Resident Evil - Incubação

Capítulo 20

Após o encontro com Ada ao sair da cabana, Luis Sera tinha agora a missão de encontrar a amostra. Teria de conseguir para dá-la à espiã e poder sair daquele lugar enquanto era tempo. Fora por muito pouco. Quase morreu. Nunca pensou que teria de enfrentar tantos aldeões ao mesmo tempo. Parecia que nunca iria terminar. Entravam camponeses de todos os lados, por todas as janelas. Apesar de não terem armas de fogo, eram extremamente perigosos, devido ao grande número e principalmente, por causa das plagas. O parasita os deixava mais fortes, rápidos e insensíveis à dor. Sem contar que ele saía de dentro da cabeça dos aldeões depois que seus hospedeiros morriam, fazendo com que os corpos deles continuassem se movimentando até que o parasita fosse morto. Era um desafio muito maior. Mas estava vivo. Isso é o que importava. E teria de encontrar a amostra.
Mais uma vez, Luis Sera se embrenhou na mata para encontrar um caminho alternativo para chegar à saída do povoado. Sera sabia que não seria seguro tomar um dos caminhos indicados para chegar ao seu objetivo. Seriam dois: um deles estava protegido por um exército de aldeões, os ganados. O outro, pelo gigante. Fosse como fosse, teria de conseguir a amostra. Sem ela, não conseguiria sair dali. A amostra era o seu passaporte para fora de El Pueblo. Por outro lado, Sera sabia que seria necessário destruir Los Illuminados, pois uma vez que Osmund Saddler conseguisse seu objetivo e espalhasse o parasita pelo mundo, nenhum lugar mais seria seguro. Sera seguiu pela floresta, até chegar ao local onde ficava o portão que dava acesso à saída do vilarejo.
Não encontrou um único aldeão, pois todos estavam no caminho por onde Leon passaria. Saiu então, em uma área onde havia um enorme penhasco, com duas montanhas ligadas por uma espécie de ponte. Sera atravessou-a, observando tudo o que poderia encontrar. Parou em frente a um enorme portão de madeira, com um rosto esculpido em alto relevo. Ele tinha uma cópia do olho de cristal de Bitores Mendez, que servia de chave para abri-lo. Só que tinha de encontrar a amostra. E para isso, iria a um local onde desconfiava que poderia atingir seu objetivo. Teria de pegar o teleférico, descer ao lado da sala de controle, descer dois lances de escada e ir até um celeiro abandonado, que Mendez usava para guardar seus veículos. Lá, poderia estar escondida a amostra dele. Sim, Bitores Mendez tinha uma amostra da praga controladora. E só havia aquele local ainda que não fora vasculhado por Sera. Tinha de estar lá.
O pesquisador seguiu, olhando atentamente para os lados. Ao cruzar a ponte natural que ligava as duas montanhas de pedra, olhou para o lado de baixo. O terreno se estendia por uma descida à direita, até uma casa com tijolos à vista e um telhado de zinco. Mais à frente, tinha um grande portão de madeira. Luis Sera não desceria até lá, pelo menos não por enquanto. Não queria perder tempo. Iria ao local onde seria mais provável encontrar a amostra. Luis então, se dirigiu até a escada à esquerda. Os degraus eram todos em metal. Assim que chegou ao topo da escada, chegou perto do teleférico. Sera chegou à borda e olhou para baixo. Havia aldeões na frente o esperando e não tinha como evitar o combate. Luis recarregou a arma e subiu no bonde. Assim que passou a descer, os aldeões começaram a subir nos bondes que corriam pelo outro lado, subindo, indo em direção ao bonde em que o pesquisador estava. Sera apontou a arma e pensou em como foram burros. Não iriam chegar perto, pois ele iria atirar em todos os inimigos, derrubando-os. E foi como um tiro ao alvo. É claro que Sera não poderia errar, pois se eles chegassem perto, atirariam suas armas, mesmo que fossem armas brancas, como facas, machados e foices. Luis Sera apontou firme para o local onde os aldeões passariam e atirou em um por um, derrubando-os no penhasco. Foi tenso, pois qualquer erro não seria perdoado. No entanto, quando a interminável jornada terminou, Sera desceu do bonde.
O pesquisador olhou rapidamente para os lados. Não viu ninguém. Teria de correr, pois tinha de aproveitar enquanto os aldeões ainda estavam distraídos com Leon e Ada para apanhar a amostra. Precisava chegar ao celeiro antes de qualquer um para apanhar o frasco, que obrigatoriamente tinha de estar lá. Sera correu pelas escadas até o térreo. Eram todas em metal e estavam lisas. O cientista teve de tomar um cuidado especial para não cair. Ao chegar, olhou atentamente para os lados a fim de não ser surpreendido. Luis avançou rapidamente até o portão e tentou abri-lo. Estava trancado, o que era um bom sinal. Ninguém veio ali até então. Sera apanhou a chave, pois até há pouco tempo, tinha livre acesso ao local e o abriu.
Como não viu ninguém, correu o mais rápido que conseguiu. Seguindo a estrada, chegou a um celeiro velho, todo em madeira, com o telhado de zinco. Abriu vagarosamente a porta. Poderia ser uma armadilha. Mas não tinha ninguém ali. Ele correu até as prateleiras que ficavam na parte de baixo. Havia dois pisos, com uma escada de escalar que levava ao nível superior. Tinha muitos barris com combustível para o carro e o caminhão de Bitores Mendez. Sera vasculhou gaveta por gaveta, prateleira por prateleira até encontrar o que estava procurando. Mas não encontrou. Não podia ser. Tinha de estar ali. Se não estivesse, só poderia ser que o próprio Mendez o carregasse. Neste caso, teria de tomá-lo do próprio líder da vila. O que não seria nada fácil.
Sera subiu as escadas e passou para o patamar de cima. Começou a vasculhar todas as gavetas, estantes e prateleiras. Quando chegou a uma que ficava na extremidade oposta, pensou. Só pode estar aqui. Quando puxou a gaveta, viu o frasco. Sim, estava ali. Bitores Mendez não ia arriscar deixá-lo em um local onde pudesse ser pego por outra pessoa. Nem o carregaria junto, pois não iria querer correr o risco de deixá-lo cair. Luis apanhou o frasco e o colocou no bolso da calça. Depois disso, desceu as escadas. Ao chegar perto da porta, ouviu passos e grunhidos. Então, saltou pela janela lateral e ficou observando. Uma mulher com a cabeça enfaixada e uma motosserra. Junto dela, entraram mais dois aldeões. Eles ficariam esperando alguém.
Sera não tinha como ficar ali e lutar, pois não queria arriscar destruir o frasco com a amostra. E tinha de entregá-lo intacto. Então, o cientista se escondeu. Não demorou e uma mulher com um vestido cor de vinho entrou pela porta da frente. Era Ada. A batalha que se seguiu foi facilmente vencida pela espiã. Apesar de a mulher da motosserra ser resistente, em nenhum momento, Ada Wong pareceu ter corrido risco de morrer. Sera entrou no celeiro, mas a espiã já havia saído. Luis foi atrás dela, só que foi cercado por aldeões.
Neste momento, ele sacou a arma e matou dois e correu até o portão que dava acesso à saída. Olhou para os lados, mas não viu ninguém. Colocou a mão no bolso, tentando encontrar a replica do olho de cristal que ganhara, mas não encontrou. Teria de encontrar outro caminho até a saída do povoado. Assim que olhou para trás, viu que havia aldeões chegando e saiu correndo. Eles, no entanto, acabaram entrando em conflito com Ada, que ainda estava nas escadas. Não perseguiram Luis. Ele caminhou até encontrar um ponto onde poderia subir por uma árvore até chegar ao topo do muro. No alto, olhou para baixo e calculou onde poderia saltar com segurança. Depois do salto, estava do outro lado. Após chegar a um local seguro, era só comunicar Ada ou Wesker.
Sera caminhou até a estrada, mas quando estava quase chegando, viu que um grupo enorme de aldeões estava de guarda. O cientista ficou observando o que ocorreria em seguida. Depois de algum tempo, o portão se abriu e Leon cruzou com a filha do presidente dos Estados Unidos. O agente abriu o portão. Isso só poderia significar uma coisa. Ele estava com o olho de cristal de Bitores Mendez. O prefeito da vila estava morto. Leon era realmente osso duro de roer. Mendez era um oponente difícil para qualquer um. O grupo de aldeões cercou Leon, mas o agente conseguiu dar conta de todos. Sera esperou um pouco e se dirigiu até onde o agente estava, mas foi surpreendido por outros aldeões e teve de correr.
Luis correu para o único local que lhe parecia seguro no momento, o castelo de Ramon Salazar. Lá, ele conhecia uma série de passagens secretas. Poderia se esconder. Assim que cruzou a ponte, esperou pelo grupo de aldeões que o seguiu. Alguns ficaram para ajudar no cerco a Leon. Os que vieram, enfrentaram Sera. Então, o pesquisador aproveitou que eles estavam na ponte e não poderiam cercá-lo. Poderia atirar em todos eles. Sera correu até a cabeceira e disparou, de preferência, nos joelhos deles, forçando-os a cair no rio, que passava por baixo da ponte. Os que não caíram, ficaram feridos e Sera correu depois, para derrubá-los. Alguns tentaram atacá-lo, sem sucesso.
Luis entrou no castelo. Passou por um pátio grande, com uma escada ao centro. De momento, era o único caminho que poderia seguir. Ao lado, havia um pequeno abrigo de pedra. Luis pensou em ficar ali, mas logo mudou de ideia. Um grupo de monges desceu. Sera se escondeu. Ouviu eles comentando que alguém havia passado pelo portão e se dirigia ao castelo. Iriam preparar as catapultas. Então, quando menos esperava, dois monges entraram no abrigo. Sera teve de matar os dois, o que atraiu a atenção dos demais. Eles vieram correndo até o local onde o pesquisador estava e bloquearam a porta. Luis, no entanto, conseguiu saltar pela janela antes dos monges o cercarem completamente. Depois, subiu desesperadamente as escadas, até chegar a uma sala redonda com um canhão ao centro.
Chegando lá, conferiu os bolsos para se certificar de que ainda estava com a amostra. Respirou aliviado ao ver que sim, estava. Sera parou um pouco, respirou fundo e resolveu esperar ali. Então, uma luz brilhou, e o cientista se atirou para o lado e uma flecha acertou exatamente o local onde estaria sua cabeça. Por pouco não o pegaram. Mais um grupo de monges o seguiu e ele teve de sair correndo. Ao chegar na parte de cima da escada, entrou por uma porta de ferro. Os monges foram atrás. Luis entrou em uma sala, que estava vazia e esperou que entrassem. Teriam de vir pela porta. Eram uns seis ou sete. Assim que entraram, da extremidade oposta à da entrada, Luis disparou, matando um a um.
Finalmente, os monges pareciam ter diminuído. Depois de um tempo, Luis Sera ficou apenas observando. Não tinha ninguém ali. Mas havia movimentação nos arredores. Os servos de Ramon Salazar estavam à caça de Leon. E com certeza, estariam atrás dele também. O cientista caminhou vagarosamente, olhando atentamente para cada sombra, prestando atenção em cada movimento, em cada som. Mas ouvia apenas neste momento, seus passos, o vento e os corvos. Havia muitos deles empoleirados no alto das torres do castelo.
Então, no alto, em um piso que ficava na altura dos telhados dos abrigos, começou a surgir monges. Dois arqueiros ficaram em posição, alguns com escudos saltaram para o chão. Logo depois, mais alguns com correntes. Luis saiu rapidamente do local antes que o vissem. Assim que atravessou a porta, chegou novamente ao espaço com três portas. A que saiu, uma à sua direita e uma à sua esquerda, sendo esta grande e de madeira que dava acesso ao interior do castelo. A primeira se abriu, e o cientista olhou-a. Se virou para ver quem vinha e se escondeu atrás das saliências da parede. Estava passando por fortes emoções nas últimas horas. E não conseguia chegar em Leon para lhe entregar a amostra. Mas o combinado era entregar para Ada. No entanto, os dois vinham dos Estados Unidos (apesar de Ada ser chinesa) e poderiam lhe ajudar a sair dali. E deviam trabalhar para a mesma organização. Ou não? Tudo bem, mas o agente parecia mais confiável. E de repente, duas pessoas surgiram de dentro da porta. Um homem e uma garota.
Sim, tratava-se de Leon e da filha do presidente dos Estados Unidos, Ashley Graham. Luis respirou. Pelo menos agora não iriam tentar matá-lo. Estava decidido. Iria entregar a amostra para ele. Caso o agente trabalhasse com Ada, tudo bem. Além do mais, tanto Leon, quanto Ashley estavam infectados e corriam risco. Precisavam da amostra com mais urgência do que a espiã. Ela iria passar para eles? Isso ele não sabia dizer. Então, antes que Leon tentasse entrar na porta à sua direita, Sera se dirigiu a eles para entregar a amostra.


Capítulo 21

O castelo era todo em pedra. Estavam em um pátio, com colunas. Havia um pequeno abrigo, que estava vazio. Não tinha ninguém por ali e o silêncio era perturbador. Leon e Ashley começaram a explorar o lugar para ver se havia alguém por ali. Não sabiam se os donos do castelo iriam ser receptivos ou não, mas não poderiam arriscar. Não fazia ideia de quem era aquela propriedade. Além do mais, sabiam que a haviam invadido, mesmo que os donos não fossem inimigos, teriam de dar boas explicações para o fato de estarem ali.
Ao redor, as torres eram enormes. Sim, sem dúvida era um castelo da era medieval, de uma família que habitava a região desde aqueles tempos. Deve haver muitos brasões do lado de dentro e os donos do local devem ostentar sua história com muito orgulho.
Encontraram uma escada. Leon subiu o primeiro degrau e olhou para a filha do presidente.
- Ashley. Não sabemos se este local é habitado por pessoas amigáveis ou não. Em todo o caso, acredito que logo saberemos. Então, vamos com todo o cuidado. Não saia de perto de mim e vamos caminhar fazendo o menor barulho que conseguirmos. Podemos ter sorte, ou não.
- Entendi.
A escada conduziu até uma passarela que levava a uma porta. Toda a estrutura ali era em pedra. A porta era de ferro, vermelha. Assim que cruzaram a porta, começaram a ouvir que havia gente. E Leon não gostou nem um pouco do que ouviu. Estavam falando em espanhol. Falando não, estavam recitando uma espécie de mantra. Ele não o ouvira bem, mas Ashley sim.
- Morir es vivir! Morir es vivir!
Leon olhou para Ashley.
- Morrer é viver. É isso o que estão dizendo. Parece algum culto religioso.
Ashley estava horrorizada. Seu rosto mudou de cor e sua pele ganhou uma tonalidade branca. Leon se aproximou e tocou o rosto da garota. Estava gelada e tremendo. Seus olhos estavam com o horror estampado neles. Ela se virou para o agente, que não estava entendendo muito bem a situação.
- Era isso o que eu ouvia quando estava presa naquela igreja. Este castelo pertence a Saddler.
Perfeito, pensou Leon. Entramos em um castelo e o seu dono seria ninguém menos que Osmund Saddler? Não podia ser. Não podiam ter menos sorte.
- Tem certeza?
Ela demorou um pouco a responder.
- Sim, tenho.
Os dois passaram a andar com todo o cuidado. Sabiam já que não seriam bem recebidos, mas agora não dava mais para sair. Teriam de conseguir se esconder no castelo até o helicóptero chegar. Leon passaria sua posição a Hunnigan para que ela enviasse o resgate ao local certo. Após passarem por uma parede, se esconderam e olharam o que havia em frente. Ashley sentiu um calafrio.
- Leon, são os monges, lembra-se deles? Na igreja. Foi um deles que me infectou.
Sim, Leon se lembrava. Um grupo deles os cercou após a fala nada amistosa com Osmund Saddler na igreja e atiraram flechas neles. Depois, o agente teve de enfrentar alguns que ficaram para trás. Não dava para se esquecer. Então, não daria para usar o castelo como abrigo seguro. Teriam problemas. Muitos problemas. Pelo visto, tinham ido se esconder justamente na sede da organização Os Illuminados. Que falta de sorte, pensou Leon.
Em frente a eles, uma espécie de ponte de pedra ligava dois lados do pátio do castelo. Havia duas escadas, uma de cada lado e sobre esta ponte, dois monges caminhavam, como que fazendo uma espécie de ronda. Não falavam nada entre si, apenas repetiam o mantra “morrer é viver”, enquanto caminhavam sempre no mesmo ritmo, como dois robôs. Leon carregou sua arma e atirou na cabeça de um deles, que caiu morto. O outro parou e ficou um tempo observando de onde poderia ter vindo o tiro. Quando foi sair, foi atingido e caiu morto também. Os dois americanos teriam de seguir.
Seguiram passando por algumas caixas de madeira, até chegar a uma escada, toda em pedra. O agente olhou para trás e fez um sinal para a filha do presidente o seguir. O caminho estava livre, então, os dois apressaram o passo. Era uma escada curva, que levava a um pátio. No entanto, quando chegaram ao topo da escada, Leon parou e olhou para o alto. Estavam sendo aguardados. Um homem com uma túnica vermelha e usando uma cabeça de bode apontou para a direção deles.
- Mate-o!
Ao lado do homem com aquela máscara estranha, havia um monge. Outros estavam em posições estratégicas e ao seu lado, uma catapulta. Eles quase que ao mesmo tempo, colocaram pedras e as atiraram. Quase atingiram o agente americano, mas apenas se chocaram contra as paredes do castelo. Leon olhou e ficou admirado ao ver que sequer abalaram a estrutura do castelo. Que construção forte, pensou ele. Mas não poderia sair dali. Se desse um passo, seria esmagado por aquelas pedras. Teria de dar um jeito. Não poderia também, ficar ali esperando o tempo todo. Seria obrigado a descobrir uma maneira de avançar.
Então, Leon pensou. Eles já estavam com as pedras em posição quando eu cheguei. Mas terão de abastecer novamente aquelas catapultas até poderem atirar novamente e isso deve demorar um pouco. Neste momento, olhou para trás.
- Ashley, vou correr até ali.
Apontou com o dedo para frente.
- Tem que ser rápido, antes que terminem de recarregar as catapultas. Vou tentar acertar alguns deles. Se não der tempo, voltarei o mais rápido que conseguir.
Ashley olhou para cima.
- Tome cuidado Leon.
Ele nem respondeu, apenas deu alguns passos para frente. E a primeira coisa que fez, foi matar o monge ao lado do homem com a máscara de bode. Era o mais próximo. Depois, mirou no outro, para evitar que este ocupasse o lugar do morto. Em seguida, rapidamente, se virou para um segundo monge, que estava tentando se apressar em colocar a pedra no lugar certo para atirar. Demorou muito. Foi atingido e caiu de cima da torre, se espatifando no chão. O terceiro já estava a ponto de atirar, quando Leon observou que havia um galão de combustível ao lado da catapulta, usado para colocar fogo na pedra. Atirou ali e tudo explodiu, matando o monge. O caminho mais uma vez estava livre. Leon se virou para Ashley.
- Vamos, me livrei dos monges que estavam atirando as pedras.
Os dois seguiram em frente. Passaram por uma escada curta. Leon parou. Olhou para a escada.
- Vamos dar uma averiguada aqui. Não quero ser seguido pelas costas.
- Certo.
Leon e Ashley desceram e encontraram uma entrada para um compartimento. Quando entraram, ambos ficaram surpresos com o que viram. Em uma sala arredondada, sem janelas, havia um canhão. Sim, não deveria ser uma surpresa ter um por ali. A final de contas, essas armas eram comuns nessas construções. Mas este parecia estar em perfeito estado. Leon tinha convicção que poderia ser usado, se fosse necessário. Mas estava ali mais como uma peça de museu mesmo. Não achava que os donos do castelo o usassem para alguma coisa nos dias atuais. Saíram da sala. Estava vazia.
- Ashley, vamos seguir em frente. Temos de encontrar um local seguro para que eu possa entrar em contato com Hunnigan e passar nossa localização exata para que ela possa mandar um helicóptero nos buscar.
Ashley ainda estava olhando para o canhão.
- Como? Ah, sim. Vamos.
Os dois saíram da sala e seguiram caminhando até outra escada. Esta, agora era para cima. Depois de um lance de subida, passaram por um portão e seguiram caminhando, sempre com o cuidado de estar atento a qualquer barulho que poderia significar companhia indesejada. Subiram mais dois lances de escada até chegar a um pátio, então, de repente, outra pedra caiu perto de onde estavam. Não acertaram, mas deram um tremendo susto. Leon saiu correndo e antes que os monges que estavam nas torres conseguissem realimentar as catapultas, atirou nas latas de combustível que eles usavam para atear fogo nas pedras. Com a explosão nas duas latas, os dois monges que estavam atirando morreram.
Quando Leon se virou para Ashley para chamá-la, dois monges estavam se aproximando por trás da filha do presidente. Ele apontou a arma na direção dela, que se abaixou. O agente atirou duas vezes e conseguiu matar os dois. A filha do presidente se levantou e ficou olhando para os dois mortos.
- Eu não os ouvi chegando.
Leon se aproximou dela novamente.
- Tem de prestar muita atenção. Como o chão é de pedra, não vai dar para escutar os passos deles. Então, teremos sempre de ficar olhando para trás para termos certeza de que não estamos sendo seguidos.
Leon olhou para o pátio e fez um sinal para Ashley.
- Vamos. Vou dar uma vasculhada. Fique em algum local seguro, de preferência onde eu possa vê-la. Assim que eu perceber que não tem mais perigo, lhe chamo.
- Sim, entendi.
Depois de deixar Ashley para trás, Leon correu até uma pequena casa que havia no pátio. Toda em pedra, com o telhado de telhas de argila e pequenas janelas dos lados, não tinha praticamente nada do lado de dentro, a não ser uma mesinha. Ao entrar, deu de cara com um monge o aguardando. Estava carregando uma enorme foice. Usava uma túnica preta, com um capuz e na cabeça uma máscara de caveira. Quando o agente entrou na pequena casa, ele apontou para o visitante e empunhou a arma. Mas não teve tempo de usá-la. Este estava usando uma máscara que o impedia de ser atingido na cabeça, então Leon mirou no peito do monge, o atingindo mortalmente. Este caiu no chão e não se mexeu mais. O agente ainda vasculhou em algumas estantes presentes no local, mas não encontrou mais nada que pudesse ajudar. Poderia buscar a filha do presidente? Achava que ainda não.
Ao sair, Leon subiu uma pequena escada que levava a um círculo de pedra com um buraco arredondado ao meio. O agente até pensou em olhar o que havia lá em baixo, mas resolveu correr para dentro de outra pequena cabana de pedra que havia a frente, com o teto abobadado. Ao olhar para cima, viu que algo pegando fogo vinha em sua direção e se apressou. Logo que entrou no abrigo, uma pedra pegando fogo se espatifou no chão no lugar onde estava. Foi por pouco. Então, por uma pequena janela no lado do abrigo onde estava, conseguiu ver um monge armando uma catapulta. Iria jogar outra pedra, se tivesse tempo. Leon apanhou a arma e atirou nele. O monge caiu de cima da torre, se esborrachando no chão de pedra. Não iria mais incomodar.
Leon chamou Ashley. Encaminharam-se até uma porta enorme que dava acesso a outra parte do castelo. Porém, estava trancada. E não havia nada por ali que indicasse algum lugar onde pudessem encontrar a chave. O jeito seria voltar àquela casa de pedra para ver se encontravam alguma coisa que pudesse ajudar a abrir aquela porta. Ou de repente dentro daquele buraco circular. Voltaram ao local onde estavam.
Ao caminhar ao redor daquele buraco circular, o agente notou que lá na parte de baixo, estava aquele canhão que eles viram antes. Continuaram circulando a área, até ver que havia uma manivela. Seria para que? O agente americano começou a girá-la. Era muito pesada, mas ele continuou. A filha do presidente estava olhando para o canhão e ficou surpresa com o que viu.
- Leon. O canhão está subindo.
Bem, se ele funcionasse, poderiam explodir a porta. Foi nisso que pensou Leon. Mas a manivela era muito pesada. Estava com dor nos dois braços. Como aqueles monges conseguiam fazê-lo subir? Bem, por um lado, eles estavam infectados com aquela coisa que aparentemente torna as pessoas muito mais fortes. Por outro lado, mesmo nas épocas em que os empregados do castelo não estavam infectados, eles deviam estar em um número muito maior de pessoas. Os braços de Leon estavam doendo muito, mas ele não desistia de trazer aquela máquina para a superfície. Já era possível vê-lo emergir. Pensou no que poderia acontecer se durante aquele tempo alguns monges viessem, mas não apareceu ninguém. Quando estava quase desistindo, viu que o canhão já estava praticamente todo na superfície. Era só tocar mais um pouco. Aquelas poucas voltas dadas na manivela pareceram intermináveis. O agente tinha a impressão que seus braços iam se quebrar, mas enfim, conseguiu. Quando viu o canhão todo, Leon sentou-se no muro que estava atrás dele e soltou os braços. Iria descansar alguns instantes antes de prosseguir o que estava fazendo. Respirou fundo algumas vezes, enquanto a filha do presidente o olhava.
- Cansou Leon?
Ele apenas a olhou e fez um sinal afirmativo com a cabeça. Ashley continuou falando.
- Isso deve ser muito pesado.
- Nem te conto. Parece que meus braços estão quebrados.
Após algum tempo, com os dois olhando para o canhão, Leon se levantou da mureta.
- Bem, não podemos ficar parados aqui. Vamos ver se isto funciona.
Leon observou o mecanismo que aciona o canhão. Havia uma bala dentro do mesmo. O piso sobre onde a arma repousava era móvel, podendo ser girado.
- Ashley, vamos virar o canhão até a porta. Acho que vamos ter de dispará-lo.
- Certo.
Os dois passaram a movimentar o artefato militar. Era extremamente pesado. Para Leon, que já estava com os braços doloridos, foi especialmente difícil. E para ajudar, não sabia dizer o quanto que a ajuda de Ashley fazia diferença. Por fim, conseguiram deixá-lo virado para a porta. O agente calculou mais ou menos a altura em que ele deveria apontar. Não tinha muita experiência com aquele tipo de armamento, mas dava para ter uma noção. Teria de acertar, pois ao que parecia, só tinha uma bala. O agente calculou a distância até a porta, a altura do chão e quando presumiu que estava tudo certo, comentou mais para si mesmo do que para a filha do presidente.
- Bem, é hora de ver se esta belezinha aqui funciona.
Acionou o mecanismo e o canhão cuspiu a bala de aço. O barulho foi ensurdecedor. Tanto Leon como Ashley ficaram com um zumbido estranho nos ouvidos depois do disparo. Ainda abaixados, se protegendo do estouro, ouviram a porta de madeira se quebrando e vários blocos de pedra caindo ao chão. A porta estava aberta. Agora, teriam acesso ao lado de dentro do castelo?
Então, Leon e Ashley desceram a escada e passaram pela porta recém destruída. Para sua surpresa, continuavam do lado de fora do castelo.Tinha outro pátio, menor, mais estreito, rodeado de pedra. Entraram em um corredor que levava a uma porta, de ferro, vermelha. Esta era de tamanho normal. Leon parou perto dela. Procurou ouvir o que poderia estar do outro lado. Os monges ficavam falando aquela frase o tempo todo, então pensava que não seria problema detectá-los. Mas não ouviu nada. Abriu a porta com todo o cuidado. Olhou primeiro para se certificar que não havia ninguém e passou. Ashley foi junto. Não havia ninguém mesmo do outro lado da porta. Assim que entraram, o transmissor de Leon tocou. Era Hunnigan. Teria alguma boa notícia? Leon esperava que sim.
- Leon, qual é a sua posição atual?
- Fomos cercados por aldeões na saída do vilarejo e decidimos nos abrigar em um castelo, mas ao que parece, não foi uma ideia das melhores.
- O que o faz pensar assim?
- Ao que parece, este castelo tem alguma ligação com a seita “Los Illuminados”. Ao que parece, eles não têm o hábito de receberem visitas. Bem, pelo menos não nos deram uma recepção das mais amigáveis. - Parece ruim. Tenho uma ideia Leon. Preciso que você…
Parou de falar. Leon não conseguia ouvir mais nada, apenas estática. Sim, só podia ser que o sinal havia caído. Perfeito. Por enquanto, teria de seguir sem comunicação. Sem se comunicar com Hunnigan, não teria como passar a posição onde estava. E sem passar a posição onde estava, não teria como ser socorrido. Resumindo: estavam em uma área estranha, hostil, sem contato com seus superiores e sem possibilidade de receber socorro enquanto não conseguisse restabelecer o sinal. Teriam de sobreviver até as condições melhorarem. Mas não parecia que seria fácil. Leon guardou o transmissor. O agente olhou para Ashley, que estava com uma expressão de desapontamento.
- Há algo errado Leon?
O agente não queria ter de falar, mas não teria jeito.
- Tenho péssimas notícias.
Ashley baixou a cabeça. Não parecia que teriam boas notícias por enquanto.
- Quais são as novidades?
- Bem, parece que perdemos contato com Hunnigan, que era quem me passava as instruções. Era para ela que eu estava dando a localização para que mandassem uma equipe de resgate. Ou seja. Enquanto não conseguirmos recuperar o sinal e o contato, não virá ninguém nos resgatar.
- Não acredito.
- Bem, como não tem outra saída, teremos de dar um jeito de sair daqui. Vamos precisar nos cuidar. Fique sempre perto de mim.
Leon abriu cuidadosamente a porta. Não havia ninguém do outro lado. Tudo estava quieto. Os dois entraram na sala. O agente primeiro deu uma observada geral com os olhos e não viu nenhum movimento suspeito. Estavam em uma sala pequena. Não havia quase mobília no local, apenas uma pequena mesa no centro. À esquerda, um quadro com um retrato de uma mulher. À frente, um candelabro, com uma espada encaixada em uma placa. A espada era prateada e a placa dourada, o que deixava um contraste estranho. A espada parecia não pertencer àquela placa. À esquerda dos dois, uma escada de pedra.
O agente chegou ao primeiro degrau e olhou para Ashley.
- Fique atrás de mim. Vamos subir com cuidado. Não sabemos se tem alguém ali em cima.
Começaram a subir. Não havia nenhum barulho. Estava tudo muito quieto. Mas não poderiam simplesmente subir correndo e cair em uma cilada. Teriam de olhar bem qualquer local antes de entrarem. Leon foi subindo e olhando sempre para cima. Ao conseguir colocar a cabeça sobre o piso do andar de cima, viu pés. E ouviu:
- Mata-o.
Sim, havia monges ali. O agente recuou. Quantos estariam ali o esperando? Primeiro, desceram dois. Leon atirou na cabeça deles, mas o primeiro a ser atingido, teve a cabeça partida ao meio e de dentro dela saiu aquela criatura. O monge continuou caminhando, mesmo estando morto, agora comandado por aquele estranho ser. Este tinha agora uma aparência diferente. Era verde, como uma centopeia grotesca que brotava do pescoço daquele monge. Leon teve de atirar duas vezes naquela coisa. No segundo tiro, ela explodiu e saiu uma coisa que deveria ser sangue, mas era verde. O monge caiu inerte no chão. Estava morto definitivamente. Um terceiro monge surgiu e este foi abatido com um tiro na cabeça.
Leon subiu as escadas. Na parte de cima, logo que chegou, viu algumas bandeiras pequenas de pano penduradas. Eram em formato de triângulo, amarelas no interior, com as bordas vermelhas e um desenho no interior que parecia com aqueles que simbolizavam a seita religiosa. Lanças escoradas nas paredes enfeitavam o lugar. O agente caminhou para a direita e se virou para trás. Havia uma estante ao fundo e uma cama de solteiro. Então, ouviu a porta do andar de baixo se abrir e uma voz dizendo:
- Ali está.
Teria de descer rapidamente, pois Ashley estava na parte de baixo. Esquivando-se dos ataques dos monges, conseguiu descer as escadas e chegar até o local onde a filha do presidente estava. Ali também estava aquele que deveria ser uma espécie de líder daqueles monges, pois usava uma roupa diferente dos demais. Todos estavam de túnica preta com capuz. Este estava de túnica vermelha e sem capuz. Era careca. Todos usavam um cordão amarrado na altura do quadril. Quem os visse, juraria que se tratava de uma ordem católica. Mas não eram. Dois deles desceram ajudar o líder. Carregavam um bastão com uma corrente e uma bola com espinhos na ponta. Leon atirou na cabeça dos dois e torceu para que aquela criatura não saísse da cabeça delas. Desta vez deu sorte. Sobrou só o da túnica vermelha. Quando atirou, a cabeça dele abriu e aquela centopeia monstruosa brotou do pescoço dele. Leon saiu correndo para fora do alcance daquele ser. Atirou duas vezes nele até vê-lo explodir. Então, o monge caiu sem vida no chão.
Subiram novamente ao andar de cima. Agora, viraram à esquerda. Viram alguns brasões presos à parede. Um deles era vermelho com desenhos amarelos ao centro. Pareciam leões. O outro era branco nas bordas com o inferior azul e vermelho, formando uma espécie de bandeira. Ao lado da escada havia uma mesa com algumas cadeiras ao redor da mesma. Uma bíblia estava colocada sobre ela. Na parede à esquerda do cômodo, outra placa. Esta era prateada com uma espada dourada. Leon ficou caminhando pelo cômodo procurando alguma porta que desse para fora. Não havia nada. A única maneira de sair dali era pela porta da frente. Só que saindo por onde entraram, iriam apenas ao mesmo pátio onde estavam. E não havia como chegar a nenhum outro lugar do castelo. Só podia que havia alguma passagem secreta na sala onde se encontravam. Leon teria de ver algo que lhe chamasse a atenção.
Foi então que sim, havia uma coisa que poderia estar fora do lugar. E se trocasse as espadas? Elas estavam trocadas. A dourada estava na placa prateada e a prateada, na dourada. Se trocasse as duas espadas de lugar? Bem, o máximo que poderia acontecer era ficar tudo quieto. Por outro lado, poderia dar certo. Apanhou a espada dourada e levou-a para a placa no andar de baixo. Retirou aquela e trouxe para a placa da parte de cima. Quando colocou a segunda espada no lugar, uma parte da parede se deslocou para o lado esquerdo, revelando uma porta de ferro vermelha. Sim, era por ali que sairiam do cômodo.
Leon abriu a porta e ambos saíram. Do lado de fora, tudo estava quieto. Havia apenas outro espaço aberto, com paredes em pedra e um arco à frente. O agente e Ashley caminharam e chegaram a um local mais alto, que dava para ver onde estavam antes. Não havia ninguém ali. Dava para ver duas portas. Uma de ferro, pequena e outra de madeira grande. A primeira ficava à frente dos dois. A segunda, à direita. Então, alguém veio correndo de trás deles. Leon se virou rapidamente, mas antes de ver quem era, ouviu.
- Leon.
O agente se virou surpreso.
- Luis? Não esperava vê-lo aqui.
Luis Sera caminhava com um ar triunfal.
- Tenho uma coisa vai interessar a vocês dois.
Ao dizer isso, ele colocou a mão nos bolsos da calça. Procurou um tempo e fez uma expressão de decepção.
- O que? Não pode. Que merda. Devo ter deixado cair quando estava fugindo deles.
Ashley chegou perto de Sera.
- O que você deixou cair?
O cientista estava desolado ao responder:
- A amostra. Poderia ser usada para curá-los.
Sera olhou para a filha do presidente. Apanhou um pequeno frasco com comprimidos metade branco e metade vermelhos. Entregou a Leon.
- Um remédio para acalmar os sintomas de vocês.
Sera então, olhou para os dois antes de continuar.
- Veja bem. Eu sei que vocês são hospedeiros. Têm tossido sangue, certo?
Neste momento, Leon e Ashley se olharam e não disseram palavra, apenas assentiram com a cabeça. Sera meneou a cabeça.
- Como eu desconfiava. Os ovos chocaram. Não temos mais muito tempo.
Dito isso, ele se virou de costas para os dois. Leon chamou-o de volta.
- Luis, do que você está falando?
Sem se voltar para os dois, Sera respondeu:
- Tenho de voltar e buscar o remédio. Antes que seja tarde.
Neste momento, Ashley saiu correndo em direção a Luis Sera.
- Deixe-me ir com você. Eu ajudo a encontrar.
Sera olhou-a de canto de olho.
- Não, fique aqui com Leon. Ele leva mais jeito com garotas do que eu. Tenho certeza.
Ao dizer isso, Luis Sera deu um pequeno sorriso. Depois saiu caminhando. Leon ainda chamou-o.
- Por que Luis?
Sem parar, nem olhar para trás, Sera respondeu:
- Faz com que eu me sinta melhor. Trabalho bem sozinho. Vamos parar por aqui.
Então, Luis Sera foi caminhando pelo pátio até sumir da vista de Leon e Ashley, que ficaram apenas observando. O que estava acontecendo com eles? O que Sera queria dizer quando mencionou que não teriam mais muito tempo? O que ele sabia? Leon começou a se questionar se aquele homem era simplesmente um ex-policial da capital espanhola. Ele parecia saber muito para ser só isso. Mas, de momento, ele, Leon tinha muitos outros problemas para se preocupar.
O agente fez um sinal para que Ashley o seguisse se dirigiram até uma grande porta de madeira. Havia duas tochas dos lados, iluminando a entrada do castelo. Leon tentou abri-la, mas estava trancada. Ele já estava desconfiado disso. Como nas outras vezes, teria de ir a outro local encontrar a chave. Olhou para a esquerda e viu a porta de ferro pequena. O jeito seria entrar lá. Primeiro, se virou para a filha do presidente.
- Ashley. Espere aqui. No momento não tem ninguém. Se aparecerem aqueles monges, grite. Se esconda ou corra para onde eu estou. Mas tenho razões para crer que aqui será mais seguro. Eu não pretendo demorar. Depois de me certificar que pode vir, venho e a chamo. Certo?
Ashley estava visivelmente nervosa, mas assentiu com a cabeça. Leon procurou acalmá-la.
- Não pretendo me demorar. Voltarei assim que conseguir.
A filha do presidente apenas concordou com a cabeça. Leon abriu a porta e deu uma olhada para o outro lado, recuando. Havia dois monges com aquelas correntes que prendiam uma bola com espinhos na extremidade. Os dois vieram correndo. Leon conseguiu atirar na cabeça dos dois e para sua sorte, aquela espécie de centopeia não saiu da cabeça deles. Entrou nesta parte do pátio do castelo. Havia, à direita uma casa de pedra. A porta abriu e mais um monge saiu de dentro dela. Estava desarmado, então o agente correu até ele e o surpreendeu com um golpe na cabeça. Depois, deu uma chave de braço no pescoço do monge, quebrando-o. Não foi preciso gastar munição para se livrar deste. Também não fez barulho.
Depois, Leon não entrou pela porta da frente da casa. Deu a volta e entrou pela porta de trás. Havia dois monges o esperando, mas olhando para a porta da frente. Foram surpreendidos. Nem tiveram tempo de se virar. O agente deu um tiro na cabeça de cada um deles. Os dois caíram mortos. Dentro da casa havia lanças escoradas nas paredes, vários brasões pendurados e uma mesa ao centro. De cada lado tinha uma janela, bem como uma ao lado da porta da frente. Por ela, Leon observou o lado de fora e viu que um arqueiro estava apenas aguardando a hora em que ele saísse. Então, carregou a arma, fez mira e atirou no arqueiro, que caiu morto. Poderia sair agora.
O agente seguiu. Passou por um túnel de pedra até outra parte do pátio. Veio mais um monge com um escudo de madeira. O jeito foi usar a cabeça. Deu um tiro no pé do monge, que caiu de frente. Feito isso, Leon apanhou sua faca e acertou a nuca do seu atacante. Pronto. Livrou-se de mais um. Veio mais um monge. Este com aquela arma com a bola de espinhos na extremidade. Deu um tiro na cabeça. O monge caiu morto.
Havia outra casa de pedra. Leon abriu a porta. Como de costume, não tinha ninguém ali dentro. Tudo estava quieto. Uma escada de dois degraus levava a uma espécie de tablado com um cercado de madeira. Ao centro deste tablado havia uma mesa. Lampiões iluminavam a sala. O agente observou a existência de um barril de combustível. Era usado para acendê-los, com certeza. Instintivamente, Leon colocou-o ao lado da porta. Depois, subiu ao tablado. Então viu algo muito importante. Uma chave. Devia abrir a porta de entrada do castelo. Mas por que estava ali? Parecia que ela o estava esperando. Assim que a apanhou, a base onde a chave estava posta subiu, a porta se abriu. Devia contar algum alarme.
Vários monges entraram. Leon imaginava que algo assim fosse acontecer. Então, deu um tiro no barril de combustível que explodiu, matando os monges. Sobrou apenas um, ferido. Leon se aproximou dele e abreviou seu sofrimento. Agora, poderia entrar no castelo. Saiu daquela casa de pedra e se dirigiu novamente até onde estava Ashley. Ela havia se escondido.
- Ashley, tudo certo. Consegui a chave para entrar no castelo.
Ela apareceu.
- Muitos monges passaram por aqui. Eu me escondi atrás dessas colunas e eles sequer pararam para me procurar. Acho que estavam apressados. Todos entraram por aquela porta. Fiquei com medo que o matassem.
Leon ficou pensando um pouco antes de responder.
- Mas agora eles não irão mais incomodar. Vamos entrar e ver o que tem dentro do castelo.
Abriram a porta e entraram. Depararam-se com uma sala ricamente ornamentada. O chão era coberto por tapetes cor clara com detalhes em marrom, vermelho e azul. As paredes e duas colunas em frente aos dois visitantes eram cobertas por lajotas de porcelana cor creme com detalhes marrons nas extremidades. Quatro tochas, duas de cada lado de um tapete central ficavam em frente a uma escada, que levava a um patamar superior. Vasos de cerâmica enfeitavam a sala. Nesta parte elevada, havia uma espécie de altar. O teto ali era mais baixo, com um segundo piso sobre ele. O segundo piso era fechado, com as paredes combinando com o restante da sala. Havia uma porta, com cortinas azuis claro, presas dos lados desta. Em frente, uma sacada arredondada, com uma espécie de cercado em madeira. No entanto, não tinha ninguém ali. Para piorar, quando pisavam nos tapetes, dava para ouvir seus passos. Leon e Ashley caminharam até a escada, tomando o cuidado de sempre olhar para trás. Não podia ser que não haveria ninguém ali os esperando. O agente olhou atrás das colunas. Nada. Deveria cuidar atrás das paredes, dos vasos, das portas. Alguém poderia sair dali e os surpreender. Mas não se ouvia qualquer barulho além dos passos deles. Quando pararam, era possível ouvir a respiração. Leon estava ofegante. Prepararam-se para começar a subir as escadas. De repente, ouviram uma gargalhada. De onde vinha? Os dois olharam rapidamente para os lados, mas não era possível precisar a origem do som. Sim, vinha de cima. Leon e Ashley olharam ao mesmo tempo para aquela sacada sobre eles. De repente surgiram três pessoas.
Tratava-se de dois homens altos, vestindo túnicas, uma preta e outra vermelha. Não era possível ver o rosto deles, pois estavam de capuz. Mas dava para ter quase certeza que os olhos deles estavam brilhando sob a cobertura. No meio deles, um terceiro homem. Mas este era baixinho. Não chegava nem na cintura dos dois. Mas era o chefe, isso era possível ver, somente pela postura e pelo jeito de caminhar e falar. Vestia um casaco lilás e uma calça da mesma cor. Era louro e usava um chapéu que combinava com a vestimenta. Sua voz era extremamente aguda e irritante. Apareceu e se postou em frente aos dois homens altos, bem perto do cercado e ficou encarando os dois visitantes alguns segundos. Então, resolveu dar as boas vindas aos dois.
- Eu estava começando a me perguntar quanto tempo iria levar até nos notar.
Leon encarou o homenzinho.
- Quem é você? O pequeno homem fez um gesto apontando para si mesmo, depois fez uma reverência, como os nobres costumam fazer ao se apresentar.
- Me chamo Ramon Salazar. O oitavo proprietário desta incrível obra arquitetônica.
Ao falar isso, fez um gesto com as mãos em direção ao castelo. Depois continuou falando.
- Fui honrado com o extraordinário poder conferido pelo grande Lorde Saddler. Eu estava esperando por vocês, meus irmãos.
- Agradeço a espera, mas não me considero seu irmão.
Salazar fez um sinal negativo com a cabeça.
- Minha nossa. Temos uma pessoa mal humorada entre nós. Que lástima. Se você se importar com seu próprio bem estar, sugiro que se renda e torne-se nosso hóspede. Senhor Scott, pode nos entregar a garota de modo pacífico ou lutar. O senhor é que sabe, pois para nós você não vale um centavo sequer. Apenas ela. Se resistir, não teremos clemência, pois você pode morrer.
Enquanto falava, Salazar caminhava em frente aos dois homens que o seguiam com o olhar. Ao terminar, deu um sorriso para os dois visitantes que estavam na parte de baixo da sala. Depois, deu meia volta e entrou pela porta. Os dois o seguiram, deixando Leon e Ashley sozinhos. A filha do presidente puxou o agente pelo braço.
- Eu não vou me tornar um deles. Nunca.
Leon não sabia muito bem o que dizer. Queria poder acalmá-la, mas não tinha um único elemento que pudesse usar como prova de que realmente ficariam bem. Mesmo assim, falou apesar de nem acreditar muito no que dizia.
- Tudo vai ficar bem. Nós vamos encontrar a cura.
Os dois caminharam até a escada e a subiram. Teriam de chegar até onde Ramon estava para segui-lo. Tinham de conseguir sair dali. Quando chegaram à parte de cima da sala, o chão começou a tremer. Do nada, uma parede surgiu do chão bloqueando a passagem de Leon e Ashley. Parecia ser uma placa grossa de bronze com uma gravura. Uma em alto relevo e a outra em baixo. Indicava, todavia que poderia se colocar algo para preencher a figura em baixo relevo. Tratava-se de um cavaleiro com uma lança lutando contra uma criatura monstruosa que tinha corpo de leão, mas com uma segunda cabeça como que brotando das suas costas. À direita da placa, no entanto, havia uma porta de madeira. À esquerda havia outra porta, esta era em ferro e ornamentada, de cor azul. A única saída seria a da direita. Seria a única maneira de saírem por outra porta que não a da entrada.
Saíram para um corredor. Da mesma maneira que a sala, também tinha o chão coberto por uma bela tapeçaria. Toda contrastando tons claros e escuros. À esquerda, janelas e uma porta que dava para uma escada que descia a um andar inferior. Pelas janelas era possível ver um salão na parte de baixo. Era vazio, sem tapetes ou qualquer outra coisa que o enfeitasse. À direita. Algumas mesas. Ao centro do corredor existia uma luminária. Dos lados, candelabros e pequenas cômodas com vasos de porcelana, que deviam valer uma fortuna, pensou Leon. E na parede, um quadro enorme de Osmund Saddler. Os dois foram caminhando pelo corredor, ouvindo apenas seus passos e sua respiração. Não tinha ninguém ali. Ao final, viram uma carta, assinada por Osmund Saddler.

“Tenho confirmação de que Sera entrou no castelo. Por que ele retornaria durante sua fuga me leva a questionar seus motivos. Mas devemos aproveitar este momento e capturá-lo.
Vamos pegar os outros dois americanos depois de prender Sera.
Parece que ele levou algumas vacinas quando roubou nossa "amostra". As vacinas não farão falta, mas devemos recuperar a "amostra", que é nosso sangue vital.
Sinto que há mais alguém ou grupo envolvido nisto tudo. Se a "amostra" for parar nas mãos deste outro indivíduo, o mundo que buscamos criar nunca virá. Devemos prender Sera o quanto antes.”


Os dois seguiram para outro corredor que ia para a esquerda do que eles estavam indo. Mas este estava bloqueado. Duas estátuas de cavalos em bronze tinham uma espécie de maçarico na boca e estavam como que cuspindo fogo. Não teriam como passar por ali, a menos que desligassem o fogo. Voltaram. Leon olhou atentamente para todos os detalhes. Tinha de haver algum meio de desligar aquele fogo. Então, algo chamou sua atenção. Em um dos quadros na parede, havia uma chave pendurada. O agente a apanhou. Sim, estava tudo orquestrado. A chave fora deixada ali. Para desligarem aquele fogo, teriam de ir a outra sala, que seria aberta com aquela chave. E seria uma armadilha, com certeza. No entanto, não tinha escolha. Teria de saltar dentro da armadilha. Teriam de fazer o caminho de volta até aquela porta que viram logo ao sair da sala onde conversaram com Ramon Salazar. Com certeza era essa a porta que a chave abriria. Iriam até aquela peça que era possível ver pelas janelas. O que os aguardaria lá em baixo? Para descobrir, teriam de ir até lá.
Ao se aproximar da porta que dava acesso à prisão, Leon foi até uma janela espiar o que teria lá dentro. Não tinha ninguém. O lugar estava vazio. Quando olhou para as celas com o binóculo, no entanto, viu duas coisas. Primeiro viu uma alavanca, que provavelmente desligaria os maçaricos nas bocas dos cavalos para que pudessem avançar pelo castelo. E segundo, um prisioneiro. Estava acorrentado, ao lado da alavanca e parecia ter garras nas mãos. Seria contra ele que teria de lutar? Mas seu possível oponente estava acorrentado. De qualquer forma, era bom tomar cuidado. O agente apanhou a chave do bolso. Então, se voltou para a filha do presidente americano.
- Ashley. Vou descer. Fique aqui esperando. Não vai ser seguro ali dentro. Não deve vir ninguém, pois como nós mesmos vimos, a passagem até aqui está bloqueada por aqueles cavalos cuspindo fogo. A chave para desligá-los, acredito que esteja ali dentro, ao lado daquele prisioneiro. Então, espere por mim aqui. Você vai poder ver tudo o que está ocorrendo lá em baixo pelas janelas. Deseje-me sorte.
Ashley olhou para Leon assustada.
- O que você acha que vai acontecer ali dentro?
- Ainda não faço ideia. Mas tudo leva a crer que se trata de uma armadilha preparada por Salazar.
Ashley arregalou os olhos.
- Boa sorte Leon.
- Obrigado.
O agente se virou para a porta e colocou a chave na fechadura. Ao girá-la, sentiu o “clique” avisando que fora aberta. Era uma porta de ferro azul escuro, com um detalhe em alto relevo na altura da sua cabeça. Era um rosto, que não era muito possível diferenciar se de homem ou mulher. Não era uma figura bonita. Havia algo em volta do rosto que poderia ser o cabelo. Só que se realmente fosse o cabelo, talvez a figura da porta fosse a Medusa. Na verdade, aquele rosto o deixava um pouco inquieto e até assustado. Dava certo medo. Ou o medo seria por saber o que o esperava ali dentro? Não sabia dizer bem, mas certamente o objetivo da gravura ali, não era agradar aos olhos, pois tratava-se da entrada de uma prisão.
Ao entrar na sala, Leon desceu cuidadosamente a escada. Não havia mais ninguém ali, além do prisioneiro. O recinto era um lugar amplo. Além das paredes, só havia uma coluna no centro e três sinos nos cantos, que o agente não fazia a menor ideia do motivo de estarem ali. Qual seria o objetivo de colocarem aqueles sinos dentro de uma prisão? Olhou para cima. Havia vigas de madeira suspensas sob o teto. Mas não havia ninguém por ali. Por acaso seria mesmo uma armadilha? Mas só havia um homem ali e apesar de ter garras nas mãos, estava acorrentado. Leon achou que pouca coisa ele poderia fazer para impedir que puxasse a alavanca. A armadilha deveria ser a própria alavanca. Sim, ela liberava o caminho para outra parte do castelo. Se dava passagem para ir para o outro lado, também o fazia para que quem estivesse lá, pudesse vir. Então, como Salazar devia desconfiar que ele deixaria Ashley fora da prisão, por precaução, ao puxar a alavanca, o fogo seria desligado e aqueles monges viriam correndo atrás da filha do presidente antes que ele conseguisse chegar lá. Pode-se dizer que Leon estava parcialmente certo. Estava errado quando ao nível de perigo representado por aquele prisioneiro. Ele não sabia, mas tratava-se de uma das criaturas de Salazar, conhecido como “Garrador”. Ele já foi um ser humano, mas o parasita Las Plagas inserido no topo de sua coluna, controlando seu cérebro o tornava uma besta furiosa. Os monges costuraram seus olhos, mas os demais sentidos ficaram muito mais aguçados. O Garrador tinha uma força descomunal e uma velocidade sobrenatural. Mas por causa da infecção no cérebro, perdia totalmente o controle de suas emoções e era incontrolável. Atacaria qualquer um, mesmo seus criadores. Por isso ficava preso. Por ser cego, não sabia onde estariam seus alvos. Apenas pela audição. Os monges colocaram sinos para atordoá-lo, pois tendo uma audição super sensível, o barulho provocado por estes objetos era simplesmente insuportável.
Leon chegou perto da cela e foi abri-la. Colocou a mão para abrir a porta e parou por um tempo. Ficou a observar o prisioneiro. Era alto, mais do que o agente. Devia ter cerca de um metro e noventa, nada fora do normal. Não era exageradamente forte, mas tinha músculos. Seria um homem quase normal, não fossem as garras acopladas aos seus braços. É claro que o americano pensou de imediato que certamente este prisioneiro deveria ser um dos resultados dos experimentos realizados pelos responsáveis pela seita dos Illuminados. Como todos os infectados, deve ter uma maior resistência à dor, aos tiros, sem contar em uma grande velocidade. Também deve se lançar ao ataque com aquela mesma fúria cega dos aldeões e dos monges ou até pior. Por falar em cega, algo chamou a atenção de Leon e o deixou ainda mais inquieto. Os olhos do prisioneiro estavam costurados. Sim, ele não enxerga. É claro que nem por isso um possível confronto contra ele seria mais fácil. Leon pensou: “Ainda bem que está preso”. Então, ao forçar a porta da cela, ela caiu, fazendo um barulho alto. Para o Garrador, deve ter sido ensurdecedor. Então, o pior aconteceu. Ele se libertou das correntes, aparentando uma força descomunal.
Leon sentiu o sangue gelar em suas veias. Perfeito. Agora teria de enfrentar aquela coisa para poder desligar a chave. Sim, essa era uma armadilha preparada por Ramon Salazar. Teria de ter muito cuidado. O seu adversário era cego, mas devia ter uma audição muito apurada. Teria de tomar todo o cuidado para não fazer barulhos. Caminhou lentamente para fora da cela. O Garrador saiu caminhando e rosnando. Era assustador. Antes de sair, ele agitou as garras e teria partido Leon e três, caso não tivesse saído. O agente tinha de encontrar uma maneira de neutralizar aquela criatura. Mas como? Se usasse a arma, o barulho denunciaria sua posição. Não poderia errar o tiro, ou esse erro seria fatal. Foi quando o Garrador virou de costas que Leon viu que provavelmente teria só uma maneira de derrotar aquela coisa. Ele usava um capacete de metal, mas às suas costas havia uma coisa. Sim, só podia ser aquelas coisas que controlavam os aldeões, os monges e o gigante. Teria de acertar ali. Se o fizesse, mataria o ser que controla esta criatura. E por consequência, mataria a própria criatura. Então, olhando bem para o local, se deu conta do motivo de terem colocado sinos na prisão.
Sim, esse monstro deve ser terrivelmente violento com quem quer que seja. Tem os olhos costurados para aprimorar outros sentidos. Seria uma máquina de guerra perfeita. Forte, resistente, rápido, praticamente invulnerável e impiedoso. Só que não deve ser fácil controlá-lo. Enquanto isso, o Garrador caminhava de um lado para o outro, tentando escutar qualquer coisa que denunciasse a posição de Leon, mas o agente tomava cuidado até para respirar. Só não controlava as batidas do coração. Até ele mesmo quase podia ouvi-lo batendo. O agente seguiu com o raciocínio. Os monges precisam alimentar essa coisa. Mas o problema é que ele pode ter um acesso de fúria e atacar a todos. Nesse caso, eles precisam de um plano B. Então, como este cara é cego, deve ter uma audição muito aguçada. Os monges tocam o sino e o deixam atordoado. Desta forma, podem prendê-lo e levá-lo para a cela. Só pode ser essa a utilidade desses sinos. E o agente pretendeu usar eles para praticamente a mesma coisa. Mas em lugar de prender o Garrador, iria matá-lo.
Lentamente, Leon se aproximou do sino que ficava à esquerda da porta da prisão. Era o mais próximo. Sacou a faca e mirou no sino. Sabia que assim que fizesse o barulho, teria de sair de perto do artefato muito rápido e sem fazer barulho, pois em questão de milésimos de segundo, a criatura estaria ali com suas garras afiadas, partindo tudo o que estivesse no seu caminho. Mas era a única forma de sair dali vivo. O agente se concentrou e bateu com a parte metálica da faca com toda a força no sino, produzindo um barulho que para ele mesmo pareceu ensurdecedor. Logo depois, saiu caminhando para trás. Com uma velocidade sobrenatural, o Garrador veio com as garras apontadas para frente, em um ataque furioso. As garras passaram a centímetros do rosto do agente, que conseguiu se esquivar e cravaram na parede de pedra, como uma faca quente cravando em um bloco de manteiga. Leon engoliu e sentiu a saliva grossa, quase trancando em sua garganta. Foi por muito pouco. Mas agora, a coisa estava presa. Não estava conseguindo retirar as garras da parede de pedra. Leon apontou seu revolver para aquele ser que estava preso à coluna do Garrador e que certamente controlava suas ações e disparou a queima roupa. Acertou em cheio e o Garrador urrou de dor. Em seguida, Leon saiu de perto. Seu adversário, depois de lutar, conseguiu se libertar. Quase caiu no chão, mas se levantou em seguida.
Leon não acreditava. Teria de repetir tudo novamente. Iria ser muito arriscado, mas não tinha jeito. Foi caminhando com todo o cuidado até o outro sino. Não podia fazer nenhum barulho. Garrador estava não apenas tentando ouvir qualquer barulho. Estava cheirando o ar também. Sim, tentaria localizar sua presa pelo cheiro também, como qualquer caçador faz. Então, Leon foi surpreendido. De repente, o Garrador saiu em disparada exatamente para o lugar onde o agente estava e atacou. Devia ser pelo cheiro do suor. Só podia ser. Mas no momento, Leon nem teve tempo de pensar, apenas rolou para o lado que estava indo, sentindo o vento das garras passarem sobre sua cabeça. Se tivesse demorado mais um segundo poderia ter sido decapitado sem maiores dificuldades. O Garrador ficou movendo suas garras de modo aleatório, golpeando o ar. Leon quase soltou uma respirada funda de alívio, mas se conteve. Não queria ser descoberto tão rapidamente. Então, se aproximou do sino e bateu nele, produzindo outra vez aquele barulho.
Mais um ataque. Desta vez, Leon estava preparado e já se adiantou, saltando para o lado antes da vinda alucinada do Garrador. Quando a criatura ficou presa na parede, como aconteceu da primeira vez, Leon puxou o gatilho e de alguns centímetros de distância, disparou duas vezes contra aquela criatura que controlava o Garrador. Este uivou mais uma vez, se libertando da parede. Mas agora, em vez de se levantar, ele caiu de joelhos, desabando no chão em seguida, de barriga para baixo. O ser que saía da coluna do monstro cego explodiu, expelindo um líquido verde, que poderia ser algo parecido com sangue. Depois disso, o Garrador ficou inerte. Estava morto? Leon caminhou até um dos sinos e bateu. Nada. Bateu novamente mais duas vezes, e nada. A criatura continuava totalmente imóvel no chão. Sim, o Garrador estava morto. Leon venceu a armadilha. Depois disso, olhou para cima e viu Ashley por uma das janelas. Ela assistiu a tudo e estava de olhos arregalados. Parecia estar tremendo. Leon fez um sinal para que ela descesse, o que ela fez imediatamente.
Não demorou e ela estava aparecendo nas escadas. Por um momento, Leon pensou que o Garrador pudesse se levantar e atacar Ashley. Mas é óbvio que a criatura não sabia quem era Ashley, a final de contas, não enxerga. Não, o Garrador estava morto. Mesmo assim, Leon não sabia bem o motivo, mas estava estranhamente tenso naquela hora. Viu a filha do presidente se aproximando e seus batimentos cardíacos se aceleravam. Continuava segurando a respiração, não sabia bem o motivo. Aquela criatura não ouviria mais mesmo. Então, quando estava com a garota perto, o agente entrou na cela e abaixou a alavanca. Deu para escutar que algo foi desligado. Então, olhou para Ashley.
- Vamos. Agora aquele caminho deve estar liberado. Mas lembre-se de uma coisa. Assim como nós podemos passar daqui para o outro lado, o que está do outro lado, agora, pode passar para o lado de cá.
Ashley continuava assustada.
- Você acha que virão mais daqueles monges?
- Não tenha dúvidas. Teremos de nos encontrar com muitos deles ainda.
Os dois foram subindo cuidadosamente a escada. Chegaram ao corredor na parte de cima. Não viram ainda ninguém, mas ouviram claramente o mantra.
- Morrer é viver.
Sim, eles estavam ali por perto. Antes de chegarem, Leon observou o local e viu a luminária. Devia ter fogo e querosene ali dentro. Iria esperar os monges se aproximarem e dar um tiro no suporte dela, derrubando-a sobre eles. Quando eles surgiram no outro lado do corredor, o agente pôs seu plano em execução. E tudo saiu exatamente conforme o planejado. O líquido inflamável molhou as túnicas dos três e o fogo incendiou os monges, que despencaram pelas janelas que davam visão à prisão e morreram. O agente olhou para baixo depois e viu os corpos dos monges lá perto do Garrador. Dois a menos. Fez um sinal para Ashley o seguir.
Os dois chegaram ao fim do corredor, onde havia outra porta à esquerda. Leon fez um sinal para Ashley parar. Ele cautelosamente colocou o pé na porta e espiou. Quando viu os monges, mal teve tempo de se esquivar e uma flecha passou zumbindo no seu ouvido, se cravando na parede. O agente deu uma olhada nela e se virou para frente de novo. Teria de ser rápido para lidar com os arqueiros. Havia dois. Conseguiu se livrar deles com um tiro na cabeça de cada um. Entrou na sala e vieram mais três monges, um deles com uma dinamite acesa. Leon mirou na arma e atirou. Ela explodiu matando todos. O caminho estava livre.
Agora que o fogo estava desligado, pôde observar melhor a sala. Esta tinha um carpete vermelho no centro, mas o chão e as paredes eram de pedra. À frente deles havia uma porta que dava em outra sala. Em frente à porta, havia duas colunas com detalhe trabalhado dentre elas. Do lado, um monge estava de costas, virado para a parede. Como assim? Bem, não chegou a se virar. Estava morto antes de saber o que o atacou. Entraram em um corredor, que dava em outra porta. Esta era grande, em madeira, com dois grandes puxadores, um de cada lado. Leon então, carregou a arma e fez um comentário que foi mais para si mesmo. - Acho que teremos uma recepção calorosa do outro lado.
Assim que entraram, tiveram uma recepção ainda mais calorosa do que imaginavam. Devia ter uns sete monges em frente a eles e em uma parte superior, dois arqueiros. A sala era ampla. O piso era com lajotas de porcelana creme. Havia poltronas com o estofamento vermelho dos lados e vasos, assim como as lajotas do chão, também em porcelana. Todos ornamentados com os símbolos da seita. Em frente a eles, havia piscinas no chão, em forma de quadrado. À frente, uma escada. Dos lados, existia um piso alto. Os dois pisos laterais eram ligados por uma ponte que ficava sobre a parte depois das escadas. Por trás das paredes laterais, se abria um pequeno corredor que dava em uma escada que levava a uma parte mais baixa do lugar. E em frente às escadas, estavam os monges.
Não teria como enfrentar a todos eles, então, Leon atirou na cabeça de alguns, abriu caminho e correu para as escadas, se certificando de que Ashley conseguiu acompanhá-lo. Desceram as escadas e havia mais um monge os esperando. Passaram por ele rapidamente e entraram em uma porta de ferro. Fecharam-na. Leon observou rapidamente que nos cantos, havia dois quadrados salientes. Ashley e ele subiram em um deles que de imediato abaixou. Leon disse à filha do presidente.
- Fique aqui que eu vou ao outro.
Leon se dirigiu ao quadrado que ficava à direita da porta e este também abaixou. Um barulho soou e outro quadrado no teto se abriu. Eles não viram, mas ele era parte de um mecanismo que foi acionado pelos quadrados dentro da sala. Este mecanismo iria baixar uma escada que ligava a parte onde estavam da sala à parte superior. A sala tinha as paredes azuis e era iluminada por velas em candelabros presos às paredes. Havia um grande carpete vermelho quadrado ao centro. Um grande lustre pendia do teto, mas estava apagado. No fundo da sala, tinha uma cômoda em madeira, com gavetas e duas poltronas, uma de cada lado, também de madeira e estofadas com um veludo vermelho. E assim que o mecanismo foi acionado, monges começaram a entrar pela porta e pelo buraco que se abriu no teto. Em sua maioria, a intenção deles era levar Ashley. Outros iam na direção de Leon. O agente teve de gastar muito mais munição do que gostaria e teve muito mais trabalho do que imaginava.
Parecia que não parava de entrar monges. Vinham aos montes. Não podia desperdiçar tiros. E algumas vezes, aquela coisa saia da cabeça deles. Foi um verdadeiro massacre. Ashley ficou encolhida em um canto da sala enquanto a ação ficava frenética no lugar. Quando de repente, tudo ficou calmo. Leon teria acabado com o clero da seita? Nem mesmo o agente acreditava nisso. Depois de um tempo com silêncio total, Leon finalmente conseguiu respirar um pouco mais aliviado.
- Ashley, vamos subir e ver o que acionamos ali em cima. Parece que ao subirmos nestes quadrados algo aconteceu. Temos que ver o que é.
Ela estava tremendo e suando frio. Seus olhos estavam arregalados e ela mal conseguia falar. Sim, é claro que essa teria de ser uma reação esperada. Ele mesmo, que era um agente razoavelmente experiente e bem treinado estava tenso, o que dizer de uma jovem que ainda estava na faculdade e que tinha uma cabeça de uma pessoa recém saída da adolescência? Só podia estar em estado de choque mesmo. Mas ela conseguiu falar ainda.
- Será que ainda tem muitos? Será que virão atrás de nós ainda?
Leon não podia mentir.
- Veja bem, Ashley. Aqui é o centro da seita Os Illuminados. Deve haver muitos deles ainda. E sim, virão atrás de você. Eu sou apenas um estorvo para eles. Você é quem importa. Ramon Salazar deixou isso muito claro antes. Mas não podemos mais perder tempo. Vamos.
Os dois subiram até a parte de cima, onde estavam. Agora havia um objeto que surgiu do chão, com certeza no momento em que pisaram nos quadrados. Era retangular, em pedra, de mais ou menos um metro de altura. Tinha uma manivela no topo. Leon apontou para ele.
- Ashley. Vamos fazer o seguinte. Você gira a manivela que eu fico de guarda, para o caso de aparecerem mais monges.
- Certo.
A filha do presidente começou a girar a manivela. Lentamente uma parede que ia até o teto começou a descer. Era uma escada e ligava a outra parte, mais alta da sala. Ficava exatamente sobre a sala onde eles estavam. A parede que agora se transformava em escada ficava em frente àquela ponte que ligava os pisos superiores dos lados do local. Leon ficou de olho para ver se não viria ninguém na hora em que a escada baixasse. Quando ela baixou, vieram três monges com foices nas mãos. Usando aquelas túnicas pretas com capuz, eram quase a imagem da morte. Leon rapidamente neutralizou os três com um tiro na cabeça de cada um deles. Atrás, havia mais um, que dera a ordem de ataque. Leon atirou na cabeça dele também. Foi um susto. O agente apanhou mais um pente de seu colete. Se continuasse assim, acabaria terminando seu estoque de pentes de balas.
A parte de cima seguia para outra parte da sala. Dos lados havia ainda os pisos um nível mais alto que o local onde estavam, sendo que novamente os dois eram ligados por uma espécie de ponte. No chão, um carpete vermelho central ia até uma escada de uns quatro degraus. Antes da escada havia um chafariz. Quando subiram a escada, viram uma piscina. Não teria como chegarem do outro lado, a não ser nadando. Mas nesse caso, seriam alvos fáceis. Além do mais, não tinha certeza da profundidade da água, nem da temperatura da mesma. Poderia ser perigoso. Então, Ashley chamou a atenção de Leon.
- Veja Leon, tem duas manivelas. Uma de cada lado da sala.
Leon observou as duas.
- Certo. Vou te ajudar a subir ali em cima. Devem com certeza fazer ou subir ou descer algo que nos ajude a chegar àquela porta. Vou ficar aqui em baixo e garantir que você consiga completar a tarefa.
- Certo.
Os dois foram até um dos lados da sala. Leon ajudou Ashley a subir na parte onde ficava uma das manivelas. Ao subir, ela olhou para baixo antes de se dirigir à primeira, e pediu:
- Me vigie agora, Leon.
O agente sacou a arma e fez um sinal positivo com a mão.
- Certo.
Feito isso, o agente correu até a parte de cima da escada, onde teria uma visão melhor de quem entrava pela porta, bem como se algum dos monges viesse na parte superior dos pisos laterais tentar levar Ashley. Se a levassem, tudo estaria perdido, pois como disse Salazar, ela era quem eles queriam. Teria de ter cuidado, pois além de garantir que a filha do presidente conseguisse terminar o seu trabalho de tocar as manivelas até que a passagem para o outro lado da sala estivesse na superfície da água, teria de garantir a própria segurança. Não acreditava que os monges fossem deixá-lo em paz para atirar livremente naqueles que chegassem perto de Ashley.
Assim que ela começou a girar a manivela, um monge começou a se aproximar furtivamente dela. Leon atirou na cabeça do mesmo, derrubando-o do plano superior. Caiu morto. O problema é que como o agente já sabia, começou a vir monges também na parte inferior da sala, onde ele estava. Então, teve de dividir a atenção. Por diversas vezes, quando conseguiu se virar para Ashley, ela estava encolhida, se desviando dos ataques dos monges. Por sorte, ele conseguiu acertá-los. O tempo parecia não passar. Como ela era lenta para tocar aquelas manivelas. Seria muito melhor se ele próprio fosse. Mas nesse caso, ela não sabia atirar. E então o agente teria de parar o tempo todo para socorrer ela. Além do mais, não acreditava que Ashley conseguisse apoiá-lo para subir ao patamar superior, como ele fizera. Depois de um tempo que pareceu interminável, Ashley conseguiu concluir metade do trabalho. Teria agora de ir para o outro lado da sala tocar a outra manivela.
A travessia dela teria de ser garantida. Ashley teria de usar aquela espécie de ponte para chegar ao outro lado da sala. Mas o caminho estava bloqueado por monges. Leon teve de se livrar de dois que vinham em sua direção e depois mirar nos que estavam no caminho da filha do presidente. Nem se preocupou em matá-los, apenas os derrubou. Ela passou e começou novamente, agora na manivela à sua esquerda, lado oposto de onde ela estivera. E mais uma vez, o agente teve de cuidar para que nenhum dos monges conseguisse levá-la, enquanto garantia a própria segurança. Então, as plataformas atrás de Leon terminaram de emergir. Neste momento ela gritou.
- Ei Leon, estou pronta.
Sim, tinha de correr para ajudá-la a descer. Depois disso, os dois olharam para trás e viram se ainda havia monges por perto. Como não havia, puderam caminhar com mais tranquilidade. Chegaram até o local onde Leon estava. Pularam para a primeira plataforma que emergiu graças ao trabalho da filha do presidente e em seguida, passaram para a segunda. Depois chegaram ao outro lado da sala, em frente à porta.
A porta era como a primeira, que passaram para entrar na sala. Grande, de madeira, com o topo arredondado e com dois grandes puxadores de ferro cromado. Entraram em outra sala. Era enorme também. O piso era todo acarpetado, como o restante do castelo, com as cerâmicas das paredes e das colunas cor creme com trabalhados em um marrom escuro. Candelabros com velas iluminavam o local. Havia cômodas de madeira nos lados, todas com um verniz que as deixava muito bonitas e lustrosas. Chegavam a brilhar. Havia muitos vasos de porcelana nos lados da sala também. No alto das portas, havia gravuras em alto relevo, com imagens religiosas. Lembrava muito uma igreja da religião Católica, embora Leon soubesse que se tratava de outra seita. A de Saddler. Do teto pendiam duas estátuas. Na verdade, dois enormes bustos. Era estranho eles estarem pendurados no teto. Ficava meio que fora do normal. Mas o que era absolutamente normal nesse lugar? Aquele homem cego com garras acopladas nos braços? Monges assassinos? Não tinha muita coisa normal ali, fora o luxo e a ostentação do castelo. Isso era normal. Parece que apesar de ser uma marionete nas mãos de Osmund Saddler, Salazar possui muito bom gosto para a mobília e para a decoração de seu castelo. Como Mendez, embora o dono deste local fosse muito mais rico.
Leon e Ashley seguiram por um corredor. Tinha uma porta à esquerda, e eles teriam de ver aonde iriam sair. Não havia ninguém, então apressaram o passo. O corredor, assim como a sala era todo acarpetado. Mas as lajotas nas paredes agora eram vermelhas e o teto, abobadado. Havia dois lustres pendente pendurado no teto iluminado com velas. O agente ficou levemente à frente, para se certificar que nada apareceria de alguma porta, os apanhando de surpresa. Enquanto caminhavam, no entanto, Leon ouviu que Ashley começou a tossir. Ele se virou para trás e viu que havia sangue, em grande quantidade nas mãos da filha do presidente dos Estados Unidos. Ela aparentemente estava em um estágio mais avançado da infecção do que ele. Parecia que realmente tinham pouco tempo, como Sera disse, Leon se aproximou de Ashley.
- Ashley, você está bem?
Ela tossiu mais um pouco. Ficou sem fôlego. Quando se recuperou, encarou o agente com uma expressão assustada.
- Eu estou bem. Deixe-me em paz.
Ashley saiu correndo. Leon pensou: droga, agora preciso correr. No entanto, antes que ele a alcançasse, uma espécie de grade subiu do chão atingindo o teto, separando os dois. O agente ficou parado por alguns instantes apenas pensando que queria evitar deixá-la ficar à frente dele para que ela não caísse em alguma cilada ou que fosse apanhada de surpresa por algum dos monges. E foi no momento em que ela se distanciou que aconteceu exatamente o que Leon temia. Foi separado da pessoa que deveria resgatar. E agora, se alguém quisesse capturá-la novamente, teria total acesso a ela. E o agente não teria nenhum meio de impedir, a não ser tentar atirar em quem chegasse perto. Isso é, se alguém chegasse perto.
Ashley continuou caminhando e de repente outra grade surgiu do chão, fazendo-a correr. Leon já estava desesperado, pois ela ia cada vez mais longe e parecia que a cada passo que dava, novas grades iam subindo, fazendo com que ela fosse cada vez mais longe. Cada vez mais perto da parede do fundo. Então, ela chegou ao fim do corredor e se escorou na parede. Voltou-se para frente, olhando para Leon, com uma expressão apavorada no rosto. O que iria acontecer agora? Era o que o agente se perguntava. Neste momento, a resposta veio tão rápida quanto as grades surgiram do chão. Três pedaços de metal, em formato de faixas metálicas surgiram da parede e se fecharam sobre a filha do presidente, a deixando presa. Ela não tinha como se mover. Ela ainda teve tempo de gritar.
- O que está acontecendo?
Então, a parede girou. Não havia mais ninguém ali. As grades voltaram para o chão e o corredor ficou como estava antes de eles entrarem nele, com uma diferença. Agora Ashley Graham estava presa do outro lado da parede. Voltara a ser refém dos Illuminados. E para completar, Leon não tinha mais contato com Ingrid Hunnigan. Como tudo podia estar dando tão errado? A situação não era ruim, era desesperadora. Depois de conseguir resgatar a filha do presidente na igreja do vilarejo, Leon pensava que a pior parte de seu trabalho estava feita, e que então, era só esperar pelo resgate, mesmo enfrentando todas as dificuldades que vinham enfrentando. No entanto, agora, sentia que voltou à estaca zero. Teria de voltar a procurar Ashley. Seria dentro do castelo. Por outro lado, a propriedade de Salazar era enorme, tinha muitas passagens secretas que só o dono e seus subordinados conheciam e para piorar, tinha um exército de monges determinado a eliminar todos aqueles que se colocassem em seu caminho e uma fileira de coisas que foram criadas ou transformadas pelos experimentos de Salazar, dando ao dono do castelo outro contingente, mas de monstros tão ou mais furiosos e sanguinários que os monges.


Capítulo 22

Há momentos em que tudo parece estar dando errado. Quando se tem a impressão que por mais que se esforce e se tente todas as possibilidades de se fazer algo, sempre acaba o destino fazendo com que algo dê errado. Mas então, algo diferente acontece e de repente, pelo menos uma esperança surge. Uma luz no fim do túnel. O transmissor tocou e Leon sentiu que as coisas poderiam começar a dar certo. Se Hunnigan conseguiu recuperar o contato, pelo menos o agente poderia passar a atual situação e receber alguma orientação de como agir ou ainda informações adicionais. Leon nem pensou duas vezes, apanhou o aparelho. - Hunnigan, você sabe o que está acontecendo? A conexão parece ter sido interrompida.
Do outro lado, no entanto, só se ouvia estática. De repente, foi possível ouvir a voz. Uma gargalhada. Não era a de Ingrid Hunnigan, no entanto. Era outra voz, que apesar de Leon ter escutado apenas uma vez, era muito fácil de identificar. E não sabia como isso tinha acontecido. Mas quem falava do outro lado da linha era Ramon Salazar. Sim, aquela voz irritante era impossível de confundir.
- Salazar, como pode estar falando comigo pelo transmissor?
- Ora, nós conseguimos interferir na linha. Afinal de contas, seria um tanto… incômodo se ficasse passando informações desnecessárias a pessoas de fora, não acha?
- Onde está Ashley?
- Ah sim. Ao que parece, ela caiu em uma de nossas maravilhosas armadilhas. Mas você não precisa ficar preocupado com ela. Vamos encontrá-la. Ah sim, eu estava me esquecendo de um detalhe. Há alguns insetos que nós liberamos para se exercitarem um pouco, na ala subterrânea.
- Obrigado por me dar companhia. O tédio poderia me matar.
- Estou ansioso por um próximo encontro. De preferência em outra encarnação.
Ao terminar a frase, Salazar desligou o transmissor. Leon não sabia bem o significado da última frase, mas não adiantava tentar ficar pensando nisso agora. Teria de correr. Era evidente que Saddler tinha algum plano para a filha do presidente dos Estados Unidos. E iria usar o dono do castelo para operar este plano. E o pior é que até agora, tudo vinha correndo conforme o planejado pelo líder dos Illuminados. Leon ficou pensando. Ashley estava presa na igreja do vilarejo. Mas não iria ficar lá para sempre. Provavelmente teria de ser trazida ao castelo em algum momento. Ele fizera exatamente o trabalho de trazê-la. Fizera um favor a Ramon Salazar. Teria agora pouco tempo para achá-la e resgatá-la. E o que seu anfitrião teria querido dizer com ter deixado insetos se exercitando na ala subterrânea? Bem, iria descobrir logo, pois para chegar ao outro lado da parede, teria de encontrar outro caminho. Os usados até o momento só o levariam de volta.
Leon deu meia volta e caminhou em direção a uma porta, que ficava à direita de quem entra no corredor, vindo da sala onde estava. Era toda em madeira, com trabalhados em alto relevo em forma de quadrados. Ao abrir a porta, não viu ninguém. Entrou em uma sala sem mobília nenhuma dentro. Passou por uma parede, com cuidado, sempre de arma em punho. Estava tudo quieto. Sem movimentação. Caminhou para um corredor ao lado do local onde estava. Não tinha ninguém ali também. Mas havia um buraco. Teria de saltar ali. Pelo jeito, iria parar embaixo do castelo. E descobriria quais eram os insetos a que Salazar se referiu. Sim, com certeza se tratava de alguma das experiências feitas no local.
O agente desceu as escadas até o andar inferior. Antes de seguir, deu uma olhada no lugar. O teto era alto. As paredes não tinham pintura e em alguns locais estavam quebradas, expondo a malha de ferro que sustentava a estrutura do castelo. O local era úmido e quente, tornando a respiração difícil. O ar parecia denso e havia um odor horrível, que deixava o estômago embrulhado. Dava vontade de vomitar. Mas Leon já passou por situações semelhantes, se não piores em sua carreira. Daria para suportar. Logo nem estranharia mais. Passou a caminhar olhando atentamente para qualquer detalhe que pudesse chamar sua atenção. Aquela frase de Salazar não lhe saía da cabeça. Parecia óbvio que encontraria alguma coisa o esperando ali. Mas o que?
Conforme foi caminhando, viu que havia buracos na parede que na verdade, eram aberturas e o que havia atrás delas eram celas. Era uma prisão. Sim, todo o castelo tinha prisões, as masmorras. Era para lá que mandavam as pessoas indesejáveis. E não eram locais agradáveis. Leon caminhou pelo corredor até o fim. Passou por uma porta alta, com o topo arredondado, quando ouviu o barulho de uma grade caindo e passos. Olhou atentamente para os lados e para frente, mas não viu nada. No entanto, podia jurar que ouvira passos. E que o som vinha de algum lugar próximo. De repente, ouviu passo novamente. O agente se virou para cima, para os lados para frente. Estava atento a qualquer sombra, qualquer buraco na parede que não vira, de onde poderia sair alguma pessoa ou pior, alguma daquelas criaturas do castelo. Mas não via ninguém. Foi então que um pensamento rondou a cabeça de Leon. Coisas muito estranhas aconteciam ali. O fato de não estar vendo, poderia não significar que não estivesse ali. Sim, a coisa poderia ser invisível. Ficou mais atento. Quando ouviu passos novamente, viu sinais em uma poça d’água no fim do corredor. Perfeito. Os insetos de que Salazar falara eram invisíveis. Só que como Leon ouvira os passos e vira um sinal na água olhou atentamente para o lugar. Eles não eram totalmente invisíveis. Dava para notar que a visão ficava um pouco mais turva no lugar onde eles deveriam estar. Então caminhou lentamente. O inseto o estava esperando. Mas antes de chegar ao fim do corredor e ser atacado, Leon puxou a arma e atirou na direção da parte turva da visão. E foi aí que aconteceu. Um inseto gigante apareceu do nada, agonizando até morrer. Parecia uma mosca gigante. Fora o primeiro. De muitos, o agente passou a acreditar. Deveria tomar cuidado. Muito cuidado.
Leon seguiu caminhando tomando o máximo de cuidado. Agora teria de mais do que ver, principalmente ouvir qualquer som, ruído ou coisa que indicasse a presença de algo ameaçador. Teria de imitar o Garrador. Que ironia lhe acontecera. Saiu do corredor e entrou em outro. Esse caminho seria longo, pensou o agente. Enquanto estivesse ali embaixo, teria de se cuidar. Não seria fácil sair vivo dali. Os insetos poderiam atacá-lo do nada. Não podia vê-los. Como poderiam ter a capacidade de ficarem invisíveis? Era muito perigoso. O agente sentia um aperto no estômago. Se por um lado, não podia se precipitar e deveria agir com a máxima cautela para não ser apanhado por aqueles insetos, por outro lado, sabia que cada minuto perdido, poderia fazer toda a diferença para Ashley. Só que se fosse morto ali, não iria conseguir resgatar a filha do presidente de qualquer maneira. Então, não podia se precipitar. Não podia perder a calma. Já enfrentara outros monstros. No entanto, era a primeira vez, pelo que se lembrava, que eles seriam invisíveis.
Ao fim do corredor, à direita de Leon, tinha uma cerca de metal ao redor de um buraco quadrado. Havia duas escadas, uma de cada lado e uma abertura circular, que parecia ser parte de um encanamento. Devem encher aquilo ali de água. E sim, como havia um pouco de água no fundo, dava para ver que havia dois daqueles insetos ali. Como eles provavelmente estavam esperando que Leon descesse, poderia atirar no primeiro. O segundo viria correndo, então, teria de ser rápido em matar o segundo. Disparou um tiro. Matou um inseto. O ouro saiu correndo, mas foi mais rápido do que o agente imaginou, quando atirou, ele já estava bem próximo. Deu quase para ver os seus olhos. Mas conseguiu, Teria agora de descer as escadas e subir as do outro lado para seguir em frente.
Após escalar a escada, parou e olhou para os lados. Havia uma porta de ferro à sua frente. Teria de abri-la. Entrou em outro corredor, não sem antes dar uma boa espiada e de esperar um pouco para se certificar de não ouvir nada suspeito. Então prosseguiu. Dos lados do corredor havia portas de celas e correntes. E no teto, um buraco arredondado. O agente olhou atentamente para este buraco e viu uma pequena distorção na visão ali. Sim, um dos insetos pelo menos estava no local o esperando. Mirou e atirou. Não estava enganado. Logo uma daquelas moscas gigantes caiu no chão agonizante. Mas havia mais um. Leon usou a inteligência. Acreditava que os insetos, apesar de terem se tornado maiores, gigantes, para falar a verdade e de terem ganhado a invisibilidade, continuavam sendo insetos. E continuavam pensando como insetos. Confiava que o instinto faria aquela coisa vir atrás dele. Então, voltou pela porta por onde havia vindo. Não demorou e o inseto invisível bateu na porta, abrindo-a. Não dava para vê-lo claramente, mas devia estar na porta. Leon atirou e acertou. A criatura ficou visível pouco antes de morrer. Poderia seguir pelo corredor.
No entanto, nos primeiros passos que deu, ouviu novamente que não estava sozinho. O barulho vinha de trás de uma das celas laterais. Leon caminhou tomando o cuidado de não deixar passar nada despercebido. Atrás da primeira cela à esquerda, havia um corredor, E dava para ver pegadas. O inseto estava ali. O agente atirou e matou-o. Agora poderia voltar ao corredor. Caminhou, procurando ouvir tudo em volta. Tinha em mente que a qualquer momento algum inseto poderia saltar sobre ele. E o agente nem veria o que o acertou. Era a pior sensação que já sentiu em toda a sua carreira. Muito pior que os zumbis de Raccoon City. E pior que os caras da motosserra do vilarejo. Aqueles pelo menos, ele podia ver.
Depois voltou ao corredor central. Passou por uma das celas, onde havia um pedaço de papel. O que seria? O agente entrou e fechou a porta atrás de si. A esperança é de que enquanto estivesse ali dentro, não seria atacado. A cela estava vazia. O que tinha escrito? Quando leu, ficou ainda mais surpreso. Era uma nota assinada por Luis Sera.

"Há alguns parasitas que têm a habilidade de controlar seus hospedeiros. Este é um conhecimento básico entre os biólogos, mas pouco se sabe sobre como os parasitas fazem isso.
Estudar estes parasitas especificamente pode revelar algumas pistas sobre como funcionam as Las Plagas. E talvez nos forneça mais informações sobre as vítimas das Las Plagas, os Los Ganados.
Aqui está uma lista de alguns parasitas que têm a habilidade de manipular o comportamento de seu hospedeiro.
Dicrocoelium: Assim que a larva deste parasita migra para o esôfago da formiga, ele altera o comportamento da formiga. Quando a temperatura cai à noite, a formiga infectada sobe no topo de uma planta e fica pendurada nela pela mandíbula. Ela fica lá, imóvel, até a manhã seguinte, posicionando a formiga onde ela fica mais vulnerável para ser comida por um herbívoro qualquer, como uma ovelha. Assim, pode-se concluir que o parasita está manipulando o comportamento do hospedeiro para facilitar seu caminho até o corpo de seu hospedeiro definitivo.
Galactosomum: A larva deste parasita se aloja dentro do cérebro de um peixe, como o olho-de-boi e o lobo-do-mar. Uma vez infectado, o peixe se encaminha para a superfície da água onde nadará até ser comido por aves marítimas. Mais uma vez, este comportamento peculiar só pode ser explicado pelo desejo do parasita de adentrar os corpos das aves marítimas.
Leucochloridium: O esporocisto deste parasita desenvolve nos tentáculos de lesma. Os esporocistos são de cor viva e pulsam continuamente. Surpreendentemente, a lesma infectada se encaminha para o topo de uma planta, onde fica mais visível aos olhos dos pássaros, assim há maiores chances de serem comidas. Depois de comidas por um pássaro, o parasita completa sua metamorfose e se transforma em adulto.”


Las Plagas era o nome dado àquela coisa que controlava os aldeões, os monges e as criaturas encontradas no castelo, bem como o gigante do vilarejo. Também devem estar manipulando Ramon Salazar. E quem controla Las Plagas é Osmund Saddler. Mas como ele consegue? Ao que tudo indica, este controle deve ter alguma explicação naquele estranho cajado que ele leva consigo. Mas como Sera sabe de tudo isso, se perguntava Leon. Não lhe parecia mais simplesmente um ex-policial. O agente já estava se perguntando isso desde que os encontraram pela última vez. Tudo indicava que Luis era uma espécie de cientista. E pelo jeito ele conhecia o parasita em questão e sabia sobre seus sintomas e qual era o destino dos infectados. Seria ele mais uma pessoa que trabalhava para Saddler? Entretanto, se fosse, por que estava fugindo dos monges? Por que havia ajudado Leon na aldeia contra os aldeões? E qual sua motivação para ajudá-los agora? Se bem que pelas anotações tanto de Mendez, como de Saddler, tudo indica que Sera trabalhava para eles, mas os traiu. Deve ter visto em que estava se metendo e se arrependeu. Mas como não lhe infectaram como aos próprios Bitores Mendez e Ramon Salazar? Leon procurava explicações, mas não as encontrava. E nem teria tempo de ficar raciocinando ali. Teria de seguir, pois Ashley estava em perigo e o tempo não parava de passar.
Leon saiu da sala. Por enquanto não havia ninguém. Caminhou até chegar a outro buraco quadrado, como o que havia passado antes. Mas este estava cheio de uma água turva. Teria de chegar ao outro lado. Para isso, teria de drenar aquela água dali. Deveria passar para aquele outro buraco por aonde viera. Então, olhou para os lados e viu que de onde viera, tinha uma sala, com um mecanismo. Deveria acionar a drenagem da água. Teria de dar a volta atrás da cela e ir pelo corredor até aquela sala. Passou pelo corredor até chegar a uma porta de ferro. Abriu-a com cuidado e entrou. Olhou atentamente para notar se havia pegadas, ou qualquer alteração na visão que indicasse a presença de um daqueles insetos. Como não viu nada, fechou a porta e se dirigiu ao mecanismo.
A sala era pequena. Não tinha quase nada de mobília, apenas algumas estantes de madeira apodrecida. Parecia que poderiam cair. Lembravam as casas do vilarejo, pois estavam em péssimo estado. Uma pequena janela, a que vira antes, dava uma visão do lado de fora e da parte que teria de drenar. Leon olhou então para o mecanismo e se dirigiu até ele. Era uma válvula. O agente a girou. Neste momento, a água turva que estava no buraco em frente à janela começou a ser drenada. Foi baixando até que o local ficou seco. Quando a água secou, uma porta apareceu na outra extremidade. Era lá que tinha de entrar. Mas o que o aguardava no caminho? Teria de descobrir.
Quando pôs os pés para o lado de fora da porta, parou e observou bem ao redor. No teto, havia uma pequena distorção na visão. Era ali que estava o inimigo. O agente sacou a arma e atirou. Caiu um inseto morto no chão. Leon começou a refazer o caminho que usara para chegar ali. Olhava tudo com atenção redobrada. Não viu nada de suspeito ou que pudesse representar a presença de algum dos insetos. Então, prosseguiu. Chegou ao local onde perto de onde a água foi drenada, na saída do corredor. Aquele buraco redondo no teto. Era ali que os insetos estavam quando chegou da primeira vez. E era ali que deviam estar novamente. Olhou para cima e não viu nada. Quase saiu da porta que dava acesso ao local, quando olhou para a direita. Ali havia duas pequenas distorções na visão, indicando a presença de dois daqueles insetos. Se tivesse passado, teria sido atacado pelas costas. Atirou no primeiro, matando-o. O segundo veio correndo. Dava para ouvir os passos dele, mas não conseguia vê-lo. Em movimento ficavam invisíveis por completo. Tentando a sorte, atirou para frente, pois acreditava que ali eles saltariam para o ataque. Deu certo. O outro inseto apareceu e caiu morto.
O agente desceu as escadas e chegou à porta. O que viria depois? Era uma porta de grades, na verdade, como as das celas. Chegou perto da porta. Não ouviu nada. Ao abri-la, no entanto, ouviu um barulho atrás de si. Um dos insetos havia acabado de saltar ali. Leon se virou rapidamente e atirou na altura em que julgou que seu inimigo estaria. Na pura sorte, acertou. Passou pela porta e passou por outra sala. Havia uma escada em frente. As escadas seguiam até uma porta de ferro. O que tinha do outro lado? Um corredor. Leon passou rapidamente por ele quando de repente, o chão acabou. Teria de saltar. Só que era uma das muitas armadilhas do castelo.
Sim, Leon estava saindo de uma prisão. Por conseguinte, deveriam querer que as pessoas não saíssem dali. Então, todas as formas de manter os prisioneiros ali eram válidas. O que se apresentava para o agente era um conjunto de plataformas. Ele teria de saltar de uma em uma. Isso até não seria um grande problema para ele. Havia um adicional: entre todas elas, machados enormes pendiam dos tetos e se movimentavam como pêndulos de um lado para o outro. Teria de calcular milimetricamente cada salto, caso contrário, só uma parte dele poderia chegar ao outro lado. O primeiro não foi tão difícil. O único difícil, para falar a verdade foi o último. Eram dois machados que vinham um de cada lado. Leon precisou cronometrar o momento em que eles passavam e correr. Enfim, estava do outro lado.
Passou por outra porta e então entrou em um local pequeno com uma escada de escalar. Na parte de cima, encontrou uma porta de madeira. Abriu-a e passou por ela. Neste momento, chegou a levar um susto. Estava de novo dentro do castelo. Dentro da sala onde Ashley foi capturada, mas agora, em uma parte superior. Era um piso que contornava as paredes. E pelo que podia ver, estava tendo um culto dos Illuminados. Vários monges estavam reunidos. Um deles aparentava ser o líder. Estava usando uma túnica vermelha, enquanto os outros estavam de preto e usava uma máscara com chifres, posicionando-se à frente dos demais. Tinha os braços levantados e todos repetiam o que ele falava. Estavam diante de um grande livro aberto sobre uma mesa, que tinha duas tochas, uma de cada lado. Só que eles repetiam sempre o mesmo mantra: “Morrer é viver”. Estavam tão concentrados que nem perceberam a chegada de Leon ao salão. Leon chegou à borda do piso superior e olhou para os monges. Eram muitos para matar. Teria de gastar muita munição. Então, retirou uma granada de mão do colete e jogou-a. Deu certo. Com a explosão, matou todos. O caminho estava livre.
Leon subiu as escadas e chegou em frente a uma porta de madeira vermelha. Abriu-a e entrou em uma sala. Estava vazia, mas dava para ouvir monges pronunciando o mantra. Dentro do recinto, havia uma cômoda a esquerda, logo atrás da porta. Duas poltronas com estofamento em veludo verde e um quadro na parede que ficava em frente à porta, com um retrato de uma mulher. Subiu uma escada de madeira e chegou a outra sala. Esta continha uma mesa redonda ao centro, duas estantes com retratos e louças em porcelana, além de vários quadros de retratos nas paredes. Sobre a mesa, uma carta, escrita por Ramon Salazar.

“Por muitos anos, a família Salazar serviu como os soberanos deste castelo. No entanto, nem tudo é brilhante, pois meu legado tem um passado negro.
Há muito tempo atrás, havia um grupo religioso com raízes profundas nesta região, chamados Los Illuminados. Injustamente, porém, o primeiro castelão do castelo tomou seus direitos e poderes. Como seguidor desta religião e como Oitavo Castelão, sentia que era meu dever e minha responsabilidade me livrar daquele pecado.
Eu sabia que a melhor forma de me livrar do pecado era devolvendo o poder aos que o perderam uma vez, os Los Illuminados. Como esperado, isso levou pouco tempo, mas pudemos restabelecer as Las Plagas que estavam lacradas. Com este êxito, eu estava a um passo de reviver os Los Illuminados.
A razão pela qual eu liberei as Plagas das profundezas do castelo e as dei para Lorde Saddler não foi apenas para pagar pelos pecados de meus ancestrais, mas tinha certeza de que o Lorde faria melhor uso deste poder para ajudar a salvar o mundo.
Salvar aqueles que pecaram com o poder das Las Plagas e purificar suas almas, criando um mundo sem pecadores. Do jeito que deveria ser. Uma vez purificados, eles logo se tornariam um dos muitos Ganados, onde encontrarão sua razão de viver.
E depois que o Lorde conseguir criar este mundo com a qual tanto sonha, então os pecados da Família Salazar estarão reparados.”


O barulho vinha de uma sala ao lado da em que estava. Parecia se tratar de um culto ou algo parecido. Leon sabia que ao abrir a porta encontraria muitos monges. Podia perceber isso pelo som que escutava. Estariam armados? Só tinha um jeito de saber. O agente se aproximou da porta e a abriu com cuidado.
Vislumbrou uma sala muito grande. À sua frente, um piso com mais ou menos três passos de largura, rodeado por um pequeno muro, sobre o qual havia vasos de porcelana. O piso dava em uma escada frontal, coberta por um tapete vermelho. Em frente à escada, havia um espaço quadrado, todo acarpetado e no centro, uma plataforma parcialmente escondida sob o chão. Dava a impressão que poderia subir. Em frente à este quadrado mais abaixo, outro piso, mais alto que o da entrada, com uma cerca em madeira. Atrás desta certa, estava um monge com uma túnica vermelha e aquela máscara com chifres que alguns usavam. Parecia ser o líder deles e quem estava pronunciando as falas do ritual, sendo seguido pelos outros. Do seu lado, dois monges de túnica preta estavam parados. Estes usavam máscaras em forma de caveira. E por fim, dois arqueiros se aprontaram para atirar quando o líder dos monges apontou para a porta por onde Leon entrou.
O agente teve de resolver rapidamente o problema dos arqueiros, pois se fosse atingido, seria um ferimento sério. O mais depressa que conseguiu, apontou e atirou na cabeça de um, depois do outro, Pensou, se a coisa sair de dentro do pescoço deles, pelo menos não vão atirar. Mas os dois arqueiros morreram instantaneamente. Depois o agente avançou para a esquerda, chegando a outra parte do piso. Também havia uma escada que dava acesso àquela área quadrada. Por ali, um monge usando uma túnica preta e uma máscara que cobria todo o seu rosto veio até ele. Lembrava um carrasco. Trazia um bastão com uma corrente e uma bola com espinhos presa na ponta. A sala era iluminada com velas e lampiões e tinha alguns barris de líquido inflamável. Leon atirou no barril e ele explodiu, matando os monges que estavam por perto. Como havia uma parede no meio do piso, dando sustentação ao piso de cima, Leon desceu as escadas e subiu-a novamente, passando pela parede. A princípio, os dois monges com as máscaras de caveira e o líder deles ficaram apenas observando a ação do agente. O que estariam tramando? Logo Leon iria descobrir.
O agente americano entrou por uma porta que dava acesso a uma pequena sala. Assim como a primeira, de onde saíra, o piso era todo acarpetado, com um tapete cor de vinho. Havia algumas estantes contornando o local e um quadro com uma paisagem na parede. Para iluminar o local, havia candelabros pendurados com velas. Leon começou a subir por uma escada que levava ao andar de cima. Ainda não havia visto ninguém do lado de dentro da sala, mas não podia perder a atenção. Subiu atentamente e ouviu passos no carpete vindos do andar de cima. Sim, alguém estava ali. O agente parou por um instante e ficou de arma em punho, apenas esperando o que veria surgir na parte de cima da escada. Os passos continuavam, mas ninguém aparecia. Leon começou a subir lentamente. O barulho foi se aproximando, quando surgiu um monge no alto da escada e começou a descê-la. A máscara que usava era de metal. Não adiantaria atirar na cabeça dele, portanto. Mas estava desarmado. Leon esperou o monge chegar mais perto e atirou no peito, mirando o coração. Acertou. Seu inimigo caiu morto. Leon então foi tomado por um pensamento terrível. E se não fosse um monge? Estava desarmado. E se fosse Sera? Ou pior? Se fosse Ashley. O agente voltou então e se aproximou do cadáver. Antes de retirar a máscara, pensou: e se ele se levantar e me atingir agora? Mas quando tocou no corpo do monge morto, este não mexeu um único músculo. Sim, estava morto. Então, Leon retirou lentamente a máscara, com medo de ver o que estaria por baixo dela. Ao terminar de removê-la, respirou aliviado. Era realmente um dos monges. Tinha a cabeça raspada e os olhos estavam arregalados. Colocou a máscara de volta e terminou de subir a escada.
Leon saiu para um piso que contornava a sala. O piso era todo acarpetado, como o restante do local. O tapete era da mesma cor de vinho. À frente, um pequeno muro de madeira protegia os desavisados de uma queda. Dos lados, a mureta era de pedra, como o restante do castelo, ladrilhado de lajotas de porcelana. O agente caminhou por ele, passando para o outro lado da sala. Os monges que guardavam a saída do outro lado continuavam apenas o observando, sem tomar atitude alguma, o que deixava Leon desconfiado. Por que ficavam apenas o observando? Por outro lado, os três estavam usando máscaras, dois usavam aquela de caveira e um a de chifres. Este último, por estar de túnica vermelha, diferenciando dos demais e por ter ordenado o ataque inicial, certamente era uma espécie de líder daqueles ali. Por que agora ficava quieto? Não conseguia entender, mas tinha certeza que ao se aproximar eles fariam alguma coisa.
Do outro lado do piso, a mureta de madeira tinha uma abertura, por onde era possível pular ao piso inferior. Leon parou ali. Os monges continuaram estáticos. Então, um deles passou a caminhar lentamente na direção da abertura na mureta. Leon saltou ali e de repente os dois mascarados saltaram sobre o agente. Estavam desarmados, mas ficaram apenas tentando imobilizá-lo. Para que? Leon assim que se livrou dos dois, sacou a arma e atirou em ambos. Mas foi então que se deu conta do plano dos monges. Eles não iriam partir para o ataque. Apenas queriam ganhar tempo. O líder deles saiu correndo por uma porta que se abriu quando ele apertou um botão na parede. O agente saiu correndo atrás dele. Atravessaram todo o corredor e entraram novamente pela porta de onde Leon havia saído, entrando na sala que conduzia ao andar de baixo. Mas ao entrar, o agente deu de cara com outro monge, agora com um escudo e um bastão com uma corrente e uma bola de espinhos na ponta, que também conseguiu detê-lo por alguns minutos. Quando conseguiu se livrar dele, o monge de vermelho havia sumido.O agente saiu no encalço dele, mas quando abriu a porta, uma rajada de tiros veio em sua direção. Por muito pouco, não fora morto instantaneamente. O agente conseguiu ver o líder dos monges sentado em algo que parecia ser um canhão, mas que continha uma metralhadora giratória. O agente se atirou atrás da parede de pedra e as balas passaram raspando sua perna. Estava protegido enquanto ficasse dentro da sala, mas não poderia permanecer ali para sempre. Ashley estava sob poder dos Illuminados novamente, e teria de chegar até ela, custasse o que custasse. Por outro lado, não teria meios de enfrentar aquela metralhadora abertamente. Teria de bolar um plano.
Leon subiu as escadas o mais rápido que conseguiu. Ao chegar na parte de cima, apanhou uma das últimas granadas de mão que ainda possuía. Teria de ser rápido. Atiraria o artefato no monge. Não achava que o mataria, mas iria atrapalhá-lo o suficiente para conseguir dar a volta na sala e chegar atrás dele. Aí o líder dos monges seria um alvo fácil. O agente abriu a porta e não demorou para que o monge se virasse para ele e começasse a atirar. Leon conseguiu se abaixar para se proteger na mureta na parte de pedra e jogou a granada. Os tiros pararam momentaneamente. Foi o tempo de o americano se levantar e sair correndo. Mas nem bem atravessou a extensão da sala e os tiros recomeçaram. Se fosse acertado, seria o fim. E as balas estavam passando muito perto. Atirou-se para frente e chegou ao outro lado. Por muito pouco não foi atingido no calcanhar. Mas conseguiu. Como previra, a metralhadora não giraria 360 graus, pelo menos não rapidamente. Agora, Leon teria um tempo para atirar no monge. E o fez. Depois de matar o líder dos monges, o agente observou a existência de uma chave pendurada no pescoço do mesmo. Era a da saída daquela sala, com certeza.
Leon usou a chave que apanhou do pescoço do monge morto para abrir a porta que dava acesso à saída da sala. Entrou em outra. Esta era grande, mas só de um piso. Tinha uma estrutura no centro, de mais ou menos um metro de altura. Parecia algum mecanismo. Dos lados da sala, duas cômodas de madeira envernizada, com vasos de cerâmica. No alto da parede, do lado esquerdo de quem entra, uma cabeça de alce empalhada ficava observando tudo. À frente da porta, na parede oposta, quatro quadros com imagens de mortes. Mas não havia nenhuma outra porta, a não ser a da entrada. E como nas outras vezes, se saísse por ela, apenas voltaria por onde veio. Teria de haver alguma saída por outro lado. Foi então que se deu conta daquela estrutura no centro da sala.
Sobre a estrutura, se destacava uma frase. “O sacrifício de seis vidas trará uma nova luz”. O que significava? Ainda não fazia a menor ideia. Mas reparou na existência de quatro botões. Apertou no primeiro e os quadros à sua frente, na parede giraram. Leon ficou observando aquelas gravuras. Eram todas de pessoas sendo mortas. Um na guilhotina, outros três sendo crucificados e duas imagens iguais de um homem e uma mulher sendo enforcados. Seis sacrifícios. Isso significa que deveria haver seis pessoas morrendo nos quadros. Mas havia oito. Girou uma vez, apertando no segundo botão. Depois de apertar todos e deixar os quadros em várias posições, contando quantas pessoas morrendo apareciam, finalmente quando deixou as seis mortes, ouviu um barulho. E a parede que ficava à sua frente se deslocou para a esquerda, revelando uma porta à direita. Era a saída.
Leon se encaminhou lentamente até a porta e parou atrás dela. Procurou escutar se havia algo suspeito atrás dela, mas não ouviu nada. Silêncio absoluto. É claro que o agente não imaginava que não houvesse ninguém ali. Que poderia passar livremente. Abriu-a. Quando entrou, tudo estava vazio. Havia dois pares de colunas à sua frente. Um pequeno tapete vermelho sob seus pés e o piso de pedra. À frente, tudo era acarpetado, mas com um carpete verde. Assim como a outra sala, havia um piso superior que contornava as paredes. Uma porta à sua direita estava encostada. À frente, uma escada que dava acesso a uma parte mais baixa da sala, com uma mesa no centro, decorada com vários vasos de cerâmica. Mas a princípio, tudo estava deserto. Não podia ser. Quando Leon deu um passo a mais para dentro da sala, ouviu uma risada que já estava ficando muito familiar. Era Ramon Salazar.
- Que surpresa agradável. Mas é de Ashley que precisamos, não de você, senhor Kennedy.
Enquanto falava, Ramon caminhava de um lado para o outro, demonstrando sua autoridade. Como sempre, estavam ao seu lado, seus dois guarda-costas. Leon ficava intrigado com eles todas as vezes que os via. Eram muito altos e estavam, como sempre, de túnicas. Um se vestia de preto e um de vermelho. E podia ver o brilho vermelho dos olhos de ambos sob o capuz, mas não era possível ver o rosto. Isso incomodava. Como seriam? Com certeza, se tratava de duas daquelas criaturas do castelo. Mas esses eram fieis a Salazar, não indomáveis como o Garrador. Com certeza também, devem ser muito mais perigosos que o monstro cego. Leon não queria deixar se intimidar, então respondeu:
- Já que não precisa de mim, deixe-me em paz, seu velho.
Salazar parou bem no meio dos seus guarda-costas e olhou para o agente americano com uma expressão de surpresa no rosto.
- Você está me chamando de velho, senhor Kennedy? Pois vou lhe dizer uma coisa, para sua surpresa. Tenho apenas vinte anos de idade.
Leon baixou a cabeça e falou em tom de decepção.
- Ah! Então você é como todos os outros. É apenas uma marionete dos parasitas, controlado por Saddler.
Ramon riu e voltou a caminhar de um lado para o outro enquanto falava gesticulando.
- Mas você não pensa que sou como esses pobres ganados, pensa? Os parasitas que você fala, o Las Plagas, são escravos de minha vontade. Eu tenho o controle absoluto.
Ao dizer isso, ele cerrou os punhos e depois abriu as mãos em um gesto teatral. Leon não se deixava impressionar e respondeu rispidamente.
- Pois eu não dou a mínima. Fique sabendo da única coisa que tem que saber. Eu vou pegar você.
Ao dizer isso, Leon apontou para Salazar. A ideia era mostrar quem estava caçando quem ali. Só que neste momento, duas portas laterais se abriram. E seis monges, três de cada lado saíram de dentro delas, cada um com uma foice nas mãos. Estavam com o capuz arriado. Eram carecas, mostrando os dentes e com os olhos arregalados. Ramon Salazar apontou para Leon antes de dar a ordem.
- Se livrem do nosso amigo americano.
Dito isso, Salazar virou as costas e saiu pela porta do outro lado da sala e trancou a porta. Atrás de Leon, a porta por onde ele entrou foi bloqueada por grades. Estava cercado de monges e não tinha para onde sair. Bem, o que fazer? E eles se aproximavam perigosamente. Logo teria problemas. Tinha granadas ainda? Para sua sorte, ainda tinha. Apanhou uma das últimas. Era incendiária. Menos forte, mas surtiria o efeito desejado. Retardaria eles. Atirou-a no chão. Enquanto os monges tentavam sair da fumaça e do fogo, o agente entrou pela porta que ficava à sua direita. Pelo menos, não seria cercado. Teriam de entrar um de cada vez. Assim, pôde recarregar sua pistola e matar um por um. Só que quando parecia que tudo estava resolvido, ouviu o barulho de duas portas abrindo. Eram três arqueiros.
O primeiro entrou pela parte de cima e se posicionou no alto da escada. Leon teve tempo de se virar e atirar antes de ele fazer mira e soltar a flecha. Subiu as escadas e saiu pela porta, no piso superior, que contornava a sala. O segundo monge arqueiro estava do outro lado da sala. Leon se posicionou atrás de uma das colunas e atirou certeiro na cabeça dele. Havia mais um ainda. Este se posicionou para atirar, quase apanhando Leon de surpresa. Mas quando o agente se virou, viu que havia uma luminária exatamente sobre o monge. Uma luminária acesa com líquido inflamável. Atirou nela e logo o arqueiro estava em chamas. Caiu morto.
Não havia mais ninguém. Tudo ficou extremamente quieto. Leon foi caminhando em direção à porta de saída, que estava trancada, mas deveria haver algum meio de abri-la. Estava tudo silencioso. Ouvia-se apenas os passos de Leon no carpete. O que o deixava muito apreensivo. Geralmente situações como essa precediam algum grande perigo. De repente, ouviu um mecanismo. E um quadro na parede à frente da entrada se abriu, revelando dois monges. E eles estavam carregando… uma bazuca. O que? Leon teria de correr.Virou de costas e saiu o mais rápido que pôde da mira deles. Jogou-se atrás da parede de pedra e ouviu um estouro. Levantou-se e quando olhou para a parede, o quadro voltara à sua posição original. O agente caminhou novamente até perto da porta de saída, que estava trancada. Mas havia um botão ao lado dela. Leon apertou. Era um interruptor que acionava um mecanismo. Ao acioná-lo, uma plataforma subiu ao centro da sala, com um baú. Mas como chegar a ela? Nem teve tempo de pensar. No momento em que deu um passo, ouviu um barulho de algo abrindo. Só podia ser o quadro novamente. Então, Leon correu o máximo que conseguiu e saltou para trás da parede de pedra à sua direita e ouviu o estrondo dos projéteis novamente. Bem, pelo menos sabia que por enquanto, a bazuca seria inútil. Teriam de recarregá-la. Passou a procurar outra porta. E a encontrou. À sua direita.
Ao entrar, encontrou outro botão, semelhante ao que havia ao lado da porta. Apertou-o e escutou um barulho e um leve tremor no chão. Algo aconteceu do lado de fora. O agente se aproximou da porta e parou. Se abrisse sem se importar com nada, com certeza, teria uma péssima surpresa do lado de fora. Preparou-se para o pior. Respirou fundo, alongou o pescoço, tomou ar para correr ou saltar logo depois de abrir a porta e… abriu.
E quando a porta abriu, Leon deu de cara com dois monges sobre aquela plataforma no centro da sala. Cada um com uma bazuca. Estavam em posição de atirar. Leon teve tempo de saltar para o lado e os projéteis passaram zumbindo, provocando uma explosão contra o fundo da sala. Após levantar, o agente respirou fundo. Levantou-se, sacou a arma e deu um tiro na cabeça de cada um. Agora a sala devia estar vazia. Leon deu a volta no piso que contornava a sala e chegou a uma ponte, que se formou quando ele apertou o último botão. Levava à plataforma central, onde os monges das bazucas jaziam mortos e onde havia um baú. O agente caminhou sobre ela e apanhou um objeto em forma de animal dentro do baú. Tratava-se de uma figura de cabra. Ao levantar o peso da estrutura onde ela estava, outro mecanismo se acionou e as grades que bloqueavam as portas de saída se levantaram. Agora, ele poderia sair dali. Então o agente se encaminhou para a porta de saída.
Ao passar pela porta, Leon entrou em um corredor. Desta vez não havia carpetes. O chão era todo em pedras. A parede do lado direito continha lajotas brancas trabalhadas com um desenho marrom nas bordas. Havia um candelabro alto com velas no início do corredor e lustres pendentes do teto. Todos iluminados a velas. Do lado esquerdo, grandes janelas que davam uma boa vista do lado de fora. E ao fim do corredor, uma porta, que estava aberta. O que o aguardava depois? Seria mais uma das surpresas que o castelo reservava? Leon não sabia, mas desconfiava que teria companhia logo. Nisso, ele estava certo. Mas o que seria essa companhia? Isso ele teria de ver, mas certamente não seriam os melhores amigos dos seres humanos.
Logo que passou por ela, entrou em outra pequena sala que dava para duas portas, sendo que uma delas estava trancada pelo outro lado. Passou pela que estava aberta. Não era acaso. Tudo era uma gigantesca armadilha. E Leon sabia disso. Sabia que estava indo sempre aos locais que esperavam que fosse, pois não tinha meios de tomar caminhos diferentes. Logo que abriu a porta, viu um corredor e uma escada que daria em outra porta. Dos lados havia grandes janelas. O único barulho era o crocitar dos muitos corvos que descansavam nelas e saíram voando assim que Leon passou por eles.
Ao passar pela porta, se encontrou novamente em uma parte externa do castelo. Tinha um cercado de pedras que contornava o chão e para além deste cercado, o pátio. Leon parou em frente a um chafariz, onde também tinha um grande número de corvos bebendo água. Eles saíram voando assim que o agente se aproximou. Ao lado esquerdo, uma sala, com uma janela alta. Leon se aproximou, olhou para dentro do recinto, mas não viu ninguém. Seguiu o caminho. Não havia ninguém. O silêncio era total. As únicas presenças eram os corvos que voavam em círculos. Então, Leon parou em frente a uma grande porta de madeira, com o topo arredondado, com dois puxadores cromados ao meio.
O agente passou para outra parte externa do castelo. Ainda não escutava a presença de um único inimigo, mas uma coisa lhe chamou a atenção. Ao lado do caminho por onde seguia, havia um gigantesco jardim, formando um labirinto verde. Era todo composto por cercas vivas. O caminho terminava em uma escada que dava no labirinto. Leon pensou que apesar da beleza do lugar, que contava com chafarizes, estátuas e outras esculturas, preferiria não ter de entrar nele. Olhou para o lado direito e viu que havia uma porta em madeira que dava acesso ao lado de dentro. Estava fechada e não tinha uma fechadura mas sim, um buraco ao meio. Algo estava escrito ali. “Duas metades formam uma lua”. Parecia que teria de encaixar algo, como aquela igreja no vilarejo, onde encontrara Ashley. E algo dizia para Leon, que a chave para abrir aquela porta estaria no labirinto. Que era uma armadilha de Salazar. Sim, o caminho o trouxera até ali. Seu anfitrião sabia que ele viria e que teria de passar pelo labirinto. Portanto, algo com certeza o estaria esperando ali. Algo que não seria nada amistoso.
Para confirmar suas suspeitas, quando estava se aproximando da escada de acesso ao labirinto verde, seu transmissor tocou. Era Ramon Salazar. Que sujeito irritante, pensou Leon. Atendeu-o para saber o que o aguardava.
- Senhor Kennedy, vejo que ainda está vivo. Diga-me, gostou do meu jardim?
- Vejo que seu mau gosto se reflete aqui também.
- Eu realmente sou muito sagaz, e às vezes me perco um pouco. Mas fique sabendo que levará a vida toda e nunca encontrará a saída. Sabia que ninguém morre sem uma causa? No seu caso, será o jantar de minhas mascotes. Agora, se me permite, não tenho mais tempo de ficar aqui conversando com você. Tenho de amarrar algumas pontas soltas. Como… perseguir uma dupla de ratos.
Dito isso, Salazar desligou o transmissor. Leon ficou se perguntando o que seu anfitrião possa ter querido dizer com dois ratos. Mas não tinha tempo de ficar ali se perguntando essas coisas. Tinha de achar a chave para abrir a porta, entrar no castelo e encontrar Ashley Graham. Depois disso, poderia pensar em descobrir quem mais poderia ser que Salazar estava perseguindo. Apesar disso, acabou se fazendo a pergunta. Se um era Luis Sera, quem seria o outro? Haveria mais algum intruso no castelo além dele?
Ao descer a escada, Leon se deparou com um portão fechado, todo de grade. Abriu-o com um chute. Agora queria fazer barulho, para que o que quer que fosse que estivesse ali se revelasse de uma vez. A final de contas sabia que mais cedo ou mais tarde, seria avistado e caçado ali dentro daquele labirinto. E talvez fosse pior se entrasse em silêncio, pois nesse caso, seu inimigo poderia usar o mesmo expediente. Fosse o que fosse, tinha uma certeza, não eram monges. Seria algum monstro. Se fosse outro garrador? Achava difícil. Provavelmente seria algum animal que enxerga bem.
Logo em que entrou no labirinto, Leon se deparou com uma parede. Era parte de uma das plataformas que existiam no local, mas o acesso por ela se dava por uma escada que ficava do outro lado. E teria de chegar a ela pelo labirinto, pois não era possível dar a volta, contornando-a. Só que assim que deu seus primeiros passos, ouviu passos apressados. Era um ser quadrúpede. Era um cachorro. Só podiam ser como os que enfrentou depois da luta contra o gigante, perto da igreja. Levou uns dois segundos e a fera já apontou próxima a uma das cercas vivas. Leon mirou na cabeça e atirou. Em geral os cães não são resistentes, mas são rápidos. Por isso, o agente sabia que teria de ser preciso nos tiros. Um erro e seria gravemente ferido, ou até mesmo morto. Quantos mais haveria ali? Certamente este não seria o único.
Leon seguiu o labirinto. Chegou a um portão e o chutou. Escutou o barulho de cães e logo os viu. Estavam dentro de um canil, presos. Mas iriam se soltar logo. Então, o agente apanhou uma granada que ainda havia em seus bolsos internos do colete e atirou dentro do local. Todos morreram com a explosão. Não precisaria enfrentá-los.
Então, seguiu caminhando. Escutou algo correndo, mas não podia enxergar nada além das cercas vivas. Olhou para os lados e nada. Olhou para trás e não via nada. Nem quando olhou para frente. Mas o barulho parecia vir de perto. Não era somente o som das patas do animal no gramado, mas também sua respiração e o rosnado. O cão poderia sair de qualquer lugar, Leon estava completamente vulnerável. E essa sensação de vulnerabilidade o incomodava. Não via seu inimigo, mas era visto por ele. Qualquer descuido e poderia ser morto. Tinha de ser muito rápido, pois sabia que mais cedo ou mais tarde, aquele animal que o estava cercando agora, partiria para o ataque. O som dele estava alto. O agente caminhava sempre olhando para as curvas do labirinto, esperando ver um cão em uma delas, mas não via nada. Apenas escutava. Foi quando de repente o animal saltou por sobre uma das cercas vivas, caindo em frente a Leon. O agente foi rápido. Puxou o gatilho e acertou a cabeça do animal.
Seguiu o caminho e novamente começou a ouvir os barulhos de patas no gramado. O rosnado. Sim, estava sendo caçado. Voltou a caminhar até o local onde estaria a chave, mas não sabia se valia a pena correr. Sim, pois os cães eram muito mais rápidos do que ele. Se fosse apostar corrida, perderia com certeza. Teria de vê-los e atirar assim que pudesse, sem perder tempo. O som vinha dos lados? Parecia estar se aproximando, mas não sabia por onde viria o ataque. Foi quando ficou bem alto que se deu conta de que eles estava atrás. Leon se virou e rapidamente atirou na cabeça de um cão que já estava saltando no seu pescoço. O animal caiu morto. Mas havia mais um. Estava parado, com tentáculos saindo de suas costas. Quando aquelas coisas começaram a se contorcer na direção do agente, ele atirou na cabeça do cão, quem morreu instantaneamente.
Foi então que Leon chegou a uma escada. Ela levava a uma parte elevada do piso. Mas não era ali que estava a chave. Havia apenas outra escada, que levava a outra parte do labirinto. De momento, não ouvia nenhum som. Será que havia liquidado os animais de estimação de Ramon Salazar? Duvidava muito. Foi então, que passando pelas cercas, deu de cara com um chafariz. Era uma mulher segurando um objeto em forma de disco sobre a cabeça, sobre o qual jorrava água. E dentro do chafariz, estava metade de uma pedra com o formato de lua. Agora teria de achar a outra metade. Assim que chegou à escada de onde tinha vindo, escutou o barulho de cães se aproximando e pareciam ser vários. Apanhou uma de suas últimas granadas incendiárias que ainda tinha e lançou-a quando o primeiro apareceu. Ela ficou alguns instantes pegando fogo e mais três cães saltaram, caindo exatamente no fogo. Todos morreram.
Seguiu procurando pela escada que o conduziria até a segunda metade da chave. Assim que dobrou uma das esquinas do labirinto, passou por um cão, que estava parado, mas assumiu uma posição de ataque assim que Leon passou por ele. O agente nem perdeu tempo. Atirou na cabeça do cachorro que caiu morto. Depois de algum tempo, chegou a outra escada. Subiu-a e no centro do piso elevado, havia um chafariz. Exatamente igual ao que continha a primeira metade da pedra. E ela estava ali. Apanhou-a e olhou rapidamente para trás. À frente não teria nada, pois não tinha escadas. Era exatamente o local por onde havia entrado. Se saltasse agora, estaria de frente ao portão que levava ao castelo.
Depois de abrir o portão, Leon subiu as escadas e se dirigiu à porta de entrada do castelo. Ao contrário do que imaginou Salazar, o agente conseguiu sair do labirinto com vida. Para o azar dos mascotes de seu anfitrião. Ao encaixar as metades da pedra na parede, a porta se abriu. Leon entrou no quarto e ouviu passos às suas costas. Não estava sozinho. Só que antes que pudesse se virar, ouviu:
- Coloque suas mãos onde eu possa vê-las.
E sentiu uma arma encostando-se a suas costas. Era uma voz de mulher. Uma voz familiar. E falava em inglês. Quem seria?
- Desculpe, mas seguir ordens de uma dama não faz o meu estilo.
- Levante as mãos. Agora!
Pegando sua oponente de surpresa, Leon se virou e tentou desarmá-la. Ela conseguiu se desvencilhar do ataque do agente e chutou a arma antes de executar uma pirueta acrobática. O revólver caiu magicamente em sua mão. Só que ao executar este movimento, ela se descuidou e não viu Leon se aproximando. Ele colocou a faca no pescoço da oponente. Agora era ele quem a tinha imóvel.
- Quer um conselho, senhorita? Da próxima vez, use uma faca. Funciona melhor para quando se está próximo da pessoa que pretende ferir.
Ao dizer isso, Leon apanhou a arma da mão de sua oponente, retirou o pente de balas e jogou os objetos no chão. Sim, com certeza ela era a outra intrusa a que Salazar se referia. Mas Leon sabia que já a conhecia de algum lugar. Era mais ou menos de sua altura, magra, de cabelos castanhos escuros curtos, pele clara, fisionomia oriental. Estava usando óculos escuros. Ela os retirou antes de falar.
- Leon. Há quanto tempo não nos vemos.
Ele se virou e a encarou. Sim, como não se lembrar de Ada Wong?
- Ada. Então é verdade?
- O que é verdade?
Leon caminhou para o lado e a encarou.
- Você está trabalhando para Wesker.
Ela riu.
- Vejo que você fez a lição de casa.
- Por que Ada?
- Isso lhe importa?
- Por que você está aqui? Por que tinha de aparecer assim?
Ela continuava rindo e olhou para o lado. Os óculos que jogou no chão produziram uma pequena explosão, como uma granada de luz. Ada apanhou rapidamente o revólver e o pente de balas antes de sair, se aproveitando do momento em que Leon estava atordoado pelo flash. Ela olhou para trás antes de saltar pela janela.
- Nos vemos por aí Leon.
E saiu. O agente ficou parado e quando recuperou a visão, apenas observou o caminho por onde Ada se foi. As questões, no entanto, ficaram. O que a trazia até este local do mundo? Não era com certeza para resgatar Ashley Graham. E se ela trabalhava para Wesker, qual o interesse dele no que estava acontecendo? Só podia ter algo com aquele parasita, Las Plagas. Sim, a Umbrela iria querê-lo para si. Se livrar de Osmund Saddler e assumir o controle dessa nova forma de infecção. Ao invés de zumbis, pessoas manipuladas. Seriam muito mais úteis. Saberiam manipular armas e não oferecem riscos a quem os infectou. Mas qual seria o plano para tirar Saddler do caminho? Não sabia. Só que pensou que se por um lado, não queria ajudar a Umbrela, não imaginava o mundo sob o controle daquele lunático que usava uma túnica roxa.


Capítulo 23

Não podia ser verdade. Luis Sera caminhava cabisbaixo. O mundo estava caindo. Não podia ter perdido a amostra. Como? Ele mesmo verificou há minutos atrás e estava com ela no bolso da calça. E agora… Colocou as mãos nos bolsos novamente, na esperança de ter procurado mal, mesmo sabendo que não encontraria nada. E não encontrou mesmo. Teria de procurá-la novamente. E agora, no castelo. Correra tantos riscos, passara por tantos apertos para… perder o frasco. Não podia ser. Mas em que lugar?
Sera procurou lembrar-se de onde verificara se ainda estava com a amostra. Sim, foi naquela sala onde estava o canhão. Naquele momento, colocou as mãos nos bolsos e se certificou de ainda estar em poder do frasco. Então, segundos depois, quase foi atingido por uma flecha. O pesquisador se atirou para o lado e deve ter sido neste momento que perdeu a amostra. Ela deve ter caído do seu bolso. Agora, teria de voltar até lá e torcer para que não a tivessem pego. Luis correu o mais rápido que conseguiu, pois não tinha um único segundo a perder. A qualquer momento, os monges poderiam chegar ao local e recuperar o frasco.
Luis Sera desceu um lance de escadas e chegou ao ponto em que deveria descer até a sala do canhão. Mas quando desceu novamente, não conseguiu acreditar. A sala do canhão estava diferente. Sim, o canhão não estava mais ali. Alguém o fizera subir. O piso todo tinha subido. Não dava mais para entrar no local. Teria de subir até a parte superior do pátio e torcer por um milagre. Que a amostra tivesse caído em um local de difícil acesso, que ficasse fora da visão de quem passasse por ali e não a estivesse procurando especificamente.
Sera desatou a correr escada a cima, sem sequer olhar para os lados. Quando chegou ao topo da escada, teve a impressão de ter ouvido vozes, mas não quis interromper a corrida. Viu um pequeno abrigo todo em pedras, com duas pequenas janelas para os lados. Sequer olhou pelas janelas e entrou correndo. Assim que passou pela porta, teve que se atirar no chão e ouviu uma foice passar raspando por sua cabeça e bater no chão de pedra. Do lado de um monge morto, com uma foice na mão, havia mais um. Sera antes mesmo de se levantar, pegou sua pistola e atirou na cabeça de seu inimigo, antes de lhe dar tempo de reagir. Então, se levantou e olhou pela janela do lado.
Três monges vinham em seu encalço, mas agora, estava protegido. Com sua pistola, mirou na cabeça dos três e atirou. De um deles, saiu uma espécie de centopeia gigante, substituindo sua cabeça. Sera conhecia essa plaga das vezes em que esteve nos laboratórios secretos do castelo. Era uma das espécies mais fortes do parasita e podiam matar um homem de uma vez só, com uma mordida que arrancava a cabeça de sua vítima. Sera se protegeu na janela e efetuou vários disparos, impedindo-o de chegar perto do abrigo. Depois de uns cinco tiros, finalmente, o monge caiu morto. Sera agora iria procurar pela amostra.
À sua frente, havia uma pequena ponte de pedras, que levava a um espaço circular e a outro abrigo do outro lado da plataforma. Luis Sera foi até o local onde estava o canhão. Agachou-se, procurou por cada fresta entre as pedras, atrás do canhão, dos muros, enfim… em qualquer local onde o frasco pudesse ter rolado e caído, mas não encontrou nada. Dirigiu-se para dentro do abrigo de pedra que ficava na extremidade oposta à que entrou.
Assim que entrou, se decepcionou. Não havia um único local ali onde pudesse estar escondido o frasco com a amostra, a não ser alguma falha no chão. Sera, mesmo sabendo que não encontraria nada, vasculhou tudo palmo por palmo, procurando qualquer sinal da amostra. Mas não encontrou nada. Ele teve vontade de socar o chão. Ficou sentado alguns instantes, olhando para a janela à sua direita, por onde era possível visualizar o castelo. A entrada fora detonada e ainda havia estilhaços dela por todos os lados. Não havia ninguém ali. Luis teria de procurar o frasco por todo o castelo, que era enorme. Sabendo ainda, que a amostra poderia estar em poder dos monges da seita, de Ramon Salazar ou com o próprio Osmund Saddler, o que seria o pior dos cenários, pois neste caso, teria de tomá-la do líder dos Illuminados. E isso seria algo extremamente difícil.
Mas ficar ali sentado, lamentando, não faria a amostra chegar mais perto dele. Antes que pudesse sair pelo castelo, o telefone celular que Sera recebera de Ada tocou. Quem seria? Ele atendeu, e do outro lado da linha, falou um homem.
- Boa noite, senhor Sera. Aqui quem fala é Albert Wesker. Fui eu quem mandou a senhorita Wong para lhe ajudar. Gostaria de saber se já tem a amostra.
Sera pensou um pouco no que responder. Sim, devia ser verdade o que o homem dizia. Por outro lado, ele não tinha a menor ideia de onde a amostra pudesse estar. Então, não fazia diferença em quem estivesse do outro lado da linha.
- Senhor Wesker. Ainda não a tenho. Tive-a por pouco tempo em mãos, mas fui atacado por um grupo de monges que trabalha para Los Illuminados e o frasco com a amostra caiu. Eu a perdi. Vou ter de recuperá-la.
- Então faça isso.
- Vocês mantém a palavra de me ajudar a sair daqui?
- Sim. Mantemos. Você virá junto com a senhorita Wong.
- Senhor Wesker. E aquele outro americano? O Leon?
Wesker ficou alguns segundos em silêncio.
- Ele não está conosco. Não entregue a amostra a ele. É nosso inimigo.
Depois disso, Wesker desligou o telefone e Luis Sera ficou pensando no que acabara de ouvir. Ele tinha uma boa impressão de Leon. E dificilmente seus instintos o enganavam quanto à personalidade das pessoas. Confiava mais no agente que em Ada. E devia ser por algum motivo. Mas as pessoas que estavam dispostas a ajudá-lo agora declaravam que Leon não era seu amigo. E que ele, Luis, não deveria entregar a amostra ao agente. Qual seria sua atitude ao encontrá-lo caso conseguisse recuperar a amostra? Teria de pensar melhor. Que refletir e tentar ver nos atos de cada um quem estava falando a verdade. E o mais importante: quem realmente o ajudaria a sair dali. Só que primeiro, teria de recuperar a amostra.
A primeira coisa a fazer seria entrar no castelo. A segunda, seria procurar por grupos de monges e ver se estavam com a amostra. E quando encontrasse, chegaria à parte mais difícil. A que iria tomar a amostra deles. Teria de fazer na força bruta? Seu objetivo era evitar confrontos, mas se não tivesse jeito, teria de enfrentar todos. Se fosse um grande grupo? Também. É claro que Sera tinha habilidade com a pistola suficiente para se livrar de todos. Já demonstrara isso na cabana quando ele e Leon foram cercados por um bando de aldeões enfurecidos. Só que isso sempre acarretava riscos.
Enquanto se encaminhava para a porta que dava acesso ao interior do castelo, Luis Sera teve outro pensamento. E se Leon tivesse apanhado a amostra? Bem, nesse caso, teria de encontrá-lo, pois fora graças a Sera que o agente teria conseguido. Iria pedir que o americano lhe ajudasse a sair dali em segurança. E se Leon não quisesse colaborar? Bem, nesse caso, poderia ter de tomar a amostra à força. Mesmo que isso lhe desagradasse. Todavia, não acreditava realmente que chegaria a esse ponto. Então, Luis parou em frente a uma porta de metal. Tentou escutar o que havia do outro lado, mas tudo era silêncio. Seu coração batia acelerado. Vagarosamente, ele abriu a porta e espiou para dentro.
Tudo quieto. Quando entrou, entretanto, viu uma multidão de monges. Alguns no chão, outros na escada. Todos mortos. O sangue ainda corria, o que indicava que fazia pouco tempo que os mataram. As espadas dos quadros estavam colocadas da maneira correta para abrir a porta que ficava no segundo piso. Isso quer dizer que Leon já descobrira uma das passagens secretas do castelo. Sera subiu, sempre tomando o cuidado de olhar em volta. O que ele viu, no entanto, foi a mesma coisa que havia no térreo. Vários corpos de monges. Mortos.
Sera se dirigiu à porta, que agora estava aberta. Saiu em uma sala grande, com um quadro bem ao fundo. Esculpido em baixo relevo. Tinha a figura de uma besta. O cientista se dirigiu à porta da direita, que dava em um corredor. Ele sabia onde estava. Ao andar pelo corredor, mais uma vez, havia corpos de monges espalhados pelo chão. Leon matou todos eles? Sera chegou a ficar assustado com a capacidade que o agente tinha de matar. Olhou para baixo, em direção à cela e ficou mais admirado e assustado. O Garrador estava morto. O americano matou o monstro criado nos laboratórios de Salazar. Sera nunca pensou em ficar no caminho daquela fera.
Seguindo em frente, o pesquisador chegou à sala d’água. Agora, a escada que dava acesso ao patamar superior estava em posição. Luis viu alguns monges removendo corpos de seus colegas para o patamar inferior. Eles sequer chegaram a ver Sera, que atirou e matou eles. Eram dois. O primeiro nem se virou. O segundo chegou a olhar para trás, mas já não viu mais nada. Sera passou por eles e pensou: Vão ter que mandar mais monges para remover os corpos. Agora remover os que vieram remover os mortos.
Assim que chegou ao patamar superior, Luis olhou em volta. O local já estava parcialmente limpo. Agora não havia mais ninguém, nem na parte de baixo, nem nos pisos laterais, que ficavam mais altos. À frente, havia plataformas suspensas na água. Sera teria de saltar sobre elas para chegar ao outro lado. Não teve maiores problemas para fazê-lo. Depois, chegou em frente a uma grande porta de madeira.
Ao passar por ela, Luis Sera entrou em outra sala. Bem ao centro, estava posto um altar, com um livro empapado em sangue e uma espada cravada no centro. Deve ter havido algum culto ali há pouco, pensou. A única saída agora era a escada, que ficava à sua esquerda. Sera subiu-a e chegou em frente a outra porta. Antes de entrar, mais uma vez, o cientista abriu a porta com cuidado. Não havia ninguém.
Saiu em outra sala, com estantes dos lados e uma escada que levava a outra parte do cômodo. Não tinha ninguém ali também, nem sinais de batalha. Leon teria passado por este lugar? Os monges não passaram por ali? Tudo parecia vazio. Mas decidiu abrir a porta. Quando entrou na sala contígua, mais uma vez, uma multidão de cadáveres. Sim, Leon passou por ali. E bem no centro da sala, na parte mais baixa, havia a metralhadora giratória que Salazar colocara ali. Alguém a usou. Será que conseguiram pegar Leon? Não dava para saber. Sera decidiu seguir para a saída.
Ao chegar no cômodo seguinte, concluiu que Leon havia passado por ali. A porta para dar acesso à saída tinha de ser aberta por uma combinação de imagens, que acionava um mecanismo. Só ele teria interesse em passar para a outra parte. Aonde ele foi? Os monges devem ter ido atrás. Quando entrou na outra sala, mais corpos de monges. Muitos. Com foices, facas, arcos e flechas e um, inclusive com uma bazuca. Ainda não conseguiram matar Leon? Ele é realmente difícil de matar. O cientista deu a volta em toda o piso que contornava as paredes até chegar à saída.
Luis Sera saiu em um cômodo com três portas. Escolheu a que dava acesso à parte externa, pois as demais não conduziriam a nenhum lugar em que ainda não fora. Após passar por um chafariz, chegou a outra porta, mas não chegou a abri-la. Dois monges vieram por ali, conversando, um com uma túnica vermelha e outro, com uma preta. Sera se escondeu e procurou ouvir o que diziam.
- Aquele americano conseguiu passar pelos colmillos. Como ele consegue isso?
- Parece que ele tem Las Plagas dentro de seu corpo.
- Sim. Realmente.
Os dois caminharam mais um pouco. O monge de vermelho disse:
- Vou comunicar o Mestre Salazar e o Lorde Saddler que a amostra está segura nos aposentos do Sr. Ramon. Você fique por aqui. Se algum dos americanos ou o cientista aparecerem, mate.
- Sim.
Ao se despedirem, repetiram em uníssono.
- Morir es vivir!
O monge de túnica preta se virou, mas Sera o apanhou de surpresa e atirou sua faca no pescoço dele, que caiu morto. Sera conseguiu seu objetivo, que era matar sem fazer barulho. Agora, sabia em que lugar a amostra estava. Teria de ser muito rápido, pois logo Ramon Salazar viria buscá-la. Ou Saddler? Será que o líder dos Illuminados estava ali? Bem, agora tinha de agir rápido. Então, passou pela porta de madeira, pelo ala que conduzia ao quarto de Salazar, ao lado do jardim e chegou ao quarto, onde estaria a amostra. A porta estava aberta. Sera entrou.
O quarto era enorme. Havia muitas cômodas, estantes, prateleiras, armários e guarda roupas. Muitas gavetas para procurar. Mas iria ser o mais rápido que conseguisse. Começou pelas que ficavam na divisória onde Ramon dormia. Tinha duas mesas e uma estante ao lado da cama. Procurou por todas elas, mas não encontrou nada. Olhou dentro dos vasos de cerâmica, pois o monge poderia ter escondido a amostra ali. Mas não a encontrou. Depois, passou para a ala do quarto onde ficava o guarda roupas. Havia dois deles, com muitas gavetas. Mas quando Luis Sera abriu a primeira, nem acreditou na sorte que dera. Encontrou a amostra. Imediatamente, o pesquisador abriu um grande sorriso. Antes de sair, rapidamente mandou uma mensagem para Albert Wesker.
- Apanhei a amostra. Vou encontrar um local seguro para esperar pela Ada.
- Certo. Ela o encontrará.
Então, Sera apanhou o frasco novamente e o escondeu no bolso da calça. Tinha de ser rápido, pois a qualquer momento Ramon poderia chegar. Salazar sempre tivera desconfianças a respeito do cientista e agora, não iria perder a oportunidade de vê-lo ser apanhado por Saddler. O líder dos Illuminados, apesar de ter depositado sua confiança em Sera, agora, estaria decidido a capturá-lo, ou até, matá-lo. E Luis sabia disso. Então, agora tinha de encontrar um local mais seguro até conseguir encontrar Ada. Ou quem sabe, Leon.
Assim que Luis Sera voltou ao dormitório, olhou rapidamente pela janela. Não poderia sair por ali. Havia monges do lado de fora. Estavam esperando por alguém. Tinha de sair rápido. Então, ele viu quem os monges estavam esperando. O pesquisador engoliu. Quem estava vindo pela calçada externa do castelo era Osmund Saddler. Sera correu até a porta do outro lado do dormitório. Iria sair do quarto para um corredor, mas era melhor se esconder neste momento, do que dar de cara com o líder dos Illuminados. Saddler estava no castelo. Por isso Sera não esperava. Correu até a porta e a abriu.
Não tinha ninguém do outro lado. Quando fechou a porta, acabou ficando um pouco e escutando o que se passava dentro do quarto. Saddler entrou junto com o monge que trouxe a amostra. O líder deles falava em um tom cordial.
- Muito bom trabalho. Agora que temos a amostra, vamos poder eliminar Luis Sera e aquele americano.
- Sim, Lorde Saddler. E tem uma mulher também.
- Aquela, eu quero interrogar. Vamos capturá-la viva. Quero saber para quem ela trabalha.
- Não é para a mesma organização do americano?
- Acredito que não. O senhor Kennedy trabalha para o presidente dos Estados Unidos. E está aqui pela garota. Somente por causa dela. A mulher, pelo que meus informantes dizem, está atrás da amostra. Não da filha do presidente americano. Ela deve trabalhar para alguma organização que tem interesse em Las Plagas.
Os dois ficaram um pouco em silêncio. Então, Saddler voltou a falar.
- Essa organização pode ter os mesmos objetivos que nós. Pode ser uma rival. Ou, quem sabe, poderemos nos unir ainda. Mas só poderei saber quais são os objetivos das pessoas por trás desta mulher depois de interrogar ela. Por isso é importante capturá-la viva. O senhor Kennedy, por enquanto, não tem valor. Apesar de estar se mostrando um grande adversário. Quando a plaga completar seu desenvolvimento e ele vir para o meu controle, pode ser um grande soldado. Se ele sobreviver, será o meu mais precioso guarda costas.
Os dois riram. Então, alguns segundos depois, Saddler deu um grito de ódio. Ele descobriu que a amostra sumiu. Sera ficou escutando mais alguns segundos.
- Onde está a amostra?
O monge respondeu com a voz tremendo.
- Eu mesmo a coloquei aqui.
- Está vendo ela em algum lugar?
- Não, Lorde Saddler. Mas alguém pegou. Será que foi Salazar?
- Não, se fosse ele, eu saberia. Foi algum dos intrusos.
- Será?
- É evidente que sim. Ou foi Sera, ou foi o senhor Kennedy, ou aquela mulher. Foi algum deles. Será que eu vou ter que apanhar a amostra pessoalmente?
- Lorde Saddler. Nós vamos recuperá-la.
- Acho muito bom. Mas por via das dúvidas, agora eu mesmo vou atrás dos invasores até conseguir a amostra. Depois, vocês podem se divertir com o americano.
Sera saiu correndo. Saddler viria atrás dele, de Leon e de Ada. Agora, iria ficar mais difícil. Ao fim do corredor, Sera chegou a uma sala de jantar, com mesas dispostas uma ao lado da outra. Havia vários quadros nas paredes. E corpos de monges no chão. Na extremidade oposta, uma porta estava aberta, dando acesso a outra sala. Sera sabia que tinha uma armadilha ali. Quando chegou, a gaiola estava no chão. Isso significava que ele poderia cruzar por ali sem maiores problemas. Dentro da gaiola, estava um garrador morto. Luis sentiu arrepios só em ver aquela criatura. Então, abriu a porta de saída.
Ao sair da sala, entrou em outra. A ponte que ligava as duas extremidades do local havia subido e havia monges mortos por todos os lados. Sera correu pela ponte até a saída. Enquanto atravessava correndo a sala, teve de saltar sobre os pedaços da luminária que fora derrubada. Então, chegou à porta que dava acesso à saída. Abriu-a com cuidado e subiu a escada. Quando chegou à parte de cima, mais um susto. Um garrador estava parado quase na frente do cientista. Para a sorte do pesquisador, a criatura é cega. Mais um?
Sera recuou com cuidado. Ele sabia que por ali havia um esconderijo secreto. Ele passou a mão em um candelabro que estava posicionado em frente à escada. A parede girou e Sera entrou em um compartimento que se abriu. O Garrador grunhiu e armou o golpe. Quando o compartimento girou novamente, Sera ficou do lado de dentro e apenas ouviu as garras batendo na pedra. Não demorou até que mais monges vieram. Onde o cientista estava, dava para espiar o lado de fora. Era possível ver o que acontecia no corredor. Muitos monges passaram.
Sera não soube dizer exatamente quanto tempo ficou ali, mas queria esperar até que alguma das pessoas a quem pretendia entregar a amostra passasse. Ele também estava ainda tentando se acalmar. Procurou a amostra e viu que ela ainda estava nos bolsos. Quando estava quase saindo de dentro do esconderijo, pela fresta que permitia enxergar o corredor, passou Ada. Ele quase saiu, mas decidiu que iria entregar a amostra a Leon. A final, o agente precisava se curar. Demorou mais um tempo e logo depois, passou o agente. Sera abriu o esconderijo e o seguiu.
Leon abriu a porta ao final do corredor e entrou na sala que ficava do outro lado. Sera entrou logo atrás. Procurou por Ada, mas não a encontrou. Provavelmente a espiã deve ter saído pela porta do lado esquerdo. Sim, era para Leon que iria entregar a amostra. Não tinha mais dúvidas. E o agente com certeza não iria se recusar em ajudá-lo a sair deste inferno de lugar. Poderia voltar aos seus trabalhos normalmente. Por outro lado, tinha medo em pensar no que o mundo poderia se transformar caso Osmund Saddler não fosse detido. Mas se o governo americano tiver a amostra, provavelmente iriam desenvolver a cura para a infecção e não permitiriam que essa loucura se espalhasse pelo mundo. Não, isso não iria acontecer. Iria chamar Leon.


Capítulo 24

O cômodo onde Leon estava era um quarto de dormir. Uma grande cama estava posicionada no outro lado do local. O recinto era muito grande. Havia uma mesinha em um dos cantos, poltronas forradas com veludo azul, um carpete vermelho, além de estantes e cômodas do lado das paredes. Uma grande janela dava uma bela visão do jardim. Foi por ali que Ada saiu. Agora estava quebrada. Mas por onde ela entrou? Havia pequenos vasos de porcelana sobre as cômodas. Ao lado da cama, tinha uma porta que dava para outra parte do quarto, onde havia dois guarda roupas de madeira e um biombo em madeira. No centro deste cômodo tinha uma mesa redonda e sobre ela, um bilhete deixado por Osmund Saddler. Provavelmente destinado a Ramon Salazar.

“Parece que há uma intrusa entre nós. Acreditamos que ela tenha ligação com Sera. Também achamos que foi ela quem removeu o ovo injetado em Sera antes que eclodisse. Ela o deve ter feito pegar a "amostra" antes da chegada do agente Americano.
É óbvio que seu objetivo é a "amostra". Devemos capturá-la antes que ela consiga restabelecer o contato com Sera. Há também motivos para acreditarmos que ela esteja trabalhando para alguém. Precisamos dela viva para um interrogatório.
A intrusa deve responder a todas as nossas perguntas. Depois que a capturarmos, Sera não será mais motivo de preocupação. Contanto que recuperemos a "amostra", vocês poderão se livrar dele da maneira que quiserem.”


Leon saiu do cômodo e caminhou até a porta de saída do quarto. Entrou em um corredor. Tudo estava, como sempre, no mais absoluto silêncio. Isso é o que o preocupava. Sabia que todos os seus passos eram vigiados de perto. Então, era evidente que sempre haveria alguma armadilha ou algum dos enviados de Salazar à espreita. Mas quando caminhava pelos corredores do castelo e não ouvia nada, não via nada, sentia-se vulnerável. Era como se a qualquer momento alguém pudesse aparecer do nada e apanhá-lo desprevenido. A cada saliência na parede que passava, certificava-se de não ter ninguém ali. A cada sombra que via, tomava sempre um cuidado especial. A cada passo que dava, olhava se não tinha alguma cerâmica diferente que pudesse significar alguma armadilha. Mas a princípio, tudo estava normal.
Leon entrou em uma ampla sala de jantar, com duas mesas postas. Não havia comida nelas, mas os pratos estavam colocados. As louças eram de porcelana branca, com trabalhados em dourado. As duas mesas tinham velas longas colocadas em um suporte cada, de cada lado. Cada mesa tinha quatro cadeiras, duas de cada lado. Tinha sofás encostados nas paredes, com a estrutura em madeira e estofados com veludo vermelho. E era existiam muitos quadros nas paredes, alguns com paisagens, outros com retratos. Um deles, o último, era a pintura de uma caveira, dando um aspecto sinistro. Mas não se observava um único movimento. O local estava um deserto total. Então, o agente passou por uma porta.
Logo que entrou, parou e observou tudo. Era uma sala quadrada, com o piso com o mesmo carpete vermelho da sala anterior. Havia uma estante no canto da sala. As lajotas das paredes eram trabalhadas. O fundo era verde, com retângulos dourados que subiam do chão. Mas o fato de não haver absolutamente ninguém ali o preocupava. Olhou para cima e viu que havia um piso superior que contornava as paredes e um quadrado de metal pendurado sobre o teto. Com lanças voltadas para baixo. Leon observou que teria de passar por baixo dele e chegou à única conclusão possível. Salazar sabia que ele passaria por ali. Estava prestes a cair em uma armadilha. Mas não teria como evitar. Teria de passar por ali, até por que a porta do outro lado era o único caminho de chegar a Ashley. Deu um passo. Nada. Deu o segundo passo para dentro da sala e ainda nada aconteceu. Seria caminho livre? Não, seria muito bom para ser verdade. Caminhou mais um pouco olhando para as pontas que estavam viradas para baixo. Não cairiam sobre ele. Leon estava começando a respirar aliviado, quando de repente, a grade caiu, mas não foi sobre ele e sim ao redor. Erraram? Não, foi então que Leon percebeu o que era. Estava dentro de uma gaiola. E agora. De repente começaram a chegar monges de todos os lados. Teria de enfrentá-los de dentro? Bem, não seria tão difícil. Foi quando ouviu um barulho vindo de cima. Sim, naquele piso na parte superior que contornava a parede, havia monges. Eles iriam saltar dentro da gaiola. Mas junto deles estava outro… Garrador. E ele saltou dentro da gaiola. Leon pensou: “nada como enfrentar outro daqueles monstros cegos e furiosos. Agora dentro de uma jaula, onde vai ficar ainda mais difícil evitar seus ataques”.
Um monge saltou atrás de Leon, que ficou entre o Garrador e ele. O agente apanhou uma granada explosiva e jogou-a perto da porta, onde se acumulavam monges com arcos. Esperava ainda estourar o cadeado que mantinha a jaula fechada. Deu certo, só que o Garrador ficou enlouquecido e lançou um ataque com as garras. Golpeou o ar, mas como estava muito perto de Leon, uma de suas garras veio exatamente na direção da cabeça do agente. Ele se desviou por muito pouco e quase foi atingido. Quando se levantou, viu que o Garrador atingiu o monge que estava tentando cercar Leon. O monge caiu morto, decapitado. Isso era um aviso ao agente. Era o que lhe aconteceria se fosse acertado por aquelas garras afiadas. Mas não iria acontecer. Leon abriu a jaula e correu para fora. Agora, seria extremamente difícil que o Garrador encontrasse a saída, uma vez que era cego.
Mais que depressa, Leon correu para fora da sala, pois não queria enfrentar os monges lá dentro. O barulho iria certamente atrair muito a atenção do Garrador e o agente não tinha a intenção de ajudar o monstro cego a sair da jaula. Um dos monges saiu da porta, mas agora Leon é quem preparou uma emboscada. Escondeu-se e quando o monge olhou para fora sem ver ninguém, foi atingido por uma facada no crânio, caindo morto. Mais dois monges fizeram a mesma coisa. Ficou só um arqueiro dentro da sala. Leon chegou na porta e o viu. Garrador andava de um lado para o outro procurando a presa, enquanto emitia um grunhido de gelar a espinha. O agente mirou na cabeça do arqueiro, matando-o instantaneamente. Faltava só o Garrador agora. Valia a pena? Sim, mais cedo ou mais tarde ele sairia da jaula e seria um grande problema. Leon se aproximou silenciosamente da jaula, pelas costas do monstro. O parasita Las Plagas estava bem visível nas costas da criatura. Leon mirou e atirou a queima roupa. Garrador soltou um urro e caiu morto.
O caminho estava livre agora. Poderia avançar para a outra parte do castelo. Ao passar pela porta, entrou em um corredor. O piso tinha agora um carpete branco com desenhos em marrom. A parede também tinha lajotas brancas, com colunas azuis. Leon caminhou até o fim do corredor, chegando a uma parte que terminava em uma mureta de madeira, com uma escada que descia a uma parte quadrada mais baixa. No piso superior, onde o agente estava tinha uma cômoda com um vaso de porcelana e poltronas estofadas com veludo vermelho.
Na parte inferior da sala, o carpete era vermelho. E havia monges. Estavam aguardando Leon. Uma coisa no entanto deixou o agente intrigado. Do outro lado da sala havia outro piso, como o que ele estava. Iria pela porta à sua esquerda. Tentou abri-la, mas estava trancada pelo outro lado. E não tinha nenhuma outra escada além da que dava na parte onde ele estava. Como chegaria ao outro lado? Foi então que observou uma alavanca na parte baixa da sala. Deveria ter alguma finalidade. Teria de descer. Leon atirou em um dos monges que estava do lado de baixo, matando-o com um tiro na cabeça. O outro, de vermelho olhou para cima e subiu correndo e escada de escalar. Não devia ter feito isso. Leon tirou a faca e cravou-a no crânio do monge assim que ele chegou perto da borda. O caminho estava livre.
Leon saltou até a parte de baixo da sala e se dirigiu à alavanca. Puxou-a e a sala de repente começou a tremer. Ouviu um barulho vindo atrás de si e de repente uma parte do chão começou a subir até nivelar-se ao piso superior, formando uma ponte que ligava as duas extremidades da sala. Agora teria como chegar ao outro lado, sem precisar abrir aquela porta. O agente escalou rapidamente a escada. Só que assim como ele poderia chegar ao outro lado da sala, quem estivesse lá, poderia vir também.
Por cima da ponte, três monges vinham na direção do agente. Não tinha muito tempo para brincar com eles. Leon olhou e viu que dois deles tinham escudos de madeira. Só que havia um detalhe. Todos estavam atravessando uma ponte com centímetros de largura. O da frente, bem com o terceiro tinham escudos. O do meio não. Leon atirou no pé do primeiro, fazendo-o cair na parte de baixo. Em seguida, atirou no terceiro, deixando somente o do meio. Os dois monges com escudos caíram na parte baixa da sala. Os escudos eram muito pesados pelo jeito, e os monges demoraram em conseguir se livrar deles. Só que enquanto isso, o que restou sobre a ponte estava desarmado. Leon correu até ele o surpreendendo. Agarrou-o pela túnica na altura do pescoço e o jogou sobre os dois monges caídos no chão. Instintivamente eles ergueram o escudo para se proteger e o que estava caindo, se espatifou sobre as pontas existentes na parte de trás dos escudos. Agora, Leon poderia passar.
Leon atravessou a porta da saída da sala e deu em uma escada toda em pedra. Subiu-a e chegou a uma espécie de corredor. Não havia nada em mobília. Nem lajotas nas paredes ou no chão. Nem um carpete. Tudo era em pedra bruta. Próximo à saída tinha um candelabro com velas, dando uma luminosidade bruxuleante. Ao lado do candelabro, havia uma porta em madeira. Leon se aproximou dela. Tinha a impressão de que estava sendo vigiado. Mas ao que lembrava-se, sempre estava com esta sensação. Até por que em muitos momentos, realmente estava sendo vigiado.
Leon passou pela porta, mas nem teve tempo de vislumbrar bem o local onde havia entrado e ouviu que alguém estava atrás de si. Quando a porta se fechou, o agente se virou rapidamente. Sim, o homem da camisa branca com colete que ele salvara, e que teria de dar algumas explicações, pois pelo menos pelo que podia notar, estava muito mais envolvido com o caso do que se podia imaginar. Luis Sera veio caminhando na direção de Leon, com um sorriso largo no rosto. Parecia aliviado.
- Leon.
O agente olhou para Sera, que mostrou um frasco e falou em tom triunfante.
- Veja. Consegui a amostra.
De repente, silenciou. Seus olhos arregalaram e sua expressão antes de alegria se transformou em uma máscara de dor. E então, do peito de Luis Sera brotou uma ponta, parecendo um tentáculo vermelho. Ele foi erguido do chão por este tentáculo com a extremidade pontiaguda. A mão de Sera se abriu a amostra que carregava caiu. Leon apenas olhava a tudo incrédulo. Aquilo parecia irreal. Por incontáveis segundos o frasco foi caindo até parar em uma mão vestindo uma túnica roxa. Inutilmente, Leon apenas gritou.
- Luis!!!
Então, de posse da amostra, Osmund Saddler jogou Luis Sera no chão. Saddler recolheu o tentáculo sob a túnica que vestia. Com o frasco na mão e um indisfarçável sentimento de vitória, mesmo sem olhar para Leon nem para Sera, ele falou mais para si do que para os outros.
- Agora que tenho a amostra, você já não tem mais utilidade nenhuma para mim.
Leon se levantou e começou a caminhar na direção do líder dos Illuminados. Tinha a expressão endurecida. Seu sangue fervia e a vontade agora era sacar o revólver e encher a cara de Saddler de tiros. Mas não iria adiantar. Tinha visto que não se tratava de um ser humano. Leon já desconfiava disso, mas agora teve certeza. Ele comanda Las Plagas por que tem algum poder sobre elas. Algum poder que um humano não teria. Só que para se curar e curar Ashley, iria precisar da amostra que estava em poder de Saddler. E para isso, teria de matá-lo, embora ainda não fizesse ideia de como atingir esse objetivo.
Saddler então se virou para Leon, sorrindo.
- Meu garoto Salazar irá se certificar que o senhor tenha o mesmo destino de Sera.
Dito isso, o líder da seita se virou e se retirou pela porta onde ambos haviam entrado. Leon até pensou em correr atrás de Saddler, mas não iria adiantar. Abaixou-se onde Sera estava. Não iria adiantar também, sabia, mas quem sabe pudesse arrancar alguma informação importante antes que Luis morresse.
- Procure manter a calma, Luis.
Leon teria de tentar acalmar Sera, mesmo sabendo que pela gravidade do ferimento e pelo fato de não terem como sair dali e conseguir um transporte para um local com hospital, o homem com quem falava teria muito pouco tempo de vida. Reunindo ainda as forças que possuía, Luis Sera começou a falar.
- Sou um pesquisador contratado por Saddler. Ele descobriu o que eu estava fazendo.
Sera tentou falar mais, no entanto, apenas conseguiu soltar uma golfada de sangue e fez uma expressão de dor. Sabia que estava morrendo. Leon tentou ainda ver se havia alguma esperança.
- Bem Luis. Talvez seja melhor você não falar nada agora. Tente resguardar as forças.
O agente tentou verificar a extensão do ferimento causado por Osmund Saddler em Luis. Mas este não deixou e deu um tapa na mão de Leon. Em seguida, apanhou do bolso um frasco com comprimidos grandes metade brancos, metade vermelhos.
- Tome Leon. Deve diminuir o crescimento dos parasitas. A amostra. Saddler a tem. Agora, você precisa recuperá-la.
A poça de sangue em que Luis Sera estava deitado começou a aumentar ainda mais. Ele baixou a cabeça no chão e fechou os olhos. Leon ficou olhando para o novo amigo por alguns instantes antes de concluir. Sera não vivia mais. O agente colocou os dedos no pescoço para se certificar da morte de Luis. Então, colocou as mãos sobre o peito do morto. Não podia ser verdade. A única pessoa que tinha conhecimento sobre o parasita Las Plagas e que no momento estava cooperando na luta contra Osmund Saddler estava morta. Agora, teria de seguir sozinho. Mas não era só isso. Leon sentia gratidão por este homem. Ele o ajudara na luta na cabana. Se não fosse a participação de Luis na ocasião, certamente estaria morto. Estavam totalmente cercados pelos aldeões. E Leon estava começando a considerar Sera seu amigo. Já pensava que poderiam manter contato depois de resolvido o caso. Não era só o conhecimento dele que morria. Mas um ser humano. Uma pessoa que poderia ser muito útil no caso de lidarem com uma epidemia global, como acontecera recentemente com o Vírus T. Ainda mais levando em consideração que a Umbrela sabia do parasita e estava atrás dele. Logo essa contaminação poderia se estender do vilarejo e sabe-se lá qual seria seu alcance. Leon não conseguia se conformar. Saddler teria de pagar. A única coisa no momento foi gritar. Um grito de tristeza e de revolta.
- Luis!!!
Leon se levantou e ficou apenas observando o frasco com os comprimidos. Agora tinha de se preocupar com questões mais objetivas. Sera estava morto. Nada poderia trazê-lo de volta. Mas a guerra não estava perdida. Era o momento de se preocupar com aquilo o que ele poderia resolver. E teria de começar pelo resgate da filha do presidente. O problema é que tanto ele como ela estavam infectados e mais cedo ou mais tarde acabariam se juntando ao exército de Saddler. Acabariam sendo manipulados por ele, por causa das Plagas. Iria virar uma marionete, como os aldeões, os monges e até mesmo Bitores Mendez e Ramon Salazar. Estava com comprimidos que retardariam isso, mas não evitariam que o parasita acabasse por controlá-los. Então era urgente encontrar a cura definitiva. E só conseguiria isso, levando uma amostra do parasita ao seu país. Tinha que conseguir recuperar a amostra. E para piorar, Sera parecia saber como curar as pessoas infectadas. Agora, ninguém mais sabe. Saddler deve estar rindo à toa. Sua amostra está em seu poder e a única pessoa que poderia saber como curar a infecção provocada por Las Plagas estava morta.


Capítulo 25

Ada acordou de seus pensamentos e ficou um tempo apenas observando o caminho por onde Luis Sera passou. Leon saíra da casa com Ashley e entrou em um daqueles túneis usados para sair da vila. Só que ele tomou outro caminho. Ada entrou pelo da direita. O agente foi pelo da esquerda. A espiã estava dentro de um dos abrigos quando os dois passaram. Ela pensou em chamá-lo de volta, mas não teve tempo. Então, leu um bilhete escrito por Bitores Mendez. E ela não gostou nenhum pouco do que leu. Um dos caminhos estaria bloqueado por um gigante. No outro, estaria uma força de ganados. Ada liquidara com o gigante. Se Leon tivesse tomado o caminho da direita, não teria que lutar contra ninguém. Mas tomando o caminho que tomou, teria de enfrentar um exército de aldeões. Mas agora, não tinha mais o que fazer. O jeito era prosseguir. Se fosse atrás do agente, além de perder tempo, iria correr riscos desnecessários. Interessava, no momento, garantir que Sera conseguisse a amostra.
A espiã, então, voltou por onde havia vindo. Apesar de saber que o gigante estava morto, não deixou de tomar cuidado. A final de contas, poderia acontecer de virem mais aldeões. Ela movimentou a alavanca e a porta da direita se abriu, liberando a entrada do túnel, que dava acesso à passagem. Ada caminhou pelo chão de madeira, abrindo a porta por onde entrara. Agora, estava voltando àquela parte do vilarejo que levava ao portão de saída. Luis Sera também teria ido por ali, mas ela já o perdera de vista.
O local estava vazio e o silêncio chegava a ser angustiante. O gigante ainda jazia morto. Então, Ada viu algo que lhe chamou a atenção. Havia uma corda no pescoço da criatura. A espiã se abaixou. Primeiro, se certificou de que o gigante estava realmente morto. Mexeu nele, mas o monstro não moveu um músculo. É, não haveria perigo algum. Então, retirou o cordão e viu uma grande chave pendurada nele. Seria a do portão? Provavelmente sim. A luz das tochas dava um ar sinistro ao local. O vento assobiava nos telhados dos abrigos dispostos ao longo da passagem. As sombras projetadas no chão assustavam. Mas nada se movia, exceto Ada. O único som que ouvia, além do vento eram os seus passos, abafados no chão de terra. Seu salto afundava um pouco, mas não a atrapalhava. Apesar de não ver nenhum movimento suspeito, sempre cuidava ao passar por qualquer abrigo, sombra ou por aquelas plataformas de madeira suspensas. Sempre poderia haver alguém pronto a lhe atirar um machado, uma foice ou uma pedra lá de cima. Mas desta vez, nada aconteceu. De repente, ouviu tiros vindos de longe. Eram do lado esquerdo. Devia ser Leon. Ao chegar perto do portão de saída, Ada olhou para trás. Tudo estava absolutamente quieto. Experimentou a chave no buraco da fechadura. Ouviu o barulho vindo do seu interior e empurrou o portão, que se abriu imediatamente. Passou para o outro lado.
Agora estava de volta ao local de onde saíra. Aquele cenário estranho. Olhou para a esquerda e viu um penhasco de uma altura vertiginosa. Não conseguia sequer ver o fundo dele. Uma espécie de ponte ligava a outro portão, mais a cima ao outro lado do local. Ada passou por uma escada que levava a uma plataforma alta, onde era possível ter uma visão panorâmica e por uma casa, onde entrara antes. Não havia mais motivos para perder tempo ali. Dirigiu-se ao portão. Ao chegar, ficou a examiná-lo por alguns instantes. Estava trancado. O que lhe chamou a atenção novamente, foi aquele rosto esculpido em alto relevo bem no centro, com aquele olho que na verdade deveria ser um scanner de retina. Somente pessoas autorizadas poderiam passar por ali. Ada usou o gancho e se içou para cima dele.
Ao chegar ao topo, se abaixou, e ficou algum tempo só observando. As tochas iluminavam a parte de baixo, deixando o local onde Ada estava, na penumbra. O outro lado estava repleto de aldeões. Ela apanhou o monóculo e viu um deles em um velho caminhão. Estavam esperando que alguém abrisse o portão? Ada procurou por sinais de Sera, mas não viu nada. O pesquisador era do local e conhecia muitas passagens secretas. Seria de estranhar se o visse. Ada poderia dar cabo de todos eles sem maiores dificuldades, mas não queria chamar a atenção. Seria melhor que Saddler não soubesse que havia mais alguém atrás da amostra. Que o líder dos Illuminados pensasse que tinha de se preocupar apenas com Luis Sera e Leon. Neste momento, viu uma movimentação atrás de si. Da escada do teleférico, surgiram duas pessoas: Leon e Ashley. Então o agente conseguira se livrar dos ganados. Ela apenas os observou, protegida pelas sombras. Leon chegou ao portão e parou em frente ao rosto esculpido. O que ele iria fazer? Ada quase não acreditou quando o americano colocou a mão no bolso e retirou algo que parecia uma esfera de vidro ou outro material semelhante. Leon o aproximou do scanner de retina e o portão destravou. O agente largou o objeto no chão e Ada o observou com o monóculo. Era um olho de cristal. E não era um olho qualquer, mas o de Bitores Mendez. O prefeito do vilarejo não o entregaria de presente a Leon. Isso só podia significar uma coisa. Mendez estava morto.
Mas a situação veio muito a calhar. Assim que abriu o portão, o grupo de aldeões caiu sobre Leon. O agente se livrou rapidamente de todos, inclusive deu conta do caminhão que veio disparado em sua direção. Mas com isso, Ada conseguiu passar por todos sem ser notada. Ela correu para frente e viu que ao fundo, havia muitas tochas. Isso só podia significar que havia uma comitiva de recepção para quem chegasse perto do local. A espiã, então, viu uma ponte que ligava a estrada a um castelo. Sim, era o da família Salazar. Ali devia estar Luis Sera. Ela desceu um pouco da estrada e lançou seu gancho até a metade da ponte, subindo nela logo em seguida. Conseguiu passar pelos aldeões sem chamar a atenção deles. Em seguida, caminhou para dentro do castelo.
Assim que cruzou a ponte, Ada parou para olhar o que a esperava. A princípio, tudo estava quieto. Havia um pequeno pátio onde entrara. Um abrigo em pedra, alguns barris de madeira, tochas iluminando o local e uma escada, também em pedra. Tudo ali remetia a um período medieval. A espiã até apanhou o telefone celular para se certificar que estava no século XXI. Se não fosse isso, sentir-se-ia de volta ao século XIII. Ela esquadrinhou o local com os olhos para se garantir que não tinha ninguém por ali. Entrou no abrigo, mas não viu nada. Então, começou a subir as escadas sempre tomando todo o cuidado. Como os degraus estavam em espiral, sempre dava uma espiada antes de cada passo, pois não era possível ver muito à frente.
Assim que chegou à parte de cima, olhou para trás e se escondeu. Leon e Ashley também entraram no castelo pelo mesmo lugar por aonde viera. Só que eles estavam fugindo de alguém. O agente fez um sinal para a garota e a ordenou que subisse a ponte. Eles o fizeram. Depois disso, passaram a vistoriar o local, como Ada fizera. Ela lançou o gancho até o alto de uma das torres e subiu. Lá de cima, pôde ver que havia monges preparando uma cilada. Jogariam pedras de uma catapulta em qualquer um que passasse pelas escadas. Ela estava fora do campo de visão deles. Não demorou muito para começarem a jogar as pedras. O alvo era o agente. E logo, todos eles foram mortos por Leon, Sim, pensou Ada, ele se cuidava muito bem sozinho. Não precisava de ajuda. Pelo menos não agora.
Caminhando sobre as torres do castelo, Ada ainda viu Luis Sera correndo de um grupo de monges. Ela quis descer ajudá-lo, mas ele entrou em uma das portas, sumindo de vista. Os monges tentaram abri-la, sem sucesso. Ele conseguiu escapar. No entanto, Ada não gostou nenhum pouco do que viu. Um frasco de vidro caído no chão atraiu os monges. Um deles caminhou até ele, se abaixou e o apanhou. Olhou para os outros e fez um sinal para que voltassem para dentro do castelo. Só podia ser a amostra. Sera teria de apanhá-la de novo.
Ada conseguiu entrar no castelo, mas teve de se esconder. Os monges estavam todos em alerta. Então, ao passar por uma das salas, ela viu um homem baixo, usando uma roupa azul espalhafatosa, com um chapéu da mesma cor e com um cabelo comprido branco caminhando e dando ordens aos monges. Junto com ele, estavam dois homens enormes, usando túnicas. Um de preto e um de vermelho. No entanto, ao vê-los de frente, Ada reparou que os olhos deles brilhavam. Não dava pare ver sob o capuz, mas a espiã duvidou que fossem humanos. Estavam falando em espanhol. A voz do homenzinho era aguda e estridente.
- Eles estão aqui. Logo entrarão no castelo. Eu sei disso. Então, vamos liquidar o americano. A garota, vocês não podem matar. Ela é fundamental para os nossos planos. Devemos entregá-la ao Lorde. Mas o senhor Kennedy não nos interessa. Podem matá-lo.
Ela ficou olhando mais um pouco. Não podia sair de trás do pilar onde estava, pois se o fizesse, revelaria sua posição. E no momento, eles não se preocupavam com ela. O pequeno homem prosseguiu:
- E tem ainda aquele cientista, o senhor Sera. Nunca confiei nele. Mas agora, a ordem é recapturá-lo. Ele sabe muito. E deve estar atrás da amostra.
Um dos monges interrompeu Salazar.
- Sim, mestre Salazar. Um de nossos irmãos apanhou a amostra que ele carregava. Entregaremos ao Lorde.
Salazar olhou irritado para o monge.
- Entreguem a mim. Eu darei ao Lorde.
O monge não se alterou, apenas respondeu:
- Mestre, não está conosco. Mas sim com o grupo que perseguiu o senhor Sera.
- E onde está o cientista?
- Fomos informados de que ele escapou.
Ramon Salazar fechou os punhos e grunhiu com raiva.
- Vocês são incompetentes. Como deixaram-no escapar? Eu quero Sera morto. Morto. Morto! Entenderam ou terei que desenhar?
O monge parecia imperturbável.
- Mestre, não somos assassinos. Apesar de estarmos cumprindo com nossas obrigações, o senhor tem de saber que nem todos nós dominamos perfeitamente as armas. Mas pode ter certeza que faremos o que estiver ao nosso alcance para agradar ao Lorde.
- Façam com que todos aprendam a manejar as armas o mais rápido possível. E capturem aquele cientista para que ele não consiga aquela amostra.
Ramon encarou o monge que estava falando com ele.
- Vocês têm ideia do que pode acontecer se ele pegar aquela amostra?
Fez-se silêncio no local. Salazar continuou:
- Ele vai entregar ao senhor Kennedy, que poderá sair livremente daqui, levando aquela garota, a senhorita Graham. E isso vai arruinar os planos do Lorde, que certamente vai ficar muito… decepcionado. E vocês não querem decepcionar Lorde Saddler. Querem?
O monge olhou para os outros e, de cabeça baixa, respondeu:
- Certamente que não.
Ramon Salazar girou os calcanhares e deu as costas ao grupo de monges. Antes de se retirar, com seus dois guarda-costas, deu a última ordem.
- Vão atrás do cientista e o capturem. Ou matem. O que fizerem, será bem feito.
Ramon Salazar saiu. Os monges se retiraram em seguida, e a sala ficou vazia. Ada caminhou entre os pilares, observando o carpete vermelho, a cerâmica nas paredes e nas partes do chão descobertas e os vasos de porcelana. O local era ricamente decorado. Mas não tinha tempo para ficar ali admirando o local. Ciente do tempo que perdera, a espiã sabia que teria de seguir procurando por amostras do parasita para poder não depender unicamente de Sera. Tinha de ter uma alternativa para o caso de tudo dar errado. Além do mais, queria saber como estava Leon. Então, seguiu para fora da sala.
Ada saiu em um corredor. Passou pelo que parecia uma sala de jantar. Havia garrafas de vinho sobre a mesa. Ao fundo, uma porta trancafiada com grades. A espiã seguiu pelo outro lado, mas ao ver um grupo de monges se aproximando, se escondeu. Ficou apenas observando o grupo passar. Estavam todos de cabeça baixa. Não fizeram conta da presença de Ada, mesmo não tendo passado muito longe dela. De repente, ouviu dois deles fazendo um comentário.
- Mestre Salazar disse que foi informado que tem mais alguém no castelo.
Ada procurou ouvir melhor, mas não podia chegar perto. O outro monge respondeu:
- Mas quem mais conseguiria entrar além do americano e do cientista?
- Não sabemos, parece que é uma mulher. Ela também veio do vilarejo. Salazar foi informado da presença dela lá então ele supõe que ela deve ter vindo também.
- Será que está trabalhando com algum dos dois?
- Não sabemos. Mas se a encontrarmos, a ordem é prendê-la.
O outro monge parou e o encarou.
- O mestre quer interrogá-la.
Ada não conseguiu ouvir mais nada, pois o grupo se distanciou e ela não queria ficar seguindo eles. Era evidente que a tinham descoberto. Ou pelo menos, suspeitavam de sua presença. Agora, teria de se cuidar ainda mais para não ser vista, já que Salazar estaria procurando por mais alguém além de Leon, Ashley e Sera. A espiã abriu outra porta no final do corredor. Entrou em um quarto de dormir. Era enorme, com estantes, prateleiras, vasos de porcelana e uma grande cama ao fundo. Do lado da cama, tinha uma porta, que dava acesso a outra parte do quarto, com dois guarda-roupas e um biombo de madeira. De volta ao quarto, a espiã ficou olhando por um tempo por uma janela, que estava trancada. Iria abri-la? Achava melhor não. Então, viu Leon passando pela varanda e se dirigindo até uma escada, que ficava ao fundo de um corredor do lado de fora. A escada dava acesso ao jardim. Ela o viu descer e a partir daí não viu mais nada. Resolveu esperar. Ouviu lá do meio do labirinto de arbustos, tiros e ganidos de cães. Parece que o agente estava sendo esperado pelos animais de estimação de Ramon Salazar. Não demorou muito, no entanto e o agente americano apareceu novamente, saindo da escada e se dirigindo à porta. Ele destravou-a e abriu. Ada se escondeu e ficou observando Leon, que entrou e ficou um tempo parado, apenas observando. Ele entrou, deu alguns passos dentro do recinto, tomando o cuidado de não ser surpreendido. Não tomou o cuidado suficiente, pensou Ada, que apanhou sua arma e se dirigiu até Leon.
A espiã caminhou apressadamente, aproveitando o carpete para não fazer barulho e, enquanto Leon ainda estava distraído, olhando apenas para frente, Ada encostou a pistola nas costas do agente.
- Coloque as mãos onde eu possa vê-las.
- Me desculpe, mas seguir ordens de uma dama não faz o meu estilo.
Ada encostou a pistola mais alto e repetiu:
- Levante as mãos agora.
Só que neste momento, Ada é quem foi surpreendida. Leon se virou mais rápido do que ela esperava, imobilizando seu braço e a desarmando. No entanto, Ada conseguiu jogar a arma para cima e deu uma cambalhota, caindo em pé. Apenas observou a pistola, que voltaria para sua mão. Mas nesse meio tempo, Leon pegou uma faca e quando Ada finalmente recuperou a pistola, ele encostou sua arma no pescoço da espiã. Então, falou:
- Quer um conselho? Da próxima vez, use uma faca. Funciona melhor a curtas distâncias.
Leon pegou a pistola de Ada e jogou o pente de balas no chão. A espiã removeu os óculos escuros que estava usando e chamou o agente:
- Leon! Há quanto tempo!
O agente se virou surpreso ao ouvir o seu nome. Então reconheceu a espiã.
- Ada! Então é verdade.
- O que é verdade?
- Você está trabalhando com Wesker.
- Vejo que fez o dever de casa.
Neste momento, Ada jogou seus óculos escuros no chão e eles emitiram um som quase inaudível.
- Por que Ada?
- Isso lhe importa?
- Por que você está aqui? Por que aparecer assim?
Ada deu um sorriso e virou o rosto para o lado. Os óculos explodiram, produzindo o efeito de uma granada cegadora. A espiã, que protegeu os olhos, aproveitou-se para apanhar a pistola, o pente de balas que fora jogado no chão e se levantou. Antes de sair, ainda disse:
- Vejo você por aí.
Leon, ainda recuperando a visão, só chamou.
- Ada!
Mas já era tarde. Ada saltou pela janela. Ao descer no corredor do lado de fora, viu uma multidão de monges ao longe. Teria de passar por eles. Mas não teria como. Então, desceu até o labirinto verde. Antes de entrar nele, no entanto, recarregou a pistola e a metralhadora. Achava que teria companhia. Por outro lado, Leon já havia matado os cães que foram soltos. Mas sempre havia a possibilidade de algum ter escapado com vida, mesmo que ferido. Até por que provavelmente eles conseguiam recuperar os ferimentos, a não ser que estivessem mortos. Mas, antes ainda de entrar no labirinto, seu telefone tocou. Era Wesker.
- Luis está com a amostra. Ele a está esperando no castelo. Entre em contato com ele agora mesmo.
- Entendido.
- Tem mais uma coisa. Aquele agente do governo, Leon Scott Kennedy. Se o vir, elimine-o. Nós não podemos deixá-lo interferir em nossos planos.
- Ele não tem ideia do que está acontecendo. Não há motivos para se preocupar com ele.
- Ele é um sobrevivente de Raccoon City. Nós não precisamos de nenhuma distração. Elimine-o.
Após dizer isso, Wesker desligou o telefone. Ada o guardou e ficou um tempo pensando no que acabara de ouvir. Não teria coragem de matar Leon. Teria? O jeito era tentar postergar o máximo que pudesse para cumprir essa ordem e torcer para que o agente não interferisse na missão de Ada. Sabia que ele não iria colaborar e se fosse preciso, iria lutar para ter a amostra. E poderia acontecer de um ter de matar o outro. Ada preferiu não pensar nesse problema agora. Primeiro, se concentraria em encontrar Luis Sera. E mais precisamente agora, em como sair do labirinto.
O local era uma espécie de jardim enorme. Os labirintos eram formados por cercas vivas. A visibilidade não era boa, já que a única fonte de luz eram as tochas, colocadas em alguns pontos. Havia várias esculturas em mármore espalhadas por ali. Algumas eram chafarizes. Ada entrara ali, pois a única passagem que tinha para o castelo, estava bloqueada por um grupo de monges e no momento, entrar ali pareceu a coisa mais acertada a fazer. Agora, ela tinha sérias dúvidas. Mas, já estava ali, e teria de sair.
Neste momento, o grupo de monges que Ada vira, entrou no labirinto, atrás da espiã. A vantagem é que eles não teriam como enfrentar ela todos ao mesmo tempo, pois os corredores eram estreitos. Assim, teriam de vir um por um. Ada os viu descer pela escada. Agora não os via mais. Teria de tomar cuidado. Eles estavam armados com foices. Se passasse por alguma esquina do labirinto e não visse, poderia ser acertada por um deles. Passou a caminhar prestando o máximo de atenção ao som de passos na grama. Ou a qualquer sombra projetada no chão ou mesmo às cercas vivas. Assim que chegou ao meio do labirinto, viu uma escada com uma fonte ao meio. E da escada desceram dois monges, um com um escudo à frente e outro, com uma foice. Ada apanhou a metralhadora automática e disparou. Não matou o monge da frente. Em vez disso, a cabeça dele se abriu e de dentro dela, surgiu uma coisa que mais parecia um inseto gigante. Era uma plaga. O monge veio caminhando em sua direção com aquela coisa grotesca no lugar da cabeça. Ada atirou na coisa até matá-la, vendo um líquido verde espirrar dela. O monge caiu morto no chão. No entanto, a espiã sabia que teria de enfrentar mais deles.
Ada então subiu as escadas e parou sobre o ponto mais alto, ao lado da fonte. Dava para ter uma visão boa do labirinto e de como ela poderia chegar ao portão para voltar ao castelo. E viu que bem no portão onde ela entraria novamente no corredor que dava acesso ao quarto de onde saíra, havia um monge arqueiro. Ada se escondeu atrás de uma coluna e atirou, matando-o. Agora, teria de encontrar o caminho até o portão. Pelo menos, já sabia para que lado ir. Então, foi caminhando, ouvindo seus passos e sentindo a brisa gelada batendo em seu cabelo. Quando passara pela fonte, se molhou. A lua ajudava a iluminar o lugar, dando uma claridade melhor que as tochas. Quando dobrou uma das esquinas, um dos monges estava parado ali a esperando, com uma foice na mão. Ada atirou na cabeça dele. Desta vez, não saiu nada de dentro dela. Encontrar a saída estava sendo mais complicado do que parecia.
Quando ela estava chegando perto da saída, ouviu o barulho do portão se abrindo e fechando. Ada apanhou a metralhadora e parou. Ouviu passos se aproximando. Caminhavam depressa. A espiã pensou que pelo menos assim, eles mostraram para que lado ficava a saída, pois ao ouvir os passos, deu para localizar com alguma precisão, onde ficava o corredor que levaria ao portão que dava acesso ao castelo. Quando dobrou, viu uns quatro monges. Disparou uma rajada de tiros, matando todos eles. Ao chegar em frente ao portão da saída, havia um monge com uma túnica diferente dos demais. Era vermelha. Ele usava uma máscara na cabeça, com o formato de uma caveira. Era de metal, de forma que não poderia atirar ali. A espiã mirou no peito do monge e disparou. O monge caiu de joelhos e Ada atirou mais vezes, até matá-lo.
Feito isso, ela subiu até aquele corredor novamente. Dava para visualizar o labirinto do seu lado direito. Do lado esquerdo, passou pela porta que dava acesso ao quarto onde encontrara Leon, que agora estava aberta. Ada correu até outra escada, que terminava em frente a uma porta grande de madeira. Ao passar por ela, deu de cara com dois monges. Mais uma vez, o da frente, com um escudo. Ada pegou a metralhadora automática e atirou no escudo, destruindo ele e matando o monge que o carregava. Depois, foi a vez do que vinha logo atrás, armado com uma foice.
Ada seguiu correndo até passar por um chafariz. Olhou para trás e não viu ninguém a seguindo. Então, a espiã chegou a mais uma esquina na calçada e parou. Deu uma espiada para se certificar de que não havia ninguém a esperando, olhou para cima e depois de confirmar que estava tudo limpo, avançou até uma porta de metal toda trabalhada. Quando abriu-a, quase foi apanhada de surpresa. Um monge com uma túnica vermelha e uma máscara de caveira correu na direção da espiã. Quase conseguiu agarrar ela pelo pescoço, mas Ada teve reflexos ágeis para sacar a pistola e atirar nele antes. O monge caiu no chão e ela terminou de matá-lo. Mas foi por muito pouco.
A espiã abriu a porta novamente, chegando a um corredor pequeno com uma escada, que levava a outra porta. Esta parte não tinha nenhum adorno e a única iluminação que tinha era da lua, entrando pelas grandes janelas. Ada desceu as escadas até a porta. A espiã saiu em uma pequena ala, com uma porta de metal fechada à sua direita. Ela foi até o local e a abriu. Entrou em uma grande sala com estantes escoradas nas paredes. O local era todo em pedra bruta. Não havia carpetes, cerâmica nas paredes, nem no chão. Mas mesmo assim, o lugar não era feio. Era rústico, mas não feio. Tinha alguns vasos de porcelana sobre as estantes. E não tinha ninguém ali. Ada olhou bem para todos os lados e não viu um único monge. Então, ela saiu da sala e entrou em outro corredor, usando a porta que ficava na extremidade oposta à que entrara.
Ali, a primeira coisa que viu foi exatamente um monge a esperando. Ela apanhou a pistola e atirou na cabeça dele. Depois, caminhou vagarosamente pelo corredor até a saída. Quando ali chegou, não se revelou de imediato. Apenas espiou pela quina da parede, vendo um arqueiro pronto para alvejá-la no momento em que pusesse os pés na sala. Então, Ada voltou para trás da parede, recarregou sua pistola e, em um movimento rápido, atirou no arqueiro, matando-o com apenas um tiro. Em seguida, saiu do corredor.
Entrou em uma sala ampla, com duas mesas usada para fazer as refeições. Já passara por ali antes, mas agora, tomara outro caminho para chegar até o local. Sim, era a sala que ficava próxima do quarto de dormir de Ramon Salazar. Ada pensou que no quarto, poderia encontrar algum sinal da amostra, mas estava enganada. Teria de encontrar Sera antes de Saddler, ou que os monges ou ainda Ramon Salazar. Do lado direito da sala, havia uma porta. Ada caminhou até ela e olhou para dentro. Não parecia ter nada, mas uma coisa lhe chamou a atenção. Havia muito sangue perto da porta. Houve luta ali, e corpos foram arrastados. Para limpar o local. Será que Leon matara todos os monges que estavam ali? Seria difícil. Mas, teria de entrar. Ela foi andando cautelosamente até a porta. Quando chegou, olhou para dentro. Tudo estava quieto. Mas havia sinais de sangue ali. O que aconteceria? A espiã entrou na sala. Não viu nem ouviu nada. Mas seu instinto dizia que algo estava errado. Estava muito fácil chegar ao outro lado da sala. Não podia ser. Então, deu mais um passo. Nada. Quando Ada resolveu caminhar, ouviu um leve estalo e parou. Olhou para os lados e antes mesmo de correr, uma grade caiu ao redor dela, formando uma espécie de gaiola. A espiã olhou para cima e viu uma plataforma contornando as paredes. Da porta por onde entrou, vieram vários monges. E da plataforma de cima, saltou uma criatura que Ada nunca tinha visto na vida. Ele até tinha formas humanas, como pernas, braços e cabeça. Mas, acopladas aos seus braços, havia gigantescas garras. E quando a criatura se virou para a espiã, ela viu algo que lhe causou calafrios. Os olhos daquela coisa estavam costurados. Ele é cego. Ada iria enfrentar um Garrador. No mesmo lugar onde Leon acabara de matar um.
Ada tinha muito pouco tempo para agir. Olhou em volta. A criatura que saltou na gaiola era cega. Então, a espiã pegou uma granada na espécie de mochila que carregava e jogou na direção de uma das portas. O artefato explodiu, destruindo o cadeado que a prendia. Ada correu até lá e abriu. A espiã saiu correndo da gaiola, deixando dois monges que saltaram dentro dela na companhia do Garrador. Ela saiu correndo, passando por vários monges que cercavam a grade, saindo pela porta por onde entrara. Então, carregou a metralhadora automática e voltou à entrada. Um arqueiro fez mira, mas antes de atirar a primeira flecha, Ada disparou nele. Ao ouvir o barulho, o Garrador começou a golpear o ar enlouquecido, matando os dois monges que saltaram para dentro da gaiola. A criatura era cega, por isso, não tinha como ver a saída. Depois de um tempo sem ouvir movimentação nenhuma, Ada voltou para dentro da sala. Não tinha mais ninguém ali, exceto o Garrador. A espiã esperou o monstro se virar de costas, pois quando saiu, notou que havia uma coisa presa às suas costas. Sim, parecia um pequeno animal, com tentáculos. Era uma plaga. Seria ela que controlaria os movimentos daquele monstro, provavelmente. Chegou perto da grade, se aproximando o máximo que conseguiu quando Garrador lhe deu as costas. Apanhou a metralhadora e mirou naquela coisa que ficava se mexendo, na coluna da criatura. E apertou o gatilho, disparando uma rajada de tiros certeiros. Na hora, o Garrador soltou um urro de dor e caiu morto.
Ada notou que ao centro da gaiola, havia um pequeno baú. Estava vazio, pois Leon pegara o objeto que ali estava. Ada olhou para trás e viu que a porta que dava acesso à saída dali estava fechada com grades. Então, ela passou a procurar por algum objeto que poderia estar escondida no baú. E viu que na verdade, ele tinha um fundo falso. Ela o retirou. Não tinha nada dentro, mas uma coisa lhe chamou a atenção. Havia o espaço para um objeto. Ada procurou algo que pudesse colocar ali. E lembrou-se de que quando viera, passara por uma sala fechada que continha um baú.
Teria de voltar até lá. Era perto. Ada saiu correndo. Sabia que não teria ninguém, pois matara todos os monges no caminho até o local. Logo chegou, viu que a porta estava trancada. Então, apanhou seu gancho e se lançou sobre uma janela que tinha ao lado da porta. Ela entrou na sala e abriu o baú. Lá dentro, encontrou uma espécie de ampulheta, que encaixava no local dentro do baú da sala onde matara o Garrador. Feito isso, saiu correndo o mais rápido que conseguiu. Sabia que cada segundo perdido, poderia significar a morte de Luis Sera, e isso, ela queria evitar. Voltou pela sala de pedra, passou pelo local com a mesa de jantar e entrou novamente na sala com a gaiola. Passou pela porta e chegou até o baú, que ainda estava aberto. Ninguém viera ali. Tudo estava exatamente do jeito que estava como deixou quando saiu. Então, colocou o objeto dentro do baú que com o peso, desceu alguns centímetros. Ada ouviu um barulho vindo de trás dela e de repente, a grade da porta subiu, liberando a passagem. Agora, era só abri-la e sair.
Assim que passou pela porta, Ada entrou em outra sala. O piso terminava logo depois da parede. Havia uma porta do lado esquerdo, que dava acesso a uma ala que conduzia a outra, mais a baixo. Não tinha nada em frente ao piso, exceto o chão, metros mais abaixo que o piso onde Ada estava. Do outro lado da sala, tinha outro piso semelhante ao que a espiã estava, também conduzindo àquela mesma ala. Havia duas maneiras de cruzar a sala. A primeira, era entrando na porta à esquerda. A segunda, seria atravessando uma espécie de ponte que ligava as duas extremidades da sala. Ada não sabia, mas esta ponte fora levantada por um mecanismo acionado por Leon.
Quando avançou, Ada percebeu que alguém estava descendo as escadas do outro lado da sala, indo para aquela ala à esquerda. De repente, começaram os tiros e a espiã correu para ver o que era. Leon estava ali, indo exatamente para o local onde ela estava. Ada teria de sair dali rápido. Não quer vista pelo agente. Até porque como tinha ordens expressas de matar Leon, não podia arriscar ser vista perto dele. Apenas deu uma observada enquanto o agente era atacado por uma verdadeira multidão de monges do outro lado. Mas para seu alívio, ele conseguiu dar conta de todos sem maiores problemas.
Mas então, quando ela foi se dirigir à porta do outro lado, dois monges vieram em sua direção. Um na frente, com um escudo e outro atrás, com uma arma que tinha uma bola com espinhos presa a uma corrente. Ada se virou para trás para voltar ao piso de onde saíra, mas mais dois monges estavam vindo por ali. Estava cercada. Então, pegou a metralhadora e disparou no monge com o escudo, derrubando ele e o que vinha atrás, correndo na direção deles. Depois, se voltou para trás e atirou nos outros dois que a perseguiam. Neste momento, Leon já não estava mais lutando com os monges e ela o viu saindo da porta do outro lado da sala. Ela se escondeu para não ser vista, enquanto Leon ficou um tempo, olhando para trás. Logo depois, o agente entrou novamente pela porta. Era a hora de Ada sair, pois logo ele estaria ali.
Ada saiu pela porta do outro lado da sala antes de ser vista pelo agente americano. Encontrou uma escada toda em pedra bruta e a subiu. Chegou a um corredor. O piso, todo em pedra, sem nada o cobrindo. Dos lados, havia candelabros altos com velas para iluminar o local. O teto era abobadado. E não tinha ninguém ali. Ada poderia ir até a porta, que ficava ao fim do corredor, localizada à esquerda. Era uma porta toda em madeira. As paredes do local eram ornamentadas com temas ligados à seita, o que trazia alguma semelhança com motivos religiosos normais. Mas Ada já tinha visto que de normal, essa religião tinha muito pouco. A espiã caminhou até a porta. Antes de abri-la, ela parou e colocou o ouvido próximo a ela para ouvir o que poderia encontrar do outro lado.
Ada entrou em uma sala grande, mas que o piso media uns três metros de largura apenas, contornando as paredes. Havia um guarda corpo de madeira protegendo as pessoas de uma queda de vários metros de altura. Junto às paredes, várias estantes e quadros pendurados. Um enorme lustre pendurado com muitas velas iluminava o local. A espiã caminhou para o lado esquerdo e viu uma escada que levava a uma plataforma, que ficava mais baixa que o piso e perto do lustre. Era para as pessoas poderem acender as velas, ou mesmo trocarem-nas, puxando o lustre. Isso com certeza, seria feito por no mínimo duas pessoas. Então, Ada ficou imóvel. Não fora vista ainda, mas viu que presa na parte de baixo, estava Ashley. A espiã se escondeu. Logo depois, a porta se abriu novamente e ela ficou apenas observando.
De onde ela estava, viu Leon entrando na sala e fechando a porta atrás de si. Wesker não podia saber que ela estava no mesmo ambiente que o agente. Ele caminhava atento, olhando para os lados. De repente, a porta abriu novamente e Luis Sera entrou. Estava com um largo sorriso no rosto e ergueu o frasco com a amostra. Ada não acreditou no que estava vendo. Sera entregaria a amostra a Leon? Não podia ser. Se isso acontecesse, ela teria de tomá-la do agente. Mas era isso o que iria acontecer.
- Leon, eu consegui.
Os eventos que se seguiram, no entanto, mudaram todos os rumos dos acontecimentos. Ada os assistiu sem poder fazer nada. Sentia-se assistindo a um filme, incrédula. Como se estivesse sendo displicente. Como se não tivesse feito tudo o que podia. E talvez não tenha feito. Mas depois do que aconteceu, não adiantava se lamentar, apenas mudar os planos e seguir em frente. Sera arregalou os olhos e do seu peito, surgiu uma coisa pontiaguda. Um fio de sangue correu da boca do cientista. Ele foi levantado no ar e sua mão soltou o frasco com a amostra, que caiu na mão de… Osmund Saddler. Então, Sera foi violentamente jogado no chão, enquanto o líder dos Illuminados recolheu o tentáculo. E olhando para a mão, agora de posse da amostra, Saddler falou, referindo-se a Luis Sera. Pelo menos foi o que a espiã pensou.
- Agora que tenho a amostra, você já não tem mais utilidade para mim.
E olhando para Leon falou:
- Meu garoto Salazar se encarregará de lhe dar o mesmo destino.
Ada viu Leon correr até onde estava deitado o moribundo Luis Sera. Ele se abaixou sobre o cientista. Antes de morrer, Sera contou que era um cientista contratado por Saddler. Por fim, antes de morrer, passou um frasco com algo parecido com cápsulas. Era um remédio para conter o crescimento do parasita. Sera então pediu para Leon recuperar a amostra e morreu. A espiã apenas observou o agente gritando o nome de Luis. E uma lágrima correu pelo olho de Ada Wong. Estou ficando sentimental, pensou ela. Não costumava ficar tocada com cenas como essa. Ela secou os olhos e ligou o telefone. Teria de informar a situação a Wesker.
- Encontrei Luis. Infelizmente foi muito tarde.
- Você recuperou a amostra?
- Não. Saddler a pegou.
- Haverá outra chance. Por falar nisso, já teve alguma oportunidade para eliminar Leon?
- Ainda não.
- Se esse é o caso, podemos nos aproveitar de um golpe de sorte. Aproveite que Saddler está distraindo e recupere a amostra.
Depois disso, Wesker desligou o telefone. Ada ficou mais um pouco observando Leon descer a escada e atirar para libertar Ashley. Então o tempo passou e o agente caminhou de um lado para o outro, esperando alguma coisa. O que seria? Ada sabia. Ele estava esperando Ashley. A espiã, ela deu meia volta e se retirou pela porta lateral. Tinha outros planos. Teria de descobrir para aonde iria Osmund Saddler e tentar recuperar a mostra. Essa seria a sua missão agora. Leon se viraria sozinho.


Capítulo 26

Leon se encontrava em uma sala enorme. O piso alternava lajotas de porcelana cor creme e um azul escuro, quase cinzento. Quase em frente à porta, o corpo inerte de Luiz Sera jazia, já sem vida. Diversos candelabros compridos com velas davam uma luminosidade que beirava o sinistro, dado a oscilação da luz, além do jogo de sombras que se produzia nas paredes vindo das colunas. Muitas cômodas com vasos de porcelana eram visíveis, além de um enorme quadro com o retrato de Osmund Saddler na parede oposta. Ao centro era possível ver que havia um buraco. Sim, aquele piso era apenas uma espécie de contorno nas paredes. O agente começou a percorrer aquele piso superior até encontrar uma escada. Estava tão atordoado que nem se dera conta, até aquele momento que havia uma voz vindo lá de baixo. Leon parou e quase não conseguiu acreditar no que estava ouvindo. Era Ashley Graham.
O agente correu até as escadas e olhou lá para baixo. Sim, a filha do presidente estava lá. Ainda presa naqueles tentáculos de metal que a prenderam na parede logo que entraram no castelo. Ela se debatia desesperada. Ainda não tinha visto Leon. Ele apanhou sua arma. Teria de arriscar. Não iria soltar ela. Para isso, teria de atirar e acertar exatamente nos objetos que a prendiam. No entanto, sabia que um erro, por centímetros que fosse e ele, Leon iria matar a pessoa que deveria ter resgatado. No entanto, não teria outra maneira. Estava a uma altura tão grande que uma tentativa de salto dali, não seria outra coisa se não suicídio. Havia só uma escolha a fazer. Os tentáculos de ferro eram mínimos de onde estava. A própria Ashley estava minúscula. Teria de empregar toda a sua habilidade no gatilho e colocar a prova sua pontaria. Teria de ser assim. E seria.
Deu o primeiro tiro. Estourou a primeira tira. Ashley gritou assustada, procurando olhar de onde veio a bala. Então viu Leon. Mas não se acalmou. Gritou novamente. Leon deu o segundo tiro, estourando mais um dos braços de metal a que prendiam. Neste momento, ela começou a se acalmar. Faltava o terceiro, que era o do meio. Ashley não teria como sair ainda. Leon respirou fundo. Não poderia falhar. Tinha de se certeiro. Puxou o gatilho, sentiu o momento em que a bala saiu do revólver e por um espaço de tempo, ainda teve tempo de torcer. E a bala atingiu o alvo, libertando a filha do presidente. Ela depois daquele momento tenso, saiu caminhando. Colocou as mãos na cintura e olhou para cima.
- Obrigada por me proporcionar momentos de fortes emoções, Leon. Quando eu quiser morrer de infarto, vou lhe chamar.
Mal ela terminou de falar, duas portas abriram. Uma à esquerda de Leon, outra à direita. Por elas entraram monges. Todos indo em direção à Ashley. Quase todos vestiam túnicas pretas. Um único estava de vermelho, com aquela máscara de chifres. Era o líder deles. As portas foram fechadas e trancadas. Teria de ajudar a filha do presidente. Ela tinha de conseguir sair dali e encontrar o caminho para o piso superior. Ashley olhou para os lados apavorada. Leon apenas gritou.
- Ashley. Saia daí.
Leon recarregou a arma e ficou esperando que Ashley se colocasse em uma posição mais favorável. Se não desse, teria de atirar assim mesmo. Ela parecia não conseguir sair do lugar. Ficava parada quase embaixo do ponto onde o agente estava. Então, por fim, a filha do presidente começou a recuar. Sim, agora estava melhor. Ela deu um grito e se abaixou, colocando as mãos sobre a cabeça. Leon mirou e atirou na cabeça do primeiro monge que se aproximou dela. Foram três monges. Depois de um tempo em silêncio, Ashley se levantou. Olhou para os lados. Tudo havia ficado em silêncio novamente. Ela correu até uma porta, que ficava à esquerda de Leon e tentou abri-la. Mas estava trancada. Neste momento, o monge de vermelho, que havia saído, entrou novamente pela porta da direita, agora com mais dois arqueiros e um desarmado.
Os arqueiros e o monge de vermelho se posicionaram à frente de Leon. Ele tinha de ser rápido. Atirou uma granada nos dois arqueiros. O líder deles conseguiu sair correndo. Enquanto o agente estava distraído matando os dois arqueiros, o terceiro monge agarrou Ashley, levantando-a sobre os ombros. Leon ouviu os gritos desesperados da filha do presidente dos Estados Unidos e se virou para trás. Viu o monge a levando para a porta por onde eles entraram. Não podia deixar ele sair. Então, fez mira e atirou na perna do homem, que caiu, soltando Ashley no chão. Em seguida, o monge de vermelho apareceu novamente. Neste momento, Leon conseguiu matá-lo. Quando ele caiu, tudo ficou em silêncio.
- Ashley. Este era o líder deles. Era ele quem abria a porta. Procure nos bolsos se acha alguma chave. - Certo.
Ashley começou a procurar. Primeiro ela ficou um tempo apenas olhando para o morto. Virou-o e colocou as mãos sobre o rosto.
- Rápido, podem vir mais deles.
- É difícil, ora. Você está acostumado com essas coisas.
- Rápido. Eles vão vir atrás de você.
- Está bem.
Ashley começou a revirar os bolsos do monge. Mas fazia muito devagar. Leon estava começando a ficar nervoso. Estava perdendo muito tempo. Se não saíssem logo dali, com certeza, teriam companhia. Mas o tempo não parecia passar. A filha do presidente americano estava assustada e amedrontada. Mas tinha de correr. Era uma questão de vida ou de morte. Depois de incontáveis segundos, ela ergueu a mão com algo brilhoso na mão.
- Tem uma chave aqui. Agora posso sair.
- Certo. Corra para as portas e tente abri-las. Deve servir em uma delas. Tome cuidado. Não vou estar junto. Então tente fazer silêncio se ver algum deles. Se esconda e não deixem que a levem. Entendido?
Ashley fez um sinal de positivo com a mão.
- Entendido.
Depois disso, ela correu até a porta que ficava à esquerda de Leon e colocou a chave. Assim que girou, ouviu o barulho indicando que a fechadura fora aberta. Ela olhou para cima e fez mais uma vez o sinal de positivo com a mão. Ela abriu a porta, entrou e fechou-a, sumindo da visão de Leon. Agora estava sozinha. Teria de ter sorte, pois sem armas e sendo indefesa, se houvesse monges no caminho, seria muito difícil para ela escapar. Leon sabia que talvez a tivesse colocado em uma enrascada. Por outro lado, sabia que eles não iriam matá-las. Era importante. Salazar deixara isso bem claro. Ela tinha de ser mantida viva. Era o plano de Saddler. Ele sim podia morrer. Ela não. Então, isso o deixava aliviado, pois sabia que não matariam Ashley. O que não significava em hipótese nenhuma que ela não estava correndo riscos.
Aquele tempo em que Leon ficaria esperando ali seria de matar. O agente olhou para os lados e não viu mais nada. Caminhou pelo piso que circundava as paredes. Para onde olhava, só pensava no que estaria acontecendo a Ashley neste momento. Foi novamente até as escadas, onde atirou nos monges. Sentou-se em um dos degraus e ficou ali. Olhou novamente para trás para se certificar de que estava sozinho. Não ouvia nada, a não ser sua respiração e o bater do seu coração. Estava mais do que tenso, a final de contas, se fosse ele lá embaixo, seria tudo diferente. Ele era descartável, segundo Salazar. Mas Leon sabia lutar, se defender e atirar. Ashley não fazia nada disso, não estava armada e duvidava que soubesse dar um soco bem dado. Seria uma presa muito fácil.
O agente americano olhou para os candelabros. Cada vez que os olhava, ficava com uma sensação ruim. Parecia que estava naquelas velhas casas assombradas dos filmes. Salazar tinha luxo em seu castelo, mas seu gosto não era dos melhores. Apesar de ter sim tecnologia, parecia ignorar a existência de coisas como energia elétrica. Naquele castelo, Leon sentia-e quase como se tivesse entrado em uma máquina do tempo de volta à Idade Média. Principalmente com aqueles monges enlouquecidos os perseguindo. O quadro de Osmund Saddler olhava para ele. Leon sentia cada vez mais raiva daquele homem com aquela túnica roxa. Homem? Isso se aplicaria para o caso de ele ser humano. Mas não era. Sim, Bitores Mendez um dia foi humano. Salazar também. Mas Saddler? Não. Este era o monstro que transformava os outros em monstros. Era o ser que manipulava Las Plagas. Enfim, era a origem de todo o mal existente na região e que queria expandir esse mal para todo o planeta. Mas como ele conseguia controlar o parasita? Isso, Leon não sabia responder. E como encontrar a cura? Somente apanhando a amostra. Sim, era a única solução.
A luz das velas começou a diminuir. Elas estavam se gastando. Com certeza, alguma hora alguém viria para repor as que acabavam. Leon não queria olhar para o relógio, pois tinha medo do que veria. Quanto tempo se passou desde que Ashley entrou por aquela porta? Nem queria ver. Olhou, tendo certeza que tinham passado pelo menos uns vinte minutos. Quando viu, o espanto. Apenas cinco minutos. O tempo parecia estar correndo mais devagar. Como estaria Ashley? Quanto tempo poderia esperar até dar a missão por perdida? Quanto tempo ficaria ali naquela angústia? Por outro lado, pensou que teria uma maneira simples de descobrir se ela fora recapturada. Caso isso acontecesse, com certeza Salazar entraria em contato para se vangloriar do feito, como fez da primeira vez. E mandaria seus capachos para liquidarem com o agente, pois ele seria então o grande entrave. E o único dos intrusos agora que podia morrer, uma vez que Saddler queria Ada viva para saber para quem ela trabalha.
Leon levantou-se novamente e caminhou até onde estava deitado o corpo de Luis Sera. O sangue dele estava começando a secar. Ele se abaixou e ficou pensando em quem seria realmente aquele homem. O conhecera há tão pouco tempo. Conviveram tão pouco, mesmo assim, sentia uma grande tristeza por sua morte. Leon sentia-se grato a ele. Não só pelo remédio. Mas principalmente pela disposição em ajudar na luta na cabana. Ele poderia ter fugido enquanto os aldeões cercavam Leon e Ashley. Mas ele ajudou. Arriscou-se para trazer a amostra, em vez de simplesmente sumir, quando Bitores Mendez foi morto. E Leon não conseguiu evitar que Saddler o matasse. O líder dos Illuminados se livrou de Sera como quem coloca um objeto descartável no lixo. O contratou e o usou enquanto era útil. Depois o descartou.
Olhou mais uma vez para o relógio. Não podia ser. Não poderia estar demorando tanto. Será que devia sair dali e iniciar uma busca? Sim, mesmo que ela fosse recapturada, Leon sabia que estaria viva em algum lugar. Não iriam matá-la, pois era necessária ao plano de Saddler. Tinham-se passado dez minutos apenas. Não. Era muito cedo. Se por acaso saísse dali e Ashley aparecesse? Não o encontraria e seria pior. Olhou para baixo. Nunca teria como atingir o piso inferior. Seria apenas um salto para a morte certa. Não. Tinha de esperar ali. Olhou em volta. Ainda nenhum movimento. Nenhuma porta se abria. Apenas a luminosidade das velas ia diminuindo com o tempo.
Leon foi até as escadas e sentou-se mais uma vez nos degraus. Retirou a foto de Ashley do bolso e ficou olhando. No começo sentia até antipatia por ela. Achava-a simplesmente uma patricinha mimada e burra. Mas com o tempo, foi se familiarizando com ela e até poderia dizer que já estava simpatizando com a garota. Não iria se conformar se algo lhe acontecesse não apenas por falhar em sua missão. Mas por que realmente não queria que nada de mal acontecesse a Ashley Graham. Estava começando a suar. Escorou a cabeça nas mãos e ficou apenas fitando o retrato de Saddler, sentindo sua raiva crescer. Olhou novamente a foto da filha do presidente. Respirou fundo. Olhou as horas novamente. Dezessete minutos haviam passado desde que Ashley entrou pela porta.
Leon levantou-se e subiu as escadas novamente. Foi quando algo ocorreu. Seu instinto dizia que tinha alguém atrás de si. Não olhou para trás imediatamente, mas ficou apenas ouvindo. Estava chegando por uma das portas laterais. Estava caminhando. Iria chegar a qualquer momento. O agente estava tenso. Quem iria sair pela porta? Ela abriu, mas antes que pudesse se virar, ouviu.
- Leon.
O agente caiu de joelhos. Sim, ainda bem que não saíra. Que ouvira sua consciência. Levantou-se e se virou, enquanto Ashley vinha correndo com uma indisfarçável expressão de alívio no rosto. Estava salva. Pelo menos por enquanto. O pior não aconteceu. A jovem veio correndo ao seu encontro e o abraçou. Estava exausta. A pele dela estava gelada. Era evidente que tinha passado por alguma situação de tensão extrema. O que teria acontecido àquela garota enquanto percorria o caminho que a trouxe até onde estavam? Ela falou algo que, no momento, ele sequer prestou atenção. Apenas disse:
- Não se preocupe. Temos de continuar. Precisamos chegar a algum lugar onde poderei chamar pelo socorro.
Leon olhou para a porta que deveria ser a saída. O que teria acontecido à filha do presidente? Não saberia dizer. Por mais que ele fosse acostumado a encarar o perigo, como uma garota que até então nunca tinha precisado se preocupar com nada teria enfrentado uma situação em que poderia até ter morrido. Bem, mas agora isso fora superado. O pensamento tinha de se voltar em como conseguir sair dali e voltar para casa.


Capítulo 27

Era um pesadelo? Ashley não sabia dizer. Tudo o que sabia é que até há minutos estava caminhando com Leon pelo castelo e agora estava presa. Na verdade nem tinha ideia de quanto tempo tinha passado desde que fora presa naquela parede. Perdera a noção de tempo. O que sabia é que estava ali, sem conseguir mover um único músculo. Que de repente, estava de novo em poder daqueles monges alucinados. E que mais cedo ou mais tarde, estaria frente a frente com Ramon Salazar, que a teria como um troféu. Só que agora ela já sabia do plano de Saddler. Era enviá-la de volta aos Estados Unidos infectada para que ela se tornasse uma ameaça ao seu próprio país. Só que se não se trata de um vírus mas sim de um parasita, como ela iria transmitir isso aos outros? Las Plagas não se propagam no ar. Bem, isso não importava, pois ela não tinha a menor intenção de fazer parte do plano daquele lunático que vestia aquela roupa ridícula.
Mas por que tudo tinha acontecido do jeito que tinha? Ela começou a tossir e cuspiu sangue. Começou a sentir medo e não sabe bem o motivo, mas de repente sentiu raiva de Leon. Olhou para ele e não disse nada, mas sentiu que devia atacá-lo. Que devia matá-lo. Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Só podia ser efeito da infecção. No entanto, sabia que não devia ficar perto do agente. Saiu correndo. E de repente, quando se encostou na parede, sentiu aqueles braços de metal a agarrando e prendendo-a. E ali ficou. Sentia que as pernas estavam ficando dormentes. Quantas horas ficara ali? Quando iriam tirá-la daquele lugar? Não sabia. Mas achava que alguém logo viria, fosse Leon, fossem os capangas de Salazar. No entanto, sabia que mais cedo ou mais tarde, sairia dali. Só não sabia se ainda conseguiria andar.
Ao seu redor, via uma sala com portas dos dois lados. A cima tinha um piso que contornava as paredes, mas não tinha como enxergar sobre ele. Ninguém entrara ali. Tudo estava no mais absoluto silêncio. E ela estava cada vez mais desesperada. O que teria acontecido ao agente? Estaria vivo ainda? Foi quando se lembrou de Luis. Ele disse que iria buscar a amostra. Só havia uma maneira de fazer a cura para a infecção. Era levando uma amostra das Plagas ao seu país. Somente desta maneira valia a pena voltar. Sim, com a ciência avançada e com a tecnologia disponível na América, certamente conseguiriam produzir algum antídoto que curasse a infecção ou mesmo que destruísse o parasita. Mas Sera teria conseguido recuperar a amostra? Ou teriam o apanhado também? Estaria vivo? Não sabia dizer e tinha medo da resposta? E se tanto Luis como Leon estivessem mortos? Nesse caso, ela seria enviada aos Estados Unidos e iria acabar cumprindo o plano de Osmund Saddler, como uma boa marionete. Não queria pensar nisso. Não conseguia aceitar que isso fosse acontecer. Mas ninguém vinha. Não ouvia nada. Estaria perdendo as esperanças? Não, tinha de acreditar que Leon chegaria a qualquer momento. Ou Luis. Ou os dois. E diriam que podiam ir para casa. E depois? O que seria do espanhol? Bem, ele podia ficar lá nos Estados Unidos, não? Mas agora ainda não dava para ficar fazendo planos. Estava em péssima situação. Entretanto, tinha de esperar.
Uma porta abriu e Ashley observou uma luz na parte de cima do piso. Quem seria? A pequena luminosidade se locomoveu lentamente até chegar à escada. Era uma vela, pois a claridade tremeluzia. Então, viu quem a trazia. Era um monge todo vestido de preto. Ele esticou uma haste com a vela acendendo o lustre pendurado bem no centro da sala. Depois disso, sem olhar para os lados, deu meia volta e subiu novamente. A filha do presidente pensou que ele teria voltado, mas então percebeu que mais velas foram sendo acesas no local. Ele ainda estava por ali. De repente, nada mais aconteceu, mas a porta por onde ele entrara ainda estava aberta. Foi quando uma das portas da parte onde ela estava se abriu e o monge saiu por ela. Caminhava da mesma maneira. Acendeu os candelabros ali também, mas sequer olhava para Ashley. Era como se estivesse sozinho. Quando ele passou perto da filha do presidente, deu para escutar que o monge falava algo muito baixo, para si mesmo. Não podia ser. Era aquele mantra que eles sempre repetiam: “Morrer é viver”. O que aconteceu com estes homens? Ashley resolveu chamar a atenção do monge, a final, sabia que eles não podiam lhe fazer nada mesmo.
- Ei, por quanto tempo eu vou ficar aqui?
O monge parou e caminhou até onde Ashley estava, mas ficou apenas a observando em silêncio. Ele dava medo. Sua pele era extremamente pálida. Era evidente que não estava bem de saúde. O parasita Las Plagas já deixava seus sinais. Seus olhos eram vermelhos no escuro. Ele era extremamente magro e tinha a cabeça raspada. Ficou apenas observando Ashley sem dizer absolutamente nada.
- Quando vão me levar para aquele nanico que manda em vocês?
O monge apenas ficava a observando. Iria dizer algo? Eles falavam? A filha do presidente chegou a pensar que poderia saber o que eles pensavam. Se começassem algum diálogo, ela tinha esperança de conseguir convencer algum deles a ajudá-los. Então, depois de algum tempo em silêncio, ele girou os calcanhares e continuou acendendo os candelabros. Ashley suspirou. Ainda fez uma tentativa quando ele passou de volta, em direção à porta por onde tinha entrado.
- Saddler não dá a mínima para vocês. Estão morrendo por ele, mas vosso líder deve rir das suas caras. Deve chamá-los de idiotas.
Ele ainda parou, olhou para trás. Não tinha expressão nenhuma no olhar. Se Ashley tivesse o elogiado ou proferido as piores ofensas ao monge, teria dado o mesmo resultado. O rosto dele era uma máscara que não passava emoção nenhuma. E isso a aterrorizava. Eles não têm sentimentos. Não têm vontade própria. São quase como máquinas controladas por Saddler. A hora que o homem da túnica manda, eles agem sem questionar. Sem medo, sem piedade, sem remorso, sem consciência. Apenas agem. O monge foi caminhando lentamente em direção à saída. Ashley acompanhou sua imagem ir se tornando menos nítida na penumbra, camuflada por causa da túnica preta até ele sair pela porta. Após fechá-la, a filha do presidente ficou sozinha de novo.
O tempo não passava. Suas pernas estavam ficando dormentes pelas horas em pé. Era tortura. Sim, mas seus captores não deviam se importar muito. Seus braços doíam, cercados por aquelas coisas de metal. Não conseguia se mover. Até quando ficaria ali? Por que Leon e Luis ainda não apareceram? Se não vieram ainda é porque algo ruim lhes aconteceu. Só podia ser. Jamais a deixariam ali. Não, nunca fariam isso. Foi quando a porta abriu novamente e fechou. Logo depois, abriu-se novamente. Quem seria? Foi neste momento que ouviu vozes vindo da parte de cima.
Quando ouviu alguém chamar por Leon, quase não acreditou. Quem era? Sim, era a voz de Luis Sera. Parecia até muito bom para ser verdade. Os dois estavam ali na sala. Vieram para salvá-la. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Ashley, mas agora era de felicidade. Logo veria seus salvadores entrando por aquela porta por onde o monge entrou, para tirá-la daquele lugar. Sera estava animado pelo tom com que falou a Leon. No entanto, de repente, tudo ficou em silêncio. Ashley chegou a sentir medo, mas se Leon e Luis estavam ali, o que poderia dar errado? Então ouviu um baque surdo vindo de cima. Era um corpo batendo no chão. Alguém caiu. Por quê? Então, a voz que ela ouviu logo em seguida foi a última que ela queria ouvir. E que achava que ouviria ali. Era a voz de Osmund Saddler.
Na sequência dos acontecimentos, Leon e Luis conversaram, mas era óbvio que algo de muito grave havia acontecido ao último. O agente americano que viera resgatar Ashley gritou com uma indisfarçável tristeza na voz. A filha do presidente já sabia. Luis estava morto. Saddler o matou. Ela baixou a cabeça e começou a chorar. Agora de tristeza. E pelo que entendeu, a amostra que Sera trazia, fora recuperada por Saddler. Agora, o parasita continuaria se desenvolvendo neles. E quais as consequências disso? Havia momentos em que ela já sentia-se sob poder do líder dos Illuminados. E se Leon também estivesse assim? E se por um instante que fosse, ele chegasse a ser dominado? Não dava para pensar nisso.
De repente, ouviu um tiro e uma dor tomou conta de suas pernas. Alguém atirou nela? Ashley deu um grito de dor e olhou para cima, na direção de onde veio o barulho. E não acreditou. Era Leon. Ele estava com a arma apontada para ela. O que estaria fazendo? Não conseguia entender. Ele puxou o gatilho de novo. Ashley gritou desesperada. Foi quando o segundo tiro atingiu os braços de metal que a prendiam que ela se deu conta. O agente estava a soltando. Mas não tinha uma maneira menos arriscada de fazer isso? Se errasse por centímetros os tiros, iria matá-la. Quando deu o terceiro disparo, Ashley foi libertada. Ela caminhou para frente, procurando sentir as pernas e os braços novamente. Então, parou, colocou as mãos na cintura e olhou para Leon com uma expressão séria, mas que no fundo era só uma fachada mesmo. Ela queria mais era agradecer.
- Obrigada por me proporcionar momentos de fortes emoções, Leon. Quando eu quiser morrer de infarto, vou lhe chamar.
Só que mal ela terminou de dizer isso e três monges de preto e um de vermelho entraram no local onde ela estava. O de vermelho apontou para ela e saiu. Os três vieram rapidamente. Ela começou a recuar. O que iria fazer? Aqueles monges iriam prendê-la novamente. Ela foi caminhando para trás até chegar na parede e não ter mais para aonde ir. Abaixou-se, colocou as mãos sobre a cabeça e fechou os olhos. Neste momento, ouviu três disparos e quando abriu os olhos, os monges estavam caídos no chão, mortos.
O monge de vermelho entrou novamente com mais três monges, Um desarmado e dois arqueiros. O que estava desarmado veio em sua direção. De repente, ouviu uma explosão onde os arqueiros estavam. Mas Ashley nem olhou para lá. Apenas ficou na mesma posição de antes. Só que agora, sentiu mãos segurando em sua cintura e a levantando do chão. O monge desarmado a ergueu e colocou sobre o ombro, como se fosse um saco de batatas. Apesar de serem extremamente magros e pálidos, eles pelo jeito tinham uma força fora do comum. Ashley começou a gritar para chamar a atenção de Leon. De repente ouviu mais um disparo e foi jogada no chão. Ralou os joelhos e os braços ao se chocar contra o piso de pedra bruta. Mas estava livre. Ao se levantar, olhou em volta e viu o monge que a havia tentado recapturá-la e o líder deles mortos. Olhou para Leon novamente.
- Ashley. Este era o líder deles. Era ele quem abria a porta. Procure nos bolsos se acha alguma chave. - Certo.
Ashley começou a procurar. Primeiro ela ficou um tempo apenas olhando para o morto. Virou-o e colocou as mãos sobre o rosto.
- Rápido, podem vir mais deles.
- É difícil, ora. Você está acostumado com essas coisas.
- Rápido. Eles vão vir atrás de você.
- Está bem.
Ela estava apavorada ainda. Tinha de encontrar as chaves. Então começou a revirar os bolsos do monge morto. Mas era apavorante. Ele era um… cadáver. Estava mole. Ela mexia em seus braços, suas pernas, sua cabeça e ele era todo molenga. Parecia um boneco, mas de carne e ossos. E quando o monge morto ficava com o rosto voltado para cima, ela nem conseguia olhar. Teria muitas noites de pesadelos com aquilo. Leon ficava lá em cima mandando ela fazer rápido. Sim, para ele é fácil. É acostumado a lidar com a morte, mas não ela. Ashley era apenas uma garota frágil e indefesa, não uma policial ou algo do gênero. Não conseguia olhar para o monge. Então, colocou a mão em algo de metal em um dos bolsos do monge e puxou. Era uma chave.
- Tem uma chave aqui. Agora posso sair.
- Certo. Corre para as portas e tente abri-las. Deve servir em uma delas. Tome cuidado. Não vou estar junto. Então tente fazer silêncio se ver algum deles, se esconda e não deixem que a levem. Entendido?
Ashley fez um sinal de positivo com a mão.
- Entendido.
Ashley levantou-se e correu em direção à porta que ficava à sua direita. Era por ali que os monges haviam entrado. Devia ser por ali que encontraria o caminho para ir até o andar de cima. Ela parou em frente à porta por alguns segundos. Colocou a chave e a girou na fechadura. Ouviu o som que indicava que a porta estava aberta. Girou a maçaneta e logo a abriu. Antes de atravessar a porta, deu uma última olhada para Leon. Depois disso, passou para o outro lado e fechou a porta. Agora estava sozinha. E teria de conseguir chegar ao andar de cima.
Assim que fechou a porta, se viu em uma sala enorme com colunas por todos os lados. Não havia tapetes, mas o piso era de porcelana clara com trabalhados escuros. Em frente, uma porta alta, com o topo arredondado dava passagem para outro lado da sala. E lá havia um monge, de costas para ela. Ashley sentiu calafrios. Teria de passar por ele e por outros que a estivessem esperando. Mas como? Não tinha armas como Leon. Teria de ser rápida para escapar deles. Sentia o coração batendo acelerado. Um arrepio subiu pelas costas até a nuca. Os olhos arregalaram e a saliva ficou grossa, fazendo-a forçar para engolir. Estava começando a suar. Mas não podia ficar ali parada. Teria de caminhar até aquela parte da sala.
Quando ela chegou ao outro lado da porta, o monge se virou e começou a caminhar na direção de Ashley, sempre murmurando aquelas frases.
- Morrer é viver.
Ele veio caminhando e parou em frente à Ashley.
- Comece a rezar.
Eles falam outra coisa então, pensou ela. A filha do presidente olhou ao redor e apanhou uma luminária que continha uma vela no meio e jogou no monge. O fogo pegou em sua túnica e ele caiu no chão. Ashley aproveitou para passar para o outro lado da sala por baixo de uma abertura na parede. Só que mal levantou e já deu de cara com outro monge. Teve de repetir o procedimento. Jogou a luminária acesa com uma vela e viu o fogo pegar na túnica do monge. Agora ela teria tempo de acionar a alavanca que abria a porta do outro lado da sala. Após abrir a porta e sair, do outro lado havia outro mecanismo para fechá-la. Ela o fez e saiu correndo. Os monges no entanto, não vieram atrás dela. Muito estranho. Por que será?
Ashley entrou em um corredor que ao fim convergia para a direita. À esquerda, havia uma porta de ferro, toda ornamentada. Ela abriu-a e entrou em uma sala. Havia algumas cômodas tanto na parte da frente, como nas paredes. Quadros e algo que lembravam brasões das famílias penduradas nas paredes. O castelo em muitos aspectos, parecia estar ainda na Idade Média. Havia uma estrutura colocada em frente à parede oposta à entrada. Era um objeto circular, com um buraco no centro. Parecia que algo ia encaixado ali. Ao lado, uma carta. Dizia ser de um mordomo do castelo. Pelo jeito, ele não quis se identificar.

“Sabendo que o Sr. Ramon Salazar não tinha família, o Lorde Saddler deve ter usado sua forte fé nos Los Illuminados em seu benefício para falar com o Sr. Salazar sobre desfazer o selamento das Plagas, feita uma vez por seu antecessor.
O Sr. Salazar nunca faria isso, a não ser que estivesse de alguma forma sendo usado sem saber. Eu devia ter percebido o plano sujo do Lorde antes. Sinto que sou em partes responsável por tudo isso. Eu não tenho ideia do que o Lorde está planejando, mas o Sr. Salazar foi usado.
Mas agora é tarde demais, o Sr. Salazar já recebeu a Plaga dentro de seu corpo. Não há mais volta depois que a Plaga se torna adulta dentro do corpo. O parasita da Plaga não morrerá a menos que o hospedeiro morra. Não há cura. Talvez o Sr. Salazar estivesse vagamente ciente dos planos do Lorde há todo este tempo. Mas é difícil dizer.
De qualquer forma, não há nada que eu possa fazer quanto a isso agora. Eu servi a família Salazar por gerações. Estou preparado para continuar com meus serviços até o final.”


Depois de ler isso, Ashley chegou a se compadecer do dono do castelo, o anão. Ele poderia no passado, ter sido uma boa pessoa. Mas agora estava sendo controlado por Osmund Saddler, por isso fazia aquelas coisas horríveis. Sim, Saddler é o culpado de tudo. É ele quem manipula Las Plagas e assim, as pessoas que estão hospedando o parasita. Tem de haver um jeito de se livrar daquele homem. E ele matou Sera. Isso não podia ficar assim. Ashley derramou uma lágrima mais uma vez. Mas precisava continuar. Não tinha saída, então, teria de ir pelo corredor para ver aonde sairia, pois precisava chegar ao andar de cima o mais rápido que conseguisse para encontrar Leon.
Foi para o corredor e entrou em outra sala. Esta estava em estado deprimente. Era toda em pedra, sem nenhum ornamento nas paredes. As estantes estavam com a aparência de estarem podres. Parecia que poderiam desabar a qualquer momento. Teias enormes ficavam penduradas nas paredes e nas estantes. Havia pequenas muradas em pedras, separando partes da sala. Ashley andou pelo local, cuidando para não se encostar em nada. Mas era difícil enxergar. A iluminação era muito fraca, vinda de velas colocadas sobre as cômodas de madeira. A luz fraca e tremeluzente das velas a deixava ainda com mais medo. Ainda mais quando passava perto das paredes e sua sombra aparecia distorcida. Sempre ficava com a impressão de que algo se moveria atrás dela, pronto para atacar. Passando pela sala, a filha do presidente se surpreendeu com uma peça quadrada, parecendo fazer parte de algo maior. Quase como um quebra-cabeça. Por instinto, ela apanhou o objeto. Poderia ser que precisasse dele. Nunca esteve tão certa. Atravessou a sala e abriu a porta de saída.
Entrou em outro corredor todo em pedra bruta. Passou por algumas cadeiras displicentemente colocadas ali, parecendo estarem no local ao acaso. Foi caminhando lentamente, sempre tomando o cuidado de observar bem o que estava à sua frente. Do seu lado esquerdo, a parede. Do direito, havia armaduras. Ashley as olhou com certo temor. Não sabia bem o motivo, mas elas lhe deram medo. Desceu uma escada até entrar em outra sala. Como a última, também as paredes eram de pedra bruta. Armaduras estavam colocadas nos cantos, com espadas e machados. Era como se estivessem prontas para entrarem em batalha. Ao centro, uma espécie de mesa com um desenho todo desordenado. E à frente da mesa, a porta de saída, que estava fechada. Faltava no desenho uma peça. Sim, era a que ela trouxe, pois o espaço vazio era exatamente do tamanho do objeto que Ashley achara na sala de onde saiu. Todas as peças do quebra-cabeças eram iguais. Depois de ordenar as peças, ficou faltando a dela. Então, a filha do presidente dos Estados Unidos colocou a peça e a porta à sua frente abriu. Que coisa. Por que não usam sempre chaves como todo mundo? Ela pensou. Mas seguiu em frente.
A outra sala estava em estado igual. Com mais teias de aranha nas mesas e cadeiras. Havia uma mesa comprida no lado direito de quem entra na sala com algumas cadeiras dispostas ao lado. Foi então que algo chamou sua atenção. Em um busto na parede oposta à porta de entrada, estava um objeto arredondado, que se parecia com o encaixe na sala onde ela entrou logo depois de enfrentar os monges. Sim, com certeza encaixaria lá. E depois alguma passagem se abriria para que ela pudesse sair dali. Era a insígnia da família Salazar. Quando ela pegou, o busto girou e apareceu uma pequena escultura em prata. Era uma serpente. Sim, encaixaria naquela sala que tinha aquela figura que viram logo que entraram no castelo. Deveria ser para desbloquear a passagem. Apanhou-a também.
Neste momento, no entanto, Ashley ouviu um barulho muito alto. Eram passos, mas dados por algo muito pesado. Parecia que calçava sapatos de metal. Sim, era metal pisando no chão de pedras. O que seria? Quando ela olhou para a porta, quase seu coração parou de bater. Aquelas armaduras que estavam posicionadas na sala de onde ela saíra, estavam caminhando e com as espadas e machados prontos para atacarem. O que? Armaduras caminhando? Era coisa de louco. Teria de correr com toda sua velocidade. E torcer para que as armaduras fossem lentas.
De onde estava, dava para ver quase que somente as sombras das armaduras caminhando. A única fonte de luz eram as velas da sala contígua, exatamente de onde elas estavam vindo. E era essa luminosidade das velas que as tornavam ainda mais assustadoras. Como armaduras vazias estariam se movendo? O que tinha nelas? Alguma espécie de magia? Ainda com o coração batendo em disparada, Ashley saiu correndo no momento em que todas as armaduras começaram a contornar a mesa para chegar ao ponto onde ela estava. Para sua sorte, parecia que elas não sabiam agir de modo coordenado, pois todas fizeram exatamente os mesmos movimentos, tomando a mesma direção. Se fossem inteligentes, teriam cercado o alvo. Foi isso que facilitou para a filha do presidente americano, que conseguiu chegar à porta de saída antes de suas perseguidoras. Mas sabia que logo elas estariam ali.
Saiu pela escada que dava acesso à sala onde montara o quebra-cabeças. Agora a falta de iluminação era terrível. Não podia pensar em tropeçar, pois perder tempo, por menos que fosse, poderia ser fatal. Passou a correr nos corredores, sempre ouvindo ao longe o barulho dos passos das armaduras. Quando chegou a uma esquina no corredor, que dobrava para a esquerda, uma armadura estava em posição de ataque a esperando. Com uma espada erguida no alto, parecia pronta para desferir um golpe. Ashley deu um passo e quando viu que a arma desceu em sua direção, atirou-se para trás. Caiu de costas no chão e viu a armadura dar o que poderia ter sido um golpe fatal. Depois de errar o ataque, ela se transformou apenas em um monte de metal e se desmanchou. O barulho dos passos das armaduras ficou mais alto, lembrando-a que teria de correr. Ashley se levantou e continuou, mas agora sabendo que teria de tomar um cuidado especial, pois poderia haver mais daquelas armaduras a esperando.
Continuou o caminho, dobrando à direita agora. Passou correndo pelas poltronas com enormes teias de aranha que vira na vinda. Tinha a impressão que o som dos passos das armaduras que a perseguiam estava ficando cada vez mais alto. Não podia ser. Elas estariam correndo? Mas em tese as armaduras são pesadas e lentas. Teria de correr e muito. De repente, outra armadura apareceu em sua frente. Como a anterior, em posição de ataque. Agora, sem esperar ela se mexer, Ashley saltou para fora do alcance dela. Apenas ouviu o baque da espada atingindo o chão de pedra e da armadura se espatifando. O barulho dos passos das outras, que vinham no encalço da refém ficou ainda mais alto. Ela olhou para trás e começou a ver sombras na parede, projetadas pelas velas no corredor. Elas estavam chegando. Levantou-se e correu, sempre ouvindo o som do metal batendo no chão de pedras. Sempre com a sensação de que as armaduras estavam cada vez mais próximas.
Então, chegou à porta de madeira que dava acesso à sala de onde tirara a peça do quebra-cabeças usada para abrir a entrada onde encontrou a insígnia da família Salazar e a figura de serpente. Abriu-a dando um empurrão que quase a fez cair. Se coração parecia que ia saltar pela boca. Ouvia o barulho dos passos dar armaduras chegando perto. Fechou a porta atrás de si, sabendo que pouco adiantaria. Agora a sala parecia um labirinto. Estava apavorada. Precisava sair rápido dali, mas não conseguia encontrar o caminho, entre os muros que a levavam à saída. Então, passou por dois muros de pedra, até chegar no caminho da porta que dava no outro corredor. Só que quando foi abrir a porta, outra armadura estava posicionada ali. Ashley se atirou para trás e viu um machado descendo à sua frente, quase atingindo seu pé. A armadura se desfez. Neste momento, a porta por onde entrara se abriu e uma das armaduras que a estavam perseguindo entrou. As outras vieram atrás. Precisava se levantar e sair dali. Abriu a porta e entrou no corredor.
Abriu com outro empurrão a porta da sala onde estava aquela estrutura que usaria para colocar a insígnia da família Salazar. E se tudo fosse como tinha pensado, alguma passagem abriria para que pudesse sair daquele lugar. Por um instante, pensou que estivesse a salvo dentro da sala, mas quando parou um instante para respirar, ouviu novamente os passos das armaduras. Então, se apressou em chegar ao local. Colocou a insígnia no encaixe. Ao colocar ali a peça, nada aconteceu. E agora? O som das armaduras estava alto. Elas logo estariam ali dentro. Teria de voltar? Ashley notou que havia uma haste na estrutura. Empurrou-a e ela girou. A parede abriu e uma escada surgiu à sua frente.
Ashley subiu o mais rápido que conseguiu. Agora devia estar livre. Quando estava no meio da escada, ouviu o barulho das armaduras no chão lá embaixo, mas nem olhou. Elas não conseguiriam subir. Estava livre daquelas coisas. Mas a escada era muito comprida. O que a estaria esperando do lado de cima? Agora não quis pensar nisso, apenas subia, pois descer estava fora de cogitação. Voltar agora seria morte certa.
Depois de subir, Ashley entrou em um corredor todo em pedra bruta, estreito, por onde só uma pessoa passava por vez, iluminado por velas presas a candelabros pendurados nas paredes. O corredor parecia não terminar. Dobrou uma vez à esquerda e duas à direita. Começou a sentir que estava andando em círculos, mas tinha de continuar. Correu mais rápido para chegar logo ao fim, sem pensar que poderia ser surpreendida por algum monge que porventura a estivesse esperando. Mas não havia ninguém ali. Depois de correr muito, encontrou uma porta de madeira. Nem pensou duas vezes, abriu-a. Sequer cogitou a hipótese de encontrar monges do outro lado, ou pior, alguma das outras criaturas do castelo.
Mas havia alguém lá. Quando Ashley entrou, viu onde estava. No piso de cima. No lugar que ela via quando estava presa. E caminhando de costas para ela, de cabeça baixa, demonstrando grande estado de tensão, estava ele, Leon, o agente americano. Ela sorriu, respirou fundo e só então se deu conta de como suas pernas e braços doíam. Só então percebeu o quanto estava cansada. Caminhou na direção do agente e sentiu sua respiração ofegante. Ele parou, mas não se virou para trás. Parecia com medo de ver quem estava se aproximando. Ashley então resolveu quebrar o silêncio.
- Leon.
O agente nem olhou, simplesmente caiu de joelhos no chão e respirou aliviado. Como se um peso de toneladas tivesse sido tirado de suas costas. Então, se levantou e olhou para ela. - Ashley.
Ela simplesmente abraçou Leon e ficou ali. Agora parecia que cada músculo do seu corpo doía. Sentia como se seus braços e pernas pesassem toneladas. Estava suando e parecia que seu coração batia no pescoço. Lágrimas começaram a rolar pelo rosto da garota. O agente tomou a palavra.
- Você foi muito bem.
Ela se afastou um pouco, baixou a cabeça. Não sabia direito o que dizer. Ainda olhando para o chão, disse:
- Desculpe se fui…
Não conseguiu completar a frase. Leon procurou acalmá-la.
- Não se preocupe. Agora vamos. Temos de continuar. Precisamos achar algum local onde possamos chamar ajuda.
Sim, Leon disse que Ashley foi bem ao encontrar o caminho até a parte onde ele estava. Mas não fez a menor ideia do que ela teve de enfrentar para chegar ali. Nem a própria filha do presidente dos Estados Unidos saberia dizer como conseguiu passar por todos aqueles perigos. Quando ela pensava agora no que tinha feito, parecia tratar-se de outra pessoa. Mas às vezes, quando estamos em situações reais de grande perigo, nosso instinto de sobrevivência nos leva a atos que pensamos ser totalmente impossíveis. Era isso o que Ashley acabava de comprovar. E era o que eles ainda teriam de fazer muitas vezes.


Capítulo 28

Leon avançou pelo caminho que leva à saída. Ashley não parecia em condições de falar nada agora. Mas teria de seguir com ele. Não podiam se dar ao luxo de ficarem parados, descansando. Ainda mais agora, que Luis Sera estava morto. Aliás, isso, ele teria de falar.
- Ashley.
Ele parou. Ela olhou para o agente. Ele se virou para trás. A imagem do corpo de Sera ainda era bem visível. Ele apontou para o cadáver.
- Eu não pude evitar. Saddler assassinou Luis.
Ela sabia. Tinha ouvido o que ocorreu. Apenas baixou a cabeça e se escorou em Leon.
- Ele havia conseguido pegar a amostra do parasita. Nós a apanharíamos e a levaríamos para casa. Serviria para nos curar. Mas agora, tenho de pegá-la. E para isso, teremos de enfrentar Osmund Saddler. Luis me mostrou o frasco e de repente,..
Leon parou. Conteve-se para não chorar, mas sentia-se culpado. Nada tirava da sua cabeça a ideia de que poderia ter evitado. Tinha de ter olhado atrás do amigo. Tinha de ter visto Saddler se aproximando e avisado ou feito algo que o impedisse de matar Sera. Mas agora era tarde. Só que poderia ter evitado aquela morte. Poderia? De um lado, ouvia sua consciência dizendo que ele fez tudo o que foi possível e que nada teria saído diferente. Por outro lado, outra voz dizia exatamente o contrário. Que foi descuidado e que a morte de Sera foi sim, em parte sua culpa. Não. Não podia pensar assim. A final, nada traria Luis de volta. - Saddler apareceu e o matou. Na minha frente. Apanhou a amostra e foi embora.
Leon baixou a cabeça. Não queria demonstrar fraqueza.
- Não foi culpa sua, Leon. Sabemos que você está fazendo o seu melhor. Mesmo que tenha cometido erros, foi tentando acertar. Ninguém vai falar mal de você.
Neste momento, o transmissor tocou. Era Salazar, Leon sabia disso.
- Oh! Que momento comovente temos aqui.
Ramon tinha um tom incrivelmente irônico em sua voz. Leon respondeu com igual ironia.
- Mas você fez o favor de interromper este momento, não é? Faça um grande favor. Saia de cena, antes que o público comece a ficar chateado.
- Como eu já deixei bem claro, sua vida não vale um centavo para nós. Mas não se preocupe, reservei um trecho extra da minha grande peça para você. Só não se empolgue demais. A final de contas, sua cena será longa.
- Não acho que tenha a intenção de fazer parte de um roteiro seu. É de muito baixa qualidade para mim.
- Muito bem. Então nos mostre como é um roteiro de primeira classe, através de suas ações.
Ao dizer isso, Salazar desligou o transmissor. Aquele baixinho estava ficando cada vez mais irritante. O que estaria tramando agora? Não teria como saber até chegar às armadilhas preparadas e espalhadas pelo castelo. Passaram por um corredor até chegar a uma porta de madeira. Passaram e logo estavam em outro ambiente.
Estavam em um local grande. Duas grandes tochas iluminavam o ambiente. O piso era todo revestido por lajotas de porcelana de um tom lilás bem claro. Do lado direito, uma estante. Do lado esquerdo, uma porta. Em frente, um muro de pedras e uma abertura que dava em uma estrutura de metal. Era algo para subir. Em frente a um piso, um espaço vazio. Embaixo, corria algo parecido com metal derretido, que parecia ser extremamente quente. Aquela estrutura tinha rodas dos lados e serviria para se chegar ao outro lado, onde havia outro piso igual e outra porta. Leon não sabia se era necessário, nem o que encontraria do outro lado, mas acreditava que teria de investigar o que havia lá. Ashley chamou a atenção do agente.
- Eu tinha me esquecido. Pegue.
Ela alcançou a imagem da serpente. Eles já tinham a cabra e a serpente. Faltava ainda uma peça para completar aquela figura na parede e desbloquear a saída daquela primeira sala do castelo. Leon acreditava que a parte que faltava estaria lá do outro lado.
- Ashley. Algo me diz que a parte que falta está lá.
Apontou para o outro piso. Então, Leon caminhou até aquela estrutura com rodas. Subiu sobre um círculo de metal suspenso entre as rodas. Antes que aquela coisa começasse a se locomover rumo ao outro lado, Leon falou para Ashley, que estava se preparando para subir na plataforma também.
- Ashley. Espere aqui que é mais seguro. Não pretendo me demorar.
Ela olhou em volta. Dava para notar que não queria ficar sozinha. Mas no fim das contas, assentiu com a cabeça.
- Certo. Caso apareça alguém, me escondo.
- Isso mesmo. Vou indo. Não precisa se preocupar. Não vou me demorar lá.
A estrutura começou a se mover lentamente e foi ganhando velocidade à medida que andava. Leon sentiu um certo desequilíbrio e teve de colocar um pé na frente do outro para não cair. Não podia pensar nisso. Se caísse, iria despencar muitos metros de altura dentro daquele rio de metal derretido e morreria instantaneamente. O calor que subia lá de baixo dava uma ideia do que acontecia a qualquer coisa que caísse lá. Assim que chegou ao outro lado, a estrutura com rodas parou. Leon quase perdeu o equilíbrio novamente. Saltou para o piso firme novamente, sentindo-se aliviado. Olhou para o outro lado. Ashley estava apenas o observando. Sua figura estava pequena agora. Leon sentiu um aperto no peito. Não queria ter de deixá-la sozinha de novo, mas fazê-la vir junto poderia ser mais arriscado do que deixá-la. Além do mais, ele sempre tinha em mente as palavras de Salazar. Ela é importante para eles. Ele, não. Sendo assim, mesmo que apareça alguém, não farão nada além de capturá-la. Se ela estiver sozinha, será fácil para eles. Agora, se a filha do presidente estiver junto do agente, pode haver luta e nesse caso, o perigo de ela se ferir é maior. Ainda mais em um local inóspito como deveria ser do outro lado da porta.
Assim que atravessou a porta, Leon teve a impressão que entrou em um forno ligado. Tudo ali era em pedra, mas aquele rio de metal derretido fluía agora bem perto do chão. Sentiu falta de ar e quando respirava, a princípio, parecia que das narinas até os pulmões, tudo estava esquentando. A visão ficou embaçada e o ar parecia pesado ali. Tocou um corrimão de pedra e quase fritou a mão. A temperatura ali devia estar pelo menos a uns 50 graus ou mais. Era tudo parte de uma armadilha. A intenção era matar Leon. O agente tinha consciência disso. Havia uma escada à sua frente. Ele caminhou cuidadosamente até lá. Mas antes de sair do lugar, observou que havia duas estruturas em forma de dragão, uma de cada lado, presas por correntes. Logo atrás das cabeças, existia uma abertura. Logo, haveria alguém ali. Sem perder tempo, Leon mirou exatamente no local onde as correntes prendiam a estrutura e atirou ali duas vezes. Com excelente mira, atingiu o alvo. A corrente se soltou e a estrutura caiu. Realmente havia um monge ali. Repetiu o procedimento com a estrutura ao lado.
Leon desceu as escadas, passando realmente perto do metal derretido no chão. O calor era insuportável. Tinha a impressão que bolhas começariam a surgir de sua pele. Mal conseguia respirar. Acertou em não trazer Ashley junto. Ela provavelmente desmaiaria em menos de um minuto ali dentro. O caminho era estreito e sinuoso. Os degraus eram irregulares. Tudo parecia feito para dificultar a vida de quem estava percorrendo aqueles degraus. Então, chegou ao fim das escadas. Havia em frente uma estrutura de metal redonda. Teria de pular nela e dela saltar para outra escada. E deveria fazer isso rápido, pois com toda a certeza, aquela estrutura de metal deveria estar muito quente. Saltou e correu para o outro lado. Chegou à outra escada.
Havia dois monges o esperando. Leon sacou a arma, recarregou-a rapidamente e deu um tiro na cabeça de cada um. Depois disso, o agente continuou avançando e de repente, outra daquelas estruturas caiu em sua frente. Um monge estava atrás da cabeça de dragão, operando-a. E de repente ela começou a cuspir fogo pela boca. Leon se atirou para trás e por pouco, muito pouco não foi atingido. Levantou-se correndo e quando se deu por conta, dois monges saltaram de estruturas dos lados do caminho onde estava. Estavam muito próximos. Então, o agente teve uma ideia. Correu para longe do alcance do fogo e quando os monges chegaram perto, Leon os apanhou de surpresa e os jogou no rio de metal derretido. Quando se levantou, atirou nos suportes das correntes que prendiam a cabeça do dragão, derrubando-a.
Do nada surgiu uma escada que levava até um piso mais elevado, onde havia um pequeno baú. Leon sabia que era ali que estaria a parte da figura que faltava para desbloquear o caminho e correu para lá. O calor ficava cada vez mais insuportável, mas não poderia desistir. Não agora. Teria de ir até o fim. Então, correu o mais depressa que conseguia pelos degraus da escada até chegar ao recipiente. Quando abriu-o, confirmou que era o último fragmento da figura. O leão. Agora o desafio seria percorrer todo o caminho de volta
Só que Leon ao olhar viu que pelo menos estava sozinho. Teria de voltar naquela temperatura infernal, mas agora pelo jeito, não teria aqueles monges enlouquecidos saltando sobre ele. Desceu as escadas correndo, mas quando estava já no meio do caminho, sentiu como se seus pulmões fossem explodir. Seu coração doía e batia de um modo que achava que era possível vê-lo de fora do corpo sob a roupa, tal era a força com que ele se batia. Dava a impressão que se chocava contra a parede de seu tórax. O ar parecia queimar o nariz e os olhos começaram a arder e lacrimejar. Era o efeito do calor. Muito calor. Sentiu tonturas e náuseas. Parecia que iria vomitar. Sorte que fazia horas que não comia nada. Aliás, nem se lembrava de quando havia dormido e feito uma refeição pela última vez. Tinha até perdido a noção de tempo depois que chegara ao vilarejo. O agente continuou caminhando, agora mais lentamente, tomando ar, por mais doloroso que fosse. Então, depois do que pareceu agora, um caminho interminável, conseguiu chegar à porta de saída.
Quando passou pela porta, sentiu um calafrio. Para quem havia saído de um lugar que devia estar uns sessenta graus, chegar a uma temperatura normal, era realmente um choque térmico. Em um primeiro momento, sentiu frio, mas ficou aliviado por conseguir aspirar o ar normalmente, sem sentir aquela ardência nas narinas. Não via mais tudo borrado pelo suor escorrendo sobre seus olhos. Sua roupa estava toda grudando em seu corpo e Leon parecia ter saído de uma piscina de água quente. Lá embaixo corria o rio de metal derretido, mas não passava mais aquele calor insuportável de dentro da sala de onde saíra. Olhou para o outro lado e viu Ashley na borda do piso, o esperando. Sim, ainda tinha de voltar.
Leon caminhou até a estrutura com rodas que o conduziria até o outro lado. Ficou com uma pontada de medo, pois se lembrava de que quase tinha perdido o equilíbrio quando veio. Agora, enfraquecido pelas altíssimas temperaturas suportadas enquanto passava pela sala de onde saiu, sentindo-se exausto e tonto, teria de tomar muito mais cuidado para não ir parar dentro do rio de metal derretido. Assim que a estrutura partiu, o agente tomou o dobro do cuidado para não se desequilibrar. O caminho pareceu mais longo. A estrutura pareceu se mover mais rápido. Mas enfim, chegou ao outro lado. Agora eles tinham os objetos de que necessitavam. Poderiam completar a figura na parede e abrir a passagem para quem sabe, conseguir sair do castelo.
Leon desembarcou da estrutura e olhou para Ashley.
- Tudo bem? Apareceu alguém enquanto estive lá dentro?
- Não. Tudo certo.
Ele apanhou a parte da figura que faltava de dentro de um dos bolsos internos.
- Já temos as três partes da figura para desbloquear a passagem na sala. Agora temos de nos dirigir para lá o mais rápido o possível.
- Certo.
Os dois desceram uma escada que a levava a uma pequena sala, com um carrinho que andava sobre trilhos e que contava com duas poltronas. Assim que subiram e sentaram-se nelas, o carrinho saiu. Desembarcaram em outra pequena sala. Este tinha uma porta em ferro toda ornamentada. Leon foi à frente e a abriu. Quando entraram, se viram novamente naquela sala que continha as duas portas e a figura que pretendiam completar. Anteriormente, haviam usado a porta da outra extremidade para o interior do castelo e se dirigiram à prisão, onde Leon enfrentara o Garrador. Agora, se dirigiram até a figura que teriam de completar com os fragmentos que recolheram no castelo. Que caminho iria revelar?
A parede desceu e revelou a continuação da sala até outra porta, que seria outra saída. Sim, a que fora utilizada por Ramon Salazar. Leon e Ashley passaram por ela. Do lado de fora, encontraram outro carrinho. Para onde ele os levaria? Provavelmente, para outra armadilha do castelo. Mas não teria outra maneira. Teriam de chegar a alguma saída. Algum lugar onde poderiam entrar em contato com Hunnigan novamente. E o mais importante. Teriam de encontrar Osmund Saddler, para recuperar a amostra do parasita. Não adiantaria voltar para os Estados Unidos infectados, se não houvesse uma maneira de produzirem a cura.
O carrinho os levou ao seu terminal. Desceram e caminharam até outra porta. Quando entraram, se viram dentro de outra daquelas salas ricamente ornamentadas. Quadros com retratos enfeitavam as paredes. As luzes provinham de candelabros presos no alto. Carpetes vermelhos colocados no chão combinavam com as lajotas de cerâmica brancas com detalhes em dourado nas paredes. Leon e Ashley chegaram a um corredor, depois de passarem por uma porta dourada. Este corredor ao lado esquerdo deles, apresentava estátuas. Do direito, grandes janelas abertas. As cortinas vermelhas esvoaçavam ao vento. Dava para sentir frio agora. Que saudade de sentir frio, pensou Leon, depois de ter saído de um local que mais lembrava uma fornalha. Mas o fim do corredor estava bloqueado por uma porta. Tentaram abrir, mas não conseguiram. De cada lado da saída, havia um busto. O do lado esquerdo, de uma mulher, que dizia: “A Rainha”. Do lado direito, o de um homem, que dizia: “O Rei”. Eles tinham as mãos vazias e ao centro um local para encaixar algo. Sim. Era óbvio, que eles teriam de encontrar os objetos que iriam encaixar ali. E que iriam servir para abrir a porta.
Começaram, voltando pelo caminho que tinham feito até a porta dourada. Entraram ali e chegaram dentro de uma sala que tinha um piso que mais lembrava era um tabuleiro de xadrez. Nas paredes, havia escudos com espadas presas a eles, como nos antigos castelos medievais. E bem ao centro da sala, duas armaduras sobre estruturas de concreto. Leon pisou de repente sobre um dos quadrados e ele afundou. O agente então olhou bem e viu que havia quatro blocos no chão que estavam em desnível com o resto do piso.
- Ashley. Olhe bem para o chão. Está vendo?
Ela olhou para o piso e depois para o agente.
- O que Leon?
- Veja bem. Há quatro lajotas dessas que estão em desnível. Está percebendo?
Ela olhou bem e então, se voltou para Leon novamente.
- Sim. Percebi.
- Suba em uma delas.
Ela foi com certo receio. E se fosse alguma armadilha? No entanto, só teria um jeito de saberem. Ela subiu e o bloco desceu. E as outras duas? Leon teve uma ideia.
- Vou empurrar essas duas estátuas para aqueles dois blocos. Saia daí por enquanto.
- Certo.
- Me ajude a empurrar elas.
Ashley ajudou Leon e ele colocou duas estátuas sobre os blocos salientes no chão. Eles afundaram.
- Agora eu fico sobre uma delas e você sobre a outra, Ashley.
- Está bem.
Os dois se dirigiram aos blocos salientes vazios. O que aconteceria quando os quatro afundassem? Por acaso seria outra armadilha? Os dois se olharam, respiraram fundo e subiram sobre os blocos, que afundaram no mesmo instante. Foi no exato momento que ouviram o barulho de algo se movendo. E a porta do outro lado da sala se abriu. Leon e Ashley se entreolharam. Teriam de avançar. A porta dava acesso a outra sala. Os dois saíram dos blocos onde estavam e caminharam até lá.
Entraram na sala, que não continha mobília nenhuma. Era estranhamente vazia. Havia apenas afrescos nas paredes. Figuras de uma mulher com uma túnica azul clara. Lembrava vagamente a figura da mãe de Jesus Cristo. Em se tratando de uma seita religiosa, faltava saber qual visão distorcida que eles tinham disso. E bem ao centro da sala, estava ele. Ramon Salazar. Virado de costas para a entrada, parecia estar esperando pelos visitantes. Sem olhar para os dois que entravam na sala, Salazar foi falando com um tom indiferente na voz.
- Senhor Kennedy. Tenho a impressão que já viveu muito.
Ele cruzou os dedos sob o queixo antes de prosseguir.
- Vamos ver se consegue sobreviver desta vez.
O pequeno anfitrião apontou para o teto e a porta atrás de Leon se fechou novamente. De repente, o teto começou a descer. Pontas apareceram por todos os lados. Seriam esmagados. Leon olhou para o lado da saída e viu Ramon Salazar rindo enquanto corria para fora da sala. Teriam pouco tempo. Não daria para chegar à saída antes de serem pegos pelo teto. O agente observou que havia quatro luzes entre as pontas. Atirou na primeira, na segunda, na terceira e quando acertou a quarta, o teto parou de descer. Leon parou por um instante. Fora muito fácil. Fácil até demais.
Seguindo os passos de Salazar, Leon e Ashley entraram em outro corredor. Este, todo iluminado com tochas que conduziria a outra porta. Leon entrou em uma sala com dois grandes barris. Virou-se para Ashley, mas quando ela foi entrar uma grade caiu, prendendo-a do lado de fora. Do outro lado do corredor, surgiu uma máquina. Parecia um carro enorme, mas com uma coisa na frente que lembrava uma furadeira, dirigido por dois monges. Leon teria pouco tempo para acertar os dois. Recarregou a arma e fez mira. Teria de dar dois tiros agora e acertá-los. Conseguiu. Deu um tiro em cada um. Ao lado da porta havia uma alavanca. Agora com os monges mortos, não precisaria se preocupar com eles mudarem a aceleração do carro. Ele a abriu e Ashley entrou na sala antes de o carro se espatifar na porta.
A sala continha inúmeras cômodas. Não tinha nada de luxo ali, nem os vasos de porcelana. As paredes e o piso eram de pedra bruta. Mas havia um baú sobre uma das cômodas. Leon abriu-o e encontrou lá dentro uma taça. Pelo formato que tinha, serviria perfeitamente no encaixe das estátuas. Nela, lia-se: “Taça da Rainha”. Sim. Era uma das peças que faltava para abrir a porta.
- Ashley. Esta taça vai nas mãos da rainha. Agora temos de achar a do rei.
- Certo.
Abriram a porta de saída, estavam novamente naquela sala com as armaduras e os blocos móveis. Os dois atravessaram correndo até a saída. Correram até a outra extremidade do local. Chegaram a outra sala. Esta continha várias poltronas estofadas com veludo vermelho, uma mesa ao centro, com umas quatro cadeiras a rodeando e do lado direito, grandes janelas. Também estavam abertas e o vento fazia as cortinas esvoaçarem. Sobre a mesa ao centro da sala, havia uma carta.

“Como vocês devem ter ouvido, Luis Sera foi executado por Lorde Saddler. A "amostra" está de volta ao seu lugar. Eu esperava que todo o problema pudesse ser resolvido sem preocupar o Lorde. Entretanto, enquanto a "amostra" estiver segura, podemos todos celebrar, pois nossa hora está próxima.
Agora que a "amostra" está de volta em nossas mãos seguras, será um pouco mais difícil para aquela mulher problema obtê-la. Com tudo isso, é uma infelicidade que Sera teve que morrer. Como nós, ele podia ter tido um futuro brilhante se tivesse apenas mostrado mais fé em nossas crenças.
Quanto aos outros dois americanos, o Lorde deixou a questão em nossas mãos. Não devemos desapontar o Lorde. Vamos capturar Ashley e levá-la ao Lorde, e nos livrarmos do agente americano.”

Sim, isso não era segredo nenhum. Salazar sempre fizera questão de ressaltar que o interesse deles era só em Ashley. Ela era importante para os planos de Osmund Saddler, por ser a filha do presidente dos Estados Unidos. Se conseguissem infiltrar alguém infectado no centro do poder norte americano, o caminho deles para a dominação mundial seria abreviada. Ashley daria um jeito do contaminar seus pais. E tendo controle sobre o presidente dos Estados Unidos, Saddler teria controle sobre os Estados Unidos e sobre o exército mais poderoso do planeta. Era isso o que aquele lunático pensava. E ele, Leon teria de impedir que esse plano obtivesse sucesso. Quanto ao agente, as ordens eram para matarem-no.
Leon avançou até outra porta. Dava em um corredor, com um tapete vermelho e cortinas da mesma cor dos lados. Um enorme candelabro pendia do teto, com velas iluminando o local. Uma estátua em forma leão estava no final do corredor, que dobrava para a esquerda. Entraram em outro corredor. Agora, havia duas fileiras de armaduras, dos dois lados. Todas com espadas e machados. Uma em especial estava em posição de ataque. Leon foi caminhando. Ashley olhou esta armadura e se lembrou do que lhe acontecera quando esteve sozinha. Foi chamar Leon, mas antes que dissesse qualquer coisa, a armadura se moveu e desceu um machado sobre o agente. Ele saltou e deu uma cambalhota para trás, escapando por milímetros de ser atingido. Ele se levantou ao ver a armadura se desmanchando. Respirou fundo e olhou para Ashley.
- Você está bem?
Ela só assentiu com a cabeça. Pensou em falar que já tinha visto estas armaduras antes, mas depois pensou que era melhor não dizer nada. Leon poderia não gostar de ela não ter lhe avisado antes. Se tivesse sido atingido, o agente poderia ter sido partido em dois. Os dois seguiram até pararem em frente a outra armadura com uma espada na mesma posição de ataque. Agora Leon estava preparado. Esperou até ela começar a descer a arma e saltou para trás. Olhou para a filha do presidente e fez um sinal para ela o seguir. Entraram em uma grande sala.
- Ashley. Espere ali fora. Se tudo correr bem aqui, lhe chamo. Enquanto eu não sair ou não chamar você, fique escondida. Entendeu?
Ela olhou para trás e novamente para Leon.
- Sim, entendi.
Ashley saiu da sala. Leon começou a caminhar por ela. Era grande, arredondada, com escudos e espadas presos às paredes. Velas em candelabros iluminavam o local. Bem ao centro havia um baú. Certamente estaria com o outro cálice ali dentro. O que aconteceria depois que o pegasse? Leon tinha convicção de que alguma coisa. Não sabia o que. Mas que aconteceria alguma coisa, aconteceria. Sobre a porta de entrada, havia duas estátuas de cavalos empinando, um em frente ao outro. O agente apanhou o cálice que dizia: “Taça do Rei”. Neste momento, o local onde o baú estava, subiu levemente, sem o peso do artefato. E então a porta de entrada se fechou. As paredes laterais giraram. E apareceram três armaduras. Armaduras? Duas com espadas e uma com um machado. Elas ergueram as armas como cavaleiros prontos para entrarem em combate. Perfeito. Teria de lutar com armaduras. E estava trancado. Será que agora, Salazar conseguiria atingir seu objetivo? Leon iria fazer de tudo para que isso não ocorresse.
De repente, estava de frente para uma das armaduras com a espada em posição de ataque. Esquivou-se para o lado e ouviu o barulho da arma atingindo o chão. O agente procurou atirar na cabeça delas. Recarregou a arma rapidamente e atirou. Mal deu tempo de apertar o gatilho e teve de se esquivar do ataque de outra armadura que o estava cercando. Para sua sorte elas iam juntas, não agiam de modo coordenado. Não cercavam mesmo. Leon também aproveitava que era mais rápido. Mas uma hora iria cansar, ao contrário de seus inimigos. Ele duvidava que houvesse alguém dentro das armaduras.
De repente, depois de fugir rapidamente, se virou e viu que as três armaduras o haviam perdido do campo de visão. Estavam as três viradas para o outro lado. Ele pegou a arma e atirou na cabeça das três. Mal conseguiu acreditar no que viu. Uma delas se ajoelhou, como se tivesse sido ferida. As outras duas vieram em sua direção. Uma delas deu um golpe de machado que quase acertou Leon. Chegou a cortar alguns fios de cabelo dele. Foi por muito pouco. Elas estavam chegando muito perto. Aquela que havia se ajoelhado voltou a caminhar mas agora estava com… uma plaga exposta. Como assim? O parasita era o que estava movendo aquelas armaduras? Atirou nas outras duas e quando elas caíram, todas expuseram a plaga. Então, Leon pegou uma das granadas cegadoras e jogou. Protegeu os olhos da claridade e quando abriu, as três plagas haviam morrido e as armaduras quedaram inertes. A porta de saída abriria? Não, continuava fechada. Por quê? Logo teve a resposta.
As paredes giraram novamente e mais três armaduras entraram. Que ótimo. Diversão em dobro, pensou Leon. Teria de repetir todo o procedimento. Só que agora estava mais cansado. Para sua sorte, as três armaduras atacavam todas juntas também. Nenhuma delas agia em conjunto uma com a outra. Cada uma atacava de modo individual, Como se estivessem sozinhas. Atirou em uma e ela se ajoelhou. Mas logo teve de correr, pois já estavam lhe atacando com uma espada. Conseguiu esquivar e aproveitou o momento enquanto a armadura que lhe atacou estava se recompondo para atirar. Esta também caiu de joelhos. Faltava mais uma. E eis que ela veio e quando levantou a espada para atacar, Leon a acertou exatamente no local dos olhos. Esta também caiu de joelhos. O agente levantou e correu para o outro lado da sala e viu que as três armaduras estavam com as plagas expostas. Então, ele apanhou mais uma granada cegadora e a jogou. E instantaneamente as plagas se desmancharam e as armaduras também caíram imóveis, voltando a ser o que eram: objetos inanimados. A porta da saída se abriu.
Leon correu até onde Ashley o estava esperando. Agora era só chegar aos bustos dos reis e colocar os cálices em suas mãos e a porta abriria. Bem, para aonde iriam? Isso, logo descobriram. Passaram pelo corredor por onde tinham vindo. A claridade da lua penetrava pelas janelas junto com o vento. Agora dava para sentir um leve arrepio do frio, mas ainda estavam com a adrenalina em níveis tão altos que praticamente nem permitiam sentir a temperatura. O agente quando chegou ao corredor que dava acesso ao local onde colocariam os cálices, olhou com cuidado.
- Ashley. Espere aqui um pouco. Vou me certificar que a barra está limpa.
Leon caminhou com cuidado até a porta e quase perdeu a respiração. De onde eles surgiram? Havia pelo menos uns quatro monges com foices e dois com escudos bloqueando o corredor. O agente se virou para Ashley.
- Fique aqui.
Então, entrou no corredor. Recarregou a arma enquanto os monges vinham. Teria de ser certeiro. Primeiro nos que tinham foices. Eles podiam jogá-la. Deu um tiro e matou o primeiro. Assim que acertou o segundo, se esquivou e uma foice passou centímetros acima de sua cabeça. Ainda no chão, matou o terceiro. Sobrava o quarto. Ele avançou e atacou com a foice, batendo com ela no chão. Leon atirou de baixo para cima, atingindo o pescoço do monge, que caiu morto. Sobravam os dois com escudos. Leon atirou no pé deles, fazendo-os cair no chão, Depois, correu até eles antes que levantassem, atingindo os dois na cabeça. Caminho livre.
Após passarem pela porta, entraram em outro corredor, com o piso forrado de lajotas de porcelana cor caramelo, várias cômodas encostadas na parede ao lado esquerdo, com candelabros pendurados na parede. Mas as velas estavam apagadas e a única claridade que havia no local entrava do lado de fora, pelas janelas abertas, que ficavam à sua direita. Os vidros estavam quebrados. Era estranho. Por quê? E fora de fora para dentro, pois os cacos estavam espalhados no corredor. Estranho, pensou Leon. Mas não se deteve. O agente e Ashley avançaram até a porta. Era toda em madeira, alta e com o topo arredondado, como a maior parte das portas do castelo. Leon abriu-a um pouco com cuidado, espiou o lado de dentro e terminou de abri-la.
Era um local estranho. Muito estranho. O chão era em pedra, mas estava parcialmente destruído. Não parecia ao acaso. Havia apenas um caminho que ligava os dois lados da sala, lembrando uma ponte. Dos lados, apenas uma queda vertiginosa. Havia janelas no topo das paredes, que eram muito altas, uma alavanca, localizada mais à esquerda, ainda sobre o piso e outra porta à esquerda. Essa não tinha ligação com nada. Não se poderia chegar nela a não ser voando. Mas uma ponte colocada à sua frente ligava-a à porção do piso que parecia uma ponte que cruzava o recinto. Ponte esta em madeira, que estava suspensa. O mecanismo deveria servir para baixá-la. E à frente da porta de entrada, uma coisa presa no teto. Parecia, algo como um… casulo. Só que gigantesco. Sim, o teto ficava a uma altura inacreditável, mas aquela coisa descia até quase tocar a cabeça do agente. Eles ficaram um tempo olhando aquilo ali e se perguntando o que sairia ali de dentro.
Leon olhou para Ashley, mas antes que dissesse qualquer coisa, um zumbido o deixou em alerta. Ele foi se virar para trás, mas antes disso, uma sombra passou por ele e o derrubou no chão. Quando se deu conta, Ashley estava sendo levada dali por um inseto gigante. Ele voava e parecia uma… libélula grotesca e enorme. A criatura agarrou a filha do presidente dos Estados Unidos pela cintura e a carregou. O agente americano ainda viu-a saindo com a garota por uma das janelas. Não teria como alcançá-la. Leon podia saber fazer muitas coisas, mas voar não era uma delas. Teria de encontrar o local onde ela estaria e ir até lá de novo. Mais uma vez teria de achar Ashley e resgatá-la. Estava virando rotina.
Foi então que Leon percebeu que de imediato, sua preocupação deveria ser com a própria integridade. Assim que o inseto gigante desapareceu pela janela, ouviu um barulho muito forte igual. De onde vinha? O agente olhou para os lados e não viu nada. Olhou para as janelas, mas nenhuma criatura estava visível. O casulo estava se mexendo, mas não podia vir dali o som. Então, só havia um lugar de onde os insetos poderiam estar emitindo aquele barulho. Estavam embaixo do piso.
Leon deu meia volta e correu para a saída novamente. Teria de chegar a um local mais seguro para enfrentá-los. Assim que começou a correr, ouviu-os saindo debaixo do chão e passando a persegui-lo. O agente deu um chute na porta, abrindo-a. Ele chegou ao corredor e saiu por uma das janelas. Elas eram estreitas. Os insetos vieram no seu encalço, mas não conseguiam passar pelas janelas. Eram estreitas para eles. Embora tentassem, não conseguiam. Leon recarregou a arma e matou-os um a um. Para a sorte dele, os insetos não tinham uma inteligência proporcional ao seu tamanho. Continuavam sendo libélulas. Só que super crescidas.
De volta à sala, Leon atravessou aquela ponte. Antes de seguir até a alavanca, no entanto, mirou no casulo e deu um tiro. Aquela coisa tremeu. Apesar do tamanho, era frágil. Deu um segundo tiro e ele caiu. O agente acompanhou a queda do imenso objeto até o chão muito abaixo do piso onde ele estava. Deu para ver bem ao longe, já em um tamanho diminuto ele explodindo no chão duro de pedra. Não deu para saber quantos ovos daqueles insetos havia lá dentro. Mas já era um alívio pensar que eles não nasceriam. O agente acionou o mecanismo e a ponte começou a baixar. No entanto, parou no meio do caminho, presa por correntes. Leon olhou e viu onde as correntes estavam presas. Apanhou a arma e atirou nos ganchos. As correntes se soltaram e a ponte terminou de baixar. O piso tremeu quando a ponte atingiu o chão com um baque que chegou a remexer o cérebro. Agora, poderia sair da sala.
Sem perder tempo, Leon atravessou a porta e chegou a outro corredor. Este o conduzia até uma porta de ferro. Abriu-a. Saiu em um local com uma escada. Em frente, havia uma espécie de torre. No seu topo, uma sacada, sobre o qual dois monges faziam a ronda. Leon mirou lá de baixo antes de ser visto e matou os dois com um tiro na cabeça. Aproximou-se de uma ponte que dava acesso à torre. Neste instante, o transmissor tocou. Era Ramon Salazar novamente.
- Estou aqui me perguntando se consegue nos ver, senhor Kennedy.
- Se machucarem ela, vou quebrar todos os seus ossos.
- Primeiro, vejamos se será capaz de chegar aqui. Se conseguir, o estarei esperando.
O agente apanhou um binóculo e procurou-os pelas torres. Foi quando viu Ashley. Estava escoltada pelo próprio Salazar e por um homem enorme. Sim, o guarda-costas de Salazar. Se é que era um homem. Não podia ver sob aquele manto vermelho que ele sempre usava. No entanto, quando o viu de frente, era possível distinguir dos pontos vermelhos brilhantes no lugar dos olhos. Só que ele lembrou de que os aldeões também tinham os olhos brilhantes à noite. Então isso não queria dizer necessariamente que o guarda-costas de Salazar não fosse humano.No entanto, desconfiava que não. Ele carregava uma espécie de lança, mas suas mãos estavam encobertas pelas mangas da túnica. Salazar fez um sinal para seu guarda-costas o seguir. Os três foram caminhando até sumir pela porta. Leon guardou o binóculo novamente. Teria de conseguir chegar lá.
Atravessou a ponte, mas a porta de entrada da torre estava trancada. Duas tábuas enormes de madeira cruzadas a impediam de abrir. Teria de encontrar outra maneira de conseguir entrar. Leon contornou a ponte, subiu uma escada e chegou a um piso que contornava a torre. Passou a caminhar com cuidado. Era ali que estavam circulando aqueles dois monges que ele matou lá de baixo. Poderia haver mais. E assim que chegou atrás da torre, dois monges de foice o estavam esperando. Não perdeu tempo e matou ambos. Em frente ao local onde estava, dava para ver a outra parte do castelo. Mas ela também não tinha ligação com nada. Não teria como chegar lá. A ponte ligava a porção da residência de Salazar de onde saiu até a torre. Mas nada ligava esta torre até essa parte do castelo. É claro que devia haver alguma maneira de chegar lá. Só que com certeza, para encontrar essa maneira, deveria ser preciso entrar na torre, onde haveria uma recepção bem calorosa. Leon olhou para a porta de entrada e pensou: “Acho que vou viver fortes emoções agora”.
Assim que Leon entrou pela porta, se viu dentro de algo que era ao mesmo tempo fantástico e que dava calafrios. Era o interior de uma torre. Um piso contornava as paredes. Tudo em pedra, com cercas de metal. Escadas de escalar davam acesso aos pisos superiores e inferiores. A altura era vertiginosa. E bem ao centro de tudo aquilo, uma máquina que ia desde o térreo até o topo. Uma engrenagem gigantesca. No momento, ela estava parada, mas o agente ficou se perguntando qual seria a finalidade de ela estar ali. Sim, pois se ligada, deveria colocar algo em funcionamento. Algo grande. Provavelmente, faria algo como dar acesso àquela parte do castelo que vira do lado de fora e que no momento, estava isolada de tudo. Teria de achar o mecanismo que acionava a engrenagem.
Mas o que mais o surpreendeu é que não havia ninguém por ali. Tudo estava absolutamente em silêncio. Ele caminhou pelo piso, contornando o local até chegar a uma escada. Subiu ao nível superior. Olhou atentamente tudo em volta, mas não viu um único movimento. Como? Esperava uma “calorosa” recepção. Uma armadilha. Mas estava tudo tão quieto que podia ouvir seus batimentos cardíacos. A únicas coisas que via era o movimento da luz das tochas presas nas paredes. Fora isso, nada. Foi então que quando estava caminhando, se deu conta de um detalhe, que poderia ter passado despercebido. Só que aprendera, principalmente no castelo, que nenhum detalhe poderia passar despercebido. Se algo estava estranho, fora do local, é por que tinha um motivo para estar ali. E havia sim algo que chamava a atenção. No meio das engrenagens, havia tocos de madeira. Sim, estavam trancando a máquina. E se estavam ali, é porque foram colocados ali. Quiseram parar a engrenagem. Ou não deixar ela trabalhar quando fosse ligada. Ou seja, sabiam que Leon estaria ali naquele momento. Sendo assim, o fato de o lugar estar deserto não significava que estava seguro. Sabia que ainda estava dentro da armadilha. Que estava exatamente onde queriam que estivesse. Mas, de momento, teria de seguir jogando o jogo de Salazar.
Leon apanhou sua arma, recarregou-a e seguiu destruindo os tocos de madeira um a um, de modo a libertar as engrenagens para trabalharem assim que fossem ligadas. Ele caminhou até chegar a um mecanismo com uma alavanca. Antes de acioná-la, olhou bem para a engrenagem para se certificar que nada a travaria. Achava que tinha destruído todos os tocos de madeira que a emperravam. Mas antes de puxar a alavanca, viu uma folha de papel ao seu lado. Era uma carta de Salazar.

“Preparação do Ritual
Graças aos esforços dos "Novistadores", conseguimos recapturar Ashley. Devemos preparar o ritual sagrado o mais rápido possível e fazer de Ashley um membro oficial dos Los Illuminados.
Enquanto nos preparamos para o ritual, aqueles que se sentir a vontade podem cuidar de nosso amigo americano. Podemos segurar nosso amigo pelo menos um pouco emperrando as engrenagens da torre do relógio com alguma coisa. Acho que se prendermos as engrenagens em três lugares, deve nos dar tempo o bastante para preparar tudo para o ritual.
Agora vão e entretenham nosso turista americano.”

Leon acionou o mecanismo e olhou para a engrenagem, torcendo para que ela passasse a funcionar sem ser impedida por nada. E de repente, ouviu um barulho de motor entrando em ação. Era um motor enorme. O som era alto, tanto que chegava a dar dor de cabeça. Sentiu o chão tremer sob seus pés e de repente, as engrenagens começaram a se mover. Lentamente, foram saindo da inércia em que se encontravam e passaram a girar. O coração do agente passou a bater acelerado. Nada poderia dar errado agora. De repente, todo o motor passou a se mover. Todas as engrenagens trabalharam e o chão tremeu para valer até parar com um baque que vinha lá de fora. Algo havia acontecido. Mas o que? Teria de sair da torre para descobrir. Então, quando menos esperava, as portas lá de baixo abriram e ele ouviu vozes.
- Mata-o!.
Sim, chegou companhia. Leon passou a caminhar com cuidado. Escondeu-se atrás de um dos pilares da torre e olhou para baixo. Não viu nada, mas agora sabia que havia monges em algum lugar. E que o estariam esperando. Deu um passo e uma flecha com a ponta pegando fogo se chocou contra o pilar onde estava escondido. Teria de se proteger atrás deles e correr. Não poderia ser atingido. Olhou por trás do pilar e viu um arqueiro. Atirou na cabeça dele, matando-o. Havia mais um arqueiro atrás da engrenagem no piso inferior. Leon apanhou a arma e esperou até a visão ficar livre. O arqueiro o viu e colocou a flecha no arco. Mas antes de atirar, o agente deu um tiro e o matou. Pistolas são mais rápidas que arco e flecha. Pensou ele. Saltou até a parte de baixo. Teria de chegar até a porta.
Não havia mais ninguém ali, então saltou para o piso de baixo. Só que mal caiu e ouviu a porta abrindo e mais monges entrando. Agora eles carregavam foices. Leon aproveitou que o piso era estreito para correr por ele. Não poderia ser atacado por mais de um monge ao mesmo tempo, então, se posicionou em locais onde não poderia ser cercado. E conseguiu matar os três seguidores de Salazar, sempre procurando deixar um longe do outro, para poder encará-los isoladamente.
Quando Leon abriu a porta de saída, quase ficou sem respiração. Sim, agora ele via o que aquele mecanismo havia feito. Agora sabia o motivo daquele barulho todo e do tremor no chão. A ponte que ele usara para chegar à torre havia se deslocado e agora ligava este local àquela parte do castelo que antes estava isolada. Como aconteceu aquilo, Leon não sabia dizer. O que via, é que agora tinha como chegar à parte do castelo que antes estava isolada. E que era ali que estariam Salazar e Ashley. Sabia que tinha de chegar logo, pois o ritual estava sendo preparado e tinha de evitar. Caso contrário, tudo estaria perdido. Não havia ninguém na ponte. Tudo estava silencioso. A porta lá ao fundo era de madeira. Mas Leon sabia que não seria fácil chegar até ela. Antes, com certeza, de algum lugar, aqueles monges surgiriam para impedi-lo de entrar. Mas de onde? Não sabia, mas tinha certeza que logo iria ver. Correu sobre a ponte para chegar rápido ao outro lado. Foi quando notou que dos lados da porta, havia duas saliências diferentes, em formas de quadros gigantes que se abriram como se fossem janelas. E de dentro delas, saltaram muitos monges que correram bloquear a porta. E à frente deles, um estava portando uma bazuca. E agora? Se chegasse a atirar, Leon seria explodido em mil pedaços. O agente tateou os bolsos em busca de uma granada e achou. Atirou-a e ela explodiu, matando todos os monges. O caminho estava livre.
Leon entrou em uma sala enorme. O chão tinha um carpete verde ao centro. Havia colunas nos lados da sala e uma escada bem em frente à entrada. Depois do primeiro lance de escadas, havia outra parte da sala, seguida por outra escada. E nessa parte mais elevada, estavam dois monges. Esse não era o problema. Acontece que atrás deles, como dois guarda-costas, estavam nada menos que duas criaturas daquelas cegas. Dois garradores. Enfrentar um já foi extremamente difícil. Agora o agente teria de enfrentar dois ao mesmo tempo. Seria ainda pior. E Leon sabia que qualquer descuido na luta com aquelas criaturas significaria ser transpassado por aquelas garras, o que seria morte certa. O agente sabia que eles não enxergavam, mas que sabiam utilizar extremamente bem os outros sentidos. E o chão acarpetado não iria colaborar muito, pois sempre produziam algum ruído quando pisava. Os pelos do carpete eram duros e estralavam sob o peso de seus pés.
Os monges estavam estáticos, apenas olhando para o visitante. Leon ficou parado também. Não podia fazer o menor barulho. Tinha a impressão que os dois monstros lá atrás podiam ouvir até as gotas de suor que caíam da testa do agente, que ficou alguns segundos imobilizado em frente à porta, sem saber o que fazer. Sair? Para onde? Não podia voltar. Tinha de conseguir passar por esta sala para buscar Ashley. E para passar pela sala, tinha de enfrentar os garradores. Não teria outra saída. Ele tateou mais uma vez o colete. Não tinha granadas para matar eles. Teria de pensar. E então, teve uma ideia. Se conseguisse acertar um dos monges, poderia contar com a ajuda de um dos garradores. E foi o que fez.
Atirou e a cabeça de um dos monges explodiu. Os garradores pareceram despertarem e expuseram as garras enormes, ao mesmo tempo em que lançaram ataques cegos no ar. O monge que sobrou se virou para trás apavorado e só teve tempo de ver as garras do monstro vindo à direção de sua cabeça, que foi separada do corpo. Sim, o Garrador era um inimigo mortal, mas indomável. Como era cego, não via em quem estava lançando seus ataques. Era uma faca de dois gumes. Ele matava qualquer um que ficasse em seu caminho, não importando de que lado sua vítima está. E foi o que aconteceu. Só que Leon sabia que teria de ser rápido, pois eles ouviram o tiro e viriam em disparada até o local onde estava. De repente, como que por mágica, as portas atrás do americano se fecharam. Os dois monstros saíram em uma corrida desenfreada. Leon teve tempo de sair para o lado e as garras passaram quase raspando seu rosto. Ouviu o barulho delas se cravando na porta.
Leon parou atrás dos garradores e os viu presos à porta de madeira. Os dois cravaram suas garras ali e não estavam conseguindo se soltar. Ele chegou perto de um deles e disparou a queima roupa na plaga que aparecia nas costas da criatura. Ele urrou de dor, caindo de joelhos. Leon recuou. O outro Garrador se soltou e ao ouvir o barulho do monstro ao seu lado, lançou um ataque certeiro. As garras penetraram na plaga da criatura ao seu lado. O Garrador que fora atingido por Leon, caiu morto. É, as vezes, um Garrador é mais eficiente que dois, pensou o agente. No entanto, agora, teria de se virar com aquele ali.
Mas mesmo um era extremamente difícil. Ele caminhava pela sala, procurando ouvir Leon, sentir o cheiro do agente. Movia-se como um caçador. De repente, o Garrador se virou e em uma disparada lançou suas garras na direção do agente, que teve de se jogar no chão e rolar para o lado. Chegou a sentir o vento das armas acopladas ao braço da criatura em seu cabelo. Quando se levantou, Garrador já estava caminhando lentamente pela sala de novo. Sim, ele estava com os ouvidos atentos. Leon tinha de andar tomando o cuidado de fazer o menor ruído que pudesse. Olhou as escadas e viu sinos na parte de cima. Subiria? Só que um pensamento lhe passou pela cabeça. Havia portas abertas na parte de cima da sala. Poderia haver monges o esperando. E se tinha algo que ele não precisava era de companhia. O Garrador já era o suficiente.
Garrador se virou para ele de novo, mas ficou apenas parado. Leon não se moveu. Este era um momento de grande tensão. A criatura estava de frente para ele, mas imóvel. Agora, o agente se sentiu acuado. Se fizesse um movimento para qualquer lado, poderia chamar a atenção do monstro. Se ficasse parado, teria de torcer para não ser detectado. Se fosse, não sabia se teria tempo de reagir antes de ser atingido por aquelas garras. Garrador ficou parado, como se estivesse olhando para Leon. Se seus olhos não fossem costurados, poderia imaginar que estava realmente olhando. E para comprovar que era cego, o Garrador saiu para o lado. Continuava buscando sua vítima. Só que quando Leon deu um passo para a direita, o Garrador se atirou ao ataque. Leon se jogou no chão, desviando também da coluna que estava atrás de si. Sentiu as garras passando a centímetros de sua cabeça e de repente, fragmentos de pedra caíram sobre ele. Leon se levantou e viu o Garrador preso na coluna de mármore. Suas garras penetraram nela. Era o momento.
Leon quase encostou o cano da arma na plaga nas costas da criatura cega e puxou o gatilho duas vezes. O monstro soltou um grito de dor e caiu no chão, ainda com a garra presa à coluna. Depois de alguns segundos, o agente concluiu que o Garrador não levantaria mais. Estava morto. O que viria a seguir? Teria de descobrir. Recarregou a arma e pensou que se tivesse de seguir na missão, acabaria em dificuldades, pois sua munição estava chegando ao fim.
O agente subiu as escadas em direção à porta de saída da sala. Não descuidou, no entanto, que do seu lado esquerdo, haveria duas outras portas. Passou pela primeira e olhou. Não havia ninguém ali. Seguiu caminhando. Ao passar pela segunda, parou e virou com a arma engatilhada. Não viu ninguém. Virou-se para seguir. Virou-se novamente para porta. Foi por pouco. Um monge com uma foice vinha correndo. Saiu de uma ligação entre a primeira e a segunda porta por onde Leon havia passado. Estava usando uma máscara de metal, então o agente americano mirou no peito do inimigo e atirou, matando-o. Leon entrou pela porta e viu um corredor ligando as duas aberturas. Mas agora realmente não havia mais ninguém ali. Poderia seguir. Dirigiu-se até a saída. Antes de abrir a porta, ainda deu uma última olhada para a sala onde estava.
Abriu a porta e entrou em um lugar que era apenas uma ligação entre a sala de onde saía para outra. Tinha uma escada, com um tapete azul escuro até a porta. Dos lados da escada, corrimões de madeira. E dos lados, estátuas de homens que poderiam ser cavaleiros. Estavam de túnica, segurando uma espada nas mãos. As armas estavam com a ponta no chão. Lustres pendiam do teto, todos iluminados com velas. Mas não havia uma única pessoa ali. Tudo estava em silêncio. Apesar disso, Leon sabia que o estavam esperando. Dirigiu-se até a porta à sua frente. Era também de madeira e alta, com o topo arredondado. Abriu-a.
Quando Leon entrou, nem prestou atenção em mais nada. Apenas viu uma coisa.
- Ashley!
Ela estava no centro da sala, ajoelhada, com os dois guarda costas de Ramon Salazar ao seu lado, cada um portando uma lança. Leon olhou para os dois. Um deles vestia uma túnica preta, à direita da garota; o outro trajava uma túnica vermelha, à esquerda. Os dois olharam para o agente que acabara de entrar no recinto. Sim, agora ele os viu melhor. O rosto dos dois estava parcialmente encoberto pelo capuz, mas definitivamente não eram humanos. Sim, eram mais das criaturas de Salazar. Um deles era o braço direito do castelão, Verdugo.
Sentado em uma poltrona que mais parecia um trono, na extremidade oposta à porta da entrada, estava Ramon Salazar. Seus pés sequer tocavam o chão. Ele vestia sua roupa azul com seu chapéu combinando com o casaco. Ele ficou um tempo apenas olhando Leon, então o chamou.
- Senhor Kennedy.
Com uma expressão fechada, colocou os braços sobre as escoras da poltrona e encarou Leon.
- O senhor não sabe quando é hora de jogar a toalha?
Salazar ergueu o braço, cerrou o punho como se fosse bater na poltrona. Então, apontou um dedo e desceu a mão. Apertou um botão na escora. Neste momento, as velas da sala quase apagaram, como se um vento tivesse passado por ali. Leon não teve reação nenhuma, apenas sentiu uma sensação estranha. O que iria acontecer? Foi apenas um segundo, mas pareceu durar muito mais. A respiração faltou ao agente. De olhos arregalados, ele olhou para todos os lados e de repente, o chão sumiu sob seus pés. Estava em queda livre. Apenas viu paredes ao seu redor e tinha a noção de que caía. Tudo parecia, no entanto, em câmera lenta. Essa irrisória fração de tempo seria o que separaria Leon de se espatifar no chão. Ele ainda conseguiu ver algo lá em baixo. Pontas. Seria empalado. Tinha muito pouco tempo para fazer alguma coisa. Que coisa?
Em segundos, tudo estaria acabado. Leon estaria empalado e a missão de Osmund Saddler poderia seguir sem nenhum problema. O agente, em uma última cartada, colocou a mão no cinto. Encontrou um gancho. Apanhou-o. Nos últimos instantes que o separavam da morte certa, jogou-o com toda a força para uma das laterais do poço. O pequeno objeto abriu as pontas e se cravou na parede. Leon se segurou com todas as forças. Estava usando luvas de couro que cobriam as palmas das mãos, protegendo-as. Conseguiu parar pouco antes de se espetar nas estacas colocadas no chão. Depois de respirar aliviado, pegou o revólver. Viu algo como uma espécie de microfone. Serviria para captar o som das vítimas daquele lunático. Leon atirou nele e falou em alto e bom tom.
- Você é muito burro se pensa que vou cair em um truque destes, Salazar.
Assim que Leon colocou os pés no chão, o transmissor tocou. Sim, Ramon Salazar queria falar com o agente. O que? Até estava curioso para saber. O dono do castelo imaginava que se livraria do americano, mas estava enganado mais uma vez. Não seria nada fácil conseguir isso.
- Pelo que estou vendo, você tem nove vidas, não é mesmo, senhor Kennedy? Mas isso não importa agora. Minha mão direita vai acabar com você. Ele vai caçá-lo, matá-lo e trazer sua cabeça para eu colocar em uma estaca no portão do meu castelo. Vai servir de decoração. Vou ficar admirando ela todos os dias. Vai ser divertido. Vou me lembrar de todo o trabalho que o senhor tem me dado. E então, vai parecer que foi diversão.
- Mas se sua mão direita sair do seu corpo, vai ficar aleijado?
- Diga o que quiser. Mas se eu fosse você, não ficaria fazendo piadas. Logo estará morto, seu verme. Salazar desligou o transmissor. Estava muito irritado, dava para perceber isso em sua voz. Leon pensou um momento no que seu anfitrião quis dizer ao mencionar o fato de sua mão direita estar indo lhe caçar. Provavelmente, ele quis dizer seu braço direito, seu homem de confiança. Acontece que provavelmente Salazar não deve ser tão fluente no inglês. Devia se tratar de um daqueles monstros que compõe sua guarda pessoal. Chegará o momento em que terá de enfrentá-lo e descobrir sua real forma. Mas o momento não era de ficar pensando nisso. Teria de encontrar o caminho para voltar ao castelo. E não podia perder tempo, pois a cada segundo que passava, Ashley se encaminhava para o ritual. Não sabia bem o que era, mas seria o momento em que ela se tornaria uma serva de Osmund Saddler. E se isso acontecesse, sua missão teria falhado. Não teria mais volta.
O cenário que se apresentava era totalmente desolador. Desesperador era a palavra mais precisa. Leon caiu exatamente onde as pessoas eram empaladas. Conseguiu evitar ter o mesmo fim, usando gancho, mas era muito desagradável olhar pessoas mortas, cravadas naquelas enormes estacas. Havia cadáveres por todos os lados. Alguns em estado avançado de decomposição. Sim, o senhor Salazar teve alguma diversão nos últimos tempos. Havia morcegos ali. Muitos deles, atrapalhando o caminhar de Leon. Um córrego com uma correnteza bem forte passava por entre as pedras. Alguns pobres coitados não chegaram a ser empalados, mas morreram na queda, que era gigantesca. Corvos rodeavam o local, crocitando e se alimentando da carne dos mortos. O agente chegou até uma escada de escalar e subiu-a. Chegou à parte de cima.
Não havia dúvidas que era uma tubulação por onde devia correr a água do esgoto. Canos derramavam água em um canal que a despejava no o córrego onde estava. O ar ali era sufocante. A iluminação era parca, vinda de fora. A umidade alta fazia com que fosse até difícil respirar, além do odor vindo da água. As paredes tinham limo, bem como o teto. Leon procurou ouvir qualquer barulho que denunciasse a presença de alguém, mas não ouviu nada. No entanto, sabia que mais cedo ou mais tarde, teria companhia. O guarda-costas de Salazar o estava procurando. E como viu por onde o agente caiu, sabia exatamente onde estava.
O agente passou por uma porta e subiu agora sobre uma espécie de grade. A água agora corria sob seus pés. Não precisava mais correr dentro dela. Por outro lado, cada passo que dava produzia um som alto. Não teria como esconder sua presença. Passou a correr, pois tinha de encontrar a saída logo. Agora pelo menos havia iluminação no local. Existiam portas dos lados, onde as pessoas faziam a manutenção do sistema de esgoto. Tinha acesso de elevador para a parte de cima. Para fora daquele lugar claustrofóbico.
Leon estava na metade do caminho até uma porta que indicava o fornecimento de energia elétrica para o local quando ouviu um barulho. Não estava sozinho. Procurou olhar ao redor, mas foi na água, debaixo dele que apareceu o sinal de seu perseguidor. Bolhas indicavam que alguma coisa estava passando ali por baixo e numa velocidade absurda. Iria atacá-lo de baixo para cima. O agente teria de ter reflexos de gato e agilidade de um também. De repente, o som do metal sendo tocado. Leon deu uma cambalhota para trás e exatamente onde estava, surgiu um tentáculo com uma ponta afiada, que subiu quase até o teto. Aquela coisa procurou Leon, sem encontrar. Desceu novamente. O agente continuou correndo até a porta com um sinal de perigo por causa de equipamentos elétricos de alta voltagem. Ele entrou ali.
Dentro do local, havia diversos mecanismos e interruptores. Então, ali dentro, Leon ouviu um barulho vindo de cima. Seu perseguidor estava ali em cima. O agente se aproximou de um interruptor em forma de alavanca que provavelmente ligava a eletricidade do local. Estava desligada no momento. Só que na hora em que foi apertar o botão, ouviu novamente um barulho vindo de cima. Quase não teve tempo. Saltou para trás e viu aquele tentáculo mais uma vez. Agora descia até o chão. O guarda-costas de Salazar estava realmente disposto a cumprir sua missão. Leon conseguiu chegar até o interruptor e o acionou. A corrente elétrica aos poucos começou a voltar, mas pelo visto, demoraria alguns minutos até se restabelecer completamente. A porta por onde entrou, no entanto, se fechou. Um barulho vindo de fora, se parecendo com uma máquina começando a funcionar pôde ser ouvida. Leon correu até a porta por onde entrou, mas ela estava fechada. Um interruptor que servia para abri-la, com uma luz vermelha indicava que ela estava trancada. O agente apertou o botão. A luz vermelha passou para verde e se ouviu um bip. Mas a porta seguiu trancada.
Então, a criatura que estava perseguindo Leon desceu do teto. Vagamente lembrava um ser humano. Tinha duas pernas, dois braços, uma cabeça e um tronco. Mas fora isso, em mais nada. Sua face era monstruosa, grotesca. A boca era uma abertura com dentes atrás de quatro presas que pareciam ganchos. Seus olhos eram dois pontos vermelhos brilhantes. Não tinha cabelo. Sua pele era uma carapaça preta que em nada lembrava uma epiderme humana. Suas mãos não tinham dedos, mas garras. Não como as do Garrador. Essas eram naturais, como de muitos predadores. Seus membros eram longos e seu corpo, esguio. Com certeza, seria ágil. O agente pensou. O gigante enxergava, mas era lento. O outro, era ágil e furioso, mas era cego. Esse enxerga e é ágil. Vai ser uma luta de vida ou morte. Extremamente difícil.
Verdugo saltou em direção a Leon e atacou. O agente teve de saltar para trás, desviando por pouco das garras da criatura. Ele voltou para cima. Lançou mais um ataque e Leon conseguiu esquivar, uma, duas, três vezes. Estava começando a cansar. E pelo jeito, seu inimigo não cansaria tão rápido. A porta continuava fechada. Estava preso em uma armadilha e com seu predador ali. Era um jogo de gato e rato. O problema é que Leon era o rato preso dentro de uma ratoeira. Verdugo começou a caminhar sobre a sala. O agente apenas o ouvia, enquanto olhava para os lados e aguardava ou o próximo ataque ou o momento em que a criatura desceria para cercá-lo novamente.
O local era pequeno. Havia máquinas que regulavam a distribuição de energia elétrica para a propriedade. Eles estavam cercados. A temperatura ali era alta. Avisos por toda a parte, avisando que somente pessoas autorizadas poderiam permanecer no local. Leon olhava para os lados, procurava algo que pudesse ajudar, mas não via nada. Então, um objeto chamou sua atenção. Um tubo vermelho, de mais ou menos um metro e meio, preso a uma parede por um plástico, mas não seria difícil derrubá-lo para liberar seu conteúdo. Tratava-se de um tubo de nitrogênio. Sim, aquele lugar tinha máquinas que tinham de funcionar sob uma determinada temperatura. Se algo desse errado e elas começassem a superaquecer, deveria ter alguma coisa no local que fizesse baixar a temperatura de maneira muito rápida. Por isso, a presença do nitrogênio. Ele pensou que este objeto seria a única chance. Mas teria de atrair o monstro para baixo.
Verdugo continuava apenas cercando sua caça. Quando parou exatamente sobre a cabeça de Leon, veio mais um ataque. O agente conseguiu se esquivar, rolando para o lado. A criatura desceu mais uma vez. Os olhos dele brilhavam e encararam o agente. Este se levantou e correu para tentar fazer Verdugo parar exatamente onde poderia ser atingido pelo nitrogênio. A criatura era rápida e logo parou novamente em frente a Leon. Agora o americano estava agarrado ao tubo. Teria de derrubá-lo sem demora. Se Verdugo saltasse para o teto antes, tudo estaria perdido. Sem contar que Leon teria de se cuidar para ele próprio não ser atingido. Ele forçou e derrubou o nitrogênio, subindo por um cercado que contornava uma espécie de computador enorme que ficava ao centro da sala. Por pouco o jato não acertou suas pernas. Já Verdugo não teve a mesma sorte.
Primeiro seus pés foram congelados. A criatura olhou para baixo. Suas pernas foram congelando aos poucos, seu tórax, braços até chegar à cabeça. Ele ia olhando o gelo subir, sem saber o que fazer. Por fim, ficou totalmente imobilizado. Neste momento, a porta que Leon havia acionado abriu. Ele poderia sair. Mas agora era a chance de liquidar Verdugo. Se não o fizesse, certamente a criatura o perseguiria assim que conseguisse se livrar do gelo. O agente apanhou a arma, recarregou e chegou bem perto do monstro. Encostou a arma na sua cabeça, de baixo para cima, para fazer a bala sair pelo crânio. O monstro movia os olhos ainda e escutou o momento em que Leon puxou o gatilho. Em uma pequena fração de segundos, os cacos de gelo com pedaços da cabeça de Verdugo voaram por toda a pequena sala. O braço direito de Ramon Salazar ficou em pé, mas sem a cabeça. Para garantir, Leon pegou o tubo, que era pesado e jogou com toda as suas forças contra o corpo de Verdugo, que se despedaçou completamente. Agora, poderia sair daquele lugar.
Leon saiu da sala enquanto ouvia um barulho de máquinas funcionando. Vinha do corredor. O agente correu, passando por uma porta à direita. Abriu-a e olhou para dentro. Nada. Não tinha saída. Fechou e seguiu pelo corredor até outra porta, agora à esquerda. Não sabia bem o motivo da pressa, a final de contas, a criatura que fora mandada ao local para lhe matar, estava morta. Mesmo assim, não queria permanecer naquele local. Abriu a outra porta e viu que na outra extremidade havia uma saída e um elevador. Era uma estrutura precária. Apenas o assoalho de metal com um cercado dos lados, puxado por hastes de metal. Em uma das hastes, dois botões, um apontando para cima e um para baixo. Correu até a estrutura e apertou o botão para baixo, já que não havia como subir. Sem demora, o elevador começou a descer.


Capítulo 29

O veículo que trazia a filha do presidente dos Estados Unidos chegou a El Pueblo no fim da tarde. Estavam esperando por ela Bitores Mendez, o prefeito do vilarejo e Osmund Saddler. Estavam parados no centro das casas. Assim que o carro parou, Jack Krauser desceu. Parou e ficou um tempo apenas observando os dois homens que o tinham sob constante vigilância. Pareciam desconfiados. Então, Krauser fez um sinal para os que estavam do dentro do veículo. Eles saíram, com um deles trazendo sobre os ombros, a filha do presidente dos Estados Unidos. O militar estava com um sorriso de satisfação no rosto.
- Senhor Saddler. Aqui está a filha do presidente dos Estados Unidos, Ashley Graham. Conforme havia prometido.
Osmund Saddler caminhou na direção dela. Já havia visto fotos dela na Internet e conferiu cuidadosamente para ver se Krauser não estava mentindo. Depois de observar cuidadosamente, viu que era verdade.
- Muito bem, senhor Krauser. Tenho que admitir que você fez um grande trabalho. Cheguei a duvidar que conseguiria.
Jack Krauser riu.
- Possivelmente foi o trabalho mais fácil da minha vida.
Osmund Saddler olhou para Bitores Mendez e disse:
- Levem a garota para a Igreja. Logo eu irei e iremos começar os preparativos para o ritual.
- Certo.
Mendez olhou para os soldados.
- Vamos depressa!
Eles caminharam em direção a uma igreja que ficava à direita de quem entrava no povoado. Um templo pequeno, que na verdade, era utilizado apenas como passagem secreta. Ele tinha saída para um túnel subterrâneo que ligava o povoado à verdadeira igreja deles, nas proximidades de um cemitério. Depois que fecharam as portas, ficaram ali apenas Osmund Saddler e Jack Krauser. O líder dos Illuminados encarou Krauser.
- O que pretende fazer agora?
Krauser pensou um pouco antes de responder.
- O senhor disse que tem uma ilha, onde está treinando um grupo de militares que darão apoio aos religiosos na missão de espalhar o parasita Las Plagas. Pretendo treiná-los.
- E como pretende fazer isso?
- Senhor Saddler. Não se esqueça de que eu era militar, o chefe de operações especiais do Exército dos Estados Unidos. Tenho experiência no treinamento de soldados. Pretendo ensiná-los táticas de combate, bem como manejar armas de diferentes tipos.
Saddler ficou algum tempo pensando. Não confiava nele, mas ficaria por perto para garantir que não faria nada que não estivesse de acordo com os interesses da ordem religiosa. E seria bom que os soldados fossem treinados por alguém que tivesse experiência no campo militar e no manejo de armas. Então, olhando para o militar, respondeu:
- Certo. Vou levá-lo à ilha. Lá poderá montar seu quartel general e comandará as minhas tropas que irão levar nossa fé ao mundo.
Assim que chegou à ilha, Jack Krauser passou a equipar o local com armas consideradas apropriadas, desde bastões elétricos e machados e facas até bazucas e metralhadoras giratórias. Ele era um exímio lutador com a adaga e queria ensinar os militares locais a usarem-na tão bem quanto ele. Aos poucos, no entanto, algo começou a acontecer. Osmund Saddler não percebeu, mas os soldados da ilha foram ficando cada vez mais fiéis a Krauser e menos ao líder dos Illuminados. Isso se deveu a algo que ocorreu.
Tendo acesso aos laboratórios da ilha, Krauser se apropriou de uma amostra do parasita Las Plagas. Este era o seu objetivo, a missão passada por Wesker. Mas ele tinha outros planos. A primeira, ele iria usar em si próprio. Ele se injetou uma amostra da plaga controladora. Assim, ele teria não só os benefícios que já vira em outros infectados, mas inclusive, o poder de controlar todos aqueles que continham a plaga controlada.
E quando Jack Krauser injetou o parasita em si, ele sentiu uma coisa que não imaginava que sentiria. Foi como se seu sangue começasse a ferver. Suas veias ficaram todas aparentes. Seu braço esquerdo começou a formigar. Parecia que tinha derramado ácido nele. Estava ardendo, doendo, coçando, tudo ao mesmo tempo. Então, como em um passe de mágica, seu ferimento começou a fechar. E depois de alguns segundos intermináveis de agonia, cicatrizou. Estava curado. Krauser sentiu uma força sobrenatural, muito maior do que tinha sentido com o Vírus T. Ele correu e deu um soco na parede de tijolos e a quebrou como se ela fosse feita de plástico. No entanto, seu braço começou a se transformar. Nasceram pontas e ele começou a crescer. Krauser foi aprendendo a lidar com ele, como quem aprende a mexer em uma arma. Sim, seu braço agora era uma arma. Seu ponto fraco passava a ser sua força a partir de agora. Com o passar do tempo, aprendeu a controlar a transformação do seu braço, o fazendo voltar ao normal e usando-o apenas quando necessário.
Mas é claro que isso não passou despercebido pela Umbrela. Os satélites deles podiam ver praticamente tudo e Wesker descobriu que Krauser estava curado. E que isso só podia ser resultado de alguma substância que estava presente no culto dos Illuminados. Para isso, mandaria Ada ao local. Ela iria investigar o que o militar andava fazendo na Espanha. Pelo jeito, a ambição de Jack Krauser por poder e força estavam muito além de qualquer fidelidade com as empresa que o contratava. Albert Wesker também era assim e podia ver muito de si no homem que contratara. Só que na empresa em que mandava, só tinha espaço para uma personalidade igual à sua. E o próprio Wesker já havia preenchido esse espaço. Não teria lugar para mais ninguém assim.
Jack Krauser também passou a ter informantes. Como era possuidor de uma plaga controladora, passou a manipular os ganados com a mesma propriedade de Ramon Salazar e Bitores Mendez. O militar queria saber tudo a respeito de Leon. Onde estava, com quantos ganados lutou, foi ferido? Sabia que mais cedo ou mais tarde, o agente chegaria à ilha. Osmund Saddler deixou bem claro que o ritual com a filha do presidente dos Estados Unidos seria feito no castelo. Mas Krauser tinha certeza de que nem tudo sairia do jeito que o líder da seita imaginava. Não com Leon no caminho. O americano iria ser uma pedra no sapato dos Illuminados, disso não tinha a menor dúvida. Ada também era uma preocupação. Krauser queria saber de todos os passos dela.
Em uma das visitas de Osmund Saddler à ilha, Krauser pediu para ter uma conversa a sós com o líder dos Illuminados.
- Lorde. Fiquei sabendo que Leon está no castelo.
Osmund Saddler ficou alguns instantes em silêncio antes de responder.
- Sim. Ele conseguiu sair do povoado.
- Isso significa uma coisa. Ele matou Bitores Mendez.
- Sim. Mendez foi morto. Uma grande perda. Ele era o prefeito de El Pueblo e meu braço direito lá. Agora, Ramon Salazar terá de ser o meu representante entre os aldeões. Não será fácil. Aquelas pessoas tinham uma ligação com Mendez que não têm com Salazar, apesar de ambos possuírem a plaga. Terá de dar certo.
Krauser então, estalou os dedos.
- Lorde. E se Ramon for derrotado?
- Não acredito que o senhor Kennedy consiga derrotar Salazar em seu castelo. Ele tem uma série de armadilhas, além de alguns… digamos, mascotes que habitam lá. Não creio que nosso americano consiga sair de lá com vida.
- Não o subestime, Lorde. Eu conheço Leon e sei do que ele é capaz. Vou dizer uma coisa. Tenho certeza de que ele conseguirá matar todos que ficarem no seu caminho. E se não tomarem cuidado, chegará à garota e a levará para casa.
Saddler riu.
- Sim, mas isso não seria ruim. O único problema é que perderemos o resgate. Mas nosso principal objetivo será cumprido de qualquer maneira.
Krauser arregalou os olhos.
- Como?
- Veja bem. Não tenho mais porque não dizer isso a você. Os aldeões, os monges e os solados da ilha estão infectados com o parasita Las Plagas. Eles obedecem a quem controla os parasitas. Da mesma maneira, o senhor Kennedy e a senhorita Graham também estão infectados. Só que os parasitas ainda não se desenvolveram em sua totalidade dentro dos organismos deles. Todavia, na hora em que se desenvolverem, serão marionetes minhas. Irão agir de acordo com a minha vontade. Se estiverem nos Estados Unidos, farão o que eu mandar. Aliás, meus planos não incluem manter a filha do presidente americano eternamente conosco, mas sim enviá-la de volta depois que ela estiver sob nosso controle.
- Então Leon também está infectado.
- Sim. Mas a plaga que foi injetada nele é uma submissa. Não a que controla as outras. Logo, ele será como um dos ganados do vilarejo. Será totalmente manipulado por ela.
Saddler deu meia volta e foi caminhando, enquanto se despedia.
- Agora tenho de ir ao castelo. Parece que aquele pesquisador tem dado mais trabalho do que imaginávamos. Terei de cuidar pessoalmente dele.
Mas Krauser sabia que Osmund Saddler estava subestimando Leon. Era evidente que os monges de Ramon Salazar não seriam páreo para um agente treinado como seu ex-parceiro. Depois de vê-lo em ação, Jack Krauser sabia que acabaria sendo chamado a entrar em ação. Que as armadilhas e os monstros criados por Salazar não dariam conta de eliminar Leon Scott Kennedy. E não se enganou. Ainda no mesmo dia, à noite, Osmund Saddler voltou à ilha em um barco. Queria falar urgentemente com o militar e convocou uma reunião de urgência na sua sala. Krauser iria entrar em ação.
A sala era uma caldeira. Para onde se olhava, se via vapores saindo de canos, que estavam por todos os lados. A iluminação vinha de lâmpadas fluorescentes dos lados. O piso era uma estrutura de metal, composto por uma espécie de grade. O local era longe de onde Leon estava, contudo o assunto era exatamente o agente americano e a garota que estaria sendo trazida para o local.
- Parece que Salazar está tendo dificuldades em se livrar daquele porco americano.
A voz vinha de trás de uma porta. Eles estavam em uma sala com as paredes de metal. O chão, todavia, era ladrilhado com lajotas de porcelana. O homem que falava estava sentado em uma grande poltrona, que lembrava um trono. Dos lados desta poltrona, havia duas tochas que davam a luminosidade ao local. Uma luz trêmula e que, pelo fato de o local ser muito grande e escuro, não chegava a ser muito forte, dando um certo clima lúgubre. Ele vestia uma túnica roxa e pronunciava as palavras em tom de autoridade. Sim, era o líder da seita “Los Illuminados”. Ninguém menos que Osmund Saddler.
O homem que ouvia, vestia uma roupa militar e uma boina vermelha. Estava com um joelho encostado no chão, em posição de respeito e a cabeça baixa, sem olhar para o seu interlocutor. Saddler continuou falando enquanto o militar permanecia em silêncio.
- Salazar teve a chance dele. Krauser, agora cabe a você trazer a garota. Aproveite e faça um favor para mim. Se livre daquele porco americano.
Jack Krauser sempre fora um homem de poucas palavras. Soldado, sempre cumpriu suas missões sem deixar falhas. Sempre de maneira exemplar. A única vez que falhou foi na operação Javier Hidalgo, quando foi salvo por… Leon Scott Kennedy. Isso ele não admitia. Por que este era o queridinho do presidente? Porque o bajulava, era o bom menino. Agora era a vez de mostrar ao pretenso dono do mundo quem era o melhor soldado. Então, o militar disse apenas o que Osmund Saddler queria ouvir.
- Considere o serviço feito.
Krauser se levantou e ergueu a cabeça. Estava com a expressão fechada. Por baixo de sua boina, era possível ver um cabelo louro muito curto. Os olhos azuis não transmitiam emoção alguma. E ele tinha uma enorme cicatriz no rosto, que descia do olho esquerdo até a boca. E deu um pequeno sorriso com o canto da boca. Era tudo o que queria. Era tudo o que sempre sonhou desde que voltara da América do Sul. Uma chance de duelar contra Leon. Um contra um. Na faca, de preferência. Iria cortar a cabeça do agente e expor para toda a cúpula do governo americano. E acima de tudo. Iria mostrar como o Vírus T, devidamente aplicado, poderia tornar os seres humanos mais fortes e eficientes, além de se certificar do real poder do parasita Las Plagas. Ele seria a prova.


Capítulo 30

Ashley de repente entrou em uma grande sala. Parecia tudo escuro ali, exceto por algumas tochas e a fraca luminosidade que entrava pelas janelas. O chão… estava parcialmente destruído. Parecia que apenas contornava as paredes do local. Bem ao centro, no entanto, estava inteiro e ligava as duas extremidades do cômodo, como se fosse uma ponte. Mas não parecia totalmente firme. No entanto, era o único meio de chegar ao outro lado. À esquerda, havia uma ponte suspensa. E certamente seria acionada pela alavanca do outro lado da sala. A filha do presidente dos Estados Unidos olhou para o agente, que foi caminhando à frente. No alto, sobre a ponte, tinha um gigante casulo. Feito de uma substância viscosa, escura. Um líquido parecia escorrer e aquela coisa pulsava, como uma espécie de coração. O que sairia ali de dentro? Nem queria pensar.
Quando os dois começaram a caminhar sobre aquela espécie de ponte, Ashley ouviu um barulho atrás de si. Pareciam moscas, abelhas, ou algo parecido. Tudo aconteceu muito rápido a partir de então. De repente, a garota sentiu que estava sendo agarrada pela cintura. Braços a envolveram. Não. Não eram braços. Eram… patas. Então, seus pés pararam de tocar o chão, que foi ficando distante. Estava voando, carregada por alguma coisa. A garota fez um esforço para olhar para trás e ver o que era a coisa que a estava carregando. Quando viu com o canto de olho, preferiu não ter visto. Era uma… mosca gigantesca? Ou algo parecido. As asas pareciam de uma libélula, mas com uns três metros. Um calafrio percorreu-lhe a espinha e ela engoliu. Para aonde estava sendo levada? Ashley sabia que os monges não lhe matariam, pois obedeciam ordens de Saddler. Mas e aqueles monstros? Quão confiáveis eles são? Será que seria entregue a Salazar? Bem, agora era esperar e ver. E torcer para mais uma vez ser resgatada.
Mas será que o inseto gigante que carrega Ashley enxerga direito? Era o que a filha do presidente estava se perguntando. Primeiro, assim que aquela libélula gigantesca decolou, ela sentiu medo e seu coração parecia que iria saltar pela boca. A parede foi se aproximando a uma velocidade incrível. Iriam bater. Estavam chegando. Ashley chegou a colocar as mãos à frente do rosto para se proteger do impacto e então, aquela coisa, desviou e eles saíram. Assim que percebeu o ar fresco da noite e que não haviam batido, Ashley retirou as mãos da frente e viu que estava fora do castelo. Mas aquela coisa gostava de emoções fortes. Não passava longe de nenhum obstáculo. Era sempre raspando. Em alguns momentos, a filha do presidente dos Estados Unidos tinha a convicção de que iria se arrebentar nas paredes, estátuas, portas, telhados, chafarizes e outras coisas. Mas milagrosamente, aquele inseto enorme sempre desviava. E a velocidade com que ele voava era… de dar vertigem. Se tivesse comido algo, Ashley com certeza, teria vomitado. Não dava para ver quase nada claramente, apenas borrões. E aquele som ensurdecedor o tempo todo. Som de inseto. Um zumbido que não saía da cabeça dela. Depois ficaria ouvindo aquilo. Sempre se irritou com o barulho de mosquitos. Agora tinha de escutá-lo no seu ouvido, sendo carregada pelo ser que o emitia. De repente, o inseto aterrissou. E passou a caminhar de forma grotesca, com a filha do presidente presa em suas patas. Vários monges o estavam esperando. Ashley os ouviu falando uns para os outros.
- Finalmente, a sorte nos sorriu.
- Sim. Vamos levar a garota ao mestre. Ele a entregará ao Lorde.
- Lorde Saddler ficará muito feliz.
Então, todos se dirigiram para dentro do castelo novamente. E caminharam até uma porta. O monge de vermelho, que devia ser o líder deles abriu-a e entrou na frente. Ela ouviu-o falando que tinha excelentes notícias. Logo depois, o inseto entrou na sala carregando a garota. Ela se sentiu como um troféu sendo entregue. O pequeno homem de roupas azuis estava radiante, batendo palmas.
- Excelente! Grande trabalho! Finalmente vocês mostraram sua utilidade. Podem ter certeza de que o Lorde ficará muito feliz com isso.
Que ridículo é esse Ramon Salazar, pensou Ashley. Ele parecia uma criança mimada. Só que ele é o dono do castelo e comanda um exército de monges psicopatas e aqueles monstros, como o insetão que a trouxe. Ela foi deixada sob os cuidados dos guarda-costas de Salazar. Foi neste momento que ela pôde vê-los. E sentiu um arrepio da cabeça aos pés. Sob aqueles mantos, havia dois monstros. Não dava para ver os rostos deles, apenas dois pontos brilhantes no local onde deviam estar seus olhos, presas onde seria a boca e garras no lugar das mãos. Garras estas que carregavam uma lança. Eles colocaram as armas apontadas para Ashley de uma maneira ameaçadora. Se ela fizesse algum gesto que pudesse ser interpretado como uma tentativa de fuga, poderia ser ferida. E como as coisas que a tinham sob vigilância nem eram humanos, fariam o que estavam ordenados a fazer sem pensar. Caberia a ela agora, baixar a cabeça e ficar quieta, apenas fazendo o que lhe mandassem fazer, até que Leon chegasse. Sem olhar para as pessoas no local, ouviu a voz de Ramon Salazar.
- Muito bem. Logo me encontrarei com o Lorde. Ele irá levá-la para a ilha pessoalmente. Como eu disse, Krauser mandou alguns soldados para levá-la, mas senhor Saddler irá junto.
Os monges começaram a se retirar. O que fazer? Torcer apenas. Sera estava morto. A única esperança era Leon. Mas de repente, ela viu que tinha um outro problema. Ela estava infectada. O agente também. Se voltasse para casa, fatalmente iria acabar se tornando ela uma ameaça. Se o parasita se desenvolvesse por completo, ela iria começar a agir como os monges, os aldeões. E infectaria seu pai? Era o que Saddler queria. Se voltasse agora, estaria, mesmo que sem querer, cumprindo a vontade do líder dos Illuminados. Salazar voltou a falar, arrancando-a de seus pensamentos.
- Mas nosso trabalho ainda não acabou. Temos de encontrar ainda aquela mulher. Ela pode ser um problema para nós. Temos de capturá-la para saber para quem ela trabalha. E se preciso for, matem-na. Mas só se não houver alternativa. Não queremos que ela vá para a ilha. Pode ser que ela esteja trabalhando em conjunto com o senhor Kennedy. Agora, vão!
Os últimos monges saíram e a libélula gigante também. Havia mais alguém no castelo. Que pelo jeito, era visto como uma ameaça por Ramon Salazar e por Saddler. Quem seria? Estaria mesmo ajudando Leon? Estaria atrás da amostra? Quais os objetivos dessa pessoa? Pelo jeito, nem os Illuminados sabiam, mas iriam persegui-la até encontrar. Mas será que sempre o inimigo de meu inimigo é meu amigo? Ou seria ainda uma outra ameaça? Será que Leon sabe dessa outra pessoa? Isso ainda não dava para ela saber. Mas já era um fator a mais. Por outro lado, os monges e Salazar teriam mais alguém com quem se preocupar. Teriam de dividir sua atenção. E isso era bom. Isso era muito bom. Salazar se levantou da poltrona e disse:
- Vamos, temos uma reunião marcada na torre, com o Lorde.
O pequeno homem vestido naquela roupa espalhafatosa azul levantou da poltrona e fez um sinal para que os dois monstros guarda-costas o acompanhassem. Eles foram caminhando até a saída do castelo. Passaram por vários grupos de monges. Ashley caminhava sempre com as lanças seguradas por aquelas duas criaturas apontadas para o seu pescoço. A sensação não era das melhores. Por outro lado, era a primeira vez que ela podia caminhar pelo local passando pelos monges sem ter de fugir deles. Por sinal, eles pareciam nem vê-la. De repente, saíram do castelo.
Chegaram a uma ponte que conduzia a uma torre. Assim que entraram pela porta, Ramon Salazar deu ordens para que os monges que estavam do lado de fora pregassem tábuas, para que ela não fosse aberta. Depois disso, um dos guarda-costas olhou para cima e subiu, escalando uma espécie de engrenagem. Ashley não o viu mais, mas de repente, escutou um barulho vindo do lado de fora. O chão começou a tremer. E depois de alguns minutos, a criatura desceu novamente, com uma agilidade espantosa. Os três, mais a prisioneira se dirigiram até a porta que ficava do outro lado da torre.
Assim que saíram, Salazar chamou um dos monges que estava fazendo a ronda.
- Agora se preparem. Recoloquem a ponte de volta no lugar, assim que nós a cruzarmos. Coloquem tábuas nas engrenagens da torre do relógio, assim, nosso amigo americano ficará preso e se atrasará. Não vai chegar a tempo de evitar a partida da senhorita Graham. Armem as catapultas e aguardem. Acho que agora serão capazes de se livrar daquele rato. Estarão em grande vantagem numérica e com armas suficientes. Deixei um lançador de foguetes para um dos monges que estará do lado de lá. Não pode ser que ele vá escapar.
O monge que liderava o grupo, como todos os outros, sempre de cabeça baixa, respondeu sem emoção na voz, como sempre ocorria.
- Mestre. Faremos o que estiver ao nosso alcance para cumprir o que nos é pedido.
Salazar começou a caminhar em direção à ponte.
- Acontece que não tem sido o suficiente.
Então, eles se puseram a atravessar a ponte. O vento era frio e Ashley sentiu arrepios. Olhou para baixo e viu o rio passando por baixo. A correnteza estava forte. Era noite e não dava para ter uma boa visão da água, mas o som era revelador. Quando chegaram ao outro lado, um grupo de monges estava os esperando. Um deles, com uma bazuca. Salazar se aproximou deste último, passou a mão na arma e disse:
- Se escondam. Quando o senhor Kennedy chegar, isto é, se ele chegar, deem uma recepção calorosa.
Ashley não estava gostando nem um pouco do que estava vendo. Leon se livrara de situações muito ruins, mas igual a essa, ela não sabia. Como iria lidar com um monge que tinha uma bazuca? Um único tiro e ele iria explodir em mil pedaços. E a quantidade de monges era muito grande. Seria muito difícil. Só que ela não poderia fazer nada. A não ser torcer. De repente, a ponte girou novamente ao local onde estivera antes. E foi neste momento que a filha do presidente dos Estados Unidos viu a origem do barulho que ouviu dentro da torre do relógio e do tremor no chão. A ponte girava. Pouco antes de entrarem, Salazar olhou para trás e disse para Ashley.
- Acho que seu salvador está vindo.
Então, ele deu um sorriso maléfico antes de completar.
- Estaremos o esperando.
Ramon Salazar esfregou as mãos e fez um sinal para que Leon o enxergasse. Depois disso, entrou no castelo. Assim que se viu dentro da sala, Ashley quase desmaiou. Salazar fez um sinal para ela fazer silêncio. Dois monstros estavam parados à frente da entrada. Era uma sala ampla, com colunas que sustentavam o teto, um carpete que cobria praticamente todo o piso e uma escada que conduzia a outra porta, na extremidade oposta. Mas antes da porta, havia duas criaturas que Ashley jamais havia visto.
Eram homens, ou melhor, já foram. Eram grandes e musculosos. Tinham garras afiadas acopladas aos braços fazendo-a imaginar o que ocorreria se eles as usassem em alguém. Nem quis pensar. Eles foram caminhando e quando passaram por perto dos Garradores, Ashley sentiu calafrios. Os olhos deles eram costurados. Então, algo chamou a atenção da filha do presidente dos Estados Unidos. Nas costas dos monstros, havia uma coisa saliente. Parecia um pequeno animal preso à coluna deles. Aquela coisa se mexia. Sim, estava viva. Mas não pôde ver mais, pois logo eles prosseguiram. Mais monges ficaram ali, esperando que Leon entrasse pela porta. Depois saíram.
Assim que fecharam a porta, Salazar falou, olhando para Ashley.
- Sabe, senhorita Graham, não sei se notou, mas estes dois criados nossos que estavam ali são cegos. No entanto, são dois adversários terríveis em uma luta. Acho que eles se divertirão bastante com seu amigo. Depois que liquidarem ele, pedi que me tragam a cabeça daquele porco americano para eu colocar como enfeite na sala de estar do castelo. Ou quem sabe, mando embrulhada para seu pai. Vou decidir ainda.
Ashley não disse nada. Aquele homenzinho só podia ser doente mental. Mas, segundo o que ela leu, na verdade, ele era manipulado. Quem sabe algum dia, Ramon Salazar tenha sido uma boa pessoa. Mas agora estava sob influência do parasita Las Plagas e de Osmund Saddler. O que a deixou horrorizada. Será que este seria o destino dela? Acabaria como Salazar, Mendez e os outros? Não queria pensar mais nisso.
De repente, entraram em outra sala. Salazar se dirigiu a uma poltrona em forma de trono que ficava ao centro. Ashley ficou à sua direita, com os dois guarda-costas a vigiarem-na, com as lanças apontadas para o seu pescoço. Como se ela fosse tentar fazer alguma besteira. Mas era para intimidá-la. De repente, a porta por onde eles entraram se abriu e o homem que ela vira na igreja no povoado entrou. Vestia a mesma túnica roxa, com o capuz a quase lhe cobrir o rosto. Ele caminhou lentamente até perto de onde estavam. Salazar se levantou de sua poltrona e fez uma reverência.
- Lorde. Que honra temos em recebê-lo.
Saddler se aproximou de Ashley. A garota olhou para o rosto do líder daqueles homens. E para aquele cajado que ele trazia. Aquilo era uma criatura na verdade. Era vivo, sem dúvida alguma. Tinha pequenos tentáculos que se moviam e parecia estar olhando para ela. Osmund Saddler tinha um sorriso no rosto. A expressão facial dele a irritou. Este monstro matou Luis Sera. Era ele quem controlava as pessoas do vilarejo, os monges e até Ramon Salazar. Todos eles. E era ele a pessoa por trás do seu sequestro. Mas como ele conseguiu controlar pessoas do exército americano? Isso ela não sabia, mas lhe dava uma noção do poder de Saddler. Ele olhou para Ramon Salazar e disse:
- Então, vocês conseguiram recapturá-la. Ótimo. Estava quase achando que teria de fazê-lo eu mesmo.
Ashley não gostava nem um pouco daquele olhar do líder da seita. Tinha raiva dele. Vontade de esbofetear aquela cara. Ele matou Sera. Ele a infectou e queria mandá-la para os Estados Unidos para que ela infectasse o seu pai, transformando-o em uma marionete dos Illuminados. Isso não podia dar certo. Teriam de impedir. Mas para isso, ela dependia de Leon. O agente não podia morrer. Ela ouviu Salazar então.
- Grande Lorde. Sua decisão já está tomada? Irá mesmo levar a garota até a ilha para completar o ritual?
Ilha? Iriam levá-la dali? Neste momento, ela procurou prestar atenção ao que falavam.
- Eu disse que minha decisão está tomada. Questiona minhas decisões, Salazar?
- Nunca, Lorde. Mas veja bem. Krauser não é de inteira confiança. O senhor sabe disso.
Era até divertido ver aquele homenzinho de cabeça baixa, quase se humilhando. Mas ela sabia, no entanto, que o verdadeiro inimigo ali era Osmund Saddler. Ela ouviu o nome Krauser. Sim, era o homem que a estava esperando na saída da faculdade. E confirmando suas desconfianças, ele realmente era um dos muitos subordinados da seita Los Illuminados. Como Saddler conseguiu controlar ele, não tinha como saber. Mas Jack Krauser era mais uma das marionetes deste homem lunático da túnica roxa.
- Isso não é importante. Eu vou conduzir o ritual. Krauser não terá participação nisso. Ele apenas irá treinar os nossos soldados. A grande missão dele já foi feita. Era sequestrar a senhorita Graham.
Sim, o sequestro fora orquestrado dali. Sem dúvidas. Então, Saddler olhou para trás e falou novamente:
- Eu vou me dirigindo até o local de embarque. Depois que os soldados chegarem, os mandarei buscar a senhorita Graham e levá-la à embarcação que nos conduzirá à ilha. Ela ainda não está inteiramente sob meu controle. Mas logo, fará o que eu quiser. Enquanto isso, mantenham-na em segurança.
Depois de dizer isso, o líder dos Illuminados deu meia volta e saiu por uma porta que ficava na extremidade oposta à da entrada. Ashley ficou parada, imaginando o que teria acontecido a Leon. Estaria morto? Como iria passar por aquele monge com a bazuca? Como iria matar aqueles dois monstros com as garras nos braços? Mesmo para o agente, seria difícil, ela achava. O tempo parecia não passar e nenhum barulho vinha do lado de fora. Ela olhava o tempo todo para a porta, mas nada se movia. Então, de tanto olhar sem nada nem ninguém aparecer ali, ela simplesmente baixou a cabeça e uma lágrima rolou pelo seu rosto. De repente, um barulho. O trinco da porta girou e ela se abriu vagarosamente. A filha do presidente dos Estados Unidos olhou, sem muita esperança, mas viu uma pistola e alguém espiando antes de entrar. Ele foi abrindo vagarosamente a porta e entrou, parando em seguida, fechando a porta e se voltando para Salazar. Ashley sentiu uma onda de alívio ao ver Leon. Ele passou pelos monges do lado de fora e pelos Garradores. Assim que ele viu a filha do presidente dos Estados Unidos, deu um passo a frente antes de falar:
- Ashley!
Tudo ficou em silêncio. Um silêncio perturbador, pois era Ramon Salazar quem tinha o controle da situação no momento. E de repente, ele disse:
- Senhor Kennedy!
Ficou em silêncio novamente. O que ele faria? Leon não tinha muito que fazer naquele momento. Não daria para lutar contra os dois guarda-costas de Salazar ao mesmo tempo e ainda proteger Ashley. O que se seguiu foi algo que nem mesmo a garota poderia imaginar. Tudo pareceu irreal. Começou com Salazar dizendo:
- O senhor não sabe quando é hora de jogar a toalha?
Neste momento, o pequeno homem vestido de azul apertou um botão no braço da poltrona e de repente, Leon sumiu. Um buraco se abriu no piso, exatamente onde o agente estava. Ele caiu para a morte certa. Era o que o dono do castelo pensava. Era no que Ashley não queria acreditar. De todos os obstáculos e inimigos que passaram, depois de ter quase morrido tantas vezes, teria de ser assim? Leon iria morrer na frente de Ashley? Pelas mãos de Ramon Salazar? E se isso tivesse realmente ocorrido, então alguém ainda iria poder impedir os planos de Saddler? A única coisa que a filha do presidente dos Estados Unidos conseguiu fazer naquele momento, foi gritar.
- Leon!. Não !!!
Salazar encostou o ouvido em um objeto preso em sua poltrona. Era como aqueles fones que saíam dos antigos aparelhos de som. Estava com uma expressão zombeteira no rosto.
- Vamos ouvir agora o delicioso som do empalamento de alguém?
Ramon Salazar distanciou a cabeça do fone, com uma expressão de raiva. Então, levantou-se da poltrona e jogou o objeto para o lado, furioso.
- Como ele ousa? Chega! Chega de jogar.
Neste momento, ele parecia uma criança contrariada. Batia os pés no chão, com os punhos cerrados. Fechou os olhos e começou a gritar.
- Mate ele! Mate ele!
Salazar apontou para um dos guardas-costas, o de túnica vermelha. Ele saiu caminhando silenciosamente. Enquanto isso, o dono do castelo se aproximou do outro.
- Vamos nos preparar para o ritual.
Este, bateu com a lança nas costas de Ashley, para fazê-la andar. Ela ainda olhou para trás.
- Leon está vivo.
Parecia mentira, mas era verdade. Agora ele não podia morrer. Tinha de conseguir. Mas aquele monstro fora atrás dele e o caçaria. Entretanto, se Leon enfrentou já tantos monstros criados por Salazar, poderia enfrentar mais um. Era nisso que Ashley acreditava. Era nisso que ela queria acreditar para continuar tendo esperanças de conseguir sair dali e voltar para casa.
A situação dela, no entanto, não mudara muito. Só que agora ainda tinha esperança. Então, sem demora, a porta se abriu novamente e entraram dois soldados. Eles não falaram muito. Caminharam a passos firmes até onde Ashley estava. Simplesmente olharam para Salazar e disseram em tom firme, sempre em espanhol.
- Estamos aqui sob as ordens de Krauser.
Salazar baixou a cabeça.
- Sim, eu sei. Podem levar a garota.
Ela sentiu que a levantaram e a puseram sobre os ombros de um dos soldados, que saiu caminhando rápido e com passos firmes pela porta do outro lado. Caminhavam tão depressa que ela nem conseguiu se concentrar em prestar atenção no caminho por onde passaram. Mas aqueles homens conseguiam saltar a alturas enormes. Devia ser efeito colateral do parasita em seus corpos. De repente, estavam em frente a um barco, com Osmund Saddler os esperando. Ele sorriu e disse:
- Vamos. Temos muito trabalho pela frente.
Eles subiram a bordo, ligaram o motor e o barco começou a navegar por aquelas águas correntes. Parecia que em alguns momentos a pequena embarcação poderia virar. Ashley nem sabia mais se até não seria melhor. Por outro lado, ela pensou que se isso ocorresse, não adiantaria, pois pelo que ela pôde averiguar, tanto Saddler como seus infectados possuíam uma força física muito superior a um homem normal. Seria bem possível que chegassem ao outro lado da mesma maneira. O jeito era torcer para que Leon chegasse logo. Mais uma vez.


Capítulo 31

Leon desceu até uma caverna. Não havia luzes ali, de modo que o único meio de enxergar algo era com uma pequena lanterna que carregava no bolso. Estava em um recinto pequeno, sem piso, apenas chão de pedras. As paredes também eram de pedra. Não havia construção nenhuma, apenas uma escavação. À sua frente, uma porta de metal dava acesso à saída do local. Sem dúvida estava em um local usado para escavações. O que Salazar pretendia com aquilo? Ainda não sabia. Havia velas no local, mas estavam todas apagadas. O agente preferiu continuar usando sua lanterna. Leon encontrou uma carta de Luis Sera.

“O primeiro castelão enterrou as Las Plagas nas profundezas do castelo para esconder a existência delas. Mas quando Salazar liberou as Plagas, ninguém pensou que ele pudesse trazê-las de volta à vida. Porque quando Salazar as encontrou, elas eram apenas restos fossilizados.
Elas não poderiam sustentar vida sozinhas. Mas quando Salazar e seus homens escavaram os restos, quase pareceu como se Las Plagas estivessem apenas esperando para serem descobertas para que pudessem ressuscitar. Vários anos depois, convulsões inexplicáveis começaram a ocorrer entre os aldeões que ajudaram na escavação das Las Plagas.
Então, um dia, de repente, esses aldeões se transformaram em selvagens violentos. Mais tarde, descobriram que isso era causado pelas Las Plagas. Apesar de parecerem fossilizadas, elas podiam sobreviver por longos anos ficando em um estado de dormência em nível celular, numa forma de esporo. Aparentemente, durante a escavação, os aldeões inalaram os esporos e dentro de seus corpos os parasitas se tornaram ativos de novo. Foi assim que as Las Plagas foram ressuscitadas.
Mesmo enquanto escrevo, a escavação das Las Plagas continua. Só Deus sabe quantas Plagas foram ressuscitadas. Sem mencionar o incontável número de Ganados que foram criados.
A atividade inumana deles deve ter um fim. Se eles não pararem, pessoas de todo mundo podem se tornar vítimas desta organização louca de cultos.”

Ao atravessar a porta de ferro, Leon se viu dentro de um túnel. As paredes eram em pedra. O túnel fora escavado. Grossas tábuas da madeira davam sustentação ao lugar. Lâmpadas elétricas incandescentes penduradas no teto davam ao local uma luminosidade amarelada. Havia sacos jogados no chão, escorados nas paredes laterais. O cheiro ali era forte, como se houvesse algo apodrecendo por ali. O agente pensou que tinha de cuidar, pois segundo o relato de Luis, a contaminação pode ter se dado respirando os parasitas em forma de esporos. Se bem que Leon já estava infectado.
O agente chegou a frente a uma porta aberta. Do outro lado, dois aldeões estavam cada um com uma tocha. Estariam o esperando ou simplesmente trabalhando na mina? Não sabia dizer. Talvez não o esperassem. A final de contas, não seriam muitos que apostariam nele contra o Verdugo. Acreditava que para Salazar, seu guarda-costas teria se livrado do visitante. Só notaria algo diferente quando ele demorasse muito para voltar. Quem sabe, neste momento, o dono do castelo começasse a se preocupar. Leon não demorou muito para se livrar dos dois. Um tiro para cada um.
O agente seguiu o caminho. Havia um carrinho parado, vários barris de madeira e mais sacos espalhados pelo chão. Ao chegar à saída, enxergou o local. Os aldeões estavam trabalhando. Aparentemente, não esperavam por visitas e foram apanhados desprevenidos. Leon mirou no primeiro e o matou com um tiro na cabeça. Estava manuseando uma máquina enorme que fazia um buraco no chão. Sim, era uma escavação. Os aldeões estavam trabalhando de fato. Quando viram o primeiro morrer, todos se voltaram para a saída do túnel. Ficaram surpresos ao ver o agente.
- Um forasteiro! Agarrem-no!
Os aldeões começaram a se dirigir à escada de escalar que dava acesso ao túnel. Estavam apenas com os utensílios utilizados no trabalho para usarem como arma. Machados, dinamite, tochas entre outros. Eles começaram a correr na direção do inimigo. Só que como em outras oportunidades, eles tentaram chegar pela escada. E Leon aproveitou para emboscá-los na saída. Matou-os na faca mesmo, economizando munição.
Depois, Leon saltou no chão e correu até um mecanismo que ficava à frente a uma estrutura de metal. Era uma alavanca. Assim que o acionou, escutou o barulho de metal batendo e em seguida, um carrinho veio pelos trilhos e começou a descer. Tinha uma dinamite dentro. Só que quando estava descendo em uma plataforma, a energia foi cortada e ele parou. O agente olhou para trás e viu que foram os aldeões que cortaram a energia em outra alavanca, que ficava na outra extremidade do local. Teria de ir até lá.
Quando o agente começou a se dirigir ao local, dois aldeões desceram correndo. O que vinha na frente, trazia uma dinamite nas mãos. Acendeu-a, mas antes de jogar, Leon deu um tiro bem no explosivo, fazendo-o explodir. Os dois morreram instantaneamente. O agente chegou perto do local onde a máquina estava perfurando o chão. Havia dois carrinhos com rochas dentro deles. E nas rochas, estavam Las Plagas. Aparentemente fossilizadas. Como elas teriam sido reativadas? Bem se o que Sera escreveu é verdade, todos os aldeões estavam contaminados. E provavelmente, todos aqueles que viessem até as escavações acabariam sendo também. E se não detivesse Saddler, haveria enormes chances de haver uma contaminação em escala global, quando o culto começasse a sair das fronteiras do povoado onde estavam. Essa era a ideia do líder da seita. Para isso a necessidade de enviar Ashley contaminada de volta aos Estados Unidos.
Leon continuou subindo, chegando agora a dois lances de escada, que levavam ao outro mecanismo. Estava em uma parte mais alta, dentro de um cercado de arame farpado. O agente americano olhou bem ao redor, para se certificar que não havia ninguém por perto e se dirigiu até a alavanca. Mais uma vez olhou para trás e então a acionou. A luz verde acendeu novamente e a energia fora restabelecida. Agora era só voltar até onde o carrinho estava para fazê-lo chegar ao chão. Iria explodir a dinamite para liberar o caminho, que estava bloqueado com uma pedra, para chegar ao outro lado, que tinha uma porta. Certamente, seria a saída dali.
Quando desceu as escadas, no entanto, foi surpreendido pelo som de uma motosserra. Que ótimo. Fazia tempo que não matava um dos malucos armados com essa ferramenta. Leon correu mais alguns passos e ali estava ele. O homem com aquela coisa estranha escondendo seu rosto, parecendo um saco e a motosserra nas mãos. Daria trabalho. Ele e outros aldeões saltaram exatamente do lugar por aonde Leon veio. E vieram correndo. O agente teria pouco tempo para atirar nos outros e ficar apenas com o mascarado da serra.
Recarregou a arma o mais rápido que conseguiu e disparou. Para sua sorte, ele tinha uma pontaria excelente e matou os aldeões com um tiro na cabeça de cada um. Faltava o homem da motosserra. Depois de descarregar o pente da arma no homem, ele finalmente morreu. Agora, Leon se dirigiu até o local onde estava a alavanca que acionava o elevador para descer o carrinho. Quando ele chegou ao solo, o agente acendeu o estopim da dinamite e saiu correndo. A explosão destruiu a rocha e desbloqueou a passagem. Poderia seguir agora.
Ao abrir uma porta gigantesca que ficava atrás de onde estivera a rocha, Leon entrou quase não acreditou no que estava vendo e sentindo. Tratava-se de um local completamente claustrofóbico. Não tinha uma única janela. A porta por onde entrou se fechou. A única claridade provinha do chão, que era uma espécie de grade, sob a qual estava uma quantidade imensa de metal derretido. Aquele rio chegava a brilhar, dando ao local a única luminosidade que permitia enxergar algo ali dentro. Ao lado esquerdo da porta, existia um mecanismo com uma alavanca, que o agente não fazia a menor ideia do que ele poderia fazer. Seria para abrir a porta que ficava do outro lado? Em frente, na outra extremidade, bem diante do mecanismo, uma escada de escalar dava acesso a uma plataforma. Sobre a plataforma, havia uma espécie de tirolesa, onde poderiam se pendurar e descer até o chão. Leon caminhou até o mecanismo e acionou a alavanca. Mas ao invés de abrir a porta na outra extremidade da sala, o que abriu foi um imenso buraco no chão. Gotas do rio de metal derretido saltaram sobre a grade, mas não chegaram a danificá-la. Sim, era um metal muito grosso. O agente começou a caminhar na direção da outra porta, mas sempre tomando cuidado. Não havia ninguém ali. Tudo estava quieto, mas também era difícil ouvir qualquer coisa, por causa do barulho vindo de baixo.
Mais uma vez, o calor era de matar. Leon sentia o suor correndo pelo rosto. O cabelo grudava na testa. A roupa no corpo. Cada grão de poeira parecia grudar na pele. Mais uma vez, sentia o ar queimando o nariz e todo o caminho que percorria até chegar aos pulmões. O agente americano queria logo se ver fora daquele local. Começou a correr até a porta. Poderia ter alguma armadilha, mas pensou que se houvesse alguém o esperando do lado de fora, seria muito melhor enfrentar quem quer que fosse do lado de fora. Só que quando estava correndo em direção à saída, a porta se abriu. E do outro lado, um gigante o esperava. Quando ele começou a entrar, Leon viu que o que era ruim, podia ficar ainda pior. O que poderia ser mais difícil do que enfrentar um gigante naquela sala claustrofóbica que mais parecia um forno gigante? Enfrentar dois gigantes. Atrás do primeiro, entrou um segundo monstro.
O agente primeiro, ficou sem reação. Apenas parou e olhou aquelas duas criaturas caminhando em sua direção. De repente se deu conta de que se ficasse ali parado, iria ser esmagado por eles. Então, girou os calcanhares e correu na direção daquela escada e subiu-a o mais depressa que conseguiu até a plataforma. Estaria seguro ali? Achava que não. Mas pelo menos podia pensar um pouco no que fazer. Neste momento, os gigantes vieram na direção da plataforma. O agente olhou e viu que eles poderiam derrubá-la. Então, se projetou por aquela espécie de tirolesa e desceu até o outro lado daquele recinto. Pousou bem em frente à alavanca. Leon olhou para trás e viu os gigantes vindo em sua direção. Eram lentos, para sua sorte. Quando estavam sobre a parte móvel da grade, o agente acionou a alavanca e o piso se abriu, formando um círculo. Um dos gigantes conseguiu sair de cima do local, mas um deles caiu dentro do rio de metal derretido, sendo engolido aos poucos até morrer. Seria um a menos agora. O buraco logo fecharia. Leon viu, no entanto, que a alavanca travou. Isso quer dizer que depois que o piso voltasse ao normal, não poderia usar o mesmo expediente. Teria de vencer o segundo como já fizera antes. Só que agora, enfrentando um calor infernal. A luta seria das mais difíceis.
O outro gigante ficou apenas olhando o buraco aberto no chão, enquanto seu “companheiro” de missão agonizava, terminando de afundar completamente. Sem demora, o buraco se fechou e ele olhou para os lados, procurando Leon, que já havia subido na plataforma de novo. O gigante que sobrou, deu meia volta e olhou para todos os lados até encontrar o agente. E correu até a plataforma suspensa. Leon esperou até o inimigo chegar bem embaixo de si e se atirou na tirolesa novamente até a outra extremidade do local. O gigante deu um golpe de ombro na parede, fazendo tudo tremer. O agente americano sacou a arma e tentou se aproximar do monstro. Teria de atirar nele, como fizera na outra luta. O gigante era lento, e Leon tinha de tirar vantagem disso. No entanto, ao perceber a aproximação do agente, o gigante se virou e deu um soco no chão. Leon conseguiu saltar para o lado, rolando sobre a grade, que estava queimando. Mas era melhor que ser esmagado. Levantou-se o mais rápido que conseguiu.
O gigante se levantou, mas demorou um pouco. Leon aproveitou e deu vários tiros a queima roupa na cabeça do monstro, enquanto este estava abaixado. Depois, correu até a escada novamente, escalando-a de novo. O gigante ficou perdido mais uma vez. Ao ver que Leon estava no alto, correu novamente até a plataforma. O agente repetiu a ação, se atirando na tirolesa até o outro lado do recinto. O gigante parecia estar perdendo a paciência. Quando ele bateu na parede, o agente percebeu que o monstro estava sangrando. Sim, fora ferido. Parecia um pouco mais lento. Só que ele se colocou em posição de ataque e foi para cima de Leon como uma locomotiva. Leon mais uma vez rolou para o lado, vendo o gigante passar por ele como um trem desgovernado até se chocar com a parede. A criatura ficou tonta por alguns instantes. Então, Leon se aproximou e deu um tiro a cabeça do monstro, acertando o olho e depois mais um tiro na nuca. O gigante sentiu os tiros e levou as mãos à cabeça.
Gritando de dor, o gigante se contorceu, até se abaixar. Das costas dele, surgiu a plaga. A criatura que o controlava. Era como da outra vez. Uma coisa vermelha, comprida, como um braço, saindo da coluna do gigante. Leon tinha de conseguir matar o parasita. Se o fizesse, o gigante morreria também. O agente correu o mais rápido que pôde e escalou sobre as costas da criatura. Apanhou a faca e cortou aquela coisa, separando-a da coluna do gigante. Feito isso, o agente saltou para o chão novamente. O monstro se ergueu soltando um urro e então, caiu, morto. A porta atrás dele se abriu novamente. Era a saída. Leon correu até a porta. Não via a hora de estar fora daquele verdadeiro forno. Sentia sua pele grudando, Estava todo encharcado de suor. Se tirasse sua camisa, achava que poderia torcê-la. O agente, abriu a porta e atravessou-a.
Do lado de fora, chegou a sentir um calafrio percorrendo suas costas. Não que estivesse tão frio, mas indo para a temperatura normal agora, era passar por um tremendo choque térmico. Estava agora em um túnel estreito. Mesmo assim, havia lâmpadas incandescentes penduradas no teto, dando luminosidade ao local. A umidade era, no entanto, muito alta, tornando o ar denso e difícil de respirar. O agente continuou correndo, pois sentia necessidade de estar ao ar livre. Só que o que o estaria esperando do lado de fora? Então, depois de alguns metros de corrida, encontrou a saída. A luz da lua iluminava o chão. Era um alívio ver a noite. Leon correu até o lado de fora do túnel. E viu o que o estava esperando lá.
Um daqueles insetos gigantes voava despretensiosamente a cima de um buraco. À frente da saída do túnel, havia uma estrutura de metal, de mais ou menos dois metros de altura, com uma pedra na base. Mas antes de chegar a ela, teria de passar pelo inseto. Era da mesma espécie que sequestrou Ashley. Leon atirou naquela espécie de libélula grotesca, fazendo-a cair penhasco a baixo. De repente, mais dois surgiram na entrada do túnel. Quase conseguiram pegar o agente desprevenido. Mas não pegaram. Leon atirou matando os dois. Eram apenas insetos. Grandes, mas insetos.
Leon se aproximou da beirada do buraco. Era um abismo, na verdade. Nem tinha como ver o fundo. Dos lados, uma estrada levava para cima, contornando o vazio. Havia cavernas nas rochas dos lados, que serviriam como esconderijo aos insetos. Teria de tomar cuidado na hora em que passasse por elas. No topo do local, era possível ver um círculo luminoso. Para que serviria? Estava no centro de uma figura em alto relevo, no formato daqueles insetos. O agente começou a subir. Após um lance, havia uma bifurcação. Um caminho seguia em frente e outro voltava para trás, passando por cima do local onde estava. E dava em uma caverna. O agente resolveu entrar para ver o que tinha lá dentro.
A caverna era comprida e no final, havia uma espécie de interruptor e forma de botão. Leon apertou-o e ouviu um som vindo do lado de fora. Eram mais daqueles insetos. Ao se dirigir à saída, o agente redobrou o cuidado, pois sabia que teria companhia. Dois daqueles insetos apareceram exatamente na saída. Leon conseguiu recuar e matar os dois, com um tiro em cada um. Se não o apanhassem desprevenido, os insetos não tinham a menor chance.
Uma ponte estreita de pedra, que na verdade, era esculpida pela própria rocha os levava até uma espécie de porta, mas que não tinha nenhum local para abri-la. Nela havia a insígnia da seita de Saddler e a frase: “As duas luzes revelarão um novo caminho”. Leon olhou para cima e viu que o interruptor que acionou, havia aceso uma luz, que brilhava naquele círculo no centro da gravura do inseto. Faltava achar mais um, para acender a outra luz. Outra ponte estreita levava até a entrada de outra caverna. Quando se aproximou, um inseto quase conseguiu pegá-lo distraído. Mas Leon conseguiu se esquivar. Eram mais três insetos. Todos vieram caminhando na direção do agente. E ele teria de tomar cuidado no recuar, para não acabar caindo no abismo. Não podia olhar para trás, pois não queria tirar os olhos dos insetos. Então, atirou no primeiro, matando-o. O segundo voou e o terceiro veio caminhando. Parecia até que estavam agindo de modo coordenado. Leon atirou primeiro no que estava voando e depois no que vinha pelo chão. Se errasse um único tiro, tudo estaria perdido. Mas não errou.
O agente entrou na segunda caverna, que era semelhante à primeira. Comprida e com o interruptor em forma de botão no fim do túnel. Quando apertou-o, ouviu um barulho novamente e mais insetos se aproximaram. Enquanto isso, do lado de fora, os dois círculos localizados no centro dos insetos esculpidos em alto relevo se iluminaram e refletiram um fecho de luz sobre a aquela porta com a insígnia dos Illuminados. Neste momento, os fachos de luz rasgaram a porta, como que derretendo-a. E como dizia na porta, as duas luzes revelaram um novo caminho. Só que para chegar lá, o caminho de Leon não seria nada fácil.
Assim que apertou o botão e que o facho de luz iluminou a noite, clareando toda a caverna onde o agente se encontrava, novamente os sons indicando a presença daqueles insetos se fez ouvir. Desta vez, parecia haver uma quantidade enorme deles. Leon começou a caminhar na direção da saída, com a arma carregada e pronto para usá-la. Tinha de ficar atento. O elemento surpresa era a grande e talvez a única arma dos insetos, que aparentavam ter uma capacidade maior de inteligência e coordenação do que se poderia supor. Então, três insetos entraram pela caverna. Moviam-se com rapidez. Leon tinha de ser certeiro nos tiros. Não podia deixá-los se aproximar muito, pois poderiam ser venosos. Provavelmente seriam. Leon foi recuando e atirou neles. Como o túnel era estreito, os insetos tinham de vir em fila. O agente só tinha de tomar o cuidado no caso de eles voarem, pois apesar de estreito, o túnel era alto. Aparentemente a tarefa não era das mais difíceis, afinal de contas, um tiro matava as criaturas. Só que elas eram rápidas e em maior número. Por mais de uma vez, ao atirar no que vinha na frente, o de trás saltou por cima. Leon teve de ser rápido e acertar o inseto no ar. Por fim, viu que eram mais de três. Mas, conseguiu se livrar de todos.
No local onde a luz derreteu a porta, surgiu uma grade. Leon parou em frente a ela e ficou observando o outro lado. Era um túnel. Mais um. Se fosse claustrofóbico, teria morrido já. Na grade, havia um botão. O agente o apertou e a grade subiu. No mesmo instante, uma estrutura circular dentro do túnel começou a se mover de cima para baixo. Era uma espécie de pilão gigantesco. Se o agente fosse pego ali, seria transformado em uma pasta de carne e sangue em fração de segundos. Então, se aproximou o máximo que conseguiu e quando a tora de madeira subiu, ele correu por baixo da estrutura. Parou em frente a outra, agora em frente a um degrau. Só que o degrau tinha quase dois metros. O agente repetiu o que fizera antes, só que desta vez teve de pular e tomar cuidado para não cair sob a estrutura seguinte. A última era mais difícil, pois era composta por três toras de madeira. Leon esperou ela começar a subir e correu com toda a velocidade que conseguiu. Por muito pouco não foi apanhado pela última tora. Mas, enfim, havia superado as armadilhas.
Após passar pelas armadilhas, chegou a uma espécie de sala. Bem ao centro, havia um círculo de pedra no chão, com uma estrutura que lembrava uma mesinha de pedra dois pilares nos lados. Entre eles, uma arte em metal, com símbolos da seita. Nesta mesinha, havia um interruptor. O agente o acionou e o círculo de pedra começou a subir. Quando este elevador parou, estava novamente na superfície. Olhou ao redor. Em frente, havia uma casa de dois pisos e muros ao redor. Fixada na casa, uma carta escrita por Ada Wong, dirigida a Leon.

“Depois que o ovo da Plaga eclode, é quase impossível removê-lo do corpo. Mas se for antes de eclodir, pode ser neutralizado com medicamento.
Se ele eclodir, você deve retirá-lo do corpo através de cirurgia antes que se torne um adulto. Mas não será fácil. Há uma chance alta de você não sobreviver à operação.
Até onde eu sei, a garota foi injetada com o ovo antes de você. O tempo dela está correndo. Você deve estar preparado para o pior.”

Se isso fosse verdade, ficou pensando Leon, teria de correr ainda mais, pois se Ashley se tornasse um dos Ganados, de nada teria adiantado sua vinda nem os riscos e o investimento desta operação. Leon tinha um relógio como inimigo e ele corria sem parar. Precisava retornar ao castelo e impedir que Ashley fosse levada ao ritual. Mas o problema é que essa não era a parte mais difícil da missão. Ele ainda teria de encontrar e matar Osmund Saddler para poder ter acesso à amostra do parasita e assim produzir a cura. Sim, teria de enfrentar Saddler, pois não tinha a esperança que o líder da seita fosse entregar a amostra. Até agora, no entanto, tudo estava correndo como queria aquele lunático da túnica roxa. Mas não poderia terminar como ele queria.
Leon estava em um pátio, mas que mais lembrava um cenário de guerra. Havia partes destruídas de paredes, outras que poderiam ter feito parte de alguma casa, com escadas que agora davam em plataformas inacabadas, tocos de madeira e árvores sem nenhuma folha nos galhos. À frente de tudo isso, estava o castelo, que dominava a paisagem. E atrás do castelo, a lua cheia brilhava, dando ao ambiente uma luz branca. Do lado dos muros, havia também tochas para iluminar o local, com uma luminosidade tremeluzente. E entre os pedaços de parede, estavam os aldeões, também carregando tochas nas mãos. Leon recarregou a arma e quando foi visto pelos dois primeiros, acertou um tiro na cabeça da cada um. Teria mais deles? Provavelmente sim.
Feito isso, o agente correu até uma escada de escalar e subiu até uma plataforma. Dali, pôde avistar todos os aldeões que o esperavam. Estavam todos concentrados em frente a essa plataforma, com tochas nas mãos, ao redor de uma fogueira e nem perceberam a chegada de Leon. Parecia estarem conversando entre si. O agente colocou a mão nos bolsos internos do colete e encontrou ainda algumas granadas. Atirou uma bem no meio dos aldeões, que até olharam o objeto caindo no meio deles. Com a explosão, todos morreram. Leon saltou e correu até uma porta, que deveria dar acesso ao castelo. Só que ao tentar abri-la, não conseguiu. Estava trancada. No local onde seria o lugar da chave, havia a figura de um leão e o dizer: “Pedra O Sacrifício ao Leão”. Não podia ser. Leon ainda teria de encontrar a tal pedra para abrir a porta, como ocorrera na igreja do povoado e na porta do quarto de Salazar. Não tinha jeito. Teria de ir até onde ela estava.
Ao lado da entrada do castelo, havia uma cabana de madeira. Em vários locais, as tábuas estavam longe umas das outras, de modo que era possível ver o que havia lá dentro. Nada de especial, a não ser uma alavanca. Não tinha ninguém ali. Leon contornou a cabana. A única maneira de entrar nela era pulando a janela. Foi o que ele fez. O agente movimentou a alavanca e aos poucos, uma passagem secreta no chão se abriu. Era uma abertura circular. Leon se aproximou dela e notou que havia uma escada de escalar. Era muito alta, mas não tinha jeito. Teria de descer.
Quando terminou, se viu mais uma vez debaixo da terra, em uma caverna em forma de quadrado, com uma porta à frente. Era uma das escavações de Salazar. A porta dava em um túnel estreito, iluminado por velas, o que indicava que era frequentado, pois elas precisariam ser trocadas com regularidade. O agente avançou até a saída do túnel. O cenário que viu foi uma espécie de labirinto que conduzia de um lado da mina até o outro. E nesse labirinto, havia vários aldeões o esperando. Só que eles não esperavam alguém com uma mira tão apurada como Leon Kennedy. Ele deu um tiro na cabeça de cada um antes que pudessem sair do lugar. Só que os aldeões não eram o único empecilho para chegar ao outro lado. Por todo o caminho, havia armadilhas de urso. Por isso, também, eles não vieram no encalço do agente. Elas estavam parcialmente enterradas, então, Leon tinha de tomar todo o cuidado na hora de pisar no chão. Sabia que cair em uma daquelas armadilhas poderia lhe custar a perna. E significaria o fim da missão. E provavelmente, sua morte, pois passaria a ser uma presa fácil.
Leon chegou ao outro lado da mina. Mas a porta que dava acesso à saída do local estava trancada. Teria de achar a chave. À frente, o agente viu que havia uma parede com uma porta embaixo e uma janela no alto. E uma enorme escada de escalar até chegar no topo. Sim, ele estava sendo “convidado” a subir. Tudo fazia parte do plano. Leon iria até lá e teria alguns aldeões o esperando. Só que ele resolveu abrir a porta de baixo e deu de cara com um daqueles homens da motosserra. Na verdade. Ele estava virado para a escada e não viu o agente entrando. Assim, Leon pode usar o elemento surpresa para atacar, dando um tiro de perto na cabeça do homem, acertando a nuca. Ele caiu morto.
O agente escalou a escada. Não se ouvia um único barulho. Ele parou na metade, olhou para baixo. Desde que chegara ao vilarejo, não perdia mais o hábito de ficar olhando sobre o ombro, sempre com a impressão de estar sendo seguido, observado. E não sabia quanto tempo levaria para se livrar desse hábito. Tudo estava quieto agora. Muito quieto. E isso era mau. Leon sabia que teria aldeões ainda por ali e que o estavam esperando para atacar. Que aproveitariam qualquer distração do americano para o pegarem desprevenido. Então tinha de tomar o máximo cuidado que fosse possível. Subiu rapidamente e saltou para dentro.
Acontece que mal colocou os pés no chão e uma sombra avançou em sua direção. O som da motosserra era inconfundível e Leon mal teve tempo de se atirar no chão, sentindo o cheiro do combustível da máquina e o calor do seu motor passando sobre sua cabeça. Chegou a ter a impressão de ter sido tocado pelo homem que a portava. Quando levantou, seu inimigo estava de frente para a janela. A serra chegou a rasgar a parede de tijolos. Mas com uma tremenda força, o homem conseguiu retirá-la. Só que antes de se virar, Leon correu e deu uma voadora na cabeça do cara da motosserra, que estava na beirada da janela. O agente caiu dentro, já seu inimigo se desequilibrou e caiu de muitos metros de altura. A serra ligada, cortou-o, terminando de matá-lo. Leon se levantou e tocou o seu corpo em busca de ferimentos. Nada sério. Teve muita sorte. Na queda do homem da serra, a escada caiu.
O agente americano passou a procurar pela chave da mina, que deveria estar por ali. Foi quando notou que a escada estava novamente aparecendo na janela. Isso significava que os aldeões ainda estavam por ali. Leon olhou pela janela e viu que tinha um subindo e mais uns três lá em baixo. Não teve dúvidas, empurrou a escada. O que estava subindo, caiu lá embaixo. Morreu na queda e para a sorte do agente, caiu sobre outro, matando-o. Sobrara um. Leon apontou a arma para baixo e atirou na cabeça dele. Sobre uma mesa, estava a chave da mina. Tinha de ser ela. Assim que a colocou na porta, esta se abriu.
Mais uma vez, o agente se via dentro de um túnel estreito, iluminado apenas por velas colocadas nas paredes do local. O caminho agora era em descida, com degraus. Estava indo cada vez mais para baixo, o que tornava o ar denso, aumentava o calor e a respiração ficava mais difícil. Suava muito e os olhos começavam a arder, por causa da poeira. Sim, havia muita poeira ali. Correu até chegar a uma porta. Leon nem pensou duas vezes e abriu-a com um chute. Ao entrar, se viu dentro de uma sala quadrada, grande e vazia. Não havia ninguém ali. Só que quando olhou para cima, a sensação de dejavu. O teto era forrado de pontas e nos quatro cantos havia círculos com luzes vermelhas, indicando a presença de algum mecanismo. Sim, logo o teto começaria a descer.
Leon avançou com cuidado, mas assim que deu o primeiro passo para dentro da sala, a porta atrás de si fechou. De trás de algumas pedras, saíram criaturas que pareciam insetos, mas eram menores que os que o agente havia matado. Eram como escorpiões, mas pareciam com outra coisa. Então, Leon percebeu. Eram os parasitas. Um dos tipos que conseguia, em um estado avançado, sair do corpo do seu hospedeiro. Ele matara dois já, em uma das salas dentro do castelo e logo depois de sair da torre do relógio. Só que antes de poder atirar nelas, o teto começou a descer. Sim, ainda haveria isso. O que fazer primeiro? Teria de atirar nas plagas, mas se perdesse tempo matando uma a uma, não teria como quebrar as luzes piscando e o teto o esmagaria. Só teria uma saída. Usar uma das granadas cegadoras. Queria guardá-las, mas não adiantaria se estivesse morto.
Assim que jogou-a, ela produziu um clarão. Leon protegeu os olhos, pois tinha de enxergar perfeitamente logo depois de tudo voltar ao normal. Quando abriu os olhos, como esperava, as plagas estavam mortas. Elas são sensíveis à luz. No entanto, o teto estava já perigosamente baixo. Leon sacou o revólver. Não poderia pensar em errar. E tinha de atirar rápido, pois qualquer atraso significaria ser perfurado por aquelas pontas e esmagado. Atirou na primeira, na segunda, se virou para trás, deu uma procurada nas duas luzes restantes e, com as pontas começando a chegar realmente perto de sua cabeça, atirou nas que faltavam. O teto parou de descer. A porta na extremidade oposta à entrada se abriu.
Ao passar pela saída, chegou a outro lugar que não tinha nada, apenas uma escada até outra porta. Passou-a também. Ao abrir esta, saiu em outro ponto da mina. Agora, havia à sua frente, uma plataforma de madeira e um carrinho que corria sobre trilhos. O carrinho era composto por três vagões. Leon subiu sobre eles, mas tinha de descobrir agora como colocá-los em movimento. Não havia um único comando em nenhum dos vagões. O agente andou pelos três, os analisou minuciosamente, mas não viu nada que indicasse a presença de algum mecanismo que poderia acionar o carrinho. Quando olhou para os lados, viu um botão. Devia ser ali.
Agora a questão era outra. Como apertar o botão? Se saísse do carrinho para fazê-lo, não daria tempo de voltar antes que ele saísse dali. Nem que corresse. Teria uma chance, mas tinha de ver se daria certo. Daria um tiro no botão, torcendo para que isso acionasse o carrinho. Sacou a arma e apontou para o mecanismo. Olhou firme, pensou por alguns instantes, e atirou. Em segundos, o carrinho estava em movimento.
O carro começou a se movimentar e a tomar velocidade. Entrou em um túnel, iluminado apenas por tochas. As paredes foram se transformando em um borrão. Então, um dos caras da motosserra saltou dentro do carrinho e se levantou. Ligou a máquina e começou a avançar na direção de Leon. O agente começou a recuar, mas quando menos esperava, veio o ataque. Leon se jogou no chão e a serra passou raspando. Mais uma vez, como ocorrera na mina. Então, aproveitando o desequilíbrio de seu inimigo, o americano jogou seu atacante para fora do carrinho.
O veículo sobre os trilhos continuava em disparada. Leon já tinha perdido completamente a noção de lugar, pois se desconcentrara na luta contra o homem da motosserra. O que o agente não viu é que um aldeão mudou a direção do carrinho, acionando um mecanismo e jogando-o para um trecho sem saída. Que acabaria caindo em um precipício. Leon ainda não sabia, mas o carro onde estava iria desabar por muitos metros ao encontro do chão. E seu passageiro, da morte. De repente, os trilhos entraram em uma espiral alucinante, deixando Leon tonto. Nem conseguia ver nada, apenas uma mancha no lugar das paredes e borrões de luz onde as tochas estavam presas. O coração do agente começou a bater acelerado. Ele arregalou os olhos e todos os seus sentidos ficaram em alerta. O que estava acontecendo? Aquele carrinho não tinha freio. Estava a uma velocidade alucinante. A hora que parasse, nem queria pensar no que ocorreria. Se batesse, iria voar e se espatifar no que estivesse à frente. Se essa era a armadilha, será que conseguiram pegar Leon? De repente, quando olhou em frente, como que num relance, o agente viu que o chão terminava. Como por instinto, ele saltou no vazio, esticando os braços e torcendo para chegar. Por intermináveis segundos, Leon ficou como que flutuando, impulsionado por suas pernas e pela aceleração do carro, que caia no vazio. Ele olhou para frente, se esticando o máximo que conseguia e então, suas mãos agarraram-se a uma plataforma de madeira e ele conseguiu segurar. Ainda se firmando, começou a se içar para cima. Tinha de conseguir subir. Não podia olhar para baixo. Só que parecia não ter forças para tal. Suas mãos doíam e seu corpo ainda balançava por causa da velocidade com que fora projetado para fora do carro. Mas com muito esforço, conseguiu se puxar para cima. Quando se viu em pé sobre a plataforma de madeira, olhou para baixo. Não era possível ver o chão, nem o lugar onde o carro havia caído. Leon girou os calcanhares e se virou para uma porta.
O agente entrou em uma sala que não tinha praticamente nada em seu interior, a não ser uma haste com uma pedra circular em seu centro. Leon caminhou até esta haste e apanhou a pedra. Nela estava escrito “O sacrifício ao leão” debaixo de uma gravura com um homem sendo morto sobre um altar. Sim, era a pedra que seria usada como chave para abrir a porta do castelo. Agora o desafio seria encontrar o caminho para chegar até lá. Não daria simplesmente para voltar. Até porque não conseguiria voltar aos trilhos que o conduziriam até a mina. Mas assim que pegou a pedra nas mãos, a haste se moveu para cima e uma passagem se revelou à sua frente. Ao passar pela abertura, se viu dentro de uma sala com uma escada de escalar. Então, antes de sair, guardou a pedra em um dos bolsos do colete e subiu.
A escada foi longa, mas depois da subida, chegou à superfície. Sim, era muito bom respirar ar puro de novo. A noite ainda era escura. Estava novamente no pátio ao lado do castelo. Parecia mentira que tinha chegado ali. Estava se perguntando como faria isso. Ao que tudo indica, o carro fez o caminho de volta. Saíra perto da casa por onde havia descido até as escavações. Agora, era só se dirigir até a porta lateral do castelo para entrar. E foi o que fez. Ao chegar na entrada, colocou a pedra no lugar e ela emitiu um brilho. Em seguida, a porta se abriu, revelando um elevador daqueles que encontrara no subsolo. Apenas uma estrutura gradeada com hastes que a puxavam para cima. Acionou o mecanismo e começou a subir. Logo estaria novamente dentro do castelo. O que acontecera no tempo em que esteve lá embaixo? O que fizeram a Ashley? Onde estaria Saddler? Essas perguntas agora povoavam a cabeça de Leon. E o problema é que para algumas delas, ele tinha até medo de saber a resposta.


Capítulo 32

Finalmente Leon estava de novo dentro do castelo. Assim que saiu do elevador, se viu em um corredor estreito, iluminado por lampiões pendurados nas paredes laterais. Não era longo, logo podia ver a saída. O agente começou a caminhar. Não podia perder tempo, mas não podia simplesmente sair pela porta sem se certificar de como seria sua recepção do outro lado. Chegara muito longe para morrer agora. Ashley contava com ele para voltar. Teria como conseguir a cura para ela? Bem, só permanecendo vivo e seguindo em frente é que teria alguma chance de cumprir sua missão. A cada passo que dava, procurava escutar qualquer barulho, procurava observar qualquer movimento, qualquer coisa estranha ou mesmo qualquer sombra que se movesse. Tinha de estar extremamente alerta para evitar qualquer surpresa. Então, chegou à saída do corredor.
Assim que saiu, se viu sobre uma plataforma, com uma escada do lado. Havia vasos de porcelana por todos os lados. Em frente uma escada que levava a um nível inferior. Do lado direito da escada, uma estátua gigantesca de Ramon Salazar. Leon ficou a olhá-la por alguns instantes pensando no mau gosto daquela obra. Era toda em alvenaria, sem cores, mas sem dúvida, retratava o dono do castelo. Era grotesca. Do lado direito, uma ponte ia até a outra extremidade da sala sobre um espelho d’água. Dos dois lados da ponte, tochas altas iluminavam o local.
Mais uma vez estava absolutamente sozinho. Leon olhou para o outro lado, onde havia outra escada, mas a porta estava inclusive, fechada com grades. O agente passou a caminhar sobre a ponte, olhando para trás, sobre a plataforma onde estivera. Sobre o piso de onde saiu, havia mais dois níveis, mas ninguém estava ali. Só aquela estátua enorme de Ramon Salazar. Do outro lado, havia igualmente três níveis de plataforma, mas também não tinha uma única pessoa por ali. Isso o deixava inquieto. Sempre que isso acontecia, geralmente tinha um motivo para não haver ninguém no local. Virou-se para frente, mas mais uma vez não via ninguém. Percebeu que a porta de saída estava trancada por um cadeado. Leon apanhou a arma e atirou nele, quebrando-o. Era um tiro longo, ficou orgulhoso da sua pontaria. Poucos acertariam. Esperou por algum tempo, para ver se a porta se abria. Como não aconteceu nada, a única alternativa era avançar pela ponte até a saída.
Mesmo sem ver ninguém ao redor, Leon avançava tomando todo o cuidado, sempre de ouvido atento. De repente, o chão começou a tremer e um barulho muito alto pôde ser ouvido. Parecia algo se quebrando. Neste momento, pedaços de porcelana caíram ao redor do agente, que olhou para trás e quase desmaiou. A estátua gigante de Ramon Salazar estava se mexendo. Destruindo tudo o que a impedia de avançar, ela começou a dar passos na direção do agente, que começou a correr desesperadamente na direção da porta. Tinha de ser rápido, pois se aquela coisa pisasse sobre ele, seria esmagado como um inseto. Para piorar, a medida que aquela estátua monstruosa avançava, ia derrubando as colunas que ladeavam a ponte, e por duas vezes. Leon teve de se esquivar, quase sendo atingido. Finalmente, depois de uma corrida de alguns metros, mas que pareceram quilômetros, o agente chegou à porta. Deu um chute e a abriu. Estava do lado de fora. Mas a porta de madeira não seguraria a estátua de Salazar. Não demorou mais do que uns dois segundos e a porta estourou. Leon continuou correndo, avançando por uma ponte que ligava o local onde estava a uma torre. Quando estava a meio caminho, quase chegando, acelerando o máximo que conseguia, ouviu a estátua vindo atrás de si. Quando ela subiu na ponte, esta ruiu, e foi se desmanchando. O Salazar gigante de concreto caiu para o abismo. Leon foi escutando o piso ruindo atrás de si e correu como nunca, até chegar perto o suficiente para saltar. Em um esforço imenso, se projetou para frente e pulou com todas as forças que ainda tinha nas pernas. Mais uma vez se sentiu flutuando, buscando algo para se segurar, como na mina. Esticou os braços o máximo que pôde e quando começou a cair, sentiu as mãos tocando a plataforma do outro lado. Procurou agarrar-se da forma que era possível. Usou toda a força que tinha nos braços para se puxar para cima. Quando se levantou, olhou para trás e respirou. Os pedaços da estátua de Salazar ainda eram visíveis em alguns pontos da margem de um rio que corria por baixo da ponte que caíra. Agora, não restava outro caminho que não entrar na torre.
Ao dar meia volta, Leon chegou a uma porta de madeira que dava acesso ao interior da torre. Esperou por alguns segundos, enquanto recuperava o fôlego. Estava cansado. Mas nem tinha tempo para ficar ali pensando nas suas limitações físicas do momento. Tinha de permanecer concentrado na missão. Depois de concluí-la, poderia descansar. Abriu a porta e antes de entrar deu uma espiada no que havia do lado de dentro. Não viu nada além da escuridão. Teria de abrir a porta e entrar.
Quando abriu, como que por mágica, as velas de um enorme lustre que pendia do teto acenderam. E sob ele, estava Ramon Salazar com seu guarda-costas, o único que sobrara. O dono do castelo estava com as mãos unidas sob a cabeça, olhando para a porta. Então, forçando um sorriso, recebeu o visitante.
- Que bom que o senhor possa se juntar a nós, senhor Scott Kennedy.
Leon caminhou na direção de Salazar, enquanto falava.
- Você de novo.
Salazar passou a caminhar de um lado para o outro, olhando para o chão, enquanto falava.
- O ritual sagrado está prestes a iniciar. Daremos um poder magnífico àquela garota.
O dono do castelo fez uma pausa dramática, abriu os braços e encarou Leon.
- Ela se unirá a nós. Tornar-se-á uma de nós.
Leon deu um passo a mais para frente, olhando para o guarda-costas e para Salazar.
- Isto não é um ritual sagrado. É terrorismo.
Ramon Salazar cruzou as mãos atrás das costas e caminhou para o lado enquanto respondia.
- Terrorismo. Essa palavra está muito popular hoje em dia, não é mesmo? Principalmente no país de onde você vem.
Ele parou e encarou Leon novamente.
- Mas não fique desapontado. Preparamos um ritual para você também.
Neste momento, Salazar levantou a mão, em frente a uma das colunas que havia no local onde estavam e foi fazer algum gesto para o seu guarda-costas. Leon apanhou sua faca e jogou na mão do dono do castelo. A arma voou e acertou o alvo em cheio, cravando-se na coluna de concreto. Ramon Salazar olhou, parecendo não acreditar no que estava acontecendo. Fez uma expressão de dor, parecendo uma criança prestes a chorar. O guarda-costas dele deu um passo para o lado e em um movimento rápido, que quase foi imperceptível para Leon, apanhou a faca e atirou na direção do agente, que teve apenas uma fração de milésimos para se esquivar. A faca se cravou na porta, manchada de sangue. Se não tivesse se desviado, Leon estaria morto. Endireitou-se olhando para aquele que devia ser semelhante ao Verdugo. Este e Salazar entraram em um espaço no centro da torre e logo em seguida, uma porta de grade se fechou e o piso onde eles estavam começou a subir, como um elevador. Leon correu, mas não conseguiu impedir Salazar de escapar. Tinha de chegar onde o dono do castelo estava indo. Estaria Ashley lá também? Só teria um jeito de descobrir.
Leon se viu no térreo de uma espécie de torre. Era tão alta, que não se via o topo. O elevador por onde Salazar fugiu, se fechou novamente. O agente teria de subir as escadas. Grossas colunas sustentavam as escadas e plataformas. Havia uma escada em espiral à direita. Era agora, o único meio de chegar ao topo. Mas é claro que os monges estariam ali. Teria de enfrentá-los. Leon começou a subir. Das janelas do seu lado direito, entrava uma claridade branca, da lua. Eram grandes janelas, de vidro transparente e sem persianas. O que o estaria esperando? O agente acelerou o passo, pois o que quer que fosse, teria de vir pela frente. E não teria onde se esconder. Pelo menos não nos metros a frente.
Então, de repente, Leon ouviu o som de algo de madeira batendo no chão. Estava descendo as escadas. Parecia que estava rolando. O que seria? Então, o agente viu vindo em sua direção um grande barril pegando fogo. Ao lado esquerdo da escada, tinha um recuo e Leon teve de correr muito para chegar ali e sair da direção do barril. Assim que fez, viu uma bola de fogo passando e estourando contra a parede de pedras. O recuo em que estava, dava acesso a uma espécie de ponte de madeira que ligava a escada à parede. Um monge com uma foice veio correndo na direção do agente, que atirou no inimigo. Já estavam a uma altura bem considerável, de forma que este caiu da plataforma e morreu. Onde terminava a ponte, havia uma escada de escalar, que dava no topo da outra escada. Lá estava o monge que ativava o mecanismo que lançava os barris. Leon conseguiu, mesmo de baixo, atirar nele, derrubando-o de cima da escada. Ele desabou muitos metros, se espatifando no chão. O agente escalou a escada e teve acesso ao mecanismo.
Ao chegar no topo, ouviu a porta por onde entrara se abrindo e mais monges entrando. Só que agora, eles teriam de subir pelo mesmo caminho por aonde viera. Seriam alvos fáceis. Leon correu até uma alavanca e a puxou assim que ouviu que os monges estavam começando a subir as escadas. Não demorou e um barril caiu do seu lado. Ele era embebido em alguma substância inflamável e no caminho, passava por uma chama, fazendo-o pegar fogo. Assim que caiu e foi escada a baixo, o agente ouviu uma explosão. Então, correu olhar e viu que quase todos os monges estavam mortos. Voltou e puxou a alavanca novamente. Os que sobraram não teriam como subir e ir até o recuo e estavam muito longe para voltarem à base da escada. O barril rolou e os alcançou enquanto tentavam escapar. A explosão matou todos.
Bem ao centro da escada em espiral que contornava a torre, Leon encontrou uma plataforma quadrada, de madeira, com grades ao redor. No canto oposto ao da entrada, havia um interruptor com dois comandos: um para subir e um para descer. Tratava-se de um elevador. Mas estava cheio de caixas de madeira. O agente teve de jogar todas elas fora da plataforma. Eram muito pesadas e impediriam a subida. Depois disso, acionou o botão e começou a subir. A plataforma subiu lentamente. Por incontáveis segundos, que pareceram minutos e minutos que pareceram horas, Leon se viu dentro daquele quadrado de madeira cercado por grades subindo. Olhava atentamente para os lados, sempre com a impressão que alguém viria, ou que surgiria um arqueiro. Então, quando estava virado para um dos lados, de onde teve a impressão de ter visto algo luminoso, quatro monges saltaram de cima e caíram atrás do agente. Ao ouvir o som deles caindo na plataforma, Leon se virou rapidamente, deu um tiro a queima roupa na cabeça de um dos inimigos e conseguiu, na base da força, rapidez e contando com o fato de que os criados de Saddler não esperavam uma reação tão rápida, empurrou os outros para fora do elevador. Depois os observou despencando até o chão e se espatifando.
O elevador parou em frente a uma ponte de madeira que ligava a plataforma ao piso de pedra que contornava a torre. Uma plataforma de madeira suspensa circundava a estrutura pelo lado de fora. Leon passou sobre ela. Ele passou a percorrer. Cada passo que dava, as tábuas estalavam e o agente temeu que elas não suportassem o seu peso e cedessem. A queda seria gigantesca e provavelmente nem estaria mais vivo ao tocar o chão. Só que não podia se descuidar de possíveis ataques. Os monges não tinham noção do perigo e poderiam vir aos montes sobre as tábuas, quebrando-as, derrubando todos para a morte certa. A cada volta que dava na torre, olhava atentamente procurando alguma sombra, qualquer movimento, ou qualquer coisa que denunciasse a presença de algum inimigo. Chegou a outro elevador. Teria de subir mais um pouco.
Ao sair do elevador, estava novamente no castelo. Agora, uma escada em espiral contornava outra torre. Do lado esquerdo, uma mureta com colunas ligadas por arcos que sustentavam o telhado o separavam da queda. Leon passou a subir os degraus apressadamente. Ao fim da escada, o agente encontrou uma porta em madeira grande, com o topo arredondado. Teria de entrar. Queria entrar. Leon sabia que ali encontraria Ramon Salazar. Recarregou a arma e se preparou para liquidar o pequeno dono do castelo. Enquanto abria porta, pensava: “Agora aquele imbecil vai se arrepender do dia que nasceu e vai desejar ardentemente nunca ter se envolvido no sequestro de Ashley”. Ele ainda olhou para o vazio para além da mureta que contornava a escada. Havia uma neblina passando ao redor dele e da torre. Não se podia enxergar para baixo e para frente só se via o vazio. A baixo, uma nuvem branca cobria tudo o que existia ali. O agente chegou a sentir calafrios em pensar na altura que devia estar. Girou os calcanhares e abriu a porta.
Assim que cruzou a porta, Leon se viu em um corredor estreito, com o teto abobadado, com duas tochas, uma de cada lado. À frente da saída, um piso estreito e logo à diante… uma planta grotescamente grande. Parecia uma enorme planta carnívora, mas capaz de engolir um homem inteiro. O que o estava esperando? O agente passou a caminhar com cuidado. Poderia ser surpreendido. Salazar não parecia ameaçador, apesar de ter certeza de não poder confiar nas aparências. Mas ainda havia o fato de que Ramon Salazar tinha um guarda-costas semelhante ao monstro que enfrentara no esgoto. Seria uma luta ainda mais difícil, pois agora não teria os tubos de nitrogênio para congelar o inimigo. Continuou caminhando, com a arma preparada para entrar em ação.
Assim que avançou, logo a baixo do piso, havia outra plataforma. E sobre ela estavam Salazar e o “irmão” de Verdugo. Uma escada com um tapete vermelho levava até o local onde estavam e outra à frente deles dava em uma espécie de altar. Duas tochas iluminavam-nos e ambos estavam de costas para Leon. Uma grade dourada circulava toda a plataforma. Salazar olhava fixamente para o altar. Então, o dono do castelo se virou para trás e olhou para o agente, fingindo uma expressão de espanto e desapontamento.
- Oh, que pena. Perdeu por pouco. O ritual acabou.
Ramon Salazar então fez uma expressão triunfante, enquanto caminhava de um lado para o outro. Enquanto falava, gesticulava com os braços.
- Ela partiu com meus homens para uma ilha.
Leon não conseguia acreditar. Teria sido em vão tudo o que fizera? Ele deu um passo a frente e ainda pego de surpresa pela afirmação de Salazar, perguntou:
- O que?
Salazar pareceu ignorar a pergunta de Leon e continuou subindo as escadas, de costas para o agente. Ao se dirigir ao altar, prosseguiu falando.
- Mas vou fazer uma coisa. Vou demonstrar meu respeito à sua impressionante e persistente vontade. À essa sua vontade de ferro.
O dono do castelo subiu sobre o altar e se virou. Da planta, começaram a surgir tentáculos que se voltaram ao pequeno homem. Ele abriu os braços e encarou Leon.
- Senhor Scott Kennedy. Seja bem vindo.
Ao dizer isso, os tentáculos da enorme planta envolveram Salazar e o suspenderam no ar. De repente, outros tentáculos envolveram o guarda-costas de Salazar de igual maneira. Cada um foi levado para dentro daquela espécie de plantas carnívora, que aparentemente os engoliu. Depois disso, alguns segundos se passaram até que a planta se abriu novamente. De seu interior, surgiu um pescoço gigantesco com uma cabeça monstruosa sobre ele. Um olho enorme e verde encarava o visitante, Assim que Leon olhou bem para a cabeçorra à sua frente, reparou que havia grande semelhança com o monstro que enfrentara. Os ganchos em frente à boca, o olho brilhante. Assim que Leon deu um passo para trás, a saída se fechou, Grades caíram e se cravaram no chão. Não tinha mais volta agora. Tentáculos surgiram por todos os lados. E atrás da cabeça, dentro daquela coisa que poderia ser uma flor gigante, uma forma que lembrava um ser humano surgiu. Era branco, com um líquido correndo por seu rosto, lembrando sangue. O seu surgimento chegou a vagamente lembrar o nascimento de uma criança. De uma criança grotesca. Leon não quis mostrar que estava intimidado, então, falou alto, para ser ouvido.
- Monstros. Depois de liquidar você, terei um a menos para me preocupar.
A primeira coisa que Leon fez foi atirar naquela cabeça enorme, tentando acertar o olho. De repente, do nada, um tentáculo veio de cima para baixo. Leon se atirou para o lado e sentiu o chão tremer sob o impacto. O agente se levantou o mais rápido que conseguiu. Ele correu para o lado e vislumbrou uma brecha entre o tentáculo e a cabeça. Por ela, podia ver o que um dia fora Ramon Salazar. Pegou a arma e atirou, mas rapidamente, um dos tentáculos se moveu e conseguiu conter a bala. Não seria fácil acertá-lo. Neste momento, veio outro ataque. Leon mal teve tempo de ver a sombra de um tentáculo sobre ele e rolou para o lado, ouvindo novamente o baque do impacto atrás de si. Apesar do tamanho, aquela coisa conseguia mover aqueles tentáculos mais rápido do que se poderia supor para uma criatura daquele tamanho.
Leon levantou-se novamente. Teria de encontrar uma maneira de acertar Salazar. Mas ele parecia bem protegido. Sem dúvida era o dono do castelo que comandava os ataques dos tentáculos, mas aquela cabeça gigante na ponta do pescoço também pensava. Era aquela criatura semelhante ao Verdugo. Então, em um raro momento de distração, aquela coisa baixou a guarda e Ramon ficou exposto. Leon aproveitou para fazer mira e atirar. Acertou, mas não foi em cheio, na cabeça dele. O contragolpe foi rápido. Não demorou e um tentáculo veio na direção do agente, que teve de saltar para trás, encostando na grade. A luta estava muito mais difícil do que o imaginado. E antes que pudesse apontar a arma novamente. Dois tentáculos vieram em sua direção. Leon conseguiu saltar para o lado, ouvindo apenas aquelas coisas colidirem contra a grade. Por enquanto estava conseguindo se esquivar, mas até quando? Iria acabar cansando.
Tinha de conseguir atingir Ramon Salazar. Só que tinha de se preocupar em se desviar dos ataques. Quando olhou para o lado, aquele tentáculo que havia colidido contra a grade veio mais uma vez em sua direção. Leon saltou, se pendurou na grade e viu a coisa passando sob seu corpo. Mais uma vez escapara por pouco. Neste momento, o agente olhou de cima e viu que poderia acertar o olho daquela cabeça em cheio. Fez mira e atirou. A bala foi exatamente na pupila. A cabeça gigante caiu e Ramon Salazar ficou inteiramente exposto. Leon sabia que teria muito pouco tempo para fazer alguma coisa. Saltou e correu o mais perto que conseguiu. Mirou na cabeça de Salazar e atirou. O dono do castelo soltou um grito monstruoso e um líquido verde, começou a espirrar do local onde ele fora atingido. Aquela espécie de flor que o protegia se abriu completamente e caiu. A cabeça grotesca sobre aquele pescoço enorme se estatelou no chão. Aquela espécie de planta carnívora monstruosa pareceu se desmanchar e Salazar junto. Ele estava morto. Agora Leon teria de encontrar Ashley antes que fosse tarde demais. Antes que ela realmente se tornasse uma serva de Osmund Saddler.
A saída estava na outra extremidade do local. Olhando para cima, Leon observou um buraco no teto, onde era possível ver o céu estrelado. O que restava da planta ainda estava ali no centro daquela sala. O agente desceu a escada e escalou do outro lado, onde havia outra porta de madeira, semelhante à que usou para entrar. Antes de abrir ainda deu uma última olhada para trás. O local parecia destruído. Então, atravessou a porta.
Do lado de fora, Leon sentiu um enorme alívio ao poder respirar ar puro de novo. Estava em um local alto, cercado de muros de pedra. Usou uma corda para descer ao piso de baixo. Lá, caminhou até um elevador. Ao subir nele, acionou o mecanismo que o levou para baixo. Viu-se dentro de um corredor, agora todo de tijolos, sem pintura, iluminado por tochas. Chegou até uma porta de ferro. Ao passar por ela, entrou na continuação do corredor. Era do mesmo jeito, com as paredes em tijolos, sem pintura e iluminado com tochas dos dois lados. Correu até sair do corredor e chegar a um atracadouro, onde um barco estava parado. Havia alguém ali dentro, Leon conseguiu ver um movimento furtivo. Sacou a arma e caminhou vagarosamente até a embarcação. Uma mulher trajando um vestido cor de vinho, de cabelos pretos e curtos olhou para ele. Depois que Leon guardou a arma, Ada deu um sorriso.
- Precisando de uma carona?
Leon guardou a arma e deu uma respirada profunda antes de responder.
- Certo.
Então, o agente foi até o barco. Ada o levaria até a ilha, onde Ashley teria sido levada pelos homens de Saddler. Durante o trajeto, Leon não parava de pensar que se o ritual tinha mesmo se completado e se a garota tinha se juntado a eles, tudo estaria perdido. Mas tinha ainda de tentar. Como ela estaria quando a encontrasse? Tinha até medo de pensar. Mas não podia desistir. Não podia se dar ao luxo de falhar agora. Não depois de estar duas vezes com Ashley. Depois de ter estado tão perto de concluir sua missão. Tinha de dar certo. Iria dar certo.


Capítulo 33

Então, o jeito agora era tentar apanhar a amostra de Osmund Saddler. Isso seria extremamente difícil. O líder dos Illuminados não vai deixá-la dando sopa por aí, pensou Ada. O que pode tornar a missão menos difícil ou menos impossível é o fato de que Saddler está preocupado com Leon, que pode servir muito bem como distração. Só que neste momento, quem está caçando o agente não é o próprios Osmund Saddler, mas seu garoto, Ramon Salazar. Ada seguiu pelo corredor à esquerda da entrada até uma porta grande. Quando atravessou, viu um local muito estranho. O piso tinha uns quatro, talvez cinco metros. Era calor e a visão da área que ficava além do piso parecia um tanto turva, como se uma barreira de vapor subisse dali. Ada chegou perto do guarda corpo que a protegia da queda e olhou para baixo. Havia uma espécie de rio de metal derretido. Cair lá, significava derreter até os ossos. Bem no centro do piso, o guarda corpo era interrompido para dar lugar a uma saída para uma plataforma com duas grandes rodas dentadas que corriam sobre trilhos. Esta plataforma conduzia ao outro lado, onde havia outro piso semelhante, com uma porta. Ada não tinha a intenção de ir até lá, a não ser que fosse estritamente necessário. Tinha cara de ser uma armadilha. E era.
A espiã desceu uma escada e chegou a um veículo que corria sobre trilhos, uma espécie de trem. Não havia ninguém ali. Ela, subiu no carrinho, sentou-se em uma das poltronas e apertou o botão que o acionava. Saiu em frente a outra porta. E o mais estranho é que não tinha exatamente ninguém ali. Abriu a porta e entrou. Ela estava trancada por fora, portanto, quem estivesse do lado de dentro, não teria como abri-la.
Quando a espiã entrou, se viu em uma sala enorme, com estátuas feitas no teto, pendendo para o chão. Que gosto estranho, pensou ela. Ada foi caminhando pelo local, observando tudo. No lado oposto, tinha outra porta. Enquanto caminhava, escutou vozes e procurou identificar quem era. Não teve dúvidas. Aquela voz aguda e irritante só podia ser de uma pessoa. Ramon Salazar. A espiã prestou atenção para ver se Osmund Saddler não estaria junto. Mas só ouvia Salazar. Onde ele estaria? Chegou à outra porta. Ela conduzia a um corredor, mas Ada já passara por ali. Ela voltou até o centro e parece que as vozes ficaram mais claras. Mas a passagem estava interrompida por um bloco de pedra com o que parecia uma escultura em baixo relevo. Tinha o formato de uma besta com três cabeças. Observou então, que tinha um espaço sob o teto em que ela poderia passar. Ada olhou para os lados para se certificar que não estava sendo observada e lançou o gancho, subindo até o alto da pedra.
As vozes ficaram bem altas, mas ainda não era possível ver ninguém. A sala seguia, mas estava tudo escuro devido à ausência dos lustres da sala anterior. Apenas umas velas iluminavam tudo com uma luz tremeluzente. Ada desceu vagarosamente até o chão, procurando não fazer barulho. Tinha sorte de o piso ser acarpetado. Sim, teve certeza de que as vozes vinham de cima. Então, chegou a uma escada e foi subindo, sempre tomando o cuidado de não ser vista. Quando chegou à parte de cima, olhou por uma porta e viu quem estava conversando. O local era aberto e se podia enxergar toda a extensão dele, mas era muito alto, por isso, não ficava visível lá de baixo. Nas paredes, havia esculturas em alto relevo, com motivos religiosos. Ada chegou mais perto, sempre escondida e aproveitando a pouca luminosidade do local.
Estavam ali Ramon Salazar, seus dois guardas costas e uns quatro monges. Estes, no entanto, usavam túnicas vermelhas. Ao que tudo indicava, estes ficavam hierarquicamente a cima dos demais. A conversa estava tensa. Salazar não tinha cara de muitos amigos. Ele caminhava rapidamente de um lado para o outro, gesticulando. O idioma era mais uma vez, o espanhol.
- Como vocês deixaram ela escapar novamente? Eram em pelo menos uns dez, mais o líder e deixaram a garota escapar. Como?
Os monges apenas olhavam para Salazar, de cabeça baixa. Ele continuou.
- Não tem desculpas. Não me venham com aquelas histórias de que não são treinados para matar. Ela é apenas uma garota indefesa e burra. Não consigo acreditar que ela escapou de mais de uma dúzia de vocês. Era só capturar ela.
Então o monge de vermelho, que aparentemente era o líder deles se adiantou e tomou a palavra.
- Mestre. Falar é mais fácil do que fazer. Como não podemos matá-la, temos de ter cuidado. Se fosse simplesmente eliminar ela, seria fácil. Somente pediria a um dos nossos arqueiros que a alvejasse. Mas ela deve ser capturada viva. E tem aquele americano. Ele matou a maioria dos nossos irmãos. Ele é um assassino treinado. E isso tem dificultado muito para nós. E ainda tem aquele cientista.
- Que está morto. O Lorde teve de se encarregar pessoalmente dele, o que foi muito ruim. Não quero que o senhor Saddler precise ficar se incomodando com esses vermes. Temos de fazer nosso trabalho. Até porque já fui informado de que o ritual não vai se completar aqui.
O monge então pareceu surpreso.
- Não? Vai ser onde?
Salazar baixou a cabeça e continuou falando e caminhando de um lado para o outro.
- Na ilha. Vai vir uma embarcação. Acho que já está vindo. Krauser enviou um grupo de soldados que a levará para lá. O Lorde acha que aqui não é seguro por causa da presença do senhor Kennedy.
Salazar encarou os monges enfurecido.
- Não admito ser preterido por aquele americano. O Lorde não podia ter feito isso. E é culpa de vocês. Agora, nossa única missão será impedir que o agente saia do castelo. E pelo menos isso, nós temos que conseguir fazer. Não podemos deixá-lo sair vivo para a ilha. Se ele conseguir, irá atrás da senhorita Graham. E o Lorde ficará muito descontente.
Os monges conversaram entre eles algo que Ada não conseguiu ouvir. Então, o líder deles se dirigiu a Salazar mais uma vez.
- Mestre. Pode ter certeza de que cumpriremos nossa parte. O agente morrerá aqui no castelo. Ele terá uma bela comitiva na torre do relógio. Caso consiga passar por lá, teremos outro grupo na entrada da torre do castelo. E dentro dela, o que eu acho que será desnecessário, a sala de entrada é guardada por dois Garradores, que farão picadinho do americano.
- Ele já matou dois dos nossos Garradores. E pelo que sei, aquela mulher matou um também. Parece que eles são uma arma menos eficaz do que imaginamos. Caso seja realmente necessário, mas espero não ser, mandarei Verdugo eliminá-lo.
Ao falar isso, Salazar olhou para seu guarda costas de túnica vermelha, que segurou sua lança em posição vertical, demonstrando que entendeu o que foi dito. O monge pareceu ter medo dele.
- Não será necessário colocar o senhor Verdugo em ação. Tem a minha palavra que eliminaremos o intruso.
- Espero que cumpra.
Então, eles se retiraram e passaram perto de onde Ada estava. Ela se escondeu nas sombras e os viu passar. Garrador era o nome daquele monstro cego que a atacou na gaiola. Havia quantos deles? Não dava para saber, mas o certo é que tinham pelo menos mais dois. Ada tinha de encontrar Saddler agora. Para pelo menos saber quais seriam seus próximos passos. Depois que o grupo passou, Ada seguiu Ramon Salazar. Era preciso saber se ele iria encontrar Saddler. Ela achava que sim.
Depois de segui-lo por vários cômodos, Salazar entrou em uma sala. Era grande e tinha uma poltrona que mais parecia um trono bem ao centro. Os guarda costas ficaram um de cada lado. Um grupo de monges entrou e o seu líder tinha uma indisfarçável satisfação no rosto.
- Mestre. Temos excelentes notícias.
O rosto de Ramon Salazar se iluminou. Ada sentiu medo. Engoliu e um arrepio subiu pelas suas costas. Quais seriam as excelentes notícias? Será que esse grupo de monges conseguiu o que até Osmund Saddler estava pensando que eles não conseguiriam? Será que mataram Leon? Queria pensar que não, mas foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Ada então aguçou o ouvido, sempre cuidando para não ser vista. Pensou também que poderiam ter sido os dois Garradores que deram cabo do agente. Mas afastou o pensamento. Logo Ada se aliviou. Pela porta, passou um inseto gigante, carregando uma garota. Sim, eles recapturaram Ashley. Essa era a grande notícia. Leon interessava menos a Saddler do que a filha do presidente dos Estados Unidos. Salazar bateu palmas.
- Excelente! Grande trabalho! Finalmente vocês mostraram sua utilidade. Podem ter certeza de que o Lorde ficará muito feliz com isso.
Um dos monges levou Ashley até Salazar, que a colocou sob custódia de seus guarda costas. Ele se voltou para os monges novamente.
- Muito bem. Logo me encontrarei com o Lorde. Ele irá levá-la para a ilha pessoalmente. Como eu disse, Krauser mandou alguns soldados para levá-la, mas senhor Saddler irá junto.
Antes de se despedir dos monges, Salazar deu um sorriso que deu arrepios em Ada e disse:
- Agora, podemos nos divertir com nosso amigo americano.
Quando os monges estavam se retirando, Salazar ainda chamou a atenção deles.
- Mas nosso trabalho ainda não acabou. Temos de encontrar ainda aquela mulher. Ela pode ser um problema para nós. Temos de capturá-la para saber para quem ela trabalha. E se preciso for, matem-na. Mas só se não houver alternativa. Não queremos que ela vá para a ilha. Pode ser que ela esteja trabalhando em conjunto com o senhor Kennedy. Agora, vão!
Todos se retiraram. Então, Saddler se reuniria com Salazar. E iria levar Ashley consigo. Salazar olhou para os guarda costas.
- Vamos, temos uma reunião marcada na torre, com o Lorde.
Os três saíram da sala. Ada os seguiu. Os quatro se dirigiram até a saída do castelo. Passaram por uma ponte e entraram na torre do relógio. Ada esperou alguns instantes e foi atrás. Certificou-se de não ser vista. Quando estava ainda no meio da ponte, ela começou a girar. A espiã parou por alguns segundos, apenas observando o que ocorria. A ponte parou em frente a outra porta, ligando outra ala do castelo. Quando a porta à sua frente começou a se abrir, Ada saltou e atirou o gancho para prendê-la na ponte. Ficou pendurada alguns instantes, e ouviu Salazar, seus guarda costas e Ashley passando. Quando eles chegaram ao outro lado e entraram na outra parte do castelo, ela subiu de volta e correu. A ponte começou a girar novamente, então, a espiã saltou e se pendurou na outra parte do piso, usando seu gancho novamente. Quando subiu, estava em frente a uma porta. Do outro lado, viu Leon saindo do castelo e olhando para a torre em frente. Ada entraria pela porta? Melhor não.
A espiã olhou para cima e viu uma abertura. Jogou seu gancho novamente e subiu até lá. Dava para ver a sala guardada pelos dois Garradores. Um grupo de monges estava se preparando para saltar exatamente por onde ela entrara, mas ainda não estavam a postos. Tudo isso para recepcionar Leon. Ela não tinha como ficar ali e lutar com eles. Teve de passar. Logo, conseguiu chegar sobre a sala onde seria a reunião. Tinha outro trono e em frente a ele, um círculo. Os guarda costas pararam do lado direito de Salazar e colocaram suas lanças para imobilizar Ashley. De repente, a porta da frente se abriu e o homem da túnica roxa, usando um capuz que quase lhe cobria o rosto entrou. Estava sozinho. Saddler saudou Salazar, que se levantou de sua poltrona e fez uma reverência.
- Lorde. Que honra temos em recebê-lo.
Osmund Saddler continuou caminhando até chegar perto de Ashley.
- Então, vocês conseguiram recapturá-la. Ótimo. Estava quase achando que teria de fazê-lo eu mesmo.
Salazar então, se dirigiu a Saddler, quase como que suplicando.
- Grande Lorde. Sua decisão já está tomada? Irá mesmo levar a garota até a ilha para completar o ritual?
Osmund Saddler fez uma expressão de não ter gostado da pergunta, mas respondeu:
- Eu disse que minha decisão está tomada. Questiona minhas decisões, Salazar?
Ramon baixou a cabeça.
- Nunca, Lorde. Mas veja bem. Krauser não é de inteira confiança. O senhor sabe disso.
Saddler se voltou para Salazar.
- Isso não é importante. Eu vou conduzir o ritual. Krauser não terá participação nisso. Ele apenas irá treinar os nossos soldados. A grande missão dele já foi feita. Era sequestrar a senhorita Graham.
Saddler então olhou em volta.
- Eu vou me dirigindo até o local de embarque. Depois que os soldados chegarem, os mandarei buscar a senhorita Graham e levá-la à embarcação que nos conduzirá à ilha. Ela ainda não está inteiramente sob meu controle. Mas logo, ela fará o que eu quiser. Enquanto isso, mantenham-na em segurança.
Antes de sair, Saddler olhou para trás e com um sorriso no rosto, deu a ordem:
- Matem os dois americanos. É só o que vocês têm a fazer agora. O senhor Kennedy e a tal mulher.
- Sim, Lorde.
A porta se fechou e Saddler sumiu da vista. Ada estava decidida a seguir o líder dos Illuminados. Mas teria de tomar muito cuidado, a final de contas, Osmund Saddler é muito mais esperto que os outros. Não foi fácil, mas o fato de haver pouca iluminação no castelo, que não tinha lâmpadas, tornava tudo mais fácil. Sempre podia usar as sombras para se esconder. Saddler entrou em uma sala com uma ponte ao meio e uma estátua gigante de Salazar à direita de quem entra. Ada jogou seu gancho e foi para a parte mais alta e ficou observando tudo. Um monge apenas estava no lugar. Osmund Saddler falou com ele:
- Tranque essas grades e quando eu sair, faça o mesmo com aquela porta. Faça com que ela não possa ser aberta. Tenho um pressentimento de que aquele agente virá até aqui. Mas não precisa ter pressa. Faça com que essa estátua fique a postos, caso precise, feche todas as grades e certifique-se de que a ponte irá afundar no momento certo.
O monge assentiu com a cabeça.
- Certo, Lorde Saddler.
- Muito bem.
Osmund Saddler caminhou sobre a ponte e saiu pela porta. Ada observou e aguardou o momento em que o monge subiu para mexer em um mecanismo atrás da estátua gigante. Ela correu pela ponte e saiu pela porta também. Assim que fechou, ficou um tempo esperando até que Saddler atravessasse a ponte que levava até outra torre. Logo, ouviu um barulho na fechadura. A espiã se preparou para lutar, mas foi apenas um cadeado sendo passado do outro lado. Se chegasse até ali, Leon estaria em apuros, Ela atravessou a ponte e entrou na torre, mas não viu ninguém ali. Então, algo chamou sua atenção.
Bem em frente à porta, havia uma grade fechada. E atrás dessa grade, uma plataforma desceu. Sim, era um elevador. Ada entrou nele. Estava ativado ainda. A espiã entrou nele e apertou o botão que o acionava. E ele passou a subir. Depois de alguns segundos, estava no alto de uma torre. Ela viu Saddler entrando por uma porta e foi a diante. Ela esperou um tempo e foi também. Era uma sala com uma espécie de planta gigante ao centro, mas estava adormecida. Saddler passou por ela, dando um salto e chegou ao outro lado da sala. Depois de alguns segundos, Ada lançou seu gancho no teto, que tinha um buraco e saiu por cima. Depois desceu do lado de fora. Depois de descer escadas, passar por corredores e descer por uma corda, Ada chegou ao ancoradouro, onde havia uma lancha. Saddler parou na beirada e ficou olhando o horizonte. Logo ele começou a ficar impaciente. Mas sem muita demora, uma embarcação encostou ali. Dois soldados desceram. Saddler falou:
- Demoraram. Achei que viriam em maior número.
- O chefe disse que não precisaria de mais gente, pois o Lorde viria junto.
- Está certo. Vão buscar a senhorita Graham.
- Entendido.
Os soldados saíram correndo. Ada ficou apenas observando Saddler. Atacaria agora? Não, seria péssima ideia. Ele poderia simplesmente fugir e evitar o combate. O tempo pareceu uma eternidade. Não passava, ainda mais pelo fato de que Ada tinha de ficar escondida. Saddler caminhava de um lado para o outro, parecendo estar tendo o mesmo problema que ela. Para ele também tudo estava demorando muito. De repente, os dois soldados vieram com Ashley carregada nas costas. Estava desacordada. Um deles disse:
- Certo. Podemos ir.
Saddler, antes de embarcar, perguntou:
- Novidades quanto ao nosso amigo americano?
- Ele passou pelos Garradores. E matou Verdugo.
Saddler olhou surpreso.
- O que? Matou Verdugo? Ele é muito melhor do que eu imaginara. Verdugo era um inimigo feroz e difícil para qualquer um. Onde o americano está agora?
- Está se dirigindo à torre. Mas Salazar vai se encarregar pessoalmente dele.
Saddler mostrou poucas esperanças.
- Salazar será morto. Vamos. E acho que logo o senhor Kennedy e aquela mulher estarão em nossa ilha. Vou encarregar Krauser dos dois, caso isso aconteça.
Os dois soldados, mais Osmund Saddler colocaram Ashley na embarcação e foram. Uma lancha ficou ancorada no lugar. Ada olhou para ela e esperou um pouco para subir. Então, pensou por um instante. Leon iria precisar ir também. Decidiu esperá-lo. Se ele não chegassem em uns quinze, vinte minutos, iria, pois ele estaria morto, provavelmente. Mas se ele viesse e não tivesse como ir, ficaria preso. E mesmo tendo um grande preparo físico, não chegaria à ilha nadando.
Mais uma vez o tempo pareceu não passar. E Ada começou a pensar que Leon fora morto. Mas Ramon Salazar conseguiria isso? Se nem Verdugo conseguiu. Era difícil de acreditar, se bem que por outro lado, o dono do castelo poderia passar por alguma metamorfose. Então, quase meia hora depois, Ada subiu sobre a lancha. Baixou a cabeça e se preparou para encarar a realidade. Leon provavelmente estava morto. Quando foi ligar o motor, ouviu uma porta batendo. Ao olhar sentiu uma grande onda de alívio, misturada à felicidade. Era Leon. Ela olhou para o agente.
- Está precisando de uma carona?
Ele olhou de volta.
- Certo.
O agente embarcou e Ada deu a partida. Agora, a luta seria mais difícil. Seria contra o próprio líder dos Illuminados. Ele se encarregaria pessoalmente de Leon e dela. E ainda teria a ajuda de Krauser para eliminar o agente. Mas este estava com Ada e recebia ordens de Wesker. Será? Qual a fidelidade do militar à Umbrela? Muitas coisas seriam colocadas à luz a partir de agora. Era o momento de todos tomarem um lado. E de todos mostrarem a quem eram fiéis.


Continua...



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