Capítulo Único
Durante todas as eras, o ser humano lutou por liberdade. A sensação de estar livre, de não pertencer a ninguém, era uma das melhores que existia e qualquer um daria tudo por isso. A sede de liberdade movia a maioria das pessoas e algumas chegaram até a morrer por ela.
sabia que não poderia comparar a sua situação com a da maioria. Perto dos problemas dos outros, os seus se tornavam insignificantes. Mas, o que poderia fazer? Resolver as questões da humanidade estava fora do seu alcance. Assim, poderia apenas se concentrar em sua própria vida e em como solucionar as adversidades que tanto a afligiam.
Girando duas vezes ao redor do próprio corpo, parou exatamente no tempo da batida da música que tocada no pequeno aparelho de som. Na batida seguinte, chutou o ar. Recobrando rapidamente a posição inicial, deslizou pela sala, fazendo os passos de dança na sequência, como havia ensaiado antes. Ao mesmo tempo, observava seus movimentos no grande espelho à sua frente, que ia do chão ao teto e tomava toda a parede.
A dança já chegava ao fim e seu corpo suado era sinal do esforço exercido. Controlando a respiração o máximo que sua resistência física permitia, não perdeu o compasso uma vez sequer, chegado até a última estrofe. Quando a última batida soou, se ajoelhou e apontou com a mão direita para cima ao mesmo tempo. Só então, permitiu que uma lufada de ar escapasse pela boca, sendo seguida pela respiração pesada.
Baixando o braço, o apoiou no chão, tentando recobrar as forças. Havia dado mais de si do que pensou. Apenas voltou à realidade ao ouvir um som de palmas atrás de si, olhando para lá assustada. Porém, ao reconhecer a pessoa, suspirou aliviada.
– Hoseok, há quanto tempo está aí? – perguntou, se levantando com dificuldade.
– Tempo suficiente para assistir essa performance incrível! – se desencostou da ombreira da porta, terminando de adentrar o espaço.
– Foi a mesma coisa que disse da primeira vez que me viu dançar essa coreografia. – o encarou com as sobrancelhas erguidas.
– Da primeira vez eu só estava te incentivando a continuar. – sorriu. – Mas dessa vez é sério. Está praticamente perfeita.
Fitando o amigo, percebeu que ele estava sendo sincero. Na maioria das vezes ele era e tal transparência a cativava muito. Suspirando cansada, foi até sua mochila, pegando uma pequena toalha sobre ela. Sentando–se no chão, começou a limpar o suor do pescoço.
– Onde estão os outros? – questionou sem muito interesse.
– Devem estar chegando. – respondeu, indo na direção oposta.
o observou chegar até o aparelho de som e plugar um pendrive nele. Enquanto bebia água de sua garrafinha, o rapaz passava as músicas para ter certeza de que estavam na ordem correta.
Vendo–o assim tão concentrado era até difícil de imaginar que Hoseok passava a maior parte do tempo sorrindo e animando os outros, inclusive ela. Se lembrava bem de tê–lo conhecido no ensino médio. Estudavam na mesma classe e ele era amigo de praticamente todos. Ela era a exceção, é claro. Porém, quando passaram a fazer parte do grupo de dança do colégio, não pôde mais evitar sua companhia e logo se tornaram inseparáveis.
Já na faculdade, seguiram caminhos distintos, entretanto, a amizade perdurou. O garoto abriu o próprio grupo de dança de rua com alguns amigos e estava entre eles. Mesmo que seus pais não aprovassem aquele tipo de atividade, não conseguia deixá–la de lado, mesmo que para isso precisasse agir às escondidas.
Com um pequeno sorriso de canto, deixou a garrafinha de lado e pegou o celular. Pelo horário, ainda poderia ficar mais um pouco e ver o ensaio do grupo. Abraçando os joelhos, voltou a fitar o amigo que escolheu uma música e foi para o centro da sala, ficando de frente para o espelho. Essa posição fez com que pudessem se encarar pelo reflexo.
Tirando o boné que usava, o jogou perto da mochila e começou um alongamento. Quando ergueu os braços, viu seus músculos se enrijecerem e mordeu o lábio inferior, baixando o rosto imediatamente. Sabia que se continuasse a olhar para lá, não conseguiria controlar seus pensamentos. Xingando Hoseok mentalmente, se questionava o motivo de ele ter escolhido usar justamente uma regata.
A música que passava terminou e uma nova tocou mais agitada. A reconhecendo logo de cara, ergueu os olhos e sorriu para ele, que terminava o exercício.
– Ainda se lembra dessa? – perguntou para ela.
– Como iria me esquecer? – riu abafado.
– Então vamos tentar. – sugeriu.
Rapidamente contagiada pelo entusiasmo que emanava dele, se levantou e caminhou para o centro da sala, onde Hoseok a esperava. Pararam um ao lado do outro, se encarando pelo espelho. Após uma troca de sorrisos, começaram a dançar o refrão da música.
A sincronia entre os dois era perfeita e os passos eram executados com maestria, mostrando que nenhum deles estava para brincadeira. Continuaram a fazer uma sequência idêntica, até que o rapaz inclinou um pouco o corpo para frente, apoiando os braços nos joelhos. Sem pensar, rolou sobre ele, parando de pé do outro lado. Endireitando a postura, repetiram os passos anteriores.
No último refrão, ficaram um de frente para o outro e apoiou uma mão no ombro direito dele. Passando o corpo por baixo do braço da amiga, esticou o seu próprio e a puxou pela cintura no segundo da última batida.
Ofegantes e com os corpos próximos, podia sentir a respiração dele açoitando sua face e estremeceu. A mão firme em sua cintura também não era de grande ajuda, deixando seu coração mais descompassado do que a própria dança. Fitando–o nos olhos escuros, o percebeu se aproximar, tendo a certeza de que ele a beijaria.
Afastando o rosto, sentiu o peito apertar pela expressão desapontada que surgiu aos poucos na face do amigo. Queria que ele a beijasse, mas não tinha escolha. Seus pais nunca o aceitariam e não podia fazê–lo passar por isso. Ainda que amasse Jung Hoseok desde a adolescência, havia muito mais do que seus sentimentos em jogo.
Percebendo a atitude da garota, imediatamente se afastou, passando a mão na testa suada. Fitou o chão por um segundo, voltando a encará–la logo em seguida com um pequeno sorriso sem jeito.
– Me desculpe, eu não quis ser um idiota. – balançou os ombros.
– Está tudo bem. – balançou a cabeça para os lados. – Você não foi um idiota.
Hoseok diria algo mais, porém, os outros membros do grupo chegaram ao local fazendo a algazarra de sempre. Entre os garotos e garotas, reconheceu todos, recebendo cumprimentos calorosos. Percebendo que seu tempo com o amigo havia terminado, voltou para o fundo da sala, sentando–se para assistir o ensaio do flashmob que fariam em uma semana.
Assistindo com atenção, não piscava sequer os olhos. Se havia uma coisa que amava, era dançar. Nada conseguia superar o sentimento em seu peito ao permitir que seu corpo executasse os passos precisos que aprendeu com o tempo. Desde bem cedo despertou essa paixão, mas quando pensou transformá–la em algo sério, foi barrada pelos pais.
Era filha única e não teria permissão de fazer outra coisa, a não ser estudar para cuidar dos negócios da família. Mesmo que para a maioria seus problemas fossem mínimos e até achassem que ela reclamava de barriga cheia, eles não entendiam o que se passava em seu íntimo. Se pudesse, desistiria de tudo para viver o seu sonho. Infelizmente, não podia.
De repente assolada pelos sentimentos negativos, olhou as horas, constatando que seu horário para voltar para casa havia chegado. O grupo ainda ensaiava a todo vapor, por isso, apenas deixou o local, mandando uma mensagem para Hoseok informando que havia partido.
Chegando em casa, agradeceu por ser recebida por uma das empregadas, que afirmou que seus pais ainda não haviam chegado do trabalho. Subindo as escadas, foi diretamente para o quarto e tomou um banho frio rápido para aliviar o calor. Vestiu uma roupa leve e deitou na cama de casal, deixando para depois a matéria que precisava colocar em dia.
~o~
Após um longo dia de estudos, chegou em casa. Exausta, se arrastou pela sala de estar, segurando uma mochila em um só ombro e uma pilha de livros no braço direito. Depois da aula, havia passado o restante da tarde e o início da noite na biblioteca da universidade com uma colega, para que pudessem começar um longo trabalho.
Quase perdeu a hora em meio a tantos livros e mesmo assim não havia conseguido concluir a pesquisa. Deixando para o dia seguinte, se despediu da garota e voltou para casa. Naquele momento, tudo o que desejava era sua cama quentinha.
Caminhando pelo grande lugar, ouviu vozes vindas da sala de jantar e franziu o cenho. Curiosa, refez o caminho e espiou para saber quem estava lá. Para sua surpresa, seus pais já haviam chegado e jantavam juntos.
– Já chegaram? – terminou de adentrar o lugar.
– Ah, ! – a mãe se animou ao vê–la. – Que ótimo que está aqui!
– Aconteceu alguma coisa? – fez uma careta confusa.
– Por que não se junta a nós? – seu pai apontou uma cadeira.
– Eu acabei de chegar da faculdade. – tentou se livrar de qualquer que fosse o assunto. – Acho melhor tomar um banho primeiro, depois desço para jantar.
– Sente–se, por favor. – o homem a encarou nos olhos.
sabia que aquilo não havia sido um pedido. Apesar do tom brando, conhecia seu pai o suficiente para entender uma ordem vinda de sua parte. Ele não precisava gritar ou ser rude. Na verdade, antes fosse. Talvez assim tivessem mais coragem para enfrentá–lo a altura.
Obedecendo, deixou os livros sobre a mesa de vidro e tirou a mochila, a deixando nos pés da cadeira que puxou. Sentou–se, ficando de frente para mãe e se manteve calada, esperando que seu pai começasse a falar.
– Muito bem... – voltou a pegar os talheres. – Hoje recebi um relatório de um dos seus professores.
– Da universidade? – olhou para ele espantada.
– Ele disse que seu desempenho é excelente. – completou, cortando um pedaço de carne.
– Disse que é uma das melhores da turma! – a mãe sorriu com orgulho.
– Eu me esforço. – sorriu meio sem jeito, ainda confusa com tudo aquilo.
– Sim, eu sei. – o homem retomou a palavra. – É por isso que eu pensei bem e decidi que irá para os EUA.
– EUA? – olhou de um para o outro. – E o que há para mim lá?
– Terminará seus estudos lá. – explicou, continuando a comer. – Então, poderá voltar e assumir seu lugar na empresa.
– O quê? – arregalou os olhos.
– É o melhor para você, querida! – a mãe balançou os ombros.
– Mas... – tentou protestar. – Eu já estou me saindo bem aqui, por que ir para lá?
– Por que se contentar em ser boa, se pode ser a melhor? – levou mais uma garfada à boca.
– Pai, por favor... – tentou novamente.
– Esse assunto está encerrado. – finalmente, baixou os talheres, a encarando. – Terá um mês até viagem.
Então, voltaram a comer como se nada de mais tivesse acontecido. os observou sem acreditar, pegando seus pertences. Sentindo o peito subir e descer em desespero, segurou as emoções ao subir para o quarto. Jogando os livros e mochila sobre a cama, foi até a cadeira que ficava de frente para sua penteadeira e se sentou. Olhando para o próprio reflexo, enxergou os olhos marejados.
Voltando para a cama, enfiou a mão nos bolsos da mochila, procurando pelo celular. Assim que o encontrou, desbloqueou a tela e mandou uma mensagem para Hoseok. Sem esperar uma resposta, enfiou o aparelho no bolso da calça e saiu do quarto às pressas. Ignorando as consequências, correu até a garagem, pegando a chave de uma das motos do pai. Sem olhar para trás, deixou o lugar a toda velocidade, seguindo para onde se sentiria mais segura.
Hoseok demorou um pouco para chegar ao estúdio de dança. Ao adentrar a sala onde costumava ensaiar com o grupo, olhou para todos os cantos desesperado, procurando pela amiga. Soltou um suspiro aliviado ao avistá–la ao fundo da sala, sentada no chão com o rosto escondido entre os joelhos.
– ! – a chamou, indo até ela.
Assim que ouviu a voz dele, a garota ergueu o rosto. Pensou por um momento que ele não viria, mas não deveria ter duvidado. Hoseok sempre estava lá quando ela mais precisava. Levantando–se, correu até o amigo e o abraçou, sendo imediatamente amparada por seus braços firmes.
– O que houve? – perguntou preocupado. – Recebi sua mensagem e vim assim que pude.
– Eles vão me mandar para os EUA. – respondeu de uma vez.
– Como assim? – franziu o cenho.
– Meu pai disse que vou terminar os estudos lá. – se afastou um pouco para olhá–lo nos olhos.
– Vai durar muito tempo? – a olhou com tristeza.
– Mais do que eu gostaria. – balançou a cabeça para os lados. – Hoseok, eu não quero ir.
– Ei, vai ficar tudo bem. – sorriu sem mostrar os dentes.
Continuaram a se encarar, até que ele se afastou, indo até o aparelho de som. Tirando o celular do bolso, os conectou via Bluetooth e entrou na playlist, escolhendo uma música. a reconheceu logo, agradecendo pela melodia que chegou aos seus ouvidos.
Sem dizer nada, o rapaz foi até ela, segurando suas mãos. Mantendo os olhares conectados, começou a conduzi–la numa dança lenta. Logo estavam em sincronia, continuando a dançar pelo restante da noite. Perderam a noção do tempo, mas nenhum deles se importou, permitindo que toda a frustração fosse mandada embora por meio dos movimentos de seus corpos suados.
Quando uma música mais lenta começou, a dupla também diminuiu o ritmo. Caminhando em círculo, foram se aproximando até estarem a poucos centímetros. Ao mesmo tempo, passaram um dos braços na cintura do outro e isso terminou a distância que existia. Com os rostos próximos, sentiam a respiração descompassada causada pelo movimento e o toque aumentou a temperatura consideravelmente.
Hoseok se inclinou em sua direção e dessa vez, não se esquivou. Fechando os olhos, permitiu que seus lábios se encontrassem, sentindo o corpo amolecer ao seu toque. Parando o movimento que faziam, ele a puxou pela cintura, levando uma das mãos até sua nuca, aprofundando o beijo.
A garota poderia buscar uma forma de descrever o que sentia, porém, as palavras certas pareciam não existir. Sonhou com aquilo por anos e, agora que Hoseok lhe tocava, poderia morrer feliz.
Separaram–se apenas quando o ar faltou, encostando as testas suadas. Apesar do momento de tensão anterior, foi inevitável que não sorrissem. O brilho nos olhos era uma evidência de que compartilhavam a mesma euforia.
– Me desculpe. – ela murmurou.
– Pelo quê? – perguntou confuso.
– Por fazê–lo esperar todo esse tempo. – mordeu os lábios.
– Valeu a pena! – lhe lançou uma piscada.
Sorrindo, a beijou mais uma vez e teve a mesma sensação de antes. Estava nas nuvens, como se voasse e nunca pudesse cair. Decidiu se esquecer da realidade por um momento, para aproveitar apenas aquele instante com ele.
~o~
Após o ocorrido, conseguiu forças para continuar graças à companhia de Hoseok. Não via a hora de estar com ele para que pudessem dançar e passar um tempo juntos. Arrependia-se apenas de ter esperado tanto para assumir o que sentia. Ainda que temesse a reação dos pais, decidiu aproveitar o quanto podia.
Os dias passaram depressa e, enquanto continuava a se dedicar aos estudos, arranjava tempo para acompanhar o ensaio do grupo do amigo. De tanto observá–los sabia a coreografia inteira e ela era incrível. Eles planejavam realizar um flashmob num dos parques no centro da cidade e tudo seria transmito ao vivo pela internet. Faltavam apenas algumas horas para o evento e ela iria ao local para apoiá–los.
Era fim de semana e estava com sua colega numa biblioteca terminando a pesquisa para a semana seguinte. A todo o momento olhava para o celular para que não perdesse a hora. Sua colega mantinha os olhos nos livros, anotando vez ou outra algo no notebook, mas parou de repente com um sorriso.
– Ouvi dizer que um grupo de dança se apresentará hoje no centro da cidade. – a garota disse com entusiasmo.
– Como sabe disso? – franziu o cenho.
– Todos estão comentando no campus, pois alguns membros estudam na nossa universidade. – explicou. – Inclusive aquele seu amigo.
– O Hoseok. – sorriu. – Sim, eles vão dançar.
– O que acha de irmos até lá ver? – se ajeitou na cadeira. – Tem uns garotos bonitos lá.
– Por que não? – riu abafado.
Aquela era a chance perfeita. Não precisaria inventar uma desculpa para ir embora. Continuaram mais um pouco e vinte minutos antes da apresentação começar, deixaram a biblioteca, seguindo para o parque.
Sentaram–se num dos bancos que ficava de frente para uma grande área aberta, onde várias pessoas passavam distraídas com seus afazeres. Aguardaram alguns minutos até que observou um casal de aproximar. Eles vinham distraídos ao mesmo tempo em que conversavam. Sorriu entusiasmada quando os reconheceu e cutucou a colega.
– Vai começar. – sussurrou para que ela ouvisse.
A garota olhou para frente procurando o grupo, mas ela não apontou, pois não queria estragar a surpresa. O casal parou no meio dá área e uma música alta surgiu próxima. Contagiados pelo ritmo, começaram a dançar em sincronia e logo mais pessoas se juntaram a eles. Não demorou a que expectadores se reunissem em volta para observar.
segurou a alça da mochila com força quando avistou Hoseok. Usando uma calça larga e uma regata branca, virou o boné para trás e tomou a frente do grupo. Antes que começassem uma nova sequência, seu olhar se cruzou com o da amiga, sentada a poucos metros. Com um leve acenar de cabeça, a chamou para se juntar a eles.
Engolindo seco, hesitou por alguns segundos. Todavia, era hora de fazer algo. Puxando o ar para os pulmões, tirou a mochila do colo e a entregou para a amiga ao seu lado.
– Segura pra mim, eu já volto. – disse e se levantou.
Correu até o grupo, sendo recebida com um largo sorriso de Hoseok. Parou ao lado dele, assumindo a primeira linha da coreografia. Quando a nova batida começou, dançou como se o mundo fosse acabar naquele mesmo dia. Em determinado momento, os outros se afastaram e apenas os dois ficaram na frente, liderando a dança.
Pela primeira vez se apresentava para tantas pessoas. Mesmo que não fosse nada oficial, finalmente, podia mostrar seu verdadeiro talento. Permitindo que cada músculo fosse usado, executou os movimentos como se tivesse nascido para fazê–los. Não se lembrou de nenhum problema. Naquele instante era livre.
Quando a última batida foi ouvida, uma salva de palmas veio da multidão em volta e eles se curvaram em agradecimento. Com um sorriso de orelha a orelha, Hoseok a abraçou com força, compartilhando a felicidade do trabalho bem–sucedido.
– Conseguimos! – a levantou por alguns segundos. – Nós conseguimos!
– Foi incrível! – gargalhou com a atitude dele.
Após alguns minutos, a multidão se dispersou e os dançarinos resolveram sair para comemorar. pensou em acompanhá–los, mas várias chamadas perdidas em seu celular a fizeram mudar de ideia. Suspirando, foi até Hoseok para se despedir.
– E então, você e sua amiga vêm com a gente? – perguntou com um sorriso.
– Preciso resolver uma coisa antes. – disse apenas.
Sem mais, o beijou de leve e voltou até a colega, que decidira ficar, avisando que estava indo para casa. Depois de pegar um táxi, foi deixada na porta, pagou o motorista e deixou o veículo após tomar coragem.
Com a mochila pendurada no ombro ela adentrou o lugar, seguindo para a sala de estar. Foi ali que encontrou o pai sentando em uma das poltronas e apoiado em seu colo estava um notebook com algo que ele assistia com atenção. Pela música ao fundo ela soube exatamente o que era.
O homem logo a percebeu no cômodo, encarando–a por cima da armação dos óculos. permaneceu parada a poucos metros, pois sabia que ele não tardaria a falar.
– Poderia me explicar o que significa isso? – questionou, virando o notebook para a filha.
A imagem era a do flashmob que ela havia participado com o grupo de dança. A live havia ficado salva para quem quisesse assistir, inclusive seu pai. Mordendo os lábios, tentou prender o riso que ameaçou escapar, sem saber porque queria rir justamente naquele momento.
– São pessoas dançando. – Deu de ombros.
– E você sabe que não gosto de rodeios – deixou o aparelho sobre a mesa de centro. – Então vamos ser breves.
– Como eu disse, são pessoas dançando. – Repetiu. – Inclusive eu.
– Eu deveria saber que um dia aquele garoto baderneiro conseguiria influenciá–la! – Tirou os óculos, passando a mão nos olhos. – Deveria tê–la mandado para os EUA antes.
– Hoseok não tem nada a ver com isso. – se aproximou, deixando a mochila no sofá ao seu lado. – Eu danço porque é o que amo fazer.
– Acho que não entendeu a questão. – A encarou com uma expressão firme. – É o futuro da nossa família que está em jogo.
– Sei muito bem disso e vou cumprir o meu papel – disse, com convicção. – Vou para os Estados Unidos e terminarei meus estudos para voltar e assumir meu lugar na empresa.
Vendo a expressão do mais velho se amenizar um pouco, sentou–se na ponta do sofá e cruzou as mãos suadas de ansiedade, mantendo–as sobre o colo.
– Eu me importo com minha família, mas também comigo mesma. – continuou. – É por isso que não vou desistir dos meus sonhos.
– E o que isso significa? – A desafiou com o olhar.
– Significa que continuarei dançando. – Sorriu para ele. – Sei que deseja o melhor para mim, mas deveria parar por um segundo e ver o que realmente quero.
Se erguendo, foi até o notebook e o virou de volta para o pai. O vídeo da apresentação ainda passava na tela.
– Pai, eu nunca me senti tão feliz na vida como hoje e ninguém vai tirar isso de mim. – Sacudiu a cabeça. – Espero que entenda.
Sem esperar uma resposta, lhe deu as costas e fez o caminho até a garagem, onde pegou a moto, colocou o capacete e dirigiu de volta para onde os amigos estavam. Em seu peito parecia haver uma dinamite prestes a explodir após finalmente ter tomado uma posição. Havia conseguido sua própria liberdade. Não esperava que seu pai a compreendesse, mas ele não podia obrigá–la. Ninguém poderia.
Estacionou a moto em um lugar apropriado e tirou o capacete, seguindo para dentro da lanchonete lotada de dançarinos. Sorriu ao ver a imagem pelas janelas de vidro e, antes que entrasse no local, Hoseok acenou para ela. Ele saiu do local a fim de encontrá–la.
– Pensei que tivesse ido para casa. – Franziu o cenho.
– E fui. – Balançou os ombros. – Mas resolvi voltar.
– Então vamos entrar. – Segurou sua mão. – Precisamos comemorar.
– Precisamos mesmo. – Concordou.
Hoseok a conduziu para dentro e se sentou ao lado de sua colega, que já havia se enturmado com o grupo. Em meio a uma conversa calorosa e divertida, ela riu como nunca antes. Seu coração estava leve, pois pela primeira vez na vida ela tinha a sensação de estar, finalmente, livre.
sabia que não poderia comparar a sua situação com a da maioria. Perto dos problemas dos outros, os seus se tornavam insignificantes. Mas, o que poderia fazer? Resolver as questões da humanidade estava fora do seu alcance. Assim, poderia apenas se concentrar em sua própria vida e em como solucionar as adversidades que tanto a afligiam.
Girando duas vezes ao redor do próprio corpo, parou exatamente no tempo da batida da música que tocada no pequeno aparelho de som. Na batida seguinte, chutou o ar. Recobrando rapidamente a posição inicial, deslizou pela sala, fazendo os passos de dança na sequência, como havia ensaiado antes. Ao mesmo tempo, observava seus movimentos no grande espelho à sua frente, que ia do chão ao teto e tomava toda a parede.
A dança já chegava ao fim e seu corpo suado era sinal do esforço exercido. Controlando a respiração o máximo que sua resistência física permitia, não perdeu o compasso uma vez sequer, chegado até a última estrofe. Quando a última batida soou, se ajoelhou e apontou com a mão direita para cima ao mesmo tempo. Só então, permitiu que uma lufada de ar escapasse pela boca, sendo seguida pela respiração pesada.
Baixando o braço, o apoiou no chão, tentando recobrar as forças. Havia dado mais de si do que pensou. Apenas voltou à realidade ao ouvir um som de palmas atrás de si, olhando para lá assustada. Porém, ao reconhecer a pessoa, suspirou aliviada.
– Hoseok, há quanto tempo está aí? – perguntou, se levantando com dificuldade.
– Tempo suficiente para assistir essa performance incrível! – se desencostou da ombreira da porta, terminando de adentrar o espaço.
– Foi a mesma coisa que disse da primeira vez que me viu dançar essa coreografia. – o encarou com as sobrancelhas erguidas.
– Da primeira vez eu só estava te incentivando a continuar. – sorriu. – Mas dessa vez é sério. Está praticamente perfeita.
Fitando o amigo, percebeu que ele estava sendo sincero. Na maioria das vezes ele era e tal transparência a cativava muito. Suspirando cansada, foi até sua mochila, pegando uma pequena toalha sobre ela. Sentando–se no chão, começou a limpar o suor do pescoço.
– Onde estão os outros? – questionou sem muito interesse.
– Devem estar chegando. – respondeu, indo na direção oposta.
o observou chegar até o aparelho de som e plugar um pendrive nele. Enquanto bebia água de sua garrafinha, o rapaz passava as músicas para ter certeza de que estavam na ordem correta.
Vendo–o assim tão concentrado era até difícil de imaginar que Hoseok passava a maior parte do tempo sorrindo e animando os outros, inclusive ela. Se lembrava bem de tê–lo conhecido no ensino médio. Estudavam na mesma classe e ele era amigo de praticamente todos. Ela era a exceção, é claro. Porém, quando passaram a fazer parte do grupo de dança do colégio, não pôde mais evitar sua companhia e logo se tornaram inseparáveis.
Já na faculdade, seguiram caminhos distintos, entretanto, a amizade perdurou. O garoto abriu o próprio grupo de dança de rua com alguns amigos e estava entre eles. Mesmo que seus pais não aprovassem aquele tipo de atividade, não conseguia deixá–la de lado, mesmo que para isso precisasse agir às escondidas.
Com um pequeno sorriso de canto, deixou a garrafinha de lado e pegou o celular. Pelo horário, ainda poderia ficar mais um pouco e ver o ensaio do grupo. Abraçando os joelhos, voltou a fitar o amigo que escolheu uma música e foi para o centro da sala, ficando de frente para o espelho. Essa posição fez com que pudessem se encarar pelo reflexo.
Tirando o boné que usava, o jogou perto da mochila e começou um alongamento. Quando ergueu os braços, viu seus músculos se enrijecerem e mordeu o lábio inferior, baixando o rosto imediatamente. Sabia que se continuasse a olhar para lá, não conseguiria controlar seus pensamentos. Xingando Hoseok mentalmente, se questionava o motivo de ele ter escolhido usar justamente uma regata.
A música que passava terminou e uma nova tocou mais agitada. A reconhecendo logo de cara, ergueu os olhos e sorriu para ele, que terminava o exercício.
– Ainda se lembra dessa? – perguntou para ela.
– Como iria me esquecer? – riu abafado.
– Então vamos tentar. – sugeriu.
Rapidamente contagiada pelo entusiasmo que emanava dele, se levantou e caminhou para o centro da sala, onde Hoseok a esperava. Pararam um ao lado do outro, se encarando pelo espelho. Após uma troca de sorrisos, começaram a dançar o refrão da música.
A sincronia entre os dois era perfeita e os passos eram executados com maestria, mostrando que nenhum deles estava para brincadeira. Continuaram a fazer uma sequência idêntica, até que o rapaz inclinou um pouco o corpo para frente, apoiando os braços nos joelhos. Sem pensar, rolou sobre ele, parando de pé do outro lado. Endireitando a postura, repetiram os passos anteriores.
No último refrão, ficaram um de frente para o outro e apoiou uma mão no ombro direito dele. Passando o corpo por baixo do braço da amiga, esticou o seu próprio e a puxou pela cintura no segundo da última batida.
Ofegantes e com os corpos próximos, podia sentir a respiração dele açoitando sua face e estremeceu. A mão firme em sua cintura também não era de grande ajuda, deixando seu coração mais descompassado do que a própria dança. Fitando–o nos olhos escuros, o percebeu se aproximar, tendo a certeza de que ele a beijaria.
Afastando o rosto, sentiu o peito apertar pela expressão desapontada que surgiu aos poucos na face do amigo. Queria que ele a beijasse, mas não tinha escolha. Seus pais nunca o aceitariam e não podia fazê–lo passar por isso. Ainda que amasse Jung Hoseok desde a adolescência, havia muito mais do que seus sentimentos em jogo.
Percebendo a atitude da garota, imediatamente se afastou, passando a mão na testa suada. Fitou o chão por um segundo, voltando a encará–la logo em seguida com um pequeno sorriso sem jeito.
– Me desculpe, eu não quis ser um idiota. – balançou os ombros.
– Está tudo bem. – balançou a cabeça para os lados. – Você não foi um idiota.
Hoseok diria algo mais, porém, os outros membros do grupo chegaram ao local fazendo a algazarra de sempre. Entre os garotos e garotas, reconheceu todos, recebendo cumprimentos calorosos. Percebendo que seu tempo com o amigo havia terminado, voltou para o fundo da sala, sentando–se para assistir o ensaio do flashmob que fariam em uma semana.
Assistindo com atenção, não piscava sequer os olhos. Se havia uma coisa que amava, era dançar. Nada conseguia superar o sentimento em seu peito ao permitir que seu corpo executasse os passos precisos que aprendeu com o tempo. Desde bem cedo despertou essa paixão, mas quando pensou transformá–la em algo sério, foi barrada pelos pais.
Era filha única e não teria permissão de fazer outra coisa, a não ser estudar para cuidar dos negócios da família. Mesmo que para a maioria seus problemas fossem mínimos e até achassem que ela reclamava de barriga cheia, eles não entendiam o que se passava em seu íntimo. Se pudesse, desistiria de tudo para viver o seu sonho. Infelizmente, não podia.
De repente assolada pelos sentimentos negativos, olhou as horas, constatando que seu horário para voltar para casa havia chegado. O grupo ainda ensaiava a todo vapor, por isso, apenas deixou o local, mandando uma mensagem para Hoseok informando que havia partido.
Chegando em casa, agradeceu por ser recebida por uma das empregadas, que afirmou que seus pais ainda não haviam chegado do trabalho. Subindo as escadas, foi diretamente para o quarto e tomou um banho frio rápido para aliviar o calor. Vestiu uma roupa leve e deitou na cama de casal, deixando para depois a matéria que precisava colocar em dia.
Após um longo dia de estudos, chegou em casa. Exausta, se arrastou pela sala de estar, segurando uma mochila em um só ombro e uma pilha de livros no braço direito. Depois da aula, havia passado o restante da tarde e o início da noite na biblioteca da universidade com uma colega, para que pudessem começar um longo trabalho.
Quase perdeu a hora em meio a tantos livros e mesmo assim não havia conseguido concluir a pesquisa. Deixando para o dia seguinte, se despediu da garota e voltou para casa. Naquele momento, tudo o que desejava era sua cama quentinha.
Caminhando pelo grande lugar, ouviu vozes vindas da sala de jantar e franziu o cenho. Curiosa, refez o caminho e espiou para saber quem estava lá. Para sua surpresa, seus pais já haviam chegado e jantavam juntos.
– Já chegaram? – terminou de adentrar o lugar.
– Ah, ! – a mãe se animou ao vê–la. – Que ótimo que está aqui!
– Aconteceu alguma coisa? – fez uma careta confusa.
– Por que não se junta a nós? – seu pai apontou uma cadeira.
– Eu acabei de chegar da faculdade. – tentou se livrar de qualquer que fosse o assunto. – Acho melhor tomar um banho primeiro, depois desço para jantar.
– Sente–se, por favor. – o homem a encarou nos olhos.
sabia que aquilo não havia sido um pedido. Apesar do tom brando, conhecia seu pai o suficiente para entender uma ordem vinda de sua parte. Ele não precisava gritar ou ser rude. Na verdade, antes fosse. Talvez assim tivessem mais coragem para enfrentá–lo a altura.
Obedecendo, deixou os livros sobre a mesa de vidro e tirou a mochila, a deixando nos pés da cadeira que puxou. Sentou–se, ficando de frente para mãe e se manteve calada, esperando que seu pai começasse a falar.
– Muito bem... – voltou a pegar os talheres. – Hoje recebi um relatório de um dos seus professores.
– Da universidade? – olhou para ele espantada.
– Ele disse que seu desempenho é excelente. – completou, cortando um pedaço de carne.
– Disse que é uma das melhores da turma! – a mãe sorriu com orgulho.
– Eu me esforço. – sorriu meio sem jeito, ainda confusa com tudo aquilo.
– Sim, eu sei. – o homem retomou a palavra. – É por isso que eu pensei bem e decidi que irá para os EUA.
– EUA? – olhou de um para o outro. – E o que há para mim lá?
– Terminará seus estudos lá. – explicou, continuando a comer. – Então, poderá voltar e assumir seu lugar na empresa.
– O quê? – arregalou os olhos.
– É o melhor para você, querida! – a mãe balançou os ombros.
– Mas... – tentou protestar. – Eu já estou me saindo bem aqui, por que ir para lá?
– Por que se contentar em ser boa, se pode ser a melhor? – levou mais uma garfada à boca.
– Pai, por favor... – tentou novamente.
– Esse assunto está encerrado. – finalmente, baixou os talheres, a encarando. – Terá um mês até viagem.
Então, voltaram a comer como se nada de mais tivesse acontecido. os observou sem acreditar, pegando seus pertences. Sentindo o peito subir e descer em desespero, segurou as emoções ao subir para o quarto. Jogando os livros e mochila sobre a cama, foi até a cadeira que ficava de frente para sua penteadeira e se sentou. Olhando para o próprio reflexo, enxergou os olhos marejados.
Voltando para a cama, enfiou a mão nos bolsos da mochila, procurando pelo celular. Assim que o encontrou, desbloqueou a tela e mandou uma mensagem para Hoseok. Sem esperar uma resposta, enfiou o aparelho no bolso da calça e saiu do quarto às pressas. Ignorando as consequências, correu até a garagem, pegando a chave de uma das motos do pai. Sem olhar para trás, deixou o lugar a toda velocidade, seguindo para onde se sentiria mais segura.
Hoseok demorou um pouco para chegar ao estúdio de dança. Ao adentrar a sala onde costumava ensaiar com o grupo, olhou para todos os cantos desesperado, procurando pela amiga. Soltou um suspiro aliviado ao avistá–la ao fundo da sala, sentada no chão com o rosto escondido entre os joelhos.
– ! – a chamou, indo até ela.
Assim que ouviu a voz dele, a garota ergueu o rosto. Pensou por um momento que ele não viria, mas não deveria ter duvidado. Hoseok sempre estava lá quando ela mais precisava. Levantando–se, correu até o amigo e o abraçou, sendo imediatamente amparada por seus braços firmes.
– O que houve? – perguntou preocupado. – Recebi sua mensagem e vim assim que pude.
– Eles vão me mandar para os EUA. – respondeu de uma vez.
– Como assim? – franziu o cenho.
– Meu pai disse que vou terminar os estudos lá. – se afastou um pouco para olhá–lo nos olhos.
– Vai durar muito tempo? – a olhou com tristeza.
– Mais do que eu gostaria. – balançou a cabeça para os lados. – Hoseok, eu não quero ir.
– Ei, vai ficar tudo bem. – sorriu sem mostrar os dentes.
Continuaram a se encarar, até que ele se afastou, indo até o aparelho de som. Tirando o celular do bolso, os conectou via Bluetooth e entrou na playlist, escolhendo uma música. a reconheceu logo, agradecendo pela melodia que chegou aos seus ouvidos.
Sem dizer nada, o rapaz foi até ela, segurando suas mãos. Mantendo os olhares conectados, começou a conduzi–la numa dança lenta. Logo estavam em sincronia, continuando a dançar pelo restante da noite. Perderam a noção do tempo, mas nenhum deles se importou, permitindo que toda a frustração fosse mandada embora por meio dos movimentos de seus corpos suados.
Quando uma música mais lenta começou, a dupla também diminuiu o ritmo. Caminhando em círculo, foram se aproximando até estarem a poucos centímetros. Ao mesmo tempo, passaram um dos braços na cintura do outro e isso terminou a distância que existia. Com os rostos próximos, sentiam a respiração descompassada causada pelo movimento e o toque aumentou a temperatura consideravelmente.
Hoseok se inclinou em sua direção e dessa vez, não se esquivou. Fechando os olhos, permitiu que seus lábios se encontrassem, sentindo o corpo amolecer ao seu toque. Parando o movimento que faziam, ele a puxou pela cintura, levando uma das mãos até sua nuca, aprofundando o beijo.
A garota poderia buscar uma forma de descrever o que sentia, porém, as palavras certas pareciam não existir. Sonhou com aquilo por anos e, agora que Hoseok lhe tocava, poderia morrer feliz.
Separaram–se apenas quando o ar faltou, encostando as testas suadas. Apesar do momento de tensão anterior, foi inevitável que não sorrissem. O brilho nos olhos era uma evidência de que compartilhavam a mesma euforia.
– Me desculpe. – ela murmurou.
– Pelo quê? – perguntou confuso.
– Por fazê–lo esperar todo esse tempo. – mordeu os lábios.
– Valeu a pena! – lhe lançou uma piscada.
Sorrindo, a beijou mais uma vez e teve a mesma sensação de antes. Estava nas nuvens, como se voasse e nunca pudesse cair. Decidiu se esquecer da realidade por um momento, para aproveitar apenas aquele instante com ele.
Após o ocorrido, conseguiu forças para continuar graças à companhia de Hoseok. Não via a hora de estar com ele para que pudessem dançar e passar um tempo juntos. Arrependia-se apenas de ter esperado tanto para assumir o que sentia. Ainda que temesse a reação dos pais, decidiu aproveitar o quanto podia.
Os dias passaram depressa e, enquanto continuava a se dedicar aos estudos, arranjava tempo para acompanhar o ensaio do grupo do amigo. De tanto observá–los sabia a coreografia inteira e ela era incrível. Eles planejavam realizar um flashmob num dos parques no centro da cidade e tudo seria transmito ao vivo pela internet. Faltavam apenas algumas horas para o evento e ela iria ao local para apoiá–los.
Era fim de semana e estava com sua colega numa biblioteca terminando a pesquisa para a semana seguinte. A todo o momento olhava para o celular para que não perdesse a hora. Sua colega mantinha os olhos nos livros, anotando vez ou outra algo no notebook, mas parou de repente com um sorriso.
– Ouvi dizer que um grupo de dança se apresentará hoje no centro da cidade. – a garota disse com entusiasmo.
– Como sabe disso? – franziu o cenho.
– Todos estão comentando no campus, pois alguns membros estudam na nossa universidade. – explicou. – Inclusive aquele seu amigo.
– O Hoseok. – sorriu. – Sim, eles vão dançar.
– O que acha de irmos até lá ver? – se ajeitou na cadeira. – Tem uns garotos bonitos lá.
– Por que não? – riu abafado.
Aquela era a chance perfeita. Não precisaria inventar uma desculpa para ir embora. Continuaram mais um pouco e vinte minutos antes da apresentação começar, deixaram a biblioteca, seguindo para o parque.
Sentaram–se num dos bancos que ficava de frente para uma grande área aberta, onde várias pessoas passavam distraídas com seus afazeres. Aguardaram alguns minutos até que observou um casal de aproximar. Eles vinham distraídos ao mesmo tempo em que conversavam. Sorriu entusiasmada quando os reconheceu e cutucou a colega.
– Vai começar. – sussurrou para que ela ouvisse.
A garota olhou para frente procurando o grupo, mas ela não apontou, pois não queria estragar a surpresa. O casal parou no meio dá área e uma música alta surgiu próxima. Contagiados pelo ritmo, começaram a dançar em sincronia e logo mais pessoas se juntaram a eles. Não demorou a que expectadores se reunissem em volta para observar.
segurou a alça da mochila com força quando avistou Hoseok. Usando uma calça larga e uma regata branca, virou o boné para trás e tomou a frente do grupo. Antes que começassem uma nova sequência, seu olhar se cruzou com o da amiga, sentada a poucos metros. Com um leve acenar de cabeça, a chamou para se juntar a eles.
Engolindo seco, hesitou por alguns segundos. Todavia, era hora de fazer algo. Puxando o ar para os pulmões, tirou a mochila do colo e a entregou para a amiga ao seu lado.
– Segura pra mim, eu já volto. – disse e se levantou.
Correu até o grupo, sendo recebida com um largo sorriso de Hoseok. Parou ao lado dele, assumindo a primeira linha da coreografia. Quando a nova batida começou, dançou como se o mundo fosse acabar naquele mesmo dia. Em determinado momento, os outros se afastaram e apenas os dois ficaram na frente, liderando a dança.
Pela primeira vez se apresentava para tantas pessoas. Mesmo que não fosse nada oficial, finalmente, podia mostrar seu verdadeiro talento. Permitindo que cada músculo fosse usado, executou os movimentos como se tivesse nascido para fazê–los. Não se lembrou de nenhum problema. Naquele instante era livre.
Quando a última batida foi ouvida, uma salva de palmas veio da multidão em volta e eles se curvaram em agradecimento. Com um sorriso de orelha a orelha, Hoseok a abraçou com força, compartilhando a felicidade do trabalho bem–sucedido.
– Conseguimos! – a levantou por alguns segundos. – Nós conseguimos!
– Foi incrível! – gargalhou com a atitude dele.
Após alguns minutos, a multidão se dispersou e os dançarinos resolveram sair para comemorar. pensou em acompanhá–los, mas várias chamadas perdidas em seu celular a fizeram mudar de ideia. Suspirando, foi até Hoseok para se despedir.
– E então, você e sua amiga vêm com a gente? – perguntou com um sorriso.
– Preciso resolver uma coisa antes. – disse apenas.
Sem mais, o beijou de leve e voltou até a colega, que decidira ficar, avisando que estava indo para casa. Depois de pegar um táxi, foi deixada na porta, pagou o motorista e deixou o veículo após tomar coragem.
Com a mochila pendurada no ombro ela adentrou o lugar, seguindo para a sala de estar. Foi ali que encontrou o pai sentando em uma das poltronas e apoiado em seu colo estava um notebook com algo que ele assistia com atenção. Pela música ao fundo ela soube exatamente o que era.
O homem logo a percebeu no cômodo, encarando–a por cima da armação dos óculos. permaneceu parada a poucos metros, pois sabia que ele não tardaria a falar.
– Poderia me explicar o que significa isso? – questionou, virando o notebook para a filha.
A imagem era a do flashmob que ela havia participado com o grupo de dança. A live havia ficado salva para quem quisesse assistir, inclusive seu pai. Mordendo os lábios, tentou prender o riso que ameaçou escapar, sem saber porque queria rir justamente naquele momento.
– São pessoas dançando. – Deu de ombros.
– E você sabe que não gosto de rodeios – deixou o aparelho sobre a mesa de centro. – Então vamos ser breves.
– Como eu disse, são pessoas dançando. – Repetiu. – Inclusive eu.
– Eu deveria saber que um dia aquele garoto baderneiro conseguiria influenciá–la! – Tirou os óculos, passando a mão nos olhos. – Deveria tê–la mandado para os EUA antes.
– Hoseok não tem nada a ver com isso. – se aproximou, deixando a mochila no sofá ao seu lado. – Eu danço porque é o que amo fazer.
– Acho que não entendeu a questão. – A encarou com uma expressão firme. – É o futuro da nossa família que está em jogo.
– Sei muito bem disso e vou cumprir o meu papel – disse, com convicção. – Vou para os Estados Unidos e terminarei meus estudos para voltar e assumir meu lugar na empresa.
Vendo a expressão do mais velho se amenizar um pouco, sentou–se na ponta do sofá e cruzou as mãos suadas de ansiedade, mantendo–as sobre o colo.
– Eu me importo com minha família, mas também comigo mesma. – continuou. – É por isso que não vou desistir dos meus sonhos.
– E o que isso significa? – A desafiou com o olhar.
– Significa que continuarei dançando. – Sorriu para ele. – Sei que deseja o melhor para mim, mas deveria parar por um segundo e ver o que realmente quero.
Se erguendo, foi até o notebook e o virou de volta para o pai. O vídeo da apresentação ainda passava na tela.
– Pai, eu nunca me senti tão feliz na vida como hoje e ninguém vai tirar isso de mim. – Sacudiu a cabeça. – Espero que entenda.
Sem esperar uma resposta, lhe deu as costas e fez o caminho até a garagem, onde pegou a moto, colocou o capacete e dirigiu de volta para onde os amigos estavam. Em seu peito parecia haver uma dinamite prestes a explodir após finalmente ter tomado uma posição. Havia conseguido sua própria liberdade. Não esperava que seu pai a compreendesse, mas ele não podia obrigá–la. Ninguém poderia.
Estacionou a moto em um lugar apropriado e tirou o capacete, seguindo para dentro da lanchonete lotada de dançarinos. Sorriu ao ver a imagem pelas janelas de vidro e, antes que entrasse no local, Hoseok acenou para ela. Ele saiu do local a fim de encontrá–la.
– Pensei que tivesse ido para casa. – Franziu o cenho.
– E fui. – Balançou os ombros. – Mas resolvi voltar.
– Então vamos entrar. – Segurou sua mão. – Precisamos comemorar.
– Precisamos mesmo. – Concordou.
Hoseok a conduziu para dentro e se sentou ao lado de sua colega, que já havia se enturmado com o grupo. Em meio a uma conversa calorosa e divertida, ela riu como nunca antes. Seu coração estava leve, pois pela primeira vez na vida ela tinha a sensação de estar, finalmente, livre.
END
Nota da autora: Sem nota.
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