FFOBS - Desculpa Se Te Chamo de Amor, por Valle

Última atualização: 08/03/2018

Prólogo



sempre acreditara no amor verdadeiro. Mesmo passando por um grande trauma na adolescência, ela nunca deixou de imaginar que um dia em sua vida encontraria sua alma gêmea. Ela não sabia onde, nem quando, mas sabia que o conheceria assim que o visse. Também sabia que ele traria sua paz interior, seu sorriso sincero, um formigamento dentro da barriga que faria seu coração doer, mas doer tão forte que bateria quando ele sorrisse para ela. Que a faria chorar às vezes, mas bem, só quando ela o quisesse por perto. E a faria querer abraçá-lo quando estivesse ao seu lado, tão apertado que se tornariam um só. Ele a faria sonhar acordada durante as aulas. Sabia que tiraria seu sono, sua concentração, o mundo abaixo dos seus pés.
planejava filhos, domingos chuvosos de manhã em baixo das cobertas quentinhas, deitada em seu colo. Ele roubaria seus suspiros, seus modos, seus sorrisos e seus beijos.
Ele seria o amor da sua vida.
Para as amigas ela era uma garota louca que sonhava demais. Para seus pais, de certa forma – indiretamente –, eles torciam para que esse dia nunca chegasse. Ela era filha única e eles protetores, porém o medo que sentiam que fizessem algum mal à ela era nítido.
não se importava. Ela era conhecida por ter opinião própria e não escondia de ninguém seus sentimentos e a vontade de viver um grande amor. Ela não sabia se ele seria loiro, moreno ou aqueles bronzeados surfistas do Havaí; não sabia se o encontraria na biblioteca do colégio ou na padaria, mas tinha plena certeza que o encontraria. Ela o encontraria.
E saberia quando isso acontecesse.
, está me ouvindo?
Ela piscou algumas vezes. Tinha esse pequeno problema. Às vezes imaginava como o encontraria e seus pensamentos iam parar nas nuvens. Como o dia que havia criado uma história na cabeça que ZacEfron era sua alma gêmea. Bem, ela não saberia ao certo como o encontraria, mas se algum dia ele fosse para Londres, ela daria um jeito de – casualmente – esbarrar nele.
– Pelo amor de Deus, ouviu alguma palavra do que eu disse? – perguntou Mellanie.
– Buscar café. – disse ela dando de ombros, aliviada por ao menos entender do que sua colega de trabalho estava falando.
– Ótimo, isso mesmo! Agora vá e aproveite para entregar esse bilhete para o Marcus da recepção.
Ela encarou o bilhete que Melllanie lhe entregou.
– Não leia.
– Eu não ia ler. – respondeu ingenuamente, dando de ombros.
Mas assim que saiu da pequena cozinha, ela leu. E por Deus, aquela mulher não tomava jeito nunca.
Mellanie era insuportável. Estava mais interessada em arrumar aquele cabelo e flertar com os homens engravatados – ou mandar bilhetes pornográficos – do que ajudar em alguma coisa. Não que se importasse. Sabia que, se fizesse o seu trabalho, alguém notaria que Mellanie não fazia o seu. Bem, ela rezava para isso.
não precisava trabalhar, mas nunca foi garota que esperava pela ação dos outros. Ela queria uma bolsa. Ela teria a bolsa.
Essa era a ideia inicial quando começou a procurar por emprego. Fazia tanto tempo que seus pais haviam prometido, mas ela não aguentava esperar, então procurou por algo durante uma semana e descobriu que precisavam de estagiários para uma das melhores empresas do país. Ela sabia que só podia ser um sinal. E talvez eles estivessem mesmo desesperados por alguém, ou talvez fosse a maneira inteligente dela se apresentar que tivesse os cativado. Ela não sabia ao certo, mas tinha conseguido o emprego.
Agora precisava correr até a cafeteria e comprar café para as pessoas do treze – apelido para o seu departamento – porque a cafeteira tinha estragado. Ela sempre estragava.
Era esse seu serviço: servir café e entregar recados. Uma chatice, mas a ajudaria a comprar a tão sonhada bolsa da Louis Vuitton.
Ela não sabia quanto tempo estava correndo. Parecia uma eternidade.
Quando finalmente chegou, abriu a porta rapidamente, espevitada do jeito que a mãe sempre falava que ela era. E então, em menos de um segundo o mundo inteirinho em sua volta parou. O destino era a oitava maravilha do mundo. havia o encontrado. Ela sabia.


Capítulo 1



Ela era teimosa. Seus pais sabiam que ela não ficaria quieta enquanto eles não comprassem a bolsa que tanto queria, mas mesmo sendo uma garota teimosa, eles sabiam que ela era sensata. Eles explicaram à ela que, naquele momento, a bolsa não era prioridade deles. Ela havia acabado de ganhar um computador novo. Uma bolsa nem pensar.
Segunda-feira, durante o jantar, a garota mostrou para seus pais a empresa onde havia conseguido um estágio naquela tarde. Ela havia dito para eles que queria uma bolsa e ela ia conseguir aquela bolsa no final do mês.
Para , não era uma simples bolsa, era uma Louis Vuitton e, por mais que seus pais não pudessem comprar – ela entendia muito bem –, daria o seu jeito. Não sabia como, mas nunca tivera medo de correr atrás do que queria.
Quando sua amiga, Sabrina, comentou sobre uma vaga de estágio na empresa que a irmã dela trabalhava, ela não pensou duas vezes. Talvez eles estivessem mesmo desesperados por alguém, ou talvez fosse à maneira inteligente dela se apresentar que tivesse os cativado, ela não sabia ao certo, mas tinha conseguido o emprego. A ideia inicial era ficar lá por alguns meses, ou até menos. Já que tinha conseguido, fez algumas contas e pensou que daria até para comprar algumas roupas novas e quem sabe fazer uma viagem.
O que jamais imaginou é que, dias depois, ela desejasse alguém mais do que tudo, mais do que aquela bolsa, já sem importância.
Ela havia ficado com ele na cabeça o tempo todo. Tinha dito às amigas do colégio que ele só podia ser a personificação de Deus. Sabia que era um pouco dramático, mas ele era lindo demais, algo que ela não conseguia explicar. Quando seus olhos caíram sobre os dele, seu coração bateu rápido e tudo em sua volta se silenciou. Foi rápido, em um segundo ele estava lá e depois sumiu.
Ela havia voltado à cafeteria mais algumas vezes apenas para ver se o encontrava e nada. Absolutamente nada.
Uma tarde até tomou coragem e perguntou para uma das garçonetes, mas elas não sabiam de quem ela estava falando. As semanas foram passando e ela já não achava mais desculpas para procurar o estranho no mesmo horário de sempre e então, simplesmente desistiu. Ela não podia ficar procurando alguém que tinha visto por um breve momento pela vida inteira.
Mas ela jamais se esqueceria daqueles olhos e da sensação que sentiu ao vê-los.
– Eu te juro, Mellanie. – afirmou ela tentando fazer com que a colega de trabalho entendesse – Ele era lindo demais!
A outra bufou. Não aguentava mais ouvir aquela mesma história, até Mellanie já havia ido à cafeteria sem que soubesse apenas para procurar um homem que ela achava atraente. Não tinha encontrado ninguém. Aliás, havia encontrado um de seus chefes, aquele que quase não ficava na empresa e quando surgia estava com um enrosco diabólico no pescoço chamado noiva. Ele era absurdamente lindo, mas não podia ser ele que procurava, ele era bonito, mas não tanto quanto CEO . E nem tão rico também.
– Ainda não confio na sua percepção sobre beleza. – disse a ruiva, erguendo o nariz.
– Problema seu. – respondeu pegando o dinheiro da empresa para comprar café. A máquina tinha estragado de novo aquela semana – Só sei que eu preciso descobrir quem ele é.
– Mas não pense que vai sair todos os dias para fazer isso. – advertiu Mellanie – Tem muito trabalho aqui no escritório.
revirou os olhos sem ela ver. Ela era insuportável. Já no primeiro dia notou que sua colega estava mais interessada em arrumar aquele cabelo e flertar com os homens engravatados do que ajudar em alguma coisa.
Ela não sabia como era o movimento do escritório. AEDAS era umas das empresas mais famosas do país e da Europa. Ainda não conhecia seu chefe, mas tinha ouvido falar que ele era muito inteligente e que a empresa só carregava o nome por causa da maioria dos seus projetos. Ele era engenheiro civil, só escolhia os melhores para trabalhar para ele e com ele.
ainda não sabia o que queria fazer da vida. Ela já tinha feito curso de pintura, fotografia, secretariado, engenharia de software e em nenhum deles se encontrou.
A mãe sempre dizia que ela era uma enciclopédia de baboseiras ambulante e que em algum momento da sua vida ela iria saber seu caminho.
Ela tinha esperanças, meu Deus, como ela esperava que a mãe estivesse certa. Já estava estudando o último ano e ainda não sabia o que queria cursar.
Mellanie sorriu para alguém atrás dela e se limitou a se encolher para o lado. De uma coisa ela sabia. Ela não serviria café para sempre.
– O senhor quer ajuda? – perguntou à ruiva, arrumando o cabelo.
se virou para ver quem era o engravatado que a colega insuportável se insinuava.
Tudo bem, ela odiava a história de ter que servir café, mas quando seus calcanhares viraram e ela se deparou com ele. Enumerou todas as possibilidades daquele trabalho ser o melhor do mundo.
O moreno com os olhos dourados era o primeiro motivo.
Ela se perguntava de onde aquele homem tinha saído. Ele era absurdamente lindo, o que chegava a ser humilhante para o resto da nação.
E se tinha uma coisa que entendia muito bem era sobre beleza.
No auge dos seus dezessete anos, ela já havia sido jurada no colégio – um desfile dos possíveis garotos do ano –, tinha sido escolhida pela direção porque era conhecida por todos por sua opinião forte e presente. Ela não tinha papas na língua e sabia muito bem disso. A mãe fazia questão que ela lembrasse todo jantar.
Mas lógico que olhando para aquele homem esculpido por um artista muito nobre, ela sabia que beleza como aquela nunca tinha visto. Ela amou seus olhos. Meu Deus, seus olhos eram tão diferentes de tudo que já tinha visto. Eles não eram castanhos, nem mel. Eles eram dourados.
– Não é, ? – disse Mellanie a acordando do transe.
– O quê? – indagou ela, recebendo um olhar da colega de trabalho que conhecia muito bem. Então apenas concordou. – Ahm… Sim.

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Segure-se. Segure-se.
Ele sussurrava para si mesmo. Amber tinha o irritado demasiadamente. Era quase insuportável conviver com ela. Depois de tantos anos juntos ele se sentia exausto nas últimas semanas. Havia acabado de chegar de viagem com a melhor noticia que podia receber – AEDAS tinha ganhado o concurso para da vila olímpica – e tudo o que queria fazer quando chegou era anunciar e cumprimentar o melhor amigo, porém, ela havia estragado com seu bom humor.
Eles estavam juntos há oito anos, desde que ele se considerava um moleque e haviam crescido juntos também, mas parecia que agora as ambições de Amber eram outras na vida. E isso o decepcionava demais.
Deus sabia o quanto ele a amava. Sim, tinha plena certeza que seu Deus sabia que ele a amava, ou que um dia a amou, porque agora ele tinha que se esforçar para ficar perto dela por cinco minutos.
Amber era uma garota linda, incrivelmente linda. Ela era dócil, engraçada, amiga, inteligente. E agora ele se perguntava o que tinha feito de errado para ela ser como era.
Tinha se transformado em uma mulher ainda muito linda e atraente, mas ela parecia áspera e seu humor era fúnebre. Nos últimos meses ele havia tentado, mas estava no seu limite. tinha chegado de viagem eles comemoraram com champanhe, o qual ela mais gostava e depois transaram no sofá da sala. Era a comemoração perfeita e, por um segundo, ele chegou a pensar que sua garota estava de volta, mas se enganou profundamente quando ela começou a falar.
Desde então, ele sussurrava para si mesmo: segure-se. Caso contrário, perderia a cabeça como da primeira vez e ele não estava com ânimo de quebrar o resto da porcelana que sua avó havia dado de presente quando eles noivaram.
Quando chegou ao treze todos o olhavam de esguelha. Não tinha certeza se eles o temiam ou se ele era o chefe bonzinho da história, mas sabia que todos entrariam em êxtase quando desse a notícia. Mas antes disso precisava de um café. não podia desconfiar que ele havia tomado todas quando saiu de casa.
Ele parou na porta da pequena cozinha do andar, escutando um pouco a discussão das duas, até que seu cavalheirismo interior achou que seria inapropriado ficar ouvindo conversa de mulher atrás da porta, e então resolveu aparecer, se encostando no batente, dando de cara com uma ruiva muito atraente.
nunca fora do tipo de homem que traia suas namoradas, normalmente era ele quem levava a fama de traído, mas nos últimos meses, sem contar nas últimas semanas, ele estava começando a olhar as outras mulheres de forma devassa para alguém comprometido.
A falta de afeto de Amber o afetava no começo e ele ficava correndo atrás dela, como um idiota, mas agora não tinha vontade de tê-la, ou possui-la em seus braços. Exceto por hoje, quando pensou que ela havia mudado. Belo engano, praguejou quando saiu de casa.
A mulher que estava o observando era ruiva e tinha os seios fartos, empinados, quase a mostra. Ela sorriu amarelo assim que o viu, então a loira que estava de costas e tinha um belo traseiro – Meu Deus, ele precisava parar de observar as mulheres daquele modo – , se virou para encará-lo e também o fitou por alguns segundos. Ela era bonita, mas era loira, como Amber. E isso o fez sentir o gosto de bile.
– Vim buscar uma xicara de café. – disse gentilmente.
– Ah – a ruiva foi a primeira a falar, arrumando o cabelo – Nossa máquina estragou, mas estávamos falando agora mesmo de ir buscar o café.
Ela ficou o encarando até que a outra pigarreou.
– Não é mesmo, ?
– Ahm… Sim. – disse ela, piscando algumas vezes.
deu espaço para que ela saísse e então sorriu para a ruiva, se retirando também. Se ficasse ali, provavelmente faria alguma besteira, tamanho era sua raiva. E ele não estragaria seus anos de fidelidade por besteira. Não que a mulher a sua frente não fosse extremamente linda e atraente, porém tinha orgulho do homem que era.

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Meu Deus. Meu Deus.
Aquilo só podia ser brincadeira, pensava . Todo esse tempo ele estava em baixo do seu nariz. Que mundo injusto. Durante todas aquelas semanas ela queria achar maneiras de fugir e procurar o homem na cafeteria ou aos arredores da empresa, mas jamais cogitou a ideia de que ele podia trabalhar lá, que o encontraria parado na porta da cozinha do treze.
A única coisa que queria fazer era ficar e conversar com ele, dizer qualquer coisa. Mas ela tinha que buscar café do outro lado da rua, já que esse era seu trabalho. Bufou irritada.
Que grande fato ocorrera em sua vida. Ela estava perplexa. Um pouco sem chão, confusa, aturdia, mas feliz. Agora não precisaria mais desligar a máquina de café e fingir que a estragou. Sim, ela já tinha feito isso, fazia inúmeras vezes ao dia. Mellanie era tão sonsa que nunca havia notado ou, se tinha, simplesmente não se importava. Ela pegou os cafés correndo e voltou para a empresa. Não podia perder ele mais de vista, não sem antes descobrir quem era. Não queria perguntar para Mellanie porque não a achava confiável, mas ela daria um jeito.
Ela tinha tantos recado - muito deles inúteis - que precisava marcar em pequenos lembretes e fazer lacinhos nas pontas dos dedos. Era a única alternativa.
Depois que repassou todo o trabalho da tarde, fez nota mental de descobrir quem ele era. Só que tudo o que tinha planejado mudou de percurso de uma hora para outra.
A Senhora Hanna a chamou em seu escritório logo quando ela terminava de fazer o último laço, aquele que estava escrito que ela precisava falar para Christian, da recepção, que Alfredo, do treze, não poderia sair para tomar um chope depois do trabalho, porque a patroa não o tinha liberado. Ela revirava os olhos quando eles lhe pediam esses favores, mas fazia o possível para atender à todos e até gostava da parte de ter que percorrer todo o prédio. Assim conhecia quase todo mundo. E caçava indiretamente o estranho mais lindo que tinha visto em toda sua vida.
Quando chegou ao escritório da Sra. Hanna que era a secretária do Sr. e responsável pelos recursos humanos da empresa, sentiu um pouco de medo. Havia feito tudo certinho, temia por ser mandada embora.
– Como vai, garota? – perguntou a secretária apontando a cadeira para ela sentar.
– Bem, obrigada. E a senhora? – perguntou educadamente, se acomodando.
– Bem, obrigada por perguntar. Então, sabe por que te chamei aqui?
engoliu seco. Estava morrendo de medo. Justo agora que tinha o encontrado.
– Não, mas eu juro que só fui buscar café lá embaixo porque a máquina do treze realmente não funcionava. – respondeu rapidamente, um pouco desesperada.
A senhora Hanna arqueou as sobrancelhas e depois anotou algo em sua agenda. temia estar encrencada.
– Precisamos arrumar isso, então, não acha?
– Certamente. – disse desconfiada – Mas a senhora não me chamou aqui para isso, não é?
– Não, querida. – a secretária de meia idade se inclinou na cadeira a observando por alguns segundos – Bem, o Sr. me resignou o trabalho de achar alguém capaz para acompanhar e auxiliar uma nova funcionária em grande potencial.
Ela sabia que eles iam mandá-la embora. Não a achava boa suficiente. Era isso.
– E então? – perguntou impaciente.
A Sra. Hanna sorriu.
– O que é isso em seus dedos? – perguntou de repente arqueando as sobrancelhas.
– Recados que preciso passar para as pessoas. Amarro para não me esquecer.
– Ótima ideia. – comentou sorrindo – É por isso que essa pessoa precisa de você.
Ela é uma engenheira e acabou de assinar seu contrato. Hoje termine seus afazeres e pode passar o resto para a pessoa que vou enviar até você. Amanhã, , você começa a trabalhar com Luna Aniballe.

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– Cara, precisamos comemorar! – comentou Andrew batendo em suas costas.
Eles haviam ganhado o projeto Rio 2016. Era uma vitória e tanto. Todos os olhos do mundo estariam agora neles. Com certeza eles precisavam comemorar.
seguiu Andrew e mais alguns amigos que estavam no projeto e foram para o escritório do CEO . Seu melhor amigo se despedia da garota Aniballe – a nova contratada – que passou por todos os rapazes, um pouco constrangida e assim que fechou a porta atrás de si os homens fizeram festa.
– Parabéns, meu rei! – disse abraçando .
– Essa foi foda. Confesso que cheguei a pensar que não ganharíamos. – comentou ele com um tom de voz que reconhecia muito bem. O amigo estava emocionado.
– Você é meu pote de ouro, ! Era óbvio que com você na parada ninguém teria chance.
Os rapazes riam concordando com cada palavra de . Essa era a verdade. Ninguém ali superava a inteligência do amigo e ele era humilde demais para saber disso.
, aos vinte e nove anos, possuía a maior empresa de engenharia de toda a Europa em suas mãos. E era seu único sócio.
Eles haviam se conhecido depois da faculdade, quando seus pais o fizeram ir para Dubai se especializar na área. não sabia se era destino ou muita coincidência, mas também havia sido forçado a estudar em Dubai, claro que por outros motivos que iam muito além dele, que iria descobrir muito mais tarde, mas ainda assim, ambos se tornaram melhores amigos.
A paixão pela profissão os conectou rapidamente, mas quando começaram a se conhecer de verdade e um dar espaço para o outro entrar na vida íntima, eles se tornaram muito mais que amigos. Se tornaram irmãos.
sabia que tinha muitos problemas, mas, apesar de tudo, ele sempre era o número um. Em qualquer quesito. Principalmente como homem. Assim, numa tarde de fevereiro, , cansado de fazer aquilo que lhe tirava os dias de paz, pensou em largar tudo e estudar música nos Estados Unidos – o que realmente fazia-o se sentir vivo –, foram os conselhos de que o fizeram ficar. A família de , por mais amorosa que era, queria estritamente que ele fosse um engenheiro tão bom e famoso quanto o amigo.
Era óbvio que ele jamais tentaria desbancar , mas a proposta do amigo era quase irrecusável. Ele ganharia mais dinheiro que seus pais – e isso era um orgulho – e podia ir a todos os concertos possíveis de música clássica.
No final, ser sócio majoritário da empresa mais aclamada da Europa e a oitava no mundo todo tinha suas vantagens.
se afastou um pouco para deixar os outros cumprimentarem o chefe.
Suspirou fundo, pensando que era muito melhor ficar no escritório do que em casa. Na verdade, era melhor ficar em qualquer lugar no mundo do que em casa.
– Hey! – se aproximou. – O que aconteceu? Sei que você devia ser o mais animado com essa notícia.
deu de ombros. Não sabia que era tão notável.
– Não aconteceu nada. – mentiu.
Ele não seria capaz de perturbar o melhor amigo no auge da sua carreira para atormentá-lo com problemas pessoais.
, eu te conheço há dez anos, pelo amor de Deus! É Amber? Ela veio aqui hoje mais cedo. Queria conversar, acho que sobre vocês.
se sobressaltou. Não acreditava que Amber pudesse importunar alguém no trabalho com assuntos de casa. Aquilo era um absurdo completo. Ela não tinha mais escrúpulos mesmo.
o encarou de forma suspeita. Sabia que estava acontecendo alguma coisa. Quando e Amber começaram a namorar ele dava o maior apoio, mas quando Amber começou a querer mandar na vida do melhor amigo, ele em silêncio reprovava aquilo. Não era mais um relacionamento saudável. Porém, sabia do amor que sentia por ela e sabia dos seus conceitos perante a vida. Ele jamais faria algo para sua própria felicidade. Ele sempre pensava nela, só na felicidade dela.
pigarreou um pouco desconfortável.
– O que ela veio fazer aqui? , desculpa.
– Por Deus, homem, você não tem que me pedir desculpa. – comentou revirando os olhos – Eu estava ocupado na hora, não pudemos conversar. Aconteceu alguma coisa?
– O de sempre. – Andrew estendeu a eles uma taça de champanhe. Era Perrier Joue – Nós brigamos por qualquer bobagem. Está em um nível insuportável, não sei quanto tempo aguento.
Seu amigo lhe olhou com cara de pena. Ele odiava quando o olhava daquela maneira, mas suspirou fundo. Estava irritado em um dia que devia apenas comemorar.
– Vamos beber! – comentou puxando o sócio para junto dos demais.
Era a única coisa que ele queria fazer. Beber e esquecer os problemas. E Amber.

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Ela era uma garota com vários propósitos na vida, contudo sabia que ainda era uma garota. Porém ser escolhida dentre tantas pessoas para ser secretária pessoal de uma engenheira era muito e sabia que precisava amadurecer. Ela faria dezoito anos em breve e se a Senhora Hanna achava que ela tinha capacidade de administrar aquele serviço, ela sabia que faria de tudo para que eles não se arrependessem.
Quando estava voltando para contar à Mellanie sobre as novidades, um rapaz com roupas simples a parou perguntando seu nome.
? – perguntou ele.
– Sim, posso ajudá-lo? – disse educadamente.
O rapaz pediu para que ela o ajudasse com todas as informações sobre o seu trabalho. Ele ficaria em seu lugar. o encarou. Não podia se conter dentro de si. Será que seus pais sentiriam orgulho dela? Suspirou fundo. Ela esperava que sim. Estava animada.
Passou a mão na calça jeans rasgada e depois o puxou pelo braço. Ensinaria tudo para o garoto, que no meio do caminho descobriu se chamar Brooklin. Ele até era bonito, devia ter uns quinze anos, mas não tinha mais olhos para ninguém enquanto não descobrisse mais sobre o homem do café.
Durante o resto da tarde ela mostrou a Brooklin coisas supérfluas que havia aprendido em algumas semanas, mas que fariam toda a diferença. Como ela fazia para guardar recados de todo mundo ou como fazia, indiretamente, Mellanie ajudá-la.
Tinha uma pulga atrás da orelha que provavelmente a ex-colega de trabalho pudesse seduzir o garoto para que fizesse todo o trabalho por ela, mas quis alertá-lo mesmo assim. Também o ensinou a separar alguns documentos por área e a mexer na bendita máquina de café. Ela não viu a hora passar, mas quando terminou de ajudá-lo com todas as artimanhas possíveis para se dar bem no emprego – ele parecia humilde e intimamente queria muito que ele se desse bem –, já era tarde e metade da empresa havido ido para casa. E o tempo lá fora não era dos melhores.
O mundo parecia que ia cair de tanto chover. Ela armou seu guarda-chuva, que não servia muito para protegê-la, mas pelo menos quebrava o galho até chegar ao metrô, que por sorte não era longe dali.
Caminhou segurando a mochila da escola na frente do corpo para não molhar os materiais e com uma mão ajeitou seus fones de ouvido. Não saia de casa sem eles.
Tocava uma música que ela não conseguia parar de ouvir. Say you love da Jessie Were, mas era uma composição de um dos seus artistas favoritos no mundo: Ed Sheeran.
aumentou o volume no máximo e no exato momento em que imaginou ter ouvido uma buzina ou um trovão, ela não sabia ao certo, seu corpo inteiro foi atingido por uma quantia exorbitante de água.
Em questão de segundos um carro em alta velocidade havia passado por ela e pronto. Ela estava encharcada.
– Filho da puta! – gritou ignorando as buzinas do motorista, que provavelmente devia estar rindo dela agora.
Ela revirou os olhos sentindo o queixo começar a bater. Odiava os dias de chuva em Londres, todo mundo parecia perder a educação. Como se a água levasse os bons costumes para o bueiro.
– Você quer ajuda? – indagou alguém parando com um carro luxuoso ao seu lado. Toda vida sempre tem um divisor de águas e, por mais simples que fosse, esse era o momento mais extraordinário que vivera. Aquele que mudaria sua vida para sempre. Ela não estava acreditando na sua sorte. Simplesmente não estava.
estava toda molhada e com frio, mas passaria por aquilo centenas de vezes se a cena que estava acontecendo diante dos seus olhos se repetisse sempre.
Meu Deus. Ela estava tão inerte na indignação das pessoas mal educadas, que simplesmente não havia percebido que o homem mais belo – e agora educado – estava parado do seu lado com o vidro aberto, perguntando se ela, uma reles mortal garota do subúrbio, queria sua ajuda. Será que se lembrava dela? Mal havia a olhado na cozinha. engoliu em seco, sentindo a língua pesar.
De todas as pessoas no mundo que podiam estar paradas bem na sua frente, a que ela menos imaginou ver naquele momento era ele. O cara dos olhos dourados, que para falar a verdade estavam mais escuros e talvez um pouco perdidos.
– O que foi? – indagou ela balançando a cabeça confusa.
Ele sorriu de lado, parando o carro por completo. sentiu sua alma se arrepiar.
Ela ruborizou um pouco e deu um passo para o lado.
– Quer ajuda? Eu vi o que aconteceu. – respondeu ele, com a voz rouca. – Vem, entra aí.
sabia que tinha que raciocinar nesses momentos que a vida lhe surpreendia, mas, meu Deus, como ela pensaria em alguma coisa com aquele homem lindo lhe oferendo ajuda? Ela tinha a sensação de que aquilo só podia ser destino. Ela não sabia explicar, não o conhecia, não sabia quem ele era, apenas que trabalhava na mesma empresa que ela.
Ele podia ser um maníaco, um tarado, mas ela não pensou, estava tremendo e já não sabia se era de frio ou de nervoso. entrou no carro e ele deu partida, fechando o vidro. Foi só então que ela percebeu o que estava acontecendo.
Estava no carro de um estranho. E não sentia medo dele. Ela se espremeu contra o banco, sentindo uma vergonha inigualável.
– Esses motoristas são horríveis, vi a hora que você saiu da empresa e logo foi molhada por aquele idiota! – disse ele, abaixando um pouco do volume do rádio. Ele ouvia uma música calma. Parecia clássica.
– É. – disse ela – Eles não respeitam ninguém.
olhou para as próprias mãos. Como aquilo era engraçado. Havia o procurado por semanas e agora estava ali, sentada no carro dele e sequer sabia seu nome.
Ela sabia que era uma garota comum, mas alguma coisa no mundo devia estar acontecendo. Talvez ela havia o encontrado mesmo.
– Onde posso te deixar? – perguntou ele.
Sua voz era inebriante, assim como todo o resto.
Ela se remexeu um pouco desajeitada. Ainda estava tremendo.
– No metrô, por favor. – disse apontando para a direita. Não queria se aproveitar dele.
Bem, ela não tinha certeza disso. Mas enquanto não soubesse quem ele era de verdade, ficaria no lugar mais próximo.
Ele curvou o cenho encarando o céu e depois a garota. Ela ia desmaiar a qualquer momento, sabia disso.
– Pode ser. – disse ele um pouco a contra gosto – Hoje não estou em condições de dirigir, mas, por favor, não diga isso a ninguém.
Ela não entendia o que ele queria falar, mas não teve muito tempo para pensar.
Ele estacionou em frente à calçada do metrô e a encarou sorrindo com a língua entre os dentes.
Meu Deus.
Ele havia acabado de ganhar mais um centímetro do seu coração.
– Espero que tenha a ajudado. – disse ele.
– Muito. Obrigada...
.
. – repetiu baixinho.
O nome dele em seus lábios saiu dolorosamente suave. Agora que ela sabia de quem ele realmente se tratava sua busca tinha terminado, mas por hora, porque no dia seguinte ela estava disposta a descobrir outras coisas. Talvez o caminho para chegar a seu coração. E depois saber o que ele pensaria sobre ser possivelmente o amor da sua vida.
– Algum problema? – indagou ele.
piscou algumas vezes, constrangida. Odiava ser pega vagando em pensamentos inoportunos.
– Não. Obrigada. – agradeceu novamente, saindo do carro.
Ele não havia perguntado seu nome e ela se sentiu uma tola. Sabia que ia se arrepender no dia seguinte. Maldição, ela nem ao menos sabia flertar.
Ele havia surgido diante dos seus olhos e ela sequer soube agir como uma mulher de verdade. Parecia que tinha visto um extraterrestre ao invés do homem que ela tanto procurava.
Mas tudo bem. Por hora.
Aquilo que tinha acabado de acontecer certamente a faria perder o sono. Porque nunca nada de bom acontecia com ela.
Mas agora se sentia diferente.
havia entrado em sua vida.

Capítulo 2



procurou pela casa inteira, mas não encontrou um maldito cigarro. Estava indisposto desde que chegara em casa na tarde anterior e a única coisa que estava o ajudando a manter a calma eram aqueles malditos cigarros.
Olhou no relógio da sala, estava quase na hora de ir para o trabalho. Pensou em ligar para o amigo e falar que não ia, mas se ficasse em casa provavelmente acabaria se separando e por essa ideia, por mais atraente que fosse, não queria ter de optar.
Quando chegou depois do trabalho e da diversão que era comemorar com os amigos – estava mais embriagado do que gostaria –, encontrou sua noiva tirando todos seus pertences do quarto de música. O quarto que ela havia feito para pôr seus instrumentos inclusive seu piano e as obras que ele mais gostava. Aquilo, para , além de ser irracional e arrogante, era uma falta de respeito. Ele jamais a contestara por não gostar das mesmas coisas que ele ou por ter feito dar seu cachorro para as irmãs porque ela dizia ter alergia, mas na verdade ele sabia que ela não gostava; ou quando ela pegou parte do closet dele para fazer de seu, fazendo ter que ir até o outro lado da casa todos os dias procurar por suas roupas.
jamais brigaria com Amber por coisas estupidas. Ele a amava.
Porém seu aposento com o piano e suas músicas, era algo que ele sempre havia dito a ela que respeitasse, porque era o único canto da casa que se sentia ele mesmo.
Quando viu todas suas coisas sendo encaixotadas e sabe-se Deus para onde ela levaria, ele simplesmente surtou. E foi deselegante, porque todos os porta-retratos que tinha com ela, das viagens que tinham feito em um passado que se amavam de verdade. Ele simplesmente destruiu. Ele se sentia um lixo, por Deus, não queria que seu relacionamento chegasse a esse ponto, mas estava exausto. Não havia pregado os olhos à noite toda.
Não queria e sabia que não devia esperar muito das pessoas, ainda mais pessoas como sua noiva. Que achavam que dinheiro e poder eram tudo.
Ela mal sabia que a única coisa que ele queria era ela. E a única pessoa que conseguiu que ele mudasse completamente de ideia, era ela mesma.
Ele se levantou da varanda e foi procurar alguma roupa que não cheirasse cigarro e álcool. Tomou um banho e vestiu qualquer coisa. Sabia que tinha que optar por um terno, ele era sócio da AEDAS, mas a única coisa que queria fazer era ficar deitado na cama o dia todo, pensando em que momento da sua vida tudo se tornou errado.

Quando conheceu Amber tinha vinte anos e ela dezoito. Eram duas crianças na sua opinião. Ela estava vestida com um vestidinho amarelo e seu cabelo loiro batia na cintura. Segurava livros nas mãos enquanto descia as escadas da sua faculdade com algumas amigas do lado. Ele imediatamente havia ficado bobo por ela. E para sua sorte – era o que ele pensava anos atrás – Amber também havia ficado boba por ele.
No mesmo dia ambos se esbarraram em um bar depois da aula. Ele descobriu que ela estava apenas conhecendo o campus, mas havia se apaixonado pela universidade.
Trocaram números e passaram a madrugada conversando e os dias e semanas também. Quando fez cinco meses, em um súbito de romance em sua vida – que ele agora se arrependia infinitamente – a pediu em namoro. Eles sequer haviam se beijado uma vez. Era tão ridículo que sentia vergonha de si mesmo.
Ele sequer havia a levado para cama. Bem, assim que a pediu em namoro, as coisas se encaminharam rapidamente e por si só. Essa era uma parte do relacionamento que ele sentia orgulho. Havia sido o primeiro homem dela e único, até os dias de hoje.
A única coisa que não conseguia entender, era como aquela garota dócil que havia conversado a madrugada inteira, a mesma garota que havia divido com ele os melhores momentos da vida, tinha se tornado alguém tão frio quanto Amber era.

Quando saiu de casa pegou um de seus carros - era uma Ferrari branca que tinha ganhado dos seus pais de presente de aniversário de trinta anos. Ele se sentia um velho quando lembrava sua idade e das coisas que tinha feito na vida. A maioria delas com a noiva. Queria tirar ela da cabeça, mas em quase todos os melhores momentos da vida, ela estava junto. O que chegava a ser penoso.
Colocou Bach para tocar no caminho para o trabalho e só não fechou os olhos para sentir melhor aquela vibração no peito que o fazia se sentir vivo porque estava dirigindo, mas assim que chegasse a seu escritório ele fecharia todas as persianas, colocaria Bach ou Vivaldi, trancaria a porta e tiraria o dia de folga. Precisava de um tempo para a cabeça. Para o coração.
Ele não tinha vergonha de admitir: já havia passado noites chorando por causa da noiva e de suas discussões. era um homem completo. Ele tinha todos os sentimentos que alguém podia possuir, só que algumas pessoas preferiam esconder certas coisas, ele por mais quieto que diziam ser, se lhe perguntassem sobre o que sentia, responderia com sinceridade.
Ele a amava e estava destruído.

.


Ela havia passado pela melhor noite da sua vida. Chegou em casa, tomou um banho quente e arrumou a mesa para o jantar esperando pelos pais. Estava ansiosa com a notícia sobre a mudança no trabalho. Nem ela conseguia crer em tudo o que estava acontecendo tão rapidamente. Nunca pensara que gostaria realmente de trabalhar na empresa. E a alegria mal cabia dentro do peito quando lembrava de .
Que coisa engraçada era aquilo. Quem poderia imaginar que ela receberia ajuda justamente dele? Não que o fato não fosse algo mais estupendo da sua vida, mas era tão inacreditável que por vezes parecia algo que ela mesma havia inventado.
Não. Nem ela poderia imaginar algo tão sublime como aquele encontro do acaso.
Ela estava encantada.
Quando seus pais chegaram, os fez sentar a mesa e os serviu. Sabia que sua mãe estava olhando desconfiada para o pai. Ou sua filha tinha aprontado ou sua filha tinha aprontado. O Sr. e a Sra. conheciam muito bem sua garota.
– Filha, o que houve? Não foi bem nos testes? – seu pai perguntou um pouco preocupado.
sorriu. Eles ficariam tão felizes quanto ela.
– Não, pai! Os testes serão apenas semana que vem. – ela se sentou na cadeira de sempre, ao lado do pai, de frente para a mãe – É outra coisa.
– Arranjou um namorado? Onde ele está? – a Sra. Sophie olhou em baixo da mesa brincando com a filha.
havia puxado o humor nobre da mãe. A garota revirou os olhos e seu pai escondeu um sorriso por trás do guardanapo. Benedict sempre ria das duas.
– Não, eu não achei um namorado, mãe! – mas poderia, pensou. – É melhor que isso.
– Ganhamos na loteria?
– Não. Agora subi ao cargo de secretária de uma engenheira muito requisitada. – ela não sabia se Luna Aniballe era realmente uma boa engenheira, mas queria crer que sim.
Seus pais a encararam boquiabertos. Aquela era uma ótima notícia. era uma garota inteligente e eles a admiravam. Era bom saber que a filha estava tendo uma boa vida depois de tudo o que tinha lhe acontecido. Benedict orava por ela e por seu bem estar todas as noites e às vezes durante as manhãs ou quando simplesmente queria que estivesse bem.
– Filha, que noticia maravilhosa! – comemorou a Sra. ). – Estou tão feliz por você.
– Obrigada, mamãe!
– Estou orgulhoso de você, filha! – disse seu pai – Quem sabe possa se tornar uma engenheira também, o que acha?
pensou um pouco sobre o assunto. Se ela trabalhasse sempre com , talvez a ideia não fosse tão ruim assim. Ela olhou para a mãe. Precisava contar sobre ele para ela.
Sophie era sua melhor amiga. tinha amigas na escola nova, mas nada comparado com as amigas que tinha na escola antiga – as que ela não queria ver nunca mais – as que ela não tinha mais contato. Agora sua melhor amiga e única confidente era a mãe. E ela surtaria com a filha quando soubesse da sua nova paixão.
Sua mãe vivia lhe falando que ela voltaria a se apaixonar novamente – mesmo tendo medo que isso viesse realmente a acontecer –, ela queria que a filha fosse tão feliz quanto ela e Benedict eram.


Na manhã seguinte, quando foi para a escola contou às suas colegas sobre o que estava acontecendo no estágio e sentiu as colegas vibrarem por ela. não contava muito sobre sua vida pessoal, mas o que contava sempre tinha apoio de algumas delas.
Depois que passou no restaurante perto da empresa e recebeu alguns elogios de um dos garçons, subiu para seu primeiro dia de secretária com um frio na barriga. Estava cinco minutos atrasada. Queria muito que Luna Aniballe gostasse dela. Queria mais ainda encontrar com .
Ela havia até passado um pouco mais de maquiagem e arrumado o cabelo. Queria conversar com ele. Ou pelo menos ver.
se contentaria com isso.
Quando chegou ao escritório que a Senhora Hanna a dirigiu, abriu a porta com tudo e se deparou com uma linda mulher. Ela engoliu seco, não sabia por que, mas imaginava a Srta. Aniballe velha. Não era bem aquilo que ela estava esperando, mas sorriu nervosa.
– Oi. Meu nome é , vou ser sua assistente. Desculpa chegar assim, me avisaram há pouco. – ontem na verdade, mas ela estava atrasada e não queria que sua chefe achasse que ela era irresponsável.
– Respire. – comentou a engenheira, achando graça na garota – Sou Luna.
Ela se levantou para cumprimentá-la. engoliu seco tentando falar algo, mas gaguejou, derrubando alguns papeis que estavam na mesinha ao lado. Lá estava ela de novo, falando demais. Fazendo besteira demais.
Luna riu e logo se afeiçoou por ela, ajudando-a a pegar todos os papeis do chão.
– Eu preciso que você separe alguns projetos para mim , acho que podemos começar por aí. Pode ser?
Luna Aniballe definitivamente sabia se portar como uma mulher de classe. sabia disso apenas pela maneira como ela se dirigia à ela. O que a fez sentir um orgulho imediato por ser sua secretária. Ela estava disposta a não decepcionar.
– Sim, está ótimo. Qualquer coisa é só me chamar. – disse se retirando da sala, indo para sua mesa.
Nossa, ela nem acreditava que tinha uma mesa só para si. Aquilo era surreal demais.
pegou alguns projetos, os quais a Srta. Luna havia lhe falado e separou conforme as datas. Não era um trabalho difícil. Ela com certeza iria adorar fazer aquilo.

.


– Sinceramente, não acho que Amber seja o amor da sua vida. – comentou o melhor amigo tirando da sua mão um copo de vodka e abrindo as persianas do escritório.
havia lhe contado sobre a briga com Amber durante a última noite.
– Vocês acostumaram a conviver um com o outro. – continuou ele – Não sei, , mas creio que a ideia não é correr atrás de quem amamos e sim andar ao lado.
Ele suspirou fundo. Tinha se dado conta, por fim, que seu amor por Amber simplesmente havia se desgastado, que era bem provável que ela já sentia isso também há muito tempo. Como ele podia ter deixado sua vida chegar àquele ponto? Já não era mais jovem, se arrependia amargamente de tudo o que havia perdido por conta dela.
Ele se levantou aos tropeços. Não devia perder mais tempo.
– Você está certo. – comunicou ao amigo – Não sinto nada por Amber, a não ser repulsa. Não faço ideia porque estou com ela.
– Porque você é homem demais para honrar com seus compromissos, porém precisa pensar um pouco mais em você e menos nela. Eu adoro a Amber, mas ela está diferente, não é a mesma garota que conhecemos. É gananciosa, calculista. Não te faz feliz, faz?
tinha razão em cada palavra.
– Há muito tempo que não.
O amigo segurou seu ombro com firmeza em uma tentativa que ele absorvesse cada palavra que dissesse.
– Se eu pudesse te aconselhar e dizer o que é melhor eu faria, mas a única coisa que te digo é: faça o que seu coração mandar. Não pense nas consequências. Só viva.
Jamais escaparia daquela mulher se ela o preservasse. Quando conheceu Amber ele nunca pensou que terminariam, ela era o amor da sua vida, mas agora muita coisa havia acontecido, mudado totalmente como cada um via a vida. Ele não queria mais ela. Ele queria sua vida de novo. Ele queria viver de novo.
Estava cansado dos jantares nas casas dos amigos que só sabiam conversar sobre como haviam gastado seu dinheiro ou como Catarina tinha ficado estranha depois da centésima cirurgia plástica. No começo do relacionamento, não conseguia pensar em sua vida longe de Amber e por mais que se envergonhasse de saber que era como ela no passado, não se reconhecia mais. Era como se ele fosse outra pessoa e sua noiva não. Agora ele não conseguia ficar perto dela. Sabia que estavam juntos pelo motivo errado. Porque depois de tantos anos, sabia que um não pertencia ao outro.
– Obrigado, cara, você é meu melhor amigo por isso, você sabe. – disse dando um abraço singelo em , seu confidente há dez anos. – Preciso fazer algo, não me espere.
não sabia se ia voltar. Não tinha certeza de como as coisas iriam se encaminhar. Mas quando voltasse, voltaria outra pessoa.

Não deveria ter se surpreendido. E, no entanto, se surpreendeu. Cada dia que passava já não sabia com quem vivia em baixo do mesmo teto. Quando chegou em casa para ter uma conversa definitiva com Amber, lá estava ela com algumas amigas – que ele não fazia questão de conhecer – mostrando o quarto de música, que agora estava vazio, falando que ali seria seu mais novo closet já que o seu não supria mais suas necessidades.
Ele estava enganado quando pensou que um dia as coisas mudariam. Agora tinha plena certeza que sua autoridade não existia mais e isso há muito tempo. Ele não estava nem um pouco interessado na conversa das mulheres e muito menos preocupado por nem ao menos cumprimenta-las. Estava com a paciência esgotada e queria muito que uma das amigas de sua noiva tivessem cérebro para notar isso e irem embora logo.
Não se importava se o achassem arrogante, queria que elas sumissem dali. Quando finalmente Amber percebeu que algo estava acontecendo, pediu licença para as amigas e foi até o noivo, que tentava inutilmente não ser grosseiro com ela ou cuspir todas as coisas que estavam entaladas em sua garganta como ácido.
– Aconteceu alguma coisa no trabalho? – perguntou ela docilmente o fazendo curvar o cenho, como se sua voz fosse uma faca cravada no peito.
– Quero terminar. – disse ele simplesmente. Não tinha porque falar mais nada, além disso. Não tinha porque esconder das amigas dela, que estavam logo atrás dele, que ambos viviam felizes.
Amber o encarou chocada e depois riu abafado, puxando ele pelo braço escada acima. Ela achava que seu noivo só podia estar louco. Ou usando drogas.
, o que disse? – perguntou confusa assim que chegaram ao quarto.
Ele deu de ombros cansado. Estava se sentindo péssimo, meio bêbado e o pior era que não conseguia tirar o sentimento de culpa do peito. Embora Amber tivesse procurado por aquele momento durante anos.
– Amber eu sinto que não somos mais nós. E sim você.
Ela piscou.
– O que está dizendo?
– Estou querendo dizer que não estamos na mesma sintonia. Você quer algo que eu definitivamente não quero.
Essa era a pior parte na opinião dele. Ter de explicar a ela o que era nítido. Eles não eram mais um casal. Eles haviam terminado há muito tempo.
, não comece com histórias para cima de mim. – disse ela, andando de um lado para o outro – Vamos jantar na casa dos meus pais hoje e esquecer aquela história de ontem e seus brinquedos.
Ele a encarou estupefato. Não acreditava que ela tinha mencionado seu piano como um brinquedo. Amber sabia desde o dia em que se conheceram – incrivelmente porque ela havia falado primeiro sobre música – que ele era absolutamente apaixonado por música clássica. Não se passava apenas de um brinquedo. Seu piano era parte do que ele era.
– Brinquedos, Amber? Pelo amor de Deus, pode me ouvir uma vez na vida? – sua voz se alterou e ele não se importava se as mulheres no andar de baixo podiam o ouvir – Eu não quero mais. Eu não quero viver mais com você, não quero me casar com você, nem ter uma vida ao seu lado, será que consegue entender isso?
– Você tem outra! Meu Deus! – ela parou de súbito gritando. – Como pode?
bufou irritado. Era seu pior pesadelo se tornando realidade. Será que ela era cega demais para achar que ele teria coragem de um dia traí-la? Ele se orgulhava do homem que era. O que o deixava mais irritado ainda.
– Eu jamais traí você. E, pelo amor de Deus, pare de se fazer de inocente, Amber. Acabou, está bem? Você não me respeita, não me escuta, não está preocupada com o que eu sinto. Eu estou perdendo minha vida com você.
– Não, não. Cale a boca. – disse ela andando de um lado para o outro como uma louca. Totalmente perturbada com tudo aquilo.
– Vim pegar minhas coisas. Meu advogado entrará em contato com você.
, pense bem no que está fazendo!
Ele queria dizer para sua ex-noiva que já estava pensando a tempo demais sobre aquele assunto. Que na noite anterior, enquanto ela dormia plenamente, ele havia passado a madrugada inteira acordado pensando justamente no relacionamento dos dois. Que, enquanto devia estar trabalhando, estava se embebedando porque simplesmente não conseguia parar de pensar nela. Neles. Juntos. No passado.
Agora a única coisa que queria fazer era pegar suas coisas, qualquer coisa que pudesse durar uma semana e sumir o quanto antes. Não queria mais ver aquela cena, ou ouvir a voz dela. Ele queria a sua felicidade. A felicidade que ela havia o roubado há tantos anos.
, me ouça, por favor. – ela foi ao lado dele o abraçando com força, ele sentiu um aperto no peito, mas estava decidido. Não cairia em tentação – Eu... Eu sei que não sou perfeita e que fiz a coisa errada em tirar seu piano da sala de música, mas se ele é tão importante para você, nós podemos achar um lugar para ele.
riu de lado. Céus, ela era realmente uma figura. Não sabia por que só agora havia notado isso. Estava noivo de uma mulher totalmente desiquilibrada.
– Vou passar a noite fora. – disse para amenizar a situação.
Por mais que seu ego quisesse que ela se ajoelhasse implorando para ele ficar, seu cavalheirismo falava mais alto. Nenhuma mulher deveria se ajoelhar diante de um homem. A não ser em uma única ocasião. O que na verdade ele nem lembrava mais como era.
balançou a cabeça.
– Amanhã conversamos melhor. Por ora, me deixe em paz.
Amber assentiu ficando vermelha de irritação. Não ia contestá-lo, as amigas ainda estavam lá em baixo e seria melhor que eles conversassem outra hora mesmo. Sozinhos.
deixou a casa com um alívio no peito. Por mais que tivesse falado para Amber que conversariam no dia seguinte, ele estava disposto a nunca mais por os pés lá. Assim que saiu foi direto atrás de um apartamento. Um de solteiro.
Talvez de um solteiro libertino.

– Senhorita Aniballe! – disse quando viu a mais nova contratada da empresa.
Tinha ido até a AEDAS novamente para contar a novidade para seu melhor amigo.
Ela o encarou curiosa e depois sorriu. Luna era linda. Mas sabia que era do seu amigo. Sempre fora e sempre seria.
– Sr. . – disse ela cordialmente.
a segurou pelo braço de leve, se sentia um pouco atrevido. Nunca chegara em uma mulher daquela maneira. Eles caminharam pelo corredor para onde ficava a sala dela, ele pigarreou antes de falar. Precisava pedir desculpas a ela, no dia anterior não havia dado atenção direito e nem a parabenizado pelo novo emprego.
– Sinto muito por aquele dia. – disse dando de ombros – Estava tão extasiado pela notícia que acabei sendo rude.
Ela sorriu sincera. Ele sabia que tinha agido de modo estranho, mas estava tão perturbado com tudo que não notara.
– Não se preocupe. Foi um momento de vocês, eu que não deveria estar lá.
sorriu com a língua no meio dos dentes, fazia isso quando queria provocar Amber, mas essa não era ela e estava longe de ser alguém que ele gostaria de provocar. balançou a cabeça negativamente. Ainda estava meio bêbado.
– Posso acompanhá-la até sua sala?
– Claro.
– O que achou desse dia? Não está propício para ter novas ideias? Estou meio animado para novos projetos. O clima me inspira. – disse tentando puxar assunto.
Não tinha mais prática com isso, mas queria treinar com uma garota a altura que não tinha possibilidade alguma de acontecer algo.
– Acho. Gosto de dias ensolarados, eles realmente inspiram também. – concordou ela totalmente alheia a aquela conversa estranha.
abafou um riso, ele estava sendo um babaca, mas ela era muito delicada para falar isso. Ele sabia.
Quando pararam em frente à porta do escritório dela, uma garota loira estava vermelha como se algo tivesse lhe acontecido. logo se adiantou.
Era seu cavalheirismo falando mais alto.
– Você está bem? – perguntou preocupado.
Ela sorriu amarelo se abanando.
– Me afoguei com a água. – respondeu dando de ombros.
Ele assentiu se afastando de Luna.
, nós conversamos depois. – disse Srta. Aniballe a garota – , obrigada por me acompanhar.
– Imagina. – disse ele, curvando-se levemente. A garota loira, que agora ele achava que se chamava ou Nandy - ele não havia entendido direito -, parecia que ia desmaiar. Ele se curvou perto dela um pouco preocupado.
– Tem certeza que está bem? – perguntou ele de novo com desconfiança.

.


Ai meu Deus, ela ia desmaiar a qualquer momento.
Estava tão concentra nos últimos acontecimentos – ela jurava que alguma coisa estava acontecendo entre a Srta. Luna e o Sr. – que não percebeu que caminhava de braços dados com sua chefe.
Era errado desejar ser outra pessoa? Podia ter se enganado e todo esse tempo quem estava flertando com Luna fosse ele. Seria ruim demais se ela perdesse o encanto por Aniballe? Era óbvio que tinha notado a nova contratada deles. Ela era uma engenheira e se não fosse por ela, ainda serviria café. Ou seja, ele jamais a notaria. não sabia se a agradecia por esse fato ou se morria de ciúmes, porque agora ambos caminhavam conversando amigavelmente em direção à ela.
Luna a olhou de forma desconfiada e sentiu seu rosto pegar fogo. Não queria ter sido pega em flagrante, mas por Deus, o mundo seria muito injusto se ele tivesse flertado com Luna bem na sua frente.
Quando eles notaram que algo estranho estava acontecendo com a garota, definitivamente ela enumerou todos os bons motivos que seria morrer aos dezessete anos. Ele não podia ter ficado de boca fechada? Ela estava hiperventilando e ele queria saber se estava bem. Era óbvio que responderia a primeira asneira que viesse em sua mente. Ela sequer tinha um copo de água sobre a mesa.
Quando Luna se despediu de ambos, olhou fixamente na mão dele. Não sabia por que tinha deixado passar aquilo. Ele tinha tatuagens sobre as mãos. Ela engoliu seco, pensou que fosse desmaiar se ele continuasse ali, a fitando de um jeito estranho.
– Tem certeza que está bem? – ele perguntou de novo e ela piscou algumas vezes.
– Estou sim, obrigada.
assentiu. Ou melhor, quis assentir. Não soube ao certo se conseguiu.
– Ótimo. – falou ele baixinho – Até breve.
Ela levou uma das mãos até a têmpora quando ele virou de costas. Por Deus, aquilo tinha sido extremamente vergonhoso. Ele não lembrava dela.
Não, era pior que isso.
Ele havia a ignorado completamente. Não tinha explicação. Não tinha como fingir que não lembrava. Nossa, ela devia aprender que nem tudo era um filme da Julia Roberts.
Que vexame.
Não sabia o que sentir. Droga, nem mesmo lhe passara pela cabeça que isso poderia acontecer. Havia fantasiado tanto na noite anterior como eles se veriam de novo que não tinha se preparado para não acontecer absolutamente nada.
Ela deixou escapar um suspiro. Se sentia patética.
– O que houve? Estão te escravizando? – perguntou Mellanie saindo do corredor, parando em frente a sua mesa, com papeis nas mãos.
– Ahm... – pigarreou, estava aborrecida, mas não queria que ela soubesse – Estou só pensando.
Ela deu de ombros e Mellanie assentiu como se importasse com algo.
– Adivinha quem acabei de encontrar! – disse ela empolgada.
– Quem?
– O Senhor ! – respondeu ela de pronto – Está tão gostoso.
revirou os olhos. Não podia crer que Mellanie estava lhe perturbando com aquilo. Queria ter uma amiga que pudesse contar o que estava sentindo, mas sabia que se falasse para ela sobre a carona que havia ganhado de e sobre como ele havia a ignorado ainda há pouco, provavelmente faria a colega de trabalho parar no hospital de tanto rir da sua cara.
– Você está ouvindo o que eu disse? – perguntou ela irritada.
– O quê? Me desculpe.
Mellanie a encarou com cara feia.
– Estava falando que dormiria com se ele quisesse.
Ela paralisou.
?
– Sim, garota. Que mundo você está hoje?
deu de ombros, ignorando a pergunta de Mellanie Subalski.
– Quem é ? – perguntou como se não o conhecesse.
Mellanie sentou sobre a mesa de , tirando uma lixa de unha do meio dos peitos. não entendia como ela fazia aquilo.
– Ele é como se fosse o dono da AEDAS também. O Sr. é um desses tipos de homens ricos que compram uma parte da empresa, você sabe? A maioria das funcionarias sonha em transar com ele. Mas infelizmente ele tem uma cobra enroscada no pescoço. A Srta. Amber. Uma pomposa com cara de iguana.
engoliu em seco, desejando que aquilo não fosse tão difícil de ouvir. Ora, pelo amor de Deus, de tantos homens que podia se apaixonar subitamente, ela havia escolhido justamente um que estava totalmente fora do seu alcance.
Era tão nítido como ver o fundo do mar em Krabi que ele a ignoraria hoje. Afinal , era dono da empresa que ela trabalhava. Uma mera garota que havia entrado trabalhar ali como estagiária.
Minha nossa, ela havia aceitado carona do chefe. E ele ainda era noivo.
Era quase engraçada sua má sorte.
Quase.

Capítulo 3



– Mãe! – ela gritou para a Sra. pela enésima vez.
Sua mãe simplesmente não conseguia parar de rir ao imaginar a filha vermelha como um tomate, apenas por ciúmes. O rapaz devia ser muito bonito mesmo.
– Sophie , quer me ouvir, por favor? – chamou atenção da mãe já impaciente.
Talvez não fosse a melhor ideia contar à ela sobre e a vergonha que tinha passado. Sentia-se tentada a estrangular a mãe por rir e depois a si mesma por ter sido tão patética. Tudo o que ela queria era ter uma conversa descente com ele; fazer com que ele notasse sua presença, mas tinha leve impressão que se o visse novamente, ele sequer saberia quem ela era.
– Você precisa ser mais culta! Ele é um homem mais velho, tem que parar de falar essas baboseiras todo o tempo.
Ela suspirou fundo, sabia que a mãe estava certa, mas mesmo assim soltou um xingamento baixinho. Não queria ser desse jeito. Queria ao menos uma vez na vida fazer a coisa certa. A Sra. , que arrumava a mesa para o café da manhã, olhou a filha com carinho.
– O que quer que eu faça? – indagou , mordendo o lábio.
– Eu não quero que faça nada! – retrucou a mãe com um suspiro – Minha filhinha podia muito bem pensar só nos estudos. – revirou os olhos. Não queria ser mais uma tola – Mas se gosta tanto dele assim, sugiro que amadureça.
– Mas eu sou madura! – retrucou ela.
– Claro que é, mas que tal ler um jornal? Um artigo sobre engenharia? Vocês precisam ter o que conversar. E espero que conversem o tempo todo.
– Mãe!
– O que quer que eu diga? Está atraída por ele, isso eu não tenho dúvidas. Ver você sem fala é algo que poucos conseguem! – Sophie conhecia muito bem a filha para lhe dizer isso com propriedade. Se ela não gostasse nem um pouco do rapaz, jamais perderia tempo pedindo a ajuda à mãe – Mas e ele? Não quero que te faça nenhum mal.
– Ele mal me olha.
– Faça-o olhar. Mas com cautela, não aja como uma garota que se insinua. – Sophie fez careta – Eu acho tudo muito cedo, mas não se preocupe, vou te ajudar.
– Obrigada. Só não conta ao papai. Ele não entenderia.
Sua mãe assentiu, mas tinha plena certeza que ela acabaria dando com a língua nos dentes. Sra. contava tudo para Benedict.
– Como é mesmo o nome dele? – indagou voltando para a cozinha.
. – respondeu ela, com um suspiro no final.
– Ótimo. – disse a mãe – Vá logo para a escola, mais tarde conversamos.
a encarou desconfiada, tinha um leve palpite das novidades que contaria para a mãe no fim do dia, mas sorriu dando um beijo de despedida.

A aula passou rápido. Quando saiu da escola sentiu como se seu estômago abrigasse várias borboletas. Tinha algo no ar, ela não sabia explicar. Talvez a conversa com a mãe tivesse a entusiasmado.
Lógico que ela havia omitido a parte que ganhara carona dele e que era noivo - a mãe surtaria com ela -, mas só de ter compartilhado com sua única amiga de verdade sobre alguém que ela estava totalmente encantada, já a fazia se sentir viva. Feliz.
Quando chegou ao restaurante de sempre para almoçar antes de ir ao trabalho, seu celular tocou. Era Sophie .
Ela mordeu o lábio. A mãe era totalmente coruja e agora que sabia da paixão da filha por um desconhecido, tinha a impressão que, indiretamente, havia deixado a Sra. mais cuidadosa ainda.
– Mãe? – indagou ela.
– Você não acredita o que sua mãe achou! – Sophie pensou um pouco em como começaria a explicar a ela que tinha feito uma pesquisa no Google em busca de quem sua única filha estava apaixonada.
– O que houve?
– Sua mãe buscou no Google.
abriu a boca chocada. Como não queria rir da mãe. Ela só podia estar louca. Se bem que aquilo era totalmente aceitável vindo de Sophie .
Ela fez seu pedido ao garçom bonitinho, rindo baixinho.
Sua mãe não existia. Antes de mudar de colégio ela e Sophie eram próximas, mas não tanto como agora. A amizade de ambas era algo que jamais imaginou que pudesse acontecer tão profundamente. Ela amava a mãe e todo o apoio que recebia em cada decisão.
Procurar por na internet era algo que ela não sabia explicar, só sua mãe seria capaz disso.
– Descobriu algo? – indagou se sentindo tola.
– Descobri. Ele se chama e tem trinta e um anos. Você não me disse que era tão velho. – Sra. fez careta, mas continuou. Nem sabia a idade dele – Vi algumas fotos dele em um evento e descobri porque está apaixonada por esse rapaz tão rápido. Ele é muito bonito. Está acompanhado com o sócio. Há uma pequena nota que diz que além de ser sócio da AEDAS, tem mais sete empresas no seu nome.
sequer teve tempo para pensar. Sete?
– O evento que ele está é um concerto de música clássica. Diz assim “Além de ser um homem de negócios, gosta de ter um tempo livre para fazer o que mais gosta. Música clássica é sua paixão e ele não perde nenhum espetáculo.”
– E agora, mãe? Senhora não pareceu se importar com aquelas notícias. Deu de ombros do outro lado da linha.
– Agora você sabe com quem está lidando. E, se gosta mesmo dele, saberá como agir.
sentiu como se tivesse levado um soco. Muito pior do que saber que ele era noivo era saber que, com certeza, ele jamais olharia para ela. Porque provavelmente sua noiva estava à altura dele. Algo que sabia que jamais estaria.
Agora que tinha descoberto sobre quem era de verdade, ela pensara que era melhor ter contado a verdade para sua mãe, para que de algum jeito ela fizesse desistir da ideia absurda de que ele era sua alma gêmea.
– Você está bem, querida? – sua mãe quis saber.
– Estou pensando apenas.
Sophie suspirou fundo. Queria ajudar a filha, mas tinha receio. era inocente demais.
– Pense. – disse ela – E depois que se decidir sobre o que quer, eu sugiro que vá ouvir um pouco de Bach. Talvez isso a ajude.
assentiu firmemente. Sua mãe tinha razão. Entrelinhas ela havia entendido o recado.
Depois de almoçar, deixou o restaurante decidida. Ela não estragaria nenhum relacionamento, longe disso.
Mas algo dentro do seu coração dizia que ao menos ela devia tentar. Porque ela sabia que tinha o encontrado, só não sabia ainda como faria com que ele também soubesse disso.



estava disposto a ser vizinho do melhor amigo no One Hyde Park. Ele sabia que logo pararia com as festas agora que Luna Aniballe estava em sua vida, mas havia optado para um apartamento menor porque sabia que quando Amber descobrisse realmente que ele queria levar o término a sério, ela surtaria e tentaria arrancar até suas vestimentas.
O apartamento era bem menor do que seu quarto na casa que dividia com ela durante os últimos anos, mas seu conforto e sua paz eram tudo o que queria. Ele ainda precisava de uma cama e de todo o resto – ainda mais quando lembrou pela manhã que estava praticamente solteiro – para recepcionar novos amigos. E amigas.
Não que ele planejasse sair por aí ficando com toda – e qualquer – mulher que visse pela frente. A ideia até era atrativa, mas esse não era ele. Não fazia parte de quem ele era. O máximo que poderia acontecer era uma transa com uma, depois de uns meses, quem sabe, outra. Estava cansado da monogamia, disso ele tinha plena certeza.

Quando saiu de casa, pela manhã, pegou a Ferrari. Não via a hora de voltar para casa e pegar seus outros carros. Assim que esse dia chegasse ele teria que procurar outro lugar para ficar. Um que acomodasse todos seus brinquedos. Não brinquedos como Amber havia falado, tinha vários carros – doze, para ser mais exato – e precisava de uma garagem que portasse todos, assim como tinha em casa. Ele não considerava seus carros como brinquedos, ele era apaixonado por suas máquinas. E não conseguia conter sua ansiedade para correr com todos eles, já que Amber vivia pegando no seu pé que aquilo era um desperdício de dinheiro.
não falava, mas como queria ter dito pelo menos uma vez que as roupas que ela comprava eram tão inúteis para ele quanto seus carros para ela. Ao menos comprava alguns os deixava guardado embelezando sua garagem, andava uma ou duas vezes e depois – os que ele não tinha uma paixão súbita – leiloava para ajudar as instituições carentes pelo mundo. Ele mesmo pesquisava e escolhia cada ONG que merecia receber a quantia acumulada nos leilões. Já havia doado diversas vezes para seu país e para a África. Amber até concordava no começo, mas quando pediu que ela escolhesse algumas roupas para doar ou leiloar, ela fez careta falando que jamais daria suas roupas para moribundos.
Era esse tipo de situação que ele agradecia por estar livre.
chegou na empresa direto no setor mais detalhista, onde normalmente as mulheres tomavam conta. O designer de interiores.
Mesmo sabendo que não ficaria naquele apartamento por muito tempo, queria aconchego. Não sabia até quando, mas o processo de separação de bens – mesmo eles não sendo casados, era por lei que dividissem metade do que conquistaram juntos nos últimos quatro anos que estavam noivos – podia demorar meses.
Assim que pediu à Sarah – que na opinião dele era uma das melhores ali -, tirasse o dia para arrumar seu apartamento, sabia que quando desse as costas a novidade de que ele e Amber tinham terminado correria a solta pela empresa.



O dia havia se transformado em uma loucura, sabia que algo estava acontecendo entre Luna Aniballe e , mas ela não sabia até que ponto as coisas estavam envolvidas entre eles.
Quando chegou ao escritório o Sr. estava impaciente esperando pela sua chefe. não fazia ideia de onde ela havia se metido, mas estava com pressentimento que assim que ela chegasse, surtaria.
Era estranho, até então nunca havia conversado com ele, afinal o Sr. era o dono da empresa e ela uma simples secretária. Quando ele perguntou sobre Luna, ela achou que ia desintegrar ali mesmo. Para sua sorte, ele se trancou no escritório dela deixando respirar.
Alguns minutos depois – que foram torturantes, já que todo mundo ia atrás de e consequentemente perguntavam dele para ela – Luna Aniballe chegou. Estava esbaforida, falando que estava atrasada e que conversaria com depois, mas ambos não ficaram um minuto sequer dentro do escritório da Srta. Luna e logo saíram, deixando uma garota sozinha fantasiando sobre o novo casal.
Mas por pouco tempo, porque assim que eles saíram uma enxurrada de perguntas de Mellanie – e algumas outras mulheres que ela não conhecia – vieram sobre os dois. dava de ombros, não queria se intrometer na vida da sua chefe, sentia amabilidade por ela.
– Esse mundo está de cabeça para baixo mesmo! – disse Anna, entrando na cozinha, enquanto elas fofocavam sobre Luna e .
– O que houve? – perguntou Mellanie.
Ela era a mulher que queria saber de tudo e principalmente da vida de todos. Quando Luna soubesse das perguntas e dos comentários inapropriados que Mellanie estava falando sobre ela, com certeza ficaria irritada. E dava razão.
– Vocês não estão sabendo? – indagou a garota e depois que percebeu que ninguém realmente sabia do que ela estava falando, riu sarcástico. – Meu Deus, o Senhor está solteiro.
cerrou os dentes e prometeu a si mesma que manteria a calma na frente de todas aquelas mulheres fofoqueiras. ? Solteiro? Por Deus, aquilo só podia ser piada.
– Por que acho difícil acreditar em você, Anna? – indagou Mellanie curvando o cenho.
Anna deu de ombros, revirando os olhos. tinha a sensação que elas logo começariam a se engalfinhar.
– Meu Deus. – falou Anna devagar – Por que eu estaria mentindo?Joanna disse que ele foi até a Kate pedir diretamente para ela decorar seu apartamento. Apartamento de solteiro.
Mellanie jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. a encarou horrorizada.
– Não tenho notícia boa há anos. Agora que foi agarrado por aquela sem sal, está solteiro. Que sorte a minha.
arquejou. Não acreditava que Mellanie fosse tão dada. E essa, talvez, fosse a melhor opção para não ofendê-la. Por um minuto inteiro ficou em silêncio. A verdade era que desde o momento que tinha colocado os olhos sobre , tudo na sua vida começou a acontecer de uma forma inexplicável. E agora que ele estava solteiro e nada impedia que ela tentasse flertar com ele, existia uma barreira muito diferente e talvez a mais complicada de todas: mulheres.

Ele se manteve imóvel. De todas as pessoas que poderia encontrar em seu escritório, a menos provável era sua família. Mais precisamente, seus pais e sua avó materna.
Eles falavam por vinte minutos e cada palavra de seu pai e sua mãe era uma tortura. Ambos eram encantados por Amber.
– Você não pode simplesmente jogar tudo para o alto! – disse seu pai impaciente, andando de um lado para o outro.
colocou a mão sobre as têmporas, estava com dor de cabeça e se sentia indignado por eles estarem em seu trabalho o perturbando aquela hora do dia.
– Pai, por gentileza, não quero discutir mais esse assunto.
Eles estavam o tempo todo defendendo Amber. Ela tinha ligado para seus pais falando que devia estar passando por uma fase difícil, que ele estava diferente e até tinha mencionado o término.
Ele se sentia irritado. Não tinha mencionado absolutamente nada. Tinha comunicado.
– Você não deve agir como um moleque! – o Senhor pigarreou – Está encantado por outra mulher? Filho, é tolice, não seja bobo.
– Não. Eu não estou encantado por outra mulher, pai. Simplesmente não quero mais viver com Amber. Não a amo.
Seu pai riu de escárnio e pelo canto dos olhos viu que sua avó e sua mãe o encaravam a contra gosto.
– Você vai jogar no lixo uma garota como ela por que se não tem outra?
engoliu em seco. Não queria discutir com o pai na frente das duas mulheres que mais amava. Queria que ele entendesse de uma vez por todas que o que tinha com Amber era apenas visual.
Agora ele sabia e entendia porque havia ficado com ela durante todos esses anos: era prazeroso desfilar com uma mulher como ela, sempre tão chique, educada e linda, mas com o passar dos anos convivendo com ela diariamente depois do noivado, ele vira que Amber não passava de uma mulher mesquinha. Ela tinha uma vaidade excessiva e gostava que todos reparassem em qualquer detalhe dela, que a elogiassem.
Ela era vazia e ele não tinha vontade alguma de passar o tempo junto dela. Não tinham a mesma química de anos atrás, eram duas pessoas totalmente diferentes.
– Pai, eu simplesmente cansei. Não quero me casar com alguém como ela. Vocês não entenderiam, não convivem conosco.
sentou ao lado da avó, que havia ficado em silêncio o tempo todo.
– É difícil, é penoso. – disse ele, passando a mão pelos cabelos.
– Querido – começou sua avó, pegando sua mão –, eu entendo. Seu pai e sua mãe não compreendem porque tiveram, pela graça de Deus, um casamento bondoso e verdadeiro, mas sei que a garota Amber não é para você!
– Mãe!
– É verdade, querida. Seu filho está infeliz. O que ele teve com Amber se concretizou há muito tempo. O que ambos precisavam aprender com o outro já acabou. É um ciclo da vida, é natural.
– Obrigado, vovó. – agradeceu ele.
Sua avó era totalmente espiritual e ele entendia muito bem o que ela queria dizer quanto ao relacionamento dele. Ela acreditava em alma gêmea e essas coisas tolas de garota, mas, apesar de tudo, sua resposta havia sido o suficiente para calar seu pai e mais tarde ele compraria uma joia para ela em agradecimento. Mulheres da sua família adoravam joias.
– Acho que preciso ficar sozinho agora. Tenho alguns assuntos para resolver.
O primeiro seria ligar para Amber e pedir com delicadeza – ele faria o possível – para não maltratá-la, por ter contado o que estava acontecendo ao seus pais. Eles não eram mais adolescentes idiotas, tinham que enfrentar o problema de frente.



Não havia nada que pudesse fazer, ele era um dos donos da empresa e ela uma secretária. Ele tinha trinta e um anos e ela dezessete.
Quando voltou para o escritório com aquela notícia seu inconsciente dizia que ela precisava contar à mãe e dançar. Era o que uma garota que se dizia apaixonada faria, porém não estava certa disso quando começou a pensar em todas as pessoas que teria que passar por cima – indiretamente, é claro – para conseguir chamar a atenção dele.
, um homem lindo, absurdamente lindo, tão rico que ela mal conseguia imaginar e solteiro depois de tanto tempo? Minha nossa, ela teria mais sorte se tivesse o conhecido de verdade antes.
A vida era mesmo irônica. E se Deus queria lhe mostrar alguma coisa agora, ela estava longe de saber o que era, porque nem nos seus devaneios do mundo ela tinha imaginado algo como o que estava acontecendo.
, está me ouvindo? – perguntou Srta. Luna, fazendo-a piscar algumas vezes.
– Sim? Nossa, você está ai. Que horas chegou?
Luna sorriu de lado, arrumando o cabelo e a roupa amarrotada.
– Acabei de chegar, na verdade. – informou ela. – Vou terminar alguns projetos, estou atrasada. Você poderia fazer o favor de entregar esses papeis ao Diego e depois vir à minha sala?
assentiu veemente. Ainda bem que Luna havia chegado, assim ocuparia a cabeça com algo que valesse a pena. Ela pegou os papeis da mão de Aniballe e saiu rapidamente atrás de Diego, que ficava no oitavo andar. Aproveitaria para parar e conversar com Brooklin no meio do caminho, queria saber se ele estava indo bem com Mellanie. Já não gostava mais dela e se antes a achava uma péssima colega de trabalho, agora ela a odiava.
Além de falar mal de Luna por ciúmes, queria se insinuar para .
Ela engoliu em seco, não conseguia parar de pensar nele. Era inevitável, até porque todos – sem exceção – estavam falando das últimas notícias.
– Soube do Senhor ? Nossa, a noiva dele era tão gostosa! – disse Diego, quando ela chegou.
se limitou em revirar os olhos e sorrir. Queria falar com alguém sobre como se sentia, sem ser a mãe, até porque Sophie não sabia que ele estava noivo até algumas horas atrás. voltou ao treze indo diretamente ao escritório de Luna, queria fazer tudo o quanto antes e ir para casa pensar. Ela se sentia estranha, devia estar feliz.
Quando abriu a porta de Aniballe, ela a viu sorrindo como boba para o computador. Imediatamente sorriu. Sabia que alguma coisa tinha a ver com o Senhor .
– Acho que você está apaixonada! – cantarolou ela, não segurando a língua.
Luna deu um pulo assustada. Ela riu. Queria descontrair.
– Acho que você é uma coscuvilheira, sim! – afirmou ela.
– Coscu.. O quê?
– Intrometida, . – explicou Luna e ela fingiu uma cara afetada – O que quer?
ia falar que era ela quem a tinha chamado ali, mas a Srta. Aniballe estava tão boba e em outro mundo – ela sabia que estava apaixonada, conhecia muito bem o tipo de sintoma que essa doença causava – que resolveu provocá-la.
– Não sei se você merece que eu te conte!
– Fala logo!
Ela enrolou um pouco e sentou na beirada da mesa. Não tinha tanta intimidade com Luna, mas sentia que podia confiar nela e queria muito compartilhar com alguém a novidade.
– Ouvi boatos que e Amber terminaram o noivado! – ela suspirou fundo, como se estivesse no paraíso.
– E o que nós temos haver com isso? – indagou Luna.
– Os rapazes estavam falando na cafeteria – ela havia escutado enquanto levava os papeis de Diego – que ele pretende fazer uma baita festa na sua casa e quer convidar todos! Já pensou? Eu na casa do ? Meu Deus do céu!
Tudo bem. não tinha papas na língua mesmo, sua mãe sempre lhe dizia isso, mas aquela novidade estava a sufocando. Não tinha com quem compartilhar e assim que viu Luna toda boba – como ela – achou que pudesse desabafar de uma vez. bSua chefe a ficou a analisando por alguns segundos e depois sorriu balançando a cabeça.
, quantos anos você tem? – perguntou ela, animada.
– Vou fazer dezoito daqui uns meses!
– Achei que fosse mais velha.
– Todo mundo acha. Espero que o também.
Luna curvou o cenho.
– Tem alguma coisa ai que eu não estou sabendo?
Suas bochechas coraram simultaneamente. Luna teve certeza que a garota tinha uma queda por .
?
Ela pigarreou dando a volta na mesa, se sentando em uma das cadeiras.
– Ele é muito lindo, Luna! Toda vez que o vejo sinto meu peito arder! E quando o conheci foi algo inexplicável. – ela suspirou fundo – Ai meu Deus, quando sorri minha alma sai do corpo! ¬
Luna riu percebendo que ela não só tinha uma queda por , como também era completamente apaixonada por ele.
– E ele demonstra interesse? – perguntou ela, curiosa.
baixou os olhos um pouco triste. Era constrangedor falar que ele sequer lembrava dela, mesmo tendo a ajudado.
– Não, ele nunca me olhou.
Na opinião de Luna, era muito bonita. Se tirasse aquele moletom e começasse a agir de maneira mais adulta, podia facilmente chamar a atenção de qualquer homem. Até mesmo .
Ela sorriu envergonhada. Era a conversa mais pessoal que tivera com alguém que não fosse sua mãe e nossa, era tão bom falar dele em voz alta.
– Agora, acha que ele pode te olhar com outros olhos?
Ela mordeu o lábio apreensiva. Era tudo o que queria.
– Bem, pelo menos subi de cargo – respondeu piscando para Luna – Já vou fazer dezoito anos, então imagino que só depende de mim.
Essa era a maior verdade que havia dito durante aquela conversa.
Se ela estava apaixonada por ? Sim, ela estava. sentia que ele era o cara que ela sonhava encontrar todos os dias. Se ela estava com medo? Mal podia respirar. Já havia se decepcionado profundamente e não queria errar de novo. E se tudo dependia apenas dela para acontecer? Ela tinha plena certeza.
– Se ele convidar à todos você me ajuda? – perguntou ela tomando a esperança novamente.
Luna sorriu de lado, se apoiando com os cotovelos na mesa.
– Acha mesmo que eles terminaram e que vá fazer isso? – indagou ela.
– É tudo que eu espero. – respondeu sincera.
Luna olhou para a garota a sua frente sem medo algum de ter aquilo que queria. De certa forma ela a inspirava.
– É claro que te ajudo, mas agora preciso fazer uma coisa. Você pode me dar licença?
assentiu e pela primeira vez sem perguntar nada, saiu da sala. Estava feliz.
Agora tinha uma amiga.



A pior decisão de em toda sua vida era ter ligado para Amber. Não, ele estava enganado. Era antes disso, talvez quinze anos atrás, para ser mais exato, quando um súbito de idiotice havia o atingido e ele imaginado que estava apaixonado. Que grande merda havia feito na sua vida.
– Amber, você não pode ficar se culpando dessa maneira. – bufou irritado.
Depois de todos esses anos, agora ela dizia ser a culpada de tudo. De fato, como queria concordar com ela, mas sabia que cometeria mais um erro fatal.
Ela soltou uma risada amarga.
– Você não me ama mais, é isso? Só diz pra mim a verdade.
Ele suspirou fundo, irritado. Meu Deus, sua paciência estava esgotada. Por que as pessoas começavam a achar erros depois que tudo se acabava? A pedir perdão, a falar que vão mudar.
Ele estava cansado daquela discussão.
– Não temos mais nada para conversar. Não ligue mais para meus pais, nem para . Não nos perturbe.
– Você tem outra não tem? – disse ela, amarga.
– Não, Amber, eu não tenho outra, mas como gostaria de ter.
– Eu vou acabar com você, ! Eu vou acabar com você!
fechou os olhos e então explodiu.
– Para com isso, okay? Só para! – ele estava de costas para porta, mas viu pelo reflexo das suas janelas quando alguém parou para escutar o que estava acontecendo.
– Eu vou acabar com você e com ela! Você vai se arrepender de fazer isso comigo.
– Amber, isso não tem mais sentindo! Sabe que o que mais odiei minha vida toda foi esse seu ciúme ridículo. Chega, chega, chega!
– Você vai se arrepender, ! – Amber parecia que ia chorar, mas ele tinha uma leve desconfiança.
– Preciso trabalhar! Não me perturbe mais. E não perturbe meus amigos também.
desligou o telefone na cara dela. Não queria mais conversar com alguém que tirava sua paz constantemente.
Antes que a pessoa se afastasse, ele a chamou.
– Luna!
Ela abriu novamente a porta, totalmente sem graça. cruzou os braços e as pernas se encostando na mesa. Não fazia ideia do que Aniballe estava fazendo ali.
Luna engoliu em seco, percebendo porque estava totalmente apaixonada por ele. era lindo de morrer.
– A que devo a honra? – perguntou ele, sarcástico.
Ela sorriu amarelo.
– Ahm... Posso vir outra hora se preferir!
– Não, eu prefiro agora. – disse calmo e sorridente.
Luna concordou lentamente com a cabeça. Ele era intimidador.
– Seu projeto. Achei algumas falhas nele. – estufou o peito, semicerrando os olhos, como se tentasse processar o que ela havia acabado de falar. – Bem, ele é perfeito, claro, mas estou com dúvidas.
– Você pode me mostrar os desenhos? – pediu.
– Sim. – ela parou por um segundo – Ah, não os trouxe agora, mas... mas... Como você soube que eu estava aqui?
Ele piscou algumas vezes e depois sorriu caminhando até ela.
– Está vendo aquelas janelas ali? – ele apontou para o reflexo nas janelas espelhadas – Então.
– Eu não tive a intenção.
– Tudo bem. – comentou ele, com a voz baixa – Todo mundo já sabe mesmo!
As pessoas achavam que os patrões nunca sabiam o que falavam quando eles davam as costas, mas a verdade era que ele e sabiam exatamente o que acontecia na empresa quando não estavam ali.
– Estão falando que você vai dar uma festa em sua casa! – disse ela de repente, a olhou surpreso.
– Jura?
– Sim, que vai ser uma comemoração por estar solteiro depois de tantos anos.
Ele gargalhou alto, jogando a cabeça para trás. Não sabia como rumores como aquele começavam do nada. Ele sequer tinha pensando nisso.
– Gostei da ideia. – disse sentindo os olhos brilhando.
– Festa sempre é uma boa ideia.
sorriu, com os ombros relaxados.
– É isso, vamos fazer uma festa!
– Vamos? – perguntou ela.
– Eu vou. – explicou – E você vai me ajudar.
– Posso saber como?
– Sim. Você é solteira, né? – ela concordou com a cabeça. ia mata-lo – Então deve ter várias amigas. Chame todas elas porque hoje eu quero dar uma festa!
– Sr. , está falando sério?
Ele riu.
– Credo, não me chama de Senhor, pelo amor de Cristo. E, sim, estou falando muito sério.
– Uma festa com minhas amigas?
Ele concordou com a cabeça lentamente, a olhando como se fosse óbvio. Luna sorriu.
não precisava saber que todas as amigas dela estavam namorando ou praticamente casadas. A única pessoa que queria que ele conhecesse era apenas uma.
.

Capítulo 4




.


Uma festa não estava em seus planos, definitivamente, mas a garota de – ele sabia que ambos já estavam dando uns beijos por aí – havia dado a melhor ideia do século.
Há tanto tempo não sabia o que era dar uma festa. E uma em que ele estaria solteiro.
A excitação era tanta que ele mal podia se conter. Durante toda a confusão com os pais e com Amber, ele arranjava um tempo para conversar com Sarah, para saber como estavam as coisas em seu apartamento. Era pequeno e ela não havia achado dificuldade para arrumá-lo primeiramente com as coisas essenciais.
Mais tarde, naquela mesma noite, tudo estava pronto. Ele havia chamado para ajudá-lo, estava atrasado no quesito festas de solteiro, mas parecia que seu amigo cuspiria fogo em breve. Luna havia discutido com ele por causa de uma das funcionarias deles. Mellanie.
não lembrava de quem se tratava, mas era engraçado ver o melhor amigo naquela situação de ciúmes. Era sempre ele quem havia de aturar aquilo.
– O que acha que devo fazer? – perguntou ele, enquanto colocava alguns aperitivos sobre a mesa de centro.
– Por que vocês brigaram mesmo?
Na verdade, ele sabia muito bem porque eles haviam brigado, mas queria rir mais da situação. Para ele era um pouco bobo, devido a tudo que já tinha aturado de Amber.
Ele balançou a cabeça. Não queria pensar nela.
– Luna ficou com ciúmes por eu... Você está rindo, seu imbecil?
engasgou, soltando uma gargalhada com um sorriso malicioso nos lábios. passando por uma crise de ciúmes era o ápice da sua vida.
– Talvez. – admitiu ele, fazendo bufar.
– Olha, falando sério agora. – disse ele, tentando manter a calma. – Vocês sã novos nesse assunto, mas acho que por experiência própria não a deixe tomar as rédeas desse relacionamento.
Ele sabia muito bem o que aconteceria no fim se acabasse deixando Luna decidir por que e por quem estava com ciúmes. Isso era patético.
O barulho do interfone fez respirar fundo.
sabia que ele estava ansioso para ver sua garota, mas quando ele abriu a porta, não era Luna Aniballe quem estava lá. E sim, um time inteiro de modelos com pernas bem torneadas e roupas curtas. Quando olhou por cima do ombro para o amigo, começou a rir de novo.



– Eu acho que vou desmaiar! Meu Deus do céu! Santa Kardashian, me proteja!
Ela andava de um lado para o outro, quase criando um buraco no chão. Luna tinha contado para ela sobre a festa que planejava fazer ainda hoje. não sabia se a agarrava ou pulava quando terminou de contar toda a história.
Seria na casa dele, quase nove horas da noite, para poucas pessoas.
– Com que roupa eu vou? Luna, me ajuda.
Aniballe suspirou fundo, talvez arrependida por entrar naquela com a garota. Mas não sabia como lidar com a situação. Não tinha irmã, nem amigas. A pessoa mais próxima para contar era a mãe, e ela desconfiava que Sophie não fosse gostar muito do assunto se soubesse que a filha iria em uma festa na casa de sem antes conhecê-lo.
– Você vai lá em casa um pouco antes e daremos um jeito. – disse sua chefe antes que se arrependesse pelo resto da vida.
sentiu o coração dar um salto dentro do peito. O mundo estava ao seu favor de novo.
– Luna, você é tão maravilhosa! – disse ela, não se contendo.
– Hey, começa agora! – ela ergueu o dedo se aproximando – Você tem quase dezoito anos! Respira pra falar, okay? Vou te ajudar com a sua promessa de que vai fazer tudo que eu mandar.
a encarou estática. Tudo bem, ela faria qualquer coisa.
– Okay.
– Ótimo. – disse decidida – Agora me deixe trabalhar e sugiro que faça o mesmo.
– Mas...
– Depois conversamos sobre isso. – disse ela dando as costas, se sentando na cadeira e encarando o computador – Aliás, se alguém, qualquer pessoa, quiser falar comigo hoje, diga que estou ocupada.
concordou e saiu sem antes dar um suspiro. Aquilo era melhor do que fazer maratona de Gossip Girl. Era sua vida real. Não era mais uma fantasia da sua cabeça.
Ela ia a uma festa na casa de .

O relógio marcava oito e quarenta e cinco. Ela desceu do táxi em frente à mansão da Aniballe. Aquilo não era uma casa, era um palácio. Seus pais – por sorte – não estavam em casa e ela não precisou ficar arranjando desculpas para sair, apenas mandou uma mensagem para a mãe comunicando que ia jantar na casa da sua chefe.
não gostava de mentir, já havia aprendido a lição uma vez, mas não queria contar para a mãe sobre a festa. Pelo menos por hora. Ela confiava em Luna e sabia que iria ajudá-la.
Uma Senhora muito querida a recebeu, a olhando de cima a baixo com um sorriso no canto dos lábios, ela a levou até o quarto da Srta. Aniballe lhe oferecendo refrigerante enquanto Luna terminava o banho.
ficou encantada. Era o típico quarto que toda mulher sonhava. E no cantinho, em uma porta entreaberta ela podia ver um closet. Devia ser enorme lá dentro.
Ela engoliu em seco, se olhando no espelho. Estava nervosa, queria impressionar.
Não tinha arquitetado nenhum plano ainda, mas seu coração dizia que tudo podia acontecer. Já que em menos de um dia havia se transformado de um homem milionário e comprometido para um homem, em potencial, seu.
– Que demora! – exclamou quando viu Luna saindo do closet, enrolada em uma toalha.
Aniballe paralisou quando seus olhos caíram sobre a garota.
– Você vai assim? – perguntou segurando o riso na garganta.
se olhou novamente no espelho. Estava com uma mini saia colada preta de couro, uma blusinha curtinha vermelha que mostrava metade da sua barriga e sandálias de tira.
– O que é que tem de errado? – indagou ela.
– Você está parecendo Julia Roberts, em Uma Linda Mulher. – respondeu soltando o riso.
Ela revirou os olhos. queria falar que era exatamente assim que gostaria de parecer, mas pela maneira como Luna estava rindo e ficando sem ar, imaginou que a roupa não estava adequada. Ela sentiu suas bochechas corando.
– Vem, vamos achar algo pra você aqui! – disse ela, a levando até o closet – O que acha desse? – perguntou ela e limitou fazendo careta. – Garanto que é melhor que essa roupa!
Ela riu dela mesma. Se sentia patética, essa era a verdade.
– Quero roupa de mulher, Luna! – admitiu. – Quero mostrar um pouco dos seios e que marque minha cintura, e mostre as pernas também.
Luna entendia muito bem o que a garota queria. Por mais que não lembrasse, ela já havia sido adolescente. queria impressionar .
– Que tal esse? – ela pegou um vestido branco de alcinha, com fenda na cintura e a saia mais comprida.
– Ele é lindo.
– Quer pra você? Pode ficar. Não faz muito meu estilo.
a encarou boquiaberta. Luna já havia feito tanto em ajudá-la. Ela sentia como se finalmente tivesse alguém ao seu lado. Por mais bobo que fosse para Luna, para ela era importante.
– Pra mim? – perguntou com a voz rouca – Você não se importa mesmo? Ele é perfeito.
– Claro que não.
– Obrigada, Luna, obrigada mesmo! – disse ela, abraçando a sua nova amiga, quase arrancando a tolha.
se afastou correndo para por a nova roupa. Como gostaria de ter encontrado Luna anos atrás. Toda sua vida agora seria diferente. Mas ela estava feliz do mesmo jeito. Deus havia a agraciado no momento certo.
Quando terminou de se vestir, ela se sentiu outra pessoa. Talvez uma mulher a altura de Luna Aniballe.
– O que achou? – perguntou ela, entusiasmada.
A amiga sorriu animada.
– Perfeito.
– Você também está perfeita! Sr. vai ter um infarto quando te ver.
Luna queria que a garota estivesse certa. Os adolescentes eram tão intensos.



O apartamento de estava lotado. Na sua memória, ele se lembrava de ter comunicado só algumas pessoas. Não sabia como a notícia da festa havia se alastrado, mas seu apartamento estava completamente cheio. E, por Deus, a maioria das pessoas ali eram mulheres. Lindas mulheres solteiras. E ele esperava que todas tivessem disponibilidade para um sexo sem compromisso.
Sua boca secava só de imaginar o que queria fazer com cada uma delas.
Foi gradativamente que parou do outro lado da rua, fora do seu apartamento, com uma morena enroscada em seu pescoço. Ela era gostosa demais, e ele havia bebido muito também.
Quando se deu conta de que ela – ele nem sabia seu nome – era a primeira mulher que ficava depois de tantos anos sendo fiel, não resistiu. Enlouqueceu e mal se deu conta que estava quase transando com uma desconhecida na rua. Ele nem lembrava com havia parado lá e se não fosse por seu melhor amigo, talvez fosse preso por atentado ao pudor.
– O que diabos você está fazendo, homem? – disse o puxando pelo braço.
Ele piscou algumas vezes. Queria matar por interrompê-lo.
– Estão todos procurando você lá em cima. Jane, suas amigas também estão chamando.
A mulher, que agora ele sabia que se chamava Jane, sorriu envergonhada dando espaço para os amigos.
– O que deu em você? Estou me divertindo. – protestou .
Droga, agora que ele estava curtindo finalmente a vida de solteiro, queria estragar com sua diversão. Aquilo era totalmente injusto. Só porque ele havia decidido que seria fiel a Luna – e eles não tinham nenhum relacionamento –, queria que ele se comportasse.
havia se comportado há muito tempo. Estava cansado de ser o Senhor Certinho.
Ele queria farrear, beijar mulheres e transar com elas. Queria dar adeus à vida sem graça que estava acostumado. Aquele homem havia morrido.
– Vamos voltar. Se quer ser um solteiro libertino precisa saber se portar como um. – disse , o puxando pelo braço.
pegou a mão da morena que estava beijando e no meio do caminho os três encontraram uma loira - também muito atraente. encarou o amigo. Aquilo só podia ser o céu.
– Não. – advertiu , antes que ele falasse algo.
Ah, estava muito engando quando havia o dito para se comportar. Ele não queria se comportar. E, enquanto o amigo colocava os três no elevador, com cara emburrada, beijava duas ao mesmo tempo.
Nossa, aquela sensação era a melhor em toda sua vida.
Assim que saíram do elevador aos tropeços e risos, a loira abraçou pela cintura se aproveitando um pouco dele.
queria que o amigo se animasse um pouco, mas quando eles abriram a porta do apartamento, os quatro se depararam com duas garotas.
Uma delas ele conhecia muito bem. O amigo estaria ferrado e ele sentiu vontade de rir, tamanho era sua sorte. A outra ele não tinha lembrança, mas era linda e se a morena não tivesse o abraçado com força, ele puxaria ela contra a parede.
– Onde vocês estão indo? Já estão fugindo? – perguntou . Ele sabia que a voz embargada, havia denunciado sua bebedeira, mas não se importou.
– Está visivelmente claro que não há mais espaço para nós nessa casa. – Luna respondeu irônica, sem olhar para , que tinha se afastado da menina.
riu.
– Luna, minha casa é como coração de mãe, sempre cabe mais um. Ou duas, nesse caso. – disse ele, olhando para a garota, que estava ao lado de Aniballe.
Ela tinha uma boca rosada e enquanto ele a observava, sua língua umedeceu os lábios, fazendo os pelos do corpo de se arrepiar.
– Nós realmente precisamos...– interveio Luna.
– Beber! – gritou a que estava ao seu lado. – , pode me mostrar onde tem bebidas?
Ele não sabia da onde ela o conhecia, mas ficou feliz com o convite. Ele mostraria qualquer coisa que ela quisesse se o deixasse passar sua língua nos lábios dela, como havia a assistido fazer.
Ela o puxou pela mão e o arrastou para longe de Jane, a morena que quase havia transado na rua. Ele não sabia o que a noite estava reservando para si, mas se a cada momento surgisse uma nova mulher na sua frente o puxando para os cantos, ele se contentaria fácil.
– Deseja algo específico? – murmurou ele, se aproximando da garota que ainda não sabia o nome.
Devia ser uma das amigas de Luna. Graças a Deus ela havia levado alguém tão bonita.
– O que me sugere? – perguntou ela um pouco atrevida. Meu Deus, ele já se via embaixo dela, tirando sua roupa. Estava muito bêbado, de fato.
– Vinho, para aquecer. – sugeriu ele.
Ela assentiu, sentando na banqueta de frente para a bancada. Andrew surgiu atrás dela, dando uma piscadela para . Homens.
– O que quer beber, Luna? – perguntou assim que ela surgiu na cozinha.
– Ela não bebe! – interveio ao lado das garotas – E não deveria beber também.
– E você não deveria estar aqui! – retrucou Luna agressivamente.
não devia rir, mas estava bêbado e ver o amigo levando um fora como aquele era o melhor filme de comédia de todos os tempos.
– Achei que não queria mais falar comigo. – seu tom de voz era grave e ríspido ao respondê-la.
olhou para a garota que estava entre eles. Ela tinha algo delicado e sedutor. Ele queria sumir do meio daquela briga com ela. Talvez levá-la até seu quarto.
– Me deixa em paz, ! – exclamou Luna saindo da cozinha, sendo seguida por sua amiga.
queria socar a cara dele.



– Luna! Pega, fica calma! – foi atrás dela, entregando um copo de água que tinha encontrado no meio do caminho. – Sei que deve estar furiosa com o Sr. .
A Srta. Aniballe havia lhe contado durante o caminho o que tinha acontecido durante aquela tarde no trabalho e cada vez mais tinha certeza de que aquele dia entraria para a história. Como o pior de todos.
Estava quase flertando com e agora precisava ela, uma garota que não entendia de nada, aconselhar Luna Aniballe. Que mundo mais impertinente.
– O que irrita é esse jeito dele. – começou Luna – me deixa toda desalinhada o dia todo. E pede desculpas de um jeito fofo e depois aparece com outra. Eu não entendo.
engoliu em seco. Ela também havia visto com outra. E antes disso, ao chegar ao apartamento e não encontrá-lo, já sabia o que estava acontecendo, mas era óbvio que ele não perderia tempo. Então assim que notou um olhar dele, talvez um pouco mais profundo do que todos os outro, decidiu que não desistiria. Era só questão de oportunidade. Que incrivelmente o mundo estava decidido a tirar dela.
– Você gosta dele! – acusou , reparando na forma triste que Luna havia ficado.
– O quê? Não, é claro que não!
Algumas pessoas as olharam rapidamente. E Luna sentiu as bochechas corando. quis rir.
– Ai. Meu. Deus. Você está apaixonada pelo Sr. !
Ela estava impressionada com tal hipótese. Luna a puxou pelo braço em direção a um lugar onde ninguém poderia as ouvir. Ela abriu uma porta e elas entraram ao que parecia um escritório. Só o desespero de Luna já havia respondido .
Ela estava tão apaixonada por como , ou até mais, por .
– Olha só para você! Ai meu Deus, vocês ficam tão bonitinhos juntos!
, para! Não estou apaixonada por ele.
– Claro que está.
– Não estou.
– Vamos fazer um teste! – disse sentando na mesa do escritório de , pegando um porta-retratos que ele tinha vazio – O que sente quando o vê?
– Para com isso, vamos sair daqui logo.
– Está fugindo, Srta. Aniballe? – perguntou ela, provocando.
– Não. – respondeu fraco – Só não faço essas brincadeiras de adolescentes.
riu.
– Essas brincadeiras ajudam muito a nossa vida! Responda de uma vez. O que sente quando vê aquele Deus grego?
Luna mordeu o lábio. Estava incerta. Ela sentou de frente para a garota, que às vezes a pegava de surpresa. Não queria admitir, mas era nítido o que sentia por .
– Nada demais. Só o acho gentil.
– Você realmente sabe se enganar. – revirou os olhos – Eu sinto minha alma saindo do corpo quando olho para o . Parece que tudo a minha volta fica em câmera lenta e no mundo só existe ele. A obra mais perfeita de Deus.
Essa era a verdade. Ele ficando com outras ou não, não conseguia mentir para si mesma. Ela havia o encontrado, sabia disso. E estava disposta a lutar por ele.
– É por isso que vou ajudar você! – concluiu Luna, enquanto ela suspirava – Não ao contrário!
– Aceito sua oferta, mas não pense que não estou de olho em você.
Foi a vez de Aniballe rir. Ela era tão convicta de si.
De repente, a maçaneta da porta começou a girar e pulou da mesa rapidamente, puxando Luna para trás para se esconder.
– O que está fazendo? – perguntou ela, baixinho.
se enfiou embaixo da mesa, empurrando a confidente junto.
– Sempre deu certo nos filmes!
– Não seja ridícula, , vamos sair daqui.
– Você precisa parar de fugir!
Elas ouviram uma voz melosa de mulher e então petrificaram. Era só o que faltava.
– Não estou fugindo!
gesticulou com a boca um “ai, meu Deus”.
Era .
Luna empalideceu, parecia que ia desmaiar a qualquer momento. Se pegasse elas, Aniballe não sabia o que faria da vida. Talvez se jogar de uma ponte, seria uma boa opção.
– Como não está fugindo? Há semanas tento falar com você e simplesmente vem me ignorando. Hoje fiquei tão feliz de te encontrar e do nada você ficou esquisito novamente.
– Não é nada. Só quero ficar sozinho, okay?
se abanava o tempo todo, sussurrando que não estava acreditando. Aquilo tinha ficado melhor do que novela mexicana.
– Fiz algo de errado? – a voz da mulher parecia se partir em mil pedaços.
Ambas pararam de respirar para ouvir nitidamente a resposta de . se sentiria muito mal se o Senhor desrespeitasse Luna na sua frente. Ela não merecia.
– Não é você. – disse ele – Sei que é ridículo e clichê, mas não é você. Sou eu.
colocou a mão na boca.
– Me deixa um pouco sozinho, por favor.
Alguns segundos se passaram e a tensão emanava nas duas. Escondidas feitas duas crianças. E então a porta abriu e bateu com força. A garota havia o deixado sozinho.
Essa era a hora. gesticulou para elas levantarem, porém Luna parecia que ia ter uma síncope. não queria perder mais nenhum momento da festa.
– Nós temos que sair daqui logo! Quero fazer xixi! – sussurrou ela, tentando convencer Luna.
– Pense em outra coisa. Não saio daqui antes dele. Ela fechou os olhos agoniada. Ia matar Aniballe se perdesse .
– Preciso de algo forte! – comentou , sozinho – Vejamos o que guarda aqui, Sr. .
Elas ouviram seus passos se aproximando da mesa. Luna estava paralisada, sem respirar, e parecia que ia vomitar em breve.
Deus as ajudassem.
Por uma fração de segundo, elas permaneceram imóveis. não podia ver, mas foi o primeiro a se pronunciar. E ele parecia completamente indignado.
– Mas que Diabos vocês estão fazendo aqui?
Assim que ela ouviu sua voz, saiu rapidamente de baixo da mesa, sem ao menos tentar ajudar Luna. Estava desesperada para sair dali.
– Eu admito. – ela ergueu os braços, enquanto Luna e se encaravam – A culpa é minha. A culpa foi toda e absolutamente minha. Agora façam as pazes logo, ou seja lá o que querem. Eu vou aproveitar a festa. Luna foi incrível passar esse tempo com você aí em baixo, mas recomponha-se.
– O que está fazendo? – perguntei sua chefe, indignada. deu de ombros, parecia óbvio.
– Sendo direta e prática! Até depois. – comentou saindo em seguida, arrumando sua roupa.
Não perderia mais nenhum segundo. Ela encontraria e o faria seu.



não podia crer na sua sorte. Logo quando tinha encontrado uma mulher tão bonita como a loira dos lábios rosados, ela simplesmente havia sumido atrás de Aniballe. Tudo por culpa do seu melhor amigo que não sabia adestrar a garota. Ele estava indignado. Via-se totalmente em . O que era muito embaraçoso.
– Você precisa beber, homem. – disse oferecendo seu copo para .
– Também acho. – Klhoé entrou no meio deles, se oferendo para .
– Oi, Klhoé. – cumprimentou . – Bom ver você.
– Oi, , bom ver você também. Os dois. – disse ela, apertando o braço de , que sorriu amargo.
se afastou dos dois. Klhoé só estava ali por um motivo e não era ele. Foi só então que se deu conta que na pequena sala do seu apartamento um grupo de mulheres estava ali, em pé, olhando para ele. E fofocando.
Por Deus, ele sabia muito bem o que elas conversavam.
Uma das vantagens de namorar durante muito tempo era que ele sabia exatamente sobre o que um grupo de mulheres falava: homens. Nesse caso, o homem em questão era ele.
não tinha muita noção – e talvez não quisesse saber – exatamente o que, mas tinha leve impressão que era se ele era bom de cama. Ou talvez o porquê dele e Amber terem terminado.
Ele podia ouvir – não de fato – elas se perguntando se ele tinha outra, ou que ela era boa demais para ele. engoliu em seco, mal notando quando o amigo saiu da cozinha sendo seguido por Klhoé. Aquilo não terminaria bem se Luna não surgisse logo.
Quando voltou a olhar para sala em busca de qualquer coisa, uma das mulheres que estavam conversando sobre ele caminhou em sua direção.
– Oi. – disse ela apenas.
– Olá. – respondeu ele, achando graça.
– Pode me chamar de Nina. – disse ela se aproximando do corpo dele, colocando uma mão em sua nuca e encostando levemente os lábios no lóbulo da sua orelha – Eu gostaria de conhecer seu quarto.
mordeu o lábio inferior, tentando esconder um sorriso malicioso. Ele pegou a mão dela, a guiando para seu quarto.
Nina era loira, tinha cabelo curto, era baixinha, mas um corpo escultural. Tinha seios fartos, apertados em um vestido extremamente justo, que já imaginava no chão do seu quarto. E uma bunda espetacular.
Não teve tempo para raciocinar quando a porta fechou, deixando ambos sozinhos. Ela o empurrou contra a parede arrancando todo sua roupa em seguida.
Ele não sabia ao certo se aquilo era engraçado ou erótico.
Engraçado, decidiu, pelo menos por hora. Talvez depois se tornasse erótico.



Ela parou no meio da sala. Não queria parecer hesitante, mas era inevitável. Havia o procurado por todo apartamento, exceto por duas portas. Uma onde tinha acabado de deixar um casal em uma provável discussão. E outra, onde provavelmente era o quarto de .
Aquele que ele devia estar usando naquele instante.
Ela se sentiu uma tola.
Não deveria desejar tanto alguém. Tinha outros rapazes – alguns deles até mais novos que – que a olhavam de outra forma, mas droga, ela queria ele. Ela queria desesperadamente provar para si mesma que havia o encontrado de fato. sentia isso dentro do seu ventre. Ela queria provar além de tudo, o gosto dos lábios dele.
Mas era óbvio que preferia qualquer outra mulher que estava ali do que ela. Elas, além de serem mais velhas, eram mais atraentes e talvez mais inteligentes que ela.
bufou decepcionada consigo mesma. Não que gostasse de se sentir uma burra, refletiu ela, enquanto ia para a cozinha em busca de algo para comer. No entanto, parecia que desde que tinha conhecido , todo mundo ao seu redor era melhor que ela.
Ele já havia falado com ela, dado carona à ela e simplesmente era como se esses fatos nunca tivessem acontecido. tinha plena certeza que ele sequer lembrava seu nome.
Afinal, ele nem tinha perguntado quando a conheceu e a ajudou.
Ela achou um salgadinho dentro de um armário e se sentou na bancada, comendo tudo com um pouco de refrigerante que tinha achado na geladeira. Para o inferno aquilo tudo.
Luna devia estar brigando com e ela nem ao menos podia a chamar para ir embora e fugir daquele caos, e ... Bem, nem sabia quem ela era.
Que ideia tola imaginar que podia conquistar um homem como ele.
Sentia-se estúpida. Homens como ele não ficavam com garotas como ela.

Já havia se passado uns quarenta minutos e ela estava no segundo pacote de salgadinho. Algumas pessoas – rapazes na maioria deles – tentaram se aproximar dela, mas sentia um choro esquisito entalado na garganta quando tentava conversar e fazia a maioria das pessoas se afastar dela. Não queria chorar, se sentia envergonhada por isso.
Aquilo não era motivo, mas ao mesmo tempo, queria chorar por se sentir patética.
Por sonhar que um filme da Julia Roberts podia acontecer com ela.
Quando Luna apareceu toda desalinhada, ela quis morrer.
Queria ser a Srta. Aniballe. Uma mulher linda, formada e rica que mal havia entrado na empresa e já tinha se apaixonado. E sabia que era recíproco.
– Onde está ? – perguntou o senhor .
– Não faço ideia. – ela deu de ombros – Quando sai do escritório ele já tinha sumido. Presumo que esteja fazendo a mesma coisa que vocês dois.
Luna a encarou desconfiada e desviou mexendo no celular. Aniballe não sabia se a garota estava triste, mas seu jeito despreocupado a preocupava.
– Vamos embora, então? – perguntou Luna a .
Ele sussurrou algo para ela, puxando seu lábio inferior com força. queria dar um tiro na própria cabeça. Era muita manifestação de carinho na sua frente para quem havia exilado isso naquela noite.
Ela saltou da bancada. Queria ir embora o quanto antes.
E então, surgiu atrás do casal apaixonado. Ele não era o maior dos problemas, estava apresentável, mesmo estando com os cabelos bagunçados e a roupa amarrotada. A grande merda naquela cena era que atrás dele caminhava – ou desfilava, nesse caso – uma mulher só de camiseta. A camiseta dele.
ergueu os olhos até encontrar os de . Ela se sentiu como se tivesse levado um soco. Muito pior do que ver a mulher, era olhar naquele olhos dourados.
– Vocês dois, se recomponham pelo amor de Deus e vamos logo. – disse para o casal da sua frente – Luna, não quero mais ficar aqui.
– O que deu nela? – perguntou rindo, alheio a tudo.
Luna a encarou confusa e depois virou para ver o que estava observando. Então entendeu e sentiu muita raiva de . Porque ela sabia que, de todas as mulheres que estavam ali, a única que queria ele por realmente quem ele era, era . As outras só queriam ir para a cama de . Isso e o dinheiro dele.
Aniballe se afastou de , indo ao lado da garota.
– Pelo jeito fizeram as pazes! – comentou se aproximando do amigo – Sugiro uma compressa, Luna, ou amanhã ficará pior.
Ele apontou para a boca dela, que só agora se dera conta que estava roxo.
– Obrigada pela festa, , mas eu e já estamos de saída. – disse Luna sorrindo amavelmente.
– Tão cedo? – perguntou na mesma hora que a aspirante a modelo se enroscou em seu pescoço.
mal olhava para ele. Ela se sentia um pouco destruída.
– Mulheres de família voltam cedo para casa. – respondeu Luna um pouco seca.
e as encararam com o cenho curvado, como se perguntassem o que estava acontecendo, mas ela não se deu ao trabalho de explicar alguma coisa. Puxou para longe daquele apartamento que exalava luxúria e exibicionismo.
Aniballe tinha certeza que não precisava disso, muito menos dele.

As duas caminharam em silêncio, de mãos dadas. se sentia feliz por Luna ter a tirado de lá.
as alcançou no elevador. Ele estava confuso, mas não tocou no assunto. Os dois foram conversando sobre coisas aleatórias, coisas que ela não fazia questão de escutar.
Desde que viu em um modo como nunca tinha o visto, ela se desligara do mundo. Era estranho porque ela sentia que tinha idealizado alguém na sua cabeça. Sua alma gêmea, mas estava desapontada consigo mesma. Ele não era nada do que ela tinha pensando.

Assim que ambas se despediram de , Luna com a promessa que avisaria ele assim que chegasse em casa, sentiu como se finalmente pudesse respirar e falar o que estava sentindo.
– Você quer parar em algum lugar para conversar? – perguntou Luna apreensiva.
negou com a cabeça em silêncio. Não sabia por onde começar. As lágrimas idiotas haviam começado a rolar sobre seu rosto. Era constrangedor demais, mas era ela. Toda emotiva e sentimental.
Uma garota que não tinha vergonha de dizer que acreditava no amor, que sabia que alguma coisa entre ela e tinha que acontecer... Bem, agora ela não sabia mais exatamente o que, mas tanta coisa tinha acontecido envolvendo os dois indiretamente que ela simplesmente sentia.
– Minha mãe diz que quando homens nos fazem chorar, eles não valem a pena! – falou com a voz embargada.
– Concordo com ela. – Mas se gostamos o que podemos fazer?
Luna sentiu definitivamente que era a pior pessoa para ela tirar suas dúvidas nessa situação, mas com tudo o que tinha apreendido na vida sabia de uma coisa: homens gostam de ser pisados.
, as coisas vão começar a acontecer quando não se importar tanto com elas.
– O quê? Como assim?
– Não dê importância à ele. O ignore.
– Você escutou o que eu disse? Eu gosto dele. – ela praticamente gritou.
Queria liberar aquela sensação de pressão dentro do peito.
– E ele vai ficar te ignorando se souber disso. , sócio da AEDAS, rico, jovem e lindo. Acabou de ficar solteiro depois de tantos anos. Você acha que ele vai te dar bola sabendo que é uma adolescente perdidamente apaixonada? Sinto lhe informar, minha querida, mas a cabeça de um homem é um jogo e você precisa muito aprender a jogar, ou no final vai ser um game over trágico.
Ela ficou em silêncio degustando cada palavra. Aniballe não queria machucá-la e muito menos que fizesse isso. era como uma irmã mais nova e ela sentia a obrigação de protegê-la da melhor forma possível.
– Como fez com ? – perguntou de repente.
– Como o quê?
– Como o conquistou?
– Ele nunca foi uma conquista, aconteceu naturalmente. E quero que seja assim com você, por isso disse que ia ajudá-la, mas para isso precisa estar preparada emocionalmente.
– Desculpa, não vou mais chorar. – disse ela, querendo enfiar a cabeça em qualquer buraco.
– Pode chorar o quanto quiser. Chorar faz bem, não podemos prender aquilo que sentimos, mas amanhã me prometa que será diferente. Preciso da minha assistente louca.
– Não sou louca! – exclamou já sorrindo.
Luna parou em frente à casa de levantando uma sobrancelha. Se não tinha um parafuso a menos, era o resto da nação que tinha problemas. Ela deu de ombros fingindo estar envergonhada.
– Obrigada por hoje e por todo o resto.
Aniballe a abraçou antes de sair do carro.
– Te vejo amanhã.
– Faça uma compressa nessa boca pelo amor ao seu trabalho! Ninguém precisa ficar sabendo do sexo selvagem que você e o Sr. fizeram naquele escritório. Cruzes!
Luna gargalhou sentindo meus lábios arderem.
– A boa e velha .

Capítulo 5



Uma coisa com a qual ele não estava acostumado era acordar de ressaca. Era um pesadelo.
A festa tinha durado até quase o amanhecer, quando percebeu e teve que enxotar algumas pessoas para fora do seu apartamento. Eles eram sem noção mesmo.
Quando acordou com a boca seca, era quase uma hora da tarde. Ele estava morto.
Tinha três ligações de e uma de Amber.
Por Deus, ela não ia o deixar em paz tão cedo. Se ele pudesse fugir para a lua, faria isso.
Mas não, tinha que tomar um banho, tirar aquela sensação de podridão do corpo e voltar à vida. Não que ele não estivesse gostando da nova vida, afinal havia transado com duas – sim, duas. Nina e Jessie na cozinha, quando todos foram embora – e se aquilo não era o céu, ele não queria morrer tão cedo.
Entretanto tinha Amber e ele sabia que ela iria importuná-lo a longo prazo. suspirou fundo se levantando e caminhando lentamente para o banheiro.
Ficou lá por muito tempo. Já que tinha perdido metade do dia, não ia se importar se ele chegasse meia hora a mais ou a menos.

se limitou a ficar no seu escritório no silêncio, editando alguns dos seus projetos particulares. Ainda precisava ver as finanças dos pubs que era dono e da escola de música que estava terminando de construir. Tinha tanta coisa na sua cabeça que nem percebeu que o amigo o encarava da porta há longos minutos, com uma carranca de dar medo.
– Ora, achei que não viria trabalhar hoje! – disse ele, sentando em frente a .
Ele entortou a boca antes de falar.
– A verdade é que cogitei essa hipótese, mas ia enlouquecer de ficar em casa com essa maldita ressaca.
– Não mandei você beber. – comentou , sorrindo.
– Eu sei, querido. – respondeu sorrindo ironicamente.
Não fora, refletiu , a melhor escolha a se fazer para comemorar a solteirice repentina, já que não lembrava de muita coisa da noite anterior, mas, apesar disso, ele não se arrependia. Estava até orgulhoso. vivia dizendo que ele não aproveitava a vida, agora entendia bem o que o amigo queria dizer. E concordava.
Mas estava disposto a mudar tudo isso. Nada mais seria igual.


Ela desceu para tomar café com a mãe. Ainda estava arrasada com o que tinha acontecido na noite anterior e o pior é que tinha mentido falando que ia jantar na casa de Luna, sequer podia contar a verdade para a Sra. .
Por isso odiava mentiras mais do que tudo, uma hora a verdade sempre vinha à tona e da pior forma. Lógico que a mãe a entenderia, mas não queria contar que havia chorado por causa de . Aquilo era muito infantil, mas infelizmente, como sua chefe tinha lhe dito, era o que ela sentia no momento.
– O que foi, querida? – indagou sua mãe, notando que estava quieta, o que era muito estranho.
– Nada.
– Aconteceu alguma coisa na escola?
– Não, mãe. Só estou pensando. – ela suspirou fundo – Por que não sou como essas mulheres que são bem sucedidas, inteligentes e bonitas?
Sua mãe a encarou com as sobrancelhas arqueadas. tinha um grande problema com a autoestima que só ela e Benedict conheciam.
– Aconteceu alguma coisa na escola? – perguntou ela de novo, já preocupada.
– Não. É que eu vejo a Luna... – mentiu, mordendo o lábio. A verdade é que ela tinha visto o tipo real de mulher que se sentia atraído – e eu estava pensando, porque não sou alguém como Luna Aniballe.
Sophie conhecia muito bem a filha, sabia que alguma coisa tinha acontecido, mas não ficaria a pressionando. Ela contaria na hora certa, mas o que a preocupava era a auto destruição que sempre fazia de si mesma. Para os outros ela era uma garota espetacular, animada, desinibida, mas muitas vezes Sophie escutava ela chorando baixinho no quarto.
Ela se aproximou da filha, pegando em suas mãos.
– Você não é Luna Aniballe, porque é . – disse beijado seu rosto – E isso é a melhor dádiva da sua vida. Agora vá para o colégio e pare de pensar nisso.
concordou sorrindo e pegou a mala.
Ela tentaria não pensar. Mas não tinha certeza se conseguiria.

Considerando que ela não podia e nem devia pensar em e sobre a festa na noite anterior, ela focou nos estudos. Não contou para as amigas, não queria que elas soubessem. Sentia que se falasse para elas, ela jamais esqueceria.
A manhã passou rapidamente e quando chegou a hora de entrar na empresa, ela rezou um terço para não precisar encontrar com o Senhor . Já tinha sido difícil ver ele naquela situação com a mulher loira e agora provavelmente seria ignorada.
Ela queria morrer se isso chegasse a acontecer.
Quando chegou em sua mesa, tinha um bilhete de Luna falando que ela se atrasaria, porque tinha alguns compromissos fora da empresa.
Ótimo, pensou ela. Agora passaria o resto do dia pensando naquela porcaria de festa.
Não se deu conta, mas enquanto arrumava as papeladas de Luna, colocou para tocar Bach e, depois de quinze minutos, quando começou a apreciar a música de verdade se odiou.
Ele era um amante de música clássica. Lembrou da mãe falando no telefone. Que maldição.
Aquele foi apenas um dos infortúnios da sua vida.
Os dias se passaram e ela começou a ouvir Vivaldi também, depois Mozart e depois de semanas, ela ainda não havia o esquecido. Nem se quisesse.

Ela estava tão ansiosa. Logo quando chegou para trabalhar um rapaz estava segurando um buquê de flores. nem sonhou que era pra ela. Talvez em outra vida.
Era óbvio que era para Luna Aniballe e quando o rapaz perguntou para ela se ela era a própria, riu, falando que sim. A sensação era boa.
Assim que Luna chegou, ela praticamente correu para contar, mas antes teve de provocá-la.
– Você consegue estar pior do que ontem. – disse assim que a viu. – E está atrasada.
– E você cada dia mais chata. – respondeu ela, sorrindo e mostrou a língua.
Ela sentia que depois da fatídica festa no apartamento do homem que ela sequer queria mencionar o nome, a amizade entre as duas havia se solidificado finalmente.
– Só por causa disso não vou falar que um cara deixou um buquê pra você aqui, ainda há pouco e eu fingi que era Luna Aniballe apenas para recebê-lo. Está em cima da sua mesa.
– Um buquê? – Luna abriu a porta da sala e lá estavam doze rosas vermelhas. – Quem mandou?
– Se você tiver mais um pretende eu desisto dessa vida! Não que você não mereça, olha só pra você, mas, minha Nossa Senhora, eu não tenho nenhum! Acredita que a Marnie, uma garota ridícula lá da escola, recebeu três convites, três convites, dos caras da nossa turma para um baile beneficente? E sabe quantos eu recebi? Nenhum.
Era claro e evidente que todos os homens caíam de amores por Luna Aniballe. E por todas as garotas do resto do mundo.
Exceto por ela.
Marnie não era uma menina agraciada pela beleza, mas mesmo assim havia ganhado três convites para o baile beneficente que tinha todo final do ano. Já ela, não tinha recebido nenhum. E sabia muito bem o porquê. O que doía mais.
– Me entrega esse cartão! – pediu Luna ansiosa.
– Certeza que é do Sr. . Vai ver ele...
, o cartão, por favor!
– Ah, é claro! – ela entregou à Luna, sentindo as bochechas corando.
Era um cartão pequeno rosa, o único que ela não se atrevera a abrir sem consentimento.
Luna sorriu para ela e já sabia: era seu chefe.
– É do . – disse ela, entrando no escritório com pulinhos.
sorriu com amabilidade. Um dia queria viver um romance como aquele. Até então assistiria os filmes sonhando com isso.



A cabeça dele parecia que ia explodir. Tinha acabado de chegar de viagem e quando chegou em casa, louco para descansar, Amber estava na sua porta. Ela queria saber o que diabos ele estava fazendo em Dubai sem avisá-la. Ele quis cometer suicídio quando ouviu a voz dela.
Tinha ido para Dubai há uma semana para fazer negócios. Era apenas por isso.
Claro que ele não contou para ela que lá tinha encontrado alguns colegas do tempo da pós-graduação e que também havia dormido com uma das colegas – e outras três durante a semana –, mas também não passava de negócios na mente dele. –– Eu quero que volte para nossa casa. Arrumei um lugar só para seus instrumentos. – disse ela, entrando no apartamento dele. – É isso que chama de lar?
Sua voz era de espanto enquanto olhava ao redor. tinha que se segurar para não ser rude.
– É. Estou feliz aqui. – ele suspirou fundo.
deu uma olhada no relógio. Era quase cinco horas. Ele queria chegar ao escritório ainda aquela tarde, queria contar sobre as novidades para .
– Lamento muito por estarmos tendo essa conversa. Não sei o que está acontecendo com você, , simplesmente acordou em um dia e pensou “eu não a quero mais”? E meus sentimentos?
Ele curvou o cenho. Já não sabia mais quanto havia escutado aquela mesma frase durante as ultimas semanas. Era uma tortura.
– Foi exatamente isso que aconteceu. – respondeu ele, irônico. – Pensei, não quero mais ela, estou cansado de ser feito de capacho, de ser um idiota sem posição alguma dentro da minha própria casa.
– Eu nunca o fiz de idiota! – ela gritou, irritada.
Aquela era a mentira do século e ela sabia disso. Tanto quanto ele.
– Preciso ir à uma reunião. É melhor você ir embora Amber.
Ela o encarou com os olhos cheios de lágrimas. Ele engoliu em seco. Não conhecia o jogo dela, mas não ia deixar com que Amber manipulasse toda aquela situação dos infernos.
– Você vai se arrepender de fazer isso comigo. – disse ela amarga, fazendo a bochecha esquerda dele esquentar.
E ela estava de volta.
– Vá embora.


– Ela está se tornando uma vaca. É isso que penso. – disse ao amigo que insistia em falar que Amber só tinha lhe dado um tapa porque estava nervosa.
Nervoso estava ele. Maldição.
– Vocês precisam entrar em um consenso logo. E o advogado? O que ele diz?
pegou um copo de uísque no bar que tinha no escritório.
– Aquele merda fala que existem divergências com o advogado dela. Eu lhe disse que não pago caro para ouvir aquelas merdas.
– Você está mesmo estressado. – concluiu , dando uma risadinha.
Era difícil ver o amigo naquele estado.
– Preciso achar alguém para relaxar! – disse ele, se esticando no sofá de couro do escritório.
Talvez colocasse um daqueles no seu, para os dias de ressaca.
– Está transando bastante? – indagou , comendo azeitonas.
sorriu travesso.
– Mais do que minha vida toda.
Ambos gargalharam. achava aquilo tudo muito bizarro. Quando estudavam juntos, era o cara que só estudava e pensava em Amber. Ele jamais tocara em uma mulher por puro tesão. Eram todas de .
Agora o papel deles havia se invertido: era o cara apaixonado e um libertino sem classe. Eles estavam felizes.
– Tenho um convite para você. Luna me avisou hoje que é a festa de formatura da faculdade dela. Você acredita? Bem, ela falou que é para você ir também.
acenou com a cabeça. Uma formatura de universidade era tudo o que ele precisava.
– Apenas se comporte lá, por favor.
– É claro. – disse ele. – Você gosta mesmo dela, não é?
olhou para ele, transferindo todos seus pensamentos, mas mesmo assim confirmou o que já sabia.
– Gosto. Mais do que qualquer coisa nesse mundo.
– Que profundo. – disse ele, se levantando – Fico feliz que tenha achado alguém como ela.
– Você também vai achar.
sorriu de lado, dando um abraço no amigo.
Ele não tinha certeza se queria se apaixonar de novo. Já havia acontecido uma vez e fora um desastre.
Mas ainda assim...



– Eu estou saindo, qualquer dúvida me ligue. – estava calada prestando atenção em tudo – Sei que vai ser uma tarefa árdua para você – disse Luna irônica –, mas não esqueça de pedir o último ajuste de . Amanhã preciso terminar esse projeto.
Era a formatura da Srta. Aniballe. Ela estava toda nervosa. Os últimos dias haviam sido uma correria devido a essa festa.
Festa que havia sido convidada. E também.
Havia dado graças a Deus por não tê-lo visto nas últimas semanas. Ele havia ido para Dubai a trabalho e ela se sentia um pouco livre para pensar em outras coisas que não fora nele.
– Está me ouvindo, Caramella? – Luna a chamou por um apelido que tinha inventado naquele instante.
Caramella era a tradução literária do nome de em italiano. Toda vez que mencionava ela fazia a mesma coisa. Desligava desse mundo.
– Parei de ouvir quando disse . – ela sorriu apaixonada e depois riu – Brincadeira.
– Vou fingir que acredito em você.
revirou os olhos e Luna beijou sua bochecha.
– Vá se arrumar lindamente – disse ela – e nos encontramos mais tarde.
– Você também, não esqueça que ele vai.
– Não consigo acreditar que vai ser a segunda festa que vou com o !
Luna parou no meio do caminho.
– Você não vai com ele, apenas vão estar na mesma festa! Não aprendeu nada do que te ensinei? – ralhou Aniballe.
– Aprendi, sim. – e ela realmente havia aprendido sobre os conselhos de Luna, mas não tinha como fingir que não estava animada para vê-lo, justamente depois de tudo que tinha aprendido. Agora ela sabia muito bem o que fazer.
E era simples. Era só ser ela mesma.
– Ótimo. Nos vemos depois.
– Até mais, engenheira.

Ela havia se enturmado na festa com os amigos de Luna, enquanto a formanda não chegava. falava muito e os amigos da sua chefe eram gentis, não demorou muito para todo mundo ficar em sua volta. A maioria era casal e por um momento ela sonhou que chegasse logo para, na sua cabeça – em segredo –, ele ser o par dela, mas por fora ela estava se saindo bem. Era uma festa com vários jovens e as amigas de Luna mostravam muita gente que parecia estar interessada nela.
se sentia feliz, por fim.
Havia optado por um vestido preto tomara-que-caia que era discreto, mas justo. Os cabelos longos estavam levemente ondulados e ela tinha exagerado no batom vermelho. Se sentia bonita. E confiante.
Quando, por fim, todos terminaram de receber os diplomas, Luna linda, com um vestido que mataria o Senhor , foi até eles.
E uma música alta e do momento começou a tocar alto, animando a todos que já estavam levemente embriagados.
– Meu Deus! Todas as formaturas são assim? – gritou , para que ela a ouvisse.
– Só as da Universidade. – Luna riu animada. – Você está muito bonita!
– Obrigada, mas hoje você é o centro das atenções. Está deslumbrante, coitado do Sr. .
– Acha que ele vai gostar?
gargalhou. Se não a achasse linda naquela roupa, coitada de si.
– Desde quando você se preocupa se ele vai gostar ou não? – perguntou apenas para a chatear.
Ela deu de ombros.
– Só quero estar bonita.
– Luna, não percebe que desde o dia que entrou por aquela porta da AEDAS ele não tira mais os olhos de você?
– Não seja exagerada, por favor.
– Quando as pessoas estão amando elas têm esse pequeno probleminha.
– Então você está amando? – indagou ela, colocando a mão na cintura.
lhe lançou um olhar assustado. Não, por Deus, estava muito longe de amar alguém. Só sentia uma atração muito forte por . Apenas isso.
– Não! Mas não vejo problema algum em admitir. – ela pigarreou – Vamos beber?
– Eu não bebo.
– Como não bebe? É sua formatura, você vai beber, sim!
, eu não bebo. Você sabe disso.
Ela pegou duas taças cheias. Não podia deixar que Luna não comemorasse como se devia aquele dia. Era algo especial. Ela havia se tornado, por fim, uma engenheira. E acreditava que seria uma engenheira de muito sucesso.
– Só uma taça! Não seja estraga prazeres. – implorou.
– Sofri um acidente muito grave pensando desse modo. – respondeu ela.
– Desculpa, eu não sabia. – se sentiu envergonhada por insistir.
– Perdi a memória há sete anos. – explicou Aniballe, deixando a garota chocada.
– Você perdeu a memória? – indagou ela, sem acreditar.
– Sim. E o problema nem sou eu, é que meus pais são contra também.
– Mas eles não estão aqui, se isso for o principal problema! – puxou o braço de Noah, ele era namorado de Katina e amigo de Luna – Noah, a Luna deveria beber um pouco, não acha?
Ele olhou para ela e depois para Aniballe. E então sorriu.
– Com certeza. Mas sem exageros. – advertiu, abraçando a amiga.
Luna aceitou a taça, mas não bebeu. ainda estava pasma com a história, mas não perguntou mais sobre o assunto. Aquele não era o momento.
– Acha que vão demorar? – perguntou Luna, apontando para fora.
nem tinham surgido ainda.
– Não sei. Eu vou beber enquanto isso. – respondeu , sem ter muita certeza se era a coisa certa a se fazer, mas mesmo assim fez.

estava impaciente e já não conseguia mais beber. Estava caminhando de volta para a mesa com os amigos de Luna - tinha ido até o banheiro retocar a maquiagem -, quando um cara a parou no meio do caminho a chamando para dançar.
Já fazia quase duas horas que a formatura havia começado e nem sinal de , ela não deixaria de viver a espera dele. Talvez aquilo fosse um sinal.
– Como se chama? – perguntou ele educadamente. Era bonito, alto com porte atlético. Talvez... – e você?
– Que nome diferente. – disse ele – Mas combina com Code! e Code.
Ela riu. Aquilo era uma cantada tosca, mas ela tinha que admitir, era engraçado.
– Você faz engenharia também? – quis saber ele, tentando puxar assunto enquanto dançavam.
– Não, eu ainda estou no colegial! – respondeu ela, sorrindo.
Code parou instantaneamente, se afastando dela e depois soltou uma exclamação, totalmente dramático e enfático, deixando a garota constrangida.
– Eu vou te dar meu número de telefone e, por favor, quando fizer vinte e um anos me liga, porque nós vamos nos casar! – espremeu os lábios se segurando para não rir.
Aquilo tinha sido algo realmente engraçado, entretanto muito fofo também.
– Eu farei isso, pode deixar. – disse ela, fazendo o homem rir.
– Hey, Code! – Luna chegou entre eles um pouco animada, parecia estar levemente embriagada – Já vi que conheceu a jovem Caramella!
Ela olhou um pouco confusa para Code não sabia que eles se conheciam. E ele sorriu genuinamente. Só então percebeu que ele provavelmente havia se formado junto com Luna.
– Acho que você precisa parar de beber, Srta. Aniballe! – comentou , arrumando algo em seu vestido.
não surgiu ainda, eu estou começando a ficar com medo que ele pense que isso é algo sério demais! Preciso beber, preciso relaxar.
– Quem é ? – perguntou Code.
– Um cara que estou transando diariamente! – respondeu ela, dando de ombros. arregalou os olhos, deixando a boca cair no chão.
– Você está mesmo ficando bêbada ou é impressão minha? – indagou ela, rindo.
– Acho que já estou bêbada, mas preciso beber mais.
– Vamos pegar mais algumas taças! – disse , se despedindo de Code.
Mas, na verdade, ela ia cortar o álcool da sua amiga. Aquilo estava passando dos limites.
– Você não queria ficar com ele? – perguntou Luna no caminho de volta para a mesa.
– Claro que não. – falou de imediato – Meu alvo é o . E se esses desgraçados não aparecerem não faço mais hora extra naquela empresa!
Luna gargalhou alto demais. E depois tropeçou fazendo as duas caírem no chão.



Um sentimento apenas passava dentro do coração de . Ou talvez uma dúvida dentro da sua cabeça. Ele não sabia ao certo.
Por que havia ficado tanto tempo com alguém como Amber? Como havia realmente amado alguém como ela? Ele estava petrificado, olhando para todas suas coisas destroçadas. E ela nem fizera questão de esconder a identidade.
Ele não fazia ideia de como ela tinha conseguido entrar em seu apartamento, mas desconfiava que ela tinha enchido o bolso de alguém para fazer aquilo.
Ele estava tão absurdamente cansado. Quando ligou para perguntando se estava pronto - já estavam atrasados -, simplesmente desmoronou. Estava emocionalmente quebrado.
Não chorou, ele jamais tornaria a chorar por causa da sua ex, mas falou tanta merda ao amigo que sentiu pena dele.
foi até ao apartamento na mesma hora. Precisava ver com os próprios olhos.
– Meu Deus. – disse , observando todo o estrago – Ela está louca.
sentou no sofá, seu corpo se sentia cansado, misturado com uma energia negativa, nervosa. Seus olhos estavam pesados e sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento.
Ele não conseguia entender em que momento da sua vida tinha errado tanto para passar por aquele tipo de situação. Amber realmente parecia que havia enlouquecido e planejava enlouquecer ele. Que diabos tinha feito?
– Acho que não vou à formatura. Fala pra Luna que agradeço o convite.
, não é mais uma opção. Você vai. Eu te conheço, sei que vai ficar aqui pensando um monte de porcaria. Vá se arrumar, nós passamos lá em casa pegar alguma roupa pra você.
, acho melhor não, eu...
– Vamos. – falou ele, fitando o amigo com um olhar severo.
bufou. tinha razão. Era melhor ele sair e se divertir um pouco. Não queria ficar arrumando aquela bagunça toda, pensando na curva errada que tinha virado para estar naquele caminho de merda.


Eles passaram no luxuoso apartamento de e a Senhora Quinn – a segunda mãe deles e secretária do amigo – o ajudou a encontrar uma roupa que se ajustasse bem em .
Ele ainda não conseguia crer que Amber havia destruído tudo. Picado suas roupas e quebrado sua louça. Não que seus bens materiais tivessem importância, mas era loucura demais.
Até mesmo para ela.
– Aproveite, querido. – disse ela enquanto eles entravam no elevador. sabia que a senhora Quinn estava sentindo pena dele. Ele mesmo sentia pena de si.
– Obrigado.
Quando chegaram na festa – incrivelmente atrasados – aquilo estava uma loucura. Ele se despediu de que correu para ver Luna e pedir desculpas, enquanto ele ia ao banheiro.
Precisava passar uma água na nuca. Se sentia vazio com tudo o que tinha acontecido. Era irônico, mas agora a única coisa que ele queria era ir para casa e ficar sozinho.
A solidão não o assustava tanto quanto aquelas pessoas. Pessoas loucas.
Maldita a hora que pensou ter se apaixonado por uma louca. Ele estava inconformado. Ia beber todos os uísques possíveis até apagar.

– Parabéns, formanda! – disse assim que viu Luna conversando com no meio do salão, onde as pessoas estavam dançando.
Ela o encarou animada e o puxou pelo braço, sem dar tempo de pensar.
– Vem, vamos dançar.
– Está tudo bem? – indagou ele.
Ao seu ver, Luna parecia um pouco alegre demais.
– Só quero dançar e aquele babaca, além de chegar atrasado, fica se fazendo.
curvou o cenho. Sentiu-se um pouco culpado. A culpa pelo atraso havia sido dele.
– Você bebeu?
– Bebi! Bebi, bebi! Qual o problema? – disse ela, gesticulando com os braços.
Meu Deus, precisava daquilo. Precisava rir. E Luna Aniballe bêbada e xingando , era tudo o que queria.
– É ótimo ver você assim – murmurou baixinho no ouvido dela – e melhor ainda é olhar pra cara do .
– Ele está bravo? – perguntou Luna, achando graça.
encarou o amigo os observando do outro lado e gargalhou internamente.
– Eu diria que está prestes a bater no primeiro que tampar seu campo de visão.
Ela riu alto jogando a cabeça para trás. podia ver o amigo o enforcando com o pensamento, o que era mais divertido ainda.
– Sobre o atraso – começou ele, precisava contar a verdade, por mais legal que fosse ver tendo problemas –, a culpa foi totalmente minha.
– Ele me disse! Está tudo bem? – perguntou ela, preocupada.
desviou os olhos por um momento. E depois olhou para os próprios pés, pensando um pouco antes de responder. A verdade era que ele não sabia nem um pouco se estava bem.
– Eu só não queria que as coisas acabassem como acabaram, sabe? Éramos tão felizes. E agora não suportamos ficar perto um do outro.
– O amor acabou. – concluiu ela.
Ele olhou para algumas pessoas em volta e então acenou lentamente.
– É, o amor acabou.
– Posso te falar uma coisa? – ele concordou com a cabeça. – Já reparou como olha para você?
semicerrou os olhos. Já tinha escutado esse nome, só não lembrava se era em uma propaganda de chiclete ou se realmente alguém se chamava .
– Quem? – indagou ele.
Luna bufou revirando os olhos.
, minha secretária. Estava na sua casa aquele dia. Trabalha pra você. Essa .
– A garota?
– É, a garota. – respondeu ela, impaciente.
– O que tem ela?
– Ela tem sentimentos por você. Sentimentos puros. Você devia dar uma chance à ela. – Luna suspirou fundo. Ela se esforçava tanto e ele sequer lembrava quem era – A observe, veja como ela é. Abra seus olhos, homem.
Ela deu um tapa em seu braço e ele sorriu, procurando pela garota. não tinha lembrança dela com vivacidade, mas enquanto a procurava não só pelo meio daquela multidão de bêbados, ele procurava por nas suas lembranças. Sempre tinha aquela garota loira perto de Aniballe, mas, pensando bem, ele não dava muita importância.
Era só uma garota.
Mas algo estranho aconteceu quando ele a viu, parada perto do melhor amigo. Por Deus, será que ela estava o tempo todo ali? Ele revirou os olhos. Tinha se estressado tanto com Amber que mal notou as outras pessoas. E uma pessoa como , não podia passar despercebida.
Era como se Luna realmente tivesse aberto seus olhos.
– Ela é uma gata mesmo. – disse ele a observando de longe.
era loira – ele tinha problemas com loiras –, mas era atraente. E ele podia ignorar esse fato. Estava com um vestido preto que marcava seu corpo. É, ele podia muito bem ignorar o fato dela ser loira.
Ela não era como Amber.
– Ela é linda! – disse Luna, de repente.
engoliu em seco. Queria vê-la mais de perto. Não que desconfiasse da garota do seu amigo, mas ele sentia necessidade de se aproximar dela.
girou Luna, apontando discretamente com a cabeça para que ela chegasse perto de e . Se a garota tinha algum tipo de sentimento por ele, estava louco para descobrir quais.
Aniballe entendeu o recado dando um sorriso cúmplice e se aproximou dos dois. Tinha umas cinco pessoas entre eles, mas ele ainda podia vê-la muito bem.
Uma boca rosada maravilhosa, segurando uma taça de champanhe, alheia a ideia de que o homem que a observava agora, não queria nada mais do que tirar cada peça que cobria seu corpo. queria abrir suas pernas, esquecendo-se do mundo a sua volta e se aprofundar dentro das suas coxas até... Ele sorriu perverso.

Capítulo 6



Ela franziu os lábios por um instante. Estava pensando qual rota até o banheiro seria melhor. As opções eram passar por e esbarrar nele pedindo desculpas, ocasionando uma breve troca de olhares; ou simplesmente passar por outro caminho.
não conseguia pensar. Tinha bebido um pouquinho – não tanto quanto Luna, mas ainda assim estava difícil pensar.
Quando ela o viu chegando na festa, seu coração começou a bater perigosamente rápido. Por sua sorte ele e Luna ainda estavam dançando, o que dava a chance dela tentar raciocinar quando eles se separassem. O problema era que ela não conseguia.
Ele estava absurdamente lindo. Inteiro de preto, com a barba por fazer. Sabia que provavelmente aquilo tinha ficado para depois, já que tinha escutado quando havia dito para Luna, que Amber tinha aparecido para atormentá-lo.
Ela suspirou fundo, encarando o copo. Precisava criar coragem para aquela noite. Talvez não tivesse outra.
– Ele é bonito. – disse Katina, uma das melhores amigas de Luna, parando ao seu lado.
– Quem? – indagou , confusa.
– O cara que você está olhando.
Ela engoliu em seco, sentindo as bochechas corarem. Diabos! Será que ela não havia aprendido nada com Luna? Não podia crer. Bufou incrédula.
– Que cara? – perguntou se fazendo de desentendida. Ao menos tinha que fingir desinteresse, já que pelo visto estava estampada na sua cara.
Katina riu baixinho.
– Aquele gato que está dançando com a Luna. – apertou os lábios olhando pra baixo – Não se preocupe, a maioria das mulheres aqui estão babando nele.
sorriu com os lábios ainda comprimidos. Era só o que faltava mesmo, mas seria tão óbvio. Quem em sã consciência não pararia para olhar ? Ele era absurdamente lindo. Tinha um charme que ela não conseguia explicar, era natural dele. Sem esforço algum.
Ela segurou o ar quando viu que estava em uma área de perigo e começou a mexer no cabelo, nervosa.
Katina a abraçou pelo ombro rindo, falando em seu ouvido:
– Não se preocupe, Caramella, de todas aqui você é a única que vale a pena.
– Você acha? – indagou ela, insegura.
Katina sorriu com amabilidade, olhando em seus olhos.
– Você deveria ir falar com ele. – sugeriu ela.
quase se engasgou com a saliva. Katina estava louca. Ela nunca teria essa coragem.
– Nem pensar. – disse ela.
– Por que não? Ele não vai te enxergar aqui. Tem tantas mulheres oferecidas que com certeza não vão deixar ele chegar perto de você.
Ela mordeu o lábio pensativa. Talvez a ideia do esbarrão fosse melhor do que ir simplesmente falar com ele. Afinal, ela sabia que acabaria falando alguma asneira. Sempre falava.
– Acho melhor não, Kat.
– Para de bobeira, . Você precisa mostrar que é uma linda mulher e que está aqui.
Ela suspirou fundo. Katina estava certa. Precisa mostrar ao menos que estava na festa e uma vez por todas quem ela era. precisava fazer com que ele lembrasse dela na manhã seguinte e depois, e depois.
– Tudo bem...
– Ótimo, então aproveita agora que ele está vindo na nossa direção.
E lá estava ele. . O cara que ela havia esbarrado em um dia qualquer na cafeteria. O mesmo que tinha a ajudado e simplesmente a ignorado no outro. O mesmo que provavelmente não sabia quem ela era na festa no seu apartamento. E o que ela tinha certeza que tinha encontrado. O cara que fazia seu coração bater violentamente contra o peito.
Ele se aproximou, acabando com a distância entre os dois. mal havia notado, mas Luna estava logo atrás dele com um sorrisinho medonho de quem tinha aprontado nos lábios. Ela engoliu em seco.
Meu Deus.
– Oi, . – disse ele, com a voz suave.
Ela sentiu suas pernas amolecerem. Talvez as estrelas estivessem se alinhado e o mundo deles se colidiu. mordeu o lábio sorrindo, ela lembrava ter ouvido algo assim em uma música, mas nossa, era exatamente assim como se sentia.
O mundo deles finalmente haviam se colidido.
sabia quem ela era. E ela não sabia como. Bem, talvez desconfiasse. Talvez Luna fofoqueira Aniballe, tivesse por trás disso.
– Oi, senhor . – disse ela formalmente, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
Ele curvou o cenho, fazendo careta, depois sorriu de lado. Se aproximando ainda mais dela. colocou uma mão em seu ombro, se inclinando para beijar sua bochecha. Ela precisava agir desdenhosa, mas sentiu seu corpo petrificar, quando os lábios dele tocaram sua pele.
– Me chame de , pelo amor de Deus!
Ela sorriu envergonhada, assentindo em seguida. Podia morrer que morreria feliz.
– E você é Katina, certo? – disse ele, cumprimentando Kat, que deu uma leve cotovelada em .
– Sim, sou eu. Prazer em conhecê-lo. – respondeu ela, com um tom de voz gentil – Quer beber alguma coisa?
– Talvez. Acho que seria bom.
– Vou pedir algo para os meninos! – disse ela se afastando e gritando para o namorado – Noah, precisamos de mais bebidas!
olhou por cima dos ombros de , Luna estava dançando com outra pessoa de novo. se afastou indo até os pais dela. queria pedir ajuda, mas teria que lidar com ele sozinha. Sentia um pânico crescendo dentro do seu peito, não podia desperdiçar aquela chance.
– Você – começou ele, fazendo ela se virar para encará-lo – deveria dançar comigo, agora.



sabia, assim que chegou perto, que ela seria sua aquela noite.
era linda, atraente e tímida. Ela não sabia, mas enquanto mordia seu lábio inferior, ele ficava desejando poder fazer isso.
Já ele não sabia, também, porque ou como tinha a chamado para dançar tão descaradamente, mas precisava fazer alguma coisa.
Qualquer coisa que tirasse da sua cabeça o estresse que Amber o havia feito passar.
E parecia ser um bom passatempo. Não que ele pensasse assim sobre as mulheres, ele as respeitava ao máximo. Elas eram, na sua opinião, as criaturas mais perfeitas da natureza. Só que agora queria aproveitar.
E queria aproveitar com ela.
– E então? – perguntou ele novamente, a fitando descaradamente. Ele podia ver que ela estava constrangida, mas não se importava, era exatamente esse o efeito que queria causar.
pigarreou.
– Você deveria perguntar. Não exigir. – disse ela, simplesmente.
sorriu de lado, umedecendo os lábios com a língua. Até então não sabia, mas sentiu prazer ao ouvir a resposta dela.
– Jamais sonharia em exigir algo de você. Peço desculpas. – disse ele, numa tentativa falha de fingir seriedade – , gostaria de dançar comigo, agora?
Aquilo era engraçado, mas ela sorriu docilmente. E suas bochechas ficaram deliciosamente avermelhadas.
– Pode ser. – disse ela, dando de ombros.
sorriu abertamente. Ela parecia indiferente sobre os sentimentos que Luna havia lhe dito, mas ele sabia que provavelmente aquele seria só seu jeito de demonstrar que não estava interessada como as demais garotas da festa.
O que fez gostar dela.
se aproximou de devagar e ele a puxou pela cintura. Era uma música calma, onde a maioria das pessoas que estavam em casal ficou no meio do salão e as demais se afastaram, deixando um bom espaço para eles dançarem.
segurou a mão dela com uma mão e a outra apertou sua cintura. fitava algo por cima dos ombros dele, totalmente em silêncio. dançava com uma bela garota e tudo que passava em sua cabeça agora era a paz que ela o fazia sentir. Tudo bem que tinham acabado de se conhecer, mas ele confiava nas palavras de Luna e se a loira que o acompanhava agora realmente gostasse dele – a maneira que fosse – isso o fazia se sentir maravilhosamente bem. E em paz.
– Está se divertindo? – disse ele, porque tinha que dizer alguma coisa.
se afastou um pouco para encará-lo e depois sorriu, balançando a cabeça. Ele não tinha certeza se aquilo era sim ou não, mas sorriu também.
Nossa, não sabia como tinha a deixado passar despercebida.
– Estou! – comentou ela – É minha primeira festa de universidade.
curvou o cenho curioso, se perguntando se ela era do tipo reservada, que ficava dentro do quarto estudando, assim como ele fazia.
– Por quê? – indagou ele.
– Não conheço muitas pessoas que estudam em universidades. – respondeu ela, como se fosse óbvio e uma pergunta surgiu na cabeça dele, muito óbvia também, aparentemente.
– Você não faz faculdade, faz?
Ele a rodopiou, não sabia porque tinha feito isso, mas ela riu sendo pega de surpresa. Assim que seus corpos colaram novamente, dessa vez mais próximos, ela respondeu com a voz doce.
– Não, estou no último ano do colegial.
piscou algumas vezes, fingindo dar de ombros para aquele fato. Mas que droga, todo seu plano de esquecer seus problemas com aquela garota linda dos lábios rosados havia ido por água abaixo.
Como Luna tinha o jogado para uma menina que nem sequer tinha saído do colegial ainda? Se ele a encontrasse agora, jurava por Deus que ia matá-la.
– E já sabe o que cursar? – indagou ele, tentando não demonstrar seu choque.
– Não. E eu sei que já devia estar determinada, me formo daqui alguns meses e faço dezoito anos no final do ano, mas é muito difícil. Existem infinitas possibilidades.
sorriu com a informação dela, sentindo-se mais aliviado. Não que mudasse qualquer fato, porque ele queria beijá-la naquele momento, não depois de cinco meses.
– Eu também era indeciso. – disse ele, o que não era nenhuma mentira – Só comece alguma coisa, se não der certo, você faz outra. Não deixe o tempo passar.
Ela assentiu veemente, como se cada palavra dele fizesse o maior sentindo. E um péssimo sentimento tomou conta dele.
Falava para uma garota que se não desse certo era pra começar outra coisa, mas a verdade era que queria dizer à ela para seguir seu coração.
Algo que ele jamais tivera coragem de fazer.
amava música, queria estudá-la. Mas seus pais jamais o entenderam e agora, depois de anos e da vida estar de ponta cabeça, se arrependia de não ter sido firme em sua decisão. Ele não precisava de todo o dinheiro que tinha se fosse feliz com aquilo que fazia.
Não que não amasse seu trabalho, mas tinha uma grande diferença naquilo que lhe proporcionava riqueza material para aquilo que lhe proporcionava riqueza espiritual.
– No que está pensando? – perguntou ela, aproximando os lábios do seu ouvido, para que ouvisse com clareza.
Outra música já tinha começado, dessa vez mais animada, mas eles continuaram dançando como antes, próximos um do outro.
– Estava vagando. Coisas inúteis.
riu alto.
– Eu faço isso o tempo todo.
– Sério?
– Sim. – disse ela balançando a cabeça veemente – Minha mãe sempre diz que não vivo nesse mundo.
sorriu com o jeito dela falar, parecia um pouco nervosa.
– Eu também me sinto como se não vivesse nesse mundo. Como se todos fossem ETs ou algo do tipo.
– Jura?
a girou mais uma vez e quando a puxou de volta fez seus corpos chocarem. E então a pegou pela cintura jogando seus ombros para baixo, como faziam em filmes.
– Não. – disse ele, em um tom de voz charmoso – Só falei isso para termos a primeira coisa em comum.
A garota revirou os olhos rindo e quando a puxou para cima de novo, as bochechas dela estavam coradas. E, nossa, ele sentiu vontade de beijá-la naquele instante.



Ai. Meu. Deus.
Ela queria gritar para o mundo. Não, primeiro queria fazer uma dancinha ridícula de vitória e depois gritar para o mundo.
Bem, talvez fizesse os dois de uma vez só.
Quando terminou a terceira música seguida que dançava com , eles acharam que era hora de tomar alguma coisa. E assim que chegaram perto dos amigos de Luna, as garotas vieram ao seu encontro, fazendo com que fosse com os rapazes.
– Vocês estavam tão fofos! – disse Katina primeiro.
– Estavam mesmo! Acho que você conseguiu fisgar o homem. – comentou Megan, uma das amigas de infância de Luna.
– Vocês acham? – indagou ela, com as pernas bambas e o coração batendo descompassado contra o peito.
Não queria se iludir, mas as amigas de Luna eram mais velhas e eram experientes. Katina e Elena tinham namorados. De anos.
– Ele é muito lindo! – suspirou Elena – Com todo esse charme e esses olhos.
– Ells! – gritou Megan – Niall está bem ali.
Todas riram. E Elena deu de ombros.
– Vão dizer que estou vendo coisas agora?
– Bem, ele é! – disse Kat rindo – Mas será laçado pela garota Caramella.
– Quem é Caramella? – indagou Noah surgindo atrás de todas, um pouco embriagado.
Todos os outros rapazes surgiram junto com elas. não tinha muita ideia de como deveria agir, então ficou o mais próxima de Katina, a namorada de Noah, pela qual sentia mais simpatia.
– Caramella é o apelido da . – explicou Megan, olhando diretamente para que sorriu parecendo ignorar ela. Olhando diretamente para , que suspirou profundamente, precisando segurar em algo ou em alguém, nesse caso, antes que desmaiasse ali mesmo.
– Meu Deus, a Luna está bêbada! – disse Niall olhando para o outro lado da festa.
cortou o contado visual com dificuldade, mas precisava ver o estado da sua chefe. Ela não conseguia acreditar que Luna Aniballe realmente estava embriagada.
Mas quando a viu sendo carregada até o bar por , teve a certeza. Ela tinha passado um pouco dos limites.
– Vou lá falar com ela. – disse rapidamente.
Querendo ou não, era a mais sóbria daquele grupo.
– Também vou! – ouviu a voz de atrás de si e tremeu na base.
Aquilo com certeza era um sonho.
Enquanto passavam pelas pessoas no meio do salão, sentiu a mão de encostando em seu ombro enquanto a seguia. Todos os pelos do seu corpo arrepiaram apenas com o toque dele.
Minha nossa Senhora, ela com certeza ia desmaiar.
Assim que chegaram até eles, se pronunciou preocupada.
– Ela está melhor?
– Não. – respondeu – Acho que seria melhor levá-la para casa.
– Quer que eu leve vocês? – parecia estar preocupado tanto quanto .
– Seria ótimo, mas não quero acabar com sua festa.
– Por que não vão com o carro de Luna? – disse ela, tendo uma ideia – Ela veio sozinha. O carro dela está por ai.
– Vou pegar a chave dela. Deve estar com seus pais. – se afastou um pouco – , cuida dela por enquanto, eu já volto.
saiu e segurou Luna para não despencar da banqueta. Inconscientemente ela não queria estar ali, queria que e pudessem ficar sozinhos. Ela tentou se levantar, mas foi em vão e só piorou as coisas.
– Preciso sair daqui. – pediu ela – Não estou bem. Esse calor...
– Vamos levá-la lá pra fora. Acho que é melhor. – sugeriu .
– Você é esperta, Caramella! – disse .
Ela não tinha certeza se aquilo parecia um flerte ou era coisa da sua cabeça, mas, meu Deus, como queria que fosse a primeira opção.
abraçou Aniballe pela cintura e a ajudou a sair do salão da melhor maneira possível. Ele realmente parecia ser um cavalheiro.
– Vamos deixar Luna aqui. – disse quando eles chegaram do lado de fora, colocando a chefe da garota em um banco sentada – Está se sentindo melhor?
não teve tempo de pensar. Em um piscar de olhos, sua chefe havia vomitado nos pés do sócio de uma das maiores empresas do país.
– Que nojo! – gritou .
Algo que ela não conseguia ver era aquilo.
– Temos que tirar você daqui. – parecia um pouco enojado, mas aquilo tinha o deixado preocupado – vai me matar se alguém vê-la aqui e desse jeito.
– Mas que merda, ! – gritou o Senhor irritado, como se tivesse ouvido o que havia acabado de dizer.
– Queria que eu fizesse o quê? – retrucou o cara dos olhos dourados – Não ia deixar ela lá dentro.
– Se os pais dela a virem desse jeito, vão surtar. Foi difícil convencê-los que estávamos indo embora porque ela não estava se sentido bem e não porque tinha bebido todas.
Luna vomitou de novo interrompendo aquela discussão dos sócios.
sabia exatamente o que fazer. E gritar não era a melhor saída. Por mais que tivesse nojo do vômito, ela já havia lidado várias vezes com aquele tipo de situação.
Correu de novo para o bar pegando dois litros de água e um chocolate. Luna precisava por tudo pra fora, mas ainda assim não podia ficar desidratada. E então, enquanto os homens discutiam sobre coisas estúpidas, ela deu um pedaço do chocolate fazendo Aniballe vomitar mais ainda e a fuzilar com os olhos. Quando Luna terminou de vomitar, ela deu mais água e assim seguiram por longos minutos. Até tudo se acalmar.
– Está melhor? – perguntou , preocupada.
– Um pouco.
– Quer ir embora? – foi a vez de .
– Não. – disse Aniballe com a voz carregada – Quero dançar uma música com você.
e os empresários riram.
– Comigo? – indagou .
– É rude recusar uma dança, sabia?
ergueu uma sobrancelha a olhando de soslaio. Alguma coisa entre eles devia ter acontecido, mas ela não quis se intrometer. Ajudou apenas a amiga se levantar, sendo segurada por .
– Venha, vamos dançar, então.
Não tinha música alguma, tudo o que escutavam lá de dentro era um ruído. segurou a mão de Aniballe e a beijou com delicadeza. Luna olhou para ela e para quem estava atrás de si. E depois sorriu embriagada.
– Vocês dois! – disse ela – Vamos, dancem conosco.
riu nervosa e fez a mesma reverência cordial que .
– Me concede a honra dessa dança, Caramella? – todos riram – ela de nervosismo- e o deixou segurar sua mão.
– Você me chamou mesmo de Caramella, de novo?
Aquele apelido que Luna havia a dado era fofo, mas ouvir da boca de era algo que ela não conseguia processar.
– Você não gosta? – indagou ele, curioso.
Ela entortou a boca e depois mordeu o lábio constrangida. Queria dizer que não, mas era ele, bem na sua frente. A chamando de Caramella com tanta intimidade.
Intimidade que ela sonhava em ter desde que o conhecera.
– O quê? Não, é claro que não. – se empertigou, sorrindo envergonhada – Pode me chamar do que quiser...
curvou o cenho, sorrindo travesso.
– Bem – pigarreou ela –, pode me chamar de ou Caramella.
Ele riu baixinho, fazendo ela rir nervosa.
– Uma pergunta. – disse ainda rindo – Que música estamos dançando? Preciso ao menos imaginar.
riu também e se pronunciou. Estava apaixonada por uma música que tinha encontrado no Youtube e por algum motivo toda vez que ouvia pensava em .
– Estou ouvindo Never Say Never, do The Fray. – comentou – Acho que é do tempo de vocês. Ela é linda.
– Me senti velho depois dessa. – respondeu rindo – Mas a música é perfeita.
concordou silenciosamente com a cabeça. Ele conhecia a música também. não sabia, mas ele já havia tocado várias vezes em seu piano.
Ela se aproximou dele, sentindo a mão de na curva da sua cintura e a outra delicadamente segurar sua mão. Antes, queria esviscerar Luna, mas depois de tudo teria que agradecê-la. Até bêbada ela sabia o que estava fazendo. precisou reunir toda sua força para não desabar ali mesmo, na frente de todos, com tudo o que tinha acontecido.
Ele finalmente sabia quem ela era. Ela não podia acreditar nisso.
– Acho melhor irmos. – comentou , se aproximando deles.
quis esquartejar seu chefe, mas tentou disfarçar o fogo nos olhos.
– Tudo bem. – respondeu ela, se afastando de .
, quer que eu te leve embora antes? – indagou .
Nossa, aquilo era muito surreal. era o chefe da sua chefe. O cara que mandava em tudo. E ele estava lhe oferecendo uma carona.
Não. Ele estava sendo gentil com ela.
Não sabia porque as pessoas o temiam. Talvez apenas pela palavra “chefe”, mas o Senhor parecia ser uma boa pessoa.
E um homem apaixonado. Ah, como ela queria ter a sorte de Luna Aniballe. Queria muito que um homem como o Senhor se apaixonasse por ela da mesma forma.
– E então? – repetiu ele, fazendo as bochechas dela formigarem.
– Ah, claro...
– Não. – interveio com a voz doce e amigável, fazendo o coração da garota dar um salto – Posso leva-la embora, não se preocupe. Pode ser, Caramella?
ficava absurdamente lindo chamando a garota pelo apelido. E a mesma ficava absurdamente maravilhada com isso.



Ele não sabia porque tinha feito isso, mas parecia certo na hora. E ainda mais certo quando ela sentou ao seu lado no carro. E, que Deus tivesse misericórdia, porque quando ela se atreveu a ligar o rádio do carro e suspirou quando as primeiras notas da quinta sinfonia de Bethoveen começaram a tocar, ele sentiu espasmos estranhos dentro de si.
Ela era uma garota de dezessete anos, ele não parava de pensar nisso.
não parecia ser como as outras garotas, ele tinha que admitir, mas não era do seu caráter pensar em ter qualquer tipo de relação com uma.
– O que você está pensando? – indagou ela, como sempre curiosa.
Ele sorriu de lado, colocando a língua entre os dentes.
Droga, fazia isso sempre que queria flertar. Ah, aquilo seria muito difícil.
– Estou apenas apreciando a música. – mentiu ele, descaradamente.
Mas se tivesse um pouco mais de coragem, falaria para ela o que realmente estava passando por sua cabeça agora. E ele tinha que concordar, não era nada correto.
– Eu simplesmente adoro Bethoveen. – disse ela, suspirando enquanto tirava suas sandálias.
Ele piscou algumas vezes olhando a cena e sorriu de lado. não imaginava que uma garota como pudesse ouvir algo tão sublime quanto Bethoveen.
Imaginava que garotas da sua idade ouvissem boybands ou algo do tipo.
– Sou apaixonada por Moonlight. – disse ela um pouco envergonhada – Mas confesso que ainda me sinto um pouco perdida com música clássica.
– Ah, Moonlight é fantástico. – disse ele, vendo ela colocar os pés sobre o banco do carro – Bethoveen traz algo que você sente na alma. É isso que é importante na música clássica.
– Eu achei que a paixão dos homens fossem os carros.
– Também. – disse ele lembrando da sua coleção de carros na casa de Amber – Mas Bach, Antônio Vivaldi, Mozart, Chopin, Bethoveen e Rachmaninoff têm um lugar dentro do meu coração.
– Rachmaninoff? Não conheço. – a verdade era que ela mal conseguia pronunciar o nome.
sorriu de lado, estufando o peito com certa alegria. Se existia algo no mundo que ele mais amava do que sua família era falar sobre música. Quando tinha cinco anos sua mãe o colocou em uma escola de música. A ideia inicial da Sra. era apenas entreter o garoto, mas quando sua primeira aula de piano foi dada, ele sentiu algo dentro do seu pequeno coração. O amor pelo piano e pelas obras que tocava se tornou seu vício e enquanto os colegas optavam pelas baterias ou guitarras, ele perdia horas do seu dia desejando ser Rachmaninoff. O maior pianista em sua opinião.
– Bem, Serguei Rachmaninoff é um astro. Conhece aquela música All by Myself? Bridget Jones canta no filme.
abriu um imenso sorriso boba, mas concordando. Não tinha como não conhecer aquela música. Era um clássico do filme. E da Celine Dion, é claro.
– É um arranjo temático do segundo movimento – continuou – do Concerto para Piano No. 2, Opus 18, em dó menor de Rachmaninoff.
curvou o cenho. Ele sabia que ela não entenderia, mas ele precisava explicar. Gostaria que ela soubesse. Incrivelmente linda, e ainda sábia sobre música clássica. Seria um verdadeiro sonho dele se tornando realidade, já que Amber odiava quando ele tocava. Dizia ser fúnebre e depressivo. Às vezes gostaria de responder que talvez fosse daquela maneira que ele se sentia.
– Não entendo esses termos, Sr. . – a garota deu de ombros – Sou apenas uma amante do sentimento que eles me proporcionam.
– Belas palavras. – ele pigarreou – Exceto pelo Senhor.
viu as bochechas de ganharem cor levemente e achou melhor mudar de assunto, antes que viesse a fazer alguma tolice. Ele sabia que se continuasse falando sobre seu amor por música, acabaria falando demais sobre si mesmo.
– E, bem, como sabe da minha outra paixão, assim como a paixão de todo homem na face da terra, sugiro que tire os pés do banco do meu carro.
o encarou estupefata e depois sorriu envergonhada. Era delicioso ver as bochechas dela criando cor. E os lábios se retorcerem de constrangimento.
– Obrigado. – disse ele quando ela retirou os pés.
– Você estava sendo legal demais para ser verdade. – bufou ela cruzando os braços, como uma garota mimada.
Ele riu alto.
– Pode parar aqui! – gritou ela de repente em frente de uma casa de família comum em Londres.
Ele parou bruscamente, fazendo-a sorrir ao mesmo tempo que tirava o cinto de segurança.
– Ahm... Obrigada por me trazer em casa. – disse ela, abrindo a porta do carro.
A situação era um pouco embaraçosa, mas assentiu, descendo do carro também. A levaria até a porta, por questão de segurança. E talvez quem sabe por ficar mais tempo em sua companhia.
Enquanto caminhava ao lado dela em silêncio tinha em mente que não podia fraquejar. Ele até havia tentado ficar com outras garotas depois da briga com Amber, mas depois do que Luna havia lhe contado, a única coisa que começou a pensar foi na garota que trabalhava para Aniballe.
.
Ele se lembrava de tê-la visto pelos corredores da empresa e até mesmo em seu apartamento, mas nunca tinha a olhado de outra forma. Pelo amor de Deus, ela tinha dezessete anos. Ele não conseguia esquecer esse detalhe. Era jovem demais. Com tantas mulheres em sua empresa, ele não se perderia olhando para uma de dezessete. Afinal, ele tinha trinta. Mais de dez anos mais velho. Aquilo era errado.
Ela era linda demais, com toda certeza, mas ele era sensato para saber que aquilo era imprudente.
Mesmo com ela vestida daquela forma - que a deixava com cara de mais velha -, e caminhando ao seu lado com o vestido amassado e sem sapatos, com a boca entreaberta.
Nossa, ele já imaginava as coisas que queria fazer com aquela boca.
– Ahm... Obrigada. – repetiu ela parando quase em frente à porta, tirando qualquer pensamento sórdido e impuro que crescia na mente dele.
– Imagina.
Era estranho. Fazia longos anos que ele não se deparava com um momento como aquele.
Levar uma garota até a porta, como se estivessem voltando de um encontro. Ele a deixaria e o que aconteceria depois? Ele queria beijá-la.
Nossa, ele queria muito beijá-la.
– Será que Luna ficará bem? – perguntou ela, cortando aquele silêncio constrangedor.
sorriu. Queria que a preocupação dela fosse a mesma dele, refletiu, mas tudo bem se ela detestasse o silêncio tanto quanto ele.
Quando conheceu , tudo o que queria era ficar sozinho. Eles tinham vinte e dois anos e não gostava da ideia de ter alguém invadindo seu espaço. Seu amigo tinha um passado levemente conturbado e não era nada fácil ficar ao lado dele. Por vezes, quis ficar sozinho no silêncio do seu apartamento. Mas quando realmente o deixou, a única coisa que queria era a companhia do melhor amigo. Ele não entendia como alguém conseguia viver no silêncio ou na solidão, depois de compartilhar por anos a alegria do amigo.
E quando conheceu Amber, nunca mais quis ficar sozinho. Ela enchia seu peito de alegria, mas aquilo havia acabado. Há anos.
– Acho que sim. ¬– respondeu ele. – vai cuidar muito bem dela.
sorriu delicadamente e ele achou que poderia ficar a admirando pela noite toda se ela deixasse.
– Bem... – pigarreou ela – Acho melhor eu entrar.
Droga, aquilo não podia ser tão constrangedor como de fato estava sendo. Será que ela não percebia em seus olhos que ele queria beijá-la imediatamente? Também, como poderia entender os sinais que estava dando durante toda a noite? Ela era uma simples garota que estudava no colegial. Ele tinha que por isso na cabeça. Não podia simplesmente colocá-la contra a parede e tomá-la em seus braços até que sentisse vontade de tirar sua roupa.
Um silêncio levemente desconfortável se formou entre eles e achou melhor dizer logo alguma coisa, antes que estragasse tudo.
– Foi bom ter sua companhia, senhorita . – disse parando em frente à porta dela.
sorriu suavemente.
– Estou me sentindo no século dezenove com toda sua formalidade! – provocou ela, rindo baixinho e travesso.
Droga, será que ele estava sendo tão patético assim? Ergueu os ombros sorrindo, um pouco sem graça. Não conseguia relaxar ao seu lado.
– Presumo que estou deixando uma dama em casa. – respondeu ele, entrando na brincadeira, se curvando para beijar a mão dela. De uma coisa ele sabia, precisava tocar sua pele de qualquer forma.
Quando os lábios dele tocaram a pele dela, sentiu um arrepio estranho na espinha. Seu perfume era doce e tinha a mão macia e delicada. Ele se segurou para não continuar beijando toda a extensão, até chegar onde ela perdesse o fôlego.
– Obrigada, . – ela agradeceu dando um passo para frente, encostando os lábios no canto da boca dele.
não era nem um pouco inocente, ele estava começando a pensar nisso. E na hipótese de arrastá-la de novo para o carro e sussurrar tudo que estava passando na sua cabeça agora.
Se ela não tivesse entrado em casa sem esperar para que raciocinasse melhor sobre o plano, teria feito isso, mas a sorte estava ao seu favor. Ele não podia beijar e querer fazer tudo o que desejava com uma garota de dezessete anos. Ele era homem, não moleque.
Mas pelo resto da noite, quando finalmente conseguiu sair da frente da casa dela, ele não parou de pensar no seu sorriso e nos seus olhos cor do mar.
Ou, talvez, o som da sua voz.
Ou, talvez, o toque dos seus lábios.

Capítulo 7



Ele havia ido embora.
havia ficado parado por alguns minutos ¬– que mais pareceram horas – em frente à casa da família . não entendia o porquê, mas adorou ficar o observando pelo canto da janela do seu quarto no segundo andar.
Sentia-se tentada a correr naqueles minutos até onde ele estava e se despedir de verdade, do jeito que ela vira centenas de vezes nos filmes românticos.
Quando ele se foi, ela suspirou fundo. Minha nossa, ele estava ali com ela, dessa vez só os dois. E eles haviam conversado de verdade e ela rezava para que na segunda-feira de trabalho ele a chamasse de Caramella de novo.
Ela tirou a roupa quando conseguiu e deitou na cama fitando as estrelas que tinha colocado no teto do seu quarto quando tinha treze anos. Elas brilhavam no escuro e desse modo deixava o quarto um pouco mais claro, e consequentemente, ela não precisaria mais chamar os pais quando estava com medo.
engoliu em seco com as mãos sobre a barriga, com um frio na espinha. Ela queria acordar a mãe e contar todos os detalhes da noite mágica que tinha passado ao lado de , mas se conteve até que o dia amanhecesse. E, quando o dia amanheceu, ela se arrastou pra fora da cama. Mal tinha conseguido dormir, mas queria que o domingo – que ela tanto adorava – passasse em um piscar de olhos, porque ela mal podia esperar para ver ele.
– Bom dia, filha! – disse a senhora , que já preparava o almoço da família.
– Bom dia, mãe! – respondeu a garota, sentando na bancada.
Estava tão cansada fisicamente, mas seu espirito saltitava tamanha era sua felicidade.
– Como foi a formatura? – indagou a mãe, curiosa.
Quando saiu para a festa da sua chefe, Luna, sua mãe havia ficado mais nervosa que ela. A senhora , era sua melhor amiga e sabia de tudo que se passava na vida da filha.
– Ele estava lá. – disse , não contendo o maior sorriso da sua vida enquanto lembrava de entrando no salão de festas.
– E então? Ele te viu?
A mãe parou tudo o que estava fazendo para encarar a filha. Ainda bem que Benedict estava cortando grama do jardim, assim ela podia comemorar a felicidade que estava estampada no rosto de .
A felicidade que só ela, como mãe, queria que a filha sentisse.
– Muito mais que isso! – respondeu , colocando as duas mãos na boca. A senhora Sophie estreitou os olhos.
– Isso quer dizer o que exatamente? – falou a mãe, franzindo a testa.
sorriu, sabendo que a mãe provavelmente tinha criado centenas de situações só com aquela resposta vaga.
– Nós dançamos. – começou ela, fazendo Sophie colocar a mão no coração sem perceber – E não dançamos apenas uma vez. Nós dançamos três vezes, mãe!
desejou que seus olhos tirassem fotos, assim que viu a expressão da mãe, tão contente quanto ela.
– E vocês conversaram? , pelo amor de Cristo, você não disse nenhuma besteira, disse?
A garota desceu da bancada, pegando uma tigela de cereal para comer.
Ela queria dizer para a mãe que se sentia um pouco irritada de ela pensar que sua filha sempre falava asneira, mas pensando bem, sua mãe até que estava certa. Exceto dessa vez.
– Nós conversamos um pouco, ele foi gentil! – ela mordeu o lábio, sentindo as bochechas esquentando – Ele sabia meu nome, quem eu era e depois me trouxe pra casa.
– Ele te trouxe pra casa? – indagou Sophie , chocada.
– Sim. Ele me trouxe pra casa.
– Ele te trouxe pra casa?
sorriu.
– Sim, mãe. E antes de qualquer pergunta constrangedora, ele me deixou na porta da frente, como um legítimo cavalheiro.
– Quem te deixou na porta da frente? – quis saber Benedict, entrando na conversa.
sorriu amarelo, pegando a tigela de cereal, dando um beijo na bochecha do pai antes de sair da cozinha. Quando estava na sala, gritou:
– Meu futuro marido, pai!
Ela estava tão feliz.



A dor de cabeça já não o incomodava mais, o que realmente estava lhe irritando era o fato de ser três horas da tarde e ele ter que encarar Amber, em uma tarde de domingo de sol.
não queria conversar com ela depois do que tinha feito em seu apartamento, mas seus pais achavam que era melhor tudo terminar de forma amigável, já que eram anos de relacionamento.
só concordou porque sua família havia falado sobre o término realmente. Eles não estavam pedindo para que reconsiderasse a ideia ou qualquer coisa semelhante. Até mesmo seus pais a aquela altura sabiam que não teria mais volta, até porque aquela mulher era louca.
Todos finalmente tinham percebido.
– E então? Querem um chá? – perguntou sua avó, um pouco incomodada com o silêncio constrangedor na sala.
Ele amava sua família, mas era de praxe que sempre o deixavam em uma situação embaraçosa. Já Amber parecia estar amando aquilo tudo. Era como se nunca fosse deixar de ser parte da família , o que era terrivelmente irritante.
– Acho melhor conversarmos apenas nós dois. – disse ele, a contra gosto, mas era melhor do que todos ouvindo.
– Só não quero mais brigas! – comentou Amber com um tom de voz afetada.
Ele revirou os olhos com náuseas. Ainda não conseguia acreditar que um dia da sua vida ele chegara a pensar que ela seria sua mulher.
– Não vamos brigar. Vamos pra casa. – disse ele se levantando.
Amber o encarou confusa por alguns segundos e depois sorriu, ela achava que tinha ganhado a guerra. sentiu pena.
Ele pegou um litro do whisky mais caro do bar do seu pai, na verdade pegou um whisky Trinitas, de 64 anos, considerado o mais caro. Só existiam três garrafas no mundo.
Mas ele considerava que a ocasião que teria que enfrentar merecia, no mínimo, uma delas já que Amber era o demônio.
E para enfrentar o demônio ele tinha que encher a cara.

não sabia ao certo se tinha se passado uma ou duas horas, ou mais. Ele sabia que estava em uma condição não muito boa para ter uma conversa decente com sua ex-noiva.
Mas que droga, ele mal conseguia parar em pé.
– Por que diabos você bebeu tanto? – gritou Amber, enquanto ele estava no sofá tentando calcular se pegava a Mercedes ou o Audio A8 para fugir dela.
Tinha sido uma péssima ideia ter ido até a casa onde eles moravam juntos, tão bêbado daquele jeito. Bem, só agora ele via isso e agora estava muito tarde para voltar atrás.
– Eu bebi pra tentar aguentar ouvir sua voz! – disse ele, enrolando a língua – Mas vejamos, eu estou com vontade de vomitar e acho que não é culpa do álcool.
Amber bufou, parecendo que ia arrancar os cabelos.
– É por isso que não transávamos mais! – disse ela, de repente.
Ele curvou o cenho, pensativo. Mas que diabos, aquela mulher estava falando? A culpa não podia ser dele por não transarem mais. Se dependesse de , ele comeria ela todo santo dia.
Merda. Merda. Merda.
– Nós não vamos falar sobre isso agora.
Amber riu de escárnio. sentiu náusea.
– Você sabe que é verdade. A culpa disso ter terminado assim, foi só sua.
levantou irritado. Mal dera dois passos na direção dela para falar poucas e boas – afinal, se ele bebia, era porque ela fazia com que ele bebesse –, mas Amber o segurou pelos ombros, o puxando para um beijo afobado e desajeitado.
Mas que merda era aquela? Droga, ele não podia deixar... Ele não podia.
Amber ergueu os braços em torno do seu pescoço e não parecia que soltaria antes que os dois ficassem ser ar, ou sei lá, até que o sufocasse e morresse. tentou se afastar, mas ela desceu com uma das mãos até o meio de suas pernas.
Inferno! Ela sabia exatamente como ter ele em suas mãos, literalmente.
Amber sorriu quando ele tirou o blazer que o apertava e segurou a cintura dela, puxando seu corpo contra si. Ela o empurrou contra o sofá, sentando em seu colo em seguida.
Ele só conseguia praguejar. Ela era muito gostosa. E fora só dele, por anos.
mordiscava o lábio inferior de Amber, enquanto a abraçava com força contra seu corpo. A loira, arrancou pela cabeça rapidamente seu vestido, a única bendita e santificada peça de roupa que a mantinha vestida.
engoliu em seco, não queria concordar com sua cabeça de bêbado, mas sentia falta do corpo daquela mulher. Sentia falta de cada pedacinho da pele dela. Suas faculdades mentais não estavam o ajudando a resistir e, cara, ela estava nua no seu colo.
Mil vezes merda.
Ele engoliu em seco, beijando a barriga dela em seguida, fazendo com que Amber tomasse a rédea total da situação. Ele estava perdido.
Ela arrancou suas roupas, puxando ele para cima do seu corpo. Amber tinha olhos claros, era loira e uma boca rosada. Por um momento, ele lembrou de , a garota que trabalhava para Aniballe. balançou a cabeça perplexo enquanto Amber trilhava uma sessão de beijos e mordidas por seu corpo. Ele não se surpreendeu, afinal era absurdamente linda, mas aquela não era a ocasião ideal. Ela era apenas uma garota.
Amber enfiou a mão dentro da sua cueca, fazendo ele se contorcer.
Droga, não podia pensar na garota naquele momento, podia? Será que seria preso por isso?
Amber desceu com a boca até seu querido companheiro de guerra, o General – era assim que ele se referia ao seu pênis – e começou a beijá-lo e sugá-lo.
Por Deus, aquilo era bom demais para ser verdade.
Ele só podia estar bêbado mesmo para não evitar aquela situação com Amber. Não, ele não podia, mas... Ah, nossa, era bom demais.
Ele enfiou a mão no cabelo dela e os fios loiros caíram entre seus dedos. Não tinha o mesmo tom, mas era muito parecido com o... Ah, meu Deus.
– Carame...– ele parou de respirar.
O que aconteceu em seguida foi culpa dele. Amber o encarou com as sobrancelhas curvadas e depois, talvez percebendo na cara dele de que não tinha se enganado e de fato seu ex noivo havia começado a pronunciar o nome de outra enquanto ela dava tudo de si, explodiu.
E que Deus tivesse piedade dele, porque ela ia matá-lo.
– O que você pensa que está fazendo? – indagou ela aos berros, levantando do sofá.
sequer pensou em uma resposta decente. Ele estava tão perplexo com o que havia acontecido que se Amber ateasse fogo na casa, ele ainda não saberia o que fazer em relação a quase ter dito em voz alta o apelido de .
Meu Deus, ele queimaria no fogo do inferno.
– Essa é a piranha por quem me trocou? Qual é o nome dela? – gritou Amber andando de um lado para o outro.
Só então percebeu que precisava sair dali o quanto antes. Não queria que ela soubesse em quem ele estava pensando, ou faria da vida da pobre garota – que ele sequer beijou – num martírio.
– Não sei do que está falando. – disse ele, dando de ombros. Não ia se safar, ele tinha noção disso. Mas jamais contaria sobre . Ele não era louco.
, fala de uma vez o que é que você pensa que está fazendo, antes que eu descubra sozinha.
Ele tinha plena certeza que naquele instante ela estava tomada pelo demônio que habitava nela. Engoliu em seco, levantando em seguida, mas teve que desviar de um vaso que provavelmente partiria sua cabeça se lhe atingisse.
– Fala o nome dela!
– Não tem ninguém e, se tivesse, nós dois não estamos mais juntos! Pelo amor de Deus, mulher, você tem que parar com esses surtos.
Amber urrou, fazendo ele segurar uma risada debochada. Droga, aquilo era a briga mais cômica em todos aqueles anos. E dessa vez a culpa era sua. Sua ex olhou para o lado com os olhos cuspindo fogo. O celular dele tocou na hora mais inconveniente possível, era .
– Se não me contar, vou perguntar pro . – ameaçou ela.
se conteve em dar de ombros. Aquilo era ridículo demais pra ser verdade. Ela podia ligar para o Papa que ninguém saberia do que estava falando, afinal ninguém sabia quem poderia ser Carame... Bem, talvez Luna.
– Não o incomode! – disse rapidamente – Ele está com Luna.
Amber olhou o celular e depois o fitou com a boca entreaberta.
– Luna? Aquela Luna?
Nada na sua vida podia ficar pior do que isso. Ele suspirou fundo e depois concordou.
Era aquela Luna.
Ele estava ferrado.



logo descobriu que sua chefe era mais curiosa do que ela. Claro que ela não ia dizer isso, mas Luna Aniballe parecia que teria um infarto ali, na sua frente, quando contou sobre a noite da formatura. Não tinha contado detalhes, mas ela já estava comemorando enfiando um monte de minhoca na cabeça da garota.
Não que ela não gostasse, afinal, sentia como se precisasse de mais um passo para chegar até ele e, tendo Luna ao seu lado, tudo parecia certo.
Só que os dias foram passando e nada dela ver o homem. Na segunda-feira, seu nervosismo era tanto que ela passou a tarde toda, praticamente no banheiro. Havia sido um desastre total e, no fim, ele não apareceu. O que no fundo ela deu graças a Deus, porque seria no mínimo constrangedor vê-lo tendo dor de barriga.
Nos outros dias quando perguntava à Senhorita Aniballe sobre ele, ela parecia desconversar, ou simplesmente dizia não saber, mas tinha impressão que ela sabia, até porque vivia com o Chefe, o sócio e melhor amigo de , que havia dado à ela nada menos do que um apartamento em Hyde Park.
Os dois viviam pelas caças um do outro e quando não estavam brigando, estavam aos beijos escondidos no escritório dela. Enquanto ficava de segurança, mesmo que eles não pedissem.
– Alguma notícia sobre ? – quis saber ela, já desacreditada, entrando no escritório de Luna.
havia acabado de sair. E ele parecia enérgico com alguma coisa, toda vez que ele saia do escritório da Senhorita Aniballe – aos berros – ela logo entrava para saber sobre o que estavam conversando. Principalmente nas últimas semanas, porque tinha medo de que tivesse feito alguma coisa errada e que o beijo no canto da boca fosse demais e ele simplesmente quisesse evitar ela agora, mas dessa vez Luna sorriu.
– Soube que ele e Amber tiveram a briga mais feia do século.
sentou na mesa da sua chefe com as pernas bambas. Tinha tanto papel em seus braços que estava com medo de derrubar tudo.
– Como assim? – ela engoliu em seco.
me contou que ele não veio trabalhar nas últimas semanas porque não tinha mais condicionamento psicológico. Acho que ela quebrou a casa inteira.
– Não acredito! Que vaca.
Ela disse colocando uma das mãos sobre a boca, mas era verdade. Que tipo de mulher era aquela? Meu Deus, não merecia aquilo. estava perplexa.
– Nossa, acho que cheguei em péssima hora.
A garota arregalou os olhos quando ouviu atrás de si, a voz de . A reação de Luna não foi diferente. Se ele chegasse ali um segundo antes, elas não saberiam o que seria dos seus empregos. engoliu em seco.
– Não, não! Pode entrar, Sr. . – disse Aniballe sorrindo pacificamente.
desceu da mesa derrubando vários papeis. Droga, aquilo não podia ser menos constrangedor. Ela quis se enterrar embaixo das pernas longas da sua chefe.
Que vergonha.
– Não estou interrompendo a conferência das garotas? – comentou , com um tom de voz cômico.
Por Deus, não era assim que tinha imaginado a primeira vez que o veria depois da formatura. Isso se ele já não tivesse esquecido dela. Que mundo injusto.
– Claro que não! Fique à vontade. – enquanto juntava a papelada que havia deixado cair, viu pelo canto dos olhos Luna apontando a cadeira para ele se sentar.
Ela não tinha dúvidas que fosse desmaiar.
– Se soubesse minha definição de ficar à vontade você não diria isso. – disse, seu tom de voz era sedutor.
A garota engasgou com a própria saliva. Ele havia dito isso mesmo para Luna? Ai meu Deus, bem na frente dela. Ela queria morrer.
Depois de todos aqueles dias fantasiando como ia ser vê-lo novamente e de todas as conversas que tinha criado na cabeça, ele simplesmente estava flertando com Luna bem na sua frente.
Ela tinha beijado no canto dos seus lábios. Mas que inferno, ela tinha se insinuado.
engoliu o resto de dignidade que tinha, jogou todos aqueles malditos papeis que estavam desorganizados em seus braços e saiu da sala sem olhar para nenhum deles.
Assim que fechou a porta sentou de frente para o computador, pegou o celular e mandou uma mensagem para a mãe. Era pedir demais que pelo menos uma vez o cara que ela queria, quisesse ela também? Porque depois de anos, ela finalmente tinha se apaixonado por alguém, porque ela sabia que ele era o cara e, droga, ele estava lá, flertando com Luna Aniballe, uma pessoa que ela sequer podia odiar, porque ninguém em sã consciência podia odiar ela. Luna era doce, inteligente, engraçada e linda.
Mas o que deixava mais entristecida era que ela não se sentia tão diferente de sua chefe. Talvez ela não fosse tão inteligente ou bonita, mas se sentia engraçada e gentil. Será que isso não era suficiente?

“Mãe, o que eu tenho de errado? Por que todo mundo parece não me ver mais?”

Ela não esperou pela resposta da mãe. Nem teve tempo de pensar, Luna abriu a porta a chamando alto.
– O que houve? – perguntou ela assustada.
– Ele está bêbado.



Tudo bem, estar na merda, para ele, já estava sendo normal. Depois que contou à Amber sobre Luna Aniballe, seus dias se tornaram os piores da vida. Ele jamais quisera trair o melhor amigo, mas o que podia fazer? Não queria prejudicar a garota. E a essa altura ele nem sabia mais porque ele estava a protegendo. Afinal, era seu melhor amigo há mais de dez anos. Ele tinha feito uma merda triunfal, era isso.
Quando conheceu na pós, em Dubai, ele estava passando por grandes problemas. E quando se referia em grandes, ninguém jamais imaginaria que podia ser tão, mas tão grande. Ele mesmo ficou chocado ao descobrir a história do garoto e hoje, pensando bem, seria melhor nunca ter descoberto. Porque agora tinha dado com a língua nos dentes.
Ele e Luna já haviam namorado. Anos antes, não agora, há muito tempo atrás. Ambos acabaram se envolvendo em um acidente – provocado por – fazendo com que Luna perdesse a memória e esquecesse dele. Por motivos que jamais conseguiu entender, havia deixado a garota para trás e agora, por obra do destino – o que na opinião dele era a coisa mais insana do milênio –, eles trabalhavam juntos.
E ela sequer sabia que um dia, aos dezoito anos de idade na época, tinham namorado.
mal conseguia olhar para ela naquele instante, ao saber que tinha contado sua história para uma terceira pessoa e a mesma estava sabendo que Aniballe estava de volta com . A cabeça dele parecia que ia explodir, então decidira que o melhor a se fazer era beber. Ele queria encher a cara, porque se seu melhor amigo desconfiasse que alguém poderia contar a Luna seu segredo, ele tinha certeza que essa pessoa estaria morta.
E, nesse caso, quem morria seria ele.
– Ahm… – resmungou Luna, o acordando do transe – Você… precisa de algo?
– Eu só queria conversar.
Na verdade, ele queria pedir desculpas, mas não tinha nem como pensar em falar algo do tipo. Droga, tinha bebido tanto que os móveis da sala dela não paravam de girar. Provavelmente ele passaria mal em breve.
– O que houve? – indagou ela, no mínimo preocupada.
– Minha vida está uma merda ultimamente. – disse ele, sentindo o gosto do álcool na boca – Eu… Olha, não conte para o . Ele está um chato ultimamente, não me leve a mal.
– Tudo bem.
se debruçou sobre a mesa dela.
– Fiquei com a Amber depois da formatura. – confessou ele – Íamos ter uma reunião em casa, não sei como acabamos no meu sofá... E eu falei muita merda pra ela. Coisas que não devia contar à ninguém… você me entende?
Luna balançou a cabeça que sim, mas ele tinha impressão de ela não estava entendendo nada.
pegou seu cantil do bolso e tomou um grande gole. Ele só queria beber.
– Está se sentindo mal? Por isso está bebendo? – perguntou ela um tanto preocupada.
– Sim. E vim aqui porque não quero que saiba sobre isso. E eu precisava contar pra alguém… eu simplesmente precisava… eu precisava.
Ela levantou da cadeira indo ao lado dele. parecia aflito.
– Não se preocupe, todo mundo tem recaídas. Vocês viveram anos juntos e é normal errar. Todo mundo erra e com certeza beber não é a melhor saída.
Ele ficou quieto, com seus próprios pensamentos. Tentou beber mais um pouco, mas ela confiscou seu objeto.
Droga, ele estava tão bêbado que mal conseguia brigar pela bebida. Ah, se ele tivesse bebido um pouquinho menos, arrancaria aquele cantil das mãos dela e tomaria até a última gota, até apagar.



– Bêbado? – ela estava tão chocada, que teve que perguntar mais algumas vezes para ter certeza se ouviu certo.
bêbado aquela hora do dia, no trabalho, não era algo normal de se ouvir todos os dias. Mas assim que viu o cara por quem estava apaixonada quase caindo da cadeira do escritório de Aniballe, ela não precisou ouvir mais nada. Ele realmente estava bêbado.
– É, bêbado. – respondeu Luna impaciente – Você para de ficar com essa cara de quem viu um fantasma e me ajude a fazer alguma coisa.
– Vocês estão falando de mim? – indagou , enrolando a língua – Eu não estou bêbado!
– Claro que não. – respondeu Luna dando tapinhas em seu ombro.
Ela empurrou a secretária para fora da sala e fechou a porta.
– Sabe dirigir?
concordou com a cabeça.
– Ótimo, você vai levar ele pra casa.
– Como? Você enlouqueceu? Eu nem sei onde ele mora! – ela estava nervosa, Luna também, mas algo tinha que ser feito.
– Você não foi comigo no apartamento dele aquele dia? –Luna revirou os olhos bufando – , não é hora pra bancar a boba apaixonada! Pense com clareza. Se pegar ele aqui ou qualquer outra pessoa, a reputação do seu amado vai pelos ares.
– Tudo bem, tudo bem! Só estou nervosa. – ela hesitou – Não consigo processar que ele está bêbado ali dentro.
– Eu muito menos. Agora vá e pegue o carro dele. A chave deve estar em seu escritório.
– Como vou entrar no escritório dele e pegar a chave? Você ficou louca?
Elas ouviram um barulho estranho dentro da sala da Senhorita Aniballe e então Luna abriu a porta na mesma hora. O corpo de estava estatelado no chão e ele gemia baixinho. Por sorte do destino ou não, suas chaves caíram do bolso do paletó.
quis morrer. Não, ela mataria Amber primeiro, por fazer estar naquele estado, depois mataria o próprio bêbado inconsequente e então se mataria, por ser tão trouxa a ponto de estar apaixonada por um homem que mal conseguia parar em pé.
Era o fim.

O plano era Luna descer com pelas escadas, o que achou bem complicado, mas não quis dizer nada, sequer conseguia raciocinar, então faria tudo o que ela pedisse.
Mas quando ela mencionou que fosse até o estacionamento pegar o carro de ela congelou, sentiu fadiga e falta de ar constante. Como ela pegaria o carro dele? Além de cada dia ele estar com um, provavelmente se fizesse algum arranhão – ela não contaria para Luna naquele momento, mas tinha reprovado na carteira de habilitação –, ela teria que vender todos seus órgãos no mercado negro para pagar, pelo menos um dos arranhões.
Minha nossa Senhora, ela estava tremendo feito vara verde. Aquilo só podia dar errado.
tinha plena convicção de que se meteria em encrenca aquela manhã, quando acordou e se atrasou para escola. Não tinha culpa se tinha que ficar até tarde estudando porque era seu único horário vago, ela tinha que ajudar Luna. Ela só não sabia que dessa vez ela não era a culpada e quem estava aprontando era justamente .
O que é que ele tinha na cabeça? Aquilo era um absurdo completo. Luna estava apavorada ela podia ver, mas pedir para ela pegar o carro do seu chefe sem a permissão dele era um incrível e tremendo absurdo. Bom, certamente não era tão petulante quanto ele estar bêbado àquela hora do dia. E no trabalho. sabia que algo bom não podia ter acontecido ou ele não estaria naquele estado caótico. Ela só se perguntava se aquilo tinha a ver com Amber e a tal briga do século.
Por Deus, que não fosse Amber.
tirou a mulher asquerosa da cabeça e segurando a chave de entre os dedos, como se fosse seu bem mais precioso, ela se dirigiu até o estacionamento procurando pelo carro dele.
Não devia ser uma tarefa difícil, ela estava com a chave, quem desconfiaria que havia pego do dono sem permissão? Ninguém brigaria com ela se descobrissem o que estava fazendo, afinal era para o bem do chefe deles.
Ela não conhecia carros muito bem, mas logo soube qual pertencia a . Era o mesmo com o qual ele tinha a levado para casa. fez uma breve prece antes e com o coração na mão e a imaginação de que um dia aquele carro pertenceria à ela também, entrou com as mãos suando.
Pela primeira vez na sua vida se sentiu responsável por alguma coisa. Nesse caso, alguém. Era legal saber que sua chefe confiava nela a esse ponto. E mais incrível ainda saber que ela teria inteiro para ela. Só dela.



Ele definitivamente tinha perdido o bom senso no meio do caminho da sua vida. Sim, da vida. Não no caminho da casa para o bar ou do bar para o trabalho. Ele havia feito a maior merda da sua vida em contar para Amber sobre e Luna e agora sabia que teria que arcar com as consequências. E sabia que elas podiam ser catastróficas.
O gosto do álcool queimava sua garganta e ele não conseguia entender mais o que estava acontecendo, só ouvia alguns resmungos de Aniballe e então foi jogado dentro do seu carro. Ele sabia que era o seu, mas não entendia porque estava no banco do passageiro, até que ouviu a voz dela.
– O que é que você está fazendo? – perguntou com a língua pesada.
o fitou um pouco assustada, depois se aproximou dele, fazendo com que perdesse toda a sanidade que habitava dentro de si, ao sentir o perfume dela. Caramella o prendeu com o sinto de segurança e disse algo inaudível à Luna Aniballe. Depois ligou a preciosa Ferrari e então ele desejou de todas as formas possíveis e inimagináveis, que aquilo fosse apenas um sonho.
– Você está bem? Olha, nós vamos chegar logo. – ele não sabia se tinha entendido ao certo, estava olhando pra frente, pensando que talvez aqueles fossem os últimos minutos da sua vida.
O movimento na rua era grande e ele quis sair dali correndo, levando sua preciosa Ferrari junto, é claro. Ele estava tremendo.
acelerou e depois freou bruscamente, fazendo o corpo dele ser jogado para frente.
Meu Deus, eles iam morrer.
– Você sabe ao menos o que está fazendo? – indagou ele de novo, sentindo a cabeça pesar.
podia sentir ela o queimando com os olhos.
– Não se intrometa. Pelo amor de Deus, você está bêbado às três horas da tarde!
Ele riu à contragosto. Não queria receber um sermão de uma garota de dezessete anos, sem contar que, entrelinhas, ela tinha grande parte de culpa por isso estar acontecendo.
Ah, meu Deus, se ela sonhasse que Amber havia quebrado metade da sua casa quando ele pensou nela na hora que estava sendo tomado pela boca da sua ex noiva.
Nossa, ele estava fodido. Realmente fodido.
– Quem é o chefe? – indagou ele, presunçoso.
o olhou com uma expressão furiosa, notando seu sarcasmo, mas preferiu ficar calada. Ela acelerou o carro e depois freou bruscamente, fazendo o corpo de ser jogado de novo para frente. E então, para o topo dos seus constrangimentos da vida, ele vomitou.
– Espero que isso tenha respondido a sua pergunta. – disse ela irônica, descendo do carro em frente ao seu apartamento.
Droga, ela era boa.

Capítulo 8



Ela achava que a parte mais difícil já tinha passado, mas depois que teve que subir com enroscado em seus ombros – como se ela conseguisse carregá-lo – pelo elevador e arrastá-lo até seu apartamento, tudo piorou.
Parecia que a cada minuto que passava o homem piorava. o colocou sentado no sofá e enquanto corria para a cozinha procurar por algo doce, ouviu um barulho. Ele tinha se estatelado no chão e batido a cabeça.
Primeiro ela ficou boquiaberta o encarando por alguns segundos, depois bufou irritada. Como um homem de trinta e poucos anos podia fazer aquilo? Depois de tanto tempo.
Ele não era mais um garoto – como Douglas – que bebia porque achava divertido e gostava de chamar a atenção. , na verdade, era totalmente o oposto do seu ex-namorado, o cara que mais odiava na face da Terra. Eles haviam se conhecido quando ela estava no segundo ano do colegial. Douglas Booth era o capitão do time de futebol e ela era líder de torcida, o casal mais popular da escola. Chegava até ser banal ver os dois juntos, como se fosse um casal rotulado pelos filmes adolescentes.
Quando o novato chegou e foi tomando todos os corações para si, inclusive o dela, jamais conseguiu imaginar o que aconteceria na sua vida. Ela jamais pudera imaginar...
– Minha cabeça. – disse depois de um tempo.
Ela o levantou com delicadeza e o colocou de novo no sofá, dessa vez deitado. E para não correr riscos, deixou três almofadas no chão. E voltou para a cozinha para procurar algo doce. Na geladeira achou uma Coca-cola, por sorte, e em um dos armários todo tipo de porcaria que ela queria ter em casa.
Homem solteiro, igual à comida de adolescente.
pegou uma barra de chocolate o refrigerante e foi até ele. Fazia muito tempo que ela não precisava cuidar de alguém nesse nível de bebedeira, mas ainda assim lembrava o que tinha que fazer.
.– disse ela, se abaixando próxima dele. – Você precisa comer isso para melhorar.
– Eu estou bem. – disse ele, com a voz arrastada.
revirou os olhos. Como poderia imaginar em todos os contos de fadas que havia criado em sua mente – foram tantos que ela já tinha perdido a conta – que cuidaria de um bêbado. Ele era simplesmente tudo que ela sonhava e agora estava ali, na sua frente. Praticamente desacordado.
– Que vexame, ! – disse ela, balançando a cabeça. – Vem, você vai ter que tomar um banho gelado.
– Não! – ele fez careta um pouco manhoso. – Deite aqui comigo.
Tudo bem que ele estava parecendo Booth, mas, Meu Deus, fazer birra para ela era até que aceitável, mas tudo mudava completamente junto com aquela frase.
Deitar com ele? Ela soltou o ar lentamente, o qual nem sabia que estava segurando. Pegou a mão dele, se dando conta de que mesmo ele não estando tão presente ali quanto ela, a segurou de volta, com força, apertando seus dedos.
Ela sorriu, até porque não tinha outra coisa que quisesse fazer, além de sorrir para sempre.
E então o puxou com agilidade, tentando arrastá-lo para o banheiro.
Ah, ele teria que melhorar logo, porque mataria se ficasse bêbado o tempo todo na única vez que ela estava sozinha com ele. Em seu apartamento.
Ah, ela ia matá-lo.
– Você precisa tirar o blazer e a camiseta pelo menos! – disse ela, tentando ajudá-lo. Seu coração estava batendo rápido. tinha que tirar a roupa, seria melhor, até porque depois provavelmente não conseguiria tirar elas molhadas.
– Não quero tomar banho! – reclamou ela, sentando no vaso.
bufou.
O banheiro do apartamento de era pequeno e difícil dos dois se locomoverem dentro dele. Ela estava tendo que lidar com o coração desesperado, um bêbado teimoso e sua mente pregando pensamentos inadequados para a ocasião.
, por favor, tire sua roupa. – pediu ela, da maneira mais meiga que conseguiu.
– O que eu ganho em troca?
Ele mal conseguia falar, mas parecia que sua cabeça estava viajando muito além, fazendo com que a garota surtasse com seu eu interior. Já que na frente dele – mesmo bêbado – ela tinha que manter a compostura.
– Bem, se você não se comportar, um banho que jamais vai esquecer, caso contrário, podemos fazer dele um banho memorável.
Ela se encostou na parede esperando ansiosa pela resposta dele. , que desde que tinha entrado no banheiro olhava para baixo, dessa vez se esforçou um pouco mais e ergueu a cabeça para encarar . Ela mordeu o lábio inferior nervosa.
Meu Deus, se tivesse um pouquinho de coragem, o beijaria agora.
Ele sorriu, fazendo o coração dela parar. E depois balançou a cabeça, tirando o blazer com dificuldade e a camiseta.
piscou por alguns segundos. Ele tinha tatuagens desde a mão que subiam pelos braços e chegava no peito. Lindo, lindo, extremamente lindo.
piscou, surpresa, mal tinha visto com a camiseta entalada na cabeça, tentando tirá-la. Ela riu baixinho e se aproximou dele o ajudando.
Tirou a camiseta e depois os sapatos.
Droga, antes mesmo de qualquer coisa, ela já estava com as bochechas vermelhas. Não teria como dar banho nele com aquela calça jeans.
– Nã... – ele soluçou – se... preocupe, e-u tiro. – disse ele, se levantando rapidamente, numa tentativa frustrada de tirar a calça, enroscando o pé, quase caindo em cima dela.
fez com que ele se encostasse na parede e se abaixou, ralhando baixinho.
– Eu não creio que estou fazendo isso! Não creio.
Ela tirou a calça dele e quase soltou um palavrão bem indecente.
de baixo para cima e de cueca branca. Ele queria a sua morte.
Mas tudo – tudo mesmo – piorou quando a água caiu em seu corpo.
Água gelada, cueca branca e um coração fraco quase levaram a morte da garota.



O dia estava perfeito. O céu azul, aquele azul que as mães pensavam em levar seus filhos para brincar nos parques da cidade. Sentavam em um banco onde pegava sombra perto de pessoas da sua classe com um saquinho de pipoca e os olhos a todo tempo em cima das crias.
Mal sabiam elas que, depois de anos, provavelmente seus filhos estariam completamente bêbados, durante aquele céu azul maravilhoso.
Meu Santo, ele tinha que parar de beber. Ele tinha que tomar um remédio e parar de beber.
Sua cabeça parecia que havia servido de martelo de alguma coisa.
Doía pra diabo.
O que é que ele estava pensando quando bebeu e foi para a empresa? Se o tivesse visto com certeza ele seria um cara morto.
mexeu um pouco na cama, sentindo um desconforto. A cueca estava molhada. Mas por que diabos a cueca... Droga.
Ele fechou os olhos de novo.
Ainda não estava bem o suficiente para falar com ela.



Depois do banho rápido que deu nele – o mais rápido da história, já que não estava em condições mentais – o levou para a cama. Quando o colocou com o máximo de carinho, ele rolou para o lado passando mal.
Ela foi para a cozinha procurando uma bacia para se caso ele vomitasse, o que era bem provável de acontecer, e deixou do lado da cama.
– Posso pegar uma camiseta sua? – indagou ela, perdendo a vergonha.
Já tinha visto o homem praticamente pelado, ele tinha mais é que beijar os pés dela, por não tê-lo agarrado ali mesmo.
resmungou alguma coisa e ela entendeu por sim. Então procurou no quarto dele – ela sequer teve tempo de morrer do coração por estar no quarto dele, já que o imprestável estava desmaiado –, mas ainda sim, comemorou sozinha, quando abriu o closet e com medo que fosse pega no flagra cheirou suas roupas.
Ele tinha um perfume doce.
vestiu uma camiseta que jamais imaginou que veria usando. Era toda estampada com desenhos do Mickey Mouse. A cara dela.
Ela trocou de roupa e vestiu apenas a camiseta dele. Se olhou no espelho e rodopiou. Quando voltou para o quarto ele já dormia tranquilo. Ela cruzou os braços, se encostando no batente da porta para observá-lo.
Ali, vendo o cara da cafeteria, o cara que quando bateu os olhos, sentiu que era o certo, ela sabia que alguém lá de cima não podia fazer com que ela se enganasse tanto.
Tudo estava acontecendo da maneira certa. Confusa, mas certa. Ela deu alguns passos até chegar ao lado da cama, ficando perto dele o máximo que a lei permitia e sorriu de novo.
Ele era tão lindo e dormindo daquele jeito, parecia tão sereno. só queria saber o que se passava na cabeça dele. O que de fato tinha o levado a fazer aquilo.
Ela sentia pena de , ao pensar que alguma coisa estava o perturbando tanto que ele precisava buscar refugio em outros caminhos. Os piores e mais difíceis na opinião dela.
E, nossa, havia muitos sentimentos confusos na sua vida, mas ela temia esse mais do que os outros. Ficar sozinho era uma droga e ela não queria que ele se sentisse assim.
Ele se remexeu na cama e abriu um pouco os olhos dourados.
Ela sorriu e ele esticou o braço para tocá-la.
Ela pegou a mão dele e segurou com leveza.
Ele apertou um pouquinho e depois fechou os olhos.
– Estou aqui se precisar de mim. – sussurrou ela baixinho.

Fazia mais de três benditas horas que ela tinha conseguido colocar o homem na cama. Estava sozinha em seu apartamento, já conhecia cada canto. E o que mais tinha a encantado eram suas fotografias espalhadas pela casa. Principalmente as que ficavam em cima de um piano em um quarto totalmente vazio – exceto pelo instrumento.
Tinham fotos dele com a família, uma com , que provavelmente havia sido tirada quando eles moravam juntos em Dubai, e era a coisa mais linda que ela já tinha visto em sua vida; e uma dele vestido de terno e gravata inteiro de preto, cabelo um pouco mais comprido do que ele estava, com barba por fazer, tocando piano.
Por mais que quisesse resistir, ela foi pé ante pé até a sala, pegar o celular e tirar uma foto do retrato para ter só pra si. Ele era muito bonito pra ser verdade.

Ela estava deitada no sofá. Não queria dizer que se sentia entediada, porque sua cabeça trabalhava enquanto o corpo parecia morto. Não tinha como não ficar criando histórias enquanto o homem da sua vida estava a alguns passos dela, dormindo feito um anjo.
Não tinha como manter a sanidade enquanto ela vestia a camiseta dele.
Simplesmente não tinha.
– Cadê aquele bêbado? – indagou Luna, abrindo a porta de supetão.
se sentou assustada e depois abriu um sorriso imenso.
– Agora está dormindo! Mas você não vai acreditar – ela subiu no sofá, queria muito compartilhar com alguém o que tinha acontecido naquele apartamento horas antes –, eu dei banho nele! Banho no . B-A-N-H-O.
– Você o quê? – Luna abriu a boca chocada – , eu não acredito que fez isso!
– Ah, você acha que eu ia perder a oportunidade? Mas não se preocupe, não o molestei ou algo do tipo. Bem que eu queria, mas ainda tenho amor à vida. Sabia que ele tem tatuagens no peito também? Agora que eu gamo de vez! E você precisa ver o tamanho do..
– Você tirou toda a roupa dele? – Aniballe praticamente gritou, assustada.
– Exceto a cueca.– respondeu ela, como se fosse óbvio – Mas não mudou muita coisa, estava de cueca branca.
A última parte ela praticamente sussurrou, fazendo Luna colocar as mãos na cabeça.
– Deus me ajude! – ela se sentou no sofá, tentando processar todas as informações – Por que está com a camiseta dele?
sorriu apaixonada, sentindo o perfume impregnado no tecido.
– Porque molhei minhas roupas. Acho que ele não vai brigar comigo, né? Ele é tão cheiroso.
– Depois do que fizemos por ele, no mínimo você deveria ganhar um beijo e eu um aumento.
– Acho que eu deveria ganhar muito mais que um beijo! – ela rebateu indignada – Dei banho nele sem agarrá-lo. Sabe como foi difícil fazer isso?
Luna se sentou de lado encostando a cabeça na mão. Ela parecia cansada, mas sorriu de lado para .
– Ah, eu sei. Você deve ter sofrido muito mesmo! – disse ela, irônica.
– Minha boca chega a secar com aquela delícia! Eu não sei como aguentei, Luna, não sei.
Luna mordeu o lábio segurando o riso, sorriu junto, mas tudo a sua volta parou quando ela ouviu o som da risada de uma terceira pessoa.
Ela petrificou por alguns segundos e depois virou para se certificar se estava ouvindo bem. A garota começou a criar outro tom de pele. Um pouco avermelhada, rosa, roxa. Seus olhos estavam quase saltando pra fora, quando ela resolveu que a melhor saída era se esconder dentro da camiseta dele.
só de cueca no meio da sua sala, rindo da cara dela.
Por Deus, ela já podia morrer. Já tinha vivido seus melhores quase dezoito anos, ela não se importava.
– Você está bem? – perguntou Luna para , se levantando, tentando parar de rir.
– Minha cabeça parece que vai explodir – disse ele com a voz rouca – e meu corpo dói em vários lugares inimagináveis.
Luna riu.
– Isso acho que um pouco é culpa minha, mas a bebedeira tem que parar.
– Desculpa fazer vocês passarem por isso.
se levantou criando coragem para conversar com ambos. olhava para os próprios pés, colocando a mão em frente ao corpo
– Vou enterrar o passado de vez depois disso.
– É a melhor decisão a se tomar. – disse Luna.
que já voltava a sua tonalidade de pele normal, foi ao lado dela.
– Desculpa, me molhei inteira quando te dei banho! – ela se explicou ficando envergonhada, mas não superou o constrangimento do homem.
– Não se preocupe, a culpa é minha! – disse ele, trocando o peso dos pés, a olhando de cima a baixo – O que acham de eu cozinhar algo pra vocês? É o mínimo.
Disse ele para quebrar o clima de constrangedor.
– Preciso ir pra casa. Obrigada, . – disse Aniballe.
estava quase desmaiando.
– Você vai ficar, Caramella! – ordenou ele, fazendo com que as pernas dela, virassem gelatina – Não tem nenhum te impedindo de comer um delicioso kebab, tem?
Ela olhou primeiro para Luna, pra ter certeza que sua amiga tinha escutado tão bem quanto ela e então respondeu sorrindo.
– Não, não tenho!
– Ótimo! – disse animado – Preciso agradecer a garota que me deixou de cueca molhada, mas não esqueceu de me vestir com meias quentinhas!
queria enfiar a cabeça em um buraco, isso era evidente. E Luna não conseguiu conter uma gargalhada, o que deixou ela num estado de ebulição.
– Eu vou. – disse sua chefe, a abraçando – Seja quem você é. – sussurrou.
sorriu para ela, agradecendo o conselho com o coração disparado.
– Obrigado, Luna – agradeceu ele baixinho – e se puder manter isso em segredo.
– Não se preocupe. Cuide da minha garota.
– Pode deixar.
A maneira carinhosa como a respondeu fez com que sentisse um arrepio na espinha. Um arrepio bom.
Antes que Aniballe fechasse a porta, virou para ela com um sorriso de tirar o fôlego.
– Caramella, coloca uma calça minha de moletom. Acho que te serve. Ou ao contrário, não vai sair kebab algum hoje!



sorriu vendo a garota ficar com as bochechas rosadas. Tinha acordado com a conversa dela e de Luna. Ele não lembrava exatamente como tinha ido parar em sua cama daquele jeito, mas sabia que ela estava envolvida. Tinha alguns flashes com no banheiro, o que havia sido extremamente constrangedor. Ele era um babaca.
Tinha uma garota linda no seu apartamento, vestida com uma das camisetas dele que mais gostava – só com a camiseta o que era um inferno de provocante –, falando que estava louca para beijar ele. Um cara idiota, bêbado por causa de Amber. Sua maldita ex-noiva. Meu Deus, ele era um completo imbecil.
– Pronto. – disse ela entrando na cozinha.
Vestia uma calça de moletom dele, o que a deixava despojada e fofa. Muito fofa.
– O que você está fazendo? – indagou ela, querendo quebrar aquela névoa silenciosamente irritante.
– Agora? – perguntou ele.
– Sim.
– Bem, agora nesse exato momento estou olhando pra você. – ele disse sorrindo de lado, parado no meio da cozinha.
sorriu olhando para as próprias mãos. Ele estava gostando da ideia de vê-la com as bochechas coradas.
Ela se sentou na bancada. Ele teve que se segurar para não chamar sua atenção. Era uma bancada do século passado. Muito, muito frágil. Ela cruzou as pernas.
– Você não devia vestir uma roupa?
Ele ainda estava de cueca e meia.
– Não. – disse dando de ombros apenas para provocá-la. – Você era o problema.
– Por quê?
– Porque nós já tivemos uma experiência em que você consegue se controlar ao me ver seminu. – disse ele pegando alguns ingredientes na geladeira, sabendo que atrás de si, ela estava começando a criar outra tonalidade de pele – Já eu, posso lhe garantir que não tenho esse mesmo dom.
Ela pigarreou, fazendo ele rir baixinho.
– Acho melhor eu te ajudar. – disse ela, porque algo tinha que ser dito, ou provavelmente ele desconfiaria que ela teria uma síncope sentada em cima da sua preciosa bancada.
– Me ajudar? Você sabe fazer kebab? – perguntou ele, curvando as sobrancelhas divertido.
Ela negou com a cabeça um pouco contrariada.
– Vem, eu posso te ensinar. Você só precisa ter paciência porque ainda estou meio zonzo.
– Nem percebi. – disse ela irônica, mas rindo.
Quando estava descendo, ela se apoiou fazendo o coração dele quase parar.
– Só pula logo da bancada antes que você detone com a minha herança! – disse ele.
– Você acha que eu vou quebrar isso? – indagou ela indignada.
– Bem, é sensível.
– Eu não sou tão gorda assim.
– Eu não disse que você era gorda, disse que minha bancada, uma herança de família, é muito sensível. Por gentileza, afaste-se, para nosso bem.
Ela revirou os olhos, pulando.
– Velho chato!
Ele abriu a boca, sorrindo, nem um pouco afetado com aquela alfinetada ácida dela.
– Você não me chamou de velho chato, cara.
Ela riu baixinho, encarando-o de um jeito que fez algo dentro dele se mexer de um jeito estranho. Droga.
correu para o banheiro. Aquilo era muito constrangedor. foi atrás dele, o que era pior ainda.
– Nossa, você precisa parar de beber. – disse ela enquanto ele passava mal.
– Você podia sair daqui?
– Não se preocupe, já vi isso várias vezes. Eu já volto.
Aquilo era a treva. Aquilo era um castigo dos infernos por ter pensando na garota na hora que estava quase fazendo sexo com sua ex-noiva. Minha nossa, ele estava fodido.
– Pega aqui. É água com açúcar, você precisa tomar tudo. Logo melhora.
Ele sequer olhou para ela. Estava morrendo de vergonha. Era um velho mesmo.
– Obrigado.
– Imagina. – ela sorriu – Se quiser posso abrir um vinho, vi que você tem uma adega cheia deles. Uma ótima opção também.
Ele revirou os olhos.
– Fica pra próxima.
– Foi o que pensei. – ela cruzou os braços, se encostando no batente do banheiro.
Que cena memorável.
– E aí? Vai parar de jogar as tripas vaso adentro e me ensinar logo a fazer um kebab ou vou ter que tomar conta daquela cozinha sozinha?
Ele lavou o rosto, suspirando fundo.
– Você ainda quer que um bêbado velho, que acabou de despejar o café da manhã dele inteiro na sua frente, cozinhe pra você?
Ela deu de ombros.
– Se esse velho bêbado que acabou de vomitar o café da manhã na minha frente for você, eu quero sim.
Ele a fitou por alguns segundos. Ela falava sorrindo, o que o tinha feito sentir aquele negócio estranho dentro de si de novo, só que dessa vez mais forte.
– Okay, só deixe eu me vestir então.

Nunca conhecera alguém como . Ela era espirituosa, divertida, vagamente irritante, mas não podia deixar de negar o quanto ela era incrivelmente linda. E era mais linda ainda quando ria de algo que ele falava.


– Você não fez isso! – disse ela boquiaberta.
– Claro, ele ia todo dia roxo para o colégio! Eu tinha que fazer alguma coisa.
Eles estavam comendo o segundo kebab no sofá enquanto contavam suas histórias de vida.
– E depois?
– Nós atravessamos Dubai, fomos para casa de um tio meu. Ele não estava em casa e meu amigo começou a chorar de medo. Era um cagão.
Ela riu alto.
– Você queria salvar a pátria.
Ele deu de ombros.
– Eu tentei.
– Mas e seus pais? Os pais dele?
– Liguei pra minha mãe, ela quase me esfolou vivo e ele ligou para os pais dele. Foi dado denúncia contra os pais, mas eles o tiraram do colégio. Não sei o que houve depois.
– Não acredito que fugiu com o menino para os pais dele não baterem mais nele.
– Eu também não acredito.
– Isso foi muito bonito para um garoto de oito anos.
Ele sorriu lembrando do dia que quase matou sua mãe do coração.
– E você? Alguma história heroica pra dividir?
– Fora a de hoje? – indagou ela sorrindo, fazendo ele revirar os olhos. – Minha mãe estava grávida do meu irmão mais novo, eu tinha seis anos e ela caiu da escada da minha casa.
Ele a encarou por um instante, vendo os olhos dela ficarem um tom mais escuro.
– Mamãe estava de oito meses grávida do Colin e eu liguei para a ambulância, estávamos apenas nós duas em casa.
– Que horror.
– Eu tive que ser forte para conversar com os paramédicos até eles chegarem, tenho poucas lembranças do dia, mas lembro do sangue e da minha mãe gritando.
– Os médicos chegaram a tempo? – indagou ele, com receio. – Chegaram a tempo de salvar minha mãe, mas Colin não resistiu. Eles falaram que se não fosse por mim, nem minha mãe sobreviveria.
– Então você foi uma heroína.
Ela sorriu torto. Não chegara a pegar seu irmão nos braços, mas o amaria pra sempre.
– Talvez.
– Esse assunto ficou um pouco triste, não acha? Quer comer outro kebab?
– Você quer que eu saia daqui rolando, Sr. ?
Ele jogou a cabeça para trás bufando um pouco dramático.
– Não me chama de senhor, parece que sou meu pai!
– Mas você é velho. – provocou ela. – Tem trinta e poucos anos.
– Você vai chegar nessa idade um dia e eu vou morrer de rir da sua cara.
– Eu é que vou, você vai estar beirando os cinquenta! – disparou ela a rir, fazendo ele soltar uma exclamação ao mesmo tempo que jogava uma almofada nela.
sorriu ainda mais quando segurou na barra da sua camiseta para se defender.
A camiseta dele.
Não sabia dizer por que aquilo era terrivelmente sexy e engraçado de se ver. Talvez por ela ser tão boba e ingênua além de tudo. Um dia enquanto percorria pelo treze, ouvira dizer que ela havia prestado ajuda para um senhor em frente ao prédio da empresa, mesmo ela não conseguindo levar as sacolas e derrubando todas as maçãs no chão, de alguma forma fez com que todos os homens que por ali passavam a ajudassem.
– Você me paga, .
– Tudo bem, eu te pago! Mas preciso de um outro favor seu antes disso. – disse ela, mexendo no celular.
– Pode falar.
– Preciso que me leve pra casa.
Ele encostou a cabeça no sofá a encarando por alguns longos segundos. Há muito tempo não passava uma tarde tão confusa e boa quanto aquela. A verdade era que tinha rido mais com do que rira em todo seu relacionamento com Amber.
Bem, isso não era uma verdade baseada em cálculos ou estaria mentindo, mas se passasse mais alguns dias na presença da menina, ele sabia que seria fácil de superar aqueles anos entediantes ao lado da sua ex-noiva.
Ele não se sentia tão leve e bem há muito tempo. Não queria ter de levá-la para casa. Se pudesse a trancafiaria ali, mas a realidade era algo totalmente diferente.
Ela só tinha dezessete anos, então ele não podia fazer nada além de admirá-la.
– Vem, vamos embora, doce Caramella.

Capítulo 9



– Isso é...– ela pensou um pouco antes de responder – Chopin?
tirou as mãos do volante e as ergueu.
– Frédéric François Chopin.– disse ele, fazendo charme.
Ela abriu a boca sorrindo. Ainda bem que tinha acertado aquela. Se bem lembrava era Noctures, uma das canções mais lindas que já tinha escutado em toda sua vida. Isso que ela era uma fã histérica de Ed Sheeran. E na sua opinião ele era um rei. Seu poeta preferido.
– Eu adoro essa música, não tinha como errar. – disse ela. – Posso escolher agora?
Ele assentiu.
estava a levando para casa, mas, por causa de um acidente que havia acabado de acontecer, o carro não saia do lugar. Não ia para frente, nem para trás. Eles estavam presos.
Não que ela achasse aquilo ruim. Na verdade estava amando cada segundo. Não queria deixá-lo e terminar aquelas conversas que pareciam se encaixar perfeitamente. Queria ficar com até o fim dos seus dias.
– Ed Sheeran? – indagou ele.
– Sim, meu futuro marido. – respondeu ela, sorrindo. – Essa é uma das minhas músicas preferidas dele.
– Você precisa me apresentar o noivo. – se encostou na porta do carro para fitá-la – Tenho que saber quais são suas reais intensões.
aumentou um pouco o volume do rádio, amava aquela música de verdade.
– Escute isso, ele é um gentleman. – ela fechou os olhos, encostando a cabeça no banco, cantarolando baixinho – “You got the kind of look in your eyes. As if no one knows anything but us.”
Estar ali, a poucos centímetros de distância do homem que sonhava ter em sua vida, era muito surreal. Tinha alguma coisa naquela canção que mexia com o coração dela.
– Você realmente gosta desse cara. – concluiu ele rindo.
abriu os olhos, o olhando fixamente. Se ele soubesse.
– “I'm so in love, so in love, so in love, so in love” – respondeu ela, cantando junto com a música.
– Você não tem namorado? – indagou ele de repente.
– Não.
– Impossível.
– Você acredita que no baile anual do colégio ninguém me convidou? Sabe o que é isso? Ninguém.
Ele acelerou um pouco o carro, mas nada que ela pudesse se preocupar. Não queria ir embora, não justamente agora que ele parecia estar se importando com o status de relacionamento dela.
– Não pode ser verdade. – disse ele, sorrindo torto enquanto mexia no cabelo.
– Eu juro pra você. Não que eu queira ir com um bando de adolescentes. – ela revirou os olhos.
Mas a verdade era que sim, queria muito ir ao baile anual do colégio novo, já que nunca tivera a chance de ir ao seu colégio antigo. Queria ter as experiências que todos os alunos no colegial tinham. E um baile era sagrado.
– Por que meninos tem que convidar? Por que você não faz isso? – curvou o cenho olhando para ela – Seus olhos tem a cor do mar de Tenerife!
Ela piscou algumas vezes. Ed Sheeran falava aquilo na música.
– Por isso eu gosto do meu ruivo.
– Porque ele fala sobre você.
sorriu, corando por ele estar reparando nela tão intimamente.
– Então? Já pensou sobre tomar iniciativa de convidar alguém?
Ela mordeu o lábio. Seu coração batia tão forte contra o peito. Sabia exatamente porque ninguém a convidava para o baile; ou porque não tinha nenhum namorado ou paquera.
Todo mundo tinha medo do seu ex-namorado e, por mais que estivesse estudando em outro colégio e ele provavelmente vivendo a vida – sem lembrar que ela existia – em uma das melhores universidades de Londres, ninguém esquecia deles. Não no colégio, onde as pessoas só sabiam comentar sobre a vida alheia. Sobre a tal garota nova, ex de Booth.
Ela sabia disso, porque no passado era exatamente assim como as meninas que via passar por ela nos corredores.



Ela estava em silêncio por alguns minutos. Ele desconfiava que não tivesse percebido isso quando balançou a cabeça piscando freneticamente. Talvez não devesse ter tocado naquele assunto. Ele tinha três irmãs, sabia como elas eram com aqueles assuntos. Sentimentais ao extremo.
Não que acreditasse que ninguém tinha a convidado para o baile.
Meu Deus, era linda e vestir as roupas dele a deixava ainda mais doce, como seu nome.
– Bem... – limitou¬¬¬¬-se ela a dizer.
A maneira como a garota olhou para as próprias mãos fez com que ele pensasse realmente a respeito. O que os meninos do colégio dela tinham na cabeça?
Se fosse uma garota do seu tempo de estudante, provavelmente ele seria apaixonado por ela. Na verdade, ele tinha certeza que isso aconteceria.
– Srta. ... – disse ele cordial, fazendo com que ela o encarasse de maneira gentil, com a cor dos olhos que o cantor havia descrito na música, a cor do mar de Tenerife – posso te levar ao baile?
Não sabia exatamente porque havia feito aquilo, mas, quando se deu conta, o convite tinha saído da sua boca.
Não que fosse se arrepender de levar uma garota tão legal e bonita quanto ela para um baile. Entretanto, era um baile do colegial. O que lembrava ele que ela só tinha dezessete anos.
piscou algumas vezes, nem ela esperava por aquilo, o que fora motivo de orgulho para ele. Gostava de deixar as pessoas sem ações.
Mas os minutos foram passando e ele começou a odiar a ideia estúpida de agradar a garota, já que era bem possível dela rejeitar o convite. O que ele podia jurar que estava acontecendo bem na sua frente, já que ela o encarava sem graça, completamente muda.
Ele se remexeu no banco do carro, aquela porcaria nem andava para frente, muito menos para trás.
Ele resmungou baixinho. Pelo jeito estava fadado a passar vergonha na frente de .
Quando ficou claro que ela não abriria a boca, ele resolveu falar. Porque tinha que falar alguma coisa, não podia fazer papel de idiota.
– Esse silêncio todo foi bem constrangedor. – disse ele.
sorriu concordando com a cabeça.
– Eu estava esperando que você falasse que era brincadeira.
Ele curvou o cenho.
– Por que eu faria isso?
– Por que já fizeram? – indagou ela, mas aquilo não era uma pergunta.
– Não acredito que algum babaca tenha feito isso com você.
Ela deu de ombros como se não se importasse, mas ele sabia que ela se importava. O que o deixava profundamente irritado. Ele queria levá-la ao baile por toda lei. Queria comprar um vestido para ela, um que ela ficasse terrivelmente sexy e linda. E queria comprar joias, um colar com algum diamante... Nossa, ele queria muito fazer isso e queria levá-la com seu carro mais caro, só para que todos os garotos que a ignoraram ou a constrangeram, morressem de inveja dele e porque achava que ela merecia isso.
era uma boa menina, não via o porquê alguém faria isso com ela.
– Bem... – repetiu ela, olhando para as próprias mãos.
Ele acelerou um pouco o carro.
– Eu te convidei de verdade. – disse ele, sentindo necessidade de esclarecer aquilo – Mas se não quiser ir comigo, tudo bem.
– Não! – ela o olhou, colocando uma mão em seu braço – Eu quero.
Sentado ali, olhando para o mar dentro dos olhos dela, ele se deu conta de que não só precisava levá-la para o baile, como precisava beijá-la.
demorou um pouco, mas sorriu quando ela aceitou.
E tudo ficou tão diferente.
Ele queria ser o tipo de cara que vinha tentando ser nas últimas semanas. Um homem que não tinha compromisso com nada, que dormia com uma a cada noite e às vezes com duas durante o dia. Mas a quem queria enganar? Ele sempre fora o tipo de homem que sentia-se feliz apenas com uma. E era fiel a ela. Por mais que passasse a maior parte do seu relacionamento brigando, ele não achava que esse era um motivo – nada era motivo – para se trair alguém que dorme ao seu lado todo santo dia.
Ele olhou por trás dos ombros dela. Já tinha escurecido. Ele podia perguntar quando seria aquele baile do colegial ou como deveria ir vestido, mas a boca rosada dela estava entreaberta e os olhos dela pareciam brilhar de uma forma que ele não sabia explicar. Talvez ele pudesse... talvez não faria mal.
– Eu..– disse ela, tirando a mão do braço dele, ficando um pouco constrangida com a maneira que ele a olhava. – ahm..
– Eu posso te beijar?



O quê?
Pelo amor de Deus, alguém tinha que estar ali filmando aquele momento da sua vida que ela guardaria para sempre. Não sabia se tinha escutado direito, mas, meu Deus do céu, ele tinha pedido para beijar ela? Minha nossa, ia desmaiar em breve. Tudo bem que estava esperando por aquilo desde o momento que havia esbarrado nele no Monmouth café, mas agora que aquele sonho de fato estava acontecendo, ela não sabia como reagir.
Queria esbofetear por tê-la deixado parecendo um pimentão vermelho. Porque ela sabia que não estava com aquela tonalidade sensual que descreviam nos seus romances perfeitos. estava sentindo seu rosto queimar como brasa, então ela sabia perfeitamente que devia estar sendo ridícula por não esconder seu constrangimento, por aquela pergunta. Já que, para ele, provavelmente era algo natural porque o infeliz estava com aquele sorriso de lado, a encarando de um jeito que as pernas dela estavam moles.
Meu Deus.
– Você quer realmente que eu te responda isso? – indagou ela, um pouco mais alto. Estava histérica. De todas as coisas que ele podia ter perguntado, tinha feito justamente aquilo. Ela estava hiperventilando. Olhava para com um pavor crescente.
Ele sorriu. Um sorriso indulgente. Parecia estar gostando daquela situação.
– Bem, eu não posso simplesmente atacar você.
Ah, mas ele podia, sim!
– Eu não vou te responder isso.
Ele mordeu o lábio inferior, segurando um sorriso e acelerou um pouco mais o carro. Eles estavam em uma caminhonete, já que na Ferrari ele havia vomitado. Ninguém os via ali dentro e ela desejou muito que ele simplesmente a atacasse, sim.
Que diabos. Ele queria provocá-la, vê-la constrangida. Tinha feito isso a noite toda.
– Sou um gentleman do século passado, fazer o que. – disse ele dando de ombros.
Ela revirou os olhos.
– Você é um senhor de 1800 com todo mundo ou só comigo?
– Ah, eu podia dizer que é com todos, mas não sou muito educado com meu melhor amigo e nunca deixei outra pessoa dirigir meus carros, então eu acho que é só com você.
Ele sorriu, com uma mão no volante e o cotovelo encostado na janela. Alguma coisa no ar havia o deixado extremamente sedutor, o que era uma grande merda.
– Tenho que sentir algum triunfo com essa declaração?
– Deve.
Ela revirou os olhos sorrindo. A verdade era que sua deusa interior estava sambando uma avenida inteira, gritando para todo mundo sua conquista.
– Você não vai mesmo responder minha pergunta? – indagou ele, colocando as duas mãos no volante, deitando com a cabeça sobre elas, para observá-la.
Ela ia desmaiar. Mas estava conversando com um homem. Um homem que já havia tido um relacionamento sério a ponto de querer casar com a pessoa. Ela não podia simplesmente ter um ataque de pânico ali ou falar alguma coisa estúpida e sabia que tinha feito isso a tarde toda, mas ele estava bêbado e a situação era totalmente diferente.
Agora ele queria beijá-la e pela maneira como a encarava, queria muito aquilo. Então precisava dizer a coisa certa.
se aproximou dele, tentando agir da maneira mais segura que podia. Ele levantou as sobrancelhas com um ar desconfiado.
Ela chegou até onde sua sanidade mental a deixava. Perto do braço dele, que estava encostado no volante. Alguns centímetros da boca, e então falou a primeira coisa que lhe veio à mente.
– Eu quero que você faça aquilo que tem vontade. – disse ela sussurrando.
Seu coração estava quase saindo pela boca, mas ela manteve a compostura de uma mulher adulta. A verdade era que queria dizer “por favor, me beija logo.” Mas se conteve. Naquela frase tinha muito mais do que uma permissão para beijá-la. E os olhos dele ficaram tão intensamente escuros, que ela soube que ele havia entendido.
se afastou da onde sua cabeça estava apoiada, se inclinando na direção dela com um sorriso nos lábios.
Ele ia beijá-la.
Meu Deus, ele ia beijá-la.
Ele passou os dedos na bochecha dela, colocando seu cabelo atrás da orelha. Ela mal podia respirar, sentia seu coração acelerado e borboletas no estômago.
Ele olhava para os lábios dela, como se existissem apenas os dois no mundo e, de fato, para era exatamente isso que estava acontecendo.
Já podia se ver caminhando pela empresa sendo cumprimentada pelos empregados dele, todos falariam “Bom dia, Senhora ”.
Minha nossa, ela ia desintegrar em breve. .
E então ele encostou os lábios dele nos dela. Tão suavemente que a fez soltar um gemido baixinho.
colocou a mão na cintura dela, puxando-a para mais perto e genuinamente acariciou seus lábios com a ponta da língua. colocou a mão entre os cabelos dele, sentindo aquele arrepio toda vez que ele cerrava lentamente seus lábios nos dela. E antes que eles pudessem aprofundar o beijo, várias buzinas fizeram eles se afastarem assustados.
O trânsito havia sido liberado.
Ela queria gritar umas poucas e boas, mas acelerou o carro para acalmar aquelas pessoas impacientes e sem corações que estavam estragando o momento mais lindo da vida dela.
E quando eles viraram a esquina em um silêncio terrivelmente constrangedor, ela sentiu a mão dele em sua nuca. a puxou e colou seus lábios com força contra os dela, em um breve selinho molhado entre sorrisos.



Ele devia estar louco, mas há muito tempo não sorria de felicidade. Ele sorria quando alguém o cumprimentava, ou alguém contava uma piada, ou quando contava sobre suas experiências com a namorada. Mas ele nunca estava realmente feliz.
Em algum momento da sua vida tinha errado e ele se sentia um merda por isso.
Entretanto, quando sentiu os lábios dela tão suaves, suplicando para que a beijasse, ele sentiu aquela pequena felicidade de volta, retomando seu peito.
Tudo bem que ela era uma garota, por isso havia a beijado com mais carinho, mas ainda sim, ela tinha alguma coisa dentro dela que fazia algo dentro dele se mexer.
E ainda não fazia ideia do que era isso.
– Você lembra onde eu moro? – indagou ela, colocando os pés no banco.
Ele fez uma careta.
– Eu podia fazer com que nos percamos. – disse ele simplesmente, tirando um sorriso dela.
– Isso seria interessante para mim, não para meus pais.
Ele sorriu assentindo.
Ela era uma garota. Dizia para si mesmo. Uma garota.
– Então vamos entregá-la em segurança.
– Eles já vão achar estranho o fato de eu estar com essas roupas. Imagina se estendermos o horário. Minha mãe é capaz de pôr a Scotland Yard atrás de mim.
– Sua mãe parece ser uma figura. – disse ele, lembrando das histórias que ela havia lhe contado. – Como é mesmo o nome dela?
– Sophie e meu pai é Benedict.
– Sou fã deles. – disse quase chegando em frente a casa dela – Criaram uma filha totalmente fora da realidade.
Ela o encarou estreitando os olhos de maneira afetada.
– Isso devia ser um elogio?
– Claro que é. Se eu tivesse uma filha como você, provavelmente teria enlouquecido.
balançou a cabeça indignada. E ele parou o carro em frente a sua casa.
– Meu pai disse que só não enlouqueceu comigo porque minha mãe é mais louca que eu. – disse ela rindo, fazendo-o rir também.
Ele suspirou fundo desligando o carro. Era um momento complicado aquele.
– Posso te pedir uma coisa? – indagou ele, já se arrependendo.
– Claro.
– Não quero que fique brava comigo ou que se ofenda. – ele viu nos olhos dela que aquilo não seria fácil de pedir, mas não teria outra saída – Você poderia manter segredo sobre o que aconteceu hoje? Até mesmo para Luna?
Ela umedeceu os lábios, o encarando de um jeito vazio.
Droga, ele não queria ter de pedir aquilo, mas seria um caos completo se todos soubessem na empresa que um homem como ele tinha ficado com uma garota como ela. Bem, ele não queria... Ah, droga, estava sendo como aqueles babacas do colégio dela. Inferno.
– Claro. – repetiu ela sem nenhuma emoção.
– Por favor, não fique brava comigo... Eu não quero te ofender.
– Você não me ofendeu. – explicou ela – Só que não precisava ter me pedido isso, eu não contaria pra ninguém de qualquer modo.
Ele suspirou fundo. Tinha feito merda.
– Sinto muito, , não quis...
– Está tudo bem, . – garantiu ela o cortando, mas ele sabia que não estava nada bem.
– Ahm... – resmungou ele, vendo uma sombra na calçada caminhando em direção ao carro. – acho que sua mãe está vindo para cá.
– Ai, que droga. – resmungou ela. – Desça do carro!
– Que?
– Desça do carro, múmia! – disse ela exasperada, arrumando o máximo que dava das roupas grandes em seu corpo.
– Você me chamou de múmia? – Ai, que saco! – ela revirou os olhos – Você não podia estar com aquelas roupas chiques justo hoje? Misericórdia.
Ele riu. Ela era realmente uma garota de outro mundo. E aquilo o fazia muito feliz.
Não pensou quando fez – na verdade, ele quase nunca pensava ou pensava demais, eram os dois extremos – e enquanto ela resmungava que ele devia estar descendo do carro e ser totalmente cordial com a mãe dela, colocou as duas mãos no seu rosto e a puxou para um beijo. Ela estava séria, mas quando seus lábios se tocaram, um sorriso se formou entre o selinho, fazendo daquele toque deliciosamente leve e perfeito. Puta merda estava gostando daquilo. Daquela pureza dela.
se afastou dele soltando um suspiro.
– Eu te mato.



– Você não teria essa coragem. – respondeu ele, abrindo a porta do carro para descer.
Ela suspirou fundo, derretendo sozinha dentro daquele carro. Seu coração não parava de bater freneticamente contra o peito e, por mais que aquilo que ele tinha falado fosse uma merda sem cabimento, era só sorrir para ela, ou nesse caso tocar seus lábios, que esquecia todo o resto.
Sua sorte era que uma parte do seu cérebro ainda raciocinava então ela saiu do carro, antes que a mãe fizesse isso com as próprias mãos. Sophie era capaz disso, ela conhecia a mãe.
– Mas tem certeza? Eu e Benedict estávamos na cozinha agora mesmo preparando o chá. – dizia sua mãe francamente, simpática demais para a opinião de .
estava sorrindo para ela e teve certeza que naquele momento ele tinha ganhado o coração da mãe também.
– Nós...– ele olhou para , sorrindo cúmplice – acabamos de nos entupir de Kebab.
Ela segurou um riso. Não acreditava que ele tinha dito para a sua mãe que eles tinham se entupido, aquilo era muita coisa dela, não dele.
– Ah, querida, está ai! – disse sua mãe, fazendo a linha mãe graciosa que sorria ao falar.
Ela tinha que se segurar para não rir. Meu Deus. Sophie não existia.
– Estou, mãe. Acabei de chegar, inclusive, com o ! – respondeu ela irônica.
Sua mãe a encarou de um jeito que só ela entedia.
– Estava falando para o jovem ficar para tomarmos um chá.
– Mãe, eu tenho certeza que o Senhor , é um homem muito ocupado.
Ele a encarou por alguns segundos.
– Na verdade – disse ele lentamente – eu gostaria sim.
Ela ficou boquiaberta. Jamais imaginaria que ele pudesse aceitar um convite daquele. Ou ele estava a provocando ou tentando se desculpar sobre aquele assunto idiota.
Sua mãe o puxou pelo braço, animada demais.
já podia prever que aquilo seria um desastre.
– Você podia ir trocar essas roupas dele, porque seu pai não para de te olhar torto. – disse sua mãe baixinho na cozinha enquanto elas pegavam biscoitos com pedaços de chocolate.
– Eu não! Vou ter que devolver daí.
Sophie suspirou fundo.
– Vai ficar com as roupas do rapaz? Isso é roubo sabia?
– Mãe – começou ela com um tom de voz mais alto – Gorki disse que...
– Tudo que é feito por amor é santificado. – completou a Senhora .
Desde que a filha havia lido aquele livro, essa era a resposta para todos os seus problemas.
sorriu.
– Papai não vai se importar daqui alguns anos quando lhe dermos netos!
Sophie fez o sinal da cruz.
– Eu sou muito nova pra ter netos, ! Você não ouse chegar perto daquela região dele.
Ela riu do constrangimento da mãe.
– É pênis, mãe. E eu não vou chegar perto até que... ahm... Ele case comigo.
Sua mãe a encarou desconfiada. Não podia julgar a filha. O homem que estava sentado na sala com o pai dela, tendo uma conversa casual sobre o jogo que estava passando, do Chelsea, era incrivelmente lindo e a olhava de um jeito que Sophie conhecia muito bem.
Se não era amor hoje, seria amanhã.
– Tudo bem. Só mantenha os pés no chão.
– Eu vou, senhora . – falou ela sorrindo de orelha a orelha.
E ela ia. Por mais que estivesse no céu com tudo que estava acontecendo nas últimas horas - ela tinha o direito de se sentir meio boba e talvez apaixonada -, mas manteria os pés no chão. Já tinha experimentado o gosto amargo da decepção.
– Quanto está o jogo? – indagou ela, sentando ao lado de porque era o único lugar livre que, propositalmente, sua mãe havia deixado para ela.
Ele a fitou, tomando um gole de chá. Parecia estar se divertindo.
– Zero a zero. Seu pai acha que Chelsea perde hoje.
– Concordo, pai.
– Você entende de futebol? – indagou ele a provocando e antes que dissesse alguma coisa, foi Benedict quem respondeu.
era a atacante no clube mirim para as garotas. – disse seu pai, orgulhoso.
– Jura?
– Tenho vários troféus, quer ver?
– Eu não acredito!
Ela se levantou animada para mostrar os prêmios que tinha ganhando quando jogava futebol, dos oito aos onze anos.
– Venha ver.
a encarou, depois olhou para os pais dela. Meu Deus, ele era educado demais.
– Vocês se importam? – indagou ele.
Benedict sorriu, negando com a cabeça. Assim que levantou, ela estendeu a mão para ele. E só percebeu que fez isso, quando ele entrelaçou os dedos nos dela.
Subiram as escadas para o quarto dela em silêncio, mas com o coração acelerado. Quando ela abriu a porta do seu quarto, sentiu um arrepio por deixar ele ver algo tão íntimo dela.
– Você é realmente apaixonada por esse cara. – disse ele, soltando da mão dela, apontando para o pôster do Ed Sheeran em uma das suas paredes.
Seu quarto era pequeno, mas descrevia exatamente o que ela era. Uma bagunça.
– Gosto dele. – respondeu ela sincera, sentando na cama.
– Esses são seus troféus mesmo? Não estou acreditando.
– São.
– Nós precisamos jogar uma partida. No vídeo game.
Ela riu alto.
– Eu derroto você de qualquer maneira. – comentou convencida, dando de ombros.
– Disso eu não duvido. Sou péssimo nessas coisas.
Ele conversava com ela olhando tudo a sua volta. Suas fotos no mural, seus livros enfileirados por preferência, e seus CDs em ordem alfabética. Parecia ela andando pelo seu apartamento mais cedo.
– Você foi Miss? – indagou ele, pegando um troféu.
Ela sorriu sem graça.
– Eu tinha cinco anos.
– Não faz muito tempo, então. – provocou ele, sorrindo para ela.
Estava prestes a ralhar com ele quando seu celular tocou. não tinha visto a tela quando ele tirou o aparelho do bolso, mas pela expressão dele era alguém indesejável.
Inevitavelmente, ela pensou em Amber.
fez um sinal e foi para o corredor.
não queria ser aquele tipo de pessoa, mas caminhou até a porta e segurou a respiração para ouvir o que ele estava falando. Era alguma coisa sobre não estar em casa e “não interessa onde estou”. Ela não tinha certeza, mas parecia que ele estava irritado, entretanto entendeu bem quando disse “Amber, me deixa em paz.”
engoliu em seco, achando que já tinha extrapolado e voltou a se sentar em silêncio em sua cama. Poucos segundos depois, entrou em seu quarto.
Ele parecia muito irritado. Na verdade, estava com fogo nos olhos.
– Está tudo bem?
Ele negou com a cabeça e ela se surpreendeu com sua sinceridade.
– Posso te ajudar?
pegou a mão dela que estava em cima da cama e a puxou próximo do seu corpo. Ela sentiu um formigamento na pele e ele sequer tinha a tocado direito.
– Pode. – sussurrou ele, puxando ela contra seus lábios.
Dessa vez ele a beijou com força. As mãos dele foram parar na curva de sua cintura, apertando-a contra seu corpo, mal teve tempo de pensar. Segurou nos ombros dele, o puxando para cima de si, até que caíram sobre a cama. Ela queria muito aquele beijo.
Sonhara por noites com aquilo.
Ele devorou sua boca com vontade, como se quisesse aquilo também. segurou sua cintura a erguendo para o centro da cama pequena. Se encaixando perfeitamente entre as pernas dela. queria muito que ele a tocasse.
Ele a apertava, acariciava e beijava sem parar. enfiou a mão por baixo da camiseta dele, fazendo arfar contra os lábios dela.
– Eu preciso ir. – disse ele, com dificuldade se afastando dela.
– Mas...
Ele se aproximou de novo, a beijando deliciosamente, puxando seu lábio inferior em seguida.
– Eu queria ficar, mas não está certo.
Ela suspirou. Tinha sonhado tanto com aquele momento e agora ele simplesmente tinha ido. Havia sido o melhor beijo da sua vida, mas queria mais. Não tinha culpa se ele tinha problemas, ela o queria com todas suas forças.
– Tudo bem. Temos que descer de qualquer modo.
– Você está brava comigo?
Ela negou com a cabeça. Era impossível ficar brava com ele depois do que tinha acontecido. havia sentindo no beijo que ele a desejava tanto quanto ela o queria.
– Vou para casa. – comentou ele, a olhando deitada na cama – Me leva até a porta?
sentia-se mole. Isso apenas com um beijo, mas foi capaz de levantar para acompanhá-lo.
– Amanhã tenho uma reunião com o advogado da minha ex-noiva. Por isso ela me ligou. – explicou ele.
– Boa sorte.
sorriu, dando um beijo no canto da sua boca. Ao descer, se despediu dos pais dela com a desculpa que estava tarde e precisava acordar cedo para o trabalho no outro dia.
o levou até a porta e ele sorriu compartilhando um olhar cumplice com ela.
Só os dois saberiam o que tinha acontecido naquele dia.
E ela guardaria cada detalhe dentro do seu coração.
Pra sempre.

Capítulo 10



Ela tinha que tomar uma decisão muito séria. Bem, talvez a mais séria mediante aos últimos acontecimentos.
Tinha um vestido verde escuro soltinho que marcava a cintura ou uma saia florida com uma blusinha clara.
Ela estava há quinze minutos tentando escolher qual dos dois era a melhor opção para mais um dia de trabalho casual.
– O verde. – disse seu pai, enfiando a cabeça no quarto dela – Vamos, você está atrasada para a aula.
– Me dê um minuto. – disse ela sorrindo para o Senhor .
Ele tinha razão, o verde ficaria mais bonito. E era a opinião de um homem.
Ela mal tinha dormido aquela noite. Deitou na cama, depois de um longo banho, com a camiseta dele feita de pijama. E passou cada detalhe na sua cabeça, tentando não esquecer de nada. Principalmente do gosto do seu beijo.
Quando abriu os olhos pela manhã, ela finalmente se sentiu realizada. Seu sorriso estava mais bonito, a pele dela parecia brilhar e seus lábios estavam mais rosados.
Ah, aquilo era bom demais.

Depois de fazer uma prova extremamente difícil de física, ela foi almoçar no restaurante que ficava ao lado do prédio da AEDAS. Cumprimentou seu garçom preferido e jurou que ouviu os pássaros cantando do seu lado enquanto caminhava para o estágio.
Aquele sentimento era muito bom.
Queria encontrar Luna de uma vez e contar sobre tudo o que tinha acontecido antes do beijo.
Como ele havia a tratado com respeito e carinho. E como ele havia sido sincero em suas conversas sobre a vida.
Ela estava no elevador sozinha, mexendo em seu celular quando alguém entrou rapidamente, fazendo-a erguer os olhos. Era .
O chefe dos chefes, namorado – não que eles contassem para alguém, mas, ah, ela sabia de tudo – da sua chefe, Luna Aniballe.
– Olá, Caramella! – disse ele sorrindo, chamando-a pelo apelido que Luna tinha inventado. Caramella era em italiano. E Aniballe era italiana. Até estava a ensinando falar algumas coisas.
– Oi, senhor .
– Como estão os estudos? Está dando conta?
Era tão absurdamente constrangedor conversar com ele daquela maneira. Sem Luna por perto. Como se ela não soubesse o que eles fazem trancados naquele escritório.
– Hoje tive uma prova difícil, mas acho que me dei bem.
Ele assentiu.
– Se precisar de alguma coisa é só me avisar. – comunicou ele, parecendo estar realmente interessado em saber sobre o desempenho escolar dela.
– Obrigada.
O elevador parou de novo e, dessa vez, viu se despedindo de uma moça muito bonita, aos sorrisos. Cheio de intimidade, com uma mão na curva da cintura dela enquanto a outra estava no seu rosto.
não conseguiu evitar ao olhar de soslaio para ao seu lado. Ele tinha curvado o cenho, o que fez com que ela o imitasse.
olhou para eles um pouco assustado. Não tinha percebido quem estava lá dentro. quis morrer quando ele entrou sério. Parando ao lado dela.
– Você resolveu aquele problema? – indagou , sério, assim que as portas se fecharam.
pigarreou antes de falar.
– Mais ou menos.
virou para encarar , fazendo dar um passo para trás.
– E você está ansioso com os projetos?
– Mais ou menos.
entortou um sorriso. Por algum motivo estava irritado com , o que fez ela querer beijar seus pés porque, ao contrário dele, ela não podia demonstrar absolutamente nada.
– Preciso ver alguns detalhes que eles estão me pedindo. – comentou .
o encarou assentindo.
– Nós temos que conversar depois. Está uma confusão naquele prédio.
– Bando de imprestáveis. – respondeu ele bufando.
sentiu levemente os dedos dele roçarem os seus. Ela inclinou a cabeça para fitá-lo. Sentiu nos olhos dele que se perguntava se estava tudo bem.
não queria bancar a ciumenta, mas ele tinha que concordar que sorrir daquele jeito para uma moça bonita como aquela no dia seguinte que tinha a beijado era muita audácia da parte dele.
Ela afastou a mão, cruzando os braços. O elevador parou no décimo primeiro andar e então saiu. Os dois homens sabiam que ela tinha que descer no treze – apelido do último andar –, mas queria mostrar para que estava brava, sim. E não se importava com o que ia pensar sobre a secretária da namorada dele estar batendo os pés, irritada.
– Você não está brava comigo, está? – indagou , caminhando atrás dela.
revirou os olhos, mas sorriu de lado por ele ter escolhido aquele caminho, já que o escritório também ficava no treze, como o de .
– Por que eu estaria? – questionou ela, dando de ombros.
– Se pudesse, te beijaria agora.
Ela parou estática, olhando para os lados. Ele sequer havia falado aquilo em voz baixa.
– Você só esta falando isso para que eu não fique brava por estar se exibindo para aquela moça. Mas eu não te julgo, ela era muito bonita.
Ele sorriu, segurando o braço dela enquanto andavam pelos corredores.
– Você está brava, então? Eu sabia.
Ela se virou para encará-lo.
– Senhor , eu não estou brava.
– Ah, é claro que não. – provocou ele.
– Não seja contundente comigo.
Ele abriu a boca, soltando uma exclamação.
– Não estou sendo.
– Senhor , o senhor pode flertar com quem quiser do mesmo modo que eu. Então, se puder me dar licença, vou conversar com Brooklin antes de subir para o escritório da Luna.
Ele passou a mão na barba, um pouco irritado, trocando o peso nas pernas.
nem sabia se Brook estava naquele andar, mas havia mentido para ver a reação dele.
Era óbvio que estava irritada, mas não podia fazer nada diante disso, a não ser a mesma coisa.
Se ficasse com ciúmes dela também, por fim, saberia das intenções dele.
Não queria se apaixonar por um cara que queria ficar com ela escondido das outras pessoas. Queria alguém que segurasse sua mão independente da onde estivesse.
Ela sabia que em uma relação com ele era quase impossível que isso acontecesse, mas exigia que a respeitasse, independente de qualquer coisa.
– Você só está fazendo isso para se vingar de mim. – concluiu ele.
– Disso você nunca vai saber. – respondeu ela, curvando os lábios em um sorriso demoníaco.
– Ah, é mesmo?
cruzou os braços na altura do peito, erguendo uma sobrancelha enquanto o encarava com o coração oscilando dentro do peito. Ele estava tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante.
– Talvez você se surpreenda comigo, .
Ela não sabia da onde havia tirado aquilo, mas estava adorando. E quando ele a encarou desafiador, soube que tinha acertado.
– O que quer dizer? – indagou ele em um tom desconfiado.
Ela engoliu uma risada. Não sabia.
– Eu preciso ir. – respondeu, sorrindo docilmente.
Ele levantou uma sobrancelha.
– Você...
, que bom te encontrar aqui! – disse Mellanie, surgindo ao lado dela, toda sorridente para .
– Surpresa?
Mellanie, uma mulher que não suportava nos dias de hoje, sequer a olhava para dizer alguma coisa. O tempo todo focava em .
– É, nós precisamos trocar algumas ideias novas para a empresa. – ela estendeu a mão em direção ao seu chefe – Olá, senhor .
revirou os olhos irritada. Elas não tinham nada para conversar, sequer trabalhavam em um projeto.
– Eu estou atrasada, conversamos disso depois. – comentou ela sorrindo amargo, olhando para uma mulher que sequer parecia perceber que estava ali.
– Também estou. – disse dando de ombros – Vamos, Senhorita ?
sorriu amarelo, irritada. Ele tinha aquele ar superior que ela sentia vontade de vomitar.
passou por Mellanie sorrindo abertamente – fazendo a mulher suspirar – e encostou de leve no braço de , roçando a ponta dos seus dedos delicadamente na pele dela.
– Vou pela escada. – disse ela impaciente.
– Ah, você não ia conversar com Brooklin? – indagou ele, cruzando os braços enquanto caminhava ao lado dela.
Podia morrer que seria mais divertido do que tê-lo ali com aquele tom de arrogância que ela odiava. O que estava acontecendo? Era ele quem tinha flertado com a mulher, não ao contrário.
– Eu estou indo, se você sair do meu pé.
– Eu vou.
– Então vá.
– Mas eu vou, mesmo.
sorriu balançando a cabeça. Ficariam naquela por dias.
– Até mais ,Senhor . – disse ela, vendo vestígios de Brooklin do outro lado do corredor.



– Você está perdendo o juízo? – vociferou no seu escritório enquanto ele permanecia sentado no sofá de couro do amigo, olhando para o chão como um menino desobediente.
– O que é que tem demais? Pelo amor de Deus, eu sei o que estou fazendo.
bufou.
– Você sabe... – ele pausou por um breve segundo – Amber fodeu com sua cabeça, só pode.
– Eu estou com minhas faculdades mentais melhores do que nunca estiveram.
– O que conheço jamais ficaria com uma estagiária de dezessete anos!
Ele cruzou as pernas, apoiando o tornozelo no joelho. queria matá-lo, podia ver em seus olhos.
Acontece que não podia esconder nada do amigo e, quando voltou para casa, ligou para ele para contar sobre uma suposta mulher que estava se vendo louco por não conseguir tirar a maldita da cabeça. Mas ele era tão burro que, ao sair atrás de do elevador de maneira esbaforida, havia sacado tudo.
Ele estava louco por causa de , uma garota treze anos mais nova que ele.
Que, além de tudo, trabalhava para eles.
– Já pensou no que vai acontecer se o governo descobre isso? O juiz vai pensar que você está...
– Ninguém vai pensar nada, até porque não vai acontecer mais nada.
o encarou severamente.
– Não quero o nome da minha empresa manchado porque você não consegue segurar o que tem no meio das pernas. Por Deus, , o que está acontecendo com você?
Ele revirou os olhos, irritado. Não era nenhum demente.
– Eu já disse que não vai acontecer mais. – ele se levantou, caminhando até o frigobar.
– Você gosta dela?
– O quê?
– Foi uma pergunta bem simples.
agradeceu por estar de costas para poder fazer uma careta enquanto o xingava baixinho. Não queria desrespeitar e parecia que falar aquilo em voz alta era muito grosseiro.
Mas ele tinha que falar.
– Não, óbvio que não gosto. – disse dando de ombros.
– Então por que você foi atrás dela? Por que me ligou para dizer que não parava de pensar nela? Não ouse mentir pra mim.
– Eu não estou mentindo. Foi algo de momento, sem sentimento algum.
– Então não vá atrás dela, caralho! – colocou a mão na cabeça – Se Luna descobrir que você beijou aquela menina e agora está ai que nem um idiota, pouco se importando com ela, simplesmente você será um cara morto. E eu vou ajudá-la. E, se mais alguém descobrir, o juizado de menores vai te comer vivo.
Ele engoliu em seco. prezava o respeito dos homens para com as mulheres da sua empresa. E concordava com aquilo. Mas não esperava se envolver com alguma funcionária. Ele não queria ter de fazer pouco de , mas precisava convencer o melhor amigo que não ia mais atrás dela. E, principalmente, precisava convencer a si mesmo.
– Você não precisa falar de novo.
– Que bom.
deixou o copo de bebida cheio em cima da mesa de e saiu estressado. Ele não percebeu que, quando fechou a porta atrás de si, seu melhor amigo ligou para a empresa de viagens.
– Eu preciso de mais uma passagem para o Rio de Janeiro. Obrigado.

À tarde, não viu mais . Queria ter tido a chance de falar para ela o quanto estava bonita com aquele vestido verde, mas ficou o tempo todo trancado dentro do seu escritório.
Estava terminando uns detalhes do projeto que fizera com para as olimpíadas no Brasil e tratando de negócios particulares. Sequer teve tempo para pensar nela.
Quando estava saindo da sua sala encontrou Luna, a namorada de .
– Não vi você o dia inteiro. – comentou ela.
Luna falava sorrindo e tinha alguma leveza no jeito que pronunciava as palavras. Não parecia ser filha de italianos. Era uma mulher doce. tinha sorte em tê-la ao seu lado.
– Projetos e mais projetos.
Ela concordou com a cabeça.
– Sei bem como é. – ele apertou o botão do elevador olhando por cima dos ombros de Aniballe – Ela já foi embora.
– Quem?
– Quem você está procurando.
Ele sorriu se perguntando se era tão evidente.
– Estou procurando por Brooklin. – disse ele, falando o primeiro nome que lhe veio em mente – Não o acho.
– Brooklin?
– Sim.
Luna entrou no elevador, sendo acompanhada por ele.
– Ele vai embora mais cedo também. É um estagiário e trabalha no oitavo andar.
sorriu sem graça.
– Eu sabia disso.
– Claro. – Luna soltou uma risadinha baixo – Por acaso quer ir jantar lá em casa hoje? vai se atrasar, mas seria bom ter uma companhia. E você não conhece meu novo apartamento, então...
– Pode ser. – sorriu ele malicioso.
Não era uma pessoa vingativa, mas queria ver o amigo um pouco irritado.
E, horas mais tarde, quando chegou com um buquê de rosas brancas, para decorar o apartamento novo da namorada de , ele sabia que seu melhor amigo ia querer matá-lo. E, de fato, ele quis.

.


Havia se passado três malditos dias desde que conversara com pela última vez e quatro dias desde que o tinha beijado. Duvidava que ele estava a ignorando, não parecia ser da sua índole de cavalheiro do século XVIII que dizia ser. Mas estava com medo de ter se deixado levar pela beleza e charme dele. Afinal, já tinha acontecido isso uma vez, podia muito bem acontecer de novo.
Ela estava com algumas planilhas embaixo do braço, cantarolando uma música do Artic Monkeys enquanto andava pelo treze de um lado para o outro.
– Hey, ! – ouviu a voz de Brook, pegando café na cafeteira que, por fim, eles tinham arrumado.
– Oi, Brooklin. – respondeu ela, simpática.
Ele era um cara legal.
– Adivinha só: subi de cargo. – comentou ele alegre, enquanto tomava seu café.
– Jura? Que bom.
– Nem me fala. Agora só trabalho com bacana.
Ela curvou o cenho.
– Como assim?
– Trabalho de assistente pessoal, tipo você! Só que para o chefe. – ele sorriu de lado, se gabando.
– Nossa, deve estar muito contente por trabalhar com o Senhor . Pensa só, vai ser divertido quando eles brigarem ou quando estiverem namorando. Um pode contar pro outro.
Brooklin riu concordando.
– Isso seria muito irado, mas estou trabalhando para o Senhor .
Ela ficou em silêncio pensando naquela resposta que tinha escutado. Não podia ser, talvez estivesse pensando demais nele e consequentemente seu cérebro imaginou que estivesse falando de .
– Pra quem? – indagou ela.
– Para aquele cara. – disse ele baixinho, apontando com o queixo para trás dela.
se virou rapidamente.
Ela ia arrancar as tripas dele com as próprias mãos.
– Nos vemos por aí, Brook. – disse ela com falta de ar.
– Qualquer dia podíamos tomar café.
Ela sorriu mais do que deveria.
– Nós vamos.
deu meia volta, caminhando em direção à guerra. Estava irritada por aquilo, mas sentia que seu ciúme de alguma forma significava que ele gostava dela.
Quando estava se aproximando dele, entrou em seu escritório, tinha a visto por cima dos ombros. Ela sorriu para a secretária e entrou atrás dele.
– Oi. – disse ele, sem ao menos virar para cumprimentá-la.
Ela sabia que não devia estar lá, mas queria confrontá-lo. Tudo bem que aquilo tinha ajudado Brooklin, mas era absurdo. Como ia flertar com o garoto agora, estando a mercê de que ele pudesse contar tudo para e acabar com sua farsa? Ah, ela ia dar com aquelas planilhas no meio da cara dele.
– Você contratou o Brooklin? – indagou ela, completamente indignada e sem questão de esconder isso.
Ele se virou para ela, com uma mão no bolso e a barba feita. Estava muito lindo. E tinha um sorrisinho maldito nos lábios.
– O menino é muito bom, não merecia ficar entregando café e recados.
– Você nem sabia que ele existia antes de eu te falar.
Ele deu de ombros.
– Então eu preciso te agradecer.
Ela revirou os olhos. Ao seu lado tinha um pequeno vaso, mas aquilo ia partir a cabeça dele.
Mas, ah, ela estava tentada.
– Não se atreva. – disse ele, lendo os pensamentos dela.
sorriu de lado, sem acreditar naquilo.
– Não acredito que contratou o Brooklin só porque eu estava flertando com ele.
– Você não estava flertando com o garoto.
– Óbvio que estava. Nós vamos tomar um café, pode perguntar pra ele. – disse ela o desafiando, com uma sobrancelha arqueada.
Ela viu algo nos olhos dele. Talvez fosse desconfiança, mas, por outro lado, tinha ficado com um pé para trás. Ela estava falando quase a verdade e ele estava quase acreditando.
– Tudo bem. – disse ele, caminhando até ela – Contratei Brooklin porque você estava flertando com ele, mas isso não quer dizer que eu esteja com ciúmes ou algo do tipo.
– Ah, tá bom. É claro.
– Não estou com ciúmes de você. Eu o contratei porque já que estão flertando, o que não vi até agora, para ser sincero. Mas se estão, quero ver, quero ficar perto de você, já que eu não posso.
Ele tinha a deixado sem palavras. A desarmado por completo.
– Por que não pode ficar perto de mim?
Ele sorriu, passando os dedos em sua testa, descendo até o queixo, lentamente.
– Por que – falou ele lentamente e muito, mas muito, próximo da boca dela – é uma pirralha.
sabia que não devia fazer aquilo, mas fez.
Jogou todas as planilhas na cara dele.
Queria responder que faltava apenas dois meses para ela completar dezoito anos e que, na sua casa enquanto a beijava de um jeito que tinha a feito perder o folego, ele parecia não pensar que ela era uma pirralha, mas ficou quieta.
Talvez tivesse se arrependido de tê-la beijado e tinha falado aquilo para ela se situar de que eles não iam ficar novamente e que só acontecia nos sonhos dela.
– Você é um idiota.

Quando chegou ao escritório de Luna Aniballe aproveitou que ela não estava e colocou uma música mórbida para refletir. a achava pirralha.
Mas que grande idiota aproveitador.
Ela queria arrancar a cabeça dele e fazer picadinho dos seus órgãos para nunca mais chegar perto de uma mulher.
Nossa, ele tinha dito em alto e bom som que queria ficar perto dela... Perto dela. E depois estragado tudo a chamando de criança. Ela não era criança. Bem, ela era um pouco adolescente ainda, mas não era menina, já era mulher. Já sabia mais sobre a vida do que muita gente que trabalhava com ela.
quis voltar ao escritório dele e jogar tudo o que tinha acontecido consigo nos últimos anos e talvez o porquê dela ser como era, mas respirou fundo e se segurou, porque aquela tarde pacata se tornaria uma tarde triste.
E ela estava cansada de dias tristes em sua vida.
– O que houve? – indagou Luna, parando na frente dela.
– Essas músicas me deixam meio depressiva! – mentiu na cara dura, dando um sorrisinho cínico em seguida.
Sua chefe a observou por alguns segundos, tentando captar a farsa, mas depois sorriu sentando na mesa da garota.
– Já viajou para algum lugar longe?
Ela encarou Luna confusa e pensou um pouco antes de responder.
– Bélgica. A família do meu pai é de lá, mas eu tinha onze anos.
Aniballe sorriu animada.
– Tem biquíni? – perguntou ela, deixando mais confusa ainda.
– Biquíni? – indagou ela – Tenho alguns, mas faz tempo que não uso. Devem estar pequenos. Meus seios cresceram muito nos últimos anos. – ela os apalpou fazendo as duas rir.
– É melhor comprar alguns. Vamos precisar. – disse sua chefe, se levantado em seguida.
a seguiu curiosa.
– Luna Aniballe, quer me explicar o que está acontecendo?
Ela gargalhou.
– Senta aí. – pediu ela apontando para a cadeira da sua sala – me pediu para acompanhar ele em uma viagem. E disse para ele que só iria se você fosse comigo.
abriu a boca animada.
– Ai, meu Deus! Aonde vamos?
– Você conhece o Brasil? – perguntou Luna vendo a garota empalidecer. Meu Deus do céu, aquilo não podia ser verdade. Ela estava toda tremendo.
– Eu vou junto?
– Vai. – disse Aniballe, batendo palmas animada – Se você quiser e se seus pais e o colégio liberar. São sete dias, tudo pago.
também vai? – ela perguntou segurando a cadeira com força.
– Vai. – disse apenas e a garota quase desmaiou.
Viajar com , Luna Aniballe e . Ela, uma mera estagiária que sempre metia os pés pelas mãos. Minha nossa, seu coração estava a mil.
– Nós temos que entrar na internet e fazer pesquisas. – começou ela empolgada – Sabia que dizem que lá é um país animado e que eles gostam de festa? Uma vez eu conheci uma brasileira que tentou me ensinar a sambar. Acho que é uma dança típica deles. Ai, Luna, que roupa eu vou?
Ela começou a encher a chefe de perguntas. E Luna tentou acompanhar tudo, perdendo boa parte da tarde com suas pesquisas sobre o país e as roupas que deveriam usar lá.
Brasil em agosto era inverno, mas havia lido em um site de turismo que essa era a melhor época para ir ao Rio de Janeiro. A cidade paradisíaca do país era muito quente e, para os londrinos, seria difícil se adaptar com o calor do verão deles. Ela não se importava.
Desde que estivesse com ele.

Capítulo 11



O coração dela estava ansioso, não tinha dormido a noite toda. E agora enquanto esperava seus chefes no aeroporto, parecia que ia desmaiar a qualquer momento.
Jamais poderia imaginar que viajaria para o Brasil em negócios. O Brasil, um país caloroso, do samba e das praias maravilhosas. Minha nossa, ela queria andar toda Copacabana com um biquíni deles, fazendo a desejar intensamente.
Três semanas haviam se passado desde que tinha jogado as planilhas na cara dele e ela não fazia questão – aparentemente – de falar com de novo. Já tinha se convencido que ele não tinha gostado de beijá-la e que fazia isso – de beijar – muito mal, mas não conseguia tirar o idiota da cabeça. Isso era praticamente impossível.
Então, durante as últimas semanas tinha optado por ficar no seu cantinho, onde ninguém pudesse a perturbar enquanto ouvia Bethoveen e passava maquiagem.
Agora, depois do fatídico dia em que ele disse que ela era uma pirralha, usava um pouco de maquiagem para parecer mais velha e tinha largado de lado o jeans e as blusinhas que comprava na seção teen – mesmo achando elas as mais legais e bonitas.
Depois daquele dia, ela usava vestidos, saias e já estava se preparando para o inverno com casacos chiques que a deixavam com um visual mais maduro. E durante a viagem ao Rio de Janeiro ela queria explorar todo o tempo que teria com ele para mostrar que estava muito enganado.
– Até que enfim, amor. – disse Luna, quando e o sócio chegaram.
sorriu encarando os dois se beijarem.
– Oi, Caramella. – disse se aproximando dela, dando um beijo casto na sua bochecha.
– Oi. – respondeu seco. Era a primeira vez que ele dirigia a palavra à ela e estava com aquele sorrisinho inútil nos lábios.
A vontade de socá-lo era enorme, mas precisava disfarçar, eles iriam viajar todos juntos. Era tão constrangedor ter que esconder de Luna. Mais ainda quando ele a olhava daquela maneira estranha, como se quisesse beijá-la novamente. Ou talvez se perguntando por que, de fato, tinha a beijado. E ela sequer podia compartilhar isso com a amiga.
Por Deus, talvez fosse exatamente por isso que ele tivesse pedido para não contar a ninguém. Porque seria muito constrangedor pra se os outros soubessem que tinha a beijado. Na visão dele, ela era uma pirralha. E um homem como ele - rico, lindo, que tinha qualquer mulher aos seus pés - beijar uma menina como ela, com certeza, era motivo de vergonha.
– Por que demoraram tanto? – indagou Aniballe, puxando pelo braço.
– Depois te conto. – respondeu , piscando para namorada.
pegou sua mala, tirando foco deles. Queria dar privacidade ao casal. Era estranho, mas eles estavam em casal querendo ou não. E, por mais que quisesse bancar a forte, era praticamente impossível, principalmente ao saber que sentaria ao lado dela por doze horas.

Assim que todos se acomodaram – ela do lado da janela –, ficou ainda mais nervosa. Estava encurralada e de vez em quando a perna dele roçava na dela, assim como seus braços. Era a primeira viagem que faria para tão longe em um país que não sabia nem pronunciar um “bom dia” ou “obrigado” – tinha comprado um dicionário, mas ainda assim, era difícil de lembrar de tudo – e sem seus pais se sentia perdida. Ela era a mais nova de todos ali e isso fazia com que Luna perguntasse o tempo todo se estava bem e precisava de alguma coisa, como se fosse sua irmã mais velha – e, na verdade, bem lá no fundo ela queria muito que Luna fosse.
– Já vi tudo nessa viagem de negócios! – comentou de repente – Acho que vai ser mais uma lua de mel.
riu do outro lado do corredor e Luna ficou ligeiramente vermelha.
– Você trate de se comportar, ! – comentou sua chefe – Estou de olho.
Ele sorriu dando de ombros ao lado dela.
– Eu sempre me comporto, Luna, você que não sabe. – disse ele lentamente – Não é, ?
Ela se afundou na cadeira, queria morrer. Seria um ótimo momento.
– Eu não faço ideia do que vocês estão falando, mas sim, que seja!
Era evidente que ela sabia e sequer conseguia esconder seu constrangimento. Os outros três riram alto, fazendo com que se enfiasse ainda mais na poltrona.
– Eu disse pra você. – falou , dando uma piscadela para Luna. Ela rolou os olhos.
– Quero só ver quando as garotas com os biquínis brasileiros começarem a desfilar na sua frente se vai dizer o mesmo!
Ele jogou a cabeça para trás, fechando os olhos como um bobo. riu. E quis esganar o homem do seu lado.
– Acho que não vai aguentar! – comentou .
– Nem você, querido! – disse na mesma hora provocando o amigo.
Luna balançou a cabeça sorrindo, dando um tapa no ombro de por algo que ele havia dito à ela. colocou seus fones de ouvido, entrando em outro mundo. Só ouvindo um pouco de Bach para acalmar seu coração ao lado dele. E toda aquela intimidade que parecia cercá-los, como se todos realmente fossem casais. Mas sua paz não durou o primeiro agudo, ou seja lá o que era aquela nota maravilhosa.
estava a cutucando de novo.
, eu lá tenho cara de senhor? – indagou ele sorrindo.
A garota o observou por um instante sorrindo de lado, seria uma ótima vingança e não a deixou dizer uma palavra sabendo sua resposta.
– Claro que não, obrigado.
virou novamente para continuar uma discussão sem fim com o melhor amigo, algo sobre eles estarem velhos demais.
Era engraçado vê-los, eles brigavam como dois irmãos de oito anos.
Luna e ela, apenas riam. Às vezes tão alto que a comissária de bordo vinha até eles pedindo educadamente para ficarem quietos.

– Você quer comer alguma coisa? – indagou tão baixo que só ela ouviu.
Os outros dois estavam dormindo, assim como o resto da tripulação – ela imaginava.
Já estavam viajando há quase seis horas e simplesmente não conseguia dormir e ao seu lado, tinha acabado de acordar.
– Acho que sim. – ela estava faminta na verdade.
apertou um botão e em questão de minutos uma aeromoça apareceu. olhou para o outro lado enquanto ele pedia alguma coisa, tentando abrir seus olhos e disfarçar a canseira. Devia estar acabada. Já ele, continuava lindo com os olhos inchados de sono.
– O que vai querer? – perguntou ele.
Ela não fazia ideia do que tinha pra comer. Será que eles serviam um cheese burguer com Coca-Cola? Pensando bem, não teria coragem de se afundar em um sanduíche na frente dele.
– O mesmo que você. – respondeu dando de ombros.
sorriu para ela de forma meiga e estremeceu um pouquinho. Ah, droga, não queria conversar, aliás, queria, mas estava brava com ele por chamá-la de pirralha e sequer pedir desculpas.
A aeromoça saiu, mas com um gesto rápido olhou para trás, diretamente para o homem ao lado dela. Que estava com uma expressão serena, como se estivesse gostando daquele pequeno flerte.
Ela engoliu em seco, olhando para as próprias unhas. Não tinha chorado durante aquelas três semanas, mas estar tão próxima de e ele ignorar o fato de que tinha a beijado e conhecido seu íntimo, a deixava magoada. Porque, na sua opinião, a indiferença era pior do que o ódio. Porque ódio, apesar de ser uma palavra tão forte quanto o sentimento, ainda assim... Ainda assim era um sentimento. E a indiferença não.
– E aí? – perguntou ele baixinho – Está saindo muito com o Brooklin?
Que piada.
semicerrou os olhos para observar minuciosamente aquele tom de ironia saindo dos lábios – deliciosos – do infeliz que estava na sua frente. Tudo bem, já que não se importava com ela e ficava de deboche e cena para seu lado, ela ia entrar no jogo.
O sócio da AEDAS, estava acostumado a ter todas as mulheres aos seus pés e depois da conversa que tivera com ele no escritório, começou a pensar que era óbvio que o melhor amigo do sr. sabia que ela também era uma dessas mulheres que era só ele estalar os dedos e estaria lá, de quatro por ele. Como as submissas de Christian Grey.
Bem, mas era Christian Grey, ela não podia julgar aquelas mulheres. O homem era de outro mundo. E fictício, ela realmente precisava lembrar disso.
Mas não era. E estava ali, do seu lado por mais seis horas. Só para ela.
Talvez, pensou ela, ansiosa, pudesse mudar a história.
Ela não sabia exatamente como faria isso, mas sabia que alguma coisa tinha que ser feita. Então falou a primeira coisa que veio na cabeça.
– Sim. Estamos saindo quase sempre.
riu baixinho como se não acreditasse em nenhuma palavra dela.
Ordinário.
Ela não ia se rebaixar. Ele teria que acreditar naquilo.
– E aonde vocês vão, posso saber? – indagou ele, cruzando os braços, deitando de lado para olhá-la.
sorriu na maior cara de pau.
– Antes saíamos em uma lanchonete, depois do estágio – ela o encarou com um ar de superioridade –, agora ele vai lá em casa e ficamos no meu quarto, vendo filme.
– Você leva todo mundo pro seu quarto?
O quê?
Por um instante – tão breve quanto um piscar de olhos – ela quis jogá-lo para fora do avião. Mas então respirou fundo, com as bochechas vermelhas e sorriu como se aquela pergunta não tivesse causado nenhum efeito nela.
– Todo mundo, não. – respondeu lentamente – Mas a maioria dos caras... sim.
Aquilo era mentira como todo o resto que tinha falado até agora, mas ele não precisava saber que os únicos homens que estiveram em seu quarto que não eram seus primos e amigos haviam sido Douglas e ele. Chegava até ser patético.
piscou por alguns segundos olhando para o corredor silencioso do avião. suspeitava que só eles estivessem acordados mesmo.
– Já beijou ele? – indagou ele, ainda olhado para o corredor.
mordeu o lábio inferior segurando o ar. Ele tinha feito mesmo aquela pergunta? Era tão horrível quanto perguntar se ela levava os homens que ficava para seu quarto.
a encarou por fim, com os lábios entreabertos. Seria tão mais fácil se não estivesse olhando para ela. – Por que quer saber? – questionou ela, ao mesmo tempo que a aeromoça voltou com um carrinho com duas bandejas.
Tinha algumas frutas, e chocolate.
Minha nossa, era fondue. Nunca mais aceitaria viajar de classe econômica, onde eles serviam uns saquinhos com salgadinhos ruins. Eles serviam fondue durante a madrugada na primeira classe. Era fácil se acostumar com isso.
A aeromoça se inclinou com os seios na cara do homem e sorriu amarelo, mesmo ela não percebendo que existia um ser humano do lado dele.
– Mais alguma coisa, Sr. ? – indagou a aeromoça, sorrindo lindamente.
negou com a cabeça e a garota se perguntou como aquela mulher sabia quem ele era.
– Você quer mais alguma coisa, ? – quis saber ele.
Você.
– Não, nada. Obrigada.
– Obrigado, Safira. – agradeceu ele piscando para a aeromoça que quase derrubou tudo antes de sair.
Que maravilha. tinha uma legião de mulheres apaixonadas por ele.

.


estava se deliciando com aquelas frutas inundadas de chocolate caríssimo. Safira já sabia do que ele gostava. Eles se encontravam pelo menos umas cinco vezes ao ano em todas suas viagens.
– Está gostando? – indagou ele, vendo derrubar um pouco de chocolate no queixo. Ele bem que podia lamber. Todo mundo estava dormindo. Mas a droga do imprestável do seu amigo o mataria se iludisse a menina.
Ele gostava de , gostava tanto dela que tinha escolhido ficar longe por um tempo, para que aquele sentimento que havia criado por ela sumisse. Ou colocaria em risco a reputação dos dois. Porque, por mais que gostasse dela e da sua presença, não seria mais do que alguns encontros sem compromisso. Coisa que uma menina de dezessete anos não entendia.
– Achei chique. – disse ela, fazendo ele rir um pouco mais alto.
? – falou com cautela.
– Sim?
Ela estava colocando um morango inteiro na boca e inevitavelmente ele inclinou a cabeça acompanhando ela sem tirar os olhos
– O que foi? – questionou ela de boca cheia.
Aquilo era sacanagem. estava muito irritado. Conhecia a garota há pouco tempo e tinha gostado dela, do jeito como ela era e era degradante saber que não podia sequer encostar nela. Mas Brooklin podia. Estava indo até ao quarto de .
Se não tivesse se afeiçoado ao garoto também, o colocaria no olho da rua. Se ele estivesse beijando ela, beijando aquela boca rosada ele ia ter que se segurar para não estrangular . Porque só não estava a beijando nesse instante por causa da conversa que havia tido com ele.
– O que foi? – repetiu ela.
– Você não me disse se já beijou Brooklin ou não.
Ela parou com o kiwi no meio do caminho e o fitou com o cenho curvado e a boca entreaberta.
– Você quer mesmo saber?
Aquela era uma ótima pergunta. Ele queria mesmo saber se aquele adolescente com as roupas largas e uma mania irritante de falar gírias estava enfiando a língua na boca da menina que ele não conseguia tirar da cabeça nas últimas três semanas? Bem... ele queria.
Mas e se estivesse? não precisava conhecer muito de para saber que ela estava uma fera com ele por causa dos últimos acontecimentos, mas se não a chamasse de pirralha ou algo semelhante, ele seria tentado com a presença dela e não conseguiria se segurar.
Ia querer beijá-la de novo, de novo e de novo.
Porém, era orgulhosa e tinha optado por ficar o mais distante possível, o que, na opinião dele, tinha só piorado as coisas porque agora ele a queria mais do que qualquer outra coisa.
E aquele chocolate que ela tinha derrubado no queixo estava o chamando.
Merda.
Ele pigarreou antes de dizer alguma coisa.
– Quero saber, sim. Vocês são meus empregados, sabe que não podem ficar se beijando durante o trabalho, não sabe?
o olhou com uma expressão de que ele morreria em breve e era ela mesma quem estava arquitetando o plano.
Ele não tinha culpa. Não contaria que queria saber só porque estava morrendo de ciúmes. Bem, morrendo de ciúmes não era exatamente a definição certa, mas não queria que ela beijasse qualquer cara. Ou, talvez, não quisesse que ela beijasse ninguém.
Nem ele sabia.
– Olha, Sr. , eu não conto sobre meus relacionamentos para Luna, quem dirá para você.
– Então é um relacionamento?
Ela grunhiu.
Por que ele estava fazendo aquelas perguntas? era uma menina de dezessete anos, por Deus, ele tinha trinta. Era óbvio que ia preferir alguém como Brooklin.
– Bom, eu sou uma pirralha, não é mesmo? Brook também, então... – respondeu ela impaciente, como se lesse os pensamentos dele.
bufou. Não queria ter falado aquilo, sabia que provavelmente magoaria ela, já que um dia antes tinha passado o dia todo ao seu lado e, se não fosse por , ele certamente teria feito muita merda bêbado.
Mas era necessário, pelo menos por hora.
– Desculpa por aquele dia. – murmurou – Não quis dizer que você era criança.
– Eu não sou. – observou ela.
– Claro que não.
– Então por que disse que queria ficar perto de mim e no instante seguinte falou que era pirralha?
Por que, por que, por quê? Por que tinha que ter se encantado por uma menina de dezessete anos? O que os pais dele iam pensar se descobrissem o que ele queria fazer com ela dentro do avião agora?
Pior ainda, o que os pais dela fariam?
Como contaria para o motivo? Não tinha.
Ele limpou com a ponta dos dedos o queixo dela sujo de chocolate e decidiu ir pelo caminho mais fácil. Um que ela entendesse que a intenção era para o seu próprio bem.
– Gosto de ficar perto de você. – falou ele com toda sinceridade – Você é extrovertida, inteligente, sempre me faz rir.
Ela sorriu olhando para baixo.
– Mas eu preciso resolver minha vida antes de sair beijando meninas de dezessete anos.
Os olhos azuis dela encontraram os dele e mesmo que estivesse um pouco escuro, podia ver o brilho nela.
– Você se arrependeu de me beijar? – sussurrou ela.
não conseguiu evitar o sorriso. Se dependesse apenas dele, continuaria a beijando até enjoar e duvidava que enjoasse, mas as coisas não eram bem assim.
– Não. Beijar você foi muito bom. – confessou ele, comendo um pouco do seu fondue antes que esfriasse.
assentiu simplesmente.
– Vai me beijar de novo?
Sim.
– Não... sei.
– Você precisa resolver esses seus problemas antes? – indagou ela.
– Preciso.
– É sua noiva?
Ele pensou por um momento.
– O demônio se chama Amber e ela não é minha noiva, não mais. – esclareceu ele – Nós brigamos hoje de novo.
Por isso ele e haviam se atrasado. Amber estava na casa dos seus pais falando que se não voltasse com ela, iria se matar. Uma mentira deslavada, era óbvio, mas mesmo assim não deixava de ser estressante. Por sorte, estava junto e a acalmou prometendo que depois que voltassem do Brasil, eles tentariam de novo. Era mentira, não queria vê-la nunca mais, entretanto, era uma mentira que parecia ser a coisa certa aquela hora.
sentou de lado, com as pernas encolhidas no banco.
– Sinto muito.
– Não se preocupe, já é normal. Amber está com um grande problema em aceitar nosso término e fica falando absurdos aos meus pais.
– Nunca é fácil terminar um relacionamento.
– Você já teve algum?
Ela encostou a cabeça na poltrona, deixando de lado o chocolate. automaticamente pegou seus pés e os colocou em cima das suas pernas, para que ela se esticasse e se sentisse melhor.
apenas sorriu com o gesto.
– Namorei um garoto no colégio por um ano. Douglas Booth.
– Booth? Um membro do parlamento? – brincou ele.
sorriu, seus olhos estavam nostálgicos.
– Não. Filho dele.
– Sério?
Ela assentiu em silêncio.
– E por que acabou?
– Não quero falar disso. – respondeu ela simplesmente, deixando ele surpreso.
– Tudo bem, então.
– Digamos que ele era um demônio pior que Amber.
riu balançando a cabeça. Com aquilo não podia concordar. Sua ex-noiva era uma doida.
– Você não tem ideia do que ela tem feito ultimamente, tenho certeza que vence no quesito loucura.
– É, talvez.
– Quer mudar de assunto? – indagou ele, vendo que estava com os olhos fundos depois de mencionar Booth.
Podia ser cansaço ou apenas sono, mas ele duvidava.
– Queria dormir um pouco, se não se importar.
– Claro que não. – ele sorriu, mas o sorriso não chegou até ela – Pode se encostar em mim, se quiser.
Mesmo que os assentos deles não permitissem muito contato físico, ela se inclinou um pouco e segurou o braço dele. fitou a mão delicada dela por um tempo e jurou que a escutou fungar. Ele afastou o braço e segurou sua mão, entrelaçando seus dedos.
Não conseguia imaginar o que Douglas Booth tinha feito à ela, mas em questão de segundos só de mencionar seu nome, ela havia se tornado outra pessoa.
Ele ficou a observando por um bom tempo. Não podia ver seu rosto, porque havia deitado, mas via seu peito subindo e descendo conforme respirava.
Se soubesse que Booth havia feito qualquer coisa, mínima que fosse, para machucá-la, ele não acharia nada mal em, enfim, por suas aulas de muay thai em prática.

Ele cochilou por meia-hora, assim que chegaram ao hotel. Seu quarto era no mesmo andar que Luna e e mais algumas pessoas da empresa que haviam viajado alguns dias antes. A cidade era realmente quente – eles estavam no inverno – e ele não conseguia dormir, apesar do cansaço. Depois da conversa que tivera com Caramella, ele perdeu o sono. Ficou lá, apenas observando a garota enquanto segurava sua mão delicada. Tinha sido bom conversar com ela durante a noite. Não era uma conversa tão esclarecedora como gostaria porque ainda não descobrira como andava a situação de e Brooklin, mas achava que ela tinha entendido o porquê do seu afastamento.
levantou da cama, tomando um banho gelado. Por mais que tivesse ar condicionado, ele odiava usar, primeiro por causa do barulho e depois não gostava muito da sensação. Então resolveu descer para a piscina, ou quem sabe para a praia, já que o hotel ficava a beira-mar.
Vestiu uma bermuda jeans velha, uma camiseta fresca e um chinelo. Era o que tinha de mais fresco.
Quando desceu, riu da ironia do destino. Claro que eles estavam no mesmo hotel e era fácil se encontrar por ali, mas ele imaginava que demoraria um pouco.
estava de costas tentando conversar por gestos com uma pobre alma. Ela estava com um vestido verde que ia trabalhar às vezes.
Estava linda, que diabo. Ele estava perdido.



– Espera... – ela olhou o dicionário rapidamente. Onde estavam as palavras quando se precisava encontrar logo? – Ah, aqui. – exclamou ela animada – Onde comprar sorveti?
O rapaz que estava tentando ajudá-la sorriu.
– No bar. – respondeu ele.
assentiu, havia entendido apenas a palavra “bar”. Tudo bem, tudo o que ela precisava fazer agora era encontrar alguma placa escrito “bar”. Seria fácil. Tinha descido justamente para isso, para explorar o hotel. E, claro, deixar Luna à vontade com .
Eles haviam decidido que continuaria sozinho na suíte presidencial e Aniballe dividiria quarto com ela. Apenas porque Luna não queria chamar atenção dos outros membros da empresa. E também porque não queria ser julgada por estar no Brasil apenas a passeio, porque tanto ela quanto ¬– muito mais –, não tinham absolutamente nada a ver com o projeto da AEDAS.
– Obrigada. – disse ela.
Era uma das únicas palavras que sabia dizer e a que mais usava, já que todo mundo parecia estar pronto para ajudá-la. O país era um bom lugar para ser bem recebido, pelo menos por ora, estava sendo.
Quando o rapaz saiu acenando, ela o viu a alguns metros. Tão absurdamente lindo que sentiu falta de ar. estava simples, com as mãos dentro dos bolsos da bermuda, olhando diretamente para ela com um sorriso elegante e talvez doce.
Ah, meu Deus
Ele sorriu daquela maneira que fazia covinhas no canto da sua boca e deixava os olhos pequenos. Tão encantador quanto era olhar para um bebê.
observou seus braços tatuados. Não parecia o mesmo homem que era chamado de Sr. .
Ela suspirou fundo, queria beijar cada pedaço de pele exposta dele. Parecia que agora, depois da conversa que tivera no avião, a vontade de beijá-lo tinha voltado com mais força. Sentia mais desejo dos lábios dele. Muito mais que antes.
E não era apenas do toque de que ela tinha sentido falta nas últimas semanas. Sentia falta de conversar com ele, de saber como estava sua vida e rir de coisas banais das quais – na maior parte – ela falava.
sentia que eles tinham alguma conexão, que ele realmente era sua alma gêmea. Porque desde o dia que o conhecera, sentiu seu coração disparar como nunca antes.
Quando deu o primeiro passo, engoliu em seco. Ele era outro nível, absurdamente encantador para ser verdade.
E um tempo atrás ela o achava inalcançável, como uma estrela no céu, mas agora, depois que tinha o beijado na sua casa, talvez as coisas pudessem mudar. Ele queria arrumar sua vida antes de se envolver, ela entendia isso, não era egoísta, mas eles estavam do outro lado do mundo, onde ninguém os conhecia. Ninguém ali ia julgar.
Mas ainda assim… Ele tinha a chamado de pirralha, isso era muito degradante, sinceramente. Porém, com certeza, fora uma bênção falar de Brooklin. Por mais que desconfiasse que não acreditava cem por cento, ele estava com ciúmes.
Sim, não adiantava negar, se ele sentia a mesma conexão que ela sentia por ele, com certeza havia ficado com ciúmes. Ou não tinha contratado Brook, ou perguntado se estava saindo com ele, ou até mesmo se tinha o beijado… Minha nossa, ela jamais beijaria Brooklin. Bem, jamais, talvez não. Ele era um bom garoto, mas ela estava farta de garotos. queria o Senhor , treze anos mais velho – não que para ela fosse um fato importante, o que era irritante já que para ele parecia ser o que mais importava –, mas ela o queria de qualquer jeito.
Amar não tinha idade. E ele era exatamente o que ela queria. E sabia que ela era exatamente o que ele precisava.
Não que o amasse, ainda não o amava – porém desconfiava que isso seria bem fácil de acontecer –, mas se sentia completamente, perdidamente, loucamente perdida por ele. Tinha os pés no chão, mas as situações que já haviam passado eram surreais.
Meu Deus, ele já tinha dado carona para ela. Tentou lembrar dos detalhes desde que tinha o visto na cafeteria. Tinha acabado de conhecê-lo e descobriu quem era tempo depois. E então quando suas esperanças se esvaíram porque jamais olharia para uma menina como ela, ele ficou solteiro.
E em algum momento lá estava ela, , com . E sua mente traiçoeira, e um tanto quanto sonhadora, já havia imaginado um futuro com ele.
Porque, ao olhar para trás, para aqueles meses que já tinham se passado, não imaginava nada diferente e se pudesse teria feito tudo igual.
Ele ainda estava sorrindo daquele jeito doce enquanto ela caminhava lentamente em sua direção. Seu coração batia com muita força. Queria mostrar a de qualquer maneira como não era uma menina e sim uma mulher. Que ele não precisava ficar com medo. Ela não faria nenhuma loucura para envergonhá-lo ou algo do tipo por mais louca que fosse. r>Ela tinha juízo. Às vezes.
– Já está importunando os pobres brasileiros? – indagou ele, tirando sarro da cara dela.
sorriu, com as pernas bambas.
– Estava querendo saber onde tem sorvete. Estou morrendo de calor.
– E descobriu?
– No bar. – respondeu ela, com orgulho.
– Quer comer alguma coisa?
Ela sorriu. Não tinha como evitar sorrir para ele. Estava tão lindo e estava a chamando para almoçar. Só os dois. Minha nossa, seu coração estava esmurrando o peito.
– Você só pensa em comer? – perguntou , o provocando. sorriu.
– Decerto que não, mas vai dizer que não é a melhor coisa do mundo?
começou a avaliar se comer ou ficar olhando para ele ganhava como a melhor coisa do mundo. Escolheu pela segunda opção.
– Vamos comer, então. – disse ela – O que será que eles servem aqui?
deu um passo acompanhando , que a encarou de cima a baixo.
– Acho que podemos pedir alguma coisa típica do país. – propôs ele.
– Por mim tudo bem.
– Você está muito linda com esse vestido. – disse ele, de repente, com a voz mais grave – Eu adoro quando vai trabalhar com ele.
Ela sorriu desmoronando por dentro. Ele tinha dito isso mesmo? Ele reparava nela? Meu Deus, meu Deus.
sorriu sem graça, não sabia o que falar.
– Não é pra você ficar vermelha – acrescentou ele –, eu disse a verdade.
– Obrigada. – agradeceu ela, se encolhendo.

Eles chegaram ao restaurante do hotel - estava vazio por sorte - e enquanto falava com um garçom na entrada, ela suspirou fundo se abanando.
Ia desintegrar ali mesmo.
Ele tinha falado em alto e bom som que ela estava linda com aquele vestido. Linda. Não bonita, ou fofa, ou qualquer outro adjetivo. Ele tinha falado que ela estava linda. Minha nossa, ela ia morrer.
– Peguei o cardápio, mas o garçom disse que o que é bom mesmo é arroz, feijão e mais alguma opção a nosso gosto.
Ela assentiu. Sabia o que era, mas não estava acostumada a comer aquilo.
– Pode ser o que você quiser. – disse ela, dando de ombros – Só preciso de uma água.
Ele sorriu, passando a mão na bochecha dela.
– Você tá pegando fogo.
Ele queria sua morte. Era isso.
mordeu o lábio olhando para baixo o que o fez soltar um gemido e uma risada abafada. Cretino.
– Vem, vamos sentar perto da janela. – ele colocou a mão na cintura dela, a levando até a mesa mais próxima da janela.
Assim que eles sentaram uma moça foi atendê-los.
– Bebidas? – indagou ela em português e não entendeu absolutamente nada, olhando para , confusa.
Era muito frustrante não entender o que os outros falavam. Ele sorriu para ela, dando uma piscadela e então respondeu a garçonete na mesma língua dela.
– Um suco, por favor. Ela perguntou se quer beber alguma coisa, quer água?
– Sim, por favor.
– Uma água pra minha garota. – a garçonete olhou para ela e depois para ele e sorriu de um jeito educadamente fofo.
– O que disse à ela? – indagou assim que ficaram sozinhos.
deu de ombros sorrindo de lado, como se tivesse flertando a garçonete bem na frente dela. revirou os olhos.
Não, ele não seria tão infeliz em fazer aquilo na frente dela, só porque não entendia uma palavra em português.
– Disse que você era minha. – respondeu ele, uns segundos antes de chegarem vários garçons com todo tipo de comida.
Deus do céu.
– Você pediu tudo isso? – murmurou ela, mudando de assunto, olhando a mesa deles repleta de comida para um batalhão.
– Nós precisamos experimentar de tudo nessa vida. Você pega um pouco de cada e o que a gente gostar, repetimos.
– Você realmente é fascinado por comer não é?
– Obrigado. – agradeceu ele aos garçons, isso ela compreendia – Eu amo comer.
Estou louco para ir ao restaurante do pai da Luna.
– É muito bom. É italiano.
– Sim, já ouvi comentários.
começou a dizer alguma coisa sobre como amava a comida italiana, mas ela perdeu o foco olhando para alguém atrás da cabeça dele, do outro lado do hotel, perto da piscina, onde ela tinha visão ali da janela.
Seria impossível ser ele, mas ainda assim, sentiu um frio na barriga quando viu aquela cicatriz nas costas. Era exatamente a marca que causara… Não, não podia ser. Eles estavam do outro lado do mundo, não encontrara Douglas em Londres, não seria no Rio de Janeiro que isso aconteceria.
Não, não podia ser.
O estranho virou de lado, fazendo o coração dela quase parar.
Ai, meu Deus.

Capítulo 12



pensou seriamente que ela desmaiaria em breve. Talvez estivesse mal por causa do jetlag ou pela presença dele, mas ela estava bem segundos atrás. O que quer que tivesse visto atrás dele, tinha a deixado pálida como um fantasma.
, você está bem? – indagou .
Ele olhou por cima dos ombros, tinha alguma coisa atrás de si que a deixara nervosa, mas não conseguiu ver nada além de um bando de turistas.
Ela piscou algumas vezes, curvando o cenho.
– Achei que tinha visto alguém.
assentiu pegando um pouco de cada comida. Tinha feito aquilo para impressioná-la, mas o que ela tinha visto havia tirado completamente o foco.
– Vêm muita gente famosa nesse hotel. – comentou ele.
– É, pensei ter visto um cantor que eu gosto. – sorriu ela, tentando o convencer.
O que não sabia era que ele a conhecia quando estava mentindo. Ela não olhava nos seus olhos. Nunca.
– Muito bem, se quiser podemos ir lá fora atrás dele.
– Quê? – indagou ela, com a voz trêmula. – Não, não. Acho que não era ele.
– Podemos ir se quiser.
Ela sorriu, com o sangue voltando a circular em suas bochechas rosadas.
– Eu tenho um ba¬¬¬nquete da Rainha Elizabeth aqui. Não vou a lugar algum.
Ele riu. Sabia que ela estava tentando fazer graça para se acalmar. Sempre fazia isso. E ele adorava toda bobeira que saia da boca dela.
– Você precisa experimentar isso aqui. – ele apontou para um prato de feijão – Dá muito calor, mas é muito gostoso.
Ela assentiu respirando fundo ao mesmo tempo. a observou por alguns minutos em silêncio. era transparente, ele adorava isso nela. Não precisava fingir para ninguém o que não era. A maioria das pessoas com quem tinha convivido sua vida inteira eram falsas, assim como sua ex-noiva. Eles viviam de aparência e se deixavam influenciar pelos demais. Mas não ela. tinha sua opinião, suas maluquices e seu temperamento forte e doce ao mesmo tempo. Por mais que ele a achasse uma tagarela sem limites e quisesse esganá-la a maior parte do tempo, ela era verdadeira em tudo o que fazia. E isso a tornava única.
– Não gostei. – disse ela fazendo careta enquanto se abanava.
Ele riu.
– Eu disse que era quente.
– Prefiro seu kebab a isso. –
Jura? – indagou ele, sorrindo.
Não sabia, mas a opinião dela era muito importante. Até mesmo sobre como cozinhava.
– Bem, eu acho. Mas não tão bom quanto arroz e feijão… E essa carne aqui – comparou ela, enchendo o prato de comida.
– Eu já estava ficando feliz.
– Digamos que sua esposa não morrerá de fome quando se casar. – disse ela, enfiando uma garfada cheia na boca, enquanto olhava para o lado.
tomou um gole de suco. Não pensava em se casar, mas, por um breve segundo, passou pela sua cabeça como seria ser casado com uma garota como . Bem, não seria nada entediante.
– Você vai acabar com a nossa dispensa se continuar comendo desse jeito. – brincou ele, vendo a garota se engasgar. Ela tossiu várias vezes, tendo que tomar água.
– Você me chamou de gulosa? – indagou ela, limpando a boca com guardanapo.
Não, ele havia dito em voz alta que se casaria com ela. Onde estava com a cabeça? Por Deus.
– É, chamei. Você come mais que . E
la semicerrou os olhos, ia matá-lo, certamente.
– Eu não como tanto assim! – grunhiu ela.
riu.
– Lá em casa você comeu uns cinco kebab’s!
– E você uns dez! – retrucou ela.
Ele revirou os olhos fingindo estar afetado. Provocar estava se tornando sua brincadeira favorita.
– Eu? Dez? – indagou ele debochado – Como? Você praticamente comeu tudo sozinha.
curvou os lábios em um sorriso maligno. Ela estava começando a ficar irritada.
– Você trate de calar a boca ou vou enfiar esse garfo onde a luz não bate.
Dessa vez ele gargalhou.
– Eu sou seu chefe, olha os modos!
Ela apoiou os cotovelos, sorrindo de lado. Ele adorava o sorriso dela.
– Engraçado que você não era meu chefe enquanto me beijava.
Ele perdeu a voz engolindo em seco. Não importava o que esperava que ela dissesse, jamais imaginou que teria coragem de tocar no assunto daquela maneira. o encarou desafiadora. Ela era surpreendente. Esse era um fato que ele não podia negar.
– Vou encarar esse silêncio como um sim.
Ela continuou comendo com um sorrisinho presunçoso. Ah, mas ela era adorável. Ele não conseguia tirar os olhos dela e queria muito falar que não era chefe dela em nenhuma ocasião se possível, apenas para continuar beijando cada parte do seu corpo. a queria tanto. Ela não podia provocá-lo daquela maneira ou acabaria perdendo o jogo.
Ele pigarreou.
– Você já fez planos com a Luna?
– Sobre o quê?
– Vocês vão ficar no hotel enquanto estamos em reunião ou vão conosco?
– Nós podemos ir junto? – indagou ela.
– Não me importo. – disse ele dando de ombros – Você pode aprender mais sobre engenharia.
– Seria interessante.
– O que pensa em estudar?
Ela mordeu o lábio inferior olhando para algum dos pratos na sua frente. Estava em dúvida no que experimentar primeiro, já que a feijoada, ela tinha odiado.
– Pensei em engenharia, claro. Mas acho que gosto de algo mais artístico, como fotografia ou até mesmo a música.
– Música? – indagou ele surpreso.
Seu maior sonho era estudar música quando mais novo, mas hoje não se imaginava fazendo outra coisa além dos seus prédios.
– Comecei a me apaixonar pela música clássica, acredite se quiser.
Ela sorriu envergonhada, pegando um pouco de comida.
– Tem todo meu apoio. – concluiu ele depois de um tempo – Quando tinha sua idade pensava em estudar música clássica também, mas meus pais eram contra e confesso que amo engenharia, mas me sinto um pouco frustrado por não ter ao menos tentado.
– Talvez você não fosse... você, se estudasse música. Acho que tudo na vida tem um porquê.
Ele assentiu. Concordava com ela.
Por Deus, se tivesse, de fato, estudado música clássica anos atrás, provavelmente sua vida teria sido muito diferente e jamais conheceria .
Era engraçado, mas esse era o primeiro questionamento que vinha em sua mente.
E não conseguia mais imaginar como seria se não a conhecesse.
Droga, ele estava ferrado.

.


Ao que parecia, tinha se enganado e não era Douglas Booth perto da piscina, mas isso não a deixava menos nervosa. Pensar nele ou imaginar vê-lo, era apavorante.
Porém durante aquele almoço ela não conseguia parar de pensar em outra coisa. Não era Douglas Booth ou a quantidade de comida que havia pedido e o gosto ruim que tinha aquele feijão com nome estranho que ela mal podia pronunciar.
O que não conseguia tirar da cabeça era o fato de estar no Brasil. Do outro lado do continente, almoçando em um hotel onde ela jamais teria cacife para pagar, com uma quantidade absurda de comida deliciosa e estranha, diga-se de passagem, e com o homem que ela não parava de sonhar em uma conversa natural. Como se eles não tivessem se beijado ou como se não soubesse que ela queria beijar ele de novo.
Eles tinham conversado sobre inúmeros assuntos, dos mais sérios, como a faculdade que ela devia seguir, e os mais banais, como o bigode gigante de um dos garçons que os servia.
Era tão gostoso passar um tempo com ele sem que estivesse passando por algum tipo de situação estranha, como de costume.
– Obrigada pelo almoço. – agradeceu ela na porta do seu quarto.
sorriu, mal podia falar de tanto que tinha comido.
– Eu quem agradeço por ter me acompanhado. É muito desagradável não ter com quem dividir um banquete daqueles.
– Sim, eu só fui pela comida mesmo. – brincou ela, dando de ombros.
Ele aumentou o sorriso, olhando nos olhos dela de um jeito diferente.
Ai, meu Deus, ela estava tão serena o tempo todo. Não queria falar besteira logo agora, quando estava se despedindo.
– É claro, eu já sabia. Minha presença é insignificante pra você.
sorriu mordendo o lábio inferior. Podia sentir suas bochechas ficando corada. Ah, ele era tão lindo.
Seus olhos castanhos mais pareciam dourados para ela. Era uma cor tão diferente de tudo o que tinha visto. Ele era simplesmente o homem que fazia todas as mulheres suspirarem e, quando passava, todas perdiam o decoro. Era fato.
– Que bom que você sabe. – brincou ela.
Eles se olharam por alguns segundos em silêncio. A verdade é que ela tinha que entrar no maldito quarto e deixar ele ir, mas era estranho se despedir depois do almoço que tiveram. Era como se a conversa entre eles os tivessem deixado mais próximos, pelo menos ela se sentia assim e se despedir devia ser algo natural, mas, droga, ela não queria se despedir, queria ficar mais um pouquinho em um mundo que existia apenas ela e ele.
– Vai fazer alguma coisa depois? – indagou .
sentiu um frio na espinha.
Ai, meu Deus, ele estava querendo saber se ela ia fazer algo mais tarde? Ela queria fazer muitas coisas se ele estivesse junto.
A primeira seria beijar sua boca.
– E então? – perguntou ele, impaciente.
Ela podia sorrir.
– Tinha conversado com a Luna sobre uma boate que tem aqui perto. Ela queria ir.
– Hm.... Faz tempo que não vou para festas.
– Acho que seria legal.
Ele a fitou por um instante.
Ela respirou fundo.
Estavam próximos.
Talvez se desse um passo e inclinasse a cabeça para o lado.
Ai, meu Deus.
Ele encarou a boca dela. estava começando a ficar sem ar.
Ai, meu Deus, ele iria beijá-la?
Seu corpo inteiro ficou arrepiado. segurou o braço dela delicadamente, dando um pequeno passo, ficando cada vez mais perto.
Perto suficiente para que ela tivesse uma síncope em questão de segundos.
Aquilo ia realmente acontecer.
Ela engoliu em seco. O coração estava a mil dentro do peito.
bem na sua frente, Santo Deus.
Houve um segundo de silêncio antes que seu mundo se tornasse um lugar cheio de arco-íris e unicórnios e, do outro lado do corredor, o elevador se abriu e ela acompanhou os olhos de se afastando dela no segundo seguinte.
surgiu atrás das portas com um semblante um pouco quanto severo.
– Nos vemos depois. – disse , se afastando por completo.
Droga.
engoliu em seco, sorrindo com os lábios semicerrados. Seu arco-íris teria que esperar até o anoitecer. Ela não se importava de ter que esperar. Tinha esperado por um momento como aquele por tanto tempo.
tinha consciência de que, se eles fossem juntos para a festa, faria algo acontecer. Mostraria a ele que ela era uma mulher.
Uma mulher que ele teria orgulho de ter.
– Até depois. – disse ela, beijando a bochecha dele rapidamente e entrando em seguida para o quarto.
Quando fechou a porta, suspirou fundo.
– Onde estava? – indagou Luna, a fazendo pular de susto.
Estava ansiosa, não podia negar.
– Almoçando com o Sr. .
Luna a encarou erguendo uma sobrancelha.
– Só almoçando?
– Ele não quer nada comigo. – disse ela, sem saber se acreditava naquilo.
Luna fechou os olhos, estava deitada na cama com um pijama de flanela. Ela suspirou fundo se acomodando, como aquelas mulheres fora da realidade, simplesmente lindas até dormindo. Luna Aniballe era assim.
Irreal.
– Só tente. – disse ela.
piscou confusa.
– O quê? – indagou ela.
– Só tente de novo. Apenas tente.

– Você tem certeza que é uma boa ideia? – indagou Luna pela enésima vez enquanto elas desciam para o bar do hotel.
O relógio marcava meia-noite em ponto e não conseguia mais esperar. Pediu para Luna avisar que elas os esperariam tomando algumas doses. Aniballe não bebia devido ao seu acidente, mas sempre dava um jeitinho dela mudar isso e acaba que sua patroa sempre enchia a cara.
Luna estava linda. Estava com um vestido preto tomara que caia inteirinho de pedras. E, para a sorte dela, Aniballe havia levado um vestido que dizia ser a cara da garota e sentia que sua chefe tinha razão. Era um vestido vermelho de seda, algo que nem em uma vida ela teria dinheiro para pagar. Incrivelmente lindo e delicadamente sexy.
A única coisa que queria era que a visse dentro dele como uma mulher que ela era.
Tinha contado tudo, depois que Luna acordou, sobre o almoço e as conversas de ambos. Ela estava um pouco confusa. Parecia que sentia que alguma peça não estava se encaixando, mas não tinha coragem de contar sobre o beijo. Primeiro porque havia pedido e, por mais que ela quisesse negar, faria o que ele pediu; e, depois, ficaria sem graça por contar à Luna que tinha escondido isso dela.
Mas contou sobre a maneira como ele a olhou antes de se despedir e o jeito que ele parecia querer beijá-la.
Aniballe, para surpresa dela, foi quem disse que tinha total liberdade para provocá-lo aquela noite.
Teria que ser aquela noite. Pensou ela.
Provaria para que não era mais uma adolescente.
Ela era uma mulher com desejo.
O desejo de tê-lo.
– Vamos pegar uma bebida.– parou no balcão do bar, sentando em uma banqueta, cruzando as pernas de um jeito um pouco quanto sedutor – Por gentileza, gostaria de uma bebida típica do país.
– Aceita uma caipirinha, senhorita?
– Está ótimo pra mim e você Luna?
– Uma água.
revirou os olhos.
– Duas caipirinhas, por favor. – pediu ela com dificuldade, observando um grupo de homens ao lado delas – Você viu esses caras aqui do lado? – cochichou ela – Não param de olhar.
Aniballe disfarçou inclinando a cabeça por trás de .
– São bonitos.
– São mesmo. Vamos falar com eles?
– Você está louca?
Antes que Luna a impedisse, ela se aproximou do grupo de homens bem vestidos e com uma aparência de faltar ar.
Aniballe foi atrás dela um pouco insegura. Podia ser loucura, talvez fosse mesmo, mas ela queria fazer do mesmo jeito.
Eles eram quatro e parecia que cada um tinha se posicionado ao lado delas de forma estratégica. Dois em cada lado, deixando as duas no meio deles. Elas não tinham escapatória, ao menos que parasse com a tagarelice e elas saíssem pela culatra, mas ela estava longe de fazer isso.
Ficaria ali até aparecer.
– Como se chamam? – perguntou um deles com sotaque canadense.
Era loiro, bonito, um pouco mais velho e tinha uma cicatriz na sobrancelha, o que chamava atenção.
– Luna Aniballe e eu me chamo .
– Nome lindo. – disse ele simpático, fitando Luna – Assim como você.
Ela sorriu sem graça e soube que seria morta em breve e pelas próprias mãos da sua chefe.
– Suas bebidas, senhoritas! – disse o barman com a voz arrastada.
– Beba rápido que fica melhor. – falou um dos homens.
pegou o copo, olhando de canto para o moreno ao seu lado. Ele era o mais bonito dentre eles e ela estava ansiosa demais para que a visse na companhia de outros homens.
– Você é de onde?
– Londres, Inglaterra. – respondeu ela sorrindo, tomando um gole rápido antes que perdesse a coragem.
– Notei pelo sotaque inconfundível. – comentou risonho e se perguntou porque ele havia feito aquela pergunta se já tinha notado que ela era britânica, mas tudo o que ela fez foi sorrir e olhar para os lados, esperando encontrar um homem que deixava todas as mulheres com fadiga – Adoro seu país, a cultura é maravilhosa. Mas ninguém me disse que as mulheres de lá eram tão maravilhosas.
Ele sabia muito bem passar conversa, mas ela não estava ali para ser seduzida por um estranho que sequer tinha perguntado o nome. queria que o homem por quem estava apaixonada surgisse de uma vez e caísse no seu plano de fazer ciúmes.
Era meio patético, tinha que confessar, mas usaria todas as armas ao seu favor. E um homem se sentindo ameaçado por outro, era quase certo que ela se daria bem.
– Nossa! Isso é muito bom. – disse ela, ignorando a cantada do homem – Luna, você já experimentou?
– Já, ! – sorriu Luna, sem mostrar os dentes – É ótimo.
– Devia tomar mais para se soltar. – falou um dos homens, dando um passo em direção à Anniballe, olhando descaradamente para seu decote.
notara que sua chefe se sentia constrangida. Alguns homens eram uns babacas mesmo. se sentiu da mesma forma por colocar alguém como Luna em uma situação embaraçosa como aquela.
– É. Só mais um pouco. – comentou um deles.
Sua amiga deu um gole na bebida apenas para tirar todos aqueles olhares de cima de si. Todos em volta delas soltaram uma exclamação mostrando a embriaguez.
– Não precisa mais beber isso, quer uma água? – indagou baixinho o loiro com uma cicatriz.
Talvez fosse o único com decência. Luna sorriu aceitando e sorriu por alguém tirá-la daquela situação chata.
– Moço, quero uma coca! – pediu ao barman.
– Deixa que eu pago. – se ofereceu o mais bonitinho entre eles.
– Obrigada. – agradeceu ela sorrindo um pouco demais.
Aquela bebida típica do país, que ela não sabia pronunciar era forte e já tinha a deixado tonta. Queria ficar mais solta para conversar com durante a noite, mas não podia beber tanto a ponto de passar vergonha.
– Os meninos já devem estar a caminho. Temos que ir. – comentou Luna baixinho.
– Que ótimo! Quero fazer ciúmes.
jogou o cabelo para o lado, sentando em uma banqueta ao lado do mais bonito entre eles.
– Experimente essa bebida. – disse o moreno ao lado dela.
não queria mais beber, porém sorriu aceitando o copo dele, bebendo um pouco do líquido vermelho. Ela fez careta, era horrível. A bebida desceu ardendo sua garganta e queimou quando passou pelo peito.
– Está queimando tudo aqui dentro. – grunhiu ela, colando a mão entre os seios.
Droga, talvez tivesse exagerado.
– Acho melhor irmos logo. – disse Luna, dessa vez mais alto, para que os rapazes também ouvissem.
– Onde está indo, amor? – elas ouviram a voz grave do Sr. e viu Luna estremecer.
Ele surgiu atrás dela, a abraçando pela cintura com força.
Meu Deus.
– Prazer em conhecê-lo. – disse o homem que estava ao lado de Aniballe com uma cicatriz na sobrancelha enquanto o resto murmurava algo.
– Não posso dizer o mesmo. – vociferou o Sr. .
podia ver suas coisas sendo jogadas para fora da empresa se o chefe da sua chefe descobrisse que havia sido ela quem tinha carregado Luna até ali.
– Com licença. – ela ouviu inesperadamente, com a voz mansa – A garota é menor de idade e não pode beber. Está sobre minha responsabilidade.
se virou imediatamente, ficando pálida. Reconhecia a voz de a quilômetros de distância. Ela sorriu sem graça ao o ver pedindo licença para o cara moreno ao seu lado.
Meu Deus, ele estava absurdamente lindo.
Aquele homem não fazia nada bem para sua sanidade. A verdade era que ele era o motivo de toda sua loucura dentro de si. Era por causa dele que havia levado sua chefe até aquela roda de homens engravatados e por culpa disso estava com os olhos flamejando atrás da mulher que amava.
Ah, sabia que ele a amava.
Todo o cuidado que tinha por Luna era surreal. Não podia ser um “só gostar”, um “só carinho”. Aquilo era amor. E agora ele estava cuspindo fogo pelas ventar por culpa dela... Não, culpa de por fazê-la pensar naquilo.
– Vamos! Passar bem. – disse o Sr. se afastando.
Na mesma hora sentiu a mão de a apertando pela cintura com força, puxando-a para longe.
Ela mal teve tempo de se despedir dos rapazes. Dois deles eram gentis, pelo menos. bufou, mais por birra do que por raiva, na verdade.
saiu com ela do bar, com o braço firme em sua cintura. Já tinha escutado uma vez sobre deusa interior e, nossa, a dela estava flamejante.
– Acho que posso caminhar sozinha. – comentou ela, apenas para irritá-lo.
a encarou por cima dos ombros. Eles estavam tão próximos. Ah, por que mesmo tinha dito aquilo? A maneira como ele a encarou e se afastou a fez desejar calar a boca.
Sua mãe vivia certa quando dizia que falava demais. Mas ela não podia evitar.
Queria fazer com ele aqueles joguinhos chatos e clichês, mas que no fundo não passam de um flerte e todo mundo adora.
– Vamos esperar os dois aqui. – comentou ele e ela não soube identificar o tom da sua voz. e Luna estavam para trás, conversando com o semblante sério.
– Acha que eles estão brigando? – indagou ela, preocupada.
– Certamente. E nós devíamos estar fazendo o mesmo.
se sentou no hall de entrada do hotel e a fitou parado na sua frente, com as mãos no bolso.
Ela curvou o cenho.
– Nós? Nós devíamos estar brigando?
Ele sorriu.
– Você se mete no meio de um bando de homem que nunca viu na vida e quer que eu fique como?
– Você?
Ai, meu Deus.
Ele sorriu, balançando a cabeça.
e eu.
– Estava fazendo amizades. É sempre bom ter contatos.
– Você ao menos sabe o nome deles ou o que fazem da vida?
revirou os olhos. Tudo bem que ela não tinha resposta para nenhuma daquelas perguntas, mas não daria a ele o gostinho da vitória.
– Sei, sim. Bryan, Don, Luke e Roman.
gargalhou tão alto que algumas pessoas que estavam próximas os observaram por alguns segundos.
– Você acabou de descrever os personagens de Velozes e Furiosos.
– Claro que não.
Droga, mas que droga. Ela era muito tola mesmo.
– Tudo bem, vamos dizer que é uma coincidência. – ele sorriu – Não precisa ficar da cor do vestido.
sorriu envergonhada, se abanando. Ele era gentil demais para concordar o quão boba ela era. Então deixou que os nomes dos rapazes fossem a equipe de Toreto.



Ele sabia que o amigo tinha problemas demais em relação a ciúmes e muito mais quando algo se dirigia à Luna Aniballe. A mulher da sua vida.
Mas brigar com a garota por causa de um vestido que ele julgava ser curto ou justo ou o diabo, não era motivo algum para se trancafiar no quarto e deixar ela sozinha.
estava com um vestido tão revelador quanto o de Luna – quanto o de qualquer outra mulher dentro daquela boate –, mas não queria que ninguém visse o que ele tinha.
Para , nenhuma mulher devia ser vista como um troféu e ele sabia que seu melhor amigo pensava da mesma forma, mas após tanto tempo desejando Aniballe, estar com ela fazia ele querer viver em um mundinho onde só existia os dois.
Mas sua garota não era assim.
Então lá estava ele no meio de uma balada com as duas mulheres mais lindas do lugar.
Tudo bem que uma sequer tinha idade para entrar e ele teve que liberar um pouco de euro para o segurança – escondido é claro –, porque não teve coragem de falar à ela que teriam que ir para casa. estava deslumbrante com um vestido vermelho e um sorriso de tirar o fôlego.
Quando a viu sentada rodeada por homens ele sentiu o sangue correr nas veias.
Ela não era dele. Ela não era sua posse ou sua conquista.
Eles sequer estavam juntos.
Mas sabia exatamente o que se passava na cabeça de cada um daqueles imbecis engravatados. Convivia com aquele tipo de homem o tempo todo.
Então, a primeira coisa que passou pela sua cabeça e pela cabeça do melhor amigo era arrancá-las de lá de qualquer maneira.
era ingênua. Esse era o problema. Ela era uma mulher e tanto – ele podia ver isso agora –, porém, na sua cabeçinha de menina de dezessete anos, nada tinha maldade e isso o deixava com os nervos aterrorizados.
Porque, droga, até ele tinha pensamentos impuros.
estava sentada em um sofá, na área vip que ele tinha comprado só para os três na esperança que ainda aparecesse e parasse de ser um idiota. Ela estava com as pernas cruzadas e, quando se mexia conforme a música, o vestido deslizava para baixo deixando um longo pedaço de pele que ele nunca havia visto sob seus olhos.
A parte de cima do seu vestido também o deixava com a boca seca.
– Quer dançar? – indagou Luna.
Ela estava um pouco triste por causa de , mas não queria deixar transparecer.
– Claro, você quer descer até a pista? – a área vip ficava na lateral, perto do bar.
Luna concordou com a cabeça. Ele não sabia se era certo deixar , mas se Aniballe não havia dito nada, talvez estivesse tudo bem.
Ela pegou sua mão e cochichou alguma coisa para que gargalhou, jogando a cabeça para trás.
– Vamos mostrar um pouco do gingado britânico. – comentou ela animada.
– Você sabe que eu não sou britânico, não sabe?
Ela revirou os olhos rindo, puxando ele pro meio da multidão.

– Impossível dançar com esse homem. Se eu fosse você, desistiria.
Luna praticamente gritou quando eles voltaram minutos depois e ele viu uma garota enrubescer na hora.
– O que você disse? – indagou, apenas para que achasse que ele não havia escutado direito.
– Não tem condições de dançar com você.
– Por que não? – quis saber ele.
Na sua opinião eles haviam se divertido muito. Ela não parava de rir, ao menos. Rir não era um bom sinal?
. Se você fosse com ele até lá ia saber do que estou falando.
Como nenhum dos dois disse nada, Luna revirou os olhos.
– Era pra você ter chamado ela pra dançar agora.
– Eu? – indagou ele confuso.
curvou o cenho sorrindo.
– Não precisa, estou bem aqui. – disse ela.
E ele soube que deveria tê-la chamado mesmo para dançar.
Por que mulheres eram tão difíceis? E parecia que ele estava com as duas mais complicadas.
– Vem, eu sei que você quer. – ele esticou a mão para ela pegar – Se não quiser, vamos, só para a Luna não me matar.
Ela riu.
Ele queria que ela fosse. E quase agradeceu por Luna ter feito aquilo, mesmo sem entender o porquê.
segurou a mão dele e sorriu para Aniballe antes de acompanhá-lo.
Era uma sensação estranha. Não se lembrava de ter segurado a mão dela até aquele momento. Ele já havia feito isso, não?
Talvez quando estava bêbado. Não tinha nenhum resquício dentro da sua cabeça, mas segurar sua mão era tão bom quanto beijá-la.
Ah, ele quase havia feito aquilo depois do almoço que tiveram. Por pouco, muito pouco.
A companhia de era tão agradável e fazia se sentir vivo.
Se não fosse por ele teria estragado tudo.
Mas, droga, ela não facilitava pro seu lado.
– Agora entendi o que Luna quis dizer sobre ser impossível dançar com você. – comentou ela, falando em seu ouvido.
Ele engoliu em seco, segurando sua cintura de leve. Não podia se aproximar demais.
– Não entendi. – respondeu ele, olhando para os lábios dela.
– Todo mundo fica olhando pra você. Aliás, a maioria das mulheres e alguns homens.
Ele gargalhou.
– Eles estão olhando pra você.
olhou para os lados se certificando se ele estava certo ou não.
pegou a mão dela a girando de surpresa. soltou um gritinho e segurou a barra do vestido.
– Seu louco, meu vestido levanta! – ralhou ela rindo.
– Desculpa.
Estava tentando manter todo seu autocontrole para não puxá-la para mais perto e beijá-la como queria ter feito mais cedo.
não estava lá, se a puxasse para um lugar onde Luna nos os visse... Não, não, não. Ele não faria isso com ela.
Não ficaria com a garota escondido de todos. Ah, merda. Ele precisava se afastar ou o mataria. Por Deus, ele era o chefe dela.
O chefe de uma menina de dezessete anos.
virou de costas e começou a dançar a música de olhos fechados, erguendo o cabelo, mostrando sua nuca de um jeito provocativo.
– Acho melhor pegar alguma bebida, está quente aqui. – disse ele o mais distante que conseguiu.
se virou se abanando.
– Está quente mesmo. Quer que eu vá junto?
– Não, não precisa. Acho melhor voltarmos com a Luna, ela deve estar se sentindo mal por causa do .
Eles mal haviam chegado no refrão da primeira música e ele já estava fugindo. Se sentiu mal pelo sorriso dela desaparecer na mesma hora, mas não podia ficar.
Simplesmente não podia.

Quando voltou do bar nenhuma das mulheres estavam lá. Ele suspirou fundo. Estava se sentindo um babaca, mas talvez, se Luna soubesse o que estava acontecendo, daria razão à ele.
O pior era que gostava de . Nunca conhecera uma pessoa como ela. Uma garota espontânea, uma mulher com jeito de menina ou talvez uma menina com jeito de mulher. Nossa, ele estava tão confuso.
Ele pegou uma vodka e desceu novamente para a pista, talvez elas estivessem lá. Se desculparia com , ela não tinha culpa alguma, sequer sabia o que havia por trás da rejeição dele. A culpa toda era de . Essa era a verdade.
as viu conversando com algumas mulheres perto do banheiro feminino. ria e mexia no cabelo, olhando para um ponto do outro lado da festa.
Ela estava absurdamente linda. Quem ele queria enganar? Não tinha coragem, era um idiota sem coragem. Não beijar e evitar não tinha absolutamente nada haver com .
A culpa disso era seu medo.
O medo ingente de se apaixonar por ela.

Capítulo 13


Ela havia feito amizade com algumas mulheres no banheiro. Depois que decidiu que deveria pegar bebidas sozinho – ela não entendia o que tinha feito de errado para ele mudar tão depressa – chamou Luna para ir ao banheiro se olhar no espelho.
Talvez não estivesse tão bonita para ele quanto imaginou que estava. Ou sei lá, ela não sabia lidar com os altos e baixos.
Ainda não tinha tocado no assunto sobre o quase beijo no corredor e achava que já não tinha mais coragem. Ele simplesmente mudava de uma hora para outra. Em um instante parecia que a desejava tanto quanto ela, mas do nada ele se afastava e criava um muro entre eles.
Uma barreira quase impermeável.
Quase.
Ela daria um jeito.
Na verdade, já estava dando. Anna, Letícia – que para era Lety – e Beatriz – Bea – estavam a aconselhando. Luna tentava conversar com ela sobre e sobre como os homens eram e para ela estava tudo bem ele querer ficar com outras mulheres, desde que não fosse na sua frente e desde que Luna a ajudasse a ficar com um homem, mas na frente dele.
As três estavam juntas e entendiam ambas conversando em inglês, entraram no assunto falando que a garota não devia se dar por vencida daquele jeito e nem por um milhão podia deixar ele fazer com que ela se sentisse menor, muito menos desistir.
As cinco saíram do banheiro rindo, contando fatos sobre seus relacionamentos. Todas eram compromissadas e estavam loucas procurando por para descobrir se ele era tão lindo e do outro mundo como havia dito.
Porém ele ainda não estava na área vip deles.
– Nos vemos mais tarde, vou procurar meu marido. – disse Anna, sendo acompanhada pelas demais jovens.
– Você prestou atenção em tudo o que elas falaram? – indagou Luna.
assentiu em silêncio, suspirando fundo.
Ela não podia se sentir menos que ninguém nunca, mas às vezes, talvez por tudo que havia passado, ainda tinha algo dentro de si que incomodava. Porque ela sabia que quando passava pelos corredores da escola sempre tinha um idiota que fazia questão de lembrar e cochichar para o amigo, que fazia isso para uma terceira pessoa e eles nunca esqueciam. Mesmo ela perdendo um ano, mesmo ela mudando de colégio.
Eles não esqueciam.
E ela também não.
E toda vez que se afastava, mesmo sabendo que a culpa não era sua e que ele não sabia de nada, seu inconsciente gritava falando que era óbvio que a culpa era dela, que era nítido que ele sabia que seu corpo havia sido marcado para sempre com dor e ferida. E para uma adolescente, elas eram incuráveis.
– Ah, não olha agora. – disse Luna.
– O que foi? – indagou ela, parando no mesmo instante.
está conversando com uma loira.
Ela segurou o ar.
– Qual o problema desse homem com as loiras? Santo Deus!
Luna riu baixinho.
– Você quer ir até lá?
– Eu? Eles estão...? – perguntou aflita.
Luna observou por alguns segundos.
– Ainda não, não sei. – respondeu incerta.
bufou, derrubando os ombros. Ela já tinha tomado coragem de beijá-lo, mas sabia que os conselhos das amigas novas não serviriam de nada agora.
– Preciso ficar com alguém na frente dele! – disse ela desesperadamente – Não posso ficar aqui. Ele não olha pra mim!
Luna mordeu o lábio inferior. Nem ela sabia o que dizer.
começou a caminhar ao lado oposto de onde estava. Ela encontraria alguém absurdamente lindo e o arrastaria onde a pudesse ver e lascaria um beijo na pessoa até perder o ar.
E não choraria. Mesmo sentindo um nó na garganta.
olhou para trás, mas não encontrou Aniballe. Talvez ela não concordasse com aquilo, ou simplesmente tivesse decido não se intrometer mais.
Seria melhor assim. Ela encontraria alguém por conta própria.
suspirou, colocando a mão na cintura. Não tinha uma alma viva ali que ela quisesse mais do que ele e, por consequência, não existia ninguém que chegasse aos seus pés.
Por que ele era tudo o que ela queria.
Inferno!
– Oi, aceita dançar comigo? Ela sorriu sem graça, não havia entendido uma palavra do que o rapaz disse.
– Desculpa, eu não falo português.
Ele sorriu balançando a cabeça. Tinha o cabelo um pouco comprido e cachos nas pontas.
– Eu não falo inglês.
Ela sorrindo, olhando para os lados, procurando . Não queria ser rude, mas não podia perder ele de vista.
– Você... You ... ahm.. – ele colocou a mão na própria cintura e rodopiou. riu. Aquilo só podia ser uma tentativa de convite para dançar.
– Você quer dançar?
– Sim! Dançar!
– Ah, claro!
A garota pegou a mão dele gentilmente e ele a rodopiou rindo em seguida. Quando se aproximaram ele perguntou em inglês:
– Qual é o seu nome?
.
? – repetiu ele incerto.
– Isso. – concordou ela – E o seu?
Mas antes que ele pudesse responder as pessoas começaram a dar alguns passos para trás, os empurrando e quando ela se deu conta viu que uma briga estava acontecendo no meio da festa. Seu coração gelou.
estava prestes a levar um soco.
Luna surgiu na hora empurrando um covarde que ia bater em pelas costas.
O mesmo havia se virado para Aniballe pronto para machucá-la. estava petrificada, não sabia o que fazer.
Deixou o rapaz que estava dançando sozinho e correu até onde seus amigos estavam.
Por sorte ela viu do outro lado da confusão Anna, Lety e Bea puxando Luna para fora da briga. Uma delas gritava alguma coisa em português e seus respectivos cônjuges entraram junto entre socos e gritaria, foi só quando um dos que parecia ser inimigo, puxou o corpo para cima do outro que ela percebeu que se tratava de .
Meu Deus, o que eles estavam fazendo?
Por entre a multidão viu a silhueta de , ela não podia ficar parada ali, precisava fazer alguma coisa. Ele não podia se machucar. empurrou algumas pessoas que estavam na sua frente sem nem ao menos pedir desculpas ou sentir medo de se machucar, ela só queria ajudá-lo. Ajudar .
A garota chegou esbaforida entre e um outro homem. Por sorte não estava apanhando, mas seu supercílio sangrava e a boca parecia estar cortada.
– Já chega, ! – pediu ela desesperada.
O homem se virou para encará-la e talvez por querer ou não, ela não sabia dizer, deu uma cotovelada na sua têmpora a deixando meio zonza.
Merda. Merda. Merda.
, você tá bem? ! Ah, seu verme inútil!
Ela segurou o braço de , só queria sair dali. Queria ver Luna, saber se estava bem e sumir. Que ideia era aquela. Ah, sua noite havia sido uma grande merda.
colocou a mão onde havia levado a pancada e a abraçou pela cintura a puxando para o lado, no mesmo instante que os seguranças surgiram acalmando todos.
– Por favor, você está bem?
– Estou, só estou tonta, confusa. O que está acontecendo? Por que você e estavam brigando?
Ele bufou, gemendo de dor.
– Eu não sei, só vi que estava socando um cara, imagino que seja por causa de Luna.
– Não acredito que isso aconteceu.
– Você está bem mesmo? – indagou ele preocupado.
concordou com a cabeça. Ela colocou a mão na boca dele, limpando um pouquinho de sangue. Ele fez careta.
– Se eu estivesse com vocês nada disso teria acontecido.
– Não, a culpa não foi sua. Fui eu quem a deixou sozinha.
a apertou contra seu corpo e beijou sua testa.
– Não vamos discutir de quem é a culpa agora, eu só quero que você esteja bem e Luna também.
Ela sentiu seu corpo estremecer. Só precisava dele para ficar bem.
– Eu estou, juro. É de você que temos que cuidar.
ficou na ponta dos pés e não pensou muito no que fazer, apenas fez.
Ela umedeceu os lábios e o beijou no canto da boca, onde provavelmente um soco havia o cortado. não fez nada, apenas fechou os olhos a apertou com força.
Seu coração estava a mil por hora.
Sua sanidade havia se esvaído.
A única coisa que ela sabia era que precisava dele.

.


se afastou. Não porque queria, mas aproveitou um último segundo de racionalidade dentro da cabeça e deu um passo para trás.
Não queria magoá-la, queria aquilo tanto quanto ela, talvez até mais. Só que aquele momento não era o certo. Se fosse para alguma coisa entre eles acontecer, ele faria de maneira que ela se sentisse única.
E muito longe de .
Ele sorriu para beijando de leve onde havia sido atingida. Se algo lhe acontecesse, ele mataria o homem.
– Vamos conversar com os dois. – disse ela, apontando com a cabeça para e Luna.
Aniballe estava com cara de choro abraçada em que estava com o cenho curvado e o nariz sangrando. Ao lado deles tinham algumas pessoas que os haviam ajudado. Não tinha pensado muito bem que poderiam levar uma surra histórica, mas quando viu seu amigo puxando o verme que parecia estar tentando agarrar Luna, ele partiu pra cima também. Não deixaria sozinho e muito menos alguém tocar em Aniballe.
abraçou a garota do seu lado por cima dos ombros, ele a protegeria de qualquer coisa nem que o deixassem estendido no chão como um cadáver. E sabia que era nisso que estava pensando quando se envolveu na briga.
– Não fomos apresentados. – disse ele aos três rapazes ao lado de – Sou , obrigado pela ajuda.
Todos eles sorriram. Não precisavam ajudar, mas eles teriam sido destruídos se não fosse por isso.
– Acho que poderíamos ir para o hotel. Venham conosco, é o mínimo que podemos fazer por hora. – comentou – Vamos comer algo porque estou faminto. Brigar tira nossa energia, não lembrava disso.
Todos eles riram alto, deixando a tensão passar um pouco.

No caminho, descobriu que Marcos e Anna eram casados há poucos meses e estavam morando no Rio de Janeiro há apenas um mês. Marcos era da marinha. Letícia – um nome que ninguém conseguia pronunciar, então a apelidou gentilmente de Lety – e João, namoravam e João era irmão de Marcos e Lucas que era casado com Beatriz ou Bea. Eles estavam os quatro, respectivamente, passando férias na casa nova dos recém-casados. E nunca imaginaram que em uma festa que eles achavam absurdamente cara, fosse render uma briga e tanto como aquela.
Nem ele, pensou.
levou os convidados para a cobertura onde todos estariam bem acomodados e então pediu um café da madrugada e pacotes de gelo. Os homens queriam fazer pose, mas ele não estava aguentando.
Aquela dor era o diabo.
Mas a sua sorte era que quanto mais enfermo ele parecia estar, mais atenção recebia da garota loira dos olhos do Tenerife.
E talvez, mas só talvez, ele tenha se aproveitado disso.
– Vou pegar um pouco de água. – disse ele baixinho, apenas para ela ouvir.
– Deixa que eu pego pra você.
– Não precisa.
, você está aí todo machucado.
Ele sorriu.
– É só um copo de água, por Deus.
– Eu faço questão.
suspirou fundo.
– Eu te acompanho então.
Ela piscou algumas vezes e depois concordou sorrindo. Pelo canto dos olhos ele viu seu melhor amigo o queimando vivo. Sabia que aquilo estava errado, mas não estava mais conseguindo evitar.
Ficar perto de lhe dava paz.
– Eles são legais, não são? – indagou ela, pegando um copo no armário.
Seu corpo estava todo inclinado para alcançar. Ele podia fazer a gentileza de pegar para ela, mas a visão era melhor de onde estava e mal conseguia se mover.
– Quem? – indagou ele.
– Ora, os brasileiros! – ele ficou em silêncio observando o modo como a alça fina caia sobre os ombros dela.
– Que brasileiros?
se virou para encher o copo de água bufando.
, você não tá prestando atenção no que estou falando? Marcos, Anna...
– Ah, claro, os brasileiros. Sim, eles são muito legais.
Ele pigarreou quando ela voltou com a água. Só estavam os dois na cozinha.
– O que você tem? – perguntou ela sorrindo desconfiada.
– Eu? Nada, por quê? – ele agradeceu sorrindo pela água e tomou um gole, sua garganta estava seca.
– Está me olhando de um jeito estranho.
Ele tossiu.
Não queria admitir, mas ela estava diferente ali. Talvez fosse a forma como tinha se preocupado com ele durante a briga; ou como seu cabelo tinha caído de leve sob os olhos; ou o jeito que ela ria tentando falar algumas palavras em português com as novas amigas.
Ele não tinha certeza o que era, mas cada minuto a mais que passavam juntos, alguma coisa dentro dele mudava a forma como via .
– Está me olhando de novo. – disse ela ficando com o rosto vermelho.
Ele curvou o canto dos lábios para cima.
– É que você está muito bonita hoje.
mordeu o lábio inferior. Ele não sabia o que ela estava pensando, queria decifrá-la como fazia com Amber, mas era diferente.
Ela sorriu e depois curvou o cenho colocando uma mão sobre a testa dele.
– Você deve ter recebido uma pancada muito grande na cabeça.
riu alto. Ele até tinha levado um belo de um soco, tinha que confessar, mas não tinha afetado em nada dentro da sua cabeça.
– Só estou dizendo o que acho. E é verdade, você está muito bonita.
Ela sorriu e virou a cabeça para outro lado. Não tinha coragem de encará-lo. Ele se perguntava como em um momento ela tinha toda segurança do mundo para beijá-lo e momentos depois se sentia constrangida com um elogio dele?
Mulheres.
Seres de outro mundo.
Ele jamais teria a capacidade de entendê-las.

.


Claro. Certo. Minha nossa.
Ele tinha dito em voz alta que ela estava bonita? Porque sempre ficava abalada com um comentário dele? Por Deus, era exatamente isso que ela queria, mas sentiu seu rosto queimar quando a elogiou.
Inferno.
Ele tinha que deixá-la constrangida, parecia adorar fazer isso toda vez que a via.
sorriu olhando para outro lado da cozinha. Não conseguia sequer agradecer, porque teria que olhar para ele e, se fizesse isso, desintegraria.
– Não precisa ficar tão envergonhada assim. – comentou ele dando uma risadinha tosca no fim.
– Nossa, agora você me deixou muito confortável, Senhor .
– Senhor? – ele arqueou uma das sobrancelhas – Aqui do outro lado do mundo? Onde eu poderia ser qualquer outra coisa.
Ele devia ter levado mesmo uma bela pancada na cabeça. Era a única e sensata explicação.
Ela umedeceu os lábios antes de virar para encará-lo.
– Você queria ser o que... se pudesse?
Ela viu a mandíbula dele se contrair. Se pudesse escolher, queria que fosse ele mesmo, mas dela. sorriu sozinha com a ideia e depois sorriu ainda mais quando ele a encarou por um segundo.
– O que está pensando? – indagou ele, bebendo um pouco de água.
– Se eu pudesse ser qualquer outra coisa – ela deu ênfase na última palavra –, com certeza seria Julia Roberts em Uma linda mulher, quando todos os funcionários do hotel ficam atrás dela e ela compra roupas, e vai ao salão... – suspirou entusiasmada – seria maravilhoso.
sorriu.
– Ela era prostituta.
– Eu sabia que você ia falar isso. – limitou-se a dar de ombros – Eu não me importo se ela é garota de programa ou não, a história deles é linda e eu adoro a maneira como ela sonha em viver um conto de fadas.
– Como é o nome dele?
– Quem?
– O ator.
– Richard Gere.
Ele entreabriu os lábios antes do sorrir maléfico com o copo na boca e penetrar os olhos nela.
– Queria ser ele, então.
balançou a cabeça e saiu da cozinha antes que ele escutasse as batidas desesperadas do coração dela. Mas ouviu sua risada alta e divertida no meio do caminho.
Ah, que homem amaldiçoado. Ele sabia exatamente o que fazer com ela. Não havia questionamentos do porquê todas as mulheres que ela conhecia serem apaixonadas por ele. não era apenas lindo e feito a mão por Deus, ele tinha um charme e aquele tom de voz rouco. Sem contar na maneira como os olhos dele ficavam serenos e talvez um tanto quanto devassos.
Inferno, inferno, inferno.


Quando voltou para a sala, as quatro mulheres do recinto não paravam de olhá-la de um jeito inquietante. sabia que Luna provavelmente havia contado a elas que o homem que estavam conversando sobre no banheiro, era o mesmo que ela estava na cozinha.
E soube que elas estavam sem ar com a presença dele tanto quanto ela.
, vamos jogar? – indagou João.
Ele era o mais novo dos casais e namorava Lety.
– O que vocês estão jogando? – quis saber ela, sentando ao lado dele.
– Hands Off!
– Eu adoro esse jogo! – exclamou Anna.
– Eu começo. – disse Lucas, com o celular na mão.
Ela viu pelo canto dos olhos voltando da cozinha. Não sabia se estava bem da audição, mas tudo indicava que quando ele surgiu na sala novamente, as três cunhadas suspiraram.
parecia tranquilo, se sentou ao lado do Sr. , conversando sobre alguma coisa aleatória, provavelmente sobre a primeira reunião deles e às vezes durante o jogo ficava a fitando até suas bochechas corarem e de longe ele sorrir com o constrangimento dela.
– Boa noite então. Te vejo amanhã? Antes de ir para a reunião? – perguntou à Luna, esperançoso.
Ela assentiu que sim. Não aguentariam ficar tanto tempo longe um do outro.
– Ótimo. Vou contar os segundos. – disse ele, a puxando delicadamente para um beijo.
Os minutos passaram, todas as pessoas já haviam ido para casa e só faltava Luna e se despedirem. estava parado ao lado dela na porta, vendo os dois se beijando e um momento constrangedor.
– Humph... – suspirou ele, a fazendo sorrir cúmplice.
O casal se afastou sorrindo.
– Eu disse, Caramella. – comentou – Essa viagem ia ser como uma lua de mel para alguns.
– E eu cheguei a pensar que você estava errado. – respondeu ela debochada – Mas veja só. Só vejo corações saindo dos olhos dos dois.
– Engraçado. – disse Luna os encarando com os olhos semicerrados – Acho que posso dizer o mesmo de vocês.
– Não sei do que está falando. – disse ela primeiramente e depois fuzilou Luna com os olhos.
– É, não entendi. – completou , mas seu tom de voz era sarcástico.
Luna e - mesmo sendo difícil de acreditar – , o seu chefe, riram da cara dela. Aniballe deu um selinho se despedindo do Sr. e então ela, Luna e seguiram sozinhos.
Quando fechou a porta, sua namorada desatou a falar.
– Preciso que me ajudem com o aniversário do . É daqui dois dias.
– O que está pensando em fazer?
– Preciso pensar em alguma coisa. Ainda não tive nenhuma ideia, pois nem sabia que estava tão próximo.
– Faça um laço na cabeça e pronto. – brincou .
– Engraçadinho.
– Aproveita que estamos em outro país e cria algo. – falou ele, sério dessa vez – Você é boa nisso.
– Não conheço nada aqui!
– Alguém no hotel pode nos ajudar. – sugeriu .
– Ah! Eu conversei com umas mulheres brasileiras. – começou .
– É claro que conversou. – cutucou .
– Enfim, eu ia dizendo que conversei com umas mulheres brasileiras e elas me falaram sobre escolas de samba, o que acha? O carnaval é muito famoso.
– Não. As mulheres andam quase peladas.
– Opa! Então quem deve ir lá sou eu. – falou , todo animado. revirou os olhos.
– O aniversário é seu? Acho que não!
gargalhou e Luna, como uma boa amiga que só ela era, o acompanhou.
– Ela falou de uma ilha também. – disse ignorando os comentários de – Ilha do Farol. Disse que só as pessoas importantes vão para lá.
– Procure imagens na internet e quanto tempo leva pra chegar, por favor. Vou ter que encontrar uma loja de roupa íntima.
– Se quiser posso fazer isso pra você. Sempre quis fazer compras em uma loja dessas. – comentou sarcástico e pela graça do Senhor Aniballe deu um tapa de leve em seu braço.
– Ficaria agradecida se fizesse alguma coisa realmente útil e liberasse ele amanhã depois da reunião.
– E arranjasse um meio de transporte para os dois, porque a ilha fica a 170km daqui. – comentou ela, mexendo no celular.
– Pode deixar comigo. – disse parando em frente à porta do seu quarto. – Até amanhã, ou melhor, até daqui a pouco.
– Obrigada, . – agradeceu Luna – E obrigada por hoje.
– Imagina, não pensei duas vezes antes de ajudar você.
Luna sorriu realmente agradecida.
– Boa noite.
Ela se despediu dele com um abraço e um beijo na bochecha de leve, porque estava levemente roxa. E então saiu rapidamente virando o corredor para entrar no elevador, deixando os dois sozinhos.
– Boa noite. Coloca mais gelo nesse machucado. – comentou ela.
– Pode deixar, Caramella. Obrigado pela noite agradável em sua companhia. E, por favor, não fique constrangida.
Ela sorriu. Não tinha como não ficar perante ele.
– Também foi bom passar esse tempo com você. – ela suspirou fundo, vendo ele curvar o canto dos lábios para cima – Até daqui a pouco.
– Até.
apertou os lábios em uma expressão contrariada. Ela só queria entender o que passava na cabeça dele. Só isso.
se afastou sorrindo, tudo tinha ocorrido levemente bem e até a briga de um modo geral tinha ajudado ela se aproximar dele.
– Caramella. – chamou ele, antes que ela virasse o corredor.
virou para encará-lo. Ela tinha quase certeza que ele sabia o que ela queria que ele pedisse a ela. Quase.
– Sim?
sorriu de lado, balançando a cabeça.
– Eu queria te falar uma coisa.
Ela o fitou curiosa e com uma ponta de esperança de que independente do que fosse, seria algo que finalmente a faria ver unicórnios e arco-íris aquela noite. Porque, por mais que fosse terrivelmente irritante e a deixasse confusa a maior parte do tempo com suas insinuações e seus afastamentos repentinos, ela sabia que ele era um homem extremamente gentil e jamais faria alguma coisa que não fosse para seu bem.
– Fala. – pediu ela, não se aguentando de curiosidade.
deu alguns passos curtos se aproximando dela o máximo que sua sanidade suportava.
– Eu menti sobre ser Richard Gere. – confessou ele.
ergueu uma sobrancelha.
– Se eu pudesse se qualquer outra coisa aqui, eu seria um homem com coragem. Ele beijou a testa dela com carinho e se afastou, ganhando um centímetro a mais do seu coração.

.


Ele estava acabado. Não, acabado não.
Ele estava mais para um defunto. Sua mandíbula estava doendo, assim como sua boca e seu supercílio e todo o resto do seu corpo.
Nossa vida, ele estava realmente destruído.
Levantou da cama quatro horas depois de ter deitado. Não conseguia fechar os olhos, não conseguia parar de pensar nela e nem o quão idiota era por não a ter agarrado até agora.
Ah, ela estava absurdamente linda com aquele vestido vermelho. E tinha feito aquilo depois da briga. Tinha mais coragem que ele e isso o deixava tonto.
E ela era tão ingênua.
Ele sabia que ela sequer tinha notado o jeito como aquele cara, irmão de Marcos, o mais novo, João, nossa, podia socar a cara dele, apenas pela maneira como encarava sem sequer respeitar a namorada que estava no mesmo ambiente que ele.
era tão ingênua, ou talvez cega, que ele tinha medo de estar se aproveitando dela em alguma situação. Porque sabia que quando começasse a beijá-la, não conseguiria mais parar.
Ele simplesmente não teria forças para isso.


Estava no restaurante tomando café da manhã quando a viu perambulando pelo saguão do hotel infernizando a vida dos pobres coitados. tentava se comunicar com um grupo de pessoas fazendo mímica e com o dicionário nas mãos. De longe ele se divertia sozinho.
Ela estava com um vestidinho branco de alcinha. Odiava vê-la de vestido, porque suas entranhas simplesmente se reviravam.
Ele chamou um garçom e pediu educadamente que chamasse a moça tagarela até ele.
Não demorou muito para que os olhos azuis o encontrassem. Ela sorriu do outro lado do hotel e pediu licença caminhando até onde ele estava.
– Meu Deus, você está acabado. – comentou ela, antes de qualquer coisa.
– Bom dia pra você também.
sorriu. Aquele sorriso genuíno que só ela tinha.
– Sente-se, por favor. Já tomou café? – indagou ele, enquanto ela puxava uma cadeira para se sentar.
– Ainda não. Estou fazendo a programação de Luna.
– Programação?
– Sim. Eu não consigo ficar aqui sem fazer nada. Conversei com algumas pessoas, ela tem o dia lotado, já que vocês mudaram o horário da reunião.
– Como você sabe que...
– Eu tenho meus contatos.
Ele não se surpreendeu. Era óbvio que ela sabia de tudo.
– E então? – quis saber ele – O que tem programado?
– Primeiro o café depois coisas de mulheres. Mais tarde uma massagem e compras. E então vem você.
– Eu?
– Sim ou meu plano vai por água a baixo. Não acha que eles vão querer viajar por 170 km depois de ontem, não é?
– Ah, claro. Com isso não se preocupe. – ele pegou o celular, também tinha seus contatos – É só dizer o horário que o helicóptero estará os aguardando.
Ela abriu a boca e depois sorrindo de um jeito engraçando.
– Cinco da tarde. Eles têm que aproveitar o pôr do sol.
– Você pensa em tudo mesmo hein. – ela assentiu – Já pensou em trabalhar com alguma coisa relacionada a eventos?
– Eventos? Como produtora de eventos?
– Sim. Você parece saber o que está fazendo.
corou. Tinha demorado um pouco demais para isso acontecer e sentiu algo estranho com a maneira que ela o encarou.
– Vou pensar sobre o assunto.
– Pense. – disse ele – Mas antes disso, coma alguma coisa.
– Não estou com fome.
– Não estou perguntando.
piscou algumas vezes e depois assentiu sem graça, enfiando um pão de queijo na boca. Depois de mastigar ela o fitou com os olhos brilhando.
– O que é isso? – indagou de boca cheia.
– Pão de queijo.
pegou o copo de suco dele, tomando um grande gole em seguida.
– É muito gostoso.
riu.
– Se quiser eu peço mais.
– Com certeza eu quero mais.
Ele pediu ao garçom para trazer mais comida e enquanto eles não vinham, ele ficava a observando, tentando descobrir o que ela tinha de tão especial que despertara nele aquele sentimento que não conhecia.
– Você está fazendo aquilo de novo. – comentou ela, erguendo a cabeça para encará-lo, enquanto mordia o lábio inferior.
– Estou fazendo o quê?
– Fica me olhando desse jeito. – disse ela.
– Que jeito?
Ela riu, o que ele adorava. Ela tinha uma risada gostosa.
– Esse jeito, não se faça de desentendido.
ergueu uma perna sobre a cadeira e deixou a mostra um pouco da sua coxa, fazendo ele engolir em seco. Droga, ele sabia mesmo o olhar com qual estava a fitando.
Não deveria olhar a garota daquele jeito, mas ela era... ela era... linda.
– Senhor .
Ele revirou os olhos.
– Odeio quando me chama desse jeito.
– Então é assim que vou chamar você... Digo, o senhor.
– Você é uma peste. Sinto pena dos seus pais.
– Se sou uma peste, por que me convidou para sentar com você?
Droga, ela era boa. Um pouco dramática, mas boa.
– Porque eu gosto de implicar com você.
Ela sorriu sarcástica.
– Quanta amabilidade sua.
se inclinou para frente no exato momento que o garçom chegou com mais comida para a garota, mas assim que ele se retirou, deu um sorriso de gato. Mais precisamente o gato de Alice.
– Eu sou o cara que você sempre quis, confessa. Brooklin não chega aos meus pés.
sorriu colocando a mão na boca.
– Quanta pretensão, , por Deus!
– Vai negar?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, depois enfiou um pão de queijo na boca, talvez dois, e murmurou algo inaudível enquanto mastigava.
– Isso é trapaça. – comentou ele, achando graça das bochechas cheias dela.
pegou o copo de suco dele novamente, mesmo o garçom tendo levado outro para ela.
– Nós não estávamos falando que eu era uma peste? Como o assunto mudou tão depressa?
sorriu, estralando os dedos. Nem ele sabia. A verdade era que não sabia por que tinha enfiado Brook na história também. O garoto estava à milhas de distância deles e ele ainda se importava com a ideia dos dois juntos.
– Estava brincando apenas. Viu você fica afetada com qualquer coisa. É divertido te provocar.
– Ah, claro, agora virei alvo de suas brincadeiras.
– Não é isso...
– Estou brincando com você. – disse ela, divertida, tomando outro gole de suco dele – O que vai fazer depois?
– Tenho reunião.
– Não. Digo, depois da reunião, quando sair com Luna.
Ele pensou um pouco. Não tinha ideia, talvez fosse dormir, estava acabado e não tinha mais idade para badalar e entrar em brigas sem se sentir um zumbi no outro dia.
– Acho que nada.
– Você podia me levar ao Cristo. – pediu ela totalmente sem graça – Algumas pessoas me falaram que lá é o lugar mais lindo do mundo.
Ele sorriu.
Era mesmo um tapado. não estava mais no seu caminho. Pelo menos por algumas horas. E ela tinha pensado em tudo. Bem, tudo não, mas tinha pensando em passar um momento com ele. E ele sendo o acéfalo que era, sequer tinha cogitado a ideia.
Só seriam os dois.
Claro que tinha o resto dos engenheiros da empresa hospedados lá, mas a única pessoa de suma importância para ele, era ela.
E parecia que, para ela, era a mesma coisa.
Ele lembrava da festa de formatura de Luna. Ela havia dito em alto e bom som que nutria sentimentos verdadeiros por ele. Mas era tão diferente o saber do sentir.
– Claro, se você não tiver outros planos. – emendou ela, já cabisbaixa pela demora dele.
– Eu estava pensando, na verdade, em jantarmos em um lugar diferente e amanhã, depois da reunião, podíamos ir visitar o pão de açúcar.
Ela abriu um sorriso imenso e seus olhos brilharam mais que diamante.
se sentiu diferente. Como se aquele sorriso tivesse cortado o último fio que sustentava sua força de manter distância dela.
Ele estava ferrado.
Ela inclinou a cabeça, apoiando o cotovelo na mesa, o fitando com a língua entre os lábios.
Ah, não.
Ele não estava ferrado.
Ele estava muito, mas muito ferrado.


Capítulo 14


Ele estava ansioso com o fechamento dos últimos detalhes e o andamento das obras, mal podia acreditar que a empresa que administrava com o melhor amigo tinha conseguido um triunfo tão grande quanto construir a Vila Olímpica em um país gigantesco como o Brasil.
Todos os olhos do mundo estariam no país e se alguma coisa desse errado a culpa seria deles. Mas confiava no amigo. E confiava nele. A equipe que estava à frente era capacitada e ele tinha certeza que aquele seria apenas a conclusão de que AEDAS era a melhor empresa da Europa, e uma das melhores do mundo.
– O que achou, ? Podemos ampliar a área.
Ele bocejou. Estava acabado e tinha que tomar todas as decisões sozinho. estava há uma hora aproveitando a vida boa e com certeza enfiado no primeiro quarto com Luna. Ele tinha sorte. Estava prestes a fazer trinta anos e, por fim, encontrara o amor da sua vida.
Ele, por outro lado, queria continuar vivendo em outro continente, o mais distante de Amber possível. Ela era o inferno em forma de gente.
– Nós devemos. Uns cinco metros está ótimo. Não quero ninguém reclamando. E isso evita aglomerações nas filas.
– Então, por ora, está concluído. – disse o chefe de obras apertando sua mão – O que vai fazer mais tarde? Temos um ótimo restaurante japonês.
Ele sorriu, mas antes que pudesse agradecer pelo convite, um engraçadinho se intrometeu na conversa.
– Provavelmente vai estar enroscado com a loirinha da . – disse Rick, debochado.
Rick não era um idiota, todavia, quando existia mais de um homem na sala, parecia que outros tinham a necessidade de tirar vantagem ou fazer comentários bestas.
Naquele momento, Rick era um idiota.
Outros riram e encarou os homens curvando o cenho.
Mas que diabo.
Ele sorriu sem mostrar os dentes e depois apertou o ombro do funcionário que não parecia ter amor a vida.
– Não entendi o que quis dizer. – respondeu ele sagaz.
Rick riu olhando para os demais. O chefe de obras era o único com o cenho curvado, ele desconfiava que também fosse o único capaz de compreender que aquele comentário era muito infeliz.
– Ah, , a gente viu vocês no restaurante, cheios de intimidade. – o indivíduo deu uma risadinha tosca olhando para os colegas de trabalho, como se falasse “vocês viram, eu tinha razão” – E então, conseguiu pegar? apertou o ombro dele com mais força.
– Pelo amor de Deus, Rick, tem dezessete anos.
– Meninas dessa idade são bem safadas, se é que me entende. – comentou outro.
Ele engoliu em seco para não voar por cima daquela mesa e destruir a cara do idiota. não era aquele tipo de menina que eles estavam se referindo.
– Vocês queiram me dar licença.
Ele pegou sua pasta, arrumando sua gravata. Estava furioso. Será que pensaria a mesma coisa se não a conhecesse? Será que eles não pensavam que um dia poderiam ter filhas? Meu Deus, que inferno. Peter e Jhon estavam naquela sala. Eles tinham filhos, não tinham? Lembrava de ter enviado um presente para a filha de Jhon. Sabia que ninguém gostaria que se referissem as suas filhas desse modo um dia. Ela não era aquele tipo de mulher. Não era.
Idiotas. Trabalhava com um bando de idiotas.
tinha razão. Como poderia ficar com uma garota de dezessete anos sem causar um alvoroço? Tudo bem, ele sabia que ninguém tinha absolutamente nada a ver com a sua vida, ele era o chefe de todos eles, mas não podia expor ela. Ela era uma estagiária. As pessoas eram rudes.
se despediu de Henrique e saiu ignorando os rostos confusos dos seus funcionários.
Não brigaria por ela, por mais que algo dentro dele quisesse muito esmurrar todo mundo. Não seria certo, porque sabia que se mandasse todo mundo para o olho da rua – e ele queria muito isso – seria mais um motivo para estar na boca deles. balançou a cabeça. Não queria em hipótese alguma que ela fosse o motivo das rodinhas de conversa da empresa. Ele não deixaria isso acontecer.

Quando voltou para o hotel foi direto para seu quarto. A cabeça estava pesada e o corpo destruído. Ainda tinha aquela dor chata incomodando sua boca cortada pelo soco da briga da noite passada.
Queria um pouco de paz, precisava disso.
Tirou a roupa, tomou um banho gelado e depois deitou na cama. Aquele comentário de Rick estava o atormentando. Ele não vivia enroscado na loirinha.
Ah, minha nossa.
Loirinha era muito degradante. nunca seria diminutivo, não para ele. fechou os olhos pesados e deixou o corpo descansar, perdendo a noção do tempo.

Estava sonhando com uma batida de bateria de carnaval, ele conseguia ver as mulheres com aquelas roupas coloridas e brilho com penas, dançando como jamais havia visto. Mas aquela batida começou a entrar dentro de sua mente profundamente e então ele abriu os olhos.
O céu estava escuro e as batidas que ele jurava ser de carnaval nada mais eram do que batidas frenéticas na sua porta.
mal abriu os olhos e correu para abri-la, mas assim que o fez, se arrependeu de não ter ao menos jogado uma água na cara.
Lá estava ela.
O motivo pelo qual quis mandar metade dos seus melhores funcionários para o olho da rua.
.
– Meu Deus, você estava dormindo? – indagou ela, o fitando de cima a baixo.
Droga, ele estava só de cueca. E ela com aquele vestido vermelho que havia usado na festa no outro dia, só dificultava as coisas para o lado dele.
Ela estava linda. E ele de cueca.
O mundo era um lugar muito cruel mesmo.
– Eu estava. – murmurou ele – Aconteceu alguma coisa?
– Você disse que ia me levar para jantar. – explicou ela – Podia ter me avisado que não queria mais.
– Não, eu... – ele pigarreou – Bem, nós vamos jantar.
– Mas você estava dormindo.
coçou a cabeça. Podia morrer agora, facilitaria sua vida.
– Me espere cinco minutos.
– Tem certeza?
Podia ouvir na voz que havia ficado triste. Ele era um merda mesmo.
– Claro. Entre.
Ele deu licença para ela passar e se arrependeu até o fim. estava com um perfume delicioso e, por mais que não quisesse desrespeitá-la, a fitou de cima a baixo quando virou de costas e ficou imaginando todo tipo de imoralidades que podia fazer com ela ali.
– Você quer alguma coisa para beber? – indagou ele, enquanto ela sentava em uma poltrona em frente a sua cama.
Ela sorriu delicadamente.
– Não precisa. Só não demore muito.
Ela sorriu de lado. Nunca tinha a visto sorrir daquela maneira. Com os olhos mais escuros que o comum.
pigarreou.
– Eu queria poder ler seus pensamentos agora.
Ela riu.
– Não, você não queria.
Ele curvou o cenho. Tinha algo nela diferente.
– Camisa branca ou preta?
– Preta. Você fica bonito de preto.
sorriu de lado.
– Você está muito estranha. Não vai me contar?
Ela entortou os lábios sorrindo.
– Tudo bem, mas não pode rir, promete?
Ele cerrou os lábios, entrando no banheiro pra trocar de roupa.
Independente do que fosse, ela sempre o faria sorrir.
– Prometo.
Ele estava vestindo a calça jeans. Ainda não conseguia acreditar que tinha aberto a porta para ela só de cueca. Tudo bem que já havia o visto em várias situações comprometedoras, mas ele sempre estava bêbado. Agora era diferente. Estava em sã consciência.
– Você promete mesmo? – indagou ela, de um jeito um tanto quanto sedutor.
Ele engasgou, literalmente.
estava encostada no batente da porta do banheiro. Menos de um metro de distância. E aqueles olhos azuis pareciam percorrer por todo o corpo dele.
, o que é…
– Eu quero um beijo, . Eu preciso que você me beije.
– O quê?
Por Deus.
– É sério, Senhor .
Droga, não me chama de senhor, pensou ele.
– Você enlouqueceu? – ele terminou de vestir a calça, incrédulo.
– Não, é você que está me enlouquecendo.
Ele a fitou. Aquilo era apavorante. Era que o estava deixando louco.
Ele a queria todos os dias. Aquilo era uma tortura. E ela não estava facilitando em nada.
– Tudo bem. – disse ela – É melhor nós não jantarmos juntos. Eu não vou me segurar mais, você só se importa com o que os outros vão pensar e…
Ela falava demais, por Deus.
a puxou pela cintura, tinha que fazer logo antes que começasse a pensar demais e perdesse a coragem.
– Você sabe...
– Que se você fizer isso não vai mais parar? Eu sei. E eu não quero que pare.
Ele sorriu e ela o beijou no canto dos lábios.
– Eu não quero que você pare.
apertou seu corpo, sentindo suas curvas e a beijou. Um beijo um tanto quanto violento, com vontade e sentimento.
Ele a queria muito.
Merda, ele queria aquilo demais.
arranhou sua nuca e deslizou suas mãos macias pelo seu tronco.
Senti-la era muito bom, seus lábios eram doces e seu gosto lembrava seu whisky preferido.
Ela o puxou pelo cós da calça, e riu entre o beijo, enquanto dava passos para trás, até chegar a cama.
Minha nossa, ele não podia acreditar.
, eu não sei..
E então, sem que ele percebesse o que tinha feito de errado, sentiu o rosto arder em um tapa.
E concluiu que sua vida era mesmo um desastre.
Tinha acordado no chão.



Seu estômago estava revirando do avesso. Tinha passado a tarde fazendo coisas de mulheres com Luna, até depilação brasileira elas haviam se sujeitado.
E nossa, a dor era insuportável. Ela não entendia como elas conseguiam passar por aquilo, até ver o resultado e Santas eram as Brasileiras.
Ela ficou se admirando por um bom tempo.
Depois que Luna saiu em viagem com seu amado, ficou extasiada com a ideia do jantar.
Tinha comprado um vestido em uma loja perto do hotel. Era lindíssimo, branco, longo com algumas estampas de flores na barra.
Não sabia exatamente em que tipo de restaurante ia, mas não era nada vulgar e nem tão simples.
Era ideal.
Para o que ela ainda não sabia porque, por mais que seu coração não quisesse, a mente gritava que aquilo era um encontro. O primeiro encontro com o homem que tinha se apaixonado à primeira vista.
Depois que fez as unhas no salão do hotel e uma escova, ela subiu com algumas sacolinhas cheias de bobagens para comer e passar sua ansiedade. Queria ligar para a mãe no FaceTime, mas era certo que ela enlouqueceria a deixando mais nervosa ainda.
Quando o elevador se abriu para ela sair, o encontrou com os olhos inchados.
– O que faz aqui? – indagou ela surpresa.
Ele sorriu e depois coçou a cabeça.
– Eu vim… Ahm...
Ela sabia. Ele nem conseguia fingir.
– Veio cancelar o jantar?
a encarou surpreso. saiu do elevador tentando fingir que estava tudo bem.
– Não, não. – disse ele rapidamente – Vim justamente perguntar se ainda está de pé.
Ela sorriu.
Ah, seu coração não ia aguentar.
– Claro, claro que está. Ou você tem outros planos?
– Não, não.
– Você desceu até aqui para me perguntar isso? – indagou ela, curiosa.
– Sim.
– Podia ter me mandado uma mensagem.
Ele curvou o cenho.
– Eu não tenho seu número, tenho?
Ela tentou não sorrir tanto. Ele não tinha o número dela e tinha passado noites em claro imaginando se um dia teria uma conversa ou um flerte com ele como qualquer outra pessoa normal parecia ter, mas era óbvio que eles não eram normais e o que eles tinham também não.
– Não, você não tem. – antes que ele dissesse alguma coisa ela continuou – Anota o meu aí.
tirou o BlackBerry do bolso e sorriu, anotando seu número. Se algum dia chegasse a receber mensagem dele, ela com certeza desmaiaria, mas pelo menos teria seu momento de triunfo.
– Te vejo mais tarde então? – indagou ele, entrando no elevador.
– Daqui a duas horas, não demore muito.
Ele curvou o cenho e depois sorriu balançando a cabeça.
– Não vou.
As portas se fecharam e ela tentou caminhar de volta para o quarto como uma mulher normal, mas a garota apaixonada que existia dentro dela venceu. voltou sapateando e cantarolando Ed Sheeran.

Ela estava há duas horas e cinco minutos esperando por ele. Não sabia se devia descer para o hall e encontrá-lo lá, então decidiu que seria mais adequado ele ir buscá-la no seu quarto.
Estava tão ansiosa. Já tinha passado maquiagem duas vezes e não gostara de nenhuma, optou apenas por um rímel e um pouco de brilho – não aqueles gosmentos – nos lábios, algo apenas para deixá-la apresentável.
E perfume, minha nossa, o quarto estava infestado pelo seu perfume. Sua sorte era que, àquela hora, Luna sequer lembrava da sua existência. Provavelmente ela e estavam mesmo tendo uma lua de mel antes da hora. Bem, se estivesse com não faria menos.
Mas ela não estava, precisava se lembrar disso.
Não queria colocar muita expectativa em cima do homem. Ele sequer imaginava o que se passava na cabeça dela e qual eram os planos mirabolantes que já tinha criado para os dois. Tinha até um pouco de pena dele, porque ela já sabia até onde compraria seu vestido de casamento. Seria na lojinha no final da Rua Suffolk, onde eles consertavam vestidos antigos por um preço que ela poderia pagar.
Ela sorriu sozinha tentando controlar os nervos.
Seu celular vibrou fazendo seu coração parar.
Era um número desconhecido. Só podia ser ele.
abriu a mensagem. Era uma foto da porta do seu quarto com a legenda embaixo:
“Vai me deixar esperando até quando?”
Ela guardou o celular na bolsa pequena que tinha furtado de Luna para aquela noite e, antes de abrir a porta com as mãos trêmulas, se escorou nela, fazendo uma pequena reza.
Não queria se apaixonar ainda mais por ele se não fosse para dar certo. Ela não tinha estruturas para se iludir novamente. Ele era perfeito demais para ser tudo mentira.
Ele, na verdade, era tudo o que ela precisava e queria.
E por favor, por favor, pediu ela em pensamentos, que ela fosse tudo para ele também.
engoliu em seco, abrindo a porta em seguida.
Meu Deus.
Ele estava absurdamente lindo. Com uma calça jeans preta e uma camisa da mesma cor. Nossa, ela amava quando ele se vestia inteiro de preto.
– Faz tempo que está aqui? – indagou ela, curiosa.
negou com a cabeça.
– Só te mandei mensagem para chateá-la. Acabei de chegar.
Ela sorriu.
– Já sabe qual restaurante vamos?
Ele assentiu. E então pegou em sua cintura delicadamente. Ela segurou a pequena bolsa entre os dedos com força. Seu coração estava chicoteando o peito com força e suas mãos soavam.
– Vai ser uma surpresa. – comentou ele achando graça – Espero realmente que não se decepcione.
Ela queria dizer que se ele a levasse para baixo da ponte ela estaria feliz de qualquer maneira, mas apenas sorriu de lado entrando no elevador, olhando no espelho para ver se estava tudo bem com o cabelo e o vestido.
– Você está linda. – comentou ele de repente.
Suas bochechas coraram na hora. Ela adorava receber elogios, ainda mais elogios de , mas toda vez que ele falava algo do tipo, ela desfalecia por dentro. Seu corpo inteiro entrava em combustão.
– Aonde vamos? Estou curiosa.
Ele sorriu dando de ombros.
– Acabei de dizer que é surpresa.
se encostou na parede do elevador, cruzando os braços. Estava com frio na barriga. Não sabia o que a noite lhe aguardava, mas deseja dar mais um passo.
Nada de regressar. Só um passo.
– Desculpe. – murmurou ela.
– Não precisa pedir desculpas. Só quero manter segredo porque até eu estou ansioso com esse lugar.
Ela o encarou e ele sorriu. Que ótimo, pensou , ele confessando estar ansioso e sorrindo daquele jeito era o ápice da sua vida.
– Vamos jantar na Vila Olímpica? – perguntou ela, de repente.
Ele riu dando um passo para trás para ela sair antes do elevador.
– Não, lá nós teríamos que jantar com capacetes, botas e macacões. Ainda falta muita coisa para se tornar um lugar seguro.
Ela riu, caminhando ao lado dele.
– Posso visitar a obra um dia?
Ele a olhou surpreso.
– Você quer visitar a obra?
– Sim, o que tem de mais?
Ele pareceu confuso e depois balançou a cabeça, como se tirasse um pensamento dela.
– Nada. Seria interessante te levar lá.
– Por quê?
– Nós não temos muitas mulheres, digamos assim.
Ela assentiu, sem saber se acreditava nele ou não.
Eles chegaram em frente ao hotel. Tinha um carro preto de luxo, não tão caro quanto deveria ser os que tinha na garagem, mas ainda assim, ela jamais teria um daqueles.
abriu a porta do passageiro para ela e depois de conversar em português com o motorista, entrou sentando do seu lado.
– Você conhece a cidade? – perguntou ele, de repente.
– Só por fotos e um pouco do que vi com Luna hoje à tarde.
Ele assentiu.
– Conhece as favelas?
negou com a cabeça.
– Dizem que a melhor vista dessa cidade fica no topo de uma delas.
– Chega ser irônico os menos favorecidos terem a melhor vista daqui então. Ou melhor, é até justo.
Ele riu e comentou alguma coisa com o motorista que riu junto.
– O que você disse? – murmurou ela.
– Contei ao Senhor Miguel o que você me falou e ele concordou com você. – ela assentiu e ele continuou – O Senhor Miguel mora em uma dessas favelas pacíficas e disse que a vista da casa dele é uma obra abençoada por Deus.
– Que fofo.
sorriu.
– Nós podíamos ir lá amanhã. – comentou ela.
Ele mordeu o lábio inferior sorrindo.
– Sim, depois de ir ao Pão de açúcar, talvez possamos dar uma passada lá.
– Se ele deixar, é claro.
– Ele é um bom homem. Está me levando para todos os lados.
deu um tapinha no braço do Senhor falando algo na língua dele em seguida e depois se encostou no banco respirando fundo.
cruzou as pernas, sentindo o corpo tenso. Ela queria relaxar e dizer para si mesma que estava tudo bem, mas não tinha como as coisas ficarem tranquilas ao lado daquele homem.
Pelo amor de Cristo, era .
Ele era lindo por natureza, tirava o fôlego de todas as mulheres da AEDAS e, além do mais, era um príncipe que ela sempre sonhara em ter na sua vida.
E agora, depois de tudo o que tinha passado e toda a história sobre ela ser uma pirralha para ele – toda vez que lembrava disso o desejo de enfiá-lo dentro da privada e dar descarga era absurdamente grande –, e o fora histórico que tinha levado, ele ainda estava ali.
E isso a deixava sem palavras.
O homem era dono de sete empresas e uma delas era considerada a melhor da Europa, tinha seus trinta e poucos anos, havia acabado de sair de um relacionamento, podia aproveitar a vida como bem quisesse, pois dinheiro não lhe faltava, era tão lindo que qualquer homem do seu lado não teria chance alguma e além de tudo era alguém de coração enorme. Ele tinha tudo, absolutamente tudo.
E estava dentro de um carro a caminho de um jantar com ela.
Uma garota que não tinha absolutamente nada no seu nome, sequer seus documentos. Não tinha uma poupança cheia de números e nem fazia ideia de como um dia conseguiria isso, porque além de estar apaixonada pelo homem que todas as mulheres queriam, ela não sabia o que queria fazer da vida. Porque enquanto os outros alunos pensavam em qual caminho seguir na carreira, ela só pensava em qual caminho seria mais fácil para conseguir o coração dele.
Pelo jeito, pensou, estava percorrendo o mais difícil.



A primeira coisa que fez assim que acordou foi olhar o relógio. Tinha dormido por malditos cinco minutos e sonhado com a garota.
Aquilo só estava indo de mal a pior, porque quando percebeu que não queria estar sonhando quis voltar até a reunião e bater naquela cara azeda de Rick até ele ficar do avesso.
Odiava brigas, mas ultimamente parecia querer se meter em uma a cada dia. Só podia ser o ar do país. O calor o estava deixando louco. Era isso.
vestiu alguma roupa, estava decidido. Ia cancelar aquele jantar, não podia ficar pensando, sonhando – e nossa, depois que acordou teve que se segurar para não voltar a ser um adolescente, chegava até ser embaraçoso pensar que ela tinha esse poder sobre ele, uma garota – com depois daqueles comentários idiotas. Mas então lá estava ela, com aquele brilho no olhar e sorriso meigo nos lábios. Ele não seria capaz de tirar aquilo dela. E não tirou.
E quando o fez, sentiu que estava certo. Era estúpido da sua parte negar o óbvio. E lá estava ela outra vez. Tão linda de vestido branco longo, parecia um anjo.
suspirou fundo. Teria que ser forte para não a levar de volta para o hotel e contar tudo que estava passando na sua cabeça desde que havia botado os olhos nelas.
– Está na hora! – disse o Senhor Miguel.
– Você precisa colocar isso. – comentou ele, dando uma meia para ela.
o encarou por um segundo e depois riu.
– É para os olhos. – explicou ele.
– Sério?
– Sim.
– Sério mesmo? – indagou ela, rindo.
– Deixa que eu coloco pra você.
semicerrou os olhos, desconfiada, mas virou de costas para ele, erguendo o cabelo.
engoliu em seco, sentindo seu perfume.
A ideia da venda havia sido de Miguel. A verdade era que quase todo o jantar havia sido feito com a ajuda dele. A venda era apenas para não a deixar ver onde estavam indo. Não era para ser romântico ou algo do tipo. Queria dizer isso a ela, mas seria deselegante e grosseiro e provavelmente levaria um soco na cara.
Eles continuaram no carro em silêncio por mais uns quinze minutos, mas não era um silêncio constrangedor ou estranho. Era um silêncio bom.
Ele queria ter o poder de saber o que estava passando na cabeça dela, mas seria inútil. Antes tinha que entender o que é que passava na cabeça dele.
– Chegamos. – disse ele, avisando ela – Mas não tira a venda. Vou te levar até lá.
– Estou com medo.
– Por quê?
– Não consigo imaginar o que possa ser. – explicou ela.
Ele sorriu aliviado.
– Não se preocupe, acho que vai gostar daqui.
Ela assentiu e ele saiu do carro dando a volta para ajudá-la a descer também. estava maravilhosa com aquele vestido e o sorriso nervoso e bobo ao mesmo tempo.
Tudo bem que estava com uma meia dele amarrada na cabeça, mas ainda sim, ela continuava linda.
Ele não a merecia. Não mesmo.
Jamais deixaria que alguém a desrespeitasse, mas faria daquela noite algo que ela jamais esqueceria.
a segurou pela cintura e pegou uma mão dela, ajudando-a a caminhar. A recepcionista do restaurante os recebeu com um sorriso bonito nos lábios e os direcionou para a mesa que o Senhor Miguel havia reservado para eles.
Era do lado de fora, então os dois tiveram que passar por entre os outros clientes. Pelo canto dos olhos ele viu todos os fitando curiosos.
Quando chegou com ela na parte de fora do restaurante, soltou uma exclamação. Era muito mais bonito do que o seu guia havia falado. Era simplesmente surreal. E olhando para a garota do seu lado, não via porque não compartilhar com ela aquela maravilha. Não tinha outra pessoa – exceto pela sua família – que quisesse dividir o momento.
E por mais difícil que fosse admitir, isso já não o assustava tanto.
– Vou tirar sua venda.
– Sua meia. – corrigiu ela.
– Está limpa pelo menos.
– Bem, não desmaiei até agora.
Ele riu, desatando o nó.
Assim que tirou a meia dos olhos dela, sorriu e quando seus olhos abriram, ela soltou uma exclamação como ele.
– Uau!
O lugar era incrível. Eles estavam no topo do morro da favela, vendo Rio de Janeiro inteiro. Todas as luzes da cidade eram inexplicáveis vista de cima.
– O que achou?
Ela apertou seu braço com força, parecia extasiada.
– Onde estamos?
percorreu os olhos pelo lugar. Ele também ficara encantado, era uma espécie de pub brasileiro. Era simples, mas muito aconchegante. Tinha uma luz baixa, com velas espalhadas pelas mesas e focos pendurados nas imensas janelas de vidros que os separam da parte de dentro do restaurante.
– Estamos no morro do Vidigal. O Senhor Miguel me contou sobre aqui e fiquei curioso para ver. Se chama Bar da Laje.
– Estamos na favela? – indagou ela, surpresa.
– Estamos.
– É realmente maravilhoso aqui. Essa vista é de tirar o ar. – caminhou até a grade abrindo os braços – Me sinto um pouco em casa.
Ele assentiu feliz por ela ter gostado. Jamais poderia ter levado Amber até lá. Ela com certeza desprezaria a ideia.
puxou a cadeira para ela se sentar.
– Jamais imaginaria isso.
– Fico feliz, gosto de superar expectativas.
– Com certeza você superou.
Ele fez sinal com a mão. Impressionar a garota, concluído com sucesso.
– Posso ajudá-los? – indagou a garçonete.
o encarou.
– Ela está perguntando o que você quer comer, basicamente.
– Ah, sim. Nossa, estou com fome. Será que eles servem algum cheeseburger?
– Você quer comer isso?
– Algum problema?
– Não. É que imaginei em pedir alguns frutos do mar.
Ela assentiu.
– Pode pedir pra você. Eu quero um belo de um cheeseburguer e Coca-Cola.
Ele riu.
Tinha pensado em pedir alguns frutos, um bom champanhe e talvez uma sobremesa depois. Bem, ela não devia beber. O champanhe seria apenas para ele. Para ver se acalma os nervos perto dela.
– Então tá. – disse ele – Dois cheeseburguers com tudo que tem direito e uma Coca-Cola para ela, e um vinho rosé para mim.
A garçonete sorriu com o pedido. Ela era bonita, pelo menos tinha um sorriso convidativo.
Quando voltou a olhar para ela o encarava sorrindo.
– O que foi? – ele levantou as sobrancelhas com dúvida.
Ela sorriu balançando a cabeça.
– Eu estou realmente surpresa. Não esperava nada disso. – esticou a mão para cumprimentá-lo, quando ele a tocou, seus dedos formigaram – Você é um verdadeiro cavalheiro, Senhor .
– Obrigada, Lady .
Ela aumentou o sorriso, soltando uma risadinha no fim.
Ele se encostou na cadeira – não era das mais confortáveis na opinião dele, mas tudo bem – e cruzou os braços a observando detalhadamente.
O tom dos seus olhos estava mais claro, lembravam a cor do algodão doce que ele comia nos finais de semana. A boca dela tinha uma leve cor avermelhada com um pouco de brilho e sua pele parecia reluzir embaixo daquela luz fraca.
– Você tem uma cicatriz no canto da boca? – indagou ele surpreso.
piscou algumas vezes e delicadamente tocou o canto dos lábios. Era quase imperceptível.
– Cai da escada uma vez. – respondeu ela um pouco desconsertada.
Ele ficou em dúvida, mas sorriu mudando de assunto.
– Eu sempre me machucava quando era criança. Quebrei meu braço duas vezes e acho que meu pai não quebrou pela terceira vez porque seria preso.
– Seu pai quis quebrar seu braço? – perguntou ela assustada.
Ele riu lembrando do ocorrido.
– Eu era um menino sozinho, meus pais viviam fora de casa e uma vez quis fazer uma surpresa pro meu pai, peguei todos os documentos dele e pintei inúmeros corações.
– Ai, meu Deus.
– Pois é. Ele surtou.
– Uma vez eu coloquei fogo na cozinha da casa da minha avó.
– É mesmo? – ela assentiu – Cara, você é hilária. Eu joguei cocô de cavalo no namorado idiota da minha tia no dia do aniversário dela.
– Você fez o quê? Não acredito.
– Acredite. Ah, que saudade do Pantera. – disse ele, lembrando do seu melhor amigo na infância. – Se ele não tivesse colaborado, o plano teria ido pelos ares.
Ela gargalhou.
– Quem é Pantera?
– Meu cavalo. Era um puro-sangue inglês. Ganhei quando tinha oito anos. – tirou o celular do bolso, mostrando a foto que ficava de proteção de tela do seu BlackBerry. Era ele aos quinze anos com Pantera lambendo seu rosto – Ele não era o cavalo dos mais amigáveis, mas nós dois tínhamos uma ligação muito forte.
observou a foto dele por alguns segundos boquiaberta.
– Você era muito fofo. – comentou ela – Quantos anos tinha?
– Uns quinze mais ou menos.
Ela sorriu.
– Eu tinha dois anos quando tirou essa foto.
Nossa.
Aquilo não deveria pesar tanto, mas era quase impossível ignorar.
– Ora, pelo amor de Deus, não faça essa cara. – ela revirou os olhos – Me conte, o que houve com ele? Jamais imaginei que tivesse paixão por cavalos. Achei que seu mundo fosse apenas a música clássica, os carros e seus projetos.
– Pantera ficou velho, doente. Tivemos que sacrificá-lo há cinco anos.
Sua voz mudou. Ele não queria ficar emotivo, mas seu cavalo era como um cachorro para algumas pessoas. Pantera era seu melhor amigo, e fora assim durante anos.
– Sinto muito.
– Tudo bem. Eu ficava muito tempo sozinho e quando completei oito anos minha família comprou uma casa mais afastada e acharam que seria legal eu ter um animal. Eu não queria ficar em casa com um cachorro. Nossa casa era muito grande, muito grande mesmo e era entediante ficar lá, então eu pedi um cavalo. E veio ele.
– Quando se mudou você fez o quê? Pode trazer um bicho como ele de Dubai para Londres?
– Não sei. Eu trouxe. – ela sorriu – Comprei uma fazenda e o deixei lá. Agora tem outros cavalos e uma infinidade de bichos, mas se fui lá seis vezes foi muito.
– Você tem mais cavalos?
– As escolas gostam de fazer visitação no campo, deixo aberta para elas.
– Eu jamais imaginaria que você fosse assim. Bem, eu tinha uma ideia, mas você consegue superar tudo.
Ele curvou o cenho, sem entender o que ela queria dizer.
– Como assim?
umedeceu os lábios e aquilo o fez engolir em seco.
– Você sempre foi muito gentil comigo. Mesmo aquela vez que me chamou de pirralha eu acho que entendi o que quis dizer, ainda mais quando contratou Brooklin.
– Eu...
– Não me interrompa. – ele ergueu as mãos em defesa, ela continuou – Foi gentil com Amber, mesmo ela fazendo tudo pra você perder o juízo, e não pensou duas vezes antes de ajudar na briga. Além do mais, eu sei que ajuda várias ONGs ao redor do mundo. Isso é muito bonito, , eu jamais conheci alguém como você. Fico feliz em ter sua companhia.
– Eu também fico feliz de estar aqui.
Ele pegou a mão dela que estava sobre a mesa e acariciou a levando até os lábios, e depois a beijou com carinho.
Ele estava realmente feliz com a presença dela.
E há anos não se sentia assim.
Era ela. A presença dela.
Agora tudo parecia fazer sentindo.


Capítulo 15



Ela não conseguia parar de rir, tinha alguma coisa naquela bebida ou no ar, ou naquela vista maravilhosa, ou no lugar onde eles estavam, que estava mexendo com o consciente de .
Ele estava tão solto e tão... ele.
ria a cada segundo e lhe chegava a faltar ar, e às vezes tinha que pedir para ele não a olhar ou simplesmente parar de falar. Mas eram cinco minutos de conversa séria para duas horas de bobagens. Não lembrava da última vez que tinha sentido aquela leveza com alguém. A última vez que tinha gargalhado até seus pulmões não aguentarem. A vida de durante a faculdade havia sido hilária. Mesmo ele tentando não tocar no nome de Amber, ela sabia que a maioria das situações que tinha passado foram com ela. E não se importava. era apenas uma menina quando eles estavam vivendo suas loucuras. Bem, quando ela estava junto às histórias não eram lá tão divertidas assim. Porém, quando ele começava a contar um fato sobre , aí sim não parava mais de rir. Apesar de falar que o Senhor aprontava mais que ele, ela sabia que o homem na sua frente não era um santo. E ele havia confessado que quando Amber viajava para a casa dos pais, saia para beber com alguns amigos, mas só isso. Jamais tivera coragem de traí-la.
Não queria ouvir do relacionamento deles, era um passado bem distante, mas era bom saber que ele não tinha a traído. era um homem que faltava no mundo. Ele era totalmente diferente do único cara com qual tinha se envolvido. Douglas nunca chegaria aos pés de .
Booth tinha péssima mania de achar que o mundo girava ao seu redor e, sendo filho de quem era, podia muito bem ajudar as pessoas como fazia, mas, nossa, ele nunca faria isso. chegava a pensar que talvez Booth fosse uma versão de Amber. Bem, talvez não. Duvidava que Amber bancasse a louca e bebesse todas apenas porque achava que era legal. não tinha cara de quem permaneceria em um relacionamento abusivo. Jamais.
Já ela era uma tola.
Não que tivesse ficado. Ela não quis ficar, nunca quis. Mas uma parte da sua cabeça, talvez aquela parte negra que cada ser humano tem, ainda a fazia pensar que, talvez, só talvez, deveria ter ficado, porque era nítido que Douglas precisava de ajuda. E ela negou a ele esse pedido. Mas se ficasse... Droga, ela não podia ficar.
Porque, então, não teria visto aquele sorriso do homem mais gentil e educado que ela tivera a sorte de conhecer. Não conseguiria ver os olhos mais dourados e enigmáticos, e não sentiria o doce dos lábios dele na sua pele. Ela fez a coisa certa. Ela voltou a respirar por causa dele.
Porque seria ele. Era ele.
E agora ela entendia que precisava passar pelo inferno para chegar ao céu.
– Não acredito! – disse ela de repente.
– O que foi?
– Está tocando Ed Sheeran. Ai, meu Deus!
parou por um instante. Duvidava que ele reconheceria a música. Já ela, na primeira nota, sentiu seus pelos se arrepiar.
Era perfeito.
Não sabia o porquê ele a tinha levado até lá, mas estava com o coração transbordando de tanta felicidade. Não tinha nada que pudesse estragar o momento deles.
O momento que havia sonhado durante toda a viagem e, nossa... Ela mal tinha pregado os olhos depois que ele falou que ia levá-la para jantar. E lá estavam eles, juntos, comendo cheese burguer ¬no alto de uma favela no Rio de Janeiro. Surreal era a palavra certa. Aquilo que estava vivendo era surreal.
– Não conheço a música. Só sei aquela que fala do mar de Tenerife.
– Você lembra dessa música? – indagou ela surpresa –Tocou no seu carro aquele dia.
sorriu olhando para baixo, lembrando do dia que havia mencionado entre linhas. Sonhava com aquele momento todas às vezes antes de dormir.
– Que dia? – perguntou ele, erguendo as sobrancelhas confuso.
Ela semicerrou os olhos o fitando.
Sério mesmo? Como ele não lembrava? Bem, era óbvio, certamente beijava uma a cada dia. Ela era apenas mais uma. Uma que só tivera a sorte de estar no lugar certo e na hora certa.
– Nada. Esquece. – disse ela, bebendo um pouco de refrigerante.
Ele pigarreou. – O dia em que eu te... beijei?
Ele praticamente sussurrou o final da frase, se inclinando na frente dela.
engoliu em seco, olhando para a orla da praia iluminada há quilômetros de distância deles. Aquele seria um belo momento para dar um apagão da cidade e ela escapar pela surdina ou simplesmente o suficiente para ele não ver suas bochechas coradas.
Ah, que vergonha.
Ela podia morrer ali mesmo.
– Não foi? Foi esse dia que eu beijei você? – questionou ele, dessa vez um pouco alto demais.
o encarou por fim. Não podia morrer sempre de vergonha. Tinha que manter a compostura de uma mulher diante aos comentários dele.
– Foi. Na verdade – ela se apoiou na mesa com os cotovelos se aproximando o máximo dele –, você implorou para me beijar. sorriu de lado a encarando de um jeito diabólico.
– Você cedeu.
– Só por dó.
– Tsc, tsc. – estalou ele com a língua – Vou ter que implorar de novo?
Ela paralisou.
Sua pupila devia estar gigante devido ao arrebatamento que havia sido aquela pergunta. Droga.
Eles estavam flertando, era claro e evidente, mas não sabia que ele seria tão direto. Pensou que talvez, que talvez, ele demorasse um pouco mais.
Ela engoliu em seco.
– Eu estava brincando . – comentou ele, um pouco sem graça, se encostando na cadeira – Nossa, essas cadeiras são horríveis, não são?
– Preciso ir ao banheiro.
Ela disse a primeira coisa que veio em mente e saiu ouvindo ele a chamar baixinho.
Não sabia onde ficava o banheiro, mas entrou na primeira porta que viu uma boneca desenhada na frente. Seus olhos estavam marejados e sua garganta pegava fogo, segurando um soluço idiota.
Ela se encostou na parede gelada de um solitário e olhou pra cima deixando as lágrimas ridículas escorrerem pelo seu rosto.
Qual era o problema dele?
Por Deus.
Alguém tinha que a explicar qual era o problema dele porque não estava entendendo aquilo. Ele estava brincando com ela, era isso? Era esse o defeito de ? Brincar com ela?
Ah, que inferno, ela queria sua mãe. Queria Luna. Queria alguma amiga. Não estava entendendo. E se tivesse beijado ele em vez de ficar parada como uma idiota, ele ia empurrá-la e falar que estava brincando e depois reclamaria da maldita cadeira, como um completo idiota?
Ela ia matar .
Por que havia sido tão rude?
Sua cabeça ia explodir. Durante todo o tempo que estavam juntos, desde que haviam saído de Londres, ele parecia ser outra pessoa. Era leve, carismático e passava uma boa parte do tempo com ela. Era óbvio que tinha pensando sobre o beijo em questões de segundos – um tempo record diga-se de passagem – depois que insinuou que queria e no instante seguinte percebeu que ela não era nada do que ele queria.
Era a única explicação.
Ela saiu do privado secando as lágrimas, não choraria por causa daquilo. Voltaria lá e seria clara com ele. O colocaria contra a parede. Porque se ele não a queria, tinha muita gente naquele lugar que sim. E em Londres, nossa, o primeiro da sua lista seria Brooklin e faria questão de visitá-lo no escritório em horário de serviço e esfregaria na cara de que qualquer um era muito melhor que ele.
Sim, ela faria exatamente isso.
De longe ela o viu. Tinha uma janela de vidro que separava onde ela estava e a mesa deles.
sorria com a língua entre os dentes e a garçonete que os atendia estava inclinada encostando um pouco da perna na perna dele.
Era demais para ela.
Era demais pra qualquer um.
suspirou fundo, e ao se virar para ir até a mesa, bateu em um rapaz um pouco mais alto que ela, de cabelos cacheados. Ele sorriu se desculpando e pegou no braço dela falando mais alguma coisa.
Ela sorriu sem graça.
– Não falo português, sinto muito.
– Imaginei que não podia ser mesmo brasileira. – disse ele em inglês – É muito bonita e... loira demais.
Ela riu.
– Obrigada. – disse assentindo.
– Desculpa, novamente.
– Tudo bem. – respondeu ela, caminhando firme, como se estivesse indo para a guerra.
Quando chegou a mesa sorriu simpática para a garçonete. a encarou desconfiado, mas não falou nada.
– Quer pedir a conta? – perguntou ele – Ou quer mais alguma coisa?
– Você quem vai pagar, não é?
Ele assentiu e ela pegou o cardápio na mesma hora.
– Eu quero tudo o que tem de sobremesa. Tudo.
, você não precisa...
– Precisa o que, ? – indagou ela ríspida. – Fala pra ela, eu quero tudo. E o que eu não conseguir comer, vou levar pro hotel.
Ela sorriu de novo para a garçonete desejando falar em português e dizer algumas poucas e boas, mas o problema ali não era ela, por mais que odiasse a ideia, era ele. a fitou por alguns segundos e depois bufou, falando alguma coisa para a mulher.
– Antes de ela ir – comentou a garota irritada –, você pergunta se ela pode me trazer uma caneta?
– Pra que quer uma caneta? – quis saber ele.
– Por que eu quero. – respondeu ela birrenta.
Ele pediu para a garçonete que se retirou em seguida e depois a olhou quieto. Ela mal podia olhá-lo, ou choraria ali mesmo. Tinha que ser forte. não a conhecia, ela o faria sentir raiva de si mesmo, como ela estava sentindo dela.
, quer mesmo todas aquelas sobremesas? Talvez demore horas.
– Pode ir embora, se quiser.
Não tinha intenção de ser tão grossa, mas ele estava merecendo.
– Você não entende. – murmurou ele – Você simplesmente não entende.
Ela piscou algumas vezes, olhando para ele por fim.
– Me explica.
– Não tem como.
A garçonete chegou entregando a caneta a ela. o observou por um tempo, não tinha nenhuma expressão em seu rosto. Nada que dizia que ele se arrependerá ou não.
Ela balançou a cabeça e escreveu seu número em um guardanapo.
– Pede pra ela levar esse papel na mesa do canto, para aquele menino de cabelo enrolado.
Era o mesmo que havia batido quando saiu do banheiro.
– O quê? Não vou pedir isso.
– Por que não?
– Você não conhece esse cara. – respondeu ele como se achasse aquilo óbvio.
– Eu mesma levo então.
– Você não vai sair dessa mesa. – advertiu ele, arrogante.
pegou o guardanapo da mão dela e entregou quando a garçonete veio até eles com uma porção de sobremesas.
Quando ela enfiou a primeira na boca, do outro lado viu o garoto acenar e então sorriu.
ia descobrir que era vingativa.



Ele sabia que se existisse no mundo uma porção de garotas que soubessem daquele momento com , todas elas desejariam sua cabeça rolando pelo morro do Vidigal, mas, meu Deus, ninguém sabia que ele queria tanto isso quanto todas elas. Um momento, um único momento de sobriedade e tinha estragado uma noite inteira. Uma noite que talvez não tivesse fim. Ou quem sabe o fim fosse no seu quarto.
Puta merda, ele podia se jogar dali mesmo que não faria diferença.
Era um idiota. Um completo arrogante, cretino e idiota.
Mas, caramba, ela tinha o fitado com aqueles olhos assustados. Como ia beijá-la? Parecia estar com medo.
E então, a lembrança de uma garota veio em sua mente. Ela era treze anos mais nova que ele.
Não três ou seis, mas treze.
Ele queria beijá-la.
Minha nossa, Deus sabia o quanto ele queria beijá-la.
E só ele sabia o que tantas outras coisas gostaria de fazer com , mas não podia.
Porque era uma menina. A loirinha da Aniballe.
Só de lembrar dos comentários idiotas sentia náuseas.
– Como foi o jantar? – indagou o Senhor Miguel abrindo a porta.
o encarou em silêncio, estava segurando várias embalagens de sobremesa.
Aquilo não era uma pergunta apropriada para o momento.
– Obrigada. – disse sorrindo para o motorista.
Ele queria matá-la por dar o número do seu celular para um desconhecido, mas também não tinha muita moral por dar em cima de Ana – a garçonete – era isso ou correr atrás dela ajoelhado pedindo desculpas.
mexia demais com seu psicológico, ele não estava sabendo mais lidar com aqueles altos e baixos.
colocou no banco da frente todas aquelas caixas ridículas de sobremesa e sentou atrás, ao lado dela.
Por mais que quisesse gritar com ela, não tinha moral alguma pra isso.
Ele era o culpado.
se arrumou no banco e se inclinou encostando a cabeça na janela. Ele só queria saber o que se passava pela mente dela. Bem, provavelmente seria algo sobre como ele era imbecil. E talvez essa não fosse a melhor definição.
O celular acendeu nas mãos dela e sorriu olhando a tela. Ah, se fosse aquele estranho com cabelo desgrenhado ele iria gritar com ela.
– É o rapazinho? – indagou ele.
Caramella virou para encará-lo com uma expressão de poucos amigos.
– Rapazinho? – repetiu ela, condescendente – O nome dele é Caio.
Caio. Aquilo não era nome. Que idiota.
– Você não devia estar conversando com um estranho.
Ela revirou os olhos.
– Nós conversamos enquanto você estava lá com a garçonete.
Ele engoliu em seco.
– Que bom que fizemos amizades então. – disse ele, irônico.
– É.
Foi a última palavra dela. E a última conversa deles dentro do carro.
desbloqueou o Blackberry e abriu alguns e-mails. Não podia dizer mais nada, ela tinha lhe desarmado por completo ao dar o número do celular para aquele moleque. Ele estava furioso e tinha que permanecer sereno por fora.
Aquilo era o inferno mesmo.

Eles estavam entrando no hotel com a companhia do Senhor Miguel que havia insistido em levar as sobremesas para o quarto de .
Ele não queria que a noite terminasse estranha daquele jeito, mas já não sabia o que fazer para que ela tirasse aquela cara desapontada e um tanto quanto irritada. também estava desapontado e irritado com ele mesmo, mas droga, a merda já tinha sido feita.
Como queria voltar atrás e nunca ter falado aquilo sobre o beijo. Ela não merecia, nem ele.
Agora ambos estavam se sentindo de forma esquisita e o ar entre eles era constrangedor e um tanto quanto estranho.
Quando estavam quase chegando em frente ao elevador – com certeza aquela seria a pior parte e ele estava quase desistindo da ideia para subir de escada –, ouviu Rick e Brian o chamando, caminhando em sua direção.
olhou diretamente para , que estava completamente alheia a situação. Merda, merda, merda.
– E aí, chefe? – cumprimentou Rick, apertando meu ombro – Oi, loirinha.
Ele se dirigiu a , dando uma piscadela para ela.
curvou o cenho e ele jurou que seu semblante se transformou de irritado para assustado em segundos.
– Você me chamou do quê? – indagou ela, com a voz baixa.
Rick olhou para , Brian e depois para o Senhor Miguel, querendo que todos prestassem atenção no que ele estava falando.
ia socá-lo se ele a desrespeitasse. Ia perder a cabeça.
– De loirinha.
A garota deu um passo para trás e passou por todos os homens rapidamente, sem falar nada, subindo as escadas sem olhar pra trás.
– O que foi que eu disse?
revirou os olhos. Puta merda.
– Senhor Miguel, o senhor pode levar essas sobremesas para ela?
– Claro, Sr. .
Ele assentiu e saiu em direção ao bar sem mencionar uma palavra para seus empregados insignificantes.
Precisava beber. Precisava tirar a garota da cabeça e agir de maneira condescendente na frente dos dois idiotas. Mas dentro dele algo gritava exigindo que fosse atrás dela e perguntasse por que ela havia saído correndo.
Ele era um imbecil.
Tinha acabado de ganhar o certificado.



Toda garota tinha seu divisor de águas na vida. Bem, ao menos ela achava isso, porque tinha os seu. E aquele homem que ela esbarrava às vezes na empresa, com um jeito arrogante tinha a chamado de loirinha. E ela sentiu asco daquilo.
Alguns podiam achar que ela não passava de uma garota nojenta e talvez mimada, porque o que é que tinha de mais aquele apelido? Bem, para ela tudo.
Tudo de ruim.
Quando estudava, há dois anos, esse era seu apelido e havia sido Douglas quem havia dado, e a última vez que ouvira, aquele som tinha uma conotação desagradável e podre.
Ela saiu correndo como uma covarde, mas por um momento, por um breve momento, sentiu-se encurralada e suas lembranças de uma tarde cinzenta lhe vieram à mente.
Aquela palavra, que para maioria das pessoas era insignificante, para trazia muito mais do que memórias, trazia sua vida passada.
Loirinha era alguém que ela havia sido um dia.
Hoje, ela era . A Caramella. A doce Caramella.

Ela entrou no quarto e foi direto ao chuveiro. Queria esquecer. Esquecer tudo. Pra sempre.
Ligou a água quente e se despiu do vestido, ficando apenas de lingerie.
Cada gota que caia era como se a livrasse daqueles momentos que pareciam estar impregnados na sua cabeça. se abraçou e fechou os olhos.
Ele estava lá. De novo.
Seus olhos escuros como jabuticaba, a boca desenhada, os traços feitos com exatidão e perfeição. Ninguém jamais diria que ele podia ser o verdadeiro demônio em forma de gente.
Douglas Booth era mal. Ela não acreditava que existiam pessoas assim, até conhecê-lo.
Era aquele ditado: o lobo em pele de cordeiro.
Era exatamente assim que ele era. E ela sentia calafrios ao lembrar de tudo.
Loirinha, pensou ela, que repugnante.
deixou a água escorrer pelo corpo e a sensação ruim foi passando aos poucos. Não queria agir daquela forma na frente deles, principalmente na frente de , mas não era forte a ponto de bloquear aquelas lembranças e continuar a vida, ignorando o passado.
Sabia que não perceberia que ela tinha realmente fugido daqueles homens, provavelmente ele pensaria que ela simplesmente estava fugindo dele.
Nossa, como gostaria de estar com ele agora. Seria tão reconfortante.
Ela desligou o chuveiro se enrolando em uma tolha e deixou o corpo cair na cama, colocando seus fones de ouvido e Bethoveen para acalmar seu coração. Ia respirar um pouco e dar continuidade ao plano com o brasileiro. Porque, se havia pensado que ela não seria capaz, ele estava muito enganado. Ela ia provar que quando uma pessoa quer, dá-se um jeito. E ia fingir que queria Caio, mais do que tudo. E se realmente surgisse algo entre eles, ela simplesmente deixaria acontecer.
Tudo o que sabia até agora era que ele se chamava Caio era brasileiro, mas tinha estudado durante dois anos no Canadá. Ele morava em um bairro que ela não conhecia no Rio de Janeiro, mas procurou no Google e lhe parecia um lugar amigável. tinha noção de que seria perigoso dar continuidade no plano, mas ela sabia se cuidar. E Caio não parecia ser uma má pessoa. Bem, ela tinha quase certeza. Depois que conhecera Booth, ela sabia diferenciar. Era alguma coisa nos olhos, ou simplesmente ela sabia como uma espécie de sexto sentido, a áurea da pessoa.
Ou ela confiava ou não.
Estava quase certa que tudo bem conversar com o rapaz. Aquilo deixaria cuspindo fogo e ela queria muito, muito mesmo que ele sentisse o mínimo de ciúmes dela.
A noite tinha tudo para ser a melhor da sua vida, se ele não a tivesse estragado com aquele comentário idiota. ia fazê-lo se arrepender de abrir a boca.
Pacóvio, pensou ela rindo, era um pacóvio.
Ele não fazia por mal. Raramente o que ele falava tinha a intenção de deixá-la irritada ou magoada, mas mesmo assim o fazia. E isso o tornava um tolo.
E ela uma boba.
Uma boba totalmente e perdidamente apaixonada.

O relógio marcava nove horas da manhã. Ela vestiu uma bermuda jeans, uma blusinha solta e por baixo tinha colocado seu biquíni – um tanto quanto pequeno – brasileiro.
A noite tinha saído confusa, mas no fim, passou a madrugada conversando com Caio e ele havia a feito ficar calma e agora estava pronta para conhecer um pouco mais da cidade carioca com o cara que tinha conhecido em menos de vinte e quatro horas. E ela iria contar absolutamente tudo para .
Entretanto, quando pegou sua bolsa e abriu a porta, se deparou com todas suas caixinhas de sobremesa em frente a ela. E do outro lado ele estava lá. Sentado com as pernas cruzadas vestindo bermuda e uma camiseta branca, comendo algumas das delícias que ela tinha o feito comprar.
Ela sorriu antes de falar alguma coisa. era realmente impressionante.
– O que é que você está fazendo aqui? – indagou ela, não escondendo sua surpresa no tom da voz.
Ele sorriu, com os olhos inchados.
– Vim ver se estava tudo bem, então vi que não tinha comido as sobremesas que me fez comprar ontem e achei um desperdício. – ele deu mais uma colherada e depois continuou – Quer tomar café?
Ela riu balançando a cabeça. Queria tanto ficar. Queria sentar ao seu lado, mandar uma mensagem pedindo mil desculpas para Caio e esquecer do mundo ao lado de . Mas não seria certo. Primeiro, porque o homem que estava sentando lindamente na sua frente sempre dava um jeito de escapar das mancadas que dava da forma mais fofa que existia no mundo. Era um fato, ele sempre a surpreendia. Mas não dessa vez.
Ela não deixaria que ele pensasse que toda vez que quisesse a companhia dela, ele teria. Não era bem assim. Em um dia pisar na bola; no outro trazer flores.
Esse era o mal dos homens. Eles não pensavam antes de fazer algo estúpido. Porém, depois, achavam que era só aparecer com flores e bombons que estaria tudo bem.
Talvez em outra época. Talvez uma uns meses atrás.
Agora seria diferente, ele precisaria de mais.
– Eu vou ter que deixar tudo isso pra você – ela passou por ele, vendo um curvar o cenho –, tenho um encontro agora.
– Um encontro? – indagou ele – Não me diga que é aquele garoto.
Ela sorriu.
– Ele mesmo. Estou atrasada, até mais.
se levantou rapidamente, ficando mais alto que ela.
– Você não vai sair com aquele cara!
– Por que não?
, pelo amor de Deus, você não conhece a pessoa, ele pode ser um maníaco, um bandido vendedor de órgãos.
Ela revirou os olhos. Ele parecia seu pai.
– Eu conheço ele. Nós conversamos por horas.
– Você o quê? Não se pode conhecer uma pessoa tão rápido assim. Ele pode estar te enganando.
– Não adianta você falar. Eu vou de qualquer jeito. – ela deu de ombros.
– Não. Você não vai. – disse ele, aumentando o tom de voz.
– Senhor . – vociferou – Você não manda em mim.
Ele piscou algumas vezes e deu um passo para trás.
– Você está certa, desculpa. – disse ele – Qual é o nome desse rapaz? Completo. Preciso ao menos saber com quem anda. Pela sua segurança empresarial. Luna me mataria se acontecesse alguma coisa.
Ela suspirou fundo.
– Caio Oliveira. – respondeu ela, enrolando um pouco a voz.
– O número do celular dele também.
– O quê?
– Ou você não sai desse hotel hoje. E eu falo isso como seu chefe.
– Você não pode mandar em mim.
colocou as duas mãos na cintura e suspirou fundo.
– Eu posso. – disse sereno demais – E se você não me der o número do celular dele, você está demitida.
– O quê? – ela praticamente gritou.
Ele estava brincando, não estava? Ah diabos.
– Vamos. – fez sinal com a mão e ela bufou.
Ele parecia mesmo seu pai.
Idiota. Mil vezes idiota.
entregou o celular dele para ela e anotou o número de Caio, com o nome Caio Delicious. Já que era pra irritar, ela sairia na frente de um jeito ou de outro. encarou aquilo e guardou o blackberry no bolso.
– Pronto? Posso ir? – indagou ela, irônica.
– Na verdade, não. Mas você sabe o que faz da sua vida.
Ela assentiu e deu as costas.
– Tchau, Senhor .
pegou as escadas. Não teria coragem de esperar pelo elevador. E quando virou o corredor, sentiu seu peito arder.
Por que sempre era uma tortura ficar ao lado dele? Por que ele tinha que implicar tanto com ela, já que tinha a ignorado pela segunda vez? Inferno.
Ela respirou fundo. E desceu aqueles inúmeros degraus praticamente correndo. Se pensasse muito, voltaria até ele.
E não podia voltar. Ou ele ganharia e sempre seria assim.
chegou ao saguão de entrada esbaforida e com muito calor. Ela arrumou os cabelos emaranhados e suspirou fundo quando viu o moreno de cabelo cacheado do lado de fora do hotel.
Ele era muito mais bonito do que ela lembrava.
E quando sorriu ao vê-la saindo, ela sorriu de volta.



Ele estava em frente ao hotel sentando em um pequeno bar, olhando o movimento das pessoas indo e vindo da praia. Era engraçado como a cultura deles era tão diferente até na forma de conversar. Bem, principalmente na forma de conversar. Os britânicos eram conhecidos por seu sotaque forte, entretanto, enquanto estava sentado ali observando todos, às vezes ficava em dúvida sobre como a pessoa falava. Eram tantas maneiras que ele se via rindo sozinho.
Sozinho.
Inferno.
Estava há horas esperando ela voltar, como um idiota.
Não estava preocupado. Tinha conseguido rastrear o rapaz pelo número de telefone – na verdade, havia sido Joseph quem tinha feito a espionagem – e puxado toda a ficha dele.
Caio não era uma pessoa com quem tinha que se preocupar. Era um moleque carioca como qualquer outro. A única preocupação de era pelo simples motivo dele ser um homem. Ele era um homem e estava se divertindo com . Caio estava fazendo tudo o que ele queria ter feito com a garota que queria. A vida era muito divertida mesmo. Devia rir de si mesmo. A culpa era sua, não podia negar que não estaria naquela situação se não tivesse dado em cima da moça no bar na noite passada.
Ele estava terminando sua vigésima água de coco quando a viu do outro lado da rua, sendo deixada em frente ao hotel.
suspirou fundo. Luna logo chegaria com , e se ela não estivesse lá, Aniballe provavelmente surtaria desejando sua cabeça. Elas eram como carne e unha e ele chegava a pensar que talvez existisse um amor entre elas, que ele ainda não conhecia. Eram quase como irmãs.
estava rindo alto que ele conseguiu ouvir o som da sua risada do outro lado. Ela parecia radiante com alguma coisa que o garoto disse.
Ele não podia ficar ali. Não podia mesmo.
levantou caminhando lentamente até eles. Queria que ela se despedisse logo e ficasse longe do rapaz de uma vez por todas.
Ora, ele estava surtando.
Que homem patético tinha se tornado, pensou ele. Ela estava ferrando com sua cabeça. A loirinha da Aniballe. Aquilo era ridículo demais.
Ele revirou os olhos, parando um pouco longe dos dois, para que pudessem se despedir de uma vez. E em um piscar de olhos, descobriu que ela tinha muito mais poder sobre ele do que queria admitir.
Com as mãos no bolso da bermuda, virou a cabeça para outro lado e deu uma risada baixa e desdenhosa. Aquilo era uma grande merda. Bem, na verdade era provável que isso fosse acontecer, mas bem na frente dele era estranho.
Algo dentro de esquentou e incomodou. Não sabia dizer o que era, mas droga – mesmo não querendo admitir –, sabia que era por culpa dela.
Quando olhou de volta, ela estava sorrindo envergonhada, dando um passo para trás.
Ele engoliu em seco.
Amava sua vida. Amava ter dinheiro, ser um homem de vários negócios, ter poder, empresas, carros e agora mulheres a sua disposição. Gostava de sentir-se poderoso, todo homem em suas faculdades mentais gosta, pensou ele, mas era terrivelmente degradante ter seus trinta anos, seu dinheiro, seu poder e tudo o que seus funcionários desejavam dele, e ainda sim sentir inveja de um moleque qualquer apenas por estar beijando a garota que ele queria.
A garota que ele sonhava todas as noites.
Ele estava sufocando por dentro.
suspirou fundo enquanto pensava sobre aquilo. Ela era tão bonita, doce, gentil e engraçada. Ela era companheira, amiga, sociável, inteligente. Era brincalhona, tagarela, às vezes abusada, mas mesmo assim delicada. Ele revirou os olhos, vendo subir correndo as escadas do hotel.
Ela era tudo o que ele queria. Não podia esconder de si mesmo.
Não mais.
Entretanto, não podia tê-la.
Não podia levá-la para passear e conhecer lugares que gostaria ao seu lado, porque não podia segurar sua mão quando bem entendesse e sequer beijá-la. Então seria obrigado a assisti-la. Seria um espectador da sua incrível e maravilhosa vida.

Tinha planejado a reunião com assim que ele e Aniballe chegaram de viagem. Seu melhor amigo estava radiante na manhã seguinte e estava quase se enforcando com a própria gravata ouvindo falar o quanto Luna era maravilhosa e perfeita.
Sua salvação tinha nome: Maria Julia.
Ela trabalhava para Henrique e estava do outro lado da mesa enquanto ele falava sobre os últimos detalhes da obra. Maria Julia não parava de encará-lo desde que entrará pela porta da sala e ela era tragicamente esculpida para ele naquele momento.
Durante a noite não havia tirado da cabeça.
Aquela mulher serviria para acalmar seus nervos.
Não seria suficiente, mas ela era loira e tinha olhos claros. Lógico que não tinha o mesmo tom e nem o mesmo sorriso doce e sapeca, mas ele estava ficando louco. Assim que a reunião terminou, pediu a – que ia permanecer mais um pouco – para usar sua suíte presidencial. Queria impressionar. Queria sentir que estava no poder de novo.
Não seria tão difícil conversar com Maria Julia e levá-la para um lugar mais reservado. Ela mesma parecia querer aquilo mais que ele.
E então, quando entraram no hotel parte de si queria mandá-la embora, mas não era aquela parte que estava tomando posse da sua mente. Era o corpo que precisava de um pouco mais de atenção. De um calor, um carinho, um aconchego.
Maria Julia era divertida e muito, mas muito atraente.
E quando terminaram de tomar a primeira garrafa de whisky, ele esqueceu onde estava e com quem estava. Simplesmente se deixou levar.
E mal sabia que toda sua vida seria mudada aquela noite.


Continua...



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Nota da autora: Ooi amores, hoje quero agradecer a todos! Obrigada por cada comentário e principalmente ao grupo do whats,que cada dia está crescendo mais e mais. No começo era eu e e meu ex namorado confabulando sobre o possível Spin-Off de outra história (onde surgiu esse casal) e depois surgiram mais três meninas, e duas, e agora somos quase 40 tagarelas falando sobre tudo. E eu me sinto no dever de agradecê-las, porque sem elas eu não seria tão feliz escrevendo essa fanfic. E claro, a vocês que sempre estão aqui lendo, e comentando. E mesmo que não comentem, eu sei que vocês estão aqui então, meu muito obrigada vai pra vocês, que deixam um tempo para ler o que eu escrevo. E parecem gostar disso. É surreal. Se alguém quiser conversar, pode me achar no twitter, @karitavalle . Acho que é isso, haha. Até a próxima. Um beijo. Valle





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