Prólogo

Pulei na cama quando o despertador tocou o refrão de Love de um trio de meninas que estourou durante a copa e só tive vontade de jogar o celular lá embaixo e dormir por mais alguns minutos, pena que eu não podia. Precisava me arrumar e ir trabalhar. Era segundona de novo, o fim de semana já tinha acabado e era hora de voltar à realidade de novo.
Joguei o lençol para o lado e saí ainda um pouco cambaleante da cama, desligando o ventilador em cima da minha escrivaninha e segui direto para o banheiro. Tomei um banho rápido o suficiente para me despertar e molhar um pouco. Não estava no pique para lavar o cabelo e o sol que já entrava pela janela do banheiro denunciava o inferno do Rio de Janeiro, mesmo que estivéssemos no outono.
Saí do banheiro checando se a porta de Bernardo ainda estava fechada e me arrumei rapidamente com as mesmas roupas que eu usei durante esses quase 50 dias de trabalho, treinamento e Copa do Mundo. Só optei por tênis nos pés dessa vez, acho que havia abusado do meu poder de usar saltos e não queria senti-los em meus pés tão cedo.
Passei um lápis e um batom, só para não falar que eu não passei nada e fiz um alto rabo de cavalo. Com tudo pronto, comecei a juntar todas as coisas que deveria devolver na CBF hoje, diversos aparelhos eletrônicos: notebook, iPad, celulares, câmeras, cartões, HDs e outras coisas que eu me responsabilizei durante a Copa e fechei muito bem a mochila também da empresa.
Peguei meu celular quase escondido embaixo do travesseiro e o desbloqueei, encontrando a conversa do WhatsApp ainda aberta em Alisson e algumas mensagens não lidas:
“Você dormiu, fiquei encarando o teto por alguns minutos até perceber isso. Durma bem, meu amor. Te amo”. – Sorri com essa mensagem e ri fracamente, provavelmente acabei soltando o celular eventualmente. Passei para a próxima que tinha embaixo.
“Bom dia! Você deve acordar só em algumas horas, mas estamos voltando para a Itália, preciso organizar algumas coisas antes de ir para Sardenha, queria que estivesse aqui. Bom trabalho hoje, pensa que em menos de dois meses estaremos juntos novamente”. – Soltei um suspiro involuntário, erguendo meus olhos para a data e percebendo que era dia nove de julho ainda, eu o veria só em setembro agora, se tudo desse certo. Soltei um longo suspiro e digitei para ele novamente.
“Segundona e a realidade já bateu forte pelo fato do meu quarto não ser um hotel cinco estrelas e você não estar ao meu lado. Como faço para voltar? Partiu CBF, conversa de vídeo mais tarde?” – Escrevi e guardei o celular dentro da bolsa.
Fiz um café de máquina rapidamente enquanto chamava o Uber. Não estava a fim de andar pelo coletivo do Rio com mais de 30 mil reais em equipamentos eletrônicos comigo, então me permiti ter preguiça por mais uns minutos e fui de carro para o trabalho. Assim que cheguei lá, sorri feliz. Eu estava feliz com esse trabalho, ele tinha me proporcionado a viagem mais incrível da minha vida e, de quebra, eu tinha encontrado um namorado.
Agradeci ao motorista, juntei minhas coisas e segui para dentro do prédio, mostrando meu crachá na portaria e segui pela entrada, vendo que ali estava incrivelmente comum. Nem parecia que havíamos passado por uma Copa do Mundo e que ainda tinha alguns dias para ela acabar. Meu sorriso se alargou quando encontrei Lucas esperando o elevador.
- Bom dia! – Falei e ele sorriu, passando os braços pelos meus ombros.
- E aí, garota? Como você está? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Cansada! Fuso-horário está matando e os horários do Alisson ainda me enlouquecem. – Ele riu fracamente.
- Como está depois da Rússia? – Ponderei com a cabeça.
- Conversamos quando dá, ele está tendo muitas reuniões com os empresários dele sobre Liverpool, mas é recente ainda, o calor ainda está forte, vamos ver quando voltarmos para a rotina. – Dei de ombros, entrando no elevador junto dele.
- Relacionamento à distância já é foda, ainda mais depois do calor da Copa. – Ri fracamente.
- Não me faça querer te bater logo no primeiro dia, Lucas. – Aproximei meu rosto do dele. – Além de que o campo está minado, fala baixo.
- Você acha que eles ainda não sa...
- Xí! – Falei rapidamente e o elevador se abriu na comunicação de novo.
- Depois a gente conversa melhor. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Ei! – Nos assustamos com bexigas estourando quando entramos na sala da comunicação e nos entreolhamos rindo.
- Ei, o que está acontecendo aqui? – Perguntei, sentindo Michele me abraçar rapidamente e outros colegas de trabalho nos cumprimentarem.
- Bem-vindos de volta! – Michele falou sorrindo. – De volta à realidade!
- Argh! – Eu e Lucas gememos juntos e eles riram.
- Queremos saber tudo, mas vamos devagar. – Michele falou.
- Eita, que festa! – Vinícius apareceu pela porta e o pessoal gritou animado também, nos fazendo rir e eu abracei fortemente meu grande companheiro.
- Como você está? – Cochichei e ele sorriu.
- Tudo certo. E você? – Ponderei com a cabeça.
- Indo! – Sorri e ele riu.
- Espero que não estejamos perdendo a festa! – Bianca e Angelica apareceram juntas e nós rimos, dando de ombros.
- Bem-vindos de volta, gente! – Michele falou. – Temos que organizar muitas coisas antes de vocês voltarem a trabalhar normalmente, mas antes gostaria de falar individualmente com cada um de vocês, pode ser? – Nos entreolhamos, assentindo com a cabeça.
- Claro! – Dei de ombros.
- Se importa em começar, ? – Arregalei os olhos.
- Não, claro que não! – Me livrei rapidamente das minhas coisas na mesa e a segui para a sala dela, abraçando e beijando rapidamente Bianca e Angelica que estavam no meio do caminho.
- Sente-se, ! – Michele falou e eu fechei a porta, seguindo-a até sua mesa. – Como você está?
- Extasiada! – Falei rindo e sentei-me. – Difícil acordar e perceber que não estou em um quarto cinco estrelas, com um café magnífico e aquele clima Copa na cabeça. – Ela riu fracamente.
- Eu entendo esse sentimento, é horrível. – Assenti com a cabeça. – Se tivéssemos ganhado as situações mudariam de figura, mais trabalho, mais folgas, ainda aquele clima Copa, mas por causa da derrota... – Ela abanou a cabeça. - Enfim, ficamos bem tristes aqui. Imagino como tenham sido para vocês.
- Bem depressivo! – Falei rindo fracamente. – Mas não sei, alguma coisa me dizia que ia acontecer, eu ficava mais nervosa que o normal, os sentimentos ainda estavam amplificados, eu estava totalmente dedicada... Parece que estourou um balão e acabou. – Ela assentiu.
- É o clima Copa, ele deixa tudo amplificado, é normal. – Assenti com a cabeça. - Mas bem, teremos outras oportunidades em breve. Eu queria falar contigo rapidamente sobre três coisas.
- Ok. – Falei.
- A primeira é sobre a experiência Copa, temos uma pesquisa que gostamos de fazer com quem foi para alinhar as informações. Sei que vocês têm o relatório da última semana para entregar ainda, mas já queremos alinhar tudo e dar como encerrado esse ciclo.
- Ok, sem problemas. Eu faço assim que me organizar. – Ela assentiu com a cabeça.
- A segunda coisa é sobre você. – Franzi a testa. – , você não tem noção de como os relatórios da equipe técnica foram positivos sobre você. – Sorri. – Eles adoraram muito a sua presença na Copa, na Granja, nos treinamentos, Tite diz que não via algo assim há muito tempo, você conseguiu fazer até com que Bianca, que é meio retraída, se abrisse. Eles adoraram você. – Mordi meu lábio inferior. – Os jogadores disseram que se sentiram muito confortáveis com sua presença e que suas brigas e conselhos os ajudaram muito a pensar nisso de outra forma... – Ela riu fracamente. – Eu estava com medo em mandar alguém tão novo para algo tão importante, mas foi muito melhor que a encomenda.
- Obrigada, Michele! – Assenti com a cabeça. – Eu adorei cada momento disso.
- Depois eu te passo os relatórios para você ler, tem da equipe técnica, dos jogadores, está bem bacana. – Assenti com a cabeça. – Por isso, eu tenho uma oferta para te fazer.
- Oferta? – Perguntei receosa.
- Sim. – Ela sorriu.
- Você entrou aqui como social mídia, responsável por cuidar das redes sociais da CBF. Durante a Copa, precisamos de uma assessora e você aguentou o tranco muito bem e, agora, caso você aceite, gostaríamos de te promover à Assessora Chefe de Viagens Internacionais. – Arregalei os olhos.
- Isso existe? – Ela riu fracamente.
- Existe, é o que Angelica e Bianca são. Elas cuidam da parte geral de assessoria das seleções e acompanham durante viagens. – Suspirei.
- Uau! – Ri fracamente.
- Claro que seu trabalho muda, tem alteração nas responsabilidades, o salário aumenta, além das diárias de viagens que também são mais frequentes... Aceitando essa posição, você fica responsável não só pela assessoria e acompanhamento da Seleção Masculina Principal, mas também pela feminina, sub-15, sub-17, sub-20 e alguns torneios estaduais importantes... – Suspirei.
- Meu Deus, Michele. – Ri fracamente. – Tem certeza? – Falei. – Digo, eu estou aqui há menos de dois meses, é loucura pensar que não existem outra pessoa melhor para isso.
- Acredite, eu pensei muito nisso. – Ela sorriu. – Todos os relatórios que eu recebia tinha seu nome nele e sempre de forma positiva. – Relaxei na cadeira. – Nem o chefão da CBF conseguiu discordar. Você seria uma ótima escolha. – Suspirei.
- Oh, meu Deus! – Rimos juntas. – Sim, é claro que sim! Você está me oferecendo assessoria da Seleção que é a coisa que eu mais amo nessa área e ainda acompanhamento em viagens, eu não posso negar. Eu me jogaria da ponte Rio-Niterói se negasse. – Ela sorriu.
- Parabéns, então! – Sorrimos. – Depois de todas as reuniões, eu vou falar mais detalhadamente contigo sobre a vaga, principalmente porque Angelica deve se aposentar das viagens, já que ela também completou três Copas do Mundo, chega uma hora que cansa, sabe? – Assenti com a cabeça.
- Entendo. E o que é a terceira coisa? – Ela suspirou.
- É um pouco mais complicada. – Tive receio. – Alisson Becker.
- Oh! – Reagi e ela assentiu com a cabeça. – Você já está sabendo?
- Já sim! – Ela falou.
- Me desculpe, Michele. Eu não sei o que aconteceu, ele me cantou, eu devolvi, as coisas foram aumentando, até que eu me vi apaixonada por ele. – Ela sorriu.
- E foi retribuída, pelo jeito. – Assenti com a cabeça. – Eu não estou aqui para te julgar, principalmente porque não é a primeira vez que acontece.
- Mesmo? – Perguntei animada.
- Roberto Carlos, Copa de 2002, longa história. – Ri fracamente. – Mas não acabou bem. – Ela abanou a cabeça. – Enfim, eu não estou aqui para falar o que você fez de certo ou errado, eu só quero que você seja discreta, ok?! – Assenti com a cabeça. – Vocês passaram 50 dias juntos, os sentimentos estavam à flor da pele, mas agora serão quase dois meses sem se ver, imagino eu, então analise essa situação com cuidado, ok?! Veja se esse relacionamento vai para frente, se esse garoto realmente está comprometido ou se era só algo Copa. – Assenti com a cabeça. - Depois, quando tudo isso estiver decidido, vocês podem abrir para o público, pode ser? Prometo que ajudarei no que for necessário para que isso dê certo sem afetar as vidas profissionais de ambos.
- Obrigada, Michele! – Falei honesta. – Eu estou um tanto receosa sobre isso tudo, lá na Rússia foram juras de amor e de comprometimento, mas é o que você falou, 50 dias juntos, agora que as coisas realmente vão começar. – Ela assentiu com a cabeça.
- Agora é a vida real. – Suspirei. – Mas vá com calma, veja como esse relacionamento vai andar e me avise, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Sorri.
- Bom, o que eu tinha para falar é isso. Pode ir ajeitar suas coisas, mais tarde nos falamos. – Me levantei. – Pode chamar o Vinícius, por favor?
- Claro! Obrigada! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Saí da sala, vendo a pequena festinha na parte de fora, com alguns salgadinhos e guloseimas para petiscar e senti que estava com fome. Peguei um pedaço de bolo de cenoura e me aproximei de Vinícius.
- Sua vez! – Falei e ele assentiu com a cabeça, arrastando sua cadeira de rodas e se levantando em seguida.
- E aí, como foi? – Lucas perguntou, bebendo um gole de refrigerante.
- Foi bem interessante. – Falei rindo.
- Eita!
- Foi bom, mas teve o papo Alisson no meio. – Abanei a cabeça e ele riu fracamente.
- Você não ia conseguir fugir dessa.
- Sabia, mas achei que demoraria mais. – Ele riu.
- Almoçamos juntos? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – Você aproveita e conhece minha família.
- Combinado! – Falei rindo e ele assoprou uma língua de sogra em minha frente, me fazendo gargalhar e puxá-la de sua boca. – Me dá esse pão de calabresa aí, vai! – Apontei para o prato na sua lateral e ele me passou o mesmo.
- Come, come bastante que isso é saudade de casa. – Rimos juntos e neguei com a cabeça.


Capítulo 1: Voltando à Realidade

- Como foi acordar essa manhã? – Bianca perguntou quando bocejei pela terceira vez naquela manhã.
- Triste. – Fui honesta e ela riu. – Eu não estava uma cama king size, eu não estava mais na Rússia e eu não tinha um cara lindo fazendo carinho em minha cabeça.
- Balde de água fria, hein?! – Suspirei.
- Sim, mas ok, eu ainda tenho o melhor trabalho do mundo e acabo de ser promovida. – Rimos juntos.
- Vai ter bom te ter na nossa equipe, . – Angelica apareceu e eu sorri. – Apesar de que você já faz parte dela há um tempinho. – Rimos juntas.
- Ouvi dizer que não vai trabalhar mais com a gente. – Falei, girando a cadeira.
- Internamente sim, só não vou mais em viagens, vou colocar a Diana para ir com vocês. – A morena acenou e sorrimos de volta.
- Oi, Diana! – Falamos juntas, acenando para ela.
- É bom que essa turma de mulheres se mantenha firme. - Ela disse.
- Vai sim, em um mundo machista como o do futebol, precisamos fazer tudo para que as mulheres ganhem espaço. – Bianca disse e eu pisquei, sorrindo.
- Bom, vamos trabalhar? – Angelica falou após engolir mais um pão de queijo e rimos.
- O que eu faço? – Perguntei, me levantando da cadeira que eu ocupava de Lucas, já que ele estava falando com Michele.
- Vem conversar comigo antes. – Angelica estendeu a mão e eu me levantei, sentindo Vinícius me abraçar rapidamente pela cintura quando passei por ele e a segui até a sala dela.
Era uma sala tão grande quanto a de Michele, mas diferente da nossa chefe, tinha várias mesas e computadores para que pudéssemos trabalhar juntos. Poucas vezes o pessoal dessa área ficava alocado na CBF, então era bem bacana ter um espaço diferente.
- Senta, . – Ela disse e eu me sentei em frente à uma mesa. – Primeiro de tudo: feliz com seu novo cargo?
- Feliz? Eu estou nas nuvens, Angelica! Isso é incrível! – Falei rindo fracamente. – Como isso aconteceu? – Ela somente piscou. – Você?
- , eu e a Bianca, tirando os meninos, vimos de perto seu auxílio na Copa do Mundo, como você desenrolou todos os trabalhos que foram jogados a você sem ter medo de errar ou de tirar dúvidas. Não tinha como você não vir para essa equipe. – Ela suspirou. – Além de que eu quero ajudar você e o Alisson a fazer isso dar certo. Eu o conheço desde a primeira convocação, ele é uma ótima pessoa e eu tenho certeza que vai valorizar esse relacionamento de vocês. Então, por que não unir o útil ao agradável e ajudar vocês a fazer esse relacionamento dar certo? – Ri fracamente.
- Mas mesmo assim, Angelica. Isso é loucura! Eu estou aqui há dois meses. E detalhe: já fui promovida duas vezes.
- Mostre seu valor que devolveremos na mesma moeda ou em alguma melhor. – Ela deu de ombros.
- Quem disse isso? – Perguntei.
- Um antigo treinador que eu conheci há alguns anos. Você chegou humilde e foi mostrando que merece esse trabalho, porque não? Além disso, um “obrigada” já seria o bastante. – Suspirei convencida.
- Obrigada, Angelica! Isso significa muito para mim. – Ela assentiu com a cabeça.
- Agora sim! – Rimos juntas. – Bom, a Michele pediu para eu te explicar como funciona esse trabalho, mas não é nada diferente do que fazíamos lá na Rússia, só que em todas as viagens que fazemos, tanto com a seleção masculina, quanto a feminina e as sub-15, sub-17 e sub-20 dos dois gêneros. – Assenti com a cabeça.
- Legal! – Falei sorrindo.
- Muito legal! Só que, diferente da Copa, aqui a gente vai cuidar de tudo e de todos ao mesmo tempo. Nós temos mais algumas pessoas na equipe, junto do pessoal da foto e da filmagem, e precisamos de equipe em todas as competições, amistosos, torneios e treinamentos que podem haver. Isso nacional ou internacional. – Assenti com a cabeça. – Ou seja, amanhã posso te mandar para o Ceará para acompanhar o Campeonato do Nordeste, depois você pode ir para França acompanhar a seleção feminina, depois ir para o Catar com a masculina e ver Grêmio e Internacional em Porto Alegre. – Arregalei os olhos. – É bagunçado assim.
- Pelo menos é agitado, adoro coisas agitadas. – Ela riu.
- Me diga novamente quando você ficar três dias com a mesma troca de roupa porque não deu para ir para casa pegar mudas novas. – Rimos juntas. – É sério, isso acontece, principalmente porque, da mesma forma na Rússia, precisamos de relatórios semanais, imagina três competições diferentes na mesma semana? É complicado! – Suspirei.
- Bem, eu sempre quis uma vida agitada assim, só conseguia trabalhos convencionais e nada empolgantes. – Dei de ombros. – Acho que chegou minha hora.
- Eu falo por experiência própria: é legal! É muito legal, é o clima Copa quase sempre, mas é cansativo. – Ela foi sincera. – Por isso que também temos uma escala, para que vocês possam folgar dois dias, não necessariamente dois fins de semana por causa dos campeonatos nacionais, mas dois dias seguidos para você fazer o que quiser da vida. – Assenti com a cabeça. – E eu sugiro manter algumas trocas de roupa no seu armário lá no vestiário já que nunca sabemos como vai ser a semana, não é mesmo? – Sorri.
- Providenciarei uma mala hoje mesmo. – Sorrimos.
- Sobre suas ocupações, no geral, enquanto alocados aqui, nós cuidamos da agenda da CBF, incluindo convocação, treinamentos, viagens, acompanhamento de reuniões de equipes técnicas, fazemos contato prévio com os jogadores brasileiros e seus empresários, além de entregar relatórios semanais sobre essas decisões.
- Certo. – Assenti com a cabeça.
- Agora fora, como equipe, varia da equipe que for e para aonde for. Por exemplo, se formos em compromisso da principal masculina, você provavelmente vai continuar cuidando da imagem deles, agora das outras seleções nós fazemos as separações mais para frente. Tem pessoas que já estão acostumados com cada equipe, o que facilita muito. – Assenti com a cabeça. – Além de pessoas novas, você, a Diana e tudo mais.
- Perfeito. – Sorri.
- Mas o bom é que você vai conhecendo outras turmas, cuidando de outras responsabilidades, entre outros. Confesso para você que amo fazer agenda, selecionar voos, viagens, etc... Ah, falando nisso, vou te colocar em contato com os assessores internacionais.
- Quem? – Perguntei.
- Aonde temos jogadores importantes para convocação, temos um assessor que acompanha mais de perto, repassa informações, etc. Itália, França, Inglaterra, Alemanha, são alguns países, fica mais fácil fazer contato com esse assessor, do que com cada assessor de cada jogador.
- Ah, legal! Não sabia dessa.
- É um trabalho mais quieto e menos divulgado, porque são eles que vão inicialmente acompanhar jogos internacionais para análise do jogador, nem sempre o técnico ou a equipe técnica podem ir. – Assenti com a cabeça. – É um trabalho meio solitário, mas é legal porque você acompanha quase tudo sozinho. – Ela deu de ombros.
- Deve ser legal você acompanhar todos os jogos da Champions League, por exemplo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Toda ocupação tem suas vantagens. Agora falando sobre vantagens monetárias.
- Tem mudanças? – Perguntei.
- Obviamente! – Ela riu. – Baseado no seu último salário, que é o equivalente à assessoria durante a Copa do Mundo, ele vai duplicar até você completar um ano na empresa e depois pode até triplicar. – Arregalei os olhos e a boca.
- O quê? – Falei um tanto alto. – Isso é...
- Muito dinheiro, eu sei. – Ela sorriu. – Continuando. Você continua ganhando seus vales convencionais, diária por viagens, variando o valor para nacionais e internacionais, estadias em hotéis, entre outros, o que dá uma alterada nessa parte é um motorista para você enquanto estiver trabalhando. Caso você esteja aqui e precise ir do nada para a Granja Comary, tem um motorista para te levar até lá. Para te levar ao aeroporto, andar com você para seus compromissos pessoais e tudo mais. Resumindo: seu vale-transporte é para chegar e ir embora.
- Eu estou chocada com o valor ainda. – Ela riu fracamente.
- Vá se acostumando, . Aqui é a elite e posso te garantir que aqui o dinheiro anda e bastante. – Assenti com a cabeça.
- Mais alguma informação pequena ou grande que eu precise saber?
- Acho que inicialmente não, caso eu vá lembrando ou você tenha dúvidas, a gente vai se falando.
- Ok! – Suspirei, ainda agarrada nos braços da cadeira.
- Quanto tempo vai demorar para você sair desse choque? – Suspirei.
- Acho que estou bem, ele vai vir e voltar algumas outras vezes. – Sorrimos.
- Bom, vamos continuar, então. – Ela se levantou. – Eu vou chamar a Diana, a novata, para conversar e depois eu junto a equipe inteira e começamos a nos organizar.
- O que posso fazer enquanto isso? – Me levantei atrás dela.
- Você pode dar uma olhada nos relatórios da equipe técnica e dos jogadores, vários mencionaram seu nome. – Ri fracamente.
- Tem algo que não deveria ser lido em voz alta?
- Não, nenhum. Inclusive, o do Alisson foi bastante conciso e discreto. – Suspirei.
- Você acha que isso vai dar certo? – Perguntei.
- Você e Alisson? – Assenti com a cabeça.
- Michele disse para eu ir devagar, analisar o terreno antes, ver como ficaremos afastados, sei lá... – Suspirei.
- Bom, vocês já ficarão afastados alguns meses, pelo menos até o próximo amistoso, se depender da CBF, você pode analisar isso. – Ela deu de ombros.
- É, acho que vai ter que ser isso mesmo. – Suspirei.
- Mas se você realmente gosta dele, . Aproveita. – Ela suspirou. – Vocês são jovens, está na hora de cometer erros.
- Não sou do tipo que gosta de cometer erros, muito menos sou o tipo de pessoa que faz as coisas sem pensar meticulosamente. – Rimos juntas.
- Bom, você fez várias nesses últimos dias, agora é viver com as consequências. – Sorri. – Um dia de cada vez, menina. Fica na paz. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Aproveita, porque eu acho que ele realmente gosta de você. – Suspirei. – Agora vai, vai! – Ela falou e eu saí da sala, ouvindo-a chamar Diana.

- Esses são os relatórios? – Me aproximei da mesa de Lucas aonde tinha vários envelopes pardos espalhados e ele mantinha os pés para cima.
- Sim! – Ele abaixou os pés e eu me sentei na cadeira livre ao seu lado. – Indico fazer o seu antes de ler, tem cada coisa que eles citam aqui que é para dar risada. – Ele falou e eu peguei o primeiro da pilha.
- O meu já está pronto, só imprimir. Dediquei uns minutos da minha conversa com Alisson para fazer exatamente isso.
- E como ele está? Já conversaram hoje? – Suspirei.
- Ele me mandou mensagem quando acordou e eu respondi, mas depois disso nem olhei o celular, mas combinamos de conversar mais à noite.
- O amor é lindo! – Neguei com a cabeça.
- Para você também! Todo mundo já está me fazendo pensar se devemos dar certo ou não. – Suspirei.
- Por que? Vocês são ótimos! Ele é ótimo, você é ótima! É perfeito.
- Ah, a distância, jogador de futebol, fama, enfim, todos aqueles problemas. – Ele deu de ombros.
- Se eu fosse você não ficaria procurando pelo em ovo. Faz somente dois dias que a gente voltou, não se estressa. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Eu sei, eu sei. Mas da mesma forma que durante a Copa eu já tinha dúvidas e eu já não sabia sobre nosso futuro, longe eu vou ter muito mais dúvidas.
- Um dia de cada vez, garota! Relaxa! Com esse trabalho novo você vai ter tudo, menos tempo de ficar fazendo conjeturas sobre seu relacionamento. Aproveite e pare com isso. – Ele jogou outro envelope em meu colo. – Respira fundo e começa a ler. – Suspirei, rindo fracamente. – E vamos almoçar sushi hoje.
- Você que manda! – Falei e rimos juntos.
Peguei o envelope em meu colo e puxei as folhas do mesmo, encontrando o nome Alisson Ramses Becker, me fazendo rir fracamente e olhei para Lucas, vendo-o dar de ombros e voltar a focar em seus papéis.
A folha era dividida em um cabeçalho sobre as informações do jogador e embaixo tinha alguns espaços para que ele desse suas opiniões sobre a competição de forma geral: jogos, locais, aposentos, atendimento, alimentação, treino e auxílio de equipe, dividido em técnica e comunicação.
Na primeira parte ele era o mais vago possível, adjetivos bastante vagos, tipo: sério que estão me perguntando o que eu achei do hotel? Só na parte de treino e auxílio das equipes que eles escreveram mais. Passei o dedo rapidamente pela letra cursiva de Alisson até encontrar meu nome, era relevante as outras informações? Talvez, mas estava mais interessada em saber o que meu namorado falou em um relatório oficial do trabalho.
“Creio que o que diferenciou dessa vez foi a presença da assessora . Ela não teve medo em nos ajudar e nos colocar na linha em todas as situações, tornando esse tempo da Copa mais leve, mas também mais sério”.
Sorri com isso, negando com a cabeça, ele havia conseguido falar sobre mim da forma mais simples e profissional de todas. Desci os olhos pelo papel, vendo que ele comentava também de Bianca, Angelica e de outros da comunicação e ri fracamente, vai ver ele fez isso para despistar, apesar de todos já saberem, obviamente.
Segui pegando relatório por relatório, dando uma rápida lida em todos os 10 da equipe técnica e dos outros 22 jogadores. Todos me mencionavam de alguma forma, citando meu nome ou só falando da comunicação em geral, mas em relatórios como de Neymar, Jesus, Fernandinho, Éderson e Thiago, eles me agradeciam individualmente pela minha colaboração na Copa. Ajudando-os de forma individual ou como equipe.
Tite e Taffarel me mencionaram em seus relatórios também. O primeiro dizia que minha ajuda foi essencial durante o mundial, fazendo com que a equipe se entrosasse e mantivessem o pensamento alinhado ao principal objetivo, e o segundo até fez uma brincadeirinha sobre me incluir na equipe técnica. Foi engraçado!
Eu perdi minha manhã inteira nisso, quando finalizei tudo e passei para Bianca, já era quase hora do almoço e Lucas me cutucou. Na CBF tinha três diferentes horas de almoço: a primeira era da 11 ao meio dia e meia, a segunda das 11 e meia até uma da tarde e a terceira do meio dia a uma e meia da tarde. Eu e Lucas coincidíamos o último horário, o que era muito melhor, sendo bem honesta.
Saímos a pé em direção ao Barra Shopping, encontrando diversas pessoas no elevador voltando do horário do almoço e seguimos para o nível lagoa, entrando no Benkei Sushi. Era segunda-feira na hora do almoço, então foi fácil encontrar uma mesa, além de que Mariana, esposa de Lucas, já estava lá nos esperando, junto de sua pequena Joana.
- Você deve ser a que Lucas tanto falou. – Ela me abraçou rapidamente após entregar Joana para Lucas.
- É um prazer te conhecer, Mariana. É tão estranho pensar no Lucas casado que eu nem lembro disso. – Rimos juntos.
- Eu tenho 32 já, ok?! Você que é nova. – Ele reclamou e eu virei para sua filha.
- E essa pequena, aí? – Perguntei, fazendo um carinho na Joana, vendo-a abrir um largo sorriso desdentado para mim. – Ah, meu Deus. – Sorri, ouvindo-a rir. – Ela é uma linda.
- Minha joaninha! – Lucas disse, beijando sua cabeça com os cabelos arrepiados.
- Quantos meses, gente? – Perguntei e nos ajeitamos nas cadeiras do restaurante, colocando os guardanapos no colo.
- Quase cinco. – Lucas falou, ajeitando sua filha no bebê conforto.
- Como vocês lidam com isso? – Virei para eles.
- Um dia de cada vez. – Lucas suspirou.
- É difícil, mas é um trabalho muito bom. – Mariana falou. – A gente se vira em qualquer momento, tenta almoçar juntos sempre, se encontrar o máximo possível, porque não é fácil.
- E você foi para Copa com ela praticamente pós-gravidez? – Virei para Lucas.
- Eu pensei em não ir...
- Mas eu não o deixaria fazer isso, é algo muito importante para a carreira dele. – Sorri, assentindo com a cabeça para Mariana. – Além das diárias que ganha, a gente não pode negar o dinheiro, principalmente agora trocando de oito a 12 fraldas por dia. – Rimos juntas.
- É uma boa desculpa! – Rimos.
- Vamos pedir, então? – Lucas perguntou e checamos nossos cardápios rapidamente, pedindo um combinado que agradasse a mim e a ele, e Mariana pediu um yakissoba, já que ainda estava amamentando, além de bebidas.
- Então, , Lucas disse que você e Alisson estão juntos? – Mariana perguntou e eu ri fracamente.
- Pois é! Aconteceu! – Ri fracamente. – Sei nem explicar como foi tudo aquilo, as vezes parece mentira na minha cabeça. – Ela riu.
- É muito bom, não é? – Ela perguntou.
- Eu não sei. Eu nunca namorei à distância. Muito menos com um oceano entre nós, então estou bem receosa.
- O que Michele disse mais cedo? – Lucas perguntou, brincando com os hashi.
- Bom, ela me deixou bem receosa, para começar. Disse para eu analisar o que eu queria com esse relacionamento, quais as verdadeiras intenções de Alisson, antes de tomar qualquer atitude precipitada. Se eu visse que realmente vale à pena, ela até ajuda na hora da gente se abrir para os outros. Ou seja, quando ele quiser me divulgar na imprensa. – Dei de ombros.
- Ela não está de tudo errada, você sabe, né?!
- Eu sei. – Suspirei. – É difícil, preciso confiar na palavra dele acima de tudo, mas eu realmente gosto dele. Quero que dê tudo certo, sabe? – Suspirei. – Mas eu entendo o receio dela, eu também tenho esse receio. – Cocei a cabeça.
- Você vai ter que viver um dia de cada vez e descobrir. – Mariana falou. – E vocês terão que dar um jeito juntos. Com muita confiança e paciência. – Assenti com a cabeça.
- Bom, a vantagem é que você foi promovida e já tem encontro garantido com ele, porque aposto que ele ainda continua sendo o goleiro do Tite, e você vai trabalhar para caramba, mal vai ter tempo para dormir, quiçá ficar triste pelos cantos pensando no seu namorado! – Gargalhei com ele, negando com a cabeça.
- Já é alguma coisa. – Dei de ombros, sorrindo para o garçom quando ele colocou os pratos e bebidas na mesa. – Obrigada.
- Foi promovida, ? Mas já? Que bacana! – Mariana falou e eu ri.
- Assessora de viagens agora. – Suspirei. – É bem estranho já ser promovida de novo em dois meses, mas confesso que adorei! Nunca fui muito fã de social mídia, até gosto de editar e tal, mas métricas, engajamento, essas coisas me irritam, mas quem negaria trabalhar na CBF, certo? Até entregando toalha para os jogadores. – Rimos juntos. – Então estou bem feliz com isso. – Suspirei. – Vai ser legal.
- Mas o trabalho é bem pior, acredite. Quando junta todo mundo naquela sala especial, nossa, você sente a tensão pesar e agora logo após da Copa tem muitas coisas para lidar, principalmente com a seleção feminina. – Lucas falou.
- Nunca tive medo de trabalho. – Dei de ombros e eles riram.
- Bom, vamos fazer um brinde à , então? – Mariana ergueu seu copo e fiz o mesmo. – À sua nova posição e ao novo namorado. – Ri fracamente.
- À . – Lucas falou.
- A mim! – Falei sorrindo e tocamos os copos, rindo em seguida.

- Bê, cheguei! – Falei entrando no apartamento, pendurando as chaves do porta-chaves e seguindo pelo corredor.
- E aí, garota? – O encontrei na porta do seu quarto no fim do corredor. – Como foi voltar?
- Foi muito bom, tenho que admitir. – Dei um beijo rápido em seu rosto e entrei em meu quarto, largando a bolsa na escrivaninha.
- O que aconteceu? – Ele se sentou na minha cama e eu suspirei.
- Bom, ficamos repassando os relatórios e finalizando o protocolo de despedida, nada muito empolgante, para falar a verdade. Quase uma queima de arquivo. – Ele riu fracamente. – Mas eu fui promovida! – Falei ritmado.
- O quê? Já? – Ele se levantou apressado. – Que ótimo, meu amor! – Ele me abraçou fortemente. - Promovida para quê?
- Assessora de viagens, vou acompanhar todas as seleções, masculina, feminina, subs. Ah, vai ser demais! – Falei rindo.
- Isso quer dizer, mais Alisson? – Dei de ombros.
- Provavelmente sim. Minha chefe disse que vai tentar fazer com que eu sempre esteja na equipe da seleção masculina, mas isso são detalhes, pelo jeito o trabalho é muito puxado. – Rimos juntos.
- Mas isso é muito bom, . Eles valorizam seu trabalho! E tem alguma regalia com isso?
- Muitas, incluindo aumento de salário. Quem sabe eu não consigo dar entrada em um apartamento mais cedo do que o esperado? – Ele sorriu.
- Ah, vai ser demais, ! Me leva para morar contigo e eu pago aluguel. – Revirei os olhos.
- Paga as contas que já está de bom tamanho. – Falei e ele sorriu. – Bom, eu vou tomar banho, quero tentar falar com o Alisson ainda hoje, e já é quase meia noite para ele. – Suspirei. – Está de folga hoje?
- Estou, mas minha pós voltou, então estou fazendo os resumos dos textos. – Assenti com a cabeça.
- Eu preciso fazer uma, mas agora vai me faltar tempo! – Rimos juntos. – A gente se encontra quando eu terminar para fazer algo para jantar, combinado?
- Fechou! – Ele falou e eu segui para o banheiro.
Tomei um banho rápido, fazendo um coque para não molhar o cabelo no banho e logo saí enrolada na toalha. Enquanto terminava de me secar, deixei o notebook ligando e mandei mensagem para Alisson perguntando se ele ainda estava acordado.
“Ainda acordado? Parei agora”. – Mandei e corri até a lavanderia para pendurar a toalha e fechei a porta do quarto quando voltei.
“Ainda aqui, mas não por muito tempo”. – Ele respondeu e eu sorri.
“Entrando agora”. – Falei e coloquei minhas senhas no computador, esperando o Skype carregar, mal deu tempo de a página carregar e já recebi a notificação de ligação de Alisson. Soltei meus cabelos rapidamente e apertei para aceitar ligação.
- Oie! – Falei animada, vendo seu rosto com a pouca iluminação do local.
- Oi, meu amor! – Ele abriu um sorriso sonolento. – Desculpa pela minha cara, hoje o dia foi pauleira. – Vi a tela mexer e ele apareceu em um lugar com um pouco mais de luz e que fazia seus cabelos sacudirem.
- Que tanto vocês fizeram hoje? – Apoiei os braços na escrivaninha, colocando o queixo em uma das mãos.
- Ficamos na praia quase o dia inteiro, depois viemos para a piscina do hotel aonde dá para brincar um pouco com a Helena mais solta. – Assenti com a cabeça.
- E como está todo mundo? – Suspirei.
- Ah, tudo bem. Natália foi embora sábado também, então estamos só a família mesmo. Meus pais estão adorando.
- Eu vi as fotos que você divulgou no Insta ontem e parece ser um lugar de tirar o fôlego. – Suspirei.
- Eu já tinha vindo para cá outras vezes, mas cada vez é mais surpreendente. – O vi sorrir.
- Seus olhos estão muito pequenos, vai dormir, a gente conversa outra hora. Eu posso acordar um pouco antes amanhã e a gente conversa pela manhã. – Falei.
- Não, não, eu aguento mais um pouco. – Ele disse.
- Alguma novidade da transferência? – Perguntei.
- Ainda não, meu empresário está cuidando disso. Provavelmente vai sair só depois do final da Copa, tem alguns dias ainda, né?! – Ele fez uma careta e eu ri fracamente.
- Sim, quem será que vai ficar, hein? – Perguntei.
- Aposto que a final vai ser Inglaterra e França. – Ele falou. – Não quero a Bélgica por motivos óbvios e a Croácia... Quem é a Croácia? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Ei, eles ainda estão na Copa. – Ele sorriu. – Mas vamos ver, tem jogo amanhã e quarta, capaz de vermos lá da CBF mesmo. – Dei de ombros.
- E como foi voltar hoje? Alguma novidade? – Abri um largo sorriso, rindo em seguida. – O quê?
- Muitas novidades, para falar a verdade. – Falei sorrindo. – Ah, Alisson, quando eu falo que parece que a CBF quer unir a gente, eles só me dão mais motivos.
- O que eles fizeram agora? – Ele apoiou a tela em algum lugar e se sentou.
- Eles me promoveram. – Falei, gargalhando em seguida.
- O quê? – Ele gritou, colocando a mão na boca em seguida.
- Agora eu sou Assessora de Viagens Internacionais. – Seu sorriso se desfez e ele franziu a testa.
- O que é isso? – Ele perguntou e eu ri.
- É o que a Bianca e a Angelica são, é a equipe que acompanha vocês e todas as outras seleções, seja feminina ou jovens, para os eventos internacionais.
- Isso quer dizer que você vai nas próximas viagens? – Ele perguntou animado e eu assenti com a cabeça animadamente.
- Bom, eu acho, Angelica disse que vai sempre tentar em colocar na equipe da principal masculina, mas tudo pode acontecer. – Sorri.
- , isso é incrível!
- E eu vou acompanhar outras seleções também, isso é muito bom. – Suspirei, passando a mão embaixo do olho quando notei uma lágrima solitária. – Eu estou feliz, não posso negar. Parece que eu finalmente cheguei onde queria. – Suspirei.
- Queria te abraçar agora. – Ri fracamente. – Estou muito feliz por você.
- Obrigada! Agora vamos ver o que vai ser, falaram que é muito mais trabalho e muito mais corrido, pelo menos me faz esquecer de você um pouco.
- Ai! – Ele disse e eu ri fraco.
- Você me entendeu, vai. – Suspirei. – Ainda Michele ficou colocando caraminholas na minha cabeça... Ah, está tudo uma bagunça.
- O que ela disse? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Deixa para lá, não é importante para agora. – Abanei a mão.
- Eu me comprometi com você, . – Ele falou sério. - E eu fiz isso porque eu realmente gosto de você. Porque eu acredito em um futuro contigo, e eu não faço com qualquer um. – Suspirei. – Nos dê uma chance. Me dê uma chance, eu vou provar para você. – Dei um pequeno sorriso.
- Você não precisa me provar nada, eu aceitei, certo? – Ele sorriu. – Nós dois fomos loucos em aceitar isso, mas mal posso esperar para ver aonde isso vai dar.
- Espero que bem alto e muito longe. – Ele falou e eu sorri, vendo-o bocejar em seguida.
- Vai dormir, criatura! – Falei. – Eu preciso ir jantar também.
- Não vou negar, mas eu estou surpreso como uma criança de 15 meses cansa tanto. – Sorri.
- Acho que essa é a época em que ela mais vai te cansar. – Dei de ombros e ele balançou a cabeça. – Afinal, conheci a lindinha do Lucas. – Falei animada.
- Que lindinha?
- A esposa, que também é bonita, e a filha de quatro meses. Ela é uma fofura. Se abriu toda para mim. – Ele riu fracamente.
- Um dia eu coloco a Helena no Skype. – Assenti com a cabeça.
- Ela vai voltar com seus pais?
- Vai sim, principalmente agora que eu não sei para aonde eu vou. – Ele deu de ombros. – Mas acho que Roma não vai rolar mais. – Assenti com a cabeça.
- Você sabe minha opinião: vá para aonde te fizer feliz. – Ele sorriu.
- Eu sei, eu sei! Não se preocupe com isso. Te informo sobre o que for acontecendo.
- Ok, agora vai dormir. Se seus pais forem iguais aos meus, sete horas todo mundo vai estar de pé querendo voltar para praia! – Ele gargalhou, confirmando com a cabeça.
- Isso é muito verdade! – Ele disse. – Dorme bem, ok?!
- Ok, você também. – Falei.
- Eu te amo, . Não menti sobre isso. – Assenti com a cabeça, mandando um beijo.
- Eu sei! Eu também não menti. Fica bem! Mande notícias.
- Você também. – Ele assentiu com a cabeça.
Ficamos nos encarando algum tempo para ver quem desligaria, até que rimos juntos. Neguei com a cabeça e mandei mais um beijo.
- Tchau! – Falei e desliguei a ligação, respirando fundo, com um pequeno sorriso nos lábios. – Vai dar certo, . Vai sim. – Suspirei e me levantei da cadeira, abrindo a porta do quarto. – Bernardo, o que vai ter de janta, meu filho? – Gritei, sentindo cheiro de tempero invadir o apartamento.

Depois desse primeiro dia na minha nova ocupação, eu realmente entendi o que todo mundo falava sobre falta de tempo para a vida pessoal. Eu me sentia a Andy de O Diabo Veste Prada, confesso. As coisas bagunçaram em um jeito que eu só funcionava na inércia, as pessoas pediam e eu fazia.
Tinha muitos eventos acontecendo ou para acontecer simultaneamente. Para começar que ainda cuidávamos do final da Copa do Mundo, tínhamos até domingo para a final e muita coisa para acontecer, principalmente olhar janela de transferência dos jogadores brasileiros. Também tínhamos a final da Copa do Nordeste, o que requeria uma equipe para esse evento. A equipe montada já estava lá, mas precisávamos fazer repasse de informações, postagens, atualização do site e afins até o final dela.
Também tínhamos a seleção feminina que tinha sido convocada logo no dia 10 para o Torneio das Nações que teria nos Estados Unidos no fim de julho. Além da feminina, também teríamos a Sub-20 feminina em treinamento na Granja e a Sub-17 em viagem para a África do Sul para o Torneio BRICS. Como eu tinha que acompanhar as informações de Tite ficar na CBF ou da vinda de um novo treinador, eu viajaria com a Sub-17 para a África do Sul no dia 18 e já estaria de volta no dia 24.
Os compromissos eram corridos assim, eu estava acostumada com a Copa do Mundo, 46 dias longe de casa, muitos deles em um lugar só, mas a realidade era realmente mais difícil, mas não importa, estava indo para a África do Sul, deveria ser sensacional. Espero só que meu jet lag não fosse tão afetado, eu não estava acostumada com viagens assim.
Na terça-feira, depois de acompanharmos a coletiva da Seleção Feminina com o técnico Vadão, além de fazer aquele básico reconhecimento entre equipe técnica e de comunicação, juntamos toda a equipe de comunicação as três horas para assistir a semifinal entre Croácia e Inglaterra e, milagrosamente, ver a Croácia ir para a final da Copa do Mundo.
Eu fiquei chocada, confesso. Ontem Alisson tinha me falado “Quem é Croácia no futebol?” e eu concordei com ele, mas agora, entre sorte ou azar, eles estavam na final junto da França. Ambos os jogos não tiveram grandes revelações, mas foi bom ver a Bélgica cair fora depois de nos tirar da competição. Sim, existe certo rancor em meu coração. Acontece.
O resto da semana se seguiu nessa mesma loucura. A sexta-feira até que foi calma, tudo estava chegando aos finalmentes, então a gente podia pisar no freio um pouco, apesar de eu ainda estar pegando um pouco das minhas ocupações. Mas foi legal, porque eu finalmente descobri sobre algo chamado “Projeto de Esportes da CBF”.
- O que é isso? – Olhei de Michele para o papel.
- Toda pessoa que trabalha na CBF precisa dedicar pelo menos duas horas da semana para fazer atividades físicas, é uma forma de incentivo ao esporte. Nós temos filiação com várias academias e clubes aqui em volta, então escolha o que te agrada mais e participe! – Ela disse e eu suspirei.
- E se eu faltar em casos de viagem? – Perguntei.
- Não se preocupe com isso, são mais formalidades, mas é legal, todo mundo aqui faz alguma coisa, depende do gosto da pessoa. – Assenti com a cabeça e ela saiu.
- Acho que é por isso que todo mundo aqui é magrinho. – Falei brincando e Vinícius riu ao meu lado.
- Em partes, né?! – Ele deu de ombros. – A gente mais falta do que vai, mas é legal.
- O que vocês fazem? – Perguntei vendo somente os fotógrafos e filmadores na sala.
- Eu faço crossfit e tênis. – Lucas falou e eu ponderei com a cabeça.
- Crossfit não! – Neguei com a cabeça. – Mas tênis é interessante. Eu vejo alguns jogos da Serena, mas nunca pensei em fazer isso.
- Vem fazer uma aula comigo, você vai gostar. É legal, cansa bastante, mas é bom! – Ele disse.
- Ok, farei uma aula contigo, depois eu decido. – Suspirei. – E você, Vini? – Virei para ele.
- Eu só faço zumba. – Ele disse e Lucas riu ao meu lado.
- Zumba? – Falei um tanto surpresa.
- Para de rir, cara! – Vinícius falou. – É bom, oh! É muito bom.
- Sabe o pior de tudo? Ele é bom! – Lucas disse rindo. – Eu dou risada porque é engraçado, mas ele é muito bom, cara.
- Eu gosto de dançar. – Suspirei. – Danço bastante naquele Just Dance. – Ponderei com a cabeça.
- Vem comigo, você vai gostar, o professor é ótimo. – Assenti com a cabeça.
- Mas e os horários? Não batem? – Perguntei.
- Tênis de terça e quinta das sete e meia as oito e meia da manhã na academia atravessando a rua. Tomo banho aqui e entro as nove folgadamente. – Lucas falou e eu ponderei com a cabeça.
- E a zumba? – Perguntei para Vinícius.
- Segunda e quarta das seis e meia as sete e meia aqui na frente também. Trago roupa e vou direto.
- Ok, acho que dá para fazer! – Falei para os dois e eles sorriram. – E você, Leandro, o que faz? – Gritei para Leandro, ele era da equipe de São Paulo e havia sido transferido para cá durante a Copa.
- Boxe! – Ele falou se levantando.
- Ei, seria legal dar uns socos, aprender defesa pessoal e tudo mais. – Lucas franziu a testa.
- Por que você precisa de defesa pessoal? – Ele perguntou.
- Porque eu sou mulher, porque eu moro no Rio de Janeiro, porque meu salário é muito bom, posso baixar a lista de motivos se quiser. – Ele negou com a cabeça.
- Acho que já foram motivos o suficiente. – Ele disse e eu confirmei com a cabeça.
- O horário é meio ruim, faço sábado oito da manhã, duas horas direto. É pesado, mas eu gosto.
- Eu estou precisando perder uns quilinhos mesmo, principalmente namorando o Alisson. – Bati a mão na testa. – Meu Deus! O Alisson. – Peguei o celular correndo na bolsa.
- O que houve? – Vinícius perguntou.
- Ficamos de conversar ontem à noite, mas saímos para jantar depois do trabalho e eu nem me lembrei de avisá-lo. Cheguei em casa e fui direto para cama. – Abri a conversa dele correndo no WhatsApp, vendo que tinha algumas mensagens dele. – Caralho! – Suspirei.
“Já estou por aqui”.
?”
“Acho que alguém se esqueceu do nosso horário”.
“Nos falamos amanhã, ok?! Amo você, boa noite”.
– Suspirei.
- Caramba! – Balancei a cabeça, colocando os dedos para digitar.
“Me desculpe, amor! Eu acabei saindo com o pessoal da empresa e me esqueci totalmente de você – isso não deveria ser dito, mas foi um erro meu. Sinto muito, muito mesmo. Hoje à noite? Desculpa mesmo”.
- Mancada, hein, ? – Lucas falou.
- Não precisa jogar na cara, ok?! Eu não sei namorar à distância. É estranho! – Coloquei as mãos na cabeça. – Na verdade, eu não sei nem namorar, sendo bem honesta. Meu único outro namoro durou três semanas, porque eu não aguentei. Ele era muito grudento.
- Ah, então você está no relacionamento ideal para você! – Vinícius falou. – Se seu ex era muito grudento, seu atual e você estão há um oceano inteiro de distância, além de que ambos trabalham o dia inteiro e normalmente em horários informais. – Suspirei.
- Eu sei, isso é ideal para mim, mas eu preciso me lembrar de que ambos os lados precisam fazer força para isso dar certo. – Neguei com a cabeça.
- Se acalma, mulher! Só passou uma semana. – Lucas disse.
- Me diga, você sente a mesma coisa que sentia por ele na Copa, depois dessa passada uma semana? – Ele perguntou.
- Acho que eu gosto dele ainda mais. – Suspirei. – Estou com saudades.
- Então, pronto. Caso resolvido! – Ele deu de ombros. – Vou te mandar uma foto, edita para eu mandar para o pessoal de social mídia? – Ele perguntou.
- Fácil para vocês, não é mesmo? – Eles riram.
- Não é fácil, é uma forma de te distrair sobre isso mesmo. – Vinícius disse e eu assenti com a cabeça.
- Ok, obrigada! – Sorri. – E sim, Lucas, manda aí, estou livre agora! – Ele assentiu com a cabeça e Vinícius me abraçou rapidamente de lado. – Não se esquece que eu preciso levar isso para a Michele quando sair para o almoço.
- Eu estou indo! – Vinícius se levantou. – Até já.
- Até! – Acenei e ele saiu, deixando a mim, Lucas e Leandro na sala.
Eu achei essa ideia muito boa, para ser bem honesta, era uma forma de incentivo ao esporte, e eu também estava precisando reduzir alguns quilinhos, ou, pelo menos, dar uma torneada nas coxas e panturrilhas.

Sábado chegou logo e combinamos um almoço coletivo em casa para acompanhar a disputa do terceiro lugar. Foram só algumas pessoas mais próximas: Lucas, Vinícius, Bianca, Angelica, Diana, Leandro, as esposas, maridos e filhos, e Bernardo, por motivos óbvios. Foi divertido juntar a galera no meu apartamento. Ele nem era tão pequeno assim! Pena que a Inglaterra não prestou nem para ganhar em terceiro lugar, mas ok, por mais que eu odiasse admitir, a Bélgica fez uma ótima campanha durante essa Copa e merecia ganhar.
Aproveitamos e combinamos de ver a final no dia seguinte na casa de Lucas, ele morava em casa, então tinha um espaço maior para aproveitar, além de que ele tinha um pouco mais de amigos na CBF para convidar para sua casa e, o mais importante, ele tinha uma churrasqueira! Cada um levou o que bebia e o que comia e ficamos quase até oito horas da noite comemorando a vitória da França.
Bom, comemorando é um tanto exagerado, mas seria difícil a Croácia bater a França que ganhou seis dos sete jogos da competição e que tinha o jovem Kylian Mbappé no ataque! Aquele garoto era sensacional, estava atropelando todos e só tinha 19 anos. Era surreal! A festa no Lucas só acabou quando percebemos que no dia seguinte era segunda-feira e que as viagens começariam. Era agora que as coisas ficariam um pouco mais interessantes.
Segunda e terça passaram voando, no segundo dia antes do fim do expediente eu peguei todos os materiais necessários para trabalho e ainda tive uma reunião com a equipe que iria. Era bem menor do que a da Copa, eu de assessora, Anna de fotógrafa e Leandro da filmagem. A equipe era pequena, mas era bom. Quando cheguei em casa à noite, eu organizei minha mala. Acho que depois da Copa eu já estava bem mais prática na arrumação, afinal, a roupa era praticamente dada pela CBF e o resto eram coisas do dia a dia.
Quarta antes de sair de casa, eu dei um grande abraço em Bernardo e disse que logo voltaria. Encontrei na entrada do prédio o motorista e Anna já estava lá dentro. Passamos para pegar Leandro e seguimos direto para o aeroporto. A Seleção Sub-17 demorou um pouco para chegar, afinal, eles estavam treinando na Granja fazia alguns dias.
No aeroporto eu encontrei Luana, a assessora que estava de vigília com as meninas na Granja. Trocamos rapidamente algumas informações e nos preparamos para o voo. Durante ele eu me apresentei rapidamente para as meninas, falando sobre nosso trabalho, sobre o nosso foco na África do Sul e nossos compromissos lá.
Foi fácil se enturmar, elas já conheciam Anna, e a maioria das meninas convocadas da Sub-17, já haviam sido convocadas para a Sub-15 antes, então foi fácil se acostumar com elas. Claro que não era nada parecido com a Seleção Principal masculina, elas eram bem mais jovens, contidas, um pouco abismadas com tudo, mas foi legal! Me senti bem tiazona perto delas.
Johanesburgo é uma cidade muito bonita, a cultura, as pessoas, eu achei tudo incrível, bem diferente do que estamos acostumados com Brasil. Era interessante como a parte nova e a velha se juntavam. Nos poucos dias que eu tive folga, afinal, eu estava sozinha lá, eu consegui conhecer alguns pontos turísticos da cidade: o museu do Apartheid, o qual todo mundo foi junto, a casa de Nelson Mandela e o jardim botânico. Aposto que tinha muitas coisas para conhecer, mas eu não estava lá a turismo.
No primeiro jogo contra a China, nós ganhamos com placar final de três a um, com gols da Vitória Ferreira e da Júlia que fez dois, depois teve o jogo contra a sede, África do Sul, o qual acabou em empate zero a zero. Na terceira rodada elas deram uma lavada na Rússia de cinco a zero e depois repetiram esse placar contra a Índia na final, ganhando o torneio.
Claro que as coisas não eram tão glamorosas quanto com a seleção principal, mas eu pude assistir aos jogos do banco de reservas e foi muito bom ver a vitória dessas meninas! Claro que eu tive minha parte de nostalgia, já que foi nessa época que eu comecei a jogar na faculdade e se eu tivesse seguido em frente, poderia ter sido uma delas um dia. Elas eram tão novas, mas elas poderiam vir a ser alguém muito mais no futuro. Além de serem mulheres! Eu adorava ver toda a desconstrução de “futebol é para homem” acontecer bem na minha frente.
Outra parte boa dessa viagem, foi que eu e Alisson pudemos conversar no mesmo fuso-horário! Johanesburgo e Sardenha estavam na mesma reta e nenhum dos dois precisou ficar acordado até de madrugada ou muito cedo para podermos nos ver, nem que por alguns minutos.
Claro que isso só aconteceu depois de ele ir para Liverpool fechar seu contrato multimilionário com eles.
- 62 milhões e 500 mil euros? – Gritei na tela do computador, gargalhando em seguida. – Alisson, isso é...
- Maior que o Buffon.
- Maior que o Buffon! – Gritei novamente, vendo-o rir na tela e senti meus olhos marejados. – Eu não consigo acreditar nisso. – Suspirei.
- O que você acha? – Ele perguntou.
- Você está me perguntando? Você que tem que se perguntar. Você está feliz com isso? Com essa oferta? Com a ideia de morar em Liverpool sendo que você não fala um “hi” em inglês? – Ele gargalhou na tela, negando com a cabeça.
- Eu estou abismado, . Mas eu estou feliz. – Ele assentiu com a cabeça. – Sei que você fala que ninguém assiste o campeonato inglês...
- Nem os ingleses! – Brinquei e ele riu.
- Mas eu estou feliz! – Ele suspirou. – Eles chegaram na final da Champions, fizeram uma ótima campanha, além de que estão fazendo de tudo para me ter, sinto que serei mais valorizado lá. E no acordo diz que não ficarei no banco, então é uma boa escolha. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu só consigo estar feliz por você. – Passei a mão embaixo do olho, limpando a lágrima. – Eu estou muito feliz. – Senti minha voz afinar.
- Não chore! – Ele falou e eu ri fracamente.
- É inevitável, me desculpe. Meu namorado passou meu ídolo e se tornou o goleiro mais caro da história. – Suspirei. – Só queria te abraçar agora. – Ele assentiu com a cabeça.
- Em breve! – Sorri.
- Você vai para lá quando?
- Daqui a pouco. Vim para Roma ontem para me arrumar. – Ele olhou no relógio e se levantou, pude notar que ele estava de terno.
- Uau! Você está um arraso! – Falei e ele riu, dando uma volta ao redor do corpo.
- Farei todos os testes e tudo mais, no final do dia já devem me anunciar. – Assenti com a cabeça. – Salah não para de me mandar mensagem perguntando quando eu vou.
- Eu estou sem palavras, só quero te desejar muita sorte, ok?! Isso é demais! – Suspirei. - E eu te dou umas aulinhas de inglês depois. – Rimos juntos. – Ah, Alisson, como eu te amo! – Falei, respirando fundo. – Como essas saudades me mata aqui dentro.
- Eu também te amo, . É incrível como dói. – Coloquei a mão na tela do computador e respirei fundo. – Como está aí?
- Tudo bem, por enquanto. Mas não é nada comparado a vocês, elas são mais quietas, mais novas. – Abanei a mão. – É bem diferente. – Dei de ombros.
- Em breve estaremos juntos. – Sorri e ouvimos um barulho de campainha. – Deve ser meu empresário. A gente se fala mais tarde, ok?! – Confirmei com a cabeça.
- Vai lá, e arrasa, goleiro mais caro do mundo! – Pisquei e ele sorriu. – Toda sorte do mundo para ti. – Ele assentiu com a cabeça e respiramos.
- E todo amor para você! – Sorrimos e desligamos a ligação quase juntos, me fazendo suspirar.
Sabe quando você sente algo esquentar dentro do seu peito? Algo que não queima, nem machuca, mas te faz abrir um largo sorriso? Era o que eu estava sentindo agora. Alisson, meu namorado, havia se tornado o goleiro mais caro da história, passando o meu grande ídolo, Gianluigi Buffon. Era loucura. As lágrimas não paravam de cair de meu rosto e eu só conseguia sentir orgulho desse garoto.
Acho que mesmo que não tivéssemos nos envolvido, eu sentiria tudo isso. Ninguém podia negar que ele era um grande goleiro e que tinha um grande futuro pela frente, afinal, ele só tem 25 anos, tem muitos anos de carreira pela frente ainda.
Assim que ele fechou o contrato, ele me mandou uma foto com a camisa do Liverpool e eu confesso que acho a cor da Roma mais bonita, mas o sorriso em seu rosto não escondia sua felicidade. Ele estava bem, era tudo o que importava! Depois desse dia ele voltou para Sardenha, para passar mais alguns dias com sua família, ele teria que se apresentar para o Liverpool no dia 31 de julho, então aproveitaria mais alguns dias com sua família antes de precisar ajeitar sua mudança.

Na volta para o Brasil as coisas não ficaram mais calmas, muito pelo contrário, na noite antes de voltar para o Brasil, recebi uma notícia de Lucas de que Tite finalmente havia feito sua decisão e que renovaria o contrato com a CBF por mais quatro anos, pelo menos até a Copa do Catar. Além da equipe técnica, obviamente.
Eu tinha dois dias de folga, depois de voltar da África do Sul, principalmente por estar trabalhando nove dias seguidos sem folgas, mas eu precisei adiar minha folga. Eu era da equipe da seleção principal masculina, então precisaria acompanhar esse momento. Além de que seria ótimo rever Tite, eu não o via desde a final da Copa e ele foi muito à CBF durante esses dias para discutir sobre essa renovação.
- Você não poderia perder isso, não é mesmo? – Lucas falou baixo quando entramos no elevador, a caminho da sala da imprensa.
- Espero que isso não tenha sido irônico. – Virei para ele que riu.
- Nunca! Vai ser bom para você, você sabe disso. Já é um passo mais perto do Alisson. – Assenti com a cabeça.
- Espero que sim, mas prometi a mim mesma que não iria intervir nas decisões dele. Ele já tem muitas pessoas para fazer isso por ele, não precisa de mais um. – Saímos do elevador, seguindo em direção à sala de imprensa do prédio.
A presença na sala de imprensa era só para as fotos, a CBF não marcou nenhuma coletiva para esse evento, seria só a assessoria da CBF, representada por mim, algumas fotos de Lucas e Tite estava com contrato renovado por mais quatro anos. Assim que entramos na sala, notamos a presença de todo mundo da equipe técnica, o que foi uma festa para ambos os lados, mas Tite parecia bem empolgado em me ver.
- Aqui está ela! – Ele disse e eu abri um largo sorriso.
- Tite! – O abracei fortemente. – Que bom que aceitou. – Ele segurou meu rosto com as mãos.
- Eu pensei muito sobre o que você disse, conversamos bastante aqui também e parece que é a coisa certa a fazer. – Dei de ombros.
- Chegamos nas quartas de final, Tite. Estava claro que nem iríamos para a competição, eu vejo isso como uma vitória. – Ele riu fracamente. – Para que mexer em time que está ganhando?
- Espero que tenha razão. – Ele sorriu. – E você? Aceitou sua promoção?
- Você sabe? – Ele ponderou com a cabeça.
- Da mesma forma que você me deu um conselho, eu dei para a equipe de comunicação. Com você foi tudo diferente, , ninguém pode negar isso. Se te tivéssemos em outros amistosos, nas eliminatórias, aposto que tudo teria sido diferente. – Neguei com a cabeça.
- Não encha tanto minha bola, Tite, ficarei mal-acostumada. – Rimos juntos. – Mas talvez eu tenha dado um pouco de sorte.
- Só um pouquinho. – Ele brincou e me abraçou novamente, me fazendo gargalhar. – E como estão as coisas? Você e Alisson?
- Um dia de cada vez, mensagens, Skype, fotos no Instagram, a gente tá aprendendo a namorar à distância. – Ele assentiu com a cabeça.
- Fiquei feliz com a escolha dele, ele vai se dar bem. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Bom e os outros? – Virei para o lado, vendo quase toda a equipe técnica da Copa, com algumas adições e algumas retiradas, mas Edu, Sylvinho, Rodrigo, Cléber, Taffarel e Matheus, filho de Tite, estavam lá.
- É bom te ver, garota! – Taffarel disse após me dar um forte abraço. – Parece que você está mais cansada do que na Copa. – Gargalhei.
- Eu voltei ontem da África do Sul com a Sub-17 feminina, era para eu estar de folga, mas não poderia perder esse momento. – Ele sorriu, beijando o topo da minha cabeça.
- Vamos oficializar, então? - Edu perguntou e sorrimos.
- Tite, por favor, suba no palco, pegue o contrato, finja que está assinando, dê uns sorrisos para o Lucas e logo finalizamos isso. – Falei.
- Depois podemos tomar algumas cervejas? – Ele perguntou.
- Só se eu estiver incluído. – Lucas falou e gargalhamos.
- Podemos fazer um acordo! – Tite disse e sorrimos.

Depois da renovação de Tite as coisas ficaram mais calmas, tirando um dia em que acompanhamos a Sub-15 masculina em um treino aberto para Granja, não tivemos muitas preocupações. Claro que ainda estávamos cuidando das preparações, principalmente com a aproximação dos primeiros amistosos da masculina após a Copa, então a expectativa era enorme e a imprensa já começava a matar assim que agosto entrou, sendo que os amistosos seriam só em setembro.
Lucas e Vinícius foram com a Seleção Feminina para os Estados Unidos para o Torneio da Nações, mas eu não fui, fui escalada para outro evento da Feminina no começo do mês, mas da Sub-20 dessa vez. Os dias estavam agitados e a gente não podia parar.
Dia 31 de julho foi o dia em que Alisson se apresentou em Melwood para seu primeiro treino com o Liverpool após a Copa. Cheguei em casa e fui correndo para a frente do computador, querendo saber tudo sobre seu dia. Agora estávamos há quatro horas de diferença. Era um pouco melhor, mas ainda assim. Ele sempre estava à frente e provavelmente sempre mais cansado.
- Hello! – Falei animada quando ele apareceu na tela e ele abriu um largo sorriso.
- Ei! How are you? – Ele entrou na brincadeira e eu sorri.
- Como foi seu primeiro dia? Como é o pessoal? Se divertiu?
- Você está me perguntando como se eu fosse um aluno de três anos começando na escola. – Gargalhei sozinha.
- Eu não sei como essas coisas funcionam. – Dei de ombros e ele sorriu.
- Foi muito bom, na verdade! – Ele disse. – Começamos devagar, obviamente, mas foi bom voltar. É legal vestir o vermelho deles. – Sorri.
- Agora até eu estou seguindo os “reds”, só para te ver, obviamente.
- Obviamente. – Ele me copiou e sorrimos.
- Mas e aí? O pessoal é legal? Teve muita transferência?
- Ah, é bacana sim, o Klopp, o técnico, ele é bem bacana, bem animado, bem simpático, nem parece que é alemão. – Gargalhei. – Ele faz com que a gente se sinta bem enturmado. E o resto do pessoal é bacana. Tem o Salah, que eu joguei um tempo na Roma, Firmino e Fabinho do Brasil, então já é alguma coisa, sabe?
- Ah, que bom, me deixa feliz! – Sorri. – O que mais?
- Ah, essa semana vai ser mais leve, depois vamos para Evian, na França, para os treinamentos da pré-temporada. Lá vai ter uns trotes umas coisas mais, tem outros jogadores novos, Shaqiri Keita, Fabinho, vai ser legal. – Sorri.
- E você já tem data para sua estreia? – Perguntei curiosa. – Afinal, agora vou ter que acompanhar o campeonato inglês, não é mesmo? Já até pedi para a TV a cabo aumentar meu pacote. – Ele gargalhou.
- Vai ser dia quatro de agosto, em Dublin, contra o Napoli. – Fiquei confusa.
- Liverpool jogando na Irlanda contra um time italiano? – Franzi a testa e ele riu.
- É a pré-temporada, são amistosos entre clubes. – Sorri.
- Bom, eu te desejo muita sorte e que você aproveite. Estarei torcendo por ti, sempre.
- Eu sei. É isso que me conforta. – Rimos juntos.
- E o resto da equipe? Outros goleiros? Como te receberam? – Perguntei e ele coçou a cabeça.
- Esse é um assunto delicado. – Ele suspirou.
- O que aconteceu?
- Bom, em meu contrato eu só viria para cá se fosse para jogar, eu não ficaria no banco igual fiquei na Roma, afinal, para ficar no banco, eu ficaria na Roma. – Assenti com a cabeça. – O Karius, goleiro atual...
- Conheço. – Falei e ele riu.
- É óbvio! – Sorrimos. – Então, ele fez uns erros muito feios na final da Champions e muitos o culpam por isso...
- Eu li que ele teve uma concussão na semi, Alisson. Como as pessoas o culpam por isso? – Ele deu de ombros.
- É esse o motivo que o Liverpool procurou outro goleiro, por isso me chamaram. – Assenti com a cabeça. – Mas é estranho, parece que estão querendo livrar ele de tudo, sabe? Eu até senti o local pesar, sabe? Ninguém fala, ninguém demonstra, mas você nota que tem algo de errado.
- Ah, que horror! Deve ser muito chato isso. Já não basta ele saber que errou. – Alisson assentiu com a cabeça.
- Pois é! Sei muito bem o que é isso! – Ele suspirou. - E tem o Mignolet, ele sempre esperou pela saída do Karius para se tornar o titular e as coisas mudaram de figura. Ele não me parece muito feliz e nem foi muito receptivo. – Ri fracamente.
- Ingleses são naturalmente frios... – Falei.
- Ele é belgo! – Fiz uma careta, fazendo Alisson rir.
- Acho que isso explica algumas coisas. – Rimos juntos.
- Talvez! Eles também perderam a Copa, né?! – Ele deu de ombros.
- Mas e sua casa? Já se organizou? Está tudo pronto? – Ele pegou o celular, andando pela casa que estava vazia.
- Ainda não chegou nada. – Ele falou rindo. – Eu tenho a cama que eu comprei aqui e uma mala. É só. – Ele voltou a tela para seu rosto.
- Você deveria ter ficado em um hotel. – Ele ponderou com a cabeça.
- Eu pensei, mas estou precisando criar raízes de novo. – Sorri.
- Você vai criar logo, você vai ver. – Ele assentiu com a cabeça.
- E você? Quais as novidades? – Suspirei.
- Ah, hoje nada. – Falei. – Estamos preparando para os próximos eventos. – Suspirei. – Eu devo ir na semana que vem para a França, acompanhar a preparação da feminina Sub-20 para o campeonato no Uruguai no fim do mês.
- A CBF é totalmente inconstante, não é mesmo? – Ele comentou. – Treinar na França para uma competição no Uruguai? – Dei de ombros.
- Estados Unidos para jogar contra El Salvador? – Perguntei. – Não faz sentido.
- Pelo menos vamos jogar contra os donos da casa antes. – Suspirei.
- Ainda assim, é estranho, muito gasto de dinheiro, mas atualmente nem reclamo. – Rimos juntos. – Posso carimbar cada vez mais meu passaporte.
- E eu posso te ver. – Sorri, mandando um beijo para tela.
- Eu te amo, tá? Não se esqueça disso.
- Difícil! – Ele disse e eu sorri.
- Vou te deixar dormir e eu preciso de um banho. – Puxei a blusa, mostrando o brasão da CBF da mesma. – Não deu tempo.
- Vai lá, eu vou deitar também, amanhã é um novo dia.
- Com novos desafios. – Pisquei e ele sorriu.
- Eu te amo, senhorita .
- Eu sei, senhor Becker. – Falei rindo e me levantei.

No dia quatro de agosto foi eu, Anna e Leandro para a França acompanhar a Seleção Feminina Sub-20 na Copa do Mundo da categoria. Começaria amanhã e finalizaria só no dia 24, então fomos prontos para ficar esses longos 20 dias. Pena que ficamos somente uma semana! As meninas haviam ido uma semana antes para começar os treinamentos, diferente da atenção dada para as seleções masculinas, só acompanharíamos a competição e com uma equipe bem reduzida.
Eu estava começando a notar os padrões dentro da CBF. Seleção Masculina na terra e Deus no céu, e as femininas? A não ser que a Marta estivesse no meio, a atenção não era muito reforçada.
Agora, falando sobre a competição das meninas, elas até que foram bem, mas não o suficiente para passar para a segunda fase. O primeiro jogo foi contra o México no estádio du Clos Gastel, em Dinan. Perdemos de três a dois para as mexicanas. Ao menos as mexicanas femininas não me davam vontade de matá-las durante o jogo.
Já no segundo jogo, no dia oito, no mesmo estádio do primeiro, empatamos contra a Inglaterra. Era difícil trabalhar com elas, porque meu foco era a imagem e não era como se eu tivesse um Neymar para xingar por ações erradas ou desrespeitosas, elas dando tudo de si, só que a bola não entrava. Então meu trabalho com elas era mais incentivador do que puxar algumas orelhas.
Depois desse dia, o treinador deu um descanso para elas, nada muito grandioso, mas eu fiquei no hotel. Estava um fuso na frente de Alisson e gostava de aproveitar esses momentos aonde nenhum dos dois estavam morrendo de sono. Mas o que ele me contou não foi exatamente muito agradável.
- E aí? Como as meninas estão? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- É muito mais fácil de trabalhar com elas do que com vocês, acredite. – Falei e ele riu.
- Eu sei, depois dizem que mulher é complicado. – Suspirei.
- Neymar é complicado. – Cocei a cabeça. – Adoro ele, mas é difícil, parece que estou lidando com várias patricinhas com unhas quebradas. – Ele riu fracamente.
- Gosto do Ney também, mas entendo a dificuldade, isso quando o pai dele não se mete. – Bufei.
- Ah, nem fala no pai dele, ele estava querendo processar a CBF por causa dos xingos que eu dei no filho dele. – Revirei os olhos.
- Fala sério?! – Alisson se ajeitou na cadeira e eu dei de ombros.
- A Michele só rasgou o papel no meio e falou que se ele quisesse continuar fazendo parte dessa equipe ele teria que entrar nos eixos e obedecer às regras. – Falei e ele gargalhou.
- Mentira! – Dei de ombros.
- Eu tenho a melhor chefe do mundo, e o mais interessante: ela confia em mim. Então, ela acredita que o que eu fiz foi necessário para o bom andamento da competição.
- Pior que o Ney gostou dos seus toques, acho que todo mundo que quer crescimento na carreira aceitou seus toques gentilmente. – Suspirei.
- Vamos ser sinceros que eu exagerei algumas vezes, mas vocês me tiraram do sério. – Ele fez uma careta.
- Culpado! – Sorri.
- Em campo você foi o menor dos meus problemas...
- Agora fora... – Sorri, mandando um beijo para a tela. – Tá sabendo da novidade?
- Qual delas? – Franzi a testa.
- Eu não sou o goleiro mais caro do mundo mais.
- O quê? – Falei um tanto alto demais.
- É, o Chelsea comprou o Kepa Arrizabalaga por 80 milhões de euros e passou minha transferência. – Franzi a testa.
- Quem? – Perguntei alto ainda.
- Não conhece? – Neguei com a cabeça.
- Nunca ouvi falar, e de goleiros eu entendo. – Rimos juntos.
- Ele é espanhol, foi substituto do De Gea na Copa do Mundo...
- E um substituto que foi eliminado nas oitavas de final bateu o meu namorado? – Revirei os olhos. – Que decadência! – Falei e ele riu.
- Eu não conheço muito o trabalho dele, mas é o Chelsea, segundo cochichos, eles tentam sempre superar o Liverpool de alguma forma. – Ele deu de ombros. – Eu não me incomodo com isso.
- Pois deveria! Você foi merecedor dessa transferência, esse daí ninguém sabe quem é! – Ele riu do meu nervosismo.
- Para, , não vale a pena.
- Não estou dizendo que vou entrar em briga por ele, mas... Quem é Kepa? – Ele sorriu.
- Ah, acho que é por isso que eu gosto tanto de você. – Ele disse.
- Eu sou um amor, vai! – Suspirei e vi uma notificação cobrir minha tela.
“Vou dar umas filmadas pela cidade, quer vir?” – Era de Leandro.
- Leandro me mandou mensagem, ele vai filmar pela cidade, acho melhor eu ir com ele. – Suspirei.
- Esse é o cara que veio de São Paulo? – Ele perguntou.
- Sim, ele é bacana! Meio quietão, mas é legal! – Ele assentiu com a cabeça. – É com ele que eu faço boxe. – Ele riu.
- Queria te ver lutando boxe.
- Prometo que filmo um dia. – Suspirei. – Nos falamos mais tarde? – Perguntei.
- Acho que amanhã, vou jantar no Firmino. – Assenti com a cabeça.
- Isso é bom, vai lá e manda um beijo para ele, para a Lari e para aquelas crianças lindas dele. – Ele riu fracamente.
- Pode deixar! – Ele sorriu. – Eu te amo, ok?!
- Eu também, ok?! – Rimos juntos e logo desligamos a ligação, depois de trocar risos de quem desligaria primeiro.
Depois desse acontecimento com o tal Kepa, as meninas fizeram seu último jogo no dia 12, no estádio de Guy Piriou, na cidade de Concarneau e perderam de dois a um para a Coreia do Norte. Isso fez com que elas finalizassem a competição em último da tabela e viéssemos embora mais cedo para o Brasil.

Para mim até que veio a calhar, pois as preparações para o amistoso da Seleção Principal Masculina já estavam começando e dia 17 teria convocação. Eu não tinha nenhuma informação privilegiada sobre os nomes que seriam convocados dessa vez, tudo dependia de Tite. Sabia sim que Tite estava em contato com Alisson para saber como ele estava se saindo no Liverpool e alguns detalhes extras, mas isso eram informações que o Alisson me passava, não a equipe técnica.
Mesmo sem essa informação privilegiada, eu encontrei bastante Tite e o resto da equipe técnica pelos corredores da CBF para algumas decisões de última hora, principalmente decisões sobre qual equipe de comunicação acompanharia a equipe técnica e questões sobre hotéis, locais de treinamento, jogos, entre outros.
Vou admitir que achei bem fraco as equipes contra a qual competiríamos nesses primeiros amistosos: Estados Unidos e El Salvador. Dois países com zero tradição do futebol. Não era um desafio para nós, eram só mais dois jogos, outra viagem de 10 dias com tudo pago para os Estados Unidos. A diferença dessa vez era que eu nunca tinha ido para lá e estava empolgada em fazer parte da equipe.
Não tínhamos fechado a equipe ainda, mas, baseado na minha promoção, eu tinha bastante esperança em ser chamada para participar dessa equipe, mas como sempre, tudo poderia mudar de um dia para o outro, eu só precisava esperar pelo melhor.
O dia 17 chegou e eu estava nervosa novamente com a suposição do Alisson não ser convocado. Assim, eu achava muito difícil, ele era a transferência mais cara de goleiro da história – nem que tenha sido por somente oito dias –, além de que tinha uma das melhores taxas de goleiro na Copa e já era considerado de alto nível, mas, mesmo assim, eu estava nervosa com a opção do “e se”.
Desci com os outros assessores para a convocação com o coração na mão, mas todos tentavam me garantir de que ele estava dentro, eles tinham certeza, eles diziam. Mas eu não sabia disso, meu coração só pôde respirar aliviado quando eu entrei na antessala para chamar Tite, Edu e Fábio que a coletiva ia chamar.
- Oi, gente! – Entrei na sala e eles sorriram.
- E aí, garota? – Tite me abraçou rapidamente.
- Prontos? – Perguntei.
- Sim, vamos lá! – Eles se levantaram e eu abri a porta, deixando espaço para que eles seguissem para o palco.
- Sabe de uma coisa, ? – Tite ficou por último, apoiando a mão em meu ombro.
- O quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Eu adoro uma história de amor. – Ele disse isso, piscou para mim e saiu para o palco, me deixando confusa.
Mas depois da confusão sumir, eu acreditava que podia acalmar meu coração um pouco. Afinal, Tite foi um dos grandes incentivadores do meu relacionamento lá na Copa. Ele não mudaria de ideia de uma hora para outra... Ou mudaria?
- Amistosos nos Estados Unidos nos dias sete e 11 de setembro contra Estados Unidos e El Salvador. – Murilo, das relações públicas, começou a falar. – Passo a palavra para Edu para prosseguirmos com a convocação. – Ele falou e eu me coloquei ao lado de Vinícius que fazia a transmissão.
- Vamos lá? – Ele cochichou para mim e segurou minha mão.
- Vamos ver se existem chances do meu relacionamento se manter firme. – Rimos juntos.
- Como de costume, faço uma pequena introdução antes da lista do Tite, e queria passar os agradecimentos da comissão técnica sobre o início de um novo ciclo, uma fase muito importante para a seleção brasileira, uma fase que estamos mais experientes, mais refletidos individualmente e em grupo, com um bom horizonte pela frente, animados em dar continuidade a esse trabalho. Então, em nome da comissão técnica, é uma satisfação de iniciar esse novo ciclo.
- Eu não tenho o dia todo, Edu! – Cochichei baixinho e Vinícius riu.
- E para que vocês possam entender esse novo ciclo, vou passar a ideia da comissão técnica para as convocações. Porque quando se olha esses quatro anos e meio, aparecem muitas datas, muitos jogos, muitas observações e dividimos esse novo ciclo em três fases. A primeira é a curto prazo, a segunda a médio e a terceira a longo prazo. O que seria? O curto prazo seria as convocações que terão uma característica como uma observação, para que possamos analisar nossa equipe até a Copa América. Isso será até janeiro, seis jogos e três convocações. – Assenti com a cabeça. – O médio prazo caracterizamos o final de dezembro, até o final da Copa América, terá uma característica de menos observações e o foco na competição. E o longo prazo será da Copa América em diante. – Peguei meu celular rapidamente, desligando um pouco das palavras de Edu.
“O que for para ser, será”. – Era a última mensagem de Alisson quando estávamos falando sobre ontem a noite e respirei fundo. Esperava que ele estivesse certo.
- Algumas observações antes de passar a lista: teremos um jogador da Sub-20 convocado para a principal, vocês podem fazer perguntas sobre isso no final. Nós liberaremos o Ederson que estava na lista do Tite por um motivo pessoal. – Vinícius franziu a testa.
- A esposa dele está para ganhar bebê. Falei com ele esses dias, é para nascer no dia 10 ou 11. – Expliquei para Vinícius que assentiu com a cabeça.
- Nossas próximas convocações serão dia 21 de setembro e 26 de outubro. – Passei mentalmente rapidamente as datas, anotando em meu celular. – Para que vocês possam se programar. Passo agora a palavra para o professor para que ele passe a lista. – Suspirei, apertando fortemente a mão de Vini.
- Bom dia, reitero aquilo que o Edu colocou agora, se nós colocamos e, lembro da primeira vez que eu tive aqui, que falamos de transparência. Vocês perguntem tudo aquilo que quiserem a respeito de qualquer assunto. Compete a mim, a comissão técnica passar para vocês. Como foi a primeira oportunidade pós-Copa do Mundo naquele momento de entrevista oficial, é a primeira vez que eu estou aqui publicamente, então façam as perguntas que vocês acreditam ser importante. É meu dever profissional e conduta pessoal responder. – Assenti com a cabeça.
- Sensato! – Falei para Vini.
- Desculpe, professor, mas antes, gostaria de salientar também que tivemos uma preocupação para os clubes que estão jogando o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, por esse motivo nós fizemos a seguinte análise: convocaremos apenas um atleta por clube do Brasil. Caso vocês queiram perguntar também mais tarde. – Edu assentiu e Tite pegou o papel.
- Convocação! – Ele falou e eu engoli em seco. – Alisson, Liverpool. – Respirei aliviada, vendo Vinícius rir ao meu lado. – Hugo, Flamengo. Neto, Valencia. Goleiros. Defensores: Alex Sandro, Juventus. Dedé, Cruzeiro. Fabinho, Liverpool. Fagner, Corinthians. Felipe, Porto. Filipe Luís, Atlético de Madrid. Marquinhos, PSG. Thiago, PSG. Meio-campistas: Andreas Pereira, Manchester United. Arthur, Barcelona. Casemiro, Real Madrid. Fred, Manchester United. Lucas, Paquetá, Flamengo. Philipe Coutinho, Barcelona. Renato Augusto, Beijing. Atacantes: Douglas Costa, Juventus. Everton, Grêmio. Firmino, Liverpool. Neymar, PSG. Pedro, Fluminense. Willian, Chelsea.
- Daqui uns minutos começamos as perguntas para a equipe. – Murilo falou e Vinícius me abraçou de lado.
- Feliz? – Suspirei.
- Aliviada! Agora vamos ver se eu vou! – Falei e ele riu.
- Não tenha nem dúvidas. – Ele riu e eu abri o WhatsApp para mandar mensagem para Alisson.
“Você está dentro! Parabéns”. – Escrevi animada, enviando um monte de emojis e gifs juntos e recebi uma notificação de Angelica.
“Quero vocês aqui em cima assim que a coletiva acabar”.
- Teve bastante mudança, não é mesmo? – Perguntei para Vinícius sobre a convocação.
- Muita! – Ele falou. – Preciso ver a lista de novo, mas parece que metade é cara nova.

Eu sabia que essa mensagem de Angelica queria dizer que: agora que a equipe de jogadores foi convocada, podemos fechar a nossa. Estava sendo assim depois de toda convocação, seja de que equipe for. Assim que acabou, ajudei Vinícius com os materiais e subimos para nossa sala particular, encontrando já algumas pessoas lá dentro.
- E aí, como foi? – Ela perguntou quando nos sentamos na mesa.
- Achei de boa! – Assenti com a cabeça. – O Tite não manda recado, vocês sabem. – Eles riram.
- Bom, então vamos lá. Agora que temos a equipe e comissão técnica que vão, vamos ver quem de vocês vai também, beleza? – Ela perguntou e afirmamos com a cabeça. – Como sabem, chega de viagens para mim, mas precisamos alinhar três equipes para esses acontecimentos, ok?! A que vai com a principal masculina, a que vai com a feminina sub-20 para o Uruguai e quem vai começar a fazer alguns trabalhos para o Brasileirão, tá?
- Beleza! – Falamos meio juntos.
- Temos uma equipe de São Paulo e outra de Brasília vai que vai nos auxiliar no Brasileirão, pensei no Leandro que já está acostumado. – Ele assentiu com a cabeça. – Roberto, pronto para viajar? Faz tempo que você não sai.
- Sem problemas! Vamos voltar! – Ele fez um polegar com as mãos.
- Bruna? Pode incluir na equipe?
- Adoro! – Ela disse e rimos.
- Fechado. – Angelica disse. – Equipe da sub-20 para o Uruguai: Daniela, quero você filmando para gente, Anna, que já está acostumada com as meninas e... – Ela deu uma olhada na sala e estava parecendo o Harry Potter pedindo para não ser selecionado. – Débora?
- Fechado! – Ela disse e eu suspirei aliviada.
- E para a principal masculina vamos manter a equipe que deu certo na Copa: Lucas, Vinícius, Bianca e . – Abri um discreto sorriso. – E Diana, você vai junto, quero que comece a ter já experiência em viagens e nada melhor do que começar com a principal. – Sorrimos e Lucas apertou minha mão por baixo da mesa, me dando um largo sorriso. – Ao trabalho! Passagens, reservas, documentos. Vocês sabem o caminho! – Ela disse e nos levantamos sorrindo.
Eu cheguei em casa toda alegre para conversar com Alisson sobre isso. Nos veríamos em alguns dias, isso era surreal! Ah, mal podia acreditar que isso estava realmente acontecendo, parecia que eu não o via há uma eternidade e agora estava há menos de 20 dias de encontrá-lo.
- Oie! – Falei animada, acenando para a tela, vendo-o quase dormindo.
- Oi. – Ele falou fraco.
- Meu Deus, que ânimo. – Brinquei e ele riu.
- Hoje o dia foi meio cansativo, meu corpo está todo dolorido, estou na base de analgésicos, posso não estar respondendo por mim hoje. – Sorri.
- Bom, então vamos falar rápido para você poder dormir. – Suspirei.
- Nós sempre falamos rápido, isso me irrita! – Ele comentou e eu sorri.
- Eu valorizo sua profissão e seu sono, da mesma forma que valorizo o meu. Estamos em fase de crescimento, é importantíssimo. – Rimos fracamente.
- Engraçadinha. Me diga, por que está feliz?
- Fico feliz que tenha perguntado! – Fui irônica. – Nosso encontro está marcado para o dia dois de setembro. – Abri um largo sorriso.
- Mesmo? – Ele perguntou se ajeitando na cama, fazendo uma cara de dor em seguida e eu assenti com a cabeça.
- Sim, eles convocaram você hoje, também me confirmaram na viagem. Está tudo acontecendo como planejado. – Suspirei.
- Vai ser perfeito! – Ele falou.
- São só 10 dias, mas é alguma coisa. – Suspirei.
- Farei cada minuto valer à pena. – Sorri.
- Não se esqueça de que ainda estamos indo a trabalho, ok?! – Ele riu.
- Tentarei me lembrar. – Ele brincou. – Quando vocês chegam?
- Acho que dia dois à noite. Todo mundo junto.
- Chegarei antes, então. – Ele falou. – Tenho jogo dia primeiro, o organizador da CBF aqui na Inglaterra nos indicou a ir logo depois do jogo já. Capaz de chegarmos um dia antes.
- Me espere, por favor.
- Como se fosse um desafio. – Sorri.
- Agora, me diga, como estão as coisas?

Esses últimos dias passaram mais lentos do que o normal. Eu estava nervosa, pilhada, querendo que essa viagem chegasse logo para que eu encontrasse Alisson novamente. Faziam quase dois meses. Era muito tempo, além de que, com o trabalho corrido dos dois lados, era difícil tirar longas horas para botar o papo em dia. Até de fim de semana era difícil, porque era normalmente quando ele viajava e se preparava para um jogo.
Nós estávamos sabendo lidar. Ainda era novidade, tudo muito novo, mas eu queria saber quando nos encontrássemos de novo, se tudo seria como foi na Copa do Mundo. Essa era minha maior preocupação. Conversar através de uma tela era fácil, falar como foi o dia e tudo mais, agora se reencontrar, acho que seria a maior dificuldade de todas.
Sábado de manhã eu faltei do boxe para arrumar minhas malas e finalizar tudo para a viagem. Almocei com Bernardo no Outback, já que ele estava trabalhando, e nos despedimos lá mesmo. Não que fosse diferente das outras viagens, mas ele fez questão de me desejar sorte com o boy. Voltei para casa e esperei a van que nos levaria para o aeroporto. Ela passou no começo da noite, voaríamos de madrugada.
- Oi, senhora . – O motorista falou, pegando minha mochila e mala.
- Tudo bem? – Perguntei rapidamente e ele abriu a porta aonde vi já quase todos lá dentro.
- E aí, garota? – Tite me ajudou a subir e eu me sentei no lugar vago ao lado de Bianca.
- Como vocês estão? – Sorri, dando a mão rapidamente para os mais próximos.
- E aí, pronta para encontrar o amor da sua vida? – Taffarel perguntou, fazendo todo mundo gargalhar e eu senti meu rosto queimar um pouco.
- Mais que pronta! – Sorri e eles gritaram e bateram palmas, me deixando cada vez mais ansiosa por esse momento.


Capítulo 2: Party, or Work, in the USA

Sorri discretamente ao passar pela aeromoça e acompanhei o resto do pessoal de cabeça baixa para os assentos do fundo da primeira classe. Vi o pessoal da equipe técnica se ajeitar e entrei na mesma fileira que Lucas e me joguei na confortável poltrona ao seu lado, suspirando.
- Preparada? – Ele perguntou e eu virei para o lado, rindo fracamente.
- Claro, porque 14 horas dentro de um avião é tudo que eu preciso para acalmar minha ansiedade. – Rimos juntos e eu me levantei, pegando meu iPad e fone de ouvido dentro da mochila e coloquei no meu assento antes de erguer a mochila e colocá-la no compartimento de carga.
- Coloca a minha, por favor? – Lucas perguntou e eu assenti com a cabeça, pegando sua bolsa igualmente pesada e colocando ao lado da minha, antes de me jogar na poltrona novamente, puxando os aparelhos de baixo da minha bunda. - Acho que tenho ludo aqui, se você quiser passar o tempo. – Ele falou mexendo em seu celular e eu assenti com a cabeça.
- Pode ser, mas preciso só fazer uma checagem dos novos nomes, com a correria do visto eu nem tive tempo de checar os novos nomes de Tite. – Ele debruçou na minha poltrona. – Além de que o Tite vai convocar o Militão no lugar do Fagner e Renato Augusto disse que não vai por problemas pessoais. – Suspirei. – Esse povo avisa em cima da hora.
- Eu nem pensei nisso também, para ser bem honesto. Quem temos de interessante? – Suspirei, abrindo meu arquivo de notas aonde tinha a lista da Copa do Mundo e a atual lado a lado.
- De novo temos Hugo e Neto, Fabinho, Alex Sandro, Dedé, Felipe, Arthur, Andreas Pereira, Paquetá, Éverton e Pedro. – Cocei a cabeça. – E agora o Militão.
- Ah, para mim está fácil, são nomes novos agora, mas no geral é gente conhecida pelo futebol nacional e internacional. – Suspirei.
- Bom para você. – Fui irônica. – Antes da Copa do Mundo eu acompanhava pouco do futebol nacional, meu trabalho não tinha como ocupação assistir aos jogos. – Ele riu ao meu lado. – Estou bem para trás nas caras novas do futebol. – Suspirei. – Pelo menos conheço o Fabinho pelo Alisson e Alex Sandro pela Juventus, né?!
- Já é alguma coisa, mas você também não conhecia nem o Alisson, caso não se lembre, e parece que deu tudo certo. – Ri fracamente.
- Bem até demais. – Suspirei.
- Relaxa, garota! Você está só há algumas horas de vê-lo. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, é agora que eu fico mais nervosa. – Suspirei e bloqueei o iPad, colocando-o no bolso lateral da poltrona ao ver a aeromoça tomar seu lugar para as instruções.
- Ah, qual é, , isso é empolgante! – Ri fracamente.
- Sim, é, mas também um pouco aterrorizante. Fazem quase dois meses, Lucas, não posso evitar em pensar que talvez as coisas tenham mudado. – Ele suspirou. – Muita coisa mudou nesse tempo.
- Sim, talvez você tenha razão, mas você mesma me disse que tudo está bem entre vocês, por que pessoalmente seria diferente? – Ele virou para mim e eu fiquei pensativa.
- Porque é pessoalmente. – Suspirei, apertando a fivela do cinto de segurança.
- Nada que você diga fará com que ela mude essa cabecinha, Lucas. – Ouvi a voz de Tite da poltrona da frente. – Ela só vai acreditar que nada mudou quando encontrá-lo. – Dei um pequeno sorriso.
- Estamos no caminho para isso. – Falei e eles riram.
- Tente dormir, o tempo passa mais rápido. – Ouvi Tite falar e mordi meu lábio inferior.
- Até parece que eu vou conseguir. – Falei e ele, Lucas e Cléber riram juntos.
A aeromoça finalizou as instruções e logo estávamos no céu do Rio de Janeiro com destino à Nova York. Ou melhor, à Atlanta, teria uma escala que não conseguimos evitar. Enquanto todos ao meu redor desmaiaram minutos depois do avião sair do chão, eu fiquei conhecendo um pouco mais sobre os novos convocados. Eu realmente estava fora de forma no quesito futebol e minha correria nessa nova ocupação tinha piorado tudo, então eu estava realmente em desvantagem. Abri os briefings montados e fiquei lendo um a um, tentando fazer com o que o tempo passasse.
Eventualmente eu acabei tirando um cochilo, não horas de sono, o que seria ideal, já que chegaríamos trabalhando já em Nova Jersey, mas o suficiente para passar duas horas do meu sono. Quando o negócio estava bom, fui acordada por Lucas, já que estávamos chegando em Atlanta.
Depois foi realmente impossível dormir de novo, eu entrei no modo hard e não havia quem me tirasse. Provavelmente só quando eu encontrasse meu namorado mesmo. Sabia que eles tinham chegado na noite anterior lá, eles tiveram jogo no dia primeiro e logo seguiram viagem. Era para termos chegaso ontem, mas algumas decisões de última hora fizeram com que precisássemos atrasar nosso voo.
Não precisamos trocar de avião ao pousar em Atlanta, então esperamos que os passageiros saíssem e logo estávamos no ar novamente por mais algumas horas. Abri um sorriso ao espiar pela janela ao lado de Lucas a Grande Maçã. Aquilo era demais, eu estava em Nova York. Talvez eu conseguisse relaxar das minhas saudades de Alisson por alguns minutos ao pensar que eu estava na maior cidade do mundo.
Assim que pousamos, fomos os primeiros a sair do avião e seguimos os caminhos e placas para a imigração e, na fila, já fui separando todos os papéis e meu passaporte, abrindo-o na folha da foto.
- . – Ouvi a voz de Tite e parei um pouco, vendo os outros membros das equipes nos ultrapassarem.
- Oi! – Falei e, assim que ele me alcançou, começamos a andar juntos.
- Não sei o que foi combinado com a equipe de comunicação lá no Rio, mas quero você na mesma ocupação que na Rússia, ok?
- Ficou assim mesmo, eu vou cuidar da relação com os jogadores e Bianca com a imprensa, não tem FIFA para nos encher aqui, então fica mais fácil. E Diana veio mais para observar e iniciar como minha antiga posição, de social mídia.
- Agora você é a chefe, não é mesmo? – Rimos juntos, parando na fila da imigração.
- Eu sempre fui, não é mesmo? – Ele riu, negando com a cabeça.
- O ego está bem alto, hein? – Dei de ombros.
- Vocês que me deram esse posto, agora aguenta! – Ele sorriu.
- Com todo prazer.
Esperamos em silêncio a longa fila de pessoas para a imigração de um dos maiores aeroportos do mundo. Quando chegou minha vez, eu segui para o guichê numerado e já entreguei os papéis e passaporte ao oficial.
- Bom dia, veio a trabalho ou lazer? – Ele perguntou.
- Trabalho, por 10 dias. – Respondi e ele checou os documentos.
- Trabalha para a Seleção Brasileira de Futebol?
- Sim, temos dois amistosos dia sete e dia 11. – Ele assentiu com a cabeça.
- Tudo está ok, senhorita. Bem-vinda à Nova York. – Ele carimbou meu passaporte e devolveu meus documentos.
- Obrigada! – Peguei tudo de volta, guardando na pasta de forma desajeitada e joguei o passaporte de volta na bolsa. Atravessei os guichês e encontrei Bianca do outro lado, esperando por todos.
- Empolgada? – Ela me perguntou e vi Lucas, Vinícius e Diana nos encontrando.
- Você sabe que sim. – Dei um pequeno sorriso. – Eu não o vi depois da Copa do Mundo.
- Nada? – Ela perguntou.
- Tirando chamadas de vídeo, fotos e vídeos esporádicos, não. – Ri fraco. – Eu voltei para o Rio e acompanhei as coisas com vocês, o que você sabe a correria que foi com os campeonatos. Ele ficou uns 10 dias de férias com a família em Sardenha, depois aceitou o contrato com o Liverpool e está jogando pela Premier League desde então. – Dei de ombros. – Não teve feriado ou folga até o sete de setembro, que vamos nos encontrar... – Me virei para ela. – Mas a trabalho.
- Mas isso não os impediu na Copa, não é?! – Vinícius passou o braço pelos meus ombros e eu ri.
- Obviamente! – Falei rindo.
- Vamos seguir, gente! – Edu apareceu e ajeitei a mochila nas costas e segui a equipe técnica e de comunicação.
- Vamos fazer esses pombinhos se reencontrarem! – Lucas falou, me apertando pelos ombros e eu revirei os olhos.
- Você ao menos conseguiu dormir durante a viagem? – Diana perguntou e eu suspirei, passando pelo aeroporto de Newark, vendo que nossas malas já começavam a deslizar pela esteira.
- Pouco, a ansiedade não aguenta. – Respirei fundo, puxando minha mala da esteira.
- Segura ela mais um pouco. – Ouvi Tite comentar um pouco mais à frente e eu ri.
- O que são duas horas comparadas há dois meses? – Falei e ele sorriu.
- Vamos seguir, gente! O ônibus nos espera! – Sylvinho falou e ficamos quietos enquanto atravessávamos o aeroporto lotado de Nova York.
Eu nunca tinha estado lá, mas parecia que eles sabiam muito bem para aonde estávamos indo. Quando reparei, já tínhamos saído do aeroporto e um ônibus nos esperava, sua única designação era o logo da CBF colado no para-brisa.
Entreguei minha mala para o motorista, dando um sorriso simpático e entrei no ônibus. Cada um podia ir em dois bancos confortavelmente que ainda sobrava uns 30 lugares, mas me joguei ao lado de Lucas e coloquei meu iPod na orelha, selecionando a playlist que Alisson havia me mandado com todos os seus sertanejos e modas de viola favoritos.
Apoiei a cabeça no encosto de pescoço e fechei os olhos, ouvindo as músicas começarem a tocar e olhei pela janela, vendo o pôr do sol transformar o céu azul de Nova York em alaranjado.
“Estamos em Nova York”. – Mandei para Alisson, não esperando nem 10 segundos pela sua resposta.
“Estou te esperando ansiosamente”. – Sorri. – “Todos estamos, na verdade”. – Ele respondeu, se referindo aos outros jogadores e eu suspirei, ouvindo Lucas rir ao meu lado.
- Só mais um pouco, . – Ri fraco e assenti com a cabeça.
Pareceu que essas duas horas passaram mais devagar do que as 14 de voo e eu não consegui pregar os olhos nem por alguns segundos, então só deixei com que as músicas da playlist passassem uma por uma e fechei os olhos me lembrando de seus toques e de seu beijo, nem prestei atenção nas maravilhas dos Estados Unidos, sempre fora um sonho ir para lá, mas agora eu tinha outro foco.
Percebi somente quando o ônibus parou novamente e eu olhei para o lado, percebendo que havíamos parado na frente do hotel The Westin, em Nova Jersey e mordi meu lábio inferior, soltando um forte suspiro.
- Vamos lá! – Lucas falou e eu ri nervosa.
Fui a primeira a me levantar, foi como se a equipe esperasse que eu saísse primeiro e eu os encarei, vendo-os rirem. Pareciam que todos estavam empolgados com esse reencontro, da mesma forma que eu. Saí a passos lentos do ônibus, respirando diversas vezes. Assim que segui em direção ao bagageiro, Tite mudou meus ombros de direção e me fez ir direto para a entrada do hotel. Alguns paparazzi e fãs estavam dispostos ali, mas ninguém pareceu se importar muito naquele momento. Entrei empolgada no lobby do hotel, mas só tinha alguns hóspedes e diversos seguranças.
- Na sala de conferência. – Tite disse apontando em alguma direção e fui quase saltitante até a mesma.
Os seguranças abriram a porta quando chegamos mais perto e respirei fundo antes de entrar no cômodo, parando dois passos para dentro. Passei os olhos pelo local, encontrando os 23 jogadores convocados à mesa do café da manhã, além de alguns assessores pessoais e trabalhadores do hotel. O encontrei distraído na ponta da mesa, mas Neymar o cutucou fortemente.
- Olha quem está aí! – Ele falou um tanto alto, chamando atenção do meu namorado e de todos ao nosso redor.
Ele se levantou e eu coloquei meus pés para correrem em sua direção e ouvi os saltos ecoarem na sala silenciosa. Ele abriu os braços para me esperar e eu pulei entre os mesmos, apertando os braços em seu pescoço, sentindo suas mãos apertarem fortemente em minha bunda.
Tirei o rosto da curvatura de seu pescoço e ele colou nossos lábios, acabando com aqueles dois meses de saudades em um beijo apressado e bagunçado. Nos separamos rindo e suas mãos deslizaram pela minha cintura, fazendo com que eu voltasse a fincar os pés no chão, mantendo meus braços bem apertados em seu corpo.
- Finalmente! – Ele falou baixo, me fazendo rir e apoiar uma das mãos em seu peito.
- Eu não sei nem explicar quantas saudades senti. – Falei e ele assentiu com a cabeça, suspirando.
- Tenho uma leve ideia. – Ele falou, me abraçando novamente e eu colei nossos lábios novamente por poucos segundos, ouvindo os gritos e aplausos ao fundo do pessoal que sabiam dessa história.
- Vai começar! – Falei e ele riu, me soltando lentamente, mas mantendo a mão firme em minha cintura.
- Como se não estivéssemos acostumados. – Ele cochichou em meu ouvido, me fazendo rir.
- Oi, gente! Que saudades! – Falei sorrindo e os 10 conhecidos se levantaram rapidamente para me cumprimentar.
- Pensou que ia se livrar da gente? – Firmino perguntou, me fazendo rir. – A gente traz seu garoto, mas vai ter que nos aguentar também. – Apertei-o fortemente.
- Espero que esteja cuidando bem dele em Liverpool. – Falei, vendo-o rir.
- Está tudo bem! – Ele disse. – Os torcedores ingleses que são chatos! – Sorri.
- Ah, garota! – Neymar me abraçou fortemente e eu segui para Thiago Silva, vendo-o rir.
- Meu capitão! – Falei rindo, abraçando-o fortemente.
- Bom te ver! – Ele respondeu.
- Ah, que saudades! – Coutinho me abraçou, me fazendo abrir um largo sorriso.
- Como você está? – Perguntei para ele e fui passando pelos outros: Fagner, Filipe Luís, Marquinhos, Casemiro, Fred, Douglas Costa e Willian.
Alguns me cumprimentavam mais contidamente, outros me davam fortes abraços, me tiravam do chão e queriam saber novidades durante aqueles dois meses, mas não tínhamos tempo para passar toda a lista de acontecimentos em alguns minutos.
Após os cumprimentos dos veteranos, partimos para cumprimentar os novos jogadores. Lucas foi quem começou, então passei pelos outros 10 jogadores dando rápidos acenos e curtos abraços.
- Oi, tudo bem? Arthur. – O jogador do Barcelona se apresentou e eu sorri, dando um rápido cumprimento de mão.
- Então, finalmente nos conhecemos cara a cara? – Fabinho perguntou e eu sorri, abraçando-o fortemente.
- Que bom te ver aqui, Fábio. – Falei e ele riu.
- Prazer em te conhecer pessoalmente. – Sorri.
- O prazer é meu. – Alisson apareceu ao meu lado novamente, apoiando a mão na minha cintura e eu sorri para o mesmo, sentindo-o estalar alguns beijos em minha bochecha.
- Vocês vão ter que aproveitar muito nesses dias. – Firmino falou, me fazendo rir e suspirar.
- Se tudo certo, os tempos sem se ver serão bem menores. – Falei para ele, olhando para Alisson e joguei seus cabelos para trás, acariciando sua barba.
- Se der tudo certo. – Alisson disse para me provocar, dando um largo sorriso e eu neguei com a cabeça.
- Vai dar tudo certo! – Falei e os três riram.
- Falou a pessoa que ficou nervosa com essa convocação. – Alisson respondeu contra meu ouvido e eu suspirei.
- Ah, nem vem, e outra, faltam muitas pessoas aqui, ok?! Pensei que teria o Ederson para me encher! – Falei e ambos riram.
- Relaxa, eu ainda estou aqui! – Thiago falou me fazendo rir.
- Vai começar tudo de novo. – Suspirei, fazendo todos gargalharem.
- , faça às honras? – Tite perguntou e eu me afastei um pouco de Alisson, seguindo para a prancheta que Tite me entregou.
- Ok, vamos lá! – Respirei fundo. - Olá, gente, tudo bem? – Perguntei, vendo todos me encararem. – Eu sou , a atual assessora chefe da CBF nessa viagem. Sou eu quem vai cuidar da imagem de vocês nesses próximos amistosos. – O pessoal comemorou gritando. – Para os novatos, eu comecei na Copa do Mundo da Rússia e criei um grande laço com os jogadores, o que permitiu um trabalho mais relaxado e divertido durante aquele tempo e espero que aconteça da mesma forma com os novos jogadores. Afinal, sejam bem-vindos e espero que gostem de usar o verde amarelo da Seleção! – Eles aplaudiram, me fazendo sorrir.
- Além disso... – Bianca falou um pouco mais alto, olhando para Alisson.
- Ah, além disso, temos, além da equipe técnica, nós cinco da equipe de comunicação. – Apoiei para o pessoal com as camisas azuis igual dos jogadores. – Que auxiliaremos em todos os momentos dessa viagem. Em breve falaremos mais sobre isso tudo.
- Eu não estava falando disso, mas ok. – Bianca comentou e eu franzi a testa e ela olhou sugestivamente para Alisson.
- Ah sim, claro. – Falei rindo. – Para quem ficou perdido sobre aquela cena estilo Dirty Dancing ali, eu e Alisson criamos um laço um pouco mais divertido na Copa e estamos juntos. – Neymar assoviou, me fazendo rir. – Somos bem profissionais, mas se a CBF apostou na gente, pode ter certeza que vamos nos divertir um pouco, ok?! – Dei de ombros e ouvi Tite gargalhando ao meu lado e vi Alisson ficar vermelho de vergonha. – Vamos começar os preparativos. – Sorri, olhando a prancheta. – Ficaremos aqui até o dia sete, depois iremos para Washington, após o jogo contra El Salvador, cada um vai para o seu canto novamente, então aproveitem, porque dia 26 de setembro tem outra convocação e vai ser assim até o fim do ano. – Suspirei. – Como vocês já estão acomodados, alguns desde ontem, nós vamos nos organizar e depois faremos uma pequena reunião antes do trabalho de verdade começar. – Finalizei e eles aplaudiram, dispersando novamente.
- Quanto tempo temos para matar a saudade? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- 10 dias! – Disse, passando meus braços em seu pescoço, encarando seus olhos verdes.
- Bom, pelo menos os quartos são individuais e não vou precisar pedir para ninguém me dar licença para namorar minha garota! – Ele falou, colando nossas testas.
- Adoro! – Sorri. – Mas eu ainda não sei como vai ser em Washington! – Cochichei e ele riu.
- Não vamos sofrer por antecipação. – Ele disse, colando os lábios nos meus novamente, me fazendo rir entre dentes.
- Vamos trabalhar, ! – Dei um pulo ouvindo Lucas voltando com sua mala e me afastei de Alisson.
- Quem sabe mais tarde? – Pisquei para Alisson, seguindo para fora para pegar minha mala.
- Vai ter que ser! – Ele respondeu, me fazendo rir, abrindo um largo sorriso.

Seguimos para fora para buscar nossas bagagens novamente e Alisson e os meninos voltaram a se esconder dentro da sala reservada para a CBF, as janelas da frente do hotel eram espelhadas, mas mesmo assim não queríamos exposição de nenhuma forma. Peguei minha mala e mochila e me debrucei sobre o balcão da recepção para fazer o check-in das nossas equipes. Isso foi rápido, eles já tinham tudo preparado.
Subi com minha equipe ao meu lado e não sabia dizer se os meninos, ou Alisson, estavam no mesmo andar que a gente, então escolhi uma chave de forma aleatória e entrei no quarto do terceiro andar. Não preciso nem dizer que o quarto era maravilhoso, não é mesmo? Ele tinha uma cama de casal no meio, uma escrivaninha e uma televisão na frente da mesma, um sofá confortável na frente da larga janela de vidro e aqueles banheiros de tirar o fôlego.
Me livrei dos meus materiais e me sentei na cama por alguns minutos, eu estava cansada das semanas que antecederam essa viagem, foram muitas coisas que aconteceram ao mesmo tempo e muito rápido, e a falta de sono durante a viagem só tinha piorado meu humor. Queria tomar um banho e deitar nessa cama por algumas horas.
- Ei! – Bianca passou pela porta aberta.
- Fala aí! – Me levantei.
- Tite perguntou se podemos fazer uma reunião para alinhar as informações agora. Depois ele deixa a gente descansar um pouco, eles vão para o campo na parte da tarde.
- Nossa, sim! Eu só preciso trocar os sapatos. – Puxei a mala para cima da cama, já abrindo-a.
- A gente se encontra lá embaixo, então. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
Procurei pelos meus chinelos e deixei os saltos próximo à janela para tomarem um pouco de sol, tinha ficado com esse negócio enfiado no pé por quase 20 horas, ele precisava respirar. Dei uma olhada rápida em minha cara de sono e peguei meu celular, caçando o wi-fi do hotel, precisava checar a Sub-20 que deveria estar treinando na Granja hoje e se Michelle precisava de algo.
Encontrei Vinícius no corredor e descemos juntos novamente. Seus olhos também estavam pequenos iguais os meus, outro que não tinha dormido na viagem. Realmente, precisávamos ter vindo ontem. Entramos juntos na sala novamente e percebi o cheiro de comida nela, eles já estavam começando a servir o almoço e isso me deixava muito feliz.
- Gente, vamos sentar um pouco? Precisamos alinhar umas últimas coisas. – Tite falou e o pessoal em pé começou a buscar seus lugares, sobrou alguns espaços na mesa da equipe técnica e imaginei que seriam nossos lugares, mas eu e Bianca já nos colocamos ao lado de Tite. – Vocês querem começar? – Ele perguntou e negamos com a cabeça.
- Pode falar. – Bianca deu a deixa para ele.
- Bom, gente. Primeiro, bem-vindos a Seleção. Para o pessoal antigo: é bom ver vocês, e para o pessoal novo, gostaria de parabenizar por essa oportunidade de representar o Brasil no futebol. É difícil fazer a escolha dos convocados, mas como viemos de uma Copa do Mundo muito positiva, apesar do resultado final, precisamos colocar caras novas na equipe, jogadores novos para sempre tentar evoluir. – Olhei para Alisson na cabeceira de uma das mesas, me encarando e dei um pequeno sorriso. – Esse time está bem mesclado, veteranos e novatos e queremos testar todo nosso potencial aqui. – Vinícius puxou uma salva de palmas e todos o acompanharam, me fazendo rir. – Vamos às informações importantes que serão repassadas por e Bianca, que são nossas assessoras responsáveis.
- Uhul! – Douglas puxou o coro e eu revirei os olhos.
- Ok, galera, vamos fingir que temos um pouco de maturidade e prestar atenção aqui. – Falei, respirando fundo. – Bom, o esquema funciona da seguinte forma: vocês têm treino todos os dias na Arena Red Bull das oito até o meio dia, depois das duas até as sete da noite. Os ônibus estarão disponíveis para levar e trazer vocês dos treinos. As folgas e treinos especiais serão dadas pelo Tite conforme necessidade e caso ele ache interessante. – Peguei o papel da mão de Bianca. – O primeiro jogo contra os donos da casa será no MetLife Stadium, e o segundo contra El Salvador no FedEx Field. Eu e a Bianca estaremos aqui para lidar com todo problema entre vocês, imprensa e FIFA, então, caso tenham algum problema, alguma coisa, vocês venham até nós inicialmente e obedeçam as ordens de sempre: sem celulares, sem repassar informação privilegiada, porque não dá para ser igual foi em alguns casos na Copa.
- Pois é, né?! – Lucas brincou e eu revirei os olhos.
- O que mais? – Virei para Bianca.
- Sobre as coletivas de imprensa. – Ela falou. – Todo dia uma dupla será escolhida para falar com a imprensa, sobre o quê? Se virem! – Rimos fracamente. – Nesses casos, trabalhamos às cegas, então é mais um preenchimento de agenda. As escolhas são feitas pelo Tite e por nós, dependendo da avaliação da pessoa pela imprensa. Repetindo: vocês não anunciem nada, só ocupem o espaço. Sempre terá eu ou a para acompanhar vocês.
- Hoje chegamos um pouco tarde, então o almoço será servido mais cedo, para vocês já começarem a treinar logo depois. O pessoal da comunicação terá um tempo para descansar e nos encontrarão mais tarde no treino para os compromissos. – Tite falou. – Creio que é tudo.
- Eu quero fazer um parêntese, se me permite, . – Bianca falou e eu franzi a testa.
- Acho que sim! – Ri fracamente.
- É o seguinte, gente: e Alisson não existem, ok?! – Ponderei com a cabeça. – Eles não estão juntos, eles não são um casal e vocês não sabem de nada, combinado? Isso não pode sair daqui. – Ela falou firme e eu assenti com a cabeça.
- Virei fonte agora? – Perguntei e ela deu de ombros. – Você só podia ter falado disso depois que eu falasse com meu namorado sobre isso, mas ok! – Alisson riu à frente e Bianca fez uma careta.
- Desculpa, gente! – Neguei com a cabeça.
- Enfim, é isso mesmo. Inicialmente não somos nem amigos e estamos aqui a trabalho, quando for para abrir para o mundo, será uma decisão nossa, então, agradeceria muito se vocês mantivessem as provocações aqui dentro. – Eles assentiram com a cabeça. – Eu realmente não ligo e adoro ver o Alisson envergonhado, mas tudo com limites. – Tite concordou.
- Agradeço muito se isso for respeitado, de ambos os lados. – Ele olhou sugestivamente para mim e eu segurei a risada, sabendo exatamente do que ele estava falando.
- Em caso de mais novidades, vocês serão informados. Bom almoço! – Falei e o pessoal começou a se movimentar pelas mesas, dando a reunião como encerrada.
Andei em direção a Alisson e ele se levantou, percebendo minha aproximação. Nos afastamos alguns passos dos piratas de papagaio e eu o segurei pelo braço, erguendo os olhos para ele e suspirando.
- Deveríamos ter conversado sobre isso antes. – Falei, me referindo à Bianca.
- Nem precisa, na verdade. Acho que está certo, para ambas nossas posições. – Ele me segurou pela cintura. – Eles falam mesmo, não quero ninguém te julgando por isso.
- Já até consigo ver as pessoas me chamando de interesseira, trambiqueira ou pior. – Respirei fundo.
- Exato. – Ele suspirou. – Vamos manter isso entre nós dois, quando você se sentir confortável em abrir, a gente abre. – Dei de ombros.
- Eu já me sinto confortável, sendo bem honesta, mas quero fazer isso de forma separada da CBF, ser algo nosso, não deles. – Ele assentiu com a cabeça. – Porque vão falar de uma forma ou de outra e minha posição aqui está começando a ser cada vez mais vista e mencionada, quando te virem comigo, logo farão a conexão. – Ele beijou minha testa delicadamente.
- Sim, mas a única coisa que importa é como nos sentimos em relação a nós dois. – Assenti com a cabeça.
- Muito bem, muito feliz, mas com muitas saudades! – Passei os braços pela sua barriga, abraçando-o.
- Estamos na mesma sintonia, então. – Ele disse e eu bocejei.
- Parece que alguém está com sono. – Ri fracamente.
- Não consegui dormir muito no voo, vou aproveitar essa folguinha do Tite e dar uma cochilada.
- Faz bem! – Ele riu e eu me afastei devagar. – Nós daremos um jeito de ficar juntos, ok?!
- Aqui é muito mais fácil que na Copa, meu amor! – Cochichei e ele riu fracamente. – Em que andar estás?
- Quarto. – Ele falou e eu franzi os lábios.
- Terceiro, se vira! – Falei e ele riu, me apertando pelos ombros.
- Pode deixar, já não durmo muito mesmo, então está tudo certo. – Ele disse e eu o empurrei levemente com os ombros.
- Vamos comer, estou com o estômago colado nas costas.
- Quando não?! – Ele brincou e eu mostrei a língua para ele, seguindo na sua frente em direção ao buffet.

O almoço foi só piada. Não parecia que fazia dois meses que não nos víamos, parecia que dormimos, acordamos para outro dia e a Copa ainda estava rolando. As mesas estavam misturadas, então eu acabei almoçando perto de Alisson, os dois goleiros novos e um pessoal mais antigo.
Assim que o almoço finalizou e a risada cessou um pouco, Tite deu alguns minutos para o pessoal subir, se trocar e seguir para o ônibus que o primeiro treinamento começaria. Eu, Bianca, Diana e Vinícius, ficaríamos no hotel até a hora da coletiva para tirar uma soneca. Lucas disse que estava bem e que já iria com eles.
- Que horas vocês vão para lá? – Alisson perguntou enquanto trocava de roupa.
- A coletiva está marcada para quatro e meia, talvez umas quatro, eu preciso de um banho e de alguns minutos de sono. – Bocejei mais uma vez em frente a ele, enquanto ele colocava o kit verde.
- Seus olhos estão pequenos mesmo. – Dei um pequeno sorriso.
- Estava ansiosa para te ver. – Dei de ombros e ele se aproximou de mim, passando os braços pela minha cintura.
- Eu sei! Ontem fiquei até umas três da madrugada com o pessoal, eles estavam tentando me distrair. – Abri um sorriso. – Jogamos truco, pôquer, surgiu até um Uno no meio. – Gargalhei.
- Parece que não era a única ansiosa. – Dei de ombros e ele apertou os lábios nos meus novamente.
- Vamos, casal. – Ouvi a voz de Taffarel e revirei os olhos.
- Vocês poderiam deixar a gente finalizar um beijo inteiro, pelo amor de Deus? – Virei para porta, somente ouvindo a risada de Taffa ecoar pelo corredor.
- Mais tarde, após o jantar! – Alisson disse e eu revirei os olhos.
- Achei que estando juntos, seria mais fácil! – Ele assentiu com a cabeça.
- Se acalma, mulher. Faz só três horas que estamos juntos, temos 10 dias. – Suspirei, vendo-o se afastar e pegar sua mochila.
- Desculpe, estou meio aloprada. É o sono! – Falei e ele se aproximou novamente, dando um curto beijo em meus lábios.
- Vamos fingir que sim, para te deixar feliz. – Revirei os olhos. - Te vejo daqui a pouco. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Some daqui, Becker! – Saí junto dele, vendo os jogadores saindo dos quartos do quarto andar.
- Farei umas defesas para você! – Revirei os olhos.
- Não faz mais que sua obrigação. – Respondi um pouco mais alto e ele fez uma cara de ofendido, me fazendo cair na gargalhada.
- Malvada! – Ouvi sua voz ecoada no corredor, junto de algumas risadas de jogadores e, quando a porta do elevador se fechou, percebi que precisava descer um andar.
Sem paciência, peguei as escadas e fui para meu quarto. Peguei uma troca de roupa na mala, separei uma limpa que eu iria o treinamento, peguei meus itens de higiene e fui para o banheiro. Sabendo que dormiria em poucos segundos, não me preocupei em lavar o cabelo agora, voltei para o quarto, vesti uma camisola e me joguei no centro da cama, esperando que eu apagasse em poucos minutos.

Acordei com o celular tocando e percebi que havia esquecido de colocar um despertador. Era Bianca, pronta para ir para o estádio. Me arrumei rapidamente, fazendo um alto rabo de cavalo e calçando tênis dessa vez, peguei meus materiais e saí correndo escadas abaixo. Quando cheguei ao lobby, Bianca já me dava um olhar parecido com o que Angelica me daria.
- Desculpe, desculpe! – Respirei fundo, vendo-a rir. – Dormi demais.
- Ela tá de mau humor porque não conseguiu dormir! – Vinícius falou, apoiando o tripé nos ombros.
- Olha, vamos deixar claro que nem a Angelica tinha esse olhar tão ranzinza! – Falei, seguindo para fora do hotel junto dos dois e Diana.
- Eu fico de mau humor quando não durmo bem, ok?! – Bianca suspirou enquanto entrava na van e eu ri fracamente. – Ou não durmo nada.
- Relaxa, dona! Essa noite todo mundo vai dormir igual um anjinho. – Me sentei ao seu lado e os outros dois seguiram para os bancos de trás.
- Alguns melhores que outros. – Vini comentou e eu revirei os olhos.
- Como um bebê! – Frisei e eles gargalharam.
Fomos até a Arena Red Bull em silêncio, eu dei uma bisbilhotada no Flickr da CBF para saber se Lucas já tinha colocado alguma coisa, mas nada ainda. Estava com saudade de ver meu menino treinar, eu adorava suas puladas e esticadas – e aquelas leves erguidas de blusa – quando ele defendia um chute a gol.
Pouco menos de 30 minutos, saímos na frente do grande estádio. Eu estava acostumada com estádios de futebol, mas me senti levemente intimidada por ele. Respirei fundo e segui para a entrada do mesmo com meu novo trio favorito. Apresentamos nossos crachás e pudemos passar pelas áreas restritas à equipe.
Quando vi os jogadores correndo pelo campo, dei um pequeno sorriso, sentindo meu corpo relaxar. Ah, como eu estava com saudades disso!
- Vamos lá? – Bianca perguntou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
Nos aproximamos de Tite que observava tudo com sua pose de sempre: os braços atrás das costas e aquele olhar preocupado e dei um leve toque em seus ombros, vendo-o suspirar antes mesmo de nos encarar.
- Já é a hora?
- Estamos alguns minutos atrasadas, para falar a verdade. – Bianca falou e dei um sorriso sem graça.
- Leva o pessoal novo, eles devem estar loucos para falar sobre a primeira convocação e tudo mais. – Ele comentou. – Além de que eles não possuem nenhuma informação privilegiada, dificilmente abrirão a boca. – Eu e Bianca nos encaramos, dando de ombros.
- Quem? – Perguntamos juntas e ele ponderou por alguns minutos.
- Sugestões? – Ele nos encarou.
- Não mesmo. – Falei firme e ele revirou os olhos.
- Leva o Paquetá e o Everton. – Bianca virou para mim.
- Vai ser engraçado. – Ela disse e eu ri fracamente. – Eu vou organizando o pessoal, leva eles, ok?!
- Ok! – Ela disse e saímos para lados diferentes. - Para esse jogo para eu não levar uma bolada, por favor? – Virei para Tite e ele riu, soando o apito. – Obrigada! – Dei um sorriso e alguns passos para dentro do campo e coloquei os dedos na boca, fazendo meu assovio alto ecoar.
- Ah! – Os jogadores mais próximos reclamaram.
- Paquetá, Everton, comigo! – Falei e evitei em rir da cara de perdido dos dois.
- Só vai. – Ouvi Thiago Silva e ambos tiraram os coletes e comecei a ir em direção à área interna do estádio, ouvindo ambos se aproximarem às pressas.
- O que aconteceu? – Everton perguntou.
- Vocês foram os escolhidos para a coletiva de hoje. – Entramos na parte coberta e senti minha visão escurecer por alguns segundos.
- Nós? – Paquetá falou dessa vez.
- Acostume-se. – Abanei com a mão e entrei na antessala, deixando espaço para que eles entrassem.
- E o que a gente fala? – Paquetá perguntou novamente.
- Ah, gente, vocês já deram coletivas nos times de vocês. Não muda nada. – Coloquei as mãos na cintura.
- Não queremos falar nenhuma besteira. – Everton falou mais baixo.
- E eu agradeceria muito se isso não acontecesse. – Eles riram fracamente. – Não se preocupem, no começo eles trabalham sem assunto, sem pauta, sem notícias, quando as coisas esquentarem, colocaremos os veteranos para falar. – Eles assentiram com a cabeça.
- Prontos? – Bianca apareceu e eu virei para os dois.
- Vamos lá? – Eles respiraram fundo.
- Vamos sim! – Everton seguiu Bianca e Lucas foi logo atrás.
Eles entraram na sala da coletiva e eu fui logo atrás, passando pela lateral da sala, e parando entre Vinícius e Lucas no fundo, junto de outros repórteres de TV. Bianca introduziu a coletiva, apresentou os dois jogadores e peguei meu celular para anotar as informações que pudessem ser pertinentes para quando a imprensa lembrasse da nossa existência.
Logo após a primeira pergunta, eu já abaixei o celular. Senti que os poucos repórteres ali presentes não estavam muito interessados nos novatos para malhar de pergunta, mas era o que tínhamos no momento. Everton foi o primeiro a responder as perguntas, Paquetá estava um pouco impaciente pela espera, o que estava me deixando nervosa também, ele não parava de mexer as mãos, mas ambos responderam bem.
Era óbvio o nervosismo deles, mas ambos já estavam acostumados a responder coletivas de seus times, então não faria muita diferença. Só fez com que eu perdesse alguns minutos no meu tempo, poucos minutos. Se a coletiva durou 15 minutos, foi muito.
- Não foi tão difícil. – Paquetá falou assim que eu os coloquei na antessala novamente.
- Não, vocês foram bem! – Abanei a mão. – Eles estavam bem calminhos hoje. – Ri fracamente. – Vocês podem voltar lá para o treino. – Falei e apontei para a porta, vendo ambos passarem pela mesma.
- Que coisa mais ridícula! – Ouvi a voz de Bianca quando ela entrou na sala. – 12 minutos, gente! 12! – Ela falou brava e eu até arregalei os olhos. – Vim até aqui para isso? – Eu e Lucas nos entreolhamos.
- Se acalma, dona Bianca! – Lucas falou na paz. – Respira fundo.
- Eu estou chata, não é?! – Ela falou um pouco mais baixo e nós dois assentimos em sua direção. – Eu preciso dormir.
- Pega um Uber e vai para o hotel, eu seguro as pontas aqui. – Ela ponderou com a cabeça. – Qual é, Bi! O que pode acontecer? Hoje o dia está calmo.
- Mas você também não está cansada? – Ela perguntou.
- Eu dormi algumas horinhas, consigo aguentar o resto do dia. – Falei.
- Além do mais, ela não vai querer ficar longe do Alisson. – Vinícius falou e eu dei um largo sorriso.
- Também! – Rimos juntas.
- Ok, eu vou, mas qualquer coisa me chama. – Assenti com a cabeça. – Mas não falem nada para ninguém, pelo amor de Deus.
- Ninguém vai te dedar, né?! Não temos mais cinco anos. – Lucas falou e eu ri, checando o relógio.
- São quase quatro e meia, devemos voltar umas seis, sete para o hotel. Não vai acontecer nada nesse meio tempo. – Garanti e passei o braço pelos seus ombros, voltando a andar para as áreas comuns do estádio.
- Valeu, gente! Prometo estar disposta no jantar.
- Durma até amanhã cedo se for necessário. – Falei e senti o sol me cegar ao chegarmos do lado de fora.
- Ah, fiquei cego! – Lucas reclamou e eu abanei as mãos.
- Estava nublado até agora, caramba! – Reclamei.
- Vem, Bi, eu espero o Uber contigo. – Vinícius falou e eu e Lucas seguimos para o centro do campo pelo lado de fora e paramos próximo ao banco de reservas, aonde a equipe técnica conversava.
- Como foi? – Tite me perguntou e eu desviei o olhar dos jogadores e virei para Adenor.
- Ridículo! – Copiei Bianca e ele arregalou os olhos. - 12 minutos, Tite. Esse foi o longo período da coletiva. – Falei e ele suspirou. – Nem a imprensa sabia o que abordar. – Ele riu fracamente.
- Menos mal. – Ele disse aliviado.
- É, mas trazer 16 redes de TV, nacionais e internacionais, para cá para uma coletiva de 12 minutos foi maior perda de tempo. Como jornalista, eu ficaria puta, confesso. – Ele ponderou com a cabeça.
- Podemos intercalar com duas duplas amanhã, que tal? – Suspirei.
- Talvez. Uma dupla de novatos e outra de veteranos, dar mais informações para eles trabalharem.
- Ok, combinado! – Ele disse.
- Até que horas ficaremos aqui? – Perguntei.
- Até seis horas, todos estão cansados e com o jet lag bagunçado, finalizamos cedo hoje e amanhã começamos mais cedo. – Assenti com a cabeça.
- Combinado!
- Além de que temos o jantar de recepção hoje, creio que será servido sete e meia. – Dei um pequeno sorriso.
- Vai ser legal, vai! – Abanei com a mão e ele sorriu, me abraçando pelo ombro e me apertando contra seu corpo.
- Ah, que bom te ter de volta, . – Rimos juntos e eu o abracei pela cintura também.
- É bom voltar. – Suspirei.
- Cadê Bianca? – Ele perguntou e eu senti meu corpo gelar por alguns segundos, pensando em qual mentira daria para Tite.
- Problemas com o hotel de Washington, ela foi para o hotel checar os documentos e enviar novamente para o pessoal do Rio. – Ele ergueu o rosto como se pensasse alguns minutos e confirmou.
- Tá certo! – Ele disse, me soltando. – Assim não, na cara da bola, tenta criar uma curva melhor. – Percebi que ele já voltara a falar com os jogadores e aproveitei a deixa para seguir do lado esquerdo do campo aonde Taffarel e Matheus treinavam com os goleiros.
Avancei o campo quando percebi que eram só tiros a gol e parei na lateral, vendo meu namorado fazer a sequência montada e caprichar em quatro defesas seguidas e cair para o meu lado. Ele se levantou rapidamente e piscou em minha direção antes de dar a volta atrás do gol e dar espaço para que Neto começasse a fazer a sequência.
- E aí, garota? – Taffa gritou em minha direção e eu dei a volta por trás, parando ao seu lado.
- E aí, gente? – Perguntei, encarando, agora de frente, os três goleiros fazerem as sequências diversas vezes.
- Como você está? – Ele perguntou, dando um rápido beijo em minha cabeça entre um chute e outro.
- Tudo certo e com vocês? – Virei para ambos.
- Tudo certo também! – Ele sorriu. – Me dá um segundo. – Ele falou e virou para ambos. – Vamos fazer um intervalo de cinco minutos, depois voltamos com uma nova sequência começando pelo Neto. – Ele falou e os goleiros seguiram beber um pouco de água e Alisson veio em nossa direção.
- Como estão os meninos novos? – Perguntei e Taffarel deu aquela ponderada com a cabeça.
- O começo é sempre meio travado, mas hoje é o primeiro dia, as coisas ficarão mais soltas lá na frente. – Taffarel falou e eu assenti com a cabeça.
- Estava olhando e o Neto é mais velho do que o Alisson, por que ele nunca foi chamado? – Ambos se entreolharam e arquearam os ombros.
- Só escolhas. – Taffarel disse.
- Agora é a hora de fazer testes, para não errar lá na frente. – Comentei e Alisson passou o braço pelos meus ombros. - Ah, você está todo sujo. – Me retraí, tirando seu braço e ele riu. – Cheio de grama. – Comentei, dando uma batida em suas costas.
- Uh, superpreocupada! – Ri fracamente.
- Eu acabei de tomar banho, dá um desconto. – Ele riu, enchendo a boca de isotônico. - O que você acha, Taffa? – Fiz um movimento em direção aos goleiros novos.
- Até agora tudo certo, mas estou gostando da pose do Hugo, ele respeita bem o esporte.
- Confesso que adoro ver os subs jogarem, me dá uma imagem do futuro.
- E você? Tem jogado? – Ele perguntou e eu ri abertamente.
- Eu não tenho tempo para fazer mais nada, esporadicamente participo do Projeto de Esportes da CBF, mas as coisas estão bem corridas. – Suspirei.
- Me lembre de te colocar em campo de novo, nem que por alguns minutos. – Sorri.
- Eu já estou no campo. – Dei de ombros e ele riu.
- Da próxima vez venha com o calçado adequado. – Neguei com a cabeça. – Vamos continuar? – Ele falou um pouco mais alto.
- Eu vou ficar ali no banco. – Falei para Alisson e ele assentiu com a cabeça, voltando ao treino.
- Taffa, vamos fazer um jogo unilateral. – Tite gritou quando eu me ajeitava no banco. – Os goleiros serão intercalados a cada cinco minutos de bola corrida. Hugo, começa contigo.
Vi o jogo começar a ser montado e procurei rapidamente por Lucas e Vinícius com o olhar. Ambos estavam trabalhando em suas respectivas funções. Eu deveria estar na minha também, mas o dia estava calmo, não tinha nenhuma ligação em meu celular ou e-mail para responder, então optei por ver os meninos jogarem um pouco.
No meu tempo de ócio, percebi o que Taffarel tinha dito sobre o garoto novo da Sub-20. Ele realmente tinha talento. Tite tinha montado um jogo bem bagunçado na minha cabeça. Parecia um pebolim, tinha vários manequins estáticos no centro do campo – que havia sido dividido em quatro – e cerca de sete jogadores humanos correndo.
Parecia algo de táticas, posições e lances, mas eu estava realmente interessada no garoto novo. Ele era bom demais. As vezes se atrasava para ir em direção à bola, mas compensava em outras de forma excepcional. Talvez eu estivesse vendo o sucessor do Alisson no futuro. Além de tudo, ele era superacanhado, acho que ainda não tinha ouvido a voz dele.
Enfim, do outro lado do campo rolava um bobinho com balizas fincadas no campo aonde até Alisson foi participar. Eu gostava de vê-lo jogando com os pés, honestamente, mas não queria parecer a namorada louca e ficar perto toda hora, tinham outros jogadores que mereciam um pouco da minha atenção.
Diana apareceu logo em seguida, falou que havia feito algumas filmagens pelo celular para postar nas redes sociais, já que veio como social mídia. Ficamos lado a lado comentando sobre o treino até dar a hora de ir embora.

Chegamos no hotel quase sete horas, devido ao trânsito até nosso hotel, Tite disse para nos apressarmos, que o jantar seria servido em meia hora. Alisson me deu aquele olhar e eu sabia o que ele queria dizer: queria um momento a sós.
- Agora não. – Cochichei para ele enquanto esperávamos o elevador junto da segunda leva.
- Cinco minutos. – Ele assoprou próximo ao meu ouvido e eu ri fracamente.
- Depois do jantar. – Falei, entrando no elevador junto de outros jogadores e me coloquei ao fundo.
- Eu vou aparecer no seu quarto. – Ele continuou cochichando e eu ri fracamente. Todos estavam quietos, então a voz de Alisson saía um pouco mais alta que o esperado.
- Eu tenho que checar algumas coisas com Bianca, te encontro na janta, ok?! – Virei o rosto para ele, encostando nossas testas.
- malvada! – Ouvi alguém falar no silêncio e eu neguei com a cabeça.
- Eu odeio vocês. – Falei, agradecendo mentalmente pelas portas do elevador abrirem em meu andar. – Já te encontro novamente. – Dei um rápido selinho em Alisson e desviei dos outros jogadores para sair da caixa de metal com Lucas ao meu lado.
A porta mal havia sido fechada e ouvi as zoações com Alisson, me fazendo rir, negando com a cabeça. Era óbvio que eles não nos levariam a sério. Só agradecia pelo pessoal novo ser um pouco mais contido nas brincadeiras, provavelmente pela falta de intimidade, mas tinha alguns que... Ah, que vontade que eu tinha de apertar alguns pescoços.
- Isso nunca vai mudar, . – Lucas falou e eu ri.
- Um dia vai, eu acredito nisso. – Falei e ele riu.
- Podemos tentar, né?! – Ele deu de ombros. – Te vejo no jantar?
- Sim, só vou checar se Bianca está acordada, vou tomar um banho e logo desço. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Ele entrou logo na primeira porta e eu segui ao longo do corredor até chegar no quarto de Bianca. Bati à porta uma vez, duas, três e não obtive resposta dela. Chamei-a duas vezes e nada. Supus que ela ainda estivesse dormindo e segui para o meu quarto. Olhei o celular e ela não vi ao WhatsApp desde 10 para as quatro. Deveria estar dormindo mesmo.
Fui para meu quarto e tomei um banho mais rápido dessa vez. Já tinha tomado um banho e não é como se o trabalho hoje tivesse sido cansativo. Deixei só a água quente cair um pouco sobre meu corpo e sentir o cheiro do sabonete subir, me fazendo já respirar aliviada. Voltei para o quarto e coloquei uma blusa limpa, mas dessa vez optei por uma calça de moletom. Confesso que essa regra de sempre ficar uniformizado enquanto equipe me irritava, eu só queria colocar um short de vez em quando.
Não precisei esperar muito para descer, então só mandei uma mensagem para Bianca perguntando como ela estava e dei aquela informação básica à minha mãe e a Bernardo. Nessas viagens eu me esquecia de minha família pela correria, mas eles não se esqueciam de mim.
Saí do quarto encontrando Vini também e descemos juntos para o restaurante. Algumas pessoas já estavam lá, mas tudo estava meio calmo ainda. Encontrei Alisson conversando com Filipe Luís e me coloquei ao seu lado, sentindo-o me apertar pela cintura e colar os lábios nos meus, me fazendo nos separar aos risos.
- Comporte-se, Becker! – Dei um tapa em seu peito e ele riu.
- Eu estou com saudades. – Ele me encarou com os braços apertando minha cintura.
- Eu sei, eu também, mas espere até depois da janta. – Segurei seu rosto com as mãos, sentindo sua barba pinicar minhas mãos. – Não quero que eles acabem com esses momentos. – Ele me deu um curto beijo.
- Você é muito racional! – Ele parou de inclinar meu corpo para trás e eu ri fracamente.
- Alguém precisa ser. – O beijei rapidamente e nos separei um pouco.
- Te encontro no seu quarto mais tarde, então. – Ele disse contrariado e eu sorri, abraçando-o de lado, percebendo que várias pessoas nos olhavam.
- Viu?! É esse tipo de olhar que eu não quero. – Cochichei para ele que riu.
- E quem fez aquela cena hoje cedo? – Ele perguntou.
- Xí. – Falei, apoiando a mão em seu rosto e virando para o lado, fazendo-o rir.
- Vamos comer! – Ouvi gritar e nos entreolhamos, seguindo a fila que se formava para comer.
Nos servimos e me juntei a ele na mesa. Normalmente uma mesa era só para jogadores e a outra para equipe, mas Taffarel estava folgado na mesa dos jogadores, então me dei liberdade para fazer isso também. O jantar transcorreu sem grandes surpresas, algumas risadas ecoavam nas mesas quando alguém soltava piada, mas eu estava mais preocupada na minha mão entrelaçada na de Alisson debaixo da mesa. Isso dificultava um pouco a alimentação, mas eu realmente não me importava naquele momento.
- É bom estar contigo de novo. – Alisson cochichou contra meu ouvido e eu só dei um pequeno sorriso, sentindo-o beijar minha testa.
- Eu senti muito sua falta. – Acariciei seu rosto e me assustei com alguém pulando atrás de mim. – Caramba, Vinícius! – Reclamei, ouvindo alguns jogadores rirem à nossa volta.
- Vamos começar? – Ele perguntou animado.
- Começar o quê? – Franzi a testa, honestamente confusa.
- Como “começar o quê”? O trote, . Dã! – Ele falou e eu me mantive com a expressão confusa.
- Ah, legal! – Alisson comemorou.
- Do que vocês estão falando?
- Ah, Vini! – Lucas gritou do outro lado da mesa. – A nunca levou trote. A gente não faz trote em Copa, não tem gente nova.
- Mas o quê? – Perguntei novamente.
- Você está tão ferrada! – Vinícius saiu gargalhando atrás de mim.
- Toda convocação tem trote com o pessoal novo. É legal! – Alisson deu de ombros e passou o braço pelos meus ombros.
- Mas eu não sou jogadora. – Ele gargalhou.
- A equipe também conta. – Arregalei os olhos.
- Gente! – Bianca subiu em uma cadeira. – Vamos começar o trote? – Assim que ela falou isso, o pessoal antigo começou a gritar e aplaudir em comemoração e os novos, assim como eu, ficaram com pontos de interrogação nos olhos. – Vamos chamar cada jogador ou equipe nova e vocês irão se apresentar e farão uma apresentação para nós.
- E será filmado e postado em nossas redes sociais! – Lucas falou e eu olhei em desespero para Alisson.
- O que eu vou falar? – Cochichei para ele.
- Nada que nos incrimine. – Ele disse e ri baixinho, negando com a cabeça.
- Vamos começar com nosso sub-20, Hugo! – Bianca falou e o povo começou a gritar e aplaudir.
- Caramba! – O grandão Hugo se levantou e se colocou no lugar que Bianca estava antes.
- Sobe na cadeira! – Ela mandou.
- Não, pô...
- Vai! – Ela disse e o pessoal riu da relutância dele. Eu estava na outra ponta da mesa, então assistiria o espetáculo de camarote.
- Boa noite a todos. – Hugo disse no microfone de Vinícius.
- Boa noite... – O pessoal alongou, me fazendo rir.
- Eu sou Hugo, sou da sub-20, jogo pelas categorias de base do Flamengo. – O pessoal aplaudiu. – Gostaria de agradecer por estar aqui, ter sido convocado para participar dessa grande experiência com vocês.
- Uhul! – O pessoal aplaudiu.
- O que mais? – Ele virou para Bianca que deu de ombros.
- Canta! – Willian e Douglas que estavam na ponta começaram a atiçar, rindo com Neymar, Marquinhos e Casemiro.
- Dança! – Eu sabia que o nível estava descendo e que ia sobrar para mim daqui a pouco.
- Ah! – Ele ficou envergonhado imediatamente, mas entrou na brincadeira. – “Até o sol quis ver de onde vem tanta luz, nosso amor tem poder, fogo que nos conduz...” – Ele batia a mão livre na lateral do corpo enquanto o povo o acompanhava.
- Palmas para o Hugo! – Bianca acabou com a vergonha do garoto e o pessoal dividiu gargalhadas e palmas.
E seguiu assim por todos os jogadores que tinham sido convocados pela primeira vez: Andreas Pereira, Paquetá, Everton, Pedro, Felipe, Richarlison... Ah, Richarlison! Meu Deus, o que eu fui ver? Tem como “desver” isso?
- Eu sou o Richarlison...
- Como te chamam? – Neymar provocou.
- Pombo! – Ele disse e as mesas explodiram em risadas. – Falam que eu tenho cara de pombo. – Neguei com a cabeça.
- Dança o pombo aí! – Ele ficou vermelho, mas arqueou as costas como se fosse pombo mesmo e fez a dança do pombo, fazendo até com que eu gargalhasse, sentindo os olhos se encherem de lágrimas.
- Pru, pru, pru!
- Uhul! – Alisson gritou ao meu lado.
- Chega, chega! – Ele reclamou, voltando ao seu lugar e o pessoal o vaiou.
- Acho que foram todos! – Bianca falou ainda gargalhando.
- Tem mais uma aqui! – Lucas gritou e apontou para mim e eu abaixei a cabeça na mesa, ouvindo Alisson, Fred, Filipe Luís, Hugo, Coutinho, Arthur começarem a gritar para mim.
- Ei, não sou nova! – Gritei, vendo-os rirem e senti Vinícius arrastar minha cadeira para trás, me assustando e eu gargalhei com isso.
- Vamos, vamos! – Vinícius me puxou pelos braços e eu ri, me levantando a contragosto e atravessando a longa mesa e peguei o microfone na mão de Bianca, largando os chinelos no chão antes de subir na cadeira.
- Oi, gente! – Falei muito envergonhada, sentindo meu rosto queimar.
- Oi, ! – Eles responderam e eu revirei os olhos.
- Viu?! Todo mundo sabe quem eu sou. – Eles gargalharam. – Eu sou , sou assessora da CBF e trabalho aqui há uns quatro meses. – Abanei a mão. – É um grande prazer estar aqui com vocês, fazendo esse trabalho sensacional! – Sorri. – Só vou tirar esse momento para agradecer mesmo, vocês fazem eu me sentir muito confortável e acolhida todas as vezes. – Eles sorriam para mim. – Tanto os jogadores, quanto a equipe técnica, vocês são demais mesmo!
- Uhul! – Eles começaram a gritar e a aplaudir.
- Valeu! – Sorri e desci da cadeira.
- Dança!
- Canta! – Eles gritaram e eu revirei os olhos.
- Vocês não vão conseguir isso comigo, desistam!
- Uma música! – Alisson gritou e eu ergui o dedo do meio para ele, vendo o pessoal gargalhar mais ainda.
- O que eu vou cantar para vocês? Eu conheço mais coisas internacionais.
- Qualquer coisa! – Neymar gritou ao meu lado com o celular a postos e eu pensei por um tempo.
- É óbvio! – Suspirei, revirando os olhos. – “Bola na trave não altera o placar. Bola na área sem ninguém pra cabecear. Bola na rede pra fazer o gol. Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?” – Comecei e todo mundo gritou animado, me fazendo gargalhar. – “A bandeira no estádio é um estandarte. A flâmula pendurada na parede do quarto. O distintivo na camisa do uniforme. Que coisa linda é uma partida.” – Acabei entrando na onda e eles começaram a bater palmas e a batucar na mesa.
- “Posso morrer pelo meu time. Se ele perder, que dor, imenso crime. Posso chorar se ele não ganhar, mas se ele ganha não adianta, não há garganta que não pare de berrar”. – Eles começaram a se empolgar e eu ri.
- Vocês não precisam mais de mim! – Falei e eles começaram a me aplaudir novamente, gargalhando.
- É isso por hoje, gente! – Bianca disse batendo suas mãos na minha, me abraçando. – Foi demais! – Revirei os olhos.
- Eu vou te matar! – Falei e ela sorriu, se afastando de mim.
- Café da manhã começa as sete, treino as nove! – Tite disse. – Boa noite! – Ele disse e o pessoal começou a se levantar. Alisson esperou com que algumas pessoas saíssem antes de levantar e vir em minha direção.
- Foi ótimo! – Ele disse, passando os braços pela minha cintura e eu ri, negando com a cabeça. – Você tem futuro como cantora. – Gargalhei.
- Opa! Só se for no lugar da Adelaide do Castelo Rá-Tim-Bum. – Brinquei e ele franziu a testa.
- A ave da Morgana? – Assenti com a cabeça e ele gargalhou, colando os lábios nos meus rapidamente.
- Combina, vai. – Brinquei e ele me abraçou apertado.
- Vai, vamos aproveitar um tempinho só nosso agora. – Ele cochichou e eu sorri, entrelaçando meus dedos nos dele e seguimos até o elevador, entrando junto com a última leva e eu precisei apertar o número quatro, já que todos os jogadores iriam para cima.
Fiquei mentalizando a piada que seria quando Alisson saísse comigo, mas eu não estava nem aí. Queria aproveitar com meu namorado. Assim que o elevador parou no quatro, as portas se abriram e eu saí do mesmo, puxando a mão de Alisson comigo.
- Boa noite, gente! – Ele ainda zoou com o pessoal e fomos incrivelmente vaiados ao sair do elevador, me fazendo morder o lábio inferior para não gargalhar junto. Logo as portas se fecharam novamente e nos vimos sozinhos no corredor novamente.
- Você tinha que zoar, né? – Brinquei, pegando a chave do quarto no bolso e ele gargalhou, beijando meu pescoço enquanto eu abria a porta.
- Deixa eles sentirem inveja um pouco, vai. – Revirei os olhos, abrindo a porta e me afastando um pouco.
- Eu sinto inveja por não poder estar contigo todos os dias. – Ele fechou a porta e eu coloquei a chave na escrivaninha.
- Não, nem vem! – Ele me segurou pela cintura e passei os braços pelos seus ombros. – Só nós dois temos isso, mais ninguém. E eu adoro essa exclusividade. – Abri um sorriso, mas o fechei no momento em que seus lábios tocaram os meus.
Subi as mãos para seus cabelos, sentindo-o arquear meu corpo para trás com a diferença – mesmo que pouca – de alturas e senti deslizar suas mãos pelo meu corpo. Nossas bocas buscavam uma a outra desesperadamente, de forma até desleixada, e as mãos procuravam espaços por dentro das roupas folgadas.
Ele alcançou minhas coxas e me puxou para seu colo facilitando nosso beijo, me fazendo até rir em como aquilo tinha ficado mais fácil. Passei a mão em seu rosto, intercalando os beijos pelo seu rosto, sentindo-o descer os seus pelo meu pescoço, me fazendo respirar um pouco mais forte. Ele deu alguns passos para frente, me fazendo soltar um grito fino quando ele esbarrou na cama e gargalhamos os dois juntos.
Coloquei a mão em sua boca para aliviar o som e ele lambeu minha palma, tirando uma careta de meu rosto. Ele me colocou na cama e eu deslizei meu corpo para trás, deixando os chinelos no chão, deitando no meio do espaço. Antes de se colocar em cima de mim, sua blusa azul ficou ao lado de meus chinelos, me fazendo sorrir ao ver aquele corpo escultural em minha frente.
O puxei pelos ombros novamente, passando uma das pernas pela sua cintura, sentindo-o apertar minhas coxas firmemente. Seus lábios subiram para os meus novamente, mas de forma mais calma, me fazendo sorrir com seus carinhos e movimentos lentos. Uma de suas mãos subiu para meu rosto e fez um carinho suave, tirando os fios que insistiam em ficar presos pelas curvas do meu rosto.
- Como eu te amo! – Ele disse e eu abri um sorriso, suspirando.
- Como eu senti saudades. – Falei e ele segurou na perna em que estava em sua cintura e se virou na cama, me colocando em cima dele. Ele segurou na barra da minha blusa e puxou-a para cima, me deixando descabelada quando isso aconteceu.
- Muitas saudades! – Ele disse encarando meus seios cobertos pelo sutiã e eu neguei com a cabeça, me debruçando sobre seu corpo e colando nossos lábios novamente.

Pulei ao ouvir meu despertador tocar ainda com o som da Copa e gemi, não tendo coragem de me levantar. Senti um corpo se movimentar ao meu lado e a mão deslizar pela minha cintura e suspirei, abrindo um pequeno sorriso ao me lembrar de que ele estava ao meu lado. Soltei um suspiro e abri os olhos, encontrando seus olhos claros bem próximos aos meus.
- Bom dia. – Ele falou contra meu ouvido e estalou um beijo em minha bochecha.
- Bom dia. – Falei manhosa e passei as mãos em meu rosto, esticando o corpo ao me espreguiçar.
- Como você dormiu? – Ele debruçou seu corpo sobre o meu e eu ergui a mão para tocar seu rosto.
- Como se eu estivesse nas nuvens. – Sorri. – E não foi pela cama dessa vez. – Rimos juntos e ele colou os lábios rapidamente no meu. - Não faça isso antes de eu escovar os dentes. – Ele riu fracamente, se virando para o lado e sentando na cama.
- Não vai ser um mal hálito matinal que vai fazer eu deixar de beijar minha namorada. – Fiz uma careta.
- Ah, Alisson! – Reclamei, pegando o travesseiro dele e batendo contra suas costas. – Nojento!
- Eu estou brincando, está tudo certo no departamento. – Revirei os olhos e sentei na cama jogando a coberta para o lado e me levantando também.
- Eu preciso me trocar. – Reclamei e ele se levantou já vestindo sua blusa.
- Eu vou para o meu quarto fazer isso. – Ele se aproximou de mim e colou os lábios levemente nos meus, nos separando logo em seguida. – Nos encontramos lá embaixo?
- Pode deixar! – Baguncei seus cabelos e segui em direção ao banheiro, ouvindo a porta bater em seguida.
Me encarei no espelho do banheiro e vi um largo sorriso formado em meus lábios, além de que meu coração estava quente, aquecido novamente. Era isso o que eu estava precisando, um bom e gostoso momento com o meu namorado, só isso.
Tomei banho e aproveitei para lavar a cabeça. Era cedo, o cabelo secaria eventualmente. Me vesti com a roupa do dia a dia e calcei tênis nos pés, iríamos voltar para a Arena Red Bull e eu estava cansada de enfiar os saltos na grama. Além de que, depois da Copa, meus sapatos precisavam de um bom descanso. Peguei meus materiais de trabalho e saí do quarto, encontrando Bianca esperando pelo elevador.
- Hum, parece que a noite foi boa! – Ela comentou do meu largo sorriso e eu ri fracamente.
- Ah, foi ótimo! – Suspirei e entramos no elevador quando ele abriu, encontrando Arthur e Coutinho lá dentro. - Bom dia, gente! – Falei animada e entrei no elevador com Bianca.
- Parece que alguém está feliz. – Coutinho comentou e eu dei um sorriso, passando meu braço no ombro do mais baixo.
- Muito, meu amigo Phillipe, muito. – Sorri e ambos riram. – Você é meio quieto, né, Arthur? – Virei para o loiro.
- Só porque ele não pegou intimidade ainda. – Coutinho brincou e eu ri.
- Aqui não tem disso não. – Dei de ombros. – Precisando, sabe onde me encontrar.
- Pode deixar! – Ele falou e as portas se abriram novamente.
Nós quatro seguimos para o refeitório reservado para nós e Alisson já estava lá papeando com Taffarel e Hugo. Ele me puxou pela cintura quando passei por ele e colou os lábios nos meus rapidamente, me fazendo sorrir.
- Vocês dois precisam maneirar com isso. – Taffa comentou e eu fiz uma careta.
- O pior é que eu sei. – Suspirei. – Mas é difícil, Taffa, você entende, certo? – Dei um pequeno sorriso.
- Vocês não se viam desde o final da Copa? – Ele perguntou cruzando os braços e eu assenti com a cabeça. – Ok, entendo, mas sejam discretos. – Assenti com a cabeça.
- Vou comer, não demorem, nove horas o ônibus sai. – Falei para os três e fui me servir.
- E aí, garota? – Ney parou ao meu lado no buffet e eu sorri, abraçando-o de lado.
- Estou te achando meio quieto. – Comentei.
- Ah, só a vida, nada de incomum. – Ri fracamente.
- Ainda arranjando encrenca por onde passa? – Perguntei.
- Tentando não. – Ele falou e eu sorri, estalando um beijo em sua bochecha.
- Continue assim que você me deixa orgulhosa. – Falei e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
Me sentei em um lugar neutro dessa vez, entre Filipe Luís e Thiago, meu capitão, e comemos enquanto trocávamos algumas frases genéricas no café da manhã. Era de manhã, todo mundo estava com preguiça ainda. Pouco antes das nove fui informada que o ônibus estava na porta, os jogadores pegaram suas mochilas, eu peguei meus materiais e seguimos para a Arena Red Bull.
Os treinos começaram sem muitas surpresas, aquecimento, fizeram rolamentos naqueles rolinhos, alguns jogos simples e logo chamei Richarlison e Andreas Pereira para a coletiva das 11 horas. Também, da mesma forma que a de ontem, não durou nem 15 minutos. Ambos estavam muito nervosos e as perguntas não eram das mais preocupantes. “Como se sente ao ser convocado para a seleção?”, “O que espera dos jogos?” e coisas irrelevantes assim.
Os liberamos logo e eu acompanhei do banco dos reservas os 15 minutos liberados para a imprensa filmar o time. Aproveitei para dar algumas instruções à Diana sobre as redes sociais da CBF e as do canarinho, já que ela estava cuidando daquilo agora, pelo menos durante a viagem.
O almoço acabou sendo na Arena mesmo para não perder tempo. Alguma marca de hamburguer patrocinou e ficamos por lá mesmo, mas tivemos duas horas para que não tivéssemos problemas com digestão, então acabamos nos espalhando pelo vestiário e até consegui tirar uma soneca nos braços de Alisson enquanto estávamos deitados em um dos colchonetes de aquecimento, mas não terminou de uma forma legal, achei que fosse ter um ataque cardíaco.
- Vamos acordar! – Acordei no pulo com barulhos de pandeiro e tambor. Bem, não só eu, todo mundo que se ajeitou nos colchonetes.
- Mas que caralho! – Douglas reclamou e eu não me contive em rir.
- Vamos trabalhar! – Sylvinho gritou e eu suspirei, revirando os olhos.
Alisson se levantou ao meu lado e estendeu as mãos para eu me levantar também, trocamos um rápido beijo e ele seguiu para o treinamento. Aproveitei o tempo sozinha e fui dar uma checada em e-mails e ligações da imprensa antes de ir para o sol. Diana ajudou Vinícius a gravar uma pequena entrevista com Tite e Dedé para a CBF TV, Lucas continuava seus trabalhos de malabarismo ao tirar várias fotos e Bianca começava a surtar por causa da imprensa. Nada de muito novo até aí.
Mais para o fim do dia eu peguei Thiago Silva e Filipe Luís e fomos para mais uma coletiva. Graças a Deus ela foi um pouco mais longa do que as duas anteriores, quase 30 minutos, então consegui me distrair um pouco, além de que eu adorava ver o Thiago falando, para mim ele sempre seria meu capitão, sempre mesmo! Desculpa, Ney.
Depois da coletiva ainda rolou um pouco de treino na academia da arena, nada muito demorado, mas eu já estava entediada de tudo aquilo. Os trabalhos eram bem menores que na Copa, então a gente tinha que arranjar o que fazer. Estava quase pegando uma bola e batendo com Bianca... O que não era uma má ideia.
Voltamos para o hotel quase oito da noite. Muitos optaram por jantar antes de subir para seus quartos para descansar e eu optei por fazer o mesmo. Estava bem cansada hoje. Mais um cansado de tédio do que físico mesmo. Peguei um pouco de comida do buffet e sentei ao lado da turma do Liverpool.
- , você não tem noção como é bom te conhecer pessoalmente! – Fabinho comentou e eu sorri, esticando a mão para ele.
- Por quê? Eu fui assunto demais lá em Melwood? – Perguntei e eles riram.
- Ah, o Alisson fala bastante de ti, principalmente o quanto está com saudades. – Firmino falou em tom zombeteiro e eu ri, negando com a cabeça.
- Essa daqui não fica quieta também! – Lucas apareceu ao meu lado e eu revirei os olhos.
- Qual é, gente. Vocês precisam entender nosso lado. – Alisson disse.
- É! O problema aqui não é nem dinheiro, é um oceano de distância entre nós dois. – Falei e eles riram.
- Eu vou tentar te levar para um jogo do Liverpool. – Alisson falou. – Ou nem que seja só um treino, me avisa das suas folgas. – Suspirei.
- Quem sabe assim ele para de reclamar de saudades? – Fabinho zoou e eu ri.
- Tudo depende de como vai ficar o cronograma quando eu voltar. – Comentei com Alisson e ele assentiu com a cabeça. – Tudo depende do “e se” de novo. – Suspirei.
- Precisa fazer esse “e se” acontecer logo, até o Klopp está louco para conhecer a . – Foi a vez de Firmino falar.
- O técnico? – Perguntei e eles confirmaram com a cabeça.
- É! Eu estava respondendo suas mensagens um dia antes do jogo, coisa que minha assessora disse para eu não fazer, mas ok. – Rimos juntos. – E ele perguntou quem era. – Ele deu de ombros. – Contei meio por cima, agora ele quer te conhecer.
- A gente vai fazer dar certo, você vai ver. – Suspirei.
Terminamos de jantar e subimos para meu quarto novamente, mas dessa vez não ficamos nos altos beijos. O treino havia sido longo para ele e entediante para mim, então ficamos somente abraçados na minha cama enquanto ele assistia House of Cards no iPad, mas não consegui acompanhá-lo, eu logo fechei os olhos, mas senti um beijo em meu rosto antes de entrar no mundo dos sonhos.

Os dias se seguiram sem muitas novidades. As duas únicas relevantes eram que a imprensa estava começando a encher nosso saco e parecia que eu e Alisson estávamos mais interligados do que nunca.
Quando voltamos após a Copa do Mundo, eu honestamente achei que todas as promessas não passariam de palavras vazias, que eu estava entrando em um barco fadado ao fracasso, mas em dois meses com ele, mesmo que não tivéssemos nos relacionado, eu sabia que ele era diferente. Ele tinha um bom coração naturalmente, fazia as coisas por paixão e, apesar da pose dele de homem alto, forte, bonito, ele era um bobo! Amável, carinhoso, respeitoso com Deus e com todos à sua volta, mas mesmo assim eu tive dúvidas.
Vai ver Alisson Becker fosse só mais um cara com promessas vazias e agia de forma diferente do que ele falava, mas analisando sua preocupação em sempre falar comigo durante esse tempo, fazer questão de garantir para mim que ele realmente me comprometia, fazia meu coração respirar mais aliviado. E agora também, se encontrando pessoalmente depois de todo esse tempo longe, eu realmente via um futuro mais claro para nós dois. Era só eu ter paciência, não querer atropelar as coisas que tudo daria um jeito.
Apesar dessa situação nossa dentro do trabalho, acho que estávamos sabendo dividir bastante. Não estávamos abusando da boa vontade do pessoal e só ficávamos juntos nos horários de folgas. Ele ainda tinha que fazer defesas incríveis e eu ainda precisava lidar com muitas coisas.
No terceiro dia de treinamentos tivemos a visita do pentacampeão Kléberson, confesso que não lembrava do seu rosto, mas ele era volante na conquista do Penta, e essa ainda era minha lembrança mais feliz do futebol, então fiz questão de tietar um pouco e tirar uma foto para guardar de recordação. Ele se aposentou no Fort Lauderdale Strikers da Flórida e morava nos Estados Unidos desde então.
O treino seguiu o percurso de sempre, bobinho para treinar, chutes a gol entre os goleiros e treinos táticos entre os jogadores de linha com balizas, cones e outros apetrechos da equipe técnica. Depois eles dividiram o time em dois, deixando Alisson em um gol e Hugo e Neto revezando o outro. Eu até queria prestar mais atenção, o time estava se montando e eu gostava de ver a evolução, mas a imprensa apareceu e Bianca, inicialmente, precisava cuidar de organização e FIFA, já que ela tinha ficado com o lugar de Angelica, então eu fiquei com a imprensa e cuidar dos jogadores.
Éramos duas pessoas para fazer o trabalho de três. Diana era nova ainda, então ela cuidava exclusivamente das redes sociais, não lidando com nenhuma parte muito relevante. Mas enquanto as ligações chegavam, principalmente confirmação da coletiva de hoje à tarde, fiquei analisando os jogos em uma das linhas de escanteio, ao lado do gol de Alisson. Meu Deus, o Neymar estava muito fominha. Tinha três para ele fazer o passe e acertar o gol e nada.
- Mas que porra... – Falei baixo quando desliguei a ligação e vi Neymar ser tirado pela defesa e não fazer o passe. – Passa a porra da bola, Neymar! – Gritei um pouco alto demais e vi que isso chamou atenção de algumas pessoas. – Caralho! – Reclamei e olhei na direção de Tite que não fez objeção ao meu comentário.
- Quer meu lugar? – Ele gritou e eu coloquei as mãos na cintura, olhando para ele.
- Posso? – Perguntei e ele estendeu a mão, dando a deixa. - Tem quatro marcadores em cima de você e três outros jogadores livres do outro lado para você fazer essa jogada. – Falei para ele mais calmamente. – Dá um chapéu no Paquetá que a bola passa! – Falei simplesmente. – Coutinho está há quatro metros de você, se ele se aproximar mais, passa para o Everton e gol! – Dei de ombros sorrindo.
- Valeu, . – Tite disse. – Agora, Ney, faça o que ela disse! – Dei um sorriso presunçoso para Neymar e ele estendeu a mão para eu tocar na dele e a bola voltou a rolar.
As quatro horas tivemos uma coletiva com Arthur e Marquinhos. Ela também foi mais longa que a dos novatos. Arthur era novato, mas Marquinhos estava aqui há muito tempo. Eu achava engraçadíssimo ver a coletiva dos novatos, a cara de nervoso deles era muito engraçada, parecia que eles estavam com dor de barriga ou algo assim, mas minha feição de assessora responsável não passava nada.
O dia acabou quase da mesma forma que os outros, a diferença é que ficamos até um pouco mais tarde no restaurante fazendo um campeonato de truco. Ainda bem que não apostamos dinheiro ou eu teria perdido muito dinheiro para o meu próprio namorado, mas ok, eu não tinha costume de jogar e participei só pela diversão e para fazer os outros rirem de mim, mas relevamos.

O quarto dia de treinamento chegou e eu estava muito animada por ele! Poderíamos finalmente treinar no local em que seria o jogo no dia seguinte e ele era, nada mais, nada menos, do que o estádio dos New York Giants! O MetLife Stadium! Amo futebol convencional, mas tenho uma paixão especial por futebol americano, um amor que surgiu por causa de um ator que eu acompanho, mas isso não vem ao caso, era um estádio do caralho!
Fiquei abismada pelo tamanho dele, pelos vestiários, pelo túnel, por tudo! Eu poderia muito ficar ali confortavelmente. Ele era bonito, grandioso, realmente de qualidade, sabe? Um daqueles estádios que dá até orgulho poder trabalhar nele.
Esse dia foi o mais pesado em toda viagem! Eu mal consegui assistir ao treino de tanta demanda que surgiu. Agora eu entendia Bianca durante a copa, os problemas simplesmente surgiam e a gente precisava resolver, simples assim. Não importando se viesse por telefone, por e-mail ou até por WhatsApp era o verdadeiro “lide com isso”.
E durante esses amistosos, os Estados Unidos eram os únicos adversários realmente interessantes para nós, não que eles fossem uma superpotência do futebol, deixe isso para o time feminino americano, mas era algo muito mais empolgando do que El Salvador, né?!
Além dessa loucura de imprensa, Vinícius tinha que cumprir alguns vídeos para a CBF TV, então ele acabou pegando Fred para entrevistar, principalmente que ele tinha recém sido transferido para o Manchester United e perdeu sua GoPro para Willian que falou sobre um gol que ele fez nesse mesmo estádio contra o Equador. Até que facilitou, porque até Vinícius estava atolado, mesmo sem a participação do canarinho em Nova Jersey. Ele estava praticamente filmando, editando e postando as coisas, porque a CBF também estava com compromissos de outras seleções. Tanto que as coletivas estavam entrando sem nem edição. Era filmar e subir, o som das perguntas estava péssimo de ouvir.
Eu consegui parar a imprensa na hora da entrevista de Tite e Neymar. Tite havia escolhido Neymar para ser capitão novamente, então eu sabia que o negócio seria bem mais pesado do que estávamos acostumados. A coletiva durou quase uma hora e as perguntas foram bem mais duras do que os outros dias. Eles eram os alvos mais relevantes, então a chapa esquentou!
Após isso, eu e Bianca demos o trabalho como encerrado e começamos a ignorar todas as ligações e e-mails que vinham da imprensa. Era hora do merecido descanso e encarar o jogo que viria amanhã.
O treino rendeu até tarde da noite nesse dia. Tite queria aproveitar ao máximo o espaço sem restrição de horas para fazer reconhecimento de território. Então, depois que a imprensa foi embora, foi jogo atrás de jogo até as nove da noite. Era visível a cara de cansaço de todos os jogadores, e fome também, o almoço havia sido uma da tarde e ninguém tinha parado desde então.
Chegamos ao hotel e já paramos no restaurante, eu enchi um prato com todas as coisas deliciosas que tinha no buffet e repeti mais duas vezes. Eu precisava lembrar de levar algum lanche para mim ou poderia desmaiar em algum momento.
- Eu acho que já vou subir. – Falei para Alisson ao terminar de jantar, sentindo-o me abraçar pelos ombros.
- Eu também vou, estou muito cansado. – Abri a boca, dando um longo bocejo, ouvindo-o rir.
- Eu também. Quero um banho e cama. – Suspirei e ele beijou minha bochecha sorrindo.
- Estou de castigo hoje? – Ele perguntou baixo e eu ri fracamente.
- Deveria, mas sei que vamos dormir muito rápido, então deixo isso em suas mãos. – Falei e ele ponderou com a cabeça.
- Eu vou tomar banho e te encontro no seu quarto. – Ele disse e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Ok, eu já vou subir. – Falei, vendo-o se levantar e sumir pelas portas do restaurante.
- Maneira, hein, ? – Vi Tite parar em minha frente e ri fracamente. – Não amoleça tanto meu goleiro.
- Meu goleiro. – Frisei e ele riu. – E não acho que isso seja amolecer alguém, só queremos matar as saudades.
- Eu sei, mas a equipe está sempre olhando desconfiada. – Ele se sentou em minha frente e eu suspirei.
- Estou atrapalhando alguma coisa, por acaso? – Perguntei. – Alisson está desfocado ou algo do tipo?
- Não, nada disso, você sabe que eu te quis aqui, todos estamos fazendo tudo para isso dar certo, mas isso não cai bem para os superiores. – Olhei em volta, procurando algum superior.
- Ao meu ver, os únicos superiores aqui são você, eu e Bianca. – Dei de ombros. – Não se preocupe, Tite, tudo está controlado, principalmente com a imprensa. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei, só finjam um pouco que estão tentando se esconder. – Ri fracamente.
- Não estamos. – Dei de ombros, ouvindo-o rir.
Tomei meu banho pensando naquilo e compartilhei as opiniões com Alisson quando ele apareceu em meu quarto mais tarde.
- Eu penso muito nisso, sabe? Sei que são os únicos momentos que podemos ficar juntos, mas estamos aqui a trabalho, não é?! – Ele acariciou meu rosto e eu suspirei.
- Exato. – Suspirei. – Mas também não vejo problema trocarmos alguns beijos no café e na janta, são os únicos momentos que fazemos isso, a gente mal se fala nos treinamentos, principalmente por causa da presença da imprensa.
- Está tudo bem, a gente tenta maneirar na demonstração de afeto em público e eu escapo para seu quarto todos as noites. – Rimos juntos e dei um curto beijo em seus lábios.
- Eu te amo. – Falei suspirando.
- Eu também te amo. – Ele disse e eu fechei os olhos, sentindo-o passar os braços pela minha cintura e me puxar para mais perto.


Capítulo 3 – Fire at the Little Park

O despertador tocou no dia do jogo e eu respirei fundo antes de erguer meu corpo na cama e deslizar o botão do celular. Virei para o lado e percebi que Alisson tinha um olho aberto enquanto o outro se mantinha enfiado no travesseiro.
- Hora de levantar, dorminhoco! – Dei um beijo em seu rosto e segui para o banheiro.
Tomei um banho quase frio para acordar meu corpo, dei uma ajeitada nos cabelos, escovei o dente e voltei para o quarto enrolada na toalha, encontrando Alisson da mesma forma que antes. Franzi a testa e me aproximei dele novamente, me sentando na beirada da cama.
- Ei, o que foi? Não vai levantar? – Perguntei e ele abriu os olhos novamente, junto de um largo sorriso.
- Eu estou de castigo, não podemos sair daqui até a hora do jogo, então não tem por que levantar agora. Também, quando eu sair daqui, o Taffa não vai deixar eu tirar outra soneca, então eu vou dormir mais uma horinha ou duas. – Ri fraco, me levantando novamente e seguindo até minha mala para pegar uma troca de roupa.
- Bom, eu tenho que ir com Bianca até Nova York para retirar as informações do jogo de hoje: credenciais, listas e tudo mais. Vamos aproveitar e gravar com o canarinho e conhecer a cidade. – Ele assentiu com a cabeça, observando eu me trocar. – Eu devo ir direto para o estádio para a coletiva pré-jogo com o Tite e o Cléber. Volto só umas cinco, seis da tarde. – Ele suspirou.
- Se importa se eu ficar aqui? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça, vendo-o virar de barriga para cima.
- Só não se esqueça de nada aqui dentro, ok?! Eu vou ficar com a chave, quando sair, você não volta mais. – Ele riu fracamente.
- Pode deixar, tentarei me comportar! – Me sentei na beirada da cama novamente, me debruçando sobre ele e ele segurou meu rosto antes de eu colar nossos lábios levemente.
- Até mais tarde. – Me levantei, pegando minha bolsa. – Não se esquece que o café da manhã é só até as 10!
- Pode deixar! – Ele falou com a voz meio sonolenta ainda e eu saí do quarto, fechando a porta em seguida.
- Sozinha hoje? – Lucas apareceu atrás de mim e eu ri fracamente.
- Eles estão de castigo hoje, vai dormir mais um pouco. – Ele bocejou.
- Queria! – Ri fracamente. – Vamos fazer isso logo que depois ainda podemos tirar uma soneca.
- Vai com a gente? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Alguém precisa gravar o canarinho, não é mesmo? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Esqueci que estamos com equipe reduzida. – Rimos juntos e seguimos para o elevador, esperando-o chegar.
Ele chegou com Fred, Douglas, Felipe e Fagner, cumprimentamos todos e seguimos para o refeitório. Encontramos Bianca, Diana e Vinícius lá e tomamos café conversando sobre os últimos acontecimentos e o cronograma que faríamos na cidade para não perder tempo. Todos estavam com a agenda meio livre, então aceitaram turistar por Nova York.
Bianca e os meninos já tinham vindo para cá outras vezes, mas para mim e Diana era algo novo e eu estava muito empolgada com isso. Terminamos de tomar café e Bianca foi chamar a van para sairmos, enquanto isso, fui falar com Tite.
- Tudo decidido, Tite? Estamos indo lá na FIFA. – Ele assentiu com a cabeça.
- Tudo certo, amistoso é mais de boa. Eles não estão nem aí. – Sorrimos.
- Devo encontrar vocês direto lá, ok? Vamos aproveitar e conhecer um pouco da cidade.
- Pode deixar. Aproveitem! – Cléber falou e eu pisquei para ambos, saindo com a equipe de comunicação.
O prédio da FIFA em Nova York ficava no Upper East Side, o que fez meu lado Gossip Girl aflorar animadamente, mas isso demorou cerca de uma hora só para chegarmos lá. Estávamos em Nova York, a maior cidade do mundo, o trânsito era caótico. Então, precisamos dar uma agilizada nos pontos que eu gostaria de conhecer, principalmente por Vinícius já estar com parte da roupa do Canarinho e só faria uma pequena aparição na Times Square.
Não que Nova York fosse meu sonho de consumo, nunca tinha sido. Meus sonhos de consumo eu conheci quando estudei em Londres, mas era Nova York, não podíamos negar a magnitude da cidade e tudo aquilo que eu via em diversos filmes animadamente.
Saímos da FIFA beirando o Central Park, e passamos na frente do Metropolitan Museum of Art, me dando alguns segundos para fazer uma foto no lugar mais conhecido de qualquer fã de Gossip Girl. Depois seguimos por outra longa avenida e chegamos no Museu de História Natural, que eu amava ver nos filmes de Uma Noite no Museu.
Depois seguimos para a Times Square, o motorista era americano, então ele sabia todos os caminhos. Ele parou para nós em uma rua paralela e andamos até chegar na dita cuja, já percebendo alguns olhares das pessoas sob o Canarinho. Era impossível não ver aquele gigante bicudo amarelo. Paramos em uma das calçadas próximo à faixa de pedestres e Lucas começou a tirar fotos e filmar com sua câmera mesmo.
Não tínhamos muito tempo, então o negócio tinha que ser bem rápido mesmo, foram meia dúzia de fotos, deixamos alguns fãs, principalmente os menores, se aproximarem e até nós tiramos algumas fotos com o Canarinho. Além de que eu e Diana aproveitamos a bagunça para fazer altas selfies na frente da rua mais famosa do mundo.
Quando conseguimos nos livrar da muvuca que se formou ao redor de Vini, voltamos pela rua paralela e ainda esperamos alguns minutos para que a van passasse. Enquanto isso, Vinícius continuava a ser tietado. Seguimos nosso pequeno cronograma, enquanto Vini tirava a roupa de passarinho.
Estando perto, ele também passou na frente do Empire State Building, mas não tivemos tempo para subir, ele parou na frente, pulamos rapidamente da van, fizemos uma foto e seguimos nosso caminho. Andamos por um maior período e paramos no Memorial e Museu do 11 de Setembro, aonde ficava as antigas Torres Gêmeas.
Passar por aquele lugar me deu uma sensação doce amarga. Foi como se finalmente tivesse caído a ficha de tudo o que tinha acontecido comigo nesses últimos anos, mas me fez pensar, principalmente, nos meus avós que já tinham falecido. Fiz uma reza silenciosa, pedindo por proteção e saúde durante minhas viagens e que tudo desse certo comigo e com Alisson, além de agradecer pelos acontecimentos em minha vida e disse que sentia falta deles.
Voltamos para a van e ele seguiu a rua, chegando no famoso Touro de Wall Street. Fizemos algumas poses engraçadas em grupos e voltamos para o carro novamente. Beirando o Rio East para seguir para o ponto mais perto da Estátua da Liberdade, já que não sabíamos se daria tempo de chegar à ilha, por causa das balsas e tudo mais, acabei vendo a famosa Ponte do Brooklyn de longe, mas foi só também.
Chegamos ao ponto de embarque até a Ilha da Liberdade para tirar uma foto melhor do ponto turístico mais famoso de Nova York e checamos os horários para saber se era possível. Talvez tivéssemos um atraso, mas Cléber e Tite me encontrariam direto no estádio, então eu ganharia alguns minutos, certo?! Pegamos a balsa, fomos para a Ilha da Liberdade, perdendo somente 20 minutos ali. Tiramos algumas fotos em grupo e sozinhos e logo pegamos a próxima balsa para encontrar nosso motorista e voltar.
Foi realmente um vapt-vupt, eu estava até zonza de tanto sobe e desce, pelo menos tínhamos o carro à nossa disposição. Bianca entrou em contato com Tite e Cléber para saber sobre o paradeiro deles, pois nós estávamos um pouco atrasados. Chegamos lá faltando 20 minutos para tudo começar, mas já os encontrei na antessala, fazendo-os respirar aliviados.
- Vocês demoraram. – Tite falou e abanei as mãos para Vinícius e Lucas irem se preparando.
- Desculpe, acabamos nos empolgando! – Me sentei na cadeira e peguei uma garrafa d’água. – Andamos pela cidade, fomos até a Estátua da Liberdade. – Abanei as mãos. – Está tudo bem agora.
- Relaxa, garota! Vocês chegaram a tempo! – Cléber riu da minha feição e eu assenti com a cabeça, sorrindo.
- Pelo menos deu para ver as coisas? – Tite perguntou.
- Deu sim, algumas coisas sim. – Sorrimos juntos. – Vamos repassar as informações? – Peguei meu iPad.
- Vamos lá. – Tite falou, respirando fundo. – A escalação será composta por...

A coletiva acabou sendo mais curta do que o esperado. Durou cerca de 20 minutos, estávamos reservando uma hora para isso, mas era pré-jogo, não tinha muito o que cogitar antes do jogo, o problema seria depois, dependendo do desempenho também. Eles perguntaram bastante sobre a expectativa do jogo, sendo o primeiro depois da Copa do Mundo e como a equipe estava para encarar isso.
Parei para pensar nisso em um momento e não tinha me ligado sobre esse fato. Tínhamos várias pessoas que participaram daquela competição, inclusive meu namorado e eu não tinha ideia de como ele estava, também, não tinha pensado nem em perguntar quais eram as expectativas para o jogo de hoje. Precisava pensar em abordar esse tema antes do jogo de novo.
Terminamos a coletiva e voltamos para o hotel. Tínhamos duas horas e pouco para voltar para o estádio, seria o tempo ideal para eu dar uma respirada antes de encarar mais um compromisso, além de arrumar mala e uma viagem na madrugada.
Respira fundo, . Vai dar certo!
Chegamos no hotel e subimos os andares juntos. A comunicação parou no quarto andar e Tite e Cléber subiram mais um. Entrei no meu quarto e vi que Alisson não estava mais lá, em compensação, meu quarto estava impecável, até minha mala estava arrumada. Ri fracamente, e mandei mensagem para Alisson.
“Foi você?” – E tirei uma foto da minha mala arrumadinha.
Enquanto ele não respondeu, aproveitei para tomar um banho, ele ainda não tinha tirado minhas coisas do banheiro. Não lavei o cabelo para não ter mais um trabalho de secar e vesti outra roupa, bagunçando um pouco a ordem de Alisson. Apesar de faltar algumas horas para sairmos, eu já vesti a roupa oficial, organizei a mala e a bolsa novamente, e deitei na cama, colocando um despertador só por precaução.
“Eu estava entediado”. – Foi a resposta de Alisson e eu neguei com a cabeça. – “Como foi lá?”
“Foi ótimo, mas estou muito cansada”. – Mandei um gif de sono.
“Tenta descansar um pouco. Vou te dar um tempo sozinha um pouco”. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
“Como se fosse difícil ficar longe de você”. – Respondi sorrindo e bloqueei o celular, apoiando-o em cima da barriga.
Acordei com o celular tocando, dei uma rápida checada na cara de amassada, amarrei o casaco da CBF na cintura, olhei o quarto para ver se não esqueceria de nada e saí do mesmo, encontrando Lucas apanhando com todas suas malas e o ajudei, vendo-o agradecer com o olhar.
O elevador veio cheio do quinto andar, com os jogadores e equipe técnica também descendo, então esperamos o próximo. Alisson estava lá no fundo e pisquei para ele antes de me espremer com Lucas e descer para o térreo. O gerente estava lá embaixo nos esperando, mas ainda sem sinal de Bianca. Me aproximei do mesmo, entregando minha chave e o cumprimentei rapidamente.
- Obrigada pela hospitalidade. – Falei em sua língua e ele sorriu.
- Eu que agradeço! – Vi Alisson um pouco afastado com Filipe Luís e só fiz um movimento com a mão para que eles esperassem.
Diana chegou, depois Vinícius e, por último, Bianca. Fechamos todos os protocolos, fizemos uma rápida chamada com o nome de todos os jogadores, equipe técnica e comunicação e liberamos os jogadores para seguirem para o ônibus um a um, ouvindo os gritos dos torcedores do lado de fora assim que a porta foi aberta.
Eu e Bianca ficamos por último e agradecemos mais uma vez ao gerente e aos funcionários do hotel antes de passarmos pelas portas e eu me assustei quando gritaram até pela gente, mas rimos e seguimos para o ônibus. Entregamos nossas malas para o motorista e entramos no ônibus, vendo o pessoal terminar de se ajeitar
Ficamos com os assentos lá da frente e nem cogitei em sentar perto de Alisson, estava tudo cheio. Nem me preocupei em procurar algo para fazer nesse tempo, pois o passeio era muito rápido. Chegamos ao MetLife Stadium e Vinícius desceu na frente como Canarinho para cumprimentar o pessoal na entrada. Eu desci antes para guiar o caminho e os jogadores seguiram atrás de mim.
Fui seguindo o caminho conhecido dos treinos, acenando com a cabeça para funcionários que me indicavam o caminho e o grande vestiário se abriu em nossa frente, me fazendo até suspirar. Tinha espaço até para mim, se quer saber, não precisávamos ficar mais em cima de mesa. Além de que até a fisioterapia estava preparada ali para os jogadores. Arranjei um canto fora dos espaços das camisetas e me sentei, começando a preparar os primeiros protocolos.
Alisson entrou no vestiário e nossos olhares se encontraram e eu só ergui os dedos em formato de figas e ele abriu um sorriso, piscando para mim. Não queria tirar seu foco, e não queria arranjar encrenca com Tite. Falando em Tite...
- Ei, Tite. – Chamei-o, vendo-o desviar seu caminho para vir falar comigo.
- Diga! – Suspirei.
- Meu trabalho agora é no campo com vocês, queria saber se Diana pode ficar com a gente também. Sabe como é, ela está com meu antigo cargo, mas lembro que quando foi comigo você aliviou nos amistosos! – Ele riu fracamente.
- É claro que pode! – Ele sorriu, me abraçando de lado. – Falarei com ela.
- Combinado! – Ele me sacudiu um pouco. – E outra coisa, sobre o que perguntaram na coletiva sobre o primeiro jogo após Copa, eu tocaria nesse assunto, ninguém falou nada, mas talvez estejam pensando.
- Quer falar? – Dei de ombros.
- Posso. – Ele assentiu com a cabeça.
Me sentei no espaço reservado e peguei o celular rapidamente, vendo diversas notificações, me dando preguiça de fazer aquilo agora. Guardei o celular e estiquei minhas pernas para cima, cruzando os braços e esperei o tempo passar um pouco.
- Vamos, gente! – Taffa chamou para o treino e pisquei para Alisson quando ele passou por mim.
Vi Diana conversando com Tite e ela deu o maior sorriso para ele, o que fez eu imaginar que ela tinha gostado da ideia de assistir dos reservas junto com a gente. Parecia loucura, há dois meses era eu, agora eu estava em outra posição e outra pessoa já estava em meu lugar.
O vestiário ficou silencioso por alguns minutos, me dando alguns minutos para fechar os olhos, mas logo as vozes ficaram mais altas novamente e eu me levantei em um pulo, vendo Bianca rir da minha cara.
- Que horror, . Parece velho, dorme em qualquer lugar. – Gargalhei.
- Ah, nem me fala! – Dei de ombros. – O cansaço está acumulado. – Sorrimos e ignorei os homens gostosos se trocando atrás da gente, e logo todos usavam a camisa amarelo canário e calções e meias azuis.
- Mais quatro dias e teremos uma semana de folga! – Sorri, olhando para Alisson ao fundo de verde e suspirei.
- Por mim não acabava nunca. – Falei meio dramática e ela me abraçou de lado.
- Desculpe, amiga. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Vamos aproveitar enquanto ainda podemos, certo? – Assentimos com a cabeça e ela deu um beijo em minha bochecha e fez mais um carinho.
- Vamos nos reunir, gente? – Tite falou um pouco mais alto e até nós entramos na roda para ouvir algumas palavras dele. – gostaria de falar algumas coisas para vocês. – Arregalei os olhos.
- Eu? – Falei assustada. – Assim? Logo de cara? – Falei um tanto alto e todo mundo riu à minha volta.
- É, eu não tenho muito o que falar. – Revirei os olhos, dando um passo para dentro da roda.
- Hum, ok, vamos lá. – Respirei fundo, dando mais alguns passos para dentro. – Pessoas perguntaram hoje sobre os ânimos e expectativas diante desse jogo. Quem jogou a Copa sabe como foi aquela perda, aquele sentimento de quase e o que poderíamos ter feito para ter evitado aqui. – Cocei o queixo. – A minha resposta é nada. – Dei um pequeno sorriso. – Acredito que a vida é formada por destinos, então seu destino está naturalmente traçado, não importando o caminho que você escolha. Estávamos destinados a ser eliminados naquela competição, podemos ter escolhido caminhos que nos eliminariam mais cedo ou mais tarde, então eu não quero que ninguém se sinta culpado por aquilo. – Suspirei. – Não falamos sobre aquela eliminação em nenhum momento durante a viagem, durante conversas informais por WhatsApp, nem eu lembro de ter falado isso com Alisson. – Ele assentiu com a cabeça. – Então, já que não falamos dele até agora, vamos deixá-lo para trás. Vamos arrancar a página, começar um novo capítulo do zero e criar novas marcas. – Sorri, virando o corpo para todos na roda. – O que aconteceu lá não te define como jogador, não te define como pessoa, não te define como profissional, então esqueçam. Estamos começando hoje, do zero, e quero todos focados só nisso, tudo bem? Fiquem calmos, joguem para caramba, aproveitem e divirtam-se. – Todos sorriram. – Mas lembrando: isso é um amistoso, vamos tentar nos manter amistosos, ok?! – Sorri e ouvi o pessoal aplaudir enquanto eu voltava para meu lugar na roda, vendo todo mundo sorrir.
- Viu? Eu não preciso falar nada depois disso. – Tite brincou e eu ri fracamente. – Ney? – Ele virou para o capitão do time.
- Não tem nem o que dizer depois desse discurso maravilhoso. – Sorri e ele me estendeu a mão, me puxando para um abraço. – Mas ela está certa! Tivemos nossos erros no último jogo, mas passou, não adianta tentar achar motivos ou desculpas para isso, mas podemos focar no agora e tentar novamente. Então, vamos fazer isso que vai dar certo. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Bom jogo! – Ele falou, começando a cumprimentar todos da roda, um por um e quem o abraçou, começou a dispersar, indo abraçar outras pessoas.
Alisson seguiu em minha direção e me abraçou fortemente, me deixando guardada em seus braços por o que pareceu alguns minutos. Ele se afastou e segurou meu rosto com as luvas de goleiro presas na mão e colou os lábios nos meus delicadamente, aprofundando o beijo por alguns segundos.
- Eu te amo. – Ele disse e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu também, bom jogo! – Ele confirmou.
- A gente se vê lá. – Assenti com a cabeça, vendo-o começar a sair com o resto dos jogadores.
- Eu sempre preciso editar imagem porque encontro você e o Alisson se beijando. – Vinícius falou e rimos fracamente.
- E fica bisbilhotando pelas lentes por quê? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Porque vocês ficam muito bem juntos. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Vamos! – Bianca falou e seguimos pelos corredores do estádio antes de sair ao relento.
Esse estádio era virado, então foi preciso que a gente atravessasse o estádio pelo meio para chegar aos bancos dos reservas. Cada vez que eu fazia isso eu me sentia mais intimidada. Nos colocamos lado a lado à espera do hino e foquei na entrada dos jogadores pelo outro lado do campo, se posicionando de costas para nós.
Nosso time de hoje era composto por Alisson, Filipe Luís, Thiago Silva, Marquinhos, Fabinho, Philippe Coutinho, Casemiro, Fred, Neymar, Firmino e Douglas Costa. Era uma combinação bem mesclada do que estávamos acostumados, mas talvez fosse necessário.
O hino do Brasil foi cantado sem muitas surpresas, fizemos nosso à capella bem bonito, mas quando chegou na hora do hino dos Estados Unidos. Meu Deus! Que ego gigantesco que eles tinham. Totalmente fora do protocolo que tínhamos recebido, eles abriram uma bandeira da largura do campo para cantar o hino deles. Não sei se fui filmada, mas eu senti meu rosto se contorcer de tal forma que ficou literalmente na cara sobre meu desgosto com aquilo. Além de tudo, ela havia sido aberta por soldados do exército americano, o que estava acontecendo?
Eu e Bianca trocamos um olhar de lado e ela claramente também não estava entendendo nada. Virei o rosto para Tite que estava prestando respeito ao hino do time adversário, mas não tinha mais respeito depois daquilo. Assim que o hino deles acabou, os jogadores se posicionaram para as fotos oficiais e logo se separaram para os dois lados. Ignorei qualquer educação e respeito e inflei meus pulmões para gritar:
- Acabem com eles! – Falei, vendo a equipe técnica dividir entre rir e me dar aquele olhar confuso e eu só dei de ombros, me sentando ao lado de Bianca e Diana, à espera do apito inicial.
- Você sabia disso? – Bianca me perguntou.
- Não, se soubesse teria chiado já. Que ridículo! – Falei e ela negou com a cabeça também.
- Espero que possamos resolver no campo. – Ela comentou e eu suspirei.
- Eu estava toda pacífica por ser um amistoso, agora estou com o sangue fervendo.
- Vamos lá! – Ela disse e segurou minha mão, apertando firme.

O apito soou com oito minutos de atraso, mas começamos bem até demais. Deslizei o bumbum mais para frente do banco e dividi o olhar entre a bola e o goleiro gato do lado esquerdo do campo, e constatando mais uma vez como eu odiava esse uniforme verde limão! Como eu gostaria de poder palpitar nesses detalhes.
Tivemos uma chance de gol logo nos dois primeiros minutos de jogo, Neymar tentou driblar dois jogadores americanos, mas acabou tropeçando e a bola ficou para trás. Ele até tentou recuperar, mas só conseguiu dar um leve chute na mesma, o que fez o goleiro evitar que a bola saísse pela linha de fundo.
O jogo seguiu e era claro que a posse de bola era inteira brasileira, mas também dava para notar alguns errinhos de passe entre os brasileiros, mas nada desesperador. Em algumas situações a bola chegava em Alisson, mas não causava ataques cardíacos, ele poderia facilmente se apoiar na baliza que ninguém ia se importar.
Em uma cobrança lateral, Neymar fez o chute, fazendo com que Firmino, Coutinho e três jogadores americanos se antecipassem, mas o que sobrou foi Coutinho levando uma cambalhota na área e um desvio do time americano. A bola atravessou o campo em uma tentativa dos Estados Unidos, mas Alisson espalmou a bola, fazendo-a sair por cima do gol, me fazendo respirar aliviada.
A bola voltou para o nosso campo de ataque com Douglas Costa deixando um americano para trás em sua arrancada, ele atravessou a bola, deixando-a próxima a Firmino e ele só de um toquinho para a bola ir para o fundo do gol!
- Gol! – Me levantei com o resto do banco de reservas e sorri ao ouvir o estádio ir abaixo. Eu e as meninas nos abraçamos animadas e cumprimentei alguns reservas que estavam próximos da gente.
O jogo seguiu e o ataque foi para o nosso lado, fazendo a bola passar pelo pé de vários jogadores americanos, até chegar uma alta e Alisson pular para pegá-la sem muitas dificuldades, jogando-a para o lado esquerdo do campo para os brasileiros já saírem em jogo.
A bola voltou para o campo dos Estados Unidos em mais uma chance de gol, mas o goleiro deles estava bem posicionado e espalmou a bola para frente, voltando-a para o pé do nosso time. Fabinho toca para Casemiro que faz um chute só, isolando a bola, me fazendo bufar.
- Mais baixo, gente! Mais baixo. – Cochichei, respirando fundo.
A bola retornou para os pés de Firmino que tentou driblar os jogadores um a um, deixando-a para Coutinho que não aguentou a retomada e perdeu a bola. Douglas roubou novamente, driblando os jogadores americanos, Neymar tentou, mas perdeu também, fazendo com que a bola voltasse para o nosso canto novamente e despertasse Alisson de seu tédio absoluto.
O jogador dos Estados Unidos fez o cruzamento que foi interceptado por Marquinhos, dando uma bela de uma escorregada na bola, derrubando Fabinho e um americano. A bola foi desviada e Thiago chutou a bola para o fundo do campo para não ter mais problemas. O escanteio foi cobrado, mas não teve perigo, logo nosso ataque voltou para o campo de lá, com mais uma chance de gol.
Neymar fez a arrancada, deslizando na grama ao tentar driblar os americanos e a passou para Coutinho, desleixado, ele tocou para Douglas Costa que rebateu para Firmimo, mandando-a para o gol. O goleiro americano espalmou a bola, mandando-a para frente novamente, Fabinho apareceu do nada, ajeitou a bola e mandou-a para o gol, espalmando-a novamente. Dessa vez foram os americanos que tiraram a bola pelo fundo do campo.
O escanteio foi cobrado de novo, mas não deu dois segundos e a bola já tinha saído pela lateral de novo. Fabinho tentou uma arrancada, sendo segurado por um dos jogadores americanos e saiu rolando dentro da grande área.
- Pênalti! – Os jogadores do banco gritaram e eu não pude comentar, eu estava do outro lado, minha vista não enxergava lá com os mínimos detalhes.
- Foi? – Perguntei para Bianca e ergui os olhos para o telão, vendo o puxão claro na barriga de Fabinho.
- Ele deu! – Diana falou e comemoramos.
O juiz colocou a bola na marca de pênalti e Neymar foi o responsável por bater. O juiz apitou e Neymar fez uma pequena firula, antes de mandar a bola para o fundo do gol, quando o goleiro pulou para o lado contrário.
- Gol! – A arquibancada explodiu novamente e pulamos animadas.
Logo o juiz apitou o fim do primeiro tempo e todos nos levantamos para voltar para o vestiário. Lucas apareceu ao meu lado com sua câmera e Alisson apareceu do outro, abrindo um sorriso para mim. Dividimos o corredor com os Estados Unidos até cada time seguir para um vestiário.
- O que está achando do jogo? – Alisson passou um braço pelos meus ombros.
- Não estou brava ainda. – Falei rindo e ele assentiu com a cabeça.
- Se nada continuar chegando em mim, as coisas ficam mais fáceis. – Assenti com a cabeça.
- É o mínimo! – O empurrei quando entramos no vestiário e esperamos a passagem desses 15 minutos.
Tite até fez alguns comentários sobre o jogo, mas nada ruim. Estava tudo fluindo muito bem, ele só pediu para tomar cuidado com os buracos na defesa e chutes mais certeiros – eu disse, não?! No ademais, os jogadores se hidrataram, aqueles que estavam muito suados trocaram de blusas e o banheiro se encheu de homens querendo mijar. Eu odeio essa palavra, mas era só o que eu ouvia ali: preciso mijar. A gente acaba copiando.

Voltamos para o segundo tempo e eu me coloquei no lugar de antes, ao lado de Arthur dessa vez. Trocamos um sorriso rápido e ouvi o apito soar, me deixando elétrica para o segundo tempo. Os campos haviam sido trocados, então só enxergava Alisson por ele ser o único ponto verde limão do local.
A gente começou atacando logo de cara. Douglas arrancou, chegando quase dentro da grande área e fez um passe para Neymar que estava colado no gol, até me levantei. A bola passou pelo goleiro e Firmino e um americano saíram correndo para ver quem a pegaria antes. O americano ganhou e deu um forte chute, tirando-a de cima da linha, caindo para dentro do gol.
- Caralho! – Falei abismada. Tinha sido por centímetros. Acho que tinha sido a coisa mais linda que eu já vi hoje.
- Porra! – Arthur reclamou ao meu lado e eu ri fracamente.
- Aprecie o futebol. – Comentei e ele riu.
- Foi lindo, mas o gol seria mais! – Ri fracamente, negando com a cabeça.
O jogo seguiu com ataque do Brasil novamente, Coutinho fez o passe para Neymar no centro do campo e deu um chute só, saindo rente ao canto direito do gol. Coutinho tentou da mesma forma segundos depois, aproveitando os buracos na defesa deles e chutou, fazendo a bola seguir pelo lado esquerdo agora.
- Arthur! – Cléber o chamou e ele se levantou.
- Bom jogo! – Gritei, vendo-o seguir para pegar as instruções com Tite.
Ninguém fez substituição no intervalo, então eles começaram a fazer a torto e a direita, um atrás do outro. Estados Unidos substituiu dois e Tite tirou Fred, colocando Arthur, e tirou Douglas, colocando Willian. Os reservas gritaram animados e o jogo se seguiu novamente.
Acabei não percebendo, mas alguém fez falta nos Estados Unidos e eles a bateram. Havia sido quase no meio do campo, mas o jogador americano fez um chute só. Achei que havia chutado direto para o gol, mas não, ele chutou para outro que estava dentro da grande área e parei de respirar quando ele chutou a bola em direção do gol. Aliviei quando vi Alisson só acompanhar a bola com o olhar e vê-la indo para fora. Coutinho teve mais uma oportunidade do meio do campo, mas mandou-a muito alto.
Após isso, tivemos um lance contra nós que realmente assustou, mais do que o outro. A defesa brasileira falhou e fez um buraco, dando a oportunidade do número 20 americano meter um chute só. Alisson foi em cima da bola e a tirou pela lateral, me fazendo respirar aliviada.
O Brasil saiu para o ataque de novo, Neymar arrancou e fez uma passada longa para Firmino, ele adiantou a bola demais e o jogador adversário tirou a bola pelo fundo do campo, me fazendo respirar fundo. O escanteio era nosso e Neymar cobrou, mas o jogador americano estava antes do goleiro e mandou a bola para fora antes que chegasse ao nosso ataque.
Tivemos outra cobrança de falta, dando a vantagem para os EUA. O jogador dentro da área até tentou pegar a bola, mas foi direto para as mãos de Alisson.
Mais substituições, saíram três americanos e Tite substituiu quatro brasileiros. Tirou Coutinho e colocou Paquetá, tirou Firmino e colocou Richarlison, tirou Thiago e colocou Dedé e tirou Neymar e colocou Everton. Os jogadores substituídos pegaram isotônicos e se jogaram no banco. Firmino se sentou ao meu lado, espalmando as mãos nas minhas, sorrindo.
Tite estava realmente testando os jogadores. Todos esses amistosos eram para preparar para a Copa América no ano que vem, então ele realmente precisava ver esses garotos novos em campo, principalmente porque a maioria nunca tinha jogado pela Seleção antes.
O jogou seguiu até os 94 minutos sem muitas surpresas de nenhum dos dois lados. Quando o apitou final foi tocado, nós e metade do estádio comemoramos e eu abracei Firmino animada, me arrependendo segundos depois por ele estar vertendo suor. Mas ok, eu trabalhava com jogadores de futebol, já devia estar acostumada.
Os jogadores se cumprimentavam e eu e as meninas acabamos entrando na roda. Não era nenhuma final, então não tinha por que enrolar em campo. Eles agradeceram ao público, aplaudiram e foram aplaudidos. Eu me acompanhei junto da equipe técnica e seguimos para o vestiário de novo.
Bianca acompanhou alguns jogadores para entrevista de pós-jogo, encontrei Vinícius falando com Arthur e Paquetá e eu precisava de Tite e Cléber para a coletiva que aconteceria agora. Estava chegando no vestiário e encontrei três rostos conhecidos. Marta, Monica e Camila, jogadoras da Seleção Feminina.
- Ei, olha quem está aqui! – Falei e elas olharam para mim, as três com a mesma feição de “eu te conheço?” – . – Falei rindo.
- “A” ? – Elas perguntaram e eu ri, vendo-as sorrir.
- Eu mesma! – Falei e elas me abraçaram rapidamente e eu sorri.
- Quero ver quando vai trabalhar com a gente! – Marta falou.
- Espero que em breve! – Falei e elas sorriram. – Meninas precisam se manter juntas.
- Mas fala, é bom ser mulher nesse mundo masculino, não é?! – Monica perguntou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- É sensacional! – Falei e acenei para elas, seguindo para dentro do vestiário. – Tite e Cléber, preciso de vocês! – Gritei da porta e ambos apontaram para mim como se também estivessem me procurando. – Os outros vão se arrumando, vamos jantar aqui e não devemos demorar para ir embora. – Os que já haviam entrado assentiram com a cabeça. – Repassem a informação.
- Pronto! – Tite e Cléber passaram na minha frente e Lucas seguiu comigo.
- Ei! – Alisson apareceu voltando do campo e segurei-o pelo rosto rapidamente, dando um beijo em sua bochecha, pela quantidade de câmeras e testemunhas que tinham ali, e ele sorriu.
- Se arruma, logo estou de volta! – Abracei Casemiro que vinha atrás e parei um pouco atrás de Vinícius, vendo-o terminar com Arthur e Paquetá. - Podemos ir? – Perguntei para ele que assentiu com a cabeça e o ajudei com o tripé e seguimos até a sala de coletiva.
Os repórteres ainda estavam se arrumando, então aproveitamos a deixa para já começar a coletiva e não haver enrolações. Quanto mais rápido começar, mais cedo terminaríamos. Me coloquei ao fundo com Vini e Lucas como sempre e Tite deu início à coletiva que acabou sendo tão rápida quanto a primeira.
Terminamos, desmontamos tudo e retornamos ao vestiário. A maioria dos jogadores já estavam prontos e eu segui até minha bolsa para guardar as coisas que eu tirei dela antes, além de trocar meus tênis pelos saltos amarelos. Chegar apresentados em Washington, não é mesmo?
- Você vai falar algo sobre o jogo de hoje? – Bianca apareceu em minha frente, e eu suspirei.
- Não tenho nada para falar, honestamente. Foi muito de boa! – Rimos juntas. – Além do mais, não deveria ser trabalho da Diana agora?
- Até parece que vai dar certo, nem comigo dá. Você tem mais pulso. – Neguei com a cabeça. – Vai, faz uma média com eles, só para não passar em branco. – Assenti com a cabeça e me levantei.
- Gente, para o pessoal da Copa, vocês sabem que eu sempre fazia uma apresentação durante os jogos e até nos amistosos, então isso não vai mudar. – Tite assentiu com a cabeça. – Acho melhor falar agora, não é?!
- Sim, já fechamos o capítulo Estados Unidos aqui. – Confirmei.
- Bom, o papo de hoje é rápido, está liberado para todo mundo ouvir, porque eu achei o jogo bem consistente, no geral, sabe? Tivemos alguns problemas de chutes altos demais, lances mal pensados e tudo mais, mas no geral foi bem coerente! – Ponderei com a cabeça. – Não quero matar ninguém, não acho que teremos futuros problemas com a imprensa, então foi bem legal! – Sorrimos. – Temos vários jogadores novos, mais da metade é cara nova, então é difícil entrar em sintonia, mas logo estaremos todos remando juntos, então, parabéns! – Falei e eles sorriram, aplaudindo animadamente. – Depois que vocês terminarem de se arrumarem, nós vamos jantar aqui mesmo e depois vamos para Washington, o voo é curto, cerca de uma hora e meia. – Falei e eles assentiram com a cabeça, voltando a arrumar suas coisas.

Demorou cerca de 20 minutos até todos os jogadores terminarem de se arrumar e ficar apresentáveis para sair novamente do vestiário. Pegamos todas as nossas coisas e seguimos Bianca para o restaurante. Só tinha nós lá, sem câmeras, sem torcidas, só a equipe de quase 40 pessoas. Nos espalhamos pelas mesas, Alisson fez questão de se sentar ao meu lado e deu um beijo em minha cabeça, me fazendo abraçá-lo de lado.
- Você foi bem hoje. – Falei baixo e ele sorriu.
- Não acho que tivemos muitas dificuldades hoje. – Ri fracamente.
- Você não teve nenhuma. – Fui honesta. – Podia dormir ali que estava fácil.
- Talvez no de El Salvador eu faça isso. – Apertei meus braços em volta dele.
- Quem sabe não tenhamos uma surpresa? – Perguntei, colando meus lábios nos dele rapidamente.
- Só se for boa! – Assenti com a cabeça.
- Ei, casal, vamos separar? – Cléber passou perto da gente.
- Ah, Cléber, para de ser chato! – Me assustei com a voz de Neymar e até parei para prestar atenção. – Eles estão sendo cuidadosos até demais para o meu gosto, deixa eles namorarem! – Ele se levantou do seu lugar. – Não temos câmeras aqui, torcedores, nada do tipo. Eles estão há dois meses sem se ver, caramba! – Ele estava realmente bravo. – Vocês não gostam deles trocando beijo nas horas de intervalo, – Ele frisou. - mas fazem questão de convocar ele e ela para as competições? Decidam-se, gente, pelo amor de Deus! – Ele revirou os olhos. – Vai chegar uma hora que eles vão sim se abrir para o público e vocês vão precisar escolher o que fazer, se vão se preocupar com uma possível nóia da imprensa por um casal que trabalha juntos namorar ou vão continuar confiando no bom trabalho, respeito e humildade de ambos? – Ele deu de ombros e se virou para gente. - Se beijem, se agarrem, aproveitem. – Dei um pequeno sorriso e ele se sentou novamente, me fazendo perceber o incrível silêncio que se instalou no restaurante.
- Eu tenho que dizer que concordo com o Ney. – Bianca falou, saindo em nossa defesa e senti meus olhos se encherem de lágrimas do nada. – Vocês vão ter que decidir o que fazer, mas posso garantir que o relacionamento deles vai ser prioridade para ambos. – Ela suspirou e eu assenti com a cabeça.
- Acho que fomos pegos desprevenidos. – Tite comentou baixo, se levantando também. – Não acho legal lavar roupa suja com todos presentes, mas eu vou precisar perguntar. – Ele se aproximou de nossa mesa. – Como vocês se sentem sobre isso? – Ele se virou para nós dois e eu e Alisson nos entreolhamos e foi como se uma conversa passasse pelos nossos olhares antes de eu me levantar.
- Eu me incomodo muito, Tite. – Respirei fundo. – Apoiando as mãos na mesa. – Em nenhum momento nós fizemos algo para fazer com que vocês duvidem de nosso profissionalismo. Horários de treino são para treinos, jogos são para jogos. Ambos temos nossas responsabilidades dentro e fora de campo, e meus colegas de equipe sabem que quando entramos nas quatro linhas, meu namorado se torna Alisson, goleiro da Seleção. – Vi Lucas e Vinícius assentirem com a cabeça. – Mas eu me lembro que foi você mesmo que permitiu que isso acontecesse. Foram vocês que fizeram uma aposta ridícula para saber se ficaríamos juntos antes ou depois da Copa. – Percebi que eu estava chorando. – Foi você que me disse na última convocação que acreditava em uma boa história de amor. – Respirei fundo. – Então sim, isso me incomoda. Não podemos trocar um beijo no nosso almoço ou andar abraçados para o quarto sem que algum de vocês encha o saco. – Coloquei a mão na boca, tentando evitar a voz de ficar mais fino. – Isso é chato demais! – Respirei fundo. – Se vocês duvidam do meu profissionalismo por namorar um colega de trabalho, o que eu sei que não, porque eu li os relatórios depois da Copa, não me chamem mais para os compromissos internacionais, tem várias outras seleções que fariam bom uso da minha ajuda, talvez até mais do que vocês, mas se me chamarem, saibam que isso vai acontecer. – Puxei o ar fortemente. – Eu dou meu sangue pela CBF, trabalho de segunda a segunda se for preciso, mas se eu tiver dois minutos com meu namorado, eu vou aproveitar com o meu namorado. – Suspirei. – Porque talvez seja o único momento que teremos juntos. – Passei as mãos nos olhos. – Sei que somos jovens ainda, que talvez vocês pensem que isso é besteira ou algo que vai acabar logo, talvez até prejudicar o andamento da Seleção, mas se for, deixem que a gente quebre a cara sozinhos. Porque eu aposto com vocês que a eliminação na Copa do Mundo não foi por causa do nosso namoro e nem por desatenção do Alisson e você sabe muito bem do que eu estou falando, Tite. Tanto que muitos não estão aqui, não é mesmo? – Olhei fixamente para ele. – Então, por favor, decida-se. – Balancei a cabeça, virando para os outros de blusas brancas. – Decidam-se todos. – Suspirei. – Se for preciso eu pego um avião para o Brasil daqui mesmo. E melhor, se for preciso eu entrego minha carta da demissão assim que chegar. – Balancei a cabeça. – Só que quando você se decidir, seja honesto, ok?! Não só com a gente, mas com todos nessa sala, que estão tendo que presenciar essa lavação de roupa suja, como você mesmo disse. – Suspirei, sentindo a respiração pesada. – Eu perdi meu apetite. – Comentei fracamente e neguei com a cabeça. – Eu estarei lá fora. – Falei, dando meia volta e saindo rapidamente dali.
- Eu vou falar com ela.
- Não, eu vou! – Ouvi algumas vozes abafadas e parei assim que senti minha visão clarear por causa dos holofotes ainda ligados do campo. Apoiei as mãos na murada e respirei fundo, balançando a cabeça. – Ei. – Virei o rosto, dando de cara com Alisson.
- Me desculpe. – Falei, sentindo-o me apertar fortemente. – Eu não tinha percebido tudo que estava entalado e quando vi já tinha falado. – Suspirei.
- Xí, não precisa me explicar nada. – Ele falou. – Eu também me irrito muito com isso, eu só não seria tão bom com palavras quanto você. – Ri fracamente, puxando a respiração e sentindo meu nariz entupido.
- Como você acha que vai ficar agora? – Perguntei, respirando fundo.
- Não sei, mas parece que todo mundo ficou surpreso. Tanto com o que o Ney falou, e o que você falou. – Me afastei dele devagar, sentindo-o segurar meu rosto com as mãos e passar os dedos pelas bochechas. – Rolou um climão ali.
- Inicialmente eu achei que o Ney estava brincando, quando eu vi o negócio era sério e tudo aconteceu. – Suspirei. – Eu posso ter perdido a maior chance da minha vida por não ficar calada.
- Até parece que perderia sua maior chance por ser honesta. – Ouvi uma terceira voz e viramos para trás, vendo Tite, Cléber, Edu e Sylvinho lado a lado. – Eu não sou machista, , e você sabe muito bem disso. – Fiquei ao lado de Alisson, respirando fortemente. – Eu acho que você foi a melhor coisa que nos aconteceu em todo esse tempo que eu comando a Seleção. E não vamos mudar isso agora. – Assenti com a cabeça.
- Nós conversamos sobre isso, mas ninguém pensou na prática em como seria. Vocês dois com saudades um do outro, lutando para fazer um relacionamento entre oceanos dar certo e a idade ajuda, vocês são jovens ainda, então existem hormônios aflorados querendo mantê-los juntos. – Edu falou, suspirando.
- Acho que inicialmente devemos pedir desculpas para vocês. – Tite falou e eu assenti com a cabeça. – Nós não deveríamos ter imposto uma regra sem falar diretamente com vocês e sem entender o lado de vocês. – Alisson apertou minha mão. – E depois, garantimos que o relacionamento de vocês não será um problema, pelo menos para ninguém da equipe técnica. Se os meninos quiserem zoar vocês, aí é outra história. – Ri fracamente. – Eu falei com Michele e ela disse que a decisão de se abrir para a imprensa será de vocês, então eu só vou pedir, para quando isso acontecer, falar com a gente antes, podemos preparar coletivas, esclarecer isso de forma bem limpa para não existir problema para nenhum dos lados. Principalmente profissional para ambos. Sabemos como vocês são confiáveis em seus trabalhos. – Assenti com a cabeça.
- Nós entendemos o lado de vocês e garantimos nossa parte para fazer isso dar certo. – Alisson falou. – Namoro só em horários de folga e escondido, até que nossa decisão mude. – Ele virou para mim. – Creio que está muito cômodo e divertido para nós manter assim inicialmente. – Assenti com a cabeça.
- E mesmo quando mudar, quando decidirmos aparecer. Horário de trabalho, é horário de trabalho, para ambos os lados. Respeitaremos isso. – Eles confirmaram com a cabeça. – E desculpe sobre o escândalo ali dentro, eu acho que estava guardando isso há muito tempo e escapou. – Eles negaram com a cabeça.
- Não se preocupe. – Tite me puxou para um abraço. – Acredite, foi bom. E preciso agradecer ao Neymar por isso.
- Então, todos concordam que estamos conversados e chega? – Perguntei por checagem.
- Sim, está tudo certo agora. – Cléber falou e eu sorri, abraçando um a um rapidamente e Alisson os cumprimentou também.
- Agora vem, aposto que você não perdeu o apetite coisa nenhuma. – Sylvinho comentou e eu ri fracamente, sentindo-o me abraçar pelos ombros.
- Pessoas esfomeadas como eu nunca perdem o apetite. – Comentei.
- É só drama! – Alisson comentou e entrelacei meus dedos nos dele, voltando para dentro do restaurante.
Assim que voltamos, todos nos encararam novamente e o retardado do Neymar puxou uma salva de aplausos para gente e eu só me soltei de Sylvinho e ameacei dar um tapa nele, vendo-o se esquivar e me puxar por um abraço.
- Obrigada! – Cochichei.
- Podem contar comigo para sempre. – Suspirei, estalando um beijo em seu rosto e Alisson fez o mesmo.
O jantar ocorreu sem maiores preocupações, sem piadinhas, sem torta de climão, só um bom hamburguer americano e muito refrigerante para comemorar. Na hora de voltar para o ônibus, Vinícius ligou sua câmera novamente, para finalizar o episódio do amistoso contra os Estados Unidos e, como prometido, larguei Alisson e andei um pouco afastada dele, como se eu fosse só mais uma na multidão.
Entrei no ônibus depois dele e ele me puxou para me sentar ao seu lado. Ele passou o braço pelos meus ombros e eu apoiei a cabeça em seu peito, acompanhando o movimento do ônibus enquanto seguíamos em direção ao aeroporto.

O voo para Washington ocorreu sem muitas surpresas, eu estiquei as pernas na poltrona vazia do lado e encostei o corpo no de Alisson, tentando tirar da cabeça a briga que tinha acontecido horas antes. Era visível que eu e Alisson ainda queríamos falar sobre isso, e isso eu quero dizer nosso relacionamento, estava bom desse jeito, estávamos nos virando, mas será que do jeito certo?
Mas esse assunto viria à tona mais cedo ou mais tarde, preferencialmente nós dois, sozinhos, sem causar mais escândalos. Acho que já tivemos nossa cota do dia e ela chegou meio de surpresa, então tinha me deixado um pouco receosa sobre o que se seguiria dali para frente. Tinha relatório semanal para fazer, mas eu faria questão de deixar isso de fora, esperava que Tite e companhia fizesse o mesmo.
O voo foi curto, cerca de uma hora e 10, saiu pontualmente do aeroporto de Newark e chegamos no Washington Dulles. Entramos no ônibus direto da pista e seguimos para o hotel que ficaríamos. Eu estava empolgada com o hotel de Washington, era o Park Hyatt Hotel, eu pesquisei e era um dos hotéis mais luxuosos de DC.
Chegamos no mesmo e não tivemos nenhum problema na entrada, tinha três ou quatro torcedores que alguns jogadores dedicaram alguns minutos para falar com eles. Alcancei Bianca e entramos juntas no hotel que me fez ficar de boca aberta. Aquilo era bonito demais! Encontramos o gerente, nos apresentando e recebemos as informações preliminares de sempre. Esperamos os jogadores formarem um semicírculo à nossa volta para dividir as chaves.
- Quarto de dois! – Falei e não tive resposta.
- Antes, o Tite quer falar uma coisa. – Bianca falou e todos olhamos para Tite.
- Todos estão de folga amanhã. – Ele falou, fazendo os jogadores sorrirem. – Descansem, aproveitem a cidade e quero todos aqui até oito da noite, voltamos os treinamentos no domingo. – Assenti com a cabeça e ele confirmou.
- Peguem suas chaves, subam para o quarto, durmam, joguem, enfim, sumam daqui. – Falei e eles riram.
As duplas se aproximaram um por um e foram seguindo seu caminho para os quartos, eu estava precisando de um banho e cama. Fica difícil para mim e as meninas tomarmos banho nos vestiários, o campo é minado demais. Alisson se aproximou para pegar a chave, mas estava sozinho.
- Quarto 612. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o seguir o resto da galera.
- Acho que é isso! – Falei, suspirando.
- A gente se vê amanhã? – Bianca perguntou e assentiu com a cabeça.
- Vou aproveitar a folga para conhecer a cidade. A gente se fala.
- Beleza. – Pegamos nossas coisas e entramos no elevador agora vazio.
Ela apertou o cinco e eu o seis. Nos separamos e eu segui para o sexto andar. Obviamente aquilo estava uma bagunça. A maioria dos jogadores tinham ficado ali. Acenei para eles, desejando uma boa noite para alguns e bati na porta do 612. Em dois segundos Alisson abriu e eu entrei rapidamente, antes que viesse algumas piadinhas a respeito. Hoje eu não estava no clima!
- Ei! – Alisson falou, voltando a mexer em sua mala.
- Finalmente a sós! – Falei, soltando um longo suspiro e parei para reparar o quarto. – Uau! – Ele era largo, tinha duas camas de casal, um divã, uma poltrona, uma mesa de trabalhos, além de armários e o banheiro.
- Legal, né?! Acho que podemos economizar uma. – Ele me abraçou de lado e eu dei um sorriso de lado.
- Acho que não estou no clima hoje. – Suspirei.
- O que aconteceu mais cedo te baqueou, não é?! – Ele se sentou na poltrona e me chamou. Andei até ele e sentei em seu colo, sentindo-o puxar minhas pernas também, me abraçando.
- Só serviu para esquentar a cabeça. – Neguei com a cabeça. – Eu odeio quando colocam meu comprometimento em dúvida, minha capacidade. – Suspirei.
- Não creio que eles duvidaram da sua capacidade, amor. Eles devem ter bagunçado a situação toda e fez essa confusão.
- Espero que isso não afete nada esses últimos dias de trabalho, nem o meu na CBF, eu finalmente encontrei meu lugar. – Virei para ele que sorriu, jogando meus cabelos para trás.
- Eu percebi que você se preocupa demais com algumas coisas. – Passei os braços pelos seus ombros. – Depois você fala que não devemos falar “e se” e você se preocupa demais com ele. – Ri fracamente.
- Eu sei, eu sou muito ansiosa, vivo por antecipação. – Ele beijou minha bochecha.
- Não vou dizer para você não ser assim, porque sei que não é fácil, mas viva a vida intensamente, se preocupe com as consequências quando elas vierem. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei! Quem sabe eu não melhoro contigo ao meu lado? – Ele sorriu e colou os lábios nos meus levemente.
- Eu estarei sempre contigo. Nos bons e nos maus momentos, pode confiar. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Eu sei, eu confio! – Suspirei, apertando-o novamente, suspirando em seus ombros por alguns segundos. – Bom, eu vou tomar banho e dormir. – Me afastei.
- Também estou precisando. – Joguei as pernas para o lado e me levantei da poltrona, vendo Alisson se levantar em seguida.
- Eu vou me arrumar e esquentar a cama para você! – Ri fracamente. Segurei seu rosto com as mãos, subi na ponta dos pés e colei os lábios nos dele.
- Logo estou de volta. – Coloquei minha mala em cima da mesa, tirei uma calcinha limpa, meu pijama e nécessaire e entrei no banheiro.
Tentei perder bons minutos no banho, mas o cansaço falava mais alto, então finalizei-o rapidamente, me vesti, penteei os cabelos, escovei os dentes e voltei quase renovada para o quarto. Alisson já estava deitado em uma das camas, olhando para a televisão ligada, mas mudando de canal seguidamente.
- Nada de interessante? – Perguntei, entrando embaixo das cobertas ao seu lado e ele passou o braço atrás da minha cabeça e eu me aproximei dele, abraçando-o pela barriga.
- Não tem nenhum jogo passando. – Ele comentou e eu ri fracamente.
- São quase quatro da manhã, que jogo você quer ver agora? – Rimos fracamente. – Só se for clássicos do esporte, reprises antigas. – Falei e ele desistiu, desligando a TV. – Isso, bem melhor, um pouco de silêncio. – Falei, sentindo-o me apertar mais perto de mim.
- Eu te amo. – Ele cochichou e eu suspirei.
- Eu também, Alissinho, eu também! – Repeti, suspirando e fechando os olhos em seguida.

Acordamos no dia seguinte com meu celular tocando e eu revirei os olhos por não tê-lo desligado ontem. Me levantei meio sonolenta, procurando-o pela na minha bolsa e desativei o mesmo, aproveitando e desligando o celular, para não ter perigo dele tocar de novo. Voltei para cama, vendo Alisson coçar os olhos, dei um curto beijo em seu queixo barbudo e o abracei novamente, fechando os olhos pelo o que foram mais algumas horas.
Quando acordei para valer, Alisson já estava acordado há algum tempo, assistindo algum episódio de House of Cards no Netflix. Ouvi alguns barulhos baterem contra a janela e percebi que estava chuviscando.
- Droga! Eu queria conhecer a cidade. – Comentei e Alisson pausou sua série.
- Quem sabe mais tarde o tempo não abre? – Ele se colocou ao meu lado, também olhando pela janela.
- É o jeito. – Suspirei, me sentando na cama e olhando o relógio do iPad de Alisson. – Quase meio dia, acho que nem dá mais tempo de ir tomar café, podemos ir almoçar direto.
- Estava pensando nisso! Minha barriga já está roncando.
- Imagino que um homem desse tamanho precisa de bastante comida para ficar em pé, não é mesmo?
- Nem tanto, eu como bastante, mas nada fora do comum. – Ele deu de ombros. – Nada como o Filipe Luís que é magricelo e bate um pratão de pedreiro. – Rimos juntos.
- O Filipe parece uma lagartixa. – Comentei e ele gargalhou alto.
- Meu Deus, vou começá-lo a chamar assim.
- Não diga que fui eu quem o apelidei assim. – Ele abanou a mão.
- Todos temos apelidos, não se preocupa. – Ele sorriu. – Vamos nos arrumar?
Nos trocamos e criamos vergonha na cara para sair do quarto um pouco. Chegamos no restaurante e tinha poucas pessoas ali, incluindo a lagartixa. Nos servimos e sentamos próximo a eles.
- Quais os planos para hoje? – Coutinho perguntou.
- Queria conhecer a cidade, mas com essa chuva nem dá. – Comentei, colocando um pouco de macarrão na boca.
- Pela previsão do tempo não chove o dia todo. – Firmino comentou.
- Queria andar de bicicleta. Tem um tour bacana aqui no hotel. – Todos viramos para Filipe Luís. – Você segue a ciclovia e passa por vários pontos turísticos importantes da cidade. – Eu e Alisson nos entreolhamos.
- Eu topo! – Falei rapidamente. – Se não chover, é claro.
- A gente volta a se falar mais tarde, então. – Alisson comentou. – Se parar, já podemos sair, nem que nos molharmos um pouco, ninguém é feito de açúcar.
- Não, mas eu sou muito sensível ao frio! – Dei um largo sorriso e eles riram.
- Leva casaco! – Ele falou e eu bati em seu ombro levemente, rindo em seguida.
Ainda ficamos papeando um pouco lá no restaurante para passar o tempo, mas acabei tirando alguns minutinhos para ver os e-mails no fórum da CBF, tinha algumas informações sobre a Seleção Feminina e a Sub-20, essa última estava no México para alguns amistosos da categoria. Não era nada muito relevante para mim, então ignorei.
Acabamos nos empolgando no papo e quando percebemos, a chuva parou de cair. Não chegou a abrir um solão, mas estava um nublado até comportado. Subimos para nossos respectivos quartos para pegar passaportes e dinheiro e fomos nos informar sobre como funcionava esse passeio de bicicletas.
A moça do aluguel falou que a cidade inteira era tracejada por ciclovias e elas passavam por vários pontos da cidade e hotéis, nas bicicletas possuíam um GPS para voltar para o local de início, no caso, o nosso hotel. Caso optássemos por seguir a rota sem desviar, era só seguir o caminho, caso fosse muito longo, só redirecionar para o hotel que ele nos traria para cá novamente.
- Acho que estou com medo de me perder. – Coutinho falou e rimos dele.
- O que de pior pode acontecer? Todos estão com os celulares carregados e com pacote internacional de internet? – Perguntei e todos se entreolharam, confirmando. – Pronto, na pior das hipóteses a gente acha o caminho de volta pelos nossos GPS.
- Acho que está de boa! – Lucas comentou.
- Todo mundo sabe andar, né?! – Perguntei brincando e eles riram.
- Vamos, vai! – Alisson animou e eu, ele, Bianca, Lucas, Filipe Luís, Firmino e Coutinho pegamos as bicicletas, subimos nela e começamos a seguir a linha da ciclovia.
Esse passeio acabou sendo mais divertido do que o esperado. A ciclovia passava realmente pelos grandes e famosos monumentos de Washington, cortando carros e avenidas e fazendo com que nós ríssemos à plenos pulmões, só aproveitando o dia como pessoas normais e descompromissadas.
Passamos pelo Memorial Lincoln, pelo Memorial Martin Luther King Jr., pelo National Mall, lindo parque aonde fica o famoso obelisco, além daqueles olhos d’água lindíssimos para fotos. Depois passamos pelo Capitólio, em seguida pelo Smithsonian e terminamos nosso passeio na frente da famosa Casa Branca. Era surreal conhecer todos esses lugares. Viver esse sonho era incrível e a melhor parte de tudo isso era o mundo que eu estava descobrindo da melhor forma possível.
Em cada ponto turístico, nós tirávamos fotos individuais e em grupos, além de fazer muita selfies e stories enquanto andávamos de bicicleta. Estávamos realmente nos divertindo. Eu e Alisson fazíamos questão de tirar algumas fotos juntos, trocando beijos e abraços. Ainda era incerto nosso futuro público, mas eu estava mais preocupada em guardar recordações para o futuro com ele.
Decidimos voltar quando o sol começou a baixar e quanto nossas pernas não aguentavam mais. Bom, pelo menos as de meros mortais como eu, Bianca e Lucas. Os outros pareciam incrivelmente confortáveis na bicicleta e com a bunda naquele banco horrível. Cheguei no hotel realmente acabada, parece que tinha ficado montada em um cavalo o dia inteiro, provavelmente isso me afetaria amanhã e eu não estava gostando nada de pensar nessa possibilidade.
Aproveitamos que chegamos tarde e já ficamos para jantar. Todos precisavam repor suas energias de diversas formas, amanhã era dia de treino e tinha que acordar cedo de novo. Terminamos de comer e eu e Alisson subimos para o quarto. Ambos estávamos cansados e amanhã era um novo dia.
Namoramos um pouco enquanto compartilhávamos o chuveiro, mas ninguém estava com pique para levar aquela brincadeira adiante, então trocamos beijos e carícia embaixo da água quente e logo terminamos nossos banhos de forma adequada. Eu terminei antes e aproveitei para secar o cabelo antes de me deitar. Não era algo que eu gostava de fazer, fazia com que as ondas do meu cabelo se perdessem, mas eu estava com mais sono, não daria para esperar ele secar sozinho.
Dessa vez eu entrei primeiro embaixo das cobertas e Alisson me fez companhia alguns minutos depois. Trocamos alguns beijos curtos, rindo e dividindo largos sorrisos e logo fechei meus olhos, entrando em um mundo de sonhos mais profundo do que tê-lo ao meu lado todos os dias da minha vida.

No dia seguinte os trabalhos retornaram no AudiField, mas dessa vez com foco nos reservas. Os titulares fizeram trabalhos regenerativos na academia e os reservas foram para o campo dessa vez. Meu trabalho tinha acalmado novamente. Tinha mais alguns dias para o segundo jogo e ele não era um grande rival à nossa altura, então meu celular estava bem às moscas.
Nessas situações eu arranjava o que fazer. Ficar sondando o pessoal na academia não estava nos meus planos, capaz do Fabio me colocar para fazer alguma coisa e eu não estava a fim de malhar agora. E o tempo para fora do campo estava meio chocho, então tinha que tomar cuidado para não dormir acidentalmente no banco de reservas.
Acabei tendo somente três compromissos naquele dia: o primeiro foi acompanhar uma entrevista de Éverton que Vinícius queria subir na CBF TV, tinha sido o primeiro jogo dele ontem, então fizemos aquele rápido tête-à-tête com ele, perguntando sobre o sentimento dele nesse primeiro jogo.
Depois do almoço, aproveitamos o tédio coletivo e fomos dar uma volta com o Canarinho por Washington, fazer aquelas filmagens que estávamos acostumados, interatividade com os torcedores brasileiros e internacionais, tirar algumas fotos e tudo mais. Passamos quase nos mesmos pontos turísticos que ontem visitamos: a Casa Branca, o Capitólio e o Memorial Lincoln. Eu tinha me apaixonado por essa cidade, então ficava feliz em passar mais um tempinho em lugares tão conhecidos no mundo. E claro, a gente aproveita e dá aquela tietada no Canarinho, sempre é uma das fotos mais populares no meu Instagram, e olha que ele ganha seguidores a cada dia, principalmente durante essas viagens.
Voltamos para Audi Field e o treino do dia já tinha acabado, não dava para deixar os titulares no regenerativo o dia inteiro e nem os reservas jogando, então eles já estavam organizando as coisas para irmos embora logo após a coletiva.
A coletiva desse dia foi com dois novatos para mim. Um deles era o Alex Sandro, velho conhecido da minha Velha Senhora*, mas ele já havia sido convocado outras vezes em outras ocasiões e com outros técnicos, mas estava voltando agora. E outro era o Éder Militão, era sua primeira vez. Então o papo rolou em volta das novidades dos convocados, expectativas para os próximos jogos, o que poderiam acrescentar na Seleção. Aquele papo de sempre.
No final, a coletiva durou menos de 20 minutos, então o pessoal nem esperou tanto para irmos embora. Voltamos para o hotel ainda com a animação para cima, afinal, não era nem cinco horas, então tinha um longo tempo de descanso.
Eu e Alisson aproveitamos essas horinhas de folga a mais para namorar, eu sabia que passado o primeiro jogo, o segundo seria rápido e logo teríamos que nos separar de novo, mas eu não queria fazer com que isso me desanimasse, pelo menos não ainda. Mas Alisson me conhecia melhor do que eu esperava, então não consegui evitar.
- Você está quieta demais. – Ele comentou, apertando meu corpo nu sobre o seu e eu suspirei.
- Me chamando de faladeira? – Brinquei e ele riu fracamente.
- Não, mas você é mais comunicativa do que isso. – Ri fracamente.
- Só estou pensando nos dias que estão passando. – Virei meu corpo ao lado do seu, olhando para o teto. – Logo seguiremos caminhos distintos.
- Sabia! – Ele falou. – Sempre pensando no futuro. – Suspirei.
- É inevitável! Eu fiquei dois meses aloprada em como ficaríamos depois da Copa, e eu percebi que foi muito melhor do que o esperado. – Neguei com a cabeça. – Agora será mais um mês dessa incerteza.
- Tu não precisa ter incerteza nenhuma, estamos comprometidos, é isso e acabou. – Suspirei, recebendo um beijo em minha cabeça.
- Eu sei, mas...
- Sem “mas” e sem “e se”. – Ele virou na cama, me fazendo olhar em seus olhos. – É isso e pronto!
- É que não é justo. – Ergui a mão até seu rosto, acariciando-o. – 60 dias sem se ver e 10 dias juntos. – Suspirei.
- Você só está se esquecendo de uma coisa. – Ele comentou e fiz um movimento com a cabeça em sinal de pergunta. – Só estamos juntos por causa disso. – Ri fracamente, virando o rosto dele para o lado, gargalhando.
- Você está pior que o Marcelo na final da Copa! – Gargalhei.
- Por quê? O que aconteceu?
- No voo de volta para o Brasil, eu estava um caco, parecia que eu tinha perdido um braço...
- Nossa, sou tão importante assim? – Revirei os olhos.
- Você sabe que sim e cala a boca! – Ele gargalhou. – Enfim, ele se sentou do meu lado, tentando me consolar e falou assim “você tem que ficar feliz, sabe? Você conseguiu algo muito mais valioso do que o hexa”. E eu olhei meio desconfiada, tipo “o que esse cara tá falando?” Enfim. – Abanei a mão. – Aí ele disse “amor, ”. – Alisson gargalhou e eu o acompanhei. – Eu queria bater tanto nele, porque eu estava tão deprê e ele me fez gargalhar assim. – Neguei com a cabeça.
- Bem, então temos algo mais valioso que o hexa. – Sorri.
- Você vai me zoar pelo resto da vida, não vai? – Perguntei.
- Você não, mas o Marcelo sim, e na primeira oportunidade que eu tiver. – Sorri. – Será que pegamos o Real na Champions? – Ele cogitou e eu gargalhei, negando com a cabeça.
- Tonto! – Sorri. – Mas é isso.
- E a gente? – Ele perguntou, apoiando os braços na cama. – Está tudo bem para você manter isso escondido? – Suspirei.
- Eu não estou vendo problema nenhum, sabe? Principalmente agora que está tudo recente ainda, nós dois, Copa do Mundo, ainda trabalhamos com resquício daquilo, tirando a imagem ruim que ficou. – Me sentei na cama, me cobrindo com o lençol. – Não duvido nada que as pessoas te culpem pela eliminação por estar distraído. – Dei de ombros. – As pessoas são malvadas e não há nada que possamos fazer. Além de que nossas famílias sabem, nossos amigos, nossos trabalhos. – Dei de ombros. – Acho que é só quem realmente importa.
- Sim, nesse ponto você tem razão. Vamos ver mais para frente, vai chegar um momento que teremos que nos abrir, quando esse momento chegar, deixa acontecer. – Sorrimos e dei um rápido selinho nele. – E falando em família, eu preciso conhecer a sua.
- Nem fala! Meu pai me alopra quase todo dia. – Ri fracamente. – Mas também vai ter essa oportunidade em breve. Vamos com calma. Eu também não os vejo desde antes da Copa, e só fui por necessidade, se não estaria até minha próxima folga ou próximo curso do meu pai para gente se ver.
- Vamos combinar isso, talvez lá em Liverpool. – Ri fracamente.
- Vamos devagar. Eu não tenho férias até maio do ano que vem, e dois dias de folga eu uso dormindo pelo cansaço da correria. – Ele beijou minha bochecha.
- Vamos fazer dar certo. – Ele passou as mãos em minha cintura. – Agora, vamos jantar? Estou ficando com fome e já ouvi sua barriga roncando algumas vezes. – Sorri.
- Não queria sair daqui, mas a fome está falando mais alto. – Ele se levantou, estendendo as mãos para mim e seguimos em busca de nossas roupas.

O antepenúltimo dia – ou será que era penúltimo? - foi mais divertido, pelo menos para mim. Além de ter mais compromissos, a imprensa voltar a falar com a gente para pedir informações, foi um treinamento mais focado em goleiros e vocês sabem como eu adoro ver os goleiros trabalhando, principalmente um em especial que, quando ele pula, deixa as entradas do seu abdome aparecer e faz com que eu me derreta toda, mas essa não foi a melhor parte, a melhor foi que eu pude voltar a tocar na bola da forma certa.
- ! – Ouvi alguém gritar meu nome e ergui o dedo pedindo para esperar.
- Sim, claro! Qualquer coisa pode me retornar. Obrigada! – Falei em inglês para a jornalista do Washington Post e virei em direção a voz que me chamou.
- Vem cá! – Taffarel falou e eu guardei o celular no bolso, olhando em volta se não seria acertada por uma bola e fiquei ao seu lado, vendo Alisson, Neto e Hugo parados me olhando. – Está ocupada? – Franzi a testa.
- Quando eu não estou ocupada, Cláudio? – Perguntei e ele riu.
- Preciso de uns chutes a gol e não tem gente para ajudar. – Dei um pequeno sorriso.
- E você quer que eu faça às honras? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Por que não? – Ele riu. – Sei que você está acostumada a jogar do outro lado, mas é um trabalho de rebote de pênalti. Eu chuto, eles defendem, você chute de volta.
- Rasteiro? Forte?
- Da forma que você quiser. – Ele deu de ombros. – A surpresa é a melhor arma. – Ele aproximou a boca da minha orelha. – Para fora intencionalmente também. – Rimos juntos.
- Ok, vamos lá! – Sorri, virando para os goleiros novamente. – Vamos deixar isso mais divertido? – Me afastei, seguindo a direção para a posição da esquerda. – Se eu conseguir fazer um gol em qualquer um de vocês, vocês terão que me pagar 10 dólares por gol. Em dólares para ficar mais interessante. – Puxei uma das pernas para trás, me esticando um pouco.
- E por que você acha que vamos deixar entrar? – Neto perguntou e eu sorri.
- Eu conto ou você conta? – Virei para Alisson.
- Ela jogou futebol na época da faculdade. – Ele disse e eu pisquei para ele. – Mas ela era goleira, não deve estar com o chute tão afiado. – Abri a boca, incrédula.
- Para você acabou de subir para 20 dólares por gol. – Virei para Taffa. – Vamos lá?
- Vamos lá! – Ele falou, puxando o carrinho de bolas para mais perto da marca de pênalti. – Vocês defendem o meu, o da e saem pelo lado da defesa. – Ele falou. – Vamos fazer um ciclo. – Ele colocou a primeira bola na marca. – Valendo!
Ele fez o primeiro chute e Alisson defendeu facilmente e a mandou para longe, me fazendo olhar para trás, vendo a bola sair longe e franzi os lábios.
- Sem humilhar, Alisson. – Cláudio falou.
- Só devolvendo o troco da Copa. – Gargalhei.
- Vamos! – Gritei, batendo as mãos.
Taffa fez outro chute, Alisson defendeu e eu precisei recuperar a bola no peito, o que doeu, já que eu não estava preparada para isso, ajeitar e batê-la novamente para o lado direito e ele defendeu a mesma rasteira. Neto entrou e seguiu o mesmo movimento de Alisson, mas mandou a bola para cima. Hugo fez a mesma coisa e o segundo ciclo começou.
Senti minha confiança melhorar conforme os chutes, e o primeiro gol que eu fiz foi no Hugo, de cabeça. Ele defendeu a de Taffa e eu dei uma de Thiago Silva e meti a cabeça na bola, vendo-o não conseguir alcançar a mesma e deixá-la escapar pela ponta dos dedos no canto inferior direito do gol!
- Yeah! – Gritei empolgada, gargalhando em seguida. – Espero 10 dólares de você, Hugo! – Ele gargalhou da minha comemoração e Taffarel bateu as mãos na minha, me abraçando em seguida.
- Continuando! – Taffa gritou e as bolas voltaram a serem chutadas uma a uma.
Eu não sabia quanto tempo aguentaria ajudar Taffa nesse treino, eu sentia o celular vibrando em meu bolso, me surpreendendo por ele não ter caído ainda por alguns pulos e quedas ocasionais, e eu não estava em forma para isso, longe disso, mas eu tinha uma meta só que era fazer um gol em Alisson. Não era fácil, eu sei, meu namorado era bom demais, mas todos os goleiros tinham um padrão e a cada lance eu tentava estudar o dele para acertar.
E eu consegui! Acho que lá pelo décimo quinto lance ou quase vigésimo, mas vamos dizer que eu roubei. Ocasionalmente, Taffa trocou de lado e pediu para eu chutar para o lado esquerdo agora. Eles estavam muito fixos a isso. Os chutes precisavam ser mais a esmo, mas sabia que Taffa não aguentava isso sozinho e eu muito menos.
Quando Taffa chutou a bola, Alisson a defendeu muito rasteira, aproveitei o tempo dele se levantar e dei uma pequena levantada na bola e chutei para o lado direito do gol, abrindo um largo sorriso quando a rede se mexeu atrás dele.
- Porra! – Taffa gritou surpreso e eu gargalhei, abrindo um largo sorriso.
- 20 dólares para você, senhor Becker! – Gargalhei alto, chamando a atenção de alguns treinadores que estavam ali que gargalharam comigo.
- Não foi justo. – Ele se levantou e eu sorri.
- Na hora do gol o cara não vai falar para que lado ele vai jogar. – Taffarel e os outros jogadores riam ao meu lado e eu só sabia sorrir.
- Ela está certa.
- Ela está sempre certa! – Alisson falou irônico, mas dava para notar o risinho em seu rosto. – Isso que me irrita. – Ele veio em minha direção e eu dei alguns passos para trás, tentando me desviar.
- Nem vem, nem vem! – Coloquei as mãos de escudo e ele me pegou antes que eu pudesse me colocar a correr.
- Me solta! – Ele me colocou em seu ombro, me deixando de cabeça para baixo e o pessoal ria. – Foi justo, você não tem esse direito.
- Não foi não. – Ele falava, andando pelo campo comigo e eu só sabia rir.
- Chama o VAR! – Lucas gritou e o vi tirar fotos nossas.
- Não posta isso, Lucas. – O alertei e ele também ria.
- Não posso, mas queria! – Senti o sangue começar a descer e me dar tontura.
- Me solta, Alisson, está começando a dar dor de cabeça. – Falei rindo mais fracamente e ele me colocou no chão quase como se eu fosse um saco de batatas, mas pela dor de cabeça eu desmontei sentada no chão, gargalhando ainda.
- Você está bem? – Ele me deu a mão e eu a segurei, me levantando.
- Estou ótima, eu fiz gol em você. – Pisquei e ele negou com a cabeça.
- Não valeu. – Ele repetiu e eu sorri.
- Em um jogo valeria. – Pisquei e ele tirou algumas coisas no meu cabelo, imagino que tenha sido grama e colou os lábios nos meus rapidamente.
- Eu te pago depois. – Ele disse e eu sorri feliz.
- Sorria, casal! – Douglas apareceu com um pau de selfie na nossa direção e eu escondi o rosto.
- Douglas! – Reclamei, empurrando a câmera para o outro lado. – Não filma isso.
- Eu sei, mas o Vinícius tira na edição, relaxa. – Ele falou, desligando a câmera. – Não seja tão melodramática. – Mostrei a língua para ele, vendo-o rir.
- Esse povo! – Revirei os olhos e ele riu. – Agora vai, eu preciso falar com o Tite.
- Algum problema? – Ele virou para Tite que estava atento ao jogo.
- Não, só algo que eu pensei agora. – Dei de ombros. – A gente se fala depois! – Falei animada e ele riu, seguindo para o outro lado.
- Tite! – O chamei da linha de campo e ele virou para trás, e o chamei com o dedo, vendo-o apontar para Cléber e ele seguiu para fora do campo, se colocando ao meu lado.
- Diga! – Ele falou e virou para mim. – Nossa, você está cheia de grama. – Ele passou a mão em meus ombros e eu vi fracamente, batendo as mãos nos ombros.
- Estava ajudando o Taffa, enfim. – Balancei com a cabeça. – Eu estava pensando aqui, o jogo de amanhã é contra o El Salvador, não imagino que teremos alguma dificuldade sequer. – Virei para ele. – Não acreditei que tínhamos nem contra os Estados Unidos sendo bem honesta. – Dei de ombros. – Enfim, estava acompanhando o trabalho do Neto e acho que você podia dar uma chance para ele amanhã.
- Colocá-lo para jogar? – Dei de ombros.
- Estamos precisando de gente nova. – Suspirei. – Amo ver o Alisson jogar, mas imagino que não seja nenhum desafio para precisarmos dele. Capaz de ele dormir agarrado na trave. O Neto teria uma primeira experiência. – Ele ponderou com a cabeça.
- Você acha que ele está pronto? – Ele perguntou.
- Esse não é meu departamento, Tite. Fala com o Cláudio, ele vai te saber falar melhor. Eu acompanhei 30 minutos, só isso.
- Vou lá falar com ele! – Ele disse e eu sorri, sentindo meu celular vibrar de novo e o tirei da bunda, atendendo-o.
- Alô? – Me afastei do barulho do jogo e entrei no túnel do AudiField.
- É da Seleção Brasileira?
- Eu mesma! – Falei.
- Oi, eu sou jornalista da...
Não demorou muito e Tite oficializou Neto como titular do jogo de amanhã. Eu fiquei feliz. Mesmo depois daqueles problemas lá em Nova Jersey e tudo mais. Aparentemente tudo não tinha passado de um completo mal-entendido com muitos sentimentos amplificados.
Aproveitamos essa novidade e fomos fazer algumas entrevistas com ele também para o site e acompanhar os últimos minutos do último jogo. Bem calma, só vendo a bola rolar. Quando deu a hora da coletiva, acompanhei Tite e Sylvinho para a sala da imprensa com Lucas e Vinícius para mais algumas perguntas e respostas.
Era El Salvador, então não tinha grandes perguntas relevantes, era mais sobre Neymar, futuro da Seleção, desempenho para os futuros jogos, memória da Copa do Mundo, teste com os novos jogadores, minutagem que cada jogador vai jogar... A meu ver, nada muito relevante. Acabou durando pouco mais de meia hora.
Como era o último treino, ficamos até mais de nove horas no estádio. Eu já estava cansada, bocejando muitas vezes e contava os minutos para ir para o hotel, tomar um banho, jantar e ir dormir. Queria aproveitar os últimos dias com Alisson, mas trabalhar cansa, né?!

- Gente, antes de vocês descerem, gostaria de pedir para todos virem jantar hoje. – Tite falou quando o ônibus parou em frente ao hotel. – É o último jantar com todos presentes, amanhã após o jogo teremos um jantar no estádio mesmo, mas iremos embora de madrugada, pelo menos a turma do Brasil. – Suspirei. – Subam, tomem banho, mas voltem para jantar.
- Combinado! – Os jogadores falaram e descemos um a um do ônibus.
Tinha alguns torcedores na porta, a maioria passou direto, mas alguns pararam para dar autógrafos e tirar selfies. Eu e Alisson subimos para nosso quarto e dessa vez não ficamos brincando no banho, queríamos descer rápido, para subir rápido de novo e aproveitar a última noite juntos que nos restava.
Descemos para jantar e todos estavam bastante esfomeados. Até teve um lanchinho na parte da tarde, mas frutas, barras proteicas e várias coisas que não eram um belo de um hamburguer ou um prato de macarronada, mas a gente se vira conforme a banda toca.
Aproveitamos um gostoso momento junto, mas era visível o cansaço no olhar de todos. A vantagem é que o jogo seria só nove e meia da noite, então daria para aproveitar um tempo juntos ainda, apesar de que eles estavam no famoso castigo, eu e o pessoal da comunicação ainda tínhamos que trabalhar, mas esperava que pelo nível do nosso adversário, não tivéssemos tanta demanda.
Jantamos todos juntos, mas logo Tite veio com um papinho motivacional de agradecimento a todos que ajudaram nessa primeira etapa pós-copa da Seleção, que tivemos um ótimo desempenho, que mais jogos viriam e que poderíamos trabalhar mais juntos. Eu estava sensível, a cartela do meu anticoncepcional tinha acabado, eu estava na TPM e teria que me despedir do meu namorado amanhã à noite, então já comecei a chorar ali mesmo.
- Ei, não precisa chorar. – Fabinho falou e eu ri fracamente.
- Desculpe. – Falei, vendo Alisson me estender um guardanapo. – Estou sensível, só isso. – Suspirei, passando o mesmo embaixo dos olhos.
- E agradecer ao pessoal da comunicação por esse trabalho incrível, entrosamento e...
- Não começa que eu vou chorar mais ainda. – Falei para Tite e os mais próximos riram.
- Vamos finalizar por hoje, vai. Obrigado, gente! Amanhã vocês estão de castigo, saímos daqui sete e meia da noite para ir ao estádio. Boa noite. – Tite falou e a maioria se levantou, inclusive eu e Alisson.
Entramos nos elevadores aos montes e cada um parava em um andar. Quando abriu no nosso, eu e Alisson desejamos boa noite para o pessoal de dentro e que desceu com a gente e seguimos de mãos dadas para nosso quarto. Abri a porta do quarto e entrei antes dele, colocando a chave em cima da mesa entre as camas.
- Mais um dia. – Falei, me sentando na beirada de uma das camas e largando os chinelos no chão.
- Mais um dia contigo! – Alisson se colocou em minha frente e eu passei as mãos pela sua cintura.
- Você tem um jeito bonito de ver a vida, sempre feliz, sempre grato, sempre humilde. – Falei, encostando a cabeça na cintura dele.
- Porque eu sou feliz, humilde e grato. – Abri um sorriso e senti ele acariciar minha cabeça.
- Eu sou meio de mal com a vida de vez em quando, apesar de ela estar sendo muito boa comigo.
- Você não é de mal com a vida, para. – Rimos juntos.
- Faz tempo que eu não estou, mas eu nunca vejo o ponto do copo meio cheio, eu sempre o vejo meio vazio. – Afastei minha cabeça, olhando para cima.
- Para mim está ótimo desse jeito. – Sorrimos e ele se abaixou, colocando as mãos em meu rosto e colando os lábios nos meus.
O puxei pelo pescoço, deitando meu corpo na cama e ele se ajeitou em cima de mim. Uma mão ficou apoiada ao lado da minha cabeça no colchão e a outra apertou firme minha cintura. Nossos lábios se moviam com maior velocidade e o ar começava a faltar para nós dois. Em um momento, Alisson nos separou para respirar e aproveitou para puxar sua blusa para fora, jogando-a no chão.
Abri um pequeno sorriso ao ver seu tanquinho e o puxei para mais perto, me dando a oportunidade de trocar de posições e ficar por cima. Passei a mão por seu corpo, até chegar em suas entradas e o vi sorrir, contraindo a barriga com o efeito. Puxei minha camiseta pela barra e deixei-a cair junto da dele. Debrucei meu corpo sobre o dele e distribuí alguns beijos pelo seu rosto, pescoço, até descer em seu peitoral.
Ele apertava minha cintura conforme meus beijos e percebia que sua pele estava inteira arrepiada. Colei nossos lábios novamente, aprofundando o beijo, mas me afastei com a mesma intensidade. Fiquei em pé em sua frente e abri o botão e zíper da minha calça e a deslizei pelas minhas pernas, descolando-a das minhas coxas.
Quando finalizei, ele já tinha se sentado na cama e me puxou pela cintura para voltar com ele. Logo ele também tirou as peças que faltavam e ficamos empatados nesse quesito. Ele acariciou meu rosto, dando um curto beijo em meus lábios e ambos sorrimos, sabendo o que viria em seguida.

Acordei no dia seguinte sem despertador. Dessa vez havia lembrado de desativar. Chequei o relógio do celular e percebi que ainda eram oito horas. Eu sabia o que era isso, era a ansiedade batendo e ela batia forte. Girei o corpo devagar e olhei o dono das mãos ao redor da minha cintura. Alisson dormia pacificamente que realmente parecia um anjo de cabelos pretos, o que me fez suspirar. Passei o braço ao redor de seu corpo e tentei dormir mais alguns minutos.
Em mais dois dorme e levanta, eu acabei conseguindo enrolar até as 10 horas. Na última vez Alisson já estava acordado e agora era ele quem me observava dormir. Dei um sorriso ainda sonolento para ele e só queria puxar a coberta para cima de mim e ficar o resto do dia ali, ou melhor, o resto da vida ali.
- Vamos que já é dia? – Ele perguntou, jogando meus cabelos para trás e eu suspirei.
- Não! – Gemi, puxando a coberta até a cabeça. – Quero ficar aqui para sempre. – Minha voz saiu ecoada embaixo do grosso edredom, mas provavelmente deve ter ficado abafada.
- Vamos, amor. – Suspirei, abaixando a coberta.
- Por que tem que ser assim? – Gemi. – Eu não quero que você venha jogar em times brasileiros porque é fim de carreira para alguém do seu calibre, mas também não quero sair da CBF, é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – Falei ainda manhosa e ele tinha um largo sorriso no rosto.
- Ter saudades é gostoso, faz com que nosso coração se mantenha quente. – Neguei com a cabeça.
- Só você, Alisson. Só você! – Rimos juntos e peguei o celular na cabeceira, tirando-o da tomada e puxei as notificações. – Nossa, tem três mensagens da Bianca. – Abri a conversa, suspirando.
? Já acordou?”
“Precisamos pegar as informações para o jogo de hoje, preciso confirmar o horário com o cara”.
“Me avisa quando acordar”.
– Falavam as três mensagens e eu suspirei, respondendo rapidamente para ela.
“Já estou acordada, quer ir agora? Ao menos me dê uns minutos para me arrumar”. – Respondi deixando o celular de lado.
- Hora de trabalhar? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- Sim, vamos lá.
Bianca respondeu logo em seguida, me arrumei com a roupa de guerra e saímos para pegar a informações do jogo: crachá, protocolos, aquelas informações todas. Voltamos para o hotel e o almoço já estava sendo servido. Aproveitei, já tinha tomado café, então estava esfomeada, como sempre, na verdade.
Depois do almoço, a maioria dos jogadores acabou ficando lá no restaurante mesmo e eu e Alisson acabamos ficando junto. Queríamos muito ficar sozinhos, mas eu também sentia falta do resto do pessoal, precisávamos aproveitar. Nessas horinhas juntas rolou todos os tipos de jogos que você pode imaginar: truco, 21, porco – ou burro, dependendo da localização, além das variáveis em inglês -, tentaram me ensinar pôquer, tapão – o que foi muito bom ganhar em todas, mas ter a mão lindamente massacrada por outros 12 jogadores - , até rolou aqueles jogos de detetive de criança? De piscar? Pois é!
Foi tonto, mas também foi muito gostoso passar o tempo. Foi uma vitória para todos, acabou distraindo bastante a gente. Por volta das cinco horas, todos decidimos subir para começar a se arrumar, arrumar as malas e tentar tirar aquela sonequinha básica. Alisson acabou dormindo, eu até saí do quarto para dar licença, pois o celular voltou a tocar e eu precisei dedicar alguns minutos com isso, mas o tempo que sobrou, eu fiquei bem plena abraçada ao meu namorado, só ouvindo-o dormir.
Dessa vez foi eu quem deu uma geral em suas coisas, separando a roupa para ir para o jogo e deixando outra no topo da mala para ele viajar, além de juntar todas as tralhas que eu precisava devolver. Quando estávamos ambos prontos, ficamos namorando um pouco no quarto, até dar o horário para descer.
Foram só alguns beijos, fortes abraços, algumas lágrimas bobas da minha parte, mas só queríamos prolongar aqueles momentos por mais alguns segundos. Era quase adiar o inadiável. As coisas tinham que acontecer, mas antes tínhamos mais um trabalho.

Chegamos ao estádio FedEx Field e os protocolos começaram. Esse vestiário era tão grande quanto o de Nova Jersey. Acho que era comum vestiários de futebol americano serem mais espaçosos. Enquanto eu e Bianca organizávamos algumas coisas, os jogadores começaram a fazer alongamento, um jogo de bobinho no vestiário, relaxamento com o fisioterapeuta. Aquele jogo de sempre.
Na hora do treino, os jogadores saíram e Lucas, Diana e Vinícius foram juntos para fazer algumas imagens do Canarinho com a galera. Eu e Bianca aproveitamos o silêncio para ajeitar as informações da volta. Quem voltaria para o hotel, quem já pegaria avião para outros locais e quem ia embora com a gente.
Os jogadores voltaram, trocaram de roupa, vestindo a camiseta azul dessa vez e os goleiros a camisa preta que eu sou apaixonada. Os jogadores fizeram a tradicional roda, o capitão Neymar falou algumas palavras de apoio e Tite deu as dele: fazer um bom jogo, pegar leve e aproveitar as substituições para praticar. Quando ele finalizou, os jogadores titulares colocaram aquela jaqueta amarela da entrada e todos se cumprimentaram antes de seguir para o túnel.
- Eu amo essa camisa! – Cochichei para Alisson quando ele parou ao meu lado para esperar o resto dos reservas.
- Eu sei! – Ele piscou e eu ri fracamente.
- Vamos, gente! Reservas comigo. – Bianca falou e acenamos para Diana, saindo junto deles pelo túnel.
Eu e Bianca fomos umas das primeiras a entrar no banco dos reservas. Ficávamos do lado mais distante do centro do campo, para não dificultar na hora das substituições. Logo ao meu lado, estava Alisson. Eu que havia sugerido para Tite colocar o Neto, estava triste por ele não jogar, mas estava empolgada para tê-lo comigo durante 90 minutos televisionados.
Os jogadores entraram, nossa escalação de hoje era Neto, Alex Sandro, Dedé, Marquinhos, Éder Militão, Casemiro, Neymar, Coutinho, Arthur, Douglas Costa e Richarlison. Tivemos o hino, a foto, um minuto de silêncio em homenagem ao atentado de 11 de setembro que estava completando 17 anos naquele dia.
Depois que a gente se ajeitou nos bancos, o apito foi soado e o jogo começou. Começou muito bom para o nosso lado, para ser bem honesta. Em dois minutos de jogo, um salvadorenho passou uma rasteira em Richarlison no meio da área e foi dado o pênalti. Ney cobrou com a paradinha e abrimos o placar em um a zero.
O jogo se seguiu sem grandes surpresas e Richarlison fez seu primeiro com a camiseta canarinho aos 16 minutos, comemorando com a dança do pombo que a gente viu no dia do trote, me fazendo gargalhar muito. Ele era muito bom, isso ninguém poderia negar, mas eu queria ver esse pessoal novo com mais dificuldade, com um candidato à altura. O que não estava tendo muito para a Seleção.
Depois tivemos a entrada forte de um jogador de El Salvador em um brasileiro, causando um cartão amarelo e depois outras duas chances de gol do Neymar, mas uma foi rasteira para fora e outra bateu no travessão, causando um grande perigo para a Seleção salvadorenha. Douglas tentou uma terceira vez, mas bateu muito alto e caiu de brinde nas mãos do goleiro adversário.
El Salvador até tentava chegar, mas a bola era rapidamente tirada de seus pés. O jogo brasileiro acontecia de forma mais rápida e era até bonito de se ver, mas ainda repito: não era um grande desafio para gente, pelo menos não é para ser.
Nosso terceiro gol veio com uma assistência de Neymar que cortou os adversários por fora da grande área, passou para Coutinho que meteu um só no centro do gol, não dando chances nem para o salvadorenho pensar.
Nos intervalos em que nada de interessante acontecia, eu sentia um olhar forte em minha nuca e sabia o responsável por isso que me secava claramente. As vezes ele segurava minha mão escondida entre nossas pernas, outras vezes ele brincava com meus dedos, outra fazia desenhos em minha coxa. Parecia que ele não estava nem aí para o jogo, mas eu estava gostando disso. Trocávamos risinhos cúmplices e voltava a prestar atenção no jogo.
Tivemos duas substituições de El Salvador logo no primeiro tempo e o jogo se seguiu.
No fim do segundo tempo, Douglas fez um passe bonito para Neymar, fazendo esse arrancar e o goleiro sair do gol para tentar parar a bola, mas Ney driblou o mesmo, mas ao fazer o chute, bateu no adversário e mandou a bola para trás. El Salvador teve uma chance mais para o fim do primeiro tempo, mas quando eles fizeram o passe, Richarlison interceptou e mandou para frente novamente.
Durante uma falta dupla, a meu ver, Neymar e um salvadorenho caíram no chão e foi dado um amarelo para o Neymar. Eu e nem Tite concordamos, mas estava dado. Isso deu fim ao primeiro tempo.
Voltamos para o vestiário comigo empurrando Alisson, rindo dele estar hiperativo durante o jogo.
- Você precisa parar.
- Que isso, eu faço no Fabinho também, só para não ficar mal. – Ele comentou passando um braço pelo meu pescoço e eu neguei com a cabeça, rindo em seguida.
- Vamos, vai!

Com três a zero no primeiro tempo, voltamos mais relaxados no segundo, mas ainda tinha jogo para rolar. Tite substituiu Casemiro por Fred e Dedé por Felipe, que eu achava a versão mais magra e morena de Alisson. No comecinho do primeiro tempo, El Salvador teve uma chance, o atacante fez o passe quase colado em Neto, mas o jogador do outro lado estava afastado, então acabou mandando para a trave. Causou um pequeno ataque cardíaco, mas passo bem.
- Caralho! – Respirei fundo e Alisson virou para mim. – Imagina gol do El Salvador?
- O Neto não ia deixar, até parece que não foi você que sugeriu para ele jogar. – Rimos juntos e eu pisquei para ele.
Douglas tentou o ataque, mas perdeu a bola para o outro time na hora do contra-ataque. Mais para frente eles fizeram um forte chute quase do meio do campo, bonito e forte, mas foi muito mais alto que o esperado.
Nosso quarto gol veio do menino pombo de novo. Coutinho chegou bem próximo à área, mas sem espaço foi derrubado e acabou passando, Richarlison veio e deu só uma, acertando no centro do gol.
Depois do gol e quatro de vantagem, Tite fez algumas mudanças. Tirou Coutinho e colocou Everton, tirou Richarlison e colocou Paquetá, e tirou Douglas e colocou Willian. Everton já entrou com sangue nos olhos e tentou um gol em um tiro só, mas bateu na trave do lado de fora, fazendo o goleiro ter a reação para o mesmo lado.
Ficamos mais perto do quinto quando Willian veio do canto direito, tentou um chute só que foi desviado pelo goleiro, Neymar recebeu o rebote tentando de novo, mas não era para entrar e ricocheteou para fora. A bola voltou com Willian de novo, passou para Paquetá que fez o chute, mas o goleiro espalmou para a lateral.
Em um momento de ataque cardíaco, Willian fez um chute para o centro do gol, mas o goleiro pegou a bola, sentindo que estava caindo para trás e, para não entrar com bola e tudo, soltou-a novamente. Meu gol estava preso na garganta já, mas não foi. Em outra chance de Neymar, ele chutou do centro do campo, mas foi para fora. Everton teve outra chance, indo para as mãos do goleiro, depois o mesmo desviou com o pé.
Mais substituições, saiu Arthur e entrou Andreas Pereira. Felipe fez falta e acabou levando cartão amarelo, mas nada muito trágico, mas o juiz estava dando cartão mesmo! Quando achávamos que o jogo tinha acabado, veio uma cobrança de falta para o nosso lado, Marquinhos estava na grande área e deu uma cabeceada, confundindo o goleiro e cravamos um cinco a zero.
- Eita que gol bonito! – Alisson comentou e eu assenti com a cabeça.

Apesar do jogo massacrante em cima de El Salvador, eles estavam muito empolgados em poder jogar com a gente, tanto que voltando para o vestiário, vários pediram para tirar fotos e trocar blusas com os jogadores brasileiros: Neymar, Willian, Coutinho. Até o treinador deles entrou na roda, foi realmente bonito de se ver. Voltamos para o vestiário e formamos a roda e eu sabia que vinha mais choro por aí.
- Bom, gente! Hoje foi um dia muito bom, tivemos um jogo excelente, mas sinto que podemos melhorar, fazer algumas alterações, principalmente pelo nível das seleções. Vocês perceberam, os caras são seus fãs e foi bem legal ver essa interação agora no fim. – Tite falou sorrindo. – Quero agradecer a todos, foi uma ótima análise, foi bem divertido e tudo isso é para entrar nos trinques para os próximos jogos e para as próximas competições. Obrigado a todos e até a próxima. – Ele falou e todos aplaudimos. – , gostaria de acrescentar algo? – Suspirei.
- Só que eu senti que teve muitos chutes a esmo, se alguns chutes fossem melhor pensados, teria sido um banho de sangue hoje, creio que contei mais umas oito ou nove chances reais de gol que faltou atenção, no geral, foi fácil demais, não tem nem o que dizer. – Ele confirmou com a cabeça e sorrimos.
Enquanto os jogadores titulares e substituídos tomavam banho, eu, Lucas e Vinícius fomos acompanhar Tite e Sylvinho na última coletiva dessa leva para fechar tudo. Foi curta também, falaram sobre os assuntos de sempre, principalmente os polêmicos: facilidade do adversário, mistura do time, análise dos jogos e da equipe, aquela coisa toda. Toda coletiva era a mesma coisa, parecia que o disco estava riscado.
Foi rápido, durou cerca de 15 minutos, mais organização de saída e seguimos de volta para o vestiário para começar a nos despedir. Chegamos e todos estavam prontos já. Bianca já tinha dado os passes de destino para todos os jogadores e creio que todos iriam embora nessa madrugada mesmo, poucas teriam que esperar amanhecer e o resto tinha seus próprios meios como jatinhos e tudo mais.
- Ei! – Alisson apareceu ao meu lado e eu sorri.
- Ei! – Ele estendeu a blusa e eu arregalei os olhos. – A blusa preta! – Falei esticando a mesma abismada.
- Fica para você, pensa em mim. – Sorri.
- Como se fosse difícil. – Aproximei-a do nariz, cheirando-a.
- Eu nem soei, é para estar cheirosa. – Ri fracamente, abraçando-o em seguida.
- Estou só sentindo seu cheiro mesmo. – Ele me apertou pelos ombros. – Seu voo é só as seis, não é?
- Sim, meu, Firmino, Fabinho, Richarlison, Fred, Andreas, acho que é isso. – Assenti com a cabeça.
- Vão ficar aqui, vão para o aeroporto, vão voltar para o hotel? – Perguntei.
- Vamos ficar aqui, já passa de a uma hora, umas três já vamos para lá. E você?
- Temos que ir já, nosso voo é as duas e meia, acho. De certa forma, já estamos atrasados. – Ele riu fracamente e me abraçou fortemente de novo.
- Eu te amo, ok?! Não se esquece nunca disso. – Assenti com a cabeça, nos separando e segurei seu rosto com a mão livre.
- Eu também, demais. – Sorri, sentindo seus lábios nos meus novamente. – Estarei aqui daqui um mês e confio que você também.
- Esse é o espírito. – Ele falou e eu ri fracamente, apertando meus braços em volta de seu corpo novamente, suspirando, sentindo meia dúzia de lágrimas escapar de minha bochecha.
- Um mês, senhor Becker. Só um mês. – Puxei o ar, passando as mãos no rosto.
- Esperarei ansiosamente. – Ele disse e nos afastamos.
- Vamos, ? – Bianca perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Deixa eu só falar com o resto do pessoal.
Me afastei de Alisson, dando espaço para que outros jogadores e equipe técnica chegassem nele e abracei todos um por um, sentindo alguns apertos mais fortes de alguns, outros mais contidos, mas o clima era diferente. Fisicamente todos estávamos bem, não havia tido nenhuma eliminação, então o clima estava mais calmo, eu só estava chateada de ficar mais umas semanas longe do meu namorado.
Finalizei os cumprimentos, guardando a blusa de Alisson dentro da minha bolsa de mão e me juntei ao pessoal da equipe técnica e de comunicação e estávamos prontos para a última etapa da nossa viagem.
- Eu te amo! – Falei mais uma vez para Alisson e o senti me puxar pela cintura mais uma vez e colar nossos lábios por mais alguns segundos, me fazendo sorrir.
- Eu também, senhora . Com todo meu coração. – Sorri e acenei mais uma vez antes de criar vergonha na cara e desviar o olhar, seguindo minha equipe com a cabeça baixa.
Senti meus lábios tremerem um pouco, me fazendo puxar a respiração fortemente, mas senti um leve aperto em minha mão. Virei o rosto e vi Lucas ao meu lado com um sorriso no rosto. Ri fracamente, lembrando que ele também estava ao meu lado na Copa e assenti com a cabeça em agradecimento, seguindo para a van que nos esperava no estacionamento.


Capítulo 4 – Minha Segunda, Terceira ou Quarta Casa

Enquanto eu sobrevoava a cidade do Rio de Janeiro para voltar para casa, eu tentava pensar nos pontos positivos dessa minha vida com Alisson. Vivíamos em um relacionamento sério – que eu garanti nessa viagem -, há mais de nove mil quilômetros de distância, ambos tínhamos nossos trabalhos atolados de coisas para fazer e pouco tempo para realmente namorar.
Talvez eu esteja vendo isso do lado errado da moeda. Eu queria muito ficar com Alisson, mas eu também valorizava meu trabalho. Lembro o quanto eu desejei e fiquei nervosa conforme fui passando as fases do processo seletivo da CBF e fiquei abismada quando realmente consegui, e ainda trato cada novidade no meu trabalho como uma nova conquista, cada cidade ou país que eu visito, cada competição que eu acompanho. É gratificante poder fazer parte disso.
Então, na atual circunstância de nossas vidas e nosso recente relacionamento, era bom manter essa distância. Tinha na minha mente que o começo do relacionamento era quando todos os hormônios estavam à flor da pele, então vejo isso como algo bom, sempre terei esse nervosismo de reencontro dentro de mim, pois sempre estaremos distantes.
Claro que isso é algo recente, não posso dizer como será nosso relacionamento daqui dois meses, imagina pensar no futuro. Não sei o que o destino guarda para mim e para Alisson, além de todo rolo de deixar ou não a gente namorar durante os amistosos, só sei afirmar que a vida acontece e precisamos deixá-la acontecer para nosso bem ou nosso mal, e não podemos fazer nada com isso. Só podíamos realmente confiar um no outro e nos amar. Claro que eu contava que a sorte também nos ajudasse um pouco.
Tentei ignorar o que aconteceu após o jogo contra os Estados Unidos, mas não estava muito certa sobre isso ainda. Eu tinha exposto minha opinião e eles conversaram entre si, aparentemente, pelo menos. Me pareceu algo rápido, talvez já analisado previamente, mas não sei o que seria da minha vida com isso. A única certeza que eu tinha era que tiraria uma semana de folga e voltaria para a CBF no dia 19 de setembro, direto para outra convocação da masculina.
Não entendi o cronograma da CBF quanto a isso, sentia que era meio a esmo, mas descobriria quando voltar, agora eu realmente gostaria de usar essa semana de folga para descansar. Adorava essas viagens, mas sentia que ficava um caco quando elas acabavam. Além do cansaço mental, que era igualmente esgotador, principalmente quando eu pensava que estava com Alisson há 15 horas. Tornava tudo pior.
Assim que pousamos no aeroporto do Galeão, seguimos em comboio para a van que nos esperava. Como fui a última a ser pega na ida, fui a primeira a ser deixada. Dei um abraço rápido nos mais próximos na van e acenei para outros, seguindo para meu apartamento.
Bernardo me recebeu sonolento, mas trocamos um forte abraço e mandei ele voltar a dormir novamente. Eu queria fazer o mesmo. Larguei minhas coisas no quarto e peguei o celular, escrevendo rapidamente para Alisson que tinha chegado. Sabia que o tempo de voo para Londres era bem menor, mas não sabia se ele tinha chegado ainda, eles saíram algumas horas depois de nós.
Fui tomar um banho rápido e logo fui pelo mesmo caminho de Bernardo, para cama. Eu tinha dormido quase o voo inteiro, mas era sete horas da manhã, eu não faria nada de útil agora, era certeza, e preferia ficar enrolada tentando colocar o jet lag em dia do que olhando para o dia de amanhã.
Consegui dormir por umas horas e me levantei quase no horário do almoço. Bernardo ainda estava lá, fazendo nosso almoço. Nos cumprimentamos mais propriamente e ficamos uns 10 minutos nos abraçando e matando as saudades.
- Agora, vai! Me conte tudo! – Ele disse enquanto eu comecei a pegar os temperos para o feijão. – Na viagem, com o Alisson, não me esconda nada!
- Ah, foi ótimo, Bê! – Suspirei, feliz. – Foi melhor que a encomenda. Ele realmente está comprometido comigo, me trata igual uma princesa e me valoriza muito bem, sabe?! – Ele sorriu. – Foi muito bom, acho que perdi meu medo surtado com aquele “e se”.
- Que bom, minha amiga. Não gosto de te ver aflita daquele jeito. – Assenti com a cabeça. – Você vai ver, só o tempo para dizer como tudo será! – Assenti com a cabeça.
- Sim, eu sei, mas sou surtada, quero tudo para agora. – Suspirei.
- Não apresse as coisas. – Ri fracamente. – O que mais? Como foi a terra mais famosa do mundo?
- Foi muito bom, conseguimos fazer turismo por Nova York e Washington. A cidade de Washington é sensacional, eu supermoraria lá. Nova York é a cidade mais famosa do mundo, então não tem nem o que comentar. – Rimos juntos.
- E a equipe? Os jogadores? – Ri fraco.
- O mesmo de sempre. Teve uma treta com a equipe técnica sobre mim e o Alisson em um momento, mas prefiro não comentar isso agora. – Abanei a mão, começando a descascar cebola.
- Ei, ei, o que houve? – Ele parou de mexer o arroz e eu soltei um longo suspiro.
- Em todo momento eles ficaram falando “separa, casal”, “sejam mais discretos”, não deixavam a gente se beijar na frente da equipe ou jogadores, uma hora o Neymar estourou, falou para pararem, eu acabei falando muitas coisas, chorando, depois eles vieram falar comigo para dizer que deveriam ter falado com a gente antes de decidir isso, mas que tudo se ajeitaria. – Abanei a mão. – Enfim, só vou saber quando voltar na quarta-feira para o trabalho e na próxima convocação da equipe. Isso se não me demitirem antes.
- Ah, , para com isso. – Ele sacudiu a colher de pau como se fizesse um sinal da cruz e respigou água de arroz em nós dois. – Não vai acontecer nada disso, você sabe. Tu não disseste que sua chefe apoiou vocês, deu aqueles toques, mas disse que deixaria vocês analisarem a situação? – Ponderei com a cabeça. - Então! – Ele falou firme e eu respirei fundo.
- Vai transbordar. – Falei da água fervendo e ele abaixou a boca do fogão, voltando a me encarar. – Eu sei! Mas eu não quero precisar escolher nenhum dos dois, se algum dia eu precisar. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu entendo seu lado, de verdade, acho que se você se sente mal com isso, deveria falar com eles, sua chefe, a equipe técnica, colocar as cartas na mesa.
- Não acho que estou nessa posição de dar ultimatos. – Suspirei.
- Não é um ultimato, é só demonstrar sua opinião sobre o assunto e sugerir uma solução para o dito problema. – Ele deu de ombros. – Apesar que acho desnecessário, visto que você disse que estão só namorando nos tempos de folga e bem longe da imprensa. – Suspirei.
- É, vamos ver. Vou falar com Alisson sobre isso mais tarde, mas realmente me incomodou. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu entendo, amiga, de verdade. – Ele suspirou. – Vai dar tudo certo, confio. – Assenti com a cabeça, sentindo-o dar um beijo em minha testa.
- Agora vamos decidir a carne, estou com fome. – Ele passou por mim e eu ri, voltando a cortar a cebola.
- Pega uma carne moída bem molhadinha, estou com saudades de comida caseira. – Ele riu, tirando a carne congelada da geladeira.
- Sorte que eu fiz compras no fim de semana, hein?! – Ele brincou e eu sorri.
- Depois me passa o valor para eu te transferir.
- Coloquei na conta do apê já, decidimos no começo do mês que vem. – Revirei os olhos, mas sorri, tínhamos uma sincronia incrível. – Batata frita para acompanhar? – Ele puxou um pacote gigante de batata congelada no freezer e eu gargalhei.
- Não vou negar, mas quero frita no óleo, nada de air fryer! – Rimos juntos.
- Só você para me fazer zonear a cozinha no meio da semana. – Dei de ombros.
- Faz parte! – Sorri e voltamos a trabalhar.

Eu e Bernardo ficamos zoando até quase duas horas, quando ele precisava sair para o trabalho e eu me encarreguei de cuidar da louça e guardar o resto do almoço que ficaria para o dia seguinte. Estaria em casa essa semana, então seria uma semaninha comendo comida caseira.
Quando terminei isso, Alisson avisou que estava em casa, franzi a testa, me perguntando aonde ele estava, mas falei para ele logar que eu estava ligando o computador. Me sentei na cadeira do computador e apoiei o rosto nas mãos esperando que a tela carregasse.
- Ei! Aqui estamos! – Ele falou sorrindo. – Em um horário propício para mim.
- Você só chegou agora? – Perguntei, franzindo a testa. – O voo atrasou tudo isso? – Frisei
- Não, saiu na hora, mas são sete horas de voo, mais cinco fusos, até chegar em Liverpool... – Ele fez uma careta e eu ri. – Parece uma eternidade. – Ri fracamente.
- Eu já fiz muitas coisas nesse meio tempo. – Falei e ele riu.
- O que tanto você fez? – Ele perguntou com aquela cara de tonto e eu ri fracamente.
- Tomei banho, dormi, fiz almoço com Bernardo, conversamos e agora ele foi trabalhar. Estamos só eu e você aqui. – Sorrimos.
- Eu preciso fazer tudo isso ainda, mas aproveitei sua folga para gente se falar mais cedo, amanhã o treino começa seis da manhã, tem jogo no sábado, preciso voltar para o time. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, você vai ver.
- E, então, quais as novidades nessas últimas horas? – Ele perguntou e eu suspirei.
- No geral, nada, mas conversei com Bê sobre a gente e ele deu uma sugestão que eu queria conversar contigo. – Falei e ele manteve o olhar fixo ao meu.
- Sobre aquele problema lá? – Assenti com a cabeça.
- Ele mesmo. – Suspirei.
- O que ele disse?
- Ele acha que precisamos deixar claro nosso ponto de vista! – Cocei a cabeça. – Não em forma de ultimato, nada disso, só expor nossos interesses e falar o que vai acontecer quando a gente nos encontrar. – Dei de ombros. – Aí vai deles me chamar para os próximos jogos ou me deixar de fora.
- Não é uma má ideia, mas acho que talvez seja desnecessário, baseado na conversa que tivemos lá em Nova Jersey. – Suspirei.
- Eu sei, mas não quero ter que escolher nenhum dos dois, e é inevitável não ficarmos juntos quando nos encontrarmos. Seria ridículo pedir isso. - Dei de ombros.
- Você sabe que concordo totalmente contigo, mas espera. Você está de folga até quando? – Ele perguntou.
- Semana que vem, já para outra convocação. – Ele franziu a testa. – Não me pergunte, não estou entendendo mais nada desse cronograma. Acabamos de voltar, já tem convocação, mas nos encontraremos só em outubro. – Neguei com a cabeça. – Enfim...
- Analise a situação quando você voltar, a gente conversa de novo sobre isso, pode ser? – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Pode sim, você é mais cabeça do que eu, eu já uso mais a emoção em muitos momentos. – Suspirei, negando com a cabeça.
- É por isso que damos tão certo. – Sorri, assentindo a cabeça.
- Você deveria ir fazer suas coisas, conseguiu dormir no voo, pelo menos?
- Difícil dormir em voo de dia, fiquei só com uma incrível dor de cabeça por ficar vendo filme durante o voo inteiro. – Neguei com a cabeça.
- Parece eu! – Ele sorriu. – Vai lá, eu vou falar com Vinícius daqui a pouco, saber se ele vai para zumba, quem sabe eu não crio coragem também?
- Nem falamos sobre isso lá nos Estados Unidos. – Ri fracamente.
- Ei, eu não quero ficar falando dos meus dotes de esportista, com vocês é só futebol. – Ele negou com a cabeça.
- Deveria ter dançado com o Vini no trote. – Gargalhei.
- Não seria uma má ideia. – Sorri.
- A gente se fala depois? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Amanhã! Essa semana eu estarei mais de boa, me manda mensagem quando puder falar, que eu te ligo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Pode deixar. – Ele sorriu. – Meus pais vêm nessa semana ou na outra, vão trazer a Helena. – Sorri.
- Saudades dela! – Suspirei.
- Eu mantenho vocês em contato, quero que ela não te estranhe quando for pessoalmente. – Ri fracamente.
- Difícil, Alisson, ela tem pouco mais de um ano. Nem meus priminhos se lembram de mim. – Ele riu fracamente.
- Dê tempo ao tempo, dona . Respira fundo. – Assenti com a cabeça, relaxando os ombros e o vi bocejar.
- Melhor você ir, vai descansar, depois conversamos. – Ele confirmou.
- Eu te amo, ok?!
- Eu sei! Eu sempre sei. – Sorri, beijando a mão e acenando para ele. – Eu também te amo.
- Boa noite, dorme com Deus. – Ele disse sorrindo.
- Você também. – Disse e logo sua tela ficou preta, dando a ligação como finalizada.
Peguei o celular do lado da escrivaninha e abri a conversa com Vinícius, não nos comunicávamos por lá desde antes de irmos para os Estados Unidos. Respirei fundo, pensando se realmente perguntaria se ele fosse, caso ele respondesse que sim, eu seria obrigada a ir, mas não sabia se estaria com pique daqui duas horas e meia. Mas também não adiantaria nada eu ficar em casa, sendo que quando eu estava atolada, usava essa desculpa para não ir.
“Com coragem para ir na zumba?” – Escrevi e enviei, esperando que ele estivesse acordado.
“Estou dentro, vamos?” – Suspirei, rindo fracamente.
“A gente se encontra lá”. – Escrevi e bloqueei o celular novamente, respirando fundo.

Aproveitei para voltar às minhas atividades físicas nessa semana, zumba com Vini, tênis com Lucas e boxe, mas sem Leandro. Eu e o pessoal dos EUA estávamos de folga, mas a vida na CBF corria normalmente, pior que eu nem pude dar aquela sondada para saber se eu tinha sido assunto lá no escritório, ficaria só para quando eu voltar.
Apesar de não estar presente pessoalmente, eu ainda recebia os informativos da CBF, relatórios semanais de tudo o que tinha acontecido e, nessa semana de folga, eu perdi algumas coisas até legais, tenho que admitir. Uma dessa foi a semifinal da Copa do Brasil, entre Palmeiras e Santos, quem levou a melhor foi o Santos, me deixando bem chateada, confesso, mas bola para frente, literalmente.
No mesmo dia, Zico recebeu uma licença honorária de treinador da CBF Academy lá na Granja Comary. Assim, era só mais uma daquelas cerimônias chatas e tudo mais, mas era o Zico! Não era sempre que tinha a chance de conhecer uma dessas lendas, mas não foi dessa vez de novo.
E por último, eu perdi o jogo do Brasileirão do Grêmio contra o Paraná. Não que eu fosse “uau, torcedora do Grêmio”, mas seria uma oportunidade de eu rever o Geromel, que não via desde após a Copa e me enturmaria mais com Everton, que eu sentia que ganharia mais espaço na Seleção logo mais. Além de que eu viajaria para o sul, acompanharia um pouco do nosso futebol nacional, mas também não foi dessa vez.
No dia 19, eu acordei na defensiva, estava receosa sobre o que aconteceria hoje e, dessa vez não era sobre a convocação, era sobre aquele pequeno problema deixado nos Estados Unidos que me atormentou durante essa semana inteira. Durante esses dias, encontrei Lucas e Vinícius nas nossas aulas junto, e acabei perguntando a eles o que eles achavam disso, ambos pensavam da mesma forma que Alisson: tudo tinha sido resolvido nos Estados Unidos, dificilmente me chamariam para conversar.
Era esse “dificilmente” que me irritava um pouco, afinal, quantas definições temporais uma palavra pode ter? Muitas, na minha cabeça, e isso me deixou alerta quarta-feira cedo. Me levantei, mandei uma mensagem para Alisson, que ainda deveria estar dormindo depois do jogaço de ontem e me arrumei para ir trabalhar. Enquanto estava no Uber – tornei isso frequente depois que o salário novo realmente caiu na minha conta – fiquei um tanto apática, pensando no que poderia acontecer quando eu chegasse lá.
Desci na porta da CBF e dei o maior suspiro da minha vida, era agora. Segui meu caminho tradicional e sentia que eu estava indo para o abate. Acenei com a cabeça para os porteiros e seguranças de todo dia e entrei com o pessoal no elevador. Cumprimentei algumas pessoas menos íntimas da comunicação e saímos todos juntos quando o elevador saiu no nosso andar.
Olhei rapidamente em volta quando coloquei os pés dentro da nossa sala e as coisas pareciam completamente normais, até assustadoramente normais, se quer saber. Andei até a sala do pessoal de viagens e encontrei boa parte da equipe já ali.
- Ei, olha quem está de volta! – Anna brincou e eu sorri.
- Estava enjoando ficar em casa já! – Ri fracamente, colocando minha bolsa na minha cadeira amarela. O amarelo me seguia de vez em quando.
- , voltou! – Ergui o rosto, vendo Angelica entrando na sala com diversos papéis. – Descansou bem?
- O suficiente! – Sorri, nervosa.
- Que bom, vamos conversar, então. – Gelei, arregalando os olhos enquanto ela vinha em minha direção. – Estamos com muitos serviços, como você tem mais ligação com o Leandro, quero que você dê uma ajuda na área de seleção de falas e takes para os vídeos da CBF TV. Ele está cobrindo o brasileirão e está aquela loucura. – Suspirei, dando um pequeno sorriso.
- Claro! Vou falar com ele e pedir os vídeos para análise.
- Obrigada, e manda depois para a equipe de juízes, precisamos encher aquele negócio, então uma análise real de acertos e erros seria muito bom.
- Vou entrar em contato com o Beltrão para ver se eles gravam uns offs para os vídeos. – Ela assentiu com a cabeça.
- E tente fazer isso pela manhã, à tarde tem a convocação e Tite falou que te quer lá. – Franzi a testa.
- Eu? – Ela parou de andar e olhou para mim.
- Sim, o Tite te quer presente lá. – Ela falou e deu uma piscadela antes de desviar o olhar novamente. – Além de que Bianca vai ter que ajudar com a sub-20, vamos ter que dividir vocês duas dessa vez, além de que Débora está ajudando Leandro no Brasileirão. – Ela abanou a cabeça. – As férias confundiram todo mundo, está uma bagunça.
- Nossa! Quanto tempo eu fiquei fora? – Franzi a testa.
- Longos 20 dias, parece pouco, mas não é! – Ela riu fracamente. – Veja o que consegue fazer agora de manhã, almoce antes se for preciso, duas horas te quero na coletiva. – Assenti com a cabeça, ligando o computador e pegando o celular. – Vinícius. – Ela chamou meu amigo que havia acabado de chegar e só demos rápidos acenos e ele foi pegar suas informações.
E foi isso. Uma piscadela, de certa forma, definiu meu futuro.
Eu poderia analisar isso de diversas formas possíveis, mas a mais plausível era: Angelica sabia, Michele provavelmente também, e tudo estava ajeitado, mas por que eu ainda sentia que tinha uma bateria no lugar do meu coração? Precisaria esperar a coletiva para receber informações de alçadas maiores que a de nós três.

Fui almoçar no horário do meio para ver se adiantava um pouco a informação. Queria ver se encontrava Tite, Edu, Sylvinho ou Cléber antes de ter que encarar a coletiva. Normalmente eu fazia as coisas com Bianca, mas hoje eu estava sozinha e não fazia a menor ideia de como me sairia nessa, mas respirei fundo e pensei que seria como nas outras coletivas fora, calmo e controlado.
Com exceção que eu encararia Tite pela primeira vez depois dessa semana longe. Não que tivessem sido muitos dias e muitos problemas, mas eu ficava nervosa por qualquer besteira e começava a espiralar ao pensar nisso. Era atordoante.
Voltei do almoço, escovei os dentes, larguei minhas coisas na minha mesa, peguei as informações da coletiva no cofre e, aproveitei a deixa sozinha, e espiei os nomes dentro da pasta:
Goleiros: Alisson, Liverpool...
Dei um pequeno sorriso, fechando a pasta rapidamente e saí da sala, seguindo em direção ao corredor. Puxei o celular rapidamente do bolso e encontrei uma mensagem de Alisson, passando os olhos rapidamente pela mesma.
“Estou em casa, fui no mercado comprar algumas coisas. Como está tudo aí?” – Dizia sua mensagem e eu apertei o botão de áudio para responder, já que as mãos estavam ocupadas.
- Tudo certo, descendo para coletiva agora, nos falamos à noite? Além disso, como assim não vi você e o Buffon jogando juntos ontem? Punições passam de temporada também e eu não sabia? – Soltei o botão no mesmo momento em que o elevador abriu lá embaixo e suspirei.
Ontem havia sido o primeiro jogo da fase de grupos da Champions League e o Liverpool tinha jogado contra o PSG. Eu estava muito empolgada com esse jogo para poder ver meus dois ídolos jogando juntos, contra, mas juntos. Alisson já tinha jogado contra a Juventus outras vezes durante a Roma e tudo mais, mas nas vezes que jogou, ou Wojciech Szczęsny era o goleiro titular da Roma ou da Juventus, não me lembro de terem jogado juntos. Essa era minha oportunidade, mas Buffon ainda estava cumprindo suspensão pelo último jogo da Champions ano passado, quando foi expulso do campo antes do lance decisivo da partida.
Teria que esperar até o jogo de novembro agora, em compensação, eles ganharam de três a dois, o que foi um belo placar e um belo jogo que eu pude assistir tranquilamente. Eles haviam começado bem, só precisava se manter assim agora.
Coloquei a mão na maçaneta, soltando o ar fortemente algumas vezes antes de empurrar a mesma, encontrando duas pessoas andando de um lado para o outro na sala. Com o som que a porta fez, ambos olharam para minha direção e... Abriram largos sorrisos.
- , que bom que chegou! – Tite falou, abrindo os braços para mim e eu empurrei a porta, abraçando-o rapidamente.
- Oi, gente! – Sorri.
- Bianca não pode estar com a gente hoje, mas fico feliz que possa. – Sorri.
- Voltei de folga hoje e já estamos aqui de novo. – Eles assentiram com a cabeça.
- É muito bom. – Tite sorriu.
- Mesmo? – Frisei. Quem sabe entenderiam aonde eu gostaria de chegar.
- Mesmo, . – Tite falou sério. – Vocês fizeram tudo certo, interpretaram protocolos, cumpriram os direitos e deveres, não precisávamos ter agido daquela forma. – Suspirei, sentindo que o papo havia chegado, mas da melhor forma possível. – Queremos você conosco. – Ele disse. – Vocês. – Abri um sorriso.
- Vocês estavam certos em todo o momento, nós que surtamos. – Edu foi honesto e eu assenti com a cabeça, abraçando-o também.
- Eu fico muito feliz e levemente emocionada. – Rimos juntos. – Eu prometo a vocês que faremos tudo para dar certo, ok?! – Suspirei. – Os compromissos, nossos relacionamentos, nossa vida pública e profissional. – Tite piscou.
- Eu sei, eu confio em você! – Ele disse e eu suspirei relaxada.
- Bom, já que estamos acertados, quais serão os pontos de conflito hoje? – Perguntei, apontando para as cadeiras na sala e nos sentamos quase formando um triângulo.

Ficamos alguns minutos lá dentro e logo Murilo veio perguntar se estávamos prontos. Nós três confirmamos com a cabeça e ele disse que ia apresentá-los. Abri uma fresta da porta, observando as pessoas sentadas na sala de coletivas e esperei o anúncio de Murilo. Era engraçado essas coisas, Murilo anunciaria o anúncio de Tite, haja pleonasmo.
- Vamos seguir o protocolo de sempre, vamos receber Edu Gaspar e Tite. – Ele falou e eu acenei com a cabeça para ambos e eles saíram da antessala, subindo no pequeno palco.
Saí atrás deles, mas subi os degraus da sala e me coloquei ao lado de Lucas no fundo, acenando com a cabeça para Tite e Edu lá do fundo, vendo ambos respirarem fundo.
- Seguimos para o anúncio da convocação e depois para a coletiva, por favor, Edu. – Murilo falou, olhando para ambos.
- Bom dia a todos! – Edu começou. – Apenas uma pequena lembrança que nós comentamos na coletiva passada, sobre a questão de curto, médio e longo prazo, hoje a gente se encontra em um período de curto prazo, e a característica da convocação seguirá a mesma com o objetivo de ampliar nossas observações e dar oportunidade aos atletas que o professor gostaria de ver mais próximo. – Respirei fundo, apoiando os braços no balcão. – Também vamos seguir com a mesma estratégia do goleiro, levaremos um terceiro goleiro da sub-20, com esse processo importante para nós de integração, de aproximar, preparar, ainda mais os jogadores que estão vindo junto à sub-20. – Ele olhou para seu papel. – Outro ponto importante são os quatro clubes que estarão envolvidos na semifinal, consequentemente na final da Copa do Brasil, não serão convocados. – Bocejei, esperando o assunto mais importante. – Por questão de logística, juntaremos todos os atletas na Inglaterra, nos períodos de oito, nove e 10 em Londres, no CT do Tottenham, depois iremos à Riade para fazer o treino oficial e o jogo, depois seguiremos nossa programação normal...
Ele seguiu falando sobre mudança de horários de jogo, falando que a convocação da sub-20 aconteceria logo depois da nossa e olhei para trás, procurando por Bianca. Ela iria para a sub-20 dessa vez e precisava estar aqui para acompanhar Amadeu, técnico da sub-20.
- Com isso, terminei minha parte, agora passo a palavra ao Tite que vai fazer o anúncio dos 23 atletas selecionados. – Edu falou e ajeitei meu corpo, abrindo a pasta e apoiando-a no balcão.
- Boa tarde a todos. – Tite falou. – Alisson, Liverpool; Ederson, Manchester City; Phelipe, Grêmio Futebol Portoalegrense. Defensores: Alex Sandro, Juventus; Danilo, City; Éder, Porto; Fabinho, Liverpool; Marquinhos, PSG; Marcelo, Real Madrid; Miranda, Inter de Milão; Pablo, Bordeaux. Meio-campistas: Arthur do Barcelona; Casemiro, Real Madrid; Fred, Manchester United; Philippe Coutinho, Barcelona; Renato Augusto, Beijing; Walace, Hannover. Atacantes: Everton, Grêmio; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, City; Malcom, Barcelona; Neymar, PSG; Richarlison, Everton. – Ele falou e encarou um tanto sério a imprensa.
- Quanta gente estranha. – Lucas cochichou, bisbilhotando minha lista.
- Nem fala. – Suspirei, fazendo um asterisco nos nomes que eu não conhecia, ou que conhecia pouco. – Pelo menos temos alguns rostos conhecidos de volta: Ederson, Danilo, Marcelo... – Sorri. – Eu gosto deles.
- Ok, gente, essa é a lista para os próximos dois jogos. Aquele tempo para que vocês recebam a lista, passá-las. Lembrando que a coletiva de hoje terá 40 minutos. Favor, deixem os celulares desligados e identifiquem-se com nome e veículo, por favor. – Murilo disse. – Já, já a gente começa a coletiva.
A coletiva se seguiu normalmente, alguns assuntos mais interessantes que outros foram abordados e o esquema se seguiu normalmente. Só tremi um pouco quando citaram a cusparada de Douglas Costa em um jogo da Juventus – bad move, Doug -, mas Tite foi honesto e falou que ele não havia sido convocado pela lesão que sofreu e pelo incidente. Fechei os olhos e quis bater a cabeça no balcão. Isso dava precedente para outras convocações e eu sabia que isso daria merda mais para frente.
No geral, deu tudo certo. Pelo menos eu acho. Assim que a coletiva terminou, Bianca chegou afobada para acompanhar a próxima. Ela disse que o voo tinha atrasado e que eles literalmente acabaram de chegar. Nos abraçamos animadas e trocamos a tocha, ela encararia a próxima e eu subiria para resolver as coisas da principal masculina.
Eu e Lucas subimos e voltamos para nossa salinha particular, Vinícius ficou para gravar a coletiva. Entramos na sala, encontrando o pessoal já reunido lá, incluído Leandro que havia chegado com Bianca. Nos cumprimentamos rapidamente e sorrimos, nos ajeitando em nossos lugares.
- Bianca já está lá? – Angelica perguntou e eu confirmei.
- Já sim, chegou em cima! – Falei, suspirando.
- Será que o pessoal vai ficar para essa também? – Dei de ombros.
- Parecia que sim, ninguém se mexeu quando deu por finalizado, só a gente mesmo. – Lucas disse e Angelica assentiu com a cabeça.
- Está um pouco distante ainda, mas quero vocês dois, Vinícius e... – Ela suspirou. – Posso te enviar, Leandro? Talvez precisemos de muitas imagens do Canarinho, melhor alguém daqui do que correr para achar alguém lá.
- Claro! Vai ser ótimo! – Leandro sorriu e tocamos nossas mãos rapidamente.
- Você aguenta as coisas sozinha por lá, ? – Angelica perguntou. – Não posso dispor de mais um assessor dessa vez.
- Creio que não vai ser problema, Angelica. Eu acho e espero. – Dei de ombros.
- É o jeito, com o Brasileirão fica uma loucura. – Ela bufou, se apoiando em sua cadeira. – Vão vocês quatro, então. Depois quero conversar contigo sobre possíveis problemas que podem acontecer como mulheres e futebol na Arábia Saudita. – Ela revirou os olhos.
- Eu vou poder assistir aos jogos, certo? – Falei rapidamente. – É Argentina. – Falei quase em um gemido, fazendo Vinícius rir ao meu lado.
- Sim, vai, mas talvez possa acontecer algum problema com o machismo naquele país, vamos conversar ainda sobre isso. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem, só espero não brigar com sheiks por isso. – Ela riu fracamente.
- Vai dar tudo certo. – Ela piscou. – Agora vai lá embaixo salvar a Bianca, ela estava dormindo em pé, coitada.
Ri fracamente e me levantei novamente, seguindo de volta para a sala de coletiva para ver se pegava pelo menos os nomes dos convocados. Eu só conhecia Hugo, que havia ido conosco nos últimos amistosos e Vinícius Jr que tinha sido vendido para o Real Madrid, os outros? Meros nomes vagos para mim.

Cheguei em casa aliviada naquele dia e fiquei feliz por estar sozinha. Tinha corrido tudo muito bem, nossos problemas estavam oficialmente resolvidos e agora era esquecer convocação, Alisson e Tite e focar nos pepinos que teríamos até lá. Afinal, faltava uns 20 dias para nos reencontrarmos novamente e muitos compromissos da CBF.
Depois de tomar um banho refrescante e fazer um miojo aumentado, colocando pedaços de bacon e requeijão no mesmo, eu me sentei em frente ao computador e cacei meu namorado online, vi o verde ao lado de seu nome e coloquei para chamar.
- Oi, meu anjo! – Alisson falou assim que apareceu na tela e eu ri fracamente.
- Um homem do seu tamanho não combina com essas palavras fofinhas! – Falei rindo e ele me imitou.
- Posso parar, se quiser. – Neguei com a cabeça.
- Até parece que eu quero. – Suspirei e ele riu fracamente.
- Então, como foi hoje? – Ele perguntou.
- Parabéns, primeiramente, senhor convocado. – Ele riu.
- Obrigado, muito obrigado. – Ele fez uma careta.
- E foi muito bem. Tite acabou tocando no elefante branco no meio da sala, acho que agora tudo se ajeitou. – Suspirei.
- Sério? Nunca imaginei que ele tocaria no assunto.
- Vamos dizer que eu acabei demonstrando certa surpresa quando me pediram especificamente. – Ele riu fracamente e eu ponderei com a cabeça. – Acabou sendo um trabalho duplo.
- Mas está tudo certo agora? – Ele perguntou.
- Sim, estarei contigo nos próximos jogos. – Ele sorriu. – E você? Como está?
- Descansando de ontem, estamos de folga hoje. – Confirmei com a cabeça. – Bem, tentando... – Franzi a testa.
- Por quê? – Perguntei e ele sumiu do computador, como se puxasse alguma coisa do sofá.
- Olha quem está aqui! – Helena apareceu na tela do computador e eu sorri ao ver os cabelos loiros da mesma.
- Ah, oi, Helena! – Sorri, suspirando.
- Olha, Heleninha! – Ele falou com uma voz mais infantil e surpreendente. – É a . Lembra dela? – Ri fracamente.
- Ela não vai se lembrar, Alisson. – Sorri.
- Diz “oi”. – Ele me ignorou totalmente e Helena parecia surpresa com seu reflexo no computador, me fazendo sorrir.
- Está feliz? – Perguntei e ele sorriu.
- Faltava só você aqui. – Ri fracamente.
- Está tudo bem. – Assenti com a cabeça. – Comece a contagem regressiva de novo.
- Quantos dias? – Ele perguntou.
- 20 longos dias. – Suspirei. – 19, levando em conta que o seu já acabou. – Ele riu fracamente, passando as mãos nos cabelos lisos de Helena.
- Amanhã o trabalho volta normalmente, tem jogo contra o Southampton no sábado, creio que não será um grande problema. – Sorri.
- Espero que não. Hoje o dia foi atípico, convocação da principal masculina, da sub-20 masculina, ainda Bianca literalmente dormiu em cima da mesa hoje. – Revirei os olhos. – Foi só piada.
- Pelo menos tudo está mais aliviado.
- Graças a Deus! – Falei rindo. – Tudo vai se ajeitando, você vai ver. – Ele riu fracamente.
- A pessoa que passa o carro na frente dos bois aqui é você! – Ri fracamente, escondendo meu rosto com as mãos e puxei meu prato com meu macarrão que já estava mais frio.
- Eu sei, eu sei, mas entramos no eixo agora, Alisson, relaxa! – Abanei a mão, ouvindo-o gargalhar. – Servido? – Abaixei um pouco a tela do notebook para ele ver meu prato e ele riu fracamente.
- Estou bem, obrigado! – Rimos juntos e voltei a tela para mim. – Eu deveria ir deitar, preciso trocar essa pestinha aqui ainda. – Suspirei e o vi fazer cócegas em sua filha, me fazendo rir.
- Vai lá. Eu estou em dúvidas se vejo o jogo do Brasileirão, se coloco minhas séries em dia... – Dei de ombros. – Tem várias opções.
- Acho que você nunca me disse para que time brasileiro você torce. – Ri fracamente.
- Para o maior campeão do Brasil, obviamente! – Falei, piscando em seguida e ele negou com a cabeça.
- Ah, eu não te mereço, mulher. – Abri um largo sorriso.
- Pois não merece mesmo, preciso massagear meu ego de vez em quando. – Ele gargalhou, me fazendo sorrir. – Vai dormir, Alisson, capaz de eu ficar no Netflix mesmo.
- Ok, meu amor. Boa noite, eu te amo, dorme com Deus. – Sorri.
- Você também. Eu também te amo. – Acenei com a mão, vendo-o movimentar a mãozinha de Helena em minha direção.
- Diz “tchau”, Helena. – Ele cochichou para ela.
- Tchau. – Ela falou fraquinho e eu abri um sorriso.
- Tchau, princesa! Boa noite! – Suspirei, acenando para a tela e a mesma escureceu, me deixando sozinha novamente.

Quinta-feira se seguiu sem nenhuma novidade, mas sexta acabou me dando incríveis palpitações. Depois de um dia incrivelmente entediante, ajudando Leandro e Vinícius a fazer a decupagem do material dos jogos, uma Marta caiu de paraquedas na CBF.
E quando eu digo Marta, eu digo para valer Marta Vieira da Silva, maior jogadora de futebol do mundo. Ela entrou na sala da comunicação causando alguns cochichos e só consegui ver que era ela por sentar próximo à porta. Ela foi falar diretamente com Michele, o que acabou causando certa curiosidade em todo mundo da equipe. Afinal, o que ela estava fazendo aqui?
Tremi na base quando Michele saiu da sala, veio até a nossa sala separada e me chamou até a sala dela. Levantei quieta e a segui. Sabe quando você era chamado pela direção da escola e não tinha a mínima ideia do que fez? Eu me senti assim.
- Entra! – Michele falou e eu entrei, encontrando Marta sentada em frente à sua mesa.
- Fala aí, . – Sorri, vendo-a vir em minha direção e me dar um rápido abraço.
- Oi, Marta, prazer te ver. – Sorri e Michele apontou para a cadeira livre ao lado de Marta. – No que posso ajudar?
- Você tem um vestido de gala, ? – Marta perguntou coçando o queixo e eu fiz uma careta engraçada, tentando puxar da memória se eu tinha e para quê.
- Acho que não... – Falei pensativa. – Só se o da minha formatura me servir ainda, mas acho difícil. – Fiz uma careta. – Engordei um pouco, sabe? – Ambas riram.
- Vamos por partes, Marta. – Michele a interrompeu. - , creio que sabe que vai acontecer na segunda-feira o prêmio de melhores do ano da FIFA. – Assenti com a cabeça.
- Sim, a Marta está concorrendo e... – Travei. – Espera aí! – Afastei a cadeira um pouco.
- Está a fim de representar a CBF para gente e acompanhar a Marta nessa premiação? – Suspirei, abrindo a boca estupefata.
- Você está brincando, não?! – Falei, seguindo de uma risada escandalosa. – Michele, tem...
- ...Milhares de pessoas que se dariam melhor nessa missão, eu sei. – Michele me citou e eu ri fracamente. – Mas você está crescendo aqui dentro, além de ser a assessora mais livre até o amistoso da masculina.
- Além de que também pode ser uma oportunidade de você fazer sua mágica na feminina. – Ri envergonhada.
- Que mágica, gente? Eu só faço meu trabalho! – Sorri.
- Mas, então? Aceita esse também? – Suspirei.
- Tem certeza que não tem outras pessoas mais capacitadas? – Perguntei fracamente.
- Até pode ter, mas vai ser legal e você conhece um pouco como vive a outra metade. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Ok, eu vou. – Falei rindo e as duas comemoraram animadas.
- Logo te passo todas as instruções. Você vai domingo e volta na terça-feira. – Assenti com a cabeça. – Pegue o cartão corporativo e compre um vestido de gala bonito, discreto e que combine com o de uma assessora. – Confirmei com a cabeça. – Lá você terá o apoio do assessor alocado de Londres, então facilita. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, mesmo! – Virei para Marta e ela sorriu.
- Nós garotas temos que permanecer juntas. – Ela esticou a mão para mim e eu a apertei, sorrindo.
Saí da sala de Michele com um sorriso no rosto, mas aquela igual vontade de esconder. Voltei para a sala e o pessoal já começava a desligar os computadores e organizar as mochilas e bolsas. Lucas e Vinícius me olharam quando perceberam que eu havia voltado.
- O que foi? – Eles perguntaram quase juntos e eu suspirei.
- O que vocês vão fazer agora? – Olhei para ambos.
- Netflix and chill! – Vinícius falou prontamente e eu virei para Lucas.
- O que você precisa? – Ele perguntou, cruzando os braços.
- Um vestido de gala. – Falei suspirando.
- Por quê? – Ele perguntou e eu olhei em volta, fiz um sinal para ele esperar. - Barra Shopping depois daqui? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Vou adorar se puder me acompanhar. – Eles assentiram com a cabeça e segui até minha mesa para finalizar o que estava fazendo e arrumar minhas coisas para ir embora.
Nos despedimos do pessoal e seguimos para fora do prédio da CBF junto de 70 por cento do pessoal da comunicação. Quando o pessoal se dissipou, indo para pontos de ônibus ou estacionamento, seguimos nosso caminho até o shopping.
- Vai, a barra está limpa, o que aconteceu lá dentro? – Vinícius olhou para trás para se certificar que estávamos sozinhos e eu respirei fundo.
- Eu vou nos melhores do ano da FIFA com a Marta. – Falei animada, dando pulinhos no lugar e ambos arregalaram os lábios, visivelmente contentes por mim.
- Mano, isso é sensacional! – Eles pararam no meio da rua e me abraçaram fortemente, me fazendo rir.
- Parabéns, . Nossa, você supermerece! – Abri um largo sorriso, suspirando.
- Bem, eu não vou com a Marta, eu vou representar a CBF, mas mesmo assim. – Suspirei. – Ah, gente, estou muito feliz, sério!
- Sério, você é a melhor escolha. – Vinícius falou. – Eles sempre escolhem alguém da equipe de viagens.
- Mas poderiam ter escolhido outras pessoas, a Bianca, a Débora, até a Diana. – Suspirei. – Confesso que fico meio preocupada que está tendo certo favoritismo ali dentro.
- E está! – Ambos falaram juntos e rimos.
- Mas falando sério, a Bianca foi ano passado, Angelica cansou de viajar, a Débora é mais nova que você e a Diana acabou de entrar na CBF, tinha que ser você, . – Lucas falou.
- Mas e o resto da equipe? Que fica na outra sala. – Vinícius deu uma risada sarcástica.
- Meu amor, aprende, vivemos em um grupo seleto, só fica quem está dentro. – Virei para ele.
- Mas eu entrei nele recentemente.
- Com muita sorte! – Lucas falou. – Da mesma forma que Diana, sempre precisamos de um social mídia com a masculina porque o trabalho é bem maior, mas pode notar, nas outras não vai mais ninguém. – Ele deu de ombros. – Menos quando são torneios mais importantes. – Ele abanou com a mão.
- Enfim... – Suspirei. – Eu preciso de um vestido de gala, discreto para uma assessora. – Suspirei. – Aonde eu vou achar isso? – Falei assim que passei pela entrada do shopping.
- Pensa bem, você vai estar em Londres, quem sabe não dá para ver o Alisson? – Vinícius me cutucou e eu ri fracamente.
- Difícil, eu vou domingo à noite, chego segunda três da tarde no horário de lá, é tempo de me arrumar e ir, e volto na terça à noite, chego aqui na quarta de manhã.
- Vai que... – Vini deixou a frase no ar e eu suspirei.
- Vai usar seu cartão ou a CBF liberou o cartão corporativo? – Lucas perguntou, andando um pouco em nossa frente, procurando pelas lojas.
- Cartão corporativo tá liberado. – Falei e ele deu um sorriso quase diabólico.
- Podemos ir em um lugar um pouco melhor, então. – Ele falou sorrindo e entrou em uma loja que só o aroma já me fez perceber que o nível era um pouco melhor.
- Olá, no que posso ajudá-los? – A vendedora se aproximou de nós.
- Oi! – Sorri. – Eu preciso de um vestido longo, discreto. – Falei. – Talvez preto. – Falei rapidamente e ela assentiu com a cabeça.
- Claro, venha comigo. – Ela disse.
- Posso cuidar das suas bolsas? – Outra perguntou e nós três nos entreolhamos, dando sorrisos cúmplices e deixamos nossos pertences com elas.
Acabei saindo de lá com um vestido preto longo, estilo tubinho, somente com decote um pouco mais chamativo, de resto, ele não tinha nada de extraordinário, mas confesso que gostei de como eu fiquei nele. Ele assentava bem minhas curvas, demarcava minha cintura e valorizava minhas costas largas, era perfeito. Paguei Uber para Lucas e Vinícius e segui de volta para casa.

- Você está incrível! – Alisson falou pelo Skype alguns minutos depois. – Não acredito que você vai nessa premiação antes do que eu. – Gargalhamos juntos e eu girei o corpo, para ele me ver no vestido.
- Você deveria ter visto, foi hilário fazer compras com Lucas e Vini. Meu Deus! – Gargalhava sozinha. – Eles palpitavam nas escolhas, pediam para eu trocar para eles verem no meu corpo. – Me sentei na cadeira do computador novamente. – Foi engraçado.
- Deve ter sido engraçado mesmo, aqueles dois são uma figura! – Sorri. – Que bom que vocês se dão bem de verdade.
- É minha fórmula de escape. – Rimos. – O pessoal dessa nova equipe é bem mais entrosado, é bem legal! – Sorri. – A gente se diverte.
- Que bom! – Ele sorriu, já apoiando a cabeça no encosto do sofá.
- Alguém está cansado. – Cantarolei e ele riu.
- Nada de novo sob o sol! – Rimos juntos. – Então, você vai estar aqui do lado, né?! Não consegue dar um pulinho aqui no Liverpool? Tem jogo na quarta-feira contra o Chelsea, vai ser jogão. – Suspirei.
- Eu vou embora na terça-feira mesmo. – Fiz uma cara triste. – Queria muito, mas melhor não abusar. – Suspirei. – Você não consegue dar um pulo em Londres na terça para me ver?
- Se o jogo fosse em Wembley, até daria. – Ele bufou. – Vai ser em casa.
- Que bosta! – Gritei um tanto alto demais. – Estaremos no mesmo país, em um minúsculo ainda, que droga! – Coloquei as mãos na cabeça. – Eu odeio isso.
- Eu também odeio, amor, mas foi uma escolha nossa, em todos os sentidos. – Suspirei.
- Eu sei. – Me levantei de novo, me sentindo frustrada. – Que horas é o seu jogo amanhã?
- 11 horas no horário daí. – Assenti com a cabeça.
- Acho que dá para eu ver o segundo tempo, tenho boxe amanhã. – Ele riu fracamente.
- Filma alguma coisa para eu ver você. – Sorri.
- Eu até que sou boa, viu?! – Rimos juntos. – Ainda não tivemos nenhuma luta “oficial”... – Fiz aspas com as mãos – Mas é legal!
- Só tenta não apanhar, ok?! – Ri fracamente.
- Desviamos a todo custo. – Brinquei. – Cadê Helena? Já foi embora?
- Não, está aqui ainda, já coloquei ela na cama, ontem ela teve cólica, ficamos acordados a noite toda. – Fiz uma careta.
- Deve ser difícil sozinho com ela.
- Não estou sozinho, minha mãe está aqui. – Ele falou e eu abri a boca, surpresa.
- Meu Deus, eu não sabia! Fala para ela que eu ainda estou esperando eles virem me visitar aqui no Rio.
- Mãe! – Alisson gritou e ele girou o computador e vi Magali se aproximando.
- Oi, ! – Ela falou e eu sorri.
- Oi, Magali, como está a senhora?
- A senhora está no céu, mas eu estou bem. – Sorrimos e ela se sentou ao lado do Alisson, dando para eles dividirem a tela. – E você? Estão conseguindo se manter longe?
- Na medida do possível. – Sorri. – Nossos trabalhos estão corridos, então dá para mudar a cabeça de lugar. – Ela sorriu.
- E seu trabalho está indo bem, vai acompanhar o prêmio da FIFA...
- Para você ver! – Rimos juntas. – Confesso que estou bem feliz, mas é difícil, tento evitar que o pessoal fale demais, mas sempre vão falar. – Suspirei.
- Pense no seu sucesso e no seu trabalho, gosto de pensar que quem é invejoso só tem um problema na vida: eles mesmos. – Assenti com a cabeça.
- Concordo! – Sorri. – E você e seu José? Quando vem me visitar?
- Ah, precisamos marcar. – Ela suspirou. – Eu te mando mensagem quando voltar para o Brasil, vamos sim.
- Por favor, e podem ficar no meu apartamento. É pequeno, mas cabe. – Ela sorriu.
- Pode deixar, querida.
- E sobre o apartamento? – Alisson disse. – Você me disse que ia dar entrada em um, já foram ver?
- Fui nada! – Rimos juntos. – Preciso tirar um sábado para fazer isso. Eu até ando aqui pela vizinhança e vejo algumas placas, mas muito de aluga-se, eu quero comprar um. Pelo menos três quartos, uma suíte. – Dei de ombros. – Vamos ver.
- Vai dar certo! – Sorri.
- Já deu. – Rimos juntos. – Bom, acho que você precisar ir dormir. – Olhei rapidamente o horário no computador. – Eu preciso tirar esse vestido antes que eu acabe sujando, o que não é difícil, levando em conta meu lado desastroso. – Gargalhamos os três juntos.
- Vai fazer alguma coisa agora à noite? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- Capaz de eu encontrar Bernardo lá no Outback, pedir uma porção de cebola e esperar o horário dele de sair. – Dei de ombros. – Ou deixar a preguiça me levar e ele trazer um delivery quando chegar e assistirmos algum filme no Netflix. – Suspirei e ele gargalhou da segunda opção. – De qualquer jeito, provavelmente acabarei com açúcar e fritura no sangue antes da meia-noite. – Ele gargalhou.
- Pede uma cerveja, assiste a algum jogo... – Neguei com a cabeça.
- Não consigo gostar da maldita cerveja. – Magali afirmou comigo.
- Obrigada, ! – Ela disse e sorrimos.
- Bom, vamos dormir, né, dona Magali? – Alisson virou para mãe. – A gente vai se falando, ok?! Na pior das hipóteses, conversamos no mesmo fuso. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar! Meu voo é domingo à noite só, vai fazer escala em São Paulo, então me avisa quando chegar do jogo amanhã, conversamos ainda. – Ele assentiu com a cabeça, piscando para mim.
- Eu te amo, ok?!
- Ok, eu também te amo. – Sorrimos. – Tchau, dona Magali.
- Tchau, querida. Se cuide. – Assenti com a cabeça.
- Sempre! – Suspirei, vendo a tela do notebook escurecer novamente, me fazendo suspirar.
Pensei por um momento, analisando as opções que eu havia dado para Alisson e, antes de decidir qualquer uma delas, vi o nome de minha irmã online no Skype. Fazia um tempo que eu não falava com minha família cara a cara, creio que desde antes de eu ir para os Estados Unidos, quem sabe eles não estavam entediados em casa também? Apertei para chamar no nome da minha irmã e rezei para que ela estivesse na casa de meus pais.

Suspirei ao me olhar no espelho e sorri, ajeitando as alças do vestido longo e ficando bem satisfeita com o resultado final. Passei as mãos em meus cabelos, separando mais os cachos que eu havia feito nas pontas e segui até meu celular, desbloqueando o mesmo e tirei uma foto sorrindo, mandando para Alisson, Bernardo e no grupo da família, recebendo respostas quase instantâneas.
“Uau! Estou indo para Londres agora”. – Alisson mandou e eu ri fracamente, suspirando.
“Comece a contagem regressiva: 14 dias”. – Respondi.
“Bah, é muito tempo”. – Sorri.
“Estou indo, te aviso quando voltar”. – Enviei.
“Beleza, Salah vai estar lá, quem sabe vocês não se conhecem?” – Ri fracamente.
“Combinado”. – Respondi e olhei a conversa do grupo da família.
“Está linda, filha, divirta-se!” – Sorri com a mensagem da minha mãe e passei para a de Bernardo.
“Que arraso, mulher! Faltou só um sapato amarelo nos pés”. – Ri fracamente e desci o olhar para os saltos pretos em meus pés. Acabei optando por ir o mais discreta possível.
Respondi as duas mensagens e coloquei o celular na pequena bolsa de mão que eu havia levado, junto de meu passaporte, um pouco de dinheiro e a chave do quarto e saí, puxando a porta devagar. Atravessei o corredor e bati duas vezes na mesma, esperando resposta do outro lado, vendo uma morena alta e bonita abrir a porta com um vestido terra queimado.
- Hi! – Ela falou e eu sorri.
- Toni? – Perguntei à namorada de Marta e ela assentiu, esticando a mão. – .
- Um prazer te conhecer. – Ela respondeu em inglês.
- O prazer é meu. – Sorri. – Estão prontas?
- Sim! – Marta se aproximou da porta em um vestido rosa com detalhes em preto e eu sorri. – E ela entende um pouco do português. – Ri fracamente, assentindo com a cabeça. – Como estou?
- Estão ótimas, as duas. – Sorri.
- Você também! – Marta sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Vamos, então. André já deve estar nos esperando lá embaixo. – Me referi ao assessor alocado na Inglaterra da CBF.
Ambas assentiram com a cabeça e segui para o elevador do hotel, apertando o botão enquanto Marta fechava seu quarto e seguia em minha direção com Toni. Elas eram um casal fofo e combinavam incrivelmente. Elas se pareciam muito. Chegamos ao lobby e já reparei alguns paparazzi esperando do lado de fora, sabia que existiam outros famosos nesse hotel reservado pela FIFA, então era comum esperar fotógrafos ali.
- ! – Virei para o lado, vendo André e sorri. Eu só conversava com ele por e-mail ou WhatsApp, então era como conhecê-lo pessoalmente. Ele tinha a pele morena, cachos na cabeça e era mais velho do que eu, cerca de 10 anos. Usava um terno preto também e tinha alguns papéis em mãos.
- André, que bom te conhecer pessoalmente! – Nos abraçamos rapidamente e ele cumprimentou Marta e Toni também.
- O prazer é meu! – Ele sorriu e me esticou os papéis. – Convites e crachás para você e para mim.
- Ah, que ótimo!
- O carro já está nos esperando, vamos? – Ele perguntou e assenti com a cabeça, saindo com ele à frente de Marta e Toni.
Os paparazzi trabalharam um pouco quando Marta passou, mas um motorista já nos esperava em um Jeep Renegade preto. André seguiu com o motorista e fui atrás com Marta e Toni. Elas cochichavam algumas coisas entre elas em inglês e, como eu estava me sentindo de vela, observei um pouco da paisagem da minha querida Londres. Não era minha primeira, nem segunda vez que eu estava lá, mas toda vez eu me sentia emocionada em estar na cidade mais antiga do mundo.
Chegamos ao local do evento e engoli em seco, sentindo levemente amedrontada pela situação. Aquilo era digno de um tapete vermelho dos cinemas. Tinha fãs, paparazzi, totem para tirar fotos e tudo mais. Eu estava vivendo meu sonho de princesa naquele dia! Saí do carro antes de Marta e Toni, e dei aquela rápida ajeitada na barra da saia.
- Marta, siga os protocolos que combinamos no avião e só dê entrevistas comigo presente, combinado? – Falei com ela que assentiu com a cabeça.
- Pode deixar, chefe! – Ela brincou e eu sorri, vendo um segurança indicar com a mão para ela adentrar ao tapete verde como um campo de futebol e segui atrás.
Eu tentei não surtar, mas quando comecei a ver nomes conhecidos passando pelo tapete, eu acabei aproveitando meu momento. De brasileiros eu vi o grande Cafu, Daniel Alves e o meu já conhecido Marcelo, foi ótimo, pois encontrei os três ao mesmo tempo e Marcelo fez questão de me apresentar a eles.
- Olha quem está aqui! – Marcelo me abraçou fortemente, me fazendo rir e acenei para sua esposa e família que estavam juntos. – Cadê Alisson?
- Ela é minha acompanhante hoje, Marcelo. – Marta falou e eles se cumprimentaram.
- Vim a trabalho hoje, Alisson está em Liverpool mesmo. – Ele fez uma careta.
- Ah, vem cá, deixa eu te apresentar a umas pessoas. – Ele apoiou em minhas costas. – Dani, Cafu. – Ele chamou os dois que estavam conversando. – Essa é , ela trabalha para a CBF. – Acenei rapidamente.
- Você é famosa, garota. – Dani falou e eu ri fracamente. – Ela que está botando os jogadores na linha. – Sorri.
- Estou sabendo. – Cafu falou e eu sorri.
- Eu estou tentando não, mas eu sou muito sua fã. Você é a minha melhor lembrança do futebol até hoje. – Falei para Cafu e ele abriu um largo sorriso.
- Ah, vem cá, então! – Ele me abraçou de lado e eu sorri. – Você é nova, pelo visto.
- 25 anos. – Falei e ele riu.
- Copa do 2002, então. – Assenti com a cabeça e rimos juntos.
- É um prazer conhecer vocês dois. – Sorri.
- Vamos trabalhar juntos ainda. – Dani piscou e eu assenti com a cabeça.
- Espero! – Falei honesta e acenei para ambos, seguindo Marta.
Quando passamos para a parte coberta da premiação, fui recebida calorosamente por Ronaldo, o Fenômeno, que se lembrou de mim da Rússia, e aproveitou a deixa para me apresentar ao colega Ronaldinho Gaúcho. Me senti honrada em estar próxima aos dois e aproveitei para tirar uma foto com ambos, completando mais um nome da minha lista do grande futebol.
Também pude ver alguns rostos que não me inspiravam muita felicidade como Eden Hazard e Thibaut Courtois, belgas que colaboraram com a eliminação do Brasil na Copa. Não fiz questão de cumprimentá-los, da mesma forma que não fiz com o jovem francês Kylian Mbappé, espanhol Sergio Ramos e o favorito da noite, o croata Luka Modric.
Quando estava acompanhando Marta em uma das entrevistas oficiais da premiação, notei que eu estava sendo observada por alguém, só não havia descoberto por quem ainda. Quando virei o rosto para trás, percebi que era o egípcio Mohamed Salah, colega de time de Alisson e que ele vinha em minha direção.
- ? – Ele perguntou com um sotaque engraçado e eu arregalei os olhos, surpresa por ele dizer o nome certo ou por saber quem eu sou. – do Alisson? – Ri fracamente e olhei o campo minado em volta.
- Aqui é só . Não somos algo público ainda, sabe? – Fiz uma careta e ele levou a mão à boca.
- Sinto muito. – Ele esticou a mão, me cumprimentando. – Mas é um prazer te conhecer, ele fala muito sobre você. – Sorri.
- Acredite, o prazer é meu!
- Você trabalha para o Brasil, não? – Assenti com a cabeça.
- Sim, vim acompanhando a Marta. – Virei para o lado, mostrando-a.
- Ah, isso é ótimo. Já está em casa, então. – Ri fracamente, assentindo com a cabeça.
- Me sinto bem confortável nesses ambientes. – Brinquei e ele sorriu.
- Apareça em Liverpool, vai ser bom te ter lá, acalmar nosso goleiro um pouco. – Ri fracamente.
- Talvez fazê-lo surtar um pouco. – Pisquei e ele sorriu.
- Vamos marcar esse momento? – Ele esticou o celular e eu confirmei com a cabeça.
- Claro, vamos deixá-lo com inveja. – Falei e sorri para a câmera de seu celular, vendo-o apertar algumas vezes.
- Passo para ele. A gente se vê.
- Obrigada, boa sorte hoje. – Acenei e ele sorriu, se afastando.
Aguardei mais uns minutos a entrevista de Marta e seguimos para dentro. Ela tinha um lugar de honra por ser uma das indicadas e eu tinha ao seu lado como assessora e Toni do outro lado. O evento começou com uns minutos de atraso, me deixando de boca quando vi que o ator Idris Elba era o anfitrião da noite, me deixando mil vezes mais feliz por estar lá.
O primeiro prêmio foi o Puskás, de melhor gol do ano e, para minha felicidade, Salah acabou vencendo, me deixando realmente feliz. Sem surpresas, Didier Deschamps venceu como melhor técnico, após ganhar a Copa do Mundo com a França. Fui surpreendida quando Jakson Follman, sobrevivente do desastre aéreo da Chapecoense, entregou o prêmio de melhor goleiro para Cortouis. O brasileiro foi muito aplaudido pela sua presença.
Seguindo para o futebol feminino, Reynald Pedros, técnico do Lyon, ganhou na categoria. Tivemos um pequeno intervalo e Noel Gallagher, ex-Oasis e apresentador de algumas categorias atrás, cantou a famosa Don’t Look Back in Anger, deixando a emoção rolar solta. Passando a apresentação, o prêmio de melhor torcida foi entregue para o Peru que voltou a Copa após 36 anos.
O prêmio Fair Play foi para o alemão Lennart Thy, por faltar a um jogo do PSV para doar sangue a um paciente que estava internado em estado grave de leucemia. O time venceu por três a zero, e o alemão foi eleito o melhor jogador da partida.
Ronaldinho subiu ao palco para eleger o time ideal do ano, que contou com a presença de Dani Alves e Marcelo, além de David De Gea, Raphael Varane, Sergio Ramos, Luka Modric, N’Golo Kant´é, Eden Hazard, Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Kylian Mbappé. Senti falta do argentino e do português na premiação.
O momento mais esperado do dia chegou para mim e para Marta. Ela foi eleita a melhor jogadora do ano, vencendo pela sexta vez, após anos sem vitórias. Quando seu nome foi anunciado em contrário ao da norueguesa Ada Hegerberg e a alemã Dzsenifer Marozsán, até eu me levantei para aplaudi-la.
- Eu realmente estou sem palavras, é um momento fantástico. As pessoas me dizem que eu já estive aqui muitas vezes e sempre me emociono. Faço isso porque isso representa muito pra mim. Tenho de agradecer a Deus por me dar saúde para lutar em busca de meus objetivos, agradecer às minhas companheiras de clube e seleção, e aos fãs, jornalistas e companheiras que votaram em mim. É um momento mágico, obrigado. – Ela disse e eu e Toni a aplaudimos emocionadamente.
Sorri quando ela voltou com o prêmio ao meu lado e suspirei, sentindo-a me abraçar de lado, visivelmente emocionada também. Nossa viagem não havia sido em vão e ela era a melhor do mundo novamente. Era emocionante.
O último prêmio da noite foi surpreendente, pelo menos para mim, Luka Modric realmente ganhou de melhor jogador masculino, batendo Cristiano Ronaldo e Salah. Não sabia avaliar se realmente havia sido por merecimento ou como prêmio de consolação, mas CR7 não foi a premiação, deixando o ambiente um tanto pesado, por assim dizer. O croata estava visivelmente emocionado, mas quem não estaria? Ele quebrou o jejum de Cristiano e Messi de anos e anos.
Após o fim da premiação, quando as pessoas começavam a se dispersar para o coquetel, aproveitei a deixa e dei um forte e merecido abraço em Marta, parabenizando-a pelo prêmio. Aquilo era merecido e só ela sabia o tanto que ela lutava para fazer suas conquistas diárias. Deixei que ela e Toni aproveitassem a noite, sabendo que esse coquetel não duraria muito, e sentei em uma mesa com André, respirando um pouco mais relaxada.
- Mas, me conta, André, qual é exatamente o seu trabalho aqui na Inglaterra? – Perguntei, bebericando o drink colorido que me ofereceram.
- É basicamente o seu, mas mais discreto. – Franzi a testa e ele suspirou. – Eu assessoro os jogadores para os compromissos internacionais, além de que acompanho as ligas da Inglaterra de perto, então eu vou nos jogos de todos os times que tem jogadores brasileiros. Por exemplo, atualmente temos jogadores brasileiros no Liverpool, Everton, Chelsea e Manchester City, então eu participo de um rodízio e acompanho os jogos e situações deles, depois passo para o pessoal da CBF nos relatórios semanais. – Ele deu de ombros. – Caso tenha algum compromisso mais sério, como um prêmio de melhores do ano, eu acompanho também. – Ele ponderou com a cabeça.
- E você não vai nos compromissos internacionais? – Perguntei.
- Não mais, já fui em vários, mas começa a cansar. – Ele suspirou. – Já falei com o pessoal do Brasil, quero voltar para casa. Talvez eu fique só mais essa temporada. – Assenti com a cabeça.
- Deve ser legal, em partes... – Ele ponderou com a cabeça.
- Tem menos pressão, você faz seus horários e compromissos, mas levando em conta que você acaba criando uma relação com esses times, você acaba trabalhando até internamente, então torna um compromisso internacional diário. – Ele dá de ombros. – Vira e mexe eu estou em treinos do Chelsea, principalmente.
- Por estar aqui em Londres? – Perguntei.
- Exatamente. – Ele falou. – Janto com Willian, David Luiz, até os outros. – Sorri.
- É legal, vai. – Ele sorriu.
- Todo trabalho tem suas vantagens. – Confirmei, sorrindo. – Falando nisso, tem jogo de Chelsea e Liverpool quarta-feira. Michele disse que você e Alisson... – Assenti com a cabeça.
- Sim, faz uns meses. – Ele sorriu.
- Deveria ir ao jogo com a gente. – Sorri.
- Queria, mas estou aqui a trabalho, preciso voltar, já tenho compromisso na quinta-feira. – Fiz uma careta e ele riu.
- Fuso horário mata, não é mesmo? – Suspirei.
- Demais, sorte que tenho criado o hábito de dormir no avião, já me ajuda bastante.
- Mas vale à pena. – Sorri.
- No âmbito profissional, social e monetário. – Brinquei e ele esticou seu copo, me fazendo rir e ouvir o tilintar dos copos.

- Ainda bem que você não foi, perdemos. – Foi a primeira coisa que Alisson falou quando eu liguei para ele no Skype naquela quarta-feira e eu ri fracamente.
- Oi para você também! – Sorri e ele suspirou. – Mas você jogou? Você não disse que...
- Não joguei e não fui nem de reserva, mas eu te encontraria lá. – Sorri.
- Você é um amor, senhor Becker, mas relaxa, tem outro jogo contra eles, não tem?
- No sábado, e eu vou jogar.
- Mas já? Tão perto assim? – Franzi a testa.
- O de hoje foi pela Liga Inglesa e o de sábado é da Premier League.
- Ah sim, obviamente. – Sorri. – É mais importante, vocês vão bem, relaxa. – Ele sorriu.
- Mas, me diga, como foi a viagem? – Sorri.
- Ah, foi ótima, corrida, para variar, mas foi muito bom. A Marta ganhou, esse foi o ponto mais importante da noite. – Sorri.
- Eu vi algumas fotos suas, você estava maravilhosa. Quase fugi para Londres, mas Firmino me segurou.
- Fez bem, você estava em treino naquela hora, não vamos nos queimar só para me ver, lembra-se da contagem regressiva: 12 dias.
- 12 dias. – Ele falou como um mantra. – Ei, você conheceu o Salah.
- Sim! – Falei animada. – Ele veio falar comigo, foi ótimo. – Ri fracamente.
- Ele me mostrou a foto e está me zoando, falando como eu não consigo segurar minha namorada linda perto de mim. – Gargalhei.
- Fala para ele que ela tem que trabalhar e não gosta de ser contida. – Ele sorriu.
- E eu não sei? – Ele brincou. – Mas fico feliz que vocês tenham se conhecido.
- Ele é ótimo, meio fechado.
- Espere conhecê-lo melhor. – Sorri.
- Foi tudo muito rápido, além de que eu estava trabalhando, não pude abusar muito, mas foi uma ótima experiência. – Ele sorriu.
- Você estava linda demais, fiquei procurando fotos, mas várias pessoas colocaram fotos contigo. Marcelo, Dani...
- Acabei encontrando algumas caras conhecidas. – Sorri. – Foi legal, só queria que você tivesse concorrido, não vou com a cara daquele Courtois.
- Deixa para lá, é raspa de Copa. Modric melhor jogador do mundo? – Ele perguntou e eu ponderei.
- É, eu também acho estranho, mas está valendo. – Ele riu.
- E amanhã? Quais seus compromissos?
- Vou para Granja, tem amistoso da sub-15 contra o Chile. – Abanei a mão. – O carro passa aqui as seis da manhã, eu preciso dormir.
- Se você precisa dormir, imagina eu. – Sorri.
- Relaxa, senhor Alisson, tem tempo. – Pisquei e ele sorriu. – São só... – Chequei o relógio. – Quase uma da manhã para você. – Ele fez uma careta, jogando a cabeça para trás.

O resto da semana se seguiu na preguiça. Fiquei quinta-feira o dia inteiro na Granja Comary acompanhando a sub-15 com Lucas e Vinícius. O jogo foi só no meio da tarde, mas acompanhamos a coletiva de imprensa e as preparações dos dois times. Meu sono era demais, então Vinícius, vestido de Canarinho, tentava me distrair de algumas formas. É, não deu certo.
Na sexta-feira eu acompanhei o time feminino do Flamengo e do Corinthians em um amistoso também, foi um pouco diferente do que estávamos acostumados, pouca imprensa, pouco quórum, mas o futebol feminino precisava de apoio, então foi eu e Débora acompanhar as meninas.
Sábado eu tive folga, o que deu para eu assistir ao jogo de Alisson pela TV, foi interessante, pois vi os dois goleiros mais caros da história jogando juntos. Acabou empatado em um a um, Hazard fez um gol em Alisson e Sturridge fez um em Kepa, mas o que mais me interessou foi o uniforme rosa de Alisson que o Liverpool estava estreando naquele dia. Eu precisava daquela blusa!
“Guarda essa blusa para mim!” – Mandei em letras garrafarias logo que ele entrou no campo. Recebi a resposta algumas horas depois somente.
“Opa, tarde demais! Troquei com o David Luiz”. – Suspirei e relaxei os ombros.
“Seja um bom namorado e arranje uma para mim, fazendo o favor. Com sua letra e número, é claro”. – Respondi.
“Pode deixar, chefia, hahaha”. – Ele respondeu e eu sorri.
No domingo, eu acordei cedo e fui para Porto Alegre, terrinha do Alisson, acompanhar o seu querido Internacional contra o Vitória, no seu lar de infância, o Beira-Rio. Confesso que não estava muito animada com isso, mas quando temos alguém que nos inspira, a gente acaba torcendo para ele, e eu acabei me sentindo uma colorada e torci para o Internacional que venceu de dois a um.
“Olha aonde estou”. – Tirei uma foto e enviei para ele. Eu não sabia se acompanharia o meu time naquele fim de semana ou o dele, acabei sabendo só de manhã mesmo.
“Bem-vinda ao lar”. – Ele respondeu animado.
“Meu lar é outro, mas o seu é bem bonito”. – Respondi.
Como eu dormiria em Porto Alegre naquela noite, ele me passou o contato de seus pais e eu me encontrei com eles para jantar. Não foi exatamente o jantar ideal, eu era nora deles, mas não tínhamos muito papo além de Alisson, então acabamos falando da mesmice: trabalho, Alisson, namoro e futuro. E o futuro era eu encontrando-o em oito dias, nada muito longínquo, principalmente pelo fato de sermos algo recente e moramos há quilômetros de distância.
- E agora? Você vai encontrar eles em Londres agora? – Magali perguntou e eu suspirei.
- Não, eu vou dia três... – Pensei um pouco. – Quarta-feira para Londres de novo, mas com a feminina dessa vez.
- Mas você já não estava na semana passada? – José perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Exatamente. – Ri fracamente. – As vantagens e desvantagens de trabalhar para a CBF.
- Mas aí você volta e depois vai para Londres de novo?
- Não, com sorte, os compromissos com as meninas acabam dia sete e dia oito é dia de apresentação da masculina. Eu só vou mudar de cidade. – Eles confirmaram com a cabeça.
- Ah, que bom, então. E no resto? Tudo bem? Você e Alisson? – Suspirei.
- Estamos tentando fazer dar certo. – Sorri. – Estamos conscientes de que nossos trabalhos vêm em primeiro lugar e estamos fazendo dar certo. – Dei mais um gole em minha bebida.
- Vocês estão conscientes, mas felizes com essa ideia? – Magali perguntou e eu ri fracamente.
- Acho que nenhum casal de namorados em começo de relacionamento está feliz por manter distância, mas é nossa melhor opção agora. E eu sou grata todos os dias pela CBF estar me dando esse apoio em encontrar o Alisson nos compromissos internacionais, tivemos nossas diferenças, mas dá certo. – Ela assentiu com a cabeça. – Mas tento ver isso como algo bom. – Dei de ombros. – É uma forma de conter nossos impulsos. – Eles riram.
- Eu acho que vocês estão certos. – José falou. – É um relacionamento novo e cheio de surpresas, uma hora vocês vão precisar escolher o caminho a seguir, mas não é e não precisa ser agora. – Assenti com a cabeça.
- Tentarei só não surtar até esse momento chegar! – Ele riu. – Sou um tanto imediatista.
- Ah, esses jovens! – Magali brincou e eu sorri.
- Obrigada por esse encontro, foi legal.
- Não temos muitas oportunidades, precisamos aproveitar.

Acabei folgando na segunda e na terça-feira antes de viagem, mas eu sabia que naquela terça, dia dois de outubro, meu namorado estava completando 26 anos, mas o melhor de tudo, era que não só ele, Firmino também estava fazendo aniversário, completando 27 anos. Era muito aniversário de uma vez só e mais um motivo para eu estar muito brava por não estar perto deles nesse dia.
Saí procurando as fotos no meu arquivo com ambos. A imprensa e nem meus seguidores sabiam que eu e Alisson éramos um casal, então para não dar brecha, optei por fazer uma postagem só para ambos e tentar não exagerar muito nas declarações de amor pelo meu namorado. Afinal, também era algo novo.
Não consegui achar uma foto em que eu estava com ambos, então peguei uma selfie que Alisson fez naquele dia em que dormimos no vestiário de um dos jogos dos Estados Unidos, aonde eu estava realmente dormindo e ele sorridente me zoando, e peguei uma de Firmino em que tiramos na frente da Casa Branca. Precisei cortar alguns papagaios de pirata, já que era uma foto em grupo, mas serviria.
“Não acredito que duas das minhas pessoas favoritas no mundo estão fazendo aniversário hoje e estamos longe! Nos veremos em breve, mas gostaria de desejá-los muita paz, amor e sucesso na vida de ambos. Os adoro e quero sempre bem”. – Reli a postagem e achei que havia sido básica até demais, mas menos era sempre melhor do que mais. Marquei ambos na postagem e postei no meu Instagram.
Mas aquilo estava impessoal demais. Chequei o relógio e estava perto das 11 da manhã, eram quase três da tarde para eles. Se o treino acabasse as cinco, estava quase no fim. Quem sabe eles não olhassem o celular antes de ir embora? Abri a câmera do celular, segui para um canto do apartamento aonde não tinha luz e botei para gravar com a câmera virada para mim.
- Oi, Alissinho! – Falei animada. – Hoje é um daqueles dias sensacionais que você está completando mais um ano de vida. Claro que está dividindo com o Firmino, então ele acaba sendo somente meio especial. – Brinquei rindo na tela. – Esse é o primeiro evento importante em nosso relacionamento e não estamos juntos, mas eu estou em seu coração todos os dias. Eu te desejo somente coisas boas, na sua vida profissional, nossa vida pessoal e em todos os dias da sua vida, você é a pessoa mais humilde, incrível e simpática que eu já tive o prazer de conhecer e fico feliz por estar dividindo meu coração com você. Eu te amo, senhor Becker. Para valer e te quero sempre bem. Um grande beijo! – Sorri. – Ah, Firmino, para você também! – Pisquei e acenei com a mão, parando o vídeo.
Gargalhei ao rever a gravação e enviei para o WhatsApp de Alisson, recebendo somente um tique de envio. Logo ele apareceria. Foquei em descansar e arrumar mala e, como planejado, pouco mais de duas horas depois ele apareceu. Ou melhor, eles.
Meu celular apitou e encontrei um vídeo em resposta, com Alisson visivelmente cansado e ainda com roupa de treino, mas no que pareceu ser um vestiário.
- Já te disse que você é a melhor coisa que aconteceu comigo em muito tempo? – Ele começou o vídeo. – Obrigado, obrigado, obrigado. Eu te amo demais e agradeço por ter você em minha vida. E não me importa que você não está aqui comigo hoje, mas estou na contagem regressiva e faltam somente seis dias para eu te abraçar novamente. Eu te amo e te agradeço por ter tornado minha vida ainda mais especial. – Sorri e vi o celular mexer, vendo Firmino sem blusa, como se já estivesse se trocando.
- Também te amo, garota! Apesar de saber que seu amor é maior pelo garotão aqui. – Ri fracamente. – Obrigado por todo o carinho, você é demais e especial para todos nós. Te vejo em seis dias. Beijo! – Ele disse e a tela virou para Alisson novamente.
- Contagem regressiva: seis dias. – Ele disse, piscando para tela e mandou um beijo, desligando em seguida, me fazendo sorrir e apertei o botão de áudio para responder.
- Ah, Becker, você é demais! O aniversário é seu, mas o presente é meu. Te amo demais. – Respondi, suspirando.

O fatídico dia três de outubro chegou e finalmente dei as caras na CBF, mas só para pegar as informações sobre esse amistoso das meninas e encontrar Débora e Anna que iriam comigo. Lucas, Vinícius e Leandro iriam com a masculina em alguns dias e Débora e Anna voltariam para o Brasil. Além de Bianca que não dava as caras fazia um tempinho, só sabia suas atualizações pelos stories do Instagram, acho que ela estava em Manaus da última vez que eu chequei.
Cheguei lá na parte da tarde e por volta das cinco horas nos despedimos do pessoal e seguimos para o aeroporto do Galeão para começarmos nossa viagem. Iríamos para São Paulo e de lá pegaríamos o voo noturno para Londres. Era cerca de 40 minutos até a capital do meu estado, e mais três horas de espera para o de Londres. A vantagem é que estávamos em três meninas, não era Bianca e nem Angelica, mas era um grupo bom.
- Pronta para voltar para Londres, ? – Anna brincou e eu ri sofridamente, pegando minha mochila quando anunciaram nosso voo.
- Sempre sonhei em visitar Londres, mas não ir semana sim, semana não. – Elas riram. – Está virando minha segunda, terceira... – Pensei um pouco. – Quarta casa, para ser honesta.
- As vantagens e desvantagens... – Débora falou e suspiramos.
- Vamos lá, meninas. – Seguimos para a fila.
Pousamos em Londres as três da tarde do horário local e seguimos para o CT do Chelsea, aonde elas estavam treinando desde hoje cedo. A chegada delas havia sido ontem, mas os treinos começaram só hoje. Essa era mais uma diferença entre seleção feminina e masculina. A masculina tinha quase uma semana de treinos, enquanto a feminina começaria os treinos hoje, quinta-feira, para jogar logo no sábado de manhã.
Assim que chegamos, só tivemos tempo de deixar nossas coisas no vestiário e seguimos para o sol que fazia em Londres. As meninas nos receberam animadamente, principalmente Marta que tinha estado comigo 10 dias atrás. Não as conhecia muito bem, mas ei, somos mulheres, nos enturmamos rápido.
Nos apresentamos para o técnico Vadão e para o resto da equipe técnica e começamos nossos trabalhos. Já eram quase cinco da tarde quando paramos, e elas só tinham coisa de mais duas ou três horas de treino.
A questão de assessoria da feminina não era tão alvoroçada quanto a masculina, na feminina eles só queriam saber de Marta e olhe lá, então o trabalho era bem reduzido, consegui até levar essa viagem como uma forma de relaxar, além de que, de novo, eram só mulheres, então no tempo em que estávamos de folga, era conversa e gritaria para tudo quanto é lado.
Tanto que acabei ficando no restaurante com elas até quase uma da manhã e perdi uma oportunidade de falar com Alisson no mesmo fuso horário, mas ok, contagem regressiva: três dias.
“Fiquei conversando com as meninas, acabei me distraindo. Boa noite, amo você. Tentamos amanhã de novo?” – Enviei para Alisson antes de largar o celular de lado e ir para o banho. Sabia que ele não responderia, ele não olhava o WhatsApp há uns 40 minutos, já deveria ter dormido.

O segundo dia acabou seguindo o mesmo ritmo do primeiro, treino o dia inteiro, mas viajaríamos à noite para Nottingham, aonde seria o jogo sábado cedo. Então as meninas aproveitaram todo o tempo possível para o treino, parando somente para uma hora e meia de almoço, e voltando correndo para aproveitar a parte da tarde e o tempo nublado de Londres, antes que caísse água. O que não aconteceu.
Mas faltando cerca de meia hora para o treino dar como encerrado, algo fantástico aconteceu e eu não tenho nem como agradecer a essas meninas pelo o que elas fizeram. Às vezes as pessoas nos tocam de diversas formas simples que nem percebem o quão importante foi esse ato.
Quando Virgínia, da equipe técnica, começou a organizar os materiais para encerrar o treino, uma das bolas acabou escapando do saco de bolas e eu fui atrás para ajudá-la. Pensei em abaixar e pegar normalmente, mas encarei a bola e ela me encarou e eu puxei-a com o pé, erguendo-a e começando a fazer embaixadinhas com a mesma, um tanto desequilibrada. Joguei a bola mais para o alto e cabeceei a mesma três vezes antes de lançar um pouco forte demais e fiz uma careta quando bati forte demais na mesma e ela adentrou o campo, confundindo as meninas que faziam um jogo de bobinho.
- Ei, você joga?! – Andressinha perguntou, pegando a bola com a mão e eu fiz uma careta.
- Jogava. – Falei rapidamente, vendo-a jogar a bola para mim. – Faz muito tempo.
- Você é goleira também, não é?! – Aline, segunda goleira, perguntou se aproximando. – Eu vi o vídeo no seu Instagram do Alisson cobrando uns pênaltis em você. – Sorri.
- Joguei na faculdade, faz muito tempo, agora só em situações especiais. – Brinquei.
- Qual seria essa situação especial? – Bárbara, goleira principal, se aproximou.
- Natal? Ano novo? Ou quando eu tenho algum tempo livre mesmo. – Brinquei e elas riram.
- Eu diria que estar com a seleção feminina é uma situação especial... – Marta falou, pegando a bola. – Que tal um jogo?
- Agora? Com vocês? – Gargalhei e elas me encaravam sérias. – Ah, qual é, meninas, eu não tenho chance contra vocês. – Elas sorriram.
- Bom, vamos fazer o seguinte, então. – Mônica se aproximou. – Você é goleira do time principal e a Bárbara do reserva, para dar uma balanceada. – As meninas concordaram.
- O time reserva de vocês ainda acaba comigo. – Cruzei os braços.
- Você pegou cinco pênaltis do Alisson, e ele é bom com os pés. – Aline piscou e eu suspirei.
- Ele estava pegando leve e ele queria me pegar. - Abanei as mãos e as meninas gritaram animadas.
- Ei, ei, ei! Você e Alisson estão... – Rafaelle falou.
- Juntos? Sim! – Ri fracamente e, como um bom grupo de meninas, elas aplaudiram e gritaram animadas. – E nosso relacionamento está cada vez menos secreto a cada dia. – Brinquei.
- Relaxa, daqui não sai nada. – Debinha falou e eu assenti com a cabeça em agradecimento.
- Mas então, vamos lá? Esses 30 minutos finais, que tal? – Aline se aproximou e me estendeu suas luvas. - Usa as minhas, eu preciso ir para a fisioterapia ainda. – Suspirei.
- Vadão, corta! Vamos nos divertir um pouco agora. – Geyse gritou e ele fez um sinal de positivo, se sentando nas cadeiras de reservas.
- Não judiem da menina! – Ele gritou e eu sorri.
- Obrigada! – Gritei.
- , baliza norte ou sul? – Bárbara perguntou.
- Norte, sempre! – Falei e ela bateu com as mãos nas minhas e seguimos para lados contrários.
Fiquei feliz por estar de tênis aquele dia, tinha menos compromissos que os meninos, então meu salto mal saía da mala. Corri para o meu lado do campo, vendo as jogadoras se dividirem entre com e sem colete e eu dei uma rápida alongada nos braços e nas pernas, ouvindo alguns ossos acordarem, me fazendo respirar fundo.
Fabiana, defensora, se fez de juíza e vi que algumas jogadoras tinham ficado de fora, talvez pela questão da fisioterapia, mas então percebi que estávamos jogando com oito de cada lado, era algo mais de boa... Até a bola seguir para o meu lado.
Assim que a primeira bola veio para o meu lado, eu senti que ainda estava travada, a bola seguiu rasteira e eu caí para trás só ao dar um chute na mesma, mas conseguindo devolver pelo meio de campo. Eu sabia que o jogo estava fácil para as jogadoras principais do meu time, mas percebi que elas queriam me ver jogar, então as bolas passavam com facilidade pela defesa, fazendo com que chegasse em mim.
Eu levei os dois primeiros gols com muita facilidade, eu estava com certo delay, então o tempo de salto ou de atingir a bola estava atrasado, mas eu comecei a prestar atenção a partir do terceiro. A bola veio em minha direção logo do centro do campo, em um tiro só, minha mente calculou uma trajetória rápida e eu espalmei a mesma, sentindo meu corpo ser jogado para trás pelo calçado inadequado que eu estava usando, então me joguei para frente, vendo as meninas comemorarem e eu devolvi a bola para meu time.
Outro lance chegou em cima de mim e eu espalmei novamente, mas jogando para cima. Ela passou por cima da baliza e eu arqueei meu corpo para trás, contraindo ao sentir encostar na grama. As meninas me ajudaram a levantar e eu fiz positivo com as mãos, mostrando que estava bem.
O jogo seguiu, fazendo com que Bárbara finalmente levasse um gol, para minha felicidade e olhei rapidamente Vadão se levantando e checando seu relógio. Estava na hora de ir embora, mas não antes de um último lance e ele seria do meu lado. Me coloquei em posição para esperar a bola e vi que a mesma vinha pelo lado esquerdo, mas no segundo seguinte, elas fizeram um cruzamento e o chute veio do lado direito. Com a rápida confusão em minha cabeça, eu pulei rapidamente pelo lado que a bola vinha e senti a bola bater com força em minha barriga e eu agarrei a mesma, sentindo a dor.
- Tempo! – Gritei, ouvindo o apito em seguida e senti vontade de vomitar, franzindo a testa.
- Você está bem? – Ludmila me perguntou e eu joguei a bola para o lado, me colocando de quatro apoios, sentindo uma dor na barriga.
- Nossa! Essa doeu! – Respirei fundo e segurei a mão de Ludmila, me levantando.
- Falei para não judiarem da menina, está tudo bem? Precisa de um médico? – Vadão perguntou rapidamente e eu abanei a mão.
- Ainda não. – Suspirei e subi um pouco a blusa, vendo a marca vermelha redonda certinha na minha pele. – Talvez amanhã.
- Bom, chega por hoje! – Ele falou. – Foi legal, , se eu precisar de mais uma jogadora ano que vem, te chamo. – Ele piscou e eu sorri.
- Opa, pode chamar! – Sorri, tirando as luvas.
- Vamos organizar e ir embora. – Ele gritou, seguindo de volta para os reservas.
- Foi ótimo! – Bárbara apareceu, passando a mão em meus ombros e eu sorri.
- Valeu, foi uma experiência sensacional. – Sorri e ela tocou na minha mão.
- Eu filmei, ! – Débora falou animada e eu sorri.
- Ah, depois me passa, por favor. Quero que o mundo veja esse tombo aí!
- Essa defesaça! – Bárbara falou e eu sorri, confirmando.

Chegamos no hotel somente a tempo de pegar nossas coisas e já seguimos viagem. Como o jogo seria em Nottingham, fomos de ônibus mesmo. Cerca de três horas de viagem. A vantagem é que, quando eu olhei no mapa, percebi que estava cada vez mais perto de Liverpool. Como não daria para eu ficar conversando com Alisson no meio do caminho, ficamos pelo WhatsApp mesmo, já era tarde da noite e ele deveria estar de folga.
“Oi, apareci! O dia foi corrido hoje, mas consegui jogar um pouco com as meninas”. – Escrevi.
“Com as meninas você joga, mas foge da gente?!” – Ele respondeu logo em seguida.
“Com elas eu me sinto mais em casa”. – Escrevi. – “Falando em casa, estamos indo para Nottingham, cada vez mais perto de Liverpool”.
“Tenho jogo no domingo, será que consigo te ver antes de segunda?”
– Ele perguntou e eu suspirei.
“Não sei, ainda tenho compromisso no domingo, famosa queima de arquivo, se esqueceu?” – Suspirei.
“Veja o que consegue, por favor”. – Dei um pequeno sorriso.
“Eu sempre tento”. – Coloquei a mão no peito, respirando fundo. – “Estou na estrada, devo chegar perto da meia-noite”.
“Vai dar tempo de a gente conversar? Eu vou sair para jantar com os caras, noite a base de refrigerante, mas até meia-noite eu já voltei”.
– Ri fracamente.
“Eu levei uma linda bolada no jogo de hoje, estou toda dolorida, talvez durma assim que chegar. Além de que o jogo é amanhã cedo”.
“Puts...”
– Suspirei.
“Vai se divertir com seus amigos, nós damos um jeito, só mais algumas horas. Você é forte, você aguenta. Já foi um mês, não se esqueça”. – Dava para perceber que ele estava chateado com a situação, eu entendia também, estávamos tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
“Só não se esqueça que eu te amo, ok?” – Ele escreveu e eu sorri.
“Eu também, senhor Becker. Eu também”. – Respondi, adormecendo logo em seguida.

O dia do jogo começou cedo, não estava acostumada com o jogo as cinco da tarde, então aquilo me pegou de jeito, principalmente por eu começar a sentir as dores musculares do jogo no dia anterior, eu parecia uma senhora de 80 anos andando com dores nas costas, no abdome e em outras partes um tanto estranhas de mencionar.
O amistoso das meninas contra a Inglaterra foi bem maçante, se quer saber. Aconteceu no estádio Meadow Lane, na pequena e fofa cidade de Nottingham, a qual eu só tive o prazer de conhecer melhor no dia seguinte, já que capotei no ônibus e só acordei quando cheguei no hotel. Enfim, sobre o jogo, começamos levando um gol nos dois minutos de jogo e ele se manteve assim pelos outros 88 minutos. O Brasil até tentou um empate, pelo menos, mas a goleira inglesa estava muito bem preparada.
Outro pronto ruim do jogo foi Marta ter saído do campo com alguns minutos do jogo sentindo a perna esquerda, a mesma perna a qual ela já havia sido lesionada antes. Aquilo preocupou todo mundo da equipe técnica, afinal, tinha a Copa do Mundo Feminina ano que vem e Marta era nossa craque.
Após voltarmos para o hotel com aqueles ânimos baixos, eu ainda ajudei Débora e Anna em uma entrevista com a Marta, a respeito daquele prêmio maroto que eu a vi ganhar alguns dias atrás, sabe? A produção foi diferenciada, principalmente porque ouvimos também outras jogadoras e o pessoal da CBF pretendia fazer algo bem especial em homenagem à Marta.
Não fomos dormir tarde aquele dia, eu estava realmente acabada, então tomei um analgésico para ver se estava mais disposta na segunda-feira para encontrar meu namorado e o pessoal da masculina.
Levantei por volta das nove para fazer as últimas honras e me despedir tanto das jogadoras, quanto da minha equipe. Abracei fortemente cada uma das meninas, agradecendo a diversão que tinha sido esses últimos dias e recebi vários “nos vemos de novo”, me dando prazer em realmente ser valiosa no que eu fazia.
Como as jogadoras vinham de vários lugares do mundo, os horários de voo eram variados também, então consegui finalizar tudo as quatro da tarde. Olhei meu relógio e bufei irritada, o jogo de Alisson começaria em meia hora em Liverpool, não tinha chances de eu chegar lá a tempo.
Voltei para meu quarto irritada, mandando uma mensagem para ele. Sim, eu estava aqui há trabalho, mas não custava nada fazer alguns esforços. A vantagem foi que eu não tive problemas com a TV a cabo, já que a BBC estava transmitindo esse jogo para todo mundo. Quando era quase sete da noite, ele apareceu de novo, me ligando pelo Skype.
- Não acredito que isso aconteceu, foi por pouco. – Ele falou e eu suspirei.
- Aqui acabou quatro horas. – Bufei. – Não tinha como eu chegar aí, eu procurei, são mais de duas horas de viagem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, a Inglaterra parece um país pequeno, mas não tão pequeno. – Ele respondeu e eu fiz uma careta.
- Eu vi o jogo, foi difícil. – Falei.
- Manchester City, não é fácil mesmo, mas, pelo menos, ficou no zero a zero. – Assenti com a cabeça.
- Vocês vão que horas amanhã? – Perguntei.
- Estou me arrumando para ir, na verdade. Eu e o Firmino vamos encontrar o Ederson, Jesus e Danilo para irmos juntos. – Assenti com a cabeça. – E você? Você me parece meio abatida.
- Dores no corpo, só isso. – Suspirei. – Peguei pesado no jogo. – Ele riu fracamente.
- Eu vou cuidar de você. – Sorri.
- Só não me abrace tão forte, capaz de eu desmontar. – Ri fracamente e ele assentiu com a cabeça.
- Pode deixar. – Ele sorriu. – Você vai hoje para Londres ainda? Amanhã? Quer que a gente passe para te pegar? – Ri fracamente.
- Vocês vão de avião que eu sei. – Ele riu. – Mas não se preocupe, vou amanhã cedo, combinei com o motorista da van às oito horas, devo chegar aí por volta das 11. – Ele confirmou com a cabeça.
- Venha logo, ok?! – Ele piscou e eu confirmei.
- Pode deixar, vou aproveitar meu dia sozinha em um hotel cinco estrelas para dormir. – Suspirei. – E comer, obviamente.
- Aproveite mesmo, não vou te deixar dormir. – Ele falou mais baixo e eu ri fracamente.
- Uh, senhor Becker, não me atice! – Brinquei e ele piscou. – Estou nem em condições disso! – Sorri.
- Eu te aviso quando chegar, ok?! Estou indo para o aeroporto.
- Combinado, se eu não responder, é porque dormi. – Bocejei. – Vou descer para jantar daqui a pouco, já fechar a conta e tudo mais, e depois eu vou tomar outro analgésico e capotar na cama.
- Não exagere e melhore, ok?! – Sorri, mandando um beijo para tela.
- Eu te amo, ok?! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei, eu também te amo. – Ele disse e eu suspirei, esperando que ele desligasse primeiro, me fazendo suspirar quando ele o fez.
- Contagem regressiva: um dia. – Falei, olhando para o teto do quarto, criando coragem para levantar, sentindo o abdome reclamar quando eu o fiz.


Capítulo 5 – Da Felicidade ao Desespero

- Senhorita? – Tomei um susto, abrindo os olhos e olhei para o motorista virado para trás, me encarando.
- Oi! – Falei encabulada, havia dormido de novo.
- Chegamos! – Ele olhou para a janela do carona e eu virei para o lado, vendo o galo azul do Tottenham nas paredes de tijolo à vista do CT do time.
- Há quanto tempo estamos aqui? – Perguntei.
- Uns 10 minutos. – Ele respondeu rindo e eu fiz uma careta.
- Obrigada mesmo! – Empurrei a porta da van, sentindo o sol bater em meu rosto e franzi os olhos.
Coloquei a mochila nas costas e puxei minha mala gigantesca da van. Eu acabei exagerando no tamanho da mala dessa vez, fiz mala para quase 20 dias por causa de tudo isso, ainda bem que eles davam os uniformes. Um funcionário do CT se aproximou e sorri ao vê-lo pegar minha mala, fiz questão de ajeitar o crachá em meu pescoço e segui o funcionário, passando pelas portas de vidro do prédio principal do CT.
- Senhorita ? – Virei para o lado, encontrando quem pareceu ser o gerente do hotel.
- Sim, o senhor é...
- Sylvan Smith, gerente. – Ele esticou a mão e eu o cumprimente.
- , assessora da CBF. – Ele sorriu.
- Disseram que você chegaria por essa hora. – Olhei o relógio, vendo que passava das 10.
- Eu estava em Nottingham, pegamos um pouco de trânsito. – Ele assentiu com a cabeça.
- Todos os jogadores e equipe técnica já estão alocados em seus respectivos quartos e estão no restaurante tomando café. Você gostaria de se acomodar ou encontrá-los antes? – Ele perguntou e eu dei um pequeno sorriso.
- Vou me apresentar antes. – Ele assentiu com a cabeça.
- Podemos levar suas coisas para o quarto enquanto isso?
- Claro! – Tirei a mochila das costas, pegando o celular na rede nas laterais e o coloquei no bolso. – Obrigada! – Entreguei para o mesmo e ele sorriu.
- Quarto 25, senhorita. – Ele me entregou uma chave e eu a peguei, sorrindo. – O restaurante é seguindo o corredor. – Ele disse e eu confirmei.
- Obrigada! – Ele se afastou e eu respirei fundo.
Olhei rapidamente para os lados e encontrei a entrada para o corredor e segui até a mesma. Assim que eu entrei, reparei as paredes de vidro mostrando o restaurante lá dentro. Sorri ao ver rostos conhecidos e a tão conhecida bagunça. Fechei a mão e bati os nós nos dedos no vidro, chamando atenção de Lucas, Coutinho e Jesus que estavam lá dentro e eles sorriram ao me ver. Dei passos mais rápidos até a porta dupla em minha frente e empurrei-as, virando para a esquerda, encontrando todo mundo.
- Ah! – Lucas gritou animadamente e me abraçou forte, me fazendo rir e tirar os pés do chão por alguns segundos. – Senti sua falta, sua louca! – Gargalhamos juntos e ele me soltou, virei o corpo e encontrei Alisson me encarando com um largo sorriso no rosto.
- Filha da mãe! – Ele falou e eu gargalhei, passando os braços pelos seus ombros, sentindo-o me apertar pela cintura e me tirar alguns centímetros do chão. – Você estava tão perto, mas tão longe. – Ele cochichou contra meu ouvido e eu suspirei, puxando o delicioso cheiro de seu perfume.
- Melhor perto do que longe. – O encarei quando ele me colocou no chão novamente e colamos nossos lábios delicadamente, nos afastando segundos depois.
- Senti sua falta. – Ele falou contra meus lábios e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Sempre, sempre! – Disse, ajeitando o boné que estava em sua cabeça na posição correta. Me virei para o restaurante novamente, observando que as pessoas me olhavam.
- Fala aí, garota! – Tite falou e eu sorri.
- se apresentando para o serviço, senhor. – Brinquei e ele riu, me puxando para um abraço.
- Vai se entregar por indisciplina também? – Ele brincou e ri.
- Ainda não! – Sorri e me afastei, seguindo para o resto do pessoal.
Dessa vez tínhamos a volta de alguns antigos jogadores, como meus queridos: Ederson, Jesus, Danilo e Miranda. Além de pessoas novas como Phelipe, da sub-20, Pablo e Walace. O resto do pessoal eram bons amigos ou humildes conhecidos, além da equipe técnica de sempre.
- Senti sua falta, garota! – Ederson comentou e eu o abracei de lado, sorrindo.
- Eu também, como está o Henrique? – Perguntei sobre seu recém-nascido.
- Ah, está tudo bem, graças a Deus. Só crescendo.
- Ele é lindo demais, meu Deus! Não sei como pode, dois filhos lindos dessa coisa estranha aqui. – Brinquei e ele mostrou a língua.
- Acho que puxou a esposa. – Jesus comentou e eu ri.
- Você também, sumido! – Cutuquei sua barriga e ele riu, me apertando em um abraço. – Senti sua falta.
- Eu também. – Ele sorriu.
- Bom, vamos trabalhar? – Edu perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Eu preciso falar umas coisas, mas acabei de lembrar que ficou tudo na mochila. – Franzi a testa. - Deixa eu ver se eu lembro. – Peguei o celular, procurando o bloco de notas. – Vamos lá! Oi, pessoal. Eu sou , assessora de viagens da CBF e assessora chefe dessa viagem, além de única assessora. – Dei de ombros e eles riram. – Eles acharam uma boa ideia trazer uma mulher para uma viagem para a Arábia Saudita e uma única assessora para um jogo contra a Argentina, faz parte. – Brinquei. – Agora falando sério, nós temos 10 dias nesse amistoso, treinaremos até o dia 10 aqui, depois viajaremos para Riad, na Arábia Saudita, aonde faremos um jogo contra os donos da casa, depois iremos para Jidá jogar contra a Argentina. – Eles assentiram com a cabeça. – Aposto que os horários e informativos já foram passados e o restante, ou problemas, vocês vêm falar comigo. – Suspirei. – Só mais uma coisa, creio que a maioria já sabe, temos poucos nomes novos, mas eu e Alisson somos um casal, mas isso não sai daqui, ok?! – Virei para Alisson. – Ainda estamos em segredo, não é?!
- A última informação que eu recebi foi essa. – Rimos juntos.
- Eu conto para todo mundo, isso vai acabar vazando. – Ele revirou os olhos.
- Abafa o caso! – Rimos juntos.
- Enfim, gente, além disso todo dia tem uma coletiva e a escolha é feita pela equipe técnica, eu só os levo para cumprir esse dever, ok?! Não matem o mensageiro. – Eles sorriram. – Horário de treino e descanso serão dados por Tite. Questões de problemas pessoais e eventos extras, comigo. Além de que vocês não têm permissão para sair daqui sem aviso prévio e cuidem desse celular, nada de revelar coisas que não devem. – Eles riram. – Vejo que alguns de vocês chegaram agora também, outros já estão acomodados, então vamos nos organizar que vocês já têm treino à tarde.
- Você também. – Tite se aproximou. – Não quer descansar ou algo assim?
- Eu dormi ontem e hoje a viagem inteira. – Mexi o corpo. – Eu joguei com as meninas da feminina e estou à base de analgésico. – Ri fracamente.
- Com as meninas você joga, é?! – Coutinho perguntou bravo e eu dei um sorriso sem graça.
- E quase morri, mas tá valendo! – Eles riram. – Levei uma bolada na barriga que tirou minha alma.
- Mas pegou a bola, né?! – Taffarel perguntou e eu ri.
- Obviamente. – Ele me abraçou de lado, rindo.
- Assim que eu gosto.
- Depois eu compenso com vocês, meninos, prometo. – Eles riram. - Acho que eu vou comer algo, depois me ajeito. – Comentei.
- Vem, eu te ajudo! – Alisson comentou e eu passei o braço pela sua cintura, me levando para o buffet. - Como você está? – Ele perguntou, depositando um beijo em minha cabeça.
- Tudo certo, ainda um pouco dolorida, mas bem. E você? – Sorri, pegando uma bandeja e um prato.
- Tudo bem também. – Sorrimos.
- Não sei se é porque faz menos tempo ou se eu vim mil vezes para Londres, mas parece que eu te vi ontem. – Falei e ele sorriu.
- Com o tempo vai ficando mais comum, os encontros são mais rápidos, nossos dias estão mais corridos. – Ele comentou. – Só no fim do ano talvez fique meio bagunçado, mas a gente dá um jeito.
- Certeza que a CBF vai ter férias coletivas, eu vou te visitar em Liverpool. – Pisquei e ele riu. – A não ser que prefira passar o fim de ano no calor infernal do Brasil.
- Vou adorar te receber. – Ele disse e eu sorri. – Ovo mexido? – Ele perguntou e eu estendi o prato, vendo-o servir uma colher do mesmo. – Bacon?
- Não! Quem come bacon de manhã? – Ele riu.
- Já ouviu falar no English breakfast? – Ele perguntou e senti meu corpo arrepiar.
- Mais do que eu gostaria. – Falei e ele gargalhou.

Após o café da manhã tardio, ficamos enrolando lá no restaurante para que os meninos fizessem a digestão. Acabamos usando esse tempo para matar as saudades e colocar as novidades em dia. Obviamente que minha foto no prêmio The Best acabou caindo na mão de alguns engraçadinhos e eu virei motivo de zoação, mas não é como se isso fosse novidade, não é mesmo?
Quando foi por volta da uma da tarde, eles seguiram para o campo para iniciar os primeiros treinamentos e eu aproveitei a deixa para tirar alguns minutos para mim e dar uma organizada nas minhas coisas e conhecer meus aposentos.
Chique assim, porque olha, que hotel o Tottenham tinha aqui, hein?! A área do hotel era quase como vários chalés um do lado do outro, no térreo mesmo do prédio, com um grande jardim no centro. O quarto em si era simples, mas igualmente bonito e luxuoso. A janela de trás de todos os quartos davam para os diversos campos de treinamento que eles tinham ali. Eu podia ser espectadora do time do meu próprio quarto, o que era sensacional. Estava longe, mas mesmo assim.
Após eu desfazer a mala, trocar minha roupa pelo uniforme da CBF que já se encontrava em meu armário e checar questões de credenciais e passaportes, fui acompanhar o treino mais de perto. Parecia que o bichinho do sono tinha me picado, pois eu não conseguia parar de bocejar, acho que era efeito do remédio ainda, não era possível.
Eu adorava que Alisson gostava de se exibir para mim sempre que podia, não que fosse difícil, mas adorava também o quão discreto ele parecia com a presença da imprensa. Havia uma discrepância enorme, mas entendíamos e após o rolo do último amistoso, não precisávamos de ninguém nos controlando novamente, havíamos entrado em um acordo bom para ambos os lados e não queríamos acabar com isso. Além de que nosso assunto com a imprensa ainda era um pouco incerto. Não via problema nenhum em abrir para o mundo, mas o que martelava na minha cabeça era o quanto essa informação afetaria nossas carreiras.
Quando foi por volta de três horas, eles fizeram uma pausa para tomar um lanche, fazer hidratação, comer algumas frutas e respirar um pouco. Aproveitei para pegar com Tite os nomes para a coletiva que aconteceria dali alguns minutos, os escolhidos do dia seriam Fabinho e Pablo. Eu tinha certa relação com Fabinho por causa de Alisson, mas ele era quieto, agora Pablo era bem tagarela, então parecia que demos play nele e ele não parava de falar, mas era bom, assim eu me enturmava mais com os novatos.
Após a coletiva, tivemos mais cerca de duas horas de treinamentos, o que eu ocupei contando as novidades de todos esses dias longe para Lucas, Vinícius e Leandro, além de evitar que eu deitasse naquelas arquibancadas, dormisse e pagasse um belo king kong. Depois do treino, cada um seguiu para seu quarto para descansar e se arrumar para jantar e eu acabei tendo uma ótima companhia em meu banho.
- Ok, eu assumo, menti sobre o que disse mais cedo, eu estava com muitas saudades. – Cochichei quando ele beijou meu pescoço e riu fracamente contra minha pele.
- Eu sempre vou sentir sua falta, perto, longe, não dá para viver sem você. – Virei o corpo, desviando do jato do chuveiro em meu rosto e passei os braços pelos seus ombros.
- Não apresse as coisas que não podemos resolver ainda, senão eu surto e posso fazer alguma besteira. – Ele riu fracamente, distribuindo beijos pela minha bochecha.
- Como o quê? – Ele me encarou, colando nossos narizes.
- Não sei, mas não subestime uma mulher apaixonada. – Brinquei. – E com parafusos a menos. – Ele riu, colando nossos lábios por alguns segundos.
- Nunca te subestimei e não vai ser agora que eu vou começar! – Ele disse e aprofundou o beijo em seguida.
Passei as mãos em seus cabelos molhados, sentindo-o pressionar as mãos em minha cintura e me empurrar para a parede do boxe, fazendo com que a água nos afogasse por alguns segundos e entreabrir os lábios rindo. Ele pressionou seu corpo sobre o meu e eu soltei um gemido baixo, abraçando-o mais perto de mim.
- Não, agora não. – Cochichei, sentindo seu corpo relaxar.
- Por quê não? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Eu ainda tenho que trabalhar. – Cochichei e ele me encarou com uma cara nada surpresa. – E você sabe como fico toda mole depois que transamos. – Ele riu fracamente.
- Você quer dizer “com sono”. – Sorri.
- Também. – Ele negou com a cabeça, se afastando um pouco, mantendo uma distância permitida entre nossos órgãos. – Só porque eu te amo, dona .
- Eu compenso contigo mais tarde. – Roubei um beijo dele e ele riu.
- O que você tem para fazer ainda hoje? – Ele perguntou entrando embaixo do chuveiro para realmente tomar seu banho e eu fiquei encostada na parede do boxe.
- Tem dois jogadores chegando, Marcelo e Everton foram cortados por lesões. – Suspirei.
- Ah é? Nem estava sabendo disso. – Sorri.
- Vemos que você é péssimo em contas. – Brinquei, piscando e ele revirou os olhos. – Estamos com dois jogadores a menos.
- Nunca nem pensei em fazer isso, para falar a verdade. – Sorri.
- Agora vai, termina isso que precisamos ir logo.
- Qual a diferença de você ir recepcioná-los? – Ele começou a falar e eu revirei os olhos. – Qual é! Todo mundo já conhece o discurso de boas vindas de cabo a rabo, de trás para frente. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Adoro quando você valoriza meu trabalho. – Falei irônica e ele riu, me fazendo sorrir. - Também não acho grande coisa, mas está nas minhas ocupações e precisamos nos manter obedientes para aquele rolo com a equipe técnica funcionar. Ou nem dormir juntos vamos conseguir mais, vai ter Matheus Bacchi de segurança nas nossas portas. – Ele gargalhou.
- E por que acha que Matheus seria um bom segurança? – Dei de ombros.
- Ele é o mais alto, poderia te encarar. – Ele riu fracamente, negando com a cabeça.
- Seria engraçado, mas você tem razão sobre a questão de se comportar, não quero outra dor de cabeça igual da outra vez.
- Obrigada. – Sorri e o empurrei para fora do jato de água. – Agora vai! – Ele riu fracamente, saindo do boxe e me dando espaço para eu terminar de lavar meus cabelos.
- Mandona! – Alisson comentou e puxou uma toalha para começar a se secar.
Quando chegamos no restaurante, Lucas Moura e Renato Augusto já cumprimentavam alguns jogadores e membros da comissão, o que fez com que eu desse uma cotovelada na barriga de Alisson por isso e ele só fez uma careta de “acontece”. Recebi um abraço caloroso de Renato, conheci Lucas e seguimos para o jantar que rolou até mais tarde por causa do tradicional trote de boas vindas dos novos jogadores.
Voltamos para o quarto gargalhando de Jesus tropeçar nas plantas do jardim e todos pedimos silêncio para que ele não chamasse a atenção de alguns dirigentes que haviam se retirado um pouco mais cedo. Alisson passou o braço pelos meus ombros e seguiu comigo até meu quarto, ouvindo as provocações dos jogadores e eu e ele só colocamos as mãos na boca, pedindo silêncio, antes de eu puxar a porta.
- Esse povo é impossível! – Alisson falou, largando os chinelos pelo quarto e eu puxei a cortina, vendo alguns rostos enfiados contra o vidro.
- Falou o adulto! – Brinquei, puxando minha blusa para cima.
- Mais que alguns deles! – Ele brincou e eu revirei os olhos.
- Existem divergências sobre o assunto. – Falei e ele cruzou os braços, me encarando. – Que gracinha! – Brinquei e ele se desarmou, vindo em minha direção.
- Vai se arrumar para dormir? – Ele perguntou, passando as mãos pela minha cintura.
- Pretendo. – Ergui as mãos para seus ombros e ele desceu a boca para meu pescoço, distribuindo beijos pela mesma.
- Não vai não. – Suspirei, rindo fracamente. – Você me deve.
- Hum, e quais são os termos disso? – Brinquei e ele me encarou, colando nossos narizes.
- Para você? Nenhum. Para mim? Todos! – Ri fracamente contra sua bochecha e ele desceu o rosto entre meus seios, passando as mãos pelas minhas coxas e me puxando para seu colo.
Apoiei as mãos em seus ombros e colei nossos lábios mais uma vez naquele dia. Ele me sustentou em seus braços por alguns segundos e andou comigo até minha cama, apoiando uma mão em minhas costas e me deitando sobre a mesma. Ele puxou sua blusa, jogando-a para o lado e se colocou em cima de mim.
Passei a mão pelas suas costas, sentindo os músculos bem torneados e passei a unha levemente sobre o mesmo, vendo-o se arrepiar com isso, me fazendo rir fracamente. Sua boca saiu de uma feição surpresa para um sorriso sacana e seus lábios encontraram minha pele novamente, fazendo um movimento contínuo do meu pescoço até a entrada da minha virilha.
Ele puxou minha calça para baixo, fazendo com que eu levantasse o quadril para ajudá-lo e o pressionei contra mim quando ele se colocou em cima de mim novamente. Ergui a mão livre para seu rosto, fazendo um carinho em sua bochecha barbuda e ele sorriu, dando um beijo em minha mão.
- Eu te amo! – Ele sussurrou contra minha pele e eu sorri, virando seu rosto para mim.
- Eu também! – Ele encostou nossas testas, colando nossos lábios levemente e eu passei meus braços ao redor de seu corpo, fazendo-o virar o corpo e se deitar ao meu lado, me puxando para mais perto pela cintura. – E eu amo nossos momentos.
- São os melhores possíveis. – Ele disse e me puxou pela cintura para cima dele.
- Ah! – Gritei um pouco alto pelo susto e coloquei a mão na boca imediatamente.
- Ei, casal, mais baixo! – Reconheci a voz de Filipe Luís do outro lado da parede e coloquei a mão na boca, tentando abafar a gargalhada, ouvindo a de Alisson ecoar pelo quarto antes da minha e me joguei para o lado da cama também, deixando minha gargalhada ecoar pelo quarto.
- Me lembre de matá-lo amanhã. – Alisson cochichou e eu neguei com a cabeça.
- Com todo prazer. – Sorri e ele me puxou para mais perto novamente, colando os lábios nos meus.

Abri meus olhos devagar e bocejei logo em seguida, me espreguiçando, jogando as mãos para cima. Rolei na cama, esperando encontrar meu travesseirinho particular, mas virei o corpo demais, arregalando os olhos e percebendo que estava sozinha. Ergui meu corpo na cama, olhando rapidamente em volta e franzi a testa ao constatar que eu realmente estava sozinha. Joguei as pernas para fora da cama, ouvindo o som abafado de uma descarga e virei em direção ao banheiro, vendo a porta se abrir.
- Ei! – Ele falou, sorrindo em minha direção e deixei que ele se aproximasse e desse um rápido beijo em meus lábios. – Dormiu bem?
- Muito bem! – Me levantei, deixando que ele abraçasse meu corpo nu e enterrei meu rosto em seu ombro. – E você?
- Impossível não dormir bem contigo! – Rimos juntos e eu estalei um beijo em sua bochecha. – Já tomou banho? Se arrumou?
- Já sim, você acabou dormindo um pouquinho demais. – Franzi a testa.
- Estou atrasada? – Perguntei, procurando rapidamente por um relógio.
- O café já começou a ser servido, mas o treino começa só nove e meia. – Ele deu de ombros. – Dá tempo de você se arrumar com calma.
- Você quer já ir? Eu apareço lá depois. – Comentei e ele gargalhou.
- Certeza que o Filipe vai zoar a gente por ontem, prefiro encarar isso contigo. – Neguei com a cabeça.
- Ah, qual é, está com medo do Filipe? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Acho que estou com medo de já sair socando alguém logo cedo! – Neguei com a cabeça, gargalhando em seguida.
- Essa eu queria ver! – Sorri e ele estalou mais um beijo em minha bochecha. – Eu já volto!
- Vai lá. – Ele sorriu e eu segui para minha mala, procurando uma troca de uniforme para o dia, optando por usar a calça de moletom hoje e segui para o banheiro.
Em pouco menos de meia hora eu troquei minha máscara de sono, por uma muito mais animada para o dia que se seguiria. Creio que após essa longa noite de sono, o efeito do remédio finalmente tinha passado e me manteria um pouco mais animada por esse dia. Fiz um firme rabo de cavalo com os cabelos secos, calcei meus tênis de corrida e passei um batom claro na boca, só para dar uma mudada na feição.
- Vamos lá! – Falei para Alisson, colocando o celular no bolso e saímos de meu quarto, com ele dando uma bisbilhotada para ver se o caminho estava limpo. – Para de graça! – Falei e ele riu.
- Pode ter imprensa também, vai. – Ponderei com a cabeça e nem cogitei em pegar sua mão.
Ele seguiu na frente e eu tranquei meu quarto, guardando a chave no bolso também. Passamos por dentro do lobby do hotel e seguimos para o restaurante, pelo corredor já deu para perceber que todo mundo estava lá, menos a gente. Entramos cumprimentando algumas pessoas mais próximas e seguimos para o buffet. Quando voltamos para as mesas, nos separamos, eu sentei na mesa da equipe técnica e ele na dos jogadores, mas um de costas para o outro, somente um fino corredor nos separando.
- E aí, gente! – Ouvi a voz de Filipe e eu e Alisson viramos o corpo de costas, para trocar aquele olhar que só a gente conhecia.
- E aí? – Alisson perguntou e eu virei o corpo para frente de novo, prestando mais atenção à minha torrada com cream cheese.
- A noite foi boa? – Respirei fundo, vendo a cara franzida de Vinícius do outro lado da mesa e eu só revirei os olhos.
- Melhor que a sua, aposto. – Alisson respondeu e boa parte das duas mesas gargalharam, me deixando levemente envergonhada.
- Estou sabendo mesmo, ouvi um grito ontem que olha! – Filipe falou de um jeito engraçado que até eu não consegui evitar a gargalhada.
- Me respeita, cara! – Alisson brincou, tentando se manter sério.
- Eu ouvi também! – Fabinho falou e a mesa explodiu em risadas novamente, me fazendo levantar e apoiar as mãos nos ombros de Alisson.
- Qual é, galera! – Falei. – Eu caí, ok?! – Me arrependi segundos depois.
- O que você estava fazendo com a garota, Alisson? – Ederson perguntou e eu respirei fundo, batendo a mão na testa.
- Eu odeio vocês! – Comentei, abanando a mão.
- Ah, qual é! – Filipe comentou rindo. – A gente ama vocês.
- Eu sei! Até demais! – Eles gargalharam e Tite apareceu ao meu lado.
- Pelas risadinhas posso perceber que todo mundo está pronto para o treino, não é mesmo? – Ele perguntou e eu o abracei pela barriga, rindo. – Deixe-os em paz! Quem não gosta de um sexo selvagem, não é mesmo? – E as risadas voltaram, me fazendo revirar os olhos.
- Valeu! – Falei bufando e até Alisson riu da minha reação. – Eu deveria ter entrego minha carta de demissão quando tive chance. – Alisson riu.
- Perdeu, playboy! – Neymar gritou e eu estendi o dedo do meio para ele, ouvindo-o gargalhar.
- Pelo amor de Deus, leve-os para treinar agora! – Voltei a sentar em meu lugar e até dei uma cotovelada em Lucas que não parava de gargalhar ao meu lado.

Logo eles seguiram para o treino e eu passei rapidamente no quarto para pegar as informações para o dia. Assim que abri as notificações do dia, arregalei aos olhos ao encontrar um e-mail de Michelle com o assunto “Indicados Bola de Ouro 2018”. Senti meu corpo arrepiar enquanto o arquivo carregava e não precisei correr a lista, ao perceber que o segundo nome já era do meu namorado!
- AH! – Gritei animada, gargalhando sozinha na cama e desci os olhares pela lista, encontrando o nome de outros três conhecidos brasileiros, me fazendo suspirar.
Peguei o notebook e o celular rapidamente e fechei o quarto às pressas, correndo em direção à academia, aonde eles estavam iniciando o treino hoje. Entrei na mesma deslizando pelo chão, esbarrando em Lucas que tirava algumas fotos.
- Não vai dizer que alguém morreu! – Sylvinho perguntou e eu ri fracamente.
- Hoje não! – Sorri e larguei o notebook em cima do banco de um aparelho vazio e quase saltitei em direção à Tite.
- O que foi? – Ele perguntou, percebendo que eu não parava de pular empolgada.
- Posso fazer um anúncio? – Perguntei pausadamente e ele riu fracamente.
- Precisa ser agora? – Ele perguntou e eu desbloqueei o celular, mostrando para ele, vendo-o sorrir. – Precisa! – Ele mesmo respondeu e eu sorri. – Galera, vamos prestar atenção aqui na por um minuto! – Ele gritou, batendo palmas em seguida e os olhares dos jogadores se viraram para mim.
- Não sei se alguém teve tempo de olhar as redes sociais, mas saiu a lista com os 30 nomes indicados para o Ballon D’Or desse ano e temos quatro brasileiros na lista! – Sorri e notei que alguns ouvidos ficaram mais atentos do que outros. – Em ordem alfabética. – Virei o rosto em direção a Alisson na bicicleta. – Alisson, Liverpool! – Ele arregalou os olhos.
- Mentira! – Ele falou e eu sorri.
- Verdade demais! – Rimos juntos. – Firmino, Liverpool!
- Yeah! – Ele falou animado, me fazendo rir.
- Marcelo, que infelizmente não está aqui. – Suspirei. – E Neymar, PSG.
- Ah, moleque! – Ele falou animado e eu ri da reação dos três presentes.
- Parabéns, gente! A premiação é dia três de dezembro e eu desejo sorte a todos! Eu sei o tanto que vocês batalham para esse reconhecimento.
- Uhul! – Coutinho puxou uma salva de aplausos e os três vieram em minha direção.
- Eu não tenho chances. – Alisson falou e eu neguei com a cabeça, abraçando-o fortemente.
- Cala a boca, você é incrível! – Ele sorriu, abanando com a mão.
- Valeu, garota! – Firmino falou e eu neguei com a cabeça.
- Eu não fiz nada. Só repassei a informação. – Ele sorriu e o último que abracei foi Neymar.
- É uma boa informação! – Neymar também me abraçou e eu sorri.
- Bom, voltem ao trabalho. Comemoraremos na janta. – Sorri e eles assentiram com a cabeça, rindo fracamente.
Pisquei em direção a Alisson, vendo-o voltar para a bicicleta e eu virei para Tite, batendo a mão rapidamente na sua, peguei meus materiais e saí dali, procurando algum lugar para eu responder alguns e-mails e primeiras chamadas sobre o amistoso desse mês.

Não tivemos nada de muito interessante no segundo dia. Nosso primeiro jogo seria contra a Arábia Saudita, ninguém estava realmente muito interessado. Então, a imprensa acompanhava alguns minutos do treino de campo, fazíamos uma coletiva diária e ocupávamos o resto do dia procurando coisas para fazer. Eu ajudava Vinícius a fazer algumas entrevistas com alguns jogadores e rezava para o meu celular tocar para que eu fosse útil com alguma coisa.
Naquele dia, a coletiva foi com Wallace e Ederson. Wallace era novato na seleção, então era realmente interessante ver as caras novas enfrentando a imprensa, era um show à parte. Agora Ederson era carteirinha velha no baralho, então a única graça é que ele tinha um amor especial por mim, o que era bom... Em partes.
Depois, quando o treino ia para o campo novamente, eu ficava dando aquela básica analisada no treinamento de goleiros de Taffa. Eles ainda insistiam em me fazer jogar com eles, mas me dava preguiça só de imaginar isso, principalmente após a última oportunidade com a feminina. Havia sido sensacional, mas havia me provado que eu realmente não estava nem perto da forma de um jogador profissional, o que me fazia repensar algumas dietas para perder todos os quilos ganhos nessas viagens internacionais. Apesar disso, era engraçado vê-los tentando me convencer.
Entre os goleiros, tínhamos um convocado da sub-20, o Phelipe. Ele era a coisa mais linda e fofa que eu já tinha visto em toda minha vida. Ele era bonito, simpático, goleiro e tinha somente 20 anos. Eu adorava fazer comentários sobre ele na frente de Alisson para deixá-lo com ciúmes e deixar Phelipe encabulado! Era engraçado.
- Ele é você! – Comentava com Alisson de trás do gol. – Seis anos mais novo, mas é! – Dei de ombros, vendo-o revirar os olhos.
- Eu entendi, . – Abri um largo sorriso, me apoiando na trave.
- Só não é tão alto, mas tá valendo. – Ri fracamente, vendo Phelipe mais vermelho que um pimentão.
- Ela adora goleiros. – Taffarel comentou com Phelipe.
- Isso explica algumas coisas. – O mais novo comentou, me fazendo rir.
- Ele é uma criança, qual é, para de assediar o garoto! – Alisson comentou se colocando ao meu lado e eu ri fracamente.
- Ele já é casado e a esposa dele está grávida. – Bati a mão na testa. – Não entendo que mania vocês têm de casar cedo, meu Deus!
- Eu não sou casado. – Alisson comentou.
- Falou o pai de uma criança de um ano e pouco. – Dei um sorriso e ele abanou as mãos. – E nem pense em casamento agora, pelo amor de Deus! – Ergui os braços em sinal de rendição, causando risada até de Lucas que tirava fotos ali perto.
- já está colocando os pontos no “i”, Alisson. – Lucas comentou e eu sorri.
- Eu não sei se tenho capacidade para casar agora, eu só tenho 25 anos. – Suspirei. – Às vezes eu me sinto muito madura, mas na maioria das vezes eu sou só uma criança. E eu quero aproveitar essa fase criança ainda.
- Eu namoro uma criança agora, gente! – Alisson comentou, se encostando na trave para dentro do gol e eu sorri, virando e dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Isso não deveria ser algo comentado em público! – Falei e ele negou com a cabeça, me abraçando.
- Não se preocupe, temos nosso tempo. – Ele sorriu. – Eu sei respeitar isso. – Sorri e assenti com a cabeça.
- Eu sei! – Sorri. – Você é bom demais para mim.
- Como ela sabe dessas coisas? – Ouvi Phelipe cochichar para Ederson e eu e Alisson rimos.
- Ela sabe mais de você do que você mesmo. – Ederson respondeu. – Ela já deve seguir você, sua esposa, seus pais e algumas outras gerações. – Neguei com a cabeça. – A CBF também deve ter alguns métodos meio suspeitos.
- Não se preocupe, ela erra de vez em quando. – Alisson comentou e eu ri fracamente.
- Ei, foi um erro honesto, vai! – Comentei e ele sorriu.
- Do que eles estão falando? – Phelipe perguntou.
- Longa história! – Abanei a mão e Alisson riu ao meu lado.
- Eu conto depois. – Alisson brincou e eu sorri.
- ! – Virei o rosto para a voz e vi Vinícius e Leandro acenando para mim do outro lado do campo.
- Até mais tarde! – Falei para Alisson e atravessei o campo por fora, evitando possíveis boladas.
- Nos ajuda? – Vini perguntou e eu sorri.
- Sempre! – Falei e os segui para fora da área de treinos do CT.

O resto do dia acabou sendo normal, fomos jantar no horário normal e logo cada um seguiu para seu canto. Deixei que Alisson aproveitasse o chuveiro sozinho nesse dia e eu aproveitei para ver o briefing sobre a viagem para a Arábia Saudita. Ele estava no meu e-mail há uns 10 dias, mas meus dias haviam sido tão corridos que ele sumiu da minha caixa de entrada. Só lembrei do mesmo, pois Angelica havia me reenviado, e eu agradeço muito por ela ter feito isso, ou eu estava ferrada.
“Instruções sobre a Arábia Saudita.
Oi, , como estão as coisas aí? Estou te reenviando o e-mail, pois você não me deu retorno sobre ele ainda. Leia com muita atenção essas informações. A Arábia Saudita é um país muçulmano e existem algumas regras e observações que é melhor você prestar bastante atenção para não causar nenhum problema com você ou falta de educação com a cultura e religião.
Dica importantíssima: não fique longe dos superiores: Tite, Cléber, Sylvinho, até Alisson, qualquer pessoa que demonstre certo ‘poder’ sobre você. É feio dizer isso, eu sei, mas é como a cultura deles funciona.
Qualquer problema, me avise!
Beijos e boa viagem”.
Engoli em seco ao ler esse pequeno texto que antecedeu o arquivo em PDF e coloquei para baixá-lo, me fazendo prender a respiração por alguns segundos. Nele tinha várias informações sobre a cultura da Arábia Saudita e, apesar de ser turista, elas poderiam valer para mim em algumas situações que eu estivesse lá.
Primeira: apenas 17 por cento das mulheres na Arábia Saudita trabalhavam, além de precisarem pedir a seus maridos ou guardiões permissão para isso. Ou seja, não seria incomum se eu recebesse olhares estranhos ao estar trabalhando para um time masculino.
Segundo: o ensino universitário não é proibido, mas desnecessário, enfatizando o primeiro item do arquivo. Eu era mulher, formada por uma universidade renomada e que trabalhava para um time masculino. Isso era quase inaceitável para eles.
Terceiro: Em lugares públicos existem entradas separadas de homens e mulheres. Desde janeiro desse ano, não era mais proibido a entrada de mulheres em estádios de futebol na Arábia Saudita, mas poderia achar alguma separação em outros lugares.
Quarto: homens não podem tocar mulheres, nem em um simples cumprimento de mão. Caso esse movimento seja pedido, eles colocam a mão em cima do coração e uma flexão com a cabeça, somente. Não sabia se isso envolvia pessoas conhecidas, mas eu precisava evitar questão de abraços e carinhos com os meninos em público.
Quinto: sexta-feira é como domingo para eles, então todos os comércios estarão fechados na sexta-feira. Era bom eu programar as folgas com os trabalhos antes de chegarmos lá.
Sexto: eles comem com as mãos e somente com a mão direita. Ficaríamos em hotéis melhores, talvez tenhamos talheres para a gente, mas teríamos um jantar típico, então era indicado repassar essa regra para todas as pessoas, para não fazer feio para a cultura.
Sétimo: eles só comem com a mão direita, já que a esquerda fica livre para eles se limparem. Não existe papel higiênico lá, normalmente existe uma bacia de água ou bidê para a gente se limpar após as necessidades, além do vaso sanitário ser um buraco no chão. Ou seja, eu precisava ir urgentemente atrás de papel higiênico e levar por precaução. Eu não achei que isso seria tão útil na minha vida um dia.
Oitavo: vestimenta para mulheres, quando elas estão na rua elas precisam cobrir completamente o corpo, mantendo somente a área dos olhos, mãos e pés descobertos, além do véu. Como turista, não era necessário usar o abaya completo, mas era indicado usar saias e blusas longas, nada justo que revele as curvas do corpo e era essencial o uso de véu par esconder os cabelos. E eu não havia trazido nada disso, sempre usava jeans e as blusas na CBF que ficavam bem certinhas no corpo. Eu teria que ir desesperadamente atrás de roupas amanhã e nem sabia pelo o que procurar.
Nove: vestimenta para homens, bermudas e braços descobertos somente no hotel e no jogo. Fora dele, calças e blusas compridas também.
Décimo: não exagerar na maquiagem, apesar de várias mulheres árabes exagerarem.
Entre vários outros itens que transformava a mulher em pó na Arábia Saudita.
- Eu estou ferrada! – Comentei baixo, sentindo meu peito até acelerado com tantas informações de uma vez só.
- O que foi? – Alisson perguntou, saindo somente de bermuda e esfregando a toalha nos cabelos molhados.
- Isso é algo que eu não vou ver na Arábia Saudita. – Respirei fundo, vendo-o se sentar ao meu lado na cama.
- O que aconteceu? – Ele franziu a testa.
- Lembra quando eu cheguei aqui ontem que eu falei que achava estranho eles mandarem uma mulher para a Arábia Saudita? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, além de uma assessora só para um clássico, mas ok. – Rimos juntos.
- Olha isso! A mulher não é nada na Arábia Saudita, olha toda essas regras e costumes. – Respirei fundo. – Eu não sei me virar nesse país, Alisson. – Soltei o ar fortemente. – Eu não sei o que fazer!
- Calma, calma! – Ele falou, puxando o notebook para ele. – Deixa eu ler isso aqui.
Esperei impacientemente que ele lesse todo o conteúdo do e-mail, enquanto eu sentia minha perna tremer só com a ansiedade que essa viagem tinha me causado. Eu estava muito animada em conhecer a Arábia Saudita, muito mesmo. Sempre pensei como seria conhecer um país com uma cultura totalmente diferente da minha, só nunca tinha cogitado que eu realmente teria que me mudar para poder fazer isso.
- Eu não sei o que me assusta mais, a questão de alguém precisar ter poder sobre você ou a questão do banheiro... – Ele falou e eu suspirei. – E lá é calor, não?
- Me assusta ser mulher nesse país! – Me levantei rapidamente. – Eu tenho que ir atrás de roupas, porque a CBF não tem uma burca com o logo deles, eu preciso urgentemente de papel higiênico e descobrir o quão ocidental é o nosso hotel. – Respirei fundo e Alisson correu em minha direção, me segurando pelos ombros.
- Pelo amor de Deus, relaxa! – Ele olhou fixo em meus olhos. – Respira fundo, conta até um milhão se for necessário, mas relaxa. – Puxei a respiração fortemente, soltando-a segundos depois.
- Eu não estava preparada para isso. Eu estava animada, agora eu estou apavorada. – Passei as mãos nos cabelos.
- Nós temos amanhã para nos preparar ainda, vai dar tudo certo.
- E se alguém mexer comigo? Eu não posso cometer uma gafe internacional.
- Ninguém vai mexer contigo, para com isso. – Ele me sacudiu pelos ombros. – Ninguém deve nem interagir contigo, nós estaremos lá. Eu estarei lá. – Suspirei, passando a mão no rosto e ele me apertou fortemente em seu abraço. – Você não precisa ter medo de nada. Vai dar certo. – Suspirei, apertando-o contra meu corpo.
- Eu gostaria que Bianca estivesse aqui comigo. – Sussurrei e senti um beijo em sua bochecha.
- Vai dar certo, você vai ver. – Me afastei dele lentamente, olhando-o e ele me deu um rápido beijo na bochecha. – Prepare as informações, faça sua reunião amanhã, aposto que todos concordarão comigo.
- Eu não tenho dúvidas disso, mas não é de vocês que eu tenho medo. – Ele segurou meu rosto.
- Vai ficar tudo bem. – Ele sorriu. – Vá tomar seu banho que depois podemos assistir alguma coisa no Netflix. Sem mais trabalho para você hoje. – Assenti com a cabeça, sorrindo e senti mais um beijo em meu rosto.

Depois do café da manhã no dia seguinte, pedi um tempo para Tite para resolver as últimas coisas da viagem. Isso incluiria comprar algumas coisas necessárias após aquele e-mail, inclusive roupas para mim e aprender a amarrar propriamente um véu em minha cabeça, já que eu provavelmente teria que descer do avião assim quando chegássemos.
A parte boa, era que em Londres tinham muitas mulheres árabes ou muçulmanas e, quando você vai em lojas na Oxford Street ou na Harrods, você acaba encontrando pessoas dispostas a te ajudar. Eu acabei comprando véus pretos e outros em verde, amarelo e azul pastel. Que eu pelo menos me divertisse com essa pequena restrição em minha vida.
Depois de garantir a questão do véu, eu segui para a parte de roupas, comprei algumas saias longas pretas e de estampas mais sóbrias, que não chamassem tanta atenção, vestidos longos mais solto no corpo, muitas blusas de manga comprida para usar embaixo de roupas e legging para usar embaixo da saia para minhas coxas grossas não assarem. Eu ainda teria que usar a blusa da CBF, então que eu usasse a blusa por baixo.
Aproveitando as lojas da Oxford Street, eu aproveitei e comprei cerca de 50 toalhas de mão. Se a gente precisasse se limpar com a mão após nossas necessidades, que lavássemos muito bem as mãos e secássemos propriamente! E por último, eu segui em direção ao mercado para comprar alguns pacotões econômicos de papel higiênico. Cada um levaria pelo menos dois na mala só por precaução. O hotel deveria ser mais ocidental, mas nunca se sabe o que encontraríamos.
Voltei para o CT do Tottenham bem na hora do almoço e, quando eu cheguei com diversas sacolas e pacotes econômicos de papel higiênico, todos os jogadores e equipe técnica me olharam assustados.
- O que está acontecendo? – Casemiro perguntou com aquele olhar estranho e eu respirei fundo.
- Posso falar com eles rapidinho, Tite? – Perguntei para o homem um pouco mais à frente.
- Sobre o e-mail da Angelica? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – Por favor.
- É o seguinte, gente! – Soltei tudo no chão, ouvindo o barulho oco das sacolas e Vinícius fez o mesmo. – Hoje à noite iremos para a Arábia Saudita e vocês devem saber que é um país totalmente diferente do nosso, marcado por uma cultura religiosa muito forte e, mesmo sendo turistas, existem algumas regras ou precauções que precisamos ter só em caso de conflito com a cultura deles. – Suspirei, me aproximando mais do centro do restaurante. – Podemos não concordar com algumas coisas, mas é a cultura deles, então precisamos obedecer durante esses dias que ficaremos lá. – Respirei fundo, pegando o celular. – Não sei nem por onde começar.
- Relaxa. – Alisson falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- É... – Suspirei. – Lá eles comem com as mãos, mas somente com a mão direita, então, caso haja alguma situação em que vocês precisem comer com a mão, já sabem, usem somente a mão direita. – Falei.
- Por que só a direita? Eu sou canhoto! – Alex Sandro perguntou e eu suspirei.
- Por causa do próximo motivo. – Passei a mão no rosto. – Eles não têm papel higiênico na Arábia Saudita, quando vocês fazem suas necessidades, vai ter um bidê ou um balde com água para você se limpar.
- Ew!
- Eca! – As reações foram variadas e eu assenti com a cabeça.
- Por isso eu comprei quatro pacotes econômicos de papel higiênico, só por precaução. – Suspirei.
- Vamos ficar em hotéis cinco estrelas, ... – Tite falou.
- Eu sei, mas vai que... É uma precaução que eu preciso ter. – Suspirei. – Nesse esquema, também comprei uma toalha de mão para cada um levar na mochila com a mesma intenção de vai que... – Suspirei. – Continuando, vocês não podem tocar em mulheres e elas também não podem tocar em vocês, então ao cumprimentar alguém do sexo oposto, apoie a mão no peito, faça uma flexão com a cabeça e é isso, nada de esticar a mão ou vai ser visto como falta de educação. – Eles concordaram com a cabeça. – Além de que vamos evitar ficar me abraçando e brincando comigo em público, ok?! Nos treinos fechados e no hotel, tudo bem, mas em público, não me toquem. – Eles riram fracamente.
- Tudo bem! – Eles falaram quase juntos.
- Isso entra no fato de mulheres não valerem nada na Arábia Saudita, então elas não estudam, não precisam trabalhar, precisam cobrir o corpo totalmente, então, como alguém que está apavorada de ir para esse país sozinha, por favor, me protejam. – Respirei fundo. – Eu estou realmente apavorada e não sei o que vou encarar lá, mas, por favor. – Suspirei. – Minha superiora disse para eu ficar perto de qualquer homem que demonstre “poder” sobre mim. – Coloquei as mãos na cabeça. – Nunca pensei que falaria isso, mas é assim que funciona lá, então, por favor. – Suspirei.
- Vai dar tudo certo, nós vamos cuidar de você. – Tite falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Cogitei em pedir para mudar o assessor, mas vai ser mais um desafio que eu vou encarar. – Suspirei, abaixando as mãos.
- Ótimo. – Tite confirmou.
- E por último, vestimenta. Eu estarei mais de saias longas, véu e manga comprida. Vocês só poderão usar bermudas e mostrar os braços nos treinos, jogos e no hotel. Nas folgas e nos deslocamentos, só calça e manga comprida também, ok?! – Alguns fizeram careta.
- Mas lá não é quente para caramba? – Ederson perguntou.
- Exatamente! – Dei um sorriso falso e ouvi algumas reclamações. – Bom, enfim, depois vocês peguem uma toalha e uns rolos de papel higiênico, e escondam na mala, só para...
- Vai que! – Eles falaram quase juntos e eu sorri, assentindo com a cabeça.

O resto do dia, tirando as diversas piadas com as culturas da Arábia Saudita, foi calmo. Teve somente uma coletiva com Fred e uma entrevista para a CBF TV com Renato Augusto, no demais foi tudo muito similar ao que se antecedia a uma viagem, calmo até demais. Só que meu interior não estava calmo, quanto mais perto chegávamos das oito da noite, mais nervosa eu ficava.
Apesar de todo nervosismo, quando chegou a hora de ir para o aeroporto, eu estava pronta. Minha mochila estava mais atolada do que em outras situações, eu estava levando a muda de roupa que teria que mudar no avião. Nessa altura do campeonato eu já nem sabia o que fazer, que roupa colocar e como me apresentar, tudo já havia se tornado uma grande gelatina em minha cabeça.
Leandro me ajudou no check-out dos jogadores, agradeci ao gerente pela hospedagem e seguimos os jogadores para o ônibus. Dessa vez foi mais calmo, pois a imprensa e os fãs estavam do lado de fora dos portões. Alisson me puxou para sentar ao seu lado e me abraçou durante a quase uma hora que demoramos para chegar no aeroporto de Heathrow. Ele não falou nada durante o percurso, ele sabia que eu estava nervosa e só tentava me acalmar com seu abraço e com curtos beijos em meu rosto.
Eu sentia como se estivesse indo para a forca.
Chegamos no aeroporto e não tivemos muitas dificuldades no embarque do nosso voo fretado. Cada um ajeitou sua mala nos bagageiros e se jogou em uma poltrona. Tínhamos uma longa viagem pela frente ainda.
- Vem cá! – Alisson comentou, entrando em uma fileira e eu fui atrás dele, me sentando na poltrona do meio, quando ele se jogou na da janela.
Aproveitei para tirar meus sapatos, ajeitar minha mochila embaixo da poltrona e afivelei bem os cintos, esperando os protocolos de decolagem. Por ser voo fretado, não precisamos esperar pela longa fila de decolagem, assim que o piloto finalizou os protocolos de segurança, a aeronave ganhou velocidade e subimos pelo céu da Inglaterra.
- Acho que vou dormir. – Comentei com Alisson, inclinando um pouco a poltrona para trás e ele assentiu com a cabeça, acariciando meu rosto levemente e dando um curto beijo em meus lábios.
- Tenta, você está gelada. – Suspirei, colocando minha mão em cima da dele.
- Eu estou nervosa. – Suspirei, ele inclinou sua poltrona e passou o braço por trás de minha cabeça e eu encostei minha cabeça em seu rosto, fechando os olhos.
Por uma grande sorte, ou só cansaço e nervosismo, eu consegui dormir cinco das sete horas de voo. Acordei e a maioria das pessoas dormiam, inclusive o homem ao meu lado. Me afastei dele, tirando seu braço de trás da minha cabeça e desliguei sua TV que estava ligada. Fiquei em pé, dando uma rápida olhada pelo avião e vi algumas luzes ligadas e ouvia algumas conversas baixas.
Liguei a minha TV e procurei o mapa do voo, descobrindo que faltavam umas duas horas de voo ainda, mas sabia que chegaríamos antes. Saí de meu lugar, pegando minha mochila e já a baixei na poltrona vazia. Segui para o fundo do avião, encontrando Tite trabalhando em seu notebook.
- Ei, garota, está melhor? – Ele perguntou e eu me sentei ao seu lado, suspirando.
- Com dúvidas ainda, mas eu não fujo de um desafio. – Ele assentiu com a cabeça, segurando minha mão.
- Vai dar tudo certo, você vai ver. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Somos uma família e você sempre terá alguém para te proteger, sempre. – Suspirei.
- Eu sei, o pior vai ser agora no aeroporto com os representantes e os repórteres, depois fica mais fácil. – Sorri.
- Sim, será hotel, treino; treino, hotel. Nada mais. – Assenti com a cabeça. – Sem folgas também e você e Alisson também não poderão aproveitar muito. – Neguei com a cabeça.
- Eu só quero sair daqui viva e sem ter sido molestada. – Ele segurou minha mão.
- Eu prometo minha vida que nada vai acontecer contigo. – Ele suspirou alto. – Também estou nervoso com tudo isso, mas não podia te deixar para trás, principalmente depois do que houve no último amistoso. – Suspirei.
- Talvez você devesse. – Ri fracamente.
- Estamos juntos nessa, garota. – Confirmei, checando o relógio.
- Acho melhor eu me trocar. – Ele confirmou com a cabeça.
- Sabe como vai fazer?
- Eu vou colocar um vestido que eu comprei, ele é solto e de mangas compridas, coloco a blusa branca da CBF por cima, peguei uma de Leandro que é mais larga e o hijab na cabeça. – Dei de ombros.
- Vai ficar linda. – Dei um pequeno sorriso e ele beijou minha cabeça.
Me levantei, voltei para minha poltrona, encontrando Alisson ainda dormindo e peguei minha mochila, seguindo para a frente do avião, entrando em um dos banheiros. Não tinha diferença de classes esse avião, então todos eram pequenos. Respirei fundo ao me olhar no espelho, sentindo o choro subir à garganta, mas balancei a cabeça, começando a me arrumar.
Tirei minha roupa ocidental, mantendo a calça de moletom da CBF por baixo de tudo e uma segunda pele preta e peguei o gigante vestido preto que eu havia comprado. Ele parecia um balão. Não era cinturado, era grudado no pescoço, as mangas eram soltas, quase medievais e ia até o chão. Coloquei aquilo, sentindo um desconforto enorme por ele ser largo até demais, mas respirei fundo, tentando sempre ver o lado positivo da coisa.
Encarei meu rosto abatido, mas não tentei melhorá-lo com maquiagem, eu não podia chamar atenção nenhuma. Apesar de que a noviça voadora chegando com a Seleção Brasileira já era atenção demais. Depois, para mostrar que eu estava com a Seleção, peguei uma blusa que Leandro gentilmente me cedeu. Ele era da mesma altura, mas era maior do que eu, então enquanto eu usava G, ele usava EGG, o que fez com que o negócio não ornasse mais ainda.
Bufei irritada, quase indo até a cabine do piloto, pedindo para ele me levar de volta para Londres, mas respirei fundo, contando até 10 e engolindo o choro mais uma vez. Virei para a mochila de novo, pegando o tecido que se tornaria meu hijab e respirei fundo, tentando me lembrar como a moça da Oxford Street me explicou para colocá-lo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e fiz uma trança antes de enrolar o hijab em minha cabeça.
Quando me olhei no espelho, respirei fundo, não me reconhecendo mais. Escondi um fio rebelde que tentava escapar em minha testa e abanei a cabeça, não pensando muito sobre. Sentia que estava há quase uma hora naquele banheiro e quanto mais eu ficava lá, menos dava vontade de ficar.
Respirei fundo mais uma vez e joguei tudo novamente dentro da mochila e empurrei a porta, saindo da mesma, sendo cegada pela luz que estava acesa agora. Olhei em frente ao corredor e percebi que todos olhavam para mim, sem exceção. Esperei alguma piadinha sem graça enquanto eu passava pelo corredor, mas isso não aconteceu. A maioria me dava olhares de pesares e sussurravam “estamos contigo”. Em poucos minutos, eu fui de superpoderosa da Seleção Brasileira para uma menina de oito anos com medo do escuro. Era surreal!
Me sentei ao lado de Alisson, recebendo um pequeno sorriso dele e ele deu um beijo em minha bochecha, assentindo com a cabeça. Queria que ele falasse alguma coisa, mas ele também entendia o meu sofrimento em usar aquela roupa. Quando o piloto anunciou que logo seria o pouso, eu peguei minhas coisas, seguindo para a fileira de Tite e esperei que o avião tocasse o chão de Riad, na Arábia Saudita.
Quando o avião parou completamente, esperamos que o procedimento de entrada do país fosse feito. Homens fardados e armados entraram no avião e começaram a fazer a checagem de passaportes e documentação. Conforme eles passavam de fileira para fileira, os jogadores saíam do avião. Quando chegou a vez de Alisson, ele deu uma longa olhada para trás e eu só afirmei com a cabeça, tentando mostrar que estava tudo bem.
Quando chegou a minha vez, o oficial teve até uma reação de susto, checando novamente a lista de passageiros, até encontrar um F ao lado do meu nome. Imagino que os nomes para eles não faziam diferença. Deixei o passaporte em cima da mesa de comida e esperei que ele checasse ao menos seis vezes a foto do passaporte comigo atualmente. Sentia meu corpo tremer, como se eu estivesse escondendo alguma coisa.
Ouvi ele cochichar alguma coisa com o outro oficial e carimbou meu passaporte, me fazendo respirar fundo. Ele me deu licença para sair antes de chegar a Tite e eu o fiz sem nem pestanejar. Olhei para o fim do corredor do avião, vendo Arthur e Coutinho me encarando e ajeitei minha mochila nas costas antes de segui-los.
Soltei o ar algumas vezes antes de sair do avião e os holofotes me cegavam. Era mais de cinco da manhã, o sol já dava sinal de vida no horizonte, mas para nós ainda era noite. Foquei em olhar para o chão e tentar evitar mais uma vez os olhares estranhos de oficiais e sheiks que nos esperavam, mas era inevitável, eu era a única mulher com a Seleção Brasileira, eu podia sentir os olhares penetrando minha pele como facas e, mais alguns minutos, eu gritaria de surto. E não estava há nem uma hora no país.
Quando entramos em um lobby fechado para seguir para o ônibus, uma criança entrou em meu olhar e ela fez menção de esticar um buquê de flores amarelas para mim, mas o homem ao seu lado claramente o repreendeu e eu segui atrás, engolindo em seco. Parei pouco antes de esbarrar em Arthur parado em minha frente e ele deu um sorriso triste para mim, antes de estender seu buquê para mim e eu sorri.
- Obrigada! – Falei, sentindo uma grande vontade de abraçá-lo ali, mas evitei o movimento, seguindo para o grande ônibus em nossa frente.
Entrei no mesmo com certa pressa e saí de frente da porta, me jogando na primeira poltrona que eu vi. Olhei para o lado, vendo a cortina aberta e puxei a mesma com força, respirando fundo.
- Como foi? – Alisson perguntou algumas fileiras para trás e eu abanei a mão.
- Espera o ônibus sair! – Cochichei, vendo Tite ser o último a entrar no ônibus e logo os motoristas e carregadores entraram também e o ônibus se colocou em movimento.
- Como você está, garota? – Tite perguntou em pé no corredor e eu respirei fundo.
- APAVORADA! – Gritei, recebendo olhares assustados de surpresa.
- O pior já foi, respira, relaxa! – Alisson, Miranda e Tite se colocaram rapidamente ao meu lado e eu puxava e soltava a respiração diversas vezes.
- Parem de falar isso para mim, isso não vai funcionar! – Falei firme. – Eu não posso ser eu aqui. – Me levantei, segurando na poltrona. – Olha isso! – Apontei para meus trajes. – Essa não é a que vocês conhecem. Eu estou horrorosa!
- Você está...
- Não finalize essa frase, Alisson, ou vai sobrar para você. – Apontei para ele que respirou fundo. – Eu não sou eu, gente! – O choro finalmente saiu. – Vai ser uma semana aqui comigo assim. – Suspirei. – Eu vou poder ser eu mesma somente no meu quarto, dentro do hotel? – Dei de ombros. – Isso é insano! – Engoli em seco. – O pior de tudo é pensar nas mulheres nesse país. Eu tenho só sete dias aqui, mas e as mulheres que precisam agir assim? Usar isso para serem aceitas na sociedade? – Dei de ombros. – Nunca pensei que isso me afetaria tanto. – Engoli em seco. – Acho que melhor eu voltar para Londres. – Tite me encarou.
- Leandro, Vinícius, Lucas. – Ele os chamou e eu franzi a testa, vendo ambos se levantaram mais ao fundo do ônibus. – Podem registrar agora e mandem o memorando para todos. Não teremos a presença de ninguém da imprensa nos treinos, nem 15 minutos de cortesia. Divulgaremos um vídeo com alguns minutos ao final do treino. – Ele falou rapidamente, me fazendo franzir a testa. – Não quero a presença de ninguém que não seja da CBF no andar que ficaremos no hotel e nem no restaurante que usaremos. Se por acaso garçons e restaurantes precisarem transitar, deixe que eles saibam que teremos uma brasileira com a gente, não uma árabe. – Dei um pequeno sorriso. – Durante a coletiva vocês também irão acompanhar. dará as instruções para os jogadores antes e acompanhará por meio de uma live dentro do estádio de treino. – Suspirei.
- Obrigada. – Falei e ele segurou minha mão. – Você não precisava.
- Você é família. – Sorri. – Só não consigo te livrar nos jogos e no caminho do elevador para o restaurante, mas imagino que possa ficar mais confortável nesses lugares. – Suspirei. – Todos entendidos?
- Sim! – Os jogadores falaram firmes e eu sorri.
- E sim, você está bonita! Diferente, mas bonita. Deixe seu namorado falar isso. – Virei para Alisson, rindo fracamente e ele me abraçou fortemente, me fazendo suspirar.
- Agora vamos dormir, nos encontramos no almoço. E você, tire o tempo que precisar para descansar. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Eu vou precisar. – Sorri, pulando para o outro banco, deixando Alisson se sentar ao meu lado.
- Estamos aqui contigo, garota. – Ouvi Firmino falar do banco de trás e eu sorri, segurando sua mão e respirei fundo, tentando relaxar os ombros.


Capítulo 6 – Uma Sultana nas Arábias

Chegamos ao hotel e Lucas fez o favor de fazer a divisão de quartos e, sem surpresas, um por jogador. Isso causou uma alegria em excesso por partes deles, mas eu estava apreensiva ainda. Fui a primeira a pegar a chave e subir, se eu fosse ter liberdade para conversar com minha equipe, que fosse no meu ambiente!
Alisson veio logo atrás de mim e, quando chegamos no andar, percebi as diversas portas. É, talvez coubesse todo mundo ali folgadamente. Parecia um dos hotéis que ficamos na Rússia. Encontrei meu quarto e entrei no mesmo, deixando minha mala e mochila, dando uma rápida olhada na decoração e voltei para o corredor, vendo a outra leva de jogadores começarem a chegar.
- Gente, juntem aqui rapidinho, por favor. Prefiro falar aqui com vocês. – Falei um tanto alto, olhando em volta à procura de câmeras e bufei ao encontrar uma. Mal via a hora de tirar isso da cabeça. – Droga, tem câmera! – Bufei e Alisson virou para a mesma.
- Quer dizer que eu não vou conseguir fugir para seu quarto?
- Conseguir você até pode, só não sei o quanto isso vai afetar os seguranças. – Suspirei.
- Eu estou ferrado! – Ele cochichou e eu dei de ombros.
- O que é pior: namorar à distância ou estar perto e não poder se tocar? – Perguntei em brincadeira e ele riu fracamente.
- A segunda opção, né?! – Ele cruzou os braços e eu sorri.
- Acho que estão todos aqui. – Tite falou, chamando minha atenção e eu olhei para eles.
- Rapidinho, gente! São sete da manhã, o dia já amanheceu e estamos virados. – Respirei fundo. – Primeiro, agradeço ao Tite por todas as restrições para fazer com que eu faça parte disso. Agora às minhas instruções: hoje vocês têm um café já para vocês lá embaixo, creio que todos estão com fome se dormiram igual eu e perderam as refeições no voo. – Eles riram. - Hoje vocês começarão o treino depois do almoço, o almoço está marcado para as duas da tarde, descansem bastante, começaremos devagar. Será no estádio King Saud e será aquele esquema de sempre de coletiva e acompanhamento, beleza? Amanhã já é o jogo contra a Arábia Saudita, ok?! Vini, Lucas e Lê, vocês dão uma volta com o Canarinho por Riad antes do jogo, não sei se vou conseguir acompanhá-los. Depois do jogo, vamos para Jidá, beleza? Lá eu dou outras informações. – Sorri. – Vocês podem tomar café e descansar ou descansar e ir almoçar, fiquem à vontade. – Sorri, e eles assentiram com a cabeça.
- Vamos ver como é banheiro? – Fabinho brincou e eu gargalhei.
- Tenho até medo. – Falei rindo e ele sorriu.
- O que vai fazer? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- Não quer contrabandear comida para mim? Eu realmente preciso tirar isso daqui da cabeça. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou lá, trago para nós dois. – Assenti com a cabeça.
- Eu não posso encostar em você, mas eu te amo, ok?! – Ele piscou.
- Eu também! – Rimos juntos e ele seguiu o pessoal que foi para o elevador e eu fiquei parada no meio do corredor.
- É um buraco no chão! – Fabinho gritou e apareceu novamente no corredor, fazendo outros também aparecerem. – E tem bidê! – Rimos fracamente. - Mas tem papel! – Bati a mão na cabeça, sorrindo.
- Menos mal. Agora quero ver como farei xixi nisso. – Suspirei. – Para vocês é fácil.
- A gente mira! – Ederson brincou e eu neguei com a cabeça.
- Até mais, gente! – Falei, entrando em meu quarto e puxando o tecido com força da minha cabeça.

O primeiro dia acabou sendo menos surtado. Após Alisson trazer um lanche para mim e comermos juntos no corredor do hotel junto de Jesus e Firmino, cada um seguiu para o seu quarto e foi a primeira vez que me despedi de Alisson pessoalmente com um aceno. Nunca tivemos problemas com informações vazadas por hotéis, e olha que Alisson já fugiu muito para o meu quarto e eu para o dele, nós nunca nem nos preocupamos com câmeras, mas agora era diferente, eu não fazia a mínima ideia de onde estava me metendo.
E eu já achava a Rússia meio louca!
Mesmo sem a companhia de Alisson, o sono permitiu com que eu dormisse até a hora do despertador, tomei um banho e optei por usar minha roupa tradicional de cada dia, já que eu poderia tirar no treino, e a roupa tradicional para mulheres por cima. Fiz uma trança em meus cabelos e coloquei o hijab por cima, seguindo para o elevador.
Encontrei a turma já no restaurante e arranquei a roupa larga quando as portas se fecharam. O pessoal até riu do meu alívio. Acredite, ele era grande! Almoçamos com calma, ficamos papeando até a hora de ir e aproveitei a deixa para trocar uns beijos com meu namorado. Enfiei a roupa novamente, me senti observada e julgada enquanto saíamos do hotel, mas me senti mais confortável quando cheguei ao estádio e me livrei de minhas roupas, ficando mais como eu.
Aquela tarde passou rápido, todo mundo estava meio sonolento ainda pelas pouco menos de cinco horas de sono, mas como o sol baixava cedo em Riad, ficamos lá até umas sete da noite. Eu fiquei observando os jogadores treinando, dando aquela boa analisada em meu namorado e em suas habilidades com os pés e só precisei dar um auxílio para Coutinho, Tite e Cléber que teriam coletivas, passar algumas rápidas instruções para Lucas e Vinícius, além de fazer toda a tática de acompanhar a coletiva de fora que Leandro preparou para mim em meu celular.
Confesso que não foi nada legal acompanhar isso do banheiro, mas foi o único lugar que deu para acompanhar em silêncio. Esse estádio tinha uma péssima acústica, o que não me ajudou muito, mas ninguém falou merda para que eu precisasse correr atrás para resolver isso.
Antes de voltarmos para o hotel e de eu colocar minha roupa de noviça voadora, Alisson aproveitou um momento a sós para me dar um longo beijo, fazendo com que todos os jogadores e equipe técnica aplaudissem e se surpreendessem, porque foi um puta beijo.
- Nossa, o que é que é isso, hein?! – Casemiro gritou e eu ri, nos separando.
- Né?! – Virei para Alisson e ele riu.
- Preciso aproveitar enquanto posso. – Ele me apertou pela cintura e eu ri.
- E eu preciso colocar minha roupa de freira de novo. – Revirei os olhos, fazendo-o rir. – Sério, é assim que eu me sinto com isso. – Eles riram.
- Feiras não podem beijar. – Firmino gritou e eu mostrei a língua para ele.
- Não podem fazer muitas coisas, por sinal. – Brinquei e eles riram.
Voltamos para o hotel e eu gostaria de dizer que fiquei conversando com meu namorado até tarde no restaurante do hotel, aproveitando alguns minutinhos juntos. O ideal seria juntos e sozinhos, mas todo mundo estava morrendo de sono, então não demorou para cada um seguir para seu caminho e eu me arrumar para seguir pelo caminho dos sonhos.

O fatídico dia 12 chegou cedo. Como eu havia dormido cedo, havia acordado antes das sete da manhã, até enjoada de ter dormido demais. Tomei um longo banho, me arrumei e desci para o restaurante, encontrando muitos jogadores despertos logo cedo. Acho que todo mundo havia dormido cedo, mas levando em conta de que o jogo era só a noite, muita coisa podia acontecer até lá, incluindo uma soneca pós-almoço!
- Bom dia. – Alisson falou e eu sorri, sentindo-o dar um leve selinho em meus lábios, me deixando levemente na ponta dos pés.
- Bom dia! – Sorri, puxando minha roupa para cima e largando no sofá.
- Que milagre todo mundo aqui. – Tite comentou quando entrou no restaurante e rimos.
- Pelas minhas contas estão faltando uns três ou quatro. – Lucas falou enquanto bocejava forte, fazendo as pessoas em volta rirem dele.
- Logo eles aparecem, nesse andamento dá para ir antes para o treino. – Ele deu de ombros e os garotos reclamaram, me fazendo rir. – Qual é, gente! Treino hoje é só até a uma, depois acabou. Não queremos pagar mico contra a Arábia Saudita, não é mesmo? – Ele comentou e todos ponderaram com a cabeça, me fazendo sorrir.
- Toma café comigo? – Alisson cochichou em meu ouvido, antes de estalar um beijo em minha cabeça e eu assenti.
- Vamos lá. – Falei, dando a mão para ele e seguindo para o buffet, percebendo o olhar de uns dois ou três funcionários que estavam lá, mas dei de ombros, eles estavam avisados.
Ficamos pelo café da manhã por cerca de duas horas e segui com os jogadores para o estádio King Saud para o último treino antes de encarar a Arábia Saudita mais tarde naquele mesmo estádio. Não podíamos abusar muito, pois os protocolos e organizações do estádio e dos vestiários começariam logo em seguida.
O treino foi básico, somente reconhecimento de território, alguns treinos de posição e condicionamento, e 40 minutos de bola rolando com o time, mas meu foco com certeza não estava no treino daquele dia, estava em Arthur! O garoto parecia muito avoado e eu já tinha contado umas três boladas erradas, além de erros em passes simples, se continuasse assim, ele não poderia entrar em campo hoje, talvez eu precisasse dar uma investigada nisso com mais afinco.
Não que Arthur fosse meu novo BFF, mas ele era uma boa pessoa, tinha um bom coração e fazia parte da turma com menos de 25 anos, ou seja, a minha turma. Além de que a gente não podia ter um jogador com a cabeça nas nuvens, até Tite tinha notado. Falaria com ele após o almoço, em particular.
Finalizamos o treino com uma longa sessão de relaxamento, que até eu quis fazer parte da mesma com os fisioterapeutas e preparamos tudo para ir embora. Voltei à minha vestimenta e seguimos para o hotel. Chegando lá, tivemos a turma que foi direto para o almoço e a turma que foi se livrar das roupas do treino. Eu e Alisson seguimos para o almoço. Procurei Arthur rapidamente com o olhar, mas ele deveria voltar mais tarde.
- O que foi? – Alisson perguntou e eu desviei novamente o olhar.
- Queria falar com o Arthur, ele estava...
- Incrivelmente desatento hoje, percebi também. – Suspirei, me servindo com a refeição balanceada de hoje.
- Queria ver se isso vai afetar o jogo de hoje. – Suspirei e por último peguei um copo de suco para acompanhar.
- Acho que não, vai ver foi só azar. – Ele comentou e suspirei.
- Falo com ele mais tarde. – Seguimos em direção à mesa, começando a comer em silêncio.
Eu achava engraçado o quão esfomeado Alisson ficava após o treino, ele realmente poderia comer um leão que aguentaria facilmente. Desviei minha atenção do prato quando o loiro que procurava entrou igual um furacão no refeitório, fazendo alguns olharem encararem o mesmo e me surpreendi quando ele veio em minha direção.
- , eu... Eu, ah, meu Deus! – Ele falou, colocando a mão no peito e segurando a cadeira vazia para recuperar o fôlego.
- Nossa, Arthur, o que houve? Morreu? – Perguntei, descansando os talheres,
- Eita, cara, respira. – Alisson falou, movimentando as mãos para ele se acalmar.
- Desculpa atrapalhar o almoço de vocês. – Ele ainda falava ofegante. – Bom, eu preciso conversar com você, , mas é algo pessoal... – Olhei para Alisson com o cenho franzido, como se a oportunidade perfeita tivesse chegado e meu namorado afirmou com a cabeça. – Eu sei que você pretendia almoçar com Alisson, mas é muito importante, não sei a quem recorrer.
- Tá, calma, respira, não quero sua morte aqui... Nem por ataque cardíaco, nem pelo meu namorado. – Brinquei e ele sorriu. – Eu vou almoçar com você, tudo bem?
- Olha aí, Arthur, minha mulher, hein? Tenha respeito. – Revirei os olhos com a fala de Alisson, mas pelo tom da sua voz, era claro que ele estava brincando.
- Ah, que lindo, tá com ciúmes! – Brinquei com Alisson e foi sua vez de revirar os olhos. – A gente já se encontra, ok?!
- Estou de olho em você, hein?! – Alisson movimentou os dedos de seus olhos para o de Arthur e eu segurei a risada, me levantando e pegando minha bandeja.
As mesas do refeitório estavam dispostas em duas longas fileiras, mas haviam algumas vazias para os staffs e nos sentamos em uma delas, tentando fugir dos olhares curiosos dos outros jogadores, afinal, Arthur havia conseguido chamar atenção.
- Ok, agora fala, o que está te perturbando? – Falei na lata.
- Como você sabe que tem algo me perturbando? – Apoiei os cotovelos na mesa.
- Preciso te falar quantas boladas você levou hoje? – Brinquei e ele riu, assentindo com a cabeça.
- Bom, eu sei que a gente não se conhece muito, apenas tive a oportunidade de te ver algumas vezes, conversamos pouco diretamente. Talvez eu nem devesse falar, mas eu estou desesperado. – Tentava entender aonde isso ia dar. – E agora eu estou sem jeito de falar, a ideia tinha ficado melhor nos meus pensamentos mesmo...
- Pelo amor de Deus, Arthur, desembucha. Eu sou confiável, relaxa. – Falei, apoiando as mãos no queixo, fazendo-o rir fracamente.
- Você é mulher, certo? – Franzi a testa, confusa de onde aquele papo chegaria.
- Até a última vez que eu fui no banheiro sim, mas sei lá, eu posso ir lá de novo só para conferir. – Dei de ombros e notei que Arthur poderia estar com problemas, mas logo estaria com mais e isso não seria legal.
- Me desculpa, eu estou um pouco nervoso.
- Não dá nem para notar. – Fui irônica e ele respirou fundo, me encarando.
- Enfim, tem uma mulher que me atraí demais, mas essa mulher ela é… Complicada. É, eu acho que essa é a melhor definição para ela, já que o tempo todo ela define o que vive como complicado.
- Ah, entendi! Mulher, claro, por que isso não me surpreende? Eu já podia imaginar... – Ele deu um sorriso nervoso. – Por que ela é complicada, Arthur?
- Porque ela vive dizendo que eu e ela não vai rolar nada amorosamente, mas bom, com os olhos e com o corpo, eu sei que ela me quer, entende? – Ponderei com a cabeça.
- Talvez, mas ela tem um motivo para não querer nada com você? – Voltei a focar em minha comida.
- Ela diz que não pode dar certo, mas não me explica o porquê, me deixando com cara de idiota… Eu não sei o que fazer. – Suspirei, franzi a testa.
- É difícil, analisar sem todas as variáveis, mas você já a confrontou? Pressionou ela perguntando o motivo de ela achar que vocês dois não vão rolar? Por você, por exemplo, ser galinha, eu, pelo menos, não gosto de caras galinhas, então eu evitaria ter algo com um.
- Mas eu não sou um cara galinha. – Ele respondeu de cara e eu ri fracamente.
- Arthur, é só uma suposição… – Ele fez uma careta. – Já a confrontou ou não?
- Na verdade, sim, da última vez que nos vimos, mas eu estava com álcool no sangue, inclusive, muito por sinal, e ela não me explicou direito.
- Entenda essa mulher, ela não deve ser assim tão complicada, as vezes é você quem está complicando demais as coisas… – Dei de ombros. – Tipo, estereótipo de mulher complicada é o que não falta. – Suspirei, vendo que eu não estava ajudando. – Enfim, tente uma conversa franca, abre seu coração e diga o que sente, é o melhor que você pode fazer. Mas, fala com ela sóbrio, hein? – Apontei o garfo em sua direção, vendo-o sorrir.
- Eu vou fazer isso, eu agradeço muito. – Ele sorriu e fiquei feliz pelos jogadores terem essa confiança em mim até para trazer problemas pessoais para eu resolver.
- Às vezes o problema é tão pequeninho e a gente faz com que ele se transforme em uma bola de neve. Tudo pode ser conversado, Arthur. – Sorri. – Acredite, eu e Alisson passamos por problema de comunicação e tudo não passava de uma besteira.
- Você tem toda a razão, é só que, eu sou uma pessoa difícil de me abrir, não consigo falar com qualquer pessoa, e pensando sozinho eu não estava encontrando nenhuma solução boa.
- Nem notei, sabia?! – Fui irônica e ele riu. – Pode contar comigo para qualquer coisa, fico feliz que você tenha se aberto para falar sobre isso.
– Desculpa atrapalhar seu almoço com o Alisson. – Abanei as mãos.
– Está tudo bem, relaxa. – Virei para meu namorado que não parava de encarar nós dois. – Foi bom vê-lo com ciúmes! – Dei de ombros, voltando a encarar Arthur e ele riu fracamente.
- Vocês dois são ótimos, me surpreendo como conseguem dar tanto certo, tipo, eu fico longe da Aline alguns dias e parece que vou surtar. – Dei um pequeno sorriso.
- Não fazemos isso por escolha, são os limões que a vida nos deu que estamos tendo que espremer. – Suspirei, dando de ombros. – Mas gosto de acreditar que isso é uma forma de luta para ver se nosso relacionamento é firme como achamos, além de que nada é para sempre, vai saber o que pode acontecer daqui dias, meses ou anos? – Sorri.
- Você é muito otimista. – Ri fracamente.
- Só pareço, eu surto e muito por isso, mas possuo um trabalho que me ocupa bastante, então a gente vai se virando como pode. – Dei de ombros. – Mas me diz, vai poder jogar hoje? Está mais calmo? – Ele deu um longo suspiro.
- Me dá um pouco da sua paciência que fica tudo certo. – Sorri.
- Combinado.

Assim que Arthur saiu da mesa, alegando que iria descansar um pouco antes do jogo, um moreno alto com uma feição bem curiosa se sentou em seu lugar, me surpreendo pela rapidez que ele havia feito isso, causando um leve susto em mim.
- Não faz isso. – Reclamei ao pular de susto e ele sorriu.
- O que ele queria? – Alisson perguntou apressadamente e eu suspirei.
- Você fica uma graça com ciúmes, sabia? – Comentei, com um sorriso no rosto.
- Pô, , o que ele queria? – Gargalhei alto, negando com a cabeça.
- Se declarar para mim, satisfeito? – Falei e foi como se seu rosto perdesse a cor.
- Mesmo? – Ele conseguiu falar.
- Claro que não, Alisson, por favor! – Gargalhei novamente, segurando suas mãos em cima da mesa. – Ele está avoado porque está apaixonado, mas não é por mim. Uma garota lá de Barcelona. – Abanei a mão.
- Acho que nunca ia pensar que o maior problema do Arthur era paixonite. – Dei de ombros.
- Olha o que sua paixonite por mim deu. – Sorri e ele se curvou sobre a mesa, colando os lábios nos meus levemente.
- Isso não é paixonite, eu te amo. – Ele disse e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu sei, também te amo. – Suspirei.
- , vamos sair com o Canarinho, quer ir? – Lucas perguntou e eu suspirei.
- Não vou dessa vez, Lucas. – Suspirei. – Queria muito ir conhecer a cidade, mas não vou pagar para ver.
- Você vai ficar bem? – Ele perguntou e dei de ombros.
- Eu cuido dela. – Alisson falou e eu virei para o mesmo, suspirando.
- Sempre! – Sorri. – Aproveitem. – Sorri para Lucas.
Acabei acompanhando o passeio de Lucas, Leandro e do Canarinho pelo Drive de Lucas, queria muito ter ido, mas o único momento que teve uma mulher na foto, estava tirando foto das crianças com o Canarinho, usando o traje completo, de resto, só tinha homens ou meninos, talvez tivesse sido uma boa ter ficado no hotel. Alisson ficou comigo lá no refeitório, enquanto trocávamos alguns beijos, carícias e conversávamos sobre curiosidades tontas e que eu provavelmente lembraria amanhã.
- Ei, por que vocês estão aqui? – Virei para o lado, vendo Tite e reparei que só tinha nós três ali.
- Estamos passando um tempo juntos. – Dei de ombros.
- Por que não aproveitam no quarto de vocês? – Ele cruzou os braços. – Assim, não indico sexo antes do jogo, mas pelo menos ficarem juntos.
- Pela câmera do corredor, o campo está minado aqui, você sabe. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Garota, se alguma coisa vazar, vai ser pelo próprio pessoal aqui do restaurante. – Ele deu de ombros. – Vocês não são árabes, precisam respeitar sim, mas não viver como eles. – Suspirei e eu e Alisson nos encaramos. – Além do mais, seria tão ruim se vocês fossem anunciados? – Ele deu de ombros e eu suspirei.
- Acho que não. – Virei para Alisson que sorriu.
- Valeu, Tite. – Alisson disse, me fazendo sorrir.
- Quer tirar uma soneca? – Perguntei para Alisson e ele assentiu com a cabeça, levantando na mesma pressa que eu.
Quando entramos no elevador, eu dei uma boa encarada na câmera, mas fiz o que Tite indicou e entrei em meu quarto, com ele atrás de mim. Puxei minhas vestimentas para fora, denunciando meus jeans e camiseta de sempre e Alisson me pegou pela cintura, andando comigo de costas e caímos rindo na cama.
- Ah, como eu adoro isso! – Ele gritou e eu gargalhei, vendo-o se ajeitar em cima de mim e colar os lábios nos meus mais uma vez naquele dia, mas dessa vez, da forma que ele mais gostava.

Quando saímos para o jogo, eu era a pessoa mais feliz do mundo, não pelos momentos com Alisson dentro do meu quarto, mas porque eu deveria obedecer protocolos, então eu não precisava usar a vestimenta tradicional, estava de calça jeans, blusa da CBF, uma camiseta de manga comprida preta por baixo só para não abusar e meus sapatos amarelos. Além de que estava finalmente permitida a entrada de mulheres em estádios no país e elas finalmente poderiam acompanhar a um jogo de futebol. Era um dia sensacional!
Chegamos no estádio e eu notei os olhares sobre mim, mas eu não estava nem aí. Ali eu era brasileira e agiria como tal. Precisava pelo menos de um momento como eu, ou eu acharia que começaria a enlouquecer.
Fizemos todos os protocolos e organizações antes do jogo e, quando chegou a hora de entrar em campo, segui junto dos reservas para o campo, prendendo a respiração quando passei pelo túnel, esperando que eu pudesse servir como inspiração para as diversas mulheres árabes que estavam ali hoje, cobertas dos pés à cabeça.
Sentei ao lado de Alisson que seria reserva hoje e esperamos os times entrarem e acabarmos logo com isso. Hoje entraríamos com Ederson, Alex Sandro, Pablo, Marquinhos, Fabinho, Renato Augusto, Casemiro, Fred, Neymar, Jesus e Coutinho.
- Você está bem? – Alisson cochichou para mim quando levantamos para acompanhar o hino.
- Eu estou ótima. – Sorri honesta e ele assentiu com a cabeça, dando um rápido beijo em minha cabeça, me surpreendendo.
- Você não deveria ter feito isso. – Falei.
- Que mal tem se vazarmos na imprensa? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Não estava falando desse ponto e sim da cultura, mas vamos lá! – Dei de ombros, me calando quando nosso hino começou a ecoar.
Voltamos para nossas posições e fiquei entre Alisson e Taffarel dessa vez, com o goleiro novato ao lado de Alisson. Os jogadores se colocarem em suas posições e o juiz soou o apito, e eu fiz um discreto sinal da cruz, respirando fundo.
Logo de cara notei que a defesa da Arábia Saudita estava bem fechadinha, de longe tinha seis jogadores, além do goleiro que estava muito preparado. Os diversos chutes a gol da nossa seleção eram parados pela defesa ou pelas mãos ágeis do goleiro. O jogo que eu achei que seria superfácil, começava a me dar dores de cabeça nos primeiros 10 minutos.
Do nosso lado, Ederson trabalhava muito menos, mas quando precisava trabalhar, também estava muito bem alerta, além da defesa que levava algumas boladas para evitar a aproximação da bola. O barulho no estádio era ensurdecedor, parecia que os árabes estavam muito alegres por esse jogo, da mesma forma contra El Salvador, era prazeroso poder enfrentar o Brasil, mesmo que as chances contra eles não eram muito boas.
Aos 18 minutos de jogo, Marquinhos deu uma recuada para Ederson que quase bobeou e preciso chutar a bola fortemente, para evitar levar um gol de forma mais ridícula possível. Eu só queria entrar no jogo e dar uma na cabeça dele.
- Pega essa porra com a mão! – Falei alto demais, respirando fundo e senti a mão de Alisson em minha perna.
- Tá seguro! – Ele comentou e eu ri debochadamente.
- Uhum, super! – Fui irônica, olhando para ele que sorriu, me fazendo repetir o gesto, relaxando os ombros.
Tivemos a primeira chance do gol aos 23 minutos, Neymar fez o passe para Jesus que se aproximou bastante do gol e fez um chute só. Na hora, os jogadores começaram a pular de animação, mas eu virei o rosto para o bandeirinha, vendo-a erguida. Era óbvia, a mão do defensor árabe estava erguida bem antes do lance.
- Porra! – Os três goleiros ao meu lado reclamaram.
- Impedimento, garotos! – Comentei cantarolando e os três se sentaram bufando, me fazendo rir fracamente.
Foram cerca de 20 minutos entre chutes e defesas dos dois times. Às vezes até a Arábia acabava tendo a chance de ataque, mas era chutada alto demais ou Ederson fazia a defesa com muita facilidade.
Outra chance chegou ao final do primeiro tempo, Neymar chegou cruzando quase que o campo inteiro, driblando os diversos jogadores sauditas. Quando estava próximo à defesa deles, ele fez um passe rasteiro e sutil para Jesus que chegou sozinho em frente ao goleiro, quase tropeçando no mesmo, mas deu um toquinho com a bola e a mesma entrou no centro do gol.
- Isso! – O banco de reservas comemorou animado e até respirei aliviada.
O jogo seguiu com três minutos de acréscimo e tivemos dois lances de interesse: Alex Sandro foi derrubado dentro da área por um saudita, mas vi isso como uma derrapada e, aparentemente, o juiz também, já que o jogo se seguiu. E outro foi uma chance de gol do Brasil, o qual Jesus passou para Coutinho que fez o gol, mas o lance já estava impedido antes da passagem de Jesus para Coutinho. Com isso, o juiz deu o tempo como finalizado.

Enquanto os jogadores seguiram para o vestiário durante o intervalo, eu fiquei procurando pelas mulheres no estádio, guardando em minha mente a imagem de uma grande conquista para elas. A felicidade no rosto delas era incrível, elas estavam muito felizes em estar lá, com maridos, filhos, amigas, elas tinham a felicidade estampada em seu rosto e era prazeroso.
Mais prazeroso ainda era vê-las acenando em minha direção, apreciando ver uma mulher trabalhando com uma seleção. Por mais que só tivesse eu hoje, eu sabia que tinha muitas que poderiam estar ali comigo ou no meu lugar, então fiz questão de retribuir o aceno e o sorriso, mostrando que eu estava feliz demais pela conquista delas. Quando o jogo voltou, Alisson percebeu o largo sorriso em meu rosto e eu voltei ao nosso lugar de antes, dessa vez ficando entre ele e o novato.
- O que foi? – Ele perguntou e eu suspirei.
- É bom ser um símbolo. – Suspirei. – Talvez tenha valido a pena.
- Sempre vale. – Ele disse, segurando minha mão e eu a apertei, apoiando a cabeça em seu ombro.
- Vamos lá! – Falei, ouvindo o apito novamente.
No intervalo, Tite acabou tirando Fred e o substituiu por Lucas. Ele partiu para o ataque ligeiro, mas foi derrubado na área só que o pênalti não foi dado, deixando Tite bem irritado, mas não acho que seja necessário, estávamos com a vantagem, poderia ser só uma chance de mostrar como o goleiro deles era bom.
O jogo seguiu e tivemos diversas chances de gol, muitas mesmo, mas ia para fora ou o goleiro defendia, o que estava sendo um espetáculo à parte para o novato que não parava de conversar com Alisson pelas minhas costas sobre. Para ele era tudo novo ainda, então era realmente divertido ficar ouvindo.
Tivemos até duas chances seguidas de gol da Arábia, mas uma foi tirada pela defesa e a outra foi para fora, nada muito assustador. Apesar que acho que quando era Ederson no gol, eu ficava um pouco menos sentida se levasse gol. Não sei, era notável que eu não tinha todo o nervosismo quando Alisson estava ao meu lado, fazendo carinho em minha perna. Ficaria muito brava com Ederson pela situação, mas mesmo assim.
Tivemos substituição de Casemiro por Walace, cartão amarelo para um saudita por entrada perigosa, depois substituição da Arábia Saudita, depois de Jesus por Arthur, que eu fiquei levemente receosa pelo estado dele, mas ele parecia não querer criar mais um buraco no chão de nervoso, então confiei. Além disso, Richarlison entrou para o fim do jogo.
O tempo foi passando sem grandes novidades, os jogadores estavam cansando, então os chutes ficavam cada vez pior e a mira já tinha mandado lembrança para eles, era hora de o jogo acabar. Mas quando faltava cerca de cinco minutos para o fim de jogo, tivemos uma surpresa. Um cartão vermelho foi dado nesse jogo tão simples.
Em uma das defesas da Arábia Saudita, o goleiro acabou fazendo uma defesa errônea e pegou a bola com as mãos fora da grande área. Isso causou análise do VAR e sua expulsão foi dada. O técnico optou por tirar um atacante e colocar o goleiro reserva para os minutos finais. Achei que seria só para cumprir tempo, mas tivemos uma última chance de gol.
Com sete minutos de acréscimo por causa da enrolação da análise do VAR, o Brasil quis mais um. Com um escanteio de Neymar, a bola veio alta e meu querido Juventus, Alex Sandro, subiu na bola e deu uma cabeceada, mandando a bola para o fundo do gol, causando comemoração do Brasil novamente.
O jogo acabou ali mesmo e os jogadores e reservas se abraçaram animadamente e não demorou muito para que voltássemos para dentro. Acompanhei Alex Sandro e Jesus em entrevistas do lado de fora, eles falaram rapidamente sobre o desempenho no jogo e os gols e seguimos juntos para dentro.

Entramos no vestiário e a maioria dos jogadores já estavam nos chuveiros, se preparando para a nossa viagem. Seguiríamos para Jidá ainda essa noite. Eu também precisaria tirar meu traje de Cinderela e voltar a ser gata borralheira, mas ainda tinha alguns compromissos que permitiam meu jeans.
- E aí, Tite? – Me aproximei do mesmo. – Quem eu levo para a coletiva hoje?
- Só vamos eu e o Cléber hoje. Me dá uns minutos, pode ser? – Assenti com a cabeça.
- Claro! – Sorri. – Confesso que fazer a coletiva só depois do jogo ficou muito mais fácil. – Rimos juntos.
- É, realmente! – Ele sorriu.
Enquanto esperava, procurei Alisson com o olhar, mas imaginei que ele já estivesse no chuveiro. Contive a necessidade de ir infernizá-los, mas Tite logo me chamou para irmos para a coletiva. Peguei meu iPad e segui junto deles, Lucas, Vinícius e Leandro, vendo a sala já cheia quando chegamos. Eles se colocaram em cima do palco e eu segui os meninos para acompanhar lá do fundo, longe dos olhos da imprensa.
A coletiva de quase meia hora seguiu o curso normal. Tite falou do desempenho da nossa seleção e da adversária, falou sobre as expectativas do jogo contra a Argentina em alguns dias, além de citar alguns pontos de conflito no jogo como os dois pênaltis não concedidos para nós. Tudo estava indo bem, até a última pergunta que fez com que eu gelasse da cabeça aos pés.
- Tite, aqui, mais uma pergunta, observamos nesse jogo a grande aproximação de Alisson, goleiro titular, com uma funcionária da CBF. – Arregalei os olhos, percebendo os olhares de Lucas, Vinícius e Leandro em cima de mim. – Essa aproximação já foi notada na Rússia e nos outros amistosos, mas não de forma tão carinhosa. Existe algum relacionamento entre eles? Eles estão juntos? Isso afeta o desempenho dele no jogo? Como que é? – Deslizei meu corpo para baixo, me escondendo atrás da proteção das câmeras, mas tinha alguns cinegrafistas no fundo, então era se esconder de nada.
- Hum, não acho que a pergunta seja pertinente para o jogo de hoje, nem sou a pessoa mais qualificada para responder essas perguntas, mas é completamente normal acontecer uma aproximação nessa quando o trabalho é tão próximo, estamos trabalhando com desde maio, então são vários meses de trabalho e confiança, mas também não acho que sou eu quem devo responder sobre ambos. – Fechei os olhos. – Existe sim algo entre eles, nada que afete o desempenho do trabalho de ambos em suas ocupações, mas isso quem vai dizer serão eles, quando acharem que está na hora. – Franzi a testa. – Obrigado pela presença de todos, os vejo em Jidá.
- Saia daqui agora! – Lucas jogou seu casaco em mim e eu o vesti, cobrindo minha cabeça e me levantei, vendo que Tite e Cléber já entraram na sala e voei coletiva abaixo correndo, entrando na porta com ambos, fechando a porta assim que entrei.
- O que vocês fizeram no jogo? – Tite perguntou um tanto alto e eu respirei fundo.
- Talvez, só talvez, Alisson tenha me dado uns dois beijos na testa e ficou acariciando minha perna. – Franzi a testa. – Só talvez.
- Eu disse que isso ia acontecer cedo ou tarde, não? – Ele falou e eu respirei fundo.
- Mas que caralho! – Gritei, sentando em uma cadeira próxima.
- Me diga, seria tão ruim vocês se anunciarem para o mundo? – Cléber perguntou e eu respirei fundo.
- Não seria ruim em nada, mas evitaria comentários como esses. Não quero que as pessoas analisem nossos erros baseados em um relacionamento. – Respirei fundo. – Vocês sabem que nosso trabalho e dedicação não decaiu em nada, pessoalmente acho que até tem melhorado, mas a imprensa não sabe disso. – Suspirei. – Se Alisson deixar um gol entrar, é motivo para eles falaram “ah lá, fica namorando em horário de trabalho, dá nisso”. – Afinei a voz no final, respirando fundo. – Ele é bom demais, não merece isso. – Respirei fundo.
- Bom, já está lá fora, . Perceberam! – Tite voltou a falar. – Aposto que será notícia em vários tabloides hoje e creio que vocês não conseguirão mais fugir disso. – Suspirei. – Não sei nem o que você achou da minha resposta, mas eu também fui pego despreparado e meu foco é sempre ser honesto sobre meu trabalho. – Suspirei.
- Você não fez nada de errado, Tite, só foi surpreendente mesmo, todos foram pegos desprevenidos. Eu fui pega desprevenida. – Suspirei. – E eu não sei o que fazer sobre isso.
- Fazer uma coletiva está fora de cogitação? – Cléber perguntou e eu suspirei.
- Eu preciso falar com Alisson antes, só eu e ele, o relacionamento é nosso, precisa ser uma decisão mútua. – Passei as mãos na cabeça. – Mas também não acho que deva ser assim, precisa ser sutil, talvez começar com uma foto no Instagram, algo assim.
- Bom, se vocês quiserem fazer isso, eu apoio. – Tite falou. – Só cuidado com os ovos que você pisa, eles podem quebrar.
- Esse é meu medo, as chances de eles quebrarem são demais. – Vi Lucas, Vinícius e Leandro entrarem na sala novamente.
- E aí? Como você está? – Vini perguntou rapidamente.
- Surpresa. – Ri fracamente.
- E o que vocês vão fazer agora? – Lucas perguntou e eu me levantei, respirando fundo.
- Agora, nós vamos para Jidá, depois eu e meu namorado tiraremos alguns minutos a sós para pensar nisso. – Respirei fundo. – Trabalho primeiro.
- ... – Tite apoiou a mão em meu ombro. – Adoro seu comprometimento, mas encare isso. É seu relacionamento e, apesar das dores de cabeça, eu os quero bem, trate com carinho, façam uma decisão, ok?!
- Você será o primeiro a saber. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Seguimos de volta para o vestiário e a maioria já estava pronto, conversando, jogando baralhos ou só nos esperamos. Assim que voltamos, eles começaram a se levantar e eu peguei minhas coisas, coloquei nas costas e puxei Alisson pela mão, seguindo para dentro do vestiário, vendo sua cara de confusa quando tranquei a porta.
- O que foi? – Ele perguntou e eu comecei a tirar minha vestimenta da mochila para a saída do estádio.
- Eles sabem! – Falei, respirando fundo e ele franziu a testa.
- O que você está falando? – Ele perguntou, cruzando os braços.
- A imprensa sabe da gente e perguntaram para Tite na coletiva. – Seus olhos se arregalaram.
- E aí? – Ele perguntou, se aproximando e eu comecei a prender o tecido em meus cabelos.
- Tite conseguiu uma boa saída, mas precisamos conversar. Precisamos decidir o que vai acontecer, o que vamos fazer. – Respirei fundo.
- Agora? – Neguei com a cabeça, colocando um vestido por cima da minha blusa da CBF e meus jeans.
- Não, só queria que você soubesse por mim, antes que você veja algo que não saiba. – Ele suspirou.
- Talvez eu tenha abusado no jogo. – Ele comentou e eu sorri levemente, fechando minha mochila.
- Agora já foi. – Joguei minha mochila nas costas e me aproximei dele. – Conversamos quando chegar em Jidá? – Ele assentiu com a cabeça. – Acho que são umas duas horas de voo, acho que é um tempo bom para cada um decidir o que quer sobre isso.
- Eu quero ficar com você, só isso. – Ele me segurou pela cintura e deu um leve beijo em meus lábios.
- É a única certeza que eu tenho. – Disse, abraçando-o fortemente, e assentimos juntos com a cabeça, saindo do vestiário.
- Eita, cadê todo mundo? – Perguntei, vendo Lucas esperando sozinho no vestiário.
- Já foram indo, achamos que seria bom dar um tempo a vocês. – Ri fracamente.
- É algo não planejado, mas ninguém morreu não. – Comentei e ele riu, dando de ombros.
- Vamos embora! – Alisson falou rindo e o seguimos até alcançar os jogadores que seguiam para o ônibus.

Chegamos em Jidá por volta das três da manhã e até dar entrada no hotel e receber algumas informações de Tite, já era quase cinco. Dessa vez eu não tinha muitas informações para falar sobre o jogo, então Tite fez esse trabalho, também deu folga no dia seguinte e disse que eles fariam somente um treino noturno para começar a preparação para o jogo contra a Argentina.
Fiz a distribuição de chaves para os quartos em duplas e Alisson pegou uma e me encarou, sacudindo a mesma em minha direção. Fiquei com receio disso, mas nosso segredo já estava lá fora mesmo, além de que precisávamos conversar.
Terminei de fazer as últimas orientações e segui junto dos meus companheiros da comunicação na última leva com os jogadores e respirei fundo antes de bater na porta do quarto. Alisson abriu já sem a blusa e eu entrei, fechando a porta e puxando o hijab para fora.
- Você quer tomar banho antes? Dormir? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Podemos conversar antes. – Passei as mãos em seus ombros, sentindo-o me abraçar por cima desses diversos panos. – Isso não vai parar de martelar na minha cabeça.
- Você sabe que não tem nada que precise se preocupar, não é mesmo? – Me afastei dele, puxando o vestido para cima e colocando-o em uma das camas de casal no quarto.
- Eu sei, mas eu não me preocupo com a gente, somos camaleões, a gente enfrenta o que vem, mas estou preocupado com as nossas imagens, com a sua imagem. – Suspirei.
- Se eles acham que nosso relacionamento é uma ameaça para a Seleção ou para o meu desempenho, eles são muito burros.
- É, jornalista não é exatamente a raça mais esperta do mundo. – Brinquei com minha profissão, fazendo-o rir fracamente. – Mas eles querem pautas e um relacionamento dentro da CBF é uma pauta fenomenal!
- Isso já aconteceu antes, por favor! Teve o Casillas e aquela repórter na Copa da África. – Ele comentou e franziu a testa. – Não sei se foi ele, enfim, mas ninguém duvidou da capacidade dele quando ele lascou um beijão na menina.
- Foi ele. – Ri fracamente e puxei sua mão, seguindo para a cama e me sentando na beirada. – Mas eu também não quero que esse seja o foco, entende? O foco é a Seleção Brasileiro vindo jogar alguns amistosos, só. Você é o cara famoso, não eu.
- Eu nem sou tão famoso assim, nem vem. As pessoas sabem quem eu sou, mas não costumo ser matéria de tabloides. – Ri fracamente.
- Não costuma ser matéria de tabloides até dar motivo para ser, Alisson, e isso é motivo. – Ri fracamente. – Acredite, essa é minha área, eu sei que do que estou falando.
- Então, me diz, , o que você quer que a gente faça? – Ele segurou meu rosto e eu respirei fundo, negando com a cabeça.
- Você é o cara famoso aqui. – Suspirei. – Isso deveria vir de você.
- É, mas como vivemos em um mundo machista, aposto que você vai sofrer as consequências mais do que eu. – Assenti com a cabeça.
- Touchè. – Disse, respirando fundo. – Eu acho que... – Suspirei.
- O quê? – Ele olhou fundo em meus olhos.
- Eu não quero que sejamos um espetáculo para eles, sabe? Quero que tudo seja natural, simples, que simplesmente aconteça. – Mordi meu lábio inferior. – Que não precisemos nos esconder, mas que também não sejamos todo o centro do universo. – Suspirei. – Esse não é o foco.
- Então, pronto! Faremos assim. – Franzi a testa, encarando-o. – Não é óbvio? Quando quisermos demonstrar nosso amor em público, demonstramos, quando não, ficará só entre a gente, como está sendo há mais de três meses. – Ele deu de ombros. – Se nos perguntarem se estamos juntos, diremos que sim, agora se não falarem nada, também não falaremos nada. – Ri fracamente. – Eles só descobriram agora, provavelmente por se surpreender com o beijo que eu te dei e com a cultura de casal nesse país, do contrário, eles já ficaram conosco em treinos, jogos e coletivas e nunca vazou, porque somos profissionais, sabemos a hora de namorar e a hora de trabalhar. – Ele segurou minhas mãos. – O que acha?
- É perfeito! – Sorri, abraçando-o fortemente, sentindo-o beijar meu ombro. – Só espero que na prática seja fácil assim.
- Talvez não agora no começo, por ser recente, mas é nosso relacionamento, nós fazemos as regras. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Eu surto de vez em quando, mas eu te amo, ok?! – Falei e ele riu fracamente, colando os lábios levemente nos meus.
- Eu também! – Disse e ele suspirou.
- Mas isso não precisa ser agora, não é mesmo? – Perguntei e ele riu. – Não estou no pique para lidar com isso agora, preciso de banho e dormir um pouco.
- Vem que eu te acompanho. – Ele se levantou, segurando minha mão e eu ri fracamente, sentindo-o me puxar para o banheiro.
- Alisson Becker está com pique para um sexo no banheiro à essa hora? – Brinquei e ele deu de ombros.
- Não joguei hoje, estou com minhas energias guardadas, e desde que chegamos nesse país, não pudemos aproveitar muito juntos e sozinhos. – Ri fracamente, passando os braços pela sua cintura, apertando-o contra mim. – Precisamos aproveitar.
- Sou toda sua! – Falei e ele riu fracamente, antes de colar os lábios nos meus.

Acordamos quase na hora do almoço, mas optamos por ficar juntos mais um pouco. Eu ainda estava acabada por ter quase passado a noite virada, então ele colocou um filme no Netflix, mas eu fechava os olhos diversas vezes e acabava apagando por mais alguns minutos.
Por volta das três da tarde, paramos de enrolar e descemos para o restaurante para comer antes do treino, era preciso pelo menos uma hora de intervalo entre a refeição e o treino e Tite queria ir as cinco para o estádio fazer um treino noturno.
Dito e feito, cinco em ponto saímos todos para o estádio para que eles fizessem um treinamento noturno. Eu fui mais para acompanhar, não tínhamos coletiva, então eu só servi para ficar observando. A vantagem é que no momento em que eu entrei no estádio, os holofotes ligaram e eu fiquei bem mais animada do que estava.
Não podia dormir mais, amanhã o treino seria no horário normal e ainda teríamos uma festa típica na parte da noite, a CBF tinha preparado tudo, eu só sabia alguns detalhes. Enquanto alguns jogadores faziam treinamento interno e outros no campo, fiquei acompanhando os trabalhos de Vinícius e Lucas.
Nove horas Tite deu o treino como encerrado e organizamos as coisas para voltar para o hotel. A maioria dos jogadores, incluindo eu e Alisson, pararam para jantar e logo o restaurante se esvaziou com o pensamento de que amanhã todos estariam de pé as sete novamente.
Eu e Alisson subimos para o nosso quarto e cada um tomou seu banho sem a interrupção do outro, o que dessa vez não foi tão difícil, eu ainda estava cansada e pronta para dormir de novo. Quando ele saiu do banheiro de bermudas, eu já estava deitava embaixo de alguns cobertores, esperando-o para me fazer companhia.
- Já vai dormir? – Ele me perguntou, se sentando na beirada da cama, procurando suas vitaminas para tomar.
- Se você demorasse mais alguns segundos, eu ia capotar aqui e você não ia nem ver. – Rimos juntos e ele virou o corpo para a cama, se ajeitando embaixo das cobertas e eu me aproximei dele, passando minha mão em sua barriga.
- Ah, que mão gelada! – Ri fracamente, encolhendo os dedos.
- Desculpe! – Comentei, sentindo-o me abraçar pelas costas com seu corpo quente.
- Sabe como vai ser amanhã? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Não faço a mínima ideia, mas acho que vai ser legal! – Suspirei. – Só que vai ser uma festa bem top e eu estarei bem brega. – Ele riu fracamente.
- Eu estarei de uniforme, qual é! – Sorri, negando com a cabeça.
- Eu não tenho muitas informações, então vamos esperar para ver antes. – Ele assentiu com a cabeça.
- Ok, ok, pode ser! – Ele deu um beijo em minha cabeça e eu fechei os olhos, sentindo-o colocar a mão livre em cima da sua barriga e tentar esquentá-la. – Dorme bem, ok?! – Ele cochichou e eu só assenti com a cabeça, antes de suspirar.

O dia seguinte começou sem grandes novidades. Acordei disposta e pronta para ir dormir tarde novamente. Seguimos para o treino e dessa vez não paramos na hora do almoço para voltar ao hotel e comer lá, ficamos no estádio e comemos no próprio restaurante. Estávamos há dois dias de um jogo contra a Argentina, então a imprensa começava a dar sinais de vida, então fiquei no telefone e no e-mail durante todo o treinamento, somente acompanhando alguns lances e gritos de Tite. Mal aproveitei a visão de meu namorado.
Quando deu quatro da tarde, Lucas e Vinícius seguiram para a coletiva e eu fiquei acompanhando a mesma da antessala, já estávamos com esse esquema antes da imprensa comentar sobre nós, agora muito mais. Os sortudos da vez foram Miranda e Danilo, eu tinha um grande carinho por ambos, então foi divertido. Após isso, eles fizeram mais alguns minutos de treinamentos e encerramos quando o sol começava a se esconder por trás das arquibancadas do estádio.
Cada jogador seguiu para seu quarto e ficou combinado de descer novamente as oito horas. Alisson seguiu diretamente para o banho e eu fiquei buscando pelas minhas roupas típicas o que ficaria menos feio para esse jantar. Era um jantar típico que alguns patrocinadores árabes, vulgo sheiks cheios da grana, dariam para a gente. A organização foi inteira feita por eles e pela CBF, mesmo eu fazendo parte da equipe, eu não tinha muitas informações sobre essa noite, só que seria uma festa e que os jogadores deveriam ir de uniforme.
Eu acabei escolhendo um vestido inteiro preto e o hijab da mesma cor, não que ficasse bonito, mas era preto, então eu passaria despercebida, apesar de ser a única mulher lá. Alisson saiu do banho e parou ao meu lado, também encarando as roupas.
- O que foi? – Ele perguntou, passando a toalha nos cabelos e eu suspirei.
- Tentando parecer tradicional e respeitosa ao mesmo tempo. – Bufei e ele deu um beijo em minha cabeça, me abraçando com a mão livre.
- Vai ficar tudo bem, relaxa.
- Eu sei, mas queria tanto usar meu jeans e camiseta. – Choraminguei e ele riu.
- Só mais dois dias, amor. – Suspirei.
- Mas daqui dois dias vamos embora também e eu vou ficar mais um mês longe de você. – Ele sorriu.
- Estamos conseguindo fazer dar certo, não se preocupe, só mais um obstáculo na nossa vida. – Virei para ele, ficando levemente na ponta dos pés e estalando um beijo em sua bochecha.
- Eu vou tomar banho, ok?!
- Eu vou deitar um pouco. – Ele comentou, seguindo para a cama que eu não havia espalhado diversas opções de tecidos.
- Tente não dormir, não podemos nos atrasar, é uma hora de viagem só para chegar lá.
- Aonde vai ser isso? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Pelo o que eu sei? No meio do deserto! – Falei e o ouvi rir antes de fechar a porta do banheiro.
Tomei banho completo, lavando muito bem meus cabelos e coloquei calcinha e sutiã ao sair do mesmo. Dediquei os minutos que restavam para secar e fazer escova em meus cabelos. Tudo bem que ele ficava escondido dentro do hijab, mas eu estava precisando tratá-lo melhor. Quando voltei para o quarto, Alisson já começava a se vestir também. Entre um beijo e risadas, ficamos prontos no horário planejado.
- Acho que é o melhor que eu consigo fazer. – Suspirei, me olhando no espelho, praticamente de cara limpa.
- Você está linda! – Alisson passou as mãos em minha cintura, apoiando o queixo em meu ombro.
- Você é um amor, mas eu estaria mais com minhas roupas, aposto! – Ele sorriu, estalando um beijo em minha bochecha.
- Vamos! – Ele estendeu a mão para mim e eu a segurei fortemente, sabendo que precisaria soltar dali alguns minutos.
Saímos do hotel junto de diversos jogadores e encontramos a equipe técnica e de comunicação no lobby. Esperamos até que todos descessem, fizemos uma rápida contagem e subimos no ônibus novamente, dessa vez não tínhamos a companhia de imprensa ou de torcedores na porta do hotel, nossa saída não era anunciada.
Os jogadores ficaram papeando durante boa parte do percurso, eu comecei a ficar receosa assim que saímos da cidade e entramos no deserto. A única luz vista era dos faróis do ônibus, não tinha mais nada em frente ou atrás da gente. Eu sou um tanto medrosa, então era um receio plausível, mas de repente, uma área iluminada se abriu e sabíamos que havíamos chegado.
Só percebi a falta de Vinícius, quando saí do ônibus e dei de cara com o Canarinho em cima de um camelo e Leandro estava alguns metros dele, filmando a chegada dos jogadores. Franzi a testa, tentando achar uma explicação, já que todos estavam no hotel na saída, mas eles deveriam ter ido em outro carro.
- Você está demais! – Falei rindo e ele esticou a mão para mim, me cumprimentando e eu neguei com a cabeça, vendo-o me mandar um beijo em seguida.
- Não vai cair! – Alisson brincou e eu neguei com a cabeça, seguindo um pouco à frente com Edu e outros da comissão técnica.
Atravessamos o grande descampado e fiquei feliz por ter ido de tênis, pois tudo era areia, com exceção da área aonde tinha várias mesas muito bem arrumadas, grandes réchauds e diversas brasas que saíam um cheiro muito deliciosos. Não foi diferente das outras vezes os olhares sobre mim, mas era claramente compreensivo minha posição nessa equipe, então não me preocuparia com isso.
- Boa noite. – Um sheik nos recepcionou com um forte sotaque em inglês e nos aproximamos dele. – Vocês podem entrar e se arrumarem, depois aproveitem nossos passeios de bug pelo deserto, de camelo, nossas quadras, nossa comida e nossa música. Todos são muito bem-vindos. – Dei um sorriso sem graça com esse “todos”, mas assentimos em agradecimento e segui com os jogadores e Tite que entraram aonde ele indicou.
Lá dentro era maravilhoso! Diversas cadeiras baixas e coloridas estavam dispostas lado a lado, diversas mesas de pebolim, sinuca e pingue-pongue de um lado, mesas com petiscos e bebidas do outro, além de outro homem pronto para vestir todos os meninos com roupas de árabe. Ah, essa eu gostaria de ver.
- Vai lá! – Apontei para Alisson e ele riu.
- Você quer rir de mim, não é mesmo? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Eu já estou sendo alvo de piadas desde que chegamos aqui, deixa eu aproveitar meu momento um pouco. – Falei, me afastando e sentando em um dos bancos, quase caindo neles, por serem bastantes baixos.
Os jogadores se dividiram rapidamente, Edu, Ederson e outros seguiram para passeios de bug, Neymar, Jesus e Filipe foram para a quadra de basquete e tivemos alguns corajosos que foram animados fazer o passeio de camelo, Lucas, Arthur, Coutinho e Richarlison ocuparam as mesas de pingue-pongue, o pessoal da fisio para o pebolim e eu queria aproveitar muitas coisas também, mas estava um pouco intimidada, então fiquei observando por um tempo.
Marquinhos e Fred foram os primeiros a se vestir de árabe, colocando uma longa túnica branca e um hijab masculino – ou o nome oficial daquele chapéu árabe – e aproveitaram para tirar fotos, além de receber um presente típico, não sabia exatamente o que era, mas parecia um kit de chá folhado a ouro.
- ! – Alisson me chamou e o vi atrás de Taffarel na fila para se vestir. – Vem! – Neguei com a cabeça.
- Eu estou bem, aproveita! – Sorri, tentando demonstrar ânimo e vi seus lábios se comprimirem, mas agradeci quando o homem o chamou, me fazendo respirar aliviada.
- O que acha? – Olhei para cima e vi Tite vestido tipicamente e ri fracamente, assentindo com a cabeça.
- Acho que você passaria por um ótimo árabe! – Ele riu e me esticou a mão.
- Venha! Divirta-se um pouco.
- Sem tocar! – Falei e ele recuou a mão rapidamente. - Eu estou bem, Tite, não se preocupe!
- É sério, venha! – Ele disse e eu suspirei, me levantando e ele me acompanhou até a mesa das roupas.
- Ah, meu Deus! Taffa! – Comentei um tanto alto, gargalhando ao ver Taffarel completamente vestido também.
- Está tão mal assim? – Ele perguntou e eu sorri.
- Você está ótimo! – Sorri e ele fez uma menção com o queixo e eu virei o rosto para o lado, colocando as mãos na boca quando Alisson ficou pronto. – Oh, Deus! Oh, Alá! – Falei, mordendo meu lábio inferior.
- Está tão mal assim? – Ele perguntou e eu sorri.
- Você está ótimo, pena que não posso te beijar agora. – Comentei e ele piscou rindo.
- Hum, com fetiches típicos. – Taffa brincou e eu gargalhei.
- Parem vocês, não é porque eu não posso tocar em vocês que eu não arranjarei um jeito de bater em vocês. – Eles riram.
- ! Venha! – Tite falou e eu me lembrei do mesmo, seguindo para o seu lado. – Ela gostaria de se arrumar também. – Tite falou em inglês ao árabe e eu franzi a testa, vendo-o se afastar e seguir para uma sala, espiar lá dentro e me chamar com a mão.
- Mas o quê? – Perguntei e Tite assentiu com a cabeça.
- Vai lá! – Ele falou e eu respirei fundo, seguindo-o e quando ele abriu espaço para eu passar, notei que havia uma mulher muito bem vestida e maquiada lá dentro.
- , certo? – Ela se apresentou e eu entrei na sala, vendo-a fechar a porta. – Sou Aisha, uma das empregadas do Sheik Naim. – Ela disse em um inglês perfeito e quase sem sotaques.
- O que eu estou fazendo aqui, Aisha? – Perguntei e ela apontou para uma cadeira em frente a um espelho e eu me sentei.
- Isso é uma festa e você, apesar da boa intenção, não está preparada para uma festa. – Suspirei.
- Desde que eu cheguei aqui, tento usar e combinar as roupas de vocês como forma de respeito e educação, mas eu não consigo fazer isso sem parecer... – Suspirei, deixando a frase no ar.
- Outra pessoa? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Não é muito fácil se vestir com nossa cultura, quando você tenta ajustar a nossa ao que você já conhece. – Ela começou a abrir as maletas e percebi várias maquiagens. – Mas hoje é uma festa árabe, então vamos te tornar uma sultana. – Sorri. – Relaxe e deixe que eu trabalhe, ok?!
Suspirei e assenti com a cabeça, vendo-a puxar delicadamente o hijab de minha cabeça e inclinar a cadeira, colocando minha cabeça para trás e eu fechei os olhos. Ela começou a trabalhar com uma delicadeza que eu nunca senti antes. Suas mãos passavam pelo meu rosto, cabelos e confiei nela para que fizesse o que ficasse melhor para me deixar mais tradicional.
Sentia que ela trabalhava muito em meus olhos, passando diversas coisas no mesmo e sempre que possível, alisava meu cabelo com as escovas para que ele ficasse mais escorrido para baixo. Creio que perdi cerca de meia hora sentada naquela cadeira, mas quando ela me levantou novamente, eu não acreditei no que eu estava vendo.
Eu estava com uma maquiagem muito bonita, os olhos incrivelmente marcados em preto e dourado, além do delineador gatinho que eu não achava que ficava bom em mim e ficou perfeito. Os lábios estavam quase no tom da pele, mas não precisava de mais nada com esses olhos muito bem maquiados.
- Uau! – Comentei, suspirando e ela sorriu. – Achei que as árabes não se maquiavam tanto.
- É a nossa única forma de demonstração, precisamos aproveitar. – Ela disse, prendendo uma grossa faixa preta em meus cabelos, antes de pegar um hijab com um tecido muito mais adequado e colocá-lo em minha cabeça, mantendo meus cabelos soltos. – Você está muito bonita! – Suspirei.
- Obrigada! – Falei e ela apontou para outro lado.
- Ainda não acabou. – Ela pegou um desses porta-vestidos e me estendeu o mesmo, apontando para uma porta. – Pode se vestir.
Entrei no banheiro com receio e pendurei o saco em um canto e abri o mesmo, ficando abismada com o que encontrei ali dentro. Era um vestido, mas também era uma abaya muito fina e impecável. Era de mangas compridas e uma gola até o pescoço. Até a cintura possuía diversos cristais incrustrados, deixando o tecido pesado e dali para baixo várias aplicações em flores, além de diversas camadas.
Me senti importante naquele momento. Eles haviam preparado essa roupa incrível para que eu pudesse fazer parte do jeito certo, não sabia se era algo desse hotel, da CBF, mas eu me senti bem-vinda ali. Fiquei com receio ao vestir e não servir, mas obviamente aquilo caiu como uma luva e eu me senti deslumbrante quando fechei parte de seu zíper. Saí do banheiro, vendo um largo sorriso no rosto de Aisha e ela assentiu com a cabeça.
- Você está incrível! – Ela disse e eu suspirei, vendo-a seguir para atrás de mim e fechar o resto do zíper e ajeitar o hijab por cima da peça de roupa.
- Eu me sinto incrível. – Suspirei.
- Espero que tenha gostado. – Suspirei. – Só mais um toque. – Ela pegou um par de sapatos pretos, com um pequeno e grosso salto, e o colocou no chão. – Eles devem ficar escondidos embaixo da saia. – Ela disse e eu os calcei, jogando para longe meus tênis.
- Não tenho nem como agradecer. – Suspirei, colocando a mão no peito. – No Brasil abraçamos as pessoas em forma de cumprimento, então, se sinta abraçada. Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui.
- Já me sinto abraçada. – Ela sorriu. – Apesar de nossa cultura ser diferente da sua, ela é boa. – Ela sorriu. – Claro que ainda temos algumas distrações, mas um dia de cada vez. – Ela disse e eu suspirei. – Agora vá aproveitar a festa. Quando acabar, a roupa é sua, para guardar de presente.
- Obrigada. – Sorri, antes de respirar fundo e abrir a porta. O lado de fora estava mais vazio agora, somente alguns organizadores e Lucas, com trajes típicos, estourando o primeiro flash em mim, me fazendo rir.
- Você está um arraso! – Ele falou.
- Você sabia disso? – Perguntei e ele sorriu.
- Eu falei com Michele para preparar algo para você, você não sabe fingir desgosto, . E eu adorei o resultado. – Suspirei, comprimindo os lábios.
- Obrigada! – Suspirei. – Me sinto muito melhor agora. – Ele riu fracamente.
- Agora vamos, venha jantar, eu estou morrendo de fome! – Ri fracamente e antes de passar pela porta, recebi um sorriso do homem que arrumou os meninos e um presente igual deles, assentindo com a cabeça.
- Depois precisamos tirar algumas fotos enquanto estou bonita assim! – Ele riu. Deixei meu presente com as minhas coisas e segui Lucas até o lado de fora, respirando fundo quando eu saí.
Alguns jogadores já se serviam e outros até comiam nas mesas. Sabia que todos brincariam comigo e me elogiariam, mas eu só tinha interesse em um deles. Era sempre ele. Encontrei Marquinhos na fila de comida e sua boca foi para o chão quando ele me viu.
- ? – Ele gritou e eu ri fracamente. – Agora é árabe de verdade, né?! Puta que pariu! – Ele falou alto e eu só ria. – Você está um arraso. – Sorri.
- O que está... Uau! – Walace falou e eu sorri. – Alisson! – Ele virou para trás e meu namorado apareceu, desviando das pessoas com seu prato. – Conheça sua nova namorada.
- Nova namo... O que você está falando? – Ele se virou para mim. – ?! – Sorri.
- Hey! – Falei e ele desceu o olhar de cima a baixo para mim.
- Oh, meu Deus! Você está... – Ele balançou as mãos, apoiando o prato na mesa e levando-as ao lado da cabeça, fazendo movimento de explosão. – Posso te beijar aqui e agora? – Rimos juntos. – Você está...
- Bem melhor do que antes. – Sorri e respirei fundo.
- Cara, eu estou abismado. – Ele se aproximou de mim. – Não tem algum lugar que podemos nos esconder e...
- Eu não preciso ouvir isso! – Marquinhos falou e se retirou, me fazendo rir.
- Eu posso ficar com a roupa. – Pisquei para ele que riu.
- Espero que não vamos embora muito tarde. – Ri fracamente e neguei com a cabeça, pegando um prato na ponta da mesa.
- Ah, mas vai subir pelas paredes agora! – Brinquei e ele riu.
Depois de receber muitos elogios e piadas durante o jantar, o pessoal se dissipou para aproveitar mais um pouco das opções de entretenimento que tínhamos lá. Lucas me fez um grande favor e tirou várias fotos comigo, inclusive algumas com Alisson. Abandonamos os costumes por alguns momentos e ele me abraçou pela cintura, sorrindo para algumas fotos também.
Depois seguimos para andar de camelo, não sabia como eu faria isso com aquela roupa, mas era o tipo de oportunidade única na vida, eu não perderia.
- Deve ser tipo andar de cavalo. – Alisson falou enquanto o adestrador fazia os comandos para o camelo sentar e levantar.
- E você já andou de cavalo antes? – Perguntei e ele me encarou.
- Ah, dã! Você não? – Ele se virou e eu dei um sorriso fraco.
- Nunca! – Falei e ele fechou a cara, surpreso.
- Bom, tem uma primeira vez para tudo! – Rimos juntos.
Ambos rimos muito durante o passeio. O camelo levantava primeiro as patas traseiras, antes das dianteiras, então dá um ataque no coração, achando que você vai de cara no chão, mas o passeio no geral é gostoso, ele é um animal alto, então é realmente como estar nas nuvens.
A última brincadeira que eu quis tentar, já que não queria participar de jogos e nem me encher de terra no bug, seria receber uma águia em minha mão. Claro que tinha toda a proteção necessária, mas águias são animais selvagens, existia aquele receio de eu acabar machucada ou arranhada da situação.
Nada disso aconteceu, um dos adestradores segurou-a em seu braço e pediu para eu manter o meu esticado e longe do rosto. Ele a jogou para o alto e ela planou em minha direção, pousando em cima da luva, me deixando feliz e abismada ao mesmo tempo.
- Tira foto, tira foto, tira foto! – Gritei para Alisson, vendo-o rir e apontar o celular para mim.
- Isso é demais!
- Olha esse animal! – Falei da águia. – Nunca achei que estaria tão perto de um.
- Agora você faça o mesmo movimento para cima que ela vai voltar para o meu braço. – O adestrador falou em seu inglês forte e eu respirei fundo, antes de erguer o braço, vendo a águia levantar voo para o adestrador.
- Minha vez! – Alisson falou rapidamente, me fazendo rir.
- Só mais uma vez, vai! – Falei sorrindo e ele assentiu com a cabeça.
- Ok, vai! – Rimos juntos.

Voltamos para o hotel depois das três da manhã. Todos estavam muito felizes e animados com a festa da noite, até eu tinha conseguido me divertir, o que foi muito bom para a minha sanidade durante essa viagem, precisava agradecer muito a Aisha por essa grande arrumação. Mas apesar de toda alegria e felicidade, todos estavam cansados também, ainda tínhamos o último dia de treinos antes do jogo contra a Argentina e ele precisava ser muito bem aproveitado.
Assim que chegamos no hotel, cada um foi para o seu quarto e Tite disse que uma hora iríamos para o treino, daria para dormir bastante, almoçar e ir. Eu não tinha problemas com digestão, mas os jogadores tinham.
Entrei no quarto, puxando o hijab para fora, sentindo um largo sorriso se formar em meu rosto e me sentei na beirada da cama, tirando os sapatos e suspirei. Alisson fechou a porta, tirou seu chapéu, a toga branca e sorriu para mim.
- O quê? – Perguntei, vendo-o rir fracamente.
- Você sabe o que eu quero. – Ele disse e eu me levantei.
- Você se excita por pouco! – Passei minhas mãos em volta do seu pescoço, sentindo-o me apertar pela cintura.
- Por pouco? Menina, tu se olhou no espelho, por acaso?
- Olhei e gostei muito do que vi. – Ele deu um beijo em minha bochecha, começando a descer pelo meu pescoço.
- Eu também. Você está sexy demais! – Ri fracamente.
- Melhor que a noviça voadora, isso eu posso garantir. – Ele me encarou e colou o nariz no meu.
- Você é sempre incrível, mas hoje... – Ele negou com a cabeça. – Igual suas fotos do prêmio da FIFA, nossa.
- Bom, uma mulher com um vestido longo muda de figura, né?! Melhor do que tênis e camiseta de futebol. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu te amo demais, garota. De longo, de blusa de time, sem nada, do jeito que você quiser. – Ri fracamente.
- Eu sei, e agora você está quase conseguindo tirar meu vestido sem nem piscar. – Ele deu um sorriso sacana.
- Às vezes precisamos aproveitar, não é mesmo? – Ele deu de ombros e eu sorri, assentindo com a cabeça e sentindo-o colar os lábios nos meus.
Seus lábios desceram pela lateral do meu rosto, mas sem conseguir seguir muito pela gola alta do vestido, fiz a felicidade dele e virei de costas para o mesmo, puxando os cabelos do caminho e senti suas mãos deslizarem pelo zíper, levando as mãos em meus ombros e abaixando o vestido. O mesmo deslizou pelo meu corpo até encontrar o chão e eu saí do mesmo, vendo o sorriso de Alisson se alargar.
- Eu te amo. – Ele disse e eu pisquei, sentindo-o passar as mãos em minha cintura.
- Eu sei! – Disse e ele riu, abaixando o corpo e me erguendo pelas coxas.
Apoiei as mãos em seus ombros, ficando um pouco mais alta que ele e joguei os cabelos para trás antes de abaixar o rosto e colar os lábios nos seus novamente. Ele nos levou às cegas pela cama e me deitou delicadamente sobre ela e subiu na mesma, se colocando em cima de mim.
Ergui uma mão livre para seu rosto, acariciando sua bochecha barbuda, vendo um sorriso se formar em seu rosto. Ele apoiou uma mão em minha cintura e a outra ao lado de meu rosto, distribuindo curtos beijos em meu rosto, pescoço e desceu entre meus seios, deixando alguns beijos nas partes descobertas pelo sutiã.
Ele desceu mais os beijos, fazendo minha barriga se contrair com o toque e tirou minha calcinha, jogando-a para o lado. Ele subiu o rosto, sorrindo para mim e eu empurrei seu ombro para trás, levantando e me colocando em cima dele, vendo-o sorrir. Foi minha vez de brincar um pouco com ele, passando a ponta das unhas e os lábios pelo seu corpo, até chegar na única coisa que ele ainda tinha em seu corpo, sua bermuda.
Puxei-a para fora, vendo-o se sentar na cama e me puxar para colar os lábios nos dele novamente. Passei minhas pernas pela sua cintura, sentando em seu colo e fechando os olhos quando nossos corpos se encaixaram.

O último dia de treinos foi pauleira como sempre! Ficamos da uma da tarde até nove da noite no estádio, direto, com alguns intervalos no meio do caminho. Tite queria todo mundo perfeito para não ter nervoso contra a Argentina, eu já pensava da seguinte forma: era a Argentina, teria nervoso. Eu fiquei atendendo a imprensa o dia inteiro pela internet ou pelo telefone e participei pessoalmente da coletiva com Neymar, Tite e Sylvinho, tivemos outras perguntas inconvenientes da Globo sobre meu relacionamento com Alisson, mas Tite fugiu novamente e eu fingi que nem era comigo aquilo.
De resto, tudo aconteceu conforme o planejado. Ajudei Vinícius e Leandro em umas entrevistas com Malcom e o novato Phelipe, aproveitando e fazendo leves comentários sobre o último, claramente com a intenção de deixar Alisson com ciúmes. Não teve o efeito necessário, mas eu me sentia bem fazendo aquele homem gato e gostoso, de um metro e 91 de altura, com ciúmes de mim. Fazia muito bem para o meu ego.
Voltamos para o hotel e já paramos para jantar. Tite sempre gostava de uma última refeição em conjunto antes do grande dia, apesar que ficaríamos presos no hotel o dia inteiro antes do jogo, e faríamos todas as refeições juntos, mas era bom. A parte ruim era que todos os jogadores estavam muito cansados, então foi algo rápido, fazendo com que todos subissem para os quartos assim que terminaram.
Deixei que Alisson tomasse banho e, quando eu fui tomar o meu, na volta, ele já roncava do seu lado da cama. Deitei ao seu lado e perdi alguns minutos checando minhas notificações, mas logo abracei-o de lado e compartilhei do mesmo sono que ele. Apesar de não fazer o trabalho físico, eu estava mentalmente cansada.
O dia do jogo começou animado, apesar da folga de treinos antes de todo jogo, não tínhamos feito reunião sobre a Argentina e, apesar de eu não estar levando isso como algo importante, era para eles. Era um Super Clássico das Américas, caso finalizasse em zero a zero no tempo corrido, seguiria para prorrogação e pênaltis e eu realmente não estava preparada para encarar isso ainda, ainda mais contra a Argentina.
Eles também não, por isso dedicamos algumas horas do dia para falar sobre o jogo, depois disso foi aquela enrolação. Vários jogos de cartas, longas conversas, piadas, sonecas a cada meia hora e tudo de sempre. Eu tentei ficar o máximo de tempo folgada com os meninos, com Alisson principalmente, já que iríamos embora nessa madrugada, mas a imprensa estava louca atrás da escalação e eu já havia avisado que só liberaríamos uma hora antes do jogo, então precisava ficar ouvindo muitas cogitações deles.
Quando chegou umas cinco e meia da tarde, todos os jogadores foram para os quartos começar a arrumar as coisas. Eu e Alisson fizemos o mesmo. Aproveitei para tomar um longo banho, que seria meu último nessa cidade e nesse país e vesti minha roupa de assessora da CBF. Acho que nunca havia ficado tão feliz de realmente poder usar essas roupas tão comuns para mim.
- É isso! – Fechei tudo, me virando para Alisson que já estava com tudo pronto.
- Já vai ficar triste? – Ele perguntou, me chamando com a mão e eu fiquei entre suas pernas, apoiando as mãos em seus ombros.
- Dessa vez eu não consegui aproveitar a tristeza por muito tempo. – Suspirei, sentindo-o me abraçar pela cintura. – Foi bem agitado.
- Vai ficar tudo bem, quando nos veremos agora? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Se tudo der certo... – Ele revirou os olhos. – Novembro. O primeiro jogo é dia 16 contra o Uruguai. Creio que dia 10 ou 11 nos encontraremos em Londres. – Ele assentiu com a cabeça.
- Está perto, menos de um mês. – Assenti com a cabeça.
- E a melhor parte é que depois ficará perto do recesso e poderemos nos encontrar. – Ele sorriu.
- Já sabe como vai ser isso?
- Ainda não, mas creio que logo eles falam e a gente se programa! – Ele assentiu com a cabeça e eu abaixei meu rosto, dando um beijo desajeitado nele.
- Você vai para Liverpool e vai finalmente me ver jogar. Temos jogos até em datas importantes. – Ri fracamente.
- Para você ver! – Suspirei, sentindo-o me abraçar.
- Eu falo isso mil vezes, mas não se esqueça que eu te amo, ok?!
- Impossível me esquecer disso, meu coração já é seu. – Suspirei, vendo-o sorrir. – E faça um bom jogo, ok?!
- Argentina está sem Messi, imagino que não teremos grandes problemas. – Ri fracamente.
- Você está se esquecendo de La Joya! – Falei e ele franziu a testa. – Dybala! – Pisquei e ele assentiu com a cabeça.
- Claro, Juventus! – Sorrimos e dei de ombros.
- Vamos que está na hora. – Disse e ele se levantou, dando mais um longo beijo em mim, antes de começar a pegar suas coisas.

Fizemos os protocolos de saída do hotel, agradecendo ao gerente pela hospitalidade e blá, blá blá e seguimos para o estádio King Abdullah. Chegamos lá, seguimos para mais protocolos, treinamentos e tudo mais, mas quando chegou pouco antes das nove da noite, estávamos todos prontos para encarar mais esse desafio.
Tite e Neymar fizeram discursos motivacionais e os reservas começaram a seguir seus postos no banco. Passei rapidamente por cada titular, dando um rápido abraço e só pedindo mentalmente para que nenhum deles fizesse merda! Aquele jogo era mais importante para os árabes do que para gente, então precisávamos de um bom show.
- Arrasa, ok?! – Falei para Neymar e ele piscou, me dando um forte abraço.
- Por você! – Sorri, assentindo com a cabeça e encontrei Arthur.
- Como você está? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Bem, pronto para encarar esse desafio. – Ponderei com a cabeça.
- Eu estava falando sobre aquele assunto lá.
- Ah, eu vou resolver quando voltar para Barcelona. – Assenti com a cabeça.
- Boa sorte! – Falei e ele riu. Segui até Alisson.
- Pense que eu sou a bola e...
- Agarre! – Ele falou, me abraçando de lado e eu ri fracamente.
- Bom jogo! – Falei e dei um rápido beijo em sua bochecha. – Vamos lá, titulares! – Gritei, batendo as mãos uma na outra. – Em fila, vamos, vamos!
Eles foram saindo do vestiário e Tite me deu um rápido abraço antes de seguir a fila. Peguei meu celular e fui atrás deles. Leandro faria o papel de social mídia essa noite, mas ficaria a postos, caso ele precisasse de alguma ajuda. Segui pelo meio dos jogadores, me contendo para não dar aquela tietada no meu querido Paulo Dybala, mas segui para meu lugar ao lado de Phelipe e Ederson e esperei o começo do jogo.
Os jogadores entraram e nossa escalação do dia era: amor da minha vida, Filipe Luís, Miranda, Marquinhos, Danilo, Coutinho, Casemiro, Arthur, Neymar, Firmino e Jesus. Os hinos foram cantados e os times divididos. Fiz um rápido sinal da cruz, pedindo para que esse jogo não fosse tão sofrido e me sentei, esperando o apito inicial.
O jogo começou calmo até, tirando umas três ou quatro quedas bobas de Neymar, mas eu não estava prestando atenção para dizer se era fingimento ou para valer, só que uma treta no meio de campo com um argentino deixou claro que não era tão fingimento assim.
Quase levamos um gol com menos de oito minutos de jogo, quando um argentino conseguiu passar pela defesa brasileira e fazer um chute só com o pé esquerdo. Fechei os olhos quando Alisson demorou para fazer a queda, mas a bola foi para fora, me deixando com um leve ataque cardíaco.
- Não vai ser fácil. – Ederson cochichou.
- Nem me fala! – Suspirei, puxando o ar.
Tivemos uma chance de gol, mas com muitos jogadores na defesa argentina, a bola fez a curva errada e foi para fora. Tirada por um brasileiro ou por um argentino, vai saber. Aos 18 minutos, o número cinco argentino deu uma entrada forte em Neymar, empurrando-o com o cotovelo e levou um cartão amarelo.
As nossas chances de gol nem davam para ser mais contadas com os dedos, a defesa da Argentina e seu goleiro estavam muito bem preparados para não deixar passar nada e aquilo começava a me dar vontade de roer as unhas e eu nem tinha esse hábito. Alisson quase deu uma bobeada ao sair jogando os pés, mas Marquinhos ajudou na retirada.
Jesus sofreu uma falta não marcada de Tagliafico, mas o juiz deixou por isso mesmo, só ambos que quase saíram no tapa, mas fazer o quê? Miranda teve a oportunidade perfeita que fez o banco inteiro se levantar, mas o número 17 estava na linha do gol e o goleiro a agarrou quando ele conseguiu dar uma cabeceada.
Segundos depois, a Argentina teve uma chance do nosso lado, mas da mesma forma da outra vez, ela foi rente para fora, mas Alisson estava mais preparado para defendê-la, caso fosse preciso. Tivemos uma falta em sequência, batida por Dybalinha. Alisson pulou para defender, mas a mesma foi para fora novamente.
Passados alguns segundos, a bola voltou para o campo do Brasil, e um argentino apareceu caído na área. Jesus levantou as mãos, mas aparentemente o juiz acreditou em sua inocência, seguindo o jogo. Dali até o fim do jogo, seguiu com diversas chances de gol de Neymar e diversas defesas da Argentina, seja do goleiro ou da própria defesa deles.
Em uma dessas chances, Coutinho tentou o chute direto, mas ela foi parada pela defesa novamente, só que dessa vez pela mão da defesa. As arquibancadas e os reservas se levantaram animados por esse pênalti. Eu me afundei mais na poltrona, fazendo diversos sinais da cruz. Era a chance, para fechar o primeiro tempo bem.
O juiz não deu pênalti, somente sinalizou a falta, me fazendo ouvir palavrões bem feios ao meu lado. Neymar bateu, a bola estourou na barreira e foi assim que acabou o primeiro tempo.

O segundo tempo começou com bola sendo chutada na direção do meu namorado e com ele agarrando a mesma. Agora os campos haviam mudado e ele estava aqui ao meu lado, me dando uma visão privilegiada dos quase ataques cardíacos que aquele segundo tempo poderia me causar. E não, eu não estava preparada para aquilo. O nervosismo começava a falar mais alto.
O que me deixava mais nervosa, era que o jogo inteiro estava do nosso lado. As vezes eles chutavam alto demais, as vezes Alisson fazia a defesa, mas no geral, a bola não saía do nosso campo. Daqui a pouco meu pé direito ia fazer um buraco aonde eu estava.
Tivemos algumas substituições, outros cartões amarelos por entradas perigosas e faltas, mas nenhum lance realmente comprometedor para nenhum dos dois times. O relógio ia passando e eu estava vendo que finalmente enfrentaria o que eu mais fugi na copa: decisão por pênaltis. Mesmo que aquela premiação não fosse grande coisa para nós, meu namorado era o goleiro e eu ficaria nervosa com um pênalti contra o time da minha cidade que nem fazia parte de alguma divisão.
O Brasil tentava voltar para o campo, mas era claro que Neymar estava sozinho dentro da área, Firmino e Richarlison – que entrou no lugar de Jesus – não conseguiam manter a mesma velocidade para fazer o chute. Richarlison até teve uma tentativa, mas chutou para o lado de fora do gol.
Arthur provou para mim que estava bem quando, em uma falta, Neymar fez o lance para ele e ele mandou a bola alta, mas o goleiro argentino estava bom e fez uma defesa de dar inveja em qualquer um.
Os próximos 20 minutos seguiram com chances de ambos os lados, mas várias faltas em cima de nossos jogadores e muitas defesas ou chutes a esmo para fora, fazendo com que a decisão por pênaltis – não teria prorrogação – se aproximasse cada vez mais. E isso ficou mais evidente quando a placa de quatro minutos foi levantada.
Uma força suprema se mostrou presente no jogo faltando dois minutos para ele acabar, quando os ponteiros do meu relógio começavam a fazer barulho ao girar. Tivemos uma chance de escanteio. Neymar foi bater e a defesa brasileira se formou dentro da pequena área do goleiro Romero. Aquele era nosso último lance real, que poderia fazer tudo aquilo valer à pena. Neymar fez o chute, fazendo a bola viajar alta e encontrar a cabeça de Miranda, Firmino e Romero. A bola entrou fundo no gol e percebi que o gol foi de Miranda quando ele saiu correndo em direção a Neymar para comemorar.
O banco se explodiu em felicidade e eu só consegui relaxar na cadeira, sentindo Phelipe me sacudir pelos ombros em comemoração e eu ri fracamente, sentindo minha respiração descompassada. Virei o rosto, vendo Alisson comemorar sozinho e só estendi o polegar para ele, vendo-o retribuir com ambos e um largo sorriso no rosto.
O jogo acabou se estendendo até os 97 minutos, mas quando apitou, todo mundo comemorou como se fosse final de Copa do Mundo, menos eu que estava jogada na cadeira, com o mesmo cansaço como se eu tivesse corrido esses minutos com eles.
- Coragem! – Taffa brincou comigo e me esticou as mãos para eu me levantar.
- Sem tocar! – Falei e ele revirou os olhos, dando um passo para frente e me puxando pelos punhos, antes de me abraçar.
- Acabamos de vencer e somos brasileiros, brasileiros se tocam! – Ele ficou trocando as mãos de lugar em minhas costas e eu ri. – Vamos aproveitar! – Assenti com a cabeça, suspirando.
- O máximo que vai acontecer é eu nunca mais voltar! – Dei de ombros e ele riu, me puxando para dentro do campo.
- Fala aí, garota! – Ouvi uma voz abafada e vi Vinícius de canarinho e sorrimos, antes de tocar nossas mãos, gargalhando junto com o resto do pessoal.
Os protocolos de “não tocar” foram totalmente ignorados, cada jogador, comunicador ou técnico que se aproximava, me abraçava fortemente, animado com essa vitória. Para mim era uma vitória comum como as outras, claro que contra a Argentina tinha um gostinho especial, mas ainda era só um amistoso para mim.
- ! – Não tive tempo de me virar, mas senti Alisson me abraçar fortemente, me tirando alguns centímetros do chão e eu ri, abrindo um largo sorriso.
- Você foi ótimo! – Falei, controlando minha vontade de beijá-lo, mas ele estalou um beijo em minha testa, sorrindo.
- Não te dei nervoso?
- Deu e muitas vezes, mas passou! – Sorrimos e o abracei propriamente dessa vez, sorrindo. – Parabéns!
- Para todos nós, equipe. – Ele disse e eu suspirei, vendo os protocolos de premiação começarem a ser montados no centro do campo. – Por que você não aproveita? – Ele falou e eu franzi a testa. – Dybala. – Ele disse e eu virei para o lado, vendo Alex Sandro e meu argentino favorito conversando.
- Eu não devo. – Falei baixo.
- Talvez... – Ele disse. – Ô, Alex! – Ele gritou para Alex Sandro e eu olhei feio para ele antes de ele apontar para mim e para Dybala.
- Claro! Como eu me esqueci! – Alex falou e puxou Dybala em nossa direção. – Paulo, questa è , una juventina incredibile. – Ele falou em italiano com Dybala e eu fiquei sem reação.
- Olá! – Dybala sorriu para mim com um português engraçado.
- Posso abbracciarti? – Perguntei automaticamente em italiano e ele riu fracamente com a pergunta e abriu os braços para mim.
Quando eu o abracei, senti meus olhos se encherem de lágrimas imediatamente. Para mim, ele era o melhor atacante da Juve nos dias de hoje, era realmente uma joia no time que eu valorizava em cada momento e, agora sem Buffon, meu jogador favorito naquele time. Desculpe, Alex.
- Grazie. – Falei, me separando. – O gracias, creo que es mejor.
- Oh, poliglota! – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Es um placer. – Sorri e ele riu fracamente.
- Cadê seu celular? – Alisson perguntou.
- Claro! – Virei para ele. – Podemos sacar una foto juntos?
- Sí, sí, claro! – Ele disse e eu entreguei meu telefone para Alisson rapidamente, abraçando Dybala pelos ombros e sorrindo com aquela cara de choro para a foto.
- Pronto! – Alisson falou.
- Muchas gracias. – Falei e ele sorriu, voltando a conversar com Alex. – Você é muito enxerido. – Falei para Alisson que tinha um sorriso no rosto.
- Só te ajudando a realizar alguns sonhos, por que perder a oportunidade? – Ele disse e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Obrigada! – Falei e o empurrei. – Agora vai. – Falei e ele seguiu junto dos outros jogadores.
Me afastei para trás com Lucas e Leandro, abraçando ambos rapidamente e fiquei atrás dos fotógrafos, vendo-o se arrumarem para fotografar a premiação. Todos se colocaram na frente e atrás do estande do Super Clássico e Neymar foi até o árabe – ou será que era um sheik de verdade? – e pegou a taça para fazer o tradicional levantamento com a equipe.
Papéis picados começaram a voar para todos os lados, a equipe ergueu a taça e eles comemoraram e gritaram animados para a imprensa, mas logo se dissiparam. A taça começou a passar de mão em mão para tirar fotos e voltei para o banco de reservas, para esperar a comemoração. Eu estava feliz, mas eu já estava pensando que logo teria que me despedir de Alisson mais uma vez.
Abracei Tite no caminho de volta e ele se sentou ao meu lado, me abraçando pelos ombros. Ele não me perguntou nada, mas ele sabia o motivo de eu estar sem ânimo e ele sabia me acalmar quase como um pai e aquilo era muito importante para mim.
- Firme, garota. Firme! – Ele sussurrou e eu suspirei, engolindo o choro.

Quando o clima se acalmou e todos já tinham tirado foto com a taça, os jogadores foram entrando um por um. Eu acabei entrando com a primeira leva, ainda tinha alguns protocolos para serem preenchidos e eu queria fazê-los logo para aproveitar meus últimos minutos. Nosso voo era as quatro da manhã, então tínhamos mais três horas juntos, era tudo questão de organização.
Indiquei para que Vinícius e Leandro fizessem algumas entrevistas com os jogadores que se dispusessem a falar sobre esse clássico e segui com Tite e Sylvinho para a coletiva. Não teve nada de muito emocionante, mas o assunto eu e Alisson foi tocado novamente e dessa vez eu não sabia se era TPM, preparação para me despedir mais uma vez, mas eu não deixei barato.
- Tite, aqui, grupo Globo. – A jornalista conhecida da Globo falou. – Tivemos alguns desempenhos interessantes e outros medianos no jogo de hoje, incluindo algumas falhas de Alisson, você acha que isso está ligado ao assunto que falamos na última coletiva? – Ela perguntou e eu até ergui a cabeça.
- Você poderia ser mais específica? Vocês são em muitos, não consigo decorar a pergunta de todos. – Tite falou e eu desci alguns degraus da sala de coletiva, sabendo aonde isso daria.
- Sobre o relacionamento de Alisson com alguém da equipe.
- Ah, esse assunto que eu disse que não ia mencionar e você está tocando nele novamente? – Tite foi irônico e eu sorri. – Isso não é problema meu e eu não vi falha nenhuma no meu jogador, então, próximo...
- Tite, com licença! – Falei um pouco mais alto e todos se viraram para mim. – Esteja informada, que se você fizer alguma dessas perguntas ao Tite novamente, você e sua empresa serão barrados de qualquer coletiva da Seleção Brasileira, estamos entendidas? – Falei firme, olhando para ela.
- Mas eu... – A interrompi.
- Me diga, isso é relevante para você de que forma? Estamos aqui para falar do jogo, não estamos? Ganhamos, não?
- É que eu...
- Então, pronto! Se atenha à pauta do jogo. – Falei firme. – Meu Deus, parece que quer causar com qualquer coisa, vá à merda. – Bufei, vendo um sorriso discreto se formar no rosto de Tite.
- Você tem alguma outra pergunta pertinente ao jogo? – Tite perguntou a ela.
- Eu... – Ela estava chocada com o meu coice.
- Ótimo, próximo, por favor. – Tite a cortou e eu fiz questão de colocar um asterisco gigante ao lado de seu nome em minha prancheta.
- está afiada hoje. – Lucas falou e eu ri fracamente.
- Vou ficar mais se eles não pararem com essas gracinhas. Que merda! – Falei e ele sorriu.
- Certinha, garota! – Lucas cochichou e eu sorri.
A coletiva acabou mais calma e Tite não fez nenhum comentário sobre minha reação ali, mas me deu um toque de mãos e um abraço bem caloroso. Creio que eu havia colocado o ponto final necessário, pelo menos por enquanto. Voltamos para o vestiário e agora Vini e Leandro entrevistavam Neymar que já estava com a roupa para ir embora.
Entrei no vestiário, vendo também a maioria pronta ou quase pronta e eu peguei uma blusa de civil e fui rapidamente em uma cabine me trocar, voltando logo em seguida, a ponto de pegar Tite fazendo aquele rápido discurso de despedida, agradecendo a todos por esses dias de trabalho. Depois deu a palavra para mim para falar dos voos e das despedidas, mas que iríamos esperar isso no restaurante do estádio, até que desse a hora da saída de cada jogador.
- Estou sabendo que teve estresse na coletiva. – Alisson cochichou para mim quando ficamos sozinhos.
- Ah, eu estou afiada, meu bem! – Falei e ele riu fracamente.
- Você sabe que está só começando, não é mesmo? – Ele cochichou e eu suspirei.
- Eu sei, mas ela me pegou bem no dia da despedida, já estou irritada normalmente. – Ele riu fracamente.
- Você é irritada normalmente. – Ele falou e eu sorri.
- Ótima constatação. – Ele deu um beijo em minha bochecha. – Que horas é seu voo?
- Só as nove da manhã, pelo menos é direto e o seu? – Olhei o relógio.
- As quatro, logo temos que ir. – Suspirei. – Nem vi se era direto ou não, estou tão desligada.
- É normal, vai ficar tudo bem.
- Eu sei, já ficou das outras vezes, mas não evito de passar sempre por esse momento de tristeza. – Ele suspirou, segurando firme minhas mãos.
- Eu sempre vou estar contigo no meu coração e sempre temos o Skype. - Ri fracamente, assentindo com a cabeça.
- Só mais alguns dias. – Sorri e ele beijou minha testa.
- Sim, começamos a contagem regressiva de novo.
Quando chegou a hora de nos despedir, a fizemos da mesma forma de sempre. Grandes abraços apertados e longos beijos de despedidas, até algumas lágrimas rolaram dessa vez novamente, certeza que era TPM. Os jogadores que iriam para o Brasil seguiram conosco e dei um último beijo, antes de me apoiar em Lucas e seguir até o ônibus.
- Você está bem hoje, não está? – Ele me perguntou e eu suspirei.
- Eu sempre estou bem, é só que... – Virei para trás, vendo Alisson com outros jogadores na porta do restaurante. – É o Alisson, é o amor da minha vida.
- E você estará com ele novamente em alguns dias. – Suspirei, ajeitando o hijab pela última vez em minha cabeça, antes de sair do estádio, à procura de nosso ônibus.
- Eu sei. – Suspirei, sentindo-o apertar minha mão. – Se tudo der certo. – Brinquei e ele riu.
- Vai dar. – Rimos juntos e entramos no ônibus, nos jogando em uma poltrona juntos, com Vini e Leandro na da frente.
Não deu nem 10 minutos em que o ônibus começou a seguir em direção ao aeroporto, quando o celular vibrou em minha bolsa, me fazendo franzir a testa. O que é que estava acontecendo agora? Eram três da madrugada, meus trabalhos haviam acabado oficialmente.
“Alisson Becker te marcou em uma foto”. – Franzi a testa e cliquei na notificação, vendo-a se abrir e arregalei os olhos quando a fiz.
Eram duas fotos minha e de Alisson de árabes na festa de domingo. Uma em que estávamos somente lado a lado, comigo fazendo uma pose bem metida, com o cotovelo apoiado em seu ombro e a outra estávamos em um dos sofás de algum restaurante, comigo sentada no sofá, minhas pernas esticadas sobre as suas ao seu lado e ele cochichando algo em meu ouvido.
Desci a foto e li a legenda: “vou sentir saudades, mas que comece a próxima contagem regressiva. PS: sim, estamos juntos, e sim, já faz três meses e 10 dias”. Sorri com a mesma, rindo fracamente e Lucas demonstrou interesse, virando a cabeça para o lado e eu só estiquei o aparelho a ele.
- Acho que ele fez o trabalho sujo. – Ele comentou e eu ri fracamente. – Agora não tem mais volta. – Suspirei e abri um pequeno sorriso.
É, não tinha mais volta.
E eu estava muito bem com isso.




Continua...



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