FFOBS - Passaporte Rússia, 2018, por Flávia Coelho

Finalizada em: 17/11/2018

Capítulo 7 – Brasil x Sérvia, Agora Vai!

- Então, você achava que eu namorava? – Ele comentou e eu balancei a cabeça, rindo em seguida.
- O que você queria que eu pensasse? – Coloquei as mãos no bolso de trás da calça. – Você estava lá, sorridente, com a sua filha e uma mulher linda do seu lado... Queria que eu pensasse o quê? – Ele gargalhou ao meu lado, abrindo o portão do centro de treinamento e eu passei pelo mesmo.
- Você poderia ter me perguntado. – Ele deu um sorriso de lado e eu suspirei.
- Eu pensei sobre isso. – Fiquei de frente para ele, andando de costas pelo corredor. – Mas eu não sabia como fazer essa pergunta sem parecer muito ciumenta ou grossa.
- Fico imaginando como seria isso. – Ri fraco.
- Oh não, isso não é algo que você mostra quando está conhecendo alguém. Provavelmente só depois do terceiro mês de namoro. – Ele riu ao meu lado e saímos para a área do campo.
- E como você descobriu? – Ele franziu a testa. – Apesar de que não sei como você não descobriu antes. – Suspirei.
- Eu achava que era algo novo, na sua ficha de pesquisa, que é tipo um briefing de cada jogador, estava como solteiro e de filiação só tinha seus pais e sua filha. – Dei de ombros.
- Então, quem te contou? – Ele perguntou. – Ederson? Cássio? Thiago? – Ri fraco, olhando para ele por alguns segundos.
- Tite. – Ele franziu a testa entrou no campo de treinamento e eu segui do lado de fora, beirando a grade.
- Ele? – Dei de ombros, me apoiando na grade há poucos metros do gol.
- Você sabe da aposta que está rolando, não sabe?
- Aquilo é sério? – Ele falou enquanto colocava as luvas. – Eu ouvi o pessoal falando, mas achei que fosse brincadeira.
- Pelo jeito é sério e todo mundo está envolvido, menos eu, você e os dirigentes. – Ele apoiou os braços na grade.
- Eles são loucos, não são? – Arqueei os ombros, balançando a cabeça.
- Vai saber. – Suspirei. – Mas e então? – Apoiei os braços na grade também, sentindo-o tocar nas laterais do meu corpo com as luvas. – Qual que vai ser? – Perguntei e ele ergueu o rosto para mim, com um sorriso nos lábios.
- Quais são as opções? – Me aproximei mais da grade, arqueando o corpo.
- Depois ou durante a Copa. – Ele suspirou, assoprando o ar para cima.
- Eu estou muito tentado ao durante, mas eu gosto de ser bem respeitoso no meu trabalho. – Assenti com a cabeça.
- Eu pensei a mesma coisa. – Suspiramos juntos e rimos.
- Quantos jogos ainda faltam? – Ele cochichou em meu ouvido e eu ri.
- Esperando que dê tudo certo, cinco. – Ele fez uma careta, rindo em seguida.
- Vamos ver. – O empurrei levemente.
- Lembre-se que depois do fim da Copa vamos para lados diferentes. – Ele jogou a cabeça para trás.
- Ah. – Ele gemeu baixo. - Que consigamos chegar à final, então. – Ele me fez rir.
- Deus te ouça. – Falei. – Agora vai! Vai treinar para que possamos ficar até dia 15 aqui. – Ele assentiu com a cabeça, dando um rápido beijo em minha mão e se virou.
- Ah, caramba! – Ele falou ao ver Ederson atrás dele.
- Porra, Ederson! – Falei também me assustando. – O que você quer? – Passei a mão no rosto.
- O povo quer saber se a aposta já precisa ser paga ou não. – Alisson virou para mim e reviramos os olhos quase juntos.
- Deus me ajude! – Alisson falou, acenando com a mão. – Até mais. – Pisquei para ele, vendo-o se afastar em direção ao gol.
- E aí? – Ederson perguntou e eu suspirei.
- Me empresta essa bola? – Perguntei, apontando para a bola em sua mão e ele a jogou para mim. Ajeitei a mesma na mão, jogando em sua cabeça, vendo-o fazer uma careta.
- Ah! Ainda não? – Ele perguntou e mostrei o dedo para ele, ouvindo-o rir. – Não, galera! – Ele gritou para o pessoal e repeti as palavras de Alisson: “Deus me ajude”.
- Fagner! – Gritei para o mesmo. – Coletiva. Agora! – Falei pausadamente, saindo por fora da grade, vendo-o correr em minha direção.

Desliguei a televisão depois da Arábia Saudita ter ganho de dois a zero contra o Egito e, mesmo assim, ser eliminada junto da mesma pelo grupo A. Dei aquela rápida olhada na programação do dia.
Já eram sete da noite, tudo que eu precisava fazer naquele dia já estava feito, checado e repassado para todo mundo. Me levantei da escrivaninha e segui para a janela em “L”. O dia ainda estava claro, obviamente, o sol só começaria a se pôr dali uma hora, mais ou menos.
Observei o caminho que os jogadores faziam para voltar do campo de treinamento, mas vi ao longe alguns pontos azuis e verdes no campo. Ergui o relógio novamente e já era para o treino ter finalizado. Ponderei um pouco com a cabeça e peguei meu All-Star na lateral da cama e o calcei.
Abaixei a tela do notebook, coloquei meu celular no bolso e desci em direção ao centro do treinamento. Enquanto fazia o caminho, observei alguns membros da equipe técnica subirem com seus materiais, incluindo Taffarel, o treinador de goleiros. Acenei para eles rapidamente e pensei se não poderia estar rolando uma festinha a qual eu não fui convidada.
Passei rapidamente pelo corredor interior do Centro de Treinamento e saí para o campo pela porta principal, franzindo o rosto. Tirando os jogadores correndo de um lado para outro no campo, não tinha mais ninguém. As arquibancadas estavam vazias, os jornalistas tinham ido embora e só Tite e Rodrigo estavam ali, mas acompanhando de fora, apoiados na grade.
- O que está acontecendo que ninguém me informou? – Perguntei, vendo Tite e Rodrigo se virarem para mim.
- Aí, Alisson, agora dá para fazer dois times de 12. – Tite gritou e percebi Alisson do outro lado o campo, sentado sozinho.
- O que está acontecendo? – Perguntei, apoiando na grade também, ao lado de Rodrigo.
- Uma pelada inofensiva antes da viagem de amanhã. – Tite comentou e eu olhei para o jogo, onde parecia que ninguém estava muito inofensivo assim e os goleiros faziam mergulhos fortes para defender.
- Inofensivo? – Franzi a testa.
- Eu estou aqui para garantir que ninguém se machuque. – Rodrigo falou e eu não comentei nada, afinal, ele era o médico.
- Ei! – Alisson falou, após atravessar o campo.
- Ei! – Falei, sentindo-o dar um rápido beijo em minha bochecha.
- Foi cortado? – Brinquei e ele riu.
- Não, não! Acharam que eu estava treinando demais e que deveria dar espaço para outros.
- Talvez! – Fui honesta. – Não quero ninguém precisando te substituir. – Ele riu, afirmando com a cabeça.
- Vem, ! – Olhei para o campo, vendo o jogo parado e que Marcelo tinha me chamado.
- Que “vem”, Marcelo? Vou nada não. – Falei rindo, me afastando um pouco da grade e estendendo as mãos na mesma.
- Ué, não era você que disse que era goleira? – Jesus perguntou, parando ao lado do número 12.
- Eu fui goleira! – Respondi. – Além de que eu não jogava com profissionais.
- A gente pega leve, vai! – Neymar parou ao lado do trio e eu revirei os olhos.
- Vocês são loucos! – Falei e Alisson olhou sugestivamente para mim.
- Vai lá! – Ele falou. – Você está me devendo alguns lances.
- Eu não estou te devendo nada. – Falei rindo. – E outra, do que você está falando?
- Teresópolis? – Ele falou em sinal de pergunta.
- Ah, fica quieto! – Falei rindo. – Você estava me provocando, eu só te provoquei de volta. – Tite e Rodrigo riram ao meu lado e Alisson ficou avermelhado.
- Vai! – Ele falou. – Uma defesa. – Ele me encarou com seus olhos verdes e eu respirei fundo. – Eu prometo que não peço para o Neymar bater.
- Poxa, estava pronto para me vingar daquela reunião. – Ele comentou e rimos juntos.
- Vai lá. – Tite comentou.
- Mano, vocês estão loucos. Sabe quanto tempo faz que eu não jogo assim?
- Acho que eu já ouvi essa história. – Alisson brincou, olhando para o além e eu respirei fundo. – Vai! – Ele falou. – Faça uma defesa e você pode sair daqui.
Ponderei por alguns segundos e vi que tinha certa expectativa por aquele momento. Internamente eu estava morrendo de vontade, mas externamente era como se eu estivesse na quarta série e fosse jogar com o pessoal do ensino médio... Ou pior.
- Você chuta! – Falei para Alisson, começando a amarrar meus cabelos e a tirar meu relógio e pulseira.
- Isso! – Ele e outros jogadores comemoraram e eu ri, balançando a cabeça.
Entreguei meus acessórios, crachá e celular para Tite e segui para dentro da grade, vendo os jogadores começarem a se afastar do centro do campo e Alisson me seguiu até o gol. Eu só conseguia pensar nas boladas que eu levaria do meu futuro-possível-namorado ou no vexame em não defender nada.
Não era inteiramente verdade que eu não jogava desde a época da faculdade. Às vezes eu encontrava algumas amigas dos tempos antigos e batia uma bola na quadra do condomínio ou até na praia, quando conseguíamos nos encontrar, além dos encontros de família que sempre acabava em pelada.
Mas estávamos falando dos 23 melhores jogadores do Brasil. Da Seleção Brasileira. Eu já tinha visto Alisson fazer alguns gols, algumas habilidades, mas eu nunca tinha visto em lance livre, como seria ali.
- Imagino que use G. – Ele falou, me estendendo um par de luvas pretas e eu respirei fundo, soltando o ar lentamente.
- Estudando o tamanho das minhas mãos? – Perguntei, com um pequeno sorriso no rosto e ele somente riu.
- Pode ser da marca de pênalti? – Ele perguntou, se afastando de costas, enquanto eu ajustava as luvas em minhas mãos. Eu estava nervosa, as pontas dos dedos estavam geladas e eu sentia o suor escorrer por minhas têmporas.
- Só pega leve, ok? – Falei, travando as luvas e respirei fundo, olhando rapidamente em volta, estudando o tamanho do gol, da área e a distância da bola até mim. Esse primeiro campo era reduzido, mas mesmo assim, fazia tempo que eu não jogava nos padrões do futebol.
- Pode deixar! – Ele falou e os jogadores ficaram para trás da meia lua, mas todos atentos ao mico que eu pagaria ali. Acho que alguns até queriam ver isso. – Pronta? – Ele perguntou e eu puxei um pouco da calça jeans para cima, batendo as mãos uma com a outra. Tudo aquilo estava errado.
- Alguém filma isso, pelo amor de Deus. – Falei e ele riu.
- Pode deixar! – Alguém respondeu e eu só olhava para Alisson.
- Quando quiser. - Falei e ele colocou a bola na marcação e deu três passos para trás.
Alguém apitou e eu respirei fundo, tentando manter a atenção na bola e não em Alisson. Ele deu uma rápida corrida, chutando a bola, fazendo-a voar em direção ao centro do gol e eu não precisei nem me mexer, a bola se encaixou em minha mão, na altura dos meus olhos. Alguns olharam surpresos e outros aplaudiram.
- Fácil demais. – Falei, devolvendo a bola para Alisson.
- Estou pegando leve. – Ele falou e eu ri.
- Ok, aumenta o nível. – Dei uma girada no corpo, ouvindo alguns ossos estralarem e voltei à posição, vendo Alisson se afastar.
Esfreguei uma mão na outra e olhei para seus olhos rapidamente, tentando estudar para que lado ele chutaria. Apitaram novamente e ele fez o chute, fazendo a bola vir rasteira pelo meu canto direito e eu somente estiquei a perna direita, dando uma bicuda na bola, que voltou para o meio do campo, e eu cai de bunda no chão com o impacto.
- Ok... – Ele falou, recebendo a bola novamente, queria sorrir por ele estar impressionado, mas queria manter a concentração. – Aumento mais um pouco?
- Vamos lá! – Falei, movimentando as mãos, sentindo a ponta dos dedos começarem a suar e soltei o ar levemente pela boca.
O apito foi soado e eu sabia que viria algo um pouco mais difícil do mesmo. Ele chutou a bola mais forte dessa vez, fazendo-a ir para o canto esquerdo do gol, o lado que não era meu forte. Eu pulei para o mesmo lado, pegando a bola com o peito, enquanto abraçava a mesma, apoiando o queixo.
- Caramba! – Ouvi alguém falando e me ajoelhei no gramado, jogando uma bola rasteira para Alisson, mas ele estendia a mão para mim, me ajudando a levantar.
- Tá perdendo a graça. – Ele falou e eu ri, sentindo a respiração um pouco mais forte. – Você está me enganando. – Ele se afastou, voltando para a marca de pênalti.
- Acho que nem ela sabe do potencial dela. – Ouvi Tite falando e dei uma risada fraca.
- Vamos ver! – Falei, batendo as mãos novamente e olhando para Alisson.
Apitaram e Alisson chutou para esquerda e por cima. A bola deveria fazer uma parábola e entrar atrás de mim pelo alto. Mas eu não ia deixar. Pulei para o mesmo canto da bola, estendendo a mão para o lado e senti a bola bater na ponta dos dedos e desviar, e eu caí no chão logo em seguida, encolhendo o corpo para tentar reduzir o impacto.
- Caralho! – Reconheci a voz de Cássio e sentei no gramado, vendo minha blusa azul escura com folhinhas de grama colada na mesma.
- Eu estou abismado! – Alisson falou me estendendo as mãos e eu me levantei, com um largo sorriso no rosto, mas visivelmente cansada. – Mais uma? – Ele perguntou e eu ri.
- Agora eu gostei da brincadeira, né?! – Falei, voltando a minha posição e ele a dele.
Passei a luva rapidamente pelo rosto, sentindo algumas folhas no mesmo e centralizei novamente. Alisson se afastou um pouco mais e eu sabia que a bola viria por cima, para balançar com as estruturas. Alguém apitou e ele seguiu em direção à bola, chutando a mesma para o alto e para o centro do gol. Eu pulei, esticando a mão direita para a cima, sentindo a bola bater nas pontas dos dedos e sair por cima. Meu corpo arqueou para trás e eu tentei desviar, caindo para o lado, mas o baque foi inevitável, me deixando no chão.
- Porra! – Os jogadores comemoravam, algumas pessoas batiam palmas, mas eu estava quebrada, literalmente, no chão.
Eu sentia minhas costelas e meu peito doer. Fazia anos que eu não dava uma dessa. Senti uma sombra quando Alisson se ajoelhou em minha frente e eu apoiei a mão no chão, me colocando sentada na grama novamente. Ele tinha um largo sorriso no rosto e eu deveria parecer que estava morrendo.
- Você foi bem! – Ele falou.
- Ah! – Reclamei, passando a mão na lateral do corpo. – Agora chega, vai! – Falei e ele riu.
- Você está bem? – Ele perguntou, passando a mão em meu cabelo, provavelmente tirando uma folha perdida por ali.
- Eu vou precisar de analgésico. – Falei e ele riu.
- Você foi demais! – Ele falou, me fazendo rir. – Se eu soubesse que você jogava assim, teria te obrigado bem antes. – Ri fraco, massageando a lateral do corpo.
- Me ajuda a levantar. – Falei, estendendo as mãos para cima. Ele se levantou e me puxou, fazendo tudo estralar. – Eita! – Reclamei, movimentando o corpo lateralmente. – Eu estou fora de forma. – Respirei fundo.
- Você foi ótima! – Ele falou e eu tirei as luvas.
- Essa última ia para fora. – Falei e ele riu.
- Provavelmente. – Ele concordou. – Chutei muito de bico, mas queria saber até onde você ia.
- Acho que eu vou direto para cama. – Falei e ele riu.
- Você foi demais! – Ederson se aproximou, abraçando Alisson pelos ombros e eu me afastei.
- Não se aproxima! – Falei, apoiando as mãos nos joelhos, respirando fundo. – Você já machucou o Tite, não me mata também. – Ele riu.
- Me manterei longe, mas isso foi foda para um caralho! – Ri fraco, negando com a cabeça.
- Mano, demais! – Os outros jogadores começaram a se aproximar e eu tentei manter meu corpo ereto, mas estava doendo demais.
- Foda!
- Parabéns! – Fiz um positivo com a mão, suspirando.
- Agradeço, gente, mas eu preciso sair daqui. – Fiz uma careta. – Eu provavelmente desloquei alguma coisa e ralei a barriga. – Falei, erguendo o corpo e apoiando a mão abaixo do seio.
- Eu te levo de volta para o hotel. – Alisson falou, estendendo meu braço livre e apoiando sobre seus ombros.
- Quer que eu dê uma olhada, ? – Rodrigo perguntou e eu abanei a mão.
- Acho que não. – Falei. – Eu vou olhar melhor, tenho pomada e remédio para dor lá no quarto, qualquer coisa, te aviso.
- Tem certeza? – Alisson cochichou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Vamos dizer que eu não estou em forma, com a roupa adequada e nem deveria ter feito isso. – Ele riu. – Mas já fiquei com dores outras vezes e sei como sair dessa.
- Espero que fique bem. – Ele falou e eu agradeci pelos carrinhos de golfe estarem lá embaixo e ele me colocou sentada na parte de trás, sentando ao meu lado e outros jogadores encheram os outros lugares e eu respirei fundo.
- Você já pode ser da Seleção, . – Firmino falou e eu ri fraco, encostando minha testa no ombro de Alisson.
- Opa! – Falei ironicamente. – Titular ainda. – Brinquei e eles riram.
- Precisa de um pouco de treino, mas você foi muito bem. – Neymar falou e eu assenti com a cabeça.
- Na próxima Copa, talvez. – Falei e eles riram.

- E vamos para mais um. – Alisson falou entregando sua mala para o motorista do ônibus e eu tentei evitar de rolar os olhos com alguns torcedores ao redor das grades.
- Acho que eu não vou querer viajar por muito tempo quando voltar para casa. – Ele riu, ajeitando o boné em sua cabeça, e abriu espaço para que eu entrasse no ônibus. – Natais e Anos Novos serão no Rio.
- Seria bom, não é?! – Rimos juntos e eu segui para frente, junto da equipe técnica e ele foi para o fundo junto dos jogadores.
Seguimos até o aeroporto de Sochi e entramos no avião pela pista mesmo, como em outras vezes. O avião era enorme para a quantidade de pessoas na equipe. Eu coloquei algumas coisas no bagageiro, o notebook na mesinha e me sentei no corredor. Ele se sentou na mesma fileira, mas do outro lado do corredor.
Eu e Alisson começamos a nos abrir, mas ainda era um tanto incerto o que a gente queria e o que a gente faria, então ele basicamente ficou me observando responder algumas coisas para a imprensa e às vezes eu dava palpite no jogo que ele brincava no celular.
Como sempre, nos separamos para sair do avião. Lucas fazia questão de tirar fotos de todos os momentos, incluindo minhas, mesmo que não fossem ser postadas no Flickr da CBF ou na CBF TV, mas eu estava criando um ótimo álbum de fotos e tinha até algumas com Alisson que eu poderia guardar de recordação.
Bóris fazia algumas filmagens e seguiu no carro da frente, pelo jeito Vinícius chegaria de Canarinho no hotel, onde Angelica já tinha sido informada da aglomeração de alguns torcedores. Eu não dei bola na hora. Grande erro!
Notei a desaceleração do ônibus quando nos aproximamos do hotel Renaissance em Moscou e logo ouvi os gritos e batidas na lateral do ônibus. Os jogadores se levantaram para ver o que acontecia e a turma da assessoria só se entreolhou.
O ônibus parou propositalmente do lado contrário ao que entraríamos e os seguranças foram os primeiros a aparecer. Os jogadores seguiram logo atrás, depois a equipe técnica, depois nós e, por último, a irrelevante equipe de dirigentes, que nem considerávamos muito da galera.
As grades estavam sendo contidas quase da mesma forma que o meu primeiro treino aberto lá na Granja Comary. Os guardas mantinham os braços e corpos distanciados da grade e empurravam-na com força, com medo delas penderam para frente. Os torcedores estavam muito animados, gritavam, cantavam e tinham sinalizadores das cores do Brasil acesos para cima. Mesmo anos indo atrás de bandas e cantores no Rio de Janeiro, eu nunca tinha visto aquilo. Aquilo era o poder do futebol.
- É, 58 foi Pelé! Em meia dois foi o Mané! Em sete, zero o esquadrão! Primeiro a ser tricampeão! – A torcida cantava animada, agitando bandeiras e os sinalizadores. - Ô 94 Romáriô! 2002 Fenomenô. Primeiro tetracampeão! Único penta é o Brasilzão! – Passei por Vinícius de Canarinho e ele me abraçou, me fazendo sorrir, vendo-o colocar a bandeira em sua mão em minhas costas e eu o chamei para dentro, vendo-o me pedir para esperar. - Ô Brasil olê, olê, olê! Brasil olê, olê, olê!
Fui puxada por um dos seguranças na porta e o resto da comunicação veio logo atrás. O barulho ficou para trás e eu e Angelica seguimos para a mesa da recepção, como sempre e o gerente logo nos passou as informações sobre os quartos e chaves. Esse hotel com certeza era um dos melhores.
- Vamos lá, gente! – Falei, batendo as mãos e chamando a atenção do pessoal. – Aqui serão quartos de dois, ok?! – Falei e eles gritaram, comemorando. – Bem mais fácil para dividir o banheiro, não é, não?! – Olhei os números das chaves com a lista de Angelica.
- Sendo quarto de dois, o Alisson e... – Comecei a ouvir Filipe Luís falando, mas Ederson foi mais rápido e colocou a mão na boca dele, fazendo-o ficar quieto. Ederson fez um sinal para calar a boca e sabia o que ele queria fazer, os dirigentes não podiam saber disso ou ferrava para todos os lados.
- Continuando! – Falei, ouvindo algumas risadas. – Faças duplinhas e venham pegar suas chaves.
- ! – Virei para o lado, vendo Bóris entrando correndo no hotel. – Vin... Ele... Él... – Ele tentava falar em várias línguas.
- What? – Perguntei firme.
- He was arrested! – Arregalei os olhos e soltei todas as chaves na mão de Angelica, ouvindo algumas caírem no chão e saí novamente do hotel, vendo um cerco de seguranças e dois policiais puxando o Canarinho para o lado e eu me aproximei dele.
- Ei, o que está acontecendo? – Perguntei em inglês para um dos seguranças e ele se aproximou para ouvir. - Ele está conosco. Ele é nosso mascote.
- Tem certeza? – Ele perguntou.
- Sim! Ele também é nosso cinegrafista. – Movimentei as mãos, puxando o crachá do pescoço do Canarinho e mostrando a eles. - Vê? FIFA, CBF, ele está conosco.
- Desculpe, senhorita. Tenha uma boa noite. – Me desviei dos seguranças e puxei Vinícius pelos braços do Canarinho e entramos no hotel.
- Podem fechar as portas, por favor? – Pedi para o porteiro e ele assentiu com a cabeça. – Ok, acho que estamos todos aqui. – Voltei para o português.
- Eu ia ser preso na Rússia! – Vinícius reclamou, puxando a cabeça do mascote e várias pessoas se seguravam para não rir. – Na Rússia! – Ele gritou a última parte.
- Relaxa! Tá tudo bem. – Tentei acalmá-lo. – Vamos relaxar. – Ele se sentou em um banco na recepção e eu voltei a pegar as chaves da mão de Angelica. – Chaves? – Dei um sorriso e as duplas começaram a aparecer ao meu lado.
Alisson passou com Firmino e pegou uma chave. Ele deu um pequeno sorriso e uma piscadela e eu somente retribuí o sorriso. As duplas foram se formando e só sobrou eu e Lucas lá embaixo.
- Me dá essa honra? – Ele brincou e eu estendi a última chave para ele.
- Vamos, Lucas. Você é a minha dupla desde Teresópolis. – Ele riu e entramos no elevador.
- Apesar de que você está me abandonando um pouco. – Ri fraco, negando com a cabeça. – Ele é mais bonito, mais forte, solteiro, mas... – Ele começou a rir sozinho e saímos do elevador.
- Você é casado, Lucas! – Falei e ele riu fracamente. – E tem um filho.
- Não quero que você se machuque, ok, minha amiga? – Suspirei, encontrando os jogadores levando as malas para dentro dos quartos.
- Eu... – Virei para trás, vendo que ele tinha parado na porta de um quarto.
- Eu cuido dela, beleza? – Ele gritou e imaginei que tinha sido para Alisson. O puxei pela mochila, tirando-o da porta do quarto, vendo Alisson aparecer logo em seguida, franzindo a testa.
- Ignora, ele tem problemas mentais! – Empurrei Lucas para ir à frente e Alisson riu, balançando a cabeça. – Boa noite. – Acenei e ele fez o mesmo, ainda rindo com a situação. Abri a porta e empurrei Lucas para dentro.
- Vocês precisam parar! – Falei para Lucas. – Vocês estão provocando demais... Cara, que quarto fantástico! – Falei, vendo as duas camas queen, a decoração em mostarda e vermelho e os detalhes vintage.
- Mas todo mundo já sabe. – Ele abanou os braços, se livrando de sua mochila. – Uau! – Ele falou também e rimos juntos.
- Para começar: ninguém sabe de nada, porque ainda não aconteceu nada. Segundo: os dirigentes não sabem e chegando à boca dos dirigentes, chega à boca da Michele, eu estou ferrada, e eu acho que eu não vim aqui para namorar. – Ele riu, se sentando no divã em frente a uma das camas. – Pode dar problemas para mim depois.
- Ah, . Mas vocês se deram tão bem. Sério, vocês combinam em um nível que não tem nem o que falar. – Ele riu. – Ele é meio fechadão, mas parece que com você ele se abre, ele brinca mais, ele participa mais... – Suspirei.
- Não foi você que acabou de falar que não quer que eu me machuque?
- Sim, isso também, mas não quer dizer que você não possa dar uma chance. – Suspirei, começando a tirar meu tênis.
- Lucas, você sabe que se a gente ficar agora ou se ficarmos depois, vamos acabar nos machucando naturalmente, não é?
- Porque diz isso? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Acabando a Copa, ele vai para Roma, na Itália. Eu vou para o Rio. – Ele fez uma careta. – Como isso vai dar certo? – Suspirei.
- Ah! – Ele falou. – Neymar e Bruna também moram em países diferentes e parece que tem dado certo para eles. – Ele deu de ombros e eu parei para pensar.
- Verdade, né?! – Suspirei e ele riu.
- Vá devagar! – Ele falou. – Depois da final vocês pensam. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Pode deixar! – Dei um sorriso de lado.
- Posso ir tomar banho ou quer ir?
- Pode ir! – Falei, abanando a mão e suspirei.

O dia que antecedeu ao jogo foi igual a todos os outros, mas com uma surpresa em especial. Acordei naquele dia e esperei Lucas finalizar seu banho e sair do quarto para que eu pudesse ter minha manhã de menina com mais privacidade. Me arrumei como todos os dias, dei aquela ajeitada nos cabelos e na maquiagem e coloquei tênis.
Desci para o restaurante, dando aquela leve ignorada na imprensa logo cedo e entrei no restaurante que estava reservado para nós. Duas longas mesas com equipe de um lado e jogadores do outro e uma longa mesa de buffet ao fundo. Olhei rapidamente pela mesa dos jogadores, vendo-os acenarem para mim e segui em direção ao buffet.
- Bom dia! – Alisson se levantou da ponta contrária da mesa e eu sorri, voltando alguns passos para trás.
- Ei! – Falei sorrindo e ele deu um curto beijo em minha bochecha.
- Dormiu bem? – Assenti com a cabeça.
- Tudo certo! – Falei sorrindo. – E você?
- Tudo bem! Tirando que o Firmino ronca para um caramba. – Rimos juntos.
- Ei! – Firmino reclamou do outro lado da mesa.
- Lucas tem algumas vantagens. – Alisson riu.
- Quer trocar? – Ele cochichou em meu ouvido e eu dei de ombros.
- Quem sabe? – Brinquei, tirando o boné de sua cabeça e virando-o para trás. – Talvez depois do jogo. – Ele sorriu.
- A gente consegue ouvir... – Firmino cantarolou e eu virei para ele.
- Estão se intrometendo onde não devem. – Dei um sorriso para ele e uma piscadela, vendo-o fazer uma careta. – Nos falamos depois? – Virei para Alisson que assentiu com a cabeça.
- Uhum. – Ele sorriu.
- E quem temos aqui? – Virei para o lado, franzindo a testa ao ver um 24º jogador, que com certeza não deveria estar aqui.
- Dani Alves? – Falei em tom de pergunta e ele riu.
- Você que é a...
- Tenho até medo como eles me apresentaram. – Falei e ele riu. – “Namorada do Alisson”? “Garota do Alisson”? Pode ser também a “goleira que não deixou nada do Alisson entrar”. – A mesa começou a gargalhar. – Essa última é boa, porque pode ter várias conotações. – Ele riu e Alisson revirou os olhos, com o rosto avermelhado.
- Eu ia dizer a social mídia, para soar mais respeitoso... Mas já ouvi as outras versões. – Dani brincou e eu balancei a cabeça. – , certo?
- É um prazer te conhecer. – Trocamos beijos e abraços e ele sorriu.
- O prazer é meu. – Ele sorriu. – Estou sabendo que está cuidando bem da galera? – Ponderei com a cabeça.
- Vamos dizer que eles me amam antes do jogo e me odeiam depois dele. – Ele riu. – Depende do humor.
- Isso é bom! Pelo menos tem alguém para colocar eles na linha. – Rimos juntos.
- Era para você estar nessa turma, como está?
- Tudo certo! – Ele ponderou com a cabeça. – Lidando com um dia depois do outro.
- Que bom! – Assenti com a cabeça. – Que bom que veio conversar com eles, acho que estão precisando relaxar.
- Uns menos do que outros, não é?! – Fred bateu nos braços de Alisson que colocou a mão no rosto abaixando a cabeça.
- Sério, gente! – Me apoiei na ponta da mesa. – Vocês precisam parar! – Falei firme.
- Porque eu sinto que eles só estão começando? – Dani comentou e eu suspirei.
- E temos 20 dias de Copa ainda. – Suspirei. – Deus me ajude! – Eles riram e eu voltei para o buffet.
O cronograma daquele dia foi mudado um pouco. Ao invés de fazermos o treino oficial no Estádio Spartak o fim da tarde, ele foi feito na parte da manhã e à tarde teria a coletiva de imprensa com Tite e Miranda, que seria o capitão dessa partida.
Bianca disse que acompanhava o treino no estádio e eu aproveitei sua fofura e fui andar com Vinícius e Bóris por Moscou para gravar mais algumas cenas do Canarinho. Acabamos indo para o estádio também, mas para a parte de fora. Não sei se era o dia ou o horário, mas tinham poucas pessoas andando ali em volta.
Fizemos algumas filmagens, eu acabei tirando algumas fotos mesmo e seguimos para um lugar com um pouco mais de emoção. Lá, até eu fiz um pouco de turismo! Fomos para a Praça Vermelha, o que eu aproveitei e tirei fotos do Kremlin, da Catedral de São Basílio, do Museu Histórico do Estádio, do Mausoléu de Lenin e do Teatro Bolshoi.
Lá estava mais cheia de torcedores, principalmente por ter uma das maiores fan fest da Copa e conseguimos fazer mais imagens e tirar mais fotos dos torcedores com o Canarinho. Principalmente crianças.
Voltamos para o hotel pouco antes da hora do almoço e depois do mesmo, Tite e a equipe técnica fizeram uma reunião com os jogadores para falar dos pontos fortes da Sérvia, nosso oponente de amanhã. Graças a Deus a imprensa tinha dado uma trégua e as poucas ligações que recebíamos, Bianca conseguia lidar com isso.
Eu não tinha o que fazer, então, acabei ficando na reunião. Eu parecia a aluna entediada e os jogadores, incluindo Alisson ao meu lado, tentavam absorver todas as informações que eles passavam. Até eu consegui absorver algumas coisas, principalmente o fato de os jogadores Sérvios serem muito mais altos do que os brasileiros e terem melhor desempenho em bola alta. Aquela porcaria de reunião só tinha conseguido me fazer ficar mais nervosa do que eu já estava.
A gente precisava ganhar, entende? Podíamos jogar por um empate, mas não. Isso nos faria depender do resultado da Costa Rica e da Suíça e meu coração não aguentava mais. Precisamos ganhar! Além de que eu não aguentaria ver Alisson tomando gol, meu coração ficava pequenininho.
Acabando a reunião, eu segui direto com Miranda e Tite para a coletiva de imprensa. Miranda tinha experiência, afinal, ele era um dos mais experientes do time com 33 anos, então ele sabia falar, mas claro que tivemos aquelas perguntas as quais eu briguei com eles depois do jogo de sexta-feira: Neymar.
Miranda soube desconversar rapidamente sobre o choro e as quedas de Neymar no jogo contra a Costa Rica e falou uma frase que eu até anotei para usar em várias outras situações. “Não temos que pensar no individual”. E ele estava certo, eram 23 jogadores, não dá para pensar só nele sempre, tanto que o xingo, após o jogo, não foi individual, foi coletivo.
- Acho que eu vou tentar dormir mais cedo. – Alisson falou depois que voltamos para jantar.
- Nervoso? – Ele deu de ombros.
- Já viu algum goleiro calmo antes de jogo? – Ele perguntou e eu ri.
- Pior que não. – Suspirei. – Vai sim. – Falei, assentindo com a cabeça. – Eu vou tentar também, tenho uns 20 e-mails para responder, depois já vou.
- Vem. – Ele me segurou pela mão e entramos no elevador, subindo lado a lado até nosso andar.
- Qualquer coisa posso te infernizar no WhatsApp? – Ele perguntou e eu ri.
- Claro que pode! – Suspirei. – Mas espero que você durma antes disso. – Saímos do elevador.
- Também espero. – Ele suspirou. – Sempre sobra para o goleiro. – Ele se encostou na porta de seu quarto.
- Não pensa nisso. – Falei, passando a mão em sua barba. – Se exclua de tudo. Finja que só tem você no estádio. – Ele virou o rosto, dando um beijo na palma da minha mão.
- Difícil quando o estádio tem capacidade para 45 mil pessoas. – Ri fraco, negando com a cabeça.
- O de São Petersburgo era maior. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- É! – Ele suspirou. – Mas a responsabilidade desse é maior. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar tudo certo. Se Deus quiser. – Ele assentiu com a cabeça e ouvi um pigarro e virei o rosto, vendo Firmino, Thiago e Geromel nos encarando. – Boa noite! – Falei para Alisson e ele deu um rápido beijo em minha testa, entrando no quarto e eu acenei com a mão.
- E então... – Firmino deu seu sorriso e eu revirei os olhos.
- Boa noite, gente! – Falei, andando pelo corredor e acenando para eles, enquanto os ouvia rir.

Eu não conseguia dormir. Já passava das três da madrugada e nada de eu pregar os olhos. Eu acabei respondendo os e-mails rapidamente, afinal, era tudo meio que a mesma resposta, só precisava prestar atenção em que língua era veículo para eu mandar na mesma língua que me foi pedido.
Depois eu liguei meu Netflix e acabei terminando a sexta temporada de Friends pela milésima vez e a bateria acabou enquanto eu assistia “A Barraca do Beijo”. Lucas ficou conversando comigo depois de um tempo, mas até ele que também não conseguia dormir, desmaiou após alguns papos aleatórios sobre vida, família, amor, trabalhos, etc...
Cogitei ligar a televisão e procurar algo na televisão russa, mas não queria acordar Lucas, não quando ele também tinha demorado tanto para dormir. Olhei meu WhatsApp, procurando alguma alma boa acordada, mas Alisson não estava online, pelo menos não me respondeu. Angelica e Bianca também nada. Eu deveria ter pego algum remédio para dormir, ficaria virada no dia seguinte e seria pior.
Joguei minhas cobertas para o lado, calcei os chinelos, coloquei um moletom por cima da regata e saí do quarto. Se fosse para eu ficar irritadiça, que eu ficasse sozinha, fora do quarto, sem morrer de tédio ou sem acordar ninguém.
Franzi a testa quando fechei a porta e encontrei outra alma sentada no corredor. Ela estava encostada em uma das portas, abraçando as pernas e olhando para o nada. Me aproximei do mesmo, notando que era Gabriel e ele ergueu o rosto até mim.
- Ei! – Falei e ele deu um meio sorriso. – Tá tudo bem?
- Oi, ! – Ele falou.
- Posso me sentar? – Ele assentiu com a cabeça e me sentei em sua frente. – Não consegue dormir?
- Não! – Ele suspirou. – Nervoso por amanhã. – Assenti com a cabeça. – Parece que está tudo bem, até ficarmos sozinhos e fechar os olhos.
- Entendo. – Falei. – Também estou. – Ele suspirou.
- Mas aposto que não tem uma pressão em cima de você. – Assenti com a cabeça. – Quantos camisas nove não fizeram gols em Copas?
- Não pensa nisso. – Apoiei minhas mãos em seus joelhos. – Só não foi gol porque não era para ser ainda. – Ele deu de ombros.
- Você realmente acredita nisso?
- Você não? – Me endireitei no chão. – Tivemos várias chances de gol contra a Costa Rica e a bola simplesmente não entrava. – Dei de ombros. – Não só que o Navas defendeu, mas que foi mirado errado, que ia para fora ou que estava impedido. – Ele riu. – Você fez gol, Gabriel.
- Não valeu. – Rimos juntos.
- Eu sei! Mas terão outras oportunidades. – Suspirei. – E eu já falei para vocês não verem o que a imprensa fala de vocês.
- É meio inevitável. – Ele deu de ombros.
- Posso confiscar seu celular, se quiser. – Ele sorriu.
- Seria uma boa, mas acho que não adiantaria. – Ele deu de ombros. – Elas vêm de todos os cantos.
- Pelo menos tente. – Apertei seu joelho que assentiu com a cabeça. – Tire notificações, desinstale aplicativos, o que for. Só releve. – Ele deu um sorriso de lado.
- Obrigado! – Assenti com a cabeça, ouvindo outra porta se abrir e vi Miranda sair da mesma.
- Ei! – Ele falou, seguindo em nossa direção.
- Ei! – Falamos e ele se aproximou de nós.
- Também não conseguem dormir? – Suspirei.
- Não. – Respondi. – Mas vocês deveriam voltar para seus quartos. Amanhã é aquela tensão de novo. – Eles assentiram com a cabeça.
- Eu sei! – Miranda falou. – Mas quem consegue?
- Pois é! – Respondi, bufando.

Eu não sei sobre os meninos, mas eu não consegui pregar os olhos nem por cinco minutos naquela noite. Nada. Zero. Depois de ficar um tempo com Miranda e Jesus no corredor, eu os obriguei a irem dormir. Eu até tinha responsabilidades, mas eles precisaram ter disposição para correr e pontuar durante 90 minutos.
Pela minha falta de sono, eu acabei desistindo de ficar na cama e já fui me arrumar, tomando banho, colocando minha calça jeans, camisa polo azul cheia dos patrocínios e o salto amarelo. Tive que dar aquela bela enfaixada nos pés com band-aid, para conseguir aguentá-lo por mais tempo.
Eu fui a primeira a chegar ao restaurante àquela manhã. Troquei as xícaras pelos copos e enchi de café puro. O jogo era só nove horas da noite, sairíamos daqui as sete e eu duvido que conseguiria um tempinho para dormir e, mesmo se eu conseguisse esse tempo, duvido que eu fosse dormir.
Os jogadores surgiram aos poucos, fazendo com que as mesas de enchessem aos poucos. Alisson apareceu algum tempo depois, quando eu enchi meu segundo copo de café e se sentou ao meu lado.
- Você está bem? – Ele perguntou. – Seus olhos estão vermelhos...
- Vamos dizer que...
- E aí, ? Conseguiu dormir? – Miranda se sentou em nossa frente e eu fiz uma careta.
- Não. – Respondi.
- Nada? – Alisson se virou.
- Nada! – Falei firme, bebendo outro longo gole de café. – E o dia vai ser longo. – Falei, suspirando.
- Meu Deus! Tu vais ter que arranjar um tempo para dormir, nem se for alguns minutos. – Gabriel falou e eu estiquei o copo.
- Vou me virando como posso. – Dei de ombros e eles olharam meio assustados para mim. – Não se preocupe, não é a primeira vez que isso acontece.
- Olha lá, hein?! – Miranda falou e eu assenti com a cabeça.
- Não acredito que não dormiu a noite toda. – Alisson cochichou ao meu lado e eu suspirei.
- Eu tentei! – Falei, colocando mais um pouco de ovo mexido na boca. – Eu juro que tentei, mas não deu. – Dei de ombros. – Lucas capotou, você não estava online, a bateria do meu iPad acabou. – Relaxei os ombros. – Fiquei andando pelo hotel, encontrei Gabriel e Miranda, depois eles foram dormir, eu voltei para o quarto... Quando vi já era sete da manhã, vim tomar café.
- Mano! – Alisson falou e eu passei a mão em seu braço.
- Relaxa. – Falei firme. – Eu só preciso de café, chocolate, energético e Coca-Cola. – Suspirei e os três em volta arregalaram os olhos.
- Meu Deus! – Miranda falou rindo. – Isso é uma bomba. – Dei de ombros.
- Se adiantar em me manter acordada... – Suspirei.
- ! – Bianca apareceu atrás de mim.
- Bom dia, Bi! – Os jogadores falaram e ela sorriu, acenando.
- Bom dia! – Ela riu em seguida. – , treta logo cedo.
- Ah, adoro tretas para o café da manhã. – Me levantei, me afastando com ela um pouco. – Diga!
- Alguns jogadores da sérvia deram uma declaração na coletiva de ontem. – Suspirei.
- Pelo visto falaram merda, né?! – Ela assentiu com a cabeça, me mostrando o celular.
“Jogadores da Sérvia dizem que Brasil não se defende bem. Só sabem atacar, fazer gols e se divertir”. – Franzi a testa.
- Ué... Mas estamos aqui para que? Cozinhar? – Ela riu.
- A gente não sabe se defender, é?! – Thiago Silva apareceu atrás de nós. – Espera só.
- Não se mete, Thiago. – Falei firme, empurrando-o pelo peito.
- E ele também falou que Tite liberou a escalação cedo, sendo uma provocação para eles. – Bianca falou.
- Mas ele sempre libera a escalação antes, por pedido nosso, na verdade. – Dei de ombros, suspirando.
- Eles querem ver o circo pegar foto, só pode. – Thiago falou.
- E você vai ficar quietinho quanto a isso. – Me virei, apoiando as mãos nos ombros de Thiago, e virando-o em direção à mesa. – Cai fora daqui, vai. – Ele saiu rindo, mas imaginei que já fosse compartilhar a informação.
- Eles querem uma declaração. – Bianca falou e eu suspirei.
- Eu posso falar, se quiser. – Thiago voltou e eu olhei brava para ele.
- Cai fora! – Falei e ele saiu erguendo as mãos.
- Português?
- Imprensa brasileira, para falar a verdade. – Ela falou e eu suspirei.
- Vai tomar seu café que eu cuido disso. – Ela agradeceu com a cabeça, me entregando seu celular.
- Obrigada! – Ela falou e eu respirei fundo, saindo do restaurante.
O dia se seguiu daquela maneira. Imprensa ligando, declarações desleixadas dos sérvios, imprensa louca atrás de informações e eu me entupindo de bebidas e comidas energizantes ao longo do dia.
Os jogadores ficaram andando de um lado para o outro no hotel, tentando passar o tempo também. Não tinha treino, não tinha espaço para eles treinarem, então eles tinham que se ocupar, principalmente com jogos de tabuleiro, a única coisa que pedimos era para eles ficarem longe da televisão. Não podíamos lidar com jogadores nervosos agora.
A cada vez que eu passava com uma lata diferente na mão, seja de refrigerante ou de energético, eu via os olhos de Alisson se arregalarem para mim, mas eu estava bem. Aquilo estava impedindo que eu não dormisse, o que já era muito bom.
- Você sabe que horas são? – Perguntei para um dos jornais que me ligava.
- Quase sete. – Ele respondeu.
- Exatamente! O jogo é em duas horas, o que é para ser, será, aguarde mais um pouco que eu saberei te dar até a minutagem dos lances. – Falei, percebendo que estava falando rápido demais.
- Obrigada senhora, mas eu queria...
- Sinto muito, preciso desligar, estamos indo para o estádio agora. Au revoir! – Falei, desligando o celular em seguida.
- Estamos indo mesmo! – Lucas falou na porta. – Pegue suas coisas e vamos! – Ele falou e eu coloquei o crachá em meu pescoço, pendurei a mochila nas costas e aproveitei para pegar mais um energético que eu deixei gelando no frigobar.
- Vamos! Vamos! Vamos! – Falei, saindo saltitante pelo corredor.
- Sério, você precisa parar de beber isso! – Lucas falou e eu virei mais um gole.
- Se eu parar agora, eu durmo.
- Eu acho que você vai passar mal daqui a pouco, isso sim. – Ponderei com a cabeça.
- Talvez. – Falei, saindo do elevador em seguida.
- Você almoçou, pelo menos? – Fiz uma careta.
- Vamos dizer que eu não tive tempo. – Entreguei a chave na recepção, fazendo positivo para o gerente e segui em direção ao ônibus, onde a maioria das pessoas já estavam esperando.
- Mano, você é louca! – Lucas falou, enquanto eu subia no ônibus.
- Ah, fica quieto! – Abanei a mão. – Pronto, galera? – Gritei, vendo a galera gritar junto e me sentei na primeira poltrona do ônibus.
- Essa adrenalina vai ter que ir para algum lugar. – Lucas falou e eu respirei fundo, desbloqueando meu celular e arregalando os olhos.
- Chupa! – Gritei, começando a pular animada no meu assento.
- Ela não tá no normal dela. – Tite comentou para Lucas que somente abaixou a cabeça. – O que foi agora, ?
- A Alemanha está fora da Copa do Mundo! – Falei animada, me levantando e vendo os jogadores fazerem o mesmo.
- O quê? – Os jogadores gritavam e batiam nas laterais do ônibus.
- Alemanha perdeu de dois a zero para a Coreia do Sul e está fuera!
- Nossa! – Eles debocharam e eu gargalhei, tentando me conter.
- Como isso foi acontecer?
- Não eram eles que a gente enfrentaria nas oitavas?
- Ei! – Chamei a atenção deles. – Estamos felizes porque a Alemanha está fora, mas agora foquem para não cair fora também. – Falei firme.
- Ela tá com uns parafusos soltos, mas ela está certa. – Tite falou e eu ri fraco. – Vamos prestar atenção! – Ele falou. – Ainda precisamos ganhar. – Me sentei novamente, finalizando a lata em um gole. – Foquem!

Entrei no estádio seguido dos jogadores e comecei a organizar minhas coisas. Lucas tinha razão, a adrenalina precisava ir para algum lugar, eu já estava começando a suar. Abri os botões da blusa polo, fiz um coque alto e tirei os sapatos. Fucei minha mochila novamente e peguei uma última barra de chocolate, vendo-a ser tirada da minha mão.
- Não! – Alisson falou, jogando-a em seu armário.
- Ei! – Falei.
- Você tá nessa o dia inteiro, isso não vai te fazer bem, me escuta. – Ele falou e eu me sentei na bancada.
- Você não tem que treinar, não?! – Brinquei e ele riu.
- Tenho e vou levar seu chocolate comigo
- Hum, que delícia! Chocolate com suor ou chocolate com grama, não sei o que é melhor. – Ele riu fraco.
- Quer um pouco de mate? – Ele me estendeu a cuia e eu revirei os olhos
- Não! – Falei rindo. – Além de que depois de tudo que eu bebi, mate só vai ser uma bomba para mim.
- Sei não se o mate que vai ser uma bomba para você. Você está inteira vermelha. – Ele apontou para meu colo e eu bem que sentia que estava fervendo.
- Estou com calor, confesso, mas tenho ainda quase duas horas para me manter em pé. – Ele me olhou e entregou o chocolate de novo.
- Te juro que se a gente passar dessa...
- “Se”? Porque todo mundo está falando “se”? Vamos passar, pelo amor. – Falei um pouco mais alto para os outros jogadores ouvirem. – Vai ser hexa, gente. Foca! – Falei rápido demais e eles arregalaram os olhos.
- “Se” a gente passar dessa... – Alisson frisou. – Eu mesmo te faço dormir, se for necessário. Tirando a bomba que você está enfiando para dentro do seu corpo, olha a quantidade de gordura...
- Me faz dormir, é?! – Dei um sorriso malicioso e ele revirou os olhos. – E eu não sou a miss dieta, já avisando. Além de que perdi alguns quilos no fim do ano, fazia tempos que eu exagerava assim.
- Você está falando rápido demais. – Ele abanou a mão.
- Ela tá com pico de glicose. – Rodrigo falou, passando a mão em minha testa. – Tem certeza...
- Eu estou bem, ok?! – Falei, abanando os braços. – Vamos focar no que realmente importa. – Falei. – Brasil e Sérvia? – Alisson abanou as mãos e logo saiu junto dos demais jogadores para o treino.
Eu devorei minha última barra de chocolate enquanto eles estavam treinando e organizei todos os programas, drives e redes sociais. Logo eles voltaram e já se trocaram para o uniforme oficial de jogo. Eu estralava todas as partes do meu corpo e passava a garrafa de isotônico gelado em meu pescoço para ver se eu parava de derreter um pouco. E nem estava tão calor assim em Moscou.
- Vamos lá, gente! – Tite chamou a atenção do pessoal. – Último jogo da fase de grupos. Podemos nos classificar só com um empate, mas não deixaremos! Nós somos o Brasil e vamos mostrar do que somos capazes.
- É! – Os jogadores aplaudiram.
- A batalha não está sendo fácil, mas eu me orgulho de vocês e quero ver um jogo limpo, fantástico e com muita garra!
- É!
- Vamos lá e mostrar ao povo brasileiro do que somos capazes!
- É!
- Além de enfiar a bola na boca de alguns sérvios por falarem besteira! – Falei um pouco animada demais e me calei em seguida.
- É?! – Tite deu de ombros e caí na gargalhada.
- É! – Os jogadores gritaram e eu ri.
- Acabem com eles! – Gritei, batendo palmas e eles saíram do vestiário, batendo as mãos contra as minhas e eu acenei para Alisson. – Bom jogo! – Pisquei para ele que balançou a cabeça.
- Fica bem! – Ele falou e eu ri.
- Não deixe nada entrar que eu fico! – Ele riu enquanto eu acenava com a mão.

Respirei fundo ao ver os jogadores entrando no estádio e fiz alguns sinais da cruz, pedindo pelo amor de Deus que a gente conseguisse vencer aquele jogo e que, de preferência, ele não fosse tão sofrido como os dois últimos. Estendi as mãos para cima, estralando as juntas e aumentei a televisão, ouvindo o hino da Sérvia ser tocado.
Em seguida foi a vez do hino brasileiro, mostrando em ordem inversa o time. Quando chegou em Alisson, ele já estava vermelho novamente, de nervoso, provavelmente. Afinal, eu não estava lá para fazê-lo ficar com vergonha. Meu corpo se arrepiou pela primeira vez naquele dia quando o hino acabou e os torcedores do estádio seguiram cantando o hino à capela, fazendo com que as paredes do vestiário tremessem.
Os jogadores se cumprimentaram e se separaram. Miranda se aproximou dos juízes junto do capitão da Sérvia e logo se separaram novamente, Brasil ficando com a bola. Soltei a respiração algumas vezes, observando a escalação do Brasil e Coutinho tomar o centro do campo, pronto para a partida começar.
O árbitro autorizou a partida e tentei me manter calma, meu corpo suava loucamente, mas minhas mãos estavam geladas, como quando eu ficava nervosa. O Brasil fez uma tentativa de gol logo nos primeiros minutos do jogo. Willian passou para Neymar que chutou para Coutinho que fez o chute e acertou em Jesus, mas logo o bandeirinha apitou, declarando o impedimento, Gabriel estava em posição errada.
Willian tentou a arrancada em seguida, caindo, sendo interrompido por um sérvio, aparentemente bravo pela falta ter sido dada. Brasil faz duas tentativas vezes seguidas, uma vez com Jesus que foi desviado pelo goleiro e depois com Neymar que chutou em cima do goleiro, mas também tinha o impedimento no primeiro passe para Gabriel.
Willian caiu novamente no chão, sendo desviado por um sérvio e eu cocei a cabeça. Sem derrubar meus jogadores, cara. A bola saiu, dando lance lateral para a Sérvia. A bola se aproxima do campo brasileiro, mas Thiago Silva tire da cabeça, caindo com força no chão. Thiago sumiu, o sérvio não, fazendo com que ele esbarrasse no sérvio e tropeçasse no mesmo, caindo.
Franzi a testa ao olhar o jogo parado, vendo Marcelo se aproximar da linha próxima a Tite e logo a equipe de Rodrigo se aproximou, trocando algumas palavras com ele. Marcelo anda de um lado para o outro, lentamente e o jogo foi recomeçado, enquanto Filipe Luís se arrumava para fazer a troca com Marcelo.
“Marcelo vai entrar” – Dizia uma mensagem de Angelica em meu WhatsApp e acompanhei os passes de Marcelo dentro do campo, enquanto não fazia a troca.
Substituição. Sai Marcelo, entra Filipe Luís.
Fiquei olhando para a porta e para o jogo, à espera de Marcelo e da equipe médica. Nesse tempo Neymar se aproximou com a bola, na tentativa de uma finalização, mas a bola retorna para o campo brasileiro. Fagner divide bola com o sérvio e acaba derrubando-o no chão, dando a falta.
Observei a bola se aproximando de Alisson, mas ele foi mais rápido e socou a bola, fazendo-a sair rapidamente pela lateral. A bola retornou para a Sérvia, tentando novamente um gol, mas a mesma foi forte demais, fazendo com que Alisson se esforçasse para pegar a bola, evitando que ela desse escanteio para a Sérvia, mas ele deslizou na grama, me fazendo começar a gargalhar sozinha.
- Ah, Alisson virou meme de novo! – Falei sozinha, já fazendo o pedido dessa imagem para o pessoal do Rio, tentando parar de rir.
Willian cruzou o campo, tentando fazer o passe, mas foi forte demais, não tinha ninguém para receber o passe e a bola foi para fora. A cena mudou para um lance passado e eu fiz uma careta ao ver Miranda tentando chegar à bola, mas chutando, sem querer, eu espero, o saco do sérvio em sua frente.
- Miranda virou meme! – Falei também, enviando o pedido da imagem.
O Brasil se aproximou com vontade, Neymar cruzou para Paulinho, mas a bola chegou antes do goleiro sérvio. Vamos, Brasil! Hora de abrir placar! Paulinho tentou logo em seguida, mas não, a defesa da Sérvia tirou antes, jogando a bola para linha de fundo.
Escanteio para a Sérvia novamente. Fechei um dos olhos ao ver o chute em câmera lenta, mas Alisson saiu do gol, estendendo as mãos e socando a bola novamente. Ufa! A bola cruzou o campo, dando outra chance para o Brasil, mas Neymar manda muito reto, seguindo para o outro lado do gol, o goleiro sérvio mal se mexeu. O jogo foi parado um momento enquanto Jesus ficou caído na área da Sérvia, tirando a chuteira rapidamente.
- Ei! – Virei para o lado, vendo Marcelo entrando com Rodrigo, apoiando nas paredes e eu me levantei rapidamente, estendendo minha mão a ele.
- Está tudo bem? O que aconteceu? Ninguém bateu em você, né? – Perguntei tudo ao mesmo tempo.
- Calma! – Rodrigo falou e eu ergui as mãos, vendo-o ajudar Marcelo a se deitar em uma das macas estendidas nas laterais do vestiário.
- Eu estou bem! – Marcelo falou, movimentando com as mãos. – Só preciso... – Ele fez uma careta.
- Foi só um espasmo na coluna. – Rodrigo falou. – Não é nada grave. – Assenti com a cabeça e voltei a me sentar no meu banquinho.
- Qualquer coisa, estou aqui. – Falei e Marcelo sorriu, com lágrimas nos olhos, mas eu só dei um sorriso para ele, voltando a prestar atenção no jogo.
Olhei novamente para a TV e vi que Jesus tentava chutar para o gol, mas a bola rebateu no adversário, impedindo a passagem e saindo pela lateral. A bola voltou para o campo brasileiro e vi Thiago Silva ajudando um sérvio a se levantar, que reclamava de dor na cabeça. No replay mostrou o sérvio tentando cabecear uma bola baixa e Thiago seguindo com o pé, acertando na cabeça dele.
Em uma arrancada de Neymar, o sérvio deu uma entrada no mesmo, fazendo com ele, literalmente, saísse rolando por fora do campo, mas um adversário o ajudou a se levantar e estava tudo bem com ele, mas o replay era engraçado, aquilo precisava ser usado.
- Neymar virou meme e o sérvio ganhou um amarelo. – Marcelo riu atrás de mim e eu tinha me esquecido que não estava mais sozinha.
A Sérvia fez uma tentativa bonita de gol de bicicleta, mas o chute foi forte demais e Alisson nem precisou pular para defendê-la, ela passou por cima de sua cabeça. Olhei para o tempo no relógio e já passava de 34 minutos, o jogo da Suíça e Costa Rica já estava um a zero e estávamos em segundo na tabela.
- Vai, Coutinho! – Gritei ao ver Coutinho correr na tentativa de um lance.
Ele fez um cruzamento e a bola encontrou Paulinho sozinho na área com a defesa da Sérvia inteira. Paulinho estendeu a perna digna de uma bailarina e deu um toque na bola, fazendo-a ir no fundo do gol, enquanto o mesmo tropeçava no goleiro e caía pouco antes da rede.
- GOL! – Gritei, virando para Marcelo.
- Gol! – Ele comemorou também, não na mesma intensidade, mas estendeu a mão para que eu batesse na dele.
- O gol foi lindo, Marcelo. Digno de bailarina. – Falei e ele riu.
- Deve ter sido mesmo. – Sorrimos e voltei a olhar para o jogo.
Falta em cima do Coutinho. Falta em cima da Sérvia. Não brinca, Brasil. Vamos lá! Respirei fundo, estralando os dedos novamente. A bola foi para a área do Brasil e só consegui ver Thiago Silva caído na área brasileira. Pois é, do lado errado. O juiz não deu nada com a queda e foi dado escanteio para a Sérvia, Alisson sai do gol e soca a bola, tirando-a para frente.
Willian passa a bola para Filipe Luís que passa para Neymar. O mesmo tenta uma arrancada e só vi o mesmo no chão, passando a mão no rosto. Aguardei o replay e vi o camisa 10 da Sérvia puxando o mesmo para baixo. Ney não vai se jogar não, conversamos sobre isso.
Acréscimo de dois minutos.
Neymar consegue atravessar a bola novamente, faz a tentativa de gol, com aquela curva perfeita, mas... Passou raspando pela trave superior. Goleiro sérvio nem precisou se mexer. O goleiro mandou a bola para o centro novamente, mas Paulinho fez com que ela voltasse, chutando na mão do goleiro Sérvio.
- Final do primeiro tempo. – Falei para Marcelo e saí do banco, me aproximando do mesmo. – Você está bem, mesmo?
- Está dando umas pontadas, eu estou com bolsa de água quente, mas demora para relaxar. – Peguei uma toalha em uma das caixas e a coloquei em sua testa.
- Você está suando demais.
- Você também. – Ele falou e eu ri.
- Eu estou suando porque eu estou elétrica, você não. – Apertei a toalha em sua testa e ele assentiu com a cabeça, em agradecimento.
- E aí, cara? – Os jogadores voltaram a entrar no vestiário e se aproximaram de Marcelo. Eu me afastei, voltando a me sentar no banco.
- Tá tudo bem. Tá tudo bem. – Marcelo aliviou o pessoal e Rodrigo se aproximou do mesmo, dando algo para ele tomar e desviei o olhar.
- Você, você e você, viraram memes! – Apontei para Alisson, Miranda e Neymar.
- Por quê? – Alisson perguntou. – Eu não fiz nada dessa vez.
- Você tentou buscar uma bola que ia para fora e derrapou sozinho na grama. – Falei, olhando para ele que riu.
- Você viu isso?! – Ele reclamou, se sentando em seu lugar.
- Eu e o mundo inteiro, querido. – Sorri. - E você chutou os países baixos de um homem. – Falei para Miranda.
- Ah, mano! – Ele falou rindo.
- E você saiu rolando, certeza que pensaremos em algo. – Falei para Neymar que começou a rir.
- Essa televisão tem zoom, por acaso? Ou sei lá o quê? – Neymar brincou e eu ri.
- E você! – Virei para Paulinho, subindo no banco. – Gol maravilhoso! – Falei e ele sorriu. – Muito lindo! – Ele sorriu.
- Obrigado. – Ele falou rindo, me jogando um beijo e eu fingi que o peguei e me sentei novamente.
- Agora que a já falou, minha vez. – Tite falou e eu ri, franzindo o rosto e dando um sorriso de lado. – Vocês estão indo muito bem, os ataques cada vez mais precisos, a marcação da defesa mais acertada a cada aproximação e a defesa se posicionando e atingindo muito bem. – Ele falou de Alisson e eu sorri. – Continuem assim que vamos continuar abrindo vantagem. – Como está o outro jogo, ?
- Um a zero para Suíça. – Falei e Tite bateu as mãos.
- Estamos em primeiro no grupo. Vamos manter assim. – Ele falou e assenti com a cabeça. – Vamos! Vamos! Vamos! – Ele gritou e os jogadores voltaram a sair do mesmo, se preparando para o segundo tempo.

O jogo recomeçou novamente e logo uma falta foi feita em cima de Jesus e o sérvio ganhou um cartão amarelo, o segundo dessa fase. Caso ele fosse para a segunda fase, o que não aconteceria em cima do Brasil, ele estará fora do próximo jogo. Neymar marca a falta, tentando o ataque, mas está impedido.
A Sérvia cruza e faz a tentativa, mas vai muito fora, fazendo Alisson ir buscar a bola. A bola atravessa novamente e Willian tenta o cruzamento, mas um adversário está bem posicionado e tira a bola com uma bicuda para fora.
Os acontecimentos do jogo estavam espaçados, isso fazia com que eu batesse meus pés no chão e a unha na bancada, fazendo Marcelo reclamar atrás de mim, mas eu ainda sentia que estava atacada e eu não conseguiria relaxar até o fim do jogo.
A Sérvia faz uma tentativa de ataque, mas Miranda está em perfeito posicionamento, esticando o pé direito e chutando a bola para fora. Brasil cruza o campo e Coutinho faz o passe para Neymar, mas vai fraco, seguindo nas mãos do goleiro.
Costa Rica empata, um a um contra a Suíça.
Escanteio para o Brasil, Neymar chuta a bola, batendo na cara de um Sérvio. Uh! Eu já levei algumas dessa e não é legal. Mas ele parecia legal. Sérvia cruza a bola, fazendo meu coração começar a bater mais forte. Eles chutaram alto, vindo pelo lado norte do campo, mas Alisson pega a bola.
- Falta no Neymar! – Falei, bufando, vendo-o mexer no braço, mas logo se levantar para bater a mesma.
A bola cruzou novamente e respirei fundo ao ver Alisson sair da área para meter um chute na bola, fazendo-a atravessar.
- Pelo amor, não faz isso! – Falei, me levantando, vendo a Sérvia voltar para o ataque. – Pega isso! Pega isso! – Alisson fez a defesa, mas devolveu a bola para a área e o sérvio deu de cabeça, mas Thiago estava bem posicionado, dando uma joelhada na bola que voltou para as mãos de Alisson. – Ufa! – Falei, me sentando novamente.
- O que houve? – Marcelo perguntou.
- Alisson e Thiago acabaram de me salvar de um ataque cardíaco. – Falei, pegando a gola da camisa e movimentando-a, tentando fazer um pouco de vento em meu pescoço. Marcelo riu fracamente.
A Sérvia tentou novamente, mas Thiago Silva já jogou a mesma de volta para o meio de campo. A bola volta, mas Alisson até vai atrás da bola, mas sem necessidade. Um terceiro lance seguido fez meu coração parar, mas Thiago Silva já tirou a bola. E na terceira vez, foi jogada para longe demais. Mostrou Alisson parado um pouco com o juiz e Thiago próximo a eles, mas tudo me pareceu ok.
Substituição. Sai Paulinho, entra Fernandinho.
Escanteio para o Brasil, Neymar tenta, mas a Sérvia tira. Escanteio de novo para o Brasil. Bufei, passando a mãoa uma na outra. Neymar bate, Thiago levanta e...
- GOL! – Gritei, batendo as mãos fortemente na mesa.
- De quem? – Marcelo pergunta.
- Thiago Silva! – Gritei animada. – Ele tá sucesso demais! – Ele riu e esticou a mão para cima e eu bati na mesma.
Coutinho fez uma tentativa de gol, mas chutou errado. Filipe Luís tentou em seguida, mas o goleiro bateu a mão na bola, jogando-a para fora. Neymar tentou, mas bateu na barreira Sérvia. Alguns minutos depois Casemiro tentou também, mas isolou a bola acima do gol. A Sérvia tentou fazer a bola cruzar, mas ao fazer a tentativa, chutou muito alto e para fora.
Substituição. Sai Coutinho, entra Renato Augusto.
Aos 36 minutos do segundo tempo, Neymar fez três tentativas seguidas, com poucos minutos de distância uma da outra. Na primeira vez, Willian fez o passe para ele, mas ele deu de bicuda, fazendo a bola subir alta. Na segunda vez, Neymar tentou dar um chapéu no goleiro, mas ele ergueu a mão, impedindo que a bola passasse por ele. E na última vez, a bola parou na barreira sérvia, no ricochete da bola, ela voltou.
Acréscimo de três minutos.
- Ok, dá para acabar. Vamos lá! Dois a zero, tá ok. – Respirei fundo.
A Sérvia fez duas tentativas nos acréscimos, uma foi impedida de se aproximar por Thiago Silva e, em seguida, a Sérvia voltou, mas a bola foi para fora. Neymar fez uma última tentativa de ataque. A bola chegou em seus pés, passou para Jesus que devolveu para ele que tentaria o chute se o goleiro não tivesse pego a bola de seus pés.
- Fim de jogo! – Gritei, subindo no banco improvisado e dei alguns pulos em cima do mesmo, fazendo Marcelo rir. – Estamos nas oitavas! Estamos nas oitavas! – Falei animada, fazendo uma dancinha sozinha.
- Quem disse que é chato assistir jogo sozinho, não?! – Marcelo brincou e eu ri.
- Mais uma semana em Sochi! Mais uma semana em Sochi! – Falei rindo, tentando um rebolado bem tonto.
- Onde eu acho o botão para desligar?
- Foi demais! – Falei alto, deslizando os pés pela caixa, ouvindo-o rir. – Ah, menino Ney! – Abri os braços quando os primeiros jogadores começaram a aparecer no vestiário e abracei o mais baixo, vendo-o rir. – Não teve gol, mas tiveram muito menos quedas, meus parabéns e muito obrigada! – Falei, segurando o rosto em suas mãos e ele riu.
- Obrigado! – Ele se afastou rindo.
- Menino Jesus! – Ele veio em seguida e eu o abracei também. – Não teve gol ainda, mas você nem só de gols se faz um atacante, os passes estavam perfeitos. – Ele riu, um tanto encabulado, e logo se afastou.
- Hum, obrigado! – Ele riu e olhei meu jogador favorito vindo ao fundo e abri um largo sorriso e os braços para ele que se aproximou olhando um tanto estranho.
- Ah, Alissinho! – Falei, vendo-o se aproximar enquanto bebia seu isotônico e eu segurei seu rosto com as duas mãos, estalando um beijo em sua testa, provavelmente deixando todos surpresos e olhei seu rosto ficar muito vermelho. – Aquela sequência de defesas! Fantástico! – Falei rindo e ele estava travado.
- Voltei! – Thiago falou e eu soltei um grito animada, abraçando-o pelos ombros e tirando meus pés do chão por alguns segundos, sentindo-o me girar no ar e me colocar de volta em cima do banco. – Defesa, gol, defesa! Você é um cara completo! Muito bom, muito bom mesmo! – Ele riu.
- Valeu, .
- E você sabe o melhor? – Eles olharam para mim como se não soubessem. – Estamos nas oitavas!
- É! – Eles gritaram e eu ri, ouvindo todo mundo bater em algum lugar, comemorando.
Parei por um momento, sentindo minha barriga borbulhar um pouco e meu corpo começar a suar mais ainda. Soltei a respiração devagar por alguns segundos, passando a mão nas têmporas, sentindo as gotas começarem a pingar.
- Está tudo bem? – Alisson perguntou e eu balancei a cabeça negativamente, apoiando a mão em seu ombro
- Não! – Falei, descendo correndo do banco e agradeci pelo banheiro ser por esse lado e entrei no mesmo rapidamente.
- Ei! – Ouvi alguns jogadores reclamando, mas ignorei.
Entrei em uma das cabines livres, tentando fechar a porta com o pé e ergui o assento da privada, vendo tudo que eu tinha, ou não tinha, bebido e comido ao longo do dia sair em duas talagadas, me fazendo sentir uma dor no peito com o movimento involuntário e respirei fundo. Coloquei a mão na testa, sentindo-a encharcada e suspirei.
Eu senti meu corpo acalmar quase imediatamente e tudo o que aconteceu nas últimas horas começou a passar em minha cabeça. Eu tinha feito muita merda e pagado muito mico, principalmente nesses últimos segundos. Suspirei, me encostando na porta da cabine aberta e soltava o ar lentamente.
- Ei! – Vi Rodrigo entrar no banheiro e senti uma dor de cabeça forte bater em minha cabeça e ele se ajoelhou ao meu lado. – Agora você vai ficar bem.
- O que aconteceu? – Perguntei, balançando a cabeça. – Porque isso aconteceu?
- Você ficou o dia inteiro a base de bebidas com bastante glicose e cafeína. Elas têm um tempo para fazer efeito sobre o seu corpo, como você não respeitou os intervalos de digestão, quando você parou de ingeri-las, elas assentaram. Junte isso ao fato de você não ter comido nada sólido, seu estômago funcionou literalmente como uma bomba, bateu e voltou. – Suspirei, sentindo-o passar a mão em minha cabeça.
- Ei... – Vi Alisson e outros jogadores entrando.
- Sai daqui, por favor. – Falei e Rodrigo balançou a mão. – Não quero que ninguém me veja assim.
- Eu sei! – Rodrigo falou me entregando um lenço. – Aqui! – Ele falou. – Já arranjo uma bala ou alguma coisa para ti.
- Que vergonha! – Falei e ele riu fraco.
- Da próxima vez que você não dormir, vamos certificar que você consiga um tempo de descanso apropriado, pode ser? – Suspirei.
- Amanhã mesmo eu vou atrás de um sonífero para evitar que isso aconteça. – Ele riu fraco.
- Eu vou pegar meu estetoscópio e o medidor de pressão, ok?! Ver se está tudo certo. – Assenti com a cabeça. – Ou prefere ir lá no vestiário?
- Eu estou bem. – Falei.
- Vamos sair do banheiro, pelo menos. – Ele me estendeu as mãos e eu segurei para me ajudar a levantar.
Eu passei na pia para dar uma lavada em meu rosto e fazer um gargarejo com água mesmo, pelo menos para tirar aquele gosto ruim na boca. Ele me sentou no corredor que antecedia o banheiro, ao lado do vestiário e saiu para o mesmo rapidamente. Ele trouxe os materiais que disse e começou pelo meu coração, ouvindo-o aos poucos.
- Tá um pouco acelerado. – Ele falou, pendurando-o no pescoço e colocou o medidor de pressão em meu braço, começando a apertar o mesmo, fazendo-o inflar e relaxar após alguns segundos. – Meu Deus! – Ele falou. – Sua pressão é sempre alta assim?
- Não. – Falei. – Normalmente é 11 por sete. – Falei, respirando devagar. – Até baixa.
- Está 14 por nove, . Eu vou te dar um remédio para abaixar isso, ok?! Pode te dar uma taquicardia. – Ele falou e eu respirei fundo.
- O que você quiser. – Suspirei, encostando minha cabeça na parede.

Ele voltou e conectou uma bolsa de 250 mililitros de soro em meu braço e injetou uma ampola de algo que fez meu corpo relaxar rapidamente, quase como desinchar um balão. Isso fez com que minha pressão caísse aos poucos e meu coração parasse de bater igual uma escola de samba.
Enquanto ele ficava comigo ali, o resto do pessoal acabou até jantando no estádio de Moscou, como era esperado. Eu não queria aparecer em público, mas precisávamos voltar para Sochi ainda. Agradeci por sempre andar com um casaco na mochila e o vesti, colocando o capuz na cabeça.
Tanto durante a ida de ônibus até o aeroporto, o voo de Moscou para Sochi e o ônibus de volta para o hotel, eu fui lá na frente, ao lado de Rodrigo. Em partes, tentando fugir tanto de Alisson, dos jogadores e da minha própria equipe. Além de que Rodrigo queria continuar monitorando minha pressão, até que ela voltasse ao normal, o que aconteceu logo no começo do voo.
O que tinha sobrado era só vergonha por passar um vexame desses no meio de muitas pessoas famosas, conhecidas e que tinham virado minhas amigas. Pior que eu nem podia me fingir de tonta e falar que ninguém tinha me avisado, porque tinham. Eu só não quis ouvir.
Apesar de que eu já tinha feito isso em outras situações, principalmente após festas da faculdade onde eu teria que ir virada para a aula, ou em jogos importantes os quais eu não conseguia dormir. Acho que o caso principal foi à falta de comida sólida mesmo. Quando bateu, saiu de uma vez.
Assim que chegamos ao hotel em Sochi novamente, eu fui a primeira a descer do ônibus. Enquanto o pessoal esperava as malas, eu me desviei de todos e corri para o quarto. Agradeci pelos elevadores estarem no térreo e entrei no mesmo, apertando o botão do quarto andar rapidamente.
Apoiei a cabeça na parede do mesmo e aguardei até que o mesmo chegasse ao andar. Saí do mesmo, seguindo em direção ao quarto e coloquei a chave no mesmo, empurrando a mesma e entrei nele. Fechei a porta e me encostei na mesma, respirando devagar. Eu queria chorar, mas parecia que eu não tinha lágrimas naquele momento.
- ! – Ouvi um barulho na porta e me afastei da mesma, encarando se a mesma não abriria sozinha. – Vai, . É o Alisson, abre! – Respirei fundo, sentando na beirada da cama e as lágrimas finalmente saíram. – Por favor.
- , por favor. A gente quer saber como você está. – Reconheci a voz de Thiago e peguei meu travesseiro, abraçando o mesmo.
- , é o Rodrigo, eu quero medir sua pressão mais uma vez.
Por mais que eu não quisesse, ignorei todos e segui direto para o banheiro, fazendo as vozes ficarem abafadas. Eu tomei um longo banho, escovei os dentes três vezes para me certificar se o cheiro e gosto tinham saído e coloquei um pijama quente, entrando embaixo das cobertas e agradecendo por conseguir dormir em poucos minutos, ouvindo as vozes insistentes do lado de fora.


Capítulo 8 – Brasil x México, estão deixando a gente sonhar!

Acordei no dia seguinte e me senti nova. Tirando a vergonha, eu estava bem, como se nada tivesse acontecido. Os gritos da noite anterior tinham cessado e tinha um silêncio descomunal no corredor. Era dia de folga! Tite já tinha informado que caso passássemos, ele só queria ver os jogadores novamente na sexta-feira cedo, para se preparar para o jogo contra o México.
Saí da cama e fiz minha higiene matinal. Voltei para o quarto e abri as cortinas, deixando que o sol de Sochi entrasse em meu quarto pela janela em “L”. Segui até minha mochila e peguei meu celular, vendo-o desligado, provavelmente tinha acabado a bateria no meio da noite. O conectei na tomada e me assustei ao ver que passava já das 11 horas da manhã. Eu tinha passado uma noite inteira sem dormir, com certeza tinha conseguido recuperar o sono perdido.
Conectei o celular no wi-fi do hotel e segui para o armário, pegando shorts, uma camiseta que não fosse da CBF e me troquei. Meu celular começou a apitar loucamente, me preocupando que meu celular travaria ou explodiria com tantas mensagens.
Aguardei com que ele parasse de fazer barulho e puxei a aba de notificações. Tinha uma ou duas do Facebook, alguns e-mails da CBF e o resto era tudo mensagem do WhatsApp. O grupo da CBF tinha sido movimentado na noite anterior, não pela vitória, mas com perguntas de como eu estava e se alguém tinha alguma notícia minha. Cogitaram até que eu tivesse fugido pela janela, o que até me fez rir um pouco.
Depois, nas conversas individuais, tinha mensagem de Lucas, Vinícius, Bianca, Angelica, de todos os 23 jogadores, além de Tite e Rodrigo, perguntando como eu estava. Abri mensagem por mensagem, vendo se tinha algo diferente do “como você está?” e só fui limpando as notificações. Eu deveria responder o pessoal, mas confesso que não estava com paciência.
Parei por alguns segundos antes de abrir a mensagem de Alisson. Tinha várias mensagens dele, todas com horários espaçados.
“Ei, abre a porta”.
“Você está bem?”
“Estamos preocupados”.
“Não sou sair daqui até você abrir”.
“Estamos jogando truco na frente da sua porta”.
– Será que foi sério?
“Porque você está assim? É por causa do que houve mais cedo?”.
“Não vai abrir mesmo? Tá dando sono”.
– Ri com essa.
“Não entendo porque você está tão envergonhada, todos já levamos um porre na vida”. – Balancei a cabeça, rindo sozinha.
“Sei que você deve estar chateada, mas, acredite, nós ainda te adoramos e não vamos aguentar o resto da Copa sem você. Isso são coisas que acontecem e que são feitas para aprendermos com nossos erros. Fala comigo”.
“Acho que você já foi dormir. Estou indo para o quarto, não saia agora e pense que eu sou um cara desalmado. Dorme com os anjos”.
– Suspirei com essa última mensagem e olhei as informações de foto e horário e vi que ele estava online.
Pensei por alguns segundos o que responder e comecei a digitar alguma coisa como “estou bem” e “adorei suas mensagens, mas eu realmente já tinha ido dormir”. Antes de apagar as mensagens mil vezes e decidir o que respondia, ouvi uma batida na minha porta e franzi a testa. Deixei o celular na cama e segui para a porta, abrindo a mesma.
- Ah, você está bem! – Senti alguém me abraçar fortemente, me deixando perdida por alguns segundos. Só percebi que era Alisson pela altura e pelo cheiro do perfume.
- Hum, estou... – Falei um tanto em dúvidas e ele me soltou, me segurando pelos ombros.
- Tem noção do quão preocupados nós ficamos ontem à noite? – Ele falou e eu ri fraco.
- Vocês realmente jogaram truco na frente da minha porta?
- Sim! – Ele falou com o cenho sério e eu me senti culpada.
- Desculpe! – Falei, respirando fundo e fiz um movimento com a cabeça para ele entrar. – Eu precisava dormir e eu estava com vergonha. – Neguei com a cabeça.
- Eu entendo! – Me sentei na cadeira e ele se apoiou ao meu lado. – Mas somos jogadores de futebol, certeza que fizemos muito mais besteiras do que você. – Ri fraco, negando com a cabeça. – Não foi o Marcelo que fez um gol contra na abertura da Copa de 2014?
- Foi! – Ri fraco. – Mas eu não tinha como olhar para vocês, olhar para você.
- Por quê? Porque eu saberia que a mulher que eu me apaixonei não é perfeita? – Dei um pequeno sorriso. – Que bom, porque eu cansei de gostar de bonecas, é difícil competir.
- Você está apaixonado por mim? – Perguntei e ele riu fraco, ficando envergonhado.
- Vamos falar disso depois, ok?! – Ele falou e eu sorri.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei. – Vocês não estão de folga?
- Sim. – Ele cruzou os braços.
- Então, o que você está fazendo aqui? Não vai ficar com a sua família? Sua filha? – Dei de ombros e ele riu.
- Eu não ia sair daqui sem checar como você estava. Rodrigo estava aqui até agora perguntando de ti. – Suspirei, apoiando a mão no queixo. - Além de que combinei de encontrar meus familiares no fim do dia, todos os jogadores, na verdade. – Assenti com a cabeça. – Por isso, eu queria saber se você não gostaria de sair comigo, almoçar fora daqui, dar uma volta pela cidade... – Ergui o rosto para olhá-lo que tinha um pequeno sorriso no rosto.
- Você está me chamando para sair? – Cruzei os braços.
- Sim! – Ele sorriu. – Eles chamam de encontro, não é?! – Ri sozinha.
- Me dá uns 30 minutos para eu me arrumar decentemente, falar com a minha equipe, Rodrigo e podemos ir. Que tal? – Ele assentiu com a cabeça.
- Te encontro no corredor, então. – Ele falou e andou para trás, saindo do meu quarto e puxando a porta.
Respirei fundo, sentindo que eu tinha um cabide enfiado na minha boca e segui para o armário. Eu não sabia aonde iríamos, creio que nem ele sabia onde me levaria, então acabei colocando um vestidinho básico, que eu tinha trazido por precaução, e meu conhecido All-Star. Até poderia colocar um salto e ficar mais bonita, mas meus pés precisavam descansar para o próximo compromisso oficial e para o próximo jogo. Dei uma melhorada na cara, com aquele lápis preto e o batom rosado e soltei os cabelos.
Avisei no grupo da equipe que estava viva e bem e logo começou a surgir respostas felizes por saberem disso. Liguei para Angelica para saber o andamento do dia e ela disse que Tite tinha dado folga para todo mundo, inclusive para nós e que deveríamos aproveitar um pouco. Ótimo!
Rodrigo surgiu no meu quarto após minha aparição no grupo da CBF. Ele refez todo o check-up em mim, conferindo o coração e a pressão novamente e ficou aliviado por tudo já ter normalizado.
- Se não ficou claro, não faça aquilo de novo, ok?! – Ele falou e eu ri fraco, fazendo positivo com a mão.
- Vai aproveitar, Rodrigo. – Falei, empurrando-o para fora do quarto.
- Vejo que também vai. – Suspirei, abrindo um sorriso de lado. – Aproveita mesmo, acalma aquele garoto antes do próximo jogo. – Senti minhas bochechas esquentarem e assenti com a cabeça.
- Até mais. – Acenei com a mão e bufei, balançando a cabeça.
Peguei meu passaporte, alguns rublos e dólares guardados na minha carteira, além do cartão de crédito da CBF e a chave do quarto e ajeitei tudo em uma bolsinha que eu tinha enfiado dentro da maior e a cruzei em frente ao corpo. Achei que a usaria em dias de folgas, mas não para realmente sair com alguém.
Coloquei a mão na maçaneta e respirei algumas vezes antes de girar a mesma. Saí do quarto, deixando a porta fechar sozinha e virei o corredor, encontrando Alisson parado ao lado do elevador. Ele usava uma calça jeans, blusa preta, tênis e os cabelos penteados para o lado.
- Ei! – Falei e ele sorriu.
- Ei! – Ele respondeu. – Bom te ver sem aquela roupa da CBF.
- Nem fala! – Rimos juntos. – Então, aonde você vai me levar?
- Eu não tenho a mínima ideia! – Ele falou e rimos juntos. – Tentei procurar algo no Google Maps, mas só aparece em russo. – Ele apertou o botão do elevador. – Quais as chances de você saber falar russo?
- Zero! – Respondi rindo. – Mas podemos sair sem rumo, quando aparecer algum restaurante a gente para e, se cansar, tenho sempre o Uber no meu celular. – Ele riu.
- Talvez seja uma boa. – Ele riu.
Nós saímos literalmente sem rumo pela rua de trás do hotel. Ele perguntava sobre mim, do que eu gostava, da minha família, mas sempre acabávamos caindo no futebol. Era visível que ele se interessava sobre esse lado da minha vida, principalmente por ter pego cinco pênaltis dele alguns dias atrás. Apesar de ainda duvidar que ele tivesse dado tudo de si. Já tinha visto algumas de suas habilidades com os pés e ele não tinha me mostrado todas aquele dia.
Eu já estava mais interessava nele, na sua família, na sua filha, em sua moradia na Itália, além de fazer questão de demonstrar minha surpresa em nunca tê-lo visto antes. Não só durante o Internacional, mesmo morando no Rio de Janeiro, eu sempre torci para um time paulista, mas eu não lembrava de tê-lo visto nem nas eliminatórias da Copa do Mundo, foi como se Alisson Becker tivesse nascido para mim no dia 14 de maio.
Só tinha um pequeno problema. Parecia que estávamos em um bairro privativo. Estávamos andando e papeando há horas e não tinha aparecido nenhum comércio ou barraquinha de comida para sentarmos e dar aquela relaxada.
- Acho que... – Paramos por um momento e olhei os terrenos vazios na lateral.
- Não tem nada aqui. – Ele falou e eu abri o mapa pelo celular, dando um rápido zoom na área que estamos.
- Tem aquele restaurante mediterrâneo e a confeitaria perto do hotel, depois não tem mais nada por vários metros. – Falei rindo. – Tem até um sanatório aqui, mas um restaurante...
- Sério? – Ele perguntou e eu mostrei o celular.
- Sei lá, escreve parecido! – Ele riu.
- Porque a gente não volta? Pelo menos temos a praia do hotel, as piscinas... – Ele parou por um momento.
- O quê? – Perguntei.
- Mas é claro! – Ele riu fraco. – A gente tinha falado que se tudo desse certo ontem, faríamos um churrasco na piscina do hotel.
- Naquela quente? – Perguntei.
- A gente achou uma piscina separada, do lado de fora, com área para festa e tudo mais, meu pai até falou para improvisarmos uma churrasqueira e...
- Eu não sei o que me assusta mais: vocês improvisarem uma churrasqueira ou achar carne boa para fazer churrasco aqui na Rússia? – Falei e ele riu.
- Somos brasileiros, vai dizer que nunca fez uma loucura quando viajou para o exterior? – Ele olhou em meus olhos e ponderei com a cabeça.
- Acho que o que eu fiz ontem vale pela vida inteira. – Comentei e ele sorriu.
- Então, vamos? – Ele me estendeu a mão e eu ri, segurando a mesma.
- Quero só ver se vocês vão vir com carne boa mesmo. – Ele entrelaçou nossos dedos e eu olhei para baixo, tentando não denunciar o largo sorriso em meu rosto.
- Eu sou gaúcho e tenho tendência em ser exigência quanto a carne, mas com a fome que eu estou, aceito qualquer coisa. – Ri, caminhando ao seu lado.
- Você pelo menos tomou café, eu não como nada desde... – Deixei a frase no ar. – Bem, desde o café da manhã de ontem.
- Você não comeu nada hoje?
- Ah, eu acordei tarde, você apareceu com uma oferta que eu não poderia recusar e logo saímos. – Dei de ombros. – Eu estou com um buraco no estômago. Se quer saber, meu esporte favorito é comer. – Ele riu.
- Eu vi pela quantidade de barras de chocolate que você comeu. – Gargalhei, encostando o rosto em seu ombro. - Acho que é a pior parte da dieta para mim. – Ele falou e eu ri em seguida. - Essa é a pior parte de morar na Itália. Você vive de dieta por causa da profissão e mora no país com a melhor culinária do mundo.
- Nossa! – Falei rindo. – Quando eu fui para lá, eu fiquei pouco, mas eu acho que engordei uns sete quilos só por causa de pastas e pizzas e... – Balancei a cabeça, suspirando. – Foi igual na França, eu fiquei três dias e depois que eu comi o crepe francês, eu não parei mais. – Ele gargalhou.
- Sim! – Ele falou rindo. – É uma surpresa muito boa, não é?!
- Sim! – Falei animada. – Seria muito bom se tivesse um desses por aqui. – Suspirei. – Presunto cru, queijo ementhal e ovo. – Coloquei a mão livre no peito. – Ou Nutella com banana. – Suspirei.
- Você tem noção que só estamos falando de comida? – Ele perguntou e eu ri.
- Desculpa! Acho que estou precisando de outro hobby. – Ele riu. – Sobre o que quer falar? – Ele suspirou.
- Bom, eu já sei sobre você, sua família, sua formação, seu amor pelo futebol, sua época de goleira das Focas de Laço Azul... – Comecei a rir sozinha.
- Esse nome era ridículo. – Comentei. – Elas mantêm até hoje. – Neguei com a cabeça.
- E sobre depois da Copa? – Ele me perguntou e eu parei de andar, me virando para ele.
- O quê? – Perguntei, puxando-o pela mão.
- Conexão Roma Rio? – Dei um longo suspiro, soltando o ar pela boca e ponderei um pouco.
- Eu sou a primeira a sofrer por antecipação. – Falei. – Porque a gente não aproveita enquanto podemos? – Ergui uma mão para seu rosto. – Principalmente pelo fato de já ter vazado e os jogadores e equipe estarem dando tanto apoio para gente?
- Só não quero que seja algo de Copa, sabe? Que acabe no fim... – Não evitei em sorrir.
- Não vamos pensar nisso, ok?! Temos até dia 15 de julho aqui, depois alguns dias de comemoração e...
- Você realmente acredita que vamos ganhar? – Ele perguntou e voltamos a andar.
- Eu quero muito acreditar. – Suspirei. – Eu fico nervosa a cada jogo, parece que eu vou desmaiar com cada bola que chega perto de você ou que não entra no gol do adversário, mas eu realmente queria que fôssemos hexa, ainda mais que eu me afeiçoei tanto a vocês e acho que vocês merecem para caramba. – Ele sorriu. – Imagina?
- Seria muito legal! – Ele falou sonhador.
- Além de que faz 16 anos que fomos penta, eu tinha oito, eu nem lembro direito. – Ele riu.
- Verdade, não é?! – Ele riu. – Parece aquela propaganda de 2014, “eu nunca vi o Brasil ser campeão”. – Rimos juntos. – Pelo menos eu vi duas vezes.
- Eu também! – Falei rindo.
- Mesmo? – Ele perguntou.
- Eu tinha uns três meses, na verdade. Minha mãe brinca que a cada gol parecia que ela ia me jogar. – Ele gargalhou.
- Meu Deus! Sua família parece que também sempre foi ligada ao futebol, não? – Dei de ombros.
- Ah, nada profissional, eu fui a que chegou mais perto de jogar profissionalmente e ainda assim não era sonho, nem nada, foram coisas que aconteceram, mas a gente sempre gostou. – Sorri. – Meu avô materno foi o responsável por tudo isso. Ele adorava. – Suspirei. – Ele ia adorar me ver aqui com vocês, trabalhando para a CBF, na Rússia, com a Seleção Brasileira. – Suspirei. – Aposto que eu ia amar apresentar todos vocês para ele.
- Ele já se foi? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, depois da Copa de 2010. – Dei de ombros. – Tudo na vida acontece por um motivo, certo?
- Sim, com certeza! – Ele me trouxe para mais perto e eu suspirei. – Quem sabe você não leva uma lembrança do hexa para casa? – Ri fraco.
- Me senti a Mulan levando para casa a espada do imperador. – Ele gargalhou e soltou minha mão, passando o braço pelos meus ombros e me abraçando.
- Vem! Vamos ver o que eles estão fazendo com o meu churrasco. – Abracei-o pela barriga e entramos no hotel.

Eu realmente nunca tinha me ligado naquilo e me perguntava como os jogadores tinham descoberto isso. Ele ainda era no hotel, mas era um chalé escondido na própria praia privativa. Quase como um quarto privativo na praia.
Ali era quase como um hotel, tinha uma casa principal, com alguns quartos, salas, banheiros e afins e, do lado de fora, uma piscina, uma longa mesa digna de acampamento, alguns espaços abertos, um onde estavam reunidos os pais e outros os jogadores, um pequeno campo com algumas crianças e... Uma churrasqueira improvisada.
Eu havia contado 12 jogadores ali além de alguns familiares, 13 com a chegada de Alisson. Todos estavam bem relaxados, só de bermudão, aproveitando o tempo brasileiro da Rússia. Thiago Silva, Danilo, Douglas Costa, Marquinhos, Filipe Luís, Paulinho, Fred, Ederson, Fernandinho, Neymar, Phillipe Coutinho e Marcelo, único com a blusa azul da Seleção.
- Ah lá! Ah lá! – Neymar foi o primeiro a nos ver e já começou a gritar por nós, fazendo meu rosto esquentar novamente.
- Aí sim, hein?! – Paulinho gritou e eu revirei os olhos.
- Vocês são ridículos! – Falei, ignorando totalmente seus familiares, e Alisson só me segurou com mais firmeza pela mão.
- Vai, galera, pode abrir a carteira! – Ederson falou se levantando e vi todo mundo começar a mexer nos bolsos dos shorts ou sair de perto para pegar suas mochilas.
- Ei, o que está acontecendo? – Perguntei ao ver Fernandinho dar 20 reais para Ederson.
- Acabou a aposta, ué! – Coutinho falou, entregando o dinheiro.
- Mas... – Franzi a testa em como falar isso.
- Não aconteceu nada, galera. – Alisson foi mais rápido e eu dei um sorriso sem graça. Os jogadores nos olharam e depois se entreolharam.
- Mas é lento, hein?! – Douglas falou e Alisson lhe estendeu o dedo.
- Não é por nada não, vocês podem não ter se pegado ainda, mas vocês já são um casal, isso ninguém nega. – Thiago falou e Alisson me abraçou. – Além de que são uma combinação perfeita.
- Paga, vai! Depois que a Copa acabar a gente nem vai saber sobre esses dois. – Ederson falou e as notas de 20 voltaram a aparecer. – Depois eu cobro do pessoal que não está aqui e divido com quem ganhou.
- Ei, vamos prestar atenção aqui, ok?! – Falei, esticando a mão e pegando as notas da mão de Ederson. – Vocês apostaram em cima da gente. – Apontei para mim e para o Alisson. – Sem nosso consentimento. Então, nada mais justo, do que esse dinheiro ser nosso, ok?! – Dobrei o bolinho de notas e coloquei na minha bolsa.
- Ah, mas... – Ederson falou, ponderando com a cabeça.
- Ela tem razão. – Danilo falou e eu coloquei as mãos na cintura, sorrindo.
- Tá, pode ficar. – Ederson falou e eu sorri.
- Além de que 20, 30 reais não vão mudar em nada a situação monetária de vocês, não é?! – Falei brincando e eles riram.
- E você, ? Como está? – Thiago perguntou, me abraçando rapidamente e dando um beijo em minha cabeça. – Ficamos preocupados.
- Eu estou bem. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Com fome, para falar a verdade. – Suspirei.
- Estamos esperando o senhor Alisson aparecer. – Filipe falou. – Seu pai já acendeu, mas falta as coisas esquentarem. – Ri fraco.
- Bom, porque você não cuida da minha comida que eu vou lá no hotel pegar um biquíni e me coloco um pouco mais apresentável?
- Acho muito interessante. – Marcelo comentou e eu o empurrei pelo peito.
- Cai fora! – Falei, vendo-o rir. – Afinal, porque você está com essa blusa?
- Eu me esqueci de colocar a roupa para lavar. – Revirei os olhos.
- Falo nada. – Balancei a cabeça. – Continuando... – Virei para Alisson.
- Pode ser, mas porque você não vem conhecer minha família antes? Do jeito certo? – Ri fraco, assentindo com a cabeça e ele me puxou pela mão.
Ele me puxou para uma das rodinhas do grupo, me fazendo acenar brevemente para os familiares dos outros jogadores, alguns que eu tinha conhecido da pior forma possível, depois de xingar todo mundo naquele primeiro dia, e segui até a rodinha onde se encontrava a família Becker.
- Ah, querido! – O que eu imaginei ser sua mãe, foi a primeira a se levantar. Ela segurou Alisson pelo rosto e estalou dois beijos na face do garoto, parecia que eu estava vendo ela cumprimentar uma criança... Não que ele fosse muito mais velho do que isso.
- Mãe, pai, Muri, eu quero te apresentar uma pessoa. – Ele falou e eu dei aquele sorriso lateral bobo de vergonha. – Essa é .
- Acho que já te vi em algum lugar. – Sua mãe falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim! – Sorri. – Eu trabalho com eles aqui na CBF. – Sorri.
- É, a gente tá... – Alisson ponderou com a cabeça.
- Se conhecendo melhor. – Falei, vendo seu irmão rir com a definição.
- É! – Ele sorriu. – É Copa, compromissos, a trabalha com eles...
- Mas vocês parecem bem confortáveis juntos. – Sua mãe falou.
- A gente está se olhando desde o Rio de Janeiro e, como todo mundo já sabe, a gente está se permitindo aos poucos. – Falei e ela riu.
- Fico feliz! – Ela falou. – Sou Magali, mãe dele.
- É um prazer. – Falei, sentindo-a dar dois beijos em meu rosto.
- Meu pai, José. – Ele apontou para o pai que somente estendeu a mão e eu a apertei. – Meu irmão, Muriel. – Ele acenou de longe, enquanto segurava a loirinha de Alisson.
- Olá! – Ele sorriu animado.
- E essa é Helena! – Ele pegou a filha que foi rapidamente para seu colo. – Minha filha.
A menina ficou levemente envergonhada e escondeu o rosto no pescoço do pai. Eu fiz um carinho de leve em seu braço e sorri para Alisson, vendo-o cochichar algumas palavras para a menina.
- É um prazer conhecê-los, mesmo. – Sorri. – Está faltando a mãe dela, não?
- Verdade! Onde está Natalia? – Alisson perguntou.
- Ela sabe se colocar no lugar dela. – Seu pai falou. – Ela não quis atrapalhar. – Alisson assentiu com a cabeça e eu ri nervosa.
- Bem, seu José, ouvi falar que o senhor que vai fazer o churrasco para nós? – Ele riu.
- Ah não, querida, isso é com esse aí! – Ele apontou para Alisson e eu ri.
- Bem, você ouviu seu pai. – Falei. – Eu já volto. – Ele assentiu com a cabeça, dando um rápido beijo em minha bochecha.

Voltei para o hotel, coloquei um biquíni, recoloquei o vestido por cima e peguei uma toalha. Retornei ao lugar onde a festa acontecia e a música já rolava solta e o cheiro de carne queimando já subia pelos ares.
O dia foi ótimo, claro que as brincadeiras comigo sempre pareciam ser as mais interessantes, mas o bom era que eu circulava por todos os ambientes. Com Alisson, com os jogadores, com a família de Alisson, com as famílias dos jogadores, com algumas crianças que pareciam ter se afeiçoado comigo, até com Helena que parecia querer começar a se abrir.
Acabei até entrando na piscina um pouco, claro que teve toda aquela zoação de “olha ela” de novo, mas eu já estava acostumada com isso. A brincadeira era de duas vias, eles me zoavam, eu os zoava.
Depois acabei me aproximando de Alisson e da churrasqueira e pegava as melhores partes da carne, antes de ser passada para o resto do pessoal. Eu poderia ficar ali pelo resto da vida. Sentindo a brisa de leve no corpo molhado, as carnes malpassadas chegando aos poucos, Alisson me dando olhares sugestivos, os jogadores brincando e se divertindo. Era quase um churrascão em família. Mas o dia amanhã começava cedo e eu não podia me esquecer de que estava lá para trabalhar. Além de que estávamos nas oitavas, as coisas começariam a engrossar agora.
- Eu vou subir. – Falei mais para Alisson, mas tive reação de todos os lados.
- Pô, . Qual é! – Douglas comentou.
- Senta aí! – Coutinho falou e eu ri.
- Queria, gente, mas é quase uma da manhã, amanhã voltamos ao horário normal e eu preciso regular meu relógio interno. – Falei e todos começaram a se entreolhar.
- Ela está certa. – O pai de Alisson falou e eu dei um sorriso.
- A gente se fala amanhã, ok?! – Falei para Alisson que deu um rápido beijo na minha testa.
- Eu subo contigo. – Ele falou. – Depois eu volto aqui para ajudar a arrumar.
- Pode ir, bonitão. – Marcelo falou, batendo nas costas de Alisson e rimos.
- A gente se vê depois. – Alisson falou rapidamente para os pais e deu um beijo em Helena que dormia no colo da avó e eu acenei para eles rapidamente.
- Prazer em te conhecer, . – Muriel falou e eu sorri, acenando para os pais.
- Obrigada! – Sorri. – O prazer é meu. – Falei, acenando rapidamente dos familiares restantes dos jogadores e acenei para eles. – E quero todo mundo sete horas no café da manhã.
- Oito! – Ederson falou e eu ri.
- Aí você vê com o Tite. – Brinquei, acenando para eles e saindo dali.
- Foi legal hoje. – Alisson falou e eu ri, ajeitando a barra do meu vestido.
- Foi mesmo! – Sorri. – Fazia tempo que eu não me divertia tanto.
- A turma é legal. – Ele sorriu.
- Sinto que alguns familiares ainda querem me matar, mas pelo menos vocês gostam de mim. – Dei de ombros e ele sorriu.
- Alguns mais que outros. – Ele comentou e eu o empurrei pelo ombro levemente, sentindo-o passar o braço em volta de meus ombros. – Você está gelada.
- Agora esfriou. – Falei rindo. – Mas agora eu tomo um banho bem quente, me cubro e tá tudo certo. – Ele sorriu.
- Espero que ninguém fique doente por isso.
- Nem brinca! – Falei rindo. – Falando nisso, viu que deu uma crise de gripe na seleção do México?
- Sério? – Ele falou e eu afirmei com a cabeça.
- Sim! Seria melhor ainda se eles não pudessem jogar e a gente ganhasse de W.O., só para eles pararem de falar besteira.
- Nem me abalo! – Alisson falou. – Peixe morre pela boca, sabia?
- Você tem razão. – Apertei o botão do elevador, aguardando-o.
- Meus pais parecem ter gostado de ti. – Assenti com a cabeça.
- Seu pai é meio quieto. – Falei.
- Desde sempre! – Ele riu. – Eu e o Muri ganhamos lá em casa de tanto falar. – Ri, entrando ao seu lado. – Mas ele gostou sim, principalmente Muri, ele sempre foi minha inspiração.
- Legal ouvir isso. – Sorri, vendo as portas do elevador se abrirem em nosso andar novamente. – Eu e minha irmã sempre fomos coladas, aí eu fui para o Rio de Janeiro e nos afastamos um pouco, mas só fisicamente, a gente ainda conversa, ri e alopra uma a outra todo dia. – Ele riu.
- Assim que é bom, né?! Ter alguém tão próximo assim da gente, que mesmo longe, parece que sempre está lá, não é?! – Assenti com a cabeça, procurando a chave do quarto e tirando-a da bolsinha.
- Sim! Adoro ir de férias ou ela vir para o Rio e a gente falar besteira e colocar a conversa em dia. – Ele riu. – “Vir”? Até parece que estou no Rio. – Ele gargalhou. – Estamos longe de casa. – Suspirei.
- Bem longe. – Ele sorriu e eu abri a porta.
- Bem, essa é a minha deixa. – Suspirei. – Vamos que amanhã temos um longo dia pela frente.
- É! – Ele sorriu.
Ele me encarou por alguns momentos e fiquei em dúvidas se ele o faria ou se eu teria que fazer, mas ele aproximou o corpo do meu lentamente, me fazendo encostar as costas no batente da porta. Ele segurou meu pescoço com uma das mãos e colou os lábios nos meus levemente, fazendo meu corpo arrepiar. Ergui uma mão para seu peito, amassando sua blusa, mas mantendo-o por perto por mais tempo.
- Você demorou demais. – Falei, ainda com os olhos fechados, somente sentindo sua respiração perto da mim.
- É? – Ele cochichou e eu ri sozinha.
- Espero isso desde o Rio. – Abri os olhos, encontrando seus olhos verdes ali.
- Nem fala! – Ele cochichou, acariciando meu pescoço.
- Não vamos esperar mais. – Cochichei e ele me encarou.
- Mesmo? – Ele perguntou e eu respondi com uma leve mordida em seus lábios e escorreguei para dentro do meu quarto, vendo-o entrar logo atrás e bater à porta.
Ele me segurou pela cintura e nossas bocas se uniram novamente, dessa vez com bem mais intensidade de antes. Ele me apoiou na escrivaninha e eu passava as mãos pelas suas costas e barriga. Ele mesmo puxou sua blusa para fora e eu passei minhas pernas em sua cintura, bagunçando seus cabelos com as mãos a cada beijo que ele depositava em meus lábios, bochecha, escorregando pelo pescoço, até o colo.
Meu vestido encontrou sua blusa logo em seguida e ele me levantou da escrivaninha, fazendo com que eu apertasse meus braços em seus ombros e ele me levasse para a cama. Ele me deitou sobre a mesma e se certificou de tirar seus shorts antes de se deitar sobre meu corpo gelado de biquíni.
Ele beijava as partes do meu corpo e eu me sentia impotente perto dele, só sendo capaz de soltar suspiros pelos lábios e apertar suas mãos que seguravam as minhas. Logo meu biquíni e sua sunga úmidos tocaram o chão e o quarto começou a ficar quente, abafado e nossas respirações falhassem aos poucos.
Eu passei a mão em seus cabelos colados na testa e joguei-os para trás. Ele tinha a respiração abafada, mas um largo sorriso no rosto. Passei a mão em seu rosto, também tentando normalizar a respiração e ele abriu um largo sorriso, fiz o mesmo, puxando seu pescoço para mais um beijo.
Ele se deitou ao meu lado, me trazendo para perto de si e ficamos um tempo em silêncio, aguardando que nossas respirações normalizassem e o suor parasse de escorrer por todas as dobras do meu corpo. Virei o corpo, colando meu peito em cima do dele e passava as mãos lentamente sobre seu peito cabeludo, sentindo-o acariciar minhas costas e dar curtos beijos em minha testa.
- Aqueles malditos sapatos amarelos. – Ele falou e eu ergui o rosto, vendo os sapatos jogados na porta do banheiro.
- O quê? – Perguntei, rindo em seguida.
- No momento em que eu te vi com eles, entrando na primeira reunião lá na Granja, eu sabia que você tinha algo de diferente. – Sorri, passando o braço pela sua barriga.
- Uma garota no meio de vários homens. – Falei e ele riu.
- Não, não foi só isso. – Ele suspirou. – Eu vi a cena em câmera lenta. Os sapatos, as pernas, o corpo, os seios, os cabelos, a boca, os olhos... – Ele riu sozinho. – Era perfeito! – Sorri.
- Uma digna cena de filme.
- É! Tipo isso. – Ele riu e eu suspirei.
- Quando eu entrei na Granja e vi todo mundo lá, eu achei que fosse desmaiar. Eu já estava te estudando há um tempo, mas naquele momento eu simplesmente travei. Deveria ter cavado um buraco e sumido. – Ele gargalhou.
- Eu lembro! Todo mundo parou para te olhar e depois todo mundo comentou de você no grupo do WhatsApp. – Ri fraco. – Foi demais!
- Ainda bem que alguns dias foram o suficiente para gente se acertar. – Ele sorriu. – Imagina só se todo mundo tivesse ficado quieto.
Rimos sozinhos e eu suspirei, sentindo-o me apertar mais contra seu corpo e fechei os olhos, sabendo que eu dormiria a qualquer instante, mas não querendo que aquele momento acabasse por nada nesse mundo.
- Bom, acho que agora a aposta acabou mesmo. – Ele falou, acariciando meus cabelos e eu ri, erguendo o rosto para olhá-lo.
- Vou ganhar mais uma graninha! – Ele riu. – Louca para saber quem achou que aguentaríamos até depois da Copa.
- Nem o Tite apostou nessa opção, deve ter sido o retardado do Firmino, Geromel... Eles se acham os certinhos. – Rimos juntos.
- Amanhã a gente descobre. – Suspirei.
- É, amanhã! – Ele falou, dando um último beijo em minha testa.

Ouvi o despertador tocar e franzi a testa, virando meu corpo na cama e percebendo que o espaço era menor do que o esperado e sorri ao me lembrar da noite passada. Desliguei o despertador do celular e virei para o lado novamente, vendo que Alisson já coçava seus olhos e bocejava.
- Bom dia! – Ele falou e eu passei a mão em seu peito, ajustando a corrente de cruz que ele carregava sempre no peito.
- Bom dia! – Falei, apoiando os cotovelos na cama e ficando virada para ele.
- Fazia muito tempo que eu não dormia tão relaxado assim. – Ele falou e eu ri. – E nem posso falar que o colchão é ruim, porque ele é bom demais.
- Foi isso que fez o Marcelo ter o espasmo no último jogo. – Comentei e ele apoiou os cotovelos para trás e arqueou o corpo. – E você, eu acho que precisava só extravasar. – Comentei e ele riu.
- Que belo jeito, não?! – Ele passou uma mão em meu cabelo e eu arqueei o corpo para frente, colando nossos lábios rapidamente.
- Bem, o dia foi bom, a noite também, mas precisamos voltar a trabalhar. – Falei, me sentando na cama e tirando as cobertas de cima da gente.
- Ah não! – Ele falou, me puxando pelo braço e eu ri.
- É sério, Alisson! Você tem treino, eu preciso pegar alguém para a coletiva, tem treino aberto... – Me levantei. – Pelo menos hoje não tem jogo e eu não preciso ficar trancada aqui dentro.
- Pode me ver treinar. – Ele falou, virando o corpo nu na cama e começando a procurar pelas suas roupas.
- Além de outras coisas. – Falei e ele riu, vestindo a cueca e os shorts.
- Melhor você ir, antes que o pessoal saia do quarto e te veja aqui. – Ele vestiu a blusa.
- Não é por nada não, mas depois que eu não voltei ontem... – Ele se aproximou, passando os braços pelo meu corpo ainda nu.
- Eu sei! Ninguém ali é santo. – Ergui as mãos para seu corpo, fazendo um carinho de leve.
- Mas eu vou para tomar um banho, trocar de roupa... – Ele falou.
- Vai sim! Eu também vou, nos encontramos no café? – Ele me segurou pelo pescoço e colou os lábios nos meus por alguns segundos, me fazendo sorrir.
- Com certeza, social mídia! – Ri fraco, batendo a mão levemente eu seu braço e segui em direção ao banheiro, vendo-o sair de fininho pela porta.
Olhei minhas roupas jogadas no chão e pendurei o vestido na cadeira, que poderia estar um pouco úmido ainda e peguei o biquíni e pendurei no boxe, lavando-o quando fui para o banho. Fiz minha rotina como todas as manhãs, a diferença é que eu tinha acordado com alguém ao meu lado. Peguei meu celular para dar aquele oi diário para minha família e pensei em mandar mensagem para Bernardo, eu precisava compartilhar aquilo com ele, mas a história era longa demais para eu contar por telefone, precisava fazer aquela pipoca caramelizada com leite em pó que a gente gostava e uma bela dose de chocolate quente com tequila para acompanhar, só para contar essa história.
Vesti uma calça jeans limpa e uma das polos azuis que tinham voltado da lavanderia após o jogo. Olhei para os sapatos amarelos no chão e cogitei em calçá-los, já que estava causando uma boa impressão, mas preferi manter no All-Star, eu iria para o campo hoje.
Saí do quarto ajeitando o crachá e encontrei Alisson fazendo o mesmo, trocamos um sorriso e ele estendeu a mão, me puxando para o elevador. Ele me deu um rápido beijo na bochecha e a porta do elevador se abriu. Separamos as mãos e saímos do mesmo.
- Eita nós! – Ouvi um dos jogadores falar e eu e Alisson nos entreolhamos, fingindo que não era com a gente.
- Como foi a noite? – Fernandinho perguntou, vi Alisson se sentar-se à mesa dos jogadores e me aproximei do mesmo.
- Muito boa, e a sua? – Retruquei, apoiando as mãos no ombro do mesmo.
- Ótima! – Ele falou rindo.
- Então, onde estavam os pombinhos? – Neymar perguntou e eu deixei que Alisson respondesse essa pergunta e dei a volta na mesa, apoiando as mãos nos ombros de Ederson.
- Bom dia, . – Ele falou e eu sorri.
- Bom dia! – Falei. – Não vamos nos esquecer de que você ainda tá me devendo uma grana. – Ele se virou para mim.
- A aposta acabou? – Ele perguntou e eu dei de ombros, saindo de perto da mesa.
- Uou! – Ele e outros jogadores que estavam perto falaram e eu segui para o buffet, rindo sozinha.

Dei uma leve batidinha nos ombros de Casemiro e saímos da parte interna do centro de treinamento após a coletiva. Ele correu para o campo e eu parei por alguns segundos, pensando no que eu faria. Os jogadores estavam fazendo um jogo no campo, todos os jogadores estavam no campo, incluindo os goleiros, o que fez com que eu cruzasse os braços e tentasse entender porque Alisson, Cássio e Ederson estavam jogando na linha e porque não tinha ninguém no gol.
Me aproximei da grade, apoiando os braços na mesma e percebi que além dele ser muito bom com as mãos e ter um movimento muito bom, não só no futebol, obviamente, ele ainda era bom com os pés, fazendo passes, embaixadinhas e driblar os jogadores que tentavam tirar a bola de seus pés. Claro que ele e os goleiros eram minoria, então a bola ficava pouco tempo em seus pés.
- Ei! – Virei para o lado, vendo Taffarel se aproximar e sorri.
- E aí, Cláudio, tudo bem? – Ele deu um rápido beijo em minha bochecha enquanto ria.
- Chamando o Tite de Adenor, eu de Cláudio... – Ele riu, se apoiando na grade.
- Sabe como é, estamos tão próximos que parecemos até uma família. – Ele riu.
- Então, fiquei sabendo que você defendeu alguns pênaltis um dia desses.
- Alguns. – Falei, ponderando com a cabeça.
- Fiquei sabendo que defendeu todos. – Ri, balançando a cabeça.
- Eu ainda acho que Alisson estava pegando leve comigo. – Ele ponderou com a cabeça.
- Talvez, mas porque pensa isso? Não acha que seria capaz? – Franzi a testa, olhando para eles.
- Eles são profissionais. Se o Coutinho chuta uma bola do meio de campo em mim, das duas uma, ou eu quebro meu corpo para defender, ou eu saio correndo em desespero.
- Você tem cara de ser alguém que não nega desafios. – Ponderei com a cabeça. – Tanto que permitiu que Alisson chutasse cinco bolas em sua direção e pegou todas. – Suspirei.
- Estávamos no campo menor, a distância era pequena, duvido que ele tenha chutado com toda potência de suas coxas...
- Para de se colocar para baixo! – Ele falou. – Você defendeu, é o que importa. – Ele segurou minha mão e eu sorri.
- Valeu!
- Além de que eu vi o vídeo, aquela última definitivamente ia para fora.
- Não é?! – Falei, rindo em seguida. – Fiquei com dor para caramba à toa.
- Você foi na bola, é o que a gente fala para eles. Que vá para fora, mas e se não fosse? – Suspirei.
- Bom ponto. – Ele sorriu, apertando minha mão. – Eu vou voltar. – Ele falou e eu acenei com a mão, vendo-o se aproximar de Tite e a equipe técnica.
- ! – Virei o rosto, vendo a família de Alisson chegando junto dos outros familiares e olhei no relógio, quatro em ponto, era a hora dos familiares chegarem.
- Oi, gente, tudo certo? – Perguntei, me aproximando deles. Lá estavam os pais de Alisson, o irmão, a filha, a mãe da filha, outra mulher, a qual suspeitei ser esposa de Muriel e outras crianças, que imaginei serem filhos.
- Tudo certo! – Eles sorriram.
- Então, aqui é o seu habitat natural? – Dona Magali perguntou e eu ri.
- Mais ou menos, estou acostumada a ficar dentro de escritórios, esperando as informações chegarem. – Ela riu. – É bom sair.
- Que bom! – Ela sorriu.
- Natália, certo? – Perguntei para a mulher que segurava Helena. – Acho que não tivemos muita chance para conversar. – Ela riu e andou comigo um pouco mais a frente.
- Não se preocupe, você não é a primeira que foge achando que eu e Alisson somos alguma coisa. – Rimos juntas. – Já fomos sim, agora eu só participo por causa de Helena.
- Pelo menos vocês se viram conforme podem. – Ela assentiu com a cabeça.
- Sim. É difícil lidar com essa separação, ele em Roma, eu no Brasil, mas a gente vai lidando como pode.
- Parece que vocês estão fazendo dar certo. – Dei de ombros e ela sorriu.
- Um dia de cada vez. – Ela riu e olhei para a filha de Alisson que pulava no colo da mãe. Os cabelos loiros e olhos claros como da avó.
- Oi! – Helena falou animada, acenando para mim e eu ri, segurando sua mãozinha.
- Oie! – Falei rindo.
- Então, vocês... – Natalia perguntou e eu suspirei.
- Não sei, para falar a verdade. Estamos nos provocando há mais de um mês e agora que parece que as coisas estão andando.
- Ele gosta de você, sabia? – Ela falou e eu olhei Alisson ao longe. – Ele estava falando de você naquele dia, antes de você aparecer.
- Ele te falou isso? – Perguntei.
- Ele não precisa falar, fica claro em seus olhos quando ele fala de quem gosta. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Quem sabe não dá certo? – Suspirei.
- Não sei... – Cocei a cabeça. – É o que você falou, ele em Roma, eu no Brasil... É difícil adivinhar o que vai acontecer depois da Copa.
- Se vocês realmente se gostarem, vocês dão um jeito. Itália é ali do lado, não? – Ri fraco, suspirando.
- Se Deus quiser temos mais duas semanas aqui, eu gostaria de conversar sobre isso, mas ainda é cedo. – Balancei a cabeça. – Não quero assustá-lo. – Ela riu.
- Ele não costuma se assustar fácil, mas entendo o que diz.
- Faz só um mês só que nos conhecemos, tudo isso está acontecendo, tem um turbilhão de emoções à nossa volta. É esse c Copa que nos deixa agitados e empolgados... – Respirei fundo. – Além de que duas semanas ou menos é um tempo muito curto para definir nosso futuro. – Ela assentiu com a cabeça.
- Deus sempre mostra o caminho. – Natália segurou minha mão e eu assenti com a cabeça.
- Vou deixar nas mãos Dele mesmo. – Brinquei e ela sorriu.
Olhei para o campo rapidamente, vendo os filhos de Neymar e Fagner invadirem o campo junto dos pais. Dei uma rápida olhada pelo campo e franzi a testa ao ver Alisson falando com alguém da imprensa.
- Natália, você me dá uma licencinha? – Perguntei. – Eu preciso trabalhar um pouco.
- Claro! – Ela falou e eu praticamente saí correndo de onde eu estava para me aproximar de Alisson, relaxando o corpo quando notei que era só Vinícius fazendo algum vídeo falado para colocar na CBF TV.
- ...Acredito que com o México não vá ser diferente, a gente trabalhou muito bem agora, nos últimos dias. Estamos preparados, com a cabeça muito boa, mentalmente forte, que é aquilo que o Tite sempre pede para gente. E melhorar o desempenho a respeito à última partida, ser efetivo na frente, e consistente defensivamente. – Ele finalizou e Vinícius fez um positivo.
- Obrigado! – Vinícius falou, abaixando a câmera e eu cruzei os braços.
- Já ia perguntar o que a imprensa estava fazendo aqui dentro e entrevistando meu jogador. – Vinícius e Alisson riram.
- Eu pedi para colocar no cronograma de hoje.
- Não olhei o cronograma hoje.
- Estava ocupada demais para olhar, é?! – Vinícius me zoou e eu ri fraco.
- Cai fora daqui! – Falei e ele riu. – E você! – Virei para Alisson. – Não quero ninguém só mentalmente forte, quero fisicamente também. – Ele riu.
- Pode deixar! – Ele piscou e eu revirei os olhos, saindo de perto deles.

As portas do elevador se abriram novamente, ajeitei a mochila nas costas e a mala de rodinha e vi que todos os jogadores já estavam aguardando o ônibus no lobby do hotel. Entreguei minha chave na recepção, esperando que eu pudesse pegá-la novamente depois do jogo de segunda-feira. Agora era mata-mata e minhas mãos até tremiam só de pensar nisso.
- Ah lá! – Ouvi Thiago falar e me afastei da recepção, olhando para a mesma televisão que todos encaravam, onde passava a coletiva de imprensa do técnico do México.
- “Esperamos um jogo decente, onde a arbitragem não seja fraca e parcial, como quando pegamos nas últimas quartas na Copa de 2014”. – Ele falava. – “Além disso, queremos que os jogadores joguem limpo, que não fiquem fingindo quedas desnecessárias e que joguem futebol. É o que viemos fazer, certo?”
- Oi? – Falei, me aproximando da mesma.
- “O técnico não citou nomes durante a coletiva, mas o meia Andrés Guardado, de 31 anos, simpatizou com a resposta do técnico e falou de Neymar”. – Mudou a imagem, mostrando o jogador. – “O Neymar, todos nós conhecemos, acho que não cabe a mim, nem a nós, julgarmos, mas aos árbitros, a FIFA e, agora com o VAR, eles precisam ver. Eles devem ver seu estilo de jogo e o árbitro deve saber administrar isso, sabemos que ele gosta de exagerar quando sofre faltas. Ele gosta muito de se jogar”. – Arregalei os olhos, cruzando os braços.
- Vamos ver em campo, ô engomadinho! – Neymar falou e os jogadores riram.
- Sabe o que eu vou fazer com esse mexicano? – Virei para Neymar. – Eu vou pegar ele pelo pescoço e vou...
- Êpa! – Eles falaram e eu fechei a mão em punho.
- Eu resolvo isso em Samara. – Falei, abanando as mãos. – Vamos! – Acenei, vendo o ônibus parar ao nosso lado.
Entramos no ônibus e seguimos até o aeroporto de Sochi, mostramos nossos crachás e documentos e entramos na aeronave da empresa russa que estava nos levando para todos os lugares. Ajeitei minha mochila no bagageiro e me sentei na janela, vendo Alisson se acomodar ao meu lado rapidamente, me fazendo abrir um sorriso.
- Vamos lá. – Ele falou, segurando minha mão e eu sorri, apoiando minha cabeça em seu ombro.
A viagem até Samara durou pouco mais de duas horas e um fuso para frente, fazendo com que eu arrumasse meu relógio. Eu e Alisson acabamos assistindo Pantera Negra que tinha no próprio sistema multimídia do avião. Eu até tentava ver o filme, mas ele me roubava alguns beijos em toda oportunidade que tinha, tirando totalmente minha concentração.
Chegamos ao Lotte Hotel com festa da torcida brasileira novamente, mas dessa vez mais calma. Apesar das grades separando os torcedores, dos seguranças em excesso e da cantoria, não tinha pessoas amontoadas e nem sinalizadores das cores do Brasil dessa vez.
Entramos no hotel e eu continuava abismada com esses hotéis que estávamos ficando, era um mais bonito e mais luxuoso que o outro. E eu achando que meu quartinho cinco por quatro no Brasil era superconfortável e fazia questão de deixá-lo apresentável. Tentei abanar a cabeça, pensando nas diárias que eu receberia por esse trabalho e no belo bônus que Michelle tinha falado. Claro que só pela viagem com tudo pago, eu não precisaria ganhar mais nada, mas ainda viria uma graninha extra, além do salário e benefícios. Era bem reconfortante.
Ouvi meu celular tocar, além de alguns outros na sala, e puxei o mesmo da lateral a mochila, vendo um e-mail da CBF, me fazendo franzir a testa. O assunto só dizia “Convocação” o que me deixou bem confusa e nervosa. Abri o mesmo rapidamente e olhei as primeiras linhas do e-mail: “Senhorita , devido ao seu excelente e contínuo trabalho durante a Copa do Mundo da Rússia 2018, te convocamos para continuar conosco durante os próximos quatro importantes compromissos internacionais da CBF, caso a Seleção venha a participar de todos: Copa América 2019, no Brasil. Olimpíadas 2020, no Japão. Copa das Confederações 2021, lugar a ser definido. E Copa do Mundo 2022, no Catar. Após o retorno da sua jornada, mais informações serão dadas a você, mas saiba que também serão providenciados alguns cursos de línguas, caso tenha o interesse em participar. Esperamos que esteja bem e aguardamos seu retorno. Antônio Nunes, presidente da CBF”.
- Caramba! – Falei, colocando a mão na testa e puxando alguns fios de cabelo, totalmente impactada com a notícia.
- ? – Ouvi a voz de Alisson abafada e distante.
- Ah, de novo não. – Tite falou e eu senti alguém me sacudir levemente. – ! – Ele falou e eu saí do transe.
- Não é só ela não, chefe! – Alguém falou e virei o rosto para Bianca, Lucas e Vinícius que também tinham os celulares nas mãos e as mesmas feições no rosto.
- Você também? – Lucas perguntou e eu acenei com a cabeça.
- O e-mail da CBF? – Bianca perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Porra! – Vinícius gritou e nós quatro demos gritos estridentes, correndo nos abraçar, gargalhando igual loucos.
- Alguém pode explicar o que está acontecendo? – Tite perguntou e eu ri fraco, virando para os meninos.
- A gente... – Balancei a cabeça.
- Eu não sei nem como isso é possível. – Lucas falou e eu ri.
- Nós quatro já fomos convocados para os próximos quatro compromissos da Seleção. – Falei, rindo sozinha. – Incluindo a Copa no Catar.
- Se participarmos... – Bianca frisou.
- Já mandei parar de falar ‘se’, vamos participar. – Eles riram.
- Isso é possível? – Willian perguntou e eu dei de ombros.
- Pelo jeito é! – Lucas falou rindo e eu abanei a cabeça.
- Mas... – Virei para Angelica que tinha um largo sorriso no rosto. – Você...
- Essa é a minha última Copa, queridos. – Ela sorriu. – Já estou na minha terceira, daqui quatro anos vocês terão outra pessoa para aloprar. – Ela suspirou. – Mas fico imensamente feliz por vocês. Eu fiz a indicação para Michelle por esses dias e parece que ela gostou da ideia.
- Obrigada! – Cochichamos juntos e ela suspirou.
- Ah, sem chorar. Vamos focar! – Ela falou e os jogadores nos aplaudiram, me fazendo rir cada vez mais.
- Agora eu quero ver todos vocês ou boa parte de vocês na Copa América, e em todos os outros compromissos, ok?! – Falei e eles riram.
- Vamos esperar por isso. – Thiago sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Bom, vamos lá. – Passei as mãos embaixo dos olhos, olhando para a lista que Angelica me mostrava. - Olha que felicidade, gente. Quanto mais jogos vocês vão ganhando, melhores ficam os quartos. – Falei rindo. – Quartos de dois. – Eles comemoraram com gritos e eu ri. – Façam seu par e venham pegar suas chaves.
Eles viram dois a dois, fazendo gracinhas e brincadeiras, alguns nos parabenizando pela ‘convocação’ e seguiam para o corredor. Angelica fazia questão de anotar as duplas que estavam em cada quarto para futuras necessidades, por assim dizer. Alisson passou com Ederson, fazendo questão de dar uma piscadela e um rápido abraço antes de subir.
Sobrei com Vinícius naquele dia. Eu fui tomar um banho, me troquei e fui direto para a cama, pegando o celular e ficando de papo com Alisson enquanto o sono não batesse. Vinícius saiu do banho e também se deitou em sua cama. Desligamos as luzes e logo ouvi Vinícius roncando ao meu lado, me fazendo rir baixinho.
“Vinícius morreu ao meu lado”. – Enviei para Alisson que mandou uma carinha risonha.
“Acho que estou ouvindo seus roncos daqui”. – Ri, ajeitando a cabeça no travesseiro.
“Se cair uma bomba aqui, ele nem vai ouvir”. – Enviei de volta, suspirando e ergui o corpo na cama um pouco, checando se ele realmente estava dormindo e tirei uma foto, enviando para Alisson.
Clássico!” – Ele falou. “Esperando o Ederson dormir para fazer o mesmo”. – Sorri, suspirando.
“Talvez nós devêssemos dormir, amanhã o dia é aquela correria e tensão novamente”. – Respondi.
“Só mais um pouco”. – Ele respondeu e eu suspirei.
Ouvi um toque na porta e franzi a testa, deixando o celular na cama e joguei as cobertas para o lado, calcei os chinelos e me aproximei da mesma, abrindo uma frestinha, impedindo que a luz do corredor cegasse Vinícius.
- Ederson? – Franzi o rosto quando o vi na porta.
- Cai fora daqui. – Ele falou, abrindo a porta e entrando em meu quarto.
- Quê? – Perguntei.
- Eu estou sendo o amigo legal que deixa o casalzinho namorar. Agora vai! – Ele me empurrou e eu ri. – Só esteja aqui antes das seis para trocarmos ou eu vou encontrar vocês dois pelados lá no quarto. – Soltei uma risada fraca e ele fechou a porta do meu quarto.
Segui pelo corredor, encontrando a porta do quarto deles aberta e entrei no quarto com a luz a meia fase, encostando a porta devagar. Alisson estava sentado na cama, somente de bermudas, também balançando a cabeça para os lados.
- Isso vai dar merda! – Falei baixo e ele riu, me chamando com a mão.
- Foi ideia dele e eu não poderia negar! – Ri fraco e ele me puxou para sentar em seu colo.
- Ele é louco. Você é louco. Não deveríamos estar fazendo isso, se os jogadores não podem ficar com namoradas e esposas nos hotéis, aposto que você também não pode. – Ele riu fraco, apertando as mãos em minha cintura e coxa.
- Eu sei, mas...
- Se isso detonar minha convocação, eu te mato. – Passei a mão em seu pescoço, acariciando seus cabelos levemente.
- Vai nada. Angelica que te indicou e ela sabe da gente. – Ele deu um curto beijo em meus lábios.
- Só não sabe do que estamos fazendo agora. – Falei, erguendo a outra mão para seu pescoço e ele riu contra meus lábios.
- E o que estamos fazendo? – Ele cochichou, subindo a mão para minha cintura e eu senti meu corpo arrepiar.
- Eu... – Suspirei contra seus lábios e acabei com a pouca distância, esquecendo-me do que eu precisava responder.

O dia que antecedeu o jogo correu como sempre, os jogadores tentando se ocupar de alguma forma, até tentando treinar na quadra de futebol society que tinha no hotel, mas Tite não queria que eles abusassem, eram outras características, eles poderiam se machucar.
Eu e Bianca ficamos ouvindo as especulações da imprensa e tentando dar alguma resposta plausível ou alguma que os fizessem largar da gente por um tempo. Dessa vez, pelo menos, eu comi, me dei todas as refeições, para não acontecer o que tinha acontecido em Moscou.
Pouco antes do treino, Alisson e Thiago Silva fizeram uma visita à fisioterapia, me deixando nervosa, mas não era nada, só algumas massagens para relaxar os músculos, nada que fosse afetar o jogo de amanhã.
Logo após isso, jogadores saíram para o treino oficial na Arena Samara, como Vinícius acordou com uma virose horrível, além de se assustar com Ederson em minha cama, o deixamos no hotel e nada de sair com Canarinho nas ruas, ele precisava ficar bom para o jogo. Eu segui com Bianca para o treino do estádio, só para acompanhar a coletiva. Claro que eu acabei olhando Alisson treinar. Eu adorava vê-lo saltar para defender as bolas e como seu corpo arqueava, deixando aparecer um pouco de seu abdome.
Voltamos para o hotel quando já era noite. Paramos direto no restaurante do hotel e já jantamos. O c estava pesado para variar, mas dessa vez até eu estava quieta, tinha ouvido muitas besteiras de jornais mexicanos e dos próprios jogadores e técnicos do México sobre o jogo de amanhã, além dos boatos que o técnico do México tinha alguns métodos não ortodoxos. Eles estavam procurando e eu queria realmente pegar o pescoço de cada um e quebrar ao meio, mas, se Deus quisesse, isso seria resolvido facilmente em campo.
Ah lá, até eu estava começando a falar “se”.
Eu deveria estar lá para Alisson, para todos, na verdade, mas eu estava travada e não conseguia parar de mexer em meu prato, levando a comida de um lado para outro. Eventualmente, Tite acabou expulsando todos os jogadores para dormir.
- Você não vai subir? – Alisson perguntou e eu saí de um transe, olhando para ele.
- Eu tenho algumas coisas para combinar com Bianca sobre amanhã. – Ele assentiu com a cabeça. – Dorme bem, ok?! E sem gracinhas. – Cochichei a última parte, fazendo-o rir.
- Pode deixar! Boa noite! – Ele falou e me deu um rápido beijo na cabeça e eu acenei para o mesmo, vendo-o sair.
Aquilo era mentira, eu não tinha nada para resolver com Bianca, ela nem estava mais lá, para falar a verdade, mas eu precisava relaxar um pouco. Eu estava segurando o nervosismo o dia inteiro.
Olhei para a televisão e vi que a prorrogação do jogo entre Croácia e Dinamarca tinha finalizado em um a um e que iria para pênaltis. Eu não me lembrava de uma Copa ser tão sofrida assim, espero que consigamos resolver em 90 minutos e que não chegasse à prorrogação ou pênaltis.
- Ei! – Desviei o olhar da televisão e vi Thiago se sentar ao meu lado. – Jogo sofrido, hein?!
- Que o nosso não seja assim. – Ele riu fraco.
- Tenho traumas com pênaltis. – Ele falou e eu suspirei.
- Você não deveria subir, não? – Perguntei.
- Estava conversando com Tite sobre o jogo de amanhã.
- Verdade! Você é o capitão de novo! – Ele riu fraco. – Eu te disse, você acaba sempre sendo nosso capitão.
- Não vai subir?
- Deveria, mas eu estou bem nervosa sobre amanhã. Eu nem ouvia o que o Alisson dizia no jantar. – Ele riu fraco.
- Não se preocupe com isso, posso te garantir que todos estão muito nervosos, principalmente ele que tem uma posição muito importante e muito julgadora. – Assenti com a cabeça. – Faz parte. – Ele sorriu e eu assenti.
- Sim, você está certo. – Falei e ele me deu um rápido beijo em minha testa.
- Não demore, ok?!
- Pode deixar, capitão! – Falei rindo e olhei para a TV, aguardando o início dos pênaltis.

- Acho que eu vou aceitar um pouco. – Falei quando Alisson me ofereceu sua cuia e eu segurei a bomba e dei um longo gole na mesma, sentindo aquilo ferver e arrepiar meu corpo ao mesmo tempo, me fazendo tremer.
- Tentando se acalmar? – Ele perguntou e eu ri.
- É para isso que você toma isso, não é?! – Ele ponderou e deu uma risada fraca.
- Vamos lá, Brasil! – Tite falou batendo as mãos fortemente, chamando a atenção de todos e eu dei um rápido abraço em Alisson.
- Bom jogo! Pense que a bola sou e agarre-a, ok?! – Cochichei próximo ao seu ouvido e ele gargalhou.
- Pode deixar! – Ele me deu um rápido beijo na testa e observei os jogadores saírem do vestiário e ouvi os torcedores gritarem acima de mim.
Fui para minha posição, dessa vez com Vinícius de companhia. Ele ainda estava vomitando e evacuando bastante, não tinha como fazer as filmagens lá fora, pelo menos tínhamos Bóris. Estralei todos os dedos possíveis de meu corpo, além de pescoço e costas e encarei a TV, aguardando os protocolos a serem seguidos para finalmente dar início a partida.
- Vamos, Brasil! – Vinícius cochichou ao meu lado e respirei fundo, fechando os olhos durante o hino, ouvindo-o ser reproduzido à capela novamente.
Os jogadores se concentraram no centro do campo, a bola começando com o time mexicano e eu fiz aquele rápido sinal da cruz e aquela reza silenciosa, para que pudéssemos passar e continuar esse sonho. O apito foi soado e eu comecei a sentir meu coração bater forte novamente.
A primeira chance de gol veio do time mexicano, antes dos dois minutos. O mexicano fez o chute, Alisson deu um soco na bola e ela seguiu para a área, tendo o rebote de outro jogador, mas que foi parada pelo lombo de Miranda.
Fagner levou uma falta de um mexicano logo no começo, mas tudo estava bem, tirando minha raiva deles. Paulinho tentou atravessar a bola para o gol, mas também não deu, só serviu para darem uma entrada violenta em Neymar. Vai começar!
Neymar recebeu a bola de Paulinho e fez a finalização, batendo nas mãos de Ochoa, o goleiro mexicano. A bola chegou novamente para o lado de Alisson, me fazendo pressionar as mãos na mesa, mas ela se afastou, me fazendo relaxar. O ataque do México estava forte, parecia que todos os 10 jogadores estavam lá.
Escanteio para a seleção do México, até Vinícius ergueu o rosto da toalha que ele segurava com tanta força. A bola foi para a área, cabeceada por um mexicano e Alisson deu um soco na bola, tropeçando em um mexicano e caindo em cima dele, me fazendo gargalhar, mas estaria impedido.
- Que lance fantástico! – Vinícius falou e eu sorri.
- Esse é meu homem! – Falei e ele esticou a mão, batendo na minha, me fazendo rir.
Esses primeiros 15 minutos estavam me matando, o nervosismo tinha valido a pena. O jogo estava inteiro no campo do Brasil, os mexicanos estavam todos atacando forte e a gente não conseguia avançar para o campo deles. Vamos, Brasil. Mudança de tática, vai.
- Vai, Brasil. É a sua chance! – Falei, ao ver uma chance de escanteio para o Brasil. – E... Saiu! – Sentei novamente, apoiando os cotovelos na bancada.
A bola atravessou novamente, mas a bola explodiu nas pernas de Filipe Luís antes de chegar em Alisson. Enquanto os mexicanos pressionavam os brasileiros, Fagner pressionava os mexicanos, causando diversas faltas e eu já podia pensar que isso poderia dar merda lá para frente, no próprio jogo ou com a imprensa amanhã.
Jesus se aproximou do campo adversário e tentou fazer a finalização, mas o México fechou para ele. Ele enviou a bola para Neymar, mas foi retirada pelo México. A bola voltou para o campo brasileiro, mas na hora de finalização Casemiro recebeu uma nas pernas.
- Meu Deus! – Falei, sentindo minhas mãos tremerem. – Vamos, Brasil. Acorda! Muda de tática! Qualquer coisa! – Gritei, vendo Vinícius se levantar novamente para o banheiro.
A bola alta foi cabeceada pelo Filipe Luís que enviou para Neymar, ele se aproximou da área, dando vários olés nos mexicanos e tentou o chute que rebateu em Ochoa. Ela caiu nos pés de Coutinho, que passou para Jesus, que passou para Willian que enviou para Jesus e... Foi cabeceada por um mexicano.
Falta no Coutinho. Neymar fez a cobrança, a bola voou para a área, Ochoa socou, Paulinho tentou cabecear, mas ela foi para trás. Jesus tentou finalizar, mas rebateu nas pernas do mexicano. Willian devolveu a bola para Jesus de cabeça que tentou cruzar, chegando nos pés de Neymar, que passou para Coutinho e chutou para o gol...
- Fora! – Vinícius falou e eu suspirei.
Neymar atravessou a bola, fazendo o passe para Coutinho, mas foi pego por um mexicano, voltando a atravessar. O mexicano tentou fazer uma finalização de meio de campo, mas passou muito longe, Alisson nem precisou se mexer. Fagner cruzou a bola para Neymar, mas foi tirado novamente.
Paulinho trouxe a bola para o campo do México novamente e passou para Willian, ele tentou o chute, mas rebateu nas pernas dos adversários. Ele tentou novamente, mas escorregou, saindo correndo para dividir a bola com mais dois mexicanos e perdeu.
Casemiro pegou a bola, passou-a para Thiago Silva, devolveu-a para Filipe Luís, que devolveu para Casemiro e Thiago Silva. A bola passou por Phillipe Coutinho, chegou em Jesus que driblou de alguns mexicanos e fez o chute, sendo espalmado por Ochoa. Coutinho insistiu, mas a bola foi jogada para trás novamente.
- Tá parecendo o jogo da Costa Rica e eu não vou aguentar outro jogo igual aquele.
- Calma! – Vinícius falou. – Eles aquecem no segundo tempo.
- Ah meu Deus! – Suspirei, balançando a cabeça.
Coutinho tentou trazer a bola para o campo mexicano novamente, mas, ao finalizar, chutou para muito longe. A bola chegou em Fagner de novo, em seguida, fazendo-o causar outra falta no jogador mexicano.
- Fagner vai acabar matando os mexicanos. – Falei. – Não que eu esteja reclamando, mas...
- ! – Vinícius me repreendeu rindo.
- O quê? – Dei de ombros e ele riu.
Coutinho tentou se aproximar, fazendo uma finalização longa e rebateu nas pernas de Jesus. A bola voltou e fizeram uma falta em Neymar.
- Tite tá falando muito palavrão também. – Falei ao ver os lábios de Tite falando “puta que pariu”.
- Nunca vou me esquecer da sua cara depois do jogo da Costa Rica.
Neymar cobrou a falta e... Fora! Bufei, coçando a cabeça e olhei para o tempo no relógio, 40 minutos. Brasil tentou mais algumas vezes, uma com Coutinho que fez um cruzamento muito longo, quase que Willian não conseguisse pegar do outro lado. Uma de Neymar, que rebateu nas pernas dos mexicanos.
Filipe Luís deu uma entrada violenta no jogador mexicano, levantando outro cartão amarelo. Ótimo, agora eram quatro na berlinda. A falta foi feita, mas Alisson somente esticou as mãos e a bola encaixou em sua mão, me fazendo dar um pequeno sorriso, me lembrando do que eu havia falado para ele antes do jogo. A bola cruzou, mas Ochoa estava para fora da área, dando um forte chute.
Fim do primeiro tempo.
- Eita! Sem acréscimo? – Eu e Vinícius nos entreolhamos e suspirei.
- Vem! – Chamei Vinícius que franziu a testa e o puxei para o banheiro. – Foi um péssimo primeiro tempo, vem bomba aí! – Falei, entrando em uma cabine e ele fez o mesmo, entrando em outra.
Abaixei minha cabeça, apoiando-a nos braços e ouvi os jogadores entrando aos poucos no vestiário e algumas portas sendo batidas. Senti minha respiração acelerada, mas só soltava o ar pela boca devagar.
- Assim não dá! – Ouvi Tite, me fazendo fechar os olhos. – Eles comandaram esse primeiro tempo, os primeiros 30 minutos foram só do México. As bolas sempre aqui atrás, sempre aqui com o Alisson, elas precisam ficar no campo deles. – Ouvia sua voz abafada. – Espero que eles tenham se cansado, que agora é a nossa hora de aproveitar isso e avançar em cima deles. Paulinho se aproxime mais de Casemiro. Gabriel se desloque um pouco mais para direita, as finalizações de Coutinho estão batendo em você. Fagner desvie da marcação, mas tente fazer menos faltas, ok?! Não precisamos de mais um jogador com cartão. – Eu sentia meu corpo suar e nem era de nervoso, estava muito quente aqui em Samara. – Vamos resolver isso nos próximos 45 minutos, sem prorrogação, sem pênaltis. Combinado?
- Sim! – Os jogadores gritaram e logo ouvi a movimentação novamente. Ouvi algumas descargas e logo tudo se fez silêncio novamente.
Abri a cabine devagar, olhando em volta e bati na de Vinícius, saímos da mesma e voltamos para o vestiário, tudo estava quieto novamente. Respirei fundo, balançando a cabeça e peguei uma das garrafas de isotônico, virando-a em minha boca e voltei a me sentar.

E começa o segundo tempo.
A tentativa do primeiro gol veio logo no começo, mas Neymar teve dificuldades em cruzar a bola, fazendo-a recuar. Neymar tentou novamente, rebatendo nas costas do mexicano. Escanteio brasileiro, Neymar cobra, Coutinho chuta e Ochoa defende. Neymar cobra escanteio novamente, mas vai muito longe. Fagner tentou se aproximar, mas a defesa estava bem montada e foi muito rente à linha, fazendo o mexicano ter facilidade em tirar.
O México tentou cruzar a bola, e eu vi a defesa vazia do Brasil. Ele fez o chute, mas jogou muito alta, Alisson somente olhou a bola passar por cima de sua cabeça. Senti meu corpo tremer e me levantei, respirando fundo.
A bola cruzou novamente e os brasileiros voltaram para o ataque. Paulinho passou para Casemiro que passou para Coutinho, que passou para Neymar, que chutou de calcanhar para Willian que adentrou a área e fez o cruzamento. A bola passou por entre as mãos de Ochoa, as pernas de Jesus, mas Neymar alcançou a bola, dando aquele carrinho com o pé e...
- GOL! – Gritei, pulando em meu lugar, vendo Vinícius voltar correndo do banheiro. – Gol, porra! – Gritei, socando o ar em comemoração.
O mexicano aproveitou a bola no centro de campo e cruzou-a, se aproximando do gol, mas Paulinho tirou com o pé. Escanteio para o México, Brasil tirou de cabeça, mas ela ricocheteia, Filipe Luís tenta, mas não consegue impedir que a bola cruze, o jogador chega por baixo, mas cai pelo fundo, fazendo os jogadores brasileiros se exaltarem.
- Pelo amor, não façam nada! – Falei e vi Thiago reclamar e que eles gostariam de ser tiro de meta ou escanteio.
O escanteio foi dado, a bola rebate novamente, mas Alisson estende as mãos, pegando a bola firmemente. Cartão amarelo em seguida para o México, após ter puxado Willian pela camisa. Neymar fez a cobrança, mas os mexicanos tiram de cabeça. A bola voltou novamente e Neymar chutou, seguindo para fora. A bola cruzou e os mexicanos tentaram, ela chegou aos pés de Willian que recuou para Alisson que...
- Mandou para fora, Alisson? – Revirei os olhos.
- Até parece que não é bom com os pés.
- Não só com os pés. – Respondi e Vinícius.
- Vocês parecem que estão bem, não é?! – Dei de ombros.
- Estamos nos descobrindo aos poucos. – Suspirei. – Sem pressa, sem decisões precipitadas, só aproveitando. – Dei de ombros.
Filipe Luis passou a bola para Neymar que não conseguiu cruzar e repassou para Jesus que estava na área. A bola voltou para Neymar, ele tentou um chute, mas rebateu. Ele passou para Willian que rebateu para Fagner que chegou pela parte superior do campo e passou para Jesus que...
- Porra! Como foi para fora? – Gritei, respirando fundo.
O lance foi dado novamente e me distraí por alguns segundos, somente ouvindo um apito e vi um mexicano no chão. O juiz ergueu o cartão e eu bati a mão na mesa quando vi que era Casemiro que tinha levado.
- Porra! Casemiro tá fora do próximo jogo. – Falei, suspirando.
- Caramba! – Vinícius comentou e eu bati as pontas das unhas na mesa, encarando a tela.
O México cruzou e tentou finalizar, a primeira rebateu na defesa brasileira e depois foi para cima, fazendo Alisson dar aquele toquinho na bola por cima. O escanteio foi cobrado, mas Casemiro tirou a bola de cabeça. A bola cruzou novamente, indo direto para o gol e Alisson ergueu as mãos, segurando a bola.
Falta no Neymar, fazendo-o cair para fora do campo, de boa. Até o mexicano segurá-lo pela cintura e levantá-lo, me fazendo arregalar os olhos. Pelo menos o quarto juiz estava ao lado para ver.
- Tá folgado, hein, Layún? – Falei do jogador, revirando os olhos. – Toca no Ney de novo que eu arranco esse seu cabelo tingido na mão. – Vinícius arregalou os olhos e não falou de novo. – Aí, agora tá perseguindo. – Vi Neymar ser empurrado por trás novamente, dessa vez sem bola nos pés.
O jogo seguiu e Willian faz a tentativa de gol e Ochoa meteu as mãos na bola, desviando-a para trás. A bola tentou se aproximar do campo brasileiro, mas passou rente ao gol, Alisson nem precisou se mexer com a mesma. Alisson fez tiro de meta e...
- Fora! – Vinícius gritou e eu ri.
- Não é seu dia, Alisson. – Suspirei.
A bola cruzou novamente e falta no Neymar. Dessa vez ele ficou no chão, passando a mão no tornozelo direito, fazendo-o franzi o rosto algumas vezes, mas ele logo se levantou. Segue o jogo.
A bola voltou para o campo mexicano, Willian chegou pela direita, passou para Neymar que tentou fazer a finalização, mas foi para fora. Tirando o gol pouco antes dos cinco minutos, o segundo tempo estava morno. O coração até estava mais calmo, mas queria mais um para dar uma garantida.
Um dos mexicanos de cabelos descoloridos chegou pela esquerda, fazendo o cruzamento, a bola foi desviada por Thiago Silva, mas outro mexicano chegou pelo meio e meteu uma bomba, acertando-a em Paulinho. A bola atravessou e Willian ficou no chão. O Willian não.
Tiro de meta para a seleção brasileira, Alisson chutou e Neymar a recebeu no peito rente ao lado esquerdo, ele tentou controlar e saiu ele, mexicano e bola para fora, fazendo Neymar cair no chão. O mexicano pegou a bola e o juiz apitou várias vezes. A câmera focou em Neymar caído que estava quase em uma convulsão.
- Que porra aconteceu? – O juiz já evitou que Fred, Ederson e Cássio se aproximassem de Neymar e Coutinho apareceu do outro lado.
- Alguma coisa com o tornozelo. – Vinícius falou e eu respirei fundo.
O replay passou e o mexicano, ao pegar a bola, pisou no tornozelo de Neymar que ele já tinha pisado antes. Não foi sem querer, foi intencional. É claro que foi! Ele meteu as travas de propósito no tornozelo dele.
- Ele merece um vermelho na hora. Ele tá provocando faz tempo. – Vinícius falou e eu tentei respirar fundo.
- Me segura depois desse jogo, que eu vou lá do outro lado acabar com a raça desse mexicano.
- Você está exaltada, .
- Você acha? – Perguntei, colocando as mãos na cintura e ele se calou. – Eu vou pegar esse cara e esfregar a cara dele no asfalto.
Voltei a prestar atenção ao jogo, onde a bola era recuada para Alisson que enganava o jogador mexicano e chutava para outro lado. Falta do Casemiro. Nada! Jesus atravessou, passou para Paulinho, devolveu para Casemiro que chutou para Willian que se aproximou do meio e Ochoa pegou facilmente. A bola foi muito rasteira.
Falta no Neymar novamente. Tite começa a se revoltar. Aquilo está totalmente perseguido, eles vão só no tornozelo direito, onde foi a cirurgia no dedinho. Dessa vez pelo menos tivemos cartão no mexicano de cabelo descolorido.
Queda de Coutinho, sem marcar falta. Eles tentaram fazer o contra-ataque, mas Fagner tira a bola para linha de fundo. Alisson tocou para Thiago e a bola voltou para o jogo. A bola atravessou e Coutinho tentou fazer a finalização, mas foi derrubado e a falta não foi marcada. Os mexicanos cruzaram e tentaram fazer a finalização, mas Alisson pegou a mesma.
Substituição. Sai Paulinho, entra Fernandinho.
Falta no Thiago Silva ao lado do gol brasileiro, cotovelada nele. Alison e Miranda se aproximam e eu só conseguia pensar em “não arranja encrenca, Alisson”. Foi assim que Buffon foi expulso de um jogo na UEFA, por reclamar com um juiz. Thiago se recompôs e o jogo retornou.
Olhei para o relógio e estava em 40 minutos. Pelo amor de Deus, acaba com essa coisa logo! Eram quase oito horas da noite, eu já estava ficando com fome. A bola voltou para o campo do Brasil, mas a defesa estava posicionada e a tirou antes de entrar na área e depois de cabeça por Fagner.
Substituição. Sai Coutinho, entra Firmino.
Escanteio para o México, os brasileiros cabeceiam para o chão. Ela volta e direção ao gol e Alisson vai longe para bater a mão na bola, caindo de ombros, me fazendo franzir a testa. Essa deve ter doído.
O segundo gol veio quando eu menos esperava. A bola foi recuada para o Ochoa, que tentou atravessar, mas Fernandinho roubou a bola, ele a chutou para Neymar que correu sozinho para a área. Ele enxergou Firmino do outro lado, da mesma forma que o outro gol. Ele enganou o goleiro quando esse foi em cima da bola e jogou para Firmino que deu um toquinho no gol, entrando junto com a bola.
- GOL! – Vinícius gritou, comemorando e eu até sentei aliviada, suspirando.
- Gol! – Falei rindo e Vinícius bateu na minha mão novamente. – Agora vamos acabar isso.
Acréscimo de 6 minutos.
- Ê, caramba! – Suspirei, balançando a cabeça, batucando a ponta dos dedos na mesa.
Falta novamente no Neymar. A bola até tentou cruzar, mas foi muito longa e Alisson só fez um tiro de meta. Brasil tentou cruzar novamente, fazendo Firmino brigar com um mexicano com a bola e Neymar chegou, mandando a bola para fora. O México tenta de novo, mas Thiago Silva meteu o pé na bola, tirando-a da área brasileira. A bola volta, Thiago Silva cabeceia e Alisson pega. Eles tentaram de novo e Thiago tirou pela terceira vez seguida.
Um mexicano cai no chão, querendo falta, mas o juiz deu tiro de meta para o Brasil e Filipe o ajuda a se levantar, da mesma forma que fizeram com o Neymar mais cedo. A bola cruzou e chegou nos pés de Ochoa, ele fez um lançamento, dando oportunidade de o México tentar um último lance, mas perdeu a chance e o juiz apitou.
- ACABOU! – Gritei, me levantando novamente e Vinícius me abraçou, me tirando do chão alguns segundos, fazendo os saltos saírem dos pés.
- Vamos para as quartas! – Ele gritou abafado e eu suspirei.
Peguei uma toalha em uma das caixas e passei meu rosto e colo, sentindo o suor deslizar pelo meu rosto. Me sentei novamente, bebendo mais um pouco do isotônico e girei o corpo, encostando na mesa e vi a porta ser aberta, trazendo os jogadores de volta.
- Estamos nas quartas! – Neymar foi o primeiro a me abraçar e eu sorri, apertando-o fortemente.
- Você foi demais! – Falei, segurando-o pelo rosto. – Você não fez firula, não provocou, foi ótimo! – Ele sorriu. – Tá tudo bem? – Perguntei e ele ponderou com a cabeça.
- Tá sim! – Ele falou rindo e eu revirei os olhos, dando um tapa em sua cabeça, empurrando para ver o próximo jogador.
- Você não fez gol, mas eu considero que sim. – Segurei Gabriel pelos ombros. – Foi a bola, você e o Neymar, então considero três gols só daquela vez. – Ele me abraçou rapidamente e eu ri, deixando-o sair.
- Obrigado!
- Você também. – Apontei para Firmino que se aproximou sorridente. – Gol de bola e seu junto, dois gols! – Ele riu, me abraçando fortemente e eu sorri. – Demais!
- Vamos para as quartas! – Ele comemorou e eu ri, deixando-o passar.
- Meu capitão! – Vi Thiago entrando no vestiário e ele se aproximou de mim com os braços abertos e me tirou do chão, me girando. – Eu vi sua queda, está tudo bem?
- Tá sim! – Ele sorriu e eu baguncei seus cabelos.
- Você, senhor Fagner, precisa tomar cuidado para não matar ninguém. – O mais baixo riu. – Eles estavam merecendo, mas você não pode levar cartão.
- Eu achei que ela fosse entrar no campo para matar alguns mexicanos! – Vinícius falou e eu dei meu sorriso medonho que fez os jogadores rirem.
- Ninguém mexe com a minha galera. – Falei, sorrindo.
Cumprimentei os jogadores que foram chegando com abraços e beijos e olhando sempre por cima para ver se meu goleiro não chegava. Tite entrou com um largo sorriso no rosto e me abraçou também.
- Eu li todos os seus palavrões. – Falei e ele riu. – Não passou na hora, mas pelo jeito você já virou meme por correr para comemorar o gol.
- Mas de novo? – Ele brincou e eu ri.
- Esteja vivo e seja uma figura pública, você sempre vai virar meme. – Bati em seus ombros e vi Alisson entrando no vestiário.
Tite se afastou e Alisson seguiu em minha direção. Ele jogou suas luvas no chão e me abraçou pela cintura, me pegando no colo em um abraço desajeitado. Apoiei minhas mãos em seus ombros e o senti me deslizar pelos seus braços e abriu um largo sorriso para mim. Eu ia falar alguma coisa, mas ele ignorou tudo e todos no vestiário e colou os lábios nos meus, me pegando de surpresa.
Os jogadores e equipe começaram a gritar, mas eu ignorei, segurei-o pela nuca e deixei com que ele liderasse o beijo, fazendo com que o local ficasse mais quente e abafado. Senti um gelado escorrer pelas costas, me separando dele, sentindo os jogadores virarem os isotônicos na gente.
- Ah, vocês estão com inveja! – Alisson gritou e eu ri, abraçando-o e encostando minha cabeça em seu peito.

Fechei minha mala novamente e me levantei. Ainda bem que a mala estava no ônibus ou eu teria que voar de volta para Sochi com um uniforme dos jogadores ou ter que esperar a roupa secar ao relento. Apesar de que com esse tempo em Samara, até dava, estava abafado, parecendo o Rio de Janeiro.
Saí do banheiro, puxando a mala e ouvindo os papos dos jogadores no vestiário enquanto terminavam de ajeitar tudo para irmos jantar no estádio e depois pegarmos o voo de volta para Sochi. Coloquei a mala no canto, junto das caixas, utensílios e algumas mochilas e coloquei a minha novamente em cima da mala.
Voltei para a sala e franzi a testa ao ver os jogadores tentando se arrumar para tirar uma foto. Todos eles já estavam vestidos novamente com aquela calça de moletom azul escura, a blusa polo do mesmo tom da minha e tênis, na maioria pretos.
- Junta mais! – Lucas falou apontando para o lado direito. – Não vai cair, Casemiro. – Soltei uma risada, vendo todos os jogadores sorridentes e me senti feliz também. – Sorriam! – Ele falou e eu ouvi o barulho do obturador algumas vezes e suspirei. – Agora vai, todo mundo mostrando o quatro. – Ele gritou.
- Faltam três! – Eles gritaram e eu sorri, encostando a cabeça no ombro de Vinícius que me abraçou de lado. Alisson deu uma piscadela em minha direção e eu sorri.
- Pronto! – Lucas falou. – Vamos comer! – Ele falou e os jogadores foram saindo do vestiário, descendo da mesa em que eu mantinha as coisas e, por último, os jogadores que estavam em pé na mesma, incluindo Alisson.
- Menos um! – Ele falou, me abraçando pelos ombros e eu o abracei de lado, entrelaçando os dedos nos dele.
- O que deu em você para me beijar na frente de todo mundo? – Perguntei, olhando para ele.
- Eu estou muito feliz. – Ele falou rindo. – Além de que... Porque esconder? – Ele olhou para mim, encostando o nariz no meu. – Todo mundo já sabe.
- Todo mundo, menos...
- Ah, os dirigentes, mas eles só sabem assistir aos jogos da tribuna, não convivem com a gente, não acompanham treinos, reuniões, nem nada... – Ele deu de ombros. – O resto aqui sabe e apoia a gente. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Com certeza! – Marcelo falou em nossa frente e eu ri. – Quer que eu leve sua mala?
- Se você faz questão. – Brinquei e ele puxou minha mala, saindo do vestiário. Me afastei um pouco de Alisson, pendurando minha mochila nos ombros e fomos em direção ao restaurante do estádio, com Alisson me abraçando pelos ombros.


Capítulo 9 – Brasil x Bélgica, o fim do sonho!

- , quer dar aquele recado básico? – Tite perguntou e eu me distraí do meu celular, percebendo que eu ainda estava no palquinho da sala de reuniões em Sochi, ouvindo Tite e a equipe falar do desempenho do jogo há uns 30 minutos.
- Desculpa, entrei em alfa aqui! – Eles riram e eu me levantei, bloqueando o celular e apoiando as mãos na mesa. – Esse jogo contra o México foi muito bom, para falar a verdade. Tem alguns pontos que eu vou comentar com vocês, mas são coisas que eu vi na imprensa, principalmente na brasileira, que pode acabar sendo comentado nas próximas coletivas. – Eles assentiram com a cabeça. – Vocês já sabem minha opinião, eu deixei bem clara logo depois do jogo, cumprimentei cada um dos pontos fortes, mas eu gostaria de parabenizar o Neymar dessa vez. – Ele ergueu a cabeça confuso. – Depois do jogo da Costa Rica eu nem tive chance de te parabenizar pela correção da sua postura em jogo, mas depois desse jogo do México, você merece. – Falei sorrindo e os jogadores e equipe técnica aplaudiram.
- Obrigado. – Ele sorriu.
- Sei que tem a pressão de você já ter um cartão amarelo, a pressão de talvez não participar do próximo jogo, mas baseada em toda provocação daquele descolorido filho de uma...
- ! – Tite me segurou e eu dei um sorriso delicado em sua direção.
- Depois de toda aquela provocação, você se manteve calmo e ainda saiu por cima depois daquele pisão. Merecia cartão vermelho, mas ele também nem poderia usar, né?! – Eles riram, aplaudindo animadamente. – Meus parabéns, sua assessora agradece e continue assim, ok?!
- Obrigado! – Ele falou sorrindo.
- Bem, vamos lá. – Dei uma rápida olhada no arquivo aberto do meu notebook. – Estamos vendo que o VAR não vai funcionar nunca para gente, não é?! – A maioria revirou os olhos e cruzou os braços.
- Ainda não me conformo com o pisão. – Tite falou, negando com a cabeça.
- Não contem com o VAR, não esperem que o VAR veja qualquer falta feita contra vocês. Não existe VAR em jogos do Brasil. Nem de bandeirinha, para falar a verdade. – Cruzei os braços. – Eu que estava vendo de uma televisão sabia que era impedimento antes deles. – Os jogadores riram. – Só se acalmem nesses lances, não queremos ninguém levando cartões ou sendo expulsos por besteiras, beleza? – Eles assentiram com a cabeça e eu suspirei. – Para o próximo jogo teremos Marcelo de volta como titular. – O pessoal aplaudiu. – Douglas está disponível para a escolha de Tite e Miranda vai ser o capitão. – Eles comemoraram, aplaudindo e batendo nas cadeiras vazias. – Mas, infelizmente, Casemiro está fora. – Falei e ele assentiu com a cabeça triste. - Tem uma mudança sobre lugares de jogos e afins, ok?! Depois eu converso contigo em particular.
- Obrigado! – Ele ergueu o polegar.
- Gabriel, já conversamos sobre isso, mas a imprensa está te chamando de “trator”. – Falei e ele deu um sorriso tímido. – Não é só de gol que se faz um jogador do seu calibre, seus passes estão sendo muito mais executados, causando finalizações incríveis.
- Obrigada, . – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
- Sobre a comemoração de vocês. – Falei, coçando a cabeça. – Coutinho me disse que é sobre um jogo? Sério? – Cruzei os braços, me fingindo de brava.
- É do Counter-Strike, é um jogo de...
- Eu conheço CS, Coutinho. – Falei para ele. – Preferia GTA, na verdade. Joguei muito quando era nova, por sinal. Morria sempre, mas... – Eles riram. – Eu fiz maior meme sobre debochar os mexicanos com o choro do Quico de Chaves e vocês me falam que é de Counter Strike? – Revirei os olhos. – Deplorável. – Eles riram. – Tá, agora um alerta para vocês. Se lembram de que os mexicanos estavam pisando em todos os nossos calos? – Virei para Neymar. – Dentro e fora de campo?
- Sim. – Tite falou, se aproximando.
- A Bélgica está fazendo ao contrário. – Fiquei em frente à mesa, apoiando a cintura na mesma. – Eles estão falando que somos os mais fortes, o melhor time da competição. Os jogadores que jogam com vocês estão falando muito bem de vocês, das suas características... – Ponderei com a cabeça. – Ignorem tudo isso, ok?! – Falei firme. – Não deem bola, não deixem que isso erga o ego de vocês ou algo do tipo. Vocês viram o que houve com o México quando decidiu falar mal da gente, fomos em cima e pisamos neles como baratas... – Eles arregalaram os olhos e Tite riu ao meu lado. – Não gosto quando chegam muito manso não. – Eles riram. – Só façam o trabalho de vocês.
- Sim, chefe! – Eles falaram e franzi o rosto em direção a Alisson que riu.
- Agora algumas avaliações individuais. – Abri outro arquivo. – Alisson, trabalhou bem com as mãos, mas tivemos algumas falhas com os pés. – Os jogadores gritaram, zoando-o e eu revirei os olhos.
- Sabe o que é, ? Ele está trabalhando bem com as mãos. – Quis bater em Fagner, mas somente revirei os olhos, ouvindo os jogadores rirem.
- Fagner, você foi um bom destaque nos desarmes, mas eu achei que você fosse sinceramente matar alguém ou levar algum cartão. – Falei e ele deu um sorriso de lado, me fazendo rir. – Thiago e Miranda, muito bom no jogo aéreo, lidaram muito bem com as defesas e impediram que a bola chegasse no gol. – Rolei a página. – Filipe Luís, igual Fagner, demorou para pegar no tranco, mas lidou bem tanto na defesa, quanto no ataque. – Ele ponderou com a cabeça. – Casemiro, apesar do seu segundo cartão, você roubou muita bola e foi demais. – Ele sorriu.
- Valeu! – Suspirei.
- Achei que outros jogadores, tipo o Fagner, mereciam mais cartão do que você, mas é a vida. – Dei de ombros.
- Ei! – Fagner reclamou.
- O que foi? Posso ser zoada e não posso zoar, é isso? – Revirei os olhos e ele riu. - Paulinho, você ficou meio apagado durante o jogo, não senti a mesma garra dos últimos dois jogos. – Ele assentiu com a cabeça. – Fernandinho nem tem o que falar, mal participou. – Ele riu.
- Não foi um bom dia. – Assenti com a cabeça.
- Coutinho também ficou sumido. Até fez algumas finalizações, mas também não vi a mesma garra dos últimos jogos. – Ele ponderou com a cabeça, fazendo uma careta. – Willian você foi com muita raça, o gol só não saiu porque não era para sair. – Ele sorriu. – E o povo ainda está te chamando de “foguetinho”, realmente, você faz jus ao apelido.
- Obrigado! – Ele sorriu e os jogadores o aplaudiram.
- Marquinhos não tenho o que comentar, participou pouco. – Rolei a página. – E Neymar... Seu desempenho foi muito bom, como está sendo em toda Copa, mas você é caçado, isso não tem nem o que falar. É difícil com que você receba, passe e mantenha o jogo em movimento, mas você ainda fez ótimas finalizações, aproveitou as oportunidades e deve ter deixado aquele mexicano muito bravo por não ter respondido as provocações dele.
- Você está com muita raiva dos mexicanos, não é?! – Tite falou e eu ri.
- É involuntário. – Suspirei, rindo fraco. – Eu sou mãezona, sabe? Mexem com as minhas crianças, eu já quero... – Eles riram, alguns até jogaram bolinhas de papel em mim. – Olha que não protejo mais vocês, hein?! – Falei rindo.
- É isso? – Tite perguntou.
- É isso! – Fechei meu notebook, ouvindo o baque que os faziam tremer.
- Bom, agora vamos falar sobre nosso próximo adversário nas quartas de final, a Bélgica...
- Essa é a minha deixa! – Falei, pegando minhas coisas e descendo do palquinho, atravessando o corredor pelo centro, sem antes dar aquele aceno rápido para Alisson, fazendo os jogadores rirem.

- Não, não. – Balancei a cabeça. – Agora só em Kazan. – Falei para Sylvinho que ponderou com a cabeça.
- Tem certeza? – Ele perguntou.
- Por quê? – Cruzei os braços.
- Eu pensei que teria outra coletiva hoje.
- Não. – Ri fraco. – A gente já está com treinamento aberto para a imprensa desde cedo, além de que eu não quero dar chance para os jogadores serem irritados e poderem falar besteira na coletiva.
- Você está certa. – Assenti com a cabeça.
- Relaxa, hoje é nosso último dia aqui em Sochi, deixe que eles aproveitem. Os jogadores, a imprensa, eu e você. – Ele suspirou, fazendo uma careta e eu ri.
- Parece que a gente vai deixar um pedaço de nós para trás, não é? – Ele perguntou e eu suspirei, virando para trás, vendo Alisson com Helena no gramado.
- Uns mais que outros. – Dei um pequeno sorriso. – Sochi foi muito bom para mim.
- Para todos nós, sem desmerecer o que vocês criaram, é claro. – Ri fraco.
- Ah, vamos parar! – Passei as mãos nos olhos. – Emoções só amanhã. – Ele riu. – Mas não, amanhã vamos para Kazan, treinaremos em outro campo e, quinta-feira, no dia do treino oficial, vai ter mais uma coletiva. Ainda não sabemos com quem.
- Combinado! – Ele sorriu, dando um leve tapinha em meus ombros e se afastou, seguindo em direção à equipe técnica.
Dei uma volta ao redor do corpo e suspirei, observando os jogadores mais descontraídos no campo. Algumas crianças estavam no mesmo brincando com os pais, entre si, e até com a equipe técnica. Apoiei os braços na grade, tendo poucos momentos de paz, sentindo o vento na Rússia bater contra meu corpo. Estava começando a ficar mais frio, hoje até estava com o moletom amarelo da Seleção cobrindo a conhecida camisa polo.
- Vai ficar só olhando? – Alisson perguntou, se levantando de frente do gol e seguindo em minha direção, enquanto Helena brincava com algumas bolas, me fazendo sorrir.
- Estou pensando, na verdade. – Falei e ele se virou de costas para mim, apoiando os cotovelos na grade e arqueando as costas.
- No que?
- Estamos faz quase um mês aqui em Sochi e amanhã acabou. – Suspirei. – Independente do resultado de sexta, nós não voltaremos para cá.
- Passou tão rápido, não? – Assenti com a cabeça, observando Helena que mostrava as outras crianças correndo para nós, para Alisson, na verdade.
- Eu vou sentir saudades. – Franzi os lábios. – De tudo.
- Você está pensando no depois, não está? – Ele perguntou.
- Depois do quê? – Virei o rosto para ele.
- Da Copa. Eu e você... – Bufei, vendo-o rir.
- Tento não, mas é inevitável. – Olhei para a imprensa rapidamente. – Temos algo tão bom aqui e eu sei que quando isso acabar, não vai ser igual.
- Podemos tentar. – Ele deu um pequeno sorriso e eu ri fraco.
- Conexão Rio Roma? – Suspirei. – Não vamos nos esquecer de que eu folgo só de fim de semana, um voo para Roma dura 11 horas, e de fins de semana você joga. – Ele riu fraco.
- Se eu consigo ver Helena com frequência, e eu dependo de meus pais, de Muri ou de Natália, nós daremos um jeito. – Ele se virou novamente, ficando na minha lateral. – Confie em mim. – Ele afastou o corpo e eu sorri, assentindo com a cabeça. – Agora venha! – Ele me segurou pelo pulso e andou comigo até a abertura do campo e eu tirei meus saltos antes de entrar no mesmo. – Você e Helena precisam passar mais tempo juntas.
- Eu não acho que ela gosta de mim. – Falei honestamente e ele riu, se sentando no gramado novamente, próximo de sua filha e eu me sentei ao seu lado.
- Ela te dá oi, nem vem. – Ele falou rindo. – Acredite, já é um grande passo.
- Sim, aí quando eu me aproximo, ela vira o rosto.
- Ela é envergonhada. – Ele fez carinho na barriga de Helena que riu.
Talvez a idade jovem de Alisson não fizesse diferença na hora de cuidar de Helena. Ele era um pai babão, fazia caras e bocas enquanto passava a bola para ela que tentava erguer acima de sua cabeça e caía. Por mais que eu sonhasse em ser mãe, eu não conseguia pensar nisso agora. Talvez como madrasta eu pudesse treinar um pouco. Mesmo que no fundo eu não acreditasse nas palavras de Alisson de que “daríamos um jeito”.
- Oh! – Me distraí, sentindo uma bola de Helena bater em meu pé, fazendo-a rir. – Gosta disso? – Brinquei com ela que pegou a bola e fez novamente, fazendo-a rir e eu sorri para acompanhá-la.
- Sabe do que mais ela gosta? – Alisson falou brincando, pegando-a no colo e balançando-a para todos os lados e deitou com ela no chão, erguendo-a para o alto, fazendo Helena gargalhar.
- Você precisa parar de bancar o pai bobo. – Falei quando ele se sentou novamente e sentou Helena em seu colo.
- Por quê? – Ele perguntou, ainda rindo.
- Porque me dá vontade de te beijar toda hora. E não seria legal em frente à imprensa, certo? – Ele riu, abrindo um largo sorriso e observei Helena se levantar de seu colo e andar em minha direção, levemente abaixada.
- Podemos fazer isso depois. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. Helena se virou de costas para mim e se sentou entre minhas pernas dobradas como de índio.
- ‘Boa’? – Ela falou olhando para mim e apontando para a mesma.
- É, bola! Você gosta? – Perguntei, puxando uma para perto de nós.
- ‘Boa’! – Ela repetiu e eu passei uma mão em seu corpo, para que ela não tombasse para frente.
- Brinca com a bola. – Falei sorrindo e dei um beijo em sua cabeça, sentindo o cheirinho do perfume.
- ! – Virei para o lado, vendo Lucas se aproximar e eu revirei os olhos.
- O que você quer? – Perguntei seca.
- Vamos deixar algumas camisetas autografadas para serem leiloadas para ajudar algumas organizações daqui, você pode conseguir isso para mim? – Ele estendeu algumas camisetas e eu suspirei.
- O quê você está fazendo agora? – Perguntei.
- Acabei de chegar, na verdade. Estava no hotel. Vou tirar algumas fotos. – Ri fraco.
- Não, você vai conseguir essas assinaturas para mim e me deixar aproveitar esse momento único na vida. – Abaixei minha cabeça, encostando-a na de Helena, fazendo um biquinho e piscando os olhos diversas vezes para Lucas. – Olha! Você não quer me tirar daqui, não é?! – Ele revirou os olhos e Alisson riu.
- Tá! – Ele falou revirando os olhos e dando meia volta. – Mas esse é o seu trabalho, ok?!
- Meu trabalho é de social mídia, na verdade. – Respondei e ele gargalhou, saindo do campo.
- Acúmulo de funções. – Alisson falou e eu dei de ombros.
- Com o que eu ganho, eu nem posso reclamar. – Falei e ele sorriu.

- Se afasta! – Falei para Marcelo que segurou meu braço e deu um peteleco. – Ah! – Reclamei, passando a mão no braço dolorido.
- Só não deixar a bola sair. – Filipe falou e eu revirei os olhos.
- “Só”, como se fosse fácil com 11 brutamontes subindo em mim para pegar a bola. – Falei e eles riram. – Pega leve comigo, eu estou descalça! – Eles riram.
Puxei a bola com o pé tocando-a para o lado e passei para outro jogador do campo, enquanto Fred era feito de bobinho no centro da roda. Ouvi um assovio mais ardido que o meu e virei o rosto, vendo Tite chamando todos para fora do gramado. Oficialmente tinha acabado o último treino de Sochi. Estávamos brincando de bobinho há uma hora, mais ou menos, desde que a imprensa e as famílias tinham se retirado, mas ainda no campo.
Olhei o sol se pondo atrás das arquibancadas e começamos a sair do mesmo. Apoiei a mão na grade e passei a mão nos pés rapidamente, tirando algumas folhinhas coladas no mesmo e calcei os sapatos novamente. Agora eu estava com o corpo quente, mas já coloquei o moletom amarelo novamente, não queria ficar resfriada justo agora.
- Que tal um passeio na praia? – Alisson se aproximou, me abraçando por trás e apoiando a cabeça em meu ombro.
- Agora? – Perguntei e ele deu de ombros.
- Não é como se fôssemos ter outra oportunidade. – Assenti com a cabeça e ele segurou minha mão, entrelaçando os dedos e seguimos para a parte interna do complexo, ouvindo meus saltos ecoar pelo local.
Alguns jogadores seguiram direto para o hotel nos carrinhos colocados ali, o resto de nós, além de Lucas, Vinícius e Bianca, seguimos em direção à praia. Até Bianca tinha feito parte da brincadeira de bobinho.
Tirei o salto e o deixei em uma das espreguiçadeiras em cima do deque e segui para a mesma com Alisson. Alguns jogadores até colocavam as canelas na água, mas dava para notar, pela careta deles, que estava muito gelada. Já outros faziam questão de esparramar água para os lados, só para badernar.
Eu e Alisson demos alguns passos para o lado, sentindo a areia branca passar por entre os dedos dos meus pés e paramos. O suficiente para que pudéssemos conversar sem ter alguns papagaios de pirata em nossos ombros. Eles faziam questão de participar de todos os momentos.
- Eu estou muito sentimental. – Ele comentou, passando os braços pela minha cintura e eu ri, erguendo as mãos para sua nuca.
- Apesar de termos começado na Granja, foi aqui que começou a andar. – Ele sorriu, me apertando em um abraço e eu suspirei. – Nunca pensei que viria à Rússia, quiçá que iria me apaixonar na Rússia.
- Surreal, não é? – Ele falou, voltando olhar em meus olhos. – Eu lembro que eu sempre quis ser jogador de futebol, principalmente por causa de Muri, mas eu não tinha noção aonde a vida me levaria. – Acariciei sua nuca, fazendo um carinho gostoso na mesma. – Não sabia nem que daria certo, para falar a verdade. Agora estou na Rússia, representando meu país em uma Copa do mundo, com residência fixa na Itália... Isso é loucura. – Assenti com a cabeça.
- Muito! – Falei rindo. – Pelo menos sua profissão permite isso, eu achei que estagnaria em empregos patéticos como jornalista em jornais pequenos, e que só conseguiria um emprego bom se fizesse concurso... – Balancei a cabeça. – Agora estou aqui. Deus! – Ri fraco, negando com a cabeça. – Isso é um sonho.
- O pior é que eu nem posso falar que não é um sonho, porque é. – Ele me apertou pela cintura. – E está acabando. – Suspirei.
- Eu nem sei o que eu vou fazer quando voltar para o Brasil e voltar para aquele cubículo que é meu quarto. – Ri fraco. – Pelo menos terei meu colega de quarto de novo.
- Vocês se dão bem, não é? – Dei de ombros.
- Depois que minha avó faleceu, eu precisei arranjar um lugar para morar. Ela morava longe de tudo lá no Rio e eu tinha um empreguinho na Barra, compensava me mudar. Aí eu encontrei Bernardo... – Dei de ombros. – No começo achei estranho, mas ele sempre foi muito animado, muito feliz, muito reconfortante, muito amigo, sabe? Acabou dando certo. – Ele riu.
- Eu não consigo imaginar alguém tão para cima.
- Quando você for para o Rio, terá que conhecê-lo, afinal, já conheço sua família inteira, o que é conhecer meu melhor amigo? – Ele riu, dando um rápido beijo em meus lábios.
- Estamos fazendo tudo muito rápido, não é? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- É o c Copa. – Suspirei. – Vamos ver quando acabar, vai voltar àquela depressão novamente, voltar a falar de crimes, políticos corruptos e por aí vai. – Revirei os olhos. – Nem ligo mais a TV. – Ele assentiu com a cabeça.
- Na Itália não é muito diferente, sorte que eu fico o dia inteiro no CT e, na volta, só quero beber um mate, tocar meu violão... – Assenti com a cabeça.
- Relaxar! – Respondi. – Eu fiquei uma semana só alocada na CBF, então nem sei como é o trabalho de verdade, vou descobrir quando voltar. – Suspirei. – Espero que ninguém tenha encomendado minha morte por que ter furado a fila de assessores para vir para a Copa. – Ele riu.
- Acho que não, já te garantiram para a próxima. – Sorri, ponderando com a cabeça.
- Espero te ver nela daqui quatro anos também. – Acariciei seu rosto.
- Quatro anos é muito tempo. – Ele colocou a mão em cima da minha. – Vamos finalizar essa antes e pensar em nós dois, pode ser?
- Por favor! – Falei rindo e ele colou os lábios nos meus delicadamente, me fazendo arrepiar pelo beijo e pelo vento em Sochi.
Obviamente não ficamos muito tempo lá embaixo. Logo os jogadores vieram encher nosso saco, fazer piadinhas com Alisson e, cada dia mais, eu tinha certeza de que era uma excursão escolar. Subimos com a galera restante e cada um foi para seu lado. Tínhamos combinado de todos jantarmos juntos por ser o último dia aqui em Sochi.
Não era nada chique ou diferente do que estávamos acostumados, só tínhamos combinado de todos chegarem às sete e meia da noite e aproveitarmos juntos a ótima refeição que o chef tinha preparado para gente.
Eu acabei sentando com a galera de comunicação, apesar de que todos voltaríamos a trabalhar juntos depois da Copa, tínhamos criado um laço especial aqui na Rússia, tanto que tínhamos sido convocados juntos também. Além de que os chatos dos dirigentes também participaram desse jantar, o que até me deixou feliz, porque os meninos poderiam me dar um pouco de folga nas zoações. Pelo menos isso eles respeitavam.
Jantamos de boa, igual aquele primeiro jantar lá na Granja, mas logo os sapatos ficaram pelo chão, os instrumentos subiram e o pagodinho voltou a rolar solto. Até Tite tentou alguns movimentos, nos fazendo gargalhar demais. Afinal, Tite tinha sido motivo de gargalhada desde o começo da Copa.
- Ei! – Chamei a atenção de todos, fazendo um leve tilintar em meu copo com uma faca perdida nas mesas. – Vamos prestar atenção aqui um pouco para eu passar as informações de amanhã. – Falei e o batuque ficou mais fraco, até alguém cutucar Marcelo e cessar de vez.
- Opa! – Ele falou, nos fazendo rir.
- Vamos lá, gente. O voo amanhã é às 11 horas da manhã, durmam o quanto quiserem, mas eu preciso de todos às 10 horas no ônibus para irmos para Kazan. – Eles assentiram com a cabeça. – Como sabem, hoje é nosso último dia em Sochi, a partir de hoje não voltaremos para cá, seguiremos pelas cidades conforme os jogos forem passando.
- Se passarmos... – Thiago falou e eu franzi a testa.
- Eu vou puxar sua orelha, hein?! – Brinquei e ele riu. – Eu não quero ouvir “se”, ok? – Respirei fundo. – Sei que estamos chegando cada vez mais perto e o nervosismo fala cada vez mais alto, mas não pode bater o desânimo agora, estamos tão perto... – Suspirei. – Está sendo uma jornada tão incrível para mim, que eu imagino que para vocês também. Nós estamos unidos, nós estamos entrosados, comunicação, jogadores, equipe técnica, isso está sendo fantástico e eu estou adorando cada minuto disso e querendo muito que cheguemos à final, porque aí eu sei que vai demorar mais para eu voltar para casa. – Alguns sorriram e eu suspirei. – As amizades que criamos aqui, os laços, a diversão... Isso não vai mudar. Vou encontrar vocês nos amistosos em setembro, outubro e novembro e vou querer receber um abraço bem apertado de todos, porque vai parecer que passou só alguns dias. – Eles sorriram. – A Copa não acabou e ainda teremos um longo caminho pela frente, mas será fora desse QG que aproveitamos com todo carinho. – Suspirei. – Não quero ser mais melosa, mas obrigada. – Sorri, apoiando a mão no peito. – Eu estou aqui por causa de vocês e estou tendo a melhor experiência da vida.
Alguns tinham lágrimas nos outros, limpando com a ponta dos dedos, outros puxavam o ar fortemente tentando esconder, mas todos tinham sorrisos tristes nos lábios, mas os olhos brilhando.
- Ah, vamos animar, pelo amor! – Falei, abanando a mão. – Volta o batuque, Marcelo.
- Uhul! – Ele gritou, voltando a bater a mão no pandeiro, me fazendo rir.
Me aproximei da roda, apoiando os braços no encosto do sofá que Alisson estava, acompanhando tudo com seu violão e ele deu um sorriso para mim e uma piscadela, me fazendo sorrir e me afastei um pouco, voltando a sambar com Bianca e Angelica.

Dei aquela rápida olhada nos armários e prateleiras do banheiro e do quarto e voltei para o mesmo. Guardei na mala a lembrancinha do hotel que estava em cima da cama quando voltei do café hoje de manhã e peguei meu tênis, encaixando ali no meio e fechei a mala. Fui para a escrivaninha e abri a mochila que estava na cadeira. Coloquei todos os eletrônicos lá dentro, conferindo cabos, cartões de memória, conexões externas e extras, antes de também fechar a mesma.
Me sentei na cama, passando a mão rapidamente nos pés, destacando e colando os band-aid em todos os lugares que já tinham feito e refeito bolhas e calcei os sapatos, franzindo o rosto ao calçá-los. Daqui a pouco eles relaxariam. Me levantei, me aproximando da janela em meu quarto e suspirei ao ver o sol queimando em Sochi. Tirei uma foto com o mesmo e postei no stories do Instagram “blagodaryu vas, Sochi”, que queria dizer obrigado, em russo.
Guardei o aparelho no bolso, recoloquei o crachá e dei uma rápida olhada no quarto, conferindo que tudo estava ali. Abaixei a mala da cama, pendurei a mochila nas costas, a bolsa no braço esquerdo e usei o direito para abrir a porta.
Vários jogadores estavam saindo ou já tinham saído de seus quartos, deixando a porta aberta, assim como eu faria agora. Acenei para alguns e peguei o elevador aberto com Geromel, Firmino e Douglas. Sorrimos uns para os outros e ele desceu os andares do prédio.
Andamos por entre a parte reservada para nós até a parte central do hotel. O ônibus já estava lá. Entreguei minha chave para o gerente, dando um rápido sorriso em agradecimento para o mesmo e saí do hotel, os próprios empregados do hotel seguravam bandeiras, tinham balões das cores da seleção para se despedir de nós e nos aplaudiam quando passávamos, incluindo a mim.
Entreguei minha mala para o motorista do ônibus e ele conferiu rapidamente meu crachá. Subi no ônibus pela parte da frente, vendo alguns jogadores e equipe técnica no mesmo. Acenei rapidamente para Alisson e me sentei ao lado da mochila de Lucas. Ele estava em pé tirando fotos de todos nós. Um dos pensamentos em minha cabeça foi: como viver sem Lucas tirando fotos minhas a cada oportunidade? Como não viver sem um fotógrafo particular? Espero que ele fizesse isso na CBF, precisaria manter meu Instagram cheio e mandar várias para Alisson.
Fizemos aquela viagem tão conhecida como uma excursão escolar mesmo. Pessoas no corredor, pessoas (incluindo eu) ajoelhadas nas poltronas olhando para trás, jogos de cartas e nos tablets e o batuque, sempre tinha que ter o batuque. Chegamos ao aeroporto, passando por uma área reservada, entramos no avião direto pela pista e nos acomodamos.
O voo até Kazan não foi muito diferente, só o barulho que eles cessaram, mas cada um tinha seus fones verdes e amarelos da CBF na orelha e entravam em seu mundo, onde tínhamos o poder de escolha do que queríamos ouvir.
Alisson se sentou ao meu lado, mas ele estava cansado. Depois do jantar, ele acabou aparecendo em meu quarto novamente e você sabe muito bem o que fizemos. Eu capotei logo em seguida com seus carinhos em minha cabeça, mas ele disse que teve dificuldades para dormir. Pensei que poderia ter sido o fato de eu ter dormido em cima dele, mas ele disse que eu virei de costas para ele minutos depois.
Ele ainda teve que acordar antes para ninguém pegá-lo saindo de fininho do meu quarto. Não para se esconder, só para evitar gritaria de Neymar e companhia logo pela manhã. Ou pior, de Ederson e Cássio. Enquanto eu tinha amores por um goleiro, eu queria matar os outros dois.
Ele dormiu com a cabeça encostada em meu ombro durante as quase duas horas e 15 de voo até Kazan. Chegamos, pegamos nossas malas e entramos no ônibus, nada de novo até aí. O que teve de novo foi minha cara de idiota quando chegamos ao hotel de Kazan. Meu Deus, que paraíso era aquele. O hotel parecia ser meio futurístico, perfeito, quase como uma maquete. Além de ter um globo gigante no jardim que eu gostaria muito de saber o que era.
Os torcedores estavam em peso nas grades da entrada lateral do hotel. Em peso mesmo! Eu nunca tinha visto tanta gente assim na minha vida. Eles estavam nas ruas e em algumas partes altas dos prédios vizinhos. Para ajudar, Vinícius veio no carro de trás de canarinho, só para esquentar mais minha cabeça.
Entramos pela lateral do hotel, subindo as escadas por fora e entrando em um lobby. Provavelmente não o lobby principal, mas um lobby reservado para nós. Lá era parecido com o restaurante de Sochi, era uma sala de espera e tinha vários jogos, pebolim, sinuca, mesas de xadrez e damas, além de muitos sofás e tapetes para ficarmos lá, e uma porta para um grande restaurante.
Um novo gerente animado nos deu as boas-vindas, eu e Angelica nos encarregamos de distribuir as chaves, dois por quarto, e logo subimos, encontrando a gangue inteira no mesmo andar, com malas pelos corredores, gritarias e correrias e a mesma provocação de Firmino quanto eu e Alisson.
Eu e Bianca entramos em um dos quartos, separamos nossas roupas, eletrônicos e informações necessárias e fomos descansar por alguns minutos, antes do dia começar a ferver novamente.

- Willian, aqui à sua direita, João Paulo, do grupo Bandeirantes de Rádio, esse jogo diante da Bélgica, dá para falar que vai ser o jogo mais fácil para vocês do meio-campo atuarem? Uma vez que eles têm praticamente um volante que é o Witsel, um buraco no meio campo pelo que vimos nos últimos jogos da Seleção Belga? – Willian pensou um pouco, soltando um longe suspiro antes de responder.
- Não, não. Acho que... Como eu falei no começo, não tem jogo fácil em Copa do Mundo, é sempre complicado e, com certeza, vai ser mais um adversário difícil, nós já temos ciência disso, vamos encontrar dificuldades. Da mesma forma que vamos estudar a equipe deles, como eles também estão estudando nosso time, nossa maneira de jogar, então, com certeza vai ser mais um jogo difícil para nós. – Ele respondeu. Fechei os olhos por alguns segundos, arrepiando com isso. Eu estava uma pilha de nervos e dessa vez não tinha tomado nada que me deixasse assim.
- Aqui, Willian! – Ele se virou para outro lado. – Notamos que alguns jogadores fizeram treinos regenerativos, outros só corridas ao redor do campo. É verdade que a equipe está desgastada fisicamente? Você sente que o time está um pouco mais cansado do que deveria estar?
- Não, acho que é um cansaço normal, por causa dos jogos... Acho que, como todas as equipes também, a gente sempre precisa de um ou dois dias para estar se recuperando melhor, então, por isso algum jogador prefere fazer um trote ao redor do campo ou até ficar por fora, para recuperar bem e estar 100 por cento no próximo jogo. Então, esse é o pensamento de dentro da seleção. – Ponderei com a cabeça, acho que nunca pensaria nessa resposta.
- Obrigada, gente, nos vemos no jogo amanhã. – Bianca falou e Willian se levantou, seguindo em minha direção e eu o coloquei para dentro da antessala novamente, enquanto Bianca se livrara da imprensa.
- Pronto? – Ele perguntou.
- Pronto. – Falei aliviada, passando a mão em minha testa.
- Você está bem? – Ele levou à mão em minha testa. – Você está quente. Tá com febre? – Ri fraco.
- É o nervosismo batendo de novo. Vocês falando que o jogo vai ser difícil, que os belgas são isso, os belgas são aquilo. – Ele riu e eu suspirei.
- Porque você não tira o resto do dia para você? Quem sabe dá uma relaxada? – Ponderei com a cabeça.
- Será que eu consigo? – Pensei. – Seria muito bom relaxar. – Ele riu. – Bem, vamos, preciso te devolver para o Tite.
- Eu sou um brinquedo que preciso ser devolvido? – O guiei para fora da sala da coletiva, seguindo para os gramados do estádio Tsentralnyi, antigo estádio do time local Rubin Kazan. Eles queriam poupar o gramado da Arena Kazan, onde seria o jogo de sexta-feira.
- Precisa! – Respondi rindo e saímos para o gramado.
Demorou somente dois passos para notar a chuva que caía no gramado, fazendo com que eu desamarrasse o moletom azul escuro com verde da cintura e o vestisse, fechando-o até o pescoço e me esquecendo de que ele não tinha capuz. Malditas roupas estilosas da CBF.
Senti meu cabelo bem escovado escorrer na lateral de meu rosto e já o prendi em um rabo de cavalo. Corri pelo campo, atravessando-o até o outro lado, vendo Alisson defendendo um gol e fiquei embaixo do toldo que cobria o banco de reservas. Coloquei as mãos no bolso e o que eu vi em seguinte aconteceu em câmera lenta.
Os jogadores faziam o treino de sempre no centro do campo, enquanto os goleiros treinavam nas laterais. Danilo roubou a bola de Willian e seguiu para os pequenos gols dispostos no campo reduzido e não sei se foi a chuva ou se foi só mal jeito, mas ele escorregou pelo gramado, caindo com dor no campo.
- Parem! Parem! – Gritei, vendo os jogadores já pararem a bola e a equipe médica entrar no campo.
Saí da cobertura e me aproximei do ocorrido, vendo Danilo visivelmente com dor, virando a cabeça para trás, enquanto um dos fisioterapeutas olhava seu tornozelo esquerdo. Alisson e os goleiros se aproximaram e Bianca apareceu ao meu lado, perdida sobre o acontecimento.
Esperamos enquanto os fisioterapeutas e Rodrigo tiravam a chuteira e a meia de Danilo e checavam o local da pancada. Eu não entendia muito, mas o local inchou na hora, parecia uma batata.
- E aí? – Tite perguntou e eu até virei de costas, franzindo o rosto.
- Torção no tornozelo esquerdo. – Ricardo falou e eu suspirei. – Pelo menos 10 dias de recuperação. – Franzi a testa. – Ele está fora!
Levei as mãos à cabeça e apertei os cabelos molhados, sentindo vontade de chorar. Alisson olhou preocupado para mim e eu só abanei a mão, me afastando dali e me sentando em um dos bancos da reserva.
Danilo está cortado... Danilo tá fora da Copa do Mundo! Respirei fundo, passando as mãos nos olhos e afundando-as nos mesmos fechados. Isso era tudo que a gente menos precisava às vésperas de um jogo decisivo. Tentei colocar minha cabeça para funcionar, pensando no que eu deveria fazer nessa situação, mas eu só conseguia pensar como ele estava se sentindo agora.
Observei sobre as grossas gotas Bianca andar em minha direção e a equipe técnica ajudar a trazer Danilo para o coberto, acho que o levariam para o hotel, para cuidar disso lá, mas precisavam imobilizar aquilo ou ficaria pior.
- O que faremos? – Bianca perguntou e eu me levantei, puxando-a para longe, saindo do coberto.
- O que podemos fazer? – Dei de ombros. – Preparar o release, fugir da imprensa e tentar mantê-lo com os espíritos animados, o que acho difícil.
- Ele precisa ir embora, . – Franzi a testa, puxando-a para mais longe.
- Como assim?
- Eu vejo isso com Angelica, normalmente quando um jogador se machuca e não têm chances de voltar a jogar, ele é cortado. Ele vai embora.
- Não vou mandar o Danilo embora. – Falei, cruzando os braços. – Não. Faltam poucos jogos. Ele fica. Além de que ninguém melhor do que Rodrigo para cuidar disso. Ele fica. – Ela ponderou com a cabeça.
- Será que ele pode? – Dei de ombros.
- Espero que nem cogitem isso, se não vão ter que se virar comigo. – Ela riu.
- Eu vou preparar o release. – Ela falou e eu a segurei pelo moletom que ela usava.
- Espera o Rodrigo estar sozinho para saber exatamente que tipo de lesão que é. – Ela assentiu com a cabeça. – Danilo já deve estar se sentindo mal o suficiente para ter ouvindo pessoas falando que ele foi cortado. – Soltei um longo suspiro ao falar essa palavra e balancei a cabeça.
- Que merda, hein?! – Alisson se aproximou com Ederson e Cássio e eu fiquei entre demonstrar minha frustração ou observar sua blusa molhada colada no corpo.
- Isso cortou meu coração. – Cocei a nuca, bufando novamente. – Acabou com meu dia e não são nem duas da tarde. – Suspirei alto.
- Ele vai ficar bem? – Cássio perguntou e eu dei de ombros.
- Sei menos que vocês, mas 10 dias de recuperação não é algo muito confortável. – Balancei a cabeça. – Pelo menos 10 dias, na verdade.
- , vamos levá-lo para o hotel, você vem? – Bianca se aproximou rapidamente e eu assenti com a cabeça.
- Claro! – Falei, me virando para os goleiros. – A gente se vê depois? – Falei para Alisson que assentiu com a cabeça. Estalei um beijo em sua bochecha molhada e dei meia-volta, correndo em direção à Bianca, sentindo o All-Star espalhar a água acumulada do gramado.

- Ei, Angelica! – Me aproximei dela, vendo-a se virar rapidamente abaixando seu celular.
- Diga! – Ela sorriu.
- Será que eu posso tirar o resto do dia? – Perguntei. – Eu estou parecendo uma pilha de nervos e sinto que se eu ficar aqui, só vai me deixar mais nervosa e até acabar passando isso para os jogadores.
- Creio que não tem problema, . – Ela deu de ombros. – Você e Bianca já cuidaram do problema do Danilo, já foi à coletiva pré-jogo e sei que vocês vão ignorar os telefonemas da imprensa aqui ou fora. – Ela deu de ombros. – Pode ir sim e fala para Bianca que se ela quiser espairecer também, que ela pode. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Falei e voltei a subir os andares do hotel, entrando no quarto que eu dividia com Bianca, encontrando-a com os olhos fixos no computador. - Tá ocupada? – Perguntei e ela ergueu o rosto.
- Não, na verdade. Só lendo algumas reportagens, nada demais. – Ela deu de ombros.
- Eu pedi o resto do dia para Angelica e ela nos liberou, nós duas.
- Sério? – Ela falou animada, batendo o notebook. – Eu vou tomar banho e dormir o resto do dia. – Rimos juntas.
- Eu tenho outra ideia, se preferir. – Ela franziu a testa.
- Manicure de novo? – Ela deu um largo sorriso.
- Eu pensei em shopping, na verdade, mas se for igual ao Brasil, aposto que tem algum salão.
- Nossa, sim! – Ela falou animada. – Eu vou só tirar essa roupa. – Ela se referiu ao uniforme e eu ri.
Acabei me trocando também, mas não coloquei nada fora do que eu estava acostumada a usar aqui na Rússia, o tempo estava começando a esfriar e um casaco estava sendo bem-vindo. Aproveitei para dar aquela ajeitada no cabelo, que tinha armado depois de eu lavá-lo por causa da chuva e descemos animadas com nossas bolsas.
- ! – Franzi a testa ao ouvir alguém me chamar quando chegamos ao lobby e virei o rosto, vendo a mãe de Alisson e vários outros familiares espalhados pelo local.
- Oi, dona Magali. Tudo bem? – Me aproximei dela, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Tudo bem, querida. – Ela sorriu. – Vocês sabem nos dizer quando os meninos voltam? Falaram que eles estão treinando... – Conferi o relógio rapidamente.
- Sim, eles vão ficar até umas nove horas lá. Tanto que estamos sem o que fazer e vamos dar uma volta.
- Aonde vocês vão? – Uma mulher se aproximou. – Eu sou Ane, mãe do Fernandinho. – Rimos juntos e trocamos beijos e abraços rápidos.
- Queremos ir ao shopping, na verdade. – Elas riram.
- A gente pode ir com vocês? – Rafaella, irmã de Neymar, se aproximou. – Eu não aguento mais esperar, sério.
- Acho que não tem problema. – Eu e Bianca nos entreolhamos e demos de ombros. – Como minha mãe dizia: para fazer compras, quanto mais mulher, melhor.
Acabou seguindo eu, Bianca, a mãe de Alisson, a mãe de Fernandinho, a irmã de Neymar, as esposas de Thiago Silva, Cássio e Marcelo. Pedimos dois Uber e seguimos para o shopping mais próximo. Claro que com diferenças de arquitetura, organização e logística, todos os shoppings no mundo acabavam sendo iguais. Uma loja ao lado da outra, com diversas opções para comprar, comer e fazer.
Esse shopping em especial seguia o nível um pouco mais de grife, mas os preços acabavam compensando, se fizesse a cotação para real. O rublo era superdesvalorizado. Eu acabei fazendo algumas comprinhas, lembrancinhas para levar para o Brasil, doces diferentes para degustar e para levar, além de pequenas coisas. Eu também acabei comprando um vestido maravilhoso na Michael Kors. Eu não deveria fazer aquilo, mas eu fiz, afinal, o salário já estava na conta e eu estava muito feliz em poder me dar esse presente.
A companhia era ótima. Algumas mais quietas que outras, algumas mais extravagantes, mas éramos brasileiras, então acabamos nos entendendo. Quando se aproximava da hora de ir embora, ou seja, da hora dos jogadores voltarem para o hotel e eu e Bianca voltarmos a sermos babás, sentamos para tomar café. Um café muito ruim, segundo a mãe de Fernandinho, mas o papo estava gostoso e eu poderia ficar lá por várias e várias horas.
- Então, vamos falar do que realmente importa. – Disse Belle, a esposa de Thiago.
- Lá vem! – Brincamos.
- Você e Alisson. – Bufei, revirando os olhos. – Nem vem, sabemos que vocês estão juntos e sabemos que está rolando algo muito maior do que vocês mostram. Não se esqueça de que eu estava naquele churrasco antes do jogo do México. – Ri com ela.
- A mãe dele está aqui gente, não...
- Eu não me importo, querida. Até tenho um interesse em saber, para falar a verdade. – Ela riu. – Vocês parecem se gostar muito. – Suspirei. – Só tenho curiosidade em saber como começou.
- Exatamente! – Disse a mãe de Fernandinho e todas elas me encararam, incluindo Bianca, que já sabia a história. – Pode falar.
- Tudo começou lá no Rio, quando eu fiquei de vigília com eles para os treinos depois da convocação. – Suspirei.
- Nossa! Tudo isso? – Rafaella, irmã de Neymar, perguntou.
- Que estamos ficando faz poucos dias, foi depois daquele churrasco mesmo, mas estamos nos olhando e nos provocando desde o Brasil. – Elas sorriram, querendo que eu continuasse. – Ah, eram só provocações faladas, na verdade. Isso foi levado para Inglaterra, para Áustria e chegou aqui na Rússia. – Dei de ombros. – Só que quando chegou aqui na Rússia, todo mundo já tinha notado que tinha algo entre nós, fizeram até uma aposta para saber se ficaríamos juntos durante a Copa ou se teríamos caráter e ética e ficaríamos só depois de Copa. – Elas gargalharam.
- Vemos que não deu para segurar. – Ri fraco, balançando com a cabeça.
- Os jogadores e a equipe técnica acabaram dando carta branca, na verdade. – Dei de ombros. – Aí estamos ficando, tentando manter totalmente separado de nossas responsabilidades aqui. – Elas sorriram. – Afinal, os dirigentes não sabem... Bem, agora devem saber, ele me beijou no vestiário depois do último jogo, alguém deve ter repassado a informação.
- Ah, que lindo! – Rafaella falou sonhadora.
- Eu só me surpreendo da forma que isso aconteceu. – Suspirei. – Ele me provocou um dia, depois eu, depois ele... Virou uma competição de quem deixava o outro sem palavras. – Brinquei e elas riram. – Até que deu certo. – Ri fraco.
- E depois da Copa? – Jana, esposa de Cássio, perguntou, enquanto amamentava sua pequena Maria Luiza. E eu soltei um longo suspiro.
- Eu não sei. – Franzi os lábios. – Eu não gosto de pensar nisso, afinal, ele mora em Roma, eu moro no Rio. E eu não vou largar meu trabalho excelente para ir para lá e ele está no ponto mais alto da carreira dele, não vai querer jogar em um time brasileiro. – Dei de ombros. – Só o tempo vai dizer.
- Ele gosta muito de você, querida. – Sua mãe sorriu. – Vocês dois darão um jeito. Feriados prolongados, férias, recesso de fim de ano. Além das competições da seleção, aposto que você vai acompanhar, depois de vir para Rússia. – Ponderei com a cabeça.
- Algumas competições, como as principais, eu já fui até “convocada”, digamos assim, mas amistosos, competições menores, eu realmente não sei. – Suspirei.
- Vocês darão um jeito. – Ela sorriu, segurando minha mão em cima da mesa e eu assenti com a cabeça. – Além de que você pode ir para Nova Hamburgo me visitar. Não é porque não tem Alisson que não podemos nos conhecer melhor, certo? – Elas riram.
- Eu vou adorar, dona Magali. – Sorrimos juntas. – E você pode me visitar no Rio.
Fomos embora pouco tempo depois, já passava, e muito, das nove da noite e eu e Bianca precisávamos voltar. Separamos as diversas sacolas quando saímos do Uber e seguimos todas para dentro do hotel novamente, agora estava liberada para a família entrar e jantar com eles também.
- ? – Ouvi uma voz meio surtada demais gritar e logo Marcelo já me abraçava pela cintura, ajoelhado no chão, me fazendo franzir a testa. – Você está aqui!
- O que você faz aqui? – Alisson veio logo atrás, me abraçado pelo pescoço.
- Gente...? – Perguntei meio assustada, com o nariz e a boca pressionados contra o peito de Alisson. Soltei as sacolas no chão e afastei Alisson e tirei os braços de Marcelo ao redor de mim. – O que está acontecendo?
- Você não foi embora? – Thiago se aproximou também. – Por pressão e tudo mais?
- Eu perdi alguma coisa? Os dias passaram e eu não percebi?
Franzi a testa e ponderei com a cabeça se eu tinha perdido alguma informação, mas uma risada escandalosa vinda de atrás de um notebook deu a resposta. Tite gargalhava em uma das poltronas, deixando seu rosto até vermelho.
- Você mentiu para gente? – Os jogadores no lobby gritaram quase em coro e Alisson revirou os olhos, batendo a mão na testa.
- Ignore as mil mensagens que eu deixei no seu celular, ok?! – Ele falou e eu franzi a testa.
- Eu não menti, foi só uma brincadeirinha. – Tite falou, ainda gargalhando.
- O que aconteceu? – Virei para Alisson que agora me ajudava a pegar as sacolas novamente.
- Chegamos aqui, fomos atrás de você porque queríamos saber informações do Danilo e tudo mais, aí Tite disse que você tinha ido embora, que estava em direção ao aeroporto para voltar para o Brasil, por causa da pressão do trabalho, que está afetando você, etc...
- E vocês acreditaram e surtaram? – Perguntei, revirando os olhos.
- Você não respondeu nenhuma mensagem, não via o WhatsApp há sei lá quantas horas...
- Eu fui para o shopping com algumas mães e esposas. – Revirei os olhos.
- Pareceu verdade. – Ele deu de ombros e eu balancei a cabeça.
- Ah, vocês! – Ri fraco, me seguindo até uma poltrona e colocando as sacolas na mesma. – Vocês sabem que vão ter que viver depois da Copa sem mim, não é? – Cruzei os braços e eles riram, negando com a cabeça.
- Não dá para você vir trabalhar na Europa ou algo assim? – Marcelo perguntou e eu ri fraco, abraçando-o rapidamente.
- Não dá. – Ri fraco. – Cássio, Fagner e Geromel precisam de mim.
- Obrigado! – Geromel falou rindo. – Por pensar em nós.
- Eu não acredito que você fez isso, Tite. – Ele se aproximou, me abraçando rapidamente e eu ri.
- Eu não podia perder a oportunidade. – Ele ainda ria. – Até Bianca entrou na roda.
- Meu Deus! Deixa eu me afastar um pouco, porque eu já vi que ficar muito tempo com vocês causa dependência. – Rimos juntos e ela escondeu o rosto com as mãos.
- De ambos os lados, o que é pior. – Comentei e Alisson me abraçou por trás, estalando um beijo em minha bochecha, me fazendo rir.

- Aonde vamos? – Vinícius perguntou enquanto andávamos por Kazan, ele vestido de Canarinho, é óbvio.
- Nós vamos fazer um encontro épico. – Comentei, vendo-o acenar para as crianças que passavam e eu tentava acompanhá-lo. As passadas do Canarinho eram mais largas que a minha, então, parecia que eu estava correndo atrás dele de salto alto e Bóris mais ainda com o tripé e a câmera.
- Que encontro, ? – Ele perguntou e eu abri um largo sorriso.
- Você se lembra daquele garoto loiro que tinha cara de louco que apareceu na exibição do jogo do México? – Virei para ele.
- Aquele que virou meme? Que parecia meio demoníaco? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Exatamente! – Falei. – Enfim, ele acabou virando símbolo da torcida brasileira. Os dirigentes gostaram da ideia e é nosso convidado para assistir ao jogo contra a Bélgica hoje e, como ele parece muito o canarinho irritado, decidimos um encontro de mascotes.
- Não acredito! – Ele falou animado e eu ri. – Como vocês conseguiram isso?
- Não foi fácil, tenho que admitir, mas pegamos a sessão dele no estádio, fomos atrás da organização, já que todos estão cadastrados, pegamos o telefone e...
- Tudo isso? – Ri fraco.
- Não, achamos o Instagram dele e mandamos mensagem, foi fácil. – Se ele não estivesse com essa cabeça do mascote, ele provavelmente teria revirado os olhos.
Entramos no restaurante onde marcamos o encontro e tinha alguns torcedores brasileiros lá. Yuri realmente tinha virado tanta sensação quanto o Canarinho. Era realmente interessante. Além de nós, um jornalista da Fox Sports também estava lá entrevistando Yuri.
- Yuri? – Me coloquei à frente, voltando para o inglês. - , da Seleção Brasileira.
- Oi! Conversamos no Instagram, certo? – Ele se aproximou de nós e eu estendi minha mão para ele apertar. Ele tinha um forte sotaque russo, mas dava para entender.
- Sim! – Sorri. - Eu trouxe alguém para te conhecer! – Apontei para o Canarinho e Yuri sorriu ao ver nosso mascote bravo.
Deixei com que Vinícius se virasse agora e me afastei um pouco, cumprimentando o jornalista da Fox Sports que eu o reconhecia de algumas coletivas e acenei rapidamente para os torcedores que estavam em volta. Vinícius o abraçou e ele começou a interagir com Yuri, principalmente sambar, o que Yuri realmente não tinha molejo, mas que estava ótimo para as filmagens que Bóris fazia.
- Então, Yuri… – O chamei. - Eles te chamam de o Mago do Hexa. – Perguntei e ele riu.
- Não sei porque, mas espero trazer sorte para o Brasil hoje.
- Eu também. – Falei rindo. - Porque não fazemos uma foto igual você no jogo? Com a bandeira? – Falei e Vinícius confirmou com a cabeça de prontidão, o Canarinho não tinha voz com outras pessoas em volta, nunca perguntei para Vinícius, mas deveria ser sufocante.
- Claro! – Yuri falou animado e os torcedores que estavam com Yuri logo arranjaram uma bandeira e eles ergueram a mesma. Eu ergui a câmera, tentando colocar minhas poucas habilidades em jogo e tirei algumas fotos. Lucas estava se preparando para o jogo, não pode ir conosco.
Abaixei a bandeira e os deixei brincando um pouco. Me afastei lentamente, acompanhando as interações de Vinícius com Yuri, brincando de fazer algumas embaixadinhas e cabeceadas enquanto Bóris filmava. Isso levou pouco mais de 10 minutos, não é como se tinha muita coisa para fazer, era só uma formalidade, quase como um meet & greet com famosos.
- É a nossa hora! – Falei para Vinícius que se fingiu triste, abraçando Yuri e eu tirei um envelope da bolsa, me aproximando de Yuri.
- Aqui estão os ingressos e pulseiras para entrar na tribuna da CBF. Só apresentar isso que eles te liberam.
- Muito obrigado! – Ele disse, abrindo os braços e eu o abracei rapidamente, rindo.
- Obrigada! – Disse. - Espero que nos dê sorte.
- Torcendo! – Ele cruzou os dedos e eu sorri, acenando com a mão, segurando no braço de Canarinho para sair dali.
- Nós temos meia hora para chegar ao hotel ou perderemos o ônibus. – Falei e ele começou a andar mais rápido, me fazendo rir e tentar seguí-lo.

O ônibus parou na entrada do estádio e eu respirei fundo, esfregando as mãos uma na outra, tentando normalizar minha respiração enquanto os jogadores saíam da mesma. Tite parou ao lado do meu assento, fazendo um sinal com a cabeça e eu confirmei, sentindo-o tocar em meu ombro rapidamente e sair do ônibus.
Aguardei que todos saíssem do mesmo, sobrando eu e alguns assistentes da equipe técnica e eu me levantei, puxando minha mochila comigo e vi Casemiro já em pé no ônibus. Fiz o mesmo movimento da cabeça de Tite e ele assentiu com a cabeça, respirando fundo.
- Vou sentir falta de te xingar durante o jogo. – Falei e ele sorriu, me abraçando de lado. – Nos dê sorte, ok?!
- Eu vou tentar. – Ele falou, soltando a respiração pelo nariz.
- Vamos lá! – Falei, descendo o ônibus, vendo o assistente lá embaixo e Casemiro veio atrás de nós.
- Com licença, senhor. – Revirei os olhos ao ver uma das mulheres organização se aproximar e quase barrar nossa passagem. - Você não pode entrar, está expulso do jogo.
- Eu sei disso. – Eu disse, me aproximando. – Eu sou a assessora. – Mostrei o crachá. - O que nos foi dito é que ele precisa se apresentar aqui, depois ele vai para a nossa tribuna reservada para assistir o jogo. – Tentei falar com calma, já não bastava minha cabeça estar quente por causa do jogo.
- Espere um segundo, por favor. – Ela disse, apertando o fone em seu ouvido e falando com algum superior.
- Algum problema? – Casemiro virou para mim.
- Eu já suspeitava que não deixariam você entrar por aqui, mas não tínhamos como separar você dos outros jogadores e todos precisamos passar por aqui, mas nem no vestiário você pode entrar. – Falei, cruzando os braços. – Eu acho uma regra muito estúpida, para falar a verdade, mas não sou eu quem as faço. – Ele assentiu com a cabeça e me virei para a mulher, esperando alguma posição.
- Ele pode entrar por aqui, mas vou pedir para um dos seguranças acompanhá-lo, está ok para você? – Ela disse e eu ponderei com a cabeça, virando para Casemiro que também tinha o mesmo movimento de cabeça.
- Está tudo bem. Leo vai acompanhá-lo também. – Falei e Casemiro assentiu com a cabeça, com um sorriso no rosto e acenei para ambos, vendo-os entrar e seguir para a esquerda.
- Não vai com ele?
- Eu vou para os vestiários. – Mostrei meu crachá e ela escaneou o mesmo, acenando com a cabeça e ajeitei minha mochila nos ombros, seguindo em direção ao vestiário, ouvindo meus saltos baterem contra o piso e ecoando pelos corredores.
Entrei no vestiário, passando pelas antessalas e o vestiário se abriu para mim, fazendo com que eu pegasse vários jogadores sem roupa, o que já era comum e apoiei minha mochila na bancada principal, notando que Tite acenou para mim quando eu entrei.
- Deu certo? – Tite perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Ele vai assistir da tribuna reservada para CBF, Leo foi com ele e um segurança da FIFA. – Dei de ombros. – Não me conformo com ele não ficar aqui com a gente.
- Nem toda regra é justa. – Tite comentou e eu assenti com a cabeça.
- O que aconteceu? – Alisson perguntou para mim, enquanto vestia uma camisa de treino e eu me aproximei dele.
- Casemiro não pode nem ficar conosco por causa da expulsão. – Revirei os olhos. – Por isso demorei a entrar.
- Que merda! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Mas como, gente? Pensei que não mudasse nada.
- Vamos dizer que ontem à noite eu fiquei lendo as regras da Copa do Mundo. - Me apoiei na bancada e ele riu.
- A noite teria sido melhor se Firmino não tivesse dormido logo. – Ri fraco, me aproximando dele.
- Tudo bem. – Sorri, me colocando entre suas pernas. – Você tinha que se acalmar. – Ele abaixou a cuia e segurou em minhas coxas.
- Teria me acalmado bem mais se... – Ele cochichou e Firmino nos cortou.
- Firmino isso, Firmino aquilo... – Ele fez uma careta. – Se a gente não pode transar antes do jogo, ele também não pode. – Ele falou baixo, nos fazendo rir.
- O que é justo, é justo! – Dei de ombros, dando um rápido beijo na testa de Alisson. – Vamos trabalhar um pouco? – Falei e eles assentiram com a cabeça. – Até já.
Os jogadores saíram para o treino e eu comecei a arrumar a bancada de sempre. Dessa vez eu estava sozinha de novo, o que preferia, para falar a verdade. Achei que Vinícius só me deixou mais nervosa no jogo contra o México e Marcelo também no jogo contra a Sérvia. Sozinha eu podia extravasar sem parecer louca e sem precisar descontar em ninguém.
Os jogadores entraram logo em seguida, se arrumando para o jogo e vi Alisson no uniforme verde limão, como eu odiava aquele uniforme, preferia muito mais o preto do último jogo, ele ficava mais... Sério, por assim dizer.
- Eu me sinto mal por você assistir ao jogo daqui, é a Copa do Mundo e você está assistindo do vestiário. – Tite comentou, parando ao meu lado e eu ri.
- Faz parte. – Dei de ombros. – Mas acredite, não é só de jogos que se faz a Copa do Mundo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Tem certeza que não pode assistir do banco? – Ri fraco.
- Tenho sim. É melhor eu ficar aqui. – Sorri. – Além de que não daria muito certo eu e meu nervosismo. – Ele assentiu com a cabeça, me dando um rápido sorriso.
- Jogadores! – Ele os chamou e eu virei de costas para meus pertences, vendo Tite se posicionar em um dos cantos do vestiário. – Chegou o momento. Mais um jogo, mais um desafio para passarmos para a semifinal. Sabemos que o caminho não vai ser fácil, que não foi fácil até aqui, mas se perseverarmos, temos grandes conquistas lá na frente. – Ele falou. Atacantes, o goleiro deles é muito bom, procurem os pontos fracos. Alisson, cuidado com as bolas altas, eles são bons isso. Marcadores, estejam sempre atentos, a maioria deles são mais altos que vocês e talvez pegarão pesado na marcação. – Senti meu coração começar a bater forte. – Temos mais uma oportunidade de mostrar ao mundo do que a Seleção Brasileira é capaz. – Ele falou. – Força! E vamos lá. – Ele falou e todos aplaudimos.
- Bom jogo! – Falei para Alisson, tentando não tremer a voz para falar e ele assentiu com a cabeça, me abraçando fortemente. – Vai lá. – Dei um rápido beijo em sua bochecha e acenei para os jogadores, vendo-os saírem do vestiário.
Me sentei novamente em uma das caixas e aumentei o volume da televisão. Fiz uma reza silenciosa, fazendo o mesmo pedido de todos os jogos e comecei a estralar meus braços, pescoço e dedos, me preparando para mais uma batalha, mais uma série de nervosismos que, se Deus quiser, viriam com um alívio daqui uma hora e 45.
Os jogadores logo entraram: Neymar, Paulinho, Willian, Thiago Silva, Gabriel Jesus, Fernandinho, Phillipe Coutinho, Marcelo, Fagner, Alisson e Miranda, e o hino foi tocado. Mais uma vez a FIFA não conseguiu fazer com que o hino fosse interrompido no minuto que eles queriam, os torcedores cantaram firmes e fortes, fazendo com que meus pelos arrepiassem.
Ali eu já sentia que o jogo seria diferente.

A moeda foi jogada para cima, Brasil ficou com a bola e o apito foi soado. Seja o que Deus quiser!
Logo nos primeiros dois minutos, a Bélgica tentou fazer uma finalização. A defesa estava aberta e o jogador belga empurrou Fernandinho, fazendo uma finalização, mas foi para fora sem que Alisson precisasse se mexer. Em seguida o Brasil tentou fazer uma finalização, mas a bola foi direto nas mãos do goleiro belga.
Várias faltas estavam sendo dadas tanto pelos brasileiros quanto pelos belgas. Esse jogo seria quente e eu estava vendo que 90 minutos demorariam a passar. Seria quase uma eternidade. A Bélgica tentou fazer outra finalização, mas Thiago Silva cabeceou, impedindo que ela se aproximasse. O jogo voltou para o campo da Bélgica, mas Neymar errou um cruzamento.
Escanteio para o Brasil, Neymar cobrou. Thiago Silva estava a poucos centímetros da linha do gol. A bola veio direto em sua cabeça e ele fez o movimento, mas foi direto na trave. Era a primeira chance real do Brasil de abrir o placar.
- Caramba! – Falei brava.
A bola cruzou novamente, se aproximando de Alisson, onde um jogador belga tentou finalizar, mas bateu na perna da defesa. E foi tentado logo em seguida, indo para fora. Marcelo tentou chegar pela lateral esquerda, mas foi tirada de cabeça pelo belga. Paulinho insistiu, tentando passar pela barreira belga, mas eles defenderam por baixo. Em outro escanteio, tentaram novamente, mas nada.
- Vai ser igual a Costa Rica. – Suspirei.
Os belgas chegaram novamente, tentando fazer uma finalização, mas foi direto para fora, me fazendo respirar fundo e bater as unhas já longas na escrivaninha. Escanteio novamente da Bélgica e...
- Gol? – Franzi a testa, vendo Alisson se levantar tentando relevar e manter os jogadores animados e apareceu o replay. – Ah, Fernandinho, não acredito! – Passei a mão na testa, sentindo as lágrimas nos olhos e respirei fundo, imaginando como ele deveria estar se sentindo. – Vamos que ainda dá tempo para corrigir isso.
A bola voltou para o meio do campo, Willian tentou fazer uma finalização, mas foi retirado pelo goleiro. Marcelo e Neymar tentaram novamente, mas Jesus se enrolou com a defesa, não conseguindo finalizar. Marcelo tentou logo em seguida, mas foi tirado pela defesa.
Também não estava gostando do juiz, várias faltas tinham sido dadas e nada de cobrar. Não só contra brasileiros, mas contra a Bélgica também. Acho que o juiz decidiu que nenhuma falta seria dada hoje.
Coutinho fez uma finalização no centro do gol, mas Courtois fez a defesa sem muitas dificuldades. Parecia que Navas estava no jogo novamente. A Bélgica tentou chegar em cima do Brasil novamente, mas Marcelo defendeu. Depois tentaram em seguida, mas Thiago defendeu em seguida.
Brasil parecia ter fechado mais a defesa e a Bélgica também mudou sua defesa depois do jogo contra o Japão onde sua defesa estava tão vazada que até uma criança de cinco anos faria gol neles. Eles mudaram, com certeza mudaram, era como se o time inteiro da Bélgica estava na defesa.
Marcelo tentou novamente, tentando fazer a finalização de fora da área, mas foi espalmada pelo goleiro. Eles tentaram retornar à bola para o campo brasileiro, mas Thiago tirou e depois foi feita uma falta em Marcelo.
- Vamos, gente! – Falei, vendo que passavam de 25 minutos do primeiro tempo.
Falta no Neymar, falta no Willian. Os belgas iriam matar meus meninos antes do fim do primeiro tempo. Escanteio do Brasil, bola desviada pela Bélgica em todas as tentativas de gol. Escanteio do Brasil de novo e... Fora!
A bola cruzou novamente, um dos jogadores belgas se aproximou pelo meio e fez o passe para outro, a defesa brasileira não estava montava, mas quando eu menos esperava, ele chutou em direção ao gol, fazendo com que Alisson fosse exatamente na mesma direção à bola, mas...
- Gol... – Passei a mão em meu rosto, pressionando meus lábios uns nos outros.
Puxei e soltei a respiração mil vezes, sentindo as esperanças começarem a se esvair aos poucos. Ainda tínhamos uma hora de jogo, mas minhas esperanças estavam indo embora e eu sabia que seria difícil, mas tínhamos tempo para empatar, só precisava achar algum ponto de erro do goleiro belga.
Tudo bem que empatando seguiríamos para a prorrogação e possível pênalti, e eu não sabia o que era pior: ser eliminado direto, sem chance de prorrogação, ou seguir para os pênaltis e rezar para não morrer de ataque cardíaco.
Balancei a cabeça com essas ideias e tentei esquecer também todos os “ses” e voltei a prestar atenção no jogo, eu bateria em mim mesma. Perdi vários lances do Brasil com finalizações ao gol, percebendo que tinha ficado quase dez minutos em surto e olhei o tempo no relógio, 39 minutos.
Falta de Fagner, empurrando o jogador 10 da Bélgica. A falta foi cobrada e respirei fundo, observando Alisson com aquele uniforme verde limão horrível. Ele bate, mas Alisson espalma a bola, jogando para fora.
- Ufa! – Coloquei a mão no peito e vi o escanteio se formar novamente.
A bola foi chutada, o belga tenta com o pé, mas Alisson pega com as duas mãos. Abaixei a cabeça, batendo a cabeça na mesa algumas vezes e senti o gosto amargo na boca. Tinha um tempo inteiro ainda e eu já estava triste por eles, por nós... Pelo Fernandinho, meu Deus. Marcelo tinha feito um gol contra na Copa de 2014, o primeiro gol da Copa do Brasil, mas era o primeiro jogo, não era uma decisão.
- Ah, , cala boca! – Falei sozinha, balançando a cabeça.
Voltei a focar no jogo, contando os minutos para que o primeiro tempo acabasse e eu pudesse ir vomitar. Acho que só isso tiraria aquelas bolhas em meu estômago.
Acréscimo de um minuto.
Tivemos uma chance de Neymar e até ergui o corpo, mas ele perdeu a bola e o lance estava impedido. Não teria chance mesmo.
Fim do primeiro tempo.
Bati a mão na minha cabeça e me levantei correndo, seguindo para o banheiro e me tranquei em uma das cabines. Abri a tampa do vaso sanitário, abaixando minha cabeça dentro do mesmo e nem vomitar eu conseguia.
Ouvi os jogadores entrarem no mesmo aos poucos e fechei a tampa, me sentando na mesma, colocando as mãos no rosto, sentindo os olhos molhados. Isso não podia estar acontecendo, estava cedo. A gente não podia ir embora agora, não com tantas coisas para acontecer, tantos sonhos para realizar e tanta incerteza sobre o futuro.
Ouvi os gritos de Tite no vestiário, mas tentei relevar e me levar para um lugar feliz. Talvez para quando eu vi Alisson cantar, antes de tudo isso. Sua voz me acalmava. Seus braços mais, mas ele já deveria estar muito decepcionado consigo mesmo, acho que nem eu mesma seria capaz de acalmá-lo.

Voltei para o vestiário quando todos já tinham voltado para o jogo e começou o segundo tempo.
Substituição. Sai Willian, entra Firmino.
Brasil e Bélgica tentaram fazer finalizações logo no começo. A Bélgica tentou se aproximar de Alisson, mas ele já pegou a bola com as mãos antes que ela chegasse com mais velocidade. E faltas foram feitas contra brasileiros quando tentaram se aproximar da área belga.
- Pênalti! – Gritei ao ver Neymar ser derrubado na área, mas ele mesmo levantou correndo querendo que Marcelo continuasse o jogo, mesmo o juiz demonstrando que consultaria o VAR.
Eu não prestei atenção no lance para saber se valia ou não pênalti, eu estava só de corpo presente naquele vestiário agora. Não parecia que eu estava aqui a trabalho ou que eu estava no subsolo de um grande estádio, com um jogo rolando acima da minha cabeça. Parecia que eu estava em casa e poderia sair da sala a qualquer momento para beber água ou pegar a pipoca que estourava no micro-ondas.
Paulinho fez uma tentativa, mas foi defendida pelo goleiro belga e mandava para o meio de campo novamente. Neymar se aproximou com raça novamente, tropeçando nos pés dos belgas novamente. Jesus tentou novamente, tentando passar pelas pernas dos jogadores e pode ter sido considerado pênalti novamente, mas não.
Eu estava em outro lugar já, em outras situações eu podia dizer se era ou não pênalti, mas o VAR não nos ajudou em nenhum momento, eu sabia que não nos ajudaria agora, principalmente agora, onde um pênalti nos ajudaria bastante.
Substituição. Sai Gabriel Jesus, entra Douglas Costa.
- Vamos, Douglas, quem sabe é para você fazer? – Falei baixo, movimentando minhas mãos, apertando as unhas longas nas mãos.
Marcelo tentou, Firmino tentou, Neymar tentou diversas vezes. A Bélgica não dava passagem, a bola não passava pelo goleiro da Bélgica, mas parecia que agora no segundo tempo, as bolas estavam demorando mais para chegar em Alisson. Foi só eu falar que a Bélgica se aproximou novamente, fazendo um chute forte em direção a Alisson e tivemos sorte do gol não entrar, ela passou rente em frente ao gol e Alisson não conseguiu espalmar a mesma.
Na minha visão, caso perdêssemos esse jogo, caso fôssemos para fora, não era culpa de Alisson, que seria culpado só pelo fato de ser o goleiro. Não culparia Fernandinho, muito menos Tite e a equipe técnica. Da mesma forma que eu não achava que eles eram responsáveis pelas vitórias.
É um jogo! São 50 por cento de chances de cada lado. É sorte! Claro que as habilidades, técnicas, movimentações e posições do time afetam isso. Obviamente! Mas não é isso que define o placar antes mesmo do jogo começar. Como eu disse há alguns dias, o Brasil sempre é favorito, mas infelizmente os outros países também aprenderam a jogar futebol e nem sempre dava.
Respirei fundo, tentando voltar a pensar sobre a possibilidade de vencer. Voltar a pensar no hexa! Era esse o foco. O hexa vem!
Foi dada uma falta em Fernandinho, tendo sido acertado no nariz e respirei fundo, vendo a equipe médica entrar no campo e Firmino querer que eles fossem embora. Ele estava certo, não podíamos perder tempo, o relógio já estava em 20 minutos de jogo. Faltava só mais 25. Mais 25 minutos de tortura. Douglas Costa tentou algumas finalizações, mas todas paravam no goleiro.
Substituição. Sai Paulinho, entra Renato Augusto.
Para não perder o costume, Fagner começou a distribuir faltas à vontade. Não que eu quisesse ter que lidar com a imprensa amanhã sobre isso, eu já lidaria com um assunto pior se não conseguíssemos virar o jogo. 30 minutos.
A bola voltou para o campo da Bélgica e tive esperança com o chute que Douglas deu, mas a bola bateu na barreira belga. Eles brincaram de bobinho dentro da área, mas um belga se irritou e chutou a bola para o meio de campo.
Fagner quase fez outra falta, mas Thiago trouxe a bola de volta para o campo belga, ele passou para Coutinho que tentou o chute, pegando na defesa belga. Neymar tentou novamente, repassando por Fernandinho que devolveu para Coutinho. Ele tentou uma bola alta e eu me levantei ao ver Renato Augusto dentro da área, quase sozinho. Ele pulou, cabeceou e...
- GOL! – Respirei aliviada ao ver a bola entrar e ele correr para pegar a mesma e comemorar.
Existia esperança! Faltava somente 14 minutos de jogo, mas se tínhamos feito dois gols nos acréscimos da Costa Rica, talvez mais um seja possível para a prorrogação. Por mais tortuosa que parecia.
Coutinho passou para Neymar novamente que passou a bola para Firmino que estava na área. Ele escorou a bola, girou e fez o chute, mas passou por cima da trave, raspando da mesma. Isso tinha animado eles, agora as ideias voltaram para o lugar e eles atacavam mais forte.
Coutinho tentou novamente para Renato Augusto, fazendo com que ele desse o chute no centro do gol, mas a bola desviou, passando raspando pelo gol. Essa fez até meu coração bater mais rápido e minha cabeça pensar que Renato deveria ter entrado antes no jogo.
Perdemos uns cinco minutos quando um belga caiu sozinho e demorou mil anos para sair do campo. Claro que eles iriam devagar, mais um gol e iríamos para a prorrogação e para quem fez dois gols, ou melhor, um gol e uma ajuda nossa, desde os 30 minutos de jogo, não queriam perder agora.
Neymar se aproximou do gol com a bola sozinho e passou a bola para Coutinho que chegou forte, batendo com força no gol, mandando a bola para a fora. Fernandinho tentou o contra-ataque, passando as pernas entre as do belga e levou um cartão amarelo. Marcelo também não queria enrolar e o puxou pela camisa, fazendo com que ele se levantasse rapidamente. 40 minutos de jogo.
A bola ficou indo e voltando várias vezes, mas sem nenhuma finalização. Os passes estavam longos, na maioria das vezes sendo mandado para fora ou sendo defendido por ambos os goleiros que faziam o tiro de meta com força para impedir que a bola se aproximasse dos gols novamente. Falta do Fagner.
- Agora você leva cartão amarelo, né?! – Vi o juiz esticar o cartão e respirei fundo, até rindo da ironia. Agora ele não precisaria desse cartão.
Acréscimo de cinco minutos.
Fagner fez o lance, Neymar estava na área e caiu, alegando pênalti. O juiz foi ver se foi pênalti, mas também não deu, mesmo o replay dando que Neymar levou na cara. Cinco jogos, cinco pendências do VAR e nada! É, bem que eu falei com Alisson logo no primeiro jogo, e ele todo esperançoso na primeira coletiva para falar sobre isso.
Brasil não queria desistir. Neymar, Douglas e Coutinho tentavam de todas as formas fazer mais um gol. O tal do gol de ouro. O gol que nos levaria para mais 30 minutos de prorrogação. Escanteio para o Brasil. Neymar cobra e...
- O que o Alisson está fazendo aí? – Vi a figura verde limão se aproximar para tentar no ataque, mas a bola foi para fora, fazendo-o voltar rapidamente para o gol.
Tudo estava perdido mesmo, faltavam poucos segundos para o fim mesmo. Perder de dois, três ou quatro não mudaria o resultado final, mas um jogador a mais na linha poderia ajudar o empate.
Ouvi o apito triplo do juiz e me sentei novamente no banco, sentindo o choro chegar aos olhos para valer agora.
Era isso. A Copa do Mundo acabou para o Brasil.

Eu tentei me acalmar pelos minutos que se passaram. Os jogadores ficaram no campo um pouco, alguns desolados, outros seguindo para entrevistas e a maioria cumprimentando a seleção belga, mas eu sempre sentia uma lágrima solitária escorrendo em meu rosto.
Me levantei, tentando espairecer e abaixei meu notebook, observando minha mão que tremia. Ouvi um barulho na porta e virei o rosto, vendo que Fernandinho era o primeiro da turma e vi que seu semblante estava quieto, triste. Abri meus braços para ele, tentando dar um meio sorriso e ele me abraçou fortemente, apoiando a cabeça em meu ombro e eu o apertei em meus braços.
- Está tudo bem. – Cochichei para ele, sentindo-o soltar alguns suspiros em meu ombro e acariciei sua cabeça, tentando consolá-lo.
- Eu estou bem. – Ele falou, se afastando um pouco e ele passou a mão no rosto, limpando algumas lágrimas e eu só consegui acenar com a cabeça.
Thiago entrou no vestiário com outros jogadores e passou os braços entre nós, nos trazendo para perto e senti outros jogadores começarem a nos abraçar, me dando conta que todos que voltavam para o vestiário, pararam para nos abraçar.
Eles foram saindo aos poucos e eu fui abraçando um a um, não importando se tinham ou não jogado. Eu não tinha jogado e estava visivelmente chateada. Eu tentava dar pequenos sorrisos, franzia os lábios para impedir que as lágrimas rolassem pelas bochechas, mas todos estávamos iguais.
- Obrigada! – Cochichei para Renato, fazendo um carinho em sua cabeça. – Você nos deu esperança. – Ele assentiu com a cabeça e eu suspirei.
Ouvi a porta novamente e vi os jogadores restantes voltarem da entrevista pós-jogo. Alisson deu um pequeno sorriso em minha direção e eu desviei de algumas pessoas, ignorando toda tentativa de me controlar e passei os braços pelo seu pescoço, ficando de ponta dos pés e afundando meu rosto em seus ombros, finalmente deixando que o choro saísse.
Eu fiquei lá por o que pareceu ser uma eternidade, minhas lágrimas já escorriam sem vergonha e alguns soluços até ecoaram pelo vestiário silencioso. Em compensação, ele permaneceu sério, sóbrio, frio, somente me apertando pela cintura e fazendo carinho em meus cabelos. Ele estava me consolando, quando na verdade deveria ser o contrário.
- Vai ficar tudo bem. – Ele falou e eu afastei meu rosto do seu um pouco, voltando a fincar meus dois pés no chão e deixando meus braços deslizar e apoiar em seu peito suado.
- Como vai ficar bem? – Perguntei baixo, sentindo minha voz falhar. – É o fim. – Dei de ombros, suspirando. – É o nosso fim também? – Senti os olhos lacrimejarem novamente e ele me apertou novamente, colando os lábios em minha testa.
- Não. – Ele suspirou. – A gente vai dar um jeito de fazer isso dar certo, ok?! Eu te prometo.
- Ok. – Foi o que eu consegui falar e me afastei um pouco, passando as mãos em meus olhos, respirando fundo. – Você está bem? – Perguntei e ele deu de ombros, seu rosto estava vermelho, mas nada diferente do normal.
- O possível. – Ele suspirou. – Fizemos o melhor que podíamos. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Ainda temos alguns protocolos a seguir. – Falei e ele sorriu de lado.
Nos separamos e cada um voltou a se arrumar em silêncio. O c tinha morrido, as cores ficaram opacas e nem mais o batuque era ouvido pelo local. Fui ao banheiro lavar o rosto, tentando tirar aquela melação do olho, e encontrei alguns jogadores com a mesma feição e os cumprimentei. Voltei para o vestiário e terminei de arrumar todas as minhas coisas, me sentando em uma das caixas, esperando que os jogadores terminassem de se arrumar.
Como não seguiríamos para a próxima viagem, não precisávamos jantar aqui. Então, voltaríamos para o hotel para preparar o protocolo de despedida. Um arquivo que estava escondido muito bem escondido em meu e-mail, caso isso acontecesse. A eliminação era imediata, precisávamos dar destino a todos da equipe o mais rápido possível e nos apresentar para a CBF novamente.
Isso me deixava cada vez mais triste, porque queria dizer que há essa hora amanhã, eu já estaria a caminho do Rio e sentia que Alisson não estaria nesse voo comigo. Ele terminou de se arrumar, voltando a sua blusa polo igual a minha e me chamou. Me coloquei entre suas pernas e sentei em seu colo, deixando com que ele me abraçasse pela cintura e encostasse a cabeça em meu braço, permitindo que eu fizesse um carinho em sua cabeça. Ele não chorava como alguns jogadores e não tinha os olhos vermelhos como outros, mas ele estava triste.
- Acho que podemos ir. – Tite falou e eu assenti com a cabeça, nos levantando.
- Nós... – Bianca falou, parando por algum momento e eu entendi o que ela queria.
- O quê? – Tite perguntou e eu suspirei.
- Alguém precisa falar com eles. – Os jogadores se entreolharam, em dúvidas do que aconteceria e as sugestões começaram a aparecer.
- Eu vou! – Miranda, capitão do jogo, foi o primeiro a se dispor.
- Eu vou! – Alisson falou, levantando em seguida.
- Eu também. – Paulinho disse em seguida.
- Eu posso falar também. – Marcelo falou e eu assenti.
- Renato, vá também. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Depois faremos uma coletiva para você, Tite. – Bianca falou e assenti com a cabeça.
- Eu prefiro agora, se não for problema. – Bianca olhou para mim e olhei para Angelica que somente arqueou os ombros.
- Dá para fazer. – Angelica falou e confirmamos com a cabeça.
- Depois que os jornalistas falarem com os jogadores na saída, os reunimos para uma rápida coletiva com você e alguém da equipe.
- Eu vou! – Edu falou e confirmamos com a cabeça.
- Perfeito! – Falei fracamente e eles afirmaram com a cabeça, soltando suspiros desanimados.


Capítulo 10 – Algo mais valioso que o hexa!

Bati o salto no chão, sentindo o sapato frouxo no pé, e dobrei a perna, arrumando o mesmo. Olhei em volta do lobby vazio e ergui o rosto para o relógio preso na parede, era quase uma da madrugada e eu sentia que a noite seria longa.
- ! – Ergui o rosto, vendo Tite colocando a cabeça para fora da sala de reuniões. – Você pode entrar. – Soltei um longo suspiro, balançando a cabeça.
- O que eu falo para eles, Tite? – Senti minha voz embargar novamente e ele saiu da sala, fechando a porta. – Eles são só garotos. – Suspirei e ele se aproximou de mim, se ajoelhando em minha frente.
- Eu não sei, minha querida. – Ele suspirou. – Nós podemos arranjar desculpas, motivos, mas os únicos culpados são a vida e o tempo. E se tivéssemos mais tempo? E se eu tivesse alterado o time? E se... – Suspirei.
- Eu odeio essa expressão. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei. – Ele segurou minhas mãos.
- Eu sei que todos temos nossa parcela de culpa, mas olha o que estão fazendo com o Fernandinho, com a família dele. Estão xingando por causa de um erro bobo. – Suspirei. – Ainda usando o racismo para deixá-lo mal. – Engoli em seco. – Alisson errou e dois gols entraram e nem por isso estão xingando-o. – Ele assentiu com a cabeça. – Talvez os brasileiros não merecessem o hexa. – Ele suspirou. – Talvez...
- Algo que eu nunca vou entender é porque alguém julga a cor de pele do outro só porque é diferente de si. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Eles são só garotos, Tite. – Suspirei. – Eles foram lá, dera a cara à tapa, representaram 200 milhões de brasileiros e as pessoas agora os julgam? É muito bom ganhar, mas precisamos nos permanecer unidos para perder também. – Ele se levantou, me abraçando e eu encostei a cabeça em sua barriga, respirando fundo. – Alguns brasileiros podem não merecer, mas aqueles 23 dentro daquela sala mereciam sim. Você merecia! – Soltei a respiração, tentando impedir que as lágrimas caíssem. – Eu ia gostar de vê-los erguer a taça, ia gostar de ver Thiago ganhando por tudo que ele fez, por ser um capitão nato, um líder. – Suspirei. – Perdoe-me duvidar da sua decisão e entendo seus motivos, mas ele deveria ser o capitão, ele sempre foi. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu entendo agora, mas estava guardando para a final. – Assenti com a cabeça, passando as mãos abaixo dos olhos.
- Eu não quero entrar. – Suspirei e ele me segurou pela mão, me puxando para que eu me levantasse.
- Eles precisam de você. – Ele me deu o braço e seguiu em direção ao restaurante, onde os jogadores estavam.
Ele empurrou a porta e entramos lado a lado. O ambiente quieto só fez com que o barulho dos saltos ecoasse cada vez mais alto. Atravessei o pequeno corredor que tinha sido montado por causa das cadeiras enfileiradas e parei do outro lado do corredor e Tite me apontou uma cadeira vazia, ao lado da equipe técnica, e eu me sentei na mesma.
Apoiei meus cotovelos nos joelhos e respirei fundo por alguns segundos, tentando fazer com que a bagunça em meu cérebro virasse palavras motivacionais ou palavras de apoio para que eu pudesse acalmar o coração desses meninos, até o meu, para falar a verdade.
- Eu sempre... – Pigarreei ao notar minha voz sair fraca. – Eu sempre fui alguém de muitas palavras, palavras fortes, que sempre tinha as palavras certas para cada momento. – Olhei para frente, vendo os jogadores me encarando. – Mas hoje eu não consigo pensar em nada que faça com que essa dor no peito, esses olhos marejados e essa coisa que está entalada na garganta saia. – Suspirei. – Não é o fim do mundo, obviamente. Em alguns dias ou até depois da final da Copa, tudo vai ficar bem. Vai ser só como uma lembrança levemente amarga. – Passei a mão no nariz que insistia em escorrer. – Mas eu quero que, assim como eu, vocês não se lembrem dessa Copa por causa de hoje, mas sim por todos esses 46 dias que passamos juntos desde a Granja Comary. – Dei um pequeno sorriso. – Alguns menos, mas com dias tão significativos quanto. – Dei uma pequena tossida. – Vamos nos lembrar de todas as brincadeiras, risadas, zoações, provocações... – Alisson sorriu. – Todos aqueles momentos que serão muito mais importantes do que perder da Bélgica. – Suspirei. – Claro que para a imprensa vai ser isso que importa, para os torcedores será outra seleção a vingar nos próximos encontros, mas porque eles não viveram com a gente durante um mês e meio. – Balancei a cabeça. – Eu quero que saibam que vocês deram seu melhor. Eu vi todos os treinos, discussões sobre os adversários, acompanhei as dificuldades e frustrações de cada um. Eu vi tudo e eu soube de tudo. – Passei a mão no nariz novamente. – Então, não tentem achar desculpas, motivos, especulações para o que foi hoje. É um jogo e, em um jogo, nem sempre podemos ganhar. – Dei um pequeno sorriso. – Fernandinho... – O chamei que ergueu a cabeça. – Passou, ok?! Ignore todos os comentários e críticas, você é melhor do que isso. Quantas vezes você fez aquela defesa? Quantas vezes você fez aquele levantamento e mandou para fora? – Ele assentiu com a cabeça. – Se quiser, vem falar comigo depois. Vamos acalmar você, a Glaucia e as crianças, ok? Isso precisa acabar aqui. – Ele assentiu com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- Obrigado! – Sorri.
- Eu poderia ficar a noite toda. Tentar acalmar vocês, talvez até fazer vocês rirem, mas infelizmente ainda tem trabalho a ser feito. – Suspirei e Edu me passou uma folha de papel. – Precisamos fazer o protocolo de despedida. – Franzi a testa, olhando para o papel. – Como sabem, sendo eliminados da Copa do Mundo, precisamos dar destino à equipe e a vocês, o mais rápido possível. – Suspirei. – É tipo queima de arquivo. – Engoli em seco. – Se eu tivesse poder nessa escolha, todos seguiriam para o Rio de Janeiro e, de lá, cada um ia para o seu canto. Da mesma forma que começamos, todos juntos, mas não precisa ser assim. – Suspirei. – Amanhã cinco da tarde, nosso avião irá voltar para o Rio de Janeiro, fazendo uma escala em Madrid para abastecer. Além disso, às três da tarde, teremos alguns carros para levar quem decidir ficar, quem vai embora por outros meios, ou quem vai aproveitar as férias aqui na Europa, para levá-los para onde quiserem. – Suspirei. – O que eu vou precisar saber é isso: quem vai pegar o avião e se vai para o Rio ou para Madrid e quem vai ficar. – Dei de ombros. – Sei que já é madrugada e que o que mais queremos é um banho e cama, mas eu preciso dessa informação logo. – Suspirei. – Então, quem ainda não sabe o que fazer, ligue para suas famílias, conversem com eles e me deem essa resposta antes de dormir. Ok? – Suspirei. – É isso. Eu estarei aguardando no meu quarto. – Devolvi a folha para Edu e me levantei.

Eu acabei subindo sozinha no elevador, os jogadores logo pegaram seus telefones e se afastaram em todas as direções para falarem com seus familiares. Entrei no quarto em que a porta estava escancarada e as luzes acesas e vi Bianca ali, em seu computador e de uniforme, como se fossem três horas da tarde.
- Como foi? – Bianca perguntou quando entrei no quarto e me sentei no pequeno sofá que tinha ao lado da porta e suspirei.
- Eu não sei. – Fui sincera. – O que falar para as pessoas quando seu sonho é destruído? – Ela assentiu com a cabeça e eu puxei meu computador, abrindo novamente a lista que eu teria que entregar para o aeroporto amanhã, com os nomes das pessoas da CBF.
A única certeza que eu tinha era que os dirigentes, a equipe técnica e a equipe de comunicação voltariam, mas porque precisávamos voltar. Adoraria emendar umas semanas de férias depois disso, mas eu tinha começado a trabalhar a menos de dois meses, então acho que não poderia me dar a esse luxo, além de que estava para ter o Torneio da Nações da Seleção Feminina, eles precisariam de nós no Rio, na Granja ou onde for.
Uma batida na porta me distraiu e olhei Geromel entrando na mesma. Ele deu um pequeno sorriso e me entregou um papel. Olhei rapidamente no mesmo e continha seu nome completo e que ele iria conosco para o Rio. Se todos os jogadores fizessem isso, facilitaria muito minha vida.
E foi o que aconteceu. Os jogadores começaram a entrar um por um, às vezes em duplas ou trios e foram me entregando as folhas. Alguns falavam algumas coisas, outros somente davam aquele sorriso triste e saíam. Foi assim até o jogador número 21, faltavam Firmino e Alisson, que entraram juntos.
- Aqui! – Firmino entregou a folha e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Respondi e ele sorriu.
- Eu que agradeço. – Ele falou, me abraçando rapidamente de lado e Alisson apareceu ao meu lado. – Hum, Bianca, que tal ser minha colega de quarto hoje? – Firmino falou e eu ri fraco, negando com a cabeça.
- Claro! Dois segundos! – Ela falou, se levantando correndo e pegando seu notebook, o carregador e seu pijama que estava dobrado em cima da cama e saiu do quarto. – Boa noite, para vocês. – Ela falou e eu ouvi a porta bater.
- Discreto ao extremo. – Falei, ouvindo Alisson rir e se sentar ao meu lado no pequeno sofá.
- Já fomos eliminados mesmo, não tem porque ficar escondendo. – Ele apoiou o queixo em meu ombro e eu suspirei, voltando a pegar folha por folha e anotar quem iria para onde.
- E você? – Falei, me virando para ele rapidamente. – Para onde vai? – Ele suspirou e me estendeu sua folha.
- Eu pensei muito. Eu queria muito ficar contigo mais alguns dias, se fosse possível. – Ele suspirou. – Mas inicialmente estava planejado que depois da Copa eu iria para Sardenha passar as férias com a minha família, com Helena, antes deles voltarem para o Brasil. – Assenti com a cabeça.
- Vá para Sardenha, Alisson, por favor. – Falei, segurando sua mão. – Ela é sua filha, você já a vê pouco. – Suspirei. – Eu queria poder ficar, mas certeza que segunda-feira eu já vou voltar para o escritório. Não poderíamos aproveitar muito mesmo. E você ir para o Rio é besteira. – Dei de ombros. – Vamos dar um jeito. – Sorri. – Mas ela é sua filha, sua família, somos novos ainda, qualquer coisa um bate volta Rio Roma resolve.
- Rio Liverpool. – Ele falou e eu virei para ele.
- Você vai mudar para o Liverpool mesmo?
- Você sabe? – Dei de ombros.
- Estou ouvindo especulações sobre o mercado da bola desde o começo da Copa do Mundo.
- Falei com Firmino, o Liverpool está disposto a dar uma grande oferta, pagar a multa rescisória, aumentar meu salário... – Ele deu de ombros. – São só especulações, como você disse, mas estou interessado.
- Bem, já conhecemos Liverpool. – Dei de ombros. – Apesar de amar a Itália. – Ele sorriu, dando um beijo em minha bochecha. – É a sua vida, é a sua carreira, você deve fazer o que se sentir confortável.
- Vai torcer para mim se eu for para o Liverpool? – Dei de ombros.
- Eu não tenho nenhum time da Premier League para torcer. – Ele sorriu. – Mas não espere que eu torça para ti se jogar contra a Juventus na UEFA.
- Ah não, claro que não! – Ele riu e eu fechei o notebook. – Pronto? – Ele perguntou.
- Pronto. Protocolo despedida montado e enviado para os devidos responsáveis. – Bufei, passando a mão na testa.
- Bom, acho que podemos aproveitar agora. – Ele se levantou e estendeu as mãos para mim, me levantando. – Já que Bianca gentilmente decidiu aguentar Firmino durante a noite. – Ri fraco, passando as mãos em seu pescoço.
- Creio que ele vai aguentá-la. Bianca tem vários e-mails para responder ainda, a noite vai ser longa, e não do mesmo jeito que nós.
- Acho que depois desse favor, Firmino vai me cobrar muito para ir para o Liverpool. – Ele me pegou pelas coxas, me erguendo em seu colo.
- Ah, um pequeno preço a se pagar. – Dei de ombros, sentindo-o me levar em direção à cama e me sentar na mesma, ficando entre minhas pernas.
Ele passou a mão em meu rosto e eu sorri. Ele arqueou o corpo para frente colando os lábios nos meus. Passei as mãos pela sua cintura, puxando-o para mais perto e inclinei o corpo na cama, vendo-o acompanhar o movimento para não parar o beijo.
Escorreguei na cama, sentindo minha cabeça bater na cabeceira e rimos juntos, fazendo com que Alisson passasse a mão no local da pancada. Ele se colocou entre minhas pernas novamente, me apertando pela cintura e colando os lábios nos meus novamente.
Sua blusa foi a primeira a sair, já que eu comecei a deslizar minhas mãos para cima, deixando seu abdome à mostra. Passei a mão na cruz pendurada em seu pescoço e puxei-o pelo pescoço, para colar os lábios nos meus novamente. Em um momento, ele girou nosso corpo, me colocando em cima dele e minha blusa encontrou com a sua e o ajudei a tirar minha calça skinny.
Fiz questão de tirar sua calça de moletom e jogá-la no chão, voltando a deitar meu corpo em cima do dele e unir nossos lábios mais uma vez. O ambiente esquentou, o suor começou a escorrer pelos nossos corpos e, quando percebi, deitei minha cabeça sobre seu peito e o senti ajeitar a coberta em cima do meu corpo.
- Posso dizer que eu te amo? – Ele falou e eu ergui o rosto, olhando para ele. – Eu não sei o que vai ser de nós depois de amanhã, não sei se essas borboletas no estômago vão continuar depois que a Copa acabar, mas eu não quero perder o que criamos aqui. – Dei um sorriso, lhe dando um selinho rapidamente.
- Você pode dizer e, por mais que eu também não tenha a mínima ideia de tudo que aconteceu aqui, eu vou dizer o mesmo, porque eu também não sei o dia de amanhã, isso daqui pode ser só animação, mas eu te amo, senhor Becker. – Ele sorriu, me apertando contra si. - Você vai ver, depois que tudo voltar ao normal, sentiremos falta um do outro.
- Estarei contando com isso. – Ele falou contra meu ouvido. – Então, quando vamos nos ver de novo? – Suspirei, erguendo o corpo e apoiando o cotovelo na cama.
- Natal, talvez? – Dei de ombros. – Não sei como vai ser nos amistosos. Se vai ser a mesma equipe, se vão mandar outras pessoas... – Dei de ombros.
- Não sei nem se serei chamado para eles. – Acariciei seu rosto.
- Acho que tudo depende se Tite continuar na Seleção. Você foi o titular dele irrevogavelmente. – Dei de ombros.
- Você acha que ele fica?
- Espero que sim. – Ri fraco. – Viemos de uma possibilidade de não vir para a Copa do Mundo para ficarmos em sexto lugar. – Sorri. – Ele trouxe esperança para nós. Com uns ajustes necessários, o hexa vem em 2022.
- Você é muito esperançosa, sabia? – Dei de ombros.
- A única coisa que nos une é a esperança. – Sorri. – Então, nos vemos no Natal, por enquanto? – Ele ponderou com a cabeça.
- Onde? Rio? Na cidade da sua mãe? Na da minha mãe? Liverpool? Ou quer viajar para algum lugar? – Ri fraco.
- Meu Deus! São muitas opções. – Ele riu. – A gente vai se falando, que tal? Vamos lidando com um dia de cada vez. Você pode enjoar de mim. – Dei de ombros.
- Eu morei contigo por 45 dias, realmente acha que eu vou enjoar? – Suspirei, fechando os olhos.
- É diferente, a gente estava flertando ainda, agora o negócio está mais sério. – Ele riu.
- Bom, enquanto nós flertávamos, nós moramos juntos. Agora que o negócio é sério, teremos um oceano inteiro de distância para não enjoar, além da vida real acontecendo. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- É, talvez consigamos fazer dar certo. – Suspirei.

Quando o sol começou a surgir por entre as frestas da janela do hotel de Kazan, eu já estava com os olhos abertos fazia tempo, sentindo os carinhos de Alisson em minha barriga, enquanto mantinha a mão passada pela minha cintura e minhas costas encostadas em seu peito.
Nós não queríamos levantar e nem tínhamos compromissos para ter que levantar cedo, então acabamos enrolando na cama por toda a manhã. Trocando pequenas palavras sem importância, sentindo a carícia um do outro e querendo parar o relógio com o olhar.
Pouco depois do meio dia, decidimos levantar. Seguimos para o banho e acabamos namorando mais um pouco embaixo do chuveiro. Ele acariciava minha pele, distribuindo beijos pelo meu pescoço e colo, fazendo com que minhas pernas se transformassem em gelatina ao seu toque.
- Acho que é melhor eu ir arrumar minhas coisas. – Ele falou, enquanto esfregava a toalha em meus cabelos, me fazendo balançar a cabeça.
- Não acredito que já está chegando a hora. – Suspirei, vendo-o esfregar a toalha em suas mãos. – Aonde você vai encontrar sua família? – Perguntei.
- Em São Petersburgo de novo. Os jogadores que ficarem vão para lá, então vou aproveitar o embalo. – Assenti com a cabeça, pegando outra toalha e amarrando-a em meu corpo.
- Está certo. – Suspirei, balançando os ombros e voltei para o quarto, seguindo em direção à minha mala.
- E você? Vai visitar sua família ou...
- Bem que eu queria, mas não vai dar tempo. O voo deve chegar de madrugada no Rio de Janeiro amanhã, vou aproveitar para dormir. – Dei de ombros. – Segunda-feira vocês estarão de férias, mas eu vou ter que me apresentar normalmente na CBF. – Ele finalizou de se secar e colocou a roupa que estava anteriormente. – Além de que Bernardo vai querer saber como foi tudo. – Ele riu.
- Ele deve estar sentindo sua falta.
- Espero que a casa esteja em ordem, sem resquícios de festa. – Ele riu, passando a mão pelos meus ombros e dando um rápido beijo em minha testa.
- ! – Ouvi alguma voz abafada me chamar e algumas batidas na porta em seguida. Me aproximei da mesma, abrindo-a, dando de cara com Bianca com as mãos no rosto. – Todos vestidos?
- Alisson está! – Abaixei a mão e ela olhou meio insegura.
- Preciso arrumar minhas coisas.
- Pode entrar, Bianca. Eu também tenho que ir arrumar as minhas. – Ele olhou para mim e eu passei os braços pelo seu pescoço, sentindo seus lábios tocarem nos meus delicadamente e sorri quando nos separamos. – Te espero lá embaixo, ok? Podemos almoçar juntos antes de eu ir.
- Ok! – Sorri e ele acenou para mim e para Bianca e saiu, puxando a porta.
Soltei um suspiro, voltando para minha mala e peguei uma roupa de civil, calças skinny, camiseta preta discreta e um moletom que não fosse o amarelo ou o azul escuro da CBF. Coloquei um conjunto de lingerie limpo e vesti as roupas, me sentando na beirada da cama para calçar meias e tênis.
- Então... – Olhei para Bianca que estava apoiada em sua mala. – Como foi? – Dei um pequeno sorriso.
- É sempre sensacional com ele. – Dei de ombros. – Ele vai ficar aqui de férias com a família. – Ela assentiu com a cabeça.
- Fiquei sabendo. – Suspirei. – Como vocês farão? – Terminei de amarrar os cadarços, abaixando a barra da calça.
- Nós vamos tentar. – Dei um pequeno sorriso. – Eu nunca namorei à distância, mas eu gosto dele demais. – Dei um pequeno sorriso. – Ele disse que me ama.
- Mesmo? – Ela falou animada.
- Mas não foi assim. – Balancei a cabeça. – Foi diferente. Eu sei que ele não sente isso, mas foi como se ele quisesse me segurar com ele para sempre, sabe? – Dei de ombros. – Eu disse o mesmo, mas eu não sei se eu o amo, eu ainda acho que é o c Copa, mas eu só quero ficar com ele.
- É difícil falar isso depois de todas as emoções que a gente viveu, eu entendo vocês, a Copa do Mundo amplificou tudo, mas vamos ver agora. Um dia de cada vez. – Assenti com a cabeça.
- Sim! – Sorri de lado. – Um dia de cada vez.
Voltamos a arrumar nossas coisas em silêncio. Inicialmente eu tentei enxotar tudo na mala, sem organização, mas claro que não daria certo, principalmente com tudo que eu tinha ganhado e comprado aqui na Rússia, então tive que fazer aquele trabalho de formiguinha e de quebra-cabeça para que tudo coubesse e que eu não precisasse levar várias sacolas à parte.
Fechei minha mala com dificuldade e tive que colocar algumas coisas menores na mochila e na minha bolsa, fazendo com que tudo parecesse estufado. Eu e Bianca demos aquela checada rápida pelo quarto, conferindo se não tinha nada perdido por ali e puxamos nossas malas para fora, vendo algumas pessoas fazendo a mesma coisa e fechamos a porta.
Descemos pelo elevador e puxamos nossas malas para o lado de fora. Deixamos tudo no lobby, junto do pessoal que iria no voo da CBF e seguimos para o restaurante. Boa parte do pessoal já estava lá, mexendo em sua comida ou conversando em tom baixo. Fui para o buffet, pegando somente um pouco de macarrão e um refrigerante e me sentei ao lado de Alisson, sentindo-o beijar minha bochecha.
Nós ficamos em silêncio, a cada garfada que eu dava, eram várias que eu deixava no prato, mexendo a comida de um lado para o outro. Eu até estava com fome, mas eu não estava no pique nem disso, nem Alisson que também tirou pouca comida e não comeu quase nada.

Olhei em meu relógio e soltei um suspiro, passando a mão no rosto.
- Está na hora! – Falei no meu tom de voz convencional, mas que, pelo silêncio, todos acabaram ouvindo.
Todos os jogadores e equipe técnica começaram a se levantar, para cumprimentar os 11 jogadores que iriam embora. Eu pensei se eu me despediria de Alisson primeiro ou por último, mas fui cutucada por Thiago e abri um sorriso, sabendo minha resposta. Ele me abraçou fortemente, me erguendo alguns segundos do chão e já senti algumas lágrimas começarem a brotar de meu rosto.
- Fica bem, ok?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Você também. – Estalei um beijo em sua testa e ele sorriu.
- Não some! – Ele falou e eu assenti a cabeça, passando a mão rapidamente em seu rosto, antes de vê-lo se afastar.
- Ah, social mídia! – Cássio foi o próximo a aparecer e eu abracei o mais alto, sentindo-o me tirar alguns centímetros do chão. – Vou sentir saudades. – Sorri.
- Também vou, Cássio, mas me surpreendo você ficar. – Ele riu.
- Vou dar uma volta com a minha família, não é como se tivéssemos muito tempo, mas dia 19 já tenho jogo pelo Corinthians, é rapidinho. – Dei um beijo em sua bochecha, sorrindo.
- Eu estarei no Rio de Janeiro, manda mensagem quando aparecerem por lá, quem sabe não dê para se encontrar? – Ele sorriu, também dando um beijo em minha bochecha e sorri.
- Pode deixar! – Ele sorriu e se afastou.
- Foi um prazer enorme te conhecer. – Willian se aproximou e eu ri fraco.
- Sei que essa despedida está deprimente, mas ninguém vai morrer não. – Ele riu, me abraçando fortemente.
- Espero que possamos nos encontrar de novo. – Sorri, sentindo-o beijar minha testa.
- Com certeza. – Sorri.
- Foi um prazer te conhecer. – Marquinhos apareceu, me abraçando e eu sorri. Eu não tinha conseguido criar um vínculo maior com todos os reservas, mas eu os adorava mesmo assim.
- Obrigada! Você também. – Ele sorriu e se afastou.
- Eu te devo muito, sabia? – Fernandinho veio me abraçar e eu sorri, apertando-o em meus braços.
- Não, você não me deve nada. – Falei. – Você é ótimo, um incrível jogador e as pessoas não te merecem. Vai passar, ok? – Acariciei seu rosto e ele assentiu com a cabeça, beijando minha bochecha e eu retribuí, sorrindo.
- Obrigado, por tudo mesmo. – Ele falou, acenando ao se retirar.
- Vamos precisar marcar um encontro dessa turma novamente. – Filipe Luís falou, me abraçando e eu ri.
- Acho que vai ser difícil juntar todos, mas podemos tentar. – Brinquei. – Quem sabe na Copa de 2022? – Ele riu, estalando um beijo em meu rosto.
- Meio longe, mas vale! – Ele riu e acenou, se afastando.
- Eu quero churrasco! – Falei e ele riu.
- Também aceito churrasco. – Renato Augusto se aproximou e eu ri.
- Espero que também possa estar nesse próximo encontro. – O abracei fortemente e ele riu.
- A gente dá um jeito. – Ele sorriu. – Obrigado, viu?!
- Obrigada por nos dar esperança. – Ele apoiou a mão no peito e eu sorri.
- ... – Paulinho se aproximou e eu sorri, apertando-o fortemente em meus braços.
- Eu vou sentir sua falta. – Falei rindo e ele sorriu.
- A gente sabe passar uma boa impressão, né?! – Ele brincou e eu estalei um beijo em seu rosto, sentindo-o me apertar em seus braços e me soltar.
- Obrigada, Paulinho. – Sorri. – Foi muito bom trabalhar contigo.
- Contigo também. – Ele sorriu, acenando para nós.
- Não está se esquecendo de ninguém, não? – Ederson e suas tatuagens apareceram e eu já estava com o rosto marejado, agora as lágrimas começaram a escorrer de vez.
- Como eu vou viver sem você para me aloprar o dia inteiro? – Brinquei e ele riu, me abraçando fortemente e me girando um pouco pela sala.
- A gente vai ter que dar um jeito nisso. – Ele riu. - Eu prometo que te mando uma mensagem todo dia de bom dia para você não se esquecer de mim. – Rimos juntos. – São quatro horas de diferença de Manchester para o Rio, dá supercerto.
- Meu Deus, não! – Brinquei. – Não tem necessidade. – Ele riu, dando um beijo em minha testa.
- Fica bem, ok?! – Ele falou e eu sorri. – Espero que nos encontremos em outras ocasiões.
- Com certeza vamos. – Sorri. – Cuida daquela neném linda, ok?! E manda um beijo para Lais.
- Pode deixar! – Ele falou, acenando. – Mande notícias. – Acenei.
- Pode deixar.
- Dona . – Ri fraco, vendo que faltava só Firmino.
- Droga, faltou um! – Brinquei e ele riu, me abraçando forte.
- Vai ficar bem sem mim?
- Ah, mas vocês são muito prepotentes. – Falei rindo. – Eu vou sobreviver. – Ele sorriu, me olhando nos olhos e assentindo com a cabeça.
- Cuida do meu menino lá em Liverpool, ok? – Sussurrei e ele assentiu com a cabeça.
- Vamos ver se ele vai antes, né?! – Ri fraco.
- Ele vai sim. – Sorri em direção a Alisson que se despedia de Ederson e Taffarel. – Tenho quase certeza.
- Eu cuido dele, mas você se cuida no Rio, tá? – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar! Temos muito encontros e churrascos para fazer ainda. – Ele riu.
- Assim que se fala. – O abracei novamente, estalando um beijo em sua bochecha e nos separamos.
- Vai lá! – Falei, suspirando, passando as mãos embaixo de meus olhos.
Virei para o lado, vendo Alisson terminar de se despedir do pessoal da comunicação e ele se virou em minha direção novamente, dando um sorriso de lado. Assenti com a cabeça, suspirando. Não tinha mais como adiar.
Ele se aproximou de mim, passando os braços pelo meu pescoço e me apertou em seu peito, depositando beijos curtos em minha testa, me fazendo fechar os olhos e sentir algumas lágrimas escorrerem pela minha bochecha. Me afastei levemente dele, colando minha testa na sua e mantendo meus braços apertando seu corpo.
- Você podia ficar mais alguns dias comigo. – Ele sussurrou. – Conhecer Sardenha, ficar com meus pais. – Suspirei, dando um sorriso de lado. – Eles vão sentir sua falta também.
- É um pedido tentador, tenho que admitir, mas não dá. – Neguei com a cabeça. – Eu consegui o emprego dos sonhos e provavelmente vou morrer quando chegar ao escritório segunda-feira por ter furado a fila de muitos que queriam vir para a Copa. – Ergui meu olhar para o seu. – Então, é melhor eu não expandir minhas férias. – Ele sorriu, erguendo uma mão para meu rosto, fazendo um carinho na mesma.
- Nós vamos fazer dar certo, ok?! – Ele deu um pequeno beijo em meu rosto e as lágrimas embaçaram meu olhar. – Só pense em mim!
- Não vai precisar pedir duas vezes. – Sorri e ele assentiu com a cabeça, colando os lábios nos meus fortemente, me fazendo erguer uma das mãos para seu pescoço, trazendo-o para perto de mim.
- Me avisa quando chegar ao Rio.
- Pode deixar! – Sorri, dando mais um rápido selinho em seu rosto. Ele sacudiu a cabeça negativamente como se pensasse em algo e focou seus olhos verdes nos meus também.
- Quer saber? Porque a gente não namora? – Ele perguntou e eu franzi a testa.
- O quê? – Perguntei rindo.
- Eu não posso sair daqui sem ter certeza que você será minha. – Abri um largo sorriso, rindo em seguida.
- Você está louco, Alisson Becker. – Falei.
- É, talvez. – Ele concordou. – Mas, o que me diz? Gostaria de ser minha namorada? – Ri fraco, dando de ombros e colei meus lábios novamente nos dele.
- Sim! – Falei sorrindo. – Com certeza! – Ele sorriu e me abraçou novamente.
- Eu tenho que ir. – Assenti com a cabeça, sentindo-o colar seus lábios nos meus novamente e começar a se afastar. - Nós vamos fazer isso dar certo, está bem? – Ele falou se aproximando da porta do lobby e eu assenti com a cabeça.
- Manda um beijo para seus pais, para Helena... – Falei, sentindo minha respiração começar a pesar e o vi acenar mais uma vez, antes de sair do hotel.
Senti as lágrimas finalmente ganharem força e caírem diferentes de antes. Era uma dor totalmente diferente da dor da perda. Eu sabia que eu o teria, mas eu não sabia quando eu o encontraria novamente. Senti meus joelhos encostarem-se ao chão e Lucas se aproximou e se ajoelhou ao meu lado, me abraçando fortemente.
- Vai ficar tudo bem. – Ele cochichava e eu escondi o rosto em seu pescoço, sentindo as lágrimas escorrerem pela minha bochecha. – Estamos aqui contigo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, suspirando, tentando normalizar minha respiração.

Não demorou muito tempo para que nós fôssemos para o aeroporto também. O voo saía as cinco horas daqui de Kazan e o aeroporto era um pouco distante do hotel. Os dirigentes, equipe técnica, equipe de comunicação e jogadores restantes desceram aos poucos e pude ver que ainda tinha uma pequena aglomeração de torcedores lá embaixo. Bem menor do que na chegada, obviamente, mas que me fez agradecer pelo apoio.
Entrei no ônibus da Seleção mais uma vez e Lucas sentou ao meu lado, segurando minha mão firmemente, demonstrando apoio. Dei um sorriso de lado e coloquei alguma música qualquer para tocar, mas fugindo de todos os sertanejos que apareciam em minha playlist. Não podia ir até o Rio pensando em Alisson, não queria chorar durante umas 17 horas de voo mais escalas.
Chegamos ao aeroporto e o ônibus nos deixou na parte de trás, para que conseguíssemos fugir da imprensa. Ainda sim alguns jornalistas se encontravam lá, mas só para fazer imagens, ninguém foi abordado. O que foi bom, pois eu e Bianca não estávamos no pique para trabalhar, eu muito menos.
Passamos por entre o salão de embarque privativo, despachamos as malas e meu passaporte foi carimbado pela milésima vez aquele mês, mas pela última vez. Agradeci a atendente da polícia federal russa e segui o pessoal pela pista do aeroporto, reconhecendo o mesmo avião fretado que viemos para Londres, o branco com detalhes em verde.
Entrei no mesmo, acenando com a cabeça para a aeromoça e vi que era exatamente o mesmo avião, até as poltronas macias permaneceram da mesma maneira. Indecisa do que fazer, segui para o fundo da mesma maneira que a ida, escolhendo a mesma poltrona da primeira fileira e do centro para sentar.
Coloquei minha mochila no bagageiro, tirando somente o fone de ouvido da mesma e me sentei, afivelando o cinto, esticando a coberta em minhas pernas e inclinando a poltrona, aguardando as instruções de voo enquanto procurava alguma coisa para assistir no sistema multimídia do avião.
- Ei! – Olhei para o lado, vendo Marcelo se sentar na poltrona vazia e eu franzi a testa. – Posso ficar aqui?
- Claro... – Falei um tanto indecisa. Eu queria ficar sozinha, para falar a verdade, mas não podia dizer não para ele.
- Eu sei que você está triste, e entendo bem o seu lado. – Ele suspirou. – Mas você deveria ficar feliz. – Franzi a testa.
- Pelo o quê, senhor Marcelo? – Perguntei.
- A gente pode ter perdido, sabe? Provavelmente deve ter muita gente puta conosco por isso, mas é o que você disse, é um jogo, nem sempre podemos ganhar. – Assenti com a cabeça. – Mas você, por outro lado, você encontrou algo muito mais valioso que um troféu. Algo que você vai levar por muito mais anos do que só uma Copa do Mundo.
- O quê? – Franzi a testa e ele segurou minha mão na poltrona.
- Amor, senhorita. Amor. – Ele falou, me fazendo sorrir e rir sozinha em seguida.
- Isso foi bem brega. – Ele sorriu.
- Eu sei, mas te fez sorrir. – Balancei a cabeça. – Além de que é verdade. Vocês vão dar um jeito rapidinho. Ele pode vir te visitar em qualquer intervalo de campeonato, e ouvi falar que a CBF paga bem, então você também pode visitá-lo em férias, feriados ou até um fim de semana louco. – Assenti com a cabeça. – Além dos jogos da Seleção que eu tenho certeza que ele vai continuar. Ele é um dos melhores goleiros que eu já vi, esse garoto vai longe. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Obrigada, Marcelo. – Suspirei. – Obrigada mesmo. – Suspirei.
- Sempre que precisar. – Ele deu de ombros e se levantou, seguindo para seu lugar e eu encostei a cabeça em minha poltrona, com um pequeno sorriso no rosto.
A primeira parte da viagem durou cerca de sete horas. Eu até pensei em dormir durante ela, quem faria minha dor de cabeça parar? Mas estava de dia ainda e teríamos outras 10 horas até o Rio. Preferi dormir na segunda leva, assim já começaria a colocar meu fuso-horário no eixo novamente, além de que eu terei dormido a noite toda, como algo normal.
Assim que o avião estacionou no aeroporto Madrid-Barajas em Madri, eu me preparei para mais uma leva de despedidas, me fazendo respirar fundo. Aqui deixaríamos mais cinco jogadores, antes de seguir viagem.
- Obrigada! – Falei para Miranda, abraçando-o fortemente. – Foi um prazer trabalhar contigo.
- O prazer foi meu, senhorita. – Ele sorriu, estalando um beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Se cuida, ok? – Falei e ele assentiu com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- A gente não conviveu muito, mas obrigado. – Fred falou, me dando um rápido abraço e eu retribuí, sorrindo.
- Fica bem. – Falei, vendo-o acenar.
- Obrigado por tudo, . – Fagner se aproximou e eu sorri, abraçando fortemente o mais baixo.
- Eu que agradeço e desculpe todos os esporros. – Ele riu.
- Eu estava um pouco empolgado mesmo. – Ele falou e ele me deu um beijo no rosto. – A gente se vê.
- Com certeza. – Sorri.
- Ah, garota! – Danilo me abraçou com um braço só, devido à botinha em seu pé e eu sorri. – Obrigado, viu?!
- Eu que agradeço. – Sorri. – Estava planejando comemorar seu aniversário na final... – Franzi os lábios.
- Não foi dessa vez. – Ele riu. – Obrigado.
- Até mais. – Acenei e Marcelo veio por último, me abraçando fortemente.
- Vou sentir sua falta. – Sorri, sentindo as lágrimas continuarem rolando.
- Eu também, principalmente de alguém se ajoelhando no chão para me abraçar por achar que eu tinha ido embora. – Ele riu, abanando a mão.
- Detalhes. – Ele falou, estalando um beijo em minha bochecha e sorrimos. – Obrigado por tudo, viu?! Você tornou tudo muito mais sensacional. – Sorri.
- Você também. – Falei, acenando e vendo-o seguir na mesma direção dos outros jogadores e eu voltei a me sentar na poltrona, suspirando e aguardando pela próxima etapa da viagem.

Na viagem para o Rio de Janeiro, eu consegui dormir quase igual um bebê. Pedi um remédio para a aeromoça e acho que ele tinha um pouco de sonífero, porque eu apaguei quase imediatamente, acordando algumas horas depois com o dia já claro.
Estávamos em território brasileiro e próximo de eu chegar em casa novamente, me fazendo dar um sorriso de lado. Virei o rosto para meu lado direito, vendo a poltrona vazia e senti falta de Alisson ao meu lado, quieto, enquanto eu falava igual uma matraca, ou só dormindo em meu ombro, tentando colocar o sono em dia.
Fiz um sinal da cruz quando o avião tocou o solo do aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro e já me levantei, assim como os poucos jogadores que ficaram e pegamos nossas bagagens, passando para a primeira área do avião, onde a equipe técnica e o resto da comunicação também já pegavam suas malas.
- Chegamos. – Tite falou, se levantando e demos pequenos sorrisos. – Eu não tenho muito o que falar, só gostaria de agradecer. – Ele falou e assentimos com a cabeça. – Eu preciso decidir se vou continuar, mas caso não, espero encontrá-los em outras oportunidades. – Começamos a aplaudir e ele agradeceu com a cabeça, acenando. – Vamos encarar isso de cabeça em pé, ok?
- Vocês não precisam falar com a imprensa, nem nada. Só sejam gentis. – Angelica falou e assenti com a cabeça, sorrindo.
- É isso, então. – Douglas foi o primeiro a se despedir de mim e sorri, abraçando-o fortemente. – Muito obrigado por tudo. – Ele riu e eu assenti com a cabeça.
- Não saia da Juve, ok? Quero continuar torcendo para ti. – Ele riu, fazendo positivo com a mão e seguiu para a próxima pessoa.
- Tchau, . – Casemiro me abraçou e eu retribuí, sorrindo.
- Tchau, Case. Foi muito bom te conhecer, sério. Cuida da Sara. – Ele riu, assentindo com a cabeça.
- Ela vai sentir sua falta. – Ri.
- Fala para ela que eu vou abrir a Creche da tia . – Brinquei e ele riu, acenando.
- Seria bom! – Ele sorriu.
- Obrigado, . – Geromel me abraçou e eu sorri, sentindo-o beijar meu rosto. – Foi ótimo.
- Foi sim! – Sorri. – Nunca vou me esquecer de você se perdendo nos hotéis.
- Ainda bem que meu negócio é futebol e não geografia. – Rimos juntos e eu dei uma batidinha em seu ombro, sorrindo.
- Obrigado, . – Taison me abraçou rapidamente e eu sorri. – Obrigado. – Acenei rapidamente e o vi sair.
- ! – Jesus me abraçou fortemente e eu sorri, suspirando. – Eu não tenho nem palavras para descrever o quão importante você foi para mim nessa Copa. – Ele falou contra meu ouvido e eu sorri.
- Você tem meu número, caso queira algumas palavras legais, só me chamar. – Falei e ele assentiu com a cabeça, e eu estalei um beijo em minha bochecha. – Eu te vejo no Catar. – Ele sorriu.
- Vai me ver antes. – Ele falou e eu acenei com a mão.
- Chefa! – Coutinho se aproximou e eu sorri, abraçando fortemente o mais baixo. – Apesar de tudo, foi bom, não foi?
- Foi ótimo! – Falei rindo. – Obrigada, viu?! Por tudo. – Sorri. – Eu adorei cada segundo.
- Eu também. – O senti beijar meu rosto. – Nos vemos em breve.
- Com certeza! Sucesso! – Falei e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Acho que agora sou eu e você. – Neymar falou e eu suspirei, sentindo-o me abraçar fortemente. – Obrigado. – Ele falou. – Por tudo mesmo, todos os avisos, brigas, puxões de orelha, eles serviram de alguma coisa. – Sorri.
- Eu sei, você evoluiu incrivelmente durante os jogos e fico feliz de ter acompanhado e sido parcialmente responsável por isso. – Ele sorriu.
- Obrigado. Vou te levar para sempre no coração, ok?
- Não precisa ser tão para sempre, você ainda é Neymar Júnior, nos veremos muitas e muitas vezes. – Ele riu, assentindo com a cabeça.
- Assim espero. – Ele falou. – O melhor é que eu sei que você vai estar lá. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Tomara, se a CBF permitir, eu vou aonde a Seleção for. – Pisquei e ele riu.
- E sobre Alisson, ele é um cara bacana. Vocês vão ver, na próxima Copa estarão juntos ainda, talvez até casados. – Ri fraco, batendo a mão na testa.
- Meu Deus! Não vamos adiantar nada. – Ele riu me abraçando rapidamente uma última vez.
- Quem sabe? – Ele deu de ombros e se afastou.
Segui cumprimentando rapidamente a equipe técnica com um rápido abraço e um beijo, sabia que ainda os acompanharia no Rio para entrevistas pós-Copa e ainda esperávamos a decisão de Tite.
- Tafa! – Falei sorrindo para o goleiro do tetra e ele riu fraco. – Obrigada!
- Eu que agradeço! – Ele falou. – Adorei ver suas habilidades! – Ri fraco. – Continue treinando, ok?!
- A gente vai se ver de novo, para de graça! – Falei, abraçando-o que riu.
- Pode ter certeza! – Ele sorriu.
- Dona . – Tite falou, abrindo os braços para mim e eu o abracei fortemente, passando meus braços pelo seu pescoço, sentindo-o dar tapinhas em minhas costas. – Imagina que surpresa incrível e que prazer foi trabalhar contigo.
- Eu digo o mesmo, professor. – Falei e ele sorriu.
- Talvez minhas escolhas não tenham sido as melhores... – Ele ponderou, e eu me lembrei da primeira conversa que tivemos.
- Talvez... – Ri fraco. – Mas confesso que vou me decepcionar muito se eles não estiverem conosco no próximo compromisso.
- “Conosco”? – Ele perguntou.
- Fica, Tite. – Falei, sorrindo. – Ainda acho que não vimos tudo de você e o hexa ainda vem. – Ele riu, negando com a cabeça.
- Eu vou pensar, prometo. – Ele sorriu. – Nos vemos na CBF essa semana.
- Com certeza. – Falei, suspirando e segui para fora do avião, descendo pelo finger dessa vez.
Eu, Vinícius, Lucas, Bianca, Angelica e o resto do pessoal da comunicação descemos do avião quase lado a lado. Paramos na fila da Polícia Federal e aguardamos nossa vez. Era cedo, então vários voos internacionais também estavam chegando junto. Quando chegou minha vez, o oficial olhou rapidamente meu passaporte e carimbou o mesmo.
- Seja bem-vinda de volta! – Ele falou e eu acenei com a cabeça, passando pelo outro lado.
Seguimos pela área de rescisão de bagagem e vi os passageiros dos outros voos nos aplaudindo e gritando. Nós, os jogadores e equipe técnica que vinha logo atrás. Suspirei, feliz com isso e segui em direção à minha mala que já rolava na esteira, puxei a mesma e continuei seguindo com o pessoal em direção à saída. Passamos pela área do free shop e, antes de passarmos pelas portas de correr, nos abraçamos rapidamente.
- Nos vemos segunda. – Vinícius falou e acenamos com a mão, vendo as portas se abrirem e várias pessoas com roupa da Seleção e jornalistas esperando por nós, mas isso não era problema meu agora.
Vi alguns jogadores já se desvencilhando da imprensa e seguindo para seu rumo e eu passei pela aglomeração à procura da pessoa que viria me pegar. Acenei para o pessoal da comunicação novamente e olhei em volta rapidamente, abrindo um largo sorriso ao reconhecer uma pessoa alta e de pele morena entre tantas outras.
- Bê! – Gritei, largando minha mala pelo meio do caminho e corri em sua direção, abraçando-o fortemente, pulando em seu colo.
- Ah, como eu senti sua falta, garota! – Senti meus olhos se encherem de lágrimas novamente, me fazendo suspirar. – Ah, como você está fantástica. – Coloquei os pés no chão novamente, sentindo-o acariciar meu rosto. – Acho que a Rússia fez bem para você. – Ri fraco, passando a mão no rosto.
- Ah, como eu senti sua falta. – Falei, suspirando.
- E aí, como foi? – Ele perguntou, pegando minha mala e segurando minha mão para que saíssemos na muvuca.
- Você não tem nem ideia. – Suspirei, balançando a cabeça.
- Conta tudo! – Ri fraco.
- Vamos chegar em casa antes, tem coisas que não devem ser contadas em público. – Ele riu.
- Hum, fiquei curioso.

Empurrei a porta do apartamento e eu suspirei feliz. Não era nenhum hotel cinco estrelas da Rússia, mas era o meu cantinho e eu o adorava em cada detalhe. Diferente do que eu achava que encontraria, a cada estava um brilho e cheirando à limpeza, certeza que ele tinha feito isso só para me receber.
Coloquei minha mochila na mesa e Bernardo deixou minha mala em algum canto. Me aproximei do sofá e me sentei no mesmo, puxando meu tênis para fora rapidamente, sentindo o pé latejar um pouco.
- Pode contar tudo, a começar por essa cara de enterro. – Ri fraco. – Ok que fomos eliminados da Copa na sexta-feira, mas não é para tanto. – Ele se sentou ao meu lado e colocou meus pés em cima de seu colo, começando a massagear o mesmo.
- Não é isso, meu amigo. Eu estou querendo te contar algo faz muito tempo, mas eu tinha medo de que fosse só coisa da minha cabeça. – Suspirei.
- Hum, o que é? – Ele falou, me fazendo rir.
- Eu me apaixonei na Rússia, Bê. – Suspirei.
- Hum, amor de verão, é? – Ri fraco, balançando a cabeça. - E aí? Era russo? Ou de outro país?
- Ele era brasileiro, para falar a verdade. – Ele me olhou decepcionado.
- Você vai para a Rússia onde o mundo inteiro está e pega um brasileiro, ? Poxa, esperava mais de você. – Rimos juntos.
- Não foi um brasileiro qualquer, Bê, foi o goleiro titular da Seleção Brasileira. – Falei calmamente e vi sua boca ir para o chão.
- Mentira! – Ele falou abismado. – O Alisson? Aquele gato?
- Meu namorado, para falar a verdade. – Me lembrei disso, rindo sozinha.
- Meu Deus, mas como aconteceu?
- Eu vou te contar a versão simplificada porque eu realmente preciso de um banho e da minha cama.
- Não importa, só conta. – Ele falou animado e eu ri fracamente.
- Começou com ele me provocando um dia na Granja. – Dei de ombros. – Foi totalmente do nada e aleatório. – Suspirei. – Depois a gente começou a se provocar em diferentes situações, inicialmente achava que era algo só nosso, mas cresceu tanto que até os jogadores e a equipe estavam apostando para saber se a gente ia aguentar a Copa acabar para se pegar. – Ele gargalhou.
- Vocês não esperaram...
- Obviamente! – Falamos juntos rindo.
- O negócio foi indo, foi ficando perigoso, mas estava bom demais para eu ter maturidade para acabar. – Suspirei. – Eu achava que ele tinha namorada, acabei me afastando, enfim, até que a gente meio que ficou junto, mas sem nada físico. – Ponderei com a cabeça. – Isso foi antes do jogo da Sérvia. No jogo da Sérvia eu aloprei, eu tomei muito energético, paguei um mico lá com os jogadores e me escondi no hotel à noite toda. – Ri fraco, me lembrando daquilo. – No dia seguinte estávamos de folga, ele me chamou para sair, andamos por Sochi, depois fizemos um churrasco lá no hotel mesmo...
- Churrasco na Rússia?
- Ah, Bê, aconteceu tanta coisa fora do comum na Rússia. – Ele riu. – Aí ele me beijou à noite, uma coisa levou a outra...
- Meu Deus! Essa minha amiga! – Ele me deu uns tapas no braço, me fazendo rir. – E você me escondeu tudo isso? Eu não posso acreditar. – Ele falou rindo.
- Eu sei, me desculpe, mas nem dava para falar muito contigo lá, além de que eu precisava ver sua reação cara a cara. – Sorri e ele me abraçou de lado.
- Mas e aí? – Ele virou o rosto para mim. – Como vai ficar? Ele joga na Itália, não? – Suspirei, ponderando.
- Eu realmente não sei o que vai ser, mas ele pediu para me namorar. – Dei de ombros. – E eu aceitei. – Sorri.
- Por esse seu sorriso tonto na cara, eu sei que você está feliz, minha amiga, e pode ter certeza que eu farei de tudo para te ajudar a encontrar esse bofe, você vai ver.
- Bom, eu tenho um ótimo salário, vou ganhar bônus e diária por essa viagem...
- Sério?
- Sério! – Falei rindo. – Com certeza vai sobrar um dinheirinho para eu ir para Roma ou para qualquer outro lugar que ele esteja. – Bernardo sorriu, negando com a cabeça.
- Sensacional! – Ele falou. – Minha amiga já estava com a vida feita, agora ela começa a namorar jogador de futebol... Fala sério! – Rimos juntos. – Eu preciso de um emprego desses, pelo amor.
- Uma coisa de cada vez, Bê! – Suspirei. – E você? Algo novo? – Ele ponderou com a cabeça.
- Eu sou o novo gerente do Outback, se isso contar.
- Claro que conta! – O abracei fortemente, rindo. – Parabéns, meu amigo, isso é demais. – Ele sorriu.
- Obrigado, muito obrigado! Isso vem com um bônus, aumento de salário, algumas regalias e aumento na jornada de trabalho de seis para oito horas, mas não importa, estou feliz. – Ele falou.
- Isso é muito bom, Bê. – Sorri. – Vamos sair para comemorar à noite, se eu estiver disposta.
- Vai lá, então. Eu entro as 10, vou começar a me arrumar para ir também, mas vai tomar seu banho, dormir, deve estar exausta.
- Nem fala. – Suspirei. – E eu dormi na viagem. – Rimos juntos e me levantei, sentindo um tapa em minha bunda.
Segui para o banheiro e tomei aquele banho longo e gostoso no meu chuveiro! Lavei a cabeça, o rosto e corpo me renovando por inteira. Saí do banheiro, secando o corpo e colocando a toalha na cabeça. Fui para meu quarto, vestindo uma calcinha de algodão confortável e uma blusa velha que já tinha até alguns rasgos na mesma.
Voltei para o banheiro, tirando a toalha do cabelo, secando-o rapidamente com o secador e pendurei a toalha na lavanderia. Acenei rapidamente para Bernardo que saía e ele deu um beijo em minha bochecha, indo trabalhar. Peguei meu celular na mochila e as luvas que Alisson tinha me dado e fui para meu quarto.
O tempo no Rio estava quente como sempre, mas deitei em minha cama e me cobri com o lençol, sentindo-o geladinho em minha pele. Ah, que saudades que eu estava disso. Virei meu corpo de lado, abraçando a ponta do meu travesseiro e apoiando a cabeça nas luvas macias. Fechei os olhos e suspirei.
Abri os olhos novamente ao ouvir meu celular vibrar e me aproximei do mesmo, puxando as notificações e vendo várias mensagens não lidas, principalmente de minha mãe, que eu tinha me esquecido de avisar que tinha chego. Isso não era coisa que se fazia.
Ignorei minha mãe por alguns segundos e vi que tinha uma mensagem de “AB1”, precisaria alterar os nomes dos jogadores depois, agora essa sigla já não me parecia uma boa ideia. Abri a conversa com meu novo goleiro favorito e vi as poucas palavras na mesma.
Já chegou?” – Dizia a mesma e suspirei, virando meu corpo para cima e respondendo a mesma.
Faz pouco mais de uma hora. Fui tomar banho para descansar agora”. – Sorri, suspirando.
“Você está bem?”
Estou sim e como está aí? Já encontrou sua família?
Já, estamos em Roma, aguardando o voo para Sardenha”. – Sorri.
Divirtam-se por mim”. – Falei e ele mandou algumas carinhas felizes.
Já estou com saudades”. – Sorri, suspirando e mordi meu lábio inferior.
Eu também, namorado”. – Respondi novamente, bloqueando o celular e virando para o lado, com um largo sorriso nos lábios.


Epílogo

- Tudo está ok, senhorita. – O oficial da imigração falou, devolvendo meus documentos. – Bem-vinda à Nova York. – Ele carimbou meu passaporte e também me devolveu.
- Obrigada! – Falei, fechando a pasta com os documentos e jogando o passaporte na bolsa. Atravessei os balcões da imigração, encontrando Bianca do outro lado.
- Empolgada? – Ela me perguntou e vi Lucas e Vinícius nos encontrando, além de Diana, que tinha sido chamada após Angelica se aposentar das viagens da CBF.
- Você sabe que sim. – Dei um pequeno sorriso. – Eu não o vi depois da Copa do Mundo.
- Nada? – Ela perguntou.
- Tirando chamadas de vídeo, fotos e vídeos esporádicos, não. – Ri fraco. – Eu voltei para o Rio e acompanhei as coisas com vocês, o que você sabe a correria que foi com os campeonatos. Ele ficou uns 10 dias de férias com a família em Sardenha, depois aceitou o contrato com o Liverpool e está jogando pela Premier League desde então. – Dei de ombros. – Não teve feriado ou folga até o sete de setembro, que vamos nos encontrar... – Me virei para ela. – Mas a trabalho.
- Mas isso não os impediu na Copa, não é?! – Vinícius passou o braço pelos meus ombros e eu ri.
- Obviamente! – Falei rindo.
- Vamos seguir, gente! – Edu falou e ajeitei a mochila nas costas e segui a equipe técnica e de comunicação.
- Vamos fazer esses pombinhos se reencontrarem! – Lucas falou, me apertando pelos ombros e eu revirei os olhos.
- Você ao menos conseguiu dormir durante a viagem? – A novata perguntou e eu suspirei, passando pelo aeroporto de Newark, vendo que nossas malas já começavam a deslizar pela esteira.
- Como? – Virei para ela, puxando minha mala da esteira. – A ansiedade não deixa. – Ri fraco.
- Segura ela mais um pouco. – Ouvi Tite comentar um pouco mais a frente que eu ri.
- O que são duas horas comparadas há dois meses? – Falei e ele sorriu.
- E como vocês estão? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Tudo bem, aparentemente. Só não tivemos o físico mesmo – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Vamos seguir, gente! O ônibus nos espera! – Sylvinho falou e ficamos quietos enquanto atravessávamos o aeroporto lotado de Nova York.
Era dois de setembro, tínhamos quatro dias para treinar o primeiro amistoso após a Copa do Mundo no dia sete. Jogaríamos contra os Estados Unidos em Nova Jersey e depois dia 11 tínhamos outro contra El Salvador em Washington, e muitas coisas mudaram desde a última vez que os vi.
Para começar que somente 12 jogadores da Copa foram convocados para esses dois amistosos. Claro que isso não significava nada, Tite tinha essa e mais duas convocações para testar jogadores novos até a Copa América do ano que vem. Mas confesso que meu coração parou quando Angelica me adiantou que somente 12 tinham se mantido nessa nova lista. Achei que não veria Alisson, mas Tite confiava nele, além de que eu ainda suspeitava de que a CBF nos queria ver juntos.
Claro que eles não escolheriam os jogadores baseado no meu relacionamento amoroso, eu talvez tivesse sorte em namorar um dos melhores goleiros da atualidade, e a transferência de goleiro mais cara da história, nem que por somente 20 dias, mas ainda valeu bastante para mim, afinal, meu namorado passou meu maior ídolo no futebol.
Além de Alisson, eu encontraria Filipe Luís, Thiago Silva, Marquinhos, Casemiro, Fred, Phillipe Coutinho, Douglas Costa, Willian, Neymar e Firmino. Fagner e Renato Augusto foram convocados, mas por lesões e motivos pessoais, não poderiam vir e foram substituídos. Senti muito por Ederson, Miranda, Fernandinho, Marcelo, Paulinho e Jesus não nos encontrarem aqui, mas isso não era algo que eu palpitava, era uma decisão de Tite, somente dele. Por mim trazíamos os mesmos 23 da Copa e mantínhamos assim para sempre.
Entreguei minha mala para o motorista, dando um sorriso simpático e entrei no ônibus. Cada um podia ir em dois bancos confortavelmente que ainda sobrava uns 30 lugares, mas me joguei ao lado de Lucas e coloquei meu iPod na orelha, selecionando a playlist que Alisson havia me mandado com todos os seus sertanejos e modas de viola favoritos.
Apoiei a cabeça no encosto de pescoço e fechei os olhos, ouvindo as músicas começarem a tocar e olhei pela janela, vendo o pôr do sol transformar o céu azul de Nova York em alaranjado.
Estamos em Nova York”. – Mandei para Alisson, não esperando nem 10 segundos pela sua resposta.
Estou te esperando ansiosamente”. – Sorri. – “Todos estamos, na verdade”. – Ele respondeu, se referindo aos outros jogadores e eu suspirei, ouvindo Lucas rir ao meu lado.
- Só mais um pouco, . – Ri fraco e assenti com a cabeça.
Obviamente não consegui dormir nem por um segundo, eu queria muito reencontrá-lo. Dois meses acabaram passando muito rápido com o pós-Copa, campeonatos brasileiros, Libertadores da América, jogos da Seleção Feminina e das Seleções sub-15, 17 e 20, o que fizeram que eu viajasse pelo Brasil e por outros países das Américas.
Isso acabou ocupando meu tempo, além da gente se falar quase todos os dias. O problema era que ele estava sempre quatro horas na frente, então quando ele já tinha finalizado o treino, eu ainda tinha três ou quatro horas de trabalho e, quando eu me livrava, já estava na hora dele ir dormir. Mas estamos fazendo dar certo, é o que importa.
Me distraí ouvindo quatro vezes seguida a música Amor da Sua Cama, até que percebi que o ônibus havia parado no recuo do hotel The Westin Jersey City Newport, nossa casa por esses primeiros dias. Puxei a respiração fortemente por um momento e Lucas olhou sugestivamente, me fazendo morder meu lábio inferior.
- Vamos lá! – Ele falou e eu ri fraco, nervosa.
O ônibus parou em frente ao hotel e as portas se abriram. Me levantei do meu assento junto de todos e percebi que os olhos se viraram para mim. Sorrisos discretos e esperançosos acompanhavam o meu nervoso. Desci do ônibus sendo acompanhada pelos meus colegas da comunicação e pelo trio principal da comissão técnica.
- Cuida disso depois. – Tite falou quando fui em direção ao bagageiro e me empurrou para frente.
Puxei a respiração fortemente três vezes e tentei relaxar os ombros. Arrumei a gola da camiseta polo e o crachá em meu peito e coloquei meus conhecidos saltos amarelos para andar. Me aproximei da porta e ela se abriu automaticamente, me fazendo dar dois passos para dentro e observar o lobby do hotel com alguns hóspedes e seguranças. Lucas apoiou a mão em minhas costas e segui para dentro do hotel com ele.
- Na sala de conferência. – Tite falou e eu segui pelo longo corredor, vendo os seguranças abrirem a porta.
Entrei no mesmo devagar e puxei a respiração ao encontrar os 23 jogadores convocados, além de alguns assessores e trabalhadores do hotel. Procurei Alisson com o olhar e reparei que Neymar o cutucou, fazendo com que ele se virasse em minha direção.
- Olha quem está aí! – Ele falou um tanto alto e Alisson abriu um largo sorriso, se levantando da mesa em que eles estavam.
Coloquei meu corpo para correr em sua direção, ouvindo meus saltos baterem de forma abafada contra o carpete e ele abriu os braços para me esperar, fazendo com que eu pulasse entre os mesmos e sentisse suas mãos se apertarem fortemente contra minha bunda, me fazendo passar as pernas ao redor da sua cintura.
Afastei meu corpo da curvatura de seu ombro, apoiando minhas mãos nos mesmos e ele abriu um largo sorriso, colando nossas testas por poucos segundos, antes de acabar com aqueles dois meses de saudades e me beijou apressadamente apertando as mãos em minha cintura e permitindo que meu corpo deslizasse sobre o dele até o chão novamente.
- Finalmente! – Ele falou baixo, me fazendo rir e apoiar uma das mãos em seu peito.
- Eu não sei nem explicar quantas saudades senti. – Falei e ele assentiu com a cabeça, suspirando.
- Tenho uma leve ideia. – Ele falou, me abraçando novamente e eu colei nossos lábios novamente por poucos segundos, ouvindo os gritos e aplausos ao fundo do pessoal que sabiam dessa história.
- Vai começar! – Falei e ele riu, me soltando lentamente, mas mantendo a mão firme em minha cintura.
- Como se não estivéssemos acostumados. – Ele cochichou em meu ouvido, me fazendo rir.
- Oi, gente! – Falei sorrindo e os 10 conhecidos se levantaram rapidamente para me cumprimentar.
- Pensou que ia se livrar da gente? – Firmino perguntou, me fazendo rir. – A gente traz seu garoto, mas vai ter que nos aguentar também. – Apertei-o fortemente.
- Espero que esteja cuidando bem dele em Liverpool. – Falei, vendo-o rir.
- Está tudo bem! – Ele disse. – Os torcedores ingleses que são chatos! – Sorri.
- Ah, garota! – Neymar me abraçou fortemente e eu segui para Thiago Silva, vendo-o rir.
- Meu capitão! – Falei rindo, abraçando-o fortemente.
- Bom te ver! – Ele respondeu.
- Ah que saudades! – Coutinho me abraçou, me fazendo abrir um largo sorriso.
Terminei de cumprimentar todos os outros jogadores, vendo o resto da equipe fazer o mesmo, transformando aquilo em uma grande festa, afinal, como sempre, parecia excursão escolar e estávamos lá só para nos divertir e jogar bola.
Passei rapidamente, pelos outros jogadores somente dando rápidos abraços e apertos de mãos. Afinal, para mim, Hugo, Neto, Fabinho, Dedé, Alex Sandro, Felipe, Arthur, Adreas Pereira, Lucas Paquetá, Éverton, Richarlison e Éder Militão eram desconhecidos ainda, da mesma forma que eu era naquele dia 21 de maio na Granja Comary. Conhecia Alex Sandro da Juventus, mas não pessoalmente. Fabinho era o que eu mais conhecia, na verdade, ele jogava no Liverpool com Alisson, então estava acostumada em vê-lo e saber sobre ele nas chamadas de vídeos que rolavam, Firmino também entrava na roda.
Voltei para Alisson, abraçando-o de lado e sentindo-o distribuir diversos beijos em minha bochecha, me permitindo apertá-lo em meus braços, não querendo soltá-lo mais.
- Vocês vão ter que aproveitar muito nesses dias. – Firmino falou, me fazendo rir e suspirar.
- Se tudo certo, os tempos sem se ver serão menores. – Falei para ele, olhando para Alisson e joguei seus cabelos para trás, acariciando sua barba.
- Se der tudo certo. – Alisson disse para me provocar, dando um largo sorriso e eu neguei com a cabeça.
- Vai dar tudo certo! – Falei e os dois riram.
- Falou a pessoa que ficou nervosa com essa convocação. – Alisson respondeu contra meu ouvido e eu suspirei.
- Ah, nem vem, e outra, faltam muitas pessoas aqui, ok?! Pensei que teria o Ederson para me encher! – Falei e ambos riram.
- Relaxa, eu ainda estou aqui! – Thiago falou me fazendo rir.
- Vai começar tudo de novo. – Suspirei, fazendo os 12 conhecidos e a equipe que acabara de chegar gargalhar.
- , faça às honras? – Tite perguntou e eu me afastei um pouco de Alisson, seguindo para a prancheta que Tite me entregou.
- Olá, gente, tudo bem? – Perguntei, vendo todos me encararem. – Eu sou , a atual assessora chefe da CBF nessa viagem. Sou eu quem vai cuidar da imagem de vocês nesses próximos amistosos. – O pessoal comemorou gritando. – Para os novatos, eu comecei na Copa do Mundo da Rússia e criei um grande laço com os jogadores, o que permitiu um trabalho mais relaxado e divertido durante aquele tempo e espero que aconteça da mesma forma com os novos jogadores. Afinal, sejam bem-vindos e espero que gostem de usar o verde amarelo da Seleção! – Eles aplaudiram, me fazendo sorrir.
- Além disso... – Bianca falou um pouco mais alto olhando para Alisson.
- Ah sim, claro. – Falei rindo. – Para quem ficou perdido sobre aquela cena estilo Dirty Dancing ali, eu e Alisson criamos um laço um pouco mais divertido na Copa e estamos juntos. – Neymar assoviou, me fazendo rir. – Somos bem profissionais, mas se a CBF apostou na gente, pode ter certeza que vamos nos divertir um pouco, ok?! – Dei de ombros e ouvi Tite gargalhando ao meu lado e vi Alisson ficar vermelho de vergonha. – Vamos começar os preparativos. – Sorri, olhando a prancheta. – Ficaremos aqui até o dia sete, depois iremos para Washington, após o jogo contra El Salvador, cada um vai para o seu canto novamente, então aproveitem, porque dia 26 de setembro tem outra convocação e vai ser assim até o fim do ano. – Suspirei. – Agora para a parte que importa... Quartos individuais! – Falei, vendo os jogadores mais antigos comemorarem e os mais novos perdidos. – Peguem sua chave e subam, depois daremos mais instruções.
Os jogadores passaram por Bianca, pegando uma chave cada, de forma aleatória, além da equipe técnica e da comunicação que sempre ficava por último. Fiquei com a chave que sobrou e vi que Alisson se colocou ao meu lado.
- Quanto tempo temos para matar a saudade? – Ele perguntou e eu suspirei.
- 10 dias! – Disse passando meus braços em seu pescoço, encarando seus olhos verdes.
- Bom, pelo menos os quartos são individuais e não vou precisar pedir para ninguém me dar licença para namorar minha garota! – Ele falou, colando nossas testas.
- Eu ainda não sei como vai ser em Washington! – Cochichei e ele riu.
- Não vamos sofrer por antecipação. – Ele disse, colando os lábios nos meus novamente, me fazendo rir entre dentes.
- Vamos trabalhar, ! – Dei um pulo ouvindo Lucas voltando com sua mala e me afastei de Alisson.
- Quem sabe mais tarde? – Pisquei para Alisson, seguindo para fora para pegar minha mala.
- Vai ter que ser! – Ele respondeu, me fazendo rir, abrindo um largo sorriso.




Fim.



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Nota da autora: Ah, gente! Hoje é um dia triste, PR está finalmente chegando ao final aqui! Mas o que me deixa feliz é que eu consegui alongar a Copa do Mundo por mais quatro meses e me deixa muito feliz.
Eu gostaria de agradecer à todas vocês que leram, comentaram, surtaram, sempre estavam pedindo mais e, o mais importante, deram uma chance ao Alisson mesmo ele não sendo seu crush ou não sendo alguém que você não soubesse da existência. Acredite, eu também não sabia até alguns meses atrás, mas estou feliz que sim, pois eu ganhei um novo crush, uma nova inspiração para minhas fanfics e posso garantir que terão outras histórias com ele vindo por aí.
Espero que a história tenha finalizado da forma que vocês esperavam, eu sempre quis me manter fiel ao extremo com os acontecimentos da Copa. Infelizmente o hexa não veio, mas eu consegui adiar a Copa por mais tempo, além de que ganhamos algo muito mais valioso, certo?!
Vamos torcer para que o Alisson continue sendo convocado e quem sabe dê para fazer uma continuação? Nunca diga nunca, certo?
Espero que vocês tenha gostado do final e não deixem de comentar aqui embaixo! Quero MUITO saber o que vocês acharam desse fim!
Muito obrigada novamente e fiquem de olho no meu grupo para futuras atualizações e futuras fanfics! <3
Beijos, beijos e até a próxima!
Agora obrigada à Lígia, minha beta e minha irmã que teve paciência com meus capítulos de 30, 40 páginas e por sofrer novamente comigo!




Eu estou mais psicologicamente abalada do que eu já sou normalmente. Agora só beto fanfic com a seleção brasileira, se a seleção tiver ganho a Copa do Mundo. Ai, como o peito doi. Miu. ♥ (Não vou nem comentar o tamanho dos capítulos. A gente conversa sobre isso depois.)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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