Finalizada em: 04/04/2018

I. HOLIC

— Se era pra você ficar tenso desse jeito, era melhor nem ter vindo... – um sorriso atrevido brincava nos olhos da mulher, ainda mais que em seus lábios, enquanto ela observava o rapaz ao seu lado. Ele, por sua vez, olhava insistentemente sobre os ombros, esperando uma catástrofe a qualquer momento: como era possível que a maldita sempre o convencesse a fazer qualquer coisa que quisesse?
Uma noite no centro da cidade podia ser um programa normal para qualquer jovem coreano, que não ele: para , aquela era uma missão suicida. Uma para a qual ele se oferecera voluntariamente tão logo ouviu o pedido ronronado... Oh, ela sabia ganhá-lo como ninguém, sua . Era como se toda a sua habilidade de raciocinar logicamente desaparecesse ao menor contato com aqueles olhos castanhos, tão calorosos quanto distantes. Tão inatingíveis quanto ela que, à distância de um palmo, nunca fora verdadeiramente sua.
— Você sabe ser mais divertido que isso. Muito mais... – provocou, erguendo ligeiramente o canto dos lábios: não era a mais sorridente das mulheres, o que tornava um tanto mais especial cada um dos sorrisos roubados. Se ela apenas soubesse o quão incrivelmente bonita parecia ao sorrir, tinha certeza de que ela faria aquilo o dia inteiro... Talvez ela soubesse, no entanto, e por isso usasse aquela arma com tanta parcimônia. Fato é que sempre o desarmava, por isso o homem não pôde conter o próprio sorriso, que ela pôde perceber mesmo detrás da máscara: o modo como os olhos dele se apertavam o denunciava, e ele nunca foi o melhor deles em mascarar sentimentos, seu .
O casal caminhava pelas ruas de Hongdae, evitando as áreas mais iluminadas por precauções, que ele a muito custo convencera a mulher a tomar: ela era do risco, ele da cautela. Ou era o que ele pensava, inconsciente de que cada passo dela naquele caminho tortuoso que trilhavam há meses – naquilo que ela chamava orgulhosamente de relacionamento casual – era milimetricamente calculado para que, se alguém caísse, não fosse ela a vítima.
— Você tem certeza de que não quer? – a mulher olhou para trás, estendendo uma garrafa de vidro verde, depois de levá-la aos lábios com uma preguiça quase felina, recebendo uma negativa imediata: ela sabia que ele não podia beber publicamente, por que ainda insistia? ‘Porque ela veio ao mundo pra te enlouquecer’, a pergunta era prontamente respondida em sua mente.
— Só vamos pra casa, -yah... – pediu e se flagrou admirando por um momento a forma como as luzes coloridas do bairro mais agitado da cidade faziam maravilhas ao lançar suas sombras dançantes sobre aquele rosto que ele conhecia de cor, ao melhor sentido da expressão: decorara-o de todo o coração – Vamos pra casa - ele enlaçou a cintura da mulher despretensiosamente, mas o toque era firme o suficiente para não deixar dúvidas da ideia que passava. Do que ele queria. – e eu te lembro como eu posso ser divertido... – propôs, a máscara quase tocando os lábios cheios da morena.
— Boa tentativa. – mais uma vez, um sorriso relampejou pelo rosto dela, que mirava os olhos castanhos tão próximos aos seus, tomando um tempo especialmente longo para admirar as pintinhas que decoravam a pálpebra esquerda dele adoravelmente. Aquilo era mesmo necessário, Deus? O sorriso perfeito, o físico invejável e o charme indiscutível não eram mesmo suficientes? – Mas eu acho que nós podemos nos divertir aqui.
— Você não... – suspirou, cansado, pretendendo iniciar uma argumentação, ainda que nunca na vida tivesse ganho uma só discussão contra ela.
— Eu não entendo. – interrompeu, repetindo o discurso que já escutara dele outras tantas vezes – Eu não te levo a sério. Eu sou uma louca inconsequente e egoísta que só penso em mim. – tocou o ombro dele delicadamente, fazendo um biquinho que provavelmente pareceria adorável a qualquer um olhando de fora. , contudo, podia ver a sensualidade mascarada por trás daquela voz melodiosa e naquele instante se lembrou do por que engoliria brasa quente, se ela pedisse naquele tom – Eu entendo, sim. E eu sei como é. – a mulher aproximou o rosto do dele, soprando bem em seu ouvido – Eu só não ligo, jagi... – sussurrou o apelido com uma rouquidão quase cruel – É disso que você gosta. – completou, puxando a máscara para baixo e colando sua boca à dele em um beijo sem reservas e sem pudores.
A reação de foi imediata, como sempre que se tratava de : ele tentava ser racional até a exaustão de suas forças, mas era sempre vencido pelo mais visceral dos instintos. Com uma das mãos ele a trouxe para perto pela cintura, enquanto a outra se afundava nos cabelos da mulher e arrancava um suspiro contido, porém suficiente para foder com a sua mente de um jeito surreal. Sem quebrar o contato das línguas que se excitavam e brigavam com a mesma intensidade, tateou as costas até encontrar a parede próxima de uma loja de conveniência fechada, encostando-se e trazendo pela jaqueta que ele usava sobre o moletom.
... – ele murmurou com o rosto enterrado na curva do pescoço da mulher, inconsciente do efeito que sua respiração pesada causava nela, mais preocupado em controlar as próprias mãos que desejavam ainda mais contato, enquanto as dela já corriam por dentro de seu casaco, tateando a pele quente que se aquecia ainda mais sob seus dedos. – Não, vamos... – grunhiu, sentindo que um pouco mais daquilo e ele provavelmente perderia o pouco bom-senso que lhe restava, deixando as mãos escorregarem por baixo da saia dela como urgiam por fazer. fez menção de se afastar, levando os dedos novamente à máscara, mas impediu o movimento com um toque firme e aquele maldito sorriso. O sorriso que ela sabia que o faria ceder a qualquer pedido.
— Ninguém tá prestando atenção. – a mulher olhou ao redor, certificando-se do que dizia – Olha pra mim, jagi... – murmurou, a voz tão doce e sensual que o perturbava de forma quase indecente – Só pra mim. – puxou o queixo dele para baixo até que seus olhares se alinhassem, e o desejo que viu ali foi o suficiente para que sentisse cada poro de seu corpo se arrepiar, um segundo antes de mandar para o espaço qualquer réstia de sanidade, avançando sobre os lábios dela em um beijo exigente, retaliando-a por toda provocação e por cada problema que aquela maldita história já lhe causara. Beijavam-se com raiva, tocavam-se com desejo e se desafiavam a cada segundo, provocando um ao outro até o limite. recebia com satisfação todas as sensações que ele era capaz de causar, aproveitando cada segundo daquele livre da típica autocensura, e quando a língua dele começou a traçar um caminho quente em seu pescoço, não foi capaz de conter um gemido alto, odiando a forma como os lábios dele se abriram em um sorriso vitorioso contra sua pele antes de mordê-la provocativamente.
— Tem certeza que quer continuar isso aqui? – a voz dele era áspera, e de algum modo aquilo fazia com que soasse ainda melhor – Eu posso continuar a noite inteira. – avisou e a mulher ergueu os olhos, dividida entre a tentação de desafiá-lo a isso e a vontade absurda de dar fim à brincadeira.
— Vamos... – a voz dela não era mais do que um gemido quando mordeu o lábio inferior do rapaz sem delicadeza – É melhor você realmente me divertir...



deixou que os olhos passeassem vagarosamente pela figura de semi-adormecido ao seu lado: dos cílios escuros e absurdamente longos aos lábios perfeitamente formados, passando pelo peitoral exposto e a forma como os braços se tencionavam em torno dela, mantendo-a perto num reflexo de que conhecia tão bem sua tendência a desaparecer sem deixar recado. A mulher prendeu o lábio inferior entre os dentes, lutando contra o sono e entorpecimento do prazer recente, sabendo que mais alguns minutos e não seria capaz de vencer a vontade aterradora de ficar. Afastando a ideia com alguma resistência, desvencilhou-se do abraço dele com cuidado, sentando-se na cama do hotel e buscando as próprias roupas espalhadas pelo chão, o que trouxe de volta a memória de como elas tinham ido parar ali. Acabara de se vestir e ao se virar para deixar um último olhar ao homem que largava sozinho na cama, deparou-se com perfeitamente acordado.
— Por que eu ainda me surpreendo? – a voz dele era cansada, talvez um pouco decepcionada, e o modo como ele coçou a nuca, expondo um pouco mais a pele antes coberta, fez com que a mulher quase voltasse para a cama. Quase. – Mas que merda, ...
— Eu preciso ir, jagi. – ela tentou soar doce, mas podia ver a irritação crescente no rapaz quando ele sentou na cama, encarando-a de forma tão intensa que ela precisou desviar o olhar, trocando o peso de uma perna para outra.
— Por quê? O que você tem de tão importante pra fazer às 5 da manhã? – questionou, cobrindo a distância que os separava com uma lentidão que permitiu que esquadrinhasse mais uma vez o corpo que fora tão seu há poucas horas. Merda, como era possível que somente aquela visão a aquecesse por inteiro? – Por que você nunca pode ficar? – perguntou e ergueu novamente os olhos para ele: o rosto limpo e tão estupidamente belo, os olhos expressivos e tão, tão honestos. Ele era por inteiro, naqueles momentos secretos que compartilhavam. Ela, contudo, não conseguia se livrar das reservas que sempre alardeavam para que sumisse. Fugisse. levou uma das mãos ao rosto dele, espalmando-a delicadamente para assistir ao modo como cerrou os olhos sob seu toque, respirando fundo – Por que você não fica?– ele repetiu e respondeu selando seus lábios em um beijo que começou lento, envolvente, para então se tornar sôfrego a ponto de ela precisar interrompê-lo, caso contrário não haveria autocontrole que a impedisse de ficar.
— Boa noite, jagi... – respondeu, virando-se sem voltar a olhar para trás, enquanto respondia mentalmente à pergunta que lhe fizera, sem saber ao certo a quem destinar a resposta.
‘Porque senão você vai se apaixonar, idiota.’


II. BAD HABIT

estava, por falta de melhores termos, puto. O ensaio já durava uma hora e a cada segundo transcorrido ele tinha mais dificuldade em manter os olhos onde deveriam estar – Ji Young e , com quem dividia o palco –, já que estes pareciam permanentemente atraídos para o canto esquerdo da sala, onde ela estava. . Sempre . O fato de dividir o palco com ela novamente era feito abrir um relicário de memórias: fora também ali que a vira pela primeira vez, no dia que amaldiçoava e reverenciava em iguais proporções.
Deixando a mente vagar inadvertidamente até aquele dia fatídico, o cantor foi capaz de reproduzir na memória a sensação de eletricidade que percorreu seu corpo no instante em seus olhos se chocaram pela primeira vez com aqueles orbes oblíquos e nebulosos que hoje tiravam seu sono. Àquele ponto, antes mesmo de saber o nome da dançarina de Ji-Young, sua única certeza era de que a queria. Por Deus, como a queria. O que não poderia imaginar era que, por mais que tivesse cumprido esse objetivo, jamais a teria por inteiro, como fazia questão de deixar claro a cada vez que se encontravam. Como agora.
— Você precisa de dez minutos? – perguntou, fazendo um sinal para que a música parasse ao ver que perdera sua entrada. Ele apenas não tinha ideia do motivo da distração: a forma torturantemente próxima e íntima como e seu parceiro de dança realizavam a coreografia, as mãos dele passeando por todo o corpo da mulher e fazendo com que travasse o maxilar em fúria mal reprimida. Se aquilo o enfurecia, o modo como o fitava vez ou outra, com um cinismo digno de atriz, era capaz de enlouquecê-lo. Especialmente quando ela deu um sorriso satisfeito que não fazia ideia se era destinado ao outro ou a ele, para quem ela fazia aquele showzinho particular.
— Cinco. – aceitou a oferta do amigo, respirando fundo para controlar a vontade de mandar à merda a compostura, a imagem, a carreira e a empresa, arrancando de cima de aquelas mãos que tocavam de forma tão possessiva a mulher que, entre quatro paredes, era tão sua – Vou tomar um ar. – anunciou, antes de sair do estúdio num rompante.
— Vocês, intervalo. – Ji-Young estalou os dedos para seus dançarinos, que se dispersaram rapidamente, dando a a chance de olhar para , reprimindo um sorriso ao vê-lo deixar o palco sem olhar para trás depois de rosnar para que não queria companhia. Era incrível como o garoto era simplesmente incapaz de mascarar qualquer emoção: enquanto dançava, pôde sentir os olhos dele queimando sobre ela, repletos de raiva e desejo. E simplesmente não podia negar o quanto adorava aquela combinação, por isso sorriu despreocupadamente para os colegas, inventando uma desculpa qualquer para segui-lo até o lado de fora da sala de ensaio.
— Era mais fácil ter escrito na testa. – parou de braços cruzados para observar as costas do rapaz, a camiseta branca colada pelo suor do ensaio fazendo um trabalho incrível no sentido de ressaltar cada músculo que se contraiu visivelmente no instante em que ouviu a voz dela – Eu pensei que o ‘oh-tão-perfeito-idol’ não pudesse fazer uma ceninha dessas... – a ironia fez com que travasse o maxilar com força, tornando ainda mais proeminente o que achava particularmente atraente.
— Você devia entrar. – a raiva fazia com que não se preocupasse com o quão rude soava — Parecia bem distraída lá dentro. – soltou, mordendo a parte interior das bochechas e retorcendo o lábio de um modo que deixava evidente seu descontentamento, para satisfação secreta da mulher que, internamente, amaldiçoava-se por se sentir feliz ao vê-lo enciumado.
— Não. Esse era você. – deu dois passos à frente, deleitando-se quando finalmente perdeu a batalha interna que travava consigo mesmo e checou sem pudores todo o seu corpo, aquecendo cada parte que tocava com os olhos: das pernas expostas pelos shorts ao pescoço delicado, onde fios do cabelo escuro se grudavam ao suor de um modo quase obsceno. Inconscientemente, prendeu o lábio inferior entre os dentes, lembrando-se de como era exatamente assim que ela parecia entre os travesseiros, suada e exausta naquelas que eram suas noites secretas – Muito distraído. – soprou as palavras, tocando o queixo dele, que descia o olhar até seu colo, para trazê-lo até o nível de seus olhos.
— Era o que você queria, não era? – reduziu ainda mais a distância que os separava, ignorando os alertas que soavam em sua mente sobre a alta probabilidade de que alguém os flagrasse ali, tão próximos que podia sentir o calor da pele dela a poucos centímetros de distância – Se esfregando em outro bem na minha frente...
— Distraído e tão possessivo. enumerou, erguendo o canto dos lábios discretamente – Mas eu adoro te ver bravo assim... – murmurou contra o ouvido dele, sentindo que a postura de se enrijecia no instante em que deixou as mãos espalmadas sob o abdome dele.
— Você não deveria. – grunhiu, levando uma das mãos à cintura dela e apertando sem delicadeza. – Não aqui, quando não tem nada que eu possa fazer com toda essa raiva. – completou, desenhando com a ponta do nariz a linha do maxilar dela demoradamente e contendo as próprias mãos que formigavam por tocá-la ainda mais possessivamente do que vira o outro dançarino fazer há alguns minutos. A pele de se arrepiou por completo, numa resposta imediata e inegável a quão atraente a ideia lhe parecia — Ele também te deixa assim? – perguntou, tirando do caminho aquilo que o matava por dentro, e quase deixou escapar uma risada: nunca provara tanto do ciúme de . E ele era especialmente delicioso.
— Kai é um amigo. – ela disse, um sorriso maldoso brincando no canto dos lábios – Como você, . – completou, e a risada dele em resposta foi quase assustadora, visto que não chegava nem perto de alcançar os olhos.
— E você dorme com todos os seus amigos, então? – perguntou, ainda que soubesse o quão ridiculamente machista e inseguro aquilo soava.
— Não. – dessa vez ela sorriu largamente, mostrando todos os dentes – Só com os que me interessam, jagi.
– E o seu amigo... – sentiu o baque da resposta, mas não se via disposto a perder – Ele também te arrepia só de te tocar? – correu uma das mãos até os cabelos dela, puxando levemente para que a mulher o encarasse, sendo traída pela forma que sua pele sempre se arrepiava quando ele respirava assim tão perto. correu a língua pelos lábios, relutante em responder, e foi a vez de sorrir – Eu quero saber... – sussurrou no ouvido dela, sentindo a mulher estremecer discretamente, o que consideraria uma vitória ainda maior se soubesse quanto esforço ela dedicava a se manter quieta sob os dedos dele – Se ele também te excita. – completou, mordendo o lábio inferior dela de forma sensual, um segundo antes de tomar seus lábios em um beijo insinuante que fazia com que quisesse arrancar a pouca roupa que ela usava e fazer com que gemesse seu nome para que todos na sala ao lado ouvissem. , por sua vez, estava prestes a gemer que sim, só ele a deixava tão fodidamente excitada, mas assim que abriu os lábios para proferir as palavras, o som da porta se abrindo fez com se afastasse de instantaneamente.
? – a voz masculina soava desconfiada, decerto estranhando a demora – Ji-Young está te procurando... – Kai finalmente apareceu em sua linha de visão, e encarou a amiga e tão próximos com alguma curiosidade.
— Claro! Eu só estava recordando a -ssi – a ironia presente na falsa formalidade passou despercebida, tal a facilidade com que ela atuava – um passo da coreografia que ele não conseguia lembrar... – a maldita sorria tão naturalmente que era fácil acreditar em cada palavra. tinha os olhos no homem do outro lado do corredor, controlando a vontade que tinha de passar os braços em torno de e marcar seu território como gostaria de ter marcado a pele delicada do pescoço dela.
— Sim. Muito obrigado, -ssi. – ele fez uma reverência forçada e mecânica, em nada fluida como a mentira que ela iniciara, e quando seus olhos faiscaram na direção da mulher, pôde ler neles o quanto ele queria provar a Kai, e a todos os outros, as verdades não ditas que ela estivera prestes a confessar. Mas ele não podia.
E se não podia ser seu, se certificaria de também nunca ser dele.


III. SIN

— Que visão... - a voz de fez com que abrisse os olhos, deparando-se com a figura dele apoiado no batente da porta com nada além de uma toalha de banho amarrada à cintura, deixando exposto o tronco ainda molhado. A boca da mulher salivou à ideia de provar cada gota que escorria pelo caminho que ela gostaria de fazer com os lábios, e ela sorriu com malícia.

— Eu poderia dizer o mesmo. - espreguiçou demoradamente antes de se virar sobre o lado esquerdo, dando a ele uma visão ainda mais privilegiada de seu corpo sem uma única peça de roupa -ie, você é tão bonito!” - ela falseou uma voz infantil, fazendo um coração com as mãos em uma imitação dos aegyos das fãs enquanto os lábios se uniam em um biquinho - Saranghae, oppa! - finalizou sua performance com a expressão mais fofa que conseguiu produzir, arrancando uma risada de , que maneava a cabeça, encarando o chão com um daqueles seus sorrisos francos.

— Você não vale nada, . - a voz dele ainda transparecia o sorriso quando tirou a toalha da cintura, usando-a para secar os cabelos. Quando voltou a encarar a mulher entre os lençóis, o olhar dela era tão carregado de luxúria que foi capaz de fazer com que seu interior se aquecesse com a ideia de repetir o que vinham fazendo o dia inteiro a fim de recuperarem as semanas que passaram sem se ver.

— Eu penso o que as suas fãs diriam, se te vissem assim... - ela suspirou com falsa preocupação, mordendo o lábio inferior enquanto apoiava o rosto sobre uma das mãos, encarando-o sem a menor discrição - Será imaginam o que essa boca que canta coisas tão adoráveis é capaz de fazer? - completou, e precisou respirar fundo para não avançar sobre ela e calar aquela voz insinuante, gostando da brincadeira que ela iniciara - Eu acho que não. - respondeu à própria pergunta, deleitando-se com a forma como passeava o olhar por seu corpo ao ritmo de suas palavras, parecendo verdadeiramente enfeitiçado enquanto cobria o espaço até a cama - Porque você é um garoto tão, tão bom, não é, jagi? - a voz dela parecia escorrer até os ouvidos de com o intuito de arrepiá-lo por inteiro. Assim, antes que ela pudesse continuar a foder com a sua cabeça tão deliciosamente, o rapaz avançou sobre o corpo de , prendendo seus pulsos sobre a cabeça enquanto a outra mão trazia uma das pernas dela para o lado de seu corpo, encaixando-se no meio dela. suspirou alto, e um sorriso cretino ocupou seus lábios antes de gemer - Isso, seja bom pra mim, sim?

tomou os lábios dela com fúria e desejo, sentindo a forma libidinosa como movia a língua contra a sua, tentando-o com promessas do porvir. Ela era, com o perdão do lugar-comum, seu mais perigoso vício: excitava-o de um modo que não reconhecia substitutos e o largava absolutamente desesperado sempre que se ausentava. Seu maldito vício, seu doce pecado.



— Eu to me sentindo um pouco culpado, agora... Quase uma farsa. – sorriu sem humor enquanto acariciava distraidamente os cabelos de , deitada sobre seu peito. O cheiro dela estava por todo lugar naquela cama, motivo pelo qual ele preferia muito mais a casa dela do que a dele próprio, e desejava nunca ter que se levantar. Regras eram regras, no entanto, e as de incluíam nunca passar uma noite inteira juntos, por mais que ela nunca tivesse dito com todas as letras. Ainda assim, um homem pode sonhar, certo?

— Por quê? - a mulher perguntou, sem abrir os olhos, deixando as pontas dos dedos brincarem traçando formas aleatórias sobre a pele dele.

— Por causa do que você disse, sobre as fãs. - explicou e sentiu o sorriso de se abrindo sobre seu tórax - Me faz pensar se eu não tô fazendo alguma coisa errada. Sendo assim aqui e aquele ‘bom garoto’ - ele imitou a forma como ela falara, e deixou escapar uma risadinha - pro público.

— Eu gosto desse. - ela finalmente ergueu os olhos para encará-lo com um sorriso que não trazia malícia ou dissimulação: se ela atuava, fazia-o extremamente bem dessa vez - Mas isso aqui não quer dizer que você não seja um bom garoto, jagi. - continuou, gesticulando para os dois, a forma como seus corpos se entrelaçavam de forma a mal saberem onde um começava e outro terminava - Você é bom. - selou os lábios aos dele uma vez, com um carinho que pegou de surpresa, mas que pareceu absurdamente confortável - Nunca ouse pensar o contrário.

As palavras fluíram dos lábios de influenciadas pela vontade súbita que ela teve de fazer com que se sentisse bem. Convivia com ele por tempo o suficiente para saber tudo sobre a maldita cobrança que os idols sofriam por causa da idealização, e a ideia de crendo que fazia algo errado por agir como bem entendesse fora do palco a deixava puta pra caralho com aquela sociedade hipócrita. O relacionamento deles podia ser baseado em química e pele, mas era impossível que ela não notasse, em todas as pequenas coisas, que tipo de pessoa ele era: estava sempre preocupado com a família e os amigos, e tinha o coração mais mole do mundo quando se tratava de animais. E crianças. Ele simplesmente amava crianças, e ela podia facilmente imagina-lo como o pai mais incrível do planeta. Odiava cozinhar, mas sempre se oferecia para lavar a louça. Sorria com os olhos, era sincero e não temia os sentimentos, afogava-se deles – e Deus sabe o quanto invejava essa característica. Era educado, inteligente, esforçado e generoso. Ele era bom, independente do fato de tomar um porre ou outro, xingar e falar merda de vez em quando, ou transar com uma garota.

— Quem é você e o que você fez com a ? - ele perguntou, segurando o rosto dela entre as mãos, um sorriso afetuoso surgindo nos lábios.

— Se você vai ser um idiota sobre isso, eu posso parar. - mulher revirou os olhos, voltando a se deitar sobre o peito dele a fim de que não percebesse seu constrangimento. Mas que merda, onde estava com a cabeça?

continuou o carinho que fazia nos cabelos dela, apreciando o momento sem querer força-la a dizer mais nada: sabia o quanto aquilo provavelmente custara a , e não pretendia insistir. Depois de alguns segundos, no entanto, um murmúrio saiu de seus lábios, numa confissão que já tentava escapar há algum tempo.

— Eu escrevi uma música pra você. - disse, o coração se acelerando em expectativa - Quer ouvir? - perguntou e respirou fundo, cerrando os olhos enquanto a realidade caía sobre ela com o peso de toneladas: aquilo não ia acabar bem. Ela sabia o que aquele ato significava para um músico, especialmente , com quem conversara sobre o assunto há algum tempo: era algo ainda mais forte que amor. Era o desejo de eternizar um sentimento, bom ou ruim. Mas intenso. E essa intensidade era apavorante.

— Eu acho... - a garganta da mulher estava seca e precisou respirar fundo e se sentar na cama, evitando o olhar dele, antes de continuar - Eu acho melhor não, .

Fuck. - a voz dele era abafada pelas mãos que cobriam o próprio rosto enquanto se amaldiçoava não por ter confessado sobre a música, mas por ter se apaixonado por aquela mulher - É realmente só sexo pra você, ? - ele perguntou, com uma sinceridade brutal, e a falta de resposta dela foi traduzida como uma confirmação; Rindo sem humor algum, se levantou da cama buscando as próprias roupas no chão, sob o olhar surpreso da mulher que, pela primeira vez em tanto tempo, via nele uma raiva que parecia não ter solução.

, para. - ela disse, segurando-o pelo pulso depois de vê-lo vestir os jeans - Não faz isso, nós dissemos “sem discutir relação”, você não lembra?

Você disse. - finalmente desceu os olhos para ela, encarando-a com algo que parecia dor real - Por que a gente não pode ser normal, porra? Por que eu não posso nem acordar do teu lado, ? - perguntou, e a forma como a voz dele soava fazia com que a mulher tivesse uma vontade absurda de chorar. Que merda era aquela? Não era só sexo, no final das contas.

— Não me fala sobre ser normal, ok? - ela maneou a cabeça, dando dois passos para trás a fim de se livrar da intensidade do olhar de - Isso nunca vai ser normal, nós dois. Mas não precisa complicar ainda mais...

respirou fundo - entortando os lábios daquela forma que deixava tão evidente a sua infelicidade - e pegou o moletom vermelho no chão, vestindo-o já que usava sua camisa, e ele não podia garantir nada se ela tirasse a roupa naquele momento. Ele não queria fazer aquilo. Merda, aquela era a literalmente a última coisa que queria fazer, mas era um especialista em abrir mão de seus desejos em prol dos deveres e, no momento, o que ele devia fazer era se afastar de antes que tudo aquilo se tornasse uma merda ainda maior.

— Eu tô simplificando pra você, então. - ele andava em direção à porta sob o olhar da mulher, que recordava os últimos segundos tentando entender em qual ponto tudo desmoronara - Acabou, .


IV. THINK OF YOU

— Você tem certeza de que não quer vir? - o rapaz olhou de canto para a mulher no banco do carona, analisando o rosto avermelhado pelas horas de treino: mesmo não se enquadrando perfeitamente aos padrões de beleza coreanos, ela era ridiculamente atraente - Todo mundo vai... - insistiu, um sorriso doce nos lábios que tentavam convencê-la a ir ao aniversário de um dos colegas da companhia de dança.
— Eu realmente não tô na vibe, Kai... - respondeu, mexendo no elástico preso ao pulso apenas para manter as mãos ocupadas. Com o olhar fixo do lado de fora da janela, a mulher contava os segundos para chegar em casa e tomar um banho antes de se jogar na cama e só acordar quando o corpo doesse por estar deitada há tanto tempo. O que era basicamente sua rotina nas últimas semanas.
— Eu posso ficar com você então, não faço questão de sair com todo mundo, jagiya... Só queria ficar com você um pouco. - Kai deixou uma das mãos correrem até o joelho de , fazendo um carinho que buscava recuperar a intimidade que costumavam ter, mas que há algum tempo ela vinha negando – Eu cozinho, você descansa... Depois eu te faço uma massagem...
— É melhor não, Kai. - segurou a mão dele por um momento, apenas como desculpa para tirá-la de onde estava - Eu tô mesmo precisando dormir.
— Se eu não te conhecesse bem, diria que alguém tá curtindo uma fossa. - Kai entendeu o recado, recolhendo a mão até o volante enquanto entortava a cabeça com curiosidade - É aquele cara? ?
— Ainda bem que me conhece, não é mesmo? - protestou, mas a carranca e o modo como mexia insistentemente no fecho da bolsa deixavam claro seu desconforto - E eu não sei do que você tá falando...
Kai não conteve uma risada, maneando a cabeça enquanto mexia no som do carro: era uma bela atriz, até que suas emoções entravam na linha, comprometendo toda a sua pose de quem tinha o mundo sob controle.
— Eu escutei uma música solo que ele lançou esses dias, e ela me lembrou absurdamente de você. - disse, assim que a faixa começou, notando o fato de que enrijecera no banco do carona - E aí caiu a ficha de que ele provavelmente também tinha escrito pensando em você, não é? É o que você faz com todos nós, pobres mortais... - ele deu um sorriso triste e franco.
— Kai, por favor... - ergueu os olhos para ele, levando uma mão até o som para interromper a música, mas o rapaz a impediu, e assim que as primeiras palavras a atingiram, naquela voz tão conhecida que parecia falar ao seu íntimo, ela soube. E quando o refrão veio, e com ele a confissão de sobre um pecado que ele queria cometer várias e várias vezes, ela teve sua confirmação: era a sua música - Por favor, desliga isso. - pediu, e o tormento em seus olhos era tanto que Kai obedeceu ao pedido, fazendo com que seguissem o resto do trajeto em silêncio.
nem mesmo tentou lutar contra as memórias que a invadiram, da última noite que tivera com . Ela sabia, intimamente, que aquela história era fadada a dar errado desde o início, e por isso convencera a si mesma - e tentara convencê-lo, sem sucesso - de que o que tinham era físico e nada mais. Mesmo hoje, quando não conseguia sequer pensar nele sem que um vazio estranho tomasse conta de si, insistia em pensar que a falta que sentia era do toque. Do cheiro. Do gosto. Do homem. E também de todas as suas risadas desmedidas e toques furtivos e afetuosos. Da voz rouca depois de algumas horas de sono, e do modo como seus olhos pareciam ainda menores quando sorria. Mas o que era aquilo, senão uma falta tremenda dele?
— Entregue. - Kai a arrancou de seu devaneio e viu a própria casa pela janela.
— Obrigada. - deu um sorriso brando, colocando a bolsa sobre o ombro antes de abrir a porta do carro - Divirta-se hoje à noite!
-yah... - Kai chamou a mulher, relutando por um momento antes de continuar - Coração partido não combina com você. - sorriu e a mulher não pôde conter também um sorriso de canto. Ele era um bom amigo, Kai. - Você deveria falar com ele.



Quando o visor do celular acusou a ligação, não pôde reprimir a surpresa. Não era como se não pensasse nela – na realidade, isso acontecia com uma frequência surpreendentemente alta, fosse em devaneios no meio do dia ou em sonhos que o despertavam com uma frustração sem precedentes. Mas se ele tinha conseguido controlar até ali a vontade absurda de procurá-la, surpreendia-o que fosse ela a primeira a fazer isso. Futuramente, riria do fato de não ter sequer cogitado deixar de atendê-la. Era automático: ela chamava, ele respondia. Sempre.
— Oi... – se ajeitou na cama, sem saber o que esperar de tudo aquilo.
— Oi... – a voz dela do outro lado da linha era baixa, como se cometesse um crime ao realizar aquela ligação. respirou fundo, cerrando os olhos ao perceber a falta absurda que sentira do timbre da voz dela que, com uma única palavra, fora capaz de despertar toda a saudade que ele vinha tentando afogar – Como você está?
— Bem. – ele respondeu automaticamente, incerto sobre os caminhos que aquela conversa tomava – E você?
— Também. – respondeu, e o silêncio que se seguiu era preenchido apenas pelo som das respirações de ambos. A mulher mordia os lábios, arrependendo-se da maldita hora que resolvera ligar, sentindo que jamais conseguiria verbalizar o que sentia, especialmente porque não fazia ideia do que era aquilo, senão um incômodo irritante dentro do peito.
, por que você ligou? – suspirou, depois de alguns segundos de silêncio. Ele poderia facilmente continuar apenas ouvindo ela respirar, fazia isso com frequência quando estavam deitados e ela adormecia primeiro, mas naquele momento a ideia parecia torturante demais.
— Eu... – ela murmurou, interrompendo-se para pensar na resposta. Merda, por que tinha ligado? Porque estava doente de saudades. Porque a ideia de não o ter mais por perto destruía seu humor. Porque sentia sua falta feito louca... – Eu só estava pensando em como você está realmente determinado a se tornar um bom garoto. – respondeu com uma piadinha cretina, mordendo o lábio inferior antes de completar, ciente de que ele não entenderia sozinho a referência – Já que faz tanto tempo que você não peca.
O sorriso nos lábios de veio lento, assim como a compreensão do que ela queria dizer: aquela era , em todos os níveis. Provocativa, divertida e instigante. Ela nunca admitiria que estava com saudades. Bem como nunca diria diretamente que ouvira a sua música. Ela era repleta de contornos, reviravoltas e subterfúgios. Era , e só Deus sabia o quanto ele sentia falta daquela mulher.
— Você ouviu? – perguntou, brincando com a borda da camiseta para distrair-se da expectativa: a simples ideia o deixava feliz de uma forma quase vergonhosa. ‘Sin’ era a tradução crua de tudo o que viveram, da dor ao prazer, do verdadeiro pecado que era amá-la e seguir cedendo aos seus caprichos.
— Só uma parte. – respondeu a verdade, sentindo o alívio de ter a conversa fluindo mais naturalmente – Eu achei talvez pudesse ouvir o resto pessoalmente. – completou, mordendo os lábios para aguardar a resposta dele. Se aquele pouco tempo não tivesse mudado nada na relação deles, como ela imaginava, ele estaria ali em alguns minutos e então poderiam resolver toda a situação da forma como sabiam fazer. E esta não necessitava de muitas palavras.
— Vem pra cá. – respondeu depois de considerar por alguns segundos, decidindo pular a parte em que amaldiçoava a si mesmo por ceder a ela tão fácil. Ele teria tempo de fazer aquilo depois, se tudo corresse mal. Naquele dia, contudo, excepcionalmente sozinho, queria-a ali. Queria o cheiro dela em seus travesseiros quando ela inevitavelmente partisse, e a forma como pareceria ao ter seu reflexo no espelho do banheiro. Queria testar como os cabelos dela se fundiriam ao branco de seus lençóis, e como a voz dela soaria na acústica do quarto quando suspirasse seu nome.
— E os garotos? – perguntou, alarmada. Em todo aquele tempo, ela nunca tinha ido ao apartamento dele: de alguma forma, manter-se em sua própria casa era seguir na zona de conforto, em seu território. Outras tantas vezes, eram os impessoais quartos de hotel que recebiam os dois amantes embriagados de desejo. Ir à casa de , no entanto, era quebrar uma nova barreira, conhecendo-o ainda mais intimamente.
— Não estão. – ele respondeu, movendo-se na cama com a crescente excitação de ver que ela considerava o pedido – ...
— Só me envia a localização, . – ela interrompeu, e podia imaginar perfeitamente a expressão irritada e contrariada em seu rosto naquele momento, o que fazia um sorriso preencher seu rosto: ela ficava particularmente atraente quando estava fora do sério – Antes que eu me arrependa.



Do instante em que chegou ao apartamento até que dissessem alguma coisa, passaram-se alguns minutos. observava atentamente a forma como ela andava pela casa, parecendo reconhecer o terreno até então desconhecido, até se escorar à janela, deixando que o ar gelado de Seul adentrasse a sala e brincasse com seus cabelos ao jogá-los por todos os lados.
— É uma bela música. – quebrou o silêncio, ainda encarando o lado de fora. Ela podia sentir o olhar de em suas costas, e aquele fato sozinho já era capaz de fazer com que estremecesse levemente. O som dos passos dele enquanto se aproximava, contudo, fazia seu coração se acelerar. Um mês desde que o tocara pela última vez, e ela podia sentir a própria pele formigando por contato. Simplesmente patética, se queria sua opinião.
cruzou a sala a passos lentos, mas não refutou a ideia de abraçar aquele corpo que parecia urgir pelo seu tanto quanto ele necessitava dela: abraçou pelas costas, sentindo a forma como a mulher imediatamente segurou os braços que ele passara por sua cintura e arqueou o corpo para trás, tão ansiosa quanto ele por contato. Pousando os lábios próximos ao ouvido dela, cantarolou a canção que escrevera quando a imagem de inundava sua mente: os sorrisos repletos de malícia, os olhares que prometiam o paraíso, os cabelos negros espalhados sobre a cama e o modo como ela mordia os lábios no ápice do prazer... . Da letra à melodia, aquela música era dela. A mulher deixou que a voz de invadisse seus sentidos, o toque dele em sua pele e a respiração em seu pescoço tornando a experiência ainda mais sensorial. Quando ele terminou, confessando todo o seu amor e sua fúria, o desejo e a culpa, tinha a cabeça pesada e respirava pesadamente, perdida na intensidade do que acabara de acontecer. Era o êxtase mais poderoso de sua vida e, ainda que suas roupas ainda estivessem todas no lugar, nunca estivera tão nua diante dele. Entregues e arfantes, imersos em um mundo próprio, era como se tivessem feito amor pela primeira vez.
— Eu senti a sua falta. – murmurou, deixando a cabeça pesar sobre os ombros dela, o coração disparado contra as costas da mulher.
— Eu também, jagi. – cerrou os olhos por um momento, virando-se entre os braços dele para enfim encarar o rosto que vinha perturbando seu sono. tinha os olhos fixos nos dela, mas eram os lábios dele que chamavam mais sua atenção: lábios que sempre a presenteavam com prazer, e que hoje haviam tocado sua emoção – Muito. – sussurrou, antes beijá-lo sem aviso, gemendo baixo no instante em que a língua de assumiu o controle, iniciando um ritmo quente e lento, com uma tônica até então desconhecida para os dois. Saudade.
enterrou uma das mãos nos cabelos de , girando a cabeça dela para expor o pescoço da mulher às investidas de seus lábios, e plantou ali beijos que arrancaram suspiros que o excitavam mais do que qualquer outra coisa. Aproveitando a distração dele, a morena buscou a barra da camiseta, arrancando-a de uma só vez e arranhando suas costas dolorosamente no processo. grunhiu em resposta, enterrando os dentes na área onde estavam seus lábios, logo acima do sutiã, e gemeu de dor e prazer. Ele conhecia todos os seus gatilhos, e sabia brincar com eles como ninguém mais: naquele jogo, ela finalmente encontrara alguém à sua altura.
Sem suportar mais provocações, correu as mãos pelas costas de até a parte de trás de suas coxas, apertando-as num sinal que ela entendeu rapidamente, içando-se para o colo dele e enlaçando sua cintura com as pernas. Enquanto caminhava até o quarto, ele deixava a língua correr preguiçosamente pelo pescoço da mulher, que apertava ainda mais as pernas em torno dele a fim de intensificar a avalanche de sensações que a invadia, aproveitando cada arrepio que lhe arrancava enquanto sua língua desenhava as rotas do prazer em sua pele. Em poucos minutos, a casa estava repleta de roupas pelo chão, bem como de arfares desesperados e gemidos sôfregos ecoando pelos cômodos, naquele dialeto único e íntimo em que os dois se entendiam tão bem.
— Você acha que algum dia o ‘normal’ vai funcionar pra nós, -yah? – perguntou, sonolento e exausto, enquanto seus dedos corriam despreocupadamente pelos cabelos de , desfrutando da forma como o corpo dela se unia ao seu em todos os pontos, da cabeça aos pés.
— Normal é chato, jagi. – a mulher respondeu, aninhando-se ainda mais confortavelmente entre os braços dele e cerrando os olhos para que nada perturbasse a paz tremenda que sentia bem ali – Eu prefiro nós dois.



Os raios de sol que escaparam da barreira das cortinas e se lançaram sem piedade sobre a cama teriam sido amaldiçoados, caso não tivessem sido eles os responsáveis por despertar para cena mais incrivelmente memorável de que ele guardaria recordação: dormia profundamente, apoiada em seu peito, e os cachos se espalhavam sobre a cama criando desenhos que, aos seus olhos, pareciam fascinantes. Então era aquela a sensação de acordar ao lado dela? Como se soubesse que era observada, a mulher abriu os longos cílios devagar, deparando-se com os olhos negros de observando-a intensamente.
— Então é por isso que você não me deixava nunca acordar com você? – franziu o cenho em uma careta, e demorou um segundo para entender a piada, batendo fracamente no ombro dele enquanto tentava impedir que uma risada sonolenta e débil escapasse dos lábios. O rapaz ainda ria quando puxou o corpo da mulher para cima do seu, nivelando seus olhares antes de selar os lábios aos dela por um segundo que parecia durar uma vida inteira.
Antes que aquilo se transformasse em algo maior, se afastou alguns centímetros, sentindo com prazer a forma como o sol aquecia seu rosto, parecendo convidá-la a um novo dia. Uma nova fase. O sorriso de era desconcertante, e ela nem mesmo sentiu o momento em que seus próprios lábios mimetizaram o gesto dele, abrindo-se em um riso franco, honesto. Talvez houvesse mais dele nela do que jamais fosse perceber. Talvez aquilo fosse apenas o começo.
Bom dia, jagi.




Fim.



Nota da autora: Posso confessar uma coisa?
Holic foi uma experiência bem diferente pra mim: em algumas horas eu tinha o conceito e os personagens, e depois de uma semana a história inteira. Isso foi incrível, uma verdadeira imersão, mas a verdade é que cortar esse cordão umbilical tão cedo tá me deixando com o coração apertadinho de saudade desses dois... hahaha Esse pp mexe comigo de um jeito surreal, e ela... Ah, essa garota é meu spiritual animal! É tudo que eu quero ser quando crescer! Espero de coração que eles tenham criado morada no seu coração como criaram no meu! <3
Muito obrigada por ter seguido até aqui! E, por favor, me conte nos comentários o que achou!
xx Belle.



Outras Fanfics:
Melíflua (Futebol/Rafinha Alcântara/Em Andamento)
Brasa (Shortfic Restrita de Melíflua)
You Make Me Begin (K-Pop/BTS/Em Andamento)
Hers (Restritas/K-Pop/Shortfics)

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