Prólogo
É que eu te amo ainda mais, pode acreditar
Se um dia eu disser que não te quero
É que eu te quero o dobro ou mais, tenta imaginar
Barcelona, Espanha
respirou fundo enquanto passava a mão pelos seus cabelos. Outra vez estavam discutindo e por um motivo tão bobo. Sempre diziam para ela que os primeiros anos de casamento eram uma extensão da lua-de-mel, mas ela descobriu sozinha que não era nada disso. Não que não fosse um bom marido, porque ele era, mas os anos juntos e tudo o que já passaram, além de suas carreiras, tornavam o relacionamento muito mais difícil do que para a maioria dos outros casais.
- , eu só quero que você esteja em casa comigo, será que é tão difícil de entender? Eu entendo toda a responsabilidade que você está carregando, mas eu também tenho as minhas, e no final do dia, quero só estar com você um pouco. Fugir das obrigações às vezes é bom, mas a sua distância me faz pensar que... - ela mordeu os lábios e engoliu o choro, pensar aquilo era de matar.
- Que...? - , jogado no sofá, incentivou ela a continuar. Estava tão irritado quanto ela.
- Que você não quer mais estar comigo, que você não me ama mais - ela cuspiu as palavras de uma vez. Se fosse para doer, então que fosse. - Que nosso casamento não valeu de nada para você.
- Valeu - ele se levantou e parou na frente dela. - Eu me perdi no horário, a resenha com o time estava boa. Me desculpe, ok? Vou me policiar com os horários.
- , eu não aguento mais - finalmente liberou as lágrimas que insistia em segurar, não queria mais bancar a durona. - Eu também tenho os meus momentos com o time, mas eu estou tentando priorizar a gente. Sozinha eu não vou conseguir.
- Você está certa - odiava vê-la chorar, e mais ainda se ele fosse o motivo. Sabia que estava vacilando ultimamente e precisava melhorar. - Eu vou mudar.
- Você já disse isso antes, e eu acreditei, mas não mudou. Eu só queria que você voltasse a ser como antes, ao menos se preocupava comigo e com a minha carreira.
- Mas eu me preocupo, ...
- Não parece.
- Então o que você pretende fazer? Me diz, eu quero apoiar você na sua decisão.
não queria dizer o que estava pensando, já estavam juntos há anos, desde que jogavam em times rivais no Brasil. Viveram anos incríveis juntos, desde o namoro até o casamento, mas agora tudo estava mais difícil. Ela também tinha os seus defeitos, tinha que reconhecer, mas acordou antes que fosse tarde, enquanto parecia estar vivendo em uma realidade paralela.
- Eu quero dar um tempo.
Capítulo 1
Camp Nou, estádio do Barcelona.
Não sei mentir, meus olhos dizem mais que minha boca
Eu vejo que não tem saída, esse teu jeito meio louca
Me faz feliz, amor que vai durar pra toda vida
Dar um tempo no casamento não significava dar um tempo dos compromissos com um dos maiores clubes de futebol do mundo. A equipe masculina do Barcelona enfrentava o arquirrival Real Madrid pela La Liga em um confronto direto pela liderança da competição. Do camarote, a equipe feminina assistia ao jogo como forma de apoio e também para promover a união dos dois times, nova estratégia de marketing adotado pelo clube e que estava dando certo, afinal, a equipe feminina tinha chances de se sagrar campeã da Women Champions League daquele ano.
Aquele jogo também era especial para , pois era seu primeiro el clássico com a camisa 10 do Barcelona desde a aposentadoria do maior ídolo do clube, Lionel Messi, na temporada passada. foi escolhido a dedo pelo jogador, que agora era parte da comissão técnica, para assumir o número. passou a sua famosa camisa 7 e assumiu a responsabilidade, agora era a hora de mostrar o que sabia. O placar estava em 1x0 para os merengues no final do primeiro tempo com gol de Karin Benzema.
prestava atenção no jogo, embora quisesse apenas ir pra casa o mais rápido possível, ou ao menos para a concentração e não ter que olhar para ele. Já havia se passado algumas semanas e ela passou a maior parte do tempo no hotel do CT para não ter que ficar perto dele. Ignorava as mensagens ou qualquer tentativa de contato, mas sabia que não poderia fazer isso para sempre, pois a aliança cintilando no seu anelar esquerdo a lembrava todos os dias o que ele significava para ela.
Apesar de estar prestando atenção, ela não se sentia bem. Acordou com o corpo mole, cansada e com dor de cabeça. Depois do almoço ainda sentiu vontade de vomitar, mas estava tentando se manter firme e continuar ali, ao menos para sair bem na frente das câmeras, afinal, a camisa 9 do Barcelona feminino pesava tanto quanto a 10 do masculino, e ela precisava ser fora do campo a xerife que era dentro. Tinha que permanecer ali. acabou se distraindo nos próprios pensamentos que quase perdeu o gol de empate do time da casa. recebeu um passe de Frenkie De Jong e tabelou com Ansu Fati, ficando de frente com Courtois e não dando chances para o goleiro. A torcida explodiu em comemoração enquanto o time comemorava no banco com a comissão técnica. viu quando foi parabenizado por Leo e um sorrisinho se formou nos lábios dela, sabia o quanto ele era fã do jogador quando estava em atividade e agora estava ali assumindo o lugar dele, realizando um sonho. Nem todas as brigas do mundo fariam não sentir orgulho de naquele momento.
Após o gol, o arbitro deu como encerrado o primeiro tempo da partida. conversava com as jogadoras e amigas enquanto bebericava o seu suco de laranja, mas se sentia cada vez mais enjoada. Pediu licença para as amigas e foi até o banheiro do camarote, entrou em uma das cabines e se escorou na porta, depois colocou as duas mãos na barriga, estava se sentindo muito mal e começando a suar frio. Ela começou a fazer um coque no cabelo, mas não teve tempo de terminar porque sentiu o líquido quente subindo pela garganta, fazendo com que ela vomitasse todo o seu almoço e até mesmo o suco que estava tomando instantes antes.
- Que merda - ela passou o braço pela boca para limpar os respingos e respirou fundo algumas vezes antes de dar descarga.
deixou a cabine e foi até a pia. Prendeu o cabelo no coque que pretendia antes e ligou a torneira para levar água à boca e fazer gargarejo, além de lavar o rosto. Se olhou no espelho e percebeu que estava pálida, mas não tinha muito o que fazer, apenas esperou um pouco até que pudesse se recompor e então voltou para o seu lugar torcendo para que não precisasse dar satisfações ou correr outra vez.
...
Não sei mentir, meus olhos dizem mais que minha boca
Eu vejo que não tem saída, esse teu jeito meio louca
Me faz feliz, amor que vai durar pra toda vida
chegou em casa o mais cedo possível, feliz com a vitória de virada e de quebra a liderança do campeonato. Foi um jogo inesquecível para ele, além de ter entrado para o seu top três de jogos preferidos já jogados. Sempre sonhou alto, mas jamais imaginou que chegaria naquela posição, herdando a camisa do seu ídolo máximo no futebol aos trinta anos de idade. Tinha poucos anos pela frente, sabia disso, mas que os próximos cinco anos fossem tão inesquecíveis quanto o resto da sua carreira.
Ele foi até seu quarto e abriu a porta devagar, na esperança de que estivesse lá, mas ela não estava, como era de se esperar. Ele suspirou, estava cansado e frustrado, queria apenas a sua esposa de volta, mas não se sentia no direito de invadir o espaço dela. estava magoada e tinha seus motivos para tal, e cabia a ele respeitar a decisão dela de dar um tempo na relação para que os dois pudessem colocar a cabeça no lugar. Ela já tinha muitas obrigações, talvez tantas quanto ele, e ele não queria soar invasivo e piorar a situação dele.
colocou uma roupa confortável para dormir, mas ainda não estava com sono. Deixou o quarto e desceu as escadas, indo em direção à sua cozinha para beliscar alguma fruta ou qualquer coisa que imitasse um doce, já que ele fugia dos carboidratos desde que completou trinta anos no ano anterior. Ele só não esperava encontrar ali, se deliciando com a metade da melancia que estava na geladeira.
- Eu vim em paz - ele ergueu as mãos em redenção e foi até uma das gavetas pegar uma colher para comer também. - Posso? - apontou para a melancia que ela carregava.
se controlou para não rolar os olhos, mas acabou colocando a fruta sobre a ilha para dividir com ele, sempre evitando o contato visual, porque sabia que se olhasse muito, mudaria de ideia.
- Você assistiu ao jogo inteiro? - perguntou na tentativa de puxar assunto, mas apenas concordou com a cabeça. - O que você achou?
- Bom, mas o Zidane não é mais o mesmo, por isso não ganharam - deu de ombros e encheu a colher com mais um pedaço.
- Não foi incompetência do time dele, foi mérito da equipe - ele rebateu ofendido, mas continuou indiferente.
- Se não concorda com a minha opinião, então não peça.
- ...
- Você se casou com uma jogadora de futebol, infelizmente para você, sei tanto do assunto quanto o seu próprio treinador - ela finalmente olhou para ele. - Então não peça a minha opinião se vai ficar ofendido. Meu time humilharia o seu.
- O que os times têm a ver com a crise no nosso casamento?
- Nada, é que você me irrita e eu começo a falar essas coisas.
não se lembrava quando foi a última vez que agiu assim com ele. Ela sempre tinha um olhar cheio de amor e admiração apontado para ele, mas não foi isso o que viu ali, parecia a ranzinza e impiedosa que ele conheceu seis anos antes. Era triste ver que ela já não olhava para ele da mesma maneira como antes e isso fez ele perceber que precisava agir, ou perderia a pessoa mais importante da sua vida.
- Apesar de tudo, eu ainda amo você, - disse com sinceridade, pegando ela de surpresa. - Eu não me arrependo de ter me casado com você e eu espero que possamos superar isso.
- Agora não, , eu não quero falar sobre isso - desviou seu olhar do dele e fez menção de deixar a cozinha, mas sentiu a mão dele agarrando o seu braço. - Me solta.
- Por favor, - ele não estava usando força alguma, mas simplesmente não conseguia - e não queria - resistir ao toque dele.
- Não faz isso comigo... - ela pediu baixinho, mas seus olhos umedecidos diziam o contrário.
- Você também quer que dê certo, não é? - insistiu, mas ela ficou em silêncio. - Já teve o tempo que precisava, eu sei que sim.
- ... - usou da mão livre para secar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
- Você ainda está usando a sua aliança - ele deixou de segurar o braço para segurar a mão, entrelaçando os dedos aos dela como faziam antigamente. - Isso não é coisa de quem não ama mais.
- Mas eu não disse que não amo, apenas suas atitudes que me fizeram questionar o que eu sentia.
- Vamos superar isso juntos, ... Casais brigam o tempo inteiro, não seria diferente com nós. Eu sei que eu não sou perfeito, me desculpe se não sou o que você esperava de mim, deixei a responsabilidade tomar conta de toda a minha vida e não me atentei para o que eu tinha de mais importante, que é você.
Era exatamente o que queria ouvir, mas ceder sempre foi difícil para ela que gostava de estar com a razão. Por algum motivo, sentia que ainda faltava mais alguma coisa para que ficasse tudo bem. Não conseguia dizer que sim, e nem que não, mas tê-lo tão perto novamente era tentador e assustador ao mesmo tempo, visto que beijos e toques se tornaram raros no relacionamento, exceto as vezes em que o desejo sexual falava mais alto e eles cediam. se aproximou devagar, e por mais que ela quisesse se afastar, ela não conseguiu e deixou que ele a puxasse para um beijo.
Um pouco desesperada, retribuiu quando o puxou pela nuca enquanto as mãos dele agarraram a sua cintura. Sentia falta de estar envolvida nos braços dele, de sentir o toque e principalmente de ter os lábios dele colados nos seus em um beijo tão intenso. Acima de tudo, sentia falta do seu marido e melhor amigo.
Mas infelizmente sua realidade era outra e ela sabia que precisaria de muito mais do que palavras bonitas e um beijo para a convencer de que tudo ficaria bem. Ele fazia as duas coisas bem, mas precisava de mais do que isso para se convencer, e por isso se afastou, mesmo contra a sua vontade de permanecer com ele a noite inteira.
- O que foi? - perguntou preocupado e tentou se aproximar de novo, mas ela deu dois passos para trás.
- Um beijo não resolve nada, , e ainda temos muito o que melhorar - ela olhou para a sua aliança e decidiu tirar na frente dele, deixando sobre a ilha. - Não é um divórcio, só quer dizer que eu ainda preciso de mais tempo.
- , não...
- Desculpa, .
deu as costas e saiu de lá o mais rápido possível para que ele não fosse atrás. Talvez fosse a fruta que comeu, mas desviou o caminho do quarto de hóspedes para ir em direção ao banheiro vomitar outra vez. Se xingou de tudo o que podia se lembrar enquanto as lágrimas ainda insistiam em saltar dos seus olhos exageradamente. Ela até deu descarga e se levantou, mas continuou ali chorando e se lamentando. Estava vivendo um conflito interno terrível, uma linha tênue entre por um ponto final ou voltar de vez para ele, pedir o divórcio ou dar mais uma chance. queria recomeçar, mas já estava desgastada e precisava de mais tempo até ter certeza de que tudo iria ficar bem.
...
Eu não me separo de você mulher
Nem se a globeleza um dia me quiser
Se na Mega-Sena eu vencer
Fico com você, fico com você
Se no Barcelona eu for camisa 10
Me cobrir de ouro da cabeça aos pés
Mesmo assim se isso acontecer
Fico com você, fico com você
Para a , os dias seguintes se passaram como se fossem meses. Ela não sentia vontade de treinar, sempre estava cansada e de mal-humor, sem contar os enjoos constantes e o mal estar em casa com , que agora já tinha desistido de falar com ela. Já tinha levado uma bronca da nutricionista pelos dois quilos que havia ganhado, mas não conseguia controlar a sua compulsão por comer. Para seu azar, nada era tão ruim que não pudesse piorar, pois naquele dia em questão, as equipes posariam juntas para fotos oficiais e não era novidade para ninguém que o camisa 10 e a camisa 9 eram casados, apenas não sabiam a crise que acontecia no casamento. O time feminino chegou primeiro ao estádio Johan Cruyff onde mandavam os seus jogos, e também já estavam devidamente uniformizadas, apenas esperando a equipe masculina sair do vestiário, coisa que não demorou muito.
Os atletas atravessaram o campo até a arquibancada e cumprimentaram as jogadoras antes de começarem. mostrou o seu melhor sorriso para cada um deles, mas não fugiu de ter que cumprimentar o próprio marido. Sempre eram muito profissionais quando os times se juntavam, e daquela vez não seria diferente, estavam mantendo as aparências, porém cada um no seu lugar. acompanhado do seu time e com sua própria equipe também, sequer tinham tempo para trocarem mais do que três palavras.
A primeira foto era dos dois times juntos na arquibancada. Em três filas mistas, os atletas se organizaram conforme orientados pela equipe de fotografia e filmagem que conduzia o ensaio, ficou na primeira fileira sentada no meio, para que sua braçadeira de capitã se destacasse, mas como tudo tinha que ser mais difícil para ela, foi aconselhado a ficar exatamente atrás dela, também com sua braçadeira. Ela riu, mas queria matar o fotógrafo por isso, especialmente quando sentiu as mãos do seu marido repousando em seus ombros. se curvou e deixou um beijo no topo da cabeça dela.
- Não esquece que eu amo você - ele sussurrou antes de corrigir a postura para a foto.
não respondeu, continuou imóvel para a fotografia e só se mexeu quando o fotógrafo os liberou para algumas fotos individuais, então ela se afastou dele e, tentando evitar a todo custo, foi acompanhar a foto dos goleiros para se distrair.
- Marc, abaixa um pouco, você é gigante! - ela disse para o alemão que rolou os olhos, mas riu e se abaixou exageradamente, quase tocando os joelhos no chão.
- Assim está bom, capitã? - Ter Stegen rebateu e fez um joinha com o polegar para ele.
- Você é a próxima, ok? Não se empolgue muito - o fotógrafo disse para ela enquanto fazia alguns cliques dos arqueiros que se divertiam entre si.
- Por isso mesmo já estou aqui - respondeu divertida, então após agradecer aos goleiros, ele se virou para ela.
- Cadê o ? Quero uma foto dos capitães.
- Não sei - ela cruzou os braços e evitou olhar para a direção que sabia que estava.
Ele avistou e gritou o nome dele para que se aproximasse. O jogador foi até os dois para ouvir o que ele tinha a dizer.
- Quero uma foto dos capitães, sonhei acordado com esse momento durante dias. Quem diria que seriam logo um casal? - ele disse contente enquanto fazia alguns ajustes na lente, não notou o quão constrangidos os dois estavam.
- Você quer que façamos o que exatamente? - questionou cruzando os braços e imitou o gesto.
- Exatamente isso! Mostrem as braçadeiras, vai ficar incrível.
De braços cruzados e virados para a mesma direção, os dois capitães posaram para a primeira foto com expressões sérias e intimidantes, e mais algumas parecidas para impor respeito aos rivais, como o próprio fotógrafo disse.
- Dá um abraço nela, , vamos descontrair. Vocês estão muito sérios.
não queria, estava levando a sério o distanciamento entre os dois e já tinha abusado na primeira fotografia, mas então o abraçou de lado e ele se viu na obrigação de retribuir ao passar o braço sobre os ombros dela e os dois sorriram para a câmera. Aquela não era a única foto descontraída, na seguinte mantiveram as posições, mas agora deixava um beijo na bochecha dela.
- Já está bom, quero que os rivais tenham medo de mim - disse ainda sem soltar dele.
- O que é isso, amor? Até parece que está fugindo de mim - colocou a mão livre no rosto dela para acariciar ao mesmo tempo em que dava outro beijo nela. gargalhou por puro nervosismo e foi nesse exato momento em que o fotógrafo capturou mais um clique dos dois.
- Ei! - protestou após tirar a mão de do seu rosto e o soltar. - Eu não estava pronta!
- Ficou linda, xerife, muito espontânea. Se me deixarem, até mando para postar nas redes sociais - ele recebeu um sim de e um não de ao mesmo tempo. - Bem, eu estava falando do marketing, mas se decidam entre vocês enquanto eu termino de fotografar o resto dos times. Muito obrigado.
Ele se afastou e se virou para . Colocou as mãos na cintura enquanto batia o pé nervosamente contra a grama bem cortada. Queria gritar com ele e proferir ofensas, queria esbofetear ele ali mesmo, mas não podia e tudo o que recebeu de foi um sorriso na sua direção.
- Para.
- Você fica linda assim, sabia?
- Eu mandei parar, ! Por que você fez aquilo? Eu não gosto de misturar minha vida pessoal com o meu trabalho.
- Amor, me desculpa se te peguei de surpresa, mas concordamos em não contar para ninguém, eu não queria que ele desconfiasse de nada - imitou o gesto dela ao colocar as mãos na cintura também. - Além disso, eu estou com saudades de você.
- Para de me chamar de amor e para de me provocar, ou eu peço esse divórcio de uma vez.
- Você não pode estar falando sério, .
- Mas estou. Não tenta me provocar ou você vai ver.
- Sabe por que eu sei que você não está falando sério?
- Sabe, é mesmo? Por quê? - sorriu e rebateu com ironia enquanto cruzava os braços.
- Porque você não sabe mentir... Seus olhos, , eles sempre dizem a verdade.
Ele estava certo, era mentira, ela não iria pedir o divórcio coisa nenhuma, mas não custava ameaçar. O problema de estar há seis anos com ele, era que a conhecia melhor do que ninguém, por consequência ela sabia que mentir para ele era inútil, ele sempre sabia como desarmar qualquer argumento que ela tivesse para debater.
- Aqui não é lugar para isso - ela descruzou os braços e olhou para os lados. sorriu satisfeito.
- Podemos conversar em casa? Como dois adultos?
- Não - virou as costas para se juntar ao aglomerado de atletas perto dali, mas parou quando sentiu uma pontada na barriga, levou a mão à região e fez feição de dor.
- , o que foi? - perguntou preocupado ao notar o que estava acontecendo com ela e se aproximou.
- Nada, estou bem.
- Vai continuar tentando mentir pra mim até quando? Quer ir ao DM?
- Não, , deixa para lá.
- Nem pensar, vai para o DM quando voltarmos para o CT.
...
Graças ao alarde de , se viu obrigada a comparecer ao departamento médico quando retornaram ao centro de treinamento. Ele implorou ao seu treinador, Xavi, para que o liberasse do treino naquela parte da manhã para que pudesse acompanhar a esposa caso fosse alguma coisa séria, pois já não escondia o mal estar. Xavi, que não era um robô, cedeu impondo a condição que retornasse após o almoço sem falta.
Os times treinavam muito próximos um do outro, já que ambas as instalações ficavam na ciutat esportiva Joan Gamper, o CT, então ele só precisou caminhar até as instalações do time feminino e procurar o departamento médico. Sabia que estava lá, então esperou do lado de fora até que ela saísse, não iria a lugar nenhum.
Dentro da sala, recebia a notícia que mudaria a sua vida, estava grávida. A médica, empática com a jogadora, tentava parecer positiva para que se animasse, mas tudo o que ela podia fazer era chorar, pois não queria ter filhos, iria estragar a sua carreira e perder uma possível final de Champions League.
- Está tudo bem, , não é o fim do mundo - a doutora sorriu. - Ter um filho não quer dizer que você vai ter que parar ou algo do tipo.
- Eu não queria, eu não podia engravidar agora.
- Querida, se não fosse agora, mais tarde seria mais difícil. Você ainda é jovem.
- É complicado, você não entenderia - passou a camisa do uniforme pelo rosto para secar as suas lágrimas. - Eu posso treinar?
- É claro que sim. Seu treino será em um ritmo diferente, é claro, mas é essencial para você ter uma gravidez saudável. Não se preocupe, o futebol não vai virar as costas pra você. Vou passar para a comissão técnica a novidade e vamos trabalhar juntos para que você continue treinando e o seu bebê fique bem. Vá pra casa, hoje você já não tem mais nada para fazer aqui.
- Obrigada - disse por fim, se levantou e deixou a sala.
Estava tão perdida em seus pensamentos que só notou que estava lá quando ele se aproximou muito preocupado ao ver que ela chorava. Ela sabia o quanto ele queria ser pai e que ele ficaria feliz com a notícia de qualquer maneira. tinha consciência de que aquela gravidez poderia arruinar a sua carreira, mas também salvar o seu casamento. O problema era que ela não queria ter que escolher entre um e outro.
- , o que foi? - questionou enquanto colocava as mãos sobre o ombro dela. - Você está bem? É alguma coisa séria? Por favor, vamos deixar as diferenças de lado um pouco.
não respondeu, apenas o abraçou forte. Não queria passar por aquilo sozinha, não deixaria mesmo se ela implorasse. Se fosse para acontecer, então que fosse do jeito certo, que seu filho tivesse os pais juntos e presentes. retribuiu sem entender, mas soube que tudo ficaria bem. Seja lá o que fosse, teria que se manter forte para que permanecesse de pé também, como o casal forte e destemido que sempre foram.
- Você está me deixando preocupado - ele disse ainda abraçado a ela, mas então se afastou.
- Eu preciso te dizer uma coisa - ela respirou fundo e jogou os cabelos para trás porque estava com calor. - , eu estou grávida.
não esboçou reação alguma, exceto arregalar os olhos. tinha tempo para esperar a reação dele, mas ele parecia enraizado no chão com a notícia.
- Grávida? - finalmente disse alguma coisa e ela assentiu, então ele finalmente reagiu, sorriu de orelha a orelha. - , isso é maravilhoso!
Ele a tomou nos braços e a girou no ar. não evitou a risada que soltou com a atitude dele, amava quando ele fazia isso e sentia falta de quando era assim sempre. De repente, ter um bebê já não era tão apavorante.
- Obrigado, obrigado! Eu... Nossa! Não posso nem explicar o quanto eu estou feliz!
- Eu sabia que você ia ficar - ela esboçou um sorriso entristecido. - , acho que as coisas não podem continuar como estão.
- Eu sei - se aproximou e colocou as mãos no rosto de . - Se você quiser, vamos começar de novo. Você me faz o homem mais feliz e realizado do mundo, e eu não vou me separar de você por nada, , por nada... Você quer tentar mais uma vez? Se disser que sim, então vamos agir como os adultos que somos, mas se não quiser, eu vou respeitar a sua opinião.
- Eu quero, - disse com sinceridade. - Se for para ser assim, então que seja do jeito certo. Eu também não fui nenhuma santa, já errei com você também, mas quero tentar de novo por nós e pelo nosso filho.
beijou a testa dela e se ajoelhou, encostando a sua testa contra a barriga dela e beijando por cima da camisa logo em seguida. Era o homem mais realizado do mundo naquele momento, não precisava de mais nada porque tudo o que importava estava ali com ele.
- Não tem riqueza no mundo que compre a minha felicidade agora, eu te amo tanto... - ele dizia de olhos fechados e sorriu. - Obrigado, , obrigado...
- Não posso jogar tantos anos no lixo, especialmente agora.
- Nem um ano foi desperdiçado, foram os anos mais felizes da minha vida - se levantou novamente e segurou as mãos dela e lhe deu um selinho.
- Da minha também... Bom, agora eu estou liberada para ir pra casa, vão mudar o meu treino, então não tenho muito o que fazer aqui hoje.
- Droga, prometi ao Xavi que voltaria... Queria voltar com você.
- Nada disso, vai treinar, você é o nosso ídolo agora e tem que trazer a orelhuda de volta para a Catalunha. Anda, vai logo, o Messi não joga mais. Vai, vai, vai...
- Calma, apressada, eu posso pelo menos me despedir de você? - riu e então se aproximou para se despedir dela com um beijo.
Mesmo que estivesse no meio do corredor do departamento médico, retribuiu. Finalmente as coisas começariam a dar certo e com o tempo ela aprenderia a desejar aquela gravidez tanto quanto ele e reconstruiriam a confiança do casamento novamente. Em algum momento os dois erraram, deixaram o individual falar mais alto, mas estavam dispostos a deixar para trás e tentar mais uma vez.
- Vai logo - disse ao se separarem, dando um empurrãozinho de leve em que riu da pressa dela.
- Até mais tarde, ... - sorriu e virou as costas para voltar para o campo, agora muito mais leve e feliz, ansioso para contar a novidade para o time.
- Até mais tarde - disse baixinho quando ele já estava distante e seguiu seu caminho.
Tinha que buscar a aliança e colocar no dedo de novo.
Eu vejo que não tem saída, esse teu jeito meio louca
Me faz feliz, amor que vai durar pra toda vida
Aquele jogo também era especial para , pois era seu primeiro el clássico com a camisa 10 do Barcelona desde a aposentadoria do maior ídolo do clube, Lionel Messi, na temporada passada. foi escolhido a dedo pelo jogador, que agora era parte da comissão técnica, para assumir o número. passou a sua famosa camisa 7 e assumiu a responsabilidade, agora era a hora de mostrar o que sabia. O placar estava em 1x0 para os merengues no final do primeiro tempo com gol de Karin Benzema.
prestava atenção no jogo, embora quisesse apenas ir pra casa o mais rápido possível, ou ao menos para a concentração e não ter que olhar para ele. Já havia se passado algumas semanas e ela passou a maior parte do tempo no hotel do CT para não ter que ficar perto dele. Ignorava as mensagens ou qualquer tentativa de contato, mas sabia que não poderia fazer isso para sempre, pois a aliança cintilando no seu anelar esquerdo a lembrava todos os dias o que ele significava para ela.
Apesar de estar prestando atenção, ela não se sentia bem. Acordou com o corpo mole, cansada e com dor de cabeça. Depois do almoço ainda sentiu vontade de vomitar, mas estava tentando se manter firme e continuar ali, ao menos para sair bem na frente das câmeras, afinal, a camisa 9 do Barcelona feminino pesava tanto quanto a 10 do masculino, e ela precisava ser fora do campo a xerife que era dentro. Tinha que permanecer ali. acabou se distraindo nos próprios pensamentos que quase perdeu o gol de empate do time da casa. recebeu um passe de Frenkie De Jong e tabelou com Ansu Fati, ficando de frente com Courtois e não dando chances para o goleiro. A torcida explodiu em comemoração enquanto o time comemorava no banco com a comissão técnica. viu quando foi parabenizado por Leo e um sorrisinho se formou nos lábios dela, sabia o quanto ele era fã do jogador quando estava em atividade e agora estava ali assumindo o lugar dele, realizando um sonho. Nem todas as brigas do mundo fariam não sentir orgulho de naquele momento.
Após o gol, o arbitro deu como encerrado o primeiro tempo da partida. conversava com as jogadoras e amigas enquanto bebericava o seu suco de laranja, mas se sentia cada vez mais enjoada. Pediu licença para as amigas e foi até o banheiro do camarote, entrou em uma das cabines e se escorou na porta, depois colocou as duas mãos na barriga, estava se sentindo muito mal e começando a suar frio. Ela começou a fazer um coque no cabelo, mas não teve tempo de terminar porque sentiu o líquido quente subindo pela garganta, fazendo com que ela vomitasse todo o seu almoço e até mesmo o suco que estava tomando instantes antes.
- Que merda - ela passou o braço pela boca para limpar os respingos e respirou fundo algumas vezes antes de dar descarga.
deixou a cabine e foi até a pia. Prendeu o cabelo no coque que pretendia antes e ligou a torneira para levar água à boca e fazer gargarejo, além de lavar o rosto. Se olhou no espelho e percebeu que estava pálida, mas não tinha muito o que fazer, apenas esperou um pouco até que pudesse se recompor e então voltou para o seu lugar torcendo para que não precisasse dar satisfações ou correr outra vez.
...
Eu vejo que não tem saída, esse teu jeito meio louca
Me faz feliz, amor que vai durar pra toda vida
chegou em casa o mais cedo possível, feliz com a vitória de virada e de quebra a liderança do campeonato. Foi um jogo inesquecível para ele, além de ter entrado para o seu top três de jogos preferidos já jogados. Sempre sonhou alto, mas jamais imaginou que chegaria naquela posição, herdando a camisa do seu ídolo máximo no futebol aos trinta anos de idade. Tinha poucos anos pela frente, sabia disso, mas que os próximos cinco anos fossem tão inesquecíveis quanto o resto da sua carreira.
Ele foi até seu quarto e abriu a porta devagar, na esperança de que estivesse lá, mas ela não estava, como era de se esperar. Ele suspirou, estava cansado e frustrado, queria apenas a sua esposa de volta, mas não se sentia no direito de invadir o espaço dela. estava magoada e tinha seus motivos para tal, e cabia a ele respeitar a decisão dela de dar um tempo na relação para que os dois pudessem colocar a cabeça no lugar. Ela já tinha muitas obrigações, talvez tantas quanto ele, e ele não queria soar invasivo e piorar a situação dele.
colocou uma roupa confortável para dormir, mas ainda não estava com sono. Deixou o quarto e desceu as escadas, indo em direção à sua cozinha para beliscar alguma fruta ou qualquer coisa que imitasse um doce, já que ele fugia dos carboidratos desde que completou trinta anos no ano anterior. Ele só não esperava encontrar ali, se deliciando com a metade da melancia que estava na geladeira.
- Eu vim em paz - ele ergueu as mãos em redenção e foi até uma das gavetas pegar uma colher para comer também. - Posso? - apontou para a melancia que ela carregava.
se controlou para não rolar os olhos, mas acabou colocando a fruta sobre a ilha para dividir com ele, sempre evitando o contato visual, porque sabia que se olhasse muito, mudaria de ideia.
- Você assistiu ao jogo inteiro? - perguntou na tentativa de puxar assunto, mas apenas concordou com a cabeça. - O que você achou?
- Bom, mas o Zidane não é mais o mesmo, por isso não ganharam - deu de ombros e encheu a colher com mais um pedaço.
- Não foi incompetência do time dele, foi mérito da equipe - ele rebateu ofendido, mas continuou indiferente.
- Se não concorda com a minha opinião, então não peça.
- ...
- Você se casou com uma jogadora de futebol, infelizmente para você, sei tanto do assunto quanto o seu próprio treinador - ela finalmente olhou para ele. - Então não peça a minha opinião se vai ficar ofendido. Meu time humilharia o seu.
- O que os times têm a ver com a crise no nosso casamento?
- Nada, é que você me irrita e eu começo a falar essas coisas.
não se lembrava quando foi a última vez que agiu assim com ele. Ela sempre tinha um olhar cheio de amor e admiração apontado para ele, mas não foi isso o que viu ali, parecia a ranzinza e impiedosa que ele conheceu seis anos antes. Era triste ver que ela já não olhava para ele da mesma maneira como antes e isso fez ele perceber que precisava agir, ou perderia a pessoa mais importante da sua vida.
- Apesar de tudo, eu ainda amo você, - disse com sinceridade, pegando ela de surpresa. - Eu não me arrependo de ter me casado com você e eu espero que possamos superar isso.
- Agora não, , eu não quero falar sobre isso - desviou seu olhar do dele e fez menção de deixar a cozinha, mas sentiu a mão dele agarrando o seu braço. - Me solta.
- Por favor, - ele não estava usando força alguma, mas simplesmente não conseguia - e não queria - resistir ao toque dele.
- Não faz isso comigo... - ela pediu baixinho, mas seus olhos umedecidos diziam o contrário.
- Você também quer que dê certo, não é? - insistiu, mas ela ficou em silêncio. - Já teve o tempo que precisava, eu sei que sim.
- ... - usou da mão livre para secar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
- Você ainda está usando a sua aliança - ele deixou de segurar o braço para segurar a mão, entrelaçando os dedos aos dela como faziam antigamente. - Isso não é coisa de quem não ama mais.
- Mas eu não disse que não amo, apenas suas atitudes que me fizeram questionar o que eu sentia.
- Vamos superar isso juntos, ... Casais brigam o tempo inteiro, não seria diferente com nós. Eu sei que eu não sou perfeito, me desculpe se não sou o que você esperava de mim, deixei a responsabilidade tomar conta de toda a minha vida e não me atentei para o que eu tinha de mais importante, que é você.
Era exatamente o que queria ouvir, mas ceder sempre foi difícil para ela que gostava de estar com a razão. Por algum motivo, sentia que ainda faltava mais alguma coisa para que ficasse tudo bem. Não conseguia dizer que sim, e nem que não, mas tê-lo tão perto novamente era tentador e assustador ao mesmo tempo, visto que beijos e toques se tornaram raros no relacionamento, exceto as vezes em que o desejo sexual falava mais alto e eles cediam. se aproximou devagar, e por mais que ela quisesse se afastar, ela não conseguiu e deixou que ele a puxasse para um beijo.
Um pouco desesperada, retribuiu quando o puxou pela nuca enquanto as mãos dele agarraram a sua cintura. Sentia falta de estar envolvida nos braços dele, de sentir o toque e principalmente de ter os lábios dele colados nos seus em um beijo tão intenso. Acima de tudo, sentia falta do seu marido e melhor amigo.
Mas infelizmente sua realidade era outra e ela sabia que precisaria de muito mais do que palavras bonitas e um beijo para a convencer de que tudo ficaria bem. Ele fazia as duas coisas bem, mas precisava de mais do que isso para se convencer, e por isso se afastou, mesmo contra a sua vontade de permanecer com ele a noite inteira.
- O que foi? - perguntou preocupado e tentou se aproximar de novo, mas ela deu dois passos para trás.
- Um beijo não resolve nada, , e ainda temos muito o que melhorar - ela olhou para a sua aliança e decidiu tirar na frente dele, deixando sobre a ilha. - Não é um divórcio, só quer dizer que eu ainda preciso de mais tempo.
- , não...
- Desculpa, .
deu as costas e saiu de lá o mais rápido possível para que ele não fosse atrás. Talvez fosse a fruta que comeu, mas desviou o caminho do quarto de hóspedes para ir em direção ao banheiro vomitar outra vez. Se xingou de tudo o que podia se lembrar enquanto as lágrimas ainda insistiam em saltar dos seus olhos exageradamente. Ela até deu descarga e se levantou, mas continuou ali chorando e se lamentando. Estava vivendo um conflito interno terrível, uma linha tênue entre por um ponto final ou voltar de vez para ele, pedir o divórcio ou dar mais uma chance. queria recomeçar, mas já estava desgastada e precisava de mais tempo até ter certeza de que tudo iria ficar bem.
...
Nem se a globeleza um dia me quiser
Se na Mega-Sena eu vencer
Fico com você, fico com você
Se no Barcelona eu for camisa 10
Me cobrir de ouro da cabeça aos pés
Mesmo assim se isso acontecer
Fico com você, fico com você
Para a , os dias seguintes se passaram como se fossem meses. Ela não sentia vontade de treinar, sempre estava cansada e de mal-humor, sem contar os enjoos constantes e o mal estar em casa com , que agora já tinha desistido de falar com ela. Já tinha levado uma bronca da nutricionista pelos dois quilos que havia ganhado, mas não conseguia controlar a sua compulsão por comer. Para seu azar, nada era tão ruim que não pudesse piorar, pois naquele dia em questão, as equipes posariam juntas para fotos oficiais e não era novidade para ninguém que o camisa 10 e a camisa 9 eram casados, apenas não sabiam a crise que acontecia no casamento. O time feminino chegou primeiro ao estádio Johan Cruyff onde mandavam os seus jogos, e também já estavam devidamente uniformizadas, apenas esperando a equipe masculina sair do vestiário, coisa que não demorou muito.
Os atletas atravessaram o campo até a arquibancada e cumprimentaram as jogadoras antes de começarem. mostrou o seu melhor sorriso para cada um deles, mas não fugiu de ter que cumprimentar o próprio marido. Sempre eram muito profissionais quando os times se juntavam, e daquela vez não seria diferente, estavam mantendo as aparências, porém cada um no seu lugar. acompanhado do seu time e com sua própria equipe também, sequer tinham tempo para trocarem mais do que três palavras.
A primeira foto era dos dois times juntos na arquibancada. Em três filas mistas, os atletas se organizaram conforme orientados pela equipe de fotografia e filmagem que conduzia o ensaio, ficou na primeira fileira sentada no meio, para que sua braçadeira de capitã se destacasse, mas como tudo tinha que ser mais difícil para ela, foi aconselhado a ficar exatamente atrás dela, também com sua braçadeira. Ela riu, mas queria matar o fotógrafo por isso, especialmente quando sentiu as mãos do seu marido repousando em seus ombros. se curvou e deixou um beijo no topo da cabeça dela.
- Não esquece que eu amo você - ele sussurrou antes de corrigir a postura para a foto.
não respondeu, continuou imóvel para a fotografia e só se mexeu quando o fotógrafo os liberou para algumas fotos individuais, então ela se afastou dele e, tentando evitar a todo custo, foi acompanhar a foto dos goleiros para se distrair.
- Marc, abaixa um pouco, você é gigante! - ela disse para o alemão que rolou os olhos, mas riu e se abaixou exageradamente, quase tocando os joelhos no chão.
- Assim está bom, capitã? - Ter Stegen rebateu e fez um joinha com o polegar para ele.
- Você é a próxima, ok? Não se empolgue muito - o fotógrafo disse para ela enquanto fazia alguns cliques dos arqueiros que se divertiam entre si.
- Por isso mesmo já estou aqui - respondeu divertida, então após agradecer aos goleiros, ele se virou para ela.
- Cadê o ? Quero uma foto dos capitães.
- Não sei - ela cruzou os braços e evitou olhar para a direção que sabia que estava.
Ele avistou e gritou o nome dele para que se aproximasse. O jogador foi até os dois para ouvir o que ele tinha a dizer.
- Quero uma foto dos capitães, sonhei acordado com esse momento durante dias. Quem diria que seriam logo um casal? - ele disse contente enquanto fazia alguns ajustes na lente, não notou o quão constrangidos os dois estavam.
- Você quer que façamos o que exatamente? - questionou cruzando os braços e imitou o gesto.
- Exatamente isso! Mostrem as braçadeiras, vai ficar incrível.
De braços cruzados e virados para a mesma direção, os dois capitães posaram para a primeira foto com expressões sérias e intimidantes, e mais algumas parecidas para impor respeito aos rivais, como o próprio fotógrafo disse.
- Dá um abraço nela, , vamos descontrair. Vocês estão muito sérios.
não queria, estava levando a sério o distanciamento entre os dois e já tinha abusado na primeira fotografia, mas então o abraçou de lado e ele se viu na obrigação de retribuir ao passar o braço sobre os ombros dela e os dois sorriram para a câmera. Aquela não era a única foto descontraída, na seguinte mantiveram as posições, mas agora deixava um beijo na bochecha dela.
- Já está bom, quero que os rivais tenham medo de mim - disse ainda sem soltar dele.
- O que é isso, amor? Até parece que está fugindo de mim - colocou a mão livre no rosto dela para acariciar ao mesmo tempo em que dava outro beijo nela. gargalhou por puro nervosismo e foi nesse exato momento em que o fotógrafo capturou mais um clique dos dois.
- Ei! - protestou após tirar a mão de do seu rosto e o soltar. - Eu não estava pronta!
- Ficou linda, xerife, muito espontânea. Se me deixarem, até mando para postar nas redes sociais - ele recebeu um sim de e um não de ao mesmo tempo. - Bem, eu estava falando do marketing, mas se decidam entre vocês enquanto eu termino de fotografar o resto dos times. Muito obrigado.
Ele se afastou e se virou para . Colocou as mãos na cintura enquanto batia o pé nervosamente contra a grama bem cortada. Queria gritar com ele e proferir ofensas, queria esbofetear ele ali mesmo, mas não podia e tudo o que recebeu de foi um sorriso na sua direção.
- Para.
- Você fica linda assim, sabia?
- Eu mandei parar, ! Por que você fez aquilo? Eu não gosto de misturar minha vida pessoal com o meu trabalho.
- Amor, me desculpa se te peguei de surpresa, mas concordamos em não contar para ninguém, eu não queria que ele desconfiasse de nada - imitou o gesto dela ao colocar as mãos na cintura também. - Além disso, eu estou com saudades de você.
- Para de me chamar de amor e para de me provocar, ou eu peço esse divórcio de uma vez.
- Você não pode estar falando sério, .
- Mas estou. Não tenta me provocar ou você vai ver.
- Sabe por que eu sei que você não está falando sério?
- Sabe, é mesmo? Por quê? - sorriu e rebateu com ironia enquanto cruzava os braços.
- Porque você não sabe mentir... Seus olhos, , eles sempre dizem a verdade.
Ele estava certo, era mentira, ela não iria pedir o divórcio coisa nenhuma, mas não custava ameaçar. O problema de estar há seis anos com ele, era que a conhecia melhor do que ninguém, por consequência ela sabia que mentir para ele era inútil, ele sempre sabia como desarmar qualquer argumento que ela tivesse para debater.
- Aqui não é lugar para isso - ela descruzou os braços e olhou para os lados. sorriu satisfeito.
- Podemos conversar em casa? Como dois adultos?
- Não - virou as costas para se juntar ao aglomerado de atletas perto dali, mas parou quando sentiu uma pontada na barriga, levou a mão à região e fez feição de dor.
- , o que foi? - perguntou preocupado ao notar o que estava acontecendo com ela e se aproximou.
- Nada, estou bem.
- Vai continuar tentando mentir pra mim até quando? Quer ir ao DM?
- Não, , deixa para lá.
- Nem pensar, vai para o DM quando voltarmos para o CT.
...
Graças ao alarde de , se viu obrigada a comparecer ao departamento médico quando retornaram ao centro de treinamento. Ele implorou ao seu treinador, Xavi, para que o liberasse do treino naquela parte da manhã para que pudesse acompanhar a esposa caso fosse alguma coisa séria, pois já não escondia o mal estar. Xavi, que não era um robô, cedeu impondo a condição que retornasse após o almoço sem falta.
Os times treinavam muito próximos um do outro, já que ambas as instalações ficavam na ciutat esportiva Joan Gamper, o CT, então ele só precisou caminhar até as instalações do time feminino e procurar o departamento médico. Sabia que estava lá, então esperou do lado de fora até que ela saísse, não iria a lugar nenhum.
Dentro da sala, recebia a notícia que mudaria a sua vida, estava grávida. A médica, empática com a jogadora, tentava parecer positiva para que se animasse, mas tudo o que ela podia fazer era chorar, pois não queria ter filhos, iria estragar a sua carreira e perder uma possível final de Champions League.
- Está tudo bem, , não é o fim do mundo - a doutora sorriu. - Ter um filho não quer dizer que você vai ter que parar ou algo do tipo.
- Eu não queria, eu não podia engravidar agora.
- Querida, se não fosse agora, mais tarde seria mais difícil. Você ainda é jovem.
- É complicado, você não entenderia - passou a camisa do uniforme pelo rosto para secar as suas lágrimas. - Eu posso treinar?
- É claro que sim. Seu treino será em um ritmo diferente, é claro, mas é essencial para você ter uma gravidez saudável. Não se preocupe, o futebol não vai virar as costas pra você. Vou passar para a comissão técnica a novidade e vamos trabalhar juntos para que você continue treinando e o seu bebê fique bem. Vá pra casa, hoje você já não tem mais nada para fazer aqui.
- Obrigada - disse por fim, se levantou e deixou a sala.
Estava tão perdida em seus pensamentos que só notou que estava lá quando ele se aproximou muito preocupado ao ver que ela chorava. Ela sabia o quanto ele queria ser pai e que ele ficaria feliz com a notícia de qualquer maneira. tinha consciência de que aquela gravidez poderia arruinar a sua carreira, mas também salvar o seu casamento. O problema era que ela não queria ter que escolher entre um e outro.
- , o que foi? - questionou enquanto colocava as mãos sobre o ombro dela. - Você está bem? É alguma coisa séria? Por favor, vamos deixar as diferenças de lado um pouco.
não respondeu, apenas o abraçou forte. Não queria passar por aquilo sozinha, não deixaria mesmo se ela implorasse. Se fosse para acontecer, então que fosse do jeito certo, que seu filho tivesse os pais juntos e presentes. retribuiu sem entender, mas soube que tudo ficaria bem. Seja lá o que fosse, teria que se manter forte para que permanecesse de pé também, como o casal forte e destemido que sempre foram.
- Você está me deixando preocupado - ele disse ainda abraçado a ela, mas então se afastou.
- Eu preciso te dizer uma coisa - ela respirou fundo e jogou os cabelos para trás porque estava com calor. - , eu estou grávida.
não esboçou reação alguma, exceto arregalar os olhos. tinha tempo para esperar a reação dele, mas ele parecia enraizado no chão com a notícia.
- Grávida? - finalmente disse alguma coisa e ela assentiu, então ele finalmente reagiu, sorriu de orelha a orelha. - , isso é maravilhoso!
Ele a tomou nos braços e a girou no ar. não evitou a risada que soltou com a atitude dele, amava quando ele fazia isso e sentia falta de quando era assim sempre. De repente, ter um bebê já não era tão apavorante.
- Obrigado, obrigado! Eu... Nossa! Não posso nem explicar o quanto eu estou feliz!
- Eu sabia que você ia ficar - ela esboçou um sorriso entristecido. - , acho que as coisas não podem continuar como estão.
- Eu sei - se aproximou e colocou as mãos no rosto de . - Se você quiser, vamos começar de novo. Você me faz o homem mais feliz e realizado do mundo, e eu não vou me separar de você por nada, , por nada... Você quer tentar mais uma vez? Se disser que sim, então vamos agir como os adultos que somos, mas se não quiser, eu vou respeitar a sua opinião.
- Eu quero, - disse com sinceridade. - Se for para ser assim, então que seja do jeito certo. Eu também não fui nenhuma santa, já errei com você também, mas quero tentar de novo por nós e pelo nosso filho.
beijou a testa dela e se ajoelhou, encostando a sua testa contra a barriga dela e beijando por cima da camisa logo em seguida. Era o homem mais realizado do mundo naquele momento, não precisava de mais nada porque tudo o que importava estava ali com ele.
- Não tem riqueza no mundo que compre a minha felicidade agora, eu te amo tanto... - ele dizia de olhos fechados e sorriu. - Obrigado, , obrigado...
- Não posso jogar tantos anos no lixo, especialmente agora.
- Nem um ano foi desperdiçado, foram os anos mais felizes da minha vida - se levantou novamente e segurou as mãos dela e lhe deu um selinho.
- Da minha também... Bom, agora eu estou liberada para ir pra casa, vão mudar o meu treino, então não tenho muito o que fazer aqui hoje.
- Droga, prometi ao Xavi que voltaria... Queria voltar com você.
- Nada disso, vai treinar, você é o nosso ídolo agora e tem que trazer a orelhuda de volta para a Catalunha. Anda, vai logo, o Messi não joga mais. Vai, vai, vai...
- Calma, apressada, eu posso pelo menos me despedir de você? - riu e então se aproximou para se despedir dela com um beijo.
Mesmo que estivesse no meio do corredor do departamento médico, retribuiu. Finalmente as coisas começariam a dar certo e com o tempo ela aprenderia a desejar aquela gravidez tanto quanto ele e reconstruiriam a confiança do casamento novamente. Em algum momento os dois erraram, deixaram o individual falar mais alto, mas estavam dispostos a deixar para trás e tentar mais uma vez.
- Vai logo - disse ao se separarem, dando um empurrãozinho de leve em que riu da pressa dela.
- Até mais tarde, ... - sorriu e virou as costas para voltar para o campo, agora muito mais leve e feliz, ansioso para contar a novidade para o time.
- Até mais tarde - disse baixinho quando ele já estava distante e seguiu seu caminho.
Tinha que buscar a aliança e colocar no dedo de novo.
Fim.
Nota da autora: Oiiii como vocês estão? Podemos considerar como um capítulo extra de ONG ou não? Ahahahha brincadeira, mas bem que poderia ser verdade! Ficou bem curtinho, mas é apenas pra gente ver como seria se a PP ainda fosse jogadora e ele jogasse no seu time do coração. Gostaram? Porque eu adorei, e qual pagode melhor do que esse para definir os dois? Ahahahahah
Outras Fanfics:
06. Moving Along
Ad Perpetuam Memoriam
Ad Perpetuam Memoriam – They Don’t Know About Us
Onde Nascem os Grandes (original)
Nota de beta: Achei a coisa mais fofa do mundo... Achei que ia dar errado, mas daí fui lembrar da letra da música e perdebi que não tinha como, rsrs. Fofos demais os dois e como eles descobriram a gravidez, estava torcendo desde o início para que se acertassem. Adorei a fic, Rafa.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics:
06. Moving Along
Ad Perpetuam Memoriam
Ad Perpetuam Memoriam – They Don’t Know About Us
Onde Nascem os Grandes (original)
Nota de beta: Achei a coisa mais fofa do mundo... Achei que ia dar errado, mas daí fui lembrar da letra da música e perdebi que não tinha como, rsrs. Fofos demais os dois e como eles descobriram a gravidez, estava torcendo desde o início para que se acertassem. Adorei a fic, Rafa.