FFOBS - Passaporte Rússia, 2018, por Flávia Coelho

Última atualização: 11/09/2018

Prólogo

Apertei F5 novamente e nada. Ouvi um apito e suspirei, jogando as cobertas para o lado e me levantei, deslizando os pés pelo apartamento, provavelmente deixando as meias bem sujas pela falta de limpeza. Abri o micro-ondas, vendo meu almoço borbulhar lá dentro e tirei o prato com pressa, queimando levemente a ponta dos dedos e apoiei o mesmo na pia, sorrindo com aquela alegria em forma de lasanha congelada.
Peguei os talheres e comecei a cortar a massa em pedaços pequenos, para evitar que caísse molho nos lençóis recém trocados da minha cama. Ouvi um barulho forte vindo da porta e olhei para a mesma, vendo-a ser aberta com rapidez, me assustando, e Bernardo aparecer pela mesma.
- Já saiu?! – Ele fechou a porta correndo e eu o encarei assustada, ele estava vermelho e suava bastante.
- Você veio correndo só para isso?
- Como assim, “só para isso”? É o emprego dos sonhos, . – Ele me sacudiu pelos ombros e eu ri fraco, negando com a cabeça.
- Ainda não e duvido que eu vá conseguir. – Ele me olhou indignado, me soltando em seguida.
- Você passou por todas as fases do processo seletivo, . Você foi entrevistada pessoalmente pelo presidente da CBF, essa vaga é sua. – Ele falou animado e eu balancei a cabeça, pegando meu prato e voltando para meu quarto.
- Você está mais animado do que eu, Nardo, e você nem gosta de futebol. – Me sentei novamente na cama, colocando uma almofada em meu colo e o prato em cima da mesma.
- Você só diz que não está animada, mas aposto que vai adorar receber aquele salário de dez mil reais e ainda trabalhar perto dos jogadores mais bonitos da atualidade. – Suspirei.
- Exato! Aí que está o erro, que pessoa de 24 anos ganha um salário de dez mil reais? – Virei para ele. – Isso é loucura! – Ele riu.
- Sim, isso é verdade, mas é a CBF, provavelmente não vai ser o salário mais limpo do mundo, mas... – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Eu não sei, seria demais, mas tinham outros candidatos na entrevista. – Suspirei. – Vai ser difícil.
- Bom, você é a jornalista com o melhor currículo que eu conheço e só tem 24 anos, além de amar futebol, eles só ganhariam contigo. – Sorri.
- Obrigada, Nardo. – Ele sorriu, se sentando na minha poltrona em frente à escrivaninha.
Coloquei o primeiro pedaço de lasanha na boca, sentindo-a queimar minha língua e a devolvi no prato quase na mesma hora, ouvindo um toque vindo do meu computador. Eu e Nardo nos entreolhamos e eu afastei a almofada com o prato com rapidez e puxei meu computador, vendo na tela que tinha um novo e-mail na caixa de entrada.
- Confia, ! – Ele falou e eu engoli em seco, alterando as abas do navegador e respirei três vezes antes de abaixar o olhar para o e-mail recebido.
“Bem-vinda à CBF”, dizia o título e eu arregalei os olhos, abrindo o e-mail correndo.
- “Senhorita , é com enorme prazer que te recebemos em nossa equipe!” – Nardo gritou quando eu li a primeira frase. – “Seu nome foi escolhido entre tantos candidatos para compor a nossa equipe de comunicação. Seu currículo e entrevistas nos mostraram que suas habilidades e conhecimentos só trariam adições à nossa equipe”. – Engoli em seco. – “Para informações sobre horários e locais de trabalho, leia o arquivo em anexo, esperamos notícias suas muito em breve. Coordenadora de Comunicação da CBF, Michelle Martins”. – Li lentamente, arregalando os lábios quando finalizei o mesmo.
- Você conseguiu! – Bernardo gritou ao meu lado, se jogando em cima de mim na cama. – Tu vai trabalhar com Neymar, Marcelo, Jesus, Alisson... Meu Deus! – Ele falou me apertando e eu gargalhei. – Minha amiga tá rica, gente! – Ele se levantou, me sacudindo e eu ri, não sabendo se as lágrimas eram de alegria ou de desespero. – Tu vai para Rússia, .
- Eu não vou para Rússia, Bernardo.
- Ok, provavelmente não, mas você vai trabalhar coladinho daqueles homens de coxas grossas e...
- Agora entendo seu interesse pelo futebol! – Ele gargalhou, me abraçando fortemente.
- Isso é demais, . A gente precisa sair para comemorar. Em um lugar bem caro porque agora você pode! – Revirei os olhos, sentindo-o me apertar.
- Eu preciso que a ficha caia antes, Bê. – Soltei o ar devagar. – Terminar de ler o e-mail, contar para minha mãe, abrir uma conta no Itaú, parar de chorar... – Falei embolado.
- Ah, amiga! – Ele me apertou novamente, me fazendo rir. – Podemos comemorar com vinho barato, então. – Gargalhei, apoiando minha cabeça no ombro dele.
- Você vai atrás do vinho que eu vou ler tudo aqui.
- Eu já volto! – Ele me soltou rapidamente, saindo do meu quarto, voltando logo em seguida. – Segunda-feira é a convocação, não é?! Será que você vai acompanhar?
- Ah, acho que não! Eu sou peixe pequeno. – Falei rindo, dando de ombros, mas ao mesmo tempo sentia meu coração bater muito rápido, como num jogo de futebol.


Capítulo 1 – Bem-Vinda à CBF

- Obrigada! – Falei para o moço do Uber e saí do carro com a bolsa colada no corpo.
Olhei para cima e encarei o prédio espelhado da CBF no meio da Barra da Tijuca e senti um frio na barriga, me fazendo apertá-la por alguns segundos. Respirei fundo algumas vezes e segui para a portaria, me apoiando sobre a guarita quando uma pessoa abriu a mesma.
- Bom dia, no que posso ajudar? – Ele perguntou.
- Eu vou começar a trabalhar aqui hoje, área de comunicação. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Pode seguir pela entrada principal que te darão as informações necessárias lá dentro.
- Obrigada! – Falei, atravessei a rua do lado de dentro das grades e olhei rapidamente para as bandeiras hasteadas ali e o brasão da CBF ao fundo, não pude evitar um pequeno sorriso.
Passei pela porta giratória no lugar e me encontrei no saguão, onde um balcão estava apinhado de atendentes e seguranças e, ao fundo, as bandeiras de todos os estados no Brasil. Me aproximei do mesmo, aguardando minha vez chegar e uma moça me atendeu sorridente.
- Olá, no que posso ajudar? – Ela perguntou.
- Eu sou , vou começar meu emprego hoje na área de comunicação, a responsável é Michelle Martins. – Ela assentiu com a cabeça.
- Claro! – Ela falou. – Vou só fazer seu crachá, me empreste seu RG, por favor. – Abri minha carteira, entregando o documento a ela e aguardei enquanto ela passava todas as informações para o computador. – Olhe para a câmera, por favor. – Ela falou e eu tentei dar um sorriso menos empolgado para a mesma, mas eu estava bem animada. – Pronto, senhorita . – Ela me entregou o crachá e o documento. – Só seguir pela entrada lateral da direita e ir para o quarto andar. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Falei, seguindo para onde ela havia dito e passei o crachá na catraca, pendurando-o no pescoço enquanto passava pela mesma.
Entrei em um dos elevadores e vi que o número quatro já tinha sido apertado. Logo a caixa de metal se encheu e começou a subir, parando em todos os andares possíveis. Quando ele parou no meu, eu saí com mais três pessoas. Andei devagar pelo local, vendo que tinha uma recepção com uma pessoa mais nova do que eu ao telefone. Aguardei com que ela desligasse o mesmo e ela olhou para mim.
- Oi, eu sou ... – Ela abriu um sorriso.
- Ah, você vai começar hoje, certo? – Ela riu fraco. – Eu sou Giovanna, a estagiária, é um prazer te ter conosco. – Ela estendeu a mão e eu a apertei.
- O prazer é meu. – Falei e ela sorriu.
- Eu vou te levar para Michelle, vem comigo. – Ela tirou o fone da orelha e o apoiou o em sua mesa.
Seguimos para dentro das portas de vidro e soltei um suspiro involuntário. O local era grande, branco com móveis brancos e os detalhes em verde, amarelo e azul, com diversas fotos dos jogadores espalhadas pelas paredes e todo tipo de publicidade à vista. Havia notado que o pessoal principal ficava nas mesas comuns no centro do local e nas laterais tinham salas especiais, como da Michelle, da fotografia, RH e afins. Ela deu dois toques na porta de Michelle e não esperou alguma resposta, abrindo a mesma.
- Michelle, a está aqui. – Eu não vi a reação de Michelle para Giovanna, mas ela saiu da mesma, abrindo espaço. – Pode entrar! – Sorri para a mesma e entrei devagar na sala.
- Peça para Lucas vir aqui daqui a pouco, Gi? – Olhei para a moça alta e de cabelos escuros lisos se levantar da cadeira e sorrir para mim. – Olá, , tudo bem? Que bom que veio! – Ela me estendeu a mão e eu apertei a mesma.
- Obrigada! Estou feliz em estar aqui. – Michelle encostou a porta e me acompanhou até sua mesa. – Sente-se, por favor. – Ela começou a organizar as papeladas que bagunçavam sua mesa e eu vi vários arquivos sendo juntados. – Ignore a bagunça, hoje o dia está meio conturbado. – Ela falou rindo. – Temos a coletiva da convocação às 14 horas e tudo está uma bagunça.
- Sem problemas!
- Bom, , hoje é seu primeiro dia aqui e eu sempre gosto de passar algumas informações para os colaboradores novos, principalmente nesse c Copa, que acaba mudando um pouco a rotina de todos aqui na CBF. – Assenti com a cabeça. – Quando estivermos fora de campeonatos e disputas internacionais, seu horário de trabalho será das oito as 18 horas, de segunda a sexta-feira, com uma hora e meia de almoço e mais dois intervalos de 15 minutos que você fará na hora que quiser. – Assenti com a cabeça. – Já em épocas como as que estamos se aproximando, as coisas acabam mudando um pouco, você colocou no seu formulário que tem disponibilidade para viagens, certo?
- Sim, sim! – Falei prontamente.
- Então, quando os jogadores estiverem treinando na Granja Comary, nós pedimos para que alguns funcionários se aloquem lá, para repasse de informações mais agilizado, contato com os jogadores, além de que gostamos desse contato equipe e jogadores, porque acaba trazendo algumas ideias incríveis. – Assenti com a cabeça. – Como social mídia, seu trabalho vai ser, praticamente, fazer artes e publicar nas nossas redes sociais, Facebook e Instagram, temos outras redes sociais, mas com outros responsáveis. Além de interatividade com o público, fazer todo o monitoramento e acompanhamento e, também, fazer artes para as divulgações dos jogadores, normalmente acaba sendo um trabalho em parceria com a assessoria deles, mas isso é papo para outra hora.
- Certo! – Falei rindo.
- Por isso, essa primeira semana você vai ficar aqui nesse prédio, pegando o andamento da CBF, conhecendo o pessoal, mas, na semana seguinte, eu vou precisar de você lá na Granja Comary em Teresópolis.
- Sem problemas! – Tentei conter o sorriso.
- Lá as coisas mudam de figura, você ficará hospedada lá, terá um quarto e banheiro só teu, cumprirá o horário de trabalho, mas terá um diferencial: ele não vai ser tão quadrado como aqui, lá você vai ter que caçar pauta, como dizemos, acompanhar os jogadores de perto, o treinador, a equipe técnica, vai realmente encontrar o que fazer. Você vai poder usar todos os meios da CBF, andar pelo local, usar os espaços em comum, academia, refeitório, são três refeições por dia, café da manhã, almoço e jantar, além de um lanche na parte da tarde e outro depois das 10 da noite. – Assenti com a cabeça. – Academia e afins você pode usar antes ou depois do seu horário de expediente e só nos fins de semana que você terá que ficar lá também, até que eles vão para Londres.
- Tudo bem. – Suspirei.
- Mas seu horário será diferente de fim de semana, você estará no seu horário livre, mas se necessitar de algum trabalho, enfim... – Ela respirou fundo. – Depois eu te passo o briefing certinho, são muitas informações, estou tentando me lembrar de tudo.
- Não se preocupe, qualquer dúvida eu pergunto. – Ela riu fraco, respirando fundo.
- O que mais? – Ela perguntou. – Ah sim. Você precisará se apresentar em Teresópolis na segunda-feira que vem, dia 21 de maio, que é quando os jogadores chegam. Nós teremos um ônibus saindo daqui as seis e meia da manhã, mas se preferir ir com seus meios, a gente se encontra lá as nove da manhã e reporemos seus gastos. – Assenti com a cabeça novamente.
- Eu vou ficar lá durante a Copa? – Perguntei.
- Não, você vai ficar só uma semana lá na Granja, dia 27 eles vão para Londres se preparar para o amistoso e então você volta para a cidade e segunda-feira voltamos normalmente.
- Você não vai com eles? – Ela riu fraco.
- Ah não, já tive drama suficiente na minha vida. – Ela riu nervoso. – Hoje eu cuido da parte no Brasil mesmo, temos uma equipe de três pessoas mais fotógrafos que estão se preparando para ir.
- Legal! – Falei, rindo em seguida.
- Quando eles forem para Londres, você receberá todas as informações dos assessores de lá por meio de um fórum que temos e vai elaborando as postagens, elaborando relatórios semanais, etc... – Ela balançou a cabeça e ouvimos a porta bater. – Ah sim! – Ela falou rapidamente. – Pode entrar.
- Pediu para me chamar? – Um moço, mais ou menos da minha idade, entrou na sala e sorriu para mim.
- Por favor, Lucas, entre. – Ela falou e ele se sentou ao meu lado. – Essa é , nova social mídia, queria que vocês se conhecessem, pois vocês vão trabalhar lado a lado lá em Teresópolis.
- Olá, tudo bem? – Ele estendeu a mão para mim e eu a apertei.
- Lucas é o fotógrafo oficial da Seleção, ele vai para Teresópolis, depois para Londres e acompanhará os meninos na Rússia, ele que vai te passar as fotos e algumas informações para elaborar as postagens.
- Beleza! – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Você vai gostar daqui, é tudo sério, mas é bem despojado.
- Despojado! – Michelle falou se levantando e seguindo para um dos armários. - Quanto você usa de blusa, ? – Ela me perguntou.
- M ou G, dependendo da forma. – Ela pegou algumas coisas e voltou para a mesa.
- Aqui nós não exigimos uniforme, mas temos algumas blusas oficiais, caso interesse. Mas em Teresópolis sim, para diferenciarmos quem é equipe, imprensa, funcionários, entre outras coisas. – Ela me entregou cinco camisetas. – Depois prove e veja se está certinho.
- Obrigada! – Falei, colocando as camisetas em meu colo, rindo em seguida.
- Estou me esquecendo de alguma coisa, Lucas? – Ela perguntou.
- Não sei o que falou para ela, mas qualquer coisa você pode perguntar para gente, somos bem de boa.
- Obrigada! – Falei rindo.
- Ah, só uma curiosidade, tem passaporte?
- Tenho. – Falei, franzindo a testa.
- Já viajou para fora?
- A última vez faz dois anos, fui para Londres estudar por um mês. – Ela assentiu com a cabeça.
- E as vacinas estão em dia?
- Sim, tomei as atrasadas junto com a campanha da gripe. – Ela sorriu.
- Bom saber! – Ela riu fraco. – Nossa equipe para Rússia está completa, mas vai que todos os nossos 12 assessores adoeçam e...
- Dramática! – Lucas brincou, se levantando da cadeira e eu ri.
- Ah sim, falando em assessores. – Michelle lembrou. – Às vezes fazemos um rodízio nas ocupações, para dar uma mudada nos ares, então indicamos ficar próximo aos assessores, ver como eles se portam. – Assenti com a cabeça. – É tudo junto, os releases, notícias, até postagens são divulgamos para todos, então as coisas acabam se misturando um pouco.
- Eu gosto bastante de assessoria também, então, estou nas nuvens.
- Ótimo! – Ela sorriu. – Vamos conhecer seu local de trabalho? Algumas pessoas?
- Claro! – Falei, me levantando prontamente.

- Bem, aqui é o seu espaço de trabalho. – Michelle me apontou para uma mesa de canto. – Computador com todos os programas necessários instalados, você vai configurar ele da forma que quiser com uma senha pessoal sua. Usamos bastante o WhatsApp Web para nos comunicarmos, depois vou pedir para a Giovanna ou o Lucas te colocarem no nosso grupo. – Assenti com a cabeça. – Nas gavetas temos blocos de notas, papéis timbrados, um arquivo com as suas obrigações semanais, como o relatório de trabalho e, todo dia, em cima da sua mesa, vai ter um papel com seus deveres diários, às vezes são mais coisas, às vezes menos, e às vezes você vai ter que procurar o que fazer. – Assenti com a cabeça, tirando minha bolsa e colocando-a na poltrona. – Nas gavetas também tem um iPad e um celular, que serão seus para uso fora daqui, para levar para a Granja, eventos nos fins de semana, etc...
- Certo! – Falei.
- Tem também o notebook, mas ele fica em outro local, então, no fim da semana, você dá um toque na Gi que ela te entrega um para levar para Granja.
- Perfeito. – Assenti com a cabeça.
- Bem, vamos conhecer as pessoas. – Ela falou e eu a segui para o começo do andar. – Inicialmente temos nossos assessores de imprensa. – Ela entrou no quadrante da assessoria onde eu vi nove pessoas. – Aqui temos Andrea, Joana, Luana, Gabriela, Roberto, Diana, Carlos, Cléber e Débora. – Acenei para eles. – Essa é a , gente, ela é nossa nova social mídia!
- E aí, ? – Eles falaram juntos sorridentes e eu retribuí.
- Está faltando o Theo, a Angelica e a Bianca, mas eles vão para a Rússia, então, estão se preparando para a coletiva. – Assenti com a cabeça.
- Prazer, gente! – Acenei sorrindo.
- Vamos seguir aqui para trás. – Ela falou, me chamando com a mão. – Aqui temos o pessoal da fotografia, o Lucas que você já conhece. – Acenei para ele. – O David, a Anna e a Bruna. – Acenei para todos. – Lucas e David vão para Rússia.
- Olá, tudo bem? – Falei e eles sorriram.
- Depois temos o pessoal do marketing, mas eles trabalham mais na parte de materiais de divulgação, uniformes, comerciais, propagandas, etc... – Assenti com a cabeça, vendo o outro grupo de pessoas. – Aqui ficam o João, Anita, nossa estrangeira Telma e Lopes. – Acenei para todos.
- Como você está? – Sorri, acenando para eles.
- E aqui no fim temos as equipes menores, a Júlia e a Dulce do RH, Iago, Murilo, Inês e Nina são nossa turma de relações públicas, o que você provavelmente vai passar bastante tempo com eles e o Vinícius que é... – Ela parou um pouco quando ele sorriu. – Bom, você vai descobrir com o tempo o que o Vinícius faz. – Franzi a testa e a turma em volta deu risada. – Acho que é isso.
- Não ligue para ela, meu trabalho é o mais legal! – Vinícius falou e eu ri. – Prazer te conhecer.
- O prazer é meu. – Sorri.
- Espero que goste daqui. – Uma das meninas do RH falou.
- Certeza que vou gostar. – Sorri.
- Bem, , é muita informação ao mesmo tempo, mas com o tempo você vai se ligando, eu indicaria você ficar perto do pessoal que vai para a Teresópolis para você pegando o ritmo da coisa. – Michelle falou e eu assenti com a cabeça.
- Beleza, perfeito! – Sorri.
- Bem, temos algumas horas até a convocação ainda, porque você não vai configurando seu computador, vai conversando com o Lucas sobre a forma que vocês vão trabalhar, protocolos que vão criar e tudo mais e duas horas você desce com o pessoal da assessoria para acompanhar a convocação, que tal?
- Eu? Acompanhar a convocação? Mesmo?
- Por que, não? Você trabalha com a gente agora. – Abri um largo sorriso.
- Vai ser ótimo! – Falei rindo.
- Perfeito! Qualquer coisa eu estou na minha sala e você pode falar com a Giovanna, ela vai tirar suas dúvidas.
- Obrigada! – Sorri, suspirando.
- Vamos conversar? – Virei e vi Lucas ao meu lado.
- Claro! – Sorri.
- Vamos lá na sua mesa, assim você já vai organizando tudo.
- Beleza! – Falei rindo, seguindo com ele em direção à minha mesa.

Voltei do almoço 15 minutos mais cedo no meu primeiro dia, não para demonstrar interesse e comprometimento, mas sim porque a convocação começava bem na hora do meu retorno e eu não queria pegar a chegada da imprensa em peso. Subi rapidamente para o quarto andar, guardei minha bolsa e peguei o iPad e o celular, precisaria descobrir quem seriam os convocados para começar a seguir todos e entrar em contato com todas as assessorias.
- , você aqui! – Olhei para trás, vendo Michelle saindo de sua sala.
- Oi! – Falei rindo. – Vim mais cedo para pegar a coletiva do começo.
- Gosta de futebol? – Ri fraco.
- Muito! – Suspirei. – Joguei por muito tempo na escola e pela faculdade.
- Sério? Acho que deveríamos ter perguntado isso em um dos processos seletivos. – Sorri.
- Acho que não será tão útil para o emprego.
- Quem sabe na confraternização de fim de ano da empresa? – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Talvez eu seja útil.
- Que posição você jogava?
- Goleira! – Falei orgulhosa. – Minha família é composta por goleiros, meu pai, meu tio, minha prima. – Sorri. – Difícil completar time nos encontros em família.
- Posso imaginar! – Ela falou rindo. – Bem, me acompanha?
- Claro! – Falei, pegando as coisas e a segui pelo corredor, quando as portas se fecharam dentro do mesmo, ela me estendeu uma das várias folhas de sua prancheta.
- Vai começando os trabalhos. – Ela falou e eu franzi a testa, virando a capa e encontrando uma lista com o nome de 23 homens.
- É a lista da convocação? – Cochichei para ela.
- Exclusivamente para ti. – Abri a boca surpresa e ela riu. – Divirta-se! – Ela disse e eu fechei a mesma correndo quando as portas do elevador se abriram no primeiro andar.
Saí correndo atrás dela e entramos na sala de imprensa. Parei por alguns segundos ao vê-la apinhada de pessoas e me assustei um pouco vendo jornalistas de diversos meios de comunicação do Brasil (e mundo) nas cadeiras dispostas e câmeras organizadas na parte de trás.
- Psiu! – Virei para o lado, vendo Vinícius escorado na parede junto de outros funcionários da área de comunicação e me aproximei deles, me apertando entre ele e outra moça que eu não conhecia. - Bianca, essa é , a nova social mídia. – Ele falou para a mulher e eu sorri.
- Ah, você é a menina nova. – Ela cochichou e eu sorri. – Muito prazer te conhecer. – Ela apertou minha mão e eu sorri.
- O prazer é meu. – Falei sorrindo.
Olhei rapidamente para os lados, vendo se não tinha ninguém da imprensa de papagaio de pirata, apesar de o local estar fervendo e abri a capa da lista rapidamente, descendo os olhos rapidamente para os goleiros: Alisson da Roma, Ederson do Manchester City e Cássio do Corinthians, abri um pequeno sorriso e fechei a lista novamente.
Eu não conhecia muito o trabalho do Alisson, eu até torcia por um time italiano, mas não era o dele, mas eles avançaram bem durante a Liga dos Campeões da Europa. O Ederson eu realmente não acompanhava, campeonato inglês não era comigo, agora o Cássio eu conhecia muito dos jogos do Corinthians aqui no país, não torcia pelo time dele, mas tinha que admitir que ele era muito bom.
Ouvi um alvoroço e olhei para frente, vendo Tite e outros três homens entrarem na coletiva e se sentarem à mesa, acabei descobrindo que eram Cléber Xavier, braço direito de Tite, Edu Gaspar, coordenador técnico da Seleção e Rodrigo Lasmar, médico da Seleção. Ergui meu celular rapidamente e tirei uma foto, enviando correndo para Bernardo com a frase: “Olha o que está acontecendo aqui!”. Queria esperar pela resposta surtada do meu amigo, mas um dos homens começou a falar e eu liguei o iPad, seguindo para o Instagram para começar a seguir todos os jogadores convocados.
- Gostaria de iniciar com um agradecimento a todos os atletas que fizeram parte dessa caminhada conosco até aqui. Vale lembrar que chegamos em 2016 com o jogo contra o Equador. E todos os atletas que estiveram conosco em todas as convocações, nosso profundo agradecimento, pois sabemos a importância que eles tiveram na nossa preparação e nos resultados que tivemos aqui. Então, em nome da comissão técnica e de todos nós, a todos os atletas, nosso muito obrigado pelo trabalho que eles vêm fazendo conosco até agora.
Ele continuou falando sobre o preparo dos atletas na Granja Comary, sobre as estruturas do local, sobre a preparação que aconteceria em Londres, depois sobre o terceiro período de preparação quando a equipe chegar a Sochi. Em seguida, ele falou da presença dos familiares na preparação dos jogadores, que eles terão tempo também para descansar e aproveitar esses momentos.
- Bem, falando tudo isso, eu passo a palavra para o professor. – Ele falou e eu engoli em seco, olhando para Tite.
- Boa tarde. Respaldado, seguro e com a expectativa muito grande sobre a recepção de vocês, mas vamos direto. – Me assustei com a rapidez. – Goleiros: Alisson, Roma; Cássio, Corinthians; e Ederson, Manchester City. – Comecei a mexer no Instagram rapidamente, tentando acompanhar o nome de todos, mas ele era rápido. – Defensores: Danilo, Manchester City; Geromel, Grêmio; Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marcelo, Real Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão; Fagner, Corinthians; Thiago Silva, PSG. – Sorri ao ouvir o nome do Thiago Silva na lista novamente. – Meio campistas: Casemiro, Real Madrid; Fernandinho, Manchester City; Fred, Shakhtar Donetsk; Paulinho, Barcelona; Phillipe Coutinho, Barcelona; Renato Augusto, Beijing. – Ele virou para o lado. – Tá boa a velocidade assim? – Ri fraco, vendo-o sorrir. – Willian, Chelsea. – Ele finalizou. – Atacantes: Douglas Costa, Juventus. – Me contive em comemorar a presença de um bianconeri na seleção brasileira. – Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, City; Neymar Júnior, PSG; Taison, Shakhtar. – Abri um sorriso, feliz por estar ali.
- Por favor, apresentem nome e veículo antes da pergunta. – O primeiro homem falou e eu me afastei, saindo da sala de imprensa e voltando para o quarto andar e começando a procurar todas as informações sobre esses 23 jogadores convocados, abrindo diversas abas no navegador.
Vi que tinha um e-mail não lido na minha caixa de entrada e notei que era uma arte que deixaram preparada para divulgar, com o nome de todos os 23 jogadores. Abri as redes sociais rapidamente e disparei loucamente! Depois de fazer isso, eu respirei um pouco mais aliviada, comecei pelo primeiro da lista e fui seguindo, acompanhando o briefing montado pela CBF e os Instagram deles, vendo que a maioria já tinha divulgado que fora convocado, o que eu achei engraçado, todos já tinham suas artes prontas, esperando por esse momento.
Confesso que me vi tentada em parar nas redes sociais do Alisson, que homem bonito! Como eu nunca tinha reparado antes? Acho que agora com o Buffon saindo da Juventus, poderia começar a crushar outro goleiro de time italiano, principalmente pela incerteza de aonde Buffon jogaria, mas eu nunca trairia minha Juventus e torceria pela Roma.

Enquanto eu me indignava com algumas opiniões na internet sobre as escolhas da convocação, mesmo não tendo muita opinião formada sobre, recebi uma mensagem em meu celular de Michelle, pedindo para que eu voltasse à sala da coletiva de imprensa. Franzi meu rosto, mas não indaguei nada, juntei minhas coisas novamente e voltei a descer. Só agora havia notado que a sala voltara a encher novamente. Devo ter ficado vidrada com as informações sobre a convocação.
Notei que a sala da coletiva estava vazia agora, somente com algumas emissoras que retiravam suas câmeras, mas, no geral, tudo já tinha finalizado. Encontrei Michelle, Bianca e mais uma pessoa conversando com os quatro homens que falaram na coletiva. Me aproximei deles, mas, envergonhada em interromper, aguardei.
- Michelle, ela está aqui. – Bianca deu um toque em Michelle e eu dei um rápido aceno para ela.
- Ah, , vem cá! – Ela falou e eu me aproximei acanhada, engolindo em seco. – Tite, Edu, Cléber, Rodrigo, essa é . – Eles estenderam a mão e eu apertei a de cada um deles. – Ela está começando conosco hoje, ocupando o cargo de social mídia e eu queria apresentá-la a vocês, já que ela vai acompanhar vocês em Teresópolis na semana que vem e vai ficar bem próxima de toda a ação.
- Como está, ? Prazer te conhecer. – Tite falou e eu sorri.
- O prazer é meu. – Falei sorrindo.
- se destacou bem em nosso processo seletivo por ter um currículo incrível e se comunicar bem em qualquer uma das ambientações que fizemos. Além de ser nova. – Michelle falou e eu assenti com a cabeça, então, foram esses os motivos que me trouxeram aqui? – Além de que ela jogou futebol na escola, na faculdade, ela entende do meio e fez parte. – Ponderei com a cabeça.
- Mesmo? – Eles comentaram.
- Bom, não foi nenhum jogo profissional, mas nos demos bem em alguns campeonatos e jogos universitários. – Eles riram.
- E o que achou das minhas escolhas? – Tite perguntou e eu franzi o cenho, analisando se essa pergunta realmente havia sido feita para mim.
- Eu não tenho muita opinião formada sobre, meu interesse maior são os goleiros. – Falei sorrindo.
- Jogava como goleira?
- Sim. – Falei, sorrindo. – Com isso, acabo tendo certa inclinação maior para isso.
- E como estão essas escolhas? – Ponderei com a cabeça.
- Provavelmente vou poder te dar uma opinião melhor quando vê-los em prática. – Tite se surpreendeu com a resposta e eu abri um sorriso, rindo em seguida.
- Estarei aguardando sua opinião, então. – Rimos juntos.
- Bem, vocês terão muito mais tempo para socializar, queria só apresentá-los para não chegar aquele c estranho na semana que vem.
- Por mim está ótimo. – Tite falou, olhando para os outros homens. – Vai ser bom ter uma mulher com a gente para mandar na coisa toda. – Não segurei a gargalhada, mas depois notei que era sério.
- Bem, espero poder ajudar. É para isso que eu estou aqui.
- Muito bom! – Ele sorriu, estendendo a mão novamente. - É um prazer te conhecer, vai ser bom trabalhar contigo. – Sorri.
- Com vocês também, obrigada! – Assenti com a cabeça.
- Temos algumas entrevistas, não? – Tite falou e eu me afastei.
- Claro, Bianca vai acompanhá-los. – Acenei para eles e observei Bianca sair com os quatro.
- E aí, o que achou?
- Olha, se todos meus dias forem um por cento do que foi esse primeiro, eu vou amar esse emprego! – Ela riu.
- Vamos dizer que fora das competições internacionais acaba ficando meio chato, em compensação durante elas, é uma empolgação e um calor no coração que fica todo mundo apaixonado. – Sorri.
- Eu amo Copa do Mundo, então, estou adorando tudo isso. Meu Deus, conseguir a lista de convocados antes de todo mundo. – Ela riu.
- Privilégios de trabalhar com a gente, se você estivesse começado antes, já saberia desde quinta-feira. – Sorri.
- Isso é demais! – Suspirei. – Estou empolgada para ir para Teresópolis, confesso.
- Todos ficam na sua primeira vez. Eu já estou velha, acompanhei três Copas do Mundo, Olimpíadas e afins, mas vocês jovens adoram, além de que é uma farra. Vocês trabalham, mas com os jogadores tudo acaba virando festa. – Ri com ela. – E não julgamos vocês por isso, idades parecidas, os jogadores acabam enturmando vocês, trocam telefones e Instagram e as amizades são feitas. – Assenti.
- Vou adorar! – Ela riu.
- Então, , eu vi que você fez algumas postagens da convocação, o trabalho é o que você imaginou? Você entrou em um dia bem conturbado, então não pude te dar tanta atenção, mas queria saber o que você achou, se você está confortável com os termos, a viagem para Teresópolis, ter que ficar lá...
- Calma, Michelle! – A interrompi rindo. – É o primeiro dia, então eu não vou poder te dar um relatório completo de tudo que achei, mas começar em dia de convocação e poder acompanhar? Nossa! Estou muito feliz. – Falei rindo. – Eu adoro jogar futebol, amo Copa, esse c gostoso de nervosismo que a gente fica, isso acompanhando de casa, imagina acompanhar com a Seleção? Mesmo que seja só por uma semana e depois acompanhar eles daqui, mas assim, dentro da CBF... – Ri fraco. – Eu vou ser honesta que estou adorando, além do mais, é um emprego que nunca na vida eu imaginaria conseguir com três anos de formada e 24 anos nas costas. – Ela abriu um largo sorriso. – Pessoas da minha idade não conseguem isso.
- Eu fico feliz por isso, , mesmo. A área de comunicação é uma área mais dinâmica, então, tentamos valorizar o pessoal mais jovem. – Assenti com a cabeça. - Bom, as coisas vão melhorando, amanhã vou fazer uma reunião com o pessoal que vai para Teresópolis e começaremos a nos organizar melhor. – Assenti com a cabeça.
- Estarei aguardando ansiosamente todos os passos. – Ela sorriu.
- Bom, , você já fez uma postagem, nem esperávamos por isso, mas você pode ir para casa por hoje, o dia foi corrido, vai descansar, amanhã começamos do zero.
- Mesmo? – Perguntei. – Talvez possa ajudar com outras coisas e...
- Confia, a semana vai ser bem louca, precisamos da equipe descansada. A maioria do pessoal já vai embora também. – Assenti com a cabeça.
- Beleza. – Sorri. – Obrigada! – Falei.
- Eu que agradeço. – Ela sorriu. – Gostei de ti, sinto que teremos grandes feitos vindos de você.
- Espero que sim. – Sorri, me virando novamente e seguindo de volta para o quarto andar para finalizar minhas coisas e ir para casa.

Abri a porta do apartamento e entrei no mesmo, fechando a porta, soltei as camisetas na mesma e coloquei a mochila que eu havia ganho, com todos os apetrechos eletrônicos da CBF, em cima da pequena mesa de jantar que eu e Bernardo tínhamos na sala. Caminhei até meu quarto e tirei meu sapato de salto preto, movimentando os dedos, relaxando.
- E aí? – Me assustei com Bernardo saindo do banheiro e ri fraco.
- Você não tem que trabalhar, não?
- Mudei meu turno, vou entrar as seis hoje. Adorei ver que você chegou mais cedo. – Sorri, me sentando na minha cadeira do computador do meu pequeno espacinho.
- Ah, Nardo! – Suspirei. – Foi tão bom! – Falei rindo. – Eu estou nas nuvens, sério! Foi demais.
- Eu vi a foto que você mandou, você foi a convocação, menina! – Ele se sentou em minha cama, levantando os pés.
- E eu recebi a lista dos convocados 10 minutos antes de começar.
- Mentira! – Dei de ombros. - Mas, me conta, como vai ser? – Ele falou.
- Ah, nossa! Nem sei por onde começar. – Falei rindo. – Eu vou trabalhar diretamente com eles no prédio da CBF lá na Barra da Tijuca e enquanto eles estiverem em meio a treinamentos e preparação para competições na Granja Comary, eu vou acompanhar de perto.
- Você vai trabalhar em Teresópolis? – Ele falou surpreso.
- Eu não só vou trabalhar lá, eu vou ficar lá! Com os jogadores! – Falei animada e ele deu um grito.
- Isso é sensacional! – Ele falou rindo e eu sorri. – E você vai agora?
- Eu vou semana que vem, tu vais ficar uma semaninha sem mim.
- Ah, nem ligo, poderosa! – Ri com suas palavras. – Nossa, , que demais! – Suspirei.
- Eu estou muito feliz. – Relaxei os ombros. - Aí ela falou que eu posso usar tudo da Granja nos horários livres, academia, piscinas, terei três refeições e dois lanches, um quarto só meu, vou acompanhar de perto os jogadores, ajudar um pouco na assessoria se for necessário, eu estou amando, Nardo.
- Eu estou amando. – Ele falou rindo. – Isso é incrível! – Ele falou e eu ri. - E depois?
- Bom, dia 27 eles vão para Londres, aí eu volto a trabalhar aqui na cidade. – Suspirei.
- E não falaram nada de Rússia? – Ele perguntou.
- Ah, só mencionaram que a equipe está pronta, mas perguntaram se eu tenho passaporte e se minhas vacinas estão em dia.
- Imagina só se...
- Não, Nardo, eu não vou para a Rússia. – Falei rindo e ele fechou a cara. – Eles têm 12 assessores, posso te garantir que se alguém não puder ir, eu sou a última na lista. – Ele franziu os lábios.
- Tá, não importa, você vai ficar uma semana com os jogadores no maior centro de treinamento do Brasil. – Ele ergueu as mãos, maravilhado. – É um sonho! – Balancei a cabeça.
- Tonto! – Ele riu.
- O que mais? – Ele perguntou. – Vai! Me conta!
- Ah, eu conheci o Tite e um pessoal da equipe técnica.
- Sério? Tipo, pessoalmente?
- Você conhece outro jeito de conhecer alguém? – Fui irônica e ele me mostrou a língua. – É, conheci! – Suspirei. – Minha chefe quis nos apresentar por causa da ida para a Granja. Eu não perguntei, mas tive a leve impressão que não vai muita gente para Teresópolis, vai um grupo mais jovem.
- Mais proximidade com os jogadores! – Revirei os olhos.
- Você sabe que eu vou lá para trabalhar e não paquerar, certo?
- Ninguém falou nada em paquerar, mas uma amizade longa e duradoura a qual você vai apresentar seu amigo quando tiver a primeira oportunidade.
- Claro. Uhum, senta lá, Cláudia! – Ele riu e suspirou.
- Ah, mas eu estou muito feliz por você, . Sério! Agora só falta eu arranjar um emprego fantástico e sair de lá.
- Ei! Eu não vou reclamar de continuar ganhando uns cupões de desconto do Outback e, vamos ser honestos, você ganha bem demais para um garçom. – Ele ergueu o dedo e ficou sem fala.
- Você tem razão, mas ainda não é o emprego dos sonhos ou com um salário como o seu. – Ri fraco.
- Eu só vou acreditar quando esse dinheiro cair na conta e vou começar a me programar para dar entrada em um apartamento ou trocar minha lata velha. – Ele riu.
- Talvez seja uma boa você comprar um presente fantástico para seu amigo!
- Pode ter certeza que sim, e de quebra, vou te levar para um rodízio lá na Churrascaria Palace.
- Ah, amei! – Ele falou rindo.
- Bem, você foi quem mais me instigou a participar disso, não me custa nada. – Ele sorriu, puxando minha cadeira de rodinhas e me abraçando de lado.
- Você é fantástica e vai se sair muito bem. Fé no pai! – Ri fraco, suspirando.
- Vamos ver!

A semana que se seguiu acabou passando muito rápido. Como eu havia imaginado, acabei trabalhando com o seleto grupo que iria para a Granja, Lucas da fotografia, Theo da assessoria e Vinícius, que eu ainda não havia descoberto o que fazia e parecia que todos estavam escondendo sua ocupação de mim.
Eu passei a semana fazendo ligações para a confirmação da presença da imprensa nos treinos abertos da Seleção em Teresópolis e mexendo no arquivo de fotografias dos 23 jogadores para elaborar imagens de divulgações, mas eu estava meio travada, não conseguia ter grandes ideias para publicações sensacionais. Os alcances estavam bem baixos e não é como se uma página como a da CBF precisasse de impulsionamento com 12 milhões de curtidas.
Também passei muito tempo em reuniões sobre a Copa do Mundo, todos os detalhes de chegava, saída, treinamentos, coletivas de imprensa, encontros com familiares, eram programados por segundo, tornando a agenda do dia totalmente doida. Na teoria, em Teresópolis era para ser assim também, mas parecia que Theo, o assessor que nos acompanharia, estava mais preocupado com a Rússia, então eu, Lucas e Vinícius, acabamos deixando as coisas para lá, a gente que mandaria naquilo, os jogadores que obedecessem os horários deles e a equipe técnica. Nossa responsabilidade era outra.
Coloquei ponto final no relatório da minha primeira semana e demorei mais 15 minutos para revisar ao texto. Mandei imprimir e me levantei da cadeira para pegar as três cópias que saíram dali. Voltei para minha mesa, grampeando as cópias individualmente e assinei cada uma.
Voltei para o computador rapidamente, programando uma publicação para segunda-feira nove da manhã, o momento em que os jogadores chegariam a Teresópolis, lá eu pegaria algumas fotos e vídeos e começaria o trabalho pesado.
Levantei novamente e segui para a sala de Michelle, batendo duas vezes na porta, antes de abrir a mesma. Ela estava ao telefone, então, entrei devagar em sua sala, me sentando em uma das cadeiras à sua frente.
- Ok, obrigada! – Michelle falou, desligando o telefone. – E aí, menina? – Ela falou e eu estendi o relatório semanal para ela.
- Meu primeiro relatório.
- E aí, conseguiu fazer?
- O pessoal me passou um modelo, acabei seguindo. – Ela olhou rapidamente as páginas, assinando as cópias e me devolvendo uma.
- Uma fica contigo, outra comigo e outra vai para os superiores. – Assenti com a cabeça.
- Perfeito! Acho que é isso. – Falei. – Eu já programei uma postagem para segunda-feira quando o pessoal chegar a Teresópolis e lá eu e o Lucas combinamos de ficar meio próximos para conseguir repassar as coisas com mais facilidade.
- Está ótimo! – Ela falou. – Lá na Granja você vai ver que as coisas serão mais fáceis, mais descontraídas. Vocês terão várias inspirações, então, vai ser bem mais divertido. – Ri fraco.
- Se eu já estou achando essa correria divertida, mal posso esperar quando chegar lá. – Ela sorriu.
- Falando nisso, eu preciso saber como você vai segunda-feira.
- Eu vou com meu carro, mesmo. – Falei. – Os jogadores vão quatro da tarde para o aeroporto para pegar o voo para Londres as seis, eu vou aproveitar e voltar para o Rio, se não vou ter que ir para o aeroporto e só depois ir para casa.
- Sem problemas! – Ela sorriu. – Peça então para Giovanna, um dos nossos cartões corporativos para você abastecer. – Arregalei os olhos surpresa. – Combinado?
- Perfeito! – Falei rindo. – Te vejo em Teresópolis, então?
- Eu não vou! – Ela falou rindo. – Meu lugar é aqui, eu te vejo dia 28 agora e em algumas ligações esporádicas pelo Skype. – Assenti com a cabeça.
- Beleza! Você me manda mensagem que combinamos as ligações.
- Pode deixar! – Ela sorriu. – Bom, , acho que você já tem toda as informações, o uniforme, horário de chegada, horário de trabalho, compromissos dos jogadores, já pegou os eletrônicos para trabalho... – Ela colocou a mão no queixo. – Acho que é isso, lá você vai receber os horários da Granja para poder usar os ambientes comuns, descanso, refeições, serviço de lavanderia... – Franzi a testa. – Enfim, tudo certinho. – Confirmei com a cabeça.
- Acho que é isso. – Dei de ombros.
- Ah, lembrei! – Ela falou. – Segunda-feira à noite vai ter um jantar de recepção, algumas pessoas seletivas da imprensa, então, aconselho colocar uma roupa mais fina no armário, nada de gala, só melhor... E, se não tiver, use o cartão corporativo para comprar...
- Pode deixar! – Falei rindo. – Eu tenho. – Ela sorriu.
- Então, é isso! – Ela se levantou de sua mesa, me dando um rápido abraço. – Boa viagem, bom trabalho, nos falamos. E te vejo daqui duas segundas-feiras.
- Pode deixar! – Sorri. – Boa noite. – Falei, acenando para ela.
- Boa noite. – Ela respondeu e eu saí de sua sala com minha cópia do relatório.
Voltei para a sala, colocando o relatório sozinho no meu arquivo e desliguei tudo. Peguei o cartão corporativo com Giovanna, pendurei a mochila com os eletrônicos nas costas e minha bolsa no ombro e saí da sala, seguindo com alguns funcionários pelo elevador.
Minha preguiça não permitiu que eu pegasse um ônibus lotado naquele dia, acabei chamando um Uber, mesmo que isso causasse uma grande conta no meu cartão no final do mês, mas ok, valeria à pena quando meu salário caísse, mesmo que parcial, no começo do mês que vem.
Entrei em casa e fui direto para o banho, tomando aquele banho completo que fazia até com que o cheiro do sabonete subisse no ar. Coloquei uma camisola e amarrei a toalha na minha cabeça para que secasse um pouco o cabelo e puxei minha mala para a parte alta do armário, eu precisava arrumar minha mala para levar para Teresópolis, mas eu estava bem perdida do que levar.
Olhei para as cinco blusas azuis polo da Seleção e sabia que calça jeans skinny era o que mais combinava com elas. Peguei várias calças jeans, outras roupas mais confortáveis para usar no meu tempo de folga, um vestido mais bonito para o tal jantar, algumas roupas de ginástica (não que eu pretendesse malhar, mas vai que...), um moletom e um casaco melhor, o básico de higiene pessoal e maquiagens.
Segui para meu armário de sapatos e coloquei três opções de salto alto, um tênis mais despojado, um tênis de ginástica e duas sapatilhas. Fiquei em dúvidas sobre roupa de cama e banho e acabei mandando mensagem para Lucas para tirar essa dúvida, ele logo disse que era igual um hotel, não precisaria me preocupar com isso, fiquei feliz, pois minha mala já estava lotada.
Depois dos sapatos, eu fui conferir se tudo na bolsa de eletrônicos estavam ok, notebook, iPad, os dois celulares, fontes, câmera fotográfica, baterias e cartões de memória reserva. Guardei tudo de volta, fechando a mochila com um cadeado e deixei ao lado da mala. Ouvi um barulho na porta e me distraí.
- Cheguei! – Ele gritou.
- No quarto! – Respondi, analisando a mala aberta em cima da cama e abri uma das blusas da Seleção, esticando-a na minha cadeira, separando junto de uma calça jeans e meu sapato preto.
- Ei! – Ele falou, dando um rápido beijo em minha testa. – Arrumando as coisas? Nossa! Quanta coisa! – Ri fraco.
- Eu não sei o que esperar, então, estou cobrindo pelo básico, ou seja, tudo. – Ele riu fraco.
- Você vai assim segunda-feira? – Ele perguntou, apontando para a roupa em cima da cadeira e eu afirmei com a cabeça.
- Sim, o que acha?
- Acho que vai ficar um arraso, mas pode melhorar! – Ele falou, tirando um embrulho de trás das costas e eu franzi a testa.
- O que é? – Perguntei, apoiando em cima da mala quando ele se sentou na lateral da cama.
- Um presentinho para você usar em Teresópolis. – Ele falou e eu ri.
Rasguei o pacote, dando de cara com uma caixa de sapatos. Olhei rapidamente para Bernardo e ele tinha um largo sorriso no rosto. Abri a mesma, ficando maravilhada pelo scarpin amarelo ovo que tinha lá dentro. Peguei o mesmo, de boca aberta e soltei um suspiro, olhando para Nardo.
- Um scarpin amarelo? – Ele deu de ombros.
- Achei que combinaria com essa blusa maravilhosa e nessa mulher maravilhosa.
- Meu Deus, Bê! Ele é lindo demais. – Falei rindo e o abracei de lado. – Mas porque amarelo?
- Amarelo é uma cor que significa luz, calor e desperta criatividade. Achei que pudesse te dar sorte. – Sorri, suspirando. – Além de que é a cor da Seleção e eu achei a sua cara, você vai arrasar. – Soltei uma risada divertida.
- Ele é lindo demais, mas deve ter custado um pouquinho demais. – Ele abanou com a mão.
- Não se preocupe! – Ele falou. – Depois você paga meu cartão de crédito. – Gargalhei, abraçando-o de lado. – Eu cuido da casa até você voltar, ok?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada, amigo. – Suspirei. – Eu te devo muito.
- Bem... – Ele ponderou. – Me mande fotos dos jogadores malhando sem camisa que estaremos quites. – Gargalhei, balançando a cabeça.
- Vou tentar. – Falei rindo.
- Vai, agora vai lá experimentar essa roupa, eu acho que vai ficar um sucesso! – Ele falou, me empurrando e eu ri, pegando os sapatos, a roupa e seguindo para o banheiro.


Capítulo 2 – Localização: Granja Comary, Teresópolis

A viagem para Teresópolis era mais longa do que eu esperava, quando eu coloquei no GPS, havia descoberto que durava quase duas horas de onde eu morava. Eu acabei colocando tudo correndo no carro, me despedi de Bernardo com algumas lágrimas e brincadeiras dramáticas e peguei a estrada pouco depois das sete da manhã na segunda-feira.
No geral, a viagem foi bem entediante. Enchi meu pendrive com as mais variadas músicas e cantava todas a plenos pulmões para que eu pudesse me distrair um pouco. Mas eu tive uma outra distração logo que cheguei em Teresópolis, o escudo da CBF visto ao topo do morro da Granja Comary, me fazendo entender a minha louca paixão por futebol.
Me aproximei do portão, olhando para o horário e vendo que era 10 para as nove, estava com o horário bem apertado. Puxei o freio de mão, abaixei o vidro e aguardei um dos seguranças se aproximar do meu carro.
- Olá, senhorita, no que posso te ajudar?
- Eu sou , trabalho para a comunicação da CBF. – Entreguei meu crachá para ele que assentiu com a cabeça.
- , certo? – Ele falou e eu confirmei com a cabeça. – Estávamos à sua espera. – Ele falou e eu sorri. – Você pode entrar, a sua equipe estará na dentro. Pendure esse crachá no seu carro, por favor. – Ele me devolveu um crachá para colocar no espelho e o meu.
- É... – O chamei novamente. – Para que lado eu vou?
- Só seguir o caminho, terá um estacionamento no fim dele. Depois você pode seguir para o prédio um.
- Obrigada! – Falei sorrindo e liguei o carro novamente, vendo os portões se abrirem e eu segui em direção ao escudo que ficava bem na entrada.
Segui pelas curvas que o caminho fazia, subindo até os prédios no topo, acreditando no segurança quando ele disse que eu acabaria caindo em um estacionamento. O local era muito bem arborizado, além de parecer um paraíso. Aquilo era um sonho! Cheguei ao estacionamento que o segurança da entrada havia dito e parei em uma vaga, conferindo se eu não estava parando em nenhum lugar privativo para algum peixe grande.
Saí do carro, sentindo o vento bagunçar meus cabelos e soltei um suspiro ao olhar para baixo e notar três campos de futebol, lado a lado, para treinamento. Dei uma volta rápida ao redor do meu próprio corpo, encontrando o “Prédio Um”. Era um prédio espelhado bem na frente do estacionamento, escondido um pouco na lateral.
Abri o porta-malas do carro e me sentei na quina do mesmo, tirando os tênis que eu havia usado para dirigir até aqui e peguei a caixa de sapatos que Bernardo havia me dado, tirando meu novo sonho de consumo da mesma, os sapatos amarelos. Calcei os mesmos, vendo que meu look havia melhorado completamente e abri rapidamente minha mala para espremer os tênis lá dentro.
Coloquei o crachá em meu pescoço e comecei a me arrumar. Pendurei a mochila com os eletrônicos nas costas, tirei minha mala de rodinhas do porta-malas e pendurei a bolsa em meu braço. Acho que era tudo. Fechei o carro, ativando o alarme e guardei a chave na bolsa.
Puxei a mala pelo caminho vazio e observei o prédio espelhado do outro lado da rua. A porta abria e fechava conforme as pessoas entravam e saíam da mesma e eu respirei fundo três vezes antes de atravessar a mesma. Passava das nove e eu já estava atrasada. Assim que a porta automática se abriu para mim, eu passei pela mesma, prendendo o ar rapidamente.
Eu não estava sozinha.
O local estava lotado. Lotado de jogadores da Seleção Brasileira se cumprimentando. Reconheci todas as figurinhas carimbadas da convocação, dos briefings, das fotos e dos treinamentos para esse dia em especial. Mordi meu lábio inferior quando notei que todos os olhares se viraram para mim, afinal, olhando rápido, eu era a única mulher ali.
Quis dar uma olhada mais longa em todas os homens, principalmente as carinhas que eu já conhecia, mas eu achei que seria melhor não encarar. Senti um alívio passar pelo meu corpo quando Vinícius apareceu, passando por entre algumas pessoas e eu até soltei a respiração aliviada.
- Aí está você! – Ele falou, me segurando pela mão.
- Eu estou em desespero! – Cochichei para ele que riu.
- A primeira vez é assim mesmo. – Ele falou rindo. – Vem comigo! – Ele falou, me puxando por entre as pessoas e eu passei colada de Neymar, Gabriel Jesus e companhia, tentando parecer calma, mas eu estava realmente surtando internamente.
- Oi, , como está? – Acenei para Theo que falava com Lucas que estava distraído tirando fotos.
- Tudo bem. – Olhei em volta rapidamente. – Eu acho. – Ele riu.
- Isso é completamente normal. – Ele abanou a mão. – Estamos reunidos aqui para a distribuição de quartos, daqui a pouco o pessoal já vai seguindo para seus lugares. – Assenti com a cabeça.
- Perfeito! – Falei rindo.
- Pedi um quarto só para você, tá? – Ele falou e eu confirmei. – Você é a única mulher aqui, achamos que não se sentiria confortável dividindo com alguém.
- Ah, obrigada! – Sorri. – Mas eu sou realmente a única mulher aqui? – Engoli em seco.
- Tirando as pessoas que trabalham aqui no CT, sim... – Arregalei os lábios.
- Ok. – Falei rindo.
- Se sentindo privilegiada?
- Me senti privilegiada quando consegui esse emprego, agora eu estou nas nuvens. – Os três riram.
- Olá, tudo bem? – Um homem apareceu ao nosso lado. - É a equipe de comunicação, não é?
- Sim! – Theo tomou as rédeas da situação.
- Vou levá-los ao quarto de vocês, vamos?
- Claro! – Lucas falou animado, pegando sua mala do chão.
- Me sigam, por favor! - O homem falou e o seguimos, enquanto passava pelos jogadores, aproveitei para dar uma rápida olhada para eles, abrindo um sorriso discreto.

A primeira coisa que eu havia percebido era o quão enorme era aquele lugar! Sério! A gente andava, andava e parecia não chegar aos lugares. Mas, com isso, eu consegui conhecer um pouco das acomodações, restaurante, sala de jogos, caminho para as piscinas, academia, centro de treinamento, lavanderia e muito mais! Se eu não estivesse lá a trabalho, poderia dizer que estava em um resort, até cabeleireiro e manicure tinha ali, mas tenho certeza que não era para mim!
Um longo corredor denunciou os quartos da Granja e, quando eu digo quartos, quero dizer quartos de todas as pessoas hospedadas naquele lugar. No começo do corredor, tinha os quartos da comissão técnica, cada um sozinho e o nome indicado na porta. Em seguida, 10 quartos para os jogadores. Cada quarto tinha dois nomes na porta, totalizando 20 pessoas, foi aí que eu me lembrei de que Marcelo, Casemiro e Firmino só se juntariam à turma em Londres, depois de competir pela final da Champions League.
Observei a porta do quarto de Alisson e Cássio e olhei para a do lado, vendo meu nome solitário na mesma, com a minha ocupação embaixo. Achei engraçado como eu acabava atraindo os goleiros mesmo sem querer. À minha frente tinha o quarto de Lucas e Vinícius, e ao lado o de Theo e acabava o corredor.
- Bom, gente, se acomodem, desfaçam as malas, temos uma reunião com a equipe as 10 horas. Tem um briefing em cima da cama de vocês com as informações do dia. – Theo falou. – Todo dia terá um briefing para vocês na porta, olhem, analisem, vejam os horários dos jogadores e liguem os seus nos dele para que vocês possam cumprir suas ocupações, beleza?
- Beleza! – Falamos quase juntos.
- Nos encontramos daqui a pouco, então. – Ele falou e eu fiquei em dúvidas por dois segundos sobre como abriria a porta, mas o cartão chave estava conectado na mesma. O puxei de volta e a porta se abriu em um clique.
Assim que eu a abri, tive certeza que estava em um hotel cinco estrelas. O quarto era sensacional! No meio da mesma, uma cama de casal com almofadas e travesseiros fofos tomavam a mesma e uma manta no pé da cama. Em cada lado da cama, uma pequena mesa de apoio, uma com um telefone e outra com algumas folhas, o briefing do dia e informações sobre os horários de funcionamentos dos locais.
Atrás da cama, uma janela com uma vista incrível da Granja, melhor que de muito quarto de hotel que eu fiquei na vida, incluindo quando visitei Londres. Uma televisão estava colocada na parede em frente à cama e uma pequena escrivaninha com o espaço perfeito para eu deixar meus eletrônicos quando precisasse trabalhar em um lugar mais calmo. E, acima disso, um espaço aberto para eu acomodar minhas roupas com alguns cabides.
Do lado, uma porta que dava para um banheiro incrível também! Banheira, chuveiro, toalhas almofadadas e aquele cheiro delicioso de limpeza. Tudo isso em branco com detalhes nas cores do Brasil. Eu estava realmente nas nuvens!
Voltei para o quarto e peguei as regras da Granja para ler, lá tinha o horário de todas as refeições diárias. Café da manhã das sete as nove, almoço das 11 a uma da tarde, jantar das sete às nove. Das três as cinco tinha um pequeno lanche da tarde e depois das 11 a uma da madrugada tinha outro. Academia e piscinas ficavam abertas das seis da manhã até às 10 da noite, uso livre sempre, com exceção nos horários de treinamento. Lavanderia funcionava toda manhã. Camareira limpava o quarto e trocava as toalhas todos os dias depois das nove da manhã e trocava roupas de cama a cada dois dias.
Além disso, tinha algumas informações sobre lugares restritos, acesso somente com crachá, proibição de caminhar nas áreas externas após as 11 da noite, e sobre o contato com a imprensa, mas eu era a imprensa, sabia muito bem que não deveria falar com eles sem a minha permissão. E, no fim de tudo, um mapa, que me deixou muito feliz.
Passei a folha e achei o briefing que Theo falou, era a programação diária e nesse dia estava bem vazia. Tínhamos uma reunião programada para as 10 da manhã com toda equipe técnica, jogadores e assessores e tinha uma longa duração. À tarde teriam as avaliações físicas de cada jogador e, no fim do dia, o jantar de recepção. Olhei o relógio rapidamente e vi que ainda tinha alguns minutos antes de ter que procurar a sala de reunião externa.
Coloquei a mochila em cima da cama e tirei o iPad e o celular da mesma, imaginando que Lucas me acompanharia hoje e durante a avaliação, e depois me passaria as fotos. Peguei minha mala e ergui na cama também, abri a mesma e comecei a tirar os itens que eu usaria mais, higiene pessoal, maquiagem, pijama e trocas de roupas mais leves para usar quando eu estivesse fora do meu horário de trabalho.

Terminei de organizar todas as minhas coisas e me sentei na cama um pouco, tentando fazer com que a ficha caísse. Aquilo era fantástico, oportunidade única da vida e eu estava aqui! Ouvi uma batida na porta e abri a mesma, encontrando Lucas e Vinícius parados na mesma.
- Ei! – Falei e eles sorriam.
- O que tá achando? – Lucas perguntou e eu suspirei.
- É um paraíso. – Falei rindo.
- Dá até tristeza quando voltamos para casa. – Vinícius comentou e eu ri.
- Ah, nem quero pensar quando chegar à hora, vocês ainda vão à Rússia, eu vou ficar abandonada lá no Rio. – Eles riram.
- A gente te manda notícias. – Lucas brincou e eu ri. – Vamos?
- Vamos sim. – Peguei o iPad e o celular, colocando o meu e da CBF no bolso e puxei a porta.
Não era a primeira vez de Vinícius e Lucas ali, então eles sabiam para onde ir. Fomos em silêncio, o único barulho que ecoava eram meus saltos batendo contra o piso de granito branco.
Não era tão longe quanto a entrada do prédio principal, mas precisamos subir alguns andares e seguir por outros caminhos que eu ainda não conhecia. Lá era praticamente uma linha reta, acabava não tendo muito como errar. Percebi que chegamos quando vi algumas caras conhecidas entrando no mesmo lugar que nós.
Puxei e soltei o ar três vezes antes de entrar atrás de Lucas e Vinícius. Me vi em uma sala de coletiva de imprensa. Um pequeno palco no alto com algumas cadeiras e embaixo cerca de 20 fileiras com um corredor no meio. Engoli em seco quando notei os jogadores lá na frente e segui Lucas e Vinícius, nos sentando em uma das fileiras ao fundo.
As pessoas continuaram entrando e se acomodando nas cadeiras e eu aguardei. Aquilo parecia uma sala de escola, as conversas e risadas eram altas, fazendo com que eu percebesse que aquilo não passava de uma excursão escolar e eu era a aluna nova. Tite e a turma que eu conheci na coletiva, além de Theo, subiram no palco e o barulho cessou um pouco.
- Bom dia, bom dia! – Tite falou, oficializando o silêncio. – Bem-vindos a Teresópolis, hoje começamos nossos treinamentos para a Copa do Mundo. – Os jogadores começaram a aplaudir e eu e os meninos acompanhamos. – Aqui serão feitos todos os tipos de treinos e avaliações para que vocês nos ajudem a trazer o nosso hexacampeonato! – Os gritos continuaram, igualzinho na escola. – Bem, antes de eu passar para as informações técnicas, vamos esclarecer algumas coisas. – Ele coçou a cabeça. – Todos receberam as informações da Granja, horários de funcionamento, horários de trabalhos e tempo livre. Além disso, vocês receberão todo dia uma programação diária que deve ser cumprida, caso você não esteja na programação diária, você está livre para fazer o que quiser, menos sair daqui. – Ele falou, me fazendo rir fraco. – Sabe que sempre permitimos familiares, mas aqui é o trabalho de vocês, então, vamos manter a calma, beleza?
- Beleza! – Eles concordaram quase em uníssono.
- Como vocês aqui, vai começar a divulgação da Seleção em si, fotos, vídeos, entrevistas, então o pessoal da comunicação, fotografia, todos ficarão bem perto de vocês, acompanhando tudo, então, dê atenção a eles, eles estão trabalhando aqui igual vocês. Alguns são figurinhas que vocês já estão acostumados, mas outros são... – Theo cochichou algo para Tite que interrompeu sua fala. – Ah sim! – Ele disse. – Bem, como eu ia dizendo, alguns já estão com a gente faz tempo, mas temos uma pessoa nova no nosso time que é alguém bem diferente do que vocês estão acostumados. – Senti meu rosto esquentar. – , pode vir aqui, rapidinho? – Arregalei os olhos e olhei para Lucas ao meu lado e ele fez sinal para que eu levantasse.
Me levantei e engoli em seco, mas podia ser aquela vontade de vomitar chegando à boca. Agarrei firme o iPad em minha mão e caminhei pelo pequeno corredor até o palco, somente ouvindo os barulhos do salto batendo contra o piso. Eu sentia que estava sendo observada, principalmente pelos jogadores que se sentaram no corredor, e isso fazia com que meu corpo esquentasse. Subi o pequeno degrau que separava os dois níveis e me coloquei ao lado de Tite.
- Essa é a ! – Ele falou e eu dei um pequeno sorriso. – Ela entrou para substituir o Marcos, vocês se lembram dele, certo? – Alguns assentiram, mas a maioria ficou quieta. – Ela é a nova social mídia da CBF, ou seja, o trabalho dela é ficar bem perto de vocês, pegando todos os acontecimentos, todas as referências e divulgando o andamento de vocês para a Copa, além de ajudar vocês em eventuais crises. – Abri um sorriso e alguns riram. – Ah, e a melhor parte, ela gosta de futebol, então, valorizem-na, ok?! E respeito sempre.
- Pode deixar! – Alguns falaram e eu abaixei o olhar, encontrando com o de Alisson que estava na primeira fileira e me senti uma tonta, desviando o olhar de uma pessoa bonita como se eu tivesse 15 anos novamente.
- Quer falar alguma coisa? – Tite perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Vamos só esclarecer que esse “ficar bem perto de vocês” que o Tite falou, é de um jeito respeitoso, tá? Dos dois lados! – Falei brincando e eles gargalharam. – Falando sério, meu trabalho é um tanto criativo demais, então, se vocês tiverem ideias, sugestões, quiserem mostrar algo de diferente, estarei por aqui acompanhando vocês. – Sorri para eles e para Tite que retribuiu.
- É isso aí! - Tite falou. – Obrigado, , bem-vinda à CBF de novo. – Ele falou e o pessoal começou a gritar enquanto eu voltava para o meu lugar e eu não consegui segurar a risada, meu rosto deveria estar muito vermelho de vergonha. – Vamos agora falar sobre treino... – Tite começou e Lucas ria da minha cara quando eu sentei ao meu lado.
- Você fez piada com a Seleção? – Ele cochichou rindo e eu dei de ombros.
- Acho que é o que eu faço de melhor. – Brinquei e ele riu.
- Muito bom!

A reunião acabou durando umas boas três horas, fazendo com que minha barriga começasse a roncar no final. Foi meio desnecessário que a equipe de comunicação ficasse na reunião, eles somente falaram sobre os treinos que seriam feitos em Teresópolis, toda a agenda programada para aquela semana e depois começaram as análises sobre a Croácia e a Áustria que seriam os dois países que enfrentaríamos nos amistosos que antecediam a Copa.
Eu tinha meus conhecimentos da época de jogos universitários e o básico da época da escola, mas fazia muito tempo que eu não tocava em uma bola para valer, com aquela garra e força de vontade, então, as palavras da equipe técnica não passavam de zunidos para mim. Além da distância da tela que parecia que tudo estava um pouco desfocado.
Apesar de sentarmos longe, a compensação veio no final da apresentação, fomos os primeiros a seguir para o refeitório e em ter o prazer de começar a fila do self-service. De cara eu havia notado que o cardápio era claramente feito pensando nos jogadores. Tinha toda a sessão light com saladas, grãos e comidas integrais, mas depois seguia para pratos que todo brasileiro estava acostumado. O desse primeiro dia era feijoada. Tentei não ser a esfomeada no almoço de domingo em família e me conter na quantidade que eu tirava, mas aquilo está simplesmente sensacional, precisei repetir mais uma vez, mas os jogadores estavam se matando de comer com pratos dignos de pedreiro, então, ninguém estava me notando.
Depois do futebol, eu, ou melhor, os jogadores tiveram uma hora de descanso antes das avaliações físicas, então, eu aproveitei para também tirar uma hora de descanso. Ao invés de ficar trancafiada em meu quarto, eu acabei seguindo para a parte de fora, para aproveitar um pouco melhor da vista e ligar para minha mãe e para Bernardo para dar sinal de vida.
Fiquei o resto do meu almoço falando com ambos, minha mãe estava toda preocupada sobre minha ida sozinha para Teresópolis, pegar estrada e afins, além da curiosidade em querer saber se eu tinha conhecido alguém importante. Importante para ela eram os jogadores. O papo com Bernardo acabou seguindo o mesmo nível, mas não pude evitar de falar que alguns jogadores, não dando especificidade para ninguém, eram muito gatos pessoalmente.
Nessas duas conversas, o meu tempo de descanso até passou um pouco do planejado. Eu estava sozinha agora e teria que achar a academia. Não foi tão difícil, depois de me perder três vezes e ter que perguntar para um dos auxiliares de limpeza que estavam trabalhando por ali.
Quando cheguei à porta da academia, percebi que fazia parte do novo Centro de Excelência que eu estava lendo na semana passada. Uma academia superequipada, preparada para avaliar e treinar os jogadores. Um pequeno gasto de 17 milhões de reais. Nada demais! Entrei na mesma com medo do que encontraria, olhei rapidamente meu celular e notei que Lucas já havia me informado que estava lá.
Soltei um suspiro de alívio quando notei que todos os jogadores estavam devidamente vestidos enquanto puxavam ferros e torneavam mais aqueles músculos. Era quase uma visão pornográfica: 20 jogadores com as coxas mais saradas do mundo puxando ferro na minha frente de shortinho. Notei que estava com os sapatos errados ao entrar por ali, pois na parte acolchoada, meus pés afundavam e na parte de concreto, o barulho ecoava como o som de estalinhos.
- Ei, aí está você! – Senti Lucas me cutucar e virei para ele.
- Desculpa, me perdi. – Falei rindo e ele balançou com a cabeça.
- É uma boa você andar com aquele mapa que deixaram no quarto.
- Eu estava com você, achei que não teria problemas. – Ele riu.
- Vem! – Ele me chamou. – Estou fotografando e Vinícius está filmando as avaliações físicas dos jogadores.
- Ah, então é isso que Vinícius faz? – Perguntei. – Para que tanto mistério?
- Bem, quando ele não está na sua ocupação principal, ele filma as coisas para gente.
- E qual é a ocupação principal dele? – Lucas me ignorou e eu franzi os lábios.
O segui para um local mais reservado, passando pelos jogadores que treinavam e alguns acenaram para mim, me fazendo sorrir. Espero que a recepção de mais cedo tenha servido para me enturmar um pouco. Passei pela divisão e levei à mão a boca imediatamente, quase desmaiando de tanto que eu prendi a respiração.
Alisson estava sem camiseta, com eletrodos colados em seu peito cabeludo enquanto corria na esteira com Rodrigo e Fábio analisando seus movimentos e batimentos cardíacos. Ele estava bem de frente para mim, então tentei suavizar minha reação, mas não tinha como. Além de ele ser bonito, seu corpo era perfeito, e a calça estava baixa o suficiente para que eu visse os ossos de sua bacia bem demarcados.
Acho que esse trabalho seria mais difícil do que eu pensava.
- Então... – Falei baixo para Lucas que tirava algumas fotos. – Qual está sendo a ordem de chamada? Número da camisa ou ordem alfabética? – Perguntei, tentando arranjar outra coisa para me distrair, o cronômetro estava em regressiva e faltavam oito minutos para aquela tortura acabar, isso se não tivessem outros testes.
- Posição, na verdade. – Lucas me respondeu. – Goleiros, laterais, zagueiros, meias e atacantes. – Coloquei a mão no queixo, fazendo um bico e assenti com a cabeça.
- Beleza! Acho que podemos juntar tudo isso e mandar para o pessoal fazer postagens na CBF TV, vou falar com o pessoal da propaganda e pedir uma vinheta especial para a preparação da Copa, notei que o YouTube é atualizado bem esporadicamente, é a época perfeita para renovar isso. Muita gente não sabe do site da CBF TV.
- A ideia é boa! – Lucas comentou, com os olhos em sua câmera.
- Além de um meme que surgiu na minha cabeça agora.
- Qual? – Ele perguntou e eu virei de costas para a cena para respondê-lo.
- “Como matar a social mídia de ataque cardíaco no primeiro dia”. – Dei um sorriso irônico e ele ergueu os olhos para Alisson novamente e logo ficou vermelho e começou a rir.
- Ainda bem que você não é um cara ou sua excitação já estaria à mostra.
- Ainda bem que meu sutiã tem bojo. – Falei, colocando a mão levemente em cima dos seios e ele começou a gargalhar alto, se virando de costas e passando o braço pelos meus ombros.
- Você se acostuma! Eu não babava pelos corpos sarados deles, apesar de invejar um pouco, mas eu sempre gostei muito de futebol, então eu parecia um fã louco, você está se comportando nessa parte.
- Já na outra... – Deixei a dúvida no ar ele riu, negando com a cabeça e nos viramos para apreciar a cena.
- Está tudo certo? – Alisson nos perguntou enquanto corria, provavelmente ao notar a gargalhada que demos e eu e Lucas nos entreolhamos segurando a risada novamente.
- Tá tudo ótimo! – Falei, franzindo os lábios. – Só me pergunto se é uma boa ideia fazer essa avaliação depois de bater uma pratada de feijoada! – Dei um sorriso e Lucas voltou a gargalhar ao meu lado e Alisson abriu um sorriso, reduzindo sua velocidade de corrida.
- Te conto depois que isso acabar! – Sorri, balançando a cabeça, fazendo positivo com os dedos.
O resto do dia passou daquele jeito. Avaliações nos outros 19 jogadores. Cada posição tinha um tipo de avaliação diferente, mas todos tinham que especificamente fazer o teste na esteira, permitindo uma visão interessante por 10 minutos, tirar sangue e urinar em um copinho para o exame toxicológico.
Depois de finalizar com Taison, o último da lista, eu e os meninos ainda demos uma sondada rápida na academia. A maioria estava nos aparelhos de pernas e braços, me fazendo entender um pouco como as pernas deles ficavam daquele jeito.
- Você acha que foi uma boa ideia vir de salto para uma academia? – Thiago Silva me perguntou quando passei por ele.
- Posso te garantir que seria muito pior se eu fosse malhar, mas como estou a passeio, acho que está tudo bem. – Dei de ombros e ele riu. – Mas é, acho que meu All Star funcionaria melhor aqui. – Ele sorriu e eu voltei a andar pelo local.
- Bom, acho que já temos imagens o suficiente. – Vinícius voltou, fechando seu tripé.
- Ok, eu preciso dos cartões de memória, vou fazer algumas postagens e entrar em contato com a Michelle para saber para quem eu mando para fazerem a edição do vídeo. – Eles retiraram os cartões das máquinas e me entregaram.
- É o pessoal da propaganda, só não sei quem vai assessorar a gente do Rio. – Assenti com a cabeça.
- Bem, eu descubro. – Suspirei, parando para pensar. – Bem, vou falar com o Theo antes, não é?!
- Melhor. – Lucas confirmou com a cabeça.
- Ok, eu vou para o quarto para fazer meu trabalho, nos vemos no jantar à noite?
- Que roupa vocês vão? – Vinícius perguntou e eu franzi a testa.
- Homens também perguntam isso? – Retribuí e ele riu.
- Eles falaram que é algo melhor, mas não sei se chega a ser black tie. – Ponderei com a cabeça.
- Espero que não, eu não trouxe um longo na minha mala. – Eles riram.
- Não, acho que é algo mais despojado, eu vou de jeans, blazer e sapatênis. – Lucas comentou e eu ponderei com a cabeça.
- Se vocês descobrirem alguma coisa, me avisem para eu caçar uma roupa melhor. Eu vou para o quarto.
- Pode deixar! – Lucas falou.
- Até mais! – Vinícius disse e eu dei meia volta, desviando dos jogadores e seguindo para fora da academia.
Voltei para o quarto com mais facilidade, eu havia reparado que tinham placas indicativas para os locais, então, tinha sido só falta de atenção minha mesmo. Quando entrei no corredor dos quartos, vi uma sombra ao fundo, pensei com quem eu teria que me enturmar, mas relaxei quando vi que era meu grupo favorito daquela Copa.
- Ei, é a social mídia! – Cássio falou e eu dei um pequeno sorriso, rindo em seguida.
- Oi, gente! – Falei, me aproximando dos três goleiros.
- Até a social mídia é alta, gente. – Ederson brincou e nós rimos.
- Vamos dizer que com um pai com dois metros de altura, seria difícil eu sair baixinha. – Falei rindo.
- A feijoada bateu bem, viu?! – Alisson falou e eu levei a mão aos olhos, tentando minimizar minha risada.
- Não sei de quem foi a ideia de servir feijoada depois fazer avaliação física, mas acho que não foi uma das melhores. – Dei de ombros e ele riu.
- Eu ainda me dei mal por ser o primeiro...
- Desvantagens de ser o número um! – Ele sorriu.
- Vai ficar aqui na área com a gente? – Cássio perguntou e eu me afastei um pouco, apontando para a porta do meu quarto.
- Bem perto de vocês. – Eles sorriram.
- Eita que não vai desgrudar da gente. – Ederson brincou.
- Vão se acostumando. – Peguei meu cartão chave do bolso, colocando no local. – Eu preciso trabalhar um pouco, nos vemos no jantar?
- Claro! – Eles responderam e eu empurrei a porta do quarto, deixando que ela batesse sozinha.

Entrei no quarto e segui rapidamente para o computador, repassando rapidamente por algumas fotos da seleção e fazendo algumas postagens nas redes sociais. Selecionei as melhores fotos de cada jogador e também enviei para o e-mail da assessoria da CBF, a assessoria de cada jogador e, também, pelo WhatsApp deles, antes de escrever um texto falando quem eu era. Me senti tão importante por um momento em ter o telefone pessoal dos jogadores e, mais importante ainda, quando eles responderam agradecendo ou fazendo a mesma piada do Cássio lá fora: “Olha! É a social mídia!”, acho que esse seria meu novo nome!
Eu acabei ligando para Michelle lá no Rio de Janeiro para pegar as informações sobre os vídeos, o que ela achava da minha ideia e dos meninos em ativar o canal da CBF novamente com esses vídeos. A ideia foi muito bem-vinda e ela pediu para Telma, a estrangeira, falar comigo, para que eu explicasse a ideia dos vídeos. Dois vídeos, descobri pelos cartões de memória que eles também tinham filmado a chegada dos jogadores antes de eu aparecer por ali.
Acabei terminando tudo quase sete horas da noite, Michelle havia falado que seis horas eu podia parar de me preocupar com isso, mesmo com trabalho pendente, mas eu tinha perdido bastante tempo por causa da reunião e, com o acompanhamento da avaliação, eu nem parei para olhar as redes sociais, além das minhas, que eu fazia questão de postar algumas coisas, afinal, era o meu trabalho e eu estava adorando tudo aquilo!
Saí correndo para tomar um banho e me arrumar, no cronograma falava que o jantar começaria às oito horas e eu não sabia o quão pontual eles eram, mas imaginei que muito. Não precisei lavar meu cabelo novamente, já que não tinha suado hoje, mas perdi alguns minutos no banheiro para fazer uma maquiagem decente. Normalmente era Bernardo que fazia minha maquiagem, mas eu precisei me virar sozinha.
Deixei os cabelos soltos, somente jogando a franja para trás e fui atrás do vestido que eu usaria no dia. Era um vestido azul marinho simples, estilo mullet, com a parte de trás mais comprida e os ombros caídos lateralmente. Na minha escolha, eu tentei me atentar ao básico, acho que os sapatos amarelos já chamariam atenção suficientemente.
Quando vi que faltavam cinco minutos para as oito, eu saí do quarto, encontrando Lucas e Vinícius também saindo de seus quartos. Ambos sorriram quando me viram, tínhamos idades semelhantes, mas Lucas era casado e creio que Vinícius não me olhava de forma diferente da que eu olhava para eles. Éramos amigos, quase como se Bernardo estivesse aqui.
- Você está ótima! – Vinícius falou e eu sorri.
- Vocês também!
- Vamos? – Lucas me estendeu o braço e Vinícius também. Ri sozinha e dei o braço para ambos, andando em direção ao restaurante.
Estranhei ao não ver ninguém mais saindo dos quartos, suspeitei que eles já estivessem lá ou tivessem outro compromisso que não tinha sido informado no meu cronograma, mas assim que entramos no restaurante, notei que eles já estavam lá e comecei a me perguntar em quantos dias eu levaria para falar alguma besteira sobre esses jogadores.
Black tie talvez não era necessário para os ralés da comunicação, mas para os jogadores sim. Todos usavam aqueles ternos azuis escuros maravilhosos com o brasão da CBF no paletó, camisa e gravata longa da mesma cor e sapatênis nos pés. Olhei para eles arrumados e soltei um suspiro, percebendo que Vinícius olhava para mim.
- Gostando do que vê? – Dei um sorriso envergonhado.
- Façam suas apostas: em quanto tempo eu me demito ou sou demitida por indiscrição? – Perguntei e ambos riram.
- Deixa disso! – Lucas brincou. – Não vejo problema nenhum em você achar eles bonitos, só não todos.
- Ah não, eu tenho minhas preferências. – Pisquei e eles riram.
- Altos e goleiros?
- Xí! – Coloquei o dedo sobre a boca e eles riram.
- Oi, gente! – Theo apareceu ao nosso lado e eu sorri.
- Oi, Theo! – Falamos quase em uníssono.
- Se divertindo?
- Sempre! – Respondi rindo.
- Você está ótima! – Ele me falou e eu sorri, assentindo com a cabeça. - Vamos entrar! – Ele acenou com a cabeça e eu segui junto dos meninos para dentro do restaurante. – Fiquem à vontade.
- Obrigada! – Falamos juntos.
- Vocês estão bem acompanhados, hein, garotos? – Virei o rosto, vendo Neymar passando com alguns jogadores.
- Não precisa ter inveja, tem para todo mundo. – Ele saiu rindo e eu me acomodei em uma das mesas com Lucas, Vinícius, Theo e alguns dos meias: Renato Augusto, Phillipe Coutinho, Paulinho e Willian.
O jantar foi composto de entrada, prato principal e sobremesa, como todo jantar chique deveria ser. Uma música calma tocava ao fundo e só era ouvido algumas conversas contidas pelo local. Na nossa mesa, eu acabei sendo o assunto.
- Eu tenho que dizer, é realmente interessante ter uma mulher aqui. Sempre só tem homens. – Paulinho falou e eu ri. – Onde você estava antes?
- Ironicamente, eu comecei a trabalhar na CBF na segunda passada. - Eles riram. – Eu nem esperava vir para cá, confesso.
- Vai para Rússia com a gente? – Willian perguntou.
- Não, não. – Neguei com a cabeça. – Isso não, mas vocês terão a companhia desses dois. – Bati nos ombros de Lucas e Vinícius. – Quem sabe em 2022 no Catar?
- Ah, mancada! – Renato falou e eu dei de ombros. – Voltaremos à testosterona.
- Não é por nada não, mas uma mulher para tudo isso de homens, não faz nem cócegas. – Brinquei e eles riram.
- Mas eu entendo o que o Renato disse, é outra coisa ter uma mulher na equipe, não sei explicar, mas parece que tem mais controle... – Phillipe falou e eu assenti com a cabeça.
- Valeu. – Sorri.
- Você gosta de futebol, não é? – Willian emendou o papo.
- Adoro! – Falei rindo. – Joguei na época da escola e depois representando a faculdade durante os quatro anos.
- Então, temos alguém que entende do assunto. – Renato riu.
- Um pouco, mas tirando algumas peladas esporádicas, faz muito tempo que não jogo profissionalmente. – Sorri.
- Qual sua posição? – Perguntaram.
- Goleira. – Eles sorriram.
- Ei, ei! Quem falou em goleira aqui? – Ederson apareceu e eu ri. – Você? – Sorri, erguendo os ombros.
- Senta aí! – Lucas falou, puxando a cadeira.
- Conta mais! – Ele puxou uma cadeira e se sentou entre mim e Lucas. – Onde você jogava?
- Eu estudei em uma faculdade particular, então, tinha uma valorização maior no esporte e eu acabei conseguindo um desconto por jogar. – Ponderei com a cabeça. – Tipo filmes americanos? – Eles assentiram. – Era algo assim...

Acordei no dia seguinte com o despertador. O jantar no dia anterior até que tinha sido legal. Depois daquele papo com o pessoal da nossa mesa, outros jogadores acabaram se juntando à nossa mesa: Neymar, Gabriel Jesus, Douglas, Fred e Geromel. Os assuntos se tornaram mais diversos, mas as risadas ficavam cada vez mais altas e estridentes, chamando a atenção até dos dirigentes, fazendo com que eles parassem uns segundos perto de nós para saber o que estava acontecendo.
Eu realmente estava me divertindo, por um momento eu até esqueci que aquelas pessoas eram muito famosas, ganhavam milhões por ano e representariam nosso país atrás do hexa! Ali todos pareciam adolescentes em uma viagem escolar, e eu estava no meio como a aluna que foi transferida para a escola errada.
A diversão podia rolar a noite toda, mas meia-noite em ponto os jogadores foram expulsos para dormir, já que o treino começava cedo no próximo dia. Eu, Lucas e Vinícius nos entreolhamos e acabamos seguindo pelo mesmo caminho, afinal, eles eram a graça, nós só estávamos participando. Todos se despediram no corredor e as portas foram batidas.
Eu achei que demoraria para dormir, queria ficar olhando as fotos que eu havia tirado com alguns jogadores, ver o que eles haviam postado nas redes sociais, mas o dia havia sido cansativo e meus pés estavam em frangalhos.
Segui direto para o banheiro na manhã seguinte, tomei um banho rápido, aproveitando a deixa para lavar o cabelo e, enquanto me secava, segui para a porta do quarto, onde uma folha de papel havia sido deixada debaixo da porta com a programação do dia. Os treinos começariam, mas, pelo que estava escrito na programação, seria mais uma apresentação para a imprensa. Não sabia o que isso significava, mas pensei em sair com meu notebook para adiantar algumas coisas da lista de afazeres que havia chego em meu e-mail, enquanto Lucas tirava as fotos.
Vesti minha calça jeans e blusa da Seleção e olhei para meu sapato amarelo. Pensei por um momento e tirei meu All Star da mala. Meus pés ainda estavam um pouco doloridos do dia anterior e eu desceria para o campo com eles, não era o melhor terreno para bater meus sapatos novos.
Passei um bom protetor solar naquele dia, estávamos no outono, mas o sol que entrou pela minha janela já queimou meu corpo, imaginei que não estivesse tão frio quanto o esperado. Fiz uma maquiagem leve no rosto, coloquei um boné na cabeça, juntei meu notebook e o celular da empresa e saí do quarto.
- Bom dia. – Sorri com Danilo saindo do quarto com Miranda.
- Bom dia. – Respondi.
- Vai tomar café? – Miranda perguntou.
- Por favor. – Falei rindo e eles acenaram com a cabeça para seguirmos juntos.
Thiago Silva e Marquinhos se juntaram a nós no meio do caminho, fazendo que os cinco entrassem juntos no restaurante. Outros jogadores já estavam lá, a maioria com cara de sono, tomando café da manhã. Nos dissipamos e eu peguei uma mesa vazia em um dos cantos no local e deixei meus eletrônicos no mesmo.
Segui para a mesa de comida e fui seguindo o movimento das pessoas na minha frente, pegava a bandeja, colocava a toalha de papel, prato, xícara, copo e talheres e seguia para as comidas. Tinha todo tipo de opção que uma pessoa poderia querer, mas eu acabei caindo no básico, pão com presunto e queijo e um pouco de ovo mexido para acompanhar. Peguei um copo com café com leite e outro com iogurte.
- Bom dia! – Olhei para o lado, vendo Alisson se servindo também.
- Bom dia! – Abri um pequeno sorriso, pegando minha bandeja e me retirando da fila.
Apoiei minha bandeja na mesa e abri o notebook, dando algumas garfadas no ovo enquanto ele ligava. Digitei rapidamente minha senha, vendo o computador abrir com o logo da CBF no mesmo. Dei um gole em meu café e estranhei quando vi Gabriel Jesus e Coutinho se sentando ao meu lado.
- Ei... – Falei meio confusa.
- Esses lugares estão vagos? – Gabriel perguntou.
- Sim! – Falei rindo.
Bem, eu tinha que me enturmar e acho que eles estavam levando o recado de Tite ao pé da letra, o que me deixou bem feliz, era difícil depender só de Lucas e de Vinícius, afinal, não tinha nenhum sinal deles até agora.
Terminei de tomar café enquanto olhava a lista de afazeres que Michelle havia me mandado, nada fora do que eu estava acostumada, mas encontrei em meu drive os dois vídeos que eu havia pedido para o pessoal da propaganda editar para mim e as senhas de acesso ao CBF TV e ao YouTube. Era hoje que eu ia fazer a internet pegar fogo! Só esperaria estar em um local com acesso constante à internet e programar os uploads.
Depois do café, acabei seguindo com Neymar para o campo de treinamento. Ele acabou me perguntando um pouco sobre o que eu fazia e como eu havia chegado até ali. Contei rapidamente sobre o processo seletivo de três meses e minhas atuais ocupações que acabavam se misturando um pouco com publicidade e relações públicas, mas que eu gostava.
Ele se afastou junto com os jogadores e a equipe técnica e eu me coloquei do lado de fora da linha e abri um pequeno sorriso ao me lembrar dessa sensação de campo, quadra e futebol, sentindo uma nostalgia da época da faculdade. Puxei o celular do bolso e tirei uma foto rapidamente da equipe reunida e enviei para o grupo das antigas Focas de Laço Azul da minha universidade. “Um dia no campo, outro para fora da linha”, algumas ex-jogadoras responderam surtadas rapidamente, me dando uma vontade imensa de juntar essas meninas e voltar a jogar.
O alongamento começou e eu olhei para o lado, encontrando Lucas com sua câmera na mão, franzi os lábios, me sentindo uma tonta por não tê-lo procurado nos lugares mais óbvios antes e andei até ele, cutucando-o rapidamente.
- Ei! – Ele falou sorrindo. – Você está aí.
- É! E você está aqui. – Cruzei os braços. – Caiu da cama, foi?
- O contrário, para falar a verdade. – Ele coçou a cabeça. – Perdi hora, vim direto para cá.
- Tá explicado! – Apoiei meu notebook no degrau mais baixo da arquibancada.
- E onde está Vinícius e Theo?
- Vinícius perdeu hora também, ele estava saindo do banho quando eu saí e Theo está lidando com os jornalistas. – Ele apontou a cabeça para o lado contrário de onde estávamos e notei meia dúzia de jornalistas e diversas câmeras apontadas para os jogadores. Separados por alguns metros, alguns torcedores.
- Bem, eu vou ficar por aqui resolvendo alguns pepinos, quando tiver algumas fotos interessantes, me avise.
- Entra no meu drive, tudo que eu tiro fica lá! – Ele falou. – Vou compartilhar a pasta contigo.
- Fechou!

Peguei meu notebook e subi dois degraus, tentando pegar um cantinho de sombra da arquibancada e conferi se a internet pegava bem lá embaixo e fui fazer as postagens do dia, upar o vídeo de ontem, responder a assessoria de alguns jogadores, fazer clippagem de tudo que os 23 jogadores tinham postado nas últimas 24 horas em todas as redes sociais. Isso, 23, inclusive Marcelo, Firmino e Casemiro que nem ali estavam, mas eles faziam parte da lista de convocados, então incluía no meu trabalho.
De vez em quando eu me distraía e olhava para o campo, mas eles só estavam fazendo treinamentos leves, passes, alongamentos, chutes a gol, aquela bobagem toda para encher linguiça para a imprensa e começar a coisa boa quando eles forem embora.
Me assustei quando olhei para frente novamente e vi uma coisa amarela grande no canto do campo, sacudindo as mãos para os lados. Era o mascote da Copa. O canarinho. O que ele estava fazendo ali? Graça para as crianças? Franzi a testa, cogitando me levantar, mas tive minha resposta quando ele se virou.
Meu Deus! O que fizeram com o mascote da Seleção? Ele estava com cara de bravo, de mau... Isso era muito estranho! Ele acenou para mim e eu retribuí, fazendo a mesma cara sisuda para ele que colocou as mãos na cintura, provavelmente se fingindo de bravo para valer.
- Porque você está bravo? – Perguntei um pouco mais alto para o canarinho.
Ele não respondeu, só ergueu as mãos como quem diz “eu sou assim” e eu ponderei com a cabeça. Pensando que poderia usar isso para alguma coisa. O encarei por mais alguns minutos, permitindo que ele me encarasse por mais uns minutos, mas logo ele se distraiu, indo brincar com os jogadores.
Voltei para o notebook e procurei possíveis significados para “bravo”: enfezado, irritadiço, aborrecido, revolto, tempestuoso, severo... Não, nenhum dava aquele tcham especial. Ele parecia puto! Bom, depois de levar sete na última Copa dentro de casa, até eu fiquei puta.
Acho que minha avó tinha uma expressão engraçada para quando alguém ficava muito bravo em casa. “Nossa! Essa menina está muito...”, o que era mesmo? Peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha irmã mais velha, perguntando se ela se lembrava ou se poderia perguntar lá em casa. Ela respondeu quase imediatamente dizendo que não se lembrava, mas que iria perguntar e logo me respondia.
O canarinho sumiu algum tempo depois e a seleção começou a se preparar para almoçar. Olhei em meu relógio e vi que já era hora mesmo. Chamei Lucas e seguimos junto com os jogadores e equipe técnica, enquanto eles falavam sobre o treino do dia e como a imprensa presente deixava tudo mais lento.
Entramos no restaurante e os jogadores atacaram legal o buffet, me fazendo olhar surpresa, até que eu lembrei que estava lidando com homens gastando energia e voltei a lembrar da época da faculdade, eu era igual. Abri a boca, notando o canarinho sentado em uma das mesas, sem a sua cabeça, enquanto comia. Era minha oportunidade de falar da ideia que eu tive!
- Ei, você! – Me aproximei, vendo-o se virar e se levantar e, quando ele fez isso, eu comecei a gargalhar loucamente no meio do restaurante, chamando muita atenção. - Você?! – Falei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. – Meu Deus! Isso não podia ser melhor! – Me apoiei nos meus joelhos, não conseguindo parar de gargalhar. – Ah, espera um minuto! – Coloquei a mão no peito, olhando para cima para ver se as lágrimas cessavam e respirei fundo, seguindo a rir.
- Oi, ! – Vinícius falou e eu apoiei minha mão em seu ombro, vendo algumas pessoas em volta gargalharem da minha risada.
- Isso é melhor que a encomenda! – Coloquei a mão na boca, tentando respirar fundo. – Meu Deus!
- Ok, ok! Chega! – Ele falou, abanando as mãos e eu ergui um dedo.
- Espera um minuto! – Coloquei a mão na barriga, puxando e soltando o ar diversas vezes, tentando normalizar a respiração. – Ah, eu não consigo! – Apertei as mãos nos olhos, sentindo-os molhados e tentei me concentrar, puxando a respiração e soltando em seguida, mordendo os lábios para que a risada não saísse.
- Alguém dá água para essa menina! – Ouvi Tite falar, enquanto ria também.
- Ah, eu estou bem! – Abanei as mãos e olhei para Vinícius. – Eu só não consigo parar de rir. – Continuei puxando e soltando o ar, até que a risada foi se normalizando aos poucos.
- Tudo bem? – Tite perguntou e eu mordi os lábios novamente.
- Tá tudo ótimo! – Sorri para Vinícius.
- Ah, meu Deus! Não me olha assim! – Ele falou, se sentando novamente e eu soltei a respiração.
- Eu nunca mais vou te ver de outra forma, mas falando sério, precisamos conversar. – Falei, dando a volta na mesa. – Alisson, pode pular uma cadeira para o lado, por favor, para eu falar com... – Cocei a nuca, segurando a risada, e notei que Alisson e Ederson voltaram a rir, abaixando a cabeça e escondendo a boca com as mãos. – Isso!
- Claro! – Alisson falou, mais vermelho que o normal, e pulou uma cadeira para o lado, puxando sua bandeja junto.
- Eu pensei que você sofreria bullying aqui, não eu.
- Quem mandou não me contarem que você é o mascote? – Falei, olhando a divisão da roupa da fantasia em seu pescoço. – Eu teria me acostumado antes e não teria feito esse show. – Ele revirou os olhos e falou.
- Vamos dizer que não tem nada errado em ser o mascote, ok?! Eu ganho muito mais do que sendo garçom ou qualquer coisa, além de que eu faço as gravações...
- Ei, ei, eu não estou minimizando seu trabalho. – Me afastei dele, erguendo as mãos. – Eu só achei engraçado e é! Você é perfeito para o mascote, você é divertido, interage com qualquer um, então, pode parar! – Falei, respirando fundo. – Mas eu tive uma ideia para usar o mascote como item de divulgação.
- Já adiantando, os mascotes estão proibidos pela FIFA de participarem dos jogos.
- Ok! – Ponderei por dois segundos. – Mas os torcedores não estão só nos jogos, certo? – Cruzei os braços em cima da mesa, me inclinando para frente.
- Qual sua ideia? – Ele perguntou.
- Para começar, a pessoa que fez o canarinho parecer bravo depois do sete a um foi um gênio! – Falei sorrindo. – Parece que estamos indo em busca de vingança. – Movimentei a cabeça para os lados. – E posso dizer que, entre meu grupo de amigos, estamos. – Dei um pequeno sorriso. – A gente pode usar essa raiva, esse rancor, como produto de divulgação. É perfeito!
- Será que o povo libera? – Ele perguntou.
- Preciso falar com Theo e Michelle ainda, mas eu preciso saber antes se você topa, porque vai ter que vir de você também, você é o canarinho, você que vai dar a cara a tapa.
- Acho que vai ser legal! – Ele sorriu e eu senti meu celular vibrar, o puxei do bolso de trás da calça, me levantando e abri a mensagem de minha irmã.
Mamãe disse que a vó usava a expressão ‘pistola’ para bravo. Tem relação com um tal de Ariri Pistola, vai saber”. – Arregalei os olhos, olhando para Vinícius e saí da mesa, tropeçando rapidamente na cadeira e peguei a cabeça do canarinho no chão, encarando-a.
- Mano! Isso é perfeito! – Falei rindo e devolvi a cabeça no chão.
- O quê? – Vinícius levantou atrás de mim e notei que já tinha chamado a atenção do restaurante inteiro de novo.
- O que acha de rebatizar o mascote como “Canarinho Pistola”? – Mordi meu lábio inferior com animação
- “Pistola”? – Vinícius repetiu.
- É! – Abri um largo sorriso e ele retribuiu.
- Gostei! – Ele falou e eu segurei seu rosto e estalei um beijo em sua testa.
- Eu vou falar agora com a Michelle, provavelmente vamos ter que criar um Twitter só para isso, mas vai ficar sob minha responsabilidade. Também ter ideias para vários memes ‘rancorosos’, pegar algumas fotos de divulgação com o Lucas... – Falei rápido, pegando meus itens na mesa novamente. – A gente se fala mais tarde. – O empurrei levemente, começando a me afastar.
- Mas, , o almoço! – Ele falou alto e eu roubei uma batata frita de seu prato, colocando na boca.
- Isso é mais importante! – Falei, saindo correndo do restaurante.

A quarta-feira começou mais turbulenta no dia seguinte. Eu havia jogado a ideia do Canarinho Pistola nos ombros de Michelle e ela tinha simplesmente amado a ideia, mas falou que conversaria com a equipe da publicidade para fazer uma pesquisa da reação que isso daria para os torcedores brasileiros. Com isso, ela tinha pedido para eu elaborar algumas artes ou textos que eu imaginaria para essas postagens.
Eu acabei nem saindo do meu quarto naquela manhã, tinha trazido alguns lanches para meu quarto depois de não almoçar e ter que atacar o lanche na parte da tarde. Sucos e achocolatados de caixinha, além de alguns pães de queijo murchos e bolachinhas caseiras. Aquilo foi meu café da manhã naquele dia.
Além de pegar as fotos de divulgação do Canarinho com o Lucas, eu acabei entrando em vários Tumblr de futebol para ver o que as pessoas estavam falando da Seleção Brasileira ou de outros times, descobrindo o que estava na boca do povo, além de fazer uma bela pesquisa em busca de vídeos, gifs, imagens e comentários no Twitter sobre futebol. Depois dei uma zapeada em canais de TV para pesquisar sobre as vinhetas que estavam saindo sobre a Copa, estávamos a pouco mais de 15 dias da Copa, as propagandas já estavam saindo, poderia usar para pensar em alguma sátira também. Acabei replicando algumas coisas já existentes, mas fiz questão de dar os devidos créditos. Caso o projeto fosse para frente, precisaria elaborar um protocolo para pedir liberação de uso para as pessoas.
Poucos minutos depois de eu mandar as amostras para Michelle, ela perguntou se eu podia me conectar ao Skype. Saí desesperada da cama e me sentei na escrivaninha, me ajeitando para atender sua ligação.
- Oi, ! – Michelle falou e eu acenei para a tela.
- Oi, Michelle, tudo bem?
- Tudo certo! E aí na Granja? Aproveitando bastante?
- É realmente sensacional. – Sorri. – É tudo o que você disse e mais um pouco.
- E os jogadores? Interagindo contigo ou se fecharam no grupinho masculino deles?
- Eles estão sendo ótimos, para falar a verdade. – Sorri. – Triste que já é quarta-feira. – Ela sorriu.
- O tempo passa muito rápido quando a gente faz o que gosta. – Assenti com a cabeça. – Mas que bom que o pessoal está sendo legal contigo. – Ela sorriu. – Então, eu falei aqui com o pessoal da propaganda, a gente viu suas amostras e a ideia é simplesmente sensacional. O mascote sempre foi um pouco apagado e a imprensa já tinha dado algumas declarações sobre ele parecer bravo, mas nunca pensamos em como tornar isso bom, mas você sim.
- Acho que a ideia de um mascote bravo representa a situação do torcedor brasileiro depois da Copa de 2014. Eles estão bravos, eles estão putos, eles estão indo em busca de vingança. Brasil pode encontrar a Alemanha logo nas oitavas e os brasileiros estão com sangue nos olhos. – Suspirei. – Estamos indo atrás de vingança.
- Você acha? – Ela perguntou e eu dei de ombros.
- Não compartilhei da minha opinião com os jogadores ainda, mas eu sei que eu estou. E acho que precisamos disso depois da última Copa. – Ela assentiu com a cabeça.
- Mesmo depois das Olimpíadas que, inclusive, a final foi contra a Alemanha?
- Acho que algumas pessoas não consideram aquilo uma revanche. Não era o mesmo elenco, a decisão foi nos pênaltis, acho que vingança mesmo seria exatamente na mesma situação, mas não temos, então que seja em outra Copa do Mundo. – Ela assentiu com a cabeça. – Além de que é diferente uma Olimpíada, onde o futebol é só um entre várias modalidades, e uma Copa do Mundo onde só importa o futebol.
- Muito bom! – Ela falou rindo. – Bem, você tem o sinal verde, só temos que conversar depois para decidir sobre as postagens quando eles estiverem na Rússia.
- Cogitei deixar o Vinícius mesmo lidar um pouco com isso. Acho que me passar as informações do que aconteceu diariamente ou dos acontecimentos mais relevantes, não vai tomar o tempo dele. – Ela assentiu com a cabeça.
- Beleza! Eu vou falar com ele, antes de batermos o martelo. – Ela suspirou. – Eu vou te passar agora para falar com o Lopes, ele vai te ajudar nesse projeto, pode ser?
- Claro!
- A gente se fala depois, bom trabalho. – Ela disse e eu assenti com a cabeça, vendo-a sair da cadeira e dar espaço para Lopes na tela.
- Oi, , como está aí?
- Tudo certo! – Sorri. – Já estão sentindo minha falta?
- Seu trabalho está certinho, finalizando, você pode até morar aí na Granja. – Rimos juntos.
- Confesso que não ia me importar.
- Bons tempos, não? Deve ter mudado muito desde a última vez que eu fui. – Sorri. – Bom, vamos ao que interessa. Sua ideia de usar o Canarinho como divulgação é fantástica, é a cara do brasileiro, cheio de memes e tiradas, além da ideia de realmente assumir que ele é um mascote bravo, pronto para a briga...
A reunião demorou mais que o planejado, quando finalizei a ligação, precisei sair correndo para o banheiro, estava muito apertada. Quando olhei para o relógio, vi que já passava das três da tarde e eu ainda não tinha colocado a cara no sol. Acho que eu merecia um descanso! Coloquei meus tênis do dia anterior, pendurei o crachá em meu pescoço e saí em direção ao restaurante, os pães de queijo e bolachinhas tinham sido o suficiente para meu café da manhã, mas não para me manter em pé o dia inteiro.
Olhei rapidamente as opções e peguei um lanche de mortadela bem quentinho que tinha ali, devorando-o com rapidez e, antes de sair do restaurante, peguei um saquinho de pipoca que tinha sido recém-colocado na mesa.
Fui para a área externa, enquanto devorava a pipoca, pensando em formas de passar um pouco o tempo. Ir para a academia não era uma opção e eu realmente não estava a fim de ir à piscina com vários homens naquele local. Olhei para os campos e vi que os três estavam vazios, me fazendo ter uma ideia. Segui o caminho até os mesmos e beirei o mesmo enquanto terminava de comer a pipoca.
Amassei o saco vazio e coloquei em meu bolso, andando até o carrinho de bolas e olhei em volta, para ver se a área estava limpa mesmo e joguei duas bolas no chão, segurando a terceira em minhas mãos, apertando-a levemente e levando-a até o nariz, sentindo o cheiro de grama na mesma.
Joguei-a no chão, chutando a mesma, fazendo com que ela erguesse e eu fizesse algumas embaixadinhas com a mesma, revezando as pernas enquanto a bola subia em velocidade constante. Ergui a bola mais uma vez, girando o corpo e batendo o pé fortemente na mesma, vendo-a seguir alta até mexer a rede do gol. Sorri sozinha, observando a bola sair do mesmo sem a mesma velocidade e suspirei.
Estralei os braços e o pescoço e coloquei os pés na lateral de outra bola e respirei fundo três vezes antes de pular e jogar os pés para trás, fazendo a bola subir e cabeceá-la algumas vezes para cima, antes de jogá-la para frente e chutá-la forte novamente até o gol. Ah, como eu sentia falta daquilo.
- Muito bom! Demais! – Virei assustada para o lado, ouvindo algumas palmas abafadas em seguida. – Mas o que você faz com uma defesa? – Alisson perguntou, com aquele sotaque cantado, se aproximando de mim e eu senti meu rosto queimar.
- Você viu isso? – Perguntei, colocando as mãos no bolso da calça.
- Nós vimos. – Ele apontou para trás e vi Cássio, Ederson e Taffarel, que era da equipe de treino, um pouco mais afastados.
- Ah! Que ótimo! – Senti meu rosto queimar, rindo sozinha.
- E aí, quer tentar? – Ele abriu um largo sorriso, que fazia seus olhos verdes se fecharem um pouco e eu suspirei.
- Vamos dizer que ser atacante não é a minha posição. – Brinquei, dando de ombros.
- E qual é? – Ele parou em minha frente, cruzando os braços.
- A mesma que a sua. – Sorri.
- Você é goleira? – Ele falou visivelmente surpreso.
- Eu fui goleira! – O corrigi. – Faz muito tempo que eu não jogo. – Suspirei.
- Isso é demais! – Ele deu um sorriso sincero.
- Pensei que as informações já tivessem sido vazadas, comentei isso com Ederson no jantar segunda-feira. – Alisson olhou rapidamente para trás.
- Acho que ele se esqueceu de passar a informação. – Assenti com a cabeça. – Aonde você jogava? Algum time profissional?
- Só na faculdade mesmo. – Sorri. – Campeonatos universitários, jogos de comunicação e por aí vai. Mas eu era boa. – Suspirei.
- Isso é muito legal, sério!
- Nós éramos as Focas de Laço Azul.
- “Laço Azul?” – Ele me perguntou, franzindo a testa.
- É uma longa história. – Falei rindo. – As cores da comunicação eram azuis, aí tinha uma piada besteirenta com focas, como toda universidade tem. Depois a gente começou a usar uma faixa azul amarrada no braço em apoio a uma causa e por aí vai... – Balancei a cabeça. – Acabou pegando. – Ri sozinha.
- Parece que você sente falta de jogar... – Ele falou, deixando no ar.
– Confesso que estou tendo muitas lembranças dessa época e sentindo falta dos treinos. – Suspirei, cruzando os braços em cima do peito. – Às vezes parecia que eu estava lá mais para jogar do que me formar jornalista. – Ele tirou as luvas, me estendendo-as.
- Por que você não relembra os velhos tempos e eu faço uns chutes em você? – Segurei suas luvas pretas, vendo suas iniciais e número cravadas na mesma, “AB1”, e suspirei.
- Sabe há quanto tempo que eu não uso uma dessas? – Soltei uma risada fraca, sentindo meus olhos marejados e mordi meu lábio inferior.
- Provavelmente o mesmo tempo em que eu não vejo uma mulher bonita como goleira. – Ergui os olhos para ele, tentando analisar se ele realmente tinha dito isso na minha cara, mas ele só me encarava de volta, com um pequeno sorriso escondido em sua barba.
- A Seleção Brasileira também tem um cara muito gato como goleiro e eu não vejo ninguém reclamando. – Dei de ombros, mordendo meu lábio inferior e ele riu fraco, abaixando a cabeça envergonhado. – Bom, acho melhor eu não pagar mico na frente de quatro grandes goleiros. – Estendi as luvas de volta. – Ou deslocar algum osso por falta de treino ou alongamento. – Ele pegou as luvas, tocando levemente na ponta dos meus dedos.
- Elas estarão disponíveis para quando você precisar. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, sorrindo.
- Obrigada! – Suspirei. – Mas acho que eu vou precisar arranjar algumas do meu tamanho quando a hora chegar. – Me aproximei dele, dando uma leve batidinha em seu ombro. – Vou deixar vocês treinarem. – Falei, seguindo para fora do campo, passando pelos outros três goleiros que nos esperavam.
Olhei para trás rapidamente, vendo Alisson ainda me acompanhando com o olhar e eu mordi meu lábio inferior novamente, voltando a subir o morro para voltar para os prédios da Granja, ainda sem entender o que exatamente tinha acontecido ali, mas adorando cada momento.

Na quinta-feira tivemos uma mudança de ares lá na Granja, a imprensa estava presente novamente nos treinos, então Theo acabou pedindo minha ajuda para auxiliá-lo. Eram muitos jogadores, muitos jornalistas e pelo menos todos os titulares dariam alguma declaração. Tudo isso acabou acontecendo no campo mesmo. Enquanto os jogadores treinavam, Theo e eu chamávamos quatro jogadores por vez para levá-los até os jornalistas.
Eu tentei me manter calma, depois do pequeno c que aconteceu no dia anterior, mas eu sentia que estava sendo observada a todo o momento pelos goleiros. Podia ser minha impressão, mas eles estavam treinando próximo da imprensa e eu sabia que ficava muito bem de calça skinny e aqueles sapatos amarelos para ser encarada.
Quando chegou a hora de levar o Alisson para a entrevista, eu agarrei em Jesus como se minha vida dependesse disso, literalmente. Ok! Podia ter sido um elogio inofensivo, mas ele era muito gato para eu ver como um elogio inofensivo. Afinal, eu nem tinha com o que me preocupar, minha felicidade acabaria em três dias e eu provavelmente só o veria novamente nas preparações da Copa América no ano que vem, que seria aqui no Brasil, ou em algum em algum amistoso aleatório pós Copa do Mundo. Isso se eu fosse convidada também, tinham muitos profissionais que poderiam me repor.
Depois que a imprensa se dissipou, eu saí rapidamente dali, estava usando salto no gramado, então, estava me equilibrando com a ponta dos pés por três horas, estava doendo demais! Fui almoçar acompanhada de Vinícius e Lucas, ainda estávamos falando sobre a ideia do Canarinho Pistola, então precisava alinhar tudo com Vinícius para quando eles fossem para a Rússia.
Na parte da tarde eu me isolei no quarto novamente, tinha novas postagens para fazer, vídeos para upar e ainda queria adiantar o relatório que eu teria que mandar na sexta-feira à tarde. Amanhã tinha treino aberto para os torcedores e eu sabia que seria uma loucura. Lá pelas cinco da tarde e eu consegui finalizar as coisas pendentes. Vendo rapidamente alguns vídeos na CBF TV, eu acabei capotando na cama.
Acordei em um pulo algum tempo depois e olhei em meu relógio, vendo que passava das oito da noite. Saí correndo para o banheiro, largando a roupa na pia do banheiro e tomei um banho correndo! O jantar acabava as nove e eu não estava a fim de esperar pelo lanche da noite para comer alguma coisa. Larguei as formalidades e coloquei shorts, regata e chinelos e segui em direção ao restaurante.
Estranhei quando entrei no mesmo, eram quase nove horas, mas o restaurante não costumava ficar tão vazio, os jogadores acabavam conversando e saindo tarde dali. Mas dessa vez não, o local estava vazio. Tite conversava com alguns membros da equipe técnica enquanto comiam, Filipe Luís, Danilo, Fagner, Geromel, Marquinhos, Fred e Taison ocupavam outra mesma e era só. Nem sinal da turma do barulho e muito menos de Lucas e Vinícius.
Me aproximei do buffet e me animei com alguns caldos que tinha ali e peguei duas cumbucas com sabores diferentes e algumas torradinhas. Me sentei junto aos jogadores e acabamos conversando um pouco sobre a movimentação da imprensa e toda a confusão de mais cedo para todos os jornalistas falarem com todos os jogadores principais.
Eles acabaram me deixando sozinha no fim da refeição, dava para ver o cansaço na cara deles. Eu teria que arranjar alguma cosia no Netflix para ver, tinha descansado bastante nessa soneca mais cedo, então demoraria a dormir.
- Deixa eu te fazer companhia um pouco. – Tite falou, se sentando em minha frente e eu sorri.
- Obrigada! – Falei, colocando mais uma torrada na boa.
- Parece que os meninos estão gostando de te ter por perto. – Assenti com a cabeça.
- Pois é, está sendo melhor do que eu imaginava. – Ele riu.
- É uma pena que não vá para a Rússia com a gente, aposto que poderia me ajudar a puxar algumas orelhas, se for necessário. – Soltei uma risada gostosa, balançando a cabeça.
- Eu sou nova na equipe, Tite, não dá para eles mandarem alguém tão novo assim para uma Copa do Mundo. – Ele ponderou com a cabeça.
- Talvez não, mas eu estou vendo você com os jogadores e eles parecem bem a vontades perto de ti. – Sorri.
- Bem, eu sou a única mulher aqui, eles me veem como um deles, creio eu. – Ele ponderou e eu limpei a boca, apoiando o guardanapo na lateral da mesa. – Falando nisso, o que aconteceu com eles? – Perguntei, franzindo a testa. – Todos perderam o jantar ou todos vieram cedo demais?
- Eles estão farreando, para falar a verdade. – Ele riu e eu movimentei a cabeça em concordância. – Porque você não vai lá?
- “Lá”, onde? – Franzi o cenho.
- Na piscina, tentando relaxar depois da imprensa hoje. – Ri irônica.
- Até parece que não estão acostumados. – Ele riu comigo. – Quero ver amanhã!
- Nossa! – Ele fez uma careta. – Até eu acho que vou dormir mais cedo para aguentar o tranco de amanhã.
- Acho que vocês realmente estão precisando de uma mulher para dar a cara à tapa nesses momentos! – Ele sorriu.
- Seria bom! – Ele sorriu. – Quem sabe na Copa América? – Ele brincou.
- Espero que nós dois ainda estejamos aqui. – Ele assentiu.
- Tomara! – Ele falou e eu sorri. – Boa noite.
- Boa noite! – Sorri.
Vi Tite sair do restaurante e me levantei em seguida, deixando os materiais usados para os funcionários e saí do mesmo. Ponderei por alguns segundos se deveria ir atrás dos jogadores na piscina, mas minha decisão foi favorável no momento em que eu recebi uma mensagem de áudio do Vinícius.
“Onde você está? Vem aqui na piscina coberta agora, você tá perdendo uma festa!” – No fundo tinha um barulho de pagode e me perguntei se eles realmente estariam fazendo uma festa na área das piscinas.
Segui em direção à piscina coberta e me perguntei quem tinha liberado isso! A piscina coberta era para reabilitação, fisioterapia e alguns treinos de força e exaustão. Bem, eu não apitava nada, então não seria eu a chata para acabar com a diversão. Tite sabia, era o que importava. Ouvi alguns batuques antes mesmo de eu entrar no centro aquático. O som ecoava, fazendo com que parecesse que uma escola de samba tocava lá dentro.
Coloquei a cabeça para dentro, um tanto quanto envergonhada e com medo da visão que eu encontraria ali, mas estava seguro. Os 13 jogadores restantes, além de Lucas e Vinícius, estavam espalhados pelo local, com pandeiros, reco-reco, surdo e alguns instrumentos que eu não sabia o nome, tocando músicas que eu até conhecia. Obviamente, todos estavam sem camisa.
Os jogadores que tocavam como Thiago Silva, Miranda, Paulinho, Willian e Neymar, estavam sentados na beirada da piscina, com as pernas para dentro e os outros estavam dentro da mesma rindo e batendo as mãos no ritmo da música. Olhei rapidamente em volta, encontrando Lucas e Vinícius encontrados espalhados por ali, Lucas com sua câmera e Vinícius com sua filmadora, mas claramente rindo e movimentando os lábios no ritmo da música. Olhei em volta rapidamente à procura de Alisson e o encontrei apoiado na beirada da piscina, dando alguns goles em um chimarrão (ou era tereré?), que me fez franzir a testa.
- Ei! Olha quem apareceu! – Thiago Silva chamou atenção ao me ver, batendo a mão fortemente em seu tambor e os outros o imitaram, fazendo com que o som lá dentro ficasse ensurdecedor.
- A festa chegou! – Neymar brincou e eu andei para perto deles, parando ao lado de Willian.
- Até parece! – Brinquei. – Vim acabar com a festa! – Falei séria e todos me olharam com a cara fechada até que eu comecei a rir sozinha. – Não, mentira! Isso não é problema meu! – Ergui as mãos e eles voltaram a gritar e a bater nos instrumentos e eu sorri.
- Aproveita, . – Fernandinho falou, apontando para a piscina e eu ri, passando o olhar rapidamente para Alisson que me encarava.
- Ah não! Estou bem! – Ergui os braços e olhei para a água cristalina. – Talvez só os pezinhos! – Falei para Fernandinho que riu.
Segui até o armário de toalhas e peguei uma, estendendo-a dobrada algumas vezes na beirada da piscina e me sentei em cima da mesma, mergulhando as pernas na piscina quase até os joelhos. As músicas do Thiaguinho começaram a ser tocadas uma atrás da outra, incluindo outras que eu realmente não conhecia. Eu não era a maior fã de pagode, mas o c estava gostoso. Estaria melhor se não fosse uma piscina ctizada e o suor não começasse a escorrer pelo rosto de todo mundo e pelos meus seios.
Olhei para o lado por um momento e notei Alisson se encostando ao meu lado. Ele encostou as costas na parede da piscina e apoiou o braço livre na mesma. Mordi a ponta do dedão como quando eu ficava nervosa e fiquei quieta. Ele me estendeu sua cuia e eu neguei com a cabeça.
- Não gosta? – Fiz uma careta, negando com a cabeça.
- Não! – Falei rindo.
- Imagino que não seja do sul, então...
- Eu não tenho esse sotaque cantado. – Falei sorrindo.
- Uh, você também não tem sotaque de carioca. – Neguei com a cabeça.
- Também não, apesar de morar aqui no Rio de Janeiro há sete anos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Você é paulista! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- O que me denunciou?
- Esse “morar” caipira aí. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu sou de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
- Conheço. – Ele falou. – O que veio fazer no Rio?
- Estudar, na verdade, mas eu não fiz nenhuma federal, então poderia ter estudado em qualquer faculdade particular no estado de São Paulo.
- Então, porque no Rio de Janeiro? – Ele se virou de frente para mim, apoiando os braços no chão. Suspirei, ponderando com a cabeça.
- Meu pai é carioca e eu tinha uma avó no Rio, ela sempre foi doentinha, mas tinha meu tio para cuidar dela. Só que ele conseguiu um emprego no Nordeste e foi com a família inteira. – Ponderei com a cabeça. – Minha avó não podia ficar sozinha, aí calhou de ser na época do meu vestibular, eu conversei em casa e vim fazer faculdade no Rio para ela não ficar sozinha e cuidar dela. – Dei de ombros.
- Ela está bem? – Ele perguntou.
- Ela faleceu no meu terceiro ano de faculdade. – Suspirei. – Não deu tempo de ela ver eu me formar. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sinto muito. – Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- Está tudo bem. – Sorri.
- Por que seu pai não foi para o Rio para cuidar dela? - Ele perguntou.
- Meu pai é aviador, instrutor de cadetes em Pirassununga, interior de São Paulo. É lá que minha família mora agora.
- Bacana! – Ele sorriu. – Eu pensei em ser militar durante um tempo...
- Mas o futebol entrou na sua vida? – Perguntei.
- O futebol já existia na minha vida, para falar a verdade, mas eu não tinha certeza se daria certo até os 17, 18 anos. – Assenti com a cabeça.
- Ainda bem que deu. – Sorri. – Mas você ficaria muito bem de farda. – Vi seu rosto avermelhar mais que o normal e balancei a cabeça.
- ! – Me assustei com Lucas atrás de mim e ergui o indicador rapidamente para Alisson e me levantei, me aproximando do mesmo.
- Fala aí! – Sorri e notei que parecia que ele estava cansado. – O que aconteceu? – Perguntei.
- O Theo foi embora. – Franzi o cenho.
- O quê? Por quê? – Perguntei.
- Ele não está muito bem. – Ele negou com a cabeça. – Ele desmaiou mais cedo e Rodrigo achou melhor ele voltar para o Rio para descansar e ficar pronto para a viagem domingo.
- Eita! O que será que aconteceu? – Cruzei os braços e Lucas fez uma careta, dando de ombros. – Ué... – Abanei as mãos. – Espero que ele fique bem.
- Bem, estamos sozinhos até domingo agora. – Ele falou.
- Amanhã eu falo com a Michelle se eles vão precisar de algum apoio na parte de assessoria, afinal, só tem eu aqui agora. – Ele assentiu com a cabeça e eu senti meu celular vibrar no bolso, puxei o mesmo, encontrando o nome de Michelle no mesmo. – Não morre mais. – Virei o celular para ele e atendi a ligação. – Oi, Michelle, tudo bem? – Virei para Alisson, apontando para o celular e ele assentiu com a cabeça. – Espera um pouco, está muito alto aqui. – Dei uma corrida rápida para fora da área da piscina e o som ficou menos abafado.
- , está me ouvindo?
- Oi, Michelle, tudo bem? Os jogadores estão fazendo barulho aqui hoje. – Ela riu.
- Acho que você está sabendo de Theo, não é?
- Sim, Lucas acabou de me falar.
- Você se importa de auxiliar mais a parte de assessoria só enquanto estiver aí na Granja? Não vale a pena enviar outro assessor para dois dias e meio.
- Não, tudo bem, sem problemas. Só falar o que eu preciso fazer que eu faço.
- Ah, muito obrigada! – Ela falou aliviada. – Bom, vamos lá...

Sexta-feira começou da forma mais comum possível. Saí para tomar café da manhã, vendo os jogadores com cara de sono. Eu acabei ficando uma hora ao telefone com Michelle, então, quando desligamos a ligação, eu fui direto para cama, mas pelo jeito a festa foi até tarde. Cumprimentei rapidamente os jogadores e equipe técnica, comi rapidamente um lanche de presunto e queijo e bebi um café. Depois eu fui para uma reunião com a equipe de segurança da CBF para falar sobre o treino aberto que aconteceria hoje.
Theo estava por dentro de tudo o que aconteceria, agora com a sua ausência eu precisaria tomar as rédeas da situação. Agora, pela parte da manhã, os jogadores treinariam normalmente. Depois do almoço, a Granja seria aberta para cerca de oito mil torcedores para um jogo entre os 20 jogadores. Algo de uma hora e meia, rápido e fácil. Depois disso os jogadores passariam para falar com eles nas grades, tirando fotos e dando autógrafos. Espero que dê tudo certo.
A principal informação que eu peguei na reunião com os seguranças foi sobre as saídas de emergência. Pontos estratégicos que eu deveria encaminhar os jogadores em caso de brecha na segurança, ou seja, fãs surtados invadindo o campo.
Antes do almoço, eu passei no quarto e dei uma ajeitada em mim. Fiz uma escova rápida nos cabelos, dei uma retocada na maquiagem e calcei meus sapatos amarelos. Me olhei no espelho e respirei fundo algumas vezes, tentando me manter calma.
Peguei o iPad e o celular e olhei rapidamente a lista de imprensa que estaria presente, nada de novo. Entrei no refeitório e todos estavam lá. Acenei rapidamente para alguns jogadores e segui para o buffet, pegando o tradicional da comida brasileira dessa vez. Depois do almoço alguns jogadores deram uma rápida passada nos quartos, mas iríamos nos encontrar no restaurante, para passar as últimas informações. Acabei tendo a companhia de Cássio, Fernandinho, Taison e Danilo.
- , todos voltaram, caso tenha algo para passar. – Edu cochichou em meu ouvido e eu me levantei, confirmando com a cabeça.
- Ah, gente, podem se aproximar, por favor? – Falei, me colocando no centro do restaurante, sentindo meu rosto esquentar de vergonha.
Observei os jogadores saírem de seus lugares e se aproximarem de mim, fazendo uma meia lua à minha volta. Passei os olhos lentamente em cada um deles e puxei o ar, soltando a respiração pela boca.
- É o seguinte, como a informação já deve ter chegado a vocês, Theo, o responsável pela assessoria, precisou se ausentar por um mal súbito que o afetou na noite de ontem. – Soltei a respiração pela boca novamente. – Ele é o assessor número um, é ele que vai com vocês para Rússia, então, ele voltou para o Rio para descansar e estar nos trinques até domingo. – Eles assentiram com a cabeça. – Como eu sou a única pessoa da área de comunicação e sou jornalista, pediram para eu segurar as pontas até domingo.
- É! – Neymar gritou, aplaudindo, puxando o coro e eu revirei os olhos.
- Obrigada, obrigada! – Movimentei as mãos para baixo para reduzirem os ânimos. – Agora nós vamos descer para o campo, onde terá o treino aberto, que já é tradição aqui na Granja. – Eles assentiram com a cabeça. – Vocês farão um jogo, convencional, 90 minutos. Dividiremos vocês em dois times. Ederson, como você é o terceiro goleiro, você vai intercalar com o Cássio, primeiro tempo ele, segundo você. – Ele assentiu com a cabeça. – Como o Alisson é nosso primeiro goleiro, ele precisa mostrar trabalho. – Ele riu sozinho lá atrás. – Depois do jogo, vocês terão 30 minutos para falar com os fãs que estarão em volta, podem tirar fotos, dar autógrafos, mas já avisando! – Frisei. – Eles ficarão para fora da grade, vocês para dentro, começou empurra-empurra, eu coloco vocês para dentro na hora! – Eles assentiram com a cabeça. – Bem, não eu, os seguranças. – Eles riram em seguida. Matutei rapidamente. – Sem falar com a imprensa dessa vez, beleza? Ouviu, Neymar? – Ele assentiu com a cabeça, erguendo o polegar. - Ah, e um aviso do pessoal da segurança: em caso de brecha na segurança, empurra-empurra ou qualquer tipo de problemas, nosso ponto de referência é o vestiário lá de baixo. Fechamos com grades, então, viu alguma merda acontecendo, corre para lá. – Eles afirmaram com cabeça, me olhando atentamente. – Entendidos?
- Sim! – Eles responderam forte.
- Perfeito! – Sorri, virando para Tite. – Acho que é isso.
- Me lembre de te chamar quando precisar brigar com eles. – Ele falou e eu ri, dando de ombros.
- Estamos aqui para isso. – Sorri, olhando rapidamente para meu relógio. – Bom, vamos? – Falei e eles assentiram. – Lucas! – O chamei, que já estava com seus apetrechos na mão. – Cadê o Vinícius?
- Você quer o Vinícius ou...
- Você sabe de quem eu estou falando. – Falei e ele riu.
- Tá lá com a galera já. – Bati a mão na testa e vi Paulinho rir ao meu lado.
Peguei meus eletrônicos, coloquei em meu braço e bolso e segui para fora do restaurante, indo para o lado de fora. Alguns carrinhos de golfe nos esperavam para descer para a área de treino. Entrei em um com Lucas ao meu lado e chegamos até o campo com tudo sob controle. O Canarinho já estava fazendo a festa com a galera, literalmente sendo um animador de torcida. Tentei segurar a risada, mas era inevitável.
O jogo correu sem grandes surpresas, era visível que os jogadores não estavam dando duro de si, parecia uma pelada no fim de semana. O jogo acabou um a zero, o time que Ederson e Cássio revezaram deixou um gol do Gabriel Jesus entrar. Eu fiquei na lateral do campo com Lucas, acompanhando-o nas tiragens de fotos.
Depois disso, eu me senti no meu primeiro grande pesadelo profissional. A chuva começou a cair fina no meio do segundo tempo, nada preocupante, mas também não tinham somente oito mil pessoas lá dentro, tinha muito mais. Eles estavam agitados e nem os seguranças ou as grades dariam conta.
- Junte suas coisas e leve o Vinícius para dentro agora. – Cochichei para Lucas e ele me olhou com a testa franzida.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Só entre! Agora! – Falei firme. Ele não perguntou mais nada, junto seus materiais e se levantou do mesmo, puxando Vinícius com ele.
Olhei ao longe, próximo ao gol que era ocupado por Alisson e vi alguns seguranças se juntarem para conter o local. Pressionei o olhar para tentar ver se algum jogador estava perto, mas a chuva apertou, dificultando a minha visão e me fazendo gelar com a água molhada.
- Ei, social mídia, está tudo bem? – Cássio se aproximou e eu apoiei a mão em seu ombro.
- Me ajuda a tirar os jogadores daqui agora! – Falei firme.
- O que está acontecendo? – Um grito alto me distraiu e vi a grade tombar para frente, fazendo com que alguns torcedores caíssem para dentro do campo.
- Agora! – Falei novamente e ele saiu correndo para uma direção e eu segui para outra, tentando evitar que os saltos afundassem na grama molhada. – Para dentro, agora! – Passei os braços pelas costas de alguns jogadores, vendo-os correrem na mesma direção.
Observei o ponto de confusão e vi que os seguranças pareciam estar contendo, mas com aquela chuva caindo e os holofotes em meu rosto, eu não confiava muito no que eu via. Droga! Eu seria demitida na minha segunda semana!
Os jogadores seguiram correndo para o ponto combinado e eu olhei em volta rapidamente, vendo que o campo não tinha mais nenhum ponto amarelo e azul e corri em direção ao vestiário lá de baixo. A chuva parou de bater em meu corpo quando eu entrei embaixo da cobertura e com pressa no local, sentindo o pé da frente deslizar por causa da lama e eu cair, me apoiando na maçaneta da porta.
- Opa! – Ouvi alguém falar, mas eu ignorei, deslizando o corpo para frente e batendo a porta, respirando aliviada.
- Tá todo mundo aqui? – Gritei, com a respiração acelerada.
- Três, cinco, oito, 11, 14, 18, 20... – Alguém contou. – Tite, Lucas e Vinícius também. – Suspirei, encostando meu corpo na porta, tentando normalizar a respiração.
- Você está bem? – Olhei para cima, vendo Alisson me encarando de cima, a poucos passos de mim. Era um vestiário, o local era pequeno.
- Eu acho que torci o pé! – Reclamei, sentindo meu pé doer.
- Vem cá! – Douglas me esticou as mãos e eu ergui a mão para ele esperar.
Puxei os saltos para fora dos pés, sentindo um alívio passar pelo meu corpo. Olhei o mesmo e suspirei, esperando que eu conseguisse limpar a terra. Eu teria que parar de ir de salto para o campo, talvez não seja minha melhor ideia. Estiquei as mãos para Douglas e Alisson que me ajudaram a ficar de pé, sem que eu apoiasse o pé esquerdo e eu andei até a mesa de apoio no centro do local e me sentei na mesma, apoiando a mão no ombro de Alisson, dando um pequeno sorriso quando o fiz.
- Vamos chamar o Rodrigo para dar uma olhada. – Tite falou, desviando das pessoas e aparecendo ao meu lado, fazendo Alisson se afastar um pouco.
- Eu estou bem. – Falei, suspirando. – Eu preciso pensar o que eu vou falar para a imprensa agora. – Apoiei a mão na boca.
- O que aconteceu, afinal? Só vi todo mundo correndo. – Marquinhos perguntou.
- Liberaram entrada de muito mais gente do que o combinado, depois derrubaram uma das grades do canto norte do campo, torcedores começaram a entrar, aí começou a chover e eu não consegui ver mais nada. – Suspirei, com a respiração ainda acelerada. – Entre o sim e o não, preferi trazer todo mundo para dentro.
- Valeu! – Thiago Silva sorriu, esticando o punho para mim e eu bati no mesmo, sorrindo.
- Acho que agora você tá pronta para proteger a gente assim na Rússia. – Miranda brincou e eu ri fraco, dando um sorriso de canto.
- Ela não vai para Rússia. – Willian anunciou e me assustei com as diferentes reações.
- O quê?
- Como assim?
- Tá de brincadeira, não é? – Olhei para Alisson e seu olhar me parecia bem decepcionado, até se afastando para o fundo.
- Ei, gente! Para com isso! – Falei alto, chamei a atenção de todos. – Eu não deveria nem estar aqui na Granja, estou na CBF desde o dia 14 só. – Balancei a cabeça. – Eu vou ficar com vocês até domingo, depois vocês terão que enfrentar o mundial sem mim. – Sorri de lado. – Adoraria ir para Rússia, mas eu acabei de começar, têm muitas pessoas mais preparadas para cuidar de vocês lá. – Dei de ombros. – Mas não se preocupem, teremos Catar em 2022, Copa América ano que vem... – Sorri. – Ainda nos encontraremos em outras oportunidades.
- Tudo bem. – Coutinho falou. – Mas cortou o coração. – Ri fraco, balançando com a cabeça.
- Bom, deixa eu limpar a bagunça lá fora. – Fiz menção de descer da bancada, mas Tite segurou meu pulso.
- Você fica e espera o Rodrigo para ver seu pé.
- Mas eu... – Tentei falar para ele só me encarou e eu fiquei quieta, como uma criança.

Depois do fracasso do treino no dia anterior, eu me permiti mais 15 minutos de cama no dia seguinte. Acabamos ficando presos no vestiário por cerca de uma hora até que os seguranças nos encontraram e disseram que a barra estava limpa, que eles já tinham conseguido evacuar todo mundo.
Rodrigo, médico da seleção, apareceu junto de Cléber e Edu, preocupados conosco. Rodrigo já deu uma olhada em meu tornozelo, mas disse que estava tudo certo, era só uma leve torção, com descanso melhoraria. Fiquei aliviada!
No que eu saí do vestiário, olhei a bagunça que tinha sido feita no local, mas todos nós relevamos, que a gente pensasse naquilo no dia seguinte. Com a ajuda de um carrinho de golfe, nos levaram de volta para os prédios. Segui para o quarto apoiada em Vinícius e dava para notar que o c havia ficado depressivo, todos seguiram em silêncio para seus quartos e só ouvia as portas batendo uma a uma.
Antes de entrar em meu quarto, olhei rapidamente para Alisson, mas ele não me deu sinal nenhum, somente entrou no quarto. Suspirei e agradeci a Vinícius pela ajuda e entrei no quarto. Apesar de o tempo ter escurecido mais cedo por causa da chuva, acabava de passar das seis da tarde.
A primeira coisa que fiz foi tomar banho e me livrar daquelas roupas geladas, poderia ter tido uma torção no pé, mas também não queria pegar uma gripe. Depois do banho, peguei meus sapatos e os coloquei na banheira, aliviada por ver que ele só estava sujo com barro, imagina se eu já destruísse o sapato que Bernardo nem tinha acabado de pagar?
Depois eu falei com Michelle, expliquei a situação para ela e ela só pediu para eu elaborar um press release para divulgar para a imprensa. Ela até me aliviou falando que aquilo acontecia, mas eu havia ficado preocupada. Fiz na hora o que ela me pediu e já enviei para que fosse liberado pelo pessoal do Rio.
Lucas me enviou algumas fotos do treino, antes das coisas bagunçarem, e eu postei algumas fotos nas redes sociais da CBF, fiz uma postagem do Canarinho, vendo os seguidores aumentarem no Twitter cada dia mais e, para finalizar meu trabalho, eu enviei algumas fotos para os jogadores, tendo resposta de quase todos, menos de quem eu queria. Ele parecia chateado.
Tentei não me abalar com isso, mas eu optei por pular o jantar naquele dia. Comi um pacote de salgadinhos que eu tinha trazido para dentro, tomei um analgésico para meu pé que Rodrigo me deu e capotei antes que o Netflix pudesse carregar.

Não notei nada de diferente quando entrei no restaurante naquele sábado de manhã, animação era alta e as risadas ecoavam pelo local. Observei os jogadores amontoados em uma das mesas e me aproximei deles, vendo vários álbuns da Copa e figurinhas espalhadas pelo local.
- Ei, ! Quer um álbum? A Panini mandou! – Renato perguntou e todos viraram para mim.
- Vocês estão atrasados, meu álbum está completo faz tempo! – Falei, notando todos me encarando.
- Como assim? – Eles me olharam surpresos.
- Eu trabalho na CBF, gente! – Brinquei, rindo em seguida. – Mentira, eu estou montando desde que começou a vender. – Sorri. – Mas faltam algumas brilhantes, se sobrar, estou aceitando. – Falei e eles riram.
- Como está o pé? – Douglas perguntou e eu apontei para meus pés de chinelos.
- Parou de doer, é o que importa. – Sorri e ele assentiu com a cabeça. Procurei Alisson com o olhar, mas fui distraída por alguém me chamando.
- ! – Virei para o lado, vendo Michelle a alguns passos de mim.
- Michelle? – Falei, me aproximando dela. – Meu Deus, o que está fazendo aqui? – Falei, abraçando-a rapidamente e ela sorriu.
- Podemos conversar? – Ela perguntou e eu senti meu estômago revirar. Droga! Eu realmente estava demitida e ela veio para Teresópolis só para me dizer isso.
- Claro! – Nos afastamos dos jogadores, nos sentando em uma mesa ao fundo do restaurante e eu engoli em seco algumas vezes, tentando me preparar para o que vinha em seguida.
- Bom, , eu tenho uma notícia boa e uma péssima para te dar. – Ela respirou fundo. – Eu não viria aqui se não fosse importante. – Assenti com a cabeça.
- Se for sobre ontem, me desculpa. Eu preciso me encontrar com os seguranças para saber exatamente o que aconteceu e... – Ela negou com a cabeça.
- Não, não tem nada a ver com ontem. Essas coisas acontecem, entram mais pessoas que o permitido, torcedores brasileiros são muito calorosos... Um mais um são dois, não se preocupe. Não é sobre isso. – Assenti com a cabeça, mas senti um alívio passar pelo meu corpo.
- Então, é sobre o quê? – Perguntei.
- O que aconteceu com Theo não foi só um mal súbito, , ele realmente está mal. – Arregalei os olhos e os lábios.
- Como assim? – Perguntou.
- Ele fez alguns testes e encontraram um tumor no cérebro...
- Meu Deus! – Levei às mãos à boca. – Ele está bem?
- Ele está fazendo todos os exames, os médicos estão analisando as chances dele, mas, por mais feio que pareça, isso não é problema nosso... – Ela suspirou, coçando a cabeça. - Bem, eu acho que não preciso mais enrolar. – Ela suspirou. – Ele não vai mais para Rússia. – Assenti com a cabeça.
- Imaginei, e quem vai no lugar dele? – Perguntei.
- Se você puder, você mesma! – Arregalei os olhos.
- O quê? – Falei um tanto surpresa.
- Parece que não, mas eu acompanhei todos os seus trabalhos aqui na Granja, não só o que você me mandou, como o que o Lucas, Vinícius e até o Theo mandou. Você está realmente nos surpreendendo... – Ri envergonhada. – Além disso, os jogadores realmente gostaram de você. – Ela falou. – Achei que mandar uma mulher sozinha para cá seria um tiro no pé, mas você lidou muito bem com a situação, os jogadores estavam se perguntando de ti quando eu cheguei... – Assenti com a cabeça.
- Eu confesso que me afeiçoei a eles também, é um trabalho muito gostoso de fazer e eles foram muito gentis. – Sorri. – Até falamos sobre isso ontem, e eles não ficaram muito felizes com eu não ir. – Ela sorriu.
- Bom, eu conversei com o pessoal acima de mim, conversei com os dirigentes, com Tite, com Angélica e com Bianca, você é a nossa primeira opção. – Ela sorriu. – É questão de popularidade, você está sendo bem vista pelos jogadores e pela equipe e acho que aguentaria o tranco na Rússia. Passar esses dois meses com eles. Além de que você acabou de fazer exame médico para começar seu trabalho conosco e é a única que está com ele atualizado. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Uau! – Falei rindo.
- E por mais que eu adoraria te dar alguns dias para decidir, aceitando isso, você tem que ir amanhã com eles para Londres. Então, eu preciso da sua decisão agora para preparar a documentação e outros itens importantes para a viagem. – Respirei fundo três vezes, mas balancei a cabeça rapidamente.
- Eu não tenho o que pensar, Michelle. Eu aceito! – Falei com um largo sorriso no rosto. – É uma oportunidade única na vida, eu não vou perder e prometo que vocês não vão se arrepender. – Falei, sentindo o choro na garganta.
- Essa é a minha garota! – Sorri. – Bem, lá na Rússia você não vai atuar como social mídia... – Ela balançou a cabeça. – Me deixa reformular. Você não vai trabalhar só como social mídia, você vai acabar auxiliando a parte de social mídia, o Vinícius, o Canarinho e o Lopes no Brasil, mas lá na Rússia, eu preciso de três assessores. – Assenti com a cabeça. – Tivemos só a experiência de ontem contigo, mas com a sua presença aqui com os jogadores, decidimos te colocar em um trabalho direto com eles: imagem. – Assenti com a cabeça. – Seu trabalho é acompanhar e analisar a imagem dos jogadores.
- Ok... – Franzi a testa.
- Em poucas palavras? Cuidar e brigar com os jogadores, se for necessário.
- Brigar?
- Em um jogo de futebol, os ânimos dos jogadores ficam exaltados demais, então, dependendo da situação, algumas palavras feias acabam saindo, os jogadores e a Seleção são mal vistos, etc... – Assenti com a cabeça. – Bom, seu trabalho, no geral, vai ser acompanhar os jogos, treinamentos e afins, analisar e controlar a imagem dos jogadores, nos enviar relatórios sobre isso a cada jogo. – Confirmei.
- E as redes sociais?
- Esqueça-as por enquanto, temos outras pessoas que poderão fazer seu trabalho enquanto você estiver fora. – Assenti com a cabeça. – Foque nos jogadores, na imagem dos jogadores, nos jogos, nos acontecimentos e divirta-se, você vai acompanhar uma Copa do Mundo de dentro, esse é o sonho de muitas pessoas. – Sorri.
- O meu também. – Assenti com a cabeça.
- Bom, eu vou te passar outras informações depois, mas eu preciso de algumas informações para enviar para a FIFA para a elaboração de crachás, reserva de quartos, te colocar na lista da CBF, nas listas de voos, além de tamanho de roupa para uniformes, ternos da CBF e tudo mais...
- Eu vou ganhar um terno daqueles? – Falei abobalhada.
- Você vai ganhar uma viagem com tudo pago para Inglaterra, Áustria e Rússia e está pensando no terno? – Ela falou e eu ri.
- Oh meu Deus. – Parei rapidamente. – Temos um problema. – Me lembrei.
- Qual? – Ela perguntou.
- Minha família mora no interior de São Paulo, meu passaporte está lá, minhas malas maiores estão lá... – Respirei fundo.
- Onde sua família mora?
- Pirassununga, é perto de Ribeirão Preto.
- Se eu te liberar agora e ficar no seu lugar entre hoje e amanhã, você consegue ir direto para o aeroporto Santos Dumont pegar um voo para Ribeirão Preto e voltar para o aeroporto do Galeão até amanhã as cinco e 45 da tarde? – Ela me perguntou. – O voo para Londres sai às seis.
- Consigo! – Falei firme. – Eu vou ligar para o meu pai ver se tem algum avião da Força Aérea Brasileira indo para Pirassununga saindo do Galeão, se eu conseguir, ele para na minha cidade. – Ela me olhou confusa. – Ele é instrutor na FAB.
- Ok. – Ela balançou a cabeça, se levantando. – Vá, agora! Use o cartão corporativo para o que for necessário, mas eu preciso de você às seis horas naquele avião para Londres.
- Pode deixar! – Abracei-a fortemente, com um largo sorriso no rosto. – Obrigada! – Sorri. – Muito obrigada!
Me afastei da mesma dando pequenos pulos no lugar e me virei, saindo desesperada para fora do restaurante, somente ouvindo os barulhos do meu chinelo estalarem fortemente contra o piso.


Capítulo 3 – Aquecimento para a Copa. Olá Europa!

- Onde você está? – Ouvi uma voz abafada quando atendi ao telefone.
- Estou chegando! – Respondi para Lucas. – Eu acabei de despachar a bagagem.
- Corre! – Ele falou. – Eu estou vendo que esse avião está saindo e você ainda não está aqui.
- Eu estou correndo! – Falei, realmente fazendo o que eu falava. – Vou passar na imigração e vou para a sala de embarque VIP.
- Faltam 10 minutos, . Não vai dar tempo.
- Cala a boca, Lucas! – Falei brava, andando devagar, quando entrei na fila da imigração e vi que a de brasileiros estava mais vazia. – Vou te colocar em espera. – Falei, quando vi a minha vez chegando.
- O quê?
- Xí! – Respondi, colocando o celular no bolso.
- Próximo! – O oficial falou e eu me apoiei no balcão, entregando meu passaporte, passagem e as informações passadas pela CBF. – Londres, certo? Vai acompanhar a Seleção Brasileira? – Ela perguntou e eu ergui o crachá em meu pescoço.
- Sim! – Falei sorrindo.
- Bem, boa viagem e tragam o hexa para gente! – Sorri, agradecendo com a cabeça e juntei todos os materiais, saindo da fila e voltando a correr desengonçadamente.
Tente correr com aquele terno da seleção, só que na sua versão de shortinho, para mulheres, o salto amarelo, para, supostamente, me apresentar bem diante às câmeras do voo, uma mochila nas costas que me fazia parecer uma tartaruga, minha bolsa de mão e ainda a pasta com os documentos necessários. Eu estava maquiada também, então, para ajudar, eu estava suando.
- ! – Ouvi um abafado e parei rapidamente em um balcão do free shop e joguei tudo dentro da bolsa, puxando o celular novamente do bolso e seguindo em direção à sala de embarque VIP.
- Estou chegando! – Gritei ao telefone.
- Os jogadores estão falando de você. – Ele cochichou.
- Ah é? O quê? – Perguntei, respirando aliviada ao avistar a sala de embarque.
- Ah, estão perguntando o que aconteceu para você ir embora correndo daquele jeito, se aconteceu alguma coisa contigo igual aconteceu com o Theo e a falta que você vai fazer na viagem.
- Vocês não disseram que eu estou indo? – Gritei.
- Ah, achamos que seria legal você fazer uma entrada triunfante no avião. – Ri, erguendo o crachá para a mulher na porta. – Mas você tem que chegar logo! – Ele gritou a última parte.
- Vou passar no raio-X. – Joguei o celular na bandeja e me livrei de tudo, colocando na esteira.
- Estávamos te esperando. – A mulher falou e eu respirei fundo.
- Obrigada! – Foi o que eu consegui falar, terminando de tirar meus acessórios e passando no detector de metais. Ignorei a ligação de Lucas, eu estava chegando!
- Tudo certo! – O segurança falou do outro lado e eu peguei todos os acessórios, colocando no bolso e peguei as bolsas, me organizando.
- Por aqui. – Os seguranças me indicaram o caminho e eu segui os mesmos, passando pela porta que dava para o pátio do aeroporto. – É aquele ali. – Ele apontou para um avião branco com detalhes em verde e eu suspirei.
- Obrigada! – Falei, mas o avião ainda estava longe.
Respirei fundo e voltei a correr, vendo diversos aviões estacionados mais perto que o fretado e senti que morreria de tanto correr. Eu estava fora de forma, com roupa e sapatos inadequados. Certeza que eu estava um caco. Desacelerei o passo quando notei a presença da imprensa ali e passei por eles devagar, vendo uma aeromoça no pé da escada. Suspirei quando finalmente cheguei ao seu lado.
- Senhorita ? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim! – Falei, cansada.
- Seja bem-vinda! – Ela falou e eu olhei as escadas, subindo-a lentamente, encontrando outra aeromoça lá em cima.
- Olá! Boa tarde. – Ela falou e eu sorri, atravessando a primeira área do avião, encontrando alguns rostos conhecidos.
- Ei! – Tite falou animado. – Você chegou! – Suspirei, relaxando os ombros. – Está tudo certo? – Ele perguntou e eu ri, sentindo-o me abraçar e depositar um beijo em minha testa.
- Agora está! – Suspirei.
- Senhorita, você precisa se acomodar para a partida. – A aeromoça falou e eu assenti com a cabeça.
- Dê um minuto a ela, por favor. – Tite falou. – Achei que você quisesse ficar com o pessoal da Granja, então reservei um lugar para você na parte de trás. – Ele falou e eu franzi a testa.
Não fiz perguntas, mas olhei para o fim do corredor e uma cortina que dividia em duas seções. Enquanto andava para a parte de trás, notei que nessa primeira parte só tinha os dirigentes, equipe técnica, assessores e afins... Resumindo, todo o povo mais velho. Acenei rapidamente para Angelica e Bianca que sorriram para mim e senti o celular vibrar novamente em meu bolso e puxei o mesmo, vendo o nome de Lucas novamente.
Ri sozinha e abri a cortina que dividia as duas seções e entendi porque separaram o avião em dois. Aquilo parecia uma excursão escolar, todos os jogadores estavam lá, lindamente apresentados com aquele terno, incluindo Vinícius e Lucas que filmavam e tiraram fotos deles rindo, abraçados, jogados nas poltronas e afins. Suspirei e cutuquei Lucas, vendo-o virar com a câmera em minha direção.
- Quer parar de me ligar? – Falei e ele abaixou a câmera.
- ! – Ele falou alto, junto de outras pessoas, me abraçando pelos ombros e me apertando fortemente, me fazendo olhar para o pessoal do fundo que me encarava surpreso e eu acenei com a ponta dos dedos, procurando Alisson com o olhar.
- Sentiram minha falta? – Falei e Lucas me soltou, me fazendo rir.
- Mano, o que você está fazendo aqui? – Thiago Silva foi o primeiro a me abraçar e eu ri, encontrando Alisson ao meu lado, no outro corredor, com um pequeno sorriso no rosto.
- Vim no lugar do Theo! – Falei rindo, abraçando mais Miranda, Cássio, Ederson, Vinícius e... Alisson, que estavam na frente.
- Eu pensei que... – Ele falou e eu balancei a cabeça.
- Longa história. – Falei, assentindo com a cabeça e ouvi um toque no viva-voz.
- Por favor, senhores passageiros, afivelem os cintos que prepararemos para a decolagem.
- Essa mulher não gosta de mim. – Falei e eles riram, se preparando para seus lugares. – Onde está vago? – Perguntei.
- Aí mesmo. – Alisson falou mostrando para as duas poltronas do meio e olhei para o lado, vendo-o de um lado e Ederson do outro.
- Duas poltronas para cada um mesmo?
- Parece que sim. – Ele falou com um pequeno sorriso no rosto e eu franzi a testa, olhando para o fundo do avião. – Willian, porque você já está sem blusa?
- Eu não vou ficar engravatado o voo inteiro. – Ele mostrou uma camiseta do Brasil e eu ri, negando com a cabeça.
- Podia esperar pelo menos sair do Rio, não é?! – Falei e o pessoal riu.
Coloquei minha bolsa e mochila no bagageiro, enquanto os jogadores se ajeitavam em seus lugares. Me sentei na poltrona que ficava mais próxima ao corredor de Alisson e suspirei ao sentir o conforto da mesma. Eram poltronas de couro, ou melhor, duas poltronas de couro só para mim, com uma extensão para deitar, televisão individual, água, lanterna, nécessaire com produtos de higiene pessoal, travesseiros, uma manta e aquela almofada de pescoço com nome personalizado. Eu estava literalmente nas nuvens.
- Esse é o melhor dia da minha vida. – Falei sozinha, ouvindo Alisson rir ao meu lado.
Nos mantivemos quietos enquanto o avião taxiava na pista e senti meus olhos marejarem quando o avião foi batizado com as cores da Seleção. Juntei as mãos rapidamente e abaixei a cabeça, fazendo uma reza silenciosa, pedindo que Deus nos protegesse nessa longa caminhada, em todas as viagens e percursos e que nos ajude a cumprir o que estamos indo conquistar. Que o hexa seja nosso e que possamos trazê-lo para casa.
Passei a mão no rosto, limpando as lágrimas que deslizaram de meu rosto e ouvi as turbinas do avião soarem mais alto e respirei fundo, soltando o ar três vezes. Hora de voltar para Londres! O avião correu pista e eu abri um largo sorriso quando as rodas descolaram do chão.
- Partiu Rússia. – Falei, mordendo meu lábio inferior e suspirei.
- Partiu Rússia! – Alisson falou me olhando e eu sorri.
Demorou pouco menos de 10 minutos para que o avião nivelasse e os avisos de afivelar os cintos fossem apagados. A maioria dos jogadores se levantou para se trocar. Eu fiz o mesmo. Tirei meu paletó e a gravata e puxei minha mochila do bagageiro. Procurei pela camiseta da seleção que todos estavam vestindo, uma calça de moletom e fui para o fundo do avião, à procura de um banheiro. Aproveitei para cumprimentar outros jogadores.
Voltei para meu lugar e vi que todos tinham aproveitado minha saída para ficarem mais confortáveis. Dobrei meu terno e coloquei embaixo da minha mochila no bagageiro. Aproveitei para pegar o notebook na bolsa e o carregador. Guardei tudo de volta no bagageiro e me sentei novamente, tirando os sapatos e colocando-os embaixo da poltrona, colocando um pé de cada vez na poltrona para eu calçar uma meia. Voos internacionais costumavam virar verdadeiros iglus.
Procurei rapidamente pelo botão e estendi a parte das pernas da poltrona e a vi se alargar como uma cama, me fazendo suspirar aliviada. Estiquei a manta sobre minhas pernas e abri a mesa lateral, colocando o notebook nela e ergui a tela, colocando a senha e vi o logo da CBF se abrir em minha frente. Fiz uma careta para o mesmo e suspirei. Essa correria toda havia me cansado.
- Entediada? – Virei para o lado, vendo Alisson sentado da mesma forma que eu, mas com a manta até seus ombros.
- Cansada, para falar a verdade. – Fechei o notebook novamente, virando o corpo para ele. – Eu peguei três voos em dois dias. – Balancei a cabeça. – Não estou acostumada. – Suspirei.
- O que aconteceu depois de sábado? – Ele perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Michelle, aquela mulher que eu estava conversando no sábado de manhã, é a minha supervisora, ela fica no prédio do Rio. Ela veio me dizer que Theo, o assessor principal para acompanhar vocês, não está muito bem. Aparentemente o negócio é mais sério do que o esperado. – Ele se ajeitou na poltrona, ficando mais ereto. – Ela veio me perguntar se eu queria ir para Rússia, já que, aparentemente, os jogadores tinham gostado muito da minha presença e que como estamos bem entrosados, seria ideal que eu fosse.
- E você veio! – Ele riu, abrindo um sorriso bonito.
- Eu não sou mulher de negar oportunidades da vida. – Falei rindo e ele assentiu com a cabeça. – Só que depois de eu aceitar, eu precisei resolver muita coisa. – Suspirei. – Eu arrumei minhas coisas, voltei para o Rio, passei no meu apartamento para arrumar uma parte das minhas coisas, me despedi do meu colega de quarto, fui para o aeroporto do Galeão onde meu pai arranjou um lugar para mim em um avião da FAB que estava indo para nossa cidade...
- Meu Deus! – Ele falou rindo.
- Ah, isso não é tudo. – Abanei as mãos. – Cheguei lá, fui para casa, arrumei mala, peguei documentos, passaporte e afins. Dormi por umas três horas, tive que viajar para Ribeirão Preto de carro para pegar um voo comercial, já que não tinha nenhum voo da FAB voltando para o Rio, cheguei aqui, encontrei ainda a estagiária da CBF que me passou todas as roupas, releases, documentos e informações para viagem, fui para o banheiro, me arrumei com essa roupa sensacional e me maquiei para fazer bonito na frente da imprensa por dois segundos, despachei a mala e... – Puxei o ar, virando para olhá-lo. – Saí correndo igual uma condenada. – Revirei os olhos, colocando a mão no rosto, ouvindo-o gargalhar. – Eu não sei como a imigração me deixou passar.
- Acho que essa é a melhor história de todas! – Ele comentou.
- Quem disse que a CBF é só glamour? – Brinquei, negando com a cabeça. – Bem, aqui estou, a caminho da maior aventura da minha vida. – Ele sorriu.
- Primeira vez viajando para fora?
- Não, na verdade. Eu estudei em Londres por um mês, então estou bem empolgada para voltar, e depois acabei viajando por mais um mês por alguns países próximos: França, Itália, Portugal, Espanha e por aí vai... Mas eu nunca pensei em visitar a Rússia. – Falei rindo.
- Parece surreal, não é? – Confirmei com a cabeça.
- Eu ainda não acredito que trabalho para a CBF, que conheço a Seleção Brasileira de Futebol, que estou indo no 0800 para a Rússia e estou sendo paga por isso. – Ele sorriu. – Minha vida toda mudou em menos de duas semanas e eu não estou acreditando.
- Acho que alguém lá em cima pensou que precisasse um pouco mais de emoção! – RI fraco.
- Isso é algo que meu colega de quarto falaria. – Brinquei, negando com a cabeça. – A diferença é que ele faria isso de forma mais teatral, com plumas e paetês, mas é... – Neguei com a cabeça e o olhei sorrindo para mim. – Você não é muito falar, certo?
- Eu gosto de escutar a história das pessoas. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Não faça isso, se não eu não paro de falar. – Brinquei e ele riu.
- Tá tudo certo! – Ele sorriu e eu suspirei com aquele sorriso lindo.
- Bom, eu vou deixar você descansar e ver as informações que me passaram.
- Você deveria descansar um pouco também. O trabalho vai ser pesado. – Ponderei com a cabeça.
- Não se preocupe, eu estou presa por 11 horas em uma caixa de metal com poucos meios de entretenimento. – Ele negou com a cabeça rindo. – Eu não tenho para onde ir. – Sorri, voltando na minha posição anterior e ao computador. Conectei o fone no notebook, dei play em uma lista do Spotify, abri o pendrive que estava espetado no mesmo e respirando fundo antes de começar a trabalhar.

Acordei assustada quando o avião deu uma sacudida e apoiei as mãos nos braços da poltrona e fiz força neles, me sentando na poltrona e abrindo as pernas, abaixando-as do apoio para as pernas e fechei o mesmo. O avião estava claro novamente, olhei no meu relógio e faltava pouco menos de uma hora para pousarmos. Virei para o lado direito e vi Alisson com os olhos atentos a seu iPad e com os fones na orelha. Tentei olhar para a fresta da sua janela, mas o sol batia em meu rosto.
Virei o rosto para o lado esquerdo e Ederson estava da mesma forma que Alisson. Respirei fundo e olhei a bagunça que eu tinha feito com meus eletrônicos na poltrona ao lado. Pensei que era melhor eu arrumar aquilo tudo e me trocar, Alisson e Cássio já estavam de volta com seus ternos, faltava só o paletó.
Desafivelei o cinto e me levantei, notando Alisson me acompanhar com o olhar. Ele acenou e eu dei um pequeno sorriso. Peguei minha mochila no bagageiro e guardei todos os eletrônicos. Peguei meu terninho dobrado no mesmo e calcei meus sapatos amarelos, de meia e tudo, peguei a nécessaire e segui para o banheiro.
Fiz minha higiene pessoal e maquiagem, com alguma dificuldade por causa das sacudidas que o avião dava e troquei de roupa, colocando o short, a camisa de manga curta, refiz o nós da gravata longa e vesti o paletó, ajeitando a gola do mesmo. Peguei meus óculos aviador e já o coloquei no rosto. Me sentei novamente e puxei as meias para fora dos pés, ajeitando os sapatos e saí do banheiro, juntando minhas coisas.
- Uh! Olha ela! – Ouvi Jesus gritando lá atrás e eu balancei a cabeça.
- Me respeita, moleque! Sou mais velha que você. – Falei e o ouvi e o pessoal em volta rir.
Voltei para meu lugar, guardei tudo em seu devido lugar e me sentei novamente na poltrona, afivelando o cinto e cruzando as pernas, apoiando a cabeça para trás, aguardando as próximas instruções. Senti algo bater em meu braço e virei para Alisson novamente, ele tinha um sorriso no rosto e fazia um sinal positivo com a mão. Ri fraco, revirando os olhos.
- Vou falar a mesma coisa que eu falei para o Gabriel, hein?! – Brinquei e ele riu.
- Qual sua idade? – Ele perguntou e eu franzi a testa. – Você disse que é mais velha que ele.
- 24. – Ele riu fraco.
- Então, você não é mais velha que eu! – Dei de ombros.
- Não. – Falei rindo. – Mas eu que estou no comando ainda. – Ele riu, assentindo com a cabeça.
- Sim, madame. – Ri fraco.
O avião logo pousou no aeroporto de Stanstead em Londres. Bem, teoricamente em Londres, era muito longe do centro. O avião seguiu até o hangar e os jogadores terminaram de se arrumar, graças aos óculos de sol, fingi que estava esperando a saída e dei uma secada naquele homem ao meu lado.
Eu, Lucas e Vinícius fomos chamados pela equipe de comunicação e os primeiros a sair do avião. Não saímos no finger, nem na pista, saímos direto no hangar, onde dois ônibus nos esperavam. Meus dois colegas tomaram a frente do grupo, começando a tirar fotos e a filmar. Eu segui a equipe de comunicação e me sentei em uma das poltronas.
Eu fiquei as primeiras quatro horas de voo trabalhando, lendo todos os arquivos que eu tinha recebido pelo pendrive de Giovanna, estagiária da CBF, a maioria era sobre protocolos para quando eu chegasse na Rússia. Como Michelle havia dito, como eu estava próxima aos jogadores, minha ocupação seria cuidar da imagem e compromissos deles, Bianca cuidaria da relação direta com a imprensa e Angelica com a relação direta com a FIFA. Eram três trabalhos parecidos, mas completamente independentes.
Lucas e Vinícius entraram e saímos dali. Dessa vez os jogadores foram no outro ônibus. A viagem até o Centro de Treinamento do Tottenham Hotspur demorou cerca de meia hora. Passei esse tempo conversando com Bianca e Angélica para alinharmos nossas ocupações. Acabamos optando por um grupo no WhatsApp com nós três, Lucas e Vinícius para repasse de informações e pedido de informações e de materiais.
Fiquei abismada quando chegamos ao CT. Era tão bonito e grandioso quanto a Granja Comary, espaços abertos, flores e plantas por todos os lados e uma instalação incrível e recém-inaugurada. Nos reunimos por alguns minutos na recepção do hotel de dentro do CT e aguardamos a distribuição de chaves. Todos estavam cansados, então ninguém falava. Precisamos fazer duplinhas como na época da escola, ironicamente acabei ficando com Vinícius, achamos que seria melhor para adiantar as coisas do Canarinho. Eu já dividia o apartamento com um homem, então não seria tão diferente.
O hotel tinha cinco andares, então todos ficaram espalhados em quartos variados. No meu andar tinha equipe técnica, de comunicação, jogadores e nós. A cada passo que dávamos, acabávamos encontrando pessoas totalmente aleatórias e era muito engraçado ver o pessoal perdido pelos andares, principalmente Geromel e Marquinhos que erraram o andar três vezes.
Assim que entramos no quarto, ficamos aliviados em ver duas camas de solteiro, mas eu e Vinícius já combinamos como funcionaria a parte íntima do quarto, após algumas conversas, foi bom ter certeza que Vinícius não tinha nenhum interesse amoroso em mim, então estávamos quites.
Não deu muito tempo para sentar e descansar os pés, a folha da programação diária já estava pregada atrás da porta quando chegamos. Quatro horas teria um almoço de recepção e depois os jogadores realizariam um teste de dopping feito pela FIFA. Fiquei feliz pelo almoço, tinha perdido o café da manhã do avião, então estava com bastante fome. Eu olhei para Vinícius deitado na cama e nos levantamos na mesma hora. Ele ainda se deu ao trabalho de tirar o terno e colocar o moletom e a camisa azul marinho da Seleção, eu teria que trabalhar um pouco, então me mantive daquela forma, somente dando uma retocada na maquiagem.
Pegamos nossos materiais e descemos novamente à procura do restaurante. A maioria já estava lá se servindo de alguma coisa do buffet. Aproveitei e já adiantei, eu teria que subir para uma sala com os jogadores em breve.
- . – Angelica se aproximou quando notou que eu já havia terminado de comer e eu me levantei, seguindo em sua direção, ela estava com mais duas pessoas com ela. – Eu vou falar em inglês, tudo bem?
- Claro! – Falei, assentindo com a cabeça.
- Esse é Rob May, chefe do departamento médico da FIFA. – Assenti com a cabeça, estendendo a mão para ele que o apertou. – Essa é , ela assessora os jogadores.
- É um prazer te conhecer. – Sorri.
- O prazer é meu. – Fiquei feliz da minha língua não enrolar e nem de eu estar com um sotaque muito caipira ao falar inglês.
- Ele veio acompanhar o teste de dopping. – Angelica falou para mim e se virou para Rob. – E ela acompanhará os jogadores na retirada.
- Claro! Já estamos prontos, quando quiserem. – Ele falou mais para mim do que para Angelica.
- Eu vou juntar todos e já subimos. – Falei e ele assentiu com a cabeça, Angelica sorriu para mim.
- Vou te acompanhar. – Angelica falou, acompanhando o homem da FIFA.
Virei novamente, passando o olhar rapidamente pelos jogadores e vi que todos já estavam de bobeira, a maioria olhava para mim, esperando o que eu faria. Todos, sem exceção, trocaram de roupa, vestindo o moletom e a maioria usava bonés agora. Cocei a cabeça rapidamente, bufando discretamente e bati palma duas vezes, vendo os rostos começarem a se virar para mim.
- Eu preciso da atenção dos jogadores, por favor. – Falei e eles começaram a se levantar e formar a meia lua em minha frente novamente. – É o seguinte, o caminho para a Rússia está começando agora! – Falei firme. – E para isso, vocês terão vários desafios, compromissos, viagens e jogos para cumprir até dia 15 de junho que é quando o espetáculo começa. – Sorri e eles aplaudiram, gritando animados. – Nossa primeira parada é aqui em Enfield, onde ficaremos até a viagem para Liverpool para o amistoso contra a Croácia, depois voltaremos para cá para mais uma semana de compromissos e treinamentos e depois seguiremos para Viena, na Áustria, para um amistoso contra o time da casa e depois seguiremos para Sochi, na Rússia, para botar a mão na massa. – Eles aplaudiram novamente, gritando. – Eu não sou o Tite, nem o Edu, o Cléber, Fábio ou o Rodrigo, mas eu também não deveria estar aqui. – Eles riram. – Eu estou aqui porque, aparentemente, vocês 20 gostaram da minha presença e trabalho em Teresópolis, e me trouxeram para cá.
- Uhul! – Neymar gritou acompanhado de Willian e Jesus e eu sorri, levando a mão ao peito.
- E eu sou muito grata a isso, eu estou realizando sonhos e espero que possamos realizar juntos o sonho de trazer o hexacampeonato para casa. – Falei firme e eles continuaram a aplaudir, me fazendo rir. – Mas aqui o trabalho é diferente, o trabalho vai ser mais difícil, mais cansativo, mais puxado e tudo estará amplificado, principalmente o sentimento de vocês. Lá em Teresópolis, meu trabalho era cuidar das redes sociais da CBF, aqui – Apontei para o chão. – meu trabalho é cuidar de vocês e da imagem de vocês. – Eles assentiram com a cabeça. – Então, sim, eu vou continuar perto de vocês, mas eu vou ser muito mais chata do que em Teresópolis. - Respirei fundo. – Mas eu não quero que vocês me vejam como alguém diferente de lá, eu ainda estou aqui para ajudar vocês. – Eles confirmaram com a cabeça. – Então, caso vocês tenham algum problema com notícias, redes sociais, fãs, família, amigos e afins, qualquer problema de imagem, eu estou no segundo andar no primeiro quarto do corredor, vocês têm meus celulares, me chamem! – Eles confirmaram com a cabeça e vi ao fundo Tite com um sorriso no rosto. – Entendidos?
- Sim! – Eles falaram firmes e eu ri, balançando a cabeça.
- A gente finge que eu mando em alguma coisa, vocês fingem que me obedecem e é isso aí. – Eles gargalharam e eu balancei a cabeça. – Bom, depois os outros profissionais vão se apresentar a vocês, mas agora eu vou acompanhar vocês para o teste de dopping da FIFA. – Falei firme. – Creio que todos já passaram por isso, mas para aqueles que não estão familiarizados, esse teste é para ver se tem alguma substância ilegal no seu organismo... Espero que não, senão eu já começo batendo em alguém. – Eles riram. – Eles tirarão três ampolas de sangue e vocês terão que... – Cocei a cabeça. – Intimidade é uma porcaria. – Falei rindo sozinha. – Vocês terão que urinar em um copinho esterilizado. – Falei e vi Alisson gargalhar com mais alguns no fundo. – Vamos seguir na ordem dos números das camisetas, então vamos começar com Alisson, Thiago Silva, Miranda... – Parei um momento. - E vocês vão seguindo, porque eu só me lembro de cor até aí. – Eles riram e vi os três nomes que eu chamei se aproximar.
Segui com eles até o local da extração e vi três médicos preparados e acenei com a cabeça para Alisson entrar na sala e os dois o seguiram. Lucas e Vinícius estavam lá, é claro! Depois que o jogador tirava sangue, o próprio médico entregava o copo e ele seguia para o banheiro que tinha na própria sala, voltando algum tempo depois com o copo cheio. Ok, era só xixi, mas não foi uma cena interessante de presenciar.
- Eu odeio isso! – Me assustei com Alisson atrás de mim, depois que saiu da sala.
- Por quê? – Perguntei, olhando para a retirada de sangue.
- Sua vida aparece nesse exame de sangue. – Ele cochichou enquanto assoprava em meu ouvido, me fazendo sentir cócegas. – Se você tomou um remédio para dor de cabeça há três meses, eles vão saber. – Virei o rosto para o lado, sem olhar diretamente para ele.
- E isso dá problema?
- Depende do remédio que você tomou. – Ele falou, se apoiando na parede atrás de mim. – A gente sabe quais substâncias podemos ou não tomar, mas eu tive uma gripe antes de ir para Teresópolis, certeza que vai aparecer. – Ele respirou forte.
- Não se preocupe. – Dei um pequeno sorriso, voltando a olhar para frente. – Vai dar tudo certo.
- O que eu faço agora? – Ele perguntou e eu desbloqueei meu iPad, olhando a programação.
- O que você quiser. – Respondi. – Descansar, relaxar, amanhã vocês começam. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou dormir, então. – Ele falou. – Alguém dormiu o voo inteiro, eu não. – Ri fraco, virando o rosto.
- Me analisando? – Cochichei para ele, mas virei para trás e ele já seguia pelo corredor, me deixando falando sozinha.
- Estou livre? – Me assustei com Miranda saindo da sala.
- Está sim, amanhã começa o trabalho de verdade.
- Valeu! – Ele falou e foi pelo mesmo caminho de Alisson.

O trabalho na Granja era fichinha comparado ao de Londres. A primeira coisa que eu notei era que os dias começavam mais cedo e terminavam mais tarde, ou seja, enquanto tivesse trabalho, eu teria que estar trabalhando, não importando a hora que fosse. Pelo menos meu trabalho era com os jogadores, então, se eles estivessem no horário de descanso deles, na teoria, eu poderia aproveitar o meu.
Logo no primeiro dia eu tive uma reunião com toda a equipe de comunicação da CBF e da FIFA para alinhar os últimos detalhes do amistoso contra a Croácia e a Áustria. Isso durou umas duas horas. Depois, aproveitamos que a equipe de comunicação já estava reunida e fizemos um repasse de informações para mim. Afinal, eu não deveria estar ali, e sim Theo, e ele já tinha recebido as informações há meses. No fim, também aproveitando a equipe reunida, eu passei as informações para o pessoal de relações públicas e publicidade sobre o Canarinho Pistola, a maioria achava que era um meme que surgiu na internet, mas confirmei que a intenção era essa, mas a CBF que controlava tudo.
Com o fim da reunião, a equipe saiu em peso para almoçar, ou melhor, lanchar. Os horários de alimentação seguiam o mesmo de Teresópolis, então acabamos pegando o fim do lanche da tarde. Eu passei o dia vivendo a base de amendoins e água. Então, peguei um cachorro quente e um Guaraná (sem Coca-Cola, patrocínio) e devorei.
Bem, eu o devorei por alguns segundos, em um momento eu dei uma rápida checada nas horas e notei que já estava atrasada para a recepção de Firmino. Ele decidiu negar sua folga depois da UEFA e chegaria antes. Limpei minha boca no guardanapo e saí às pressas para a entrada principal, ouvindo o barulho conhecido dos saltos contra o piso.
Antes de chegar lá, já ouvi algumas vozes. Me aproximei e vi alguns jogadores reunidos cumprimentando o novo membro do time. Firmino acabou aparecendo no meio dos jogadores, com aquele conhecido sorriso. Me aproximei deles, vendo alguns dos jogadores me notar e começar a abrir espaço, e o novo membro do time se virou para mim.
- Eu não te conheço. – Ele falou e eu estendi minha mão.
- Eu sou a , vim no lugar de Theo para assessorar vocês. – Falei e ele apertou minha mão.
- Ela é a nova chefe! – Ederson brincou e eu virei para o lado.
- A brincadeira está ficando velha. – Falei e o pessoal riu.
- Me lembro de os chefes serem um pouco mais velhos. – Firmino brincou e eu sorri.
- Olha a sorte de vocês! – Entrei na brincadeira. – Oficialmente, eu sou social mídia da CBF, mas, por alguns probleminhas, eu vou assessorar vocês durante a Copa.
- Legal! – Ele sorriu.
- Ela é demais! – Paulinho comentou e eu sorri para ele.
- Ela joga futebol. – Taison continuou.
- Ela é ótima! – Willian seguiu.
- Ei, minha bola tá enchendo demais aqui. – Falei e eles riram.
- É um prazer! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou deixar você se apresentar ao Tite, se acomodar e no jantar eu te passo as informações que eu passei aos outros jogadores, pode ser?
- Claro! O que for melhor para você.
- Perfeito! – Falei e olhei rapidamente para os outros jogadores. - Vocês não deveriam estar treinando, não?! – Comentei e todos arregalaram seus olhos. – Vamos! – Falei e saí andando pelo menos caminho que voltei.

Os dias foram passando sem grandes surpresas, tirando do assédio da imprensa atrás de informações, as coisas estavam rolando como deveriam. Acabamos adiantando uma coletiva da imprensa, pois a imprensa realmente não tinha nenhum acesso aqui ao CT do Tottenham. O local era fechado com muros altos e a imprensa só podia ficar no treino por 15 minutos.
Falando em treino, eu não estava conseguindo acompanhar quase nada. O trabalho com os meninos estava ok, mas a parte das redes sociais estava fervendo. A contagem regressiva para a Copa estava intensa e tudo na internet também ficava intenso. Além do Canarinho que tomava um tempinho delicado, mas parecia que estava dando tudo certo.
Além dos diversos trabalhos que surgiam que a gente nem via, sendo alguns mais prazerosos que outro. Um dia eu precisei ir com Bianca para Londres para pegar os crachás para o jogo para o amistoso contra a Croácia e, depois disso, nós acabamos dando uma rápida escapada para visitar o centro tradicional de Londres. Tínhamos idades parecidas, então aproveitamos que Angelica não estava perto e suspiramos na beirada do Tâmisa.
Senti boas recordações ao estar ali na ponte de Westminster, olhando para a London Eye de um lado e para o Big Ben do outro. Só senti pelo Big Ben não estar tocando. A reforma ainda estava rolando e ele estava todo coberto. Mesmo assim, tiramos algumas fotos, fizemos algumas selfies e pegamos o trem de volta para o CT. Tínhamos uma coletiva mais tarde e teríamos que acompanhar.
Chegamos ao CT e seguimos para nossos quartos. Encontrei Vinícius se transformando no Canarinho para a coletiva de imprensa. Eu coloquei minha roupa de guerra, polo azul e o sapato amarelo e me sentei na cama por alguns segundos para mandar uma mensagem para Tite.
Eu preciso de uma resposta”. – Escrevi, aguardando alguns momentos.
Já?” – Ele respondeu.
”. – Respondi.
A resposta demorou um pouco mais para vir, mas já era quem eu esperava.
Thiago Silva”.
Te vejo em 10 minutos”. – Respondi e guardei o celular no bolso, pegando o iPad e olhei rapidamente o horário dos jogadores e suspirei, vendo que precisaria ir para a academia novamente.
Entrei na mesma, olhando rapidamente por entre os aparelhos, encontrando-os vazios. Segui pelo corredor central, já ouvindo o barulho ecoar novamente pelo local e chamar a atenção do pessoal que treinava em colchonetes no fim do corredor. Abri um sorriso discreto quando passei pelos goleiros pedalando nas bicicletas e acenei para Alisson, vendo-o sorrir.
- Você precisa parar de vir na academia de salto. – Ri fraco.
- Eu ainda não vim malhar, Fred. – Brinquei e olhei rapidamente para o movimento que eles faziam em cima de rolinhos. – Eles filmam vocês assim? – Franzi a testa.
- Uhum. – Ponderei com a cabeça.
- Isso não são posições que vocês deveriam fazer em casa sozinhos, imagina filmando. – Neguei com a cabeça e eles fizeram caretas.
- Rá, rá, rá! – Eles retribuíam sarcásticos e eu ri.
- Thiago! – Falei um pouco mais alto. – Você foi o escolhido para a coletiva. – Falei e ele parou de fazer o movimento, se levantando.
- Ah que beleza! – Ele falou sem pique e pegou uma toalha rapidamente, passando no rosto e se aproximou de mim.
- O devolvo em uma hora, Fábio. – Falei para o preparador físico que assentiu com a cabeça.
- Você estando com ele, está tudo certo. – Ele respondeu e eu ri fraco
- Vão se preparando que amanhã tem outra! – Falei, e saí com Thiago ao meu lado.
- Eu preciso saber alguma coisa de diferente do normal? – Ele me perguntou enquanto caminhávamos lado a lado pelos locais.
- Aqui está o roteiro de perguntas, todos os jornalistas mandaram, mas talvez tenhamos falta de um ou dois, mas não sei dizer quem. – Entreguei o iPad para ele com as informações para a coletiva.
- Tudo bem. – Ele falou, olhando a lista rapidamente. – Vai ter algum repórter da Globo?
- Sim. – Mexi na tela rapidamente. – Mas está nomeado como SporTV.
- Eles são os piores. – Ri fraco.
- Alguns. – Fui honesta. – Mas, não se preocupe, eu estarei contigo a todo tempo, caso se sinta desconfortável com alguma pergunta ou não quiser responder, principalmente sobre a sua história na Rússia, só me dá um toque que eu intervenho.
- Obrigado! – Ele falou, virando para mim com um sorriso.
- Estou aqui para cuidar de vocês. – Falei, dando uma batidinha fraca em suas costas e entramos na sala que antecedia a da coletiva. – Oi, Tite. – Falei para ele que bebia um gole de café, um dos assistentes me entregou uma blusa limpa e eu entreguei para Thiago. – Aqui! – Ele logo tirou a blusa e trocou pela limpa. – Preparados?
- Pronto para ser bombardeado de perguntas. – Tite falou e eu ri.
- Vamos lá! – Falei sorrindo e abri a porta da coletiva, vendo os dois saírem e fechei a mesma, me colocando na lateral.

- Espera, Vini. Volta duas fotos. – Falei e ele apertou a tecla do notebook e eu vi uma foto antiga do Canarinho recepcionando os jogadores em algum lugar, ele estava de frente para o Willian, Fernandinho e Casemiro de braços abertos, que riam de alguma coisa.
- O que você está pensando? – Ele perguntou e eu respirei fundo.
- Não parece que o Canarinho está brigando com eles porque demoraram a chegar? Ou algo assim? – Virei para ele.
- Parece. – Ele falou rindo.
- Mas... – Peguei o computador, clicando para abrir o Photoshop. – E se ele estivesse brigando por não terem ganho o hexa ainda?
- Como assim, ? A Copa nem começou. – Ele falou e eu abri a foto no programa de edições.
- É piada, Vinícius! Você ainda não pegou o espírito da coisa. – Falei rindo e larguei o tratamento de imagens para lá e peguei a ferramenta texto, escrevendo somente 10 palavras.
- “Tão rindo do quê? Já ganharam o hexa por acaso?” – Vinícius riu e virou de barriga para cima, gargalhando em sua cama. – Isso tá demais. – Ele falou. – Eu vou postar agora.
- Pode postar! – Falei rindo. – E vamos tomar café, preciso recepcionar o Marcelo e o Casemiro que já devem ter chego e eu estou com a barriga roncando.
- Vamos sim! – Ele pegou o computador e eu me levantei, seguindo rapidamente para o banheiro e passando um batom. Soltei o cabelo do rabo de cavalo, jogando-o para trás e voltei para o quarto, vendo Vinícius arrumar seu crachá e me entregar o meu. - Os jogadores já estão curtindo. – Ele falou.
- Certeza que eles colocaram alerta para o Twitter do Canarinho. – Ele riu e saímos do quarto, passando pelo corredor. - Ah, Geromel, vai dizer que você está perdido aqui de novo? – Falei para ele que riu.
- Dessa vez não! – Ele falou e eu ri, negando com a cabeça.
Eu e Vinícius seguimos para o restaurante pela entrada principal, encontrando alguns jogadores espalhados pelos sofás dali, outros entrando e saindo do refeitório, mas a maioria com cara de sono. Fiquei aliviado por ter chego antes dos jogadores dessa vez. Parecia que eu sempre estava atrasada para os lugares.
- Bom dia, gente! – Ederson acenou, passando por nós com Taison, e eu sorri.
- Bom dia! – Sorri e percebi que em um dos sofás, Alisson me olhava, com a cabeça encostada no encosto do sofá. – Oi! – Fiz questão de acenar para ele, como em todas as vezes e ele sorriu, erguendo a mão. – Danilo! – Falei ao vê-lo passar em minha frente e corri em sua direção, apoiando as mãos em seus ombros.
- Ah que susto, ! – Ele falou e eu ri.
- Desculpa! – Abanei a mão. – Hoje você vai para o tiro, tá?
- O quê? – Ele se assustou.
- Para a coletiva. – Ele revirou os olhos.
- Meu Deus! – Ele falou rindo. – De boas! Que horas? – Ele perguntou.
- Não se preocupe, quando for a hora, eu te chamo no treino.
- Obrigado! – Ele falou e eu sorri.
- Ei, ! – Virei para o outro lado da entrada, olhando Willian com o celular na mão que ria sozinho. Me aproximei do sofá que Alisson estava e apoiei os braços no mesmo. – Você que fez esse meme do canarinho?
- O que você acha? – Perguntei e ele continuou a gargalhar sozinho e eu neguei com a cabeça.
- Que meme? – Alison perguntou ao meu lado e outras pessoas se aproximaram de Willian para pegar o celular dele.
- Twitter ponto com barra canarinho pistola. – Falei, me desencostando do local e virei para Alisson. – Divirtam-se! – Sorri e segui para a porta, onde uma van parou na mesma.
- Pô! Mas já fazendo pressão? – Neymar falou brincando e eu dei de ombros.
- Aproveita que por enquanto é pressão de brincadeira. – Apontei para ele que franziu os lábios, apontando para mim de volta.
- Você tem razão! – Sorri, vendo Marcelo e Casemiro saindo da van com as suas malas.
- Oi... – Marcelo falou meio perdido quando eu fui para fora.
- Olá, tudo bem? – Sorri. – Eu sou , social mídia da CBF, mas aqui e na Copa sou responsável pela assessoria.
- Ah, então você é a . – Marcelo falou, apertando minha mão.
- Vejo que eu estou ficando famosa. – Apertei a mão de Casemiro, sorrindo.
- Vamos dizer que só deu você no grupo do WhatsApp no primeiro dia em Teresópolis. – Virei para dentro novamente, vendo todos os jogadores presentes escondendo os rostos em almofadas ou olhando para baixo no celular.
- Interessante! – Falei rindo. – Mas eu sinto que lidando com uma sala de sétima série! – Falei e dei de ombros, balançando a cabeça.
- Sexta! – Marcelo brincou. - Com alguns alunos repetentes. – Gargalhei, negando com a cabeça.
- Bom, gente, sejam bem-vindos. – Falei para os dois. – Vocês chegaram na hora do café da manhã, fiquem à vontade. Vou deixar vocês se apresentarem ao técnico Tite, se acomodarem em seus quartos e mais tarde eu junto vocês para passar as informações que eu dei para os outros jogadores, tudo bem?
- Claro! – Eles falaram juntos.
- Perfeito! – Falei, entrando novamente na recepção e andei por entre os jogadores cabisbaixos. – Ah, depois eu quero entrar nesse grupo, viu?! – Comentei, seguindo em direção ao restaurante. Assim que eu entrei no restaurante, eles começaram a se levantar para cumprimentar os recém-chegados.

O resto dos dias no Tottenham não foram tão diferentes. Todos acordavam na mesma hora e seguiam para seus compromissos. Os jogadores seguiram para o campo para treinamentos individuais ou em grupo, ou para a academia, e eu seguia para os afazeres do dia com a equipe de comunicação ou sozinha. Vez ou outra eu botava a cara no sol para chamar algum jogador para dar alguma declaração, entrevista, gravar vídeos para o canal e tudo mais. O trabalho era mais pesado e o local de trabalho era restrito.
No terceiro dia de coletivas, foi a vez de Fernandinho ser mandado para o abate. Cada dia Tite escolhia um e eu fazia o acompanhamento dos dois. Também já tinha virado piada o fato de eu chegar toda arrumada para chamar alguém para a coletiva. Era o motivo perfeito para eu receber elogios típicos de sétima série, mas eu já estava me acostumando.
Dia primeiro marcou o fim da primeira parte da nossa estadia em Londres. Pegaríamos um trem para Liverpool. A CBF reservou dois vagões, só para que a equipe e os jogadores viajassem confortavelmente e reservadamente.
O dia correu bem, a viagem seria somente as oito e 40 da noite, então os jogadores passaram o dia treinando normalmente e seguimos para a estação de Watford Junction uma hora antes da partida.
Os jogadores estavam bem animados, alguns já tinham viajado bastante de trem, outros nunca tinham viajado. Eu já tinha, da vez que vim para cá e fui para Paris de Euro Trem. A viagem tinha sido confortável, mas a velocidade do trem era muito rápida e me dava vertigem. Mas dessa vez eu tinha outros problemas para lidar: com a imprensa.
Eu não cuidava dessa parte de assessoria, era Bianca, mas alguns jornais italianos estavam desesperados atrás de informações sobre os possíveis protestos que poderiam acontecer com a chegada de Phillipe Coutinho em Liverpool e Bianca não falava italiano. A treta era que Coutinho largou o time inglês pelo Barcelona no meio da temporada, deixando o antigo time na mão. Os ingleses estavam realmente putos com ele e o dia inteiro eu respondi perguntas em português, inglês, espanhol e italiano sobre o assunto e elas simplesmente não paravam de chegar.
Depois de embarcar no trem, eu fiquei uns 15 minutos no início do trem falando com a Globo sobre o jogo. Os jogadores já tinham se organizado e se distraíam de diversas formas possíveis. A organização de pessoas estava toda bagunçada, o pessoal foi entrando de forma desorganizada e se sentando nos assentos vazios, então tinha equipe técnica com jogador, jogador com comunicação e comunicação com equipe técnica. Seria difícil achar Bianca, que provavelmente estava presa com algum jornal francês.
- Ei, , quer jogar? – Fred me perguntou quando eu passei pela mesa dele, de Neymar, Jesus e Douglas.
- O que estão jogando? – Me apoiei no bagageiro de cima.
- Pôquer! – Neymar responder, pegando algumas fichas.
- Ah, isso não é comigo não. – Brinquei. – Quando foram para o truco, me avisem! – Brinquem e eles riram.
- Isso é na mesa de trás. – Jesus falou e eu andei mais um pouco, encontrando a mesa de Paulinho, Geromel, Willian e Marquinhos.
- Te coloco de próxima? – Paulinho perguntou e eu ri.
- Coloca! Vamos ver se a imprensa vai deixar. – Falei e eles riram.
- A gente te chama! – Willian falou e eu fiz um positivo com as mãos, continuando meu caminho para o fundo do trem à procura de Bianca.
- Senhorita. – Senti alguém segurando minha mão e virei, vendo que Taffarel tinha me chamado.
- Oi, precisa de alguma coisa? – Perguntei, apoiando em sua poltrona e notei que ele conversava com Alisson, que não largava aquele chimarrão.
- Estava conversando com Alisson sobre você lá na Granja, ele comentou que tu eras goleira. – Senti meu rosto ferver e quis pular do trem.
- Fui sim. – Falei rindo.
- Senta, vamos conversar! – Ele falou e me sentei na poltrona livre do outro lado do corredor.
- Nem imagino porque um dos maiores goleiros do mundo queira falar de futebol comigo. – Falei e ambos riram.
- Futebol é futebol! Não importa se é uma pelada com os amigos no fim de semana ou um grande campeonato. O que diferencia é a importância que você dá a ele. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Isso é verdade. – Sorri.
- E então, onde jogava? Como começou essa sua paixão? Ela ainda continua? – Respirei fundo, cruzando as pernas e ajeitando a barra do jeans.
- Eu jogava na faculdade, campeonatos e jogos universitários, principalmente. – Dei de ombros. – Meu avô materno foi meu grande inspirador nessa vida, me dava uniformes de times, os parentes tentavam me puxar para um e para outro, mas era só diversão. – Taffarel assentiu com a cabeça. – Quando eu entrei no ensino fundamental, tinha na aula de educação física. A partir da sétima série o negócio era mais sério, tinha campeonatos internos, com outras escolas, o time misto, só das meninas e eu fui me dando bem nessa parte. – Dei de ombros. – Depois, no ensino médio, eu mudei de escola e eles tinham um formato americano, então eu tinha outros esportes, totalmente fora dos convencionais.
- Como assim? – Alisson perguntou.
- Corrida, futebol americano, basebol. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Na faculdade eu precisava fazer algumas eletivas para cumprir crédito e tinha o futebol, logo me chamaram para o time do centro de comunicação e foi indo. – Sorri.
- E porque ser goleira e não outra posição? – Dei de ombros.
- Minha família inteira é de goleiros. – Ri fraco. – Meu pai, meu tio, minha prima... A gente não consegue formar time para jogar no Natal, por exemplo, porque todo mundo quer ficar no gol. – Eles riram.
- Parece em casa. – Alisson falou e eu virei para ele. – Todo mundo é goleiro. – Ri fraco, assentindo com a cabeça.
- E quais eram suas estatísticas? – Franzi o cenho por um momento, pensando.
- Minha melhor porcentagem foi no último ano da faculdade. Eu sofri três gols em 25 jogos. – Falei. – Dá um gol a cada oito jogos. 12 por cento de desvantagem.
- Jogos de 90 minutos? – Taffarel perguntou.
- 90 minutos, campo padrão, 11 jogadoras de cada lado...
- Uau! Isso é bom demais! – Taffarel falou e eu assenti com a cabeça.
- Isso é melhor que a minha estatística. – Alisson falou.
- Qual é? – Perguntei.
- Um a cada cinco.
- Bom, claro que não estamos falando de jogadores profissionais que chutam a 150 quilômetros por hora... – Eles riram. – Mas eu gostava.
- Quem sabe a gente não te coloca no campo um dia? – Sorri.
- Seria uma honra, confesso, mas prefiro não pagar mico. Tirando as peladas de fins de semana na areia, eu não pego numa bola faz três anos.
- É como andar de bicicleta! – Taffarel falou e eu sorri, sentindo o celular vibrar novamente.
- Ah, e lá vamos nós de novo. – Olhei o nome “La Repubblica”, jornal italiano que já tinha me ligado três vezes naquele dia e respirei fundo. – Me dão licença, por favor?
- Claro! – Eles falaram e eu atendi a mesma já em italiano.
- Olá, Enzo! – Falei, respirando fundo.
- Senhorita, gostaria de saber mais informações sobre a chegada de senhor Coutinho em Liverpool daqui a pouco. Temos boatos de protestos sobre... – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Já falamos sobre isso, Enzo. Não vamos passar informações sobre o senhor Coutinho, isso você precisa falar diretamente com a assessoria dele e eu já disse que não vou passar o contato deles... – Apoiei o cotovelo na mesa, enquanto ele falava.
- Mas, senhorita, a vinda do senhor Coutinho para Liverpool é de grande interesse... – Engoli em seco, suspirando.
- Eu sei e já falamos sobre isso em todas as suas ligações. Caso não tenha outro assunto a tratar, darei esse assunto como resolvido e gostaria de não receber mais ligações do La Repubblica sobre isso. – Respondi com calma, tentando me manter com a cabeça fria, mas ele desistiu logo.
- Sim, senhorita. Desculpe-me e obrigado. – Respirei aliviada.
- Grazie e buona sera. – Desliguei o telefone e me levantei.
- Você sabe falar italiano? – Alisson perguntou um tanto surpreso e eu dei um pequeno sorriso para ele.
- Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. – Respondi em italiano e vi seu rosto ficar mais vermelho que o normal. – Com licença, senhores. Preciso procurar Bianca. – Voltei à minha língua materna.
- Claro! – Taffarel falou e eu me levantei, continuando meu caminho para o fundo do trem.
Acabei encontrando Bianca e repassei as informações da imprensa para ela anotar no relatório semanal dela e devolvi o celular, mas falei para ela deixar que eu cuidasse do jornal italiano que não parava de encher o saco.
Assim que chegamos em Liverpool, seguimos direto para o hotel e cada um foi para o seu canto. Eu ainda acabei ficando no lobby e no restaurante com Bianca lidando com algum pessoal da imprensa, mas nem sinal dos jogadores. O dia que antecederia o jogo começaria cedo e os nervos estavam exaltados.
Minha alegria naquela noite foi chegar ao quarto, agora dividindo com Vinícius e Lucas, e ver que Lucas havia capturado a minha conversa com Taffarel e Alisson. Fiquei feliz, com a minha correria para a Rússia, eu tinha perdido a visita do Zagallo na Granja no sábado à tarde e quis me matar quando Lucas me contou.
Publiquei a foto em meu Instagram com legenda “Só fera” e logo recebi uma curtida do meu pequeno perseguidor: Alisson. Balancei a cabeça e larguei meu celular, tentando entender exatamente o que estava acontecendo, mas eu não podia negar que estava gostando daquilo, e queria saber aonde aquilo chegaria. Além de que eu também estava me afeiçoando a ele, mas eu não tinha pressa. Ficaríamos juntos por pouco mais de um mês, se tudo desse certo, e não queria que aquilo afetasse nossos trabalhos. Além de que quando tudo terminasse, eu voltaria para o Rio de Janeiro e ele para Roma.
Fiquei pensando em seus olhos verdes e no que poderia se passar na cabeça dele por alguns segundos, mas o cansaço me ganhou e eu dormi rapidamente. Pulei o café no dia seguinte para dormir alguns minutos a mais. Depois segui para encontrar Gabriel Jesus que seria o capitão no jogo do dia seguinte.
No final da coletiva, eu segui com Jesus e Tite para o estádio Anfield Road, lar do Liverpool, time de Firmino, para acompanhar o treino. Dessa vez, me certifiquei de ir de tênis para não termos problemas como teve na Granja.
Assim que eu passei pelo túnel do local que seria o jogo, eu simplesmente esqueci que os jogadores estavam em campo. Eu fiquei abismada com aquilo tudo, soltando um suspiro de alegria ao ver aquela cena maravilhosa. O estádio era simplesmente divino.
Eu não estava acostumada a jogar em campos tão bonitos e bem cuidados como aquele. Tanto que eu ainda tinha algumas cicatrizes em meus ombros e lateral do corpo quando eu defendia uma bola e caía em lugares onde a grama estava desgastada. Mas ali não, o gramado era nivelado, tudo bem organizado e arrumado.
Eu acabei não conseguindo conter uma antiga tradição de quando eu ia jogar em campos que eu não conhecia. Caminhei até a trave direita, que eu tinha mais facilidade, e fiquei de cócoras atrás da mesma, passando a mão na grama, tirando algumas folhas e brincando com elas na ponta dos dedos, sentindo o cheiro gostoso da mesma, enquanto o vento passava pelo meu rosto.
Isso não fazia sentido na época que eu jogava, e fazia menos agora, mas dava certo. Era o meu momento, aqueles cinco minutos que eu ficava ali, fazia toda a diferença. Me levantei, passando uma mão na outra e olhei para frente, encontrando Alisson me encarando do outro lado da rede.
- Tradição? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Algo assim. – Brinquei e ele sorriu.
- Você pode ficar, mas vou pedir para se afastar um pouco. – Ele falou e eu ri.
- Não se preocupe, não sou de ficar de bobeira atrás da trave ou na lateral do campo, as pessoas tendem a levar boladas. – Brinquei, saindo pela lateral e ele riu. – Mas sério, eu tenho que trabalhar. – Acenei rapidamente, virando para olhá-lo por alguns segundos. - Além do mais, eu não quero te deixar nervoso. – Dei de ombros, me virando sem esperar sua reação.

Fui a última a entrar no ônibus e me sentei atrás de Tite e Cléber, na segunda fileira, junto de Lucas. Aumentei a música que tocava em meu iPod e fechei os olhos, sentindo o ônibus começar a andar em direção ao Anfield Road.
Era hoje o dia, o primeiro amistoso antes do início da Copa do Mundo. O c estava um pouco tenso. Eles estavam nervosos, e eu entendia. Apesar de ser só um amistoso, Brasil tinha fama de ser a melhor seleção do mundo, então só essa questão já era o suficiente para fazer com que a pressão crescesse ainda mais. Se o c ficava tenso em dia de jogo para um amistoso, imagino quando a Copa do Mundo chegasse.
A manhã foi marcada por reuniões entre o Tite e os jogadores, e entre a equipe de comunicação e um representante da FIFA, ninguém foi para o campo e ninguém cuidou das responsabilidades convencionais. Pouco depois das 11, o almoço foi servido e o c continuava daquele jeito, jogadores cabisbaixos, assessores recebendo e ignorando várias ligações da imprensa. Eu os observava de longe e me distraía com o que eu tinha para fazer. Eram situações como essas que eu sabia me colocar em meu lugar.
Mas era incrível como essa pressão havia começado hoje de manhã. Ontem, depois de sair do estádio, acabei saindo com Vinícius e Lucas para fazer algumas imagens do Canarinho na cidade dos Beatles para publicar na CBF TV, claro que eu acabei fazendo turismo. As pessoas se aproximavam e se interessavam no Canarinho, então acabamos tendo várias imagens sensacionais, principalmente com crianças. Nunca tinha vindo para Liverpool, então, aproveitei.
Voltamos para o hotel e já estava no meio do jantar. Os espíritos estavam animados, os jogadores estavam fazendo a festa com batuques e cantando os pagodinhos que eu já tinha me acostumado, acabamos participando um pouco da festa, mas logo Cléber acabou com a festa, falando que todos precisavam dormir. Enchemos os elevadores do hotel e cada um foi para o seu canto.
Mas eu imagino que esse silêncio que reinava, que permitia que os sertanejos em meu iPod tocassem sem nenhuma intromissão, fazia parte de tradições ou concentração dos jogadores. Até eu acabei ganhando um pouco desse nervosismo, e eu nem entraria no campo.
Assim que o ônibus parou, eu e Lucas fomos os primeiros a sair. Lucas tiraria fotos, Vinícius vinha no carro de trás como Canarinho e eu precisaria arranjar um lugar com televisão para arrumar meu espaço e acompanhar o jogo com as redes sociais abertas. Arrumei a mochila nas costas e esperei alguns membros da comissão passarem e segui para dentro do estádio do Liverpool.
- Angelica, me diz uma coisa, antigamente com o Marcos, onde ele ficava para acompanhar os jogos? – Colei nela, vendo-a abaixar o telefone por alguns segundos e ela pensou por alguns segundos.
- Droga! – Ela comentou, segurando meu braço para pararmos, deixando os jogadores nos passarem. – Eles não pensaram nisso quando te mandaram.
- O quê? – Perguntei.
- Ele ficava no vestiário. – Fechei os olhos, erguendo à mão até a testa.
- Tá brincando comigo, não é? Junto com os jogadores?
- É o único lugar com televisão, mesa, tomadas... – Ela falou e eu respirei fundo, soltando a respiração fortemente.
- Mas que caramba! – Respirei fundo, olhando os últimos jogadores passarem e balancei a cabeça. - Bem, seja o que Deus quiser! – Dei de ombros.
- Boa sorte! – Ela falou e eu suspirei.
Continuei pelo corredor com Angelica e parei na porta do vestiário do Brasil, respirando fundo três vezes e passei pela mesma, seguindo pela antessala e entrei no mesmo, vendo o vestiário se abrir em minha frente com os locais separados para cada jogador com os uniformes, uma larga bancada no meio que eu poderia usar como mesa e duas televisões de 50 polegadas uma de cada lado.
Alguns jogadores já tinham começado a se despir e eu respirei fundo, olhei para Marcelo, que era o primeiro local e vi que ele usava um daqueles tapa-olho para dormir, puxei o mesmo de sua cabeça e entrei no local.
- Ei! – Marcelo reclamou.
- Eita, porra! – Ouvi algumas pessoas falarem, mas ignorei, me aproximando da bancada e colocando minha mochila na mesma.
- Vamos entrar num acordo aqui, pode ser? – Falei, me virando para os jogadores. – Eu preciso ficar aqui e vocês precisam se trocar, então, vamos ser adultos o suficiente para viver em harmonia e não comentar sobre isso fora daqui! – Falei, colocando as mãos na cintura. – Pode ser? – Passei os olhos por eles, que se entreolhavam e me segurei para não encarar Alisson sem camisa mais do que eu devia.
- É o jeito! – Thiago Silva falou.
- É, tá tudo certo! – Neymar falou e eu assenti com a cabeça.
- Perfeito! – Falei, abrindo minha mochila e começando a tirar os eletrônicos da mesma.
Dois notebooks, carregadores, iPad, celulares e câmera fotográfica. Liguei os dois notebooks, colocando as senhas no mesmo e um eu abri o drive da CBF, onde Lucas me enviaria as fotos do campo. No outro, conectei meu rabinho com internet e abri as redes sociais da CBF e o e-mail. Vi que a postagem que eu programei sobre o jogo, já tinha sido postada.
- Meu Deus! Quanta coisa! – Filipe Luís parou ao meu lado, olhando os eletrônicos e eu ri. – Ninguém te chamou de nerd, não?
- Já sim. – Falei rindo. – Mas eles acabam mudando o pensamento quando me conhecem. – Ele riu.
- Eles têm razão! – Ele falou e eu ri.
Peguei os carregadores e fiquei feliz por não ter que deixá-los esticados pelo local, tinham tomadas na própria bancada. 45 minutos antes do começo do jogo, os jogadores foram para treinamento e eu aproveitei para ficar mais confortável, subi na mesa, colocando o notebook no colo e coloquei meus dedos para trabalhar.
Mas logo os jogadores voltaram para se trocar e eu sabia que o jogo estava para começar. Aproveitei para ir ao banheiro, feliz por não encontrar nenhum jogador lá dentro e depois voltei, andando pelo local e parei ao lado de Alisson, vendo-o encher sua cuia com mais água quente e cruzei os braços, apoiando meu corpo em seu armário.
- Você vai acabar se intoxicando com isso. – Comentei e ele riu, se levantando.
- Não tem perigo. – Ele falou. – Me acalma. – Assenti com a cabeça.
- Imagino.
- Quer experimentar? – Ele me estendeu a cuia e eu olhei para ele por alguns segundos, antes de dar uma sugada na bomba, sentindo meu corpo arrepiar inteiro com o gosto amargo e fiz uma careta.
- Meu Deus! – Passei as mãos nos braços. – Arrepiou até o último fio de cabelo. – Ele gargalhou ao meu lado.
- Não é tão ruim assim! – Balancei o rosto.
- Ah não, imagina! – Brinquei e ele riu.
- Prontos? – Tite chegou com a comissão técnica e eu olhei para Alisson.
- Bom jogo. – Falei, dando um sorriso.
- Obrigado! – Ele disse e eu voltei para a mesa, puxando o notebook para a beirada da bancada e liberei a postagem da escalação do time e acompanhei a saída dos jogadores do vestiário.
- Tá tudo organizado aí? – Virei para o lado, vendo Tite atrás de mim.
- Tá sim! Me organizei. Eu e os meninos entramos em um acordo, tá tudo certo. – Falei, sorrindo.
- Muito bom! Agora vamos. – Ele me segurou pelos ombros.
- Como assim?
- Você vai ver o jogo lá de fora. – Ele falou.
- Não, Tite, sério, eu preciso...
- Eu sei! – Ele falou. – Mas aqui eu ainda consigo burlar a CBF um pouco, na Copa o buraco é mais embaixo. – Ele sorriu. – E eu aposto que você nunca viu um jogo da Seleção. – Suspirei.
- Nunca. – Sorri.
- Então, vai. Tem lugar junto com os dirigentes. – Ele falou e eu suspirei, abrindo um largo sorriso, sentindo uma felicidade enorme crescer dentro de mim.
Não teria como eu levar o notebook, mas peguei o iPad e os celulares e segui Tite para fora do vestiário. Olhei rapidamente para meu pé e estava de salto. Que o espaço para a equipe seja de concreto! Os jogadores já estavam organizados em duas fileiras, os do Brasil e os da Croácia, mas as crianças não tinham chego ainda. Peguei meu celular, tirando uma foto da fila com eles de costas e passei por meio deles.
- Olha ela! – Coutinho foi o primeiro a gritar e eu ri, acenando para eles e passando no meio as filas.
- Decidiu sair da toca, é?! – Willian gritou e neguei com a cabeça.
- Convite especial! – Gritei, seguindo por entre eles e dando alguns passos de costas para olhar para eles. – Bom jogo! – Falei voltando a andar de frente e eles gritaram alguma coisa sem sentido.
Saí do túnel, vendo o estádio lotado de torcedores e engoli em seco, sentindo uma pequena lágrima deslizar pelo meu rosto. Vi Rodrigo acenar para mim e eu segui em sua direção, notando que o banco de reservas nesse jogo era junto com os torcedores, somente com uma divisão entre ambos. Passei por entre alguns jogadores e me sentei entre Cássio e Rodrigo, vendo os jogadores entrarem em formação e ouvindo a torcida gritar.
Eles se colocaram em linha com as crianças em sua frente e as bandeiras foram colocadas lado a lado. Meu coração já batia acelerado. O hino da Croácia foi tocado antes, eles eram os mandantes do jogo, em seguida, meu coração veio à boca. Todos os brasileiros se levantaram para ouvir o hino.
Meu corpo se arrepiou e meu choro ficou preso na garganta. As pessoas cantavam firmes e fortes. Eu tentava acompanhar, mas minha voz não saía. Eu estava emocionada demais para fazer alguma coisa.
Os jogadores se uniram para tirar a foto oficial e os capitães se encontraram no meio com os juízes para decidir entre bola e campo, e entregar as flâmulas. O time se reuniu no meio rapidamente e depois se separaram. Alisson foi para seu gol e o goleiro Croata para o dele. O juiz apitou e começa o jogo!
Assistir ao jogo da televisão e do campo, não eram tão diferentes assim, mas a emoção era maior. Todas aquelas pessoas gritando e torcendo faziam que o coração batesse mais forte. Além de que, no campo, eu via detalhes que na televisão eu não veria, por exemplo. Eu queria muito ver o trabalho do Alisson, mas seu gol estava com sombra, o que acabava impedindo minha visão.
O começo do primeiro tempo foi meio parado, se não fossem as diversas faltas que Fernandinho fez nos primeiros 10 minutos. Além de uma tentativa de gol no nosso campo que fez meu coração bater mais forte, mas estava impedido. Segundos depois, Alisson fez uma defesa, mas deixou a bola escapar e teve que pular em cima da mesma, antes dos croatas chegarem nele.
O banco inteiro da Seleção Brasileira se levantou quando um croata deu uma entrada perigosa em Thiago Silva, o que acabou causando um cartão amarelo. Marcelo tentou um passe para Willian que estava em posição irregular e foi marcado o impedimento.
- Caramba! – Falei, começando a ficar nervosa com a demora do gol. – Abre o placar! – Cochichei para mim.
Paulinho sofreu falta. Willian sofreu falta. Não parecia que os croatas estavam tão amistosos assim. Tivemos duas chances seguidas de gol de Coutinho de fora da área, mas fora! Depois duas de Paulinho e Willian que foram defendidas pelo croata.
- Porra! – Cássio falou ao meu lado e eu ri.
Dois cartões amarelos seguidos foram dados, um para um croata e outro para Fernandinho, ambos por entradas perigosas. Meu coração gelou quando Alisson atropelou um croata para defender uma bola, mas não deu nada.
Três minutos de acréscimo!
Fim do primeiro tempo.
Os jogadores entraram, mas eu preferi ficar ali. Provavelmente Tite faria algumas ressalvas com os jogadores e se eu estivesse lá dentro, preferia sair, então, não me mexi. Mas 15 minutos passam muito rápido, então logo todos estavam de volta.

Antes de o apito soar novamente, Tite poupou Fernandinho e colocou Neymar em seu lugar. O apito tocou. Parece que o papo lá dentro adiantou, pois tivemos algumas oportunidades de gol logo no começo, de Danilo e Neymar. Logo depois a bola cruzou de campo e Alisson defendeu para trás. Aos 15 minutos, Tite tirou Marcelo e colocou Filipe Luís, tirou Jesus e colocou Firmino, tornando Firmino o novo capitão e depois tirou Miranda, colocando Marquinhos.
Filipe Luís fez um passe, mas Neymar estava em posição de impedimento... Porra! Outra tentativa logo em seguida! Neymar veio pela lateral esquerda, cruzando os croatas e acertando no meio do gol.
- GOL! – Gritei junto aos jogadores reservas, ficando de pé e gritando junto da torcida.
Meu coração deu uma acalmada depois do gol. Me aquietei por um tempo, vendo diversas faltas sendo cometidas, cartões amarelos sendo distribuídos para os croatas, substituições e tentativas de gol nos dois lados, indo para fora ou sendo defendida pelos goleiros.
Quatro minutos de acréscimo!
Olhei para o telão rapidamente e respirei fundo. Um a zero estava bom, estava tudo certo, até que Casemiro fez um lançamento para a área que eu pensei que não chegaria para ninguém, mas chegou em Firmino que estava sozinho, com somente um croata em sua cola. Ele recebeu a bola no peito e o croata tentou desviar com a perna, em vão. O goleiro se aproximou, mas a bola bateu no chão e Firmino chutou por cima do goleiro, indo para o fundo do gol.
- GOL! – Gritei novamente, pulando animada e vi o estádio vir abaixo. Firmino fez um gol no estádio do Liverpool, onde ele jogava.
- Isso aí! – Cássio se virou para minha frente e batemos as mãos, nos abraçando em seguida.
- Uhul! – Gritei comemorando.
A bola voltou para o meio de campo, o juiz apitou e depois apitou anunciando o fim do jogo, me fazendo sorrir. Isso que é Brasil, no sufoco. Me levantei junto dos outros jogadores e equipe técnica e os segui, vendo alguns jogadores passarem por mim e Lucas se aproximando com suas coisas do meio do campo.
- O que você está fazendo aqui? Recebeu as fotos? – Ele perguntou e eu ri.
- Tite me convidou para ver o jogo do campo e eu acabei me distraindo. – Falei fazendo uma careta e ele riu.
- Te ajudo a postar.
- Beleza! – Falei, seguindo para dentro do vestiário novamente.
- É! – Jesus passou o braço pelo meu ombro, pulando enquanto comemorava e eu ri, sentindo-o pular ao meu lado e deu alguns pulos com ele, mas não queria quebrar meu salto.
Olhei para o time da Croácia entrando e abri um sorriso ao ver que tinha uma mulher também no meio deles. Ela era mais velha que eu, mas era uma mulher naquele mundo de homens. Só de ver aquilo, já me deixou feliz. Acenei para ela, vendo-a acenar de volta com um sorriso no rosto e entramos em diferentes vestiários, me fazendo empurrar Jesus para dentro.
- Parabéns, gente! – Tite falou, aplaudindo o jogo e eu fiz o mesmo, me aproximando da mesa onde minhas coisas estavam jogadas e comecei a fechar tudo e arrumar. – Vamos nos reunir um momento. – Os jogadores e equipe começaram a se reunir lado a lado e eu logo corri me colocar ao lado de Vinícius e Lucas. – Gabriel, é contigo!
- Foi um bom jogo, gente! – Gabriel falou. – Os croatas caíram em cima, mas a gente se saiu muito bem. Mostramos no campo, então, foi tudo muito bom. – Ele sorriu. – Obrigado pela oportunidade por ser o capitão, Tite, foi muito bom. Agora vamos para outro amistoso em uma semana e depois para a Rússia.
- É! – Os jogadores comemoraram e aplaudimos a todos, com sorrisos no rosto.
- Você tem 30 minutos para se trocar e depois voltamos para o ônibus.
- Beleza! – Eles falaram e eu voltei a arrumar minhas coisas.

- A gente não devia estar fazendo isso. – Cochichei para Alisson.
- Ah, não tem mal nenhum. – Ele respondeu, me encarando com os olhos verdes e eu virei para trás, checando se não tinha ninguém.
- É sério, Alisson. Cuidado com o que você vai fazer. – Falei.
- Ei, estamos juntos nessa! – Ele falou e eu fiz careta.
- Isso não é certo! – Gemi e ele riu. – Eu vou ser demitida.
- Vai nada, a gente faz isso sempre. – Ele comentou. – Além de ser inofensivo, não é, Ederson? – Ele falou para o outro que começou a rir.
- Aqui, segura! – Ederson me entregou a torta e ele e Alisson pegaram os outros pratos cobertos de chantilly.
- Eu não deveria andar com vocês. – Falei. – Vai sobrar para mim.
- Provavelmente. – Ederson falou e eu fiz uma careta. – Mas estamos contigo! – Ele falou molhando a mão no chantilly e passando em meu nariz.
- Eu vou jogar essa torta na cara de vocês. – Olhei para ambos e passei a mão no nariz, limpando na blusa de Alisson, que estava mais perto.
- Vamos logo! – Alisson fez careta, limpando a blusa e eu sorri.
- Espera! Cadê a vela? – Perguntei.
- Não tem vela! – Eles falaram juntos e eu revirei os olhos.
- CBF tá mal, hein? – Revirei os olhos e eles me encararam. - Ok, vão um de cada lado e eu vou atrás. Vai! – Falei.
- Isso não ficou legal. – Alisson comentou, sorrindo para mim.
- O que não vai ficar legal é minha mão na sua boca.
- Eita que o negócio está esquentado! – Ederson brincou, rindo em seguida.
- Cala a boca, Ederson! – Eu e Alisson falamos juntos.
- Não está mais aqui quem falou! – Ele ergueu as mãos e eu ri.
- Vamos logo! Thank you so much! – Falei e nós três paramos de atrapalhar os cozinheiros e saímos da cozinha, na ponta os pés.
Alisson e Ederson seguiram na minha frente e eu observei os jogadores da mesma forma de quando nós saímos, enfileirados, tomando o café da manhã. Cássio estava de costas para nós, tomando café, com dois lugares vazios ao seu lado. Ederson jogou um dos pratos de chantilly na cabeça de Cássio e Alisson em seu rosto, fazendo todo mundo começar a gargalhar.
Cássio levantou rapidamente, tentando evitar os outros dois pratos, mas em vão, terminando sujo e fazendo questão de sujar Ederson e Alisson também. Comecei a gargalhar com eles e coloquei a torta em cima da mesa, começando a bater palmas.
- Parabéns para você, nessa data querida... – Comecei a puxar o coro, ouvindo todo mundo do restaurante nos acompanhar. – Muitas felicidades, muitos anos de vida! E para o Cássio nada?
- Tudo!
- E então como é que é? Sem palavra feia! – Gritei, esperando que desse tempo.
- É pique! É pique! É pique! – Respirei aliviada. – É hora! É hora! É hora! Rá! Tim! Bum! Cássio, Cássio! – Gritamos, aplaudindo fortemente e o goleiro com os cabelos e o rosto cheio de chantilly sorriu, virando para gente.
- Valeu, gente! Sério! – Ele sorriu. – Muito obrigado! – Ele falou, abrindo os braços e eu me afastei, estendendo a mão e ele riu, apertando a mesma.
- Parabéns, Cássio. Tudo de bom para você! – Sorrimos.
- Que isso, dá um abraço nele. – Alisson zoou e eu virei o rosto para ele, a tempo de sentir sua mão suja de chantilly em minha bochecha.
- Ah, seu filho da...
- Sem palavra feia! – Alguém gritou e eu ri, pegando um guardanapo e limpando meu rosto.
- É o seguinte! – Falei, subindo em uma cadeira, ainda limpando o rosto. – Hoje, depois do treino, vocês vão fazer a foto oficial. - Falei
- Eita, é hoje? – Alguém falou.
- Ninguém lê a programação dos quartos, não? – Dei de ombros. – Enfim, vocês vão treinar até meio dia, vão para o almoço e depois vão se arrumar que a foto será tirada as quatro da tarde. Combinado?
- Beleza! – Eles falaram.
- Só um toque, não exageram, ok?! – Balancei as mãos. – A gente quer vocês bonitos, mas não palhaços, fechou?
- Eita que ela tá arisca hoje! – Ederson falou e eu revirei os olhos.
- Vocês estão perdendo tempo. – Falei e eles correram cortar a torta, encontrei o ombro de Alisson ali perto e fiz questão de me apoiar para descer do mesmo, apoiando com força.
- Que mão pesada. – Ele falou, mexendo no ombro e eu sorri.
- A gente se vê mais tarde! – Falei, seguindo para fora do restaurante. – E guarda um pedaço de torta para mim. – Falei e ele riu.
- Até parece que vai sobrar. – Sorri, virando de costas para eles.

Saí do restaurante e fui atender algumas ligações. Em breve, iríamos para a Áustria e o c de vitória contra a Croácia já tinha acabado. Agora já estávamos focados em outro jogo e a imprensa também!
Voltei para o quarto e peguei o mapa de foto que eu e Lucas tínhamos montado no dia anterior, conferindo se estava tudo certo e confirmei também com Lucas se ele já trouxe os holofotes para dentro. Aproveitei a parte da manhã, quando meu telefone se aquietou um pouco, para fazer meu trabalho convencional de social mídia.
Fiz algumas postagens do treino do dia anterior, uma imagem para a divulgação do jogo daqui alguns dias e vi os vídeos que tinham sido subidos na CBF TV. Segui para o almoço no horário e comi no meio dos jogadores, ouvindo as especulações sobre a foto mais tarde, que uniforme usariam e tudo mais. Me senti com meu grupo de amigas quando saíamos para comprar roupas. Eu sabia todas as informações, mas não quis acabar com a diversão.
Quando todos foram se arrumar, eu também fui, mas fui para meu quarto e dos meninos, não para o vestiário. Encontrei Vinícius e Lucas lá dentro, também se arrumando. Nós não fazíamos parte da foto principal, mas apareceríamos no registro oficial da CBF.
Vesti a blusa polo branca que estava reservada para mim, mas coloquei tênis dessa vez. Fiz uma escova em meu cabelo e uma maquiagem leve. Depois que nós três estávamos prontos e bonitos, e também de tirar várias selfies para postar nas redes sociais, nós saímos juntos, seguindo para o campo.
A maioria dos jogadores já estava lá quando chegamos. Lucas foi preparar sua câmera e Vinícius abriu o tripé para começar a gravar algumas imagens e pegou seu drone para fazer algumas imagens aérea. Eu parei um pouco afastada deles, cruzando os braços e abri um sorriso, suspirando. Eles estavam muito bonitos, todos eles. Os jogadores com o uniforme tradicional amarelo com calção azul e os goleiros com o uniforme preto, que eu adorava.
- Que foi? – Firmino perguntou, chamando atenção de outras pessoas.
- Vocês estão muito bonitos. – Ele sorriu, abanando a mão, se fingindo envergonhado e eu segui em direção aos dois bancos que estavam colocados no meio do campo, ajudando Lucas com o alinhamento deles com a iluminação.
- Pode começar a arrumar eles, estou acabando! – Lucas falou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo e senti a falta de um megafone.
- Gente! Me deem sua atenção um pouco, por favor! – Falei um pouco mais alto, chamando a atenção deles, que pararam de conversar e se viraram para mim. – Obrigada! – Falei sorrindo. – Eu vou chamando o nome de vocês e vocês vão se colocando nos lugares. A largura das três fileiras precisam ser iguais, então vão se arrumando e se apertando, beleza?
- Ok! – Eles responderam.
- Na fileira de baixo, sentados, da esquerda para direita. – Falei, pegando o mapa. – Firmino, Taison, Coutinho, Thiago, Jesus, Miranda, Neymar, Fagner, Fred, Willian e Douglas. – Falei, vendo-os começarem a se arrumar nos espaços dos bancos. – Para a hora da foto, mãos nos joelhos. Nos seus joelhos, sem piadinhas. – Alguns riram e eu soube que eles entenderam o que eu quis dizer. – Ajeitados?
- Acho que sim! – Eles falaram.
- Ok, agora equipe técnica, em pé, entre os bancos, com os braços para trás. – Falei, seguindo o mapa. – Ricardo, Fábio, Rodrigo, Taffarel, Edu, Tite, Cléber, Sylvinho, Fernando e Matheus. – Falei para eles que começaram a se arrumar, com menos piadinhas que a primeira leva de jogadores. – Agora para a última leva, em pé no banco, a gente vai fazer diferente, vai um por vez, porque se subir todo mundo junto, vai cair igual boliche. Mãos para trás também. – Eles riram. – Marquinhos, Filipe Luís, Danilo, Marcelo, Ederson, Alisson, Cássio, Renato, Casemiro, Paulinho, Fernandinho e Geromel.
Falei os nomes do mapa e olhei para frente, vendo que a zona se formou e eu coloquei a mão no rosto, me segurando para não rir. Os jogadores se apoiavam entre si para subir, sem cair quando outro subia. Outros se apoiavam na comissão técnica e eu balancei a cabeça, rindo fraco.
- Meu Deus! – Vinícius apareceu ao meu lado e eu comecei a rir. – Que desastre!
- Fica quieto! – Falei e ele franziu a testa.
- Já vai! – Marcelo falou e eu ergui o mapa até minha boca, tentando esconder minha risada, principalmente quando Tite começou a rir e escondeu o rosto na mão.
- Tá quase! – Casemiro comentou, subindo no banco e depois os outros três seguiram atrás deles.
- Pronto! – Geromel falou, caindo outra vez e subindo de novo.
- Pronto? – Falei, vendo a equipe toda bonita na minha frente e eu sorri. – É contigo, Lucas! – Falei e ele se aproximou de mim, me entregando o notebook e eu apoiei no braço, me afastando com Vinícius que segurava os fios.
- Sorriam! – Lucas gritou e eu peguei meu celular, fazendo questão de tirar algumas fotos também.
Lucas começou a apertar o obturador e eu vi as fotos surgirem na tela do notebook e eu me abaixei na grama, abrindo e aumentando as fotos, para dar aquela rápida conferida em todas as pessoas, até que eu sorri, encontrando a escolhida.
- Já deu, Lucas! – Falei para ele, me levantando e seguindo em sua direção, segurando a câmera pesada com as duas mãos e ele o notebook. – O que acha? – Virei para ele que sorriu para mim.
- Tá ótima! – Ele sorriu e ergui a mão por baixo da câmera, e ele bateu na mesma.
- Agora o resto da equipe, pode entrar. – Falei para os assessores, relações públicas, propaganda e outros membros da equipe que estavam aguardando.
Lucas colocou a câmera em um tripé, preparando para a foto em grupo e ele olhou para mim, para que eu fosse ao grupo. Eu e Vinícius nos entreolhamos e ele estendeu a mão pra mim, rindo.
- Vem! – Os jogadores falaram e eu sorri, andando até os mesmos e me sentando na grama junto de Vinícius, aos pés de Miranda. Cruzei uma perna na grama e outra para cima e apoiei o rosto em meu joelho, sorrindo.
- Lá vai, hein! – Lucas falou e apertou o obturador, saindo correndo e se jogando ao meu lado, me deixando no meio e se ajeitou rapidamente. – Sorriam! – Ele gritou e todos sorriram, antes de ver o flash estourar quatro vezes. – Esperem! – Ele se levantou correndo e aguardamos com que ele olhasse no notebook as fotos tiradas. – Está ótimo! – Ele falou e eu me levantei, com a ajuda de Miranda.
- Obrigada! – Sorri, olhando para o relógio e vi os jogadores se dispersar. – Gente, terminamos antes que o esperado, temos uns 30 minutos, caso vocês queiram tirar fotos, se divertir, aproveitem antes da reunião sobre a viagem.
Óbvio que eu não precisei pedir novamente, eles logo tiraram os celulares do bolso e começaram a fazer selfies. Eu comecei a ajudar Lucas a limpar o campo, mas ele estava mais interessado em estourar aquela câmera em mim e na bagunça que estava acontecendo ali.
- Para! – Falei e ele riu, mas a felicidade durou dois segundos.
Os jogadores e equipe se aproximaram de nós, puxando nós dois para a farra. Os jogadores se apoiavam em nossos ombros, esticavam os celulares, mas eu só sorria, abraçando um e outro conforme vinham passando.
- Vai tirar uma com a gente, não vai? – Alisson e Ederson se aproximaram e eu ri, abraçando os dois homens mais altos do que eu pela cintura e sorri, vendo Alisson esticar o celular e apertar algumas vezes.
- Vocês sabem que eu adoro vocês, mas vocês não se cansam de me dar dor de cabeça. – Dei de ombros e eles riram.
- Olha só quem fala! – Ederson brincou. – Quando você aparece, todo mundo começa a pensar quem você vai pegar para Cristo.
- Rá! Rá! Rá! – Coloquei as mãos na cintura.
- Estamos todos aqui fazendo nossos trabalhos, certo? – Ergui as mãos e eles ponderaram.
- Sim! – Eles falaram juntos.
- Então, estamos quites, certo? – Fiz um punho com as mãos e ambos tocaram no mesmo, sorrindo. – Depois eu quero essas fotos. - Falei.
- Ela já tirou com vocês, agora ela vai tirar comigo. – Taffarel apareceu e eu sorri.
- Primeiro os coadjuvantes, depois o principal. – Falei e eles riram, se afastando fazendo caretas e eu abracei o goleiro do tetra, o ano que eu nasci, com um sorriso no rosto.

Coloquei minha mochila e bolsa no bagageiro e me sentei na primeira poltrona que eu vi, tirando meu iPod do bolso e colocando os fones na orelha, dando play e encostei a cabeça no encosto de cabeça e fechei os olhos.
- Tá livre? – Abri os olhos novamente, virando para o lado e notei Alisson me olhando.
- Sim, está! – Falei e ele colocou seu case de violão no bagageiro junto de sua mochila e eu encolhi as pernas, sentindo o assento da janela afundar ao meu lado.
- Por que você leva esse case para tudo quanto é lado? Nunca te vi tocar! – Falei, inclinando um pouco a poltrona.
- Você só nunca teve a oportunidade. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, desbloqueando meu iPod e mudando a música, começando uma do Jorge e Mateus. - Você gosta de sertanejo.
- Eu sou interior de São Paulo, a gente acaba caindo na tentação. – Falei rindo e ele sorriu.
- É o estilo musical que eu mais gosto de tocar. – Assenti com a cabeça.
- Só toca ou canta também?
- Um pouco dos dois. – Ele falou.
- Não está com o chimarrão hoje? – Comentei e ele riu.
- É mate. – Franzi a testa, virando para ele.
- Pensei que fosse a mesma coisa...
- Sim, é! – Ele riu. – Mas eu estou acostumado a falar “mate”. – Ele riu nervoso. – É de região. O que muda é o mate para o tereré que é gelado.
- Talvez seja mais gostoso, eu gosto de chá mate gelado com limão. – Falei e ele riu.
- Talvez, um dia eu faço gelado para você experimentar. – Assenti com a cabeça.
- Quer? – Ofereci um lado do fone de ouvido e ele assentiu com a cabeça, pegando o mesmo.
O voo para Viena durou pouco mais de duas horas. Eu estava empolgada para chegar à Áustria, era um dos países que eu conheceria nessa cidade e que nunca imaginaria em conhecer. O resto da viagem foi quieta, o nervosismo para o jogo de amanhã começava a aparecer e eu fazia de tudo para não me envolver, era muito nervosa para jogo, mesmo amistosos.
Assim que chegamos à Viena, os jogadores foram direto para o estádio Ernst Happel, onde seria o jogo. Eu segui com Vinícius para o centro da cidade para fazer algumas imagens do Canarinho em Viena, conhecia como a cidade da música.
Passamos pelos palácios de Schönbrunn, de Hofburg e de Belvedere. Além da Catedral de São Estevão, a Ópera Estatal de Viena e o Museu de História da Arte. Tudo era tão lindo em Viena que eu podia perder horas e horas ali, mas já era tarde e precisávamos voltar para o hotel e descansar para o dia seguinte.

Chegamos ao estádio menos de duas horas antes do jogo, seguindo direto para o vestiário. Começamos a nos organizar, mas Tite logo me parou, dizendo que esse era o último jogo que ele podia burlar as regras, então era para eu assistir ao jogo junto deles e eu que não sou tonta, não neguei.
Foi até bom, pois eu fui bem antes de começar o jogo e aproveitei para falar com Lucas que ficava na beira do campo, junto dos fotógrafos. Falei para ele que permaneceria no campo, mas que dessa vez eu ficaria com o notebook aqui. Segui para o banco abraçada em meu notebook e os goleiros estavam entrando em campo para treinar.
- Bom jogo! – Falei para um em particular que acenou com a cabeça e me sentei ao lado de Ricardo, preparador físico, abrindo meu notebook e as redes sociais e deixando o drive de fotos aberto em segundo plano.
Recebi algumas fotos do treino e já postei em nossas redes sociais. Olhei para frente por um momento e vi Vinícius andando pelas laterais do campo, se divertindo, sorri, tirando uma foto e postando no Twitter do Canarinho Pistola. Não entendia porque proibiram mascotes durante os jogos da Copa, mas alopraríamos pelas ruas.
Nossa escalação para o jogo era Alisson, Marcelo, Miranda, Thiago Silva, Danilo, Phillipe Coutinho, Casemiro, Paulinho, Neymar, Gabriel Jesus e Willian. A equipe entrou em campo com o uniforme tradicional e, depois do hino cantado, da foto oficial e da troca de flâmulas, uma foto da ex-tenista brasileira Maria Esther Bueno apareceu nos telões do estádio, pois ela tinha falecido na última sexta-feira aos 78 anos. Nossa equipe inteira usava uma braçadeira preta no braço, isso porque a Federação de Futebol da Áustria negou um minuto de silêncio pedido pela CBF, no caso, por Bianca.
Logo no começo do jogo, aos oito minutos, perdemos uma oportunidade de gol. Willian fez um passe para Casemiro que errou por 10 centímetros. Impedimento. Falta pelo time brasileiro, falta pelo time austríaco. Outra oportunidade de gol por Neymar que vai direto para as mãos do goleiro. Oportunidade de gol austríaco, Alisson corre pela bola, mas ela vai para fora, fazendo com que o atacante de vermelho passasse por suas pernas, quase derrubando Alisson, mas estava impedido. Em seguida outra, mas passa por cima do gol, fazendo-o pular à toa.
Coutinho contra-ataca e acaba sendo um pouco fominha, perde Casemiro do outro lado do campo e o goleiro defende com a ponta dos dedos, mandando para fora. Escanteio cobrado por Neymar, Thiago Silva pula para cabecear e vai para fora.
Ouvi o apito do juiz e o mesmo correndo para o outro lado do campo, onde Alisson está sentado no gramado, me fazendo comprimir os olhos para tentar enxergar melhor, mas logo os médicos da seleção já entraram em campo, cuidando do caso. Não era nada, ele se levantou e o jogo recomeçou. Neymar recebeu a bola depois de uma passada e tropeçou na área, deixando os austríacos, confusos. Paulinho aproveitou a bola e...
- Uh! – Falei, batendo a mão no computador, fazendo Fernandinho segurar minha mão, me fazendo rir.
A bola do goleiro chegou no peito de Marcelo novamente, ele passou para Jesus que correu em direção à área e...
- GOL! – Gritei, me levantando e pulando com os jogadores.
Recebi a foto de Lucas e fiz a postagem. O primeiro tempo acabou com um minuto de acréscimo. Fiz algumas postagens no Instagram enquanto os jogadores faziam o intervalo e logo o jogo foi recomeçado. Tite tirou Thiago Silva, que veio se sentar ao meu lado, e colocou Marquinhos. Tirou Casemiro e colocou Fernandinho.
Muitas faltas cometidas por ambos os times nos primeiros 15 minutos do segundo tempo, fazendo com que os goleiros trabalhassem em dobro e um austríaco levou cartão amarelo por entrada perigosa. Coutinho teve algumas tentativas, mas todas na mão do goleiro.
- Olha a chance! – Falei mais sozinha, mas Thiago me deu atenção. - GOL!
Willian fez um passe alto para Neymar que fez um olé no jogador austríaco e no goleiro e jogou a bola para dentro do gol, me fazendo somente sorrir e já fazer a postagem, mas acompanhei os jogadores pulando ao meu lado e era impossível não comemorar junto. Apesar de que Neymar ganhou um amarelo por comemoração excessiva, me fazendo rir sarcasticamente.
Seis minutos depois, outro gol veio. Neymar atravessou o campo com a bola nos pés e passou para Coutinho quando passou do meio do campo. E ele estava sozinho, correu com a bola nos pés e, antes que um austríaco chegasse nele, ele chutou a bola por cima, comemorando.
- GOL! – Gritei, aplaudindo e Thiago me sacudiu pelos ombros, me fazendo segurar o notebook para não cair e gargalhar.
O contra-ataque veio ligeiro depois do apito novamente. O austríaco seguiu direto para o gol, fazendo Alisson pular para trás para defender a bola, e eu fiz uma careta. Aquilo deveria ter doído. Marquinhos o ajudou a se levantar, fazendo os brasileiros aplaudirem pelo nosso goleiro.
Firmino tentou mais uma antes do fim e os austríacos, tudo indo para fora, mas mesmo assim Alisson pulou para defender, caindo para fora do gol. Foi dado um minuto de acréscimo, que se tornaram dois e o apito final foi dado, me permitindo comemorar com os outros jogadores e fechando meu notebook, faria a postagem do fim do jogo lá dentro.
Seguimos de volta para dentro do vestiário e eu parei no túnel para esperar certo jogador. Alguns jogadores passaram por mim, batendo a mão na minha e os donos dos gols me abraçaram, sorrindo. Alisson foi quase o último a aparecer, com as luvas em sua mão e coçando o olho.
- Tá tudo bem? – Perguntei, seguindo para dentro com ele. – Eu vi aquele penúltimo lance e doeu em mim.
- Doeu um pouco, mas logo melhora. – Ele falou e eu sorri, seguindo quieta ao seu lado.
Entramos no vestiário novamente e nos separamos. Eu segui para minhas coisas, abrindo o notebook e alterando o valor do placar da arte que eu tinha feito de exemplo e postei. Fechando-o logo em seguida e guardando em minha mochila, fechando a mesma e trazendo para a lateral, aguardando os jogadores.
- Vamos nos reunir, pessoal? – Tite falou, batendo as mãos rapidamente e nos unimos em volta do vestiário, abraçando uns aos outros como um cordão. – Hoje completamos nosso último teste antes da Copa do mundo, e eu posso confirmar que vocês estão prontos. – Ele sorriu. – Na Rússia o trabalho vai ser mais difícil, treinos mais pesados, maior pressão da imprensa, maior pressão dos jogadores e maior pressão interna, pois é ela que nos mata. – Assenti com a cabeça. – Serão desafios difíceis, terão momentos que a gente vai chorar, que vamos sorrir, que vamos brigar e que vamos querer bater uns os outros. Já foram 20 dias, se Deus quiser, serão mais um mês juntos e todas as emoções ficarão amplificadas, mas precisamos nos permanecer juntos. Atletas, equipe técnica, dirigentes, equipe de comunicação, fotógrafos, mascote... – Rimos para Vinícius. – Estamos juntos nessa. – Ele sorriu. – Nós vamos jogar para vencer e nós vamos vencer, não só em gols e resultados, mas por saber que demos o máximo. – Engoli em seco. - Ao fim dessa batalha, independente do resultado, nós sabemos que teremos feito tudo o que dava e o que não dava para trazer nessa Copa. Nós podemos cravar mais uma estrela em nosso peito, como não, só saberemos daqui um mês, mas eu quero que vocês lutem o quanto conseguirem, gritem até o pulmão aguentar e batam no peito enquanto o coração bater. – Senti meus olhos lacrimejarem. - E não pensem que estamos fazendo isso por nós. Sei que cada atleta aqui tem o desejo de colocar no currículo uma Copa do Mundo, levar o troféu para o Brasil, além de ofertas de emprego e tudo mais, mas estamos fazendo isso pelos brasileiros. Por aqueles que têm esperança em esquecer aquela última Copa do Mundo e limpar nossa imagem. Começar do zero. – Pressionei os lábios, assentindo com a cabeça. – Temos várias grandes equipes na competição e pequenas também, mas são 32 seleções e todos chegaram aqui. Então, todos serão igualmente fortes para nós. – Assenti. - Aqui, nós seremos um só, não importa que ocupação você tenha aqui. Quero todos interagindo com todos, porque cada um de nós tem um papel fundamental nessa missão que nos foi dada e estamos juntos nesse barco. Estamos juntos nessa. – Ele sorriu. – Quero agradecer a confiança que todos colocaram em mim para conseguir isso. Desde o pessoal mais antigo aqui, até a nova mulher que está tendo papel fundamental em manter os jogadores na linha. – Ele apontou para mim e senti meu rosto esquentar. – Obrigado a todos e vamos para a Rússia! – Ele falou e começamos a aplaudir.
Eu engoli em seco, aplaudindo no automático, mas eu estava travada. Era agora, iríamos para a Rússia lutar pelo hexacampeonato.
Droga! A porra ficou séria!


Capítulo 4 – A Copa do Mundo Começou

Para variar, eu fui a última a sair do segundo ônibus que levava até a pista onde pegaríamos o voo de Viena com destino a Sochi, nossa casa na Rússia por pouco mais de três semanas, contando que tudo desse certo.
Fiquei feliz por poder dispensar o terninho hoje, estava ventando bastante em Viena, então, pude usar minha roupa de guerra: jeans, polo azul e o tradicional sapato amarelo. Entrei no avião, cumprimentando os comissários e a primeira coisa que notei foi que o avião era bem mais simples que o da ida para Londres. Era um avião convencional, mas ainda tinha a divisão entre a equipe e os jogadores.
Olhei rapidamente em volta, notando o pessoal da equipe técnica bem ajeitada em todos os locais dessa primeira parte e franzi a testa, à procura da minha equipe. Acenei rapidamente para um pessoal e segui novamente, passando para a segunda área e parei, ao ver que Lucas tirava uma foto do pessoal todo reunido.
- Aí sim! – Sorri, parando ao lado dele e apoiei a mão em meu peito. Olhando todos sorridentes, espremidos e amontoados uns nos outros até o teto, percebi que a gente até poderia não trazer a taça para casa, não que eu achasse isso possível, mas ganharíamos muita coisa com isso.
- Pronto, galera! – Lucas se virou, se assustando comigo e começamos a rir.
- Fomos enxotados para trás? – Perguntei e ele riu.
- Avião menor. – Assenti com a cabeça e ele apontou para as quatro primeiras fileiras daquela parte, onde minha equipe estava se ajeitando. – Senta aí! – Ele falou e eu olhei para duas poltronas aparentemente livres e joguei minha mochila para uma mais perto da poltrona e coloquei minha bolsa no bagageiro, depois a sacola menor com o terninho e, depois de tirar meu iPad da mesma, enxotei a mochila ali.
- Oi. – Alisson falou e eu olhei para ele que se sentava na poltrona atrás da minha e eu soltei um pequeno riso.
- Você está me seguindo. – Falei baixo, vendo-o rir.
- Você que sempre chega atrasada nos lugares. – Ele falou e eu abanei a mão, me sentando na poltrona e me preparando para a decolagem.
O bom de estarmos em Viena é que o voo também foi mais curto, quase quatro horas. Eu até tentei dormir, mas eu estava muito empolgada de estar indo para a Rússia. Ou melhor, indo para a Rússia para acompanhar a Seleção Brasileira de Futebol na competição mais importante do esporte.
Claro que eu sonhei anos com isso quando era mais jovem, ter a chance de representar meu país, claro que antes de eu descobrir que essa Copa do Mundo era só para homens, mas era uma oportunidade única na vida, mesmo eu não achando que merecesse estar lá tão cedo, apesar de estar amando tudo isso.
Mas além da empolgação, alguém interrompeu minha tentativa de sono.
- . – Virei para o lado, vendo Paulinho se sentar ao meu lado.
- Ei! – Falei, tirando os fones da orelha.
- Pode confirmar uma coisa para mim? – Ele perguntou e eu franzi a testa, vendo-o olhar para trás rapidamente e abaixando o tom de voz.
- Claro! – Falei.
- Já passou da meia-noite, então, é aniversário do Fagner? – Ele apontou para trás e eu franzi a testa, tirando rapidamente dos meus filmes baixados no Netflix e abri os arquivos dos jogadores, procurando pelo de Fagner.
- O que vocês estão fazendo? – Abaixei o iPad, vendo Alisson se debruçar sobre minha poltrona e eu relaxei.
- Ah, é você! – Ergui o iPad novamente, passando os arquivos e encontrando do dito cujo. – Sim, Paulinho, 11 de junho, 29 aninhos. – Ele abriu um sorriso animado.
- É aniversário do...? – Alisson começou a perguntar baixo.
- Xí! – Paulinho colocou a mão na boca. – Será que eles têm bolo no avião?
- Acho que só o muffin. – Ergui o lanchinho que eles tinham dado no começo do voo e que ainda estava embalado.
- Vem comigo! – Ele falou para Alisson e eu abanei com a mão, voltando ao meu filme.
Não deu tempo de eu ver mais 10 minutos do filme, que eu tomei um susto quando Paulinho, Alisson e outros jogadores envolvidos nisso, apareçam do fundo do avião cantando parabéns para Fagner, fazendo-o ficar vermelho de vergonha na hora. Paulinho encontrou um bolo para ele, bem, quase, era o muffin da companhia aérea, com um palito de dente fincado no mesmo como se fosse vela. Acabamos que todos cantamos parabéns e Vinícius e Lucas se posicionaram para filmar alguma coisa, logo fazendo aquele sinal para mim de “já te mando”.
O resto do voo foi calmo, até consegui dormir por alguns segundos, mas logo eu precisei me levantar e me arrumar, como todos os passageiros daquele avião, então as coisas ficaram meio turbulentas com somente seis banheiros. Eu e as meninas da comunicação acabamos pedindo licença para as comissárias de bordo e usei a área de descanso delas. Confesso que foi mais confortável que o banheiro minúsculo sacudindo há 11 mil metros do chão. Principalmente a liberdade em passar rímel sem manchar a cara inteira.
Pousamos em solo russo com gritaria da parte dos jogadores, me permitindo fazer novamente aquela reza silenciosa sobre os desafios e pressões que seriam colocadas em cima desses moços de 21 a 33 anos. Além das surpresas que poderiam vir do meu trabalho que me testariam. Seja o que Deus quiser.
Depois de todos vestidos, os membros da polícia federal russa, ou sei lá como eram chamados aqui, entraram no avião para conferir e carimbar o passaporte de todos, me fazendo feliz ao ver mais um carimbo no meu livrinho vazio. A oficial que carimbou o meu falou algo em russo, espero que tenha sido “seja bem-vinda”. Eu sabia falar cinco línguas, mas não tinha aprendido a falar russo, afinal, nunca estava em meus planos vir para cá.
Descemos do avião na ordem das poltronas, menos Lucas e Vinícius, como sempre. Mesmo sem necessidade, Lucas fazia questão de tirar fotos minhas e eu vou assumir que adorava, aquele cara tinha um olhar incrível, então, eu sempre estava linda nas fotos dele e acabava sendo sucesso no Instagram, principalmente depois de novos seguidores por causa da minha posição.
Aguardei ao lado de Lucas enquanto todos os jogadores desciam do avião e foi difícil organizar todas as 23 crianças em frente ao avião para a primeira foto oficial na Rússia. Caramba! Eu estou na Rússia! Dei uma olhada rápida no aeroporto de Sochi e franzi os lábios, era um aeroporto comum, tirando os escritos em uma língua que eu realmente não entendia como aquilo formava palavras.
- Tendo devaneios aí? – Lucas me cutucou, e eu notei que a foto já havia sido tirada e os jogadores seguiam em direção ao ônibus que nos aguardava.
- Estamos na Rússia, Lucas. – Ele riu. – Não sei você, mas nem em sonhos eu pensei em vir para cá. – Suspirei.
- Eu também não. – Ele sorriu.
- Prontos para desbravar juntos? – Ele esticou a mão para cima e eu suspirei, batendo na mesma.
- Vamos lá! – Falei e ele riu, passando o braço pelos meus ombros e me levando até o ônibus.
- Vamos, Brasil! – Jesus gritou da porta do ônibus e gritamos com ele, batendo palmas e assoviando.
- É a nossa hora. – Falei mais para mim do que para os outros e entrei no ônibus, me sentando no primeiro banco vago que eu encontrei, afinal, tinha ficado por último de novo.

Demoramos cerca de uma hora para seguirmos do aeroporto para o hotel. Bem, hotel não, o lugar dos meus sonhos. Aquele lugar era fantástico, eu estava abismada! A frente do hotel era composta por várias cascatas iluminadas que subiam até o prédio principal do incrível Swissôtel Resort Sochi Kamelia, um hotel cinco estrelas onde a diária de um quarto não saía por menos de mil e 400 reais.
Parecia que eu estava num palácio! Era tudo lindo, maravilhoso e nem em sonhos eu imaginaria ficar em um lugar desses, mas essa era uma das vantagens de acompanhar a Seleção, ficar em lugares desses, de tirar o fôlego. Aquilo era um resort, então, eu podia usar todo aquele espaço ao meu favor, como inspiração talvez? Imagina minha felicidade ao descobrir que também tinha uma praia privativa? Eu estava nas nuvens, mas parecia que os jogadores não compartilhavam da mesma emoção de meros mortais, afinal, ganhando milhões de euros por mês, eles já deveriam ter ficado em lugares melhores.
Chegamos ao hotel em c de festa! Passava das quatro da madrugada e todos estavam pilhados como se fosse meio dia, além de que uma comitiva surpreendente nos esperava. Bom, surpreendente para mim que não sou relações públicas e não me interessei em saber o que aconteceria quando chegássemos.
Fui uma das primeiras a sair do ônibus e dei uma volta ao redor do meu corpo para pegar alguns detalhes daquele hotel. Aquilo era um palácio e eu tentava não aparentar muito surpresa com tudo, mas aquilo era fascinante. Segui o pessoal da comunicação e saí da frente das lentes dos meus companheiros.
Não sabia se era da FIFA ou do hotel, mas uma fileira de pessoas, colocadas dos dois lados, formando um corredor para passarmos, nos recebeu. Todos usavam crachás e tentavam tirar aproveito de ver os jogadores brasileiros mesmo que fosse por alguns segundos.
Balões azuis, amarelos e verdes, um quinteto de cantoras russas e pessoas vestidas a caráter, nos esperavam para a recepção. Uma das mulheres em trajes típicos segurava um tipo de doce, pelo menos eu acho, que parecia um bolo de caramelo e estendia em nossa direção, mas eu não sabia o que era, então, passei reto, seguindo alguns dos dirigentes.
Ao fim do corredor de pessoas, viramos à direita e encontrei a recepção do hotel. Ou a recepção preparada para nossa chegada. O local tinha alguns sofás e poltronas e fomos nos ajeitando na mesma, enquanto aguardávamos a chegada de todo mundo.
- . – Um dos peixes grandes da CBF se aproximou de mim e se sentou ao meu lado.
- Olá, senhor Silvestre. – Falei e ele sorriu.
- Você que é a assessora ligada aos jogadores, certo? – Ele perguntou.
- Sim, sou. – Ele me estendeu algumas folhas.
- Aqui algumas informações para serem passadas a eles. – Ele se levantou. – Obrigado. – Ele saiu e eu franzi a testa, olhando para as folhas enquanto a sala enchia, rindo com a ironia do destino.
É claro que eles se livrariam de falar as partes mais tensas. Em minha mão estava a programação e informações sobre meu trabalho e principalmente sobre o contato com a família e elas não eram muito boas. Respirei fundo e esperei todos os jogadores e comissão entrarem e logo a porta foi fechada, trazendo alguns funcionários do hotel e da FIFA, já que Angelica não desgrudava dele.
- Boa madrugada, brasileiros. – Ele falou em português com um sotaque bem forte. – Hoje vocês começam sua jornada para a Copa do Mundo. – Ele sorriu e algumas pessoas aplaudiram bem fracamente. – Aqui em Sochi e nesse hotel, vocês ficarão hospedados durante quase toda jornada e se mudarão para outros pontos, conforme forem passando de fases. – Ele sorriu. – Mais informações serão passadas pelas suas próprias equipes e depois vocês conhecerão suas acomodações. – Assenti com a cabeça. – Após isso, teremos uma recepção para vocês na parte externa do hotel. Obrigado pela presença de todos e boa sorte na sua jornada. – Ele sorriu e aplaudimos. – Agora vocês receberão informações do gerente do hotel e depois da assessoria de vocês. – Ele assentiu e outro homem engravatado apareceu e começou a falar em inglês.
- Bom dia, Brasil. Como estão? – Seu sotaque era bem puxado para o russo, mas perfeitamente entendível. – Eu sou Ivan Mikhail, gerente do Swissôtel Resort Sochi Kamelia, o novo lar de vocês durante essa batalha. – Sorri. – Para facilitar o deslocamento de vocês ao Yug-Sport Stadium, local de treinamento de vocês, há menos de um quilômetro daqui, nós reservamos toda a parte norte do hotel para a hospedagem. Lá será exclusivo para vocês e transformamos a cobertura em restaurante para dar mais privacidade a vocês. Fizemos a separação dos quartos como determinação da FIFA e da CBF, e vocês poderão pegar as chaves no balcão, após a reunião. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça. – Desejo a vocês uma boa estadia e muito boa sorte no trabalho de vocês.
O pessoal aplaudiu e eu bufei sozinha, me levantando da mesma e carregando comigo os papéis. Andei até Angelica novamente, vendo-a abrir um largo sorriso e eu neguei com a cabeça, vendo-a rir e sussurrar um “desculpa”, mas me coloquei em frente aos jogadores, equipe técnica e dirigentes e olhei para o papel.
- Vamos lá. – Falei, passando a mão no rosto. – Eles deixaram as informações mais chatas para mim. – Falei e o pessoal mais próximo começou a rir. – Pior que é sério! – Falei e eles fecharam o rosto. – Primeiro de tudo, sobre os treinos, aqui vai ser mais pesado. Agora na primavera, começo do verão, temos muita incidência de sol e pouca noite, então a equipe técnica quer trabalhar com vocês o maior tempo possível. Os treinos começarão as oito da manhã e seguirão até as sete da noite. – Falei. – Café da manhã a partir das cinco e meia da manhã, almoço a partir das 11 e meia e janta a partir das oito horas. – Olhei novamente no papel. – O local de treinamento de vocês é aqui perto, cerca de 600 metros. Terão carrinhos de golfe para levar vocês lá ou vocês podem ir a pé. – Respirei fundo. – Sobre a minha parte, todo dia vocês terão coletivas de imprensa, como estava tendo lá em Londres, então, sim, eu vou continuar buscando um de vocês todo dia para falar na coletiva. – Eles fizeram caretas e eu ri. – Além disso, acabei de ser informada que eu terei um local de auxílio para vocês, qualquer problema com a imprensa, com a imagem de vocês e com as famílias, eu estarei disponível, não sei aonde ainda, para auxiliar vocês. – Abaixei o papel. – Agora a parte chata, o elefante branco na sala: famílias. – Falei, chamando atenção dos jogadores. – A CBF liberou a presença dos familiares com vocês, mas terão algumas restrições. – Respirei fundo, bufando fortemente. – A primeira é o local em que as famílias de vocês ficarão. A CBF fechou o Pullman Hotel para as famílias e amigos de vocês ficarem hospedados. Esse hotel fica há cinco quilômetros daqui, ao norte. Também, a CBF fretou um avião para trazê-los à Rússia, interessados tanto no hotel, quanto no avião, precisam me falar amanhã, para eu repassar para eles. O voo será na sexta-feira. – Suspirei. – Sobre folgas, elas serão dadas pelo Tite quando ele quiser, nesses períodos vocês terão total liberdade para sair do hotel, encontrar suas famílias e fazer o que bem entendem nesse tempo, voltando para cá no horário estipulado. – Cocei a cabeça, bagunçando meus cabelos. – Sobre a presença dos familiares nos treinamentos: serão permitidos a entrada deles somente as quatro da tarde ou em treinos abertos. – Falei firme. – E no hotel, eles poderão ficar aqui até meia noite. Já avisando, não está permitido que nenhuma esposa, namoradas ou filhos durmam aqui. – Eles começaram a murmurar. – Fui clara? – Falei firme.
- Foi... – Eles falaram meio de mau gosto.
- Não foi eu quem fiz as regras, gente. Eu só estou passando informação, eu sou a isca. – Ergui as mãos e eles riram. – A presença de familiares aqui no hotel, em qualquer lugar, incluindo quartos, é só nos horários permitidos a noite ou nas folgas que serão estipuladas ainda. – Passei os olhos pelos papéis. – Bom, acho que é isso. – Dei de ombros. – Amanhã... Bem, hoje, contando que já passam das quatro da madrugada, teremos o dia livre para descanso, vamos descobrir melhor os protocolos e amanhã começamos o trabalho. – Bati as mãos e eles me copiaram.
- Por favor, podem vir pegar as chaves. – O gerente do hotel voltou a falar e eu vi os jogadores se amontoarem na recepção e me sentei em um dos sofás, esperaria pela minha vez.
Fui a última e vi que a chave era nominal, com o número do quarto e o andar em qual ele ficava. Eu havia ficado no quarto andar. Achei estranho só ter meu nome na chave, mas peguei o elevador com alguns dirigentes, parando em todos os andares e segui para o quarto, vendo as portas se abrirem.
Na minha frente tinha um corredor vertical e eles se abriram em dois longos horizontais. Segui para um dos corredores e é claro que eu errei, vendo os nomes dos jogadores nas portas e os números aos poucos. A CBF podia ter economizado um pouco nos aposentos na pré-Copa, mas a FIFA não tinha essa intenção não, era um quarto para cada. E eu havia notado, por um momento, que tinha ficado no andar dos jogadores, o que me deixou bem confusa.
- Deu sorte, hein?! – Firmino brincou e eu franzi a testa.
- Como assim? – Perguntei.
- Não viu ainda? Seu quarto é o maior. – Ele cruzou os braços e eu vi alguns jogadores se aproximarem de nós.
- Nem cheguei nele ainda. – Ri fraco e ele apontou para o fim do corredor, onde alguns jogadores estavam e eu segui para o mesmo, vendo uma porta centralizada na parede que ocupava a extensão inteira do andar e vi meu nome na mesma.
Coloquei o cartão na porta e ouvi a mesma destravar. Empurrei a porta e fiquei mais abismada ainda. Sim, pelo que eu havia visto das portas abertas, meu quarto era maior que o dos outros jogadores, mas tinha motivo. Para começo de conversa, eu estava em um hotel cinco estrelas, então, qualquer quarto já seria magnífico. E para término de conversa, meu quarto não era só um quarto, ele também era um escritório. Do lado direito da porta, uma cama de casal com mesas de cabeceira, armários, poltronas, porta para o banheiro e outros detalhes feitos pensando especialmente no cliente. Do lado esquerdo da porta, uma mesa em “L” que circundava a parte da lateral e a do fundo, onde também ficava uma janela em toda extensão da mesa. Apoiada nela, no canto, uma grande TV de provavelmente 50 polegadas, espaço suficiente para eu arrumar todos meus eletrônicos, duas poltronas laterais, uma mesa para café e um papel.
- Eita! – Falei, abismada.
- É do caralho, não é?! – Marcelo falou ao meu lado e eu suspirei.
Entrei no quarto, deixando minha mala e mochilas no meio do caminho e fui até a janela, abrindo o blackout da mesma lateralmente, ficando de boca aberta. De um lado, eu tinha a vista para a praia privativa do hotel e do outro um canto do Yug-Sport Stadium, que estava sendo iluminado com as cores do Brasil. Eu não conseguia ver tudo do novo CT, pois tinham alguns prédios na frente, mas conseguia ver a trave sul do gol, parte do campo e parte da concentração que ficava na lateral.
Peguei o papel em cima da mesa de trabalho e sorri ao ver uma carta de Michelle para mim. Era sobre minhas ocupações na Rússia. Meu trabalho seria aliviado um pouco, pouco mesmo. Meu trabalho como social mídia tinha sido totalmente esquecido. Agora eu era assessora em período integral e tinha que cuidar da imagem dos jogadores e auxiliar Bianca com a imprensa.
Eu continuaria acompanhando os jogadores nos jogos e faria todo caminho jogadores-imprensa, juntamente de Bianca, mas, além disso, eu assistiria aos jogos, por isso a TV enorme, e repassaria as informações para a CBF, equipe técnica e jogadores. E, nos jogos do Brasil, eu continuaria acompanhando igual os amistosos, mas dessa vez eu teria que fazer um relatório sobre possíveis crises para repassar para a equipe de comunicação, ou seja, estresse dos jogadores, erros de arbitragem ou até possíveis derrotas.
Resumindo: qualquer coisa que pudesse dar merda!
E, por último, sobre a questão de auxílio aos jogadores, era que meu quarto seria realmente escritório e os jogadores poderiam me encontrar ali, caso precisassem de qualquer tipo de auxilio, ajuda ou até mesmo informações. As portas deveriam ficar, literalmente, abertas para eles das oito as oito. Ok, dava para o gasto, mas só teria que lembrar de manter meu quarto apresentável.
- Acho que agora entendi o que eles falaram sobre eu ficar disponível para vocês. – Falei para o pessoal que tinha se acumulado em minha porta e respirei fundo.
- Como assim? – Marcelo perguntou e eu entreguei a folha para eles, respirando fundo.
- Festa no seu quarto? – Firmino perguntou e eu ri.
- Só que não! – Brinquei, suspirando. – Falando em festa, precisamos descer.
- Ah! – Eles fizeram caretas e eu saí na porta, me encostando na mesma, vendo todos os jogadores ali.
- Eu também estou com sono e com preguiça, gente, mas só uma horinha. Depois vocês podem dormir o dia inteiro.
- Se eu te ver amanhã... – Neymar começou, levantando uma das mãos.
- Você vai me dar bom dia, um abraço e um beijo no rosto. Olha que beleza! – Falei e ele riu, abaixando a mão. – Mas não, amanhã essa porta ficará bem fechada. – Falei, saindo da mesma e puxando-a. – Vamos! – Falei e eles começaram a me seguir. – Mal vejo a hora de colocar meu pijama, esquecer que vocês existem e...
- Blé! – Eles começaram a me zoar e bagunçaram meus cabelos.
- Ah, nem vem! – Ergui as mãos, entrando no elevador. – Eu vou ficar por sei lá quantos dias mais com vocês, mereço meu descanso. – Eles riram. – Só um toque, não cabem 24 pessoas no elevador. – Falei e eles se tocaram e começaram a se dividir.
A leva que entrou comigo apertou o botão do térreo e o elevador se fechou, me fazendo querer ficar apoiada na parede e dormir. Aquilo não era hora de eu estar acordada. Na teoria, era para eu estar comemorando que o Brasil venceu, mas também não estava permitindo álcool, então não fazia diferença.

A festa foi fraca. Um jantar, as músicas russas e todo mundo com cara de sono. Eu acabei fugindo de lá logo depois da sobremesa, quando peguei Vinícius seguindo de mansinho. Eles pararam no terceiro andar e eu segui para o quarto andar, entrei no quarto, me livrando do terninho e já colocando-o no cesto para a lavanderia, tomei meu banho e morri na cama.
Literalmente.
Eu dormi por 12 horas direto, sem interrupções. Levantei até meio assustada, com uma poça de baba no travesseiro, meu rosto marcado e o braço doendo por ter dormido em cima. Eu precisava resolver a questão dos voos dos familiares dos jogadores, mas não precisou.
Quando olhei na soleira da porta, alguns papéis estavam jogados no mesmo. Ou melhor, 23 papéis. Alguns diziam que queriam e já passaram nomes completos e documentos, outros só disseram que não queriam. Liguei o computador rapidamente para repassar essa lista e mandei para o pessoal do Brasil.
Cogitei sair para jantar, mas isso implicaria em ter que socializar um pouco e eu não estava no c. Acabei pedindo um serviço de quarto, nem sabia se isso estava permitido ou não, mas o fiz mesmo assim e coloquei na minha lista de afazeres do dia seguinte que eu conferiria isso. Mas o cardápio que estava no quarto tinha uma impressão especial em cores do Brasil e estava com tradução em português, então, imaginei que tínhamos esse direito.
Jantei, tomei outro banho e deitei novamente. Dormir muito me deixava com preguiça, então foi só colocar um episódio bobo de série que eu dormi antes dos créditos iniciais.
No dia seguinte a situação começou para valer. Trabalhos e reuniões a todo o tempo, e não digo para auxiliar ninguém, eles estavam treinando, mas para organizarmos os protocolos, ocupações e afins.
A única coisa chata era o deslocamento do hotel até o CT. Eu ia e voltava em horários diferentes dos jogadores, andando mesmo. Claro que eu não seria tonta de ir de salto, fiz questão de aprender isso logo no primeiro dia, além de que meus pés ainda estavam doendo do dia anterior.
Entrei no complexo de treinamento com o nome que eu chamaria na coletiva na ponta da língua. Talvez um dos nomes que eu mais tinha gostado de chamar, sendo bem honesta. Observei-o treinando junto dos outros goleiros e me aproximei do mesmo por trás da linha do gol, dando um assovio fino, chamando a atenção de Taffarel e fiz um sinal de tempo, fazendo-o segurar a bola que Alisson devolveu para ele.
- Para! Para! – Ele falou para Alisson e Ederson que treinavam defesas e eu atravessei a linha, entrando no campo e me aproximando de Taffarel.
- Eu preciso roubar um dos seus hoje. – Ele fez uma careta. - Reclama com aquele ali. – Apontei para Tite e ele riu, coçando a careca.
- Escolha sua arma. – Virei de costas para ele, estendendo o braço e apontando para Alisson.
- Hoje é seu dia, ô do sul! – Ele fez uma careta.
- Ah, fala sério! – Ele falou entre risada e reclamação e eu cruzei os braços.
- Não sei nem porque vocês reclamam, eu só faço o trabalho sujo, gente. – Falei e ele riu, tirando o colete que usava e o entregou a Taffarel.
- Ok, vamos lá. – Ele falou e eu dei outro assovio, fazendo-o colocar a mão no ouvido.
- Ai! – Ele reclamou e vi metade do time me olhar, menos quem eu queria.
- Tite! – Gritei para o técnico e ele me olhou. – Vamos! – Falei, chamando-o com a mão e ele falou rapidamente com Cléber e veio em minha direção.
Segui um pouco mais à frente dos dois, feliz pela coletiva ser no próprio centro de treinamento, eu acabaria deixando minhas pernas torneadas com esse sobe e desce. Entramos por uma sala lateral e eu fechei a porta quando ambos me seguiram. Apoiei a mochila em uma das cadeiras dispostas ali e tirei uma troca de roupa oficial para Alisson.
- Aqui! – Estiquei para ele que a segurou. – Pode se trocar ali na porta da direita. – Falei e ele foi.
- Temos alguma mudança hoje, ? – Tite me perguntou e eu entreguei o iPad com as informações para ele.
- Nada demais, tá muito frio ainda, eles estão trabalhando só com as informações de treino e mudanças no regulamento, eles não têm nada.
- Especulação, então? – Tite perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Tipo isso. – Ouvi um barulho de porta e vi Bianca entrar pela sala da coletiva.
- Tudo pronto? – Ela perguntou.
- Alisson só está se trocando. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Participar de coletivas para a CBF na Rússia era uma merda! Porque eu cuidava da imagem dos jogadores, mas Bianca era responsável pelo contato com a imprensa. Então, eu tinha que ir atrás do jogador que faria parte da coletiva e o entregava para Bianca. Bianca fazia o contato com a imprensa, mas eu não poderia sair, pois precisava saber as respostas que os jogadores fariam para eu saber o que repercutiria na imprensa horas depois. Só Angelica se livrava dessa, em compensação, tinha reuniões cansativas com os peixes grandes e velhos da FIFA e da CBF. Dividíamos a caixa de analgésicos.
- Pronto! – Virei para trás, vendo Alisson sair do banheiro com o moletom padrão da CBF e a mesma camiseta polo que eu usava, cheia de patrocínios.
- Está ótimo! – Sorri para ele. – Eu estava falando para Tite que não precisa se preocupar, eles estão trabalhando sem informações, então serão aquelas perguntas bobas e que vão de nada a lugar nenhum.
- Tá tudo bem, eu acho. – Ele riu fraco e eu assenti com a cabeça.
- Bianca vai acompanhá-los. – Apontei para a outra assessora e eles seguiram para a outra sala e subiram no pequeno palco montado na mesma.
Eu os segui, mas fui para trás, encontrando Vinícius com sua câmera na mesma. Cumprimentei-o rapidamente e a coletiva começou. Primeiro Alisson responderia algumas perguntas, depois ele voltaria para o treino e Tite continuaria.
- Vamos lá? – Bianca falou e vi um dos jornalistas se levantar.
- É, Alisson, eu estou aqui na sua ponta direita. Quero te fazer uma pergunta sobre a novidade da Copa, que é o árbitro de vídeo que você experimentou no campeonato italiano. Qual sua opinião? Ele veio para ajudar? Ele veio para ficar? Veio para complicar? Você gosta do árbitro de vídeo? Vai ser uma boa para a Copa?
- Primeiramente, boa tarde a todos. Acredito que o VAR venha a somar, vem para ajudar na Copa do Mundo. Eu tive experiência do VAR na Itália e deu muito certo, uma margem de erro do árbitro de vídeo muito baixo, menos de um por cento, então acredito sim que venha ajudar, em alguns momentos, em alguns lances, em que coloca o árbitro em dificuldade, principalmente lances muito rápidos de impedimento, acredito que o VAR venha como uma ajuda muito boa sim. Lógico que às vezes tem aquela parada para o árbitro ver o vídeo, isso incomoda um pouco, mas aumentando ali a chance de acerto, né?! Fica um jogo mais justo, sem erros, então acredito que venha ajudar sim.
Abri um sorriso com a resposta do Alisson, me dando até um suspiro e querendo conhecer a assessora desse homem. Ele falava bem com a imprensa e tinha uma calmaria que não era comum para alguém que vivia nessa vida corrida de jogador de futebol.
Ele foi bem em todas as perguntas, o que fez até que eu suspirasse um pouco. Ele era ótimo mesmo. Eu achava que tudo estava indo bem, até com as perguntas da Globo que normalmente eram um pouco mais pressionadas, mas não foram eles que fizeram a pergunta de fora do cronograma, deixando a mim e Bianca perdidas.
- Alisson, bom dia, desejo muito sucesso para você, e duas perguntas para você. Há uma preocupação da mídia, não de toda mídia, parte dela, do problema da sua alergia no rosto... – Alisson riu no palco, mas eu me aproximei de Bianca na lateral da sala.
- O que ele está fazendo? – Ela cochichou para mim.
- Eu não sei. – Falei.
- ...Se ela te preocupa, deixa você mais tenso quando você passa por isso? E a perguntinha já tradicional: friozinho na barriga chegando?
- A gente impede isso? – Ela me perguntou e eu virei para Vinícius que nos olhava confuso.
- Já respondo direto... – Alisson falou antes de decidirmos.
- Nem vai precisar, eu acho. – Falei, olhando para ele.
- Não me incomodo não, isso faz parte, porque eu estou na puberdade. – Coloquei a mão com vontade de rir da resposta dele e eu e Bianca respiramos aliviadas.
- Ufa! – Ela falou e eu senti meu coração até bater mais forte, mas relaxei quando o ouvi rir.
- Friozinho na barriga, com certeza, agora que está chegando o momento. Cada vez que vai se aproximando, vai batendo um pouquinho de ansiedade, mas aquela ansiedade na quantidade justa, para ajudar a ficar ligado, acionar a adrenalina e ficar bem concentrado para ter um excelente desempenho, né?! E conseguir ótimos resultados.
- Ele é ótimo! – Bianca falou aliviada e eu ri, vendo-a se aproximar do palco. – É isso gente, obrigado. Agora, Alisson, pode seguir para seu treinamento que falaremos com Tite. - Chamei Alisson com a mão e esperei que ele entrasse na sala para que eu entrasse logo atrás dele, encostando a porta.
- Me desculpa! – Falei, apoiando os materiais em uma cadeira. – Se soubesse que eles fariam uma pergunta indelicada teríamos cortado o jornalista na pré-seleção.
- Se preocupa não, estou acostumado já das pessoas perguntarem disso. – Ele deu de ombros e eu assenti com a cabeça. – É acne, faz parte da vida. – Franzi a testa.
- Eu não sou nenhuma especialista, Alisson, mas isso não é acne nem aqui, nem na China. – Falei, me aproximando dele.
- Como não?
- Isso é rosácea. – Toquei sua testa que agora estava vermelha como suas bochechas. – Já notou que elas ficam piores quando você toma sol ou fica nervoso? Tipo agora. – Comentei e notei o que estava fazendo, abaixando as mãos. – Desculpe. – Falei, rindo nervosamente. – Com uma estranha passando a mão na minha cara, eu também não ficaria confortável. – Ele riu nervoso, mais vermelho do que antes.
- Como você sabe o que é? – Suspirei.
- Vamos dizer que eu sei mais de vocês do que vocês mesmos. – Dei de ombros. – Mas você se saiu muito bem, você fala bem. – Sorri e ele retribuiu. – Bom, acho que você pode se trocar de volta e retornar ao treino. – Ergui as duas mãos até as têmporas, massageando as mesmas. – Em breve abriremos os portões para os torcedores e isso vai ficar um caos. – Suspirei. – Deus, me ajude! – Falei e ele riu.
- Não vai ser tão ruim. – Ele seguiu para o banheiro.
- Você se lembra do treino da Granja?
- Oh! – Ele falou, o local fechado mantinha sua voz abafada.
- Exatamente! – Respirei fundo. – Pelo menos aqui tem arquibancadas, fecharemos de todos os lados e não foram vendidos mais ingressos que o permitido. – Respirei fundo, movimentando as mãos, tentando relaxar.
- Vai dar tudo certo! – Ele falou.
- Vai dar tudo certo! – Repeti, soltando o ar devagar e abri os olhos, encontrando-o na minha frente novamente. – Ah, você saiu. – Ri fraco. – Vamos, eu vou te acompanhar. Depois preciso ir atrás do Vinícius. – Respirei fundo. – Preciso falar com o garoto russo que vai nos auxiliar nas filmagens também. – Parei um minuto. – Esquece! Nem sei por que estou dividindo isso contigo. – Abanei a mão, saindo da antessala, com ele ao meu lado.
- Tudo bem. – Ele falou. – Eu gosto de te ouvir falar. – Deu uma piscadela e seguiu andando em minha frente, me fazendo parar por alguns segundos. – Você não vem? – Ele parou um pouco mais a frente, olhando para mim e eu revirei os olhos. – O quê? – Ele perguntou.
- Nada. – Comentei, seguindo em sua direção. – Eu só achava que você era quietão, porque gostava dos seus olhos castanhos. – Repeti a piscadela para ele, dando uma risada e seguindo em sua frente para a área de treinamento novamente.
Droga! Esse jogo estava ficando perigoso demais! E eu começava a pensar em quem seria o primeiro a desistir ou a se machucar, e eu tinha uma leve impressão que seria eu.

- Tá tudo certo, não precisa surtar. – Falei para mim mesma, vendo as arquibancadas cheias e os torcedores acumulados nas grades.
- Parece que está tudo bem. – Bianca comentou e eu ponderei com a cabeça.
- E espero que continue assim. – Conferi meu relógio rapidamente e suspirei. – Eu vou dar uma volta. – Apontei para trás de mim e ela confirmou com a cabeça.
- Beleza, eu vou para o outro lado! – Ela falou e seguimos para lados contrários.
Passei por entre alguns torcedores brasileiros, mas principalmente por russos, e dei a volta atrás do gol, dando aquela observada básica em Alisson fazendo saltos de defesa e segui para o meio do campo, do lado contrário aos torcedores, encontrando Vinícius, Lucas e o russo Bóris que estava auxiliando Vinícius nas gravações, já que ele tinha que ser o mascote também.
- E aí, ? Tudo certo? – Lucas comentou e eu me apoiei na grade.
- Tudo certo. – Suspirei. – Pelo menos parece que está.
- Relaxa! Aqui a segurança é bem mais controlada, tá todo mundo registrado. – Vinícius falou e eu suspirei.
- Tudo bem, mas fiquei traumatizada depois daquele dia. – Rimos juntos e virei para Vinícius. - Vini, em meia hora vamos fazer uma aparição do Canarinho, dar algumas bolas de presente, aquilo que foi conversado na reunião...
- Beleza! – Ele falou. – Só estou esperando Neymar e Marcelo voltarem para ver o que eles vão aprontar. – Olhei rapidamente em volta.
- Como assim? Cadê eles? – Pisei na grade, ficando um pouco mais alta e tentando olhar em volta. – Eu perdi o Neymar e o Marcelo?
- Ei, se acalma! – Lucas se levantou do seu lugar, me empurrando do outro lado da grade. – Relaxa! – Ele falou. – Eles foram pegar farinha lá no hotel...
- Farinha? – O interrompi.
- É aniversário do Coutinho. – Ele falou. – Não me diga que se esqueceu, você que falou para gente no café...
- Eu sei! Eu sei! Mas a gente já cantou parabéns, teve bolo no almoço. O que mais eles querem? – Perguntei e Vinícius fez um movimento com a cabeça.
- Humilhação pública. – Ele sorriu e vi Neymar e Marcelo surgirem no meio do campo novamente.
Eles aproveitaram a distração de Coutinho que amarrava suas chuteiras e abriram o pacote de farinha em cima dele. Coloquei a mão na boca, vendo-o tentar fugir, mas os outros jogadores o encurralaram em uma rodinha, jogando ovos e seu uniforme ficou inteiro branco de farinha. Fiz uma careta, mas comecei a rir logo em seguida.
- Vamos lá, Vinícius, eu vou te levar para se trocar.
- Eu vou me trocar, você continua gravando. Lucas vai te ajudar, se precisar. – Vinícius falou para Bóris em inglês e seguimos para o lado dos vestiários. – Hoje vai ser um dia gostoso, você vai ver.
- Parece que sim! – Dei de ombros. – Na programação do pessoal de relações públicas temos sua aparição como canarinho, depois os jogadores vão falar com eles e tchau, sumam daqui!
- Ah, , relaxa... – Rimos juntos.
- Só questão de precaução, Vini. Prometo. – Suspirei. – Mas acho que hoje não tem muito que preocupar. – Dei de ombros. – Quero só ver na hora deles falarem com os torcedores. – Fiz uma careta. – Aí meu coração não aguenta.
- Aguenta sim! – Rimos juntos e entrei no vestiário com ele, esperando que ele se arrumasse como Canarinho.
- Mas sério, para quem foi contratada como social mídia, acho que eu tive um upgrade incrível. – Ele gargalhou de dentro do vestiário.
- Você veio para Rússia! – Ele falou alto. – Eu trabalho na CBF há três anos e, tirando amistosos, esse é o primeiro campeonato internacional. – Ele riu. – Quero saber com quem você dormiu lá para vir tão rápido.
- Rá! Rá! Rá! – Falei irônica, revirando olhos. – Primeiro que isso foi ofensivo. Segundo que eu não dormi com ninguém não, só que os jogadores deram um ótimo feedback para a equipe técnica e acharam bom me manter, mas para entrar aqui eu só fiz aquele processo seletivo chato. – Ele saiu do vestiário, só sem a cabeça do boneco.
- Eu sei, me desculpe. Falei besteira. – Ele suspirou. – Mas eu bem estou vendo os olhares que você tá dando para o Alisson.
- Ah, nem vem. Ele é bonito para caramba. – Ergui as mãos. – Não custa nada olhar. – Ele riu e eu não acrescentei mais nada do que estava acontecendo.
- Não custa. – Ele riu. – Mas ele também está olhando para você. – Ele piscou para mim e eu suspirei.
- Eu sei! – Falei, mordendo meu lábio inferior. – Quero saber até aonde vai essa brincadeirinha.
- Também quero! – Ele riu. – Mas sem pressa, temos um mês aqui ainda, além de que estamos a trabalho e o dele é só um dos mais importantes na equipe, não vamos deixar o moço distraído, ok?!
- É o que eu menos quero, por isso que eu só dou corda quando ele joga, fora isso, eu fico no meu canto. – Dei de ombros e ele me estendeu a cabeça do mascote e eu o ajudei a colocar.
- Mas só digo uma coisa, você e Alisson Becker? A visão é muito bonita.
- E você falando para não ter pressa. – Ele riu abafado por causa da cabeça.
- Desculpa, me empolguei. – Balancei a cabeça e seguimos para fora, vendo Murilo parado na porta.
- Ah, , você está aqui. Pensei que ele estava sozinho.
- Não, não. Vim aqui dar uma ajuda! – Falei rindo e acenei para ambos.
- Bom trabalho! – Falei e vi as atenções passarem dos jogadores que aliviavam nos passes de bola, para dar licença para o Canarinho passar.

- Bom dia. – Falei para alguns dos jogadores que aguardavam o elevador.
- Bom dia. – Eles me responderam com a mesma voz de sono e eu entrei no mesmo, vendo Filipe Luís apertando o botão para o quinto andar.
Chegamos rapidamente na cobertura do hotel, onde tinha se tornado nosso restaurante, para manter afastado das outras partes do hotel e segui direto para a mesa, pegando um dos copos mais altos e enchi de café, seguindo para uma mesa qualquer e dando um longo gole na mesma.
Olhei novamente o cronograma daquele dia e respirei fundo. Hoje o dia seria cheio e chato, e eu sabia que eu teria dor de cabeça com 23 jogadores e um técnico. Além de Lucas e Vinícius, é claro.
- Gente! – Chamei a atenção deles rapidamente, me colocando na entrada do restaurante. – Sei que a maioria nem abriu os olhos ainda, mas vocês podem me dar uma atenção?
O pessoal que estava no buffet se virou para me olhar, o pessoal que estava de costas também se virou, e a equipe técnica se encontrava em pé. Olhei rapidamente para programação do dia e respirei fundo.
- Hoje vai ser um dia diferente do normal. – Falei, coçando a cabeça. – Já adiantando que vai ser chato, estressante e eu vou agradecer muito se vocês não me matarem ao fim do dia. – Falei e alguns riram. – É o seguinte, hoje temos quatro compromissos, então, tentaremos fazer tudo agora na parte da manhã para livrar vocês para o treino na parte da tarde. – Olhei o cronograma. – Primeiro de tudo, a FIFA está vindo e vocês vão gravar os protocolos dos inícios dos jogos. Aquele vídeo de dois segundos que é mostrado apresentando a escalação. – Falei. – Quando vocês cruzam os braços na frente ou para trás, erguem o dedo para o céu ou fazem positivos... – Falei e eles riram. – É, sabem do que eu estou falando! – Sorri. – Depois disso, vamos aproveitar que vocês já estarão uniformizados e faremos as fotos da CBF, elas são mais descontraídas, é algo mais de boa e bem menos engessado. – Falei. – Em seguida, vocês irão para uma palestra sobre o árbitro de vídeo, ministrada pelo Wilson Seneme, Membro do Comitê de Arbitragem da FIFA, para vocês aprenderam um pouco mais dessa nova ferramenta. Por último, o Lucas quer uma sessão de fotos especial com os ternos da CBF, beleza? Aí depois vocês estarão livres para treinar. – Falei, respirando fundo. – Terminem de tomar o café e vão direto para o vestiário lá do campo e se arrumem. Os uniformes já estão preparados. – Falei e voltei para minha mesa.
Eu tomei meu café na maior calma do mundo, acabei seguindo para o Yug-Sport Stadium com a última leva de jogadores. Pelo menos, dessa vez, eu consegui carona nos carrinhos de golfe e não precisei ir a pé.
Fui ao encontro dos membros da FIFA que fariam as gravações e tudo já estava preparado. Um pano verde cobria um canto da sala, a câmera do outro e os holofotes me cegaram um pouco.
- Olá, como está? – Cumprimentei os dois técnicos, falando em inglês. - Como quer fazer isso?
- Você pode trazer dois ou três de cada vez, é bem rápido. – Assenti com a cabeça. – Depois vou te pedir para levá-los na outra sala, onde faremos umas sessões de fotos.
- Ok, podemos começar?
- Claro! – Eles falaram e eu saí da sala, andando mais um pouco pelo corredor e chegando ao vestiário, respirando fundo antes de entrar.
- Mulher entrando! – Gritei, feliz por ver todos vestidos. – É o seguinte, galera, eu vou levar três de cada vez, vocês farão a gravação e depois já seguirão para a sala do lado para fazer algumas fotos, beleza? Depois vocês aguardam que vamos para a palestra.
- Beleza! – Alguns falaram enquanto se olhavam no espelho, amarravam chuteiras e afins.
- Quem já está pronto? – Olhei em volta rapidamente. – Alisson! – Gritei para o mesmo, assustando-o. – Neymar e Willian! – Fiz um movimento com a cabeça e saí da sala, esperando que eles me seguissem.
Entrei na sala novamente e me coloquei na lateral, enquanto o auxiliar da FIFA explicava como aquilo funcionaria. Seriam três gravações, com os três movimentos que eu zoei mais cedo, cruzando os braços na frente, depois para trás e erguendo o polegar para cima.
Neymar foi o primeiro, eles eram posicionados no centro, estendiam uma placa com seu nome e gravavam as três cenas rapidamente. Senti um leve empurrão em meu ombro e virei para o lado, vendo Alisson mexendo no celular e fingindo que não era com ele. Repeti o movimento em seu ombro e rimos juntos.
- Sua vez! – Falei, atravessando a tela verde. – Você pode ir por aqui, Neymar! – Falei, apontando para a próxima sala e saí rapidamente para olhar sala e vi que Angelica estava lá, aliviando um pouco. Lá eles tirariam fotos no fundo verde e no fundo branco. Seria fácil.
Coloquei a cabeça rapidamente para dentro da sala novamente vendo Alisson fazer suas gravações e saí da sala, seguindo para o vestiário, mas parei logo na porta, vendo uma fila formada, me fazendo sorrir.
- É por isso que eu adoro vocês. – Sorri, abraçando Jesus, que era o primeiro da fila, pelos ombros. – Pode entrar. – Falei, vendo Alisson seguindo para a outra sala e toquei levemente em seus ombros, para que ele andasse um pouco mais rápido para eu mudar de sala.
- Um olho no peixe e outro no gato, é?! – Ele comentou e eu ri.
- São 23 crianças, dois ambientes, é muita coisa para lidar. – Brinquei e ele riu.
- Tá tudo certo, ! – Angelica falou. – Eu cuido daqui. – Assenti com a cabeça, fazendo positivo com as mãos, mas ficando parada no batente da porta, entre as duas salas.

A palestra sobre o VAR, o árbitro de vídeo, foi bem chata. Na real, eu ainda não tinha criado maturidade para achar palestras interessantes, não importava o assunto. Então, me coloquei no fundo da sala, ao lado de alguns membros da comissão técnica e fiquei ouvindo a mesma, enquanto eu conferia alguns e-mails.
A palestra não se estendeu por mais que uma hora, o que eu fiquei feliz, estava começando a bocejar e logo ficaria feio para mim. O palestrante Wilson logo nos liberou e eu fiquei feliz só de sair da mesma com uma sacolinha de lembrancinhas da Louis Vuitton.
Eu juntei a galera novamente e eles ficaram bem putos por terem que voltar para o hotel. Eu já fiquei feliz, poderia aproveitar o carrinho na volta e ficar por lá. Enquanto os jogadores se arrumavam, eu segui para a cobertura, reparando no incrível set que Lucas tinha montado e escondido o restaurante. Era basicamente uma sala de jogos, como daquelas mansões que vemos na TV, ou desses jogadores. Tinha estantes, sofás de couro, quadros, jogos de xadrez, abajures, telescópio, coisas até comuns, mas que eu sabia que ficariam sensacionais aos olhos de Lucas.
As noivas subiram aos poucos e, a cada vez que aquele elevador se abria, eu tinha uma palpitação no coração. Ficava só imaginando no que aconteceria quando o elevador se abrisse e Alisson saísse do mesmo. Aqueles ternos azuis da Seleção eram incríveis, e eu sabia muito bem disso. Eu ficava muito bem nele e já estava careca de ver os jogadores usando, mas a arrumação, o cuidado... Ah! Uma garota não aguenta.
Lucas era somente um, mas Bóris o ajudava em algumas coisas e eu sempre estava por perto e não me importava em ajudar, mas o que me interessava era olhar o making of e analisar as imagens que apareciam magicamente no notebook dele a cada clique.
Me apoiei em Thiago Silva quando o elevador se abriu e Alisson apareceu no mesmo, passando as mãos nos cabelos. Engoli em seco e senti que meu coração explodiria em meu peito. Jesus, me ajuda!
- Tá tudo bem? – Thiago perguntou e eu balancei a cabeça, olhando para baixo e fingindo que arrumava meus saltos.
- Tá tudo certo. – Me levantei, soltando dele e encontrei Alisson há alguns passos de mim, arrumando a gola do paletó.
- O que acha? – Ele me perguntou e eu fiz questão de respirar bem fundo, pensando no que responderia.
- Eu não posso falar o que eu acho, o horário não permite. – Falei, erguendo a mão até a boca e ele abriu um sorriso.
- Fiquei curioso agora. – Ele riu e eu dei de ombros.
- Quem sabe depois das 10? – Brinquei e não dei chance de ele responder. – Opa! Acho que minha porta já está fechada há essa hora.
- Tudo bem, eu abro! – Ele respondeu com um sorriso maroto no rosto e dessa vez ele me deixou quieta, me enervando quando isso acontecia.
Me ajeitei em um banco alto e ainda tive a audácia de esticar os pés para cima. Fiquei acompanhando a sessão de fotos olhando para a cena em que acontecia. Lucas tinha pedido para os jogadores se espalharem em vários cantos do local e seguiu andando por ela, passando por todos. Eu fiquei com o notebook dele, então toda foto que eu tinha a impressão que teria ficado sensacional, eu olhava no notebook que estava em meu colo para ter certeza.
Alisson estava sozinho em um sofá colocado em frente a uma estante de livros. Ele somente fez aquela cara fechava que eu já estava acostumada e colocou a mão no queixo. Quando as fotos começaram a pipocar na tela, eu tive que segurar com muita vontade a água que eu bebia, pois eu teria feito um belo estrago.
- O que acha, ? - Lucas perguntou, como estava fazendo em todas, e eu abaixei minha cabeça para trás do notebook e estendi o polegar para cima. – Ótimo! – Lucas falou. – Obrigado, Alisson. Vamos seguir por aqui. – Aproveitei a deixa para me enviar a foto dele para meu e-mail. Aquilo tinha ficado sensacional e eu guardaria de recordação.
Notei Alisson saindo de esguio e eu joguei a cabeça para trás um pouco, vendo-o se ajeitar junto dos jogadores. Ele abriu um sorriso quando percebeu que eu estava notando e eu tive vontade de erguer o dedo do meio, assim, de graça, mas tinha muitas testemunhas. Então, me contive em morder meu lábio inferior e voltei a prestar nas outras fotos que surgiam na tela, babando pelos outros 22 jogadores restantes.

Respirei fundo ao passar pelas portas do Yug-Sport Stadium e parei um momento para respirar. Caramba! Estávamos no terceiro dia aqui e eu já não aguentava mais ir e vir do local de treinamento. E a Copa nem tinha começado ainda.
Entrei no mesmo, atravessando os corredores e seguindo para o campo, onde os jogadores estavam espalhados, com as bolas nos pés ou treinando com equipamentos espalhados pelo chão. Atravessei por trás dos gols, esperando que nada atingisse minha cabeça e olhei para a folha, vendo que o escolhido de Tite para fazer parte da coletiva com Rodrigo era Paulinho.
- Mas anda mais que dinheiro, hein?! – Cássio comentou e eu ri.
- Isso que a Copa nem começou. – Respondi, fazendo os goleiros se distraíssem um pouco. – Mas aposto que estou malhando as pernas mais que vocês. – Eles riram e segui em frente, parando para fora da linha do campo, esperando que Tite olhasse para mim para eu pedir um tempo.
Senti meu celular vibrar em meu bolso e puxei o mesmo, franzindo ao ver uma mensagem de Michelle. A primeira coisa que eu pensei foi: o que eu fiz? Respirei fundo e abri a mensagem dela.
Salário está na conta”. Falava a primeira mensagem.
Demoramos um pouco para depositar, pois estávamos recuperando sua conta com o RH. Quando voltar da Rússia mudaremos sua data de depósito para o quinto dia útil e acrescentaremos os bônus e diárias da viagem. Bom trabalho”. Franzi a testa com a mensagem e segui rapidamente para o aplicativo do banco.
Eu provavelmente cairia para trás, se não fosse a grade que circundava o campo, quando eu olhei aqueles cinco dígitos na minha conta. Coloquei a mão na boca, respirando fundo e rindo sozinha. Meu Deus! Era verdade! Na verdade, era muito mais que verdade.
Claro que tinha os descontos da carteira de trabalho e aqueles impostos do governo, mas havia sido depositado, junto do meu salário, o vale alimentação e o vale transporte, totalizando muito mais que o esperado.
- Porra! – Falei sozinha, rindo comigo mesma.
- Cuidado! – Ouvi um barulho, mas não deu tempo de eu olhar o que estava acontecendo quando senti uma bolada bater em cheio em minha cabeça.
Meu corpo foi levado para trás um pouco e apoiei minhas mãos na grade atrás de mim, sentindo um zunido alto em meu ouvido. Meu Deus! Fazia muito tempo que eu não levava uma dessas e, cara! Eu não senti falta nenhuma!
- Meu Deus, ! – Eles começaram a se aproximar, Taffarel foi o primeiro.
- Está tudo bem? – Ergui a mão, abanando a mesma como se não tivesse acontecido nada.
- Eu estou bem! – Falei, guardando o celular no bolso de novo e procurei a bola. – Tá tudo bem! – Falei, pegando a bola e colocando-a na linha e me afastei o pouco que a grade permitia.
- Lá vai! – Eles falaram animados e eu ri.
- Segura aí! – Corri em direção à bola e chutei-a fortemente, vendo-a fazer uma curva alta e Willian cabecear do outro lado do campo.
- Uau! – Vi Alisson ao meu lado e sorri. – Muito bom! – Ri fraco.
- Foi que nem andar de bicicleta. – Sorri e olhei para o treino que tinha voltado novamente. – Paulinho! – Gritei, vendo todo mundo se distrair de novo. – Preciso de você para coletiva! – Ele apontou para si. – É! Você mesmo! – Ele correu em minha direção.
- Sou o escolhido do dia? – Perguntei.
- Sinto muito! – Falei e ele riu.
- Está tudo certo, pelo menos eu estou bem acompanhado! – Ele me abraçou pelos ombros e eu ri.
- Quero ver se vocês vão agir assim quando suas esposas e família aparecerem aqui. – Ele riu.
- Pior que elas sabem. – Ele comentou. – A minha sabe, pelo menos.
- E o que ela acha? – Virei para ele, atravessando o campo.
- Ela acha bom ter alguém para puxar nossas orelhas. – Ri fraco.
- Esse é o Tite! – Comentei. – Eu só xingo. – Falei rindo.
- Tá valendo! – Ele brincou e rimos.
- Vamos lá, Paulinho. Hoje a coletiva é com o Rodrigo.
- Beleza! – Ele falou e seguimos para dentro do centro de esportes.

Depois da coletiva de Paulinho na parte da tarde, eu segui saí com Vinícius e Bóris para andar por Sochi e fazer imagens do Canarinho. Bóris era meio quietão, mas ele acabava se soltando depois de um tempo.
O pessoal da comunicação não nos levou para pontos turísticos em Sochi, por assim dizer, eles nos levaram para os pontos turísticos da Copa. Como se fosse o “centro olímpico”, mas da Copa. Passamos por um longo caminho, onde tinha o arco de boas-vindas, vendo e interagindo com várias pessoas que andavam por ali, mas eu adorava sua interação com as crianças.
Elas eram tão fofas, tão ingênuas, que dava vontade de apertar. E Vinícius era interesseiro, ele cumprimentava todas as meninas, dando beijo na mão, bem, bico na mão, e depois recebia um beijo em troca. Claro, tudo do mascote.
Depois chegamos na frente do letreiro “Rússia 2018”, fazendo algumas passagens em frente do mesmo, e eu aproveitei para tirar fotos, é claro. Estava enchendo meu celular, mas eu estava em um local novo, então era como se fossem férias para mim.
Nas imediações do estádio, Vinícius conseguiu roubar um patinete de uma criança. Sim, você leu certo. Deu algumas voltas com o mesmo, mas logo entregou para os dois irmãos. O bom de Vinícius é que ele tinha aquele jogo de cintura, o que o tornava bem quisto em todo lugar que aparecesse, mas quando entregamos uma bola para ele, as coisas ficaram mais preocupantes, mas ao ver alguns passes, notei que Vinícius era o melhor jogador que eu já tinha visto, fazendo embaixadinha usando uma roupa com aquele peso? Ah, só ele mesmo!
Eu me afastei dos dois e fui tirar algumas fotos, principalmente no centro das bandeiras. Sentindo aquela emoção bater em meu peito e tomar conta de mim. Amanhã começava a Copa do Mundo e eu estava aqui. Não só como mera espectadora, mas eu estava trabalhando na Copa do Mundo. Eu tinha chegado ao ponto máximo da minha carreira e da minha vida e só tinha me dado conta ali em Sochi, com o estádio ao fundo e o sol brilhando sob o mesmo.
- Acho que podemos ir. – Bóris me chamou e eu me distraí.
- Já? – Perguntei em inglês também e ele apontou para Vinícius.
- “Já”? – Ele seguiu na língua de Bóris. - Não é você que está suando dentro de uma fantasia de pássaro. – Tentei segurar a risada, mas balancei a cabeça. – E está ficando tarde. – Apesar de o sol estar à pino ainda, meu relógio marcava quase oito horas da noite.
- Vamos lá! – Falei.
Nos colocamos na van da CBF e voltamos para o hotel. Há essa hora os jogadores já tinham acabado seus treinos e, provavelmente, já tinham até jantado. Meu estômago estava roncando e eu estava tentada a experimentar o strogonoff russo que tinha no hotel, apesar de que, depois que eu experimentei o borscht, uma sopa de beterraba e tomate, eu estava mais animada a experimentar as outras coisas. Afinal, estava em um país totalmente diferente do meu, com uma cultura bem diversificada, não podia ignorá-la.
Entramos no hotel e eu ajudei Vinícius a se livrar da roupa e ele disse que tomaria um banho antes. Eu deixaria o banho para depois da janta, aproveitaria, já colocaria pijama e dormiria até amanhã. Assim que as portas do elevador se abriram, eu comecei a ouvir uma música de fundo, um suave toque de violão e entrei no restaurante, seguindo em direção ao barulho.
Alguns dos jogadores estavam espalhados pelos sofás da sessão de fotos do dia anterior, alguns conversando e outros ouvindo a música, mas todos de forma organizada. Alisson estava em uma das poltronas com seu violão, cantando uma música que eu conhecia. Apoiei minhas mãos na poltrona de Taison e abri um pequeno sorriso, acompanhando a música.
- ...Além de apresentar o caminho que você percorre com a sua boca. Mas ó: é só uma ideia boba, é só uma ideinha boba... – Abri um sorriso, começando a cantar baixinho com ele.
- Tudo bem. Se é pra você me usar o que é que tem? Só de tá com você fico bem, posso não ser o amor da sua vida. Tudo bem. Se é pra você me usar o que é que tem? Tanto faz se você não me ama. Posso não ser o amor da sua vida, mas eu sou o amor da sua cama... Mas eu sou o amor da sua cama... – Ele ergueu os olhos para mim, ao notar que alguém o acompanhava e eu dei um sorriso, abaixando o rosto.
- Tenho vontade de ir mais fundo, mas não tenho certeza se ainda posso. Certeza eu tenho que posso ir além do que virar seus olhos. – Ele voltou a cantar olhando para mim, e eu queria desviar o olhar, mas não conseguia. - Além de transpirar seus poros, além de arrancar sua roupa, além de apresentar o caminho que você percorre com a sua boca. Mas ó: é só uma ideia boba, é só uma ideinha boba. – Senti meu corpo arrepiar e passei as mãos em meus braços, cruzando os mesmos. - Tudo bem. Se é pra você me usar o que é que tem? Só de tá com você fico bem, posso não ser o amor da sua vida. Tudo bem. Se é pra você me usar o que é que tem? Tanto faz se você não me ama. Posso não ser o amor da sua vida, mas eu sou o amor da sua cama... Mas eu sou o amor da sua cama... Tudo bem... Tudo bem! – Soltei um suspiro quando ele parou e cantar, mas seu olhar continuou sobre o meu.
Foi aí que eu percebi que um silêncio tinha se instalado no local e os olhares começaram a ser percebidos. Engoli em seco e ajustei minha postura, forçando uma tosse. Cocei a nuca e tentei sair daquela situação.
- Ok, Alisson. Vamos conversar. – Fingi ponderar por um momento. – Você é bonito, alto, jovem, goleiro da Seleção Brasileira, toca violão e ainda canta... – O pessoal em volta deu risada. – O que mais você quer da vida? – Esperei que ele não respondesse, mas por precaução eu emendei outra coisa. – Acho que você poderia dividir alguns talentos com o pessoal que tem menos atributos. – Falei, deixando a questão no ar e segui para o buffet, tentando me esconder o mais longe possível deles.
Com o estômago embrulhado, eu acabei pegando um pouco de macarrão alho e óleo mesmo, me manteria no que eu conhecia. Me sentei de costas de onde os meninos estavam e em um dos cantos, tentando passar despercebida, mas não adiantou nada. Enquanto eu comia com a cabeça baixa, uma pessoa se sentou na cadeira à minha frente. E eu não precisei olhar para saber quem era, então continuei fingindo que não era comigo.
- Você gosta de sertanejo, não é? – Ele perguntou e eu ergui os olhos para encará-lo.
- Eu nasci no meio da roça, mesmo se a gente não gostar, a vida faz questão de nos fazer gostar. – Dei de ombros. – Além da faculdade, é claro!
- Legal! – Ele sorriu.
- Me deixa perguntar... – Engoli em seco. – Tem algo que você faz mal?
- Vamos descobrir! – Ele deu de ombros e eu sorri. – Boa noite. – Ele falou.
- Boa noite. – Respondi, vendo-o se levantar e soltei um suspiro, relaxando meus ombros, mas analisando sua resposta de diversas formas possíveis.

Eu acordei pilhada no dia seguinte. Era o começo da Copa do Mundo e eu não podia estar mais empolgada! Copa do Mundo sempre me empolgou bastante, desde que eu me entendia por gente, mas acho que essa era a primeira vez que eu acompanharia tudo, e o melhor, de perto! Ao lado da Seleção do meu país.
Eu só queria gritar! Mas achei melhor não ter alguns jogadores aparecendo na minha porta para saber se estava tudo bem. A cerimônia de abertura seria só as cinco e meia da tarde e eu tinha vários trabalhos para fazer antes disso, incluindo outra coletiva de imprensa, a qual eu levaria Gabriel Jesus para falar.
Tomei um belo banho antes de descer para tomar café e fiz questão de colocar meus saltos amarelos, junto da blusa cheia de patrocínios da CBF. Hoje era um dos dias mais felizes da minha vida e ainda teria jogo, mesmo sendo Rússia e Arábia Saudita, com Copa a gente se empolgava por qualquer coisa.
Depois que eu me vi pronta, dei aquela rápida olhada nas minhas redes sociais e encontrei um longo e-mail de Michelle. Ela me desejava boa sorte e me aconselhava não deixar minhas emoções falarem mais alto. Era a Copa do Mundo! Eu sabia que esse conselho era muito sábio e necessário, mas tinha a leve impressão que não seria fácil. Às vezes eu ainda ficava abismada pelo fato de eu realmente participar de tudo isso.
Subi para o café da manhã sozinha. Acabei demorando ao responder o e-mail de Michelle. Cheguei ao restaurante chamando a atenção de algumas pessoas pelo barulho do salto pelo local.
- É para dar sorte? – Fred perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Talvez. – Sorri, me aproximando dele e apoiando a mão em seu ombro.
- Estou sabendo que Rodrigo te liberou.
- Sim! – Ele assentiu com a cabeça. – Bem a tempo. – Rimos juntos e eu me afastei do mesmo, me colocando no centro do restaurante.
- Bom dia, galera! – Falei animada. – É o hoje o dia, hein?! – Falei, vendo vários rostos desesperados e suspirei, todos deveriam estar nervosos. – Eu vim trazer a programação para os próximos dias. – Respirei fundo, olhando novamente no celular. – Hoje vocês vão treinar normalmente, eu vou aparecer por lá para pegar Gabriel Jesus e Tite para a última a última coletiva antes da viagem para Rostov. Amanhã vocês farão um treino fechado e vamos à noite para Rostov, onde será o jogo. Não se preocupem que o voo é só de uma hora e 15, chegaremos rapidinho. – Alguns acenaram com a cabeça, mas a maioria me ignorou. – Amanhã vocês terão a parte da manhã livre, depois uma reunião com a equipe técnica sobre o jogo e no fim do dia um treino de uma hora no nosso palco de estreia! – Falei, respirando fundo. – E no domingo, começa nossa participação. – Senti o peso daquelas palavras logo que eu falei, pois o ambiente pesou, me fazendo soltar a respiração algumas vezes. – Eu sei que vocês estão nervosos, ansiosos, com medo... A maioria das pessoas aqui nunca participou de um evento desses, eu me incluo nessa, mas eu me direciono aos jogadores e a equipe técnica, pois são vocês que vão dar a cara à tapa. – Suspirei. – Saibam que nós confiamos em vocês. Nós acreditamos em vocês e estaremos com vocês não importa o resultado. – Abri um sorriso. – Vamos chegar lá e mostrar o que a gente sabe fazer de melhor: jogar futebol. Eu estou acompanhando vocês desde as eliminatórias, pessoalmente, desde o dia 21 de maio, faz quase um mês e eu posso falar com certeza que vocês estão prontos. – Sorri. – Então, ergam essas cabeças, alarguem esses sorrisos, porque aqui é Brasil, e a gente não vem para brincar. Com a gente, a luta é séria! – Falei e Tite foi o primeiro a aplaudir, me fazendo sorrir e o resto do pessoal do restaurante o seguiu, me deixando feliz.
- Meu Deus! Chegou a hora. – Ouvi Jesus falando e começamos a rir.
- Quando Jesus pede ajuda para Deus, vemos que a coisa ficou séria. – Firmino comentou e rimos.
- É gente, a coisa ficou séria! – Tite falou e eu engoli em seco, suspirando.
Caramba!


Capítulo 5 – É... Começou Fraco: Brasil x Suíça

O que se seguiu daquele dia foi meu céu e o começo do meu inferno. Eu sabia que a Copa do Mundo me daria dores de cabeça, principalmente me colocando para cuidar das imagens dos jogadores, mas não pensava que um dos motivos seria a família deles.
Fui informada logo depois do café que as famílias dos jogadores estavam chegando ao Pullman Hotel, Murilo, das relações públicas, acompanharia. Eu não saberia quantas pessoas chegariam e quem exatamente chegaria, mas suporia que a maioria das esposas, namoradas e filhos, talvez alguns pais, mas não cheguei a ver a lista completa, só fiz o caminho entre Murilo e os jogadores.
Na parte da manhã eu fiquei acompanhando as notícias e especulações sobre o jogo de estreia da Copa do Mundo, além de separar aquela básica tabelinha da Copa para anotar todos os resultados e ir passando para a equipe técnica, mesmo sabendo que para esses primeiros três jogos, os estudos já estavam todos prontos e repassados um milhão de vezes, até eu já sabia as táticas deles.
Faltava cerca de uma hora para a coletiva quando eu resolvi minhas pendências com a CBF, aproveitei o tempo livre e peguei meu caminho para o centro de treinamento, na maior calma possível, mas nem toda calma evitaram o meu susto quando eu cheguei lá.
Parecia que outro treino aberto estava acontecendo, mas não, eram só os familiares dos jogadores que vieram para cá, assim que entraram no complexo. Os jogadores estavam dispersos, falando com seus familiares e eu estava pronta para fazer um escarcéu, mas Tite estava lá e eu sabia que ele mandava dentro do campo, meu problema era fora.
Aproveitei que o treino estava parado e atravessei pelo meio do gramado para falar com Tite do outro lado. Ele estava reunido com Edu e Cléber, falando bem baixo. Assim que notaram minha presença, eles pararam de falar.
- Oi, . – Tite comentou e eu olhei para os jogadores.
- Está tudo certo? – Franzi a testa.
- Eles apareceram aqui e demos alguns minutos para eles cumprimentarem...
- Mas não tínhamos estipulado tempo? – Ele somente assentiu com a cabeça.
- Exatamente, mas como não tinha nenhum controle de entrada e eles estão com crachás, foi tudo liberado.
- Vamos precisar reorganizar isso, não dá para ficar assim. – Ele assentiu com a cabeça novamente.
- Eu vou repassar a informação para os dirigentes. Qualquer novidade, certeza que vai chegar em você. – Assenti com a cabeça, respirando fundo.
- Beleza! Eu preciso de você e do Gabriel na coletiva daqui alguns minutos.
- Beleza! – Ele falou. – Em quanto tempo?
- 20 minutos. – Falei. – Volto para chamar vocês ou...? – Ele olhou o relógio.
- Não precisa, a gente vai lá. – Confirmei com a cabeça.
- Bem, espero que vocês tenham um bom treino, o jogo é depois de amanhã. – Ele bufou alto, colocando a mão no rosto. – Você está nervoso, Tite, quer que eu dê um jeito nisso? Ninguém me conhece, então eu posso ser chata. – Ele riu.
- Você não se importa? – Abri um sorriso sarcástico.
- Até parece! – Falei rindo e me afastei do mesmo, seguindo para o aglomerado dentro e fora da cerca.
- Quero só ver. – Ouvi Edu comentar e eu ri, negando com a cabeça.
- Galera! – Falei alto o suficiente para poucos virarem em minha direção, respirei fundo e tentei novamente. – Oh! – Gritei, vendo o silêncio que se formou. – Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas vocês têm treino agora. E que eu saiba, seus familiares não deveriam estar aqui até as quatro da tarde. – Falei firme. – Se não quiserem que o privilégio seja totalmente cortado, espero que todos cumpram seus papéis. – Alguns familiares começaram a reclamar e eu só sustentei o olhar firme.
- Mas, ... – Gabriel foi o primeiro a reclamar.
- Não, Gabriel. Não vamos esquecer que isso foi um acordo entre CBF e Tite, porque em outras eras, os familiares não apareciam nem nos jogos. Que tal? – Ele se calou. - E você tem coletiva em 18 minutos. – Falei firme. – Te espero lá. – Respirei fundo e olhei para a equipe de técnicos que escondiam a boca com a mão, mas eu sabia que todos riam.
Segui para fora do campo e notei Alisson e Cássio treinando com Taffarel como se nada tivesse acontecido, preferi não perguntar, mas supus que suas famílias não tinham chego ainda, não viriam ou encontrariam direto no jogo.
Passei para fora das grades, seguindo por trás dos familiares e vi que a situação voltava a se normalizar dentro do campo. Os familiares se afastavam e seguiam para as arquibancadas, eles deveriam sair, mas eu preferi não causar mais, depois conversaria com mais calma com eles. Ou não, na teoria, se não afetasse a imagem deles, não era minha responsabilidade. Apesar de que não tinha outra pessoa para falar isso.
Ouvi alguns passos apressados de dentro do centro de treinamento, saltos como o meu e vi Bianca sair da mesma, soltando a respiração aliviada quando me viu. Pronto! Alguma merda já aconteceu!
- Ah, graças a Deus você já chegou! – Ela me segurou pelo braço, me puxando para a lateral.
- O que aconteceu? Você está pálida.
- Você pode lidar com os jornais italianos de novo? – Ela me perguntou. – Eu estou sendo aloprada, mas tem a coletiva agora e não tem como eu lidar com tudo isso ao mesmo tempo.
- Calma! – Falei, segurando em seus ombros. – Me passa seu celular e as informações que você tiver. Cuide da coletiva, depois falamos.
- Mas não tem só jornal italiano falando...
- Eu falo português, inglês, espanhol, francês e italiano, certeza que eu consigo me virar com qualquer pessoa.
- Mesmo? – Ela sorriu.
- Mesmo, Bianca! Relaxa. Vai beber alguma coisa também, você está branca igual um papel. – Ela suspirou, relaxando os ombros. – Vai!
- Obrigada! – Ela sorriu e eu peguei o celular de sua mão e trocamos os iPads, vendo que ele já brilhava novamente.
- Atenda em inglês, eu estou pedindo para todo mundo se identificar, aí você descobre de onde fala. Ah, um detalhe, não estamos mais credenciando para o jogo, agora só quando voltar para Sochi.
- Perfeito! – Sorri. – Agora vai! – Ela riu e saiu correndo de volta para a sala. – Vamos ver o que vai rolar. – Deslizei o botão, atendendo em inglês.
- Olá, com quem estou falando? – Falei, seguindo para fora do centro de treinamento, pensando se voltaria para o hotel, mas decidi seguir pela praia, eu só a via da minha janela e não tive nem a oportunidade de colocar os pezinhos na água, e eu tinha a impressão que a Rússia era fria, mas estava se assemelhando ao Brasil.
- Aqui é Enzo, do jornal... – Ele respondeu em italiano. Só pode estar de brincadeira comigo.
- Ah Enzo, é você de novo! Aqui é . – Falei na sua língua, já me identificando para facilitar a situação.
- Ah, senhorita! Há quando tempo não conversamos? – Revirei os olhos, me sentando em uma das espreguiçadeiras do hotel que ficava num deque acima da areia.
- Sim, sim. Como posso te ajudar? – Cortei o papo rapidamente, encostando-me à almofada e ergui os pés, começando uma longa conversa com Enzo.
Eu fiquei algumas boas horas falando com os jornalistas, pois Bianca apareceu um tempo depois, provavelmente no fim da coletiva e havíamos combinado de não passar de uma hora de perguntas, tanto que reservávamos o tempo baseado nisso. Falei para ela deixar comigo e seguir para o que ela tinha para fazer. Algum tempo depois, eu ouvi um alto assovio, vindo de alguns jogadores que iam almoçar. Aparentemente ninguém estava bravo comigo... Aparentemente.
Eles seguiram para o hotel, e eu continuei na praia, esperando que as ligações cessassem, pelo menos para eu ir comer.

O dia acabou se seguindo assim. Quando eu consegui cessar um pouco as ligações, eu fui para o hotel, mas acabei ficando por lá mesmo. Eu e Bianca subimos para meu quarto, limpando a lista de imprensa que não parava de ligar e, claro, assistir ao jogo de abertura da Copa do Mundo.
Ficar no quarto era uma intenção de estar disponível para falar sobre o elefante branco na sala: o rolo do treino de mais cedo. Esperava que algum jogador aparecesse para lidar com isso, mas ninguém apareceu. O treino terminou, eles voltaram para seus quartos, mas tirando acenos rápidos, ninguém parou para conversar.
Bem, ninguém que eu esperasse.
- Acho que eu vou tomar meu banho também. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Vai lá! – Falei. – Eu vou esperar o jogo acabar e logo já vou também.
Ela acenou e saiu do quarto. Voltei a apoiar meus cotovelos na escrivaninha e segui olhando para a tela do jogo. Rússia já tinha metido três gols na Arábia Saudita no primeiro tempo e eles queriam mais.
- Substituição, sai Bianca, entra Angelica. – Ri fraco, olhando para Angelica parada na porta e chamei-a para dentro. – Não posso. – Ela falou
- O que aconteceu? Você não me está com uma cara boa. – Ela riu.
- Pessoal da CBF quer falar com a gente. – Franzi a testa.
- Com a gente? – Apontei para nós duas.
- Sim! Agora. – Respirei fundo.
- Lá vem bronca! – Me levantei, seguindo-a para fora do quarto e puxando a porta.
Virei o corredor com ela e quase esbarrei em Coutinho que saía do quarto. Apoiei as mãos em seus ombros e me afastei de costas, pedindo desculpas com o olhar. Ele sorriu, mas eu bati as costas em outra pessoa.
- Opa! – Ouvi a voz de Alisson e ri com a minha sorte.
- Campo minado! – Falei ao virar de frente e ele riu. – Desculpe.
- Tudo bem! – Ele sorriu e eu entrei no elevador com Angelica.
- Você e Alisson, hum? – Ela comentou quando as portas se fecharam e eu olhei para ela.
- O quê?
- Ah, , todo mundo já notou o climão que fica quando vocês estão perto, só que ninguém fala nada. – Ri fraco. – Mas e aí, já rolou algo?
- Como assim “rolou algo”, Angelica? Estamos aqui a trabalho. Não vai rolar nada. Além de que é só provocação, não sei se rolaria algo. – Ela deu de ombros.
- Ah, não sei, , mas se fosse comigo, eu não perderia uma oportunidade dessas. – Ela piscou para mim. – Além de que é um partidão.
- Claro! Um partidão que mora em Roma. – Ela riu, dando de ombros.
- Pelo menos para brincar um pouco. – Ri fraco, balançando a cabeça.
- Ah, você é um perigo, Angelica. – Ela riu. – Mas não sei. Eu vim aqui a trabalho e ele vai representar o Brasil na Copa do Mundo, além de que temos muitas testemunhas.
- Não é por nada não, mas tirando a equipe técnica e os dirigentes, todo mundo sabe que tá rolando alguma coisa. – Suspirei. – Principalmente depois daquele dia dele tocando violão. O c pesou legal! – Ela falou me apontando uma direção.
- Você estava lá? – Falei um pouco mais alto e ela sorriu.
- E todo mundo que estava lá notou, queridinha. – Suspirei.
- Não sei, Angelica. Sério. Vamos focar numa coisa de cada vez. – Dei de ombros. – Se for para rolar, ótimo. Se não, pelo menos a brincadeira está sendo divertida. – Ela sorriu. – Mas agora falando dessa reunião, o que aconteceu?
- Não sei. – Ela foi honesta. – Só pediram para chamar você. – Respirei fundo e ela bateu duas vezes em uma das portas e logo passamos pela mesma.
Era uma sala de reuniões com uma mesa oval e vários lugares ocupados por todos os membros da comissão técnica e alguns engravatados da CBF, engoli em seco.
- Olá, pediram para me chamar? – Falei, me aproximando da mesma.
- Por favor, . – Tite falou, me chamando com a mão e eu olhei para Angelica, mas ela só assentiu com a cabeça. Dei a volta na mesa e me sentei no lugar vago ao seu lado, em frente aos dirigentes.
- O que está acontecendo? – Perguntei e todos se entreolharam.
- O que você fez mais cedo... – Tite falou e eu franzi a testa.
- Oh meu Deus, me desculpem se eu não deveria ter feito aquilo, mas eu achei...
- Não, não, senhorita. – Um dos dirigentes falou. – Você fez certo e te agradecemos muito, adoraríamos se você continuar fazendo esse controle. – Assenti com a cabeça.
- Ah, claro, mas... – Balancei a cabeça. – O que está acontecendo?
- Nós liberamos a presença dos familiares nos treinos, fretamos o avião, fechamos um hotel perto, mas eu sinto cheiro de problemas. – Um dos dirigentes falou.
- Diga. – Falei.
- Temos a confirmação de 120 pessoas entre as que chegaram e as que ainda vão chegar após o jogo em Rostov. – Tite falou e eu virei para ele. – Como vamos controlar tudo isso de gente? Nós já liberamos...
- Eu acho simples, para falar a verdade. – Respirei fundo. – Foi um acordo feito entre vocês e os jogadores, certo? Lá em Teresópolis? Que seria permitida a presença de familiares nos treinos, mas nos horários reservados, que os familiares poderiam ficar no hotel até um horário permitido e que os jogadores só poderiam sair daqui nas folgas que seria dada por você? – Virei para Tite.
- Certo!
- Então. – Falei, dando de ombros. – De onde eu venho, promessa é dívida. – Virei para os dirigentes. – E outra, se começar a dar problema, corta! – Falei. – Eles não vieram aqui para turistar, nós não viemos aqui para turistar. Viemos para trabalhar, certo? – Encostei as costas na cadeira.
- Como vamos controlar isso? – Edu perguntou.
- Bem, eu já fiquei marcada como a chata mais cedo, então, se quiserem que eu fique de plantão nos treinos, para controlar isso, eu posso ficar. – Dei de ombros. – Meu trabalho principal é com eles mesmo. – Eles suspiraram, passando a mão nos rostos.
- Hoje o dia já acabou, vamos para Rostov em algumas horas e amanhã não teremos a presença dos familiares no hotel, nem no treino. – Angelica falou, se apoiando do outro lado da mesa. – Porque não esperamos a volta e analisamos novamente? – Assentimos com a cabeça.
- Eu tenho uma reunião mesmo marcada com a equipe depois de cada jogo para falar sobre possíveis pautas que eles deram para a imprensa. – Tite e a equipe técnica confirmaram com a cabeça. – Qualquer coisa eu já falo sobre isso.
- Bom! – Cléber falou. – Você pode adicionar na sua lista que os amigos do Gabriel Jesus denunciaram toda nossa escalação para domingo. – Ele disse e eu arregalei os olhos.
- Como assim? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça. - Eu vou bater tanto naquela criança... – Falei involuntariamente e eles riram. – Enfim... – Respirei fundo. – Todos concordam, então, que eu fale com eles sobre isso após o jogo? Acho justo dar responsabilidade para eles, afinal, não estamos aqui para ser babá dos familiares, só deles. – Balancei a cabeça, revisando os olhos. – Nem deles, na verdade, mas vocês têm que concordar comigo que...
- É, você tem razão. – Tite comentou e eu ri. – A gente meio que sente pais deles, principalmente por ter um elenco tão jovem, acabamos fazendo o papel de pai. – Sorri.
- Me contem depois qual papel eu estou fazendo, o da irmã mais nova e mais responsável? – Eles riram.
- Tipo isso. – Sorri.
- Acho que seria interessante já liberar a escalação, para não ficar na especulação. – Angelica falou e a equipe técnica se entreolhou.
- Pode ser! – Eles falaram. – Vai ser a mesma do amistoso contra a Áustria. – Confirmamos com a cabeça.
- Bom, já está quase na hora da viagem, analisamos essa situação novamente na volta. – O dirigente falou e assentimos com a cabeça, nos levantando. – Boa viagem e bom jogo! – Respirei fundo e engoli em seco.

Chegamos a Rostov on Don por volta de nove horas da noite, o voo foi bem curto, então nem me dei ao trabalho de abrir notebooks e afins, aproveitei aquele tempinho livre e dormi durante aquela uma hora e pouco de voo.
A chegada ao hotel Ramada em Rostov foi mais calma, não tinha festa, música e, os poucos torcedores, eram mantidos do outro lado da rua, por obrigação da polícia russa. Eu agradeci por isso, minha cabeça estava um pouco pesada por causa do sono e eu ainda estava um pouco incerta sobre a responsabilidade que eu tinha me oferecido para ajudar.
Entrei no hotel e logo fui parada pelos jogadores acumulados no lobby do mesmo. Tirei o fone de ouvido e olhei na mesma direção de todos: na televisão que passava Portugal e Espanha. Estava no fim do jogo e Espanha estava ganhando por três a dois. Balancei a cabeça e desviei deles, seguindo para a galera de comunicação que falava com o gerente do hotel sobre as chaves e afins.
- Como vai ser? – Perguntei, me apoiando no balcão.
- Quatro jogadores por quarto e três para a comunicação... – Franzi a testa.
- Meu Deus. – Falei rindo. – Uma hora a FIFA abusa e outra eles restringem. - Eles riram.
- Divide com a gente, ? – Angelica e Bianca perguntaram quase juntas e eu assenti com a cabeça.
- Claro! – Virei para Lucas e Vinícius. – Não sintam minha falta, ok?! – Eles riram.
- Pode deixar! – Respirei fundo.
- Faz as honras? – Bianca me empurrou as chaves e eu respirei fundo.
- Sempre, não é?! – Peguei-as em minhas mãos, organizando-as. – Cinco quartos de quatro e um de três? – Contei as chaves rapidamente.
- É! – Angelica falou e eu respirei fundo.
- Gol! – Eles gritaram e eu olhei para a TV, vendo Cristiano Ronaldo comemorando mais um gol e fiquei abismada, seis gols ao todo em um jogo. Deveria ter sido fantástico.
- Eita que jogaço! – Falei, vendo o árbitro dar cinco minutos de acréscimo. – Eu estou com as chaves. – Apontei para as mesmas. – Serão cinco quartos com quatro pessoas e um com três, beleza? Façam sua turminha e venham pegar as chaves.
- Eita! – Geromel falou e eu assenti com a cabeça.
- É para ficar todo mundo bem juntinho. – Falei e eles riram. – Venham, venham!
Aguardei um pouco eles decidirem e os primeiros quatro a se aproximarem foram Geromel, Coutinho, Filipe Luís e Willian. Depois Miranda, Firmino, Paulinho e Fagner. Depois Alisson apareceu em minha frente com Jesus, Fred e Danilo. Ele fez questão de dar outra piscadela, mas dessa vez fingi que não vi. Mais dois grupos vieram e sobrou Thiago Silva, Neymar e Marcelo.
- Ah, isso vai dar merda! – Falei entregando a chave para Neymar que riu.
- A gente não julga. – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Rapidinho, gente! – Chamei a atenção de todos. – Os horários aqui são o mesmo que em Sochi, a diferença é que não vai ter treino, mas, por favor, não deixem o hotel, ok?! – Respirei fundo. – Amanhã por volta das quatro nós vamos para o estádio onde acontecerá o treino por uma hora e depois uma coletiva com o capitão da Seleção e a equipe técnica. – Fiz positivo com os dedos. – Tem um jantar rolando aqui embaixo, se quiserem. – Falei. – Boa noite. – Acenei para eles e alguns ficaram lá embaixo esperando os minutos finais do jogo, mas eu subi com Bianca e Angelica e alguns jogadores.
Eu tinha fome, mas eu também tinha sono. Aproveitei que as meninas foram jantar, tomei um longo banho e me ajeitei na cama de solteiro que eu havia escolhido. Achei que dormiria logo, mas os episódios do Netflix foram passando e eu sabia que estava começando a ser pega por aquela ansiedade pré-jogo e tinha o dia inteiro de amanhã ainda.

- É só isso? – Marcelo perguntou saindo da coletiva e eu assenti com a cabeça.
- É sim! – Falei. – Você pode seguir para o ônibus que eu só vou esperar o pessoal e já vamos.
- Obrigada, ! – Ele falou, batendo sua mão contra a minha e eu ri, vendo-o sair.
A hora permitida para o treino já tinha acabado faz tempo, entrei com Tite, Edu, Cléber, Rodrigo e Marcelo, que tinha sido escolhido capitão do time, na coletiva de imprensa. Aguardei Bianca finalizar a coletiva e voltamos para o ônibus, vendo já alguns jogadores dormindo por causa da demora.
Bem, melhor aguardarem no ônibus do que fazer duas viagens. E estava proibido esperar dentro do estádio, apesar de que dentro do estádio não era dentro do campo, mas preferi não discutir com as regras da FIFA.
Chegamos de volta ao hotel e cada um seguiu para seu canto como formigas dentro de um formigueiro. Eu pensei por alguns segundos no que eu faria, mas estava cedo. Aguardei Bianca sair do banho e fui tomar o meu. Eu queria conversar com Tite no jantar, para ver se tinha alguma informação específica que eu precisasse saber.
Enquanto eu me trocava, recebi uma mensagem de Lucas, me fazendo franzir a testa.
O que está fazendo agora?” – Dizia a mesma e eu me sentei na cama para responder.
Acabei de sair do banho, estou enrolando para a hora do jantar.” – Respondi.
Ronaldo está aqui! Você não conseguiu conhecer o Zagallo, agora é sua chance!” – Arregalei os olhos e saí correndo de volta para o banheiro, tirando a toalha do cabelo e passando rapidamente uma escova no mesmo.
- O que houve? – Angelica perguntou enquanto eu enfiava uma sapatilha nos pés.
- Ronaldo está aqui! – Falei correndo e não me dei ao trabalho nem de passar uma maquiagem na cara e saí correndo do quarto, batendo a porta.
Não perguntei para Lucas onde ele estava, então cobri o básico e desci direto para o térreo, tentando não parecer uma louca enquanto corre atrás do ídolo. Assim, não que Ronaldo fosse meu maior ídolo do futebol, mas a lembrança mais incrível que eu tinha do futebol brasileiro era da Copa de 2002, quando eu tinha apenas oito anos, e da Seleção que trouxe o penta: Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho, Rivaldo, Roque Júnior, Kaká, são Marcos e, claro, Ronaldo. Além de Felipão como técnico.
Eles eram fantásticos, mas o que mais me emocionava, emociona até hoje ao rever os jogos, era que o futebol brasileiro era uma arte, os passes, os chutes a gol, as defesas... Ninguém fazia igual. Mas, infelizmente, 16 anos se passaram e os outros países também aprenderam a jogar bola. Talvez não com o mesmo estilo, mas com a mesma vontade de ganhar.
- Oi, ! – Vi Vinícius vestido de canarinho entrando no hotel e tirando a cabeça.
- Onde você estava? – Acenei para Bóris ao seu lado.
- Fomos dar uma volta por Rostov para gravar um vídeo. – Ele deu de ombros.
- Ah, queria ter ido. – Fiz uma careta e ele riu.
- Não dá para ter tudo, né?! – Suspirei.
- Ah, nem fala. Estou tão atolada de coisas, no dia da folga eu vou dormir o dia todo.
- O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou.
- Ronaldo, o fenômeno, está aqui. Eu quero uma foto dele. – Ele riu.
- Zagallo, Ronaldo... – Neguei com o dedo.
- Não, não. Eu não conheci Zagallo, lembra? – Falei, revirando os olhos. – Eu fui embora antes para me arrumar para cá.
- Ah, verdade! – Ele bateu na cabeça.
- E nem conheci o museu do futebol, mas tá valendo. – Respirei fundo, olhando em volta. – Só preciso achar o Lucas.
- Eu preciso tirar essa fantasia. Manda whats sobre onde ele estiver. – Ele comentou e eu assenti com a cabeça, fazendo positivo e ambos entraram no elevador. Peguei o telefone e mandei uma mensagem para Lucas.
Onde você está?
Terceiro andar. Corre!” – Ele falou e eu entrei no elevador, malhando o dedo no botão.
A porta se abriu e saí no andar dos jogadores. Acho que tinha chego ao local certo, já que todas as portas do andar estavam abertas. Alguns jogadores encostados nas paredes e a maioria de chinelo nos pés.
- Ah, meu Deus! – Firmino falou ao me ver e eu ri.
- Não vim atrás de vocês, relaxa.
- Fã? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Já tenho fotos com todos vocês, já dá para criar um álbum com jogadores. – Dei de ombros e ele riu.
- Ele está lá no fundo. – Ele apontou e eu segui pelo corredor, olhando dentro de todos os quartos.
Ouvi vozes de um dos quartos e segui para dentro do mesmo. Tinha muito mais pessoas do que os jogadores do quarto, mas tinha Ronaldo. Lucas estava em cima de alguma mesa ou banco ao fundo do quarto e Ronaldo agora abraçava meu carma, Alisson.
- Fala aí, ! – Jesus se apoiou em meu ombro e eu franzi a testa.
- Você não está bravo comigo? – Perguntei e ele riu.
- Para quê? Não vai adiantar nada, eu sempre vou perder. – Rimos juntos.
- Ainda bem que sabe. – Sorri.
- Vem, deixa eu te apresentar! – Ele falou e eu engoli em seco, vendo-o se aproximar de Ronaldo, provavelmente pela segunda vez naquele dia.
- Ronaldo, deixa eu te apresentar a nossa âncora aqui. – Jesus falou e o mesmo olhou em minha direção. – Essa é a ...
- Bem que Tite disse que tinha uma mulher mantendo vocês na linha aqui na Rússia. – Ele sorriu para mim e eu me aproximei. – É um prazer te conhecer.
- O prazer é meu, acredite! – Falei sorrindo e ele me abraçou. Fechei os olhos por um momento, tentando evitar que as lágrimas caíssem de meus olhos e nos afastamos.
- Tirando manter eles na linha, qual sua real ocupação?
- Assessoria! – Falei. – Cuidar da imagem deles.
- Agora eu entendo. – Ele falou rindo.
- Faz parte e agradeço todos os dias por isso. – Ele sorriu.
- Mantenha-os na linha, hein?! – Soltei uma risada fraca, mas não contive o sorriso sarcástico que eu dei, olhando fixamente nos olhos de Alisson ao meu lado.
- Pode deixar! – Sorri e me afastei para que ele passasse, saindo do quarto.
- Me diz que você fotografou aquilo! – Falei, puxando Lucas para descer do banco em que ele estava.
- Claro que sim! – Ele me esticou a câmera, para eu ver as fotos e eu sorri.
- Obrigada! – Falei, abraçando-o fortemente e olhei em volta, percebendo os jogadores do quarto nos encarando, principalmente Alisson por cima dos ombros de Lucas. – Acho que eu vou cair fora. – Falei. – Boa noite, gente! – Acenei para os jogadores e segui Lucas para fora do quarto.
- Boa noite! – Eles responderam em coro e eu puxei a porta.
- Você vai dormir? – Ele perguntou.
- Não, eu já perdi o jantar ontem, não dá para perder hoje de novo não. – Falei e ele riu.
- Eu vou seguir aqui mais um pouco, já te encontro lá embaixo.
- Beleza! – Acenei para ele e vi Ronaldo cumprimentando os jogadores pelo corredor e eu empurrei a porta de emergência, descendo pelas escadas mesmo.

Era hoje o dia! Hoje começaria, oficialmente, a Copa do mundo para o Brasil. Domingo, 17 de junho finalmente havia chego. O c tinha ficado pesado o dia inteiro. Jogadores largados pelos cantos, equipe técnica tentando manter a calma e eu no meio disso tudo isso tentando não surtar. Era só o primeiro jogo, mas não era por isso que eu estava surtando, era por toda situação.
Sete horas da noite eu saí do hotel com os jogadores para a Arena Rostov, minha barriga borbulhava em um nível que eu achava que não aguentaria aquela pressão toda. Nem minhas músicas favoritas faziam com que os ânimos me acalmassem e eu já tinha tomado dois copos de água com açúcar.
Esperei ao lado da minha dupla dinâmica que todos os jogadores entrassem no ônibus e reparei Alisson entrar com seu mate de sempre e franzi a testa quando Neymar passou em minha frente com... Bem, eu não consegui identificar aquela coisa amarelo ovo em excesso que estava em cima do seu cabelo, mas preferi não comentar nada durante a filmagem. Entrei atrás dele com os meninos e Tite, e o ônibus logo começou a andar.
Andei até o fundo do ônibus, me segurando nas poltronas, até me colocar ao lado de Neymar e me abaixei ao lado dele, vendo-o tirar o fone da orelha e olhar para mim.
- O que foi? – Ele me perguntou e eu respirei fundo.
- O que você fez no seu cabelo? – Perguntei, tentando me manter o mais gentil possível.
- Gostou? – Ele perguntou e eu franzi os lábios.
- Já avisando, você vai virar meme hoje. – Falei e ele riu fraco, colocando os fones novamente.
Voltei para meu lugar e me sentei, mas não por muito tempo. A viagem até o estádio durava menos de 15 minutos e eu estava pilhada, mudava de música toda hora e me mexia ao lado de Lucas na mesma intensidade.
Assim que o ônibus parou novamente, eu fui uma das primeiras a descer, junto da comissão técnica. Entramos pelos fundos do estádio e seguimos direto para o vestiário. Entrei no mesmo e apoiei minha mochila no balcão central e olhei rapidamente se tudo estava no mesmo lugar de ontem, quando vim conferir sobre televisão, tomadas, etc...
Fiquei na parte de trás do vestiário, onde não atrapalharia os jogadores que começavam a se arrumar e ainda ficaria de frente para uma das televisões. Tirei todos os componentes eletrônicos da mochila, conectando os carregadores na tomada e desbloqueando todos os aparelhos.
Conferi meu relógio rapidamente e entrei no site do Google, entrando na aba de Copa do Mundo 2018 que ficava aberta 24 horas por dia e procurei pelo jogo que tinha acabado a alguns minutos, da Alemanha. Arregalei os olhos, colocando a mão na boca e soltando uma risada.
- Alemanha perdeu do México! – Falei um pouco mais alto, chamando a atenção dos jogadores e começando a rir.
- O quê? – Marcelo, um dos que jogou no fatídico 7x1, apareceu ao meu lado e eu me afastei, permitindo que os jogadores olhassem no computador.
- Meu Deus! – Willian, que também participou, falou, começando a rir sozinho.
- Isso já anima o suficiente para o jogo de hoje. – Fernandinho foi o último a falar e eu sorri.
- Gente, não vamos nos animar. – Tite falou, pedindo para abaixar os ânimos e os jogadores sem camisa, sem shorts ou só de meias, começaram a voltar para seus lugares. – Muito bom esse resultado, creio que muitos brasileiros estão comemorando hoje. – Abri um sorriso, vendo-o rir. – Mas vamos nos manter firmes ao jogo de hoje. – Ele falou. – Temos três jogos antes de pensar em enfrentar a Alemanha novamente. – Eles assentiram com a cabeça e o pessoal voltou a se arrumar.
Abri os programas necessários, mas dessa vez, ao invés de abrir as redes sociais, eu abri um novo documento do Word. Eu precisava prestar atenção ao jogo, estudar os movimentos dos jogadores brasileiros, gols, faltas, xingamentos ou possíveis brigas e compartilhar essa informação com Bianca, que cuidava da imprensa, e falar com os jogadores na reunião pós-jogo, preparando-os para um possível enfrentamento da imprensa. Eu estava com tudo pronto, os jogadores também estavam prontos para o aquecimento antes do jogo e eu respirei fundo, esperando a hora passar.
- Tudo certo aí? – Tite apareceu ao meu lado e eu franzi a testa.
- Tudo certo. – Confirmei.
- Queria te levar para o banco, mas...
- Estamos a trabalho, Tite. Não se preocupe. – O assegurei. – Vamos fazer o nosso melhor que quem sabe eu vejo o jogo da final de lá, com vocês? – Ele sorriu.
- Vamos torcer! – Ele riu. – Tem como você me fazer um favor?
- Claro! – Falei.
- Faz uma planilha para mim sobre o grupo do Brasil. Sobre o jogo da Sérvia e da Costa Rica.
- Pode deixar! – Falei, batendo rapidamente em seu ombro. – Te entrego depois do jogo. – Ele assentiu com a cabeça e eu aproveitei o tempo de espera e os jogadores saírem para treinar para fazer seu pedido.
Comecei a ouvir alguns toques de celulares e eles ficarem cada vez mais intensos, me fazendo franzir a testa. Não era um celular tocando, eram vários. Meu Deus! O que estava acontecendo? Tentei relevar, mas logo os jogadores voltaram e começaram a se arrumar para o jogo. Eu pensei em falar que tinha celular tocando, mas preferi ficar quieta, eles não podiam se distrair, mas a maioria se arrumou e deu aquela rápida olhada no telefone. Quando eu menos esperava, boa parte deles estavam com os celulares nas orelhas.
- Como assim? Não, não tem o que eu fazer. – Me aproximei de Thiago Silva que estava ao meu lado e o ouvi falar. – Não, não tem. Daqui a pouco vocês chegam. Tá, não! – Ele falou e eu franzi a testa. – Eu tenho que ir. – Ele falou, desligando o celular.
- O que está acontecendo? – Perguntei a ele.
- Aparentemente o ônibus dos nossos familiares ficou preso no trânsito...
- Aí também? – Neymar o cortou.
- Aqui também! – Outros jogadores falaram.
- Ah, e eles estão ligando para vocês, faltando cinco minutos para vocês entrarem na estreia da Copa do Mundo, como se vocês pudessem fazer alguma coisa? – Falei, cruzando os braços. – Inacreditável. – Balancei a cabeça. – Se eu ver alguém mexendo nesse celular, eu juro que confisco de todo mundo e jogo na piscina do hotel. – Alguns afastaram a mão e eu respirei fundo.
- Está na hora! – Cléber falou e todo mundo se entreolhou, o olhar de Alisson encontrou com o meu e ele deu mais uma bebericada em sua cuia e eu assenti a cabeça, vendo-o imitar o gesto.
- Bom jogo! – Falei mais para ele, mas todo mundo acabou dando pequenos sorrisos.
- Esse é o momento, gente! – Tite falou rapidamente. – Vocês estão preparados para isso, vocês estão sincronizados e vocês estão treinados. Foram quase um mês treinando e sei que vocês são capazes! Vamos lá! – Começamos a bater palmas fortemente e eles começaram a sair do vestiário.
Assim que eles saíram da sala, eu fiz alguns Pai Nosso e Ave Maria e fechei a porta do vestiário, me vendo sozinha no local, somente com o barulho que vinha das arquibancadas e subi em uma das caixas, para aumentar o som da TV, ouvindo o comentarista russo falar. Procurei pelo controle em uma das gavetas e apertei a tecla SAP, ouvindo-a mudar para inglês e respirei aliviada. Melhor!
Peguei uma das garrafas de isotônico dentro de uma das caixas e fui para meu lugar, puxando um banco para próximo da mesa e respirei fundo, vendo os jogadores entrar e se posicionar para o hino. Fechei minha mão em punho algumas vezes, sentindo a ponta dos dedos gelados e o coração bater forte.
Era agora!

Ouvi o som do apito, a plateia gritando acima de mim e eu engoli em seco, sentindo meu coração parar por alguns segundos, mas logo a adrenalina tomou conta de mim.
Os primeiros cinco minutos de jogo foram fracos, parecia que eles estavam aquecendo, mas já deu para perceber que os suíços viriam para cima. A primeira tentativa de gol foi quando Alisson recebeu a bola, mandou para o meio de campo e foi recebida por Jesus. Ele passou a bola para Paulinho que correu com a bola, mas acabou indo para fora.
Menos de quatro minutos, tivemos outra tentativa de Paulinho. Neymar e Coutinho passaram a bola um para o outro, na tentativa de uma abertura. Neymar viu Paulinho próximo ao goleiro e mandou para o mesmo que fez a tentativa, a bola passou raspando pelo gol e foi para fora. Merda! Passei a mão nos cabelos, puxando os mesmos. Brasil estava indo com tudo. Poucos minutos depois Marcelo passou para Jesus que tentou o cruzamento para Willian, mas foi muito forte, passou longe do jogador.
- Vamos, Brasil! Vamos! – Bati as mãos uma com as outras, respirando fundo. – Pô! Isso é falta! – Falei quando vi um suíço bater no Neymar e o mesmo cair no chão. Olhei a cara de deboche do jogador suíço e, como dizia minha mãe, queria arrancar com a mão.
Neymar cobrou a falta, mas explodiu na barreira suíça, me fazendo soltar o ar pela boca. O tempo já estava em 15 minutos do primeiro tempo e as mãos já começavam a coçar por um gol. Coutinho chutou para Jesus que fez sua tentativa, mas o goleiro pegou no meio do caminho, fazendo Jesus sair com um sorriso travado no rosto, me fazendo rir.
- É agora! – Falei, vendo a aproximação de Neymar. Ele passa a bola para Coutinho que está fora da área e ele chuta direto. – GOL! – Gritei, erguendo as mãos para o alto, igual Alisson apareceu na tela. – É gol! – Falei animada, movimentando meus braços animadamente. – Agora sim, gente! Vamos lá! – Bati as mãos novamente.
Um dos suíços cobrou escanteio e Casemiro e um suíço caíram como um castelo de cartas. No replay, deu para notar que eles deram uma cabeçada forte, me fazendo franzir a testa. Casemiro logo mostrou que estava bem e eu relaxei. Enquanto eles conferiam o jogador suíço, os jogadores deram um tempo para hidratar.
O jogo se seguiu com mais algumas tentativas e jogadas polêmicas. Um dos jogadores famosos da suíça puxou Neymar pela camisa. Depois Jesus faz uma tentativa a gol, mas Neymar está em posição irregular e foi dado o impedimento. Um dos suíços tenta o ataque, mas Thiago Silva está na posição correta e impede que ela chegue ao Alisson, mas impede com a sua orelha, fazendo-o cair no chão, visivelmente com dor.
- Ninguém mexe com Thiago, hein?! – Falei, respirando fundo.
A bola voltou a rolar e foi passada por Paulinho para os pés de Jesus, ele tenta o ataque novamente, mas ele ficou preso na marcação suíça, me fazendo respirar fundo. Os suíços surgiram pela direita algum tempo depois, mas Thiago Silva estava bem posicionado e tirou de cabeça.
Acréscimo de dois minutos.
Escanteio do time brasileiro, Thiago Silva tenta de cabeça, mas manda por cima da trave. Ah, meu Deus! O negócio estava difícil. O goleiro chutou a bola para o campo brasileiro novamente e Coutinho acabou tropeçando nele, fazendo falta para a suíça.
- Agora não! – Falei. – Aqui não entra suíço, não. – Falei sozinha, me sentindo uma tonta segundos depois, mas abanei o ar com a mão.
A bola foi por cima, um dos suíços cabeceou, mas Alisson pegou, me fazendo relaxar. Alisson se preparou para mandar a bola, mas o juiz apitou antes disso. Respirei fundo e corri para o banheiro, aproveitando que ele estava livre, antes dos jogadores invadirem o mesmo.
Antes de sair do mesmo, já ouvi algumas vozes vindas do vestiário, saí do banheiro, dando de cara com alguns jogadores entrando e voltei a me posicionar no meu banco. Alguns jogadores trocaram de blusas e meiões e Tite se colocou em frente a eles.
- Vocês estão indo bem, gente! Estavam meio travados no começo, mas acho que era o nervosismo da estreia. Parabéns pelo gol, Coutinho, foi ótimo. – Fiz positivo para Coutinho que sorriu. – Mas vocês precisam ser mais ofensivos. – Ele falou. – A defesa está boa, mas nesse final vocês tiveram mais dificuldades em passar para o outro lado. Sigam as jogadas, se lembrem das análises táticas e cuidado com os suíços, principalmente com aquele Behrami, ele está debochando a cada falta, não entrem na provocação dele.
- Pelo amor de Deus, sem brigas na estreia. – Falei um pouco alto demais e eles olharam para mim.
- Na estreia não pode, mas nos outros jogos pode? – Alisson perguntou e eu ri.
- Você não pode nunca, não queremos ver goleiro expulso. – O pessoal riu. - Mas o que eu quero dizer é que é a estreia, é o teaser do que vai acontecer nesse mês, vamos manter a calma, ok?! – Falei.
- Tem algo mais a acrescentar? Vendo daqui? – Tite perguntou.
- Não, não, você disse tudo. Só que o cabelo do Neymar já virou meme. – Falei sorrindo.
- Você postou no Canarinho Pistola, não foi? – Ele falou e eu ergui as mãos.
- Nem vem, eu estou fora dessas responsabilidades, mas, por acaso, eu só mandei a foto para o pessoal do Brasil e eles fizeram a postagem, só isso. – Eles riram.
- Meu Deus! – Ele revirou os olhos e eu ri.
- Mas, ei, não sou só eu que faço meme, não. Brasileiro é um povo fantástico. – Sorri e eles riram.
- Vamos voltar! – Cléber falou e eles se levantaram novamente.
- Continuem jogando bem. – Gritei, enquanto eles saíram e ainda recebi alguns positivos.

E começa o segundo tempo.
Logo nos primeiros segundos o suíço manda a bolo para o gol, mas passa longe de Alisson. Fez nem cócegas. Coutinho faz uma tentativa a gol logo em seguida, mas bate na barreira e logo passa para os pés do suíço, mas Casemiro não deixa, entrando por baixo do suíço e é dado o cartão amarelo.
- Ah, Casemiro! Faz isso não. – Bati a mão na testa, respirando fundo.
A bola chega aos pés de Jesus por Coutinho e ele tenta um gol, mas o goleiro suíço pega de fora da área. A bola sai para pela lateral e é a vez dos suíços fazerem um escanteio. Até tirei os dedos do computador quando isso aconteceu. O suíço manda para área e um dos jogadores cabeceira.
- Gol! – Falei desanimada, mas franzi a testa ao rever o lance. – Êpa! Isso foi falta! – Falei ao ver o jogador empurrar Miranda para frente. – Isso é irregular, caramba! – Falei. – Quero ver agora o que o VAR faz... Nada? – Falei inconformada quando a bola voltou para o meio do campo. – Tem o VAR para quê, porra? – O sangue começou a ferver. – Agora vocês vão ver, seus suíços filhos da...
Tive alguns segundos para recuperar minha raiva, mas logo um suíço fez falta no Coutinho e Neymar correu cobrar, causando irritação dos suíços, o que fez com que ele pegasse a bola com a mão, interrompendo o ataque da Suíça.
A bola foi para lateral da Suíça e outra tentativa do gol dos vermelhos, mas Alisson pegou a mesma com facilidade. Alisson devolveu a bola para nosso time e eles cruzaram o campo fazendo passes, como se estivessem costurando o time suíço.
Paulinho passa por Willian, ricocheteia em um dos suíços e chega aos pés de Coutinho. Ele faz um chute, batendo nos suíços e depois chuta novamente, tendo o mesmo retorno. Da segunda vez, a bola passa nos pés de Casemiro, Marcelo e depois para Neymar, chutando a bola, atingindo a rede por fora.
- Ah! – Gritei, puxando os cabelos novamente.
Substituição. Sai Casemiro, entra Fernandinho.
Falta no Marcelo ao entrar com violência no mesmo, batendo na coxa. Depois falta no Neymar ao puxar a camisa deles. Respirei fundo, juntando as mãos.
- Dai-me paciência.
Substituição. Sai Paulinho, entra Renato Augusto.
Outra falta no Neymar do idiota do Behrami, mas dessa vez, pelo menos, o juiz idiota deu cartão amarelo. O jogo seguiu e tivemos duas tentativas seguidas de gol, uma de cada lado. Neymar passa para Coutinho que recebe no peito e manda por cima, mas vai para fora.
- Relaxa, Coutinho. Relaxa que dá! – Tentei me acalmar também, mas foi tão perto.
Os suíços pegaram a bola e cruzaram para o campo brasileiro, mas a bola vai direto para a mão de Alisson. Jesus vai para o contra-ataque e Marcelo manda para Renato Augusto que manda para Jesus que é derrubado na área.
- PÊNALTI! – Comemorei, erguendo as mãos para cima, vendo a indignação de Jesus. – Cadê o VAR? – Gritei novamente, vendo o jogo retornar. – Ah, para puta que pariu! – Gritei, jogando minha garrafa no chão. – Ah não! – Respirei fundo.
Depois daquele lance do Jesus, eu já nem pensava direito e anotava tudo no automático. Tentativa de gol de Fernandinho, mas vai para fora. Depois tentativa de Neymar, mas vai direto nas mãos do goleiro. Dava para notar que o Brasil estava jogando na raiva já, essas duas injustiças com a gente deveriam estar entaladas na garganta.
Substituição. Sai Jesus, entra Firmino.
Firmino entra na raça, mas chuta muito alto, indo para fora, no replay até ele notou seu erro, deixando para trás. A bola rolou para o campo brasileiro novamente, mas não deu em nada, fazendo a bola seguir para a fora, dando arremesso lateral para a suíça. Eles tentaram, mas perderam a bola para Miranda que estava bem posicionado.
Franzi a testa quando vi um balão vermelho aparecer no campo brasileiro e Alisson seguiu para o mesmo correndo, metendo o pé no mesmo, estourando-o com as travas da chuteira, comecei a rir.
- Isso aí, Alisson! – Comemorei como se tivesse sido um gol. – Achei pouco. – Falei rindo.
Me distraí com isso um pouco e, quando notei, Neymar recebeu a bola no meio da grande área, mas cabeceou e foi direto para as mãos do goleiro, me fazendo bufar e olhar o tempo do jogo, estava quase.
- Vamos Brasil, mais um para terminar bem. – Respirei fundo.
Cinco minutos de acréscimo.
- Vamos que dá tempo! – Respirei fundo.
Tivemos outras duas tentativas que foram para fora, uma do Miranda que passou raspando pela trave direita, indo para fora. E depois uma cobrança de falta brasileira, por uma falta feita em cima do Neymar e a bola foi tirada pelo suíço, me fazendo apertar os lábios fortemente.
Apito final.
- Droga! – Falei, fechando a tela do computador com força, mas me arrependendo logo em seguida.

Bianca me mandou mensagem falando que Coutinho, Miranda e Marcelo iriam para a entrevista pós-jogo e abri o drive de Lucas, procurando pela foto de Alisson estourando o balão e enviei para o pessoal do Rio de Janeiro, pedindo que fizessem algo em cima daquilo. “Alisson pistola” ou “Canarinho decidiu jogar”, dei ideias, mas deixei nas mãos deles.
Os jogadores entraram todos meio tensos no vestiário novamente e foram se ajeitando nos seus lugares. Alguns já começaram a se hidratar, outros tiravam suas blusas e tentavam parar de suar um pouco. Olhei de esguio para Alisson, mas ele ainda estava morto, se entupindo de isotônico. Droga!
Tite entrou com a equipe técnica e logo outros membros da comunicação apareceram. Ele estava quieto, mas não parava de andar de um lado para o outro, até o paletó já tinha sido jogado no chão. Creio que ele estava esperando a volta dos últimos jogadores. E foi o que aconteceu, assim que Coutinho, Miranda, Marcelo e Bianca entraram no vestiário, a porta foi fechada e Tite se colocou no meio da sala novamente.
- Eu nem tenho o que falar depois dessa. – Ele falou, respirando fundo. – Não foi um dos nossos melhores jogos e, para ajudar, tivemos dois lances ao nosso favor que não foram contabilizados. – Ele respirou fundo. – Vocês estavam prontos, mas senti que vocês estavam um pouco agitados, fazendo chutes a esmo, não pensando direito antes de fazer. Faltou um pouco mais disso, mas os passes, a união... Controlamos mais de dois terços de jogo e senti que a equipe principal está pronta, vocês são meus titulares, gostei das substituições, tudo está muito bem, falta só alinhar algumas coisas. – Ele passou a mão na testa. – No demais, vocês foram bem! – Ele falou e aplaudimos, mas nos mantivemos quietos. – Amanhã eu vou dar a folga para vocês, vamos voltar para Sochi daqui a pouco, se quiserem encontrar seus familiares, vocês já vão poder ir. – Ele coçou a testa. – Só quero vocês de volta dia 19 cedo. – Ele falou e todos assentiram com a cabeça, não sabia se aquilo era para mim, mas descobriria depois.
- Você já quer aproveitar todo mundo aqui e fazer sua reunião, ? – Edu me perguntou, fazendo algumas pessoas me olhar. – Não sei se tem o que falar.
- Eu estava programando para fazer amanhã ou no voo, mas posso adiantar. – Ele assentiu.
- Talvez seja melhor. – Ele movimentou os dedos e sabia do que ele estava falando.
- Posso ficar a sós, então, só com os jogadores e o Tite, por favor? – Perguntei e o pessoal avulso saiu da sala.
Parei por um momento para pegar os pontos importantes dos jogos, mas todo mundo já sabia quais eram. Respirei fundo e me levantei, apoiando as mãos na bancada.
- Bom, gente, como vocês sabem, eu sou responsável pela imagem de vocês, então, depois de todo jogo, eu vou juntar vocês e vamos falar os pontos de possíveis conflitos com a imprensa. Tudo bem? – Perguntei e eles assentiram com a cabeça. – Perfeito. – Respirei fundo, coçando a testa. – Vamos começar falando do VAR que não serviu para porra nenhuma. – Falei bufando. – E você disse que viria para ajudar, não é mesmo, Alisson? – Falei para o mesmo que abaixou o rosto. – Pois é, vemos que não. – Respirei fundo. – Com isso, já sabem que toda imprensa brasileira e talvez até internacional vai falar disso lance. Então, Miranda, Willian, Alisson, Neymar, podem esperar perguntas sobre isso, já que vocês que denunciaram o lance e o idiota não se deu ao trabalho de olhar para o telão. – Respirei fundo, vendo alguns sorrisos se formarem. – Jesus, seu lance também foi polêmico, o cara te agarrou, deveria ter sido pênalti na certa, isso também vai causar polêmica e um pouco de dor de cabeça. – Suspirei, dando outra rápida olhada na minha lista. – Alisson... – O chamei, fazendo positivo e andando em sua direção. – Você virou gif, você virou meme. Obrigada por estourar aquela bexiga. – Ele riu e todo mundo gritou por ele, me fazendo aplaudir e estender a mão para ele que bateu na mesma sorrindo. – Você representou a raiva de todos os brasileiros no final daquele jogo e você vai para o Twitter do Canarinho, fica de olho. – Ele riu, negando com a cabeça. – Sério, foi sensacional! Se orgulhe disso! – Falei rindo, andando em direção a outro jogador. – Coutinho, belo gol! Fantástico! – Estiquei a mão para o mesmo também e ele bateu. – Assim que deve ser. Vi várias outras tentativas que foram meio bruscas, mandando para fora ou isolando a bola, mas vamos ajeitando. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça e eu voltei ao meu lugar.
- Obrigado! – Ele falou baixo e eu sorri.
- Bom, gente, do jogo foi isso. – Respirei fundo. – Agora eu tenho uma coisa para falar para vocês que, na verdade, era para eu ter falado antes do jogo, mas eu quis manter a calma de vocês, mas amanhã vocês estarão de folga e eu preciso que a informação seja repassada. – Respirei fundo. – Suas famílias. – Falei e vários jogadores já franziram a testa. – É, vocês já sabem do que eu estou falando. – Cruzei os braços. – Vocês não fizeram um acordo com o Tite lá na Granja? Dos horários permitidos para seus familiares? As folgas? Eles próximos de vocês aqui na Rússia? – Perguntei e eles baixaram a cabeça. – Não foi combinado isso, galera?
- Foi. – Alguns falaram tímidos.
- Então, gente! – Abaixei o braço. – Vocês estão aqui a trabalho, eles estão aqui a trabalho, eu estou aqui a trabalho. – Respirei fundo. – Vamos nos manter aos combinados. Se não a gente vai ter que cortar e vocês, nem eles, vão gostar. – Respirei fundo. – Além disso, outra coisa que deu problema. – Virei para Jesus. – Gabriel, seus amigos ficaram naquele treino sexta-feira e postaram uma foto no stories ou no Instagram, não sei, mas divulgou a escalação inteira e o Tite nem tinha liberado ainda. – Respirei fundo. – Nos treinamentos, vamos tentar manter alguns momentos sem fotos, pode ser? – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu percebi isso depois, me desculpe. Eu falo com eles. – Assenti com a cabeça, passando a mão nos cabelos.
- Obrigada! – Falei. – E teve uma última coisa que todos vocês notaram: as esposas de vocês ligando faltando cinco minutos para a porra do jogo começar! – Falei mais firme. – Isso não pode acontecer, gente! Aqui é para ser um ambiente sem estresse. Com liberdade para vocês extravasarem, tirarem seu momento, fazerem seu ritual. Não dá para ter esposa ligando porque ônibus tá preso em trânsito. – Falei rindo sarcasticamente. – Elas queriam que vocês fizessem o quê? Saíssem para resgatá-las? – Cruzei os braços novamente. – Vamos combinar que vocês não vão usar esse celular depois que voltar do treino, ok?! Eu juro que eu vou começar a confiscar e só devolvo lá em Sochi. – Eles assentiram com a cabeça. – Esse aviso é sério, gente! – Falei firme. – Espero que vocês repassem a informação ou eu falarei com eles e eu não falarei com a mesma calma. – Respirei fundo. – Além de que podemos cortar esses privilégios a qualquer momento. Entendidos? – Perguntei firme.
- Entendidos. – Eles responderam e eu assenti com a cabeça.
- É só isso por hoje. – Falei e Tite assentiu com a cabeça.
- Vamos nos preparar para o voo de volta. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça.

Eu também acabei tendo folga naquela segunda-feira. Chegamos a Sochi de madrugada novamente e cada um foi para seu canto, já que subiram comigo no elevador. Todos estavam meio abatidos por causa do empate. Não era o jogo que esperávamos. Eu entrei no quarto, tomei meu banho, me livrando daquela blusa da CBF e dos sapatos amarelos e, logo depois, deitei na cama, fazendo questão de ficar no meio da mesma, capotando logo em seguida.
Eu notei no café da manhã do dia seguinte que os jogadores tinham saído em debandada. Eu encontrei três ou quatro jogadores e o pessoal da equipe técnica. Também não seria eu quem ficaria no hotel. Chamei Bianca e Angelica e falei que precisava arranjar uma manicure, já que minhas unhas estavam um desastre. Eu tinha conseguido fazer na rápida passada pela minha cidade, mas já fazia 20 dias, as cutículas já estavam grandes, o esmalte já tinha sido tirado na unha e eu precisava me sentir melhor novamente.
Elas adoraram a ideia, então saímos por Sochi procurando um salão de beleza com uma cara confiável e com pessoas que falassem inglês, apesar de que Angelica sabia falar russo. Lá eu descobri a manicure russa, o método de tirar as cutículas a seco. Estranho, mas bem interessante.
Aproveitei e fiz uma hidratação e escova em meu cabelo, fazendo com que as duas gostassem do resultado e também decidiram fazer. Saímos do salão no fim do dia já, ainda estava claro, obviamente, mas já passava das seis horas. Entramos as três no hotel, comentando sobre nossos cabelos e unhas renovadas e seguimos direto para a cobertura. Estávamos famintas, só tínhamos almoçado fast-food, mas já fazia algumas horas. Quem sabe conseguíamos pegar o fim do lanche ou o começo do jantar?
- Uau! Olha elas! – Douglas Costa falou assim que saímos do elevador e rimos juntas, balançando a cabeça. Olhei à sua volta e lá estava Alisson, Miranda e Danilo.
- O que acham? – Perguntei, dando uma batidinha nos cabelos e eles sorriam.
- Vocês tão ótimas! – Alisson falou sorrindo em minha direção e eu mordi meu lábio inferior.
- Então, o que já estão fazendo aqui? – Perguntei, me aproximando.
- , vamos pegar um lanche, quer? – Angelica perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Por favor! – Falei.
- Do quê?
- Do que tiver! – Falei exageradamente. – Se tiver só pão, pode ser só pão mesmo. – Falei e eles riram.
- A gente decidiu voltar mais cedo, só isso. – Me sentei no sofá, ao lado de Alisson, apoiando os cotovelos nas coxas e o rosto nas mãos.
- Nos preparando para o segundo round. – Danilo comentou e eu assenti com a cabeça.
- Não tá sendo fácil, não é?! – Perguntei, me referindo ao empate.
- Era para ter sido melhor, muito melhor. – Alisson falou colocando a mão atrás da cabeça e abaixando o rosto.
- Ei, ei, ei! – Deslizei no sofá, ficando próxima do mesmo, abaixando sua mão. – Não fiquem assim. – Falei, olhando para os outros. – Vocês foram ótimos, deve ter sido só o nervosismo da estreia. Relaxa! Sexta-feira vocês estarão perfeitos. – Sorri e notei que ainda segurava a mão de Alisson, reparei que Angelica voltava e peguei a deixa para soltar a mesma e me levantar em direção à minha superiora.
- Obrigada. – Sorri, me sentando novamente e mordendo o lanche. Parecia do McDonalds, pão, carne e queijo, com o release no meio, que os russos colocavam em tudo. – Está gostoso. – Comentei, ponderando com a cabeça.
- Não é um xis, mas... – Alisson comentou e eu ri.
- Pô, tu moras em Roma faz dois anos, lar de uma das melhores gastronomias do mundo, e está pensando num xis? – Falei rindo.
- Conhece? – Ele perguntou.
- Eu tenho padrinhos no sul. – Falei rindo. – Eu comi um dia, sensacional, mas enorme! – Falei e ele riu comigo.
- Você disse um dia que foi para a Itália, não é?
- É, depois que eu estudei um mês em Londres, eu fiquei mais um mês passeando por alguns países da Europa. Na Itália eu fiquei quase 10 dias. – Falei rindo.
- O que conheceu lá? – Ele perguntou.
- Ah, o básico. – Dei de ombros. – Roma, Florença, Milão, Veneza, Verona, Pisa, o Vaticano... – Ponderei com a cabeça. – Ah, e claro, Turim. – Sorri, fazendo um coração com a mão. – Não podia deixar de conhecer Turim.
- Aê! – Douglas comemorou e eu ri.
- Exatamente por isso que eu fui a Turim. – Falei. – Queria conhecer o estádio da Juventus e ver um jogo com o Buffon.
- Ah, mano, não acredito! – Alisson falou e eu bati na mão de Douglas, vendo-o sorrir. - Tu torces para Juventus?
- Todo mundo tem um lado ruim. – Miranda brincou, talvez provocando e eu ri.
- Você é do Inter de Milão, né?! – Falei para Miranda que deu de ombros. – Ah, gente, sinto muito, mas na Itália meu coração já tem dono. – Sorri.
- E ainda o Buffon, quem compete com Buffon? – Fingi que pensava um pouco.
- Ninguém, para falar a verdade. Mas agora ele saiu da Juve, só Deus sabe para aonde ele vai, agora preciso aguentar aquele Chsenzky, Ksenszy...
- Szczęsny... – Alisson falou.
- Isso! – Falei rindo. – Ele é muito ruim! Pelo amor.
- Ei, ele saiu da Roma! – Alisson brincou e eu ri.
- Tá explicado! – Falei.
- Oh! Essa doeu! – Danilo falou e eu ri.
- Não, brincadeira, Alissinho, me desculpe! – Falei tentando conter a risada. – Mas eu não gosto dele, se você estivesse na Juve, eu ia gostar muito mais. – Sorri.
- A Juve não chegou à semifinal da UEFA. – Ele falou.
- A Juve pelo menos tem uma UEFA! – Falei sorrindo e ele franziu os olhos. – Eu tinha dois anos quando ganhamos, mas ainda sim. – Sorri. – Além de que a última vez que a Roma ganhou campeonatos italianos fazem o quê? 10 anos? – Ri fracamente. – E se eu não estou enganada a Juve ganhou esse ano o Campeonato Italiano, a Copa Itália e em 2015 a SuperCopa da Itália. – Sorri para ele, vendo-o negar com a cabeça. – Confirma para mim, Douglas! – Falei e ele segurava a risada, mas confirmou com a cabeça.
- Mano, você sabe tudo! – Ele comentou e eu sorri.
- Dá jeito nele, Douglas. Vê se o Allegri o aceita. – Alisson revirou os olhos e eu ri fraco.
- Não, obrigado. Estou muito bem na Roma. – Sorri, dando dois toques na perna de Alisson.
- Não se preocupe, Alissinho. Você pode não jogar na Juventus e não ser nenhum Buffon, ainda – Frisei. – Mas você tem tudo para ser. – Sorri, virando para ele. – Por mais que eu nunca torça para seu time, eu já vi suas defesas na Roma, na época do Inter, aqui nos treinos, você tem tudo para ir muito longe. – Vi suas bochechas se avermelharem. – E você é novo, a vida está te dando várias oportunidades, só não deixar nenhuma passar. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Valeu. – Ele deu um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça.
- Estou aqui para isso, não só para dar broncas. – Sorri, mordendo meu lábio inferior. – Agora deixa eu voltar para o meu lanche, vai. – Falei e ele riu.


Capítulo 6 – Mostra Sua Força, Brasil! Que venha a Costa Rica!

- Vamos lá, então. – Passei a mão no rosto, olhando para Angelica em minha frente quando um dos dirigentes da CBF falou. – Hoje eles voltam para treino e precisamos decidir a questão da família. – Virei para o lado, olhando para Tite.
- Tite... – Falei para o mesmo.
- O que você acha? – Ele respirou fundo, coçando os olhos.
- Eu conversei com eles depois do jogo, você viu. – Ergui as mãos. – A gente pode dar um voto de confiança. – Dei de ombros. – A gente faz o teste hoje, amanhã a gente analisa de novo, se for necessário. – Parte da equipe técnica assentiu com a cabeça.
- Sendo bem honesto com vocês, eu não queria restringir a presença dos familiares, acho que vai fazer bem para eles e para gente também. A maioria são pais, tem crianças pequenas... Talvez torne o treino mais leve, mais divertido...
- Não é para ser divertido... – Interrompi o dirigente da CBF.
- Não é por nada, senhor, mas quando se faz algo com diversão, deixa de ser trabalho. – Sorri para ele. – Eu estou me divertindo muito aqui e só ouço vocês elogiando meu trabalho. – Dei de ombros. – Afinal, não estaria aqui, em uma reunião com os chefões da CBF, se não estivessem. – Sorri.
- Acho que a decisão tem que ser de Tite. – Sylvinho falou e eu assenti com a cabeça.
- Vamos fazer o teste hoje. Treinamento normal até às quatro da tarde, depois liberamos a presença da família, liberamos o campo para as crianças e voltamos a analisar amanhã, que tal? – Confirmamos com a cabeça. – , você pode estar presente no treino quando eles chegarem?
- Posso sim. – Assenti com a cabeça. – Tenho uma coletiva com Coutinho e Rodrigo nesse meio tempo, depois eu fico lá no campo. Angelica e Bianca estarão lá também por causa da presença da imprensa. Vai ser nosso teste de fogo. – Tite bufou, respirando fundo em seguida.
- Todas as informações já foram dadas? – O dirigente perguntou.
- Sim, falei tudo isso antes de ontem, horários de treino, proibição de proximidade dentro do hotel nos horários combinados, tudo. E pedi para que os jogadores repassassem a informação. – Eles assentiram com a cabeça.
- Está tudo certo, confiem na . – Angelica falou. – Não queremos outro acidente como aquele do Barbosa no bar ontem à noite, não é? – Tentei segurar a risada, lembrando-me da loucura que tinha dado no dia anterior pelo assessor pessoal do presidente da CBF ter quebrado um copo na cabeça de um torcedor por falar mal de Nunes, o presidente.
- Não, não queremos. – Ele falou, engolindo em seco.
- Esse é um assunto delicado, mas acho que manter essa responsabilidade com a é a melhor alternativa. – Edu falou. – Ela está entrosada com os jogadores, eles gostam dela... Ela não veio para Rússia para ser babá, mas parece que eles estão ouvindo o que ela diz. – Sorri para ele. – Isso já é alguma coisa, não?
- Além de que é uma via de duas mãos, eles nos ajudam, nós os ajudamos. – Dei de ombros. – Estamos abrindo a mão, permitindo a presença de familiares, se eles colaborarem, nós mantemos. Caso não, cortamos e vai ficar aquele c pesado, mas não tem dor de cabeça.
- É esse c pesado que eu não quero. – Tite falou. – Você que está por fora vê, , eles estão entrosados, todas as equipes também, isso que eu quero. É muito mais importante do que só treino, treino, treino...
- Entendo sim, Tite, e concordo contigo. – Assenti com a cabeça.
- Vamos fazer isso. – Ele sorriu e assentimos com a cabeça.
- , Bianca, podem ficar? Precisamos resolver sobre o presidente da CBF. – Fiz uma careta, coçando a cabeça.
- Lá vem! – Falei e Angelica riu.
- Vamos lá! – Bianca falou e a equipe técnica saiu para o resto do horário de almoço e eu e Bianca ficamos com o dirigente, um dos muitos que eu não lembrava o nome.

- Phillipe, aqui, boa tarde. – A jornalista chinesa falou com um sotaque forte.
- Boa tarde. – Ele sorriu.
- Para começar, o primeiro jogo na primeira Copa, quando estava cantando o hino do Brasil, que imagem estava na sua cabeça? E também, depois do primeiro gol, na hora da comemoração, qual imagem estava pensando? – Sorri com a pergunta dela e também me interessei.
- Ah, é um momento muito emocionante, a gente que sempre sonhou em estar aqui e eu estar disputando minha primeira Copa, realmente, quando você entra em campo tem um sentimento diferente, toda aquela ansiedade, aquele nervosismo um pouco antes do jogo, que bate, acaba tudo ali. – Ele sorriu. – Naquele momento a gente fica pensando no que pode fazer de bom no jogo, da melhor forma de ajudar a equipe, de repente fazer um gol, ou criar jogadas, então é isso que vai passando na minha cabeça. – Ele emendou a segunda resposta. – E... Sobre o gol, é, realmente é um momento muito emocionante, quando você marca, principalmente se falando de uma estreia de Copa do mundo, então foi por isso que eu extravasei bastante, mas espero marcar mais gols e as comemorações a gente vê se vai ser assim ou não. – Olhei rapidamente na minha lista, vendo que estava acabando.
- Oi, Coutinho, tudo bem? Glenda.
- Tudo bem? – Ele respondeu à repórter da Globo.
- A Seleção vem de uma sequência muito vitoriosa. Enfim, a gente falava sobre isso, o favoritismo, e tal. Aí chegou à estreia e teve esse empate, para você, como atleta, como jogador, primeira Copa do Mundo, qual foi a mensagem que esse empate, logo na estreia da Copa, passou para você, olhando para frente? – Ela perguntou. – Sabe aquela hora que a gente coloca a cabeça no travesseiro? E não consegue dormir, né?! Pensando em outro resultado e, enfim, acaba dando errado do que a gente imaginou? Queria saber a sua opinião, bem pessoal mesmo, a mensagem que você tem olhando para frente? Que esse jogo deixou para você?
- O que ficou claro é que todos os jogos serão bem difíceis, às vezes muitos torcedores, muita gente acha que a gente por ser Brasil vai chegar e ganhar fácil, e vai fazer muitos gols e essa é a mensagem que ficou. Porque todos os jogos são difíceis, o mundo tá se preparando cada vez mais, então é uma Copa do Mundo, essa é a mensagem que ficou. – Assenti com a cabeça. – É claro que agora a gente tem que, ao invés de ser 100, 110 por cento, para poder ganhar os jogos. – Ele sorriu, franzindo os lábios.
- Obrigada, gente! Obrigada, Coutinho! – Bianca falou e eu chamei Coutinho, enquanto Rodrigo passava as informações. Seguimos para a antessala.
- Você foi muito bem. – Falei para Coutinho e batemos as mãos. – Meio tímido, mas bem! – Ele riu.
- Valeu! – Ele falou rindo.
- Pode ir lá! Daqui a pouco eu vou. – Ele assentiu com a cabeça e me abraçou rapidamente, saindo da sala.
- ! – Me assustei com Bianca que falou um pouco mais alto e eu virei para ela, vendo-a entrar em fechar a porta.
- Diga! – Falei.
- Uma jornalista acabou de me pedir uma declaração, queria saber se você a consegue para mim. – Franzi a testa.
- Claro! O que foi? – Abri meu iPad no bloco de notas.
- Obviamente estão comparando o Alisson e o Navas para o jogo de sexta-feira, Navas já deu uma declaração sobre o Alisson, ela queria uma do Alisson sobre o Navas. – Assenti com a cabeça.
- Tá fácil! – Falei e rimos juntas. – Peça os contatos dela, mas eu consigo isso agora. – Fui saindo, mas parei. – O que o Navas falou do Alisson? Aposto que ele vai perguntar.
- Está tendo especulações sobre a venda do Alisson para o Real Madrid, onde Navas joga... – Assenti com a cabeça. – Ambos só levaram um gol até agora... Enfim. – Ela abanou a mão. – Navas disse que “Alisson é um jogador novo com um grande futuro pela frente, que tem apresentado ótimos resultados na Roma. Além de um grande goleiro, ele já demonstrou eficácia em outros aspectos do futebol e se for para o Real, será um prazer em tê-lo”. – Ela me mostrou o celular.
- Printa isso e me manda? Meio longo para guardar. – Ela riu.
- Já mandei! – Ela comentou e eu assenti com a cabeça.
- Te vejo lá fora! – Falei e segui pelos corredores do centro de treinamento e engoli em seco antes de sair para o campo.
Já tinha passado das quatro horas, então eu estava tensa sobre toda aquela questão jogadores e suas famílias. Esperava encontrar a mesma situação de antes do jogo da Suíça, mas até relaxei quando cheguei ao campo.
Os familiares estavam lá sim, mas organizados. A maioria ocupava lugar nas arquibancadas, os mais interessados estavam debruçados nas grades que davam para o campo, mas sem que os jogadores estivessem acumulados no mesmo. E os filhos... Estavam aloprando os pais dentro do campo. Abri um sorriso ao ver as filhas de Casemiro, Ederson, Firmino, Cássio e filhos de Neymar, Marcelo, Thiago Silva e outros. As idades eram bem diferentes, mas cada criança tentava jogar bola do seu jeito.
Passei por trás das grades, seguindo para o fundo do campo, onde tinha a entrada para o pessoal autorizado e olhei do outro lado do campo, suspirando ao ver Alisson erguendo sua filha acima da sua cabeça e brincando com ela de foguete. Ederson também estava do lado, sentado no chão, com sua filha no meio das pernas e Cássio na grade, entregando sua pequena de alguns meses para sua esposa.
Olhei rapidamente para ver se o perímetro estava seguro e se eu não levaria nenhuma bolada novamente, mas as bolas estavam baixas e ninguém estava realmente jogando, até Tite brincava com a filha de Casemiro.
Alisson se afastou do gol quando comecei a me aproximar e foi para a grade, estendendo sua filha para... Uma mulher, fazendo meu corpo gelar na hora. A mulher esticou as mãos para a loirinha, fazendo com que ela saísse do colo do pai e passasse rapidamente pelo da menina. Alisson ainda fez algumas brincadeiras com a menina, mas se apoiou ao lado da morena mais baixa e ficou papeando um pouco.
Aquilo havia me pego de jeito e me desnorteado um pouco. Não que eu realmente acreditasse que sairia uma linda história de amor de nossas provocações, mas eu estava gostando daquilo. Eu fazia as provocações tão na inocência que nem tinha percebido que estava realmente gostando dele.
Mas, o pior de tudo, é que nada fazia sentido na minha cabeça. Ele tinha uma esposa, ou uma namorada, esperando-o em casa e estava fazendo brincadeiras comigo? Ele parecia uma boa pessoa, mas agora eu tinha milhões de dúvidas pairando na minha cabeça. Não era dever meu saber que ele tinha esposa, apesar de que isso nunca tinha sido denunciado nos arquivos dos jogadores. Talvez seja uma namorada recente.
Abaixei os óculos escuros só por precaução, eu achava que não estava chorando, mas preferi não me denunciar. Talvez meus olhos estivessem vermelhos ou eu só estivesse com raiva também. Vai saber. Voltei a andar em direção aos três, chamando a atenção de Alisson antes mesmo de eu me colocar ao seu lado.
- Alisson! – Falei, chamando-o e ele se virou para mim.
- ... – Ele falou, abrindo um largo sorriso. – Vem conhecer a Helena! – Ele me chamou e eu revirei os olhos por baixos dos óculos escuros, me aproximando deles. – Helena, essa é a . – Ele falou para a menina risonha e eu dei um pequeno sorriso.
- Oi. – Sorri para a menina que esticava os braços para mim, mas eu somente ri, me afastando um pouco.
- E essa é Natália, ela é minha...
- Prazer conhecer vocês! – Tentei dar meu melhor sorriso para ambas e a mais baixa repetiu o gesto.
- é social mídia, assessora, enfim, ela cuida da gente. – Franzi a testa.
- Me rebaixaram para o posto de babá. – Brinquei com a namorada dele que riu.
- Deve ser pior do que crianças. – Sorri.
- Você não tem ideia. – Virei para Alisson. – Eu preciso falar contigo. – Falei, me afastando um pouco delas.
- Pode falar! – Ele falou sorrindo.
- Eu preciso de uma declaração sua. – Fui direta. – Navas comentou sobre você e a jornalista gostaria de um comentário seu sobre ele. Quer falar alguma coisa? – Peguei meu celular, abrindo o gravador para facilitar.
- Ah legal! – Ele falou empolgado. – O que ele falou de mim? – Quis bufar e jogar a cabeça para trás, mas me mantive no que me lembrei que Bianca havia dito.
- Que você é um ótimo jovem jogador, que tem um futuro brilhante pela frente e blá, blá, blá! – Balancei a cabeça e ele me encarou.
- Tá tudo bem? – Ele me perguntou e percebi que tinha sido direta demais.
- Eu estou com dor de cabeça. – Inventei a primeira coisa que veio e ele assentiu com a cabeça. – E aí? – Ele apontou para o celular e eu apertei o botão.
- Ah, fala que o Navas é um grande goleiro, um dos grandes jogadores da atualidade e é sempre um prazer vê-lo em campo. Eu vejo muito os vídeos dele para aprender e estou feliz em poder dividir o campo com ele na próxima sexta-feira. – Apertei o botão novamente.
- Obrigada! – Falei, guardando o celular no bolso. – A gente se vê. – Não esperei que o mesmo respondesse e segui para fora por trás do gol, sorrindo ao ver Ederson com a sua pequena.
- Quem é essa? – Me aproximei de ambos, me abaixando.
- Essa é a Yasmim. – Ele falou sorrindo e sua menina sorriu para mim.
- Ah meu Deus! Essas bochechas. – Falei rindo.
- Fala “oi”, Yasmin. – Ederson falou para a filha que olhou para mim, abrindo um largo sorriso.
- Oi. – Ela falou, se aproximando de mim e me dando um abracinho.
- Ah, meu Deus! – Acariciei os cachinhos da mesma e sorri. – Ela é uma fofa, Ederson! – Me levantei devagar.
- Obrigado! – Ele falou e eu olhei para trás por alguns segundos, vendo Alisson brincando com sua filha novamente, enquanto ela era segurada pela mulher sorridente do outro lado da grade.
Suspirei, seguindo pelo lado contrário. Eu sabia que Alisson tinha uma filha, tinha feito questão de andar pelo seu Instagram inteiro, passando pela época do Inter, até os dias atuais. Eu só não sabia que ele tinha uma namorada, há anos que ele não postava algo com uma mulher e, ver aquela cena, fez com que meu coração doesse e eu quisesse sair dali o mais rápido possível, mas parecia que todos os jogadores queriam me mostrar suas crias.
Contagem regressiva: 27 dias para o fim da Copa... Ou menos.

Passei a bola de um pé para o outro e chutei a mesma em direção à parede, vendo-a voltar para meus pés pelo curto espaço entre a cama e a parede. Conferi o relógio e vi que estava cedo ainda, então chutei novamente.
- ! – Ouvi uma voz feminina e franzi a testa, levantando da cama e seguindo para a porta, abrindo uma pequena fresta, encontrando Angelica e Bianca ali.
- Entra! – Falei e elas entraram, me fazendo fechar a porta rapidamente.
- Nossa! – Bianca falou franzindo a testa e me sentei novamente, pegando a bola com os pés.
- Você não vai jantar? A gente mandou mensagem no grupo e você não respondeu. – Angelica perguntou.
- Eu vou mais tarde. – Falei.
- Por quê? Está ocupada? – A mais velha olhou em volta e eu respirei fundo. – Vai tomar banho? Esperando o jogo acabar? – Ela olhou para TV que passava os primeiros jogos da segunda leva da fase de grupos, Rússia e Egito.
- Não, nada disso. – Balancei a cabeça. – Estou fugindo do Alisson. – Suspirei.
- O quê? Por quê? – Bianca falou, se sentando ao meu lado. – A gente estava até apostando se vocês ficariam durante a Copa ou depois dela. – Olhei para ela.
- Bianca! – Angelica a repreendeu e escondeu o rosto nas mãos.
- Esquece a aposta, simplesmente não vai rolar. – Suspirei, parando a bola nos pés e pegando-a com as mãos.
- O que aconteceu? – Angelica perguntou.
- Ele tem uma esposa. – Respirei fundo. – Ou namorada, vai saber. – Dei de ombros.
- Alisson tem esposa? – Bianca franziu a testa.
- Irmã eu posso te garantir que aquela mulher não era. – Respirei fundo. – Ela tem a mesma faixa etária que ele, bonita, longos cabelos castanhos, a filha dele interagia muito bem com ela... – Balancei com a cabeça.
- Mas você também é tudo isso que falou. – Dei um pequeno sorriso.
- Não, Angelica. A questão não é essa. – Balancei a cabeça. – Para começar que eu não me envolvo com homem comprometido. E para continuar, ele podia ter me falado, sabe? – Balancei a cabeça. – Ou melhor, não ter me cantado lá na Granja, para começo de conversa. – Elas suspiraram, me dando aquele olhar baixo.
- Porque você não fala com ele? – Angelica sugeriu.
- E falar o que? Brigar com ele por ter me cantado? Ou por não ter contado que tem alguém? – Ri irônica. – Vai dar muito certo mesmo.
- Fiquei chateada agora, confesso. – Bianca falou. – Todo mundo estava gostando desse c entre vocês. – Balancei a cabeça. – Vocês dariam um ótimo casal. – Ri fraco.
- Valeu, Bianca, mas não vai rolar. – Suspirei.
- E como você vai ficar? – Angelica perguntou e eu dei de ombros.
- Temos ainda quase um mês de Copa, se tudo der certo. Eu vou entrar no modo profissional. – Movimentei as mãos. – Seja o que Deus quiser. – Elas assentiram com a cabeça.
- Vai ficar tudo bem. – Sorri.
- Vai sim. – Ri fraco. – Só passar o susto. – Elas assentiram com a cabeça.
- Não quer subir mesmo? – Bianca perguntou.
- Não, não. Ele costuma jantar cedo. Antes do horário acabar eu vou.
- Ok! – Elas falaram, acenando e se retiraram do quarto.
Peguei a bola nos meus pés e abracei a mesma, me deitando na cama e respirando fundo, sentindo meus olhos molhados e uma lágrima escorrer pelo meu nariz, pingando na cama. Eu tinha cometido o erro de me apaixonar por um jogador, o qual eu sabia que não teria nenhum futuro com ele, mas, por causa da brincadeira, eu acabei me deixando envolver e só percebi quando era tarde demais.
Pelo menos, depois da Copa, tinha certeza que teria pelo menos uns dois meses até vê-lo, no próximo amistoso do Brasil, isso se eu fosse chamada para acompanhar e se ele fosse convocado, em caso de mudança de técnicos.
Minha cabeça doeu ao pensar em todos os “ses” que rodavam minha vida. Era “se” o Brasil passasse de fase, “se” o Tite continuasse na Seleção, “se” eu acompanhasse outros jogos internacionais, apesar de que podia imaginar que várias pessoas da comunicação me odiavam na CBF por ter furado fila de outros assessores para vir à Copa.
A dor de cabeça era tanta que eu tentei fechar os olhos e dormir, mas não deu. O tempo foi passando aos poucos e decidi parar de enrolar quando faltavam 15 minutos para o fim do horário de janta. Enfiei um moletom qualquer, colocando o capuz na minha cabeça e saí do quarto, deixando a bola quicar pelo quarto.
Saí do mesmo devagar, dando uma rápida olhada em volta, checando se a barra estava limpa. Puxei a porta, evitando fazer qualquer tipo de barulho e segui até os elevadores, apertei o botão do meio deles e afundei as mãos no casaco, aguardando o mesmo, conferindo se os dois lados do corredor estavam vazios.
O elevador se abriu em minha frente e dei dois braços para trás, engolindo em seco ao encontrar a turma de goleiros saindo do mesmo. Carma! Dei um pequeno sorriso vendo meu trio favorito.
- E aí, ? – Cássio brincou e eu respirei fundo.
- Ei! – Falei e apertei o botão da cobertura, vendo o rosto de Alisson sumir pelas portas de metal e eu respirar aliviada, me encostando na parede do elevador por alguns segundos.
Segui direto para o buffet e dei uma rápida olhada no que tinha ali. Respirei fundo com a variedade de comidas russas, brasileiras e afins e segui o básico, pedi um americano de presunto para o homem do outro lado do balcão e fiquei olhando para trás, para ver se alguém aparecia. Enquanto aguardava, peguei duas latas de Guaraná e guardei no bolso do moletom canguru, além de pegar um pedaço de torta de chocolate que tinha de sobremesa.
- Aqui! – O homem falou em português e sorri, pegando a embalagem fechada e fui para a mesa lateral, enchendo os bolsos de guardanapos e ketchup.
Voltei pelo mesmo caminho que vi e bati o pé no piso do elevador, me animando quando o mesmo parou no andar de baixo, abrindo em minha frente. Franzi a testa ao ver boa parte dos jogadores espalhados no chão do corredor central e engoli em seco. Eles estavam com seus batuques e Alisson com seu violão, mas pararam de tocar quando eu apareci.
- Ei, ! Vem cantar com a gente! – Marcelo falou do outro lado da galera, me chamando com a mão.
- É, fica com a gente! – Alisson falou com um sorriso no rosto e eu tentei não retribuir.
- Valeu, gente! Mas eu tenho trabalho acumulado. Tite me pediu para fazer umas coisas. – Falei com um sorriso de lado no rosto. – Quem sabe depois? – Dei de ombros, acenando com a mão livre e segui andando rápido até o quarto, antes que certo alguém pudesse vir atrás de mim e bati a porta, engolindo em seco.
Senti a respiração pesada e me sentei na escrivaninha, abrindo alguns guardanapos na mesma e colocando meu lanche, refrigerantes e sobremesas em cima do mesmo e suspirei, notando que talvez eu não estivesse com tanta fome assim.
Mordisquei a torta de chocolate e bebi um pouco de refrigerante, sentindo um amargar o outro e empurrei ambos, afastando a cadeira da escrivaninha e respirei fundo. Senti meu celular vibrar em meu bolso e, além de mensagens convencionais de minha mãe, do grupo da família e de Bernardo, uma nova mensagem tinha chegado.
Puxei as notificações, vendo o nome “AB1” na mesma e suspirei. Eu tinha colocado os nomes dos jogadores assim para não ficar claro quem era, caso alguém pegasse meu celular. A notificação denunciava duas mensagens.
“Ei!”
“O que está acontecendo?”
Engoli em seco, pensando o que responder. Se mandaria a real e falaria do assunto que estava deixando minha cabeça quente desde mais cedo ou se fingiria que nada estava acontecendo. Engoli em seco, bufando forte e optei pela terceira opção, deixá-lo de ar. Eu não tinha estruturas para lidar com aquilo agora.

Eu não tive maturidade para lidar com aquilo de frente, pelo menos não enquanto tudo tinha acontecido muito cedo, então fiz o que uma pessoa imatura como eu, faria numa situação dessas: fugi do cara.
Claro que foi difícil fazer isso quando a gente comia juntos, trabalhava juntos e eu tinha que ficar disponível para ele o tempo todo. A vantagem é que eles treinaram muito nesses dois dias que antecediam a viagem para São Petersburgo, já que não treinariam lá, só aquela horinha no estádio do jogo. Além de que seus familiares tinham permissão para ficar no nosso hotel até meia-noite, então foi minha deixa.
Tirando reuniões esporádicas com a equipe técnica, da CBF e da comunicação para organizar o jogo, eu ficava em meu quarto o tempo inteiro, com a porta aberta, mas não acreditando que alguém apareceria lá. O bom é que eu consegui ver os jogos quase inteiros daqueles dois últimos dias.
Ele ainda tentou vir atrás de mim pelo WhatsApp no dia seguinte ainda, mas acho que depois que eu ignorei a terceira mensagem, ele notou que eu não estava muito afim de papo e se manteve um pouco longe. Eu me senti aliviada, mas com o coração pequeno quando isso aconteceu, me deixando pior do que eu já estava. Mas agora Inês é morta, outro jogo estava se aproximando, eu estava nervosa com as ligações da imprensa e não queria deixá-lo com algo que provavelmente o deixaria mais nervoso que o normal.
O voo para São Petersburgo saiu do aeroporto oito horas da noite em ponto. Esse avião era diferente do que estávamos acostumados, não tinha divisão de classes, e muito mais lugares do que precisássemos, então pedi para Angelica se sentar comigo, mas me escondendo na poltrona do canto, tentando me distrair com as músicas do meu iPod e o pôr do sol da Rússia que acontecia bem mais tarde do que estava acostumada no Brasil.
Chegamos ao hotel com festa brasileira, me fazendo esquecer um pouco de Alisson, imprensa, Costa Rica e Copa do Mundo. Eu só pensava que deveria ter pedido para Vinícius vir de Canarinho, conseguiríamos grandes imagens, mas quem sabe no próximo jogo em Moscou?
- Parece que você está em casa. – Comentei com Cássio, ao ver que o hotel se chamava Corinthia e ele sorriu.
- Só para dar mais saudades de casa. – Ele falou e eu ri, abraçando-o de lado, ou melhor, passando a mão em suas costas, por ele ser muito mais alto que eu.
- Mas já? – Perguntei.
- Você não? – Ele apoiou o braço em meu ombro.
- Eu já moro longe da minha família, então, não faria muita diferença. Talvez do meu colega de quarto, conversar pelo WhatsApp não é a mesma coisa. – Ele riu fraco.
Me afastei dele quando entramos no hotel e toda a turma se juntou no lobby, esperando ouvir as gentis palavras de boas-vindas do gerente do hotel e depois me juntar com o pessoal da comunicação para pegar as chaves dos quartos e me preparar para separar as mesmas.
- Vamos lá, gente! – Falei, sacudindo o molho de chaves. Dessa vez eram realmente chaves. – Aqui serão quatro pessoas por quarto novamente, mas dessa vez serão duas camas de casais...
- Ah! – Eles reclamaram e eu ri.
- ...Que podem ser separadas em quatro camas de solteiro. – Finalizei e eles riram. – Caso não queiram dormir agarradinhos, podem separar as camas. – Eles riram. – Os quartos daqui são bem maiores que o de Rostov, então relaxem, beleza? – Ri fraco.
- Beleza! – Eles responderam.
- Talvez tenhamos alguém das três equipes misturadas nos quartos, tá? Pegamos só quartos de quatro, então talvez equipe fica com comunicação, comunicação com jogadores e...
- Aê! – Alguns comemoraram e eu ri.
- Não, gente, não eu! – Falei rindo.
- Ah! – Eles brincaram e eu revirei os olhos.
- Ah, venham pegar suas chaves logo. – Sacudi o molho e peguei uma qualquer, entregando para Bianca, olhando sugestivamente para ela.
- Lucas, quer ficar com a gente? – Ela perguntou, puxando Angelica também.
- Tá, pode ser. – Ele deu de ombros.
Jogadores e equipe técnica se aproximaram aos poucos, até o molho de chaves ficar vazio. Olhei para Alisson de longe e vi que ele seguia junto de Jesus e Willian. Soltei um suspiro, balançando a cabeça e, quando todo mundo tinha seguido para seus lugares, eu fiz o mesmo caminho com meu trio da vez. Vinícius e Bóris tinham se enfiado no quarto dos RPs.
Depois de cansar de esperar pelo elevador, nós pegamos nossas malas e subimos de escada, encontrando o caos lá em cima. Aparentemente um único andar tinha sido reservado para nós, mas um andar do hotel Corinthia, era da largura de um quarteirão inteiro.
Então, quando entramos no corredor pela escada de um lado, tinha um corredor gigante, tomado por malas, homens de chinelo e música alta. Nós quatro nos entreolhamos surpresos e começamos a seguir pelo corredor, desviando das pessoas e procurando nossos quartos.
Eu olhava para dentro dos quartos com as portas abertas à procura dele. Acabava cumprimentando alguns jogadores, pelo meio do caminho, passando a rodinha por cima de alguns pés, mas dando risada de tudo.
Acabei esbarrando no dito cujo ao tentar olhar por dentro de um dos quartos e o mesmo sair, para ver o que estava acontecendo lá fora. Apoiei a mão no peito dele, me afastando alguns passos para trás. Eu precisava dizer alguma coisa, por mais idiota que fosse.
- Oi. – Falei e ele deu um sorriso de lado, fazendo que eu relaxasse o meu.
- Agora você fala? – Ele perguntou baixo e eu abaixei minhas armas.
- Talvez ainda não seja a hora, para falar a verdade. – Dei de ombros.
- Por quê? O que aconteceu, ? – Respirei fundo.
- Eu prometo que eu falo contigo, eu só preciso me organizar. – Assenti com a cabeça e ele fez o mesmo gesto, mas negativamente. – Eu prometo. – Falei sincera, apoiando a mão livre em seu ombro e fiquei rapidamente na ponta dos pés, dando um rápido beijo em sua bochecha, vendo um sorriso se formar em seu rosto. – Boa noite. – Falei me afastando do mesmo e me sentindo burra novamente por ter feito aquilo, mas era difícil resistir àqueles olhos verdes.

A manhã do dia seguinte eu fiquei o dia inteiro no quarto de hotel. Eu, Bianca e Lucas, para falar a verdade. Angelica ainda saiu com os RPs para resolver os últimos preparativos do jogo do dia seguinte. Eu e Bianca ficamos revezando os telefones para repassarmos informações para a imprensa e Lucas ficou na janela tirando algumas fotos do pessoal lá embaixo.
Aquela manhã estava mais gelada em São Petersburgo, foi a primeira vez que eu usei casaco com o real propósito de me esquentar e não de esconder comida no mesmo ou de me esconder. Quando eu consegui uma brecha dos telefonemas da imprensa, eu liguei o computador e comecei a passar pelas fotos do drive, colocando na minha cabeça que queria viralizar um meme do Alisson.
Procurei pelas fotos dele e acabei achado uma sensacional, do mesmo dia do primeiro meme, dele cumprimentando o canarinho, com Marquinhos vindo atrás dele. Eu queria suspirar em todas as fotos que eu via dele, mas precisava deixar a raiva do Canarinho tomar conta de mim.
Abri a foto no Photoshop, colocando no formato exato e na fonte e tamanho combinado também. Eu estava escrevendo aquilo como torcedora, mas principalmente para chamar a atenção dele. Estralei os dedos e coloquei-o para funcionar, escrevendo uma só frase, dividindo em cima e embaixo da foto.
“Se você levar gol sexta-feira, eu te faço engolir a bola, seu cuzão”.
Fiquei pensando por um tempo sobre a última palavra. Se fosse antes, eu saberia que ele daria risada disso, agora eu já não tinha mais certeza nenhuma. Abanei a mão, salvando o arquivo, enviando para o pessoal do Rio, mesmo sabendo que eles só começariam a trabalhar em quatro horas.
Abri o navegador, entrando no WhatsApp Web e abrindo o grupo da CBF. Naquele grupo não estava só os jogadores, acabou viralizando, então tinha todos os quase 50 membros que vieram para a Rússia, menos os dirigentes, é claro. Mas Tite, a turma da equipe técnica e a comunicação também estavam lá. Enviei a imagem para o grupo e esperei o circo pegar fogo, ouvindo os celulares de Bianca e de Lucas denunciarem que a mensagem tinha chego.
- Mano! – Lucas foi o primeiro a falar, gargalhando. – Isso tá demais! – Ele esticou a mão e eu bati na mesma. – Tá sensacional! – Ele riu e eu olhei as mensagens começarem a surgir pelo computador.
A maioria eram de risadas, gifs de pessoas rindo, definições como a de Lucas, mas tudo com respeito, é claro.
- Acho que você tá provocando. – Bianca comentou e eu olhei para ela, dando de ombros.
- Talvez. – Dei de ombros. – Eu não deveria tê-lo ignorado, mas eu travei. – Respirei fundo. – Mas eu não vou falar com ele agora, ele já deve estar bem nervoso por causa do jogo, vou esperar passar. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu tentei procurar alguma coisa sobre a mulher e não achei nada, . – Ela falou. – No Instagram dela até tem algumas fotos dos dois, mas sempre com a Helena. – Suspirei.
- Eu não sei o que está acontecendo, mas eu vou descobrir. – Relaxei os olhos.
- Do que vocês estão falando? – Lucas perguntou, se sentando na beirada da minha cama.
- Sobre a e o Alisson. Ela o viu com uma mulher no treino segunda-feira e ficou encafifada.
- Ah, eu vi alguém com ele mesmo. – Ele comentou.
- Sabe quem é? – Eu e Bianca perguntamos juntas.
- Eu hein! – Ele se levantou. – Não sei, mas o Alisson é um cara bacana, tenho certeza que ele tem uma explicação muito plausível para isso. – Ele abanou a mão. – Irmã talvez.
- Não, ele só tem um irmão mais velho. – Ele franziu os lábios.
- Prima? – Revirei os olhos.
- Ah, fica quieto, Lucas. – Falei e eles riram juntos.
- Ele respondeu. – Lucas falou e eu olhei para o computador, rolando a conversando para cima, até encontrar a dele.
“Acho que alguém não gosta de mim, hahaha”. - Ri fraco, vendo várias respostas depois disso, a maioria igual.
“Até parece”. - Abri um sorriso, sabendo do que todos estavam falando e marquei a mensagem de Alisson, enviando minha resposta.
“Alguém não, mas um animal amarelo muito desproporcional para sua espécie”. – O pessoal voltou a rir e eu sorri, vendo a conversa de Vinícius se abrir.
“Estamos indo andar por São Petersburgo com o Canarinho, vamos?” – Dizia a mensagem e olhei rapidamente minha caixa de e-mail limpa e o celular que não tocava há 10 minutos e poderia aproveitar com eles.
“Vamos. Vou só me trocar. Encontro vocês no lobby em 10 minutos”. – Respondi e me levantei correndo.
- Eu vou sair com o Canarinho. – Anunciei. – Alguém quer ir?
- Ah, me leva, pelo amor de Deus! Não aguento ficar sem fazer nada. – Lucas falou, se levantando e eu ri.
- Bi? – Virei para ela que apontou para os dois celulares e eu assenti com a cabeça. - A gente já volta. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Nosso passeio por São Petersburgo foi rápido. Fomos direto para o estádio, onde encontramos alguns torcedores fazendo festa, cantando a música para o Canarinho. Aproveitamos para tirar algumas fotos com as pessoas e fazer algumas imagens do Canarinho com a bola. Não demorou nem duas horas. Então, voltamos para o hotel e a morgar até a hora do treino.
Bom, morgar era elogio, segui dando aquela força para Bianca não surtar logo nos primeiros dias.

- E aí, como fui? – Thiago Silva me perguntou quando o tirei da coletiva, seguindo para a antessala.
- Eu sou suspeita para falar, você sempre vai ser meu capitão. – Ele olhou para mim com um pequeno sorriso nos lábios.
- Mesmo? – Ele perguntou. – E depois do...
- Do jogo da Alemanha? Ah, pelo amor, Thiago. – Passei o braço pelos seus ombros. – Aquilo não foi culpa sua, de ninguém, na verdade. – Dei de ombros. – Se quiser culpar alguém, culpe aquele Zúñiga que meteu uma joelhada nas costas do Neymar que a gente não sabia nem se ele ia voltar a andar. – Dei de ombros e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Obrigada, . Mesmo. – Vi que seus olhos estavam marejados e o abracei, trazendo para perto de mim.
- Você ótimo, Thiago. – Segurei seu rosto com as mãos. – Não deixe que ninguém te culpe por aquilo. – Ele assentiu com a cabeça. – Confesso que você é quem eu mais penso sobre essa situação de Copa.
- Por quê? – Ele franziu a testa e eu abaixei as mãos, suspirando.
- Na teoria, é a sua última. – Ele suspirou, assentindo com a cabeça.
- Vamos fazer nosso melhor, te prometo. – Ele segurou minha mão e eu assenti com a cabeça.
- Eu sei! – Sorri. – Vocês sempre fazem. – Ele me abraçou de lado e voltamos para o campo da Arena Zenit.
- Eita! O que houve? – Thiago saiu correndo na minha frente e só depois eu notei que uma rodinha estava formada na lateral do campo, com alguns jogadores em volta.
Dei uma corrida em direção ao mesmo e empurrei levemente alguns dos jogadores, vendo-os abrir espaço para mim e encontrei Danilo deitado em uma maca e uma feição de dor no rosto. Bianca e Tite estavam em nossa frente e cada um com a feição pior que Danilo. Respirei fundo, coçando a cabeça e decidi ser a primeira a falar.
- Tite, Bianca? – Eles olharam para mim e eu os chamei para o lado, passando pelos jogadores aglomerados e nos afastamos alguns passos.
- Vocês precisam de uma resposta, não é?! – Tite perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Eu preciso saber o que aconteceu, na verdade. – Falei e Tite passou a mão fortemente no rosto.
- Lesão no quadril. – Ele e Bianca falaram juntos.
- Mas Rodrigo disse que não tem como ele jogar amanhã.
- Preciso montar um release para a imprensa. – Assenti com a cabeça.
- E com quem você vai substituir? – Perguntei e ele pareceu pensar por alguns segundos, respirando fundo. – Você tem um plano B, não tem? – Perguntei.
- Eu tenho, mas eu não acredito nisso! Um dia antes do jogo! – Ele respirou fundo.
- Entendo, Tite. Mas precisamos agilizar o processo. É para coisas assim que temos 23 jogadores à disposição. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vai ser o Fagner. – Assenti com a cabeça. – Pior que nem temos tempo para treinar, só estamos aqui ainda para tirar Danilo daqui, nosso tempo já acabou.
- Vai dar certo, confia. – Falei para ele. – Agora vamos, antes que a FIFA nos coma vivos. – Ele assentiu com a cabeça e segui com Bianca, acenei para poucos jogadores que estavam afastados da situação e eles começaram a me seguir.
A viagem de volta para o hotel durou cerca de 30 minutos, os jogadores já seguiram para o restaurante para jantar e provavelmente subiriam para os quartos logo que finalizassem. O jogo era mais cedo amanhã, três da tarde, então era certeza que eles logo se esconderiam nos quartos, afinal, o c já estava um pouco pesado.
Eu e Bianca subimos para o quarto para preparar um release sobre a lesão de Danilo e a substituição de Fagner em seu lugar e aproveitamos para divulgar para a imprensa. Eu quase já podia ouvir os celulares tocando, com a imprensa aloprada sobre esse release, mas eu e Bianca demos o dia como finalizado e agora só depois do jogo.
Bianca optou por jantar antes de tomar banho, disse que quando voltasse tomaria banho e iria direto para a cama. Eu já aproveitei o quarto vazio, enquanto Angelica e Lucas também jantavam, e fui tomar meu banho. Fiquei tentada em não colocar meu pijama e entrar embaixo das cobertas, mas coloquei uma roupa qualquer e meu moletom e segui para o restaurante, encontrando a maioria dos jogadores e equipe técnica voltando para nosso andar.
Encontrei minha equipe esperando no andar de baixo e perguntaram se queria que me esperassem, neguei a companhia, comeria alguma coisinha e já subiria também. Entrei pelo restaurante e o vi vazio. Notei que Tite estava lá junto do seu grupo restrito: Edu, Cléber, Fabio e Sylvinho. Além de poucos jogadores atrasados como Fagner, Marcelo e Willian.
Acenei rapidamente para eles e segui para o buffet. Olhei as opções, mas o macarrão me chamou atenção. Peguei um pouco do mesmo, um pouco de molho branco e algumas batatas fritas para acompanhar. Dessa vez dispensei a sobremesa e peguei um suco de uva natural que tinha no mesmo.
Os jogadores já tinham subido quando voltei para a mesa, então peguei uma sozinha, imaginando que a equipe técnica falava sobre o jogo de amanhã, e comi enquanto acompanhava o jogo que passava na TV. Argentina perdia da Croácia de 1 a 0, mas ainda estava no começo do segundo tempo, eles conseguiriam virar.
- Oi, moça! – Olhei para o lado, vendo Tite na frente da minha mesa. – Posso sentar?
- Claro, professor! – Falei e ele riu, se sentando e apoiando os braços na mesa. – Preparado para amanhã? – Perguntei e ele suspirou.
- Sim! – Ele assentiu com a cabeça. – Estaremos lidando com um dos grandes goleiros do mundo, mas vai dar certo! – Assenti com a cabeça, bebericando mais um pouco do seu suco. - E você? – Franzi a testa.
- O quê? Pronta para ser bombardeada de perguntas? Brigar com os jogadores? Me irritar sozinha no vestiário? – Ele riu.
- Não. – Ele falou rindo. – Pronta para voltar a falar com Alisson?
- Quê? – Franzi a testa.
- Todo mundo já sabe, . – Ele falou sorrindo. – Vocês estão se provocando desde a Granja, homens também fofocam, sabia? – Ri fraco, sentindo meu rosto esquentar.
- Estou sabendo que tinha até uma aposta para saber se ficaríamos junto agora ou depois da Copa. – Ele riu.
- Eu apostei para agora. – Ele ergueu o dedo e eu balancei a cabeça negativamente.
- Vocês! – Ele riu.
- Mas o que houve? – Ele me olhou mais sério. – Um dia estava tudo bem e do nada meu goleiro principal estava triste pelos cantos? Você fugindo dele...?
- Ele mentiu para mim, Tite. – Pensei no que tinha dito. – Ou melhor, ele nunca me disse que tinha outra pessoa.
- O Alisson? – Assenti com a cabeça.
- É. – Larguei o garfo, percebendo que não tinha mais fome. – Ele ainda me apresentou a ela na segunda-feira, quando as crianças estavam no campo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Só de curiosidade, como ele a apresentou para ti? – Ele perguntou.
- Como... – Parei por um segundo. – Na verdade, eu não deixei que ele terminasse de falar. – Suspirei. – Eu estava travada demais para pensar em outra coisa. – Ele riu, assentindo com a cabeça.
- Ele não tem ninguém, . – Ele falou. – Aquela moça que você viu, ela é a mãe da Helena, mas eles não estão juntos. – Ele negou com a cabeça. – Eles foram namorados na época do Inter, mas depois seguiram para direção opostas. Quando ele foi anunciado no Roma, eles tiveram uma lembrança e nasceu a Helena, mas desde aquela lembrança, eles nunca tiveram mais nada. – Ele deu de ombros. – Mas eles têm uma filha juntos, tentam fazer com que ela tenha uma vida mais normal possível, com os pais longe e tudo mais. – Comecei a rir sozinha, negando com a cabeça.
- Eu fui uma idiota, não fui? – Ele começou a rir também, segurando minha mão em cima da mesa.
- Vocês são jovens demais, . É normal que tirem informações precipitadas e prefiram se fechar em seu mundinho antes de conversar. – Suspirei.
- Isso é o que mais me surpreende, Tite. Ele só tem 25 anos. – Suspirei. – Como alguém dessa idade pode ter uma filha? Trabalhar fora? Sozinho? E ainda agir como um adolescente? – Ri sozinha. - Porque é isso que estamos fazendo. Estamos trocando provocações desde que a gente se viu, praticamente. – Suspirei e ele deu de ombros.
- Vocês estão naquela fase em que querem ter independência, ganhar seu dinheiro, conhecer o mundo, mas aposto que adorariam ficar em casa, de pijama, vendo filmes da Disney o dia inteiro ou que a mãe dê colo quando vocês ficam doentes ou frustrados. – Suspirei, ponderando com a cabeça.
- Você está certo. – Suspirei e ele sorriu.
- Fale com ele! – Ele falou. – Parem de besteiras. Vocês são ótimos juntos e eu tenho visto uma afinidade que eu não via há muito tempo. – Dei um pequeno sorriso. – Além disso, eu apostei 20 reais que vocês ficam juntos antes da Copa. – Balancei a cabeça, rindo.
- Você está me dando permissão de namorar seu jogador em horário de trabalho? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Com discrição, é claro. – Ele piscou. – Mas se isso fizer com que ele fique mais calmo, porque não? – Ele se levantou. – Mas claro, longe dos dirigentes, por favor. – Assenti com a cabeça. – Tenho vontade de matar um de vez em quando.
- Somos dois. – Falei, revirando os olhos e ele sorriu.
- Pare de besteira, ok?! – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Acho que ele está nervoso com o jogo, eu falo com ele depois. – Ele assentiu com a cabeça.
- Talvez seja uma boa ideia. – Ele assentiu com a cabeça. – Precisamos ganhar amanhã.
- Por favor. – Sorri e ele acenou com a mão.
- Boa noite. – Repeti o gesto.
- Boa noite. – Sorri, negando com a cabeça por causa da minha burrice e peguei meu celular no bolso, abrindo o WhatsApp e procurando a conversa dele.
Esperei as informações dele carregar ao lado da foto e suspirei, vendo que ele não mexia no celular há quase meia hora. Segui para o Instagram, vendo que ele não tinha postado nada de novo. Suspirei e bloqueei o celular, seria melhor mesmo eu deixar isso para depois do jogo, todos estávamos com a cabeça quente demais para pensar. Ainda mais em algo pessoal.

Fui uma das primeiras a entrar no vestiário naquele dia, antes mesmo dos jogadores, e já notei que ele era um pouco diferente dos outros jogos. Ele era bem mais largo e no fim do mesmo tinha até um campo reduzido de futebol society, além do vestiário ser ao contrário. Ao invés do espaço para eu me movimentar ser atrás, ele era na frente.
Olhei os uniformes azuis daquele dia e fiz um sinal da cruz, quem sabe se eu pedisse para Nossa Senhora Aparecida, a qual foi inspirada a cor do segundo uniforme, esse jogo seria melhor?
Me distraí quando os jogadores entraram no vestiário e notei Alisson indo para a minha esquerda quieto, distraído com seu chimarrão e os fones no ouvido. Eu não esperava nenhum tipo de contato naquele momento, que ele ficasse em seu mundo, relaxando para o jogo.
Coloquei a mochila em cima da bancada e comecei a colocar os eletrônicos em cima da mesma, procurar pelas tomadas e conectar em todos os sites e abrir arquivos necessários para fazer essa cobertura.
Atravessei o vestiário, desviando dos jogadores que saiam para o treino e tirei meus sapatos amarelos, subindo em uma das caixas da CBF e dei uma mexida na direção da televisão, encontrando o controle embaixo da mesma. Trouxe o mesmo para mim e já procurei pelo botão SAP, não dava para assistir a amarelinha em russo, não é?!
Os minutos foram passando aos poucos, as mãos começavam a suar e as arquibancadas faziam cada vez mais barulho. Os jogadores voltaram do treino e já se preparavam para sair novamente. Puxei uma das caixas de isotônico e usei como banco, batendo as unhas pintadas de verde na bancada branca.
- Está na hora! – Tite falou e eu me afastei do caminho, me escorando na parede ao lado do armário de Alisson. – Sabemos o quanto esse jogo vai ser difícil, mas precisamos da vitória. O primeiro jogo passou, não vamos nos lembrar dele, mas essa é a nossa última chance de vitória para chegarmos com folga contra a Sérvia. O time da Costa Rica não é muito forte, nem tem jogadores muito conhecidos, mas seu goleiro é um dos melhores do mundo. – Ele falou firme. – Vamos juntos, com garra, para fazer um jogo bonito e sair na frente. Ok?!
- Ok! – Os jogadores responderam juntos.
Meu Deus! Passei a mão no rosto, respirando fundo. Meu coração começava a bater forte e o barulho acima da gente ficava cada vez mais ensurdecedor. Fechei os olhos por um tempo, tentando relevar tudo.
- Vamos lá! – Tite falou e eu abri os olhos, vendo os jogadores começarem a sair e eu fiquei no canto, esperando que todos saíssem, respirando fundo.
- Bom jogo. – Cochichei para Alisson quando ele abaixou sua cuia e o mesmo olhou para mim, assentindo com a cabeça.
- Obrigado! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, bufando alto quando eles saíram.
- Vamos lá! Vamos lá! – Falei, passando a mão uma na outra e segui para a porta do vestiário, fechando a mesma.
Fui para meu lugar, esticando os braços, estralando os dedos e virando o pescoço, ouvindo outro estralo. Abri o drive de Lucas, vendo algumas fotos do treinamento e respirei fundo, olhando para os jogadores entrando no campo e soltei o ar devagar.
Ouvi o hino nacional, filmando devagar cada jogador e eu não conseguia evitar suspirar por Alisson, eu tinha me apaixonado por ele, agora teria que correr para recuperar o tempo perdido.
Fechei os olhos e balancei a cabeça, tirando esses pensamentos inapropriados da minha cabeça e ouvi o apito inicial, me fazendo abrir os olhos e apoiar as mãos sobre o teclado, esperando um grande jogo.
A primeira tentativa de gol veio logo no começo, nos primeiros três minutos, Coutinho mandou uma alta, passando por cima da trave. Cinco minutos tentamos com o Willian novamente, mas o jogador costa-riquenho veio por trás, empurrando-o com as duas mãos. Neymar fez a cobrança da falta, mas também foi tirada de cabeça pelos adversários.
Em uma das idas e vindas da bola, Casemiro acabou levando uma bolada na cara, fazendo com que ele pedisse um tempo, se retirando do campo e pude notar que seu nariz estava sangrando, mas ele estava bem.
Neymar correu com um costa-riquenho, tropeçando no mesmo, fazendo com que ele caísse. A falta foi marcada, mas o jogo seguiu. A Costa Rica veio para o ataque, fazendo com que eu levantasse do banco, debruçando sobre a mesa.
- Alisson! Alisson! Alisson! – Falei ao ver a bola se aproximar, mas ela passou beirando o gol e foi para fora. – Uh! – Me sentei novamente.
Logo em seguida a Costa Rica tentou se aproximar, mas a defesa brasileira estava bem fechada. Neymar caiu no chão, me fazendo revirar os olhos. O juiz se aproximou dele, mas logo ele se levanta, apesar de estar fazendo cara de dor, parecia que estava tudo bem.
Só com o aquele começo de jogo, já deu para notar que a Costa Rica não facilitaria muito. Foram feitas faltas no Marcelo, Neymar cobrou, mas foi tirado pela defesa. Depois foi feita uma falta em cima do Willian e outra em Neymar, puxando-o pela camisa, mas foi na mão do Navas.
- Porra! – Falei sozinha.
Na saída de bola do Navas, Miranda atropela o mesmo, parando a jogada, me fazendo bater a mão na testa. Não pode atrapalhar a saída de bola do goleiro, Miranda! Franzi a testa, respirando fundo, vendo a bola correr novamente para o campo brasileiro. A Costa Rica até tenta, mas Alisson a pega com facilidade, fora da linha do gol. A bola volta para o campo brasileiro, mas não passa pela defesa.
Em uma saída de bola para lateral, Jesus chuta por cima, mas a Costa Rica vai em direção ao mesmo, fazendo-o cair no chão, sentindo a coxa. Passei a mão na cabeça, puxando os cabelos e respirei fundo. Neymar cobrou a falta e Thiago Silva até tentou cabecear, mas foi para fora.
Neymar faz uma tentativa de chute direto para o gol, mas vai para fora. Navas nem precisou se mexer. Ele mandou a bola para o meio do campo novamente, passando para o campo brasileiro, mas a bola volta para os pés de Willian e vai sendo passada por Thiago, Fagner, Casemiro, Marcelo... E sai pela lateral.
Marcelo passou a mesma para Neymar que perdeu, passando para Willian que chutou direto para Jesus que ajeitou e a mandou para o fundo do gol.
- Tá impedido, caramba! – Gritei ouvindo os gritos, antes mesmo de ver o replay e passei a mão no rosto. – Teria sido um gol lindo. – Respirei fundo, vendo o bandeirinha marcar e estralei os dedos e voltando a digitar.
Neymar tentou duas vezes seguidas para o gol, mas Navas pegou a mesma por baixo, deixando a bola escapar para o lado. E em seguida, vai forte demais, fazendo-o ser desviado para o fundo e a bola ser pega pelo costa-riquenho. Marcelo tomou do mesmo e tentou, mas passou raspando no gol, indo para fora. Coutinho tentou segundos depois, mas chutou-a por baixo, de bico, e a mesma passou por cima da trave, indo para a galera.
- Porra, Navas! – Respirei fundo. – Vai ser difícil! – Respirei fundo.
Vi Neymar caindo pouco antes da área e o juiz não marcou, mas ele logo se levantou. Ok, tá bem. Ele volta novamente com a bola, após ser passada por Paulinho, mas o jogador adversário tira a bola de cabeça. Jesus cai, Neymar cai...
- Vamos, gente, levanta! O tempo está rolando. – Respirei fundo.
Willian tentou o gol, mas chutou forte demais, indo para o alto e para longe do gol. Marcelo tentou em seguida, mas o costa-riquenho tirou de cabeça... Falta no Thiago Silva, mas ele logo se levantou.
- Não mexe no meu capitão, porra! – Falei firme, batendo a mão na mesa, ouvindo as arquibancadas gritando acima de mim. Espero que seja de brasileiros.
Em uma cobrança de escanteio, Paulinho cai da área, mas pareceu normal, juiz não se importou com o lance. A bola atravessa o campo, passando para o campo brasileiro e Alisson se retira do gol, pegando a bola por baixo, mas o bandeirinha deu como impedido no mesmo tempo.
Coutinho passou para Marcelo que chutou direto para o gol, mas... Não! Foi direto na mão do Navas. A bola voltou para o meio do campo, passando pelos pés dos brasileiros. Willian passou para Fagner, mas também foi direto na mão de Navas. Eita!
A bola cruzou o campo novamente, em uma tentativa de gol da Costa Rica, mas passou longe de Alisson, a defesa afastou a bola rapidamente. Marcelo passou a bola para Neymar, mas ele foi impedido pelo jogador adversário. Ele passou a mão no rosto e levantou reclamando.
- Neymar... – O repreendi como se estivesse em minha frente e anotei o lance.
Um minuto de acréscimo.
- Mas já? – Falei ao ver o número se formar ali em cima e eu respirei fundo.
A bola cruzou o campo, mas Miranda fez uma defesa um pouco forte, fazendo falta no outro jogador. A Costa Rica cobrou a falta, mas Alisson nem precisou se mexer, a bola cortou o campo na horizontal, saindo na outra lateral.
Fim do primeiro tempo.
Respirei fundo e peguei um dos isotônicos nas caixas térmicas e abri o mesmo, esguichando o mesmo em minha boca e apoiando o mesmo na bancada. Segui para as fotos de Lucas, selecionando algumas rapidamente, enviando para o pessoal do Rio que estava fazendo a cobertura. Olhei para a televisão rapidamente, vendo Thiago Silva afastando Neymar, Miranda e Marcelo, provavelmente por falarem algo com o juiz, mas preferi relevar.
Me levantei de meu lugar quando os jogadores voltaram para o vestiário e eu mordisquei meu lábio inferior, respirando fundo. Os jogadores estavam cabisbaixos e seguiam quietos para seus lugares. Tite entrou logo atrás com a equipe técnica.
- Vamos lá, gente! – Ele bateu as mãos. – O jogo está bom, mas tem alguns pontos que vocês precisam prestar mais atenção. Atacantes, os chutes estão sendo feitos sem mira, indo muito por baixo, caindo direto na mão do Navas ou muito por cima, indo direto para fora. – Ele bateu as mãos. – Alisson, vem um pouco para fora, saia mais do gol, reponha a bola em campo mais rapidamente, chutes mais fortes, não espere só passar para os jogadores da defesa. – Vi o mesmo confirmar com a cabeça e passar a toalha em seu rosto. – Eles estão fazendo vários erros, passes errados, muitas faltas, usem isso a seu favor. – Ele falou firme. – Vamos, porque precisamos dessa vitória. – Ele bateu as mãos novamente e se afastou.
Voltei para meu lugar, me ajoelhando em cima do banco improvisado e vi que tinha uma mensagem em meu WhatsApp, abri a mesma, vendo que era de Lucas. A prévia só dizia: “presente para você”. Franzi a testa e abri a mesma, vendo uma foto de Alisson de costas na lateral do gol e eu abaixei a tela do notebook com força, chamando atenção.
- Eu já volto! – Falei, inventando alguma desculpa e segui para o banheiro, enrolando alguns minutos na mesma.

Antes do começo do segundo tempo, Tite fez uma substituição. Tirou Willian e colocou Douglas Costa.
Logo no segundo minuto, o Brasil partiu para cima. Douglas Costa cortou pelo meio, passando para Casemiro, foi para os pés de Jesus e Paulinho tentou competir com o jogador costa-riquenho, mas Navas deu um chute, mandando a bola para frente novamente. Fagner estava pronto para receber, mandou para Neymar, mas Navas pegou a bola antes, esbarrando em Neymar e caiu no chão, sentindo alguma coisa.
- E voltamos bem... – Bufei, respirando fundo.
Paulinho recebeu a bola e passou para Douglas, ele passou para Fagner, em seguida para a área, onde Jesus e Neymar o esperavam. Jesus cabeceia e Navas pula, mas a bola vai para trave. Paulinho corre atrás da bola novamente, Coutinho tenta o chute, mas é desviada pela Costa Rica.
Neymar cobra o escanteio, mas não tem efeito. Em seguida, a bola surge nos pés de Marcelo, sendo passada por Neymar que toca para Marcelo, mas chuta muito forte, indo para a linha de fundo, longe do gol. Neymar tentou outro logo em seguida, recebeu a bola de Paulinho, mas chutou muito forte, mandando para cima e para fora.
- Ah, Jesus! – Bati a mão na mesa.
Paulinho passou para Douglas Costa, que devolveu para Paulinho que deu um toque para Coutinho que meteu a bola no meio do gol... Direto nas mãos de Navas. O goleiro costa-riquenho mandou a bola para o outro lado do campo, forte demais, mas Alisson estava em posição. Pegando-a no alto.
Neymar caiu novamente e só vi a mão dele em direção ao árbitro e meu sangue começou a ferver. Se não fosse o suficiente, ele ainda se levantou, o juiz reclamou da sua reclamação e só consegui ler “vai tomar no cu” vindo do mesmo e eu respirei fundo.
- Calma, . Calma! – Falei, enquanto digitava o lance em meus registros.
A Costa Rica cobrou escanteio, Jesus mergulhou em cima da bola, tirando-a de cabeça, Coutinho demorou para chegar na bola e a Costa Rica tentou outro ataque, mas foi desviada por Casemiro. Eles tentaram um terceiro, mas o atacante caiu antes de chutar a bola e Marcelo a mandou para fora.
- Ah, meu coração! – Passei a mão no peito. – Sem tomar gol, Alisson. – Respirei fundo.
A bola cruzou, mas não conseguiram dominar, passando direto para o outro lado. Jesus tentou recuperar a bola, mas preferiu manter o jogo mais para o centro do campo. Em um momento focou em Tite e o vi gritando com os jogadores, na leitura labial ficou claro um “não fala mais”. Cocei a testa e segui anotando.
Esse segundo tempo seria longo.
Coutinho passou a bola para Neymar que bateu para o gol com a perna esquerda, mas foi na mão do Navas. O costa-riquenho estava indo muito bem. Logo em seguida Paulinho fez uma falta, tentando um chute por cima, mas encontrando as costas de um adversário no meio do caminho. A falta foi dada, mas a bola já tinha saído pela linha de fundo, voltando nas mãos de Navas.
A Costa Rica conseguiu fazer a bola atravessar, ela veio pela lateral esquerda, foi chutada no gol, Miranda a cabeceou para o lugar errado e mandou na cabeça do adversário. Miranda a tirou novamente, fazendo com que Casemiro e o costa-riquenho lutassem pela mesma, bateu na cabeça de outro costa-riquenho antes de Alisson subir e meter um soco na bola, mas já estava impedido.
- Porra, Alisson! Não me assusta assim! – Relaxei os ombros, voltando a me sentar no banco, que eu notei que já estava bem afastado de mim.
Substituição. Sai Paulinho, entra Firmino.
Brasil tentou um ataque novamente, mas Neymar tropeçou antes de conseguir fazer a finalização. O escanteio foi cobrado pelo time do Brasil, mas foi desviado, fazendo vários jogadores caírem pelos cantos, mandando a bola de volta para o meio do campo.
Escanteio para o Brasil, Casemiro pula e cabeceia, mas vai direto para as mãos de Navas, me fazendo morder meu lábio inferior, eu estava começando a sentir o gosto de sangue já. Coutinho passa a bola para Jesus, mas Neymar a rouba no meio do caminho e chuta em direção ao gol, aproveitando a pouca defesa costa-riquenha... Ela vai para fora.
- Não é para ser. Meu Deus, dá uma força! Tá precisando. – Fechei as mãos em punhos novamente, respirando fundo.
Coutinho correu para tentar uma chance, mas Navas saiu do gol para pegar a bola. Neymar tocou após uma falta feita em cima dele e faz outra tentativa, mas a defesa estava na frente, batendo nas pernas deles. Escanteio.
Neymar cai na área, mas o juiz finge que nem vê, eu não posso comentar, pois não vi o lance, mas estava achando um pouco demais as quedas de Neymar. Teria que conversar com ele e com Tite sobre isso. Já tinha vários memes sobre isso e não poderia ter mais.
Coutinho fez outra tentativa, mas vai parar nas mãos de Navas.
Douglas Costa recebeu a bola, deu uma arrancada e passou para Jesus. Ele não consegue e manda para Jesus, mas só vi Neymar parando um lance e cair quase em câmera lenta para trás...
- Pênalti! – Gritei, ficando de pé.
A Costa Rica inteira foi em cima do juiz e o comentarista do SAP falava muito rápido que eu não consegui entender. Passou o replay e deu para ver que o braço esquerdo do zagueiro pegou no peito de Neymar, fazendo-o cair com uma reação exagerada, na minha opinião.
O juiz seguiu para a câmera do VAR e bati as unhas na mesa novamente, vendo-o voltar e anular o pênalti.
- Porra, Neymar! – Me sentei com força, puxando os cabelos. – Reação exagerada, é claro que ele não ia dar.
Deveria ser pênalti, é clara a puxada do costa-riquenho no peito do Neymar, mas a queda dele em câmera lenta, com os braços abertos, certeza que foi aquilo que tirou a chance de gol real do Brasil. Além da reação debochada dele quando foi anunciado que não seria dado o gol.
10 minutos mais acréscimos para o fim.
- Para de reclamar, Neymar! – Falei após ele se aproximar do juiz em outro lance.
Neymar passou a bola para Marcelo e mandou de volta para Neymar, Miranda recebeu a bola e a passou para Marcelo que tentou um chute, mas o costa-riquenho estava em sua frente e se sentou no chão por um momento, com a mão na barriga.
Neymar correu em direção à bola e o juiz parou o jogo, fazendo o camisa 10 do Brasil socar a bola com força, me fazendo colocar as mãos nas têmporas. Eu estava vendo que ia matar alguém hoje. O juiz se aproximou do mesmo e estendeu o cartão amarelo. Coutinho se aproximou do juiz para reclamar e levou o dele.
- Porra! Porra! Porra! – Abaixei o rosto, pegando a garrafa vazia de isotônico e a apertei em minha mão.
A bola rolou novamente e Marcelo tentou um lance para a área, mas Navas a defendeu com um soco para lateral, devolvendo a bola para o meio do campo. Outra falta foi feita em cima de Douglas Costa, ao ter um pé colocado em sua frente, mas o juiz deixa rolar. A bola volta novamente para Marcelo que faz o chute, mas a bola foi desviada por um adversário.
Em um dos replays, apareceu Neymar conversando com Navas e eu só consegui pedir para que Navas abrisse o gol, só um pouquinho. Mas pela cara do Navas, dava para notar que até ele não estava gostando da reação exagerada de Neymar.
- A namorada dele é atriz. – Gritei, meio sem pensar, mas digitei rapidamente para o pessoal do Rio, se quisessem preparar o meme.
Douglas tentou um ataque mais uma vez, passando para Neymar, que passou para Fagner, que teve o chute desviado pelo adversário, mas que voltou para o mesmo, chutando para o Neymar, mas que parou na barreira costa-riquenha.
Marcelo tenta novamente, passando para Douglas, que rebate para Coutinho que faz a tentativa, mas vai lento e chega com folga nas mãos de Navas. Brasil tentou chegar novamente, mas a bola escapou pelo fundo novamente.
Coutinho tentou novamente, passando para Douglas, mandando para trás para Casemiro que fez a finalização, parando nas mãos de Navas novamente.
- Não é para ser! – Apoiei os cotovelos na mesa, puxando a ponta dos cabelos.
Outra falta foi dada e vi Neymar no chão pela milésima vez naquele jogo com um jogador da Costa Rica. Ele já se levantou reclamando novamente e a bola lhe foi entregue, mas o juiz o parou. Marcelo também, a poucos centímetros dele também tinha outro jogador ao seu lado.
Neymar se aproximou do segundo jogador caído e o juiz tentou afastá-lo, Neymar se afastou antes, mas disse claramente “don’t touch me”, eu só consegui bufar. A equipe da Costa Rica entrou e eu só consegui olhar para o tempo, 42 minutos, caramba!
No replay foi mostrado uma entrada violenta de Neymar em cima do jogador caído número um, o que eu acharia ser digno de cartão. E depois de Marcelo que bateu a mão na cara do segundo jogador, que me pareceu ser sem querer. Logo em seguida Tite foi mostrado reclamando também.
Thiago Silva se aproximou do segundo jogador para ajudá-lo a se levantar e Neymar estava perto, dando um close em seu rosto e o sangue ferveu quando li o que ele disse: “és tu madre, hijo de puta, vai tomar no cu”. Eu bati a tela do notebook com força e dessa vez eu achei que tinha quebrado. Olhei para algo próximo a mim e vi as coisas de Alisson, mas respirei fundo antes de tocar em alguma coisa e mordi as costas da minha mão, soltando a respiração mil vezes.
Neymar merecia uma expulsão depois daquilo, o tal do fair play sumiu naquela hora, mas Thiago o afastou e a bola foi para o chão novamente. Neymar saiu com a bola, mandando uma bola por cima, mas Navas socou a bola com as duas mãos, indo por cima de Casemiro, desmontando-o do chão, Navas também estava caído. Neymar estava puto para variar e eu só respirei fundo.
Tite foi mostrado no banco e também falando “porra” e outras palavras indefinidas.
- Caramba! Caramba! Caramba! Dai-me paciência, porque se me der forças eu mato um.
Seis minutos de acréscimo.
Respirei fundo, me levantando e dando a volta na bancada, subindo na mesma e me sentando mais próxima a TV. Comecei a pensar na tabela... A gente voltaria para casa mais cedo.
Coutinho passou a bola para Marcelo que cruzou a bola, sendo cabeceada por Firmino. Jesus ficou preso na defesa, mas Coutinho tinha o centro livre para ele e chutou por baixo...
- GOL! – Gritei, pulando da bancada de joelhos no chão. – Porra! – Gritei, colocando até a mão no peito, sentindo o coração bater acelerado.
Os jogadores comemoraram com Coutinho de um lado, Alisson comemorou sozinho do outro lado e... Tite caiu na área de técnico, ao ser empurrado por Ederson e depois por Cássio, me fazendo começar a gargalhar sozinha, sentindo meu coração aliviar um pouco.
- Acaba logo essa porra, juiz. Agora quatro minutos é muito. – Falei ao ver a bola ser colocada no centro novamente.
Substituição. Sai Jesus, entra Fernandinho.
Respirei fundo, vendo o jogo voltar a andar, mas eu só queria que isso acabasse. Se contenta, galera. Para esse jogo, um tá bom. Firmino se aproximou da área, tentando um grande chute, mas a bola foi muito alta, saindo.
Escanteio para o Brasil. 20 segundos para o fim.
Douglas cobra, mas com um toquinho para Neymar que dá um chapéu nos dois costa-riquenhos que estavam esperando o escanteio, me fazendo esquecer por segundos que eu queria matá-lo.
10 segundos.
- Acaba essa porra logo! – Gritei para a televisão, mas vi que o lance estava voltando nos pés de Casemiro, em direção ao gol. – Acaba não! Acaba não! – Gritei novamente, vendo o lance se formar.
Casemiro passou para Fernandinho que tocou para Neymar, distraindo Navas e com um toquinho por cima, entrou lindamente o segundo gol do Brasil, me fazendo relaxar e deitar na bancada, sentindo meu coração aliviado.
- Essa foi sofrida! – Respirei fundo, sentindo minhas mãos suarem frio e passei a mão na testa, me sentando na bancada novamente.
A bola foi para o centro e o juiz apitou o fim de jogo. Neymar começou a chorar e eu respirei fundo.
- Agora chora, né?! – Balancei a cabeça. - Parabéns, galera, mas esse jogo foi do Navas.
Navas!
Saí correndo do vestiário, vendo a porta se aberta por alguns jogadores da reserva e eu andei um pouco mais pelo corredor, vendo o vestiário da Costa Rica. Os jogadores também começavam a voltar. Vi a pessoa que eu estava interessada se aproximar cabisbaixa e não contive a emoção.
- Navas! – Gritei para o mesmo, vendo-o olhar para mim. – Que grán juego! – Disse para ele que o fez dar um sorriso. – Tu fuiste maravilloso.
- Quién és tu? – Ele me perguntou.
- Trabajo para Brazil. – Mostrei a camisa. - Pero tu performace fue... – Balancei a cabeça. – Perfecta. Tu és mi man of the match de hoy. – Ele fez positivo com a mão e estendeu algo em minha direção.
- Gracias! – Ele sorriu. - Para ti! – Ele disse, me entregado suas luvas e entrou em seu vestiário, me deixando boquiaberta.
- Meu Deus! – Falei rindo e olhei para as mesmas, achando aquilo inacreditável.
Voltei para o vestiário do Brasil e notei várias coisas logo de cara. Primeiro era a celebração no vestiário, que permitia os jogadores se abraçassem sem camisa, rodando a mesma para cima. A segunda foi Douglas Costa sendo atendido com uma lesão, aparentemente, na coxa e Tite também sendo atendido, depois daquele tombo do primeiro gol.
Me aproximei das minhas coisas, desviando da comemoração e peguei minha mochila, apoiando-a com força na mesa, fazendo questão de chamar a atenção. Comecei a guardar meus materiais ali, enfiando-os com força no fundo da mochila e fechei a mesma, colocando-a nas costas. Peguei as luvas com uma das mãos e olhei para frente, vendo que a maioria das pessoas me encaravam.
- Conversaremos assim que voltarmos para Sochi. – Falei, respirando fundo. – Acho que todos precisam acalmar os ânimos. – Balancei a cabeça. - Os aguardo na sala de reuniões. – Balancei a cabeça e me retirei do vestiário, seguindo para o local de espera dos ônibus e joguei a mochila no chão, respirando fundo, só imaginando tudo que estaria na mídia em algumas horas.

Eu tomei dois remédios para dor de cabeça assim que entrei no ônibus que nos levaria para o aeroporto, para pegar o voo de volta para Sochi naquele dia mesmo. Eu preferi me isolar de todos no ônibus e no avião e, pelo menos, Bianca também compartilhava da raiva que foi aquele jogo.
Eu estava feliz pela vitória do Brasil. É óbvio que sim, eu não sou estúpida, mas eu estava na Rússia por outro motivo e teria o desprazer de cumprir o mesmo. Até com analgésicos, eu não consegui dormir, aproveitei para pegar o arquivo que eu tinha montado durante o jogo e comecei a organizar as informações que eu teria que repassar para eles. Toda a raiva que eu teria que passar para eles.
- Quero todos os jogadores e equipe técnica na sala de reunião em 10 minutos. – Falei assim que o ônibus parou em frente ao hotel em Sochi, pouco depois das 10 da noite.
Subi para meu quarto só para tirar um tempo para mim. Dar uma lavada no rosto, tirar a maquiagem antiga e tentar organizar meus pensamentos. Um tanto em vão. Juntei minhas coisas novamente e voltei para o primeiro andar, me vendo sozinha no elevador e nos corredores, e empurrei a porta da sala de reuniões, vendo-a apinhada de homens com caras de cansaço.
Passei pelo meio da mesma, somente ouvindo o clássico barulho dos meus saltos baterem sobre o piso e me coloquei atrás da mesa, apoiando a mochila em um canto, começando a tirar os eletrônicos. O som do notebook ecoou quando o coloquei na mesa, depois o iPad e depois cada um dos celulares. Apoiei as mãos na mesa, olhando para os 33 em minha frente e respirei fundo, pensando por onde começar.
- Eu só quero aqui os titulares da partida de hoje, as substituições, Cássio, Ederson e Tite. – Falei, tentando manter a suavidade na voz. – O resto pode ser retirar.
Todos os jogadores se entreolharam e quem eu pedi para sair, saiu, me fazendo respirar fundo.
- Vamos lá! – Falei, conectando o cabo do projetor em meu celular e esperando que o mesmo carregasse. – Eu confesso que não sei nem por onde começar. – Falei, passando a mão do rosto. – Acho que vou começar pelas coisas boas. – Fiz uma pausa. – Alisson. – O chamei que ergueu o rosto para mim. – Parabéns! – Tentei falar calmamente. – Só três bolas chegaram a você em 99 minutos de jogo e você as defendeu muito bem. – Ele assentiu com a cabeça, dando um pequeno sorriso. – Só a primeira que eu acho que você podia ter ido mais em cima, para não fazer meu coração quase parar. – Ele deu uma risada fraca e assentiu com a cabeça. – Coutinho, Neymar. – Chamei os dois. – Lindos gols. – Eles assentiram com a cabeça. – Sei que o jogo foi difícil, Navas defendeu todas as finalizações de vocês e fez um jogo bonito. O gol podia ter vindo antes? – Ponderei com a cabeça. – Podia, mas não era para ser. – Respirei fundo. – Parabéns.
- Obrigado. – Eles falaram quase juntos e eu respirei fundo.
- Jesus. – O chamei, que ergueu a cabeça. – Seu gol também foi bonito, mas obviamente impedido. – Ele assentiu com a cabeça. – Mas foi intencional, o costa-riquenho percebeu sua presença e deu uns passos para frente. Mas teria sido bonito. – Ele fez um positivo com as mãos, sorrindo. – Tite. – Virei para o treinador. – Você virou meme! – Falei e ele riu, escondendo o rosto com as mãos e eu coloquei o gif que já tinha sido recebido em meu celular, dele caindo diversas vezes. Os jogadores riram e aplaudiram Tite que manteve seu rosto escondido. – Só acho que você deveria ter caído dentro da área, quem sabe não validavam um pênalti nosso, para variar? – Eles riram e eu respirei fundo. – Você está bem?
- Eu fisguei a coluna. – Ele comentou e eu balancei a cabeça.
- Ê, Adenor! – Brinquei. – Não está mais tão jovem, não é? – Ele movimentou a mão e eu ri. – Cássio e Ederson. – Chamei os dois. – Maneirem na comemoração da próxima vez, pode ser? – Eles riram e eu sorri. – Com o técnico não, né?!
- Desculpa! – Ederson falou baixo e eu ri.
- Agora vamos para a parte ruim! – Respirei fundo. – Creio que todo mundo viu as partes ruins e sabem que a imprensa vai querer comer o cu de vocês amanhã, não é?! – Olhei para eles. – Primeiro que eu vou voltar a falar daquela questão de mira. O gol tem dois metros e 44 de altura e sete metros e 32 de largura. Vocês estavam vendo o gol muito maior do que era. Metade dos nossos problemas foi mira errada e a outra metade foi o Navas na frente do gol. – Mordi meu lábio inferior, sentindo-o arder. – Segundo, falta de fair play. – Respirei fundo. – Eu vi que não foi fácil, eu vi os replays, e eu também vi todos comentando. – Mudei o gif, mostrando o do Neymar xingando o costa-riquenho. – Essa não foi a única. – Falei diretamente para Neymar. – Teve socos na bola, vários xingamentos, falando “não me toque” para juiz, falando “filho da puta, vai tomar no cu” em três línguas diferentes na mesma frase para um adversário. Briga com o seu capitão por ele passar a bola para o time adversário, briga com ele por te repreender, cartões amarelos por isso, cartões amarelos por reclamações. – Apoiei as mãos na mesa. – Assim não dá, gente! – Cruzei os braços. – Palavras indelicadas vindo de você também, Tite. – Apontei para ele. – Hoje vocês deram um prato cheio para a imprensa e eu tenho pena da Bianca amanhã. Espero que ela tenha ido dormir, desligado o celular, porque ela vai precisar. – Suspirei. – Isso não é exemplo que se passe. Além das quedas, não é mesmo? Eu cansei de contar. – Puxei a respiração. – Você sabe por que a gente perdeu aquele pênalti, Neymar? Honestamente? – Olhei para ele que não respondeu. – Pela sua reação exagerada. – Falei. – Se você tivesse só caído, a gente teria aberto o placar muito antes. – Suspirei. – Não pode continuar assim. – Passei o olhar por todos. – Sem quedas desnecessárias, sem drama, sem choro. Parem de fazer firula. – Puxei o ar. – Vocês estão aqui para jogar bola, então vão jogar bola. – Engoli em seco. – A vantagem? A Costa Rica está fora da Copa do Mundo por perder dois jogos, mas ainda temos a Sérvia para enfrentar. Então, ajustem a postura de vocês em rede internacional e, por favor, não arranjem encrenca. – Suspirei. – É isso, podem ir! – Falei.
- Espera! – Tite falou se aproximando de mim. – Amanhã teremos treino recuperativo para os titulares e treino normal para os reservas. – Ele falou. – Podem ir.
Os jogadores se levantaram quietos e eu respirei fundo, voltando a arrumar minhas coisas aos poucos. Tudo isso para procurar meu celular.
- Tá tudo bem? – Tite se aproximou. – Você me parecia muito puta depois do jogo.
- E eu estava. – Respirei fundo. – Eu precisava espairecer, do contrário, eu ia sair batendo neles, de verdade. – Ele riu fraco.
- Hoje foi intenso. – Assenti com a cabeça.
- Mas mesmo assim, Tite. O Neymar já não é muito bem-visto lá fora. Ele é o deus ou o diabo. Com esse comportamento, só piora. – Suspirei. – Não dá, por favor. Tenta controlar isso. – Ele assentiu com a cabeça.
- Pode deixar. Vou me controlar também. – Assenti com a cabeça.
- Vai falar com Alisson? – Ele perguntou e eu ri fraco, balançando com a cabeça.
- Amanhã! – Falei. - Quando eu não quiser matar alguém. – Tite riu e me deu um rápido beijo na bochecha.
- Boa noite.
- Boa noite. – Retribuí, vendo-o sair da sala de reunião.

- Olha ela! – Geromel comentou quando eu apoiei nas grades do campo, desviando meu olhar do celular.
- Fala aí, gente? – Falei para o pessoal da reserva.
- Veio dar uma olhada nos reservas, é?! – Firmino perguntou e eu ri.
- Só para vocês não acharem que eu só dou bola para os titulares. – Ergui as mãos e eles riram, fazendo caretas e vi uma bola seguir em minha direção, pegando-a rapidamente, mas vi o celular cair na grama do outro lado.
- Não é por nada não, mas se o Alisson desse bola para mim, até eu daria bola só para ele. – Marquinho falou e eu arregalei os olhos.
- Uh! – O pessoal falou e eu joguei a bola em direção a Marquinhos que teve dificuldade em pegar.
- Vocês são... – Mostrei o dedo do meio para eles que riram.
- Só te enchendo o saco. – Balancei a cabeça.
- Estou vendo. – Ri fraco. – Estou sabendo que tem até uma aposta rolando. – Eles riram. – Vai, quem tá ganhando?
- 34 pessoas acham que vocês vão ficar ainda aqui na Rússia e as outras 10 acham que vocês aguardarão o fim da Copa. – Casemiro falou e eu revirei os olhos.
- E quanto é a aposta? – Perguntei.
- 20 reais! – Ederson falou e eu revirei os olhos.
- Um dia eu juro que eu vou matá-los. – Falei e Renato Augusto se aproximou, pegando meu celular e me entregando.
- Mata não, a gente gosta tanto de você. – Revirei os olhos.
- Eu sei! Aposto que se não gostassem, nada disso estaria acontecendo. – Ele riu.
- ! – Virei o rosto para o lado, vendo Fernandinho se aproximar por fora do campo. – Você viu a Mariana?
- Quem? – Perguntei.
- Minha filha mais nova, você a conheceu naquele dia...
- Ah sim! – Balancei a cabeça. – Perdoa, é muita criança. – Ele riu. – Mas não vi, não. Por quê? – Franzi a testa.
- Ela sumiu...
- Você perdeu uma criança no centro de treinamento? – Bati a mão na testa. – Ah, Fernandinho! – Respirei fundo. – Olha no outro campo, eu vou ver se ela está lá dentro.
Saí correndo do campo, entrando na parte fechada do CT e olhei para o corredor, vendo-o vazio. Andei pelo corredor, procurando-a na sala de coletiva, de imprensa, na antessala, banheiros, até forçando algumas portas que estavam trancadas.
Entrei na porta do fundo, na academia e encontrei alguns jogadores fazendo um treino mais leve e olhei para os lados, acenando rapidamente para Jesus, Marcelo, Fagner... Fiz o caminho em “L” da academia e respirei aliviada ao ver a pequena Mariana andando por ali.
- Achei você! – Falei, me aproximando da mesma e pegando-a no colo, vendo-a rir. – Tá fugindo, é?! – Assoprei sua barriga, ouvindo-a gargalhar. – Vamos, papai tá te procurando. – Me virei, me assustando ao ver Coutinho, Alisson, Miranda e Thiago Silva nas bicicletas, no fundo a academia. – Oi, gente! – Falei, me sentindo levemente envergonhada e eles só sorriram.
- Oi, ! – Eles falaram quase juntos e Mariana se movimentou em meu colo e eu acenei, sentindo meu rosto ferver.
- Até mais! – Falei, saindo dali rapidamente.
Devolvi a cria de Fernandinho, vendo-o totalmente aliviado ao receber sua filha risonha e eu pedi para que ele não perdesse mais uma criança naquele lugar gigantesco. A sorte era que tinha seguranças por todos os lados, mas vai saber.
Eu acabei subindo para meu quarto para me arrumar um pouco. Os jogadores não teriam folga após esse jogo, então combinamos de fazer um almoço diferente para todos na hora do almoço e relaxar na parte da tarde, para voltar com tudo no domingo.
Vi as luvas de Navas em cima da minha escrivaninha e pensei por um momento, pegando-as e guardando no bolso do meu moletom. Subi para a cobertura com alguns jogadores perdidos e vi a maioria das pessoas já reunida por ali e o papo às alturas. Segui direto para o buffet e vi uma bela de uma paella caipira ali, me fazendo sentir saudades de casa da minha mãe só com o cheiro.
Me servi um pouco da mesma e peguei um refrigerante, me virando de frente para as mesas. Passei o olhar pelas mesmas rapidamente e encontrei Alisson. Ele estava na ponta de uma mesa com Ederson, Cássio e outros jogadores, por sorte do destino, a ponta estava livre.
Criei coragem e segui até a mesma, percebendo seu olhar acompanhando meus movimentos e apoiei minha bandeja no canto da mesa, puxando a cadeira e me sentando em sua diagonal. Fingi que não percebi os olhares que foram me dados na mesa e aproveitei para abrir meu refrigerante e me servir um pouco do mesmo.
- Com licença! – Cássio, que estava na sua frente, falou e se levantou, me fazendo esconder um sorriso.
- Oi! – Falei para Alisson, erguendo o olhar para ele.
- Oi. – Ele respondeu e eu apoiei os cotovelos na mesa, apoiando meu rosto na mesma, olhando para ele. – Tá tudo bem? – Ele perguntou.
- Sim. – Sorri, mordendo meu lábio inferior. – Agora está.
- Está avermelhado. – Ele se referiu a meus lábios e eu passei a ponta do dedo no mesmo, observando o mesmo.
- Foi do jogo ontem. Vocês me deixaram nervosa. – Ele assentiu com a cabeça.
- Desculpe. – Ele disse e eu ri.
- Você foi o que teve menos culpa. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Deixa eu te mostrar algo. – Coloquei as mãos nos bolsos, tirando as luvas de Navas e apoiei na mesa.
- Conseguiu luvas, afinal? – Ele perguntou, pegando-as.
- São do Navas. – Falei e ele olhou para mim. – Ele me deu depois do jogo.
- Uau! – Ele falou, virando-as para todos os lados. – Como você conseguiu? – Dei de ombros.
- Às vezes falamos algumas coisas legais para outras pessoas e acabamos recompensados. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça. – Eu sei que não estou merecendo, mas eu gostaria de um par das suas também. – Ele riu fraco, abaixando a cabeça e logo me encarando de novo.
- Quando você merecer. – Ele falou e rimos juntos. Sustentei o olhar por um momento, me perdendo em seus olhos e voltei a olhar para meu prato, com um largo sorriso no rosto, comendo devagar e aproveitando a companhia.




Continua...



Página Inicial | Próximos Capítulos

Nota da autora: Bem-vindos ao capítulo 6, o capítulo que representa o jogo mais foda de toda essa Copa do Mundo! A bola simplesmente não entrava! Não era culpa do Brasil, só que o Navas é um goleiro muito foda e estava bem preparado para nos receber. Por sorte, as bolas entraram e as coisas ficaram melhores para todo mundo!
E a treta com as famílias dos jogadores? O mais trágico é que as coisas mencionadas realmente aconteceram. E o Alissinho com a 'namorada'? Só o Tite para consertar essas burradas dela! Mas acontece!
Espero que estejam gostando, não se esqueçam de comentar que em breve tem mais! <3
Para novidades sobre essa história ou outras, entre no meu grupo do Facebook ou na minha página de autora,
Beijos, beijos.



Já começou a Copa América? ♥

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.



comments powered by Disqus