Finalizada em: Março de 2025

Prólogo


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No começo dos tempos, quando o fogo de Muspelheim encontrou o gelo de Niflheim e o primeiro mundo nasceu, surgiu também a aurora – uma filha da luz primordial, cujos olhos refletiam o brilho do dia ainda não nascido. Ela foi chamada null, a Guardiã da Aurora, aquela que caminha entre luz e sombra, cujo toque purifica, mas também destrói.
Foi em Asgard que cresceu, irmã de coração de Thor, aquele que governa os trovões, e de Loki, o filho do caos. Entre os deuses, ela era a portadora da manhã, anunciando o renascer do dia, e também aquela que revelava verdades ocultas, desvendando mentiras e segredos. Por isso, era temida e amada em igual medida.
Mas os deuses sempre se curvaram às profecias, e os videntes viram seu destino gravado nas estrelas: "A aurora se deitará ao lado do trovão, e juntos, renascerão após a grande escuridão."
Odin sorriu diante dessas palavras, pois isso significava que seu filho, Thor, teria um lugar na nova era. Mas null não aceitou o que os videntes diziam. Ela não seria acorrentada pelo destino, não seria dada a ninguém – nem mesmo ao deus do trovão.
Desde que era pequena, null sentia a sombra de Sköll (filho do lobo Fenrir) sobre si. Ela temia sua fúria, seus dentes, seus olhos queimando como brasas na escuridão. Ela sabia que, quando o tempo do fim chegasse, Sköll finalmente alcançaria sua mãe, Sól, e rasgaria a luz do céu com suas presas.
E, então, os videntes falaram novamente:
"A aurora brilhará em sua última dança, mas quando a noite cair sobre os deuses, será o lobo que a tomará para si."
Por isso, ela se rebelou contra as teias do futuro.

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Capítulo 1 – Piloto


Em Asgard, entre guerreiros e reis, nasceu uma criança que carregava em si o fogo do dia e o mistério da aurora. null, filha de Sól, a deusa do sol, e de um guerreiro cujo nome ecoava nos campos de batalha, herdou uma linhagem de força e magia em igual medida. null nunca se contentou em ser apenas uma espectadora da grandeza – ela queria moldar o mundo com as próprias mãos.
Sua personalidade marcante sempre a destacava dos demais: de espírito livre e mente afiada, null adorava estudar seus poderes e testar os limites de sua magia. Suas habilidades não passaram despercebidas, especialmente por Loki, que no início via nela um alvo perfeito para suas travessuras.
Com o tempo, no entanto, Loki percebeu que null não era uma adversária fácil. Seu intelecto aguçado e seus truques mágicos a tornaram uma verdadeira rival em suas brincadeiras. Diferente de Thor, que caía facilmente em suas peças, null contra-atacava com uma criatividade impressionante. Uma das maiores travessuras que aprontou foi enfeitiçar os itens pessoais dos irmãos para que tocassem música de Midgard sem parar. Foi uma fase em que ficou fascinada pelo mundo dos humanos, chegando ao ponto de tentar replicar seus costumes e inventos dentro dos salões dourados de Asgard.
Enquanto Thor sempre foi seu companheiro leal, como um irmão, sua relação com Loki era... complicada. Eles brigavam, provocavam um ao outro, mas, no fundo, havia uma tensão ali que ninguém ousava mencionar. Destemida e espirituosa, null nunca se curvou às convenções, e agora, enfrentava o maior desafio de sua vida: um destino traçado que ela não queria seguir. Mas null não aceitava correntes – nem de ferro, nem de palavras. Ela nunca seria de ninguém, nem mesmo do destino.
À medida que crescia, null se tornou uma guerreira poderosa e destemida, ganhando o respeito de seus companheiros. Sua força e inteligência a tornavam uma estrategista admirável, e seu nome passou a ser mencionado entre os grandes talentos de Asgard. Mesmo assim, seu espírito rebelde a impedia de aceitar cegamente as tradições e profecias impostas. E agora, ao enfrentar um destino do qual não queria fazer parte, null estava decidida a traçar seu próprio caminho – não importava contra quem tivesse que lutar para isso. Enquanto Thor sempre foi seu companheiro leal, como um irmão, sua relação com Loki era... complicada. Eles brigavam, provocavam um ao outro, mas, no fundo, havia uma tensão ali que ninguém ousava mencionar. Destemida e espirituosa, null nunca se curvou às convenções, e agora, enfrentava o maior desafio de sua vida: um destino traçado que ela não queria seguir.
Desde sua infância, null demonstrava habilidades notáveis. Herdara a força do pai e a sabedoria da mãe, tornando-se uma guerreira e estrategista excepcional. Nos treinamentos, sua destreza e agilidade rivalizavam com as de Thor, enquanto sua inteligência afiada lhe permitia acompanhar os jogos mentais de Loki. Mas havia uma diferença crucial entre ela e os filhos de Odin: null sempre questionou o destino imposto a ela.
Quando tinham apenas 14 anos, o oráculo sussurrou a profecia que mudaria suas vidas. "Prometidos pelo destino," as Nornas diziam. As três irmãs do destino, tecendo os fios da vida de todos os seres, observavam-nos com olhos que viam além do tempo. Skuld, a mais enigmática, falava do futuro incerto, mas para null e Thor, o destino parecia muito claro – e nada desejável. Desde aquele dia, ambos souberam que aquilo jamais daria certo.
Thor sempre fora seu irmão de alma, um companheiro inseparável em batalhas e brincadeiras. Mas o coração de null ansiava por liberdade – e talvez por algo que nem ela mesma entendia. Desde então, os dois passaram anos tentando ignorar a profecia, cada um buscando maneiras de driblar o que parecia inevitável. E quanto mais o tempo passava, mais null sentia que sua verdadeira história ainda estava por ser escrita.
Loki, por outro lado, era uma tempestade na vida de null. Ele a desafiava de formas que ninguém mais ousava. Se Thor era o sol brilhante que iluminava seu caminho, Loki era a noite estrelada que escondia segredos e mistérios. null e ele se entendiam em um nível mais profundo do que ambos gostariam de admitir. Mas, em meio a batalhas e provocações, havia algo mais ali, algo que nem mesmo os deuses conseguiam prever.

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O grande salão de Asgard ressoava com risadas e brindes. Guerreiros trocavam histórias de batalhas, trovadores enchiam o ar com melodias heroicas, e canecas de hidromel tilintavam sem parar. No entanto, no centro da celebração, null não compartilhava da animação geral. Com os braços cruzados, ela encarava Thor, que, por sua vez, afundava os ombros, soltando um suspiro dramático.
null, isso é um absurdo. — Thor bateu a mão na mesa, empurrando seu prato para o lado. — Eu não posso casar com você! Seria como casar com minha irmã!
— E quem disse que eu quero casar com você? — null rebateu, arqueando uma sobrancelha. — Mas nossos pais parecem pensar diferente. E quando eles decidirem que essa união é inevitável, estaremos encurralados.
Thor coçou a barba, pensativo. — Então precisamos encontrar uma solução antes que isso aconteça.
— Exatamente. Precisamos de um plano. — Ela apoiou as mãos na mesa. — Um plano sólido.
— Um plano sólido, como... encontrar uma noiva para mim antes que eles tenham tempo de nos obrigar a isso? — Thor sugeriu, um brilho esperançoso nos olhos.
Antes que null pudesse responder, uma voz arrastada e repleta de diversão interrompeu a conversa.
— Quem diria que o glorioso príncipe de Asgard tem medo de matrimônio? Uma tragédia verdadeiramente comovente. — Loki apareceu ao lado deles, recostando-se despreocupadamente na cadeira, um sorriso malicioso brincando em seus lábios.
null fechou os olhos por um segundo, reunindo paciência. — Loki, ninguém te chamou.
— Ah, mas eu jamais ignoraria uma discussão tão fascinante. — Ele girou uma adaga entre os dedos, observando-os como se fossem um experimento particularmente interessante. — Vocês realmente acham que podem trapacear o destino? Que ingenuidade adorável.
Thor revirou os olhos. — Loki, se veio só para ser irritante, não temos tempo para isso.
— Ora, irmão, eu sou sempre irritante. Mas dessa vez, estou genuinamente curioso. — Loki inclinou a cabeça para null. — E você? A futura senhora do trovão não parece muito empolgada com a profecia.
null apertou os punhos. — Porque eu não sou um peão no tabuleiro dos deuses. Se o destino insiste em me empurrar para um casamento que eu não quero, então vou encontrar uma maneira de reescrever essa história.
Loki abriu um sorriso enviesado. — Ah, null... Você me diverte. Mas lutar contra o destino é como tentar enganar a própria morte: sempre há consequências.
Thor bateu a caneca na mesa, chamando a atenção dos dois. — Se ficarmos aqui discutindo, o casamento será anunciado antes mesmo de termos um plano.
E assim, entre uma sugestão e outra, a ideia mais óbvia surgiu: encontrar uma noiva adequada para Thor antes que os deuses decidissem por ele. Mas cada nome sugerido era descartado por um motivo ou outro, até que uma solução final lhes ocorreu.
— O Oráculo. — null disse de repente. — Ele previu essa profecia anos atrás. Talvez algo tenha mudado.
Os três se entreolharam. Se havia alguém capaz de confirmar se ainda estavam presos nesse destino indesejado, era o Oráculo.
No dia seguinte, null e Thor estavam diante do vidente ancião. Loki, é claro, os seguiu apenas para assistir o espetáculo.
O velho de longas barbas brancas e olhos nublados por eras de conhecimento permaneceu em silêncio por longos segundos antes de finalmente murmurar:
— O fio do destino já foi tecido. A ligação entre null e seu prometido é inquebrantável. Não há caminho que leve a um desfecho diferente.
null cruzou os braços. — E quem exatamente é esse prometido?
O Oráculo lançou-lhe um olhar misterioso antes de deslizar os olhos para Thor.
— Os laços do destino são complexos. Podem se estender, podem ser desafiados, mas nunca rompidos. — A voz do Oráculo era solene, como se carregasse o peso dos próprios deuses.
Thor franziu a testa. — Isso não responde nada!
null soltou uma risada amarga, virando-se nos calcanhares. — Ótimo. Estamos presos nessa maldita profecia.
Loki observou a deusa, um brilho enigmático nos olhos.
— Que interessante. — Ele murmurou para si mesmo, um sorriso divertido brincando nos lábios.
Thor suspirou pesadamente. — Eu tenho um pressentimento de que isso vai acabar mal.
Loki sorriu ainda mais. — Ou incrivelmente divertido. Depende do ponto de vista.
Thor coçou a cabeça, confuso, enquanto null saiu com passos firmes, seu vestido branco ondulando como uma tempestade prestes a se formar. Seu coração batia forte, não de incerteza, mas de indignação. Ela se recusava a aceitar aquele destino traçado por outros. Loki, por sua vez, observava com um sorriso enigmático, seus olhos brilhando com um interesse peculiar, como se já antecipasse a tempestade que null estava prestes a provocar.
O silêncio foi absoluto.

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Capítulo 2 – Lullaby


O quarto era banhado por uma luz dourada e suave, como se o próprio sol tivesse decidido repousar ali por mais um instante. A grande janela de pedra se abria para o céu de Asgard, onde as estrelas começavam a piscar enquanto a noite se espalhava sobre os salões dos deuses.
No centro do aposento, envolta em cobertores macios, estava null, ainda pequena, com os cabelos espalhados sobre o travesseiro e os olhos brilhando de expectativa. Sól sorriu, sentando-se na beirada da cama. Era sempre assim — a menina se recusava a dormir sem antes ouvir uma história.
Mas não qualquer história.
"Mamãe, conta a minha história."
Sól riu baixinho. Tocou o rosto quente da filha e começou, sua voz fluindo como um raio de luz atravessando as nuvens.
— No começo dos tempos, quando o fogo de Muspelheim encontrou o gelo de Niflheim, o primeiro mundo nasceu. E, com ele, veio a aurora. Uma filha da luz primordial, cujos olhos refletiam o brilho do dia ainda não nascido.
Os olhos de null se arregalaram, fascinados, mesmo já sabendo cada palavra de cor.
— Ela foi chamada null, a Guardiã da Aurora — continuou Sól, deslizando os dedos pelos cabelos dourados da filha —, aquela que caminha entre luz e sombra.
A menina sorriu, aconchegando-se melhor nos cobertores.
— Seu toque purifica...
Mas também destrói! — completou null, empolgada, com os olhos faiscando como pequenos sóis.
Sól assentiu, rindo da animação da filha.
— Sim, minha pequena estrela. Seu toque pode revelar verdades ocultas e dissipar a escuridão, mas há poder em demasia naqueles que nascem da luz. Por isso, a aurora deve aprender a escolher quando brilhar.
null inclinou a cabeça.
— Mas eu vou conseguir, né?
— Você é minha filha — respondeu Sól, com um orgulho sereno no olhar. — O primeiro raio do primeiro dia corre em suas veias. E um dia, quando estiver pronta, empunhará Ljósrönd, a Espada da Aurora.
null prendeu a respiração.
— Fala dela de novo!
Sól sorriu.
— Forjada da própria luz da aurora, Ljósrönd não é apenas uma lâmina. Ela corta o que está escondido, desfazendo ilusões e trazendo à tona a verdade. Diante dela, mentiras caem, sombras se dissipam e mesmo os deuses não podem ocultar segredos.
null se encolheu um pouco debaixo das cobertas.
— Então... isso quer dizer que Odin vai me odiar?
Sól riu suavemente, afastando uma mecha de cabelo do rosto da filha.
— Ele teme o que não pode controlar. E você, minha querida, nunca poderá ser controlada.
A menina sorriu largo, mas então, um pensamento a fez hesitar.
— E o lobo?
Sól sentiu um arrepio percorrer sua pele.
Nunca costumavam chegar a essa parte.
A mera menção de Sköll fazia uma sombra se instalar no coração de Sól, mas ela não demonstrou. Não para null.
A menina esperava uma resposta.
Então, Sól respirou fundo e tomou as pequenas mãos da filha entre as suas.
— O lobo existe, minha estrela — disse com doçura. — Ele correrá atrás de você, assim como corre atrás de mim. Ele desejará sua luz.
null abaixou o olhar, mordendo o lábio.
Sól ergueu o rosto dela com um toque gentil no queixo.
— Mas escute bem, null. O lobo não é o dono da sua história. Nenhum deus, nenhum destino, nenhuma profecia é mais forte do que aquilo que você escolher para si.
Os olhos da menina brilharam.
— Eu posso escolher o meu final?
— Sempre — afirmou Sól, com a voz carregada de certeza.
null sorriu, o medo se dissolvendo aos poucos.
Sól a puxou para um abraço quente, envolvendo-a em seu brilho dourado.
— E eu estarei com você até que sua aurora seja forte o suficiente para iluminar por si mesma.
null suspirou baixinho, fechando os olhos contra o peito da mãe.
Sól ficou ali por mais alguns instantes, cantando uma melodia suave, enquanto o sono finalmente vencia sua pequena aurora.
E quando null adormeceu, Sól permaneceu ao seu lado, velando por sua luz.

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Capítulo 3 – Capítulo 03 - Ljósrönd


“Forjada na aurora do mundo, quando a primeira luz cortou a escuridão primordial, Ljósrönd não era apenas uma arma—era um símbolo. Criada pelos anciões das estrelas e banhada na energia do primeiro amanhecer, sua lâmina era capaz de desfazer mentiras, rasgar ilusões e revelar verdades que até mesmo os deuses temiam enfrentar.”
Desde que se lembrava, null sempre esteve entre os filhos de Odin. Crescer ao lado de Thor e Loki foi uma experiência única – enquanto um era puro trovão e impulsividade, o outro era um enigma envolto em sarcasmo e truques. E ela? Bem, ela se adaptava a ambos, ora acompanhando Thor em batalhas e treinamentos, ora desafiando Loki em jogos de astúcia e inteligência.
A infância deles foi repleta de caos e travessuras, mas a adolescência... essa era uma fase à parte. Especialmente quando null começou a entender que Loki não a provocava como provocava os outros. Ele não apenas a irritava—ele testava seus limites, como se estivesse esperando para ver até onde ela iria.
E naquele dia, ela decidiu ir além.
— Você nunca vai me enganar, null. — Loki cruzou os braços, analisando-a com o habitual olhar de quem já tinha certeza da própria vitória.
— Enganar você? — Ela sorriu de lado. — Eu jamais tentaria. Agora... superar você? Isso sim me parece divertido.
Os jardins de Asgard eram o cenário perfeito para sua pequena vingança. Loki sempre se orgulhou de ser o mestre das ilusões e pegadinhas, mas null vinha aprimorando sua magia. Ela observava, estudava, esperava o momento certo para agir.
E seu momento chegou quando Loki, como sempre, achou que estava no controle.
— Qual foi a sua genialidade dessa vez? — Ele perguntou, divertido. — Você achou que poderia me prender em um feitiço qualquer? Me transformar em um sapo? Ah, null, eu esperava mais de você.
null apenas sorriu e deu um passo para trás, erguendo uma sobrancelha.
Foi então que aconteceu.
Com um simples estalar de dedos, as roupas de Loki mudaram de cor. Não apenas um tom qualquer, mas um rosa brilhante, vibrante, chamativo demais para alguém que se orgulhava de sua elegância sombria.
Thor, que assistia de camarote, soltou um trovão de risada tão alto que até os pássaros nos galhos próximos voaram apavorados.
— Finalmente! — Ele bateu a mão na perna, ofegante de tanto rir. — Alguém conseguiu enganar Loki! Isso precisa ser registrado nas histórias de Asgard!
Loki olhou para si mesmo, as vestes impecáveis agora berrando em rosa choque. Mas, ao invés de se irritar, ele apenas inclinou a cabeça, estudando null com um olhar avaliador.
— Interessante... — murmurou, girando nos calcanhares para observar sua própria aparência sob diferentes ângulos. — Você realmente está ficando boa nisso.
— Boa? — null colocou as mãos na cintura. — Eu venci, Loki. Admito, não esperava que você combinasse tanto com rosa, mas acho que encontrei seu novo tom oficial.
— Ah, querida... — Loki sorriu, um brilho perigoso nos olhos. — Isso significa guerra.
E significou mesmo.
Depois daquele dia, tudo entre eles mudou. Se antes suas provocações eram infantis, agora eram desafios. null não era apenas alguém a quem Loki gostava de irritar. Ela era alguém que podia vencê-lo. E isso... isso ele não podia ignorar.
Os feitiços ficaram mais sofisticados. As pegadinhas, mais elaboradas. Os desafios, mais intensos. Quando entraram na adolescência, os sentimentos começaram a se misturar de formas inesperadas. Havia um jogo implícito entre eles, um que nem mesmo Thor conseguia ignorar.
— Eu ainda não decidi se gosto ou não da ideia de vocês dois assim. — Thor resmungou um dia, observando os dois trocarem provocações afiados demais para serem apenas brincadeiras. — Isso pode ser o início de algo grandioso... ou de um desastre completo.
Loki sorriu de canto e lançou um olhar para null.
— E o que seria a vida sem um pouco de caos?
null, apesar de tudo, sabia que ele estava certo.
"Quando a aurora encontrar seu verdadeiro caminho, Ljósrönd brilhará como nunca antes, pois apenas aquele que desafia seu próprio destino poderá empunhá-la em sua totalidade."
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Capítulo 4 – The right one


Os corredores dourados de Asgard vibravam com a energia de uma nova missão – encontrar uma noiva digna para Thor. null e ele haviam passado os últimos dias debatendo estratégias, descartando candidatas e tramando maneiras de escapar da profecia que os forçava a um destino matrimonial indesejado.
— Certo, então a Valquíria que encontramos ontem está fora da lista. — null rabiscou um “X” em um pergaminho. — Ela te venceu em combate em menos de cinco minutos e riu na sua cara.
— Eu diria que foi um empate. — Thor resmungou, pegando um pedaço de carne de javali da mesa e mastigando pensativo.
— Você estava de cara no chão, sem Mjolnir e implorando por um minuto para respirar. — null sorriu maliciosamente. — Um empate e tanto.
Thor bufou, mas não discutiu. — E a outra? A sacerdotisa? Parecia tranquila e refinada.
— Demais. Disse que os seus gritos de batalha eram 'barulhentos demais para o equilíbrio espiritual dela'. — null revirou os olhos. — Além disso, ela ficou olhando para Loki o tempo todo.
Thor soltou um suspiro derrotado e recostou-se na cadeira. — Isso está sendo mais difícil do que eu esperava.
— Oh, irmão, e pensar que você sempre se gabou de ser irresistível. — Loki apareceu de repente, encostando-se em uma pilastra com aquele sorriso debochado de sempre. — Ver você sendo rejeitado é, honestamente, um presente dos deuses.
null cruzou os braços. — A menos que queira contribuir de maneira útil, Loki, sugiro que vá incomodar outra pessoa.
— Ah, mas minha querida, não há nada mais divertido do que observar vocês dois em sua missão impossível. — Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu. — Mas devo dizer que talvez tenham encontrado sua resposta.
Antes que null pudesse retrucar, a grande porta do salão se abriu e uma guerreira adentrou o recinto. Sua presença fez até mesmo os guardas se endireitarem. Ela tinha cabelos loiros trançados, olhos azuis cortantes e uma postura que exalava confiança. Sua armadura era adornada com runas antigas, e uma espada imponente repousava em sua cintura. null sentiu imediatamente que essa mulher não era como as outras.
— Eu sou Sifrid, filha de Eirik, e vim oferecer minha mão para o príncipe Thor. — Sua voz era firme, sem hesitação.
Thor piscou algumas vezes, claramente surpreso. — Bem... isso é novo.
null analisou a mulher com um olhar afiado. Não era como as outras candidatas, que se encolhiam diante do poder de Thor ou que estavam interessadas apenas no prestígio de se tornar rainha. Não, Sifrid parecia genuinamente segura do que queria.
— E por que exatamente você quer se casar com Thor? — null perguntou, tentando manter a imparcialidade.
Sifrid virou-se para ela, seus olhos afiados como lâminas. — Porque ele é forte, nobre e um guerreiro digno. E porque uma aliança entre nossas casas fortaleceria Asgard ainda mais.
— Você fala de casamento como se fosse um tratado de guerra. — Loki comentou com diversão.
— Porque para uma guerreira, toda escolha é uma estratégia. — Sifrid retrucou sem desviar o olhar.
null tentou ignorar o pequeno aperto incômodo no peito. Esse era o plano, afinal. Encontrar uma mulher forte e digna o suficiente para ser a esposa de Thor e acabar com a ideia da profecia. Então por que, de repente, parecia um erro?
Antes que pudesse refletir mais sobre o assunto, Sifrid virou-se para Loki, estudando-o com um olhar analítico. E então, para choque de null, um pequeno sorriso surgiu no rosto da guerreira.
— Embora eu deva admitir… seu irmão também me intriga.
O silêncio no salão foi quase palpável. Thor engasgou com o pedaço de carne que mastigava, e Loki, por uma fração de segundo, perdeu seu sorriso confiante. null, por sua vez, sentiu um calor esquisito subir pelo corpo.
— Perdão? — Loki inclinou a cabeça, surpreso.
— Você tem uma reputação intrigante, Loki. E um intelecto afiado. Um casamento com um príncipe asgardiano é uma proposta atraente, seja ele qual for. — Sifrid respondeu sem hesitação.
null sentiu algo parecido com raiva – o que era completamente irracional. Ela não tinha absolutamente nenhum motivo para se importar com aquilo. Nenhum. Mas, ainda assim, não conseguiu evitar que sua boca falasse antes que seu cérebro processasse a decisão.
— Loki não está disponível. — Ela disse rápido demais.
Os olhos verdes do Deus da Trapaça brilharam com diversão. — Oh? Desde quando você decide por mim, null?
Ela abriu e fechou a boca, sem saber como responder. Thor olhava de um para o outro como se estivesse assistindo a um duelo de titãs.
Sifrid apenas ergueu uma sobrancelha, aparentemente intrigada. — Que interessante. Parece que minha presença aqui causou um alvoroço maior do que eu esperava.
null respirou fundo, tentando recuperar a compostura. — Isso não tem nada a ver comigo. Estamos aqui para encontrar uma noiva para Thor, e apenas para Thor.
Loki continuou a observá-la com aquele sorriso travesso. E, por algum motivo, null soube que ele não deixaria isso passar despercebido tão cedo.
Thor, alheio ao turbilhão de emoções no ar, bateu palmas. — Muito bem! Sifrid, você é uma candidata forte. Vamos conversar mais sobre isso.
null, por outro lado, não conseguiu se concentrar em mais nada.
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“Os mais velhos sussurravam sobre seu brilho dourado, dizendo que ele poderia trazer a alvorada de uma nova era ou o crepúsculo de tudo que existia. E agora, enquanto null caminhava entre deuses e escolhas que poderiam moldar seu futuro, Ljósrönd estava finalmente desperta.”
O grande salão de Asgard estava repleto de luzes douradas e vozes animadas. A presença de Sifrid ainda pairava no ar, e para a infelicidade de null, Loki parecia mais do que disposto a explorar essa nova dinâmica. Sentado confortavelmente, ele trocava palavras afiadas com a guerreira, seus olhos brilhando com diversão.
null, por sua vez, observava de longe, os braços cruzados e o pé batendo levemente no chão – um gesto que apenas Thor percebeu. Ele a conhecia bem o suficiente para notar a irritação contida. Então, com um sorriso malicioso, cutucou-a com o cotovelo.
— Está tudo bem, null? Parece que alguém está... desconfortável. — Ele perguntou em tom casual.
Ela revirou os olhos e bufou. — Eu estou perfeitamente bem, Thor.
— Tem certeza? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Porque seu olhar diz outra coisa.
No outro lado do salão, Loki sorria de maneira provocativa para Sifrid. Seu charme sempre fora afiado como uma lâmina, e ele o usava com maestria.
— Realmente, Sifrid, seu olhar perspicaz me fascina. Não é sempre que encontro alguém tão astuta. — Loki disse, inclinando-se ligeiramente para ela.
Sifrid sorriu de lado, analisando-o. — Talvez você esteja acostumado a ser subestimado.
— Sempre. — Ele respondeu com naturalidade, sem desviar os olhos.
null apertou a taça que segurava, forçando um sorriso forçado enquanto fingia não se importar. No entanto, algo dentro dela se remexia de maneira incômoda. Era uma sensação que ela não queria nomear, muito menos reconhecer.
Thor, percebendo o desconforto crescente, apenas sorriu de canto, claramente se divertindo com a situação.
— Se quiser interromper a conversa, é só dizer. Eu poderia, sei lá... acidentalmente lançar meu martelo na direção deles. — Ele brincou.
— Não seja ridículo. — null rebateu, mas seu tom soou mais ríspido do que o necessário.
Loki, que parecia alheio a tudo, mas provavelmente não estava, continuou sua interação com Sifrid.
— E então, Sifrid, qual sua impressão de Asgard até agora? — Ele perguntou casualmente, pegando um cálice de hidromel e girando-o entre os dedos.
— Fascinante, mas previsível. — Sifrid respondeu, sem hesitação. — O poder de Asgard é inegável, mas vejo padrões que se repetem. Sempre os mesmos nomes, sempre as mesmas alianças.
Loki sorriu, claramente interessado. — Um olhar perspicaz, de fato. E me diga, onde você se encaixaria nesses padrões?
Sifrid manteve o olhar firme. — Eu não pretendo me encaixar. Prefiro redefinir o tabuleiro.
null soltou uma risada baixa, chamando a atenção de ambos. Ela deu um gole em seu próprio cálice e se aproximou.
— Interessante. — Ela disse, sua voz carregada de leve sarcasmo. — Uma guerreira que quer redesenhar o jogo de Asgard. Que nobre e ousado.
Loki arqueou a sobrancelha, sentindo a mudança no tom de null.
— Você parece cética, null. — Ele comentou.
— Eu sou cética. — Ela rebateu, cruzando os braços. — Muitos já chegaram aqui dizendo que trariam mudanças, e no final, tudo continua o mesmo. Mas quem sabe? Talvez Sifrid seja a exceção.
Sifrid sorriu de lado, aceitando o desafio não dito. — Talvez. Só o tempo dirá.
Loki observava a troca de farpas com diversão. Estava claro que null não estava gostando dessa interação, e isso tornava tudo ainda mais interessante para ele. Ele inclinou a cabeça levemente e sorriu de canto.
— Bom, acho que essa conversa se tornou muito mais interessante. — Ele disse, erguendo seu cálice em um brinde improvisado.
null, sentindo a provocação, apenas ergueu uma sobrancelha e respondeu no mesmo tom.
— Vamos ver até onde essa "redefinição" chega, então.
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A tensão pairava no grande salão de Asgard. A chegada de Sifrid e sua proposta inesperada ainda ecoavam na mente de null. Ela tentava se convencer de que não importava se Sifrid estava interessada em Loki. Mas, sempre que pensava nisso, algo inquietava sua mente – e irritava seu coração.
Ela estava sentada nos degraus da sacada do palácio, observando as estrelas. Não era incomum que ela buscasse a noite para pensar, algo que Loki sempre notava. Por isso, não se surpreendeu quando a voz dele surgiu atrás dela, carregada de diversão.
— Interessante. Você só vem aqui quando precisa lidar com um problema que não consegue resolver. — Loki se encostou a uma pilastra, olhando-a com atenção.
null revirou os olhos. — Ou talvez eu só goste da paz. O que você quer, Loki?
Ele se aproximou, os olhos verdes brilhando como um mistério que apenas ele conhecia. — Você parece… incomodada.
Ela bufou. — Estou perfeitamente bem.
Loki inclinou a cabeça, estudando-a. Desde que eram crianças, ele conhecia cada pequena expressão de null. Sabia quando ela estava irritada, quando estava determinada e, principalmente, quando estava escondendo algo.
— Ah, entendo. Deve ser porque uma certa guerreira loira de olhos afiados ousou olhar para mim com interesse. — Ele sorriu, malicioso. — Quem diria que null, a deusa do amanhecer, ficaria tão perturbada com algo tão insignificante.
— Você realmente se acha tão irresistível assim? — null cruzou os braços, tentando não dar atenção ao calor repentino em seu rosto.
— Bom, Sifrid parece achar. — Ele deu de ombros. — E você, minha cara? O que acha?
null estreitou os olhos. Ela sabia o que ele estava fazendo. Loki adorava jogos, adorava manipular emoções, mas ela também era boa nisso. Crescer ao lado dele a tornou resistente às suas investidas provocativas… pelo menos, era o que ela costumava acreditar.
— Eu acho que você está com tempo demais nas mãos. — Ela respondeu com um sorriso forçado.
Loki riu baixinho. — Não, eu acho que você está fugindo da questão. Mas vamos resolver isso de uma vez. Vamos fazer um jogo.
null arqueou a sobrancelha. — Que tipo de jogo?
— Uma aposta. Se você conseguir encontrar alguém que consiga aguentar meu irmão por pelo menos 1 mês... eu realizo um pedido seu. Qualquer coisa.
Ela cruzou os braços, intrigada. — E se eu não conseguir?
Loki sorriu como se já tivesse vencido. — Se você falhar, terá que me acompanhar em um plano, sem questionar.
null ponderou, desconfiada. Confiar em Loki era como caminhar em um campo minado, mas a chance de vê-lo vulnerável era tentadora.
— Um dia inteiro sem truques, sem mentiras, sem nenhuma das suas habilidades usuais. Esse é meu pedido.
— Sem trapaças. — Loki confirmou, o sorriso desafiador.
null estendeu a mão. — Fechado.
Loki segurou sua mão por um segundo a mais do que o necessário. — Que os jogos comecem, então.
Isso, sim, parecia uma tarefa digna de lendas. E, claro, Loki não perdeu tempo em transformar isso em um jogo.
— Você realmente acredita que pode encontrar alguém que aguente Thor por mais de um mês? — Loki perguntou, girando uma taça de hidromel entre os dedos, a diversão estampada no rosto.
— Sim. — null respondeu com convicção, cruzando os braços.
Loki sorriu, os olhos brilhando com um desafio não dito.
null ponderou por um momento. Confiar cegamente em Loki nunca parecia uma boa ideia. Mas ela também sabia que ele jamais recusaria uma aposta sem um mínimo de risco para si mesmo.
Mas null apenas sorriu. Porque, no fundo, vencer Loki era o tipo de diversão que ela mais gostava.
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Capítulo 5 – Sue me


null revirava um antigo livro de Midgard em seus aposentos quando a ideia lhe ocorreu. A história falava de um príncipe que, na esperança de encontrar seu amor verdadeiro, deu um grande baile onde todas as donzelas do reino foram convidadas. No final, ele encontrou uma jovem chamada Cinderela, e mesmo tão diferentes, conseguiram ficar juntos.
Era perfeito. Se um simples humano podia usar um baile para mudar seu destino, por que um deus não poderia fazer o mesmo?
Determinada, null foi direto ao grande salão onde Freya e Odin conversavam sob a luz dourada do entardecer. Ambos já conheciam a profecia que a ligava a Thor, mas, ao contrário da maioria, não a consideravam absoluta. Talvez porque Odin, com todo seu conhecimento, temesse um pouco a imprevisibilidade dos poderes de null sobre lançar luz sobre coisas ocultas.
— Um baile? — Odin arqueou uma sobrancelha, recostando-se em seu trono. — Interessante.
Freya sorriu de imediato, seus olhos brilhando com entusiasmo. — Eu gosto disso! É uma maneira sofisticada e divertida de explorar possibilidades.
null cruzou os braços, confiante. — Se Midgard pode resolver seus problemas sentimentais com um baile, não vejo porque Asgard não pode. Thor terá a chance de conhecer outras candidatas e, quem sabe, encontrar alguém que ele realmente queira ao seu lado. Assim, a profecia se torna irrelevante.
Odin soltou um suspiro baixo, mas havia um brilho divertido em seu olhar. — Muito bem, null. Organize o baile. Veremos se esse seu plano mirabolante pode enganar o destino.
E assim, em poucos dias, Asgard estava em alvoroço com os preparativos para o evento. Convites foram enviados, tecidos luxuosos escolhidos e músicos afinavam suas melodias para a grande noite. null observava tudo com um brilho satisfeito nos olhos—se tudo ocorresse conforme planejado, essa seria sua vitória definitiva sobre Loki. Mal podia esperar para vê-lo tentando cumprir um dia inteiro sem truques.
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A noite do baile chegou, e o grande salão de Asgard nunca estivera tão esplêndido. Lustres mágicos flutuavam no ar, iluminando os deuses e guerreiras vestindo suas melhores roupas. O som da música ecoava pelos corredores, criando um clima de expectativa e encantamento.
Mas nada chamava mais atenção do que null.
Como a recém-reconhecida deusa da aurora e das estrelas, ela parecia irradiar uma luz própria. Seu vestido, feito de finas camadas de tecido celestial, refletia tons de prata e azul, como um pedaço do próprio céu noturno. Pequenos pontos brilhantes cintilavam no tecido como estrelas vivas, movendo-se suavemente conforme ela se deslocava pelo salão. Seus cabelos estavam presos em uma elaborada trança, adornada com fios dourados e pequenas pedras luminosas que pareciam capturar a essência do amanhecer.
Os olhares a seguiam onde quer que passasse. Guerreiros e nobres cochichavam entre si, alguns impressionados, outros completamente hipnotizados.
— Ela está deslumbrante. — Um dos guerreiros murmurou para o colega.
— Como se fosse esculpida pelos próprios deuses. — Outro respondeu.
— Não sabia que alguém podia parecer tão... celestial. — Um terceiro completou, incapaz de desviar os olhos.
null, acostumada a ser vista como guerreira e estrategista, sentia-se levemente desconfortável com a atenção, mas manteve a compostura, caminhando com a mesma confiança de sempre. Seu plano estava funcionando – até que viu Loki entrar no salão acompanhado de Sifrid.
O Deus da Trapaça vestia um traje negro impecável, a expressão tranquila e o olhar afiado como sempre. Mas o detalhe que fez algo revirar no estômago de null foi a forma como Sifrid segurava seu braço, os dois parecendo perigosamente harmoniosos.
— Interessante. — Thor apareceu ao lado de null, tomando um gole de hidromel. — Parece que Loki decidiu entrar no jogo.
— Não me importo. — null disse, talvez rápido demais.
Thor apenas sorriu, claramente se divertindo.
Decidida a ignorar qualquer possível incômodo, null ergueu a cabeça e seguiu para encontrar seu próprio par. Ela havia convidado um conhecido de infância, um guerreiro chamado Sigvard. Alto, de cabelos escuros e olhar astuto, ele sempre fora um mistério para null—uma presença encantadora, mas envolta em segredos. E essa parecia a oportunidade perfeita para conhecê-lo melhor.
Quando ela chegou até ele, Sigvard sorriu de canto e tomou sua mão. — Está deslumbrante esta noite, null.
Ela sorriu de volta, sentindo um alívio genuíno. — E você não parece tão perigoso quanto dizem.
Enquanto os dois se dirigiam para a pista de dança, um olhar intenso atravessou o salão. Loki, que até então estava entretido com alguma provocação a Sifrid, parou no meio da frase quando viu null dançando com Sigvard.
Ele deveria estar indiferente, mas algo dentro dele se revirou de maneira irritante. Ele franziu levemente a testa, um sentimento incomum crescendo dentro dele.
— Algo errado? — Sifrid perguntou, notando sua distração.
Loki recobrou-se rapidamente, voltando a sorrir. — De modo algum. Apenas observando o desenrolar dos eventos.
Mas a verdade era outra. Pela primeira vez, ele se via do outro lado desse jogo, e não gostava nem um pouco da sensação.
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Pouco tempo depois, enquanto null saía para tomar um pouco de ar em uma das sacadas do salão, ela sentiu uma presença se aproximando.
— Estou surpreso que você tenha tempo para respirar. — Loki comentou, encostando-se na coluna ao lado dela. — Pelo visto, está ocupada encantando Asgard inteira esta noite.
null suspirou e virou-se para ele, cruzando os braços. — E você está ocupado demais brincando de príncipe encantado para notar?
Loki ergueu uma sobrancelha, divertido. — Se eu sou o príncipe encantado, onde está a minha... como é mesmo... Cinderela?
— Em qualquer lugar que não seja aqui. — null rebateu, com um sorriso provocador.
Loki riu baixo. Loki soltou uma risada baixa, mas seus olhos se demoraram nela por um instante a mais do que o necessário. — Curiosa escolha de par.
— Assim como a sua. — null respondeu, sem hesitação. Como Loki não respondeu, null continuou: — Mas qual é o problema? Achei que você estivesse muito entretido com Sifrid para se preocupar com meus parceiros de dança.
Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos verdes brilhando com um desafio silencioso. — Quem disse que estou preocupado?
— Seu rosto. — Ela respondeu prontamente.
Por um momento, os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando sob a luz prateada da lua. O jogo entre eles estava mais afiado do que nunca, mas dessa vez, algo parecia diferente. Havia algo não dito, algo novo entre as provocações.
Loki, no entanto, foi o primeiro a quebrar o momento.
— Bem, não quero atrapalhar seu conto de fadas. Divirta-se, deusa da aurora. — Ele disse, inclinando-se ligeiramente antes de desaparecer pelo salão.
null ficou onde estava, observando-o partir, sem saber se sentia satisfação por tê-lo provocado ou frustração por ele ter ido embora tão facilmente.
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Capítulo 6 - Someone


O baile seguia em seu auge, com danças animadas, risadas e conversas que preenchiam o salão. Asgard estava em festa, e null finalmente começava a se convencer de que seu plano estava funcionando. Enquanto observava de longe, ela percebeu Thor se aproximando com um olhar perplexo no rosto, segurando um cálice de hidromel.
— Você não vai acreditar nisso. — Ele disse, balançando a cabeça, claramente confuso.
null arqueou uma sobrancelha, curiosa. — Alguém finalmente conseguiu chamar sua atenção?
— Sim. — Thor admitiu, coçando a nuca. — Mas tem um problema. Ela não é uma convidada... é uma garçonete.
null piscou algumas vezes antes de soltar uma risada surpresa. — Espere, você, o grande Thor, está encantado por alguém que nem foi convidada para o baile?
— Eu não estou 'encantado'! — Ele retrucou rapidamente, mas o rubor leve em seu rosto entregava o contrário. — Ela... simplesmente me ignorou.
null arregalou os olhos e bateu palmas com entusiasmo. — Isso é maravilhoso!
— Como assim maravilhoso?! — Thor bufou.
— Porque finalmente temos alguma coisa, Thor! — Ela riu. — Alguém que não está deslumbrada com você! Isso é praticamente um milagre dos deuses.
Thor suspirou, mas um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. — Eu nem sei o nome dela. Tudo o que sei é que ela estava carregando bandejas e que me olhou como se eu fosse um incômodo no caminho dela.
— Ah, sim. — null continuava se divertindo. — Finalmente alguém que não te trata como o favorito de Asgard. O que pretende fazer agora?
— Eu preciso descobrir quem ela é. — Thor afirmou, determinado. — E por Odin, espero que ela pelo menos saiba quem eu sou.
null balançou a cabeça com diversão, mas antes que pudesse continuar a conversa, sentiu uma presença familiar ao seu lado.
— Ah, então o Deus do Trovão finalmente experimentou a humilhação da indiferença? — Loki comentou com um sorriso presunçoso, segurando sua taça.
— Vai zombar de mim agora? — Thor cruzou os braços.
— Não, estou genuinamente impressionado. — Loki disse, inclinando-se ligeiramente para null. — Afinal, não é todo dia que alguém consegue ignorar o brilho dourado do meu irmão.
null riu. — Eu acho que é a melhor coisa que aconteceu essa noite.
Loki olhou para ela com um brilho intrigante no olhar. — A segunda melhor coisa, talvez.
Ela sentiu um leve arrepio com o tom dele, mas antes que pudesse responder, Loki estendeu a mão para ela de forma inesperada.
— E já que estamos nos divertindo tanto às custas de Thor, me concederia uma dança, deusa da aurora?
null hesitou por um breve momento. Ela sabia que dançar com Loki significava entrar diretamente no jogo dele. Mas algo dentro dela queria ver onde isso iria dar.
— Só se você prometer que não vai tentar me fazer tropeçar com algum feitiço. — Ela disse, pegando a mão dele.
— Eu jamais desperdiçaria uma boa dança com truques tão baratos. — Loki sorriu e a puxou para a pista.
Thor observou os dois irem para o centro do salão e soltou um suspiro. — Maravilha. Agora eu preciso encontrar uma garçonete misteriosa enquanto esses dois continuam jogando o joguinho deles.
E assim, enquanto Loki e null se envolviam em um jogo de olhares e palavras afiadas na pista de dança, Thor iniciava sua própria missão: encontrar a única mulher que ousou não se importar com ele.
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Capítulo 7 – Handcuffs


O salão parecia respirar junto com a música, cada nota ecoando suavemente pelo espaço enquanto casais giravam graciosamente pelo piso brilhante. No centro de tudo, Loki e null se encaravam como dois jogadores que sabiam exatamente o que estavam prestes a fazer: entrar em um duelo sem armas, mas igualmente perigoso.
— Achei que você fosse do tipo que prefere observar ao invés de participar. — null comentou enquanto Loki a puxava delicadamente para a dança.
— E eu achei que você não fosse do tipo que se deixa conduzir. — Ele rebateu, guiando-a com facilidade enquanto os dois deslizavam pelo salão.
null sorriu de lado. — Vamos ver quem realmente está conduzindo aqui.
Loki a girou com precisão, mantendo um aperto firme, mas fluido. Seu toque era frio como o luar, mas sua presença queimava como fogo. null percebeu que dançar com ele era como pisar em um campo minado: cada movimento tinha segundas intenções, cada olhar carregava um desafio não dito.
— Você parece tensa, deusa da aurora. — Loki sussurrou, os lábios próximos o suficiente para sua voz vibrar contra a pele dela. — Nervosa?
— Eu? Nunca. Mas você, por outro lado... — null inclinou a cabeça ligeiramente, o brilho travesso em seus olhos se intensificando. — Desde quando se importa em dançar comigo?
Loki sorriu, aquele sorriso que sempre a deixava desconfiada. — Desde que percebi que seria a única forma de fazer você parar de olhar para aquele idiota.
null riu, mas sentiu um calor inesperado se espalhar por seu peito. — Ah, então você admite que estava prestando atenção.
— Eu admito muitas coisas, null. Só nunca as que você quer ouvir. — Ele girou novamente, desta vez diminuindo a distância entre eles.
Por um momento, o mundo ao redor pareceu desaparecer. A música preenchia o espaço entre os dois, mas a verdadeira melodia era a tensão entre seus olhares. null sentia o magnetismo ali, algo antigo e não resolvido que sempre existiu entre os dois, mas que agora parecia impossível de ignorar.
— Cuidado, Loki. — Ela murmurou, seus dedos apertando levemente a mão dele. — Se continuar assim, vão começar a falar sobre nós.
— E quando foi que nos importamos com o que falam? — Ele respondeu, os olhos brilhando com aquele perigo tentador.
A dança continuou, um jogo silencioso de provocações, até que a música chegou ao fim. Loki não soltou sua mão de imediato, e null também não recuou. Os dois se estudavam, como se um único movimento em falso pudesse mudar tudo.
Foi Thor quem interrompeu o momento, aparecendo com um olhar de quem sabia muito bem o que estava acontecendo ali.
— Terminaram seu joguinho ou devo pedir para tocarem outra música? Ah, aliás, não encontrei a garota — Ele perguntou, cruzando os braços com um sorriso meio triste.
null puxou sua mão de volta e olhou para Loki uma última vez antes de se virar para Thor. — Acho que já me diverti o bastante por uma noite.
Loki apenas sorriu de canto, observando-a se afastar.
Ele sabia que aquele jogo estava longe de acabar.
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A música ainda ecoava pelo salão enquanto null caminhava entre os convidados, sua mente dividida entre a dança com Loki e a missão inesperada de encontrar mais informações sobre a garçonete que havia capturado a atenção de Thor. Se ela realmente era tão indiferente ao Deus do Trovão, então valia a pena investigar. Afinal, alguém imune ao charme de Thor era uma raridade. E ela não poderia deixar passar a chance de encontrar a pretendente perfeita que a faria ganhar a aposta com Loki.
null se aproximou discretamente de uma das mesas onde um pequeno grupo de servos do palácio descansava entre uma rodada e outra de bandejas cheias. Seu olhar afiado logo encontrou uma jovem de cabelos escuros e postura confiante, empilhando taças com eficiência.
— Então... quem é a nova? — null perguntou casualmente a uma das garçonetes mais antigas, enquanto pegava uma taça de hidromel.
A mulher lançou um olhar para a deusa antes de responder. — Ah, aquela que conversava com Thor? Chegou há poucos dias. Ninguém sabe muito sobre ela. Trabalha bem, mas mantém distância. Parece que não gosta de conversa fiada.
null sorriu de canto. Isso a tornava ainda mais interessante.
— Nome? — insistiu.
— Dizem que se chama Astrid. Mas sabe como é, pode ser só um nome qualquer. — A garçonete deu de ombros antes de voltar ao trabalho.
Antes que null pudesse formular um plano para se aproximar de Astrid, uma presença familiar surgiu ao seu lado.
— Interessante. — Loki murmurou, observando o mesmo alvo que null. — Eu deveria estar surpreso que você está bisbilhotando em vez de simplesmente perguntar. Mas conhecendo você, isso faz sentido.
null suspirou, virando-se para ele. — Estou coletando informações, o que é diferente de bisbilhotar. Mas não me diga que você também está interessado nela.
Loki sorriu, divertido. — Não exatamente. Mas enquanto você estava ocupada brincando de investigadora, eu percebi algo muito mais alarmante.
null franziu a testa. — O quê?
Loki inclinou a cabeça sutilmente em direção a uma figura envolta em um véu escuro, movendo-se entre os convidados sem ser notada. Mas null reconheceu de imediato: o ar ao redor daquela mulher parecia ligeiramente distorcido, como se ela estivesse camuflada por magia.
— Feiticeira. — null murmurou.
— E não uma qualquer. — Loki acrescentou. — Há algo errado com a energia dela. Está tentando esconder sua presença de nós.
Os dois trocaram um olhar. Sem precisar de mais palavras, partiram ao mesmo tempo na direção da mulher misteriosa. A figura percebeu a aproximação e girou nos calcanhares, escapando rapidamente para um corredor menos movimentado.
— Ah, claro. — null resmungou. — Nunca é fácil.
Eles seguiram atrás dela, a perseguição os levando até um salão lateral do palácio, onde a luz era mais escassa e a música parecia um eco distante. A feiticeira virou-se abruptamente e murmurou palavras numa língua antiga antes que null ou Loki pudessem reagir.
Uma explosão de luz envolveu os dois.
Quando o clarão se dissipou, null sentiu algo frio ao redor de seu pulso. Ao olhar para baixo, seus olhos se arregalaram. Uma algema de metal escuro prendia sua mão... e a outra extremidade estava firmemente presa ao pulso de Loki.
Loki olhou para a algema, depois para null, e soltou uma risada incrédula. — Bom, isso é novo.
A feiticeira, satisfeita com seu trabalho, sorriu maliciosamente. — Boa sorte se livrando disso. Essa algema foi forjada com magia antiga. Inquebrável. — E com isso, ela desapareceu em meio às sombras, deixando null e Loki ali, presos um ao outro.
null cerrou os dentes. — Isso só pode ser brincadeira.
Loki sorriu de canto. — Ora, querida, parece que estamos oficialmente inseparáveis agora.
E pela primeira vez naquela noite, null sentiu que o baile estava longe de acabar.
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Capítulo 8 – Company


O silêncio se prolongou por alguns segundos enquanto null e Loki encaravam as algemas que agora os uniam. O metal negro parecia pulsar com uma energia mágica, e nenhuma tentativa de puxá-lo para longe resultava em qualquer efeito.
— Ótimo. — null bufou, cruzando os braços, o que fez Loki se mover involuntariamente na mesma direção. — Agora estamos literalmente presos um ao outro.
Loki inclinou a cabeça, avaliando a situação com um brilho divertido nos olhos. — Bem, poderia ser pior.
— Poderia? — Ela estreitou os olhos.
— Sim. Poderíamos estar presos um ao outro e cercados por um exército de trolls furiosos. — Ele sorriu, tentando claramente se divertir às custas dela. — Ao menos temos um ao outro para fazer companhia.
null soltou um suspiro exasperado e puxou o braço, arrastando Loki junto. — Vamos. Precisamos encontrar alguém que possa desfazer isso antes que eu acabe enfiando essa algema na sua cabeça.
Eles retornaram ao salão, tentando agir com naturalidade, mas era difícil ignorar os olhares curiosos dos convidados quando percebiam que os dois estavam literalmente acorrentados um ao outro. Thor, que já estava em busca de Astrid, não demorou a notar a situação inusitada.
— Por Odin... — Ele reprimiu uma risada ao ver a cena. — Isso é a melhor coisa que já aconteceu nesta noite.
— Se você não calar a boca, juro que te arrasto comigo também. — null ameaçou, e Loki ergueu a sobrancelha.
null, não precisa descontar sua frustração em meu pobre irmão. — Loki provocou, antes de virar para Thor. — Já que você parece tão entretido, poderia ao menos ser útil e chamar Freya. Talvez ela saiba algo sobre esse feitiço ridículo.
Thor ainda ria, mas assentiu. — Certo, mas isso pode levar um tempo. Ela foi até os jardins do palácio. Enquanto isso, divirtam-se.
null revirou os olhos e se virou, puxando Loki mais uma vez. — Eu juro, se você não acompanhar meus passos, vou pisar no seu pé.
— Ah, null, querida, você acha que consegue me derrubar com uma simples pisada? — Loki zombou, mas antes que pudesse continuar sua provocação, um súbito puxão o fez tropeçar levemente.
— Olha só, parece que consigo sim. — null sorriu satisfeita, finalmente sentindo que tinha alguma vantagem na situação.
A música continuava, os convidados voltavam a dançar, e, apesar da situação completamente absurda, null e Loki acabaram sendo levados para o meio do salão novamente.
— Parece que não temos escolha. — Loki suspirou dramaticamente. — Vamos dançar, então.
— Você realmente quer dançar de novo? — null o encarou desconfiada.
— Não, mas ficar parado enquanto todos nos olham como se fôssemos uma atração de circo não é a minha ideia de diversão. — Ele sorriu, puxando-a com elegância para mais perto.
Contra sua vontade, null teve que admitir que, apesar de tudo, dançar com Loki não era o pior castigo do mundo. Mas ela jamais admitiria isso em voz alta.
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A dança continuava, o salão ao redor de null e Loki se transformando em um borrão de cores e movimento. O toque de Loki era firme, a algema obrigando-os a se manterem próximos, mas algo mais os prendia ali: a tensão crescente, a energia invisível que parecia pulsar entre eles.
— Admito que não planejei terminar a noite assim. — Loki murmurou, sua voz carregada de divertimento enquanto guiava null pelo salão.
— Nem eu. — Ela respondeu, os olhos encontrando os dele por um instante longo demais.
O olhar de Loki suavizou, e por um breve momento, ele parou de brincar. — Não é tão ruim assim, não é?
— Depende. Está falando da algema ou de dançar com você? — null provocou, tentando recuperar o controle do jogo entre eles.
— Talvez de ambas. — Ele respondeu, inclinando-se ligeiramente, os lábios quase tocando sua têmpora.
null sentiu seu coração bater mais rápido, e por uma fração de segundo, pensou que talvez... talvez fosse ceder. A proximidade, o olhar carregado de algo que ela não queria nomear, tudo parecia conduzi-la para algo inevitável.
— Loki... — A voz dela saiu mais suave do que gostaria.
— Sim? — Ele sussurrou de volta.
O tempo parecia ter desacelerado, o mundo reduzido à curta distância entre eles. null podia sentir o calor da respiração dele contra sua pele. O jogo entre eles nunca havia chegado tão longe, e desta vez, nenhum dos dois parecia disposto a recuar.
Então, no instante em que seus rostos estavam prestes a se aproximar demais, um forte clarão dourado brilhou no salão, seguido por uma voz familiar e autoritária.
— Ora, ora... pelo visto, interrompi algo interessante. — Freya apareceu, os braços cruzados e um sorriso malicioso nos lábios.
Loki e null se separaram abruptamente, embora a algema não permitisse que fossem muito longe. null tentou esconder o rubor no rosto, enquanto Loki apenas sorriu como se nada tivesse acontecido.
— Freya. — null pigarreou. — Finalmente. Pode nos livrar disso?
A deusa da beleza e da sabedoria deu um passo à frente, observando a algema com interesse. — Eu posso tentar, mas... — Ela olhou para ambos com um olhar sagaz. — Tenho a sensação de que essa algema não é apenas um truque mágico qualquer. Talvez seja algo mais profundo.
— Profundo? — Loki ergueu uma sobrancelha. — Isso soa... suspeito.
— Eu diria intrigante. — Freya sorriu. — Mas vamos ver o que podemos fazer antes que vocês dois se matem ou... algo pior aconteça.
null e Loki se entreolharam, e pela primeira vez naquela noite, não houve palavras. Apenas a incômoda sensação de que, talvez, aquela algema estivesse forçando-os a enfrentar algo que já vinha crescendo entre eles há muito tempo.
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A tensão ainda pairava no ar enquanto Freya analisava a algema mágica que unia null e Loki. O salão continuava seu ritmo festivo ao fundo, mas para os dois, o mundo parecia ter se reduzido ao aperto incômodo do metal encantado ao redor de seus pulsos.
— Então? — null arqueou uma sobrancelha, tentando manter o tom impaciente. — Consegue tirá-la ou não?
Freya sorriu de lado, claramente se divertindo com a situação. — Oh, posso tentar, mas essa magia é antiga. E, devo dizer, um feitiço como esse normalmente não é feito para ser apenas uma inconveniência.
Loki suspirou teatralmente. — Sempre tem um detalhe oculto, não é? Quem diria que ser acorrentado a null teria implicações maiores.
null o cutucou com o cotovelo, puxando-o involuntariamente junto com o movimento. — Fique quieto e deixe Freya trabalhar.
Freya aproximou as mãos da algema, murmurando palavras antigas, enquanto uma leve luz dourada começava a brilhar ao redor do metal. null sentiu um arrepio percorrer seu braço e, ao lado dela, Loki ficou repentinamente em silêncio, observando com atenção.
— Hm... interessante. — Freya estreitou os olhos, franzindo o cenho. — Parece que a magia desta algema é baseada em vínculo emocional.
Loki soltou uma risada baixa. — Isso explica muita coisa.
null estreitou os olhos para ele. — O que exatamente isso explica?
— Bem... — Ele sorriu de canto. — Talvez este feitiço só possa ser quebrado quando admitirmos algo que não queremos admitir.
Freya inclinou a cabeça. — Uma observação astuta. Para quebrá-lo, é necessário que ambos se abram sobre algo verdadeiro e essencial um para o outro.
null cruzou os braços, ou pelo menos tentou, já que a algema restringia seus movimentos. — Você está dizendo que precisamos... conversar sobre sentimentos?
Loki fingiu horror. — Que ideia terrível! Prefiro enfrentar um exército de jotuns do que ter uma conversa sincera.
— Eu também! — null exclamou, mas percebeu que talvez tivesse respondido rápido demais.
Freya reprimiu uma risada. — Bem, nesse caso, boa sorte. Até lá, vocês estão presos um ao outro.
— O quê? — null e Loki falaram ao mesmo tempo.
— Vou precisar de um tempo para encontrar uma maneira alternativa de remover isso, já que vocês claramente não vão colaborar. — Freya deu um passo para trás e sorriu. — Então, aproveitem a companhia um do outro. Vou me retirar por enquanto.
E com isso, ela desapareceu entre os convidados, deixando os dois ali, algemados, debaixo dos olhares curiosos de alguns nobres asgardianos.
— Bem, isso é constrangedor. — null murmurou, tentando evitar os olhares.
Loki suspirou, resignado. — Vamos sair daqui. Se vamos ser forçados a ficar juntos, ao menos podemos evitar testemunhas.
Os dois caminharam, sincronizando os passos para não tropeçarem um no outro. Encontraram um canto mais reservado do salão, onde se sentaram em um sofá de veludo escuro.
Por um instante, ficaram em silêncio.
— Isso é culpa sua. — null rompeu o silêncio, lançando-lhe um olhar.
— Como assim, minha culpa? — Loki fingiu indignação. — Se me lembro bem, foi você que sugeriu esse baile.
— Sim, mas não fui eu que resolvi perseguir uma feiticeira e acabar preso a você. — Ela revirou os olhos.
— Ah, então você preferia estar presa a Thor? — Ele arqueou uma sobrancelha, provocador.
— O quê? — null piscou, surpresa pela insinuação. — Não! Isso seria ainda pior!
Loki sorriu, satisfeito com a reação dela. — Fico aliviado em saber.
null abriu a boca para rebater, mas por um momento, hesitou. O olhar de Loki estava diferente. Não apenas zombeteiro como de costume, mas... genuíno. Era raro vê-lo assim, sem camadas de ironia escondendo o que realmente sentia.
— Você acha que Freya está certa? — Ela perguntou, desviando um pouco o olhar.
Loki ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder. — Não sei. Mas sei que, se ela estiver certa, estamos condenados.
null riu, relaxando um pouco. — Bom, pelo menos estamos juntos nisso.
Loki a observou por um instante, depois sorriu suavemente. — Sim. Juntos nisso.
E, pela primeira vez, a ideia de estarem presos um ao outro não parecia tão insuportável assim.
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A tensão ainda pairava no ar enquanto Freya analisava a algema mágica que unia null e Loki. O salão continuava seu ritmo festivo ao fundo, mas para os dois, o mundo parecia ter se reduzido ao aperto incômodo do metal encantado ao redor de seus pulsos.
— Então? — null arqueou uma sobrancelha, tentando manter o tom impaciente. — Consegue tirá-la ou não?
Freya suspirou, tocando a algema e murmurando palavras antigas. A luz dourada brilhou por um instante, mas logo se dissipou sem efeito. Ela franziu o cenho, intrigada.
— Essa magia é mais complexa do que parece. — Freya admitiu, recuando. — Vou precisar de tempo para estudar melhor esse encantamento. Minha biblioteca tem registros sobre feitiços antigos. Pode levar algumas horas, talvez até mais.
— Ótimo. — null bufou, cruzando os braços, puxando Loki junto sem querer. — E o que fazemos enquanto isso?
Freya sorriu, divertida. — Se eu fosse vocês, tentaria não arrancar a cabeça um do outro. — Ela piscou e saiu do salão, deixando-os sozinhos.
null soltou um suspiro longo. — Isso não podia ter acontecido em um momento pior.
— Discordo. — Loki disse com um sorriso presunçoso. — Acho que está sendo uma experiência fascinante. Finalmente, você é obrigada a ficar ao meu lado sem fugir.
null estreitou os olhos. — Se eu pudesse fugir, já teria corrido para os confins de Asgard.
— Ah, sim. Eu realmente acredito nisso. — Loki provocou, inclinando-se levemente na direção dela. — Admito, estou curioso. Você acha tão insuportável assim estar presa a mim?
Ela o encarou, pronta para rebater, mas hesitou por um breve segundo. Ele não estava apenas brincando agora. Havia algo no olhar dele, uma faísca de sinceridade oculta entre a provocação.
— Você é Loki. O que acha? — null respondeu, desviando o olhar.
— Ótima resposta evasiva. — Ele murmurou, puxando-a levemente para o lado enquanto alguém passava apressado pelo corredor onde estavam.
Ela suspirou e relaxou um pouco, observando o salão mais vazio conforme o baile chegava ao seu final. Agora que estavam afastados do centro da festa, a atmosfera parecia estranhamente tranquila.
— Isso me lembra de quando éramos crianças. — null disse, quebrando o silêncio.
— Como assim? — Loki perguntou, surpreso pela mudança de assunto.
— Você me pregava peças, e eu sempre dava um jeito de revidar. Passávamos horas nos desafiando. Thor achava irritante, mas para mim… era divertido. — Ela sorriu de leve. — Acho que nunca admiti isso antes.
Loki ergueu uma sobrancelha, seu sorriso diminuindo um pouco. — Você está ficando sentimental comigo, null?
— Não se acostume. — Ela brincou, mas havia um brilho diferente em seu olhar.
Eles ficaram ali, lado a lado, sem precisar dizer muito. O peso da algema ainda estava ali, mas pela primeira vez, não parecia tão insuportável.
E, pela primeira vez, Loki não quis que Freya voltasse tão rápido.
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O salão do baile estava se esvaziando lentamente, os convidados dispersando-se para seus aposentos ou para as últimas conversas da noite. null e Loki, no entanto, continuavam encostados em uma das varandas do palácio, observando o céu estrelado de Asgard. O metal frio da algema ainda prendia seus pulsos juntos, um lembrete incômodo da noite caótica que haviam tido.
— Sabe, se fosse qualquer outro, eu já teria cortado essa algema. — null resmungou, mexendo o pulso na tentativa de se acomodar melhor.
Loki sorriu, seu olhar fixo nas constelações acima deles. — Mas sou eu. O que significa que você está se divertindo mais do que admite.
Ela bufou. — Você tem uma ideia muito equivocada do que é "divertido".
— Ah, null, não minta para si mesma. — Ele virou-se ligeiramente para encará-la. — Você gosta do jogo, da provocação. Sempre gostou. E agora que estamos presos um ao outro, é impossível evitar.
null estreitou os olhos para ele, mas não respondeu de imediato. Ele estava certo, claro. Loki sempre soube como irritá-la e, de alguma forma, fazê-la rir ao mesmo tempo. Quando eram crianças, suas pegadinhas eram inofensivas; agora, as provocações carregavam um peso diferente, algo que ela não queria nomear.
O silêncio se estendeu entre eles, preenchido apenas pelo som distante da música que ainda tocava no salão.
— Você lembra daquela vez que enfeitiçou o quarto de Thor para tocar músicas de Midgard sem parar? — Ela perguntou de repente.
Loki soltou uma risada baixa. — Como eu poderia esquecer? Ele quase destruiu metade do palácio tentando quebrar o feitiço. Você ficou rindo por semanas.
— E você ficou impressionado que eu consegui fazer algo tão bem planejado. — null inclinou a cabeça, um leve sorriso surgindo em seus lábios.
Loki assentiu lentamente. — Na verdade, sim. Sempre achei que você seria previsível como Thor. Mas você me surpreendeu.
A resposta pegou null de surpresa. O tom de Loki não era zombeteiro, nem carregava o usual sarcasmo. Era uma admissão sincera, algo raro vindo dele.
Ela desviou o olhar, sentindo um calor inesperado se espalhar pelo peito. — Bom, alguém precisava te dar trabalho.
Loki observou-a por um momento, seus olhos dançando entre curiosidade e algo mais profundo. A proximidade entre eles nunca pareceu tão evidente quanto naquele momento, com os corpos quase colados devido à algema.
Ele ergueu a mão livre e, sem pensar, afastou um fio de cabelo solto do rosto dela. Foi um toque breve, mas o suficiente para fazer null prender a respiração.
— Se não soubesse melhor, diria que você está gostando da minha companhia. — Loki murmurou, seu rosto perigosamente próximo ao dela.
— Se eu não soubesse melhor, diria que você está testando sua sorte. — Ela respondeu, a voz ligeiramente rouca.
Os olhos dele desceram para os lábios dela por um instante fugaz, mas antes que qualquer um dos dois pudesse se mover, uma voz conhecida interrompeu o momento.
— Vejo que estão aproveitando bem o tempo. — Freya apareceu ao lado deles, segurando um livro grosso e antigo nas mãos. Seu sorriso era levemente divertido.
null e Loki se afastaram imediatamente – o máximo que a algema permitia, pelo menos.
— Demorou. — null disse, tentando recuperar a compostura.
Freya ergueu uma sobrancelha. — Vocês pareceram se virar bem sem mim.
Loki, claro, sorriu. — Confesso que a espera foi... interessante.
Ele então inclinou a cabeça levemente para null, os olhos ainda brilhando com diversão. — Me pergunto como teria terminado nossa última dança se Freya não tivesse nos interrompido.
null sentiu o rosto esquentar, mas manteve a postura. — Nunca saberemos, não é? — respondeu, tentando ignorar o arrepio que percorreu sua pele.
Freya riu baixinho e folheou o livro em suas mãos. — Bem, agora vamos ver se encontramos uma solução. A menos que prefiram continuar assim por mais tempo?
null lançou um olhar afiado para Freya, e Loki apenas deu de ombros, mas nenhum dos dois respondeu.
E no fundo, talvez não fosse tão fácil admitir a resposta verdadeira.
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Capítulo 9 – Finally Free


Freya folheava as páginas antigas do livro, os olhos percorrendo cada palavra com atenção. null e Loki estavam sentados no outro lado da mesa, ainda presos pela algema, observando-a com impaciência.
— Bem? — null perguntou, tamborilando os dedos na mesa. — Diga que encontrou algo útil e não mais um enigma para resolver.
Freya soltou um suspiro e fechou o livro. — Encontrei. Mas vocês não vão gostar da resposta.
Loki arqueou uma sobrancelha. — Isso não é exatamente novidade.
A deusa sorriu, divertida. — Essas algemas foram criadas por magia reflexiva. Isso significa que apenas alguém que compartilha um vínculo profundo com ambos pode quebrá-las. Alguém que tenha um laço de verdadeira conexão com vocês dois.
null piscou algumas vezes. — Espere... você está dizendo que precisamos encontrar uma terceira pessoa que goste de mim e do Loki ao mesmo tempo?
— Exato. — Freya confirmou. — E essa pessoa precisa ter uma conexão real e sincera com vocês. Caso contrário, a magia não reagirá.
Houve um breve silêncio antes de null e Loki se entreolharem.
— Bom, isso limita bastante nossas opções. — null resmungou. — Não exatamente temos uma fila de candidatos para esse papel.
Loki suspirou dramaticamente. — Então, quem será? O bom e velho Odin? Talvez sua mãe, null? Ou... — Ele fez uma pausa antes de sorrir de canto. — Thor?
null franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, um pensamento maldoso surgiu, e um sorriso travesso apareceu em seus lábios.
— Ou... podemos chamar Sifrid. — Ela disse inocentemente. — Afinal, você gostava tanto dela.
O olhar de Loki se estreitou ligeiramente, e null pôde ver a exata fração de segundo em que ele perdeu sua compostura habitual.
— Ah, muito engraçado. — Ele rebateu. — Mas, se bem me lembro, foi você quem ficou tão incomodada com a atenção dela para mim.
— Incomodada? — null bufou, inclinando-se ligeiramente para ele. — Eu só achei curioso. Afinal, não é todo dia que alguém decide ignorar Thor para correr atrás de você.
Loki abriu um sorriso presunçoso. — Adoro como você tenta disfarçar sua frustração.
— Eu não estou frustrada! — null exclamou.
Freya pigarreou, claramente se divertindo com a troca. — Se terminamos com as provocações, acho que Thor é a escolha mais óbvia. Ele tem laços fortes com vocês dois. Querendo ou não, vocês cresceram juntos.
null cruzou os braços. — Ótimo. Mas onde ele está?
— Acho que posso adivinhar. — Loki murmurou. — Aposto que ainda está procurando por sua garçonete misteriosa.
— O que significa que vamos ter que caçá-lo pelo palácio. — null suspirou.
Freya sorriu. — Boa sorte com isso. E, por favor, tentem não matar um ao outro antes de encontrá-lo.
— Sem promessas. — null e Loki responderam ao mesmo tempo.
E assim, com um revirar de olhos e puxões desajeitados devido à algema, partiram em busca do único deus que poderia ajudá-los – Thor, que provavelmente nem imaginava que estava prestes a ter a melhor diversão da noite.
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null e Loki percorreram os corredores do palácio, a algema forçando-os a manterem um ritmo sincronizado, o que resultava em tropeços ocasionais e olhares irritados de ambos os lados.
— Você poderia pelo menos tentar não andar como se estivesse desfilando? — null resmungou enquanto Loki caminhava com sua típica elegância despreocupada.
— E você poderia tentar não andar como se estivesse indo para a guerra? — Loki rebateu, segurando seu pulso para impedir que ela o puxasse com tanta força.
Eles passaram por alguns servos que, ao notar a situação peculiar, rapidamente desviaram o olhar para evitar rir. null suspirou e olhou ao redor.
— Certo, onde Thor poderia estar? — Ela murmurou.
Loki sorriu de canto. — Em qualquer lugar que tenha comida, cerveja ou... aquela garçonete.
— Astrid. — null corrigiu automaticamente. — Ele parecia determinado a encontrá-la.
— Bem, pelo menos ele tem um objetivo claro esta noite. — Loki brincou. — Diferente de nós, que estamos vagando pelo palácio feito lunáticos algemados.
— Silêncio. — null parou abruptamente, forçando Loki a parar também. Seus olhos se estreitaram ao avistar um grupo de guerreiros reunidos perto de uma das sacadas. Entre eles, Thor, de braços cruzados e um olhar ligeiramente frustrado.
— Parece que encontramos nosso salvador. — Loki murmurou com diversão.
Os dois caminharam até ele, e quando Thor notou a algema brilhante prendendo-os, seu rosto se iluminou com um sorriso malicioso.
— Ah, isso é maravilhoso! — Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. — Vocês realmente conseguiram se meter nessa?
null cruzou os braços, ou pelo menos tentou, já que a algema restringia seus movimentos. — Thor, foca. Freya disse que precisamos de alguém que tenha um laço verdadeiro com nós dois para quebrar essa maldita coisa. Infelizmente, você é essa pessoa.
Thor ainda ria, limpando uma lágrima dos olhos. — Claro, claro, eu ajudo. Mas antes... — Ele se inclinou ligeiramente. — Como foi a experiência de passarem tanto tempo juntinhos?
— Encantadora. — Loki respondeu secamente. — Agora, pode nos livrar disso antes que eu comece a considerar métodos menos ortodoxos?
— Depende. — Thor sorriu, claramente aproveitando o momento. — Vocês vão admitir que essa é a coisa mais hilária que já aconteceu?
null estreitou os olhos. — Vou admitir que se você não nos ajudar agora, eu vou encontrar um jeito de te transformar num sapo por uma semana.
— Ameaças. — Thor suspirou, colocando a mão sobre a algema. — Está bem, vamos acabar logo com isso.
No instante em que seus dedos tocaram o metal encantado, um brilho dourado envolveu os três. A algema começou a aquecer e, com um estalo, se desfez em poeira brilhante.
null imediatamente recuou um passo, massageando o pulso. — Finalmente.
Loki girou o pulso livre, lançando um olhar para Thor. — Nunca achei que diria isso, mas... obrigado.
— Foi um prazer. — Thor respondeu, ainda sorrindo. — Mas, se serve de consolo, ver vocês dois algemados juntos foi o ponto alto da minha noite.
null revirou os olhos e virou-se para sair. — Vamos, Loki. Acho que já desperdiçamos tempo demais.
Loki hesitou por um breve instante antes de segui-la, mas não sem antes lançar um último olhar pensativo para Thor. Algo sobre essa experiência, por mais irritante que tivesse sido, ficaria com ele por mais tempo do que gostaria de admitir.
E ele suspeitava que null sentia o mesmo.

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Capítulo 10 – Looking for her


Depois de se livrarem das algemas, null e Loki caminharam pelo pátio externo do palácio, onde o som distante das últimas músicas do baile ainda ecoava. A noite estava clara, iluminada pelas estrelas e pelo brilho suave das torres de Asgard. O silêncio entre os dois se prolongou, mas não era desconfortável—era um silêncio cheio de palavras não ditas, carregado pelo peso do que haviam vivido naquela noite.
— Preciso encontrar Astrid. — null finalmente quebrou o silêncio, sua voz firme, mas sem urgência.
Loki ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços. — Por que tanta pressa? Thor pode muito bem cuidar disso sozinho. Ou... você está preocupada que ele faça besteira?
null parou de andar, voltando-se para ele. — Isso não tem a ver com Thor. Tem a ver comigo.
Loki inclinou a cabeça, analisando-a com aquele olhar afiado que sempre parecia enxergar além do que ela queria mostrar. — E o que exatamente isso significa?
Ela suspirou, olhando para o céu por um momento antes de encará-lo novamente. — Você sabe como eu sou, Loki. Eu nunca aceitei muito bem a ideia de ter meu destino decidido por outras pessoas. Ser obrigada a me casar, mesmo que fosse com alguém incrível como Thor, nunca combinou comigo.
Loki ficou em silêncio por um momento, depois abriu um sorriso enviesado. — Ah, então é isso. Está projetando um pouco de si mesma na pobre Astrid, não está? Quer que ela seja a solução para seu problema.
null riu baixinho. — Talvez.
Loki deu um passo mais perto, estudando-a. — Mas me diga, null... Se casar com alguém incrível como Thor não combina com você, casar com alguém terrível como eu combinaria?
A pergunta pegou null desprevenida. Ela piscou, surpresa, antes de soltar uma risada leve. — Depende. Você teria coragem de lidar comigo todos os dias?
Loki sorriu, mas havia algo diferente em seu olhar agora, algo menos brincalhão e mais... genuíno. — Se há alguém capaz de me fazer hesitar, definitivamente seria você.
null prendeu a respiração por um instante, sentindo um calor estranho subir pelo peito. Mas, como sempre, a tensão entre eles foi quebrada pelo próprio Loki, que se virou dramaticamente na direção do palácio.
— Mas, por enquanto, vamos encontrar Astrid antes que Thor a assuste para fora de Asgard. — Ele declarou.
null balançou a cabeça, rindo, e o seguiu. Mas, enquanto caminhavam juntos pelo palácio, ela não pôde evitar a sensação de que aquela conversa ainda não havia terminado. Apenas havia sido adiada para um momento inevitável.
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Antes que pudessem ir muito longe, passos firmes ecoaram pelo corredor. null estreitou os olhos quando viu Sifrid se aproximando, seu olhar afiado e inquisitivo.
— Loki. — Sifrid chamou, os olhos avaliando-o com curiosidade. — Você desapareceu por horas. Fiquei me perguntando se tinha sido raptado ou estava simplesmente se metendo em problemas.
Loki sorriu de canto. — Oh, querida Sifrid, você me conhece bem demais. E, de fato, foi uma noite... interessante.
null cruzou os braços, já sentindo a irritação crescer dentro de si. — Estamos ocupados agora, Sifrid.
Sifrid ignorou o tom dela e voltou-se para Loki. — Então, o que exatamente aconteceu?
Loki, sempre satisfeito em contar suas próprias versões dos eventos, relatou a história da algema mágica, omitindo alguns detalhes mais... tensos da noite. Quando mencionou Astrid e o mistério envolvendo a garçonete, Sifrid arqueou uma sobrancelha.
— Então essa Astrid é uma peça-chave nessa história? — Sifrid murmurou, pensativa. — Interessante. Talvez eu possa ajudar.
— Não precisa. — null respondeu rapidamente, sua voz um pouco mais afiada do que pretendia.
Loki virou-se para ela com um brilho divertido nos olhos. — Ora, null, não vai recusar ajuda tão facilmente, vai?
null manteve o olhar firme em Sifrid. — Só acho que já temos o suficiente para lidar. Não precisamos de mais distrações.
Sifrid sorriu de lado, claramente percebendo a implicação. — Como quiser. Mas se precisarem de uma guerreira para rastrear essa garota, sabem onde me encontrar.
Ela lançou um último olhar a Loki antes de se afastar pelo corredor, e null sentiu seu maxilar travar.
— Você realmente gosta de complicar as coisas, não é? — Ela murmurou para Loki.
Ele apenas sorriu. — Admito que é um talento natural meu.
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null e Loki percorreram os corredores silenciosos do palácio, movendo-se em direção às cozinhas e aos aposentos dos servos, onde haviam descoberto que Astrid costumava estar. Depois da confusão da noite, encontrar alguém tão discreto parecia um desafio mais difícil do que qualquer batalha.
— Você tem certeza de que ela existe? — Loki murmurou enquanto passavam por uma fileira de criados que se dispersavam com pressa.
— Sim. Diferente de algumas pessoas, Thor não imagina pretendentes. — null respondeu com um sorriso sarcástico.
— Que sorte a dele. — Loki replicou. — Eu, no entanto, ainda acho que essa garota pode ser um espírito travesso enviado para atormentá-lo.
Antes que null pudesse retrucar, uma figura surgiu à frente deles, carregando uma pilha de toalhas. Era Astrid, caminhando calmamente, sem parecer notar a presença dos dois.
— Astrid! — null chamou, apressando-se até ela.
A jovem parou e ergueu os olhos para os visitantes inesperados. Ela tinha uma presença tranquila e olhos afiados que avaliavam rapidamente cada um deles antes de responder.
— Sim? — Sua voz era suave, mas carregava um tom de curiosidade.
Loki inclinou a cabeça, interessado. — Estamos aqui em nome do poderoso, grandioso, inigualável Thor. — Ele fez um gesto exagerado, e null revirou os olhos.
Astrid piscou. — Quem?
O silêncio que se seguiu foi palpável. null olhou para Loki, que parecia genuinamente surpreso pela primeira vez em muito tempo.
— Você... não sabe quem é Thor? — null perguntou, tentando conter o riso.
Astrid franziu a testa levemente. — Ah... já ouvi esse nome. Acho que alguém comentou sobre ele mais cedo. Mas, não, nunca o conheci. Ele é importante?
Loki soltou uma gargalhada baixa. — Importante? Digamos que ele pode convocar trovões, empunha um martelo encantado e é amado por metade dos reinos. Mas, claro, nada demais.
null cruzou os braços. — A questão é que ele gostaria de te convidar para um encontro.
Astrid arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa. — E por que ele mesmo não veio?
null trocou um olhar rápido com Loki antes de responder. — Porque ele não havia te encontrado antes. E, para ser justa, ele estava um pouco... confuso sobre como te abordar.
Astrid refletiu por um momento, depois deu de ombros e sorriu levemente. — Isso é inusitado. Nunca imaginei que receberia um convite assim. Mas se ele quiser falar comigo, pode me procurar. Não mordo.
— Ótimo. — null sorriu, satisfeita. — Diremos isso a ele.
Loki inclinou-se ligeiramente para Astrid. — Só um aviso, ele pode ser um pouco... intenso.
Astrid riu suavemente. — Acho que posso lidar com isso.
Enquanto se afastavam, null olhou para Loki com um brilho travesso nos olhos. — Bem, isso foi mais fácil do que eu esperava.
Loki sorriu. — Acho que acabamos de dar a Thor um desafio que ele nunca teve antes.

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Capítulo 11 – O roubo


Quando os primeiros raios dourados iluminaram Asgard, o grande salão já estava tomado por um clima pesado. Odin, sentado em seu trono, observava todos com um olhar sério, enquanto os presentes murmuravam entre si sobre os eventos da noite anterior.
null, ainda recuperando-se do cansaço e da humilhação de ter passado a noite algemada a Loki, se adiantou ao lado do deus da trapaça, que mantinha seu habitual ar de desdém, apesar de claramente estar atento ao que viria a seguir.
Odin pigarreou, e o salão silenciou.
— Aparentemente, após a feiticeira amaldiçoar null e Loki e fugir, Sigvard a rastreou e tomou o Olho de Nótt para si. — Ele disse, sua voz ressoando com autoridade. — Agora, ele está pedindo uma recompensa pelo item. E, ao que tudo indica, essa recompensa tem a ver com você, null.
Um silêncio desconfortável tomou o salão. Thor resmungou algo inaudível, cerrando os punhos. null, no entanto, permaneceu imóvel, tentando processar a informação. Sigvard? O mesmo Sigvard que a acompanhara no baile? O mesmo homem que parecia encantador e misterioso, mas que Loki tanto desprezava?
— Sigvard foi um aliado... ou algo próximo disso, no passado. — Loki explicou, notando a expressão confusa no rosto de null. — Mas sua lealdade sempre foi volátil. Se ele tem o Olho de Nótt, isso significa que ele pretende causar um caos muito maior do que simples desequilíbrios.
null franziu a testa, seu corpo se enrijecendo. — Mas o que isso tem a ver comigo?
— Ele fez questão de ser bem específico. — Odin confirmou, observando-a com intensidade. — Sigvard deseja negociar diretamente com você.
Loki, que até então estava calado, soltou uma risada seca. — Claro que deseja. Esse verme não sabe jogar sem tentar virar a mesa ao seu favor.
null ignorou o comentário de Loki e voltou-se para Odin. — E o que exatamente ele quer?
— Ele não disse. Apenas que a condição para devolver o Olho de Nótt será discutida diretamente com você. — Odin inclinou-se levemente para frente. — Por isso, você irá até ele. E Loki irá com você.
Loki, que bebia tranquilamente um gole de hidromel, engasgou.
— O quê? — Ele arregalou os olhos. — Eu? Por que eu?
Odin o encarou com firmeza. — Porque não confio em Sigvard. E, por mais que me incomode dizer isto, confio que você saberá lidar com qualquer truque que ele tentar.
— Ah, claro. Porque eu adoro ser arrastado para situações potencialmente mortais por ordem real. — Loki resmungou, cruzando os braços. — Algum dia alguém vai me consultar antes de tomar essas decisões absurdas?
Thor deu um tapinha exageradamente forte em seu ombro. — Vamos, Loki. Quanto mais rápido você for, mais rápido você volta!
null bufou, cruzando os braços. — Ótimo. Mais um dia maravilhoso em minha vida.
O salão explodiu em murmúrios enquanto a reunião se encerrava. null e Loki sabiam que estavam prestes a entrar em um jogo perigoso, mas uma coisa era certa: Sigvard não daria o Olho de Nótt sem um preço. E agora, eles precisavam descobrir qual era.

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A viagem foi rápida, e logo os dois estavam em solo terrestre, sentindo a energia instável ao redor. O céu oscilava entre tons de crepúsculo e trevas profundas, uma evidência clara do desequilíbrio causado pelo desaparecimento do Olho de Nótt.
— Ele não deve estar longe. — Loki disse, seus olhos analisando a paisagem urbana ao redor. — Se ele quer negociar vai querer que saibamos onde encontrá-lo.
— Ótimo. Isso facilita. — null resmungou, ajustando as manoplas em seus pulsos. — Espero que ele não seja tão irritante quanto você.
Loki sorriu. — Difícil. Mas pode ser que ele tente.
Antes que pudessem continuar, um redemoinho de sombras se formou diante deles, e uma figura alta e esguia emergiu. Seu sorriso era tão afiado quanto uma lâmina, e seus olhos brilhavam com malícia.
— Ah, null, a luminosa Deusa da Aurora. — Sigvard abriu os braços em um gesto teatral, um sorriso afiado, curvando seus lábios. — Sempre um prazer estar na presença de um brilho tão celestial.
Seus olhos vagaram brevemente para Loki, e seu tom perdeu qualquer traço de admiração. — E Loki. Que inconveniência inesperada.
null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo no tom dele que não lhe agradava.
— Você tem algo que pertence a Argard — Ela disse, dando um passo à frente.
— Ah, eu tenho muito mais do que isso agora. — Sigvard sorriu, olhando-a de cima a baixo. — Mas se querem tanto o Olho de Nótt... talvez possamos negociar.
Loki estreitou os olhos. — Sabemos que você não faz nada sem segundas intenções. O que quer?
Sigvard sorriu de forma astuta, desviando o olhar para null. — Um simples encontro com a Deusa da Aurora. Um jantar, uma conversa... e eu entrego a relíquia.
null piscou, surpresa. Loki deu um passo à frente imediatamente. — Fora de questão. — Ele rosnou.
Sigvard apenas ergueu uma sobrancelha, divertido. — Ah, então você decide por ela agora? Interessante.
null olhou para Loki e depois para Sigvard. Ele era bonito, inteligente, e talvez... apenas talvez, pudesse ajudá-la a se livrar da profecia. Se Thor encontrou alguém, por que ela não poderia fazer o mesmo?
— Tudo bem. — Ela disse, ignorando o olhar indignado de Loki. — Se for só um jantar, eu aceito.
null. — Loki praticamente sibilou seu nome.
Ela ergueu a mão. — Vamos pegar o Olho de Nótt sem luta. Parece um bom acordo.
Sigvard sorriu, satisfeito. — Excelente escolha, minha deusa.
Loki cerrou os punhos, o maxilar travado. Algo dentro dele gritava que aquilo era uma péssima ideia. Mas, pela primeira vez, ele não sabia o que dizer.
null estudava Sigvard com atenção. Ele tinha uma presença magnética e uma confiança irritante, algo que lembrava um pouco Loki, mas com um charme mais calculado.
— Então, é só isso? Um jantar e você nos entrega a relíquia? — Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Sigvard sorriu. — Exatamente. Não sou um monstro, null. Apenas um homem que aprecia boa companhia.
Loki riu, mas não havia humor em seu tom. — Ah, claro. Porque sequestrar um artefato essencial para o equilíbrio de Midgard e usá-lo como moeda de troca por um encontro soa perfeitamente razoável.
Sigvard ignorou a provocação e manteve os olhos fixos em null. — Você já aceitou. Vai voltar atrás na palavra?
null cruzou os braços. — Não sou do tipo que quebra acordos. Mas se você tentar qualquer coisa suspeita, juro que vai se arrepender.
— Isso só me deixa mais interessado. — Sigvard respondeu, seu sorriso ampliando.
Loki deu um passo à frente, claramente incomodado. — Terminamos aqui? Porque quanto mais tempo perdemos, mais o caos se espalha.
Sigvard soltou um suspiro exagerado. — Ah, Loki, sempre tão apressado. Muito bem, um acordo é um acordo. O Olho de Nótt será devolvido, e null e eu teremos nosso jantar. Todos saem ganhando.
Ele estalou os dedos, e uma esfera azulada surgiu no ar. O artefato brilhava com uma luz serena, girando lentamente antes de flutuar até as mãos de null. Assim que ela o segurou, sentiu a magia se estabilizando ao seu redor.
— Viu? — Sigvard abriu os braços. — Sem truques. Agora, minha parte do trato.
Loki apertou os punhos. — Isso não vai acontecer.
null virou-se para ele, irritada. — E por que não? Thor encontrou alguém. Eu também posso.
— Não com ele. — Loki rosnou.
Sigvard riu, claramente apreciando a cena. — Loki, está parecendo... afetado. Isso não combina com você.
Loki lançou-lhe um olhar mortal. — Eu só não gosto de desperdício de tempo.
null suspirou, exasperada. — Sigvard, eu te encontro em dois dias. Em um local público. Nada de truques.
Sigvard inclinou a cabeça, satisfeito. — Combinado, minha deusa.
Loki virou-se abruptamente. — Estamos indo embora. Agora.
null sentiu a frustração dele, mas, pela primeira vez, percebeu algo diferente no jeito como Loki a olhava. Algo que ele parecia se recusar a admitir.
E isso a intrigava mais do que deveria.
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A viagem de volta para Asgard foi silenciosa—pelo menos da parte de Loki. null podia sentir a tensão pulsando dele como uma tempestade prestes a desabar. Assim que atravessaram o portal e chegaram aos corredores do palácio, ele finalmente explodiu.
— Você enlouqueceu completamente? — Loki parou abruptamente, virando-se para encará-la com os olhos brilhando de frustração. — Aceitar um encontro com Sigvard? O mesmo Sigvard que chantageou Midgard por puro capricho?
null cruzou os braços, irritada. — Eu tomei a decisão lógica. Conseguimos o Olho de Nótt sem lutar. Missão cumprida.
— Não se trata da missão! — Loki exclamou, passando uma mão pelos cabelos, claramente tentando conter sua frustração. — Você está confiando nele. Ou pior, fingindo que confia, e isso é igualmente perigoso. Ele não é um pretendente, null, ele é um manipulador.
Ela estreitou os olhos. — Engraçado ouvir isso vindo de você.
Loki deu um passo para trás, como se a provocação tivesse o atingido de verdade. — Isso é diferente.
— Ah, claro. Porque quando é você quem faz os jogos, está tudo bem, mas quando sou eu, é uma loucura? — null se aproximou, desafiadora. — Não sou ingênua, Loki. Sei exatamente o que estou fazendo.
— Então explique. — Ele exigiu, o tom mais baixo, mas ainda carregado de irritação. — Por que, entre todas as opções, você escolheu ele? Você realmente acha que Sigvard vai te ajudar com essa maldita profecia?
null hesitou por um segundo. Não porque não sabia a resposta, mas porque não queria admitir que, em parte, ele estava certo. Mas, como sempre, ela não iria recuar.
— Talvez... talvez não. Mas se Thor encontrou alguém que fez a profecia perder o sentido, por que eu não poderia tentar o mesmo?
Loki riu, mas era um riso sem humor, carregado de algo que ela não conseguia decifrar. — Então você prefere se jogar nos braços do primeiro oportunista que aparecer, só para provar um ponto?
null sentiu algo dentro dela se revirar. — Eu prefiro ter escolhas, Loki. Algo que nunca tive.
Os dois se encararam, a distância entre eles mínima. A raiva borbulhava no ar, mas por baixo dela, havia algo mais, algo não dito, algo que nenhum dos dois parecia disposto a admitir.
Por fim, Loki suspirou, desviando o olhar primeiro. — Faça o que quiser.
Ele se virou para sair, mas null sentiu um aperto no peito ao vê-lo se afastar. Dessa vez, a provocação não era suficiente para aliviar o peso do que estava acontecendo entre eles.
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O dia do encontro chegou mais rápido do que null esperava. Enquanto se olhava no espelho, ajustando um vestido elegante, mas prático o suficiente para qualquer eventualidade, uma parte dela se perguntava se Loki tinha razão. Sigvard era astuto, manipulador e adorava jogar com as pessoas—mas null também era. E ela não tinha intenção de ser um peão.
Ao sair de seus aposentos, encontrou Loki encostado na parede do corredor, os braços cruzados e um olhar irritadiço.
— Então você vai mesmo? — Ele perguntou, a voz carregada de desdém.
— Sim, vou. — null respondeu sem hesitar. — E antes que você pergunte, não, não preciso de um guarda-costas.
Loki bufou. — Não é um guarda-costas que você precisa, null. Você precisa de bom senso.
Ela riu, sarcástica. — E desde quando você é o especialista nisso?
Ele abriu um sorriso enviesado. — Desde que percebi que Sigvard não está interessado apenas em um jantar. Ele quer jogar, e eu não gosto de ver ele jogando com você.
null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A maneira como Loki disse aquilo soava... diferente. Mas ela ignorou.
— Eu sei me cuidar. — Ela disse, ajustando as manoplas em seus pulsos. — Agora, se me der licença, tenho um encontro.
Loki a observou por um longo momento antes de finalmente se afastar do caminho, mas não sem um último aviso.
— Se ele tentar qualquer coisa, eu estarei por perto. — Ele disse em tom baixo, antes de desaparecer na sombra do corredor.
null saiu do palácio e encontrou Sigvard esperando por ela em um terraço com vista para os céus de Asgard. Ele estava vestindo um traje sofisticado, mas despretensioso, e sorriu ao vê-la.
— Você veio. — Ele disse, soando mais satisfeito do que surpreso.
— Eu sou uma mulher de palavra. — null respondeu, mantendo o tom neutro.
Ele estendeu um braço para ela, mas em vez de aceitá-lo, null apenas cruzou os braços, avaliando-o. Sigvard riu baixinho.
— Você realmente não facilita, não é?
— Não para homens que usam relíquias roubadas como convite para um jantar. — Ela rebateu.
Sigvard inclinou a cabeça, os olhos brilhando com diversão. — Justo. Então, me diga, null... O que você realmente quer com este encontro?
Ela sorriu de canto. — Eu é que deveria perguntar isso a você.

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Capítulo 12 – O encontro


O jantar foi servido em um elegante salão privado, iluminado por velas flutuantes que lançavam sombras dançantes pelas paredes. null se sentou à mesa de mármore, mantendo a postura firme e o olhar atento a Sigvard, que, por sua vez, parecia completamente à vontade.
— Deve ser exaustivo estar sempre tão alerta. — Sigvard comentou, servindo vinho para os dois. — Você não relaxa nunca, null?
— Depende da companhia. — Ela respondeu, pegando sua taça sem beber.
Sigvard sorriu, claramente se divertindo. — E o que eu preciso fazer para ser considerado uma companhia... relaxante?
null apoiou um cotovelo na mesa e inclinou a cabeça. — Bom, para começar, parar de roubar artefatos importantes e usá-los como barganha para encontros seria um bom passo.
Ele soltou uma leve risada. — Admito, não foi a abordagem mais ortodoxa. Mas funcionou, não? Você está aqui.
— Apenas porque eu quis estar. — null enfatizou. — E porque quero entender o que realmente está buscando com isso.
Sigvard girou sua taça lentamente entre os dedos. — Você é direta. Gosto disso. — Ele tomou um gole antes de continuar. — A verdade, null, é que Asgard precisa de mudanças. E eu gosto de estar perto de pessoas que podem causá-las.
Ela arqueou uma sobrancelha. — E você acha que eu sou uma dessas pessoas?
— Acho. — Ele respondeu, os olhos a analisando com interesse. — Você não é como os outros deuses, presos a tradições e regras ultrapassadas. Você pensa por si mesma. Isso te torna... fascinante.
null manteve o olhar firme. — E o que exatamente você quer mudar em Asgard, Sigvard?
Ele sorriu de canto. — Ah, isso seria um assunto para um segundo jantar. Ou terceiro. — Ele se inclinou levemente para frente. — Mas me diga, null, e você? O que quer mudar na sua vida?
Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu uma presença familiar nas sombras. Loki estava ali perto e ela sabia disso sem nem precisar olhar.
— Acho que ainda estou descobrindo. — Ela respondeu finalmente, um pequeno sorriso jogado no canto dos lábios.
Sigvard pareceu intrigado com a resposta, mas antes que pudesse pressioná-la mais, a porta do salão se abriu. Loki entrou sem cerimônia, seu olhar pousando diretamente em null antes de deslizar para Sigvard.
— Ah, que surpresa. — Sigvard murmurou, recostando-se na cadeira com um sorriso malicioso. — Sentiu minha falta, Loki?
Loki ignorou a provocação e puxou uma cadeira, sentando-se à mesa sem cerimônia. — Não. Mas estou certo de que este jantar já se estendeu o suficiente.
null bufou, olhando para ele com irritação. — Loki, você não tem nada melhor para fazer?
— Tenho, mas prefiro estragar seus planos. — Ele respondeu com um sorriso irritante, servindo-se de vinho como se fosse o anfitrião.
Sigvard apenas riu, se divertindo mais ainda com a troca entre os dois. — Parece que sou um homem de sorte, preso entre dois deuses tão... intensos.
Loki recostou-se na cadeira e cruzou os braços. — Se soubesse o tipo de homem que está à sua frente, null, teria cancelado esse jantar antes mesmo de chegar aqui.
Ela ergueu uma sobrancelha. — Então me ilumine, Loki. O que Sigvard fez para você estar tão determinado a arruinar minha noite?
Loki lançou um olhar afiado para Sigvard, e o sorriso do outro se alargou, como se estivesse se divertindo com a situação.
— Digamos que Sigvard e eu já tivemos... negócios juntos. — Loki começou, seu tom carregado de algo mais sombrio. — E quando ele percebeu que podia ganhar mais se me traísse, ele não hesitou em fazê-lo.
— Ah, Loki, sempre tão dramático. — Sigvard brincou, bebendo um gole de vinho. — Você não era um santo nessa história.
— Talvez não. — Loki admitiu, inclinando-se para frente. — Mas não fui eu quem entregou informações sobre mim para aqueles que queriam minha cabeça. E certamente não fui eu quem se aliou a forças que nem sequer compreendia.
O sorriso de Sigvard não vacilou, mas seus olhos brilharam com um perigo velado. — Você superestimava seu valor, Loki. Achei que você gostasse de desafios.
null olhou entre os dois, sentindo a tensão se intensificar. — Então vocês eram aliados... até Sigvard te trair?
— Algo assim. — Loki respondeu. — E se acha que ele não fará o mesmo com você, está sendo ingênua.
Sigvard suspirou teatralmente. — Que reputação terrível a minha. Mas me diga, null, — Sigvard quebrou o silêncio, girando suavemente a taça em sua mão. — Agora que já ouviu a versão de Loki sobre minha suposta traição, o que acha? Ele conseguiu convencê-la a fugir de mim ainda esta noite?
Ela apertou os lábios, pensando. O aviso de Loki a fez hesitar, mas Sigvard era um jogador habilidoso. E parte dela queria saber onde essa partida poderia levá-la. Loki exalou pesadamente, e null percebeu que, pela primeira vez, ele parecia genuinamente preocupado. Mas se era por ela ou por algo mais... ainda não sabia dizer.
O clima no salão estava carregado de tensão, um embate silencioso entre três jogadores acostumados a manobrar palavras como lâminas afiadas. null sentia o olhar de Loki sobre ela, uma mistura de irritação e algo mais difícil de decifrar—talvez preocupação. Já Sigvard permanecia tranquilo, como se toda a situação fosse apenas mais um desafio a ser vencido.
null sorriu de canto, repousando os cotovelos sobre a mesa. — Eu diria que ainda estou observando o jogo antes de decidir meu próximo movimento.
Sigvard soltou um riso baixo. — Ah, adoro uma boa estrategista.
Loki, por outro lado, parecia cada vez mais impaciente. — Sigvard não é um jogo, null. Ele é um risco. Você realmente quer se envolver com alguém que troca alianças como se fossem moedas?
— Você diz isso como se não fosse exatamente assim. — Ela rebateu, estreitando os olhos para ele.
Loki apertou a mandíbula, mas Sigvard interveio antes que ele respondesse. — E é isso que me intriga em você, null. Você enxerga as falhas de todos, mas nunca se permite ser manipulada por elas. Diferente de Loki, que finge estar acima dessas coisas, mas claramente não está.
Loki soltou uma risada seca. — Interessante ouvir isso de alguém que se vendeu ao maior lance.
— Eu prefiro chamar de inteligência estratégica. — Sigvard replicou com um sorriso astuto. — O que me traz de volta a você, null. Se está tão determinada a escapar da sua profecia, por que não me considerar uma opção? Sou ambicioso, imprevisível, e—pelo que me dizem—bastante encantador.
null percebeu o olhar de Loki endurecer, mas manteve a expressão impassível. A ideia era tentadora, não por qualquer sentimento genuíno por Sigvard, mas porque representava algo que ela desejava: controle sobre seu destino.
— Considerarei. — Ela respondeu com simplicidade.
Loki empurrou sua cadeira para trás bruscamente, levantando-se. — Já ouvimos o bastante. Esse jantar já passou do limite.
Sigvard inclinou a cabeça, observando Loki com diversão. — Ah, Loki, sempre tão previsível quando está irritado.
— E você sempre tão previsível quando tenta parecer superior. — Loki retrucou, os olhos brilhando com um tom perigoso.
null suspirou, também se levantando. — Acho que nossa noite terminou. Sigvard, obrigada pelo jantar. Loki, tente não explodir antes de voltarmos para Asgard.
Loki lançou-lhe um olhar afiado, mas se manteve em silêncio. Sigvard, por sua vez, ergueu a taça em um brinde provocador.
— Até nosso próximo encontro, minha deusa.
null não respondeu, apenas se virou, sentindo Loki seguir ao seu lado. Mas ela sabia que essa conversa estava longe de acabar.
————— ☀ —————


null podia sentir a irritação de Loki ao seu lado, tão palpável quanto a magia no ar. Ele caminhava com passos longos e determinados, as mãos fechadas em punhos. Era óbvio que ele estava esperando o momento certo para explodir.
E ele não demorou muito.
— "Considerarei"? — Loki repetiu, imitando o tom casual que ela usara no jantar. Ele parou abruptamente, forçando-a a fazer o mesmo. — Você realmente acha que Sigvard é uma opção viável?
null cruzou os braços e suspirou. — O que eu acho ou não, Loki, não é da sua conta.
Ele soltou uma risada seca. — Não é da minha conta? Me perdoe, null, mas eu estava lá quando ele quase destruiu minha reputação. Sei exatamente do que Sigvard é capaz.
— E eu sei exatamente do que você é capaz. — Ela rebateu, arqueando uma sobrancelha. — Mas isso nunca me impediu de confiar em você.
Loki estreitou os olhos, como se estivesse tentando decifrar as entrelinhas do que ela dizia. Havia algo em sua postura, algo quase... vulnerável. Mas ele não permitiria que isso transparecesse.
— Você quer tanto fugir dessa profecia que está disposta a brincar com fogo? — Ele perguntou, sua voz carregada de frustração. — Acha que Sigvard vai te ajudar? Ele vê você como um jogo, null. Um prêmio a ser conquistado.
Ela deu um passo à frente, desafiadora. — E você, Loki? Me vê como o quê?
Ele abriu a boca para responder, mas nada saiu. Pela primeira vez, Loki parecia hesitante. null sentiu o coração acelerar, percebendo que talvez tivesse finalmente o encurralado.
O silêncio entre eles se alongou, até que Loki desviou o olhar e balançou a cabeça, frustrado.
— Não importa. — Ele disse por fim, a voz mais baixa. — Só não diga que eu não avisei.
null sentiu um aperto estranho no peito, mas ignorou. Ela não deixaria Loki ditar suas escolhas, por mais que seu olhar lhe dissesse que havia algo mais ali, algo que ele não conseguia dizer.
Sem mais palavras, os dois continuaram seu caminho de volta para Asgard, cada um perdido em seus próprios pensamentos—mas nenhum deles realmente pronto para encerrar aquela conversa.


Capítulo 13 – Vitória


Flashback on

Loki riu baixinho. — Não, eu acho que você está fugindo da questão. Mas vamos resolver isso de uma vez. Vamos fazer um jogo.
null arqueou a sobrancelha. — Que tipo de jogo?
— Uma aposta. Se você conseguir encontrar alguém que aguente meu irmão por pelo menos um mês... eu realizo um pedido seu. Qualquer coisa.
Ela cruzou os braços, intrigada. — E se eu não conseguir?
Loki sorriu como se já tivesse vencido. — Se você falhar, terá que me acompanhar em um plano, sem questionar.
null ponderou, desconfiada. Confiar em Loki era como caminhar em um campo minado, mas a chance de vê-lo vulnerável era tentadora.
— Um dia inteiro sem truques, sem mentiras, sem nenhuma das suas habilidades usuais. Esse é meu pedido.
— Sem trapaças. — Loki confirmou, o sorriso desafiador.
Flashback off

Algumas semanas haviam se passado desde o início do relacionamento entre Thor e Astrid, e, para a felicidade de null, tudo parecia estar indo perfeitamente bem. Astrid se adaptava cada vez mais à vida em Asgard, e Thor, que sempre fora impulsivo e um tanto desajeitado com romances, parecia genuinamente feliz.
Observando os dois juntos, null sentiu um alívio inesperado. Finalmente, talvez estivesse livre da profecia. Se Thor estivesse apaixonado por outra, então a antiga previsão de que estavam destinados a ficar juntos poderia ser descartada, certo?
Ela suspirou contente enquanto observava o casal rindo no pátio do palácio, sem perceber que Loki se aproximava ao seu lado.
— Fascinante. — A voz dele soou divertida. — Nunca pensei que veria Thor completamente domado.
— Ele não está domado. — null revirou os olhos, cruzando os braços. — Ele está feliz.
— Ah, claro. Felicidade e domesticação são praticamente a mesma coisa. — Loki inclinou a cabeça para ela com um sorriso presunçoso. — E você? Está feliz também? Afinal, seu plano magistral parece ter funcionado e você ganhou a aposta.
— Sim, estou. — Ela respondeu com firmeza. — Finalmente poderei viver sem a sombra da profecia me assombrando. E ainda de quebra ganho um dia de paz sem você.
Loki arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado. — Interessante... mas você sabe que isso não significa que a profecia foi quebrada, não é?
————— ☀ —————


null estava especialmente animada naquela manhã. A vitória sobre Loki era rara e precisava ser devidamente aproveitada. Ele podia ser um mestre da trapaça, mas agora, por um dia inteiro, estaria preso à verdade absoluta. Só para garantir que ele não escaparia de sua promessa, null lançou um feitiço que o impediria de mentir ou manipular a realidade.
— Pronto. Agora você está sob o encantamento. — Ela sorriu, satisfeita. — Um dia inteiro sem mentiras, sem truques e sem me fazer querer te estrangular. Parece um sonho, não acha?
Loki olhou para ela com um olhar quase entediado. — Prefiro chamar de pesadelo.
null cruzou os braços. — Vamos ver quanto tempo você aguenta antes de enlouquecer.
O dia começou com situações inesperadamente engraçadas. null, obviamente, aproveitou cada momento para testar os limites do feitiço.
— Bem, ainda temos várias horas desse feitiço. E eu pretendo aproveitá-las. — Ela sorriu. — Vamos jogar um jogo.
Loki estreitou os olhos. — Eu deveria estar preocupado?
— Só se for covarde. — null provocou. — Eu faço perguntas, e você tem que responder com a verdade absoluta. Nada de escapar com respostas vagas.
Ele suspirou pesadamente. — Isso parece um tormento disfarçado de entretenimento.
— Exatamente! — Ela sorriu satisfeita. — Primeira pergunta: qual é o seu maior medo?
Loki hesitou, claramente desconfortável. Mas, forçado pelo feitiço, acabou dizendo:
— Ser entediante.
null piscou algumas vezes antes de cair na gargalhada. — Isso é sério? Esse é o seu maior medo?
— Você não entende. — Ele bufou. — A eternidade é longa. Não quero passar por ela sendo previsível.
— Bom ponto. Mas ainda assim, hilário. Próxima pergunta! — null pôs as mãos na cintura, mal contendo a empolgação. — Você já teve um apelido constrangedor na infância?
Loki fechou os olhos por um instante, resignado ao próprio destino. — Minha mãe me chamava de "Pequeno Corvo" porque eu gostava de me esconder nas cortinas e assustar os criados.
null riu tanto que precisou se apoiar na parede. — Isso é maravilhoso! Por que ninguém mais te chama assim?
— Porque eu fiz questão de destruir todas as testemunhas desse fato. — Ele resmungou, cruzando os braços.
— Certo, Pequeno Corvo. — Ela zombou, enxugando uma lágrima de riso. — Agora uma importante: qual o pior disfarce que você já usou?
Loki suspirou de novo, claramente arrependido de sua existência. — Já precisei me passar por um bode uma vez para enganar um gigante.
null arregalou os olhos antes de explodir em gargalhadas novamente. — Um bode? Eu preciso saber dessa história em detalhes!
— Não. — Ele cortou rapidamente. — Próxima pergunta.
Enquanto caminhavam pelos corredores do palácio, ela perguntou, fingindo inocência:
— Então, Loki, o que acha do meu vestido hoje?
Ele abriu a boca para responder, mas hesitou. Era óbvio que queria escapar da pergunta, mas o feitiço não permitia.
— Você… — Ele fez uma pausa calculada. — Não está feia.
null riu alto. — Isso foi o melhor que conseguiu?
Loki revirou os olhos. — Eu não sou obrigado a te elogiar, apenas a dizer a verdade.
A manhã continuou recheada de momentos assim. Mas, conforme o tempo passava, algo curioso começou a acontecer: Loki percebeu que, sem suas mentiras e truques, ficar perto de null era muito mais difícil do que ele imaginava.
E esse pensamento o incomodava mais do que qualquer feitiço.
————— ☀ —————


A manhã avançava e, quanto mais tempo passava, mais Loki percebia o verdadeiro problema do feitiço de null: ele não podia mentir, mas também não podia manipular as palavras como fazia normalmente. null aproveitou para continuar testando os limites do feitiço.
— Você realmente odeia Sigvard tanto assim? — Ela perguntou, tentando parecer desinteressada.
Loki rolou os olhos e bufou. — Ele é um manipulador, oportunista e claramente quer alguma coisa de você.
— E você não quer? — null questionou, inclinando-se ligeiramente na direção dele.
— Claro que quero. — Ele respondeu sem hesitação, e então arregalou os olhos ao perceber o que havia dito.
null piscou, surpresa, enquanto Loki fechava os olhos por um momento, amaldiçoando mentalmente o feitiço.
— O que exatamente você quer, então? — Ela perguntou, cruzando os braços.
Loki abriu um sorriso torto, mas desta vez não havia malícia nele. Apenas resignação.
— Isso, minha cara null, é algo que nem mesmo eu sei como responder. — Ele deu de ombros. — Mas, sem truques ou mentiras, posso dizer que Sigvard não merece sua atenção. E eu não gosto da ideia de vê-la com ele.
O coração de null bateu mais forte por um instante. Talvez fosse o feitiço, talvez fosse a sinceridade crua de Loki, mas algo naquela confissão soava diferente. E perigoso.
Loki desviou o olhar, claramente desconfortável com o rumo da conversa.
— Isso... foi inesperadamente sincero. — Ela murmurou.
Ele bufou, franzindo o cenho. — Eu avisei que esse dia seria um pesadelo.
————— ☀ —————


O grande salão estava movimentado como sempre, cheio de deuses, guerreiros e nobres conversando entre taças de hidromel e pratos fartos de comida. Thor, ao ver null e Loki entrarem, ergueu uma sobrancelha.
— Vocês dois ainda estão vivos? Pensei que Loki já tivesse enlouquecido sem as mentiras dele. — Thor riu, batendo o punho na mesa.
— Ele está aguentando surpreendentemente bem. — null disse, sentando-se em frente ao amigo. — Embora eu ache que ele está considerando fugir para os confins de Niflheim só para escapar do feitiço.
Loki sentou-se ao lado dela, pegando uma taça de vinho com expressão exasperada.
— Acredite, se eu pudesse, já teria me tornado um exílio voluntário. — Ele tomou um gole antes de encarar Thor. — Mas vejo que você e Astrid ainda estão na fase de olhares apaixonados e risadas bobas. Encantador.
Thor apenas sorriu, claramente se divertindo com a situação.
— Ah, irmão, essa honestidade forçada está te deixando ainda mais petulante do que o normal.
Astrid, que estava sentada ao lado de Thor, riu baixinho.
— Pelo menos agora sabemos o que ele realmente pensa sobre tudo. É fascinante.
— Fascinante para vocês, um tormento para mim. — Loki resmungou e seus olhos pousaram em null.
Ela limpou a garganta e decidiu mudar de assunto antes que a conversa tomasse um rumo que não queria.
— Loki, já que não pode mentir, me diga: qual sua comida preferida?
Ele suspirou dramaticamente, mas respondeu sem hesitação.
— Torta de maçã.
Thor e Astrid pararam de mastigar ao mesmo tempo, claramente chocados.
— Torta de maçã? — Thor repetiu, incrédulo. — O deus da trapaça gosta de algo tão... simples?
— Isso explica por que você sempre desaparece quando Frigga faz tortas. — null acrescentou, sorrindo.
Loki revirou os olhos. — Eu não precisava desse julgamento coletivo.
— Eu acho fofo. — Astrid comentou, dando de ombros.
— Ótimo. Agora até a futura rainha de Asgard está me achando “fofo”. Eu realmente atingi o fundo do poço. — Loki suspirou.
Ela sorriu, porque, apesar de tudo, estava se divertindo mais do que esperava. E, talvez aquele fosse o verdadeiro problema.

————— ☀ —————


Capítulo 14 – Um dia sem mentir


Depois da refeição, enquanto caminhavam pelos corredores do palácio, null lançou um novo desafio.
— Certo, Pequeno Corvo, já descobrimos sua comida favorita. Agora, qual o elogio mais sincero que você já fez para alguém?
Loki soltou um suspiro teatral. — Você realmente quer continuar com isso?
— Absolutamente. — Ela sorriu. — O feitiço ainda está ativo e eu pretendo aproveitá-lo.
Ele fechou os olhos por um momento, como se estivesse aceitando seu destino, e então respondeu:
— "Você é insuportável, mas de um jeito encantador." — Ele abriu um olho para espiar a reação dela.
null piscou algumas vezes antes de rir. — Isso conta como um elogio?
— Para mim, sim. — Loki deu de ombros. — E antes que pergunte, sim, foi para você.
Ela balançou a cabeça, divertida. — Vou aceitar isso como uma vitória.
Enquanto continuavam caminhando, passaram pela biblioteca do palácio. null parou abruptamente, puxando Loki pelo pulso.
— Já que está sendo sincero, vamos testar algo. — Ela disse, arrastando-o para dentro.
— Isso está começando a me preocupar. — Loki murmurou, mas não resistiu.
Dentro da biblioteca, ela pegou um pergaminho antigo e o colocou sobre a mesa.
— Traduza isso. — Ela ordenou, cruzando os braços.
Loki olhou para o texto e arqueou uma sobrancelha. — Isso é élfico antigo. Não é difícil.
— Ótimo. Então leia para mim.
Ele suspirou e começou a recitar o texto, mas null o interrompeu.
— Não! Quero que me diga o que está escrito, sem floreios. Apenas a verdade.
Loki bufou. — "O destino é um rio de muitas correntes, e aqueles que conhecem seus segredos podem moldá-lo à sua vontade." — Ele a olhou com desinteresse. — Profundo, não acha?
Ela inclinou a cabeça, pensativa. — Talvez mais do que você imagina.
Mas, por mais que estivesse se divertindo, algo dentro dela sabia que o dia estava avançando. O feitiço não duraria para sempre. E, antes que acabasse, havia uma última pergunta que ela precisava fazer.
— Loki… — Ela começou, hesitante.
Ele a observou, atento.
— Qual a coisa mais importante que você nunca me disse?
O sorriso de Loki desapareceu.
Por um instante, o tempo pareceu desacelerar. Ele abriu a boca para responder, mas hesitou. null percebeu que, dessa vez, a verdade não seria uma brincadeira.
Loki ficou em silêncio por tempo demais. null observava cada pequena reação dele, desde o apertar sutil dos lábios até o modo como seus dedos brincavam com a borda do manto. Ele queria mentir. Mas não podia.
— Loki? — Ela insistiu, sua voz um pouco mais suave dessa vez.
Ele finalmente soltou um suspiro, desviando o olhar para a grande janela da biblioteca. A luz dourada do entardecer lançava sombras suaves sobre seu rosto, tornando ainda mais difícil para null decifrar sua expressão.
— A coisa mais importante que nunca te disse... — Ele começou devagar, como se as palavras fossem veneno e ele estivesse tentando decidir se deveria engoli-las ou deixá-las escorrer. — É que eu nunca quis que você quebrasse a profecia.
null sentiu um aperto no peito, mas tentou manter a compostura. — O quê?
Loki soltou uma risada curta, sem humor. — Você passou tanto tempo tentando fugir dela, tentando encontrar uma maneira de evitar esse destino… E eu deveria ter ajudado. Eu deveria ter incentivado sua busca, torcido para que você fosse livre. Mas, no fundo, eu nunca quis isso.
Ela ficou sem palavras. Pela primeira vez, não sabia como transformar aquela revelação em uma piada, em algo que dissipasse o peso da verdade.
— Por que não? — Sua voz saiu mais baixa do que esperava.
Ele a olhou nos olhos então, e null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Porque, naquele momento, não havia sarcasmo, nem provocação. Apenas Loki, cru e honesto.
— Porque se você conseguisse... talvez você escolhesse ir para longe. E eu não estava pronto para ser alguém que você deixaria para trás. — Ele admitiu. — Eu queria que você tivesse escolha. Mas eu também queria que, no final, sua escolha fosse ficar.
O coração de null acelerou. O salão da biblioteca pareceu pequeno demais, o ar denso demais. Ela queria dizer algo, mas sua mente estava um completo caos.
E então, como se o destino quisesse dar um alívio a ambos, o feitiço começou a se dissipar.
O coração de null acelerou. O salão da biblioteca pareceu pequeno demais, o ar denso demais. Ela queria dizer algo, mas sua mente estava um completo caos.
— Loki... — Ela começou, mas ele já estava se aproximando, devagar, como se lhe desse tempo para recuar.
Mas ela não recuou.
Quando seus lábios se encontraram, foi como se o próprio tempo tivesse parado. Não havia truques, nem jogos, apenas a verdade que ele fora forçado a dizer e a que ela finalmente estava pronta para aceitar. O toque era suave no início, mas logo se intensificou, carregado de tudo que ambos nunca haviam dito em palavras.
E então, como se o destino tivesse aguardado por aquele momento, o feitiço se dissipou.
Loki se afastou apenas o suficiente para encará-la, surpreso, mas sem arrependimento. null ainda sentia os lábios formigando, o coração martelando no peito, enquanto tentava compreender tudo o que aquilo significava.
— Bem... — Loki murmurou, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. — Acho que finalmente encontrei uma maneira de quebrar feitiços sem precisar de magia.
— Então... — Ela quebrou o silêncio, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha. — Isso significa que me beijar foi sua maneira brilhante de quebrar o feitiço?
Loki, ainda perto demais, inclinou a cabeça ligeiramente, o brilho travesso voltando a seus olhos. — Eu prefiro pensar que foi um sacrifício nobre. — Ele sorriu de lado. — Se eu soubesse que bastava um beijo para quebrar o feitiço, teria feito isso mais cedo.
null riu, empurrando-o levemente pelo peito. — Ah, claro. Porque tudo o que você faz é sempre meticulosamente calculado, não é, Pequeno Corvo?
Ele fez uma expressão fingidamente ofendida. — Agora está usando esse apelido contra mim? Que crueldade.
— Você merece. — Ela respondeu, estreitando os olhos.
Loki piscou e soltou um longo suspiro de alívio, passando uma mão pelo rosto. — Acabou o interrogatório, majestade?
null soltou uma risada suave, ainda tentando recuperar o fôlego.
Mas então, o mundo girou.
Um torpor inesperado tomou conta de null, suas pernas fraquejaram e sua visão ficou turva. A última coisa que sentiu foi o calor das mãos de Loki segurando-a antes de a escuridão envolvê-la por completo.
————— ☀ —————


Quando null abriu os olhos, não estava mais em Asgard.
O ambiente ao seu redor era etéreo, suspenso em um espaço onde o tempo parecia distorcido. Os céus eram um turbilhão de tons dourados e azulados, e no centro daquele caos celestial, uma figura a observava com olhos implacáveis.
— Você ousa desafiar aquilo que já foi escrito? — A voz ressoou como um trovão contido, ecoando pelo vazio ao redor.
null tentou se recompor, mas sentiu o peso do olhar sobre si. O deus diante dela era imponente, com vestes que pareciam tecidas com fios do próprio tempo. Seu semblante era severo, e seus olhos brilhavam como estrelas antigas.
— Quem é você? — Ela perguntou, sua voz mais firme do que se sentia.
O ser inclinou a cabeça levemente, como se analisasse a insignificância da pergunta.
— Eu sou Khronos, o Guardião do Tempo. Aquele que assegura que o destino siga seu curso. E você, null, está se tornando um problema.
Ela cerrou os punhos, sua mente ainda processando a situação.
— Se está falando da profecia ridícula que querem me forçar a seguir, não se preocupe. Eu não vou me casar com Thor. — Ela disse, desafiadora.
O olhar de Khronos se estreitou.
— Você acredita que tem escolha? — Ele ergueu uma das mãos e, num instante, imagens começaram a surgir ao redor deles. Passagens de sua vida, fragmentos do futuro, vislumbres do que poderia ter sido e do que ainda estava por vir.
null viu a si mesma ao lado de Thor, coroada, um sorriso forçado nos lábios. Mas, antes que pudesse reagir, outra imagem surgiu—ela fugindo, Asgard em caos, sombras se alastrando.
— Toda ação tem uma consequência. Cada passo que você dá altera o equilíbrio do que está por vir. — Khronos afirmou, sua voz fria como o vazio do espaço. — O destino já foi traçado, e ele se cumprirá. Quer queira, quer não.
null sentiu um frio na espinha, mas se recusou a demonstrar medo.
— Se o destino já foi escrito, então por que está aqui? Por que se incomodar comigo? — Ela estreitou os olhos. — Está com medo de que eu prove que ele pode ser mudado?
Khronos a encarou, impassível. Então, em um movimento súbito, ele estendeu a mão e null sentiu uma pressão esmagadora ao seu redor, como se o próprio tempo tentasse aprisioná-la.
— Cuidado com suas palavras, pequena deusa. O tempo pode ser um aliado... ou um inimigo implacável. — Sua voz ressoou como um aviso e uma ameaça. — Se continuar nessa tolice de desafiar o inevitável, terá que lidar comigo novamente. E da próxima vez, não serei tão paciente.
A pressão sumiu tão repentinamente quanto começou, e o mundo ao redor de null se dissolveu.
————— ☀ —————


Ela despertou com um sobressalto, seu corpo frio e suado. Loki estava ajoelhado ao seu lado, sua expressão carregada de algo que ela não conseguia decifrar—medo? Preocupação? Raiva?
— Finalmente. — Ele murmurou, os olhos intensos sobre os dela. — O que diabos aconteceu?
null piscou algumas vezes, tentando recuperar o fôlego. Sua mente ainda estava presa às palavras de Khronos, mas uma coisa era certa.
Ela não recuaria.
————— ☀ —————


Loki não afastou os olhos dela enquanto null tentava se sentar, ainda sentindo os ecos da presença de Khronos em sua mente. O olhar dele estava afiado, analisando cada pequena reação sua, como se tentasse decifrar o que havia acontecido enquanto ela estava desacordada.
null. — A voz dele era baixa, mas carregada de exigência. — O que foi isso?
Ela passou a mão pelo rosto, tentando dissipar o torpor. O peso da ameaça de Khronos ainda pulsava dentro dela, mas não queria parecer vulnerável.
— Eu... — Ela hesitou. Contar a verdade significaria admitir que algo maior estava em jogo, algo que nem ela mesma entendia completamente.
Loki estreitou os olhos. — Não me faça perguntar de novo.
null soltou um suspiro cansado e olhou para ele. — Khronos. O deus do tempo. Ele não está nada feliz comigo.
Loki congelou por um instante antes de soltar uma risada curta, sem humor. — Ah que incrível. — Ele passou a mão pelos cabelos, claramente irritado. — O tempo literalmente decidiu se meter no seu destino? Fantástico.
Ela o observou, tentando medir sua reação. Não esperava que ele ficasse tão inquieto.
— Ele disse que estou bagunçando o equilíbrio. E que, se eu continuar tentando mudar a profecia, as consequências serão... severas. — null finalmente confessou.
Loki ficou em silêncio por um longo momento antes de cruzar os braços e encará-la.
— E o que você pretende fazer? — Ele perguntou, sem rodeios.
null encontrou o olhar dele, seu corpo ainda trêmulo, mas sua determinação firme. — O que eu sempre fiz. Lutar contra isso. Não sou uma peça num tabuleiro. Eu escolho meu próprio caminho. — Ela ergueu o queixo, desafiadora. — E você, Loki? Vai me ajudar ou vai ficar me dizendo o quão impossível isso é?
Ele cruzou os braços, avaliando-a. — Como, exatamente?
— Khronos não pode ser invencível. Se ele precisa intervir para garantir que a profecia siga seu curso, significa que há uma possibilidade de derrotá-lo. E alguém deve ter tentado antes. Preciso encontrar registros de alguém que tenha escapado das amarras do tempo.
Loki inclinou a cabeça, intrigado. — Então quer que eu a ajude a buscar histórias de tolos que desafiaram um deus e falharam miseravelmente?
— Não necessariamente falharam. — null corrigiu. — Quero encontrar alguém que tenha vencido. Ou pelo menos sobrevivido tempo suficiente para me dizer como.
Loki girou um anel em seu dedo, pensativo. — Suponho que você precise da minha experiência em decifrar textos antigos e encontrar informações que os outros ignorariam?
— Exato. Você é a única pessoa que confio para isso. — Ela suspirou. — Além disso, sua mente traiçoeira pode ser útil caso precisemos pensar fora das regras do tempo.
Ele observou-a por um momento, e então um sorriso lento se espalhou por seu rosto.
— Muito lisonjeiro, deusa da aurora. Mas me diga… — Loki se aproximou ligeiramente, a voz carregada de diversão calculada. — O que eu ganho com isso?
null estreitou os olhos. Sabia que ele nunca fazia nada sem uma vantagem para si. Mas também sabia que, por mais que tentasse negar, havia poucas coisas que realmente recusaria ao deus da trapaça se isso significasse ter uma chance de reescrever seu destino.
— O que você quer? Loki sorriu, um brilho malicioso dançando em seus olhos.
————— ☀ —————

Alguns dias depois…

Sua mente ainda estava presa às palavras de Khronos, à ameaça clara de que qualquer tentativa de fugir do destino traria ruína. E ao beijo. O beijo que não deveria ter acontecido.
Ela sentou-se devagar em frente a Loki na biblioteca que passaram seus ultimos dias estudando.
— Aquilo… não pode acontecer de novo. — Ela disse, sem rodeios.
Loki piscou, sua expressão mudando de surpresa para um desdém cuidadosamente ensaiado.
— Foi tão terrível assim? — Ele arqueou uma sobrancelha, tentando soar indiferente, mas null não perdeu o jeito que seus dedos se crisparam contra o chão.
— Não se trata disso. — Ela respirou fundo. — Foi logo depois que... aconteceu que Khronos me puxou para aquela dimensão fora do tempo. Não quero vê-lo de novo. Se aquele beijo me levou até ele, então não pode se repetir.
Loki ficou em silêncio por um momento antes de sorrir de lado, mas não era um sorriso genuíno.
— Entendo. Evitar beijos para evitar deuses cósmicos. Uma tática bastante peculiar.
null ignorou o tom sarcástico e se levantou, ajeitando suas roupas. Ainda sentia os efeitos do encontro com Khronos, o peso da profecia tentando esmagá-la. Mas não podia parar ali. Precisava encontrar uma solução.
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A biblioteca de Asgard era um labirinto de conhecimento, repleto de pergaminhos e tomos ancestrais. null e Loki passaram horas revirando registros antigos, buscando qualquer menção a deuses que haviam tentado desafiar o tempo. Foi então que encontraram um pergaminho em élfico antigo que mencionava um lugar onde o tempo se comportava de maneira diferente: Hel.
Hel não era apenas o reino dos mortos, mas um domínio onde o fluxo do tempo não seguia as mesmas regras dos outros reinos. Espíritos presos lá podiam ter memórias não apenas do passado, mas também de eventos futuros. E, mais importante, havia registros de encontros entre os mortos e Khronos.
— Isso faz sentido. — Loki murmurou, correndo os dedos pelo texto desgastado. — Se há um lugar onde podemos encontrar respostas sobre como contornar a profecia, é em um reino que já escapou das regras normais do tempo.
null franziu a testa. — Você está sugerindo que simplesmente marchamos até Hel e perguntamos aos espíritos se eles já lidaram com Khronos?
Loki sorriu, divertido. — Exatamente. E com um pouco de sorte, podemos encontrar aliados — espíritos que desejam vingança contra ele.
A ideia era perigosa, mas null sabia que não tinha muitas opções. Se houvesse uma chance de descobrir a verdade por trás da profecia e aprender como desafiar Khronos, ela precisaria ir até Hel.
— Isso vai testar nossos limites. — Ela disse, fechando o pergaminho. — O tempo pode ser diferente lá... podemos ver coisas que não estamos preparados para ver.
null sentia o peso da profecia sobre os ombros, mas a ideia de ceder ao destino lhe era insuportável. Khronos queria que ela acreditasse que sua única opção era seguir o caminho predestinado, mas se havia algo que null e Loki tinham em comum, era a necessidade inata de desafiar aquilo que lhes era imposto.
Loki se afastou da janela onde estivera observando a movimentação dos salões de Asgard e voltou-se para null, os olhos brilhando com sua usual combinação de inteligência afiada e perigo iminente.
Loki inclinou a cabeça ligeiramente, seu olhar avaliativo. — E talvez encontremos algo que preferíamos deixar enterrado.
null apertou os lábios. Ela sabia que a jornada não seria fácil. Mas se a profecia era mais complexa do que imaginavam, então estava na hora de descobrir a verdade—mesmo que isso significasse encarar os segredos que Hel poderia revelar.
— Então está decidido. — Ela disse, olhando para Loki. — Nós vamos para Hel.
Ele sorriu, aquela expressão travessa de sempre, mas havia algo mais profundo em seu olhar dessa vez. A jornada para o reino dos mortos estava prestes a começar.

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Capítulo 15 – Hel, parte I


A jornada para Hel não era uma simples travessia entre reinos. Para chegar ao domínio dos mortos, era preciso encontrar um portal – e esses portais estavam sempre ocultos, protegidos por barreiras mágicas e guardiões que não aceitavam qualquer viajante.
null e Loki estavam agora diante de uma vasta floresta sombria, onde o ar era denso como neblina e o silêncio parecia algo vivo, pulsando entre as árvores retorcidas.
— É aqui. — null quebrou o silêncio, segurando um pequeno pedaço de pergaminho onde haviam decifrado as coordenadas do portal. — De acordo com os registros, há um caminho escondido que leva diretamente para a entrada de Hel.
Loki passou os dedos pela casca de uma árvore próxima, sentindo a energia estranha que pairava no ar.
— E o que nos impede de simplesmente abrir um portal nós mesmos? — Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Magia dos Nove Reinos não funciona aqui. — null respondeu, seus olhos atentos à floresta. — Hel é um domínio que segue suas próprias regras. O tempo e o espaço se distorcem, e apenas aqueles que forem autorizados podem atravessar.
— Autorizados? — Loki riu, cruzando os braços. — Eu odeio seguir regras.
null sorriu de lado. — Eu também. Por isso, não vamos pedir permissão. Vamos encontrar um jeito de forçar a entrada.
Antes que Loki pudesse responder, um farfalhar nas sombras os fez virar rapidamente. Algo estava se movendo na floresta, passos lentos e precisos, como um predador espreitando sua presa.
— Estamos sendo observados. — Loki murmurou, girando uma adaga entre os dedos.
null estreitou os olhos, sua aura cintilando levemente em reflexo à sua magia. Então, das sombras, uma figura encapuzada emergiu.
— Vocês buscam Hel. — A voz era rouca, carregada de um eco estranho, como se viesse de um lugar distante demais para ser real.
— E quem pergunta? — null retrucou, dando um passo à frente.
O estranho ergueu a cabeça, revelando um rosto marcado por cicatrizes e olhos tão opacos quanto a neblina ao redor.
— Meu nome não importa. Mas se desejam atravessar, devem pagar o preço. — Ele ergueu uma mão esquelética e apontou diretamente para Loki. — Você… filho de Odin, portador da trapaça. Seu nome já foi sussurrado entre os mortos.
Loki forçou um sorriso. — Bem, eu adoraria dizer que sou famoso em todos os reinos. Mas tenho a sensação de que isso não é um elogio.
O guardião inclinou a cabeça levemente, como se estivesse analisando Loki. Então, seus olhos se voltaram para null.
— E você… a luz que não deveria estar aqui. Sua presença perturba o equilíbrio. — Ele se aproximou um passo, e null sentiu um calafrio percorrer sua pele. — A aurora não deve iluminar os mortos.
— E, mesmo assim, aqui estou. — Ela respondeu, firme.
O guardião estudou os dois por um longo momento antes de soltar um suspiro seco.
— Há um preço para a travessia. Nenhum vivo entra em Hel sem oferecer algo em troca.
Loki trocou um olhar com null antes de virar-se para o guardião. — E qual seria esse preço?
O ser abriu um sorriso macabro.
— Uma lembrança. Algo precioso. Um momento que nunca poderá ser recuperado.
null franziu o cenho. — E se recusarmos?
— Então jamais encontrarão as respostas que buscam. E Khronos vencerá.
O silêncio se estendeu entre eles. null e Loki sabiam que atravessar para Hel era um risco, mas agora entendiam que esse risco vinha com um sacrifício.
— O que vamos fazer? — null sussurrou para Loki.
Ele suspirou, olhando para o guardião e depois para ela. Seus olhos brilharam com aquele toque de desafio habitual, mas, por um instante, algo mais profundo passou por sua expressão.
— A pergunta certa é: o que estamos dispostos a esquecer? — Loki murmurou.
A decisão precisava ser tomada. E nenhum dos dois sairia dessa jornada ileso.
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O silêncio entre null e Loki se estendeu, pesado como uma tempestade prestes a desabar. O guardião os observava com paciência, os olhos opacos refletindo a espera eterna dos mortos. O vento sussurrava entre as árvores torcidas, carregando consigo palavras que pareciam pertencer a outro tempo.
— Uma lembrança. — null repetiu, tentando medir o peso daquele pedido. — E uma vez entregue, não há como recuperá-la?
— Não. — O guardião disse simplesmente. — O que é esquecido por Hel nunca retorna ao mundo dos vivos.
Loki passou a língua pelos dentes, um hábito nervoso que ele raramente deixava transparecer. Seus olhos vagaram até null antes de voltarem ao guardião.
— E se dermos algo insignificante? — Ele sugeriu com um meio sorriso. — O que me diz daquela vez que roubei o bracelete dourado de Freya e quase fiz com que ela amaldiçoasse Asgard inteira? Foi um momento bastante marcante.
O guardião não pareceu impressionado.
— Apenas algo que tenha valor real. Algo que doa perder.
null mordeu o lábio, sentindo o coração acelerar. Memórias eram parte de quem eles eram. Oferecer uma delas significava arrancar um pedaço de si mesmos e entregá-lo ao vazio. Mas não tinham outra opção.
Ela fechou os olhos por um momento, buscando dentro de si algo que pudesse dar. E então soube.
— Eu aceito. — null disse, firme.
Loki girou o rosto para ela, franzindo a testa. — null…
Ela ergueu uma mão, interrompendo qualquer protesto. — Eu sei o que estou fazendo. Se for o preço para atravessarmos, eu pago.
O guardião se aproximou, sua sombra os envolvendo como um manto gelado. — Então escolha. Qual lembrança deseja oferecer?
null respirou fundo. — Minha primeira noite em Asgard. O momento em que me senti verdadeiramente parte deste reino.
O guardião inclinou a cabeça e ergueu uma mão esquelética. null sentiu um arrepio percorrer sua pele, como se algo estivesse sendo arrancado de dentro dela. De repente, flashes daquela noite lhe vieram à mente — Thor rindo ao seu lado, Odin a observando com um olhar calculista, Loki provocando-a como sempre. O céu de Asgard brilhava em tons de dourado e violeta. A sensação de pertencimento, de finalmente ter um lar…
E então, desapareceu.
Ela piscou, sentindo um vazio estranho em seu peito. Sabia que estivera ali, sabia que vivera aquilo, mas o sentimento… o significado daquela lembrança… havia se dissipado como fumaça.
Loki a observava, com os olhos mais sérios do que o normal. Então, sem hesitar, ele se virou para o guardião.
— Eu também pago o preço. — Ele declarou.
O guardião o avaliou. — Você não precisa.
— Eu sei. — Loki sorriu de lado. — Mas seria muito entediante deixar null enfrentar isso sozinha.
null bufou, mas, no fundo, ficou tocada. O guardião assentiu e ergueu a mão novamente.
— Escolha.
Loki hesitou por um breve instante, e então sua voz veio, baixa e definitiva.
— A primeira vez que percebi que nunca teria o amor de Odin.
null prendeu a respiração, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a magia já havia sido feita. O rosto de Loki se contraiu por um segundo, como se algo dentro dele tivesse se despedaçado. Seus olhos piscaram rapidamente, e então ele expirou devagar, como se não soubesse o que acabara de perder.
O guardião deu um passo para trás e ergueu uma mão em direção à floresta.
— A passagem está aberta. Entrem em Hel… se tiverem coragem.
Sem olhar para trás, null e Loki cruzaram a entrada, sendo engolidos pela escuridão do reino dos mortos.
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O ar dentro de Hel era diferente. Não frio nem quente, mas parado, como se o próprio tempo estivesse suspenso. null e Loki caminhavam lado a lado, mas em silêncio. Ambos sentiam o peso do que haviam perdido.
— Como você se sente? — Loki quebrou o silêncio, sem olhar para ela.
null respirou fundo antes de responder. — Estranha. Como se algo dentro de mim estivesse... incompleto. Eu sei que vivi aquela noite em Asgard, mas não consigo mais sentir o que significou.
Loki assentiu devagar. — Eu sei como é.
Ela olhou para ele, estudando-o. — Você se lembra do momento que entregou?
Ele hesitou por um instante antes de responder. — Sim. Sei que aconteceu, sei que foi importante. Mas agora... é só um fato, sem peso algum.
null queria dizer algo, confortá-lo talvez, mas como poderia quando também sentia aquele vazio? Ela suspirou, voltando a se concentrar no caminho.
— Precisamos encontrar os espíritos que tiveram contato com Khronos. — Disse, tentando mudar de assunto. — Você acha que podemos confiar em qualquer um aqui?
Loki soltou uma risada curta. — Confiança não é exatamente a moeda de troca em Hel. Mas há formas de conseguir o que queremos.
Ela arqueou uma sobrancelha. — Enganação?
— Persuasão. — Loki corrigiu, sorrindo de lado. — Se preferir um termo mais diplomático.
null bufou, mas não pôde evitar um pequeno sorriso.
Eles continuaram caminhando até chegarem a um vasto campo enevoado, onde sombras se moviam lentamente, murmúrios enchendo o ar.
— Aqui é onde os mortos vagam, esperando algo que talvez nunca venha. — Loki murmurou.
null observou ao redor. Algumas figuras pareciam perdidas, outras determinadas. Mas uma em particular chamou sua atenção.
Um espírito de armadura quebrada estava parado próximo a uma grande formação rochosa, os olhos brilhando em um tom espectral. Havia algo nele que parecia diferente dos outros.
Ela trocou um olhar com Loki.
— Acha que ele pode nos ajudar? — Ela perguntou.
Loki sorriu de canto. — Só há um jeito de descobrir.
Eles se aproximaram, e o espírito ergueu a cabeça para encará-los. Seus olhos, apesar de não pertencerem mais a um ser vivo, pareciam carregar mais vida do que muitos dos que caminhavam pelo reino dos vivos.
— Vocês buscam Khronos. — Ele disse, sua voz ecoando com um peso antigo.
null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Eles estavam no caminho certo.
Mas Hel não lhes daria respostas facilmente.
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O espírito diante de null e Loki os observava com um olhar intenso e vazio ao mesmo tempo. Sua armadura quebrada e sua presença imponente denunciavam que, em vida, havia sido um guerreiro de grande importância.
— Vocês buscam Khronos. — Sua voz ecoou como um sussurro vindo de tempos esquecidos. — Poucos ousam pronunciar esse nome aqui.
Loki cruzou os braços, estudando o espectro. — E você? Já o encontrou antes?
O espírito inclinou a cabeça levemente. — Eu já o vi. Eu já lutei contra ele. E perdi.
null trocou um olhar com Loki antes de dar um passo à frente. — Se perdeu, então como ainda existe? Khronos não deixa rastros.
O espectro soltou um riso seco. — Porque eu não deveria existir. O tempo tentou me apagar, mas Hel me prendeu aqui. Minha história foi desfeita, meu nome esquecido... mas ainda estou aqui. E agora, o tempo me teme.
Loki arqueou uma sobrancelha. — Interessante. Então você não é um simples espírito errante. Você é uma falha no próprio tempo.
O espírito assentiu lentamente. — Se querem desafiar Khronos, precisam entender a verdadeira natureza do tempo. Ele não é linear, não é fixo. Ele pode ser dobrado, distorcido... enganado. Mas sempre há um preço.
null estreitou os olhos. — O que precisamos fazer?
O espírito ergueu uma mão espectral e apontou para além do campo enevoado. — Nas profundezas de Hel, há um templo esquecido. Lá repousam aqueles que desafiaram o tempo antes de vocês. Mas tomem cuidado... nem todos que tentaram enganar Khronos desejam ajudá-los.
Loki sorriu de lado. — Aventura, traição e segredos antigos? Eu já estou gostando disso.
null suspirou. — Vamos torcer para que você continue gostando quando estivermos cara a cara com algo muito pior.
O espírito os observou por um instante antes de dar um passo para trás, sua figura começando a se desvanecer.
— Se seguirem por esse caminho, encontrarão o templo. Mas lembrem-se: o tempo não gosta de ser desafiado. E Khronos... nunca esquece.
E então, ele desapareceu, deixando apenas o eco de suas palavras no ar denso de Hel.
Loki bateu palmas uma vez. — Bem, isso foi dramaticamente útil. Vamos?
null lançou um último olhar para o vazio onde o espírito estivera e respirou fundo.
— Vamos.
O caminho para o templo estava à frente, e cada passo os levava mais fundo em um reino onde as regras do tempo eram apenas ilusões à espera de serem quebradas.
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A caminhada até o templo era lenta e silenciosa. O solo de Hel era traiçoeiro, e a névoa densa parecia se agarrar a seus corpos como se tentasse puxá-los para dentro do próprio esquecimento. null mantinha o olhar atento, sentindo a estranha pressão do lugar sobre seus ombros. A sensação de que estavam sendo observados não a deixava.
— Você acha que Khronos já sabe que estamos aqui? — Ela quebrou o silêncio, cruzando os braços enquanto caminhava ao lado de Loki.
Ele lançou-lhe um olhar divertido. — Bem, considerando que o tempo é a especialidade dele, eu diria que há uma boa chance. Quem sabe? Talvez ele esteja nos vendo agora, talvez já tenha visto como tudo isso termina. — Ele fez um gesto dramático para o vazio à frente. — Ou talvez ele só esteja esperando pelo momento certo para tornar tudo mais interessante.
null franziu o cenho. — Confortante.
Loki sorriu de lado. — Se quer uma forma de testar, podemos tentar o método prático. — Ele parou de andar e se virou para ela, um brilho malicioso nos olhos. — O último beijo chamou a atenção dele, não foi? Podemos repetir e ver o que acontece.
null piscou, surpresa, antes de soltar uma risada curta e descrente. — Então essa é a sua lógica? Beijar-me para atrair o deus do tempo?
Loki inclinou a cabeça, aproximando-se ligeiramente. — Bem, você tem que admitir, funcionou da última vez. Talvez seja a chave para acessar dimensões ocultas. Quem sabe? Podemos ter descoberto um novo método de viagem interdimensional. — Seu tom era brincalhão, mas seus olhos... havia algo ali, algo que fazia null sentir um calor inesperado subir pelo corpo.
Ela balançou a cabeça, empurrando-o levemente pelo peito. — Eu diria que você simplesmente quer uma desculpa.
— E se eu disser que é pelos propósitos científicos mais nobres? — Ele rebateu, colocando uma mão sobre o coração em fingida seriedade.
null riu novamente, revirando os olhos. — Vamos continuar andando antes que você tenha mais ideias absurdas.
Loki deu de ombros, voltando a caminhar ao lado dela, mas o sorriso travesso ainda brincava em seus lábios.
— Você riu. Isso significa que considerou a ideia.
— Significa que estou me perguntando por que ainda aceito sua ajuda. — null replicou, mas o tom leve da voz dela entregava sua diversão.
A névoa se fechava ao redor deles conforme avançavam, mas, pela primeira vez desde que chegaram a Hel, o peso do destino sobre seus ombros parecia um pouco mais leve.
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O nevoeiro de Hel parecia se tornar mais espesso conforme null e Loki se aproximavam do templo. As sombras das árvores mortas os observavam como testemunhas silenciosas de sua jornada, e o ar carregava um peso difícil de ignorar.
null sentia um arrepio na espinha. Havia algo de diferente naquela parte do reino. Uma presença.
— Você percebe isso? — Ela perguntou, sua voz baixa.
Loki assentiu lentamente, os olhos varrendo a paisagem ao redor. — Sim. Não estamos sozinhos.
E, como se sua afirmação tivesse invocado algo, um sussurro preencheu o ar. Não era uma voz, mas sim um conjunto de palavras perdidas no tempo, ecoando ao redor deles.
null e Loki pararam. As sombras pareciam se mover, girando ao redor deles como fragmentos de lembranças esquecidas.
— Quem está aí? — null perguntou, seu tom firme, mas não desafiador.
A resposta veio na forma de imagens espectrais se formando diante deles. Figuras translúcidas, de olhos vazios e vestes antigas, os observavam. Havia algo de melancólico em suas expressões, como se fossem prisioneiros do próprio tempo. null, no entanto, não hesitou. Com um movimento ágil, sua mão deslizou até o cabo de sua espada, Ljósrönd, a Lâmina da Aurora. A luz dourada brilhou na lâmina ao ser desembainhada, dissipando parte da escuridão ao redor.
— Vocês buscam o templo. — Uma das figuras murmurou, sua voz parecendo vir de muitos lugares ao mesmo tempo. — Mas o tempo é um ciclo... e aqueles que tentam quebrá-lo pagam o preço.
Loki cruzou os braços. — Parece que todo mundo em Hel gosta de dar avisos enigmáticos.
A figura fantasmagórica desviou o olhar para null, como se a reconhecesse de algum lugar muito distante.
— Você tem a luz da aurora em si. Mas sua luz se desfaz quando enfrenta a escuridão do tempo. Khronos não pode ser enganado... apenas temido.
null sustentou o olhar. — Então já tentaram antes? Outros vieram aqui para lutar contra ele?
A sombra hesitou antes de assentir. — Muitos tentaram. Poucos sobreviveram. Menos ainda se lembram do que perderam.
Loki arqueou uma sobrancelha. — E aqueles que conseguiram algo? Eles deixaram rastros?
O espírito inclinou a cabeça, como se refletisse sobre a pergunta. Então, ergueu uma mão esquelética e apontou para o caminho diante deles.
— O templo os aguarda. Mas lembrem-se... o que procuram pode não ser o que encontrarão.
Com isso, as figuras começaram a desaparecer, dissolvendo-se na névoa.
null respirou fundo e olhou para Loki. — Pronto para mais enigmas e desafios mortais?
Loki sorriu de lado. — Sempre.
Com passos decididos, os dois seguiram em frente, prontos para enfrentar os segredos que o templo guardava.
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Hel não era um reino acolhedor. A névoa densa tornava cada passo traiçoeiro, e o ar frio parecia pesar sobre seus corpos. null e Loki haviam percorrido um longo caminho até ali, mas sabiam que nada seria tão simples quanto parecia. A jornada ainda reservava desafios perigosos.
Foi então que os guardiões do tempo surgiram das sombras.
Figuras imponentes, cobertas por mantos prateados que cintilavam com a luz espectral de Hel, cercaram-nos. Suas presenças eram avassaladoras, seus olhos vazios refletindo eras incontáveis de existência.
— Vocês não deviam estar aqui. — A voz de um deles soou profunda e reverberante, como se fosse tecida com os ecos de milênios.
Loki, é claro, não perdeu a chance de ironizar. — Bem, parece que estamos. Que incômodo, não? Talvez devêssemos apenas seguir nosso caminho e esquecer que nos vimos.
Os guardiões não se impressionaram. Em um movimento rápido, avançaram.
Loki e null se prepararam. Ljósrönd brilhou nas mãos de null quando ela se lançou contra o primeiro inimigo, desviando de uma lâmina que tentou acertá-la. Seu golpe foi preciso, cortando a proteção etérea do guardião e fazendo-o recuar.
Loki se movia ao seu lado, ágil como sempre, desaparecendo e reaparecendo entre os oponentes, suas adagas perfurando onde encontravam brechas. Mas um dos guardiões era rápido. Rápido demais. Ele previu o movimento de Loki e, antes que o deus da trapaça pudesse reagir, uma lâmina sombria rasgou sua lateral, arrancando-lhe um grunhido de dor.
— Loki! — null gritou, mas não teve tempo de correr até ele.
Outro guardião avançou contra ela, desarmando-a com um golpe preciso. Ljósrönd deslizou pelo chão, para longe de seu alcance. null olhou para sua mão vazia por um instante antes de erguer os olhos, chamas de fúria ardendo em seu olhar.
— Grande erro. — Ela rosnou.
O guardião ergueu sua lâmina novamente, mas desta vez, null não recuou. Em um movimento rápido, ela desviou para o lado, agarrou o braço do adversário e o torceu com força suficiente para fazê-lo soltar a arma. Antes que ele pudesse reagir, ela girou, aplicando um chute certeiro em seu peito que o lançou para trás.
Outro guardião tentou atacá-la por trás, mas null o percebeu antes mesmo que ele concluísse o movimento. Com uma destreza impressionante, ela esquivou-se, agarrou-o pelo manto e o puxou para baixo, acertando seu rosto com o joelho. O impacto ecoou no silêncio da clareira, e o guardião caiu inerte.
Loki, que se apoiava contra uma rocha enquanto pressionava a lateral ferida, olhou para a cena com uma mistura de dor e admiração.
— Me lembre de nunca te irritar tanto assim. — Ele murmurou, ofegante.
null, sem fôlego, pegou Ljósrönd de volta e lançou um olhar afiado para os guardiões caídos.
— Tarde demais para isso. — Ela respondeu.
Os últimos guardiões hesitaram antes de desaparecerem nas sombras, derrotados. null correu até Loki, ajudando-o a se apoiar melhor.
— Você está bem? — perguntou, preocupada.
Loki, apesar da dor evidente, sorriu de canto. — Eu já estive pior. Mas admito que ver você acabando com aqueles guardiões foi... extremamente satisfatório.
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso. Sabia que a batalha ainda não havia acabado, mas por enquanto, tinham conquistado mais uma vitória.
Loki então segurou a mão de null, e ela franziu o cenho ao ver seus dedos traçando os nós avermelhados e arranhados de seus punhos. Seus dedos longos e frios contrastavam com o calor da pele dela.
— Você é uma tola. — Ele murmurou, observando as marcas com um olhar indecifrável. — Se jogando em uma luta dessas sem nem se importar em se proteger. Não vale a pena.
null arqueou uma sobrancelha, a sombra de um sorriso brincando em seus lábios. — Não vale a pena por quê? Por que era você?
Loki não respondeu de imediato. Seus olhos subiram para os dela, brilhando com algo profundo demais para ser apenas provocação. Então, soltou sua mão com um suspiro exasperado e virou-se para frente.
— Vamos logo antes que mais deles apareçam. — Disse, sem encará-la.
null observou por um instante, sentindo algo em seu peito se aquecer de um jeito inesperado. Mas não insistiu. Apenas seguiu ao lado dele, com as mãos ainda formigando do toque dele.

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Capítulo 16 – Hel, parte II


O caminho adiante parecia se tornar cada vez mais opressivo. A cada passo, a névoa de Hel se fechava ao redor de null e Loki como dedos invisíveis tentando puxá-los para trás. O ar estava carregado de magia antiga e instável, como se o próprio tempo oscilasse ao redor deles. null mantinha sua mão firme no cabo de Ljósrönd, ainda sentindo a pulsação de sua magia na ponta dos dedos. Loki, por sua vez, caminhava ao lado dela, os olhos analisando tudo ao redor com seu misto característico de cautela e curiosidade.
— Bem, isso foi... interessante. — Loki quebrou o silêncio, chutando uma pedra solta do caminho. — Eu esperava que Hel fosse deprimente, mas devo admitir que o toque de hostilidade deixa tudo mais emocionante.
null soltou um suspiro, sem tirar os olhos da trilha. — Você realmente não consegue levar nada a sério, consegue?
— Claro que levo. — Ele respondeu, sorrindo de lado. — Mas se começarmos a nos desesperar agora, seremos apenas mais dois tolos perdidos em um reino sem tempo.
Ela sabia que ele tinha razão, mas isso não tornava a situação menos tensa. Eles continuaram andando até que, finalmente, a névoa começou a se dissipar diante deles, revelando uma construção imponente ao longe.
O templo era colossal, esculpido em uma pedra negra que parecia absorver a pouca luz ao redor. As colunas eram entalhadas com runas antigas, e uma escadaria larga levava até as portas maciças, que pareciam ter sido fechadas há eras.
— Aí está. — null murmurou, sentindo um arrepio subir por sua espinha.
— Impressionante. — Loki assobiou baixo, inclinando a cabeça para observar a arquitetura. — Não está exatamente em ruínas, mas definitivamente tem uma energia de "ninguém deve entrar aqui".
null subiu os primeiros degraus, sentindo a estranha pressão do templo crescer ao seu redor. Quando ergueu a mão para tocar a porta, sentiu uma força invisível repelindo sua aproximação.
— Há uma barreira. — Ela disse, cerrando os punhos. — Alguma magia antiga protege esse lugar.
Loki sorriu. — Ah, então será divertido.
Ele ergueu uma das mãos e murmurou algumas palavras em uma língua esquecida. Energia cintilou em seus dedos quando ele tentou tocar a porta e desta vez, a barreira não resistiu. As portas rangeram ao se abrir lentamente, revelando um salão escuro e vasto, onde ecos de um tempo esquecido sussurravam nas sombras.
Loki sorriu para null. — Pronta para descobrir segredos que talvez devêssemos deixar enterrados?
Ela respirou fundo, apertando o cabo de Ljósrönd.
Os dois trocaram um olhar cúmplice antes de cruzarem a entrada do templo. Assim que deram o primeiro passo, as portas se fecharam atrás deles com um estrondo, mergulhando-os no desconhecido.
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Assim que as portas do templo se fecharam atrás deles, a escuridão os envolveu. Não era uma escuridão comum—era profunda, densa, como se o próprio tempo tivesse sido sugado para fora daquele lugar. Apenas os olhos atentos de Loki e o brilho sutil da aura de null forneciam qualquer visibilidade.
— Bem, que recepção calorosa. — Loki murmurou, estalando os dedos. Pequenos fios de luz mágica dançaram ao seu redor, iluminando fracamente o ambiente.
null ergueu Ljósrönd, sua lâmina dourada irradiando um brilho suave que afastava as sombras ao redor. À sua frente, o salão se revelou: um espaço vasto, adornado com colunas antigas, cobertas por inscrições em uma língua que há muito havia sido esquecida.
— Essas inscrições... — null correu os dedos sobre uma delas. — Parecem diferentes das que encontramos antes.
Loki se aproximou, analisando os símbolos. — São registros de tempo. Histórias esquecidas, momentos roubados. Este templo não guarda apenas respostas... ele guarda aquilo que Khronos apagou.
Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — Então, há memórias aqui. De todos que tentaram desafiá-lo.
Loki assentiu, um brilho perigoso nos olhos. — O que significa que podemos encontrar algo que ele nunca quis que fosse descoberto.
Antes que pudessem avançar mais, um ruído cortou o silêncio. Algo se movia nas sombras. null e Loki trocaram um olhar antes de se posicionarem em guarda.
Do fundo do salão, silhuetas emergiram. Espíritos antigos, suas formas oscilantes como se estivessem presos entre o tempo e o esquecimento. Seus olhos vazios brilharam com um tom prateado, fixando-se nos intrusos.
— Mais guardiões. — Loki murmurou. — Claro que não seria tão fácil.
Uma das entidades avançou, sua voz reverberando pelo templo:
— Vocês não pertencem a este lugar.
null firmou os pés, sua espada erguida. — Estamos aqui por respostas.
— Respostas têm um preço. — O guardião respondeu. — Vocês já pagaram uma vez. Estão dispostos a pagar novamente?
A entidade não se moveu. Apenas ergueu uma das mãos e, de repente, o espaço ao redor deles começou a girar. As colunas pareciam se esticar, o chão tremulava como água, e o tempo... o tempo estava sendo distorcido.
null sentiu um puxão em seu peito, como se estivesse sendo arrancada da realidade. Ela ouviu Loki xingar algo ao seu lado, mas antes que pudesse reagir, tudo se dissipou.
E então, ela não estava mais no templo.
Ela estava em outro lugar. Outro tempo.
O eco das palavras do guardião reverberou em sua mente:
— Veja o que foi e o que poderia ter sido.
null piscou, confusa, enquanto as sombras se transformavam em imagens familiares. O passado e o futuro entrelaçados diante de seus olhos.
E, entre eles, uma verdade que mudaria tudo.
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null piscou, tentando recuperar o fôlego. Seu coração martelava contra o peito enquanto a névoa do tempo se dissipava ao seu redor. Ela não estava mais no templo.
Estava em Asgard.
Mas não a Asgard que conhecia. Algo estava diferente. Os salões pareciam mais imponentes, e o céu acima reluzia com um brilho dourado quase irreal. Soldados marchavam pelas ruas, e bandeiras tremulavam ao vento, carregando um símbolo que ela não reconhecia.
Ela virou a cabeça e sentiu seu estômago revirar.
No centro do grande salão, em um trono adornado com runas e ouro, estava Thor. Mas não o Thor que ela conhecia. Seu cabelo estava curto, seu semblante era mais severo, e sua presença emanava uma autoridade esmagadora. Ao seu lado, sentada com uma expressão serena, estava ela mesma.
Vestindo um vestido real, a coroa repousando em sua cabeça. Rainha de Asgard.
null sentiu um frio na espinha.
— Esse é o futuro que Khronos quer que eu aceite? — Ela sussurrou para si mesma.
— Nem tudo que você vê é real. — Uma voz familiar ecoou atrás dela.
Ela se virou e encontrou Loki ali, mas ele não parecia apenas diferente. Ela se virou e encontrou Loki ali, mas ele também parecia diferente. Vestia trajes escuros, suas feições endurecidas. Seus olhos carregavam algo que ela não conseguia decifrar. Ele tentou abrir a boca, mas nada saiu.
— Não… — A palavra finalmente escapou em um sussurro rouco. Seu rosto se contorceu em algo que null nunca vira antes: puro desespero.
Ele deu um passo para trás, como se o simples ato de olhar para ela naquele trono fosse um golpe físico. Suas mãos tremiam levemente ao lado do corpo, fechando-se em punhos como se tentasse conter algo dentro de si.
— Loki… — null começou, mas ele levantou uma mão abruptamente, silenciando-a. Seus olhos estavam cravados na versão dela sentada ao lado de Thor, como se quisesse negar que aquilo era real.
— Isso é o que sempre esteve destinado a acontecer? — Sua voz era baixa, mas carregada de algo perigoso. — Isso é o que todos esperavam de você… e de mim? Que eu assistisse de longe enquanto você se tornava a rainha perfeita ao lado dele?
null sentiu um nó apertar em sua garganta. Todos sabiam da profecia há séculos, mas vê-la assim, tão real, tão palpável… algo dentro de Loki se quebrou.
— Isso não é real. — Ela tentou dizer com firmeza. — É apenas uma visão, uma ilusão criada pelo templo.
Loki soltou uma risada curta e amarga. — Parece bem real para mim. — Seus olhos escureceram, seu peito subindo e descendo rapidamente. — E se for isso? E se tudo o que a gente fez... nunca tivessem importado? Se o tempo sempre quisesse que você acabasse com ele?
Ele olhou diretamente para ela agora, e null sentiu o peso de seu olhar como um golpe. Não havia ironia, não havia sarcasmo. Havia uma mistura de mágoa e medo.
null não soube o que dizer. Sabia que as palavras não seriam suficientes.
E então, como se o próprio templo sentisse a intensidade daquele momento, tudo começou a distorcer. As imagens tremularam, dissolvendo-se em um borrão de luz e sombras.
Antes que pudessem pensar em um plano, a cena mudou.
Agora, estavam em outro lugar.
Desta vez, o cenário era sombrio.
Asgard estava em ruínas. As torres destruídas, o céu tomado por sombras, e ao longe, um lobo gigante uivava para um céu sem estrelas.
Sköll.
null sentiu um nó na garganta. Ragnarok.
E, no centro do caos, Loki estava caído no chão, ferido, seu corpo envolto por correntes de energia. Ao lado dele, Thor e ela, sem vida.
Ela tentou correr até ele, mas sua mão atravessou a cena como se fosse feita de fumaça.
— Isso é o que acontece se você desafiar Khronos. — Uma voz grave ecoou.
null e Loki se viraram e encontraram uma figura encapuzada emergindo das sombras do templo.
— Quem é você? — null exigiu.
A figura inclinou a cabeça. — Aquele que sabe o que está por vir. Aquele que falhou em mudar o destino. — Ele ergueu a mão e a imagem de Asgard em chamas se intensificou. — Vocês ainda acham que podem escapar do que está escrito?
Loki cerrou os punhos, a raiva substituindo o desespero. — Sempre há um jeito.
A figura sorriu, mas foi um sorriso triste. — Então provem. Antes que o tempo os consuma.
E, num piscar de olhos, tudo desapareceu.
null e Loki estavam de volta ao templo, os ecos do que haviam visto ainda gravados em suas mentes.
Ela olhou para ele, seu coração ainda acelerado.
— Precisamos descobrir a verdade antes que seja tarde demais.
Loki assentiu, mas algo em sua expressão dizia que ele já sabia.
O tempo estava contra eles.
————— ☀ —————


O silêncio entre null e Loki era denso enquanto saíam do salão, a revelação da memória ainda pesando sobre eles. Encontrar um deus perdido no limiar entre o passado e o futuro era uma ideia absurda—e extremamente perigosa. Mas era a única pista real que tinham.
Loki foi o primeiro a quebrar o silêncio. — Eu deveria estar surpreso que isso envolva mais mortos e dimensões instáveis, mas já aceitei que minha vida ao seu lado nunca será entediante.
null arqueou uma sobrancelha. — Ah, então você admite que precisa de mim para ter emoção na sua existência?
Ele sorriu de canto. — Admito que você é um desastre ambulante que me arrasta para situações insanamente perigosas.
Ela revirou os olhos, mas não conteve um pequeno sorriso. Mesmo diante da incerteza, Loki sempre encontrava uma forma de provocar um riso nela.
Conforme deixavam o templo, a pressão mágica ao redor parecia diminuir. O ambiente de Hel continuava carregado e distorcido, mas algo parecia diferente agora—como se o próprio reino estivesse atento aos seus próximos passos.
— Precisamos de um caminho até esse limiar. — null disse, cruzando os braços. — Khronos apagou esse deus da existência, o que significa que ninguém vivo se lembra dele. Mas se há algo que não segue as regras do tempo, são as próprias almas que vagam por Hel.
Loki suspirou dramaticamente. — Então, basicamente, precisamos convencer uma alma antiga a nos contar um segredo que pode custar nossa sanidade? Que maravilha.
— Você já lidou com situações piores. — null rebateu, caminhando decidida.
— Ah, claro. Porque conversar com mortos esquecidos não tem nada a ver com invocar forças que podem nos amaldiçoar para sempre. — Loki ironizou, seguindo-a.
Depois de alguns minutos de caminhada, null parou diante de uma encruzilhada nebulosa. Três caminhos se abriam diante deles, todos parecendo levar a um destino igualmente incerto. Mas havia um detalhe sutil: o caminho do meio parecia menos nítido, como se estivesse oscilando entre a realidade e algo além.
Ela apontou. — É por ali.
Loki franziu o cenho. — E você tem certeza disso... como?
null ergueu Ljósrönd, a lâmina da aurora, e um brilho dourado cintilou ao tocar o caminho do meio. A névoa pareceu se abrir levemente, confirmando sua intuição.
Loki soltou um longo suspiro. — Tudo bem, deusa da aurora. Vamos atrás do impossível.
E, juntos, deram o primeiro passo rumo ao desconhecido.
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Depois de horas caminhando pela floresta enevoada de Hel, Loki finalmente parou abruptamente e jogou as mãos para o alto.
— Chega! Isso é um absurdo. Eu sou um deus, não um viajante errante condenado a andar pela eternidade. Vamos parar. Agora.
null olhou para ele, incrédula. — Você está cansado?
— Exausto. — Loki colocou uma mão teatralmente no peito. — Preciso preservar minha energia para o sarcasmo e traições futuras.
Ela soltou um suspiro exagerado, mas admitiu que também estava exausta. Com um gesto simples, conjurou uma pequena fogueira mágica, sua luz dourada contrastando com a escuridão opressiva da floresta.
Loki se jogou no chão sem cerimônia, cruzando as pernas e observando as chamas com um olhar quase pensativo. null sentou-se ao lado dele, aquecendo as mãos.
— Nunca pensei que faríamos uma pausa confortável em Hel. — Ela comentou.
— Ah, sim, nada como um momento romântico cercado por almas perdidas e um destino incerto nos espreitando. — Ele respondeu, jogando a cabeça para trás.
Ela riu. — Você faz isso parecer tão especial.
Ele a olhou pelo canto do olho. — Bem, considerando o que enfrentamos até agora, até que não é tão ruim. Eu, você, uma fogueira... poderíamos estar em um daqueles livros de romance de Midgard que você gosta tanto.
null estreitou os olhos para ele. — Você leu meus livros?
Loki abriu um sorriso travesso. — Ah, null. Eu não apenas li, como posso afirmar que tenho opiniões muito fortes sobre todos os clichês românticos que você adora.
Ela bateu no ombro dele. — Ridículo.
Ele riu, e por um momento, o peso da missão desapareceu. Apenas os dois, sentados ao redor de uma fogueira, esquecendo que estavam em um dos lugares mais perigosos do universo.
Depois de um tempo, null se aconchegou um pouco mais no calor da fogueira, e Loki a observou de soslaio. O brilho das chamas refletia nos olhos dela, e ele se pegou pensando que, por mais absurdo que fosse, gostava desses momentos entre eles. Momentos onde o destino, a profecia e os perigos pareciam distantes.
— Obrigada por ter vindo comigo. — null disse de repente, sua voz mais suave.
Loki piscou, um pouco pego de surpresa. — Bom, alguém precisa garantir que você não destrua o tempo e o espaço tentando desafiar deuses cósmicos.
Ela sorriu, inclinando a cabeça. — Eu estava tentando ser sincera, seu idiota.
Ele hesitou por um segundo, depois sorriu de volta. — Eu sei.
O silêncio que se seguiu foi confortável. Pela primeira vez em muito tempo, não precisavam correr ou lutar. Apenas existir.
Mas, claro, a paz não duraria muito tempo.
Um uivo distante cortou a noite, e ambos se voltaram rapidamente para a escuridão da floresta.
— E lá se vai nosso momento. — Loki murmurou, se levantando.
null apagou a fogueira com um movimento da mão e pegou sua espada. — Vamos descobrir o que nos espera agora.
Com um último olhar cúmplice, os dois voltaram à missão, prontos para o que viesse a seguir.

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Capítulo 17 – Water


Seguiram por um caminho tortuoso até uma clareira oculta, onde um rio límpido e perolado serpenteava pela paisagem de Hel. A água brilhava de maneira sobrenatural, refletindo imagens distorcidas como se cada gota contivesse fragmentos do tempo.
— O Rio das Memórias. — null murmurou. — A única fonte que Khronos não pode apagar. Ele leva consigo os ecos daqueles que foram esquecidos, carregando os nomes e as histórias que o tempo tentou roubar.
Loki cruzou os braços, analisando o rio. — E como exatamente esperamos encontrá-las? Simplesmente mergulhamos e esperamos que algo mágico aconteça?
null inspirou profundamente, o brilho prateado da água refletindo em seus olhos. Sem hesitar, tirou a capa e se aproximou da borda do rio. A água era límpida e parecia chamá-la, como se soubesse que ela estava ali para buscar algo que se perdeu.
— Você não está realmente pensando em mergulhar aí, está? — Loki perguntou, franzindo o cenho.
— Sim, estou. — null respondeu com um pequeno sorriso. — Algum problema?
— Além do fato de que este é um rio mágico cheio de memórias esquecidas? Nenhum. — Ele resmungou, mas ficou observando enquanto null mergulhava graciosamente na água.
Ela se moveu com precisão e leveza, como se pertencesse àquele lugar. A luz do rio envolvia seu corpo de forma etérea, tornando-a ainda mais celestial. Seus cabelos flutuavam como fios dourados e seu vestido se moldava a cada movimento, delineando sua silhueta com perfeição.
Loki piscou, completamente hipnotizado por aquela visão. Não era apenas o modo como ela se movia—era o fato de que, mesmo em um reino sombrio, null irradiava luz. Era impossível desviar os olhos.
Quando ela emergiu, gotas brilhantes escorriam por sua pele, e o tecido de seu vestido, agora colado ao corpo, acentuava suas curvas de forma involuntária. Por um instante, Loki esqueceu completamente do motivo pelo qual estavam ali.
null passou as mãos pelos cabelos molhados, caminhando em sua direção com a mesma graça imponente de uma deusa. Quando chegou a poucos centímetros dele, inclinou-se ligeiramente e, com um olhar intenso, sussurrou:
— Vamos logo, Loki. Temos um nome agora.
Ele engoliu em seco, forçando-se a recuperar o raciocínio. E, pela primeira vez em muito tempo, percebeu que, entre todas as forças que já desafiara, null sempre seria a mais perigosa de todas.
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Enquanto seguiam adiante, null passou as mãos pelos braços em um gesto involuntário, tentando afastar o frio. A temperatura em Hel parecia ainda mais implacável agora que a adrenalina do mergulho começava a se dissipar.
— Você está tremendo. — A voz de Loki cortou o silêncio, carregada com sua costumeira ironia, mas algo em seu tom parecia diferente dessa vez.
— Está frio. — null respondeu simplesmente, abraçando a si mesma.
Antes que pudesse reagir, sentiu um peso sobre seus ombros. A capa escura de Loki, ainda aquecida por seu corpo, foi jogada sobre ela sem cerimônia. null piscou, surpresa, enquanto olhava para ele.
— O que está fazendo? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Loki encolheu os ombros com um sorrisinho de lado. — Se você congelar antes de usarmos essa informação, todo esse trabalho terá sido em vão. Considero um investimento na minha própria sobrevivência.
null riu baixo, puxando a capa mais para si. O cheiro dele ainda estava impregnado no tecido—um misto de magia, metal e algo indecifrável que sempre o acompanhava. Era reconfortante, embora ela jamais fosse admitir isso em voz alta.
— Então você tem um coração, afinal. — Ela provocou, espiando-o por baixo da capa.
— Não espalhe. Tenho uma reputação a manter. — Loki revirou os olhos, mas seu tom não carregava a mordacidade usual.
Ela apertou os dedos ao redor do tecido, permitindo-se aproveitar o gesto por um momento. O frio ainda estava ali, mas parecia um pouco mais distante agora.
Por um instante, eles apenas se encararam sob o céu distorcido de Hel. Nenhum truque, nenhuma provocação—apenas um momento roubado no meio do caos.
Então, como se percebesse que havia se permitido ser gentil por tempo demais, Loki deu um passo para trás e estalou os dedos, retomando seu tom habitual.
— Vamos, aurora. Ainda temos um deus esquecido para encontrar. — Ele sorriu, mas null notou o pequeno desvio em seu olhar antes de se virar.
Ela puxou a capa ao redor de si mais uma vez, escondendo um sorriso.
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O nome estava gravado na mente de null, ecoando como um sussurro vindo do próprio tecido do tempo. Ela e Loki caminharam de volta pela trilha enevoada de Hel, cada passo mais pesado com a certeza de que estavam perto do confronto final. Agora que sabiam quem Khronos havia tentado apagar, precisavam usá-lo como uma chave para desfazer a profecia e derrotar o deus do tempo.
— Você ainda não me disse qual é o nome. — Loki comentou, os olhos fixos nela. null respirou fundo, sentindo o peso do conhecimento. — O nome dele é Eirikr. O primeiro traidor do tempo.
Loki estreitou os olhos. — Eirikr... — Ele provou o nome em sua língua, como se testasse sua autenticidade. — Faz sentido. Dizem que houve um deus que tentou reescrever o próprio destino e desafiou Khronos, mas foi apagado da história. Então, se ele ainda existe de alguma forma...
— Podemos usá-lo para encontrar a falha na profecia. — null completou, determinada.
O ar ao redor deles pareceu se agitar, a névoa de Hel se adensando como se reagisse à menção do nome proibido. Um vento frio percorreu a clareira, e, por um instante, tudo ficou em silêncio absoluto.
Então, a névoa começou a se condensar em uma única forma, girando até tomar contornos definidos. Uma figura surgiu das sombras, alta e imponente, vestindo mantos desgastados pelo tempo. Seus olhos eram como fragmentos de estrelas antigas, e sua presença carregava o peso de eras esquecidas.
— Quem ousa pronunciar meu nome após tanto tempo? — A voz era grave, ressoando como um eco entre realidades.
Loki cruzou os braços, um sorriso presunçoso nos lábios. — Bem, eu poderia dizer que foi um acidente, mas todos sabemos que não sou tão descuidado assim.
null deu um passo à frente, sentindo a energia pulsante ao redor do ser que tinham acabado de invocar. — Você é Eirikr. Aquele que desafiou o tempo. Nós viemos porque precisamos da sua ajuda.
Os olhos do deus esquecido se estreitaram. — Vocês são tolos. — Ele declarou. — O tempo não é uma força a ser controlada. Eu tentei moldá-lo à minha vontade e fui punido por isso. Se estão aqui, significa que estão prestes a cometer o mesmo erro.
Loki ergueu uma sobrancelha. — Ah, veja só. Um deus apagado da existência nos dando sermões. Muito útil.
Eirikr o ignorou, concentrando-se em null. — Khronos não é um inimigo que pode ser vencido com bravura ou poder. Ele é o próprio fluxo do tempo, e tudo que toca se torna inevitável.
null firmou o olhar. — Nada é inevitável. Nem mesmo a profecia que tentam me forçar a seguir. Você tentou derrotá-lo uma vez. Preciso saber como.
O silêncio se alongou. Então, Eirikr soltou um suspiro profundo, como se estivesse ponderando uma decisão perigosa.
— Existe um único ponto no tempo onde Khronos não pode intervir. O instante entre um momento e o próximo. Uma fração de segundo onde ele não detém domínio absoluto. Foi ali que tentei derrotá-lo… e falhei. — Ele ergueu os olhos para null, sua expressão severa. — Mas talvez você tenha uma chance onde eu não tive.
Loki trocou um olhar com null. Eles estavam cada vez mais próximos da verdade. Mas com cada resposta, novas perguntas surgiam.
— Então nos diga como encontrar esse instante. — null exigiu. — Nos diga como reescrever o que Khronos quer que seja eterno.
Eirikr a observou por um longo momento, antes de finalmente responder:
— Eu posso mostrar o caminho. Mas estejam avisados… mudar o destino sempre exige um sacrifício.
————— ☀ —————


O silêncio que seguiu as palavras de Eirikr foi pesado, carregado de significados que nenhum deles queria encarar. null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Sacrifício. A palavra parecia ecoar em sua mente, dançando com as inúmeras possibilidades de tudo que poderia perder.
Loki, no entanto, foi o primeiro a romper a tensão. Ele inclinou a cabeça levemente, observando Eirikr com um olhar afiado.
— E que tipo de sacrifício estamos falando? Porque eu prefiro não dar minha alma hoje, se possível.
Eirikr não sorriu. Seu semblante permaneceu sombrio, quase pesaroso.
— O tempo exige equilíbrio. Se quiserem uma chance de deter Khronos, devem oferecer algo em troca. Algo que tenha peso o suficiente para alterar o fluxo do destino.
null cruzou os braços. — Então estamos falando de uma troca equivalente?
— Exato. — Eirikr assentiu. — Eu tentei enfrentar Khronos sem pagar esse preço. Por isso, falhei. O tempo não permite mudanças sem consequências.
Loki soltou um suspiro exasperado. — Certo, então o que exatamente pode ser oferecido para mudar o destino?
Eirikr hesitou por um momento, antes de finalmente dizer:
— Algo precioso para vocês. Uma memória, um poder, um vínculo... ou um futuro que desejam. Se querem reescrever a profecia, devem estar dispostos a abrir mão de algo que define quem são.
O estômago de null se revirou. Abrir mão de algo que a definia? Ela pensou em seu poder, em seu papel como deusa da aurora. Em tudo que vinha lutando para proteger. Mas então, seu olhar encontrou o de Loki, e ela percebeu que havia algo ainda mais assustador naquele aviso.
Loki, por sua vez, desviou o olhar. Ele parecia incomodado, como se tivesse entendido algo que null ainda não havia percebido.
— Então você quer que apostemos com o próprio tempo. — Loki disse, forçando um sorriso presunçoso. — Isso parece perigosamente familiar.
Eirikr o observou por um longo momento, antes de murmurar:
— Sim, mas dessa vez, não há blefes.
null fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Se havia uma chance de mudar a profecia e impedir Khronos, precisavam aceitar o risco. Mas estavam prontos para perder algo no processo?
— Nos mostre o caminho. — Ela disse, sua voz firme, mas carregada de incerteza.
Eirikr ergueu a mão e, diante deles, o ar começou a se distorcer, como se o próprio tempo estivesse reagindo à decisão deles. Uma passagem começou a se formar no espaço, revelando uma ponte de luz tremeluzente que parecia levar a um vazio entre passado e futuro.
— Esta é a brecha no tempo. O instante onde Khronos não tem domínio absoluto. — Eirikr os olhou uma última vez. — Se cruzarem essa ponte, não há garantias de que voltarão os mesmos.
Loki soltou uma risada baixa, sem humor. — Eu nunca gostei de garantias mesmo.
null olhou para a passagem à sua frente. Seu coração batia forte, mas sua determinação permanecia inabalável.
Ela deu um passo à frente. E, sem hesitar, Loki a seguiu.
A batalha final contra o tempo havia começado.

————— ☀ —————


Capítulo 18 – O tempo


Atravessar a brecha foi como mergulhar em um oceano de ecos distorcidos. null sentiu seu corpo ser puxado em todas as direções, como se estivesse sendo sugada para dentro de múltiplas versões da realidade ao mesmo tempo. Loki estava ao seu lado, sua mão quase tocando a dela, mas antes que pudessem se agarrar, o espaço ao redor deles se dobrou e se fragmentou.
De repente, tudo ficou em silêncio.
Eles estavam em um lugar que não deveria existir. O chão sob seus pés parecia feito de estrelas liquefeitas, pulsando com energia bruta. O céu acima era um vórtice de sombras e luz, girando ao redor de um único ponto central.
E ali, no meio da distorção do tempo, estava Khronos.
Ele não parecia surpreso por vê-los. Seu rosto era calmo, quase desapontado, como se estivesse esperando que eles chegassem até ali. Seus olhos dourados cintilaram quando ele deu um passo à frente.
— Vocês são persistentes. — Sua voz ecoou, reverberando através da própria estrutura do tempo. — Mas não passam de crianças brincando com forças que não compreendem.
Loki sorriu de canto, cruzando os braços. — Você diz isso como se não fosse um elogio.
Khronos ignorou a provocação e voltou seu olhar para null. — Você sabe o que está fazendo? O que está arriscando? Já viu o que acontece quando se desafia o inevitável.
null manteve a postura firme. — Eu vi. Mas também vi algo que você tentou esconder. Vi que o destino não é tão imutável quanto você quer que acreditemos.
Khronos suspirou, quase como se lamentasse. — Todo ser que tentou reescrever seu próprio destino pagou o preço. Você não será diferente.
— Isso é o que vamos descobrir. — null apertou Ljósrönd, sua espada brilhando com a luz da aurora. — Se há uma falha no tempo, nós a encontraremos.
Loki sacou suas adagas, um brilho perigoso nos olhos. — E se não houver uma falha, bem... vamos criar uma.
Khronos ergueu a mão e o tempo ao redor começou a se despedaçar. Figuras espectrais emergiram do vazio, memórias de batalhas passadas, futuros que nunca aconteceram, versões alternativas deles mesmos. O campo de batalha estava se moldando diante deles, uma guerra contra o próprio fluxo do tempo.
null sentiu o peso do momento. Era agora ou nunca.
Ela trocou um olhar rápido com Loki. Eles estavam prontos.
E então, a batalha começou.
————— ☀ —————


O primeiro ataque veio como uma tempestade de vidro estilhaçado. Khronos ergueu a mão e o tempo se retorceu ao seu redor, disparando rajadas de energia que cortavam o espaço como lâminas invisíveis. null desviou por instinto, girando no ar com a graça de uma estrela cadente, enquanto Loki desaparecia em um borrão de sombras.
— Ele está tentando nos esmagar com o próprio tempo! — null gritou, levantando Ljósrönd para bloquear um golpe que parecia vir de todas as direções ao mesmo tempo.
— Bem observado! — Loki respondeu, surgindo ao lado dela. Ele lançou uma adaga encantada, mas Khronos simplesmente levantou um dedo e a arma congelou no ar, como se estivesse presa em um segundo interminável.
O deus do tempo sorriu. — Já vi incontáveis versões dessa luta. Todas terminam do mesmo jeito.
— Então deve ser frustrante que ainda precise lutar. — null rebateu, avançando contra ele.
Ela desferiu um golpe poderoso com sua espada, e por um instante, a lâmina brilhou intensamente. O tempo ao redor pareceu estremecer quando Khronos foi forçado a recuar. Era sutil, mas estava ali—a falha que procuravam.
Loki notou. — null, sua luz...! Ela rasga o tecido do tempo! Continue atacando!
Khronos franziu o cenho, percebendo a ameaça. Com um movimento fluido, ele criou cópias de si mesmo, cada uma representando um instante diferente de sua existência. Elas avançaram ao mesmo tempo, tornando impossível prever qual era o verdadeiro.
Loki, entretanto, apenas sorriu. — Ah, finalmente um truque que me agrada.
Ele desapareceu em uma nuvem de ilusões próprias, confundindo as cópias de Khronos. Enquanto isso, null aproveitou a distração e ergueu sua lâmina.
— Eu sou a aurora! — Sua voz ecoou, e quando a espada desceu, a luz explodiu como o primeiro raio do amanhecer rompendo a escuridão da noite eterna.
O impacto foi devastador. Khronos gritou, suas ilusões se despedaçando em fragmentos cintilantes. Por um breve momento, o tempo oscilou, tremulando como um reflexo distorcido na água.
Loki reapareceu ao lado de null, a respiração acelerada, mas com um brilho satisfeito nos olhos. — Eu acho que acabamos de fazer o impossível.
Mas Khronos não havia sido derrotado. Ele cambaleou para trás, sua forma oscilando como se estivesse se desfazendo. Ainda assim, sua voz permaneceu firme:
— Vocês não podem vencer. Podem me ferir, mas o tempo sempre se reconstituirá. — Ele ergueu um braço, e no instante seguinte, tudo ao redor deles congelou.
O ar se tornou pesado. O próprio tempo parou.
null tentou se mover, mas seus músculos não obedeceram. Loki também estava preso, seus olhos ainda cheios de desafio, mas agora impotentes.
Khronos caminhou até eles lentamente. — Eu poderia acabar com vocês agora. Mas quero que saibam o que estão enfrentando. Eu sou o inevitável. E vocês são apenas uma distração.
null sentiu a frustração ferver dentro dela. Não podia se mover, mas seu coração ainda queimava. Ela não se renderia.
Então, no meio do silêncio absoluto, algo brilhou.
Ljósrönd. Mesmo com o tempo parado, a lâmina da aurora ainda pulsava com sua própria luz.
E naquele momento, null percebeu a verdade.
Ela não precisava derrotar Khronos. Só precisava romper sua influência sobre o tempo.
Com um esforço supremo, ela canalizou sua energia para a espada. A luz se intensificou até que todo o campo de batalha foi tomado por um clarão cegante. E então...
O tempo voltou a correr.
Khronos recuou, surpreso, e naquele instante de vulnerabilidade, null e Loki souberam o que fazer.
Eles tinham uma última chance de reescrever o destino.
E dessa vez, não pretendiam falhar.
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O tempo voltou a fluir, mas agora, pela primeira vez, Khronos parecia incerto. A luz de Ljósrönd tremeluzia no ar como se estivesse rachando a própria realidade ao redor deles. null sentiu o poder pulsando através de sua espada, a conexão com seu destino mais forte do que nunca.
Loki aproveitou a hesitação de Khronos e se moveu rápido, lançando uma sequência de adagas brilhantes. O deus do tempo levantou a mão para detê-las, mas desta vez, algo estava diferente. O feitiço de congelamento falhou por um instante, e uma das lâminas passou, rasgando sua veste dourada.
Khronos recuou, e null não perdeu tempo. Com um salto ágil, ela girou no ar e desferiu um golpe certeiro contra ele. Ljósrönd brilhou como o sol nascente, e quando tocou Khronos, um rasgo na realidade se abriu atrás dele, como se a própria história estivesse se desfazendo.
— Isso não é possível... — Khronos murmurou, olhando para o ferimento em seu peito. Pela primeira vez, havia algo além de arrogância em sua expressão—havia medo.
— Parece que o impossível é a nossa especialidade. — Loki sorriu, girando uma adaga entre os dedos.
Khronos rangeu os dentes. Com um movimento abrupto, ele ergueu ambas as mãos e o céu ao redor deles se desfez em um turbilhão de imagens sobrepostas. Eles viram múltiplas versões da realidade: Asgard destruída, null presa a um trono ao lado de Thor, Loki desaparecendo em uma fenda sombria, o mundo mergulhado no caos.
— Se tentarem reescrever o destino, pagarão o preço. — Khronos ameaçou. — O tempo exige equilíbrio. Para cada mudança, algo deve ser perdido.
null apertou o cabo de sua espada, sua mente girando com as possibilidades. Ela sabia que mudar a profecia teria um custo, mas agora, vendo os fragmentos da realidade ao redor, ela se perguntou se estava pronta para pagá-lo.
Loki, ao seu lado, inclinou a cabeça e sorriu, mas havia algo diferente em seu olhar—uma determinação incomum, algo que null raramente via nele.
— Khronos, você perdeu. — Loki declarou. — O tempo pode ser um ciclo inevitável, mas nós acabamos de provar que até ele pode ser quebrado.
null ergueu Ljósrönd mais uma vez, a luz irradiando como se o próprio amanhecer estivesse se impondo sobre a escuridão. — Se você quer equilíbrio, então nos conceda o que é nosso por direito. Livre-me da profecia. Agora.
Khronos ficou imóvel, sua forma oscilando entre diferentes momentos no tempo, como se sua própria existência estivesse fragmentada pela batalha. Seus olhos se estreitaram.
— Vocês venceram. Mas não pensem que estão livres das consequências. — Sua voz soou sombria. — Eu posso retirar a profecia... mas saibam disso: o destino de null está interligado ao Ragnarok. Se ela ousar alterá-lo sem plena consciência do que está fazendo, cada ser em todos os Nove Reinos sofrerá as consequências.
null sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A vitória tinha um gosto agridoce. Se ela mudasse demais o futuro, poderia estar condenando todo o universo ao caos.
Loki observou sua expressão e colocou a mão em seu ombro, sua voz mais séria do que nunca. — Então teremos que ter cuidado. Mas isso não significa que não valeu a pena.
Khronos suspirou, como se estivesse cansado. Com um último gesto, o espaço ao redor deles se contorceu e, em um instante, a profecia que a acorrentava desapareceu.
O peso esmagador do destino foi arrancado dos ombros de null, deixando em seu lugar uma leveza desconhecida, quase assustadora. Pela primeira vez em sua existência, ela não era uma peça em um jogo escrito por outros—era dona de sua própria história. O alívio veio como uma tempestade silenciosa, e sem que percebesse, lágrimas escorreram por seu rosto. Não eram apenas lágrimas de alegria, mas de séculos de luta, de medo reprimido, de escolhas arrancadas antes mesmo de serem feitas. Seu corpo tremia levemente, como se finalmente tivesse espaço para sentir tudo o que fora negado por tanto tempo.
O mundo ao redor deles explodiu em luz e então eles estavam novamente no salão de asgard. null sentou-se no jardim e respirou fundo
Finalmente, estava livre.
————— ☀ —————


Duas semanas haviam se passado desde a batalha contra Khronos, e Asgard começava a se recuperar do caos que quase se instaurou. O céu estava mais brilhante, as noites mais tranquilas, e, pela primeira vez em séculos, null podia respirar sem sentir o peso de um futuro predeterminado sobre seus ombros.
Ela estava sentada na sacada de seus aposentos, observando a aurora tingir o céu dourado quando ouviu um pigarro atrás de si.
— Gostando da vista, minha deusa da aurora? — A voz inconfundível de Loki soou atrás dela, carregada com aquele tom arrastado que indicava que ele estava prestes a provocá-la.
null sorriu sem se virar. — Bem, é um pouco menos caótica sem você por perto.
Loki arqueou uma sobrancelha e se encostou à sacada ao lado dela, os olhos verdes brilhando de diversão. — Ora, então eu devo considerar isso um elogio? Ou uma tentativa falha de me afastar?
— Se eu quisesse te afastar, já teria conseguido. — Ela rebateu, girando para encará-lo.
Ele sorriu, e por um instante, null percebeu algo diferente nele. Algo mais leve, mais despreocupado. Como se, pela primeira vez, Loki não estivesse tentando fugir de nada—apenas aproveitando o momento.
— Na verdade, eu vim te fazer uma proposta. — Ele disse, girando uma adaga entre os dedos antes de fazê-la desaparecer com um estalar. — Um encontro.
null piscou, surpresa. — O quê?
Loki inclinou-se ligeiramente para perto dela, seu sorriso presunçoso nunca vacilando. — Você ouviu bem. Um encontro. Você e eu. Algo decente pela primeira vez na vida, sem feitiços, sem maldições, sem deuses do tempo tentando nos matar.
Ela cruzou os braços, fingindo ponderar. — E por que exatamente eu aceitaria um encontro com o deus da trapaça? Parece... arriscado.
Loki suspirou dramaticamente. — Ah, minha cara null, viver sem riscos seria entediante. E você não pode negar que se diverte comigo.
Ela mordeu o lábio para esconder um sorriso. Maldito Loki. Sempre sabia exatamente o que dizer.
— Certo. — Ela finalmente respondeu. — Mas eu tenho uma condição.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Condição? Que cruel.
— Nada de truques. Nenhuma ilusão, nenhuma pegadinha. Você vai me levar para um encontro de verdade, ou nem precisa se dar ao trabalho.
Loki levou uma mão ao peito, fingindo estar ofendido. — Você realmente acha que eu faria isso? null, querida, eu sou um cavalheiro.
Ela revirou os olhos, mas seu sorriso suavizou. — Nos encontramos ao pôr do sol. Não me faça me arrepender.
Ele se inclinou ligeiramente para mais perto, os olhos brilhando com um desafio que ela conhecia bem. — Eu jamais faria isso. Afinal, seria um desperdício da minha vitória.
— Vitória? — Ela estreitou os olhos. — Quem disse que você venceu?
Loki deu um passo para trás, piscando para ela. — Eu consegui um encontro, não consegui?
Antes que null pudesse rebater, ele desapareceu em um borrão de magia, deixando apenas o eco de sua risada no ar.
Ela suspirou e olhou para o céu novamente, um calor inesperado subindo em seu peito. Pela primeira vez em muito tempo, o futuro parecia incerto. Mas, desta vez, ela não sentia medo.
Ela sentia expectativa. Estava ansiosa pelo que estava por vir.

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Fim.



Nota da autora: Oiii gente, desculpem qualquer erro, talvez eu possa escrever uma continuação se vocês gostarem, quem sabe? Obrigada por lerem <3.



Outras Fanfics:
Blood and justice
Sagrado profano
AU: Journey to redemption

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