Capítulo 7 – Avenida Malibu, Praça Antônio Callado, Condomínio Mundo Novo.
- Meu Deus! Que cara! – Foi o primeiro comentário que Bernardo fez assim que eu despontei no desembarque do aeroporto do Galeão.
- Fique 35 horas viajando que você vai saber, mais ou menos, o porquê dessa cara. – Suspirei, abraçando-o com o braço livre.
- Ah, que bom, você chegou irritada! – Ele cochichou contra meu ouvido e eu ri fracamente.
- Tchau, ! – Virei o rosto, acenando para o pessoal da comissão técnica que se dissipava como formigas para fugir da imprensa.
- Tchau, gente! Até a próxima. – Acenei para Tite e Taffa principalmente e recebi uma piscadela do último.
- Te vejo no boxe sábado, ? – Leandro perguntou e eu fiz uma careta.
- Dificilmente! – Falei e ele riu, saindo. Acenei para Vini e Lucas e também segui o caminho para fora do aeroporto.
- Por que o voo demorou tanto? – Bernardo falou, procurando por um Uber no celular. – Achei que chegariam ontem.
- Eu também, mas fizemos 15 horas de escala em Paris. – Suspirei. – Era Paris, mas o voo estava atrasado, então nem tentamos sair do aeroporto, achando que o voo sairia logo. – O vi apontar para um carro e segui com ele, vendo-o abrir a porta para mim. – Além das quase 12 horas de volta. Oi, tudo bem? – Falei rapidamente com o motorista, escorregando para o outro lado.
- Pode seguir o GPS, moço! – Nardo falou. – Imagino que você esteja morrendo de sono.
- A vantagem é que dormi o voo inteiro, mas são nem sete da manhã, o que eu vou fazer agora?
- Dar uma olhada nas diversas notícias que saiu sobre você e o Alisson enquanto esteve fora? – Ele falou sugestivamente e eu fiz uma careta.
- Eles falaram muito de mim? – Perguntei.
- Demais! – Ele dramatizou. – Sério, eu até me surpreendi. – Joguei a cabeça para trás.
- O que eles falaram? – Perguntei, suspirando.
- Inicialmente eles falaram sobre o possível relacionamento entre vocês dois, saiu algumas fotos bem fofinhas de vocês dois no banco de reservas durante o jogo contra a Arábia Saudita. – Ele deu um sorriso e eu ponderei com a cabeça. – Isso despertou muito interesse nos jornais de fora, principalmente por essa política sem toques da Arábia.
- É, a gente acha que foram esses toques que causaram a atenção do público, o beijo dele na minha bochecha e tudo mais. Poderia falar que somos brasileiros, mas eu vi algumas fotos, é bem coisa de casal mesmo. – Suspirei.
- Bom, depois eles abordaram Tite na coletiva e, meu Deus! Que roupa era aquela que você estava usando? Só vi um vulto sair correndo.
- Era eu tentando usar roupas típicas. – Bufei. – Estava feio, eu sei, sei. – Ergui as mãos. – Mas pelo menos mantive respeito com a cultura deles.
- É... Eu precisava ter feito um curso para ter te ajudado, parecia a...
- Noviça Voadora? – Perguntei e ele gargalhou.
- Ela mesma!
- Eu sei, achei a mesma coisa. – Suspirei. – O que mais?
- Bem, depois disso, todos só falavam sobre o toco que você deu na jornalista da Globo. Obviamente a Globo só mencionou sobre você ter falado que não daria comentários sobre isso ainda, mas todas as outras emissoras divulgaram o esporro que você deu nela. – Ele sorriu abertamente. – Você foi para o trending topics do Twitter e fizeram até um remix contigo.
- Ah, meu Deus! – Abaixei a cabeça na poltrona do motorista.
- Ah, qual é, garota! Isso não é mal! O pessoal do Twitter tá te adorando, principalmente depois das fotos fofas que o Alisson divulgou sobre você. – Ele suspirou. – Afinal, você nem mencionou que queria se anunciar para a mídia.
- Não queríamos, na verdade, a gente sabia de todo o rolo que isso daria com a imprensa, principalmente os comentários minimizando o meu trabalho e o dele, mas abaixamos a guarda e tudo isso aconteceu.
- Eu até vi uma postagem ou duas sobre isso, mas é pura fofoca! – Ele revirou os olhos.
- Eu sei que é fofoca, eu estive com eles em todos os jogos e posso te garantir que o único que perdemos, não foi distração por minha culpa. – Bufei.
- Isso é algo que nunca saberemos. – Ele deu de ombros. – Eu não conheço o Alisson, mas ele parece ser um cara sério demais no jogo.
- E ele é! – Falei um tanto alto, olhando para o motorista pelo retrovisor. – Desculpe!
- Não se preocupe. – Ele falou e rimos juntos.
- Acho que o Alisson é o cara mais centrado que tem. Qual é, Bê, na eliminação da Copa do Mundo ele nem chorou! – Suspirei. – Ele é um amor e um fofo, mas em algumas situações ele é osso duro de roer. – Neguei com a cabeça. – Ele sabe o lugar dele, nós sabemos nosso lugar.
- Mas vocês precisam aproveitar também, ! É o que você fala: vocês se veem só nesses amistosos, é triste para vocês. – Suspirei, cruzando os braços.
- É muita coisa na minha cabeça, preciso falar com minha chefe quando voltar, só quero aproveitar esses seis outros dias sem pensar em nada. – Neguei com a cabeça.
- Bom, eu troquei sua roupa de cama na terça, fiz um bolo de cenoura e o apê está limpinho. – Sorri, apoiando a cabeça em seu ombro.
- Eu não te mereço.
- Eu sei, eu sei, mas a gente releva! – Ri fracamente, abraçando-o de lado.
- Eu preciso falar com Alisson que cheguei, a última informação que eu dei foi quando saímos de Paris. – Chequei no relógio.
- Será que ele já chegou? – Ele perguntou.
- Já sim, o voo dele era seis horas depois do meu, mas era só até Londres, é ali do lado, ele mandou mensagem quando estávamos em Paris já. – Suspirei.
- Bom, eu te indico esquecer dele um pouco e descansar, você pode ter dormido o voo inteiro, mas está com os olhos minúsculos. – Suspirei.
- Só uma mensagem. – Falei, puxando o celular do bolso.
Abri os olhos mais tarde naquele dia e suspirei ao me encontrar na minha pequena cama de solteira, puxei o celular ao lado e notei que eram pouco mais de três da tarde. Eu realmente havia capotado. Abri o WhatsApp, encontrando diversas mensagens da minha família, amigos e de Alisson, dando prioridade ao meu namorado.
“Meu Deus! Que demora! Descanse muito, ok?! Hoje é dia de treino normal, Skype mais tarde?” – Suspirei ao ler e coloquei meus dedos para digitar rapidamente.
“Já está em casa? Preciso de banho e comida, me dá uma hora?” – Perguntei e suspirei, fechando os olhos por alguns segundos, tentando deixar a preguiça me levar. O celular apitou e eu olhei a conversa com Alisson, recebendo um áudio em resposta.
- “Olha quem apareceu! Bom dia, Bela Adormecida! Estou saindo de Melwood agora, aproveite o tempo que quiser, são sete horas aqui ainda, podemos aproveitar mais tarde”.
“Ok, logo, logo apareço novamente”. – Respondi e saí de sua mensagem.
Abri a do grupo da família e eram várias mensagens de mãe, tia e irmã dando graças que eu estava em solo brasileiro novamente e minha mãe falando para ligar para ela mais tarde. Faria isso, mas depois de falar com Alisson. Precisava realmente de algo para comer, pois meu estômago estava roncando.
Joguei os pés para fora da cama, jogando o lençol para outro lado e desliguei o ventilador, calçando os chinelos e peguei um laço de cabelo, fazendo um rabo de cavalo. Saí do quarto, seguindo o som da televisão e encontrei Bernardo deitado no sofá, vendo alguma série espanhola das que ele gostava.
- Bom dia, criança! – Dei um sorriso culpado e ele riu.
- Está de folga hoje? – Perguntei e ele sorriu.
- Sim, uma folga a cada seis dias, nunca tem dia fixo. – Ele deu de ombros.
- Pelo menos posso aproveitar aqui contigo. – Sorri e ele mandou um beijo. - Cadê o bolo? – Perguntei, vendo-o com um prato no colo.
- Micro-ondas. – Ele respondeu e segui até o aparelho, encontrando um bolo redondo de cenoura com alguns pedaços já retirados, o que fez a calda de cima escorrer pelo buraco do meio.
- Hum, tá com uma cara boa.
- Coloquei brigadeiro dessa vez, estava inspirado. – Ri fracamente, pegando um prato e colocando um pedaço para mim.
- Logo você vai estar tomando conta da cozinha do Outback, você vai ver. – Guardei o bolo de volta, peguei um talher e segui para a sala novamente.
- É, não vamos complicar! Um bolo é uma coisa, agora aquela costela, vish! – Rimos juntos e eu me sentei à mesa, encontrando alguns panfletos espalhados na mesma. – O que é isso? – Abri o primeiro, encontrando diversas fotos de apartamentos, taxas e preços.
- Ah, isso é o que você pediu para eu fazer na sua ausência. – Ele deu de ombros. – Apartamentos.
- Ah, você procurou? – Peguei um pedaço do bolo, soltando um suspiro. – Hum, Bê! Nossa, muito bom! – Suspirei, colocando um pedaço maior na boca, vendo-o rir.
- Ah, eu dei uma sondada pelas redondezas lá da CBF, mas você sabe que lá é a Avenida das Américas, né?! – Ele se sentou ao meu lado. – Casas ou apartamentos só dentro de condomínios e nada muito barato. – Suspirei.
- Imaginei que não fosse barato, esse que moramos custa uns 300 mil para comprar e é minúsculo.
- Tudo isso? – Ele gritou.
- É, mais ou menos, mas por causa da localidade também. – Dei de ombros.
- Caramba! – Ele falou.
- Enfim, o que você encontrou? – Suspirei.
- Alguns mais perto da CBF, outros mais longe, mas todos aqui nas redondezas da Tijuca ou na Avenida das Américas, mas se minha opinião contar, eu amei esse aqui. – Ele puxou um flyer. – Condomínio Mundo Novo, quase que você não precisa sair dele para nada. – Ele riu fracamente e eu abri o mesmo. – Ele é maravilhoso!
Me assustei ao ver o tamanho do condomínio, ele tinha sete torres, e uma área comercial que ficava nas dependências do condomínio. Além disso, ele possuía uma boa área com vegetação de proteção ambiental, quadras de tênis de saibro, campo e quadra de futebol, piscinas, garagem e garagem subterrânea, academia, salão de festas, churrasqueira, apart-hotéis, além do gigantesco espaço comum. Era realmente maravilhoso.
- Isso é um sonho, Bê! – Ele riu fracamente.
- É, eu acabei passando lá perto um dia, é para ficar de queixo caído mesmo. – Ele suspirou.
- E quanto é a facada? – Perguntei.
- Bem dolorida. – Ele disse e virou o panfleto, apontando para o preço.
- Eita! – Li os sete dígitos e respirei fundo para não engasgar. – Formas de pagamento? – Perguntei.
- Financiamento de um a 30 anos. – Suspirei.
- Meu Deus, isso é loucura! Será que eu estou fazendo o certo?
- Isso é uma decisão sua, meu bem! – Ele disse. – É um bem que fica para a vida toda. Além de que você ganha 30 mil por mês, tirando diárias de viagens. – Suspirei. – Quanto de entrada você conseguiria dar?
- Preciso dar uma olhada nas minhas contas com o holerite dessa última viagem. Acho que posso dar uma entrada de cem a 150 mil que eu consegui guardar nesses meses da CBF. Preciso fazer umas contas mesmo. – Suspirei.
- Eu posso te ajudar mensalmente com o valor do aluguel.
- Não, Bê, já conversamos, você paga as despesas de condomínio e internet que eu lido com a compra, é algo meu, que eu quero para valer. – Suspirei. - Em qual apartamento você viu? – Perguntei.
- Mare Vita. – Ele apontou. – Ele é um dos mais próximos da entrada, fica perto das quadras, o que achei útil para você. – Assenti com a cabeça. – É caro, mas seria um bem para sempre, além dos aluguéis que imagino que não saiam por menos de três mil. – Ponderei com a cabeça. – Caso você passe muito tempo fora. – Ri fracamente.
- Quantos quartos têm?
- Quatro quartos, sendo duas suítes, sala, sala de jantar, cozinha, banheiro de visitas e lavanderia. – Mordi meu lábio inferior, suspirando. – Tem o de dois andares, mas...
- Mais caro, aposto! – Rimos juntos.
- Com certeza.
- Bom, eu ganho em média uns 35 por mês, gasto menos que cinco, se eu conseguir juntar 30 por mês... – Peguei uma caneta na mesa do telefone e comecei a rabiscar o papel rapidamente. – Eu consigo quitar isso em menos de 30 meses, dá dois anos e meio. – Suspirei. – Contando com condições perfeitas.
- O que quer dizer com isso? – Ele perguntou.
- Ah, continuar trabalhando na CBF, com um salário desses, mantendo minhas viagens frequentes para ganhar diária e tudo mais.
- Esse é o xis da questão, né?!
- Sim. – Peguei outro pedaço de bolo. – Eu estou em um momento muito bom da minha vida, mas não sei quanto tempo ele vai durar. Tenho medo de ficar folgada demais e o negócio explodir na minha cara.
- Isso eu não posso garantir, é algo que você precisa decidir. – Ele suspirou. – Poderia oferecer para comprarmos juntos esse apartamento, mas é difícil.
- Eu sei, querido. – Suspirei. – Pelo menos você terá um lugar para morar! – Ele sorriu e me abraçou de lado.
- Por que você não marca uma visita com a corretora? – Ele perguntou.
- Para me apaixonar de verdade? – Ele riu.
- Dar o estímulo necessário. – Sorri.
- Pode ser, quem sabe ela não tem uma condição especial? – Dei de ombros e ele sorriu.
- Assim que se fala, garota! Vamos que eu te ajudo a se afundar. – Rimos juntos.
- É para isso que são os amigos.
Vi o time de Alisson sair de campo com somente um gol de Salah, em um, aparentemente, difícil jogo contra o Huddersfield Town, mas com três pontos para a conta do time no campeonato inglês, suspirei e vi meu goleiro sair de campo. Procurei meu celular pelos cantos do sofá e abri a galeria do mesmo, procurando pelas fotos do último amistoso.
Desde que Alisson postou uma foto nossa, eu não havia oficialmente me anunciado em nada, nem um compartilhamento, um comentário, muito menos uma postagem sobre nós dois. Eu estava com medo. Não que eu fosse alguém que precisasse ter medo sobre algo, eu não era a famosa aqui, mas eu entendia o peso das minhas ações.
Isso mudaria tudo, eu deixaria de ser , assessora da CBF, para , namorada de Alisson Becker. E era uma situação que eu não achava que estava pronta para enfrentar. Também não sabia dizer nem se isso aconteceria de verdade, mas era algo que me preocupava internamente.
Sacudi a cabeça, prestando atenção nas diversas fotos tiradas nesses últimos dias e encontrei uma em que eu estava encostada na baliza de braços cruzados enquanto Alisson fazia algumas pegadas de bola. Depois outra aonde estávamos um grupo sentado na arquibancada e Alisson me abraçava pelos ombros enquanto dava um beijo em minha bochecha. E por último, uma de nós trocando um beijo na nossa despedida há alguns dias.
Selecionei as três nessa ordem, como se mostrasse uma evolução do nosso relacionamento, e pensei um pouco sobre qual legenda eu colocaria. Queria declarar meu amor por ele, mas também colocar um ponto final sobre isso. Somos namorados, mas também somos profissionais e sabemos separar as coisas.
“Quando você diz que a vida é bela, eu não acredito, mas quando estou contigo, eu consigo enxergar. Você é o maior presente que a vida já me deu e cada momento, cada segundo ao seu lado, é como se eu conseguisse ver da forma que você vê!
É, estamos juntos. Não, não é grande coisa. Nossas vidas profissionais permitiram que compartilhássemos também nossas vidas pessoais, mas já somos grandinhos agora, sabemos dividir. Principalmente as perdas e as vitórias.
E sabe o melhor de tudo? Tá tudo bem. Só de tá com você fico bem.”
Ri fracamente com a referência à nossa música e engoli em seco ao marcar Alisson antes de enviar a foto. Bloqueei o celular, colocando-o em cima da minha barriga e esperei. Senti o mesmo começar a vibrar sobre meu corpo e suspirei, sabendo que eu havia soltado uma bomba. Eu tinha cerca de cem mil seguidores que foram aparecendo desde que eu comecei a trabalhar com a CBF, nunca foi intencional me tornar “famosinha” na internet, mas as coisas simplesmente foram acontecendo e agora eu tinha um público para dar declarações.
Notei que a vibração continuava frequente e ergui o aparelho, vendo uma ligação de vídeo de Alisson em andamento. Franzi a testa e me sentei, deslizando o dedo pelo botão, vendo seu rosto aparecer no vídeo e vários sons abafados atrás dele.
- Hey! – Ele falou animado.
- Ei! O que está acontecendo? – Perguntei um tanto alto, vendo-o se movimentar com a câmera.
- Fala mais alto, está uma barulheira aqui! – Ele disse alto também.
- O que está acontecendo? – Falei mais alto.
- Eu vi sua postagem, queria te ligar. – Abri um pequeno sorriso.
- O que achou?
- Você sempre foi boa com palavras. – Sorri.
- Jornalista, né?! – Dei de ombros e ele riu. – Ainda no jogo?
- Sim! Estamos nos arrumando para ir embora. O jogo foi fora de casa.
- Eu sei, eu estava assistindo! – Falei e ele fez uma careta.
- O que fez você postar algo agora? – Suspirei.
- Só tive vontade. – Pisquei. – Não era assim que iríamos lidar com nosso relacionamento?
- É, talvez, e dando umas indiretas à imprensa? – Sorri de lado.
- Precisamos dizer quem manda de vez em quando! – Suspirei. – Teremos outros amistosos e compromissos em breve e quero que isso seja normal.
- Você sabe que não vai ser assim no começo, não é mesmo?
- Eu sei, mas uma garota pode sonhar, não é mesmo? – Ele riu fracamente.
- Sempre!
- Hey, Ali. Come inside! – Ouvi um sotaque forte e franzi a testa.
- Talking with my girlfriend. – Alisson desviou o olhar e logo depois a câmera, me fazendo dar de cara com o técnico deles, Jürgen Klopp.
- Oh, Ali’s girl! – Ele abriu um largo sorriso quando me viu e eu tentei repetir a empolgação com a cara de acabada que eu estava.
- Hi! – Falei sorrindo.
- She’s really gorgeous! – Ele falou com Alisson que não aparecia na tela no momento.
- Thanks!
- When will you come visit us?
- Soon, I hope. When I get some break. – Respondi sorrindo.
- We’ll wait for you, but come real soon, alright?
- Alright! – Ri fracamente.
- Nice meeting you. – Ele acenou para a tela. – See you inside. – Ele falou para o Alisson e eu ri fracamente.
- Ele é feliz assim ou...?
- Ele é assim mesmo, feliz, meio louco, mas o cara é fantástico. – Rimos juntos. – Nos falamos mais tarde?
- Não sei, o Lucas mandou mensagem para gente sair, estão decidindo aonde vão. Capaz de eu sair um pouco só para sair de casa.
- É bom, você ainda tem alguns dias de folga, eu te mando mensagem quando voltar para Liverpool.
- Já são mais de sete horas para você, até voltar para casa já vai ser mais de 10, aposto. – Ele ponderou com a cabeça.
- Nos falamos? – Ele perguntou.
- Sempre. Te amo.
- Eu também, já estou com saudades! – Suspirei, mandando um beijo para tela e o vi abaixar a tela antes de desligar a ligação.
- Meus fãs, eu cheguei! – Cantarolei ao abrir a porta da sala da assessoria de viagens e alguns riram, outros se levantaram animados, mas a primeira a vir em minha direção foi Bianca.
- Ah! Que saudades de você! – Ela me apertou forte, me movimentando de um lado para outro e eu gargalhei.
- Saudades de você! – Apertei-a. – Não me abandone mais, pelo amor de Deus! Aquele país é uma loucura e não de um jeito bom. – Ela riu fracamente.
- Seja bem-vinda, ! – Angelica falou e eu sorri.
- Obrigada! – Me aproximei dela, dando um rápido beijo em seu rosto.
- Vamos faz uma rápida reunião? – Ela perguntou.
- Claro! – Falei, deixando a bolsa em meu lugar. – Oi, gente! – Acenei rapidamente para o resto do pessoal.
Segui Angelica para fora da sala, encontrando Vinicius e Leandro chegando e fomos em direção à sala de Michele. Quando seguimos nessa direção, já imaginei do que se tratava. Olhei rapidamente para os céus, antes de ser puxada por Angelica para dentro.
- Ei, garota, como você está? – Ela se levantou e me deu um rápido abraço. – Seja bem-vinda de volta!
- Obrigada, é bom voltar depois da loucura que foi. – Suspirei.
- É, nós vimos seu relatório, além da equipe técnica e você teve alguns problemas, não é mesmo? – Michele indicou a cadeira e eu quase me joguei na mesma.
- Ah, foi um desastre! – Fechei os olhos. – Eu me senti presa, estranha, não era eu quem estava lá, era uma pessoa totalmente diferente. – Michele suspirou.
- Nós não queríamos te mandar dessa vez, te mandamos mais por causa do Alisson, para vocês se verem. – Assenti com a cabeça.
- Foi uma experiência bem diferente de tudo o que eu já passei na vida, mas eu não pude aproveitar nada. – Suspirei. – Mais para os últimos dias eu liguei o foda-se e pelo menos aproveitei mais com Alisson. – Elas assentiram com a cabeça.
- Bom, eu realmente não tenho nada a reclamar, apesar das limitações, você conseguiu se virar bem. – Assenti com a cabeça.
- Tenho que agradecer aos meninos por isso, sem a ajuda deles, nada seria possível. – Ambas sorriram cúmplices.
- Será reconhecido. – Angelica falou e eu assenti com a cabeça.
- Bom, mas não estamos aqui para falar disso, não é mesmo? – Michele disse, se ajeitando na cadeira.
- Imaginei. – Ri fracamente.
- Fico feliz que você e Alisson tenham resolvido se abrir para o mundo. – Fiz uma careta, dando um sorriso estranho.
- Não foi bem assim! – Falei rindo.
- É, eu sei bem, só queria ver sua reação. – Revirei os olhos, vendo Michele rir. – Mas como você está quanto a isso? Você e Alisson? Inicialmente, eu achei a sua reação exagerada, mas depois eu procurei todo o caminho que levou a isso, então estou bem com isso. Além de que foi uma bela promoção gratuita da CBF.
- Acabou sendo um meio para um fim. – Dei de ombros. – Acho que se isso não tivesse acontecido, eu nunca me preocuparia com isso. – Balancei a cabeça. – Na verdade, creio que eu não precisava fazer nada, eu não sou a famosa na situação, e Alisson também nunca fez questão de nada, nunca falou nada. – Suspirei.
- Eu não o conheço muito bem, mas sabemos que ele é bem relax sobre isso, tanto que assim que vazou, ele postou algo de vocês dois. – Michele falou.
- É, então. Foi por essa ação dele que eu percebi que talvez ele queria fazer isso há algum tempo, mas eu nunca deixei. – Dei de ombros.
- Vocês já falaram sobre isso? – Angelica perguntou.
- Várias vezes. – Suspirei. – Mas para mim causaria todo um escândalo à toa. E causou. – Suspirei. – Mas vejo agora que ele queria isso, ele só respeitou minha decisão.
- Bom, está no mundo agora, está nas redes sociais! Então, não tem mais volta. – Angelica falou e assenti com a cabeça.
- Só indico, no próximo amistoso, colocar o Alisson na coletiva. Esclareçam isso com mais informações. Deem detalhes de como e quando aconteceu, mostrem que é sério que aposto que nunca mais vocês terão problemas com a imprensa. Pelo menos não assuntos polêmicos, só amorzinhos. – Michele falou e rimos juntas.
- Vamos conversar com mais calma sobre isso, se possível, gostaria de estar ao lado dele para não sermos pegos de surpresa. – Michele assentiu com a cabeça.
- Jornalista não costuma ser pauta, mas quando é, colocamos para falar. – Angelica falou.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça.
- Temos alguns dias ainda, vocês têm alguns dias para se preparar, mas não surta com isso não, aproveitem. – Michele disse, assentindo com a cabeça. – Vocês são namorados, à distância ainda. Vocês precisam disso. – Assenti com a cabeça. – Além de que vocês já fizeram muitas restrições por nossa causa, isso acaba agora.
- Obrigada! Vamos aproveitar dessa liberdade. – Elas sorriram.
- Bom, vamos voltar ao trabalho, temos muito o que fazer até sexta-feira. – Michele disse e eu e Angelica nos levantamos. - Fica aqui, Angelica, vamos conversar sobre aquele assunto. – Michele disse e eu acenei para as duas, saindo da sala.
Acenei rapidamente para os funcionários da outra sala e entrei na turma da assessoria de viagens novamente, sentindo Lucas me abraçar assim que eu passei pela porta.
- E aí, garota, como está? – Ele perguntou.
- Tudo certo e por aí? – Sorri, sentindo um beijo em minha bochecha.
- Tudo certo. – Ele falou e eu me sentei em minha mesa.
- Não podem mais nos separar, Bianca! – Falei para ela na minha frente. – Eu quase surtei, sério! – Todos da sala riram.
- Estamos sabendo dos seus perrengues, entendo seu lado, viu?! – Anna falou e eu suspirei.
- Ah, o país é lindo, mas não deu para aproveitar com todas as regras, condições, medo.
- E ainda com tudo isso, seu segredo vazou. – Vini brincou e eu ri com a turma.
- Ah, pelo menos fizeram o trabalho por mim. – Dei de ombros. – Agora é tentar relaxar e viver um dia de cada vez.
- Calma, gente! – Leandro falou. – Essa é a falando ou é a sósia árabe dela? – O pessoal explodiu em gargalhadas novamente.
- Eu sei que eu surtei um pouco lá, mas passou, o próximo é em Londres, já virou minha casa!
- Podemos sair para beber alguma coisa depois e você conta mais sobre isso, que tal? – Débora sugeriu e todos assentimos animados.
- Combinado, então! – Rimos.
- Mas eu só saio daqui depois que acabar o jogo do Liverpool. – Falei rapidamente.
- Verdade, tem Champions hoje. – Lucas comentou. – Contra quem?
- Estrela Vermelha. – Falei.
- Ah, vai ser fácil! – Ele abanou a mão e rimos juntos.
- É, parece que foi bem fácil. – Comentei com Alisson quando voltamos para nossas respectivas casas.
- Foi bom mesmo! Mas perdemos um pênalti, isso deu uma desestabilizada. – Ele comentou.
- Ah, qual é! Já estava três a zero e depois o Mané compensou e fez um em jogo corrido.
- Foi bom, garantimos quatro gols, mas agora o próximo jogo é fora de casa, precisamos manter a produtividade e fazer gols.
- Fazer gols é sempre bom, mas acho difícil eles conseguirem fazer quatro gols para igualar. – Ele ponderou com a cabeça.
- Milagre não se faz, né?! Mas a gente sempre tenta. – Rimos juntos.
- Você fez uns milagres na Roma e sabe muito bem disso, então para de graça. – Ele riu fracamente.
- Ok, um milagre não acontece duas vezes da mesma forma. – Assenti com a cabeça.
- Concordo agora. – Bocejei, colocando a mão na boca, ouvindo-o rir.
- Você está com sono, parece que já são quase três da manhã para mim, não para você. – Rimos juntos.
- Saí com a galera para o bar, obviamente eu não bebo, mas comi ótimas porções que me deixaram com soninho. – Ele riu fracamente.
- Eu estou de folga amanhã, por isso estou por aqui ainda. – Ele mostrou uma garrafa de cerveja. – Mas eu estou aproveitando minha vitória do jeito certo. – Revirei os olhos.
- Tonto! – Sorri. – Amanhã eu vou faltar o tênis e vou com o Bernardo visitar o apartamento.
- Depois me diga o que você achou. Estou empolgado com essa sua conquista. – Sorri.
- Nem fala, eu estou fazendo muitas contas, mas acho que vai dar. – Suspirei. – Só preciso manter meu emprego por mais uns três anos, se não minha conta de pagar em dois anos e meio se torna bem maior e eu não faço a mínima ideia de prazos.
- Eu posso te ajudar e...
- Não estou te ouvindo, lá, lá, lá! – Brinquei, colocando as mãos nas orelhas e o vi gargalhar pela tela.
- Não está mais aqui quem falou. – O ouvi dizer em um som abafado e eu sorri.
- Vai dar certo. Mando fotos amanhã. – Bocejei novamente.
- Ah, vai dormir! – Ele disse, balançando a mão em frente à tela. – Quem vai ficar com sono daqui a pouco sou eu. – Ri fracamente.
- Minha barriga está cheia de bolinho de feijoada, necessito dormir. – Brinquei e ele revirou os olhos.
- Ainda deixa a gente com vontade. Filha da mãe! – Dei de ombros. – Boa noite, vai!
- Boa noite, Alissinho, eu te amo mesmo sem dividir meus bolinhos de feijoada contigo. – Ele gargalhou, abrindo seu lindo sorriso.
- Eu também, . Você é a luz dos meus dias. – Sorri, assentindo com a cabeça e mandando um beijo para ele.
- E você é meu maior presente. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior, encarando seu sorriso, antes de abaixar a tela do computador.
- E então? – A corretora falou e eu suspirei, balançando a cabeça.
- É maravilhoso mesmo. – Virei para Bernardo. – Você tinha razão.
- Eu sempre tenho razão. – Rimos juntos.
- E esses móveis? São para showroom? – Perguntei, passando a mão em cima da longa mesa de jantar.
- Eles já vêm com o apartamento. Os armários embutidos dos quartos, banheiros e cozinha, além da mesa de jantar e o lustre da sala de estar. – Cocei o queixo levemente. – Ele vem quase pronto para morar mesmo. Caso queiram se mudar amanhã, ele está disponível.
- E o preço é aquele que você me falou? Não tem nenhuma condição especial?
- Estamos com aquela opção que eu te falei, caso você consiga pagar duas parcelas no mesmo mês, conseguimos dar cinco por cento de desconto na segunda parcela. – Suspirei.
- Isso não é o suficiente. – Bati a ponta dos dedos na mesa de jantar.
- O que você está pensando, garota? – Virei para Bernardo que cruzou os braços.
- Acho que vou ter que adiar isso um pouco, não quero me comprometer a algo gigantesco assim. Talvez quando eu tiver uma entrada maior.
- Cara! – Ele bufou e eu franzi a testa. – O Ney não vai gostar nada disso. – O encarei com os olhos arqueados e ele abanou a mão. – Você já falou que a festa de ano na CBF seria na sua casa nova. – Ele cruzou os braços e eu tentei não rir, quando entendi sua tática.
- Eu sei, mas eu não posso fazer nada. Neymar que me perdoe. – Virei para a vendedora. – Muito obrigada, mas...
- Vocês estão falando de Neymar Jr? – Ela perguntou.
- Sim, eu trabalho na CBF e todo ano tem festa de confraternização, aí vem vários jogadores. – Apontei para o logo em meu peito. – Neymar estava animado para vir, mas acho que vou falar para fazer na casa do Tite mesmo. Mais fácil. – Dei um pequeno sorriso e virei para Bernardo. – Além de que é condomínio de casas, né?! – Estalei o dedo como se tivesse uma ideia. – Deveríamos ver aquele condomínio de casas.
- Me deem uns minutinhos, por favor? – Ela disse e assenti, vendo-a se afastar.
- Você vai para o inferno. – Cochichei para Bernardo e ele riu fracamente, batendo a mão na minha.
- Eu sou um gênio, meu amor. – Ele suspirou.
- E você sabe que eu sou namorada do Alisson, não?!
- Eu sei, mas o nome do Neymar ainda pesa mais que do seu namorado. – Rimos juntos. – Além do mais, quem chama Neymar? – Dei de ombros e ele riu.
- Agora imagina a decepção dela ao saber que eu vou passar as festas de fim de ano em Liverpool? – Ele deu de ombros.
- Ela não precisa saber. – Rimos fracamente.
Demorou alguns minutos para que a corretora voltasse, mas foi possível ouvir diversas vezes o nome de Neymar, precisava só me lembrar de falar para ele que consegui um apartamento graças à nossa amizade.
- Oi, voltei. – A corretora falou, aparecendo para dentro da sacada novamente. – Eu falei com a corretora e eles estão com uma nova promoção e esqueceram de me passar.
- Ah, mesmo? – Me fiz de desentendida, colocando a mão no lábio.
- Sim! – Ela disse sorrindo. – Caso você decida fechar até o fim do mês, eles estão oferecendo 25 por cento de desconto no valor total do apartamento, além daquele desconto de cinco por cento que eu falei, se conseguir quitar duas parcelas em um único mês. – Bernardo virou para mim, ficando de costas para a corretora e piscou.
- Bom... – Ponderei um pouquinho. – Acho que assim podemos conversar, então. – Sorri. – Quando você disse mesmo que eu poderia me mudar mesmo?
- Olha quem está aí! – Tite falou quando eu entrei na sala junto de Vinícius e Lucas e os abracei fortemente. – Você está muito bem.
- Ah, qual é, Tite, faz pouco mais de uma semana que estávamos juntos. – Ele riu fracamente.
- Eu sei, eu sei, mas fazia tempo que eu não via esse sorriso. – Suspirei. – O que é? O namoro anunciado? O apartamento novo?
- Como você já está sabendo do apê? – Ele gargalhou.
- Homens também fofocam. – Ele abanou as mãos. – Mas falei com Alisson ontem, ele me contou. – Sorri.
- E vocês não tinham nada melhor para falar? – Ele riu.
- Não! – Ele disse rindo.
- E aí, ? – Sorri.
- Oi, Edu! Como você está? – O abracei rapidamente. – Bom te ver.
- Você também. – Eles sorriram.
- Oi, Sylvinho.
- Oi, tudo bom? – Assenti com a cabeça.
- Bom, vocês já sabem o esquema de hoje. Não é para sair nada do que estamos acostumados e, se sair, nós já conversamos e vamos pedir para a pessoa se retirar. – Eles assentiram.
- E se perguntarem sobre você? – Edu perguntou.
- Também vai ser retirado e por mim. – Dei um sorriso cínico e eles riram.
- Eu acho que estou bem com isso. – Tite comentou e eu sorri. – Precisamos marcar um café. – Assenti com a cabeça.
- Só marcar, te chamo para festa no apê novo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Combinado. – Rimos juntos.
- , estamos prontos. – Murilo da relações públicas apareceu na sala e assentimos com a cabeça.
- Vamos lá! – Sorri e abri a porta, dando espaço para que eles saíssem.
Seguimos para a sala de coletivas e os três subiram no palco e eu segui para o fundo da sala, notando alguns olhares espertos em minha direção. Me coloquei entre Vinícius e Lucas, como sempre, e esperei pela introdução de Murilo para que essa coletiva se iniciasse e acabasse o mais rápido possível.
- Oi, gente, começando pontualmente nossa coletiva de hoje. – Murilo falou. – Vou passar a palavra para Edu, depois vamos passar para a coletiva.
- Bom dia a todos e todas. – Edu falou, ajeitando o microfone. – Como de costume, passo algumas informações antes da lista. Apenas reforçar que essa convocação encerra o ciclo de observação que tínhamos planejados, o que foi citado lá na primeira convocação pós-Copa do Mundo. – Ele falou. – Estamos muito satisfeitos com tudo o que procuramos, com as ideias que propomos, agora damos sequência aos próximos jogos. Para em março afunilar as decisões com um foco bem mais interessante para a Copa América.
Ele começou a passar informações sobre os amistosos que seriam contra Camarões e contra o Uruguai, todos no horário de Londres das sete da noite. Da importância de encarar um time africano e do Uruguai por ser uma preparação já para a Copa América. Ele seguiu com as informações da não convocação de atletas que está disputando o Campeonato Brasileiro, com exceção de uma convocação excepcional que foi liberada pelo próprio time.
- Bom, vou passar agora a palavra ao Tite para que seja liberada a lista. – Ele falou e peguei a lista já conhecida por mim e acompanhei enquanto ele falava os nomes.
- Goleiros: Alisson, Liverpool; Brazão, Cruzeiro; Ederson, City. Defensores: Danilo, City; Dedé, Cruzeiro; Fabinho, Liverpool; Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marcelo, Real Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão. Meio-campistas: Allan, Napoli; Arthur, Barcelona; Casemiro, Real Madrid; Paulinho, Guangzhou; Philipe Coutinho, Barcelona; Walace, Hannover. Atacantes: Douglas Costa da Juventus; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, City; Neymar, PSG; Richarlison, Everton; Willian, Chelsea.
- Faltou um nome. – Edu sussurrou para Tite.
- Foram 22? Ah, é a idade chegando, a letra tá pequenininha. Quem colocou o nome do Pablo assim? – Tite brincou, me fazendo rir.
- Não fui eu. – Sylvinho brincou.
- Bom, faltou o Pablo do Bordeaux. – Tite falou.
- Mas passou na TV? – Edu perguntou.
- Passou. – Murilo comentou. - Eu convoquei o Pablo. – Murilo brincou. - Vou dar um minuto para vocês pegarem a lista e logo começamos a coletiva. – Respirei fundo, apoiando o rosto na mão e aguardei a coletiva começar. - Tempo programado de 40 minutos.
Sem surpresas desagradáveis e um grande alívio no peito, subi junto de Vinícius e Lucas ao final dela, cumprimentando rapidamente Tite e o pessoal da equipe técnica, e nos encontramos na nossa sala novamente, vendo Angelica pronta para a reunião da nossa coletiva.
- Bom, sem surpresas dessa vez. – Ela disse quando nos acomodamos. – Lucas, Vini, e Bianca. Bom trabalho e boa sorte.
- Ah! – Eu e Bianca nos abraçamos lado a lado, sorrindo animadas.
- Vocês não podem me tirar Bianca, ela que é minha âncora nisso tudo. – Comentei e o pessoal riu.
- Eu acho que preferiria ir para a Arábia do que andar em quase todos os estados brasileiros.
- Só que não! – Lucas falou.
- Acredite, não! – Falei firme e eles riram.
- Bom, vamos ver o que precisamos alinhar até dia 10, que é quando vocês vão para Londres, ok?!
- Vamos lá, cadê o briefing? – Perguntei, esticando minha mão para a pasta que Vinícius me entregava. – Obrigada. – Abri a pasta.
- Começando... – Angelica começou, me fazendo prestar atenção nela.
- E esse é o quarto! – Virei a câmera do celular para Alisson, mostrando o quarto já com a minha cama no meio dela e várias malas nela e no chão.
- Sua caminha ficou pequena aí, precisa de outra maior. – Ri fracamente.
- Pois é, mas a gente vai comprar as coisas conforme consegue. – Suspirei, saindo do quarto. – O bom é que a casa veio com várias coisas, a cozinha veio quase completa, então tá mais fácil. – Balancei a cabeça, voltando para a sala. – Só a sala mesmo que ficou desse tamanho e com um sofá de dois lugares. – Ele gargalhou.
- Ah, mas está muito bom, amor. Olha que conquista que você conseguiu! – Sorri, sentando na ponta do sofá.
- Agora serão dois anos e meio pagando. – Suspirei. – Pelo menos o Bernardo vai pagar as despesas do apê, já vai me ajudar um pouco.
- Vai dar tudo certo e, qualquer coisa...
- Não termine essa frase. – Balancei a cabeça.
- Se você não quiser, eu não termino. – Ri fracamente. – O que falta agora?
- Ah, minha mãe e Bernardo foram no apê pegar as últimas caixas e estou esperando o cara que vem ligar a internet. – Suspirei.
- Não sabia que sua mãe estava aí. – Sorri.
- Sim, ela chegou ontem, veio me ajudar na questão contratual e tudo mais.
- Eu preciso conhecê-la. – Vi a porta ser aberta.
- Você pode fazer isso agora. – Comentei, vendo Bernardo entrar com uma grande caixa e minha mãe atrás com algumas menores.
- Não é a mesma coisa, ela não vai...
- Mãe! – Gritei, interrompendo Alison e vi seu olhar se arregalar. – Vem conhecer o Alisson.
- Ah, finalmente eu vou conhecer o namorado da minha filhinha. – Ela veio animada e eu revirei os olhos. – Não é pessoalmente, mas já é algo. – Ela se colocou ao meu lado, aparecendo do lado da tela.
- Oi, senhora . – Ele falou sorrindo nervoso e eu segurei o riso. Seu rosto havia imediatamente se avermelhado.
- Senhora está no céu, querido. Me chame de Carina. – Minha mãe sorriu. – Ele é lindo mesmo. – Ela cochichou para mim.
- Prazer, dona Carina. – Ele sorriu. – Você tem uma filha maravilhosa.
- Isso você não precisa me dizer, eu sei! – Ela colocou a mão em meu ombro. – E você também é uma ótima pessoa. fala muito bem de você e eu vejo sobre você, sua família, sua filha, sua carreira, seu respeito e cuidado sobre...
- Mãe... – Cochichei.
- O que foi? – Ela falou alto. – Ele é um bom moço e as coisas precisam ser ditas. Vamos marcar de nos conhecer, sim?
- Claro, o mais rápido que conseguirmos. Quem sabe vocês não vêm passar as festas de fim de ano aqui em Liverpool? Eu tenho jogo próximo dessas datas importantes, fica difícil para eu viajar.
- Vai ser o máximo! – Minha mãe falou animada. – Vamos programar sim. – Ouvi várias panelas caírem no chão, me fazendo fechar os olhos.
- Alguém me ajuda? – Bernardo gritou e olhamos para ele que equilibrava a caixa e mais duas panelas nas mãos.
- Nos falamos depois, querido. Foi um prazer enorme conhecer você, nem que seja por aqui. – Minha mãe falou sorridente.
- O prazer foi meu. – Sorri e minha mãe estalou um beijo em minha bochecha antes de ir resgatar Bernardo.
- Ela é ótima... – Alisson falou e eu abaixei um pouco do volume, voltando para dentro.
- Ela é realmente incrível. – Suspirei, entrando no banheiro de visitas. – Agora imagina essa pessoa toda feliz e animada, que foi no show do Jorge e Mateus comigo, casada com um militar? – Falei rindo.
- Seu pai é muito fechado? – Ele perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Ele é muito respeitoso com seu trabalho, mas acho que ter duas filhas mulher deu uma aliviada nele, mas só dar duas latas de cerveja que ele se solta. Com três ele até começa a cantar algumas músicas. – Ele gargalhou.
- Parece que vocês têm a família perfeita. – Ponderei com a cabeça.
- Perfeita não é, mas nunca pude reclamar. – Neguei com a cabeça. – Sempre tive tudo do bom e do melhor, tive oportunidades incríveis, estudei em boas escolas, fiz boa faculdade, fiz intercâmbio, estudei línguas, tudo isso me permitiu conseguir esse emprego que eu tenho hoje, consequentemente, permitiu que eu te conhecesse. – Ele sorriu.
- Agradeça seus pais por isso. – Assenti com a cabeça.
- Todos os dias. – Suspirei. – Bom, acho melhor voltar e ajudar eles, minha mãe deve estar morrendo de cansaço e tá nesse pique aí. – Ele riu fracamente.
- Vai lá. Eu ainda tenho uma hora para ir para o estádio.
- Aonde você está mesmo?
- Londres, temos jogo contra o Arsenal, o último antes do jogo de volta da Champions.
- Bom jogo, ok?! Eu te amo! Se eu estiver viva até lá, a gente conversa depois do jogo.
- Não vou esperar por isso. – Sorrimos.
- Eu te amo, tá?! Já estou fazendo a contagem regressiva. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Eu também te amo, para sempre e sempre. – Assenti a cabeça, suspirando, antes de desligar a ligação. Voltei para a cozinha, vendo minha mãe varrendo.
- O que foi? – Perguntei.
- Eu quebrei um copo! – Bernardo apareceu de trás da bancada e eu revirei os olhos, ouvindo o interfone tocar.
- Ah, que seja a internet! – Falei animada. – Meu pacote de dados está acabando. – Rimos juntos.
- Também, fica fazendo chamada de vídeo com o Alisson toda hora! – Bernardo revirou os olhos e eu tirei o aparelho do gancho.
- Alô?
- ... – Lucas me chamou e eu desviei o olhar do meu texto.
- Fala? – Perguntei, mordendo meu lábio inferior.
- Fez mais um.
- O quê? – Virei para a tela dela. – Como assim está dois a zero para o Estrela Vermelha em menos de meia hora de jogo?
- Eita, o que tá acontecendo com o Alisson? – Leandro perguntou.
- Ei, não culpe meu namorado. – Falei brava e o pessoal em volta riu.
- Não estou culpando, mas assim... Ele é o goleiro. – Suspirei.
- Isso não pode estar acontecendo. – Bufei fortemente.
- Calma, garota! Tem ainda uma hora de jogo. – Lucas falou, me sacudindo pelos ombros.
- Ah, por favor, que eles consigam virar essa.
- E se não virar, temos dois jogos ainda da fase de grupos. – Lucas falou e eu olhei duro para ele. – Ou eles vão virar e vai dar tudo certo, relaxa. – Cocei a cabeça.
- Ah, já estava difícil escrever esse release, agora piorou drasticamente. – Neguei com a cabeça.
- Quer que eu termine? – Diana se ofereceu.
- Não se preocupe! – Respirei fundo. – Vai dar certo. – Eles riram.
- Vai dar sim. – Vini comentou. – Olha, mais um gol!
- O QUÊ?
- É brincadeira! – Ele falou, caindo na gargalhada em seguida.
- Ah, seu periquito filho da puta. – Falei, jogando minha caneta nele e eles riram.
- Gente, vamos fazer uma reunião? – Angelica perguntou, entrando na sala. – Precisamos decidir algumas coisas sobre a sub-20 e a feminina que vai para França em dois dias. – Ela abanou as mãos.
- Olha, esse negócio da feminina ser sempre decidido de última hora é uma afronta ao futebol feminino. – Anna falou e eu assenti com a cabeça.
- Honestamente. Além do menor tempo de treino, piores acomodações e tudo mais. – Comentei.
- Eu sei, meninas! – Angelica falou. – Entendo tudo isso, honestamente, mas ainda não sou eu quem faz as regras. Nem Michele. – Bufamos, nos entreolhando. – Continuamos tentando salvar o mundo um dia de cada vez, pode ser?
- Sempre! – As meninas da sala falaram juntas e rimos.
- Ok, então, vamos lá. Precisamos de uma equipe para a feminina com a França semana que vem e com a sub-20 em BH para o primeiro treino.
- Angelica, posso só te fazer um pedido? – Ergui a mão.
- Claro! Diga! – Ela disse.
- Tem como não me mandar para a França? – Falei com a feição meio sofrida. – Eu realmente estou precisando desses dias para descansar, principalmente depois da mudança no fim de semana. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não se preocupe, garota. Já vou precisar que uma de vocês duas vá mais cedo para Londres ajeitar algumas coisas, vocês estão fora de cogitação.
- Amém! Obrigada! – Ergui as mãos para os céus e o pessoal riu.
- Mas então, quem vai? – Ela perguntou, olhando entre nós.
A reunião se seguiu com as costumeiras informações de viagem e preparando quem iria para cada lugar dessa vez. A sub-20 tinha jogo contra a Colômbia em breve e a feminina tinha outro amistoso na França.
Enquanto Angelica passava algumas tarefas para cada um e checava outras coisas, meu olhar ficava entre escrever duas palavras e o jogo em que Liverpool veio a perder do Estrela Vermelha, depois de fazer quatro a zero no jogo de ida. Era surreal!
Respirei fundo, imaginando como Alisson deveria estar se odiando agora, não sabia nem o que falar para ele nesse momento. Era o Estrela Vermelha, um timeco que todo ano dava sorte de estar na Champions League e provavelmente não chegaria tão longe novamente, mas eles tinham acabado de derrotar o Liverpool e isso poderia dizer muito sobre os dois times.
Puxei as notificações do meu celular, vendo se tinha alguma coisa, mas obviamente não tinha, eles acabaram de sair do campo. Pensei se enviava algo e peguei o celular em minhas mãos novamente, suspirando, antes de escrever poucas palavras.
“Uma vitória nem sempre é um triunfo, mas uma derrota é sempre um aprendizado. Eu te amo.” – Enviei, sentindo meu corpo relaxar e voltei a focar no texto interminável de cinco parágrafos em minha frente.
- , campainha! – Anna gritou e eu deixei meu copo na bancada, ouvindo a música não muito alta tocar de fundo e o papo de vários convidados rindo na sala de estar. Olhei rapidamente pelo olho mágico e abri a porta.
- Ah, não acredito que você veio! – Falei quando vi Tite e ele sorriu, com um grande vaso de orquídeas na mão.
- Claro que eu vim, você nos convidou. – Ele me deu um forte abraço. – Um presente para casa nova.
- Obrigada! – Sorri, sentindo-o estalar um beijo em minha bochecha.
- Parabéns, garota! – Matheus, filho de Tite, me abraçou em seguida e eu fiquei na ponta dos pés para abraçá-lo.
- Obrigada, Matheus! – Ele me estendeu um embrulho que parecia um quadro, pelo peso e formato. – Entra, gente! A maioria são conhecidos. – Levei os presentes até a bancava. – Meu grande amigo e colega de apartamento, Bernardo. – Apontei para meu amigo que estava um pouco embasbacado com tudo. – Minha mãe, Carina. – Mostrei a outra que já sorria. – E o pessoal da CBF.
- Viramos o “pessoal da CBF”. – Lucas foi irônico. – De mal a pior.
- Para de graça, moleque! – Tite deu um leve pescotapa nele, antes de abraçá-lo.
Voltei para meus presentes e abri, com o mínimo de barulho possível, o embrulho de Matheus. Era realmente um quadro, mas acho que era o quadro mais especial que eu havia recebido. Era uma foto da Seleção Brasileira, equipe técnica e de comunicação, na Rússia, quando fizemos as fotos oficiais.
Eu estava no meio junto de Lucas e Vinícius, com a perna dobrada e a cabeça encostada na mesma. Lucas e Vinícius estavam animados ao meu lado e boa parte dos jogadores e equipe se debruçaram em cima da gente como se fôssemos o foco da foto. Além disso, tinha uma edição bem moderna e totalmente em verde, amarelo e azul. Era o presente perfeito. Suspirei, me lembrando de Alisson e como faltavam somente dois dias para reencontrá-lo novamente.
- E aí, gostou? – Virei para o lado, encontrando Matheus.
- É perfeito. Obrigada. – Ele me abraçou de lado.
- Só mais uns dias, garota. – Suspirei.
- Eu sei, quando chega perto eu fico mais nervosa ainda.
- Completamente normal. – Ele riu. – Eu fico assim para voltar, que eu vou reencontrar minha esposa, meu filho.
- Você não tem cara de quem já é casado e tem um filho, sabia? – Ele riu fracamente.
- Eu sei! Mas o Alisson também não tem cara de quem já tem um filho.
- Touché! – Sorri.
- Vocês estão ferrados. Eu estou de volta, Tite! – Ouvi Bianca falar e voltamos à sala, aonde as pessoas estavam espalhadas no sofá, nos bancos da bancada, nas cadeiras da mesa de jantar e algumas até no chão.
- Ah, lá! Tá querendo botar moral já! – Lucas brincou.
- Tá muito assanhadinho esse Lucas. – Comentei, ouvindo o pessoal rir.
- Ele que se cuida em Londres. Vai acordar com cola no cabelo.
- Eita, mulher! Também não precisa esculachar, vai! – Ele abanou a mão.
- Vai ser bom te ter de volta, Bianca. Essa daqui quase surtou na Arábia. – Tite comentou.
- Ei, eu tive meus motivos, qual é. E você tirou o meu da reta em vários.
- Eu sei! – Ele falou. – Nem é meu trabalho. – Rimos juntos.
- Vocês que se preparem, mais 10 dias com a gente. – Comentou.
- São duas mulheres com uns 35 homens. A gente ganha. – Bianca comentou, fazendo o pessoal gargalhar.
- Ah, vocês são demais. – Virei para o lado.
- ... – Lucas cochichou e eu segui para o lado dele, me afastando do grupo. – Tem algum lugar que eu possa trocar a fralda da Joana? – Mariana veio ao seu lado com a lindinha no colo.
- Pode ir lá no meu quarto, fica à vontade. É o último do corredor. – Comentei.
- Obrigada! Vou aproveitar e amamentá-la.
- Não se preocupe com isso, fique à vontade. – Eles sorriram.
- Vamos à pergunta mais importante... – Bernardo se aproximou.
- Ah, lá vai! – Comentei, vendo o pessoal rir.
- Ei, eu só ia perguntar que sabor de pizza vocês querem. – Ele comentou.
- Isso não vai dar certo. – Abanei a mão. – Mussarela e calabresa, e chocolate e banana de doce. Fica no básico.
- Acho mais fácil. – O pessoal comentou.
- É, melhor! Se não vamos ficar três anos escolhendo e são quase nove já.
- Deus! Vai chegar quase meia-noite. – Vini comentou.
- Bom, eu não tenho pressa. Vocês podem ficar o quanto quiserem.
- A festa vai se transformar em festa do pijama. – Diana riu.
- Só se eu puder dormir como vim ao mundo. – Leandro comentou.
- Ew! – Débora falou rindo.
- Melhor não. – Matheus falou rindo.
- Bom, eu vou ligar lá. Matheus, Tite, tem cerveja, refrigerante e suco na geladeira. Fiquem à vontade, sintam-se em casa. – Comentei, procurando meu celular. – Os copos estão na pia. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Pode deixar! – Matheus falou.
- Vocês já fizeram um brinde? – Tite perguntou.
- Estou falando faz horas isso. Precisa brindar a casa nova, agradecer essa conquista. – Voltei com o celular na mão.
- Lucas, Mari, venham! Nós vamos brindar!
- ‘Pera que eu estou amamentando a Joana. – Mariana respondeu.
- Traz ela para brindar também. – Anna gritou, me fazendo rir.
- Bom, vamos começar com um discurso, vai! – Minha mãe falou.
- Ah, mãe! – Falei envergonhada e ela riu.
- Ah, qual é! – Vini brincou. – Até parece que tem vergonha de falar em público. – Ri fracamente.
- Não é isso, é que ter vocês aqui, é muito importante para mim. – Suspirei. – Essa casa, esse emprego, essas amizades. – Suspirei. – É tudo muito surreal para mim ainda. Parece que faz tanto tempo, mas faz somente seis meses, gente! – Respirei fundo. – Então, obrigada mesmo! Sei que a casa foi lucro do meu trabalho, mas essas amizades são minha parte favorita, poder convidar pessoas, encher minha casa, confiar segredos, sair para papear, enfim, obrigada a todos vocês. Essa aventura está sendo demais.
- Uhul! – Vinícius puxou o coro, fazendo o pessoal bater palmas.
- Agora, um brinde à minha filha, por todas essas conquistas e por seguir batalhando por elas dia após dia. – Minha mãe falou, me fazendo sorrir e todos erguemos nossos copos.
- Um brinde! – Lucas apareceu pelo corredor. – Por essa grande amiga que a vida me deu.
- Um brinde à única pessoa que eu deixo me zoar sobre o canarinho. – Vinícius falou, me fazendo rir.
- À mesma pessoa que me dá socos na cara e tá tudo bem. – Leandro entrou na brincadeira.
- Obrigada, gente! – Falei e tocamos nossos copos, antes de beber um gole.
- Ei! – Falei quando Alisson atendeu a ligação.
- Ei, como foi a festa ontem? Você demorou para ligar!
- O negócio rendeu até quase três da manhã lá em casa, depois ainda tive tudo para arrumar, guardar, lavar louça e tudo mais, acordei depois das quatro da tarde e com mala para fazer. – Suspirei.
- Aonde você está? – Ele perguntou.
- No aeroporto. Eles pediram para eu ir hoje para Londres, falar com o pessoal da comissão e tudo mais, normalmente alguém da comissão vai, mas parece que está tudo meio atrasado dessa vez. – Suspirei.
- Que horas é seu voo? – Ele perguntou.
- Oito e 40. – Cheguei meu relógio. – Tenho umas duas horas ainda. – Vou fazer escala em Madrid. – Suspirei, bocejando em seguida.
- Você parece bem cansada. – Assenti com a cabeça.
- Espero capotar assim que eu sentar na poltrona. Estou muito cansada. – Ele riu fracamente.
- Pelo menos, dessa vez, quando eu chegar, você já vai estar lá.
- Provavelmente meio sonolenta ainda, mas está valendo.
- Estando em meus braços, vale tudo.
- Você está bem brega hoje, senhor Alisson. – Ele riu.
- Eu sou brega, qual é! – Ele brincou e eu sorri.
- E como está seu dia amanhã? – Perguntei.
- Tenho um jogo as duas da tarde, acabando os protocolos, já vamos para Londres. Devo chegar umas oito, nove da noite.
- Bom, estarei lá. O voo está previsto para chegar umas três da tarde, horário daí. – Suspirei. – Algumas horinhas depois você já chega.
- Estou com saudades de você. – Assenti com a cabeça.
- Eu também. – Suspirei. – Vou desligar que eu vou passar pelos procedimentos de segurança.
- Ok, meu amor. Amo você.
- Eu também, bom jogo, boa viagem, nos vemos na terra da rainha.
- Boa viagem para você também. Até logo! – Pisquei e desliguei o telefone.
Fiz os procedimentos de segurança, imigração e quando eu cheguei na sala de embarque, a fila para o meu voo com destino à Londres, com escala em Madrid, já estava embarcando. Esperei pela minha vez e, quando entrei no avião, ajeitei minhas coisas no bagageiro e antes que a aeromoça começasse a passar as instruções de segurança, eu capotei.
- Moça, chegamos! – Arregalei os olhos quando a passageira do lado me cutucou e eu virei para ela até meio atordoado. – Chegamos.
- Eu dormi o voo inteiro? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Sim, gostaria de saber qual é a sua dica para isso. – Ela brincou e eu suspirei.
- Tentando conciliar trabalho e vida social. – Rimos juntas. Virei para a janela e estranhei. Parecia noite em Madrid. Será que tinha uma chuva forte vindo por aí?
- Moça, a aeromoça informou se tem troca de aeronave para quem está em conexão? Não prestei atenção.
- Ela não falou nada, aqui é o destino final.
- Ué! Mas eu preciso ir para Londres. – Me levantei, franzindo a testa.
- Tem certeza que você está no voo certo, moça? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Espero que sim. – Falei, pegando minha mochila. – Estamos em Madrid, certo? – Ela deu uma risadinha.
- Não, moça. Aqui é Miami.
- O quê? – Falei um tanto alto demais.
- Miami, nos Estados Unidos. – Ela disse novamente e eu arregalei os olhos.
- Isso não é possível. – Procurei a passagem rapidamente pela minha bolsa, puxando a mesma amassada. “Rio de Janeiro – Miami”. – Oh, meu Deus! Que porra eu estou fazendo em Miami? – Falei um tanto alto, puxando a respiração fortemente.
- Fique 35 horas viajando que você vai saber, mais ou menos, o porquê dessa cara. – Suspirei, abraçando-o com o braço livre.
- Ah, que bom, você chegou irritada! – Ele cochichou contra meu ouvido e eu ri fracamente.
- Tchau, ! – Virei o rosto, acenando para o pessoal da comissão técnica que se dissipava como formigas para fugir da imprensa.
- Tchau, gente! Até a próxima. – Acenei para Tite e Taffa principalmente e recebi uma piscadela do último.
- Te vejo no boxe sábado, ? – Leandro perguntou e eu fiz uma careta.
- Dificilmente! – Falei e ele riu, saindo. Acenei para Vini e Lucas e também segui o caminho para fora do aeroporto.
- Por que o voo demorou tanto? – Bernardo falou, procurando por um Uber no celular. – Achei que chegariam ontem.
- Eu também, mas fizemos 15 horas de escala em Paris. – Suspirei. – Era Paris, mas o voo estava atrasado, então nem tentamos sair do aeroporto, achando que o voo sairia logo. – O vi apontar para um carro e segui com ele, vendo-o abrir a porta para mim. – Além das quase 12 horas de volta. Oi, tudo bem? – Falei rapidamente com o motorista, escorregando para o outro lado.
- Pode seguir o GPS, moço! – Nardo falou. – Imagino que você esteja morrendo de sono.
- A vantagem é que dormi o voo inteiro, mas são nem sete da manhã, o que eu vou fazer agora?
- Dar uma olhada nas diversas notícias que saiu sobre você e o Alisson enquanto esteve fora? – Ele falou sugestivamente e eu fiz uma careta.
- Eles falaram muito de mim? – Perguntei.
- Demais! – Ele dramatizou. – Sério, eu até me surpreendi. – Joguei a cabeça para trás.
- O que eles falaram? – Perguntei, suspirando.
- Inicialmente eles falaram sobre o possível relacionamento entre vocês dois, saiu algumas fotos bem fofinhas de vocês dois no banco de reservas durante o jogo contra a Arábia Saudita. – Ele deu um sorriso e eu ponderei com a cabeça. – Isso despertou muito interesse nos jornais de fora, principalmente por essa política sem toques da Arábia.
- É, a gente acha que foram esses toques que causaram a atenção do público, o beijo dele na minha bochecha e tudo mais. Poderia falar que somos brasileiros, mas eu vi algumas fotos, é bem coisa de casal mesmo. – Suspirei.
- Bom, depois eles abordaram Tite na coletiva e, meu Deus! Que roupa era aquela que você estava usando? Só vi um vulto sair correndo.
- Era eu tentando usar roupas típicas. – Bufei. – Estava feio, eu sei, sei. – Ergui as mãos. – Mas pelo menos mantive respeito com a cultura deles.
- É... Eu precisava ter feito um curso para ter te ajudado, parecia a...
- Noviça Voadora? – Perguntei e ele gargalhou.
- Ela mesma!
- Eu sei, achei a mesma coisa. – Suspirei. – O que mais?
- Bem, depois disso, todos só falavam sobre o toco que você deu na jornalista da Globo. Obviamente a Globo só mencionou sobre você ter falado que não daria comentários sobre isso ainda, mas todas as outras emissoras divulgaram o esporro que você deu nela. – Ele sorriu abertamente. – Você foi para o trending topics do Twitter e fizeram até um remix contigo.
- Ah, meu Deus! – Abaixei a cabeça na poltrona do motorista.
- Ah, qual é, garota! Isso não é mal! O pessoal do Twitter tá te adorando, principalmente depois das fotos fofas que o Alisson divulgou sobre você. – Ele suspirou. – Afinal, você nem mencionou que queria se anunciar para a mídia.
- Não queríamos, na verdade, a gente sabia de todo o rolo que isso daria com a imprensa, principalmente os comentários minimizando o meu trabalho e o dele, mas abaixamos a guarda e tudo isso aconteceu.
- Eu até vi uma postagem ou duas sobre isso, mas é pura fofoca! – Ele revirou os olhos.
- Eu sei que é fofoca, eu estive com eles em todos os jogos e posso te garantir que o único que perdemos, não foi distração por minha culpa. – Bufei.
- Isso é algo que nunca saberemos. – Ele deu de ombros. – Eu não conheço o Alisson, mas ele parece ser um cara sério demais no jogo.
- E ele é! – Falei um tanto alto, olhando para o motorista pelo retrovisor. – Desculpe!
- Não se preocupe. – Ele falou e rimos juntos.
- Acho que o Alisson é o cara mais centrado que tem. Qual é, Bê, na eliminação da Copa do Mundo ele nem chorou! – Suspirei. – Ele é um amor e um fofo, mas em algumas situações ele é osso duro de roer. – Neguei com a cabeça. – Ele sabe o lugar dele, nós sabemos nosso lugar.
- Mas vocês precisam aproveitar também, ! É o que você fala: vocês se veem só nesses amistosos, é triste para vocês. – Suspirei, cruzando os braços.
- É muita coisa na minha cabeça, preciso falar com minha chefe quando voltar, só quero aproveitar esses seis outros dias sem pensar em nada. – Neguei com a cabeça.
- Bom, eu troquei sua roupa de cama na terça, fiz um bolo de cenoura e o apê está limpinho. – Sorri, apoiando a cabeça em seu ombro.
- Eu não te mereço.
- Eu sei, eu sei, mas a gente releva! – Ri fracamente, abraçando-o de lado.
- Eu preciso falar com Alisson que cheguei, a última informação que eu dei foi quando saímos de Paris. – Chequei no relógio.
- Será que ele já chegou? – Ele perguntou.
- Já sim, o voo dele era seis horas depois do meu, mas era só até Londres, é ali do lado, ele mandou mensagem quando estávamos em Paris já. – Suspirei.
- Bom, eu te indico esquecer dele um pouco e descansar, você pode ter dormido o voo inteiro, mas está com os olhos minúsculos. – Suspirei.
- Só uma mensagem. – Falei, puxando o celular do bolso.
Abri os olhos mais tarde naquele dia e suspirei ao me encontrar na minha pequena cama de solteira, puxei o celular ao lado e notei que eram pouco mais de três da tarde. Eu realmente havia capotado. Abri o WhatsApp, encontrando diversas mensagens da minha família, amigos e de Alisson, dando prioridade ao meu namorado.
“Meu Deus! Que demora! Descanse muito, ok?! Hoje é dia de treino normal, Skype mais tarde?” – Suspirei ao ler e coloquei meus dedos para digitar rapidamente.
“Já está em casa? Preciso de banho e comida, me dá uma hora?” – Perguntei e suspirei, fechando os olhos por alguns segundos, tentando deixar a preguiça me levar. O celular apitou e eu olhei a conversa com Alisson, recebendo um áudio em resposta.
- “Olha quem apareceu! Bom dia, Bela Adormecida! Estou saindo de Melwood agora, aproveite o tempo que quiser, são sete horas aqui ainda, podemos aproveitar mais tarde”.
“Ok, logo, logo apareço novamente”. – Respondi e saí de sua mensagem.
Abri a do grupo da família e eram várias mensagens de mãe, tia e irmã dando graças que eu estava em solo brasileiro novamente e minha mãe falando para ligar para ela mais tarde. Faria isso, mas depois de falar com Alisson. Precisava realmente de algo para comer, pois meu estômago estava roncando.
Joguei os pés para fora da cama, jogando o lençol para outro lado e desliguei o ventilador, calçando os chinelos e peguei um laço de cabelo, fazendo um rabo de cavalo. Saí do quarto, seguindo o som da televisão e encontrei Bernardo deitado no sofá, vendo alguma série espanhola das que ele gostava.
- Bom dia, criança! – Dei um sorriso culpado e ele riu.
- Está de folga hoje? – Perguntei e ele sorriu.
- Sim, uma folga a cada seis dias, nunca tem dia fixo. – Ele deu de ombros.
- Pelo menos posso aproveitar aqui contigo. – Sorri e ele mandou um beijo. - Cadê o bolo? – Perguntei, vendo-o com um prato no colo.
- Micro-ondas. – Ele respondeu e segui até o aparelho, encontrando um bolo redondo de cenoura com alguns pedaços já retirados, o que fez a calda de cima escorrer pelo buraco do meio.
- Hum, tá com uma cara boa.
- Coloquei brigadeiro dessa vez, estava inspirado. – Ri fracamente, pegando um prato e colocando um pedaço para mim.
- Logo você vai estar tomando conta da cozinha do Outback, você vai ver. – Guardei o bolo de volta, peguei um talher e segui para a sala novamente.
- É, não vamos complicar! Um bolo é uma coisa, agora aquela costela, vish! – Rimos juntos e eu me sentei à mesa, encontrando alguns panfletos espalhados na mesma. – O que é isso? – Abri o primeiro, encontrando diversas fotos de apartamentos, taxas e preços.
- Ah, isso é o que você pediu para eu fazer na sua ausência. – Ele deu de ombros. – Apartamentos.
- Ah, você procurou? – Peguei um pedaço do bolo, soltando um suspiro. – Hum, Bê! Nossa, muito bom! – Suspirei, colocando um pedaço maior na boca, vendo-o rir.
- Ah, eu dei uma sondada pelas redondezas lá da CBF, mas você sabe que lá é a Avenida das Américas, né?! – Ele se sentou ao meu lado. – Casas ou apartamentos só dentro de condomínios e nada muito barato. – Suspirei.
- Imaginei que não fosse barato, esse que moramos custa uns 300 mil para comprar e é minúsculo.
- Tudo isso? – Ele gritou.
- É, mais ou menos, mas por causa da localidade também. – Dei de ombros.
- Caramba! – Ele falou.
- Enfim, o que você encontrou? – Suspirei.
- Alguns mais perto da CBF, outros mais longe, mas todos aqui nas redondezas da Tijuca ou na Avenida das Américas, mas se minha opinião contar, eu amei esse aqui. – Ele puxou um flyer. – Condomínio Mundo Novo, quase que você não precisa sair dele para nada. – Ele riu fracamente e eu abri o mesmo. – Ele é maravilhoso!
Me assustei ao ver o tamanho do condomínio, ele tinha sete torres, e uma área comercial que ficava nas dependências do condomínio. Além disso, ele possuía uma boa área com vegetação de proteção ambiental, quadras de tênis de saibro, campo e quadra de futebol, piscinas, garagem e garagem subterrânea, academia, salão de festas, churrasqueira, apart-hotéis, além do gigantesco espaço comum. Era realmente maravilhoso.
- Isso é um sonho, Bê! – Ele riu fracamente.
- É, eu acabei passando lá perto um dia, é para ficar de queixo caído mesmo. – Ele suspirou.
- E quanto é a facada? – Perguntei.
- Bem dolorida. – Ele disse e virou o panfleto, apontando para o preço.
- Eita! – Li os sete dígitos e respirei fundo para não engasgar. – Formas de pagamento? – Perguntei.
- Financiamento de um a 30 anos. – Suspirei.
- Meu Deus, isso é loucura! Será que eu estou fazendo o certo?
- Isso é uma decisão sua, meu bem! – Ele disse. – É um bem que fica para a vida toda. Além de que você ganha 30 mil por mês, tirando diárias de viagens. – Suspirei. – Quanto de entrada você conseguiria dar?
- Preciso dar uma olhada nas minhas contas com o holerite dessa última viagem. Acho que posso dar uma entrada de cem a 150 mil que eu consegui guardar nesses meses da CBF. Preciso fazer umas contas mesmo. – Suspirei.
- Eu posso te ajudar mensalmente com o valor do aluguel.
- Não, Bê, já conversamos, você paga as despesas de condomínio e internet que eu lido com a compra, é algo meu, que eu quero para valer. – Suspirei. - Em qual apartamento você viu? – Perguntei.
- Mare Vita. – Ele apontou. – Ele é um dos mais próximos da entrada, fica perto das quadras, o que achei útil para você. – Assenti com a cabeça. – É caro, mas seria um bem para sempre, além dos aluguéis que imagino que não saiam por menos de três mil. – Ponderei com a cabeça. – Caso você passe muito tempo fora. – Ri fracamente.
- Quantos quartos têm?
- Quatro quartos, sendo duas suítes, sala, sala de jantar, cozinha, banheiro de visitas e lavanderia. – Mordi meu lábio inferior, suspirando. – Tem o de dois andares, mas...
- Mais caro, aposto! – Rimos juntos.
- Com certeza.
- Bom, eu ganho em média uns 35 por mês, gasto menos que cinco, se eu conseguir juntar 30 por mês... – Peguei uma caneta na mesa do telefone e comecei a rabiscar o papel rapidamente. – Eu consigo quitar isso em menos de 30 meses, dá dois anos e meio. – Suspirei. – Contando com condições perfeitas.
- O que quer dizer com isso? – Ele perguntou.
- Ah, continuar trabalhando na CBF, com um salário desses, mantendo minhas viagens frequentes para ganhar diária e tudo mais.
- Esse é o xis da questão, né?!
- Sim. – Peguei outro pedaço de bolo. – Eu estou em um momento muito bom da minha vida, mas não sei quanto tempo ele vai durar. Tenho medo de ficar folgada demais e o negócio explodir na minha cara.
- Isso eu não posso garantir, é algo que você precisa decidir. – Ele suspirou. – Poderia oferecer para comprarmos juntos esse apartamento, mas é difícil.
- Eu sei, querido. – Suspirei. – Pelo menos você terá um lugar para morar! – Ele sorriu e me abraçou de lado.
- Por que você não marca uma visita com a corretora? – Ele perguntou.
- Para me apaixonar de verdade? – Ele riu.
- Dar o estímulo necessário. – Sorri.
- Pode ser, quem sabe ela não tem uma condição especial? – Dei de ombros e ele sorriu.
- Assim que se fala, garota! Vamos que eu te ajudo a se afundar. – Rimos juntos.
- É para isso que são os amigos.
Vi o time de Alisson sair de campo com somente um gol de Salah, em um, aparentemente, difícil jogo contra o Huddersfield Town, mas com três pontos para a conta do time no campeonato inglês, suspirei e vi meu goleiro sair de campo. Procurei meu celular pelos cantos do sofá e abri a galeria do mesmo, procurando pelas fotos do último amistoso.
Desde que Alisson postou uma foto nossa, eu não havia oficialmente me anunciado em nada, nem um compartilhamento, um comentário, muito menos uma postagem sobre nós dois. Eu estava com medo. Não que eu fosse alguém que precisasse ter medo sobre algo, eu não era a famosa aqui, mas eu entendia o peso das minhas ações.
Isso mudaria tudo, eu deixaria de ser , assessora da CBF, para , namorada de Alisson Becker. E era uma situação que eu não achava que estava pronta para enfrentar. Também não sabia dizer nem se isso aconteceria de verdade, mas era algo que me preocupava internamente.
Sacudi a cabeça, prestando atenção nas diversas fotos tiradas nesses últimos dias e encontrei uma em que eu estava encostada na baliza de braços cruzados enquanto Alisson fazia algumas pegadas de bola. Depois outra aonde estávamos um grupo sentado na arquibancada e Alisson me abraçava pelos ombros enquanto dava um beijo em minha bochecha. E por último, uma de nós trocando um beijo na nossa despedida há alguns dias.
Selecionei as três nessa ordem, como se mostrasse uma evolução do nosso relacionamento, e pensei um pouco sobre qual legenda eu colocaria. Queria declarar meu amor por ele, mas também colocar um ponto final sobre isso. Somos namorados, mas também somos profissionais e sabemos separar as coisas.
“Quando você diz que a vida é bela, eu não acredito, mas quando estou contigo, eu consigo enxergar. Você é o maior presente que a vida já me deu e cada momento, cada segundo ao seu lado, é como se eu conseguisse ver da forma que você vê!
É, estamos juntos. Não, não é grande coisa. Nossas vidas profissionais permitiram que compartilhássemos também nossas vidas pessoais, mas já somos grandinhos agora, sabemos dividir. Principalmente as perdas e as vitórias.
E sabe o melhor de tudo? Tá tudo bem. Só de tá com você fico bem.”
Ri fracamente com a referência à nossa música e engoli em seco ao marcar Alisson antes de enviar a foto. Bloqueei o celular, colocando-o em cima da minha barriga e esperei. Senti o mesmo começar a vibrar sobre meu corpo e suspirei, sabendo que eu havia soltado uma bomba. Eu tinha cerca de cem mil seguidores que foram aparecendo desde que eu comecei a trabalhar com a CBF, nunca foi intencional me tornar “famosinha” na internet, mas as coisas simplesmente foram acontecendo e agora eu tinha um público para dar declarações.
Notei que a vibração continuava frequente e ergui o aparelho, vendo uma ligação de vídeo de Alisson em andamento. Franzi a testa e me sentei, deslizando o dedo pelo botão, vendo seu rosto aparecer no vídeo e vários sons abafados atrás dele.
- Hey! – Ele falou animado.
- Ei! O que está acontecendo? – Perguntei um tanto alto, vendo-o se movimentar com a câmera.
- Fala mais alto, está uma barulheira aqui! – Ele disse alto também.
- O que está acontecendo? – Falei mais alto.
- Eu vi sua postagem, queria te ligar. – Abri um pequeno sorriso.
- O que achou?
- Você sempre foi boa com palavras. – Sorri.
- Jornalista, né?! – Dei de ombros e ele riu. – Ainda no jogo?
- Sim! Estamos nos arrumando para ir embora. O jogo foi fora de casa.
- Eu sei, eu estava assistindo! – Falei e ele fez uma careta.
- O que fez você postar algo agora? – Suspirei.
- Só tive vontade. – Pisquei. – Não era assim que iríamos lidar com nosso relacionamento?
- É, talvez, e dando umas indiretas à imprensa? – Sorri de lado.
- Precisamos dizer quem manda de vez em quando! – Suspirei. – Teremos outros amistosos e compromissos em breve e quero que isso seja normal.
- Você sabe que não vai ser assim no começo, não é mesmo?
- Eu sei, mas uma garota pode sonhar, não é mesmo? – Ele riu fracamente.
- Sempre!
- Hey, Ali. Come inside! – Ouvi um sotaque forte e franzi a testa.
- Talking with my girlfriend. – Alisson desviou o olhar e logo depois a câmera, me fazendo dar de cara com o técnico deles, Jürgen Klopp.
- Oh, Ali’s girl! – Ele abriu um largo sorriso quando me viu e eu tentei repetir a empolgação com a cara de acabada que eu estava.
- Hi! – Falei sorrindo.
- She’s really gorgeous! – Ele falou com Alisson que não aparecia na tela no momento.
- Thanks!
- When will you come visit us?
- Soon, I hope. When I get some break. – Respondi sorrindo.
- We’ll wait for you, but come real soon, alright?
- Alright! – Ri fracamente.
- Nice meeting you. – Ele acenou para a tela. – See you inside. – Ele falou para o Alisson e eu ri fracamente.
- Ele é feliz assim ou...?
- Ele é assim mesmo, feliz, meio louco, mas o cara é fantástico. – Rimos juntos. – Nos falamos mais tarde?
- Não sei, o Lucas mandou mensagem para gente sair, estão decidindo aonde vão. Capaz de eu sair um pouco só para sair de casa.
- É bom, você ainda tem alguns dias de folga, eu te mando mensagem quando voltar para Liverpool.
- Já são mais de sete horas para você, até voltar para casa já vai ser mais de 10, aposto. – Ele ponderou com a cabeça.
- Nos falamos? – Ele perguntou.
- Sempre. Te amo.
- Eu também, já estou com saudades! – Suspirei, mandando um beijo para tela e o vi abaixar a tela antes de desligar a ligação.
- Meus fãs, eu cheguei! – Cantarolei ao abrir a porta da sala da assessoria de viagens e alguns riram, outros se levantaram animados, mas a primeira a vir em minha direção foi Bianca.
- Ah! Que saudades de você! – Ela me apertou forte, me movimentando de um lado para outro e eu gargalhei.
- Saudades de você! – Apertei-a. – Não me abandone mais, pelo amor de Deus! Aquele país é uma loucura e não de um jeito bom. – Ela riu fracamente.
- Seja bem-vinda, ! – Angelica falou e eu sorri.
- Obrigada! – Me aproximei dela, dando um rápido beijo em seu rosto.
- Vamos faz uma rápida reunião? – Ela perguntou.
- Claro! – Falei, deixando a bolsa em meu lugar. – Oi, gente! – Acenei rapidamente para o resto do pessoal.
Segui Angelica para fora da sala, encontrando Vinicius e Leandro chegando e fomos em direção à sala de Michele. Quando seguimos nessa direção, já imaginei do que se tratava. Olhei rapidamente para os céus, antes de ser puxada por Angelica para dentro.
- Ei, garota, como você está? – Ela se levantou e me deu um rápido abraço. – Seja bem-vinda de volta!
- Obrigada, é bom voltar depois da loucura que foi. – Suspirei.
- É, nós vimos seu relatório, além da equipe técnica e você teve alguns problemas, não é mesmo? – Michele indicou a cadeira e eu quase me joguei na mesma.
- Ah, foi um desastre! – Fechei os olhos. – Eu me senti presa, estranha, não era eu quem estava lá, era uma pessoa totalmente diferente. – Michele suspirou.
- Nós não queríamos te mandar dessa vez, te mandamos mais por causa do Alisson, para vocês se verem. – Assenti com a cabeça.
- Foi uma experiência bem diferente de tudo o que eu já passei na vida, mas eu não pude aproveitar nada. – Suspirei. – Mais para os últimos dias eu liguei o foda-se e pelo menos aproveitei mais com Alisson. – Elas assentiram com a cabeça.
- Bom, eu realmente não tenho nada a reclamar, apesar das limitações, você conseguiu se virar bem. – Assenti com a cabeça.
- Tenho que agradecer aos meninos por isso, sem a ajuda deles, nada seria possível. – Ambas sorriram cúmplices.
- Será reconhecido. – Angelica falou e eu assenti com a cabeça.
- Bom, mas não estamos aqui para falar disso, não é mesmo? – Michele disse, se ajeitando na cadeira.
- Imaginei. – Ri fracamente.
- Fico feliz que você e Alisson tenham resolvido se abrir para o mundo. – Fiz uma careta, dando um sorriso estranho.
- Não foi bem assim! – Falei rindo.
- É, eu sei bem, só queria ver sua reação. – Revirei os olhos, vendo Michele rir. – Mas como você está quanto a isso? Você e Alisson? Inicialmente, eu achei a sua reação exagerada, mas depois eu procurei todo o caminho que levou a isso, então estou bem com isso. Além de que foi uma bela promoção gratuita da CBF.
- Acabou sendo um meio para um fim. – Dei de ombros. – Acho que se isso não tivesse acontecido, eu nunca me preocuparia com isso. – Balancei a cabeça. – Na verdade, creio que eu não precisava fazer nada, eu não sou a famosa na situação, e Alisson também nunca fez questão de nada, nunca falou nada. – Suspirei.
- Eu não o conheço muito bem, mas sabemos que ele é bem relax sobre isso, tanto que assim que vazou, ele postou algo de vocês dois. – Michele falou.
- É, então. Foi por essa ação dele que eu percebi que talvez ele queria fazer isso há algum tempo, mas eu nunca deixei. – Dei de ombros.
- Vocês já falaram sobre isso? – Angelica perguntou.
- Várias vezes. – Suspirei. – Mas para mim causaria todo um escândalo à toa. E causou. – Suspirei. – Mas vejo agora que ele queria isso, ele só respeitou minha decisão.
- Bom, está no mundo agora, está nas redes sociais! Então, não tem mais volta. – Angelica falou e assenti com a cabeça.
- Só indico, no próximo amistoso, colocar o Alisson na coletiva. Esclareçam isso com mais informações. Deem detalhes de como e quando aconteceu, mostrem que é sério que aposto que nunca mais vocês terão problemas com a imprensa. Pelo menos não assuntos polêmicos, só amorzinhos. – Michele falou e rimos juntas.
- Vamos conversar com mais calma sobre isso, se possível, gostaria de estar ao lado dele para não sermos pegos de surpresa. – Michele assentiu com a cabeça.
- Jornalista não costuma ser pauta, mas quando é, colocamos para falar. – Angelica falou.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça.
- Temos alguns dias ainda, vocês têm alguns dias para se preparar, mas não surta com isso não, aproveitem. – Michele disse, assentindo com a cabeça. – Vocês são namorados, à distância ainda. Vocês precisam disso. – Assenti com a cabeça. – Além de que vocês já fizeram muitas restrições por nossa causa, isso acaba agora.
- Obrigada! Vamos aproveitar dessa liberdade. – Elas sorriram.
- Bom, vamos voltar ao trabalho, temos muito o que fazer até sexta-feira. – Michele disse e eu e Angelica nos levantamos. - Fica aqui, Angelica, vamos conversar sobre aquele assunto. – Michele disse e eu acenei para as duas, saindo da sala.
Acenei rapidamente para os funcionários da outra sala e entrei na turma da assessoria de viagens novamente, sentindo Lucas me abraçar assim que eu passei pela porta.
- E aí, garota, como está? – Ele perguntou.
- Tudo certo e por aí? – Sorri, sentindo um beijo em minha bochecha.
- Tudo certo. – Ele falou e eu me sentei em minha mesa.
- Não podem mais nos separar, Bianca! – Falei para ela na minha frente. – Eu quase surtei, sério! – Todos da sala riram.
- Estamos sabendo dos seus perrengues, entendo seu lado, viu?! – Anna falou e eu suspirei.
- Ah, o país é lindo, mas não deu para aproveitar com todas as regras, condições, medo.
- E ainda com tudo isso, seu segredo vazou. – Vini brincou e eu ri com a turma.
- Ah, pelo menos fizeram o trabalho por mim. – Dei de ombros. – Agora é tentar relaxar e viver um dia de cada vez.
- Calma, gente! – Leandro falou. – Essa é a falando ou é a sósia árabe dela? – O pessoal explodiu em gargalhadas novamente.
- Eu sei que eu surtei um pouco lá, mas passou, o próximo é em Londres, já virou minha casa!
- Podemos sair para beber alguma coisa depois e você conta mais sobre isso, que tal? – Débora sugeriu e todos assentimos animados.
- Combinado, então! – Rimos.
- Mas eu só saio daqui depois que acabar o jogo do Liverpool. – Falei rapidamente.
- Verdade, tem Champions hoje. – Lucas comentou. – Contra quem?
- Estrela Vermelha. – Falei.
- Ah, vai ser fácil! – Ele abanou a mão e rimos juntos.
- É, parece que foi bem fácil. – Comentei com Alisson quando voltamos para nossas respectivas casas.
- Foi bom mesmo! Mas perdemos um pênalti, isso deu uma desestabilizada. – Ele comentou.
- Ah, qual é! Já estava três a zero e depois o Mané compensou e fez um em jogo corrido.
- Foi bom, garantimos quatro gols, mas agora o próximo jogo é fora de casa, precisamos manter a produtividade e fazer gols.
- Fazer gols é sempre bom, mas acho difícil eles conseguirem fazer quatro gols para igualar. – Ele ponderou com a cabeça.
- Milagre não se faz, né?! Mas a gente sempre tenta. – Rimos juntos.
- Você fez uns milagres na Roma e sabe muito bem disso, então para de graça. – Ele riu fracamente.
- Ok, um milagre não acontece duas vezes da mesma forma. – Assenti com a cabeça.
- Concordo agora. – Bocejei, colocando a mão na boca, ouvindo-o rir.
- Você está com sono, parece que já são quase três da manhã para mim, não para você. – Rimos juntos.
- Saí com a galera para o bar, obviamente eu não bebo, mas comi ótimas porções que me deixaram com soninho. – Ele riu fracamente.
- Eu estou de folga amanhã, por isso estou por aqui ainda. – Ele mostrou uma garrafa de cerveja. – Mas eu estou aproveitando minha vitória do jeito certo. – Revirei os olhos.
- Tonto! – Sorri. – Amanhã eu vou faltar o tênis e vou com o Bernardo visitar o apartamento.
- Depois me diga o que você achou. Estou empolgado com essa sua conquista. – Sorri.
- Nem fala, eu estou fazendo muitas contas, mas acho que vai dar. – Suspirei. – Só preciso manter meu emprego por mais uns três anos, se não minha conta de pagar em dois anos e meio se torna bem maior e eu não faço a mínima ideia de prazos.
- Eu posso te ajudar e...
- Não estou te ouvindo, lá, lá, lá! – Brinquei, colocando as mãos nas orelhas e o vi gargalhar pela tela.
- Não está mais aqui quem falou. – O ouvi dizer em um som abafado e eu sorri.
- Vai dar certo. Mando fotos amanhã. – Bocejei novamente.
- Ah, vai dormir! – Ele disse, balançando a mão em frente à tela. – Quem vai ficar com sono daqui a pouco sou eu. – Ri fracamente.
- Minha barriga está cheia de bolinho de feijoada, necessito dormir. – Brinquei e ele revirou os olhos.
- Ainda deixa a gente com vontade. Filha da mãe! – Dei de ombros. – Boa noite, vai!
- Boa noite, Alissinho, eu te amo mesmo sem dividir meus bolinhos de feijoada contigo. – Ele gargalhou, abrindo seu lindo sorriso.
- Eu também, . Você é a luz dos meus dias. – Sorri, assentindo com a cabeça e mandando um beijo para ele.
- E você é meu maior presente. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior, encarando seu sorriso, antes de abaixar a tela do computador.
- E então? – A corretora falou e eu suspirei, balançando a cabeça.
- É maravilhoso mesmo. – Virei para Bernardo. – Você tinha razão.
- Eu sempre tenho razão. – Rimos juntos.
- E esses móveis? São para showroom? – Perguntei, passando a mão em cima da longa mesa de jantar.
- Eles já vêm com o apartamento. Os armários embutidos dos quartos, banheiros e cozinha, além da mesa de jantar e o lustre da sala de estar. – Cocei o queixo levemente. – Ele vem quase pronto para morar mesmo. Caso queiram se mudar amanhã, ele está disponível.
- E o preço é aquele que você me falou? Não tem nenhuma condição especial?
- Estamos com aquela opção que eu te falei, caso você consiga pagar duas parcelas no mesmo mês, conseguimos dar cinco por cento de desconto na segunda parcela. – Suspirei.
- Isso não é o suficiente. – Bati a ponta dos dedos na mesa de jantar.
- O que você está pensando, garota? – Virei para Bernardo que cruzou os braços.
- Acho que vou ter que adiar isso um pouco, não quero me comprometer a algo gigantesco assim. Talvez quando eu tiver uma entrada maior.
- Cara! – Ele bufou e eu franzi a testa. – O Ney não vai gostar nada disso. – O encarei com os olhos arqueados e ele abanou a mão. – Você já falou que a festa de ano na CBF seria na sua casa nova. – Ele cruzou os braços e eu tentei não rir, quando entendi sua tática.
- Eu sei, mas eu não posso fazer nada. Neymar que me perdoe. – Virei para a vendedora. – Muito obrigada, mas...
- Vocês estão falando de Neymar Jr? – Ela perguntou.
- Sim, eu trabalho na CBF e todo ano tem festa de confraternização, aí vem vários jogadores. – Apontei para o logo em meu peito. – Neymar estava animado para vir, mas acho que vou falar para fazer na casa do Tite mesmo. Mais fácil. – Dei um pequeno sorriso e virei para Bernardo. – Além de que é condomínio de casas, né?! – Estalei o dedo como se tivesse uma ideia. – Deveríamos ver aquele condomínio de casas.
- Me deem uns minutinhos, por favor? – Ela disse e assenti, vendo-a se afastar.
- Você vai para o inferno. – Cochichei para Bernardo e ele riu fracamente, batendo a mão na minha.
- Eu sou um gênio, meu amor. – Ele suspirou.
- E você sabe que eu sou namorada do Alisson, não?!
- Eu sei, mas o nome do Neymar ainda pesa mais que do seu namorado. – Rimos juntos. – Além do mais, quem chama Neymar? – Dei de ombros e ele riu.
- Agora imagina a decepção dela ao saber que eu vou passar as festas de fim de ano em Liverpool? – Ele deu de ombros.
- Ela não precisa saber. – Rimos fracamente.
Demorou alguns minutos para que a corretora voltasse, mas foi possível ouvir diversas vezes o nome de Neymar, precisava só me lembrar de falar para ele que consegui um apartamento graças à nossa amizade.
- Oi, voltei. – A corretora falou, aparecendo para dentro da sacada novamente. – Eu falei com a corretora e eles estão com uma nova promoção e esqueceram de me passar.
- Ah, mesmo? – Me fiz de desentendida, colocando a mão no lábio.
- Sim! – Ela disse sorrindo. – Caso você decida fechar até o fim do mês, eles estão oferecendo 25 por cento de desconto no valor total do apartamento, além daquele desconto de cinco por cento que eu falei, se conseguir quitar duas parcelas em um único mês. – Bernardo virou para mim, ficando de costas para a corretora e piscou.
- Bom... – Ponderei um pouquinho. – Acho que assim podemos conversar, então. – Sorri. – Quando você disse mesmo que eu poderia me mudar mesmo?
- Olha quem está aí! – Tite falou quando eu entrei na sala junto de Vinícius e Lucas e os abracei fortemente. – Você está muito bem.
- Ah, qual é, Tite, faz pouco mais de uma semana que estávamos juntos. – Ele riu fracamente.
- Eu sei, eu sei, mas fazia tempo que eu não via esse sorriso. – Suspirei. – O que é? O namoro anunciado? O apartamento novo?
- Como você já está sabendo do apê? – Ele gargalhou.
- Homens também fofocam. – Ele abanou as mãos. – Mas falei com Alisson ontem, ele me contou. – Sorri.
- E vocês não tinham nada melhor para falar? – Ele riu.
- Não! – Ele disse rindo.
- E aí, ? – Sorri.
- Oi, Edu! Como você está? – O abracei rapidamente. – Bom te ver.
- Você também. – Eles sorriram.
- Oi, Sylvinho.
- Oi, tudo bom? – Assenti com a cabeça.
- Bom, vocês já sabem o esquema de hoje. Não é para sair nada do que estamos acostumados e, se sair, nós já conversamos e vamos pedir para a pessoa se retirar. – Eles assentiram.
- E se perguntarem sobre você? – Edu perguntou.
- Também vai ser retirado e por mim. – Dei um sorriso cínico e eles riram.
- Eu acho que estou bem com isso. – Tite comentou e eu sorri. – Precisamos marcar um café. – Assenti com a cabeça.
- Só marcar, te chamo para festa no apê novo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Combinado. – Rimos juntos.
- , estamos prontos. – Murilo da relações públicas apareceu na sala e assentimos com a cabeça.
- Vamos lá! – Sorri e abri a porta, dando espaço para que eles saíssem.
Seguimos para a sala de coletivas e os três subiram no palco e eu segui para o fundo da sala, notando alguns olhares espertos em minha direção. Me coloquei entre Vinícius e Lucas, como sempre, e esperei pela introdução de Murilo para que essa coletiva se iniciasse e acabasse o mais rápido possível.
- Oi, gente, começando pontualmente nossa coletiva de hoje. – Murilo falou. – Vou passar a palavra para Edu, depois vamos passar para a coletiva.
- Bom dia a todos e todas. – Edu falou, ajeitando o microfone. – Como de costume, passo algumas informações antes da lista. Apenas reforçar que essa convocação encerra o ciclo de observação que tínhamos planejados, o que foi citado lá na primeira convocação pós-Copa do Mundo. – Ele falou. – Estamos muito satisfeitos com tudo o que procuramos, com as ideias que propomos, agora damos sequência aos próximos jogos. Para em março afunilar as decisões com um foco bem mais interessante para a Copa América.
Ele começou a passar informações sobre os amistosos que seriam contra Camarões e contra o Uruguai, todos no horário de Londres das sete da noite. Da importância de encarar um time africano e do Uruguai por ser uma preparação já para a Copa América. Ele seguiu com as informações da não convocação de atletas que está disputando o Campeonato Brasileiro, com exceção de uma convocação excepcional que foi liberada pelo próprio time.
- Bom, vou passar agora a palavra ao Tite para que seja liberada a lista. – Ele falou e peguei a lista já conhecida por mim e acompanhei enquanto ele falava os nomes.
- Goleiros: Alisson, Liverpool; Brazão, Cruzeiro; Ederson, City. Defensores: Danilo, City; Dedé, Cruzeiro; Fabinho, Liverpool; Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marcelo, Real Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão. Meio-campistas: Allan, Napoli; Arthur, Barcelona; Casemiro, Real Madrid; Paulinho, Guangzhou; Philipe Coutinho, Barcelona; Walace, Hannover. Atacantes: Douglas Costa da Juventus; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, City; Neymar, PSG; Richarlison, Everton; Willian, Chelsea.
- Faltou um nome. – Edu sussurrou para Tite.
- Foram 22? Ah, é a idade chegando, a letra tá pequenininha. Quem colocou o nome do Pablo assim? – Tite brincou, me fazendo rir.
- Não fui eu. – Sylvinho brincou.
- Bom, faltou o Pablo do Bordeaux. – Tite falou.
- Mas passou na TV? – Edu perguntou.
- Passou. – Murilo comentou. - Eu convoquei o Pablo. – Murilo brincou. - Vou dar um minuto para vocês pegarem a lista e logo começamos a coletiva. – Respirei fundo, apoiando o rosto na mão e aguardei a coletiva começar. - Tempo programado de 40 minutos.
Sem surpresas desagradáveis e um grande alívio no peito, subi junto de Vinícius e Lucas ao final dela, cumprimentando rapidamente Tite e o pessoal da equipe técnica, e nos encontramos na nossa sala novamente, vendo Angelica pronta para a reunião da nossa coletiva.
- Bom, sem surpresas dessa vez. – Ela disse quando nos acomodamos. – Lucas, Vini, e Bianca. Bom trabalho e boa sorte.
- Ah! – Eu e Bianca nos abraçamos lado a lado, sorrindo animadas.
- Vocês não podem me tirar Bianca, ela que é minha âncora nisso tudo. – Comentei e o pessoal riu.
- Eu acho que preferiria ir para a Arábia do que andar em quase todos os estados brasileiros.
- Só que não! – Lucas falou.
- Acredite, não! – Falei firme e eles riram.
- Bom, vamos ver o que precisamos alinhar até dia 10, que é quando vocês vão para Londres, ok?!
- Vamos lá, cadê o briefing? – Perguntei, esticando minha mão para a pasta que Vinícius me entregava. – Obrigada. – Abri a pasta.
- Começando... – Angelica começou, me fazendo prestar atenção nela.
- E esse é o quarto! – Virei a câmera do celular para Alisson, mostrando o quarto já com a minha cama no meio dela e várias malas nela e no chão.
- Sua caminha ficou pequena aí, precisa de outra maior. – Ri fracamente.
- Pois é, mas a gente vai comprar as coisas conforme consegue. – Suspirei, saindo do quarto. – O bom é que a casa veio com várias coisas, a cozinha veio quase completa, então tá mais fácil. – Balancei a cabeça, voltando para a sala. – Só a sala mesmo que ficou desse tamanho e com um sofá de dois lugares. – Ele gargalhou.
- Ah, mas está muito bom, amor. Olha que conquista que você conseguiu! – Sorri, sentando na ponta do sofá.
- Agora serão dois anos e meio pagando. – Suspirei. – Pelo menos o Bernardo vai pagar as despesas do apê, já vai me ajudar um pouco.
- Vai dar tudo certo e, qualquer coisa...
- Não termine essa frase. – Balancei a cabeça.
- Se você não quiser, eu não termino. – Ri fracamente. – O que falta agora?
- Ah, minha mãe e Bernardo foram no apê pegar as últimas caixas e estou esperando o cara que vem ligar a internet. – Suspirei.
- Não sabia que sua mãe estava aí. – Sorri.
- Sim, ela chegou ontem, veio me ajudar na questão contratual e tudo mais.
- Eu preciso conhecê-la. – Vi a porta ser aberta.
- Você pode fazer isso agora. – Comentei, vendo Bernardo entrar com uma grande caixa e minha mãe atrás com algumas menores.
- Não é a mesma coisa, ela não vai...
- Mãe! – Gritei, interrompendo Alison e vi seu olhar se arregalar. – Vem conhecer o Alisson.
- Ah, finalmente eu vou conhecer o namorado da minha filhinha. – Ela veio animada e eu revirei os olhos. – Não é pessoalmente, mas já é algo. – Ela se colocou ao meu lado, aparecendo do lado da tela.
- Oi, senhora . – Ele falou sorrindo nervoso e eu segurei o riso. Seu rosto havia imediatamente se avermelhado.
- Senhora está no céu, querido. Me chame de Carina. – Minha mãe sorriu. – Ele é lindo mesmo. – Ela cochichou para mim.
- Prazer, dona Carina. – Ele sorriu. – Você tem uma filha maravilhosa.
- Isso você não precisa me dizer, eu sei! – Ela colocou a mão em meu ombro. – E você também é uma ótima pessoa. fala muito bem de você e eu vejo sobre você, sua família, sua filha, sua carreira, seu respeito e cuidado sobre...
- Mãe... – Cochichei.
- O que foi? – Ela falou alto. – Ele é um bom moço e as coisas precisam ser ditas. Vamos marcar de nos conhecer, sim?
- Claro, o mais rápido que conseguirmos. Quem sabe vocês não vêm passar as festas de fim de ano aqui em Liverpool? Eu tenho jogo próximo dessas datas importantes, fica difícil para eu viajar.
- Vai ser o máximo! – Minha mãe falou animada. – Vamos programar sim. – Ouvi várias panelas caírem no chão, me fazendo fechar os olhos.
- Alguém me ajuda? – Bernardo gritou e olhamos para ele que equilibrava a caixa e mais duas panelas nas mãos.
- Nos falamos depois, querido. Foi um prazer enorme conhecer você, nem que seja por aqui. – Minha mãe falou sorridente.
- O prazer foi meu. – Sorri e minha mãe estalou um beijo em minha bochecha antes de ir resgatar Bernardo.
- Ela é ótima... – Alisson falou e eu abaixei um pouco do volume, voltando para dentro.
- Ela é realmente incrível. – Suspirei, entrando no banheiro de visitas. – Agora imagina essa pessoa toda feliz e animada, que foi no show do Jorge e Mateus comigo, casada com um militar? – Falei rindo.
- Seu pai é muito fechado? – Ele perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Ele é muito respeitoso com seu trabalho, mas acho que ter duas filhas mulher deu uma aliviada nele, mas só dar duas latas de cerveja que ele se solta. Com três ele até começa a cantar algumas músicas. – Ele gargalhou.
- Parece que vocês têm a família perfeita. – Ponderei com a cabeça.
- Perfeita não é, mas nunca pude reclamar. – Neguei com a cabeça. – Sempre tive tudo do bom e do melhor, tive oportunidades incríveis, estudei em boas escolas, fiz boa faculdade, fiz intercâmbio, estudei línguas, tudo isso me permitiu conseguir esse emprego que eu tenho hoje, consequentemente, permitiu que eu te conhecesse. – Ele sorriu.
- Agradeça seus pais por isso. – Assenti com a cabeça.
- Todos os dias. – Suspirei. – Bom, acho melhor voltar e ajudar eles, minha mãe deve estar morrendo de cansaço e tá nesse pique aí. – Ele riu fracamente.
- Vai lá. Eu ainda tenho uma hora para ir para o estádio.
- Aonde você está mesmo?
- Londres, temos jogo contra o Arsenal, o último antes do jogo de volta da Champions.
- Bom jogo, ok?! Eu te amo! Se eu estiver viva até lá, a gente conversa depois do jogo.
- Não vou esperar por isso. – Sorrimos.
- Eu te amo, tá?! Já estou fazendo a contagem regressiva. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Eu também te amo, para sempre e sempre. – Assenti a cabeça, suspirando, antes de desligar a ligação. Voltei para a cozinha, vendo minha mãe varrendo.
- O que foi? – Perguntei.
- Eu quebrei um copo! – Bernardo apareceu de trás da bancada e eu revirei os olhos, ouvindo o interfone tocar.
- Ah, que seja a internet! – Falei animada. – Meu pacote de dados está acabando. – Rimos juntos.
- Também, fica fazendo chamada de vídeo com o Alisson toda hora! – Bernardo revirou os olhos e eu tirei o aparelho do gancho.
- Alô?
- ... – Lucas me chamou e eu desviei o olhar do meu texto.
- Fala? – Perguntei, mordendo meu lábio inferior.
- Fez mais um.
- O quê? – Virei para a tela dela. – Como assim está dois a zero para o Estrela Vermelha em menos de meia hora de jogo?
- Eita, o que tá acontecendo com o Alisson? – Leandro perguntou.
- Ei, não culpe meu namorado. – Falei brava e o pessoal em volta riu.
- Não estou culpando, mas assim... Ele é o goleiro. – Suspirei.
- Isso não pode estar acontecendo. – Bufei fortemente.
- Calma, garota! Tem ainda uma hora de jogo. – Lucas falou, me sacudindo pelos ombros.
- Ah, por favor, que eles consigam virar essa.
- E se não virar, temos dois jogos ainda da fase de grupos. – Lucas falou e eu olhei duro para ele. – Ou eles vão virar e vai dar tudo certo, relaxa. – Cocei a cabeça.
- Ah, já estava difícil escrever esse release, agora piorou drasticamente. – Neguei com a cabeça.
- Quer que eu termine? – Diana se ofereceu.
- Não se preocupe! – Respirei fundo. – Vai dar certo. – Eles riram.
- Vai dar sim. – Vini comentou. – Olha, mais um gol!
- O QUÊ?
- É brincadeira! – Ele falou, caindo na gargalhada em seguida.
- Ah, seu periquito filho da puta. – Falei, jogando minha caneta nele e eles riram.
- Gente, vamos fazer uma reunião? – Angelica perguntou, entrando na sala. – Precisamos decidir algumas coisas sobre a sub-20 e a feminina que vai para França em dois dias. – Ela abanou as mãos.
- Olha, esse negócio da feminina ser sempre decidido de última hora é uma afronta ao futebol feminino. – Anna falou e eu assenti com a cabeça.
- Honestamente. Além do menor tempo de treino, piores acomodações e tudo mais. – Comentei.
- Eu sei, meninas! – Angelica falou. – Entendo tudo isso, honestamente, mas ainda não sou eu quem faz as regras. Nem Michele. – Bufamos, nos entreolhando. – Continuamos tentando salvar o mundo um dia de cada vez, pode ser?
- Sempre! – As meninas da sala falaram juntas e rimos.
- Ok, então, vamos lá. Precisamos de uma equipe para a feminina com a França semana que vem e com a sub-20 em BH para o primeiro treino.
- Angelica, posso só te fazer um pedido? – Ergui a mão.
- Claro! Diga! – Ela disse.
- Tem como não me mandar para a França? – Falei com a feição meio sofrida. – Eu realmente estou precisando desses dias para descansar, principalmente depois da mudança no fim de semana. – Ela assentiu com a cabeça.
- Não se preocupe, garota. Já vou precisar que uma de vocês duas vá mais cedo para Londres ajeitar algumas coisas, vocês estão fora de cogitação.
- Amém! Obrigada! – Ergui as mãos para os céus e o pessoal riu.
- Mas então, quem vai? – Ela perguntou, olhando entre nós.
A reunião se seguiu com as costumeiras informações de viagem e preparando quem iria para cada lugar dessa vez. A sub-20 tinha jogo contra a Colômbia em breve e a feminina tinha outro amistoso na França.
Enquanto Angelica passava algumas tarefas para cada um e checava outras coisas, meu olhar ficava entre escrever duas palavras e o jogo em que Liverpool veio a perder do Estrela Vermelha, depois de fazer quatro a zero no jogo de ida. Era surreal!
Respirei fundo, imaginando como Alisson deveria estar se odiando agora, não sabia nem o que falar para ele nesse momento. Era o Estrela Vermelha, um timeco que todo ano dava sorte de estar na Champions League e provavelmente não chegaria tão longe novamente, mas eles tinham acabado de derrotar o Liverpool e isso poderia dizer muito sobre os dois times.
Puxei as notificações do meu celular, vendo se tinha alguma coisa, mas obviamente não tinha, eles acabaram de sair do campo. Pensei se enviava algo e peguei o celular em minhas mãos novamente, suspirando, antes de escrever poucas palavras.
“Uma vitória nem sempre é um triunfo, mas uma derrota é sempre um aprendizado. Eu te amo.” – Enviei, sentindo meu corpo relaxar e voltei a focar no texto interminável de cinco parágrafos em minha frente.
- , campainha! – Anna gritou e eu deixei meu copo na bancada, ouvindo a música não muito alta tocar de fundo e o papo de vários convidados rindo na sala de estar. Olhei rapidamente pelo olho mágico e abri a porta.
- Ah, não acredito que você veio! – Falei quando vi Tite e ele sorriu, com um grande vaso de orquídeas na mão.
- Claro que eu vim, você nos convidou. – Ele me deu um forte abraço. – Um presente para casa nova.
- Obrigada! – Sorri, sentindo-o estalar um beijo em minha bochecha.
- Parabéns, garota! – Matheus, filho de Tite, me abraçou em seguida e eu fiquei na ponta dos pés para abraçá-lo.
- Obrigada, Matheus! – Ele me estendeu um embrulho que parecia um quadro, pelo peso e formato. – Entra, gente! A maioria são conhecidos. – Levei os presentes até a bancava. – Meu grande amigo e colega de apartamento, Bernardo. – Apontei para meu amigo que estava um pouco embasbacado com tudo. – Minha mãe, Carina. – Mostrei a outra que já sorria. – E o pessoal da CBF.
- Viramos o “pessoal da CBF”. – Lucas foi irônico. – De mal a pior.
- Para de graça, moleque! – Tite deu um leve pescotapa nele, antes de abraçá-lo.
Voltei para meus presentes e abri, com o mínimo de barulho possível, o embrulho de Matheus. Era realmente um quadro, mas acho que era o quadro mais especial que eu havia recebido. Era uma foto da Seleção Brasileira, equipe técnica e de comunicação, na Rússia, quando fizemos as fotos oficiais.
Eu estava no meio junto de Lucas e Vinícius, com a perna dobrada e a cabeça encostada na mesma. Lucas e Vinícius estavam animados ao meu lado e boa parte dos jogadores e equipe se debruçaram em cima da gente como se fôssemos o foco da foto. Além disso, tinha uma edição bem moderna e totalmente em verde, amarelo e azul. Era o presente perfeito. Suspirei, me lembrando de Alisson e como faltavam somente dois dias para reencontrá-lo novamente.
- E aí, gostou? – Virei para o lado, encontrando Matheus.
- É perfeito. Obrigada. – Ele me abraçou de lado.
- Só mais uns dias, garota. – Suspirei.
- Eu sei, quando chega perto eu fico mais nervosa ainda.
- Completamente normal. – Ele riu. – Eu fico assim para voltar, que eu vou reencontrar minha esposa, meu filho.
- Você não tem cara de quem já é casado e tem um filho, sabia? – Ele riu fracamente.
- Eu sei! Mas o Alisson também não tem cara de quem já tem um filho.
- Touché! – Sorri.
- Vocês estão ferrados. Eu estou de volta, Tite! – Ouvi Bianca falar e voltamos à sala, aonde as pessoas estavam espalhadas no sofá, nos bancos da bancada, nas cadeiras da mesa de jantar e algumas até no chão.
- Ah, lá! Tá querendo botar moral já! – Lucas brincou.
- Tá muito assanhadinho esse Lucas. – Comentei, ouvindo o pessoal rir.
- Ele que se cuida em Londres. Vai acordar com cola no cabelo.
- Eita, mulher! Também não precisa esculachar, vai! – Ele abanou a mão.
- Vai ser bom te ter de volta, Bianca. Essa daqui quase surtou na Arábia. – Tite comentou.
- Ei, eu tive meus motivos, qual é. E você tirou o meu da reta em vários.
- Eu sei! – Ele falou. – Nem é meu trabalho. – Rimos juntos.
- Vocês que se preparem, mais 10 dias com a gente. – Comentou.
- São duas mulheres com uns 35 homens. A gente ganha. – Bianca comentou, fazendo o pessoal gargalhar.
- Ah, vocês são demais. – Virei para o lado.
- ... – Lucas cochichou e eu segui para o lado dele, me afastando do grupo. – Tem algum lugar que eu possa trocar a fralda da Joana? – Mariana veio ao seu lado com a lindinha no colo.
- Pode ir lá no meu quarto, fica à vontade. É o último do corredor. – Comentei.
- Obrigada! Vou aproveitar e amamentá-la.
- Não se preocupe com isso, fique à vontade. – Eles sorriram.
- Vamos à pergunta mais importante... – Bernardo se aproximou.
- Ah, lá vai! – Comentei, vendo o pessoal rir.
- Ei, eu só ia perguntar que sabor de pizza vocês querem. – Ele comentou.
- Isso não vai dar certo. – Abanei a mão. – Mussarela e calabresa, e chocolate e banana de doce. Fica no básico.
- Acho mais fácil. – O pessoal comentou.
- É, melhor! Se não vamos ficar três anos escolhendo e são quase nove já.
- Deus! Vai chegar quase meia-noite. – Vini comentou.
- Bom, eu não tenho pressa. Vocês podem ficar o quanto quiserem.
- A festa vai se transformar em festa do pijama. – Diana riu.
- Só se eu puder dormir como vim ao mundo. – Leandro comentou.
- Ew! – Débora falou rindo.
- Melhor não. – Matheus falou rindo.
- Bom, eu vou ligar lá. Matheus, Tite, tem cerveja, refrigerante e suco na geladeira. Fiquem à vontade, sintam-se em casa. – Comentei, procurando meu celular. – Os copos estão na pia. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Pode deixar! – Matheus falou.
- Vocês já fizeram um brinde? – Tite perguntou.
- Estou falando faz horas isso. Precisa brindar a casa nova, agradecer essa conquista. – Voltei com o celular na mão.
- Lucas, Mari, venham! Nós vamos brindar!
- ‘Pera que eu estou amamentando a Joana. – Mariana respondeu.
- Traz ela para brindar também. – Anna gritou, me fazendo rir.
- Bom, vamos começar com um discurso, vai! – Minha mãe falou.
- Ah, mãe! – Falei envergonhada e ela riu.
- Ah, qual é! – Vini brincou. – Até parece que tem vergonha de falar em público. – Ri fracamente.
- Não é isso, é que ter vocês aqui, é muito importante para mim. – Suspirei. – Essa casa, esse emprego, essas amizades. – Suspirei. – É tudo muito surreal para mim ainda. Parece que faz tanto tempo, mas faz somente seis meses, gente! – Respirei fundo. – Então, obrigada mesmo! Sei que a casa foi lucro do meu trabalho, mas essas amizades são minha parte favorita, poder convidar pessoas, encher minha casa, confiar segredos, sair para papear, enfim, obrigada a todos vocês. Essa aventura está sendo demais.
- Uhul! – Vinícius puxou o coro, fazendo o pessoal bater palmas.
- Agora, um brinde à minha filha, por todas essas conquistas e por seguir batalhando por elas dia após dia. – Minha mãe falou, me fazendo sorrir e todos erguemos nossos copos.
- Um brinde! – Lucas apareceu pelo corredor. – Por essa grande amiga que a vida me deu.
- Um brinde à única pessoa que eu deixo me zoar sobre o canarinho. – Vinícius falou, me fazendo rir.
- À mesma pessoa que me dá socos na cara e tá tudo bem. – Leandro entrou na brincadeira.
- Obrigada, gente! – Falei e tocamos nossos copos, antes de beber um gole.
- Ei! – Falei quando Alisson atendeu a ligação.
- Ei, como foi a festa ontem? Você demorou para ligar!
- O negócio rendeu até quase três da manhã lá em casa, depois ainda tive tudo para arrumar, guardar, lavar louça e tudo mais, acordei depois das quatro da tarde e com mala para fazer. – Suspirei.
- Aonde você está? – Ele perguntou.
- No aeroporto. Eles pediram para eu ir hoje para Londres, falar com o pessoal da comissão e tudo mais, normalmente alguém da comissão vai, mas parece que está tudo meio atrasado dessa vez. – Suspirei.
- Que horas é seu voo? – Ele perguntou.
- Oito e 40. – Cheguei meu relógio. – Tenho umas duas horas ainda. – Vou fazer escala em Madrid. – Suspirei, bocejando em seguida.
- Você parece bem cansada. – Assenti com a cabeça.
- Espero capotar assim que eu sentar na poltrona. Estou muito cansada. – Ele riu fracamente.
- Pelo menos, dessa vez, quando eu chegar, você já vai estar lá.
- Provavelmente meio sonolenta ainda, mas está valendo.
- Estando em meus braços, vale tudo.
- Você está bem brega hoje, senhor Alisson. – Ele riu.
- Eu sou brega, qual é! – Ele brincou e eu sorri.
- E como está seu dia amanhã? – Perguntei.
- Tenho um jogo as duas da tarde, acabando os protocolos, já vamos para Londres. Devo chegar umas oito, nove da noite.
- Bom, estarei lá. O voo está previsto para chegar umas três da tarde, horário daí. – Suspirei. – Algumas horinhas depois você já chega.
- Estou com saudades de você. – Assenti com a cabeça.
- Eu também. – Suspirei. – Vou desligar que eu vou passar pelos procedimentos de segurança.
- Ok, meu amor. Amo você.
- Eu também, bom jogo, boa viagem, nos vemos na terra da rainha.
- Boa viagem para você também. Até logo! – Pisquei e desliguei o telefone.
Fiz os procedimentos de segurança, imigração e quando eu cheguei na sala de embarque, a fila para o meu voo com destino à Londres, com escala em Madrid, já estava embarcando. Esperei pela minha vez e, quando entrei no avião, ajeitei minhas coisas no bagageiro e antes que a aeromoça começasse a passar as instruções de segurança, eu capotei.
- Moça, chegamos! – Arregalei os olhos quando a passageira do lado me cutucou e eu virei para ela até meio atordoado. – Chegamos.
- Eu dormi o voo inteiro? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Sim, gostaria de saber qual é a sua dica para isso. – Ela brincou e eu suspirei.
- Tentando conciliar trabalho e vida social. – Rimos juntas. Virei para a janela e estranhei. Parecia noite em Madrid. Será que tinha uma chuva forte vindo por aí?
- Moça, a aeromoça informou se tem troca de aeronave para quem está em conexão? Não prestei atenção.
- Ela não falou nada, aqui é o destino final.
- Ué! Mas eu preciso ir para Londres. – Me levantei, franzindo a testa.
- Tem certeza que você está no voo certo, moça? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Espero que sim. – Falei, pegando minha mochila. – Estamos em Madrid, certo? – Ela deu uma risadinha.
- Não, moça. Aqui é Miami.
- O quê? – Falei um tanto alto demais.
- Miami, nos Estados Unidos. – Ela disse novamente e eu arregalei os olhos.
- Isso não é possível. – Procurei a passagem rapidamente pela minha bolsa, puxando a mesma amassada. “Rio de Janeiro – Miami”. – Oh, meu Deus! Que porra eu estou fazendo em Miami? – Falei um tanto alto, puxando a respiração fortemente.
Capítulo 8 – Eu, Você e Nosso Filho.
- Alô? – Me levantei quando Michelle finalmente atendeu.
- Michelle? Sou eu, ! – Falei um tanto alto.
- ? Meu Deus! Você sabe que horas são? – Ela reclamou.
- Umas três da manhã, é eu sei, tá tarde ou cedo, depende do ponto de vista! – Falei rapidamente.
- O que aconteceu? Já chegou em Madrid? O voo não chegaria por volta das sete? – Ri fracamente.
- É, Michelle, chegaria as sete se eu estivesse em Madrid! – Gritei, respirando fundo.
- Quê? O que foi? Aonde você está?
- Eu estou em Miami, Michelle! – Falei desesperada.
- O quê? – Ouvi algo caindo no chão.
- Exatamente. – Suspirei. – Acho que alguém fez confusão com as passagens e eu estou em Miami. – Balancei a cabeça, me sentando no chão novamente.
- Mas como você embarcou?
- Com a passagem para Miami, mas acho que eu estava tão sonolenta que eu não percebi. Eu dormi antes do avião decolar, descobri chegando aqui. – Ela ficou quieta por alguns segundos.
- Espera um pouco... Se você está em Miami, alguém está indo em direção a Madrid.
- Eita, coitada da Débora. – Balancei a cabeça.
- Não acredito nisso, gente. E vocês não perceberam?
- Ah, agora a culpa é minha? Eu pensei que podia ter conexão, sei lá. Eu não vejo os detalhes da passagem.
- Meu Deus, , você tem que estar em Londres hoje, caramba. – Ela respirou fundo.
- Eu sei, mas eu já chequei, não tem voos para Londres antes do meio-dia, nove horas de viagem e quatro horas de fuso, eu vou chegar lá, com sorte, duas da manhã de amanhã.
- Porra! – Ela gritou e eu arregalei os olhos. – Me dá dois minutos para pensar, ok?!
- Ok... – Falei confusa e respirei fundo, passando o olhar pelas pessoas que passeavam pelo aeroporto de Miami.
Passou bem mais do que dois minutos, eu ouvia coisas batendo e ela cochichando com alguém, imaginei ser seu marido e eu só ficava olhando o ponteiro do relógio andar rápido até demais. Respirei fundo, batendo a ponta dos dedos no braço da cadeira.
- ? – Ela perguntou e eu me despertei.
- Eu! – Pulei na cadeira.
- Você está com um cartão corporativo, não está?
- Sim, aquele que vocês dão para viagens, despesas e tudo mais. – Falei.
- Ok, você vai pegá-lo, procurar alguma empresa de transporte particular e vai entrar um jatinho particular e ir o mais rápido possível para Londres. Te quero no ar em duas horas no máximo.
- Michelle, mas... Não tem necessidade, que mal teria eu chegar um dia atrasada?
- Tem! Precisamos de você para uma coletiva com o Alisson. – Ela falou firme.
- Eu não estava sabendo disso...
- Longa história que conversaremos depois. – Ela suspirou alto no bocal. – Resolva isso e me avise, ficarei acordada esperando sua mensagem.
- Ok, isso vai um gasto totalmente desnecessário, mas...
- Só faça! Depois eu cuido dos gastos.
- Ok, tem alguma empresa para indicar? – Perguntei.
- Algumas, vou mandar no seu WhatsApp agora. – Suspirei.
- Ok, a gente vai se falando.
- Boa viagem e vá o mais rápido possível. – Assenti com a cabeça.
- Ok. – Falei e a ligação ficou muda.
Não demorou dois minutos para que eu recebesse nomes de três companhias de transporte particular. Coloquei minha mochila nas costas novamente e saí correndo à procura delas.
E como mágica, muitos dólares e correria, uma hora e meia depois, eu estava sentada sozinha em uma das poltronas mais confortáveis que já sentei na minha vida, com uma porção de bruschettas quentinhas e uma Coca Cola gelada, enquanto o comandante fazia as checagens para decolagem.
“Cheguei em Londres, aonde você está?” – Vi a mensagem de Alisson e eu respirei fundo.
“Em Miami”. – Respondi. – “Longa história, estou embarcando novamente, te vejo em algumas horas. Bianca deve saber te explicar”.
Desliguei antes de ver sua resposta e suspirei, me alimentando antes de tentar entrar no mundo dos sonhos novamente. O voo seria mais rápido do que um voo de carreira, mas com cinco horas de fuso-horário, eu chegaria no tempo máximo.
Fiquei pensando sobre a tal coletiva que Michelle mencionou e eu não estava sabendo nada disso, mas agora também não seria o momento de descobrir. Era óbvio que colocariam Alisson para falar e talvez me quisessem perto, só não estava com cabeça para pensar nisso agora, muito menos depois de algumas horas extras dentro de um avião.
Mas amém, CBF. Por culpa sua e da minha desatenção, eu estou indo para um voo de sete horas em um jatinho particular. Às vezes a recompensa era boa!
- Muito obrigada, vocês foram demais! – Cumprimentei os comandantes do jatinho, acenei para as duas comissárias de bordo e ajeitei minha mochila nas costas e passei pela porta do avião, descendo as escadas, sentindo o sol na linha do meu olho, percebendo o pôr do sol de Londres.
Assenti com a cabeça para o motorista que já segurava minha mala de rodinhas e entrei no carro que me esperava na porta do avião. Eu estava me sentindo nas nuvens, me sentindo a verdadeira Hannah Montana.
- Boa tarde, senhorita. Vim te levar para o CT do Arsenal. – Puxei o cinto, me ajeitando.
- Obrigada. – Suspirei, me sentindo mentalmente cansada, mas havia dormido boa parte do voo. – Quanto tempo até lá?
- Cerca de meia hora só. – Assenti com a cabeça.
Puxei o celular da bolsa e liguei o pacote de dados, esperando que não tivesse problema com meu pacote internacional, suspirando quando vi as diversas notificações começarem a aparecer na tela do meu celular. Esperei com que tudo carregasse e fui direto pro WhatsApp, vendo mensagem de Lucas, Vinícius, Bianca, Angelica desesperada sobre o problema do voo, Michelle me desejando boa viagem, alguns jogadores desesperados e Alissinho.
Abri a mensagem dele, me surpreendendo com a sequência de mensagens dele.
“Boa viagem, amo você”.
“Bianca me explicou, como assim você e outra funcionária trocaram as passagens? Que barra!”
“OLHA ISSO, HAHAHAHAHA”. – Ele falava antes de um vídeo. - “MELHOR VÍDEO DE TODOS, HAHAHAHA”.
Cliquei para baixar o vídeo, esperando-o carregar.
– Isso, chora, irmão, põe essa dor para fora. – Franzi a testa ao ouvir a voz misturada com o som do que parecia ser um bar.
– Cara, eu amo aquela mulher, e tudo o que eu quero é ver ela na minha frente e pedi-la em namoro, você acha que ela aceitaria? – Percebi que era Arthur apoiado em um balcão de bar, mais bêbado impossível.
– Claro que aceitaria, pede ela em namoro, se é isso que você quer. – Percebi a voz de Coutinho, ouvindo suas risadas vazarem pelo áudio do celular.
– Eu quero essa mulher do meu lado a vida inteira, quero casar, ter filhos, inclusive já temos um filho juntos. – Coloquei a mão na boca, segurando a risada. – O Tuntz. – Ele embolou a língua e não consegui identificar o nome. – Meu cachorro ama aquela mulher, estamos fodidos, Tuntz, sua mãe mentiu para nós. – Coutinho gargalhou e eu franzi a testa, que porra estava acontecendo?
– Pobre Tuntz, está órfão de mãe, sinto muito… – Coutinho deu corda para o garoto e eu gargalhei alto.
- Desculpa, moço. É que... - Neguei com a cabeça, vendo-o abanar com a mão.
– Por que ela tinha que mentir para mim? Por quê? – Ele parou de falar um momento. – Porra, essa música não está me ajudando, Coutinho. Troca essa música, DJ. – Percebi que tocava Largado Às Traças ao fundo. – Vou beijando esse copo, abraçando as garrafas, solidão é companheira nesse risca-faca, enquanto ‘cê não volta, eu ‘tô largado às traças. – Ele levantou a cabeça do balcão. – Maldito sentimento que nunca se acaba... – Gargalhei, não aguentando e o vídeo foi cortado.
Meu Deus! O que tinha acabado de acontecer?
E o melhor, o que tinha acontecido com Arthur depois da última conversa? Acho que nada muito bom.
“O que está acontecendo aí que eu perdi? HAHAHAHAHAHA”.
“Falando sério: ele está bem? Chego aí em alguns minutos”.
Obviamente Alisson não respondeu. Ele não olhava o celular há mais de três horas. Eles deveriam estar treinando. Aproveitei o resto da viagem para dar sinal de vida para minha família, ver as mensagens desesperadas de meus amigos de empresa e logo passei pelos portões do CT do Arsenal, nosso lar por alguns dias.
- Obrigada. – Agradeci ao motorista, pegando minhas coisas e segui para dentro das portas do CT, tentando me localizar ali, e encontrei uma moça acenando do balcão.
- Olá, bem-vinda. – Ela falou sorridente.
- Oi, eu sou , da CBF. – Puxei o moletom que eu usava, mostrando o crachá que estava para dentro.
- Ah sim, estávamos te esperando. – Ela checou em uma prancheta. – Você está no quarto 27 e os jogadores já estão em treino, tanto em campo, quanto na academia.
- Vocês podem levar minhas coisas para o quarto? – Perguntei. – Estou muito atrasada.
- Claro, senhorita. – Ela sorriu e um moço se aproximou e eu entreguei minhas coisas para ele. – Quarto 27.
- Obrigada! – Sorri. – Aonde está o técnico Tite?
- No campo de visitantes, você pode seguir por esse corredor. – Ela me apontou e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Suspirei.
- Seja bem-vinda. – Assenti com a cabeça e segui pelo corredor, puxando rapidamente a gola da minha blusa, dando uma cheirada no casaco que eu não tirava desde que o coloquei no Rio de Janeiro e esperei que o desodorante que eu coloquei no jatinho desse para esconder minhas quase 24 horas fora de casa.
Empurrei a porta que dava para o campo e suspirei ao encontrar um pessoal treinando. Aquela porta dava para a lateral do campo, então Tite estava de costas para mim, acompanhando o treinamento. Dei alguns passos sobre a grama e passei o braço pelos seus ombros.
- ! – Ele falou surpreso.
- Cheguei! – Falei suspirando.
- Você deu um belo susto na gente. – Ri fracamente, sentindo-o me abraçar fortemente e eu virei de frente para retribuir o mesmo.
- Imagina eu que estava totalmente alheia? – Rimos juntos.
- Olha quem chegou! – Ele gritou e alguns jogadores como Jesus, Marquinhos, Danilo e Douglas Costa acenaram para mim, me fazendo sorrir.
- Eita, perdida em Miami! – Me virei, encontrando Edu, abraçando-o fortemente também. – Bem-vinda, garota.
- Valeu! – Suspirei e dei uma olhada ao redor. – Cadê minha equipe? Cadê meu namorado?
- Coletiva. – Ele falou e eu bati a mão na testa.
- Já começou? – Chequei o relógio.
- Se não começou, está para começar.
- Ah, Michelle disse que...
- Só vai, garota! – Ele apontou para um prédio coberto e eu segui para o mesmo, puxando o moletom para cima, apesar do friozinho, ajeitando minha blusa amarrotada da CBF e soltei o cabelo do rabo de cavalo, balançando-o com os dedos.
Entrei na área coberta, encontrando conhecidos corredores longos e segui as placas. Encontrei a porta da sala da coletiva e matutei rapidamente qual das duas dava na antessala. Obviamente, a primeira que eu tentei estava trancada, então tentei a outra, vendo Lucas começando a passar para a próxima sala.
- Lucas! – O chamei, fazendo-o se virar rapidamente.
- Ah, você chegou! – Ele se virou e eu me aproximei do mesmo, abraçando-o fortemente. – Meu Deus, garota, aonde você se meteu? – Suspirei, relaxando os ombros.
- Longa história. – Abanei a mão. – A coletiva já começou?
- Alisson e Allan entraram agora.
- Alisson e Allan? Mais trava-língua impossível. – Rimos juntos.
- Você vai entrar ou...?
- Eu vou entrar como se fosse acompanhar, mas se rolar alguma pergunta, eu vejo o que fazer. – Falei.
- Então, vamos, Bianca já colocou todo mundo para dentro. – Respirei fundo, tentando entrar no pique nessa rapidez e segui Lucas para dentro da sala da coletiva.
Assim que eu passei atrás do mesmo, diversos rostos viraram para mim, inclusive de meu namorado que abriu um largo e inevitável sorriso para mim. Acenei para ele, vendo-o estender a mão em minha direção e eu beijei a ponta dos dedos e subi os degraus para o fundo, sendo abraçada por Bianca e Vinícius que tentavam conter a empolgação e o tom de voz para a coletiva que estava em andamento.
- Desculpa, qual era a pergunta mesmo? – Ele se virou para o jornalista, mas seus olhos não descolavam dos meus.
- Como é ser um dos britânicos dessa seleção a qual você já conhece as pessoas, a cultura, a língua, a comida, o que você pode dizer da Inglaterra para a Seleção e fazer parte disso?
- Quê? – Virei para Bianca.
- É um país muito organizado, a liga demonstra isso pela organização do campeonato, e o nosso dia a dia. Quando a gente chega aqui, a gente se surpreende com isso, cresceu muito e sofreu muito com guerras e conseguiu se construir de uma maneira impressionante, então acredito que tudo faz funcionar aqui, metrô, trem, as pessoas têm uma rotina que as coisas funcionam. Então, a gente acabe entrando nesse cenário e o futebol já se encaixa nisso. É um futebol organizado, com clubes com estruturas padronizadas, favorecendo ao jogo, ao futebol, ao espetáculo, isso é importante para contar com isso. Ter essas condições aqui é ideal.
- Queria que você avaliasse esse começo de temporada do Liverpool e se você está satisfeito com seus resultados. – Outro jornalista perguntou.
- Todo começo tem que ser devagar. No meu caso, a exigência já é muito grande pelo jeito que eu fui transferido, batendo recorde de transferência de goleiro. A cobrança em cima de mim, do meu desempenho é por perfeição. Lógico que é difícil chegar à perfeição, eu trabalho por isso, mas ainda é muito cedo para dizer se estou satisfeito ou não, mas eu tenho trabalhado muito a cada dia, venho acertando, venho errando, e acredito que é dessa maneira que a gente cresce na profissão, mas até o momento estou feliz com essa mudança de liga e de cidade. E eu estou procurando dar o máximo para engrandecer mais o nome do Liverpool e também estar preparando para quando a seleção precisar de mim quando eu for chamado para desempenhar meu papel dentro de campo.
- Eu gostaria de fazer uma pergunta sobre seu relacionamento e da... – O jornalista se virou para mim e eu ri fracamente, sentindo Bianca me cutucar. – Se vocês permitirem.
- Eu não ligo. – Falei para Alisson e ele me chamou com a mão.
- Vai lá, fonte! – Lucas assoviou para mim e eu desci rindo, subindo no pequeno palco e passando por trás de Allan, dando um rápido beijo no jogador que eu ainda não conhecia e me sentei do outro lado de Alisson.
- Como você está? – Ele me abraçou fortemente e deu um beijo em minha bochecha, me fazendo sorrir.
- Bem, sempre bem. – Rimos juntos, voltando a encarar as câmeras.
Uau, aquela visão era muito intimidadora. Mesmo eu sabendo que tinha cerca de 12 veículos ali, tinha cerca de o dobro de pessoas com câmeras, gravadores e tudo mais. Senti minhas pernas virarem gelatina e minhas mãos começarem a tremer. Pigarrei, ajeitando o microfone em minha frente para ver se ele estava ligado.
- , assessora de viagens internacionais da CBF. – Me apresentei e o jornalista que falava assentiu com a cabeça.
- Eu, e acho que boa parte da impressa, gostaríamos de saber como esse relacionamento começou, como vocês lidam com esse relacionamento à distância e como isso afeta no trabalho de vocês? – Ele perguntou e eu e Alisson nos entreolhamos, rindo e ouvindo algumas risadas da imprensa.
- Você é o famoso aqui! – Comentei, ouvindo mais risadas.
- Bom, nosso relacionamento começou na preparação da Copa do Mundo da Rússia. – Alisson começou, percebi que ele procurava as palavras certas para falar. – Nós nos conectamos quase imediatamente, também jogou futebol na posição de goleira na faculdade, então nossa aproximação foi natural. – Assenti com a cabeça. – Daí as coisas foram acontecendo. Eram 24 horas juntos, trabalhando juntos, tomando café, almoçando, jantando, curtindo folgas em grupos e as coisas foram naturais, eu acho... – Ele se virou para mim.
- Sim... – Falei. – Aconteceu como um relacionamento normal, todos aqueles processos e tudo mais. – Virei para ele que indicou que eu continuasse. – Teve muito receio de ambas as partes pela questão de trabalho, sobre isso atrapalhar ambos os trabalhos, então realmente não deixamos rolar nada até certo ponto, mas chegou um momento que era inevitável. As coisas aconteceram com respeito e cautela pela questão da competição em si, mas no final...
- Eu já não conseguia viver sem ela. – Ele comentou, ouvindo um “oh” da sala, me fazendo rir e revirar os olhos.
- É, ele não conseguia mais viver sem mim. – Brinquei, sentindo-o me empurrar com o ombro.
- Sobre o relacionamento à distância, creio que digo por nós dois quando digo que somos ocupados demais para se preocupar com isso. – Assenti com a cabeça. – É difícil se ver uma vez por mês, se falar em fuso-horários totalmente complicados para nós dois, mas nos amamos e estamos lidando com um dia de cada vez, descobrindo essas surpresas. – Confirmei novamente. – E sobre o trabalho... – Ele virou para mim.
- Acaba sendo igual, pois são somente 10 dias, muito trabalho duro, das sete as sete diariamente, então aproveitamos como podemos. – Suspirei, sentindo-o segurar minha mão por debaixo da mesa.
- E você, , não pensa em se mudar para Liverpool para ficarem mais próximos? – Outro jornalista perguntou.
- Estamos juntos há somente quatro meses, gente. – Ri fracamente. – É bem pouco para sequer cogitar isso. Além de que eu amo meu trabalho, Alisson sabe que eu não o trocaria por algo incerto. E nem ele voltar para o Brasil. – Suspirei. – É o ponto alto de ambas nossas carreiras, então estamos indo devagar mesmo. Um passo de cada vez.
- Só mais uma pergunta. – Outro perguntou. – Em que momento vocês ficaram juntos? Vocês disseram que em certo momento foi inevitável esse relacionamento, em que momento foi?
- Se você está buscando uma desculpa para a eliminação da Copa do Mundo, não o faça. – Pisquei para ele, ouvindo o pessoal rir.
- Quando foi mesmo? – Alisson perguntou ao meu lado e eu coloquei para pensar.
- Antes do jogo da Sérvia a gente já sabia do interesse mútuo um do outro, mas foi antes daquele pau no México que tornamos um casal. – Falei.
- Obrigado por esclarecer. – O jornalista inicial falou e eu olhei em volta.
- Vamos voltar à coletiva tradicional, sim? – Perguntei, me levantando, ouvindo os jornalistas voltarem às perguntas tradicionais e logo passar para Allan.
Cerca de 20 minutos depois, a coletiva deu por encerrada e Alisson e Allan saíram do palco, em direção à antessala novamente e eu e os meninos fomos logo atrás. Empurrei a porta, vendo Alisson me esperando com os braços abertos e pulei no meio deles, passando as pernas pela sua cintura e colando meus lábios nos dele, sentindo meu corpo relaxar com aquilo.
- Minha menina! – Ele sussurrou com os lábios colados nos meus e eu acariciei seu rosto, com meus cabelos jogados no mesmo e deslizei meu corpo para o chão novamente. – Um dia você ainda vai chegar antes do que eu.
- Um dia! – Ri fracamente, colando meus lábios nos dele novamente.
- Você não tem noção como eu quis correr até você quando te vi ali.
- Sei sim! – Rimos juntos. – Mas precisamos nos conter em público, muito mais quando tem câmeras. – Ele sorriu, me apertando fortemente e percebi a presença de outras pessoas.
- Opa, gente! Tudo bom? – Falei e eles riram.
- Tudo bom, linda, e você? – Vinícius entrou na brincadeira e eu me afastei de Alisson, dando um abraço decente em cada um.
- Prazer te conhecer, Allan. Eu sou . – O cumprimentei rapidamente.
- Alisson falou sobre você.
- Tenho até medo do quê. – Rimos juntos.
- Bom, vamos voltar? Ainda temos trabalhos. – Bianca falou e dei um longo bocejo.
- Ah, vamos, mas eu quero dormir. – Falei. – Muita coisa no mesmo dia.
- Imagino. – Alisson falou para mim. – Eu deixo você dormir hoje, ok?!
- Eu não preciso ouvir isso! – Lucas gritou, me fazendo pular de susto.
- Opa! – Alisson brincou e seguimos de volta para a área de treino.
Quando voltamos da coletiva, todos os jogadores já se encontravam no campo. Os conhecidos vieram me abraçar animadamente e me apresentei para os outros desconhecidos, tentando mais uma vez explicar minha relação com Alisson. Taffa e Ederson me deram abraços efusivos e Brazão já foi informado que eu costumava encher o saco dos goleiros.
Algumas piadas e brincadeiras à parte, finalizações de treinos e muita abrição de boca da minha parte, Tite deu o treino por encerrado e eu estava louca para ir para o quarto e ao menos tomar um banho.
- Vamos, eu te levo até lá. – Alisson falou, segurando minha mão.
- Qual o seu quarto? – Perguntei.
- 27. – Ele falou e eu virei surpresa para ele, vendo-o com um sorriso pretensioso. – Sim, eu pedi para colocarmos no mesmo quarto.
- Ah, só você! – O abracei fortemente, ouvindo-o rir.
- A Bianca é bacana quando não está irritada. – Rimos juntos.
- Ah, vamos, eu preciso de um banho. – Falei, derrubando os ombros.
- É, tá precisando mesmo. – Alisson comentou e eu dei um tapa em seu ombro.
- Ah! – Ele reclamou, me fazendo rir e abraçá-lo com mais força pelos ombros.
Saí do banheiro desembaraçando meus cabelos e ouvi a risada do Alisson ecoando pelo quarto antes de eu sair do mesmo. Passei por trás do sofá em que ele estava, pendurei a toalha na cadeira à frente da escrivaninha e me sentei ao seu lado.
- O que está rindo? – Ele passou o braço livre pelos meus ombros, me aproximando de si.
- Esse vídeo do Arthur... – Ele mal conseguia finalizar a frase que caía na gargalhada novamente.
- Ah, meu Deus! O Arthur! – Me levantei em um pulo.
- O que foi? – Ele perguntou, deixando o celular de lado.
- Eu que pergunto, o que aconteceu? Ele está... – Balancei as mãos exageradamente. – Muito chapado. – Ele soltou uma gargalhada debochada.
- Nós não tivemos tempo de conversar ainda, mas aposto que isso é problema com mulher. – Cruzei os braços.
- Você pagaria esse mico se tivesse problemas comigo? – Abri um pequeno sorriso e ele revirou os olhos.
- Não começa, não tenho motivos para ter problemas contigo. – Pisquei para ele, rindo fracamente.
- Bom, eu preciso falar com ele, então, vamos jantar? – Perguntei.
- Mas já? Eu preciso de um banho decente. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Quando eu encostar, eu durmo até amanhã. – Bocejei logo em seguida, ouvindo-o rir fracamente.
- Ok, mas eu vou com esse cheiro de grama, então. – Ele se levantou e eu ri fracamente.
- Não cheirando suor, está tudo bem. – Ele encostou os lábios nos meus rapidamente, me fazendo sorrir.
Descemos para o restaurante e boa parte dos jogadores já aproveitaram o pós-treino para jantar e ir descansar mais cedo. O fuso-horário de todos estavam um pouco bagunçados ainda, eu que o diga.
Claro que no andar de baixo só tinha um assunto rolando: vídeo do Arthur. A cada dois ou três tinha um celular no meio, a música Largado Às Traças sendo reproduzida pessimamente por ele ou por outros que copiavam-no antes de caírem na risada. Neymar me puxou pela mão, me abraçando fortemente e acabei ficando em sua mesa com Alisson, Jesus e Richarlison.
- Ney, você não vai acreditar... – O chamei.
- O quê? – Ele se virou para mim.
- Eu consegui um apartamento top por sua culpa. – Ele sorriu.
- Como assim? – Ele riu fracamente.
- Ah, o valor começou a ficar meio pesado para mim, aí no meio do fechamento, meu amigo falou que você não ia ficar feliz em eu não conseguir o apartamento para festa de fim de ano na CBF... – Ele caiu na gargalhada.
- Mentira! – Jesus riu ao lado.
- É sério! Na hora ela já ajeitou vários descontos, condições e eu consegui o apê. – Ele riu.
- Que bom que eu pude ajudar. – Ele falou rindo. – Agora quando é essa festa?
- Acho que vamos ter que fazer agora, né?! – Falei e eles riram.
- Mas por que você não falou que era namorada do Alisson? Ele também é famoso. – Vi os olhos de Alisson revirar fortemente.
- Segundo o amigo dela... – Ele se virou para mim. – Como é?
- O nome Neymar ainda pesa mais do que Alisson... – Falei fazendo uma careta e eles gargalharam em volta da mesa, menos Alisson que mantinha a cara fechada.
- Olha quem está chegando, galera. – Firmino apareceu correndo e todos olharam para a porta, vendo Arthur passar pela mesma. No momento em que seus pés pisaram no restaurante, a maioria dos jogadores começou a cantar a música para ele, fazendo com que gargalhadas fossem ecoadas pelo restaurante, me fazendo colocar as duas mãos na boca.
- Coutinho, porra! – Ele saiu irritado em direção ao amigo de time e percebi que até a comissão técnica não conseguia evitar a gargalhada.
- Não fui eu… – Coutinho gargalhava, enquanto tentava fugir de Arthur. – Olha aí quem contou para o maior fofoqueiro desse lugar. – Coutinho apontou o dedo para mim, me fazendo arregalar os olhos.
- Quê? – Reclamei, vendo Alisson gargalhar de mim.
- Ei, ei, ei, quem disse que eu sou fofoqueiro? – Filipe Luis se denunciou.
- Tá se acusando, irmão? Eu não disse o seu nome, acho que a carapuça serviu. – Coutinho deu um tapa na cabeça do amigo, fazendo o restaurante explodir mais em risadas.
- Em minha defesa, quem me mostrou esse vídeo foi o Casemiro. – Filipe falou
- Quem me mostrou foi o Firmino, cara. – Casemiro se defendeu, jogando a culpa em Firmino.
- Fui eu mesmo, mas eu só mostrei para você, Fabinho e para o Alisson. – Firmino riu e deu de ombros.
– Eu só mostrei para a em minha humilde defesa, Arthur. – Alisson gargalhou. – Se viralizou a culpa é dela. – arregalei os olhos fuzilando Alisson.
- Ei! – Reclamei alto, me levantando. – Eu acabei de chegar caramba! Eu sou a mais inocente daqui do grupo.
- Uhum! – O grupo gritou ironicamente.
- Ei! – Reclamei de novo. – Vocês armaram para mim. – Deu um tapa em Alisson que estava mais perto e que não parava de gargalhar.
- Não minta, amor, sabemos que...
- Fofoqueiro! – Empurrei o mesmo. – Eu posso ter deixado meu celular aberto hoje e geral viu, sinto muito. – Entrei na brincadeira deles, vendo alguns rostos surpresos e eu tentei segurar a risada. – Agora falando sério, Arthur, afinal de contas, o DJ colocou Infiel para tocar? – Coloquei as mãos na cintura e ele me fuzilou com o olhar.
- Porra, eu esperava isso de qualquer um aqui, menos de você, dona Alessandra. – Franzi os lábios, pensando que havia feito mal por levar a culpa.
- Dale, ! – Alisson agitou mais, fazendo alguns risinhos serem emitidos e eu empurrei-o pelos ombros, fuzilando-o com o olhar.
- Ei, infiel, eu quero ver você morar num motel… – Neymar, Jesus e Richarlison começaram a cantar e Arthur mostrou o dedo do meio para todos, na verdade.
- Estou te expulsando do meu coração… – Jesus continuou, agarrando Arthur pelos ombros e bagunçando seus cabelos. – Assuma as consequências dessa traição!
- Quer saber de uma coisa? – Arthur olhou de um para o outro. – Vão se foder todos vocês, e prestem atenção, isso vai ter volta. – Todo mundo gargalhou e ele se afastou, seguindo para o buffet.
- Gente, gente! Para! – Pedi, cutucando o pessoal mais próximo, vendo as atenções virarem para mim.
- O que foi? – Neymar se aproximou. – Você até levou a culpa pelo negócio.
- Eu sei, mas a brincadeira estava boa quando a gente não magoava ninguém. – Comentei. – Tem algo sério rolando. – Suspirei.
- Você acha? – Alisson perguntou.
- Eu o conheço, ele não agiria assim se não fosse. – Suspirei, vendo-o se servir irritadamente da mesa do buffet. – Eu falo com ele amanhã, só tentem maneirar, ok?! – Falei e Alisson colou os lábios em meu ombro, me abraçando pela cintura.
O jantar não se estendeu tanto, logo eu e Alisson voltamos para o quarto e, enquanto ele tomava banho, eu me arrumei para dormir e tentei esperá-lo deitada na cama, obviamente que isso não deu certo, mas pude sentir quando ele se aconchegou em meus braços e me deu um beijo na bochecha.
O treino em St. Albans começou cedo, eu acabei dormindo até o horário do despertador e acordei sozinha na cama, fui encontrar o pessoal quando eles já estavam indo para o treino. Alisson me deu um rápido abraço e um beijo no rosto e seguimos para lados contrários. Enquanto eu comia o clássico café da manhã brasileiro na Inglaterra, eu chequei o briefing do dia: avaliação médica, treino e coletiva no final do dia.
Fui para o campo, encontrando a turma inteira lá, inclusive minha equipe e senti um friozinho passar pelo corpo. Era Inglaterra em novembro, o tempo estava começando a esfriar e eu ficava andando de camiseta para cima e para baixo.
- Então, como vamos fazer isso? – Lucas perguntou, se aproximando de nós.
- Por número? – Eu e Bianca falamos juntos.
- Tá bem, eu e o Vini vamos organizar as câmeras lá na academia e daqui uns 20 minutos vocês podem levar o Alisson. – Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
Acompanhamos a avaliação um a um, claro que eu e Bianca não perdíamos a oportunidade de zoar os meninos, com exceção dos novos ou dos que não tínhamos muita intimidade, mas era risada após risada, Fabio começava a nos olhar feio, falando que aquilo afetaria os resultados. Eu não sou da área médica, mas achava meio inútil fazer avaliação física para 10 dias de treinos e dois jogos. Eles já estavam avaliados de seus times individuais.
Fomos assim um por um. Eu e Bianca acompanhávamos os resultados e Lucas e Vini faziam seu trabalho de foto e filmagem. Os jogadores vinham de três em três, para não dar tanto desfalque ao jogo e eu chamava um por um. Quando foi a segunda leva, vi Marquinhos, Arthur e Filipe Luís. Pedi para que o número quatro e seis entrassem antes e vi Arthur erguer a cabeça confuso.
- Ei, ! – Dei um pequeno sorriso em sua direção.
- Tá distante, hein?! – Comentei, me apoiando na parede ao meu lado.
- Está me conhecendo bem, hein, ? – Sorri, seguindo até o banco ao seu lado. – Não, não estou mesmo bem…
- É aquela garota daquela vez? – Ele concordou. – Quer compartilhar novamente?
- Quero, você me ajudou muito daquela vez, inclusive, funcionou, muito obrigado. – Ri fracamente, sorrindo. - Depois descobri que ela era resistente porque me escondia algo muito grave… – Deu uma longa pausa. – Aline é garota de programa. – Arregalei os olhos, fingindo um engasgo forte para não parecer muito surpresa.
- Uou! – Deixei escapar. – Nossa, Arthur… Eu não podia imaginar. Acho que eu não pensava nessa situação... – Mordi o lábio inferior.
- É, eu sei, eu sei… Para mim foi um choque ainda maior porque eu a peguei no flagra, se não era capaz de ela ainda estar me enganando. – Ele suspirou. – Ela ia transar com o Malcom e o time inteiro do Barcelona na despedida de solteiro dele. – Passei a mão na boca, tentando esconder minha feição de surpresa.
- Deus! – Joguei os cabelos para trás. Eu nunca esperava esse tipo de problema. – Mas e como você está se sentindo depois de tudo isso? Mal? Péssimo? Horrível, imagino!
- Inclusive, o vídeo que está rolando por aí é exatamente após o momento em que eu havia descoberto tudo, eu só queria me afogar em cachaça. – Suspirei, pensando rapidamente em como tirar aquele vídeo da vista do pessoal.
- Estou me sentindo mal por ter rido do vídeo. – Suspirei. - Mas estava tão engraçado, me perdoa? – Mordi os lábios e ele riu, passando um braço pelos meus ombros e eu o abracei.
- Perdoada, até eu ri vendo esse vídeo, está tudo bem. – Sorri.
- Mas e agora, como você está?
- Eu estou bem, só estou com uma raiva muito grande dela. – Assenti com a cabeça.
- Completamente compreensível.
- E as coisas só pioram, nós estamos morando juntos e forjando um namoro para que a mãe dela não descubra que ela é garota de programa. – Não consegui esconder a feição de confusão.
- Uau, é bomba atrás de bomba, Arthur. – Ele ponderou com a cabeça. – Mas por que você aceitou que ela morasse com você? Meu Deus, você está com raiva dela!
- Eu não queria que ela se desse mal, não queria que ela voltasse para o Brasil… – Ele escondeu o rosto nas mãos.
- E por quê? – perguntei interessada.
- Porque na mesma proporção que eu estou com raiva dela, eu a amo, e não quero ela longe de mim. – Ele falou quase em um sussurro e eu dei um pequeno sorriso escapar.
- Arthur, Arthur, você é uma contradição ambulante, hein? Depois nós mulheres é que somos complicadas. – Ele riu fracamente. – Apesar de tudo isso, eu posso te dar um conselho?
- Claro que pode, seus conselhos são sempre os melhores. – Joguei o olhar para cima, fazendo-o rir.
- Eu acho que se você gosta muito dela, deveria dar uma segunda chance. – Ergui o dedo, impedindo-o que me cortasse. – Antes de contestar, me escuta… Tente conhecê-la, afinal, você só viu a versão dela que mentia para você, conheça-a sem máscaras, sem mentiras. Tenta uma amizade de início, nada relativamente ligado a uma relação amorosa. É incontestável que você ama essa mulher, quando você fala dela, seus olhos brilham de um jeito diferente, isso é amor!
- Você quer que eu esqueça tudo? Eu não consigo. – Ele colocou as mãos no rosto.
- Não foi o que eu disse, pequeno gafanhoto. – Ele franziu o rosto e eu abanei a mão. - Ninguém consegue esquecer as coisas de uma hora para outra. O que eu te sugeri é que conheça a versão dela que não mente para você. Dê uma segunda chance para que ela possa se redimir, afinal, eu tenho certeza que ela também está sofrendo com tudo isso. – Vi Vinícius aparecer pela porta e abanar a mão. – O que ela fez foi algo muito grave, Arthur, você tem toda a razão de estar com raiva e magoado com ela, mas se você continuar agindo do jeito que está, você pode perdê-la… É isso que você quer? – Me levantei, vendo-o que havia deixando-o pensativo.
- Você é a melhor, sabia?
- Eu sei, eu sei! – Abanei as mãos. – Agora vamos, sua vez!
- Posso te mandar mensagem se eu precisar de algo? – Ele perguntou segurando minha mão.
- Claro que pode! – Acariciei seu ombro. – Pode me chamar a qualquer hora, só não se esqueça que eu estou algumas horas para trás. – Ele riu, me puxando para um abraço, me fazendo rir.
Quando a avaliação acabou, já estava na hora do almoço. Fizemos aquela pausa de três horas e voltamos para o treino logo depois. Na parte da tarde, tivemos a presença da imprensa e de alguns torcedores do Arsenal que tinham acesso ao clube. Claro que por causa disso, eu e Alisson nos mantivemos distantes, estava na hora de provar para a imprensa que não era tudo aquilo que eles queriam nos pintar. Para finalizar o dia, levei Marquinhos e Douglas para coletiva. 20 minutos de perguntas que já estávamos acostumados.
Os dias passaram sem muitas novidades. Eu e o pessoal da comunicação ficávamos vagando pelo treino durante os primeiros dias, acompanhando os jogadores, fazendo algumas gravações para a CBF, respondendo a imprensa e por aí vai.
No terceiro dia de treinos, eu acabei ajudando Taffa em um treino especial que ele fez com uma câmera onboard. Era bom voltar a brincar um pouco de bola, principalmente com a correria da vida, mas confesso que acabei levando umas boladas bobas. A cara do jovem Brazão quando acertou uma bola na minha cabeça foi demais, todos começaram a gargalhar, especialmente eu, e ele pediu perdão até a vigésima geração minha, que nem tinha nascido ainda.
Rolou uma entrevista com Filipe Luís, a qual eu preferi me manter afastada para não zoar com ele mais do que eu já estava acostumada e no final do dia levei Arthur e Richarlison para meia hora de coletivas.
No quarto dia caiu uma chuva torrencial que impediu o treino por longas quatro horas, depois, quando foi possível que os jogadores voltassem para o campo sem que um raio caísse em nossas cabeças, eu e Bianca ficamos intercalando as ligações com altas gargalhadas dos meninos deslizando a bunda na grama molhada e caindo de bobeira. Claro que quando o treino finalizou, Alisson estava todo animado para me abraçar e só deu correndo estádio acima, tentando fugir de seus braços e pernas enlameados.
Próximo às quatro horas, recebi uma ilustre visita de Davi Lucca, é, o filho do Neymar. Parecia que aquele garoto crescia cada dia mais e eu me sentia velha, eu tinha visto-o pela última vez em junho, nem fazia muito tempo.
- Oi, tia! – Ele sorriu e eu o abracei quando ele me apertou pela cintura.
- E aí, moleque? – Baguncei seus cabelos. – Está grande, hein?!
- Eu já estou com um metro e 20. – Arregalei os olhos.
- Uau! – Fingi surpresa. – E está bonitão. Bem mais bonito que seu pai. – Sussurrei, vendo-o rir.
- Vai ensinar coisa errada para o garoto. – Ouvi Ney rosnar e eu ri fracamente.
- Só falando umas verdades para ele. – Dei de ombros. – Bom, vamos? Hoje é você na coletiva, capitão. – Revirei os olhos.
- Vejo seu ânimo por isso...
- Você sabe que... – Foi sua vez de revisar os olhos.
- O Thiago é seu capitão e blá, blá, blá... – Rimos juntos.
- Posso ir? – Davi perguntou e eu olhei para Bianca que somente dei de ombros.
- Por que não?! – Copiei os movimentos de Bianca. – Talvez você possa ensinar algo a seu pai. – O ouvi rir e segurei-o pelos ombros, seguindo para a área de coletiva com Bianca, Lucas, Vini, Tite, Neymar e o mini Carol Dantas.
Claro que com Neymar no pedaço, a coletiva durou bem mais do que 30 minutos. Ficamos lá por mais de uma hora, ouvindo vários jornalistas fazendo perguntas para Neymar e Tite, e ouvindo respostas atravessadas, provocativas e algumas até falsas, nada do que já não estivéssemos acostumados e que não tentássemos mudar toda vez.
Davi fez suas aparições durante a coletiva, mas nada relevante, ele só fazia caras e bocas, claramente de uma criança de seis anos entediada. Ao fim da coletiva, Tite deu o treino como encerrado, o campo estava muito molhado e ele estava com medo de que alguém acabasse se machucando.
- Vem cá! – Alisson me chamou de longe e eu neguei com o indicador para ele, vendo-o franzir os lábios.
- Depois de um longo banho de ducha e depois que essa roupa estiver no incinerador. – Falei, me protegendo para dentro do salão, aonde eles não entrariam imundos dessa forma.
- Maldade! – Ele falou. – A gente fica tanto tempo longe e...
- Não tente fazer meu jogo de drama contra mim. – Pisquei para ele, vendo-o revirar os olhos e dar meia volta, seguindo, eu espero, para o chuveiro.
Acabamos jantando à gargalhadas, vendo os vídeos e boomerangs que fizemos do treino de hoje. A quantidade de quedas era sensacional. Vinícius capturou até um momento em que Taffarel escorregou ao chutar uma bola e ir de bunda no chão, claro que a piada da quinta série aconteceu.
- Taffa bunda no chão! – Filipe e Paulinho gritavam descontroladamente e eu só sabia colocar a mão no rosto.
Ao menos Davi estava se divertindo.
O último dia de treino, antes do primeiro jogo se seguiu com a mesma loucura de sempre. Muitas ligações da imprensa, treino pesado até depois do sol se pôr e o nervosismo que começava a dar sinais de vida. Era o Uruguai, afinal, não podíamos nos manter alegres por muito tempo!
Mais para o fim do dia eu e minha equipe acompanhamos uma entrevista com Firmino, e a coletiva com Tite e Cléber antes do jogo. Ou melhor, maior coletiva de desperdício de tempo e transporte. Tivemos a presença de quase 30 veículos para 15 minutos de coletivas. Até eu achei que perdi meu tempo mudando de local, imagina quem veio somente para a coletiva?
Enfim, eu e Alisson estamos melhor impossíveis. Éramos uma coisa só já, não tinha como ficar melhor. Era talvez a maior realização do meu sonho. Acordávamos como um casal, perdíamos um tempo namorando na cama, depois levantávamos para ir trabalhar. Apesar de sentir seu olhar sobre mim em diversas ocasiões e não perder a oportunidade de olhá-lo a cada oportunidade que eu tinha, ficávamos distantes. Na hora do almoço comíamos com o resto do pessoal, trocávamos algumas carícias, depois voltávamos para o segundo round. À noite nos despedíamos cedo para aproveitar um pouco de nós dois juntos e eu dormia muito feliz e fazíamos a mesma coisa no dia seguinte. Eu podia viver assim pelo resto da vida, mas já estava acostumada de que isso tinha prazo de validade.
- Bom dia! – Falei quando o vi abrir os olhos na manhã do jogo.
- Ei! – Ele se espreguiçou, dando um bocejo que quase consegui ver o fundo da sua garganta. – Já é de manhã?
- Já sim! – Comentei e ele passou os braços em volta do meu corpo nu. – Daqui a pouco até acaba o café da manhã e vocês têm treinamento na academia hoje. – Ele bocejou novamente, me fazendo rir.
- Sabia que é tão bom acordar contigo aqui do meu lado? – Ele me ignorou totalmente, me fazendo rir fracamente.
- Sim, eu sei, pena que logo isso acaba. – Suspirei.
- Mas você vai para Liverpool no fim do ano, não vai? – Ele perguntou. – Já estou planejando tudo aqui.
- Claro que vou, só estou esperando sair o calendário da CBF, pelo que eu ouvi, vamos até dia dois de dezembro, depois eu estou livre. Tem alguns compromissos depois, mas aí depende de escala...
- Dois de dezembro? – Ele ergueu seu corpo e eu assenti com a cabeça.
- É, por quê? – Me sentei na cama também, segurando o lençol à frente do corpo.
- Dia três tem a premiação do campeonato italiano e eu estou concorrendo de melhor goleiro, se você quiser me acompanhar... Sabe, agora que estamos anunciados... – Abri um largo sorriso.
- Eu não sabia que você estava concorrendo a isso, por que não me falou nada? – Ele deu de ombros.
- Ah, sei lá, não é uma grande competição, nem nada...
- Ah, como você é tonto! – Suspirei. – Claro que é importante, ou a premiação do Brasileirão é boba também?
- Só de você não saber dela, já diz muito. – Dei um tapa em seu ombro.
- Para! E se eu puder, claro que eu vou à premiação contigo, aposto que teremos que ir na do Brasileirão, se eles me liberarem, eu te encontro em Roma. – Pisquei para ele.
- Eu morro de vontade de te levar para lá, sabia? – Ele me abraçou pela cintura novamente, me fazendo rir.
- Mas eu já fui... – Ri fracamente.
- Você foi de turista, é diferente. – Sorri.
- Você quer me levar de casalzinho para Itália, confessa... – Ele deu de ombros.
- Claro! – Ele falou convencido. – Faz tempo que eu não namoro para valer, muito tempo que eu não me apaixono desse jeito, deixa eu aproveitar. – Sorri, colando meus lábios nos dele levemente.
- Deixo. – Passei os braços pelos seus ombros. – Acho que essa é a parte boa de nosso relacionamento, apesar de passar já quatro meses de relacionamento oficial, nossos dias juntos são poucos, então ainda estamos na lua de mel. – Ele riu contra meu ouvido.
- Contigo parece lua de mel sempre. – Sorri, sentindo-o beijar meu pescoço.
- É fácil namorar à distância, vai, não temos problemas.
- E nem vamos ter. – Ele disse.
- Oh, ! – Me assustei com um grito e uma porrada na porta.
- Quem é? – Alisson sussurrou.
- Para de namorar vocês dois, o café vai acabar em 20 minutos e o Tite já falou que o almoço vai ser só depois das três hoje. – Relaxei os ombros.
- Lucas. – Abanei a cabeça e me separei de Alisson, me aproximando da porta e abrindo uma fresta, me escondendo atrás da mesma. – O que foi?
- Vai ficar namorando até quando? – Ele falou enquanto bufava.
- O treino está marcado para as 11, estamos no horário.
- Bianca quer saber se você vai com ela para checar os protocolos.
- Vou sim, eu logo estou descendo. – Ele revirou os olhos e se virou. – E melhora essa cara, hoje é dia de clássico! – Gritei, ouvindo sua risada e fechei a porta, vendo Alisson já se trocando no quarto.
- Melhor eu descer, não posso ir para academia sem comida.
- Mas é bom vocês treinarem hoje? – Fui atrás de minhas roupas também.
- Não é treino pesado, é só fisioterapia e um pouco de alongamento e exercícios leves. – Ele me puxou pela cintura, colando nossos lábios por alguns segundos. – Te vejo lá embaixo?
- Sim, vou ver o que a Bianca quer e a gente se encontra mais tarde. – Ele assentiu com a cabeça, procurando seu crachá pendurado na porta.
- Eu te amo! – Ele falou pausadamente e eu sorri.
- Eu também. – O imitei e ele saiu pela porta.
O dia se seguiu como todos os dias de jogos. Os jogadores de um lado para o outro fazendo o tempo passar, alguns fizeram trabalho de fisioterapia e academia, outros se ocuparam com jogos de cartas e de mesa que tinha pelo CT do Arsenal, além da boa e velha soneca.
Quando era seis horas, a seleção saiu em peso do hotel. Agrademos aos gerentes, como era de costume, e seguimos para o ônibus da Seleção. Percebi que o alvoroço da imprensa do lado de fora estava mais forte do que normalmente, alguns até gritando meu nome. Fingi que não ouvi e fui a última a entrar no ônibus, logo depois de Lucas.
Chegamos ao Emirates Stadium com festa brasileira, com muitas pessoas na rua, gritaria e sinalizadores. Fui a primeira a sair, com Bianca ao meu lado. Ela seguiu em frente e alguns jogadores foram atrás dela, esperei com que Arthur saísse e segui ao seu lado.
- Você está bem? – Perguntei, vendo-o até se assustar com a pergunta repentina.
- Estou sim, focado! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, passando o braço pelos seus ombros e abraçando-o de lado.
- Arrebenta, ok?! – Baguncei seu cabelo e seguimos para dentro.
Quando entramos no vestiário, Alisson me puxou pelos ombros, apontando os olhos para Arthur, como se o desafiasse e eu ri fracamente, batendo em sua cabeça, sentindo-o morder minha orelha e seguir para seu lado no vestiário, me fazendo rir.
Preparamos os protocolos e também nos arrumamos. Estava bem frio em Londres e eu precisei colocar o casaco corta-vento por cima ou aposto que viraria um picolé antes do final do primeiro tempo.
Os jogadores foram para o alongamento, entraram e a preparação para o jogo começou. Entramos na roda para algumas palavras de Tite e Neymar e fizemos o clássico cumprimento antes dos jogadores seguirem para o túnel. Me organizei com minha equipe e logo seguimos o mesmo caminho junto dos reservas.
Respirei fundo ao chegar no túnel dos jogadores, vendo a equipe brasileira e uruguaia pronta e senti minhas pernas tremerem ao ver Cavani ocupando o último lugar na fila uruguaia. Bianca entendeu meu olhar e deu um surto silencioso ao meu lado me fazendo rir. Depois ambas respiramos junto, fingindo calma e maturidade e seguimos pelo túnel.
Quando passei ao lado do meu namorado, ele me puxou pela cintura e me puxou para um beijaço que fez com que ambas as seleções gritassem para nós, me fazendo gargalhar e estapeá-lo antes da finalização do beijo.
- Doido! – Falei, vendo Marquinhos e Neymar, que estavam mais perto, gargalhando. – Tem câmeras aqui. – Dei mais um tapa em seus ombros, tentando segurar a risada.
- E crianças também. – Firmino gritou de mais longe e eu mostrei o dedo do meio para ele.
- Vamos, ! – Bianca me puxou gargalhando e eu passei o olho pela seleção uruguaia que estava bem surpresa com esse beijaço. Só esperava que meu batom não estivesse borrado em rede internacional.
Eu e Bianca tomamos nossos lugares do banco de reservas segurando a gargalhada e já ficamos em pé com a entrada dos jogadores. Nossa escalação de hoje era: Alisson, Danilo, Marquinhos, Miranda, Filipe Luís, Arthur, Walace, Renato Augusto (que foi trocado após uma lesão no tornozelo de Coutinho no último treino), Douglas Costa, Firmino e Neymar. Em compensação, do outro lado, tínhamos Cavani, Suárez, Bentacur, Cáceres e muitos que faziam o time uruguaio ser o que é.
Times separados, hinos cantados, um minuto de silêncio pelo falecimento de Aldyr Schlee, criador da camisa amarela da seleção e começou o primeiro tempo.
Começamos bem, logo nos primeiros cinco minutos, tivemos uma falta a nosso favor, Neymar tentou de uma vez só, mas o goleiro defendeu uma bola que já ia para fora. Outro escanteio ao nosso favor e o goleiro pegou sem dificuldades.
Aos 10 minutos foi nossa chance, na área uruguaia, os jogadores foram passando bola por bola, até Renato Augusto fazer um passe leve para Filipe Luís que fez um chute só para dentro da área, Neymar fez um chute leve, colocando a bola para dentro do gol. O estádio foi abaixo, mas logo o apito foi soado, marcando o impedimento pelo bandeirinha. Sentamos frustrados novamente, e o jogo se seguiu.
Tínhamos muitas chances de gol, mas ou a bola ia para fora, ou os chutes eram a esmo e iam muito para fora ou muito para o alto, ou o goleiro uruguaio estava muito bem posicionado e preparado para as bombas brasileiras.
Aos 20 minutos a bola começou a chegar perto do nosso campo, fazendo com que eu começasse a morder a ponta do dedo. Cavani deu um chute de fora da grande área e Alisson se esticou para pegar a bola lá em cima. Achei que ele iria ficar no chão pelo movimento errado que ele fez, mas ele logo se levantou, seguindo o jogo.
Aos 24 minutos, os cartões amarelos começaram a ser dados por entradas violentas, o primeiro a receber foi o uruguaio Di Pascua. Depois Mathías Suarez, Douglas, Vecino, até o novato Walace acabou levando cartão.
Tivemos outras tentativas de ambos os lados, mas estava mais preocupada com o tanto que meu namorado estava trabalhando e visivelmente preocupada com todas aquelas quedas estranhas. Parecia que todos os treinos de quedas praticadas, foram ignoradas e cada vez que suas costas batiam no chão, a minha se arrepiava.
Cavani estava sendo o ceifador do meu namorado e eu esqueci por alguns segundos que havia dado uma bela babada nele lá no túnel, mas Alisson conseguiu segurar muito bem todas aquelas bombas.
Assim que acabou no primeiro tempo, eu fui uma das primeiras a voltar para dentro, ainda não tinha esquecido aquele beijo antes do jogo e, mesmo abrindo para o público, ele não deveria fazer aquilo, muito menos quando ele está, supostamente, focado para um jogo. E eu pedindo foco do Arthur.
- Seu filho da mãe! – Eu bati em seu braço quando ele passou pela porta do vestiário.
- Ai, ah, oh! – Ele se defendeu com suas luvas e gargalhou.
- Nunca mais faça aquilo! – Falei, tentando segurar a risada e ele segurou meu rosto com as mãos e pressionou seus lábios nos meus.
- Eu te amo! – Ele falou alto e eu tirei suas mãos de seu rosto.
- Nunca mais! – Falei firme.
- O que está acontecendo aqui? – Cléber perguntou quando entrou no vestiário.
- Nada! – Eu e Alisson falamos juntos como se fôssemos alunos da sétima série e cada um se dispersou para um lado, se preparando para o segundo tempo.
- O que foi aquilo? – Bianca sussurrou para mim e eu segurei a risada, pois Tite falava com os jogadores sobre seus desempenhos.
- Não sei, mas estou gostando disso. – Olhei para Alisson de costas para mim, naquele uniforme verde limão horroroso e suspirei.
- Aproveita, garota! – Sorri.
- Esse fim de ano eu vou aproveitar e muito. – Sussurrei de volta, vendo-a me dar tapinhas no braço.
O segundo tempo começou com a saída de Renato Augusto e Douglas, e a entrada de Allan e Richarlison. Era o momento para fazermos um golzinho sequer, para passar por cima do Uruguai.
Não foi o que o começo do primeiro tempo mostrou, a quantidade de bomba que veio em direção ao Alisson, somente nos cinco primeiros minutos, faziam com que a unha lascada do meu polegar fosse embora rápida demais.
Aos 18 minutos de jogo, perdemos uma chance de bobeira do goleiro uruguaio. Neymar chutou em direção do gol, ele defendeu para frente, mas não deu tempo de Richarlison chegar para dar o chute final, pois ele a pegou rapidamente depois.
A bola voltou para o lado de Alisson e quando Cavani cruzou para Suarez, Miranda pegou-a no meio do caminho, recuando para trás novamente, fazendo com que ele e Alisson entrassem no gol com a rápida corrida que ele deu.
Aos 28 do segundo tempo, um milagre aconteceu. Porque só um milagre para fazer esse jogo sair do zero a zero mesmo. Em uma arrancada de bola, um uruguaio tentou erguer a bola e acabou chutando o pé de Danilo, fazendo com que ele caísse dentro da grande área. O estádio inteiro se animou com a possibilidade de um pênalti, mas foi a reclamação exagerada do Uruguai que fez com que ele marcasse finalmente.
Neymar fez uma gracinha antes de chutar a bola, mas a bola foi para dentro do gol e o goleiro foi para o lado contrário que ela bateu. Um a zero para o Brasil. Um sofrido um a zero, mas ainda assim.
Quase no final do jogo, uma chuva fina e gelada começou a cair, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. Tivemos outras chances de gol, mas nada saiu. Tivemos muitas substituições e o Uruguai até tentou, mas não conseguiram sair do um a zero e nem nós conseguimos avançar.
Saí rapidamente debaixo dessa chuva e procurei por uma tolha assim que entrei no vestiário novamente. Tirei também o corta-vento molhado e o corpo estava gelado, mas seco, menos mal. Só o cabelo que tinha bagunçado tudo dentro do rabo de cavalo. Precisava acompanhar a coletiva com Tite e Cléber, então coloquei um moletom mais quente e segui com eles para a sala da coletiva, ouvindo-os falar por cerca de meia hora sobre os pontos altos e baixos do jogo, enquanto eu dava longos bocejos lá no fundo.
Antes de ir embora, até eu aproveitei para tomar um banho quente, não aguentaria a viagem até Milton Keynes com o corpo gelado daquele jeito, mesmo que fosse de somente uma hora. Quando todos estavam prontos, abandonamos a ideia de jantar no estádio e seguimos direto para a cidade do próximo jogo. Não sei dizer se era o cansaço, o frio ou as diversas quedas, Alisson dormiu assim que se encostou no banco.
Dei um beijo em sua cabeça, fazendo um carinho em seu rosto, entrelaçando nossos dedos e logo fui para o mesmo caminho que ele. Feliz por tê-lo ao meu lado.
Chegamos no hotel um tanto quanto perdidos, eu e Alisson pelo menos, havíamos dormido o caminho inteiro até Milton Keynes e estávamos com os olhos colados ainda. O jogo havia sido bastante exaustivo para ele, com tantos saltos, defesas e quedas, e eu estava só preguiçosa depois de tomar um pouco de chuva.
O hotel Hilton que ficaríamos em Milton Keynes era diferente de tudo o que eu já tinha visto nessa vida de CBF, ele era dentro do estádio de Milton Keynes, então quando entramos no lobby do hotel, estávamos do outro lado da entrada do estádio.
- Ok, ok, vamos organizar isso e ir dormir. – Tite comentou, jogado em uma das poltronas do lobby.
- Rá! – Bianca gritou, conversando com o gerente e eu franzi a testa, me aproximando dela. – Você não vai gostar disso. – Ela apontou para mim e eu tombei a cabeça para o lado.
- O que eu fiz? – Falei, ouvindo algumas pessoas em volta rir.
- Quarto de três! – Ela gritou e eu revirei os olhos, empurrando-a pelo ombro, achando que ela estava falando algo sério.
- Pena de quem tiver que ficar com a gente! – Cruzei os braços, mordendo o lábio inferior, ouvindo algumas pessoas rirem.
- Eu estou fora! – Neymar foi o primeiro a falar, pegando uma chave com Bianca, fazendo-a derrubar todas no chão.
- Olha o desespero! – Ederson gritou, fazendo-os rir.
- Eu fico com eles! – Arthur falou, dando uns passos à frente. – O Alisson está adorando me ter por perto, não é?! – Ele abraçou o Alisson de lado e a sala explodiu em risadas, principalmente pela diferença de altura.
- Nós temos um filho agora e eu não estou sabendo? – Alisson olhou para mim, com os braços presos no abraço de Arthur.
- Nem brinca com isso! – Abanei as mãos, ouvindo o pessoal rir.
- A brincadeira está boa, mas eu preciso dormir. – Tite apareceu e rimos. As chaves foram distribuídas e subimos pelos elevadores.
Os quartos ficavam distribuídos pelos cinco andares do estádio, então cada um desceu em um andar, nós ficamos no quarto. Assim que Arthur abriu a porta, uma luz forte nos cegava, devido à cortina aberta.
- Uou, esse é o estádio? – Arthur jogou a mochila em uma das camas e seguimos até a janela de vidro e percebemos que estávamos olhando para dentro do estádio.
- Isso é demais! – Falei um tanto alto. – Eu nem preciso sair do quarto para acompanhar o treino. – Rimos juntos.
- Ok, algumas regras aqui! – Arthur falou, se aproximando de sua cama. – Sem transar comigo no quarto...
- Não somos assim. – Eu e Alisson falamos juntos.
- E sem transar no chuveiro também, não quero me tornar mais íntimo do que isso está sendo.
- Acho que é justo. – Alisson comentou e eu assenti com a cabeça.
- Não é como se fosse a primeira vez que tivéssemos que dar nossos pulos. – Dei de ombros, ouvindo-os rir.
- Combinado, então. – Arthur sorriu. – Vai ser ótimo ficar com vocês! – Revirei os olhos, seguindo até minha mala.
- Eu vou me trocar e ir dormir. – Comentei. – Vocês se virem aí. – Dei um rápido beijo em Alisson e segui com a mala e tudo até o banheiro, batendo a porta.
- Vai ser divertido! – Ouvi Alisson dizendo, antes de eu bater a porta.
Os jogadores acabaram tendo folga somente até as três horas da tarde, depois Tite quis todos eles de volta no campo para reconhecimento de território no estádio novo. Eu não entendo muito dessa parte técnica de campo e tudo mais, na época da faculdade jogávamos em campos quase sem grama, então aquilo já era o paraíso para mim.
O treino não alongou tanto, ficamos papeando no restaurante, eu e Alisson aproveitamos para namorar um pouco mais escondidos de todo mundo, aproveitando para conhecer um pouco do hotel.
- Aqui é legal! – Falei quando chegamos ao terraço e podíamos enxergar o campo lá de cima.
- Não me sinto muito confortável com alturas. – Sorri, passando os braços pela sua cintura.
- Você viaja diversas vezes por semana e vai me dizer que tem medo de alturas agora? – Brinquei.
- É diferente. – Ele deu de ombros, virando para mim e passando um braço pelas minhas costas.
- Ok, vou fingir que entendo. – Dei um beijo em sua bochecha. – Eu sou filha de aviador, então praticamente nasci dentro de um avião. – Ele passou os braços pelos meus ombros e eu o abracei pela cintura.
- Você quer dançar? – Ele cochichou, mudando de assunto e eu sorri.
- Aqui? Sem música? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Posso cantar para você. – Ele encostou a cabeça na minha, com a boca próxima à minha orelha.
- Eu vou gostar disso. – Comentei, fechando os olhos.
- Ser romântico às vezes ajuda... – Ele começou a sussurrar em meu ouvido. - Mas se fecho os olhos te imagino nua... – Ri fracamente, arrepiando com seus lábios em meu ouvido. - Talvez pareça uma cena de Hollywood, se 'tá pensando isso, por favor, não se ilude...
- Luan Santana?
- Xí. – Ele pediu e eu me calei, vendo seus olhos claros focarem no meu. - Eu só quero uma noite de amor, como as outras, só mais uma que passou.
- O Arthur está te deixando doido, não?! – Ri fracamente e ele negou com a cabeça.
- Eu estou tentando ser romântico aqui. – Pressionei os lábios um no outro.
- Por favor, continue. – Falei baixo e ele encostou sua testa na minha.
- Mas foi só a porta fechar, pra mudar minha cabeça, ah! A sua boca vale o preço pra perder o sossego que eu tinha, ah! – Ele sussurrou contra a minha boca, passando sua língua sobre ela. - A lua até beijou o mar pra não ficar de vela. Os quatro perdidos de amor, eu, você, o mar e ela, eu, você, o mar e ela.
- Só você, eu e ela! – Dei uma rápida olhada para cima, aonde a lua estava e ele sorriu, me segurando mais firme pela cintura e colando os lábios nos meus.
Subi as mãos para seus ombros, colando meu corpo mais no seu. Suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto seus lábios caminhavam para meu pescoço e depositava beijos pelo mesmo. Ele afastou seu rosto um pouco do meu, me dando aquele sorriso e eu ri fracamente, colando nossos lábios novamente.
- Quente! – Dei um pulo quando ouvi e eu e Alisson viramos o rosto para a voz.
- Ah, não! – Reclamei, vendo Filipe Luís, Danilo e Paulinho. – Vocês não desaparecem, não?! – Reclamei.
- Hum, não... – Danilo falou e eu bufei para o alto.
- Mas parece que o negócio estava bem...
- Não termina. – Alisson cortou Filipe que ergueu as mãos rendido.
- Eu não preciso ouvir isso, chega uma hora que a intimidade acaba e ela não existe aqui. – Apontei para mim e Alisson.
- Vamos para o quarto, o Arthur não é sem noção, pelo menos. – Alisson me deu a mão e seguimos em direção ao elevador.
- Sem noção! – Danilo gritou e ouvi um barulho de tapa.
- Ai! – Ele reclamou e eu segurei a risada.
- Desculpe, o Filipe não tem noção quando parar. – Alisson falou.
- Não estou reclamando disso, eu estou meio irritada com tudo. Não podemos ficar juntos, quando podemos estamos mortos de cansaço. – Ele me abraçou pela cintura. – Deve ser a TPM. – Suspirei.
- Pensa que em alguns dias nós estaremos juntos em Roma... – Ele beijou minha orelha.
- Se tudo der certo.
- Não começa com esse “se” novamente, vai dar certo. Você não tem férias para tirar? – Ri fracamente.
- Eu entrei na CBF no dia da convocação para Copa do Mundo, só maio do ano que vem. – Suspirei.
- Droga! – Ele sussurrou.
- Fique feliz com o recesso. – Ele riu.
- Bom, daremos um jeito. – Ele me apertou pela cintura e seguimos pelo corredor até nosso quarto.
Tirei a chave do bolso e coloquei no leitor, empurrando-a quando ela ficou verde e arregalei os olhos quando encontrei o quarto sozinha.
- Arthur? – Alisson gritou quando percebeu a mesma coisa.
- Arthu-ur? – Chamei novamente e eu e Alisson nos entreolhamos.
- Acho que podemos aproveitar um pouco. – Franzi a testa quando ele se abaixou rapidamente e puxou o tênis dos pés, tirando a meia de um dos pés.
- O que você está fazendo?
- Código masculino! – Ele abriu a porta novamente, colocou a meia na maçaneta do lado de fora e a fechou novamente, me fazendo rir.
- Isso é maldade! – Comentei, vendo-o se aproximar novamente e passar os braços pela minha cintura novamente.
- Espero que ele entenda a referência. – Ele me levantou pelas coxas, me fazendo rir.
- O trauma vai ser dele. – Comentei, sendo calada por mais um beijo dele.
No dia seguinte, voltamos com o treinamento normal desde cedo. Isso foi bom para alguns, já para Arthur... Vamos dizer que ele acabou entendendo a ideia da meia bem até demais, e foi entrar no quarto quase três horas da manhã. Então, ele estava quase caindo de cara no seu cereal hoje cedo.
O dia passou bem, as preparações para o jogo contra Camarões estavam bem calmas. Sabíamos que era um jogo mais calmo, mas parecia que a imprensa gostava de jogar isso na nossa cara, como se sentíssemos superiores a ele. Apesar de ter história, levávamos esse jogo como qualquer outro, então os treinos eram extensos e bem puxados, enquanto eu e Bianca ficávamos atendendo ligações e acompanhando os treinos de longe. Mais para o fim do dia, acompanhamos uma coletiva com Dedé e Pablo.
O dia seguinte foi parecido com o anterior, a imprensa cada vez mais em cima, os jogadores mais agitados e prontos para encarar o jogo de amanhã. Também tinha um “quê” de depressão, era o último treino da Seleção de 2018, então era a última vez que ficaríamos todos juntos esse ano. O próximo encontro seria só em março, então tínhamos longos quatro meses até lá.
Confesso que isso me arrepiava um pouco. Sei que encontraria Alisson antes em outras oportunidades que criaríamos, mas era um tanto desesperador pensar que seriam longos quatro meses até esse encontro novamente. Eu tentava não externalizar isso, Alisson já suspeitava que eu estava nervosa com a despedida iminente no dia seguinte, então não falávamos disso.
Após a coletiva de imprensa com meu parça da Juventus, Alex Sandro, ficamos acompanhando o treino um pouco mais de perto e um pouco mais íntimo, sem pessoas de fora junto e com a galera da comunicação para dentro do campo também, fazendo alguns passes de bola, algumas embaixadinhas e tudo mais.
- Nem tive tempo de te irritar dessa vez, né?! – Taffa passou o braço pelos meus ombros e eu ri.
- Ah, com tanta gente que me irritou nessa viagem, você nem teve espaço. – Ele beijou minha bochecha e eu sorri, abraçando-o.
- Vamos jogar um pouco? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Ah, hoje não. Já estou no clima de despedida. – Sorrimos.
- Vamos fazer mais um jogo de 15 minutos antes de finalizar? – Taffa perguntou e Tite confirmou.
- Vou acompanhar de fora dessa vez. – Mandei um beijo para Alisson e segui para fora da linha, me jogando no banco de reservas ao lado de Bianca.
- Estamos aqui novamente, meu bem! – Sorri, encostando a cabeça em seu ombro.
- Pois é. – Sorri.
- Você está triste, não? – Dei de ombros.
- É difícil não estar. – Comentei.
- Vamos ter recesso, vocês poderão ficar um tempo juntos, você vai ver. – Assenti com a cabeça.
- Não precisa tentar me animar, eu sempre fico para baixo nos últimos dias. – Ela sorriu. – Vai passar.
- Eu sei que vai. – Ela segurou minha mão e eu relaxei o corpo na cadeira. – Sempre melhora depois de um tempo, sua vida volta a ter cor, mas não gosto de te ver assim.
- Eu estou bem, prometo! Divido um pedaço de pizza contigo para provar isso. – Ela gargalhou.
- Agora eu gostei! – Sorrimos cúmplices.
O jogo começou e Tite havia misturado os dois times, não era reserva contra titulares, era difícil de explicar, mas as bolas iam e voltavam, alguns chutes a gol, alguns entravam, outros não. Era visível o cansaço de todos eles, até nosso, já era quase nove horas da noite, o treino já deveria ter sido finalizado duas horas atrás e eles estavam se forçando a mais.
Em uma arrancada de Filipe Luís, vi Alisson se preparar para a defesa, mas devido a um desvio de Marquinhos, Filipe tentou driblar o defensor e fez um chute totalmente largado, mas ele foi em direção ao gol, fazendo com que Alisson pulasse em direção à bola e a defendesse... Ou melhor, sua cara defendesse a bola.
- Oh! – Reclamei, colocando as mãos na boca!
- Ai! – Tite reclamou ao meu lado e todos que viram começamos a gargalhar.
- Diz que você filmou isso! – Gritei para Vinícius que também não se aguentava de rir.
- Não filmou nada! – Alisson reclamou com a bola embaixo do braço e a mão livre no rosto avermelhado.
- Nossa, essa deve ter doído! – Brazão comentou e eu segurei para não rir.
- Eu preciso desse vídeo.
- Vinícius, se você tem amor à sua vida, deleta esse vídeo. – Alisson gritou para ele que tentava conter a risada.
- Você tem um contrato de direitos de imagem! – Gritei para ele, piscando.
- Vai ser lindo a imagem do seu goleiro levando uma bolada na cara, né?! – Ponderei com a cabeça.
- Pode não ser a imagem que devemos mostrar, mas vai ser ótima para mostrar para família.
- Se esse vídeo não for para internet, eu deixo você ficar com ele. – Abri um largo e sádico sorriso, virando para Vinícius.
- Vini-i! – O chamei e ele negou com a cabeça.
- Nem vem vocês dois. Não me coloquem no relacionamento de vocês. – Vini segurou seu tripé e se afastou.
- Desculpe, cara! – Filipe falou e neguei com a cabeça, deixando a gargalhada ecoar pelo local.
- Demais! De-mais! – Falei rindo.
- Ah lá, tá sangrando! – Alisson gritou, erguendo a cabeça para trás e eu arregalei os olhos.
- Fabio! – Chamei o médico.
- Relaxa, garota, é só um nariz sangrando. – O médico reclamou. – Nada de novo até aí.
- Tem certeza que não quebrou? – Eu e Tite perguntamos juntos.
- Tenho! – Alisson e Fabio responderam juntos.
Depois dessa bolada, o treino acabou de vez, o nariz do Alisson demorou bons 10 minutos para parar de sangrar e já havíamos abusado demais do corpo deles. Voltamos para o hotel logo em seguida e juntamos a gangue inteira para o jantar de despedida de sempre que Tite gostava de fazer antes do último jogo do amistoso.
Eu, Alisson e Arthur fomos dormir na mesma hora aquele dia, mas realmente fomos dormir, todo mundo estava cansado pelo treino extenso. Acabamos entrando em acordo para assistir algum filme na televisão, ficamos papeando por alguns minutos, até que fui deixada falando sozinha por Alisson e depois por Arthur. Terminei de ver o filme e acabei dormindo também.
- Vamos lá, gente! Vamos lá! – Tite começou a chamar o pessoal e eu respirei fundo, terminando de vestir meu casaco e colocando as luvas, toca e uma manta. Parecia que Milton Keynes fez questão de estar um frio do caralho justo na hora do jogo.
- Bom jogo, galera! – Gritei, seguindo pelo túnel atrás do pessoal.
- Vamos, vamos! – Lucas passou correndo por mim para tirar algumas fotos do pessoal entrando no campo.
Alguns jogadores passaram por mim e eu fiquei por último, esperando Bianca chegar para entrar comigo no campo e passar algumas horas nesse frio.
- Vamos lá, garota! – Ela me abraçou pelos ombros e segui com ela por entre os jogadores.
- Não vai fazer merda, hein?! – Apontei para Ederson que riu.
- Pode deixar, ele vai ficar contigo durante todo o jogo. – Sorri, dando um beijo em sua bochecha e saí com Bianca do túnel, sentindo o vento atingir meu rosto.
- Ah, eu quero ficar lá dentro! – Ela choramingou e eu ri com ela, seguindo para o banco de reservas da seleção brasileira.
- Força! – Disse, ocupando um lugar ao lado de Alisson e ela ao meu lado.
- Eu vou congelar até o fim do jogo. – Sua voz saiu abafada pela gola da blusa de lã por cima da boca e eu ri fracamente.
- Você ao menos mora aqui, eu moro no Rio de Janeiro, não estou acostumada com tanto frio. – Rimos juntos e estiquei a manta em frente ao meu corpo, cobrindo minhas pernas.
Os times entraram, com a escalação de hoje: Ederson, Danilo, Marquinhos, Pablo, Alex Sandro, Allan, Arthur, Paulinho, Willian, Firmino e Neymar. Foi bonitinho que o Willian deu seu casaco para a criança que entrou com ele, já que ela estava toda tremendo.
O jogo em si foi mais calmo do que eu esperava. Claro que tivemos mais chances de gol do que de Camarões, mas o goleiro Onana estava muito bem preparado e posicionado e Ederson estava indo bem também. Logo no começo do jogo, Neymar sentiu o músculo da virilha e foi substituído por Richarlison antes dos 10 minutos de jogo.
Alisson aproveitou a manta que estava em cima da gente para segurar minha mão durante todo o jogo. Estávamos bem misturados por entre os jogadores e as diversas coberturas em cima da gente, mas a política de não exagerar, ainda estava sendo usada, pelo menos em público.
O nosso gol veio nos 45 do primeiro tempo, Willian cobrou escanteio, Richarlison cabeceou e mandou, finalmente, para o fundo do gol. Depois de várias tentativas e defesas do goleiro camaronês.
Aquilo aqueceu um pouco! Nós pulamos e comemoramos o gol, mas durou pouco, logo acabou o primeiro tempo e ficamos 15 minutos nos protegendo do frio antes de voltar para o segundo tempo.
O segundo tempo passou da mesma forma que o primeiro, a diferença é que não saiu gol. Uma hora Ederson deu uma saída do gol e, por sorte, a bola não entrou, mas causou bons ataques cardíacos. Minutos depois, o goleiro Onana saiu da grande área e foi por pouco que a bola de Willian não entrou. Bateu na trave e a defesa de Camarões tirou ela da reta.
Aquele jogo foi uma união de efeitos errados. Foram muitas chances de gols que foram defendidos ou foram para fora. Esse goleiro estava de parabéns. Depois acabei descobrindo que ele jogava no Ajax, então explicava muita coisa.
O jogo acabou sem muitas novidades e nem deu tempo de aproveitarmos a vitória. O frio estava muito forte e quanto mais passava o tempo, mais gelado nossos corpos ficavam.
Voltamos para o vestiário e começamos a nos preparar para as despedidas. Segui para coletiva com Tite e Sylvinho e Bianca lidou com entrevistas com Neymar, depois de sua possível lesão, a imprensa ficou um pouco em cima dele.
- Mais um trabalho feito. – Eu e Bianca nos abraçamos quando aquilo terminou e suspiramos.
- Hora de ir embora. – Falei.
- Vai lá com seu namorado. – Ela falou e eu segui em direção à Alisson que estava pronto para ir embora.
- Ei, amor! – Ele me abraçou, me fazendo suspirar.
- Que horas vocês vão? – Perguntei.
- Quando Tite liberar, eu, Firmino e Fabinho vamos de van de volta para Liverpool. E você? – Suspirei.
- Voo particular dessa vez. – Sorri. – Estou chique. – Rimos juntos. – Se fôssemos esperar voo comercial, só sairíamos daqui meio dia.
- Eita!
- Pois é! – Suspirei.
- Bom, gente, vamos nos reunir? – Tite chamou e viramos lado a lado, ocupando espaço na roda. – Quero agradecer a todos pelo trabalho que fizemos aqui nesses últimos dias. Foi muito bom e estamos ficando mais fortes e preparados para enfrentar a Copa América em casa. – Aplaudimos animados. – Eu vi muita força de vontade, muito trabalho, ficaria muito feliz de chamar todos, todas as vezes, mas nos veremos futuramente e será um prazer trabalhar com vocês novamente. – Sorrimos, aplaudindo animados.
- Para os que tem transportes para outras cidades daqui, as vans já estão aqui na frente. E para quem vai pegar voo para outros países, podem seguir para gente para o ônibus até o aeroporto. – Bianca falou alto. – Saímos em 20 minutos. – Ela disse por fim, dando aquele sorriso triste para mim.
- Bom, é isso. – Alisson sussurrou contra meu ouvido e eu virei de frente para ele, passando meus braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente.
- Eu te amo, ok?! – Ele falou firme. – Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
- Você também. – Falei, olhando em seus olhos. – Eu te amo, Alisson.
- Nos veremos no fim do mês, você vai ver. – Ele piscou. – Sempre damos um jeito.
- Mais do que conseguimos! – Rimos juntos e ele colou os lábios nos meus levemente.
- Boa sorte nos próximos jogos, ok?! Vamos fazer isso dar certo. – Assenti com a cabeça e ele sorriu.
- Você também, tente não enlouquecer. – Ele beijou minha testa.
- Difícil! – Comentei e ele sorriu.
- Eu te amo, tá?
- Eu sei! – Rimos juntos e trocamos mais um beijo. – Você é demais. – Pisquei, me afastando alguns passos para trás.
Passei pelas outras pessoas, abraçando quem iria para outros lugares e sabia que muitos continuariam ali da próxima vez, mas também demoraria muito para eu vê-los novamente, muito mais do que Alisson. Fizemos toda a volta, até que todos estivessem devidamente despedidos. Fomos todos até a saída e os transportes já se encontravam ali.
- Bom, acho que é isso. – Falei, abraçando Alisson mais uma vez. – A gente se vê, ok?! – Dei mais um beijo em sua bochecha.
- Até mais, . – Ele beijou minha mão e eu sorri, piscando para ele.
- Até mais, Alissinho. – Pisquei para ele, seguindo o pessoal que ia para o ônibus.
- Olha quem está aqui de novo! – Lucas brincou, passando o braço pelos meus ombros e eu ri, abraçando-o pela cintura.
- Sai daqui, cara! Eu que cuidei dela dessa vez. – Bianca o empurrou de leve, nos fazendo rir.
- Se isso for verdade, foi eu, hein?! – Arthur brincou e gargalhamos.
- Ah, vocês. Todos têm espaço no meu coração. – Sorrimos, parando na frente do ônibus.
Largamos nossas malas e entramos um a um no ônibus. Antes de eu entrar, olhei para trás mais uma vez, sentindo o olhar de Alisson focado em mim. Mandei um beijo para ele, vendo seu rosto sério se transformar em um sorriso e suspirei, antes de entrar no ônibus mais uma vez.
- Vamos que vamos, né?! – Sentei ao lado de Bianca.
- Vamos para casa. – Arthur falou ao meu lado, soltando um longo suspiro.
- Você sabe que pode me ligar sempre que precisar, não é?! – Segurei sua mão do outro lado do corredor.
- Sei sim, e talvez eu precise. – Assenti com a cabeça.
- Fique firme, garoto. Você vai ver, isso não vai passar de um tsunami em sua vida. – Ele riu fracamente.
- Você diz isso para si mesma também quando se afasta de Alisson? – Ri fracamente, percebendo a ironia do destino.
- Até parece! – Falei e gargalhamos juntos.
- Michelle? Sou eu, ! – Falei um tanto alto.
- ? Meu Deus! Você sabe que horas são? – Ela reclamou.
- Umas três da manhã, é eu sei, tá tarde ou cedo, depende do ponto de vista! – Falei rapidamente.
- O que aconteceu? Já chegou em Madrid? O voo não chegaria por volta das sete? – Ri fracamente.
- É, Michelle, chegaria as sete se eu estivesse em Madrid! – Gritei, respirando fundo.
- Quê? O que foi? Aonde você está?
- Eu estou em Miami, Michelle! – Falei desesperada.
- O quê? – Ouvi algo caindo no chão.
- Exatamente. – Suspirei. – Acho que alguém fez confusão com as passagens e eu estou em Miami. – Balancei a cabeça, me sentando no chão novamente.
- Mas como você embarcou?
- Com a passagem para Miami, mas acho que eu estava tão sonolenta que eu não percebi. Eu dormi antes do avião decolar, descobri chegando aqui. – Ela ficou quieta por alguns segundos.
- Espera um pouco... Se você está em Miami, alguém está indo em direção a Madrid.
- Eita, coitada da Débora. – Balancei a cabeça.
- Não acredito nisso, gente. E vocês não perceberam?
- Ah, agora a culpa é minha? Eu pensei que podia ter conexão, sei lá. Eu não vejo os detalhes da passagem.
- Meu Deus, , você tem que estar em Londres hoje, caramba. – Ela respirou fundo.
- Eu sei, mas eu já chequei, não tem voos para Londres antes do meio-dia, nove horas de viagem e quatro horas de fuso, eu vou chegar lá, com sorte, duas da manhã de amanhã.
- Porra! – Ela gritou e eu arregalei os olhos. – Me dá dois minutos para pensar, ok?!
- Ok... – Falei confusa e respirei fundo, passando o olhar pelas pessoas que passeavam pelo aeroporto de Miami.
Passou bem mais do que dois minutos, eu ouvia coisas batendo e ela cochichando com alguém, imaginei ser seu marido e eu só ficava olhando o ponteiro do relógio andar rápido até demais. Respirei fundo, batendo a ponta dos dedos no braço da cadeira.
- ? – Ela perguntou e eu me despertei.
- Eu! – Pulei na cadeira.
- Você está com um cartão corporativo, não está?
- Sim, aquele que vocês dão para viagens, despesas e tudo mais. – Falei.
- Ok, você vai pegá-lo, procurar alguma empresa de transporte particular e vai entrar um jatinho particular e ir o mais rápido possível para Londres. Te quero no ar em duas horas no máximo.
- Michelle, mas... Não tem necessidade, que mal teria eu chegar um dia atrasada?
- Tem! Precisamos de você para uma coletiva com o Alisson. – Ela falou firme.
- Eu não estava sabendo disso...
- Longa história que conversaremos depois. – Ela suspirou alto no bocal. – Resolva isso e me avise, ficarei acordada esperando sua mensagem.
- Ok, isso vai um gasto totalmente desnecessário, mas...
- Só faça! Depois eu cuido dos gastos.
- Ok, tem alguma empresa para indicar? – Perguntei.
- Algumas, vou mandar no seu WhatsApp agora. – Suspirei.
- Ok, a gente vai se falando.
- Boa viagem e vá o mais rápido possível. – Assenti com a cabeça.
- Ok. – Falei e a ligação ficou muda.
Não demorou dois minutos para que eu recebesse nomes de três companhias de transporte particular. Coloquei minha mochila nas costas novamente e saí correndo à procura delas.
E como mágica, muitos dólares e correria, uma hora e meia depois, eu estava sentada sozinha em uma das poltronas mais confortáveis que já sentei na minha vida, com uma porção de bruschettas quentinhas e uma Coca Cola gelada, enquanto o comandante fazia as checagens para decolagem.
“Cheguei em Londres, aonde você está?” – Vi a mensagem de Alisson e eu respirei fundo.
“Em Miami”. – Respondi. – “Longa história, estou embarcando novamente, te vejo em algumas horas. Bianca deve saber te explicar”.
Desliguei antes de ver sua resposta e suspirei, me alimentando antes de tentar entrar no mundo dos sonhos novamente. O voo seria mais rápido do que um voo de carreira, mas com cinco horas de fuso-horário, eu chegaria no tempo máximo.
Fiquei pensando sobre a tal coletiva que Michelle mencionou e eu não estava sabendo nada disso, mas agora também não seria o momento de descobrir. Era óbvio que colocariam Alisson para falar e talvez me quisessem perto, só não estava com cabeça para pensar nisso agora, muito menos depois de algumas horas extras dentro de um avião.
Mas amém, CBF. Por culpa sua e da minha desatenção, eu estou indo para um voo de sete horas em um jatinho particular. Às vezes a recompensa era boa!
- Muito obrigada, vocês foram demais! – Cumprimentei os comandantes do jatinho, acenei para as duas comissárias de bordo e ajeitei minha mochila nas costas e passei pela porta do avião, descendo as escadas, sentindo o sol na linha do meu olho, percebendo o pôr do sol de Londres.
Assenti com a cabeça para o motorista que já segurava minha mala de rodinhas e entrei no carro que me esperava na porta do avião. Eu estava me sentindo nas nuvens, me sentindo a verdadeira Hannah Montana.
- Boa tarde, senhorita. Vim te levar para o CT do Arsenal. – Puxei o cinto, me ajeitando.
- Obrigada. – Suspirei, me sentindo mentalmente cansada, mas havia dormido boa parte do voo. – Quanto tempo até lá?
- Cerca de meia hora só. – Assenti com a cabeça.
Puxei o celular da bolsa e liguei o pacote de dados, esperando que não tivesse problema com meu pacote internacional, suspirando quando vi as diversas notificações começarem a aparecer na tela do meu celular. Esperei com que tudo carregasse e fui direto pro WhatsApp, vendo mensagem de Lucas, Vinícius, Bianca, Angelica desesperada sobre o problema do voo, Michelle me desejando boa viagem, alguns jogadores desesperados e Alissinho.
Abri a mensagem dele, me surpreendendo com a sequência de mensagens dele.
“Boa viagem, amo você”.
“Bianca me explicou, como assim você e outra funcionária trocaram as passagens? Que barra!”
“OLHA ISSO, HAHAHAHAHA”. – Ele falava antes de um vídeo. - “MELHOR VÍDEO DE TODOS, HAHAHAHA”.
Cliquei para baixar o vídeo, esperando-o carregar.
– Isso, chora, irmão, põe essa dor para fora. – Franzi a testa ao ouvir a voz misturada com o som do que parecia ser um bar.
– Cara, eu amo aquela mulher, e tudo o que eu quero é ver ela na minha frente e pedi-la em namoro, você acha que ela aceitaria? – Percebi que era Arthur apoiado em um balcão de bar, mais bêbado impossível.
– Claro que aceitaria, pede ela em namoro, se é isso que você quer. – Percebi a voz de Coutinho, ouvindo suas risadas vazarem pelo áudio do celular.
– Eu quero essa mulher do meu lado a vida inteira, quero casar, ter filhos, inclusive já temos um filho juntos. – Coloquei a mão na boca, segurando a risada. – O Tuntz. – Ele embolou a língua e não consegui identificar o nome. – Meu cachorro ama aquela mulher, estamos fodidos, Tuntz, sua mãe mentiu para nós. – Coutinho gargalhou e eu franzi a testa, que porra estava acontecendo?
– Pobre Tuntz, está órfão de mãe, sinto muito… – Coutinho deu corda para o garoto e eu gargalhei alto.
- Desculpa, moço. É que... - Neguei com a cabeça, vendo-o abanar com a mão.
– Por que ela tinha que mentir para mim? Por quê? – Ele parou de falar um momento. – Porra, essa música não está me ajudando, Coutinho. Troca essa música, DJ. – Percebi que tocava Largado Às Traças ao fundo. – Vou beijando esse copo, abraçando as garrafas, solidão é companheira nesse risca-faca, enquanto ‘cê não volta, eu ‘tô largado às traças. – Ele levantou a cabeça do balcão. – Maldito sentimento que nunca se acaba... – Gargalhei, não aguentando e o vídeo foi cortado.
Meu Deus! O que tinha acabado de acontecer?
E o melhor, o que tinha acontecido com Arthur depois da última conversa? Acho que nada muito bom.
“O que está acontecendo aí que eu perdi? HAHAHAHAHAHA”.
“Falando sério: ele está bem? Chego aí em alguns minutos”.
Obviamente Alisson não respondeu. Ele não olhava o celular há mais de três horas. Eles deveriam estar treinando. Aproveitei o resto da viagem para dar sinal de vida para minha família, ver as mensagens desesperadas de meus amigos de empresa e logo passei pelos portões do CT do Arsenal, nosso lar por alguns dias.
- Obrigada. – Agradeci ao motorista, pegando minhas coisas e segui para dentro das portas do CT, tentando me localizar ali, e encontrei uma moça acenando do balcão.
- Olá, bem-vinda. – Ela falou sorridente.
- Oi, eu sou , da CBF. – Puxei o moletom que eu usava, mostrando o crachá que estava para dentro.
- Ah sim, estávamos te esperando. – Ela checou em uma prancheta. – Você está no quarto 27 e os jogadores já estão em treino, tanto em campo, quanto na academia.
- Vocês podem levar minhas coisas para o quarto? – Perguntei. – Estou muito atrasada.
- Claro, senhorita. – Ela sorriu e um moço se aproximou e eu entreguei minhas coisas para ele. – Quarto 27.
- Obrigada! – Sorri. – Aonde está o técnico Tite?
- No campo de visitantes, você pode seguir por esse corredor. – Ela me apontou e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Suspirei.
- Seja bem-vinda. – Assenti com a cabeça e segui pelo corredor, puxando rapidamente a gola da minha blusa, dando uma cheirada no casaco que eu não tirava desde que o coloquei no Rio de Janeiro e esperei que o desodorante que eu coloquei no jatinho desse para esconder minhas quase 24 horas fora de casa.
Empurrei a porta que dava para o campo e suspirei ao encontrar um pessoal treinando. Aquela porta dava para a lateral do campo, então Tite estava de costas para mim, acompanhando o treinamento. Dei alguns passos sobre a grama e passei o braço pelos seus ombros.
- ! – Ele falou surpreso.
- Cheguei! – Falei suspirando.
- Você deu um belo susto na gente. – Ri fracamente, sentindo-o me abraçar fortemente e eu virei de frente para retribuir o mesmo.
- Imagina eu que estava totalmente alheia? – Rimos juntos.
- Olha quem chegou! – Ele gritou e alguns jogadores como Jesus, Marquinhos, Danilo e Douglas Costa acenaram para mim, me fazendo sorrir.
- Eita, perdida em Miami! – Me virei, encontrando Edu, abraçando-o fortemente também. – Bem-vinda, garota.
- Valeu! – Suspirei e dei uma olhada ao redor. – Cadê minha equipe? Cadê meu namorado?
- Coletiva. – Ele falou e eu bati a mão na testa.
- Já começou? – Chequei o relógio.
- Se não começou, está para começar.
- Ah, Michelle disse que...
- Só vai, garota! – Ele apontou para um prédio coberto e eu segui para o mesmo, puxando o moletom para cima, apesar do friozinho, ajeitando minha blusa amarrotada da CBF e soltei o cabelo do rabo de cavalo, balançando-o com os dedos.
Entrei na área coberta, encontrando conhecidos corredores longos e segui as placas. Encontrei a porta da sala da coletiva e matutei rapidamente qual das duas dava na antessala. Obviamente, a primeira que eu tentei estava trancada, então tentei a outra, vendo Lucas começando a passar para a próxima sala.
- Lucas! – O chamei, fazendo-o se virar rapidamente.
- Ah, você chegou! – Ele se virou e eu me aproximei do mesmo, abraçando-o fortemente. – Meu Deus, garota, aonde você se meteu? – Suspirei, relaxando os ombros.
- Longa história. – Abanei a mão. – A coletiva já começou?
- Alisson e Allan entraram agora.
- Alisson e Allan? Mais trava-língua impossível. – Rimos juntos.
- Você vai entrar ou...?
- Eu vou entrar como se fosse acompanhar, mas se rolar alguma pergunta, eu vejo o que fazer. – Falei.
- Então, vamos, Bianca já colocou todo mundo para dentro. – Respirei fundo, tentando entrar no pique nessa rapidez e segui Lucas para dentro da sala da coletiva.
Assim que eu passei atrás do mesmo, diversos rostos viraram para mim, inclusive de meu namorado que abriu um largo e inevitável sorriso para mim. Acenei para ele, vendo-o estender a mão em minha direção e eu beijei a ponta dos dedos e subi os degraus para o fundo, sendo abraçada por Bianca e Vinícius que tentavam conter a empolgação e o tom de voz para a coletiva que estava em andamento.
- Desculpa, qual era a pergunta mesmo? – Ele se virou para o jornalista, mas seus olhos não descolavam dos meus.
- Como é ser um dos britânicos dessa seleção a qual você já conhece as pessoas, a cultura, a língua, a comida, o que você pode dizer da Inglaterra para a Seleção e fazer parte disso?
- Quê? – Virei para Bianca.
- É um país muito organizado, a liga demonstra isso pela organização do campeonato, e o nosso dia a dia. Quando a gente chega aqui, a gente se surpreende com isso, cresceu muito e sofreu muito com guerras e conseguiu se construir de uma maneira impressionante, então acredito que tudo faz funcionar aqui, metrô, trem, as pessoas têm uma rotina que as coisas funcionam. Então, a gente acabe entrando nesse cenário e o futebol já se encaixa nisso. É um futebol organizado, com clubes com estruturas padronizadas, favorecendo ao jogo, ao futebol, ao espetáculo, isso é importante para contar com isso. Ter essas condições aqui é ideal.
- Queria que você avaliasse esse começo de temporada do Liverpool e se você está satisfeito com seus resultados. – Outro jornalista perguntou.
- Todo começo tem que ser devagar. No meu caso, a exigência já é muito grande pelo jeito que eu fui transferido, batendo recorde de transferência de goleiro. A cobrança em cima de mim, do meu desempenho é por perfeição. Lógico que é difícil chegar à perfeição, eu trabalho por isso, mas ainda é muito cedo para dizer se estou satisfeito ou não, mas eu tenho trabalhado muito a cada dia, venho acertando, venho errando, e acredito que é dessa maneira que a gente cresce na profissão, mas até o momento estou feliz com essa mudança de liga e de cidade. E eu estou procurando dar o máximo para engrandecer mais o nome do Liverpool e também estar preparando para quando a seleção precisar de mim quando eu for chamado para desempenhar meu papel dentro de campo.
- Eu gostaria de fazer uma pergunta sobre seu relacionamento e da... – O jornalista se virou para mim e eu ri fracamente, sentindo Bianca me cutucar. – Se vocês permitirem.
- Eu não ligo. – Falei para Alisson e ele me chamou com a mão.
- Vai lá, fonte! – Lucas assoviou para mim e eu desci rindo, subindo no pequeno palco e passando por trás de Allan, dando um rápido beijo no jogador que eu ainda não conhecia e me sentei do outro lado de Alisson.
- Como você está? – Ele me abraçou fortemente e deu um beijo em minha bochecha, me fazendo sorrir.
- Bem, sempre bem. – Rimos juntos, voltando a encarar as câmeras.
Uau, aquela visão era muito intimidadora. Mesmo eu sabendo que tinha cerca de 12 veículos ali, tinha cerca de o dobro de pessoas com câmeras, gravadores e tudo mais. Senti minhas pernas virarem gelatina e minhas mãos começarem a tremer. Pigarrei, ajeitando o microfone em minha frente para ver se ele estava ligado.
- , assessora de viagens internacionais da CBF. – Me apresentei e o jornalista que falava assentiu com a cabeça.
- Eu, e acho que boa parte da impressa, gostaríamos de saber como esse relacionamento começou, como vocês lidam com esse relacionamento à distância e como isso afeta no trabalho de vocês? – Ele perguntou e eu e Alisson nos entreolhamos, rindo e ouvindo algumas risadas da imprensa.
- Você é o famoso aqui! – Comentei, ouvindo mais risadas.
- Bom, nosso relacionamento começou na preparação da Copa do Mundo da Rússia. – Alisson começou, percebi que ele procurava as palavras certas para falar. – Nós nos conectamos quase imediatamente, também jogou futebol na posição de goleira na faculdade, então nossa aproximação foi natural. – Assenti com a cabeça. – Daí as coisas foram acontecendo. Eram 24 horas juntos, trabalhando juntos, tomando café, almoçando, jantando, curtindo folgas em grupos e as coisas foram naturais, eu acho... – Ele se virou para mim.
- Sim... – Falei. – Aconteceu como um relacionamento normal, todos aqueles processos e tudo mais. – Virei para ele que indicou que eu continuasse. – Teve muito receio de ambas as partes pela questão de trabalho, sobre isso atrapalhar ambos os trabalhos, então realmente não deixamos rolar nada até certo ponto, mas chegou um momento que era inevitável. As coisas aconteceram com respeito e cautela pela questão da competição em si, mas no final...
- Eu já não conseguia viver sem ela. – Ele comentou, ouvindo um “oh” da sala, me fazendo rir e revirar os olhos.
- É, ele não conseguia mais viver sem mim. – Brinquei, sentindo-o me empurrar com o ombro.
- Sobre o relacionamento à distância, creio que digo por nós dois quando digo que somos ocupados demais para se preocupar com isso. – Assenti com a cabeça. – É difícil se ver uma vez por mês, se falar em fuso-horários totalmente complicados para nós dois, mas nos amamos e estamos lidando com um dia de cada vez, descobrindo essas surpresas. – Confirmei novamente. – E sobre o trabalho... – Ele virou para mim.
- Acaba sendo igual, pois são somente 10 dias, muito trabalho duro, das sete as sete diariamente, então aproveitamos como podemos. – Suspirei, sentindo-o segurar minha mão por debaixo da mesa.
- E você, , não pensa em se mudar para Liverpool para ficarem mais próximos? – Outro jornalista perguntou.
- Estamos juntos há somente quatro meses, gente. – Ri fracamente. – É bem pouco para sequer cogitar isso. Além de que eu amo meu trabalho, Alisson sabe que eu não o trocaria por algo incerto. E nem ele voltar para o Brasil. – Suspirei. – É o ponto alto de ambas nossas carreiras, então estamos indo devagar mesmo. Um passo de cada vez.
- Só mais uma pergunta. – Outro perguntou. – Em que momento vocês ficaram juntos? Vocês disseram que em certo momento foi inevitável esse relacionamento, em que momento foi?
- Se você está buscando uma desculpa para a eliminação da Copa do Mundo, não o faça. – Pisquei para ele, ouvindo o pessoal rir.
- Quando foi mesmo? – Alisson perguntou ao meu lado e eu coloquei para pensar.
- Antes do jogo da Sérvia a gente já sabia do interesse mútuo um do outro, mas foi antes daquele pau no México que tornamos um casal. – Falei.
- Obrigado por esclarecer. – O jornalista inicial falou e eu olhei em volta.
- Vamos voltar à coletiva tradicional, sim? – Perguntei, me levantando, ouvindo os jornalistas voltarem às perguntas tradicionais e logo passar para Allan.
Cerca de 20 minutos depois, a coletiva deu por encerrada e Alisson e Allan saíram do palco, em direção à antessala novamente e eu e os meninos fomos logo atrás. Empurrei a porta, vendo Alisson me esperando com os braços abertos e pulei no meio deles, passando as pernas pela sua cintura e colando meus lábios nos dele, sentindo meu corpo relaxar com aquilo.
- Minha menina! – Ele sussurrou com os lábios colados nos meus e eu acariciei seu rosto, com meus cabelos jogados no mesmo e deslizei meu corpo para o chão novamente. – Um dia você ainda vai chegar antes do que eu.
- Um dia! – Ri fracamente, colando meus lábios nos dele novamente.
- Você não tem noção como eu quis correr até você quando te vi ali.
- Sei sim! – Rimos juntos. – Mas precisamos nos conter em público, muito mais quando tem câmeras. – Ele sorriu, me apertando fortemente e percebi a presença de outras pessoas.
- Opa, gente! Tudo bom? – Falei e eles riram.
- Tudo bom, linda, e você? – Vinícius entrou na brincadeira e eu me afastei de Alisson, dando um abraço decente em cada um.
- Prazer te conhecer, Allan. Eu sou . – O cumprimentei rapidamente.
- Alisson falou sobre você.
- Tenho até medo do quê. – Rimos juntos.
- Bom, vamos voltar? Ainda temos trabalhos. – Bianca falou e dei um longo bocejo.
- Ah, vamos, mas eu quero dormir. – Falei. – Muita coisa no mesmo dia.
- Imagino. – Alisson falou para mim. – Eu deixo você dormir hoje, ok?!
- Eu não preciso ouvir isso! – Lucas gritou, me fazendo pular de susto.
- Opa! – Alisson brincou e seguimos de volta para a área de treino.
Quando voltamos da coletiva, todos os jogadores já se encontravam no campo. Os conhecidos vieram me abraçar animadamente e me apresentei para os outros desconhecidos, tentando mais uma vez explicar minha relação com Alisson. Taffa e Ederson me deram abraços efusivos e Brazão já foi informado que eu costumava encher o saco dos goleiros.
Algumas piadas e brincadeiras à parte, finalizações de treinos e muita abrição de boca da minha parte, Tite deu o treino por encerrado e eu estava louca para ir para o quarto e ao menos tomar um banho.
- Vamos, eu te levo até lá. – Alisson falou, segurando minha mão.
- Qual o seu quarto? – Perguntei.
- 27. – Ele falou e eu virei surpresa para ele, vendo-o com um sorriso pretensioso. – Sim, eu pedi para colocarmos no mesmo quarto.
- Ah, só você! – O abracei fortemente, ouvindo-o rir.
- A Bianca é bacana quando não está irritada. – Rimos juntos.
- Ah, vamos, eu preciso de um banho. – Falei, derrubando os ombros.
- É, tá precisando mesmo. – Alisson comentou e eu dei um tapa em seu ombro.
- Ah! – Ele reclamou, me fazendo rir e abraçá-lo com mais força pelos ombros.
Saí do banheiro desembaraçando meus cabelos e ouvi a risada do Alisson ecoando pelo quarto antes de eu sair do mesmo. Passei por trás do sofá em que ele estava, pendurei a toalha na cadeira à frente da escrivaninha e me sentei ao seu lado.
- O que está rindo? – Ele passou o braço livre pelos meus ombros, me aproximando de si.
- Esse vídeo do Arthur... – Ele mal conseguia finalizar a frase que caía na gargalhada novamente.
- Ah, meu Deus! O Arthur! – Me levantei em um pulo.
- O que foi? – Ele perguntou, deixando o celular de lado.
- Eu que pergunto, o que aconteceu? Ele está... – Balancei as mãos exageradamente. – Muito chapado. – Ele soltou uma gargalhada debochada.
- Nós não tivemos tempo de conversar ainda, mas aposto que isso é problema com mulher. – Cruzei os braços.
- Você pagaria esse mico se tivesse problemas comigo? – Abri um pequeno sorriso e ele revirou os olhos.
- Não começa, não tenho motivos para ter problemas contigo. – Pisquei para ele, rindo fracamente.
- Bom, eu preciso falar com ele, então, vamos jantar? – Perguntei.
- Mas já? Eu preciso de um banho decente. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Quando eu encostar, eu durmo até amanhã. – Bocejei logo em seguida, ouvindo-o rir fracamente.
- Ok, mas eu vou com esse cheiro de grama, então. – Ele se levantou e eu ri fracamente.
- Não cheirando suor, está tudo bem. – Ele encostou os lábios nos meus rapidamente, me fazendo sorrir.
Descemos para o restaurante e boa parte dos jogadores já aproveitaram o pós-treino para jantar e ir descansar mais cedo. O fuso-horário de todos estavam um pouco bagunçados ainda, eu que o diga.
Claro que no andar de baixo só tinha um assunto rolando: vídeo do Arthur. A cada dois ou três tinha um celular no meio, a música Largado Às Traças sendo reproduzida pessimamente por ele ou por outros que copiavam-no antes de caírem na risada. Neymar me puxou pela mão, me abraçando fortemente e acabei ficando em sua mesa com Alisson, Jesus e Richarlison.
- Ney, você não vai acreditar... – O chamei.
- O quê? – Ele se virou para mim.
- Eu consegui um apartamento top por sua culpa. – Ele sorriu.
- Como assim? – Ele riu fracamente.
- Ah, o valor começou a ficar meio pesado para mim, aí no meio do fechamento, meu amigo falou que você não ia ficar feliz em eu não conseguir o apartamento para festa de fim de ano na CBF... – Ele caiu na gargalhada.
- Mentira! – Jesus riu ao lado.
- É sério! Na hora ela já ajeitou vários descontos, condições e eu consegui o apê. – Ele riu.
- Que bom que eu pude ajudar. – Ele falou rindo. – Agora quando é essa festa?
- Acho que vamos ter que fazer agora, né?! – Falei e eles riram.
- Mas por que você não falou que era namorada do Alisson? Ele também é famoso. – Vi os olhos de Alisson revirar fortemente.
- Segundo o amigo dela... – Ele se virou para mim. – Como é?
- O nome Neymar ainda pesa mais do que Alisson... – Falei fazendo uma careta e eles gargalharam em volta da mesa, menos Alisson que mantinha a cara fechada.
- Olha quem está chegando, galera. – Firmino apareceu correndo e todos olharam para a porta, vendo Arthur passar pela mesma. No momento em que seus pés pisaram no restaurante, a maioria dos jogadores começou a cantar a música para ele, fazendo com que gargalhadas fossem ecoadas pelo restaurante, me fazendo colocar as duas mãos na boca.
- Coutinho, porra! – Ele saiu irritado em direção ao amigo de time e percebi que até a comissão técnica não conseguia evitar a gargalhada.
- Não fui eu… – Coutinho gargalhava, enquanto tentava fugir de Arthur. – Olha aí quem contou para o maior fofoqueiro desse lugar. – Coutinho apontou o dedo para mim, me fazendo arregalar os olhos.
- Quê? – Reclamei, vendo Alisson gargalhar de mim.
- Ei, ei, ei, quem disse que eu sou fofoqueiro? – Filipe Luis se denunciou.
- Tá se acusando, irmão? Eu não disse o seu nome, acho que a carapuça serviu. – Coutinho deu um tapa na cabeça do amigo, fazendo o restaurante explodir mais em risadas.
- Em minha defesa, quem me mostrou esse vídeo foi o Casemiro. – Filipe falou
- Quem me mostrou foi o Firmino, cara. – Casemiro se defendeu, jogando a culpa em Firmino.
- Fui eu mesmo, mas eu só mostrei para você, Fabinho e para o Alisson. – Firmino riu e deu de ombros.
– Eu só mostrei para a em minha humilde defesa, Arthur. – Alisson gargalhou. – Se viralizou a culpa é dela. – arregalei os olhos fuzilando Alisson.
- Ei! – Reclamei alto, me levantando. – Eu acabei de chegar caramba! Eu sou a mais inocente daqui do grupo.
- Uhum! – O grupo gritou ironicamente.
- Ei! – Reclamei de novo. – Vocês armaram para mim. – Deu um tapa em Alisson que estava mais perto e que não parava de gargalhar.
- Não minta, amor, sabemos que...
- Fofoqueiro! – Empurrei o mesmo. – Eu posso ter deixado meu celular aberto hoje e geral viu, sinto muito. – Entrei na brincadeira deles, vendo alguns rostos surpresos e eu tentei segurar a risada. – Agora falando sério, Arthur, afinal de contas, o DJ colocou Infiel para tocar? – Coloquei as mãos na cintura e ele me fuzilou com o olhar.
- Porra, eu esperava isso de qualquer um aqui, menos de você, dona Alessandra. – Franzi os lábios, pensando que havia feito mal por levar a culpa.
- Dale, ! – Alisson agitou mais, fazendo alguns risinhos serem emitidos e eu empurrei-o pelos ombros, fuzilando-o com o olhar.
- Ei, infiel, eu quero ver você morar num motel… – Neymar, Jesus e Richarlison começaram a cantar e Arthur mostrou o dedo do meio para todos, na verdade.
- Estou te expulsando do meu coração… – Jesus continuou, agarrando Arthur pelos ombros e bagunçando seus cabelos. – Assuma as consequências dessa traição!
- Quer saber de uma coisa? – Arthur olhou de um para o outro. – Vão se foder todos vocês, e prestem atenção, isso vai ter volta. – Todo mundo gargalhou e ele se afastou, seguindo para o buffet.
- Gente, gente! Para! – Pedi, cutucando o pessoal mais próximo, vendo as atenções virarem para mim.
- O que foi? – Neymar se aproximou. – Você até levou a culpa pelo negócio.
- Eu sei, mas a brincadeira estava boa quando a gente não magoava ninguém. – Comentei. – Tem algo sério rolando. – Suspirei.
- Você acha? – Alisson perguntou.
- Eu o conheço, ele não agiria assim se não fosse. – Suspirei, vendo-o se servir irritadamente da mesa do buffet. – Eu falo com ele amanhã, só tentem maneirar, ok?! – Falei e Alisson colou os lábios em meu ombro, me abraçando pela cintura.
O jantar não se estendeu tanto, logo eu e Alisson voltamos para o quarto e, enquanto ele tomava banho, eu me arrumei para dormir e tentei esperá-lo deitada na cama, obviamente que isso não deu certo, mas pude sentir quando ele se aconchegou em meus braços e me deu um beijo na bochecha.
O treino em St. Albans começou cedo, eu acabei dormindo até o horário do despertador e acordei sozinha na cama, fui encontrar o pessoal quando eles já estavam indo para o treino. Alisson me deu um rápido abraço e um beijo no rosto e seguimos para lados contrários. Enquanto eu comia o clássico café da manhã brasileiro na Inglaterra, eu chequei o briefing do dia: avaliação médica, treino e coletiva no final do dia.
Fui para o campo, encontrando a turma inteira lá, inclusive minha equipe e senti um friozinho passar pelo corpo. Era Inglaterra em novembro, o tempo estava começando a esfriar e eu ficava andando de camiseta para cima e para baixo.
- Então, como vamos fazer isso? – Lucas perguntou, se aproximando de nós.
- Por número? – Eu e Bianca falamos juntos.
- Tá bem, eu e o Vini vamos organizar as câmeras lá na academia e daqui uns 20 minutos vocês podem levar o Alisson. – Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
Acompanhamos a avaliação um a um, claro que eu e Bianca não perdíamos a oportunidade de zoar os meninos, com exceção dos novos ou dos que não tínhamos muita intimidade, mas era risada após risada, Fabio começava a nos olhar feio, falando que aquilo afetaria os resultados. Eu não sou da área médica, mas achava meio inútil fazer avaliação física para 10 dias de treinos e dois jogos. Eles já estavam avaliados de seus times individuais.
Fomos assim um por um. Eu e Bianca acompanhávamos os resultados e Lucas e Vini faziam seu trabalho de foto e filmagem. Os jogadores vinham de três em três, para não dar tanto desfalque ao jogo e eu chamava um por um. Quando foi a segunda leva, vi Marquinhos, Arthur e Filipe Luís. Pedi para que o número quatro e seis entrassem antes e vi Arthur erguer a cabeça confuso.
- Ei, ! – Dei um pequeno sorriso em sua direção.
- Tá distante, hein?! – Comentei, me apoiando na parede ao meu lado.
- Está me conhecendo bem, hein, ? – Sorri, seguindo até o banco ao seu lado. – Não, não estou mesmo bem…
- É aquela garota daquela vez? – Ele concordou. – Quer compartilhar novamente?
- Quero, você me ajudou muito daquela vez, inclusive, funcionou, muito obrigado. – Ri fracamente, sorrindo. - Depois descobri que ela era resistente porque me escondia algo muito grave… – Deu uma longa pausa. – Aline é garota de programa. – Arregalei os olhos, fingindo um engasgo forte para não parecer muito surpresa.
- Uou! – Deixei escapar. – Nossa, Arthur… Eu não podia imaginar. Acho que eu não pensava nessa situação... – Mordi o lábio inferior.
- É, eu sei, eu sei… Para mim foi um choque ainda maior porque eu a peguei no flagra, se não era capaz de ela ainda estar me enganando. – Ele suspirou. – Ela ia transar com o Malcom e o time inteiro do Barcelona na despedida de solteiro dele. – Passei a mão na boca, tentando esconder minha feição de surpresa.
- Deus! – Joguei os cabelos para trás. Eu nunca esperava esse tipo de problema. – Mas e como você está se sentindo depois de tudo isso? Mal? Péssimo? Horrível, imagino!
- Inclusive, o vídeo que está rolando por aí é exatamente após o momento em que eu havia descoberto tudo, eu só queria me afogar em cachaça. – Suspirei, pensando rapidamente em como tirar aquele vídeo da vista do pessoal.
- Estou me sentindo mal por ter rido do vídeo. – Suspirei. - Mas estava tão engraçado, me perdoa? – Mordi os lábios e ele riu, passando um braço pelos meus ombros e eu o abracei.
- Perdoada, até eu ri vendo esse vídeo, está tudo bem. – Sorri.
- Mas e agora, como você está?
- Eu estou bem, só estou com uma raiva muito grande dela. – Assenti com a cabeça.
- Completamente compreensível.
- E as coisas só pioram, nós estamos morando juntos e forjando um namoro para que a mãe dela não descubra que ela é garota de programa. – Não consegui esconder a feição de confusão.
- Uau, é bomba atrás de bomba, Arthur. – Ele ponderou com a cabeça. – Mas por que você aceitou que ela morasse com você? Meu Deus, você está com raiva dela!
- Eu não queria que ela se desse mal, não queria que ela voltasse para o Brasil… – Ele escondeu o rosto nas mãos.
- E por quê? – perguntei interessada.
- Porque na mesma proporção que eu estou com raiva dela, eu a amo, e não quero ela longe de mim. – Ele falou quase em um sussurro e eu dei um pequeno sorriso escapar.
- Arthur, Arthur, você é uma contradição ambulante, hein? Depois nós mulheres é que somos complicadas. – Ele riu fracamente. – Apesar de tudo isso, eu posso te dar um conselho?
- Claro que pode, seus conselhos são sempre os melhores. – Joguei o olhar para cima, fazendo-o rir.
- Eu acho que se você gosta muito dela, deveria dar uma segunda chance. – Ergui o dedo, impedindo-o que me cortasse. – Antes de contestar, me escuta… Tente conhecê-la, afinal, você só viu a versão dela que mentia para você, conheça-a sem máscaras, sem mentiras. Tenta uma amizade de início, nada relativamente ligado a uma relação amorosa. É incontestável que você ama essa mulher, quando você fala dela, seus olhos brilham de um jeito diferente, isso é amor!
- Você quer que eu esqueça tudo? Eu não consigo. – Ele colocou as mãos no rosto.
- Não foi o que eu disse, pequeno gafanhoto. – Ele franziu o rosto e eu abanei a mão. - Ninguém consegue esquecer as coisas de uma hora para outra. O que eu te sugeri é que conheça a versão dela que não mente para você. Dê uma segunda chance para que ela possa se redimir, afinal, eu tenho certeza que ela também está sofrendo com tudo isso. – Vi Vinícius aparecer pela porta e abanar a mão. – O que ela fez foi algo muito grave, Arthur, você tem toda a razão de estar com raiva e magoado com ela, mas se você continuar agindo do jeito que está, você pode perdê-la… É isso que você quer? – Me levantei, vendo-o que havia deixando-o pensativo.
- Você é a melhor, sabia?
- Eu sei, eu sei! – Abanei as mãos. – Agora vamos, sua vez!
- Posso te mandar mensagem se eu precisar de algo? – Ele perguntou segurando minha mão.
- Claro que pode! – Acariciei seu ombro. – Pode me chamar a qualquer hora, só não se esqueça que eu estou algumas horas para trás. – Ele riu, me puxando para um abraço, me fazendo rir.
Quando a avaliação acabou, já estava na hora do almoço. Fizemos aquela pausa de três horas e voltamos para o treino logo depois. Na parte da tarde, tivemos a presença da imprensa e de alguns torcedores do Arsenal que tinham acesso ao clube. Claro que por causa disso, eu e Alisson nos mantivemos distantes, estava na hora de provar para a imprensa que não era tudo aquilo que eles queriam nos pintar. Para finalizar o dia, levei Marquinhos e Douglas para coletiva. 20 minutos de perguntas que já estávamos acostumados.
Os dias passaram sem muitas novidades. Eu e o pessoal da comunicação ficávamos vagando pelo treino durante os primeiros dias, acompanhando os jogadores, fazendo algumas gravações para a CBF, respondendo a imprensa e por aí vai.
No terceiro dia de treinos, eu acabei ajudando Taffa em um treino especial que ele fez com uma câmera onboard. Era bom voltar a brincar um pouco de bola, principalmente com a correria da vida, mas confesso que acabei levando umas boladas bobas. A cara do jovem Brazão quando acertou uma bola na minha cabeça foi demais, todos começaram a gargalhar, especialmente eu, e ele pediu perdão até a vigésima geração minha, que nem tinha nascido ainda.
Rolou uma entrevista com Filipe Luís, a qual eu preferi me manter afastada para não zoar com ele mais do que eu já estava acostumada e no final do dia levei Arthur e Richarlison para meia hora de coletivas.
No quarto dia caiu uma chuva torrencial que impediu o treino por longas quatro horas, depois, quando foi possível que os jogadores voltassem para o campo sem que um raio caísse em nossas cabeças, eu e Bianca ficamos intercalando as ligações com altas gargalhadas dos meninos deslizando a bunda na grama molhada e caindo de bobeira. Claro que quando o treino finalizou, Alisson estava todo animado para me abraçar e só deu correndo estádio acima, tentando fugir de seus braços e pernas enlameados.
Próximo às quatro horas, recebi uma ilustre visita de Davi Lucca, é, o filho do Neymar. Parecia que aquele garoto crescia cada dia mais e eu me sentia velha, eu tinha visto-o pela última vez em junho, nem fazia muito tempo.
- Oi, tia! – Ele sorriu e eu o abracei quando ele me apertou pela cintura.
- E aí, moleque? – Baguncei seus cabelos. – Está grande, hein?!
- Eu já estou com um metro e 20. – Arregalei os olhos.
- Uau! – Fingi surpresa. – E está bonitão. Bem mais bonito que seu pai. – Sussurrei, vendo-o rir.
- Vai ensinar coisa errada para o garoto. – Ouvi Ney rosnar e eu ri fracamente.
- Só falando umas verdades para ele. – Dei de ombros. – Bom, vamos? Hoje é você na coletiva, capitão. – Revirei os olhos.
- Vejo seu ânimo por isso...
- Você sabe que... – Foi sua vez de revisar os olhos.
- O Thiago é seu capitão e blá, blá, blá... – Rimos juntos.
- Posso ir? – Davi perguntou e eu olhei para Bianca que somente dei de ombros.
- Por que não?! – Copiei os movimentos de Bianca. – Talvez você possa ensinar algo a seu pai. – O ouvi rir e segurei-o pelos ombros, seguindo para a área de coletiva com Bianca, Lucas, Vini, Tite, Neymar e o mini Carol Dantas.
Claro que com Neymar no pedaço, a coletiva durou bem mais do que 30 minutos. Ficamos lá por mais de uma hora, ouvindo vários jornalistas fazendo perguntas para Neymar e Tite, e ouvindo respostas atravessadas, provocativas e algumas até falsas, nada do que já não estivéssemos acostumados e que não tentássemos mudar toda vez.
Davi fez suas aparições durante a coletiva, mas nada relevante, ele só fazia caras e bocas, claramente de uma criança de seis anos entediada. Ao fim da coletiva, Tite deu o treino como encerrado, o campo estava muito molhado e ele estava com medo de que alguém acabasse se machucando.
- Vem cá! – Alisson me chamou de longe e eu neguei com o indicador para ele, vendo-o franzir os lábios.
- Depois de um longo banho de ducha e depois que essa roupa estiver no incinerador. – Falei, me protegendo para dentro do salão, aonde eles não entrariam imundos dessa forma.
- Maldade! – Ele falou. – A gente fica tanto tempo longe e...
- Não tente fazer meu jogo de drama contra mim. – Pisquei para ele, vendo-o revirar os olhos e dar meia volta, seguindo, eu espero, para o chuveiro.
Acabamos jantando à gargalhadas, vendo os vídeos e boomerangs que fizemos do treino de hoje. A quantidade de quedas era sensacional. Vinícius capturou até um momento em que Taffarel escorregou ao chutar uma bola e ir de bunda no chão, claro que a piada da quinta série aconteceu.
- Taffa bunda no chão! – Filipe e Paulinho gritavam descontroladamente e eu só sabia colocar a mão no rosto.
Ao menos Davi estava se divertindo.
O último dia de treino, antes do primeiro jogo se seguiu com a mesma loucura de sempre. Muitas ligações da imprensa, treino pesado até depois do sol se pôr e o nervosismo que começava a dar sinais de vida. Era o Uruguai, afinal, não podíamos nos manter alegres por muito tempo!
Mais para o fim do dia eu e minha equipe acompanhamos uma entrevista com Firmino, e a coletiva com Tite e Cléber antes do jogo. Ou melhor, maior coletiva de desperdício de tempo e transporte. Tivemos a presença de quase 30 veículos para 15 minutos de coletivas. Até eu achei que perdi meu tempo mudando de local, imagina quem veio somente para a coletiva?
Enfim, eu e Alisson estamos melhor impossíveis. Éramos uma coisa só já, não tinha como ficar melhor. Era talvez a maior realização do meu sonho. Acordávamos como um casal, perdíamos um tempo namorando na cama, depois levantávamos para ir trabalhar. Apesar de sentir seu olhar sobre mim em diversas ocasiões e não perder a oportunidade de olhá-lo a cada oportunidade que eu tinha, ficávamos distantes. Na hora do almoço comíamos com o resto do pessoal, trocávamos algumas carícias, depois voltávamos para o segundo round. À noite nos despedíamos cedo para aproveitar um pouco de nós dois juntos e eu dormia muito feliz e fazíamos a mesma coisa no dia seguinte. Eu podia viver assim pelo resto da vida, mas já estava acostumada de que isso tinha prazo de validade.
- Bom dia! – Falei quando o vi abrir os olhos na manhã do jogo.
- Ei! – Ele se espreguiçou, dando um bocejo que quase consegui ver o fundo da sua garganta. – Já é de manhã?
- Já sim! – Comentei e ele passou os braços em volta do meu corpo nu. – Daqui a pouco até acaba o café da manhã e vocês têm treinamento na academia hoje. – Ele bocejou novamente, me fazendo rir.
- Sabia que é tão bom acordar contigo aqui do meu lado? – Ele me ignorou totalmente, me fazendo rir fracamente.
- Sim, eu sei, pena que logo isso acaba. – Suspirei.
- Mas você vai para Liverpool no fim do ano, não vai? – Ele perguntou. – Já estou planejando tudo aqui.
- Claro que vou, só estou esperando sair o calendário da CBF, pelo que eu ouvi, vamos até dia dois de dezembro, depois eu estou livre. Tem alguns compromissos depois, mas aí depende de escala...
- Dois de dezembro? – Ele ergueu seu corpo e eu assenti com a cabeça.
- É, por quê? – Me sentei na cama também, segurando o lençol à frente do corpo.
- Dia três tem a premiação do campeonato italiano e eu estou concorrendo de melhor goleiro, se você quiser me acompanhar... Sabe, agora que estamos anunciados... – Abri um largo sorriso.
- Eu não sabia que você estava concorrendo a isso, por que não me falou nada? – Ele deu de ombros.
- Ah, sei lá, não é uma grande competição, nem nada...
- Ah, como você é tonto! – Suspirei. – Claro que é importante, ou a premiação do Brasileirão é boba também?
- Só de você não saber dela, já diz muito. – Dei um tapa em seu ombro.
- Para! E se eu puder, claro que eu vou à premiação contigo, aposto que teremos que ir na do Brasileirão, se eles me liberarem, eu te encontro em Roma. – Pisquei para ele.
- Eu morro de vontade de te levar para lá, sabia? – Ele me abraçou pela cintura novamente, me fazendo rir.
- Mas eu já fui... – Ri fracamente.
- Você foi de turista, é diferente. – Sorri.
- Você quer me levar de casalzinho para Itália, confessa... – Ele deu de ombros.
- Claro! – Ele falou convencido. – Faz tempo que eu não namoro para valer, muito tempo que eu não me apaixono desse jeito, deixa eu aproveitar. – Sorri, colando meus lábios nos dele levemente.
- Deixo. – Passei os braços pelos seus ombros. – Acho que essa é a parte boa de nosso relacionamento, apesar de passar já quatro meses de relacionamento oficial, nossos dias juntos são poucos, então ainda estamos na lua de mel. – Ele riu contra meu ouvido.
- Contigo parece lua de mel sempre. – Sorri, sentindo-o beijar meu pescoço.
- É fácil namorar à distância, vai, não temos problemas.
- E nem vamos ter. – Ele disse.
- Oh, ! – Me assustei com um grito e uma porrada na porta.
- Quem é? – Alisson sussurrou.
- Para de namorar vocês dois, o café vai acabar em 20 minutos e o Tite já falou que o almoço vai ser só depois das três hoje. – Relaxei os ombros.
- Lucas. – Abanei a cabeça e me separei de Alisson, me aproximando da porta e abrindo uma fresta, me escondendo atrás da mesma. – O que foi?
- Vai ficar namorando até quando? – Ele falou enquanto bufava.
- O treino está marcado para as 11, estamos no horário.
- Bianca quer saber se você vai com ela para checar os protocolos.
- Vou sim, eu logo estou descendo. – Ele revirou os olhos e se virou. – E melhora essa cara, hoje é dia de clássico! – Gritei, ouvindo sua risada e fechei a porta, vendo Alisson já se trocando no quarto.
- Melhor eu descer, não posso ir para academia sem comida.
- Mas é bom vocês treinarem hoje? – Fui atrás de minhas roupas também.
- Não é treino pesado, é só fisioterapia e um pouco de alongamento e exercícios leves. – Ele me puxou pela cintura, colando nossos lábios por alguns segundos. – Te vejo lá embaixo?
- Sim, vou ver o que a Bianca quer e a gente se encontra mais tarde. – Ele assentiu com a cabeça, procurando seu crachá pendurado na porta.
- Eu te amo! – Ele falou pausadamente e eu sorri.
- Eu também. – O imitei e ele saiu pela porta.
O dia se seguiu como todos os dias de jogos. Os jogadores de um lado para o outro fazendo o tempo passar, alguns fizeram trabalho de fisioterapia e academia, outros se ocuparam com jogos de cartas e de mesa que tinha pelo CT do Arsenal, além da boa e velha soneca.
Quando era seis horas, a seleção saiu em peso do hotel. Agrademos aos gerentes, como era de costume, e seguimos para o ônibus da Seleção. Percebi que o alvoroço da imprensa do lado de fora estava mais forte do que normalmente, alguns até gritando meu nome. Fingi que não ouvi e fui a última a entrar no ônibus, logo depois de Lucas.
Chegamos ao Emirates Stadium com festa brasileira, com muitas pessoas na rua, gritaria e sinalizadores. Fui a primeira a sair, com Bianca ao meu lado. Ela seguiu em frente e alguns jogadores foram atrás dela, esperei com que Arthur saísse e segui ao seu lado.
- Você está bem? – Perguntei, vendo-o até se assustar com a pergunta repentina.
- Estou sim, focado! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, passando o braço pelos seus ombros e abraçando-o de lado.
- Arrebenta, ok?! – Baguncei seu cabelo e seguimos para dentro.
Quando entramos no vestiário, Alisson me puxou pelos ombros, apontando os olhos para Arthur, como se o desafiasse e eu ri fracamente, batendo em sua cabeça, sentindo-o morder minha orelha e seguir para seu lado no vestiário, me fazendo rir.
Preparamos os protocolos e também nos arrumamos. Estava bem frio em Londres e eu precisei colocar o casaco corta-vento por cima ou aposto que viraria um picolé antes do final do primeiro tempo.
Os jogadores foram para o alongamento, entraram e a preparação para o jogo começou. Entramos na roda para algumas palavras de Tite e Neymar e fizemos o clássico cumprimento antes dos jogadores seguirem para o túnel. Me organizei com minha equipe e logo seguimos o mesmo caminho junto dos reservas.
Respirei fundo ao chegar no túnel dos jogadores, vendo a equipe brasileira e uruguaia pronta e senti minhas pernas tremerem ao ver Cavani ocupando o último lugar na fila uruguaia. Bianca entendeu meu olhar e deu um surto silencioso ao meu lado me fazendo rir. Depois ambas respiramos junto, fingindo calma e maturidade e seguimos pelo túnel.
Quando passei ao lado do meu namorado, ele me puxou pela cintura e me puxou para um beijaço que fez com que ambas as seleções gritassem para nós, me fazendo gargalhar e estapeá-lo antes da finalização do beijo.
- Doido! – Falei, vendo Marquinhos e Neymar, que estavam mais perto, gargalhando. – Tem câmeras aqui. – Dei mais um tapa em seus ombros, tentando segurar a risada.
- E crianças também. – Firmino gritou de mais longe e eu mostrei o dedo do meio para ele.
- Vamos, ! – Bianca me puxou gargalhando e eu passei o olho pela seleção uruguaia que estava bem surpresa com esse beijaço. Só esperava que meu batom não estivesse borrado em rede internacional.
Eu e Bianca tomamos nossos lugares do banco de reservas segurando a gargalhada e já ficamos em pé com a entrada dos jogadores. Nossa escalação de hoje era: Alisson, Danilo, Marquinhos, Miranda, Filipe Luís, Arthur, Walace, Renato Augusto (que foi trocado após uma lesão no tornozelo de Coutinho no último treino), Douglas Costa, Firmino e Neymar. Em compensação, do outro lado, tínhamos Cavani, Suárez, Bentacur, Cáceres e muitos que faziam o time uruguaio ser o que é.
Times separados, hinos cantados, um minuto de silêncio pelo falecimento de Aldyr Schlee, criador da camisa amarela da seleção e começou o primeiro tempo.
Começamos bem, logo nos primeiros cinco minutos, tivemos uma falta a nosso favor, Neymar tentou de uma vez só, mas o goleiro defendeu uma bola que já ia para fora. Outro escanteio ao nosso favor e o goleiro pegou sem dificuldades.
Aos 10 minutos foi nossa chance, na área uruguaia, os jogadores foram passando bola por bola, até Renato Augusto fazer um passe leve para Filipe Luís que fez um chute só para dentro da área, Neymar fez um chute leve, colocando a bola para dentro do gol. O estádio foi abaixo, mas logo o apito foi soado, marcando o impedimento pelo bandeirinha. Sentamos frustrados novamente, e o jogo se seguiu.
Tínhamos muitas chances de gol, mas ou a bola ia para fora, ou os chutes eram a esmo e iam muito para fora ou muito para o alto, ou o goleiro uruguaio estava muito bem posicionado e preparado para as bombas brasileiras.
Aos 20 minutos a bola começou a chegar perto do nosso campo, fazendo com que eu começasse a morder a ponta do dedo. Cavani deu um chute de fora da grande área e Alisson se esticou para pegar a bola lá em cima. Achei que ele iria ficar no chão pelo movimento errado que ele fez, mas ele logo se levantou, seguindo o jogo.
Aos 24 minutos, os cartões amarelos começaram a ser dados por entradas violentas, o primeiro a receber foi o uruguaio Di Pascua. Depois Mathías Suarez, Douglas, Vecino, até o novato Walace acabou levando cartão.
Tivemos outras tentativas de ambos os lados, mas estava mais preocupada com o tanto que meu namorado estava trabalhando e visivelmente preocupada com todas aquelas quedas estranhas. Parecia que todos os treinos de quedas praticadas, foram ignoradas e cada vez que suas costas batiam no chão, a minha se arrepiava.
Cavani estava sendo o ceifador do meu namorado e eu esqueci por alguns segundos que havia dado uma bela babada nele lá no túnel, mas Alisson conseguiu segurar muito bem todas aquelas bombas.
Assim que acabou no primeiro tempo, eu fui uma das primeiras a voltar para dentro, ainda não tinha esquecido aquele beijo antes do jogo e, mesmo abrindo para o público, ele não deveria fazer aquilo, muito menos quando ele está, supostamente, focado para um jogo. E eu pedindo foco do Arthur.
- Seu filho da mãe! – Eu bati em seu braço quando ele passou pela porta do vestiário.
- Ai, ah, oh! – Ele se defendeu com suas luvas e gargalhou.
- Nunca mais faça aquilo! – Falei, tentando segurar a risada e ele segurou meu rosto com as mãos e pressionou seus lábios nos meus.
- Eu te amo! – Ele falou alto e eu tirei suas mãos de seu rosto.
- Nunca mais! – Falei firme.
- O que está acontecendo aqui? – Cléber perguntou quando entrou no vestiário.
- Nada! – Eu e Alisson falamos juntos como se fôssemos alunos da sétima série e cada um se dispersou para um lado, se preparando para o segundo tempo.
- O que foi aquilo? – Bianca sussurrou para mim e eu segurei a risada, pois Tite falava com os jogadores sobre seus desempenhos.
- Não sei, mas estou gostando disso. – Olhei para Alisson de costas para mim, naquele uniforme verde limão horroroso e suspirei.
- Aproveita, garota! – Sorri.
- Esse fim de ano eu vou aproveitar e muito. – Sussurrei de volta, vendo-a me dar tapinhas no braço.
O segundo tempo começou com a saída de Renato Augusto e Douglas, e a entrada de Allan e Richarlison. Era o momento para fazermos um golzinho sequer, para passar por cima do Uruguai.
Não foi o que o começo do primeiro tempo mostrou, a quantidade de bomba que veio em direção ao Alisson, somente nos cinco primeiros minutos, faziam com que a unha lascada do meu polegar fosse embora rápida demais.
Aos 18 minutos de jogo, perdemos uma chance de bobeira do goleiro uruguaio. Neymar chutou em direção do gol, ele defendeu para frente, mas não deu tempo de Richarlison chegar para dar o chute final, pois ele a pegou rapidamente depois.
A bola voltou para o lado de Alisson e quando Cavani cruzou para Suarez, Miranda pegou-a no meio do caminho, recuando para trás novamente, fazendo com que ele e Alisson entrassem no gol com a rápida corrida que ele deu.
Aos 28 do segundo tempo, um milagre aconteceu. Porque só um milagre para fazer esse jogo sair do zero a zero mesmo. Em uma arrancada de bola, um uruguaio tentou erguer a bola e acabou chutando o pé de Danilo, fazendo com que ele caísse dentro da grande área. O estádio inteiro se animou com a possibilidade de um pênalti, mas foi a reclamação exagerada do Uruguai que fez com que ele marcasse finalmente.
Neymar fez uma gracinha antes de chutar a bola, mas a bola foi para dentro do gol e o goleiro foi para o lado contrário que ela bateu. Um a zero para o Brasil. Um sofrido um a zero, mas ainda assim.
Quase no final do jogo, uma chuva fina e gelada começou a cair, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. Tivemos outras chances de gol, mas nada saiu. Tivemos muitas substituições e o Uruguai até tentou, mas não conseguiram sair do um a zero e nem nós conseguimos avançar.
Saí rapidamente debaixo dessa chuva e procurei por uma tolha assim que entrei no vestiário novamente. Tirei também o corta-vento molhado e o corpo estava gelado, mas seco, menos mal. Só o cabelo que tinha bagunçado tudo dentro do rabo de cavalo. Precisava acompanhar a coletiva com Tite e Cléber, então coloquei um moletom mais quente e segui com eles para a sala da coletiva, ouvindo-os falar por cerca de meia hora sobre os pontos altos e baixos do jogo, enquanto eu dava longos bocejos lá no fundo.
Antes de ir embora, até eu aproveitei para tomar um banho quente, não aguentaria a viagem até Milton Keynes com o corpo gelado daquele jeito, mesmo que fosse de somente uma hora. Quando todos estavam prontos, abandonamos a ideia de jantar no estádio e seguimos direto para a cidade do próximo jogo. Não sei dizer se era o cansaço, o frio ou as diversas quedas, Alisson dormiu assim que se encostou no banco.
Dei um beijo em sua cabeça, fazendo um carinho em seu rosto, entrelaçando nossos dedos e logo fui para o mesmo caminho que ele. Feliz por tê-lo ao meu lado.
Chegamos no hotel um tanto quanto perdidos, eu e Alisson pelo menos, havíamos dormido o caminho inteiro até Milton Keynes e estávamos com os olhos colados ainda. O jogo havia sido bastante exaustivo para ele, com tantos saltos, defesas e quedas, e eu estava só preguiçosa depois de tomar um pouco de chuva.
O hotel Hilton que ficaríamos em Milton Keynes era diferente de tudo o que eu já tinha visto nessa vida de CBF, ele era dentro do estádio de Milton Keynes, então quando entramos no lobby do hotel, estávamos do outro lado da entrada do estádio.
- Ok, ok, vamos organizar isso e ir dormir. – Tite comentou, jogado em uma das poltronas do lobby.
- Rá! – Bianca gritou, conversando com o gerente e eu franzi a testa, me aproximando dela. – Você não vai gostar disso. – Ela apontou para mim e eu tombei a cabeça para o lado.
- O que eu fiz? – Falei, ouvindo algumas pessoas em volta rir.
- Quarto de três! – Ela gritou e eu revirei os olhos, empurrando-a pelo ombro, achando que ela estava falando algo sério.
- Pena de quem tiver que ficar com a gente! – Cruzei os braços, mordendo o lábio inferior, ouvindo algumas pessoas rirem.
- Eu estou fora! – Neymar foi o primeiro a falar, pegando uma chave com Bianca, fazendo-a derrubar todas no chão.
- Olha o desespero! – Ederson gritou, fazendo-os rir.
- Eu fico com eles! – Arthur falou, dando uns passos à frente. – O Alisson está adorando me ter por perto, não é?! – Ele abraçou o Alisson de lado e a sala explodiu em risadas, principalmente pela diferença de altura.
- Nós temos um filho agora e eu não estou sabendo? – Alisson olhou para mim, com os braços presos no abraço de Arthur.
- Nem brinca com isso! – Abanei as mãos, ouvindo o pessoal rir.
- A brincadeira está boa, mas eu preciso dormir. – Tite apareceu e rimos. As chaves foram distribuídas e subimos pelos elevadores.
Os quartos ficavam distribuídos pelos cinco andares do estádio, então cada um desceu em um andar, nós ficamos no quarto. Assim que Arthur abriu a porta, uma luz forte nos cegava, devido à cortina aberta.
- Uou, esse é o estádio? – Arthur jogou a mochila em uma das camas e seguimos até a janela de vidro e percebemos que estávamos olhando para dentro do estádio.
- Isso é demais! – Falei um tanto alto. – Eu nem preciso sair do quarto para acompanhar o treino. – Rimos juntos.
- Ok, algumas regras aqui! – Arthur falou, se aproximando de sua cama. – Sem transar comigo no quarto...
- Não somos assim. – Eu e Alisson falamos juntos.
- E sem transar no chuveiro também, não quero me tornar mais íntimo do que isso está sendo.
- Acho que é justo. – Alisson comentou e eu assenti com a cabeça.
- Não é como se fosse a primeira vez que tivéssemos que dar nossos pulos. – Dei de ombros, ouvindo-os rir.
- Combinado, então. – Arthur sorriu. – Vai ser ótimo ficar com vocês! – Revirei os olhos, seguindo até minha mala.
- Eu vou me trocar e ir dormir. – Comentei. – Vocês se virem aí. – Dei um rápido beijo em Alisson e segui com a mala e tudo até o banheiro, batendo a porta.
- Vai ser divertido! – Ouvi Alisson dizendo, antes de eu bater a porta.
Os jogadores acabaram tendo folga somente até as três horas da tarde, depois Tite quis todos eles de volta no campo para reconhecimento de território no estádio novo. Eu não entendo muito dessa parte técnica de campo e tudo mais, na época da faculdade jogávamos em campos quase sem grama, então aquilo já era o paraíso para mim.
O treino não alongou tanto, ficamos papeando no restaurante, eu e Alisson aproveitamos para namorar um pouco mais escondidos de todo mundo, aproveitando para conhecer um pouco do hotel.
- Aqui é legal! – Falei quando chegamos ao terraço e podíamos enxergar o campo lá de cima.
- Não me sinto muito confortável com alturas. – Sorri, passando os braços pela sua cintura.
- Você viaja diversas vezes por semana e vai me dizer que tem medo de alturas agora? – Brinquei.
- É diferente. – Ele deu de ombros, virando para mim e passando um braço pelas minhas costas.
- Ok, vou fingir que entendo. – Dei um beijo em sua bochecha. – Eu sou filha de aviador, então praticamente nasci dentro de um avião. – Ele passou os braços pelos meus ombros e eu o abracei pela cintura.
- Você quer dançar? – Ele cochichou, mudando de assunto e eu sorri.
- Aqui? Sem música? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Posso cantar para você. – Ele encostou a cabeça na minha, com a boca próxima à minha orelha.
- Eu vou gostar disso. – Comentei, fechando os olhos.
- Ser romântico às vezes ajuda... – Ele começou a sussurrar em meu ouvido. - Mas se fecho os olhos te imagino nua... – Ri fracamente, arrepiando com seus lábios em meu ouvido. - Talvez pareça uma cena de Hollywood, se 'tá pensando isso, por favor, não se ilude...
- Luan Santana?
- Xí. – Ele pediu e eu me calei, vendo seus olhos claros focarem no meu. - Eu só quero uma noite de amor, como as outras, só mais uma que passou.
- O Arthur está te deixando doido, não?! – Ri fracamente e ele negou com a cabeça.
- Eu estou tentando ser romântico aqui. – Pressionei os lábios um no outro.
- Por favor, continue. – Falei baixo e ele encostou sua testa na minha.
- Mas foi só a porta fechar, pra mudar minha cabeça, ah! A sua boca vale o preço pra perder o sossego que eu tinha, ah! – Ele sussurrou contra a minha boca, passando sua língua sobre ela. - A lua até beijou o mar pra não ficar de vela. Os quatro perdidos de amor, eu, você, o mar e ela, eu, você, o mar e ela.
- Só você, eu e ela! – Dei uma rápida olhada para cima, aonde a lua estava e ele sorriu, me segurando mais firme pela cintura e colando os lábios nos meus.
Subi as mãos para seus ombros, colando meu corpo mais no seu. Suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto seus lábios caminhavam para meu pescoço e depositava beijos pelo mesmo. Ele afastou seu rosto um pouco do meu, me dando aquele sorriso e eu ri fracamente, colando nossos lábios novamente.
- Quente! – Dei um pulo quando ouvi e eu e Alisson viramos o rosto para a voz.
- Ah, não! – Reclamei, vendo Filipe Luís, Danilo e Paulinho. – Vocês não desaparecem, não?! – Reclamei.
- Hum, não... – Danilo falou e eu bufei para o alto.
- Mas parece que o negócio estava bem...
- Não termina. – Alisson cortou Filipe que ergueu as mãos rendido.
- Eu não preciso ouvir isso, chega uma hora que a intimidade acaba e ela não existe aqui. – Apontei para mim e Alisson.
- Vamos para o quarto, o Arthur não é sem noção, pelo menos. – Alisson me deu a mão e seguimos em direção ao elevador.
- Sem noção! – Danilo gritou e ouvi um barulho de tapa.
- Ai! – Ele reclamou e eu segurei a risada.
- Desculpe, o Filipe não tem noção quando parar. – Alisson falou.
- Não estou reclamando disso, eu estou meio irritada com tudo. Não podemos ficar juntos, quando podemos estamos mortos de cansaço. – Ele me abraçou pela cintura. – Deve ser a TPM. – Suspirei.
- Pensa que em alguns dias nós estaremos juntos em Roma... – Ele beijou minha orelha.
- Se tudo der certo.
- Não começa com esse “se” novamente, vai dar certo. Você não tem férias para tirar? – Ri fracamente.
- Eu entrei na CBF no dia da convocação para Copa do Mundo, só maio do ano que vem. – Suspirei.
- Droga! – Ele sussurrou.
- Fique feliz com o recesso. – Ele riu.
- Bom, daremos um jeito. – Ele me apertou pela cintura e seguimos pelo corredor até nosso quarto.
Tirei a chave do bolso e coloquei no leitor, empurrando-a quando ela ficou verde e arregalei os olhos quando encontrei o quarto sozinha.
- Arthur? – Alisson gritou quando percebeu a mesma coisa.
- Arthu-ur? – Chamei novamente e eu e Alisson nos entreolhamos.
- Acho que podemos aproveitar um pouco. – Franzi a testa quando ele se abaixou rapidamente e puxou o tênis dos pés, tirando a meia de um dos pés.
- O que você está fazendo?
- Código masculino! – Ele abriu a porta novamente, colocou a meia na maçaneta do lado de fora e a fechou novamente, me fazendo rir.
- Isso é maldade! – Comentei, vendo-o se aproximar novamente e passar os braços pela minha cintura novamente.
- Espero que ele entenda a referência. – Ele me levantou pelas coxas, me fazendo rir.
- O trauma vai ser dele. – Comentei, sendo calada por mais um beijo dele.
No dia seguinte, voltamos com o treinamento normal desde cedo. Isso foi bom para alguns, já para Arthur... Vamos dizer que ele acabou entendendo a ideia da meia bem até demais, e foi entrar no quarto quase três horas da manhã. Então, ele estava quase caindo de cara no seu cereal hoje cedo.
O dia passou bem, as preparações para o jogo contra Camarões estavam bem calmas. Sabíamos que era um jogo mais calmo, mas parecia que a imprensa gostava de jogar isso na nossa cara, como se sentíssemos superiores a ele. Apesar de ter história, levávamos esse jogo como qualquer outro, então os treinos eram extensos e bem puxados, enquanto eu e Bianca ficávamos atendendo ligações e acompanhando os treinos de longe. Mais para o fim do dia, acompanhamos uma coletiva com Dedé e Pablo.
O dia seguinte foi parecido com o anterior, a imprensa cada vez mais em cima, os jogadores mais agitados e prontos para encarar o jogo de amanhã. Também tinha um “quê” de depressão, era o último treino da Seleção de 2018, então era a última vez que ficaríamos todos juntos esse ano. O próximo encontro seria só em março, então tínhamos longos quatro meses até lá.
Confesso que isso me arrepiava um pouco. Sei que encontraria Alisson antes em outras oportunidades que criaríamos, mas era um tanto desesperador pensar que seriam longos quatro meses até esse encontro novamente. Eu tentava não externalizar isso, Alisson já suspeitava que eu estava nervosa com a despedida iminente no dia seguinte, então não falávamos disso.
Após a coletiva de imprensa com meu parça da Juventus, Alex Sandro, ficamos acompanhando o treino um pouco mais de perto e um pouco mais íntimo, sem pessoas de fora junto e com a galera da comunicação para dentro do campo também, fazendo alguns passes de bola, algumas embaixadinhas e tudo mais.
- Nem tive tempo de te irritar dessa vez, né?! – Taffa passou o braço pelos meus ombros e eu ri.
- Ah, com tanta gente que me irritou nessa viagem, você nem teve espaço. – Ele beijou minha bochecha e eu sorri, abraçando-o.
- Vamos jogar um pouco? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Ah, hoje não. Já estou no clima de despedida. – Sorrimos.
- Vamos fazer mais um jogo de 15 minutos antes de finalizar? – Taffa perguntou e Tite confirmou.
- Vou acompanhar de fora dessa vez. – Mandei um beijo para Alisson e segui para fora da linha, me jogando no banco de reservas ao lado de Bianca.
- Estamos aqui novamente, meu bem! – Sorri, encostando a cabeça em seu ombro.
- Pois é. – Sorri.
- Você está triste, não? – Dei de ombros.
- É difícil não estar. – Comentei.
- Vamos ter recesso, vocês poderão ficar um tempo juntos, você vai ver. – Assenti com a cabeça.
- Não precisa tentar me animar, eu sempre fico para baixo nos últimos dias. – Ela sorriu. – Vai passar.
- Eu sei que vai. – Ela segurou minha mão e eu relaxei o corpo na cadeira. – Sempre melhora depois de um tempo, sua vida volta a ter cor, mas não gosto de te ver assim.
- Eu estou bem, prometo! Divido um pedaço de pizza contigo para provar isso. – Ela gargalhou.
- Agora eu gostei! – Sorrimos cúmplices.
O jogo começou e Tite havia misturado os dois times, não era reserva contra titulares, era difícil de explicar, mas as bolas iam e voltavam, alguns chutes a gol, alguns entravam, outros não. Era visível o cansaço de todos eles, até nosso, já era quase nove horas da noite, o treino já deveria ter sido finalizado duas horas atrás e eles estavam se forçando a mais.
Em uma arrancada de Filipe Luís, vi Alisson se preparar para a defesa, mas devido a um desvio de Marquinhos, Filipe tentou driblar o defensor e fez um chute totalmente largado, mas ele foi em direção ao gol, fazendo com que Alisson pulasse em direção à bola e a defendesse... Ou melhor, sua cara defendesse a bola.
- Oh! – Reclamei, colocando as mãos na boca!
- Ai! – Tite reclamou ao meu lado e todos que viram começamos a gargalhar.
- Diz que você filmou isso! – Gritei para Vinícius que também não se aguentava de rir.
- Não filmou nada! – Alisson reclamou com a bola embaixo do braço e a mão livre no rosto avermelhado.
- Nossa, essa deve ter doído! – Brazão comentou e eu segurei para não rir.
- Eu preciso desse vídeo.
- Vinícius, se você tem amor à sua vida, deleta esse vídeo. – Alisson gritou para ele que tentava conter a risada.
- Você tem um contrato de direitos de imagem! – Gritei para ele, piscando.
- Vai ser lindo a imagem do seu goleiro levando uma bolada na cara, né?! – Ponderei com a cabeça.
- Pode não ser a imagem que devemos mostrar, mas vai ser ótima para mostrar para família.
- Se esse vídeo não for para internet, eu deixo você ficar com ele. – Abri um largo e sádico sorriso, virando para Vinícius.
- Vini-i! – O chamei e ele negou com a cabeça.
- Nem vem vocês dois. Não me coloquem no relacionamento de vocês. – Vini segurou seu tripé e se afastou.
- Desculpe, cara! – Filipe falou e neguei com a cabeça, deixando a gargalhada ecoar pelo local.
- Demais! De-mais! – Falei rindo.
- Ah lá, tá sangrando! – Alisson gritou, erguendo a cabeça para trás e eu arregalei os olhos.
- Fabio! – Chamei o médico.
- Relaxa, garota, é só um nariz sangrando. – O médico reclamou. – Nada de novo até aí.
- Tem certeza que não quebrou? – Eu e Tite perguntamos juntos.
- Tenho! – Alisson e Fabio responderam juntos.
Depois dessa bolada, o treino acabou de vez, o nariz do Alisson demorou bons 10 minutos para parar de sangrar e já havíamos abusado demais do corpo deles. Voltamos para o hotel logo em seguida e juntamos a gangue inteira para o jantar de despedida de sempre que Tite gostava de fazer antes do último jogo do amistoso.
Eu, Alisson e Arthur fomos dormir na mesma hora aquele dia, mas realmente fomos dormir, todo mundo estava cansado pelo treino extenso. Acabamos entrando em acordo para assistir algum filme na televisão, ficamos papeando por alguns minutos, até que fui deixada falando sozinha por Alisson e depois por Arthur. Terminei de ver o filme e acabei dormindo também.
- Vamos lá, gente! Vamos lá! – Tite começou a chamar o pessoal e eu respirei fundo, terminando de vestir meu casaco e colocando as luvas, toca e uma manta. Parecia que Milton Keynes fez questão de estar um frio do caralho justo na hora do jogo.
- Bom jogo, galera! – Gritei, seguindo pelo túnel atrás do pessoal.
- Vamos, vamos! – Lucas passou correndo por mim para tirar algumas fotos do pessoal entrando no campo.
Alguns jogadores passaram por mim e eu fiquei por último, esperando Bianca chegar para entrar comigo no campo e passar algumas horas nesse frio.
- Vamos lá, garota! – Ela me abraçou pelos ombros e segui com ela por entre os jogadores.
- Não vai fazer merda, hein?! – Apontei para Ederson que riu.
- Pode deixar, ele vai ficar contigo durante todo o jogo. – Sorri, dando um beijo em sua bochecha e saí com Bianca do túnel, sentindo o vento atingir meu rosto.
- Ah, eu quero ficar lá dentro! – Ela choramingou e eu ri com ela, seguindo para o banco de reservas da seleção brasileira.
- Força! – Disse, ocupando um lugar ao lado de Alisson e ela ao meu lado.
- Eu vou congelar até o fim do jogo. – Sua voz saiu abafada pela gola da blusa de lã por cima da boca e eu ri fracamente.
- Você ao menos mora aqui, eu moro no Rio de Janeiro, não estou acostumada com tanto frio. – Rimos juntos e estiquei a manta em frente ao meu corpo, cobrindo minhas pernas.
Os times entraram, com a escalação de hoje: Ederson, Danilo, Marquinhos, Pablo, Alex Sandro, Allan, Arthur, Paulinho, Willian, Firmino e Neymar. Foi bonitinho que o Willian deu seu casaco para a criança que entrou com ele, já que ela estava toda tremendo.
O jogo em si foi mais calmo do que eu esperava. Claro que tivemos mais chances de gol do que de Camarões, mas o goleiro Onana estava muito bem preparado e posicionado e Ederson estava indo bem também. Logo no começo do jogo, Neymar sentiu o músculo da virilha e foi substituído por Richarlison antes dos 10 minutos de jogo.
Alisson aproveitou a manta que estava em cima da gente para segurar minha mão durante todo o jogo. Estávamos bem misturados por entre os jogadores e as diversas coberturas em cima da gente, mas a política de não exagerar, ainda estava sendo usada, pelo menos em público.
O nosso gol veio nos 45 do primeiro tempo, Willian cobrou escanteio, Richarlison cabeceou e mandou, finalmente, para o fundo do gol. Depois de várias tentativas e defesas do goleiro camaronês.
Aquilo aqueceu um pouco! Nós pulamos e comemoramos o gol, mas durou pouco, logo acabou o primeiro tempo e ficamos 15 minutos nos protegendo do frio antes de voltar para o segundo tempo.
O segundo tempo passou da mesma forma que o primeiro, a diferença é que não saiu gol. Uma hora Ederson deu uma saída do gol e, por sorte, a bola não entrou, mas causou bons ataques cardíacos. Minutos depois, o goleiro Onana saiu da grande área e foi por pouco que a bola de Willian não entrou. Bateu na trave e a defesa de Camarões tirou ela da reta.
Aquele jogo foi uma união de efeitos errados. Foram muitas chances de gols que foram defendidos ou foram para fora. Esse goleiro estava de parabéns. Depois acabei descobrindo que ele jogava no Ajax, então explicava muita coisa.
O jogo acabou sem muitas novidades e nem deu tempo de aproveitarmos a vitória. O frio estava muito forte e quanto mais passava o tempo, mais gelado nossos corpos ficavam.
Voltamos para o vestiário e começamos a nos preparar para as despedidas. Segui para coletiva com Tite e Sylvinho e Bianca lidou com entrevistas com Neymar, depois de sua possível lesão, a imprensa ficou um pouco em cima dele.
- Mais um trabalho feito. – Eu e Bianca nos abraçamos quando aquilo terminou e suspiramos.
- Hora de ir embora. – Falei.
- Vai lá com seu namorado. – Ela falou e eu segui em direção à Alisson que estava pronto para ir embora.
- Ei, amor! – Ele me abraçou, me fazendo suspirar.
- Que horas vocês vão? – Perguntei.
- Quando Tite liberar, eu, Firmino e Fabinho vamos de van de volta para Liverpool. E você? – Suspirei.
- Voo particular dessa vez. – Sorri. – Estou chique. – Rimos juntos. – Se fôssemos esperar voo comercial, só sairíamos daqui meio dia.
- Eita!
- Pois é! – Suspirei.
- Bom, gente, vamos nos reunir? – Tite chamou e viramos lado a lado, ocupando espaço na roda. – Quero agradecer a todos pelo trabalho que fizemos aqui nesses últimos dias. Foi muito bom e estamos ficando mais fortes e preparados para enfrentar a Copa América em casa. – Aplaudimos animados. – Eu vi muita força de vontade, muito trabalho, ficaria muito feliz de chamar todos, todas as vezes, mas nos veremos futuramente e será um prazer trabalhar com vocês novamente. – Sorrimos, aplaudindo animados.
- Para os que tem transportes para outras cidades daqui, as vans já estão aqui na frente. E para quem vai pegar voo para outros países, podem seguir para gente para o ônibus até o aeroporto. – Bianca falou alto. – Saímos em 20 minutos. – Ela disse por fim, dando aquele sorriso triste para mim.
- Bom, é isso. – Alisson sussurrou contra meu ouvido e eu virei de frente para ele, passando meus braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente.
- Eu te amo, ok?! – Ele falou firme. – Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
- Você também. – Falei, olhando em seus olhos. – Eu te amo, Alisson.
- Nos veremos no fim do mês, você vai ver. – Ele piscou. – Sempre damos um jeito.
- Mais do que conseguimos! – Rimos juntos e ele colou os lábios nos meus levemente.
- Boa sorte nos próximos jogos, ok?! Vamos fazer isso dar certo. – Assenti com a cabeça e ele sorriu.
- Você também, tente não enlouquecer. – Ele beijou minha testa.
- Difícil! – Comentei e ele sorriu.
- Eu te amo, tá?
- Eu sei! – Rimos juntos e trocamos mais um beijo. – Você é demais. – Pisquei, me afastando alguns passos para trás.
Passei pelas outras pessoas, abraçando quem iria para outros lugares e sabia que muitos continuariam ali da próxima vez, mas também demoraria muito para eu vê-los novamente, muito mais do que Alisson. Fizemos toda a volta, até que todos estivessem devidamente despedidos. Fomos todos até a saída e os transportes já se encontravam ali.
- Bom, acho que é isso. – Falei, abraçando Alisson mais uma vez. – A gente se vê, ok?! – Dei mais um beijo em sua bochecha.
- Até mais, . – Ele beijou minha mão e eu sorri, piscando para ele.
- Até mais, Alissinho. – Pisquei para ele, seguindo o pessoal que ia para o ônibus.
- Olha quem está aqui de novo! – Lucas brincou, passando o braço pelos meus ombros e eu ri, abraçando-o pela cintura.
- Sai daqui, cara! Eu que cuidei dela dessa vez. – Bianca o empurrou de leve, nos fazendo rir.
- Se isso for verdade, foi eu, hein?! – Arthur brincou e gargalhamos.
- Ah, vocês. Todos têm espaço no meu coração. – Sorrimos, parando na frente do ônibus.
Largamos nossas malas e entramos um a um no ônibus. Antes de eu entrar, olhei para trás mais uma vez, sentindo o olhar de Alisson focado em mim. Mandei um beijo para ele, vendo seu rosto sério se transformar em um sorriso e suspirei, antes de entrar no ônibus mais uma vez.
- Vamos que vamos, né?! – Sentei ao lado de Bianca.
- Vamos para casa. – Arthur falou ao meu lado, soltando um longo suspiro.
- Você sabe que pode me ligar sempre que precisar, não é?! – Segurei sua mão do outro lado do corredor.
- Sei sim, e talvez eu precise. – Assenti com a cabeça.
- Fique firme, garoto. Você vai ver, isso não vai passar de um tsunami em sua vida. – Ele riu fracamente.
- Você diz isso para si mesma também quando se afasta de Alisson? – Ri fracamente, percebendo a ironia do destino.
- Até parece! – Falei e gargalhamos juntos.
Capítulo 9 – Conhecendo um Ídolo, ou melhor, o Ídolo.
Assim que voltamos para o Brasil novamente, eu tive aqueles clássicos sete dias de folga, mas dessa vez eu não aproveitei e nem quis aproveitar, sendo bem sincera. Era fim do ano e fim de temporada no futebol brasileiro, então não dá para ficar sete dias em casa como se não tivesse uma puta festa acontecendo do lado de fora.
Logo no dia que chegamos, fomos direto para a CBF, todos com aquela cara amassada de sono e roupas amassadas depois de 11 horas de voo, pois era dia da votação do Prêmio Brasileirão 2018 e a equipe inteira da CBF votava, então vai lá fazer o simulado mais difícil de toda vida dela.
Trabalhando na CBF, eu era obrigada a saber quem foram os destaques do ano, mas qual é, meu time estava há um jogo de levantar a taça do Brasileirão e eu sou clubista, desculpa, então posso te garantir que goleiro, artilheiro, defensor, melhor jogador do ano, entre outros, foram todos do meu time.
Depois disso, eu tive meus dias de folga, mas dia 25 meu time jogaria em São Januário contra o Vasco, eu não podia perder a oportunidade de meu time oficialmente se distanciar do segundo lugar e poder se considerar campeão do Brasileirão 2018. Eu estava na plateia, em um dos camarotes privativos da CBF, obviamente, mas acompanhei a festa de longe.
Como funcionária da CBF, eu tinha acesso aos vestiários, mas não conhecia ninguém do Palmeiras para me enfiar na diversão, então fiquei igual uma tonta chorando emocionada da plateia, enquanto Bianca me “consolava” pela vitória. E era o time dela que tinha acabado de perder de um a zero.
Foi uma comemoração meio chocha, estávamos em campo inimigo, então somente uma porcentagem da torcida estava presente, além de mim, obviamente, que estava chorando como comemoração.
Mas foi bom, fazia pouco tempo que tínhamos ganhado o Brasileirão, mas nunca é demais comemorar, não é mesmo?
- E aí? Mc? – Bianca me perguntou quando fomos expulsas do estádio.
- Eu não deveria, mas está tarde e eu estou com a barriga roncando. – Puxei o celular da bolsa, vendo se tinha alguma coisa do Alisson, mas já era de madrugada para ele, ele já tinha ido dormir.
- Olha quem está de volta! – Leandro brincou quando eu e Vini entramos juntos na sala de Assessoria de Viagens e ri fracamente, abraçando-o de lado.
- E aí, como vocês ficaram sem a gente? – Perguntei, seguindo até minha cadeira e apertei o botão do notebook, girando na cadeira para olhar para o pessoal.
- Ah, sabe como é, loucura de fim de Brasileirão, nada de novo. – Ele deu de ombro e eu sorri, virando para o computador.
- Fala aí, galera! – Lucas chegou com Bianca logo atrás de si.
- Finalmente vocês, hein?! – Anna brincou e nós rimos.
- do céu! – Débora apareceu logo atrás e eu me levantei.
- Ah, garota! – Nos abraçamos fortemente, gargalhando em seguida.
- Não acredito que a gente trocou as passagens. – Ela suspirou.
- A gente? Nós não fizemos nada e eu nem lembrei de olhar, estava tão cansada aquele dia... – Suspiramos.
- Bom, pelo menos e dei uma voltinha em Madrid. – Ela comentou.
- Diga que você realmente deu uma volta em Madrid...
- No aeroporto, serve? – Rimos juntas.
- Bom dia, gente! Bom dia, galera que está voltando de viagem. – Angelica entrou na sala e eu e Débora nos separamos, seguindo para nossos lugares. – Vamos juntando que temos uns casos de emergência para resolver, beleza? – Ela colocou a bolsa na sua mesa e virou para todos nós. – Galera que voltou da Inglaterra, tudo certo? – Ela perguntou e assentimos com a cabeça. – Nem conversamos no dia da votação.
- Tudo certo! – Falamos quase juntos e girei um pouco da cadeira para olhar para ela.
- Ok, vamos lá, então, eu acabei de receber uma ligação do Edu. – Ela puxou o quadro de anotações e o virou, vendo se algum lado estava vazio e passou a lateral do punho na mesma, apagando o pouco escrito. – Ou melhor, eu acordei com uma ligação do Edu. – Ela bufou, pegando um marcador.
- Bomba logo cedo? – Diana perguntou.
- Mais ou menos. – Ela respirou fundo e escreveu algumas palavras no quadro, se afastando em seguida, “Liverpool x PSG”, arregalei os olhos na hora. – Edu disse que ele e Tite conversaram, decidiram que Edu vai acompanhar o jogo do Liverpool e PSG amanhã em Paris, começar as preparações para Copa América e tudo mais. – Ela abanou a mão. – Bom, a questão é que eu preciso de um fotógrafo e um assessor para acompanhar isso amanhã, então...
- Eu! – Dei um grito alto até demais. – Por favor, deixa eu ir, gente! Eu nunca peço mais nada, por favor, Angelica, eu, eu!
- Alguém se habilita?
- Eu, por favo-or! – Me levantei, erguendo a mão.
- Alguém? – Percebi que ela e outros seguravam a risada.
- Ah, Angelica! – Me sentei emburrada, vendo todos na sala estourarem em gargalhadas.
- É claro que eu não iria mandar outra pessoa, , ainda mais sendo Liverpool e PSG. – Revirei os olhos. – Já fizemos essa reunião ontem, queria ver o quão longe você ia. – Vinícius começou a gargalhar ao meu lado e eu dei um tapa nele.
- Mancada, cara! É Alisson contra Buffon, gente! – Suspirei, me largando na cadeira.
- Exatamente por isso! – Leandro falou rindo.
- Posso ir, então?! – Perguntei com um sorriso no rosto.
- Pode, você embarca com o Lucas hoje à noite para Paris. – Arregalei os olhos.
- Hoje? – Perguntei alto.
- É, estamos um pouco sem tempo. – Ela suspirou. – Já falo contigo.
- Pelo amor, me mandem para o lugar certo dessa vez, ok?! – Brinquei e eles riram.
- Fechado! – Sorrimos.
- Lucas, , vem aqui na sala, por favor. – Angelica nos chamou para a sala privativa e eu e Lucas a seguimos, nos ajeitando nas poltronas disponíveis da pequena sala. – Lucas já está mais acostumado com isso, mas são algumas instruções rápidas.
- Claro. – Me ajeitei na cadeira.
- Vocês estão indo só para acompanhamento em caso de alguma coisa. Lucas vai fazer fotos do jogo na área da imprensa e você vai assessorar o Edu caso ele precise. – Assenti com a cabeça. – Vocês vão pegar o voo da meia-noite e vão chegar lá quatro horas da tarde, o jogo é somente as nove. – Assenti com a cabeça. – Vocês vão ficar escondidos em algum hotel nesse meio tempo. Durante o jogo, você e o Edu ficarão em um dos camarotes da FIFA, agora você é uma pessoa pública, , então quanto menos você chamar atenção, melhor.
- Melhor para mim também. – Rimos juntos.
- Vocês terão acesso aos vestiários, mas eu indico você ir atrás só após o jogo, ok?! – Ela se virou para gente. – Principalmente porque é um jogo decisivo e não queremos que falem que o Liverpool perdeu por desatenção do Alisson.
- Ei! – Reclamei. – Quem disse que eles vão perder? – Angelica ergueu as mãos rendida.
- Eu estou torcendo para o PSG. – Ela falou.
- Lucas! – Virei para o mesmo.
- Alisson, sempre! – Ele falou batendo no peito e eu senti a ironia, revirando os olhos.
- Tonto! – Rimos juntos.
- Não se esqueçam, vocês estão lá para analisar os jogadores, caso Tite ou Edu chamem vocês para palpitar em alguma reunião, é bom vocês estarem preparados. E em Liverpool e PSG, eu consigo contar ao menos seis jogadores brasileiros em campo para analisar.
- Tudo bem. – Falamos juntos.
- É isso, gente! Depois do jogo vocês vão voltar para o hotel, dormir lá e pegar o voo do dia 29 de volta, ok?! Não vamos fazer nada apressado ou eu vou ter que dar mais uma semana de folga para casa e não podemos perder gente nesse fim de ano. – Assentimos com a cabeça.
- Angelica, eu... – Parei para pensar, respirando fundo. – Deixa quieto. – Abanei a mão.
- O quê? – Ela perguntou.
- Deixa para lá. – Eu já estava abusando demais, não queria dar mais problemas.
- O que foi? Fala! Só estamos nós aqui. – Ela disse.
- O Alisson a convidou para o Gran Gala del Calcio. – Lucas falou em um péssimo sotaque italiano que eu até ri.
- Ah, agora entendi. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Quando é?
- Dia três, no mesmo dia do Prêmio do Brasileirão.
- Entendi... – Ela suspirou. - E você gostaria de ir com ele, certo?
- Talvez... – Falei fazendo uma careta.
- Eu vejo o que eu consigo fazer, ok?! – Ela piscou para mim. – Te informo até as quatro horas, que vai ser a hora que vocês dois vão para casa, arrumar as coisas e ir para o aeroporto. – Assenti com a cabeça.
- Combinado! – Eu e Lucas falamos juntos.
- Depois entrego questões de crachá, documentos, entre outros. – Ela falou e assentimos com a cabeça, nos levantando.
- E aí? Vai contar para o Alisson? – Lucas perguntou quando voltávamos para sala.
- Estou entre contar e distraí-lo do jogo e não contar, mas ter a chance de dar um ataque cardíaco nele depois. – Rimos juntos.
- Eu voto pela segunda opção. – Vinícius falou e viramos para ele. – Qual é, ele é goleiro, está acostumado com ataques do coração. – Rimos juntos. – Além de que ele namora você.
- Ah, maldade! – Eu e Lucas gritamos juntos, dando um tapa em cada braço dele.
Ao longo do dia eu fiquei contando as horas para receber uma resposta de Angelica sobre meu pedido, mas também fiquei me coçando para não mandar uma mensagem para Alisson falando que eu o encontraria amanhã mesmo em Paris. Uma loucura que até eu não consegui assimilar ainda. Era Paris! Eu passei poucas poucas horas quando fui e acho que nunca me apaixonei tanto por aquela cidade, estava empolgada em ir novamente, mesmo que por algumas horas.
Durante o almoço, eu acabei optando por voltar para casa e adiantar o pouco que eu consegui, com o trânsito do Rio de Janeiro, não foi exatamente possível, só fez com que eu chegasse correndo e desesperada no trabalho de novo.
A parte da tarde demorou para passar e cada vez que eu via Angelica, achava que ela viria falar comigo sobre meu pedido, mas ela desviava e seguia para outro lado. Sabia que meu pedido era difícil, ainda mais com todo privilégio que eu fui ganhando, desde o dia que eu entrei nessa empresa, e isso fazia somente seis meses.
Quando deu três e 58, eu comecei a dar destino às últimas coisas e a fechar tudo o que estava aberto e deslogar da minha conta. Três e 59 eu desliguei o computador, peguei minha bolsa e levantei, quatro horas eu me despedi rapidamente do pessoal e já era.
- Tchau, gente! Nos vemos em dois dias. – Falei e eu e Lucas seguimos para fora da sala.
- Quer carona? – Lucas perguntou e eu neguei.
- Não precisa, vou de Uber e a gente se encontra quando o carro nos pegar.
- Beleza! – Ele falou, apertando o botão do elevador.
- ! – Virei para trás, vendo Angelica atrás de mim e, ao invés do meu corpo relaxar, ele enrijeceu.
- Eu vou indo! – Lucas falou quando o elevador abriu as portas e eu assenti com a cabeça.
- Oi, Angelica. – Falei, ajeitando a alça da bolsa no ombro.
- Eu falei com a Michele e expliquei sua situação. – Assenti com a cabeça pedindo que ela continuasse. – É possível. – Ela sorriu.
- Mesmo? – Falei animada, abraçando-a fortemente.
- Sim, mas vamos com calma. – Ela segurou minha mão. – Não podemos te dar folga, mas o plano é vocês ficarem até quinta-feira em Paris e chegar aqui para trabalhar na sexta, então sexta-feira você tem que trabalhar, mesmo home office e segunda-feira também. Esses eventos são no fim do dia, então você vai acabar perdendo umas quatro horas de trabalho, compensa isso no sábado ou no domingo, ok?!
- Ok, eu faço o que for preciso, o que vocês precisarem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Na quinta-feira, vá para Liverpool, vou pedir para mudarem sua passagem, e trabalhe de lá, as atividades que você precisa exercer estarão no seu e-mail. Se possível, pegue o avião de Roma no dia três mesmo, ok?! Você chega aqui de madrugada e a gente tenta te dar um dia de descanso.
- Eu aguento, Angelica, sério, obrigada! – Sorri.
- Vai me informando dos seus passos, ok? Eu vou te ajudar nessa. – Ela piscou e eu sorri.
- Muito obrigada mesmo.
- Alguém precisa ter um pouco de glamour, não é mesmo? – Rimos juntas. – Agora vai cuidar das suas coisas! – Assenti com a cabeça e me virei para o elevador novamente, chamando-o.
As oito horas até o horário do voo demoraram muito para passar, principalmente porque eu não podia falar para Alisson que estava indo e precisava pensar muito em uma desculpa para ficar mais 12 horas sumida. O voo era 11 horas, Paris estava três horas à frente, então seria duas horas da tarde... É, eu estava ferrada.
- E aí, gente! – Edu sorriu quando nos encontrou no aeroporto.
- Ah, Edu! – Corri abraçá-lo, vendo sua cara de confusão.
- Ela só está feliz que vai ver um jogo da Champions League com Buffon e Alisson. – Lucas explicou.
- Ah, claro! – Edu entendeu, rindo fracamente.
- Vai ser legal! – Falei animada.
- Já contou para o Alisson? – Suspirei.
- Estou tentando ser a namorada que não distrai o namorado antes de um jogo importante. – Ele exagerou o movimento com a cabeça.
- Entendi! – Rimos juntos.
- Só quero ver que desculpa você vai dar quando ele perceber que são quase 11 horas da manhã e você ainda não apareceu.
- Dormir demais e ter muito trabalho ainda me parece uma melhor solução. – Dei de ombros.
- Espero só que seu namorado esteja com o check-up médico em dia. – Edu falou.
- Eu disse a mesma coisa! – Lucas falou um tanto alto, me fazendo rir.
- Ah, vocês dois! – Revirei os olhos. – Vamos entrar, vai! – Apontei para o portão de embarque quando nosso voo foi anunciado. – Estou animadíssima para ficar 12 horas presa em um avião com vocês.
- Eu sei! – Lucas foi tão irônico quanto e eu ri.
- Também senti sua falta, ! – Edu me puxou pelo ombro e eu sorri, seguindo até a fila da primeira classe.
Dormir 12 horas até Paris foi fácil até, era um dos primeiros voos que eu não precisava trabalhar, então adorei abandonar o uso de notebook e diversas notas no celular, mas eu estava empolgada. Era um sonho se tornando realidade e eu não podia estar mais feliz. Claro que para estar melhor, poderia ser Buffon na Juventus, mas não importa, eu veria uma lenda jogar de perto, além de que meu namorado, que estava a caminho de se tornar outra lenda, cuidaria do outro campo. Confesso que não sabia para quem torcer.
Chegamos em Paris duas horas da tarde do horário local, como previsto, e um carro já nos esperava. Como chegamos no Charles De Gaulle, levamos bons minutos para chegar na cidade de Paris e depois outros minutos para fazer check-in no hotel. Ficamos em um hotel próximo ao Museu do Louvre, então eu conseguia ver pela sacada do prédio a pirâmide do pátio do Louvre.
- A gente se encontra aqui as sete para ir para o jogo, beleza? – Edu falou e confirmamos.
- Eu vou tirar uma soneca, vocês ficaram roncando no meu ouvido a noite toda. – Lucas reclamou e eu revirei os olhos, colocando a chave na porta e entrei no meu quarto. A vantagem era que cada um teria um quarto dessa vez.
Joguei minha mala em algum canto no quarto e procurei apressadamente pelas mensagens que não paravam de fazer meu celular tocar. Com a correria para sair do aeroporto e a falta de sinal na estrada, não consegui fazer com que as mensagens carregassem. Deixei o celular parar de apitar e segui para a mensagem do único que não sabia que eu estava na mesma cidade que ele hoje.
“Oi, amor, como você está? Hoje vamos ficar de folga até o horário do jogo e você, vai me assistir?” – Era sua primeira mensagem, às seis da manhã no horário do Brasil.
“Dia difícil, amor? Sumiu, foi?! Nem uma mensagem de bom dia?”
“? Cadê você? Estou ficando preocupado de verdade”. – Suspirei, eu também ficaria desesperada.
“Amor?”
“!”
Suspirei, e coloquei meus dedos para digitarem finalmente uma resposta para ele.
“Oi, amor, me desculpa pelo sumiço, perdi hora, acordei atrasada, cheguei quase uma hora depois na CBF, tive que fazer compensação, estou saindo para o almoço agora”. – Escrevi qualquer coisa.
“Pretendo ver seu jogo sim, mas acho que da empresa mesmo, o jogo é as seis, certo? Eu vou ter que compensar o atraso”. – Mandei uma carinha triste junto.
“FINALMENTE!” – Ele respondeu prontamente.
“Não me assusta mais assim”. – Ele respondeu e eu ri fracamente.
“Vou te ligar”. – Ele falou e eu arregalei os olhos, vendo uma chamada de vídeo ser iniciada.
Olhei rapidamente em volta e aquilo não era nada parecido com um Uber, meu apartamento ou a CBF, pulei a cama e saí correndo para o banheiro, batendo a porta e me esgueirando em algum canto.
- Oi, amor. – Falei assim que atendi a ligação.
- Ei, demorou para atender. – Ele falou.
- Eu estou no meio de algo importante! – Falei, fingindo que estava realmente fazendo algo no vaso sanitário.
- Opa! – Ele riu fracamente e eu sorri.
- Prometo que agora só estou sentada aqui. – Ele sorriu.
- Bom mesmo.
- E então, empolgado com o jogo? – Perguntei.
- Nervoso, para falar a verdade. Estamos precisando desses pontos. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar certo, você vai ver. Estarei torcendo por você. – Sorri.
- O bom é que tem bastante gente conhecida hoje, vai ser legal.
- Sim, e você vai jogar com o Buffon, estou muito empolgada para ver meus dois ídolos jogando juntos. – Ele revirou os olhos.
- Só você mesmo. – Sorri.
- Que horas são aí? – Perguntei inocentemente.
- Três e pouco. – Ele checou o relógio e eu confirmei no do meu celular.
- Que horas vocês vão para o estádio?
- Umas seis horas, estamos em um hotel mais afastado da cidade, vai demorar uma hora para chegar até lá.
- Mas vai dar tudo certo, eu confio em você.
- Espero também. – Ele suspirou.
- Eu tenho que ir, falei para o Vini que só ia no banheiro. – Ele riu fracamente.
- Opa! Vai lá, a gente se fala após o jogo.
- Por favor. – Sorri. – Eu te amo e bom jogo, ok?!
- Ok! Eu também te amo. – Ele disse e desligou a ligação.
Soltei a respiração fortemente e me levantei do vaso sanitário, encarando minha feição aliviada no espelho. Voltei para o quarto e tirei meus calçados e me joguei na cama, puxando a coberta para cima de mim. Era Paris no fim do ano, as coisas estavam começando a gelar. Coloquei o despertador para dali duas horas e meia e esperei com que eu dormisse.
Quando o despertador tocou, eu já estava acordada novamente, vendo vídeos ridículos de sustos e gargalhando há meia hora com eles. Permiti me levantar, puxei minha mala para cima da cama e procurei pela roupa que eu havia separado para ir hoje. Como estava a trabalho, não poderia mostrar favoritismo para nenhum dos dois times, mas também não poderia vestir CBF, então acabei optando por uma calça jeans, blusa vermelha, intencionalmente, é claro, um sobretudo preto pesado por cima, além de botas de cano alto e um gorro na minha cabeça.
Eu acho que estava parecendo um pinguim, mas seria bom, vai que alguma câmera me pegasse? Eu estava pensando longe demais, mas se prevenir nunca é demais! Passei um lápis no olho e um batom, não estava com capacidade de passar base, sombra e muito mais, principalmente comigo subindo a gola da blusa até quase cobrir minha boca. Estava quase pior que o jogo contra Camarões.
Sete horas eu saí do quarto, encontrando Lucas e Edu fazendo o mesmo. Nos entreolhamos bem vestidos e encapuzados e descemos até o lobby, entrando no carro que nos esperava. O único que carregava grandes malas era Lucas por causa de todo o seu equipamento fotográfico, eu mantinha uma bolsa com passaporte, documentos e crachá, caso fosse necessário.
O caminho até o Parc des Princes foi rápido, em cerca de meia hora estávamos lá, mas já estava um pouco caótico por causa do penúltimo jogo do grupo C da Champions League. Haviam mais pontos azuis do que vermelhos hoje, o primeiro jogo entre ambos os times havia sido em Liverpool, três a dois para o time da casa, imaginava que o PSG viesse com tudo para fazer bonito em casa.
Me senti importante entrando pelos camarotes e apresentando meu crachá da CBF, era bom poder entrar como pessoa normal e não estar surtando com os tênis no gramado e passando frio no ponto mais aberto do estádio.
Edu cumprimentou algumas pessoas pelo caminho e uma mulher nos guiou até nosso lugar, tudo estava quieto, até a porta do camarote da FIFA ser aberto para gente, fazendo com que o barulho e a luz finalmente me surpreendessem.
- Uau! – Comentei, não sabendo se estava mais surpresa pelo camarote ou pelo estádio do outro lado da parede de vidro.
A sala que estávamos, era mais restrita, pelo o que percebi, o camarote da FIFA era gigantesco, mas separado por minicamarotes. Assim que passávamos pela porta do corredor, entrávamos em uma sala com alguns sofás, minibar, televisões gigantes, além de algumas fotos de antigos jogadores do time. Essa sala tinha uma parede de vidro e uma porta que dava para os assentos dentro do estádio, aonde eu acompanharia todo o jogo, mesmo se isso me fizesse congelar.
O tempo foi passando calmamente, várias pessoas entravam e saíam do camarote, algumas cumprimentavam Edu, outras estavam no mesmo camarote, eu não conhecia ninguém, então escolhi um assento do lado de fora e fiquei lá com Lucas esperando o tempo passar.
- Eles estão entrando para treino! – Lucas me cutucou e eu debrucei sobre a marquise, como se tentasse me esconder e vi os jogadores dos dois times entrarem em campo para o treino.
- Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! – Falei animada, vendo Alisson entrando junto do time do Liverpool e correndo para seu lado do campo.
- E lá vem o Buffon! – Ele me cutucou de novo.
- Meu Deus! – Coloquei as mãos na boca, vendo meu ídolo de anos entrando em campo e seguindo para o outro campo.
- Parece que está mais empolgada com o Buffon do que com o Alisson. – Mordi meu lábio inferior.
- Talvez eu esteja! – Respirei fundo, colocando as mãos na boca.
- Eu entendo esse sentimento. – Ele sorriu, me abraçando de lado.
- Acho que está na sua hora, não? – Chequei o relógio e Lucas fez o mesmo.
- Sim! – Ele se levantou apressado. – Nos encontramos no vestiário depois do jogo.
- Beleza! – Sorri. – Não passe frio e não deixe que o Alisson te veja.
- Ah tá que ele vai me ver. – Ele abanou a mão e eu ri.
- Prontos aí? – Edu apareceu e Lucas saiu pela porta que entrou.
- Vamos lá, né?! – Ele se sentou ao meu lado e respiramos fundo, esperando o final do treino para que eles entrassem em campo novamente.
Aproveitei o momento de silêncio do estádio e puxei o celular da bolsa, procurando pela conversa de Alisson.
“Faça um bom jogo, estou torcendo por vocês”. – Enviei e respirei fundo, percebendo que ele não via o WhatsApp há mais de duas horas, a concentração estava forte.
As luzes do estádio mudaram quando faltava 15 minutos para as nove da noite em Paris, parece que o tempo ficou um pouco mais gelado, antes de tudo clarear novamente, trazendo os dois times em campo.
Precisei me levantar para presenciar a entrada dos meus dois goleiros favoritos do mundo, podia ser Liverpool e Juventus, mas o Buffon não cooperou. Eles se posicionaram lado a lado e foi aí que eu percebi que eu tinha outros conhecidos e amigos em campo: Thiago, Marquinhos, Neymar e Firmino. Seria um jogo pesado e eu teria muitas pessoas para parabenizar e acalmar, independente do resultado.
Falando em resultado, aquele jogo era definitivo. Se o PSG perdesse, eles já poderiam dar adeus à Champions League na fase de grupos, agora se o Liverpool ganhasse, automaticamente eles estavam nas oitavas, então o PSG tinha tudo para perder ali. Confesso que parte de mim queria que eles vencessem, pois o único prêmio que o Buffon não tem na carreira, é uma Champions League, mas ver meu namorado com somente 26 anos tentando alcançar o mesmo destino, era loucura.
O hino imponente da Champions League tocou e eu não poderia me sentir mais emocionada, aquilo era uma loucura. Aproveitei para tirar muitas fotos e realmente guardar aquele momento para sempre na minha memória. Aproveitei a deixa para tirar algumas fotos minhas também e postar, Alisson não veria meu Instagram enquanto estava em campo, certo?
Fiz um sinal da cruz, pedindo para que o melhor ganhasse e vi os jogadores se cumprimentarem. Meu coração até deu uma palpitação quando Alisson e Buffon se cumprimentaram e eu caí sentada na poltrona, respirando fundo. Alisson deu um forte abraço em cada companheiro da seleção e seguiu correndo para seu campo, o resto dos jogadores de ambos os times fizeram a mesma coisa.
O juiz apitou e começou o jogo!
Em poucos minutos de jogo, Neymar veio para cima de Alisson, fazendo com que meu namorado já começasse a trabalhar em coisa de cinco minutos de jogo, aquilo era loucura. Eu não sabia se ia aguentar ver ninguém levando gol ali, era tudo muito pessoal. Alisson fez defesas sequenciais de Di Maria, de Thiago Silva e Mbappé, fazendo com que eu ficasse com calor e já tirasse o casaco. Aquele jogo seria longo.
Em um lance ridículo aos 14 minutos do primeiro tempo, o número quatro do PSG aproveitou uma abertura da defesa do Liverpool e fez um chute só em direção ao gol. Alisson não esperava por essa, então nem deu tempo de ele se jogar em direção à bola, me fazendo franzi a testa quando o estádio inteiro foi abaixo com o primeiro gol do PSG.
- Porra! – Falei baixo, vendo Edu me encarar. – Desculpa. - Me expliquei e ele riu.
A primeira chance real do Liverpool veio somente aos 21 minutos do primeiro tempo, o jogo estava sendo comandado pelo PSG e se eles estavam com esse gás logo no começo, imagino pelos próximos 70 minutos.
Alisson e Cavani acabaram se atropelando em uma tentativa de chute a gol de Cavani, mas Alisson conseguiu fazer a defesa, graças a Deus todos saíram bem da jogada, mas seguidamente as bolas voltaram para Alisson e o coração só conseguia acelerar. Eram chances de cobertura, de escanteio, falta, as bolas não paravam mesmo de vir.
O segundo gol do PSG veio quando Mbappé tentou um chute a gol. Esse chute foi defendido por Alisson, mas Neymar aproveitou o rebote, e a confusão do capitão dos reds, e deu um toquinho para a bola seguir para o gol.
- Caralho! – Soltei novamente, massageando as mãos impacientemente.
Ao final do segundo tempo as bolas voltaram a aparecer no campo do PSG e Buffon decidiu trabalhar um pouco mais, mas um lance de sorte, um carrinho de Di Maria em Sané, fez com que um escanteio fosse alterado para um pênalti e finalmente o Liverpool tinha a chance de abrir esse placar.
Buffon era um dos melhores pegadores de pênalti que eu já vi na minha vida, ao vivo ou pela televisão, então tinha chances de defesa. Mas ainda era pênalti, tinha uma chance. Milner chutou a bola para o lado esquerdo do gol e Buffon se jogou para o direito, fazendo com que os poucos torcedores de Liverpool pulassem e comemorassem o gol.
Eu estava junto deles, obviamente. Quem diria que comemoraria Buffon levando um gol, certo?
O jogo foi para o intervalo, e eu aproveitei para pegar uma bebida no frigobar, fiquei na Coca-Cola, mas eu estava precisando mesmo de um chocolate quente, o que não estava rolando no momento.
O segundo tempo foi marcado pela sorte de um impedimento, que fez com que o jogo não fosse a três a um, pela graça de Deus. Meu caro amigo Marquinhos estava impedido, o que foi um alívio para mim e uma decepção para os Parisienses.
Firmino teve a chance de igualar o placar, mas deu uma cabeceada empolgada demais, fazendo a bola passar por cima do travessão.
Marquinhos tentou se redimir ao final do segundo tempo, dando outra cabeceada, mas Alisson a defendeu de jeito, mandando-a para o lado direito do gol, livrando o Liverpool de mais uma. Mbappé tentou alguns minutos depois, mas deu um chute forte demais, mandando a bola para galera.
Em uma cobrança de falta, derrubaram Thiago na área do PSG, fazendo o lance parar, então mesmo se fosse gol, nada daquilo estava valendo. Em uma cobrança de falta do Neymar, ele ia colocar bonito do lado esquerdo do gol, mas tinha um Alisson no meio do caminho para defender o gol.
O jogo já havia sido acrescido de cinco minutos, mas o juiz ainda não tinha dado aquilo como finalizado. Neymar tentou levantar a bola para passar por Saquiri, mas alegou uma pancada no rosto, ficando jogado no campo por alguns minutos. Eu já estava acostumada com aquilo, então não me preocupei.
Aos 96 minutos, o juiz apitou o jogo, me fazendo relaxar o corpo pelo fim do jogo, mas também ficar levemente frustrada pela vitória do Liverpool no primeiro jogo que eu fui, confesso que estava me sentindo azarada.
- Bom, é isso! – Edu falou ao meu lado e eu ajeitei meu corpo, pois percebi que já estava largada na poltrona.
- Então, qual a sua análise sobre isso? – Virei para ele.
- Não é muito assim que funciona. – Rimos juntos. – Nós sabemos a capacidade dos jogadores, só precisamos ver realmente quem vale a pena para o próximo amistoso e para a Copa América. O negócio é em casa, precisamos fazer bonito.
- Nem me fala. – Suspirei.
- Bom, você quer ver seu namorado? – Ele se levantou e eu arregalei os olhos.
- Sim! – Me empolguei, me levantando rapidamente.
- Vamos lá! – Ele apontou com a cabeça e o segui para fora do camarote.
Passamos pelos diversos níveis de segurança e descemos até o vestiário. Confesso que eu estava empolgada em encontrar Alisson ali, minha barriga borbulhava e nem parecia que eu tinha visto-o há uma semana, creio que era mais pela surpresa iminente.
Quando finalmente conseguimos entrar na área dos vestiários, muitas pessoas estavam lá, imprensa, jogadores, enfim, muita gente mesmo, mas ninguém que eu conhecia muito. Só queria encontrar o jogador que usava aquele uniforme amarelo ridículo.
- Ei! – Virei para trás, encontrando Lucas.
- Ei! – O abracei rapidamente.
- Desculpe pelo jogo. – Neguei com a cabeça.
- Acontece! – Dei de ombros.
- Bom, vai para que lado? – Lucas perguntou e eu observei.
- Não faço a mínima ideia aonde estão os times, acabei de chegar. – Dei de ombros.
- ? – Ouvi um sotaque forte me chamar e virei aonde a voz indicava, me surpreendendo ao encontrar Salah.
- Ah! Salah! – Sorri, rindo fracamente. – Alguém conhecido. – Cochichei para Lucas.
- Alisson não me disse que estaria aqui. – Ele falou em seu forte inglês.
- Ele não sabe que estou aqui. – Falei e ele gargalhou.
- Você gosta de fazer surpresas, não é?! – Ele veio em minha direção e me abraçou.
- As vezes mais do que eu gostaria. – Rimos juntos.
- Vem cá, vou te levar para ele. – Ele me puxou pela mão para o lado direito e eu puxei Lucas, esperando que Edu não saísse dali sem a gente.
- Ali! Ali! – Salah começou a gritar pelo corredor, me fazendo rir fracamente. – Olha o que eu encontrei perdida por aqui! – Ele seguia no seu inglês e eu me perguntava se Alisson já estava bom para entender brincadeiras como essa.
- Você sabia disso? – Ouvi a voz de Alisson falando com outra pessoa.
- Ela está aqui? – Reconheci a voz de Firmino. – Eu juro que não sabia de nada. – Segurei a risada quando percebi que ele deveria estar vendo minha postagem.
- Ali! – Salah gritou novamente, chamando a atenção de meu namorado e eu percebi que muitos dos jogadores do Liverpool estavam despidos ou parcialmente despidos.
- ? – Ele largou suas coisas no chão e veio correndo em minha direção, me segurou pelas coxas e me ergueu nos ares, me fazendo gritar com o susto.
- Alisson! – Gritei, apoiando as mãos em seus ombros.
- O que você está fazendo aqui? – Ele me colocou no chão, me apertando.
- Ah, você está suado! – Reclamei, ouvindo-o rir.
- E a princesinha está preocupada com isso? – Ele me perguntou e eu ri.
Ele segurou meu rosto com as duas mãos geladas e colou nossos lábios, fazendo com que seus amigos de times gritassem e eu abrisse um largo sorriso com isso. Parecia a Seleção Brasileira novamente.
- Ah, obrigado, meu Deus! – Ele me abraçou fortemente, me permitindo encostar a cabeça em seu ombro e relaxar por alguns segundos. – Não posso acreditar que está aqui.
- Eu senti sua falta. – Olhei em seus olhos e ele sorriu, estalando mais um beijo em minha bochecha.
- Vamos abrir espaço para os outros amigos. – Firmino falou e eu ri, seguindo em sua direção e abraçando-o fortemente. – Ah, garota, que bom que está aqui!
- Não tanto com o resultado, mas... – Fabinho comentou e eu ri, seguindo para abraçá-lo também.
- Bom ver vocês, gente! – Sorrimos. – Mesmo com...
- Caham! – Nos distraímos com uma voz e percebi Virgil van Dijk de braços cruzados ao lado de vários outros jogadores. – Nos apresente. – Ele falou em inglês e eu ri.
- Mais fácil eu mesma fazer isso, meu inglês é melhor que o dele. – Comentei, fazendo-os rir. – Eu sou , namorada dele.
- Percebemos isso. – O capitão Henderson falou e eu acenei. – Prazer em te conhecer.
- O prazer é meu. – Sorri.
- Ali, Ali, Ali! – Virei para porta, vendo o treinador Jürgen Klopp entrar no vestiário. – Por que não disse que sua garota estava aqui?
- Porque ele não sabia. – Eu, Fabinho, Firmino e Lucas falamos juntos.
- Lucas, você está aqui também! – Firmino percebeu sua presença e eles foram se cumprimentar.
- Senhorita . – Sorri, vendo Klopp vir em minha direção.
- Boss, essa é a . – Alisson me apresentou no seu melhor inglês e o alemão segurou a mão que eu estendi e deu um beijo na mesma, me deixando encabulada.
- É um incrível prazer te ter aqui conosco, apesar das circunstâncias. – Abri um largo sorriso.
- Não importa, é um grande prazer mesmo. – Sorri.
- e Ali, o nome de vocês é muito difícil para eu pronunciar, se não se importa.
- Nenhum pouco. – Rimos juntos.
- Nós temos algumas horas aqui ainda, por que vocês não tiram um tempo juntos? – Klopp apontou para a porta e eu e Alisson sorrimos.
- Vem! – Alisson me puxou para fora do vestiário.
- Lucas, eu estou... – Apontei para a porta e ele entendeu o recado.
- Por que você não me disse que vinha? – Ele seguiu até o encontro dos dois times e eu ri fracamente.
- Estava com medo de que isso fosse te distrair.
- E você te isentaria da culpa? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Bem, pode não ter dado muito certo, meu plano era um pouco mais perfeito do que isso. – Ele sorriu.
- Não importa, é muito bom te ter aqui comigo. – Ele me abraçou fortemente de novo. – Pena que foi o primeiro jogo meu que você vê ao vivo e perdemos... – Neguei com a cabeça.
- Foi perfeito!
- Garota! – Ouvi um grito e virei a cabeça, vendo Neymar, Thiago, Marquinhos e Dani Alves aparecendo do outro lado com meio uniformes e roupas casuais.
- Por que você não disse que vinha? – Neymar foi o primeiro a me abraçar, me fazendo rir.
- Ela não falou para ninguém. – Alisson se adiantou. – Nem para mim.
- Maldade, hein?! – Ele disse e eu ri, abraçando Thiago em seguida.
- É muito bom ver vocês, sério! – Falei animada. – E parabéns pelo jogo.
- É, então... – Marquinhos olhos para Alisson e eles negaram com a cabeça, se cumprimentando.
- E então, vai ficar até quando? – Thiago perguntou, enquanto abraçava Dani.
- Bom, eu... – Abanei com a cabeça. – Eu preciso falar contigo sobre isso. – Virei para Alisson. – Mas eu fico até amanhã só.
- Vamos almoçar, fazer alguma coisa. – Neymar se apressou.
- Eu preciso ver como vai ficar os meus horários, mas eu aviso vocês. Quem sabe não dá certo? – Dei de ombros.
- Thiago, entrevista! – Cavani passou com alguns jogadores para um outro corredor e travei no lugar quando vi Buffon passando com Aréola para outro canto.
- Ah, meu Deus! – Todos viraram para onde eu olhava.
- Ei! – Thiago falou. – ‘Pera aí!
- Thiago, não! – Tentei chamá-lo, mas ele já tinha seguido em direção ao meu maior ídolo do futebol.
- Está respirando? – Neymar perguntou e eu dei um beliscão em seu braço, ouvindo-o reclamar.
Thiago falou alguma coisa com o goleiro do PSG e apontou para mim algumas vezes. No momento em que ele colocou o olhar em mim, eu senti minhas pernas virarem gelatina e meus olhos imediatamente se encheram de lágrima.
- Alisson, me segura. – Cochichei quase inaudível.
- Respira. – Ele retribuiu, segurando meu braço e eu tentei soltar o ar preso em minhas narinas pela boca, mas parecia que eu desmaiaria a qualquer momento.
- Eles estão vindo. – Neymar cochichou novamente e vi Thiago, Buffon e Aréola seguirem em minha direção.
- Buffon, esta é . – Ele falou em francês, ou algo similar aquilo, pois eu não conseguia processar mais nada. – Sua maior fã.
- Salut! – Ele falou do seu jeito animado e eu imediatamente as lágrimas começaram a sair de meus olhos, fazendo com que a respiração entalada em meus lábios saísse em formato de choro.
- Ciao! – Falei em italiano com a voz mais fina que o normal e o vi abrir os braços em minha direção e me apertar no meio dos seus.
- Non, non piangere. – Ele falou para eu parar de chorar e eu fechei os olhos, aproveitando os poucos segundos que eu teria ali ao máximo.
- È un piacere. – Falei com a voz tremendo e ele riu fracamente.
- Ela é sua fã há muitos anos. – Ouvi Alisson falando em italiano. – Joga um pouco de futebol como goleira também.
- Vero? – Buffon se afastou e eu passei as mãos nos olhos, vendo que meu corpo estava acalmando mais.
- Vero! – Sorri. – Sei una grande fonte d’inspirazione. – Passei a mão no nariz, ouvindo-o rir.
- Grazie, grazie.
- Sua namorada? – Buffon perguntou e Alisson assentiu com a cabeça.
- Alguém que gosta de goleiros, então! – Buffon brincou e eu ri.
- Eu tenho um tipo. – Dei de ombros, ouvindo-os rir.
- Estou perdido! – Neymar falou em português e me virei para ele.
- Aprende a falar em italiano ou francês que a gente te ajuda. – Thiago respondeu por ele e nós rimos.
- Eu sou Juventina por causa de você. – Falei para Buffon.
- Mah, Juventus. – Ele abriu as mãos e eu dei de ombros. – Que bom!
- Estou no aguardo do seu retorno. – Continuei, ouvindo-o rir.
- Quem sabe, quem sabe? – Ele deu de ombros e sorrimos.
- Bom, acho que precisamos ir, certo? – Marquinhos comentou.
- Posso só tirar uma foto? – Falei em português para o pessoal e tirei o celular da minha pequena bolsa, repetindo a pergunta em italiano.
- Sì, sì. – Buffon sorriu e eu me coloquei ao seu lado, sentindo-o passar o braço pelos meus ombros.
- Sorriam! – Thiago falou apontando o celular para nós e não precisava pedir duas vezes, já que eu deveria estar com um sorriso muito exagerado no rosto. – Pronto! – Ele falou.
- Muito obrigada mesmo! – Virei para Buffon, vendo o largo sorriso em seu rosto.
- Eu que agradeço! – Ele me abraçou novamente com todo seu calor italiano que eu imaginei que ele tivesse e até recebi um beijo em cada bochecha que me fez derreter toda.
- A gente se vê por aqui. – Buffon cumprimentou todos os outros da roda e seguiu com Aréola.
- Ah... – Suspirei, deixando que meu corpo caísse até o chão, mas me sentando calculadamente.
- Uou! – Alisson se assustou, me segurando pelos braços.
- Eu estou bem. – Suspirei com um sorriso no rosto. – Eu estou muito bem. – Falei, começando a chorar novamente. – Obrigada, Thi! – Falei com a voz afinada novamente. – Você é um amor mesmo.
- Eu não ia perder a oportunidade. – Rimos juntos e ele esticou as mãos para eu me levantar.
- Nós temos uma coletiva para ir, a gente se fala? – Neymar apontou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Sim! Eu mando mensagem. – Abracei todos do PSG mais uma vez e fiquei novamente com Alisson.
- Está feliz? – Ele me perguntou e eu assenti com a cabeça, abraçando-o fortemente.
- Eu acho que nunca estive tão feliz assim em minha vida! – Falei rindo e ele sorriu. – Eu posso casar com ele?
- Ei! – Ele falou rindo e eu sorri. – O que você precisa falar comigo?
- Eu falei com minha superiora e vou poder ir para Roma contigo na segunda-feira! – Sorri.
- Mesmo? – Ele me abraçou novamente.
- Mesmo! E isso quer dizer que eu vou ficar na sua casa em Liverpool até a gente ir. Depois vou ter que voltar correndo para o Brasil, mas...
- Não importa, você vai ficar comigo em Liverpool por quatro dias, isso é mais do que eu pedi. – Abracei-o novamente.
- Precisamos ver como isso vai ficar, mas é! – Ele segurou meu rosto novamente com as mãos e colou seus lábios nos meus seguidamente.
- Ah, aí estão vocês! – Edu apareceu e sorrimos para ele.
- Edu! – Alisson falou surpreso.
- Ah, eu esqueci de falar que vim acompanhá-lo.
- Agora tudo faz sentido. – Alisson falou e ambos se cumprimentaram.
- Está na hora, mas eu te vejo amanhã em Liverpool? – Alisson perguntou após se arrumar novamente.
- Sim! – Segurei seu rosto com as mãos. – Eu preciso checar com Angelica o voo, mas eu prometo que te mando mensagem, ok?!
- De verdade? – Ele perguntou brincando e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu tinha motivos para não te responder, 12 horas de voo como motivo, por sinal. – Ele sorriu e rimos.
- Me avisa sim, eu te pego no aeroporto. – Confirmei com a cabeça.
- Está de folga amanhã? – Perguntei.
- Só amanhã, temos jogo no dia dois, então vamos voltar a treinar sexta-feira.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça.
- Você vai ao jogo, não é?
- Claro que vou! Preciso mostrar apoio ao meu namorado. – Ele abriu um largo sorriso e eu dei um rápido beijo em seus lábios.
- Let’s go, Ali? – Salah apareceu no corredor.
- Ali? – Virei para Alisson.
- Klopp que veio com o apelido. – Ele deu de ombros.
- Prazer te ver de novo. – Salah falou em seu forte inglês, me abraçando rapidamente e eu retribuí.
- O prazer foi meu. – Sorri, vendo-o seguir e alguns outros jogadores seguirem atrás deles, muitos que eu não conhecia.
- Bom te ver, garota! – Firmino veio me abraçar em seguida e eu sorri, assentindo com a cabeça. – Nos vemos em Liverpool?
- Finalmente! – Brinquei e ele riu.
- Vem almoçar em casa, ver as meninas... – Assenti com a cabeça.
- Acho que vamos deixar para quando ela vier com calma. – Alisson falou.
- Mas...
- Não, não. – Ele negou com a cabeça e eu ri, sabendo aonde aquela história iria.
- Tchau, ! – Fabinho veio me abraçar em seguida e eu sorri, cumprimentando o mesmo. – Até logo.
- Até logo! – Pisquei, vendo-o seguir com a fila.
Van Dijk e Moreno, dois grandes amigos de Alisson no time, também me abraçaram fortemente, comentaram o quão felizes eles estavam em finalmente me conhecer e me convidaram para conhecer o time e ver o jogo deles, o que me deixou feliz. Por último, de jogadores, veio Henderson, o capitão do time, ele foi menos pessoal, me deu um aperto de mão e disse que eu sou bem-vinda em Melwood. Obrigada, pois eu irei para lá o mais rápido possível.
- ! – Klopp veio por último, animado como sempre. - Estou muito feliz em te conhecer finalmente, apareça em Melwood na sexta-feira, ok?! Vamos treinar, eu faço um tour com você, vai ser bom. – Ele disse com seu forte sotaque alemão.
- Pode deixar! Foi um prazer te conhecer. – O abracei novamente, sentindo-o até me tirar do chão alguns centímetros e eu ri, vendo-o acenar. – Let’s go, Ali!
- Eu tenho que ir. – Alisson falou e me abraçou fortemente, me fazendo enterrar o rosto em seu ombro. – Queria te levar para passear na cidade mais romântica do mundo. – Ele cochichou.
- Teremos Roma. – Pisquei para ele que sorriu, assentindo com a cabeça.
- Teremos Liverpool. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Sim! – Confirmei com a cabeça e ele depositou mais um beijo em meus lábios e depois segurou minha mão e deu um beijo na mesma. – Eu te amo.
- Eu também! – Pisquei e acenei com a mão livre, vendo-o seguir pelos corredores do Parc Des Princes e sumir com um último aceno, me fazendo suspirar.
Segui pelo lado contrário que ele foi e voltei para o caminho do camarote que estávamos durante o jogo. O estádio já estava com quase todas as luzes apagadas, somente com algumas dos camarotes ainda, inclusive alguns jogadores do PSG ainda estavam festejando ali. Entrei no camarote que estávamos e encontrei Lucas e Edu ali.
- Pronto. – Falei, Lucas cutucou Edu que parecia que dormia no sofá.
- Oi! – Ele falou assustado. – Pronto?
- Pronto! – Sorri. – Obrigada por esperar.
- Tudo bem, foram só alguns minutos. – Ele assentiu com a cabeça e se levantou.
- Vai para o hotel com a gente?
- Vou sim, preciso checar o horário do voo para Liverpool amanhã, Angelica ia fazer a troca das passagens para mim. – Eles assentiram com a cabeça e seguimos para a saída do estádio. – E vocês?
- Vamos só 11 da noite mesmo. – Lucas deu de ombros. – Podíamos ir no voo das seis da tarde de Alitalia, mas tem uma escala, então vai acabar chegando no mesmo horário, o da Air France é direto, pelo menos. – Assenti com a cabeça e senti o frio do lado de fora do estádio quase vazio.
Um carro nos esperava e nos levou rapidamente para o hotel. Pelo horário as ruas já estavam mais calmas. Nos despedimos no corredor e cada um entrou cansado em seu quarto. Eu tirei aquela roupa pesada e fui direto para o banho, entrando embaixo da água quente, sentindo o corpo relaxar a cada segundo que se passava.
Saí do banho, colocando um pijama quente e me joguei no centro da cama de casal, pegando o cardápio que eu havia sentado em cima. Eu estava cansada demais, mas também precisava comer alguma coisa. Olhei as opções do menu, desde pratos mais simples, até algo mais chique e disquei para a cozinha.
- Bonne nuit, poderiam trazer um crepe de queijo emental com presunto cru e ovo para o quarto 42, por favor? – Pedi com meu francês precisando de treino. – E um de Nutella com banana? – Olhei o cardápio novamente.
- Oui, madame. – Ele respondeu.
- Merci! – Disse e desliguei, respirando fundo.
Enquanto esperava, optei por arrumar minha mala novamente ou com certeza dormiria na cama. Meu jantar não demorou muito para chegar, lembro que a melhor coisa que eu comi aqui em Paris da última vez que vim foi o crepe deles e o garçom havia trazido dois grandes para eu me deliciar. Aproveitei a deixa para pagá-lo e não deixar nenhuma pendência para resolver lá e, enquanto comia, fui ler o e-mail de Angelica, meu voo era as 10 e 15 da manhã, não teria tanto tempo de sono quanto o esperado.
Enviei uma mensagem para Alisson avisando o horário que eu chegava e ele não respondeu, imaginei que ele estivesse voando ainda. Saboreei meus dois crepes enquanto olhava a pontinha da Torre Eiffel brilhando pela sacada do prédio e as pirâmides do Louvre brilharem e suspirei, querendo realmente compartilhar aquilo com Alisson.
Finalizei minha comilança, cuidei dos meus dentes e deitei novamente, programando meu despertador para seis da manhã. Talvez tomasse café no avião ou no aeroporto, se tivesse sorte. Me aconcheguei nos lençóis e dormi mais rápido do que esperava.
Passei pelas portas de desembarque procurando por Alisson. Ele havia insistido que me pegaria, mas não dei muita bola, afinal, não sabia o quão famoso ele era em Liverpool após alguns meses como um dos astros no time.
O desembarque internacional até que estava de boa, creio que meu voo era o único que estava chegando àquela hora. Passei os olhos e encontrei uma mão sacudindo desesperadamente com a intenção de chamar minha atenção. Neguei com a cabeça ao ver Alisson escondido por todo aparamento de inverno do Liverpool, incluindo um gorro na cabeça e uma gola até sua boca.
- Tente sem o kit do Liverpool. – Comentei quando cheguei perto dele e ele puxou a gola para baixo, me apertando em seus braços e colando os lábios nos meus rapidamente.
- Estou feliz que está aqui. – Sorri, assentindo com a cabeça. - Vamos, antes que me denunciem! – Ele segurou minha mão e minha mala com a mão livre e seguimos pelo aeroporto John Lennon.
Seguimos para o edifício garagem, ele pagou o estacionamento e encontrei sua SUV da BMW estacionada ali. Ele colocou minha mala e mochila no banco de trás e nos ajeitamos no carro, colocando os cintos.
- Você não tem noção de como eu estou feliz por você estar aqui! – Ri fracamente, sentindo-o colar os lábios nos meus delicadamente.
- Vai, agora me mostre tudo dessa cidade. – Me ajeitei animada no banco. – Aonde você mora? – Perguntei. – Aonde os ricos e famosos moram? – Brinquei.
- Manchester. – Franzi o rosto, virando o rosto para ele.
- Manchester? – Falei um tanto alto demais. – Por quê?
- Eu moro lá. – Franzi mais o rosto a ponto de vê-lo como um borrão.
- Por quê? – Perguntei calmamente.
- Não tem lugar bons para se morar em Liverpool. O melhor é Mossley Hill, mas é do lado do aeroporto. – Ele começou a dirigir.
- E você prefere dirigir uma hora todo dia até o treino? – Perguntei ainda surpresa.
- 40 minutos. – Ele falou irônico. – 50 se tiver trânsito. – Cruzei os braços. – Enfim, Firmino mora lá, Salah também. Muitos caras do time, na verdade.
- Não faz sentido, meu Deus! – Falei e ele riu.
- Você vai gostar, vai!
- Não estou negando isso, mas Liverpool é grande, populosa, é difícil acreditar nisso.
- Quando você vier com tempo, eu te mostro.
- À vontade, senhor Becker! – Brinquei e ele riu.
O caminho, apesar de relativamente longe, era calmo. Talvez seja pelo dia ou pelo horário, mas não tivemos problemas com trânsito, nem nada do tipo. Chegamos em Manchester e seguimos até Hale Barns, o bairro que ele morava. Me surpreendi por não ser um condomínio fechado, era realmente o subúrbio, mas apesar de ter casas grandes e luxuosas, as ruas eram calmas e com poucas crianças, talvez seja pelo horário, crianças estudam, não é mesmo?
Se eu achava que meu apartamento no Rio era grande e luxuoso, fiquei de boca aberta quando Alisson entrou em um recuo e uma grande mansão se abriu para mim. Ri fracamente, recebendo seu olhar de confusão e eu só neguei com a cabeça, sentindo-o me empurrar com o ombro.
Saímos do carro e eu olhei para a grande casa com estilo moderno do lado de fora, mas ela era alta o suficiente para um prédio de dois ou três andares. O ajudei com minha mochila, enquanto ele pegou minha mala. Andei alguns passos atrás dele, mas entrei antes quando ele empurrou a porta, me deixando entrar.
Confesso que fiquei um pouco embasbacada quando coloquei os pés na sua casa. Uma sala com uma grande escadaria se abriu à minha frente, com uma árvore de Natal e decorações devidamente montadas, enquanto eu não havia nem comprado uma árvore mais decente para o novo apartamento. À frente, uma escada que dava para o segundo andar e pude contar quatro portas, duas de cada lado.
- Vem conhecer! – Ele falou, deixando minha mala ao lado do móvel que tinha ali e eu deixei minha mochila em cima dela. – Aqui tem a sala da Helena e a cozinha. – Ele apontou para uma das portas, aonde era uma sala com diversos brinquedos espalhados pela mesma, um sofá em L e uma televisão. Uma das paredes era de vidro que dava para ver a cozinha do outro lado. – Aqui a cozinha. – Ele entrou rapidamente na mesma e eu fui olhando rapidamente.
A cozinha também tinha uma parede de vidro que dava para o largo quintal que ele tinha lá atrás, era loucura. Saímos da cozinha e seguimos para o outro lado, aonde tinha uma longa sala de jantar com uma mesa retangular para umas 14 pessoas.
- Ali tem um lavabo! – Ele apontou para outra porta. – Aqui no fundo tem o quintal. – Ele abriu as portas do fundo, deixando o vento entrar.
- Caralho! – Falei, vendo o longo espaço que ele tinha no fundo. – Tem a churrasqueira, alguns brinquedos para a Helena... – Ele mostrou rapidamente e virou de frente à casa. – Aí tem saída para o segundo andar nas duas laterais.
Vi que nas laterais tinham duas escadas e se encontravam no segundo andar. Olhei para cima e percebi que a casa deveria ter um terceiro ou quarto andar.
- Isso é enorme, Alisson. – Comentei.
- Você não viu nada. – Ele riu, me abraçando pelos ombros e me puxando para dentro. – Aqui em cima... – Demos a volta na escada e subimos os degraus. – Temos outra sala da bagunça. – Atrás da escada tinha um sofá arredondado, algumas poltronas e almofadas jogadas. - Aí temos três quartos de visita, um já arrumado para meus pais. – Ele apontou para qual era. – Ali tem um escritório também, banheiro, coisas da Helena, também temos essa sacada que dá lá para baixo. – Ele abriu a porta da sala que estávamos que dava para fora. – E a sacada também dá para um dos quartos, que é dos meus pais, e também para a sala de jogos. – Entramos por fora novamente na sala. – Tem sinuca, pebolim, televisão, enfim...
- Já vi muito essa sala dos seus stories. – Rimos juntos.
- É onde eu junto mais a galera aqui. – Ele sorriu. – Aqui do outro lado tem um cinema. – Ele empurrou outra porta, encontrando um cinema com cerca de 12 poltronas e um grande sofá lateral.
- Meu Deus do céu. – Ri sozinha. – Já é minha parte favorita da casa. – Sorri e ele negou com a cabeça.
- Eu aproveito mais quando a Helena vem, né?! – Ele deu de ombros, saindo da sala novamente.
- E tem mais um andar? – Perguntei.
- Esportista precisa praticar sempre! – Ele comentou e eu ri fracamente.
- Eu já não sirvo para morar aqui. – Brinquei, e subimos o outro andar.
- E aqui tem mais uma sala da bagunça. – Ele mostrou a sala com um grande sofá em U, algumas coisas jogadas aqui e ali. – Aqui que eu costumo ligar para você. – Ele riu e eu sorri. - Aí temos mais quatro quartos aqui em cima. Um sendo da Helena, dois de visita, que está mais de bagunça do que visita, e o meu. – Ele apontou rapidamente para as portas e entramos no central, que ficava atrás da escada.
O quarto era bem grande e espaçoso, bem quarto de mansão: decoração minimalista, uma grande cama de casal no centro, closet escondido, um grande banheiro compondo a suíte, um pequeno escritório no canto e uma grande televisão à frente da TV.
- E eu feliz com meu apartamento. – Brinquei, vendo-o rir e me puxar pelo braço.
- Ei, é um puta apartamento, vai! – Ele me puxou para dentro novamente.
- E isso é o quê? O palácio da Rainha da Inglaterra? - Ele riu. – Bom, pelo menos eu tenho uma quadra de tênis, você não! – Rimos juntos.
- É meio solitário. – Ele deu de ombros. – Você precisa ver a do Firmino, é uma loucura.
- Estou surpresa já com a sua! É muito legal, mas sozinho é complicado. – Falei rindo e ele me abraçou, caminhando comigo até seu quarto.
- Faz parte. – Ele deu de ombros. - Eu tenho uma foto contigo na minha cabeceira. – Ele cochichou como se aquilo fosse um segredo e eu ri fracamente, negando com a cabeça, observando uma foto nossa em treinamento.
- Não faz mais que a sua obrigação. – Falei, virando para ele e colando meus lábios nos seus rapidamente.
- Eu te amo! – Ele disse. – Estou muito feliz que está aqui.
- Eu também! – Cochichei. – Para as duas coisas. – Ele sorriu. - Nossa, está quente aqui! – Falei, mudando de assunto bruscamente e puxando meu cachecol do pescoço.
- Aquecedor ligado, devo ter exagerado. – Ele riu fracamente.
- Você é do sul do Brasil e morou em Roma por dois anos, está acostumado com frio, eu sou do Rio de Janeiro... – Falei exageradamente. – Te desafio a andar do carro até o escritório sem suar. – Rimos juntos e ele pegou um controle, provavelmente ajeitando a temperatura.
- Então, o que você quer fazer agora? Tomar um banho? Descansar? Sair para almoçar? – Ele perguntou. – Posso queimar uma carninha para gente mais tarde. – Ele comentou.
- Eu acho que podemos deixar isso para mais tarde, o que acha? – Passei meus braços ao redor de seu pescoço, vendo-o jogar o controle para trás.
- Ah é? O que você está pensando? – Ele tocou os lábios em minha bochecha, deslizando até meu pescoço.
- Matar as saudades, talvez? – Brinquei e ele riu, passando as mãos por meus ombros e tirando meu casaco. Ouvi o baque do couro no chão e o empurrei para trás, vendo-o se ajeitar no meio da sua cama e me coloquei em cima dele, colando nossos lábios rapidamente e sentindo suas mãos subirem pelas minhas coxas, bunda e cintura.
- Bom dia, Angelica! – Falei animada quando ela atendeu ao telefone.
- Meu Deus, . Você sabe que horas são? – Chequei o relógio novamente.
- Se eu estiver correta, sete horas para você.
- É, está cedo ainda. Eu estou tomando café! – Rimos juntas.
- Bom, eu já estou uma hora atrasada para começar meus trabalhos ou você esperava que eu seguisse o horário do Brasil? – Perguntei, andando de um lado para outro.
- É muito ânimo para uma pessoa. – Rimos juntas.
- Não é muito ânimo com o frio daqui e esse descampado aqui em Melwood, mas fizemos um acordo e eu quero segui-lo à risca. – Sorri.
- Eu não espero nada diferente de você, , você sabe disso. – Assenti com a cabeça. – Você está vendo o treino do Alisson?
- Ainda não, eles estão se trocando, o Klopp quer me mostrar o lugar depois, vou aproveitar esses espaços para fazer o que é preciso.
- Bom, inicialmente acho que você pode escrever o release do jogo de quarta-feira e depois selecionar as fotos junto do Lucas, se quiser deixar preparado o release do prêmio do Alisson de segunda-feira também, você só acrescenta os ganhadores depois. – Ela falou.
- Combinado, Angelica. Eu envio no seu e-mail assim que finalizar.
- Sem problemas, garota. E aproveita um pouco, ok?! Como foi a chegada aí ontem?
- Ah, você sabe, ele mora em um palácio gigante em Manchester...
- Manchester?
- Pois é, longa história. – Abanei a mão como se ela estivesse me vendo. - Aí eu me senti uma formiguinha naquela casa. Fui beber água de madrugada e quase caí três lances de escada. – Sua gargalhada ecoou pelo bocal.
- Eu pagava para ver isso.
- Tem três andares a casa dele, Angelica. E eu achando que meu apartamento era incrível. – Ela riu.
- Faz parte, querida, faz parte. – Rimos juntos.
- Enfim, e aproveitamos o dia inteiro ontem namorando, repondo as energias, namorando mais um pouco. – Ela riu fracamente.
- Sei bem o que esse “namorando” quer dizer, dona . – Senti meu rosto enrubescer.
- Ah, Angelica, eu preciso aproveitar também, vai! Nós nos vemos praticamente 10 dias por mês e ainda temos um monte de marmanjo, adultos, cultura e sei lá mais o que empatando o negócio. – Ela gargalhou. – Uma garota também tem suas necessidades.
- À vontade, querida. – Elas riram. - A gente se fala mais tarde, pode ser? Preciso terminar de me arrumar.
- Claro, me liga quando quiser.
- Eu mando mensagem antes. – Rimos juntas.
- O Lucas já chegou? – Perguntei.
- Não sei responder, espero que sim. – Ela falou. – A gente se fala?
- Fechou! Até mais tarde.
- Beijos, aproveite! – Ela disse e desligamos a ligação.
Apoiei os antebraços na marquise da sacada que eu estava quando os jogadores de vermelho começaram a aparecer. Andei para mais perto do gol por puro instinto e vi Alisson e os outros goleiros entrando enquanto batiam as bolas no chão. Klopp e os outros jogadores vieram logo atrás, inclusive Firmino e Fabinho.
Fabinho acenou para mim, cutucando Firmino logo em seguida que abriu um largo sorriso para mim. Ouvi seu grito abafado para Alisson e meu namorado também se virou para mim, acenando com a mão. Retribuí o aceno e voltei para dentro, pegando um pedaço de queijo da mesa de café da manhã que foi montada exclusivamente para mim.
Peguei minha mochila e voltei para fora, procurando pelo notebook. O apoiei na marquise e apertei o botão de ligar. Ergui o rosto novamente e encontrei o olhar de Alisson lá embaixo no campo, totalmente alheio ao que treinador de goleiros passava para ele. Dei um sorriso, acenando brevemente e ele foi empurrado por Mignolet, me fazendo rir. Neguei com a cabeça e me sentei em um dos bancos distribuídos na sacada, puxando o notebook para o colo e abrindo o documento do Word.
- Nós precisamos fazer um amistoso e ficar em Melwood, aquele lugar é enorme. – Comentei quando chegamos em sua casa.
- Com o tempo você se acostuma, vira e mexe eu entro em banheiro errado. – Rimos juntos.
- Espero que não dividam banheiro com as funcionárias. – Ele riu.
- Mais ou menos. – Ele ponderou com a cabeça. - Quer que eu prepare alguma coisa para gente jantar? – Ele perguntou e eu deixei minha mochila no canto da escada.
- Não estou com fome, na verdade. – Ri fracamente. – Eles colocaram comida para mim o dia inteiro. – Ele me abraçou de lado. – Além do almoço, né?! O que foi aquilo? – Sorri.
- Gostaria de te falar que aquilo foi por causa de você, normalmente não é aquela variedade, mas a gente precisa comer mais proteína mesmo, então acaba sendo meio igual.
- Eu sei, seu treinador fez questão de me paparicar diversas vezes ao longo do dia. – Rimos juntos e o segui em direção à cozinha.
- Ele gostou de você, os jogadores também. – Sorri, me sentando em um banco na cozinha enquanto ele começava a preparar seu chimarrão.
- Que bom! – Fiquei levemente envergonhada.
- Bem, não é difícil, todo mundo gosta de você, você se comunica bem, é simpática, engraçada, divertida... – Revirei os olhos.
- Você não precisa me cantar, sabe? Já somos namorados. – Ele riu fracamente, abrindo a geladeira.
- Quer algo? – Ele apontou para a geladeira.
- Me vê um suco, por favor. – Ele esticou a jarra para mim e eu puxei um copo do escorredor e o enchi com o líquido amarelo.
- Mas eu estou falando sério, você é ótima. – Sorri.
- Eles são ótimos também, o Klopp já tem um lugar especial no meu coração. – Ele sorriu.
- Viu como ele não consegue pronunciar seu nome certo? – Ele deu a volta no balcão, se colocando ao meu lado.
- Percebi, o apelido veio para ficar agora. – Ele riu.
- e Ali. – Ele falou e eu dei um gole em meu suco.
- Vai pegar agora. – Rimos juntos.
- Então, quer tomar banho, depois a gente assiste a um filme? Algo assim? – Ele se apoiou ao meu lado.
- Depende, você vai entrar comigo naquela sua banheira gigantesca? – Perguntei, vendo-o aproximar o rosto do meu.
- Acho que podemos dar um jeito. – Ele colou os lábios nos meus, mas fomos assustados pela chaleira. - Ah, caramba! – Ele reclamou e eu ri, puxando-o pela gola novamente e juntando os lábios mais uma vez.
“Já estou no estádio”. – Enviei para Alisson, junto de uma foto minha com uma blusa amarela igual a dele, seu número e nome atrás.
“Não vai mais poder falar que não me acompanha”. – Ele respondeu e eu ri fracamente.
“Nos falamos depois, foca! E bom jogo”. – Respondi e guardei o celular no bolso, checando o número no ingresso que Alisson havia pego para mim e andei pelo camarote.
- ! – Ergui o rosto, encontrando Larissa, a esposa de Firmino, com suas duas filhas.
- Larissa! – Sorri, me aproximando dela e sentindo-a me abraçar.
- O Bobby falou que você estava aqui, pensei que iam almoçar em casa um dia. – Sorri.
- Ah, sabe como é, estamos com pouco tempo, mas eu vou voltar para as festas de fim de ano, vamos combinar.
- Olha lá, hein?! – Rimos juntas.
- E essas meninas? – Virei para as filhas de ambos.
- Falem “oi”, meninas. – Ela disse e ambas acenaram com a mão, continuando a virar de cabeça para baixo na poltrona. – E essa é a Rebecca, namorada do Fabinho. – Ela me apresentou para uma moça de cabelos pretos.
- Oi, tudo bem? – Sorri, dando um rápido abraço e um beijo em sua bochecha.
- Prazer finalmente conhecer a famosa . – Ri fracamente. – Fábio e Bobby só falam de você.
- Bom, eu dou uma ajudinha na seleção. – Sorri.
- Senta, senta! – Larissa apontou para a cadeira ao seu lado e eu me ajeitei. – Pelo que eu vi, faz milagre real.
- Que isso, gente! Não é nada disso, eu só tento deixar meu trabalho um pouco menos sufocante. – Rimos juntas.
- Não sei o que você faz, mas funciona e você também faz bem para o Alisson, ele fica bem tristinho quando volta de amistosos, mas fica incrivelmente empolgado quando sai a convocação. – Ri fracamente com o que Rebecca falou.
- Não é fácil com a distância, mas acho que estamos tentando fazer o melhor que podemos. – Sorri.
- E vocês já pensaram em morar juntos, algo assim? – Larissa perguntou.
- Ah, é inevitável pensar nisso, né?! Principalmente com os momentos juntos, mas eu estou muito bem na CBF, estou lá há seis meses e consegui atingir muitas coisas que até abril desse ano eu não sabia que seria possível. – Suspirei. – E ele está aqui... Estamos devagar, acho que é o ideal, com o passar do tempo as coisas vão acontecendo e quem sabe o que o futuro nos guarda, certo? – Dei de ombros.
- Você é muito centrada, eu não pensaria assim. – Larissa falou rindo.
- O trabalho corrido me deixa assim, porque se eu não tivesse compromissos, aposto que também ficaria louca. – Sorri, vendo-as rirem.
Não demorou muito para os jogadores entrarem e a torcida começar a cantar You’ll Never Walk Alone em um lindo coro. A paixão deles eram realmente emocionante, parecia que realmente existiam pessoas que acompanhavam o campeonato inglês.
O Liverpool estava em jogo com Alisson, Alexander-Arnold, Gomez, van Dijk, Robertson, Wijnaldum, Fabinho, Shaqiri, Firmino, Mané e Salah, só para não perder o costume. E do outro lado, no Everton, tinha Richarlison no ataque, além de Mina, ex-jogador do Palmeiras.
O jogo me pareceu bem pesado. Futuramente acabei descobrindo que Liverpool e Everton eram grandes rivais por um problema de estádio há anos. O dono do Everton impediu os jogos do Liverpool no estádio e o Liverpool precisou criar Anfield, algo assim, mas mesmo assim a bola não entrava em nenhum dos dois lados.
Alisson fez defesas lindas, é claro, mas seu parceiro Gomez, tirou a bola da linha que fez meu coração parar por alguns segundos. Era sensacional!
Mas o gol mesmo, o único gol, que fez o Liverpool vencedor, veio só aos 90+6, quando o jogo já estava no final e as esperanças já tinham quase acabado. Em um lance do Van Dijk para o gol, o goleiro defendeu para cima, mas a bola voltou para a frente, beirando a trave de cima, o Origi estava ao lado do goleiro quando ela voltou e deu uma cabeceada para dentro do gol, fazendo Anfield vir abaixo.
Óbvio que o jogo acabou logo em seguida. Fiquei com Larissa e Rebecca papeando por um tempo, até elas seguirem para o vestiário e eu fui com elas. Aproveitei para tirar umas fotos com Alisson e guardar na minha caixinha de lembranças.
Alisson precisava seguir com o time de volta para Melwood para protocolos pós-jogo e eu peguei o carro de Alisson e dirigi de volta para Manchester sem muita pressa. Chegando em sua casa, eu fui terminar de arrumar minhas coisas. Iríamos para Milão cedo no dia seguinte e eu precisava organizar minhas coisas.
Peguei o vestido que eu havia passado mais cedo e coloquei-o novamente no saco, deixando minha mala entreaberta ali do lado para eu trocar a roupa de amanhã e jogar o pijama na mala. Enquanto Alisson não chegava, aproveitei para tomar um banho e comer um pouco do macarrão que sobrou no almoço, eu estava realmente faminta.
Enquanto eu estava aproveitando a larga cama de Alisson, ele chegou. Papeamos rapidamente sobre o jogo, ele tomou banho, finalizou de arrumar sua mala também e se aninhou ao meu lado, me abraçando pela cintura e distribuindo beijos em meu ombro.
- Você vai embora amanhã após a premiação ou terça? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Amanhã mesmo. – Suspirei, preciso estar de volta na terça para a CBF. – Franzi os lábios. – Vou pegar um voo para Roma as 10, eu acho, e meia-noite para o Rio.
- Argh! – Ele reclamou e eu apertei suas mãos em minha barriga.
- Em alguns dias eu estou de volta, não se preocupe. – Ele riu contra minha orelha.
- Eu sei, mas é tão bom te ter aqui, poder dormir contigo, almoçar contigo, estar contigo após o trabalho. – Ele suspirou.
- Eu sei, mas poderemos ter isso mais um pouco. – Virei meu corpo na cama, ficando de frente para ele.
- Quanto tempo? – Ele perguntou e eu suspirei.
- A confraternização da CBF é dia 16, minha família chega dia 19, e o voo é dia 20. – Falei e ele suspirou.
- Ok, então temos 18 dias? É isso?
- É isso! – Ri fracamente e dei um leve beijo em seus lábios. – Só não se esqueça que eu te amo. – Falei e ele assentiu.
- Eu também, com todo meu coração.
- Você está linda! – Alisson cochichou ao meu lado enquanto posávamos para as fotos no Gran Gala di Calcio, a qual eu tentava manter um largo sorriso no rosto enquanto acompanhava meu namorado.
- Tive que repetir o look dos melhores da FIFA, será que vão reparar? – Comentei sobre o mesmo vestido da premiação que acompanhei Marta, somente com uma jaqueta por cima, e ele riu fracamente.
- Não importa, você está linda! – Virei para ele que deu um rápido beijo em meus lábios, me fazendo sorrir e os flashes continuarem a bater em nosso rosto.
- Estou me sentindo importante. – Ele riu, segurando minha mão firme e Alisson acenou para os fotógrafos antes de seguir para dentro do evento.
Lá dentro eu precisei me conter e muito para não surtar e dar uma de fã. Grande parte do time da Juventus estava lá, eu só queria tirar fotos com todos eles e dar um abraço de urso neles. Era quase a realização de um sonho. Eu estava em uma premiação do futebol italiano com meu namorado, era incrível.
A minha vantagem em tudo isso, foi que Alex Sandro estava lá, então ele acabou me levando para conhecer alguns dos meus jogadores favoritos. Dybala me reconheceu rapidamente, então fez meu coração explodir imensamente, depois ainda tive a oportunidade de conhecer Pjanić, Chiellini, Bonucci, Barzagli, além de Francesco Totti, grande ídolo da Roma, Icardi, Immobile, entre outros ídolos italianos.
Acho que eu estava mais feliz ali do que Alisson, ele conhecia alguns de seus companheiros da Roma, mas eu parecia pinto no lixo com tanto que eu estava absorvendo, além de poder praticar meu italiano, o que eu não podia negar.
Como já era esperado, Alisson venceu de melhor goleiro da temporada, além de Cancelo do Internazionale, Koulibaly do Napoli, Chiellini, Alex Sandro e Pjanić da Juventus, Milinković-Savić do Lazio, Nainggolan da Roma, Dybala da Juve, Icardi e Immobile como time do ano e Icardi como jogador do ano.
Após a premiação teria um jantar ainda, mas eu não podia ficar, tinha que ir correndo para o aeroporto, pegar o voo que saía em duas horas. Não daria tempo nem de eu trocar de roupa.
- Eu tenho que ir. – Falei, me levantando.
- Já é hora? – Alisson me perguntou e eu assenti com a cabeça, vendo-o se levantar. – É uma pena que a gente não possa aproveitar.
- Ossos do ofício. – O abracei fortemente, apertando-o contra meu peito. – Nos vemos em alguns dias, ok?
- Vou começar a contar. – Rimos juntos e ele colou os lábios nos meus fortemente. – Eu te amo, não se esqueça de me avisar todo seu percurso, quando estiver no avião, em Roma, no avião de novo, no Rio, enfim...
- Eu sei! – Ri fracamente, fazendo um carinho em seu rosto.
- Quer que eu te leve ao aeroporto? – Neguei com a cabeça.
- Para quê? Para voltar para o hotel e ficar sem fazer nada? – Rimos juntos. – Aproveite sua noite, você merece. Você é o melhor goleiro do campeonato italiano. – Dei um rápido beijo em seus lábios.
- Só porque o Buffon está na França. – Neguei com a cabeça.
- Nem o Buffon vai poder tirar seu crédito desse prêmio. – Rimos juntos e eu o beijei mais uma vez. – Eu vou pedir para o carro me levar e depois peço para voltarem.
- Sem problemas! – Ele falou, dando um beijo em minha testa. – Boa viagem, amo você!
- Eu também. – Suspirei, acenando mais uma vez, antes de pegar minha bolsa em cima da mesa e seguir em direção à saída.
Peguei o carro que Alisson havia contratado para nos levar e segui até o aeroporto de Milão. Não tive tempo para trocar o vestido, mas troquei o salto por um tênis e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo.
Fiz meu check-in com diversas pessoas me encarando como se eu fosse algum tipo de louca ou celebridade, vai saber, mas consegui alguns minutos para trocar de roupa antes de embarcar. Enfiei o vestido de qualquer jeito dentro da mochila e troquei por um conjunto de moletom usado especificamente para viagens.
Esperei alguns minutos e logo fui chamada para o embarque. Coloquei meus pertences no bagageiro e me ajeitei na poltrona, colocando o cinto. Peguei meu celular rapidamente, escrevendo algumas palavras para Alisson.
“Estou dentro do avião, te aviso quando chegar em Roma. Te amo e parabéns novamente, meu goleiro”. – Suspirei ao enviar e recebi a resposta mais rápido que o esperado.
“Você é minha maior inspiração, boa viagem. Me mantenha informado”. – Suspirei, desligando o celular logo em seguida, olhando pela janela enquanto o avião começava a taxiar pela pista do aeroporto em Milão, me fazendo voltar as lembranças desses cinco dias incríveis.
Logo no dia que chegamos, fomos direto para a CBF, todos com aquela cara amassada de sono e roupas amassadas depois de 11 horas de voo, pois era dia da votação do Prêmio Brasileirão 2018 e a equipe inteira da CBF votava, então vai lá fazer o simulado mais difícil de toda vida dela.
Trabalhando na CBF, eu era obrigada a saber quem foram os destaques do ano, mas qual é, meu time estava há um jogo de levantar a taça do Brasileirão e eu sou clubista, desculpa, então posso te garantir que goleiro, artilheiro, defensor, melhor jogador do ano, entre outros, foram todos do meu time.
Depois disso, eu tive meus dias de folga, mas dia 25 meu time jogaria em São Januário contra o Vasco, eu não podia perder a oportunidade de meu time oficialmente se distanciar do segundo lugar e poder se considerar campeão do Brasileirão 2018. Eu estava na plateia, em um dos camarotes privativos da CBF, obviamente, mas acompanhei a festa de longe.
Como funcionária da CBF, eu tinha acesso aos vestiários, mas não conhecia ninguém do Palmeiras para me enfiar na diversão, então fiquei igual uma tonta chorando emocionada da plateia, enquanto Bianca me “consolava” pela vitória. E era o time dela que tinha acabado de perder de um a zero.
Foi uma comemoração meio chocha, estávamos em campo inimigo, então somente uma porcentagem da torcida estava presente, além de mim, obviamente, que estava chorando como comemoração.
Mas foi bom, fazia pouco tempo que tínhamos ganhado o Brasileirão, mas nunca é demais comemorar, não é mesmo?
- E aí? Mc? – Bianca me perguntou quando fomos expulsas do estádio.
- Eu não deveria, mas está tarde e eu estou com a barriga roncando. – Puxei o celular da bolsa, vendo se tinha alguma coisa do Alisson, mas já era de madrugada para ele, ele já tinha ido dormir.
- Olha quem está de volta! – Leandro brincou quando eu e Vini entramos juntos na sala de Assessoria de Viagens e ri fracamente, abraçando-o de lado.
- E aí, como vocês ficaram sem a gente? – Perguntei, seguindo até minha cadeira e apertei o botão do notebook, girando na cadeira para olhar para o pessoal.
- Ah, sabe como é, loucura de fim de Brasileirão, nada de novo. – Ele deu de ombro e eu sorri, virando para o computador.
- Fala aí, galera! – Lucas chegou com Bianca logo atrás de si.
- Finalmente vocês, hein?! – Anna brincou e nós rimos.
- do céu! – Débora apareceu logo atrás e eu me levantei.
- Ah, garota! – Nos abraçamos fortemente, gargalhando em seguida.
- Não acredito que a gente trocou as passagens. – Ela suspirou.
- A gente? Nós não fizemos nada e eu nem lembrei de olhar, estava tão cansada aquele dia... – Suspiramos.
- Bom, pelo menos e dei uma voltinha em Madrid. – Ela comentou.
- Diga que você realmente deu uma volta em Madrid...
- No aeroporto, serve? – Rimos juntas.
- Bom dia, gente! Bom dia, galera que está voltando de viagem. – Angelica entrou na sala e eu e Débora nos separamos, seguindo para nossos lugares. – Vamos juntando que temos uns casos de emergência para resolver, beleza? – Ela colocou a bolsa na sua mesa e virou para todos nós. – Galera que voltou da Inglaterra, tudo certo? – Ela perguntou e assentimos com a cabeça. – Nem conversamos no dia da votação.
- Tudo certo! – Falamos quase juntos e girei um pouco da cadeira para olhar para ela.
- Ok, vamos lá, então, eu acabei de receber uma ligação do Edu. – Ela puxou o quadro de anotações e o virou, vendo se algum lado estava vazio e passou a lateral do punho na mesma, apagando o pouco escrito. – Ou melhor, eu acordei com uma ligação do Edu. – Ela bufou, pegando um marcador.
- Bomba logo cedo? – Diana perguntou.
- Mais ou menos. – Ela respirou fundo e escreveu algumas palavras no quadro, se afastando em seguida, “Liverpool x PSG”, arregalei os olhos na hora. – Edu disse que ele e Tite conversaram, decidiram que Edu vai acompanhar o jogo do Liverpool e PSG amanhã em Paris, começar as preparações para Copa América e tudo mais. – Ela abanou a mão. – Bom, a questão é que eu preciso de um fotógrafo e um assessor para acompanhar isso amanhã, então...
- Eu! – Dei um grito alto até demais. – Por favor, deixa eu ir, gente! Eu nunca peço mais nada, por favor, Angelica, eu, eu!
- Alguém se habilita?
- Eu, por favo-or! – Me levantei, erguendo a mão.
- Alguém? – Percebi que ela e outros seguravam a risada.
- Ah, Angelica! – Me sentei emburrada, vendo todos na sala estourarem em gargalhadas.
- É claro que eu não iria mandar outra pessoa, , ainda mais sendo Liverpool e PSG. – Revirei os olhos. – Já fizemos essa reunião ontem, queria ver o quão longe você ia. – Vinícius começou a gargalhar ao meu lado e eu dei um tapa nele.
- Mancada, cara! É Alisson contra Buffon, gente! – Suspirei, me largando na cadeira.
- Exatamente por isso! – Leandro falou rindo.
- Posso ir, então?! – Perguntei com um sorriso no rosto.
- Pode, você embarca com o Lucas hoje à noite para Paris. – Arregalei os olhos.
- Hoje? – Perguntei alto.
- É, estamos um pouco sem tempo. – Ela suspirou. – Já falo contigo.
- Pelo amor, me mandem para o lugar certo dessa vez, ok?! – Brinquei e eles riram.
- Fechado! – Sorrimos.
- Lucas, , vem aqui na sala, por favor. – Angelica nos chamou para a sala privativa e eu e Lucas a seguimos, nos ajeitando nas poltronas disponíveis da pequena sala. – Lucas já está mais acostumado com isso, mas são algumas instruções rápidas.
- Claro. – Me ajeitei na cadeira.
- Vocês estão indo só para acompanhamento em caso de alguma coisa. Lucas vai fazer fotos do jogo na área da imprensa e você vai assessorar o Edu caso ele precise. – Assenti com a cabeça. – Vocês vão pegar o voo da meia-noite e vão chegar lá quatro horas da tarde, o jogo é somente as nove. – Assenti com a cabeça. – Vocês vão ficar escondidos em algum hotel nesse meio tempo. Durante o jogo, você e o Edu ficarão em um dos camarotes da FIFA, agora você é uma pessoa pública, , então quanto menos você chamar atenção, melhor.
- Melhor para mim também. – Rimos juntos.
- Vocês terão acesso aos vestiários, mas eu indico você ir atrás só após o jogo, ok?! – Ela se virou para gente. – Principalmente porque é um jogo decisivo e não queremos que falem que o Liverpool perdeu por desatenção do Alisson.
- Ei! – Reclamei. – Quem disse que eles vão perder? – Angelica ergueu as mãos rendida.
- Eu estou torcendo para o PSG. – Ela falou.
- Lucas! – Virei para o mesmo.
- Alisson, sempre! – Ele falou batendo no peito e eu senti a ironia, revirando os olhos.
- Tonto! – Rimos juntos.
- Não se esqueçam, vocês estão lá para analisar os jogadores, caso Tite ou Edu chamem vocês para palpitar em alguma reunião, é bom vocês estarem preparados. E em Liverpool e PSG, eu consigo contar ao menos seis jogadores brasileiros em campo para analisar.
- Tudo bem. – Falamos juntos.
- É isso, gente! Depois do jogo vocês vão voltar para o hotel, dormir lá e pegar o voo do dia 29 de volta, ok?! Não vamos fazer nada apressado ou eu vou ter que dar mais uma semana de folga para casa e não podemos perder gente nesse fim de ano. – Assentimos com a cabeça.
- Angelica, eu... – Parei para pensar, respirando fundo. – Deixa quieto. – Abanei a mão.
- O quê? – Ela perguntou.
- Deixa para lá. – Eu já estava abusando demais, não queria dar mais problemas.
- O que foi? Fala! Só estamos nós aqui. – Ela disse.
- O Alisson a convidou para o Gran Gala del Calcio. – Lucas falou em um péssimo sotaque italiano que eu até ri.
- Ah, agora entendi. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Quando é?
- Dia três, no mesmo dia do Prêmio do Brasileirão.
- Entendi... – Ela suspirou. - E você gostaria de ir com ele, certo?
- Talvez... – Falei fazendo uma careta.
- Eu vejo o que eu consigo fazer, ok?! – Ela piscou para mim. – Te informo até as quatro horas, que vai ser a hora que vocês dois vão para casa, arrumar as coisas e ir para o aeroporto. – Assenti com a cabeça.
- Combinado! – Eu e Lucas falamos juntos.
- Depois entrego questões de crachá, documentos, entre outros. – Ela falou e assentimos com a cabeça, nos levantando.
- E aí? Vai contar para o Alisson? – Lucas perguntou quando voltávamos para sala.
- Estou entre contar e distraí-lo do jogo e não contar, mas ter a chance de dar um ataque cardíaco nele depois. – Rimos juntos.
- Eu voto pela segunda opção. – Vinícius falou e viramos para ele. – Qual é, ele é goleiro, está acostumado com ataques do coração. – Rimos juntos. – Além de que ele namora você.
- Ah, maldade! – Eu e Lucas gritamos juntos, dando um tapa em cada braço dele.
Ao longo do dia eu fiquei contando as horas para receber uma resposta de Angelica sobre meu pedido, mas também fiquei me coçando para não mandar uma mensagem para Alisson falando que eu o encontraria amanhã mesmo em Paris. Uma loucura que até eu não consegui assimilar ainda. Era Paris! Eu passei poucas poucas horas quando fui e acho que nunca me apaixonei tanto por aquela cidade, estava empolgada em ir novamente, mesmo que por algumas horas.
Durante o almoço, eu acabei optando por voltar para casa e adiantar o pouco que eu consegui, com o trânsito do Rio de Janeiro, não foi exatamente possível, só fez com que eu chegasse correndo e desesperada no trabalho de novo.
A parte da tarde demorou para passar e cada vez que eu via Angelica, achava que ela viria falar comigo sobre meu pedido, mas ela desviava e seguia para outro lado. Sabia que meu pedido era difícil, ainda mais com todo privilégio que eu fui ganhando, desde o dia que eu entrei nessa empresa, e isso fazia somente seis meses.
Quando deu três e 58, eu comecei a dar destino às últimas coisas e a fechar tudo o que estava aberto e deslogar da minha conta. Três e 59 eu desliguei o computador, peguei minha bolsa e levantei, quatro horas eu me despedi rapidamente do pessoal e já era.
- Tchau, gente! Nos vemos em dois dias. – Falei e eu e Lucas seguimos para fora da sala.
- Quer carona? – Lucas perguntou e eu neguei.
- Não precisa, vou de Uber e a gente se encontra quando o carro nos pegar.
- Beleza! – Ele falou, apertando o botão do elevador.
- ! – Virei para trás, vendo Angelica atrás de mim e, ao invés do meu corpo relaxar, ele enrijeceu.
- Eu vou indo! – Lucas falou quando o elevador abriu as portas e eu assenti com a cabeça.
- Oi, Angelica. – Falei, ajeitando a alça da bolsa no ombro.
- Eu falei com a Michele e expliquei sua situação. – Assenti com a cabeça pedindo que ela continuasse. – É possível. – Ela sorriu.
- Mesmo? – Falei animada, abraçando-a fortemente.
- Sim, mas vamos com calma. – Ela segurou minha mão. – Não podemos te dar folga, mas o plano é vocês ficarem até quinta-feira em Paris e chegar aqui para trabalhar na sexta, então sexta-feira você tem que trabalhar, mesmo home office e segunda-feira também. Esses eventos são no fim do dia, então você vai acabar perdendo umas quatro horas de trabalho, compensa isso no sábado ou no domingo, ok?!
- Ok, eu faço o que for preciso, o que vocês precisarem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Na quinta-feira, vá para Liverpool, vou pedir para mudarem sua passagem, e trabalhe de lá, as atividades que você precisa exercer estarão no seu e-mail. Se possível, pegue o avião de Roma no dia três mesmo, ok?! Você chega aqui de madrugada e a gente tenta te dar um dia de descanso.
- Eu aguento, Angelica, sério, obrigada! – Sorri.
- Vai me informando dos seus passos, ok? Eu vou te ajudar nessa. – Ela piscou e eu sorri.
- Muito obrigada mesmo.
- Alguém precisa ter um pouco de glamour, não é mesmo? – Rimos juntas. – Agora vai cuidar das suas coisas! – Assenti com a cabeça e me virei para o elevador novamente, chamando-o.
As oito horas até o horário do voo demoraram muito para passar, principalmente porque eu não podia falar para Alisson que estava indo e precisava pensar muito em uma desculpa para ficar mais 12 horas sumida. O voo era 11 horas, Paris estava três horas à frente, então seria duas horas da tarde... É, eu estava ferrada.
- E aí, gente! – Edu sorriu quando nos encontrou no aeroporto.
- Ah, Edu! – Corri abraçá-lo, vendo sua cara de confusão.
- Ela só está feliz que vai ver um jogo da Champions League com Buffon e Alisson. – Lucas explicou.
- Ah, claro! – Edu entendeu, rindo fracamente.
- Vai ser legal! – Falei animada.
- Já contou para o Alisson? – Suspirei.
- Estou tentando ser a namorada que não distrai o namorado antes de um jogo importante. – Ele exagerou o movimento com a cabeça.
- Entendi! – Rimos juntos.
- Só quero ver que desculpa você vai dar quando ele perceber que são quase 11 horas da manhã e você ainda não apareceu.
- Dormir demais e ter muito trabalho ainda me parece uma melhor solução. – Dei de ombros.
- Espero só que seu namorado esteja com o check-up médico em dia. – Edu falou.
- Eu disse a mesma coisa! – Lucas falou um tanto alto, me fazendo rir.
- Ah, vocês dois! – Revirei os olhos. – Vamos entrar, vai! – Apontei para o portão de embarque quando nosso voo foi anunciado. – Estou animadíssima para ficar 12 horas presa em um avião com vocês.
- Eu sei! – Lucas foi tão irônico quanto e eu ri.
- Também senti sua falta, ! – Edu me puxou pelo ombro e eu sorri, seguindo até a fila da primeira classe.
Dormir 12 horas até Paris foi fácil até, era um dos primeiros voos que eu não precisava trabalhar, então adorei abandonar o uso de notebook e diversas notas no celular, mas eu estava empolgada. Era um sonho se tornando realidade e eu não podia estar mais feliz. Claro que para estar melhor, poderia ser Buffon na Juventus, mas não importa, eu veria uma lenda jogar de perto, além de que meu namorado, que estava a caminho de se tornar outra lenda, cuidaria do outro campo. Confesso que não sabia para quem torcer.
Chegamos em Paris duas horas da tarde do horário local, como previsto, e um carro já nos esperava. Como chegamos no Charles De Gaulle, levamos bons minutos para chegar na cidade de Paris e depois outros minutos para fazer check-in no hotel. Ficamos em um hotel próximo ao Museu do Louvre, então eu conseguia ver pela sacada do prédio a pirâmide do pátio do Louvre.
- A gente se encontra aqui as sete para ir para o jogo, beleza? – Edu falou e confirmamos.
- Eu vou tirar uma soneca, vocês ficaram roncando no meu ouvido a noite toda. – Lucas reclamou e eu revirei os olhos, colocando a chave na porta e entrei no meu quarto. A vantagem era que cada um teria um quarto dessa vez.
Joguei minha mala em algum canto no quarto e procurei apressadamente pelas mensagens que não paravam de fazer meu celular tocar. Com a correria para sair do aeroporto e a falta de sinal na estrada, não consegui fazer com que as mensagens carregassem. Deixei o celular parar de apitar e segui para a mensagem do único que não sabia que eu estava na mesma cidade que ele hoje.
“Oi, amor, como você está? Hoje vamos ficar de folga até o horário do jogo e você, vai me assistir?” – Era sua primeira mensagem, às seis da manhã no horário do Brasil.
“Dia difícil, amor? Sumiu, foi?! Nem uma mensagem de bom dia?”
“? Cadê você? Estou ficando preocupado de verdade”. – Suspirei, eu também ficaria desesperada.
“Amor?”
“!”
Suspirei, e coloquei meus dedos para digitarem finalmente uma resposta para ele.
“Oi, amor, me desculpa pelo sumiço, perdi hora, acordei atrasada, cheguei quase uma hora depois na CBF, tive que fazer compensação, estou saindo para o almoço agora”. – Escrevi qualquer coisa.
“Pretendo ver seu jogo sim, mas acho que da empresa mesmo, o jogo é as seis, certo? Eu vou ter que compensar o atraso”. – Mandei uma carinha triste junto.
“FINALMENTE!” – Ele respondeu prontamente.
“Não me assusta mais assim”. – Ele respondeu e eu ri fracamente.
“Vou te ligar”. – Ele falou e eu arregalei os olhos, vendo uma chamada de vídeo ser iniciada.
Olhei rapidamente em volta e aquilo não era nada parecido com um Uber, meu apartamento ou a CBF, pulei a cama e saí correndo para o banheiro, batendo a porta e me esgueirando em algum canto.
- Oi, amor. – Falei assim que atendi a ligação.
- Ei, demorou para atender. – Ele falou.
- Eu estou no meio de algo importante! – Falei, fingindo que estava realmente fazendo algo no vaso sanitário.
- Opa! – Ele riu fracamente e eu sorri.
- Prometo que agora só estou sentada aqui. – Ele sorriu.
- Bom mesmo.
- E então, empolgado com o jogo? – Perguntei.
- Nervoso, para falar a verdade. Estamos precisando desses pontos. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar certo, você vai ver. Estarei torcendo por você. – Sorri.
- O bom é que tem bastante gente conhecida hoje, vai ser legal.
- Sim, e você vai jogar com o Buffon, estou muito empolgada para ver meus dois ídolos jogando juntos. – Ele revirou os olhos.
- Só você mesmo. – Sorri.
- Que horas são aí? – Perguntei inocentemente.
- Três e pouco. – Ele checou o relógio e eu confirmei no do meu celular.
- Que horas vocês vão para o estádio?
- Umas seis horas, estamos em um hotel mais afastado da cidade, vai demorar uma hora para chegar até lá.
- Mas vai dar tudo certo, eu confio em você.
- Espero também. – Ele suspirou.
- Eu tenho que ir, falei para o Vini que só ia no banheiro. – Ele riu fracamente.
- Opa! Vai lá, a gente se fala após o jogo.
- Por favor. – Sorri. – Eu te amo e bom jogo, ok?!
- Ok! Eu também te amo. – Ele disse e desligou a ligação.
Soltei a respiração fortemente e me levantei do vaso sanitário, encarando minha feição aliviada no espelho. Voltei para o quarto e tirei meus calçados e me joguei na cama, puxando a coberta para cima de mim. Era Paris no fim do ano, as coisas estavam começando a gelar. Coloquei o despertador para dali duas horas e meia e esperei com que eu dormisse.
Quando o despertador tocou, eu já estava acordada novamente, vendo vídeos ridículos de sustos e gargalhando há meia hora com eles. Permiti me levantar, puxei minha mala para cima da cama e procurei pela roupa que eu havia separado para ir hoje. Como estava a trabalho, não poderia mostrar favoritismo para nenhum dos dois times, mas também não poderia vestir CBF, então acabei optando por uma calça jeans, blusa vermelha, intencionalmente, é claro, um sobretudo preto pesado por cima, além de botas de cano alto e um gorro na minha cabeça.
Eu acho que estava parecendo um pinguim, mas seria bom, vai que alguma câmera me pegasse? Eu estava pensando longe demais, mas se prevenir nunca é demais! Passei um lápis no olho e um batom, não estava com capacidade de passar base, sombra e muito mais, principalmente comigo subindo a gola da blusa até quase cobrir minha boca. Estava quase pior que o jogo contra Camarões.
Sete horas eu saí do quarto, encontrando Lucas e Edu fazendo o mesmo. Nos entreolhamos bem vestidos e encapuzados e descemos até o lobby, entrando no carro que nos esperava. O único que carregava grandes malas era Lucas por causa de todo o seu equipamento fotográfico, eu mantinha uma bolsa com passaporte, documentos e crachá, caso fosse necessário.
O caminho até o Parc des Princes foi rápido, em cerca de meia hora estávamos lá, mas já estava um pouco caótico por causa do penúltimo jogo do grupo C da Champions League. Haviam mais pontos azuis do que vermelhos hoje, o primeiro jogo entre ambos os times havia sido em Liverpool, três a dois para o time da casa, imaginava que o PSG viesse com tudo para fazer bonito em casa.
Me senti importante entrando pelos camarotes e apresentando meu crachá da CBF, era bom poder entrar como pessoa normal e não estar surtando com os tênis no gramado e passando frio no ponto mais aberto do estádio.
Edu cumprimentou algumas pessoas pelo caminho e uma mulher nos guiou até nosso lugar, tudo estava quieto, até a porta do camarote da FIFA ser aberto para gente, fazendo com que o barulho e a luz finalmente me surpreendessem.
- Uau! – Comentei, não sabendo se estava mais surpresa pelo camarote ou pelo estádio do outro lado da parede de vidro.
A sala que estávamos, era mais restrita, pelo o que percebi, o camarote da FIFA era gigantesco, mas separado por minicamarotes. Assim que passávamos pela porta do corredor, entrávamos em uma sala com alguns sofás, minibar, televisões gigantes, além de algumas fotos de antigos jogadores do time. Essa sala tinha uma parede de vidro e uma porta que dava para os assentos dentro do estádio, aonde eu acompanharia todo o jogo, mesmo se isso me fizesse congelar.
O tempo foi passando calmamente, várias pessoas entravam e saíam do camarote, algumas cumprimentavam Edu, outras estavam no mesmo camarote, eu não conhecia ninguém, então escolhi um assento do lado de fora e fiquei lá com Lucas esperando o tempo passar.
- Eles estão entrando para treino! – Lucas me cutucou e eu debrucei sobre a marquise, como se tentasse me esconder e vi os jogadores dos dois times entrarem em campo para o treino.
- Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! – Falei animada, vendo Alisson entrando junto do time do Liverpool e correndo para seu lado do campo.
- E lá vem o Buffon! – Ele me cutucou de novo.
- Meu Deus! – Coloquei as mãos na boca, vendo meu ídolo de anos entrando em campo e seguindo para o outro campo.
- Parece que está mais empolgada com o Buffon do que com o Alisson. – Mordi meu lábio inferior.
- Talvez eu esteja! – Respirei fundo, colocando as mãos na boca.
- Eu entendo esse sentimento. – Ele sorriu, me abraçando de lado.
- Acho que está na sua hora, não? – Chequei o relógio e Lucas fez o mesmo.
- Sim! – Ele se levantou apressado. – Nos encontramos no vestiário depois do jogo.
- Beleza! – Sorri. – Não passe frio e não deixe que o Alisson te veja.
- Ah tá que ele vai me ver. – Ele abanou a mão e eu ri.
- Prontos aí? – Edu apareceu e Lucas saiu pela porta que entrou.
- Vamos lá, né?! – Ele se sentou ao meu lado e respiramos fundo, esperando o final do treino para que eles entrassem em campo novamente.
Aproveitei o momento de silêncio do estádio e puxei o celular da bolsa, procurando pela conversa de Alisson.
“Faça um bom jogo, estou torcendo por vocês”. – Enviei e respirei fundo, percebendo que ele não via o WhatsApp há mais de duas horas, a concentração estava forte.
As luzes do estádio mudaram quando faltava 15 minutos para as nove da noite em Paris, parece que o tempo ficou um pouco mais gelado, antes de tudo clarear novamente, trazendo os dois times em campo.
Precisei me levantar para presenciar a entrada dos meus dois goleiros favoritos do mundo, podia ser Liverpool e Juventus, mas o Buffon não cooperou. Eles se posicionaram lado a lado e foi aí que eu percebi que eu tinha outros conhecidos e amigos em campo: Thiago, Marquinhos, Neymar e Firmino. Seria um jogo pesado e eu teria muitas pessoas para parabenizar e acalmar, independente do resultado.
Falando em resultado, aquele jogo era definitivo. Se o PSG perdesse, eles já poderiam dar adeus à Champions League na fase de grupos, agora se o Liverpool ganhasse, automaticamente eles estavam nas oitavas, então o PSG tinha tudo para perder ali. Confesso que parte de mim queria que eles vencessem, pois o único prêmio que o Buffon não tem na carreira, é uma Champions League, mas ver meu namorado com somente 26 anos tentando alcançar o mesmo destino, era loucura.
O hino imponente da Champions League tocou e eu não poderia me sentir mais emocionada, aquilo era uma loucura. Aproveitei para tirar muitas fotos e realmente guardar aquele momento para sempre na minha memória. Aproveitei a deixa para tirar algumas fotos minhas também e postar, Alisson não veria meu Instagram enquanto estava em campo, certo?
Fiz um sinal da cruz, pedindo para que o melhor ganhasse e vi os jogadores se cumprimentarem. Meu coração até deu uma palpitação quando Alisson e Buffon se cumprimentaram e eu caí sentada na poltrona, respirando fundo. Alisson deu um forte abraço em cada companheiro da seleção e seguiu correndo para seu campo, o resto dos jogadores de ambos os times fizeram a mesma coisa.
O juiz apitou e começou o jogo!
Em poucos minutos de jogo, Neymar veio para cima de Alisson, fazendo com que meu namorado já começasse a trabalhar em coisa de cinco minutos de jogo, aquilo era loucura. Eu não sabia se ia aguentar ver ninguém levando gol ali, era tudo muito pessoal. Alisson fez defesas sequenciais de Di Maria, de Thiago Silva e Mbappé, fazendo com que eu ficasse com calor e já tirasse o casaco. Aquele jogo seria longo.
Em um lance ridículo aos 14 minutos do primeiro tempo, o número quatro do PSG aproveitou uma abertura da defesa do Liverpool e fez um chute só em direção ao gol. Alisson não esperava por essa, então nem deu tempo de ele se jogar em direção à bola, me fazendo franzi a testa quando o estádio inteiro foi abaixo com o primeiro gol do PSG.
- Porra! – Falei baixo, vendo Edu me encarar. – Desculpa. - Me expliquei e ele riu.
A primeira chance real do Liverpool veio somente aos 21 minutos do primeiro tempo, o jogo estava sendo comandado pelo PSG e se eles estavam com esse gás logo no começo, imagino pelos próximos 70 minutos.
Alisson e Cavani acabaram se atropelando em uma tentativa de chute a gol de Cavani, mas Alisson conseguiu fazer a defesa, graças a Deus todos saíram bem da jogada, mas seguidamente as bolas voltaram para Alisson e o coração só conseguia acelerar. Eram chances de cobertura, de escanteio, falta, as bolas não paravam mesmo de vir.
O segundo gol do PSG veio quando Mbappé tentou um chute a gol. Esse chute foi defendido por Alisson, mas Neymar aproveitou o rebote, e a confusão do capitão dos reds, e deu um toquinho para a bola seguir para o gol.
- Caralho! – Soltei novamente, massageando as mãos impacientemente.
Ao final do segundo tempo as bolas voltaram a aparecer no campo do PSG e Buffon decidiu trabalhar um pouco mais, mas um lance de sorte, um carrinho de Di Maria em Sané, fez com que um escanteio fosse alterado para um pênalti e finalmente o Liverpool tinha a chance de abrir esse placar.
Buffon era um dos melhores pegadores de pênalti que eu já vi na minha vida, ao vivo ou pela televisão, então tinha chances de defesa. Mas ainda era pênalti, tinha uma chance. Milner chutou a bola para o lado esquerdo do gol e Buffon se jogou para o direito, fazendo com que os poucos torcedores de Liverpool pulassem e comemorassem o gol.
Eu estava junto deles, obviamente. Quem diria que comemoraria Buffon levando um gol, certo?
O jogo foi para o intervalo, e eu aproveitei para pegar uma bebida no frigobar, fiquei na Coca-Cola, mas eu estava precisando mesmo de um chocolate quente, o que não estava rolando no momento.
O segundo tempo foi marcado pela sorte de um impedimento, que fez com que o jogo não fosse a três a um, pela graça de Deus. Meu caro amigo Marquinhos estava impedido, o que foi um alívio para mim e uma decepção para os Parisienses.
Firmino teve a chance de igualar o placar, mas deu uma cabeceada empolgada demais, fazendo a bola passar por cima do travessão.
Marquinhos tentou se redimir ao final do segundo tempo, dando outra cabeceada, mas Alisson a defendeu de jeito, mandando-a para o lado direito do gol, livrando o Liverpool de mais uma. Mbappé tentou alguns minutos depois, mas deu um chute forte demais, mandando a bola para galera.
Em uma cobrança de falta, derrubaram Thiago na área do PSG, fazendo o lance parar, então mesmo se fosse gol, nada daquilo estava valendo. Em uma cobrança de falta do Neymar, ele ia colocar bonito do lado esquerdo do gol, mas tinha um Alisson no meio do caminho para defender o gol.
O jogo já havia sido acrescido de cinco minutos, mas o juiz ainda não tinha dado aquilo como finalizado. Neymar tentou levantar a bola para passar por Saquiri, mas alegou uma pancada no rosto, ficando jogado no campo por alguns minutos. Eu já estava acostumada com aquilo, então não me preocupei.
Aos 96 minutos, o juiz apitou o jogo, me fazendo relaxar o corpo pelo fim do jogo, mas também ficar levemente frustrada pela vitória do Liverpool no primeiro jogo que eu fui, confesso que estava me sentindo azarada.
- Bom, é isso! – Edu falou ao meu lado e eu ajeitei meu corpo, pois percebi que já estava largada na poltrona.
- Então, qual a sua análise sobre isso? – Virei para ele.
- Não é muito assim que funciona. – Rimos juntos. – Nós sabemos a capacidade dos jogadores, só precisamos ver realmente quem vale a pena para o próximo amistoso e para a Copa América. O negócio é em casa, precisamos fazer bonito.
- Nem me fala. – Suspirei.
- Bom, você quer ver seu namorado? – Ele se levantou e eu arregalei os olhos.
- Sim! – Me empolguei, me levantando rapidamente.
- Vamos lá! – Ele apontou com a cabeça e o segui para fora do camarote.
Passamos pelos diversos níveis de segurança e descemos até o vestiário. Confesso que eu estava empolgada em encontrar Alisson ali, minha barriga borbulhava e nem parecia que eu tinha visto-o há uma semana, creio que era mais pela surpresa iminente.
Quando finalmente conseguimos entrar na área dos vestiários, muitas pessoas estavam lá, imprensa, jogadores, enfim, muita gente mesmo, mas ninguém que eu conhecia muito. Só queria encontrar o jogador que usava aquele uniforme amarelo ridículo.
- Ei! – Virei para trás, encontrando Lucas.
- Ei! – O abracei rapidamente.
- Desculpe pelo jogo. – Neguei com a cabeça.
- Acontece! – Dei de ombros.
- Bom, vai para que lado? – Lucas perguntou e eu observei.
- Não faço a mínima ideia aonde estão os times, acabei de chegar. – Dei de ombros.
- ? – Ouvi um sotaque forte me chamar e virei aonde a voz indicava, me surpreendendo ao encontrar Salah.
- Ah! Salah! – Sorri, rindo fracamente. – Alguém conhecido. – Cochichei para Lucas.
- Alisson não me disse que estaria aqui. – Ele falou em seu forte inglês.
- Ele não sabe que estou aqui. – Falei e ele gargalhou.
- Você gosta de fazer surpresas, não é?! – Ele veio em minha direção e me abraçou.
- As vezes mais do que eu gostaria. – Rimos juntos.
- Vem cá, vou te levar para ele. – Ele me puxou pela mão para o lado direito e eu puxei Lucas, esperando que Edu não saísse dali sem a gente.
- Ali! Ali! – Salah começou a gritar pelo corredor, me fazendo rir fracamente. – Olha o que eu encontrei perdida por aqui! – Ele seguia no seu inglês e eu me perguntava se Alisson já estava bom para entender brincadeiras como essa.
- Você sabia disso? – Ouvi a voz de Alisson falando com outra pessoa.
- Ela está aqui? – Reconheci a voz de Firmino. – Eu juro que não sabia de nada. – Segurei a risada quando percebi que ele deveria estar vendo minha postagem.
- Ali! – Salah gritou novamente, chamando a atenção de meu namorado e eu percebi que muitos dos jogadores do Liverpool estavam despidos ou parcialmente despidos.
- ? – Ele largou suas coisas no chão e veio correndo em minha direção, me segurou pelas coxas e me ergueu nos ares, me fazendo gritar com o susto.
- Alisson! – Gritei, apoiando as mãos em seus ombros.
- O que você está fazendo aqui? – Ele me colocou no chão, me apertando.
- Ah, você está suado! – Reclamei, ouvindo-o rir.
- E a princesinha está preocupada com isso? – Ele me perguntou e eu ri.
Ele segurou meu rosto com as duas mãos geladas e colou nossos lábios, fazendo com que seus amigos de times gritassem e eu abrisse um largo sorriso com isso. Parecia a Seleção Brasileira novamente.
- Ah, obrigado, meu Deus! – Ele me abraçou fortemente, me permitindo encostar a cabeça em seu ombro e relaxar por alguns segundos. – Não posso acreditar que está aqui.
- Eu senti sua falta. – Olhei em seus olhos e ele sorriu, estalando mais um beijo em minha bochecha.
- Vamos abrir espaço para os outros amigos. – Firmino falou e eu ri, seguindo em sua direção e abraçando-o fortemente. – Ah, garota, que bom que está aqui!
- Não tanto com o resultado, mas... – Fabinho comentou e eu ri, seguindo para abraçá-lo também.
- Bom ver vocês, gente! – Sorrimos. – Mesmo com...
- Caham! – Nos distraímos com uma voz e percebi Virgil van Dijk de braços cruzados ao lado de vários outros jogadores. – Nos apresente. – Ele falou em inglês e eu ri.
- Mais fácil eu mesma fazer isso, meu inglês é melhor que o dele. – Comentei, fazendo-os rir. – Eu sou , namorada dele.
- Percebemos isso. – O capitão Henderson falou e eu acenei. – Prazer em te conhecer.
- O prazer é meu. – Sorri.
- Ali, Ali, Ali! – Virei para porta, vendo o treinador Jürgen Klopp entrar no vestiário. – Por que não disse que sua garota estava aqui?
- Porque ele não sabia. – Eu, Fabinho, Firmino e Lucas falamos juntos.
- Lucas, você está aqui também! – Firmino percebeu sua presença e eles foram se cumprimentar.
- Senhorita . – Sorri, vendo Klopp vir em minha direção.
- Boss, essa é a . – Alisson me apresentou no seu melhor inglês e o alemão segurou a mão que eu estendi e deu um beijo na mesma, me deixando encabulada.
- É um incrível prazer te ter aqui conosco, apesar das circunstâncias. – Abri um largo sorriso.
- Não importa, é um grande prazer mesmo. – Sorri.
- e Ali, o nome de vocês é muito difícil para eu pronunciar, se não se importa.
- Nenhum pouco. – Rimos juntos.
- Nós temos algumas horas aqui ainda, por que vocês não tiram um tempo juntos? – Klopp apontou para a porta e eu e Alisson sorrimos.
- Vem! – Alisson me puxou para fora do vestiário.
- Lucas, eu estou... – Apontei para a porta e ele entendeu o recado.
- Por que você não me disse que vinha? – Ele seguiu até o encontro dos dois times e eu ri fracamente.
- Estava com medo de que isso fosse te distrair.
- E você te isentaria da culpa? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Bem, pode não ter dado muito certo, meu plano era um pouco mais perfeito do que isso. – Ele sorriu.
- Não importa, é muito bom te ter aqui comigo. – Ele me abraçou fortemente de novo. – Pena que foi o primeiro jogo meu que você vê ao vivo e perdemos... – Neguei com a cabeça.
- Foi perfeito!
- Garota! – Ouvi um grito e virei a cabeça, vendo Neymar, Thiago, Marquinhos e Dani Alves aparecendo do outro lado com meio uniformes e roupas casuais.
- Por que você não disse que vinha? – Neymar foi o primeiro a me abraçar, me fazendo rir.
- Ela não falou para ninguém. – Alisson se adiantou. – Nem para mim.
- Maldade, hein?! – Ele disse e eu ri, abraçando Thiago em seguida.
- É muito bom ver vocês, sério! – Falei animada. – E parabéns pelo jogo.
- É, então... – Marquinhos olhos para Alisson e eles negaram com a cabeça, se cumprimentando.
- E então, vai ficar até quando? – Thiago perguntou, enquanto abraçava Dani.
- Bom, eu... – Abanei com a cabeça. – Eu preciso falar contigo sobre isso. – Virei para Alisson. – Mas eu fico até amanhã só.
- Vamos almoçar, fazer alguma coisa. – Neymar se apressou.
- Eu preciso ver como vai ficar os meus horários, mas eu aviso vocês. Quem sabe não dá certo? – Dei de ombros.
- Thiago, entrevista! – Cavani passou com alguns jogadores para um outro corredor e travei no lugar quando vi Buffon passando com Aréola para outro canto.
- Ah, meu Deus! – Todos viraram para onde eu olhava.
- Ei! – Thiago falou. – ‘Pera aí!
- Thiago, não! – Tentei chamá-lo, mas ele já tinha seguido em direção ao meu maior ídolo do futebol.
- Está respirando? – Neymar perguntou e eu dei um beliscão em seu braço, ouvindo-o reclamar.
Thiago falou alguma coisa com o goleiro do PSG e apontou para mim algumas vezes. No momento em que ele colocou o olhar em mim, eu senti minhas pernas virarem gelatina e meus olhos imediatamente se encheram de lágrima.
- Alisson, me segura. – Cochichei quase inaudível.
- Respira. – Ele retribuiu, segurando meu braço e eu tentei soltar o ar preso em minhas narinas pela boca, mas parecia que eu desmaiaria a qualquer momento.
- Eles estão vindo. – Neymar cochichou novamente e vi Thiago, Buffon e Aréola seguirem em minha direção.
- Buffon, esta é . – Ele falou em francês, ou algo similar aquilo, pois eu não conseguia processar mais nada. – Sua maior fã.
- Salut! – Ele falou do seu jeito animado e eu imediatamente as lágrimas começaram a sair de meus olhos, fazendo com que a respiração entalada em meus lábios saísse em formato de choro.
- Ciao! – Falei em italiano com a voz mais fina que o normal e o vi abrir os braços em minha direção e me apertar no meio dos seus.
- Non, non piangere. – Ele falou para eu parar de chorar e eu fechei os olhos, aproveitando os poucos segundos que eu teria ali ao máximo.
- È un piacere. – Falei com a voz tremendo e ele riu fracamente.
- Ela é sua fã há muitos anos. – Ouvi Alisson falando em italiano. – Joga um pouco de futebol como goleira também.
- Vero? – Buffon se afastou e eu passei as mãos nos olhos, vendo que meu corpo estava acalmando mais.
- Vero! – Sorri. – Sei una grande fonte d’inspirazione. – Passei a mão no nariz, ouvindo-o rir.
- Grazie, grazie.
- Sua namorada? – Buffon perguntou e Alisson assentiu com a cabeça.
- Alguém que gosta de goleiros, então! – Buffon brincou e eu ri.
- Eu tenho um tipo. – Dei de ombros, ouvindo-os rir.
- Estou perdido! – Neymar falou em português e me virei para ele.
- Aprende a falar em italiano ou francês que a gente te ajuda. – Thiago respondeu por ele e nós rimos.
- Eu sou Juventina por causa de você. – Falei para Buffon.
- Mah, Juventus. – Ele abriu as mãos e eu dei de ombros. – Que bom!
- Estou no aguardo do seu retorno. – Continuei, ouvindo-o rir.
- Quem sabe, quem sabe? – Ele deu de ombros e sorrimos.
- Bom, acho que precisamos ir, certo? – Marquinhos comentou.
- Posso só tirar uma foto? – Falei em português para o pessoal e tirei o celular da minha pequena bolsa, repetindo a pergunta em italiano.
- Sì, sì. – Buffon sorriu e eu me coloquei ao seu lado, sentindo-o passar o braço pelos meus ombros.
- Sorriam! – Thiago falou apontando o celular para nós e não precisava pedir duas vezes, já que eu deveria estar com um sorriso muito exagerado no rosto. – Pronto! – Ele falou.
- Muito obrigada mesmo! – Virei para Buffon, vendo o largo sorriso em seu rosto.
- Eu que agradeço! – Ele me abraçou novamente com todo seu calor italiano que eu imaginei que ele tivesse e até recebi um beijo em cada bochecha que me fez derreter toda.
- A gente se vê por aqui. – Buffon cumprimentou todos os outros da roda e seguiu com Aréola.
- Ah... – Suspirei, deixando que meu corpo caísse até o chão, mas me sentando calculadamente.
- Uou! – Alisson se assustou, me segurando pelos braços.
- Eu estou bem. – Suspirei com um sorriso no rosto. – Eu estou muito bem. – Falei, começando a chorar novamente. – Obrigada, Thi! – Falei com a voz afinada novamente. – Você é um amor mesmo.
- Eu não ia perder a oportunidade. – Rimos juntos e ele esticou as mãos para eu me levantar.
- Nós temos uma coletiva para ir, a gente se fala? – Neymar apontou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Sim! Eu mando mensagem. – Abracei todos do PSG mais uma vez e fiquei novamente com Alisson.
- Está feliz? – Ele me perguntou e eu assenti com a cabeça, abraçando-o fortemente.
- Eu acho que nunca estive tão feliz assim em minha vida! – Falei rindo e ele sorriu. – Eu posso casar com ele?
- Ei! – Ele falou rindo e eu sorri. – O que você precisa falar comigo?
- Eu falei com minha superiora e vou poder ir para Roma contigo na segunda-feira! – Sorri.
- Mesmo? – Ele me abraçou novamente.
- Mesmo! E isso quer dizer que eu vou ficar na sua casa em Liverpool até a gente ir. Depois vou ter que voltar correndo para o Brasil, mas...
- Não importa, você vai ficar comigo em Liverpool por quatro dias, isso é mais do que eu pedi. – Abracei-o novamente.
- Precisamos ver como isso vai ficar, mas é! – Ele segurou meu rosto novamente com as mãos e colou seus lábios nos meus seguidamente.
- Ah, aí estão vocês! – Edu apareceu e sorrimos para ele.
- Edu! – Alisson falou surpreso.
- Ah, eu esqueci de falar que vim acompanhá-lo.
- Agora tudo faz sentido. – Alisson falou e ambos se cumprimentaram.
- Está na hora, mas eu te vejo amanhã em Liverpool? – Alisson perguntou após se arrumar novamente.
- Sim! – Segurei seu rosto com as mãos. – Eu preciso checar com Angelica o voo, mas eu prometo que te mando mensagem, ok?!
- De verdade? – Ele perguntou brincando e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu tinha motivos para não te responder, 12 horas de voo como motivo, por sinal. – Ele sorriu e rimos.
- Me avisa sim, eu te pego no aeroporto. – Confirmei com a cabeça.
- Está de folga amanhã? – Perguntei.
- Só amanhã, temos jogo no dia dois, então vamos voltar a treinar sexta-feira.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça.
- Você vai ao jogo, não é?
- Claro que vou! Preciso mostrar apoio ao meu namorado. – Ele abriu um largo sorriso e eu dei um rápido beijo em seus lábios.
- Let’s go, Ali? – Salah apareceu no corredor.
- Ali? – Virei para Alisson.
- Klopp que veio com o apelido. – Ele deu de ombros.
- Prazer te ver de novo. – Salah falou em seu forte inglês, me abraçando rapidamente e eu retribuí.
- O prazer foi meu. – Sorri, vendo-o seguir e alguns outros jogadores seguirem atrás deles, muitos que eu não conhecia.
- Bom te ver, garota! – Firmino veio me abraçar em seguida e eu sorri, assentindo com a cabeça. – Nos vemos em Liverpool?
- Finalmente! – Brinquei e ele riu.
- Vem almoçar em casa, ver as meninas... – Assenti com a cabeça.
- Acho que vamos deixar para quando ela vier com calma. – Alisson falou.
- Mas...
- Não, não. – Ele negou com a cabeça e eu ri, sabendo aonde aquela história iria.
- Tchau, ! – Fabinho veio me abraçar em seguida e eu sorri, cumprimentando o mesmo. – Até logo.
- Até logo! – Pisquei, vendo-o seguir com a fila.
Van Dijk e Moreno, dois grandes amigos de Alisson no time, também me abraçaram fortemente, comentaram o quão felizes eles estavam em finalmente me conhecer e me convidaram para conhecer o time e ver o jogo deles, o que me deixou feliz. Por último, de jogadores, veio Henderson, o capitão do time, ele foi menos pessoal, me deu um aperto de mão e disse que eu sou bem-vinda em Melwood. Obrigada, pois eu irei para lá o mais rápido possível.
- ! – Klopp veio por último, animado como sempre. - Estou muito feliz em te conhecer finalmente, apareça em Melwood na sexta-feira, ok?! Vamos treinar, eu faço um tour com você, vai ser bom. – Ele disse com seu forte sotaque alemão.
- Pode deixar! Foi um prazer te conhecer. – O abracei novamente, sentindo-o até me tirar do chão alguns centímetros e eu ri, vendo-o acenar. – Let’s go, Ali!
- Eu tenho que ir. – Alisson falou e me abraçou fortemente, me fazendo enterrar o rosto em seu ombro. – Queria te levar para passear na cidade mais romântica do mundo. – Ele cochichou.
- Teremos Roma. – Pisquei para ele que sorriu, assentindo com a cabeça.
- Teremos Liverpool. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Sim! – Confirmei com a cabeça e ele depositou mais um beijo em meus lábios e depois segurou minha mão e deu um beijo na mesma. – Eu te amo.
- Eu também! – Pisquei e acenei com a mão livre, vendo-o seguir pelos corredores do Parc Des Princes e sumir com um último aceno, me fazendo suspirar.
Segui pelo lado contrário que ele foi e voltei para o caminho do camarote que estávamos durante o jogo. O estádio já estava com quase todas as luzes apagadas, somente com algumas dos camarotes ainda, inclusive alguns jogadores do PSG ainda estavam festejando ali. Entrei no camarote que estávamos e encontrei Lucas e Edu ali.
- Pronto. – Falei, Lucas cutucou Edu que parecia que dormia no sofá.
- Oi! – Ele falou assustado. – Pronto?
- Pronto! – Sorri. – Obrigada por esperar.
- Tudo bem, foram só alguns minutos. – Ele assentiu com a cabeça e se levantou.
- Vai para o hotel com a gente?
- Vou sim, preciso checar o horário do voo para Liverpool amanhã, Angelica ia fazer a troca das passagens para mim. – Eles assentiram com a cabeça e seguimos para a saída do estádio. – E vocês?
- Vamos só 11 da noite mesmo. – Lucas deu de ombros. – Podíamos ir no voo das seis da tarde de Alitalia, mas tem uma escala, então vai acabar chegando no mesmo horário, o da Air France é direto, pelo menos. – Assenti com a cabeça e senti o frio do lado de fora do estádio quase vazio.
Um carro nos esperava e nos levou rapidamente para o hotel. Pelo horário as ruas já estavam mais calmas. Nos despedimos no corredor e cada um entrou cansado em seu quarto. Eu tirei aquela roupa pesada e fui direto para o banho, entrando embaixo da água quente, sentindo o corpo relaxar a cada segundo que se passava.
Saí do banho, colocando um pijama quente e me joguei no centro da cama de casal, pegando o cardápio que eu havia sentado em cima. Eu estava cansada demais, mas também precisava comer alguma coisa. Olhei as opções do menu, desde pratos mais simples, até algo mais chique e disquei para a cozinha.
- Bonne nuit, poderiam trazer um crepe de queijo emental com presunto cru e ovo para o quarto 42, por favor? – Pedi com meu francês precisando de treino. – E um de Nutella com banana? – Olhei o cardápio novamente.
- Oui, madame. – Ele respondeu.
- Merci! – Disse e desliguei, respirando fundo.
Enquanto esperava, optei por arrumar minha mala novamente ou com certeza dormiria na cama. Meu jantar não demorou muito para chegar, lembro que a melhor coisa que eu comi aqui em Paris da última vez que vim foi o crepe deles e o garçom havia trazido dois grandes para eu me deliciar. Aproveitei a deixa para pagá-lo e não deixar nenhuma pendência para resolver lá e, enquanto comia, fui ler o e-mail de Angelica, meu voo era as 10 e 15 da manhã, não teria tanto tempo de sono quanto o esperado.
Enviei uma mensagem para Alisson avisando o horário que eu chegava e ele não respondeu, imaginei que ele estivesse voando ainda. Saboreei meus dois crepes enquanto olhava a pontinha da Torre Eiffel brilhando pela sacada do prédio e as pirâmides do Louvre brilharem e suspirei, querendo realmente compartilhar aquilo com Alisson.
Finalizei minha comilança, cuidei dos meus dentes e deitei novamente, programando meu despertador para seis da manhã. Talvez tomasse café no avião ou no aeroporto, se tivesse sorte. Me aconcheguei nos lençóis e dormi mais rápido do que esperava.
Passei pelas portas de desembarque procurando por Alisson. Ele havia insistido que me pegaria, mas não dei muita bola, afinal, não sabia o quão famoso ele era em Liverpool após alguns meses como um dos astros no time.
O desembarque internacional até que estava de boa, creio que meu voo era o único que estava chegando àquela hora. Passei os olhos e encontrei uma mão sacudindo desesperadamente com a intenção de chamar minha atenção. Neguei com a cabeça ao ver Alisson escondido por todo aparamento de inverno do Liverpool, incluindo um gorro na cabeça e uma gola até sua boca.
- Tente sem o kit do Liverpool. – Comentei quando cheguei perto dele e ele puxou a gola para baixo, me apertando em seus braços e colando os lábios nos meus rapidamente.
- Estou feliz que está aqui. – Sorri, assentindo com a cabeça. - Vamos, antes que me denunciem! – Ele segurou minha mão e minha mala com a mão livre e seguimos pelo aeroporto John Lennon.
Seguimos para o edifício garagem, ele pagou o estacionamento e encontrei sua SUV da BMW estacionada ali. Ele colocou minha mala e mochila no banco de trás e nos ajeitamos no carro, colocando os cintos.
- Você não tem noção de como eu estou feliz por você estar aqui! – Ri fracamente, sentindo-o colar os lábios nos meus delicadamente.
- Vai, agora me mostre tudo dessa cidade. – Me ajeitei animada no banco. – Aonde você mora? – Perguntei. – Aonde os ricos e famosos moram? – Brinquei.
- Manchester. – Franzi o rosto, virando o rosto para ele.
- Manchester? – Falei um tanto alto demais. – Por quê?
- Eu moro lá. – Franzi mais o rosto a ponto de vê-lo como um borrão.
- Por quê? – Perguntei calmamente.
- Não tem lugar bons para se morar em Liverpool. O melhor é Mossley Hill, mas é do lado do aeroporto. – Ele começou a dirigir.
- E você prefere dirigir uma hora todo dia até o treino? – Perguntei ainda surpresa.
- 40 minutos. – Ele falou irônico. – 50 se tiver trânsito. – Cruzei os braços. – Enfim, Firmino mora lá, Salah também. Muitos caras do time, na verdade.
- Não faz sentido, meu Deus! – Falei e ele riu.
- Você vai gostar, vai!
- Não estou negando isso, mas Liverpool é grande, populosa, é difícil acreditar nisso.
- Quando você vier com tempo, eu te mostro.
- À vontade, senhor Becker! – Brinquei e ele riu.
O caminho, apesar de relativamente longe, era calmo. Talvez seja pelo dia ou pelo horário, mas não tivemos problemas com trânsito, nem nada do tipo. Chegamos em Manchester e seguimos até Hale Barns, o bairro que ele morava. Me surpreendi por não ser um condomínio fechado, era realmente o subúrbio, mas apesar de ter casas grandes e luxuosas, as ruas eram calmas e com poucas crianças, talvez seja pelo horário, crianças estudam, não é mesmo?
Se eu achava que meu apartamento no Rio era grande e luxuoso, fiquei de boca aberta quando Alisson entrou em um recuo e uma grande mansão se abriu para mim. Ri fracamente, recebendo seu olhar de confusão e eu só neguei com a cabeça, sentindo-o me empurrar com o ombro.
Saímos do carro e eu olhei para a grande casa com estilo moderno do lado de fora, mas ela era alta o suficiente para um prédio de dois ou três andares. O ajudei com minha mochila, enquanto ele pegou minha mala. Andei alguns passos atrás dele, mas entrei antes quando ele empurrou a porta, me deixando entrar.
Confesso que fiquei um pouco embasbacada quando coloquei os pés na sua casa. Uma sala com uma grande escadaria se abriu à minha frente, com uma árvore de Natal e decorações devidamente montadas, enquanto eu não havia nem comprado uma árvore mais decente para o novo apartamento. À frente, uma escada que dava para o segundo andar e pude contar quatro portas, duas de cada lado.
- Vem conhecer! – Ele falou, deixando minha mala ao lado do móvel que tinha ali e eu deixei minha mochila em cima dela. – Aqui tem a sala da Helena e a cozinha. – Ele apontou para uma das portas, aonde era uma sala com diversos brinquedos espalhados pela mesma, um sofá em L e uma televisão. Uma das paredes era de vidro que dava para ver a cozinha do outro lado. – Aqui a cozinha. – Ele entrou rapidamente na mesma e eu fui olhando rapidamente.
A cozinha também tinha uma parede de vidro que dava para o largo quintal que ele tinha lá atrás, era loucura. Saímos da cozinha e seguimos para o outro lado, aonde tinha uma longa sala de jantar com uma mesa retangular para umas 14 pessoas.
- Ali tem um lavabo! – Ele apontou para outra porta. – Aqui no fundo tem o quintal. – Ele abriu as portas do fundo, deixando o vento entrar.
- Caralho! – Falei, vendo o longo espaço que ele tinha no fundo. – Tem a churrasqueira, alguns brinquedos para a Helena... – Ele mostrou rapidamente e virou de frente à casa. – Aí tem saída para o segundo andar nas duas laterais.
Vi que nas laterais tinham duas escadas e se encontravam no segundo andar. Olhei para cima e percebi que a casa deveria ter um terceiro ou quarto andar.
- Isso é enorme, Alisson. – Comentei.
- Você não viu nada. – Ele riu, me abraçando pelos ombros e me puxando para dentro. – Aqui em cima... – Demos a volta na escada e subimos os degraus. – Temos outra sala da bagunça. – Atrás da escada tinha um sofá arredondado, algumas poltronas e almofadas jogadas. - Aí temos três quartos de visita, um já arrumado para meus pais. – Ele apontou para qual era. – Ali tem um escritório também, banheiro, coisas da Helena, também temos essa sacada que dá lá para baixo. – Ele abriu a porta da sala que estávamos que dava para fora. – E a sacada também dá para um dos quartos, que é dos meus pais, e também para a sala de jogos. – Entramos por fora novamente na sala. – Tem sinuca, pebolim, televisão, enfim...
- Já vi muito essa sala dos seus stories. – Rimos juntos.
- É onde eu junto mais a galera aqui. – Ele sorriu. – Aqui do outro lado tem um cinema. – Ele empurrou outra porta, encontrando um cinema com cerca de 12 poltronas e um grande sofá lateral.
- Meu Deus do céu. – Ri sozinha. – Já é minha parte favorita da casa. – Sorri e ele negou com a cabeça.
- Eu aproveito mais quando a Helena vem, né?! – Ele deu de ombros, saindo da sala novamente.
- E tem mais um andar? – Perguntei.
- Esportista precisa praticar sempre! – Ele comentou e eu ri fracamente.
- Eu já não sirvo para morar aqui. – Brinquei, e subimos o outro andar.
- E aqui tem mais uma sala da bagunça. – Ele mostrou a sala com um grande sofá em U, algumas coisas jogadas aqui e ali. – Aqui que eu costumo ligar para você. – Ele riu e eu sorri. - Aí temos mais quatro quartos aqui em cima. Um sendo da Helena, dois de visita, que está mais de bagunça do que visita, e o meu. – Ele apontou rapidamente para as portas e entramos no central, que ficava atrás da escada.
O quarto era bem grande e espaçoso, bem quarto de mansão: decoração minimalista, uma grande cama de casal no centro, closet escondido, um grande banheiro compondo a suíte, um pequeno escritório no canto e uma grande televisão à frente da TV.
- E eu feliz com meu apartamento. – Brinquei, vendo-o rir e me puxar pelo braço.
- Ei, é um puta apartamento, vai! – Ele me puxou para dentro novamente.
- E isso é o quê? O palácio da Rainha da Inglaterra? - Ele riu. – Bom, pelo menos eu tenho uma quadra de tênis, você não! – Rimos juntos.
- É meio solitário. – Ele deu de ombros. – Você precisa ver a do Firmino, é uma loucura.
- Estou surpresa já com a sua! É muito legal, mas sozinho é complicado. – Falei rindo e ele me abraçou, caminhando comigo até seu quarto.
- Faz parte. – Ele deu de ombros. - Eu tenho uma foto contigo na minha cabeceira. – Ele cochichou como se aquilo fosse um segredo e eu ri fracamente, negando com a cabeça, observando uma foto nossa em treinamento.
- Não faz mais que a sua obrigação. – Falei, virando para ele e colando meus lábios nos seus rapidamente.
- Eu te amo! – Ele disse. – Estou muito feliz que está aqui.
- Eu também! – Cochichei. – Para as duas coisas. – Ele sorriu. - Nossa, está quente aqui! – Falei, mudando de assunto bruscamente e puxando meu cachecol do pescoço.
- Aquecedor ligado, devo ter exagerado. – Ele riu fracamente.
- Você é do sul do Brasil e morou em Roma por dois anos, está acostumado com frio, eu sou do Rio de Janeiro... – Falei exageradamente. – Te desafio a andar do carro até o escritório sem suar. – Rimos juntos e ele pegou um controle, provavelmente ajeitando a temperatura.
- Então, o que você quer fazer agora? Tomar um banho? Descansar? Sair para almoçar? – Ele perguntou. – Posso queimar uma carninha para gente mais tarde. – Ele comentou.
- Eu acho que podemos deixar isso para mais tarde, o que acha? – Passei meus braços ao redor de seu pescoço, vendo-o jogar o controle para trás.
- Ah é? O que você está pensando? – Ele tocou os lábios em minha bochecha, deslizando até meu pescoço.
- Matar as saudades, talvez? – Brinquei e ele riu, passando as mãos por meus ombros e tirando meu casaco. Ouvi o baque do couro no chão e o empurrei para trás, vendo-o se ajeitar no meio da sua cama e me coloquei em cima dele, colando nossos lábios rapidamente e sentindo suas mãos subirem pelas minhas coxas, bunda e cintura.
- Bom dia, Angelica! – Falei animada quando ela atendeu ao telefone.
- Meu Deus, . Você sabe que horas são? – Chequei o relógio novamente.
- Se eu estiver correta, sete horas para você.
- É, está cedo ainda. Eu estou tomando café! – Rimos juntas.
- Bom, eu já estou uma hora atrasada para começar meus trabalhos ou você esperava que eu seguisse o horário do Brasil? – Perguntei, andando de um lado para outro.
- É muito ânimo para uma pessoa. – Rimos juntas.
- Não é muito ânimo com o frio daqui e esse descampado aqui em Melwood, mas fizemos um acordo e eu quero segui-lo à risca. – Sorri.
- Eu não espero nada diferente de você, , você sabe disso. – Assenti com a cabeça. – Você está vendo o treino do Alisson?
- Ainda não, eles estão se trocando, o Klopp quer me mostrar o lugar depois, vou aproveitar esses espaços para fazer o que é preciso.
- Bom, inicialmente acho que você pode escrever o release do jogo de quarta-feira e depois selecionar as fotos junto do Lucas, se quiser deixar preparado o release do prêmio do Alisson de segunda-feira também, você só acrescenta os ganhadores depois. – Ela falou.
- Combinado, Angelica. Eu envio no seu e-mail assim que finalizar.
- Sem problemas, garota. E aproveita um pouco, ok?! Como foi a chegada aí ontem?
- Ah, você sabe, ele mora em um palácio gigante em Manchester...
- Manchester?
- Pois é, longa história. – Abanei a mão como se ela estivesse me vendo. - Aí eu me senti uma formiguinha naquela casa. Fui beber água de madrugada e quase caí três lances de escada. – Sua gargalhada ecoou pelo bocal.
- Eu pagava para ver isso.
- Tem três andares a casa dele, Angelica. E eu achando que meu apartamento era incrível. – Ela riu.
- Faz parte, querida, faz parte. – Rimos juntos.
- Enfim, e aproveitamos o dia inteiro ontem namorando, repondo as energias, namorando mais um pouco. – Ela riu fracamente.
- Sei bem o que esse “namorando” quer dizer, dona . – Senti meu rosto enrubescer.
- Ah, Angelica, eu preciso aproveitar também, vai! Nós nos vemos praticamente 10 dias por mês e ainda temos um monte de marmanjo, adultos, cultura e sei lá mais o que empatando o negócio. – Ela gargalhou. – Uma garota também tem suas necessidades.
- À vontade, querida. – Elas riram. - A gente se fala mais tarde, pode ser? Preciso terminar de me arrumar.
- Claro, me liga quando quiser.
- Eu mando mensagem antes. – Rimos juntas.
- O Lucas já chegou? – Perguntei.
- Não sei responder, espero que sim. – Ela falou. – A gente se fala?
- Fechou! Até mais tarde.
- Beijos, aproveite! – Ela disse e desligamos a ligação.
Apoiei os antebraços na marquise da sacada que eu estava quando os jogadores de vermelho começaram a aparecer. Andei para mais perto do gol por puro instinto e vi Alisson e os outros goleiros entrando enquanto batiam as bolas no chão. Klopp e os outros jogadores vieram logo atrás, inclusive Firmino e Fabinho.
Fabinho acenou para mim, cutucando Firmino logo em seguida que abriu um largo sorriso para mim. Ouvi seu grito abafado para Alisson e meu namorado também se virou para mim, acenando com a mão. Retribuí o aceno e voltei para dentro, pegando um pedaço de queijo da mesa de café da manhã que foi montada exclusivamente para mim.
Peguei minha mochila e voltei para fora, procurando pelo notebook. O apoiei na marquise e apertei o botão de ligar. Ergui o rosto novamente e encontrei o olhar de Alisson lá embaixo no campo, totalmente alheio ao que treinador de goleiros passava para ele. Dei um sorriso, acenando brevemente e ele foi empurrado por Mignolet, me fazendo rir. Neguei com a cabeça e me sentei em um dos bancos distribuídos na sacada, puxando o notebook para o colo e abrindo o documento do Word.
- Nós precisamos fazer um amistoso e ficar em Melwood, aquele lugar é enorme. – Comentei quando chegamos em sua casa.
- Com o tempo você se acostuma, vira e mexe eu entro em banheiro errado. – Rimos juntos.
- Espero que não dividam banheiro com as funcionárias. – Ele riu.
- Mais ou menos. – Ele ponderou com a cabeça. - Quer que eu prepare alguma coisa para gente jantar? – Ele perguntou e eu deixei minha mochila no canto da escada.
- Não estou com fome, na verdade. – Ri fracamente. – Eles colocaram comida para mim o dia inteiro. – Ele me abraçou de lado. – Além do almoço, né?! O que foi aquilo? – Sorri.
- Gostaria de te falar que aquilo foi por causa de você, normalmente não é aquela variedade, mas a gente precisa comer mais proteína mesmo, então acaba sendo meio igual.
- Eu sei, seu treinador fez questão de me paparicar diversas vezes ao longo do dia. – Rimos juntos e o segui em direção à cozinha.
- Ele gostou de você, os jogadores também. – Sorri, me sentando em um banco na cozinha enquanto ele começava a preparar seu chimarrão.
- Que bom! – Fiquei levemente envergonhada.
- Bem, não é difícil, todo mundo gosta de você, você se comunica bem, é simpática, engraçada, divertida... – Revirei os olhos.
- Você não precisa me cantar, sabe? Já somos namorados. – Ele riu fracamente, abrindo a geladeira.
- Quer algo? – Ele apontou para a geladeira.
- Me vê um suco, por favor. – Ele esticou a jarra para mim e eu puxei um copo do escorredor e o enchi com o líquido amarelo.
- Mas eu estou falando sério, você é ótima. – Sorri.
- Eles são ótimos também, o Klopp já tem um lugar especial no meu coração. – Ele sorriu.
- Viu como ele não consegue pronunciar seu nome certo? – Ele deu a volta no balcão, se colocando ao meu lado.
- Percebi, o apelido veio para ficar agora. – Ele riu.
- e Ali. – Ele falou e eu dei um gole em meu suco.
- Vai pegar agora. – Rimos juntos.
- Então, quer tomar banho, depois a gente assiste a um filme? Algo assim? – Ele se apoiou ao meu lado.
- Depende, você vai entrar comigo naquela sua banheira gigantesca? – Perguntei, vendo-o aproximar o rosto do meu.
- Acho que podemos dar um jeito. – Ele colou os lábios nos meus, mas fomos assustados pela chaleira. - Ah, caramba! – Ele reclamou e eu ri, puxando-o pela gola novamente e juntando os lábios mais uma vez.
“Já estou no estádio”. – Enviei para Alisson, junto de uma foto minha com uma blusa amarela igual a dele, seu número e nome atrás.
“Não vai mais poder falar que não me acompanha”. – Ele respondeu e eu ri fracamente.
“Nos falamos depois, foca! E bom jogo”. – Respondi e guardei o celular no bolso, checando o número no ingresso que Alisson havia pego para mim e andei pelo camarote.
- ! – Ergui o rosto, encontrando Larissa, a esposa de Firmino, com suas duas filhas.
- Larissa! – Sorri, me aproximando dela e sentindo-a me abraçar.
- O Bobby falou que você estava aqui, pensei que iam almoçar em casa um dia. – Sorri.
- Ah, sabe como é, estamos com pouco tempo, mas eu vou voltar para as festas de fim de ano, vamos combinar.
- Olha lá, hein?! – Rimos juntas.
- E essas meninas? – Virei para as filhas de ambos.
- Falem “oi”, meninas. – Ela disse e ambas acenaram com a mão, continuando a virar de cabeça para baixo na poltrona. – E essa é a Rebecca, namorada do Fabinho. – Ela me apresentou para uma moça de cabelos pretos.
- Oi, tudo bem? – Sorri, dando um rápido abraço e um beijo em sua bochecha.
- Prazer finalmente conhecer a famosa . – Ri fracamente. – Fábio e Bobby só falam de você.
- Bom, eu dou uma ajudinha na seleção. – Sorri.
- Senta, senta! – Larissa apontou para a cadeira ao seu lado e eu me ajeitei. – Pelo que eu vi, faz milagre real.
- Que isso, gente! Não é nada disso, eu só tento deixar meu trabalho um pouco menos sufocante. – Rimos juntas.
- Não sei o que você faz, mas funciona e você também faz bem para o Alisson, ele fica bem tristinho quando volta de amistosos, mas fica incrivelmente empolgado quando sai a convocação. – Ri fracamente com o que Rebecca falou.
- Não é fácil com a distância, mas acho que estamos tentando fazer o melhor que podemos. – Sorri.
- E vocês já pensaram em morar juntos, algo assim? – Larissa perguntou.
- Ah, é inevitável pensar nisso, né?! Principalmente com os momentos juntos, mas eu estou muito bem na CBF, estou lá há seis meses e consegui atingir muitas coisas que até abril desse ano eu não sabia que seria possível. – Suspirei. – E ele está aqui... Estamos devagar, acho que é o ideal, com o passar do tempo as coisas vão acontecendo e quem sabe o que o futuro nos guarda, certo? – Dei de ombros.
- Você é muito centrada, eu não pensaria assim. – Larissa falou rindo.
- O trabalho corrido me deixa assim, porque se eu não tivesse compromissos, aposto que também ficaria louca. – Sorri, vendo-as rirem.
Não demorou muito para os jogadores entrarem e a torcida começar a cantar You’ll Never Walk Alone em um lindo coro. A paixão deles eram realmente emocionante, parecia que realmente existiam pessoas que acompanhavam o campeonato inglês.
O Liverpool estava em jogo com Alisson, Alexander-Arnold, Gomez, van Dijk, Robertson, Wijnaldum, Fabinho, Shaqiri, Firmino, Mané e Salah, só para não perder o costume. E do outro lado, no Everton, tinha Richarlison no ataque, além de Mina, ex-jogador do Palmeiras.
O jogo me pareceu bem pesado. Futuramente acabei descobrindo que Liverpool e Everton eram grandes rivais por um problema de estádio há anos. O dono do Everton impediu os jogos do Liverpool no estádio e o Liverpool precisou criar Anfield, algo assim, mas mesmo assim a bola não entrava em nenhum dos dois lados.
Alisson fez defesas lindas, é claro, mas seu parceiro Gomez, tirou a bola da linha que fez meu coração parar por alguns segundos. Era sensacional!
Mas o gol mesmo, o único gol, que fez o Liverpool vencedor, veio só aos 90+6, quando o jogo já estava no final e as esperanças já tinham quase acabado. Em um lance do Van Dijk para o gol, o goleiro defendeu para cima, mas a bola voltou para a frente, beirando a trave de cima, o Origi estava ao lado do goleiro quando ela voltou e deu uma cabeceada para dentro do gol, fazendo Anfield vir abaixo.
Óbvio que o jogo acabou logo em seguida. Fiquei com Larissa e Rebecca papeando por um tempo, até elas seguirem para o vestiário e eu fui com elas. Aproveitei para tirar umas fotos com Alisson e guardar na minha caixinha de lembranças.
Alisson precisava seguir com o time de volta para Melwood para protocolos pós-jogo e eu peguei o carro de Alisson e dirigi de volta para Manchester sem muita pressa. Chegando em sua casa, eu fui terminar de arrumar minhas coisas. Iríamos para Milão cedo no dia seguinte e eu precisava organizar minhas coisas.
Peguei o vestido que eu havia passado mais cedo e coloquei-o novamente no saco, deixando minha mala entreaberta ali do lado para eu trocar a roupa de amanhã e jogar o pijama na mala. Enquanto Alisson não chegava, aproveitei para tomar um banho e comer um pouco do macarrão que sobrou no almoço, eu estava realmente faminta.
Enquanto eu estava aproveitando a larga cama de Alisson, ele chegou. Papeamos rapidamente sobre o jogo, ele tomou banho, finalizou de arrumar sua mala também e se aninhou ao meu lado, me abraçando pela cintura e distribuindo beijos em meu ombro.
- Você vai embora amanhã após a premiação ou terça? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Amanhã mesmo. – Suspirei, preciso estar de volta na terça para a CBF. – Franzi os lábios. – Vou pegar um voo para Roma as 10, eu acho, e meia-noite para o Rio.
- Argh! – Ele reclamou e eu apertei suas mãos em minha barriga.
- Em alguns dias eu estou de volta, não se preocupe. – Ele riu contra minha orelha.
- Eu sei, mas é tão bom te ter aqui, poder dormir contigo, almoçar contigo, estar contigo após o trabalho. – Ele suspirou.
- Eu sei, mas poderemos ter isso mais um pouco. – Virei meu corpo na cama, ficando de frente para ele.
- Quanto tempo? – Ele perguntou e eu suspirei.
- A confraternização da CBF é dia 16, minha família chega dia 19, e o voo é dia 20. – Falei e ele suspirou.
- Ok, então temos 18 dias? É isso?
- É isso! – Ri fracamente e dei um leve beijo em seus lábios. – Só não se esqueça que eu te amo. – Falei e ele assentiu.
- Eu também, com todo meu coração.
- Você está linda! – Alisson cochichou ao meu lado enquanto posávamos para as fotos no Gran Gala di Calcio, a qual eu tentava manter um largo sorriso no rosto enquanto acompanhava meu namorado.
- Tive que repetir o look dos melhores da FIFA, será que vão reparar? – Comentei sobre o mesmo vestido da premiação que acompanhei Marta, somente com uma jaqueta por cima, e ele riu fracamente.
- Não importa, você está linda! – Virei para ele que deu um rápido beijo em meus lábios, me fazendo sorrir e os flashes continuarem a bater em nosso rosto.
- Estou me sentindo importante. – Ele riu, segurando minha mão firme e Alisson acenou para os fotógrafos antes de seguir para dentro do evento.
Lá dentro eu precisei me conter e muito para não surtar e dar uma de fã. Grande parte do time da Juventus estava lá, eu só queria tirar fotos com todos eles e dar um abraço de urso neles. Era quase a realização de um sonho. Eu estava em uma premiação do futebol italiano com meu namorado, era incrível.
A minha vantagem em tudo isso, foi que Alex Sandro estava lá, então ele acabou me levando para conhecer alguns dos meus jogadores favoritos. Dybala me reconheceu rapidamente, então fez meu coração explodir imensamente, depois ainda tive a oportunidade de conhecer Pjanić, Chiellini, Bonucci, Barzagli, além de Francesco Totti, grande ídolo da Roma, Icardi, Immobile, entre outros ídolos italianos.
Acho que eu estava mais feliz ali do que Alisson, ele conhecia alguns de seus companheiros da Roma, mas eu parecia pinto no lixo com tanto que eu estava absorvendo, além de poder praticar meu italiano, o que eu não podia negar.
Como já era esperado, Alisson venceu de melhor goleiro da temporada, além de Cancelo do Internazionale, Koulibaly do Napoli, Chiellini, Alex Sandro e Pjanić da Juventus, Milinković-Savić do Lazio, Nainggolan da Roma, Dybala da Juve, Icardi e Immobile como time do ano e Icardi como jogador do ano.
Após a premiação teria um jantar ainda, mas eu não podia ficar, tinha que ir correndo para o aeroporto, pegar o voo que saía em duas horas. Não daria tempo nem de eu trocar de roupa.
- Eu tenho que ir. – Falei, me levantando.
- Já é hora? – Alisson me perguntou e eu assenti com a cabeça, vendo-o se levantar. – É uma pena que a gente não possa aproveitar.
- Ossos do ofício. – O abracei fortemente, apertando-o contra meu peito. – Nos vemos em alguns dias, ok?
- Vou começar a contar. – Rimos juntos e ele colou os lábios nos meus fortemente. – Eu te amo, não se esqueça de me avisar todo seu percurso, quando estiver no avião, em Roma, no avião de novo, no Rio, enfim...
- Eu sei! – Ri fracamente, fazendo um carinho em seu rosto.
- Quer que eu te leve ao aeroporto? – Neguei com a cabeça.
- Para quê? Para voltar para o hotel e ficar sem fazer nada? – Rimos juntos. – Aproveite sua noite, você merece. Você é o melhor goleiro do campeonato italiano. – Dei um rápido beijo em seus lábios.
- Só porque o Buffon está na França. – Neguei com a cabeça.
- Nem o Buffon vai poder tirar seu crédito desse prêmio. – Rimos juntos e eu o beijei mais uma vez. – Eu vou pedir para o carro me levar e depois peço para voltarem.
- Sem problemas! – Ele falou, dando um beijo em minha testa. – Boa viagem, amo você!
- Eu também. – Suspirei, acenando mais uma vez, antes de pegar minha bolsa em cima da mesa e seguir em direção à saída.
Peguei o carro que Alisson havia contratado para nos levar e segui até o aeroporto de Milão. Não tive tempo para trocar o vestido, mas troquei o salto por um tênis e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo.
Fiz meu check-in com diversas pessoas me encarando como se eu fosse algum tipo de louca ou celebridade, vai saber, mas consegui alguns minutos para trocar de roupa antes de embarcar. Enfiei o vestido de qualquer jeito dentro da mochila e troquei por um conjunto de moletom usado especificamente para viagens.
Esperei alguns minutos e logo fui chamada para o embarque. Coloquei meus pertences no bagageiro e me ajeitei na poltrona, colocando o cinto. Peguei meu celular rapidamente, escrevendo algumas palavras para Alisson.
“Estou dentro do avião, te aviso quando chegar em Roma. Te amo e parabéns novamente, meu goleiro”. – Suspirei ao enviar e recebi a resposta mais rápido que o esperado.
“Você é minha maior inspiração, boa viagem. Me mantenha informado”. – Suspirei, desligando o celular logo em seguida, olhando pela janela enquanto o avião começava a taxiar pela pista do aeroporto em Milão, me fazendo voltar as lembranças desses cinco dias incríveis.
Capítulo 10 – O fim de ano no futebol.
- Estamos dentro! – Falei animada, enquanto empurrava a cadeira para trás e quase me desequilibrando da mesma.
- E nós estamos fora! – Lucas se levantou rapidamente, desligando a TV.
- Obrigada por ficarem aqui. – Falei, pegando minha bolsa na cadeira.
- Não tivemos muita escolha. – Vinícius falou irônico, jogando a mochila nas suas costas.
- E o jogo ainda foi fraco. – Bianca comentou, nos fazendo rir.
A sala da comunicação da CBF já estava vazia, afinal, eram quase oito horas da noite e só nós quatro havíamos ficado para acompanhar o último jogo do Liverpool da fase de grupos da Champions League. Alguns funcionários foram ficando após as seis, mas o jogo foi ficando maçante, difícil do Liverpool fazer aquele golzinho, e as pessoas foram indo embora, sobrando nós quatro.
Obrigatoriamente por mim, é claro.
- Tchau, boa noite! – Falamos para o segurança da noite, saindo do prédio.
- Então, shopping? – Bianca perguntou.
- Está de carro? – Vinícius perguntou.
- Sempre! – Ela falou rindo.
- Podemos pensar nisso, então. – Brinquei.
- Eu tenho que ir, gente! A Mariana está sozinha com a Joana faz tempo.
- Vai lá, Lucas. – Bianca falou.
- Beijos e obrigada novamente. – Assenti com a mão, vendo-o ir para o lado contrário do estacionamento.
- Topam dividir uma pizza cheese pop da Pizza Hut? – Vinícius perguntou. – Estou com desejo.
- Claro, gravidinha, podemos. – Bianca brincou e eu gargalhei, seguindo até o carro dela.
- Férias! – Bianca levantou animada quando o juiz apitou o jogo treino da Seleção Sub-15 na Granja Comary.
- Recesso! – Falei, me levantando também.
- Lindo recesso que não será descontado das nossas férias. - Vinícius suspirou ao nosso lado.
- Para vocês, né?! – Anna revirou os olhos ao nosso lado.
- Alguém precisa ficar de plantão, meu amor. – Vini a abraçou de lado, nos fazendo rir.
- Pelo menos o Leandro vai ficar com ela, ele é bacana. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, ao menos isso. – Ela suspirou.
- Bom, ainda tem trabalhos a serem feitos. – Peguei minha prancheta ao meu lado. – A gente se vê no almoço lá dentro?
- Sim! – Eles falaram animados.
Eu e Bianca seguimos em direção ao campo, aonde os jogadores da Sub-15 e os do Vasco Sub-16 finalizavam os cumprimentos para seguir para o almoço de confraternização preparado pelos chefs da CBF.
- Então, você vai ficar quantos dias em Liverpool? – Bianca perguntou, parando ao lado da grade que nos separaram dos três jornalistas que acompanharem esse jogo.
- Uns 15 dias. – Balancei com a cabeça. – Vou dia 20, aí devo voltar um dia antes de começar aqui de novo.
- Vai dar nem tempo de descansar. – Dei de ombros.
- Não é como se tivéssemos muito descanso no nosso trabalho, não é mesmo? – Brinquei e ela ponderou com a cabeça.
- Errada você não está! – Sorrimos.
- O bom é que meus pais precisam voltar no dia um, porque meu pai já volta a trabalhar no dia dois, então vai dar para eu passar uns dias só eu e ele.
- Ah, esses pombinhos. – Rimos juntas.
- E você está nervosa com esse encontro Becker? – Suspirei.
- Não sei, meu pai é capaz de fazer alguma gracinha com Alisson, meu primeiro namorado sério e tudo mais, mas o Alisson me faz muito bem, ele já sabe disso pelas nossas conversas, mensagens, postagens e tudo mais.
- Vai dar bom, você vai ver. – Sorri.
- Espero, sem tretas no fim de ano. – Rimos juntas.
- E sem falar de futebol também até lá. – Neguei com a cabeça.
- Até parece, já fui convocada para ser goleira no jogo de domingo. – Falei, vendo-a rir.
- Lucas te convocou? – Ela perguntou.
- Sim! Eu virei a goleira titular dele. – Rimos juntas. – Pelo menos eu passo meu tempo.
- Venha preparada, ok?! É jogo misto, mas o pessoal é violento.
- Já fui informada. – Neguei com a cabeça. – Ao menos consegui me colocar em forma nesses últimos meses, acho que aguento um tempo inteiro.
- O jogo inteiro tem 40 minutos, vai dar certo!
- Ah, 40? Então está fácil. – Rimos juntas.
- Meninas, vamos? – O treinador da Sub-15 nos chamou e nos entreolhamos, confirmando com a cabeça.
- Quem você tirou? – Vinícius me perguntou pela milésima vez e eu continuei dando o mesmo olhar desanimado para ele.
- Amigo secreto, Vini, não vou te falar. – Neguei com a cabeça, mantendo minha sacola próxima a mim e ele riu, se afastando.
- Todo ano é isso, ele fica enchendo o saco até a hora de abrir os presentes. – Bianca cochichou, me estendendo um copo de refrigerante.
- Valeu. – Bebi um gole. – E todo ano é assim? Ar-condicionado? Todo mundo chique e de salto alto? Almoço na Granja? – Olhei para fora, aonde o sol iluminava os campos de futebol lá embaixo.
- Até a hora do amigo secreto. – Ela riu. – Aí os saltos saem, a bebida é liberada, e aí começa outro tipo de festa.
- Jogo de futebol com o pessoal bêbado? – Perguntei, colocando mais uma garfada de feijoada na boca.
- É interessante, você vai ver. – Neguei com a cabeça.
- Parece os jogos universitários tudo de novo.
- É tipo assim. – Rimos juntas.
- Ei, olha quem está ali. – Lucas comentou do outro lado da mesa e erguemos o rosto para aonde ele dizia.
Um Theo muito diferente do que eu me lembrava conversava com Angelica próximo ao buffet, fazia muito tempo que eu não o via e nem ouvia falar dele. Nossa relação durou duas semanas e, quando eu voltei da Copa, ele já tinha entrado de licença e depois ninguém nunca mais o mencionou.
Ele estava mais magro do que da última vez que eu o vi, além de sua cabeça estar raspada, deixando visível uma cicatriz de sutura na lateral da sua cabeça. Tirei o guardanapo do colo e me levantei, vendo Bianca se levantar comigo e seguimos até onde ambos estavam.
- Theo? – Perguntei, tocando seu ombro levemente.
- ? – Ele abriu um largo sorriso e eu segurei as lágrimas quando ele me abraçou.
- Que bom te ter aqui. – Falei com o rosto em seu ombro. – Como você está?
- Melhor! – Ele sorriu, assentindo com a cabeça e eu sorri, deixando Bianca abraçá-lo. – Espero que possa voltar ano que vem.
- Vai ser muito bom te ter com a gente. – Bianca sorriu.
- Precisamos nos conhecer melhor, não é mesmo? – Brinquei e ele sorriu.
- Vai ser ótimo. – Ele sorriu.
- Gente, vamos começar o amigo secreto? – Michelle falou pelo microfone, seguido de um longo chiado que me fez colocar a mão na orelha. – Desculpa.
- Depois eu termino de comer. – Abanei a mão, voltando para meu lugar.
O amigo secreto englobava todos os trabalhadores dos setores administrativos da CBF, ao menos os que conseguiram vir de outros estados e até países, então tinha cerca de umas 80 pessoas ali, mas o amigo secreto foi tirado por setores, além dos times que eram setores contra setores. Fiquei aliviada por isso, seria interessante eu tirar alguém que eu nunca vi na vida.
A brincadeira começou com o pessoal mais antigo da empresa, vou simplificar sobre quem eu conheço ou tive mais contato. Leandro foi tirado por Murilo dos RPs que tirou a Anna, Anna foi tirada por Débora que tirou um pessoal desconhecido. Depois a portuguesa da empresa tirou Vinícius que tirou a Michelle, e entramos em um pessoal desconhecido novamente. Voltamos quando Diana tirou Lucas.
- Ah, lá vai! – Ele se levantou, pegando seu presente. – Vão parecer até que foi montado ou fraude, mas vamos lá. – Rimos. - A pessoa que eu tirei se tornou uma irmã para mim desde que começou a trabalhar com a gente. Ela... Ela em pessoa, ok?! – Gargalhamos com a dica de poder ser uma mulher. – Essa pessoa caiu de paraquedas aqui e tem se dado muito bem desde então, além de se tornar uma grande amiga. É com ela que eu enfrento as dificuldades do dia a dia, das viagens, vejo sua evolução de uma forma rápida e interessante, além de que ela entrou na minha vida de uma forma magnífica. – Engoli em seco, sabendo que era eu, mas o deixei finalizar. – Ela é uma pessoa boa, simpática, engraçada, divertida, Maria chuteira, é claro, mas quem não é? – Gargalhamos, negando com a cabeça.
- É a ! – O pessoal começou a gritar e eu neguei com a cabeça.
- Ah e ela vai ser a minha goleira e vai acabar com todos vocês daqui a pouco. – As gargalhadas se misturaram com as palmas e eu me levantei, abraçando-o fortemente.
- Seu bobo! – Ele me entregou o presente e voltou para seu lugar.
- Você merece! – Pisquei para ele e fui para meu lugar, e troquei os presentes.
- Bom, meu amigo secreto ou minha amiga secreta é um verdadeiro anjo para mim. – Suspirei. – Foi a pessoa que tem me ensinado muito desde que eu entrei aqui e tem me mostrado e oferecido oportunidades que nunca eu pensaria que viveria, nem em 50 anos de carreira. – Mordi meu lábio inferior. – Além disso, é uma pessoa que tem quebrado uns galhos bem grandes para manter meu relacionamento com alguma esperança. – Eles riram.
- Angelica! – Bianca falou animada e eu sorri, vendo-a se levantar envergonhada e eu a abracei fortemente, entregando o presente para ela.
- Obrigada! – Ela sussurrou para mim e eu sorri.
- Eu que agradeço. – Falei e voltei para meu lugar, vendo-a sorrir.
O amigo secreto finalizou até todos serem tirados. Não conseguimos fazer a volta inteira de uma vez só, mas foi legal. O melhor de tudo, era que todos os presentes tinham que ter uma relação com futebol, era a única regra da brincadeira, então eu havia escolhido dar uma camiseta do Botafogo aqui do Rio para Angelica, com o nome do seu irmão atrás. Ele faleceu há uns anos de ataque cardíaco em uma pelada ingênua com os amigos. Ele era 12 anos mais novo que Angelica e tinha a minha idade quando aconteceu.
Obviamente eu não o conheci, mas ela já tinha contado longas histórias sobre ele e sempre se emocionava com isso. Além disso, eu escolhi o número 16, que era o número dele do futebol. Isso eu precisei fazer uma grande pesquisa para conseguir, mas valeu à pena.
- Obrigada. – Angelica sussurrou para mim, visivelmente emocionada e eu assenti com a cabeça, rindo fracamente.
Foquei na caixa em meu colo e abri a mesma, empurrando o papel de seda que cobria em cima e franzi a testa, puxando o tecido ‘cheguei’ que estava dentro da mesma. Abri a boca em um largo “o” ao perceber que era a blusa de goleiro do Brasil da Copa do Mundo de 1994. Virei a mesma rapidamente, encontrando o escrito Taffarel e o número 1, me fazendo rir fracamente.
- Olha, não foi fácil achar isso. – Lucas apareceu na minha frente.
- Como? Meu Deus, isso tem quase minha idade. – Rimos juntos.
- Fiz umas pesquisas, falei com o pessoal dos arquivos, eles ainda tinham o projeto e bom... – Ele balançou a cabeça. – Essa blusa foi feita alguns dias atrás, então você pode usar que não vai te dar urticária ou algo do tipo. – Gargalhei.
- Ah, é ótimo, Lucas, obrigada. – Suspirei. – Vai para minha coleção.
- Fico feliz que gostou. E saiba que Angelica ainda está chorando com a dela. – Ri fraco, olhando para ela abraçada na blusa.
- Foi a única coisa que consegui pensar. – Suspirei.
- Foi uma boa ideia. – Sorrimos cúmplices e relaxamos os ombros. – Bom, vamos para o jogo?
- Ei, eu preciso terminar de almoçar.
- Ah, esfomeada. – Rimos juntos.
Deu tempo de comer, papear por bastante tempo, até que finalmente o pessoal decidiu fazer o jogo para valer. E não é que o negócio era profissional? Tinha uniforme da Seleção até para gente, então eu tinha meu uniforme à lá Alisson Becker igualzinho do meu namorado. Era aquele verde limão feio, mas não importa, era o kit completo, blusa, shorts, meias, luvas, chuteiras, eles realmente levavam aquilo a sério. Até Vini se vestiu de Canarinho.
Claro que eu enchi meu celular com fotos sozinha e com o pessoal para postar nas redes sociais e mandar para Alisson.
Estávamos com quatro times de quatro setores diferentes, então fizemos um sorteio, dois jogos e o vencedor de cada jogo se enfrentava em uma final. Fomos sorteados primeiro, então foi muito bom. Eu peguei bastante bola, até parecia que eu não estava morrendo de cansada, mas eu acabei levando três gols, mas tudo bem, o outro time levou sete e fechamos a final.
Tive o tempo de descansar de um jogo para o outro, o que o time dos administrativos não teve a mesma sorte, pois quando acabou os dele, deram 20 minutos para eles descansarem e logo iniciamos a grande final.
O pessoal já estava para lá de Bagdá pela quantidade de álcool no sangue, até eu bebi uma frozen e por beber pouco, eu não sabia como o álcool me afetava, mas ok, seguimos para a final.
Não teve grandes novidades, Lucas era um ótimo atacante e fazia bastantes gols no goleiro do administrativo, mas eles também tinham suas armas. Já tinha levado dois gols quando a bola voltou para o meu lado. O jogador deles chutou a bola até rasteira e eu só precisava me abaixar para esperar a bola chegar aos meus braços, mas Murilo e Leandro acharam que eu não conseguiria pegar a bola e vieram em minha direção, o que acabaram me atropelando.
- De repente, meu braço esquerdo estava sendo pisoteado por alguém, virou de um jeito estilo Anderson Silva e bom... – Ergui meu braço enfaixado. – 40 dias com isso.
- Meu Deus! – Alisson falou com as mãos na boca. – Como isso aconteceu?
- Sei lá, estava todo mundo meio bêbado, embalado no álcool há umas seis horas. – Suspirei. – Ninguém falou que não era seguro jogar bêbado.
- Ninguém nunca imagina, até acontecer. – Rimos juntos. – Doeu?
- Muito! – Fiz uma cara de sofrência. – Essas esporas doem mesmo.
- Doem! – Ele falou rindo. – Agora entende porque eu jogo de manga comprida e calça comprida embaixo do uniforme?
- É, agora entendo. – Fiz uma careta. – Vou anotar a dica. – Ele riu. – Bom, eu não ia imaginar, né?! - Suspirei. – Parece que eu estou sempre acabando com a festa do pessoal.
- Ah é, você tem o costume de passar mal em momentos interessantes. – Sorrimos.
- É, acontece. – Rimos juntos.
- Mas ganhou, pelo menos? – Ele perguntou.
- Não! – Falei emburrada. – Me substituíram pela Angelica, ela é um amor, mas péssima no futebol, ainda foi coisa de 20 a três, foi embaraçoso.
- Sério que continuaram o jogo? - Ele riu.
- Ah, os fisioterapeutas estavam em peso lá, né?! Eles conseguiram ao menos fazer um primeiro atendimento e imobilizar até a gente voltar para o Rio e ir para o hospital, depois que eu saí, tudo voltou ao normal. – Ele gargalhou.
- E Angelica? Ela gostou do seu presente?
- Ah, ela adorou! Ficou abraçada nele por muito tempo, emocionei bem.
- E quem te tirou?
- O Lucas, acredita? – Ri, puxando a caixa jogada na cama. – E ele me deu uma blusa do Taffa da Copa de 1994, abri a blusa com dificuldade na frente do celular.
- Uau! Nossa, que sonho! – Sorri.
- Prometo dividir contigo. – Ele riu.
- Traz para Liverpool.
- E ficar aí? Nem a pau! – Brinquei e ele sorriu.
- Bom, eu tenho que ir para o treino e você tem que dormir, não é?! – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Sim, são seis da manhã aqui, fiquei no hospital até agora. – Bocejei alto.
- Alguém ficou contigo?
- O Vini ficou, tanto que ele está estreando a cama do quarto de visitas enquanto conversamos. – Ele riu.
- Menos mal. – O celular dele mexeu, ele estava saindo de casa. – Nos falamos em algumas horas?
- Vamos sim, eu estou oficialmente de fé-é... – Bocejei no meio da frase, ouvindo-o gargalhar. – Férias.
- Aproveite suas fé-é-érias e nos falamos mais tarde.
- Eu te amo e bom treino.
- Você também, e toma conta desse braço aí, quero você inteira quando vier para cá.
- Será que eles podem encrencar com meu gesso no aeroporto? Será que eu poderia levar drogas dentro dele? – Fiquei cogitando na brincadeira.
- Ah, , vai dormir. – Rimos juntos. – Eu te amo.
- Eu também, tchau! – Falei, apertando o botão e suspirei, encarando o gesso imobilizando meu antebraço e pulso esquerdo, me fazendo suspirar.
- Bê? – Gritei pela casa. – Ainda está aqui?
- Sim! – Ele empurrou a porta do meu quarto. – Precisa de algo?
- Quando voltar do trabalho, você compra os remédios que o médico passou?
- Claro! – Ele sorriu.
- Pega meu cartão também, eu vou tentar dormir.
- Dorme sim, quem diria que você ficaria a noite toda fora?
- Pois é! – Falei ranzinza, vendo-o pegar o cartão na minha bolsa, documento e receita médica.
- Me manda a senha pelo Whats, mas acho que lembro. – Ele piscou e eu sorri.
- Boa noite e obrigada de novo.
- Que isso, qualquer coisa me liga ou acorda o Vinícius no outro cômodo.
- Pode deixar! – Brinquei, virando para o lado e rindo.
Demorei para arranjar um lado para dormir, pois eu costumava dormir com o braço esquerdo embaixo da cabeça, mas o cansaço acabou me ganhando e eu acabei capotando de alguma forma totalmente irrelevante.
- Ah, meu amor! – Minha mãe gritou no momento em que eu abri a porta de casa e me sufocou com seu abraço. – Ah, finalmente você está aqui.
- Finalmente vocês estão aqui! – A senti dar um beijo estalado em minha bochecha. – Entra, entra!
- Maninha! – Andressa entrou com seu grito estridente e eu copiei seu movimento, abraçando-a fortemente e pulando em círculos na porta de casa. – Eu senti muito a sua falta. Muita mesmo!
- Nem me fala, sete meses é muito tempo! – Sussurrei contra seu ouvido, sentindo-a quase apertar minhas costelas.
- Bom, você agora é assessora de viagens da CBF, namorada do goleiro da Seleção Brasileira, isso é muito chique. – Revirei os olhos, vendo-a rir.
- Cadê o Natan? – Perguntei, vendo que meu pai vinha atrás com uma Analice dormindo em seus pais.
- Oi, meu amor! – Meu pai se debruçou ao meu lado, depositando um rápido beijo em minha bochecha e eu deixei que ele entrasse em casa.
- Natan teve seu recesso cancelado de última hora, estourou um cano sei lá aonde, vai ficar embarcado pelo feriado inteiro. – Fiz uma careta.
- Imagino como vai ser legal o Natal dele, com cerca de 100 homens, embarcado em uma plataforma de petróleo no meio do nada. – Ela riu fracamente, pegando sua filha de quatro anos do colo de nosso pai e o mesmo veio em minha direção.
- Problema dele, nós faremos uma viagem para Liverpool, para passar o Natal com o namorado da minha filha. – Seu Alberto me apertou, me fazendo rir.
- Agora ele é o genro favorito, tá? – Andressa falou e eu neguei com a cabeça.
- Até conhecer e fazer três horas de interrogatório igual foi com Natan. – Rimos juntas.
- Bom, Alisson já tem uns pontos na frente por gostar de futebol e de uma boa cerveja. – Pisquei para ela. – Natan não gostava de nenhuma das duas coisas.
- Ele não torce para o verdão, mas podemos dar um jeito. – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Ele é do Sul, pai, nem vem. – Ele deu de ombros.
- Cadê o Bernardo? Foi visitar a família dele? – Andressa perguntou.
- Até parece que ele perderia a oportunidade de passar a festa de fim de ano na mansão de um jogador de futebol, não é mesmo? – Bernardo apareceu no corredor com uma toalha amarrada em seus poucos cabelos, recém-saído do banho.
- É claro! – Andressa falou.
- Ah, como você está, querido? – Minha mãe foi o primeiro a abraçar e ele seguiu por meus familiares.
- É bom ver você, garoto. Fico feliz que tenha vindo morar aqui também. – Meu pai o abraçou e ambos sorriram.
- Ah, sabe como é, a gente não poderia perder essa oportunidade. – Rimos juntos.
- Bom, vocês querem comer antes ou tomar banho? – Me apoiei na bancada.
- Eu vou conhecer esse apartamento gigante e depois eu decido. – Andressa falou rindo e eu neguei com a cabeça.
- O que planejou para janta, filha? – Minha mãe perguntou e eu segui até o freezer, tirando algumas pizzas congeladas.
- Peguei algumas pizzas, achei que chegariam cansados. – Chequei o relógio e já passava das 11 da noite.
- Pensou bem, amor. – Minha mãe sorriu. – E seu braço, como está? - Ela se aproximou de mim e eu suspirei.
- Está aqui ainda. – Meu pai riu e ela revirou os olhos.
- Está doendo? – Ela foi mais enfática.
- Ainda não me acostumei a dormir, tomar banho ou cozinhar com ele, mas Bê me ajuda. – Ele fez uma cara de metido e eu revirei os olhos.
- Ela já tinha o príncipe encantado e não deu valor, dona Carina. – Rimos juntos.
- A relação seria bem chata, não é mesmo? – Virei para ele.
- Ideal! – Meu pai falou, me abraçando de lado.
- Para você... – Bernardo sussurrou e eu revirei os olhos.
- Mãe, leva o pai para conhecer o apartamento? Se acomodar no quarto, etc? Eu vou colocar as pizzas para assar, se quiserem indo tomar um banho e tudo mais?
- Tudo bem, querida, você fica com a Analice?
- Pode deixar! – Vi minha sobrinha deitada no sofá e dei um pequeno sorriso.
- Eu acompanho vocês pela mansão da senhorita . – Bernardo falou pomposo e eu revirei os olhos.
Segui em direção ao forno e acendi o mesmo, programando alguns minutos para ele pré-aquecer e comecei a desembalar as pizzas, pensando qual das três eu colocaria antes. Selecionei a de calabresa e segui para colocar a mesa.
- Tia ? – Ouvi uma vozinha e virei para o lado, vendo Analice sentada no sofá, coçando os olhos.
- Oi, meu amor! – Falei animada. – Titia tá aqui! – Ela abriu um sorriso, pulou do sofá e correu desengonçada em minha direção e me abaixei, sentindo-a pular em meu colo.
- Saudades, titia! – Ela falou baixo em meu ouvido e eu sorri, sentindo meus olhos lacrimejarem.
- Ah, meu amor, que saudades de você! – Dei um beijo em sua cabeça castanha, ouvindo-a rir.
- Então a princesa acordou? – Meu pai apareceu na sala novamente e eu me levantei, com Analice no colo.
- Que casa grande, tia. – Ela comentou, virando o rosto para os lados.
- Vem ver aqui fora. – Me aproximei da sacada com ela, abrindo a porta da sala de jantar e saindo com ela.
- Uau! – Ela falou surpresa.
- Uau mesmo. – Andressa apareceu atrás e eu ri. – Acho que vocês estão confortáveis aqui, não é mesmo? – Ela brincou e eu sorri.
- Se quiser pagar alguma das minhas prestações, eu não me importo. – Rimos juntas.
- Não vai sair pizza nessa casa, não? – Bernardo apareceu atrás.
- Tio Bê! – Analice falou sorrindo.
- Ah, olha a princesa aí! – Bernardo a tirou do meu colo e eu revirei os olhos, sabendo que ela adorava meu amigo.
- Eu vou preparar as pizzas. – Falei e meu pai riu, seguindo comigo.
- Vamos, eu te ajudo.
- A colocar pizza congelada no forno? – Brinquei.
- Eu e cozinha não nos damos bem, meu amor, você sabe disso. – Ele disse.
- Sei bem! – Gargalhei em seguida.
- Não acredito que seu namorado bancou primeira classe para todo mundo. – Minha mãe falou, se ajeitando na poltrona ao meu lado e eu ri fracamente.
- Com as prestações do apartamento, eu estou me policiando ao máximo, mas ele não precisava fazer isso.
- Já ganhou pontos com seu pai. – Virei para o lado, aonde meu pai segurava Analice enquanto minha irmã se ajeitava nas poltronas da frente.
- O que ele está achando dessa história toda? – Perguntei mais baixo para ela, ajeitando meu cinto de segurança. – Ele não mencionou nada nesses dias.
- O que tem para achar, meu anjo? – Ela se virou para mim. – Você é uma mulher, morando fora de casa sozinha há uns cinco anos, se virando, estudando, trabalhando, ganhando seu dinheiro, pagando suas contas... O que tem para achar? – Ela repetiu e eu respirei fundo.
- Não sei, às vezes eu paro e me acho muito criança para estar vivendo tudo isso. – Suspirei. – Aí eu penso em diversos jogadores de futebol e muitos são mais novos do que eu e estão casados e com filhos... – Neguei com a cabeça. – É levemente desesperador.
- Às vezes a vida anda mais rápido para uns do que para outros e é completamente normal. – Ela levou a mão até minha cabeça. – Esse é seu primeiro trabalho bom, seu primeiro relacionamento sério e seu primeiro relacionamento à distância, você está amadurecendo cada vez mais rápido, pode não parecer para você, mas está. – Suspirei.
- É tão difícil, mãe... – Senti que estava emocionada. – Eu tenho uma enteada, você sabia disso?
- Sim, eu sei! – Ela riu fracamente. – E como é isso para você?
- Eu não sei. Eu só a vi durante a Copa, não temos exatamente uma relação.
- Tem, meu amor. E é uma relação que você vai ter que maturar, com ela, com a mãe dela, com seus sogros, seu cunhado... – Ri fracamente. – A carreira sua e do Alisson já são complicadas, vocês já ficam longe da família, é como matar um leão por dia. – Suspirei.
- Dicas do que eu posso fazer? – Perguntei.
- Andar um passo de cada vez é um ótimo começo. – Suspirei. – A vida naturalmente vai dando seus passos, hoje vocês falam que não largariam as carreiras para morarem juntos, mas daqui algum tempo podem pensar nisso, a vida é uma caixinha de surpresa.
- Eu não sei, é muito cedo para falar do futuro ainda. – Ela sorriu.
- Quem sabe depois de 11 horas de viagem? – Ela brincou e eu ri, negando com a cabeça.
- Talvez. – Sorrimos.
- O que as mocinhas estão fofocando? – Meu pai se virou para trás.
- Só falando um pouco sobre a vida. – Ri fracamente.
- O que tem de bom nesse catering? Já estou com fome. – Neguei com a cabeça.
- Nem parece que comeu quase uma pizza inteira. – Ele deu de ombros.
- Era o que tinha, né?! – Ele brincou.
- O senhor poderia se sentar, por favor? – A comissária de bordo falou para meu pai e eu ri fracamente, vendo-o se ajeitar em sua poltrona.
- O Alisson vai nos pegar quando chegarmos lá? Como vamos fazer? – Minha mãe falou.
- Ele tem jogo amanhã, na verdade, fora ainda. O voo chega por volta do meio dia, vou alugar um carro e vamos para casa dele em Manchester.
- Espera, ele não mora em Liverpool? – Meu pai se levantou.
- Pai, senta, o avião já está andando. – Reclamei e ele se virou novamente. – É uma longa história, mas vamos para casa dele em Manchester. Ele falou para irmos nos ajeitando, ele vai chegar tarde. O jogo é oito da noite, em Wolverhampton, vamos até passar perto de lá, pelo que eu vi no mapa, mas teremos outras oportunidades para ver jogos.
- Ele deixou a chave com alguém?
- A família dele já chegou também, alguém deve ficar lá. – Eles concordarem. – Tudo certo aí, Dessa? – Perguntei para minha irmã e ela suspirou.
- Ela dormiu, estou só com medo de estourar o ouvido dela quando pegar altura. – Ela comentou.
- Estou aqui, se precisar de braço um pouco. – Falei.
- Valeu, maninha.
- Durmam, a viagem é longa.
- Me acorda quando passar a comida. – Meu pai falou.
- Ah lá, o ralé na primeira classe! – Dessa brincou e nós gargalhamos.
- Até parece que nunca fez um voo internacional. – Brinquei.
- A última vez foi quando você tinha 10 anos, qual é. – Ele falou.
- Ah, Indonésia em 2003. – Minha mãe falou.
- Vocês não têm mais desculpa para isso, né, gente?! – Minha irmã falou.
- Até parece que adianta falar algo. – Neguei com a cabeça.
- Ah, vão dormir vocês duas.
- Isso é uma casa só? – Meu pai gritou no momento em que saímos do carro em frente à casa do Alisson em Manchester.
- É, dá umas três ou quatro nossas lá de Pira. – Franzi a testa, seguindo para o porta-malas. – Só a parte interna, obviamente. – Ponderei com a cabeça.
- Segura a Lice, eu pego. – Andressa falou e eu estiquei os braços para minha sobrinha que sorria.
- Olha ali! – Ela apontou para um arbusto levemente esbranquiçado. – Será é que é neve? – Ela perguntou surpresa.
- Talvez, meu amor. – Dei um beijo em sua bochecha e coloquei-a no chão e peguei a mala que meu pai me entregou.
- Aqui é lindo, filha. – Minha mãe comentou e eu ri.
- Espera ver lá dentro. – Falei, movimentando a cabeça em direção à porta.
Arrastei a mala em uma mão e Analice com a outra até a porta da casa e respirei fundo antes de apertar a campainha. Fazia um tempo desde que eu me encontrei com os pais de Alisson, então confesso que estava nervosa. Além dos atrás de mim, seria a primeira vez que as duas famílias inteiras se encontravam. Era motivo o suficiente para eu surtar.
Seria pior do que encarar a Seleção Brasileira inteira.
- Olha quem chegou! – Dona Magali falou animada ao abrir a porta e eu sorri, soltando Analice e a mala e a abracei fortemente. – Ah, querida, que saudades. Você está linda como sempre.
- Passando um pouco de frio, mas tudo bem! – Ela riu.
- Nem fala, aqui é muito diferente do Sul. – Ela riu fracamente, ajeitando o cachecol no pescoço. – Você se lembra da Elisângela, não? – Ela me indicou a morena atrás dela e eu acenei para a mesma, dando uma rápida troca de beijo na mesma. - Entra, gente, entra! – Dona Magali falou animada.
- Essa é a minha família, gente. Minha mãe Carina. – Fui apontando enquanto as pessoas foram entrando. – Meu pai Alberto. Minha irmã Andressa e minha sobrinha Analice.
- É um prazer conhecer vocês. – Dona Magali falava e o pessoal ia entrando.
- Cadê o resto do pessoal? – Perguntei, sentindo o ambiente mais quente ali dentro.
- Ah, foram todos para o jogo, até as crianças. – Elisângela abanou com a mão. – Ficamos para receber vocês.
- Ah, que isso, gente. Não precisava. – Minha mãe falou.
- Eu realmente passo mais um jogo do meu filho. – Magali falou, me fazendo rir.
- Acho que já tenho futebol o suficiente nessa vida. – Elisângela falou também.
- Vem, gente, entra. Vocês estão com fome? Eu fiz um café para esperar vocês, mas posso preparar uma janta também.
- Ah, não se preocupe com a gente. – Meu pai abanou a mão. – Vamos ajudar vocês.
- Por que você não os leva lá para cima e depois vocês descem para comer? – Magali falou para mim.
- Como vai ficar? – Perguntei.
- Tem dois quartos livres aqui em cima. Você pode colocar seus pais em um e sua irmã e sobrinha no outro. E você pode colocar suas coisas no terceiro andar.
- Qual é, meu pai está aqui! – Falei e eles riram.
- Eu não estou ouvindo nada. – Ele fingiu desentendimento e um choro começou a ecoar de algum cômodo.
- A Helena está aqui? – Perguntei, seguindo Magali.
- Sim, a Natália se casou recentemente e deixou ela passar o fim de ano com a gente.
- Sério? Nossa! – Entrei na sala de brinquedos, vendo a menina de quase dois anos chorando por um brinquedo que aparentemente rolou para longe.
- Alisson não mencionou?
- Acho que não. – Falei, vendo Magali pegá-la no colo, junto do brinquedo. – Mas que bom por ela e pela Natália.
- Sim, foi algo meio inesperado e rápido demais, mas ela está feliz e ele é um cara legal. – Assenti com a cabeça, fazendo carinho na mão de Helena.
- Que bom, sério. – Sorri para Helena. – Quer vir com a tia? – Estendi minhas mãos para ela.
- Oi. – Ela falou para mim, estendendo as mãos e eu sorri, pegando-a do colo de Magali.
- Você não deveria segurar ela com esse braço. – Magali comentou e eu balancei a cabeça.
- Oi, princesa, como você está? – A segurei em meus braços.
- Bem. – Ela falou distraída com o cordão do meu moletom.
- Bem? Eu também estou bem. – Sorri, dando um curto beijo em sua cabeça.
- Eu ‘ava brincando. – Ela falou embolado.
- Ah é? Do quê? – Andei até o hall novamente, encontrando o pessoal.
- De ‘muneco. – Sorri.
- Eu posso brincar contigo?
- Poti. – Ela disse e eu sorri.
- Essa é a menina do Alisson, então? – Meu pai perguntou e eu assenti com a cabeça. - Ela é uma linda, filha. – Sorri.
- Pois é, ainda tem esse presentinho na minha vida. – Sorri, apertando Helena em um abraço.
- Ela está bem contigo. – Magali falou. – Quando foi a última vez que a viu?
- Pessoalmente? Na Rússia. Pela internet? Não lembro. – Sorri.
- Ela vai se acostumando contigo. – Magali sorriu.
- Bom, vamos nos organizar? – Elisângela falou animada.
- Vem comer, gente, depois a apresenta a casa para vocês, vocês podem relaxar, tomar banho e por aí vai. – Magali os chamou para a cozinha e eu segui com Helena no colo.
- Ei... – Ouvi um sussurro e mexi o corpo, abraçando o travesseiro com mais força. – Ei, meu amor, cheguei. – Virei o corpo na cama e abri os olhos devagar, vendo Alisson se formar embaçado em minha frente.
- Ei! – Falei dormente e ele riu, me abraçando pelas costas. – Como foi o jogo? – Falei ainda sonolenta.
- Ganhamos de dois a zero. – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu suspirei.
- Não fez mais do que a obrigação. – Falei, bocejando em seguida e ele riu, dando um beijo em minha bochecha.
- Acho que está na hora de você dormir, não? – Ele perguntou.
- Eu tentei te esperar, mas a viagem, o fuso-horário, a torta deliciosa da sua mãe... – Minha voz saiu falha e ele riu fracamente.
- Eu vou me trocar e logo fico aqui contigo, ok?! – Ele cochichou e eu assenti com a cabeça.
- Provavelmente não vou estar mais acordada para isso.
- Eu estarei aqui. – Falei, bocejando algo. – Eu te amo.
- Eu também te amo. – Ele sussurrou e só me lembro de um último suspiro, ainda com seus braços em volta de mim.
- Bom dia. – Ouvi a voz de Alisson em meus ouvidos e suspirei.
- Ah, parece que alguém já acordou. – Falei e ele riu fracamente.
- São quase 11 da manhã, meu amor. – Arregalei os olhos, virando na cama.
- Ai! – Ele reclamou quando eu bati meu braço engessado em sua testa.
- Oh, me desculpa! – Falei rindo.
- Eu sabia que você era cabeça dura, agora braço duro é novidade. – Ri fracamente, segurando o braço engessado. - Doeu? – Ele perguntou.
- Não, está tudo bem. – Comentei e virei para ele.
- Aqui estamos nós de novo. – Ele falou e eu sorri, me debruçando sobre ele e colando nossos lábios.
- Senti sua falta. – Ele disse e eu suspirei.
- Muito, muito. – Falei, apoiando minhas mãos em seu peito.
- E esse braço? – Ele entrelaçou nossas mãos.
- Ah, vai indo. – Suspirei. – Ainda não quebrei o gesso, então tá tudo bem. – Ele riu fracamente, dando um beijo em minha bochecha.
- Espero que não quebre, por favor.
- Ah, sou uma criança, você sabe. – Dei de ombros. – Pode quebrar rapidamente. Ainda mais segurando minha sobrinha, sua filha...
- Sua sobrinha veio? – Ele perguntou animado.
- Você não conheceu ninguém ainda? – Perguntei, me sentando na cama.
- Não, eu cheguei quase três da manhã ontem, todo mundo já estava dormindo, acordei faz uma hora mais ou menos, mas não tive coragem de encarar seu pai sozinho.
- Ah, Alisson. – Gargalhei em seguida. – Você não está com medo, está?
- Talvez eu esteja. – Ele deu de ombros. – Qual é, faz muito tempo que eu não namoro, seu pai é militar ainda...
- Ah, Alisson, por favor, você acha que ele vai fazer o que contigo? Te matar?
- Tem chances? – Revirei os olhos.
- Ah, pelo amor de Deus. – Ri fracamente. – Vai se arrumar e vamos descer logo. Você vai ver, ele é ótimo. – Logo em seguida um barulho de algo quebrando pode ser ouvido do andar de baixo.
- Mesmo? – Ele perguntou e eu fiz uma careta.
- Deve ter sido um copo. – Dei de ombros.
- Deus, dai-me forças e coragem para esse encontro. – Ele falou olhando para cima.
- É o que eu peço em todo amistoso internacional. – Dei de ombros. – Irônico, não?!
- É diferente, vai. Todos te amam. – Neguei com a cabeça.
- E o que te faz pensar que ele não vai te amar também?
- Você estar dormindo aqui comigo já é um motivo.
- Ah, Alissinho, dai-me paciência. – Neguei com a cabeça, jogando a coberta para o lado. – Eu vou me arrumar e logo descemos, ok?!
- Ok, chefe! – Ele falou, se levantando também e me abraçando pelas costas, distribuindo beijos em meus ombros. – Senti sua falta.
- Eu também! – Virei de costas, passando os braços pelos seus ombros.
- Teremos mais que 10 dias juntos?
- Um pouco mais, mas sim. – Pisquei, colando meus lábios nos dele mais uma vez.
- Pior é pensar no depois, quando nos reencontraremos só em março.
- Meu Deus, está pior do que eu. – Segurei seu rosto. – Se acalma. Eu acabei de chegar! – Ele riu fracamente.
- E eu esperei muito por esse momento. – Ele colou os lábios nos meus e eu ri.
- Então vamos colocar uma roupa decente e ir conhecer minha família. – Dei um sorriso e ele bufou, abanando a mão.
- Deus, dai-me forças para isso. – Neguei com a cabeça, seguindo até minha mala no canto do quarto e a deitei no chão, procurando por alguns moletons para trocar pelo moletom de pijama que eu estava usando no momento.
Troquei de roupa, fazendo questão de fechar bem o casaco e calçar os tênis em cima de meias grossas. Quando Alisson saiu do banheiro, segui para dentro dele, pegando minha nécessaire escondida atrás de uma prateleira e escovei os dentes rapidamente, lavei o rosto e não me preocupei em passar maquiagem. Qual é, eu estava com minha família e meu namorado, não precisa de mais boa impressão.
Saí do banheiro puxando o capuz para minha cabeça e ajeitando a manga do meu moletom para cobrir o gesso branco. Alisson já estava similar a mim, mas somente com uma camiseta de manga comprida, ele me abraçou rapidamente, puxando meu braço esquerdo para dar uma olhada.
- Ainda não acredito que você conseguiu quebrar o braço. – Ri fracamente.
- Nem eu! – Dei de ombros. – Acho que eu tive a capacidade de ter um acidente que nem goleiros profissionais têm. – Ele negou com a cabeça, beijando a ponta dos dedos para fora do gesso.
- Eu acho que não sei de nenhum caso de goleiro que quebrou o braço... – Ele ponderou com a cabeça.
- Deixa para lá. – Puxei o braço de volta.
- Depois eu vou fazer um desenho nesse gesso.
- Ah, não. - Neguei com a cabeça. – Vão ser 40 dias com isso, vai ficar parecendo um Jackson Pollock.
- Um o quê? – Ele franziu a testa e eu abanei a mão.
- Se eu estou sabendo mais de arte do que você, quer dizer que você está muito mal. – Ele riu.
- Por que estamos falando de arte mesmo? – Franzi a testa.
- Sei lá. – Dei de ombros. – Vamos descer?
- Ah, acho que eu prefiro ficar aqui. – Revirei os olhos.
- Vem logo, ele não morde, relaxa.
- Espero mesmo. – Revirei os olhos, puxando-o com a mão boa.
Abri a porta do quarto e já ouvi algumas vozes distantes. Olhamos rapidamente em volta e vimos que não tinha ninguém, inclusive o quarto designado ao irmão e esposa de Alisson, o dos sobrinhos dele e de Helena. Todos vazios.
Descemos mais um andar e as pessoas começaram a aparecer. Elisângela e Maria Eduarda, sobrinha mais velha de Alisson, estavam conversando nos sofás da sala central do segundo andar. Elisângela se levantou rapidamente quando me viu.
- Oi, acordaram! – Ela falou surpresa e eu sorri.
- É, alguém dormiu demais. – Movimentei a cabeça em direção a Alisson.
- Ei! – Ele comentou e eu dei de ombros. – Duda, você se lembra da ?
- Um pouco. Na Copa, né?! – A menina de cabelos pretos se levantou e me deu um rápido beijo na bochecha.
- Exato! – Alisson falou.
- Bom te rever, Duda. – Falei e ela sorriu envergonhada.
- Fico feliz que vocês deram certo, meu tio parecia bem feliz na Rússia. – Ela falou mostrando os dentinhos tortos.
- Duda! – Elisângela a cortou e eu neguei com a cabeça.
- Está tudo bem, fico feliz também que conseguimos fazer funcionar. – Sorri, sentindo Alisson me abraçar pelos ombros.
- O pessoal está lá embaixo? – Ele perguntou.
- Sim, as mulheres estão na cozinha e os homens lá fora, acendendo a churrasqueira.
- Ah, deveria suspeitar que almoçaríamos churrasco. – Virei para Alisson e ele deu de ombros.
- Estamos comendo isso há quatro dias, tia . Até eu já enjoei. – Duda falou e eu ri fracamente.
- Ah, eu virei tia. – Falei nervosa, vendo os três rirem.
- Mas você já tem sua sobrinha...
- É diferente! – Falei para Alisson. – A Lice é real minha sobrinha, a Duda só está me chamando assim, porque eu sou velha para ela. – Alisson fez uma careta.
- A gente vai descer! – Alisson puxou minha mão, deixando Duda rindo sozinha. – E pode chamar de tia sim! – Virei para Alisson. – Já virou, né?! – Dei um sorriso de lado, segurando sua mão.
- De certa forma. – Dei de ombros, ouvindo as risadas das mulheres no andar de baixo.
- Me deseje sorte. – Ele cochichou e eu balancei a cabeça, seguindo na frente para entrar na cozinha aonde estavam minha mãe, minha irmã e minha sogra papeando e um forte cheiro de vinagre.
- Bom dia! – Falei, vendo-as se distraírem.
- Ah, minha querida, bom dia! – Minha mãe veio em minha direção, me dando um rápido abraço e um beijo na cabeça.
- Dormiu demais, hein?! – Andressa falou e eu ri fracamente.
- Culpa dele. – Apontei para Alisson.
- Finalmente estamos nos conhecendo, então, Alisson? – Minha mãe falou e eu soltei a mão de Alisson, indo cumprimentar dona Magali enquanto eles conversaram.
- É um prazer te conhecer pessoalmente, dona Carina. – Alisson abraçou minha mãe, fazendo-a ficar na ponta dos pés e eu sorri, vendo Andressa piscar para mim.
- O prazer é meu, querido! Ah, estou muito feliz por você e minha filha, sério...
- Mãe! – A repreendi.
- O quê? Não falei nada de errado, estou feliz sim.
- Estávamos falando disso, estamos muito felizes mesmo por vocês dois. – Dona Magali falou e eu a abracei de lado. – Vocês combinam, sabe? Até as famílias combinam.
- Isso me deixa feliz, sério. – Alisson falou com a mão no peito. – Encontrar a foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano. – Revirei os olhos.
- Já estamos juntos, não precisa tentar me ganhar de novo. – Pisquei para ele, vendo-o rir.
- Mas preciso ganhar sua família, né?! – Ele cochichou, fazendo-as rirem. – Enfim, e você deve ser Andressa, certo?
- Sim, senhor. – Minha irmã o abraçou rapidamente. – É um prazer te conhecer. Sério. Bom ver quem conseguiu descongelar o coração da minha irmã. – Ela apertou minha bochecha e eu revirei os olhos.
- Acho que vai ser um daqueles dias. – Falei para Alisson e ela riu.
- Relaxa, irmãozinho, a gente nem começou a falar de você ainda. – Muriel apareceu na cozinha e eu ri fracamente. – , que bom te rever.
- Oi, Muriel. Bom te ver também. – Ele deu dois rápidos beijos em minha bochecha e eu sorri.
- Cadê Analice? Helena?
- Analice está lá fora brincando com o Franthiesco. – Muriel falou, pegando alguns temperos nas gavetas.
- Helena está tirando uma soneca na outra sala. – Magali falou e eu virei para a divisória de vidro das duas salas e vi Helena deitada no carrinho, dormindo.
- Bom, então só nos resta te levar para conhecer meu pai. – Muriel riu exageradamente e todos olhamos para ele.
- Eu vou morrer! – Alisson cochichou e eu ri fracamente.
- Que isso, cara. O pai dela é ótimo. Ele conta umas piadas sensacionais. – Muriel falou, se retirando e Alisson estava mais vermelho do que o normal.
- Vem, vai dar tudo certo. – Cochichei para Alisson.
- Relaxa, Beto é igual cachorro, ladra, mas não morde não. – Minha mãe falou, abanando a mão.
- Eu logo volto para ajudar vocês. – Falei, puxando Alisson pela mão.
- Ajudar nada, vai ficar descansando esse braço aí. – Minha mãe falou.
- Eu ainda tenho a mão direita, não estou tão perdida assim. – Falei da porta, seguindo para fora com Alisson.
Puxei a porta lateral, já sentindo o cheiro de fumaça e carne e saímos para o vento, encontrando meu pai, seu José e Muriel ao lado da churrasqueira, mexendo com as carnes em uma mesa. Enquanto isso, Analice e Franthiesco brincavam lá embaixo.
- Vai dar tudo certo. Ele só fica sério quando coloca a farda. – Pisquei para Alisson, mas aquilo não pareceu convencê-lo. - Bom dia! – Falei para eles.
- Bom dia, meu amor. – Meu pai falou.
- Olha quem está aí! – Seu José falou, limpando as mãos no avental e me dando um rápido abraço. – Bom te ver, garota.
- É um prazer também, seu José.
- Você deve ser o Alisson. – Meu pai falou e eu revirei os olhos.
- Se comporte, ok?! – Falei para o mesmo. – E não me faça pagar mico.
- Relaxa, garoto! – Meu pai bateu uma mão no ombro de Alisson. – Você ama e respeita minha garota, isso já quer dizer muito. – Ele estendeu a mão. – Alberto.
- Beto! – O corrigi. – Betinho, para os íntimos. – Cochichei para ele.
- Também não precisa esculachar, filha. – Ele abanou a mão.
- É um prazer te conhecer, seu Alberto. – Alisson apertou a mão dele e eles se abraçaram.
- O prazer é meu, garoto. – Ele sorriu.
- Bom, todos devidamente apresentados, eu estou com fome. – Falei, dando uma espiada para dentro da churrasqueira.
- Vocês demoraram para acordar, vai demorar. – Seu José falou e eu ri fracamente.
- Eu vou ajudar as mulheres. – Falei.
- Eu vou ver minha filha. – Alisson disse.
- A gente chama. – Meu pai falou e eu assenti com a cabeça.
- Cadê Bernardo? – Alisson perguntou. – Ele não ia vir?
- Chega só amanhã, teve que trabalhar. – Dei de ombros.
- Ah, acontece. – Sorrimos.
- Rabanada, gente? – Minha mãe ofereceu e eu joguei a cabeça para trás.
- Chega, mãe! – Falei, ouvindo Alisson rir ao meu lado.
- Pega, gente! – Ela falou e minha barriga realmente não aguentava mais.
- Para mim já deu, mãe. – Neguei com a cabeça.
- Para mim também, dona Carina. – Alisson falou e ela voltou escadas abaixo com o prato com rabanadas fresquinhas. - Sua mãe vai me engordar. – Alisson cochichou, escondendo o rosto na curva do meu pescoço e neguei com a cabeça.
- Depois ela reclama que a gente engordou, mas ela é a culpada. – Andressa falou do outro lado.
- Não sabia que vocês tinham uma padaria. – Alisson comentou.
- Faz tempo, ela vendeu há uns cinco anos já, não é algo que você lembra com frequência. – Dei de ombros. – Mas ela ainda tem o dom.
- Ah, tem! – Andressa falou, nos fazendo rir.
- O que você acha, dinda? – Lice falou e eu virei o rosto para meu gesso que estava esticado no sofá com ela e Helena rabiscando há mais de meia hora.
- Uau! – Falei, fingindo. – Ficou lindo, meninas. – Olhei os diversos rabiscos de Helena e a tentativa de Analice desenhar a Anna e a Elsa de Frozen. – Obrigada. – Dei um beijo rápido na cabeça de Helena e em Analice.
- Vou lá com a vó! – Analice falou, saindo correndo.
- Você gostou? – Helena falou batendo no gesso que ela havia descoberto não fazer parte do meu braço há um tempo atrás.
- Ficou lindo, meu amor. – Puxei-a para meu colo, estalando um beijo em sua bochecha.
- ‘Brigada, mamãe. – Arregalei os olhos, virando para Alisson também surpreso.
- Ah, meu amor. – Pressionei os lábios um no outro, abraçando Helena em meu colo. – Eu não sou...
- É sim! – Alisson me interrompeu, negando com a cabeça. – Não faça isso.
- Mas, Alisson...
- Desde que a Nat casou, ela tem dois pais, porque ela não pode ter duas mães?
- Porque é a primeira vez que eu fico com ela, Alisson. – Virei para ele. – É diferente. A Nat namora o cara há um tempo, Helena já ficou com ele. – Suspirei, beijando a cabeça da menina. – Eu até quero, um dia, ser madrasta dela, mas em um momento que eu realmente conviver com ela. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bom, eu não vou acabar com os sonhos dela, você vai? – Ele chantageou e eu revirei os olhos.
- Idiota. – Cochichei e virei para Andressa. – Pode isso, Arnaldo?
- Errado ele não está! – Ri fracamente, vendo Helena sair de meu colo e engatinhar até seus brinquedos.
- Você não pode acreditar realmente nisso. – Falei e ela me olhou sugestivamente.
- Já consigo até ver trocando fraldas e...
- Ah, meu Deus! – Ela e Alisson riram e logo um barulho nos interrompeu.
- Alisson, a campainha! – Dona Magali gritou em seguida.
- O Bernardo chegou! – Falei animada, me levantando.
- Fica de olho nela, por favor, Andressa? – Alisson perguntou.
- Vai na paz! – Ela disse e eu e Alisson seguimos pela portinha na escada e descemos para o primeiro andar.
- Você não me deixou assinar nem um “eu te amo” no seu gesso, agora as meninas... – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Qual é, Alisson, elas têm cinco e menos de dois anos, qual é. – Rimos juntos. – Evitei duas horas de choro.
- Tá perdoada! – Rimos juntos.
- Ah! – Falei animada ao ver Bernardo soltando minha mãe e o abracei animada. – Você está aqui!
- Eu sobrevivi a uma viagem de avião sozinho! – Rimos juntos.
- Como você está com esse feito? – Ele suspirou.
- Bem, mas acho que exagerei no remédio, eu estou com um sono. – Ele falou seguido de um bocejo e nós rimos.
- A gente logo te arranja um espaço e você descansa. – Dona Magali falou.
- Bê, essa é a dona Magali, mãe do Alisson. – Apresentei, mostrando para ela e ambos se abraçaram rapidamente. – E esse é o Alisson, meu namorado.
- Reparei pelo rosto perfeito e a cara da riqueza. – Coloquei a mão no rosto.
- Gostei dele. – Alisson falou rapidamente e eu dei de ombros.
- É um prazer conhecer você, já gosto de você por fazer minha amiga feliz, isso já basta. – Eles sorriram.
- O prazer é meu, cara. Seja bem-vindo! – Eles sorriram, trocando um rápido abraço.
- Eu aposto que serei, viu?! Isso é uma casa só?
- Quando eu falei que vim para cá e cansei, você não acreditou em mim. – Dei de ombros.
- Agora entendo o que você quis dizer. – Rimos juntos.
- Ah, querido. Você chegou! – Minha mãe apareceu, abraçando-o rapidamente.
- Oi, dona Carina, tudo bem? – Ele sorriu, recebendo um beijo da minha mãe.
- Bom, vamos achar um lugar para você, Bernardo? – Alisson falou. – Ou você prefere comer, depois descansar?
- Tem rabanada! – Minha mãe falou animada e rimos juntos.
- Acho que eu aceito ir para o quarto, o remédio tá fazendo efeito ainda. – Ele falou, nos fazendo assentir com a cabeça.
- Vamos só conhecer o pessoal rapidinho? – Sugeri. – Depois você dorme o quanto quiser.
- Claro! – Bernardo falou tentando manter a animação. – Esqueci que temos outras pessoas aqui.
- Já está se achando na casa de praia dos Silveira, né?! – Andressa veio na escada com Helena e rimos.
- Melhor Natal. – Bernardo brincou e eu sorri. – Essa é a tua menina, Alisson?
- Sim, Helena. – Ele sorriu e Bê retribuiu.
- Ela é linda. – Ambos sorriram.
- Vem, os homens estão no fundo. – Falei.
- É, vamos fazer alguém ser mais empanturrado com churrasco. – Comentei e o pessoal gargalhou.
- O que você acha? – Alisson apareceu do banheiro e eu franzi os lábios com a blusa preta que ele usava.
- Tem certeza que você quer usar isso? – Perguntei.
- Por quê? Está tão mal assim?
- Tá... – Falei meio alongando, encarando-o pelo espelho.
- Ah, qual é, todo mundo precisa ter uma camisa de tiozão.
- A diferença é que você não é meu pai. – Suspirei. – E nem está na idade para ser. – Rimos juntos.
- Para de ser ranzinza, vai. – Ele bagunçou meus cabelos e eu franzi os lábios, abaixando os mesmos.
- Está horrível, só dizendo. – Finalizei de colocar a roupa em Helena e a peguei no colo. – Ele não está feio, meu amor? – Abaixei os cabelos dela.
- Feio. – Ela falou animada e eu virei sorrindo para Alisson.
- Viu?! Até sua filha concorda. – Ele revirou os olhos, tirando-a de meu colo.
- Não estou, meu amor. A que é chata. – Segui até a frente do espelho novamente, ajeitando as mangas do vestido de manga cumprida que eu usava e dei uma batidinha nos cabelos, jogando-os para trás. – Pronta? – Ele perguntou.
- Sim, vamos lá! – Peguei meu celular na mesa de cabeceira e saí do quarto junto de Alisson, descendo os degraus.
- Olha que lindos! – Minha irmã apareceu no andar com Analice e Elisângela com Duda, fazendo todos sorrirem.
- Vocês estão uns arrasos. – Dei um rápido beijo em minha irmã e puxei minha sobrinha do colo dela, sentindo-a estalar um beijo em minha bochecha.
- Todos lindos para ficarmos no sofá da sala! – Duda falou rindo e descendo os degraus na nossa frente.
- Errada ela não está. – Andressa falou e gargalhamos.
Chegamos no térreo e eu fui com Elisângela para a cozinha e Alisson, Andressa e as crianças seguiram para a sala de jantar. Minha mãe e dona Magali estavam finalizando algumas comidas, fazendo com que minha boca salivasse só com o cheiro.
- Hum, o que temos aqui? – Vi minha mãe tirar uma leitoa do forno e colocar na bancada, me fazendo rir. Incrível como as duas famílias combinavam no quesito comida.
- Ah, que delícia! – Elisângela falou e rimos juntas.
- Olha, eu sei que isso me faz um mal no dia seguinte, mas olha essa casquinha. – Suspirei, tentada a esticar a mão sobre a carne que borbulhava, mas puxei a mesma de volta.
- Bom, vamos, então? – Dona Magali me esticou um refratário com a farofa que eu fiz mais cedo, além de uma molheira com molho de mostarda e eu e ela, Elisângela e minha mãe pegaram outras coisas e seguimos em fila para a sala de jantar do outro lado do corredor.
Chegando lá, colocamos a leitoa na outra ponta da mesa, lado contrário do frango assado inteiro, além de colocar a farofa, arroz, molho, salada e o rondelli com molho vermelho. Olhei em volta e aquilo era realmente um Natal dos sonhos. A mesa grande com capacidade para todos nós, diferente do que fazemos em casa, aonde cada um come no colo, pois não cabe todo mundo à mesa. A decoração estava muito mais natalina do que em casa aonde só arrumamos a árvore e alguns apetrechos espalhados pela casa. Era diferente e incrível.
- Então, vamos nos juntar e rezar? – Seu José perguntou.
- Vocês têm alguma religião? – Dona Magali perguntou.
- Somos católicos, mas creio que todos cultuamos o mesmo Deus ou divindade. – Falei e Alisson sorriu, piscando para mim.
- Ótimo, vamos dar as mãos, então. – Seu José falou e todos nos colocamos em volta da mesa, na frente de onde sentariam. Fiquei entre Alisson e meu pai.
- Posso começar e depois vocês acrescentam? – Seu José perguntou.
- Por favor. – Falamos quase juntos.
- Deus, senhor de bondade, que o Senhor nos ilumine nessa noite santa e que mande todas as suas bênçãos à nossa família. – Sorri. – Que sejamos todos felizes com essa nova e grande família formada pelos nossos queridos filhos e que possamos estar sempre presentes em seu amor. – Assenti com a cabeça. – Vamos relembrar aos nossos queridos amigos e parentes que não estão presentes aqui devido à distância ou que foram morar junto a Ti. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior. – Que eles estejam nos olhando e guardado por nós. Amém!
- Amém. – Falamos juntos.
- Alguém gostaria de acrescentar algo antes das rezas? – Ele perguntou.
- Eu gostaria de agradecer. – Falei, virando para Alisson. – Esse ano me trouxe muitas coisas e pessoas boas, que o Senhor possa continuar nos iluminando com essas surpresas maravilhosas novamente. – Eles sorriram.
- Sim, tenho também muito pelo o que agradecer. – Alisson falou, dando um rápido beijo em minha cabeça e eu sorri.
- Que venha 2019. – Andressa brincou e rimos.
- Pai nosso que estais nos céus...
Após a reza, todos nos sentamos para apreciar o jantar. No Brasil, minha família estava acostumada a comer só após a meia-noite, mas aqui era pouco mais de dez horas e já estávamos comendo, bebendo, rindo e muito mais. Helena e Analice comeram um pouco, brincaram mais um pouco e já estavam dormindo no sofá, Helena sendo amparada por diversas almoçadas.
- Gente, meia-noite! – Alisson falou já animado por causa da bebida.
- Feliz Natal! – Falamos animados.
Alisson veio em minha direção e me abraçou fortemente, antes de dar um beijo em meus lábios, me fazendo sorrir largamente e sussurrar um “eu te amo” para ele. Segui para cumprimentar minha família animadamente e depois para os familiares de Alisson. Era Natal, eu estava em família e tudo estava perfeito.
As sobremesas foram servidas, a música ficou um pouco mais alta e ficamos curtindo quase até duas da manhã, quando todos começaram a dar sinais de cansaço, então todo mundo colaborou com a organização de comidas e louças para irmos dormir o mais rápido possível.
Participei da equipe lavadora de pratos e ajudei o serviço acabar mais rápido. Nesse momento o salto já havia sumido, meu cabelo já havia se tornado um grande coque e a meia calça grossa que eu usava já me fazia deslizar pelo chão enquanto ensaboava as coisas.
Quando eu terminei de secar as louças, só havia sobrado, eu, Elisângela e Muriel lá embaixo, o resto do pessoal já havia subido para se trocar e outros já até roncavam pela casa, como era o caso de meu pai e meu sogro. Desligamos tudo lá embaixo e subimos, cada um seguindo para o seu quarto. Encontrei Alisson observando Helena dormir.
- Ei! – Me aproximei dele, sussurrando.
- Ei. – Ele me puxou pela cintura, estalando um beijo em sua bochecha.
- O que você está fazendo? – Perguntei.
- Só aproveitando um pouco, é difícil não poder acompanhar todos os acontecimentos dela. – Ele suspirou. – Não a vi andar, falar, crescer na barriga... É algo que eu não me perdoo, então tento compensar com outras coisas.
- Isso é completamente normal, mas não acho que deva se sentir culpado. – O abracei de lado. – A vida acontece de formas misteriosas, mas é bom que você consiga aproveitar esses momentos.
- Espero que no futuro eu consiga mais. – Sorrimos e dei um beijo em sua bochecha.
- Vamos dormir? – Dei um beijo em seu ombro.
- Vamos! – Ele fechou a cortininha do berço dela, pegando o radinho da babá eletrônica e seguimos para o quarto do lado. – Eu estou moído.
- Todos estamos. – Ri fracamente, entrando no quarto dele. – Natal é uma época em que todos se divertem, trabalham e cansam para caramba. – Sentei na beirada da cama, puxando a meia calça para fora.
- Posso imaginar outros meios de cansar também. – Ele se aproximou de mim e eu ri fracamente.
- Não, não. Hoje não tenho capacidade para nada. – Apoiei uma mão em sua cintura e ele inclinou o corpo para frente, colando nossos lábios delicadamente.
- Nada mesmo? – Ele falava entre curtos beijos, me fazendo rir.
- Não. – Ele riu fracamente e se sentou ao meu lado.
- Mas eu tenho algo para você. – Ele me esticou um envelope e eu franzi a testa. - Feliz Natal! – Ele disse.
- Não íamos trocar presentes amanhã?
- Ah, esse é só o primeiro presente. – Ele falou e eu sorri, dando um rápido beijo em seus lábios.
- Obrigada, amor. – Sorri.
- Abre, abre! – Ele falou animado e eu ri, descolando a aba do envelope e o abri, tirando dois papéis de lá de dentro e li o mesmo, abrindo um largo sorriso com a passagem para Roma.
- Não acredito que você fez isso. – Ele riu fracamente.
- São poucos dias, vamos dia 30 e eu preciso estar de volta no dia dois novamente, mas podemos passar o ano novo juntos e sozinhos. – Ri fracamente.
- E nossas famílias? – Perguntei.
- Minha família está ok com isso, imagino que a sua não vá se importar.
- Só nós dois? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu e você em Roma. Sozinhos. – Suspirei.
- Me parece uma ideia deliciosa. – Ele sorriu e colou nossos lábios novamente, me fazendo virar o corpo na cama e me sentar em seu colo.
- Parece que alguém se empolgou. – Ele sussurrou contra meus lábios e eu ri fracamente.
- Talvez eu tenha um pouco de pique ainda. – Retribuí, subindo a mão para sua nuca e colando os lábios novamente.
- Ei, dorminhoca. – Gemi ao ouvir a voz. – Vamos acordar. – Abri um olho devagar, encarando o rosto de Alisson próximo ao meu, mas muito mais animado. Dei um longo bocejo antes de abrir o outro olho. – Feliz Natal!
- Que horas são? – Reclamei.
- Já passa do meio dia. Papai Noel já passou, a carne está assando e estamos te esperando para a pelada anual dos Becker!
- Pelada? – Abri os olhos assustada. – Como eu vou jogar futebol com isso? – Ergui o braço, batendo nele, ouvindo-o gemer. – Desculpe.
- No gol que não vai ser, mas podemos te colocar no ataque.
- Meu Deus! - Me sentei coçando os olhos. – Serei um desastre!
- Ah, qual é! Você é boa com o pé também. – Sorri, sentindo-o dar um curto beijo em meus lábios.
- Preciso ser boa com as mãos.
- Também! Se deu tudo certo ontem, vai dar certo! – Ele falou com aquela risada safada e eu sorri, jogando a coberta para o lado.
- Eu já volto! – Falei, seguindo para minha mala, pegando uma calça jeans, uma cacharréu e fui para o banheiro.
Fiz minhas necessidades matinais, escovei os dentes e coloquei a roupa. Fiz um rabo de cavalo alto e saí do banheiro, esbarrando em Alisson e dando um rápido beijo em seus lábios, sorrindo quando ele me apertou pela cintura.
- Eu vou descendo, a gente já se encontra. – Falei e ele assentiu com a cabeça, voltando a sair do quarto.
Peguei o tênis ao lado da cama e calcei, não tinha trazido chuteiras para a Inglaterra e na minha família, as peladas de Natal normalmente aconteciam descalça e rolava aquelas topadas legais no dedo em que saía até unha. Usar tênis por causa do frio já era um grande avanço.
Peguei meu celular rapidamente, lembrando que não havia tocado nele depois da meia-noite e encontrei mensagens do pessoal do trabalho, alguns amigos da minha cidade, alguns jogadores de forma aleatória e uma sozinha de Arthur.
“Ei, ! Feliz Natal! Tudo de bom na sua vida, que Deus derrame bênçãos para você, Alisson e toda sua família. Obrigada por ser uma grande amiga minha quando precisei. Você é demais”. – Sorri, suspirando e coloquei meus dedos para digitar.
“Ah, querido, feliz Natal para você e sua família também, como está com Aline? Se ajeitaram? Um grande beijo, que Jesus renasça na sua casa todos os dias”.
Saí da sua conversa, respondendo algumas de forma mais genérica, mandando até alguns áudios, por causa do gesso, para a família que ficou no Brasil e aproveitou as festas sem a gente pelo primeiro ano. Guardei o celular no bolso e desci as escadas, vendo tudo quieto no próximo andar e cheguei ao primeiro.
- Bom dia! – Vi dona Magali saindo da cozinha com uma vasilha de arroz e sorri, sentindo-a dar um rápido beijo em minha bochecha.
- Bom dia! Alguém dormiu demais, hein?!
- Desculpa. – Ela riu fracamente.
- A gente que costuma acordar cedo mesmo, Helena queria abrir os presentes e aí começamos a fazer barulho. – Ponderei com a cabeça.
- Menos mal! – Sorri.
- Só teu amigo que ainda está dormindo. – Magali falou e eu arregalei os olhos.
- Bernardo tá dormindo ainda? – Ri fracamente.
- Todo mundo já tentou acordar ele, mas morreu de vez.
- Ele estava cansado da viagem ainda, deixa ele dormir mais um pouco, logo eu vou lá. – Falei e a segui para fora da casa. – Feliz Natal! – Falei passando da porta e realmente encontrando o resto do pessoal.
- Feliz Natal! – Eles gritaram em coro.
- Finalmente, hein?! – Meu pai falou e eu sorri, abraçando todo mundo um por um.
- Se sirva, querida! – Seu José falou, estendendo um prato de picanha com bastante gordura.
- Acho melhor eu dar uma forrada antes. – Falei, vendo-o rir.
- Já tem arroz, farofa, vinagrete, fica à vontade. – Dona Magali falou quando eu dei um beijo em minha mãe.
- Titia! Titia! – Analice veio correndo em minha direção e me abaixei para ficar da altura dela. – Olha o que eu ganhei! – Ela me estendeu sua Barbie nova de cabelos coloridos.
- Uai, Lice! – Fingi surpresa. – Ela é linda! É do Papai Noel? – Ergui o olhar para Andressa que sorri.
- É sim! – Ela sorriu.
- Sabia que eu também tenho um presente para você? Mas o Papai Noel entregou lá no Brasil! – Ela fez um bico. – Vai estar em casa quando voltar. – Ela sorriu.
- ! – Helena veio logo atrás com um carrinho de bebê e uma boneca quase maior do que ela na mesma. – Olha!
- É seu presente do Papai Noel? – Fingi surpresa mais uma vez. – É linda!
- ‘Bigada. – Ela falou toda fofa e eu sorri.
- Vão brincar, vai! – Me levantei, esbarrando em Alisson sem querer e ele me abraçou pela cintura, encostando o queixo em meu ombro.
- Vem comer, o jogo começa em breve.
- Vocês estão muito empolgados para isso. – Falei.
- Temos mais um goleiro na parada, cunha! – Muriel falou. – Vai ser sensacional.
- Ah tá que eu vou ser goleira com isso no braço! – Bati no gesso, ouvindo o barulho oco.
- Atacante? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Não vai dar certo! – Falei, vendo-o rir e segui até a mesa, pegando um prato e começando a me servir.
- A gente dá um jeito, mas precisamos fazer isso acontecer! – Muriel falou empolgado.
- Me dê umas duas horas! – Comentei, pegando a farofa e ele mostrou os polegares para mim.
- Ok, como a gente vai fazer, então?! – Dona Magali perguntou, se aproximando.
- Nosso time está meio pequeno, falta o Fernando, o Marcus... – Ele começou a falar dos tios e primos que haviam ficado no Brasil
- Acho que tem que ser os Beckers contra os Coelhos. – Muriel falou.
- Com uma única condição. – Andressa falou. – Nem você e nem o Alisson podem ser goleiros. – Ela falou tirando seu casaco e deixando na cadeira. – A seria a única capaz de competir mais próximo a vocês e tá impossibilitada. – Abri um sorriso, rindo fracamente.
- Tudo bem, concordo! – Alisson falou e ele e Muriel se entreolharam.
- Que tal eu e José cuidamos do gol? – Meu pai falou e eu assenti com a cabeça.
- Nem vem! – Minha mãe se pronunciou. – Não vamos jogar com os seis mais novos, a gente vai sair morta daqui. – Ela falou e Magali assentiu com a cabeça.
- Por que nós não vamos para o gol e vocês oito jogam na linha? – Magali falou.
- Ok, então. – Muriel falou. – Eu, Alisson, Elis e pai contra , Andressa, Beto e Bernardo?
- Acho que tá equilibrado. – Elis ponderou com a cabeça.
- Essa eu quero ver! – Ri fracamente. – Vocês estão ferrados, Andressa aqui é feroz!
- Vamos lá! – Alisson falou e seguimos para o largo quintal de Alisson, aonde tinha um pequeno campo já improvisado por ele. Deveria dar um sexto de um campo normal, mas serviria.
- Ninguém toca no meu braço, por favor! – Gritei, chamando atenção deles.
- Faremos o melhor. – Alisson respondeu e eu sorri, piscando para ele.
- Vale jogar sujo? – Muriel perguntou.
- Não matando ninguém, acho que é permitido! – Minha mãe gritou e a gente riu.
- Eu e a Duda ficaremos de juiz! – Franthiesco falou e assentimos com a cabeça.
- Ok, ímpar ou par. – Maria Eduarda gritou.
- Ímpar! – Meu pai gritou.
- Par! – Seu José falou também e os dois esticaram os dedos, dando cinco ao todo.
- Campo! – Meu pai gritou rapidamente.
- Ok, dois tempos de 10 minutos, fechado? – Muriel perguntou.
- Mais que isso eu não aguento! – José falou em seguida e nós gargalhamos.
- Ok! Vamos lá! – Sorri, acenando para Alisson quando ele foi para outro lado.
Apesar de termos dois jogadores profissionais em campo, os times estavam parcialmente equilibrados. Todos usavam tênis de ginástica, ao invés de chuteiras, todos estavam de moletom ou calça jeans e blusas de manga comprida ou moletom. Meu pai e seu José podiam ser considerados os mais fracos por estarem fora de forma, mas eram também os que mais jogavam por diversão. Alisson e Muriel, não preciso nem falar, mas aposto que eles pegariam um pouco mais leve do que normalmente, afinal, como goleiros, eles não estavam acostumados a correr, bom, o campo era pequeno para correr tanto, mas faz parte.
Bernardo não era exatamente uma boa adição ao time, ele era do tipo que fugia da bola, mas fazia uma boa barreira caso precisasse. Seu jeito desajeitado no futebol fazia que ele desse de encontro com o outro time e ele achava que era futebol americano, mas valia de distração. Elis eu já não sabia como era. Ela tinha um jeito mais patricinha e fofinho, mas estava com Muriel há uns 12 anos, com certeza ela sabia jogar. Agora eu e Andressa... Bom, a gente sabia jogar pesado quando fosse preciso, não que bateríamos dois jogadores profissionais, mas quem sabe?
O jogo começou muito desajeitado, parecia que ninguém estava realmente pronto para jogar futebol, e o vento que batia ali naquele quintal gigantesco de Alisson, fazia com que a gente tremesse de frio.
Eu fiquei na defesa, em uma tentativa de fazer com que eu não saísse com o gesso quebrado, ou pior, que eu machucasse mais ainda o braço. Bernardo, meu pai e Andressa ficaram no ataque, então estava muito interesse. Bernardo no ataque era igual uma flor no meio de cactos. Do outro lado estava José na defesa e Elis, Alisson e Muriel no ataque.
A primeira chance de gol foi nossa. Minha irmã conseguiu fazer um passe quase perfeito para meu pai, mas ele cabeceou para fora. Em um escanteio meio falso, pois se alguém tentasse um escanteio dali, a bola já iria para fora pelo outro lado, Andressa tentou de novo, mas seu José era bom na defesa.
A bola voltou para o nosso campo e Alisson e Muriel jogavam muito em sincronia, era como ver... Bom, a Seleção Brasileira em campo. Muriel tentou um chute em direção ao gol, mas eu defendi com minhas costas, vendo ele, Alisson e eu abrirmos um grande “o” com a boca.
- Desculpe! – Ele gritou, nos fazendo gargalhar e minha mãe jogou a bola para frente, fazendo-a cair nos pés de Bernardo. A primeira reação dele foi gritar, a segunda foi jogar para fora.
- BERNARDO! – Meu pai gritou com ele, fazendo ele dar de ombros.
Com a saída na lateral, seu José fez a saída de bola, jogando para Alisson do outro lado e ele seguiu do meu lado do campo, eu entrei na frente dele, dançando com ele enquanto ele tentava me driblar e só dei uma piscada para ele, vendo-o sorrir. Quando percebi que ele parou de dançar, eu peguei a bola, girei o corpo e chutei para minha irmã.
- Ei! – Ele reclamou e eu sorri, estalando um beijo em sua bochecha e seguindo para minha posição. – Maldade!
Minha irmã seguiu em direção ao campo, cruzou a bola para meu pai que, ao invés de cabecear, devolveu para ela, enganando um seu José perdido, e a mesma deu um chute rasteiro por baixo da perna de Magali.
- Gol! – Gritei animada, dando dois pulos no ar e pisquei para Alisson, abraçando rapidamente minha mãe no gol.
- Vamos, vamos! – Alisson gritou, nos fazendo rir e a bola seguiu para o meio novamente.
Claro que abrindo o placar, o time Becker cairia matando mais forte em cima da gente. Foi aí que o jogo começou a ficar pesado. Carrinho, escorregões, tropeções, trombadas, tudo aconteceu naquele jogo. E até eu estava nessa. Acho que eu levei uns três carrinhos só do meu namorado e em dois deles foi eu, ele e minha mãe para dentro do gol. Legal? Em outras circunstâncias.
- Você para! – Falei, batendo com o braço livre em Alisson.
- Desculpe! – Ele falou gargalhando, ajudando minha mãe a se levantar. - A senhora tá bem?
- Senhora tá no céu, vamos jogar! – Ela falou já irritada.
O jogo estava três a um para eles, e faltava cerca de quatro minutos para o final, não que a gente aguentasse tudo aquilo. Muriel e Alisson, principalmente Alisson, estavam muito bem, já o resto estava com a respiração totalmente descompassada e suando até naquele lugar fundo e escuro do corpo humano, apesar do frio.
- Andressa. – A chamei, colando a boca no ouvido dela. – Usa o Bernardo.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Vai que... – Ela sorriu.
- Pai, troca com a . – Andressa gritou.
- Mas não vai quebrar seu precioso gesso? – Alisson foi irônico.
- Mais? – Mostrei o canto entre o polegar e o indicado já mole pelo impacto.
- A gente vai no hospital ver se eles ajeitam isso. – Ele falou.
- Ah, agora eu troco de volta no Brasil. – Falei, abanando com a mão e eu e meu pai trocamos de posição.
- Começando! – Maria Eduarda apitou e seguimos agora comigo e Andressa no ataque e Bernardo no centro.
Jogando comigo no ataque, meu pai na defesa e Bernardo bem posicionado no centro, a gente tinha alguns truques na manga. Dava certo no jogo em casa, talvez desse certo com jogadores profissionais também.
Quando eles tentassem fazer o gol, meu pai faria a defesa, mas ao invés de mandar para Bernardo, ele mandaria para mim ou para minha irmã, então, a gente devolveria para Bernardo que acabaria fazendo o gol na sorte, pois ele estava sozinho no centro do campo, já que Muriel, Alisson e seu José focariam em uma de nós duas.
As duas primeiras vezes não deram certo. Muriel me impediu de fazer o chute e depois impediu minha irmã, mas a sorte é que não tinha sequer saído de nossos pés, então a bola podia ir para qualquer lugar. Quando Franthiesco gritou que faltava um minuto de jogo, sabia que era questão de honra fazer isso.
Respirei fundo quando minha mãe conseguiu defender um possível gol de seu José, meu pai andou um pouco com a bola nos pés, encarando a mim e Andressa. Quando ele percebeu que eu estava sozinha, ele fez um chute forte demais e eu não consegui nem pensar, parei a bola e devolvi quase na mesma força para Bernardo.
Ele me olhou um tanto assustado, mas entendeu minha tática. Só tinha Magali no gol, e seu José que havia percebido o erro ao sair de sua posição. Bernardo ajeitou sua perna esquerda e fez um chute só. Magali fez uma defesa com o pé, trazendo-a para o meu pé. Eu dei uma subida com a bola e joguei a mesma para cima, direto para o gol!
- Gol! – Andressa veio correndo me abraçar e eu gargalhei, vendo-a negar com a cabeça.
- Ah! – Bernardo falou animado, também nos abraçando.
- Fim de jogo! – Franthiesco gritou. Sorri, pois pelo menos havíamos chegado em três a dois.
- Como vocês fizeram isso? – Alisson perguntou, vindo me abraçar de lado.
- Nossa arma secreta! – Sorri, batendo a mão nos ombros de Bernardo.
- Eu já ia entrar em desespero quando vi você me olhando. – Gargalhei.
- Ainda bem que entendeu. – Ele me abraçou.
- Vitória da família Becker. – Alisson falou animado.
- Não esperava diferente. – Comentei. – Imagina só? Dois jogadores profissionais perderem para gente? – Gargalhei sarcasticamente.
- É, ia ficar feio. – Seu José falou, gargalhando também.
- Foi muito bom, gente, mas eu estou morta! – Dona Magali falou e minha mãe assentiu com a cabeça.
- Nem fala! – Elas reclamaram. – Acho que eu vou deitar um pouco.
- Eu vou também. – Meu pai falou também, fazendo com que os quatro mais adultos entrassem.
- E agora? Uno? – Andressa perguntou.
- Sim! – Franthiesco falou animado. – Assim a gente pode brincar.
- O que acham? – Muriel perguntou.
- Eu topo! – Falei, observando Helena dormindo no carrinho.
- Eu só vou trocar Helena e já vou. – Ele falou.
- Beleza, vamos lá para o segundo andar. – Elisângela falou e as crianças saíram correndo, menos Helena.
- Acho que eu durmo antes do primeiro falar “uno”. – Cochichei para Andressa que gargalhou.
- Nem fala! – Sorrimos cúmplices.
- Eu ouvi, ok?! – Alisson falou e eu sorri, dando um rápido selinho em seus braços.
- Xí! – Rimos juntos.
Depois do Natal, entramos naquela linda época que você não faz a mínima ideia que dia é, horário e que compromisso você tem. Por estar em solo estrangeiro, não tinha todos aqueles compromissos e confraternizações de fim de ano, mas o pessoal do Brasil vivia mandando mensagem, principalmente o pessoal do trabalho.
Logo no dia 26, Alisson voltou aos trabalhos no Liverpool. Os campeonatos europeus eram estranhos nesse aspecto, eles tinham esses jogos de fim de ano em datas bem inconvenientes, por assim dizer, então dia 26 foi a família inteira para Anfield ver o time de Alisson ganhar de quatro a zero contra o Newcastle. Ele mesmo mal trabalhou, mas gritamos quase o jogo inteiro, pois os gols conseguiram ser bem espaçados.
Eu aproveitei os dias que Alisson estava fora para levar meus pais, Andressa, Analice e Bernardo para dar uma volta por Londres durante dois dias. Andressa era a única que conhecia, então foquei em alguns pontos turísticos importantes, ficamos em um hotel bacana e voltamos para Anfield no dia 29 para ver o Arsenal tomar um pau de cinco a um do time do meu namorado.
Ok que Alisson levou um, mas bom, não dá para ser perfeito, não é mesmo? Mas, em sua defesa, o gol estava totalmente impedido, só os idiotas do bandeirinha e do juiz que não viram, mas faz parte.
O que me deixou animada com esse jogo foi que eu comecei a ser vista como namorada do Alisson oficialmente, teve até alguns fãs que pediram foto comigo, o que foi uma grande surpresa, honestamente. Mas o que foi mais engraçado foi voltar para casa e ver muitas marcações minhas de imagens nos jogos e vamos dizer que eu era uma péssima competidora, bom, talvez não tão péssima, só exaltada demais.
Nos dias de folga a gente fazia a mesma coisa que sempre, comida, jogava peladas, brincava com as crianças, aproveitava para namorar quando ficávamos sozinhos, mas principalmente curtíamos o momento em família. Alisson não conhecia meus pais ainda, então foi bom conseguir juntar todos. Depois de alguns dias, até meu pai aliviou a pressão em cima de Alisson.
Tudo estava muito bom, mas dia 30 chegou e nossos pais voltariam para seus destinos e eu e Alisson teríamos nossa viagem para Roma.
Não que isso fosse ruim, mas era triste me despedir da minha mãe sem saber quando eu a encontraria novamente, mas claro que tínhamos aquele papo convencional de “vamos combinar”, “vem me visitar”, “eu vou para o Rio” e todas as variáveis que sabíamos que isso não sairia da boca para fora até o próximo feriado ou férias de alguma das partes.
Me despedi da família de Alisson por pouco tempo, voltaríamos no dia dois e eles ainda estariam aqui. Seria só nós dois mesmo. Magali e Elis ficariam de olho em Helena e na casa e curtiríamos o ano novo como dois namorados.
Então, no dia 30, pouco depois do almoço, seguimos eu, Alisson e minha família para o aeroporto de Heathrow. Meu voo e de Alisson era quase cinco da tarde e de meus pais eram oito e meia da noite. Dei um longo abraço em todos eles, principalmente em Lice, que não queria se separar de mim, e Alisson também teve uma despedida calorosa, especialmente de meu pai que já tinha aceitado ele na família.
Chegamos em Roma quase nove horas da noite, levando em conta o fuso-horário. Alugamos um carro e seguimos em direção ao hotel que Alisson havia reservado. Ele havia planejado essa viagem inteira, eu só soube o horário do voo e a empresa aérea porque ele me deu as passagens no Natal, de resto? Não sabia de nada.
Durante a viagem até o hotel, ele me parecia realmente muito empolgado. Eu estava empolgada por fazer essa viagem só nós dois, era algo que estávamos precisando faz tempo, quase como uma lua de mel. Aqueles dias em Liverpool nem contaram, estávamos trabalhando, agora poderíamos desligar os celulares e realmente aproveitar a vida de casal.
Abri um largo sorriso quando chegamos ao Coliseu e as luzes da cidade faziam com que ele ficasse muito mais bonito. Achei que Alisson só estava passando pela cidade, mas ele parou cerca de 300 metros para frente em uma linda construção de quatro ou cinco andares com um estilo bem clássico de uma era que combinava com Roma.
- O que é aqui? – Perguntei quando ele puxou o freio de mão e um valet abriu a porta para ele.
- Bem-vindo ao Palazzo Manfredi. – Ele falou e outro valet abriu minha porta e eu estava muito embasbacada com tudo para falar alguma coisa. O Coliseu era do outro lado da rua!
- Benvenuto, signorina. – O valet falou enquanto eu colocava a bolsa no ombro.
- Grazie. – Falei sorrindo.
- Vem! – Alisson falou, segurando minha mão e segui com ele para dentro.
Lá dentro a definição de “palácio” era completamente atualizada. Aquele local tinha um lugar que combinava a beleza do moderno com o clássico de forma que só o dinheiro poderia fazer. Aquele lugar era perfeito.
Enquanto Alisson cuidava da reserva, os carregadores tiraram nossas malas do carro e colocaram em um daqueles carrinhos e trouxeram para perto da gente. Não deu nem 20 minutos para que as chaves fossem entregues e nós dois subíssemos com um carregador junto.
Aquele lugar era incrivelmente quieto, apesar de estarmos literalmente no centro de Roma, do lado do ponto turístico mais famoso. Subimos os andares em silêncio, com os dedos entrelaçados e deixamos que o carregador entrasse antes na Grand View Suite. Assim que eu passei pela porta, eu travei. Aquele lugar era incrivelmente bonito.
A alguns passos da porta, tinha uma mesa redonda com quatro poltronas. À frente, degraus abaixo, sem separações de parede, tinha um sofá, duas poltronas, uma mesa de centro, um pufe e uma televisão presa na parede com um papel de parede de janelas. Virei para o lado esquerdo e arregalei os olhos ao ver o Coliseu do outro lado da sacada.
Larguei minha bolsa na poltrona mais próxima e abri a porta, sentindo o vento gelado de Roma congelar meu rosto e bagunçar meus cabelos e apoiei os braços na marquise, me fazendo suspirar. Senti Alisson me abraçar pela cintura e eu sorri, virando o rosto, tocando nossos lábios rapidamente.
- Aqui é incrível! – Falei e ele sorriu, apoiando o queixo em meu ombro.
- Achei que a gente pudesse aproveitar um pouco de uma forma mais confortável. – Sorri.
- Você quer dizer sem pais, certo? Porque sua casa é muito confortável. – Ele riu fracamente.
- É, talvez. – Ele se afastou e eu virei o corpo, vendo-o dar uma gorjeta para o carregador antes de ele nos deixar a sós.
- Que mais temos aqui? – Fechei a porta da sacada, deixando o vento para fora e o clima dentro do quarto era bem quente até, então tirei o casaco.
- O banheiro é logo atrás da sala. – Uma parede de vidro dividia o banheiro e podia ver uma banheira redonda lá de dentro e eu dei a volta para entrar no largo cômodo, que não aparecia pela parede de vidro, encontrando chuveiro, duas pias para o casal e o sanitário em uma porta separada.
- Caramba! – Falei animada, rindo em seguida. – Tem dois chuveiros, gente!
- Nada mal, né?!
- Nada mal mesmo! – Ri fracamente, passando a mão pela sua cintura e puxando-o para fora. – Aonde é o quarto?
- Lá em cima! – Ele falou e eu totalmente ignorei que havia uma escada logo que entramos no quarto.
Dei alguns passos rápidos até a escada, subindo até o segundo andar, aonde só tinha uma larga cama de casal redonda na parede oposta ao vidro. Observei o edredom macio e os diversos travesseiros na cama e só tive vontade de me jogar nela, mas não antes de um banho delicioso.
- O que está esperando? – Alisson perguntou.
- Eu preciso de um banho antes de pular nessa cama limpinha. – Comentei e ele riu fracamente.
- Você está cansada, aposto que depois do banho vai morrer na cama.
- Você vai estar ao meu lado quando eu acordar? – Virei o rosto para ele.
- Sempre. – Ele sorriu e eu virei meu corpo para ele, passei as mãos pela sua nuca e colei nossos lábios.
Suspirei e percebi que meus sonhos tinham acabado e eu estava acordada. Abri os olhos devagar, sentindo uma luz entrar pela janela e cocei os olhos, respirando fundo. Os abri novamente e percebi que estava no quarto de hotel. Ergui corpo rapidamente, olhando para o Coliseu à minha direita e sorri, não era um sonho.
- Ei, vamos devagar! – Alisson comentou, sentando também na cama e eu sorri, suspirando.
- Bom dia! – Falei sorrindo. – Achei que era só um sonho.
- Não, estamos aqui! – Ele falou e eu suspirei, sentindo-o dar um beijo em meus lábios.
- Você é incrível, eu já te disse isso?
- Ontem à noite, quando você estava falando dormindo.
- Até parece! Eu não falo dormindo – Sorri, jogando a coberta para o lado e ele riu.
- Dormiu bem? – Ele perguntou e eu me levantei, esticando os braços para cima para me espreguiçar e depois abaixei a camiseta do meu pijama quente.
- Bem até demais. – Suspirei. – E então, quais os planos de hoje?
- Você decide. – Ele se levantou também.
- Eu? Você que morou aqui.
- Mas o que você gostava de fazer quando veio visitar?
- Comer! – Falei honestamente e ele gargalhou.
- Além disso...
- Ah, eu vim rapidamente, visitei mais os pontos turísticos mesmo e comi em qualquer oportunidade que surgia. – Ele sorriu, passando os braços pela minha cintura.
- Bom, vamos tomar café, depois descobrimos a programação de ano novo, aí decidimos. – Assenti com a cabeça.
- Ok, mas se quiser ficar trancado aqui no quarto, vendo um filminho, eu também não ligo. – Falei, negando com a cabeça.
- Bem sei! – Ele disse sorrindo.
Dividimos nosso caminho até o banheiro e logo estávamos subindo para o restaurante do hotel para tomar café da manhã com uma vista espetacular do Coliseu. Tomamos um café originalmente italiano com uma gigantesca variedade de pães e tirei bastantes fotos com um dos cenários mais lindos que eu já havia ficado. Claro que a companhia sorrindo e me mandando mudar de pose ajudava muito.
Voltamos para o quarto para descobrir as programações da prefeitura para o ano novo e muitas coisas precisavam de ingressos antecipados, como assistir à missa na Praça de São Pedro – Alisson não é católico, mas ele não se importaria em me acompanhar -, visitar pontos turísticos que ficariam abertos, mas não tínhamos nos preparado para isso. O próprio hotel faria uma ceia e achamos que podia ser uma boa opção.
Após o café da manhã, Alisson me levou para dar uma volta de carro. O tempo em Roma estava bem gelado, mas sem sinal de neve para me dar algumas fotos sensacionais, mas ainda assim, eu estava totalmente encapuzada com luvas, capuz e tudo o que eu tinha direito. O vento cortava e eu parecia um picolé.
Alisson me levou rapidamente pelos pontos importantes de sua vida aqui em Roma, inclusive o Estádio Olímpico, casa da Roma, mas tudo estava muito cheio por causa do ano novo, então optamos por ficar próximo ao Coliseu. Paramos para almoçar por volta das três da tarde, quando o estômago reclamou, depois do café da manhã gigantesco, não era de esperar que demoraríamos para ter fome.
Almoçamos em uma trattoria perto do hotel, dividimos uma pizza napolitana, e optamos por voltar para o hotel e descansar para poder aguentar até a queima de fogos mais tarde. Eu não sabia se minha adrenalina finalmente tinha baixado, mas eu bocejava a cada cinco minutos e Alisson havia percebido isso.
- Cara, eu podia ficar aqui para sempre. – Falei quando ele abriu a porta do quarto.
- Escolhi a dedo. – Ele sorriu e me abraçou pela cintura.
- Bom, estou muito tentada a experimentar aquela banheira. – Virei de costas para ele, seguindo de costas para o banheiro, puxando-o pelo cachecol. – E gostaria muito da sua companhia.
- Como você vai fazer com isso? – Ele bateu no gesso e eu ri.
- Dá para ficar do lado de fora. – Pisquei e virei de frente de novo. Puxei as cortinas da porta que dava lá para fora e vi que Alisson já havia tirado seu cachecol e casaco.
- Mas é muito apressado! - Falei rindo e puxei também meu cachecol para fora e tirei uma das luvas, já que a outra estava meio impossibilitada de colocar.
- Não podemos perder muito tempo, né?! – Ele falou e eu sorri, abrindo meu casaco e tirando-o devagar na parte do gesso.
- Por que você diz isso? – O senti apertar minha cintura e distribuir beijos pelo meu rosto.
- Porque logo você vai embora. – Sorri, sentindo-o descer os beijos pelo meu pescoço.
- Eu vou só dia cinco, teremos alguns dias aqui e em Liverpool. – Sussurrei, vendo-o se afastar e segurar minha blusa pela barra e puxá-la devagar para cima, tomando cuidado com o gesso.
- É, com meus pais, meu irmão, minha cunhada, minha filha e meus sobrinhos. – Fiz uma careta, jogando a blusa para o lado.
- É quase o Big Brother. – Ele assentiu com a cabeça, fazendo careta.
- Por isso quero aproveitar ao máximo aqui contigo. – Ele falou, puxando sua blusa para cima e eu ri fracamente.
- Bom, temos só dois dias. – Pisquei e me sentei rapidamente, soltando os cadarços da bota devagar e ele já tirou os seus na força, pisando no calcanhar.
- Vai preparar a banheira. – Falei, puxando as botas e tirando as meias em seguida e me levantei novamente.
Tirei a calça jeans, ficando só de calcinha e sutiã, sentindo o quarto ainda gelado, já que o aquecedor havia acabado de ser ligado e segui Alisson até o banheiro, encontrando-o ainda de calça jeans, ligando as torneiras da banheira.
O abracei pela cintura, fazendo-o esticar o corpo e passei a ponta dos dedos pela sua barriga, distribuindo beijos pelas suas costas. Ele virou o corpo de frente para mim e apoiei as mãos em sua nuca, colando nossos lábios com urgência, descendo rapidamente minhas mãos pela sua calça, abrindo o botão, fazendo as calças largas deslizarem pelas suas pernas.
Ele se sentou na beirada da banheira e eu me coloquei no meio de suas pernas, passando as mãos em seus cabelos, aguardando que a banheira enchesse. Alisson fechou as torneiras e colocou os sais de banho que estavam ali, fazendo as bolhas começarem a surgir. Coloquei as mãos nas costas, soltando meu sutiã rapidamente e deslizei minha calcinha para baixo, enquanto ele fazia o mesmo com sua cueca.
Ele subiu na parte mais alta da banheira e me deu a mão para eu fazer o mesmo. Entrei na banheira, sentindo a água quente e ele fez o mesmo. Ele se sentou no fundo da banheira e eu sentei em sua frente, ficando entre seus braços e mantive meu braço do lado de fora, apoiado em uma toalha.
- O dia perfeito? – Ele cochichou em minha orelha e eu suspirei.
- Melhor impossível.
Ficamos na água sentindo a presença um do outro por umas duas horas. Só eu, ele e o silêncio, sem compromissos, sem familiares, quase como um sonho. Quando a água começou a gelar, seguimos para o chuveiro e acabamos namorando um pouco embaixo da água quente, meu gesso já estava zoado, agora mais ainda. Quando finalmente tomamos banho e saímos da água, subimos para o quarto e tiramos uma boa soneca.
Bom, eu mais do que ele.
Quando eu acordei, era quase nove horas e era o horário que estava planejado a ceia do hotel, então corri para fazer uma bela maquiagem e colocar um macacão de mangas compridas e salto alto, para esperar a chegada de 2019, descendo correndo e encontrando Alisson e um funcionário do hotel preparando a ceia dentro do nosso quarto mesmo, na mesa redonda próxima a entrada. Olhei confusa para Alisson, que já estava também todo arrumado com um sobretudo, e ele deu um sorriso.
- Achei que gostaria de não precisar socializar. – Sorri, assentindo com a cabeça e dando um curto beijo em seus lábios.
- Eu adoro quando não preciso socializar. – Falei rindo.
- Logo terminamos. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, dando um sorriso para o funcionário do hotel também e segui para a sacada, abrindo uma fresta da porta e passando por ela.
As ruas ao redor do coliseu já estavam tomadas pelas pessoas. Uma música alta, que não ensurdecia a gente lá dentro, tocava, provavelmente uma banda em algum dos palcos que eu vi espalhados mais cedo, mas que ali não era possível ver. O coliseu estava ainda mais bonito, com luzes coloridas rebatendo nele. Estava tudo maravilhoso.
Voltei para dentro, procurando meu celular dentro da bolsa, não me lembrando dele em nenhum momento antes e tinha muitas mensagens ali, muitas que eu não estava muito no pique para responder. Eu estava praticamente em lua de mel, não tinha pensado em muita coisa além de ficar quase sempre nua com meu namorado.
Enviei mensagens automáticas de Feliz Ano Novo para todos os amigos mais próximos, respondi minha mãe desesperada e logo guardei o celular, provavelmente voltaria a me preocupar com ele só quando voltasse para Liverpool, ou para o Brasil. Vi Alisson entregar uma nota para o funcionário e ele saiu desejando cumprimentos de bom ano novo para gente.
- O jantar está servido. – Alisson falou todo formal e eu sorri, seguindo em sua direção e dei um curto beijo em sua bochecha, vendo-o puxar a cadeira para mim.
- O que preparou para nós, senhor Alisson? – Perguntei, vendo nosso prato com uma cobertura para cima e o mesmo tirou a do meu prato antes de se sentar.
- O melhor da comida italiana. – Ele disse. – Tortellini in brodo, bacalhau com tomates cereja, azeitona e alho, era para ter alcaparras, mas sei que não gosta...
- Muito bem. – Sorri.
- E um belo tiramisù de sobremesa.
- Me conhece bem demais, né?! – Falei, vendo a sopa de tortellini como primeiro prato e peguei a colher, começando a comer devagar.
Ficamos aproveitando a companhia um do outro durante a refeição, falando coisas sobre nossa vida, curiosidades, conhecendo um pouco mais do gosto de cada um e nos deliciando com aquela refeição sensacional. Quando finalizamos a sobremesa, nos sentamos abraçados no sofá e ficamos observando a movimentação lá fora, esperando dar meia-noite.
- São 23:58, vem. – Ele falou, estendendo as mãos e me levando lá para fora, aonde um alto som de microfone gritava animado com a chegada iminente do ano novo.
Ele me abraçou pela cintura e eu apoiei minhas mãos em cima de seus braços, sentindo-o afundar o rosto em meu pescoço, dando curtos beijos por cima do tecido da minha roupa. Observando o pessoal todo animado com a virada do ano.
Tirei aqueles minutos para agradecer por tudo o que tinha acontecido comigo em 2018. Acho que tinha sido o melhor ano de toda minha existência. Eu havia conseguido o melhor trabalho do mundo, um namorado incrível, bem-sucedido que me ama com todas as forças, havia conhecido boa parte do mundo, criado uma nova família para chamar de minha tanto no pessoal quanto no profissional, comprado um apartamento novo e muito mais. Se 2019 for um por cento do que 2018 foi, eu já estava feliz.
- Dieci, nove, otto, sette, sei... – Começou a contagem regressiva e senti meu coração palpitar com a queima de fogos.
- Cinque, quatro, tre... – Alisson começou a contar no meu ouvido em italiano.
- Due, uno. – Acompanhei com ele. – Felice capodanno! – Falamos juntos, ouvindo os primeiros fogos estourarem sobre nossa cabeça.
Virei de frente para ele, passando os braços pelo seu pescoço e colei nossos lábios apaixonadamente, abrindo um largo sorriso em seguida.
- Que esse ano seja especial para nós. – Ele sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Vai ser, com toda certeza. – Acariciei seu rosto e ergui o rosto para os fogos, com um largo sorriso no rosto.
- Sorria! – Ele disse e eu virei para ele que tinha o celular esticado e ouvi o barulho das fotos repetitivamente.
O abracei quando ele guardou o celular no casaco novamente e abracei-o pela cintura, apoiando a cabeça em seu ombro, observando os fogos subirem de diversas formas por detrás do Coliseu. Fechei os olhos por alguns segundos, fazendo uma reza silenciosa e ergui o rosto, vendo Alisson com o rosto também erguido, prestando atenção na queima.
- Eu te amo, senhor Becker. – Falei alto por causa do som e ele virou o rosto para mim.
- Eu também, senhorita . – Ele levou as mãos até meu rosto e colou nossos lábios.
O beijo se tornou mais intenso do que o anterior e suas mãos começaram a passear pelo meu corpo, me fazendo abrir um sorriso e sacar o que ele queria. O puxei pela gola do casaco, entrando de volta no quarto, sem antes esbarrar na lateral da porta e ergui as mãos para sua nuca, encostando meu corpo na porta de vidro, vendo-o puxar com uma das mãos a mesma.
Passei as mãos pelo seu peitoral, abrindo o casaco e passei as mãos pelos seus ombros, fazendo-o cair aos nossos pés. Ele desceu os beijos para a dobra do meu pescoço e senti suas mãos descerem pelas minhas coxas, agarrando-as e me erguendo para seu colo, fazendo meus sapatos ficarem no chão.
Aproximei meu corpo mais do seu, distribuindo beijos em seu rosto e senti o mesmo se movimentar em direção as escadas. Subimos cambaleando, trocando gargalhadas altas pelo quarto quando tropeçamos juntos no quinto ou sexto degrau, me fazendo cair de bunda nas escadas e ele em cima de mim, trocando um beijo desajeitado na escada, antes de levantarmos e subirmos correndo escada acima.
Ele puxou sua blusa de manga comprida para cima quando chegamos no quarto e eu desabotoei o botão no meu pescoço, virando de costas para ele puxar o zíper do meu macacão. Quando ele o fez, começou a me despir enquanto distribuía beijos pelos meus ombros e costas e colocava o cabelo para o lado.
Chutei o macacão enquanto senti suas mãos no fecho do meu sutiã e o joguei para o lado quando caiu em meu colo, ouvindo-o bater contra a parede de vidro e nós dois nos encaramos com o barulho oco, abrindo largos sorrisos em seguida. Virei de frente novamente, espalmando seu peitoral e descendo as mãos até sua bunda. Nossos olhos se juntaram novamente e eu fiquei levemente na ponta dos pés para alcançar seus lábios, em um beijo mais calmo.
Desci meu corpo até sentar sobre a cama e foi sua vez de ficar entre minhas pernas e eu abri o botão da sua calça, já percebendo sua excitação e tirei as duas peças faltantes de uma vez só. Ele se arrepiou com meu toque em suas coxas e abri um sorriso, vendo-o negar com a cabeça.
Ele se ajoelhou aos meus pés e eu ergui o corpo para o mesmo tirar minha calcinha e distribuir alguns beijos na parte interna da minha coxa, me fazendo morder o lábio inferior com força e deslizar até meu pé.
Levei meu corpo para trás, tomando cuidado para não apoiar o braço enfaixado, vendo-o rir com o feito desajeitado e deitei minha cabeça entre os dois travesseiros e o chamei com o indicador. Ele se colocou em cima de mim, distribuindo beijos por toda extensão do meu corpo, me fazendo contrair e barriga quando ele chegou na mesma e soltei um curto gemido quando ele deixou algumas marcas em meu seio.
Quando seu rosto se alinhou com o meu novamente, eu passei a mão em seu rosto barbudo, vendo-o sorrir e ergui levemente o rosto para tocar nossos lábios calmamente, descobrindo o local quase como se fosse a primeira vez.
- Eu te amo, você sabe disso, não é?! – Sussurrei com a voz quase falha.
- Sim, e não duvido nenhum dia disso. – Ele falou, com os lábios colados. – E você sabe que é a mulher da minha vida, não?!
- Tento me lembrar disso todos os dias. – Ele encerrou a conversa com mais um curto beijo e se posicionou em cima de mim.
Fechei os olhos quando nos tornamos um e apertei minhas unhas em sua cintura, misturando o som de nossos gemidos, com o estouro da queima de fogos do lado de fora. Nossos corpos exalando paixão e nossos olhos conversando sobre amor.
- E nós estamos fora! – Lucas se levantou rapidamente, desligando a TV.
- Obrigada por ficarem aqui. – Falei, pegando minha bolsa na cadeira.
- Não tivemos muita escolha. – Vinícius falou irônico, jogando a mochila nas suas costas.
- E o jogo ainda foi fraco. – Bianca comentou, nos fazendo rir.
A sala da comunicação da CBF já estava vazia, afinal, eram quase oito horas da noite e só nós quatro havíamos ficado para acompanhar o último jogo do Liverpool da fase de grupos da Champions League. Alguns funcionários foram ficando após as seis, mas o jogo foi ficando maçante, difícil do Liverpool fazer aquele golzinho, e as pessoas foram indo embora, sobrando nós quatro.
Obrigatoriamente por mim, é claro.
- Tchau, boa noite! – Falamos para o segurança da noite, saindo do prédio.
- Então, shopping? – Bianca perguntou.
- Está de carro? – Vinícius perguntou.
- Sempre! – Ela falou rindo.
- Podemos pensar nisso, então. – Brinquei.
- Eu tenho que ir, gente! A Mariana está sozinha com a Joana faz tempo.
- Vai lá, Lucas. – Bianca falou.
- Beijos e obrigada novamente. – Assenti com a mão, vendo-o ir para o lado contrário do estacionamento.
- Topam dividir uma pizza cheese pop da Pizza Hut? – Vinícius perguntou. – Estou com desejo.
- Claro, gravidinha, podemos. – Bianca brincou e eu gargalhei, seguindo até o carro dela.
- Férias! – Bianca levantou animada quando o juiz apitou o jogo treino da Seleção Sub-15 na Granja Comary.
- Recesso! – Falei, me levantando também.
- Lindo recesso que não será descontado das nossas férias. - Vinícius suspirou ao nosso lado.
- Para vocês, né?! – Anna revirou os olhos ao nosso lado.
- Alguém precisa ficar de plantão, meu amor. – Vini a abraçou de lado, nos fazendo rir.
- Pelo menos o Leandro vai ficar com ela, ele é bacana. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, ao menos isso. – Ela suspirou.
- Bom, ainda tem trabalhos a serem feitos. – Peguei minha prancheta ao meu lado. – A gente se vê no almoço lá dentro?
- Sim! – Eles falaram animados.
Eu e Bianca seguimos em direção ao campo, aonde os jogadores da Sub-15 e os do Vasco Sub-16 finalizavam os cumprimentos para seguir para o almoço de confraternização preparado pelos chefs da CBF.
- Então, você vai ficar quantos dias em Liverpool? – Bianca perguntou, parando ao lado da grade que nos separaram dos três jornalistas que acompanharem esse jogo.
- Uns 15 dias. – Balancei com a cabeça. – Vou dia 20, aí devo voltar um dia antes de começar aqui de novo.
- Vai dar nem tempo de descansar. – Dei de ombros.
- Não é como se tivéssemos muito descanso no nosso trabalho, não é mesmo? – Brinquei e ela ponderou com a cabeça.
- Errada você não está! – Sorrimos.
- O bom é que meus pais precisam voltar no dia um, porque meu pai já volta a trabalhar no dia dois, então vai dar para eu passar uns dias só eu e ele.
- Ah, esses pombinhos. – Rimos juntas.
- E você está nervosa com esse encontro Becker? – Suspirei.
- Não sei, meu pai é capaz de fazer alguma gracinha com Alisson, meu primeiro namorado sério e tudo mais, mas o Alisson me faz muito bem, ele já sabe disso pelas nossas conversas, mensagens, postagens e tudo mais.
- Vai dar bom, você vai ver. – Sorri.
- Espero, sem tretas no fim de ano. – Rimos juntas.
- E sem falar de futebol também até lá. – Neguei com a cabeça.
- Até parece, já fui convocada para ser goleira no jogo de domingo. – Falei, vendo-a rir.
- Lucas te convocou? – Ela perguntou.
- Sim! Eu virei a goleira titular dele. – Rimos juntas. – Pelo menos eu passo meu tempo.
- Venha preparada, ok?! É jogo misto, mas o pessoal é violento.
- Já fui informada. – Neguei com a cabeça. – Ao menos consegui me colocar em forma nesses últimos meses, acho que aguento um tempo inteiro.
- O jogo inteiro tem 40 minutos, vai dar certo!
- Ah, 40? Então está fácil. – Rimos juntas.
- Meninas, vamos? – O treinador da Sub-15 nos chamou e nos entreolhamos, confirmando com a cabeça.
- Quem você tirou? – Vinícius me perguntou pela milésima vez e eu continuei dando o mesmo olhar desanimado para ele.
- Amigo secreto, Vini, não vou te falar. – Neguei com a cabeça, mantendo minha sacola próxima a mim e ele riu, se afastando.
- Todo ano é isso, ele fica enchendo o saco até a hora de abrir os presentes. – Bianca cochichou, me estendendo um copo de refrigerante.
- Valeu. – Bebi um gole. – E todo ano é assim? Ar-condicionado? Todo mundo chique e de salto alto? Almoço na Granja? – Olhei para fora, aonde o sol iluminava os campos de futebol lá embaixo.
- Até a hora do amigo secreto. – Ela riu. – Aí os saltos saem, a bebida é liberada, e aí começa outro tipo de festa.
- Jogo de futebol com o pessoal bêbado? – Perguntei, colocando mais uma garfada de feijoada na boca.
- É interessante, você vai ver. – Neguei com a cabeça.
- Parece os jogos universitários tudo de novo.
- É tipo assim. – Rimos juntas.
- Ei, olha quem está ali. – Lucas comentou do outro lado da mesa e erguemos o rosto para aonde ele dizia.
Um Theo muito diferente do que eu me lembrava conversava com Angelica próximo ao buffet, fazia muito tempo que eu não o via e nem ouvia falar dele. Nossa relação durou duas semanas e, quando eu voltei da Copa, ele já tinha entrado de licença e depois ninguém nunca mais o mencionou.
Ele estava mais magro do que da última vez que eu o vi, além de sua cabeça estar raspada, deixando visível uma cicatriz de sutura na lateral da sua cabeça. Tirei o guardanapo do colo e me levantei, vendo Bianca se levantar comigo e seguimos até onde ambos estavam.
- Theo? – Perguntei, tocando seu ombro levemente.
- ? – Ele abriu um largo sorriso e eu segurei as lágrimas quando ele me abraçou.
- Que bom te ter aqui. – Falei com o rosto em seu ombro. – Como você está?
- Melhor! – Ele sorriu, assentindo com a cabeça e eu sorri, deixando Bianca abraçá-lo. – Espero que possa voltar ano que vem.
- Vai ser muito bom te ter com a gente. – Bianca sorriu.
- Precisamos nos conhecer melhor, não é mesmo? – Brinquei e ele sorriu.
- Vai ser ótimo. – Ele sorriu.
- Gente, vamos começar o amigo secreto? – Michelle falou pelo microfone, seguido de um longo chiado que me fez colocar a mão na orelha. – Desculpa.
- Depois eu termino de comer. – Abanei a mão, voltando para meu lugar.
O amigo secreto englobava todos os trabalhadores dos setores administrativos da CBF, ao menos os que conseguiram vir de outros estados e até países, então tinha cerca de umas 80 pessoas ali, mas o amigo secreto foi tirado por setores, além dos times que eram setores contra setores. Fiquei aliviada por isso, seria interessante eu tirar alguém que eu nunca vi na vida.
A brincadeira começou com o pessoal mais antigo da empresa, vou simplificar sobre quem eu conheço ou tive mais contato. Leandro foi tirado por Murilo dos RPs que tirou a Anna, Anna foi tirada por Débora que tirou um pessoal desconhecido. Depois a portuguesa da empresa tirou Vinícius que tirou a Michelle, e entramos em um pessoal desconhecido novamente. Voltamos quando Diana tirou Lucas.
- Ah, lá vai! – Ele se levantou, pegando seu presente. – Vão parecer até que foi montado ou fraude, mas vamos lá. – Rimos. - A pessoa que eu tirei se tornou uma irmã para mim desde que começou a trabalhar com a gente. Ela... Ela em pessoa, ok?! – Gargalhamos com a dica de poder ser uma mulher. – Essa pessoa caiu de paraquedas aqui e tem se dado muito bem desde então, além de se tornar uma grande amiga. É com ela que eu enfrento as dificuldades do dia a dia, das viagens, vejo sua evolução de uma forma rápida e interessante, além de que ela entrou na minha vida de uma forma magnífica. – Engoli em seco, sabendo que era eu, mas o deixei finalizar. – Ela é uma pessoa boa, simpática, engraçada, divertida, Maria chuteira, é claro, mas quem não é? – Gargalhamos, negando com a cabeça.
- É a ! – O pessoal começou a gritar e eu neguei com a cabeça.
- Ah e ela vai ser a minha goleira e vai acabar com todos vocês daqui a pouco. – As gargalhadas se misturaram com as palmas e eu me levantei, abraçando-o fortemente.
- Seu bobo! – Ele me entregou o presente e voltou para seu lugar.
- Você merece! – Pisquei para ele e fui para meu lugar, e troquei os presentes.
- Bom, meu amigo secreto ou minha amiga secreta é um verdadeiro anjo para mim. – Suspirei. – Foi a pessoa que tem me ensinado muito desde que eu entrei aqui e tem me mostrado e oferecido oportunidades que nunca eu pensaria que viveria, nem em 50 anos de carreira. – Mordi meu lábio inferior. – Além disso, é uma pessoa que tem quebrado uns galhos bem grandes para manter meu relacionamento com alguma esperança. – Eles riram.
- Angelica! – Bianca falou animada e eu sorri, vendo-a se levantar envergonhada e eu a abracei fortemente, entregando o presente para ela.
- Obrigada! – Ela sussurrou para mim e eu sorri.
- Eu que agradeço. – Falei e voltei para meu lugar, vendo-a sorrir.
O amigo secreto finalizou até todos serem tirados. Não conseguimos fazer a volta inteira de uma vez só, mas foi legal. O melhor de tudo, era que todos os presentes tinham que ter uma relação com futebol, era a única regra da brincadeira, então eu havia escolhido dar uma camiseta do Botafogo aqui do Rio para Angelica, com o nome do seu irmão atrás. Ele faleceu há uns anos de ataque cardíaco em uma pelada ingênua com os amigos. Ele era 12 anos mais novo que Angelica e tinha a minha idade quando aconteceu.
Obviamente eu não o conheci, mas ela já tinha contado longas histórias sobre ele e sempre se emocionava com isso. Além disso, eu escolhi o número 16, que era o número dele do futebol. Isso eu precisei fazer uma grande pesquisa para conseguir, mas valeu à pena.
- Obrigada. – Angelica sussurrou para mim, visivelmente emocionada e eu assenti com a cabeça, rindo fracamente.
Foquei na caixa em meu colo e abri a mesma, empurrando o papel de seda que cobria em cima e franzi a testa, puxando o tecido ‘cheguei’ que estava dentro da mesma. Abri a boca em um largo “o” ao perceber que era a blusa de goleiro do Brasil da Copa do Mundo de 1994. Virei a mesma rapidamente, encontrando o escrito Taffarel e o número 1, me fazendo rir fracamente.
- Olha, não foi fácil achar isso. – Lucas apareceu na minha frente.
- Como? Meu Deus, isso tem quase minha idade. – Rimos juntos.
- Fiz umas pesquisas, falei com o pessoal dos arquivos, eles ainda tinham o projeto e bom... – Ele balançou a cabeça. – Essa blusa foi feita alguns dias atrás, então você pode usar que não vai te dar urticária ou algo do tipo. – Gargalhei.
- Ah, é ótimo, Lucas, obrigada. – Suspirei. – Vai para minha coleção.
- Fico feliz que gostou. E saiba que Angelica ainda está chorando com a dela. – Ri fraco, olhando para ela abraçada na blusa.
- Foi a única coisa que consegui pensar. – Suspirei.
- Foi uma boa ideia. – Sorrimos cúmplices e relaxamos os ombros. – Bom, vamos para o jogo?
- Ei, eu preciso terminar de almoçar.
- Ah, esfomeada. – Rimos juntos.
Deu tempo de comer, papear por bastante tempo, até que finalmente o pessoal decidiu fazer o jogo para valer. E não é que o negócio era profissional? Tinha uniforme da Seleção até para gente, então eu tinha meu uniforme à lá Alisson Becker igualzinho do meu namorado. Era aquele verde limão feio, mas não importa, era o kit completo, blusa, shorts, meias, luvas, chuteiras, eles realmente levavam aquilo a sério. Até Vini se vestiu de Canarinho.
Claro que eu enchi meu celular com fotos sozinha e com o pessoal para postar nas redes sociais e mandar para Alisson.
Estávamos com quatro times de quatro setores diferentes, então fizemos um sorteio, dois jogos e o vencedor de cada jogo se enfrentava em uma final. Fomos sorteados primeiro, então foi muito bom. Eu peguei bastante bola, até parecia que eu não estava morrendo de cansada, mas eu acabei levando três gols, mas tudo bem, o outro time levou sete e fechamos a final.
Tive o tempo de descansar de um jogo para o outro, o que o time dos administrativos não teve a mesma sorte, pois quando acabou os dele, deram 20 minutos para eles descansarem e logo iniciamos a grande final.
O pessoal já estava para lá de Bagdá pela quantidade de álcool no sangue, até eu bebi uma frozen e por beber pouco, eu não sabia como o álcool me afetava, mas ok, seguimos para a final.
Não teve grandes novidades, Lucas era um ótimo atacante e fazia bastantes gols no goleiro do administrativo, mas eles também tinham suas armas. Já tinha levado dois gols quando a bola voltou para o meu lado. O jogador deles chutou a bola até rasteira e eu só precisava me abaixar para esperar a bola chegar aos meus braços, mas Murilo e Leandro acharam que eu não conseguiria pegar a bola e vieram em minha direção, o que acabaram me atropelando.
- De repente, meu braço esquerdo estava sendo pisoteado por alguém, virou de um jeito estilo Anderson Silva e bom... – Ergui meu braço enfaixado. – 40 dias com isso.
- Meu Deus! – Alisson falou com as mãos na boca. – Como isso aconteceu?
- Sei lá, estava todo mundo meio bêbado, embalado no álcool há umas seis horas. – Suspirei. – Ninguém falou que não era seguro jogar bêbado.
- Ninguém nunca imagina, até acontecer. – Rimos juntos. – Doeu?
- Muito! – Fiz uma cara de sofrência. – Essas esporas doem mesmo.
- Doem! – Ele falou rindo. – Agora entende porque eu jogo de manga comprida e calça comprida embaixo do uniforme?
- É, agora entendo. – Fiz uma careta. – Vou anotar a dica. – Ele riu. – Bom, eu não ia imaginar, né?! - Suspirei. – Parece que eu estou sempre acabando com a festa do pessoal.
- Ah é, você tem o costume de passar mal em momentos interessantes. – Sorrimos.
- É, acontece. – Rimos juntos.
- Mas ganhou, pelo menos? – Ele perguntou.
- Não! – Falei emburrada. – Me substituíram pela Angelica, ela é um amor, mas péssima no futebol, ainda foi coisa de 20 a três, foi embaraçoso.
- Sério que continuaram o jogo? - Ele riu.
- Ah, os fisioterapeutas estavam em peso lá, né?! Eles conseguiram ao menos fazer um primeiro atendimento e imobilizar até a gente voltar para o Rio e ir para o hospital, depois que eu saí, tudo voltou ao normal. – Ele gargalhou.
- E Angelica? Ela gostou do seu presente?
- Ah, ela adorou! Ficou abraçada nele por muito tempo, emocionei bem.
- E quem te tirou?
- O Lucas, acredita? – Ri, puxando a caixa jogada na cama. – E ele me deu uma blusa do Taffa da Copa de 1994, abri a blusa com dificuldade na frente do celular.
- Uau! Nossa, que sonho! – Sorri.
- Prometo dividir contigo. – Ele riu.
- Traz para Liverpool.
- E ficar aí? Nem a pau! – Brinquei e ele sorriu.
- Bom, eu tenho que ir para o treino e você tem que dormir, não é?! – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Sim, são seis da manhã aqui, fiquei no hospital até agora. – Bocejei alto.
- Alguém ficou contigo?
- O Vini ficou, tanto que ele está estreando a cama do quarto de visitas enquanto conversamos. – Ele riu.
- Menos mal. – O celular dele mexeu, ele estava saindo de casa. – Nos falamos em algumas horas?
- Vamos sim, eu estou oficialmente de fé-é... – Bocejei no meio da frase, ouvindo-o gargalhar. – Férias.
- Aproveite suas fé-é-érias e nos falamos mais tarde.
- Eu te amo e bom treino.
- Você também, e toma conta desse braço aí, quero você inteira quando vier para cá.
- Será que eles podem encrencar com meu gesso no aeroporto? Será que eu poderia levar drogas dentro dele? – Fiquei cogitando na brincadeira.
- Ah, , vai dormir. – Rimos juntos. – Eu te amo.
- Eu também, tchau! – Falei, apertando o botão e suspirei, encarando o gesso imobilizando meu antebraço e pulso esquerdo, me fazendo suspirar.
- Bê? – Gritei pela casa. – Ainda está aqui?
- Sim! – Ele empurrou a porta do meu quarto. – Precisa de algo?
- Quando voltar do trabalho, você compra os remédios que o médico passou?
- Claro! – Ele sorriu.
- Pega meu cartão também, eu vou tentar dormir.
- Dorme sim, quem diria que você ficaria a noite toda fora?
- Pois é! – Falei ranzinza, vendo-o pegar o cartão na minha bolsa, documento e receita médica.
- Me manda a senha pelo Whats, mas acho que lembro. – Ele piscou e eu sorri.
- Boa noite e obrigada de novo.
- Que isso, qualquer coisa me liga ou acorda o Vinícius no outro cômodo.
- Pode deixar! – Brinquei, virando para o lado e rindo.
Demorei para arranjar um lado para dormir, pois eu costumava dormir com o braço esquerdo embaixo da cabeça, mas o cansaço acabou me ganhando e eu acabei capotando de alguma forma totalmente irrelevante.
- Ah, meu amor! – Minha mãe gritou no momento em que eu abri a porta de casa e me sufocou com seu abraço. – Ah, finalmente você está aqui.
- Finalmente vocês estão aqui! – A senti dar um beijo estalado em minha bochecha. – Entra, entra!
- Maninha! – Andressa entrou com seu grito estridente e eu copiei seu movimento, abraçando-a fortemente e pulando em círculos na porta de casa. – Eu senti muito a sua falta. Muita mesmo!
- Nem me fala, sete meses é muito tempo! – Sussurrei contra seu ouvido, sentindo-a quase apertar minhas costelas.
- Bom, você agora é assessora de viagens da CBF, namorada do goleiro da Seleção Brasileira, isso é muito chique. – Revirei os olhos, vendo-a rir.
- Cadê o Natan? – Perguntei, vendo que meu pai vinha atrás com uma Analice dormindo em seus pais.
- Oi, meu amor! – Meu pai se debruçou ao meu lado, depositando um rápido beijo em minha bochecha e eu deixei que ele entrasse em casa.
- Natan teve seu recesso cancelado de última hora, estourou um cano sei lá aonde, vai ficar embarcado pelo feriado inteiro. – Fiz uma careta.
- Imagino como vai ser legal o Natal dele, com cerca de 100 homens, embarcado em uma plataforma de petróleo no meio do nada. – Ela riu fracamente, pegando sua filha de quatro anos do colo de nosso pai e o mesmo veio em minha direção.
- Problema dele, nós faremos uma viagem para Liverpool, para passar o Natal com o namorado da minha filha. – Seu Alberto me apertou, me fazendo rir.
- Agora ele é o genro favorito, tá? – Andressa falou e eu neguei com a cabeça.
- Até conhecer e fazer três horas de interrogatório igual foi com Natan. – Rimos juntas.
- Bom, Alisson já tem uns pontos na frente por gostar de futebol e de uma boa cerveja. – Pisquei para ela. – Natan não gostava de nenhuma das duas coisas.
- Ele não torce para o verdão, mas podemos dar um jeito. – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Ele é do Sul, pai, nem vem. – Ele deu de ombros.
- Cadê o Bernardo? Foi visitar a família dele? – Andressa perguntou.
- Até parece que ele perderia a oportunidade de passar a festa de fim de ano na mansão de um jogador de futebol, não é mesmo? – Bernardo apareceu no corredor com uma toalha amarrada em seus poucos cabelos, recém-saído do banho.
- É claro! – Andressa falou.
- Ah, como você está, querido? – Minha mãe foi o primeiro a abraçar e ele seguiu por meus familiares.
- É bom ver você, garoto. Fico feliz que tenha vindo morar aqui também. – Meu pai o abraçou e ambos sorriram.
- Ah, sabe como é, a gente não poderia perder essa oportunidade. – Rimos juntos.
- Bom, vocês querem comer antes ou tomar banho? – Me apoiei na bancada.
- Eu vou conhecer esse apartamento gigante e depois eu decido. – Andressa falou rindo e eu neguei com a cabeça.
- O que planejou para janta, filha? – Minha mãe perguntou e eu segui até o freezer, tirando algumas pizzas congeladas.
- Peguei algumas pizzas, achei que chegariam cansados. – Chequei o relógio e já passava das 11 da noite.
- Pensou bem, amor. – Minha mãe sorriu. – E seu braço, como está? - Ela se aproximou de mim e eu suspirei.
- Está aqui ainda. – Meu pai riu e ela revirou os olhos.
- Está doendo? – Ela foi mais enfática.
- Ainda não me acostumei a dormir, tomar banho ou cozinhar com ele, mas Bê me ajuda. – Ele fez uma cara de metido e eu revirei os olhos.
- Ela já tinha o príncipe encantado e não deu valor, dona Carina. – Rimos juntos.
- A relação seria bem chata, não é mesmo? – Virei para ele.
- Ideal! – Meu pai falou, me abraçando de lado.
- Para você... – Bernardo sussurrou e eu revirei os olhos.
- Mãe, leva o pai para conhecer o apartamento? Se acomodar no quarto, etc? Eu vou colocar as pizzas para assar, se quiserem indo tomar um banho e tudo mais?
- Tudo bem, querida, você fica com a Analice?
- Pode deixar! – Vi minha sobrinha deitada no sofá e dei um pequeno sorriso.
- Eu acompanho vocês pela mansão da senhorita . – Bernardo falou pomposo e eu revirei os olhos.
Segui em direção ao forno e acendi o mesmo, programando alguns minutos para ele pré-aquecer e comecei a desembalar as pizzas, pensando qual das três eu colocaria antes. Selecionei a de calabresa e segui para colocar a mesa.
- Tia ? – Ouvi uma vozinha e virei para o lado, vendo Analice sentada no sofá, coçando os olhos.
- Oi, meu amor! – Falei animada. – Titia tá aqui! – Ela abriu um sorriso, pulou do sofá e correu desengonçada em minha direção e me abaixei, sentindo-a pular em meu colo.
- Saudades, titia! – Ela falou baixo em meu ouvido e eu sorri, sentindo meus olhos lacrimejarem.
- Ah, meu amor, que saudades de você! – Dei um beijo em sua cabeça castanha, ouvindo-a rir.
- Então a princesa acordou? – Meu pai apareceu na sala novamente e eu me levantei, com Analice no colo.
- Que casa grande, tia. – Ela comentou, virando o rosto para os lados.
- Vem ver aqui fora. – Me aproximei da sacada com ela, abrindo a porta da sala de jantar e saindo com ela.
- Uau! – Ela falou surpresa.
- Uau mesmo. – Andressa apareceu atrás e eu ri. – Acho que vocês estão confortáveis aqui, não é mesmo? – Ela brincou e eu sorri.
- Se quiser pagar alguma das minhas prestações, eu não me importo. – Rimos juntas.
- Não vai sair pizza nessa casa, não? – Bernardo apareceu atrás.
- Tio Bê! – Analice falou sorrindo.
- Ah, olha a princesa aí! – Bernardo a tirou do meu colo e eu revirei os olhos, sabendo que ela adorava meu amigo.
- Eu vou preparar as pizzas. – Falei e meu pai riu, seguindo comigo.
- Vamos, eu te ajudo.
- A colocar pizza congelada no forno? – Brinquei.
- Eu e cozinha não nos damos bem, meu amor, você sabe disso. – Ele disse.
- Sei bem! – Gargalhei em seguida.
- Não acredito que seu namorado bancou primeira classe para todo mundo. – Minha mãe falou, se ajeitando na poltrona ao meu lado e eu ri fracamente.
- Com as prestações do apartamento, eu estou me policiando ao máximo, mas ele não precisava fazer isso.
- Já ganhou pontos com seu pai. – Virei para o lado, aonde meu pai segurava Analice enquanto minha irmã se ajeitava nas poltronas da frente.
- O que ele está achando dessa história toda? – Perguntei mais baixo para ela, ajeitando meu cinto de segurança. – Ele não mencionou nada nesses dias.
- O que tem para achar, meu anjo? – Ela se virou para mim. – Você é uma mulher, morando fora de casa sozinha há uns cinco anos, se virando, estudando, trabalhando, ganhando seu dinheiro, pagando suas contas... O que tem para achar? – Ela repetiu e eu respirei fundo.
- Não sei, às vezes eu paro e me acho muito criança para estar vivendo tudo isso. – Suspirei. – Aí eu penso em diversos jogadores de futebol e muitos são mais novos do que eu e estão casados e com filhos... – Neguei com a cabeça. – É levemente desesperador.
- Às vezes a vida anda mais rápido para uns do que para outros e é completamente normal. – Ela levou a mão até minha cabeça. – Esse é seu primeiro trabalho bom, seu primeiro relacionamento sério e seu primeiro relacionamento à distância, você está amadurecendo cada vez mais rápido, pode não parecer para você, mas está. – Suspirei.
- É tão difícil, mãe... – Senti que estava emocionada. – Eu tenho uma enteada, você sabia disso?
- Sim, eu sei! – Ela riu fracamente. – E como é isso para você?
- Eu não sei. Eu só a vi durante a Copa, não temos exatamente uma relação.
- Tem, meu amor. E é uma relação que você vai ter que maturar, com ela, com a mãe dela, com seus sogros, seu cunhado... – Ri fracamente. – A carreira sua e do Alisson já são complicadas, vocês já ficam longe da família, é como matar um leão por dia. – Suspirei.
- Dicas do que eu posso fazer? – Perguntei.
- Andar um passo de cada vez é um ótimo começo. – Suspirei. – A vida naturalmente vai dando seus passos, hoje vocês falam que não largariam as carreiras para morarem juntos, mas daqui algum tempo podem pensar nisso, a vida é uma caixinha de surpresa.
- Eu não sei, é muito cedo para falar do futuro ainda. – Ela sorriu.
- Quem sabe depois de 11 horas de viagem? – Ela brincou e eu ri, negando com a cabeça.
- Talvez. – Sorrimos.
- O que as mocinhas estão fofocando? – Meu pai se virou para trás.
- Só falando um pouco sobre a vida. – Ri fracamente.
- O que tem de bom nesse catering? Já estou com fome. – Neguei com a cabeça.
- Nem parece que comeu quase uma pizza inteira. – Ele deu de ombros.
- Era o que tinha, né?! – Ele brincou.
- O senhor poderia se sentar, por favor? – A comissária de bordo falou para meu pai e eu ri fracamente, vendo-o se ajeitar em sua poltrona.
- O Alisson vai nos pegar quando chegarmos lá? Como vamos fazer? – Minha mãe falou.
- Ele tem jogo amanhã, na verdade, fora ainda. O voo chega por volta do meio dia, vou alugar um carro e vamos para casa dele em Manchester.
- Espera, ele não mora em Liverpool? – Meu pai se levantou.
- Pai, senta, o avião já está andando. – Reclamei e ele se virou novamente. – É uma longa história, mas vamos para casa dele em Manchester. Ele falou para irmos nos ajeitando, ele vai chegar tarde. O jogo é oito da noite, em Wolverhampton, vamos até passar perto de lá, pelo que eu vi no mapa, mas teremos outras oportunidades para ver jogos.
- Ele deixou a chave com alguém?
- A família dele já chegou também, alguém deve ficar lá. – Eles concordarem. – Tudo certo aí, Dessa? – Perguntei para minha irmã e ela suspirou.
- Ela dormiu, estou só com medo de estourar o ouvido dela quando pegar altura. – Ela comentou.
- Estou aqui, se precisar de braço um pouco. – Falei.
- Valeu, maninha.
- Durmam, a viagem é longa.
- Me acorda quando passar a comida. – Meu pai falou.
- Ah lá, o ralé na primeira classe! – Dessa brincou e nós gargalhamos.
- Até parece que nunca fez um voo internacional. – Brinquei.
- A última vez foi quando você tinha 10 anos, qual é. – Ele falou.
- Ah, Indonésia em 2003. – Minha mãe falou.
- Vocês não têm mais desculpa para isso, né, gente?! – Minha irmã falou.
- Até parece que adianta falar algo. – Neguei com a cabeça.
- Ah, vão dormir vocês duas.
- Isso é uma casa só? – Meu pai gritou no momento em que saímos do carro em frente à casa do Alisson em Manchester.
- É, dá umas três ou quatro nossas lá de Pira. – Franzi a testa, seguindo para o porta-malas. – Só a parte interna, obviamente. – Ponderei com a cabeça.
- Segura a Lice, eu pego. – Andressa falou e eu estiquei os braços para minha sobrinha que sorria.
- Olha ali! – Ela apontou para um arbusto levemente esbranquiçado. – Será é que é neve? – Ela perguntou surpresa.
- Talvez, meu amor. – Dei um beijo em sua bochecha e coloquei-a no chão e peguei a mala que meu pai me entregou.
- Aqui é lindo, filha. – Minha mãe comentou e eu ri.
- Espera ver lá dentro. – Falei, movimentando a cabeça em direção à porta.
Arrastei a mala em uma mão e Analice com a outra até a porta da casa e respirei fundo antes de apertar a campainha. Fazia um tempo desde que eu me encontrei com os pais de Alisson, então confesso que estava nervosa. Além dos atrás de mim, seria a primeira vez que as duas famílias inteiras se encontravam. Era motivo o suficiente para eu surtar.
Seria pior do que encarar a Seleção Brasileira inteira.
- Olha quem chegou! – Dona Magali falou animada ao abrir a porta e eu sorri, soltando Analice e a mala e a abracei fortemente. – Ah, querida, que saudades. Você está linda como sempre.
- Passando um pouco de frio, mas tudo bem! – Ela riu.
- Nem fala, aqui é muito diferente do Sul. – Ela riu fracamente, ajeitando o cachecol no pescoço. – Você se lembra da Elisângela, não? – Ela me indicou a morena atrás dela e eu acenei para a mesma, dando uma rápida troca de beijo na mesma. - Entra, gente, entra! – Dona Magali falou animada.
- Essa é a minha família, gente. Minha mãe Carina. – Fui apontando enquanto as pessoas foram entrando. – Meu pai Alberto. Minha irmã Andressa e minha sobrinha Analice.
- É um prazer conhecer vocês. – Dona Magali falava e o pessoal ia entrando.
- Cadê o resto do pessoal? – Perguntei, sentindo o ambiente mais quente ali dentro.
- Ah, foram todos para o jogo, até as crianças. – Elisângela abanou com a mão. – Ficamos para receber vocês.
- Ah, que isso, gente. Não precisava. – Minha mãe falou.
- Eu realmente passo mais um jogo do meu filho. – Magali falou, me fazendo rir.
- Acho que já tenho futebol o suficiente nessa vida. – Elisângela falou também.
- Vem, gente, entra. Vocês estão com fome? Eu fiz um café para esperar vocês, mas posso preparar uma janta também.
- Ah, não se preocupe com a gente. – Meu pai abanou a mão. – Vamos ajudar vocês.
- Por que você não os leva lá para cima e depois vocês descem para comer? – Magali falou para mim.
- Como vai ficar? – Perguntei.
- Tem dois quartos livres aqui em cima. Você pode colocar seus pais em um e sua irmã e sobrinha no outro. E você pode colocar suas coisas no terceiro andar.
- Qual é, meu pai está aqui! – Falei e eles riram.
- Eu não estou ouvindo nada. – Ele fingiu desentendimento e um choro começou a ecoar de algum cômodo.
- A Helena está aqui? – Perguntei, seguindo Magali.
- Sim, a Natália se casou recentemente e deixou ela passar o fim de ano com a gente.
- Sério? Nossa! – Entrei na sala de brinquedos, vendo a menina de quase dois anos chorando por um brinquedo que aparentemente rolou para longe.
- Alisson não mencionou?
- Acho que não. – Falei, vendo Magali pegá-la no colo, junto do brinquedo. – Mas que bom por ela e pela Natália.
- Sim, foi algo meio inesperado e rápido demais, mas ela está feliz e ele é um cara legal. – Assenti com a cabeça, fazendo carinho na mão de Helena.
- Que bom, sério. – Sorri para Helena. – Quer vir com a tia? – Estendi minhas mãos para ela.
- Oi. – Ela falou para mim, estendendo as mãos e eu sorri, pegando-a do colo de Magali.
- Você não deveria segurar ela com esse braço. – Magali comentou e eu balancei a cabeça.
- Oi, princesa, como você está? – A segurei em meus braços.
- Bem. – Ela falou distraída com o cordão do meu moletom.
- Bem? Eu também estou bem. – Sorri, dando um curto beijo em sua cabeça.
- Eu ‘ava brincando. – Ela falou embolado.
- Ah é? Do quê? – Andei até o hall novamente, encontrando o pessoal.
- De ‘muneco. – Sorri.
- Eu posso brincar contigo?
- Poti. – Ela disse e eu sorri.
- Essa é a menina do Alisson, então? – Meu pai perguntou e eu assenti com a cabeça. - Ela é uma linda, filha. – Sorri.
- Pois é, ainda tem esse presentinho na minha vida. – Sorri, apertando Helena em um abraço.
- Ela está bem contigo. – Magali falou. – Quando foi a última vez que a viu?
- Pessoalmente? Na Rússia. Pela internet? Não lembro. – Sorri.
- Ela vai se acostumando contigo. – Magali sorriu.
- Bom, vamos nos organizar? – Elisângela falou animada.
- Vem comer, gente, depois a apresenta a casa para vocês, vocês podem relaxar, tomar banho e por aí vai. – Magali os chamou para a cozinha e eu segui com Helena no colo.
- Ei... – Ouvi um sussurro e mexi o corpo, abraçando o travesseiro com mais força. – Ei, meu amor, cheguei. – Virei o corpo na cama e abri os olhos devagar, vendo Alisson se formar embaçado em minha frente.
- Ei! – Falei dormente e ele riu, me abraçando pelas costas. – Como foi o jogo? – Falei ainda sonolenta.
- Ganhamos de dois a zero. – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu suspirei.
- Não fez mais do que a obrigação. – Falei, bocejando em seguida e ele riu, dando um beijo em minha bochecha.
- Acho que está na hora de você dormir, não? – Ele perguntou.
- Eu tentei te esperar, mas a viagem, o fuso-horário, a torta deliciosa da sua mãe... – Minha voz saiu falha e ele riu fracamente.
- Eu vou me trocar e logo fico aqui contigo, ok?! – Ele cochichou e eu assenti com a cabeça.
- Provavelmente não vou estar mais acordada para isso.
- Eu estarei aqui. – Falei, bocejando algo. – Eu te amo.
- Eu também te amo. – Ele sussurrou e só me lembro de um último suspiro, ainda com seus braços em volta de mim.
- Bom dia. – Ouvi a voz de Alisson em meus ouvidos e suspirei.
- Ah, parece que alguém já acordou. – Falei e ele riu fracamente.
- São quase 11 da manhã, meu amor. – Arregalei os olhos, virando na cama.
- Ai! – Ele reclamou quando eu bati meu braço engessado em sua testa.
- Oh, me desculpa! – Falei rindo.
- Eu sabia que você era cabeça dura, agora braço duro é novidade. – Ri fracamente, segurando o braço engessado. - Doeu? – Ele perguntou.
- Não, está tudo bem. – Comentei e virei para ele.
- Aqui estamos nós de novo. – Ele falou e eu sorri, me debruçando sobre ele e colando nossos lábios.
- Senti sua falta. – Ele disse e eu suspirei.
- Muito, muito. – Falei, apoiando minhas mãos em seu peito.
- E esse braço? – Ele entrelaçou nossas mãos.
- Ah, vai indo. – Suspirei. – Ainda não quebrei o gesso, então tá tudo bem. – Ele riu fracamente, dando um beijo em minha bochecha.
- Espero que não quebre, por favor.
- Ah, sou uma criança, você sabe. – Dei de ombros. – Pode quebrar rapidamente. Ainda mais segurando minha sobrinha, sua filha...
- Sua sobrinha veio? – Ele perguntou animado.
- Você não conheceu ninguém ainda? – Perguntei, me sentando na cama.
- Não, eu cheguei quase três da manhã ontem, todo mundo já estava dormindo, acordei faz uma hora mais ou menos, mas não tive coragem de encarar seu pai sozinho.
- Ah, Alisson. – Gargalhei em seguida. – Você não está com medo, está?
- Talvez eu esteja. – Ele deu de ombros. – Qual é, faz muito tempo que eu não namoro, seu pai é militar ainda...
- Ah, Alisson, por favor, você acha que ele vai fazer o que contigo? Te matar?
- Tem chances? – Revirei os olhos.
- Ah, pelo amor de Deus. – Ri fracamente. – Vai se arrumar e vamos descer logo. Você vai ver, ele é ótimo. – Logo em seguida um barulho de algo quebrando pode ser ouvido do andar de baixo.
- Mesmo? – Ele perguntou e eu fiz uma careta.
- Deve ter sido um copo. – Dei de ombros.
- Deus, dai-me forças e coragem para esse encontro. – Ele falou olhando para cima.
- É o que eu peço em todo amistoso internacional. – Dei de ombros. – Irônico, não?!
- É diferente, vai. Todos te amam. – Neguei com a cabeça.
- E o que te faz pensar que ele não vai te amar também?
- Você estar dormindo aqui comigo já é um motivo.
- Ah, Alissinho, dai-me paciência. – Neguei com a cabeça, jogando a coberta para o lado. – Eu vou me arrumar e logo descemos, ok?!
- Ok, chefe! – Ele falou, se levantando também e me abraçando pelas costas, distribuindo beijos em meus ombros. – Senti sua falta.
- Eu também! – Virei de costas, passando os braços pelos seus ombros.
- Teremos mais que 10 dias juntos?
- Um pouco mais, mas sim. – Pisquei, colando meus lábios nos dele mais uma vez.
- Pior é pensar no depois, quando nos reencontraremos só em março.
- Meu Deus, está pior do que eu. – Segurei seu rosto. – Se acalma. Eu acabei de chegar! – Ele riu fracamente.
- E eu esperei muito por esse momento. – Ele colou os lábios nos meus e eu ri.
- Então vamos colocar uma roupa decente e ir conhecer minha família. – Dei um sorriso e ele bufou, abanando a mão.
- Deus, dai-me forças para isso. – Neguei com a cabeça, seguindo até minha mala no canto do quarto e a deitei no chão, procurando por alguns moletons para trocar pelo moletom de pijama que eu estava usando no momento.
Troquei de roupa, fazendo questão de fechar bem o casaco e calçar os tênis em cima de meias grossas. Quando Alisson saiu do banheiro, segui para dentro dele, pegando minha nécessaire escondida atrás de uma prateleira e escovei os dentes rapidamente, lavei o rosto e não me preocupei em passar maquiagem. Qual é, eu estava com minha família e meu namorado, não precisa de mais boa impressão.
Saí do banheiro puxando o capuz para minha cabeça e ajeitando a manga do meu moletom para cobrir o gesso branco. Alisson já estava similar a mim, mas somente com uma camiseta de manga comprida, ele me abraçou rapidamente, puxando meu braço esquerdo para dar uma olhada.
- Ainda não acredito que você conseguiu quebrar o braço. – Ri fracamente.
- Nem eu! – Dei de ombros. – Acho que eu tive a capacidade de ter um acidente que nem goleiros profissionais têm. – Ele negou com a cabeça, beijando a ponta dos dedos para fora do gesso.
- Eu acho que não sei de nenhum caso de goleiro que quebrou o braço... – Ele ponderou com a cabeça.
- Deixa para lá. – Puxei o braço de volta.
- Depois eu vou fazer um desenho nesse gesso.
- Ah, não. - Neguei com a cabeça. – Vão ser 40 dias com isso, vai ficar parecendo um Jackson Pollock.
- Um o quê? – Ele franziu a testa e eu abanei a mão.
- Se eu estou sabendo mais de arte do que você, quer dizer que você está muito mal. – Ele riu.
- Por que estamos falando de arte mesmo? – Franzi a testa.
- Sei lá. – Dei de ombros. – Vamos descer?
- Ah, acho que eu prefiro ficar aqui. – Revirei os olhos.
- Vem logo, ele não morde, relaxa.
- Espero mesmo. – Revirei os olhos, puxando-o com a mão boa.
Abri a porta do quarto e já ouvi algumas vozes distantes. Olhamos rapidamente em volta e vimos que não tinha ninguém, inclusive o quarto designado ao irmão e esposa de Alisson, o dos sobrinhos dele e de Helena. Todos vazios.
Descemos mais um andar e as pessoas começaram a aparecer. Elisângela e Maria Eduarda, sobrinha mais velha de Alisson, estavam conversando nos sofás da sala central do segundo andar. Elisângela se levantou rapidamente quando me viu.
- Oi, acordaram! – Ela falou surpresa e eu sorri.
- É, alguém dormiu demais. – Movimentei a cabeça em direção a Alisson.
- Ei! – Ele comentou e eu dei de ombros. – Duda, você se lembra da ?
- Um pouco. Na Copa, né?! – A menina de cabelos pretos se levantou e me deu um rápido beijo na bochecha.
- Exato! – Alisson falou.
- Bom te rever, Duda. – Falei e ela sorriu envergonhada.
- Fico feliz que vocês deram certo, meu tio parecia bem feliz na Rússia. – Ela falou mostrando os dentinhos tortos.
- Duda! – Elisângela a cortou e eu neguei com a cabeça.
- Está tudo bem, fico feliz também que conseguimos fazer funcionar. – Sorri, sentindo Alisson me abraçar pelos ombros.
- O pessoal está lá embaixo? – Ele perguntou.
- Sim, as mulheres estão na cozinha e os homens lá fora, acendendo a churrasqueira.
- Ah, deveria suspeitar que almoçaríamos churrasco. – Virei para Alisson e ele deu de ombros.
- Estamos comendo isso há quatro dias, tia . Até eu já enjoei. – Duda falou e eu ri fracamente.
- Ah, eu virei tia. – Falei nervosa, vendo os três rirem.
- Mas você já tem sua sobrinha...
- É diferente! – Falei para Alisson. – A Lice é real minha sobrinha, a Duda só está me chamando assim, porque eu sou velha para ela. – Alisson fez uma careta.
- A gente vai descer! – Alisson puxou minha mão, deixando Duda rindo sozinha. – E pode chamar de tia sim! – Virei para Alisson. – Já virou, né?! – Dei um sorriso de lado, segurando sua mão.
- De certa forma. – Dei de ombros, ouvindo as risadas das mulheres no andar de baixo.
- Me deseje sorte. – Ele cochichou e eu balancei a cabeça, seguindo na frente para entrar na cozinha aonde estavam minha mãe, minha irmã e minha sogra papeando e um forte cheiro de vinagre.
- Bom dia! – Falei, vendo-as se distraírem.
- Ah, minha querida, bom dia! – Minha mãe veio em minha direção, me dando um rápido abraço e um beijo na cabeça.
- Dormiu demais, hein?! – Andressa falou e eu ri fracamente.
- Culpa dele. – Apontei para Alisson.
- Finalmente estamos nos conhecendo, então, Alisson? – Minha mãe falou e eu soltei a mão de Alisson, indo cumprimentar dona Magali enquanto eles conversaram.
- É um prazer te conhecer pessoalmente, dona Carina. – Alisson abraçou minha mãe, fazendo-a ficar na ponta dos pés e eu sorri, vendo Andressa piscar para mim.
- O prazer é meu, querido! Ah, estou muito feliz por você e minha filha, sério...
- Mãe! – A repreendi.
- O quê? Não falei nada de errado, estou feliz sim.
- Estávamos falando disso, estamos muito felizes mesmo por vocês dois. – Dona Magali falou e eu a abracei de lado. – Vocês combinam, sabe? Até as famílias combinam.
- Isso me deixa feliz, sério. – Alisson falou com a mão no peito. – Encontrar a foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano. – Revirei os olhos.
- Já estamos juntos, não precisa tentar me ganhar de novo. – Pisquei para ele, vendo-o rir.
- Mas preciso ganhar sua família, né?! – Ele cochichou, fazendo-as rirem. – Enfim, e você deve ser Andressa, certo?
- Sim, senhor. – Minha irmã o abraçou rapidamente. – É um prazer te conhecer. Sério. Bom ver quem conseguiu descongelar o coração da minha irmã. – Ela apertou minha bochecha e eu revirei os olhos.
- Acho que vai ser um daqueles dias. – Falei para Alisson e ela riu.
- Relaxa, irmãozinho, a gente nem começou a falar de você ainda. – Muriel apareceu na cozinha e eu ri fracamente. – , que bom te rever.
- Oi, Muriel. Bom te ver também. – Ele deu dois rápidos beijos em minha bochecha e eu sorri.
- Cadê Analice? Helena?
- Analice está lá fora brincando com o Franthiesco. – Muriel falou, pegando alguns temperos nas gavetas.
- Helena está tirando uma soneca na outra sala. – Magali falou e eu virei para a divisória de vidro das duas salas e vi Helena deitada no carrinho, dormindo.
- Bom, então só nos resta te levar para conhecer meu pai. – Muriel riu exageradamente e todos olhamos para ele.
- Eu vou morrer! – Alisson cochichou e eu ri fracamente.
- Que isso, cara. O pai dela é ótimo. Ele conta umas piadas sensacionais. – Muriel falou, se retirando e Alisson estava mais vermelho do que o normal.
- Vem, vai dar tudo certo. – Cochichei para Alisson.
- Relaxa, Beto é igual cachorro, ladra, mas não morde não. – Minha mãe falou, abanando a mão.
- Eu logo volto para ajudar vocês. – Falei, puxando Alisson pela mão.
- Ajudar nada, vai ficar descansando esse braço aí. – Minha mãe falou.
- Eu ainda tenho a mão direita, não estou tão perdida assim. – Falei da porta, seguindo para fora com Alisson.
Puxei a porta lateral, já sentindo o cheiro de fumaça e carne e saímos para o vento, encontrando meu pai, seu José e Muriel ao lado da churrasqueira, mexendo com as carnes em uma mesa. Enquanto isso, Analice e Franthiesco brincavam lá embaixo.
- Vai dar tudo certo. Ele só fica sério quando coloca a farda. – Pisquei para Alisson, mas aquilo não pareceu convencê-lo. - Bom dia! – Falei para eles.
- Bom dia, meu amor. – Meu pai falou.
- Olha quem está aí! – Seu José falou, limpando as mãos no avental e me dando um rápido abraço. – Bom te ver, garota.
- É um prazer também, seu José.
- Você deve ser o Alisson. – Meu pai falou e eu revirei os olhos.
- Se comporte, ok?! – Falei para o mesmo. – E não me faça pagar mico.
- Relaxa, garoto! – Meu pai bateu uma mão no ombro de Alisson. – Você ama e respeita minha garota, isso já quer dizer muito. – Ele estendeu a mão. – Alberto.
- Beto! – O corrigi. – Betinho, para os íntimos. – Cochichei para ele.
- Também não precisa esculachar, filha. – Ele abanou a mão.
- É um prazer te conhecer, seu Alberto. – Alisson apertou a mão dele e eles se abraçaram.
- O prazer é meu, garoto. – Ele sorriu.
- Bom, todos devidamente apresentados, eu estou com fome. – Falei, dando uma espiada para dentro da churrasqueira.
- Vocês demoraram para acordar, vai demorar. – Seu José falou e eu ri fracamente.
- Eu vou ajudar as mulheres. – Falei.
- Eu vou ver minha filha. – Alisson disse.
- A gente chama. – Meu pai falou e eu assenti com a cabeça.
- Cadê Bernardo? – Alisson perguntou. – Ele não ia vir?
- Chega só amanhã, teve que trabalhar. – Dei de ombros.
- Ah, acontece. – Sorrimos.
- Rabanada, gente? – Minha mãe ofereceu e eu joguei a cabeça para trás.
- Chega, mãe! – Falei, ouvindo Alisson rir ao meu lado.
- Pega, gente! – Ela falou e minha barriga realmente não aguentava mais.
- Para mim já deu, mãe. – Neguei com a cabeça.
- Para mim também, dona Carina. – Alisson falou e ela voltou escadas abaixo com o prato com rabanadas fresquinhas. - Sua mãe vai me engordar. – Alisson cochichou, escondendo o rosto na curva do meu pescoço e neguei com a cabeça.
- Depois ela reclama que a gente engordou, mas ela é a culpada. – Andressa falou do outro lado.
- Não sabia que vocês tinham uma padaria. – Alisson comentou.
- Faz tempo, ela vendeu há uns cinco anos já, não é algo que você lembra com frequência. – Dei de ombros. – Mas ela ainda tem o dom.
- Ah, tem! – Andressa falou, nos fazendo rir.
- O que você acha, dinda? – Lice falou e eu virei o rosto para meu gesso que estava esticado no sofá com ela e Helena rabiscando há mais de meia hora.
- Uau! – Falei, fingindo. – Ficou lindo, meninas. – Olhei os diversos rabiscos de Helena e a tentativa de Analice desenhar a Anna e a Elsa de Frozen. – Obrigada. – Dei um beijo rápido na cabeça de Helena e em Analice.
- Vou lá com a vó! – Analice falou, saindo correndo.
- Você gostou? – Helena falou batendo no gesso que ela havia descoberto não fazer parte do meu braço há um tempo atrás.
- Ficou lindo, meu amor. – Puxei-a para meu colo, estalando um beijo em sua bochecha.
- ‘Brigada, mamãe. – Arregalei os olhos, virando para Alisson também surpreso.
- Ah, meu amor. – Pressionei os lábios um no outro, abraçando Helena em meu colo. – Eu não sou...
- É sim! – Alisson me interrompeu, negando com a cabeça. – Não faça isso.
- Mas, Alisson...
- Desde que a Nat casou, ela tem dois pais, porque ela não pode ter duas mães?
- Porque é a primeira vez que eu fico com ela, Alisson. – Virei para ele. – É diferente. A Nat namora o cara há um tempo, Helena já ficou com ele. – Suspirei, beijando a cabeça da menina. – Eu até quero, um dia, ser madrasta dela, mas em um momento que eu realmente conviver com ela. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bom, eu não vou acabar com os sonhos dela, você vai? – Ele chantageou e eu revirei os olhos.
- Idiota. – Cochichei e virei para Andressa. – Pode isso, Arnaldo?
- Errado ele não está! – Ri fracamente, vendo Helena sair de meu colo e engatinhar até seus brinquedos.
- Você não pode acreditar realmente nisso. – Falei e ela me olhou sugestivamente.
- Já consigo até ver trocando fraldas e...
- Ah, meu Deus! – Ela e Alisson riram e logo um barulho nos interrompeu.
- Alisson, a campainha! – Dona Magali gritou em seguida.
- O Bernardo chegou! – Falei animada, me levantando.
- Fica de olho nela, por favor, Andressa? – Alisson perguntou.
- Vai na paz! – Ela disse e eu e Alisson seguimos pela portinha na escada e descemos para o primeiro andar.
- Você não me deixou assinar nem um “eu te amo” no seu gesso, agora as meninas... – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Qual é, Alisson, elas têm cinco e menos de dois anos, qual é. – Rimos juntos. – Evitei duas horas de choro.
- Tá perdoada! – Rimos juntos.
- Ah! – Falei animada ao ver Bernardo soltando minha mãe e o abracei animada. – Você está aqui!
- Eu sobrevivi a uma viagem de avião sozinho! – Rimos juntos.
- Como você está com esse feito? – Ele suspirou.
- Bem, mas acho que exagerei no remédio, eu estou com um sono. – Ele falou seguido de um bocejo e nós rimos.
- A gente logo te arranja um espaço e você descansa. – Dona Magali falou.
- Bê, essa é a dona Magali, mãe do Alisson. – Apresentei, mostrando para ela e ambos se abraçaram rapidamente. – E esse é o Alisson, meu namorado.
- Reparei pelo rosto perfeito e a cara da riqueza. – Coloquei a mão no rosto.
- Gostei dele. – Alisson falou rapidamente e eu dei de ombros.
- É um prazer conhecer você, já gosto de você por fazer minha amiga feliz, isso já basta. – Eles sorriram.
- O prazer é meu, cara. Seja bem-vindo! – Eles sorriram, trocando um rápido abraço.
- Eu aposto que serei, viu?! Isso é uma casa só?
- Quando eu falei que vim para cá e cansei, você não acreditou em mim. – Dei de ombros.
- Agora entendo o que você quis dizer. – Rimos juntos.
- Ah, querido. Você chegou! – Minha mãe apareceu, abraçando-o rapidamente.
- Oi, dona Carina, tudo bem? – Ele sorriu, recebendo um beijo da minha mãe.
- Bom, vamos achar um lugar para você, Bernardo? – Alisson falou. – Ou você prefere comer, depois descansar?
- Tem rabanada! – Minha mãe falou animada e rimos juntos.
- Acho que eu aceito ir para o quarto, o remédio tá fazendo efeito ainda. – Ele falou, nos fazendo assentir com a cabeça.
- Vamos só conhecer o pessoal rapidinho? – Sugeri. – Depois você dorme o quanto quiser.
- Claro! – Bernardo falou tentando manter a animação. – Esqueci que temos outras pessoas aqui.
- Já está se achando na casa de praia dos Silveira, né?! – Andressa veio na escada com Helena e rimos.
- Melhor Natal. – Bernardo brincou e eu sorri. – Essa é a tua menina, Alisson?
- Sim, Helena. – Ele sorriu e Bê retribuiu.
- Ela é linda. – Ambos sorriram.
- Vem, os homens estão no fundo. – Falei.
- É, vamos fazer alguém ser mais empanturrado com churrasco. – Comentei e o pessoal gargalhou.
- O que você acha? – Alisson apareceu do banheiro e eu franzi os lábios com a blusa preta que ele usava.
- Tem certeza que você quer usar isso? – Perguntei.
- Por quê? Está tão mal assim?
- Tá... – Falei meio alongando, encarando-o pelo espelho.
- Ah, qual é, todo mundo precisa ter uma camisa de tiozão.
- A diferença é que você não é meu pai. – Suspirei. – E nem está na idade para ser. – Rimos juntos.
- Para de ser ranzinza, vai. – Ele bagunçou meus cabelos e eu franzi os lábios, abaixando os mesmos.
- Está horrível, só dizendo. – Finalizei de colocar a roupa em Helena e a peguei no colo. – Ele não está feio, meu amor? – Abaixei os cabelos dela.
- Feio. – Ela falou animada e eu virei sorrindo para Alisson.
- Viu?! Até sua filha concorda. – Ele revirou os olhos, tirando-a de meu colo.
- Não estou, meu amor. A que é chata. – Segui até a frente do espelho novamente, ajeitando as mangas do vestido de manga cumprida que eu usava e dei uma batidinha nos cabelos, jogando-os para trás. – Pronta? – Ele perguntou.
- Sim, vamos lá! – Peguei meu celular na mesa de cabeceira e saí do quarto junto de Alisson, descendo os degraus.
- Olha que lindos! – Minha irmã apareceu no andar com Analice e Elisângela com Duda, fazendo todos sorrirem.
- Vocês estão uns arrasos. – Dei um rápido beijo em minha irmã e puxei minha sobrinha do colo dela, sentindo-a estalar um beijo em minha bochecha.
- Todos lindos para ficarmos no sofá da sala! – Duda falou rindo e descendo os degraus na nossa frente.
- Errada ela não está. – Andressa falou e gargalhamos.
Chegamos no térreo e eu fui com Elisângela para a cozinha e Alisson, Andressa e as crianças seguiram para a sala de jantar. Minha mãe e dona Magali estavam finalizando algumas comidas, fazendo com que minha boca salivasse só com o cheiro.
- Hum, o que temos aqui? – Vi minha mãe tirar uma leitoa do forno e colocar na bancada, me fazendo rir. Incrível como as duas famílias combinavam no quesito comida.
- Ah, que delícia! – Elisângela falou e rimos juntas.
- Olha, eu sei que isso me faz um mal no dia seguinte, mas olha essa casquinha. – Suspirei, tentada a esticar a mão sobre a carne que borbulhava, mas puxei a mesma de volta.
- Bom, vamos, então? – Dona Magali me esticou um refratário com a farofa que eu fiz mais cedo, além de uma molheira com molho de mostarda e eu e ela, Elisângela e minha mãe pegaram outras coisas e seguimos em fila para a sala de jantar do outro lado do corredor.
Chegando lá, colocamos a leitoa na outra ponta da mesa, lado contrário do frango assado inteiro, além de colocar a farofa, arroz, molho, salada e o rondelli com molho vermelho. Olhei em volta e aquilo era realmente um Natal dos sonhos. A mesa grande com capacidade para todos nós, diferente do que fazemos em casa, aonde cada um come no colo, pois não cabe todo mundo à mesa. A decoração estava muito mais natalina do que em casa aonde só arrumamos a árvore e alguns apetrechos espalhados pela casa. Era diferente e incrível.
- Então, vamos nos juntar e rezar? – Seu José perguntou.
- Vocês têm alguma religião? – Dona Magali perguntou.
- Somos católicos, mas creio que todos cultuamos o mesmo Deus ou divindade. – Falei e Alisson sorriu, piscando para mim.
- Ótimo, vamos dar as mãos, então. – Seu José falou e todos nos colocamos em volta da mesa, na frente de onde sentariam. Fiquei entre Alisson e meu pai.
- Posso começar e depois vocês acrescentam? – Seu José perguntou.
- Por favor. – Falamos quase juntos.
- Deus, senhor de bondade, que o Senhor nos ilumine nessa noite santa e que mande todas as suas bênçãos à nossa família. – Sorri. – Que sejamos todos felizes com essa nova e grande família formada pelos nossos queridos filhos e que possamos estar sempre presentes em seu amor. – Assenti com a cabeça. – Vamos relembrar aos nossos queridos amigos e parentes que não estão presentes aqui devido à distância ou que foram morar junto a Ti. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior. – Que eles estejam nos olhando e guardado por nós. Amém!
- Amém. – Falamos juntos.
- Alguém gostaria de acrescentar algo antes das rezas? – Ele perguntou.
- Eu gostaria de agradecer. – Falei, virando para Alisson. – Esse ano me trouxe muitas coisas e pessoas boas, que o Senhor possa continuar nos iluminando com essas surpresas maravilhosas novamente. – Eles sorriram.
- Sim, tenho também muito pelo o que agradecer. – Alisson falou, dando um rápido beijo em minha cabeça e eu sorri.
- Que venha 2019. – Andressa brincou e rimos.
- Pai nosso que estais nos céus...
Após a reza, todos nos sentamos para apreciar o jantar. No Brasil, minha família estava acostumada a comer só após a meia-noite, mas aqui era pouco mais de dez horas e já estávamos comendo, bebendo, rindo e muito mais. Helena e Analice comeram um pouco, brincaram mais um pouco e já estavam dormindo no sofá, Helena sendo amparada por diversas almoçadas.
- Gente, meia-noite! – Alisson falou já animado por causa da bebida.
- Feliz Natal! – Falamos animados.
Alisson veio em minha direção e me abraçou fortemente, antes de dar um beijo em meus lábios, me fazendo sorrir largamente e sussurrar um “eu te amo” para ele. Segui para cumprimentar minha família animadamente e depois para os familiares de Alisson. Era Natal, eu estava em família e tudo estava perfeito.
As sobremesas foram servidas, a música ficou um pouco mais alta e ficamos curtindo quase até duas da manhã, quando todos começaram a dar sinais de cansaço, então todo mundo colaborou com a organização de comidas e louças para irmos dormir o mais rápido possível.
Participei da equipe lavadora de pratos e ajudei o serviço acabar mais rápido. Nesse momento o salto já havia sumido, meu cabelo já havia se tornado um grande coque e a meia calça grossa que eu usava já me fazia deslizar pelo chão enquanto ensaboava as coisas.
Quando eu terminei de secar as louças, só havia sobrado, eu, Elisângela e Muriel lá embaixo, o resto do pessoal já havia subido para se trocar e outros já até roncavam pela casa, como era o caso de meu pai e meu sogro. Desligamos tudo lá embaixo e subimos, cada um seguindo para o seu quarto. Encontrei Alisson observando Helena dormir.
- Ei! – Me aproximei dele, sussurrando.
- Ei. – Ele me puxou pela cintura, estalando um beijo em sua bochecha.
- O que você está fazendo? – Perguntei.
- Só aproveitando um pouco, é difícil não poder acompanhar todos os acontecimentos dela. – Ele suspirou. – Não a vi andar, falar, crescer na barriga... É algo que eu não me perdoo, então tento compensar com outras coisas.
- Isso é completamente normal, mas não acho que deva se sentir culpado. – O abracei de lado. – A vida acontece de formas misteriosas, mas é bom que você consiga aproveitar esses momentos.
- Espero que no futuro eu consiga mais. – Sorrimos e dei um beijo em sua bochecha.
- Vamos dormir? – Dei um beijo em seu ombro.
- Vamos! – Ele fechou a cortininha do berço dela, pegando o radinho da babá eletrônica e seguimos para o quarto do lado. – Eu estou moído.
- Todos estamos. – Ri fracamente, entrando no quarto dele. – Natal é uma época em que todos se divertem, trabalham e cansam para caramba. – Sentei na beirada da cama, puxando a meia calça para fora.
- Posso imaginar outros meios de cansar também. – Ele se aproximou de mim e eu ri fracamente.
- Não, não. Hoje não tenho capacidade para nada. – Apoiei uma mão em sua cintura e ele inclinou o corpo para frente, colando nossos lábios delicadamente.
- Nada mesmo? – Ele falava entre curtos beijos, me fazendo rir.
- Não. – Ele riu fracamente e se sentou ao meu lado.
- Mas eu tenho algo para você. – Ele me esticou um envelope e eu franzi a testa. - Feliz Natal! – Ele disse.
- Não íamos trocar presentes amanhã?
- Ah, esse é só o primeiro presente. – Ele falou e eu sorri, dando um rápido beijo em seus lábios.
- Obrigada, amor. – Sorri.
- Abre, abre! – Ele falou animado e eu ri, descolando a aba do envelope e o abri, tirando dois papéis de lá de dentro e li o mesmo, abrindo um largo sorriso com a passagem para Roma.
- Não acredito que você fez isso. – Ele riu fracamente.
- São poucos dias, vamos dia 30 e eu preciso estar de volta no dia dois novamente, mas podemos passar o ano novo juntos e sozinhos. – Ri fracamente.
- E nossas famílias? – Perguntei.
- Minha família está ok com isso, imagino que a sua não vá se importar.
- Só nós dois? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu e você em Roma. Sozinhos. – Suspirei.
- Me parece uma ideia deliciosa. – Ele sorriu e colou nossos lábios novamente, me fazendo virar o corpo na cama e me sentar em seu colo.
- Parece que alguém se empolgou. – Ele sussurrou contra meus lábios e eu ri fracamente.
- Talvez eu tenha um pouco de pique ainda. – Retribuí, subindo a mão para sua nuca e colando os lábios novamente.
- Ei, dorminhoca. – Gemi ao ouvir a voz. – Vamos acordar. – Abri um olho devagar, encarando o rosto de Alisson próximo ao meu, mas muito mais animado. Dei um longo bocejo antes de abrir o outro olho. – Feliz Natal!
- Que horas são? – Reclamei.
- Já passa do meio dia. Papai Noel já passou, a carne está assando e estamos te esperando para a pelada anual dos Becker!
- Pelada? – Abri os olhos assustada. – Como eu vou jogar futebol com isso? – Ergui o braço, batendo nele, ouvindo-o gemer. – Desculpe.
- No gol que não vai ser, mas podemos te colocar no ataque.
- Meu Deus! - Me sentei coçando os olhos. – Serei um desastre!
- Ah, qual é! Você é boa com o pé também. – Sorri, sentindo-o dar um curto beijo em meus lábios.
- Preciso ser boa com as mãos.
- Também! Se deu tudo certo ontem, vai dar certo! – Ele falou com aquela risada safada e eu sorri, jogando a coberta para o lado.
- Eu já volto! – Falei, seguindo para minha mala, pegando uma calça jeans, uma cacharréu e fui para o banheiro.
Fiz minhas necessidades matinais, escovei os dentes e coloquei a roupa. Fiz um rabo de cavalo alto e saí do banheiro, esbarrando em Alisson e dando um rápido beijo em seus lábios, sorrindo quando ele me apertou pela cintura.
- Eu vou descendo, a gente já se encontra. – Falei e ele assentiu com a cabeça, voltando a sair do quarto.
Peguei o tênis ao lado da cama e calcei, não tinha trazido chuteiras para a Inglaterra e na minha família, as peladas de Natal normalmente aconteciam descalça e rolava aquelas topadas legais no dedo em que saía até unha. Usar tênis por causa do frio já era um grande avanço.
Peguei meu celular rapidamente, lembrando que não havia tocado nele depois da meia-noite e encontrei mensagens do pessoal do trabalho, alguns amigos da minha cidade, alguns jogadores de forma aleatória e uma sozinha de Arthur.
“Ei, ! Feliz Natal! Tudo de bom na sua vida, que Deus derrame bênçãos para você, Alisson e toda sua família. Obrigada por ser uma grande amiga minha quando precisei. Você é demais”. – Sorri, suspirando e coloquei meus dedos para digitar.
“Ah, querido, feliz Natal para você e sua família também, como está com Aline? Se ajeitaram? Um grande beijo, que Jesus renasça na sua casa todos os dias”.
Saí da sua conversa, respondendo algumas de forma mais genérica, mandando até alguns áudios, por causa do gesso, para a família que ficou no Brasil e aproveitou as festas sem a gente pelo primeiro ano. Guardei o celular no bolso e desci as escadas, vendo tudo quieto no próximo andar e cheguei ao primeiro.
- Bom dia! – Vi dona Magali saindo da cozinha com uma vasilha de arroz e sorri, sentindo-a dar um rápido beijo em minha bochecha.
- Bom dia! Alguém dormiu demais, hein?!
- Desculpa. – Ela riu fracamente.
- A gente que costuma acordar cedo mesmo, Helena queria abrir os presentes e aí começamos a fazer barulho. – Ponderei com a cabeça.
- Menos mal! – Sorri.
- Só teu amigo que ainda está dormindo. – Magali falou e eu arregalei os olhos.
- Bernardo tá dormindo ainda? – Ri fracamente.
- Todo mundo já tentou acordar ele, mas morreu de vez.
- Ele estava cansado da viagem ainda, deixa ele dormir mais um pouco, logo eu vou lá. – Falei e a segui para fora da casa. – Feliz Natal! – Falei passando da porta e realmente encontrando o resto do pessoal.
- Feliz Natal! – Eles gritaram em coro.
- Finalmente, hein?! – Meu pai falou e eu sorri, abraçando todo mundo um por um.
- Se sirva, querida! – Seu José falou, estendendo um prato de picanha com bastante gordura.
- Acho melhor eu dar uma forrada antes. – Falei, vendo-o rir.
- Já tem arroz, farofa, vinagrete, fica à vontade. – Dona Magali falou quando eu dei um beijo em minha mãe.
- Titia! Titia! – Analice veio correndo em minha direção e me abaixei para ficar da altura dela. – Olha o que eu ganhei! – Ela me estendeu sua Barbie nova de cabelos coloridos.
- Uai, Lice! – Fingi surpresa. – Ela é linda! É do Papai Noel? – Ergui o olhar para Andressa que sorri.
- É sim! – Ela sorriu.
- Sabia que eu também tenho um presente para você? Mas o Papai Noel entregou lá no Brasil! – Ela fez um bico. – Vai estar em casa quando voltar. – Ela sorriu.
- ! – Helena veio logo atrás com um carrinho de bebê e uma boneca quase maior do que ela na mesma. – Olha!
- É seu presente do Papai Noel? – Fingi surpresa mais uma vez. – É linda!
- ‘Bigada. – Ela falou toda fofa e eu sorri.
- Vão brincar, vai! – Me levantei, esbarrando em Alisson sem querer e ele me abraçou pela cintura, encostando o queixo em meu ombro.
- Vem comer, o jogo começa em breve.
- Vocês estão muito empolgados para isso. – Falei.
- Temos mais um goleiro na parada, cunha! – Muriel falou. – Vai ser sensacional.
- Ah tá que eu vou ser goleira com isso no braço! – Bati no gesso, ouvindo o barulho oco.
- Atacante? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Não vai dar certo! – Falei, vendo-o rir e segui até a mesa, pegando um prato e começando a me servir.
- A gente dá um jeito, mas precisamos fazer isso acontecer! – Muriel falou empolgado.
- Me dê umas duas horas! – Comentei, pegando a farofa e ele mostrou os polegares para mim.
- Ok, como a gente vai fazer, então?! – Dona Magali perguntou, se aproximando.
- Nosso time está meio pequeno, falta o Fernando, o Marcus... – Ele começou a falar dos tios e primos que haviam ficado no Brasil
- Acho que tem que ser os Beckers contra os Coelhos. – Muriel falou.
- Com uma única condição. – Andressa falou. – Nem você e nem o Alisson podem ser goleiros. – Ela falou tirando seu casaco e deixando na cadeira. – A seria a única capaz de competir mais próximo a vocês e tá impossibilitada. – Abri um sorriso, rindo fracamente.
- Tudo bem, concordo! – Alisson falou e ele e Muriel se entreolharam.
- Que tal eu e José cuidamos do gol? – Meu pai falou e eu assenti com a cabeça.
- Nem vem! – Minha mãe se pronunciou. – Não vamos jogar com os seis mais novos, a gente vai sair morta daqui. – Ela falou e Magali assentiu com a cabeça.
- Por que nós não vamos para o gol e vocês oito jogam na linha? – Magali falou.
- Ok, então. – Muriel falou. – Eu, Alisson, Elis e pai contra , Andressa, Beto e Bernardo?
- Acho que tá equilibrado. – Elis ponderou com a cabeça.
- Essa eu quero ver! – Ri fracamente. – Vocês estão ferrados, Andressa aqui é feroz!
- Vamos lá! – Alisson falou e seguimos para o largo quintal de Alisson, aonde tinha um pequeno campo já improvisado por ele. Deveria dar um sexto de um campo normal, mas serviria.
- Ninguém toca no meu braço, por favor! – Gritei, chamando atenção deles.
- Faremos o melhor. – Alisson respondeu e eu sorri, piscando para ele.
- Vale jogar sujo? – Muriel perguntou.
- Não matando ninguém, acho que é permitido! – Minha mãe gritou e a gente riu.
- Eu e a Duda ficaremos de juiz! – Franthiesco falou e assentimos com a cabeça.
- Ok, ímpar ou par. – Maria Eduarda gritou.
- Ímpar! – Meu pai gritou.
- Par! – Seu José falou também e os dois esticaram os dedos, dando cinco ao todo.
- Campo! – Meu pai gritou rapidamente.
- Ok, dois tempos de 10 minutos, fechado? – Muriel perguntou.
- Mais que isso eu não aguento! – José falou em seguida e nós gargalhamos.
- Ok! Vamos lá! – Sorri, acenando para Alisson quando ele foi para outro lado.
Apesar de termos dois jogadores profissionais em campo, os times estavam parcialmente equilibrados. Todos usavam tênis de ginástica, ao invés de chuteiras, todos estavam de moletom ou calça jeans e blusas de manga comprida ou moletom. Meu pai e seu José podiam ser considerados os mais fracos por estarem fora de forma, mas eram também os que mais jogavam por diversão. Alisson e Muriel, não preciso nem falar, mas aposto que eles pegariam um pouco mais leve do que normalmente, afinal, como goleiros, eles não estavam acostumados a correr, bom, o campo era pequeno para correr tanto, mas faz parte.
Bernardo não era exatamente uma boa adição ao time, ele era do tipo que fugia da bola, mas fazia uma boa barreira caso precisasse. Seu jeito desajeitado no futebol fazia que ele desse de encontro com o outro time e ele achava que era futebol americano, mas valia de distração. Elis eu já não sabia como era. Ela tinha um jeito mais patricinha e fofinho, mas estava com Muriel há uns 12 anos, com certeza ela sabia jogar. Agora eu e Andressa... Bom, a gente sabia jogar pesado quando fosse preciso, não que bateríamos dois jogadores profissionais, mas quem sabe?
O jogo começou muito desajeitado, parecia que ninguém estava realmente pronto para jogar futebol, e o vento que batia ali naquele quintal gigantesco de Alisson, fazia com que a gente tremesse de frio.
Eu fiquei na defesa, em uma tentativa de fazer com que eu não saísse com o gesso quebrado, ou pior, que eu machucasse mais ainda o braço. Bernardo, meu pai e Andressa ficaram no ataque, então estava muito interesse. Bernardo no ataque era igual uma flor no meio de cactos. Do outro lado estava José na defesa e Elis, Alisson e Muriel no ataque.
A primeira chance de gol foi nossa. Minha irmã conseguiu fazer um passe quase perfeito para meu pai, mas ele cabeceou para fora. Em um escanteio meio falso, pois se alguém tentasse um escanteio dali, a bola já iria para fora pelo outro lado, Andressa tentou de novo, mas seu José era bom na defesa.
A bola voltou para o nosso campo e Alisson e Muriel jogavam muito em sincronia, era como ver... Bom, a Seleção Brasileira em campo. Muriel tentou um chute em direção ao gol, mas eu defendi com minhas costas, vendo ele, Alisson e eu abrirmos um grande “o” com a boca.
- Desculpe! – Ele gritou, nos fazendo gargalhar e minha mãe jogou a bola para frente, fazendo-a cair nos pés de Bernardo. A primeira reação dele foi gritar, a segunda foi jogar para fora.
- BERNARDO! – Meu pai gritou com ele, fazendo ele dar de ombros.
Com a saída na lateral, seu José fez a saída de bola, jogando para Alisson do outro lado e ele seguiu do meu lado do campo, eu entrei na frente dele, dançando com ele enquanto ele tentava me driblar e só dei uma piscada para ele, vendo-o sorrir. Quando percebi que ele parou de dançar, eu peguei a bola, girei o corpo e chutei para minha irmã.
- Ei! – Ele reclamou e eu sorri, estalando um beijo em sua bochecha e seguindo para minha posição. – Maldade!
Minha irmã seguiu em direção ao campo, cruzou a bola para meu pai que, ao invés de cabecear, devolveu para ela, enganando um seu José perdido, e a mesma deu um chute rasteiro por baixo da perna de Magali.
- Gol! – Gritei animada, dando dois pulos no ar e pisquei para Alisson, abraçando rapidamente minha mãe no gol.
- Vamos, vamos! – Alisson gritou, nos fazendo rir e a bola seguiu para o meio novamente.
Claro que abrindo o placar, o time Becker cairia matando mais forte em cima da gente. Foi aí que o jogo começou a ficar pesado. Carrinho, escorregões, tropeções, trombadas, tudo aconteceu naquele jogo. E até eu estava nessa. Acho que eu levei uns três carrinhos só do meu namorado e em dois deles foi eu, ele e minha mãe para dentro do gol. Legal? Em outras circunstâncias.
- Você para! – Falei, batendo com o braço livre em Alisson.
- Desculpe! – Ele falou gargalhando, ajudando minha mãe a se levantar. - A senhora tá bem?
- Senhora tá no céu, vamos jogar! – Ela falou já irritada.
O jogo estava três a um para eles, e faltava cerca de quatro minutos para o final, não que a gente aguentasse tudo aquilo. Muriel e Alisson, principalmente Alisson, estavam muito bem, já o resto estava com a respiração totalmente descompassada e suando até naquele lugar fundo e escuro do corpo humano, apesar do frio.
- Andressa. – A chamei, colando a boca no ouvido dela. – Usa o Bernardo.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Vai que... – Ela sorriu.
- Pai, troca com a . – Andressa gritou.
- Mas não vai quebrar seu precioso gesso? – Alisson foi irônico.
- Mais? – Mostrei o canto entre o polegar e o indicado já mole pelo impacto.
- A gente vai no hospital ver se eles ajeitam isso. – Ele falou.
- Ah, agora eu troco de volta no Brasil. – Falei, abanando com a mão e eu e meu pai trocamos de posição.
- Começando! – Maria Eduarda apitou e seguimos agora comigo e Andressa no ataque e Bernardo no centro.
Jogando comigo no ataque, meu pai na defesa e Bernardo bem posicionado no centro, a gente tinha alguns truques na manga. Dava certo no jogo em casa, talvez desse certo com jogadores profissionais também.
Quando eles tentassem fazer o gol, meu pai faria a defesa, mas ao invés de mandar para Bernardo, ele mandaria para mim ou para minha irmã, então, a gente devolveria para Bernardo que acabaria fazendo o gol na sorte, pois ele estava sozinho no centro do campo, já que Muriel, Alisson e seu José focariam em uma de nós duas.
As duas primeiras vezes não deram certo. Muriel me impediu de fazer o chute e depois impediu minha irmã, mas a sorte é que não tinha sequer saído de nossos pés, então a bola podia ir para qualquer lugar. Quando Franthiesco gritou que faltava um minuto de jogo, sabia que era questão de honra fazer isso.
Respirei fundo quando minha mãe conseguiu defender um possível gol de seu José, meu pai andou um pouco com a bola nos pés, encarando a mim e Andressa. Quando ele percebeu que eu estava sozinha, ele fez um chute forte demais e eu não consegui nem pensar, parei a bola e devolvi quase na mesma força para Bernardo.
Ele me olhou um tanto assustado, mas entendeu minha tática. Só tinha Magali no gol, e seu José que havia percebido o erro ao sair de sua posição. Bernardo ajeitou sua perna esquerda e fez um chute só. Magali fez uma defesa com o pé, trazendo-a para o meu pé. Eu dei uma subida com a bola e joguei a mesma para cima, direto para o gol!
- Gol! – Andressa veio correndo me abraçar e eu gargalhei, vendo-a negar com a cabeça.
- Ah! – Bernardo falou animado, também nos abraçando.
- Fim de jogo! – Franthiesco gritou. Sorri, pois pelo menos havíamos chegado em três a dois.
- Como vocês fizeram isso? – Alisson perguntou, vindo me abraçar de lado.
- Nossa arma secreta! – Sorri, batendo a mão nos ombros de Bernardo.
- Eu já ia entrar em desespero quando vi você me olhando. – Gargalhei.
- Ainda bem que entendeu. – Ele me abraçou.
- Vitória da família Becker. – Alisson falou animado.
- Não esperava diferente. – Comentei. – Imagina só? Dois jogadores profissionais perderem para gente? – Gargalhei sarcasticamente.
- É, ia ficar feio. – Seu José falou, gargalhando também.
- Foi muito bom, gente, mas eu estou morta! – Dona Magali falou e minha mãe assentiu com a cabeça.
- Nem fala! – Elas reclamaram. – Acho que eu vou deitar um pouco.
- Eu vou também. – Meu pai falou também, fazendo com que os quatro mais adultos entrassem.
- E agora? Uno? – Andressa perguntou.
- Sim! – Franthiesco falou animado. – Assim a gente pode brincar.
- O que acham? – Muriel perguntou.
- Eu topo! – Falei, observando Helena dormindo no carrinho.
- Eu só vou trocar Helena e já vou. – Ele falou.
- Beleza, vamos lá para o segundo andar. – Elisângela falou e as crianças saíram correndo, menos Helena.
- Acho que eu durmo antes do primeiro falar “uno”. – Cochichei para Andressa que gargalhou.
- Nem fala! – Sorrimos cúmplices.
- Eu ouvi, ok?! – Alisson falou e eu sorri, dando um rápido selinho em seus braços.
- Xí! – Rimos juntos.
Depois do Natal, entramos naquela linda época que você não faz a mínima ideia que dia é, horário e que compromisso você tem. Por estar em solo estrangeiro, não tinha todos aqueles compromissos e confraternizações de fim de ano, mas o pessoal do Brasil vivia mandando mensagem, principalmente o pessoal do trabalho.
Logo no dia 26, Alisson voltou aos trabalhos no Liverpool. Os campeonatos europeus eram estranhos nesse aspecto, eles tinham esses jogos de fim de ano em datas bem inconvenientes, por assim dizer, então dia 26 foi a família inteira para Anfield ver o time de Alisson ganhar de quatro a zero contra o Newcastle. Ele mesmo mal trabalhou, mas gritamos quase o jogo inteiro, pois os gols conseguiram ser bem espaçados.
Eu aproveitei os dias que Alisson estava fora para levar meus pais, Andressa, Analice e Bernardo para dar uma volta por Londres durante dois dias. Andressa era a única que conhecia, então foquei em alguns pontos turísticos importantes, ficamos em um hotel bacana e voltamos para Anfield no dia 29 para ver o Arsenal tomar um pau de cinco a um do time do meu namorado.
Ok que Alisson levou um, mas bom, não dá para ser perfeito, não é mesmo? Mas, em sua defesa, o gol estava totalmente impedido, só os idiotas do bandeirinha e do juiz que não viram, mas faz parte.
O que me deixou animada com esse jogo foi que eu comecei a ser vista como namorada do Alisson oficialmente, teve até alguns fãs que pediram foto comigo, o que foi uma grande surpresa, honestamente. Mas o que foi mais engraçado foi voltar para casa e ver muitas marcações minhas de imagens nos jogos e vamos dizer que eu era uma péssima competidora, bom, talvez não tão péssima, só exaltada demais.
Nos dias de folga a gente fazia a mesma coisa que sempre, comida, jogava peladas, brincava com as crianças, aproveitava para namorar quando ficávamos sozinhos, mas principalmente curtíamos o momento em família. Alisson não conhecia meus pais ainda, então foi bom conseguir juntar todos. Depois de alguns dias, até meu pai aliviou a pressão em cima de Alisson.
Tudo estava muito bom, mas dia 30 chegou e nossos pais voltariam para seus destinos e eu e Alisson teríamos nossa viagem para Roma.
Não que isso fosse ruim, mas era triste me despedir da minha mãe sem saber quando eu a encontraria novamente, mas claro que tínhamos aquele papo convencional de “vamos combinar”, “vem me visitar”, “eu vou para o Rio” e todas as variáveis que sabíamos que isso não sairia da boca para fora até o próximo feriado ou férias de alguma das partes.
Me despedi da família de Alisson por pouco tempo, voltaríamos no dia dois e eles ainda estariam aqui. Seria só nós dois mesmo. Magali e Elis ficariam de olho em Helena e na casa e curtiríamos o ano novo como dois namorados.
Então, no dia 30, pouco depois do almoço, seguimos eu, Alisson e minha família para o aeroporto de Heathrow. Meu voo e de Alisson era quase cinco da tarde e de meus pais eram oito e meia da noite. Dei um longo abraço em todos eles, principalmente em Lice, que não queria se separar de mim, e Alisson também teve uma despedida calorosa, especialmente de meu pai que já tinha aceitado ele na família.
Chegamos em Roma quase nove horas da noite, levando em conta o fuso-horário. Alugamos um carro e seguimos em direção ao hotel que Alisson havia reservado. Ele havia planejado essa viagem inteira, eu só soube o horário do voo e a empresa aérea porque ele me deu as passagens no Natal, de resto? Não sabia de nada.
Durante a viagem até o hotel, ele me parecia realmente muito empolgado. Eu estava empolgada por fazer essa viagem só nós dois, era algo que estávamos precisando faz tempo, quase como uma lua de mel. Aqueles dias em Liverpool nem contaram, estávamos trabalhando, agora poderíamos desligar os celulares e realmente aproveitar a vida de casal.
Abri um largo sorriso quando chegamos ao Coliseu e as luzes da cidade faziam com que ele ficasse muito mais bonito. Achei que Alisson só estava passando pela cidade, mas ele parou cerca de 300 metros para frente em uma linda construção de quatro ou cinco andares com um estilo bem clássico de uma era que combinava com Roma.
- O que é aqui? – Perguntei quando ele puxou o freio de mão e um valet abriu a porta para ele.
- Bem-vindo ao Palazzo Manfredi. – Ele falou e outro valet abriu minha porta e eu estava muito embasbacada com tudo para falar alguma coisa. O Coliseu era do outro lado da rua!
- Benvenuto, signorina. – O valet falou enquanto eu colocava a bolsa no ombro.
- Grazie. – Falei sorrindo.
- Vem! – Alisson falou, segurando minha mão e segui com ele para dentro.
Lá dentro a definição de “palácio” era completamente atualizada. Aquele local tinha um lugar que combinava a beleza do moderno com o clássico de forma que só o dinheiro poderia fazer. Aquele lugar era perfeito.
Enquanto Alisson cuidava da reserva, os carregadores tiraram nossas malas do carro e colocaram em um daqueles carrinhos e trouxeram para perto da gente. Não deu nem 20 minutos para que as chaves fossem entregues e nós dois subíssemos com um carregador junto.
Aquele lugar era incrivelmente quieto, apesar de estarmos literalmente no centro de Roma, do lado do ponto turístico mais famoso. Subimos os andares em silêncio, com os dedos entrelaçados e deixamos que o carregador entrasse antes na Grand View Suite. Assim que eu passei pela porta, eu travei. Aquele lugar era incrivelmente bonito.
A alguns passos da porta, tinha uma mesa redonda com quatro poltronas. À frente, degraus abaixo, sem separações de parede, tinha um sofá, duas poltronas, uma mesa de centro, um pufe e uma televisão presa na parede com um papel de parede de janelas. Virei para o lado esquerdo e arregalei os olhos ao ver o Coliseu do outro lado da sacada.
Larguei minha bolsa na poltrona mais próxima e abri a porta, sentindo o vento gelado de Roma congelar meu rosto e bagunçar meus cabelos e apoiei os braços na marquise, me fazendo suspirar. Senti Alisson me abraçar pela cintura e eu sorri, virando o rosto, tocando nossos lábios rapidamente.
- Aqui é incrível! – Falei e ele sorriu, apoiando o queixo em meu ombro.
- Achei que a gente pudesse aproveitar um pouco de uma forma mais confortável. – Sorri.
- Você quer dizer sem pais, certo? Porque sua casa é muito confortável. – Ele riu fracamente.
- É, talvez. – Ele se afastou e eu virei o corpo, vendo-o dar uma gorjeta para o carregador antes de ele nos deixar a sós.
- Que mais temos aqui? – Fechei a porta da sacada, deixando o vento para fora e o clima dentro do quarto era bem quente até, então tirei o casaco.
- O banheiro é logo atrás da sala. – Uma parede de vidro dividia o banheiro e podia ver uma banheira redonda lá de dentro e eu dei a volta para entrar no largo cômodo, que não aparecia pela parede de vidro, encontrando chuveiro, duas pias para o casal e o sanitário em uma porta separada.
- Caramba! – Falei animada, rindo em seguida. – Tem dois chuveiros, gente!
- Nada mal, né?!
- Nada mal mesmo! – Ri fracamente, passando a mão pela sua cintura e puxando-o para fora. – Aonde é o quarto?
- Lá em cima! – Ele falou e eu totalmente ignorei que havia uma escada logo que entramos no quarto.
Dei alguns passos rápidos até a escada, subindo até o segundo andar, aonde só tinha uma larga cama de casal redonda na parede oposta ao vidro. Observei o edredom macio e os diversos travesseiros na cama e só tive vontade de me jogar nela, mas não antes de um banho delicioso.
- O que está esperando? – Alisson perguntou.
- Eu preciso de um banho antes de pular nessa cama limpinha. – Comentei e ele riu fracamente.
- Você está cansada, aposto que depois do banho vai morrer na cama.
- Você vai estar ao meu lado quando eu acordar? – Virei o rosto para ele.
- Sempre. – Ele sorriu e eu virei meu corpo para ele, passei as mãos pela sua nuca e colei nossos lábios.
Suspirei e percebi que meus sonhos tinham acabado e eu estava acordada. Abri os olhos devagar, sentindo uma luz entrar pela janela e cocei os olhos, respirando fundo. Os abri novamente e percebi que estava no quarto de hotel. Ergui corpo rapidamente, olhando para o Coliseu à minha direita e sorri, não era um sonho.
- Ei, vamos devagar! – Alisson comentou, sentando também na cama e eu sorri, suspirando.
- Bom dia! – Falei sorrindo. – Achei que era só um sonho.
- Não, estamos aqui! – Ele falou e eu suspirei, sentindo-o dar um beijo em meus lábios.
- Você é incrível, eu já te disse isso?
- Ontem à noite, quando você estava falando dormindo.
- Até parece! Eu não falo dormindo – Sorri, jogando a coberta para o lado e ele riu.
- Dormiu bem? – Ele perguntou e eu me levantei, esticando os braços para cima para me espreguiçar e depois abaixei a camiseta do meu pijama quente.
- Bem até demais. – Suspirei. – E então, quais os planos de hoje?
- Você decide. – Ele se levantou também.
- Eu? Você que morou aqui.
- Mas o que você gostava de fazer quando veio visitar?
- Comer! – Falei honestamente e ele gargalhou.
- Além disso...
- Ah, eu vim rapidamente, visitei mais os pontos turísticos mesmo e comi em qualquer oportunidade que surgia. – Ele sorriu, passando os braços pela minha cintura.
- Bom, vamos tomar café, depois descobrimos a programação de ano novo, aí decidimos. – Assenti com a cabeça.
- Ok, mas se quiser ficar trancado aqui no quarto, vendo um filminho, eu também não ligo. – Falei, negando com a cabeça.
- Bem sei! – Ele disse sorrindo.
Dividimos nosso caminho até o banheiro e logo estávamos subindo para o restaurante do hotel para tomar café da manhã com uma vista espetacular do Coliseu. Tomamos um café originalmente italiano com uma gigantesca variedade de pães e tirei bastantes fotos com um dos cenários mais lindos que eu já havia ficado. Claro que a companhia sorrindo e me mandando mudar de pose ajudava muito.
Voltamos para o quarto para descobrir as programações da prefeitura para o ano novo e muitas coisas precisavam de ingressos antecipados, como assistir à missa na Praça de São Pedro – Alisson não é católico, mas ele não se importaria em me acompanhar -, visitar pontos turísticos que ficariam abertos, mas não tínhamos nos preparado para isso. O próprio hotel faria uma ceia e achamos que podia ser uma boa opção.
Após o café da manhã, Alisson me levou para dar uma volta de carro. O tempo em Roma estava bem gelado, mas sem sinal de neve para me dar algumas fotos sensacionais, mas ainda assim, eu estava totalmente encapuzada com luvas, capuz e tudo o que eu tinha direito. O vento cortava e eu parecia um picolé.
Alisson me levou rapidamente pelos pontos importantes de sua vida aqui em Roma, inclusive o Estádio Olímpico, casa da Roma, mas tudo estava muito cheio por causa do ano novo, então optamos por ficar próximo ao Coliseu. Paramos para almoçar por volta das três da tarde, quando o estômago reclamou, depois do café da manhã gigantesco, não era de esperar que demoraríamos para ter fome.
Almoçamos em uma trattoria perto do hotel, dividimos uma pizza napolitana, e optamos por voltar para o hotel e descansar para poder aguentar até a queima de fogos mais tarde. Eu não sabia se minha adrenalina finalmente tinha baixado, mas eu bocejava a cada cinco minutos e Alisson havia percebido isso.
- Cara, eu podia ficar aqui para sempre. – Falei quando ele abriu a porta do quarto.
- Escolhi a dedo. – Ele sorriu e me abraçou pela cintura.
- Bom, estou muito tentada a experimentar aquela banheira. – Virei de costas para ele, seguindo de costas para o banheiro, puxando-o pelo cachecol. – E gostaria muito da sua companhia.
- Como você vai fazer com isso? – Ele bateu no gesso e eu ri.
- Dá para ficar do lado de fora. – Pisquei e virei de frente de novo. Puxei as cortinas da porta que dava lá para fora e vi que Alisson já havia tirado seu cachecol e casaco.
- Mas é muito apressado! - Falei rindo e puxei também meu cachecol para fora e tirei uma das luvas, já que a outra estava meio impossibilitada de colocar.
- Não podemos perder muito tempo, né?! – Ele falou e eu sorri, abrindo meu casaco e tirando-o devagar na parte do gesso.
- Por que você diz isso? – O senti apertar minha cintura e distribuir beijos pelo meu rosto.
- Porque logo você vai embora. – Sorri, sentindo-o descer os beijos pelo meu pescoço.
- Eu vou só dia cinco, teremos alguns dias aqui e em Liverpool. – Sussurrei, vendo-o se afastar e segurar minha blusa pela barra e puxá-la devagar para cima, tomando cuidado com o gesso.
- É, com meus pais, meu irmão, minha cunhada, minha filha e meus sobrinhos. – Fiz uma careta, jogando a blusa para o lado.
- É quase o Big Brother. – Ele assentiu com a cabeça, fazendo careta.
- Por isso quero aproveitar ao máximo aqui contigo. – Ele falou, puxando sua blusa para cima e eu ri fracamente.
- Bom, temos só dois dias. – Pisquei e me sentei rapidamente, soltando os cadarços da bota devagar e ele já tirou os seus na força, pisando no calcanhar.
- Vai preparar a banheira. – Falei, puxando as botas e tirando as meias em seguida e me levantei novamente.
Tirei a calça jeans, ficando só de calcinha e sutiã, sentindo o quarto ainda gelado, já que o aquecedor havia acabado de ser ligado e segui Alisson até o banheiro, encontrando-o ainda de calça jeans, ligando as torneiras da banheira.
O abracei pela cintura, fazendo-o esticar o corpo e passei a ponta dos dedos pela sua barriga, distribuindo beijos pelas suas costas. Ele virou o corpo de frente para mim e apoiei as mãos em sua nuca, colando nossos lábios com urgência, descendo rapidamente minhas mãos pela sua calça, abrindo o botão, fazendo as calças largas deslizarem pelas suas pernas.
Ele se sentou na beirada da banheira e eu me coloquei no meio de suas pernas, passando as mãos em seus cabelos, aguardando que a banheira enchesse. Alisson fechou as torneiras e colocou os sais de banho que estavam ali, fazendo as bolhas começarem a surgir. Coloquei as mãos nas costas, soltando meu sutiã rapidamente e deslizei minha calcinha para baixo, enquanto ele fazia o mesmo com sua cueca.
Ele subiu na parte mais alta da banheira e me deu a mão para eu fazer o mesmo. Entrei na banheira, sentindo a água quente e ele fez o mesmo. Ele se sentou no fundo da banheira e eu sentei em sua frente, ficando entre seus braços e mantive meu braço do lado de fora, apoiado em uma toalha.
- O dia perfeito? – Ele cochichou em minha orelha e eu suspirei.
- Melhor impossível.
Ficamos na água sentindo a presença um do outro por umas duas horas. Só eu, ele e o silêncio, sem compromissos, sem familiares, quase como um sonho. Quando a água começou a gelar, seguimos para o chuveiro e acabamos namorando um pouco embaixo da água quente, meu gesso já estava zoado, agora mais ainda. Quando finalmente tomamos banho e saímos da água, subimos para o quarto e tiramos uma boa soneca.
Bom, eu mais do que ele.
Quando eu acordei, era quase nove horas e era o horário que estava planejado a ceia do hotel, então corri para fazer uma bela maquiagem e colocar um macacão de mangas compridas e salto alto, para esperar a chegada de 2019, descendo correndo e encontrando Alisson e um funcionário do hotel preparando a ceia dentro do nosso quarto mesmo, na mesa redonda próxima a entrada. Olhei confusa para Alisson, que já estava também todo arrumado com um sobretudo, e ele deu um sorriso.
- Achei que gostaria de não precisar socializar. – Sorri, assentindo com a cabeça e dando um curto beijo em seus lábios.
- Eu adoro quando não preciso socializar. – Falei rindo.
- Logo terminamos. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, dando um sorriso para o funcionário do hotel também e segui para a sacada, abrindo uma fresta da porta e passando por ela.
As ruas ao redor do coliseu já estavam tomadas pelas pessoas. Uma música alta, que não ensurdecia a gente lá dentro, tocava, provavelmente uma banda em algum dos palcos que eu vi espalhados mais cedo, mas que ali não era possível ver. O coliseu estava ainda mais bonito, com luzes coloridas rebatendo nele. Estava tudo maravilhoso.
Voltei para dentro, procurando meu celular dentro da bolsa, não me lembrando dele em nenhum momento antes e tinha muitas mensagens ali, muitas que eu não estava muito no pique para responder. Eu estava praticamente em lua de mel, não tinha pensado em muita coisa além de ficar quase sempre nua com meu namorado.
Enviei mensagens automáticas de Feliz Ano Novo para todos os amigos mais próximos, respondi minha mãe desesperada e logo guardei o celular, provavelmente voltaria a me preocupar com ele só quando voltasse para Liverpool, ou para o Brasil. Vi Alisson entregar uma nota para o funcionário e ele saiu desejando cumprimentos de bom ano novo para gente.
- O jantar está servido. – Alisson falou todo formal e eu sorri, seguindo em sua direção e dei um curto beijo em sua bochecha, vendo-o puxar a cadeira para mim.
- O que preparou para nós, senhor Alisson? – Perguntei, vendo nosso prato com uma cobertura para cima e o mesmo tirou a do meu prato antes de se sentar.
- O melhor da comida italiana. – Ele disse. – Tortellini in brodo, bacalhau com tomates cereja, azeitona e alho, era para ter alcaparras, mas sei que não gosta...
- Muito bem. – Sorri.
- E um belo tiramisù de sobremesa.
- Me conhece bem demais, né?! – Falei, vendo a sopa de tortellini como primeiro prato e peguei a colher, começando a comer devagar.
Ficamos aproveitando a companhia um do outro durante a refeição, falando coisas sobre nossa vida, curiosidades, conhecendo um pouco mais do gosto de cada um e nos deliciando com aquela refeição sensacional. Quando finalizamos a sobremesa, nos sentamos abraçados no sofá e ficamos observando a movimentação lá fora, esperando dar meia-noite.
- São 23:58, vem. – Ele falou, estendendo as mãos e me levando lá para fora, aonde um alto som de microfone gritava animado com a chegada iminente do ano novo.
Ele me abraçou pela cintura e eu apoiei minhas mãos em cima de seus braços, sentindo-o afundar o rosto em meu pescoço, dando curtos beijos por cima do tecido da minha roupa. Observando o pessoal todo animado com a virada do ano.
Tirei aqueles minutos para agradecer por tudo o que tinha acontecido comigo em 2018. Acho que tinha sido o melhor ano de toda minha existência. Eu havia conseguido o melhor trabalho do mundo, um namorado incrível, bem-sucedido que me ama com todas as forças, havia conhecido boa parte do mundo, criado uma nova família para chamar de minha tanto no pessoal quanto no profissional, comprado um apartamento novo e muito mais. Se 2019 for um por cento do que 2018 foi, eu já estava feliz.
- Dieci, nove, otto, sette, sei... – Começou a contagem regressiva e senti meu coração palpitar com a queima de fogos.
- Cinque, quatro, tre... – Alisson começou a contar no meu ouvido em italiano.
- Due, uno. – Acompanhei com ele. – Felice capodanno! – Falamos juntos, ouvindo os primeiros fogos estourarem sobre nossa cabeça.
Virei de frente para ele, passando os braços pelo seu pescoço e colei nossos lábios apaixonadamente, abrindo um largo sorriso em seguida.
- Que esse ano seja especial para nós. – Ele sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Vai ser, com toda certeza. – Acariciei seu rosto e ergui o rosto para os fogos, com um largo sorriso no rosto.
- Sorria! – Ele disse e eu virei para ele que tinha o celular esticado e ouvi o barulho das fotos repetitivamente.
O abracei quando ele guardou o celular no casaco novamente e abracei-o pela cintura, apoiando a cabeça em seu ombro, observando os fogos subirem de diversas formas por detrás do Coliseu. Fechei os olhos por alguns segundos, fazendo uma reza silenciosa e ergui o rosto, vendo Alisson com o rosto também erguido, prestando atenção na queima.
- Eu te amo, senhor Becker. – Falei alto por causa do som e ele virou o rosto para mim.
- Eu também, senhorita . – Ele levou as mãos até meu rosto e colou nossos lábios.
O beijo se tornou mais intenso do que o anterior e suas mãos começaram a passear pelo meu corpo, me fazendo abrir um sorriso e sacar o que ele queria. O puxei pela gola do casaco, entrando de volta no quarto, sem antes esbarrar na lateral da porta e ergui as mãos para sua nuca, encostando meu corpo na porta de vidro, vendo-o puxar com uma das mãos a mesma.
Passei as mãos pelo seu peitoral, abrindo o casaco e passei as mãos pelos seus ombros, fazendo-o cair aos nossos pés. Ele desceu os beijos para a dobra do meu pescoço e senti suas mãos descerem pelas minhas coxas, agarrando-as e me erguendo para seu colo, fazendo meus sapatos ficarem no chão.
Aproximei meu corpo mais do seu, distribuindo beijos em seu rosto e senti o mesmo se movimentar em direção as escadas. Subimos cambaleando, trocando gargalhadas altas pelo quarto quando tropeçamos juntos no quinto ou sexto degrau, me fazendo cair de bunda nas escadas e ele em cima de mim, trocando um beijo desajeitado na escada, antes de levantarmos e subirmos correndo escada acima.
Ele puxou sua blusa de manga comprida para cima quando chegamos no quarto e eu desabotoei o botão no meu pescoço, virando de costas para ele puxar o zíper do meu macacão. Quando ele o fez, começou a me despir enquanto distribuía beijos pelos meus ombros e costas e colocava o cabelo para o lado.
Chutei o macacão enquanto senti suas mãos no fecho do meu sutiã e o joguei para o lado quando caiu em meu colo, ouvindo-o bater contra a parede de vidro e nós dois nos encaramos com o barulho oco, abrindo largos sorrisos em seguida. Virei de frente novamente, espalmando seu peitoral e descendo as mãos até sua bunda. Nossos olhos se juntaram novamente e eu fiquei levemente na ponta dos pés para alcançar seus lábios, em um beijo mais calmo.
Desci meu corpo até sentar sobre a cama e foi sua vez de ficar entre minhas pernas e eu abri o botão da sua calça, já percebendo sua excitação e tirei as duas peças faltantes de uma vez só. Ele se arrepiou com meu toque em suas coxas e abri um sorriso, vendo-o negar com a cabeça.
Ele se ajoelhou aos meus pés e eu ergui o corpo para o mesmo tirar minha calcinha e distribuir alguns beijos na parte interna da minha coxa, me fazendo morder o lábio inferior com força e deslizar até meu pé.
Levei meu corpo para trás, tomando cuidado para não apoiar o braço enfaixado, vendo-o rir com o feito desajeitado e deitei minha cabeça entre os dois travesseiros e o chamei com o indicador. Ele se colocou em cima de mim, distribuindo beijos por toda extensão do meu corpo, me fazendo contrair e barriga quando ele chegou na mesma e soltei um curto gemido quando ele deixou algumas marcas em meu seio.
Quando seu rosto se alinhou com o meu novamente, eu passei a mão em seu rosto barbudo, vendo-o sorrir e ergui levemente o rosto para tocar nossos lábios calmamente, descobrindo o local quase como se fosse a primeira vez.
- Eu te amo, você sabe disso, não é?! – Sussurrei com a voz quase falha.
- Sim, e não duvido nenhum dia disso. – Ele falou, com os lábios colados. – E você sabe que é a mulher da minha vida, não?!
- Tento me lembrar disso todos os dias. – Ele encerrou a conversa com mais um curto beijo e se posicionou em cima de mim.
Fechei os olhos quando nos tornamos um e apertei minhas unhas em sua cintura, misturando o som de nossos gemidos, com o estouro da queima de fogos do lado de fora. Nossos corpos exalando paixão e nossos olhos conversando sobre amor.
Capítulo 11 – Uma Surpresa Inesperada
- Estou de volta, meus amigos! – Falei animada quando abri a porta do meu apartamento no dia sete de janeiro e encontrei-o vazio. – Bê? – Gritei.
Fechei a porta, deixando a chave na mesma e passei pelo apartamento, sentindo um incrível cheiro de produto de limpeza no local. Pelo menos a faxineira veio. Passei pelo corredor, puxando minha mala pelo chão do apartamento e parei em frente ao quarto de Bernardo, vendo-o babando no travesseiro. Suspirei e segui em direção ao meu quarto, deixando minhas coisas e voltei para o quarto de Bernardo, me sentando na beirada de sua cama.
- Vamos acordar, criança! – Falei próximo ao seu ouvido, sem resultado. – Bernardo! – O chamei novamente, fazendo cócegas em seu pescoço e nada. – BERNARDO! – Gritei em seu ouvido, vendo-o pular de susto.
- Meu Jesus, , podia ter sido mais delicada. – Ele resmungou e eu me levantei.
- Tentei, mas parece uma pedra dormindo. – Ele coçou os olhos e finalmente os abriu.
- Trabalhei até tarde ontem, acredita que ainda tem gente fazendo confraternização de fim de ano? – Sorri.
- Pior que eu não duvido. – Suspirei, me sentando na sua poltrona e ele se sentou na cama.
- Como foi a viagem? – Ele perguntou.
- Ah, foi ótima, dormi até chegar aqui. – Ele sorriu.
- Eu quis dizer lá em Roma. – Ele desdenhou como se fosse óbvio e eu fiz uma careta.
- Ah, foi maravilhoso, Bê! Eu me senti uma rainha. – Joguei a cabeça para trás. – Ficamos em um hotel do lado do Coliseu, do lado mesmo. Uma suíte gigantesca com uma vista impecável. – Suspirei. – Passeamos pouco pela cidade, sabe? Mal tenho roupa para lavar. – Pisquei e ele negou com a cabeça.
- Imagino mesmo, ele é muito bom, , e ele realmente te ama. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei! – Abri um largo sorriso, vendo-o rir.
- E agora? – Ele perguntou.
- Como assim?
- Quando vocês vão se ver de novo? – Suspirei.
- Se tudo der certo... – Usei a frase que eu mais odiava. – Próximo amistoso que vai ser só em março, mas faz parte. – Suspirei.
- Bom, trabalhe como se o dia não tivesse amanhã e é isso aí. – Dei de ombros.
- Sempre, não é mesmo? – Ele sorriu. – Bom, eu estou com fome, o que tem para comer?
- Eu fiz bolo de cenoura ontem, tá no micro-ondas. – Fiz uma careta.
- Preciso emagrecer, estou comendo muito errado. – Ele riu.
- Eu preciso ir junto, você ainda faz exercícios, eu estou já parecendo uma bolinha. – Ele puxou a blusa do pijama, deixando a barriga à mostra, me fazendo rir.
- Ai! – Fiz uma careta. - A gente pode começar depois que o bolo acabar, né?! – Fiz uma careta.
- Podemos! – Ele sorriu.
- Só vou tirar essa roupa e mandar uma mensagem para o Alisson.
- Beleza! – Ele falou animado e seguiu para o banheiro, batendo a porta.
- Olha quem acabou de chegar de Roma, toda fina e toda chique! – Michelle gritou assim que eu apareci na comunicação no dia seguinte e eu só consegui pressionar meus lábios, rindo fracamente. – Como foram as férias? – Ela me abraçou rapidamente.
- Ah, foi ótimo. – Sorri.
- Imagino! – Rimos juntas. – Eu logo chego lá! – Ela falou seguindo para sua sala e eu segui para a da minha equipe, acenando para outros funcionários. – Oi, gente! – Entrei, encontrando algumas pessoas lá dentro.
- Cansou do exterior, linda? – Ana brincou e eu ri fracamente, abraçando-a.
- Feliz ano novo! – Falei, ignorando-a completamente.
- Feliz ano novo, linda! – Rimos juntas.
- E aí, como foi Liverpool e Roma e mais Liverpool? – Vinícius falou entrando na sala e eu sorri, abraçando-o fortemente.
- Ah, foi ótimo. – Sorri.
- Eu vi as fotos, como foi com sua família e a dele? – Segui até minha mesa, ligando o computador.
- Deu tudo incrivelmente bem. – Ri fracamente. – Meu pai ficou de graça por um tempo, mas depois parecia A Grande Família. – Eles riram.
- Fala aí, galera! – Lucas falou entrando na sala de reunião junto de Débora e Diana.
- Oi! – Falei rindo, abraçando-o fortemente.
- Fala aí, moça internacional! – Neguei com a cabeça.
- Vocês param, hein?! – Dei um empurrão em seu ombro, vendo-o sorrir e segui para abraçar Débora e Diana.
- Mas fala, como foi? Vi as fotos. – Lucas perguntou, seguindo para seu lado e eu me sentei na minha cadeira.
- Ah, foi ótimo, foi bom mesmo, tirando as diversas viagens de avião e carro, foi muito bom.
- E Roma? Não sabia que você ia para lá. – Ele comentou se sentando na mesa à minha frente.
- Eu também não, foi um presente de Natal do Alisson. – Abanei a mão. – Foi totalmente inesperado. – Comentei.
- Voltamos! – Bianca e Leandro apareceram na porta e corri abraçar Bianca.
- Ah, menina, que saudades! – Ela me apertou. – Feliz ano novo!
- Para vocês também! – Abracei Leandro em seguida.
- Foi para Roma, hein?! Eu vi as fotos, como foi?
- Foi ótimo. – Sorri. – Fomos só nós dois, então foi muito calmo, pudemos aproveitar um pouco.
- Você vai postar mais fotos? – Bianca perguntou, se sentando ao meu lado.
- Hum, na verdade, só tem as do ano novo mesmo. – Fiz uma careta.
- Só? – Ela falou quase gritando. – Você foi para Roma e só tem aquilo de fotos?
- Nós ficamos sozinhos em uma suíte incrível em um hotel do lado do Coliseu, você realmente acha que eu me lembrei de tirar foto? – Perguntei, revirando os olhos.
- Pelo jeito a coisa foi boa, hein?! – Lucas me zoou e eu pisquei para ele.
- Três dias sozinha com Alisson e um hotel seis estrelas maravilhoso, você acha? – Respondi provocando e ele gargalhou, esticando a mão para Vinícius que bateu.
- Espero que tenham aproveitado bastante, pois o próximo amistoso é só em março. – Fiz uma careta, balançando a cabeça.
- Pelo visto você não viu as fotos dos nossos queridos jogadores, viu?! – Débora falou e eu franzi a testa.
- Por quê? Alguma merda? – Perguntei.
- Ah, Neymar causando sempre, né?! – Bianca falou e me estendeu o celular.
Peguei o aparelho e arregalei os olhos ao ver muitas mulheres na foto, olhando rápido parecia que tinha umas 30 meninas e, no topo, com as maiores poses de machão, Neymar, Gabriel Medina e...
- É O ARTHUR? – Gritei.
- É! – Eles falaram em coro.
- Nossa, eu vou dar nesse garoto, cara, ele fica todo apaixonadinho, pegando conselhos amorosos e aparece nesse harém? – Revirei os olhos.
- Ele não postou essa foto, mas foi pego no fogo cruzado.
- Nossa, ainda bem que tem uns dois meses até encontrá-lo, mas vou encher de porrada. – Peguei rapidamente meu celular, caçando a conversa com ele.
- Bom, mas antes, temos muito trabalho até lá. – Angelica falou sendo a última da equipe a entrar na sala e bateu a porta, me distraindo. – Feliz ano novo para todo mundo, como foi de viagem?
- Feliz ano novo! – Falamos juntos.
- Foi tudo bem! – A voz de Bianca sobressaiu.
- Imagino que para alguns tenha sido mais legal que outros. – Angelica falou olhando para mim e eu ri fracamente. – Bom, eu fui para Búzios, tá?! – Rimos juntas. – Não é nenhuma Roma, mas tá valendo. – Sorri.
- Búzios é melhor do que a praia de Copacabana. – Lucas falou e a sala caiu em gargalhadas.
- Bom, vamos começar, porque tem muita coisa para rolar, ok?! – Angelica falou, puxando o quadro para perto e pegando a caneta. – Janeiro vai ser bem corrido e acho que só nossa equipe não dá conta. – Ela começou a escrever coisas na lousa e eu peguei meu bloco de anotações. – Hoje nós teremos um evento lá no Maracanã na parte da tarde, Ronaldinho Gaúcho vai ganhar uma estrela na calçada da fama. Todos estão convidados a participar e precisaremos de Lucas, Leandro e uma das assessoras para acompanhar. Vocês decidem. – Assenti com a cabeça.
- Vocês que sabem. – Falei. – Mas eu preciso conhecer ele. – Elas riram.
- Eu vou. – Bianca falou e assentimos com a cabeça.
- Precisamos de uma equipe de assessores para ir para o Chile com a Sub-20 no dia 14 e teremos alguns eventos com a feminina na próxima semana.
- Eu fico com a feminina! – Falei.
- Chile! – Anna falou e assentimos com a cabeça.
- Tá e no dia 24, tem sorteio de grupos da Copa América, então quero o quarteto. – Angelica falou. – Bianca, , Lucas e Vinícius, a não ser que um de vocês morram, a Copa América é de vocês!
- É DISSO QUE EU ESTOU FALANDO! – Vinícius falou um pouco alto demais e não tivemos nem tempo de comemorar a conquista, pois gargalhamos no segundo seguinte.
- Acalma o coração, Vini! – Falei, tentando segurar a risada.
- Bom, gente, eu vou passar os briefings para quem eu falei e vamos trabalhar. – Ela bateu as mãos uma com a outra e virei para o computador, colocando minha senha.
- Ah, foi só piada! – Falei para o Alisson, vestindo meu pijama.
- Ah, eles gostam muito de você, não perderiam a oportunidade. – Sorri, me sentando na cadeira e ajeitando a inclinação da tela do notebook.
- E quando perguntaram se tinha mais fotos? – Ele gargalhou.
- Então, galera, estávamos ocupados... – Ele falou e eu sorri, negando com a cabeça.
- Muito ocupados! – Pisquei. – Roma é linda, mas... – Suspirei. – Como foi o jogo ontem?
- Perdemos, mas eu não joguei...
- Isso me alivia um pouco, mas é triste para o time de forma geral...
- Você não vai analisar como um time grande precisa ter o goleio titular e o reserva na mesma vibe, né?! – Fechei a boca.
- Eu ia, mas não falo mais. – Rimos juntos.
- Desde que eu entrei no time, Klopp fala que o Mignolet está estranho, então eu não palpito, não discuto, não sugiro e fico na minha.
- Errado não está. – Suspirei. – Quando é o próximo jogo?
- No sábado contra o Brighton, devo jogar.
- Vou tentar assistir. – Pisquei.
- Então, como foi o evento?
- Ah, o Ronaldinho Gaúcho é sensacional! – Falei animada. – Tirei bastantes fotos, vou postar mais tarde! – Ele sorriu.
- Eu tive o prazer de conhecê-lo um dia, ele é ótimo mesmo.
- Parece que eu era a prima dele, ele é caloroso demais, animado demais. – Sorrimos. – Acho que ele estava levemente bêbado, mas foi legal.
- E amanhã? Normal?
- Normal, sem surpresas, por enquanto. – Rimos juntos.
- Eu tenho que ir deitar, o pessoal foi embora hoje e confesso que estou precisando de férias.
- Helena também?
- Sim. – Ele assentiu com a cabeça. – Natália voltou da lua-de-mel, acho que agora eu só a encontro na Copa América, vamos ver, tem o aniversário dela antes.
- Se por acaso eu for designada para alguma viagem no Sul, eu falo com a sua mãe, vejo de encontrá-la. – Ele sorriu.
- Obrigado! – Assenti com a cabeça.
- Bom, hora de dormir, né?! Já está tarde para mim, imagina para você.
- Vai para academia amanhã? – Ele perguntou.
- Como? – Ergui o braço engessado.
- Quando você tira isso?
- No fim do mês. – Suspirei. – Pior que o gesso já está todo estranho depois do jogo aí na sua casa. – Rimos juntos.
- Desculpe!
- Desculpa o caramba! – Falei rindo. – Três carrinhos, Alisson, tá explicado porque você joga no gol.
- Foi só para te provocar, vai! – Neguei com a cabeça, vendo-o rir.
- Vai dormir, Alisson, nos falamos amanhã, ok?!
- Ok, eu te amo. – Ele disse, mandando um beijo para ela.
- Eu também! – Repeti e acenei para ele, suspirando, demorando um pouco, antes de desligar a ligação.
- Acho que é isso, então. – Bianca falou ao meu lado, anotando as últimas informações e eu virei para ela.
- Repete para eu colocar no briefing, por favor. – Falei, apertando a setinha até o local exato dos grupos no Word.
- Ok, grupo A: Brasil, Bolívia, Venezuela e Peru. – Digitei rapidamente. – Primeira semana: Brasil e Bolívia, Venezuela e Peru. – Assenti com a cabeça. – Segunda: Bolívia e Peru, Brasil e Venezuela. E terceira: Peru e Brasil, Bolívia e Venezuela.
- Ok, vai para o grupo B. – Falei, pulando algumas linhas.
- Grupo B: Argentina, Colômbia, Paraguai e Catar. – Ela falou. – Argentina e Colômbia, e Paraguai e Catar.
- Ok...
- Colômbia contra Catar, Argentina e Paraguai na segunda semana. E Catar e Argentina, e depois Colômbia e Paraguai na terceira semana. – Finalizei de digitar.
- Grupo C?
- Uruguai, Equador, Japão e Chile. – Assenti com a cabeça. – Primeira semana Uruguai e Equador, Japão e Chile. Depois Uruguai e Japão, e Equador e Chile, depois Chile e Uruguai e Equador e Japão.
- É isso? – Confirmei.
- É isso! – Fiz o comando para salvar o arquivo e fechei o notebook, vendo o evento de sorteio da Copa América começando a esvaziar e grupos de jogadores novos e veteranos conversando.
- O que você achou dos grupos? – Bianca me perguntou.
- Não sei opinar. – Suspirei. – Mas acho que Japão e Catar vêm só para passear mesmo.
- Penso o mesmo, mas vai que surpreendem, né?! – Rimos juntas.
- Quem sabe? – Tirei o celular da bolsa, abrindo a conversa de Alisson.
“Te vi no sorteio rapidamente, tá linda”. – Sorri com a mensagem, respondendo.
“Obrigada! O que achou dos grupos? Prontos para ganhar?” – Coloquei o aparelho no colo, virando o rosto à procura de Lucas ou Vinícius.
- Você vai querer ficar para o coquetel? – Perguntei para Bianca.
- Não sei, são mais de nove horas já, eu preciso descansar, acabei de voltar de viagem. – Assenti com a cabeça.
- Verdade! – Suspirei. – Eu trabalho normal amanhã, e ainda vou fazer hora extra porque vou tirar o gesso na segunda, não sei quanto tempo vai demorar.
- Mas não é só tirar? – Ela perguntou.
- Eles vão querer fazer mais um raio-X para ver se está tudo certo e ter uma consulta, sabe como é o plano, né?! Vou ficar o dia inteiro esquentando a bunda na sala de espera.
- Aff! – Ela reclamou. – Odeio isso. – Paga plano para quê?
- A gente não paga, né?! – Falei e ela riu fracamente.
- Obrigada, CBF. – Peguei o celular novamente, vendo a resposta.
“Tu me conhece, muito cedo para falar alguma coisa, vamos esperar um pouco”. – Ri fracamente, bloqueando o celular.
- Alisson não quer analisar nada antes da hora. – Falei.
- Errado ele não está. – Vinícius falou, aparecendo ao nosso lado.
- Está livre? – Perguntei.
- Sim, o Lucas também, ele logo aparece. – Ele se sentou ao meu lado.
- O que você achou dos grupos? – Bianca perguntou a ele.
- Sei lá, cara! – Ele riu em seguida. – América do Sul é forte, oh! Negócio não vai ser fácil! – Ri fracamente.
- Ah, não começa, hein?! – Ele e Bianca riram juntos.
- Oi, gente, estou livre! – Lucas falou, aparecendo ao nosso lado com o tripé apoiado no ombro.
- Vocês querem ficar para o coquetel? – Bianca perguntou.
- Eu passo, estou quebrado! – Vinícius falou.
- Lucas? – Bianca virou para ele.
- Não é como se não fossem ter outros, né?! – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Vocês vão para onde? – Perguntei.
- Casa? – Eles falaram meio juntos.
- Vamos ver se o Marcos está aí ainda, vamos até a CBF com ele e de lá rachamos um Uber.
- Eu topo! – Lucas foi o primeiro a falar.
- Pode ser, eu estou mais longe mesmo. – Rimos juntos.
- Vamos sim, só finalizar os protocolos. – Bianca falou se levantando e eu coloquei o notebook na mochila, fechando-a e me levantando também.
- Cadê Angelica? – Vinícius perguntou e todos olhamos em volta, nos assustando quando os quatro celulares tocaram juntos.
- E-mail? – Perguntei.
- Sim, briefing. – Abri o e-mail, olhando a notícia rapidamente.
- “Neymar se machuca em jogo do PSG pela Copa da França”. – Lucas leu alto.
- De novo? – Falei um tanto alto. – Que caralho! – Respirei fundo.
- Bom, para os próximos amistosos capaz de ele estar fora, agora na Copa América... – Lucas falou.
- Precisamos dele na Copa América. – Vinícius falou.
- O Ney é muito bacana, mas acho um tanto exagerado, não?! – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu falo que a formação ideal é aquela que o Neymar é isca. – Ergui os braços e eles riram.
- Bom, vamos? – Bianca falou.
- Vamos, já sabemos que temos trabalho amanhã cedo. – Suspiramos e seguimos para fora da Cidade das Artes na Barra da Tijuca.
- , pode entrar! – A assistente falou e eu me levantei, colocando a bolsa no ombro e segui pelo corredor, entrando no consultório da ortopedista.
- Licença. – Falei para a doutora Rosa.
- Oi, , entra! Como você está? – Ela estendeu a mão para mim e eu a apertei. – Vamos tirar isso? – Ela bateu na maca e eu deixei a bolsa de lado, subindo na mesma e me sentando.
- Está tudo bem. – Ela segurou meu braço, apertando o gesso já todo mole e estranho.
- Andou brigando com alguém? – Ri fracamente.
- Crianças, água, futebol... Namorado. – Fiz uma careta e ela riu fracamente, negando com a cabeça.
- Tirando que ele não está nem um pouco parecido de quando eu coloquei, sua integridade está intacta, talvez ele tenha feito seu trabalho. – Rimos juntas. – Dói? – Ela perguntou.
- Não, está tudo certo. – Falei, vendo-a pegar uma maquininha. – Não dói, ok?! – Ela ligou a maquininha e tocou sua pele.
- Tudo bem. – Falei.
- Só não se mexe, tá? – Assenti com a cabeça e a vi ligar a maquininha.
Ela passou a mesma próxima ao meu braço, cortando o gesso e logo ela desligou. Ela usou um pouco da força bruta para abrir o gesso e finalmente tirá-lo de meu braço. O local que havia ficado coberto por todos esses dias estava até mais claro que o resto da pele por conta do pó do gesso e do pouco sol que eu levei na região.
- Como está? – Ela perguntou e eu mexi o punho devagar. – Deve estar meio duro. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-o meio estranho. – Alguma dor?
- Não, só o “duro” mesmo. – Falei e ela segurou meu cotovelo, examinando braço, pulso e dedos e eu fiz uma careta.
- Tomou os remédios direito?
- Sim, contando o fuso-horário ainda. – Ela riu fracamente.
- Essa é minha garota. – Sorri. – Bom, vamos ver. - Ela pegou meu raio-X, colocou no visor e ligou a luz. – Parece que está muito bem. Foi só uma torção, então é comum você sentir dores ou estalos ao fazer exercícios com muito peso, então não abusa, ok?! Tem sempre a cirurgia, mas...
- Não! – Falei rapidamente. – Tá bom assim. – Mexi no pulso, ouvindo-o estalar. – Eu nem sou muito fã de puxar peso na academia. – Rimos juntos.
- É, mas toma cuidado. – Assenti com a cabeça. – Eu vou te receitar um remédio para dor, mas caso essa for frequente, você volta aqui, isso é para dores esporádicas. Como quando se trabalha muito ou não pode evitar fazer alguma atividade, ok?!
- Ok. – Suspirei.
- E é o esquerdo, você é destra, já reduz boa parte dos seus problemas. – Rimos juntas.
- Tudo bem. – Sorri.
- Eu quero te ver novamente no mês que vem, ok?! Só para checagem.
- Tudo bem, eu marco lá na frente.
- Deixa eu só preparar a receita. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, me levantando da maca.
Forcei os olhos quando uma luz se acendeu em minha frente e eu puxei a coberta mais para cima, tentando cobrir o rosto, mas o lençol fino não deixava. Abri um olho, percebendo que vinha de meu celular e eu tateei a mesa de cabeceira até sentir o aparelho e puxei na minha mão. Tentei ler o nome escrito no mesmo, mas deslizei o dedo antes de perceber.
- Alô? – Falei sonolenta.
- ? – Ouvi um grito e até afastei o celular da orelha. – É a Angelica!
- Angelica? – Me sentei rapidamente na cama, sentindo a cabeça doer instantaneamente. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- Sei que são seis da manhã, mas aconteceu um incêndio no alojamento da base do Flamengo e eu preciso de alguém para ir comigo agora. Você pode?
- O quê? Como assim? – Chutei a coberta e levantei correndo, acendendo a luz, me cegando mais ainda. – Como? Quando?
- Essa madrugada, eu soube faz uns 10 minutos, mas só você me atendeu, teve um incêndio no alojamento da base do Flamengo, tem vários mortos e feridos, eu preciso de alguém para me ajudar a conter isso.
- Meu Deus, Angelica. – Levei a mão à boca. – Como?
- Não temos detalhes ainda, os bombeiros receberam o chamado as cinco e meia, são quase seis. – Suspirei, sentindo o choro subir à garganta.
- Isso não seria de responsabilidade do time?
- E quem se responsabiliza pelo time?
- Caralho! – Gritei alto demais. – Eu vou só me trocar, você me pega.
- Sim, em 15 minutos eu passo aí. – Ela falou, desligando o telefone e eu abri a porta do quarto, dando de cara com Bernardo.
- Puta que pariu! – Gritei, pulando de susto.
- O que aconteceu? Eu ouvi você gritar! – Ele falou tão sonolento quanto eu.
- Teve um incêndio no alojamento do Flamengo, na base, pelo visto tem mortos.
- O quê? – Ele falou surpreso e eu assenti com a cabeça, engolindo em seco.
- Oh, meu Deus! – Ele correu para a sala, ligando a TV e eu fui atrás.
A TV mostrava uma imagem aérea do local no momento em que ligamos ela. Tinha uma manchete embaixo escrita: “Incêndio no Ninho do Urubu mata jogadores da base”. Engoli em seco mais uma vez, colocando a mão na boca e respirei fundo.
- Isso é horrível. – Bernardo falou.
- Eu tenho que ir lá. – Falei fracamente.
- Vai ficar tudo bem. – Ele me abraçou de lado e eu suspirei, encostando a cabeça na sua. – Me dê notícias, ok?!
- Pode deixar. – Suspirei.
- Acho que foi a pior coisa que eu já vi na minha vida. – Falei com lágrimas nos olhos quando voltei ao escritório da CBF mais tarde. – Eles eram só crianças. – Engoli em seco.
- Foi horrível. – Angelica comentou. – Eles estavam indo tão bem e acabou assim...
- O Flamengo vai ter que se responsabilizar por isso, como assim eles fazem um alojamento em local sem alvará? – Leandro reclamou.
- Não vai adiantar nada, não vão trazer os meninos de volta. – Falei suspirando.
- Mas eles, pelo menos, vão levar uma boa multa e vão ser penalizados de alguma forma. – Lucas voltou e estendeu um copo de água para mim e Angelica.
- Quantos mortos? – Vinícius perguntou.
- 10. – Angelica falou. – E tem três feridos, mas só um é grave, teve 35 por cento do corpo queimado. – Balancei a cabeça ao imaginar a cena.
- E o lugar? – Bianca perguntou.
- Virou ferro velho. – Angelica falou.
- Como vamos agir? – Anna perguntou.
- Já passei para o comitê de crise, não temos como lidar com isso. – Angelica falou. – Pelo menos estamos sem compromissos oficiais até dia 21. – Ela bebeu sua água e eu fiz o mesmo.
- Quem diria que o futebol seria triste. – Vini comentou e eu suspirei.
- Essa é a pior parte. – Comentei. – Eram crianças de 14, 15 e 17 anos, os quais os pais confiaram ao Flamengo um local bom para dormir, comida, treinamento e aprendizado para os garotos realizarem o sonho de jogar futebol. – Falei sarcasticamente, negando com a cabeça. – Imagina o quão felizes eles estavam por realizar esse sonho.
- Não temos o que fazer no momento, só cuidar da nossa parte. – Angelica disse. – Eu vou tirar a tarde de folga, , se quiser, pode fazer o mesmo. – Assenti com a cabeça. – Não está sendo fácil tirar àquela imagem da minha mente.
- Nem fala. – Falei, bebericando minha água.
- Está quase na hora do meu almoço, eu te levo. – Lucas falou e eu assenti com a cabeça e um meio sorriso.
- Tudo bem, eu espero. – Assenti com a cabeça.
- Galera... – Murilo entrou pela porta, estendendo um papel para gente e Bianca pegou. – Notícia fresquinha.
- Ah, fala sério! – Bianca reclamou. – Mais essa. – Ela estendeu o papel para mim e eu li os dizeres: “Arthur lesiona coxa esquerda e desfalca Barcelona”.
- Ah, fala sério! – Repeti o que Bianca falou, revirando os olhos e fucei a bolsa atrás do meu celular. – Vou ver se ele está bem.
- Será que ele volta para o amistoso? – Bianca perguntou.
- Fala que vai ser por um mês, mas precisamos informar a equipe técnica disso.
- Vai para casa, descansa, eu cuido disso, ok?! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, procurando a conversa de Arthur com a última mensagem de três dias atrás.
“Lesão, sério? O que você aprontou? Aline está exigindo muito de você? Hahaha”. – Enviei, suspirando em seguida.
- Pronto! – Lucas falou desligando a tela do computador. – Vamos?
- Vamos sim! – Me levantei, colocando a bolsa no ombro.
- Tchau, gente, até amanhã.
- Tchau, fica bem! – Eles falaram.
- Dê notícias. – Vinícius falou, dando um beijo em minha testa e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Pode deixar. – Retribuí o beijo e saí com Lucas.
- Como vocês conseguiram ficar no zero a zero? – Perguntei um tanto alto demais.
- Eu não sei. – Alisson colocou as mãos no rosto. – Esse jogo foi uma verdadeira bagunça. Eu estava lá, mas não faço a mínima ideia do que aconteceu. – Ri fracamente, me sentando na frente do computador e puxando-o para mais perto. - Você viu?! – Ele perguntou.
- Só o primeiro tempo, deu seis horas eu vim para casa, com o caso do incêndio do Flamengo, muita coisa tá caindo nas minhas costas por ser a única, tirando Angelica, que foi até o local, então estou esgotada, não fico um minuto a mais. – Ele assentiu com a cabeça.
- Imagino, as coisas começaram a sair agora. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- É uma cena difícil de tirar da cabeça. – Suspirei. – Te contei que eu tenho me “consultado”... – Fiz aspas com as mãos. – Com a namorada do Arthur?
- Sério? - Ele tombou a cabeça.
- Ela é estudante de psicologia e eu acho que estava um pouco surpreendida com tudo, aí ele me passou o telefone dela e a gente conversou um pouco, quero só tentar esquecer. – Ele assentiu com a cabeça.
- Me surpreenda você ir atrás de ajuda psicológica depois de oito meses comigo. – Sorri, negando com a cabeça.
- Você é a verdadeira definição de “companheiro”, Alissinho, a gente tem nossas briguinhas, mas nada que tira meu sono. – Neguei com a cabeça. – Você é realmente muito bom para mim. – Ele deu um pequeno sorriso, claramente envergonhado.
- Você se aproximou bem do Arthur, né?!
- Sim, depois do último amistoso, ele com os problemas dele, a gente acabou criando uma amizade.
- Ele é bonzinho, a gente conversa de vez em quando. - Sorri e ouvi o interfone tocar.
- Espera um pouco. – Levantei correndo, já que estava sozinha em casa e corri até o interfone na cozinha. – Alô?
- Senhorita , senhorita Bianca está aqui. – O porteiro falou.
- Pode deixá-la entrar. – Falei.
- Perfeito, boa noite.
- Boa noite e bom trabalho. – Falei, desligando o mesmo e voltei correndo para o quarto, me sentando à frente do PC. – É a Bianca.
- Vão sair? – Ele perguntou.
- Sim, vamos no Vinícius, vamos começar a analisar os nossos adversários na Copa América.
- Mas já? Hoje é 20 de fevereiro, qual é! – Rimos juntos.
- Agora é a hora, amor. Tite já pediu lista de nomes e constatações, para não ficar tão óbvio, te coloquei em quarto lugar da lista, tá?!
- Quarto? – Ele falou surpreso, exagerando na feição. – Que ultraje!
- Dramático! – Ri fracamente. – Ela vem aqui para dormir aqui, já que mora mais longe, aí vamos nos trocar e vamos no Vini. Vamos ver o último jogo contra a Argentina.
- Na Arábia Saudita? – Ele perguntou
- Não, o de 2017 na Austrália, perdemos de um a zero, o goleiro foi o Weverton. – Falei. – Amor da minha vida! – Falei sorridente.
- Eu? – Ele franziu a testa.
- Não, o Weverton. – Ele revirou os olhos.
- Mereço. – Rimos juntos.
- Ei, ele foi o salvador das Olimpíadas, vai.
- Não sei como Tite não dá mais valor a ele, ele é muito bom.
- Eu sei. – Pisquei, ouvindo a campainha tocar. – Já volto de novo! – Falei, me levantando correndo e seguindo até a porta, abrindo-a e encontrando Bianca e várias malas.
- Cheguei! – Ela falou animada.
- Entra, entra! – Falei, dando um rápido beijo em minha bochecha e fechei a porta. – Venha, estou com Alisson no Skype. – Falei, seguindo de volta para o quarto e ela veio atrás.
- Cadê ele? – Bianca perguntou atrás de mim e me sentei na cadeira de novo. – Fala, Alissinho! – Ela falou animada, apoiando os braços na mesa.
- E aí, Bianca, tudo bem?
- Tudo na paz. – Ela sorriu. – Que joguinho sem graça ontem, hein?!
- Estávamos falando isso agora. – Sussurrei.
- Acontece, né?! – Alisson ergueu os ombros. – Pelo menos não levei gol.
- Bom mesmo. – Rimos juntos.
- Bom, eu vou lá, amor. – Sorri. – A gente se fala amanhã, beleza?
- Combinado, amanhã volto a treinar, vamos nos falando.
- Temos convocação da feminina amanhã, mas não devo demorar para voltar.
- Ok, amo você, divirtam-se. – Ele falou
- Valeu! – Bianca gritou.
- Também te amo. – Acenei com a mão, mandando um rápido beijo e vi seu sorriso antes de abaixar a tela.
- São assim suas noites, então?! – Girei a cadeira, vendo Bianca e suas tralhas na minha cama.
- Quase todas. – Suspirei. – Chego, tomo banho, pego algo para comer e venho para o PC. Quando Bernardo está aqui, eu janto com Bê e depois venho para cá. – Suspirei. – Faz parte.
- Faz parte! – Ela repetiu.
- E aí? Trouxe sua vida? Não vai ser só uma noite?
- Eu sei, mas gosto de tomar banho de manhã, então tem toalha, nécessaire, pijama, troca de roupa, minha bolsa gigantesca do trabalho... – Ri fracamente.
- Tá valendo, vai. – Sorri. – Você tá pronta? – Perguntei apontando para sua roupa.
- Sim, estou de boa.
- Ok, deixa eu só colocar uma calça que já vamos. – Me levantei, abrindo meu armário e estendendo meu calceiro, procurei por uma calça e puxei a mesma.
Tirei os shorts em frente a Bianca mesmo, depois de dividir muitos quartos de hotéis, já não tínhamos mais vergonha. Coloquei a calça e puxei-a para cima, puxando-a nas coxas largas e ajeitando-a na cintura, quando chegou à cintura...
- Não fecha! – Fiz uma careta.
- Comeu demais em Londres, é, linda? – Ri fracamente, encolhendo a barriga e tentando fechar mais uma vez, sentindo meus dedos doerem com a força.
- Estou comendo igual uma draga faz tempo, né?! – Rimos juntas. – Desde a Rússia, mas ok.
- Engordar para mim tem outro nome, hein?! – Franzi a testa e ela fez um movimento de barriga.
- Tá louco! – Abanei as mãos, abaixando a calça nas coxas e vendo-as deslizar pelas pernas. – Devo estar inchada, eu acabei esquecendo de tomar anticoncepcional no fim do ano e aí deu aquela desregulada que eu já estou acostumada. – Tirei as calças, procurando por outra mais nova e ela entrou com mais facilidade, fechando.
- Mais um motivo para poder ter um bê...
- Cala a boca! – Falei, rindo em seguida. – Nem brinca com isso que pega. E o Alisson usa camisinha, ok?! – Ela deu de ombros e eu chequei a etiqueta da outra calça. – É um número menor mesmo, eu já engordei pacas. É efeito Rússia e emprego top na CBF.
- Espero mesmo que seja só efeito Rússia. – Ela falou pegando sua bolsa de mão. – Apesar de que pode ser qualquer tipo de efeito. – Ri fracamente. – Um grande, alto, de olhos verdes também.
- Há, há, há, engraçadinha. – Ela falou e eu segui até a mesa de cabeceira, mostrando a cartela com alguns comprimidos a menos.
- Ok, confio! – Ela sorriu. – Podemos ir? Eu estou cansada já, vou dormir logo no primeiro tempo.
- Temos reunião na semana que vem com a equipe técnica, estou totalmente por fora dos acontecimentos. – Falei.
- E eu não?! – Ela brincou e gargalhamos juntas.
- Vamos, vai! – Peguei minha bolsa, calcei meu slipper rapidamente.
- Partiu! – Ela disse animada e saí do quarto, desligando a luz.
- Cheguei, cheguei! – Abri fortemente a porta da nossa sala.
- Ei, finalmente! – Angelica falou. – São quase 10.
- Desculpa o atraso, eu não acordei muito bem, vomitei hoje cedo, não conseguia sair do banheiro. – Coloquei minha bolsa na mesa, abanando a mão.
- Ei, o que você tem? – Lucas perguntou.
- Acho que o iogurte que eu comi ontem vencido ou algo assim, estava tudo borbulhando aqui dentro.
- Tirava o dia para você, , era só trazer um atestado depois. – Angelica falou.
- Ah não, hoje é dia de convocação, eu não podia perder isso. – Rimos juntos.
- Falando nisso, vamos? Tá na hora. – Bianca se levantou com suas coisas e eu fucei rapidamente minha bolsa, pegando o celular e meu bloco de anotações e a segui ela, Vinícius e Lucas para o elevador.
Entramos no mesmo e apertamos o botão do térreo, esperando o elevador descer. Dei uma puxada forte no nariz e um cheiro forte e estranho entrou em meu nariz, fazendo-o coçar.
- Nossa, que cheiro estranho! – Falei, franzindo o rosto.
- Não estou sentindo nada. – Os outros três falaram juntos, me olhando estranho.
- Ué... – Me aproximei mais de Lucas que estava perto de mim e depois perto de Bianca e Vinícius. – É seu perfume. – Falei para Vinícius, sentindo meu estômago embrulhar novamente.
- É o mesmo de sempre. – Ele falou.
- Venceu, então. – Coloquei a mão na boca quando aquele negócio começou a subir.
- Você está bem? Você está verde. – Bianca perguntou e senti que não conseguiria segurar.
- Eu encontro vocês lá. – Falei, saindo correndo para o banheiro.
Me tranquei em uma cabine, ergui a tampa da privada e soltei somente um líquido claro, já que eu não tinha nada no meu estômago desde hoje de manhã. Fiz uma careta com o movimento involuntário do corpo e respirei fundo, me sentando no chão, respirando fundo.
- , tá tudo bem? – Ouvi a voz de Bianca.
- Sim! Estou saindo. – Falei e me levantei, apertando a descarga e abaixando a tampa. Peguei minhas coisas no chão e saí, dando de cara com Bianca apoiada na pia.
- Você deveria ir embora. – Ela falou. – Talvez seja uma intoxicação alimentar.
- Se eu for embora, vou ter que ir para o hospital e não estou afim.
- Melhor do que ficar vomitando por qualquer coisa. – Ela disse e entreguei meu material para ela. Debrucei sobre a pia e coloquei um pouco de água na boca, fazendo gargarejo, antes de soltá-la e aproveitei para lavar as mãos. – Chiclete?
- Aceito! – Falei, sentindo aquele gosto estranho na boca e ela me esticou um Trident e, ao colocar na boca, percebi ser de menta.
- Vai ajudar. – Ela disse e eu sequei as mãos, seguindo para fora do banheiro e em direção à sala de coletiva, aonde Tite, Edu e Fabio já estavam no palco e Edu já falava.
- ...Agora nós entramos em um período do médio prazo, que foi citado para vocês. O médio prazo do início desse ano até o final da Copa América, já com o objetivo bastante claro de Copa América, mentalidade, à partir de janeiro, de Copa América. Haja visto que nesse período de janeiro, nossos pensamentos já voltados para a competição, nós fizemos 29 jogos observados in loco, 19 deles no exterior, 10 no Brasil. Nove jogos observados em janeiro e 20 em fevereiro. – Edu falava sobre os planos da Seleção. – Gostaria de salientar a importância do Fabio nessa fase de análise e observação, de ter também todas as informações físicas e clínicas, minutagem de atleta, atleta voltando de lesão, atleta voltando de temporada, todos esses tipos de informação são colhidas por ele. E nos dá a segurança que Tite possa convocar. – Ele pegou alguns papéis. – Só anunciado que o chefe de delegação dessa viagem vai ser o Adriano Guilherme de Aro Ferreira, que é o presidente da Federação Mineira de Futebol, e agora passo a palavra ao Tite para que ele possa passar a lista dos 23 atletas.
- Bom dia a todos, formatação de equipe para a Copa América sem fechar. Só vai ser fechada na última convocação, reitero. – Ele falou e eu peguei o celular, abrindo a mensagem de Alisson. – Goleiros: Alisson, Liverpool... – Dei um pequeno sorriso. – Ederson, Manchester City; Weverton, Palmeiras. – Arregalei os olhos, virando para Bianca também surpresa. – Defensores: Alex Sandro, Juventus; Dani Alves, PSG; Danilo, Manchester City; Éder Militão, Porto; Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão; Thiago Silva, PSG. Meio-campistas: Alan, Napoli; Arthur, Barcelona... – Sorri novamente. – Casemiro, Real Madrid; Fabinho, Liverpool; Felipe Anderson, West Ham... – Franzi a testa com o novo nome. – Lucas Paquetá, Milan; Philippe Coutinho, Barcelona. Atacantes: Everton, Grêmio; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, Manchester City; Richarlison, Everton; Vinícius Júnior, Real Madrid.
- Não acredito que ele finalmente convocou o Weverton. – Falei animada para Bianca.
- Alisson vai ficar com ciúmes. – Rimos juntas.
- E deve mesmo. – Sorri.
- Mas ele foi decisivo na final do Brasileirão, vai. – Ela sussurrou.
- E eu não sei? – Sorri. – Coitado, vou aloprar tanto. – Ela sorriu.
A coletiva se seguiu após a liberação da lista e não teve nada muito grandioso, perguntas sobre jogadores novos, planos para amistosos, planos para escalações e planos para a Copa América. Era tudo muito cedo ainda, tinha cinco meses para a competição e o pessoal estava aloprando já. Fiquei bem durante toda a coletiva e quando finalizou, segui para cumprimentar Tite, Edu e Fabio.
- Oi, gente! – Falei seguindo para a antessala e eles sorriram.
- Aí minhas garotas! – Tite falou e eu sorri, abraçando-o rapidamente. – Não vi vocês antes.
- Ah, eu não estou muito bem, por isso nos atrasamos.
- Algum problema para a viagem? – Fabio falou rapidamente.
- Calma! – Apoiei as mãos em seus ombros, vendo-o rir. – Só devo ter comido alguma coisa estragada, estarei bem em 15 dias.
- Bom mesmo, preciso da gangue inteira. – Ele falou.
- Estaremos lá, não se preocupe. – Bianca falou enquanto eu abraçava Edu.
- O bom é que com a competição em casa, todo mundo vai poder participar. – Falei.
- Quero só ver como vai. – Bianca riu.
- Sim, mas ainda quero vocês duas, Lucas e Vinícius nessa. Vocês são nossa equipe alfa. – Tite falou e eu sorri, recebendo um beijo na bochecha.
- Vai ser legal, mas vamos enfrentar esse amistoso antes. – Sorrimos.
- Nos vemos em alguns dias? – Edu perguntou.
- Estaremos por aqui. – Bianca falou e sorrimos, trocando rápidos acenos, vendo-os saírem da sala.
- Tem certeza que não quer ir embora? – Bianca perguntou.
- Eu estou bem. – Suspirei. – Só não chegar perto do perfume ruim do Vinícius ou de qualquer comida.
- Você vai ter que botar alguma coisa para dentro.
- Eu peço um chá para Anna, ela deve ter alguma coisa.
- Ok... – Ela deu de ombros. – Vamos subir, eu estou com fome.
- Está quase na hora do almoço, vamos conversar e resolver isso.
- Imagino que depois da conversa de janeiro, seremos nós quatro que vamos nessa competição, certo?
- Se é preparação para Copa América já, não imagino de forma diferente. – Ela deu de ombros e seguimos de volta para o elevador.
- Você vai me odiar por isso! – Ouvi Bernardo gritar e eu franzi a testa, erguendo o corpo.
- O que você tá falando, seu louco? – Falei, apoiando um braço na cama, enquanto coçava o olho.
- Toma! – Ele apareceu na porta do meu quarto e jogou uma sacolinha plástica com logo de uma farmácia e algo dentro.
- O que você comprou agora? – Abri a mesma, tirando um Clearblue da mesma. – Eu já falei que eu não estou grávida. – Coloquei na sacolinha novamente e joguei em sua direção.
- , você está ruim há mais de uma semana, você está enjoando com qualquer tipo de cheiro, vomitou até as tripas por três dias, não para de fazer xixi e tá toda dolorida, até quando te dão um abraço. – Ele reclamou jogando a sacolinha de volta.
- Eu não estou grávida. – Falei, cruzando os braços. – Eu e o Alisson usamos camisinha nas nossas últimas vezes.
- Tem certeza que usaram todas as vezes? – Ele frisou a palavra “todas”.
- Tenho! – Falei firme.
- Mesmo? – Ele me encarou profundamente. – Você mesma disse que vocês mal saíram da cama em Roma. – Ele estendeu o indicador para mim. – E que você se bagunçou com o anticoncepcional.
- Sim, usamos. – Falei novamente, colocando a cabeça para pensar. – Bom, eu acho...
- Ah há! – Ele gritou.
- Mas já estou tomando novamente... Tira essa coisa daqui. – Ele falou e eu senti um pequeno desespero começar a crescer em meu peito.
- Não desceu para você ainda, . Sua menstruação já é atrasada, mas quando você toma anticoncepcional ela regula.
- Como você sabe disso? – Falei firme.
- A gente mora juntos há uns sete anos, amiga. E eu presto atenção nessas coisas, principalmente depois que você começou a ter uma vida sexual mais ativa. – Ele me encarou. – Ah, não tenta fugir do papo.
- Eu não estou grávida, Bernardo. – Falei firme, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. – Eu não posso estar grávida. – Falei com o tom de voz mais baixo, levando as mãos à cabeça.
- Você precisa descobrir, .
- Não! – Falei firme. – Eu me recuso a fazer isso. – Respirei fundo, não conseguindo mais impedir as lágrimas de escorrerem pela minha bochecha.
- Ah, minha amiga. – Ele se sentou ao meu lado, me abraçando fortemente.
- Ai! – Reclamei e ele riu fracamente. – Eu não posso estar grávida, Bê, eu só tenho 25 anos...
- 26 em alguns dias. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não, eu não posso, eu não sei cuidar de uma criança, eu e o Alisson estamos a um oceano de distância. – Mordi meu lábio inferior. – O Alisson! – Suspirei. – Nunca falamos sobre isso, como ele vai reagir? – Engoli em seco.
- Respira, meu amor, respira. – Ele acariciava minha cabeça.
- Eu não quero ser mãe jovem, eu não sirvo para isso. – Suspirei.
- Você sempre disse que queria ter filhos.
- Sim, depois dos 30, 35, talvez, não agora. – Passei as mãos nos olhos, limpando as lágrimas.
- Às vezes a gente não escolhe, amor. – Ele beijou minha testa. – Mas antes de começar a surtar e fazer planos para o futuro, vamos fazer xixi nisso aqui? – Ele tirou o teste da sacolinha de novo e eu respirei fundo.
- Eu não posso... Isso não pode ter acontecido.
- Espírito Santo só aconteceu uma vez, meu amor. Vamos? – Suspirei. - Eu vou estar contigo o tempo inteiro. Até quando você fizer xixi. – Sorri, abraçando-o de lado.
- O que eu faria sem você? – Ele sorriu, estendendo a mão e eu me levantei.
- A mesma coisa, mas seria menos divertido. – Ele abriu a caixinha e me entregou o teste que mais parecia um termômetro e tirou a bula de lá dentro e seguimos para meu banheiro.
- Como eu uso isso?
- Vamos lá. – Ele disse e eu entrei no banheiro enquanto ele lia do lado de fora, próximo à porta. – Você precisa tirar essa tampa azul e fazer xixi por 5 segundos na ponta, mas não pode molhar o resto do negócio. – Ele falou. – Ah, aqui sugere coletar em um recipiente limpo e seco. – Ele falou. – Acho que tenho um daqueles copinhos de teste de urina que eu comprei da última vez, espera aí. – Ele falou e eu apoiei o negócio na pia e tirei os shorts e a calcinha, me sentando no vaso sanitário.
- Por que você guarda essas coisas?
- Uma hora a gente sempre precisa. – Ele estendeu o copinho ainda na embalagem pela fresta da porta e eu peguei, respirando fundo. – Faz xixi aí e depois deixa eu entrar. – Ele falou.
Respirei fundo e desembalei o copinho de exames, abri a tampinha e posicionei-a embaixo da saída do xixi e respirei fundo, esperando que o xixi saísse, mas eu percebia que estava retendo o mesmo. Eu estava desesperada internamente, mil e uma coisas se passavam na minha cabeça. Eu e Alisson morávamos distantes um do outro, estávamos juntos há menos de um ano, eu era muito nova para ter filhos e não pensava nisso agora.
- Pronto? – Bê gritou e eu respirei fundo, deixando que o xixi saísse, me fazendo respirar fundo.
- Espera! – Apoiei o copinho na pia, finalizei o xixi no vaso sanitário, me limpei e vesti meus shorts novamente. – Pronto. – Falei, seguindo até a pia para lavar a mão e o mesmo abriu a porta.
- Ok, agora coloca essa ponta por 20 segundos dentro do xixi. – Ele falou e eu suspirei, sentindo minha mão tremer.
- Faz você. – Falei. Ele pegou e o mergulhou no xixi.
- Agora conta 20 segundos. – Ele disse. – 20, 19, 18, 17... – Fechei os olhos, enquanto ele contava, esfregando a mão uma na outra. – 13, 12, 11, 10... – Senti as lágrimas começarem a deslizar pela minha bochecha. – Eu estou aqui com você. – Ele apertou minha mão e eu suspirei. – Três, dois, um... – Ele finalizou e eu abri os olhos. – Coloque a tampa novamente e nessa mesma posição, aguarde três minutos. Um símbolo de espera vai mostrar que o teste está em andamento, quando parar de piscar, seu resultado será mostrado. – Ele falou e fechou o teste novamente, segurando-o na vertical com a ponta para baixo e o negócio começou a piscar.
- Eu vou vomitar de nervoso. – Falei, respirando fundo.
- Calma, calma! – Ele se ajoelhou em minha frente e segurou firme em minhas mãos. – Eu estou aqui contigo para todos os momentos. – Ele falou. – Você é minha irmã, minha família e que tão ruim pode acontecer? – Ri fracamente. – O que importa é que se você tiver um bebê, você tem dinheiro, um ótimo lugar, condições, familiares e amigos que dariam a vida por você. – Respirei fundo. – E o melhor de tudo isso, é que seu namorado te ama e vai embarcar nessa jornada contigo.
- Eu não sei... – Suspirei.
- Vai sim! – Ele apertou fortemente. – Ele te ama muito e está louco para passar o resto da vida ao seu lado. – Puxei o ar. – E se não tiver um bebê aí, bom, vamos ter que ir para o hospital ver o que você tem, amiga. – Suspirei.
- Eu não sei se estou pronta para isso. – Ele sorriu. – Eu sempre critiquei os jogadores por terem filhos cedo demais, por que os espermatozoides deles são fortes? – Ele riu fracamente.
- Aposto que ninguém está pronto para isso, mas essa é a graça da vida, né?! – Suspirei. – E sim, pelo visto o sêmen dos jogadores de futebol tem um poder incrível. – Ri fracamente, suspirando. – Eu te amo, ok?!
- Eu também te amo. – O senti me abraçar e escondi o rosto em seu ombro, notando um silêncio se instalar do banheiro.
Poderia dizer que passaram-se várias horas do resultado, enquanto isso acontecia, eu mantinha meus olhos bem fechados. Por mais que Bernardo falasse tudo aquilo, eu não conseguia me ver grávida, muito menos com um filho depois que ele nascesse, era muita loucura na minha cabeça, pelo menos eu tinha condições e uma família estruturada, apesar que aquilo não ajudava muito no meu psicológico.
- ?
- Hum? – Respondi.
- Parou de piscar. – Engoli em seco, sentindo-o sair do abraço.
- E aí? – Me atrevi a perguntar.
- Abra os olhos. – Ele falou.
- Não!
- Vamos, por favor. – Ele acariciou minha cabeça de novo.
- O que diz aí, Bê? – Perguntei, firmando mais os olhos. Ele soltou um longo suspiro, ficando em silêncio. Estranhei e abri os olhos em um impulso, vendo o teste bem próximo ao meu rosto e as palavras “Grávida 3+” em minha frente. – Ah não. – Falei, sentindo meu estômago borbulhar e eu me levantei da privada, virando o corpo, somente dando tempo de eu segurar meus cabelos.
- Eita. - Ele falou, segurando meus cabelos.
- Eu estou ferrada, não estou? – Falei, me levantando e seguindo para a pia.
- Não é o plano ideal, mas é legal, vai?
- É porque não está em você. – Falei, vendo-o rir e peguei a escova de dentes, colocando pasta e coloquei na boca.
- Ah, qual é, pensa que tem um mini ou uma mini Becker nascendo dentro de você. – Ele me abraçou pela cintura e eu ri fracamente. – Agora tá explicando porque suas calças não entram em você. – Suspirei.
- De quanto tempo eu estou? Fala aí? – Perguntei e ele viu na bula.
- Só fala que está há mais de três semanas, imagino que tenha sido em Roma, não?!
- Provavelmente, mal tivemos tempo para transar em Liverpool com vocês lá.
- Magoei, mas ok. – Ele riu fracamente. – Bom, hoje é dia cinco de março, então você está de dois meses e pouquinho. – Suspirei, escovando os dentes.
- Minha mente é uma tela azul, deu erro aqui, não sei o que pensar. – Falei com a voz alterada pela escova e espuma na boca, cuspindo em seguida.
- Bom, acho que antes de mais nada você tem que aceitar essa notícia, decidir o que vai fazer com ela, depois falar com o Alisson e aí vocês veem o que vão fazer. – Suspirei, gargarejando com água e depois limpando a escova.
- Como assim decidir o que vou fazer com isso?
- Você sabe que não precisa ter esse filho, certo? – Ele falou um tanto baixo e eu suspirei.
- Não, Bê, eu não consigo fazer isso. – Falei firme. – A única certeza que eu tenho é que eu vou ter essa criança, só preciso processar isso.
- Bom, já é um passo andado, posso ir atrás do enxoval? – Sorri, passando os braços pelos seus ombros e abraçando-o fortemente.
- Vamos devagar, ok?! – Sussurrei e ele riu fracamente. – Eu vou pensar melhor sobre isso, e acho que vou falar com Alisson pessoalmente, vamos nos encontrar em 10 dias, eu não consigo ter essa conversa por Skype, principalmente sabendo que eu vou chorar muito.
- E sua família? – Respirei fundo.
- Depois que eu falar com ele. – Suspirei, balançando a cabeça.
- O que você quer fazer agora? – Ele perguntou.
- Continuar deitada, pois não aguento mais vomitar, amanhã eu marco uma consulta com a ginecologista para descobrir mais sobre isso e... – Dei de ombros. – Temos sete meses por aí. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou fazer um chá para você, ok?! – Ele disse e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair.
Me encarei no espelho e suspirei, apoiando as mãos na pia. Eu realmente estava sem reação, a iminência de estar grávida era mais assustadora do que realmente estar, agora eu não sabia como agir, havia dado um tipo de curto circuito em meu cérebro e eu não conseguia processar.
Encarei meu reflexo no espelho e ergui minha blusa, virando de perfil e me encarando no espelho. Eu estava um pouco acima do peso, então não havia notado nenhuma diferença, mas parecia que eu sentia que tinha alguma coisa ali dentro. Ou melhor, alguém.
Os dias que se passaram foram muito difíceis. Eu havia conseguido marcar uma consulta com minha ginecologista uma semana depois, mas eu precisei viver durante essa semana, conversar com meus amigos do trabalho, com minha família e com Alisson. Eu sentia que as conversas eram mais rasas e que eu estava bem menos falante do que normalmente. Na minha cabeça passava um milhão de coisas de como cuidar de um bebê, o que comprar, quando comprar, como cuidar e ainda tinha o trabalho corrido que eu não estagnava em um lugar e parecia que sete meses era pouco tempo para isso acontecer, principalmente com a Copa América a caminho.
O pessoal da comunicação até percebeu que eu estava mais fraca, mas a desculpa de eu estar com uma infecção um tanto desconhecida foi o suficiente para eles pararem de fazer perguntas. Com Alisson eu fugi de algumas ligações usando a desculpa de que estava cansada demais ou até que não havia me recuperado, ele pareceu entender, também estava com os horários cheios por causa da Champions League e da Premier League.
No trabalho as coisas estavam mais calmas, mas parecia que tudo estava desmoronando. Primeiro Vinícius Júnior se lesionou e precisamos correr atrás de um substituto, o que acabou sendo David Neres.
Depois tivemos a triste notícia de que dona Ivone, mãe do Tite, havia falecido, então eu, Bianca, Lucas e Vinícius, principalmente, nos sentimos no dever de ir até o velório. Eu não estava com cabeça nenhuma para isso, mas fui, dei um forte abraço em Tite e mostrei meu apoio a ele e Matheus. Pensei se por acaso ele pudesse se ausentar do próximo amistoso, mas isso não parecia estar em sua agenda.
Dia 12 finalmente chegou e eu estava batucando as mãos e os pés na sala de espera da minha ginecologista. Eu estava sozinha, Bernardo não conseguiu ir comigo e não é como se ninguém mais soubesse.
- ! – Me chamaram e eu segui pelo corredor, vendo minha ginecologista na porta da consulta. – Oi, quanto tempo! – Ela falou e eu sorri, entrando na sala dela e vendo-a fechar a porta.
- Faz tempo mesmo. – Ri fracamente e ela deu a volta na mesa, se sentando na sua cadeira.
- E então, o que te traz aqui? Rotina? – Suspirei forte.
- Não exatamente. – Olhei para ela que apoiou as mãos na mesa.
- O que te aflige, ? – Ela perguntou e eu pressionei os lábios uns nos outros.
- Eu estou grávida! – Soltei de uma vez e ela deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Há quanto tempo suspeita? – Ela perguntou.
- Fiquei ruim por umas semanas, até que fiz o teste de farmácia. – Ela assentiu com a cabeça.
- Você sabe de quanto tempo?
- Uns dois meses, foi a última vez que eu e meu namorado transamos. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Bom, vamos confirmar isso então, certo? Eu vou te pedir vários exames de sangue, inclusive a confirmação de gravidez, mas vamos checar como está aí no seu útero? Venha! – Ela se levantou, seguindo para outra sala e eu fui até lá. – Deite-se aqui, desabotoe a calça e erga a blusa. – Ela falou.
Fiz o que ela pediu e a mesma preparou os materiais, me fazendo começar a querer hiperventilar. Respirei fundo, vendo-a colocar uma toalhinha beirando minha virilha e espremer aquele líquido gelado em minha barriga.
- Não precisa ficar nervosa, ok?!
- Mais do que eu já estou, eu acho impossível.
- Não era planejado? – Ela perguntou.
- Nem um pouco, estamos juntos há oito meses, ele mora na Inglaterra, temos trabalhos sensacionais, é complicado. – Ela riu fracamente, colocando o ultrassom em minha barriga.
- Como isso funciona?
- Depois que eu vim aqui pela última vez, eu comecei a trabalhar na CBF, aí ele é jogador da Seleção, nos conhecemos e por aí vai... – Suspirei.
- Hum, que delícia! – Ela sorriu. – Eu o conheço?
- É o Alisson, goleiro.
- Ah, aquele lindo? – Ri fracamente.
- Ele mesmo.
- Nossa, você namorando o Alisson, que chique, hein?! – Ri fracamente. – Bom, as suspeitas são verdadeiras, , aqui está seu bebê. – Ela virou a tela para mim e colocou o dedo próximo ao pequeno embrião ali dentro, me fazendo respirar fundo e encolher a barriga. – Ele é muito pequeno ainda, mas já começa a se formar. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas. – Você quer ouvir o coração dele?
- Já dá para ouvir? – Perguntei.
- Já sim. – Ela disse e aumentou o som, fazendo com que um barulho forte fosse ouvido pela sala. – O coração do bebê é o primeiro órgão a se formar.
- Meu Deus! – Passei as mãos nos olhos, emocionada.
- Eu tenho várias informações para te passar, precisamos fazer seus exames, pré-natal, cuidados e dicas, tudo para esse bebê sair bem saudável daqui de dentro. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, doutora, eu estou desesperada, não estava pronta para isso, ainda acho que não estou, mas vamos encarar. – Suspirei.
- Assim que eu gosto de ouvir. – Ri fracamente. – Você quer algumas fotos? Vídeos?
- Sim, ainda não contei para meu namorado. Talvez ele precise de provas. – Ela riu fracamente.
- Vai dar tudo certo, e não se esqueça, você não está sozinha. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Ela sorriu.
- Bom, vamos voltar para a sala que eu tenho várias informações para te passar. – Ela limpou minha barriga, tirando o gel. – Pode se organizar na salinha e eu já te passo as informações e faço uma lista de exames para você.
- Ok! – Segurei a toalha em minha barriga e corri para o banheiro.
- Aqui estão os exames de sangue que eu quero que você faça, encaminhamento para uma nutricionista, exercícios indicados para você fazer durante o período gestacional e, quiçá, para vida. – A médica ia colocando os papéis na mesa. – Por enquanto, você tem alguma dúvida?
- Muitas, na verdade. – Suspirei, juntando os papéis. – É muito para processar, eu não esperava isso, eu... – Suspirei. – Eu não sei se estou pronta para isso. – Ela segurou minha mão em cima da mesa.
- Você tem escolhas, você sabe disso, não?! – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mas eu quero continuar com isso, eu não tenho coragem... – Ela assentiu com a cabeça.
- Bom, então já que essa é sua decisão, faremos da forma mais calma possível, ok?! Eu estou disponível para tirar qualquer dúvida que você possa ter, qualquer mesmo. – Ela negou com a cabeça. – Nenhuma pergunta é boba, é a sua primeira vez nisso, nenhuma gravidez é igual a outra, então vai se descobrindo, vai aceitando a ideia, com o passar os dias o medo vai embora e você vai começar a aproveitar. – Engoli em seco.
- Espero que depois que eu contar para as pessoas envolvidas, essa dor no peito melhore. – Ela sorriu.
- Vai melhorar, você vai ver. E você disse que seu namorado já tem uma filha, aposto que ele vai gostar da ideia. – Suspirei. – Então, te vejo assim que tiver o resultado dos exames, ok?!
- Eu tenho uma dúvida... Por agora.
- Pode falar. – Suspirei.
- No dia da... – Procurei as palavras certas. – Inseminação, eu não me lembro de usarmos camisinha, foi tudo muito rápido, muito agitado, muito tensionado que eu acho que não usamos mesmo, mas o anticoncepcional não deveria segurar isso?
- Às vezes as coisas acontecem sem que a gente saiba o motivo. – Ela riu fracamente. – Às vezes jogar a culpa em Deus é a melhor forma, não sei se acredita Nele... – Assenti com a cabeça, confirmando. – É uma forma de prevenção, mas nem todas são exatas e garantidas, camisinha não é garantia, anticoncepcional não é garantia, nem pílula do dia seguinte é garantia... – Assenti com a cabeça. – Você disse que ficou oito dias sem a pílula, seu corpo achou que era uma ótima oportunidade para fazer isso funcionar. – Ri fracamente.
- Que ideia de jerico, não?! – Ela riu fracamente. - Bom, eu vou encarar isso, bebê. – Falei olhando para minha barriga. – Você vai ser bem-vindo, prometo.
- Assim que eu gosto. – Ela suspirou. – Mais alguma coisa?
- Sim! – Falei firme. – E sobre viagens? – Perguntei. - Eu viajo muito, tanto que em três dias eu vou viajar novamente para Portugal. Meu trabalho é isso. – Ela suspirou.
- Não é recomendado viajar de avião nos três primeiros meses de gravidez, mas isso no geral, pois as chances de aborto espontâneo são maiores. – Fiz uma careta. – Mas não vou te obrigar a não ir, principalmente sabendo que você vai contar para seu namorado nessa viagem. – Assenti com a cabeça. – Então se cuida, ok?! Ande bastante, tome bastante líquido, coma sempre que possível. Assim já são boas as chances de manter seu bebê aí dentro. – Confirmei com a cabeça. – Agora, depois que você voltar e constatarmos que ele realmente está aí, você vai ter que conversar no seu trabalho, com seu namorado e parar a partir da 27 semanas...
- Eu não sei contar como grávida. – Falei, vendo-a rir.
- Ainda não, isso são próximo dos sete meses, mas cada caso é um caso. – Ela apoiou as mãos na mesa. – Essa é sua primeira gestação, você não tem pressão alta, nem diabetes ou alguma doença crônica, você não teve nenhum sangramento, é jovem, sua saúde está perfeita... Vai dar tudo certo. – Assenti com a cabeça. – Só não dar bobeira também. – Confirmei com a boca. – Siga as orientações que você vai pegar esse bebê com a mão nos próximos sete meses. – Sorri.
- Bom, acho que é isso, por enquanto. – Soltei o ar fortemente.
- Se tiver qualquer dúvida, você tem meu WhatsApp, pode mandar mensagem a hora que for, que eu te respondo. Lembrando: nenhuma dúvida é boba. – Assenti com a cabeça, me levantando junto dela. – Vai dar certo.
- Vai sim! – Suspirei. - Só preciso me organizar. – Ela me abraçou rapidamente.
- E aproveite, ok?! É um momento importante. – Suspirei, relaxando os ombros. – Te vejo assim que possível.
- Ok, obrigada por tudo.
- Que isso! – Ela sorriu e abriu a porta, me fazendo suspirar com todos aqueles papéis e indicações nas mãos.
Era muita coisa para processar!
- ! – Me assustei com o grito de Bianca e virei o rosto.
- Oi! – Falei.
- Você está bem? Eu estou te chamando há uns 10 minutos já. – Suspirei, passando a mão no cabelo e vendo o WhatsApp Web com várias mensagens não lidas.
- Desculpa, estou um pouco desligada. – Balancei a cabeça.
- É, estamos vendo. – Lucas falou.
- O que você disse?
- Mané fez mais um, três a um para o Liverpool. – Suspirei.
- Ah, legal! Acabou?
- Faltam os acréscimos, mas acho que acaba assim. – Lucas disse.
- Você está bem mesmo? – Bianca perguntou. – Ficamos para ver o jogo contigo, mas você mesmo é a menos interessada.
- Você está assim faz quase uma semana. O que houve? – Vinícius falou. Suspirei, vendo os três me encarando, fazendo eu me sentir pressionada.
- Desculpa, é que tem tanta coisa acontecendo... – Suspirei.
- Fala com a gente, você sabe que pode contar com a gente para o que for, não sabe? – Lucas perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Só estamos nós aqui, o que houve? – Foi a vez de Vinícius e eu respirei fundo, fechando os olhos. As lágrimas surgiram de repente, fazendo eu levar as mãos aos olhos, pressionando-os.
- Ei, não precisa chorar. – Ouvi a voz de Bianca.
- Eita, que o negócio é sério. – Lucas falou e senti uma mão em minhas costas e outra pessoa me abraçar.
- Fala com a gente. – Bianca sussurrou contra meu ouvido.
Ergui a cabeça, passei as mãos nas bochechas e Lucas me estendeu um lenço de papel. Passei rapidamente nas bochechas, respirando fundo e olhando para os três que já estavam mais perto de mim agora.
- Eu estou grávida. – Falei, sentindo meu lábio tremer e só vi seis olhos arregalaram na minha frente e ficarem em silêncio.
- É por isso que você... – Interrompi Vinícius.
- Sim. – Falei. – Estou vomitando, estou apática e sei lá mais o quê.
- Quando você descobriu? – Bianca perguntou.
- Faz uns 10 dias, fui fazer o primeiro ultrassom ontem...
- Por isso você saiu mais cedo. – Assenti com a cabeça.
- Devemos te parabenizar? – Vinícius perguntou e eu suspirei.
- Eu não sei. – Engoli em seco. – Eu ainda não processei a ideia, também não falei para o Alisson ou para minha família. Só vocês e o Bernardo sabem. – Suspirei, sentindo outra lágrima escorrer pela minha bochecha.
- Você vai seguir com essa gravidez, você vai terminá-la? – Bianca perguntou.
- Por que todo mundo está me perguntando isso? Eu não vou abortar, eu vou seguir. – Falei brava.
- Então eu vou te dar parabéns. – Lucas falou me abraçando forte. – Imagino que você deva estar surtada com essa informação, eu e Mariana surtamos quando descobrimos também, mas são coisas da vida, você vai ver. Em breve você não vai se lembrar como era sua vida sem esse serzinho. – Suspirei, apertando-o contra meu corpo.
- Mas como eu vou fazer isso dar certo? – Perguntei, engolindo em seco. – Eu estou aqui, Alisson está lá. Eu só tenho 25 anos, gente! – Senti que minha voz afinou e eu comecei a chorar novamente. – Eu estou apavorada.
- Ah, minha amiga. – Foi a vez de Bianca se juntar ao abraço. – Vai ficar tudo bem, aposto. O que importa é que vocês dois se amam, tem condições para criar essa criança e tudo mais. – Suspirei. – O trabalho a gente ajeita. – Suspirei.
- O que Alisson disse? – Vinícius perguntou.
- Eu ainda não contei para ele. – Fiz uma careta. – Quero contar pessoalmente. – Suspirei. – Estou com medo.
- Do Alisson? – Bianca perguntou rindo fracamente.
- Da reação dele. – Suspirei.
- Aposto que ele vai te apoiar sem nem pensar duas vezes. – Ela falou mais alto. – Ele te ama, e ele já tem uma filha, ele já passou por isso.
- Aí que tá, ele já passou por uma gravidez não planejada, não sei se ele está preparado para outra.
- Eu o conheço, ele vai curtir. – Lucas falou.
- É, jogadores de futebol tem o dom de ter filho cedo. – Vinícius falou sarcasticamente e eu ri.
- Eu só não queria isso agora, sai totalmente dos meus planos.
- Às vezes a gente precisa de uma coisa para sacudir nossas vidas, não?! – Lucas piscou. – E isso nem vai te tirar dos eixos, vai te colocar nele.
- Eu sei que você está com medo, mas estaremos contigo, ok?! Em todos os momentos, se você quiser apoio para contar para ele e tudo mais, estaremos contigo. – Assenti com a cabeça, abraçando Bianca fortemente e senti Lucas e Vinícius entrarem no abraço.
- Te amamos, ok?! – Vinícius sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Agora coloca um sorriso no rosto, tá?! É uma coisa boa. – Lucas falou beijando minha cabeça e eu assenti com a cabeça.
- Eu posso aproveitar esse momento? Nunca tive ninguém próximo a mim grávida. – Bianca falou fofa e eu ri fracamente.
- Pode, mas que isso não saia daqui até eu resolver tudo com Alisson, pode ser? – Falei e os três afirmaram com a cabeça.
- De quanto tempo você está?
- 10 semanas. – Suspirei, vendo Bianca se abaixar e colocar as mãos na minha barriga. – Não dá para sentir nada ainda, Bi! – Falei e os três riram.
- Ah, quero aproveitar, vai! – Ela sorriu, se levantando. – É por isso que a sua calça não entrou aquele dia! – Ela falou surpresa.
- É, eu preciso fazer compras urgente. – Suspirei.
- Bom, acho que devemos ir comemorar, você precisa começar a aproveitar isso. – Lucas falou.
- Sim, vamos! – Vinícius falou animado. – Chama o Bernardo, ele está de folga?
- Não, mas podemos ir até o Outback que ele trabalha. – Falei.
- Partiu, então. – Lucas falou e eu sorri.
Voltei para o computador com as abas abertas e mandei uma mensagem rápida para Alisson:
“Bom jogo, vou sair para jantar com o pessoal da empresa. Nos falamos amanhã. Te amo”. - Desliguei tudo e saí junto com o pessoal, sentindo eles me abraçarem pela cintura e comecei a me sentir um pouco mais leve.
- Ah, mais essa agora. – Falei ao olhar o celular.
- O que foi? – Bernardo perguntou.
- Filipe Luís foi cortado por lesão. – Suspirei, bloqueando o celular. – Tite escolheu Alex Telles no lugar.
- Isso é ruim? – Ele perguntou.
- Ah, vai ser até bom não ter o Filipe Luís enxerido nesse momento, ele implica, mas eu gosto dele. – Ele riu fracamente.
- Pelo menos você vai ter mais privacidade para falar com o Alisson. – Ele veio arrumado em minha direção.
- É, não sei, gente nova torna as coisas mais difíceis, mas vai ser legal. – Suspirei.
- Eu estou indo, ok?! A gente se vê mais tarde, caso você esteja acordada ainda. – Ele me deu um beijo na testa e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Bom trabalho. – Ele falou e acenei, vendo-o sair pela porta.
Virei o rosto para o lado, vendo algum desenho tonto na televisão e suspirei, fechando os olhos. Senti o celular vibrar no colo novamente e eu peguei o mesmo, vendo uma mensagem de Aline, namorada de Arthur.
“Ei, como você está? Faz tempo que não conversamos”. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior e ponderei com a cabeça, acho que eu estava precisando de um conselho um pouco mais profissional.
“Oi, posso te ligar agora?” – Respondi, tendo a resposta logo em seguida.
“Claro, o que houve?” – Me sentei no sofá, cruzando as pernas no assento e apertei o botão de ligação em vídeo, vendo-o começar a tocar.
- Oi, , tudo bem? – Sorri ao ver seu rosto na tela no celular.
- Oi, Aline, tudo bem e contigo?
- Por aqui tá tudo certo. Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou e eu soltei um longo suspiro.
- Em partes aconteceu. – Franzi o lábio inferior.
- Sabe que pode contar comigo, certo? Como amiga e como psicóloga. – Sorri.
- E você não tem ideia de como isso me ajudou muito. – Suspirei. – Melhor presente de 2019. – Ela sorriu.
- Fico feliz em saber disso.
- Bom, o segundo melhor presente, eu acho. Ainda estou analisando. – Ela franziu a testa e riu fracamente.
- Como assim? O que houve?
- Arthur está por aí? – Perguntei.
- Está tomando banho. Por quê?
- Eu queria sua opinião em algo. – Suspirei, balançando a cabeça. – Eu vou encontrar o Alisson em dois dias e eu não sei como ele vai reagir, então estou achando formas de as pessoas aliviarem isso para mim, falar que vai ficar tudo bem, mas até agora ninguém conseguiu.
- Você está me assustando, , o que houve? – Mordi meu lábio inferior, suspirando algo.
- Eu estou grávida, Aline.
- O quê? – Ela perguntou um tanto alto. – Desculpa a reação, mas esperava uma doença ou algo assim. – Ri fracamente.
- Fico feliz por não ser. – Rimos juntas. – Eu estou grávida.
- Quem? – Ouvi uma terceira voz e Aline virou para o lado, Arthur deveria ter saído do banho. -Com quem você está falando?
- Desculpe. – Aline falou e eu abanei com a cabeça.
- ? Você está grávida? – Aline abriu o ângulo do celular e vi Arthur se aproximando da tela somente com uma toalha na cintura.
- Eu não preciso ver isso, querido. – Falei e ele se abaixou rapidamente, ficando vermelho de vergonha.
- Desculpa. – Ele falou. – Mas você está grávida? – Assenti com a cabeça.
- Sim, descobri faz uns dias e não, Alisson não sabe.
- Isso é ótimo! – Ele falou animado e eu e Aline franzimos o rosto junto.
- Mesmo? – Perguntei. – Assim, eu estou levemente desesperada, então ouvir isso é um tanto contraditório. – Ele riu fracamente.
- Tá, ok, vocês são jovens ainda e moram longe, vão ter que ver como resolver esse departamento ainda, mas é uma boa notícia isso. – Ele abriu seu largo sorriso.
- Esclareça, por favor, que eu só estou pensando na distância. – Suspirei.
- Você já deve ter ouvido falar que só o amor forte entre duas pessoas traz outro ser ao mundo, não?!
- Em contos de fadas. – Falei sarcástica e Aline riu.
- Ah, qual é, , você é mais esperta que isso. – Suspirei. – É algo bom, você vai ver, além do mais, eu vou adorar seu titio.
- Entra na fila! – Falei e eles riram. – Bernardo, Lucas, Vinícius, você... Além dos nossos parentes que não sabem. – Suspirei.
- Não contou para sua família ainda? – Aline perguntou.
- Não, quero falar com Alisson antes, mas Bernardo me ajudou a descobrir, acabei contando para Bianca, Lucas e Vinícius que me notaram estranha e agora você e esse fuxiqueiro do seu lado. – Arthur riu fracamente.
- Não era para ele ter ouvido, desculpa. – Aline falou.
- Tudo bem, Arthur é um bom amigo, ter mais um apoio em Portugal vai ser uma boa. – Suspirei.
- Tudo pronto para a viagem? – Arthur perguntou.
- Fiz minhas malas hoje de manhã, o voo é amanhã as cinco da tarde. – Suspirei.
- Eu tenho jogo amanhã, devemos nos ver só segunda.
- O Alisson também. – Suspirei.
- Como está sendo falar com ele? – Aline perguntou.
- Hum, vamos dizer que eu tenho usado várias desculpas para evitar entrar em chamada de vídeo com ele. Ele nota quando eu tenho uma unha encravada, imagina quando perceber meu nervosismo. – Arthur assentiu com a cabeça.
- Alisson é bem cuidadoso e preocupado com ela. – Ele falou para Aline.
- Indico você fazer isso logo que se encontrarem, assim vocês têm alguns dias para processar a informação e resolverem o que vão fazer. – Balancei com a cabeça.
- Eu estou bem perdida sobre tudo, confesso. Já fiz exames, já fui na médica, está tudo ok, agora nós dois a um oceano de distância me alopra um pouco. – Aline assentiu com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, confia. – Aline falou.
- Qualquer coisa, vai ter muita gente que te ama lá para te apoiar incondicionalmente. – Arthur falou. – Estaremos contigo.
- Isso me deixa muito feliz. – Sorri. – Vocês são ótimos.
- Eu sei! – Arthur falou e Aline o empurrou, fazendo-o sair da tela um pouco, me fazendo rir.
- Eu sei que meu nervosismo é à toa, Alisson é a melhor pessoa que eu conheci na vida, ele realmente tem um coração bom e eu tenho muita sorte de ter me apaixonado por ele e ele por mim, mas...
- É inevitável, eu sei. – Aline falou. – Você sabe nossa história, foi muito difícil resolver tudo, mas aqui estamos. – Sorri.
- Talvez um pouco de inspiração seja o que eu preciso. – Ri fracamente.
- Só olhar a história de amor de vocês dois, vai ficar tudo bem. – Arthur falou e eu assenti com a cabeça.
- Estou confiante que sim, mas pensando em planos B.
- Barcelona é bem perto... – Aline falou e rimos juntos.
- Pronta? – Lucas perguntou.
- Eu mencionei que existem grandes chances de aborto nos primeiros meses? – Sussurrei entre ele e Bianca.
- Por viajar? – Bianca perguntou apressada, mantendo o tom de voz.
- No geral, mas voar não é muito indicado. – Falei.
- E o que fazer quando você está a minutos de fazer isso? – Lucas perguntou.
- Andar bastante e me hidratar. – Falei.
- Você vai acordada até Lisboa, porque eu vou te obrigar a isso. – Bianca falou e eu ri.
- Vai dar certo, vamos levar essa criança para dar uma volta do lado de lá. – Lucas sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Aeronave preparada para partir. – Ouvi o rádio do piloto e puxei a respiração fortemente, sentindo meu corpo arrepiar.
- Estamos aqui com você. – Lucas falou esticando a mão e eu a segurei, sentindo Bianca fazer o mesmo do outro lado e senti meus olhos encherem de lágrimas quando Vinícius tocou meu ombro da poltrona de trás.
Fechei os olhos quando a aeronave começou a correr pista e algumas lágrimas não evitaram em escapar de meus olhos, mas não era de medo, era de emoção. Eu sabia que ali, ligando nós quatro, era algo muito maior do que amizade, era algo muito mais forte, era amor. Senti as rodas do avião saírem do chão e suspirei, fazendo uma reza silenciosa, pedindo que tudo não passasse de nervosismo bobo.
Fechei a porta, deixando a chave na mesma e passei pelo apartamento, sentindo um incrível cheiro de produto de limpeza no local. Pelo menos a faxineira veio. Passei pelo corredor, puxando minha mala pelo chão do apartamento e parei em frente ao quarto de Bernardo, vendo-o babando no travesseiro. Suspirei e segui em direção ao meu quarto, deixando minhas coisas e voltei para o quarto de Bernardo, me sentando na beirada de sua cama.
- Vamos acordar, criança! – Falei próximo ao seu ouvido, sem resultado. – Bernardo! – O chamei novamente, fazendo cócegas em seu pescoço e nada. – BERNARDO! – Gritei em seu ouvido, vendo-o pular de susto.
- Meu Jesus, , podia ter sido mais delicada. – Ele resmungou e eu me levantei.
- Tentei, mas parece uma pedra dormindo. – Ele coçou os olhos e finalmente os abriu.
- Trabalhei até tarde ontem, acredita que ainda tem gente fazendo confraternização de fim de ano? – Sorri.
- Pior que eu não duvido. – Suspirei, me sentando na sua poltrona e ele se sentou na cama.
- Como foi a viagem? – Ele perguntou.
- Ah, foi ótima, dormi até chegar aqui. – Ele sorriu.
- Eu quis dizer lá em Roma. – Ele desdenhou como se fosse óbvio e eu fiz uma careta.
- Ah, foi maravilhoso, Bê! Eu me senti uma rainha. – Joguei a cabeça para trás. – Ficamos em um hotel do lado do Coliseu, do lado mesmo. Uma suíte gigantesca com uma vista impecável. – Suspirei. – Passeamos pouco pela cidade, sabe? Mal tenho roupa para lavar. – Pisquei e ele negou com a cabeça.
- Imagino mesmo, ele é muito bom, , e ele realmente te ama. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei! – Abri um largo sorriso, vendo-o rir.
- E agora? – Ele perguntou.
- Como assim?
- Quando vocês vão se ver de novo? – Suspirei.
- Se tudo der certo... – Usei a frase que eu mais odiava. – Próximo amistoso que vai ser só em março, mas faz parte. – Suspirei.
- Bom, trabalhe como se o dia não tivesse amanhã e é isso aí. – Dei de ombros.
- Sempre, não é mesmo? – Ele sorriu. – Bom, eu estou com fome, o que tem para comer?
- Eu fiz bolo de cenoura ontem, tá no micro-ondas. – Fiz uma careta.
- Preciso emagrecer, estou comendo muito errado. – Ele riu.
- Eu preciso ir junto, você ainda faz exercícios, eu estou já parecendo uma bolinha. – Ele puxou a blusa do pijama, deixando a barriga à mostra, me fazendo rir.
- Ai! – Fiz uma careta. - A gente pode começar depois que o bolo acabar, né?! – Fiz uma careta.
- Podemos! – Ele sorriu.
- Só vou tirar essa roupa e mandar uma mensagem para o Alisson.
- Beleza! – Ele falou animado e seguiu para o banheiro, batendo a porta.
- Olha quem acabou de chegar de Roma, toda fina e toda chique! – Michelle gritou assim que eu apareci na comunicação no dia seguinte e eu só consegui pressionar meus lábios, rindo fracamente. – Como foram as férias? – Ela me abraçou rapidamente.
- Ah, foi ótimo. – Sorri.
- Imagino! – Rimos juntas. – Eu logo chego lá! – Ela falou seguindo para sua sala e eu segui para a da minha equipe, acenando para outros funcionários. – Oi, gente! – Entrei, encontrando algumas pessoas lá dentro.
- Cansou do exterior, linda? – Ana brincou e eu ri fracamente, abraçando-a.
- Feliz ano novo! – Falei, ignorando-a completamente.
- Feliz ano novo, linda! – Rimos juntas.
- E aí, como foi Liverpool e Roma e mais Liverpool? – Vinícius falou entrando na sala e eu sorri, abraçando-o fortemente.
- Ah, foi ótimo. – Sorri.
- Eu vi as fotos, como foi com sua família e a dele? – Segui até minha mesa, ligando o computador.
- Deu tudo incrivelmente bem. – Ri fracamente. – Meu pai ficou de graça por um tempo, mas depois parecia A Grande Família. – Eles riram.
- Fala aí, galera! – Lucas falou entrando na sala de reunião junto de Débora e Diana.
- Oi! – Falei rindo, abraçando-o fortemente.
- Fala aí, moça internacional! – Neguei com a cabeça.
- Vocês param, hein?! – Dei um empurrão em seu ombro, vendo-o sorrir e segui para abraçar Débora e Diana.
- Mas fala, como foi? Vi as fotos. – Lucas perguntou, seguindo para seu lado e eu me sentei na minha cadeira.
- Ah, foi ótimo, foi bom mesmo, tirando as diversas viagens de avião e carro, foi muito bom.
- E Roma? Não sabia que você ia para lá. – Ele comentou se sentando na mesa à minha frente.
- Eu também não, foi um presente de Natal do Alisson. – Abanei a mão. – Foi totalmente inesperado. – Comentei.
- Voltamos! – Bianca e Leandro apareceram na porta e corri abraçar Bianca.
- Ah, menina, que saudades! – Ela me apertou. – Feliz ano novo!
- Para vocês também! – Abracei Leandro em seguida.
- Foi para Roma, hein?! Eu vi as fotos, como foi?
- Foi ótimo. – Sorri. – Fomos só nós dois, então foi muito calmo, pudemos aproveitar um pouco.
- Você vai postar mais fotos? – Bianca perguntou, se sentando ao meu lado.
- Hum, na verdade, só tem as do ano novo mesmo. – Fiz uma careta.
- Só? – Ela falou quase gritando. – Você foi para Roma e só tem aquilo de fotos?
- Nós ficamos sozinhos em uma suíte incrível em um hotel do lado do Coliseu, você realmente acha que eu me lembrei de tirar foto? – Perguntei, revirando os olhos.
- Pelo jeito a coisa foi boa, hein?! – Lucas me zoou e eu pisquei para ele.
- Três dias sozinha com Alisson e um hotel seis estrelas maravilhoso, você acha? – Respondi provocando e ele gargalhou, esticando a mão para Vinícius que bateu.
- Espero que tenham aproveitado bastante, pois o próximo amistoso é só em março. – Fiz uma careta, balançando a cabeça.
- Pelo visto você não viu as fotos dos nossos queridos jogadores, viu?! – Débora falou e eu franzi a testa.
- Por quê? Alguma merda? – Perguntei.
- Ah, Neymar causando sempre, né?! – Bianca falou e me estendeu o celular.
Peguei o aparelho e arregalei os olhos ao ver muitas mulheres na foto, olhando rápido parecia que tinha umas 30 meninas e, no topo, com as maiores poses de machão, Neymar, Gabriel Medina e...
- É O ARTHUR? – Gritei.
- É! – Eles falaram em coro.
- Nossa, eu vou dar nesse garoto, cara, ele fica todo apaixonadinho, pegando conselhos amorosos e aparece nesse harém? – Revirei os olhos.
- Ele não postou essa foto, mas foi pego no fogo cruzado.
- Nossa, ainda bem que tem uns dois meses até encontrá-lo, mas vou encher de porrada. – Peguei rapidamente meu celular, caçando a conversa com ele.
- Bom, mas antes, temos muito trabalho até lá. – Angelica falou sendo a última da equipe a entrar na sala e bateu a porta, me distraindo. – Feliz ano novo para todo mundo, como foi de viagem?
- Feliz ano novo! – Falamos juntos.
- Foi tudo bem! – A voz de Bianca sobressaiu.
- Imagino que para alguns tenha sido mais legal que outros. – Angelica falou olhando para mim e eu ri fracamente. – Bom, eu fui para Búzios, tá?! – Rimos juntas. – Não é nenhuma Roma, mas tá valendo. – Sorri.
- Búzios é melhor do que a praia de Copacabana. – Lucas falou e a sala caiu em gargalhadas.
- Bom, vamos começar, porque tem muita coisa para rolar, ok?! – Angelica falou, puxando o quadro para perto e pegando a caneta. – Janeiro vai ser bem corrido e acho que só nossa equipe não dá conta. – Ela começou a escrever coisas na lousa e eu peguei meu bloco de anotações. – Hoje nós teremos um evento lá no Maracanã na parte da tarde, Ronaldinho Gaúcho vai ganhar uma estrela na calçada da fama. Todos estão convidados a participar e precisaremos de Lucas, Leandro e uma das assessoras para acompanhar. Vocês decidem. – Assenti com a cabeça.
- Vocês que sabem. – Falei. – Mas eu preciso conhecer ele. – Elas riram.
- Eu vou. – Bianca falou e assentimos com a cabeça.
- Precisamos de uma equipe de assessores para ir para o Chile com a Sub-20 no dia 14 e teremos alguns eventos com a feminina na próxima semana.
- Eu fico com a feminina! – Falei.
- Chile! – Anna falou e assentimos com a cabeça.
- Tá e no dia 24, tem sorteio de grupos da Copa América, então quero o quarteto. – Angelica falou. – Bianca, , Lucas e Vinícius, a não ser que um de vocês morram, a Copa América é de vocês!
- É DISSO QUE EU ESTOU FALANDO! – Vinícius falou um pouco alto demais e não tivemos nem tempo de comemorar a conquista, pois gargalhamos no segundo seguinte.
- Acalma o coração, Vini! – Falei, tentando segurar a risada.
- Bom, gente, eu vou passar os briefings para quem eu falei e vamos trabalhar. – Ela bateu as mãos uma com a outra e virei para o computador, colocando minha senha.
- Ah, foi só piada! – Falei para o Alisson, vestindo meu pijama.
- Ah, eles gostam muito de você, não perderiam a oportunidade. – Sorri, me sentando na cadeira e ajeitando a inclinação da tela do notebook.
- E quando perguntaram se tinha mais fotos? – Ele gargalhou.
- Então, galera, estávamos ocupados... – Ele falou e eu sorri, negando com a cabeça.
- Muito ocupados! – Pisquei. – Roma é linda, mas... – Suspirei. – Como foi o jogo ontem?
- Perdemos, mas eu não joguei...
- Isso me alivia um pouco, mas é triste para o time de forma geral...
- Você não vai analisar como um time grande precisa ter o goleio titular e o reserva na mesma vibe, né?! – Fechei a boca.
- Eu ia, mas não falo mais. – Rimos juntos.
- Desde que eu entrei no time, Klopp fala que o Mignolet está estranho, então eu não palpito, não discuto, não sugiro e fico na minha.
- Errado não está. – Suspirei. – Quando é o próximo jogo?
- No sábado contra o Brighton, devo jogar.
- Vou tentar assistir. – Pisquei.
- Então, como foi o evento?
- Ah, o Ronaldinho Gaúcho é sensacional! – Falei animada. – Tirei bastantes fotos, vou postar mais tarde! – Ele sorriu.
- Eu tive o prazer de conhecê-lo um dia, ele é ótimo mesmo.
- Parece que eu era a prima dele, ele é caloroso demais, animado demais. – Sorrimos. – Acho que ele estava levemente bêbado, mas foi legal.
- E amanhã? Normal?
- Normal, sem surpresas, por enquanto. – Rimos juntos.
- Eu tenho que ir deitar, o pessoal foi embora hoje e confesso que estou precisando de férias.
- Helena também?
- Sim. – Ele assentiu com a cabeça. – Natália voltou da lua-de-mel, acho que agora eu só a encontro na Copa América, vamos ver, tem o aniversário dela antes.
- Se por acaso eu for designada para alguma viagem no Sul, eu falo com a sua mãe, vejo de encontrá-la. – Ele sorriu.
- Obrigado! – Assenti com a cabeça.
- Bom, hora de dormir, né?! Já está tarde para mim, imagina para você.
- Vai para academia amanhã? – Ele perguntou.
- Como? – Ergui o braço engessado.
- Quando você tira isso?
- No fim do mês. – Suspirei. – Pior que o gesso já está todo estranho depois do jogo aí na sua casa. – Rimos juntos.
- Desculpe!
- Desculpa o caramba! – Falei rindo. – Três carrinhos, Alisson, tá explicado porque você joga no gol.
- Foi só para te provocar, vai! – Neguei com a cabeça, vendo-o rir.
- Vai dormir, Alisson, nos falamos amanhã, ok?!
- Ok, eu te amo. – Ele disse, mandando um beijo para ela.
- Eu também! – Repeti e acenei para ele, suspirando, demorando um pouco, antes de desligar a ligação.
- Acho que é isso, então. – Bianca falou ao meu lado, anotando as últimas informações e eu virei para ela.
- Repete para eu colocar no briefing, por favor. – Falei, apertando a setinha até o local exato dos grupos no Word.
- Ok, grupo A: Brasil, Bolívia, Venezuela e Peru. – Digitei rapidamente. – Primeira semana: Brasil e Bolívia, Venezuela e Peru. – Assenti com a cabeça. – Segunda: Bolívia e Peru, Brasil e Venezuela. E terceira: Peru e Brasil, Bolívia e Venezuela.
- Ok, vai para o grupo B. – Falei, pulando algumas linhas.
- Grupo B: Argentina, Colômbia, Paraguai e Catar. – Ela falou. – Argentina e Colômbia, e Paraguai e Catar.
- Ok...
- Colômbia contra Catar, Argentina e Paraguai na segunda semana. E Catar e Argentina, e depois Colômbia e Paraguai na terceira semana. – Finalizei de digitar.
- Grupo C?
- Uruguai, Equador, Japão e Chile. – Assenti com a cabeça. – Primeira semana Uruguai e Equador, Japão e Chile. Depois Uruguai e Japão, e Equador e Chile, depois Chile e Uruguai e Equador e Japão.
- É isso? – Confirmei.
- É isso! – Fiz o comando para salvar o arquivo e fechei o notebook, vendo o evento de sorteio da Copa América começando a esvaziar e grupos de jogadores novos e veteranos conversando.
- O que você achou dos grupos? – Bianca me perguntou.
- Não sei opinar. – Suspirei. – Mas acho que Japão e Catar vêm só para passear mesmo.
- Penso o mesmo, mas vai que surpreendem, né?! – Rimos juntas.
- Quem sabe? – Tirei o celular da bolsa, abrindo a conversa de Alisson.
“Te vi no sorteio rapidamente, tá linda”. – Sorri com a mensagem, respondendo.
“Obrigada! O que achou dos grupos? Prontos para ganhar?” – Coloquei o aparelho no colo, virando o rosto à procura de Lucas ou Vinícius.
- Você vai querer ficar para o coquetel? – Perguntei para Bianca.
- Não sei, são mais de nove horas já, eu preciso descansar, acabei de voltar de viagem. – Assenti com a cabeça.
- Verdade! – Suspirei. – Eu trabalho normal amanhã, e ainda vou fazer hora extra porque vou tirar o gesso na segunda, não sei quanto tempo vai demorar.
- Mas não é só tirar? – Ela perguntou.
- Eles vão querer fazer mais um raio-X para ver se está tudo certo e ter uma consulta, sabe como é o plano, né?! Vou ficar o dia inteiro esquentando a bunda na sala de espera.
- Aff! – Ela reclamou. – Odeio isso. – Paga plano para quê?
- A gente não paga, né?! – Falei e ela riu fracamente.
- Obrigada, CBF. – Peguei o celular novamente, vendo a resposta.
“Tu me conhece, muito cedo para falar alguma coisa, vamos esperar um pouco”. – Ri fracamente, bloqueando o celular.
- Alisson não quer analisar nada antes da hora. – Falei.
- Errado ele não está. – Vinícius falou, aparecendo ao nosso lado.
- Está livre? – Perguntei.
- Sim, o Lucas também, ele logo aparece. – Ele se sentou ao meu lado.
- O que você achou dos grupos? – Bianca perguntou a ele.
- Sei lá, cara! – Ele riu em seguida. – América do Sul é forte, oh! Negócio não vai ser fácil! – Ri fracamente.
- Ah, não começa, hein?! – Ele e Bianca riram juntos.
- Oi, gente, estou livre! – Lucas falou, aparecendo ao nosso lado com o tripé apoiado no ombro.
- Vocês querem ficar para o coquetel? – Bianca perguntou.
- Eu passo, estou quebrado! – Vinícius falou.
- Lucas? – Bianca virou para ele.
- Não é como se não fossem ter outros, né?! – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Vocês vão para onde? – Perguntei.
- Casa? – Eles falaram meio juntos.
- Vamos ver se o Marcos está aí ainda, vamos até a CBF com ele e de lá rachamos um Uber.
- Eu topo! – Lucas foi o primeiro a falar.
- Pode ser, eu estou mais longe mesmo. – Rimos juntos.
- Vamos sim, só finalizar os protocolos. – Bianca falou se levantando e eu coloquei o notebook na mochila, fechando-a e me levantando também.
- Cadê Angelica? – Vinícius perguntou e todos olhamos em volta, nos assustando quando os quatro celulares tocaram juntos.
- E-mail? – Perguntei.
- Sim, briefing. – Abri o e-mail, olhando a notícia rapidamente.
- “Neymar se machuca em jogo do PSG pela Copa da França”. – Lucas leu alto.
- De novo? – Falei um tanto alto. – Que caralho! – Respirei fundo.
- Bom, para os próximos amistosos capaz de ele estar fora, agora na Copa América... – Lucas falou.
- Precisamos dele na Copa América. – Vinícius falou.
- O Ney é muito bacana, mas acho um tanto exagerado, não?! – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu falo que a formação ideal é aquela que o Neymar é isca. – Ergui os braços e eles riram.
- Bom, vamos? – Bianca falou.
- Vamos, já sabemos que temos trabalho amanhã cedo. – Suspiramos e seguimos para fora da Cidade das Artes na Barra da Tijuca.
- , pode entrar! – A assistente falou e eu me levantei, colocando a bolsa no ombro e segui pelo corredor, entrando no consultório da ortopedista.
- Licença. – Falei para a doutora Rosa.
- Oi, , entra! Como você está? – Ela estendeu a mão para mim e eu a apertei. – Vamos tirar isso? – Ela bateu na maca e eu deixei a bolsa de lado, subindo na mesma e me sentando.
- Está tudo bem. – Ela segurou meu braço, apertando o gesso já todo mole e estranho.
- Andou brigando com alguém? – Ri fracamente.
- Crianças, água, futebol... Namorado. – Fiz uma careta e ela riu fracamente, negando com a cabeça.
- Tirando que ele não está nem um pouco parecido de quando eu coloquei, sua integridade está intacta, talvez ele tenha feito seu trabalho. – Rimos juntas. – Dói? – Ela perguntou.
- Não, está tudo certo. – Falei, vendo-a pegar uma maquininha. – Não dói, ok?! – Ela ligou a maquininha e tocou sua pele.
- Tudo bem. – Falei.
- Só não se mexe, tá? – Assenti com a cabeça e a vi ligar a maquininha.
Ela passou a mesma próxima ao meu braço, cortando o gesso e logo ela desligou. Ela usou um pouco da força bruta para abrir o gesso e finalmente tirá-lo de meu braço. O local que havia ficado coberto por todos esses dias estava até mais claro que o resto da pele por conta do pó do gesso e do pouco sol que eu levei na região.
- Como está? – Ela perguntou e eu mexi o punho devagar. – Deve estar meio duro. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-o meio estranho. – Alguma dor?
- Não, só o “duro” mesmo. – Falei e ela segurou meu cotovelo, examinando braço, pulso e dedos e eu fiz uma careta.
- Tomou os remédios direito?
- Sim, contando o fuso-horário ainda. – Ela riu fracamente.
- Essa é minha garota. – Sorri. – Bom, vamos ver. - Ela pegou meu raio-X, colocou no visor e ligou a luz. – Parece que está muito bem. Foi só uma torção, então é comum você sentir dores ou estalos ao fazer exercícios com muito peso, então não abusa, ok?! Tem sempre a cirurgia, mas...
- Não! – Falei rapidamente. – Tá bom assim. – Mexi no pulso, ouvindo-o estalar. – Eu nem sou muito fã de puxar peso na academia. – Rimos juntos.
- É, mas toma cuidado. – Assenti com a cabeça. – Eu vou te receitar um remédio para dor, mas caso essa for frequente, você volta aqui, isso é para dores esporádicas. Como quando se trabalha muito ou não pode evitar fazer alguma atividade, ok?!
- Ok. – Suspirei.
- E é o esquerdo, você é destra, já reduz boa parte dos seus problemas. – Rimos juntas.
- Tudo bem. – Sorri.
- Eu quero te ver novamente no mês que vem, ok?! Só para checagem.
- Tudo bem, eu marco lá na frente.
- Deixa eu só preparar a receita. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, me levantando da maca.
Forcei os olhos quando uma luz se acendeu em minha frente e eu puxei a coberta mais para cima, tentando cobrir o rosto, mas o lençol fino não deixava. Abri um olho, percebendo que vinha de meu celular e eu tateei a mesa de cabeceira até sentir o aparelho e puxei na minha mão. Tentei ler o nome escrito no mesmo, mas deslizei o dedo antes de perceber.
- Alô? – Falei sonolenta.
- ? – Ouvi um grito e até afastei o celular da orelha. – É a Angelica!
- Angelica? – Me sentei rapidamente na cama, sentindo a cabeça doer instantaneamente. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- Sei que são seis da manhã, mas aconteceu um incêndio no alojamento da base do Flamengo e eu preciso de alguém para ir comigo agora. Você pode?
- O quê? Como assim? – Chutei a coberta e levantei correndo, acendendo a luz, me cegando mais ainda. – Como? Quando?
- Essa madrugada, eu soube faz uns 10 minutos, mas só você me atendeu, teve um incêndio no alojamento da base do Flamengo, tem vários mortos e feridos, eu preciso de alguém para me ajudar a conter isso.
- Meu Deus, Angelica. – Levei a mão à boca. – Como?
- Não temos detalhes ainda, os bombeiros receberam o chamado as cinco e meia, são quase seis. – Suspirei, sentindo o choro subir à garganta.
- Isso não seria de responsabilidade do time?
- E quem se responsabiliza pelo time?
- Caralho! – Gritei alto demais. – Eu vou só me trocar, você me pega.
- Sim, em 15 minutos eu passo aí. – Ela falou, desligando o telefone e eu abri a porta do quarto, dando de cara com Bernardo.
- Puta que pariu! – Gritei, pulando de susto.
- O que aconteceu? Eu ouvi você gritar! – Ele falou tão sonolento quanto eu.
- Teve um incêndio no alojamento do Flamengo, na base, pelo visto tem mortos.
- O quê? – Ele falou surpreso e eu assenti com a cabeça, engolindo em seco.
- Oh, meu Deus! – Ele correu para a sala, ligando a TV e eu fui atrás.
A TV mostrava uma imagem aérea do local no momento em que ligamos ela. Tinha uma manchete embaixo escrita: “Incêndio no Ninho do Urubu mata jogadores da base”. Engoli em seco mais uma vez, colocando a mão na boca e respirei fundo.
- Isso é horrível. – Bernardo falou.
- Eu tenho que ir lá. – Falei fracamente.
- Vai ficar tudo bem. – Ele me abraçou de lado e eu suspirei, encostando a cabeça na sua. – Me dê notícias, ok?!
- Pode deixar. – Suspirei.
- Acho que foi a pior coisa que eu já vi na minha vida. – Falei com lágrimas nos olhos quando voltei ao escritório da CBF mais tarde. – Eles eram só crianças. – Engoli em seco.
- Foi horrível. – Angelica comentou. – Eles estavam indo tão bem e acabou assim...
- O Flamengo vai ter que se responsabilizar por isso, como assim eles fazem um alojamento em local sem alvará? – Leandro reclamou.
- Não vai adiantar nada, não vão trazer os meninos de volta. – Falei suspirando.
- Mas eles, pelo menos, vão levar uma boa multa e vão ser penalizados de alguma forma. – Lucas voltou e estendeu um copo de água para mim e Angelica.
- Quantos mortos? – Vinícius perguntou.
- 10. – Angelica falou. – E tem três feridos, mas só um é grave, teve 35 por cento do corpo queimado. – Balancei a cabeça ao imaginar a cena.
- E o lugar? – Bianca perguntou.
- Virou ferro velho. – Angelica falou.
- Como vamos agir? – Anna perguntou.
- Já passei para o comitê de crise, não temos como lidar com isso. – Angelica falou. – Pelo menos estamos sem compromissos oficiais até dia 21. – Ela bebeu sua água e eu fiz o mesmo.
- Quem diria que o futebol seria triste. – Vini comentou e eu suspirei.
- Essa é a pior parte. – Comentei. – Eram crianças de 14, 15 e 17 anos, os quais os pais confiaram ao Flamengo um local bom para dormir, comida, treinamento e aprendizado para os garotos realizarem o sonho de jogar futebol. – Falei sarcasticamente, negando com a cabeça. – Imagina o quão felizes eles estavam por realizar esse sonho.
- Não temos o que fazer no momento, só cuidar da nossa parte. – Angelica disse. – Eu vou tirar a tarde de folga, , se quiser, pode fazer o mesmo. – Assenti com a cabeça. – Não está sendo fácil tirar àquela imagem da minha mente.
- Nem fala. – Falei, bebericando minha água.
- Está quase na hora do meu almoço, eu te levo. – Lucas falou e eu assenti com a cabeça e um meio sorriso.
- Tudo bem, eu espero. – Assenti com a cabeça.
- Galera... – Murilo entrou pela porta, estendendo um papel para gente e Bianca pegou. – Notícia fresquinha.
- Ah, fala sério! – Bianca reclamou. – Mais essa. – Ela estendeu o papel para mim e eu li os dizeres: “Arthur lesiona coxa esquerda e desfalca Barcelona”.
- Ah, fala sério! – Repeti o que Bianca falou, revirando os olhos e fucei a bolsa atrás do meu celular. – Vou ver se ele está bem.
- Será que ele volta para o amistoso? – Bianca perguntou.
- Fala que vai ser por um mês, mas precisamos informar a equipe técnica disso.
- Vai para casa, descansa, eu cuido disso, ok?! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, procurando a conversa de Arthur com a última mensagem de três dias atrás.
“Lesão, sério? O que você aprontou? Aline está exigindo muito de você? Hahaha”. – Enviei, suspirando em seguida.
- Pronto! – Lucas falou desligando a tela do computador. – Vamos?
- Vamos sim! – Me levantei, colocando a bolsa no ombro.
- Tchau, gente, até amanhã.
- Tchau, fica bem! – Eles falaram.
- Dê notícias. – Vinícius falou, dando um beijo em minha testa e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Pode deixar. – Retribuí o beijo e saí com Lucas.
- Como vocês conseguiram ficar no zero a zero? – Perguntei um tanto alto demais.
- Eu não sei. – Alisson colocou as mãos no rosto. – Esse jogo foi uma verdadeira bagunça. Eu estava lá, mas não faço a mínima ideia do que aconteceu. – Ri fracamente, me sentando na frente do computador e puxando-o para mais perto. - Você viu?! – Ele perguntou.
- Só o primeiro tempo, deu seis horas eu vim para casa, com o caso do incêndio do Flamengo, muita coisa tá caindo nas minhas costas por ser a única, tirando Angelica, que foi até o local, então estou esgotada, não fico um minuto a mais. – Ele assentiu com a cabeça.
- Imagino, as coisas começaram a sair agora. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- É uma cena difícil de tirar da cabeça. – Suspirei. – Te contei que eu tenho me “consultado”... – Fiz aspas com as mãos. – Com a namorada do Arthur?
- Sério? - Ele tombou a cabeça.
- Ela é estudante de psicologia e eu acho que estava um pouco surpreendida com tudo, aí ele me passou o telefone dela e a gente conversou um pouco, quero só tentar esquecer. – Ele assentiu com a cabeça.
- Me surpreenda você ir atrás de ajuda psicológica depois de oito meses comigo. – Sorri, negando com a cabeça.
- Você é a verdadeira definição de “companheiro”, Alissinho, a gente tem nossas briguinhas, mas nada que tira meu sono. – Neguei com a cabeça. – Você é realmente muito bom para mim. – Ele deu um pequeno sorriso, claramente envergonhado.
- Você se aproximou bem do Arthur, né?!
- Sim, depois do último amistoso, ele com os problemas dele, a gente acabou criando uma amizade.
- Ele é bonzinho, a gente conversa de vez em quando. - Sorri e ouvi o interfone tocar.
- Espera um pouco. – Levantei correndo, já que estava sozinha em casa e corri até o interfone na cozinha. – Alô?
- Senhorita , senhorita Bianca está aqui. – O porteiro falou.
- Pode deixá-la entrar. – Falei.
- Perfeito, boa noite.
- Boa noite e bom trabalho. – Falei, desligando o mesmo e voltei correndo para o quarto, me sentando à frente do PC. – É a Bianca.
- Vão sair? – Ele perguntou.
- Sim, vamos no Vinícius, vamos começar a analisar os nossos adversários na Copa América.
- Mas já? Hoje é 20 de fevereiro, qual é! – Rimos juntos.
- Agora é a hora, amor. Tite já pediu lista de nomes e constatações, para não ficar tão óbvio, te coloquei em quarto lugar da lista, tá?!
- Quarto? – Ele falou surpreso, exagerando na feição. – Que ultraje!
- Dramático! – Ri fracamente. – Ela vem aqui para dormir aqui, já que mora mais longe, aí vamos nos trocar e vamos no Vini. Vamos ver o último jogo contra a Argentina.
- Na Arábia Saudita? – Ele perguntou
- Não, o de 2017 na Austrália, perdemos de um a zero, o goleiro foi o Weverton. – Falei. – Amor da minha vida! – Falei sorridente.
- Eu? – Ele franziu a testa.
- Não, o Weverton. – Ele revirou os olhos.
- Mereço. – Rimos juntos.
- Ei, ele foi o salvador das Olimpíadas, vai.
- Não sei como Tite não dá mais valor a ele, ele é muito bom.
- Eu sei. – Pisquei, ouvindo a campainha tocar. – Já volto de novo! – Falei, me levantando correndo e seguindo até a porta, abrindo-a e encontrando Bianca e várias malas.
- Cheguei! – Ela falou animada.
- Entra, entra! – Falei, dando um rápido beijo em minha bochecha e fechei a porta. – Venha, estou com Alisson no Skype. – Falei, seguindo de volta para o quarto e ela veio atrás.
- Cadê ele? – Bianca perguntou atrás de mim e me sentei na cadeira de novo. – Fala, Alissinho! – Ela falou animada, apoiando os braços na mesa.
- E aí, Bianca, tudo bem?
- Tudo na paz. – Ela sorriu. – Que joguinho sem graça ontem, hein?!
- Estávamos falando isso agora. – Sussurrei.
- Acontece, né?! – Alisson ergueu os ombros. – Pelo menos não levei gol.
- Bom mesmo. – Rimos juntos.
- Bom, eu vou lá, amor. – Sorri. – A gente se fala amanhã, beleza?
- Combinado, amanhã volto a treinar, vamos nos falando.
- Temos convocação da feminina amanhã, mas não devo demorar para voltar.
- Ok, amo você, divirtam-se. – Ele falou
- Valeu! – Bianca gritou.
- Também te amo. – Acenei com a mão, mandando um rápido beijo e vi seu sorriso antes de abaixar a tela.
- São assim suas noites, então?! – Girei a cadeira, vendo Bianca e suas tralhas na minha cama.
- Quase todas. – Suspirei. – Chego, tomo banho, pego algo para comer e venho para o PC. Quando Bernardo está aqui, eu janto com Bê e depois venho para cá. – Suspirei. – Faz parte.
- Faz parte! – Ela repetiu.
- E aí? Trouxe sua vida? Não vai ser só uma noite?
- Eu sei, mas gosto de tomar banho de manhã, então tem toalha, nécessaire, pijama, troca de roupa, minha bolsa gigantesca do trabalho... – Ri fracamente.
- Tá valendo, vai. – Sorri. – Você tá pronta? – Perguntei apontando para sua roupa.
- Sim, estou de boa.
- Ok, deixa eu só colocar uma calça que já vamos. – Me levantei, abrindo meu armário e estendendo meu calceiro, procurei por uma calça e puxei a mesma.
Tirei os shorts em frente a Bianca mesmo, depois de dividir muitos quartos de hotéis, já não tínhamos mais vergonha. Coloquei a calça e puxei-a para cima, puxando-a nas coxas largas e ajeitando-a na cintura, quando chegou à cintura...
- Não fecha! – Fiz uma careta.
- Comeu demais em Londres, é, linda? – Ri fracamente, encolhendo a barriga e tentando fechar mais uma vez, sentindo meus dedos doerem com a força.
- Estou comendo igual uma draga faz tempo, né?! – Rimos juntas. – Desde a Rússia, mas ok.
- Engordar para mim tem outro nome, hein?! – Franzi a testa e ela fez um movimento de barriga.
- Tá louco! – Abanei as mãos, abaixando a calça nas coxas e vendo-as deslizar pelas pernas. – Devo estar inchada, eu acabei esquecendo de tomar anticoncepcional no fim do ano e aí deu aquela desregulada que eu já estou acostumada. – Tirei as calças, procurando por outra mais nova e ela entrou com mais facilidade, fechando.
- Mais um motivo para poder ter um bê...
- Cala a boca! – Falei, rindo em seguida. – Nem brinca com isso que pega. E o Alisson usa camisinha, ok?! – Ela deu de ombros e eu chequei a etiqueta da outra calça. – É um número menor mesmo, eu já engordei pacas. É efeito Rússia e emprego top na CBF.
- Espero mesmo que seja só efeito Rússia. – Ela falou pegando sua bolsa de mão. – Apesar de que pode ser qualquer tipo de efeito. – Ri fracamente. – Um grande, alto, de olhos verdes também.
- Há, há, há, engraçadinha. – Ela falou e eu segui até a mesa de cabeceira, mostrando a cartela com alguns comprimidos a menos.
- Ok, confio! – Ela sorriu. – Podemos ir? Eu estou cansada já, vou dormir logo no primeiro tempo.
- Temos reunião na semana que vem com a equipe técnica, estou totalmente por fora dos acontecimentos. – Falei.
- E eu não?! – Ela brincou e gargalhamos juntas.
- Vamos, vai! – Peguei minha bolsa, calcei meu slipper rapidamente.
- Partiu! – Ela disse animada e saí do quarto, desligando a luz.
- Cheguei, cheguei! – Abri fortemente a porta da nossa sala.
- Ei, finalmente! – Angelica falou. – São quase 10.
- Desculpa o atraso, eu não acordei muito bem, vomitei hoje cedo, não conseguia sair do banheiro. – Coloquei minha bolsa na mesa, abanando a mão.
- Ei, o que você tem? – Lucas perguntou.
- Acho que o iogurte que eu comi ontem vencido ou algo assim, estava tudo borbulhando aqui dentro.
- Tirava o dia para você, , era só trazer um atestado depois. – Angelica falou.
- Ah não, hoje é dia de convocação, eu não podia perder isso. – Rimos juntos.
- Falando nisso, vamos? Tá na hora. – Bianca se levantou com suas coisas e eu fucei rapidamente minha bolsa, pegando o celular e meu bloco de anotações e a segui ela, Vinícius e Lucas para o elevador.
Entramos no mesmo e apertamos o botão do térreo, esperando o elevador descer. Dei uma puxada forte no nariz e um cheiro forte e estranho entrou em meu nariz, fazendo-o coçar.
- Nossa, que cheiro estranho! – Falei, franzindo o rosto.
- Não estou sentindo nada. – Os outros três falaram juntos, me olhando estranho.
- Ué... – Me aproximei mais de Lucas que estava perto de mim e depois perto de Bianca e Vinícius. – É seu perfume. – Falei para Vinícius, sentindo meu estômago embrulhar novamente.
- É o mesmo de sempre. – Ele falou.
- Venceu, então. – Coloquei a mão na boca quando aquele negócio começou a subir.
- Você está bem? Você está verde. – Bianca perguntou e senti que não conseguiria segurar.
- Eu encontro vocês lá. – Falei, saindo correndo para o banheiro.
Me tranquei em uma cabine, ergui a tampa da privada e soltei somente um líquido claro, já que eu não tinha nada no meu estômago desde hoje de manhã. Fiz uma careta com o movimento involuntário do corpo e respirei fundo, me sentando no chão, respirando fundo.
- , tá tudo bem? – Ouvi a voz de Bianca.
- Sim! Estou saindo. – Falei e me levantei, apertando a descarga e abaixando a tampa. Peguei minhas coisas no chão e saí, dando de cara com Bianca apoiada na pia.
- Você deveria ir embora. – Ela falou. – Talvez seja uma intoxicação alimentar.
- Se eu for embora, vou ter que ir para o hospital e não estou afim.
- Melhor do que ficar vomitando por qualquer coisa. – Ela disse e entreguei meu material para ela. Debrucei sobre a pia e coloquei um pouco de água na boca, fazendo gargarejo, antes de soltá-la e aproveitei para lavar as mãos. – Chiclete?
- Aceito! – Falei, sentindo aquele gosto estranho na boca e ela me esticou um Trident e, ao colocar na boca, percebi ser de menta.
- Vai ajudar. – Ela disse e eu sequei as mãos, seguindo para fora do banheiro e em direção à sala de coletiva, aonde Tite, Edu e Fabio já estavam no palco e Edu já falava.
- ...Agora nós entramos em um período do médio prazo, que foi citado para vocês. O médio prazo do início desse ano até o final da Copa América, já com o objetivo bastante claro de Copa América, mentalidade, à partir de janeiro, de Copa América. Haja visto que nesse período de janeiro, nossos pensamentos já voltados para a competição, nós fizemos 29 jogos observados in loco, 19 deles no exterior, 10 no Brasil. Nove jogos observados em janeiro e 20 em fevereiro. – Edu falava sobre os planos da Seleção. – Gostaria de salientar a importância do Fabio nessa fase de análise e observação, de ter também todas as informações físicas e clínicas, minutagem de atleta, atleta voltando de lesão, atleta voltando de temporada, todos esses tipos de informação são colhidas por ele. E nos dá a segurança que Tite possa convocar. – Ele pegou alguns papéis. – Só anunciado que o chefe de delegação dessa viagem vai ser o Adriano Guilherme de Aro Ferreira, que é o presidente da Federação Mineira de Futebol, e agora passo a palavra ao Tite para que ele possa passar a lista dos 23 atletas.
- Bom dia a todos, formatação de equipe para a Copa América sem fechar. Só vai ser fechada na última convocação, reitero. – Ele falou e eu peguei o celular, abrindo a mensagem de Alisson. – Goleiros: Alisson, Liverpool... – Dei um pequeno sorriso. – Ederson, Manchester City; Weverton, Palmeiras. – Arregalei os olhos, virando para Bianca também surpresa. – Defensores: Alex Sandro, Juventus; Dani Alves, PSG; Danilo, Manchester City; Éder Militão, Porto; Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão; Thiago Silva, PSG. Meio-campistas: Alan, Napoli; Arthur, Barcelona... – Sorri novamente. – Casemiro, Real Madrid; Fabinho, Liverpool; Felipe Anderson, West Ham... – Franzi a testa com o novo nome. – Lucas Paquetá, Milan; Philippe Coutinho, Barcelona. Atacantes: Everton, Grêmio; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, Manchester City; Richarlison, Everton; Vinícius Júnior, Real Madrid.
- Não acredito que ele finalmente convocou o Weverton. – Falei animada para Bianca.
- Alisson vai ficar com ciúmes. – Rimos juntas.
- E deve mesmo. – Sorri.
- Mas ele foi decisivo na final do Brasileirão, vai. – Ela sussurrou.
- E eu não sei? – Sorri. – Coitado, vou aloprar tanto. – Ela sorriu.
A coletiva se seguiu após a liberação da lista e não teve nada muito grandioso, perguntas sobre jogadores novos, planos para amistosos, planos para escalações e planos para a Copa América. Era tudo muito cedo ainda, tinha cinco meses para a competição e o pessoal estava aloprando já. Fiquei bem durante toda a coletiva e quando finalizou, segui para cumprimentar Tite, Edu e Fabio.
- Oi, gente! – Falei seguindo para a antessala e eles sorriram.
- Aí minhas garotas! – Tite falou e eu sorri, abraçando-o rapidamente. – Não vi vocês antes.
- Ah, eu não estou muito bem, por isso nos atrasamos.
- Algum problema para a viagem? – Fabio falou rapidamente.
- Calma! – Apoiei as mãos em seus ombros, vendo-o rir. – Só devo ter comido alguma coisa estragada, estarei bem em 15 dias.
- Bom mesmo, preciso da gangue inteira. – Ele falou.
- Estaremos lá, não se preocupe. – Bianca falou enquanto eu abraçava Edu.
- O bom é que com a competição em casa, todo mundo vai poder participar. – Falei.
- Quero só ver como vai. – Bianca riu.
- Sim, mas ainda quero vocês duas, Lucas e Vinícius nessa. Vocês são nossa equipe alfa. – Tite falou e eu sorri, recebendo um beijo na bochecha.
- Vai ser legal, mas vamos enfrentar esse amistoso antes. – Sorrimos.
- Nos vemos em alguns dias? – Edu perguntou.
- Estaremos por aqui. – Bianca falou e sorrimos, trocando rápidos acenos, vendo-os saírem da sala.
- Tem certeza que não quer ir embora? – Bianca perguntou.
- Eu estou bem. – Suspirei. – Só não chegar perto do perfume ruim do Vinícius ou de qualquer comida.
- Você vai ter que botar alguma coisa para dentro.
- Eu peço um chá para Anna, ela deve ter alguma coisa.
- Ok... – Ela deu de ombros. – Vamos subir, eu estou com fome.
- Está quase na hora do almoço, vamos conversar e resolver isso.
- Imagino que depois da conversa de janeiro, seremos nós quatro que vamos nessa competição, certo?
- Se é preparação para Copa América já, não imagino de forma diferente. – Ela deu de ombros e seguimos de volta para o elevador.
- Você vai me odiar por isso! – Ouvi Bernardo gritar e eu franzi a testa, erguendo o corpo.
- O que você tá falando, seu louco? – Falei, apoiando um braço na cama, enquanto coçava o olho.
- Toma! – Ele apareceu na porta do meu quarto e jogou uma sacolinha plástica com logo de uma farmácia e algo dentro.
- O que você comprou agora? – Abri a mesma, tirando um Clearblue da mesma. – Eu já falei que eu não estou grávida. – Coloquei na sacolinha novamente e joguei em sua direção.
- , você está ruim há mais de uma semana, você está enjoando com qualquer tipo de cheiro, vomitou até as tripas por três dias, não para de fazer xixi e tá toda dolorida, até quando te dão um abraço. – Ele reclamou jogando a sacolinha de volta.
- Eu não estou grávida. – Falei, cruzando os braços. – Eu e o Alisson usamos camisinha nas nossas últimas vezes.
- Tem certeza que usaram todas as vezes? – Ele frisou a palavra “todas”.
- Tenho! – Falei firme.
- Mesmo? – Ele me encarou profundamente. – Você mesma disse que vocês mal saíram da cama em Roma. – Ele estendeu o indicador para mim. – E que você se bagunçou com o anticoncepcional.
- Sim, usamos. – Falei novamente, colocando a cabeça para pensar. – Bom, eu acho...
- Ah há! – Ele gritou.
- Mas já estou tomando novamente... Tira essa coisa daqui. – Ele falou e eu senti um pequeno desespero começar a crescer em meu peito.
- Não desceu para você ainda, . Sua menstruação já é atrasada, mas quando você toma anticoncepcional ela regula.
- Como você sabe disso? – Falei firme.
- A gente mora juntos há uns sete anos, amiga. E eu presto atenção nessas coisas, principalmente depois que você começou a ter uma vida sexual mais ativa. – Ele me encarou. – Ah, não tenta fugir do papo.
- Eu não estou grávida, Bernardo. – Falei firme, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. – Eu não posso estar grávida. – Falei com o tom de voz mais baixo, levando as mãos à cabeça.
- Você precisa descobrir, .
- Não! – Falei firme. – Eu me recuso a fazer isso. – Respirei fundo, não conseguindo mais impedir as lágrimas de escorrerem pela minha bochecha.
- Ah, minha amiga. – Ele se sentou ao meu lado, me abraçando fortemente.
- Ai! – Reclamei e ele riu fracamente. – Eu não posso estar grávida, Bê, eu só tenho 25 anos...
- 26 em alguns dias. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não, eu não posso, eu não sei cuidar de uma criança, eu e o Alisson estamos a um oceano de distância. – Mordi meu lábio inferior. – O Alisson! – Suspirei. – Nunca falamos sobre isso, como ele vai reagir? – Engoli em seco.
- Respira, meu amor, respira. – Ele acariciava minha cabeça.
- Eu não quero ser mãe jovem, eu não sirvo para isso. – Suspirei.
- Você sempre disse que queria ter filhos.
- Sim, depois dos 30, 35, talvez, não agora. – Passei as mãos nos olhos, limpando as lágrimas.
- Às vezes a gente não escolhe, amor. – Ele beijou minha testa. – Mas antes de começar a surtar e fazer planos para o futuro, vamos fazer xixi nisso aqui? – Ele tirou o teste da sacolinha de novo e eu respirei fundo.
- Eu não posso... Isso não pode ter acontecido.
- Espírito Santo só aconteceu uma vez, meu amor. Vamos? – Suspirei. - Eu vou estar contigo o tempo inteiro. Até quando você fizer xixi. – Sorri, abraçando-o de lado.
- O que eu faria sem você? – Ele sorriu, estendendo a mão e eu me levantei.
- A mesma coisa, mas seria menos divertido. – Ele abriu a caixinha e me entregou o teste que mais parecia um termômetro e tirou a bula de lá dentro e seguimos para meu banheiro.
- Como eu uso isso?
- Vamos lá. – Ele disse e eu entrei no banheiro enquanto ele lia do lado de fora, próximo à porta. – Você precisa tirar essa tampa azul e fazer xixi por 5 segundos na ponta, mas não pode molhar o resto do negócio. – Ele falou. – Ah, aqui sugere coletar em um recipiente limpo e seco. – Ele falou. – Acho que tenho um daqueles copinhos de teste de urina que eu comprei da última vez, espera aí. – Ele falou e eu apoiei o negócio na pia e tirei os shorts e a calcinha, me sentando no vaso sanitário.
- Por que você guarda essas coisas?
- Uma hora a gente sempre precisa. – Ele estendeu o copinho ainda na embalagem pela fresta da porta e eu peguei, respirando fundo. – Faz xixi aí e depois deixa eu entrar. – Ele falou.
Respirei fundo e desembalei o copinho de exames, abri a tampinha e posicionei-a embaixo da saída do xixi e respirei fundo, esperando que o xixi saísse, mas eu percebia que estava retendo o mesmo. Eu estava desesperada internamente, mil e uma coisas se passavam na minha cabeça. Eu e Alisson morávamos distantes um do outro, estávamos juntos há menos de um ano, eu era muito nova para ter filhos e não pensava nisso agora.
- Pronto? – Bê gritou e eu respirei fundo, deixando que o xixi saísse, me fazendo respirar fundo.
- Espera! – Apoiei o copinho na pia, finalizei o xixi no vaso sanitário, me limpei e vesti meus shorts novamente. – Pronto. – Falei, seguindo até a pia para lavar a mão e o mesmo abriu a porta.
- Ok, agora coloca essa ponta por 20 segundos dentro do xixi. – Ele falou e eu suspirei, sentindo minha mão tremer.
- Faz você. – Falei. Ele pegou e o mergulhou no xixi.
- Agora conta 20 segundos. – Ele disse. – 20, 19, 18, 17... – Fechei os olhos, enquanto ele contava, esfregando a mão uma na outra. – 13, 12, 11, 10... – Senti as lágrimas começarem a deslizar pela minha bochecha. – Eu estou aqui com você. – Ele apertou minha mão e eu suspirei. – Três, dois, um... – Ele finalizou e eu abri os olhos. – Coloque a tampa novamente e nessa mesma posição, aguarde três minutos. Um símbolo de espera vai mostrar que o teste está em andamento, quando parar de piscar, seu resultado será mostrado. – Ele falou e fechou o teste novamente, segurando-o na vertical com a ponta para baixo e o negócio começou a piscar.
- Eu vou vomitar de nervoso. – Falei, respirando fundo.
- Calma, calma! – Ele se ajoelhou em minha frente e segurou firme em minhas mãos. – Eu estou aqui contigo para todos os momentos. – Ele falou. – Você é minha irmã, minha família e que tão ruim pode acontecer? – Ri fracamente. – O que importa é que se você tiver um bebê, você tem dinheiro, um ótimo lugar, condições, familiares e amigos que dariam a vida por você. – Respirei fundo. – E o melhor de tudo isso, é que seu namorado te ama e vai embarcar nessa jornada contigo.
- Eu não sei... – Suspirei.
- Vai sim! – Ele apertou fortemente. – Ele te ama muito e está louco para passar o resto da vida ao seu lado. – Puxei o ar. – E se não tiver um bebê aí, bom, vamos ter que ir para o hospital ver o que você tem, amiga. – Suspirei.
- Eu não sei se estou pronta para isso. – Ele sorriu. – Eu sempre critiquei os jogadores por terem filhos cedo demais, por que os espermatozoides deles são fortes? – Ele riu fracamente.
- Aposto que ninguém está pronto para isso, mas essa é a graça da vida, né?! – Suspirei. – E sim, pelo visto o sêmen dos jogadores de futebol tem um poder incrível. – Ri fracamente, suspirando. – Eu te amo, ok?!
- Eu também te amo. – O senti me abraçar e escondi o rosto em seu ombro, notando um silêncio se instalar do banheiro.
Poderia dizer que passaram-se várias horas do resultado, enquanto isso acontecia, eu mantinha meus olhos bem fechados. Por mais que Bernardo falasse tudo aquilo, eu não conseguia me ver grávida, muito menos com um filho depois que ele nascesse, era muita loucura na minha cabeça, pelo menos eu tinha condições e uma família estruturada, apesar que aquilo não ajudava muito no meu psicológico.
- ?
- Hum? – Respondi.
- Parou de piscar. – Engoli em seco, sentindo-o sair do abraço.
- E aí? – Me atrevi a perguntar.
- Abra os olhos. – Ele falou.
- Não!
- Vamos, por favor. – Ele acariciou minha cabeça de novo.
- O que diz aí, Bê? – Perguntei, firmando mais os olhos. Ele soltou um longo suspiro, ficando em silêncio. Estranhei e abri os olhos em um impulso, vendo o teste bem próximo ao meu rosto e as palavras “Grávida 3+” em minha frente. – Ah não. – Falei, sentindo meu estômago borbulhar e eu me levantei da privada, virando o corpo, somente dando tempo de eu segurar meus cabelos.
- Eita. - Ele falou, segurando meus cabelos.
- Eu estou ferrada, não estou? – Falei, me levantando e seguindo para a pia.
- Não é o plano ideal, mas é legal, vai?
- É porque não está em você. – Falei, vendo-o rir e peguei a escova de dentes, colocando pasta e coloquei na boca.
- Ah, qual é, pensa que tem um mini ou uma mini Becker nascendo dentro de você. – Ele me abraçou pela cintura e eu ri fracamente. – Agora tá explicando porque suas calças não entram em você. – Suspirei.
- De quanto tempo eu estou? Fala aí? – Perguntei e ele viu na bula.
- Só fala que está há mais de três semanas, imagino que tenha sido em Roma, não?!
- Provavelmente, mal tivemos tempo para transar em Liverpool com vocês lá.
- Magoei, mas ok. – Ele riu fracamente. – Bom, hoje é dia cinco de março, então você está de dois meses e pouquinho. – Suspirei, escovando os dentes.
- Minha mente é uma tela azul, deu erro aqui, não sei o que pensar. – Falei com a voz alterada pela escova e espuma na boca, cuspindo em seguida.
- Bom, acho que antes de mais nada você tem que aceitar essa notícia, decidir o que vai fazer com ela, depois falar com o Alisson e aí vocês veem o que vão fazer. – Suspirei, gargarejando com água e depois limpando a escova.
- Como assim decidir o que vou fazer com isso?
- Você sabe que não precisa ter esse filho, certo? – Ele falou um tanto baixo e eu suspirei.
- Não, Bê, eu não consigo fazer isso. – Falei firme. – A única certeza que eu tenho é que eu vou ter essa criança, só preciso processar isso.
- Bom, já é um passo andado, posso ir atrás do enxoval? – Sorri, passando os braços pelos seus ombros e abraçando-o fortemente.
- Vamos devagar, ok?! – Sussurrei e ele riu fracamente. – Eu vou pensar melhor sobre isso, e acho que vou falar com Alisson pessoalmente, vamos nos encontrar em 10 dias, eu não consigo ter essa conversa por Skype, principalmente sabendo que eu vou chorar muito.
- E sua família? – Respirei fundo.
- Depois que eu falar com ele. – Suspirei, balançando a cabeça.
- O que você quer fazer agora? – Ele perguntou.
- Continuar deitada, pois não aguento mais vomitar, amanhã eu marco uma consulta com a ginecologista para descobrir mais sobre isso e... – Dei de ombros. – Temos sete meses por aí. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou fazer um chá para você, ok?! – Ele disse e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair.
Me encarei no espelho e suspirei, apoiando as mãos na pia. Eu realmente estava sem reação, a iminência de estar grávida era mais assustadora do que realmente estar, agora eu não sabia como agir, havia dado um tipo de curto circuito em meu cérebro e eu não conseguia processar.
Encarei meu reflexo no espelho e ergui minha blusa, virando de perfil e me encarando no espelho. Eu estava um pouco acima do peso, então não havia notado nenhuma diferença, mas parecia que eu sentia que tinha alguma coisa ali dentro. Ou melhor, alguém.
Os dias que se passaram foram muito difíceis. Eu havia conseguido marcar uma consulta com minha ginecologista uma semana depois, mas eu precisei viver durante essa semana, conversar com meus amigos do trabalho, com minha família e com Alisson. Eu sentia que as conversas eram mais rasas e que eu estava bem menos falante do que normalmente. Na minha cabeça passava um milhão de coisas de como cuidar de um bebê, o que comprar, quando comprar, como cuidar e ainda tinha o trabalho corrido que eu não estagnava em um lugar e parecia que sete meses era pouco tempo para isso acontecer, principalmente com a Copa América a caminho.
O pessoal da comunicação até percebeu que eu estava mais fraca, mas a desculpa de eu estar com uma infecção um tanto desconhecida foi o suficiente para eles pararem de fazer perguntas. Com Alisson eu fugi de algumas ligações usando a desculpa de que estava cansada demais ou até que não havia me recuperado, ele pareceu entender, também estava com os horários cheios por causa da Champions League e da Premier League.
No trabalho as coisas estavam mais calmas, mas parecia que tudo estava desmoronando. Primeiro Vinícius Júnior se lesionou e precisamos correr atrás de um substituto, o que acabou sendo David Neres.
Depois tivemos a triste notícia de que dona Ivone, mãe do Tite, havia falecido, então eu, Bianca, Lucas e Vinícius, principalmente, nos sentimos no dever de ir até o velório. Eu não estava com cabeça nenhuma para isso, mas fui, dei um forte abraço em Tite e mostrei meu apoio a ele e Matheus. Pensei se por acaso ele pudesse se ausentar do próximo amistoso, mas isso não parecia estar em sua agenda.
Dia 12 finalmente chegou e eu estava batucando as mãos e os pés na sala de espera da minha ginecologista. Eu estava sozinha, Bernardo não conseguiu ir comigo e não é como se ninguém mais soubesse.
- ! – Me chamaram e eu segui pelo corredor, vendo minha ginecologista na porta da consulta. – Oi, quanto tempo! – Ela falou e eu sorri, entrando na sala dela e vendo-a fechar a porta.
- Faz tempo mesmo. – Ri fracamente e ela deu a volta na mesa, se sentando na sua cadeira.
- E então, o que te traz aqui? Rotina? – Suspirei forte.
- Não exatamente. – Olhei para ela que apoiou as mãos na mesa.
- O que te aflige, ? – Ela perguntou e eu pressionei os lábios uns nos outros.
- Eu estou grávida! – Soltei de uma vez e ela deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Há quanto tempo suspeita? – Ela perguntou.
- Fiquei ruim por umas semanas, até que fiz o teste de farmácia. – Ela assentiu com a cabeça.
- Você sabe de quanto tempo?
- Uns dois meses, foi a última vez que eu e meu namorado transamos. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Bom, vamos confirmar isso então, certo? Eu vou te pedir vários exames de sangue, inclusive a confirmação de gravidez, mas vamos checar como está aí no seu útero? Venha! – Ela se levantou, seguindo para outra sala e eu fui até lá. – Deite-se aqui, desabotoe a calça e erga a blusa. – Ela falou.
Fiz o que ela pediu e a mesma preparou os materiais, me fazendo começar a querer hiperventilar. Respirei fundo, vendo-a colocar uma toalhinha beirando minha virilha e espremer aquele líquido gelado em minha barriga.
- Não precisa ficar nervosa, ok?!
- Mais do que eu já estou, eu acho impossível.
- Não era planejado? – Ela perguntou.
- Nem um pouco, estamos juntos há oito meses, ele mora na Inglaterra, temos trabalhos sensacionais, é complicado. – Ela riu fracamente, colocando o ultrassom em minha barriga.
- Como isso funciona?
- Depois que eu vim aqui pela última vez, eu comecei a trabalhar na CBF, aí ele é jogador da Seleção, nos conhecemos e por aí vai... – Suspirei.
- Hum, que delícia! – Ela sorriu. – Eu o conheço?
- É o Alisson, goleiro.
- Ah, aquele lindo? – Ri fracamente.
- Ele mesmo.
- Nossa, você namorando o Alisson, que chique, hein?! – Ri fracamente. – Bom, as suspeitas são verdadeiras, , aqui está seu bebê. – Ela virou a tela para mim e colocou o dedo próximo ao pequeno embrião ali dentro, me fazendo respirar fundo e encolher a barriga. – Ele é muito pequeno ainda, mas já começa a se formar. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas. – Você quer ouvir o coração dele?
- Já dá para ouvir? – Perguntei.
- Já sim. – Ela disse e aumentou o som, fazendo com que um barulho forte fosse ouvido pela sala. – O coração do bebê é o primeiro órgão a se formar.
- Meu Deus! – Passei as mãos nos olhos, emocionada.
- Eu tenho várias informações para te passar, precisamos fazer seus exames, pré-natal, cuidados e dicas, tudo para esse bebê sair bem saudável daqui de dentro. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, doutora, eu estou desesperada, não estava pronta para isso, ainda acho que não estou, mas vamos encarar. – Suspirei.
- Assim que eu gosto de ouvir. – Ri fracamente. – Você quer algumas fotos? Vídeos?
- Sim, ainda não contei para meu namorado. Talvez ele precise de provas. – Ela riu fracamente.
- Vai dar tudo certo, e não se esqueça, você não está sozinha. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Ela sorriu.
- Bom, vamos voltar para a sala que eu tenho várias informações para te passar. – Ela limpou minha barriga, tirando o gel. – Pode se organizar na salinha e eu já te passo as informações e faço uma lista de exames para você.
- Ok! – Segurei a toalha em minha barriga e corri para o banheiro.
- Aqui estão os exames de sangue que eu quero que você faça, encaminhamento para uma nutricionista, exercícios indicados para você fazer durante o período gestacional e, quiçá, para vida. – A médica ia colocando os papéis na mesa. – Por enquanto, você tem alguma dúvida?
- Muitas, na verdade. – Suspirei, juntando os papéis. – É muito para processar, eu não esperava isso, eu... – Suspirei. – Eu não sei se estou pronta para isso. – Ela segurou minha mão em cima da mesa.
- Você tem escolhas, você sabe disso, não?! – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mas eu quero continuar com isso, eu não tenho coragem... – Ela assentiu com a cabeça.
- Bom, então já que essa é sua decisão, faremos da forma mais calma possível, ok?! Eu estou disponível para tirar qualquer dúvida que você possa ter, qualquer mesmo. – Ela negou com a cabeça. – Nenhuma pergunta é boba, é a sua primeira vez nisso, nenhuma gravidez é igual a outra, então vai se descobrindo, vai aceitando a ideia, com o passar os dias o medo vai embora e você vai começar a aproveitar. – Engoli em seco.
- Espero que depois que eu contar para as pessoas envolvidas, essa dor no peito melhore. – Ela sorriu.
- Vai melhorar, você vai ver. E você disse que seu namorado já tem uma filha, aposto que ele vai gostar da ideia. – Suspirei. – Então, te vejo assim que tiver o resultado dos exames, ok?!
- Eu tenho uma dúvida... Por agora.
- Pode falar. – Suspirei.
- No dia da... – Procurei as palavras certas. – Inseminação, eu não me lembro de usarmos camisinha, foi tudo muito rápido, muito agitado, muito tensionado que eu acho que não usamos mesmo, mas o anticoncepcional não deveria segurar isso?
- Às vezes as coisas acontecem sem que a gente saiba o motivo. – Ela riu fracamente. – Às vezes jogar a culpa em Deus é a melhor forma, não sei se acredita Nele... – Assenti com a cabeça, confirmando. – É uma forma de prevenção, mas nem todas são exatas e garantidas, camisinha não é garantia, anticoncepcional não é garantia, nem pílula do dia seguinte é garantia... – Assenti com a cabeça. – Você disse que ficou oito dias sem a pílula, seu corpo achou que era uma ótima oportunidade para fazer isso funcionar. – Ri fracamente.
- Que ideia de jerico, não?! – Ela riu fracamente. - Bom, eu vou encarar isso, bebê. – Falei olhando para minha barriga. – Você vai ser bem-vindo, prometo.
- Assim que eu gosto. – Ela suspirou. – Mais alguma coisa?
- Sim! – Falei firme. – E sobre viagens? – Perguntei. - Eu viajo muito, tanto que em três dias eu vou viajar novamente para Portugal. Meu trabalho é isso. – Ela suspirou.
- Não é recomendado viajar de avião nos três primeiros meses de gravidez, mas isso no geral, pois as chances de aborto espontâneo são maiores. – Fiz uma careta. – Mas não vou te obrigar a não ir, principalmente sabendo que você vai contar para seu namorado nessa viagem. – Assenti com a cabeça. – Então se cuida, ok?! Ande bastante, tome bastante líquido, coma sempre que possível. Assim já são boas as chances de manter seu bebê aí dentro. – Confirmei com a cabeça. – Agora, depois que você voltar e constatarmos que ele realmente está aí, você vai ter que conversar no seu trabalho, com seu namorado e parar a partir da 27 semanas...
- Eu não sei contar como grávida. – Falei, vendo-a rir.
- Ainda não, isso são próximo dos sete meses, mas cada caso é um caso. – Ela apoiou as mãos na mesa. – Essa é sua primeira gestação, você não tem pressão alta, nem diabetes ou alguma doença crônica, você não teve nenhum sangramento, é jovem, sua saúde está perfeita... Vai dar tudo certo. – Assenti com a cabeça. – Só não dar bobeira também. – Confirmei com a boca. – Siga as orientações que você vai pegar esse bebê com a mão nos próximos sete meses. – Sorri.
- Bom, acho que é isso, por enquanto. – Soltei o ar fortemente.
- Se tiver qualquer dúvida, você tem meu WhatsApp, pode mandar mensagem a hora que for, que eu te respondo. Lembrando: nenhuma dúvida é boba. – Assenti com a cabeça, me levantando junto dela. – Vai dar certo.
- Vai sim! – Suspirei. - Só preciso me organizar. – Ela me abraçou rapidamente.
- E aproveite, ok?! É um momento importante. – Suspirei, relaxando os ombros. – Te vejo assim que possível.
- Ok, obrigada por tudo.
- Que isso! – Ela sorriu e abriu a porta, me fazendo suspirar com todos aqueles papéis e indicações nas mãos.
Era muita coisa para processar!
- ! – Me assustei com o grito de Bianca e virei o rosto.
- Oi! – Falei.
- Você está bem? Eu estou te chamando há uns 10 minutos já. – Suspirei, passando a mão no cabelo e vendo o WhatsApp Web com várias mensagens não lidas.
- Desculpa, estou um pouco desligada. – Balancei a cabeça.
- É, estamos vendo. – Lucas falou.
- O que você disse?
- Mané fez mais um, três a um para o Liverpool. – Suspirei.
- Ah, legal! Acabou?
- Faltam os acréscimos, mas acho que acaba assim. – Lucas disse.
- Você está bem mesmo? – Bianca perguntou. – Ficamos para ver o jogo contigo, mas você mesmo é a menos interessada.
- Você está assim faz quase uma semana. O que houve? – Vinícius falou. Suspirei, vendo os três me encarando, fazendo eu me sentir pressionada.
- Desculpa, é que tem tanta coisa acontecendo... – Suspirei.
- Fala com a gente, você sabe que pode contar com a gente para o que for, não sabe? – Lucas perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Só estamos nós aqui, o que houve? – Foi a vez de Vinícius e eu respirei fundo, fechando os olhos. As lágrimas surgiram de repente, fazendo eu levar as mãos aos olhos, pressionando-os.
- Ei, não precisa chorar. – Ouvi a voz de Bianca.
- Eita, que o negócio é sério. – Lucas falou e senti uma mão em minhas costas e outra pessoa me abraçar.
- Fala com a gente. – Bianca sussurrou contra meu ouvido.
Ergui a cabeça, passei as mãos nas bochechas e Lucas me estendeu um lenço de papel. Passei rapidamente nas bochechas, respirando fundo e olhando para os três que já estavam mais perto de mim agora.
- Eu estou grávida. – Falei, sentindo meu lábio tremer e só vi seis olhos arregalaram na minha frente e ficarem em silêncio.
- É por isso que você... – Interrompi Vinícius.
- Sim. – Falei. – Estou vomitando, estou apática e sei lá mais o quê.
- Quando você descobriu? – Bianca perguntou.
- Faz uns 10 dias, fui fazer o primeiro ultrassom ontem...
- Por isso você saiu mais cedo. – Assenti com a cabeça.
- Devemos te parabenizar? – Vinícius perguntou e eu suspirei.
- Eu não sei. – Engoli em seco. – Eu ainda não processei a ideia, também não falei para o Alisson ou para minha família. Só vocês e o Bernardo sabem. – Suspirei, sentindo outra lágrima escorrer pela minha bochecha.
- Você vai seguir com essa gravidez, você vai terminá-la? – Bianca perguntou.
- Por que todo mundo está me perguntando isso? Eu não vou abortar, eu vou seguir. – Falei brava.
- Então eu vou te dar parabéns. – Lucas falou me abraçando forte. – Imagino que você deva estar surtada com essa informação, eu e Mariana surtamos quando descobrimos também, mas são coisas da vida, você vai ver. Em breve você não vai se lembrar como era sua vida sem esse serzinho. – Suspirei, apertando-o contra meu corpo.
- Mas como eu vou fazer isso dar certo? – Perguntei, engolindo em seco. – Eu estou aqui, Alisson está lá. Eu só tenho 25 anos, gente! – Senti que minha voz afinou e eu comecei a chorar novamente. – Eu estou apavorada.
- Ah, minha amiga. – Foi a vez de Bianca se juntar ao abraço. – Vai ficar tudo bem, aposto. O que importa é que vocês dois se amam, tem condições para criar essa criança e tudo mais. – Suspirei. – O trabalho a gente ajeita. – Suspirei.
- O que Alisson disse? – Vinícius perguntou.
- Eu ainda não contei para ele. – Fiz uma careta. – Quero contar pessoalmente. – Suspirei. – Estou com medo.
- Do Alisson? – Bianca perguntou rindo fracamente.
- Da reação dele. – Suspirei.
- Aposto que ele vai te apoiar sem nem pensar duas vezes. – Ela falou mais alto. – Ele te ama, e ele já tem uma filha, ele já passou por isso.
- Aí que tá, ele já passou por uma gravidez não planejada, não sei se ele está preparado para outra.
- Eu o conheço, ele vai curtir. – Lucas falou.
- É, jogadores de futebol tem o dom de ter filho cedo. – Vinícius falou sarcasticamente e eu ri.
- Eu só não queria isso agora, sai totalmente dos meus planos.
- Às vezes a gente precisa de uma coisa para sacudir nossas vidas, não?! – Lucas piscou. – E isso nem vai te tirar dos eixos, vai te colocar nele.
- Eu sei que você está com medo, mas estaremos contigo, ok?! Em todos os momentos, se você quiser apoio para contar para ele e tudo mais, estaremos contigo. – Assenti com a cabeça, abraçando Bianca fortemente e senti Lucas e Vinícius entrarem no abraço.
- Te amamos, ok?! – Vinícius sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Agora coloca um sorriso no rosto, tá?! É uma coisa boa. – Lucas falou beijando minha cabeça e eu assenti com a cabeça.
- Eu posso aproveitar esse momento? Nunca tive ninguém próximo a mim grávida. – Bianca falou fofa e eu ri fracamente.
- Pode, mas que isso não saia daqui até eu resolver tudo com Alisson, pode ser? – Falei e os três afirmaram com a cabeça.
- De quanto tempo você está?
- 10 semanas. – Suspirei, vendo Bianca se abaixar e colocar as mãos na minha barriga. – Não dá para sentir nada ainda, Bi! – Falei e os três riram.
- Ah, quero aproveitar, vai! – Ela sorriu, se levantando. – É por isso que a sua calça não entrou aquele dia! – Ela falou surpresa.
- É, eu preciso fazer compras urgente. – Suspirei.
- Bom, acho que devemos ir comemorar, você precisa começar a aproveitar isso. – Lucas falou.
- Sim, vamos! – Vinícius falou animado. – Chama o Bernardo, ele está de folga?
- Não, mas podemos ir até o Outback que ele trabalha. – Falei.
- Partiu, então. – Lucas falou e eu sorri.
Voltei para o computador com as abas abertas e mandei uma mensagem rápida para Alisson:
“Bom jogo, vou sair para jantar com o pessoal da empresa. Nos falamos amanhã. Te amo”. - Desliguei tudo e saí junto com o pessoal, sentindo eles me abraçarem pela cintura e comecei a me sentir um pouco mais leve.
- Ah, mais essa agora. – Falei ao olhar o celular.
- O que foi? – Bernardo perguntou.
- Filipe Luís foi cortado por lesão. – Suspirei, bloqueando o celular. – Tite escolheu Alex Telles no lugar.
- Isso é ruim? – Ele perguntou.
- Ah, vai ser até bom não ter o Filipe Luís enxerido nesse momento, ele implica, mas eu gosto dele. – Ele riu fracamente.
- Pelo menos você vai ter mais privacidade para falar com o Alisson. – Ele veio arrumado em minha direção.
- É, não sei, gente nova torna as coisas mais difíceis, mas vai ser legal. – Suspirei.
- Eu estou indo, ok?! A gente se vê mais tarde, caso você esteja acordada ainda. – Ele me deu um beijo na testa e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Bom trabalho. – Ele falou e acenei, vendo-o sair pela porta.
Virei o rosto para o lado, vendo algum desenho tonto na televisão e suspirei, fechando os olhos. Senti o celular vibrar no colo novamente e eu peguei o mesmo, vendo uma mensagem de Aline, namorada de Arthur.
“Ei, como você está? Faz tempo que não conversamos”. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior e ponderei com a cabeça, acho que eu estava precisando de um conselho um pouco mais profissional.
“Oi, posso te ligar agora?” – Respondi, tendo a resposta logo em seguida.
“Claro, o que houve?” – Me sentei no sofá, cruzando as pernas no assento e apertei o botão de ligação em vídeo, vendo-o começar a tocar.
- Oi, , tudo bem? – Sorri ao ver seu rosto na tela no celular.
- Oi, Aline, tudo bem e contigo?
- Por aqui tá tudo certo. Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou e eu soltei um longo suspiro.
- Em partes aconteceu. – Franzi o lábio inferior.
- Sabe que pode contar comigo, certo? Como amiga e como psicóloga. – Sorri.
- E você não tem ideia de como isso me ajudou muito. – Suspirei. – Melhor presente de 2019. – Ela sorriu.
- Fico feliz em saber disso.
- Bom, o segundo melhor presente, eu acho. Ainda estou analisando. – Ela franziu a testa e riu fracamente.
- Como assim? O que houve?
- Arthur está por aí? – Perguntei.
- Está tomando banho. Por quê?
- Eu queria sua opinião em algo. – Suspirei, balançando a cabeça. – Eu vou encontrar o Alisson em dois dias e eu não sei como ele vai reagir, então estou achando formas de as pessoas aliviarem isso para mim, falar que vai ficar tudo bem, mas até agora ninguém conseguiu.
- Você está me assustando, , o que houve? – Mordi meu lábio inferior, suspirando algo.
- Eu estou grávida, Aline.
- O quê? – Ela perguntou um tanto alto. – Desculpa a reação, mas esperava uma doença ou algo assim. – Ri fracamente.
- Fico feliz por não ser. – Rimos juntas. – Eu estou grávida.
- Quem? – Ouvi uma terceira voz e Aline virou para o lado, Arthur deveria ter saído do banho. -Com quem você está falando?
- Desculpe. – Aline falou e eu abanei com a cabeça.
- ? Você está grávida? – Aline abriu o ângulo do celular e vi Arthur se aproximando da tela somente com uma toalha na cintura.
- Eu não preciso ver isso, querido. – Falei e ele se abaixou rapidamente, ficando vermelho de vergonha.
- Desculpa. – Ele falou. – Mas você está grávida? – Assenti com a cabeça.
- Sim, descobri faz uns dias e não, Alisson não sabe.
- Isso é ótimo! – Ele falou animado e eu e Aline franzimos o rosto junto.
- Mesmo? – Perguntei. – Assim, eu estou levemente desesperada, então ouvir isso é um tanto contraditório. – Ele riu fracamente.
- Tá, ok, vocês são jovens ainda e moram longe, vão ter que ver como resolver esse departamento ainda, mas é uma boa notícia isso. – Ele abriu seu largo sorriso.
- Esclareça, por favor, que eu só estou pensando na distância. – Suspirei.
- Você já deve ter ouvido falar que só o amor forte entre duas pessoas traz outro ser ao mundo, não?!
- Em contos de fadas. – Falei sarcástica e Aline riu.
- Ah, qual é, , você é mais esperta que isso. – Suspirei. – É algo bom, você vai ver, além do mais, eu vou adorar seu titio.
- Entra na fila! – Falei e eles riram. – Bernardo, Lucas, Vinícius, você... Além dos nossos parentes que não sabem. – Suspirei.
- Não contou para sua família ainda? – Aline perguntou.
- Não, quero falar com Alisson antes, mas Bernardo me ajudou a descobrir, acabei contando para Bianca, Lucas e Vinícius que me notaram estranha e agora você e esse fuxiqueiro do seu lado. – Arthur riu fracamente.
- Não era para ele ter ouvido, desculpa. – Aline falou.
- Tudo bem, Arthur é um bom amigo, ter mais um apoio em Portugal vai ser uma boa. – Suspirei.
- Tudo pronto para a viagem? – Arthur perguntou.
- Fiz minhas malas hoje de manhã, o voo é amanhã as cinco da tarde. – Suspirei.
- Eu tenho jogo amanhã, devemos nos ver só segunda.
- O Alisson também. – Suspirei.
- Como está sendo falar com ele? – Aline perguntou.
- Hum, vamos dizer que eu tenho usado várias desculpas para evitar entrar em chamada de vídeo com ele. Ele nota quando eu tenho uma unha encravada, imagina quando perceber meu nervosismo. – Arthur assentiu com a cabeça.
- Alisson é bem cuidadoso e preocupado com ela. – Ele falou para Aline.
- Indico você fazer isso logo que se encontrarem, assim vocês têm alguns dias para processar a informação e resolverem o que vão fazer. – Balancei com a cabeça.
- Eu estou bem perdida sobre tudo, confesso. Já fiz exames, já fui na médica, está tudo ok, agora nós dois a um oceano de distância me alopra um pouco. – Aline assentiu com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, confia. – Aline falou.
- Qualquer coisa, vai ter muita gente que te ama lá para te apoiar incondicionalmente. – Arthur falou. – Estaremos contigo.
- Isso me deixa muito feliz. – Sorri. – Vocês são ótimos.
- Eu sei! – Arthur falou e Aline o empurrou, fazendo-o sair da tela um pouco, me fazendo rir.
- Eu sei que meu nervosismo é à toa, Alisson é a melhor pessoa que eu conheci na vida, ele realmente tem um coração bom e eu tenho muita sorte de ter me apaixonado por ele e ele por mim, mas...
- É inevitável, eu sei. – Aline falou. – Você sabe nossa história, foi muito difícil resolver tudo, mas aqui estamos. – Sorri.
- Talvez um pouco de inspiração seja o que eu preciso. – Ri fracamente.
- Só olhar a história de amor de vocês dois, vai ficar tudo bem. – Arthur falou e eu assenti com a cabeça.
- Estou confiante que sim, mas pensando em planos B.
- Barcelona é bem perto... – Aline falou e rimos juntos.
- Pronta? – Lucas perguntou.
- Eu mencionei que existem grandes chances de aborto nos primeiros meses? – Sussurrei entre ele e Bianca.
- Por viajar? – Bianca perguntou apressada, mantendo o tom de voz.
- No geral, mas voar não é muito indicado. – Falei.
- E o que fazer quando você está a minutos de fazer isso? – Lucas perguntou.
- Andar bastante e me hidratar. – Falei.
- Você vai acordada até Lisboa, porque eu vou te obrigar a isso. – Bianca falou e eu ri.
- Vai dar certo, vamos levar essa criança para dar uma volta do lado de lá. – Lucas sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Aeronave preparada para partir. – Ouvi o rádio do piloto e puxei a respiração fortemente, sentindo meu corpo arrepiar.
- Estamos aqui com você. – Lucas falou esticando a mão e eu a segurei, sentindo Bianca fazer o mesmo do outro lado e senti meus olhos encherem de lágrimas quando Vinícius tocou meu ombro da poltrona de trás.
Fechei os olhos quando a aeronave começou a correr pista e algumas lágrimas não evitaram em escapar de meus olhos, mas não era de medo, era de emoção. Eu sabia que ali, ligando nós quatro, era algo muito maior do que amizade, era algo muito mais forte, era amor. Senti as rodas do avião saírem do chão e suspirei, fazendo uma reza silenciosa, pedindo que tudo não passasse de nervosismo bobo.
Capítulo 12 – E agora?
O voo até Lisboa foi calmo, eu tentei dormir, mas eu tinha três guarda-costas que estavam fazendo tudo para o meu bem-estar e desse bebê que ainda iria chegar, então eu fui cutucada quase a viagem inteira para dar uma andada, beber água e comer alguma guloseima que a aeromoça oferecia. Vamos dizer que quando eu cheguei em Lisboa, eu estava praticamente virada, enquanto os três lindinhos estavam plenos como se tivessem dormido o voo inteiro.
- Eu odeio vocês! – Foi a primeira coisa que eu falei quando descemos do avião e os três só me deram sorrisos sarcásticos.
- Pelo menos vocês estão bem. – Bianca sussurrou, sem que a equipe ouvisse.
Pousamos em Lisboa umas cinco e pouco da manhã, horário local e corremos para pegar o voo para Porto as sete horas. Podíamos ir de ônibus, mas seriam quase quatro horas de voo. Fazia muito tempo que eu não voltava para Portugal, quando eu vim pela primeira vez, visitei só Lisboa, Santarém e Fátima, então não conhecia Porto.
Também não consegui, pois eu tive três horas para realmente tirar uma soneca deliciosa. Chegamos no aeroporto Francisco Sá Carneiro e em pouco menos de 20 minutos chegamos ao Sheraton Porto Hotel & SPA. Fizemos a divisão dos quartos, eu e Bianca ficamos juntos, e Lucas e Vinícius ao nosso lado e nos ajeitamos. A equipe técnica teria algumas reuniões primárias, e nós tínhamos somente que fazer a recepção de alguns jogadores mais tarde.
Aproveitei que o tempo estava calmo, tomei um longo banho e me deitei em uma das camas gigantes do Sheraton e Bianca me permitiu descansar um pouco. Para mim havia sido pouco, mas cinco horas foram o suficiente para renovar minhas energias. Depois, aproveitei para ligar a televisão, encontrar o canal da Premier League e assistir ao Liverpool ganhar de dois a zero em cima do Fulham.
Começamos a trabalhar de verdade quando recebemos a notícia que Dani Alves tinha se lesionado no jogo do PSG e saímos correndo em uma reunião com a equipe técnica para resolver isso o mais rápido possível e convocar alguém para substituí-lo. Fagner foi o escolhido e embarcaria logo depois do jogo do Corinthians.
- Caralho, bruxa tá solta, hein?! – Falei, fechando a agenda e eles riram.
- Não estou gostando nada disso. – Tite disse com seu sotaque caricato e rimos.
- Também não, confesso, mas vai dar certo. – Edu falou e assentimos com a cabeça.
Lá pelas seis da tarde, quando o sol começava a se pôr, meus queridos Jesus, Ederson, e o novato, Felipe Anderson, se apresentaram antes da hora.
- Olha quem está aí! – Jesus sorriu ao me ver e eu retribuí, andando alguns passos e abraçando-o fortemente.
- Ah, que saudades que eu estava, gente! – Falei sorrindo.
- Quanto tempo faz? – Ederson sorriu ao me ver, me abraçando fortemente também.
- Uns cinco meses, desde outubro. – Sorri.
- E como você está? Você e Alisson? – Ederson perguntou.
- Tudo certo, nos vimos nas festas de fim de ano. – Assenti com a cabeça, evitando prolongar o assunto.
- Oi, boa noite, boa noite. – Vi o novato chegar atrás e sorri, me aproximando dele.
- Bem-vindo, Felipe, eu sou , assessora da CBF e essa é... – Virei para trás, vendo Lucas. – Cadê Bianca?
- Ela estava aqui até agora. – Ele falou e rimos juntos.
- Bom, tem a Bianca que é assessora também. Esses são Lucas e Vinícius. – Falei enquanto Jesus e Ederson os cumprimentavam.
- É um prazer conhecê-los. – Ele sorriu.
- Bom, gente, são quartos de dois, então vocês vão se acomodando, depois podem se apresentar ao Tite no restaurante. – Eles assentiram com a cabeça e entreguei uma chave para os dois jogadores do City e uma para do West Ham.
- A gente precisa botar os papos em dia. – Ederson falou e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar, pode deixar! – Abanei a mão, vendo-os rir e seguir para o elevador, fazendo Bianca sair pelo mesmo.
- Ei! – Jesus e Ederson gritaram animados, me fazendo rir.
- Aonde você estava? – Perguntei.
- Eu esqueci a chave. – Ela ergueu e eu bati na cabeça. – Como vocês estão? Oi, prazer, sou Bianca. – Ela cumprimentou e eu sorri.
O resto do dia foi normal, eu ainda não estava totalmente ilesa dos primeiros sintomas da gravidez, então foi só eu colocar algo para dentro que a comida quis voltar novamente. Não queria que a comissão técnica se preocupasse comigo, então falei que tinha alergia a nozes e subi para descansar. O dia começaria cedo amanhã, então precisava me preparar, agora eu tinha duas pessoinhas para carregar, então precisava me cuidar mais.
Na parte da manhã, por volta das 10 horas, mais uma leva de jogadores chegou: Éder Militão, Alex Telles, Coutinho, David Neres, Casemiro, Danilo e Arthur, para fazer minha felicidade. Cumprimentei todos, mas aquele loirinho e baixinho era mais um cúmplice da minha vida e eu precisava de quantos fosse possível.
- Como você está? – Ele sussurrou para mim, me abraçando forte.
- Tudo certo, um pouco enjoada ainda, mas bem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu fiquei surpreso quando você me contou...
- Xí! – Falei. – Só você e minha equipe sabem, a equipe técnica e os outros jogadores não têm nem ideia.
- Puts! – Ele franziu a testa. – Nem o Alisson? – Neguei com a cabeça. – Você precisa contar para ele.
- Assim que ele chegar, vou pedir para conversar em particular e jogar a bomba. – Ele suspirou.
- Cara! – Ele negou com a cabeça. – E como você está? Realmente?
- Ah, o susto passou já, talvez eu fique assustada quando a barriga começar a aparecer, mas... – Dei de ombros. – Eu já fiz minha decisão. – Ele me abraçou novamente.
- Vai dar tudo certo, você vai ver. Ele vai adorar. – Dei um pequeno sorriso.
- Eu sei que sim, mas... – Mordi meu lábio inferior. – Não lembro de conversarmos sobre isso, sobre essa possibilidade.
- Vai ficar tudo certo. – Ele deu um rápido beijo em minha testa. – E essa criança vai ser linda, olha vocês dois! – Ri fracamente.
- Ah, garota! – Casemiro veio em minha direção e eu sorri, abraçando-o fortemente. – Que saudades, galera!
- Faz tempo, né?! – Sorri, vendo-o cumprimentar Arthur.
- Precisamos colocar o papo em dia. – Ele seguiu para os outros jogadores.
- Falando nisso, e você e Aline? Como estão? – Perguntei.
- Ah, tá tudo ótimo, bem, você viu nas conversas. – Sorri. – Graças a Deus, estou feliz por finalmente me amarrar, sabia?
- E como vocês se resolveram?
- Ah, eu dei um migué, falei que tinha compromissos em Paris e queria que ela fosse comigo, ela negou um pouco... – Assenti com a cabeça. – Mas ela foi, reservei uma mesa em um dos melhores restaurantes de Paris, pedi que tocassem nossa música, aí eu pedi para namorar com ela e ela disse sim. – Sorri, negando com a cabeça.
- Ah, que romântico. – Fui sarcástica, vendo-o ficar envergonhado.
- Como foi com você e o Alisson? – Ele perguntou, franzindo a testa.
- Ah, foi na Copa, né?! A gente já tinha se pegado e estava rolando algo, bem discreto por causa da situação toda, quando fomos eliminados e cada um foi para um canto, ele falou que não poderia ir embora sem saber que eu era dele, aí eu aceitei ser dele. – Dei de ombros, fazendo uma careta e ele riu fracamente.
- O meu foi melhor, vai?
- Não! – Falei enfaticamente. – Nem a pau, cara. Um jantar em Paris é tão comum. – Abanei a mão, vendo-o rir.
- Bom, já faz quase um ano... – Fiz uma careta.
- Ah, nem fala. – Abanei a mão. – Nem um ano e já estamos com tu-u-udo isso envolvido, parece muito mais, sério.
- Relaxa, garota, vai dar certo. – Assenti com a cabeça.
- Se Deus quiser. – Suspirei. – Enfim e aquele probleminha básico da Aline?
- Da prosti...
- Esse mesmo. – Cruzei os braços, recebendo um sorriso de Danilo e trocamos um rápido beijo na bochecha.
- Ah, morreu, passou, né?! Não posso querer mudar algo que aconteceu antes de mim, né?!
- Ah, tá amadurecendo. – Abracei-o de lado. – Que bom que está feliz, agora precisamos montar nosso encontro de casais.
- Só marcar. – Ele sorriu e eu o abracei de lado, vendo Coutinho se aproximar.
- Ah, Little Couto. – Soltei Arthur, empurrando-o para o lado e abracei outro baixinho do meu coração.
Depois que esses jogadores aquietaram, eles subiram para os quartos duplos, se vestiram com o tradicional uniforme azul de jogadores, enquanto eu e o resto da galera usávamos aquele branco sem graça e desceram para almoçar. Ali o papo rolou solto, eu não conseguia parar quieta, Alisson já havia mandado mensagem falando que estavam chegando e passava o tempo e nada.
Eles tinham treino as quatro horas, as horas se passavam e eu estava vendo que cada vez menos eu conseguiria falar com ele antes do treino e aquilo embrulhava meu estômago e dessa vez eu sabia que não era enjoo da gravidez.
Lá pelas duas horas, os primeiros jogadores começaram a dar as caras. Chegou em uma leva meu eterno capitão Thiago Silva, Marquinhos, Paquetá, Miranda, Alex Sandro e Allan. Paquetá e Alex Sandro estavam voltando agora, mas fazia mais ou menos cinco meses que eu não via nenhum deles, então era bom reencontrar, principalmente meu querido Thiago Silva!
- Ah, Thi! – O apertei fortemente, sentindo-o me erguer do chão um pouco.
- Ah, que bom te ver. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça. – Faz quanto tempo que a gente não se vê? – Ele perguntou.
- Desde o jogo que eu fui ver em Paris.
- Ah é, tinha me esquecido disso. – Ele riu e eu abracei Marquinhos também.
- E como você está? – Marquinhos perguntou.
- Ah, você sabe. – Ponderei com a cabeça.
- E as novidades? – Suspirei.
- Ah, nada muito uau. – Falei e ele sorriu.
- O que importa é que você está bem. – Assenti com a cabeça.
- Sim, todos bem. – Sorri.
Cerca de meia hora depois, eu confesso que surtei um pouco, Taffarel, que não veio com a gente, chegou junto do meu goleiro favorito do mundo, Weverton. Desculpa, Alisson. Weverton era um verdadeiro salvador para mim. Minha reação foi muito óbvia.
- Ah, garota, que saudades! – Cláudio me abraçou e eu retribuí rapidamente.
- Saudades de você também, Taffa! – Sorri e o vi seguir para Bianca.
- Oi, eu sou... – Interrompi Weverton.
- Meu ídolo, cara! – Falei animada. – Posso te abraçar?
- Claro! – Ele falou rindo e eu o abracei fortemente.
- Você é sensacional, eu te amo muito! – Falava animada. – Foi por você que a gente conseguiu o brasileirão. Você é o salvador das Olimpíadas, você é top!
- , se acalma! – Lucas falou ao meu lado e eu soltei Weverton.
- Desculpa, eu só... – Respirei fundo. – Eu esperei muito por esse momento, sério.
- Torce para o verdão? – Ele perguntou.
- E tem outro time para torcer?
- Tem...
- Cala a boca. – Falei para Bianca, vendo-a rir.
- Me deixa feliz, sério. – Ele sorriu e eu o abracei novamente.
- Se empolga não, Weverton, não cai na dela não. – Ederson apareceu quando eu soltei Weverton. – Ela é fã de goleiro, qualquer um serve. Falando nisso, cadê seu namorado? – Ele se virou para mim e eu dei um tapa em sua cabeça.
- ‘Cê me respeita, moleque! – Falei para ele, vendo Weverton rir.
- Seu namorado é... – Weverton perguntou.
- O Alisson! – Ederson falou e eu dei um sorriso falso.
- Ah, isso explica algumas coisas. – Weverton falou e Ederson franziu os lábios, assentindo com a cabeça.
- Viu?! Podia ser qualquer um de nós. – Ederson deu de ombro e eu fechei um punho, dando com força em seu braço. – Ai! – Ele reclamou.
- É muito bom te ter aqui, Weverton, obrigada e parabéns pelo título! – Falei com a voz forçada e ele sorriu. – Depois quero foto, autógrafo e sei lá mais o quê.
- Combinado! – Ele sorriu e eu o abracei novamente de lado.
- Chega! – Lucas me puxou e eu o soltei, afastando alguns passos.
- Posso trabalhar agora? – Bianca perguntou.
- Desculpa, eu dei uma surtadinha. – Fiz uma careta e ela revirou os olhos.
- Seja bem-vindo, Weverton, eu sou Bianca e com essa louca, somos assessoras de imprensa, Lucas fotógrafo e Vinícius cinegrafista, caso precise de algo, só falar com a gente.
- Obrigado. – Ele a cumprimentou rapidamente.
- Aqui está sua chave e você pode se arrumar e depois descer para se apresentar ao técnico Tite.
- Obrigado. – Ele sorriu.
- Tchau! – Acenei sonhadora e virei para Ederson que me encarava.
- Se o Alisson souber disso...
- Que foi? – Cruzei os braços. – Todo mundo sabe que eu adoro goleiros, e todo mundo sabe para time que eu torço, vou aproveitar sim. – Estiquei o dedo em sua direção.
- Acho que o enciumado é ele que percebeu que foi para terceiro lugar. – Jesus gritou do sofá e eu gargalhei.
- Errado ele não tá! – Pisquei para Ederson que fechou a cara.
Para o meu nervosismo piorar, faltavam 30 minutos para gente sair para o treino, quando os três jogadores do Liverpool deram as caras no hotel. Até lá minha barriga já tinha dado voltas e mais voltas, e eu só estava aguentando meu almoço, pois comi três fiozinhos de macarrão sem molho e um pouco de salada, até o chef da seleção perguntou se a comida estava ruim, tive que inventar que comi muito no café, como todo mundo sabia que era verdade, eles só não sabiam que eu tinha jogado tudo para fora, mas ok.
- Eu vou passar mal. – Falei jogada no sofá do lobby. – Cadê o Alisson?
- Você já está passando mal, né, linda? – Bianca falou e eu suspirei, fechando os olhos. – Você precisa comer algo a mais.
- Eu sei, mas eu vou vomitar de novo. – Suspirei.
- Eu vou pedir para o chef fazer uma canja para você. – Fiz uma careta.
- Ah canja, sério?
- É o tipo de comida que se dá para doente. – Lucas falou.
- Eu não estou doente. – Falei, vendo a porta se abrir e os três jogadores do Liverpool e um do Everton apareceram.
- Que bonito, hein?! – Fale, me levantando toda desajeitada e Alisson abriu um largo sorriso.
- Desculpa, tivemos que vir de ônibus de Lisboa. – Ele largou sua mala e eu me aproximei dele, passando os braços em volta do seu pescoço.
- Que saudades de você. – Sussurrei, sentindo que havia me emocionado, ou o bebê, pois eu tinha lágrimas nos olhos.
- Ei, o que foi? – Ele perguntou, passando a mão em meu rosto.
- Desculpa, eu estou meio sensível, sabe, coisas de mulher. – Abanei a mão e ele assentiu com a cabeça, segurando meu rosto e colou nossos lábios, me fazendo apertar sua blusa.
- Eu te amo. – Ele falou e eu sorri.
- Eu também.
- Estamos aqui também. – Firmino falou e eu revirei os olhos.
- Bianca é a anfitriã hoje. – Falei, abanando a mão, mas segui para abraçá-lo.
- Com exceção do Weverton, né?! Ela foi a primeira a chegar chegando. – Ederson falou e eu revirei os olhos.
- Surtou, foi?! – Alisson perguntou rindo, olhando para Ederson.
- Para caramba. – O tatuado respondeu, gargalhando em seguida. – Até eu fiquei com ciúmes.
- Pô, , assim fico com ciúmes, hein?! – Alisson falou brincando e eu empurrei-o com a mão.
- Ah, vocês são impossíveis. – Segui para cumprimentar Fabinho e Richarlison que vinham atrás.
- A gente só sentiu sua falta. – Richarlison falou e eu sorri.
- Ah, pombo, pelo seu bem, fica de fora dessa, já não basta esses monstros que eu criei.
- Ainda bem que sabe. – Alisson e Ederson falaram juntos e eu revirei os olhos.
- Bom, gente, quartos duplos. – Bianca falou entregando as chaves.
- Eu vou ficar contigo? – Alisson virou para mim.
- Não, parça, vai ficar comigo. – Arthur apareceu vindo do restaurante e eu gargalhei.
- Mas grudou igual chiclete, hein?! – Alisson brincou, pegando Arthur pelo pescoço, me fazendo rir.
- É melhor vocês irem se arrumar e falar com o Tite, saímos em 20 minutos. – Bianca falou.
- Alisson! – O chamei antes de entrar no elevador e passei os braços pelo seu pescoço. – Preciso falar contigo.
- Claro, o que foi? – Olhei em volta.
- Em particular. – Mordi o lábio inferior.
- Agora não, , temos hora. – Bianca falou e eu suspirei.
- Pode esperar? – Ele perguntou preocupado.
- Pode. – Falei fracamente, sentindo um rápido selinho em meus lábios e ele entrou no elevador com outros jogadores.
- A gente não tem tempo para isso agora, . – Bianca sussurrou ao meu lado e eu respirei fundo.
- Eu estou prestes a estourar, Bianca. – Engoli em seco.
- Eu sei, mas aguenta umas horinhas, tá? – Assenti com a cabeça, suspirando e segui para o restaurante.
Fomos para o estádio do Boa Vista Futebol Clube aqui no Porto e a equipe foi dividida em dois. Parte foi para a academia fazer um pouco de relaxamento e a outra foi para o campo fazer reconhecimento. Eu e Bianca ficamos andando entre as duas imediações auxiliando o pessoal de mídias sociais, que não havia mandado representante dessa vez.
Foi mais um reconhecimento de terreno mesmo, sem treinos muito pesados e sem abuso, somente os goleiros fizeram um treino mais pesado, mas não rolou nenhum jogo com bola corrida, somente exercícios.
A novidade do dia, e a piada, foi Miranda usando uma máscara preta em seu rosto, por conta de uma pequena lesão que ele teve no nariz no último jogo. Ele parecia de boa com aquilo, mas era piada certa.
Não tive tempo de ficar olhando meu grupo favorito, pois umas cinco e meia nós seguimos para a primeira coletiva da leva. Começamos devagar com os novatos David Neres e Alex Telles. Foram 20 minutinhos daquele papo de sempre, era o começo ainda, os amistosos seriam contra times não tão relevantes, então até a imprensa parecia bem calma com tudo isso.
Tentei me manter bem ocupada com as poucas atividades que eu tinha para cumprir, ver Alisson perto de mim e não poder abrir os pulmões e gritar “estou grávida” realmente estava me aloprando de uma forma incrível, além da fome que eu estava por ter comido pouco no almoço.
Voltamos para o hotel por volta das sete da noite e Cebolinha já se encontrava no hotel. Fizemos o rápido recebimento dele, trocamos algumas palavras convencionais e finalmente me vi livre das minhas obrigações naquele dia.
- E então, quer jantar antes, namorar antes? – Alisson me apertou pela cintura e eu dei um meio sorriso.
- Eu ainda preciso conversar contigo. – Falei séria e ele entendeu o recado, pois soltou minha cintura quase imediatamente.
- Você está me preocupando. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- É sério! – Falei.
- Cadê Arthur? – Ele olhou em volta. – Ele está aqui, vamos lá no quarto. – Ele falou, me puxando pela mão e entramos no elevador em silêncio.
Eu sentia minha mão suar entre a dele e parecia que meu corpo estava começando a hiperventilar novamente. Eu estava realmente em um caminho desconhecido, não fazia a mínima ideia de como ele reagiria e estava honestamente com medo de tudo o que pudesse acontecer nos próximos cinco minutos.
Chegamos no andar dos jogadores, nós estávamos um acima, e ele abriu a porta de seu quarto. Percebi a decoração melhor que a do nosso e entrei, seguindo para a cama com a troca de roupa dele em cima da mesma, não deveria ter dado tempo de organizar suas coisas.
- Pronto, estamos sozinhos. – Ele falou, puxando a cadeira da escrivaninha e se sentou em minha frente. – O que aconteceu? – Respirei fundo, passando as mãos nos cabelos e erguendo-os em um alto rabo de cavalo e prendendo com a fivela solta em meu braço.
- O que eu tenho para te dizer veio de surpresa para mim também, e eu ainda estou tentando processar tudo isso... – Engoli em seco. – Então, antes de tudo, gostaria que isso não saísse daqui, pelo menos por enquanto. – Suspirei.
- Ok? – Ele falou em tom de dúvida e apertei as mãos nos olhos, respirando fundo. – Ei, amor, o que foi? – Ele segurou minhas mãos, tirando-as de meu rosto e eu soltei o ar fortemente pela boca, querendo que ele não findasse.
- Eu estou com medo. – Falei, rindo fracamente e o mesmo levou minha mão para seu peito.
- Eu te amo, o que é que seja, vamos encarar juntos, você sabe disso, não sabe?
- Sei! – Assenti com a cabeça, suspirando.
Passei as três palavras em minha cabeça um milhão de vezes e passei os braços pelo seu pescoço, abraçando fortemente e me aninhando em seu colo, sentindo-o me apertar pelas pernas também, me dando o tempo necessário.
- Ok! – Falei, soltando-o devagar, encarando seus olhos claros que retribuíam.
- Eu te amo. – Ele falou como se aquilo fosse me acalmar, mas parecia que meu corpo estava reagindo de forma contrária, se arrepiando e começando a tremer com essas três palavras.
Levantei de seu colo, dando alguns passos pelo quarto, coçando a cabeça em busca de algo que pudesse acelerar o processo. Uma luz divina me parecia uma melhor opção naquele momento, só não parecia fácil.
- Ok, vamos lá. – Me sentei em sua frente, segurando suas mãos fortemente e encarei seus olhos.
- Eu não quero ser o namorado chato que fica pressionando, mas fala logo, pelo amor de Deus! – Ele falou. – Eu vou vomitar de tanto que o estômago revira. – Ele falou.
- Tudo bem, eu já vomitei por nós dois pelos últimos 10, 15 dias. – Falei e ele franziu a testa, me fazendo soltar de uma vez só. – Eu estou grávida, Alisson.
- O quê? – Ele perguntou e foi minha vez de deixá-lo processar a informação.
O carregamento dele foi mais rápido que o meu. Primeiro ele travou, com aquela cara de quem realmente não esperava a notícia, mas cerca de 20 segundos depois, ele se levantou animado, pulando animado para todo canto.
- Cara, como assim? É sério? Mentira! Não, , isso é zoação, não é?! Você está brincando comigo.
- Você está feliz? – Perguntei um tanto receosa e ele se virou para mim.
- Você está brincando comigo? Mas é claro que estou! – Ele veio em minha direção, me abraçando fortemente e eu tinha grandes pontos de interrogação na minha testa. – Você não está?
- Agora que a ficha caiu, eu estou melhor, mas eu ainda estou desesperada, Alisson. – Falei, apertando suas mãos com as minhas.
- Mas por quê? – Ele perguntou.
- Eu só tenho 25 anos, Alisson...
- Só por mais uma semana. – Ele falou.
- O que não me torna muito mais madura para encarar isso. – Falei. – Eu nunca esperei ter filho antes dos 30, Alisson, eu não faço a mínima ideia de como cuidar de uma criança. – Levei as mãos à cabeça. – E tem tudo o que está acontecendo, trabalho, viagens, Seleção... – Suspirei. – Eu estou realmente desesperada. – Abaixei o tom de voz e o mesmo levou minhas mãos à sua boca, beijando-as.
- Eu já passei por isso e nem sou tão desastrado nesse quesito, ok?! – Ri fracamente. - Eu estarei contigo por todo caminho, tá? Estamos juntos nessa, meu amor. Vai ser estranho, apavorante, alucinante, mas vai dar tudo certo. – Suspirei e o senti passar os braços pelo meu corpo, me trazendo para perto de si.
- Eu estou assustada. – Falei, suspirando, sentindo algumas lágrimas deslizarem pelo meu rosto.
- A gente vai fazer isso dar certo. – Ele sussurrou.
- A pergunta é: como? – Me afastei, segurando seus braços.
- Como assim? – Ele me perguntou.
- Eu no Rio, você em Liverpool? – Olhei para ele preocupada.
- É, a gente vai ter que dar um jeito nessa parte. – Ele suspirou. – Você quer morar comigo?
- Ah, tá. E meu emprego? – Cruzei os braços, encarando-o.
- Sei lá, a gente precisa fazer um esforço, não?!
- E por que eu? – Notei meu tom de voz aumentando.
- Você quer que eu largue o time?
- Pelo visto é o que você está insinuando que eu faça. Por que você não pode? – Falei séria.
- Me parece a escolha mais óbvia nessa situação. Se eu voltar para o Brasil agora eu vou enterrar minha carreira. – Ele falou mais alto também.
- E se eu sair do Brasil eu enterro a minha. – Gritei igualmente. – Por que só a sua importa? Não se esqueça de que se não fosse esse emprego, isso não teria acontecido nunca.
- Eu sei, mas é a única opção que eu consigo pensar.
- Não me venha com dois pesos e duas medidas, Alisson. – Falei firme. – Não vou me mudar para Liverpool só porque você quer.
- E como você espera que a gente crie essa criança? – Ele abanou os braços. – A cada amistoso fica com um? Não é assim que funciona.
- E você acha que eu sou idiota? Eu sei! Mas eu sou a mãe, ele vai ficar comigo, minha opinião deveria valer mais. – Ele passou as mãos nos cabelos, respirando fundo.
- Que sugestão você dá, então? Ficar do jeito que está? – Ele perguntou alto e eu respirei fundo, evitando que as lágrimas me fizessem perder o controle.
- Eu não sei, mas eu não consigo pensar em nada melhor com você gritando comigo. – Passei as mãos nos olhos, respirando fundo e me assustei quando a porta foi aberta.
- Está tudo bem aqui? – Arthur e Lucas entraram juntos, me fazendo respirar fundo e voltei o olhar para Alisson.
- Eu não consigo ver outra solução. – Ele suspirou, abaixando o tom de voz. – Um de nós vai ter que dar o braço a torcer.
- Posso te garantir que não serei eu. – Falei firme, encarando-o. – Eu estou realmente vivendo meu sonho trabalhando aqui, é incrível eu poder chegar em casa e sentir orgulho do meu trabalho, estar feliz com o que eu faço e ter a independência que eu sempre quis. – Engoli em seco. – Você sabe o quão difícil é ter minha idade, uma formação de jornalista e poder falar que eu sou a mais bem-sucedida de todos os meus amigos e conhecidos? Até mais que meus professores? – Suspirei, encarando-o. – Poder encher a boca e falar que eu ganho o que eu ganho? Poder me gabar por algo que eu consegui pelos meus próprios méritos? Poder ser a pessoa que é invejada na profissão? – Neguei com a cabeça. – Eu não vou largar isso agora. Pode ser ego ou o que for, mas sei que é a mesma coisa que te mantém no Liverpool.
- E como a gente vai fazer? – Ele me encarou e eu não tinha resposta, me fazendo somente respirar fundo. - Eu já não participei da gravidez da Helena, por favor, não me faça perder essa também. – Ele falou e eu mordi meu lábio inferior, sentindo meu corpo arrepiar. Eu não estava preparada para ouvir isso.
- Eu preciso pensar. – Abanei a mão, desviando de Arthur e Lucas.
- Aonde você vai? – Ouvi sua voz.
- Para longe de você. – Falei, saindo pela porta e desviando de todos os olhares curiosos que estavam no corredor.
Ignorei o elevador e subi um andar pelas escadas correndo, tentando evitar que ele me alcançasse. O corredor do andar de cima estava vazio, então segui até meu quarto e coloquei a chave, entrando no apartamento e encontrando Bianca.
- E aí, como foi? – Seu sorriso sumiu quando ela me viu e eu finalmente me desmanchei em lágrimas. – Ah, meu Deus! – Ela se levantou correndo e veio me abraçar. – O que foi?
- A gente brigou. – Falei, escondendo meu rosto em seu ombro, deixando que meu choro ficasse audível pelo quarto, me fazendo respirar fundo.
- Sobre o quê? – Bianca perguntou.
- Sobre como vamos criar o bebê. – Falei chorosa e ela segurou meu rosto com as mãos.
- É só uma fase. – Ela disse. – Logo vocês vão se resolver. – Passei as mãos nos olhos.
- Sabe o pior? – Falei para ela que acenou com a cabeça. – Eu não tenho uma resposta para essa pergunta. – Suspirei.
- Vocês vão encontrar, juntos. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu vou tomar um banho, você promete que não deixa ele entrar? Pelo menos hoje. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Eu preciso de um tempo.
- Você comeu?
- Não. – Gemi, percebendo o buraco em meu estômago.
- Quer que eu pegue algo para você? – Ela perguntou.
- Você se importa? – Perguntei.
- Não, vou ver se pego uma canja para você. – Ri fracamente, passando a mão nos olhos. – Aproveito e espio o campo de lá.
- Deixa, foi muita coisa ao mesmo tempo. – Suspirei.
- Só fica bem, ok?! Eu logo volto. – Ela disse.
Quando o despertador tocou na manhã seguinte, parecia que um caminhão havia passado por cima de mim. Depois da briga na noite passada, ouvi algumas batidas na porta e recebi várias mensagens de Alisson para que eu deixasse ele entrar, mas ignorei todas, esperando que ele fosse embora. Eu estava com a cabeça quente, não podia lidar com aquilo novamente ou seria pior e acabaríamos falando besteiras muito piores e eu me conhecia quando ficava brava, não era muito fácil de lidar.
Bianca demorou para voltar, talvez estivesse aguardando o momento em que Alisson saísse da frente da porta, não sei, mas eu já estava cochilando quando ela voltou com um pouco de canja e alguns pãezinhos. Ela me acordou, obrigando que eu comesse e depois deixou eu dormir novamente, me fazendo respirar fundo.
- Você não está nada bem. – Ela falou para mim e levou a mão na minha testa. - Parece que você está um pouquinho com febre. – Suspirei, levando a mão à testa. – Quer que eu chame o Rodrigo?
- Não, ele vai me dar remédio e não quero tomar nada desnecessário por causa do bebê, deve ser da briga de ontem.
- Quer que eu declare que você está passando mal? Todos viram que você vomitou ontem, não seria de tudo mentira. – Suspirou.
- Não sei, não me parece uma ideia boa faltar o trabalho por uma briga boba. – Levantei meu corpo, encostando no travesseiro.
- Se não fosse boba, você não estaria febril. – Suspirei, passando as mãos no rosto. – Descansa, ok? Eu arranjo uma desculpa. Só esteja lá na hora da coletiva, ok?! – Assenti com a cabeça.
Não deu cinco minutos após Bianca ter descido que ouvi batidas na porta novamente e aquela voz grave com o sotaque gaúcho me chamar e não precisei duvidar de quem era. Puxei a coberta novamente, erguendo-a até a cabeça e fechei os olhos, esperando que ele desistisse e fosse embora.
A pergunta de noite passada ainda sondava na minha cabeça e eu ainda não tinha uma resposta para ela. Sim, eu sabia que não havia sido justo eu ter pedido para ele largar o time, mas eu também não queria largar a CBF. Era com toda certeza o melhor trabalho do mundo, me satisfazia, massageava meu ego, me permitia adquirir os bens materiais que eu queria e precisava e, o melhor de tudo, me dava conforto em criar essa criança.
Apesar de ser uma gravidez não planejada, eu sabia que não precisava me preocupar com o dinheiro, mesmo se Alisson não ganhasse três milhões de euros por ano. Além do plano de saúde e outros benefícios que a CBF me proporcionava, eu realmente não conseguiria algo assim em mil anos. Conhecia a realidade dos meus amigos, sabia que muitos ganhavam mil e 500 reais por mês e faziam diversos bicos. Eu sabia, pois eu fiz parte dessa galera até entrar na CBF, então largar não era uma opção.
Mas também entendia o lado dele, ele já não havia participado da gravidez da Helena, por ter sido algo também não planejado e foi bem quando ele estava começando sua carreira internacional na Roma. Era levemente desesperador pensar nisso para mim.
Mas ele tinha razão, um dos dois teria que dar o braço a torcer e nenhum dos dois parecia muito inclinado em fazer isso.
Consegui dormir mais um pouco até 11 horas, depois eu simplesmente despertei. Ainda parecia que eu havia sido atropelada por um caminhão, mas eu não podia ficar assim por mais tempo. Me arrumei com o uniforme de guerra e segui para o restaurante, procurando alguma coisa para comer, já que o almoço seria no estádio hoje. Comi um pouco do que sobrou ontem e voltei para o quarto para me conectar com Bianca e finalmente abri meu WhatsApp, a quantidade de mensagens do Alisson era de assustar e até me cortou o coração, pois ele realmente estava preocupado.
“Por favor, abre, vamos conversar”.
“Vamos fazer isso dar certo juntos, eu te amo”.
“Me desculpa por tudo, por favor, fala comigo”.
“Eu não seria nada se não fosse você, você é a melhor coisa que aconteceu comigo”.
“Me desculpe, me desculpe, me desculpe, eu amo vocês dois”.
Suspirei ao ver “vocês dois” e lembrei o verdadeiro motivo daquela discussão. O pequeno serzinho que nascia dentro de mim, que não tinha nada a ver com aquela história toda. Alisson estava tão desesperado quanto eu, mas eu não conseguia resolver aquilo para nós dois, minha mente era uma página em branco que não conseguia se mexer.
Pensei em responder Alisson, mas não queria resolver aquilo agora, igual à gravidez, isso precisaria ser resolvido cara a cara... Só não agora. Me coloquei online para Bianca e respondi alguns e-mails e informações rápidas sobre o amistoso e fiquei sabendo da chegada de Fagner essa manhã, o veria mais tarde.
Fiquei até cinco horas tentando criar coragem para ir para o estádio do FC Porto, aonde estava acontecendo o treino, mas parecia que aquilo só pioraria. Me arrumei, pedi para o motorista me levar e segui para o estádio do Dragão. Cheguei receosa, vendo que a bola rolava forte em um jogo e parei ao lado do banco dos reservas.
- Ei, alguém resolveu aparecer. – Ouvi Tite e dei um pequeno sorriso, dando um rápido beijo em sua bochecha. – Como está? Melhor?
- Mais ou menos ainda, mas tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Fiquei sabendo que teve um estresse ontem? – Ele indicou com a cabeça e vi que os olhos de águia de Alisson já haviam me encontrado e estavam focados em mim, fazendo-o perder um gol.
- Vamos, garoto! – Ouvi Taffarel gritando e suspirei.
- Vai passar. – Falei para Tite, coçando a testa com a manga do casaco azul. – Quem você quer para a coletiva hoje? – Perguntei.
- Pode ser o Anderson e o Jesus. – Assenti com a cabeça.
- Para o jogo, por favor? – Falei e ele riu fracamente.
- Se resolva com meu goleiro, ok?! – Ele falou e eu suspirei, afirmando com a cabeça.
- No tempo certo. – Falei e ouvi o mesmo apitar em meu ouvido, parando o jogo.
- Anderson e Jesus, comigo! – Gritei em seguida e fui em direção à Bianca que estava em uma das laterais com Lucas.
- E aí, como está? – Bianca perguntou, levando as costas da mão até minha testa.
- Tudo bem. – Suspirei.
- Ele não para de olhar para cá. – Lucas disse.
- Vamos para dentro, vai. – Abanei a cabeça, seguindo para dentro do estádio, esperando que os dois jogadores estivessem atrás da gente.
- Lucas disse que o estresse foi real ontem, viu?!
- Depois que eu saí? – Virei para Lucas.
- Ele está desesperado, , em perder tudo isso. – Ele falou. – Ele chorou como uma criança depois que você saiu.
- Foi igual do lado de lá. – Bianca falou e eu suspirei.
- Eu não sei o que fazer, Lucas. – Suspirei. Entrei na antessala, segurando a porta, no aguardo dos dois jogadores.
- Fala com ele, uma cabeça funciona melhor do que duas, não?! – Suspirei.
- Eu não quero brigar de novo, já estou sensível demais com... – Vi os jogadores se aproximarem. – Com tudo, não posso me deixar abalar. – Ele suspirou alto.
- Arthur falou com ele, todo mundo entende os dois lados, mas...
- Ninguém tem solução, Lucas, não tem o que fazer, um dos dois precisa dar o braço a torcer e não acho justo ser nenhum dos dois. Um pagar pelo “erro” dos dois? – Fiz aspas com as mãos. - Não é legal.
- Só o tempo vai dizer. – Ele disse e eu suspirei.
- Qual o papo? – Jesus perguntou.
- Nada! – Falei rápido junto de Lucas e Bianca. – Vamos lá. – Apontei para outra porta que já dava na sala de coletiva.
Depois da coletiva, tive que esperar a finalização do treino para voltarmos para o estádio, já que a van tinha voltado para me buscar. Assim que ela estacionou na frente do hotel, sabia que ele viria atrás de mim.
- ! – Ouvi sua voz e parei de andar, respirando fundo. Éramos em quase 40 pessoas para quatro elevadores, não daria tempo de correr e não estava disposta para subir tudo isso de andares de escada. – ...
- Estou ouvindo. – Falei, virando de frente para ele.
- Podemos conversar? – Ele me perguntou e eu suspirei. – Por favor.
Passei os braços pelos seus ombros, abraçando-o e ele entendeu o recado, me apertando fortemente também. Eu sabia que choraria e não queria fazer aquilo na frente de todo aquele pessoal.
- Me dá um tempo, ok?! – Falei quando me afastei devagar.
- ... – Ele segurou minha mão.
- É muita coisa para processar, Alisson, por favor. – Suspirei. – Eu te amo, eu só preciso pensar no que fazer. – Trouxe sua mão para perto da minha boca e dei um pequeno beijo na mesma. – Eu te amo.
- Só não me afasta, tá?! – Ele perguntou, acariciando meu rosto. – Tire o tempo que precisar, mas não me afasta. – Neguei com a cabeça.
- Nunca. – Dei um curto selinho em seus lábios e me afastei devagar, seguindo para o primeiro elevador que se abriu, vendo Arthur entrar junto.
- Tudo certo no paraíso? – Ele sussurrou e eu mordi meu lábio inferior.
- Nem de perto. – Falei e ele me abraçou de lado, permitindo que eu encostasse a cabeça em seu ombro até o elevador chegar em seu andar.
No dia seguinte, tivemos folga na parte da manhã. Bom, os jogadores, eu e Bianca continuamos trabalhando, fazendo os últimos detalhes para o jogo do dia 23, a maior pergunta era sobre o Panamá ser um time relativamente pequeno e tudo mais, como você responde isso sem desmerecer o outro time? Meio difícil, né?!
Quando chegou a hora do almoço, descemos todos, pois hoje era dia de trote e agora, com todos os jogadores presentes, era o momento perfeito para isso. Ao chegar lá, aqueles olhos verdes me encontraram facilmente, me fazendo arrepiar como se fosse a primeira vez. Ele havia me entendido e estava me dando o espaço desnecessário, mas eu ainda não tinha uma solução para aquilo e começava a sentir falta de tocá-lo. Era quase como a Rússia novamente.
- Todo mundo já almoçou? – Vinícius chegou perguntando animado e os jogadores se entreolharam.
- O que ele vai aprontar? – Edu perguntou, pela primeira vez eu estava na mesa da equipe técnica.
- Eu tenho uma leve ideia. – Falei, virando o corpo e apoiando o braço no encosto da cabeça.
- Hora do trote! – Bianca gritou, estourando uma buzina próximo aos jogadores, fazendo eles pularem de susto.
- Sabia! – Falei, me levantando e eles riram.
- O quê? – Os jogadores novos começaram a se entreolhar e Vinícius colocou uma cadeira na frente da mesa, na ponta aonde Thiago, Weverton, Fagner e Marquinhos estavam.
- Quem são os sofredores de hoje? – Perguntei, pegando a lista da mão de Bianca. – Alex Telles, David Neres, e naquela mesa ali tem o Kenny e o Luís. – Apontei para as duas novas adições da equipe técnica.
- Ninguém me informou disso não! – Luís gritou e a gente gargalhou.
- Relaxa, ninguém espera mesmo! – Os chamei com as mãos e os quatro se levantaram.
O trote foi aquela piada de sempre, é claro, mas parece que dessa vez o pessoal queria avacalhar com Cláudio. Primeiro Luís disse que estava feliz por trabalhar com ele, pois era tão fã que teve um cachorro chamado Taffarel quando mais novo, fazendo eu rolar de dar risada no chão. Kenny aproveitou a deixa e disse que também era fã dele, mas que nunca teve um cachorro com o nome, depois, para fechar com chaves de ouro, Alex disse que Taffa tinha deixado ele no banco quando foi seu treinador.
Para não achar que ficaria pior, David ainda falou o motivo dele não ter atendido a ligação do Tite quando foi convocado. Eu já tinha ouvido esse boato, mas achava que era piada, David provou que não, causando mais risadas da galera. Depois tiveram as tradicionais cantorias e fiquei feliz por eles serem jogadores de futebol, porque nenhum tinha futuro como cantor.
- Chega de palhaçada, vamos treinar! – Tite gritou, fazendo todo mundo gargalhar e eles começaram a seguir para o ônibus do lado de fora.
Chegamos ao CT do FC Porto e tudo estava já meio organizado para a chegada dos jogadores. Eles se trocaram rapidamente e já seguiram direto para o campo, hoje não teria treino regenerativo ou algo do tipo, seria treino de campo mesmo. Eles fizeram um aquecimento de bobinho e logo os times foram divididos.
O CT do FC Porto era diferente dos estádios que a gente treinava, com aquela quantidade gigantesca de espaço para gente sentar e tudo mais, esse era curto, então era o campo completo e cerca de dois metros para cada lado em volta do campo, o que sobrou que eu e Bianca ficássemos sentadas no lugar dos reservas.
Mesmo com tudo o que estava rolando comigo e com Alisson, eu amava ver os goleiros treinando. Sei lá, vai ver era aquele sonho abandonado no passado ou eu só gostava de vê-los pulando e suando um pouco.
- Para de encarar. – Bianca falou ao meu lado e eu endireitei as costas, virando para ela.
- Quê?
- O Alisson, qual é, ou vocês se resolvem ou não. – Bufei.
- Não é isso, Bianca, e você sabe muito bem. – Ela suspirou.
- Eu sei, mas você está comendo-o com os olhos.
- Sempre. – Suspirei e ela riu fracamente. – Mas estou olhando o Weverton também, ok?! Ele é meu goleiro, poxa, preciso aproveitar essa oportunidade.
- Com “oportunidade” você diz...
- Vê-lo treinando, qual é! – Dei um tapa em sua cabeça, vendo-a gargalhar. – Um goleiro na minha vida já me dá bastante dor de cabeça. – Ela assentiu com a cabeça.
- ! – Me assustei, virando o rosto e dando de cara com Taffarel.
- Fala, Cláudio. – Sorri, me levantando. – Ou devo dizer “au au”? – Brinquei e a risada de Bianca estourou ao meu lado.
- Engraçadinha. – Ele me abraçou pelos ombros e seguiu comigo em direção ao gol. – Preciso de ajuda.
- Quando não?! – Cocei a nuca. – O que você precisa?
- Alvo humano. – Ele falou e eu revirei os olhos, vendo que o jogo já parara e os três goleiros estavam de um só lado do campo e Tite trabalhava com os outros jogadores do outro.
- Ah, claro! Podemos começar contigo? – Abri um largo sorriso e ele riu.
- Eu não tenho idade mais.
- E eu estou indisposta desde que chegamos! – Dei um falso sorriso para ele.
- Ah, qual é, o máximo que vai acontecer é você levar uma bolada na barriga e...
- O quê? – Ouvi Alisson gritar e surgir ao nosso lado com uma bola na mão.
- Relaxa, não vai machucar nada. – Taffa abanou a mão e eu peguei a bola da mão de Alisson e joguei em sua cabeça. – Ai!
- É por isso que eles têm bastante cabelo. – Apontei para os goleiros. – Amacia em caso de pancadas. – Ele revirou os olhos.
- Que treino você quer fazer? – Alisson perguntou cruzando os braços e eu o imitei, mantendo aquela feição de quem não estava tremendo inteira com ele ao meu lado.
- Três toques diretos, treinar reflexo. – Cláudio falou. – E você sabe como é, pega pesado.
- E você quer ela nesse treino?
- Não seria a primeira vez.
- Não vai rolar, Taffa. – Ele falou e sabia que ele estava falando isso por causa do bebê.
- Qual é, Alisson, não é nada demais, e a tem experiência, faz ela se mexer um pouco. – Taffa falou. – O que você acha, ?
- Não vai rolar, Taffa, eu não estou cem por cento ainda. – Alisson suspirou aliviado ao meu lado.
- Bola! – Ouvi alto e levei as mãos à cabeça, recebendo uma forte nas costas.
- Ah, caralho! – Reclamei.
- Cuidado, porra! – Alisson gritou de volta. – Você está bem? Se machucou? – Ele segurou meus ombros, preocupado e eu assenti com a cabeça.
- Estou, isso só prova a minha teoria. – Falei, dando dois tapinhas no braço de Taffa. – Se vira! – Falei saindo para fora do campo, sentindo as costas arderem com a pancada.
- Vocês dois estão muito estranhos. – Ederson falou olhando para mim e Alisson.
- Coisa da sua cabeça! – Eu e Alisson falamos quase juntos.
- Melhor você não ficar aqui... – Alisson comentou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Vai, Weverton, me deixa orgulhosa. – Falei para meu outro goleiro.
- Cara, eu estou perdendo posto aqui! – Alisson comentou, coçando a testa e eu dei um pequeno sorriso.
- Melhor goleiro brasileiro, melhor goleiro europeu. – Dei de ombros. – Para que eu não posso admirar os dois?
- Eu vou ficar com ciúmes, hein?! – Alisson falou com uma feição fofa e eu senti meu rosto esquentar.
- Você? E eu que, aparentemente, não tenho posto nenhum mais? – Ederson falou e eu, Alisson, Weverton e Taffa caímos na gargalhada.
- Fica sem mim hoje, ok?! – Falei para Taffa e ele assentiu com a cabeça.
- Tudo bem, mas não quero que pare de jogar.
- Quem sabe outro dia? – Falei e eles assentiram com a cabeça.
Mais para o fim do dia, fui para a coletiva com Miranda e Richarlison, foram uns 20 minutos das mesmas perguntas de sempre, com os mesmos repórteres que já estávamos muito acostumados.
Chegamos no hotel por volta das oito horas, eu já fiquei para o jantar com uma pequena maioria, isso não incluía Alisson, o que eu não gostei, eu precisava parar de ser orgulhosa e dar o braço a torcer, já haviam se passado dois dias e nada, e eu sabia que ele também não tinha culpa, ele queria conversar, eu que estava evitando-o.
Fui para o quarto, praticamente trocando de lugar com Bianca, pois ela preferiu tomar banho antes e estranhei ao encontrar um buquê com diversas flores, lírios, gérberas, narcisos, margaridas, entre outras, em cima da minha cama. Fui até o mesmo, encontrando um bilhete com meu nome e abri o mesmo, encontrando a fina e elegante letra de Alisson.
“Como lidar com isso? O coração em pedaços, a cabeça com milhares de dúvidas e o olhar perdido. Aprendi nesses dias que eu realmente não sei viver sem você. Lembrar de tudo o que a gente passou para ficar juntos, não vai ser uma grande felicidade como essa que vai nos separar. Se eu precisar largar o Liverpool para fazermos isso acontecer, eu largo sem pensar duas vezes. Talvez o Flamengo tenha uma vaga.
Você é minha vida,
Seu Alisson”.
Suspirei, sentindo os olhos molhados e levei a mão ao peito, emocionada por ele saber escrever tão bem assim e triste por ele realmente aceitar desistir de seus sonhos para viver o meu. Suspirei, pegando meu celular, encontrando algumas mensagens e notificações perdidas por ali e segui para a conversa de Alisson que não tinha notícias há quase 48 horas.
“Você é tudo para mim, só não é justo largar seu sonho por causa de nós. Daremos um jeito. Obrigada pelas flores”. – Suspirei, enviando. – “Ah, no Flamengo não”. – Devolvi, suspirando.
Ele apareceu como online quase no segundo que eu enviei e esperei que ele respondesse alguma coisa, aparecesse no meu quarto, mas não, ele ainda estava me aguardando.
Já ouviu falar em carma? Eu já e tenho vivido junto dele há muito tempo.
Acordei no dia 21 disposta a finalmente falar com Alisson, eu não tinha resposta, ele também não, mas enquanto não encontrássemos, eu queria ficar ao lado dele. Eu queria aproveitar essa criança próximo dele, parecia que meu útero virou de cabeça para baixo quando eu o abracei, então eu sabia a importância dele para esse bebê.
O que faríamos? Não sei, talvez trocarmos a cada amistoso nem parecia tão má ideia assim, podia conseguir algumas folgas na CBF e ir com mais frequência para Inglaterra, ele poderia vir com mais frequência para o Brasil, aposto que eles nos ajudariam.
Enfim, mas sabe o carma? Me tirou da cama antes das oito da manhã. Pelo visto Bianca tinha esquecido de desligar o celular corporativo e as primeiras mensagens e ligações chegaram logo cedo. Ficamos presas em nosso próprio quarto até umas três da tarde, até Lucas e Vinícius vieram trazer comida para gente e Tite e Edu perguntarem porque a gente não aparecia. Simplesmente porque a caixa de e-mail nunca se esvaziava e o telefone não parava de tocar.
- A gente está indo treinar, depois vocês aparecem lá?
- Pode deixar! – Falei.
- Ah, Alisson está te procurando. – Edu falou antes de sair.
- Depois eu falo com ele, agora não tem como. – Disse rápido, voltando a focar no e-mail e vi a porta do quarto ser fechada.
- Vocês se resolveram ontem? – Bianca perguntou.
- Não exatamente. Ele me deixou um bilhete lindo e eu respondi, hoje estava disposta a falar com ele, mas...
- Vai dar certo.
Quando conseguimos um pequeno intervalo para ao menos ir no banheiro, aproveitamos para ir até o estádio aonde seria o jogo para pegar as informações. Era para irmos amanhã, mas se a imprensa tinha lembrado que a gente existia hoje, provavelmente pelo fato de não ter novos amistosos desde outubro, imaginava como seria mais perto. E para ajudar mais ainda no nosso caos, a cidade estava toda engarrafada, fazendo com que chegássemos quase 20 minutos atrasadas para a coletiva.
Imagina que legal, duas loucas correndo para dentro do estádio, chamando os dois jogadores de Tite para a coletiva, Fagner e Paquetá, e saindo desesperada para a sala de coletiva, recebendo ótimos olhares julgadores quando entramos na mesma. 20 minutos depois, estávamos livres.
- Eu estou cansada. – Bianca bocejou ao meu lado e eu ri fracamente.
- Relaxa, já vamos embora.
- Morta! – Ela foi dramática e eu revirei os olhos.
- Contenha-se! – Falei, recebendo olhares da comissão técnica e nós duas nos ajeitamos, esperando o treino acabar.
Voltamos para o hotel e os jogadores se dispersaram. Descobri por Arthur que Alisson estava na fisioterapia, junto de outros, alguns ainda faziam trabalho na academia e eram poucos que estavam realmente folgados e aproveitaram para jantar. Já passava das oito horas, então aproveitei para jantar e depois fiquei com Marquinhos, Jesus, Fabinho, Arthur e Coutinho no lobby do hotel. Bianca havia morrido na cama, e eu sentia que iria para o mesmo caminho em breve.
- Ei! – Virei para o lado, dando espaço para Thiago sentar ao meu lado e eu sorri.
- Ei, como você está?
- Tudo certo. – Ele falou. – Podemos conversar? – Ele perguntou, olhando os jogadores espalhados pelo largo lobby do hotel, como se checasse se a barra estava limpa, só Arthur estava na poltrona à minha frente.
- Claro, o que houve? – Perguntei.
- Isso que eu quero saber. – Ele falou, suspirando alto. – Aconteceu algo entre você e o Alisson? Percebi que vocês estão distantes, você não apareceu no quarto dele, ele não foi no seu, ele parece incrivelmente extra preocupado contigo, não que ele não seja, mas... Enfim, está acontecendo algo? – Foi minha vez de suspirar alto.
- Nós brigamos, Thi, logo no primeiro dia. – Pressionei os lábios. – Estamos com uns problemas e não sabemos como resolver isso. – Dei de ombros. – Queria engolir o orgulho e falar com ele, mas parece que meu dia foi tirado de minha responsabilidade.
- O que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar. Sabe, entre bem e mal, eu sou casado há quase 15 anos, precisa servir de algo. – Sorri, abraçando seu braço e encostando a cabeça em seu ombro.
- Eu tentei, cara! – Arthur se meteu na conversa, dando a volta e se sentando ao meu lado no sofá também. – Isso é algo que só eles conseguem resolver.
- Você sabe? – Thiago perguntou e Arthur assentiu com a cabeça.
- Conta para ele, . – Arthur disse. – Ele é parça. – Suspirei, erguendo o rosto para Thiago.
- Eu estou... – Franzi a testa, ainda parecia difícil assumir aquela palavra.
- O quê? Traindo ele? Doente?
- Não, pelo amor. – Respirei fundo, rindo fracamente com as opções.
- Não vai dizer que está grávida. – Ele falou e eu franzi o rosto.
- Posso não dizer, se preferir.
- Oh, meu Deus! – Ele falou surpreso, pulando dois metros distante de mim. – Você está de brincadeira, né?! – Ele falou eu neguei com a cabeça.
- Bem que queria no começo.
- Mas nem parece! – Ele se sentou novamente. – De quanto tempo?
- Quase três meses. – Suspirei. – Eu sou corpulenta, vai demorar um pouco para aparecer. – Ele assentiu com a cabeça.
- E vocês brigaram por isso? Ele não quer? – Balancei com a cabeça.
- Não, ele ficou até feliz, na verdade. – Dei um pequeno sorriso. – É só que...
- Como vocês vão criar ele? – Ele teve um estalo.
- Exatamente. – Suspirei, sentindo-o passar um braço pelo meu ombro e mordi meu lábio inferior.
- Ah, meu Deus! – Ele assentiu com a cabeça. – Nossa, imagino o quanto deve estar sendo difícil.
- Eu não quero largar meu emprego, eu não sou mulher que larga tudo por causa de namorado, Thi, mas também não acho justo ele largar tudo e vir para o Brasil. – Senti minha voz embargar novamente e respirei fundo tentando não chamar atenção.
- Eu entendo, quando foi comigo e com a Belle, era totalmente diferente, ela fechou os olhos e falou que ia comigo, mas ela não tinha um emprego incrível igual ao seu. – Passei a mão embaixo dos olhos, respirando fundo.
- Eu não sei se estou sendo egoísta por isso, mas eu não sei o que fazer. – Suspirei. – Queria que tivesse uma terceira opção e não tem.
- Acho que é só questão de tempo para tudo se resolver. O que a equipe falou quando você contou?
- Eu ainda não contei. – Suspirei. – Só o pessoal da comunicação, Arthur e Alisson sabem. – Suspirei.
- E a Aline. – Arthur falou.
- É, e a namorada do Arthur que me ajudou um pouco nesse momento.
- Eu queria realmente te dar algum conselho mirabolante ou fazer com que uma luz aparecesse, mas eu realmente não sei. – Ele deu um pequeno sorriso. – Mas saiba que eu apoio vocês integralmente e estou feliz por vocês. – Assenti com a cabeça, sentindo-o dar um beijo em minha testa.
- Eu fiquei muito nervosa no começo, ainda estou um pouco, mas estou empolgada também. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vai ficar tudo bem, você vai ver.
- Só espero que eu veja logo. – Falei, vendo-o rir.
- O Amir veio jantar, vou ver se o Alisson foi para o quarto e falo para ele descer, pode ser? – Arthur perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Vai lá. – Deslizei meu corpo no sofá, encostando a cabeça no encosto. – Estarei aqui.
- Ok! – Ele falou e se levantou.
Arthur foi, mas não o vi voltar, acordei de madrugada já no meu quarto, com a roupa do corpo em um pulo. Peguei meu celular para checar a hora e vi que já passava das duas da madrugada. Abri as mensagens e não tinha mensagem de ninguém que eu quisesse. Cogitei levantar para tomar um banho, mas aquilo só me despertaria e estava tão bom ali....
- Bom dia, Bela Adormecida. – Acordei com um grito de Bianca, me fazendo jogar as cobertas para os lados. – Bom dia.
- Meu Deus, delicada! – Falei, fechando os olhos novamente e a senti movimentar a colcha, puxando-a para fora. – Não faz isso, fica mais difícil de arrumar a cama. – Falei gemendo, vendo-a rir.
- Você fez um grande papelão, hein?! Arthur foi chamar o Alisson, ele foi e você estava capotada no sofá lá de baixo. – Fiz uma careta.
- Ele que me trouxe aqui?
- O Alisson, não o Arthur. Até tirei uma foto. – Ela mostrou empolgada a foto. – Pena que você parece mais morta do que dormindo.
- Valeu! – Me sentei na cama, respirando fundo. – Quais os planos de hoje? – Perguntei.
- Os jogadores estão em reunião para o jogo, depois vão fazer reconhecimento no estádio, aquelas duas horas de bate bola tradicional, tem coletiva e depois todos voltarão para cá. – Assenti com a cabeça. – Ah, e é aniversário do Everton, vai ter bolo mais tarde.
- Eba, bolo! – Falei, bocejando em seguida.
- Enfim, eu estou saindo com Lucas e Vinícius com o Canarinho, logo voltamos.
- Ei, eu quero ir junto. – Falei, me levantando rapidamente.
- Não! – Ela falou firme. – Você vai esperar o Alisson sair dessa reunião e vai falar com ele o mais rápido possível ou vocês realmente ficarão esses 10 dias sem se falar? Só temos mais cinco dias aqui, não se esquece. – Ela abanou a mão e eu suspirei alto. – E vai tomar um banho que eu acho que você não tomou ontem.
- Pode deixar, mamãe. – Abanei a mão e ela logo saiu, me fazendo suspirar.
Criei vergonha na cara em tomar banho e me livrar daquele uniforme do dia anterior e vesti uma roupa de civil, só precisaríamos ir para o estádio mais tarde, então me vesti mais confortável. Dei uma sondada por mensagem para Arthur e Thiago para saber notícias sobre a reunião e nenhum dos dois me respondeu. Fui tomar café com calma, feliz pela comida finalmente parar em meu estômago e subi até o andar dos jogadores, tentando lembrar qual era o quarto de Alisson, mas não me veio à cabeça, então me sentei no divã que tinha ao lado do corredor e esperei.
Era quase 11 horas quando as conversas me distraíram do meu jogo de Sudoku no celular e vi os rostos conhecidos aparecerem aos poucos. Firmino foi quem cutucou Alisson sobre mim e não sabia dizer se ele sabia da briga, da gravidez, de ambos ou de nada, mas o olhar de Alisson sobre mim fez com que o corredor esvaziasse.
- Eu fico com o Coutinho um pouco. – Ouvi a voz de Arthur e eu e Alisson nos encaramos, em dúvida do que fazer.
- Quer entrar? – Ele perguntou e eu me levantei, seguindo até seu quarto e abrindo a porta.
Entrei logo atrás dele, me lembrando da decoração de quando tinha vindo aqui alguns dias atrás e fui até a cama que eu sabia que era dele, me sentando na ponta da mesma. Ele seguiu até o canto do quarto, se livrando dos seus chinelos e puxou novamente a cadeira para sentar em minha frente.
- Então... – Ele falou e eu suspirei, mordendo meu lábio inferior.
- Eu não sei. – Suspirei, sentindo meus ombros caírem derrotados.
- O quê? – Ele me encarou com a testa franzida.
- Nada. – Falei, coçando minha bochecha. – Eu não tenho uma resposta para o nosso problema, eu não sei uma solução mágica para tudo isso, mas sei que você não vai se sacrificar por causa disso. – Soltei um suspiro longo.
- Nem você. – Ele disse, estendendo a mão para mim e eu a segurei, entrelaçando nossos dedos.
- Mas... – Seus olhos voltaram para os meus. – Até descobrirmos como faremos isso, eu não quero te privar de ficar perto de mim ou desse bebê. E também não quero me privar de ficar perto de você. – Ele se levantou da cadeira, seguindo em minha direção e se sentando ao meu lado.
- Eu estarei aqui, ok?! – Ele falou, me abraçando e eu fechei os olhos, sentindo minha respiração e meu coração se acalmarem. – Eu te amo.
- Eu sei e sinto muito sobre aquele dia... – Ele se afastou, negando com a cabeça.
- Não, não foi culpa sua, eu exagerei. – Ele falou e eu passei a mão em seu rosto, tocando seus lábios com o dedão e suspirei.
- Eu senti sua falta. – Falei e ele eliminou a distância entre nós e colou os lábios nos meus, fazendo eu me sentir em casa novamente.
O apertei contra meu corpo, me aproximando dele e deixando que o beijo se tornasse mais intenso. Ele levou uma mão à minha cintura, apertando o local e inclinou meu corpo para trás, me deitando na cama, somente com as pernas para fora e ele se debruçou sobre mim, continuando o beijo. Sua mão subiu para minha barriga e foi como se ambos entendêssemos o recado e olhamos para o local que ele havia tocado.
- Posso...? – Sua pergunta ficou no ar e eu suspirei.
- Mas é claro! – Ergui a ponta da camiseta que eu usava até meus seios, deixando minha pequena barriga estufada à mostra.
Ele levou a mão para o centro da mesma, próximo ao umbigo e eu contraí a barriga, ou o que eu poderia fazer com um bebê dentro de mim. Ele desceu da cama, ajoelhando no chão e deu um pequeno beijo na mesma, me fazendo arfar. Sua mão grande ocupava quase a extensão inteira da minha barriga e eu tinha um pequeno sorriso no rosto, intercalando entre mordidas no meu lábio inferior.
- De quanto tempo você está? – Ele perguntou.
- Quase 12 semanas. – Falei, levando minha mão para cima da dele.
- Já sabe o que é? – Neguei com a cabeça.
- Está cedo ainda. – Suspirei.
- E você está fazendo todos os tratamentos?
- Sim, eu já fui na médica, já fiz a penca de exames, já fui na nutricionista... – Dei um pequeno sorriso. – Agora só esperar crescer.
- Vai ser perfeito. – Ele disse e assenti com a cabeça, vendo-o se aproximar de meus lábios e dar um curto beijo nos mesmos.
- Vai sim, só espero que seja parecido contigo. – Falei, rindo fracamente em seguida.
- Não, eu não. Eu sou alguém que deu sorte na vida, você lutou pelas suas conquistas. – Neguei com a cabeça.
- Você também. – Disse, dando um curto beijo em seus lábios. – Que ele seja uma mistura de nós dois.
- Precisamos começar a pensar em nomes. – Ele falou.
- Não, agora não. – Falei. – Só fica um pouco comigo, pode ser? – Pedi e ele se colocou ao meu lado, me abraçando pela barriga e me permiti relaxar em seus braços.
Mais tarde fomos ao Estádio do Dragão fazer a visita tradicional, acompanhei a coletiva com Casemiro, Tite e Cléber e, quando voltamos, preparamos um bolo para Everton que estava completando 23 aninhos. Meu aniversário era em alguns dias, esperava que ninguém se esquecesse de mim, muito menos aquele do meu lado.
Era três horas quando seguimos para o estádio do Dragão no dia seguinte, lar do FC Porto. Era a hora de mais um jogo, mas parecia que todos estavam mais relaxados com o adversário, era quase como uma grande brincadeira. Chegando lá, os jogadores e equipe foram fazer os protocolos iniciais e eu segui lá para fora com Vinícius de Canarinho para dar uma visualizada no rolê e conhecer um pouco do terreno.
Duas horas depois, com Ederson, Alex Telles, Miranda, Éder Militão, Fagner, Paquetá, Casemiro, como capitão, Arthur, Coutinho, Firmino e Richarlison, demos início ao jogo. Dessa vez Alisson estava ao meu lado e ele também parecia bem relaxado. Relaxado com o jogo, com a gente, com toda a situação, então segurei sua mão por trás do banco e nos ignorávamos lindamente as câmeras, quando nossos dedos dançavam atrás de nossas costas.
Tivemos várias chances de gol de cabeça, mas tinha que assumir que o goleiro panamenho não era tão fácil de lidar e os jogadores deveriam estar muito nervosos, pois tudo estava indo para fora. Tudo bem que eles tinham uma barreira de cinco defensores, o que tornava um pouco mais difícil a chegada ao gol.
Aos 33 minutos saiu o primeiro gol, realmente na cagada. Casemiro fez o passe para dentro da área, Paquetá fez o chute, o goleiro até defendeu, mas a bola passou embaixo do mesmo, fazendo o estádio comemorar. Alisson também se empolgou ao meu lado, mas eu só pensava: não fez mais que a sua obrigação. Precisávamos de mais.
Três minutos depois, em uma posição claramente de impedimento, o Panamá abriu seu placar. Não foi marcado, o gol foi validado e eu sabia que não adiantava me irritar, não era a primeira, e nem a última que roubariam contra nós, mas, ainda assim eu precisaria dar um puxão de orelha em Ederson, a guarda dele estava totalmente aberta.
O primeiro tempo acabou sem muitas novidades, no intervalo, Tite deu algumas dicas, fez alguns consertos, principalmente na parte da defesa e seguimos para o segundo tempo.
O segundo tempo não foi muito melhor, Ederson fez uma defesa bonita, Fagner conseguiu acertar a trave, e era bomba atrás de bomba para os dois times. Bombas que eram defendidas, jogadas para fora e teve até outros casos de impedimento, mas quem está contando, não é?!
Em um momento achamos que perderíamos Richarlison em um encontrão com o goleiro, mas tudo não passou de um susto, então logo o pombo estava de pé, pronto para próxima. Ah, e o goleiro do Panamá também.
- É, acho que não era para ser assim. – Falei quando o apito final soou.
- Nem de perto. – Alisson falou e levantamos.
As vaias se intensificaram no estádio e vários “Fora Tite” puderam ser ouvidos pelo estádio. Sabia que teríamos um prato cheio para a imprensa, mas o jogo estava totalmente do nosso lado, a bola simplesmente não entrava e o gol e a chance de gol do Panamá estavam impedidas. Acho que eu teria que falar algumas para a imprensa.
Para o Panamá era uma vitória e tanto, mas para gente... Vixi!
Seguimos para dentro novamente, os jogadores que jogaram foram para a fisioterapia e reabilitação, os que não tinham jogado ficaram se arrumando para nosso próximo destino e Neymar veio nos fazer uma visita.
- Você está ótima! – Ele falou me abraçando. – Tem algo de diferente em você. – Franzindo a testa, será que ele sabia?
- São seus olhos. – Ri fracamente e segui Tite e Cléber para a coletiva pós-jogo, esperando o bombardeio da imprensa.
Restringimos a coletiva em 20 minutos e o que eu mais ouvi foi “não foi o resultado esperado”, mas isso todo mundo sabia. Quando todos estavam devidamente vestidos e recuperados, seguimos para o aeroporto para pegar o voo direto para Praga, o jantar seria no avião.
Muitos dos jogadores dormiram no voo, eu estava com fome, então aguardei o jantar e depois só queria aproveitar a companhia de Alisson. Pegamos duas poltronas no final do avião, levantamos os braços da mesma e ele me abraçou pelos ombros, me permitindo deitar a cabeça em seu ombro e ele acariciava minha barriga levemente com a outra.
Apesar de tudo, as coisas estavam indo muito bem, então permiti relaxar em seus braços.
Assim que descemos do avião, percebi que o tempo em Praga estava mais gelado do que em Porto, então já desamarrei o casaco da cintura e vesti, antes mesmo de entrar no ônibus com o restante da equipe.
Quando chegamos no hotel, eu fiquei boquiaberta, o Mandarim Oriental em Praga era uma das coisas mais lindas que eu já havia visto, sim, me lembro do hotel em Sochi, mas esse daqui era quase como um conto de fadas. A entrada era um pouco rústica, mas quando passava por ela, os lindos jardins, fontes e a construção baixa tiraram meu fôlego.
- Quer ficar junto? – Alisson perguntou quando distribuíram as chaves e eu assenti com a cabeça. – Eu te espero.
Finalizamos o protocolo de entrada, o gerente do hotel falou algumas palavras de boas-vindas, Cléber passou a programação para o dia seguinte e todos foram direto para seus quartos. Acenei para Bianca e a mesma riu.
- Eu fico contigo! – Arthur falou passando o braço pelo ombro dela e ela revirou os olhos.
- Até a chegar, eu era quieta, na minha, agora esse pessoal já folga. – Ela fingiu brava, gargalhando em seguida. – Vamos, Arthur, vamos falar mal desses dois. – Ela disse e seguimos juntos para os fundos do hotel.
Da mesma forma que tinha um jardim maravilhoso na entrada, tinha outro igualmente perfeito no fundo, o qual vários quartos circundavam o mesmo em um grande U. Alisson deixou que eu entrasse na sua frente e eu sorri ao ver o quarto com uma larga cama de casal, o que aparentava duas de solteiro unidas, duas poltronas e uma mesa de café próximo à janela fechada, duas mesas de cabeceira, uma escrivaninha com outra poltrona e uma porta que dava para o banheiro.
Segui em direção à janela e abri a cortina, abrindo um sorriso ao perceber o jardim que estávamos há poucos segundos. Deixei minha mochila deslizar pelo meu ombro e cair no chão e eu suspirei. Ouvi outro barulho similar ao meu, senti a respiração de Alisson em meu ombro e suas mãos me abraçaram pela cintura, me fazendo fechar os olhos por um momento. Levei minhas mãos em cima das suas e sorri.
- Me desculpa por antes, tá bem? – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu apertei mais suas mãos em meu corpo.
Virei o rosto para ele, dando um curto beijo em seu queixo e encostei a cabeça em seu ombro, suspirando. Ele mexeu o corpo um pouco e puxou a cortina, fechando-a. Virei o corpo de frente para ele e levei minhas mãos até sua nuca, acariciando levemente.
- Você não precisa se desculpar, ninguém estava errado. – Sussurrei igualmente, fechando meus braços em seu pescoço.
- Mas te deixei chateada, não gosto de te ver assim. – Dei um pequeno sorriso, encarando um ponto no chão.
- Você é incrível, Alisson, eu não poderia ter alguém melhor. – Ergui o rosto novamente. – Fico feliz que tenha me escolhido.
- Para quê? – Ele falou e eu desci os braços, segurando seu pescoço entre minhas mãos.
- Para ser sua, para cuidar de mim, por tudo. – Ri fracamente e ele assentiu com a cabeça, aproximando nossos lábios e tocando-os levemente.
- Você é meu melhor presente. Eu nunca quero te perder. – Neguei com a cabeça.
- Não pensa nisso, foi só uma briga boba, eu sei que essa história do bebê vai dar maior dor de cabeça, mas somos jovens ainda, vamos fazer dar certo. – Suspirei.
- Nunca fiz um bate e volta, será que dá certo? – Ri fracamente, abraçando-o fortemente.
- Eu tenho algumas horas extras para tirar por participação em eventos, outras viagens, etc... Podemos fazer dar certo. - Ele sorriu, me dando um curto selinho.
- A médica falou alguma coisa sobre voar? – Suspirei.
- Ela comentou que tinha perigo nos três primeiros meses, mas estamos firmes e fortes aqui, né, bebê? – Falei como se falasse com a barriga e ele riu.
- Deixa eu fazer uma coisa... – Ele falou, subindo as mãos para meus ombros e empurrando o casaco fino que eu usava da CBF e eu o ajudei a tirar. Depois ele colocou as mãos na barra da minha blusa e a puxou para cima.
- Tá fácil, né?! – Brinquei e ele riu, dando um curto beijo em meus lábios.
Ele desceu o rosto para meu pescoço, meu colo, até que se ajoelhou no chão, ficando de frente para minha barriga. Suas mãos grandes ocuparam a extensão inteira da mesma e eu suspirei com o toque.
- Você vê alguma diferença? Eu não vejo. – Suspirei.
- Você está maiorzinha sim, amor, pouco, mas está. – Ele falou, dando um beijo na barriga e eu arrepiei, tentando contrair a mesma, mas sem resultado.
- Bom, contrair a barriga eu não consigo mais. – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Você vai ficar mais linda do que já é. – Acariciei sua cabeça, bagunçando seus cabelos e sorri. – Como está se sentindo?
- Eu estou um pouco nervosa, eu nunca pensei em ter filho tão nova. – Suspirei, vendo-o se levantar novamente. – Mas vamos encarar, né?!
- Vamos, juntos. – Ele colou os lábios nos meus novamente.
- Hum... – Falei nos separando. – Tenho o ultrassom aqui. – Virei o corpo, pegando minha mochila e a apoiei na cama, puxando meu notebook da mesma e apertei o botão, esperando-o ligar.
- Já fazemos ligações quase todos os dias, mas agora não quero receber mensagem de “saí para jantar com o pessoal, nos falamos amanhã”, quero ver esse processo, ok?! – Assenti com a cabeça, vendo o computador ligar e procurei o arquivo de vídeo solto na área de trabalho e me sentei na beirada da cama, abrindo o mesmo.
O ultrassom em 3D dentro da minha barriga apareceu e o pequeno feto também. Nosso bebê. Alisson se aproximou do notebook, se sentando do outro lado da cama. Ele focou atentamente no pequeno bebê no centro da tela e apertou minha mão, me fazendo sorrir.
- Ele parece grande.
- A médica falou que ele está do tamanho normal, Alisson, não começa. – Falei, vendo-o rir.
- Ah, sei lá, não tenho muito parâmetro, né?! – Ri fracamente.
- Mas levando em conta que eu tenho um metro e 80 e você um e 90, pequeno ele não vai ser. – Rimos juntos.
- Vai ser perfeito. – Ele disse e eu fechei o notebook quando o vídeo acabou, e coloquei o aparelho na poltrona mais próxima.
- E o que a médica disse sobre sexo? – Ele se virou para mim e eu revirei os olhos.
- Acho que nada, viu?! – Falei rindo e ele sorriu. Levando a mão na minha cintura e colando nossos lábios novamente.
No dia seguinte, os jogadores teriam só um treino leve no fim do dia, então eu e Alisson aproveitamos para dormir até mais tarde e aproveitar ao máximo a companhia um do outro, já que a idiota aqui havia perdido um tempo precioso com ele por birra. Quando criamos vergonha na cara para sair do quarto, encontramos boa parte dos jogadores escondidos do frio no restaurante. O vento cortava e, apesar do lindo local, não estava dando para ficar nos jardins.
Enrolamos até a hora do almoço e acabamos combinando em um grupo para aproveitar o tempo da cidade para conhecer Praga. Eu nunca havia vindo para cá e boa parte dos jogadores, se tivessem vindo, foi para jogos, então não conseguiram conhecer a cidade. Aproveitamos também para fazer imagens com o Canarinho. Claro que o Canarinho e a Seleção Brasileira juntos não dariam certo, então dividimos a galera em três equipes. Comigo, Vinícius, Lucas e Bianca ficou Alisson, Arthur, Thiago e Miranda, os outros que toparam passear saíram em outros dois grupos.
Fomos no Castelo de Praga, na Praça da Cidade Vermelha, na Catedral de S. Vito, no Orloj, na Casa Dançante e no Muro de Lennon, o qual eu aproveitei para fazer muitas fotos. Tinha outros lugares que queríamos ir, mas depois do rebuliço no Orloj com os jogadores, o qual perdemos quase duas horas só tirando fotos da galera com os jogadores e com o Canarinho, decidimos dar o dia por encerrado e voltar para o hotel.
A vantagem é que estávamos populares na República Tcheca, a desvantagem é que jogaríamos contra eles em dois dias.
Voltamos para o hotel, e seguimos para o Eden Arena, palco do jogo de terça-feira. Os meninos que jogaram fizeram um relaxamento na academia e com o fisioterapeuta, os outros fizeram treino em campo e os goleiros também tiveram sua parte tática. Mais para o fim do dia, fizeram um jogo simples e logo voltamos para o hotel. Não tínhamos coletiva, o que era uma bênção, e fiquei feliz por não alongarmos tanto. Eu já estava quase dormindo sentado no banco de reservas e aquele frio cortava.
Pelo horário, já ficamos lá no restaurante mesmo e aproveitamos para jantar, os meninos estavam animados e ficaram cantando e batucando algumas músicas, rindo das piadas dos novatos e curtindo um momento antes de descansar. Eu estava morta de cansaço pela andança, loucura de fãs e com frio, o pessoal da minha equipe também, então quando Vinícius se levantou para ir para o quarto, avisei Alisson que iria tomando banho e ele falou que logo iria.
Obviamente não o vi chegar no quarto.
No dia seguinte eu acordei em um pulo com uma buzina digna de caminhão soando em minha orelha e, quando abri os olhos, vi o quarto apinhando de jogadores, equipe técnica e jogadores. Eles estavam ocupando todo espaço do quarto, e alguns realmente estavam na janela. A maioria deles estavam de pijama ainda. Ainda bem que eu também.
- Parabéns para você! – Taffarel puxou o coro. – Nesta data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida! – Escondi o rosto com as mãos. – Com imensa alegria, suplicamos aos céus, proteção de Maria e as bênçãos de Deus.
- E para nada! – Tite gritou.
- Tudo! – Sentia meu rosto arder.
- Então, como é que é?! – Ele continuou.
- É pique! É pique! É pique, é pique, é pique! – Olhei para Alisson que estava ao meu lado com um largo sorriso no rosto. – É hora! É hora! É hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! ! ! ! – Eles gritaram, me fazendo gargalhar.
- Ah, gente! – Coloquei a mão no peito.
- Com quem será? – Lucas puxou e eu revirei os olhos, ouvindo os jogadores irem na dele. – Com quem será? Com quem será que a vai casar? – Escondi o rosto com as mãos. – Vai depender, vai depender, vai depender se o Alisson vai querer!
- Quem sabe? – Alisson brincou e eu neguei com a cabeça, vendo-o se aproximar e dar um curto beijo em meus lábios. – Feliz aniversário, meu amor.
- Obrigada. – Suspirei, olhando para o pessoal amontoado pelo quarto. – Obrigada, gente! Isso foi incrível mesmo, obrigada. – Suspirei, percebendo que estava emocionada. – Vocês são incríveis.
- Agora levanta para gente te dar um abraço. – Ederson falou e eu joguei a coberta para o lado, feliz por estar frio em Praga e eu ter dormido de moletom completo e o pessoal veio em peso em cima de mim.
Os jogadores vieram um a um, a equipe técnica veio um a um e a de comunicação veio um a um logo em seguida, todos me abraçaram, desejaram lindas palavras de aniversário e eu não conseguia parar de sorrir e de chorar, aquilo era incrível. Após os cumprimentos, eles saíram do quarto e deixaram o espaço mais respirável.
- Ah, minha amiga, tudo de bom para você nessa nova fase numérica, nessa nova fase como mulher, você merece. – Bianca me abraçou forte e eu suspirei, apertando-a também.
- Obrigada por tudo.
- Você merece! – Ela gritou, estalando um beijo em minha bochecha.
- E você preparou tudo isso? – Virei para Alisson que me abraçou fortemente de novo, dando um beijo em meus lábios.
- Você ir dormir cedo ontem foi uma bênção. – Ele riu fracamente. – Montamos um grupo do WhatsApp faz uns dias, quando eu percebi que dia 25 cairia bem nesse amistoso, mas devo dizer que o hotel ser térreo ajudou muito, pois não ia caber todo mundo aqui. – Gargalhei.
- Não mesmo, tinha gente até na janela.
- Todo mundo gosta muito de você, até os novatos, então foi fácil. – Ele sorriu e eu dei mais um beijo em seus lábios.
- E essa buzina? Acho que eu vou ficar o dia inteiro com dor de cabeça. – Ele gargalhou.
- O pessoal achou ontem, a ideia era um megafone, mas acharam isso, então foi melhor. – Sorri, abraçando-o novamente.
- Você é incrível, obrigada.
- Você merece. – Ele piscou para mim e eu sorri. – Vai trocar de roupa, vamos tomar café.
- Ok, só vou tomar um banho. – Falei.
- Depois você toma, o pessoal preparou uma festinha para você agora, já que o treino vai até tarde hoje.
- Ah, que amor! – Sorri, seguindo até minha mala. – Já saio, então.
Troquei por uma roupa mais adequada, colocando a camisa azul da seleção que quase todo mundo estava usando, calcei um par de tênis e coloquei o moletom estiloso da CBF, esperando que eu me esquentasse com ele.
Quando saí do banheiro, Alisson me esperava, fechando a janela do quarto. Sorri mostrando que estava pronta e ele estendeu a mão para mim. Segui com ele para fora, pelos jardins internos e vários jogadores de prontidão ali: Ederson, Danilo, Alex Sandro, Thiago, Arthur, Casemiro, Fabinho, Coutinho, Firmino, Jesus, só o pessoal que eu tinha mais intimidade, e todos me encaravam bem maleficamente.
- Eles vão aprontar uma comigo, não?! – Sussurrei para Alisson.
- Eu diria para correr. – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu franzi a testa. – Agora! – Ele gritou e todos vieram em minha direção.
- Ah! – Gritei, saindo correndo para valer, mas eles corriam mais rápido do que eu e logo eu fui atacada com farinha, ovo e... Aquilo era café?
- Ah! – Reclamei com uma enorme careta no rosto. – Ah, gente! – Passei as mãos nos olhos, tentando enxergar melhor. – Mancada, cara, mancada! – Eles gargalhavam de mim.
- Melhor do que vir de banho tomado, né?! – Alisson brincou e eu fechei a mão em punho, socando seu ombro, vendo-o misturar uma feição de riso e dor.
- Feliz aniversário! – Eles gritaram e eu suspirei.
- Eu vou tomar banho e é bom alguém encontrar um casaco limpo para mim. – Falei, voltando para o quarto.
Após um banho de 40 minutos tentando tirar casca, farinha e aquele cheiro estranho de café com ovo, eu finalmente cheguei ao restaurante e sim, realmente tinha uma festinha para mim. Eles cantaram parabéns novamente para mim, eu assoprei algumas velinhas em cima de um bolo e todos ganhamos um pedaço. Bem, eu comi muito mais do que só um, acho que o bebê estava começando a dar sinais, pelo menos ninguém olhou estranho.
Pelo visto, Alisson havia mantido a promessa de não contar para mais ninguém, não chegamos a falar mais disso depois, mas eu sabia que isso não se esconderia por tanto tempo assim, na Copa América eu já deveria estar com uma barriga considerável e, pensando agora, nessas circunstâncias, será que eu estaria junto da delegação na Copa América? Espero que sim. Só não queria pensar muito naquilo.
Minha festinha emendou até a hora do almoço, o que não era tão tarde, já que os meninos haviam me despertado por volta das nove horas. Esperamos a digestão fazer efeito e seguimos para o Eden Arena as duas da tarde.
O treino durou o dia inteiro, e era somente treino tático, era analisar a República Tcheca e replicar isso em campo. Eu e Bianca tivemos um pouco mais de trabalho por ser véspera de jogo, mas a cada intervalo que tinha, eu via a marcação de algum jogador nos Stories do Instagram, me desejando feliz aniversário. Era bom ser querida assim, eu, com certeza, havia encontrado o meu lugar.
Mais para o fim do dia, seguimos para uma coletiva com Casemiro, Tite e Sylvinho e o último treino foi dado como finalizado. Os jogadores seguiram mais alguns minutos fazendo bobinho e eu até gostaria de participar, mas não pagaria para levar uma bolada na barriga, Alisson havia ficado desesperado com a possibilidade e eu também não estava pronta para isso.
Fizemos o tradicional jantar coletivo de último dia, cantaram parabéns novamente para mim e quando eu fui para o quarto, tirei alguns minutos para responder todo mundo que havia mandado feliz aniversário, inclusive receber uma ligação de meus pais e minha irmã, me desejando só felicidades. Isso me lembrava que eu precisava contar para eles sobre o novo membro da família.
Depois disso, eu dormi feliz e contente nos braços do meu incrível, lindo e humilde namorado. Completar 26 anos estava sendo muito bom para mim.
O dia 26 começou com aquela tradicional depressão para mim e para Alisson. Era aquele momento de incerteza que não sabíamos quando nos veríamos novamente, ainda mais com a vinda desse bebê. Tínhamos muitas coisas para discutir, mas preferimos guardar para nós mesmos e evitar outra briga parecida com a que tivemos no primeiro dia, pelo menos eu pensava assim, imaginava que ele também, pois ele não tocou uma palavra sobre o assunto.
Eu olhava a agenda para o próximo amistoso e a convocação seria no dia 17 de maio, antes da Copa América, então nos veríamos a partir do dia 22, dependendo, é claro, do desempenho do Liverpool nos próximos jogos da Champions League. Eles estavam nas quartas de final, então tudo podia acontecer.
Optamos por passar os dias juntos, só aproveitando a companhia do outro e do pequeno serzinho que crescia entre nós. Saímos para tomar café e aproveitamos um pouco com o pessoal emendando até a hora do almoço, depois disso, seguimos para o quarto, nos livramos de nossas roupas e ficamos namorando o máximo que conseguimos.
Dessa vez o jogo era mais tarde, então jantamos antes de ir para o estádio, quase como um lanche da tarde e sete e meia deixamos o hotel em Praga, sem prazo para retornar. Chegamos ao Eden Arena sem preocupações. Cada um tinha sua responsabilidade, então nos separamos. Eu e Bianca fomos cuidar dos protocolos e os jogadores foram fazer sua parte.
Finalizamos os protocolos quando os jogadores já estavam indo treinar e eu fiquei muito contente quando passei pela imprensa e foi lindamente ignorada. Era bom ver que a gente se tornou desinteressante para eles rapidamente. Bom, até eu aparecer com uma barriga imensa em alguns meses.
Tirei um tempo para me esquentar lá dentro quando os jogadores voltaram para se trocar e eu e Bianca nos acomodamos em cima dos coolers enquanto apreciava aquela vista. Sim, era o melhor momento do meu trabalho. Claro que meus olhos só seguiam para o bonitão de verde neon ao meu lado esquerdo que piscava para mim a cada oportunidade. Tite deu algumas instruções e estávamos prontos para ir.
- Bom jogo! – Falei, dando um rápido beijo na bochecha de Alisson e segui com Bianca, Vinícius e Lucas à frente, enquanto Tite, Matheus, Cléber e Sylvinho seguiam logo atrás da gente e a equipe atrás deles.
- Vamos, vamos, vamos! – Vinícius em sua melhor posição de Canarinho, gritou e seguimos correndo para fora do estádio, deixando os jogadores no túnel.
A parte ruim desse estádio, é que o banco de reservas era aberto, então eu viraria um picolé antes da primeira chance de gol. Ainda bem que o roupeiro tinha umas roupas sobrando para me emprestar.
Entramos com Alisson, Alex Sandro, Thiago, Marquinhos, Danilo, Casemiro, Paquetá, Allan, Coutinho, Firmino e Richarlison, prontos para fechar esse amistoso com chaves de ouro. Eu esperava que sim, pelo menos, depois do vexame do outro jogo.
Quando eu falei sobre o frio, eu não acreditava que a primeira chance de gol viria aos dois minutos e ainda contra nós, mas o jogo estava visivelmente bem equilibrado, eram chances aqui e lá e passaram 15 minutos assim. Enquanto isso, minhas mãos congelavam dentro do bolso do casaco, dentro da luva.
Estava quase no final do primeiro tempo e aquilo estava parecendo jogo de cabeceador, pois toda tentativa de cabeça ia para fora. Casemiro tentou fazer o monstro do gol de falta morrer, mas o goleiro espalmou, mas teria sido bonito se não tivesse a defesa. Ai, ai!
Aos 36 minutos meu corpo arrepiou inteiramente, um dos jogadores com nome estranho da República Tcheca encontrou a oportunidade perfeita, no meio da defesa inteira aberta do Brasil e deu uma rasteira, Alisson tentou chegar na bola, mas não conseguiu, fazendo-a passar por debaixo dele e entrar no fundo do gol.
- Ah, meu Deus! – Bati na testa, respirando fundo.
- O que tá acontecendo? – Bianca falou com a mesma surpresa que eu e vi Danilo se aproximando de Tite para falar algo.
- Espero que seja algo como “a defesa está aberta demais”. – Falei para Bianca e ela respirou fundo.
O primeiro tempo finalizou sem grandes surpresas, eu e Bianca preferimos nos esquentar no túnel, ao invés de ir para o vestiário e sabíamos que o clima ia esquentar lá dentro, e não de um jeito muito bom.
O segundo tempo começou com Firmino fervendo, em quase quatro minutos de jogo ele interceptou um passe errado do adversário, driblou o defensor e meteu uma embaixo das pernas do goleiro, me dando um pouco de esperança. Coutinho teve outra oportunidade, mas bateu na trave. Aquele jogo estava esquentando para o nosso lado e eu estava gostando, pois o frio judiava da gente.
O segundo veio na mesma minutagem da República Tcheca no primeiro tempo. David Neres, que havia sido substituído, fez um passe para dentro da área para Jesus, que também havia entrado no segundo tempo, e o mesmo encontrou a grande área praticamente sem defesa e sem goleiro e só deu uma colaborada para a bola encontrar o caminho.
Oito minutos depois, pouco antes de completar os 45 minutos finais, Neres fez um passe para Allan, que só deu um pequeno chute para Jesus. O mesmo tentou o ataque, mas a bola estourou nas mãos do goleiro. A bola veio novamente para os pés dele e Jesus deu uma levantada na bola, mandando-a para o fundo do gol novamente.
O jogo finalizou com cinco minutos de acréscimos, mas finalmente pudemos comemorar. Todos se cumprimentaram após o jogo e seguimos animados para dentro do vestiário novamente. Passamos por algumas câmeras da imprensa, mas segui reto para dentro, aonde tínhamos mais privacidade, com exceção da nossa câmera, que deveria estar nas mãos de Vini novamente, já que o Canarinho sumiu após o intervalo.
- Ah ê, garoto! – O pessoal falou quando os jogadores entraram na sala e eu sorri para Jesus, dando uma piscadela e ele esticou a mão em um polegar em agradecimento e logo Firmino apareceu e eu pude abraçá-lo.
A maioria dos jogadores já entravam sem a camiseta, somente com a segunda pele e Alisson sorriu ao meu ver, me abraçando fortemente, e eu fiz uma careta ao sentir seu corpo gelado de suor.
- Ah, não aguento! – Neguei com a cabeça, me afastando e ele fez uma careta.
- Tá tão mal assim? – Ele perguntou.
- Não é você, é o... – Deixei a frase no ar e ele entendeu, assentindo com a cabeça.
- Vamos juntar, galera! – Tite gritou e fizemos uma roda. – Capitão vai falar!
- Quero agradecer muito vocês por esse jogo, gente, foi ótimo. Vocês entraram preparados e mostraram que estavam preparados, por isso foi um ótimo jogo. – Sorrimos e abracei Alisson pela cintura. – Vamos continuar fortes para conseguir alcançar os próximos objetivos. – Ele falou e o pessoal aplaudiu animado.
- É isso, gente! Obrigado a todos pela participação, o próximo desafio já é focado na Copa América, então gostaria de respaldar que gostei muito do que vi nos últimos dois jogos e com certeza encontrarei muitos de vocês em breve. – Tite falou e todos assentimos com a cabeça, aplaudindo.
- Tite, Sylvinho, coletiva! – Bianca falou e pisquei para Alisson, seguindo-a para os últimos compromissos.
A coletiva foi mais curta que o esperado, cerca de 25 minutos, também, com vitória, era mais fácil conversar com eles de forma direta. Voltamos para o vestiário e alguns já estavam prontos para ir embora, eles iriam de formas variadas, nós pegaríamos um jatinho privado até Lisboa, depois seguiríamos para o Rio de Janeiro, os jogadores que atuavam no Brasil seguiriam com a gente, agora os outros tinham meios diferentes de ir embora e horários diferentes, tanto que alguns até voltariam para o hotel.
- Saímos em cinco minutos, tá? – Bianca falou comigo e eu assenti com a cabeça, sabendo o que ela queria saber disso.
- Vem cá! – Alisson falou me puxando e eu segui até ele, sentando em seu colo e ele apertou minha coxa. – A gente vai dar um jeito, ok?!
- Eu sei! – Passei a mão em seus ombros. – Vai dar tudo certo, só termos paciência. – Ele soltou um largo suspiro.
- Tentarei! – Rimos juntos e dei um pequeno beijo em seus lábios. – Vai ser um ótimo teste de paciência.
- Assim que eu chegar no trabalho eu me informo sobre possibilidades e vamos nos falando, ok?! – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou dar uma olhada no calendário e te aviso também.
- Combinado. – Dei um curto beijo em seus lábios. – Eu te amo, tá?!
- Eu sei, eu também te amo. – Ele sorriu e o apertei fortemente, abraçando-o, sentindo suas mãos passearem pelas minhas costas.
- Hora de ir, galera! – Cléber falou e eu me levantei, respirando fundo.
- Me avisa dos seus passos. – Alisson disse se levantando e eu assenti com a cabeça, dando mais um forte abraço nele, fechando os olhos por alguns segundos, quando nos separamos, ele deu um curto beijo em meus lábios.
- Você também. Eu te amo.
- Eu também. – Sorrimos e nos separamos para nos despedir do resto do pessoal.
Abracei um por um rapidamente, falando algumas palavras para os mais íntimos e até conforto para os novatos. Para Weverton eu falei para ele continuar bem assim que iria longe e acabei deixando Arthur e Jesus por último.
- Fica bem, ok?! – Arthur falou me abraçando e eu assenti com a cabeça. – Qualquer coisa que precisar, sabe onde me encontrar.
- Eu sei, e você também, não hesite, ok?! – Ele deu um beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Ah, garota, obrigado por tudo! – Jesus falou me abraçando fortemente pela cintura, me tirando alguns centímetros do chão e eu senti alguma coisa remexer dentro de mim. – Você está bem?
- Não! – Falei rapidamente, sentindo algo mexer dentro de mim e saí correndo em direção aos banheiros, colocando a cabeça na primeira privada vazia que eu vi.
- Caramba!
- De novo? – Ouvi algumas vozes e respirei fundo.
- Opa, como você está? – Ouvi a voz de Alisson e suspirei, erguendo o olhar para ele e o mesmo puxou alguns papéis do dispenser e me entregou.
- Eu pensei que essa fase já tinha passado. – Comentei, passando os papéis na boca e ele me deu a mão para levantar.
- Ela demora um pouco, será que foi o perfume? O abraço?
- Não sei, mas não estou gostando dessa brincadeira. – Suspirei, virando de frente, vendo alguns curiosos no banheiro.
- Tá tudo certo, ? – Rodrigo perguntou e eu joguei os papéis no lixo e segui para pia para gargarejar com água.
- Tá tudo certo. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Cara, eu só te abracei. – Jesus falou e eu abanei a mão.
- Relaxa, estou bem! – Falei.
- Tem certeza? – Tite perguntou. – Você está mal desde que chegamos. – Virei para Alisson.
- Eles vão descobrir cedo ou tarde. – Ele deu de ombros e eu suspirei.
- Que apoio fraco, Alisson. – Falei e o pessoal em volta riu.
- O que está acontecendo? – Edu perguntou e eu bufei.
- Essa eu quero ver. – Ouvi a voz de Vinícius e ergui o dedo para ele, vendo-o gargalhar.
- Fala! – Alisson falou e eu suspirei, vendo diversos olhos curiosos para cima de mim.
- Eu estou grávida, galera. – Falei, mordendo o lábio inferior e os olhares curiosos se transformaram em olhos arregalados.
- O quê? – Foi o coro coletivo e Alisson me abraçou de lado.
- É sério? – Tite perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, de três meses. – Levei as mãos à barriga e o pessoal travou.
- Como foi isso... Como? – Edu não conseguia formular frases inteiras.
- Está tudo bem, gente, não foi planejado, mas faremos dar certo, então vocês podem nos parabenizar, ok?! – Falei rindo fracamente.
- Ah! – O pessoal começou a amontoar em cima da gente para nos abraçar e cumprimentar e eu ri fracamente, pois tinha abraçado todos há minutos atrás.
- Como vocês farão isso? – Cléber perguntou.
- Não sabemos ainda, mas daremos um jeito, não se preocupem, continuaremos cumprindo com nossas obrigações.
- Não esperaria diferente de nenhum dos dois. – Ele sorriu, nos abraçando.
- Bom, acho que isso é bastante informação para muito tempo. – Tite falou rindo.
- Pelo menos agora temos um mascotinho para a Copa América. – Edu falou, nos fazendo rir.
- Se vocês aceitarem uma grávida aloprada na Copa América, eu não vou negar.
- Será a primeira vez, mas tivemos muitas primeiras vezes contigo aqui, por que não mais uma? – Tite falou e eu sorri, sentindo-o abraçar eu e Alisson em um abraço só. – Parabéns, gente!
- Valeu! - Falamos juntos e a mão de Alisson me encontrou do outro lado, me fazendo sorrir.
- Juízo, hein?!
- Até parece! – Lucas falou e eu revirei os olhos. – Ah, qual é, se tivesse não teria embuchado, vai! – Ri fracamente, ouvindo o pessoal gargalhar.
- Eu odeio vocês! – Foi a primeira coisa que eu falei quando descemos do avião e os três só me deram sorrisos sarcásticos.
- Pelo menos vocês estão bem. – Bianca sussurrou, sem que a equipe ouvisse.
Pousamos em Lisboa umas cinco e pouco da manhã, horário local e corremos para pegar o voo para Porto as sete horas. Podíamos ir de ônibus, mas seriam quase quatro horas de voo. Fazia muito tempo que eu não voltava para Portugal, quando eu vim pela primeira vez, visitei só Lisboa, Santarém e Fátima, então não conhecia Porto.
Também não consegui, pois eu tive três horas para realmente tirar uma soneca deliciosa. Chegamos no aeroporto Francisco Sá Carneiro e em pouco menos de 20 minutos chegamos ao Sheraton Porto Hotel & SPA. Fizemos a divisão dos quartos, eu e Bianca ficamos juntos, e Lucas e Vinícius ao nosso lado e nos ajeitamos. A equipe técnica teria algumas reuniões primárias, e nós tínhamos somente que fazer a recepção de alguns jogadores mais tarde.
Aproveitei que o tempo estava calmo, tomei um longo banho e me deitei em uma das camas gigantes do Sheraton e Bianca me permitiu descansar um pouco. Para mim havia sido pouco, mas cinco horas foram o suficiente para renovar minhas energias. Depois, aproveitei para ligar a televisão, encontrar o canal da Premier League e assistir ao Liverpool ganhar de dois a zero em cima do Fulham.
Começamos a trabalhar de verdade quando recebemos a notícia que Dani Alves tinha se lesionado no jogo do PSG e saímos correndo em uma reunião com a equipe técnica para resolver isso o mais rápido possível e convocar alguém para substituí-lo. Fagner foi o escolhido e embarcaria logo depois do jogo do Corinthians.
- Caralho, bruxa tá solta, hein?! – Falei, fechando a agenda e eles riram.
- Não estou gostando nada disso. – Tite disse com seu sotaque caricato e rimos.
- Também não, confesso, mas vai dar certo. – Edu falou e assentimos com a cabeça.
Lá pelas seis da tarde, quando o sol começava a se pôr, meus queridos Jesus, Ederson, e o novato, Felipe Anderson, se apresentaram antes da hora.
- Olha quem está aí! – Jesus sorriu ao me ver e eu retribuí, andando alguns passos e abraçando-o fortemente.
- Ah, que saudades que eu estava, gente! – Falei sorrindo.
- Quanto tempo faz? – Ederson sorriu ao me ver, me abraçando fortemente também.
- Uns cinco meses, desde outubro. – Sorri.
- E como você está? Você e Alisson? – Ederson perguntou.
- Tudo certo, nos vimos nas festas de fim de ano. – Assenti com a cabeça, evitando prolongar o assunto.
- Oi, boa noite, boa noite. – Vi o novato chegar atrás e sorri, me aproximando dele.
- Bem-vindo, Felipe, eu sou , assessora da CBF e essa é... – Virei para trás, vendo Lucas. – Cadê Bianca?
- Ela estava aqui até agora. – Ele falou e rimos juntos.
- Bom, tem a Bianca que é assessora também. Esses são Lucas e Vinícius. – Falei enquanto Jesus e Ederson os cumprimentavam.
- É um prazer conhecê-los. – Ele sorriu.
- Bom, gente, são quartos de dois, então vocês vão se acomodando, depois podem se apresentar ao Tite no restaurante. – Eles assentiram com a cabeça e entreguei uma chave para os dois jogadores do City e uma para do West Ham.
- A gente precisa botar os papos em dia. – Ederson falou e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar, pode deixar! – Abanei a mão, vendo-os rir e seguir para o elevador, fazendo Bianca sair pelo mesmo.
- Ei! – Jesus e Ederson gritaram animados, me fazendo rir.
- Aonde você estava? – Perguntei.
- Eu esqueci a chave. – Ela ergueu e eu bati na cabeça. – Como vocês estão? Oi, prazer, sou Bianca. – Ela cumprimentou e eu sorri.
O resto do dia foi normal, eu ainda não estava totalmente ilesa dos primeiros sintomas da gravidez, então foi só eu colocar algo para dentro que a comida quis voltar novamente. Não queria que a comissão técnica se preocupasse comigo, então falei que tinha alergia a nozes e subi para descansar. O dia começaria cedo amanhã, então precisava me preparar, agora eu tinha duas pessoinhas para carregar, então precisava me cuidar mais.
Na parte da manhã, por volta das 10 horas, mais uma leva de jogadores chegou: Éder Militão, Alex Telles, Coutinho, David Neres, Casemiro, Danilo e Arthur, para fazer minha felicidade. Cumprimentei todos, mas aquele loirinho e baixinho era mais um cúmplice da minha vida e eu precisava de quantos fosse possível.
- Como você está? – Ele sussurrou para mim, me abraçando forte.
- Tudo certo, um pouco enjoada ainda, mas bem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu fiquei surpreso quando você me contou...
- Xí! – Falei. – Só você e minha equipe sabem, a equipe técnica e os outros jogadores não têm nem ideia.
- Puts! – Ele franziu a testa. – Nem o Alisson? – Neguei com a cabeça. – Você precisa contar para ele.
- Assim que ele chegar, vou pedir para conversar em particular e jogar a bomba. – Ele suspirou.
- Cara! – Ele negou com a cabeça. – E como você está? Realmente?
- Ah, o susto passou já, talvez eu fique assustada quando a barriga começar a aparecer, mas... – Dei de ombros. – Eu já fiz minha decisão. – Ele me abraçou novamente.
- Vai dar tudo certo, você vai ver. Ele vai adorar. – Dei um pequeno sorriso.
- Eu sei que sim, mas... – Mordi meu lábio inferior. – Não lembro de conversarmos sobre isso, sobre essa possibilidade.
- Vai ficar tudo certo. – Ele deu um rápido beijo em minha testa. – E essa criança vai ser linda, olha vocês dois! – Ri fracamente.
- Ah, garota! – Casemiro veio em minha direção e eu sorri, abraçando-o fortemente. – Que saudades, galera!
- Faz tempo, né?! – Sorri, vendo-o cumprimentar Arthur.
- Precisamos colocar o papo em dia. – Ele seguiu para os outros jogadores.
- Falando nisso, e você e Aline? Como estão? – Perguntei.
- Ah, tá tudo ótimo, bem, você viu nas conversas. – Sorri. – Graças a Deus, estou feliz por finalmente me amarrar, sabia?
- E como vocês se resolveram?
- Ah, eu dei um migué, falei que tinha compromissos em Paris e queria que ela fosse comigo, ela negou um pouco... – Assenti com a cabeça. – Mas ela foi, reservei uma mesa em um dos melhores restaurantes de Paris, pedi que tocassem nossa música, aí eu pedi para namorar com ela e ela disse sim. – Sorri, negando com a cabeça.
- Ah, que romântico. – Fui sarcástica, vendo-o ficar envergonhado.
- Como foi com você e o Alisson? – Ele perguntou, franzindo a testa.
- Ah, foi na Copa, né?! A gente já tinha se pegado e estava rolando algo, bem discreto por causa da situação toda, quando fomos eliminados e cada um foi para um canto, ele falou que não poderia ir embora sem saber que eu era dele, aí eu aceitei ser dele. – Dei de ombros, fazendo uma careta e ele riu fracamente.
- O meu foi melhor, vai?
- Não! – Falei enfaticamente. – Nem a pau, cara. Um jantar em Paris é tão comum. – Abanei a mão, vendo-o rir.
- Bom, já faz quase um ano... – Fiz uma careta.
- Ah, nem fala. – Abanei a mão. – Nem um ano e já estamos com tu-u-udo isso envolvido, parece muito mais, sério.
- Relaxa, garota, vai dar certo. – Assenti com a cabeça.
- Se Deus quiser. – Suspirei. – Enfim e aquele probleminha básico da Aline?
- Da prosti...
- Esse mesmo. – Cruzei os braços, recebendo um sorriso de Danilo e trocamos um rápido beijo na bochecha.
- Ah, morreu, passou, né?! Não posso querer mudar algo que aconteceu antes de mim, né?!
- Ah, tá amadurecendo. – Abracei-o de lado. – Que bom que está feliz, agora precisamos montar nosso encontro de casais.
- Só marcar. – Ele sorriu e eu o abracei de lado, vendo Coutinho se aproximar.
- Ah, Little Couto. – Soltei Arthur, empurrando-o para o lado e abracei outro baixinho do meu coração.
Depois que esses jogadores aquietaram, eles subiram para os quartos duplos, se vestiram com o tradicional uniforme azul de jogadores, enquanto eu e o resto da galera usávamos aquele branco sem graça e desceram para almoçar. Ali o papo rolou solto, eu não conseguia parar quieta, Alisson já havia mandado mensagem falando que estavam chegando e passava o tempo e nada.
Eles tinham treino as quatro horas, as horas se passavam e eu estava vendo que cada vez menos eu conseguiria falar com ele antes do treino e aquilo embrulhava meu estômago e dessa vez eu sabia que não era enjoo da gravidez.
Lá pelas duas horas, os primeiros jogadores começaram a dar as caras. Chegou em uma leva meu eterno capitão Thiago Silva, Marquinhos, Paquetá, Miranda, Alex Sandro e Allan. Paquetá e Alex Sandro estavam voltando agora, mas fazia mais ou menos cinco meses que eu não via nenhum deles, então era bom reencontrar, principalmente meu querido Thiago Silva!
- Ah, Thi! – O apertei fortemente, sentindo-o me erguer do chão um pouco.
- Ah, que bom te ver. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça. – Faz quanto tempo que a gente não se vê? – Ele perguntou.
- Desde o jogo que eu fui ver em Paris.
- Ah é, tinha me esquecido disso. – Ele riu e eu abracei Marquinhos também.
- E como você está? – Marquinhos perguntou.
- Ah, você sabe. – Ponderei com a cabeça.
- E as novidades? – Suspirei.
- Ah, nada muito uau. – Falei e ele sorriu.
- O que importa é que você está bem. – Assenti com a cabeça.
- Sim, todos bem. – Sorri.
Cerca de meia hora depois, eu confesso que surtei um pouco, Taffarel, que não veio com a gente, chegou junto do meu goleiro favorito do mundo, Weverton. Desculpa, Alisson. Weverton era um verdadeiro salvador para mim. Minha reação foi muito óbvia.
- Ah, garota, que saudades! – Cláudio me abraçou e eu retribuí rapidamente.
- Saudades de você também, Taffa! – Sorri e o vi seguir para Bianca.
- Oi, eu sou... – Interrompi Weverton.
- Meu ídolo, cara! – Falei animada. – Posso te abraçar?
- Claro! – Ele falou rindo e eu o abracei fortemente.
- Você é sensacional, eu te amo muito! – Falava animada. – Foi por você que a gente conseguiu o brasileirão. Você é o salvador das Olimpíadas, você é top!
- , se acalma! – Lucas falou ao meu lado e eu soltei Weverton.
- Desculpa, eu só... – Respirei fundo. – Eu esperei muito por esse momento, sério.
- Torce para o verdão? – Ele perguntou.
- E tem outro time para torcer?
- Tem...
- Cala a boca. – Falei para Bianca, vendo-a rir.
- Me deixa feliz, sério. – Ele sorriu e eu o abracei novamente.
- Se empolga não, Weverton, não cai na dela não. – Ederson apareceu quando eu soltei Weverton. – Ela é fã de goleiro, qualquer um serve. Falando nisso, cadê seu namorado? – Ele se virou para mim e eu dei um tapa em sua cabeça.
- ‘Cê me respeita, moleque! – Falei para ele, vendo Weverton rir.
- Seu namorado é... – Weverton perguntou.
- O Alisson! – Ederson falou e eu dei um sorriso falso.
- Ah, isso explica algumas coisas. – Weverton falou e Ederson franziu os lábios, assentindo com a cabeça.
- Viu?! Podia ser qualquer um de nós. – Ederson deu de ombro e eu fechei um punho, dando com força em seu braço. – Ai! – Ele reclamou.
- É muito bom te ter aqui, Weverton, obrigada e parabéns pelo título! – Falei com a voz forçada e ele sorriu. – Depois quero foto, autógrafo e sei lá mais o quê.
- Combinado! – Ele sorriu e eu o abracei novamente de lado.
- Chega! – Lucas me puxou e eu o soltei, afastando alguns passos.
- Posso trabalhar agora? – Bianca perguntou.
- Desculpa, eu dei uma surtadinha. – Fiz uma careta e ela revirou os olhos.
- Seja bem-vindo, Weverton, eu sou Bianca e com essa louca, somos assessoras de imprensa, Lucas fotógrafo e Vinícius cinegrafista, caso precise de algo, só falar com a gente.
- Obrigado. – Ele a cumprimentou rapidamente.
- Aqui está sua chave e você pode se arrumar e depois descer para se apresentar ao técnico Tite.
- Obrigado. – Ele sorriu.
- Tchau! – Acenei sonhadora e virei para Ederson que me encarava.
- Se o Alisson souber disso...
- Que foi? – Cruzei os braços. – Todo mundo sabe que eu adoro goleiros, e todo mundo sabe para time que eu torço, vou aproveitar sim. – Estiquei o dedo em sua direção.
- Acho que o enciumado é ele que percebeu que foi para terceiro lugar. – Jesus gritou do sofá e eu gargalhei.
- Errado ele não tá! – Pisquei para Ederson que fechou a cara.
Para o meu nervosismo piorar, faltavam 30 minutos para gente sair para o treino, quando os três jogadores do Liverpool deram as caras no hotel. Até lá minha barriga já tinha dado voltas e mais voltas, e eu só estava aguentando meu almoço, pois comi três fiozinhos de macarrão sem molho e um pouco de salada, até o chef da seleção perguntou se a comida estava ruim, tive que inventar que comi muito no café, como todo mundo sabia que era verdade, eles só não sabiam que eu tinha jogado tudo para fora, mas ok.
- Eu vou passar mal. – Falei jogada no sofá do lobby. – Cadê o Alisson?
- Você já está passando mal, né, linda? – Bianca falou e eu suspirei, fechando os olhos. – Você precisa comer algo a mais.
- Eu sei, mas eu vou vomitar de novo. – Suspirei.
- Eu vou pedir para o chef fazer uma canja para você. – Fiz uma careta.
- Ah canja, sério?
- É o tipo de comida que se dá para doente. – Lucas falou.
- Eu não estou doente. – Falei, vendo a porta se abrir e os três jogadores do Liverpool e um do Everton apareceram.
- Que bonito, hein?! – Fale, me levantando toda desajeitada e Alisson abriu um largo sorriso.
- Desculpa, tivemos que vir de ônibus de Lisboa. – Ele largou sua mala e eu me aproximei dele, passando os braços em volta do seu pescoço.
- Que saudades de você. – Sussurrei, sentindo que havia me emocionado, ou o bebê, pois eu tinha lágrimas nos olhos.
- Ei, o que foi? – Ele perguntou, passando a mão em meu rosto.
- Desculpa, eu estou meio sensível, sabe, coisas de mulher. – Abanei a mão e ele assentiu com a cabeça, segurando meu rosto e colou nossos lábios, me fazendo apertar sua blusa.
- Eu te amo. – Ele falou e eu sorri.
- Eu também.
- Estamos aqui também. – Firmino falou e eu revirei os olhos.
- Bianca é a anfitriã hoje. – Falei, abanando a mão, mas segui para abraçá-lo.
- Com exceção do Weverton, né?! Ela foi a primeira a chegar chegando. – Ederson falou e eu revirei os olhos.
- Surtou, foi?! – Alisson perguntou rindo, olhando para Ederson.
- Para caramba. – O tatuado respondeu, gargalhando em seguida. – Até eu fiquei com ciúmes.
- Pô, , assim fico com ciúmes, hein?! – Alisson falou brincando e eu empurrei-o com a mão.
- Ah, vocês são impossíveis. – Segui para cumprimentar Fabinho e Richarlison que vinham atrás.
- A gente só sentiu sua falta. – Richarlison falou e eu sorri.
- Ah, pombo, pelo seu bem, fica de fora dessa, já não basta esses monstros que eu criei.
- Ainda bem que sabe. – Alisson e Ederson falaram juntos e eu revirei os olhos.
- Bom, gente, quartos duplos. – Bianca falou entregando as chaves.
- Eu vou ficar contigo? – Alisson virou para mim.
- Não, parça, vai ficar comigo. – Arthur apareceu vindo do restaurante e eu gargalhei.
- Mas grudou igual chiclete, hein?! – Alisson brincou, pegando Arthur pelo pescoço, me fazendo rir.
- É melhor vocês irem se arrumar e falar com o Tite, saímos em 20 minutos. – Bianca falou.
- Alisson! – O chamei antes de entrar no elevador e passei os braços pelo seu pescoço. – Preciso falar contigo.
- Claro, o que foi? – Olhei em volta.
- Em particular. – Mordi o lábio inferior.
- Agora não, , temos hora. – Bianca falou e eu suspirei.
- Pode esperar? – Ele perguntou preocupado.
- Pode. – Falei fracamente, sentindo um rápido selinho em meus lábios e ele entrou no elevador com outros jogadores.
- A gente não tem tempo para isso agora, . – Bianca sussurrou ao meu lado e eu respirei fundo.
- Eu estou prestes a estourar, Bianca. – Engoli em seco.
- Eu sei, mas aguenta umas horinhas, tá? – Assenti com a cabeça, suspirando e segui para o restaurante.
Fomos para o estádio do Boa Vista Futebol Clube aqui no Porto e a equipe foi dividida em dois. Parte foi para a academia fazer um pouco de relaxamento e a outra foi para o campo fazer reconhecimento. Eu e Bianca ficamos andando entre as duas imediações auxiliando o pessoal de mídias sociais, que não havia mandado representante dessa vez.
Foi mais um reconhecimento de terreno mesmo, sem treinos muito pesados e sem abuso, somente os goleiros fizeram um treino mais pesado, mas não rolou nenhum jogo com bola corrida, somente exercícios.
A novidade do dia, e a piada, foi Miranda usando uma máscara preta em seu rosto, por conta de uma pequena lesão que ele teve no nariz no último jogo. Ele parecia de boa com aquilo, mas era piada certa.
Não tive tempo de ficar olhando meu grupo favorito, pois umas cinco e meia nós seguimos para a primeira coletiva da leva. Começamos devagar com os novatos David Neres e Alex Telles. Foram 20 minutinhos daquele papo de sempre, era o começo ainda, os amistosos seriam contra times não tão relevantes, então até a imprensa parecia bem calma com tudo isso.
Tentei me manter bem ocupada com as poucas atividades que eu tinha para cumprir, ver Alisson perto de mim e não poder abrir os pulmões e gritar “estou grávida” realmente estava me aloprando de uma forma incrível, além da fome que eu estava por ter comido pouco no almoço.
Voltamos para o hotel por volta das sete da noite e Cebolinha já se encontrava no hotel. Fizemos o rápido recebimento dele, trocamos algumas palavras convencionais e finalmente me vi livre das minhas obrigações naquele dia.
- E então, quer jantar antes, namorar antes? – Alisson me apertou pela cintura e eu dei um meio sorriso.
- Eu ainda preciso conversar contigo. – Falei séria e ele entendeu o recado, pois soltou minha cintura quase imediatamente.
- Você está me preocupando. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- É sério! – Falei.
- Cadê Arthur? – Ele olhou em volta. – Ele está aqui, vamos lá no quarto. – Ele falou, me puxando pela mão e entramos no elevador em silêncio.
Eu sentia minha mão suar entre a dele e parecia que meu corpo estava começando a hiperventilar novamente. Eu estava realmente em um caminho desconhecido, não fazia a mínima ideia de como ele reagiria e estava honestamente com medo de tudo o que pudesse acontecer nos próximos cinco minutos.
Chegamos no andar dos jogadores, nós estávamos um acima, e ele abriu a porta de seu quarto. Percebi a decoração melhor que a do nosso e entrei, seguindo para a cama com a troca de roupa dele em cima da mesma, não deveria ter dado tempo de organizar suas coisas.
- Pronto, estamos sozinhos. – Ele falou, puxando a cadeira da escrivaninha e se sentou em minha frente. – O que aconteceu? – Respirei fundo, passando as mãos nos cabelos e erguendo-os em um alto rabo de cavalo e prendendo com a fivela solta em meu braço.
- O que eu tenho para te dizer veio de surpresa para mim também, e eu ainda estou tentando processar tudo isso... – Engoli em seco. – Então, antes de tudo, gostaria que isso não saísse daqui, pelo menos por enquanto. – Suspirei.
- Ok? – Ele falou em tom de dúvida e apertei as mãos nos olhos, respirando fundo. – Ei, amor, o que foi? – Ele segurou minhas mãos, tirando-as de meu rosto e eu soltei o ar fortemente pela boca, querendo que ele não findasse.
- Eu estou com medo. – Falei, rindo fracamente e o mesmo levou minha mão para seu peito.
- Eu te amo, o que é que seja, vamos encarar juntos, você sabe disso, não sabe?
- Sei! – Assenti com a cabeça, suspirando.
Passei as três palavras em minha cabeça um milhão de vezes e passei os braços pelo seu pescoço, abraçando fortemente e me aninhando em seu colo, sentindo-o me apertar pelas pernas também, me dando o tempo necessário.
- Ok! – Falei, soltando-o devagar, encarando seus olhos claros que retribuíam.
- Eu te amo. – Ele falou como se aquilo fosse me acalmar, mas parecia que meu corpo estava reagindo de forma contrária, se arrepiando e começando a tremer com essas três palavras.
Levantei de seu colo, dando alguns passos pelo quarto, coçando a cabeça em busca de algo que pudesse acelerar o processo. Uma luz divina me parecia uma melhor opção naquele momento, só não parecia fácil.
- Ok, vamos lá. – Me sentei em sua frente, segurando suas mãos fortemente e encarei seus olhos.
- Eu não quero ser o namorado chato que fica pressionando, mas fala logo, pelo amor de Deus! – Ele falou. – Eu vou vomitar de tanto que o estômago revira. – Ele falou.
- Tudo bem, eu já vomitei por nós dois pelos últimos 10, 15 dias. – Falei e ele franziu a testa, me fazendo soltar de uma vez só. – Eu estou grávida, Alisson.
- O quê? – Ele perguntou e foi minha vez de deixá-lo processar a informação.
O carregamento dele foi mais rápido que o meu. Primeiro ele travou, com aquela cara de quem realmente não esperava a notícia, mas cerca de 20 segundos depois, ele se levantou animado, pulando animado para todo canto.
- Cara, como assim? É sério? Mentira! Não, , isso é zoação, não é?! Você está brincando comigo.
- Você está feliz? – Perguntei um tanto receosa e ele se virou para mim.
- Você está brincando comigo? Mas é claro que estou! – Ele veio em minha direção, me abraçando fortemente e eu tinha grandes pontos de interrogação na minha testa. – Você não está?
- Agora que a ficha caiu, eu estou melhor, mas eu ainda estou desesperada, Alisson. – Falei, apertando suas mãos com as minhas.
- Mas por quê? – Ele perguntou.
- Eu só tenho 25 anos, Alisson...
- Só por mais uma semana. – Ele falou.
- O que não me torna muito mais madura para encarar isso. – Falei. – Eu nunca esperei ter filho antes dos 30, Alisson, eu não faço a mínima ideia de como cuidar de uma criança. – Levei as mãos à cabeça. – E tem tudo o que está acontecendo, trabalho, viagens, Seleção... – Suspirei. – Eu estou realmente desesperada. – Abaixei o tom de voz e o mesmo levou minhas mãos à sua boca, beijando-as.
- Eu já passei por isso e nem sou tão desastrado nesse quesito, ok?! – Ri fracamente. - Eu estarei contigo por todo caminho, tá? Estamos juntos nessa, meu amor. Vai ser estranho, apavorante, alucinante, mas vai dar tudo certo. – Suspirei e o senti passar os braços pelo meu corpo, me trazendo para perto de si.
- Eu estou assustada. – Falei, suspirando, sentindo algumas lágrimas deslizarem pelo meu rosto.
- A gente vai fazer isso dar certo. – Ele sussurrou.
- A pergunta é: como? – Me afastei, segurando seus braços.
- Como assim? – Ele me perguntou.
- Eu no Rio, você em Liverpool? – Olhei para ele preocupada.
- É, a gente vai ter que dar um jeito nessa parte. – Ele suspirou. – Você quer morar comigo?
- Ah, tá. E meu emprego? – Cruzei os braços, encarando-o.
- Sei lá, a gente precisa fazer um esforço, não?!
- E por que eu? – Notei meu tom de voz aumentando.
- Você quer que eu largue o time?
- Pelo visto é o que você está insinuando que eu faça. Por que você não pode? – Falei séria.
- Me parece a escolha mais óbvia nessa situação. Se eu voltar para o Brasil agora eu vou enterrar minha carreira. – Ele falou mais alto também.
- E se eu sair do Brasil eu enterro a minha. – Gritei igualmente. – Por que só a sua importa? Não se esqueça de que se não fosse esse emprego, isso não teria acontecido nunca.
- Eu sei, mas é a única opção que eu consigo pensar.
- Não me venha com dois pesos e duas medidas, Alisson. – Falei firme. – Não vou me mudar para Liverpool só porque você quer.
- E como você espera que a gente crie essa criança? – Ele abanou os braços. – A cada amistoso fica com um? Não é assim que funciona.
- E você acha que eu sou idiota? Eu sei! Mas eu sou a mãe, ele vai ficar comigo, minha opinião deveria valer mais. – Ele passou as mãos nos cabelos, respirando fundo.
- Que sugestão você dá, então? Ficar do jeito que está? – Ele perguntou alto e eu respirei fundo, evitando que as lágrimas me fizessem perder o controle.
- Eu não sei, mas eu não consigo pensar em nada melhor com você gritando comigo. – Passei as mãos nos olhos, respirando fundo e me assustei quando a porta foi aberta.
- Está tudo bem aqui? – Arthur e Lucas entraram juntos, me fazendo respirar fundo e voltei o olhar para Alisson.
- Eu não consigo ver outra solução. – Ele suspirou, abaixando o tom de voz. – Um de nós vai ter que dar o braço a torcer.
- Posso te garantir que não serei eu. – Falei firme, encarando-o. – Eu estou realmente vivendo meu sonho trabalhando aqui, é incrível eu poder chegar em casa e sentir orgulho do meu trabalho, estar feliz com o que eu faço e ter a independência que eu sempre quis. – Engoli em seco. – Você sabe o quão difícil é ter minha idade, uma formação de jornalista e poder falar que eu sou a mais bem-sucedida de todos os meus amigos e conhecidos? Até mais que meus professores? – Suspirei, encarando-o. – Poder encher a boca e falar que eu ganho o que eu ganho? Poder me gabar por algo que eu consegui pelos meus próprios méritos? Poder ser a pessoa que é invejada na profissão? – Neguei com a cabeça. – Eu não vou largar isso agora. Pode ser ego ou o que for, mas sei que é a mesma coisa que te mantém no Liverpool.
- E como a gente vai fazer? – Ele me encarou e eu não tinha resposta, me fazendo somente respirar fundo. - Eu já não participei da gravidez da Helena, por favor, não me faça perder essa também. – Ele falou e eu mordi meu lábio inferior, sentindo meu corpo arrepiar. Eu não estava preparada para ouvir isso.
- Eu preciso pensar. – Abanei a mão, desviando de Arthur e Lucas.
- Aonde você vai? – Ouvi sua voz.
- Para longe de você. – Falei, saindo pela porta e desviando de todos os olhares curiosos que estavam no corredor.
Ignorei o elevador e subi um andar pelas escadas correndo, tentando evitar que ele me alcançasse. O corredor do andar de cima estava vazio, então segui até meu quarto e coloquei a chave, entrando no apartamento e encontrando Bianca.
- E aí, como foi? – Seu sorriso sumiu quando ela me viu e eu finalmente me desmanchei em lágrimas. – Ah, meu Deus! – Ela se levantou correndo e veio me abraçar. – O que foi?
- A gente brigou. – Falei, escondendo meu rosto em seu ombro, deixando que meu choro ficasse audível pelo quarto, me fazendo respirar fundo.
- Sobre o quê? – Bianca perguntou.
- Sobre como vamos criar o bebê. – Falei chorosa e ela segurou meu rosto com as mãos.
- É só uma fase. – Ela disse. – Logo vocês vão se resolver. – Passei as mãos nos olhos.
- Sabe o pior? – Falei para ela que acenou com a cabeça. – Eu não tenho uma resposta para essa pergunta. – Suspirei.
- Vocês vão encontrar, juntos. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu vou tomar um banho, você promete que não deixa ele entrar? Pelo menos hoje. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Eu preciso de um tempo.
- Você comeu?
- Não. – Gemi, percebendo o buraco em meu estômago.
- Quer que eu pegue algo para você? – Ela perguntou.
- Você se importa? – Perguntei.
- Não, vou ver se pego uma canja para você. – Ri fracamente, passando a mão nos olhos. – Aproveito e espio o campo de lá.
- Deixa, foi muita coisa ao mesmo tempo. – Suspirei.
- Só fica bem, ok?! Eu logo volto. – Ela disse.
Quando o despertador tocou na manhã seguinte, parecia que um caminhão havia passado por cima de mim. Depois da briga na noite passada, ouvi algumas batidas na porta e recebi várias mensagens de Alisson para que eu deixasse ele entrar, mas ignorei todas, esperando que ele fosse embora. Eu estava com a cabeça quente, não podia lidar com aquilo novamente ou seria pior e acabaríamos falando besteiras muito piores e eu me conhecia quando ficava brava, não era muito fácil de lidar.
Bianca demorou para voltar, talvez estivesse aguardando o momento em que Alisson saísse da frente da porta, não sei, mas eu já estava cochilando quando ela voltou com um pouco de canja e alguns pãezinhos. Ela me acordou, obrigando que eu comesse e depois deixou eu dormir novamente, me fazendo respirar fundo.
- Você não está nada bem. – Ela falou para mim e levou a mão na minha testa. - Parece que você está um pouquinho com febre. – Suspirei, levando a mão à testa. – Quer que eu chame o Rodrigo?
- Não, ele vai me dar remédio e não quero tomar nada desnecessário por causa do bebê, deve ser da briga de ontem.
- Quer que eu declare que você está passando mal? Todos viram que você vomitou ontem, não seria de tudo mentira. – Suspirou.
- Não sei, não me parece uma ideia boa faltar o trabalho por uma briga boba. – Levantei meu corpo, encostando no travesseiro.
- Se não fosse boba, você não estaria febril. – Suspirei, passando as mãos no rosto. – Descansa, ok? Eu arranjo uma desculpa. Só esteja lá na hora da coletiva, ok?! – Assenti com a cabeça.
Não deu cinco minutos após Bianca ter descido que ouvi batidas na porta novamente e aquela voz grave com o sotaque gaúcho me chamar e não precisei duvidar de quem era. Puxei a coberta novamente, erguendo-a até a cabeça e fechei os olhos, esperando que ele desistisse e fosse embora.
A pergunta de noite passada ainda sondava na minha cabeça e eu ainda não tinha uma resposta para ela. Sim, eu sabia que não havia sido justo eu ter pedido para ele largar o time, mas eu também não queria largar a CBF. Era com toda certeza o melhor trabalho do mundo, me satisfazia, massageava meu ego, me permitia adquirir os bens materiais que eu queria e precisava e, o melhor de tudo, me dava conforto em criar essa criança.
Apesar de ser uma gravidez não planejada, eu sabia que não precisava me preocupar com o dinheiro, mesmo se Alisson não ganhasse três milhões de euros por ano. Além do plano de saúde e outros benefícios que a CBF me proporcionava, eu realmente não conseguiria algo assim em mil anos. Conhecia a realidade dos meus amigos, sabia que muitos ganhavam mil e 500 reais por mês e faziam diversos bicos. Eu sabia, pois eu fiz parte dessa galera até entrar na CBF, então largar não era uma opção.
Mas também entendia o lado dele, ele já não havia participado da gravidez da Helena, por ter sido algo também não planejado e foi bem quando ele estava começando sua carreira internacional na Roma. Era levemente desesperador pensar nisso para mim.
Mas ele tinha razão, um dos dois teria que dar o braço a torcer e nenhum dos dois parecia muito inclinado em fazer isso.
Consegui dormir mais um pouco até 11 horas, depois eu simplesmente despertei. Ainda parecia que eu havia sido atropelada por um caminhão, mas eu não podia ficar assim por mais tempo. Me arrumei com o uniforme de guerra e segui para o restaurante, procurando alguma coisa para comer, já que o almoço seria no estádio hoje. Comi um pouco do que sobrou ontem e voltei para o quarto para me conectar com Bianca e finalmente abri meu WhatsApp, a quantidade de mensagens do Alisson era de assustar e até me cortou o coração, pois ele realmente estava preocupado.
“Por favor, abre, vamos conversar”.
“Vamos fazer isso dar certo juntos, eu te amo”.
“Me desculpa por tudo, por favor, fala comigo”.
“Eu não seria nada se não fosse você, você é a melhor coisa que aconteceu comigo”.
“Me desculpe, me desculpe, me desculpe, eu amo vocês dois”.
Suspirei ao ver “vocês dois” e lembrei o verdadeiro motivo daquela discussão. O pequeno serzinho que nascia dentro de mim, que não tinha nada a ver com aquela história toda. Alisson estava tão desesperado quanto eu, mas eu não conseguia resolver aquilo para nós dois, minha mente era uma página em branco que não conseguia se mexer.
Pensei em responder Alisson, mas não queria resolver aquilo agora, igual à gravidez, isso precisaria ser resolvido cara a cara... Só não agora. Me coloquei online para Bianca e respondi alguns e-mails e informações rápidas sobre o amistoso e fiquei sabendo da chegada de Fagner essa manhã, o veria mais tarde.
Fiquei até cinco horas tentando criar coragem para ir para o estádio do FC Porto, aonde estava acontecendo o treino, mas parecia que aquilo só pioraria. Me arrumei, pedi para o motorista me levar e segui para o estádio do Dragão. Cheguei receosa, vendo que a bola rolava forte em um jogo e parei ao lado do banco dos reservas.
- Ei, alguém resolveu aparecer. – Ouvi Tite e dei um pequeno sorriso, dando um rápido beijo em sua bochecha. – Como está? Melhor?
- Mais ou menos ainda, mas tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Fiquei sabendo que teve um estresse ontem? – Ele indicou com a cabeça e vi que os olhos de águia de Alisson já haviam me encontrado e estavam focados em mim, fazendo-o perder um gol.
- Vamos, garoto! – Ouvi Taffarel gritando e suspirei.
- Vai passar. – Falei para Tite, coçando a testa com a manga do casaco azul. – Quem você quer para a coletiva hoje? – Perguntei.
- Pode ser o Anderson e o Jesus. – Assenti com a cabeça.
- Para o jogo, por favor? – Falei e ele riu fracamente.
- Se resolva com meu goleiro, ok?! – Ele falou e eu suspirei, afirmando com a cabeça.
- No tempo certo. – Falei e ouvi o mesmo apitar em meu ouvido, parando o jogo.
- Anderson e Jesus, comigo! – Gritei em seguida e fui em direção à Bianca que estava em uma das laterais com Lucas.
- E aí, como está? – Bianca perguntou, levando as costas da mão até minha testa.
- Tudo bem. – Suspirei.
- Ele não para de olhar para cá. – Lucas disse.
- Vamos para dentro, vai. – Abanei a cabeça, seguindo para dentro do estádio, esperando que os dois jogadores estivessem atrás da gente.
- Lucas disse que o estresse foi real ontem, viu?!
- Depois que eu saí? – Virei para Lucas.
- Ele está desesperado, , em perder tudo isso. – Ele falou. – Ele chorou como uma criança depois que você saiu.
- Foi igual do lado de lá. – Bianca falou e eu suspirei.
- Eu não sei o que fazer, Lucas. – Suspirei. Entrei na antessala, segurando a porta, no aguardo dos dois jogadores.
- Fala com ele, uma cabeça funciona melhor do que duas, não?! – Suspirei.
- Eu não quero brigar de novo, já estou sensível demais com... – Vi os jogadores se aproximarem. – Com tudo, não posso me deixar abalar. – Ele suspirou alto.
- Arthur falou com ele, todo mundo entende os dois lados, mas...
- Ninguém tem solução, Lucas, não tem o que fazer, um dos dois precisa dar o braço a torcer e não acho justo ser nenhum dos dois. Um pagar pelo “erro” dos dois? – Fiz aspas com as mãos. - Não é legal.
- Só o tempo vai dizer. – Ele disse e eu suspirei.
- Qual o papo? – Jesus perguntou.
- Nada! – Falei rápido junto de Lucas e Bianca. – Vamos lá. – Apontei para outra porta que já dava na sala de coletiva.
Depois da coletiva, tive que esperar a finalização do treino para voltarmos para o estádio, já que a van tinha voltado para me buscar. Assim que ela estacionou na frente do hotel, sabia que ele viria atrás de mim.
- ! – Ouvi sua voz e parei de andar, respirando fundo. Éramos em quase 40 pessoas para quatro elevadores, não daria tempo de correr e não estava disposta para subir tudo isso de andares de escada. – ...
- Estou ouvindo. – Falei, virando de frente para ele.
- Podemos conversar? – Ele me perguntou e eu suspirei. – Por favor.
Passei os braços pelos seus ombros, abraçando-o e ele entendeu o recado, me apertando fortemente também. Eu sabia que choraria e não queria fazer aquilo na frente de todo aquele pessoal.
- Me dá um tempo, ok?! – Falei quando me afastei devagar.
- ... – Ele segurou minha mão.
- É muita coisa para processar, Alisson, por favor. – Suspirei. – Eu te amo, eu só preciso pensar no que fazer. – Trouxe sua mão para perto da minha boca e dei um pequeno beijo na mesma. – Eu te amo.
- Só não me afasta, tá?! – Ele perguntou, acariciando meu rosto. – Tire o tempo que precisar, mas não me afasta. – Neguei com a cabeça.
- Nunca. – Dei um curto selinho em seus lábios e me afastei devagar, seguindo para o primeiro elevador que se abriu, vendo Arthur entrar junto.
- Tudo certo no paraíso? – Ele sussurrou e eu mordi meu lábio inferior.
- Nem de perto. – Falei e ele me abraçou de lado, permitindo que eu encostasse a cabeça em seu ombro até o elevador chegar em seu andar.
No dia seguinte, tivemos folga na parte da manhã. Bom, os jogadores, eu e Bianca continuamos trabalhando, fazendo os últimos detalhes para o jogo do dia 23, a maior pergunta era sobre o Panamá ser um time relativamente pequeno e tudo mais, como você responde isso sem desmerecer o outro time? Meio difícil, né?!
Quando chegou a hora do almoço, descemos todos, pois hoje era dia de trote e agora, com todos os jogadores presentes, era o momento perfeito para isso. Ao chegar lá, aqueles olhos verdes me encontraram facilmente, me fazendo arrepiar como se fosse a primeira vez. Ele havia me entendido e estava me dando o espaço desnecessário, mas eu ainda não tinha uma solução para aquilo e começava a sentir falta de tocá-lo. Era quase como a Rússia novamente.
- Todo mundo já almoçou? – Vinícius chegou perguntando animado e os jogadores se entreolharam.
- O que ele vai aprontar? – Edu perguntou, pela primeira vez eu estava na mesa da equipe técnica.
- Eu tenho uma leve ideia. – Falei, virando o corpo e apoiando o braço no encosto da cabeça.
- Hora do trote! – Bianca gritou, estourando uma buzina próximo aos jogadores, fazendo eles pularem de susto.
- Sabia! – Falei, me levantando e eles riram.
- O quê? – Os jogadores novos começaram a se entreolhar e Vinícius colocou uma cadeira na frente da mesa, na ponta aonde Thiago, Weverton, Fagner e Marquinhos estavam.
- Quem são os sofredores de hoje? – Perguntei, pegando a lista da mão de Bianca. – Alex Telles, David Neres, e naquela mesa ali tem o Kenny e o Luís. – Apontei para as duas novas adições da equipe técnica.
- Ninguém me informou disso não! – Luís gritou e a gente gargalhou.
- Relaxa, ninguém espera mesmo! – Os chamei com as mãos e os quatro se levantaram.
O trote foi aquela piada de sempre, é claro, mas parece que dessa vez o pessoal queria avacalhar com Cláudio. Primeiro Luís disse que estava feliz por trabalhar com ele, pois era tão fã que teve um cachorro chamado Taffarel quando mais novo, fazendo eu rolar de dar risada no chão. Kenny aproveitou a deixa e disse que também era fã dele, mas que nunca teve um cachorro com o nome, depois, para fechar com chaves de ouro, Alex disse que Taffa tinha deixado ele no banco quando foi seu treinador.
Para não achar que ficaria pior, David ainda falou o motivo dele não ter atendido a ligação do Tite quando foi convocado. Eu já tinha ouvido esse boato, mas achava que era piada, David provou que não, causando mais risadas da galera. Depois tiveram as tradicionais cantorias e fiquei feliz por eles serem jogadores de futebol, porque nenhum tinha futuro como cantor.
- Chega de palhaçada, vamos treinar! – Tite gritou, fazendo todo mundo gargalhar e eles começaram a seguir para o ônibus do lado de fora.
Chegamos ao CT do FC Porto e tudo estava já meio organizado para a chegada dos jogadores. Eles se trocaram rapidamente e já seguiram direto para o campo, hoje não teria treino regenerativo ou algo do tipo, seria treino de campo mesmo. Eles fizeram um aquecimento de bobinho e logo os times foram divididos.
O CT do FC Porto era diferente dos estádios que a gente treinava, com aquela quantidade gigantesca de espaço para gente sentar e tudo mais, esse era curto, então era o campo completo e cerca de dois metros para cada lado em volta do campo, o que sobrou que eu e Bianca ficássemos sentadas no lugar dos reservas.
Mesmo com tudo o que estava rolando comigo e com Alisson, eu amava ver os goleiros treinando. Sei lá, vai ver era aquele sonho abandonado no passado ou eu só gostava de vê-los pulando e suando um pouco.
- Para de encarar. – Bianca falou ao meu lado e eu endireitei as costas, virando para ela.
- Quê?
- O Alisson, qual é, ou vocês se resolvem ou não. – Bufei.
- Não é isso, Bianca, e você sabe muito bem. – Ela suspirou.
- Eu sei, mas você está comendo-o com os olhos.
- Sempre. – Suspirei e ela riu fracamente. – Mas estou olhando o Weverton também, ok?! Ele é meu goleiro, poxa, preciso aproveitar essa oportunidade.
- Com “oportunidade” você diz...
- Vê-lo treinando, qual é! – Dei um tapa em sua cabeça, vendo-a gargalhar. – Um goleiro na minha vida já me dá bastante dor de cabeça. – Ela assentiu com a cabeça.
- ! – Me assustei, virando o rosto e dando de cara com Taffarel.
- Fala, Cláudio. – Sorri, me levantando. – Ou devo dizer “au au”? – Brinquei e a risada de Bianca estourou ao meu lado.
- Engraçadinha. – Ele me abraçou pelos ombros e seguiu comigo em direção ao gol. – Preciso de ajuda.
- Quando não?! – Cocei a nuca. – O que você precisa?
- Alvo humano. – Ele falou e eu revirei os olhos, vendo que o jogo já parara e os três goleiros estavam de um só lado do campo e Tite trabalhava com os outros jogadores do outro.
- Ah, claro! Podemos começar contigo? – Abri um largo sorriso e ele riu.
- Eu não tenho idade mais.
- E eu estou indisposta desde que chegamos! – Dei um falso sorriso para ele.
- Ah, qual é, o máximo que vai acontecer é você levar uma bolada na barriga e...
- O quê? – Ouvi Alisson gritar e surgir ao nosso lado com uma bola na mão.
- Relaxa, não vai machucar nada. – Taffa abanou a mão e eu peguei a bola da mão de Alisson e joguei em sua cabeça. – Ai!
- É por isso que eles têm bastante cabelo. – Apontei para os goleiros. – Amacia em caso de pancadas. – Ele revirou os olhos.
- Que treino você quer fazer? – Alisson perguntou cruzando os braços e eu o imitei, mantendo aquela feição de quem não estava tremendo inteira com ele ao meu lado.
- Três toques diretos, treinar reflexo. – Cláudio falou. – E você sabe como é, pega pesado.
- E você quer ela nesse treino?
- Não seria a primeira vez.
- Não vai rolar, Taffa. – Ele falou e sabia que ele estava falando isso por causa do bebê.
- Qual é, Alisson, não é nada demais, e a tem experiência, faz ela se mexer um pouco. – Taffa falou. – O que você acha, ?
- Não vai rolar, Taffa, eu não estou cem por cento ainda. – Alisson suspirou aliviado ao meu lado.
- Bola! – Ouvi alto e levei as mãos à cabeça, recebendo uma forte nas costas.
- Ah, caralho! – Reclamei.
- Cuidado, porra! – Alisson gritou de volta. – Você está bem? Se machucou? – Ele segurou meus ombros, preocupado e eu assenti com a cabeça.
- Estou, isso só prova a minha teoria. – Falei, dando dois tapinhas no braço de Taffa. – Se vira! – Falei saindo para fora do campo, sentindo as costas arderem com a pancada.
- Vocês dois estão muito estranhos. – Ederson falou olhando para mim e Alisson.
- Coisa da sua cabeça! – Eu e Alisson falamos quase juntos.
- Melhor você não ficar aqui... – Alisson comentou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Vai, Weverton, me deixa orgulhosa. – Falei para meu outro goleiro.
- Cara, eu estou perdendo posto aqui! – Alisson comentou, coçando a testa e eu dei um pequeno sorriso.
- Melhor goleiro brasileiro, melhor goleiro europeu. – Dei de ombros. – Para que eu não posso admirar os dois?
- Eu vou ficar com ciúmes, hein?! – Alisson falou com uma feição fofa e eu senti meu rosto esquentar.
- Você? E eu que, aparentemente, não tenho posto nenhum mais? – Ederson falou e eu, Alisson, Weverton e Taffa caímos na gargalhada.
- Fica sem mim hoje, ok?! – Falei para Taffa e ele assentiu com a cabeça.
- Tudo bem, mas não quero que pare de jogar.
- Quem sabe outro dia? – Falei e eles assentiram com a cabeça.
Mais para o fim do dia, fui para a coletiva com Miranda e Richarlison, foram uns 20 minutos das mesmas perguntas de sempre, com os mesmos repórteres que já estávamos muito acostumados.
Chegamos no hotel por volta das oito horas, eu já fiquei para o jantar com uma pequena maioria, isso não incluía Alisson, o que eu não gostei, eu precisava parar de ser orgulhosa e dar o braço a torcer, já haviam se passado dois dias e nada, e eu sabia que ele também não tinha culpa, ele queria conversar, eu que estava evitando-o.
Fui para o quarto, praticamente trocando de lugar com Bianca, pois ela preferiu tomar banho antes e estranhei ao encontrar um buquê com diversas flores, lírios, gérberas, narcisos, margaridas, entre outras, em cima da minha cama. Fui até o mesmo, encontrando um bilhete com meu nome e abri o mesmo, encontrando a fina e elegante letra de Alisson.
“Como lidar com isso? O coração em pedaços, a cabeça com milhares de dúvidas e o olhar perdido. Aprendi nesses dias que eu realmente não sei viver sem você. Lembrar de tudo o que a gente passou para ficar juntos, não vai ser uma grande felicidade como essa que vai nos separar. Se eu precisar largar o Liverpool para fazermos isso acontecer, eu largo sem pensar duas vezes. Talvez o Flamengo tenha uma vaga.
Você é minha vida,
Seu Alisson”.
Suspirei, sentindo os olhos molhados e levei a mão ao peito, emocionada por ele saber escrever tão bem assim e triste por ele realmente aceitar desistir de seus sonhos para viver o meu. Suspirei, pegando meu celular, encontrando algumas mensagens e notificações perdidas por ali e segui para a conversa de Alisson que não tinha notícias há quase 48 horas.
“Você é tudo para mim, só não é justo largar seu sonho por causa de nós. Daremos um jeito. Obrigada pelas flores”. – Suspirei, enviando. – “Ah, no Flamengo não”. – Devolvi, suspirando.
Ele apareceu como online quase no segundo que eu enviei e esperei que ele respondesse alguma coisa, aparecesse no meu quarto, mas não, ele ainda estava me aguardando.
Já ouviu falar em carma? Eu já e tenho vivido junto dele há muito tempo.
Acordei no dia 21 disposta a finalmente falar com Alisson, eu não tinha resposta, ele também não, mas enquanto não encontrássemos, eu queria ficar ao lado dele. Eu queria aproveitar essa criança próximo dele, parecia que meu útero virou de cabeça para baixo quando eu o abracei, então eu sabia a importância dele para esse bebê.
O que faríamos? Não sei, talvez trocarmos a cada amistoso nem parecia tão má ideia assim, podia conseguir algumas folgas na CBF e ir com mais frequência para Inglaterra, ele poderia vir com mais frequência para o Brasil, aposto que eles nos ajudariam.
Enfim, mas sabe o carma? Me tirou da cama antes das oito da manhã. Pelo visto Bianca tinha esquecido de desligar o celular corporativo e as primeiras mensagens e ligações chegaram logo cedo. Ficamos presas em nosso próprio quarto até umas três da tarde, até Lucas e Vinícius vieram trazer comida para gente e Tite e Edu perguntarem porque a gente não aparecia. Simplesmente porque a caixa de e-mail nunca se esvaziava e o telefone não parava de tocar.
- A gente está indo treinar, depois vocês aparecem lá?
- Pode deixar! – Falei.
- Ah, Alisson está te procurando. – Edu falou antes de sair.
- Depois eu falo com ele, agora não tem como. – Disse rápido, voltando a focar no e-mail e vi a porta do quarto ser fechada.
- Vocês se resolveram ontem? – Bianca perguntou.
- Não exatamente. Ele me deixou um bilhete lindo e eu respondi, hoje estava disposta a falar com ele, mas...
- Vai dar certo.
Quando conseguimos um pequeno intervalo para ao menos ir no banheiro, aproveitamos para ir até o estádio aonde seria o jogo para pegar as informações. Era para irmos amanhã, mas se a imprensa tinha lembrado que a gente existia hoje, provavelmente pelo fato de não ter novos amistosos desde outubro, imaginava como seria mais perto. E para ajudar mais ainda no nosso caos, a cidade estava toda engarrafada, fazendo com que chegássemos quase 20 minutos atrasadas para a coletiva.
Imagina que legal, duas loucas correndo para dentro do estádio, chamando os dois jogadores de Tite para a coletiva, Fagner e Paquetá, e saindo desesperada para a sala de coletiva, recebendo ótimos olhares julgadores quando entramos na mesma. 20 minutos depois, estávamos livres.
- Eu estou cansada. – Bianca bocejou ao meu lado e eu ri fracamente.
- Relaxa, já vamos embora.
- Morta! – Ela foi dramática e eu revirei os olhos.
- Contenha-se! – Falei, recebendo olhares da comissão técnica e nós duas nos ajeitamos, esperando o treino acabar.
Voltamos para o hotel e os jogadores se dispersaram. Descobri por Arthur que Alisson estava na fisioterapia, junto de outros, alguns ainda faziam trabalho na academia e eram poucos que estavam realmente folgados e aproveitaram para jantar. Já passava das oito horas, então aproveitei para jantar e depois fiquei com Marquinhos, Jesus, Fabinho, Arthur e Coutinho no lobby do hotel. Bianca havia morrido na cama, e eu sentia que iria para o mesmo caminho em breve.
- Ei! – Virei para o lado, dando espaço para Thiago sentar ao meu lado e eu sorri.
- Ei, como você está?
- Tudo certo. – Ele falou. – Podemos conversar? – Ele perguntou, olhando os jogadores espalhados pelo largo lobby do hotel, como se checasse se a barra estava limpa, só Arthur estava na poltrona à minha frente.
- Claro, o que houve? – Perguntei.
- Isso que eu quero saber. – Ele falou, suspirando alto. – Aconteceu algo entre você e o Alisson? Percebi que vocês estão distantes, você não apareceu no quarto dele, ele não foi no seu, ele parece incrivelmente extra preocupado contigo, não que ele não seja, mas... Enfim, está acontecendo algo? – Foi minha vez de suspirar alto.
- Nós brigamos, Thi, logo no primeiro dia. – Pressionei os lábios. – Estamos com uns problemas e não sabemos como resolver isso. – Dei de ombros. – Queria engolir o orgulho e falar com ele, mas parece que meu dia foi tirado de minha responsabilidade.
- O que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar. Sabe, entre bem e mal, eu sou casado há quase 15 anos, precisa servir de algo. – Sorri, abraçando seu braço e encostando a cabeça em seu ombro.
- Eu tentei, cara! – Arthur se meteu na conversa, dando a volta e se sentando ao meu lado no sofá também. – Isso é algo que só eles conseguem resolver.
- Você sabe? – Thiago perguntou e Arthur assentiu com a cabeça.
- Conta para ele, . – Arthur disse. – Ele é parça. – Suspirei, erguendo o rosto para Thiago.
- Eu estou... – Franzi a testa, ainda parecia difícil assumir aquela palavra.
- O quê? Traindo ele? Doente?
- Não, pelo amor. – Respirei fundo, rindo fracamente com as opções.
- Não vai dizer que está grávida. – Ele falou e eu franzi o rosto.
- Posso não dizer, se preferir.
- Oh, meu Deus! – Ele falou surpreso, pulando dois metros distante de mim. – Você está de brincadeira, né?! – Ele falou eu neguei com a cabeça.
- Bem que queria no começo.
- Mas nem parece! – Ele se sentou novamente. – De quanto tempo?
- Quase três meses. – Suspirei. – Eu sou corpulenta, vai demorar um pouco para aparecer. – Ele assentiu com a cabeça.
- E vocês brigaram por isso? Ele não quer? – Balancei com a cabeça.
- Não, ele ficou até feliz, na verdade. – Dei um pequeno sorriso. – É só que...
- Como vocês vão criar ele? – Ele teve um estalo.
- Exatamente. – Suspirei, sentindo-o passar um braço pelo meu ombro e mordi meu lábio inferior.
- Ah, meu Deus! – Ele assentiu com a cabeça. – Nossa, imagino o quanto deve estar sendo difícil.
- Eu não quero largar meu emprego, eu não sou mulher que larga tudo por causa de namorado, Thi, mas também não acho justo ele largar tudo e vir para o Brasil. – Senti minha voz embargar novamente e respirei fundo tentando não chamar atenção.
- Eu entendo, quando foi comigo e com a Belle, era totalmente diferente, ela fechou os olhos e falou que ia comigo, mas ela não tinha um emprego incrível igual ao seu. – Passei a mão embaixo dos olhos, respirando fundo.
- Eu não sei se estou sendo egoísta por isso, mas eu não sei o que fazer. – Suspirei. – Queria que tivesse uma terceira opção e não tem.
- Acho que é só questão de tempo para tudo se resolver. O que a equipe falou quando você contou?
- Eu ainda não contei. – Suspirei. – Só o pessoal da comunicação, Arthur e Alisson sabem. – Suspirei.
- E a Aline. – Arthur falou.
- É, e a namorada do Arthur que me ajudou um pouco nesse momento.
- Eu queria realmente te dar algum conselho mirabolante ou fazer com que uma luz aparecesse, mas eu realmente não sei. – Ele deu um pequeno sorriso. – Mas saiba que eu apoio vocês integralmente e estou feliz por vocês. – Assenti com a cabeça, sentindo-o dar um beijo em minha testa.
- Eu fiquei muito nervosa no começo, ainda estou um pouco, mas estou empolgada também. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vai ficar tudo bem, você vai ver.
- Só espero que eu veja logo. – Falei, vendo-o rir.
- O Amir veio jantar, vou ver se o Alisson foi para o quarto e falo para ele descer, pode ser? – Arthur perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Vai lá. – Deslizei meu corpo no sofá, encostando a cabeça no encosto. – Estarei aqui.
- Ok! – Ele falou e se levantou.
Arthur foi, mas não o vi voltar, acordei de madrugada já no meu quarto, com a roupa do corpo em um pulo. Peguei meu celular para checar a hora e vi que já passava das duas da madrugada. Abri as mensagens e não tinha mensagem de ninguém que eu quisesse. Cogitei levantar para tomar um banho, mas aquilo só me despertaria e estava tão bom ali....
- Bom dia, Bela Adormecida. – Acordei com um grito de Bianca, me fazendo jogar as cobertas para os lados. – Bom dia.
- Meu Deus, delicada! – Falei, fechando os olhos novamente e a senti movimentar a colcha, puxando-a para fora. – Não faz isso, fica mais difícil de arrumar a cama. – Falei gemendo, vendo-a rir.
- Você fez um grande papelão, hein?! Arthur foi chamar o Alisson, ele foi e você estava capotada no sofá lá de baixo. – Fiz uma careta.
- Ele que me trouxe aqui?
- O Alisson, não o Arthur. Até tirei uma foto. – Ela mostrou empolgada a foto. – Pena que você parece mais morta do que dormindo.
- Valeu! – Me sentei na cama, respirando fundo. – Quais os planos de hoje? – Perguntei.
- Os jogadores estão em reunião para o jogo, depois vão fazer reconhecimento no estádio, aquelas duas horas de bate bola tradicional, tem coletiva e depois todos voltarão para cá. – Assenti com a cabeça. – Ah, e é aniversário do Everton, vai ter bolo mais tarde.
- Eba, bolo! – Falei, bocejando em seguida.
- Enfim, eu estou saindo com Lucas e Vinícius com o Canarinho, logo voltamos.
- Ei, eu quero ir junto. – Falei, me levantando rapidamente.
- Não! – Ela falou firme. – Você vai esperar o Alisson sair dessa reunião e vai falar com ele o mais rápido possível ou vocês realmente ficarão esses 10 dias sem se falar? Só temos mais cinco dias aqui, não se esquece. – Ela abanou a mão e eu suspirei alto. – E vai tomar um banho que eu acho que você não tomou ontem.
- Pode deixar, mamãe. – Abanei a mão e ela logo saiu, me fazendo suspirar.
Criei vergonha na cara em tomar banho e me livrar daquele uniforme do dia anterior e vesti uma roupa de civil, só precisaríamos ir para o estádio mais tarde, então me vesti mais confortável. Dei uma sondada por mensagem para Arthur e Thiago para saber notícias sobre a reunião e nenhum dos dois me respondeu. Fui tomar café com calma, feliz pela comida finalmente parar em meu estômago e subi até o andar dos jogadores, tentando lembrar qual era o quarto de Alisson, mas não me veio à cabeça, então me sentei no divã que tinha ao lado do corredor e esperei.
Era quase 11 horas quando as conversas me distraíram do meu jogo de Sudoku no celular e vi os rostos conhecidos aparecerem aos poucos. Firmino foi quem cutucou Alisson sobre mim e não sabia dizer se ele sabia da briga, da gravidez, de ambos ou de nada, mas o olhar de Alisson sobre mim fez com que o corredor esvaziasse.
- Eu fico com o Coutinho um pouco. – Ouvi a voz de Arthur e eu e Alisson nos encaramos, em dúvida do que fazer.
- Quer entrar? – Ele perguntou e eu me levantei, seguindo até seu quarto e abrindo a porta.
Entrei logo atrás dele, me lembrando da decoração de quando tinha vindo aqui alguns dias atrás e fui até a cama que eu sabia que era dele, me sentando na ponta da mesma. Ele seguiu até o canto do quarto, se livrando dos seus chinelos e puxou novamente a cadeira para sentar em minha frente.
- Então... – Ele falou e eu suspirei, mordendo meu lábio inferior.
- Eu não sei. – Suspirei, sentindo meus ombros caírem derrotados.
- O quê? – Ele me encarou com a testa franzida.
- Nada. – Falei, coçando minha bochecha. – Eu não tenho uma resposta para o nosso problema, eu não sei uma solução mágica para tudo isso, mas sei que você não vai se sacrificar por causa disso. – Soltei um suspiro longo.
- Nem você. – Ele disse, estendendo a mão para mim e eu a segurei, entrelaçando nossos dedos.
- Mas... – Seus olhos voltaram para os meus. – Até descobrirmos como faremos isso, eu não quero te privar de ficar perto de mim ou desse bebê. E também não quero me privar de ficar perto de você. – Ele se levantou da cadeira, seguindo em minha direção e se sentando ao meu lado.
- Eu estarei aqui, ok?! – Ele falou, me abraçando e eu fechei os olhos, sentindo minha respiração e meu coração se acalmarem. – Eu te amo.
- Eu sei e sinto muito sobre aquele dia... – Ele se afastou, negando com a cabeça.
- Não, não foi culpa sua, eu exagerei. – Ele falou e eu passei a mão em seu rosto, tocando seus lábios com o dedão e suspirei.
- Eu senti sua falta. – Falei e ele eliminou a distância entre nós e colou os lábios nos meus, fazendo eu me sentir em casa novamente.
O apertei contra meu corpo, me aproximando dele e deixando que o beijo se tornasse mais intenso. Ele levou uma mão à minha cintura, apertando o local e inclinou meu corpo para trás, me deitando na cama, somente com as pernas para fora e ele se debruçou sobre mim, continuando o beijo. Sua mão subiu para minha barriga e foi como se ambos entendêssemos o recado e olhamos para o local que ele havia tocado.
- Posso...? – Sua pergunta ficou no ar e eu suspirei.
- Mas é claro! – Ergui a ponta da camiseta que eu usava até meus seios, deixando minha pequena barriga estufada à mostra.
Ele levou a mão para o centro da mesma, próximo ao umbigo e eu contraí a barriga, ou o que eu poderia fazer com um bebê dentro de mim. Ele desceu da cama, ajoelhando no chão e deu um pequeno beijo na mesma, me fazendo arfar. Sua mão grande ocupava quase a extensão inteira da minha barriga e eu tinha um pequeno sorriso no rosto, intercalando entre mordidas no meu lábio inferior.
- De quanto tempo você está? – Ele perguntou.
- Quase 12 semanas. – Falei, levando minha mão para cima da dele.
- Já sabe o que é? – Neguei com a cabeça.
- Está cedo ainda. – Suspirei.
- E você está fazendo todos os tratamentos?
- Sim, eu já fui na médica, já fiz a penca de exames, já fui na nutricionista... – Dei um pequeno sorriso. – Agora só esperar crescer.
- Vai ser perfeito. – Ele disse e assenti com a cabeça, vendo-o se aproximar de meus lábios e dar um curto beijo nos mesmos.
- Vai sim, só espero que seja parecido contigo. – Falei, rindo fracamente em seguida.
- Não, eu não. Eu sou alguém que deu sorte na vida, você lutou pelas suas conquistas. – Neguei com a cabeça.
- Você também. – Disse, dando um curto beijo em seus lábios. – Que ele seja uma mistura de nós dois.
- Precisamos começar a pensar em nomes. – Ele falou.
- Não, agora não. – Falei. – Só fica um pouco comigo, pode ser? – Pedi e ele se colocou ao meu lado, me abraçando pela barriga e me permiti relaxar em seus braços.
Mais tarde fomos ao Estádio do Dragão fazer a visita tradicional, acompanhei a coletiva com Casemiro, Tite e Cléber e, quando voltamos, preparamos um bolo para Everton que estava completando 23 aninhos. Meu aniversário era em alguns dias, esperava que ninguém se esquecesse de mim, muito menos aquele do meu lado.
Era três horas quando seguimos para o estádio do Dragão no dia seguinte, lar do FC Porto. Era a hora de mais um jogo, mas parecia que todos estavam mais relaxados com o adversário, era quase como uma grande brincadeira. Chegando lá, os jogadores e equipe foram fazer os protocolos iniciais e eu segui lá para fora com Vinícius de Canarinho para dar uma visualizada no rolê e conhecer um pouco do terreno.
Duas horas depois, com Ederson, Alex Telles, Miranda, Éder Militão, Fagner, Paquetá, Casemiro, como capitão, Arthur, Coutinho, Firmino e Richarlison, demos início ao jogo. Dessa vez Alisson estava ao meu lado e ele também parecia bem relaxado. Relaxado com o jogo, com a gente, com toda a situação, então segurei sua mão por trás do banco e nos ignorávamos lindamente as câmeras, quando nossos dedos dançavam atrás de nossas costas.
Tivemos várias chances de gol de cabeça, mas tinha que assumir que o goleiro panamenho não era tão fácil de lidar e os jogadores deveriam estar muito nervosos, pois tudo estava indo para fora. Tudo bem que eles tinham uma barreira de cinco defensores, o que tornava um pouco mais difícil a chegada ao gol.
Aos 33 minutos saiu o primeiro gol, realmente na cagada. Casemiro fez o passe para dentro da área, Paquetá fez o chute, o goleiro até defendeu, mas a bola passou embaixo do mesmo, fazendo o estádio comemorar. Alisson também se empolgou ao meu lado, mas eu só pensava: não fez mais que a sua obrigação. Precisávamos de mais.
Três minutos depois, em uma posição claramente de impedimento, o Panamá abriu seu placar. Não foi marcado, o gol foi validado e eu sabia que não adiantava me irritar, não era a primeira, e nem a última que roubariam contra nós, mas, ainda assim eu precisaria dar um puxão de orelha em Ederson, a guarda dele estava totalmente aberta.
O primeiro tempo acabou sem muitas novidades, no intervalo, Tite deu algumas dicas, fez alguns consertos, principalmente na parte da defesa e seguimos para o segundo tempo.
O segundo tempo não foi muito melhor, Ederson fez uma defesa bonita, Fagner conseguiu acertar a trave, e era bomba atrás de bomba para os dois times. Bombas que eram defendidas, jogadas para fora e teve até outros casos de impedimento, mas quem está contando, não é?!
Em um momento achamos que perderíamos Richarlison em um encontrão com o goleiro, mas tudo não passou de um susto, então logo o pombo estava de pé, pronto para próxima. Ah, e o goleiro do Panamá também.
- É, acho que não era para ser assim. – Falei quando o apito final soou.
- Nem de perto. – Alisson falou e levantamos.
As vaias se intensificaram no estádio e vários “Fora Tite” puderam ser ouvidos pelo estádio. Sabia que teríamos um prato cheio para a imprensa, mas o jogo estava totalmente do nosso lado, a bola simplesmente não entrava e o gol e a chance de gol do Panamá estavam impedidas. Acho que eu teria que falar algumas para a imprensa.
Para o Panamá era uma vitória e tanto, mas para gente... Vixi!
Seguimos para dentro novamente, os jogadores que jogaram foram para a fisioterapia e reabilitação, os que não tinham jogado ficaram se arrumando para nosso próximo destino e Neymar veio nos fazer uma visita.
- Você está ótima! – Ele falou me abraçando. – Tem algo de diferente em você. – Franzindo a testa, será que ele sabia?
- São seus olhos. – Ri fracamente e segui Tite e Cléber para a coletiva pós-jogo, esperando o bombardeio da imprensa.
Restringimos a coletiva em 20 minutos e o que eu mais ouvi foi “não foi o resultado esperado”, mas isso todo mundo sabia. Quando todos estavam devidamente vestidos e recuperados, seguimos para o aeroporto para pegar o voo direto para Praga, o jantar seria no avião.
Muitos dos jogadores dormiram no voo, eu estava com fome, então aguardei o jantar e depois só queria aproveitar a companhia de Alisson. Pegamos duas poltronas no final do avião, levantamos os braços da mesma e ele me abraçou pelos ombros, me permitindo deitar a cabeça em seu ombro e ele acariciava minha barriga levemente com a outra.
Apesar de tudo, as coisas estavam indo muito bem, então permiti relaxar em seus braços.
Assim que descemos do avião, percebi que o tempo em Praga estava mais gelado do que em Porto, então já desamarrei o casaco da cintura e vesti, antes mesmo de entrar no ônibus com o restante da equipe.
Quando chegamos no hotel, eu fiquei boquiaberta, o Mandarim Oriental em Praga era uma das coisas mais lindas que eu já havia visto, sim, me lembro do hotel em Sochi, mas esse daqui era quase como um conto de fadas. A entrada era um pouco rústica, mas quando passava por ela, os lindos jardins, fontes e a construção baixa tiraram meu fôlego.
- Quer ficar junto? – Alisson perguntou quando distribuíram as chaves e eu assenti com a cabeça. – Eu te espero.
Finalizamos o protocolo de entrada, o gerente do hotel falou algumas palavras de boas-vindas, Cléber passou a programação para o dia seguinte e todos foram direto para seus quartos. Acenei para Bianca e a mesma riu.
- Eu fico contigo! – Arthur falou passando o braço pelo ombro dela e ela revirou os olhos.
- Até a chegar, eu era quieta, na minha, agora esse pessoal já folga. – Ela fingiu brava, gargalhando em seguida. – Vamos, Arthur, vamos falar mal desses dois. – Ela disse e seguimos juntos para os fundos do hotel.
Da mesma forma que tinha um jardim maravilhoso na entrada, tinha outro igualmente perfeito no fundo, o qual vários quartos circundavam o mesmo em um grande U. Alisson deixou que eu entrasse na sua frente e eu sorri ao ver o quarto com uma larga cama de casal, o que aparentava duas de solteiro unidas, duas poltronas e uma mesa de café próximo à janela fechada, duas mesas de cabeceira, uma escrivaninha com outra poltrona e uma porta que dava para o banheiro.
Segui em direção à janela e abri a cortina, abrindo um sorriso ao perceber o jardim que estávamos há poucos segundos. Deixei minha mochila deslizar pelo meu ombro e cair no chão e eu suspirei. Ouvi outro barulho similar ao meu, senti a respiração de Alisson em meu ombro e suas mãos me abraçaram pela cintura, me fazendo fechar os olhos por um momento. Levei minhas mãos em cima das suas e sorri.
- Me desculpa por antes, tá bem? – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu apertei mais suas mãos em meu corpo.
Virei o rosto para ele, dando um curto beijo em seu queixo e encostei a cabeça em seu ombro, suspirando. Ele mexeu o corpo um pouco e puxou a cortina, fechando-a. Virei o corpo de frente para ele e levei minhas mãos até sua nuca, acariciando levemente.
- Você não precisa se desculpar, ninguém estava errado. – Sussurrei igualmente, fechando meus braços em seu pescoço.
- Mas te deixei chateada, não gosto de te ver assim. – Dei um pequeno sorriso, encarando um ponto no chão.
- Você é incrível, Alisson, eu não poderia ter alguém melhor. – Ergui o rosto novamente. – Fico feliz que tenha me escolhido.
- Para quê? – Ele falou e eu desci os braços, segurando seu pescoço entre minhas mãos.
- Para ser sua, para cuidar de mim, por tudo. – Ri fracamente e ele assentiu com a cabeça, aproximando nossos lábios e tocando-os levemente.
- Você é meu melhor presente. Eu nunca quero te perder. – Neguei com a cabeça.
- Não pensa nisso, foi só uma briga boba, eu sei que essa história do bebê vai dar maior dor de cabeça, mas somos jovens ainda, vamos fazer dar certo. – Suspirei.
- Nunca fiz um bate e volta, será que dá certo? – Ri fracamente, abraçando-o fortemente.
- Eu tenho algumas horas extras para tirar por participação em eventos, outras viagens, etc... Podemos fazer dar certo. - Ele sorriu, me dando um curto selinho.
- A médica falou alguma coisa sobre voar? – Suspirei.
- Ela comentou que tinha perigo nos três primeiros meses, mas estamos firmes e fortes aqui, né, bebê? – Falei como se falasse com a barriga e ele riu.
- Deixa eu fazer uma coisa... – Ele falou, subindo as mãos para meus ombros e empurrando o casaco fino que eu usava da CBF e eu o ajudei a tirar. Depois ele colocou as mãos na barra da minha blusa e a puxou para cima.
- Tá fácil, né?! – Brinquei e ele riu, dando um curto beijo em meus lábios.
Ele desceu o rosto para meu pescoço, meu colo, até que se ajoelhou no chão, ficando de frente para minha barriga. Suas mãos grandes ocuparam a extensão inteira da mesma e eu suspirei com o toque.
- Você vê alguma diferença? Eu não vejo. – Suspirei.
- Você está maiorzinha sim, amor, pouco, mas está. – Ele falou, dando um beijo na barriga e eu arrepiei, tentando contrair a mesma, mas sem resultado.
- Bom, contrair a barriga eu não consigo mais. – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Você vai ficar mais linda do que já é. – Acariciei sua cabeça, bagunçando seus cabelos e sorri. – Como está se sentindo?
- Eu estou um pouco nervosa, eu nunca pensei em ter filho tão nova. – Suspirei, vendo-o se levantar novamente. – Mas vamos encarar, né?!
- Vamos, juntos. – Ele colou os lábios nos meus novamente.
- Hum... – Falei nos separando. – Tenho o ultrassom aqui. – Virei o corpo, pegando minha mochila e a apoiei na cama, puxando meu notebook da mesma e apertei o botão, esperando-o ligar.
- Já fazemos ligações quase todos os dias, mas agora não quero receber mensagem de “saí para jantar com o pessoal, nos falamos amanhã”, quero ver esse processo, ok?! – Assenti com a cabeça, vendo o computador ligar e procurei o arquivo de vídeo solto na área de trabalho e me sentei na beirada da cama, abrindo o mesmo.
O ultrassom em 3D dentro da minha barriga apareceu e o pequeno feto também. Nosso bebê. Alisson se aproximou do notebook, se sentando do outro lado da cama. Ele focou atentamente no pequeno bebê no centro da tela e apertou minha mão, me fazendo sorrir.
- Ele parece grande.
- A médica falou que ele está do tamanho normal, Alisson, não começa. – Falei, vendo-o rir.
- Ah, sei lá, não tenho muito parâmetro, né?! – Ri fracamente.
- Mas levando em conta que eu tenho um metro e 80 e você um e 90, pequeno ele não vai ser. – Rimos juntos.
- Vai ser perfeito. – Ele disse e eu fechei o notebook quando o vídeo acabou, e coloquei o aparelho na poltrona mais próxima.
- E o que a médica disse sobre sexo? – Ele se virou para mim e eu revirei os olhos.
- Acho que nada, viu?! – Falei rindo e ele sorriu. Levando a mão na minha cintura e colando nossos lábios novamente.
No dia seguinte, os jogadores teriam só um treino leve no fim do dia, então eu e Alisson aproveitamos para dormir até mais tarde e aproveitar ao máximo a companhia um do outro, já que a idiota aqui havia perdido um tempo precioso com ele por birra. Quando criamos vergonha na cara para sair do quarto, encontramos boa parte dos jogadores escondidos do frio no restaurante. O vento cortava e, apesar do lindo local, não estava dando para ficar nos jardins.
Enrolamos até a hora do almoço e acabamos combinando em um grupo para aproveitar o tempo da cidade para conhecer Praga. Eu nunca havia vindo para cá e boa parte dos jogadores, se tivessem vindo, foi para jogos, então não conseguiram conhecer a cidade. Aproveitamos também para fazer imagens com o Canarinho. Claro que o Canarinho e a Seleção Brasileira juntos não dariam certo, então dividimos a galera em três equipes. Comigo, Vinícius, Lucas e Bianca ficou Alisson, Arthur, Thiago e Miranda, os outros que toparam passear saíram em outros dois grupos.
Fomos no Castelo de Praga, na Praça da Cidade Vermelha, na Catedral de S. Vito, no Orloj, na Casa Dançante e no Muro de Lennon, o qual eu aproveitei para fazer muitas fotos. Tinha outros lugares que queríamos ir, mas depois do rebuliço no Orloj com os jogadores, o qual perdemos quase duas horas só tirando fotos da galera com os jogadores e com o Canarinho, decidimos dar o dia por encerrado e voltar para o hotel.
A vantagem é que estávamos populares na República Tcheca, a desvantagem é que jogaríamos contra eles em dois dias.
Voltamos para o hotel, e seguimos para o Eden Arena, palco do jogo de terça-feira. Os meninos que jogaram fizeram um relaxamento na academia e com o fisioterapeuta, os outros fizeram treino em campo e os goleiros também tiveram sua parte tática. Mais para o fim do dia, fizeram um jogo simples e logo voltamos para o hotel. Não tínhamos coletiva, o que era uma bênção, e fiquei feliz por não alongarmos tanto. Eu já estava quase dormindo sentado no banco de reservas e aquele frio cortava.
Pelo horário, já ficamos lá no restaurante mesmo e aproveitamos para jantar, os meninos estavam animados e ficaram cantando e batucando algumas músicas, rindo das piadas dos novatos e curtindo um momento antes de descansar. Eu estava morta de cansaço pela andança, loucura de fãs e com frio, o pessoal da minha equipe também, então quando Vinícius se levantou para ir para o quarto, avisei Alisson que iria tomando banho e ele falou que logo iria.
Obviamente não o vi chegar no quarto.
No dia seguinte eu acordei em um pulo com uma buzina digna de caminhão soando em minha orelha e, quando abri os olhos, vi o quarto apinhando de jogadores, equipe técnica e jogadores. Eles estavam ocupando todo espaço do quarto, e alguns realmente estavam na janela. A maioria deles estavam de pijama ainda. Ainda bem que eu também.
- Parabéns para você! – Taffarel puxou o coro. – Nesta data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida! – Escondi o rosto com as mãos. – Com imensa alegria, suplicamos aos céus, proteção de Maria e as bênçãos de Deus.
- E para nada! – Tite gritou.
- Tudo! – Sentia meu rosto arder.
- Então, como é que é?! – Ele continuou.
- É pique! É pique! É pique, é pique, é pique! – Olhei para Alisson que estava ao meu lado com um largo sorriso no rosto. – É hora! É hora! É hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! ! ! ! – Eles gritaram, me fazendo gargalhar.
- Ah, gente! – Coloquei a mão no peito.
- Com quem será? – Lucas puxou e eu revirei os olhos, ouvindo os jogadores irem na dele. – Com quem será? Com quem será que a vai casar? – Escondi o rosto com as mãos. – Vai depender, vai depender, vai depender se o Alisson vai querer!
- Quem sabe? – Alisson brincou e eu neguei com a cabeça, vendo-o se aproximar e dar um curto beijo em meus lábios. – Feliz aniversário, meu amor.
- Obrigada. – Suspirei, olhando para o pessoal amontoado pelo quarto. – Obrigada, gente! Isso foi incrível mesmo, obrigada. – Suspirei, percebendo que estava emocionada. – Vocês são incríveis.
- Agora levanta para gente te dar um abraço. – Ederson falou e eu joguei a coberta para o lado, feliz por estar frio em Praga e eu ter dormido de moletom completo e o pessoal veio em peso em cima de mim.
Os jogadores vieram um a um, a equipe técnica veio um a um e a de comunicação veio um a um logo em seguida, todos me abraçaram, desejaram lindas palavras de aniversário e eu não conseguia parar de sorrir e de chorar, aquilo era incrível. Após os cumprimentos, eles saíram do quarto e deixaram o espaço mais respirável.
- Ah, minha amiga, tudo de bom para você nessa nova fase numérica, nessa nova fase como mulher, você merece. – Bianca me abraçou forte e eu suspirei, apertando-a também.
- Obrigada por tudo.
- Você merece! – Ela gritou, estalando um beijo em minha bochecha.
- E você preparou tudo isso? – Virei para Alisson que me abraçou fortemente de novo, dando um beijo em meus lábios.
- Você ir dormir cedo ontem foi uma bênção. – Ele riu fracamente. – Montamos um grupo do WhatsApp faz uns dias, quando eu percebi que dia 25 cairia bem nesse amistoso, mas devo dizer que o hotel ser térreo ajudou muito, pois não ia caber todo mundo aqui. – Gargalhei.
- Não mesmo, tinha gente até na janela.
- Todo mundo gosta muito de você, até os novatos, então foi fácil. – Ele sorriu e eu dei mais um beijo em seus lábios.
- E essa buzina? Acho que eu vou ficar o dia inteiro com dor de cabeça. – Ele gargalhou.
- O pessoal achou ontem, a ideia era um megafone, mas acharam isso, então foi melhor. – Sorri, abraçando-o novamente.
- Você é incrível, obrigada.
- Você merece. – Ele piscou para mim e eu sorri. – Vai trocar de roupa, vamos tomar café.
- Ok, só vou tomar um banho. – Falei.
- Depois você toma, o pessoal preparou uma festinha para você agora, já que o treino vai até tarde hoje.
- Ah, que amor! – Sorri, seguindo até minha mala. – Já saio, então.
Troquei por uma roupa mais adequada, colocando a camisa azul da seleção que quase todo mundo estava usando, calcei um par de tênis e coloquei o moletom estiloso da CBF, esperando que eu me esquentasse com ele.
Quando saí do banheiro, Alisson me esperava, fechando a janela do quarto. Sorri mostrando que estava pronta e ele estendeu a mão para mim. Segui com ele para fora, pelos jardins internos e vários jogadores de prontidão ali: Ederson, Danilo, Alex Sandro, Thiago, Arthur, Casemiro, Fabinho, Coutinho, Firmino, Jesus, só o pessoal que eu tinha mais intimidade, e todos me encaravam bem maleficamente.
- Eles vão aprontar uma comigo, não?! – Sussurrei para Alisson.
- Eu diria para correr. – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu franzi a testa. – Agora! – Ele gritou e todos vieram em minha direção.
- Ah! – Gritei, saindo correndo para valer, mas eles corriam mais rápido do que eu e logo eu fui atacada com farinha, ovo e... Aquilo era café?
- Ah! – Reclamei com uma enorme careta no rosto. – Ah, gente! – Passei as mãos nos olhos, tentando enxergar melhor. – Mancada, cara, mancada! – Eles gargalhavam de mim.
- Melhor do que vir de banho tomado, né?! – Alisson brincou e eu fechei a mão em punho, socando seu ombro, vendo-o misturar uma feição de riso e dor.
- Feliz aniversário! – Eles gritaram e eu suspirei.
- Eu vou tomar banho e é bom alguém encontrar um casaco limpo para mim. – Falei, voltando para o quarto.
Após um banho de 40 minutos tentando tirar casca, farinha e aquele cheiro estranho de café com ovo, eu finalmente cheguei ao restaurante e sim, realmente tinha uma festinha para mim. Eles cantaram parabéns novamente para mim, eu assoprei algumas velinhas em cima de um bolo e todos ganhamos um pedaço. Bem, eu comi muito mais do que só um, acho que o bebê estava começando a dar sinais, pelo menos ninguém olhou estranho.
Pelo visto, Alisson havia mantido a promessa de não contar para mais ninguém, não chegamos a falar mais disso depois, mas eu sabia que isso não se esconderia por tanto tempo assim, na Copa América eu já deveria estar com uma barriga considerável e, pensando agora, nessas circunstâncias, será que eu estaria junto da delegação na Copa América? Espero que sim. Só não queria pensar muito naquilo.
Minha festinha emendou até a hora do almoço, o que não era tão tarde, já que os meninos haviam me despertado por volta das nove horas. Esperamos a digestão fazer efeito e seguimos para o Eden Arena as duas da tarde.
O treino durou o dia inteiro, e era somente treino tático, era analisar a República Tcheca e replicar isso em campo. Eu e Bianca tivemos um pouco mais de trabalho por ser véspera de jogo, mas a cada intervalo que tinha, eu via a marcação de algum jogador nos Stories do Instagram, me desejando feliz aniversário. Era bom ser querida assim, eu, com certeza, havia encontrado o meu lugar.
Mais para o fim do dia, seguimos para uma coletiva com Casemiro, Tite e Sylvinho e o último treino foi dado como finalizado. Os jogadores seguiram mais alguns minutos fazendo bobinho e eu até gostaria de participar, mas não pagaria para levar uma bolada na barriga, Alisson havia ficado desesperado com a possibilidade e eu também não estava pronta para isso.
Fizemos o tradicional jantar coletivo de último dia, cantaram parabéns novamente para mim e quando eu fui para o quarto, tirei alguns minutos para responder todo mundo que havia mandado feliz aniversário, inclusive receber uma ligação de meus pais e minha irmã, me desejando só felicidades. Isso me lembrava que eu precisava contar para eles sobre o novo membro da família.
Depois disso, eu dormi feliz e contente nos braços do meu incrível, lindo e humilde namorado. Completar 26 anos estava sendo muito bom para mim.
O dia 26 começou com aquela tradicional depressão para mim e para Alisson. Era aquele momento de incerteza que não sabíamos quando nos veríamos novamente, ainda mais com a vinda desse bebê. Tínhamos muitas coisas para discutir, mas preferimos guardar para nós mesmos e evitar outra briga parecida com a que tivemos no primeiro dia, pelo menos eu pensava assim, imaginava que ele também, pois ele não tocou uma palavra sobre o assunto.
Eu olhava a agenda para o próximo amistoso e a convocação seria no dia 17 de maio, antes da Copa América, então nos veríamos a partir do dia 22, dependendo, é claro, do desempenho do Liverpool nos próximos jogos da Champions League. Eles estavam nas quartas de final, então tudo podia acontecer.
Optamos por passar os dias juntos, só aproveitando a companhia do outro e do pequeno serzinho que crescia entre nós. Saímos para tomar café e aproveitamos um pouco com o pessoal emendando até a hora do almoço, depois disso, seguimos para o quarto, nos livramos de nossas roupas e ficamos namorando o máximo que conseguimos.
Dessa vez o jogo era mais tarde, então jantamos antes de ir para o estádio, quase como um lanche da tarde e sete e meia deixamos o hotel em Praga, sem prazo para retornar. Chegamos ao Eden Arena sem preocupações. Cada um tinha sua responsabilidade, então nos separamos. Eu e Bianca fomos cuidar dos protocolos e os jogadores foram fazer sua parte.
Finalizamos os protocolos quando os jogadores já estavam indo treinar e eu fiquei muito contente quando passei pela imprensa e foi lindamente ignorada. Era bom ver que a gente se tornou desinteressante para eles rapidamente. Bom, até eu aparecer com uma barriga imensa em alguns meses.
Tirei um tempo para me esquentar lá dentro quando os jogadores voltaram para se trocar e eu e Bianca nos acomodamos em cima dos coolers enquanto apreciava aquela vista. Sim, era o melhor momento do meu trabalho. Claro que meus olhos só seguiam para o bonitão de verde neon ao meu lado esquerdo que piscava para mim a cada oportunidade. Tite deu algumas instruções e estávamos prontos para ir.
- Bom jogo! – Falei, dando um rápido beijo na bochecha de Alisson e segui com Bianca, Vinícius e Lucas à frente, enquanto Tite, Matheus, Cléber e Sylvinho seguiam logo atrás da gente e a equipe atrás deles.
- Vamos, vamos, vamos! – Vinícius em sua melhor posição de Canarinho, gritou e seguimos correndo para fora do estádio, deixando os jogadores no túnel.
A parte ruim desse estádio, é que o banco de reservas era aberto, então eu viraria um picolé antes da primeira chance de gol. Ainda bem que o roupeiro tinha umas roupas sobrando para me emprestar.
Entramos com Alisson, Alex Sandro, Thiago, Marquinhos, Danilo, Casemiro, Paquetá, Allan, Coutinho, Firmino e Richarlison, prontos para fechar esse amistoso com chaves de ouro. Eu esperava que sim, pelo menos, depois do vexame do outro jogo.
Quando eu falei sobre o frio, eu não acreditava que a primeira chance de gol viria aos dois minutos e ainda contra nós, mas o jogo estava visivelmente bem equilibrado, eram chances aqui e lá e passaram 15 minutos assim. Enquanto isso, minhas mãos congelavam dentro do bolso do casaco, dentro da luva.
Estava quase no final do primeiro tempo e aquilo estava parecendo jogo de cabeceador, pois toda tentativa de cabeça ia para fora. Casemiro tentou fazer o monstro do gol de falta morrer, mas o goleiro espalmou, mas teria sido bonito se não tivesse a defesa. Ai, ai!
Aos 36 minutos meu corpo arrepiou inteiramente, um dos jogadores com nome estranho da República Tcheca encontrou a oportunidade perfeita, no meio da defesa inteira aberta do Brasil e deu uma rasteira, Alisson tentou chegar na bola, mas não conseguiu, fazendo-a passar por debaixo dele e entrar no fundo do gol.
- Ah, meu Deus! – Bati na testa, respirando fundo.
- O que tá acontecendo? – Bianca falou com a mesma surpresa que eu e vi Danilo se aproximando de Tite para falar algo.
- Espero que seja algo como “a defesa está aberta demais”. – Falei para Bianca e ela respirou fundo.
O primeiro tempo finalizou sem grandes surpresas, eu e Bianca preferimos nos esquentar no túnel, ao invés de ir para o vestiário e sabíamos que o clima ia esquentar lá dentro, e não de um jeito muito bom.
O segundo tempo começou com Firmino fervendo, em quase quatro minutos de jogo ele interceptou um passe errado do adversário, driblou o defensor e meteu uma embaixo das pernas do goleiro, me dando um pouco de esperança. Coutinho teve outra oportunidade, mas bateu na trave. Aquele jogo estava esquentando para o nosso lado e eu estava gostando, pois o frio judiava da gente.
O segundo veio na mesma minutagem da República Tcheca no primeiro tempo. David Neres, que havia sido substituído, fez um passe para dentro da área para Jesus, que também havia entrado no segundo tempo, e o mesmo encontrou a grande área praticamente sem defesa e sem goleiro e só deu uma colaborada para a bola encontrar o caminho.
Oito minutos depois, pouco antes de completar os 45 minutos finais, Neres fez um passe para Allan, que só deu um pequeno chute para Jesus. O mesmo tentou o ataque, mas a bola estourou nas mãos do goleiro. A bola veio novamente para os pés dele e Jesus deu uma levantada na bola, mandando-a para o fundo do gol novamente.
O jogo finalizou com cinco minutos de acréscimos, mas finalmente pudemos comemorar. Todos se cumprimentaram após o jogo e seguimos animados para dentro do vestiário novamente. Passamos por algumas câmeras da imprensa, mas segui reto para dentro, aonde tínhamos mais privacidade, com exceção da nossa câmera, que deveria estar nas mãos de Vini novamente, já que o Canarinho sumiu após o intervalo.
- Ah ê, garoto! – O pessoal falou quando os jogadores entraram na sala e eu sorri para Jesus, dando uma piscadela e ele esticou a mão em um polegar em agradecimento e logo Firmino apareceu e eu pude abraçá-lo.
A maioria dos jogadores já entravam sem a camiseta, somente com a segunda pele e Alisson sorriu ao meu ver, me abraçando fortemente, e eu fiz uma careta ao sentir seu corpo gelado de suor.
- Ah, não aguento! – Neguei com a cabeça, me afastando e ele fez uma careta.
- Tá tão mal assim? – Ele perguntou.
- Não é você, é o... – Deixei a frase no ar e ele entendeu, assentindo com a cabeça.
- Vamos juntar, galera! – Tite gritou e fizemos uma roda. – Capitão vai falar!
- Quero agradecer muito vocês por esse jogo, gente, foi ótimo. Vocês entraram preparados e mostraram que estavam preparados, por isso foi um ótimo jogo. – Sorrimos e abracei Alisson pela cintura. – Vamos continuar fortes para conseguir alcançar os próximos objetivos. – Ele falou e o pessoal aplaudiu animado.
- É isso, gente! Obrigado a todos pela participação, o próximo desafio já é focado na Copa América, então gostaria de respaldar que gostei muito do que vi nos últimos dois jogos e com certeza encontrarei muitos de vocês em breve. – Tite falou e todos assentimos com a cabeça, aplaudindo.
- Tite, Sylvinho, coletiva! – Bianca falou e pisquei para Alisson, seguindo-a para os últimos compromissos.
A coletiva foi mais curta que o esperado, cerca de 25 minutos, também, com vitória, era mais fácil conversar com eles de forma direta. Voltamos para o vestiário e alguns já estavam prontos para ir embora, eles iriam de formas variadas, nós pegaríamos um jatinho privado até Lisboa, depois seguiríamos para o Rio de Janeiro, os jogadores que atuavam no Brasil seguiriam com a gente, agora os outros tinham meios diferentes de ir embora e horários diferentes, tanto que alguns até voltariam para o hotel.
- Saímos em cinco minutos, tá? – Bianca falou comigo e eu assenti com a cabeça, sabendo o que ela queria saber disso.
- Vem cá! – Alisson falou me puxando e eu segui até ele, sentando em seu colo e ele apertou minha coxa. – A gente vai dar um jeito, ok?!
- Eu sei! – Passei a mão em seus ombros. – Vai dar tudo certo, só termos paciência. – Ele soltou um largo suspiro.
- Tentarei! – Rimos juntos e dei um pequeno beijo em seus lábios. – Vai ser um ótimo teste de paciência.
- Assim que eu chegar no trabalho eu me informo sobre possibilidades e vamos nos falando, ok?! – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou dar uma olhada no calendário e te aviso também.
- Combinado. – Dei um curto beijo em seus lábios. – Eu te amo, tá?!
- Eu sei, eu também te amo. – Ele sorriu e o apertei fortemente, abraçando-o, sentindo suas mãos passearem pelas minhas costas.
- Hora de ir, galera! – Cléber falou e eu me levantei, respirando fundo.
- Me avisa dos seus passos. – Alisson disse se levantando e eu assenti com a cabeça, dando mais um forte abraço nele, fechando os olhos por alguns segundos, quando nos separamos, ele deu um curto beijo em meus lábios.
- Você também. Eu te amo.
- Eu também. – Sorrimos e nos separamos para nos despedir do resto do pessoal.
Abracei um por um rapidamente, falando algumas palavras para os mais íntimos e até conforto para os novatos. Para Weverton eu falei para ele continuar bem assim que iria longe e acabei deixando Arthur e Jesus por último.
- Fica bem, ok?! – Arthur falou me abraçando e eu assenti com a cabeça. – Qualquer coisa que precisar, sabe onde me encontrar.
- Eu sei, e você também, não hesite, ok?! – Ele deu um beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Ah, garota, obrigado por tudo! – Jesus falou me abraçando fortemente pela cintura, me tirando alguns centímetros do chão e eu senti alguma coisa remexer dentro de mim. – Você está bem?
- Não! – Falei rapidamente, sentindo algo mexer dentro de mim e saí correndo em direção aos banheiros, colocando a cabeça na primeira privada vazia que eu vi.
- Caramba!
- De novo? – Ouvi algumas vozes e respirei fundo.
- Opa, como você está? – Ouvi a voz de Alisson e suspirei, erguendo o olhar para ele e o mesmo puxou alguns papéis do dispenser e me entregou.
- Eu pensei que essa fase já tinha passado. – Comentei, passando os papéis na boca e ele me deu a mão para levantar.
- Ela demora um pouco, será que foi o perfume? O abraço?
- Não sei, mas não estou gostando dessa brincadeira. – Suspirei, virando de frente, vendo alguns curiosos no banheiro.
- Tá tudo certo, ? – Rodrigo perguntou e eu joguei os papéis no lixo e segui para pia para gargarejar com água.
- Tá tudo certo. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Cara, eu só te abracei. – Jesus falou e eu abanei a mão.
- Relaxa, estou bem! – Falei.
- Tem certeza? – Tite perguntou. – Você está mal desde que chegamos. – Virei para Alisson.
- Eles vão descobrir cedo ou tarde. – Ele deu de ombros e eu suspirei.
- Que apoio fraco, Alisson. – Falei e o pessoal em volta riu.
- O que está acontecendo? – Edu perguntou e eu bufei.
- Essa eu quero ver. – Ouvi a voz de Vinícius e ergui o dedo para ele, vendo-o gargalhar.
- Fala! – Alisson falou e eu suspirei, vendo diversos olhos curiosos para cima de mim.
- Eu estou grávida, galera. – Falei, mordendo o lábio inferior e os olhares curiosos se transformaram em olhos arregalados.
- O quê? – Foi o coro coletivo e Alisson me abraçou de lado.
- É sério? – Tite perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, de três meses. – Levei as mãos à barriga e o pessoal travou.
- Como foi isso... Como? – Edu não conseguia formular frases inteiras.
- Está tudo bem, gente, não foi planejado, mas faremos dar certo, então vocês podem nos parabenizar, ok?! – Falei rindo fracamente.
- Ah! – O pessoal começou a amontoar em cima da gente para nos abraçar e cumprimentar e eu ri fracamente, pois tinha abraçado todos há minutos atrás.
- Como vocês farão isso? – Cléber perguntou.
- Não sabemos ainda, mas daremos um jeito, não se preocupem, continuaremos cumprindo com nossas obrigações.
- Não esperaria diferente de nenhum dos dois. – Ele sorriu, nos abraçando.
- Bom, acho que isso é bastante informação para muito tempo. – Tite falou rindo.
- Pelo menos agora temos um mascotinho para a Copa América. – Edu falou, nos fazendo rir.
- Se vocês aceitarem uma grávida aloprada na Copa América, eu não vou negar.
- Será a primeira vez, mas tivemos muitas primeiras vezes contigo aqui, por que não mais uma? – Tite falou e eu sorri, sentindo-o abraçar eu e Alisson em um abraço só. – Parabéns, gente!
- Valeu! - Falamos juntos e a mão de Alisson me encontrou do outro lado, me fazendo sorrir.
- Juízo, hein?!
- Até parece! – Lucas falou e eu revirei os olhos. – Ah, qual é, se tivesse não teria embuchado, vai! – Ri fracamente, ouvindo o pessoal gargalhar.