Última atualização: 27/02/2024

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Capítulo 23

Acordei com uma caixa de mantimentos caindo na minha cabeça. O caminhão parou bruscamente, me fazendo ficar assustada e nervosa. A viagem foi completamente conturbada, poucas vezes eu consegui dormir um pouco; as estradas eram horríveis.
disse que as estradas de Portillo eram as melhores para proteger Agartha, o objetivo era chegar sem as rodas?
Fiquei atenta quando comecei a escutar uma movimentação estranha do lado de fora. As pessoas falavam alto e eu escutava ordens serem ditas por Benjamin, a voz dele era grossa, clara e objetiva, assim como o nosso pai. Meu coração começou a palpitar por não ter planejado minha saída daquele comboio e muito menos o que falaria para todos ali quando me vissem. Pelo menos Poirot estaria ali para me curar caso acontecesse alguma coisa — talvez Ben tentasse me matar.
Quando escutei as portas do caminhão se abrirem, me escondi agachada atrás de algumas caixas. Alguns homens entraram ali e começaram a descarregar.
O Cabo Walker e o Soldado Heings estão chamando todos os soldados para contagem e apresentação. — escutei alguém dizer. — Vocês viram quem está aí?
Achei que era uma brincadeira quando falaram que ele viria. — escutei o outro dizer. Meus olhos estavam atentos a qualquer movimento dentro do caminhão. — Será que a barraca dele terá ouro?
Não duvido que tenha fios dourados. — os guardas gargalharam enquanto eu os escutava cada vez mais longe.
Levantei a cabeça e vi que a barra estava limpa. Me esgueirei até a porta aberta e vi uma concentração de guardas fardados em um ponto específico do alojamento. Não contive uma careta quando senti um cheiro ruim de podridão, não estava próximo de mim, mas estava horrível. Desci do comboio e, na ponta do pé, fui me aproximando, não o suficiente para ser reconhecida.
Minha roupa era parecida com a farda deles, só não era igual. Aquilo poderia chamar a atenção. Nossa farda variava de azul militar para preto e vermelho, as vezes um bege e branco. Eu usava uma calça militar bege e um casaco preto. Uma mulher não era mais um problema no campo de guerra, afinal, vi algumas espalhadas por ali. Me partia o coração.
Me arrepiei ao ver que o pessoal que estava ali realmente estava em situações precárias. Não era pra menos, era guerra. Contudo, era devastador saber que as pessoas lutavam para proteger um reino, colocando a própria vida em risco, quando os que estavam no topo sequer se importavam. Eu precisava acabar com isso. Precisava colocar um ponto final nesse alistamento obrigatório. Precisava acabar com Leigh-Anne.
Meu olhar pousou na multidão enquanto eu estava próxima, pude ver o pessoal se sentando no chão. Não demorou muito para que eu recebesse alguns olhares, não podia ser reconhecida agora. Não ainda. Não sabia nem se as pessoas estavam me amando ou me odiando naquela altura do campeonato. De uma coisa eu tinha certeza: eu não estava sendo muito bem quista em lugar algum.
Não escondi a boca aberta quando eu vi quem estava junto com Benjamin e Dr. Poirot.
— Caros soldados, agradecemos a presença de vocês! — começou a falar — É uma pena nos encontrarmos dessa maneira, nessas condições. Contudo, a Coroa é muito grata pela vida de todos. Estamos juntos nessa. Vamos resolver essa situação e tornar Avallon um país brando novamente!
— E começaremos por onde? — alguém falou. — Com esse monte de corpos aí? Corpos que morreram por você e pela sua maldita coroa?
— Não sou culpado por Vantron nos atacar. — ele respondeu. Observava aquilo sem sentir pena alguma. — Mas sou responsável por vocês. Pelo nosso povo e pelo nosso país.
— Esse papinho é ridículo, estou cansado de ver os meus morrendo e cansado de ver você todo engomadinho! — um homem respondeu. — Queremos a queda de Vantron. Também queremos a queda da Coroa! — todos eles começaram a gritar, aquilo era a revolução. O pequeno príncipe não tinha voz ali, para o seu desespero e o desespero dos seus acompanhantes.
Os soldados de Portillo não estavam contentes, os nossos guardas que vieram para a nova missão não entraram no rebuliço, mas eu sabia que eles concordavam. Todos estavam cansados. Decidi que deveria me envolver naquela discussão, não para defendê-lo, mas sim para poupá-los de algo que era em vão daquela forma.
Tirei a touca enquanto caminhava em direção ao príncipe. Escutei um novo rebuliço e tentei não me abalar com eles. Meus olhos estavam focados em . Aquilo era uma surpresa para todos. Benjamin só faltou chutar o vento. Seu olhar era cômico, Poirot fingia estar inconformado, mas era o que mais sabia da minha ida para Portillo.
— O que você está fazendo aqui? — sussurrou.
— O que você deveria estar fazendo. — respondi baixo, me virando para todos os soldados e tirando o enorme casaco preto — Bom dia. — foi a primeira coisa que eu falei, todos continuavam em silêncio e estranhamente aquilo me deixava aliviada, afinal, era sinal de respeito. — Eu ia me manter escondida por mais um tempo, na realidade, vocês nem iriam me ver aqui. Contudo, vocês precisam de alguém que entenda a dor que estão sentindo. Acreditem em mim quando eu digo que eu entendo. — me posicionei à frente do príncipe. — Estamos aqui para dar o maior apoio possível para todos vocês. A equipe médica está à disposição de todos e trouxemos comida junto com as novas munições e equipamentos. Se direcionem ao local que mais precisam no momento e aproveitem.
— Que ironia! Trouxeram a Tigre Dourado para nos silenciar?
— Tentar me ofender não mudará onde estamos. — retruquei em seguida, com a maior classe que podia. — Nunca pedi para vocês aceitarem as coisas. Estou aqui para tentar ajudar de alguma forma.
— Já se alistou ou apenas está desfilando como uma das privilegiadas ricas que não vão precisar? — dessa vez foi uma garota quem falou. — Por sua culpa agora temos que nos envolver com a guerra!
— Ela nos ajudou, fique quieta e agradeça! — uma morena respondeu. — nos ajudou a aprender a nos defender! Como você ousa crucificá-la por um plano da maldita rainha?
— Está defendendo essa mulher? Acha que ela e a rainha não são amiguinhas?
— Agora você me ofendeu de maneiras incontáveis! — falei, tirando risada de algumas pessoas próximas, as que sabiam do meu ódio pela megera. — Me culpar por isso, ok, mas dizer que sou parceira daquela bruxa? Não tolero!
— É a minha mãe e a sua rainha, não é bom falar dessa forma. — sussurrou em meu ouvido, meus olhos pegaram fogo naquele instante.
— Eu quero que você e ela vão para a puta que pariu, pra casa do caralho, pegue a primeira esquina para o quinto dos infernos, vá...
— Já chega, aqui não é lugar de barraco. — Ben se enfiou no meio, segurando delicadamente o meu braço. — Você tem muito o que explicar. — ele sussurrou novamente. — Soldados, encerramos por aqui. Comam a vontade, Dr. Poirot e sua equipe são os melhores e estão aqui para ajudar quem precisa.
Meu irmão saiu me puxando delicadamente e do outro lado estava carregando o príncipe. Benjamin apontou para Poirot, que nos seguiu para atrás da enorme fenda. O silêncio que se instalou ali era sinal claro de que ninguém entendia a minha presença.
— Vai me dizer ou eu vou ter que ligar para o castelo? — cruzou os braços
— Boa sorte tentando um sinal aqui nesse fim de mundo. — encarei minhas unhas que estavam sujas de poeira do caminhão.
— Também quero saber como você veio parar aqui. — Benjamin falou, me fazendo revirar os olhos.
— Ela não veio sozinha, teve ajuda de alguém e eu tenho certeza de quem. — encarou Poirot, que levantou uma mão
— Muito me surpreende vocês acharem que eu cheguei aqui com a ajuda de alguém. — tentei contornar a situação, tirando o fardo das costas de Poirot.
— Claro. ! — meu irmão bateu na própria testa. — Eu vou bater naquele príncipe metido a besta.
— O que vão fazer? Me mandar de volta? Já estou aqui mesmo.
— Não vou tirar os olhos de você em momento algum, você vai ficar com ódio de mim por eu estar em cima por vinte e quatro horas, está me entendendo? — concordei com a cabeça, segurando o riso. — Poirot, espero que você não esteja envolvido nisso. Sabem que isso acarretará discussões muito fortes no reino.
— Não tenho medo do rei, do seu pai e muito menos da rainha! — ele respondeu com classe. — está aqui e vai aprender muito com a medicina que eu vou ensinar. Deixem de ser caretas! Venha, minha querida... Vou te ensinar a melhor das artes.
Sorri, pegando-o pelo braço e o seguindo em direção aos leitos. Poirot falava sem parar, mas era difícil escutá-lo vendo a situação precária do alojamento dos soldados. Estava muito pior do que eu imaginava. e Benjamin me encaravam a todo tempo, realmente falaram sério. Eram tantas informações que eu sequer tinha tempo para ficar com ódio de . Tudo sempre voltava para morte de Robin, não era culpa dele e eu sabia exatamente daquilo; mas era culpa dele a indiferença que ele me tratou por causa de sua mãe.
Os soldados que apareciam na área da enfermaria iam com queimaduras, fraturas nos ossos e arranhões inflamados. Coisas que Poirot me fazia cuidar imediatamente, mesmo sendo apenas uma iniciante. Coisas mais sérias — como cirurgias — ele fazia com que eu o acompanhasse e observasse. Era inacreditável a forma que ele confiava em mim. Normalmente, os profissionais davam aulas antes de fazer os aprendizes entrarem de cabeça no meio em que se encontravam; Poirot era diferente, ele me jogava no mar e então dava uma bóia e ficava observando de longe até eu aprender a nadar de verdade.
Não vou negar que gostava disso.
É muito bom quando você se sente importante.

~*~


— Vá descansar, querida. Já trabalhou muito por hoje. — uma enfermeira falou enquanto acariciava meu cabelo. Eu acordei, assustada, do cochilo clandestino.
— Vou ficar aqui caso alguém precise, quero aprender mais coisas.
— Enfaixar braços e pernas e limpar feridas não foi o suficiente? — ela brincou, me fazendo rir e passar as mãos no rosto. — Você é boa, . Poirot tem olhos de águia, não ensina qualquer pessoa, aproveite essa oportunidade.
— Roselyn, obrigado pelo elogio. — Poirot apareceu atrás de nós. — , minha melhor enfermeira tem razão, não ensino qualquer um.
— É uma honra aprender com você. — me levantei, sorridente.
— Esteja aqui logo depois do café. Acredito que vocês terão reuniões antes, cabe a você decidir o que é mais importante. — respirei fundo, eu sabia exatamente o que ele estava dizendo: eu teria que escolher.
Não me conformava em como a minha vida era baseada em apenas isso: decisões.
Eu tinha decidir com quem iria me casar, quem vou amar, quem vou odiar, quem devo proteger e como faria isso, como não magoar pessoas importantes e quando eu deveria me desculpar por isso. Decidir o que é mais importante: o povo ou a minha vida.
Robin queria que eu cuidasse de mim, investisse em mim.
Era difícil fazer isso quando eu carregava Avallon nas costas. Ser a Tigre Dourado ainda me mataria, e eu iria morrer sem ter feito qualquer coisa por mim.
Não quero ser da realeza, não quero ficar nas montanhas vivendo escondida.
— Te vejo amanhã depois do café, Poirot. — pude ver um sorriso de canto do senhor que eu adorava e admirava.
Essa era a minha decisão.

~*~


— Que cheiro horrível é esse? — perguntei assim que acordei. Dividia a barraca com meu irmão e o príncipe metido a besta. Benjamin achou mais seguro que nós dois dormíssemos com ele. Meu irmão no meio, é claro.
se sentou, passando a mão no rosto. O cabelo estava todo bagunçado e aquilo me fez lembrar de quando estávamos juntos na barraca. Sentia falta daquele príncipe, mas sabia que ele não existia mais.
— São os corpos dos mortos. — o príncipe respondeu. Arregalei os olhos. — Estamos cavando covas para colocá-los em um lugar digno.
— “Estamos”? — questionei. — Você está aqui sem fazer nada, só desfilando para lá e para cá com essa maldita coroa na cabeça e agindo como se tivesse com o rei dentro da barriga! — estava horrorizada com aquela informação. Era desumano. — Como vão avisar a família desses homens mortos?
— A última vez que acordamos juntos, você estava mais amorosa e bem-humorada.
— A última vez você tinha outra personalidade. — rebati. — Que inferno, ! Mas que merda! São seres humanos que morreram protegendo a sua maldita coroa!
— São muitos mortos, ! Não conseguimos levar todos os corpos para as cidades! Avisamos com cartas e, infelizmente, é o máximo que podemos fazer! — comecei a rir, inconformada. Joguei um travesseiro na cara dele.
“Lamentamos a sua perda, seu pai, filho, irmão ou amigo, morreu protegendo a coroa e lutando por você! Venha visitá-lo em uma cova rasa em Portillo. Siga reto na estrada principal e entre em um barracão ao ar livre, é lá que seu ente querido está enterrado junto com os outros. Ah, pode ser que você chore no túmulo de outro, porque podemos facilmente jogar outra pessoa lá dentro. Meus pêsames!” encarou as próprias pernas, minhas palavras o atingiram como um soco. — Esse é o máximo que você pode fazer? O príncipe de três meses atrás jamais permitiria uma coisa desse tipo. Procure por ele.
, já chega. — Ben resmungou, colocando o travesseiro na cabeça. — Vocês dois estão impossíveis! Céus, o que está acontecendo com vocês?
— Como você pode permitir que seus colegas morram dessa forma e sejam enterrados assim, Benjamin? Não me contou por quê? — bati no meu irmão, que se virou para nós e encarou o príncipe.
— Não me deixaram contar. Eu fiz tudo que pude e inclusive estou ajudando a cavar. Não grite comigo! — me calei e encarei , que ainda encarava o nada.
— Esse lugar não é para você, . Se não consegue lidar com essas coisas, era melhor ter ficado no castelo discutindo com a minha mãe e beijando os meus irmãos. — abri a boca, pegando o travesseiro de Benjamin e jogando em cheio no rosto bonito de . — Isso é guerra!
— Não, . Guerra é o que você acabou de criar comigo.

Capítulo 24

— Você leva jeito para isso. — a garota falou enquanto eu dava alguns pontos em seu braço, a mesma havia se machucado no treinamento. — Não tem defeito?
— Qualquer um consegue dar esses pontos. — ri, tentando contornar aquela situação. — Coragem a sua de me deixar treinar logo em você, isso pode deixar cicatriz.
— São marcas importantes... Marcas de guerra... — ela balançou a cabeça, fazendo uma careta ao sentir a agulha perfurando novamente a sua pele.
— Sinto muito por isso.
— Srta. , a culpa não é sua e eu jamais te faria carregar esse fardo. — ela colocou a mão na minha, me fazendo parar. — Não digo isso só porque gosto de você, mas sim pelo fato de você ser a primeira a ter coragem de lutar por todos nós. A culpa não é sua por nossa rainha ser um demônio.
— Eu prometo a você que ela vai cair. — falei baixinho, como se aquilo fosse um segredo. Na realidade, não era. Todos sabiam que eu derrubaria aquela mulher. Era neta do fundador de um grupo gigantesco. Era a Tigre Dourado.
— Não duvido disso, enquanto isso, a gente vai segurando as pontas aqui. — ri junto com ela. — Sério, não ligue para o que disserem, você está no caminho certo. Vai libertar todos nós.
— Sua confiança em mim me dá medo, a gente nem se conhece direito. — eu disse, terminando os pontos. — Sou só uma estranha costurando você.
— Não, você é a Tigre Dourado.

~*~


— A tropa chegou em Portillo. — respirei aliviado ao escutar aquelas palavras de meu pai. — acabou de nos avisar. Tudo certo por lá.
— Ainda acho que você deveria ter ido. — minha mãe falou enquanto tomava seu café. — Cadê a ? Não a vi!
Sabia que estava fazendo a coisa certa apoiando na sua jornada. Sabia que era necessária aquela ida até Portillo. Contudo, por que eu sentia meu coração apertado cada vez que pensava nela naquele lugar que não era seguro para ninguém, muito menos para ela?
Chegava a ser engraçado o fato de eu vê-la como uma garota delicada, ela era tudo, menos isso.
Para mim, ela era.
Gostava de pensar que um dia ela precisaria de mim e eu seria seu porto seguro. Ah, olhe para mim! Um completo apaixonado fazendo todas as vontades da pessoa amada e arriscando a vida dela por isso. Era difícil imaginar ela passando por coisas difíceis, mas ela já passou por tantas coisas ruins que merecia chegar em um destino onde ela não abraçava o mundo sozinha, onde ela não sofria por algo que não era responsabilidade dela.
Esse lance de Tigre Dourado não era algo que eu acreditava, não passava de uma lenda, até conhecer . O fardo que ela carregava era gigante e totalmente cruel. Não gostava do final desse caminho, sabia que não seria bonito, mas não podia tirá-la disso. Afinal, ela não queria sair dele. Quem era eu para dizer a ela o que fazer?
Aquela garota me fez ver um lado diferente do que eu estava acostumado, me tornei outra pessoa por causa dela e isso me assustava, mas estava contente com o resultado. A gente sempre encontra pessoas diferentes de nós no percurso da nossa vida, acreditamos que elas carregam uma bagagem diferente da nossa e é isso que nos diferencia. Contudo, só algumas tem a capacidade de nos mudar um pouco e somente uma conseguiu fazer isso comigo.
— Ela também não está no quarto. — Dave falou ao lado de meu pai. Pude ver sua expressão e não era de preocupação, ele me encarou. — Recebi uma informação do seu irmão, .
— Ah, é? — bebi um gole do café. — Espero que ele esteja recuperando a cabeça nessa viagem, está precisando...
— Não fale do seu irmão desse jeito. — minha mãe retrucou.
— Não finja que se importa com ele. — rebati. — A cabeça dele está toda fodida por sua causa!
— Não fale comigo dessa forma! — ela bateu as mãos na mesa, perdendo a elegância que fingia ter. — Não se esqueça de quem sou.
— Na realidade, eu desconheço quem você é. — dei de ombros, dando um leve sorriso. — É só mais uma extrema direitista megera.
... — interviu.
— Chega, meu filho. — meu pai falou, encarando minha mãe. — Sabe que essa discussão não vale a pena.
— Tem razão, meu pai. — forcei um sorriso e encarei Dave. — O que ele disse?
— Que minha bela filha está em Portillo. — fingi me engasgar com o líquido. — Nos poupe desse teatrinho, eu te vi voltando tarde da noite ontem.
— Tem ideia do risco que colocou ela? — arregalou os olhos. — Ela está sendo caçada!
— Ninguém sabe que ela saiu daqui do castelo! — respondi formalmente. — Sei dos riscos, ela foi porque quis!
— Você nem tentou impedir? — meu pai passou a mão no rosto. — Não dá para confiar em ninguém, se eles forem atacados e for reconhecida...
— Não vai acontecer nada. — respondi entredentes. — A coorte de Alan chegará em breve e eles voltarão juntos!
— Se acontecer alguma coisa... — sussurrou, não terminando a frase.
— Não vai acontecer nada. Ela é esperta, está com Benjamin e ! Fora que os soldados a amam, acreditem... está mais segura que nós. — encarei minha mãe, que olhava fixamente para o prato. — Diferente de outra pessoa, tenho certeza que outros não teriam essa sorte toda!
— Se refere a mim? — ela retrucou, me fazendo dar de ombros. Antes mesmo dela poder responder, meu pai tomou a palavra.
— Você foi irresponsável, !
— Isso está ficando repetitivo. — revirei os olhos. — ficará bem, inclusive, acho bom prepararem a fantasia para a festa de aniversário da nossa querida Tigre Dourado junto com a festa de anunciação do casamento de Alan.
— Não me venha com essa palhaçada! Não vou organizar uma festa para aquela garota! — minha mãe jogou o guardanapo na mesa. — A festa de Alan foi pensada e vai ser tema de gala, sem mais.
— Não, ele exigiu que fosse à fantasia e, por algum motivo, ele se lembrou de e quer que seja uma festa de comemoração a ela também. — respondi, vendo-a ficar vermelha. — Estou mentindo, meu pai?
— Não. está dizendo a verdade. Já pensei na minha! — admirava meu pai por levar as coisas na tranquilidade, queria ser como ele. Avallon estava literalmente pegando fogo e ele simplesmente agia como se tivesse tudo bem.
— Devemos nos preocupar? — perguntou, rindo.

~*~


Mais um dia se passava e parecia que eu ia morrer de ansiedade para ver novamente. Ela chegaria amanhã, depois do almoço, junto com a tropa Agarthana. Era a única coisa que me mantinha um pouco mais leve e calmo. Não podia negar a surpresa do casamento de Alan, estava curioso para saber com quem ele se casaria. Alguém que conhecíamos? Uma mulher poderosa ou um homem poderoso?
Sempre desconfiei dele e de sua sexualidade, mas não cabia a mim a intromissão no assunto.
e Sam caminhavam juntos pelo jardim e eu podia ver de longe Lizzie resmungando e raiva. Apesar de tudo, eu ainda gostava dela e não a via como uma má pessoa; talvez um pouco infeliz. Beth era divertida, engraçada e para cima, alguém que eu adoraria ter por perto. Courtney era a minha maior revelação, mas não nasceu para viver com uma coroa na cabeça, mesmo tendo crescido para isso, mas de longe era uma das minhas preferidas. Summer era alguém que eu gostava, não como eu gostava de , mas gostava e escolheria se a Seleção estivesse acontecendo da forma correta.
Em uma guerra como a qual estávamos, aquela competição era a distração mais fraca que o público tinha. Leigh-Anne não nos deixava encerrar com ela; muito menos mandar todas as meninas para casa. Principalmente por estarmos no final dela. Contudo, no fundo, eu sabia que ela queria manter-nos próximos das outras garotas para não ter chance com a coroa.
Mesmo com tantos inimigos em nossa volta, a Tigre Dourado era a sua maior.
— Está pensando no quê? — Summer perguntou ao meu lado, deitando a cabeça em meu ombro. Me assustei com sua presença repentina. — Está tão quieto ultimamente.
— Estou um pouco ansioso.
— Com o casamento de Alan? — ela disse.
— É algo importante, a pessoa com quem ele se casará pode definir o Acordo que temos. — era verdade. Por lei, metade do reino de Agartha seria também do cônjuge do rei ou rainha. Assim como em Avallon, minha mãe tinha direito de algumas terras do país; principalmente por ter entrado com muito dinheiro, investindo em uma época de crise.
— Alan não largaria a gente assim, principalmente por causa da . — o tom dela havia ficado sério. — Nunca falei isso para ninguém, mas acho muito triste o fardo que ela carrega.
— Acho ele triste, ela não tem muita escolha e não pode sair disso. — ela me encarou por alguns minutos e começou a rir. — O que foi?
— Você nem disfarça mais, Aykroyd. — arqueei uma sobrancelha. — Olhe para você, babando pela Tigre Dourado. É muito broxante gostar de alguém que é apaixonado por outra.
— Sabe que ela gosta do , não sabe? — perguntei, rindo. Aquilo era constrangedor.
— Não dá pra saber de quem ela gosta, mas a gente sabe de quem vocês gostam. — ela suspirou. — Por que vocês nos fazem perder tanto tempo aqui?
— Sum, as coisas são muito mais difíceis do que parecem. — passei a mão no rosto. — Mas eu nunca usaria nenhuma de vocês como segundo plano. Nunca.
— Volte a ser um babaca como no começo, fica mais fácil te odiar. — a abracei, sabia como ela se sentia. Ninguém merecia passar por aquilo.
— Sinto muito por você se sentir assim. — suspirei. — Sei como é ruim e vocês não merecem isso. Vou ser sincero com cada uma, é o mínimo que eu posso fazer. Gosto de você, me sinto bem ao seu lado, mas eu a amo. Por mais que ela não me escolha, eu não vou usar nenhuma de vocês como um tapa buraco.
Foram alguns minutos de silêncio constrangedor, até ela por fim soltar as duras palavras:
— Obrigada por ser sincero, mas eu desejo que vocês me liberem da Seleção. — os olhos dela brilharam. — Sou perfeita demais para ficar de chaveirinho de três marmanjos desse tamanho.
— Não quero que você vá.
— Nada adianta se você não tem olhos para mim, . — concordei com a cabeça. — Demorei muito tempo para entender que não tenho espaço por aqui. Acho nossa monarquia uma piada e não quero ser odiada como sua mãe é.
— Você não é como a minha mãe. — fiz uma careta.
— Aposto que anos antes de vocês nascerem, ela era uma pessoa completamente diferente... Sabe o que deve ter sido o pivô da loucura dela? O poder. — Summer balançou a cabeça, passando a mão no cabelo. — É muito fácil se perder com uma Coroa na cabeça. — o meu silêncio era o suficiente para ela entender que havia tocado em um assunto delicado, o qual eu não tinha como entrar em detalhes. — Se quiserem que eu fique para manter o showzinho, como a grande atriz que sou, vão ter que me pagar. — rimos juntos, era justo e ela era esperta. — Fechado?
— Bom fazer esse acordo com você, Sum.

Por


Acordei com um barulho forte que parecia estar diretamente na minha cabeça. Me levantei em um pulo, ainda sem entender o que estava acontecendo, olhei para o lado e estava sozinha. e Benjamin não estavam na cabana, o que me deixou completamente assustada e nervosa, por motivos óbvios. Abri uma fresta da cabana e pude ver que estava escuro, ainda era noite. Os barulhos não cessavam, mas o que mais me chamou a atenção, foi o céu cheio de luzes.
Fogos de artifício.
Coloquei o meu casaco e caminhei até o local, a movimentação dos guardas estava grande; parecia que a maioria deles estavam como eu: sem entender nada. As luzes vinham direto das valas onde os soldados mortos seriam enterrados. Pude ver após atravessar o mar de pessoas, terminando de enterrar algo, ou melhor, alguém. Benjamin estava logo atrás.
Poirot e alguns outros soldados soltavam os fogos.
— Desculpem-nos por acordá-los! — falou assim que se juntou aos outros. — Esses homens e mulheres merecem um velório digno! Morreram protegendo o nosso país em uma guerra horrível! Infelizmente, não poderei trazer a família de cada um, ainda não é seguro... Quando for, eu prometo trazer cada ente querido até aqui e mostrar que cada uma dessas pessoas são importantes. No momento, isso é o máximo que posso fazer.
O público em volta parecia chocado. Ninguém imaginava que faria algo desse tipo, nem mesmo eu. Foi ali que eu vi o príncipe que conheci, aquilo fez com que meu corpo arrepiasse. Acredito que a situação como um todo era motivo para arrepios e os olhos encherem de lágrimas.
Era guerra.
Eu era ingênua ao imaginar que qualquer pessoa fosse ter alguma regalia ali.
No meio do circuito do fogo cruzado, a única coisa que importava era tentar sair vivo.
Escutei as palmas dos colegas e até mesmo pude ver alguns chorando, nem imaginava como era estar ali, mas sabia como era perder alguém. Doía muito. Doía ainda mais pensar que poderia ser algum ente querido meu ali sendo enterrado com milhares de outros. Imagine? Benjamin, meu pai, os meninos! Denver e Ted morreram, mas não foi pela guerra, e era doloroso mesmo assim.
Meus olhos marejaram, olhei para o lado e vi Judy, a garota que eu dei alguns pontos mais cedo. Ela estava chorando, olhando para o céu. Não me contive e a abracei de lado, a garota não se importou com o carinho repentino e ficou alguns minutos calada.
— Ele morreu com um tiro na cabeça. — ela secou a lágrima e me encarou. — Entrou na frente da bala por mim.
— Sinto muito, Judy.
— Em um ataque besta quando as caravanas das mulheres chegaram em Portillo. — continuou ela, com os olhos vermelhos. — A única parte boa de eu vir para a guerra, era poder ficar perto de Phill. Parece que não tenho mais ninguém agora. Nem família, nem meu namorado.
— Eu nem sei o que te dizer, céus...
— Minha família morreu no bombardeio há alguns meses. — a garota começou a rir. — Não sei porque estou te contando isso, desculpe.
— Judy, eu quase perdi minha família quando atacaram Southamptom. Sei como é perder pessoas importantes, acredite em mim. — ela encostou a cabeça em meu ombro. Judy só era alguns anos mais nova que eu. — Vou embora amanhã pela manhã quando Agartha chegar aqui, se quiser ir comigo, tenho um bom esconderijo... Posso te mandar para Agartha com o rei Alan ou você pode ficar comigo no castelo, junto com as minhas criadas.
— Você pode fazer isso? — os olhos dela brilharam.
— Não, mas eu sou o terror da Coroa... Tenho bons contatos! — sorri fraco, escutando-a rir novamente.
— Não quero ficar cara a cara com a rainha, eu acho que bateria nela. — ri daquilo, eu não era a única. — , você é muito mais bondosa do que eu imaginava.
— Eu faria isso por todos vocês. Infelizmente, não posso fazer mais. — ainda.

~*~


Estava terminando de arrumar as coisas para voltarmos para Avallon. A noite foi bem pesada, contudo, foi muito linda e o melhor que poderia ser feito pelos homens e mulheres que morreram. O funeral geral improvisado derramou muitas lágrimas e com certeza fez os soldados olharem para de forma diferente. Não conversamos muito, ele não dormiu comigo e Benjamin. Ficou arrumando as valas e ainda estava lá quando acordei.
Depois do café, vimos uma movimentação estranha de terra, sabíamos que era a coorte de Alan. No entanto, também sabíamos que poderia ser alguma emboscada. Senti uma mão me pegando pelo ombro e me escondendo atrás de uma das barracas. Fiquei cara a cara com os olhos azuis de .
— O que foi?
— Você não pode ficar desfilando por aí como se fosse normal a Tigre Dourado caminhar junto com os soldados! Lembre-se que tem muita gente que te odeia. — não consegui respondê-lo, afinal, ele tinha razão.
— Está certo, desculpe. — o príncipe me encarou, sem entender. — O que foi? Estou cansada de brigar.
— Eu também estou, . — quis chorar por escutá-lo falando meu apelido novamente. Tantas lembranças vieram em minha mente com isso. — Bom, vamos juntos receber Alan e sua noiva. Não vou te deixar sozinha até você estar ao lado de Poirot ou Ben.
Caminhamos juntos e calados, eu não quis me prolongar, afinal, ainda não estava pronta. Ele também não forçou nada, não precisávamos de muito para nos machucarmos com palavras cruéis e pesadas. Depois de Robin e depois do que fez comigo, eu não conseguiria agir como se nada tivesse acontecido. Não era assim. Ele também não.
Os carros não eram tão chamativos, não queriam chamar os inimigos para perto, também não vieram tantos agarthanos, não era seguro. O primeiro carro que parou, revelou vários guardas armados. Do segundo carro, saíram mais alguns, e, logo em seguida, Alan. Não escondi o sorriso quando o vi. O jovem rei estava mais maduro fisicamente, podia ver pela sua expressão cansada e a barba por fazer com alguns fios brancos, mesmo sendo tão jovem. Ter uma coroa na cabeça era sinônimo de envelhecimento precoce. Contudo, Alan não me viu no meio daquele monte de gente e eu ainda permanecia atrás de .
— Nos encontramos de novo, pequeno ! — ambos riram e se abraçaram. — Pronto para voltar para casa? Vejo que fez um bom trabalho por aqui.
— Vamos terminar de encher os comboios e logo partimos para o castelo. Faremos o caminho pela floresta para chamarmos menos atenção. Avise seus homens, será uma longa viagem. — meu estômago embrulhou quando escutei que iríamos pela floresta, eu conhecia bem aquele caminho. Logo pensei em Judy, ela não poderia ficar naquele comboio onde fiquei.
— Como estão as coisas no reino?
— Calmas, eu não estou lá! — saí de trás de , Alan ficou pálido e parecia que tinha perdido a fala por alguns segundos. — Não me diga que não gostou da minha surpresa!
— O que você está fazendo aqui, ? — ele perguntou, ainda chocado. Olhou para o próprio carro e ficou incomodado por algum motivo.
— Bom te ver também, como foi a viagem? — ironizei, vendo-o sorrir pela primeira vez e me dar um abraço. — Não preciso dar explicações, vim aqui porque foi necessário.
— Uma surpresa para todos nós. — Benjamin sorriu, aparecendo ao nosso lado. Alan deu uma risada forçada. — Aonde está sua companheira de Coroa?
— Vocês saberão hoje à noite.
— Suspense? — questionei, vendo-o dar uma piscadela.
— Você nem imagina!

Capítulo 25

O caminho de volta para o castelo foi como reviver novamente o pesadelo de deixar minha família naquelas montanhas, só que com menos tempo de viagem e mais enjoos com o movimento vindo dos comboios. Entendia que era mais seguro, mas fisicamente não imaginava como, afinal, a qualquer momento o carro poderia cair de uma ribanceira ou uma árvore poderia cair em cima da gente. Isso era mais seguro do que os vantronis?
Desta vez, voltei com Poirot e sua equipe, ao lado de e Benjamin. Minha acolhida entrou em um dos carros de Alan, afinal, ele me devia essa e não titubiou quando eu o puxei de canto e intimei que ele a escondesse e assim o rei de Agartha fez. Judy entrou às escondidas e ninguém nem desconfiou. Era o mínimo que eu podia fazer por ela. Acredito até que Alan a levaria para Agartha depois, daqui uns três dias, depois do grande anúncio e outras pendências com Avallon.
— Que cara é essa? — perguntou.
— Conheço esse olhar, é melhor não ficar muito perto... — Ben falou, me fazendo soltar uma careta. Ofensa era a verdadeira palavra para definir aquele momento. — Ela acaba levando a sério o título de Tigre Dourado quando se trata de viagens longas em florestas.
— Cale a boca antes que eu te dê um soco no estômago! — meu irmão gargalhou. — Vai demorar quanto tempo para chegarmos no maldito castelo?
— Logo estaremos lá. A viagem não é tão longa quando cortamos pela floresta, só é mais conturbada. — respondeu. — Não vejo a hora de chegar lá e poder finalmente dormir um pouco.
— Duvido que terá tempo com Alan por aqui. Sua mãe deve ter preparado a maior recepção de todas! — meu irmão disse.
— Fiquei sabendo que terá até fantasia! — Poirot falou, animado. — Merecemos uma grande festa depois das imagens horríveis que presenciamos.
— Não tenho clima para festas. — dei de ombros, fechando os olhos. — Ainda mais para as festas daquela intragável.
— Por sorte, a festa é para o seu queridinho rei de Agartha. — retrucou.
— Posso comemorar com ele em uma mesa de bar com os seus funcionários depois dessa lavageira! — Benjamin revirou os olhos. Todos estavam cansados das nossas discussões. Até mesmo eu.
— Você ainda é uma Selecionada, tem que agir como uma.
— Sei das minhas obrigações e também sei que tenho o direito de decidir ou não o que eu quero e o que eu não quero fazer, Aykroyd. — o príncipe resmungou algo que não entendi. — Prestigiarei o meu amigo porque eu quero, não porque você ou qualquer um me obrigou. Já passou da hora de vocês entenderem que eu não sigo mais suas ordens.
— Nós ainda usamos a coroa na cabeça! — não me assustei com o grito do príncipe, sabia exatamente como tirá-lo do sério. — Nós ainda temos o poder e vocês ainda devem nos respeitar e obedecer.
— Até quando? — sorri de canto. — Eu respondo: não por muito tempo e nem se depender de mim. Estou cansada da sua maldita coroa!
— Você não vai acabar com a monarquia, se é o que pensa. — o príncipe me encarou e eu dei risada.
— Não sei porque se preocupa tanto com a sua coroa, será o último a usar ela. — se calou. Em outro momento eu me arrependeria de dizer aquilo, mas não hoje. — Acompanhe a sua mãe na doce ilusão de nunca ter o direito total de ter o poder.
— Não aguento mais isso, já chega! — Ben gritou. — No que vocês se transformaram? Me digam! — encarei . — Vocês eram amigos! Dois companheiros e únicos que estavam realmente preocupados com o povo! Agora você se tornou a rainha da verdade e você virou a cópia da sua mãe cheia de rancor. Até quando vamos ter que aturar vocês dois irreconhecíveis?
O silêncio que se instalou durou até chegarmos em Avallon. Contudo, os meus pensamentos e os pensamentos de estavam tão altos em nossas cabeças que chegava a ser difícil respirar. O movimento e o balanço do comboio nem me incomodavam mais. Meu irmão tinha razão, havia se tornado alguém irreconhecível e eu estava com tanto ódio que estava me tornando alguém totalmente diferente de quem eu realmente era. Não machucava quem eu gostava. Eu sabia que no fundo ainda amava o que conheci no começo da minha jornada, mas também sabia que aquele príncipe estava muito longe de estar por perto. Talvez até ele nunca voltasse.
Pessoas machucadas feriam quem menos desejavam.
Quando o carro parou, fui a primeira a descer, tentando controlar minhas lágrimas. Não queria ser aquela pessoa que meu irmão gritou, eu era diferente daquilo. Meu coração apertou um pouco quando vi novamente o castelo onde morava nos últimos meses. Os carros foram parando logo atrás de nós e eu não consegui nem ficar por perto para conversar com Alan e descobrir quem era sua noiva. Saí andando em direção à enorme entrada para ir ao meu quarto. Estava devastada.
Achei que me sentiria bem por estar em um lugar onde conhecia, mas a verdade era que eu não me sentia em casa ali. Olívia e Peyton não estavam ali. Minha mãe, minhas irmãs, meu cunhado, meu irmão Kurt, Denver ou Robin não estavam ali. Eu tinha outros portos seguros, mas não era igual. Eu nunca estaria completa.
Vi várias pessoas ali reunidas, esperando nos receber — receber a tropa agarthana e avallonesa. Meus olhos vermelhos entregariam uma fraqueza que eu não queria mostrar. Dei a volta, querendo ir pela cozinha ou pelas entradas dos jardins. Corri, evitando ao máximo qualquer contato com qualquer pessoa. Contudo, dei de cara com Summer. Ela estava impecável, como sempre.
— O que eu te disse sobre não deixar que te vejam sofrer? — ela colocou as mãos na cintura, olhando em volta para ter certeza que ninguém nos via. — Por Deus, além de tudo você está horrível!
— Eu estava tentando não deixar ninguém me ver, Sum. — ri, nervosa com a situação. Estava com as mãos tremendo, minha respiração estava totalmente acelerada e eu parecia que ia explodir. Parece que todos os sentimentos de perdas, lutas, expectativas criadas em cima de mim, estavam me esmagando naquele minuto.
— Vem, vamos sair daqui. — ela percebeu o que estava acontecendo e me puxou para o canto mais escondido das câmeras e qualquer tipo de incômodo. Respirei fundo conforme ela mandava, mas eu só queria chorar. Não só queria, como também fazia aquilo descompassadamente. — , o que aconteceu? — ela perguntou, assustada, enquanto me abraçava. — Estou começando a ficar assustada com isso.
— Eu não quero ser uma pessoa ruim. Eu não aguento mais, eu não sou assim, eu não quero mais isso... Céus, eu não aguento perder mais ninguém! Aquele lugar é horrível, aqueles mortos sendo enterrados em covas coletivas... Eu nunca vou esquecer o cheiro. O olhar daqueles soldados, a perda de cada um chega em mim como um soco. Essa seleção? Eu machuco os meninos, eu machuco , eu machuco o e ainda consigo machucar o ! — eu soluçava, me sentia uma completa inútil. — Tigre Dourado? Que título é esse, Summer? Eu não sirvo para absolutamente nada! As pessoas acreditam em uma farsa. Não consigo proteger a mim mesma, nem minha família, imagine um país todo? Eu...
— Por Deus, fique calma, por favor. — ela falou, me apertando ao máximo e em seguida me soltando, mas segurando meu rosto. Seus olhos estavam vermelhos e ela havia chorado junto comigo. — Eu quero que você me escute. Eu preciso que você entenda que você é uma mulher incrível! As pessoas te amam, eu aprendi a te amar também, ! Esse seu fardo de Tigre Dourado é horrível, mas é algo grande e digno da pessoa que você é. Você vai lutar por todos aqueles mortos, vai lutar pela família deles e não estará sozinha! Não sei o que aconteceu nessa viagem, não sei o que viu e o que escutou, mas não se abale. Não se deixe abalar, ! Você é forte e você é grande.
— Tem noção de como está sendo difícil? Eu sinto vontade de sumir, às vezes queria que aqueles que me atacaram tivessem tido sucesso, talvez morta eu tivesse um pouco de paz.
, deixe de ser ridícula! — ela secou uma lágrima e depois passou a mão em meu rosto, rindo e voltando ao seu posto de durona e fria. — Você voltaria como um fantasma para colocar as coisas no lugar. Não importa como, não importa onde, você vai salvar Avallon. É seu destino.
— Não era para você estar recebendo a corte agartana? — perguntei, rindo e tentando mudar de assunto.
— Era. — ela sorriu, arrumando o vestido e tirando a poeira da minha roupa, eu estava imunda. As minhas tranças estavam todas bagunçadas, pareciam até um ninho de passarinho. — Mas eu perdi a hora, estava aqui no jardim, pintando um pouco. Escutei as trompas, mas aí vi um furacão passando por aqui, acabei tendo que intervir.
— Você sempre me impedindo de demonstrar fraqueza em público. — ela suspirou e voltou ao modo Summer.
— Não deixaria você demonstrar algo que não é. Estou do seu lado nessa guerra, . É o lado certo!

~*~


— Essa é a sua fantasia! — Lauretta falou, tirando do guarda-roupa um enorme vestido. — Nós desenhamos tudo isso e os pelos são sintéticos. Era sensual e elegante ao mesmo tempo, fazendo jus à sua fama, Tigre Dourado...
— Eu só queria não chamar a atenção — falei, rindo, enquanto me virava com a toalha na cabeça.
O enorme vestido tinha tons dourados, brancos e pretos, era volumoso e com uma fenda elegante que dava visão para minha perna. Tinha mangas longas, mas não eram grudadas no meu braço como elas costumavam fazer, o decote em “V” era muito gracioso; aquilo dava o ar de sensual que Lauret tanto falava. Não demorou muito para elas o colocarem em mim e eu me sentir totalmente poderosa.
— Olívia estaria pulando se estivesse aqui. — Taihne riu.
— Ainda mais pelo fato do vestido ter sido desenhado por ela. — encarei Lauretta com os olhos arregalados. — Olívia já imaginava que teria alguma festa à fantasia e queria que você vestisse algo épico. Nós só melhoramos ele.
— Céus, vocês não erram nunca! — me encarei no espelho depois que elas terminaram de arrumar meu cabelo com a tiara feita especialmente para aquele momento e a maquiagem carregada que eu não costumava usar. — Queria que vocês fossem reconhecidas por isso. Enquanto aqueles estilistas insuportáveis se acham por vestidos copiados uns dos outros, vocês criam os mais lindos e mágicos.
, só de você estar usando-os já é uma enorme sorte e alegria para nós. Taihne foi em direção ao enorme guarda-roupa e tirou algumas caixas de lá. — Não me olhe com essa cara, isso aqui não é nem metade do que você recebeu hoje.
— Mas...
— Alô? Hoje é seu aniversário! — Lauretta me deu um tapinha na testa. — , não me diga que você esqueceu do seu próprio aniversário!
— É tanta coisa na minha cabeça que eu simplesmente esqueci. — falei, um pouco sem jeito. — Estou me sentido um ser de outro planeta.
— Você é. — Taihne sorriu. — Separei alguns presentes de pessoas que acreditamos ser mais próximas de você. Além do fato dos presentes já terem sido revistados pelos seus guardas...
— Amo a minha privacidade. — falei com sarcasmo e peguei a primeira caixa. Era da minha família. — Não consigo ler essas cartas agora, eu vou chorar.
— Sua mãe enviou um quadro com a última foto de vocês juntos e tem uma carta da família toda aqui. — Lauretta sorriu. — Leia depois. — concordei com a cabeça, vendo a outra caixa. Era de Olívia. Uma foto da minha afilhada e do meu sobrinho juntos, aquilo fez com que meus olhos marejassem. Eles estavam enormes e riam para a foto. Nem pareciam mais aqueles recém-nascidos com cara de joelho.
— Certo, vocês escolheram o pior horário para me fazer essa surpresinha. — olhei para cima, tentando não chorar. — Não posso mais ver isso, não agora e não hoje.
— Você fugiu de tudo e todos desde que chegou, ... Nós não deixamos ninguém entrar aqui, mas você não precisa negar o amor e carinho de quem te ama. — Taihne acariciou minhas costas e me abraçou por trás. — Não sei o que aconteceu naquele campo de guerra, mas você tem a gente e vai ficar tudo bem.
— Esse aqui é um presente nosso pra você. — Lauretta sorriu e me mostrou uma caixa com um livro com as páginas em branco. Encarei, sem entender. — Você pode escrever sua história aqui.
— Ninguém vai querer ler ela. — brinquei, vendo-as revirar os olhos.
— Nós vamos e nós precisamos dela. As páginas em branco vão ser preenchidas por sua trajetória e como você conseguiu salvar o povo da escravidão feita pela coroa, . São páginas de ouro.
— Sou muito grata e feliz por ter vocês por perto. — abracei as duas. Em seguida, escutamos uma batida na porta. As duas me encararam, tentando entender o que deveriam fazer, e eu acenei com a cabeça, finalmente criando coragem para encarar o mundo lá fora.
Depois de Summer, eu corri para o meu quarto e fiquei lá, sozinha e protegida no meu canto. Um dos poucos lugares que eu tentava ter paz. Foi uma tarde corrida, recebendo visitas a cada cinco minutos, mas não permitindo a entrada de ninguém até o horário que me arrumei para o maldito baile de anúncio real que Alan havia solicitado. Era cômico não lembrar do próprio aniversário, parecia até brincadeira. Contudo, há muito tempo eu não pensava só em mim, lembrar que era o dia do meu nascimento não era uma das minhas preocupações naquele momento. Encarei a porta e vi que era meu pai e meu irmão, os dois devidamente vestidos.
Minha gargalhada foi recebida com sucesso e os dois sorriram comigo.
— Piratas?
— Adivinhe de quem foi a ideia? — meu pai encarou meu irmão, que deu uma voltinha. — Todos os guardas estão vestidos do mesmo jeito.
— Não me diga que não foi uma brilhante ideia? — Benjamin perguntou, se aproximando de mim.
— A melhor que você já teve! — tentei parar de rir, já que minhas bochechas estavam doloridas. Meu pai com uma peruca comprida e um tapa olho era o ápice do meu dia, não poderia me sentir melhor com aquilo. O chapéu e a roupa mostravam que ele era o capitão, não deixava de demonstrar que era o líder dos guardas. Ben estava com um papagaio no ombro e as roupas meio rasgadas, o tapa olho e um pano na cabeça. Não me aguentei, aquilo era engraçado demais.
— Agora olhe só para você! — meu pai me girou. — Está perfeita!
— Não fazia ideia de que seria um baile à fantasia, sabia menos ainda que vocês iriam estar desse jeito! Adoraria me vestir como pirata para acompanhar esse vexame! — meu irmão me encarou, ofendido.
— Ah, é? — o garoto se aproximou de mim, cutucando minha cintura e me fazendo gargalhar. Odiava quando ele fazia aquilo para me punir. — Retire o que disse!
— Nunca! — tentava me esquivar, mas era impossível.
— Retire o que disse! — ele repetiu.
— Não! — gritei, rindo. — Papai, por favor, me salve!
— Você falou que eu estou passando por um vexame! Retire o que disse! — o mesmo apoiou o meu irmão, me fazendo rir ainda mais.
— Eu vou morrer, mas não retiro o que disse de maneira alguma! — cai no chão com os dois em cima de mim.
— Que droga de menina teimosa! — Ben gargalhou depois que viu que eu não desistiria tão fácil. — Estou charmoso e hoje eu arrumo uma namorada!
— Beth ainda está na seleção, bobinho!
— O que está rolando entre você e Beth? — meu pai questionou, se sentando no chão.
— E entre você e os príncipes? — meu irmão tentou mudar o assunto.
— Nem vem, isso acontece desde que entrei nesse castelo. Agora você e Beth...
— Está tudo sob controle, não se preocupem! — ele tentou distrair meu pai e eu, tirando do bolso uma caixinha pequena, me entregando. — Feliz aniversário, rata. Não pense que eu esqueci, só estava bravo por você ter ido para Portillo.
— Não se preocupe, eu também esqueci do meu aniversário. — o abracei. — E adorei os brincos, você tem bom gosto.
— Foi Beth que escolheu... — respondeu sem pensar muito, arqueei uma sobrancelha, querendo dar um soco em seu estômago. — Anda, pai! Dê o seu presente logo, os piratas precisam fazer a ronda pelo navio!
— A gente ainda vai conversar sobre isso. — meu pai lhe deu um tapa na cabeça e me encarou. — É uma honra estar ao seu lado, minha filha! Queria ter estado contigo desde que nasceu, mas vamos superar isso a partir de agora! Recuperar o tempo perdido é difícil, mas temos muito tempo juntos.
— Assim espero, meu pai. — sorri, queria que aquilo fosse verdade. Contudo, meu coração doía cada vez que pensava neles correndo perigo constantemente. Toda vez que pensava em Denver. Peguei a caixa de sua mão e ali não tinha nada. — O que é isso?
— Seu presente está no celeiro. Agora você tem um cavalo só seu. — arregalei os olhos. — Filho da Anchor. É novo, então você vai conseguir treiná-lo da maneira que desejar.
— Parabéns, eu consegui o meu próprio cavalo só com dezenove anos!
— Eu estou muito feliz! Obrigada! — abracei meu pai, que sorriu, orgulhoso.
Em seguida, ele encarou Benjamin e eu, com os olhos brilhando e totalmente feliz. Sabia que o momento seria perfeito se Denver estivesse com a gente, mas era o bastante. Ainda tínhamos um ao outro. Não demorou para eles se retirarem e irem para a ronda antes do baile começar. Faltavam apenas alguns minutos.
Olhei para a porta e vi encostado nela. Corri para abraçá-lo, com saudades daquele príncipe enferrujado. Contudo, quando me dei conta de sua fantasia, não pude deixar de rir, aquela noite me renderia risadas.
— Não estou entendendo a risadinha! Era para você ficar com medo da minha fantasia horripilante.
— Drácula? Certo, estou caindo de medo de você! — ri, convidando-o para entrar e fechando a porta.
— Se tivesse uma competição da melhor fantasia, você com certeza ganharia! — sorri e me olhei no espelho. Queria me sentir tão poderosa quanto diziam. — Feliz aniversário, à propósito. — o príncipe sorriu, me dando mais um abraço e tirando do bolso uma caixinha pequena.
— Eu não sei o que fazer com tantos presentes. — brinquei, rindo. Abri a caixa e arregalei os olhos com o que tinha ali. Era o símbolo dos selvagens junto com a imagem do Tigre Dourado. me encarou com a sobrancelha arqueada e eu não soube o que dizer. Um pingente.
— Na verdade, esse pingente fica comigo, mas o presente é seu.
— Não estou entendendo, .
— Estou ao lado dos selvagens nessa luta, . — achei que ia cair dura no chão. — Não vou entrar em detalhes, mas a coroa precisa acabar.
, você tem noção no que está se metendo? — segurei seu rosto, completamente nervosa com aquelas informações. — Tem noção do perigo que está correndo?
— Sou o herdeiro da coroa, o primeiro. Eu não quero esse maldito legado e também não quero que meu irmão entre nessa monarquia que vai mudá-lo completamente. — os olhos dele encararam os meus. — Vou te ajudar a salvar o povo, mas em troca, eu quero que você salve a minha família.
— Você sabe o que está fazendo? — o príncipe viu o meu nervosismo. Não era só por ele ter descoberto sobre minha aliança contra a coroa, mas também pelo fato de que ele estava traindo a coroa do mesmo jeito. Se nós dois fossemos pegos, nós dois morreríamos. Não importava quem eu era e não importava quem ele era.
— Sei e está tudo bem. Nós vamos passar por isso. — suspirei, nervosa e ansiosa. — Vamos acabar com a monarquia e vamos salvar o nosso povo.
A mãe dele não estava nos meus planos e isso era óbvio. Contudo, ele não poderia saber daquilo.

Capítulo 26

Todos estavam fantasiados e raramente eu conseguia descobrir quem estava por trás das facetas coloridas e máscaras, a não ser que a própria pessoa se denunciasse. Sam estava de um tipo de ave azul, Summer usava uma fantasia vermelha totalmente sexy e completamente ousada, ela não ficava feia nunca. Lizzie estava com uma máscara em seu rosto, um tipo de personagem que eu não conhecia. Beth e Courtney estavam com fantasias parecidas, pareciam que estavam de fadas. Os guardas, como meu pai contou, estavam de piratas e eu não continha a risada toda vez que olhava qualquer um deles — sérios e focados — com aquela roupa.
Alan estava de algum cantor muito conhecido, mas que eu não me recordava qual. Também não consegui descobrir quem era sua noiva, ele não havia conversado tanto comigo quanto eu gostaria. Uma pessoa alta, mas não tanto quanto Alan, vestida de preto da cabeça aos pés e com uma máscara horripilante cobrindo o rosto não permitia que a gente descobrisse quem era, a roupa preta o ou a cobria completamente. Parecia o anunciador da morte. Me tremi com aquilo, entendia que era uma festa a fantasia, mas qualquer brincadeira feita relacionada com a morte me dava arrepios, há muito tempo aquilo deixou de ser piada.
Olhei de longe e vi rei Roger entrando ao lado de sua esposa. O rei, como sempre, estava maravilhoso e eu não contive um sorriso ao vê-lo todo sorridente acenando para as pessoas enquanto estava fantasiado de homem das cavernas. Já a Leigh-Anne não poderia ter pensado em uma fantasia que mais combinasse com ela: uma cobra. entrou logo atrás, vestido de super herói. Olhei ao redor, procurando por , mas não o vi.
Por um lado, me sentia um pouco ofendida por não ter a presença do príncipe do meio desde a hora que cheguei. Depois do nosso último encontro e do que ele havia me dito, não conseguia compreender a ausência dele. Será que ele se arrependeu?
— Não poderia imaginar uma fantasia diferente para você! — Alan apareceu ao meu lado, sem o seu ou a sua fiscal da morte do lado. — Sua acompanhante está muito bem acolhida com os meus funcionários, a propósito.
— Obrigada por ter cuidado dela e me desculpe por não ter ficado ao seu lado quando chegou... Estava tendo algum surto. — sorri, o abraçando.
— Está tudo bem. Fique tranquila... Feliz aniversário! — ele me abraçou e eu ri da sua peruca fazendo cócegas em meu rosto. — Seu presente eu entrego mais tarde.
— O que é? — perguntei, ansiosa.
— Surpresa, meu bem. — fiz careta, olhando em volta. — Qual dos príncipes você está procurando?
— Nenhum deles, estou procurando sua noiva. — o rei de Agartha sorriu. — Cadê ela? Quem é? Eu conheço?
— Ah, fazendo todas as perguntas que estamos ansiosos para ouvir! — meu sorriso se desmanchou quando escutei a voz da víbora atrás de mim. — Elvis? Foi um bom artista. Bela fantasia, Alan. — meu amigo sorriu, educado como sempre. Ao contrário de mim, que estava prestes a dar as costas para a megera. — Não podia ser menos previsível, ? Tigre Dourado?
— Minhas damas fizeram essa obra de arte para mim enquanto eu estava verificando Portillo... A senhora tem alguma noção do que está acontecendo por lá? — ela não diminuiu o sorriso, mas eu sabia como desfazê-lo em segundos. — Mas vossa majestade deve saber, não é? Nem teve tempo de se vestir para esse evento!
— Eu estou fantasiada! — ela arqueou a sobrancelha, não entendendo o que eu estava querendo dizer. Quem estava por perto entendeu na mesma hora. Meus olhos percorreram por Leigh-Anne da cabeça aos pés, carregados de deboche.
— Ah... Está?! — dei um sorriso de canto, arqueando a sobrancelha. — Não parece... É um visual tão do seu dia a dia.
— Não me faça perder a paciência hoje, Cendrowski!
— Que clima pesado! — escutei a voz de atrás de mim. A fantasia verde de jacaré e a peruca loira foi o suficiente para ter toda atenção para ele. As gargalhadas vinham de todos os cantos do salão. — Se tem um concurso aqui hoje, eu ganhei!
— De onde você tirou essa coisa horrorosa? — Leigh-Anne perguntou. Rei Roger veio até nós, sorridente, e abraçou o filho.
— Você conseguiu a fantasia do Brasil! — gargalhei da animação do pai do príncipe. — Pessoal, essa aqui é a Cuca de Avallon.
— Com toda a certeza, é a fantasia menos esperada desse lugar. — Alan falou, animado. — Bom, aproveitem um pouco a noite...
— Daqui a uma hora vamos anunciar seu noivado, Rei Alan... Esteja pronto! — a rainha falou, autoritária. Alan sorriu e se retirou. — Fique longe dos meus cristais com essa cauda gigante. — em seguida, saiu de perto de nós.
Roger ficou algum tempo ao nosso lado, conversando. Em momento algum tocou no assunto de Portillo e, por algum motivo, eu estava preocupada com aquele silêncio.
— Você está uma graça. — brinquei, arrumando os cabelos bagunçados dele que estavam por dentro da boca da Cuca.
— Alguém tem que trazer sorrisos para esse lugar! — ele sorriu e me encarou. — Me deixou preocupado e eu me arrependi mil vezes de ter te deixado ir.
— Sinto muito. — olhei para baixo. — Uma parte de mim queria que você não tivesse deixado. — assumi, respirando fundo. — Foi horrível, de todas as maneiras, de todas as formas... Eu jamais vou esquecer do que vi, do que senti e do que escutei. — se aproximou de mim, colocando as mãos em minhas costas e me abraçando de lado. O sentimento ruim passou assim que me dei conta que um jacaré estava me abraçando, e eu cai na gargalhada.
— O que foi? Ficou maluca? — ele perguntou, confuso. Encarei o mesmo e ele logo entendeu do que se tratava e riu junto. — Certo, assuntos sérios não podem ser discutidos com isso aqui.
— E que bom que não podem. Pela primeira vez eu sinto que preciso esquecer esse peso.
— Você está gostando da festa?
— Está muito boa. — sorri e olhei em volta. — De longe essa é uma das melhores. Minha favorita.
— Que ótimo. — sorriu e me encarou. — É para você. — encarei-o, sem entender. — Não estamos comemorando só o noivado de Alan. Estamos comemorando seu aniversário também!
— De quem foi essa ideia? — ri, balançando a cabeça.
— Minha e de Alan. organizou uma boa parte e ... fez a cabeça da dona Leigh-Anne para liberar o tema. — procurei pelos outros irmãos e sorri ao ver dançando e rindo com Courtney. O mais velho estava mais solto e havia me deixado chocada com sua escolha de mais cedo, o mais novo parecia o mesmo de sempre e, por um momento, eu esperava que fosse. — Mais tarde eu te levo seu presente no quarto... Sabe? Sem essa fantasia e com cara de Aykroyd, aquele que você ama!
— Quem disse? — brinquei. Contudo, era verdade.
Eu amava .
Assim como amava .
Assim como amava .
— Eu sei, amor. — o príncipe piscou e sorriu. — Ah, a melhor parte é ter que conversar com as senhorinhas taradas do castelo. — ele falou entredentes enquanto sorria para uma senhora que se aproximava de nós. — Cuidado, ... Vai me perder aos poucos! — sussurrou, me fazendo gargalhar. — Ah, Sra. Kenturn! Cada dia mais elegante.
Preferi deixar os dois a sós para a dança que a mulher insistiu em levar o príncipe. Ia em direção a , mas Sam estava dançando com ele e estava ocupado com Courtney. O príncipe mais velho corria sérios riscos para proteger a sua família.
Cada um escolhe proteger quem ama, quer a família dele com ele porque sabe que a guerra pode destruí-los... Até mesmo a coroa.
Olhei em volta e vi de longe Lizzie saindo às pressas e Benjamin indo logo atrás. Aquilo não me cheirou bem, então tratei logo de ir em direção aos dois e descobrir o que estava acontecendo. Se tivesse sido apenas uma coincidência, eu iria ficar tranquila, mas se tratava do meu sexto sentido naquele instante. E ele nunca errava quando tinha algo acontecendo. Os corredores do castelo estavam bem iluminados, isso dava a visão que eu precisava para ver o que estava acontecendo entre os dois mais a frente.
Lizzie andava rápido, mas distraída. Benjamin a seguia calmamente. Eu me escondia para que não fosse descoberta e perdesse o que estava acontecendo. Até o momento que ela percebeu a presença de Ben e se assustou.
— Que merda, Walker! Quase me matou de susto!
— Está assustada, Lizzie? Por quê? — meu irmão perguntou, se aproximando dela. — Fez alguma coisa de errado?
— Você aparece do nada das sombras e quer que eu fique como? — ela questionou, sem paciência. — Ah, me deixe em paz!
— Está indo para onde? Preparar alguma outra emboscada para a ? — ele questionou. Lizzie era muito expressiva, não arregalou os olhos como costumava fazer.
— Do que você está falando? — apareci e os dois se assustaram, mas Benjamin não parou de acusar a selecionada.
— Tenho certeza que foi ela! Ela que tentou te matar. — meu irmão estava vermelho. — A letra dela bate com a letra do cartão, ela não estava em nenhum lugar na hora do seu ataque, eu olhei as câmeras.
— A não ser que tivesse uma câmera dentro do vaso do banheiro, vocês não iam me ver mesmo! — ela se defendeu. — Já me interrogaram sobre isso e já viram que eu estava o tempo todo na festa!
— E sobre a sua letra?
— É uma letra perfeita. — ela sorriu. Em seguida, me encarou. — Tenho vários problemas com você, mas não são o suficiente para eu colocar o meu pescoço na reta! Eu não tentei te matar.
— Assuma, Lizzie Frost! Eu andei te investigando! — segurei o meu irmão pelo ombro. Benjamin havia ficado muito mais defensivo comigo depois que Denver se foi. Lizzie era uma das suspeitas e, de longe, a número um. — No seu quarto tem uma foto da cheia de dardos.
— Eu não fiz nada! — a garota gritou, inconformada. — Vou te denunciar por ter mexido nas minhas coisas sem a autorização necessária para isso!
— Fale e será a suspeita número um do meu pai. — a garota engoliu em seco. Os olhos suplicaram ajuda. — Vou denunciar ela ao rei!
— Te acho uma vadia, mas não fiz isso. — minhas mãos encontraram o rosto dela. A garota me encarou, chocada. Meu coração pareceu diminuir naquele instante.
— Não faça nada, soldado Walker. — falei, entredentes. Meu irmão ia reclamar, mas eu o cortei e encarei Lizzie. — Lizzie ficará aqui. E qualquer coisa que acontecer comigo, será a primeira no radar de culpados... Então espero que você comece a rezar pela minha vida, Frost.
— Ser rejeitada pelo príncipe não é suficiente para eu querer tirar sua vida! Ainda mais com aquele pamonha que eu tanto odeio! — ela rosnou. Achei que aquilo era uma coisa que só eu fazia. Pelo jeito, era contagioso.
— Você é baixa, mas não acreditava que poderia ser nesse nível. — falei com desgosto. — Não posso te acusar de assassinato por não ter provas, mas você vai ficar aqui no castelo sendo a suspeita número um. Manter inimigos por perto nunca pareceu tão inteligente. — sorri de canto.
— Ficou maluca mesmo, não ficou? — ela perguntou, inconformada.
— Você quem vai ficar. — arqueei a sobrancelha. — Qualquer um que se meter no meu caminho, vai ficar por perto para ver a coroa que vocês tanto querem colocar na cabeça, ser destruída por mim. — os olhos dela ficaram vermelhos. De vergonha, ódio e desprezo. — Eu vou destruir a monarquia. Esse é o seu castigo.

§


Não queria acreditar que era Lizzie, mesmo as provas indo de encontro a ela. Benjamin não acusava ninguém sem ter certeza, ou quase. Era difícil ver que minha primeira amiga havia se perdido daquela forma e tentado me levar para o limbo.
Quando voltei para o salão, vi que estava quase na hora do anúncio de Alan. O tempo que esperei para tal evento foi usado para conversar com Beth e Summer. As duas estavam bem próximas e ambas felizes. Sam estava distante de nós e não saía do lado de , o que começou a me incomodar, já que eu queria conversar com ele a sós.
— Está com uma cara de que acabou de brigar com alguém... — falou ao meu lado. O encarei e dei um leve sorriso. — Pelo menos não foi comigo.
— Estamos evoluindo. — brinquei. Ainda era estranho. Não era a mesma coisa. Passamos tanto tempo brigando, que era estranho conversar civilizadamente com ele.
— Feliz aniversário, . — ele falou, baixinho. Me entregando uma caixinha. Era uma solitária. Um anel de brilhantes com uma pedrinha lilás. — Espero que goste.
— É lindo, . Obrigada. — ele colocou em meu dedo e sorriu ao segurar minha mão.
— Estou cansado de brigar.
— Eu também. — admiti.
— Espero que um dia você me perdoe e que a gente possa voltar a ser os mesmos de antes. — encarei seus olhos azuis e suspirei.
— Não sei se seremos os mesmos... — admiti. — Nós nos machucamos muito.
— Sim, nós nos machucamos muito. — ele concordou e suspirou. — E eu sinto muito.
— Eu também, . — senti meus olhos marejando. Naquele instante, eu percebi que e eu nunca mais seríamos como antes. Perdemos nossa essência e o que éramos um com o outro. Era um caminho que estava longe demais para encontrarmos de novo.
Não era impossível, ontudo, seria um caminho difícil e não sei se estávamos dispostos a correr esse risco.

(Coloque para tocar: Make This Go On Forever)


Escutei as pessoas aplaudindo e olhando para o enorme palco que estava no meio do salão. Foi a deixa para Leigh-Anne sorrir e subir nele, pegando o microfone. Rei Roger pegou o mesmo em seguida, acabando com o sorriso dela na hora.
— Sempre é uma honra receber todos vocês em minha casa! — ele começou a dizer. — Ainda mais em uma noite como essa, tão animada e bonita! — o público aplaudiu, eles estavam adorando. — A nossa primeira comemoração é em nome à minha selecionada! Feliz aniversário, Cendrowski! — senti minhas bochechas corarem quando a luz veio em minha direção. Benjamin estava ao meu lado e, logo em seguida, meu pai também. — E a segunda comemoração, será o anúncio do noivado de Alan. O rei de Agartha!
Em um pulo, Alan já estava no palco, sorridente e elegante. Abraçou Roger e tratou logo de pegar o microfone.
— Boa noite, Avallon! Boa noite, meus caros agarthanos que estão acompanhando o baile e ao resto do mundo que usa a tecnologia ao seu favor a essa altura das nossas vidas! — Agartha havia compactuado com uma tecnologia muito mais avançada da que tínhamos antes. As câmeras de última geração mostram as imagens de qualquer lugar do reino. — É sempre uma honra voltar aqui, ainda mais hoje, em um dia tão especial! Parabéns para a minha selecionada e minha amiga! — acenei, envergonhada por ter todos os olhares para mim.
Senti meu pai me cutucar e em seguida ir para perto do Rei. Benjamin foi atrás, me deixando sozinha.
— Quero começar o meu discurso falando sobre Cendrowski... É uma garota divertida, alegre, teimosa, debochada, afrontosa e muito mais. Quando eu a conheci, não imaginei que ela seria esse tipo de garota. Qual tipo? — ele questionou, respondendo a própria pergunta. — A que luta pelo que quer e a que luta pelas pessoas, se deixa de lado para ajudar o próximo. Levando em consideração o quanto ela sofreu nesse último ano! me ensinou muita coisa e, em uma de nossas conversas, em um momento de fragilidade dela, ela me jogou contra a parede e me fez pensar na minha posição e em quem sou. Em que tipo de líder que quero ser para o meu povo? Que tipo de homem eu quero ser?
Meus olhos marejaram de novo e eu senti uma mão em minhas costas, outra em meu ombro e mais uma do outro lado. Eram , e . O meu trio.
— Quero relembrar vocês do episódio de retrocesso e completamente abusivo que aconteceu há alguns meses. Denver Walker e seu namorado, Teodore. — mordi o lábio, sentindo o mix de emoções com aquela lembrança. — Os dois morreram por se amarem! Que país é esse onde seres humanos são punidos simplesmente por amar alguém do mesmo sexo? Onde as pessoas são reduzidas apenas pela sexualidade? — olhei em direção a Leigh-Anne e pude vê-la vermelha. Escutar aquelas palavras de um Rei era humilhante para ela e sua cabeça preconceituosa. — As imagens de lutando pelos dois homens não saem da minha cabeça. Essa mulher foi chicoteada por eles! Sofreu e ainda sofre com isso. Minha querida Tigre Dourado, espero que em algum momento você possa esquecer aquele dia horroroso. Em nome de todos os líderes e em nome da minha coroa, eu sinto muito!
apertou minha mão e me puxou para ele, se aproximou da mesma forma e me abraçou pelo outro lado. encostou os lábios no topo da minha cabeça e eu me senti protegida pelos três príncipes.
Me senti acolhida. Escutar aquelas palavras de Alan me fez reviver cada lembrança daquele dia horrível. Os príncipes não estavam lá, mas agora estavam comigo. Agora era mais leve, não significava que era fácil.
—Cendrowski me deu um tapa na cara quando me falou sobre sexualidade. — arqueei a sobrancelha. — Sou rei de Agartha e sou gay. — o espanto de todos mostrou que a sexualidade de Alan realmente era uma surpresa. Até mesmo soltou um “Quê?” — Ela não tem um título como eu tenho, ela não é homossexual como eu sou. Não cabia só a ela lutar sozinha. — senti uma lágrima escorrer no instante que vi o que ele estava fazendo. — Não é uma mulher que vai assumir o trono ao meu lado. Para os meus súditos, eu digo que os boatos são verdadeiros e espero que aceitem. Ao contrário de reinos abusivos contra casais homoafetivos, Agartha será um reino sem tempo para qualquer tipo de preconceito ou homofobia.
Olhei em volta e haviam muitas respostas positivas apenas com os olhares das pessoas para Alan. Alguns estavam completamente chocados e outros estavam nervosos com o anúncio. Meu sorriso estava enorme e eu não conseguia conter aquilo.
— O anúncio veio a ser em Avallon por vários motivos, mas vamos ao mais importante. — o rei de Agartha levantou um dedo. — Nosso acordo só permanece após meu casamento acontecer e se meu noivo aceitar o país com quem estou assinando. Contudo, faremos diferente dessa vez. — Leigh-Anne se tremeu e Rei Roger estava completamente envergonhado. — Vocês estão de acordo com o meu casamento?
— Nunca será suficiente o meu pedido de desculpas com o que aconteceu com Denver e Ted. — meu pai abaixou a cabeça e Benjamin encarou a rainha com ódio. — Essa lei é absurda e peço perdão por nunca ter abolido a mesma! Faço isso aqui e agora, inclusive. Cada um é livre para amar quem bem entende. No fatídico dia, eu não estava aqui, teria evitado tal tragédia!
— E você, Leigh-Anne?
— Isso vai contra as leis divinas! É pecado! — ela falou, me fazendo bufar e não conter a resposta na frente de todos.
— Não fale em nome de Deus! Pecado é o que você faz! É mentir, é fazer mal para o próximo, é castigar quem não faz o que você quer, é ser negligente com pessoas doentes, é tentar matar gente inocente! É usar seus filhos, manipular o mais fraco, usar quem não tem nada só para conseguir o que quer! — a mão de apertou a minha, mas ele não me interrompeu. — Nem mesmo Lucifer vai querer alguém tão baixa como você.
— Como você ousa?! — ela gritou. Roger interviu.
— Sim, Alan. Nós aceitamos e vocês serão bem-vindos na minha casa, no meu país e em nossas vidas! — Alan sorriu e piscou para mim.
— Sendo assim, obrigado pela aula, Cendrowski. — ele sorriu novamente. — Espero que todos vocês tenham o privilégio de conversar com ela sobre qualquer assunto. é a salvação. É a revolução. É o fio de esperança para um lugar melhor.
É onde eu me agarro quando preciso de paz.
Aquela voz...
Meu coração parou de bater, tudo ficou em silêncio quando a pessoa fantasiada de anjo da morte apareceu ao lado de Alan. O homem abaixou o capuz e, com delicadeza, tirou a máscara, finalmente nos deixando ver o seu rosto. Minhas pernas tremeram, meus olhos se arregalaram e minha boca aberta de surpresa denunciou a minha expressão.
Quase todos estavam daquela forma.
Quando ele sorriu na minha direção, eu pude ver que era verdade.
Ele estava ali.
Denver estava vivo!

Capítulo 27

Abri os olhos e percebi que estava no lugar conhecido e calmo que costumava ser meu quarto. Na realidade, aquele era um dos poucos lugares que eu conseguia ter paz. Quando me lembrei dos últimos acontecimentos, me dei conta que aquele não era o lugar que eu deveria estar.
Não era para eu estar ali.
Não podia ser um sonho.
Minha cabeça não poderia ter me pregado uma peça desse tamanho.
Denver estava vivo e eu tinha certeza daquilo, mas era para eu estar em um salão de festas, e não na minha cama.
Nem a minha roupa parecia com a que eu estava na festa, meu coração começou a disparar e eu me levantei, querendo chorar.
Estranhamente, não havia ninguém ali comigo. Nem meu pai, nem Benjamin, nem um dos príncipes ou minhas damas.
Me levantei e fui em direção à minha varanda. Era bem tarde, a brisa fria de Avallon denunciava que já passava da meia-noite. Contudo, o frio não me incomodava. Me incomodava não ver Denver. Não tinha nem forças para procurá-lo, afinal, não era a primeira vez que eu sonhava com ele. Foi tão injusto, tanto ele, quanto Ted.
— Vai pegar um resfriado assim. — nem me dei o trabalho para ver que era Benjamin. — Vem para dentro.
— Quero ficar aqui, sei que ao menos isso é real. — senti meu irmão atrás de mim, colocando a mão em meu ombro. — Sonhei com Denver de novo. — expliquei — A parte estranha é que não me lembro de voltar para o quarto, como vim parar aqui?
, você desmaiou no meio do evento — meu irmão explicou, indo para o meu lado esquerdo — Vim ver como você estava.
— Ah, estou bem. — sorri fraco. — Deve ser o estresse. É muita coisa acontecendo, né?
— Com certeza é. — ele sorriu e olhou rapidamente para trás — Não aproveitou quase nada do seu aniversário...
— Foi engraçado ver vocês de piratas. — cutuquei o garoto. — Confesso que aqueles docinhos me fizeram passar um pouco mal mais, comi demais.
— Não acho que tenha sido os doces... — Ben sorriu. — Quer sair daqui? Podemos ir para a casa do papai. Ele está lá e está preocupado.
Concordei com a cabeça e logo fui para o meu quarto novamente. Em instantes, estava pronta para sair do castelo e era aquilo que eu precisava. Com meu irmão ao meu lado, não precisei me esquivar de guarda algum; apenas saí como se não houvesse regras ou leis para me proibir de sair. Já estava cansativo mostrar que viver presa naquele enorme castelo causava danos mentais.
A Causa estava cada vez mais pesada. Recebi cartas dos Selvagens, eles estavam atacando algumas cidades próximas; mas não as cidades em si e sim os Vantronis que não davam trégua.
Minha cabeça voltou a apitar quando me lembrei que havia se juntado a nós. Eu queria apenas chorar ou ir até ele e lhe dar um soco no estômago. Como Tigre Dourado, eu sabia qual era o meu destino. Ainda mais com a profecia se cumprindo a cada vírgula escrita. Na realidade, eu nunca tinha lido, mas sabia que o meu final não era bom.
Tente ter o destino do mundo em suas mãos e me diga se não é assustador.
Sou apenas uma garota com mais responsabilidade que o rei do meu país.
Só que eu estava disposta a mudar aquilo. Não havia pensado em nada, mas eu iria.
Chegando na casa do lago, vi alguns guardas ao redor. Fui revistada por uma mulher e me senti ofendida, já que aquele era o lugar mais seguro do país e não deveria ter ninguém além da minha família ali. Deduzi que Alan estava presente. Aqueles guardas não eram de Avallon.
Entrei na casa e não vi nada de diferente, Ben estava aflito e eu conseguia perceber apenas pela sua forma de respirar e olhar para os lados, meu irmão ficava atrás de mim o tempo todo, como se eu fosse cair a qualquer momento. Dei de cara com os três príncipes na cozinha, tomando cerveja com meu pai.
— Descobriram um lugar melhor que seus aposentos reais? — questionei, cruzando os braços.
— Isso aqui é o paraíso, meu bem. — respondeu, vindo até mim. — Como está se sentindo?
— Bem, eu acho. — sorri, sentindo sua mão apertando a minha escondido.
— Vendo que você está bem e que está segura com sua família, nós já podemos ir. — se levantou. Não pude evitar um passo para trás quando ele se aproximou demais, só que também não pude evitar o abraço que ele quis me dar quando não percebeu a minha recuada. — Boa sorte.
— Você está me devendo uma dança, falou, me abraçando também.
— Você está me devendo uma dança e várias explicações, Aykroyd. — sussurrei em seu ouvido. Ele arregalou os olhos e caminhou com o irmão mais novo até a porta.
— Queria ficar aqui com você. — falou baixinho quando me virei para ele.
— E que carência é essa, Aykroyd? — brinquei, vendo-o sorrir. — Ficarei bem. Estou com a minha família.

(Coloque para tocar)


— Eu sei... É só que... — ele suspirou e passou a mão em meu rosto, colocando a testa na minha — Eu sei que você não precisa de mim agora, mas eu gostaria que você precisasse. Entende? — não consegui evitar um sorriso. Encarei aqueles olhos verdes e segurei seu rosto. — Também sei que é complicado, meus dois concorrentes estão no cômodo da frente com seu irmão mais novo, e seu pai está escondido em algum lugar, pronto para me dar um soco. A situação está cada vez mais complicada e eu me sinto um completo inútil em relação a tudo que você passa, não posso evitar nada, por mais que eu tente e...
Eu preciso de você. — falei rápido, vendo-o ficar surpreso com aquelas palavras. — Você é suficiente, Aykroyd. Nunca disse isso antes, mas a forma que você amadureceu nesse tempo é o bastante para eu admitir que preciso de você. — ele sorriu sem mostrar os dentes, olhando para baixo. — Não temos controle de tudo, por mais que a gente tente. Acredite em mim quando digo isso. Contudo, a forma que você me deixa livre, independente da situação, é o suficiente para entender que eu preciso de você.
— Eu também preciso de você. — senti seus lábios colando nos meus. Foi rápido, afinal, nossos irmãos e meu pai estavam em algum lugar e eu não queria causar nenhum atrito com ninguém. Nem ele.
— Acho melhor você ir...
— Te vejo amanhã. Não sei a hora ou onde, mas eu te vejo amanhã — ele riu, caminhando até a porta — Nossas agendas estão cheias e não acho que vamos ter tempo nem de esbarrar um no outro, mas eu te vejo amanhã.
— Acho bom, Aykroyd. — arqueei uma sobrancelha e senti meu estômago dar cambalhotas. — Te vejo amanhã.
Quando o garoto saiu, cai na cadeira, completamente nervosa pelo que havia acabado de fazer. Como que fui me meter naquilo? Minha agenda no dia seguinte estava realmente cheia, mas com no caminho, sabia que os selvagens poderiam fazer, e não seria bom para nenhum de nós.
— Oi, filha. — meu pai depositou um beijo na minha cabeça. — Como está?
— Apaixonada, olha a cara dessa idiota! — Benjamin riu, bebendo um gole de cerveja. — Ele é o escolhido?
— Cale a boca, Walker! — joguei um pedaço de pão no garoto.
— É bonitinho vocês tentando esconder o sentimento de tudo e todos — meu pai falou, brincando também — Como se a gente não fosse perceber!
— Será que e já estão preparados para o tombo que vai ser quando escolher o ? — Benjamin continuou com as provocações. Me levantei, indo até meu irmão mais novo, e não contive os meus braços em seu pescoço. Aquilo resultou gargalhadas de meu pai e de Bem, mesmo enforcado.
— Pede desculpas! — falei, sentindo-o lutar contra a chave de braço que dei. — Anda, Walker! Peça desculpas!
— Jamais! Ou você me mata, ou você admite que é o escolhido!
— Desde quando a minha vida amorosa virou a coisa mais importante?
— Você esqueceu que no meio dessa guerra: Tigre dourado, mortes, selvagens e tudo mais, ainda rola A Seleção? — soltei meu irmão mais novo, dando um soco em quem falou aquilo atrás de mim. Havia me assustado com a quarta pessoa naquela sala.
Arregalei os olhos quando vi que todos haviam se levantado. Vi Alan na porta do quarto que era de Denver e caí no chão quando vi que a pessoa caída era meu irmão mais velho.
Que deveria estar morto.
Olhei em volta e vi meu pai caminhando até mim enquanto meu irmão mais novo acudia o mais velho. Alan entrou no quarto e se trancou lá, era sinal de que o assunto tinha virado familiar — se é que era possível. Denver se sentou, com a mão no nariz que sangrava, e eu estava segurando minha mão, que doía igual quando eu o soquei a primeira vez.
— O que... O que está acontecendo aqui? — perguntei, olhando para os três. Meu pai entregou um pano com gelo para Ben e o outro colocou na minha mão.
— Certo, por que não estou surpreso? — Denver questionou, choramingando com o local machucado em contato com o gelo. — Seu soco ficou mais forte ou é impressão minha?
— As aulas estão ficando mais pesadas. — Ben apontou para o pescoço vermelho. — Eu que ensinei isso para ela e ela está usando contra mim!
, peço que você fique calma e entenda que o que está acontecendo aqui é real e independente de qualquer coisa, estamos juntos. — meu pai falou, segurando minha mão boa.
— Vocês sabiam que ele estava vivo esse tempo todo? — perguntei, sentindo as palavras amargas saírem de minha boca.
— Não, ... Eles souberam hoje. Assim como você. — Denver respondeu, se aproximando de mim — É muita coisa para vocês assimilarem, eu admito que queria ter falado antes, mas precisava ser assim. Precisava ser para todos e na frente da Leigh-Anne. — suas mãos tocaram meu rosto, e mesmo com o misto de sentimentos que eu estava, o medo prevalecia ali.
Tinha medo de não ser real. De novo.
— Eu vou te contar tudo, mas o que importa é que eu estou aqui. — ele me puxou para um abraço. Mesmo em meio às lágrimas, Denver falou algo só para mim — Nós vamos destruir a Leigh-Anne e vamos destruir a coroa.

🌻


— Você tem noção de como eu sofri? — perguntei. Nós dois estávamos no quarto, sozinhos. Denver já havia contado para nosso pai e para Ben as coisas, agora era a minha vez. — Estou com medo de ser mais um sonho muito doido e realista dessa vez.
— Você tirou meu nariz do lugar, de novo... Esses são os seus sonhos comigo? — gargalhadas juntos. Era bom escutar a risada dele de novo — Que violência é essa? — me deitei ao lado dele. Denver estava mais forte, bem-vestido, e usava fragrâncias diferentes da que eu me lembrava. Só que ainda era meu irmão mais velho. Seu cabelo tinha alguns fios grisalhos como o nosso pai, a barba estava grande, só que bem-feita. Havia uma cicatriz na sua sobrancelha. Contudo, seu sorriso continuava o mesmo. — Sei que não foi fácil para você, mas te acompanhei em absolutamente tudo. — Como você sobreviveu? — Denv suspirou, segurando a minha mão. — Como foi parar em Agartha? Denver, você vai virar rei de outro país!
— É muita informação, não é? — ele riu e balançou a cabeça — Depois que você foi levada, eu e Ted tivemos que aguentar muita coisa. Fomos jogados em um beco qualquer, aquele beco é especial para quem é açoitado, as pessoas ficam lá até que não aguentam e morrem. Seus corpos são levados pelo mar ou alguém não suporta o cheiro e enterram em um canto. — senti meu estômago embrulhar. — Ted morreu na minha frente, eu não conseguia nem me mexer para segurar a mão dele... Os ferimentos dele estavam muito mais abertos do que os meus e, vai por mim, só de entrar naquele beco, você pega uma doença. As últimas palavras dele foram "sinto muito, e sobreviva para cuidar da sua família e acabar com a Leigh-Anne. Eu te amo". Tem noção de como é ter aquela vadia citada nas últimas palavras dele? Eu a odeio tanto!
— Eu também. — Denver não chorava como eu chorava. Eu sentia sua dor, mas parece que ele havia controlado aquilo, eu não. — Sinto muito, meu irmão.
— Dr. Poirot me encontrou. Eu imagino que ele deve ter investigado muito, ameaçado e feito muita chantagem para encontrar a gente... Nem todo mundo sabe daquele beco, e, quem sabe, normalmente usa isso para conseguir dinheiro de gente como Poirot. — Denv respirou fundo e me encarou — Não foi muito tempo depois, que Ted morreu, segundo ele, ficamos naquele beco por dois dias. Fui parar na casa de um senhor muito simpático que mora dentro da floresta da praia, ele é um selvagem e simpatizante da vida sem monarquia, imagine só?
— Como chegou em Alan?
— Poirot não podia cuidar de mim, ele estava sendo vigiado e poderia pagar com a vida se descobrissem que eu estava vivo e ele acobertando. — concordei com a cabeça e entendi que deveria esperar até chegar na parte que eu queria. — Aquele senhor, o Jen, é amigo de Poirot. Provavelmente cuida de todos os moribundos açoitados injustamente. Ele cuidou de mim até que eu conseguisse sentar sozinho, por volta de duas semanas. — meus olhos se encheram de lágrimas. — Encontrei os Selvagens antes de encontrar Alan. Me juntei a causa e sei que você tem parentesco com os Grandes. Foi assim que soube de tudo que você fazia. — fiquei em silêncio. Era muita informação. Mal sabia cuidar de mim dentro dos Selvagens, imagine de Denver e agora. — Poirot foi me visitar uma semana depois disso e trouxe mais ajuda. Ele apareceu com Alan. Eu conseguia ficar sentado sozinho, mas estava com uma infecção que poderia me matar, o velho Jen não poderia fazer mais nada. Fui embora para Agartha e assim fui tratado e me aproximei de Alan.
— Você não o ama, Denv. — falei baixinho.
— Ninguém sabe, mas antes de conhecer Ted, eu fui para uma missão em Hiff, em Agartha. Passei meses lá em um treinamento específico para guardas próximos ao rei.
— Pensei que Avallon nunca tivesse tido contato com Agartha!
— Não contato direto como você fez. — ele admitiu — Mas a gente enviava mercadorias para lá, assim como eles enviavam armamentos para nós. Nesse período que uma equipe pequena foi para lá, e eu fui junto... Conheci um garoto nessa missão, ele se dizia guarda também. Ficamos íntimos e eu gostei dele e ele de mim. Antes de ir embora, ele me contou quem era e eu não sabia o que falar. Tinha que voltar para casa e ele tinha que se casar com uma mulher. Fim. — Denver lembrava daquilo e parecia sentir uma tristeza sem fim com as lembranças. — Reencontrá-lo no castelo pela primeira vez, foi um choque, afinal, eu estava com Ted. Doeu demais, .
— Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito. — sussurrava várias vezes, abraçando o meu irmão mais velho enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto e ele permanecia pleno.
— Reencontrar Alan depois da morte de Ted também foi surpreendente. Ele nem estava na minha lista de heróis — ele brincou, foi a primeira vez que sorrimos. — Fui muito bem cuidado e todas as coisas que poderiam me matar estavam curadas. Também levou semanas para que isso acontecesse e eu me aproximei muito mais de Alan nesse percurso, ele se mostrava muito preocupado comigo. E então teve aquele encontro de vocês, onde você o encurralou e o jogou na parede. Confesso que fiquei chocado com a sua audácia.
— Não me arrependo. — dei de ombros.
— Foi aí que ele teve a ideia de juntar o útil ao agradável. Se assumiu para o país, que aceitou muito bem, e decidiu tornar a público mesmo aqui em Avallon. — por mais que eu quisesse ficar feliz com aquilo, eu não conseguia. Era para Alan se assumir? Sim. Mas não daquela forma. Meu irmão estava preso a ele e eles estavam em um relacionamento sem amor. — Eu conheço essa cara, você está pensando em quê?
— Você sabe.
— Ah, meu amor... São tantas coisas em volta disso! — senti meu rosto queimar, queria chorar de novo. — Não estou em um relacionamento falso, acredite em mim. Também não esqueci Ted, ele sempre vai ser importante e muito lembrado na minha trajetória. Conheço Alan e tivemos uma história, estamos tentando dar continuidade nela e, de quebra, destruir vários tabus. O primeiro foi na cara da megera.
— Queria tanto ter visto o que aconteceu depois que desmaiei! — falei, rindo. Denver gargalhou — Leigh-Anne passou tão mal que teve que ser carregada para seu quarto! Os príncipes correram até mim e até o Rei Roger fez isso. Foi bonito.
— Espero ver isso em alguma revista de fofoca, vou procurar vídeos da megera passando mal. — sequei as lágrimas que escorriam de tanto que ri naquele momento, com ele me contando detalhes do que aconteceu. — É bom ter você de volta.
— É bom voltar para casa, . — depois de alguns minutos em silêncio, ele riu baixinho e falou: — Então... Você e ...
— Certo, não mude de assunto!
— Então você escolheu o Aykroyd do meio? — ele continuou.
— Não escolhi ninguém! Não tenho nem tempo para pensar nisso e...
— Eu escutei a conversa de vocês e, me desculpe por dizer isso, mas foi dito um "eu te amo" ali. Então...
— Ninguém disse isso! — retruquei.
— Existem várias linguagens do amor e falar as três palavrinhas clichês não é a única, meu bem. — Denv se virou para mim — "Eu preciso de você" é uma forma de dizer que ama sem dizer de verdade. E vocês disseram.
— Está viajando nessas suas ideias, Walker. Acho melhor recordar do juízo e parar de inventar histórias! — falei, nervosa. — Eu e estamos próximos sim, e só.
— O que te impede de ceder a ele? Que garota cabeça dura! — fiquei em silêncio. Ainda estava confusa, ainda mexia comigo e havia entrado de cabeça na Causa. não merecia falsas esperanças e eu não podia magoá-lo. Mudei de assunto.
— Estou preocupada com você entre os Selvagens, mas estou feliz por saber que lutamos pela mesma coisa. — falei baixinho, observando suas mãos calejadas. — Sobre seu relacionamento, também estou feliz que você está se recuperando de Ted e que se encontrou em Alan, é importante te ver feliz. — Denver sorriu e concordou com a cabeça — Vamos honrar a vida de Ted. Leigh-Anne vai pagar por tudo que fez comigo e vai se arrepender por se meter com a minha família.
— Tenho coisas sobre ela que pode causar destruição o bastante para que ela nos deixe em paz. — escutei com atenção, afinal, não era qualquer coisa. Era sobre a vadia. — Sei de coisas que podem colocar esse castelo abaixo a qualquer instante. Contudo, esse gostinho vai ser todo seu. Na hora certa.

Capítulo 28

— Bom dia a todos. — Leigh-Anne entrou na sala de reuniões onde eu estava presente. Era muito cedo. — Por Deus, o que essa garota está fazendo aqui?
— Bom dia para você também, megera. — sussurrei a última palavra, mas ela escutou. Sua expressão de inconformada mostrava que não estava satisfeita. — Se eu soubesse que iria ver sua cara, também não teria vindo. Não sabia nem que você acordava cedo dessa forma.
— Engraçadinha! Não vou me estressar com você hoje, . Pela primeira vez, você é o menor dos meus problemas. — a rainha se sentou. Nem todos da reunião haviam chegado, rei Roger estava atrasado, assim como seus filhos. Alan e Denver estavam do lado de fora com meu pai. Somente alguns membros do conselho estavam ali.
— Como é bom ver você preocupada com seus atos. — falei, sorrindo. — Nunca estive tão feliz, e, para completar, você está na merda. Tem como melhorar?
— Não me provoque, garota.
O restante que faltava entrou na sala naquele momento. Os meus príncipes entraram juntos com seu pai. Alan e Denver entraram com o meu. Não sabia do que se tratava aquela reunião, mas estava interessada e satisfeita por ter sido convidada.
se sentou ao meu lado direito, ao meu lado esquerdo e em minha frente. Alan e Denver se sentaram na outra ponta livre. Senti uma mão em meu joelho e sorri com aquilo: era . Vi a expressão do príncipe mais novo mudar quando percebeu o que estava acontecendo por baixo da mesa e aquilo me causou um incômodo que não conseguia ao menos explicar. Não tinha intenção alguma de magoá-lo, mesmo que ele tivesse feito isso comigo há algum tempo.
Meus pensamentos foram interrompidos quando o rei de Avallon abriu a boca.
— Ontem foi uma noite cheia de emoções, não?! — ele brincou. — Sei que conversamos a sós depois da sua aparição ontem, Denver, contudo, gostaria de falar na frente de todos aqui presentes também! — encarei meu irmão, que estava agindo como um futuro rei, sua postura e seu jeito já haviam mudado. Eu sabia que ainda era ele ali, mas depois de tudo que Denver passou, o coração não era mais puro e leve como antes. — Não há pedidos de desculpas no mundo que façam as coisas que você passou desaparecerem. Te conheço desde pequeno e jamais deixaria algo assim acontecer contigo...
— Me diga onde é que ele está! — escutamos uma voz conhecida. Era Lady Devimon. — Denver!
— Ah, minha querida e eterna rainha! — Denver se levantou e aceitou o abraço da mulher de bom grado. Ela acariciou o rosto dele como se estivesse conferindo se aquilo era mesmo real. Eu entendia muito bem. — Como é bom vê-la pessoalmente de novo.
— Devimon, o que está fazendo aqui? — a rainha falsa de Avallon questionou. Lady Devimon se sentou e encarou a megera com ódio.
— Não sei se você se lembra, mas tenho diploma em Direito e sou dona da Coroa que você carrega na cabeça. Esse castelo é meu e eu estou aqui para defender Denver Walker de você. — a rainha ficou quieta. Devimon me encarou e deu uma piscadinha. — Mesmo eu sabendo que Denver está muito protegido. É importante que você tenha uma ajudinha de alguém com mais... Poder.
— Eu sou muito grata por isso, majestade.
— Certo, sem mais delongas... — Roger prosseguiu. — Se eu estivesse aqui, isso não teria acontecido.
— Não teria acontecido comigo por eu ser filho do seu braço direito. Não aconteceria comigo por eu ter alguns privilégios, se fosse outro, teria acontecido da mesma forma. E é aí que está o problema!
— Devemos lembrar que Leigh-Anne não tinha autorização de fazer uma cena daquelas sem a autorização do próprio Rei Roger e mesmo assim ela o fez. — falei em seguida. Tomando os olhares para mim. — Se a lei é para todos, o que a impede de ser castigada também?
— A coroa na minha cabeça, querida. — ela sorriu. — Só estão me atacando pedras aqui. Se esqueceram de que Denver Walker também fingiu que estava morto? Isso é crime!
— Denver não estava seguro. — respondeu. — E é muita cara de pau a sua em tentar incriminá-lo depois de tudo que fez contra a vida dele e de seu parceiro!
— Você não muda nunca. — falou com nojo. — Só tinha que pedir desculpas, só tinha que mostrar que se arrependeu e assumir que errou. No entanto, continua com a sua arrogância e continua a mesma bruxa velha de sempre.
— Você está falando com a rainha de Avallon e eu ainda sou sua mãe. — ela disse, entredentes. Podia sentir o ódio dos dois apenas pelo olhar. Os olhos azuis dela estavam vermelhos e os olhos verdes de estavam do mesmo jeito. Coloquei minha mão por cima da dele, mesmo que todos estivessem vendo aquilo; naquela altura, eu não me importava. estava com ódio e eu tinha medo daquela versão dele. Não comigo, mas sim com os outros. — Então você já escolheu.
— Escolheu o quê? — respondi. Em seguida, encarei seu olhar nas nossas mãos e percebi do que se tratava. Arqueei uma sobrancelha e sorri de canto. — Desde quando se preocupa com seus filhos?
— Você enfeitiçou os três!
— A reunião aqui não é para vocês duas se provocarem. — Roger gritou e bateu na mesa. — Cale a boca, Leigh-Anne! Por Deus, só cale a boca e resolva as merdas que você fez! Se não for fazer isso, apenas cale a merda da sua boca e deixe que eu tente acalmar o mar agitado que você mesma criou. — todos nós nos assustamos com aquele ataque de Roger. Pela primeira vez eu o vi daquele jeito.
O silêncio que se instalou foi o suficiente para que ele prosseguisse a reunião. Se tratava basicamente de pedidos de desculpas e forma de se redimir com Alan e Denver. Foi assim que Roger aboliu a lei que matou Ted e criou uma lei chamada Teodore: contra a homofobia. Quem cometesse algum ato do tipo, seria punido. As formas de punição seriam conduzidas baseada no grau de homofobia. Se fossem comentários ou xingamentos, o indivíduo pagaria uma quantia muito alta como multa. Se fossem agressões e insinuações, passaria tempos na prisão de Avallon. Se chegasse ao nível de assassinato, a punição seria o açoitamento; não até a morte, mas sim para que a pessoa carregasse as cicatrizes e mostrasse para todos que todos os atos têm uma consequência. Aquilo já era um começo.
Podia ver no olhar de Denver que ele estava aliviado com o que tinha conseguido. Vi Alan acariciando as costas do meu irmão e aquilo me deu esperanças de que os dois não seriam tão infelizes quanto eu imaginava.
— Iremos anunciar a nova lei hoje à noite. Estejam preparados para isso. — um dos membros do conselho falou em nome do rei.
— Acredito que para o povo de Avallon entender o nível de gravidade da homofobia nesse país, o rei Roger sabe qual é a melhor forma de mostrar isso, não sabe? — Devimon perguntou para o filho. Roger suspirou e se levantou, concordando com a cabeça. Contudo, ele estava aflito. Ele encarou a própria esposa. Leigh-Anne entendeu na hora do que se tratava. — Não seja como seu pai.
— Roger...
— Alan, Denver, , Benjamin e meu querido amigo, Dave... Como eu já disse algumas vezes e nunca vou me cansar de dizer, nada do que eu fizer vai ser o suficiente para me desculpar pelo mal causado na vida de vocês. — Leigh-Anne àquela altura já estava respirando de forma nervosa. olhava para a tríade da sua família, ele parecia que tinha entendido o que iria acontecer. abaixou a cabeça e apertou minhas mãos. — Vou... Vou mostrar para todos que homofobia não será tolerada aqui. E vou começar com quem fez o ato sem se preocupar com as consequências antes.
Meu coração pareceu travar. Encarei meu pai, que estava tão assustado quanto eu. Denver encarou Alan, e Benjamin até deixou cair alguma coisa.
— Leigh-Anne sofrerá o açoitamento nas mãos. Dez em cada uma. — o eco que se instalou na sala, foi o estopim para a falação. — Nada do que falem ou façam me fará mudar de ideia.
— Roger, você está de brincadeira comigo? — ela gritou, bateu na mesa e se levantou. — Façam alguma coisa! — gritou novamente, olhando para os filhos. Logo depois, para mim.
— Por mim, esse açoitamento seria agora mesmo e eu faria questão de lhe açoitar. — me levantei e fui até Denver, coloquei minhas mãos em volta de seu pescoço. Ele estava tão chocado quanto qualquer um ali.
— Meu pai, você não pode fazer isso. — falou, ainda baqueado com o que estava acontecendo. — O que ela fez foi antes de abolirmos a antiga lei e...
— Denver sobreviveu, . — respondeu, ainda chocado com o que o próprio pai fez. — Ele é a imagem clara e perfeita para mostrar ao nosso povo o quão sério é o assunto.
— Mas punindo nossa mãe? — ele tremia. Voltei a sentir raiva de . Contudo, a raiva passou em seguida. Não sentia raiva dele, sentia pena. Sentia raiva de Leigh-Anne, ela que criou aquela versão do filho mais novo.
— Ela matou Ted, seu amigo! Ela achou que matou Denver e comemorou isso! Sem falar que ela me prendeu injustamente por dias até vocês chegarem das missões. — falei com ódio na voz. Não era possível que ele tivesse sido tão manipulado. Parecia brincadeira. — , ao menos uma vez, não seja o cachorrinho da sua mãe. Se fosse o contrário, tenho certeza que ela deixaria você para ser açoitado!
— Não tente entrar na cabeça do meu filho, sua vadia! — ela gritou, jogando o copo de café quente em mim. Não consegui evitar o impulso de grudar no cabelo dela e lhe dar vários tapas na cara. Parecia cena de comédia. Ou terror. — Por Deus, alguém me ajude!
— Vinte chibatadas é pouco por tudo que você fez. — gritei ao ser tirada de cima dela pelo meu irmão mais velho. — Sou contra esse tipo de violência, mas quando se trata de você, eu acho que é pouco!
— Basta! — Devimon falou, ela não gritou. Todos respeitavam a voz calma e baixa da verdadeira e eterna rainha. — Você. — apontou para o filho — Vá terminar de organizar a papelada. — Vocês. — apontou para os netos, que estavam baqueados com o que estava acontecendo. — Continuem com a programação normal e estejam prontos para o que vão ver à noite. O resto de vocês. — apontou para todo o resto da sala. — Quero que fiquem quietos sobre o que vai acontecer mais tarde. Qualquer comentário que surgir, eu mesma farei questão de punir o fofoqueiro. Quanto a você, minha nora querida... — sorriu, se aproximando de Leigh-Anne, que estava com o rosto vermelho e as tranças desfeitas. — Quem faz o que quer, recebe o que não quer... Vai aprender da pior forma que existe a hora de parar. ?! — ela me encarou. – Admiro sua força e a guerreira que tem dentro de você, mas Leigh-Anne ainda é a rainha e, pela hierarquia, ainda deve ser respeitada como tal. Vá descansar.
— Sim, majestade. — sorri e fiz uma reverência. Olhei para Leigh-Anne. — Não se preocupe, você ainda terá os melhores médicos para cuidar das suas mãos. Fique feliz. Tem gente que nem isso consegue.
E me retirei.
Meu coração parecia que ia sair do peito. Era muita adrenalina para uma manhã, eu nem sabia como reagir e parecia um sonho. A rainha de Avallon seria finalmente punida por algo que fez. Eu jamais poderia acreditar naquilo e não sabia como me sentia. Parte de mim estava feliz, mas a parte sensata que predominava dentro de mim, não estava alegre com isso.
Não precisava ser assim, mas tinha que ser dessa forma.
A parte que pulava de alegria com a euforia do momento, parecia que sairia gritando pelos quatro cantos do castelo o que acabara de acontecer. A outra, queria abraçar os príncipes. Eu sabia o que eles iriam sentir nas próximas horas e não seria fácil para eles.
Queria que eles soubessem que eu estaria ali com eles. Dando a força que eles sempre me deram.
Principalmente para . Para ele seria ainda mais difícil.



— Onde você está com a cabeça hoje? — Summer perguntou depois de me dar uma rasteira no treino. — Você nunca me deixou te derrubar!
— Só estou ainda em choque com o retorno de Denver. — falei rapidamente. Summer sabia que não era só isso, mas era esperta demais para tentar tirar algo de mim àquela altura da Seleção.
— Estou feliz por ele estar de volta e achei o máximo ele ser o próximo rei de Agartha junto com Alan. — ela sorriu, me ajudando a levantar — Quem diria que Alan é gay.
— Foi um choque para mim também — ri enquanto limpava minha calça da areia. Meus olhos percorreram a arena enquanto escutava Sum falar sem parar. Perdi o raciocínio quando vi olhando para os lados antes de sair do local e indo para um caminho diferente do que era para ele ir. Afinal, o que ele tinha que resolver sempre seria dentro do castelo, nunca no jardim. — Preciso ir ao banheiro. Depois nos falamos?
— Claro. Até mais tarde. — a garota sorriu e foi em direção a um dos guardas. Nunca imaginei que Summer fosse gostar de treinar. Lembro que nos primeiros dias ela queria me matar, e agora estávamos super amigas.
Andei o mais rápido que pude, torcendo para não ser vista. Fiz o mesmo caminho que fez antes de virar em uma das esquinas e ir direto para a floresta. Fazia frio em Avallon e eu não pude nem pegar um casaco, afinal, eu nem sabia o que o rapaz estava aprontando. Fui pega totalmente desprevenida e queria socá-lo, pois já imaginava que aquilo se tratava dos Selvagens.
Quando percebi uma movimentação estranha em uma das clareiras da floresta, me escondi atrás de uma das árvores. Vi ser abordado por dois homens com capuz preto, não demorou muito também para outro homem chegar.
— Acho que nunca vou me acostumar com a presença dele aqui. — um dos rapazes falou.
— Os Grandes o aceitaram aqui. O que temos que fazer é aceitá-lo também. — a voz era feminina. Eu conhecia aquela voz.
— Fiz o que tinha que fazer para provar que sou digno e que estou aqui.
— Não posso ter dúvidas sobre o seu caráter? Afinal, você é o próximo rei de Avallon. — a garota questionou.
— Não lhe devo satisfações, apenas faça o que te pediram para fazer para que eu possa voltar para as minhas outras obrigações. — não estava com muita paciência e eu imaginava o motivo: sua mãe. — Tenho um dia longo.
— Algo importante? – o homem perguntou.
— Vocês vão saber na hora certa. — o sorriso sarcástico de me fez rir baixinho, mesmo estando brava. Os Selvagens viviam me falando aquilo também.
— O que vocês querem com a gente no meio do nada? Nos matar? — o terceiro homem com capuz preto questionou, mas eu sabia quem era. Era Denver. ficou surpreso assim como eu, mas eu já sabia que meu irmão estava envolvido, o príncipe não.
— Bom te ver, Denv. — o rapaz falou. — Enfim, vamos ao que interessa... Temos novidades sobre os Vantronis.
— Os Grandes pediram para que a gente viesse contar para vocês. — a mulher disse, se encostando em uma árvore.
— Por que não foi convidada para a reunião? — Denver questionou. A mulher riu e tirou o capuz. Ophelia.
— Acha que ela não seguiu um de vocês dois? Apareça, . — amaldiçoei a mulher. Fiz uma careta e saí de trás da árvore, atraindo todos os olhares para mim. — Fica o alerta para vocês, poderia ter sido qualquer um. Felizmente foi quem a gente queria.
— Um bilhete seria o suficiente, Ophelia. — sorri sem mostrar os dentes. — O que vocês tem para nos dizer?
— Sempre direta ao ponto... — o rapaz não se mostrou, mas sabia que não era o companheiro de Ophelia, afinal, ele tinha partido. — Certo, descobrimos uma movimentação estranha próxima ao castelo, não somos nós.
— Vantronis. — Eu sussurrei, já sentindo meu coração palpitar.
— A gente saberia disso. — deu de ombros. — Mas, tudo está estranhamente calmo nos últimos dias.
— Eles estão planejando algo grande. — Ryan, quem eu descobri o nome um tempo depois, falou. — Acreditamos que eles vão atacar logo e provavelmente no seu casamento.
— Oi?! — Denver colocou a mão na cintura e fez a cara estranha que ele sempre fazia quando não acreditava em alguma coisa. — Eles que não ousem atrapalhar o dia do meu casório.
— Também não quero perder os docinhos. — comentou, meio desligado.
— Imagine só, comendo um brigadeiro e vendo uma bala perdida passando... — Me juntei ao príncipe nos comentários desnecessários. Quando percebemos os olhares inconformados, pedimos desculpas juntos. — Como sabem disso?
— Temos infiltrados que nos trazem informações quando conseguem. Infelizmente, os guardas de Vantron só sabem o que vai acontecer, no dia do acontecimento. — Ophelia respondeu. — Há boatos de que só estão esperando vocês liberarem a data.
— Que merda. — balançou a cabeça. — E qual é o plano?
— Me diz você, alteza. — Ophelia riu, debochando do príncipe.
— O plano da realeza será feito em uma conferência amanhã no primeiro horário. Gostaria de participar? — ele respondeu no mesmo tom, deixando a garota sem ter o que dizer.
— Ophelia, ficamos sabendo disso agora, não seja ignorante. — Denver falou, tentando acalmar os ânimos.
— Os Grandes querem a ajuda da Coroa. Sozinhos não conseguimos acabar com eles e o casamento é uma bela oportunidade para que façamos uma emboscada. — Ryan disse, coçando a cabeça.
— Não vamos usar Denver para isso! Pessoas podem se ferir nessa brincadeira. — respondi, já sentindo meu coração sair do peito só de imaginar as pessoas que eu amo feridas em uma guerra civil.
— Se a gente não descobrisse isso, o sangue seria muito maior, . — Ophelia revirou os olhos. — Antes, o sangue estaria nas paredes e no chão do seu precioso castelo. Agora, o sangue poderá estar nas suas mãos. E então? O que me diz?
— Vamos analisar e montar um plano de contingência. — falou, vendo o meu desconforto com o que acabara de acontecer. Eu estava sem palavras. — Amanhã à noite, eu deixarei uma carta sobre a reunião embaixo do meu travesseiro, antes de ir jantar. Vocês montem a estratégia de vocês e me deixem lá também. — eles concordaram com a cabeça. — Com a movimentação do castelo, ficará difícil para que a gente consiga escapar para essas reuniões. Ainda mais juntos.
— Certo, obrigado por serem discretos. — Ryan apertou a mão de e de Denver, mas não se aproximou muito de mim. — Faremos dessa forma por enquanto.
Denver me encarou, ele sabia que eu era contra. Tanto que nem um dos dois ousaram falar comigo durante a volta, afinal, eles escutariam mais do que queriam. Antes de entrarmos no castelo novamente, Denver me viu chutando uma pedra e começou a rir quando eu fiz uma careta de dor.
— Nem mesmo a pedra se salvou do seu temperamento! — brincou, tirando risadas do príncipe que graciosamente me ajudou a ficar com a postura reta após o meu surto. — , fique calma. Não é nada certo ainda e...
— Não sabe quantas maneiras eu pensei em matar vocês dois só nesse caminho... Imaginem eles?! Imaginem quantas
maneiras os Vantronis vão achar de entrar aqui e metralhar todo mundo! — encarei . — Pessoas inocentes.
— Não vamos permitir. O plano de contingência é para isso!
— Nada me garante isso. Alguma coisa sempre passa, . — me soltei das mãos dele. — Eu não quero perder mais ninguém.
— E não vai. Eu te prometo! — Encarei os olhos do príncipe e, por um instante, eu quase acreditei.



— Alteza, ela está no meio do banho...
— Taihne, eu imploro... preciso falar com ela e...
— Por Deus, alteza! Não posso deixar que o senhor entre, ainda mais nesse estado e...
— Eu preciso falar com ela! Eu preciso da . — escutei a voz de . Não era a voz que ele costumava usar. Ele estava desesperado e eu fiquei desesperada no mesmo instante que percebi que era ele.

Saí imediatamente da banheira, coloquei o roupão e fui em direção daquela voz que eu tanto conhecia. Dei de cara com uma cena desesperadora. estava vermelho e com os olhos da mesma forma. Ele havia chorado. Pude ver o alívio dele ao se deparar comigo ali. Encarei Taihne e Lauretta, ambas entenderam que era para que saíssem e me deixassem sozinha com o príncipe. Assim que a porta se fechou, eu fui até ele rapidamente e lhe abracei.
— O que aconteceu? — sussurrei, ainda abraçada com ele. Thorrance me abraçava tão forte que parecia ter medo de eu sumir.
— Há anos eu não tinha essa crise horrível de ansiedade. — ele falou, ainda abraçado comigo. — Não quero ver minha mãe sendo punida, por mais que ela mereça. Me desculpe por não querer que isso aconteça, .
— Não se desculpe. — Segurei seu rosto e encarei seus olhos. — Não queria que sua mãe precisasse passar por essas coisas, não é nem por ela, e sim por vocês. Contudo, se é assim que ela vai aprender, que seja e que sejamos fortes o suficiente para aguentarmos as consequências dela.
— Você não precisa fingir que está triste com isso, ... Sei que você a odeia e te entendo por isso. — ri baixinho enquanto caminhávamos até a minha cama, onde ele se deitou em meu colo enquanto eu acariciava seu cabelo.
— Não me importo com ela, . — dei de ombros — Me importo com os filhos dela, essa é a diferença. E acredite em mim, não queria que você passasse por isso.
— Acho que hoje vamos saber como você se sentiu com Denver. — ele suspirou.
— Não vai ser a mesma coisa. Sua mãe está recebendo a punição por algo que ela realmente fez, Denver e Ted foram agredidos para que ela me punisse. — me arrependi por falar aquilo. Por mais que eu sentisse por eles, não sentia por ela.
— Você vai estar lá, isso que importa. — sorri de canto, não entendia como uma pessoa podia ser boa comigo mesmo com minhas palavras duras e sem necessidade naquele momento.
— Eu não estou acostumada com essa sua versão carinhosa, Aykroyd! — pela primeira vez, ele deu um sorriso. — Já falei que isso me assusta.
— Vai dizer que sente falta daquele príncipe do começo?
— Jamais. Eu queria colocar fogo em você naquela época. — suas mãos acariciavam minha pele. O sorriso parecia que havia crescido ainda mais, afinal, eu tinha desbloqueado uma memória que não estava tão distante assim. — Quem diria que chegaríamos a isso aqui.
— Era óbvio que você iria se render a mim, ! — gargalhei, batendo a almofada na cabeça do garoto. — Está me agredindo porque sabe que é a mais pura verdade! Meus irmãos são muito interessantes também, mas a gente tem muito mais química.
— Estou chocada que sua autoestima continua elevada ao extremo! Acho que até mais que antes.
— Amor, não sou eu que estou falando isso... São os tabloides! — dizia aquilo com tanta convicção que me fazia rir. Balancei a cabeça, encarando aqueles olhos. — E agora eu sei que você vai me beijar.
— Vou? — arqueei a sobrancelha. Ele sorriu e deu de ombros.
— Vai.

(Coloque para tocar: Forever Bound)


E eu realmente dei. Era impossível não acontecer. me fazia desejar cada parte do seu corpo e ficava cada dia mais difícil negar isso. Por mais que eu tentasse negar, não conseguia mais enganar a mim mesma. Eu o queria. Eu o desejava. Eu precisava dele.
— Não faça isso se você for me afastar depois. — ele sussurrou em meu ouvido, sentindo minhas mãos tirando sua camisa de dentro da calça.
— Eu não vou te afastar. — respondi, puxando seu rosto para que me encarasse. — Eu preciso de você.
Aquelas palavras, a nossa frase, o nosso comando para o que sentíamos sem, de fato, dizer, fizeram com que ele buscasse meus lábios com mais força e desejo. Suas mãos passavam calmamente — mas com a força necessária para que eu sentisse a recíproca daquele momento — por toda a extensão do meu corpo. ficou por cima e me encarou novamente, seu rosto estava um pouco corado, seus olhos brilhavam e seu cabelo já não estava tão arrumado quanto antes. Senti sua mão parando no laço do meu roupão.
Eu não entendia como aquele homem podia ficar ainda mais bonito.
Passei a mão em seu cabelo e desci até o primeiro botão da sua camisa. Fui eliminando cada botãozinho até chegar no botão da calça. E em todo esse percurso, eu não tirei os meus olhos dos olhos dele. me analisava em cada detalhe

do meu rosto. Por incrível que parecesse, eu me sentia segura e confortável. Os lábios dele encostaram em meu pescoço e eu suspirei com aquilo enquanto arrancava e jogava sua camisa para longe.
— Ainda dá tempo de parar. — ele falou em meu ouvido.
— Não quero parar. — ele sorriu, ficando por cima de mim e colocando novamente a mão no laço do meu roupão.
— Ainda bem. — sorri, sentindo meu corpo ficando à mostra. Totalmente à mostra. via cada detalhe. Sua mão percorria delicadamente tudo que podia. O puxei pelo pescoço para que ele ficasse mais próximo e escutei-o suspirar quando meus lábios encostaram em seu lóbulo esquerdo. Minhas unhas passavam por suas costas enquanto sua língua brincava no meu pescoço e suas mãos percorriam meu corpo até chegar no ponto que denunciava a minha vontade por Aykroyd. — Eu não sei te dizer por quanto tempo eu esperei por isso. — ele brincou. Eu ri.
— Eu não sabia o quanto eu queria isso até agora. — seus olhos brilharam novamente.
— Nada mais importa agora, . — eu concordei com a cabeça. Nada mais importava. Nem guerra, nem a vadia da rainha, nem inimigos, nem nada.
Apenas eu e ele.

Capítulo 29

— Boa noite, Avallon — escutei de longe a voz de Roger. Estava frio, o vento balançava as folhas das árvores e os cabelos de quem quer que fosse. As selecionadas estavam aflitas, assim como qualquer um que não sabia, de fato, o que viria a acontecer. Afinal, a última vez que nos reunimos na frente deste cadafalso, foi para vermos o açoitamento de meu irmão e de Ted.
— Estou com medo — Summer sussurrou ao meu lado. A pele morena da garota realçava seu vestido preto. Era impressionante que todos estavam com essa cor.
— Estou me preparando psicologicamente para o que vai acontecer — Beth fechou os olhos e deu um sorrisinho, me encarando em seguida —, devo te prender aqui ao meu lado para você não se enfiar na frente da vítima?
— Onde é que está a rainha? — Sam arqueou a sobrancelha, interrompendo minha resposta. Qualquer um ali poderia ficar despreocupado com a minha atitude, eu não me enfiaria na frente de Leigh-Anne.
— Não me diga que a reviravolta vai acontecer hoje! — Lizzie falou, completamente chocada.
— Reunimos todos vocês para um comunicado importante! — ele prosseguiu. — Diante aos últimos acontecimentos, em relação aos ataques que muitos civis vêm sofrendo, estamos agindo. Não se preocupem, se protejam e aguentem firme. Contudo, o assunto de hoje é outro — o nosso líder respirou fundo e engoliu seco —, o último açoitamento feito aqui nesse cadafalso foi de extrema violência e homofobia. Estamos em um novo tempo, esse tipo de preconceito não é bem-vindo em Avallon. Um pensamento retrógrado como esse, é cabível de punição. Homens ou mulheres não devem ter ninguém opinando sobre com quem devem ou não ficar. A homossexualidade não é um pecado, não é um crime.
Parte do meu coração estava quentinho por causa dessas palavras. Era assim que um líder deveria agir e eu estava aliviada por estar presente em um momento histórico como esse. Ainda achava o açoitamento um ato retrógrado, mas uma coisa de cada vez.
— Acredito que devem se lembrar do último casal que pisou aqui. Ted e Denver — minha pele ainda se arrepiava ao estar ali naquele lugar horrível. Cenário do meu maior pesadelo: ver meu irmão apanhando até a morte. Eu tive a sorte grande de tê-lo de volta, mas poderia ter sido muito diferente. — Infelizmente, foram vítimas de uma lei arcaica. Eu peço desculpas de todo o meu coração por ter permitido que esses homens e mulheres passassem por aqui desta forma cruel — Alan se posicionou para subir no cadafalso — ninguém mais sofrerá isso aqui. Estamos em novos tempos. Eu pergunto a vocês, onde eu quero chegar com esse discurso? E eu mesmo respondo: Denver sobreviveu — meu irmão subiu ao lado de Alan. O povo ficou em silêncio. Ninguém ousou vaiar ou se manifestar ali, respeitavam Roger de uma maneira surreal. Estava enojada com aquilo, já que me lembrava bem da voz e dos rostos de quem clamava por cada açoite naquele dia horrível. — Denver é a imagem clara da luta contra a homofobia. E eu peço desculpas mais uma vez. — Denver concordou com a cabeça. — Vocês já sabem que Denver e o rei Alan, de Agartha, irão se casar... E vão se casar aqui! Em Avallon. Um país com novos pensamentos. Posso dizer com a maior convicção que não será tolerado qualquer tipo de piada, atitude ou violência. Qualquer pessoa poderá ser punida por isso.
Respirei fundo e encarei os trigêmeos, que estavam um pouco a frente de nós, sendo escoltados por meu pai, meu irmão e alguns guardas. Mesmo de costas para mim, eu podia sentir a tensão dos três. tinha as mãos para trás, os dedos tremiam. estava com a cabeça baixa. tinha o olhar perdido, assim como seus braços, que estavam inquietos.
— A maior prova que posso dar sobre isso, é o que vai acontecer aqui — ele respirou fundo. — A líder, Leigh-Anne, minha esposa e rainha de Avallon, cometeu crimes enquanto eu estava fora. O açoite de Teodore e Denver não foi aprovado e isso é uma infração grave. Comentários homofóbicos foram feitos e eu não posso tolerar.
Leigh-Anne subiu no cadafalso, a surpresa de todos estava estampada em cada rosto daquele local. A megera estava impecável. Sua aparência, mesmo com pouca maquiagem e tentando passar a imagem de "pobre mulher", estava linda. Eu me perguntava como aquela mulher poderia ter feito três filhos incríveis sendo quem é. Eles não mereciam passar por isso.
— Leigh-Anne Aykroyd irá ser açoitada nas mãos. Dez vezes em cada uma. Que o julgamento dos homens possa diminuir sua pena perante o julgamento de Deus. O olhar dela de ódio não passou despercebido, ainda mais quando ele se dirigiu para mim. Não senti pena.
E aquilo me assustava.
Eu estava me tornando alguém ruim como ela era.
Estava perdida nos meus pensamentos com tantas vozes atrás de mim, o desespero de outras pessoas, afinal, todos foram pegos de surpresa e era o maior ato de castigo em gerações em Avallon.
Saí do meu transe quando escutei a primeira chibatada, alta e cortante.
Na segunda, a chibata cortava o ar e fazia um barulho enorme, mas Leigh-Anne não gritava; se mantinha calada com lágrimas nos olhos. A terceira foi mais forte, e eu podia ver a vermelhidão. O lugar onde eu estava era privilegiado.
A quarta chibatada cortava os ouvidos de quem escutava de longe, mas não conseguia ver devido a distância.
Na quinta, quando eu escutei o gemido da mulher, encarei os filhos dela. Fiquei desolada ao ver que e se apoiavam um no outro para aguentarem aquela imagem. encarava tudo, mas eu sabia que ele não aguentaria muito. Respirei fundo e caminhei até onde eles estavam, mas fui barrada por um dos guardas. Encarei meu irmão.
— Por favor — sussurrei.
— Sabe que não podemos — fechei os olhos quando a sexta chibatada aconteceu. Me lembrando de Denver.
— Me deixe passar — falei, respirando fundo para não desabar. — Não é por ela. É por eles. Eu já estive nesse lugar e não tinha ninguém comigo.
Meu irmão respirou fundo, meu pai tinha deixado Benjamin no comando, então apenas observava como ele agiria.
— Vá. — o alívio que se estampou em meus olhos foi nítido. Eu não havia chamado tanta atenção saindo de onde eu estava, mas chamaria a atenção ao passar pelos guardas.
— Eu estou aqui — sussurrei atrás de . Os olhos marejaram quando me viram ali. me viu e eu ofereci minha mão para ele. Entrei na frente do príncipe do meio e me encostei nele. A outra mão, ofereci para , que aceitou depois de alguns segundos encarando.
E ali estava eu, no meio do meu trio. Eu apoiando-os em um momento difícil. Jamais os deixaria.
Eu preciso de você sussurrou, apoiando a testa na minha cabeça, não assistindo por alguns segundos aquele horror.
— Eu estou aqui — repeti. Seus olhos encontraram os meus e pude ver, por um segundo, o alívio; mas não durou muito quando escutamos a chibatada seguinte. E a outra. E a outra. E mais uma.
Foram minutos intensos até finalmente acabar. Até ver as mãos macias de Leigh-Anne vermelhas e completamente machucadas. E mais uma vez, eu não senti pena. Era pouco.
Suas lágrimas escorriam contra a sua vontade, havia tanto orgulho correndo por suas veias que era visível seu ódio. Não queria parecer prepotente naquele momento, mas eu sabia que meu nome passava em sua cabeça. Quando seus olhos encontraram com os meus, eu pude confirmar as minhas teorias.
Seus filhos estavam desolados e aquilo me matava. Rei Roger estava inabalável por fora, mas sabia também o quanto ele amava sua esposa, mesmo ela sendo quem era. Ser um líder tinha suas vantagens, mas naquela hora, eu não queria ser ele. Imagino que sua relação com sua Rainha jamais seria a mesma, e sabendo quem era a Rainha, Roger tinha que se proteger e ficar atento. Sua vida corria perigo.
E eu não falava apenas sobre os Vantronis ou os rebeldes.
Seu maior inimigo dormia ao seu lado.

🌻


O jantar naquela noite foi servido em nossos quartos. Eu não conseguia comer e imaginava que a maioria das pessoas também não. Me doía pensar que também não conseguia comer — logo ele, a pessoa que vivia por comida.
A saída do cadafalso fora muito difícil para eles, afinal, eles só saíram quando sua mãe saiu, e ela foi a última. Depois que todos os civis saíram de lá, incluindo a gente. Não pude ficar com os príncipes, meu irmão e meu pai não permitiram e eu entendia. Contudo, eu queria ter ficado até o final.
Estava ali, perdida em meus pensamentos, quando me lembrei de . Ah, nós seríamos crucificados se alguém soubesse o que aconteceu. Na realidade, havia tanta hipocrisia naquele meu pensamento, já que eu sabia que já havia tido outras mulheres, assim como eu havia tido o seu irmão. E Eric, quase.
Sorri ao lembrar de como ficamos juntos, de como sentir sua pele na minha fora importante. Me perguntei como pudemos esperar tanto e como eu me permiti ficar tanto tempo longe dele. Eu torcia para que ele voltasse essa noite, mas ele não voltou.
E foi assim por quase uma semana.

Capítulo 30

Uma semana se passou desde o último acontecimento.
Não vi Leigh-Anne.
Não vi .
Não vi .

esteve tão mais presente em minha vida depois que sua mãe foi açoitada, mas não era apenas por isso e sim também pelo fato dos Selvagens terem seu pescoço agora. Em todos os momentos eu odiava aquilo.
Nossa última reunião não fora das melhores e eu quase perdi a linha com um dos rapazes que vieram dessa vez. Odiava eles me tratarem como se fosse um privilégio ter o sangue de um dos Grandes correndo nas veias. Eu nem se quer sabia nada, de fato, sobre meu avô e os Selvagens. Era uma informação desconhecida que eu nem imaginava e eles jogavam aquilo em mim como se eu fingisse não saber.
Não me fazia de coitada. Contudo, também não ficava quieta.
A presença de também não colaborava. Eu não era a preferida deles e eles me tratavam feito lixo, no entanto, todos odiavam , mas precisavam dele. Não eram muito diferentes dos nossos líderes monarcas. Então eram obrigados a tolerar o príncipe. Os Selvagens debochavam de qualquer um que houvesse algum privilégio naquela roda: fosse eu, ou meu irmão.
Àquela altura, depois do açoitamento de Leigh-Anne, nossa maior preocupação era o casamento chegando tão depressa. Mesmo e Denver tentando evitar uma data tão próxima ou que ela fosse divulgada, era em vão perante Rei Roger e o meu querido amigo, rei de Agartha. Ambos queriam que tudo ocorresse rapidamente.
Os próximos três dias seriam de extrema preparação. Daqui três dias tudo podia dar certo.
Ou tudo podia dar muito errado.
E eu me tremia só de imaginar essa opção.
Minha função era preparar as garotas para um ataque em formato de guerra. Era irônico, já que nunca lutamos por algo assim. Contudo, achava que, por eu ter presenciado cenário de guerra com homens e mulheres, aquilo não levantaria tantas suspeitas para informações que, tecnicamente, não eram seguras. As últimas horas foram destinadas para leituras e assistir vídeos importantes com a ajuda de meu pai. Ele estava ali para me ajudar. E nunca o vi tão orgulhoso olhando para mim.
"Você tem o meu sangue nas veias. É uma guerreira por natureza, Walker."
Uma pulga atrás da orelha sempre me deixava preocupada com a índole de alguns Selvagens. Eles não queriam a destruição do país, no entanto, queriam a cabeça de quem carregava uma coroa.
— Nós temos muita técnica com treinamentos de autodefesa! — falei em frente das mulheres ali. Parecia que havia liberado todas as criadas e selecionadas para o treinamento. — Também temos técnicas com todos os tipos de armamentos possíveis e sabemos como utilizar qualquer objeto a nosso favor! Iremos lutar sem armas hoje.
Pude escutar as garotas murmurando, estavam assustadas, já que o costume era sempre ter algo nas mãos.
, mas como assim? — Sam fez uma careta e colocou as mãos na cintura. Encarei meu pai. A simulação começaria ao meu comando. Todos os nossos guardas estavam a postos para simular um ataque.
— A minha dica é... Se protejam! — falei. Aquilo era o que eu queria que todos os civis fizessem no dia do ataque, queria que todos corressem para um abrigo e aguardassem, mas nem todos teriam tanta sorte. Minha roupa de treino parecia me fazer suar mais naquele dia. — Comecem!
Elas encararam umas às outras. Não sabiam o que fazer. Eu desci do palco improvisado e encarei meu pai, meu aceno com a cabeça foi o suficiente para ele contar por um minuto antes de liberar a simulação.
Cheguei perto de Beth e sorri quando ela tentou me golpear. Gostava daquele clima onde a gente sabia que nossa vida não deveria se definir apenas em gostos impostos à nos. Beth gostava dos treinos. Gostava de se sentir útil de alguma forma.
Escutamos uma bomba estourar dentro da floresta. Encarei meu pai novamente, ele atuava tão bem que eu fiquei com medo. A segunda explosão aconteceu mais perto.
As meninas se abaixavam e gritavam. Eu também abaixei. Não imaginava que a simulação pudesse parecer tão real até para mim.
Não havia bombas na simulação.
— Não é um treinamento! — escutei um dos guardas dizer, correndo de dentro da floresta; sua testa sangrava. Aquilo comprovou minha teoria. — Vão para os abrigos! Corram para o castelo!
Me arrependi por estar agachada no momento que elas corriam, desesperadas. Cobri minha cabeça com os meus braços, torcendo para aquele tormento acabar. Acabou quando senti duas mãos me puxando para levantar e me surpreendi com quem era: Lizzie.
— Uma simulação, ? Sério? — sorri quando estávamos sozinhas do lado de fora. — Parabéns, me deixou surpresa.
— Não tente me matar agora, é apenas uma simulação.
— No fundo, você sabe que não fui eu e eu tenho como provar — ela revirou os olhos. — Tenho como provar quem foi, inclusive.
— E quem foi, Lizzie Frost? — arqueei uma sobrancelha. Me amaldiçoava por não dar tanta atenção à pessoa que planejou o atentado contra a minha vida. Me amaldiçoava por aquilo não ser minha prioridade.
Naquele momento, percebi que eu não dava a mínima para o acontecimento de meses atrás.
? — o rádio apitou. Era Benjamin.
— Walker. — respondi.
— Temos um problema de verdade. As explosões na floresta... Nós não as planejamos! — encarei Lizzie, ela pareceu se assustar com aquilo, mas não deu o braço a torcer, achando que era mais uma pegadinha. — , alguns guardas não voltaram.
— Onde você está, Ben? — falei calmamente. Não tive respostas. Escutei o tiroteio através do rádio. Meu coração pareceu sair pela boca.
, é aqui fora! — Lizzie se agarrou ao meu braço. Eu estava travada. Meu irmão estava no meio de um tiroteio.
Não era uma simulação. Fomos enganados.
Eu não sabia por quem.
Vantronis ou Selvagens.

— Por Deus! — ela me puxou para uma das arquibancadas e nos escondemos ali. — Não é o melhor dos esconderijos, precisamos sair daqui. Ah, e precisamos de armas! Armas e um colete a prova de balas e...
— Já estamos com colete. — tentei acalmar minha colega de Seleção. — Não podemos atirar — passei as mãos no rosto. Meu cabelo estava preso em uma trança. Lizzie prendeu o seu em um rabo de cavalo. — Não podemos ferir nossos guardas, não sabemos quem é quem.
— Ah, sabemos... — ela apontou para uns cinco guardas atirando contra outros caras. Respirei fundo e fechei os olhos. Queria que fosse Benjamin ali e eu visse que ele estava bem para poder me recuperar e agir de acordo com essa simulação. Não era mais uma simulação, me corrigi. Pessoas corriam perigo de verdade ali. — Preciso saber onde você enfiou as armas e coletes! Me diga que elas estão por aqui — ela falou, procurando embaixo dos bancos. Abri os olhos ao escutar Benjamin gritando "Menos um!".
— Não deixamos armas no circuito por conta da simulação, vocês poderiam ferir um guarda de verdade! — respirei fundo. — Que inferno — sussurrei. — Lizzie, estamos ferradas.
— Pare com isso agora mesmo — Lizzie segurou meu rosto — Escute aqui o que irei dizer, pois irei dizer apenas uma vez! — encarei ela. — Você fez coisas incríveis até agora, montou uma simulação para a gente conseguir se proteger e veja: estamos conseguindo. E estamos conseguindo em um ataque de verdade. Eu estou pensando em maneiras de conseguir sair dessa viva ao invés de estar chorando em um canto e posso até mesmo ajudar alguém se necessário — concordei com a cabeça, segurando um soluço. — O seu amor pelas pessoas próximas está te travando. Não deixe esse choque te oprimir! Benjamin é um guarda, seu pai é o chefe de todos, Denver está protegido a sete chaves com Alan, assim como os meninos. As meninas estão nos refúgios e nós vamos sair dessa. Agora é hora de você pensar em você!
— Vamos tentar pegar as armas caídas assim que eles saírem dali, e podemos correr para dentro do castelo — ela sorriu com a minha resposta. Meu plano não era o melhor, mas era algo.
— Eu procuro as munições, acho que vamos precisar.
— Oi? — perguntei. — Lizzie, vamos para um abrigo e pronto! A primeira coisa que temos que fazer é nos proteger. A segunda é tentar proteger alguém. A última é se enfiar em um abrigo e esperar! Não é para a gente ir em direção à guerra.
— Não podemos deixar eles sozinhos. Os Vantronis não esperam mulheres lutando! Isso vai pegá-los despreveni...
— Não vou deixar você se suicidar. Nem mesmo eu sou tão burra — falei, revoltada. O meu rádio tocou mais uma vez.
! — era meu pai.
— Walker — engoli seco. Não podia chamá-lo de pai.
Estamos sendo atacados. Não é mais uma simulação — escutava tiros de onde ele estava e ele escutava os meus também.
— Eu sei.
Eles invadiram o castelo, . Onde você está? — respirei fundo. Não poderia imaginar naquela emboscada.
— Na arena. Estou com Lizzie.
Eles estão concentrados aí fora! — meu pai gritou. Fechei os olhos. — Céus!
— Estamos bem — Lizzie pagou o rádio. Ela tinha razão: quem eu amava era meu ponto fraco. — Vamos para um abrigo assim que possível. Sabemos nos virar.
Frost, tenha cuidado — parecia que ele travava uma luta com alguém. — Malditos. Malditos. Malditos! — ele praguejava quando pegou o rádio novamente.
— Quem são? — perguntei. Com medo da resposta.
Não sabemos dizer ainda. Pelas roupas, parecem Selvagens... Mas, pelo armamento, Vantronis! — fechei meus olhos. Não sabia o que sentir. Aquela dúvida gritava em meu peito. Torcia para ser os Selvagens, ao menos, o sangue seria menor. Para Avallon, pelo menos, pois eu faria questão de destruí-los por enviarem uma faca nas minhas costas.
Vantronis não poupariam esforços para destruir cada pedaço de Avallon.
— As meninas correram para os abrigos, sei que elas estão seguras. Fez um bom trabalho, ! — ele falou. — Estou indo verificar os príncipes e o rei. Nossos guardas estão fazendo a varredura do castelo e os helicópteros estarão no céu para ver de onde eles vêm. Vamos destruí-los o máximo que pudermos.
— Fale comigo assim que chegar no abrigo — respondi. Sabia que era grave, mas não ao ponto de helicópteros. — Te amo.
Te amo, filha — encarei Lizzie, ela parecia estar surpresa, mas não comentou nada. Eu não me importava.
Olhei para frente e me concentrei. O último homem caía ao chão. Lizzie e eu esperamos que corressem em direção ao castelo, mas não confiávamos nos homens, poderia ser uma armadilha. Se não reconhecêssemos os rostos, não nos aproximaríamos. Eu e minha companheira corremos em direção a eles e pegamos tudo que podíamos para nos proteger.
— Esse aqui tem até uma faca — Lizzie falou, mexendo no cara que soltava sangue pela boca. Daria risada em outro momento. Arregalei os olhos quando senti uma mão segurando a minha e me puxando para perto.
— Vagabunda. Vagabunda. Vagabunda — ele repetia. Estava fraco demais para fazer alguma coisa contra mim, eu tinha a vantagem ali. Lizzie apontou a arma para ele e eu a encarei para não fazer nada ainda.
— Acho que não é assim que deve tratar alguém que pode salvar sua vida... — respondi, tentei conter o sarcasmo. Tinha certeza de que tinha tirado todas as armas que ele poderia usar para me machucar, então não estava tão assustada. Mesmo meu coração batendo como se fosse uma escola de samba. — Mais alguns minutos e você vai perder esse braço e essa perna. Se você pudesse ver como você deixou a grama da rainha...
— Eu quero que a rainha vá para o inferno. — dei um leve sorriso. Me aproximei dele e falei em seu ouvido.
— Entre na fila. Não é o primeiro e, acredite, não será o último — ele riu e em seguida choramingou de dor. — Me dê respostas e eu posso ser mais misericordiosa do que eles vão ser quando descobrirem que temos um inimigo vivo.
— Jamais me submeteria a isso. Prefiro sangrar até morrer do que ser torturado por você.
Estou te dando a opção de morrer com mais dignidade — nem mesmo eu acreditava naquelas palavras que saíram da minha boca. Lizzie encarava tudo, sem saber se seríamos capaz daquilo mesmo. — Ou prefere que eu te leve para dentro? Eu posso salvar você, deixá-lo novinho em folha para depois te fazer sofrer da mesma forma.
— Quem diria que a Tigre Dourado seria tão cruel... Está se saindo melhor do que imaginávamos — ele riu. Seus dentes afiados e vermelhos me davam raiva. — Não vai muito longe sozinha — apertei o lugar que ele tomou o tiro. Escutei ele gritar.
— Não estou sozinha. Você está. — resmunguei, entredentes. — Você é um Vantroni?
— Acha mesmo que um bando de rebelde selvagem teria capacidade de orquestrar algo dessa magnitude? - Acho. Com certeza acho.
— Qual o intuito desse ataque?
— Bandeira verde para matar. Sabemos que as mulheres estão juntas duas vezes na semana, sabemos que vocês lutam juntas e queríamos testar isso — o homem riu de novo, apertei novamente o machucado da bala e soquei sua perna baleada. Ele urrou. Lizzie fechou os olhos. — Também queremos assustar os moradores. Afinal, não ter controle nas cidades já é assustador, agora não ter controle no próprio castelo? O lugar mais seguro do país? Sinal de que os governantes não estão dando conta e que precisam de uma nova gerência.
Gerência? — falei aquilo com mais facilidade do que imaginava. Ele não disse monarquia, disse gerência. Vantronis queriam a coroa de Avallon para eles. Selvagens queriam acabar com a coroa para gerenciarem o país de forma justa e igualitária. Meu coração parecia que estava parando naquele instante.
Fomos traídos.
— O que foi, tigrinha? Está surpresa? — seus olhos escuros brilhavam de forma sádica e eu não sabia se eram por conta das lágrimas que ele segurava enquanto eu apertava sua ferida. Minha mão estava pingando o sangue daquele infeliz.
— Vocês matam com prazer e tem coragem de atacar milhares de vidas inocentes? — eu estava furiosa.
— Seu rei colocou muito mais na linha de morte da guerra. Vem querer defender a coroa agora?
— Não defendo coroa alguma, mas defendo quem eu amo. Vocês não estão na minha lista — disse com raiva. Ele sorriu novamente.
— Imagino que seu maior ponto fraco sejam eles, então... Bom saber! — eu gargalhei.
— Talvez, mas você não vai sobreviver para contar isso para alguém — o sorriso dele sumiu. — Vou cuidar para que te salvem e depois acabem com você.
— Sabe, foi incrível ver você sofrendo quando aqueles caras foram açoitados. Mereceram, na verdade. Gays são... nojentos — respirei fundo e engoli seco, passando a mão limpa em meu rosto, me controlando para não acabar com ele ali. Era isso que ele queria. Iria ser pior se sobrevivesse. — E quando eu fiquei sabendo da tentativa de estupro contra você? Achei aquele cara tão imbecil. Com certeza eu teria terminado o serviço — escutei Lizzie falando para eu me controlar e sair dali, mas não importava. — Quero estar aqui para ver você chorando por cada um dos seus que irão morrer. Por cada um que irá entrar na bala. Começando por sua família e terminando com esses príncipes. Essa será a única honra se eu sobreviver. Ver eles sangrando até a morte e você chora...
Um tiro.
Fechei os olhos, sentindo algo molhado espirrar em meu rosto. Sangue.
— Acharemos alguém para que seu pai torture — Lizzie disse friamente. — Levanta.
Fiquei encarando aquele homem. Lizzie havia atirado nele, bem na cabeça. Tão sangue frio que eu imaginava como ela faria para dormir depois de ter matado um homem. Eu sabia que não dormiria. Não depois de ver todos os detalhes da sua morte.
— Levanta. Agora! — ela ordenou e imediatamente me levantei, passei a mão no rosto e recuperei minha consciência. Ele mereceu. — Antes que alguém realmente faça isso com seu pai e seus irmãos e todo mundo que você gosta.
— Lizzie — a chamei enquanto andávamos olhando para todos os lados antes de irmos direto para o castelo. — Você está na minha lista.
Pude ver que ela deu um leve sorriso.
— Você também está na minha.
Corremos em direção ao castelo. Todas as entradas estavam fechadas, para a nossa tristeza. Não vimos mais ninguém do lado de fora, o que era um alívio; mas escutávamos o tiroteio do lado de dentro. Não conseguia parar de pensar em como ficaria ao descobrir que foi traído tanto quanto eu. Logo ele, o herdeiro.
Encaramos uma das janelas que davam o acesso pela cozinha, Lizzie tentava abrir sem causar um alarde enquanto eu dava cobertura. Escutei um barulho vindo das árvores e fiquei atenta, não preocupei Lizzie com isso. Por sorte, nossa roupa nos daria chance de correr e lutar.
Uma bola de papel bateu contra minha perna e aquilo foi o suficiente para eu ficar assustada. Peguei rapidamente o papel, tentando me concentrar em ler e ficar de olho em tudo.
"Não atire. Sou eu. Oph."
Tentei não metralhar aquelas árvores até acertar aquela maldita, mas me controlei. Tinha que ter muita coragem para vir até mim.
– Até que nível os Selvagens chegam no quesito coragem? — perguntei alto o bastante para que ela escutasse e se aproximasse.
— O que disse? — Lizzie resmungou, caindo ao meu lado. A janela claramente não estava facilitando nossa vida. Ela se levantou e apontou a arma para Ophelia assim que a viu.
Ela estava sozinha, pelo menos parecia, mas eu não me enganava e sabia que alguém estava escondido lhe dando cobertura. Parecia inofensiva comparada com o seu parceiro que Lizzie atirou mais cedo.
— Viemos assim que fomos avisados sobre o ataque — ela falou, calmamente. Se aproximando de mim. Seu segundo erro, o primeiro foi ter me traído.
Meu cérebro sequer me deu tempo para entender o que meu corpo iria fazer, foi tão rápido que puxei pelo braço e a encurralei contra a parede com meu antebraço em seu peito e a faca de Lizzie, que estava em minha mão livre, apontando para seu pescoço. Ophelia parecia assustada comigo. Não a culpava, eu também estava.
— Como você tem coragem de mentir para mim? — gritei. Estava tão brava que minha mão tremia. — Depois de tudo que eu fiz, de todos que eu traí por essa Causa! Eu entreguei minha vida a vocês e vocês me traíram da pior maneira!
— Do que é que você está falando? — por mais assustada que ela estivesse, não poupou esforços para me responder de maneira firme. Não consegui conter uma risada.
— Você está de brincadeira comigo? — Lizzie agora apontava a sua arma para várias direções, o que me fez encarar rapidamente para onde ela apontava. Havia um monte de Selvagens ali. Ophelia seguiu meu olhar e fez com que eles não dessem mais um passo apenas com um aceno de cabeça, mas eles não saíram de onde estavam e mantinham suas armas apontadas para nós. — Vocês orquestraram essa merda toda! Como eu pude ser tão burra? Vocês manipularam a gente e eu nem percebi!
— Sei o que parece, mas não fomos nós — ela respondeu entredentes. — Somos muitas coisas, mas não traímos quem é do nosso time. Você, e Denver são nossas maiores chances e nunca faríamos isso — suas palavras não me fizeram recuar, mas massagearam parte do meu ego que não queria se sentir traído. — Vocês têm um infiltrado aqui. Alguém está passando informação para os Vantronis e não somos nós, .
— Ninguém sabia da merda da simulação a não ser você, eu, os príncipes, o rei, meu pai e meus irmãos! Os soldados ficaram sabendo cinco minutos antes exatamente para que não vazasse nada — minha voz era firme, como fui treinada para fazer. Daria medo em qualquer pessoa. — Nem mesmo a megera sabia disso. Agora você vem querer me dizer que ninguém da sua maldita turma não falou nada?
— Confio tanto nos meus homens que você pode me dar um tiro depois que falar com cada uma das suas pessoas e descobrir se eles não falaram para alguém — aquilo parecia ser um bom trato. — Agora, se você confia tanto nos seus homens assim como eu confio nos meus para sugerir um tiro, faça isso agora.
A encarei por cinco segundos. Foram cinco longos segundos. Confiava nos meus irmãos e no meu pai. Sabia que Denver jamais falaria até mesmo para seu noivo, sabia o quão sério aquilo era. Rei Roger que teve a brilhante ideia de ameaçar qualquer um que abrisse a boca. O problema eram seus filhos. não era minha preocupação. e me preocupavam.
Eles não falariam para um Vantroni. Contudo, contariam para alguém que pudesse vazar isso.
Ter a sensação de ser traída de novo, doía; mas doía ainda mais por não saber em quem acreditar. Eu só tinha uma certeza: fui traída. E dessa vez, de verdade.

Capítulo 31

Levei um empurrão e caí em cima do meu ombro assim que pulei a janela com a ajuda de um dos homens de Ophelia. Fizemos um trato. A forma que ela confiava em seus homens me deixava um pouco intimidada, pois eu não tinha tanta confiança assim nos meus. Era bizarra a forma que eu acreditava que fui traída por eles. quando falou sobre a simulação, plantou na cabeça do Rei que ninguém poderia saber, que aquilo tinha que ficar entre nós, e assim foi até cinco minutos antes da simulação. Meu pai juntou os guardas e não daria tempo para que alguém avisasse os inimigos, não teria tempo para que eles nos atacassem dessa forma.
Respirei fundo, tentando não reclamar de dor àquela altura da luta. Atrás de mim, Lizzie caiu em pé como um gato. Ophelia e mais três homens entraram em seguida. Tentei me levantar com a ajuda da minha amiga e ela segurou um comentário engraçadinho quando escutou tiros. Estávamos na cozinha, os tiros vinham do lado de fora.
— Quem são vocês? — eu conhecia aquela voz. Um dos homens de Ophelia ameaçou atirar, mas eu entrei na frente.
— Não vai atirar em um civil — falei entredentes. Eric segurava uma panela, uma panela grande. — Eles estão aqui para ajudar.
— Então por que ele não abaixa a arma? — Eric não tirava os olhos do rapaz, que eu descobri ser Philippe e o outro se chamava Ruel. Com a ordem de Ophelia, eles abaixaram a arma. — Agora quer me dizer por que diabos você não está em um abrigo?
— Eu te pergunto a mesma coisa! — seus olhos eram os mesmos, exceto pela raiva que continha neles. Eric parecia ainda mais bonito e encorpado depois dos meses atrás que eu o vi.
Por um segundo, senti falta do meu amigo. Senti falta de quem éramos em Southampton. Senti falta da vida antes da Seleção. Antes dos Selvagens, do Tigre Dourado e tudo que vinha junto. Entretanto, eu perderia tantas coisas se isso não acontecesse. O exato sentimento que tive quando o vi pela primeira vez nesse maldito castelo.
— Tem mais alguém aqui com você? — questionei, espantando os pensamentos.
— Alguns cozinheiros e faxineiros — Eric passou a mão no rosto. — Estão escondidos dentro dos armários. O ataque demorou para chegar aqui na cozinha, escutamos tiros e já era tarde demais para um abrigo. Não é engraçado não termos um abrigo aqui?
— Vou providenciar isso — garanti, olhando em volta. Os homens de Ophelia e ela analisavam o perímetro, Lizzie não saía de perto de mim e de Eric. Escutei a risada vindo dele e foi o suficiente para que eu me irritasse. — O que foi?
— Só... É engraçado — arqueei a sobrancelha, aguardando uma resposta. — Você está armada e é tipo uma conselheira do Rei... Fora os boatos de que você é a nova revolucionária.
— Desde quando você ficou tão amargo, Eric? — foi a única coisa que consegui dizer. Sem mais provocações ou sarcasmo. Houve um silêncio.
— Desde quando você simplesmente se esqueceu da minha existência.
Não tive como responder, as ordens explícitas de Ophelia para nos escondermos fizeram meu coração quase saltar. Lizzie se enfiou em um dos armários e eu em outro. Eric fez a mesma coisa. Por um buraquinho da porta, eu conseguia ver o movimento de fora. Não havia ninguém dos meus ali. Então, no segundo seguinte, eu prendi minha respiração com medo de que alguém escutasse e nos descobrisse ali. Aquilo era quase um terrorismo.
O homem que entrou estava sozinho e parecia que estava cansado. Usava uma bandana no rosto e parecia que a arma que ele tinha estava sem munição. No minuto seguinte, ele voltou para o lugar de onde veio. Só saímos quando Ophelia achou ser seguro.
— Precisamos ver se os seus guardas precisam de reforços. Consegue descobrir isso? — concordei com a cabeça, usando o rádio para chamar meu pai ou Benjamin.
? — era meu pai. Suspirei, aliviada, passando a mão na testa. Sentia o suor escorrendo no canto dela.
— Estou dentro do castelo. Na cozinha. Tenho mais gente comigo, estamos sem abrigo — falei rapidamente. — Como está a situação?
— As áreas oeste e leste estão sendo atacadas. Zona sul do castelo está cheia de inimigos! — fechei os olhos. Estávamos ali. — Benjamin está bem, perdeu o rádio quando caiu da escada, protegendo — fiquei em silêncio. Meu coração parece que parou por uns instantes. — Estão bem. Antes que você desmaie.
— Essa informação você dá antes de matar do coração — Lizzie pegou o rádio da minha mão.
— Me desculpe, Lizzie — ela sorriu e passou a mão em meu braço. — Fiquem aí, chegarei logo!
— Cuide-se!
Nós nos encaramos. Voltamos para os armários quando os tiros se aproximaram. Desta vez, quatro homens entraram ali. A cozinha era gigante, havia comida torrando nas panelas. Que droga, eu estava com fome. E enjoada. Muito enjoada.
— Não conseguimos fazer absolutamente nada do que deveríamos ter feito! — um deles falou.
— Conseguimos aterrorizar esse lugar. Com o nosso próximo ataque, chegaremos até o Rei! Avallon vai virar uma zona e acabaremos com absolutamente tudo — um mais novo respondeu. Ele ria. As armas estavam descarregadas, eles pareciam estar esperando outros para saírem juntos. Não pareciam Selvagens.
— Ao menos acertamos aquele principezinho — cobri a boca. Merda, merda, merda.
— Acertaremos aquela família inteira na próxima. E também aquela garota. Tigre Dourado é o caralho! — fechei os olhos, me concentrando para não ser pega ali. Algo fez um barulho enorme perto de mim, na área ao lado. Lizzie. Os homens não demoraram para ir até ela.
Merda, merda, merda.
Via tudo pelo buraco da porta, mas não o suficiente. Respirei fundo ao escutar os gritos dela. Meu primeiro impulso foi tentar sair dali, mas Eric foi mais rápido, ele saiu do lado dele e me trancou aonde eu estava, olhou para o buraco e disse "Não ouse sair daí".
Uma luta começou entre eles. Lizzie usando todos os seus aprendizados contra dois homens. Eu sabia que não podia sair, sabia que seria uma burrice ficar no meio daquela luta. Eu não serviria de nada morta, mas nenhum dos dois poderia sofrer naquela situação. Tentava sair de dentro daquela jaula, aproveitando que o barulho que eles faziam do lado de fora não roubaria a atenção para mim. Não demorou muito para que Ophelia e seus homens fizessem aqueles bandidos se renderem. Pelo buraco, pude ver Lizzie no chão, segurando um dos braços, parecia bem. Eric ajudava os homens de Ophelia a segurar o homem inimigo. Forcei a porta mais uma vez, e, com isso, ela se arrebentou inteira comigo junto.
Ophelia avisou que não conhecia aqueles homens, não os reconhecia. Contudo, eu não duvidava na capacidade maligna de um plano horrendo vindo da parte dela.
– Por Deus! — Ophelia falou, me vendo correr até Lizzie. — Avise que estamos com os inimigos. Precisamos de reforços.
— Você está bem? — perguntei primeiro. Lizzie respondeu que sim, mas havia sangue.
— Isso é superficial, chame reforços e eu logo vou ver o famoso Dr. Poirot! — ela brincou. Não demorou muito para que meu pai aparecesse junto com um mar de guardas.
— Eric, venha conosco para o ambulatório, precisa de pontos... — falei para ele, enquanto os guardas arrastavam os inimigos para longe. Eric estava com um corte na perna.
— Não se preocupe comigo, tem peixes maiores para cuidar — revirei os olhos. Aquilo estava me dando nos nervos. Ter mil pessoas para me preocupar.
— Todos os peixes importam — observei Lizzie sendo arrastada. Ophelia e os homens saíram antes do meu pai chegar, ele nem se questionou a princípio como conseguimos lidar com esses inimigos, mas sei que a pergunta viria. — Até mesmo você, piranha.
Aquilo fez com que ele risse. Falei totalmente sem pensar, o que nos pegou desprevenidos. Rimos pela primeira vez em tanto tempo, foi o ápice para que a gente lembrasse dos velhos tempos. Era horrível rir nessa situação. Matei alguém hoje. Pessoas morreram. Se machucaram. Sofreram.
E eu estava fazendo piada com um cara que não era meu amigo há meses.
— Todos aqui para a triagem no ambulatório do Dr. Poirot. Quero todos os guardas se apresentando a mim. E qualquer rosto diferente nessa merda de castelo, quero que seja arrastado para mim imediatamente! — meu pai berrava aos quatro cantos do castelo, berrava no rádio. Eu sentia o fogo saindo da sua garganta. — Iremos pegar esses marginais! Eles vão pagar por tudo!



— Essa informação vazou daqui — falei, esperando poder voltar lá para fora e atirar em Ophelia. Não queria atirar nela, mas também não queria sofrer com a vergonha de ter sido traída por alguém que eu amo.
Parecia que eu não dormia há dias, mas estávamos beirando a madrugada de um longo dia. Poirot quase me prendeu na maca, mas não conseguiu. Eu tinha assuntos para resolver. Aquele lugar estava o próprio inferno e não havia horário para descanso. Tinha que descobrir quem foi que manipulou meu plano.
Não pararia até descobrir.
— Precisamos saber se vocês contaram para alguém — rei Roger se pronunciou. Depois que conversei com na enfermaria, ele colocou na cabeça do pai que a informação poderia ter vazado. Roger parecia um leão furioso àquela altura. Perdemos muitas pessoas nesse ataque.
— Não falei nada para ninguém. Eu jurei pela Coroa, céus! — Benjamin parecia ofendido.
— Eu não contei nem para Alan. Inclusive, ele está furioso por eu ter deixado ele de fora — Denver falou calmamente. Encaramos . Ele estava com a roupa suja de sangue, havia tentado salvar alguém e tomou um tiro de raspão por isso.
— Não falei para ninguém. Nem mesmo para minha mãe, se é o que vocês estão pensando — pude respirar aliviada. Talvez eu pudesse atirar em Ophelia, afinal. — Ela está furiosa por ter sido pega desprevenida.
— Nos desculpamos depois. — seu pai deu de ombros. — ... E você?
Silêncio.
Ele nem mesmo conseguia olhar para os olhos de ninguém. Meu coração estava se partindo, pois não queria acreditar que ele pudera abrir a maldita boca para alguém, sabendo o quão perigoso poderia ser. O príncipe também estava manchado de sangue e machucado. O sangue era de outra pessoa, mas seu braço estava fora do lugar por conta de uma queda da escada. Por sorte, foi a única coisa que aconteceu com ele.
? — minha voz era calma. Eu estava me controlando. Não sei se para não chorar de desespero ou simplesmente surtar e voar em cima dele.
— Não acredito que pude ser tão burro... — ele passou as mãos no rosto e bagunçou ainda mais o seu cabelo. Escutei seu pai e seu irmão resmungarem. Vi de relance todos se remexerem com desconforto. Mas não tirei os olhos dele até que ele olhasse para mim.
— O que você fez, ? — seu pai perguntou, não havia mais voz de rei bravo. Era a voz do pai decepcionado.
— Há quatro noites, eu fui para a cidade, para o bar de sempre — ele começou a falar. Então, ele não estava totalmente ocupado. Só conseguia me sentir usada por ele. Usada e traída. — Encontrei Marie.
Meu coração gelou. Não consegui encará-lo quando ele falou aquilo.
— Marie? A jornalista? Marie D'empine? — estava furioso. Não sabia se era por conta da repórter ou por conta do caso que ele teve com ela. No final, eu não era a única no meio dos irmãos.
— É — respondeu secamente, procurando coragem para falar o que vinha a seguir. — Bebemos juntos, bebemos muito... — meu estômago embrulhou e eu precisei colocar uma mão na minha boca para não vomitar ali mesmo. Que dia mais infeliz. Senti Denver pegando minha mão. Não olhei para frente para não ver os olhos julgadores de . Ou a pena de Benjamin. A humilhação vinha de todos os lados. — Lembro de pouca coisa daquele dia, pouca mesmo. Mas me recordo que comentei com ela que era bom ela não estar no castelo na data de hoje, já que fugir de um ataque não seria a cara dela. Mesmo que fosse simulação. — fechei os olhos. Não conseguia escutar mais nada. Não queria escutar mais nada.
— Como você pode ser tão estúpido? — seu pai perguntou. É, , como?
— E depois? — perguntei. Encarando-o desta vez. — E depois, ? — o vi fechando os olhos e balançando a cabeça, parecia até que estava com medo de me magoar. Tarde Demais, . — Olhe para mim e responda, seu... Maldito covarde!
Os olhos dele encontraram os meus. Estavam vermelhos. Os meus não estavam diferentes, mas eu segurava as lágrimas assim como ele. Essas lágrimas não vão me convencer de nada.
— Acordei no dia seguinte no quarto dela, voltei para o castelo e não me lembro de mais nada — as mãos de Denver me apertavam. Ele queria socar por mim e pela Causa. Benjamin só queria socá-lo pela missão e todas as vidas perdidas.
— Quero Marie D'empine atrás das grades ainda hoje, amanhã iremos interrogá-la e mandá-la para o cadafalso — rei Roger falou para meu pai. Não tirei os olhos de seu filho, ele mantinha o olhar. Estava esperando alguma reação dele por saber que sua querida repórter morreria por traição, mas ele não disse nada. — Traição contra a Coroa.
Não era muito diferente do meu futuro se eu fosse pega. Eu era uma hipócrita. Mas ao menos eu defendia o meu país. Quem Marie defendia? O que ela ganharia com isso?
— Majestade... — falei, o encarando. — Tenho uma sugestão. Estamos todos nervosos, completamente abalados com o que aconteceu hoje — ele concordou com a cabeça. Eu estava tentando manter o controle. não iria me abalar ali na frente deles. — Temos uma vantagem aqui: ela não imagina que sabemos que foi ela quem abriu a boca.
Todos me encararam, até mesmo .
— Mantemos a inimiga por perto, usamos esse... Esse idiota para passar informações falsas para ela. — estava tão enojada que nem mesmo queria imaginar a cena. — Podemos pegar eles. Podemos destruí-los de vez. Acabar com essa guerra.
— Você é brilhante, — receber esse elogio do rei me fazia ficar melhor. Um pouco melhor.
A meia hora de reunião que se estendeu me mostrou que eu funcionava sob pressão. Minha cabeça funcionava quando eu estava com raiva. Tínhamos um plano. Planejamos e anotamos.
Ao menos estávamos um passo à frente dos Vantronis.

Capítulo 32

(Coloque para tocar)


As mãos dele percorriam o meu corpo, ele não deixava nada escapar. Sua boca percorria um caminho entre minha orelha até o meio das minhas coxas e ali ele ficou por tanto tempo que eu só sabia tremer. me pegou de surpresa quando se posicionou no meio de minhas pernas, eu ainda estava com a respiração pesada tentando me recuperar do que acabara de acontecer e bastou apenas um olhar para que eu confirmasse o que viria a seguir. Abafei um gemido quando seus lábios encostaram nos meus e...


— Que diabos...? — acordei, assustada, com a voz atrapalhando meu sonho.
— Mas o q... — abri os olhos novamente até reconhecer a pessoa que estava ali no meu quarto. Olhei para o relógio e ainda era de madrugada. — !
— Eu... Eu vim ver como você estava e avisar sobre os recados de Ophelia — ele estava tão sem graça quanto eu. Eu não estava pelada, mas minha camisola era curta o suficiente para ele ter a visão do meu corpo e eu imaginava que não estava apenas dormindo quando ele entrou no quarto. Tinha certeza de que o gemido não foi abafado de verdade.
Que ódio de você, Aykroyd.
— Estou bem, oras! — puxei a coberta para mim e cruzei os braços. — Diga os recados da chefinha.
Ainda não tinha encontrado nenhum dos Selvagens depois da minha descoberta. Estava com vergonha e com orgulho demais de admitir que errei, afinal, um dos meus havia nos traído e não o contrário. Ameacei a atirar nela, agi como um animal raivoso e estou tentando lidar com esse meu lado que ultimamente vinha dando as caras mais do que eu gostaria.
— Ela quer te ver — bufei e olhei para cima. — Os recados não são tão bons quanto eu gostaria... Onze pessoas morreram no nordeste de Avallon em uma explosão.
— Eles ainda estão nos atacando mesmo depois de termos pego tanta gente deles?
Era verdade. Doze homens não escaparam de nós. Oito feridos que estavam sendo tratados da maneira menos antiética possível para que pudéssemos ter nossas informações; o resto eram soldados que estavam bem, só que tentaram salvar seus amigos. Esses não estavam sendo tratados tão bem.
— Acredito que onze pessoas mortas seja um recado...
— Para devolvê-los. — terminei o pensamento de . Malditos.
Malditos, Malditos, Malditos!
— Temos um plano, vai dar certo — ele tentou me reconfortar, mas era difícil para ele também. — Estamos um passo à frente.
— Até seu irmão estragar tudo novamente — me levantei. Minha raiva estava fervendo meu sangue, tanto que sentia meu rosto ficar vermelho.
— Acho que você e ele precisavam conversar — fiz careta. Não. Não tínhamos o que falar. — , você é cheia de qualidades, também é teimosa feito uma porta... Só que se tem algo que você não é, esse algo é burra — não o encarava enquanto observava o jardim. Fazia um pouco de frio em Avallon. Não era comum naquela época. O clima estava diferente. — Tente pensar um pouco, não estou defendendo-o, e nem mesmo sei o que aconteceu com vocês antes, mas caiu em uma emboscada. Ela o usou, e no momento frágil que estávamos.
— Ele tinha a mim — aquilo saiu mais fácil do que eu pensava. Não foi tão vergonhoso falar aquilo em voz alta para . — Ele tinha a vocês que estavam tão mal quanto ele — encarei o mais velho. — Ele não precisava estar lá.
— Lidamos com a dor de maneiras diferentes — foi até mim. — Você se agarra à sua raiva. Ele foi para a bebida. Nenhum dos dois está certo.
— Se eu me acabasse em álcool toda vez que alguma desgraça acontecesse na minha vida... — revirei os olhos — opa, cadê eu?!
— Não seja assim, balançou a cabeça, tirando o meu cabelo do rosto. — Não querendo ser o chato, mas você está brava por ele ter ficado com Marie? Você ficou com os irmãos dele.
— Isso é tão injusto! — quase rosnei de raiva. — Vocês ficaram com todas as meninas e eu sou errada por ter ficado com vocês?
— Só estou dizendo que...
— Não quero escutar mais nada!
— Eu não quero que você ache que eu não te entendo, pois entendo — ele suspirou. — Mas também entendo . Na realidade, os dois estão quites.
— Ele transou comigo e em seguida estava transando com ela, como você pode dizer que estamos quites?
— Não sabia que você era de expor acontecimentos como esses para as pessoas — a voz de pegou nós dois desprevenidos. Ele estava na porta do meu quarto e estava vermelho. Eu conseguia ver pela luz do luar.
— Bom, vou deixar vocês a sós...
— Fique — eu segurei o braço de .
— Por favor — falou ao mesmo tempo que eu.
— Meu bem, você precisa lidar com seus problemas. Estarei no meu quarto se você precisar — engoli seco. Não era isso que eu estava esperando. Aliás, não era nada disso. Ter que lidar com uma guerra e ser a porra de uma lenda deveria ser os únicos dos meus problemas, mas eu estava metida com a merda de uma Seleção.
se foi.
Restavam ali apenas eu, e meu coração partido junto com meu ego abalado.
— Quer conversar comigo?
— Pergunta meio ridícula a essa altura, não acha? — cruzei os braços e ele entrou no quarto. me observava da porta e fiquei na minha cama.
— Eu sei que não existem pedidos de desculpas que te façam acreditar que eu estou arrependido por tudo que aconteceu — ele suspirou, sua voz era firme e ele estava nervoso. Estava abrindo e fechando as mãos, era o que fazia em situações de debate. — Sei sobre o que se trata, o que eu posso ter estragado. Sei que nosso país corre riscos enormes agora, dependendo do que eu possa ter falado, e sei que coloquei todos em risco. A pior parte disso, no entanto, é que eu posso ter perdido você também. Acredite em mim quando digo isso, ... Nada me dói mais do que saber que você está magoada por algo que eu fiz.
Segurei as lágrimas. Eu não sabia que poderia chorar por causa de algo assim. Eu não queria chorar por causa disso. Respirei fundo e encarei o chão, sentindo minhas narinas inflarem e meu rosto esquentar.
— Acho a individualidade de cada um incrível, amoraquela palavra me fez fechar os olhos com força. — Cada um lida com as situações de uma forma. Eu prefiro me isolar e... bebo — senti uma lágrima escorrer dos meus olhos. se aproximava devagar da cama, com medo de eu me afastar igual a um animal assustado. — A minha maior vontade era estar com você.
— Você foi para o bar. Bebeu. Ficou com outra depois de dizer que me amava. Desculpe se não consigo entender tudo isso de maneira adulta — sequei a lágrima teimosa que insistia em cair. — Eu estava aqui para você. Eu te esperei. Eu dei seu espaço.
— Você não merecia me dizer palavras falsas sobre minha mãe estar naquela merda de cadafalso! — sua voz saiu um pouco mais grosseira. Eu até me assustei com aquilo. respirou fundo. — Eu não queria te submeter a isso. , minha mãe sempre foi horrível com você, eu não podia fazer você passar pelo inferno que ela mesma causou. Eu não consegui vir até aqui e chorar no seu colo.
Àquela altura, minhas lágrimas caíam em um volume maior.
— Como eu disse, eu sempre preferi ficar sozinho — ele também estava emocionado e se ajoelhou ao meu lado — e é difícil amar duas pessoas que se odeiam. Minha mãe é horrível, mas é minha mãe. Você... você é o amor da minha vida — encarei seus olhos. — Você odeia bebida, com toda razão... Eu também não poderia te submeter a isso, me ver bêbado. Eu não poderia te submeter a duas coisas que você não suporta.
Suas mãos encostaram em meu rosto e secaram as lágrimas, mas elas ainda caíam.
— Nada justifica o que aconteceu com a Marie — ele me encarou e falou seriamente, mas sua voz era doce e firme ao mesmo tempo. — Não sei o que aconteceu para que eu tenha chegado lá, me conheço o suficiente para não ter recorrido ao sexo com ela, .
— Vocês sempre estavam juntos antes e durante a seleção, . Não seja hipócrita — suspirou.
— Sim, não estou negando isso.
— O que mudou dessa vez? — o príncipe deu um leve sorriso.
— Antes eu não estava apaixonado por você — minhas lágrimas caíam sem parar. Doía tudo aquilo. Eu acreditava nele, mas doía me sentir traída. — Quero ressaltar que eu sou o culpado por toda essa situação e eu planejo resolver tudo, prometo a você. Contudo, preciso saber se você está disposta a me perdoar.
— Quero acreditar em você — respirei fundo. Chorar não era algo que eu gostava de fazer, eu me sentia fraca. Me sentia fraca quando chorava na frente das pessoas. — Mas estou magoada.
— Eu entendo, me deu um beijo na testa, seu perfume estava exalando e aquilo só me dava mais saudade dele. — Você tem todo tempo do mundo. Estou aqui te esperando — com movimentos lentos e doloridos, ele se afastou. Caminhou até a porta e, com um último olhar, se despediu com as seguintes palavras: — Eu te amo, .
A porta se fechou e eu senti meu peito apertar. Não queria que ele fosse embora, mas também não conseguia ficar com ele naquela hora. Marie precisava acreditar que causou o maior estrago e estar com significava que parte do plano dela não tinha dado certo.
— Vadia — sussurrei.



Três dias se passaram desde que havia me visitado. Mais ataques aconteceram durante os dias. Os vantronis queriam a todo custo seus soldados de volta e a questão era: nós queríamos paz.
Sem paz, sem soldados.
O casamento se aproximava e nós estávamos aflitos, nossos passos eram certeiros, mas os passos dos Vantronis eram incertos.
Nossa rotina permanecia a mesma, a gente fingia que tudo estava bem para a população, mas não estava. As selecionadas estavam com suas aulas e aquilo me deixava ainda pior, eu queria Robin comigo. Ela não me deixaria passar por nada disso chorando como estava agora. Estava chorando todos os dias antes de dormir. Estava cansada de ter mil responsabilidades. Eu deveria ser apenas uma adolescente idiota romantizando a ideia de se casar com um príncipe, mas estava tentando acabar com uma guerra.
— Quero que você seja minha madrinha de casamento — Denver falou, entrando na sala de reunião onde tinham várias pessoas se preparando para uma reunião.
— Você disse que gente ia contar juntos — Alan sussurrou, querendo bater em meu irmão. — Sério, a gente tem que conversar sobre sua gigantesca boca.
— Meu bem, fique tranquilo, ela sabe que você também está envolvido nisso — Denv revirou os olhos e sorriu para mim. — Aceita?
— Meu Deus — sorri. Era o que eu precisava para ficar feliz. — É claro que eu aceito.
— É bom ver você sorrindo — Alan me abraçou.
— Espero que você mantenha o sorriso com as informações a seguir... — arqueei a sobrancelha. — Chamamos os meninos para serem os padrinhos. A princípio você iria entrar com o seu amor, mas depois do ocorrido...
— Você escolhe com quem vai entrar.
— Exceto . Ele vai entrar com a minha prima, Fiona — Alan sorriu amarelo.
— Que tal nosso pai? Ben?
— Nosso pai vai entrar comigo — Denver suspirou. — Benjamin estará no comando da guarda, acredite, é o que ele mais quer no momento.
— Denver, eu... — olhei em volta, ninguém prestava atenção em nós. Todos tinham suas pendências para resolver. — Eu não posso escolher . me odeia. Não sei...
— Esqueça a maldita guerra, seja apenas minha irmã por um momento! — sua voz era brava, eu entendia aquele sentimento.
— Não posso ser apenas sua irmã em um momento em que está previsto a maior guerra de todas, Denver. Temos que pensar em tudo e, acredite, eu entrar com não é a opção mais válida — me afastar dele doía. Eu odiava tudo aquilo. — Entrarei com .
Também tinha pendências com ele.
— Prometo que em Agartha teremos um casamento de verdade, sem guerras e sem caos. Somente nossas famílias — Alan prometeu para nós dois. Segurei a mão de meu irmão e a de meu cunhado. — Vamos nos manter firmes. Vamos nos proteger.
— O casamento está chegando.
— O fim dessa guerra também — meu coração gelou. Tudo poderia estar no fim. Tinha medo do que mais poderia acabar com a maldita guerra.

Capítulo 33

— Como estão os preparativos do casamento? — depois de dias, a rainha apareceu no salão principal, local que voltou a ser movimentado depois dos últimos ataques, já que estávamos ficando com o tempo reduzido para treinamentos e outras atividades fora do castelo. Os dias se passaram lentamente e faltavam apenas três dias para o casamento.
Respirei fundo e não me virei para ela, ignorava sua existência, mas não negava a curiosidade que eu tinha de ver as mãos da megera. Isso me causava pânico, lembrava de Denver e Ted e do que a causou. Não podia negar como estava certo em evitar jogar seu fardo de tristeza em cima de mim no fatídico dia que ele acabou ficando com Marie. Eu tinha plena consciência de que estava sendo apenas uma jovem de vinte anos com inseguranças e me sentindo traída.
Após uma longa conversa com as estrelas, a noite passada dormi observando o céu. Sonhei com Robin. Na realidade, parecia que ela estava comigo.

(Coloque para tocar e prepare-se)


— Seus olhos estão inchados — ela estava do mesmo jeito que me lembrava. Intocável. Perfeita. Seu terninho tão elegante que parecia até que ela brilhava. — Não era assim que imaginava te reencontrar.
— Você tem um timing incrível — sorri ao vê-la. Robin sorriu e se deitou ao meu lado. Inexplicavelmente eu sentia finalmente uma paz gigante com ela ali.
— Sou sua guardiã, se lembra? — suas mãos encostaram em meu rosto de maneira delicada. Poucas vezes Robin encostou em meu rosto, as vezes que ela fez isso foram em momentos de tristeza. Estranhamente aquilo me acalmava.
— Como é onde você está? — me virei para ela.
— Como você imagina? — fiz uma pausa com a pergunta. Como eu poderia imaginar o "além"?
— Imagino você gloriosa. Viajando para todos os lugares que quer conhecer. Onde você está não há tristeza, não há nada que te deixe com dor de cabeça ou preocupações. Um lugar incrível por dia.
— Você só errou em uma coisa – o sorriso dela diminuiu um pouco. – Aqui há tristeza e dor de cabeça quando vejo você em situações tristes.
— Que merda, você deve viver triste — rimos. Rimos por cinco minutos até nossas bochechas doerem e eu começar a chorar. Robin me puxou para ela em um abraço. — Às vezes... Às vezes é muito difícil.
— Eu sei. Não acho justo você carregar esse fardo cruel e injusto nas costas — ela me acalmava. — Mas é muito mais injusto você se privar da felicidade, .
— Temos uma guerra em Avallon. Pessoas morrem todos os dias. Como posso pensar em outra coisa? – era como se uma faca entrasse em meu peito várias vezes e saísse de maneira devagar.
— Você é apenas uma jovem, . Com a maldita maldição nas costas, mas é apenas uma jovem — fechei os olhos e encarei o céu novamente. Um raio de luz riscou o céu, era uma estrela cadente. O céu de Avallon sempre foi o mais bonito. — Já leu sobre essa merda toda? — a encarei, surpresa com a palavra grotesca saindo de seus lábios. — O que foi? Eu não preciso mais ser uma Dama, eu estou no meu paraíso agora. E que se dane! A lenda diz que uma jovem garota terá o poder de tirar a Coroa da cabeça de inúmeros líderes. Que uma jovem garota terá a chance de dar ao povo igualdade e dignidade. Sem mais diferenças. Na lenda também fala que haverá muitas gotas de sangues derramados e tudo valerá a pena no final. Sabe o que não está escrito, ?
Neguei com a cabeça. Conhecia a lenda de trás para frente. Eu era a Lenda.
— Que o Tigre Dourado está sozinho — um soco no estômago. — Significa que o fardo não é totalmente seu. Você sozinha não faz nada. O que te qualifica como Tigre Dourado? Você ser a porta-voz, ser a pessoa que teve a coragem de dar um fio de esperança para pessoas que não acreditavam em mais nada — fechei os olhos. — Você é a maldita Tigre Dourada, mas você não faz nada sozinha. Pessoas importantes estão ao seu lado te apoiando. Pessoas unidas contra a Coroa estão ao seu lado. Você vai dar um golpe na realeza, eu prevejo isso assim como a lenda prevê, mas nada disso você fará sozinha.
— Eu não estou sozinha. — falei mais para mim mesma do que para ela.
— Não. Não está. Não torne essa maldição ainda mais difícil — ela sorriu, encarando o céu. Eu não lembrava dela sorrindo. Quis chorar de tanta saudade que sentia. — Você acha mesmo que é saudável eu te ver fugindo nas primeiras oportunidades da felicidade? Você fugiu de e agora está fugindo de . Céus, você me irrita!
— Não fugi deles – falei, extremamente ofendida. Ainda mais por ela saber dessas informações. Ok que era um sonho, mas era normal alguém morto ser tão intrometido?
— Ei! — senti um beliscão. — Eu consigo escutar tudo que você pensa! Não sou intrometida, mas aqui também é meio parado, às vezes e eu consigo dar uma espiadam, e não gosto dessa novela mexicana que você está fazendo. é errado em ficar do lado de sua mãe? Leigh-Anne é uma megera, sempre foi, mas é a mãe dele. Você espera que ele dê as costas à mulher que o criou? – estava sem palavras, mas sabia que também não precisava responder. – Não seria o cara que te conquistou. Esse não seria .
Não. Não seria mesmo. O cara por quem eu me apaixonei era leal às pessoas que amava. Tentava curar todas as feridas, mesmo que lhe custasse um preço alto. Esse cara era meu amigo antes de tudo e foi a pessoa que me fez aprender a gostar do lugar que eu estava. Eu estava o punindo por simplesmente ser alguém bom.
— O que eu quero dizer é que antes de qualquer coisa, você deixou um grande amigo de lado – passei as mãos no rosto. Socos no estômago. — ? Uma maldita armação é capaz de te afastar dos seus sentimentos?
— Mas...
—Ele ficou com Marie. Isso é o que ele diz, mas não sabe se isso aconteceu mesmo. poderia ter mentido, mas ele avisou sobre absolutamente tudo. Não que isso seja certo, ele colocou em risco Avallon e o plano que você está arquitetando contra os Vantronis e você está traindo sua coroa estando ao lado dos Selvagens que querem destruir a Coroa.
— Eu nunca escondi de ninguém que quero acabar com a monarquia — me sentei e abracei minhas pernas. — me magoar não tem nada a ver com a traição.
— Você vai trair ele de uma maneira muito pior, . Você vai arrancar a coroa da cabeça da família dele — fechei os olhos. As facadas voltaram. — será o primeiro a sentir o peso da traição e você será a segunda pessoa. E, por Deus, isso se vocês não forem pagos antes e mortos por traição.
— Eu sempre soube o peso dos meus atos — olhei para ela. Robin estava sentada ao meu lado agora, mas se levantou e começou a andar de um lado para o outro como fazia em suas lições. — Como você pode falar sobre ? Eu sei também do peso que ele está carregando e acha que não tentei tirá-lo disso?
— Não estou te culpando – seus braços foram atrás do corpo dela, ela caminhava na direção oposta de onde eu estava. Minha cabeça estava confusa demais, me levantei e a segui. Em segundos estávamos em uma Arena. Estava vazia. Robin jogou uma espada para mim e pegou a dela. — Me mostre.
— Robin? Eu não estou entendendo mais nad... — em um golpe rápido, ela quase me acertara. Tive que desviar.
— Me mostre como você luta – minha careta não negava que estava começando a ficar incomodada.
— Eu não vou lutar com você! — usei a espada para me defender de outro golpe, a afastando com força.
— Por que não? Lute comigo, ! – ela ameaçou avançar e eu lhe dei outro empurrão. – Ou você luta comigo, ou você fala comigo sobre seus sentimentos. Ou os dois.
— Eu não quero lutar com você. Não quero falar sobre . Só quero que você faça carinho na minha cabeça e me deixe chorar no seu colo até eu acordar desse sonho maluco! — dei uma investida no meu quase surto, Robin defendeu a estocada e eu tentei de novo, mas caí no chão em seguida.
— Não somos assim. Eu não te ensinei assim. Eu não faço carinho na sua cabeça e você não foge dos seus sentimentos. Lute comigo ou fale comigo — continuei deitada no chão. — Fale sobre com odeia tudo isso. Fale sobre como queria ter conhecido seu pai e seus irmãos antes. Me diga como você se sente longe da sua família. Me mostra sua raiva de Merck ou de Kendrick ou da própria Leigh-Anne. Diga como te matou por dentro ver que te ama tanto que você sente medo desse amor e foge dele. Me conte como você lida com o trauma de ver Denver e Ted sendo torturados e o povo amando. Grita comigo por estar te irritando. Reage, ! — me esquivei da espada sendo fincada no chão e a encarei, chocada. Aquela era Robin. Ela me irritava, ela me tornava mais forte. Ela me fazia ser melhor.
— Eu amo e odeio Eric por ter me colocado aqui — gritei, a derrubando. Fechei os olhos, colocando a mão no rosto. — Mas eu sou grata por ele ter me tirado de Southampton, pois sei que estaria presa agora. Ou morta. Ou, Deus me livre, mas meus irmãos feridos por causa de Merck. Sou grata por ele ter feito eu conhecer meu pai e meus irmãos. Eu tenho uma família linda — meu rosto estava vermelho, podia sentir. Robin mantinha a expressão plena ali no chão, enquanto eu gritava com ela. — Se eu tivesse crescido com eles, eu seria totalmente diferente! Eu odeio que tomaram isso de mim. Eu odeio também não poder estar com minha mãe e meus irmãos agora! Eu não tenho nem Lucy comigo. Tudo para protegê-los. Eu sou egoísta comigo mesma os mantendo longe de mim, mas ao menos eles estão seguros e longe de perigo. Eu protejo quem eu amo. Isso é o que vale agora, mas não consigo proteger todo mundo. Você morreu. Você me deixou. Eu te odeio por isso. Eu te odeio muito.
— Eu sei – ela sussurrou, ainda no chão. Eu ainda não tinha terminado e ela sabia disso. Eu andava de um lado para o outro, assim como ela fazia. — Em outras circunstâncias, eu jamais te deixaria.
— Eu sou frustrada por nunca ter descoberto quem tentou me matar. Meses se passaram e isso foi ficando cada vez mais esquecido – minha voz falhava, mas não sentia que ia chorar ainda. Era raiva. — Simplesmente odeio essa seleção idiota. Odeio a mãe dos meninos. Leigh-Anne é a pessoa que eu quero ver queimar no fogo do inferno. Acha que minha maior traição vai ser contra coroa? Minha maior traição vai ser quando eu destruir aquela mulher – aquilo me sufocava. – Perderei , e . Ficarei sem os três e nem posso culpá-los. Meu irmão vai se casar com um homem incrível, o primeiro casal homoafetivo a governar um país, não é incrível? Sim. O engraçado é que ele estava noivo de outro homem incrível e Leigh-Anne destruiu isso, ela destruiu meu irmão. Eu vou destrui-la e vou destruir qualquer tipo de futuro que possa ter com o filho dela.
— Existem diversas maneiras de destruir alguém. Você não é assassina, . Pare de se sabotar imaginando fazer algo assim e perdendo quem te ama – chutei o chão.
— Todos que eu amo saem da minha vida. Eu perco todos. Não é seguro me amar, e quem eu amo vira um alvo dos meus inimigos — uma lágrima escorreu. – vai se afundar comigo. Não posso deixar que isso aconteça.
— Já se perguntou o que ele quer? – ela me deu uma rasteira e eu cai, não me esforcei para revidar ou levantar. Doía de maneiras incontáveis. Chorava de alívio também, afinal de contas, eu tinha soltado tudo que me prendia o ar. Robin me abraçou. — Aceite o seu destino. Lide com as adversidades. Não fuja do que pode te trazer felicidade nessa sua jornada. Você é forte e corajosa. Além disso, você tem pessoas que te amam e que te apoiam. Você me orgulha. Só... só pare de fugir dos seus problemas feito uma garotinha mimada.
— Eu sou mimada? – perguntei, fazendo biquinho. Robin sorriu e me apertou. – Não quero acordar.
– Eu estou sempre aqui.


Foi um dos melhores sonhos que já tive até hoje. Não que eu lembrasse dos meus sonhos, não sabia nem se eu sonhava, pois não me lembrava normalmente quando acordava. Robin me deu forças e abriu meus olhos. Aquilo me fez acreditar que a autossabotagem era horrível. Eu tinha que ser forte e corajosa.
— Precisam de ajuda? Posso organizar os lugares e o buffet – Leigh-Anne se dirigia a mim. Sua voz era mansa, assim como ela. Aqueles olhos não me enganavam.
— Não estou na organização, mas fale com Lizzie ou Summer, acredito que elas possam lhe dar algo para fazer — respondi na maior educação que pude, engolindo meu orgulho e vontade de gritar. Ela me olhou da cabeça aos pés. — Se me der licença, tenho outros afazeres no momento.
Fiz uma reverência delicada com a cabeça, peguei meus cadernos e livros e me retirei. Respirei fundo ao sair do Grande Salão. Me apoiei na porta com uma tontura estranha e dois minutos depois comecei a andar novamente escutando saltos atrás de mim. Eu reconhecia aquele barulho e sabia bem quem era. Tentei ignorá-los.
— Será que podemos conversar? — era ela. A megera.
— Eu tenho outro compromisso agora, quem sabe mais tarde? Ou nunca – sussurrei essa parte, mas tinha certeza que ela tinha escutado. Me virei para ela quando senti suas mãos cobertas por uma luva encostarem em meus braços. – O que você quer?
— Sei o que seu irmão passou agora. Ser açoitado injust... – comecei a rir. Na realidade, eu gargalhava.

— Injustamente? Ah! – cruzei os braços. – Mas sabia que ser comediante combina mais que a profissão de ser rainha?
— Ah... Esse humorzinho peculiar... – ela fechou os olhos e respirou fundo. Sorriu da melhor maneira e seus olhos azuis me penetravam. — Estou aqui para pedir desculpas sinceras.
— Tá — dei de ombros. — Mais alguma coisa?
— "Tá"? – ela parecia indignada. – Eu sou a Rainha de Avallon e estou pedindo desculpas sinceras para uma mera civil e você ainda debocha de mim?
— Nada do que você fizer ou falar vai apagar seu passado sombrio e sinuoso – falei com a cabeça erguida. – E são só palavras. Eu não confio em você. Se você fosse uma boa rainha, não precisaria se desculpar por nada. Aliás, se você fosse uma boa rainha, saberia pedir desculpas de verdade.
— Eu sabia que conversar com você não me traria nada de bom – sabia que ela se referia à terapia. Rei Roger e os meninos obrigaram-na a falar com um psicólogo.
— Redenção – balancei a cabeça. Se aquilo era sincero ou não, não me importava. Não acreditava. — Boa sorte no seu caminho, espero de coração que você encontre paz mesmo depois de tanta merda.
Fui dar as costas para ela e dei de cara com . Ele estava suado e com roupas de treino. Meu coração pareceu sair do peito ao ver aqueles olhos fincados em mim. Logo atrás estavam e . Os olhos de Leigh-Anne começaram a marejar e eu não controlei uma revirada teatral dos meus olhos, afinal, sabia do show que ela daria.
— Altezas – fiz uma reverência e tratei de ir para os meus aposentos. Leigh-Anne passou entre e eu, correndo para abraçar , fazendo com que meus livros caíssem no chão.
— Está tão difícil. Tão, tão, tão difícil fazer as pessoas me perdoarem! – ela chorava. Minha careta foi escondida apenas porque eu abaixei para pegar minhas coisas.
— Obrigado – sussurrou, abaixando próximo a mim para pegar os livros comigo. O encarei, sem entender. – Por não brigar ou gritar. Obrigado.
— Disponha, alteza – respondi, de maneira leve. Queria abraçá-lo. Rir e brincar com ele, mas meus planos para parecer real com Marie era me manter longe de , e aquilo me matava. Me levantei e ele entregou os livros que ele tinha pegado, demorando um pouco para soltar.
— Você está linda – se meu coração tivesse um som, pode ter certeza que todos no castelo teriam escutado.
— E você precisa de um banho – não consegui segurar. Era nossa marca. As nossas provocações. e . O sorriso dele aumentou quando consegui soltar os livros de sua mão e passar por ele, lhe dando um leve encontro de ombros.
Me retirei do ambiente sinuoso que era Leigh-Anne e os filhos. dava a atenção a mãe, mas eu tinha planos de conversar com ele. Ia entregar um bilhete em seu quarto, mas acabei deixando o bilhete em sua mão de maneira discreta quando bati sem querer contra ele.

👑


As batidas na porta na madrugada me acordaram no susto. Pulei da cama, já imaginando o pior, mas era engraçado, pois meus guardas estavam de plantão e não deixariam alguém bater. Só podia ser um dos príncipes. Abri a porta, dando de cara com o mais novo dos príncipes. Ele estava usando roupas normais. Um pijama, na verdade. Uma calça de moletom azul escura e uma camisa branca. Senti um frio na barriga quando ele sorriu. Nem me lembro da última vez que o vi sorrir para mim.
— Você veio.
— Você chamou – ele respondeu. Dei passagem para que ele entrasse. Benjamin estava na minha porta, ele entendeu que estava tudo bem naquela visita. – A que devo a honra desse convite?
— Vamos entrar juntos no casamento do meu irmão, queria que a gente estivesse bem – falei, sem mais delongas.
— Ah, fiquei surpreso com sua escolha, mesmo estranhamente esperando por ela, já que você está brigada com se sentou na minha cama. Folgado. Como sempre foi quando éramos amigos. – Somente um tolo não vê que vocês se gostam.
Me encolhi um pouco com aquela frase. Não era algo que queria que ele dissesse. Não era algo que eu queria que ele passasse. um dia me amou, ou me amava, não sabia, mas já fomos um do outro um dia. Me entreguei para ele e agora ele viu de camarote eu me apaixonar pelo irmão dele.
— Tive muito tempo para aceitar essa situação, – meu apelido. Ele estava me chamando pelo meu apelido. – Não estou dizendo que é fácil, mas eu já aceitei o meu lugar.
— Não quero falar sobre , . Quero falar sobre nós e sobre nossa amizade – suspirei e me sentei ao seu lado. – Eu te amo – admiti. Não foi difícil dizer aquilo. As mãos dele seguraram as minhas. – Acho que te amei logo quando você tomou um tiro, lá no começo – ele riu enquanto entrelaçava nossos dedos. – E amava cada momento nosso, especialmente nossas conversas profundas, risadas e momentos únicos. , sinto tanto a sua falta.
— Também sinto sua falta, .
— Quando começamos a nos magoar, foi como se uma peça tivesse desencaixado – encarei seus olhos. Estavam marejados assim como os meus. – Tem noção de como foi difícil para mim?
— Tenho – ele sorriu.
— Me desculpa por ficar brava com você por você me deixar levar por sua mãe. Ela é sua mãe e você tem o livre arbítrio de fazer o que achar melhor, e minha única função era te apoiar e estar aqui se precisasse. E eu não estava. Eu não fui a amiga que você precisava e nós nos perdemos.
— Também não fui o melhor dos amigos. Me desculpa por te colocar nessa posição difícil e por me jogar de cabeça na situação da minha mãe – fechei os olhos. Doía escutar aquilo. – Por Deus, queria você ao meu lado para poder dividir coisas. Momentos. Não tinha com quem contar e sei que você também estava passando pela mesma coisa.
— Não quero mais isso entre nós – fiquei de frente para ele. – Quero encaixar essa peça de novo e que a gente consiga continuar de onde paramos. Não que vá ser fácil, mas sei que conseguimos.
— Claro que conseguimos – senti seu abraço me puxando para perto. – Somos e , os melhores amigos imbatíveis, se lembra? – ri escutando aquilo. Éramos. – Vamos colocar um ponto final naquilo e começar uma nova página.
— Tenho medo dessa guerra. Do que pode acontecer com a gente nos próximos dias e não... não queria ficar com pendências. Eu e você merecemos que nossa amizade não seja afetada por simplesmente sermos teimosos e cabeças duras — sorriu. Era isso que me aliviava. Aparentemente ele sentia o mesmo por mim e eu achava fofo que ele havia entrado todo marrento e agora estava com a personalidade de um cachorrinho feliz.
— Sei que já lhe disseram isso algumas vezes, mas devo ressaltar: ser o alvo do seu ódio me doía mais do que ver você e minha mãe se odiando — o encarei, segurando um sorriso, esperando a alfinetada final de sua frase. — Você parece um demônio!
— Não me deixe com raiva, é tão simples resolver esse tipo de enigma! — fechei os olhos, me deitando na cama e ele se levantou e me encarou. – Então, estamos amigos de novo?
— Não sei, será que devo lhe dar o meu perdão? – aquele tom era engraçado nele.
— Vossa alteza real, poderia por gentileza... Não, espera. Com sua enorme gentileza e misericórdia — eu dizia aquilo fazendo um show com as mãos — de me perdoar e dar a dádiva de voltarmos a ser amigos?
— E a parte dos amantes? – ele gargalhou quando percebeu que fiquei pálida e surpresa com aquela frase. – Estou brincando, , somente amigos. Eu sei!
— Isso significa que sim?
— Sim. Oficialmente amigos de volta.

Capítulo 34

Me encarei no espelho. Meu cabelo estava preso com uma trança em volta da minha cabeça formando uma coroa, pensado para que ninguém puxe. A maquiagem leve, era quase como se eu não usasse nada. Meu vestido de alfaiataria azul royal valorizava minha pele. O corset chamava um pouco de atenção, mas o melhor mesmo era a saia longa. Dessa vez, não havia fenda. Embaixo da saia eu usava calça e conseguiria tirá-la quando o ataque começasse.
Ataque.
Guerra.
Não tinha conseguido dormir nos últimos dois dias. Desde que e eu fizemos as pazes, aquela noite foi a última vez que consegui fechar os olhos sentindo um pouco de paz. Estava ansiosa e preocupada. Planejamos todos os mínimos detalhes. Pensamos em todos os passos e todos sabem o que devem fazer e como agir. Contudo, eu ainda temia pela vida de muitos. Dos meus.
Era tamanha irresponsabilidade seguir com o casamento enquanto sabíamos que poderíamos acabar com os Vantronis. Devemos fazer sacrifícios quando somos líderes. Meu pai falou quando estávamos na última reunião ontem à noite. Ossos do ofício, segundo Rei Roger.
— Simplesmente linda. — Taihne falou atrás de mim. — Temos três visitas lá fora pra você.
— Mande-os entrar, por favor. – me levantei. A chamei antes que ela chegasse na porta. — Assim que escutar algo de diferente, se esconda e não cace perigo algum. Simplesmente se enfie em um abrigo e fique lá.
— Eu gostaria que você fizesse a mesma coisa. – sua voz era triste, assim como o seu olhar. Seus ombros estavam cansados, os meus estavam daquela mesma forma, mas eu não conseguia mostrar aquilo. Eu não podia. — Faremos o que você pedir, . – agradeci. A abriu a porta e meu coração apertou quando vi as três figuras na minha frente.
Observei com um pouco mais de atenção enquanto eles entravam. Meu pai e meus irmãos tinham muito em comum na aparência, mas eu era mais parecida com Denver, nossos narizes finos e boca delicada. Contudo, nós quatro tínhamos algo em comum: o sorriso.
— Eu sou o noivo, não deveria vir até aqui. Você que deveria ir até mim! – Denver entrou sem ser convidado, mas tudo bem, ele podia fazer aquilo.
— Eu quis fazer um encontro da família Walker antes do meu filho mais velho ser o primeiro a se casar. — Dave ignorou o meu irmão. Eu ri, Ben também. — Hoje é um dia importante. Pra você e pra Avallon.
— Estamos participando de uma parte da história do nosso país. — Denver sorriu e assim pegamos um na mão do outro. — Eu nem acredito que serei o primeiro rei gay da história!
—Eu queria ressaltar meu orgulho disso, filho. — pude ver a emoção de ambos. — Orgulho dos meus três filhos. De você, que governará ao lado de Alan. De Benjamin, que é meu braço direito e está se mostrando o melhor soldado para o cargo. De , que é simplesmente lendária. Eu tenho filhos extraordinários.
— Nós temos um pai extraordinário. – falei, encostando minha cabeça em seu ombro. — Sei que não tivemos muito tempo juntos, nos conhecemos há pouco e eu não cresci com vocês, mas saibam que eu sou grata ao fato de que em meu DNA carrego todas as qualidades que me fazem parecer com vocês, pai.
— Eu vou morrer com tantas declarações. – Denver fingiu estar chorando. Ben lhe deu um tapinha.
— Eu não gosto desse tipo de conversa, parece que estamos prestes a morrer. – Benjamin falou pela primeira vez, um silêncio estranho se instalou — Não sabemos o que vai acontecer hoje. Só sei de uma coisa: nós vamos vencer.
— Não sabemos a que custo, meu filho. – meu coração se apertou novamente. Dor. Era isso que eu sentia. — Nunca é ruim falar o que sentimos, especialmente para quem amamos.
— Não vou perder nenhum de vocês essa noite. — a voz de Ben era grossa e forte. Era a voz que meu pai usava para dar ordens. Orgulho, também sentia orgulho. — Planejamos absolutamente tudo. Não vou perder nenhum de vocês hoje!
— Sim. Temos plano A, B, C e planos extras. – Denver concordou. Sei como ele se sentia de verdade, por mais que ele demonstrasse que aquele casamento era a melhor coisa do mundo, sei que ele se sentia mal com a ideia de causar uma luta gigante. — Alan, eu, os príncipes e o rei Roger estamos usando colete embaixo das roupas, seremos os maiores alvos.
Estamos preparados. Vocês vão correr para o abrigo, nossos guardas lutarão. Ficaremos com Yan Vantron, entraremos com um Tratado e fim. Paz para Avallon.
Yan Vantron.
Descobrimos o nome do General dos vantronis e consequentemente, o herdeiro da coroa do nosso país inimigo. A ideia era usá-lo como refém para um acordo: a vida dele pela paz de Avallon. Um Tratado assinado não poderá ser violado. Todos os nossos soldados tinham a imagem de Yan e estavam proibidos de machucá-lo. Ordens estritamente rigorosas para levarem-no ao meu pai, Ben ou um dos nossos líderes.
Sim. Nós tínhamos tudo para vencer aquela noite.
— Prometa que você vai na direção oposta do caos. — Benjamin me encarou. Fiquei em silêncio. — Prometa. – os três me encaravam. Eu queria que eles corressem também.
— Estou preparada para isso. – foi o melhor que pude falar. Não prometeria nada.
— Não preciso me preocupar com você também no meio disso tudo, filha. – meu pai falou, era quase um sussurro. – Não posso perder você. Não posso perder vocês. Confio em Benjamin em uma batalha, mas isso não significa que eu goste disso. Estou feliz com o casamento, mas queria que Denver não precisasse se traumatizar no grande dia dele. Então... Então eu não quero você lutando como um soldado. Quero você segura.
— Estarei segura.
— Mentirosa. – Denver falou. O encarei sentindo minha bochecha queimar. – Vou me sentir melhor se ela receber o presente que recebemos.
— Que droga. Por que ela não pode ser normal e gostar dos brincos? – Benjamin bufou. Meu pai sacou uma espada. Era uma espada linda. Prateada, afiada e seu cabo tinha uma pedra verde.
— Essa noite, eu presenteei seus irmãos com uma espada assim. – meu pai tirou outra espada que estava presa dentro de um tipo de capa. A dele era Dourada, mas também tinha a pedra verde. Meus irmãos mostraram as deles. Peguei a minha, admirando-a. — Para os meus guerreiros.
— É linda, pai. – o abracei. Ele me entregou a capa da espada e eu levantei a saia do vestido para prendê-la na calça. O vestido escondia perfeitamente minha espada. — Obrigada.
— É sério? – Denver cruzou os braços.
— Você vai correr em direção ao caos! – meu pai me acusou com os dedos.
– Ela está de calça! Ela vai correr em direção ao caos. – Eu ia correr em direção ao caos. Nada me impediria daquilo.

👑 🩸


– Preciso falar com você sobre uma coisa. – Benjamin me puxou pelo braço antes de seguirmos atrás de nosso pai e irmão, ainda estávamos no corredor dos quartos das selecionadas. Lizzie nos aguardava ali, estava deslumbrante com seu vestido rosa.
– Não vou fugir. – falei de antemão. Nos abraçamos e rimos juntos em meu quarto antes de irmos ao salão da igreja onde ocorreria a cerimônia, mas não mudei a opinião sobre ir na direção oposta. Eu iria atrás de Yan Vantron.
— Descobrimos quem mandou te matar. – parei de andar bruscamente. Aquilo me baqueou. Achei que tivessem esquecido. Eu mesma não tinha mais ido atrás. — , eu juntei todas as provas que eu pude para poder acusar essa pessoa. – Lizzie me entregou papéis, fotos e até mesmo uma caneta.
Senti meus olhos marejarem. A primeira coisa que li foi algo sem nexo, um recado de que a pessoa precisava de alguns sapatos específicos, provavelmente para alguma Dama. A segunda coisa que vi, era a caneta com a ponta lilás e com listras azuis; havia sido encontrada essa caneta junto com a carta de suicídio. O que me deixou sem rumo, foi a foto de Sam escrevendo com essa caneta no salão. Não tinha só essa, havia imagens dela desde o começo a seleção com aquela caneta. Havia uma foto de Sam com Kendrick, os dois riam juntos no jardim, ele estava cuidando dela. A última coisa que vi foi uma carta para e sua assinatura no final.
Sam.
Não não não.
Não podia ser.
Mas era.
— Temos tudo que comprova que foi ela. As letras batem. A caneta... a caneta é nossa maior prova. Olhei o quarto de Sam tem mais cinco dessas lá e ela tinha um contato muito próximo de Kendrick, ele era o guarda dela.
– Ben... Não pode ser.
— Eu decreto que ela é culpada. Vou prendê-la até que tenhamos tempo para o julgamento e ela assumir o crime. – Benjamin pegou os papéis. Estava baqueada. Me acertou em cheio no meio do estômago. Respirei fundo, fechei os olhos e me concentrei.
Amanhã. Prometi pra mim mesma. Amanhã eu resolverei isso. Hoje, vamos acabar com a guerra.
– A cadeia é segura demais pra ela hoje. — falei. Arrumei a postura e sorri para os dois. — Vamos. Meu irmão vai se casar hoje e eu sou a madrinha. E depois temos alguns vantronis para pegar.
— Mas... – como se tivesse ouvido, Sam saiu de seu quarto. Olhou para nós e sorriu. Sorriu e caminhou para perto.
— Céus, como você está linda! – ela me abraçou. Por um momento, não quis acreditar naquilo, mas cobras matam abraçando. Ela tentou me matar.
— Samantha Edwards, você está presa por tentativa de assassinato. — Benjamin a pegou pelo braço. O encarei com raiva, não era pra fazer aquilo agora.
— O que? Ficou maluco? Benjamin Walker, me solte agora! Do que está falando? — ela estava completamente perdida. Lizzie mostrava todos os papéis e provas contra ela. — O que é isso?
— Você mandou Kendrick matar . — Lizzie disparou.
— Eu não mande...
— Não foi uma pergunta, eu afirmei! – ela colocou Sam contra a parede.
— Você fez isso, Sam? – perguntei. Ela não me encarou nos olhos. Aquela foi a minha resposta. Samantha havia tentado me matar.
— Você ao menos não vai tentar negar para mim? Por quê? Por que fez isso? – parecia que eu estava resolvendo as coisas hoje, afinal.
— Desespero. – ela sussurrou. – Medo de perder para você. – suas bochechas estavam vermelhas. – Não queria perder a Coroa e não queria perder . Você vai me tirar os dois. Kendrick era um tolo apaixonado por mim, faria de tudo para eu desistir da Seleção e fugir com ele.
— Ambiciosa. Admiro isso. – Lizzie soltou um assobio.
— Vou levá-la para a cela. Já chega. – levantei uma mão para que Ben parasse. Fiquei cara a cara com ela.
— Você vai mantê-la aqui, onde podemos ver. – falei para o meu irmão. — Você vai me ver conquistando todos os espaços possíveis e,principalmente, quebrando aquela coroa. Se algo acontecer comigo, você será a primeira a ser investigada e Ben vai manter guardas de olho em você o tempo inteiro. Hoje você não será presa. Hoje, nada vai lhe acontecer.
— Não é assim que as coisas funcionam . – Ben falou. Lizzie o repreendeu com a cabeça.
— Essa é a punição para ela. – Sam me encarava, podia ver raiva ali. — Você vai ver me olhando e admirando da maneira que nunca vai fazer com você, não por você não ser boa o bastante pra ele, mas sim por você ter tentado me matar. Você vai ver eu chegando mais e mais perto daquela coroa e quando eu estiver lá, vou destrui-la de uma maneira que ninguém mais vai colocá-la de volta. Chega de Reis e Rainhas. Esse será seu castigo. Me ver fazendo tudo que tinha medo que eu fizesse.
— Acha que vou deixar você destruir algo que quero? – ela cruzou os braços.
— Acha que vão acreditar em quem? – respondi da mesma maneira ríspida que ela. – Em você, que tentou me matar por ser egoísta e gananciosa, ou em mim? – silêncio. No fim, era isso que eu sempre receberia. – Tão ridícula quanto a mãe deles. Homens burros. – bufei, permaneci com a postura intacta e a encarei – Cuidado. Eu farei o que você quer, garantirei sua estadia nesse castelo, mas você não vai ficar com ou a Coroa. Não teremos uma próxima rainha.
Dito isso, a larguei com Benjamin em seu encalço. Lizzie me seguia, ela não dizia nada simplesmente pelo fato de eu estar furiosa. Furiosa e decepcionada. No fundo, eu imaginava que o mandante do meu assassinato tivesse feito isso por eu ser a Tigre Dourado, mas não esperava que Sam, uma garota independente e superfocada, pudesse ter problemas com ela mesma ao ponto de se sentir insegura e ter medo de perder para mim.
Traidora.
Qualquer um que pode sorrir e te abraçar, ao mesmo tempo pode te dar uma facada nas costas.
— Sinto muito.
— Obrigada... Por isso. – Eu me referia à investigação. Me referia à lealdade que ela mantinha a mim mesmo após nosso afastamento. Lizzie era importante.
— Sabe, meu pai sempre teve muito dinheiro. Contudo, era muito justo e me dizia sempre algo que eu nunca entendi. – chegamos na porta do salão onde estavam acontecendo as fotos. Maldita ideia de agir como se uma guerra não fosse acontecer. — Papai sempre odiou corrupção e sempre lutou por direitos justos. Ajudava aqueles que não tinham um título e passavam fome ou frio. E me odiou quando me inscrevi na seleção, ele nunca foi grande fã da negligência da coroa para com os que não tinham nada.
— Eu não sabia disso. – ela sorriu e prosseguiu.
— Ele me dizia que quando ele, por fim, encontrasse um líder de verdade, se curvaria e o seguiria com toda honra. – abaixei a cabeça. O pai de Lizzie estava muito doente e recebendo todos os cuidados que Poirot mandava — Sua fidelidade estaria nele. – os olhos dela brilharam um pouco. – Eu entendendo ele agora. Entendo sobre o merecimento de ter uma coroa na cabeça. Entendo sobre ser fiel a quem realmente se preocupa com todos. Seguirei os passos de meu pai, . Serei fiel a quem eu acho que mereça o título de Líder, e você merece. Papai acha que você merece e se ele estivesse bem, acredite, ele faria o impossível para te proteger também.
— Sinto muito pelo seu pai, espero que ele melhore logo. – segurei suas mãos. — Obrigada por tudo. Vamos conseguir acabar com isso de maneira justa.
— Ah, aí está a minha acompanhante! – nos assustou. Fizemos uma reverência e Lizzie apertou minha mão, sussurrei para que ela se cuidasse e não se metesse em uma confusão. Ela riu, mas aquilo me assustava. Agora entendia como meu pai se sentia, não poder controlar alguém teimoso. – Você está linda!
— Você está... Bonitinho. – revirou os olhos. — Lindo! Lindo demais, como sempre. Acho que nem se você se esforçasse para ficar feio daria muito certo. Esse é o mal da sua família, não tem ninguém feio.
— Assim está melhor, muito melhor. Obrigado pelo elogio. – rimos. Depois que fizemos as pazes e ficou comigo até eu pegar no sono, não nos vimos muito com a correria do dia a dia. Não com o casamento, o planejamento, os treinos e os muitos pronunciamentos entre nós. — Escute, Marie está no castelo. — Respirei fundo. Meu sangue fervilhando. — Tire a mão daí e esconda suas garrinhas, . – me assustei quando automaticamente minhas mãos foram de encontro com a espada que meu pai me deu. Por mais que ela estivesse por baixo da saia, eu conseguiria facilmente me livrar dela. — Achei que o combinado fosse você ir na direção contrária do caos.
— Por que todos estão me dizendo isso? – por pouco não rosnei de raiva. Percebi que talvez seja por isso. — Eu já disse! Vou pegar eu mesma Yan Vantron. – sussurrei. No fim, era bizarro como eu estava convencida disso.
— Não faça com que eu ou meus irmãos... – sussurrou, não terminou a frase e logo entendi o motivo. se aproximava de nós. – O homem mais bonito da noite!
— Esse é o Denver. Eu sou o segundo mais bonito – um sorrisinho dele foi o suficiente para que eu tentasse me controlar ali mesmo.
— O segundo é o Alan. Você no máximo é o quinto... – a careta que ele fez foi o suficiente para tirar um riso de . Encarei o mais novo, ele realmente parecia bem com aquela situação e não era fingimento. Eu conhecia Aykroyd, talvez até mais do que eu deveria.
— Ok, vejo vocês em cinco minutos. – meu olhar para não o impediu de me deixar sozinha com . Não podíamos estar tão perto.
— Achei que seu irmão tinha dito para que ninguém roubasse a cena... – senti minhas bochechas queimarem. estava com a barba por fazer, charmoso e sério. Ele também portava o uniforme cinza com as medalhas que eles usavam em dias importantes. O cabelo estava arrumando de um jeito propositadamente bagunçado, não que pudesse ficar de outra forma e também não de um jeito ruim. — É um grande dia hoje.
— Vamos vencer hoje. – ele concordou com a cabeça. Seus olhos encontraram os meus e pude sentir suas mãos indo na minha cintura. – ...
— Eu não estou aguentando mais ficar longe de você. Não estou aguentando mais esse seu silêncio. – de maneira que ninguém visse, ele encostou na minha cintura. Delicadamente. — Ao menos me dê uma posição sobre a gente!
— Não faça isso comigo, . Não faça isso com a gente! – sussurrei olhando para os lados. Ninguém parecia nos dar atenção ali, todos estavam dentro da igreja. Apenas alguns guardas e empregados estavam transitando por ali. — Não podemos fazer isso agora.
— Não precisamos fazer nada agora, mas eu não aguento mais fingir que está tudo bem esse silêncio... Sei que mereço, mas está sufocante! – ele estava realmente desesperado. Não queria que aquilo fosse mais longe
— Vai começar, pessoal. – Benjamin nos avisou. Encarei querendo lhe dizer mil coisas, mas não pude fazer isso.
Meu irmão estava prestes a se casar e tínhamos uma guerra pra lutar.

👑


O casamento aconteceu de maneira impecável. Senti minhas lágrimas vindo várias vezes, mas não cheguei a derrubar nenhuma de fato. A cerimônia foi linda e, com certeza, inesquecível para toda nossa nação. O primeiro casamento gay na realeza. Dois Reis governando um país. Vencemos uma etapa magnífica, juntos, e meu irmão estava ali: brilhando.
— Eu prometo honrar, respeitar e amar. Prometo a minha lealdade para com a Coroa e a esse casamento. Pelas leis dos homens, eu aceito o meu destino e anseio encarar com coragem e braveza o que me espera. — Alan pronunciava aquelas palavras lindamente. Denver deveria fazer a mesma coisa e repetiu as mesmas palavras, parecia ser um padrão os casamentos Reais. Nunca tinha visto nada desse tipo nem mesmo para tensão. Um casamento real e uma coroação. Era emocionante. Por um momento, lembrei do casamento de uma das mulheres que moravam ao lado da minha casa em Southampton, não chegava nem perto da proporção gigante e exagerada que Reis merecem ao ficarem noivos.
Não podíamos negar a ansiedade por não termos visto nenhuma movimentação estranha. Benjamin colocou vários guardas para monitorar do alto do castelo e ainda nenhuma indicação de vantronis. Marie está sendo vigiada e nem percebia, agia como se não fosse a maior traidora de todas.
Ela queria jogar e achava que estava dando as cartas, mas se esquecera de que esse é um jogo para dois.
E como eu disse, pretendia ganhar.

Capítulo 35

A decoração estava impecável. Summer, com sua pele bronzeada e olhos verdes de águia, cuidava de cada detalhe ao lado de Beth, as duas faziam uma equipe imbatível; claro que a megera estava feito um abutre em cima das duas esperando um deslize para poder gritar e humilhar. Contudo, para a tristeza dela e a minha alegria, minhas amigas não deixaram nada escapar. Com a ajuda dos funcionários que sempre as chamavam quando algo pequeno dava errado, a festa de casamento de Denver e Alan estava simplesmente perfeita. Benjamin acompanhava as duas com um paiger e um guarda ao encalço delas a todo tempo, afinal, ele queria proteger a todos. Ou melhor, proteger Beth a qualquer custo.
Zac, e estavam caminhando de um lado para o outro, conversando com todos de modo que mostrasse que eram os anfitriões extras da festa, já que os noivos estavam ocupados em um tipo de cerimônia privada aos modos de Agartha. Rei Roger estava ao lado de meu pai, sorrindo e acenando para todos. Me aproximei dos dois.
— Estou começando a achar que não teremos ataque algum. – Rei Roger sussurrou ao meu lado. Eu sorri, um pouco nervosa. — Não se preocupe, querida, vamos conseguir.
— Temo que eles estejam pregando mais alguma peça na gente. – admiti, olhando em volta. Conseguia ver Ophelia escondida no alto do castelo, estavam ali como um reforço tão extra que a majestade ao meu lado jamais poderia sonhar que outro tipo de perigo estava rondando o seu castelo.
e Denver. e Denver fizeram isso nas minhas costas junto com os Selvagens. Sabem que eu jamais teria aceitado que eles estivessem aqui hoje, por mais que Ophelia tenha provado que estava ao nosso lado e que o verdadeiro inimigo naquele momento, eram os Vantronis.
Tinha tanto para me preocupar e nada a fazer ao mesmo tempo. Minhas mãos começaram a tremer e eu tive que escondê-las na saia de meu vestido. Apenas saí dos meus pensamentos quando meu pai recebeu um chamado e teve que se retirar, dando um pequeno aperto em meu ombro.
— Sabe, ... Ainda não tive tempo de conversar com você sobre tudo que está acontecendo. – ele começou a falar. – Sei dos seus planos.
Meu coração parou.
— Sei que você odeia a Coroa.
— Nunca escondi minha insatisfação com a Coroa, majestade. – admiti, sentindo meu peito fazer um verdadeiro espetáculo sonoro — Permaneço aqui pela vontade dos seus filhos, amor ao meu pai e irmãos que descobri recentemente e vontade de participar da mudança. Quero um país melhor para pessoas que vêm da onde venho. Um lugar seguro para pessoas como minha mãe.
— Eu sei que não somos um país tão justo quanto deveria, não ache que eu não tentei mudar isso... – ele suspirou e me encarou – Não é porque eu tenho uma Coroa na cabeça que consigo fazer tudo que quero. Existem pessoas a quem preciso servir.
Agradar. Conquistar para ter apoio...
— Sei que você escolheu o alto escalão. – Eu sabia mesmo, ele nos deixou de lado para um bom legado. Por tantos anos, eu e todos com quem eu convivia e inúmeros desconhecidos passamos despercebidos. Enquanto a gente servisse a mesa deles, eles teriam paz – Escolheu um lado quando deveria escolher o povo como um todo.
— Com essa coisa dos vantronis, não pude dar tanta atenção a sua luta, . – fiquei em silêncio. Por incrível que pareça, era muito mais fácil gostar dele do que de Leigh-Anne. – Sinto que estamos perto de um fim. Um fim muito cruel, carregado de injustiça e desavenças, mas sei que posso ficar tranquilo enquanto você estiver por perto. Admiro sua coragem. Não admiro tanto a sua insolência, mas acho ótimo meus filhos terem se apaixonado por alguém como você. – minhas bochechas coraram e eu encontrei o olhar de , ele bebia uma taça de vinho enquanto sorria de canto para nós. – Você me lembra minha mãe.
— E é uma honra essa comparação. – Lady Devimon, a honrosa Rainha de Avallon, a primeira mulher a governar sozinha. A primeira mulher a mostrar que o nosso sexo não significa inferioridade. – Obrigada, Rei Roger. Quero que saiba que admiro você e te acho um ótimo monarca, independente de tudo. Na verdade, acho a forma que você lida com seus filhos ainda melhor que seu governo. Os criou de maneira incrível.
— Não posso negar que fiz um ótimo trabalho. Um árduo trabalho. – ele sorriu. Lembrava tanto os três e ao mesmo tempo não. – Pode me prometer uma coisa?
– Não sei. – aquele olhar sacana. Os filhos herdaram os olhares brincalhões e o sorriso de canto do pai.
— Que quando for tomar a Coroa de mim, não fará de uma maneira sangrenta ou cruel.
Era meu fim.
— Do que o senhor está falando? – temia que minhas pernas e minha voz falhasse.
— Prometa, minha filha. – suas mãos encostaram nas minhas. Elas estavam quentinhas, as minhas estavam suando e geladas. — Prometa.
Eu prometo. – sussurrei. O sorriso leve que ele deu me deixou um pouco mais aliviada do que eu esperava. Aquela conversa estava totalmente maluca. Fiquei sozinha em seguida. Soltei todo o ar que eu estava guardando, que nem sabia que segurava tanto.
Rei Roger sabia das minhas intenções. Ele sabia. Só não sabia até qual parte ele sabia ou se sabia de tudo. Meu coração parecia sair do peito enquanto eu surtava em silêncio.
Seu pai sabe. – sussurrei para , que me encarou sem entender. Ele estava com Sam ao lado, ela me encarou com medo. Apenas a ignorei, tinha outros problemas. – Seu pai sabe.
— De quê? – eu o puxei, não me dei o trabalho de falar com ninguém que esbarrava – Você está me assustando.
— Seu pai sabe que eu tenho planos de destruir a Coroa. – eu olhava para todos os cantos, parecia uma louca mesmo.
— Isso não é surpresa pra ninguém, . – riu baixinho. Meus olhos encararam os dele como um raio e ele parou de rir.
— Ele pediu para que eu não fizesse isso de maneira sangrenta ou cruel. – Pelo menos eu não fui a única a ficar pálida. — Não sei o que significa, mas também não quero descobrir.
— O que mais ele falou? – contei tudo a ele. parecia tão confuso quanto eu. – Bom, ao menos ele não mandou te prender. Acho que ele pode estar pensando na hipótese.
— Ou esperando essa maldita guerra explodir e se caso souber algo de nós, ele pendure minha cabeça! – devia estar com os olhos de louca, pois eu gritava no meu sussurro.
— Acredite em mim, ele já teria feito isso. – virou sua taça de champanhe. Eu fiz o mesmo.
Os aplausos e luzes brilhando para lá e para cá nos deixaram um pouco perdidos, mas logo descobrimos sobre o que se tratava: Alan e Denver. Os noivos iriam dançar sua música junto com os padrinhos.
— Fiona está me procurando. Nós nos vemos já já... E... Pare de surtar! Meu pai não deve saber muito, eu já teria sido o primeiro a ser caçado. – meu estômago embrulhou. Provavelmente eu tinha ficado verde, já que parou na metade do caminho, respirou fundo e caminho até mim. Me puxou para um abraço e pediu para eu respirar fundo três vezes. – Nós vamos sair dessa. Confia em mim?
— Confio. – maldita mania de confiar nos irmãos Aykroyd. Ele sorriu e finalmente saiu. Não me dei o trabalho de falar com Sam, apenas voltei as minhas energias a Zac, que não estava no salão de festas.
— Zac teve que sair com Benjamim... Aparentemente, há uma movimentação na floresta. – era a voz de atrás de mim. Me arrepiei sentindo sua presença tão próxima. Movimentação. Eles iam nos atacar mesmo – Será que você consegue relaxar? Vai se machucar se fechar ainda mais as mãos. Para de segurar o ar também, solte-o.
— Não estou fazendo nada disso. – respondi, ainda de costas pra ele. Talvez eu perdesse completamente o controle se encontrasse aqueles olhos.
— Estamos juntos nessa, . – seu hálito quente atingia meu pescoço como um carinho, era reconfortante e sufocante.
Nossa atenção foi voltada para Denver e Alan, que caminharam até o meio da pista e sorriram um para o outro. Ali estavam os dois, muito felizes com sua primeira dança de casados. Não demorou muito para Summer chamar os padrinhos e eu não tinha ali. deu um passo a frente e ofereceu sua mão a mim.
— Solte o ar, , e dance comigo. – soltei o ar de maneira devagar, não conseguia respirar de verdade, estava sufocando. — Eu estou aqui com você. Sempre.
Segurei sua mão e caminhamos juntos ao lado de Denver e Alan. Não tinha como piorar ali, eu e ele. Iríamos ser atacados de qualquer maneira e eu não queria que nada acontecesse daquela forma. A música começou com seus toques no piano e eu não conseguia tirar os olhos de e nem ele de mim. Sua mão encostou em minha cintura e eu coloquei a minha em seu pescoço. Minha pele parecia pegar fogo. Estávamos pegando fogo.
— Céus... Eu sinto tanto a sua falta. – ele sussurrou em meu ouvido quando abaixou sua cabeça. – Eu nunca vou cansar disso.
— Do quê? – perguntei, baixinho. deu um sorriso preguiçoso e me encarou novamente. Perdi o ar de novo.
— Desse seu jeito teimoso. Sua preocupação por todos. Seus olhos castanhos. A ruguinha de preocupação que fica bem no meio das suas sobrancelhas... Do seu cheiro. – roçou os lábios em minha orelha e sussurrou – Do seu corpo. De você brigando comigo... por Deus, ! Volte a brigar comigo, eu sinto tanto a sua falta.
Fechei meus olhos. Abaixei a cabeça e, por Deus, a coreografia fazia com que a gente se afastasse naquele momento. Talvez eu o beijasse ali mesmo. Não podia fazer isso, não com Marie tão perto. Ela nos encarava com ódio.
— Você entende que o que fez pode ter nos dado algumas cartas, mas que aquela víbora venceu aquela partida? – dei um passo para perto dele. Seu perfume era sufocante, sua beleza também – Ela tem que acreditar que estamos brigados e que eu não te perdoei, seu idiota! – sussurrei.
— Eu precisava acreditar nisso também? – seus olhos pararam nos meus. Doía ver que ele estava chateado.
— Tinha que parecer real. – falei baixinho. Envolvi seu pescoço com meus braços, o trazendo para perto de mim enquanto dançávamos – Mas eu te perdoei, . Eu te perdoei e eu te amo. – ele me afastou, no susto. Me encarou, com os olhos marejados assim como os meus. Procurava algum indício de brincadeira. – Eu te amo, Aykroyd. Você conseguiu. Eu quero você com todas as suas piadas ruins, todo o seu sarcasmo, seu jeito irritante, suas malditas ideias, os animais que você decide resgatar e cuidar... e quero brigar com você por alguma coisa idiota. – era o nosso momento. Eu e . Sem jogos e mentiras. Apenas duas pessoas que cansaram de esconder sentimentos. Apenas eu conseguindo me abrir. Nossos lábios encostaram um no outro. e eu nos beijamos, sem nos importar com nada e nem ninguém.
— Está fazendo mais uma brincadeira? – ele falou, sorrindo tanto que comecei a rir. — Eu não estava preparado. Eu tinha planejado mil palavras e...
— Eu só quero ficar com você... – sussurrei, ele fechou os olhos e apoiou a testa na minha. — Com toda sua bagagem. Com toda a minha bagagem... eu e você.
— Vamos nos casar! – ele sussurrou, encostando a testa na minha. — Por favor, case comigo?
Uma explosão. Um tiro. Gritos.
Senti as mãos de me puxarem para o chão. Ele me protegia com seu corpo das pessoas que corriam desesperadas de um lado para o outro, eu sentia o desespero aflorar em meu peito e o medo estava tão mais presente do que eu imaginava. Tentei gritar quando escutei grunhir ao ser puxado de cima de mim. Olhei para cima e não era um dos nossos. Era uma pessoa que nunca tinha visto e estava em cima dele, um soco atingiu no rosto. Me levantei, correndo em direção ao homem para tirá-lo dali, mas alguém me puxou pelo braço: Denver
. — Me solta! – gritei. Suas mãos me envolveram pela cintura e eu chutava o ar. Com a mão livre, soltei a minha saia e alcancei a espada que meu pai me deu. – Eu falei pra você me soltar! – gritei e caí no chão quando Denver se assustou.
— Você tem que sair daqui. – assim como eu, ele também estava sendo puxada. – O esconderijo do trono é seguro. Por favor, vamos comigo.
Não vou sem ele. – apontei para , ele tinha levantado, mas estava revidando. Eu tremia tanto, que achava que fosse infartar ali mesmo.
— Eu te amo, . – ele segurou meu rosto e afastou a espada de mim, tomando-a pra ele – E eu amo aquele cara ali também, mas não vou permitir que você faça isso. Eu prometi ao nosso pai.
— Sinto muito, Denv. – olhei para de novo e encarei Denver, puxei sua espada de seu cinto e o encarei – ABAIXE! – meu irmão, arregalando os olhos fazendo o que eu pedi. Com a espada, defendi a ofensiva que o inimigo fez e me surpreendi por estar mais do que preparada para aquele momento. Revidei e tirei vantagem da minha altura e o acertei no meio das pernas, ele rosnou e caiu de joelhos. Denver o pegou pelo pescoço e depois de alguns segundos, o guarda desmaiou.
Saiam daqui! berrou, ao se levantar. Ele estava longe e tinha apagado o vantroniano. Respirei aliviada, ele tinha vencido. – Tirem daqui imediatamente!
Não vou sem você. – gritei, estava furiosa. Meus aliados estavam caindo enquanto tentavam proteger a Coroa. As pessoas que eu amava corriam perigo. Eu não sairia daqui.
— Certo, então vamos. – ele se deu por vencido. Não respirei aliviada por mais tempo, estava no chão de novo e dessa vez eu corri. Corri até ele. Tentei. Um braço segurou o meu: Rei Roger.
— Que diabos...
— Pra um abrigo. Já! – ele ordenou. Estava assustado, sujo de sangue e com suas armas a postos. – Não posso ir para a sala do trono, está fechada com Leigh-Anne e as selecionadas, estou sendo cercado.
— Passaram as barreiras e são muitos. Mais do que imaginamos. – Denver sussurrou. Estávamos em um canto cercados por nossos guardas. Não estava vendo . – Nossos soldados estão preparados e nós também.
— Precisamos tirar você daqui – falei para o rei Roger.
Outra explosão.
Caímos no chão e senti rei Roger me protegendo com seu próprio corpo. O meu rei estava me protegendo. O rei que sabe as coisas que fiz e que farei. Ele me protegia quando deveria me jogar para os monstros e me deixar definhar. Senti um aperto no peito e me preparei para o pior. Havia tanta poeira, gritos e barulho de espadas. Sem tiros, Vantron não usava armas de fogo como nós, eles eram terrivelmente piores com seus facões e espadas.
. Meu pai. Zac. . Ben.
Onde estavam? Onde estavam?
— Precisamos de um lugar seguro. – Denver gritou. Ele ainda era um soldado. Ele ainda era protetor de Avallon. Ele amava Roger tanto quanto amava nosso pai. — Tenho que tirar vocês daqui.
... Precisamos achá-lo. – sussurrei, encarando Roger. Senti suas mãos afagando minhas costas e vi seu olhar se preocupar.
Zona norte. Vão. Agora! – era a voz do meu pai, ele nos encontrou e estava vivo. A armadura estava cheia de sangue assim como seu rosto. Quis chorar. Tudo estava saindo do controle. Era um plano, ir para a zona norte, a área que nem mesmo nós tínhamos fácil acesso. Tentei me libertar das mãos fortes do rei, mas ele não me soltou.
Olhei em volta, ainda guerreava, forte e ágil. Ajudava nossos soldados, se protegia, tentava fazer com que nenhum deles avançassem para outras áreas do castelo. Entendi o que ele queria fazer.
Ele queria ser a distração.
Tentei correr novamente. Tentei gritar. Roger e seus guardas e Denver eram mais fortes que eu.
cuspiu sangue após levar um soco. Aquilo era uma tortura para mim. Ser arrastada, não poder ajudar. Ainda estava meio embaçado graças a fumaça, mas eu reconhecia ele de qualquer maneira. Era meu Príncipe.
Era meu .
E agora ele estava caído com um homem apontando uma faca para o seu pescoço.
Meu amor. Eu finalmente tinha admitido. Tinha escolhido. Finalmente poderíamos estar juntos.
— Aonde estão os malditos soldados de vocês? – berrei para meu pai. Eu sabia que eles dariam a própria vida para defender , mas chegar até ele que era o grande problema.
Um soluço saiu de mim, eu berrava. Eu gritava enquanto era puxada. Peguei a mão de meu pai.
Não. Me. Deixe. Sem. Ele – sussurrei, pausadamente. Ele suspirou.
Cuide do meu filho. Eu cuido dos seus. – Rei Roger me puxou. Não vi mais nada além de destruição, soldados lutando um contra os outros. Sangue e morte. Pescoços abertos, barrigas abertas. Estômagos para fora.
Vantronis e Avalloneses.
Aquilo era guerra.
Pior do que eu imaginei, mas não estava surpresa com tamanha crueldade. Foi pra isso que treinamos. Era para isso que nos preparamos.
O rei permanecia imbatível. Sua armadura Dourada com pedras da cor da nossa bandeira brilhava em seu peitoral coberto. Nossos soldados estavam com uma armadura parecida, mas de outra cor. Também usavam algo na cabeça, um tipo de proteção e berravam ao acertar o inimigo. Roger me protegia, me protegia de absolutamente tudo que ousava chegar perto de mim, assim como meu irmão fazia e guardas enormes pendiam atrás de nós. Chegar no nosso destino era um enorme problema com tantos empecilhos. Um dos nossos soldados nos jogou contra parede enquanto brigava bravamente com um vantroni.
— Vamos. – Roger sussurrou e apontou para o corredor vazio.
— Pode ser uma armadilha, podem estar nos esperando. – Denver o segurou. Eu observava aquele guarda lutando sozinho.
Eu não queria ficar sem fazer nada.
— Eu cansei disso. Cansei de fugir. – encarei o cinto do rei Roger que continha várias armas, facas e uma espada. — Chega de ser pacífico.
Peguei a arma de Roger quando o vantroni ficou de costas para nós, acertando Gouhi, nosso soldado protetor no rosto. E atirei.
Fora tão rápido que ninguém teve tempo de me segurar. Eu tremia. Tremia e tremia. O vantroni se virou para mim lentamente, sangue saía da sua boca, sua espada caiu no chão e escutei ele me amaldiçoando antes de cair no chão. Tinha o acertado nas costas. Gouhi arregalou os olhos, encostado na parede. Denver colocou a mão em meu ombro e rei Roger suspirou.
Se machucam os meus, eu não terei piedade alguma. – Rei Roger tinha uma política diferente da minha, era isso que a realeza fazia: eram treinados para deixar que lutassem por eles. Como monarca, ele só tinha que se proteger enquanto lutavam por ele e não o julgava por isso, ele tinha que ficar vivo. Eu nunca o quis morto. Era um bom homem. Pai dos trigêmeos que eu amava. Pai do amor da minha vida. Família da minha família. — Vocês não lutarão sozinhos. – apontei para Gouhi que fez uma reverência e tratou de seguir em frente até a Zona Norte.
< Um caminho sangrento.
Eu nunca mais seria a mesma depois de hoje, mas faria de tudo para defender Avallon. Eu sou a maldita Tigre Dourado. Isso tem que que servir de algo.
Bastava.

Capítulo 36



Escutava gritos, via lutas intermináveis e a destruição era cruel. Participei de batalhas, já vi a morte de perto e também já matei, mas nunca gostei disso. Fui criado para proteger o meu país, mas nunca fui a favor da violência. Talvez esse seja um dos motivos de não ser o melhor herdeiro para a Coroa, não, o motivo de eu não ser a melhor escolha é que nunca quis governar um país. Contudo, a fúria que crescia em meu peito ao ver a minha família, os meus guardas, meus amigos e aquelas pessoas inocentes sofrendo as consequências de Vantron e sua ambição de ter o território Avallonês para eles... céus, aquilo me tomou por completo. Não deveriam mexer com os meus. Todas as vezes que lutei, foi para defender as pessoas à minha volta. Eles estavam na minha casa. Destruindo meu reino. O monstro que cresceu em meu peito lutava, lutava e lutava. Se eu ficasse ali, os Vantronis talvez dessem uma chance à fuga de meu pai e . Seus olhos marejados brilhavam ao me encarar uma última vez antes de relutar muito para não me deixar. Eu seria a distração sem nem pensar duas vezes para que ela tivesse qualquer chance de se proteger. era o maior dos alvos dos Vantronis, até mais que eu. A cabeça dela era a finalização dos atos rebeldes, talvez.
! Seu maldito teimoso! — era Dave. Ele estava furioso. Céus, Dave na guerra era uma máquina mortífera, não é à toa que é o General. Era a única pessoa que me dava medo quando criança e me deixa com medo hoje em dia mesmo já adulto.
E o General agora estava apontando o dedo para mim. Era pior que uma arma ou espada.
— Vamos! Para um abrigo imediatamente! – ele berrou ao se aproximar de mim. Apontou a arma para algum alvo e simplesmente acertou um vantroni no meio da testa.
— Vou ajudar vocês. – falei, dando de ombros. Sangue escorria do meu nariz e eu sentia aquilo. Vi os dentes de Dave aparecer como se fosse um cão com raiva, a filha dele também fazia aquilo às vezes. Tal pai...
— Não precisamos de você aqui. Precisamos de você seguro! – ele me puxava, parecia um escudo gigante em torno de mim. – Eu prometi ao seu pai. Prometi a mim mesmo... eu não vou perder nenhum de vocês hoje. Não vou!
— Se eu ficar aqui... – comecei a dizer. – Eles vão se afastar dela. – Dave sabia do que eu estava falando. — E acredite, Walker, se eu sair daqui vai ser para encontrá-la. Não vou descansar até vê-la.
— Ela está com meu filho e o seu pai. – ele sussurrou. – Está mais segura que eu e você juntos, e não sei se você lembra, mas ela é minha filha. É uma guerreira.
— Ela é o amor da minha vida. – o encarei nos olhos – Eu farei de tudo por ela. – Dave deu um leve sorriso, aquilo foi o suficiente para eu entender que mesmo com aquela carcaça de um matador, ele ainda estava ali. Ainda era o meu segundo pai, um grande amigo. — Não é o momento, mas quero pedir a mão dela a você.
— Isso não é hora, garot... – uma bomba. Senti minhas costas indo de encontro com a parede e logo eu estava no chão, longe de Dave.
Malditos Vantronis. Malditas bombas.
! – escutei Dave. Com tanta poeira, era difícil enxergar. Era difícil respirar. Vi uma figura em pé se aproximando do General. Quando pude visualizar melhor, vi que estava caído não tão longe de mim.
— O General e o príncipe... eu nem acredito que tenho tamanha sorte! – aquela voz... Aquela voz me enojava. Algumas coisas balançavam ainda, mas eu via perfeitamente o homem pegando a espada de Dave e sorrindo. Comecei a me desesperar, tentei me levantar. Contudo, eu tinha que pensar, tinha que agir como Dave agiria. Eu tinha que protegê-lo. Dave sempre me protegeu, eu vou protegê-lo agora. não aguentaria mais uma perda, eu não aguentaria essa perda. Senti minha arma no meu cinto e calmamente tirei ela do bolso. O homem chutou Dave antes de continuar a tortura. — É difícil? Sentir essa tortura? Você fez isso com meus irmãos! Seu país fez isso!
— Vocês procuraram por isso. – Dave respondeu, sua voz ainda era forte como um trovão.
— Não vamos cair sem lutar — ele respondeu, entre dentes.
— Bom, nem a gente. – mirei em seu peito e obtive sucesso, mas não escapei da mira da sua faca que foi em direção a minha perna. O homem caiu assim como eu, mas a nossa diferença era que ele estava morto. Grande dia, pensei com ironia.
Matei mais um homem hoje.
Lembro sempre do primeiro homem que matei, das noites tendo pesadelos com aquele sangue infinito. Mais um para que eu sempre me lembrasse. Odeio tudo isso, odeio a guerra.
— Thor... – Dave tentava se levantar. Se arrastou até mim enquanto eu pensava em como arrancar aquela espada dali e conseguir correr ao mesmo tempo. – Vamos estancar o sangue assim que tirarmos a faca. – ele tirou de um dos bolsos um pano branco que eu acreditava já ser preparado para aquele tipo de situação. — Obrigado... por salvar minha vida.
— Retribuindo o tanto que nos salvou durante esses anos, mas e então... – tentei brincar com ele, Dave estava se segurando para não chorar de dor. Agindo como se aqueles chutes não tivessem ao menos lhe quebrado algo. E eu estava com uma faca alojada na coxa. — Consegui seu aval para me casar com sua filha? – segurei o brado de dor quando ele tirou bruscamente a faca da minha perna e foi precisamente ágil ao estancar o sangue.
— Se é o que quer, tem todo o meu apoio. – mesmo com dor, sorri. A adrenalina talvez fosse minha melhor amiga naquele momento, mas também não posso sentir o maior dos alívios ao ter a benção do meu sogro. — Você é um bom homem para ela e merece alguém que também te ame. Fico feliz de finalmente se acertarem!
O ferimento aberto em minha perna me causava náusea, talvez a adrenalina não fosse minha melhor amiga agora. Aquele sangue todo me deixava atordoado. Com a ajuda do general, me levantei. Os dois estavam completamente destruídos e aquilo era um enorme problema, afinal, iríamos até o inferno para encontrar as pessoas que amamos. Ele, o General e eu, o Príncipe. Ambos derrotados.
— Não posso deixar que você vá, . – ele sussurrou. O encarei, já me preparando para a discussão que viria, mas o que recebi foi pior. – não me perdoaria se eu te deixasse seguir, ainda mais assim.
— Você está tão fodido quanto eu. — falei entredentes, estava furioso.
— Cuidado como fala. — ele me alertou. Tentei controlar minha respiração, tentei não surtar ou berrar. — Não me importa que Coroa maldita você carregue na cabeça e também não me importa o quão furioso você fique comigo depois. Sou o General. Sou o merecedor desse título por um motivo, . Você é como um filho e por Deus, minha filha te escolheu! Não vou permitir que você se machuque e acabe com o coração dela se você partir. Eu vou pegar aquela garota teimosa e enfiá-la em um esconderijo assim como farei com você e.... – fingi me dar por vencido, concordei com a cabeça e o deixei me puxar pelo braço seja para onde for que ele estivesse me levando.
Por incrível que pareça, o nosso caminho estava totalmente livre. Os corredores estavam vazios e sangrentos, com corpos de soldados ali. Alguns dos rostos eu conhecia, afinal, eram os soldados que eu vi Benjamin treinar ou soldados que cresceram comigo. A dor em meu peito ficava mais leve quando eu percebia que os inimigos também caíram. No entanto, me enfurecia o fato de serem marionetes de Vantron; mesmo que fosse por uma causa totalmente errada, ainda eram servos de um rei ruim. A revolução da Tigre Dourado é presente em muitos países, mas não em Vantron. Qualquer um que fosse contra a correnteza, seria morto, sem nem ter chances de se salvar. Agora eram marionetes mortas por uma Causa ridícula. Ódio dos monarcas daquele reino doentio e controlador. Sabia para onde Dave me arrastava, ele me levava de encontro a área que o Poirot estava com seu time. Em todos os alojamentos tinha uma equipe, mas ele me levava direto para o melhor. Imaginava que era o lugar onde deveria estar, sendo a médica que nasceu para ser. Nos últimos tempos, toda hora vaga que ela tinha, ficava com Poirot e seus enfermeiros aprendendo tudo que podia. Eu daria tudo para que ela entrasse na melhor faculdade de medicina de Avallon, ou até mesmo que fosse para fora do nosso país e se formasse, como Poirot fez. Ela é grande demais para ficar em um lugar só e eu iria com ela para onde ela quisesse. Dave parou, olhou para todos os lados e me fez verificar se ninguém observava, chega de mortes. O general abriu a porta com muito esforço, eu tinha certeza que ele tinha quebrado alguma coisa novamente, me perguntava quantos ossos ele era capaz de quebrar e se recuperar como se nada tivesse acontecido. Dave não aguentaria outra luta daquela forma. Respirei fundo e me preparei para uma luta que temia não vencer, mas tinha que tentar. Por ele, por mim e pela família dele.
— Sinto muito, Dave... – sussurrei antes de lhe tirar todas as armas possíveis para que ele não me atacasse. Dave me encarou furioso quando apontei a arma para ele.
— Abaixe essa arma, garoto. Você sabe que não vai atir... – atirei. Atirei no chão próximo ao seu pé, o suficiente para que ele arregalasse os olhos e desse um passo para trás. Podia ver dentro do abrigo, algumas pessoas agachadas e assustadas achando que tinham sido encontradas para a morte. – !
— Entra logo nessa merda! – Alertei, dando mais um passo e ele recuando. Eu atiraria nele em um lugar que não o machucasse tanto se fosse necessário e ele sabia bem disso. – Não vai a lugar algum assim, General.
— O que é isso aqui? – era a voz de , vindo em nossa direção – O que é isso? Entre logo e.... – bastou uma única olhada para Dave para ele entender o que estava acontecendo. – O que aconteceu?
— Não é como se eu tivesse tempo para explicar, irmãozinho... – dei um sorriso que fez Dave mostrar os dentes de raiva. – Dave foi atacado, leve-o para Poirot.
— Não encoste em mim, . – aquele tom me amedrontava mesmo agora sendo um adulto. Pude ver engolindo seco. – Posso sentir o cheiro de medo de vocês, isso aqui chega a ser piada.
— Podemos até estar, mas quem está sob a mira da arma é você. – tentei brincar, se fosse em um treinamento, estaríamos rindo. Olhei para meu irmão e ele acenou com a cabeça, sabia o que tinha que fazer. – Entre, Dave. Cuide-se para a próxima batalha.
— Você não me diz o que fazer! – escutamos vozes, tinha dois vantronis virando o corredor. me encarou novamente e eu entendia aquele olhar, era o olhar para eu não deixá-lo, mas eu o deixaria.
— Thor... – escutei começar a dizer, mas bastou um olhar para ele fazer o que eu precisava, mesmo não querendo ou concordando. Ele sacou uma adaga e mirou no vantroni que vinha correndo em nossa direção. Meu irmão com sua mira perfeita acertou o inimigo bem no meio do estômago. Empurrei Dave para dentro do abrigo e o segurou, apertei o botão e vi a porta se fechando
— Não dê o seu pescoço para esses vagabundos, Aykroyd, pois quando isso aqui acabar eu mesmo vou acabar com você! – Dave berrou, aquilo me deu um arrepio dos pés à cabeça. Belo início de relacionamento de sogro e genro.
Olhei para o vantroni que segurava o próprio amigo caído, tentando de alguma forma salvá-lo da morte encomendada por e me encarou com fúria vindo correndo em minha direção e me preparei para outra luta. A vantagem era minha. Eu tinha um objetivo: encontrar .
Nada ficaria entre isso, nem meus ferimentos, nem esses vantronis, nem ninguém.



A zona norte não chegava facilmente, ao menos não com tanto empecilhos e mortes a todo canto. Tínhamos que passar por saguões, salas, corredores imensos para chegar na ala real dos quartos e assim, conseguir acesso por uma passagem para chegar à zona norte. Por onde passávamos, sangue brilhava na nossa sola do sapato. Por onde eu andava, deixava minha marca. Podia contar quantos eu tinha tirado a vida. Podia contar quantos arranhões eu havia ganhado naquelas batalhas. Podia contar quantas vezes vi Rei Roger gritar para que me protegessem.
Bom, eu sou a filha do General.
E também a maldita Tigre Dourado.
Estava nas minhas veias aquele instinto. Tinha que estar.
A saia planejada para cair assim que eu visse qualquer sinal de perigo, havia sido esquecida no instante que atirei em um vantroni. Eu não era mais uma Selecionada, agora eu era uma assassina. Entendia plenamente que aquele sangue todo era para proteger meu povo, a minha família, os meus irmãos, os meus sobrinhos e a minha afilhada; mas ainda sentia culpa. Eu não poderia salvar todo mundo. Eu não posso carregar tudo sozinha. Eu não sou capaz de tamanha grandeza. Temia nunca mais dormir depois de tanto sangue caído. Rei Roger tentava me poupar de toda essa luta, mas era em vão, eu não pararia e ele entendeu aquilo quando me viu lutar ao lado de Gouhi e Denver. Eu era um deles. Será que foi assim que se sentiu quando matou alguém pela primeira vez? Ele nunca falou como se sentia, nem mesmo ou . Nem meus irmãos. Benjamin conseguia dormir à noite sem lembrar disso? E Denver? Para ele era algo comum? Matar alguém e no fim do dia, se deitar ao lado do seu amor e viver como se nada tivesse acontecido?
Meu pai... o meu querido e amado pai. Foram anos servindo a Coroa, quantos ele derrubou para defendê-la? Como ele lidava com isso?
Nunca pensei que precisaria conversar com eles sobre isso.
Espero poder conversar com eles sobre isso.
Eu era um dos soldados e devia tudo ao treinamento que tive durante esses meses. Devia tudo aos homens que me ajudaram para chegar onde estou agora: aguentar segurar uma espada tão grande, conseguir manejar adagas e ter a mira perfeita para atirar, conseguir usar meu corpo contra alguém... Contudo, Lizzie tinha razão, minha família era o motivo do meu pânico; mas também eram a razão de eu estar fazendo tal coisa.
Morreria tentando salvá-los. Era o meu destino.
— A passagem... – Gouhi sussurrou. Estávamos atravessando os quartos e tinha uma porta dentro do quarto do Rei. Eu estava no quarto de Rei Roger. Não tive tempo para analisar tudo, mas consegui observar as fotos dos filhos em todo canto. Não tinha vestígios de Leigh-Anne, sabia que não dormiam mais no mesmo quarto por fofocas das damas; Rei Roger era extremamente simples. Ao contrário do que aparentava.
— Pegue isso, Marg. – Rei Roger jogou munição para a arma em minha mão. Denver recarregou sua arma, colocou algumas adagas em seu cinto e eu fiz o mesmo, o cinto que eu usava para segurar a espada de meu pai tinha alguns espaços para guardar mais coisas. Eles pensaram em tudo para chegarmos aqui e ficarmos ainda mais munidos de proteção. – Estamos quase chegando ao nosso destino. Vamos torcer para que isso acabe logo. Que Deus nos abençoe.
— Espero que Deus faça mais que isso. – sussurrei. Denver segurou minha mão por alguns segundos e trocamos olhares. Ele dizia tudo com seus olhos, eu sabia que ali passava apenas duas coisas: orgulho e medo.
Se estivermos juntos, ficaremos bem. – meu irmão falou e eu concordei com a cabeça. Tinha escutado essa frase de Alan algumas vezes para seu povo e fazia mais sentido agora. Estar com eles era tudo que eu poderia pedir, por mais que as coisas estivessem ruins. Doía pensar que eu só estava valorizando aquilo agora, mesmo quando tudo que eu fazia era pelo bem de todos, talvez eu não tenha dado valor aos momentos em que estivéssemos juntos de fato. Ou talvez eu só estivesse passando pela sensação de “quase morte” ou a sensação de quase perder alguém e isso esteja me afetando mais do que deveria – Pare com isso.
— Isso o que? – Arqueei uma sobrancelha, Denver era um enxerido.
— Você já fez exatamente tudo que a gente queria que não fizesse... não fique com essa cara se martirizando agora! Seja lá o que estiver pensando, pare imediatamente! – era como se ele estivesse lendo meus pensamentos. Caminhávamos entre Gouhi, Rei Roger, depois eu e Denv atrás de mim.
— Não estaria diferente se estivesse presa sem fazer nada. – respondi, cruzando os braços. Estava tudo escuro e apenas a vela e a lanterna que Gouhi e Denver carregavam que iluminava o caminho.
— Pelo menos estaria segura. – ele estava bravo ou chateado. Respirei fundo e segurei sua mão livre, eu entendia como ele estava frustrado no dia que era para ser o melhor de sua vida.
— Sinto muito por tudo isso, Denv. – meu irmão não me encarou quando falei aquilo. – Desculpe por não ser a irmã que se esconde do caos.
— E como poderia? Você é a porra de um Walker. Nós não fugimos de nada, nós lutamos e vencemos.
— Então porque você parece bravo com isso?
— É só... é que... – ele suspirou – Eu não suporto a ansiedade de pensar em algo de ruim acontecendo com você de novo. – tentei controlar minhas lágrimas, assim como ele. Lembrar do ocorrido da sua “morte” ainda me dava gatilhos e nunca mais falamos sobre isso depois do seu retorno. – Tem noção de como eu ainda escuto aquela chibatada estalando nas suas costas?
Aquilo me atormenta mesmo depois de tanto tempo e hoje você está novamente passando por uma emboscada, correndo riscos no dia do meu casamento e...
— Eu escolhi esse caminho. Nada disso é sua culpa! – minha voz ameaçou falhar, eu ainda tinha a cicatriz. – Eu subiria naquele cadafalso se fosse outro casal homossexual sofrendo aquela consequência, você sabe! Eu correria na direção do caos em qualquer outra situação para defender nosso povo! Eu sou assim.
— Mas você...
— É meu destino. – me virei para ele e coloquei a mão em seu peito e o encarei – Não se culpe por isso. Sinto muito, muito mesmo... por ser mais um dia traumatizante na sua vida... eu faria de tudo para evitar tal coisa. – ele fechou os olhos e me abraçou tão forte que nem liguei para o ar que não conseguia respirar.
— Eu sempre pedi uma irmã para o nosso pai e para os deuses que estivessem me escutando... – ele falou baixinho – E quando você apareceu, antes mesmo de eu saber que éramos irmãos, eu já te amei. Naquele soco – rimos juntos, nos lembrando daquilo. – E é uma tortura para mim. Te ver passando por tantos perigos quando eu só queria te mimar e proteger... é uma tortura...
— Quem sabe eu não te dê uma sobrinha daqui alguns anos para que você possa fazer isso? – brinquei e ele riu, ponto para mim. – Vamos acabar logo com isso para que eu consiga me desculpar com você por não ser o tipo de irmã que precisa ser salva!
— Se ela for realmente sua filha, talvez seja até pior que você! – fiz careta, talvez um dia meu karma seja tão grande que eu vou sofrer tudo que meus familiares sofrem. Queria tanto aquele futuro com .
Voltamos a caminhar, meus pés doíam, mas não diria isso a eles. Eu tinha que aguentar. As armas estavam pesando no meu corpo, mas eu tinha que aguentar. Parecia que a adrenalina estava começando a passar, mas eu tinha que aguentar. Pela minha família, pelo meu povo, por mim. Gouhi parou bruscamente, fazendo com que meu corpo se chocasse com o de Rei Roger, que prontamente ficou na minha frente para me defender de qualquer coisa, Denver atrás de mim fazia o mesmo. Inacreditável... o Rei deveria ter toda a proteção do mundo, mas estava me protegendo. Gouhi olhou para trás e começou a golpear alguém que não conseguíamos ver, Denver passou por mim e por Roger em um tiro, ajudando seu parceiro de guerra enquanto eu tentava de algum modo, proteger a mim e ao meu sogro, o qual olhava para trás como se a qualquer momento alguém fosse aparecer.
Estávamos ferrados.
Nosso esconderijo.
Nossa saída.
O plano B.
Nos descobriram.
Tentava acalmar meu coração para dar conta de mais um golpe gigante que estávamos tendo, Roger parecia estar tão aflito quanto eu. Contive um grito quando vi a enorme espada de Gouhi sendo usada contra ele mesmo entrando pelo seu estômago. Denver parou por alguns segundos e em seu momento de fúria, acertou o inimigo com golpes e sua espada entrou da mesma maneira que entrou em Gouhi.
Corri até o meu aliado contra a vontade de Roger, que tentava me segurar, dessa vez não para me proteger de qualquer ameaça e sim, do sofrimento de ver mais alguém morrendo. Um inocente. Um guerreiro de Avallon. Meus olhos se encheram de lágrimas quando vi o Rei Roger vindo tirar a espada de seu estômago, não era o certo. Não sem um médico para tratar Gouhi da maneira necessária. Poirot não estava aqui. Eu não tinha treinamento o suficiente para cuidar dele dessa maneira tão precária e suja.
— Está tudo bem, Tigre Dourado. – Gouhi sussurrou, segurando minha mão, que bloqueava a retirada da espada. Rei Roger me olhava com pena e Danver estava ao nosso lado, mas atento para outro ataque.
Céus... outro ataque.
— Você vai morrer em segundos se tirarmos isso. – encarei Gouhi, seus olhos escuros brilhavam pelas lágrimas. Sua respiração estava ofegante e eu sabia que estava doendo. Doía na gente também.
— Eu cumpri o meu papel. – ele suspirou e fechou os olhos por alguns segundos. – Eu estou em paz, Tigre Dourado.
— Você foi um soldado sensacional, Gouhi. – Rei Roger falou e o soldado concordou com a cabeça, lisonjeado com aquela frase – Estou muito grato por ter sido protegido por você. Obrigado por honrar nossa coroa. – Roger tirou a espada. Não conseguia controlar as lágrimas àquela altura, coloquei minha mão em seu ferimento tentando conter a hemorragia, mas era em vão. – Que você tenha uma boa passagem, meu querido. Cuidaremos da sua família.
Família. Gouhi tinha filhos.
— Eu sei, majestade. – ele me encarou. Sua respiração estava mais fraca, mas tinha um sorriso preso no canto de seus lábios. – Eu sei que você fará o certo.
— Farei. – sussurrei. Gouhi sorriu e com um último suspiro, se foi.
Não sei explicar a sensação de impotência. A tristeza de ver uma alma boa indo embora em um sopro. O homem forte e corajoso que defendeu a Coroa com a própria vida, com honra e glória; se foi com um sorriso no rosto. Esse orgulho que ele carregava no peito, eu sei que meu pai, Denver, Benjamin, os príncipes, Roger e a maioria dos soldados de Avallon também carregariam se seu momento chegasse. Eu também carregava isso, no fim das contas. Todos os dias era uma grande prova.
Voltaríamos para nossas casas no final do dia?
Gouhi não voltaria.
Talvez seus filhos e sua bela esposa consigam vê-lo uma última vez antes de ser enterrado.
Talvez seus filhos sigam os passos do pai para honrá-lo, ou sintam tanto ódio que virem Selvagens e queiram acabar com a coroa.
Meus pensamentos foram interrompidos quando escutamos um grito, vindo de dentro da sala que estávamos organizando nosso plano. Era nossa virada de Ouro. Bruscamente senti duas mãos me puxando de cima de Gouhi. Denver. Ainda estava atordoada com o ocorrido.
— Leigh-Anne. – Rei Roger sussurrou, tremendo. Sem pensar duas vezes, correu em direção a porta e entrou. Denver tentou contê-lo, mas foi em vão. O Rei não pensou duas vezes antes de ir em direção ao caos para ir em busca da sua esposa, ele reconheceu o grito e apenas foi. E Denver o seguiu, me puxando, mas sempre me colocando atrás de si, tentando me proteger de qualquer coisa que aparecesse.
A imagem que encontramos me deixava um pouco confusa. Ainda estava atordoada com Gouhi, mas ver Leigh-Anne descabelada e machucada, amarrada em uma cadeira na Zona Norte do castelo, a parte mais segura daquele palácio; parecia confuso.
Como?
Por que eu não estava feliz com ela sofrendo?
Por que eu estava parada na porta enquanto Roger e meu irmão tentavam soltar a rainha das cordas apertadas?
Reage, . Reage!
— O que foi que aconteceu, Leigh? – Roger perguntou, sua esposa estava com os olhos vermelhos de choro.
— Eles... eles me pegaram, agrediram e a selecionada... Lizzie! – ela parecia estar com medo de verdade, naquele momento eu perdi meu chão de novo. e Lizzie foram machucados no percurso. – Eu não sei o que aconteceu com meu filho, Roger! Eu quero meu filho! – Roger ficou sem reação também, pois se tratava do seu filho. O primeiro herdeiro da Coroa.
— Vamos encontrá-lo, majestade! – meu irmão colocou a mão em seu ombro e viu que a rainha estava com alguns ferimentos, correndo para um dos armários apenas para cuidar da megera e de seus ferimentos.
— Como você veio parar aqui? – questionei pela primeira vez. Poucas pessoas sabiam daquele plano, não fazia sentido ela estar presa ali.
— Ótimo! Estou sendo acusada de alguma coisa? – ela berrou, aos prantos.
. – rei Roger pediu com os olhos para que eu não causasse mais nenhum estresse. – Leigh, vai ficar tudo bem, vamos sair daqui.
Olhei em volta e ali tinha um enorme painel que mostrava inúmeros pontos do castelo. Meu coração se apertou ao ver que tudo estava destruído. Vantron causou muito mais do que aparentava. Conseguíamos ver alguns dos abrigos, muitos haviam conseguido entrar e se salvar, mas nem todo mundo tinha tido tanta sorte, queria chorar com tantos corpos caídos. Vi o abrigo onde Poirot estava com Summer, Beth e outras damas e alguns membros de Agharta, em outras imagens, vi meu pai e em um canto. Meu coração ficou aliviado por vê-los em segurança.
Onde estava?
Meu pai estava no abrigo, mas sem . Minhas mãos tremiam. Dave não estaria em um abrigo em condições normais, Dave não estaria em um abrigo com uma guerra acontecendo. Aconteceu alguma coisa. Meus olhos desesperados estavam procurando Thor, , Benjamin e Lizzie. Não encontrava. Senti as mãos de Roger em meus ombros, olhei para o lado e vi que Denver cuidava de Leigh-Anne.
— Denver disse que Alan estava com , provavelmente estão seguros em algum lugar... machucados, mas seguros. Estou torcendo para isso. – ele respirou fundo, consequentemente me fazendo respirar também. – Vamos nos prender a isso, ou se não enlouqueceremos... temos uma jornada muito grande até isso aqui terminar.
— Não vejo eles... Benjamin ou Thor... – sussurrei. Meu peito doía. – Não posso perdê-los, não posso...
— Você é uma boa garota, Marg, fico feliz por meus filhos terem você. – o sorriso paternal do Rei me deixava um pouco mais tranquila. – Não canso de dizer isso. – dei um leve sorriso – Vai ficar tudo bem, como tem que ser. Vamos ficar bem.
— Estou um pouco aflita, confesso. Você não acha estranho Leigh-Anne estar presa aqui com apenas um guarda na porta? – sussurrei, o rei respirou fundo – Me desculpe, majestade, mas está tudo muito calmo para um lugar onde seria a maior emboscada para você!
— Acho que sei o que pode estar acontecendo e quero que você me escute com muita atenção.
— Roger? – ele olhou para as câmeras novamente e respirou fundo – Se algo acontecer comigo, quero que saiba que a solução dos seus problemas está... – ele olhou para os lados e balançou a cabeça – Está no lugar mais seguro que você conhece.
— Não estou com cabeça para códigos, majestade, será que consegue ser mais claro? – meus olhos àquela altura já estavam de louca e minha voz não saía tão baixa quanto deveria.
— Estamos sendo vigiados. Sempre estaremos. Não posso ser mais claro que isso. – Ali eu entendi. Rei Roger não confiava na esposa para o que quer que fosse, o que me dava mais medo do que poderia admitir.
Olhei para trás e Leigh-Anne chorava no canto enquanto meu irmão saía da sala. Continuei olhando para as câmeras enquanto Roger ia até sua mulher. Aquelas lágrimas me enojam e eu não conseguia sentir pena alguma do sofrimento dela. Nossos planos estavam um pouco bagunçados àquela altura. Meu pai não deveria estar em um abrigo, nem . Tínhamos inúmeras maneiras de acabar com tudo, mas não esperávamos Leigh-Anne refém. Rei Roger estava atordoado. Eu também estava. e estavam desaparecidos. Meu irmão também estava. Não ter notícias era extremamente cruel. Péssima ideia não usarmos os rádios. Malditos planos e malditos vantronis. Inferno.
— Vamos sair dessa, Leigh... sempre saímos. – escutei ele falar para a esposa
— Jamais vou te perdoar se algo acontecer com nossos filhos. – ela falou entredentes. Estão vendo? Uma megera.
— Sabe muito bem onde estava se metendo quando se casou comigo. – os nervos realmente estavam à flor da pele para que eles estivessem discutindo na minha presença. – Se tem tanto amor pelos seus filhos, não teria se envolvido comigo. Sempre tem uma guerra sendo travada contra mim. Contra a coroa que você tanto quer!
Escutei um barulho vindo do lado de fora e imediatamente olhamos para a porta fechada. Denver. Minha mão foi em direção a minha espada e eu corri em direção a porta. Leigh-Anne deu um grito quando eu fui empurrada com toda a força quando a madeira me atingiu me levando para longe. O corpo do meu irmão voou contra a porta quando uma bomba explodiu do lado de fora, me atingindo junto. Estava tão atordoada que a poeira me deixava ainda mais tonta do que o normal. O peso do corpo do meu irmão contra o meu me fazia ficar sem ar, mas minhas mãos procuravam por algum mísero sinal de que ele estava vivo. Respirei aliviada quando senti seu pulso, ao menos ele estava vivo; desmaiado, mas respirando.
Tentava enxergar o resto da sala para ter uma noção do quão ferrado estávamos, mas a poeira atrapalhava minha visão e o zumbido na orelha me deixava com a cabeça doendo. Na verdade, tudo doía, principalmente minhas costas.
— Leigh! – escutei Roger berrar, mas não o via. As luzes piscavam e não tinha janela alguma que dava a claridade necessária. – Por Deus, Leigh, cadê você?
— Estou bem. – a voz dela era fria e distante. Uma risada masculina me arrepiou inteira, não era Roger, não era ninguém que eu conhecia. A silhueta alta e forte estava contorcida, por conta da poeira, da falta de iluminação e por eu estar zonza com o corpo do meu irmão me sufocando. – Estou finalmente bem!
— Finalmente o momento que eu tanto esperava. – a voz masculina falou, era grossa e desconhecida. Cutuquei meu irmão, tentando fazer com que ele acordasse, Roger estava caído um canto, um pouco longe da onde eu estava, mas Leigh-Anne estava se levantando com a ajuda do tal homem.
Senti um enjoo ao perceber o que estava acontecendo.
Yan. – Roger sussurrou, com nojo. Balancei meu irmão com mais força, tentando tirar ele de cima de mim. Nos treinamentos, eu sempre fui ruim com pesos em cima de mim, Denver tinha o dobro do meu peso e tamanho. – Veio terminar o trabalho do inútil do seu pai?
— Tudo por ele e pelo meu país. – Yan Vantron estava alguns metros de distância de mim e eu não conseguia fazer nada.
— Um reino construído em cima de sangue não é um lugar digno. – Roger tentou se levantar, mas Yan o chutou, fazendo com que o rei controlasse o ruído de dor. – Deixe meu território em paz, Yan. Chega dessa ganância toda. Chega dessa guerra.
— Mas não sou só eu que quero seu território... – ele riu, a luz voltou a tempo de eu conseguir ver a expressão fria e debochada de Leigh-Anne. Nada poderia expressar a decepção de Roger quando a encarou por fim. – Se preocupou tanto com os inimigos lhe atacando, que esqueceu de focar na sua própria casa. Achou que estava um passo à frente, majestade? O que achou dessa cartada final?
— O que os seus filhos vão pensar, Leigh-Anne?
— Não se preocupe com isso, meu amor, esse problema não é seu! – ela sorriu – Muita inocência achar que consegue esconder algo de mim.
— Te subestimei. – ele tentou levantar novamente, mas dessa vez, Leigh-Anne o chutou e seu salto gigante estava na garganta do marido. Era uma das cenas mais humilhantes que um homem como Roger poderia passar. Eu queria conseguir acabar com ela com minhas próprias mãos. Nada explicava a minha raiva por ela, por Yan e por todo esse fascínio por poder. – E o pior de tudo, Leigh-Anne... o pior é que eu jamais imaginei que você poderia ser capaz disso.
— Nunca subestime uma mulher que anseia por mais do que tem. – a rainha do meu país pisava e sorria ao mesmo tempo.
— Você tinha tudo! – Roger gritou e tentou empurrá-la ao mesmo tempo que eu empurrava meu irmão de cima de mim, com muito esforço.
— Não tudo. – ela se referia a Coroa. – Com você no poder, nunca pude ter controle algum.
— Meus filhos são o futuro da Coroa, não você. Golpe algum será capaz de te colocar no topo e você sabe bem disso.
— Mas eu posso controlar meus filhos! – ela berrou de volta – e me escutam de uma maneira impressionante. Eu estarei por trás de todas as decisões. Eu mereço isso, Roger!
— E onde você acha que vai enfiar Yan Vantron? – os olhos de Roger encontraram os meus, pude perceber que ele não queria que eu me envolvesse.
— A rainha, viúva e de luto, com todo o seu pesar e amor ao seu povo, fará um acordo com Vantron para que suas terras sejam exploradas pelo país que tentou destruí-los. – Yan Vantron cantarolava. – Podemos entrar e sair a hora que quisermos, podemos ter tudo desse país, principalmente as Terras Livres das províncias para que possamos construir indústrias com o auxílio do seu povo.
— Faça isso no seu país! – eu nunca entendi de fato o motivo específico de Vantron ter tanta sede por territórios. Os ataques contra outros reinos indicavam uma guerra desenfreada por controle dos países, mas com a explicação rápida e pouco didática de Yan, fazia mais sentido.
— Meu país não tem o solo tão bom quanto o de Avallon! Meus projetos não deram certo e meus súditos não estão contentes com a maldita vida que eu lhes entrego – estava aí, a assunção dos seus pecados. – Avallon tem tudo que eu preciso. É nosso por direito, se for analisar os fatos anteriores...
— Pare de agir como um moleque mimado! – Roger explodiu, ficando mais vermelho que o normal, afinal, estava sem ar – Essa fofoca de traição de fulano e ciclano não nos diz respeito! Avallon não é uma moeda de troca, ainda mais por causa de uma maldita fofoca!
— Sempre seremos responsáveis pelos erros dos nossos ancestrais, Vossa Majestade. – Yan Vantron recitou algo que me tocou no fundo do peito. – Por mais que de fato, minhas maiores intenções sejam usar o seu país para o meu experimento, posso facilmente usar de maneira heroica a situação dos nossos familiares...
— É poético. – a rainha riu.
— Você quer permitir a destruição do nosso reino apenas para ficar no maldito controle da Coroa, Leigh? – o desgosto era visível.
Denver permanecia apagado, era como se pudesse dormir por vários dias, seu corpo pesava mais do que eu poderia admitir e se a situação fosse outra, ele estaria me atormentando por ser uma grande fracote; ou, como o meu treinador, me xingaria por não ter a capacidade de sair dessa situação. Com a adrenalina em meu corpo passando, eu começava a sentir dores nas costas e nas pernas, talvez eu tivesse fraturado algo, mas não era desculpa para não conseguir reagir. Yan Vantron estava na minha frente e eu tinha que fazer algo. Leigh-Anne, a mãe dos trigêmeos, a que gerou as três pessoas que se juntaram na lista curta das minhas pessoas preferidas no mundo todo. Mãe do amor da minha vida e.... a maior inimiga do meu país. Eu sempre quis acabar com ela, mas agora... eu me sentia um monstro. Disposta a tudo para que aquela mulher pague por tudo que fez e tudo que quer fazer. Destruir nosso país, com a terra fértil e sem poluições que matam e acabam com a vida. Deixar nosso povo virar marionete das marionetes. Se antes os Selvagens lutavam por direitos iguais, não podia imaginar o que isso tudo viraria com tamanho caos e desordem. Sermos escravos e humilhados pela nata do nosso povo já era ruim, sermos humilhados e escravizados por Vantron era ainda pior.
Ser a maldita Tigre Dourado deveria me servir para alguma coisa.
O barulho do corpo de Denver rolando para o lado foi mais alto do que eu pensei, pois atraiu os olhares que eu ainda estava evitando, mas fez com que o salto de Leigh-Anne se afrouxasse do pescoço do marido.
— Ah, Yan... você tinha que acabar com uma lista e não fez isso com a pessoa principal? – ela quase rosnou dando um empurrão em Vantron que mostrou os dentes para mim.
— Tenho outros planos para ela, Leigh-Anne. – disse ele, se aproximando. – Você tem me dado muito trabalho, Tigre Dourado.
— Você não é o primeiro a me dizer isso. – retruquei, tentando não transparecer que tremia, mas não de medo; era raiva. Pura raiva. – Mas confesso que é gratificante ter te incomodado ao ponto de estar no topo da sua lista.
— Você é como um simples lixo espacial que pode causar um estrago grande mesmo estando longe.
— Por favor, ofensas chiques não me abalam – tentei acordar meu irmão novamente, mas foi em vão. Me levantei agindo como se estivesse tudo bem, mas não estava. Minha cabeça girava, minha coluna doía e meu braço direito também. Algo estava preso em minha cintura e eu não podia me dar ao luxo de tirar a maldita faca dali. – Como vão se desfazer de três corpos? Que desculpas você vai dar para os seus filhos?
, não seja burra... – Leigh-Anne revirou os olhos – Houve um atentado, vocês foram pegos... Roger foi executado, você morreu no meio do caminho e seu irmão vai sobreviver, não pretendo irritar Agharta hoje, nem seu pai. Preciso dele.
— Ele nunca vai ficar do seu lado.
— Ele serve a Coroa e eu serei a Coroa.
— Por quanto tempo? O próximo na linha de sucessão é ! – e ele também não vai assinar acordo nenhum para destruir o nosso país. – Não vai comandar por muito tempo!
— Será tempo suficiente.
— Se seus filhos não seguirem o que você manda, vai matá-los também? – as palavras pareceram atingir a megera bem no meio do estômago. No fundo, ela ainda era mãe e no fundo, amava os filhos a sua maneira; totalmente narcisista. – Esqueça isso, Leigh-Anne, por favor.
— É tarde demais para voltar atrás, Cendrowsky.
Um golpe. Um dos piores possíveis.
Ignorei a dor em meu braço quando avancei para pegar minha espada. Leigh-Anne rastejava em direção a ela quando percebeu o que eu pretendia, Roger lutava contra Yan enquanto ambos rolavam no chão com socos. Tropecei quando Yan segurou meu pé, mas Roger o socou bem no queixo, fazendo-o perder o ar por alguns segundos; por sorte, eu tinha me equilibrado novamente, ganhando algumas vantagens. Leigh-Anne gritou quando pisei em sua mão que se aproximava da espada.
— Você escolheu mal, Leigh-Anne. – tremia tanto que minha voz falhava. Não tinha ninguém ali que pudesse me salvar dessa vez, tinha grandes chances de eu morrer ali. Sempre quis que a rainha morresse, mas não sabia que isso poderia acontecer nas minhas mãos, mesmo que fosse algo que almejei por muito tempo: que Leigh-Anne pagasse por tudo.
Que ela pagasse por tudo.
— Só poderá acabar com os meus planos se me matar. – ela falou entredentes, urrando com a dor que irradiava das suas mãos. Pisava tão forte nela que podia sentir seus ossos quebrando.
— A morte seria um ato de bondade, Majestade... e eu não sou tão caridosa. – os olhos vermelhos de raiva poderiam me amedrontar, mas o meu olhar para ela a deixou com medo e eu vi que por um momento, ela se arrependeu de ter me deixado viva por todo esse tempo no castelo.
— Sei que você quer a coroa tanto quanto eu, não se faça, . – ela tentava se arrastar ainda, choramingando de dor quando eu pressionei ainda mais sua mão. – Quer tirar tudo que é meu! Você tirou meus filhos de mim! Não vai me roubar a coroa. Eu aguentei todos esses anos um casamento onde eu era a esposa troféu e...
— Você teve tudo! – Roger berrou, estava sangrando e machucado, Yan em cima dele. Era uma luta perdida, para nós dois. – Você teve roupas, jóias caras, viagens, mimos, pessoas te paparicando, filhos incríveis, amor... eu te dei o mundo!
— Eu queria poder, seu imbecil! – ela não era boa lutando, mas sabia jogar baixo. Com sua mão livre, ela segurou meu pé quando eu tentava puxar a maldita espada, me fazendo cair ao seu lado, em cima de vários restos de escombros, a dor aguda me fez perder o ar.
— Estou enjoado com essa lavagem de roupa suja, vamos acabar logo com isso. – Yan revirou os olhos. Se levantou e Roger permaneceu deitado, tão machucado quanto eu imaginava. Aquilo era cruel. – Faça as honras, Leigh-Anne. – puxou a rainha para ficar em pé enquanto eu sentia que ele se aproximava de mim, com um sorriso doentio no rosto. – Você é uma gracinha, Tigre Dourado, é uma pena não podermos nos divertir.
— Vá para o inferno. – falei entredentes e ele riu. Suas mãos foram em direção ao meu pescoço enquanto eu tentava lutar para tirá-las dali. Consegui ver de relance Leigh-Anne em cima do marido, sussurrando algo enquanto segurava uma de suas mãos.
— Isso acaba agora, Roger. – ela falou, em voz alta dessa vez, levantando a mão livre com a minha espada.
— Não! – aquela altura, eu estava chorando. Roger não reagia, afinal, não tinha forças. Meu ar sumia aos poucos, conforme Yan me sufocava e minha visão ficava turva. Procurava algo, procurava sentir qualquer coisa para me soltar. Me salvar e salvar Roger. Salvar o meu país desse golpe horrível.
Não podia morrer assim.
— Morra, sua desgraçada! – ele berrou, alto o suficiente para me fazer abrir os olhos e tentar mais uma vez me salvar daquilo. Não podia ser assim, não podia. Minha mão segurou encostou em uma pedra e por sorte, era o braço bom. Usei toda a força que me restava para lhe atingir na cabeça, o que deu certo, já que ele saiu de cima de mim e eu consegui puxar todo o ar que eu tinha perdido. – Vadia. – rolei para o lado, escutando Yan choramingar e cair onde eu estava. Respirei fundo novamente, agradecendo ao universo por estar viva e me levantei, não sem antes dar um chute no estômago de Yan com toda força que tinha. Leigh-Anne se distraiu comigo novamente; mas Roger não reagia mais, apenas a encarava.
— Solte-o! – ordenei, indo em direção aos dois, mas ela me fez parar quando ameacei dar outro passo.
— Não há meios de Roger ser salvo. – ela berrou, com a espada apoiada em seu peito enquanto ele ainda a encarava.
— Fuja, minha filha, encontre seu pai. Se salve! – foi quando seus olhos, aqueles olhos que são idênticos ao que me apaixonei, me encararam com uma súplica tremenda.
— Não vou te deixar, Majestade. – falei entredentes, Leigh-Anne gargalhou.
— Uma vez eu te falei que há lutas que sabemos quando vamos ganhar e que devemos saber a hora de aceitar a derrota quando chegar a hora. – ele sorriu levemente – Você consegue... consegue salvar a todos. Yan está caído, você pode...
— Pare de dar ideias mirabolantes, Roger. Temos guardas esperando para atacar. Tente fugir, Cendrowsky, vai morrer de qualquer forma.
O desespero nos atrapalha.
O medo de perder as pessoas próximas de mim, me atrapalhava, mas também era o combustível para me fazer reagir.
Não podia perder Roger.
Não podia deixar que os meninos sentissem tamanha perda.
Leigh-Anne olhou para o enorme painel que tinha algumas imagens funcionando, dando uma visão privilegiada do movimento fora daquela sala e sorriu.
— Melhor do que eu esperava. – no instante em que eu ia virar para olhar, ela encarou o marido e enfiou minha espada em seu peito. Minha única reação foi correr e empurrá-la, mas em vão; ela tinha acertado o próprio marido a sangue frio.
— Não! – gritei, empurrando-a e me ajoelhando ao lado de Roger que agonizava. A reação dela foi muito exagerada. Leigh-Anne se jogou no chão berrando e enfiando uma das adagas de Roger em sua perna. – Mas que diabos...
? – e foi assim que entendi. O ato final do golpe brutal de Leigh-Anne Aykroyd. estava na porta destruída, encarando toda a cena com os olhos marejados e cheio de sangue, seu caminho até ali foi conturbado e a única coisa que eu queria era abraçá-lo por estar vivo. Ele lutou para chegar até mim.
Leigh-Anne gritava e gritava. Yan tentava se levantar, mas o chutou bem no rosto, terminando de o desmaiar. Roger ainda respirava e com muita força, senti sua mão segurar a minha. Aquilo me fez querer chorar ainda mais. A rainha tinha feito o golpe parecer que eu quem tinha planejado aquilo. Parecia que eu tinha acertado o pai do amor da minha vida. me olhava assustado e eu não conseguia dizer nada e não conseguia me mexer. Nem mesmo quando ele se aproximou de mim e do seu pai, com lágrimas nos olhos vendo o pai morrer lentamente.
— Pai... – a voz trêmula me fez chorar ainda mais. Ver a pessoa que você ama quebrando na sua frente e você não poder fazer nada para evitar era doloroso e cruel, mas, mais cruel que isso, somente Leigh-Anne fazendo aquilo por puro ego e ganância.
Não deixei de encará-la com raiva, enquanto ela berrava de dor e falava o nome do marido como se o amasse.
— Você está feliz agora? Vendo o seu filho desse jeito? – minha voz furiosa me deixaria com medo em outras situações e faria com que me segurasse para evitar um conflito. Contudo, não foi o que aconteceu.
O amor da minha vida chorava segurando a mão livre do pai enquanto ele partia.
— Por favor... não nos deixe agora, por favor. – suplicava pelo pai. Parecia que eu podia enlouquecer a qualquer minuto com aquela situação, chorava enquanto o Rei respirava com dificuldade e a esposa berrava pedindo para Deus ter piedade; acho que nunca vou esquecer esse barulho.
— Não... não é o que parece... não é... – Roger falou, olhando nos olhos do filho e segurando levemente a minha mão, pude sentir ali, que ele tinha ido embora. O último suspiro fazendo o próprio filho chorar em seu peito.
— Você matou meu marido! – Leigh-Anne gritava.
Roger tinha sido morto.
Avallon sofreu um golpe.
E eu estava sendo acusada de assassinato.

Capítulo betado por Carolina Mioto





Continua...



Nota da autora: Bom dia, boa tarde ou boa noite :p HELLO MY GIRLS! Aqui estou eu, mais uma vez pedindo desculpas por ser uma autora desnaturada que deixou vocês na mão por esse tempinho (agradeço todas as cobranças, INCLUSIVE AS POR EMAIL – que são as cobranças mais desesperadas que eu recebo- vocês estão piores que agiota e serasa) Isso me dá ânimo e me faz querer escrever mais e mais. Obrigada por sempre estarem comigo. As dinossauras, obrigada pela paciência e apoio e as novas leitoras queridas, agradeço imensamente por acompanharem essa reta final. Tá acabando, vocês estão preparadas?
O que acharam dessa BOMBA de capítulo? Surtem comigo! a

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