ele nem ligava. Mais para frente, estavam alguns criados, todos sorridentes e animados, não demorou muito para eu encontrar as selecionadas, tinha quatro cadeiras em cada espaço, parecia mais uma salinha de reunião do que um avião, do lado esquerdo também tinhas quatro cadeiras, duas na frente da outra. Beth, Sam, Lizzie, Courtney e Summer já ocupavam os grupos de cadeiras, todos destinados apenas para cada selecionada e seus três acompanhantes, o meu estava próximo a uma passagem que dava para a classe seguinte, que pertencia à Família Real. Lauretta e Benjamin já ocupavam duas cadeiras. — É seguro, eu prometo.
— Não quero ir para Demph. — admiti, o encarando nos olhos, mas não podia dizer o motivo, eles não poderiam descobrir a minha aliança. — Essa coisa aqui me dá claustrofobia.
— Lauretta trouxe uma bombinha para sua asma, Poirot está logo ali na frente se você precisar e... Temos ainda o sonífero.
— Me venha com esse sonífero que eu o enfio você sabe onde.
— Sem soníferos então. — o príncipe deu uma piscadinha, me fazendo soltar uma careta com o deboche. Me sentei na frente de Benjamin, que estava com uma cara tão ruim quanto a minha, pelo jeito não era só eu a medrosa aqui. — Bem, você está aqui para ajudar sua irmã, faça uma cara melhor. — o príncipe sussurrou, fazendo meu irmão torcer o nariz.
— Eu aceito o sonífero. — eu ri pela primeira vez. Meu irmão estava tão ruim quanto eu. — Poirot, por favor!
— Eu não acredito que estou cercado por medrosos!
— Olha quem fala. — resmunguei, cruzando os braços, era um homem gigante, mas morria de medo de cobras e ainda por cima odiava navios. — Sua presença está me deixando mais nervosa que o normal, teria como se retirar?
— E perder a diversão? — sorriu com deboche novamente. — Vou ficar!
— Cadê o Dave? — perguntei, choramingando
— Com o Poirot. Vou chamar ele... — o príncipe parecia uma criança correndo pelo avião atrás do meu pai e do Dr. Poirot, quis estrangulá-lo. Por sorte, passava pelo local e minha raiva passou para tristeza. Ele ainda não falava comigo e eu não podia fazer nada para impedir aquilo. Nós nos encaramos, e, por um momento, achei que as coisas tinham voltado ao normal, mas ele passou por nós e foi até Courtney, os dois sorriam e riam de algo, senti meu estômago embrulhando novamente e dessa vez não era pelo voo. Encarei Benjamin, que estava com a sobrancelha arqueada, vendo a minha expressão.
— Acho melhor você aceitar o sonífero...
— Benjamin! — Lauretta lhe deu um tapa no braço, o repreendendo. — não vai fazer isso.
— É a tática deles, eles querem ser os heróis. — meu irmão deu de ombros, olhou por cima da sua cadeira e riu sem emoção ao ver o príncipe mais novo se sentando na cadeira vazia ao lado da Selecionada e fechando o cinto. Droga. — Ele só está sendo um otário.
— Eu que sou a otária aqui, Bem. — dei de ombros, encarando que por um momento, me encarou de volta. — Ele só está seguindo a vida, afinal, ninguém merece esperar, certo?
— Te magoar também não é certo, ! — desta vez, Lauretta quem falou, cruzando os braços. Benjamin nem desconfiava que eu havia dormido com o príncipe, mas Lauretta sabia e sentia raiva do que ele estava fazendo.
— Já fiz isso tantas vezes com eles, Lauret. — suspirei, virando o rosto para a janela. — Isso não é nada. É o jogo, certo?
— Jogo ridículo.
Depois de alguns minutos, Poirot apareceu ao lado do meu pai, os dois também não estavam sorridentes. Quase voei no pescoço do por realmente ter feito o Poirot vir até mim com a sua maletinha.
— Quem quiser dormir, a hora é agora. — ele anunciou para toda a área das selecionadas, como se fosse venda de comida. Apenas Beth e Lizzie aceitaram o sonífero. Courtney deitou a cabeça nos ombros de , que acariciava o cabelo dela. Abaixei os olhos, sentindo que iria vomitar a qualquer instante.
— Poirot, eu também quero. — Benjamin sussurrou, levando um tapinha na cabeça vindo do meu pai. — Sei que você também queria tomar o sonífero.
— Sim, eu queria. — ele admitiu em um sussurro, fazendo com que gargalhássemos. — me paga por escolher o avião.
— Vão me agradecer por ser mais rápido. — o príncipe deu de ombros. — Fiquem três dias vendo apenas água, aquele negócio balançando e fazendo a gente enjoar...
— Vou te bater quando pousarmos. — concluí, fazendo Ben concordar comigo.
Poirot demorou mais alguns minutos antes de aplicar o conteúdo em todos que aceitaram o sonífero, depois voltou para o seu lugar, Benjamin começava a dar indícios de que dormiria. Meu pai segurou minha mão ao sentir os motores ligando e vendo meu desespero. estava na cadeira ao lado, junto com Summer. estava atrás com Sam. não parava de me encarar e aquilo começava a me incomodar.
Nunca quis magoar eles e mesmo assim magoava. Todas as vezes foram sem querer e eu sabia que mesmo assim eu estava errada. estava fazendo isso para superar a minha falta de escolha ou para me punir? Estava me magoando por seguir em frente — era o certo a se fazer, ele era bom demais para ficar esperando por alguém — ou estava me magoando de propósito?
Meu pai seguiu meu olhar e viu que eu estava incomodada com a cena. Não só com , os três estavam com suas respectivas escolhas. Encarei Dave ao sentir seus olhos me queimando com uma sobrancelha arqueada.
— O quê?
— Será que tem como você parar de torcer esse nariz? Você fica parecendo um ratinho. — ri, lhe dando um leve empurrãozinho.
— Bom dia, senhores passageiros! — meus ouvidos se atentaram a voz que saía das caixas de som. — Faremos nossa viagem para Demph agora. Peço que coloquem o cinto e só os tire quando as nossas aeromoças permitirem, pela segurança de todos! — fiz uma careta, segurando o braço de meu pai com um pouco mais de força. — Façam uma boa viagem.
Encarei meu pai, que encarava o teto, tentando relaxar. Sorri com aquilo, iria imitá-lo. Senti o avião decolando e meus ouvidos entupindo com a maldita gravidade, mas logo Dave me mostrou uma tática para que ficasse mais confortável. Lauretta estava apaixonada pela vista e ser servida por uma das aeromoças era desconfortável para ela, tive até que brigar para que ela ficasse quieta. Benjamin parecia um porco, só faltava roncar. Senti inveja. Sum e passaram a dormir depois de algum tempo de viagem, Sam e conversavam baixinho e encarava o céu com Courtney dormindo em seus ombros. Meu pai lia um dos seus livros e eu não conseguia nem pregar os olhos. Lauretta também dormia e eu não queria acordá-la para ter que ir comigo ao banheiro. Por um momento, eu comecei a rir sozinha. Tinha coragem de socar uma rainha, mas não tinha coragem de ir ao banheiro sozinha?
Me levantei, indo em direção ao banheiro na classe dos criados e guardas, passei por , sentindo seus olhos me queimando. Dane-se, pensei. Com a ajuda de uma aeromoça, eu consegui entrar no banheiro sem muita dificuldade. Me encarei no espelho depois de fazer minhas necessidades, e eu parecia uma louca. Meu cabelo todo bagunçado por eu não ter parado quieta um segundo e meus olhos sujos por causa do rímel, talvez eu tivesse chorado na hora da decolagem. Limpei meus olhos e soltei a trança, deixando meu cabelo solto. Abri a porta da cabine e esperei alguns guardas passarem para a parte da frente, acho que era reunião com o rei. Fiz uma careta ao ver esperando em pé, a alguns centímetros de mim. Levantei a cabeça e fui passar por ele, claro que tinha que acontecer a cena clichê do “Eu vou por aqui e automaticamente ele vai também” ficamos assim por alguns segundos até eu colocar as mãos no braço dele e passar ele para o meu lado direito, o príncipe ficou surpreso com o meu ato, mas eu evitei encará-lo nos olhos.
Senti meus pés perdendo o equilíbrio quando um solavanco forte nos pegou de surpresa. Arregalei os olhos, vendo as luzes vermelhas piscarem e o piloto falando que estávamos passando por uma turbulência e que era para ficarmos sentados e com o cinto de segurança.
— Merda. — praguejei, me segurando na parede e sentindo meu corpo tremer. relutou muito antes de me puxar para os seus braços e ficar agachado, me protegendo de algo impossível. Não tive orgulho algum ao grudar em seu uniforme e rezar para que não morrêssemos. — Essa droga não acaba nunca?
— É uma tempestade. — ele falou, olhando em volta, mas me abraçando ao mesmo tempo. — Ela estava no radar, a gente só não sabia que seria tão forte.
— Ótimo. — resmunguei, amaldiçoando .
Não demorou muito mais que cinco minutos para tudo se normalizar, o piloto falou que podíamos relaxar. Quase mandei-o à merda. Me levantei, sentindo as mãos de em meu braço.
— Você está bem?
Não finja que se importa. — falei, sem pensar. No momento da raiva aquela frase que ele mesmo usou um tempo atrás pareceu propícia para o momento.
— Vejo que sim. — ele sorriu, sem mostrar os dentes. Antes que ele passasse por mim, eu segurei seu braço, fazendo com que ele me encarasse, mas não consegui dizer nada.
— Nada, desculpe fazer com que você perca seu tempo. — bufei, olhando para cima antes de me virar. — Acredito que Courtney esteja assustada, precisando de você. Vá salvar sua escolhida.
— Não escolhi ninguém. — respondeu cordialmente, esperando que saísse um sorriso dos meus lábios, mas apenas me deixou com mais raiva.
— E ainda me julga, Aykroyd? Ao menos eu deixei claro para vocês as minhas intenções, não usei ninguém. — passei por ele, sentindo seus braços na minha cintura e me trazendo para perto, os olhos estavam vermelhos.
— Nada se compara com você ou ao que você fez. — mantive a cabeça erguida, tentando não me abalar com essa frase e os significados dela. — Eu amo você. — senti meus olhos marejando. — Só não consigo continuar com isso. Achei que conseguiria, mas não consigo.
— Eu...
— Ah, achei você! — Courtney apareceu, abraçando o príncipe, fazendo-o me soltar e eu secar uma lágrima teimosa que quase caiu. Encarei o príncipe antes de deixá-lo sozinho com a selecionada. Voltei para o meu lugar e Dave estava preocupado, por causa da turbulência, expliquei que estava bem e pude soltar o ar dos meus pulmões. Lauretta me encarava e depois olhou para trás e viu que voltava com Courtney, ela entendeu tudo. Benjamin dormia feito pedra e eu quis ficar como ele.
— Poirot? — me levantei, indo até a porta que me separava do Rei. Dr. Poirot me encarou. — Poderia me dar o sonífero?
Me sentei novamente, vendo os olhos de me encarando. Ele sabia que eu não queria aquilo de novo, mas também não aguentaria vê-lo agarrado com ela às cinco horas de viagem que restava para Demph.
Meus olhos se fecharam e a última coisa que eu vi, foi o príncipe encarando a janela.

Capítulo 14

Demph era quente.
O ar abafado nos abraçou assim que descemos do avião, o qual passei a maior parte dormindo, graças ao doutor Poirot. Eu ainda estava meio grogue e com dor de cabeça, minha cara não era a das melhores e eu estava irritada, sabia disso por causa de ter me irritado apenas com o barulho dos saltos das meninas e os meus próprios. Benjamin parecia um maluco, babando e meio confuso quando nosso pai o acordou, me fazendo quase rir quando vi que ele tentou ficar mais apresentável enquanto Beth passava.
Fomos recebidos em uma pista completamente diferente da nossa e muitos guardas prontos para nos escoltarem até o castelo. O príncipe Cavalry nos recepcionou, mas não deu muita atenção para ninguém a não ser Rei Roger e os seus herdeiros. Os cinco entraram no carro exclusivo da Coroa junto de meu pai, o resto de nós fomos em limosines, uma específica para as Selecionadas. Respirava fundo e passava as mãos nas têmporas para tentar não matar ninguém.
— Você está horrível, ! — escutei Lizzie falando. Revirei os olhos e a encarei. — Quer um batom emprestado? Uma escova?
— E você, quer um olho roxo? — as outras meninas riram, arrancando de Lizzie uma careta. — Então não fale mais comigo.
— Só queria ajudar...
— Desculpe, eu te pedi ajuda?
. — Benjamin sussurrou, me cutucando.
Bufei, me virando para o lado e ignorando todo o resto para me focar na paisagem. Não era tão verde como Avallon. Havia muitos prédios e edifícios e o lugar parecia mais uma cidade de pedra. Achei interessante, diferente, mas ainda preferia meu país. Até o cheiro de Demph era diferente, meio poluído. Demorou quase uma hora até avistarmos o mar e o castelo grande demais e amarelo, um exagero de tamanho e cores.

~


— Sejam bem-vindos ao meu reino! Nós, demphianos, estamos muito felizes por finalmente recebê-los e podermos ficar juntos por uns dias para nos conhecermos. — olhei em volta e senti como se eu estivesse em uma bolha. Rodeada de pessoas que nunca nem vi na vida, pessoas de Demph e de Valaydes também. Percebi que era uma reunião das três dinastias. — Espero que vocês aproveitem nossa pequena recepção. Mais tarde teremos uma grande festa!
Benjamin e Lauretta não saíram do meu lado até um dos criados de Demph pedirem para que eles o acompanhassem, então fiquei sozinha. Senti alguém cutucar meu ombro, mas não por muito tempo.
— Teria como disfarçar essa sua cara? — arregalei os olhos ao ouvir a voz de Alan. Me virei e o encontrei sorrindo, não poupando esforços ao abraçá-lo.
— Céus, não acredito que você está aqui! — falei assim que o soltei.
— Ainda bem que estou, certo? Sua cara até melhorou. — sorri, lhe dando um empurrãozinho. — Não vim com minha corte dessa vez. Achei melhor vir apenas com algumas pessoas, já que temos muita gente, certo?
— Saudade deles. — ri, balançando a cabeça, pensando apenas na bagunça que eles faziam e na nossa competição que não consegui participar até o final. O time de venceu de qualquer forma, graças ao povo dele, é claro.
— Acredite, eles também estão com saudade de vocês. — Alan suspirou e se manteve ao meu lado. Conversamos por uns cinco minutos, com ele me atualizando de tudo que podia e nem sequer tocando no assunto de Denver, agradeci mentalmente por isso.
— Majestade! — uma mulher alta apareceu, se curvando, me encarou da cabeça aos pés. Não parecia ser da realeza mesmo tendo se arrumado para isso. — Você é a bocuda bonitona de Avallon...
— Perdão? — fiz uma cara confusa, vendo-a sorrir.
, vejo que você não conheceu Titânia Scott, de Valaydes — Alan falou, me fazendo negar com a cabeça.
— É um prazer finalmente conhecer você! — sorri sem mostrar os dentes. — Certo, você está com uma cara horrível e sem entender como eu sei quem é você, não é?
— Desculpe, Titânia. — sorri, culpada, fazendo com que ela e Alan rissem juntos.
— Vi você defendendo aqueles dois guardas gays. — minha expressão fechou, o açoitamento de Denver fora exposto para todos os países? Meu sangue subiu. — Nós só aceitamos o acordo com Avallon por você. Sou líder dos rebeldes do meu país. — lembrei que havia me falado sobre ela quando eu estava internada.
— O príncipe me contou sobre vocês, bom saber que estão ganhando voz. — controlei meu tom para não surtar ali mesmo.
— Ainda não chegamos lá, mas estamos no caminho. — ela deu de ombros. — Você foi nossa inspiração, afinal, você é a Tigre Dourado. — Alan tossiu, como se dissesse para ela não entrar nesse assunto, afinal, eu não sabia o que aquilo significava. Titânia disfarçou bem. — Bom, podemos conversar mais depois... Nós temos tempo.
— É um prazer conhecer você, depois me conte mais sobre a sua causa. — a morena sorriu e se retirou. Encarei Alan, que segurava uma risada.
Bocuda bonitona...
— Amo a forma que sou reconhecida. — suspirei, jogando o cabelo para trás. — Pelo menos eu sou bonitona...
havia me contado sobre Titânia e eu tinha curiosidade de conversar e entender como tudo aquilo aconteceu. Uma relação direta dos rebeldes com o reino era intrigante e maravilhosa. Valaydes estava mil passos à frente de qualquer monarquia. Precisava falar com ela sobre minha aliança com os Selvagens, mesmo acreditando que não seria uma boa ideia contar um segredo desse e que Ophelia me mataria, mas algo me dizia que eu precisava.
Depois de quase uma hora sendo abordada por diversas pessoas, finalmente fui para o meu quarto temporário para descansar. O quarto era menor que o meu em Avallon, mas era aconchegante. Lauretta tinha duas criadas ao seu lado, ajudando-a. As duas meninas não falavam muito comigo, era uma regra de Demph: criados não falavam com os “líderes”. Não podia negar o meu desconforto, já que no meu país as coisas eram diferentes e eu tinha liberdade com os criados, estava incomodada.
Consegui dormir por algumas horas até ser arrancada da cama para o jantar e a festa. Lauretta me arrumou com um vestido vermelho, ela queria que eu me destacasse. Meu cabelo estava cobrindo minhas costas, não queriam que as realezas presentes vissem a minha marca, já que o vestido mostrava um pouco a cicatriz. Saí do meu quarto temporário acompanhada de Benjamin, que vestia o traje de Denver, não demorou para que eu reconhecesse. Suspirei e não comentei nada, meu irmão parecia estar orgulhoso e feliz por ter parte de Denver com ele, logo, comigo também.
Demph era diferente em vários aspectos; a decoração era diferente e mais... Viva. Se eu demorei quase três meses para conseguir voltar para o meu quarto em Avallon, imagina para voltar em Demph com aqueles corredores difíceis e todos iguais. Não conseguia entender como Ben já conseguia ir para os lugares sem se perder. Talvez eu fosse burra demais para isso. Chegamos no grande espaço com uma mesa gigante cheia de pessoas em volta, conversando e bebendo muito, apenas esperando os membros reais.
Não demorou muito para eu me juntar às meninas, já com um humor melhor e mais sorridente, pelo menos eu tentava. , e entraram com seus pais, todos de preto e vermelho, belíssimos. Cavalry estava junto com eles, junto de Alan e a princesa de Valaydes. O rei deixou a responsabilidade na mão da filha de apenas quinze anos, deve ser difícil nascer presa à uma Coroa. Todos vestiam preto, mas assim como Avallon tinha o vermelho, Demph tinha o amarelo, Agartha tinha o azul e Valaydes tinha o verde, todos acompanhando a cor preta.
Cavalry fez mais um discurso antes de mandar que fossemos jantar. A mesa estava farta e com milhares de alimentos diferenciados, o cheiro estava tão bom quanto a beleza que a comida esbanjava, o gosto não decepcionava e seguia o mesmo caminho do cheiro e beleza. Meu estômago agradeceu ao sentir os inúmeros pratos que chegavam. O prato principal não decepcionou também, não sabia nem falar o que aquilo era, só sabia que era maravilhoso.
— Avallon que me perdoe, mas isso é a melhor coisa que já comi. — Sam sussurrou, nos fazendo rir.
Após o jantar, fomos direcionados para uma sala gigante onde tinham luzes coloridas e muita música, fiquei surpresa com aquela infraestrutura e até optei por tomar uma taça de champagne com as meninas, aquilo de fato era uma conquista para Avallon. Três acordos eram dignos de entrar para a história. Vantron não teria vez, não com a gente.
Uma enorme festa começou, com muita música e dança, ninguém ficou parado. Mal via meu pai ou os meninos. Tinha tanta gente que eu estava confusa sobre o que fazer, mas, por sorte, Robin tinha me treinado tão bem que eu me saí perfeitamente em todos os assuntos que as pessoas desconhecidas falavam. Me surpreendi ao ver o príncipe Cavalry se aproximando de mim, me curvando e esperando que ele falasse logo o que tinha em mente.
— Finalmente posso falar em paz com a estrela de Avallon!
— Prazer em te conhecer, alteza... — os olhos dele me secavam inteira, incomodando um pouco a princípio.
— Venha, vamos tomar uma taça de vinho juntos e conversarmos um pouco. — sorri forçadamente, tomando um gole do líquido vermelho depois de brindarmos. — Que bom que vocês vieram, espero que esteja gostando do castelo...
— Todos são bem receptivos e agradáveis. — respondi, vendo que Sam se esbaldava com nas danças, talvez estivessem bêbados.
— Que bom que você está se sentindo bem! — Cavalry percebeu que eu não estava tão a fim de conversar, mas prosseguiu mesmo assim. — A viagem foi cansativa, pelo que eu fiquei sabendo...
— Não sou acostumada com viagens, mas posso dizer que foi conturbada, literalmente! — sorri sem mostrar os dentes.
— Também não aprecio aviões. — ele riu, balançando a cabeça. — Se quiser ir para os seus aposentos, fique à vontade! Amanhã teremos um longo dia, afinal, você ensaiará para o Pronunciamento!
— Desculpe, mas que Pronunciamento? — questionei, um pouco confusa sobre o que aquilo se tratava, mesmo desconfiando.
— Você não sabe? — Cavalry ficou intrigado com aquilo. — Sua vinda para cá, é exatamente por causa disso e...
— Ah, vejo que já se conheceram! — se aproximou de nós, com uma cara sorridente, mas um pouco assustado. — , está a sua procura, você poderia ir falar com ele?
— Estou ocupada falando com o príncipe Cavalry e descobrindo que temos um Pronunciamento, o qual eu vou ensaiar amanhã! — controlei minha cara de surto para o príncipe de Demph não se assustar àquela altura, eu tinha que pensar na Aliança e no meu povo.
—Bom, vou atrás do príncipe para dizer que a requisitada está em uma conversa importante. — o moreno falou, um pouco envergonhado da tensão que se instalou e logo depois se retirou. Encarei , que sorria enquanto o outro monarca se retirava e depois olhou para os meus olhos.
— Eu estou cansada de ser a última a saber das coisas, . — falei entredentes. Sabia do que se tratava aquela visita, mas queria ouvir deles e, mesmo assim, eles escondiam tudo de mim até o último minuto. — O que está acontecendo aqui?
— Não tenho permissão para te falar nada ainda. — ele suspirou, me fazendo segurar o braço dele com força, o surpreendendo ao arrastá-lo para fora do salão de festas. — O que é isso? Um pinscher raivoso me sequestrando? Ou você está me chamando para dar uns amassos?
— Idiota. — resmunguei, entrando em uma sala escura com atrás de mim. — Anda, desembucha!
— Certo... — ele suspirou, dando de ombros. — Se você fingir que eu não te falei nada e agir como uma atriz que não sabe o que está acontecendo, eu posso falar tudo.
— Aceito os termos.
— E me dar um beijinho de boa noite depois, é claro! — revirei os olhos, segurando um sorrisinho da cara de pau do príncipe. Safado.
— Aceito os termos. — repeti.
— Bom, vamos começar com o fato de você ser o Tigre Dourado... — começou a falar tudo que eu já sabia. — É uma lenda antiga que curiosamente está se cumprindo agora e você é a pessoa da história. É você que está fazendo o povo se rebelar contra as Coroas e isso é perigoso, várias dinastias podem querer sua cabeça! Demph e Valaydes são reinos grandes que aceitaram o Acordo, automaticamente, aceitaram não matar você, vão te defender. — suspirei, escutando aquelas frases dele. — Entenda que pensou no povo, mas ele orquestrou totalmente os planos para a sua segurança também! Ele só não contava que o Acordo com Demph teria uma condição: você acalmar os rebeldes.
— Querem que eu os silencie. — cruzei os braços, incomodada.
— Queremos que você os acalme, é diferente! — segurou delicadamente a minha mão. — Não é de todo mal isso. Você está defendendo o seu povo! Pense que é algo focado na segurança de todos. — parou por um momento e me olhou com o cenho franzido. — Você não está surpresa ou gritando por isso, o que aconteceu? — ele parecia estudar cada expressão do meu rosto e da minha personalidade. Controlei qualquer expressão para que ele não desconfiasse de nada.
— Você entende como isso é problemático? Eu silenciar um povo que acordou pelos seus direitos agora?
— Vamos resolver um problema por vez, . — respirei fundo. Não era certo. — Você pode fazer isso? Por favor.
— Tenho outra escolha? — sorriu minimamente. Senti seus braços envolvendo meu corpo em um abraço quente e calmo, permiti que isso acontecesse. Senti o cheiro leve e amadeirado do seu perfume e fiquei um pouco mais calma e aliviada, sabia que estava segura, mesmo querendo socá-lo na maioria do tempo.
— Por que você fez isso? Sua maluca! — ele grunhiu, sentindo os braços ardendo ao ver que eu tinha dado um belo de um tapa. Controlei uma risada.
— Pela viagem conturbada no avião hoje. Não esqueci! — dessa vez foi a vez dele de gargalhar.
O príncipe ia dizer algo, mas fomos interrompidos com a porta se abrindo e dois corpos entrando na sala. Como estava escuro e só a luz da lua iluminava o local, foi um pouco difícil descobrir quem era. e eu nos encaramos.
Isso é tão errado! — arqueei a sobrancelha ao reconhecer a voz. Era .
Não é! Isso é emocionante. — a segunda pessoa era Courtney. Os dois estavam meio abraçados, apoiados contra a porta.
— Demph não é tão ruim como eu imaginava... — se aproximou de Courtney, abaixei a cabeça discretamente para não ver o resto da cena. , desastrado como sempre, fez questão de derrubar algo grande e barulhento, chamando a atenção dos dois e assustando todos nós. — Quem está aí?
— Sou eu, irmãozinho... — respondeu, caminhando para perto dos dois. — Olá, Courtney.
— Oi, ... — a selecionada estava vermelha, a pouca luz do local fazia com que a gente percebesse isso na hora. — ! — respondi com a cabeça, tentando não ficar com um pouco de raiva ou ciúmes dela. Ela não tinha culpa de nada. Nem mesmo tinha.
— Não sabia que a sala estava ocupada! — comentou, me encarando. Arqueei a sobrancelha, não controlando uma careta. — Fiquem à vontade.
— Estamos de saída. — peguei na mão de e caminhei até a porta, passando pelos dois. — Fiquem à vontade.
Saí de lá controlando um ciúme abusivo e idiota, já que não havia necessidade alguma daquilo, afinal, não temos nada e eu estava cansada de me sentir mal por alguém. Eu nem havia me decidido ainda. Fora que, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. Milhares de vidas escravizadas por anos estavam em minhas mãos e eu não tinha como fugir daquilo.
Não podia me pronunciar contra a revolução, mas também não podia ir contra a segurança do meu povo.
— Vou voltar para a festa e procurar por Benjamin. — comentei para . — Não sei como chegar no meu quarto novo! — riu, balançando a cabeça.
— Pela primeira vez, não posso te atazanar com isso... — olhei para o príncipe que dava de ombros. — Eu também preciso de ajuda para chegar no meu quarto.
— Ora, ora! Aykroyd se mostra mais humano a cada instante!
— Sim, querida ... Sou um mero mortal, irresistível e gostoso, devo ressaltar. — revirei os olhos, não controlando um sorriso teimoso. — Vou com você atrás de Ben, se quiser.
— Na realidade, eu queria ir falar com o meu irmão um pouco, saber como ele está e tentar averiguar uma questão importante... — me referi a ele e Beth. Eu havia percebido muitas coisas, era visível o interesse do meu irmão na selecionada, da parte dela, eu já não sabia.
— Será que é sobre a mesma coisa que eu?
— Sobre o que você quer falar? — arqueei uma sobrancelha, vendo-o fazer o mesmo.
— Sobre o que você quer falar?
— Coisa de irmãos...
— O meu assunto é de amigos... — gargalhei, lhe dando um empurrãozinho. Me despedi do príncipe com um abraço antes de voltar para a festa. — Durma bem, . Amanhã o dia não será fácil...
— Prometo não complicar tanto as coisas. — suspirei, vendo-o acariciar meu cabelo e virar as costas depois de depositar um beijo na minha testa. — ?
— Pois não? — ele se virou com uma sobrancelha arqueada, já a alguns centímetros de distância de mim.
— Tenho um acordo a cumprir, não tenho? — ele fez uma cara confusa quando caminhei até ele calmamente. — Obrigada por ter me contado. — O príncipe estava travado, não entendia o que estava acontecendo. — Eu cumpro minhas promessas.
Selei nossos lábios em um beijo calmo e simples. ficou surpreso com aquilo, mas logo cedeu e me deu permissão para o ato. Meu coração estava acelerado, afinal, eu não fazia ideia do que estava fazendo. Na verdade, eu sabia, mas não sabia se isso era certo. E se ele pensasse que eu estava fazendo aquilo apenas por causa do irmão? Mesmo não sendo o caso.
— Céus... — sussurrou, com a testa colada na minha e os olhos fechados. — Vou fazer mais acordos com você se isso significar que você vai me dar mais beijos como esse.
— Se forem bons acordos, podemos tentar.

Capítulo 15

Meus olhos passavam pelos papéis que me entregaram pela manhã preguiçosamente. Eu faria um discurso todo decorado à noite e ainda não conseguia me animar com a ideia de silenciar o povo, o qual eu tinha uma enorme dívida. Estava cansada de carregar esse peso sozinha.
Era para eu estar fazendo um tour por Demph como todo mundo, mas estava presa em meu quarto para fazer bonito na maldita anunciação. Bufei, inconformada, enquanto olhava para a janela; só via prédios e poucas árvores, não era como Avallon. Sentia falta do meu país e até mesmo do cheiro de lá.
Saí do castelo, porém me sentia em uma cadeia da mesma forma. Não tinha tempo nem para pensar nos meninos, por mais que viesse na minha mente às vezes, vê-lo com Courtney me enjoava, mas não mais do que ler o maldito discurso que Cavalry havia criado. Não sentia segurança naquele homem e me surpreendia saber que mantinha amizade com um cara como ele.
Minha companheira de sempre estava costurando um vestido com a ajuda de outra criada, as duas tinham em mãos um tecido de cetim da cor azul royal. Eu faria o discurso com uma roupa magnífica, mesmo eu me sentindo um lixo.
não podia me ajudar, mas eu pensava nele quando lia o papel, em fazer algo por eles, já que fizeram tanto por mim. Ophelia e os Selvagens montaram um plano pensando em nosso povo, mesmo doendo neles ter que silenciar os outros, mas aquilo era egoísta. Lembro-me dela dizendo: “Faça o discurso por nós, não podemos correr o risco de perder mais gente. Não será sua culpa se os demphianos não acatarem suas palavras.” Era justo? Não.
Escutei duas batidas na porta e corri para atender, dando de cara com Titânia. Me surpreendi com a mulher alta e bonita que entrou rapidamente em meu quarto, mesmo eu não convidando-a. Ela sorriu enquanto pegava uma das frutas da minha cesta de comidas - presente de boas-vindas de Cavalry.
- Imagine, entre, fique à vontade! - ironizei, cruzando os braços enquanto ela se jogava em minha cama.
- Seu quarto é bem maior que o meu... É impressionante como alguns tem mais privilégios que outros. - ela comentou, olhando em volta. Suspirei, dando de ombros.
- Posso colocar na minha lista de reclamação, se quiser...
- Não me importo com o quarto, no meu país eu dormia no chão para deixar meus irmãos dormirem bem. - fiquei em silêncio; não sabia o que dizer. Na verdade, não sabia nem se deveria dizer algo. - Minha luta começou quando você entrou na Seleção. De todas as garotas, você era a menos cotada para a Coroa... Veja só: pobre, sem contatos, sem fãs, sem modos, sem...
- Acho que já entendi. - cortei a rebelde, que deu um risinho, mas prosseguiu.
- Enfim, a última pessoa que deveria estar era em uma Seleção! - abaixei o olhar. Ela tinha razão. - Aos poucos você foi crescendo, criando popularidade e mostrando quem é, só que não fez isso por status, fez isso para mostrar os seus ideais e foi mostrando ao povo que ficar calado não era mais o certo. - ela riu enquanto mordia uma maçã. - Eu pensei “Se aquela garota, estando ao lado do rei, consegue desafiá-lo, por que nós não podemos nos reerguer da mesma forma?”. Juntei meu pessoal e aos poucos fomos virando muitos e aqui estamos! Graças a você.
- Fico feliz por isso, Titânia. – falei, sincera.
- Só quis te contar para você não se esquecer do que é capaz... Mudou um país, ! - aquilo só me fazia ficar mais enjoada. - A Causa está vencendo.
Fiquei em silêncio, mas ela não se preocupou muito com isso. Começou a zanzar pelo quarto, tagarelando sobre várias coisas, as quais eu nem conseguia entender. Decepcionaria Titânia e todos que me escutariam. Eu não podia ser uma maldita lenda idiota.
Parou na frente dos papéis que eu estava ensaiando e me encarou, perplexa; nem me preocupei em mentir ou pensar em desculpas.
- Não sabia disso até chegar aqui em Demph. - foi a única coisa que falei.
- Você... Você vai silenciá-los?! - não era uma pergunta.
- Meu povo precisa de Demph para defendê-los. - ignorei o olhar intimidador que ela me lançava. - Esse discurso vai fazer com que eles tenham a proteção contra...
- Egoísta! - ela quase gritou, jogando os papéis no chão. - Não acredito que fui tão burra por acreditar que você era diferente!
- Não ouse falar como se me conhecesse! - respondi da mesma forma. A morena me encarou com raiva.
- Você é uma farsa. Me enganei ao acreditar que você era a Tigre Dourado e que salvaria todos nós. - aquelas palavras me atingiram como um soco. Ela foi até a porta com o ódio estampado na cara, se virando antes de sair, para me encarar novamente. - Então temos mais uma oportunista. Quanta sorte!
Ela abriu a porta, dando de cara com o príncipe mais velho. estava mais bonito que o normal e me dava um frio na barriga encará-lo por muito tempo. A rebelde não disse nada, apenas saiu, deixando nós dois surpresos com a atitude dela. Eu merecia, na realidade. Permiti que ele entrasse no quarto com um aceno de mãos. Ele observou a bagunça feita por Titânia e eu expliquei tudo para ele.
- Sinto muito. - suspirou, segurando minhas mãos. - Sei que isso é difícil para você.
- Tenho que travar minhas batalhas sozinhas, de qualquer forma. - dei de ombros, pegando todos os papéis do chão. Ele agachou, me ajudando.
- Você está fazendo algo bom pelo seu povo e...
- Você entende o que está acontecendo ou apenas está fingindo que não? - parei de pegar os papéis e olhei para os olhos dele, que não mantiveram o contato visual. - Isso é sério! Cavalry não me passa segurança alguma, e essas palavras... - mostrei os papéis. - São cruéis! Farei o discurso, mas saibam que uma parte minha vai morrer junto com aquele povo.
- Não sei em que lado ficar agora, . - ele admitiu. - Quero proteger nossa gente, quero proteger você, mas também acho ruim fazer isso com o povo de Demph... Faça o que tem que fazer.
Aquela frase tinha tantos significados...
*


(Coloque para tocar)

- Boa noite, Demph! – comecei, olhando para a câmera que tinha na minha frente, mas escutando claramente a multidão que se encontrava lá embaixo. - Agradeço a vocês pela hospitalidade ao nos acolher em seu reino! Meu nome é e eu venho por meio desse discurso, conversar e pedir... - respirei fundo, sem conseguir continuar com aquelas palavras. Olhei para baixo e vi todos que eu amava na primeira fila, sentindo meu estômago se revirar ao olhar para o rosto de Titânia e lembrar das palavras duras e sinceras: “Você é uma farsa. Me enganei ao acreditar que você era a Tigre Dourado e que você salvaria todos nós.” Limpei a garganta, tentando lembrar do maldito discurso ao olhar a minha cola. - Pedir para que o povo me escute! Essa guerra civil é uma grande perda de tempo e... - balancei a cabeça, sem conseguir prosseguir. Cavalry e Roger me encararam, confusos com a minha pausa. Peguei o papel e rasguei o mesmo na frente de todos, tirando um tom de surpresa da multidão. - Nunca imaginei que entraria em uma Seleção e depois que eu entrei no concurso, não imaginaria que iria durar tanto, e aqui estou entre as finalistas! Vocês podem achar que minha vida no castelo é fácil, mas garanto a todos que não é. Sofri diversas vezes e hoje estou me recuperando de um luto que me abalou de várias formas! - controlei as lágrimas, respirei fundo e olhei para a câmera. - Descobri que sou uma lenda. A Tigre Dourado, como muitos dizem... Isso é um peso enorme e eu nunca me imaginei tendo tanto poder nas mãos, por isso não consigo me pronunciar perante a guerra civil de vocês. Isso vai contra os meus princípios e vai contra a minha luta!
- O que você está fazendo? - Cavalry perguntou em um sussurro. Não me abalei com a reprovação do príncipe.
- No entanto, sei que sem a guerra que vocês travam, a Coroa jamais teria notado a existência do povo que acordou para os seus direitos! - o povo urrou ao fundo, torcia para que fosse algo bom. Muitos estavam assustados com aquilo, até eu. passava as mãos no rosto, Titânia observava todos ao redor com um pequeno sorriso nos lábios. - Vocês venceram uma batalha, Demph! Eu estou do lado de vocês e aceito os termos de ser a sua porta voz! Sugiro um acordo. - chamei Cavalry com as mãos, ele veio, sorrindo forçadamente, e se pudesse, me mataria. - Uma trégua com a guerra civil! - se revoltaram por um momento. - Peço que vocês formem uma equipe de quatro pessoas, com os seus líderes, eles vão ser os representantes da causa e vão poder transitar nas reuniões da Corte e nos assuntos referentes a vocês! - Cavalry me encarou, surpreso. Todos ficaram quietos. - Vocês terão todos os direitos que precisam. É algo gradativo, não acontecerá de uma hora para outra, mas vai acontecer! Mostrem os seus termos: não desanimem, a Causa está vencendo. - abaixei o olhar e limpei a garganta. - Com isso, encerro por aqui! Boa noite, demphianos.
Saí com uma saudação urrada ao fundo. Meu coração parecia que ia sair pela boca; mais uma vez agi de forma irracional, mas era o certo. Eu fiz o que foi necessário e não me sentia culpada por isso. Acordei antes do povo e não os deixaria dormir de novo, aceitando as consequências disso. Dei de cara com um monte de gente, me assustando por ver tantos rostos desconhecidos, divididos entre me parabenizar e me xingar. Senti uma mão forte em meu braço, me virei e dei de cara com Cavalry, claramente irritado.
- O que você fez? – perguntou, furioso.
- Acalmei o seu povo! – respondi, simplesmente. Arqueei uma sobrancelha ao vê-lo apertando ainda mais o meu braço.
- VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO ISSO! - juntei as sobrancelhas, inconformada com a forma que ele agia. - SÓ TINHA QUE FAZER O MALDITO DISCURSO E...
- EU FIZ O QUE VOCÊ MANDOU! ACALMEI O SEU POVO! - gritei da mesma forma, assustando-o e gerando mais surpresa de todos, até mesmo dele, que afrouxou as mãos assim que eu me desvencilhei bruscamente. - Apenas acrescentei meios mais humanos de lidar com a situação que eles se encontram! - eu devia estar vermelha de tanta raiva. - Acredite em mim, alteza, se você os silenciar, vai me silenciar também. E eu não vou tolerar isso!
- Eu é que não vou tolerar...
- Você vai! - o interrompi, levando um dos meus dedos em sua cara. - Você vai cuidar do seu povo, querendo ou não! Sabe por quê? Porque a época da humilhação acabou. Os abusos já acabaram e a época de a minoria ficar calada, já era! - ele tremia de raiva, assim como eu. - Aceite os meus termos e honre a sua coroa. Honre o seu povo!
- ... - entrou no meio de nós dois, puxando Cavalry para longe de mim. - Cavalry, vamos nos acalmar! fez algo bom, seu povo se acalmou e...
- Mas agora terei de servi-los!
- Pobre príncipe Cavalry, vida longa ao rei fajuto! - resmunguei, vendo-o fazer uma careta.
- Depois daquele surto dela defendendo aqueles homens gays, eu não esperava menos dessa maluca! - escutei um membro da corte demphiana sussurrando para outro. - Vê se pode? Primeiro ela agride uma rainha para defender um nojento daqueles e agora... Fica ao lado dos malditos rebeldes!
- Espero que você cale a boca, a não ser que queira que eu arranque sua língua fora e dê para os cachorros comerem. - me virei para o velho ridículo, que se assustou com a frase agressiva que eu acabara de falar. - Aqueles homens inocentes morreram por causa do preconceito e homofobia de gente como você! Eles tinham família, amigos e eram muito queridos. Agredi a rainha do meu país para honrá-los, não duvide do que eu possa fazer com você, seu... Asqueroso!
- Chega! - Cavalry gritou, assustando todos nós e me lançando um olhar reprovador. Leigh-Anne sorria discretamente atrás do marido, afinal, eu havia arruinado tudo. - Eu sou o futuro rei! A minha palavra é lei. – ri, balançando a cabeça.
- Não, Cavalry. Eu sou o Tigre Dourado... A minha palavra que é lei!
- Vem, vamos! - me guiou pelo meio de todos ali. caminhava atrás de mim, evitando que alguém tentasse me agredir; Alan estava no fundo, de braços cruzados, parei ao lado dele com os olhos marejados, mas era de raiva.
- Viu isso? - sussurrei, ao lado dele. - Estou aqui pela sua causa, Alan, mas até quando vou ter que lutar sozinha por ela? - os meninos não escutavam o que eu dizia, Alan não me encarava nos olhos. - Vou honrar meu irmão. Crie vergonha na cara e honre a si mesmo!
Caminhava na frente de e vinha atrás dele, escutando os gritos vindo do lugar onde estávamos. Queria gritar também, de ódio. Fiz o certo, sabia disso, mas odiava a forma que falavam de Denver e Ted, a forma que se referiam ao povo - e a mim.
- Você deveria estar com , acalmando os demphianos. - falou, apenas bufou. - Temos que resolver essa bagunça!
- Você é melhor do que eu para isso - respondeu, ainda andando rapidamente atrás de mim.
- Apenas vão! – gritei, olhando para os dois, que estavam assustados comigo. - Quero ficar sozinha.
- Não vou deixar você sozinha agora. - disseram juntos, se encarando logo depois.
- Está bem, eu vou resolver isso... Depois eu vou atrás de vocês e... - começou a falar, me fazendo cruzar os braços.
- Não finja que se importa! - resmunguei. O mais novo desistiu de responder e deu meia volta, me deixando sozinha com .
O outro não falou muita coisa durante o percurso que eu fazia; nem sabia para onde estava indo, meus pés me guiavam naquele enorme castelo e eu só queria um pouco de ar. Não demorou muito para que chegasse em um tipo de varanda gigante no andar em que estávamos. Respirando, aliviada, me sentei no chão, esquecendo por um segundo que estava comigo.
Ele não gritou ou falou nada. Talvez estivesse assimilando o que acabou de acontecer. Eu arruinei tudo. Meu coração doía por decepcioná-lo, mas estava aliviado por ter feito o certo. Como quem tivesse acabado de ler minha mente, pegou minha mão e ficamos assim durante um tempo.
- No fim das contas, você fez o certo. - ele admitiu. - Deveria ter pensado na possibilidade de um acordo com os rebeldes e Demph ao invés de permitir que você fizesse esse discurso.
- Como eu disse, tenho que travar minhas batalhas sozinha. - sorri sem mostrar os dentes. - Não ligo para o que Cavalry pensa ou faz, desde que honre com a sua parte no acordo.
- Creio que será algo difícil...
- Ele assinou, ! - me virei para ele. - O acordo não pode ser desfeito, até eu que não entendo de política sei o que implicaria ao reino de Demph se eles quebrassem! Fora que eu cumpri o que ele pediu, fiz o povo se acalmar!
- , meu pai e vão resolver isso, fique tranquila. - ele falou isso mais para si do que para mim.
- Só quero ir embora daqui. - tombei minha cabeça em seu ombro e recebi um carinho durante a minha reclamação. - Até o cheiro daqui é ruim.
- Avallon é mil vezes melhor, não é? - ele riu.
- Com toda a certeza! - os olhos de me fitaram por alguns segundos, já que ríamos juntos enquanto falávamos mal de Demph. Ficamos assim por horas até que ele me levasse ao meu quarto.
Fui dormir pensando que no dia seguinte eu voltaria para casa.
Casa.
Era engraçado acreditar nisso, porque, no fim das contas, eu não tinha mais um lar. O castelo não era a minha casa e a antiga casa da minha mãe não era mais segura, não era mais minha.
Depois de hoje, acreditava que seria expulsa da seleção.

*

Acordei com Benjamin abrindo as janelas, me fazendo resmungar. Por mais que eu não quisesse ficar em Demph, dormir lá era agradável. Abri os olhos brigando com a luz que vinha das janelas; Lauretta caminhava pelo quarto arrumando tudo, sinal claro de uma coisa: iríamos embora.
Pulei da cama, abraçando meu irmão e a minha dama, que se assustaram com o ato, e corri em direção ao banheiro para um banho rápido. Faria tudo o mais veloz possível para ficar longe daquele lugar horrível. Me arrumei com a ajuda de Lauretta, e Ben me esperava do lado de fora para uma reunião de emergência antes de partirmos.
- Que horas partimos?
- Daqui a uma hora se você não for mandada para a forca demphiana nesse período da reunião. - meu irmão rebateu com um sorrisinho. Revirei os olhos. - Desculpa por ter te colocado nessa situação, ...
- Esperava que ao menos você me contasse. - falei em um tom amargo. Ainda não havia superado o fato de eles esconderem tanto de mim.
- Eu sei. Sinto muito. - abaixou o olhar para os pés e logo depois segurou minha mão. - Estou orgulhoso de você, de qualquer forma.
- Sinto que estou arruinando tudo. - admiti em um sussurro. Ele riu, balançando a cabeça.
- A forma que você fala é difícil para eles... A Elite não está acostumada com gente como nós no topo... Você incomoda.
- Ainda bem! - sorri, parando na frente da sala cheia de membros da corte. - Estou pronta para incomodar mais um pouco.
- Essa é a minha garota!
Entramos juntos, todos ficaram quietos perante a minha entrada. Alan, , , , Roger, Leigh-Anne, as selecionadas, meu pai, Titânia, a princesa de Valaydes e Cavalry estavam em um tipo de círculo; meu lugar estava no meio de e Alan. Ao menos estaria protegida. Não que eu precisasse, não temia Cavalry.
- A reunião de hoje é para esclarecer o que aconteceu ontem! - Cavalry começou a falar. - Meu pai, o rei de Demph, está impossibilitado de tomar qualquer tipo de decisão; eu, como o seu sucessor, estou aqui para isso! Portanto, devo dizer as minhas consequências pelo o que ocorreu na noite passada.
- O acordo permanece, alteza! - Alan falou, com calma. - A atitude da selecionada foi imprudente, mas justa! Seu povo não se calaria apenas com o pronunciamento dela.
- Ou você acreditava que aquela gente toda aceitaria um mero discurso? - perguntei.
- Queria que você acatasse as minhas ordens!
- Qual o relatório de ataques civis de ontem para hoje, senhor? - Cavalry se calou. Não havia tido nenhum. - Você pediu que eu acalmasse. Está aí o seu resultado.
- Isso não significa que...
- tem razão, alteza. - Leigh-Anne falou pela primeira vez. Quase revirei os olhos com a pose de rainha renovada que ela esbanjava. - O combinado era que ela acabasse com a luta, fez isso. Não quebramos nossa parte do acordo.
- A forma que ela falou comigo...
- Céus, quanta ladainha! - revirei os olhos e me levantei. - Me desculpe por ter agido como a líder que você não é! Pronto, podemos ir para casa?
- Insolente... - ele murmurrou - O acordo prevalece! - nós, avalloneses, sorrimos com aquilo.
Venci Cavalry.
*

Estava na pista real, esperando nosso avião para embarcarmos; nunca quis tanto voar. As pessoas se organizavam para entrarem na nave. Ao menos ninguém se importava comigo ali. Me sentia sobrecarregada.
- Não tive tempo de falar com você ontem... - Titânia surgiu ao meu lado, me assustando. - Mas ao menos vou poder me despedir.
- Adeus. - respondi, sorrindo sem mostrar os dentes. A garota não se abalou com o meu deboche.
- Obrigada pelo que fez ontem.
- Não fiz por você. - falei prontamente.
-Eu sei. Me desculpe por ter sido tão dura com você. - a encarei com as sobrancelhas arqueadas. - Não me enganei contigo, afinal de contas.
- Temos que aprender uma coisa, Titânia. – falei, antes de encarar o avião. - Nossa verdade não é absoluta.
- É um caminho longo...
- Conseguiremos passar por ele.
Me despedi dela logo depois. Ao contrário da nossa ida para Demph, dessa vez eu fui a primeira a embarcar. Não fiquei causando como antes, tinham coisas mais importantes para que eu me preocupasse àquela altura. Meu medo de voar não era nada perto do que estava acontecendo.
Cavalry teve juízo. Permaneceu no acordo.
Mas eu nunca me senti tão insegura.

Capítulo 16

O voo foi tranquilo. Não me abalei como na ida. Poirot sequer precisou me dopar dessa vez. Ao lado do meu pai e do meu irmão, me sentia segura, nada podia acontecer comigo enquanto estivesse com eles.
Meu pai não tocou no assunto da minha aliança com os rebeldes demphianos. Fingiu que não aconteceu. Ele era o braço direito do rei, não podia se aliar a outras causas que não fossem A Coroa. Benjamin estava ao meu lado. Me perguntava se ele iria continuar se soubesse que eu me aliei aos Selvagens. Me perguntava o que todos eles fariam se descobrissem.
estava chateado. Eu havia feito uma promessa e quebrei a mesma. Não me surpreenderia se ele não falasse comigo por um tempo. tentava dialogar comigo; mas não era o momento, não depois da forma que ele agiu comigo. estava confuso, em cima do muro, eu diria. E isso era mais do que eu podia pedir — se ele estava em cima do muro, ele pensava na possibilidade de ajudar a Causa.
Robin parecia mais cansada que o normal, sorri ao lembrar das falas dela antes de embarcarmos “De boas intenções o inferno está cheio, garota! No final de tudo isso, você vai ter detonado o sistema e vai viver em um apocalipse graças à sua boca grande!”. Pelo menos ela ainda brigava comigo. Aquilo era algo bom, indicava que Robin ainda estava comigo e que não me deixaria tão cedo.
Leigh-Anne conseguiu entrar na mente de . Eles voltaram para aquele lance de mãe e filho e eu me sentia mais enojada que antes. Roger não me repreendeu, acredito que por respeito ao meu pai e pela grande dívida que ele tinha com o guarda, afinal, Dave fez tanto pela família Aykroyd que tudo que eu fazia era pouco.
As meninas estavam um pouco abaladas com Demph. Não era o que imaginávamos. Sam não falou muito, por respeito por nossa coroa. Beth e Sum me parabenizaram, acreditavam em mim e no que eu pregava. Courtney e Lizze não se deram o trabalho de falarem algo, nem precisavam. Sabia que qualquer coisa que saísse da boca delas seria apenas crueldade. Por sorte, não precisava delas.
Alan não conseguiu se despedir. Achei bom. Não queria encará-lo. Ainda estava chateada por ele se esconder e não assumir a sua sexualidade. Um rei gay tinha muito mais chances de sucesso e aceitação para a normalização de algo simples do que uma garota hétero que grita para ser escutada. Alan estava sendo fraco e aquilo me machucava.
Quando o avião pousou, ninguém estava muito a fim de papo, afinal, todos estavam exaustos apenas querendo a própria cama. Coloquei meus óculos de sol e grudei nos braços de Benjamin, ainda estávamos meio grogues com o remédio que Poirot deu para nós, e Lauretta que nos guiava até um dos carros. Meu irmão ficou do lado de fora, para receber instruções do meu pai, se aproximou deles e começou a conversar também. Em questão de alguns minutos, o príncipe e meu irmão entraram no carro.
— Quero ir para casa. — choraminguei no colo de Lauretta. Benjamin e se encararam, mas não falaram nada.
Encostei a testa no vidro, observando todos entrarem nos devidos carros. e conversavam com Sam e Courtney, ambas sorriam. era a pessoa certa para ficar de olho em mim àquela altura da seleção; e eu discutiríamos; eu voaria no pescoço de ; com , tudo parecia mais leve — coisa que eu imaginava que era com . Torcia para Sam não ficar como Lizzie e querer me matar por estar com o menino que ela gosta. Ao menos irritaria Lizzie por estar com o seu favorito.
A viagem começou assim que o carro do rei saiu primeiro. Os carros faziam uma enorme fila e o nosso era o último. A pista de Avallon tinha uma vista incrível para o mar; de um lado tínhamos a vista para o mar, do outro, as florestas montanhosas; tudo tão lindo que parecia uma pintura. O príncipe acompanhava meu olhar e eu cheguei até a chutar seus sapatos caros apenas por brincadeira. Não demorou muito para o nosso carro entrar em uma curva diferente da que estávamos e meu coração começou a disparar.
— Fique calma. — falou, completamente tranquilo, enquanto eu estava prestes a voar no motorista.
— Vamos pegar um atalho, . — Benjamin completou. Por um instante, não quis confiar neles, mas logo passou e eu relaxei.
A estrada da floresta era muito difícil e mexia demais. Lauretta chegou até a ficar enjoada, ameaçando vomitar a qualquer instante. Me sentia a própria Jane do Tarzan. Mesmo que não tivesse saído do carro. Fechei os olhos, tentando não matar os dois homens na minha frente.
— Isso é um tipo de vingança? — questionei, ainda de olhos fechados. — Um tipo de repreensão?
—Liberte a garota aventureira em você, ! — falou, rindo. Seu riso parou quando o carro nos fez pular e o príncipe bateu a cabeça no teto.
— Eu vou matar vocês! — resmunguei, grudando no cinto de segurança.
Escutei os três rindo de mim. A viagem durou pelo menos três horas, cheguei até a me acostumar com os solavancos; mas não conseguia ficar com os olhos abertos por muito tempo, afinal, eu não era tão aventureira assim. Quando o carro por fim parou, quase beijei o chão quando descemos do veículo. Não via nada além de árvores e muito mato. Encarei os dois patetas, com a mão na cintura, prestes a explodir.
— Estão brincando comigo? — me segurei para não gritar e chamar atenção de algum urso ou serial killer.
— Viemos libertar você! — Benjamin falou, segurando um sorriso. — A tigre dourado merece ficar ao ar livre!
— Idiota, imbecil, tonto, besta, otá... — comecei a distribuir tapas no meu irmão engraçadinho. Benjamin gargalhava enquanto tentava fugir da minha agressão. ria, tentando me segurar para evitar um olho roxo no maldito guarda.
— Ai! — o príncipe resmungou por levar um tapa nos ombros.
— Onde estamos? O que estamos fazendo aqui no meio do nada?
— Segue aquela trilha que você vai descobrir... — Ben deu de ombros, pegando nossas mochilas e indo na frente. piscou para mim e seguiu o amigo; Lauretta me encarou, mas logo seguiu os meninos. Me dei por vencida e segui aqueles três, resmungando pela afronta que fizeram comigo e em como eu estava sem paciência para joguinhos e brincadeiras.
Não tinha mais tempo para isso.
A caminhada durou quase meia hora. Os saltos que eu usava já estavam cheios de lama e a barra do meu vestido também — não que eu me importasse. O que mais me incomodava era a dor nos pés, não aguentava mais dar um passo sequer. Parei em uma árvore para respirar e acalmar minha mente. A natureza por si só fazia este serviço, o ar fresco e puro me deixava leve; o que me incomodava era o silêncio de e Benjamin. Não demorou muito para me pegar pelos ombros e me arrastar pelo resto da trilha, nem reclamei.

Coloque para tocar


Quando me dei conta, tinha uma enorme casa perto de uma colina. A casa era fofa, não tinha muitas cores para não chamar a atenção e tinha até lareira. Não era para menos, fazia frio em Avallon naquela época. Encarei , não acreditando no que estava acontecendo. Ele sorriu, me colocando no chão. Benjamin colocou os braços em meus ombros e apoiou a sua cabeça na minha.
Uma figura pequena — não mais tão pequena — estava escorada na janela, brincando com alguns carrinhos. O menino olhou para onde estávamos e ficou sem nem acreditar, esfregou os olhinhos algumas vezes antes de dar um enorme sorriso e gritar:
— A está aqui! — Kurt berrou, entrando na casa. Eu caminhava mais rápido, sem nem me importar com a dor nos pés.
— Está alucinando? — Kiara questionou, indo com a minha mãe até a janela. Olhei para cima e Kiara estava com um bebê no colo, ao lado de Jordan. Os dois arregalaram os olhos ao me ver lá embaixo. Ri da cena deles correndo para fora do quarto.
! ! ! — Kurt correu até mim e me derrubou no chão. Não contive uma bela gargalhada ao ser levada ao mato. Lágrimas escorriam dos meus olhos, mas era de alegria. Nem parecia que ele estava com a perna enfaixada.
— Saí! — Kiara empurrou nosso irmãozinho para me agarrar ali mesmo no chão. — Nem acredito que você realmente está aqui!
— Nem eu, Kia! — apertei ela, sentindo o cheiro de lavanda do cabelo dela.
— Eu falei que não estava alucinando! voltou para nós! — Kurt comemorava, pulando em cima de mim. Com a ajuda de Jordan, me levantei. Meu querido cunhado me encarou com os olhos marejados; fazia tanto tempo que não nos víamos, até mesmo eu senti sua falta.
— O que aconteceu com a garota suja e rabugenta que deixou Southampton há quase um ano?
— Só estou mais limpa. — garanti, sorrindo e lhe abraçando. Ah, tudo aquilo parecia um sonho.
— Senti sua falta, tampinha.
— Nem acredito que vou dizer isso, mas eu também senti. — atrás de Jordan estava a minha mãe, que estava com um avental de cozinha e um pano em mãos. Achei que não tinha mais lágrimas dentro de mim, mas descobri que tinha.
Sentir seu abraço me envolvendo foi a coisa que me fez desabar de novo. Tinha tanta coisa em cima dos meus ombros — coisas que ela nem sabia —, tanta coisa que eu guardava. Naquele instante, eu permiti que tudo saísse. Estava segura. Estava com a minha família de novo e nada mais importava.
— Bem-vinda à sua casa, querida. — ela sussurrou em meu ouvido, como se tivesse escutado meus pensamentos. — Agora você está segura. Estou aqui com você!
Olhei para a varanda e vi Kira sentada, com o rosto vermelho por ter chorado. O pequeno bebê estava em seu colo, mamando em seu peito. Caminhei até eles, sentindo que meu peito ia explodir com tanta fofura e amor. Abracei minha irmã no mesmo momento que tive oportunidade. Ambas choraram uma no ombro da outra, afinal, eles poderiam ter morrido e tudo por eu ser o maldito alvo graças a uma lenda ridícula.
— Graças a Deus você está viva e está conosco! — ela sussurrou, secando uma lágrima. Roddy disparou seus olhos grandes e castanhos dourado para mim, não contive um sorriso com aquilo. — É impressionante, não é? Nove meses na minha barriga para aparecer com os seus olhos! — gargalhei, pegando o bebê no colo. Nada me faria mais feliz do que estar com a minha família e tudo que eu mais queria estava acontecendo agora.
— Roddy nasceu com os olhos mais bonitos dessa família! — comentei, fazendo carinho na bochecha do meu sobrinho. Minha mãe tinha os olhos verdes, assim como meus irmãos e Kira; Jordan tinha os olhos azuis.
— Mas espere! — Kira se levantou, fazendo uma reverência, foi então que notei que estava comigo. — Alteza...
— Bom vê-la de novo, Kira! Muito melhor te ver agora com esse bebê em mãos... — sorriu, dando um beijo na testa de Roddy que quis brincar com a sua barba por fazer.
— Se você está aqui... Significa que foi expulsa da Seleção?
e eu nos encaramos e não deixamos de rir da minha irmã, confusa.
precisava de um tempo... Dave e meu pai concluíram que ela merecia um descanso com a família depois do ataque! — suspirei, vendo-a abaixar o olhar. — e convenceram eles e aqui estamos.
Fiquei surpresa quando citou os irmãos. Não sabia que aquilo era ideia deles, mas fiquei grata.
— Vão ficar por quanto tempo? — Kurt grudou na perna de .
— Até domingo, garotão.
— Só mais dois dias? — ele fez bico. Aquilo me matou, mas era mais do que eu podia pedir.
— Vamos aproveitar muito esse tempo juntos, Kurt. — o pequeno garoto sorriu, me dando um beijo na bochecha.
Minha mãe nos fez entrar na casa, mostrando todos os cômodos, orgulhosa pelo que a família de nos deu, a nova residência dos tinha tanto espaço que caberia metade das pessoas do meu bairro em Southampton. Ela não parava de agradecer o príncipe, que chegou a ficar muito mais confortável e em paz quando viu que não era o centro das atenções; eu era e nunca me senti tão feliz por isso.
Kurt precisou ser detido por Jordan para que parasse de pular igual um doido, afinal, ele estava se recuperando do ataque dos Vantronis. Meu irmãozinho não gostou da ideia, mas ficou satisfeito quando se sentou ao seu lado no sofá da sala. Sorri ao vê-lo tão à vontade, talvez estar fora do castelo e sem as obrigações de príncipe regente, finalmente o deixasse mais relaxado; ele precisava tanto quanto eu.
Fui com a minha mãe e minhas duas irmãs para a cozinha e quase desmaiei ao sentir o cheiro da comida maravilhosa que Karin fazia. A comida de Avallon até podia ser boa, mas não chegava nem aos pés da comida dela. Jordan adentrou para tirar Roddy de Kira, já que o bebê precisava ir para a caminhada de rotina dos dois; Benjamin os acompanharia de bom agrado, parecia que aquele lugar era o ponto de paz de todos.
Kiara e Kira não paravam de falar comigo ou com Lauretta, minha mãe sempre fora mais calada; mas eu via seu sorriso enquanto cozinhava e dividíamos o mesmo sentimento: estávamos todos juntos novamente.

*


Depois do jantar, minha mãe tentou decidir onde nós quatro dormiríamos. A casa era grande, mas os quartos já estavam todos ocupados, menos um; o meu — que estava esperando que eu o ocupasse. Kiara amou Lauretta desde que a conheceu no castelo, vê-la na nova casa era emocionante o bastante para convidar a minha dama para dormir junto com ela; não vou negar que me senti levemente ofendida por não ter briga alguma sobre quem dormiria comigo.
— O príncipe e o guarda Benjamin podem dormir comigo? — Kurt perguntou, cheio de animação. Nós gargalhamos na mesa ao ver a cara daquela criança.
— Não combinamos de você me chamar só de ? — ele perguntou, sorrindo. — Vou adorar ter você como companheiro de quarto!
— Quarto dos garotos? — Ben perguntou, animado. — Aceito!
— Mas... Alteza? — minha mãe começou a falar — Você pode ter uma privacidade maior dormindo no quarto da Margo, ela pode dormir comigo e...
— Não se preocupe comigo, Karin! Já agradeço por você me acolher em sua casa. — o príncipe falou carinhosamente. — E dividir o quarto com esse pequeno furacão nem vai ser um problema!
, não precisa fazer isso. — falei, o encarando.
— Não preciso, mas quero. — revirei os olhos sem conseguir esconder um sorriso ao vê-lo dando uma piscadinha.
— Então, vamos! — Kurt levantou em um pulo, puxando meu irmão e o príncipe pela escada acima.
Lauretta insistiu em ficar para lavar a louça, mas eu não permiti; fiz Kiara levá-la para descansar. Kira e Jordan se retiraram com o bebê e eu fiquei sozinha com a minha querida mãe.
Estávamos em silêncio, mas não era nada desconfortável ou ruim; era como em Southampton. Nosso trabalho era em conjunto, eu tirava a mesa e arrumava tudo no lugar enquanto ela lavava, cantarolando suas canções. Respirava, aliviada, aquilo parecia um delírio coletivo. Todos foram dormir enquanto eu e minha mãe terminávamos de arrumar tudo.
Quando por fim terminamos, ela me levou ao meu quarto e arrumou minha cama. Não era como no castelo, mas eu nem me importava; amava o cheiro de sabão que só ela conseguia fazer. Fiquei tão feliz por eles terem pegado o pouco que eu tinha na antiga casa. Enquanto eu tirava meu vestido e trocava por um pijama de ursinho que eu amava usar em Southampton, minha mãe se sentou na cama e me observava.
— O que foi? — perguntei, rindo, e ela arrumou o cabelo, sorrindo.
— Te ver com esse pijama me lembrou da época que eu acordava pela manhã com você gritando com o vizinho... — gargalhei, me jogando ao lado dela.
— Eu odiava aquele velho! Queria pegar aquela trompa dele e queimar. — ela riu, passando a mão no rosto. — Quem começa a tocar uma trompa às sete da manhã?
— Ele era maluco! — encostei minha cabeça no ombro da minha mãe. Aquelas lembranças eram boas.
— Parece que faz tanto tempo, ... — ela comentou, mexendo em meu cabelo. — Você amadureceu tanto, querida!
— Às vezes acho que não sou mais a mesma...
— Você cresceu, filha. Aprendeu coisas que te melhoraram! — suspirei, me lembrando de uma trajetória difícil e conturbada. — Você está onde deveria estar e isso é o que importa para mim... Continua sendo a minha garotinha! — ela me deu um beijo na testa. — Nós estamos aqui graças a você, nunca estivemos tão felizes.
— Isso é o bastante para mim, mãe.
— Acredite em mim, você ainda é a mesma, só que agora melhor e mais bem vestida. — ri, lhe dando um empurrãozinho.
— Estou tão feliz por estar com você. Minha família finalmente está completa de novo!

Capítulo 17

— Vocês são horríveis nisso. — falei, encarando a cena com uma careta. — Estão perdendo para uma criança com a perna machucada! — e Jordan jogavam com Kurt um jogo que eu não entendia, mas se tratava de chutar a bola na direção do meu irmão e ele defender o gol improvisado com duas madeiras.
— Eu nunca joguei isso! — resmungou, caído no chão depois de errar pela terceira vez
— Você é horrível, Jordan. — Kurt tirou sarro, gargalhando. — Esperava mais de você, vossa alteza... — dessa vez, quem gargalhou fui eu. Kurt foi totalmente debochado.
— Vejo que é de família. — o príncipe apontou para o meu irmãozinho. — Vou até dar uma volta para me recuperar dessa afronta!
— Me leve com você, por favor. —Kurt riu, indo até , que o pegou e colocou nos ombros.
Não demorou muito para Jordan ir até mim e se jogar ao meu lado. Ele estava com a cara cansada, mas claramente feliz. Roddy e Kira não podiam estar mais felizes. Ficamos em silêncio por alguns instantes, sempre fomos tão amigos e tínhamos tanto para falar; era estranho ficar calada ao lado dele agora.
— É muito estranho te ver de calça. — ele quebrou o silêncio, me fazendo rir.
— Eu amo! — admiti. — Senti falta de usar calças... Os vestidos são lindos, mas eu prefiro o conforto que a calça tem!
— Como é o castelo?
— Bonito. — suspirei. — É enorme e muito aconchegante, você iria odiar! — Jordan gargalhou, ele odiava lugares grandes. — Ia amar a cozinha, mas odiaria o resto.
— Sempre odiei os burgueses... — ele sorriu, olhando para a paisagem que tínhamos da nova casa. As montanhas e as árvores eram lindas. — Você parece gostar de lá.
— É aconchegante, Jord. — dei de ombros. — Viver naquele lugar não é garantia de sossego e paz. Nunca tenho minha privacidade e todos os meus passos sempre são controlados... Por sorte, eu gosto das pessoas ao meu redor, nem todas, mas a maioria.
— Por isso se aliou aos Selvagens? — arregalei os olhos. Jordan disse aquilo despretensiosamente.
— Não me aliaria aos Selvagens, isso é traição! — falei, torcendo para ele acreditar na minha mentira. — Espere, como você sabe dos Selvagens? O rei esconde isso do povo!
— Acho que já está na hora de você saber a história por trás dos Selvagens, . — encarei-o, assustada. Jordan se virou para mim depois de olhar para todos os lados para garantir que ninguém nos ouvia. — Tem alguma noção do que se trata?
— Me fale logo, Jordan. — falei entredentes.
— Um homem chamado Ambass criou o grupo. — esperei ele continuar falando. — No começo era só um grupo que roubava a Elite, pelo menos era isso que ele queria que todos acreditassem. Ambass foi crescendo, mas o intuito dele nunca foi só o de roubo... Ele queria justiça e igualdade. Ele queria acabar com a monarquia. — engoli em seco. Destruir a monarquia significava destruir Rei Roger e seus filhos. Não me importava em entregar a cabeça da rainha para eles. — O legado dele é muito grande, .
— Como você sabe disso tudo? — já sabia a resposta dele.
— Sou um deles. — Jordan me confirmou o que eu já tinha certeza. Coloquei as mãos na cabeça, grunhindo. Minha família não deveria estar no meio disso, eu já era o suficiente. — Sou um deles muito antes de você nascer, . Meus pais eram Selvagens. O rei vê a causa como um bando de pobres sujos e sem condições... Só que nós somos muitos, fazendeiros, cozinheiros, artistas, professores!
— Você imagina o que pode acontecer com você se for pego? — segurei seu braço, com força. — Pensou em Roddy ou na minha irmã?
— Me afastei da causa quando conheci Kira, . — ele me encarou nos olhos. — Voltei para eles quando um primo de Taim morreu em um ataque.
— Sinto muito. — o soltei.
— Nada vai acontecer comigo ou com sua irmã, muito menos com Roddy e sua família! Eu larguei o restaurante para ficar aqui e protegê-los! — Jordan falou como um sussurro. — Agora sou pai. Descobri um lado animal protetor que eu nunca imaginei que existia.
— Vocês estão seguros aqui. — garanti, era verdade.
— E quem não está, ? — Jordan suspirou. — Southampton foi atacada! Milhares de pessoas estão necessitando de ajuda e só nós ganhamos isso aqui!
— Entendo. — concordei com o que ele queria dizer.
— Não estou sendo mal-agradecido, diga ao rei que eu agradeço pelo cuidado conosco; nada nos falta aqui. — não consegui encará-lo, o ataque foi por minha causa. — Mas e o resto? E aquela gente? O rei daria essa casa para nós se você não estivesse na Seleção? Ele nos notaria?
— Estaríamos no limbo. — falei, controlando uma lágrima teimosa que insistia em cair. Lágrima de raiva. — Rei Roger não é uma pessoa ruim, Jordan. Nem seus filhos! Sua mulher que é.
— São séculos de humilhação, . Chega! Estamos fartos disso. — ele disse, visivelmente irritado.
— Sou a Tigre Dourado. Acredito que você saiba disso. — Jordan me encarou, um pouco surpreso. — Sabe que o ataque não foi por culpa da coroa? Foi por minha culpa. Não sou de defender a realeza, Jord... Só que eu carrego o peso disso! Culpe a mim.
— Não te culpo por ser a imagem da revolução. — ele falou depois de alguns segundos assimilando tudo que eu falei. — Quem diria que Ambass teria uma tetraneta como Tigre Dourado...
— O quê?
— Ambass . — Jordan sorriu, sem jeito. — Seu tetravô. Você é a imagem da Revolução e herdeira do legado dele.
— Jordan, você tem alguma noção do que está falando? Isso é loucura! — falei, chocada, visivelmente abalada.
— Você é a arma, mas também é o alvo, ! Acredite em mim, vamos lutar juntos. Os Selvagens sabem quem você é, e é ainda maior ao descobrirmos que a neta de Amboss é a Tigre Dourado. Vai ter guerra!
— Tem noção do que isso significa? Do peso que eu carrego? — me levantei, inconformada e brava. — Se isso for verdade, eu serei um alvo do meu próprio país! Eu não quero nada disso!
— Nunca menti para você. — ele falou, sério. — Não vejo motivos para não te deixar a par dos fatos, coisa que seus preciosos membros reais não fizeram; nem mesmo o seu pai. — engoli o meu orgulho e vergonha por algo que não tinha culpa alguma. — Sou sua família há mais de doze anos, . Quero o seu bem, nada vai acontecer com você, eu prometo.
— Tenho muita gente para cuidar de mim e posso fazer me cuidar muito bem. — não quis ser rude, mas acabei parecendo esnobe. — Prometa-me que vai sair desse circo, Jordan.
Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça.
— Me prometa! — fui até ele, lhe dando um tapa no peito, estava desesperada. — Pelo seu filho! Pela sua esposa! Pela minha família!
— Você precisa de mim. Prometi que cuidaria de você, cumprirei isso.
— Eu não quero. — falei entredentes. — Eu não preciso. — ele me encarou. — A não ser que você queira que eu fale com a sua esposa sobre tudo isso. Precisarei partir para isso?
— Para uma futura princesa, você está indo bem com ordens e ameaças.
— Isso não me ofende mais. — sorri sem mostrar os dentes. Jordan foi até mim e me deu um longo abraço. — Não precisamos nos arriscar mais. Essa família não pode perder ninguém, seu filho precisa de você. Terei mais sorte se for pega, afinal, ainda sou uma arma.
— Está certo. — ele concordou com a cabeça, consegui respirar aliviada depois disso. — Você protege todo mundo e eu protejo nossa família.
— Você estará protegendo o meu mundo, Jordan.

~


Passei o resto da tarde sentada na sala observando meu irmão correndo com a perna machucada, meu irmão mais velho paparicando meu sobrinho, minha irmã fazendo as unhas e hidratando o cabelo, graças à folguinha merecida, minha irmã mais nova lendo seus livros novos, meu cunhado conversando com o príncipe que estava irreconhecível, minha mãe e Lauretta rindo e cozinhando.
Fiquei pensando nas coisas que Jordan me contou. Não foi muito fácil escutar tudo aquilo e ter que lutar com a possibilidade de alguém próximo ser pego a qualquer instante. Era bizarro acreditar naquilo, eu fui premiada com uma maldita lenda — até alguns dias eu acreditava ser uma alegria, mas depois do ataque em Southampton, decidi que não; era uma maldição — e agora ganhei um cargo familiar. , e eram herdeiros da Coroa; eu era herdeira da morte.
Herdeira da Revolução e Tigre Dourado, bons títulos para alguém que concorre em uma Seleção; perfeita candidata para esposa de um príncipe. Uma traidora.
Minha família me fez questionar coisas importantes. Não sabia mais se valia a pena arriscar a vida de todos que eu amava. A Causa era extremamente importante, mas eu tinha que pensar neles. Ser egoísta com um monte de gente que contava comigo ou ser egoísta com quem me ama? Continuariam me amando depois de eu seguir por um caminho nada bonito? Afinal, eu não sabia o que o destino estava guardando para mim, e para ser sincera, diante ao meu histórico, não esperava coisas boas.
Antes do jantar, resolvi caminhar pela trilha e Kiara foi comigo. Finalmente ela saiu de dentro de casa e ainda me guiou. Paramos na metade da trilha, já que ela não tinha uma boa resistência e era sedentária. Ri ao me lembrar que era do mesmo jeito antes de ir ao castelo.
— Devo me preocupar com você? — Kiara questionou depois que nos sentamos entre algumas pedras, observando uma cachoeira. Encarei a minha irmã, confusa. — Você finge bem.
— Do que você está falando?
— Eu leio e vejo notícias, ... Fora as notícias que você nos conta. — respirei fundo, esticando as pernas. — É muita coisa para uma pessoa só carregar.
— Estou bem. — tirando o fato desse ataque ser minha culpa, nós sermos herdeiras do legado do tetravô revolucionário, ser alvo de várias pessoas, eu ter sofrido um ataque e até agora não saber quem é o responsável... Estou bem. — Você está bem?
—Tenho pesadelo com o papai às vezes. — não encarei ela, falar sobre Merck ainda doía. Acho que sempre iria doer. — Nunca falamos sobre isso, é uma coisa que nos machuca.
— Sinto muito por nunca ter falado com você sobre isso. — falei, depois de alguns segundos em silêncio. Kiara não olhava para mim ou para a cachoeira, ela encarava o chão. — É muito... Difícil para mim. Sei que para você deve ser também, Merck era um monstro, contudo, era o seu pai.
— É vergonhoso, na verdade. — ela deu de ombros. — O homem que eu chamava de pai era um monstro. — Kiki começou a rir, mas eu sabia que não era porque ela achava engraçado. Meus olhos se encheram de lágrimas ao vê-la chorando depois da crise de riso. — Sinto muito por não ter feito nada, por ter fechado meus olhos diante a situação.
— Você era pequena. — comecei a falar. Ela se culpava e aquilo era cruel. — Não tinha o que fazer, eu sempre fazia você sair de perto. Está tudo bem. Estamos seguras!
— Tenho ódio dele, pelo que ele fez com a mamãe, comigo, Kurt... Principalmente com você. Nunca vou perdoá-lo, e isso é horrível, porque eu vou viver com raiva! Não consigo controlar.
— Estou com você nessa. — segurei sua mão. — A imagem dele no Cadafalso ainda vem na minha cabeça, mas eu tento esquecer. Ele mereceu e não sinto o mínimo de remorso! Só penso em vocês tendo que ver e escutar aquilo, sinto muito, Kiki.
— Nossa família é bizarra. — ela secou as lágrimas, rindo. A abracei e ficamos assim por muito tempo. — Tenho orgulho de você. Obrigada por cuidar da gente e por cuidar do nosso povo. Está fazendo o certo.

~


Depois do jantar, minha mãe e Lauretta foram colocar as crianças para dormir, Benjamin teve muito sucesso ficando com Kurt; nem parecia um príncipe, parecia uma pessoa normal e essa era sua melhor versão. Fui para o meu quarto, mas não aguentei ficar por muito tempo, quis ir do lado de fora para tomar um ar, ar frio e muito gelado. O inverno estava chegando.
Peguei um cobertor e fui para a varanda, por sorte, a lua estava iluminando muita coisa, conseguia ver as silhuetas das árvores e escutar as corujas fazendo barulho; havia muitos animais por ali. Não demorou muito para eu ter companhia.
— Vejo que alguém teve a mesma ideia que eu. — Kira apareceu, se sentando ao meu lado. Sorri, oferecendo meu cobertor para ela, que aceitou imediatamente. — Pensando em quê?
— Em como vai difícil ir para o castelo amanhã. — choraminguei, me deitando no ombro dela. — Fazia tanto tempo que eu não tinha esse tempo com todos vocês.
— É bom, não é? — ela sorriu. — Nós estamos felizes de novo, independente da situação; estamos juntos. Logo você se juntará a nós, seja casada com um dos príncipes ou solteira, cheia de pretendentes! — rimos juntas, aquilo ainda me deixava assustada
— Só estou pensando em como vou embora e deixar Roddy. Aquele bebê é claramente um bruxo! Fez com que eu ficasse apaixonada por ele e agora não posso ir embora.
— Meu bebê é uma gracinha! — ela se gabou. — Seu irmão foi um anjo, . Benjamin é muito importante para mim. Salvou meu filho e me salvou.
— Sou muito grata por ele, Ki. — sorri, era totalmente verdade
— Não conversamos sobre o soco que você deu na rainha... Quer falar sobre?
— Foi a melhor coisa que eu fiz naquele lugar. — Kira gargalhou e eu ri junto. — Sério, achei que foi pouco perto do que aquela mulherzinha merece.
— Nós temos um bloqueio para falarmos sobre coisa séria, tipo o Merck ou a morte de Denver. Sinto muito pelo seu irmão, . — suspirei e concordei com a cabeça. — Ele não merecia aquilo. Você me deixou orgulhosa por ter defendido eles dois, foi necessário.
— Não adiantou muito, eles morreram e eu fiquei na cadeia. — dei de ombros, eles nem sabiam da minha cicatriz. — O corpo de Denv ainda está desaparecido, a vadia não quer falar onde está. Acredito que seja minha outra punição.
— Quando você tomar a coroa dela, pode fazer o mesmo. — Kira apertou meus braços. Não precisarei de muito para completar a minha vingança.
— Ah, vocês estão aqui. — me assustei ao escutar a voz do príncipe. Kira e eu nos encaramos. — Estava querendo tomar um pouco de ar. — se explicou, ele não estava com cobertor ou nada do tipo, inclusive, estava sem camisa. — Posso voltar depois.
— Não, fique! — Kira se levantou. — Tenho que voltar para os dois homens da minha vida, depois de Kurt, é claro... — gargalhei, lhe dando um tapa na bunda. — Boa noite, meus queridos!
Observamos a garota sair saltitante, ri daquela menina. sorria e logo sua atenção voltou para a paisagem noturna. Ficamos alguns minutos em silêncio, ambos contemplando a natureza.
— Poderia vir até aqui e se cobrir? Está me dando agonia te ver nesse frio. — o príncipe gargalhou e foi até mim, pegando a coberta e cobrindo seu peitoral. Ele estava gelado, senti ao tocá-lo no peito. — Nem ouse ficar doente! Sua mãe termina de me matar. A não ser que alguma das suas seguidoras tenham tentado, teria problemas de qualquer maneira.
— Não seja boba! — ele sorriu, me trazendo para perto. — Gostei muito daqui.
— Eu percebi, você se dá bem com a natureza e gosta da vida calma. — ele assentiu com a cabeça.
— Posso ser sincero? — concordei com a cabeça. — Esse é o padrão de vida que eu queria. Se pudesse escolher, claramente iria querer a vida afastada das pessoas; viver com os animais e a natureza. Talvez até trabalhar com os animais para não ficar sozinho, mas ficar assim, em paz.
— Uau. — falei, um pouco surpresa. — Totalmente o oposto da sua vida atual.
— É um universo alternativo que eu criei na minha mente. — ele sorriu, triste. — Jordan e Kira tem uma vida perfeita. — eu sabia que a vida dos dois não era perfeita, mas eles se amavam e isso os tornava felizes. — A vida perfeita que eu queria: um emprego que eu goste, uma esposa linda e forte, filhos...
— Você pode ter tudo isso, . — coloquei a mão em seu ombro. — Renuncie a Coroa.
— Você sabe que eu não posso. — eu sei. — Mas e você? Qual a vida perfeita que você imagina?
— Não me via em Southampton, não era o meu lugar. — admiti, aquilo quase doeu. — Não me vejo feliz no castelo, sendo bem sincera. Viver presa não é o que eu desejo. — o príncipe me encarou, como se me entendesse. — Só que também não me vejo aqui. — me referia à nova casa. — Só sei que quero minha família bem e segura, esse é um cenário perfeito. Também quero ver quem eu gosto feliz e espero que você faça o que é melhor para você.
— Você também deve começar a pensar um pouquinho em você. O fardo que você carrega do Tigre Dourado não significa que você precise colocar todos acima de você.
— Sabe tão bem quanto eu que isso é muito mais complicado, . — ele se calou. — Já lutava por isso antes mesmo de saber o que sei hoje. Sei que tenho uma voz e irei usá-la.
— Está certo. — se calou por mais um tempo, pensativo. — Me surpreendeu você não ter surtado quando te contaram sobre a lenda...
— Não surtei? — perguntei, com ironia.
— Não do jeito que nós esperávamos. — o olhar dele começou a me analisar. — Te conheço o bastante para saber que tem algo de errado.
— Ou eu finalmente me tornei uma pessoa controlada.
— Não mesmo. — ele riu, balançando a cabeça. — Acredito que você já sabia de tudo, quis testar a gente... Me surpreende você ter guardado esse segredo.
— Está insinuando mesmo isso? — perguntei, fingindo estar chocada. — Os dias nas montanhas não te fizeram bem.
— É só uma suposição. — deu de ombros. — Estudo as pessoas, você agiu com muita cautela em Demph, fez tudo bem pensado. Seu histórico é de uma pessoa explosiva e agressiva, extremamente brava, mas em Demph você agiu com calma e classe. No final talvez tenha deslizado um pouco, nem tudo é perfeito.
— Quis orgulhar a Robin. — arqueei uma sobrancelha. — O que isso muda?
— Nada, pois não tenho como provar qualquer coisa. — suspirou, vendo que não ganharia nada com aquilo. — Espero que você não faça nada estúpido.
— Estou começando a ficar ofendida com você me acusando assim! — talvez eu já tenha feito.
— O que eu quero dizer... É que eu te conheço e sei que está aprontando alguma coisa! — ficamos cara a cara. — Seja o que for, me conte para eu te ajudar ou ficar preparado para fazer algo idiota.
— Não estou fazendo nada. — ainda. — E se eu estivesse, o que você poderia fazer?
— Ser um aliado.
— Desculpe a sinceridade, mas de todos vocês, você é o último que eu esperaria qualquer apoio. — aquilo pareceu ter atingido ele no peito. — Aqui, você é humano e pensa na sua família imaginária, mas com a sua Coroa na cabeça, você pensa apenas no umbigo da sua Elite! Você não tem uma Causa própria. Você luta pelo que te obrigaram a lutar. Não posso esperar nada de alguém que não pode expressar a própria opinião em público.
— Você consegue se extremamente maldosa. — falou depois de assimilar aquelas palavras. — Isso significa que está aprontando algo?
— Isso significa que mesmo se eu tivesse, não te contaria. — dizer aquilo me machucava, depois de tanta coisa que ele já fez por mim; mas agora eu tinha a obrigação de pensar no povo e não na minha confiança no príncipe que me acolheu e cuidou de mim. De certa forma, estávamos de lados opostos.
— É difícil tentar mudar, me desconstruir e evoluir. — ele falou antes de se levantar. — Pensei que você teria um voto de confiança em mim. Te contar essas coisas me faz parecer um idiota...
— Confio em você. — admiti. Era verdade. — , posso te ajudar a ter a vida que você quer! Só... Preciso de tempo.
— Não pode. Essa é a vida que eu escolhi para mim. — ele sorriu friamente.
— A vida que escolheram para você. — corrigi, vendo que ele ria sem humor algum. — Não duvide do que eu possa fazer.
— Não faça nada idiota tentando. — torci os lábios diante a tanta frieza. — Vá para a sua cama logo, está ficando mais frio ainda e amanhã partimos para Avallon pela tarde. Fique preparada.
— Sim, senhor.

~


O dia amanheceu triste, parecia até que me acompanhava. Acordei com o coração apertado por saber que deixaria minha família. De novo.
Nem consegui dormir depois das conversas que tive ontem. Jordan foi o que mais fez revelações e me deixou extremamente pensativa sobre o meu passado e a minha família; é até engraçado pensar que há quase um ano eu achava que não era nada, agora eu descobri que tenho muitas coisas nas mãos e sou herdeira de uma causa completamente improvável. Apesar de ser totalmente a minha cara.
Minha família resolveu fazer uma caminhada pela trilha, era algo rotineiro para eles agora. Preferi ficar com Roddy e Kurt e passar o resto da minha estadia com eles, não sabia quando os veria de novo.
Quando Roddy dormiu novamente, eu fui para a sala onde Kurt estava deitado brincando com os carrinhos. Sorri, me deitando na frente dele e pegando o carrinho vermelho e jogando ao mesmo tempo que ele. Perdi, obviamente.
— Esse carrinho é o mais bonito e me decepcionou! — falei, fazendo biquinho. Ele riu, me entregando um outro, menos bonito.
— Tenta com esse. — fizemos novamente e eu perdi novamente. Ele usou o carrinho vermelho e venceu. — É uma questão de prática e estratégia! Não é o carrinho, é você.
— Desde quando você começou a ser filosófico?
, use a sua própria estratégia. — Kurt falou, sorrindo ladino. Parecia comigo. — Você faz boas escolhas e é inteligente. — suspirei. Me posicionando e mirando o carrinho na linha de chegada. Pensei em uma maneira de fazer aquele maldito carrinho ganhar e quando descobri, aumentando a velocidade e dando mais impulso, venci. — E você conseguiu!
— Será que cometi um erro em ter um irmão mais inteligente que eu?
— Eu diria que é sorte! — ele riu, se levantando e indo para o quarto dele, não demorou muito para ele voltar com uma caixinha. — Você vai embora hoje. — Kurt suspirou, se agachando ao meu lado. Me sentei na frente dele. — Sabia que você mudou muito? Eu sei que foi necessário, acho que também mudei um pouco desde o papai... Ainda tenho medo de ser como ele.
— Ah, meu bem... — o puxei para um abraço. — Você é um garotinho incrível! Não se parece nada com o seu pai. Espero que você entenda isso de alguma forma...
— Não quero falar sobre ele, espero que esteja pagando todos os pecados no inferno! — travei por alguns segundos, aquilo era tão pesado. — Você precisa salvar as pessoas de gente como o papai, . Elas só vão estar seguras se você ajudar.
— Farei o meu melhor, Kurt. — o soltei do abraço. Ele sorriu, me entregando a caixinha.
— Eu falei que você mudou muito, mas foi para algo melhor. — o encarei, com receio de abrir a caixinha. — Achei isso nas caixas do porão... Pensei que você ia gostar.
— Kurt, não precisava me dar nada! — abri a caixinha, ficando chocada ao ver o pingente dourado de um tigre. Era um colar.
— Pode usar esse colar no lugar desse dos pássaros, ... — ele riu baixinho, pegando o primeiro colar que me deu antes de eu ir para o castelo. — Nem acredito que você ainda usa isso!
— É muito melhor que as joias do castelo. — puxei-o para outro abraço.
— O de tigre combina mais com você.
— Obrigada, Kurt.

~


— Vamos! O carro já está nos esperando. — Benjamin falou, entrando na sala. Fiz uma careta só de imaginar o caminho que eu teria que fazer para chegar lá. — Família ! Foi um prazer, mas está na hora da despedida. — a primeira pessoa que ele agarrou foi Roddy, que estava extremamente fofo. se despedia dos meus irmãos e Lauretta abraçava minha mãe.
Me despedi primeiro de Kiara, que sorriu e me desejou boa sorte; depois de Kurt, que elogiou meu novo colar e falou para eu ser forte e corajosa como um tigre, mal sabia ele que eu era uma lenda; Kira veio aos prantos até mim, não queria que eu fosse embora e eu não queria ir. Roddy estava vestido com uma roupinha verde super fofa, quis apertá-lo.
— Vejo que Kurt te deu o colar... — Jordan falou ao me abraçar. Sorri, segurando o pingente. — Confio em você. Boa sorte, .
— Obrigada. — quando todo mundo foi saindo da casa, restamos só eu e minha mãe. Eu comecei a chorar antes mesmo de abraçá-la. — Mamãe. — choraminguei nos braços dela.
— Ah, finalmente... — ela sorriu, me abraçando. — Minha garotinha ainda está aqui. Você não precisa ser forte o tempo todo. — concordei com a cabeça, secando as lágrimas. Ela encarou o pingente em meu pescoço e suspirou. — Pelo jeito, você já sabe...
— Sei.
— Nunca me envolvi com a Causa, mas seu avô sim. Não temos tempo para falar sobre isso. Enfim... — ela sussurrou, olhando pela janela para ver se ninguém estava por perto. — É algo sério. Temo por você.
— Acha que eu não deveria? — minha mãe passou as mãos no rosto e sorriu sem mostrar os dentes.
— Você já passou por tanta coisa, filha! — suspirou. — Nós já passamos... Como mãe, não quero que você se envolva; como mulher e minoria, eu quero. Não há pessoa melhor para a Causa e Revolução.
— Fiquei confusa. — ri junto com ela. Minha mãe me deu um beijo na testa.
— Estou ao seu lado, querida. Faça o que tiver que fazer.

Capítulo 18

Voltar para o castelo depois do que eu escutei da minha família foi muito mais fácil do que eu imaginava: as informações de Jordan balançaram meu interior, mas a confirmação da minha mãe foi o suficiente para que eu continuasse com os meus propósitos. O caminho que eu levaria não seria bonito, muito menos agradável, mas seria necessário. Me colocaria à frente de tudo e todos para acabar com um mundo injusto e passaria por cima do que fosse preciso. Doía pensar que eu magoaria pessoas que eu amo; como meu pai e meu irmão irão reagir quando verem que estou do lado oposto da luta deles? Como vai ficar quando eu tirar sua Coroa e jogá-la em uma fogueira?
Jordan falou algo que martelava em minha mente constantemente: "Você é a arma e ao mesmo tempo é o alvo". Agora fazia sentido. Estava do lado da coroa e do lado dos Selvagens e para ambos eu era a arma e o alvo. Para o Rei, eu era uma arma para controlar o povo e um alvo se fosse contra, além de ser um alvo dos inimigos; para os Selvagens, eu era uma arma para controlar a Coroa e um alvo se fosse contra. Eu era uma marionete dos dois lados. Não permitiria isso. Eu ditaria as regras.
Havia chegado em meu quarto há um tempo, mas não vi Tahine e Olívia. Era tarde da noite e Lauretta estava tão cansada que resolvi lhe dar sua folga necessária. Comecei a fazer anotações do que eu descobri em meu diário que escondia debaixo do meu colchão; nem mesmo as minhas criadas sabiam daquilo. Eu comecei a escrever depois da morte de Denver. Me surpreendi ao achar nas últimas folhas, recados dos Selvagens. Ophelia e Oliver sabiam?
Olhei em volta, receosa por me sentir observada, mesmo dentro do meu próprio quarto, e comecei a ler.

"Atualização - 20 de maio de 3000: Primeiro dia sem o rei. - Você e seu povo foram para Demph e nós ficamos de olho na situação por aqui; - Ataques controlados no Oeste. Oliver"
"Atualização - 21 de maio de 3000: Segundo dia sem o rei. - Ataques no Leste, região de Taim, mais de quinze mortes; - Recrutamento de jovens para a guerra. Ophelia"
"Atualização - 22 de maio de 3000: Terceiro dia sem o rei. - Dessa vez atacaram o Norte, muito pior do que os outros ataques. Oliver"
"Atualização - 23 de maio de 3000: Quarto dia sem o rei. - Vocês estão voltando, aguardamos seu retorno para falarmos sobre nossos objetivos para com o recrutamento de jovens que irão morrer nessa guerra ridícula. Oliver"
"Atualização - 24 de maio de 3000: Já com o rei e sem a cabeça da Tigre Dourado. - O que aconteceu? Você não voltou. - Estamos orgulhosos da sua atitude em Demph, mas não foi o que combinamos. Espero que o povo não se prejudique por suas atitudes impensáveis. Ophelia"
"Atualização - 24 de maio de 3000: segundo dia sem a Tigre Dourado. - Não precisamos da sua autorização; - vamos atacar um dos comboios que vão levar os jovens para o campo de batalha. Oliver"
"Atualização - 25 de maio de 3000: Terceiro dia sem a Tigre Dourado - Algumas coisas deram errado. - Conseguimos resgatar vários homens e mulheres. A rainha ordenou que usassem jovens de 16 a 26 anos para o recrutamento, ela disse que as mulheres estão sendo treinadas e que devem usar isso; - Oliver e outros três homens foram pegos. Ophelia"
"Atualização - 26 de maio de 3000: Quarto dia sem a Tigre Dourado. - Escutei que você está com a sua família; - Deve ser muito bom poder curtir sua felicidade enquanto tem gente sofrendo. Egoísta! - Oliver morreu por não falar nada; - Oliver não falou nada, mas um dos homens deduraram em troca de livramento de cadeia; - está se organizando para ir atrás do grupo, espero que volte antes que a gente o mate. E mate quem quer que seja que ousar encostar nos nossos. Ophelia"

Meu sangue subiu e desceu várias vezes com o que eles escreveram, mas não pude evitar uma surpresa e certa tristeza por Oliver; ele morreu pela causa. Não sei o que faria com Ophelia se a encontrasse nesse exato momento, talvez a abraçaria pela sua perda e depois lhe daria um tapa por dizer logo para mim que estava sendo egoísta. Eu não merecia um descanso? Não merecia ver a minha família?
Leigh-Anne usando minhas próprias palavras contra mim; usando o meu projeto para me desestabilizar e fazer com que as mulheres lutassem junto com os homens em busca de igualdade. Isso não ficaria assim, ela não iria me tirar do sério; mas eu a tiraria do sério e aquela máscara iria cair. Não era possível todos eles caírem na lábia dela. estava planejando atacar o grupo e aquilo era grave, eu teria que intervir e faria isso logo.
— Ah, finalmente a princesinha voltou. — me assustei ao sair do banheiro e encontrar a própria Ophelia sentada em minha cama. Ela estava usando uma roupa preta desgastada e sua expressão não era das melhores.
— Não estava de férias, Ophelia. — respondi, tirando a toalha da cabeça e secando meu cabelo.
— Vejo que leu nossas atualizações! — ela falou, folheando o diário.
— Sim. Sinto muito pelos homens e pelo Oliver.
— Não sente nada! — ela riu, se levantando e jogando o caderno longe. Arqueei a sobrancelha, encarando a garota. — Você se aliou à causa para quê? Não estava aqui quando tinha que fazer o mínimo! Você só tinha que tirar Oliver de lá.
— Sei exatamente qual é a sensação do luto, Ophelia. — respondi, colocando as mãos atrás das costas para não perder o controle — Sinto muito por eu não ter ajudado. Precisava de um tempo com a minha família, ainda sou um ser humano e ainda sou digna de momentos de paz!
— Você é egoísta! — ela rosnou, batendo em meu ombro. — Está fora da Causa! Eu mesma farei questão de te denunciar ao rei. Esse não é o seu lugar e...
— Vai estragar todo o movimento? Quem é a egoísta aqui? — ri sem humor algum e ela fez careta. Segurei seu braço com força antes que ela pudesse sair do quarto. — Eu sei muito bem o meu lugar, garota! Assim como todos vocês sabem. Não sou apenas a Tigre Dourado ou uma mera selecionada! Sou herdeira de Amboss e tenho total direito de absolutamente tudo que envolva os Selvagens. — me aproximei do rosto dela, estourando de raiva. — Eu não sou a sua marionete, avise os seus colegas. — larguei seu braço, ela parecia tremer. Caminhava devagar até a varanda. — Ah, Ophelia!? — a chamei. — Nunca mais ouse fazer com que eu me sinta culpada de algo que eu não tenho culpa alguma. Vocês foram burros ao atacar os Comboios! Nunca mais faça com que eu me sinta indigna de ter um momento em paz com as pessoas que eu amo! — ela concordou com a cabeça. Caminhei até ela, ficando cara a cara novamente. — E se você encostar um dedo no ou nos príncipes, eu mesma acabo com você e seja quem for que ousar se meter no meu caminho!
— Você tem que sair de cima do muro, querida. — ela sorriu com deboche antes de sair pela escuridão.
Ódio.

~


! Como foi a viagem especial? — tremi de raiva ao escutar a voz dela atrás de mim. Meu café da manhã foi muito mais prazeroso sem ter a companhia da cobra.
Todas as outras Selecionadas haviam saído, eu estava sozinha com a família real. Todos me encaravam com sorrisos nos lábios, aparentemente, eu fiz falta no castelo; nem sequer me provocou desde o momento que me viu.
— Boa. — dei de ombros, sorrindo. Leigh-Anne se assustou com a minha atitude, todos se assustaram na verdade.
— Que bom, sua família está bem? — ela perguntou, se aproximando.
— Sim. — me levantei da mesa. — Agradeço a vocês pela hospitalidade.
— Não há de que, querida! — colocou as mãos em meus ombros. Controlei uma careta com aquilo.
— Mas... Vamos voltar para realidade! — me virei para os homens. — Diante ao meu posto, acredito que tenho direito a reuniões destinadas ao povo! — arqueou uma sobrancelha. — Como vocês viram em Demph, não sou uma garotinha de recados e muito menos a marionete de ninguém!
— Não estou entendendo, ... — falou comigo pela primeira vez desde que me viu.
— Exatamente o que vocês entenderam! — falei com calma
— Está certo, a reunião começa em duas horas. — deu de ombros, se levantando da mesa. — Eu te busco para irmos juntos.
— Você nem participa das reuniões! — resmungou. deu um tapinha no pescoço do irmão.
— Shhh! Agora quero participar.
— Obrigada, ! — escondi um sorriso. Olhei para todos, inclusive para a Rainha, e, antes de sair, sussurrei em seu ouvido. — Esse é um jogo onde dois jogam, majestade... Que comece a competição! — dei uma última olhada para os olhos dela. Seu maxilar travado já dizia muito sobre o que eu acabara de fazer.
Fiz o meu treinamento e, por sorte, eu havia me aliviado muito, minha raiva passou e eu fiquei mais calma. Meu pai estava muito animado com o meu retorno e não me deixou sozinha um segundo; comecei a ficar receosa com a nossa aproximação pública, afinal, nem todos sabiam que eu era filha dele. Rever minhas amigas depois desse fim de semana fora muito legal também; Summer, Beth e Sam sempre me deixavam animada. Courtney e Lizzie já não faziam o mesmo, só sentia desgosto.
Quando me retirei do Circuito, fui direto para o meu quarto. Lauretta e Taihne não estavam, Olívia estava passando algumas roupas; sua barriga estava prestes a explodir, Peyton com certeza seria um balãozinho. Sorri com a cena, não via a hora de conhecer minha afilhada. Me arrumei rapidamente, pois estava prestes a chegar para me buscar. Depois de quase meia hora, o príncipe apareceu todo sorridente e animado.
— Vim buscar a Tigre Dourado, já que ela deu uma intimada nos membros da realeza. — comentou, me fazendo rir. — Sério, se antes você já era ousada... Agora que sabe dos seus direitos, será ainda mais!
— Está decepcionado, alteza? — aceitei seu braço. balançou a cabeça.
— Nem um pouco. Não esperava menos de você. — sorri sem mostrar os dentes e abaixei a cabeça. Será que ele continuaria ao meu lado quando descobrisse que estou aliada ao outro? — Como foi com sua família?
— Incrível! — suspirei e encarei o príncipe. — Muito obrigada por ter me ajudado a vê-los!
— Sabemos que é importante para você, ... Todos concordamos que você precisava. — ele segurou minha mão. Caminhávamos de mãos dadas pelos corredores do castelo. — Como o pequeno Kurt está?
— Com a perna enfaixada e pulando igual um macaco. — gargalhou. — Roddy é um bebê tão lindo! — falei, toda apaixonada. — Ah, deixei a foto junto com a minha bolsa no quarto! — resmunguei, ao me tocar que não estava mais com a foto da minha família comigo.
— Me mostre depois. — começou a falar sem parar sobre os últimos dias sem mim. — Confesso que ficar longe de você é ruim demais.
— Ah, é?
— Sim. — deu de ombros. — Fiquei sem as minhas provocações diárias, cinquenta porcento do entretenimento do meu dia estava vago!
— Quando eu acho que você vai ser fofo, você estraga! — lhe dei um empurrãozinho, rindo. — Senti sua falta também, monstrinho.
— As reuniões sempre são chatas, olha o que eu estou fazendo por você! — arqueei uma sobrancelha, segurando uma risada da falsa cara de ofendido dele. — E eu que sou o monstrinho?
— Por que você está indo, então?
— Não quero te deixar sozinha. — deu de ombros. — Sei que você sabe se defender muito bem, mas precisa de alguém que entenda a língua deles para te ajudar a entender as coisas também!
— É muito bom saber que você quer me ajudar, . — ele sorriu e apertou minha mão
— Somos uma dupla, certo? — torci o nariz, fingindo que não concordava com aquilo; o príncipe riu, me dando um empurrãozinho. — Isso vai lhe custar um encontro!
— Nós não temos tempo para encontros... — ri, balançando a cabeça. — Mas eu adoraria, Aykroyd.
— Farei acontecer, tigrinha.
A sala dessa reunião era mais afastada, tínhamos até que atravessar o jardim para chegar no local. Quando estávamos na metade do caminho, escutei Olívia gritando e correndo com aquele barrigão até mim. Arregalei os olhos, querendo matá-la.
— Alteza. — ela cumprimentou , que estava tão confuso quanto eu. Olívia estava eufórica e com as mãos nas costas. — , você esqueceu sua bolsa! — minha amiga me entregou o objeto, me fazendo querer abraçá-la. — Você não fica sem ela, achei que iria precisar e...
— Ah, Liv. — a puxei para um abraço. — Nunca mais faça isso, você não pode se esforçar muito!
— Deixe disso, ! — ela riu, colocando as mãos na barriga. — Peyton está animada depois dessa corridinha.
— Tente manter a bebezinha dentro da barriga por mais uns dias... — comentou, fazendo ela rir.
— O forninho é forte!
— Com certeza é. — concordei, sorrindo.
Quando menos esperávamos, escutamos a sirene de emergência do castelo ser acionada, um barulho insuportável. entendeu mais rápido do que eu o que estava acontecendo. Escutei tiros e arregalei os olhos, grudando rapidamente em Olívia, que gritava. O príncipe tratou logo de tentar proteger nós duas e eu tremia tanto que nem conseguia gritar. Os guardas vieram até nós e nos guiaram até um dos abrigos do lado de fora. Quando a porta fechou, eu encarei , que estava tão assustado quanto eu, só que mais controlado. Olívia se sentou na cama do abrigo e respirava fundo enquanto tentava controlar o choro e os gritos.
— Um ataque? — perguntei, chocada. balançava a cabeça, nervoso.
— Eu sabia que eles estavam chegando... Os sinais estavam na nossa cara! — ele sussurrou, passando as mãos no rosto. Encarei-o, confusa, e ele tratou de explicar. — Vantron atacou o sul recentemente, eles começaram com Taim, foram para Southampton e estavam subindo para a capital, os sinais estavam claros, a reunião de hoje era para falar sobre as medidas e...
— Merda. — resmunguei, puxando meus cabelos. Aquilo havia ficado ainda pior. — Nós temos guardas suficientes para detê-los.
— Espero que sim. Espero que todos estejam seguros. — ele abaixou o olhar. Também tinha a mesma preocupação que ele.
— Eu também, . — segurei sua mão, aparentemente aquilo me acalmava, assim como ele. Respirei mais aliviada por saber que ao menos duas pessoas que eu amo estavam seguras.
— Está pegando muito na minha mão ultimamente... — revirei os olhos, segurando uma risada. obviamente não perdia a oportunidade de me provocar. — Será que temos aqui uma recaída para o melhor dos irmãos?
— Você é um idiota. — soltei sua mão, não conseguindo mais segurar a risada.
— Eu só trabalho com as verdades, meu bem. — deu uma piscadinha, me fazendo soltar uma careta. — No fim de tudo isso, você vai continuar de mãos dadas comigo... E eu não estou falando só do ataque. — estava prestes a retrucar sua provocação, mas meu olhar encontrou Olívia, sentada no canto da sala, respirando fundo e prestes a explodir; suas lágrimas me davam desespero.
— Vai ficar tudo bem, Liv. — corri até ela.
— Estou com medo, . — os olhos dela brilhavam e eu me controlava para não chorar com ela.
— Não fique, estamos seguros! — respondeu imediatamente.
— Eu sei que nós estamos, mas e Peyton? — ela me encarou.
— Está segura junto com você. — falei como se fosse óbvio. Minha resposta foi refutada quando ela deu um grito de dor, colocando a mão na barriga. — Liv?
— Merda... — correu até nós e se ajoelhou na frente dela. — Você disse que o forninho era forte! — brincou, tirando uma risada da mulher.
— Não é resistente a ataques, alteza... — arregalei os olhos, procurando alguma ferida nela, só que não vi sangue algum; muito pelo contrário, água escorria de suas pernas e eu senti meus pés se molhando um pouco pela nossa proximidade. — Acalme-se, ! Peyton está chegando mais cedo.
— Olívia! — segurei suas mãos, sem saber se ria ou se chorava. — No meio de um ataque? Peyton não tinha um jeito melhor de aparecer?
— Parece com a madrinha dela... Aí! — ela fez uma careta de dor. — Dr. Poirot pediu para eu ir diretamente até ele quando sentisse contrações mais fortes! — me encarou. — Estou com dores a manhã toda, mas não achei que fosse ser hoje! Malditos ataques!
— Quanto tempo você acha que vai aguentar? — perguntou, estava tão assustado quanto nós. — Estamos em desvantagem no abrigo aqui de fora.
— Daremos um jeito. — respirei fundo, prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo e amaldiçoando o meu vestido por ser pesado. — Agora que a bolsa estourou, é uma questão de tempo para a Peyton chegar! — me levantei. — , tente esquentar água, vamos colocar panos quentes na barriga dela, vai aliviar a dor um pouco.
— Vocês já fizeram algum parto? — ela perguntou, um pouco receosa.
— Já vi alguns... — respondeu, indo até o pequeno fogão que tinha ali e fazendo o que eu pedi. — Ajudei Poirot uma vez... Acho que vou vomitar. — ele colocou a mão na boca, me fazendo rir junto com Olívia. Palhaço.
— Ajudei no parto de Kiara e Kurt, Liv... — segurei sua mão. — Mas estou nervosa.
— Tudo bem, vai dar tudo certo, vamos ficar bem... — ela respirava fundo e acariciava a barriga. Em seguida, deu um grito de dor.
Comecei a tirar alguns cobertores da estante que tinha ali e coloquei no chão para que ela não ficasse tão dolorida e evitasse uma infecção, afinal, a situação precisava de total cuidado. Ajudei Liv a se sentar com uma almofada em suas costas, aquele parto seria a coisa mais complicada que eu faria na vida e rezava para que algum guarda aparecesse e a levasse para Poirot.
Depois de uns quinze minutos...
— Pronto, . — apareceu ao meu lado com a água, juntos nós fizemos o meu plano inicial. Olívia estava quieta, controlando sua respiração.
— Me empresta o seu relógio. — ele entregou sem nem pensar duas vezes. — Temos que contar as contrações.

(Coloque para carregar: Daughter – Shallows)

— Sou obrigado a carregar o paiger, . — segurou meu braço, me fazendo parar por um minuto. — Já avisei que nosso caso é grave e logo alguém virá com Poirot! — meus olhos estavam marejados, eu não suportaria errar com Olívia. — De qualquer modo, você fará um bom trabalho.
— Espero que eles venham logo. — encaramos Olívia, que gritava mais uma vez, e, aparentemente, os gritos estavam mais fortes e os intervalos estavam se encurtando. Corri até a prateleira com os kits de primeiros socorros e joguei tudo em cima da mesa. Na prateleira tinha também uma garrafa de vodca, dei de ombros e coloquei na mesa também.
— O que você... — virei um gole gigante que queimou minha garganta. Fiz uma careta e entreguei para que ele também tomasse; não pensou duas vezes e fez o mesmo que eu. — Queria poder oferecer para Olívia um gole disso também.
— Com certeza ela quebraria a garrafa na sua cabeça. — ri, pegando a garrafa e molhando as minhas mãos. — Precisamos colocar a mão lá dentro...
— Não consigo. — ele sussurrou
— Mas você ajuda Poirot nas missões! — eu quase gritei com ele.
— É diferente quando é com alguém que eu gosto! Não sei explicar... — escutamos Olívia rir pela primeira vez.
— Que honra escutar isso, alteza! Mas eu não estou mais aguentando! — ela gritou novamente.
— Você é uma marica! — juntei as sobrancelhas, vendo o garoto dar de ombros e ir até minha dama, ficando atrás dela e dando um suporte para que ela não se sentisse sozinha. Suspirei, dando mais um gole no líquido horrível e indo até minha amiga.
— Se você sentir a cabeça é uma questão de minutos para Olívia começar a empurrar! — me alertou. Concordei com a cabeça e olhei para Liv, que me deu permissão para o que eu faria a seguir. Tinha muito sangue quando ela abriu as pernas, me assustei com aquilo, mas pediu para que eu tivesse calma e continuasse com o procedimento. — Sentiu? — perguntou, enquanto Olívia chorava de dor. Concordei com a cabeça. — Certo. Olívia? — ele a chamou. — Está na hora!
— Estou pronta, Liv. — falei e ela concordou com a cabeça. — Empurre! — achava que Olívia havia gritado antes, mas nada se comparava com aquilo. Ela apertava a mão de e parecia que estava esmagando seus dedos, mas ele nem ligava. — De novo! — ela repetiu isso umas três vezes.
— Nã... Não consigo! — ela disse, aos prantos.
— Consegue sim! Peyton está chegando, Liv... Vamos lá! Vamos de novo! — a incentivou e quase me perdi naquela cena: Aykroyd sendo um ser humano sensível e amoroso. Me lembrei dos meus primeiros dias no castelo, onde eu fiquei com ódio dele por ele ter tratado Olívia mal, e agora ele estava fazendo o parto dela. mudou tanto.
— Olívia, ela é loirinha! — falei, emocionada, mesmo com o sangue na cabeça da bebê, eu podia ver os fios clarinhos. — Continue! Estamos quase lá. — ela gritou novamente e dessa vez parecia que havia usado toda sua força.
Peyton nasceu em meus braços, pequenininha e gorduchinha. Não sabia diferenciar minhas lágrimas do suor que escorria do meu rosto e minha risada de alívio foi recebida com sucesso ao ver me encarar da mesma forma. O choro da bebê foi o suficiente para respirarmos aliviados. Enrolei ela em um dos panos limpos e entreguei para Olívia que, mesmo cansada, pegou sua filha, sorrindo. Ela não chorava mais de dor, suas lágrimas eram de felicidade. Me sentei ao lado de que, com a mão livre, pegou minha mão para ele.
— Muito bem. — ele sussurrou, encostei minha testa na dele, sentindo a calma que eu precisava. — Está tudo bem, .
No minuto seguinte, a porta do abrigo se abriu. Não tive tempo nem de me assustar com aquilo, Benjamin, Dave e Poirot entraram como um furacão, e atrás deles vinha uma maca com alguns enfermeiros.
— Céus! — Ben colocou as mãos no peito ao ver que meu vestido estava cheio de sangue.
— Estou bem. — falei rapidamente.
fez o parto da minha filha! — Olívia falou, sorrindo fraco. — Dr. Poirot... me salvou e salvou Peyton!
? — ele perguntou, confuso com a cena toda. Os ajudantes de Poirot logo trataram de colocar Olívia na maca, ela não largou a filha em momento algum.
— É verdade, ela fez tudo e fez com calma... — se levantou e me abraçou de lado. — Estou orgulhoso, inclusive. Um talento e tanto para a medicina.
— Eu também! — ele sorriu, me encarando, e logo depois saiu com Liv. Meu pai veio até mim e me deu um abraço.
— Que loucura! — Dave riu. — O primeiro parto a gente nunca esquece!
— Não mesmo... — Benjamin sorriu, se lembrando de Roddy. — Bem-vinda ao clube, irmãzinha.
— Como estão as coisas lá fora? — questionou.
— Alguns feridos, mas nenhum dos nossos morreram. Pegamos alguns Vantronis, o resto deles foram massacrados ou fugiram. — pude ver que meu pai tinha muito sangue em seu uniforme. — Seus pais e seus irmãos estão procurando por você, acho melhor irmos. — concordamos com a cabeça e seguimos meu irmão e meu pai.
— Uma pena eu não poder fazer o que eu quero fazer agora. — sussurrou, me fazendo arquear uma sobrancelha. Benjamin e Dave conversavam à nossa frente enquanto atravessávamos o jardim. Dessa vez, nem consegui me incomodar com os corpos caídos no chão, monstros. Mereciam aquilo.
— O que você quer fazer?
— Te dar um beijo, oras! — segurei uma risada para não chamar a atenção do meu pai e ele se enfiar no meio de nós dois. — Você acabou de ficar mil vezes mais sexy e atraente depois de realizar esse parto! E eu achava que era impossível você ficar melhor...
— Pena você ser uma marica, Aykroyd... — fingi uma cara esnobe, dando de ombros. — Com certeza esse beijo cairia muito bem!
— Como é que é? — ele virou para mim, claramente ofendido com a minha afronta. — Eu provavelmente vou morrer depois disso, mas ao menos morrerei feliz!
— O que...
Senti seus lábios grudando nos meus rapidamente, não dando tempo de tentar fugir ou até mesmo protestar. A princípio, arregalei os olhos por alguns segundos, mas logo relaxei e não me importei com mais nada: nossas línguas se encontraram de forma leve e calma, era um beijo cheio de afeto e vários outros sentimentos; não achava que estava com saudade de até encostar na boca dele novamente. Hoje conheci um lado do príncipe que não sabia que existia, hoje ele me provou que era uma outra pessoa, que mudou para melhor e essa era sua melhor fase. Não só eu fiquei mil vezes mais atraente e sexy, como ele falou, também reacendeu uma chama em mim.
E eu confesso que não queria que ela se apagasse.

Capítulo 19

— Ah, ! — Olívia sorriu assim que me viu entrando na ala da enfermaria.
Já era noite e havia se passado um tempo desde o abrigo e desde o ataque. O castelo estava mobilizado com o que aconteceu nas últimas horas, ninguém estava preparado para isso e tínhamos medo de que algo pior acontecer. Vantron atacou para matar. Não conseguiram, alguns fugiram e outros foram mortos, mas conseguimos capturar pelo menos uns soldados inimigos. foi atrás da sua família depois do beijo que ele me deu na frente do meu pai e do meu irmão, o único lugar seguro era atrás do rei Roger — e eu achava isso cômico. O ato do beijo foi inesperado e nada romântico, afinal, havia corpos nos jardins. A cara que Dave fez foi impagável, nunca o vi fazendo uma careta tão engraçada, seu queixo quase tocou a grama. Benjamin sorria ladino, mas logo voltou para a compostura de irmão ciumento, mesmo a gente sabendo que ele torceu por isso. Meu pai nem gritou ou surtou — não na minha frente, pelo menos —, ficou paralisado, sem acreditar na cara de pau do príncipe. E depois de tudo, eu segui para um lado e seguiu para o outro, sem que desse tempo para alguém falar algo.
Fui para o meu quarto e encontrei Lauretta e Taihne com olhos cheios de lágrimas: o ataque foi assustador e elas não sabiam de Olívia; por sorte, eu sabia exatamente onde nossa querida amiga estava. Enquanto eu tirava o sangue de minhas mãos e trocava de roupa, as duas preparavam uma malinha para a nossa mais nova integrante do time: Peyton. Ainda nem acreditava que fui capaz de ajudar no nascimento dela. Eu a protegeria com todas as forças.
— Como a mamãe está? — sorri, me sentando ao lado dela.
— Cansada... — ela riu, segurando minha mão. — Mas totalmente grata e feliz. Obrigada por hoje, !
— Não me agradeça. Nunca me perdoaria se acontecesse algo com você ou com Peyton! — suspirei, passando a mão livre na testa.
— Nós só estamos bem por sua causa! — Liv falou, séria. — Você e foram cruciais nas nossas vidas e quero que saibam que eu sou grata por isso!
— Tudo por você, Liv. — lhe dei um abraço. Estava grata por elas estarem bem, mas sabia que as coisas eram perigosas agora. — Quero te pedir uma coisa...
— Você pode pedir tudo, ! — ela riu, se ajeitando na cama.
— Você precisa ir embora do castelo. — sua expressão era confusa, ela não entendia o que eu estava dizendo. Peguei Peyton no colo e meus olhos se encheram de lágrimas, mas não deixei de sorrir quando a bebê, que dormia, deu um sorrisinho — Você, seu marido e Peyton precisam ficar em um lugar seguro!
— Nós não podemos sair daqui! Você sabe disso, ! — os olhos arregalados mostravam que ela estava com medo. Não era diferente de mim — Raul não pode nem vir aqui ver Peyton! Terá que esperar até eu ser liberada e...
— Você sabe melhor do que ninguém que as pessoas ligadas a mim correm perigo a todo instante! — acariciei a bochecha de Peyton. — Eu sou observada vinte e quatro horas, sou o alvo de Vantron. Southampton foi atacada para me atingir! É isso que acontece com quem fica perto de mim, Liv, você sabe disso. — senti uma lágrima escorrer em meu rosto. — Não se preocupe com nada além de cuidar da sua família!
— Eu jamais te culparia de algo. — concordei com a cabeça, sorrindo, triste.
— Mas eu me culparia, Olívia! — suspirei. — Enquanto as coisas não melhorarem por aqui, não quero Peyton no radar inimigo, nem você! — dei um beijo na testa de Peyton e a entreguei para Olívia. — Vou mandar vocês para a casa da minha mãe.
— Não quero incomoda...
— É uma ordem, Olívia! — ficamos por uns segundos encarando uma à outra, mas caímos na gargalhada.
— Foi quase... — ela secou uma lágrima, rindo. Eu estava igual a ela. — Mais um pouquinho de autoridade e você convence alguém! — senti sua mão pegando a minha enquanto ela encarava a filha, completamente apaixonada. — Está bem, . Eu aceito! — abracei ela, respirando aliviada por ter conseguido o que eu queria. — Por pouco tempo e pela Peyton! Mas nós vamos voltar quando tudo acabar, e tenho uma condição! — arqueei uma sobrancelha, esperando a troca que ela queria. — Só vamos depois que fizermos uma pequena cerimônia de batismo para Peyton! Você e serão os padrinhos.
— Fechado. — sorri, animada. — Daqui três dias, vou preparar tudo. — me levantei. — já sabe que será padrinho?
— Ele veio aqui antes de ir atrás da família dele. — ela sorriu. — Estava preocupado e babando em cima da minha filha... Quase chorou quando eu pedi para ele ser padrinho, acredita?
— Um homem sensível, eu diria. — gargalhei. Olhei para trás e me assustei com Poirot acompanhado de um homem, mas pela expressão de Olívia e a expressão dele, sabia quem era.
— Meu amor! — Raul falou, indo em direção às duas. Ambos choravam e eu tive que me segurar para não fazer o mesmo. Retomei a compostura e deixei os três a sós. Poirot me acompanhava, sorrindo, descontraído.
— Como ele conseguiu permissão? — perguntei, mas Poirot me encarou com um risinho e eu entendi tudo. — Ah... , óbvio. — ri junto com ele. Somente conseguiria mexer nesse tipo de coisa.
— Fez um belo trabalho hoje, ! — ele falou depois que saímos da sala onde Olívia estava. — Leva jeito para medicina, sabia?
me ajudou. — respondi, sentindo minhas bochechas queimarem.
— Sim, mas você quem fez o trabalho duro e, graças a isso, Olívia e Peyton estão bem e vivas! — concordei com a cabeça, escutando ele dizer tudo. — E fez com calma, tudo certinho. Para uma pessoa que não faz isso com frequência, lidou muito bem! Estou orgulhoso de você. — Obrigada, dr. Poirot! — respirei, aliviada.
— Não deveria falar isso, mas eu acho que perder um talento desse é horrível! — ele riu e se sentou ao meu lado. — Acredito que se você fosse uma selecionada comum, isso seria uma coisa horrível. Só que você não é comum. Tenho um convite para você, se estiver interessada!
— Que convite? — questionei.
— Você já pensou em atuar na área médica?
— Toda criança passa pela fase de querer ser médica! — ri, balançando a cabeça só de lembrar a burocracia que seria para ter um diploma e me formar em alguma coisa. Sempre foi um sonho distante. — Me especializar em algo era algo distante, Poirot... Eu não teria condições de bancar meus estudos e nenhum profissional iria querer me oferecer uma bolsa e me ter como aprendiz, ainda mais na medicina!
Dr. Poirot juntou as sobrancelhas e suas ruguinhas apareceram. Até os cachinhos brancos caíram em sua testa.
— Odeio isso tudo. — o médico admitiu, suspirando — Por sorte, você vai arrumar isso logo.
— Se não me matarem antes. — rimos juntos do meu comentário, mesmo não sendo engraçado.
— Bom, minha querida... Minha proposta é que, se você se sentir interessada nessa área, eu me comprometo a ser o seu mentor e te formar como médica. — arregalei os olhos, surpresa demais com aquilo. Era incomum um profissional de qualquer área querer ter um aprendiz, ainda mais com a minha idade. — Sabemos que você bancaria os estudos e daria conta de tudo.
— Uau. — foi a única coisa que consegui falar. Estava tão chocada que era visível. — Eu... Nossa!
— Não precisa responder nada agora, ! Pense com calma... Você é um diamante bruto, pronto para ser lapidado. — ele segurou minha mão por alguns segundos antes de se levantar para me deixar sozinha. — Meu convite está feito. Daqui alguns dias eu irei em uma missão para cuidar de uns feridos na guerra, poderá ser um bom lugar para aprender um pouco.
— Obrigada, Poirot. Vou pensar em tudo isso!

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Estava tendo mais uma aula de etiquetas e história com uma mulher que não conhecia, já que Robin não estava disposta para cumprir o cronograma dela. Maldito câncer. Mesmo depois do atentado, a realeza não parou com os objetivos do dia, queriam mostrar que estava tudo bem e manter o controle. Todos estavam assustados; eu nem conseguia respirar direito, com medo de descobrir que alguém se machucou. Estava preparada para coisas ruins, acho que essa era a coisa certa a fazer, ainda mais se baseando na minha vida — difícil ser uma pessoa pessimista.
Poirot me deixou pensativa, fazendo com que aquela aula ficasse ainda mais chata. Avallon favorecia quem tinha dinheiro, isso nunca foi um segredo. Se eu não tivesse no castelo, não teria uma oportunidade de me formar em alguma coisa; mesmo sempre sonhando em ter um diploma. A minoria dependia da elite para ter algo no currículo — a forma de tentar enganar o pobre fazendo com que ele acredite que a Elite é “caridosa”, quando, na verdade, eles não fazem nem o mínimo —, só que eu sempre soube que eles nos usavam para criar um exército de escravos.
Seria uma oportunidade incrível e única atuar ajudando as pessoas, afinal de contas, eu nasci pra isso e estava destinada a cuidar dos meus. A luta se encaixava; contudo, não seria uma coisa fácil: eu ainda estava em uma seleção e seria complicado fugir disso — tanto pelo “contrato”, quanto pelo meu pai, o qual jamais me deixaria ir para uma área de guerra sendo quem sou.
— Assinem esse papel de presença obrigatória. — a mulher falou, entregando uma folha para Sam. Eu estava na última fileira. — Major Walker quer esse relatório.
Depois que todas assinaram, o papel chegou em mim. Meus olhos bateram em duas caligrafias que chamaram a minha atenção: a de Sam e a de Lizzie. Meus dedos travaram quando a lembrança de Kendrick apertando meu pescoço veio com tudo, minha respiração quase que não saiu. Controlei minhas emoções para que eu não perdesse a postura. A carta de suicídio que escreveram para mim tinha uma caligrafia conhecida, eu não lembrava de onde ou de quem; essa lista de presença me fez recordar que ainda era o alvo de alguém próximo.
Como se não bastasse os meus problemas como Tigre Dourado, eu também tinha que me importar com problemas internos do atentado contra a minha vida.
Não queria acreditar que Sam faria algo desse tipo, não assim e não comigo.
— Pronto, meninas! Estão dispensadas da aula, amanhã voltaremos... Espero que Robin melhore para retornar! — a senhora caminhou até mim, que permaneci estática. — Tudo bem, querida?
— Sim. — respondi rápido, dando o meu melhor sorriso. Olhei para a porta e vi Benjamin esperando. Peguei minhas coisas e fui até ele, mas a professora o chamou.
— Ah, entregue para o seu pai, por favor? Obrigada!
— Claro! Boa noite. — ele sorriu e encarou Beth, que conversava animadamente com Summer. Arqueei uma sobrancelha, lhe dando um pisão no pé e o fazendo andar. — Ei! Maluca!
— Maluco é você! — retruquei, caminhando e o puxando para frente. — Se alguém sonhar que você está de papinho com a Beth, você está literalmente morto!
— A Beth nem quer nada comigo... — meu irmão fez careta. Me segurei para não rir e entregar que ela o queria sim.
— Tome cuidado. — não quis me prolongar naquilo, afinal, tinha motivos para estar preocupada. — Com quem está o meu cartão de suicídio?
— O quê? — perguntou, confuso — Com o nosso pai.
— Fale para ele focar na caligrafia dessa folha. — respirei fundo. — Tem algo aí.
— Já vimos a caligrafia de todas as selecionadas, até mesmo das que já foram eliminadas. — Benjamin analisava o papel.
— Ninguém vai ser burro ao ponto de assinar um papel com a própria letra depois de ter escrito uma carta de suicídio. — revirei os olhos e ele fez uma careta. — Faz um tempo, depois do atentado hoje, talvez elas possam ter esquecido que ainda rola a investigação...
— Você tem razão... Ficarei de olho. — Ben guardou o papel no bolso e me ofereceu o braço enquanto íamos para o meu quarto. — O que foi aquilo com ?
— O que são esses olhares para a Beth? — retruquei, sorrindo ao vê-lo calar a boca. — Bom garoto.
— Bom, o pai quase o matou. — arregalei os olhos. — Sorte que Poirot estava perto... Na verdade, Poirot o ajudou a não deixar marcas.
— Eu não acredito nisso!
— Só que já estamos bem, até pediu permissão para beijar mais, acredita? Corajoso. — não consegui segurar a risada. Imaginar Poirot compactuando com meu pai contra o príncipe era engraçado, mas descobrir que era doido o suficiente para piorar mais a situação era ainda mais hilário. — Não sei se faz muita diferença, mas eu apoio.

~


Esperei ficar a sós com a família real depois do jantar. Todas as meninas saíram mais cedo, ninguém estava com saco ainda para fingir que estava tudo bem. Eu tinha que conversar com eles sobre a reunião que perdi graças ao ataque. Se eles pensavam que eu iria desistir... Estavam enganados. Rei Roger, seus filhos e meu pai não eram os meus inimigos; eram pessoas boas do lado oposto ao meu e isso era meu único problema — no momento.
A rainha me encarava com o desprezo de sempre, mas toda vez que falava com ela, a mesma agia com um ar angelical. Estava surpresa que eles realmente compraram o show dela. Ao menos meu pai e Benjamin ainda a tratavam com desdém, assim como eu. Cruzei os braços, esperando que eles me notassem ali, sozinha. A última pessoa que eu queria falar, foi a que me notou, no entanto.
— Ah, ainda está aí? — a megera perguntou, sorrindo. — Deve estar cansada depois do dia longo que teve. Como sua empregada e o bebê estão?
— Olívia. O nome dela é Olívia. — respondi, sorrindo da mesma forma — Estão ótimas.
nos contou que você fez o parto! Muito corajoso da sua parte... — rei Roger falou, com um pouco de orgulho na voz. — Foi elogiada até pelo Poirot!
ajudou bastante. — sorri e encarei o príncipe, que deu uma piscadinha.
— Enfim... Que bom que deu tudo certo e que ficou tudo bem no final. — sorriu amarelo e se levantou. — Amanhã eu te espero às oito no saguão principal. Você vai conversar com alguns vantronis.
? — o chamou a atenção. Aparentemente aquilo não era o combinado.
—O quê? Ela quer participar de tudo, não quer? Pois bem! — ele deu de ombros. Arqueei uma sobrancelha e rapidamente encarei a rainha, que sorria maliciosamente para o filho.
Ela conseguiu manipular ele.
— É perigoso, ! — rei Roger alertou. — E você sabe que não é bom para ...
— Dave estará lá e eles estão presos. Quem sabe assim ela não tira alguma coisa deles e a gente tenha uma carta nas mãos?
— Ele tem razão. — Dave concordou com a cabeça. encarava o irmão mais novo sem entender o que estava acontecendo com ele. Em outros tempos, ele nunca me deixaria pisar na cadeia, muito menos depois do que eu passei lá.
— Está tudo bem, eu vou. — olhei para ele. O Príncipe concordou com a cabeça e eu encarei a sua mãe por um segundo. — Obrigada por se importar em me colocar na lista de obrigações de vocês. — Disponha. — sorriu sem mostrar os dentes.
Aquilo me matava por dentro.
— Algo mais, ? — a rainha perguntou. Meus planos eram pedir para meu pai resolver a vida de Olívia, mas diante da situação...
— Sim! — me levantei, calma e serena; do jeito que eles não costumam me ver. — Quero que Olívia, Raul e Peyton passem um tempo junto com a minha família. — Leigh-Anne gargalhou. Era isso que eu queria.
— Os empregados? Mas de jeito nenhum!
— As pessoas que eu gosto correm perigo, Peyton é minha família agora e eu quero protegê-la! — cruzei os braços, indo ao lado de meu pai, que carinhosamente acariciou minhas costas.
— Ah, você e seu jeitinho de super-heroína! — revirou os olhos, sentando-se em seu trono. — Essa família serve ao reino! Devem trabalhar e servir à Coroa.
— Quando é que você vai entender que isso vai mudar? Por bem ou por mal. — falei, sorrindo, ladina. — E de qualquer forma, quem deve concordar ou não com isso, é o Rei Roger! — o sorriso dela se desfez.
— Eu sou responsável pelos empregados. — ela retrucou.
— Você também era responsável pelos soldados? Porque, se eu me lembro bem, você mandou matar dois guardas apenas para me causar dor! — cruzei os braços, fingindo uma cara de dúvida. — Perdão, eu me perdi aqui no seu personagem...
— Isso são águas passadas, !
— Não para mim. — respondi, claramente brava. — Não tinha a intenção de tocar nesse assunto, mas você faz com que eu reviva esse ódio cada vez que olho para essa sua cara!
— Chega. — meu pai sussurrou. se levantou, ficando ao lado da mãe quando eu me exaltei.
! — Rei Roger foi até mim. — Você tem o meu aval para a liberação da sua dama. É impossível negar algo para você depois do que minha esposa te fez passar.
— Obrigada, majestade. — respirei fundo, sentindo a mão de meu pai afrouxando em meu braço. — É uma pena você se sentir em dívida comigo e minha família por algo que sua esposa fez.
— Ossos do ofício, minha cara. — ele sorriu, triste. Encaramos sua esposa, fingindo que chorava no ombro do filho; não estava contente. Os outros dois não sabiam o que fazer ou como agir perante o meu surto. — Vá descansar, vou providenciar a ida dos três em segurança. Prometo.
— Obrigado, Roger. — meu pai passou a mão no ombro do rei. — , você pode ir ao seu quarto... Amanhã a gente conversa.
— Está bem. — sorri, lhe dando um abraço. Abracei também o rei Roger, que pareceu ficar aliviado com o ato; ele não era acostumado com demonstração de afeto, ainda mais vindo de mim. Me retirei, passando pela rainha com um sorriso que só ela veria. Aquilo sim era vitória. O inferno na vida dela só estava começando.

Capítulo 20

Como o combinado, eu estava ao lado de pela manhã. Só tinha nós dois ali e ele nem se deu ao trabalho de me desejar um “bom dia”. Nada me irritava tanto quanto a indiferença com que ele me tratava. Melhor amigo de merda.
Caminhei com ele, em silêncio, sempre lançando olhares para ver se conseguia algo, mas chegou um momento que eu não me aguentei e o puxei para a primeira sala que vi. O príncipe me encarou, sem entender, mas logo a expressão de frieza voltou.
— O que está acontecendo com você? — perguntei, cruzando os braços.
— Estou fazendo o meu trabalho.
— E qual seria esse trabalho? Ser um grande filho da puta? — arqueou uma sobrancelha e quase deixou escapar um sorriso, mas não era de divertimento, era de raiva.
— Estou cuidando do meu país, . — concordei com a cabeça, respirando fundo. — Temos coisas a fazer, não posso ficar perdendo tempo aqui.
— O que ela fez com você? — perguntei, baixinho. Ele sabia que meu tom de voz não mudou para acalmá-lo; meu tom de voz mudou porque ela o deixou completamente frio e isso me deixava extremamente puta. Ela tirou da gente.
— Não a coloque no meio disso, ... Você sabe que eu faço apenas o que eu quero. — quase gargalhei na cara dele.
— Ah, ... — balancei a cabeça e fui até a porta, não sairia nada dali. — Estou ansiosa para saber qual será sua frase de cão arrependido quando descobrir que sua mãe ainda é uma víbora e que manipula mais uma peça no tabuleiro dela...
— E eu quero saber qual será sua reação ao pisar novamente na cadeia. — não consegui esconder uma expressão de surpresa. Aquilo havia me magoado, ele cutucou uma das minhas maiores feridas.
— Nossa, por um momento, eu achei que fosse a rainha falando isso. — abri a porta, não encarando-o mais. — Doeria menos se tivesse sido ela, no entanto. — saí a passos duros, o deixando para trás com a cara de arrependido.
O resto do caminho foi silencioso; não ousou ficar na minha frente ou ao meu lado, ficou atrás de mim — onde ele deveria ficar, afinal, homem algum vai ficar na minha frente àquela altura da minha vida. A qual eu sabia que o meu lugar era o topo e nada e nem ninguém tinha o direito de tentar me diminuir. tentou me machucar por estar machucado, eu entendia aquilo. Aceitaria levar vários socos para que ele entendesse que eu estaria ao lado dele quando ele caísse, mas não assim, não desse jeito.
Ficava me perguntando: “Será que ele vai acordar a tempo? Será que, quando ele acordar, eu ainda serei a mesma e nossa relação será como antes?”
Pensar nisso me machucava.
~

Pisar novamente naquele lugar me trazia lembranças horríveis: o rosto de Denver e seu namorado vinham como socos no meu estômago. Sentia minhas mãos tremendo e suando, aqueles corredores me assustavam. Meu pai me encontrou no meio do caminho e pareceu sentir que eu estava prestes a explodir. Com ele eu me sentia segura, chegaria mais tarde; ele e ficaram presos com o rei em uma conferência.
— Fiquei sabendo que você foi convocada para a cadeia de novo... Vim ver de perto se não é para te colocarem lá de volta!
— Robin! — sorri, a abraçando ao vê-la na porta que dava acesso às celas.
— Parece que faz anos que não te vejo! — ela riu, retribuindo o abraço. — Hoje me senti um pouco melhor e fiz questão de te acompanhar nisso... Bom dia, ! — ela cutucou o garoto. Fiz uma careta que meu pai e ela perceberam.
— Bom dia, Robin. — falou secamente. — Vamos?
— O vantroni está nos esperando. — Dave disse, suspirando.
— Ótimo. — o príncipe abriu a porta e saiu andando, nos deixando para trás. Senti as mãos do meu pai nas minhas costas e as mãos quentes de Robin também.
— Nada vai acontecer agora, minha filha... Papai está aqui! — o encarei, sorrindo sem mostrar os dentes.
— E eu estou aqui também. Aqueles guardinhas de merda nem vão ousar chegar perto. — dei risada. Robin era mais alta que eu e, por mais que estivesse doente, não parecia fraca. — Quero pedir desculpas por não ter conseguido te salvar daqui... A rainha pode ser muito maldosa para tirar alguém do caminho dela. Até mesmo eu, que sou próxima dela e estou doente.
— Ainda acho que você deveria contar para Roger que ela te deixou sem os remédios. Contar para o ! — meu pai falou, caminhando ao meu lado. Aquilo me fazia não lembrar tanto do que aconteceu, mas eu não conseguia ficar sem pensar no sofrimento que passei ali.
— Como é que é? — perguntei, chocada. Aquilo nunca chegou em mim. — Robin?
— Boca grande! Olhe só o que fez. — Robin, toda elegante, deu um belo de um tapa no braço de Dave Walker. Nunca pensei que queria ver aquela cena, até ela acontecer. — Já passou, .
— Ela não pode se safar assim!
— Já passou! Eu estou bem... Foque no que vai conversar com o seu inimigo. — respirei fundo, controlando meu ódio por Leigh-Anne. Até quando essa megera iria ficar impune? — Já não sei mais quem são eles, Robin.
~

O vantroni estava preso em uma cadeira quando entramos na enorme sala; não era uma cela que eu conhecia, no entanto. Ele estava acompanhado por um guarda que eu nunca tinha visto e jazia ao lado dele, com sua arma na calça e sua espada à postos.
permanecia em pé em um canto na sala, enquanto meu pai encontrava-se do outro lado do inimigo. Robin mantinha-se atrás de mim, no centro. O homem tinha uma cara ridícula de deboche. O olho roxo e todo machucado mostrava que a estadia dele não fora agradável.
— Esse homem é o inimigo capturado. Até onde sabemos, seu nome é Titus. Vantroni que ajudou a ferir nossos homens! — falou, completamente enojado. O homem não respondeu, ficou em silêncio.
— O que está achando da hospedagem? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, em ironia, e quebrando o silêncio do local. Titus sorriu, sádico.
— Achei que vocês fossem mais hospitaleiros. Avallon tem uma imagem mais carinhosa lá fora...
— Ah, meu querido... — comentei, rindo. — Você está sendo muito bem tratado comparado ao que eu passei nesse lugar.
— Pouco perto do que você merece. — dei um pequeno sorriso.
— Que coisa feia, Titus! — fingi estar ofendida. — O que eu lhe fiz para ter tanto ódio?
— Está destruindo nosso reino! — respondeu, com raiva. — Confesso que você é só uma parte do nosso problema! Vantron tem o direito das terras de Avallon!
— Não tem. — respondi, dando de ombros. — Vocês querem crescer destruindo uma história, pessoas e famílias!
— Não é isso que Magnus pensa. — sorriu, se mexendo na cadeira. Magnus é o rei de Vantron. — Os ataques vão continuar até alguém ceder... Acredite em mim, gatinha, não será a gente!
— Admiro sua coragem, mas realmente não conhece Avallon! Nós não vamos desistir, ainda mais quando estamos certos e juntos com inúmeros lugares. Todos prontos para ir contra a dinastia de vocês! — falei entredentes. O homem ainda sorria.
— Você não sabe com quem está se metendo, garota.
— Quer me dizer? Não costumo me intimidar fácil. — arqueei uma sobrancelha. Todos ali estavam quietos e receosos. O vantroni não falou muito com ninguém, mas comigo, estranhamente, tudo fluía.
— Sabe por que eu resolvi abrir a boca para você? — começou. — Porque nós queremos que você saiba o que está por vir! — fiz uma cara entediada. — Não vamos parar. Eles vão voltar, não só por você... Por mim também.
— E você é tão importante assim? — não contive uma risada.
— Talvez... — deu de ombros e encarou . — Me diga você, alteza... O quão importante é o irmão do rei? — todos nós arregalamos os olhos, aquilo foi um susto. — Titus Magnus, é um prazer conhecer vocês!
— E você foi burro o suficiente para ser capturado? — respondeu, com sarcasmo.
— Pensem um pouco... Talvez isso seja uma estratégia. — ele disse. Respirei fundo e arrumei a postura, encarando meu pai, que encarava .
— Estaremos prontos para negociarmos a sua vida com Magnus e, se isso não for verdade, vai apodrecer na cadeia. — respondi, arrumando o vestido.
— Tentem. — ele sorriu. Titus era diabólico, não queria nem pensar em Magnus. — Não digam que eu não avisei.
— Acredito que você tenha dito tudo isso querendo a misericórdia do rei. Pode fingir que não está com medo, Titus, mas eu não acredito em você... Além do mais, dá para ver nos seus olhos o quanto você teme pelo que vai acontecer! — o príncipe de Vantron se remexeu na cadeira. Eu sorri e me virei para . — Já chega. Tivemos o bastante. — passei a mão no rosto e me preparei para sair. Meu pai foi até a porta para abri-la.
— Já tivemos o bastante. — Titus falou baixinho.
Me virei para ele e fiquei assustada em como ele conseguiu escapar das algemas presas em seu braço. Em um golpe só, ele conseguiu tirar a espada do guarda que estava ao lado dele, vindo na minha direção.
Ao mesmo tempo que tudo acontecia rápido demais, parecia que estava em câmera lenta.
Senti as mãos de alguém me empurrando e caí no chão duro, escutando um grito que não conseguia saber de quem era. Quando me virei para a cena de novo, meu coração parou de bater por uns instantes. O guarda o segurava e meu pai o ajudava a deter Titus Magnus. estava tremendo, segurando Robin, que jazia caída no chão; arregalei os olhos e corri na direção deles.
— Robin. — choraminguei, sentindo meu rosto queimar. Tinha muito sangue no meio de sua barriga. a segurava por trás e eu imediatamente coloquei a mão no ferimento, para pressionar e não deixar que ela perdesse mais sangue. — Por que você fez isso? — perguntei, me tremendo.
— Ele ia acertar você. — ela falou baixinho, sorrindo, como se fosse óbvio.
— Vamos levar ela para o Poirot! — gritou com os guardas que vieram até a sala correndo. — Prendam esse homem e vamos logo!
— Vai ficar tudo bem, não vai? — perguntei, me segurando para não chorar. Ela concordou com a cabeça e sorriu de novo.
— Independente de qualquer coisa, eu estou orgulhosa e muito grata por ter você como minha filha aqui, .
— Pare de falar besteira, brigue comigo, puxe minha orelha! — sorri por conseguir fazê-la rir antes de ser carregada. Era muito difícil não demonstrar fraqueza àquela altura.
Em minutos, ela estava sendo levada para a enfermaria. Meu pai tremia ao meu lado, eu estava suja de sangue, mas não era meu. Robin se jogou contra uma espada para me salvar. O que não saía da minha cabeça era: como ele escapou? Como ele conseguiu se livrar das algemas?
Eu tremia, e olhar para o sangue em minhas mãos e minha roupa não me ajudava em nada. O caminho até Poirot foi desesperador, a vida dela estava em risco por minha causa e eu não tinha a mínima ideia se ela conseguiria sair dessa — tendo em vista seu estado clínico. Fiquei na sala de espera junto com e meu pai; ninguém dizia nada, o silêncio era horrível, mas não tinha nada a ser dito naquele momento.
~

Eu andava de um lado para o outro, há horas, Poirot pegou Robin e não dava notícias. Meu pai já saiu e já voltou inúmeras vezes; , e Benjamin vieram assim que souberam e saíram da reunião. Minha raiva por Vantron aumentou. Minha raiva pela maldita lenda do tigre dourado também aumentou, graças ao fato de mais uma pessoa se machucar por minha causa.
Fiquei pensando em várias maneiras de como aquilo poderia ter acontecido, mas nada tirava da minha cabeça que a culpa era de Leigh-Anne e da sua maldita maneira de entrar na cabeça do filho, tentar fazer com que ele ficasse contra mim e ter armado tudo isso. Talvez Robin ter ficado no meio do caminho tivesse sido apenas uma falha, afinal, o alvo era eu.
— Sinto muito, . — falou, baixinho, chegando ao meu lado.
— Era para ter sido eu. — falei, sem encará-lo. — Sua mãe armou tudo direitinho, hein? Ela deve estar torcendo para que Robin morra por ter se intrometido.
— Por que você sempre volta nisso? Por que acha que a culpa sempre é dela? — o príncipe estava completamente sem emoção alguma. Cansado por isso, mais uma vez.
— Porque é! — quase gritei. — Como Titus conseguiu escapar das algemas? Quem era aquele guarda que estava armado ao lado dele? Pensa, ! Foi tudo muito fácil!
— Dave também tem o controle dos guardas e de como as coisas deveriam ser feitas! — arregalei os olhos e comecei a rir, rindo de desespero.
— Está insinuando que meu pai, braço direito do Rei há anos, tenha planejado isso? — arqueei uma sobrancelha. — O meu pai, que estava preocupado com a filha pisar novamente no lugar que poderia ativar inúmeros gatilhos nela? — apontei um dedo no peito dele. — Está tão cego que chega a tentar me colocar contra o meu pai?
— Você está tentando me colocar contra a minha mãe!
— É diferente, seu burro! — grunhi, lhe dando um empurrão. — Meu pai daria a vida por mim e pelo meu irmão! Até mesmo por qualquer pessoa nesse país! — os olhos dele marejaram e eu senti Ben me segurando. — A sua mãe deixaria você morrer para conseguir o que quer! Ela sempre vai preferir a si mesma do que qualquer um dos filhos. Cansei de tentar te fazer entender isso.
! — Benjamin me virou bruscamente para ele. Foi aí que eu acordei para o que estava falando. Estava machucando . — Não vai fazer a Robin melhorar machucando os outros. Pare, para o seu bem. — concordei com a cabeça, olhando para o mais novo e depois para os outros dois. e olhavam para o chão; machuquei os três com as minhas duras palavras. Contudo, eles sabiam que era verdade. — Vem! Vamos tomar um café e um ar.
— Não... — balancei a cabeça — Estou bem. Eu juro! — senti as mãos dele acariciando meu cabelo — Vou me controlar, só... fique longe de mim por um tempo. — encarei , que concordou com a cabeça. Meu coração se partiu por uns instantes. Ele saiu de perto de mim e foi com os irmãos.

Não conversei com ninguém depois disso, nem mesmo conseguia me animar. era o que mais me deu espaço, o que eu realmente queria; ele me abraçou quando entrou e depois não ficou me paparicando ou tentando me fazer ficar bem. Por sorte, a megera não apareceu lá — correria o risco de enfiar aquela espada nela como vingança. Só pensava que a culpa era minha, mas a maior parcela era de Leigh-Anne.
Poirot apareceu algumas horas depois, claramente cansado e cabisbaixo.
— Você não foi nem trocar de roupa? — questionou, vendo meu vestido cheio de sangue duro e escuro.
— Não consegui sair daqui. — Poirot deu um pequeno sorriso e colocou a mão em meu ombro. — Por favor, me dê boas notícias.
— A cirurgia em si foi muito complicada. O rebelde acertou órgãos importantes e devido a saúde já debilitada de Robin, deixou tudo ainda mais difícil. — senti as mãos de segurando as minhas por trás. , logo atrás de mim colocou as mãos em meus ombros e ficou do outro lado, com receio de pegar na minha mão livre. — Achei que conseguiria salvá-la, afinal... É a Robin.
— Poirot? — Benjamin perguntou, gaguejando ao lado de meu pai.
— Eu sinto muito. — Poirot balançou a cabeça e não conseguiu me encarar.
— Deus... — senti meu rosto queimando e as lágrimas teimando em escorrer.
— A última parada cardíaca foi demais pra ela. — coloquei uma mão na boca, para não gritar ali mesmo. — Não conseguimos salvá-la.
Entendi o que ele queria dizer, mas não queria aceitar.
E, por um momento, achei que desabaria ali mesmo, me sufocando na minha própria escuridão.

Capítulo 21

O velório fora extremamente difícil. Era muito complicado não conseguir formular uma frase verdadeira, só queria estar em meu quarto e conseguir superar isso de alguma forma.
“Estarei viva para ver você se casando.”
Eu me apegava àquilo para tentar não sofrer com a doença dela, mas Titus a levou antes; por minha culpa. Era a minha responsabilidade. A parte engraçada era ver pessoas que me odiavam, me abraçando; nem assim eu conseguia acreditar que algum deles realmente sentia muito, afinal, deviam estar felizes por finalmente me verem sofrendo.
Leigh-Anne era a pessoa que mais me enfurecia e ela sabia disso. Seu sorrisinho quando ninguém olhava não passava despercebido por mim, mas quando alguém a direcionava o olhar, ela fazia uma expressão triste, dolorida; fingindo sofrer por perder alguém importante — Robin deixou de ser importante quando eu entrei na Seleção. Meu pai estava devastado, eles eram melhores amigos e Robin era como uma mãe para Ben — a mãe que ele não pôde ter.
nunca foi bom com o luto, aquilo o pegou desprevenido, mas me deu o apoio que eu precisava, mesmo sofrendo com a perda. e eu não tivemos tempo de ficarmos juntos depois do nosso beijo na frente do meu pai, muita coisa aconteceu, mas, de qualquer forma, o príncipe estava ao meu lado e não desgrudava de mim — mesmo de longe, a qualquer canto que eu olhava, ele estava lá. , de fato, era o que mais estava sofrendo: não conseguia nem me encarar nos olhos, afinal, ele se culpava.
Parte de mim estava aliviada por ao menos ter tido um tempo com ela antes de ser enterrada, diferente de Denver, que não teve uma cerimônia digna. Foi esquecido na mente de todos que o machucaram. Robin teve algo perfeito, como ela era. Rei Roger não poupou esforços para honrar a memória dela — com direito a presença da honrosa Lady Devimon.
Vi Robin crescer junto com meu filho! Era uma mulher incrível e tenho certeza que morreu feliz por defender alguém que ela amava. — escutei Lady Devimon dizer para os netos, abraçado com o filho. Rei Roger tentava não chorar, mas ele não era tão forte como parecia. Aquilo havia o afetado de inúmeras formas.
? — Sam chegou perto de mim, me dando um pequeno susto. Minha amiga estava com os olhos vermelhos e uma feição devastada no rosto. — Sinto muito pelo que aconteceu!
— Eu também, Sam. — sorri sem mostrar os dentes. Não havia mais lágrimas para eu derramar e parte de mim agradecia por aquilo. Sam me abraçou apertado e eu respirei aliviada por tê-la ao meu lado.
— Estou aqui se precisar.
— Obrigada. — em seguida, Beth veio aos prantos, me esmagando em seus braços. Ela não estava bem, tanto quanto eu; só a gente sabia como Robin era especial. — Ah, Beth!
— Desculpe! Eu sei que deveria estar te ajudando a ficar melhor, mas simplesmente não consigo! — não contive uma risadinha. Era injusto ela achar que deveria me ajudar quando nós duas perdemos alguém importante.
— Estamos juntas nisso, Beth! — ela concordou com a cabeça e logo que viu meu irmão, foi até ele para abraçá-lo. Summer cruzou os braços e me encarou, com um sorrisinho triste nos lábios.
Ela sempre foi a mais elegante de nós, até mesmo mais que Sam. Ambas seriam da mesma Condição se ela ainda existisse. Ambas foram criadas para serem as melhores.
— Acredito que terei que te relembrar as regras de Robin, certo? — sequei uma lágrima teimosa que escorria enquanto ria da garota com os braços cruzados. — Arrume a postura, não chore em público, sorria até o rosto doer e desabe apenas no seu quarto! — por um instante, achei que era Robin ali. Não contive uma risada ao lembrar que ela estaria me xingando. — Seja forte, !
— Obrigada, Sum. — ela sorriu, me abraçando.
— O que aconteceu foi uma tragédia! — sussurrou em meu ouvido. — Só que não se culpe! Foi uma escolha dela e seria de qualquer um que se jogasse na frente da espada por você... Nós sabemos que muita gente faria isso para te salvar. — prendi a respiração ao escutar aquilo, ela tinha razão. — Robin se foi e foi feliz, orgulhosa e honrada por ter feito parte da sua vida, ! Acredite no que eu digo.
— Você é uma das melhores pessoas desse lugar, Sum. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas você é! — foi a vez dela de ficar emocionada, mas ao contrário de mim, ela sabia disfarçar muito bem.
— Eu sei, querida. — sorrimos juntas.
Não demorou para que ela se retirasse e me deixasse na companhia de Sam. A loira me encarou, ensaiou falar algo, mas não conseguiu dizer nada; apenas apertou meu ombro antes de sair com Courtney ao seu lado.
Foi o melhor que eu podia esperar dela, ainda mais depois das minhas suspeitas sobre o meu ataque. Depois de uns trinta minutos, quando a maioria das pessoas foram embora por conta do frio que fazia em Avallon, decidi que também iria. Estava na hora de eu voltar para o castelo. A neve caía aos poucos, logo tudo estaria branco e a gente entraria em uma época fria e intensa. O cemitério Real era perto o suficiente para voltarmos a pé, mas optamos pelo carro. Eu, meu pai e Benjamin não nos desgrudamos. Chegando lá, não vimos muitas pessoas, todos deveriam estar em seus quartos, se aquecendo e tentando respeitar o próprio luto.
? — era a voz da Lady Devimon. Me virei e fui diretamente abraçá-la, sem me importar com nada ou com os modos. — Minha querida...
— Bom te ver, majestade. — falei, ainda em seus braços.
— Sinto muito! Isso é tão triste... — ela passou a mão em meu rosto. — Um conselho de quem também já perdeu muita gente importante? — esperei ela continuar falando. — A dor é insuportável no início, mas o que dói mesmo é a saudade! Tenha sempre algo por perto para fazer com que tudo seja menos doloroso. Denver, Robin... — a senhora tentou segurar as lágrimas. — Seja forte.
— Eu serei. — cumpriria aquela promessa. Por Robin e por Denver.
— Roger? Dave? Vocês poderiam me acompanhar? Tenho algo para vocês. — Rei Roger me abraçou, meu pai me deu um beijo na cabeça e eu os vi partir, ficando com meu irmão, e os três príncipes junto com a mãe.
— Posso te dar um abraço? — perguntou, sorrindo fraco. Concordei com a cabeça, rindo baixinho — Vai ficar tudo bem.
— Vai sim. — suspirei e encarei , que fez uma careta antes de se aproximar. — Foi a melhor reação do dia. — sussurrei em seu ouvido, sorrindo por ele não ter feito o que todo mundo fez.
— Esperava algo diferente se tratando de mim? Pffff. — revirou os olhos, se gabando. — Vou te visitar mais tarde, certo?
— Certo. — concordei com a cabeça, sentindo meus olhos marejarem. Atrás dele, estava .
Queria chorar por vê-lo acabado daquele jeito, contudo, queria chorar mais ainda por vê-lo ao lado da mãe, que ainda sorria para mim.
— Ah, ! Sinto tanto por tudo isso! Foi uma tragédia, certo? — ela falou, fingindo estar triste. Até ameaçou se aproximar de mim para me abraçar, mas eu recuei bruscamente. — Só quero te abraçar, garota! Céus, é sempre assim? Parece um anima... — a cutucou. Arqueei uma sobrancelha, vendo-a se calar.
, me desculpe... Eu... Eu sinto muito!
— Cala a boca! — falei calmamente, secando as lágrimas. Encarei os olhos do príncipe e percebi que ele tremia. Eu finalmente voltei a reconhecer o garoto que era meu amigo no começo da Seleção. — Você me disse mais cedo que faz apenas o que quer... E sabe o que é mais engraçado? É que de fato, você realmente faz. Só que não porque quer isso. — fui até ele e o encarei nos olhos. Minhas próximas palavras seriam duras, mas só assim voltaria ao normal. — Você quer a aprovação dela! Eu me lembro de quando cheguei aqui... O único que seguia as ordens da rainha, ele era frio, seco... Um robô. Ultimamente eu vejo que os papéis se inverteram, mas ao menos acordou! — o príncipe abaixou a cabeça, com vergonha, afinal, eu dizia aquilo para que todos escutassem. — Você é o novo robô dela, mas não porque ela te ama, ! É o novo robô porque é o único que está ao lado dela.
— Não escute o que ela diz, meu filho! — Leigh-Anne interveio, ficando ao lado do príncipe mais novo. — Lembra do que eu disse a você! Ela é manipuladora! Está colocando todos contra mim.
— Fico feliz em fazer todos acordarem para a bruxa que você é, vadia. — respondi, ameaçando avançar nela. Ela ficou atrás do filho. me encarava com os olhos vermelhos e eu estava chorando, de ódio. — Mais uma vez alguém que eu amo foi embora por sua causa!
— Ela estava no lugar errado e na hora errada! Eu não tinha como controlar isso e muito menos aquele vantroni. — ela respondeu bruscamente. Senti as mãos de me segurando, afinal, ele estava tão abalado quanto eu.
— Já chega! Eu não aguento mais ouvir sua voz e suas armações! — ele falou, encarando a mãe. — Acorda, ! Antes que ela te leve para a cova que ela mesma cavou. — ! Eu não admito que você fale assim comigo! Sou sua mãe e exijo respeito. — foi a minha vez de tentar acalmar . Ele tremia e eu fiquei com medo dele por alguns instantes. Vê-lo daquela forma era assustador.
— Quantas pessoas você vai destruir para conseguir o que quer? Você não mudou nada! É impressionante como se perdeu no personagem... — ficou na frente da mãe, com medo do que poderia fazer. Eu tentava segurá-lo, mesmo sabendo que ele não faria nada.
sempre me segurava quando eu ficava brava, era meu dever ficar ao lado dele naquela hora.
— Até que durou bastante. — respondeu, ficando ao lado do irmão do meio, o segurando também. — Já estou farto de você e do seu joguinho. — apertei a mão de e ele me encarou por um instante. Finalmente teve um momento de calma. — Não vale a pena. , não vale a pena. — falou para o irmão. — Vamos sair daqui! Já chega!
— Sim, já chega. — encarei e soltei a mão de , me direcionando para a saída. Aquilo não me levaria a nada; não traria Denver ou Robin de volta.
Você vem com a gente, ? perguntou para o irmão.
Não fiquei para ouvir sua resposta, todavia.
Naquela altura, eu precisava ficar longe dele. foi manipulado, fez o que Leigh-Anne mandou sem saber que machucaria alguém. De fato, não tinha culpa do que aconteceu com Robin. Contudo, o sangue dela estava nas mãos dele, e, por mais compreensiva que eu fosse, por mais que eu tenha dito que estaria ali quando ela o decepcionasse, eu não conseguiria cumprir com as minhas palavras agora.
§

Quando entrei em meu quarto, fiquei feliz e triste por não ter ninguém ali; Lauretta e Taihne estavam de folga, graças a mim. Minhas únicas companhias eram os guardas do lado de fora, os quais eu não fazia questão alguma de conversar, mas ao menos eu gostava de ficar sozinha. Fui ao banheiro para tomar um banho e colocar um pijama quente.
As lágrimas pareciam ter se esgotado. De novo. Parecia que eu havia me conformado com a morte, e que qualquer pessoa próxima de mim poderia morrer a qualquer instante — eu deveria esperar por notícias ruins a qualquer momento.
Eu estava com raiva, machucada, decepcionada e de luto. Mais uma vez. Ao menos uma parte de mim torcia para que eu não tivesse perdido também.
Saí do banheiro e me assustei ao ver Olívia sentada em minha cama, com a pequena Peyton nos braços. Não contive a emoção ao vê-las e corri para abraçá-la.
— Eu sinto tanto, ! — falou, ainda com os braços ao meu redor. — Queria ter ido ao funeral, mas Poirot não me liberou.
— Estou feliz por você estar aqui agora, Liv. Como conseguiu ser liberada?
— Poirot falou que eu podia vir te ver, porque seria bom para nós três. — ela sorriu de canto, me entregando Peyton, que deu um enorme sorriso banguelo. Aquilo aqueceu meu coração. — E ele pediu para eu te entregar isso aqui. — ela tirou dos bolsos um envelope dourado e uma chave. Fiz uma cara de dúvida e ela respirou fundo antes de dizer do que se tratava. — É uma carta que Robin escreveu há um tempo e entregou para Poirot, ela queria que fosse entregue a você assim que ela fosse enterrada. — senti minha respiração parar por alguns instante; aquilo era um choque. — E essa é a chave do quarto dela... Tem algo lá para você. Não sabemos o que é.
Fiquei em silêncio por alguns minutos, apenas encarando o envelope e a chave. Duas coisas que eu não sabia que Robin deixaria para mim. Ela odiava cartas e nunca nem me deixou chegar perto de seu quarto. Parte de mim estava ansiosa para ver o que tinha para mim; mas a outra parte tinha medo.
— No seu tempo, . — Liv passou as mãos em minhas costas. — Tenho certeza de que Robin tem coisas lindas para dizer a você. — Deve ser uma lista das regras dela. — ri, balançando a cabeça. Peyton brincava com o meu colar. — Obrigada, Liv.
— Não me agradeça... Descanse! Amanhã você terá mais momentos intensos... — fiz um biquinho, me lembrando que seria o grande batismo de Peyton e eu ficaria longe das duas por tempo indeterminado. — Ainda dá tempo de você manter a gente por perto.
— Não vai rolar, Olívia. — fiz careta, segurando uma risada.
— Droga! — ela sorriu. Escutamos uma batida na minha porta e antes mesmo de eu reclamar para ela ficar sentada, Olívia foi abrir.
— Cheguei em uma hora ruim? — era . Olívia sorriu e deu um abraço no príncipe, que retribuiu sem se importar.
— Pode entrar, ! Já estava levando Peyton para o nosso quartinho. — acenei para ele entrar. — tem coisas para fazer agora também...
— Que coisas? — ele perguntou, indo até minha cama, onde eu estava segurando Peyton. — Ah, eu acho um absurdo um bebê ser tão fofinho.
— Não faça eu me arrepender por ter escolhido um padrinho babão para minha filha, ! — Olívia me fez gargalhar, assim como .
— Vou ser o padrinho legal, Liv! — se gabou. — Afinal, será a madrinha mandona e chata.
— Ei! — lhe dei um tapinha. A nossa recém-nascida afilhada estava começando a ficar inquieta por estar com sono e fome. — Hora da mamãe.
— Bom, posso ir em paz sabendo que você está em boa companhia agora, . — Liv sorriu sem mostrar os dentes e sorriu, olhando para o chão. — Vejo vocês dois amanhã.
— Até amanhã, Liv. — falei, entregando a pequena Peyton para ela. — Vejo você amanhã, lindinha.
— Até amanhã, Olívia! Cuide da minha afilhada. — deu uma piscadinha. Olívia fez uma reverência atrapalhada e se retirou, me deixando sozinha com ele. — Como você está?
— Cansada. — admiti, me sentando ao lado dele. — Parece que estou apenas esperando alguma merda acontecer.
— Entendo a sensação. — o príncipe suspirou e olhou ao redor, encarando o envelope e a chave. — O que é isso?
— Chave do quarto de Robin e uma carta dela. — arregalou os olhos e segurou as duas coisas. — Estou com medo.
— Vamos lá. — ele se levantou e me encarou. — Você merece uma despedida justa com a mulher que te ajudou a ser quem é hoje, ! — arqueei a sobrancelha, pronta para xingá-lo por tentar me dizer o que fazer. — Me sinto responsável. — suspirou ele. — Não só pelo que aconteceu com Robin, mas pelo que está acontecendo com meu irmão. está destruído, temo por ele e pelo que vai acontecer caso a culpa o corrompa; infelizmente não posso fazer nada. Contudo, com você eu posso! — abaixei a cabeça, escutando tudo o que ele tinha para dizer. Entendia o que ele sentia pelo irmão. — Por isso, nós vamos até o quarto dela, você vai ler essa carta e vai ter uma despedida digna com Robin. Coisa que você não teve com o seu irmão.
— Não culpo . — admiti, me levantando. — Ele foi manipulado e é um garoto bom, a culpa é difícil, mas não posso fazer nada por ele; não agora. — balancei a cabeça e peguei um roupão. — Não estou indo até lá por você ou por ele. Vou para ter a Robin por perto uma última vez.
— É o suficiente para mim, . — sorriu, triste.
~
— Estarei aqui fora, se você precisar. — o príncipe depositou um beijo em minha testa e logo colocou a chave na fechadura e abriu a porta.
Respirei fundo e tomei coragem para entrar.
Coloque para tocar: Leona Lewis - Run (Tradução/ Legendado)

O quarto de Robin era tão organizado quanto ela. Grande, de acordo com sua posição no castelo, mas simples, do jeito que ela era. Sorri ao ver um canto cheio de fotos, a maioria minha. Robin tinha uma coleção de fotos dela com meu pai e meus irmãos, com os meninos, Lady Devimon e rei Roger. Ela tinha uma área com fotos de toda a minha trajetória, desde o dia que ela foi em minha casa até as nossas fotos juntas no jardim quando ela brigava comigo. Meu coração se partiu com um quadro vazio, onde em cima estava escrito “Casamento da ”.
É, Robin... você não estará aqui para isso.
Nem sei se eu estarei.
Me sentei na cama dela e encarei o envelope, sorrindo triste ao abri-lo. As letras redondas eram a marca registrada dela. Meus olhos marejaram quando vi nossa primeira foto juntas ali dentro; ela completamente mal-humorada por eu estar atrasando o cronograma dela e eu super sorridente, fazendo gracinha.

“Minha querida e encrenqueira
Se você está lendo isso, provavelmente eu não estou mais com você.
Espero que não esteja chorando, lembre-se da minha regra. Não quero que você fique triste com a minha partida, afinal, já vivi tanto! E não posso me sentir mais grata por ter vivido uma parte dos meus dias com você... Ah, ! Se você soubesse quanta coisa me ensinou... Quanta coisa eu enxerguei por sua causa... O quanto sou orgulhosa pela mulher que você está se tornando!
Sempre fui muito solitária. Optei por não ter uma família e isso nunca me fez falta, mas tudo mudou quando essa Seleção começou e eu fui destinada a cuidar de você. Nunca imaginei que iria sentir esse instinto materno, ainda mais com você. , você é a filha que eu nunca tive e tenho o maior orgulho de poder dizer para qualquer pessoa que minha filha é a pessoa que vai mudar essa monarquia.
Você vai salvar a todos. É importante que você saiba que fez com que eu mudasse o meu modo de pensar. Tudo sempre foi muito injusto, as pessoas são sortudas por ter uma líder assim, uma mulher forte e determinada.
Sua vida sempre foi muito difícil e eu pude ver de perto isso. Dói pensar que não estarei aí para você, mas me sinto mais aliviada por saber que tem bastante gente pronta para te defender a qualquer momento.
Porém, temo por você. , você é jovem demais para passar por tudo isso. Jovem demais para pular etapas importantes e etapas necessárias para descobrir o que você é e o que quer ser. Como eu disse e como já sabe, nossa sociedade é injusta demais. Eu, como sua tutora, quero muito que você se case e seja feliz nessa vida no castelo; como amiga e “mãe”, sei que você será infeliz. Não por causa dos meninos, mas sim pelo fato de que você não nasceu para viver presa.
Se alguém me perguntasse o que eu desejo para você, eu responderia que meu maior desejo é que minha garotinha conheça o mundo, se forme em algo que gosta e seja a pessoa que ela sonhou em ser.
Não tenha medo. Lute e faça o que tiver que fazer para que escutem sua voz, mas tudo com muita elegância, não me envergonhe e me faça sair do meu túmulo e do além para vir te assombrar por não seguir minhas regras. Está vendo o que eu estou fazendo? Olha o que fez, ! Eu estou fazendo piadinhas irônicas.
Antes de Coroa, Causa, Tigre Dourado ou o que for, lembre-se de que a coisa mais importante da sua vida é você mesma. Me admira você colocar o mundo inteiro na sua frente. Não se esqueça de ser feliz no meio desse seu percurso.
Notas mentais: como tutora, espero que você não grite ou agrida nenhum líder; como amiga, estarei pulando de felicidade na cova. Diante a tudo que você passou, tudo que acontecer é pouco para eles. Não deixe os três patetas te machucarem, mas também não os magoe; lembre-se que sua demora para escolher não fere apenas eles. Use o que você ganhar para investir na sua formação, na sua vida e da sua família.
Você sendo princesa ou não, não deve nunca ficar atrás de ninguém.
, você nasceu para ficar na frente.
Espero que você tenha absorvido as coisas boas que eu lhe passei. Saber que eu estive na sua formação é algo satisfatório e gratificante. Você é grande. Nunca se esqueça disso, meu bem.
Estou feliz. Sou cética, mas eu espero te reencontrar um dia, seja onde for.
Eu amo você, encrenqueira.”

Estava aos prantos e devastada, mas me sentia estranhamente leve. Robin fez a morte dela parecer algo bom, mesmo não sendo. Sequei as lágrimas e sorri, balançando a cabeça. Só ela para me fazer rir com isso, logo ela que odiava piadas.
Atrás dessa folha, tinham outras duas. Arregalei os olhos, surpresa com o que via.
Era um testamento.
Ela passou tudo que era dela para mim. Suas casas, seu carro, seu dinheiro, suas joias, seus projetos, seus investimentos... E muito mais.
A outra folha era um cheque, o qual eu nem sabia como pronunciar o número.
Robin tinha muito dinheiro e mesmo assim trabalhava naquele castelo, era escrava da rainha.
Eu não tinha nada há um minuto atrás, agora... Eu era a mais nova milionária de Avallon.

Capítulo 22

Tudo estava igual. O dia, as pessoas, a comida, a rotina.
Nem parecia que ontem foi o velório de Robin. Às vezes eu me assustava com a rapidez que as pessoas lidavam com as coisas, parecia tudo tão fácil e simples.
Minha mentora havia deixado todo o seu legado comigo e aquilo era um fardo enorme que não sabia nem por onde ou como começar a falar sobre. Robin me fez milionária e eu nem sabia que uma pessoa conseguia ter todo esse dinheiro sem ser um membro da realeza. Ela nunca teve uma família com quem gastar tudo isso, sempre viveu no castelo e, antes da Seleção, viajava com Lady Devimon; seu salário era enorme. Não deveria ser uma surpresa para mim.
Robin me amava como uma filha e morreu por mim. Deixou tudo o que tinha nas minhas mãos e eu não pude ao menos me despedir.
Titus tinha todo o meu ódio.
Pagaria por isso junto com a megera da rainha.
Eu honraria a vida do meu irmão, Ted e Robin. Um por um.
Ao menos hoje eu estava me preparando para algo bom: o batismo da Peyton. Meu coração estava quentinho por fazer algo pela minha afilhada, mas estava apertado por saber que não teria ela comigo por um tempo. Não podia arriscar a vida de quem eu amava.
Não mais.
Por mim, eu enviaria metade daquele castelo para as montanhas e travava uma guerra sozinha, sem correr risco algum de perder alguém. Só que eu sabia que isso era impossível. Eu iria respirar fundo e seguir em frente da forma que Robin desejava. Faria o que ela pediu: viveria da melhor forma e pensaria mais em mim e no meu futuro.
Só que eu me amaldiçoava por pensar nos outros no meio desse percurso. Nem no limbo eu deixava as pessoas de lado.
Tudo só dependia de mim agora.
Chamei Olívia para ir ao meu quarto antes do grande momento. A minha dama estava achando que iria apenas batizar sua filha, nem imaginava que também se casaria oficialmente com Raul. Os dois não eram casados de verdade, Raul veio em meu quarto hoje pela manhã, acompanhado por , e os dois estavam com cara de que aprontaram; não posso nem negar que amei a ideia.
Pedi para Taihne e Lauretta separarem um dos meus vestidos que Olívia mais amou, me lembro que ela adorava um rosé. Eu daria a ela esse vestido e ela teria uma manhã de princesa, daquelas que ela sempre fazia comigo.
Escutei as batidas na porta e sorri, animada, me levantando da cama.
— Bom dia, amor da minha vida! Bom dia, Olívia.
— Estamos de bom humor! — ela sorriu, me entregando Peyton. A pequenina usava um vestidinho que deu para ela. Nunca o vi tão babão. — O que é isso? — questionou, olhando para os vestidos nos cabides.
— É para você escolher um. — falei, sem especificar que era para o casamento surpresa. — Ah, Olívia! Você não está achando que vai vestida assim para o batismo da sua filha, né?
— O que tem de errado com as minhas roupas? — ela perguntou, tirando risada das amigas.
— Você usa ela o ano todo! — Taihne retrucou, rindo
— Não é todo dia que a gente tem essa oportunidade, Liv! E você vai tirar fotos, tem que estar linda! — Lauretta sorriu, animada. — Já separamos aquele rosé para você, está no banheiro!
— Anda logo, ainda temos que fazer sua maquiagem e seu cabelo — falei, cutucando Peyton, que estava dormindo. Olívia foi toda saltitante para lá. — E vocês duas? Estão esperando o que para escolher um também? — As duas me encararam, assustadas, eu comecei a rir. — Estou falando sério! Escolham e se arrumem.
As duas fizeram o que eu mandei, felizes e animadas. Foi o meu ápice da manhã, ver nós quatro reunidas pela última vez antes da nossa separação de fato. As coisas mudariam, não sabia se seria por um tempo ou se seria para sempre, só queria que elas tivessem um momento como pessoas normais, e não como escravas da coroa.

Nossa manhã foi divertida, as meninas não pareciam que viviam só por mim. Estavam radiantes e até Peyton estava. A nossa recém-nascida era durona demais para um bebê, eu estava adorando aquilo. Logo deu o horário de partirmos para um lugar que planejou para o batismo e o casamento. Olívia não era um membro real ou especial para a Coroa, então ela não poderia usar os locais reais para uma cerimônia desse tipo.
Não que ela se importasse.
Benjamin apareceu um tempo depois, disposto a nos levar no local e pronto para despistar Olívia do nosso plano. Ele ainda não sabia sobre a carta de Robin, mas ele iria gostar de saber que agora ele também tinha dinheiro. Eu tinha o poder de tirá-lo de todo esse circo, lutaria contra qualquer coisa para fazer com que meu pai e meu irmão ficarem seguros.
Mesmo sabendo que seria algo difícil. Ambos nasceram para honrar uma Coroa.
— Será que a rainha não vai se zangar por estarmos saindo dos nossos postos? — Lauretta perguntou baixinho enquanto caminhávamos pelo jardim. — Olívia e Raul são muito queridos, muitos criados querem participar do batismo de Peyton, ainda mais agora que sabem que eles estão partindo.
— Quando é que aquela mulher mal-amada não se zanga comigo, Lauret? — coloquei meus óculos escuros e sorri. — Deixe isso comigo, apenas se divirtam e aproveitem o dia de folga coletivo. Não se esqueça que temos o rei e dois príncipes ao nosso lado... quem é Leigh-Anne Aykroyd perto deles?
— Quem é Leigh-Anne Aykroyd perto de ? — escutei alguém falar ao fundo. Não sabia quem, mas sorri com aquela frase.
, a rainha dos criados. — Benjamin falou ao meu lado, sorrindo, ladino. Lhe dei um cutucão, rindo. — É um bom nome.
No percurso, encontramos e Raul, ambos bem vestidos. O local seria no pico com visão para o mar, tudo já estava arrumado graças ao príncipe e meu irmão. A gente estava passando por um local cheio de caminhões e carros sendo carregados por guardas.
— O que é isso? — perguntei.
— Ah, hoje um batalhão vai para Portillo. — Ben comentou.
— Poirot e um esquadrão médico também. — falou, observando os carros. — Portillo foi atacada há algumas semanas e os médicos de lá não estão dando conta dos feridos.
— Além de Portillo ter a estrada mais segura para a Corte de Agartha entrar em Avallon sem chamarem a atenção. — Raul completou, sorrindo para a filha em seu colo. Ele era um guarda antes de se envolver com Olívia e ir parar no celeiro.
— O que Agartha vem fazer em Avallon? — questionei, confusa.
— Alan tem um comunicado importante, ele anunciou ontem que vai se casar. — ergui as sobrancelhas, surpresa com aquilo. — Quer mostrar para suas alianças que agora está noivo. — sorriu de canto. — Não te contamos ontem por motivos óbvios.
— Ah... — foi a única coisa que consegui dizer. Alan não tinha vontade de se casar e nem mesmo interesse por alguma mulher. Fiquei brava ao saber que ele não lutaria pela causa dele. Novamente, tudo ficava nas minhas costas. — Quando ele chega?
— Acredito que daqui três dias. O esquadrão vai voltar com a Corte Agarthana.— Benjamin deu de ombros.
Concordei com a cabeça e segui o caminho, tentando espantar da minha cabeça a maldita ideia que veio a seguir. Infelizmente, não foi isso que aconteceu.
~


Tudo estava muito bem organizado, era satisfatório ver que conseguiu arrumar tudo e, de quebra, arrumar um padre. O local estava lotado de criados e eu adorei ver cada um deles. Até mesmo Beth, Summer, Sam, Lizzie e Courtney estavam ali; não sei se por livre e espontânea vontade ou pressão. O dia estava bem nublado, não tão frio como imaginávamos, por isso foi muito agradável.
— Que cerimônia bonita! — me surpreendi com ali e o abracei
— Você veio!
— Não perderia por nada. — ele sorriu, apertando minha mão. Dei uma olhada em volta e tinha muita gente, os criados realmente gostavam de Liv e Raul. Uma pessoa em específico não estava ali e por algum motivo, me incomodou.
nunca perderia algo assim. Ainda mais por ser Olívia, ela sempre esteve ao lado dele para qualquer coisa.
ainda está muito magoado pelo que aconteceu. — falou atrás de mim, me assustando. sorriu fraco e abaixou a cabeça. Parece que ambos leram meu pensamento. — E se sente culpado.
— Ele queria ter vindo. — o mais velho falou. Respirei fundo e concordei com a cabeça. Não havia nada a ser dito. — Inclusive, deu algo para te entregar. — minha expressão entregou que eu não sabia de nada. não me deu nada. O príncipe do meio encarou o irmão e depois direcionou o olhar para mim
— O que pediu para você me entregar?
— Não te entreguei, pois achei que fosse te causar dor no momento. — arqueei uma sobrancelha e cruzei os braços.
— Sua mãe me causa dor, porque não elimina ela também? — me fuzilou por alguns segundos, mas segurou um sorriso. Meu humor estava ácido.
Não que eliminar a rainha fosse uma piada para mim. Na realidade, era uma meta.
— Ótimo! Humor é uma emoção importante no processo. — falou, sorrindo travesso. Aquilo fez com que eu tivesse que sustentar a pose de brava contra a minha vontade.
— Pegue. — tirou do bolso da farda um envelope. Seu tom de voz parecia incomodado, mas eu não queria acreditar que ele tivesse sido maldoso com o fato de me esconder o que tinha me dado. — Vou ver se Raul e Olívia estão prontos para começar. O príncipe nos largou no minuto seguinte. parecia sem saber o que fazer, afinal, foi ele quem criou aquele climão. Encarei o envelope e ali tinha dois papéis. Um era pequeno e simples, o outro era maior; um cheque.

“Nada que eu faça vai fazer a gente voltar ao que éramos, mas espero te reconquistar de alguma forma. Espero que me perdoe de alguma maneira. Seu perdão é a coisa mais importante para mim. Você é a coisa mais importante. Desculpe por não acreditar em você.”

O papel maior tinha um valor bem significativo em nome de Peyton.

Um valor significativo para comprar a liberdade dos três. Eles não precisariam mais trabalhar no castelo, Peyton não precisaria ser escrava da rainha.

Encarei , completamente boquiaberta. O mais velho tirou os dois papéis da minha mão e não ficou tão chocado, inclusive, ele sorria.
— Ele estava guardando esse dinheiro para viajar com a esposa dele depois do casamento. — ele disse. — Era um sonho enorme para ele, ficar um tempo longe de tudo.
sempre arrumando uma forma de nos surpreender. — falei, segurando um sorriso.
Belo jeito de chamar a minha atenção, Aykroyd.
— Vamos começar! — Lauretta anunciou, animada. Me despedi de , indo para o começo da trilha de flores.
estava ao lado de Olívia, conversando com ela enquanto Raul parecia ansioso com a filha no colo. A surpresa dela seria logo depois do batismo. Dei uma piscadinha para o rapaz, que sorriu em seguida.
— Vocês dois entrarão com Peyton no colo. — Taihne falou para Olívia, que concordou com a cabeça. — Vocês dois vão logo atrás. Só vão pegar Peyton no colo quando o padre falar.
— Obrigada, Taih. — pisquei para ela, que mostrou a língua antes de ir para o seu lugar. Ficamos sozinhos antes do momento único e especial. — Estamos prontos?
— Vamos batizar nossa garotinha! — sorriu, passando a mão na cabeça de Peyton.
A música começou a tocar e logo soubemos qual o momento de entrar. Não contive as emoções ao ver a felicidade no rosto de Liv por ver tantas pessoas ali por ela e pela sua família, ela se sentiu importante. era só sorrisos, como eu já citei antes, ele estava completamente babão.
— Eu não vejo a hora de ter o meu filho para poder fazer essas coisas para ele. — sussurrou, olhando apaixonado para Peyton.
— Você? Filhos? Oi? — respondi, surpresa.
— É um desejo a longo prazo, bem distante, mas que é real. — concordei com a cabeça, sorrindo sem mostrar os dentes. Mais uma novidade de Aykroyd — E você?
Não tinha uma resposta para isso. Antes mesmo que eu pudesse responder, o padre deu início à cerimônia. Demorou um pouco até o momento que e eu agíssemos. Não deixou de ser emocionante, mas foi ali que eu percebi como o príncipe era uma manteiga derretida, muito mais que eu. Peguei Peyton no colo e a abracei. Era tão pequena que eu tinha medo de quebrá-la. No fim do batismo, quando todos aplaudiam Olívia e sua família, a mesma foi surpreendida com Raul se ajoelhando atrás da sua amada.
— O quê...?
— Olívia Marshall, você aceita se casar OFICIALMENTE comigo hoje? — meu sorriso só faltava rasgar o rosto. O pessoal que estava presente começou a comemorar antes mesmo da resposta.
— Raul? — ela gargalhou. — É claro que sim!
— Vem aí! — comemorou, tirando risada de todos.
Em seguida, Lauretta e Taihne entraram com o buquê e as alianças. O que veio após isso foi lindo e perfeito, digno de uma princesa; Olívia era uma. O sorriso dela e o sorriso de Raul eram tudo que eu precisava para me sentir completa e finalmente feliz diante aos últimos acontecimentos. O presente de transcendia tudo que eu queria fazer por eles.
A liberdade era o melhor presente que eles poderiam ganhar.
Quando a cerimônia acabou, Liv jogou o buquê. Quem pegou, foi Lauretta; que surpreendentemente estava com Eric. Depois de tudo que passei, nem me lembrava que ele ainda estava ali. Fiquei ainda mais surpresa por me tocar que sentia falta do meu amigo de Southampton e não era nem um pouco no sentido amoroso, éramos tão confidentes que ele saberia me dizer o que fazer com tudo aquilo que recebi; mas ao mesmo tempo, eu não confiava em ninguém.
, eu sou completamente grata por você e pelo que você fez por nós! — Olívia veio até mim quando teve uma folga dos holofotes. — Você é gigante!
— É o mínimo, Liv. Você merece muito mais! — retribui o abraço, segurando as lágrimas, afinal, a despedida estava próxima.
, ! — Raul apareceu, puxando o príncipe, animado. — Vocês são incríveis! Os líderes que Avallon precisa. — encarei , que apertou minha mão. Nós dois não queríamos a coroa. — Minha família é totalmente honrada por ter a benção de vocês dois.
— Deixe disso, Raul! Somos amigos agora, me trate como um amigo! — sorriu e bateu nas costas do outro.
— Vocês têm mais um presente antes de irem para a casa da minha mãe. — falei, tirando do bolso do meu casaco. — Vindo diretamente de Aykroyd.
enrugou a testa por uns segundos e seu sorriso se tornou mais forçado.
— O quê? — Liv e Raul pegaram o cheque e arregalaram os olhos quando viram o valor que tinha ali.
— Mas isso é muito dinheiro! — Raul falou com as mãos na boca.
— É o que eu estou pensando? — Olívia colocou uma mão na boca, segurando o choro. Não consegui segurar uma lágrima teimosa que insistiu em cair com a emoção que se instalou ali. — Céus, não brinque comigo!
— É isso mesmo, Liv. — ela começou a rir e encarou o marido, que ainda estava assimilando tudo o que estava escutando e lendo.
— Estamos livres? —Raul perguntou. — Estamos livres mesmo?
— Vocês vão recomeçar. — sorriu e encarou os dois. — sempre nos surpreendendo. — encarei o príncipe e ignorei o comentário com sarcasmo.
— Aproveitem essa liberdade. — falei, abraçando a minha amiga, ali a gente se despediria também. — Eu te amo, Liv. Obrigada por tudo e por tanto.
— Você mudou nossas vidas. Espero que nunca se esqueça disso. — sussurrou em meu ouvido. — Faça o que tiver que fazer. A gente volta para você quando tudo ficar seguro de novo. Não vou te abandonar.
— A gente resolve isso depois. — ri e me soltei do abraço. Nós demos nosso último olhar de amigas, confidentes e irmãs naquele momento; por um longo tempo não teríamos uma a outra.
A despedida foi dolorosa, mas me deixou aliviada. Eles estariam seguros e protegidos. Peyton conseguiu me fazer chorar igual a uma piscina inflável furada, como uma bebê conseguia me sugar tanto daquela forma? Minha afilhada ficaria um ano comigo e dois dias com a mãe quando tudo acabasse.
Contudo, depois que tudo acabou, eu me senti vazia.

~


— A farra estava boa? — escutei a voz da rainha atrás de mim, e . Nós três estávamos voltando do casamento de Olívia, ela já tinha partido. Nosso sorriso se desfez naquele instante. — Acho que os empregados sabem que isso custará, certo?
— Deve ter sido um dia difícil, não é? — cruzei os braços, fazendo um biquinho. — Não ter ninguém para limpar a sua bunda... Complicado...
— Escute aqui...
— O rei liberou, majestade. — interferiu, segurando uma risada do meu último comentário. — É direito dos funcionários uma folga. Fora que era para algo importante, a despedida de Olívia.
— Acho que vocês esquecem que sou eu a responsável pelos empregados! — a loira quase gritou. O autocontrole dela claramente falhando.
— Querida, a falta de massagem nos pés realmente lhe fez mal! Está parecendo uma maluca gritando assim... — a mulher veio até mim, tentando me amedrontar, mas o que recebeu foi um sorriso ladino do jeito que ela odiava. Não recuei.
— Você pensa que está falando com quem? Esqueceu que sou sua rainha e que você deve me respeitar e me servir? — os filhos dela ficaram atentos e prontos para separar nós duas.
— Não se pode exigir algo que você não faz. — respondi calmamente. — E esse assunto está bem repetitivo, não acha? Já cansei de dizer que você não é a minha rainha!
— Adoro ver vocês duas trocando amores, mas ambas estão muito próximas... Tenho medo de uma grudar na outra e eu não conseguir separar. — encarei de modo que se eu tivesse laser, ele queimaria.
— Engraçadinho, já se inscreveu para ser o palhaço real hoje? — a mãe dele respondeu. O príncipe nem se abalou, deu risada, causando apenas mais raiva na mulher. — Única coisa que você daria certo! Perdeu a reunião de hoje. Até você, ! Até você!
— Também mereço uma folga. — deu de ombros. — Até porque, você sabe que não concordo com as novas medidas que vocês adotaram.
— Que medidas? — perguntei, encarando , que cuidadosamente me puxou pelos braços para longe da mãe, enquanto puxava a mãe para o outro lado. De modo que nós não pudessêmos nos agredir.
— Não contaram para a favoritazinha de vocês? Que surpresa! — revirei os olhos, já cansada da enrolação. — Parabéns, ! Você quis tanto que as mulheres tivessem voz, que eu resolvi acatar suas ideias... Levantei uma votação no conselho e a maioria aceitou!
— Que merda você fez em meu nome, Leigh-Anne? — perguntei entredentes.
— Nós oficializamos o treinamento que você sugeriu há alguns meses! Oras, as mulheres de Avallon estão aptas para lutarem por Avallon. Não é isso que você quer? Igualdade? — arregalei os olhos. Aquilo faria as pessoas me verem como a inimiga. — Estamos sendo constantemente atacados e os soldados precisam de reforços! Agora é obrigatório o alistamento das mulheres dos dezesseis aos vinte e seis anos.
— Isso é loucura! — falei, inconformada. suspirou ao meu lado, me segurando. — Eu estou tentando acabar com o alistamento obrigatório! As meninas estão aprendendo defesa pessoal e não treinamento para a guerra!
— É o bastante para mim. — ela deu de ombros. — Aonde está o seu sorriso? Finalmente a gente te escutou! Sua luta pelo feminismo está aí. O mesmo direito dos homens.
— Então eu devo me alistar. — os dois me encararam, sem entender. — Se é obrigatório e eu tenho dezessete anos, eu devo me alistar.
— Ótimo, seja o exemplo. — Leigh-Anne sorriu e bateu palminhas. — Maravilha!
Respirei fundo. Aquela discussão não me levaria a nada, eu só ganharia estresse e ódio. No fim das contas, Leigh-Anne continuava sendo minha maior inimiga. Inimiga do seu próprio país.
~

Já era tarde, o toque de recolher já havia batido. Lauretta e Taihne não estavam em meu quarto, aproveitaram o dia de folga coletivo para curtir com os amigos em algum bar clandestino aqui dentro do castelo; cheguei até a ser convidada. Um convite para algo tão íntimo dos empregados era um sinal de que eu estava no caminho certo, eles confiavam em mim.
Ophelia me mandou algumas cartas sobre o que estava acontecendo nas províncias de Avallon e me custava acreditar que o rei Roger estava mesmo deixando as coisas saírem do controle, colocando as meninas para o alistamento obrigatório. A rainha Leigh-Anne conseguiu colocar todos contra a minhas palavras, levando tudo para o lado ruim.
Eu mostraria que se uma estava na guerra, todas estaríamos. Até mesmo Leigh-Anne.
A mochila que eu arrumei depois que voltei da conversa com a bruxa, estava só com o essencial e o básico para ficar alguns dias em campo. Minha decisão de ir camuflada para a missão com o esquadrão foi tomada no momento que escutei da própria rainha que as mulheres também seriam obrigadas a lutar.
Eu precisava de um tempo longe do castelo, mas eu precisava muito mais enxergar de perto essa nova realidade.
Coloquei a touca do moletom e me preparei para fugir no meio do turno dos guardas. Aquela era a parte fácil, a parte difícil era não ser vista no camburão. Seria mandada para a casa imediatamente, a não ser que eu conseguisse convencer meu pai ou Benjamin. Dave não ia para a missão, meu irmão sim. Ambos não permitiriam de forma alguma que eu fosse. Contudo, se eu já estivesse lá, não teria como me mandarem para casa.
Como previsto, a saída foi fácil. Me sentia uma espiã no meio de todos aqueles guardas que não me viam. O caminho escuro já me deixava um pouco mais aflita, caminhar pelo jardim era difícil naquele horário, ainda mais pelo fato de eu precisar passar pela floresta para chegar nos caminhões. A lanterna que eu usava para não pisar em algum lugar que me machucasse acabou chamando a atenção de algum animal; os latidos ficaram mais fortes e mais perto. Para o meu desespero.
Malditos Vantronis que fizeram a guarda soltar os cachorros no castelo. Andei mais rápido para ao menos chegar nas margens do agrupamento. Comecei a correr, pois estava longe. Com a má sorte que eu tinha, obviamente tropecei no meio do caminho; com isso, dei brecha para o animal se aproximar de mim.
— Nala! — me assustei ao ouvir uma voz conhecida no fundo. O cachorro já estava perto o suficiente para me atacar. Não sabia se me sentia aliviada ou nervosa com isso. A cadela rosnava sem parar e eu já sentia até o seu bafo quente na nuca. — Quem é você? — perguntou ao chegar perto da onde estávamos.
— Sou eu, ! Tire ela de perto de mim antes que eu perca o rosto! — choraminguei. gargalhou antes de parar para pensar o motivo de eu estar ali no meio da floresta. Com sua ajuda, me levantei dos arbustos, fazendo uma careta ao ver que havia ralado a mão no primeiro momento fora do castelo.
Aquela missão seria uma bênção.
— O que você está fazendo aqui?
— Tomando um arzinho... — sorri, pegando a mochila. O príncipe arregalou os olhos.
— Vai fugir? — Revirei os olhos e ele pareceu entender o que estava acontecendo. — Não me diga que você vai com o esquadrão. — continuei andando e ele me seguia. — Isso é loucura, !
— Não! Loucura é o que sua mãe está fazendo! Eu preciso disso, ! — o príncipe passou as mãos no rosto, claramente nervoso com isso. Peguei sua mão direita e levei até meu rosto. — Por favor, me entenda. Isso é importante.
— Vejo isso como uma missão suicida! — ele suspirou, não gritou como eu imaginava. Encarei seus olhos e ficamos assim por alguns segundos, de alguma maneira, eu queria que ele entendesse que aquilo era necessário; o desespero no meu rosto deveria bastar. — Eu não queria que as coisas fossem assim, me desculpe por não poder mudar nada.
— Você pode, ! — sorri fraco, me aproximando dele. — Você pode me ajudar a mudar as coisas. Eu posso fazer isso.
— Eu sei que você pode, meu amor. — arqueei uma sobrancelha ao ser chamada assim. Se não tivesse tão escuro, jurava até ver as bochechas dele coradas. — Vamos. — senti as mãos dele me puxando. O caminho até a concentração foi rápido com a ajuda de . Eu nem acreditava que ele havia topado me ajudar. Quando paramos, ele me segurou pelos ombros e me deu um abraço apertado. — Vou te dar cobertura. Você volta junto com o esquadrão e a corte de Agartha! — concordei com a cabeça. Não tinha ficado nervosa até o momento. — E quando você voltar, a gente conversa sobre sua cabeça dura.
— Estou te devendo essa e prometo te recompensar. — sorri ao vê-lo dar uma piscadinha. — , eu vou acabar com essa guerra de um jeito ou de outro.
— Eu sei e eu vou te ajudar. — ele estava prestes a ir em direção aos caminhões, para distrair os homens e eu entrar escondida em um deles, onde estaria apenas a carga que estavam levando. Contudo, eu o segurei e ele me encarou, sem entender. Não demorou muito para eu encostar meus lábios nos dele. — Acredito que isso me coloca na frente nessa disputa. — sussurrou ele quando paramos de nos beijar.
— Talvez... — sorri, encostando minha testa na dele. — Muito obrigada. Cuide do meu pai.
— E eu fico com a parte difícil... Que absurdo! — gargalhei. Aquela podia ser a última vez que eu veria sorrindo. — Se cuide.
— Se cuide. — repeti. sorriu, beijando a minha testa, provavelmente ele pensou a mesma coisa que eu sobre ser o nosso último encontro; mas ambos não queríamos falar isso.
Eu te amo. — arregalei os olhos, travando com aquelas palavras. O silêncio que se instalou foi quebrado quando escutamos um dos motores serem ligados. sorriu sem mostrar os dentes e beijou minha testa novamente. — Não precisa responder agora. Está tudo bem.
O príncipe foi bem recebido pelos soldados que estavam ali, Poirot também estava por perto ao lado de Benjamin. Cheguei a ficar orgulhosa do meu irmão por ser sua primeira missão sozinho como líder e aquilo era fantástico para a sua carreira. Fui até o caminhão que me falou e entrei sem que ninguém me visse; meu coração parecia pular pela boca. Era adrenalina demais para uma noite só.
Tinha muito remédio, kits de primeiros socorros e objetos cirúrgicos ali. Além da comida que estava em um canto do caminhão. Não teria muito luxo e corria sérios riscos de quebrar uma parte do meu corpo com os movimentos bruscos do veículo, mas não me importava.
Eu me descobriria naquela missão e de quebra, daria um jeito de mudar essa situação.
Fiquei escondida quando via alguém se aproximar, mas para a minha surpresa e desespero, a pessoa que se aproximou era nada mais, nada menos que Dr. Poirot. O mesmo olhou para dentro do caminhão antes de fechá-lo e deu um sorriso na direção onde eu estava. Estava escuro, mas ele sabia que eu estava lá: .
Viagem de primeira classe, querida? — sussurrou ele, antes de fechar por completo a porta. Coloquei a mão na boca para não soltar um barulho de risada. — Sabia que você faria a coisa certa.


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