Finalizada em: 10/04/2021

Capítulo Único

A autoconfiança é algo muito estimado. Em um mundo moldado pelas aparências acima de qualquer coisa, é fácil perdê–la. Um pequeno deslize é suficiente para que o castelo de cartas construído por alguém desmorone e então as críticas surgem e o sentimento de fracasso toma conta.
Jimin aprendeu isso da pior maneira possível. Como um artista, sua vida estava exposta para todos e havia um padrão que deveria seguir. Em seus ombros havia a responsabilidade de atender as expectativas de milhões de pessoas que ele sequer sabia o nome. Com o tempo conseguiu lidar com a situação, ganhando confiança no que fazia. Porém, após se machucar durante um ensaio, percebeu que as pessoas podiam ser piores do que achou ser possível.
Após meses de reclusão ele recebeu o apoio dos fãs, mas os comentários negativos estavam por toda a parte, exigindo algo que ele não poderia dar. Não se importavam com seu bem–estar, queriam apenas que agisse de acordo com seus desejos. Sem escolha, acelerou as sessões de fisioterapia para que pudesse retornar aos palcos. Os outros membros do grupo protestaram, mas ele estava decidido a voltar o quanto antes.
Apesar disso, não sentia a confiança de antes. Caminhando dentro da sala de ensaio, fitava as paredes e o grande espelho como se os tivesse visto há séculos quando, na realidade, não se sentia confortável. A pressão tirou dele o gosto que tinha pela dança, deixando apenas o fardo de cumprir uma obrigação.
Os outros não iriam ensaiar naquele dia, pois ele precisava pegar o ritmo aos poucos para poder se juntar a eles. Suspirando, sentou–se de frente para o espelho, começando a se alongar. No entanto, até aqueles simples movimentos pareciam estranhos.
– Você já está se alongando? – Ouviu uma voz de repente e ajeitou rapidamente a postura.
Olhando pelo espelho, viu uma mulher entrar apressada segurando dois copos de café. Tirando a mochila das costas com certa dificuldade, deixou-a em qualquer canto, indo até ele. Sem cerimônias, se sentou em sua frente e estendeu um dos copos em sua direção.
– Não sabia de qual tipo gosta, então trouxe um tradicional – disse, mantendo o braço esticado.
– Não faz diferença, mas obrigada mesmo assim. – o aceitou, meio confuso. – E você é...
– Ah, claro! – Bateu com a mão na própria testa. – Me esqueci dessa parte.
Abrindo um sorriso sem jeito, estendeu a mão para ele, que a apertou ainda sem entender quem era aquela pessoa a sua frente.
– Eu sou uma das coreógrafas da performance que o BTS fará daqui um mês – explicou. – Como criei o seu solo, pediram que eu o auxiliasse durante o processo.
– Vai me acompanhar hoje? – Quis saber.
– Sim. – Balançou a cabeça.
– E como eu deveria chamá–la? – Ergueu as sobrancelhas.
– Me chame de . – Riu abafado ao perceber que havia se esquecido de dizer o próprio nome. – Então, Park Jimin, vamos começar?
– Claro. – disse, sem muita convicção.
Levantaram–se e Jimin teve tempo apenas de tomar alguns goles da bebida, deixando-a sobre um balcão no fundo da sala. fez o mesmo e ambos voltaram para o centro do recinto.
– Sei que teve uma lesão recentemente, então não vamos forçar muito até que se sinta confortável. – a mulher disse, de forma gentil. – Vamos iniciar com os passos mais simples e depois seguiremos para a parte mais complicada da coreografia.
– Eu já estou bem, posso ensaiar normalmente – respondeu, sentindo–se ofendido com sua sugestão.
– Certo, mas... – passou a língua entre os lábios, procurando as palavras certas. – Você ficou um tempo sem dançar, então seria melhor começar em um ritmo mais leve até que seu corpo se acostume.
– Não temos tempo para isso. – Olhou para o lado, descontente.
o observou por alguns segundos. Não sabia exatamente o que dizer, pois a simples sugestão de começarem com calma, claramente o ofendeu. Pensou em ceder à sua vontade, mas era uma profissional e sabia muito bem que o corpo dele ainda não estava preparado para o esforço que a coreografia em questão exigiria.
Suspirando discretamente, colocou alguns fios de cabelos atrás da orelha e, tentando manter a simpatia, olhou para o jovem que ainda fitava um ponto qualquer, evitando manter contato visual.
– Sei que está ansioso para se juntar aos outros membros e que deseja mostrar o melhor aos fãs. – Começou com cautela. – Mas não acha que eles ficariam preocupados caso se machucasse novamente?
Surpreso com a brandura daquelas palavras, Jimin a olhou de soslaio, encontrando seus olhos brilhantes. Ela não estava nem um pouco irritada com sua birra sem sentindo. Muito pelo contrário, esperava com paciência que mudasse de ideia. Ao perceber como estava sendo infantil ele fitou o piso amadeirado, se perguntando qual o motivo de agir daquela maneira. A coreógrafa estava correta, era uma profissional e estava lá para ajudá–lo da melhor maneira possível.
– Tudo bem – murmurou, um pouco envergonhado. – Vamos fazer como está dizendo.
A mulher sorria satisfeita, acenando uma vez com a cabeça. Apressada, foi até o aparelho sonoro e colocou uma música relaxante para que começassem os exercícios. Voltando para onde ele estava, ficaram de frente para o espelho.
– Vamos começar um alongamento antes de qualquer coisa – disse, animada. – Siga os meus movimentos.
– Certo. – Concordou.
Quase ao mesmo tempo começaram os movimentos, preparando o corpo para que suportasse a pressão da dança. Ficaram ali por algumas horas e Jimin agradeceu mentalmente por ter seguido as instruções dela, pois ao fim do ensaio estava exausto como se tivesse dançado pela primeira vez na vida.


~o~


continuou a auxiliar Jimin ao longo da semana e, apesar das visíveis dificuldades que ele tinha, avançava muito bem, superando as expectativas dela. O idol dava o máximo de si mesmo que no fim do dia sentisse apenas dor. Em quase uma semana haviam aprendido a apreciar a companhia um do outro.
Jimin gostava de estar com ela, pois percebia que se preocupava verdadeiramente com seu bem–estar, além de deixar o ambiente ao seu redor mais leve. Quanto a , admirava a gentileza dele e o fato de ser humilde o suficiente para aceitar sugestões.
Após aprender a primeira parte da coreografia que Jimin faria, seguiriam para a sequência mais complicada. O rapaz estava apreensivo, pois não sabia exatamente o que esperar. O que havia ensaiado até o momento não era exatamente fácil, o deixando preocupado quanto ao que viria a seguir.
– Bom dia, Jimin! – A garota foi até ele com um largo sorriso. – Como passou a noite?
– Bom dia! – Sorriu, a abraçando de lado. – Eu poderia dizer que dormi a noite inteira, mas estaria mentindo.
– Passou outra noite em claro? – O olhou com reprovação. – Sabe que precisa descansar para manter o ritmo.
– Eu sei, eu sei... – Passou a mão na nuca. – Eu só não consegui.
– Vou deixar passar dessa vez. – Cruzou os braços. – Mas prometa que vai manter as horas de sono em dia.
– Eu vou tentar. – Mordeu os lábios.
Sabendo que não conseguiria uma resposta melhor do que aquela ele balançou a cabeça positivamente. Deixando o assunto de lado, colocou uma música para que iniciassem o alongamento. Após alguns minutos, Jimin se sentou no chão para observar sua professora.
– Eu vou dançar a parte que falta para completar a coreografia – explicou para ele. – Depois de aprendê–la iremos tentar a sequência completa.
Cruzando as pernas, ele manteve os olhos na coreógrafa, que já colocava o instrumental que serviria como base para a performance. Ela parou no meio da sala e começou a dançar. Imediatamente, Jimin percebeu que o nível era elevado, fazendo seus músculos doerem apenas de pensar em tentar. Apesar disso, a forma como se movia era extremamente elegante, dando a impressão de que era algo simples. Para um leigo, talvez. Todavia, ele sabia muito bem o quanto seria exigido de seu corpo.
Mantendo o olhar fixo nela, observou o momento que a mulher saltou e girou contra o próprio corpo, pousando de pé. Era como ver um anjo saltitando entre as nuvens. Concentrado, abraçou os joelhos, apoiando o queixo entre os braços e seus lábios se abriram em admiração quando ela executou um passo semelhante ao do balé clássico. Girando com velocidade em uma perna só por longos segundos, completou o movimento com mais um salto giratório.
Quando a demonstração terminou, o idol não sabia se aplaudia ou chorava. Havia sido incrível, mas isso só constatava que ele teria que se esforçar além da conta. Não que fosse desistir, apenas não sabia até onde seu corpo conseguiria chegar.
– E então? O que achou? – Voltou para perto dele, ofegante.
– Você foi incrível! – Se levantou.
– Não é isso que eu quero saber. – Riu abafado. – Acha que pode aprender até o fim de semana?
– Bem... – Passou a língua entre os lábios. – Creio que sim.
– Vamos começar então. – Apoiou as mãos na cintura, respirando fundo. – Vou te ensinar os passos e podemos adaptá–los se for necessário.
bebeu um gole de água antes de recomeçar seu trabalho e, já com o fôlego recobrado, parou ao lado dele e começou a lhe ensinar passo a passo. Passaram quase uma hora apenas nisso, aumentando o ritmo aos poucos. Mantendo o compasso, Jimin logo entendeu a coreografia e após mais um tempo decidiu tentar com a música.
– Tem certeza que já quer tentar pra valer? – O olhou, um pouco apreensiva. – Podemos deixar para amanhã. Você ainda tem o mês todo pela frente.
– Não posso perder tempo. – Passou a mão nos cabelos. – Ainda tenho que me juntar aos outros membros para a coreografia em grupo.
– Tudo bem. – Cedeu. – Apenas vá com calma.
Dando espaço para ele, se afastou, recostando–se à parede no fundo da sala. Com o controle do som, o esperou se posicionar e, ao receber um sinal positivo, deu play e a música soou. Boquiaberta, o observou realizar os passos com facilidade, como se tivesse passado dias ensaiando e não uma manhã. A graciosidade e o toque pessoal que colocava eram surpreendentes e a moça entendeu por que as pessoas o elogiavam tanto. Apesar disso, permanecia preocupada, pois algumas partes eram mais difíceis de serem executadas.
Pouco antes do primeiro salto ele errou alguns passos, perdendo o compasso. até chegou a pensar que o rapaz desistiria para começar tudo de novo, porém, Jimin insistiu. Tomando impulso, lançou o corpo para cima ao mesmo tempo em que girava e quando seu pé tocou o chão, não soube exatamente o que fazer, perdendo o equilíbrio. Em um segundo estava no chão e gemeu ao sentir o impacto da queda.
– Jimin! – a coreógrafa arregalou os olhos.
Correndo até ele, se ajoelhou ao seu lado, vendo–o com uma expressão de dor. Temendo que tivesse machucado ainda mais o tornozelo recém–recuperado, ela o ajudou a se sentar.
– Você está bem? – Puxou a barra da calça dele para cima, tocando seu tornozelo. – Sentiu algo?
– Não. – Passou uma mão nos olhos.
– E está sentindo agora? – Continuou com o questionamento. – Se eu tocá–lo assim?
, eu estou bem. – Segurou a mão dela, tirando-a de sua perna. – Não se preocupe, eu não me machuquei.
– Então por que caiu de repente? – Franziu o cenho.
– Eu não sei. – mordeu os lábios. – Eu só... acho que não tive...
– Não teve confiança. – Completou, ao ver que ele não o faria.
Com um sorriso envergonhado, Jimin baixou o rosto para evitar encará–la. Era humilhante demais admitir que não se sentia seguro para fazer algo ao qual era acostumado. Para sua surpresa, ela tocou seu ombro delicadamente, transmitindo conforto.
– Quer falar sobre isso? – perguntou, com brandura.
– O que haveria para falar? – Riu, sem humor.
– Eu também sou dançarina e já me lesionei mais de uma vez. – Revelou. – Ainda que não entenda completamente o que está passando, posso compreender pelo menos uma parte.
O garoto a encarou por alguns instantes. Não havia contado para ninguém o que se passava em seu íntimo, porém, a cada dia se sentia mais sufocado. Talvez não entendesse seu conflito com respeito à fama, mas deveria saber muito bem como era frustrante não conseguir dar seu melhor. Respirando fundo, se virou de frente para ela, que aguardava pacientemente.
– Desde que me machuquei eu sinto que decepcionei inúmeras pessoas. – Começou, meio receoso. – Não só meus fãs e os membros do meu grupo, mas a mim mesmo.
– E por que acha isso? – Seu tom de voz não demonstrava nenhum julgamento.
– Talvez pelo fato de ter vivido boa parte da vida tentando alcançar os padrões que me foram impostos. – Balançou os ombros. – E quando finalmente achei ter chegado lá, tudo simplesmente desmoronou.
– Por muito tempo eu pensei assim, mas percebi que não dá certo. – suspirou, discretamente. – As pessoas nunca estarão completamente felizes com o que oferecer a elas, sempre irão querer mais.
– E o que devemos fazer? – Lançou-lhe um olhar suplicante.
– Antes de sabe o que os outros querem, precisa saber o que você quer. – Sorriu. – Crie os seus próprios moldes, o seu próprio filtro. Não se permita viver com esse peso nos ombros.
– É tão fácil falar. – Abraçou os joelhos. – Queria que também fosse fácil fazer.
– Nada que vale a pena é fácil de conseguir. – Inclinou a cabeça para o lado. – E qual seria a graça de caminhar sem enfrentar nenhum obstáculo?
Jimin sorriu de volta. Em seu peito, ele agradecia por aquela conversa, pois foi como deixar que todas as suas frustrações saíssem de seu corpo. Não havia se esquecido delas milagrosamente, mas compartilhar seus sentimentos foi de grande ajuda.
– Venha aqui. – A mulher pediu, se recostando na parede.
Ele se aproximou e ela bateu nas próprias pernas, indicando para que ele deitasse a cabeça ali. Hesitou por alguns segundos, mas o fez, ficando de barriga para cima. Fitando–o nos olhos, ela sorriu de leve, levando os dedos até os fios escuros. O rapaz teve um leve sobressalto com o contato, porém, o carinho era reconfortante o suficiente para fazê–lo relaxar.
– Feche os olhos. – sussurrou e ele obedeceu. – Agora inspire e expire devagar.
Imediatamente soube o que ela pretendia. Fazia dias que não dormia direito graças as suas preocupações. No entanto, os dedos em seus fios e a voz branda foram capazes de entorpecer seus músculos em um instante. Antes que percebesse, já havia pego no sono ali mesmo.
O idol acordou só depois de muito tempo. Abrindo os olhos lentamente, levou um tempo para se situar, só então percebendo que continuava deitado no colo dela, que também havia sido vencida pelo cansaço.
Se levantando devagar, respirou fundo e passou a mão no rosto, perguntando–se que horas deveriam ser. Olhando para a mulher com a cabeça recostada à parede, riu abafado. De onde havia surgido todo aquele poder que ela tinha sobre ele?
– Está na hora de acordar, princesa – sussurrou, tirando alguns fios de cabelo da frente de seu rosto.
Confusa, abriu os olhos e encontrou Park Jimin em sua frente com pouco espaço os separando. Sem saber como reagir, disse a primeira coisa que veio à sua mente.
– Acabou de me chamar de princesa? – Se desencostou da parede, fingindo não se importar.
– Sim. – Deu de ombros. – Estava parecendo uma dormindo assim, tão tranquila.
– Não me sinto uma princesa. – Debochou. – Na verdade, sinto que deveria comer algo ou irei desmaiar a qualquer momento.
O rapaz riu ao perceber que ela tentava fugir do assunto. Sem insistir, se levantou e ajudou a fazer o mesmo. Juntos, caminharam para o refeitório da empresa, rezando para que ainda encontrassem algo do almoço, pois estavam atrasados.


~o~


Após vários dias de ensaio individual, Jimin finalmente se juntou ao grupo. Como era de se esperar, foi recebido pelos amigos em meio a uma algazarra e comoção. Ele pensou que se sentira inseguro, mas os conselhos e apoio de sua coreógrafa foram de grande ajuda.
Recuperado da lesão, foi fácil aprender a parte restante da coreografia. Em poucos dias, a sincronia entre eles estava perfeita e nesse meio tempo Jimin teve cada vez menos contato com , pois sua função agora se resumia a supervisioná–lo durante o treinamento de seu solo na performance. Continuavam a manter contato por mensagens e chamadas e a mulher sempre estava interessada em seu progresso.
– E então? Vai nos assistir amanhã? – falava no celular enquanto caminhava pelos corredores da empresa.
Eu não perderia por nada! – Riu, abafado.
– Espero que não perca mesmo. – Acompanhou seu riso. – Vou cobrar depois.
E como está se sentindo? – perguntou, voltando a ficar séria.
– Estou bem. – Deu de ombros. – Meu tornozelo está praticamente cem por cento.
Mas e você? – falou em um tom óbvio. – Como se sente?
O idol ponderou por alguns instantes. Apesar de estar preparado fisicamente para o dia seguinte, sua alma ainda sofria em expectativa. Podia controlar o que pensava sobre si, mas não a opinião dos outros. Isso, de certa forma, o afligia.
– Onde você está? – perguntou de repente.
Em casa? – Franziu o cenho. – Por quê?
– Estarei aí em vinte minutos. – disse, apenas.
Sem esperar uma resposta, desligou a chamada e foi para o estacionamento. Colocando um boné e óculos escuros, pegou o próprio carro e dirigiu até a casa da coreógrafa, pensando se por acaso não estaria sendo muito precipitado. Ela morava em um pequeno apartamento e quando chegou à portaria agradeceu por não ter sido reconhecido. Subindo com autorização, logo estava em sua porta. Bateu duas vezes e aguardou, não demorando a ser atendido por uma perplexa.
– O que está fazendo aqui? – questionou, ainda sem acreditar.
– Eu disse que viria. – Fez uma careta.
– Eu sei. – Olhou para os lados e o puxou pelo pulso, fechando a porta. – Mas algum paparazzo poderia ter te seguido.
– Não se preocupe com isso. – Deu de ombros. – Já tenho experiência em despistá–los.
– Jimin, você não deveria se arriscar. – suspirou, sentando–se no sofá da sala.
– Sei bem. – Sentou ao seu lado quando ela apontou para o espaço. – Mas precisava conversar um pouco.
– Sobre amanhã? – Ergueu as sobrancelhas.
– É... – soltou o ar de uma só vez.
Olhando para o amigo com compaixão, segurou a mão dele entre as suas. Era muito grata por ele ter a confiança de compartilhar seus sentimentos mais profundos e ouvir seus conselhos, mas já não dependia mais dela.
– Sei que vai se sair bem. – Sorriu. – Apenas confie em si mesmo.
– Por que quando você fala as coisas parecem ser tão mais fáceis? – Riu, abafado.
– Se lembra do que eu disse naquele dia? – perguntou.
– "Crie seus próprios moldes, seu próprio filtro." – Repetiu as palavras da amiga. – Estou tentando.
– E vai dar tudo certo! – disse com convicção.
Sorrindo, levou a mão até o pescoço, tirando de dentro da gola um colar com pingente em formato de coração. O objeto era azul e estava preso a uma corrente prateada. O tirou com cuidado e se inclinou na direção do amigo, colocando–o nele.
– Por que está me dando isso? – Levou os dedos até a joia.
– Para dar sorte. – Lançou-lhe uma piscadela.
Continuaram se encarando por um tempo infindável. Jimin não sabia como descrever o que sentia, sabia apenas que deveria agir. Se aproximando, pousou uma de suas mãos no rosto dela. Em seu olhar não encontrou nenhum tipo de incômodo e então avançou. Se inclinando na direção de Ella, alcançou seus lábios, beijando-a suavemente.
O toque fora rápido, porém, foi capaz de descompassar ambos os corações mais do que uma sequência de dança do mais alto nível. Quando se separaram, manteve os rostos próximos, olhando-a nos olhos.
– Jimin... – murmurou, baixando o olhar. – Eu...
– Não precisa me dizer nada agora. – disse no mesmo tom. – Leve o tempo que desejar.
Voltando a encará–lo, balançou a cabeça positivamente com um sorriso leve e então ele se afastou, levantando. Caminhou para a porta e olhou para trás uma última vez, crente de que as coisas dariam certo.
Voltando para a empresa, passou o dia ensaiando com o grupo, repassando os últimos detalhes e experimentando os figurinos. No pescoço, o colar azul parecia transmitir uma energia boa, como se estivesse ali ao seu lado.
Quando o dia seguinte chegou, foi impossível não ser tomado pela ansiedade. Fazia meses que não subia num palco e todos esperavam por isso. Após todos os preparativos, eles seguiram para o local onde a premiação aconteceria e, em cada minuto sentado, Jimin aguardava o seu momento e se perguntava se ela estaria mesmo assistindo.
Alguns minutos antes da apresentação eles foram chamados para o camarim para trocarem de roupa e, enquanto o palco era armado, faziam um breve aquecimento.
– Certo, se reúnam aqui, por favor. – Namjoon pediu. – Aconteça o que acontecer, vamos destruir aquele palco!
Unindo as mãos, gritaram o nome do grupo com entusiasmo, recebendo os microfones. Finalmente se posicionaram para começar a performance. Jimin não soube exatamente como começou, mas pela primeira vez em muito tempo, dançava com paixão. Permitindo que toda a energia da plateia o alcançasse, deu o máximo de si. Não para receber aprovação, mas por que era o que amava fazer. Deixou a adrenalina fluir e se uniu aos outros, terminando a apresentação com o som dos gritos e aplausos ao redor.
Voltaram para os bastidores ofegantes, trocando novamente as roupas. Em seus lugares, levantaram–se algumas vezes para receber prêmios, mostrando que seu esforço era reconhecido. No fim da noite, estavam exaustos e Jimin preferiu ir diretamente para casa em vez de sair com os outros para comemorar. Seu objetivo principal era descansar, mas assim que chegou todo o sono foi embora. Arrependido por não ter ficado com o grupo, jogou–se no sofá pegando o celular. Vasculhou a internet e não precisou de mais que alguns minutos para encontrar postagens sobre a performance do grupo.
Um sorriso surgiu à medida que lia os comentários elogiando cada um dos membros, inclusive ele. Dentre eles havia os insatisfeitos, mas Jimin não se importou, pois estava ciente de que não poderia agradar a todos. No fim, o saldo era positivo. Apesar da aprovação alheia, não foi isso que encheu seu peito de alegria, mas sim o fato de enxergar o próprio sucesso.
Ainda deitado recebeu uma mensagem, a abrindo sem ver quem mandava. Riu assim que leu o conteúdo, sabendo que não se esqueceria dele. Pensou um pouco e mandou uma mensagem para ela, que logo respondeu. Satisfeito com o que leu, vestiu um sobretudo e deixou o apartamento, seguindo pela noite fria e iluminada pelas luzes artificiais.
Caminhou por vários metros pelas ruas já quase vazias até estar sob algumas árvores que o levavam a uma passarela iluminada por postes com luzes amarelas. Permitindo que o vento noturno balançasse seus fios, sentou–se num banco e esperou. Não soube quanto tempo se passou, mas quando a viu caminhando em sua direção, não fez diferença.
também vestia um sobretudo na cor preta e os cabelos escavam cobertos por uma touca da mesma cor. Andava com as mãos nos bolsos, olhando ao redor. Quando finalmente avistou o amigo, abriu um sorriso e correu até ele, que a pegou em um abraço.
– Eu disse que iria conseguir! – Foi a primeira coisa que ela falou.
– Eu estava tão nervoso... – A soltou. – Pensei que vomitaria a qualquer momento.
– Vocês estavam ótimos. – Riu de sua fala.
– Eu deveria agradecer a isso? – Segurou o colar no pescoço.
– Você usou mesmo? – perguntou, surpresa.
– Você me disse que daria sorte. – Balançou os ombros. – Mas eu gostaria mesmo é de saber se me daria sorte em outra coisa.
– Que coisa? – Inclinou a cabeça para o lado.
ergueu as sobrancelhas com curiosidade ao vê–lo se aproximar. Pegando uma de suas mãos, ele a puxou para mais perto, mantendo seus corpos a pouca distância. Ela entendeu onde o rapaz queria chegar e mordeu os lábios, colocando uma mecha atrás da orelha.
Quando os dedos tocaram seu queixo e ele se inclinou em sua direção, a garota fechou os olhos, permitindo que ele continuasse. Daquela vez não teve nenhuma dúvida sobre seus sentimentos. Sob as luzes amareladas, ela passou seus braços em volta de seus ombros, aprofundando o beijo. Jimin sentiu o coração pulsar de felicidade, tendo certeza de que as coisas iriam melhorar cada vez mais dali para frente.


END



Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
Prince Charming: After The End
Prince Charming: Choices
Prince Charming: Freedom
Prince Charming: Honeymoon
Prince Charming: Sweet Melody
Prince Charming: True Beauty

Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus