FFOBS - Resident Evil - Incubação, por Alexandre Borella Monteiro


Resident Evil - Incubação

Finalizada em: 08/06/2019

Capítulo 34

Não foi uma viagem longa. Logo, Leon conseguiu vislumbrar a ilha a que Ramon Salazar havia se referido. Havia construções, chaminés expelindo fumaça, torres, luzes. A fumaça em um ponto ficava iluminada pela lua e o vento provocava calafrios. À medida que foram se aproximando, o agente se perguntava a respeito do que iria encontrar lá. Percebeu que apesar de haver alguma espécie de ocupação ali, parecia tudo muito desorganizado. As construções não pareciam ter um padrão e em alguns pontos, aparentavam estar tortas. Tudo o que importava, era saber se Ashley estava bem.
De repente, Ada Wong olhou para Leon e deu uma guinada com o barco até próximo a uma encosta. Não havia quase nada ali, exceto uma parede de pedras. Ela apanhou uma espécie de revólver, mas que soltava um gancho preso a uma corda e atirou para cima. O gancho subiu e se prendeu às pedras. Ada se levantou e disse:
- Vou ir agora. Tenho alguns negócios pendentes por aqui.
Dito isso, sequer esperou a resposta de Leon e subiu, puxada pela corda. O agente só olhou, meio sem acreditar no que estava acontecendo. Ela ainda falou:
- Nos vemos mais tarde.
Leon ficou ainda sem palavras, apenas observando a figura de Ada sumir. Bem, agora restava a ele ir com o barco até um local onde conseguisse desembarcar e então, sair à procura de Ashley. Algo dizia para ele que Ada tinha como objetivo conseguir a amostra. Só podia ser isso. O que mais a traria ali? Ele precisava encontrá-la antes para poder curar a si próprio e a Ashley, se é que no caso dela ainda há cura. Assim que conseguiu subir à superfície e deixar o barco em um local seguro para ser atracado, o transmissor tocou. Quem seria agora?
- Olá senhor Kennedy.
Era Osmund Saddler.
- Lamento lhe dar más notícias Saddler, mas Ramon Salazar está morto. Eu cuidei disso. Ele não vai mais incomodar.
- É, parece que Salazar está morto.
- Saddler, por que não desiste e liberta Ashley para que ela volte para casa?
- Pelo que estou vendo, o excesso de confiança parece estar subindo à sua cabeça, senhor Kennedy. Está tão seguro de si só por ter eliminado um de meus insignificantes subordinados?
- Saddler. Você é que é insignificante.
Osmund Saddler deu uma gargalhada. Ele não é uma pessoa fácil de irritar.
- Sofra em minha jaula de tormentos meu amigo.
Dito isso, Saddler desligou o transmissor. Leon passou a observar o local onde se encontrava. Do lado direito estava o mar, de onde saíra. Do esquerdo, uma parede de pedras. Tinha um estreito caminho para percorrer. Foi caminhando e antes de entrar em uma caverna, pôde ver uma instalação ao longe. Apanhou o binóculo e viu que se tratava de um acampamento militar. Soldados? A coisa estava começando a ficar estranha. Primeiro, enfrentara os aldeões da vila. Depois, os monges da seita “Os Illuminados”. Mas agora, militares? De que exército seriam? Sim, pelo que observara, não restava a menor dúvida. Eram militares mesmo. Leon continuou percorrendo a caverna. Só que agora, dava para enxergar a situação em um outro contexto. Se Osmund Saddler tinha à sua disposição um regimento militar organizado, equipado e treinado, a coisa seria mais séria do que se poderia imaginar. Ele teria uma força armada para espalhar sua loucura pelo mundo. E nesse caso, mandando Ashley contaminada para casa seria mais útil, pois ela poderia infectar o alto comando americano e seus soldados dariam o suporte para que os planos de Saddler se concretizassem. Era cada vez mais urgente impedir esses planos.
Enquanto percorria, Leon ainda pensava em outra questão. Só que para possuir um exército, eles precisam de algum militar experiente para comandá-lo. Quem seria esse comandante? Passou por uma ponte de madeira e chegou até a instalação. Havia várias casas de alvenaria, de dois pisos e um farol que servia de alarme. O agente atirou nele para que não disparasse. Antes de se infiltrar na instalação, Leon apanhou um binóculo e observou o local e então viu. Ashley sendo levada por um soldado. Estava sendo carregada no ombro. Ela batia nas costas do militar e tentava se soltar. Pelo jeito ainda não tinha se tornado serva de Saddler. Ainda podia ser salva. Leon saltou sobre o rio e foi até a outra parte da ilha, onde estavam os soldados.
O agente chegou a uma janela da primeira casa, que na verdade, não era uma habitação, mas apenas uma estrutura de tijolos com um telhado por cima. Visualizou um soldado ali dentro. Ele se virou para o agente e sacou um machado. Quando foi atirar, o americano disparou um tiro na cabeça do soldado, matando-o. Depois, escalou a escada que tinha dentro da construção para ter uma visão mais panorâmica do local. Sobre a casa, havia um espelho redondo, com a insígnia dos Illuminados. Em frente a essa casa, outra, quase igual, com outro espelho. Qual seria a função deles? Depois de uma observada, Leon desceu novamente e saiu por uma porta lateral.
De repente, da casa da frente, outra porta se abriu, no segundo piso e um soldado apareceu lá. Ele portava uma metralhadora giratória. O militar deu uma rajada de tiros para o alto e saltou para o chão. Leon escalou novamente as escadas até o teto da casa de onde saíra, ficando fora do alcance da metralhadora. Não demorou muito e o soldado da metralhadora surgiu pela escada também. Ele era mais alto que os outros e muito mais forte. Sim, tinha de ser para segurar aquela metralhadora giratória. Leon sacou a arma, só que o soldado foi mais rápido do que se poderia supor, tanto pelo fato de estar carregando aquela metralhadora, quanto pelo tamanho dele. Quando o agente americano se deu conta, já estava cara a cara com o soldado. Este apontou a metralhadora e disparou uma rajada de tiros. Leon se jogou no chão, atrás de uma caixa de metal que estava sobre a casa. Então, assim que os disparos terminaram, se levantou, saltou sobre a caixa e caiu em frente ao militar, bem próximo. Antes que este conseguisse preparar a próxima rajada de tiros, Leon encostou a arma no olho do inimigo e atirou. O soldado morreu na hora.
Depois disso, Leon saltou ao chão novamente e se dirigiu até uma escada que levava até a porta por onde passaram o militar e Ashley. Mas ela estava trancada. Ao lado, havia um interruptor. O agente o acionou e um facho de luz vermelha saiu, acertando o primeiro espelho circular, refletindo-o. Neste momento, o americano ficou olhando aquele cenário, sem saber direito o que fazer. Do outro lado da porta, havia um círculo com um espelho. Seria ali que o facho de luz deveria atingir? O agente correu para o primeiro espelho e alinhou a luz na direção do segundo. Desceu e correu para o outro telhado, alinhando a luz para o espelho ao lado da porta que era para abrir. Quando o facho de luz atingiu o espelho, a porta ao seu lado se abriu. Leon correu até a escada, subiu-a e atravessou a porta.
Logo depois da entrada, havia uma trincheira. Mas nenhum soldado ali. Era uma caverna, mas havia uma instalação completa no local, com escadas, lâmpadas e sacos formando trincheiras. Quando o agente avançou por uma abertura, deu tempo de ver soldados empurrando uma pedra, que caiu exatamente onde Leon estava. Ele conseguiu, na base do reflexo, dar um salto para trás e evitar ser atingido. Seguiu avançando até a saída, que era em uma ponte ligando a outra caverna. Ao passar pela entrada, no entanto, um arqueiro se levantou por trás dos sacos e apontou na direção de Leon. O agente foi mais rápido e conseguiu atirar no inimigo antes que este o alvejasse. Depois disso, chegou a uma escada de escalar.
Ao chegar na parte de cima, estava no topo de uma colina. A baixo, era possível ver os fachos de luz vermelha que abriram a porta. Atrás de uma trincheira estava um soldado segurando um bastão com uma corrente e uma bola com espinhos na ponta, semelhante aos usados pelos monges. Leon atirou na cabeça do militar e o matou. Uma ponte de madeira ligava a colina onde estava a outra. Ao chegar do outro lado, havia uma casa. O agente pulou a janela para surpreender os militares que o estavam esperando na porta. Dois estavam ali, usando máscaras que pareciam ser para respirar em ambientes intoxicados e portando um bastão eletrificado. Leon matou os três com um tiro na cabeça de cada um.
Saindo da casa, o agente passou por várias caixas de madeira empilhadas e chegou atrás de uma trincheira. Atrás dela, uma colina com um túnel que levava ao seu topo. E lá, dois arqueiros. Leon deu um tiro em cada um, derrubando eles lá de cima. Depois ele olhou para trás, para se certificar de que não havia ninguém ali e deu um passo para o lado. Então, antes de sair de trás da trincheira, deu uma espiada por cima e viu um soldado com uma bazuca. Se saísse, iria ser feito em pedaços. Leon procurou ainda uma granada em seu colete. Apanhou a última e jogou. Ao ouvir a explosão, olhou e viu o soldado morto. Poderia seguir. Leon seguiu pelo túnel até a parte alta da colina, chegando a uma ponte. Atravessou-a, mas entrou apenas em uma caverna sem saída para lado nenhum. Voltou e ficou olhando ao redor, e então viu uma porta do lado de baixo da ponte. Saltou-a e correu até ela. Era uma grande porta de metal, com a insígnia dos Illuminados nela. Esse desenho está por tudo mesmo, pensou Leon.
A porta dava em um caminho estreito, com montanhas de pedras dos dois lados. Tochas por todo o caminho iluminavam a noite. Leon não se atreveu a correr, pois poderia ser alvejado. Caminhou olhando cuidadosamente cada centímetro à frente, se certificando de não ter nenhuma surpresa desagradável. Podia ouvir seus passos no chão de terra. O vento soprava em seu rosto, movimentando o cabelo. Os olhos arregalados esquadrinhavam o local. Ao fim do corredor, olhou para frente e viu uma plataforma, com dois soldados sobre ela. Estavam o esperando. O agente ainda não tinha sido visto por eles, pois estava escondido na sombra da parede. Então, fez mira e atirou na cabeça do primeiro, que caiu morto. O segundo olhou para o lado e ficou procurando de onde teria vindo o tiro. Mas não chegou a ver. Foi atingido em seguida, caindo morto também.
Leon caminhou até o fim do corredor, chegando ao lado de uma grande porta de metal. Abriu-a com cuidado, olhando para ver se não era surpreendido. Como não viu ninguém, entrou. O local onde estava era uma base militar. As paredes e o chão não tinham uma pintura, os tijolos estavam à mostra. Havia armários de lata por todos os lados, lâmpadas fluorescentes no teto, encanamentos aparentes e fiação exposta. Mas não se via uma única pessoa por ali. Leon caminhou fazendo o menor ruído que conseguia. Tinha a impressão que ouviriam seus batimentos cardíacos acelerados pela adrenalina. Virou à direita, passou por uma poça d’água no chão, virou à esquerda e parou em frente a uma porta de metal com um vidro circular na altura do seu rosto. Não chegou a entrar logo. Primeiro deu uma espiada para o lado de dentro. Embora não tenha visto movimento nenhum do outro lado da porta, sabia que havia alguém ali. Podia escutar o som de um daqueles bastões elétricos. Então, sabia que estaria sendo esperado. Chutou a porta.
Assim que entrou, saiu detrás de uma das prateleiras, um soldado com a arma. Leon não perdeu tempo e atirou na cabeça dele, que caiu morto. A sala tinha várias prateleiras e suportes, com mantimentos enlatados e em conserva. Leon deu uma olhada para aquela comida e pensou: “típica alimentação de soldados em campanha”, lembrando-se dos tempos em que saía para as manobras. Passou por um banheiro, onde havia um vaso sanitário sem tampa, chegando à cozinha do acampamento. Neste local, tinha duas peças de carne bovina penduradas em um gancho. Seriam como em um açougue, se não fosse por um detalhe. Estavam podres, com vermes brotando por todos os lados. O cheiro que exalavam contaminava todo o ambiente e Leon teve de se conter para não vomitar.
À frente, havia dois botijões de gás enormes e um forno da altura de Leon. Seria usado para assar grandes quantias de carne e um fogão. Não tinha ninguém ali, aparentemente. O agente estava, no entanto, com a guarda em pé, pois com todas aquelas prateleiras, pedaços de carne pendurados e paredes, alguém poderia se esconder ali facilmente. Então do forno, um soldado saiu, pegando fogo. O agente conseguiu se esquivar do ataque por muito pouco. Seu inimigo passou por ele com as mãos na altura do pescoço de Leon, mas errando o ataque. Acabou caindo no chão, onde morreu.
Depois disso, Leon continuou e chegou em frente às pias da cozinha. Eram enormes, mas estavam cheias de água podre, que cheiravam muito mal e estavam cheias de larvas. Será que os soldados comiam aquilo e bebiam aquela água? Parecia difícil de acreditar. Leon chegou a uma porta de ferro e saiu da cozinha. Chegou a outro corredor. Ainda havia pedaços de carne pendurados em ganchos. Quando o agente virou à esquerda, encontrou outro soldado. Mas essa era diferente. Tinha pelo menos dois metros de altura e era muito mais forte que os outros. Na cabeça uma placa de metal cobria meia face dele, sobre um olho. Mas, uma metade estava sem cobertura nenhuma. Leon nem deu tempo de o inimigo se mover e atirou no olho dele que estava destapado, matando-o.
Depois de passar por ele, Leon desceu por uma escada até uma adega. Havia muitas prateleiras com garrafas. Pelo menos alguém entre eles tinha um bom gosto para uma boa bebida. Dois soldados o estavam esperando, um deles com um machado e outro com um bastão com uma bola espinhenta presa a uma corrente. O agente teve de recuar por trás de uma mesa e atirou na cabeça dos dois. Só que então, de dentro da cabeça de um dos dois saltou uma plaga, semelhante a um inseto gigante. Ela veio caminhando na direção do agente que teve de esperar o momento em que ela ia saltar para atirar, matando-a. A mesa ao centro do local tinha restos de comida podre, enlatados abertos e vidros de ketchup e mostarda. Os soldados estavam comendo aquilo? Não tinha nada ali que interessasse. Então, o agente subiu as escadas e seguiu.
Chegou em frente a outra porta, onde podia escutar os gritos de Ashley. Ela estava por perto. Quando Leon entrou na sala após a porta, no entanto, sua esperança diminuiu. Os gritos dela vinham de monitores de televisão. A garota estava em uma cela. Podia ver a porta com pequenas grades na altura da cabeça de um homem. Para enxergar do lado de fora, a filha do presidente dos Estados Unidos tinha de ficar na ponta dos pés. Ela gritava por socorro e batia na grade. Mas aparentemente não tinha ninguém ali, pois não via reação nenhuma do lado de fora. Mas como saber em que lugar essa cela estava? Teria de procurar dentro daquela base. Só que ela parecia um labirinto gigante. De repente, dois soldados apareceram no monitor. Um deles usava uma máscara vermelha que cobria o nariz e a boca. Este empurrou a garota, derrubando-a no chão. De repente este olhou para uma das câmeras de monitoramento e depois para o outro soldado. Então apontou para um interruptor.
- Ali!.
O outro soldado, que estava mais longe de Ashley foi até o interruptor e desligou todas as chaves existentes nele. Neste exato momento, as imagens dos monitores desapareceram. Eles desligaram o sistema de monitoramento. Até que eram espertos. Bem mais que os zumbis. Leon passou por outra porta, saindo da sala e chegando a outro corredor. Havia vários armários de metal escorados na parede. Leon chegou a uma porta trancada. Tentou chutá-la, mas não conseguiu abrir. Teria de empregar suas técnicas de arrombamento. Valia a pena? Quando olhou para o lado de dentro, viu algo que valia a pena. Armas. Depois de algum trabalho, a porta se abriu.
Era a sala de alguém do alto comando. Havia várias sacolas e Leon apanhou uma. Sobre a mesa, uma faca comprida, semelhante à que usava. Sim, era igual à que vira Krauser usando na missão Javier Hidalgo, na América do Sul. Não precisaria dela. Mas pelo visto seu ex-parceiro não era o único que gostava de lutar com facas. O comandante deste grupo militar, também. Mas o restante, mal conseguia acreditar na sorte que tivera. Havia muitas granadas, explosivas e cegadoras. Armas de fogo e munição. Apanhou e colocou em uma das sacolas que encontrou. Uma escopeta, um rifle para tiros a longa distância e uma metralhadora automática. Pegou toda a munição que conseguiu carregar, para a sua pistola e para as armas que pegou na sala. Agora, não teria mais problemas para enfrentar quem quer que fosse.
Quando Leon saiu da sala, passou por um corredor, com uma janela quebrada do lado direito. De repente, uma porta se abriu e dois soldados com dinamites apareceram. O agente mirou no explosivo e atirou, detonando-o e matando os dois. O americano passou pela porta e seguiu até a outra extremidade, encontrando a saída. Chegou a uma escada. Ele seguiu por outra escada e corredores. Havia fios desencapados em circuito nas paredes e algumas lâmpadas estavam caindo. Uma placa com uma seta indicava “sala de operações”, mas estava escrito em inglês. Na Espanha? Estranho. Então, o agente chegou em frente a uma porta azul de metal grande, com vidros cobertos por persianas horizontais dos dois lados. Leon abriu-a com todo o cuidado.
Quando entrou, se viu dentro de um pequeno compartimento, com uma porta de vidro à sua frente. Dentro da sala, havia uma fumaça branca no chão. Assim que se aproximou desta porta, ela se abriu automaticamente. E então, sobre uma cama hospitalar, estava uma criatura. Tinha formato humano, mas apenas isso. Possuía braços, pernas e cabeça. O resto, em nada parecia um ser humano. Seu rosto era terrível. Dois olhos grotescos e uma bocarra com dentes pontiagudos. Muitos dentes, formando duas camadas em cima e duas em baixo. Estava com a boca aberta. A criatura jazia imóvel. O que era aquilo? Do que era capaz? Leon imaginou que logo descobriria. Estava absolutamente certo.
Leon chegou em frente a outra porta, mas esta estava trancada. Ao seu lado, encontrou um interruptor, com uma tela de LED colorida, com setas que corriam uma para cada lado. Eram azuis, verdes e vermelhas. Teria de acertar elas para formar alguma combinação e abrir a porta. Depois de tentar colocar as cores em ordem por alguns minutos, ouviu um som vindo da porta, que abriu. Dentro da sala, havia um maço de papéis com anotações de Sera.

“As criaturas escondidas como o El Gigante e os Novistadores são meramente subprodutos dos experimentos diabólicos e inumanos conduzidos em espécimes que um dia foram humanas.
Mas há um tipo de criatura que claramente se distingue do resto. Essas criaturas são chamadas de Regeneradores [Regenerators]. Os Regenerators têm um metabolismo superior que os permite regenerar partes perdidas do corpo com uma velocidade incrível.
Eu nunca vi nada igual a isso. É essa característica que os faz quase invencíveis a armas convencionais. Mas como toda criatura viva, há um modo de matá-los. Aparentemente, há Plagas que vivem em seu corpo, como se fossem sanguessugas. Para interromper o processo de regeneração, essas Plagas sanguessugas devem ser localizadas e, então, destruídas.
Mas elas não podem ser vistas a olho nu. Só podem ser localizadas através de imagem térmica. Até onde eu sei, muitos Regenerators hospedam um certo número dessas Plagas sanguessugas. Para matar os Regenerators, cada um dessas Plagas sanguessugas deve ser eliminada.”

Dentro da sala havia camas hospitalares jogadas de modo aleatório, desordenado, assim como monitores de computador e botões para todos os lados. Em uma cama, um homem estava deitado, com o abdome aberto, aparentemente morto. Uma plaga estava suspensa sobre ele, presa a um braço mecânico. Seria implantada dentro daquele corpo? Leon chegou a sentir calafrios só de pensar. Ao lado da cama, um soldado jazia morto, com um cartão pendurado em uma corda. Leon apanhou-a. Era um cartão magnético. Assim que apanhou o objeto, o agente saiu pela porta por onde havia entrado e não teve tempo nem de se assustar quando viu aquela criatura que vira deitada na cama hospitalar em pé vindo em sua direção. O Regenerator não poderia ser morto agora, pois Leon não tinha como ver as sanguessugas dentro do monstro. Teria de correr e evitar os ataques que seriam disparados.
Assim que passou pela porta azul por onde entrou, viu a sombra do Regenerator saltando e errando o ataque. Logo que chegou em frente a uma cerca com uma porta no centro, outro apareceu. Leon teve de esquivar dele também e abrir a porta. Chegou em frente à uma câmara fria. Tentou abri-la usando o cartão magnético que apanhou do soldado morto. Teria de abrir. Assim que ouviu o som da porta destrancando, respirou. Nem olhou para trás, apenas ficou ouvindo o som dos Regenerators vindo atrás de si. Trancou a porta. Estava seguro, pelo menos por enquanto.
A temperatura dentro da câmara estava simplesmente insuportável. Leon sentia que até seus ossos estavam congelando. Seus movimentos foram ficando lentos. O ar que saía da sua boca formava uma nuvem e parecia que ia se condensar e cristalizar. A pele dos braços e do rosto começou a arder e o agente teve a impressão que ia rasgar. Os olhos lacrimejavam, mas era tão frio que ele pensou que as lágrimas fossem congelar. Então viu um Regenerator pendurado em um gancho, congelado. Dentro de um dos compartimentos da câmara, Leon encontrou um cartão magnético, escrito “zona do depósito de lixo”. À frente do cartão, um mecanismo. O agente chegou o acionou. De repente, a temperatura do lugar começou a ficar menos insuportável. A camada de gelo nos vidros começou a derreter. E dentro de outro compartimento, havia uma mira térmica para acoplar a um rifle. Leon pensou que dera muita sorte de ter encontrado aquele. Apanhou-o da sacola e colocou a mira térmica nele.
Do lado de fora do compartimento, o Regenerator, reanimado pela subida da temperatura, se soltou do gancho e caiu no chão. Depois disso, se levantou e começou a caminhar na direção do compartimento onde Leon estava. O agente passou a ouvir o barulho da respiração da criatura enquanto ainda terminava de colocar a mira na arma. Terminou e pensou: “Pode vir. Estou pronto”. Assim que apontou o rifle para a porta, o Regenerator apareceu. Com a visão térmica era possível ver as sanguessugas, mas eram pequenas e seria extremamente difícil acertá-las. Mas não teria jeito. Leon fez mira e atirou. Acertou a primeira. O Regenerator recuou. O agente aproveitou o momento em que a criatura ficou se recuperando para acertar a segunda. Então, acertou a terceira e a quarta. Em seguida, a criatura explodiu. Sim, essa seria a maneira de matar aquelas coisas. Mas não seria nada fácil.
Quando Leon saiu da câmara fria, escutou o barulho de mais dois Regenarators. Sim, os que o perseguiram até a entrada da câmara. Teria que matar os dois. Assim que passou pela porta de arame farpado, encontrou o primeiro. Estava de costas para Leon, que aproveitou para acertar a primeira sanguessuga. Ainda manteve uma boa distância do Regenerator e atirou na segunda. A criatura recuou e o agente atirou nas outras duas. O terceiro estava dentro da sala de onde saíra. Leon repetiu o procedimento, acertando as sanguessugas.
Leon chegou até um local cheio de barracas. Uma delas tinha o sinal de primeiros socorros. Sim, sem dúvidas era um acampamento militar. Do meio das barracas, surgiu o quarto Regenerator. Mais uma vez, matou as sanguessugas uma a uma. Depois de matar o quarto Regenerator, o agente chegou a uma porta trancada. Apanhou o cartão que pegou na câmara fria e passou. A porta destravou.
Com a porta aberta, mais uma vez, Leon se viu dentro de um corredor estreito. Do lado esquerdo, uma parede com lâmpadas fluorescentes no alto. Do lado direito, o muro ia até a altura da cabeça de Leon, e até o teto, havia arame farpado. Depois do corredor, havia uma porta. O agente entrou em uma sala com um vidro que ia do chão até o teto. Em sua frente, um mecanismo formado por duas alavancas. Quando as acionou, viu que elas movimentavam uma garra usada para apanhar os carros com lixo na parte de baixo. Havia quatro soldados ali. Leon acionou-a e apanhou dois de uma vez só e depois os jogou dentro do reciclador de lixo. Apanhou um terceiro soldado e o jogou no mesmo lugar. Por fim, apanhou o quarto soldado. Seriam quatro a menos para se preocupar.
Leon prosseguiu. Saiu da sala e se viu dentro de um pequeno local, que servia apenas de passagem. Abriu outra porta. Depois de abri-la, o agente saltou dentro do local onde estavam os solados que ele jogara no depósito de lixo. O depósito de lixo. No momento estava vazio, apenas com containers contendo resíduos. Ninguém mais estava ali. Ele seguiu então para a saída. Entrou em um corredor, subiu duas escadas, fazendo uma curva à esquerda, até chegar à outra sala. Esta era maior. Tinha uma mesa ao centro com duas cadeiras ao seu redor. Nas prateleiras escoradas nas paredes, havia alguns livros e mapas. E na extremidade oposta à entrada, duas mesas com computadores sobre elas e duas cadeiras colocadas em frente às máquinas. Havia vários armários escorados nas paredes também. Mas não tinha uma única pessoa no local. O silêncio era perturbador. O agente se dirigiu à porta de saída. Antes de sair, contudo, se aproximou do lugar onde os soldados foram jogados. E havia um espaço em que poderia saltar. Sim, os resíduos do local saiam dali e eram levados por algum transporte. Então, havia uma saída. Talvez, neste momento, a única saída.
Saiu no corredor novamente. A mesma cena. Lâmpadas no teto, fios nas paredes, desencapados em vários locais e a pintura das paredes caindo, deixando os tijolos à mostra. Então, quando virou no segundo corredor, escutou a voz de Ashley. Passou a correr mais rápido. Ela o estava chamando. Quando saiu do corredor, deu de cara com dois soldados daqueles enormes, com metade da cabeça coberta por uma placa de metal. E atrás deles… uma porta de prisão e dentro da porta… Ashley. Era só se livrar dos dois vigias e resgatar a filha do presidente dos Estados Unidos.
Agora com o armamento novo, Leon apanhou da sacola a escopeta e atirou na cabeça dos dois. Matou-os instantaneamente. O agente correu até a porta e tentou abri-la. Só que para isso, precisava de um cartão magnético, que ele não tinha. Teria de conseguir.
- Ashley. Não tenho como abrir a porta.
Ela ficou olhando para ele. Parecia não acreditar no que estava acontecendo.
- Não tenho como tirar você daí. E como ela é fechada eletronicamente, não dá para arrombar. Vou ter de conseguir o cartão.
- Por favor, Leon. Não demore. Não estou me sentindo bem. E a qualquer momento, vão mandar mais dessas coisas para me vigiar. Preciso que venha logo.
Leon sabia que ser urgente conseguir voltar. Não teria muito tempo. Mas o jeito seria seguir até encontrar o cartão que abriria a porta.
- Prometo que logo estarei de volta. Pode contar com isso.
Ao olhar para Ashley, pareceu que uma lágrima estava correndo do olho da garota. Sim, ela estava passando por um pesadelo que nunca imaginara em sua vida. Mas era preciso suportar.
- Está bem. Não vai adiantar não concordar, não é?
- Não. Só tem um jeito de tirar você de dentro desta cela. E eu vou conseguir.
Depois de um tempo em que os dois apenas se entreolharam, Leon encarou Ashley e falou com firmeza. Uma firmeza que ele não tinha.
- Eu prometo que vou conseguir.
Leon não tinha o hábito de prometer coisas que não sabia se conseguiria cumprir. Mas nesse caso, era necessário fazer essa promessa. Além do que, no fundo ele não esperava fracassar. Se não conseguisse, não saberia o que ocorreria depois, pois só a morte o impediria de concluir sua missão. Depois de se despedir de Ashley, o agente seguiu por outra porta, entrando em um corredor estreito. Desceu uma escada. Pelo corredor, havia pedaços de madeira escorados nas paredes e outras quinquilharias que atrapalhavam a circulação pelo local. Abriu outra porta.
Leon entrou então em uma sala que tinha um grande quadro branco ao centro, onde havia várias instruções escritas em tinta vermelha. Vários adesivos colados nos cantos continham instruções. Atrás do quadro, um gigantesco monitor de computador e ao seu lado, uma máquina de quase dois metros de altura. Na tela, havia vários gráficos e coisas que pareciam imagens de Raio X. O chefe deles era muito metódico, pela maneira como deixou tudo planejado no quadro. Dois soldados o estavam esperando. Um deles se escondeu atrás do quadro e o outro veio enfrentar Leon. O agente atirou no primeiro, e surpreendeu o segundo. Matou os dois sem maiores dificuldades. Outra coisa que chamou a atenção de Leon foi que nas prateleiras havia muitos livros. Não chegou a ter tempo de ver do que se tratavam. Desceu a escada que tinha à frente. Passou por mais prateleiras abarrotadas de livros. Então, saiu da sala. Tinha de encontrar a chave para libertar Ashley o mais rápido que conseguisse.
Acabou em outro corredor. Subiu as escadas até chegar a um local com duas portas. Uma em frente e outra à esquerda. Abriu a primeira e apenas viu uma sala pequena, sem nada dentro a não ser uma mesa. Saiu e se dirigiu à outra porta. Abriu-a e entrou em uma espécie de sala de monitoramento. Havia vários locais da base aparecendo em monitores de televisão. Uma cadeira giratória estava caída bem no meio do recinto. Então, Leon ficou olhando para um monitor em especial, pois viu uma porta se abrindo. Por ela passou um dos Regenerators, mas este era um pouco diferente. Tinha espinhos em todo o corpo. Seria mais complicado se livrar deste. Foi então que viu algo brilhando no pescoço da criatura. Era um cartão magnético. Seria o da prisão? Só teria um jeito de saber. Teria de matar o monstro.
Quando o Regenerator apareceu na porta, Leon apanhou o rifle e atirou nas sanguessugas. Tinha de matar uma a uma. Não podia errar os tiros, pois a criatura estava perigosamente próxima e qualquer erro seria fatal. Ainda mais que este poderia usar os espinhos como arma. Sim, certamente eram uma arma. Depois de matar o inimigo, o agente apanhou o cartão. Agora, voltaria correndo ao local de onde saíra para libertar Ashley. Só podia ser o cartão que abria aquela porta. Colocou o pedaço de plástico no bolso e saiu.
Saiu da sala onde enfrentara o Regenerator e se viu diante de uma ponte, toda em metal. Agora, tudo ficou em silêncio. Apenas alguns corvos crocitando sobre a ponte faziam algum barulho. Então, o agente passou a caminhar sobre ela. Agora, seus passos podiam ser ouvidos. O agente correu até um elevador e o acionou para subir. Ao sair, estava no topo de uma torre de comunicação. Lá de cima, podia enxergar toda a ilha, o mar e outra ilha mais ao longe. O vento estava incrivelmente gelado lá no alto. Leon caminhou contornando a torre, olhando dentro da central de comunicação para ver se havia algum soldado lá dentro. Mas não havia ninguém. O silêncio era total. Ouvia apenas o barulho dos seus passos na plataforma de metal e o som do vento. Entrou na sala e viu um computador, um rádio transmissor, várias cadeiras giratórias e um microfone. Aproximou-se deste dispositivo. Tinha de conseguir mandar alguma mensagem. Era uma de suas últimas esperanças. Acionou o mecanismo que ligava o rádio.
- Aqui é Leon. Necessito de reforços. Repito. Necessito de reforços.
Do outro lado, apenas estática. Ninguém falou nada. Não saberia dizer se alguém o ouviu, mas estava pessimista a respeito dessa possibilidade. Apenas movimentou negativamente a cabeça e socou o painel. Teria agora de voltar o mais rápido que conseguiria. Tinha visto a torre e pensou que poderia ser uma boa ideia. Mas apenas perdeu tempo, pelo que pode ver. O jeito era seguir sozinho. De volta ao elevador. Leon fez todo o caminho de volta até o local onde Ashley estava sendo mantida prisioneira.
Mas agora, a sala que tinha as imagens de raio X, tinha vários soldados. O agente antes de subir a escada, quase foi atacado de surpresa por um arqueiro. A flecha passou muito perto do seu braço. Mas ele conseguiu se recuperar e acertar o inimigo. Havia mais deles por ali. Agora eles não surpreenderiam mais. Tentaram correr até o local onde Leon estava, mas o americano se livrou deles. Chegando até o local onde a filha do presidente americano estava, passou o cartão magnético na porta e esta abriu. No entanto, não viu ninguém por ali. O agente passou a caminhar pelo local, passando por caixas de madeira, até encontrar Ashley sentada sobre um caixote de madeira, com os braços sobre os joelhos e a cabeça escondida atrás dos braços. Ela levantou a cabeça e sorriu. Ainda não estava sob domínio da plaga.
- Leon!
Ele caminhou até o local onde a filha do presidente dos Estados Unidos estava e olhou-a por alguns instantes.
- Você está bem?
Ela não disse nada, apenas fez um sinal afirmativo com a cabeça. Era impossível ela estar totalmente bem. Nunca vira nada parecido com isso. Até uns dois dias atrás, sua maior preocupação era com que roupa iria a algum evento ou algum teste na faculdade. Agora estava o tempo todo correndo risco de vida. Mas talvez isso ainda demorasse para ser encarado por ela com a real seriedade. O agente apontou para a saída. - Venha. Vamos sair daqui!
Agora Leon voltava a estar com a filha do presidente. Tinha de ser mais atento. Não poderia deixar que a levassem novamente. Por duas vezes esteve com ela, mas a recuperaram. Tinha de se certificar que nada aconteceria a ela. Se conseguisse cumprir essa meta, a outra poderia ser mais fácil. Encontrar Osmund Saddler e recuperar a amostra para levar aos Estados Unidos e produzir uma cura para Ashley e para ele. Sem essa amostra não adiantava voltar. Mas pelo menos, por enquanto, passava a ter apenas uma missão, pois já recuperara Ashley Graham.


Capítulo 35

O andar do barco estava deixando Ashley enjoada. Tinha a impressão que iria vomitar, mas não comia nada há mais de um dia. Não tinha nada no estômago. Deve ser por isso que não vomitou. O ar fresco com as gotas d’água que vinham do rio agitado a faziam tremer de frio. As nuvens cobriam a lua, mas não dava a impressão que iria chover. Em alguns pontos, dava para ver estrelas no céu. O barulho do motor era constante e ela olhou para o chão para não ver mais nada ao redor.
Estavam no barco os dois soldados que a buscaram na sala de Salazar e o próprio Osmund Saddler. Eles, no entanto, pareciam não sentir nenhum desconforto na viagem. Nem pelo fato de o rio estar com uma forte correnteza dando a impressão que a pequena embarcação poderia virar a qualquer momento. Ao longe, apesar de haver um denso nevoeiro, dava para ver algumas luzes. Elas foram se aproximando e algumas aves noturnas podiam ser vistas. Corvos voavam crocitando, indicando que a margem estava próxima. Ashley viu o local onde iriam descer. Era uma ilha. As luzes iluminavam chaminés, casas que pareciam ser feitas de metal. Era uma fábrica? Não se pareciam com moradias normais. Para que serviam? Não demorou, e logo a embarcação parou. Saddler e um dos soldados desceram, sendo que este último levantou a garota e a colocou sobre o ombro, carregando-a como se fosse um saco de batatas.
Assim que desembarcaram, passaram a caminhar sobre a terra. Não havia grama, arbustos, flores ou qualquer coisa que abrandasse a visão. A paisagem ali não tinha nenhum detalhe que tornasse o local mais bonito. Apenas terra no chão e abrigos feitos de alvenaria, alguns com telhados de zinco e outros, sem telhado, apenas com a cobertura de tijolos mesmo. Havia alarmes por todos os lados, faróis, fachos de laser. Era a entrada de uma base militar. De repente, soldados apareceram. Muitos deles. Estavam armados. Tinham desde armas brancas até dinamite e um soldado enorme portava uma metralhadora giratória. Assim que viram-nos chegando, todos eles se colocaram em posição de respeito e repetiram:
- Lorde Saddler.
Saddler se virou para um deles.
- Preciso falar com Krauser.
- Ele está na sala de operações.
- Certo.
Continuaram caminhando. O facho de laser foi sendo ajustado pelos soldados, foi o que Ashley notou até que tocaram um círculo de vidro ao lado de uma porta grande e ela se abriu. Pouco antes de entrarem, a garota olhou para trás e lá longe, na entrada da ilha, viu Leon chegando. Pouco antes de a porta se fechar, viu que o grupo de soldados por quem tinha passado atacou o agente. Deu para ouvir o som da metralhadora giratória sendo acionada por aquele soldado. Mas foi apenas uma vez. O agente iria conseguir chegar até ela. Ashley sabia que sim.
Eles passaram por um túnel, por outros abrigos de alvenaria, pontes até chegarem em frente a outra porta grande de metal. Assim que a abriram, entraram em uma grande instalação. As paredes eram em metal, parecia ao menos. Tinha fios soltos por todos os lados e em vários pontos havia poças d’água no chão, como se estivesse tendo problemas de infiltração de água ou vazamentos. Não dava para saber ao certo. Muitos armários estavam caídos e o local estava bastante desarrumado. Eles pareciam não se importar muito com isso. Passaram por uma espécie de cozinha. Ashley viu vários pedaços de boi pendurados, como em um açougue, mas o cheiro que emanava deles era horrível. Pudera, estavam em decomposição, todos podres. Ela tampou o nariz, mas o odor de carniça não dava para suportar. A garota não sabia como eles aguentavam. Então, depois de algum tempo sendo transportada no ombro daquele soldado, eles pararam em uma sala.
Havia uma mesa defronte à porta. Não tinha janelas no local e a única luminosidade vinha de uma lâmpada fluorescente no teto. Tinha prateleiras com muitas armas e munição no local e anotações com desenhos do local e orientações sobre onde cada soldado deveria ficar e com que armas estariam todos eles. Atrás da mesa, em uma cadeira giratória, estava o líder do grupo. Sim, Ashley não se esquecia dele. O homem que a sequestrou na saída da faculdade. Jack Krauser. O soldado deixou a garota no chão antes de se dirigir ao militar americano.
- Comandante. O que faremos com ela agora?
Krauser ficou um tempo olhando para Ashley. Então, batendo os dedos sobre a mesa à sua frente, disse:
- Levem-na para a cela.
- Acha que aquele americano vai vir buscá-la?
Neste momento, Krauser estalou os dedos e sorriu.
- É o que eu mais quero.
Ashley não gostou nem um pouco daquilo. Ela, mesmo sabendo que não ia adiantar nada, falou:
- Não importa o que você queira. Leon vai vir me buscar e você vai se arrepender.
Krauser nem sequer deu ouvidos ao que Ashley falava. Só fez um sinal para que o soldado a tirasse dali. Os dois saíram, deixando Osmund Saddler na sala. Ele a levantou sobre o ombro novamente e saíram da sala. De repente, passaram por uma criatura que fez a filha do presidente dos Estados Unidos engolir em seco. Parecia um ser humano. Já deve ter sido algum dia. Mas agora, a única coisa que lembrava uma pessoa era o fato de ele ter membros e cabeça. Seus olhos eram horrorosos. E a boca dele era grotesca, com dentes que pareciam enormes agulhas. Ele fazia um barulho horrível enquanto caminhava. Não dava para saber se era sua respiração ou se ele estava rindo. A coisa passou por eles e se dirigiu a um pequeno laboratório. O soldado seguiu até passar por outros dois homens enormes, com uma placa de metal na cabeça. Eles abriram uma porta de metal, com uma pequena grade na parte superior. Ao entrarem, a filha do presidente dos Estados Unidos viu o que era: uma cela. O soldado jogou-a no chão. Ela caiu no piso duro de concreto e ficou lá sentindo um dor horrível no local que bateu no chão. Ela quase gritou palavrões ao soldado, mas nem teve tempo. Ele já havia saído e fechado a porta. Só deu para ouvir ele dizendo aos outros dois.
- Vigiem-na. Se alguém aparecer atrás dela, avise o comandante. Ou melhor, matem.
- Certo.
Depois que a porta foi fechada, ela ficou só. Fazia muito frio ali. Por uma pequena janela localizada no alto de uma das paredes, que dava para fora, entrava um vento fresco e um pouco de claridade da lua. Ashley sentou-se sobre um caixote de madeira e ficou encolhida, tentando não sentir tanto frio. Estava tremendo, não sabia se era só por causa da baixa sensação térmica ou por causa do nervosismo também. O fato é que não conseguia parar de tremer. No mais ali, tudo ficou em silêncio, a não ser por algum grunhido que os dois soldados que faziam a guarda da porta emitiam de tempos em tempos.
De repente, um dos soldados entrou na cela. Mas era outro, não o que fazia a vigilância. Ele ficou um tempo olhando para a garota e então, falou:
- O comandante quer saber se você está com fome ou sede.
Ora, eles tinham de mantê-la com saúde, se quisessem que Ashley voltasse para casa e desse andamento ao plano de Saddler. Mas ela não iria conseguir comer nada. Ainda mais depois de ver o que eles comiam. Carne podre. Isso não cairia bem. Mas ela sentia muita sede.
- Se puder trazer água, agradeço.
O soldado se retirou. Demorou alguns instantes e vieram dois, mas apenas um entrou. O outro ficou do lado de fora, escondido. Ashley não o viu na hora. Quando o soldado que trouxe a água foi para o fundo da cela, onde ela estava, a garota viu a oportunidade de escapar. Não viu ninguém do lado de fora e saiu correndo. Quando chegou perto da saída, o outro soldado entrou e segurou-a pela blusa. Trouxe-a de volta para a cela e fechou a porta. Em seguida, jogo-a no chão e apontou para ela.
- Não devia fazer isso. Andar por aí será pior.
O outro soldado se aproximou rindo. Então, de repente, eles olharam para o alto e viram que havia uma câmera os filmando. Um dos soldados caminhou até ela e a desligou. Neste momento, Leon estava em uma das salas de comando, vendo esta cena por um dos monitores. Ele acompanhou o momento em que o soldado jogou a garota no chão. Depois disso, os dois se retiraram e deixaram um pequeno jarro com água. Ashley bebeu um pouco. Pelo menos a água que eles consumiam era normal.
Enquanto ficava ali, o tempo parecia não passar. Mil e um pensamentos macabros se passaram pela cabeça de Ashley. Desde que mataram Leon, que o capturaram até que ele teria sido vencido pelo parasita e se tornado um deles. Sem contar que o fato de ela também estar contaminada a perturbava ainda mais. Ficava pensando no que aconteceria se ela acabasse ficando igual a um deles. E se realmente ela fosse para casa como uma marionete de Saddler? Seria melhor nem ir nesse caso. A filha do presidente dos Estados Unidos não queria pensar que ela mesma poderia ser uma ameaça à sua família e ao seu país.
De repente, alguém se aproximou. Ouviu-se tiros do lado de fora. Os soldados que vigiavam a porta saíram e foram mortos. Isso ela pôde ouvir. De repente, ela nem acreditou no que viu. Ela torcia para que ele viesse, mas já não sabia se sempre iria conseguir. Mas sim. Leon chegou até a porta e olhou para dentro da cela. Sim, ele tinha vindo buscá-la mais uma vez. Estava salva. Ashley se levantou e correu até perto da porta. No entanto, o que Leon disse, não só a desanimou, mas foi como se despejassem um balde de água gelada sobre ela. O agente parecia abatido do outro lado.
- Ashley. Não tenho como abrir a porta.
Não podia ser verdade. Leon só podia estar de brincadeira. Como? Ele chegou até ali para dizer que não iria conseguir abrir a porta? Então, ele seguiu explicando.
- Não tenho como tirar você daí. E como ela é fechada eletronicamente, não dá para arrombar. Vou ter de conseguir o cartão.
Ashley não se sentia bem. Mesmo tendo água para beber, a cela era úmida e fria. E ela estava sentada em uma caixa de madeira escorada na parede de metal. Achava que acabaria ficando doente por causa disso. E ficar em pé o tempo todo, seria de matar.
- Por favor, Leon. Não demore. Não estou me sentindo bem. E a qualquer momento, vão mandar mais dessas coisas para me vigiar. Preciso que venha logo.
A expressão que Leon fez depois de ouvir isso não agradou nem um pouco. Mas ele procurou ser otimista em sua resposta.
- Prometo que logo estarei de volta. Pode contar com isso.
Ela ficou olhando pela pequena janela que dava para o interior da instalação, enquanto Leon começava a se distanciar. Não podia ser. Chegara tão perto de ser solta. Mas teria de esperar mais. E ficar na expectativa de que o agente conseguisse trazer o cartão para abrir a porta. Não podia ser. Não queria ficar mais tempo naquela situação. Mas teria de aceitar. Sentiu uma gota quente rolando sobre a face.
- Está bem. Não vai adiantar não concordar, não é?
Leon parou mais uma vez antes de seguir em frente.
- Não. Só tem um jeito de tirar você de dentro desta cela. E eu vou conseguir.
Ashley apenas olhou para o agente, sem dizer palavra. Leon ficou tentando encontrar alguma frase que pudesse amenizar a situação, mas o que ele conseguiu dizer foi:
- Eu prometo que vou conseguir.
No entanto, Ashley não conseguiu sentir firmeza na voz do agente. Sabia que Leon estava prometendo uma coisa que ele não tinha certeza que conseguiria cumprir. Estava fazendo como seu pai fazia com os eleitores. Ela conhecia esses discursos. Mas por outro lado, sabia que se o agente prometeu isso, ele se esforçaria muito mais para conseguir voltar. Para não morrer, pois sabia que outra pessoa dependia de seu sucesso. Iria mais uma vez, esperar. Então, Leon girou os calcanhares e saiu correndo, pela mesma porta por onde havia entrado e sumiu do campo de visão de Ashley Graham.
Por algum tempo, ela ficou olhando por aquela pequena janela com grades para a instalação, mas não viu nada se mover. Ninguém apareceu por ali. Pelo menos, nenhum soldado veio para lhe importunar. Mas parecia que Leon estava demorando um tempo interminável. Ela permaneceu ali, mas o frio e a umidade começaram a fazer com que suas pernas ficassem insensíveis. Ela tocou com a ponta da unha na coxa direita, mas não sentiu nada. Estava sentindo-se estranha, então, resolveu sentar-se sobre um dos caixotes novamente. Escorou os braços nos joelhos e depois colocou a cabeça atrás deles. Ficando encolhida. Queria ver se com isso, sentia menos frio. Depois de um tempo, que ela não soube precisar, ouviu passos. Era Leon. Finalmente. Agora ele certamente iria conseguir abrir a porta e libertá-la. Ele passou o cartão e abriu-a. Ashley, agora até se esquecendo do frio, finalmente pôde comemorar:
- Leon!
Ele veio caminhando até o local onde a filha do presidente dos Estados Unidos estava e parou em frente ao caixote.
- Você está bem?
Ora, bem, ela não estava, isso era evidente. Mas pelo menos agora não estava sozinha e presa em uma cela. Leon espiou o lado de fora, sabendo que sem demora, viriam atrás deles e disse:
- Venha. Vamos sair daqui!
Agora viria a parte mais difícil. Teriam de conseguir encontrar uma amostra do parasita que a infectava e se manter a salvo, sendo caçados como animais dentro de uma instalação militar, pelos soldados do local. E pelas criaturas criadas pela seita. Mas não tinham chegado até ali para desistirem. Teria de dar certo. No entanto, Ashley sabia que agora, seria mais um fardo para Leon do que uma ajuda. Mas o fato de ela não estar sozinha naquele cenário inóspito já era um alento.


Capítulo 36

Leon olhou rapidamente para os lados. Não podia deixar de pensar que logo teria de enfrentar os soldados de Saddler. E agora teria de se preocupar com a segurança de Ashley novamente. Além de tudo, tinha de conseguir, de alguma maneira restabelecer contato com Hunnigan, ou com qualquer um que lhe ajudasse a sair dali. Que enviasse alguma forma de resgate. A última tentativa falhou, ao que tudo indica. Se conseguisse que enviassem reforços, tudo se resolveria mais facilmente. Mas nem cogitava essa ideia. Dentro da cela, depois de algum tempo parado, começou a sentir frio. Uma pequena janela dava para fora. Podia enxergar a noite por uma pequena grade localizada no topo da parede. Não havia muitas nuvens no céu, e entrava a claridade de um holofote localizado do lado de fora da base. De repente, um avião de papel entrou por essa janela, pousando pouco à frente de Leon. Alguém mandou algum recado. Só podia ser uma pessoa. Levando em consideração que Luis Sera está morto e que Osmund Saddler usa o transmissor, só Ada poderia ser quem enviara o recado. O pedaço de papel tinha ainda uma marca de batom no canto.
“Talvez você já tenha pensado em algo parecido, mas há uma maneira de sair daqui, usando a entrada do depósito de lixo”.
Assim que Leon abriu a porta, ouviu o barulho de bastões elétricos. O agente fez um sinal para que Ashley tomar cuidado e não fazer barulho.
- Fique aqui. Não faça barulho.
Leon carregou a arma e deixou a sacola atrás de si. Caminhou cuidadosamente até o fim da parede, pronto para atirar. Primeiro, deu uma espiada no corredor. Havia dois soldados, sendo um arqueiro. Este foi seu primeiro alvo. O do bastão elétrico saiu correndo na direção do agente assim que ouviu o disparo. O arqueiro caiu morto. Leon teve pouco tempo de mirar e atirar, mas acertou a cabeça do outro. Depois de matar os soldados, o agente voltou até onde Ashley estava.
- Está limpo. Vamos rápido.
Pelo caminho, agora, Leon tinha a impressão que teria de tomar cuidado até com os fios desencapados que caíam das paredes. Alguns deles estavam em curto circuito e o agente tinha medo que Ashley pudesse tomar um choque neles. Mas ao que tudo indicava, ela teria como segui-lo sem maiores problemas. Eles dobraram à esquerda e seguiram pela base. Chegaram em frente a uma porta. Leon parou em frente a ela e ficou escutando. Mais uma vez ouviu o barulho daqueles bastões elétricos. E pelo jeito, havia mais de um. O agente pegou a sacola, sacou a metralhadora que pegara na sala do comandante, carregou-a e se preparou para entrar. Pelo jeito a recepção seria calorosa.
Assim que ele e Ashley colocaram os pés dentro da sala, dois soldados vieram correndo. Nem tiveram tempo de olhar para o local. Leon apontou a metralhadora e disparou. Os dois caíram mortos. De dentro da cabeça de um deles, no entanto, saiu uma plaga. Leon apanhou uma granada cegadora e jogou e a coisa se desintegrou. Iria dar mais um passo para sair de trás da parede e ver o que mais tinha na sala. Havia apenas um arqueiro. O agente apontou e atirou. Certamente eles não estavam esperando que o visitante tivesse se apossado de boa parte do arsenal dos donos da casa. À sua frente a porta de saída estava aberta. Era só correr até ali e prosseguir. Só que havia mais um soldado escondido. Ele correu e apertou um botão do outro lado da sala, fechando a porta à frente de Leon e de Ashley.
O agente se virou para ele e deu um tiro na cabeça do soldado, matando-o. Fez um sinal para Ashley o seguir. Leon se aproximou de um painel, onde jazia o corpo do soldado que acabara de matar. Havia dois botões, um vermelho e um verde. O primeiro estava pressionado. Leon antes de abrir a porta, olhou para a filha do presidente dos Estados Unidos.
- Ashley. Eu não sei se é uma armadilha. Mas temos de ter cuidado. Então, fique atenta e se esconda atrás desta mesa. Pode ser que tenhamos companhia.
Ashley olhou para os lados. A sala estava vazia, apenas com uma mesa ao centro. Ela se abaixou. Leon apertou o botão verde e a porta se abriu. Só que assim que a porta se abriu, entraram correndo três soldados e um arqueiro. Este se posicionou no canto da sala, enquanto que os outros três correram na direção do agente. Ele teria de cuidar, pois tinha de atirar nos soldados com o bastão sem descuidar do que estava no canto da sala. E não poderia deixar que ele mirasse em Ashley. Se matasse a filha do presidente, tudo estaria perdido. Apesar de que ela não era importante morta para os planos de Saddler. Leon então, atirou nos soldados que vieram correndo e o mais rápido que conseguiu, atirou no arqueiro. Uma flecha zumbiu a cabeça de Leon e outra quase acertou Ashley. Tiveram sorte. O agente conseguiu atirar e matar o soldado com o arco. Agora era só cuidar dos outros três. Já estavam feridos e não deram trabalho. Depois, no entanto, Leon pensou que por pouco tudo não fora perdido. Se a flecha tivesse acertado qualquer um dos dois, a missão teria acabado.
- Vamos Ashley. Agora temos de correr.
Os dois passaram por dois corredores, um virando à esquerda e um à direita, até chegarem à porta que dava acesso ao depósito de lixo. Estava vazia ainda. Leon caminhou até o local que já tinha olhado antes. Ashley foi junto. O agente ficou olhando um tempo para baixo. Seria um salto grande, mas não teria jeito. Era o único meio mais seguro de sair dali. Ele olhou para a filha do presidente dos Estados Unidos e olhou para o buraco novamente. Ela encarou Leon com uma expressão de que estava pensando no que teria de fazer, mas não estava gostando nem um pouco. Leon perguntou:
- O que isso lhe parece?
Ela fez uma expressão de nojo e tampou o nariz.
- Isso fede.
Com o olhar ainda voltado para baixo, Leon apenas comentou.
- Com certeza. É o depósito de lixo.
Depois de comentar isso, ele ergueu os olhos para a garota e olhou novamente para baixo. Ela olhou para Leon com uma expressão assustada. Ao ver um sorriso no canto da boca do agente, Ashley deu um passo para trás.
- Nem pensar. Eu não vou pular aí. Esquece.
- Não tem outro jeito. É o único meio de sair daqui.
Sem dar tempo para ela discordar, Leon pegou Ashley pelo braço. Teria de saltar rápido. Antes de ele mesmo se arrepender. Tinha de agir no impulso, pois parecia loucura simplesmente pular no meio do lixo. Mas era a única maneira de sair. Então, Leon deu dois passos e se jogou, puxando a filha do presidente dos Estados Unidos junto. Depois de incontáveis segundos caindo, bateram em uma espécie de malha de metal, com lixo acumulado. Leon não chegou a se machucar. Olhou ao redor. Tinha de se certificar de que a garota também não sofrera nenhum ferimento na queda. Ela parecia bem. Apenas estava com uma expressão de poucos amigos.
- Você enlouqueceu Leon?
- Se consegue ficar brava, é porque está bem.
- Engraçado.
Quando Ashley se mexeu, tentando levantar, sentiu uma pontada de dor na perna. Leon se aproximou dela e estendeu a mão na direção da garota. Então, o que ele viu não lhe agradou. Ela caíra sobre um Regenerator e o que a machucava era exatamente um espinho que saía do corpo da criatura. Assim que ele conseguiu ajudar Ashley a se levantar, eles passaram por uma porta. Então, o Regenerator levantou e veio no encalço dos dois. Leon viu uma alavanca e a acionou, fechando a porta de grade atrás deles. Por enquanto, a criatura não teria como passar. Havia um contêiner fechado do lado. Leon apontou para ele.
- Ashley, se esconda ali.
Ela nem questionou. Sabia que no momento era o melhor a fazer, apesar de pensar que depois que saíssem dali, se é que conseguiriam sair dali, não iria mais querer chegar nem perto de uma lata de lixo. A criatura ficou presa na grade e Leon apanhou o rifle com a mira térmica e atirou nas sanguessugas. Depois de matar o Regenerator, o agente chamou a garota novamente. Do outro lado, uma enorme caixa de ferro bloqueava a passagem para outra parte do depósito. Derrubaram-na sobre um córrego de água e a caixa serviu de ligação entre as duas partes do recinto.
Do outro lado, o cenário era o mesmo. Muito lixo empilhado por todos os lados. Leon mandou Ashley se esconder em outro latão para verificar o perímetro. E havia mais um Regenerator no local. Este chegou perigosamente perto. Leon apanhou o rifle e atirou nas sanguessugas. Não tinha mais o privilégio de poder errar um único tiro. Conseguiu. Se falhasse, poderia colocar tudo a perder. Chamou a filha do presidente para seguir o caminho. Depois de liberar a porta de saída, retirando mais uma enorme caixa de ferro da frente, entraram em mais um corredor. Havia três soldados ali, sendo um grandão, com uma placa de metal na cabeça. Agora, de armamento novo, Leon não teve maiores dificuldades em se livrar deles. Eles seguiram até chegar ao fim do corredor. Eles saltaram, mas foram surpreendidos por uma verdadeira multidão de soldados. Ashley aponto para o lado.
- Veja, tem uma saída.
Sim, Leon viu, mas teria de conseguir chegar até ela. Pelo visto, a munição que pegou na sala do comandante seria muito bem utilizada. Se não a tivesse pego, seria o fim. A primeira coisa que fez, foi atirar uma granada no meio de um grupo de soldados. Bem no meio do local, havia um buraco, sob o qual corria metal fundido. Muitos caíram ali com a explosão. Outros vários morreram. Para chegar à porta, teriam de destruir uma parte da parede. Para isso, correram até um mecanismo em uma plataforma do outro lado do recinto. Havia uma bola gigantesca de aço presa a uma corrente, pendente do teto. Deveria ser acionada pelo mecanismo.
- Ashley! Vá até o outro lado. Está vendo aquele mecanismo? Deve movimentar aquela bola de aço. Ela deve destruir aquela parede ali. Se conseguirmos, poderemos sair.
Enquanto a garota movimentava a alavanca e a bola de aço batia na parede, uma quantidade interminável de soldados surgia por todos os lados. Vinham do caminho por aonde vieram, saltavam de um buraco no teto e de um piso elevado que contornava o local. E Leon tinha de evitar que eles chegassem até onde estava a garota. Teve de recarregar mais de uma vez a metralhadora e parecia que não parava de vir soldados. De repente, o som que tanto Leon queria ouvir. A parede ruiu. O agente olhou para o lado de aonde o estrondo veio. Havia uma porta. Leon gritou.
- Ashley. Agora, corra para cá que eu dou cobertura.
Ela veio correndo, embora tentassem chegar até ela, não conseguiram. Tinham de ser rápidos. Leon deixou a garota passar na frente enquanto ouvia os soldados se aproximando. Ele nem pensou em enfrentá-los. Eram em muitos, então, o jeito seria correr. Os passos pareciam estar mais próximos. Ouvia-se os grunhidos dos militares correndo atrás dos dois. Enfim, chegaram à porta e passaram por ela. Do outro lado, Leon conseguiu trancá-la. Os soldados não iriam conseguir segui-los.
Só que assim que se viraram para um corredor que se abria à frente dos dois ouviram o barulho de um Regenerator. Por enquanto, só podiam ouvi-lo, ainda não era possível enxergá-lo. O som foi aumentando, indicando que a criatura estava se aproximando. Leon e Ashley ficaram paralisadas, esperando pela criatura. O agente sabia que assim que o visse, teria pouco tempo de reação, pois tinha de ser preciso nos tiros. Era necessário matar todas aquelas sanguessugas para que ele não se regenerasse. E agora, com Ashley junto, não podia se dar ao luxo de errar. O agente pegou o rifle e ficou apenas esperando. O coração acelerou os batimentos. Os olhos arregalaram. A saliva desceu grossa. A respiração mudou. Todos os sentidos se aguçaram. Era a adrenalina. A expectativa do combate. Então, a criatura apareceu. Leon nem esperou ele se aproximar. Atirou na primeira sanguessuga. Era a mais difícil de acertar. Depois, o Regenerator recuou sob o impacto do ferimento. As demais foram destruídas. A criatura explodiu. Caminho livre. Seguiram pelo corredor. Era estreito, com tubulações na parte de cima, próximo ao teto, com lâmpadas fluorescentes a dar a única luminosidade do local. O ar era sufocante ali dentro. Tanto ele como Ashley não viam a hora de sair dali. Para isso, teriam de seguir.
Chegaram diante de uma porta. Havia uma alavanca para abri-la. Leon tentou acionar ela, mas não conseguiu. A energia elétrica do local havia sido cortada. Teria de voltar a uma das salas que ficavam no caminho para religá-la. Leon e Ashley deram meia volta e se dirigiram à primeira entrada à sua direita. Entraram em uma sala com vários armários de metal escorados nas paredes. Uma mesa estava colocada ao centro da sala, com várias cadeiras de abrir dos lados e nas pontas. Uma folha de papel estava no lado oposto à entrada. Em um dos lados da sala, havia um quadro com instruções militares. No fundo da sala, um interruptor com dois botões, um verde e um vermelho. O agente se dirigiu até lá e o pressionou, religando a energia. Agora, poderiam abrir a porta.
Ao chegarem ao local, a porta ficou trancada. Ficou muito baixa. Leon olhou para Ashley e falou: - Você passa ao outro lado e vê o que está acontecendo. Certo?
Ela pensou um pouco. Temia que pudesse haver outro Regenerator, mas pensou que se houvesse qualquer coisa lá, era só passar de volta.
- Está certo.
Assim que ela passou, Leon ouviu ela apertar um botão e a porta subiu. O agente passou para o outro lado. O corredor terminava logo depois. Dobrava para a esquerda. Havia vários tubos nas paredes, tanto em cima, como em baixo. Pareciam levar gás encanado. Dobrando à esquerda, teria pela frente uma grande porta.
Só que de cada lado, havia uma alavanca que acionava alguma espécie de mecanismo. Leon acionou o primeiro e foi até o segundo. Quando puxou a segunda alavanca, a primeira voltou à posição inicial. Nada aconteceu. O agente ficou um tempo olhando para as duas. Sim, precisaria puxar as duas ao mesmo tempo.
- Ashley. Acho que sei como abrir essa porta. Vou precisar que você puxe a alavanca ao mesmo tempo em que eu. Precisamos agir de modo sincronizado. Assim, acredito que a porta se abrirá.
Ela assentiu com a cabeça e se dirigiu à outra alavanca.
- Certo, Leon.
Os dois se prepararam e Leon olhou para ela e disse:
- Quando eu disser três, puxe.
Ashley fez um sinal positivo com a mão.
- Entendido.
Ela estava começando a falar como ele. Quase riu. Ashley Graham estava se tornando uma oficial. Não dava para imaginar uma coisa dessas. Então, os dois sincronizaram o movimento. Depois de se entreolharem, Leon falou:
- Um… dois… três.
Neste exato momento, os dois baixaram a alavanca. Na porta havia duas luzes. Antes, a luz estava vermelha. No momento exato em que eles movimentaram a alavanca, produziu-se um som e a luz se alterou para verde. A porta estava destrancada. Era só abrir e ver o que havia do outro lado. Quando passaram pela porta, entraram em um local com muitas caixas de madeira e latas atiradas. Não tinha ninguém ali e os únicos sons que ouviam era seus passos. Não tinha nenhuma abertura, de modo que não havia ventilação, tornando o ar sufocante. A única fonte de claridade eram as lâmpadas no teto. Em frente à porta, havia uma empilhadeira e um caminho que ia para frente. Não havia dúvidas que para sair dali, teriam de dirigi-la por aquela estrada. Certamente estariam sendo esperados. Leon olhou para Ashley antes de falar.
- Vamos ter que pegar este veículo para sair daqui. Eu poderia dirigi-lo, mas acho que não é a melhor opção. Você acha que consegue?
Ashley olhou para a empilhadeira.
- Bem, não deve ser muito mais difícil que um carro.
- Não sei.
- Mas por que você acha melhor eu dirigir?
- Por um motivo simples. Você pode ter alguma dificuldade para guiar essa coisa. Mas acho que tem muito mais dificuldade em manejar uma arma. Essa empilhadeira não deve ser nenhum carro de corrida. Deve ter um ritmo bem lento, mesmo assim, será mais rápida do que nós a pé. Só que não deve ser difícil nos alcançar. Ainda mais se houver entradas no meio do caminho, dentro deste túnel. Nesse caso, se soldados começarem a saltar na empilhadeira e eu estiver dirigindo, você não conseguirá fazer muita coisa para nos defender. Já eu posso enfrentá-los melhor. Assim eu garanto sua segurança e você dirige. Entendeu?
- Sim, faz sentido. Mas será que haverá mais deles no caminho?
- Pode contar com isso. Eu estou preparado.
Ao dizer isso, Leon apanhou a escopeta da sacola e a carregou.
- Quantas armas. De onde você tirou?
- Eu peguei… emprestado do comandante deles.
- Sabe quem é?
- Não faço ideia. Mas se o encontrar, eu peço desculpas. Depois de matá-lo.
Ela deu um sorriso.
- Mas vamos em frente. Não podemos ficar aqui esperando.
Ashley subiu no banco do motorista e deu a partida no motor. Leon ficou na parte da carga, com a arma pronta para entrar em ação, atento a qualquer movimento que visse. O barulho do motor era alto, o que dificultaria para ouvir barulho dos soldados se aproximando. Isso seria ruim. Mas teria de ficar atento de qualquer maneira. A iluminação vinha das lâmpadas no teto, então qualquer sombra suspeita deveria receber atenção. Lentamente, a empilhadeira começou a se locomover para frente.
Quando passaram por uma entrada lateral, um grupo de militares saiu correndo atrás da empilhadeira. Como ela é muito lenta, eles alcançaram sem maiores dificuldades. Além do mais, as plagas pareciam dar mais velocidade e força aos seus hospedeiros. Sem demora, estavam sobre a carroceria, em frente ao agente. Só que eles não contavam que Leon estava com uma arma nova. Com a escopeta, o americano deu apenas um tiro e conseguiu acertar vários. Eles caíram no chão, poucos ficaram sobre a carroceria. Os demais acabaram ficando pelo caminho. Os que resistiram, foram atingidos logo depois. Só que quando parecia que o desafio seria apenas este, um caminhão militar veio em disparada pelo túnel. E era muito mais rápido que a empilhadeira. Leon teve de atirar nos pneus do veículo, que tombou. Na queda, matou mais alguns soldados que saíam correndo atrás dos dois americanos. Então, a empilhadeira parou. Havia uma parede. Na verdade, a continuação da estrada estava em um nível superior, e era preciso fazer o local onde eles estavam subir. Era uma espécie de plataforma. Para isso, Leon teria de ir até o piso superior e acionar o botão que liga a energia elétrica. Os dois olharam para cima e Ashley foi quem falou:
- Veja, tem que ligar aquele botão.
- Sim. Vai ter que tomar cuidado enquanto eu estiver lá em cima.
Só que assim que o agente subiu, ouviu o barulho de algo caindo sobre a carroceria da empilhadeira. Quando olhou, viu dois soldados. Ashley entrou em desespero. Leon apanhou a arma e atirou nos dois. Só que quase foi atingido por outro soldado. Leon se esquivou de um ataque com bastão elétrico e quase se desequilibrou. Se caísse, sofreria um ferimento bem grave. Conseguiu atirar no militar que o cercava. Neste momento, mais um soldado pulou na empilhadeira. Tinha mais alguns se dirigindo para onde o agente estava. Teria de ser rápido. E a arma que carregava não era das mais leves. Apontou a escopeta primeiro para os que se dirigiam ao local onde estava, matando-os e depois para o que quase alcançava a garota. Seria mais difícil do que supôs. Mas teria de conseguir.
A situação lembrou um pouco a do castelo, mas agora era ele quem tinha de acionar o mecanismo. Leon passou a correr para chegar logo ao interruptor. Mas assim que deu uns dois passos, ouviu Ashley gritar. Quando olhou, viu mais dois soldados se encaminhando para onde ela estava. Olhou para frente e não viu ninguém. Parou e atirou neles. Quando se virou, deu tempo de ouvir os passos de mais três soldados se aproximando dele. Atirou rápido. Conseguiu avançar mais um pouco. Olhou para baixo e tudo estava em ordem. Andou mais um pouco, até chegar à parte que ficava na extremidade. Ali, dobrava para a esquerda e teria acesso ao interruptor. Só que assim que se viu perto, um arqueiro, do outro lado do túnel atirou uma flecha em Leon. Ele conseguiu se esquivar. Mas teria de lidar com aquela ameaça. E enquanto isso, outro soldado saltou na empilhadeira. Leon atirou e matou o arqueiro. Quando se virou para Ashley, o soldado estava passando da carroceria para os bancos. Teria de atirar agora. E teria de acertar. Se errasse, por menos que fosse, poderia acertar a garota e nesse caso, a missão falharia. Respirou fundo e puxou o gatilho. A bala saiu e acertou em cheio o soldado. Acionou o mecanismo. Agora era correr e voltar para o veículo. Leon saltou no chão e voltou à empilhadeira. A plataforma subiu e nivelou com o resto da estrada. Agora era só seguir.
Assim que eles recomeçaram o caminho, saíram do túnel e seguiram a estrada. Uma ponte cheia de soldados estava à frente. Eles saltaram sobre a carroceria. Leon mal teve tempo de se esquivar do ataque de todos. Com um tiro, atirou uns três para fora e uns dois foram mortos. Mas a empilhadeira empacou. Ashley acionou a pá que fica na frente do veículo para derrubar uma porta de ferro que impedia o avanço. Assim que conseguiu, foram em frente. A buzina de um caminhão, no entanto, deixou o agente em alerta. Ele olhou para trás e não viu nada. Quando a garota gritou, o agente olhou para frente. E viu um caminhão vindo descontrolado. Deu tempo de atirar nos pneus dele, que tombou. Mas mesmo assim o veículo onde os dois estavam foi atingido. A empilhadeira abriu um buraco em uma parede lateral e parou. Não daria para seguir. Teriam de ir a pé.
- É, Ashley. Vamos ter de seguir a pé. Duvido que essa máquina volte a funcionar.
- Está certo.
Eles chegaram a uma sala grande. Com muitas escrivaninhas, mesas e estantes dos lados. Havia alguns quadros nas paredes. Do lado esquerdo, uma grande porta de metal. Leon e Ashley aproveitaram para respirar um pouco. Ela sentou-se em uma cadeira que estava em frente a uma mesinha.
- Não aguento mais. Estou pregada.
Leon tinha de concordar com ela. Mas não tinham tempo a perder.
- Você tem razão, Ashley. Mas não podemos nos dar ao luxo de ficar descansando. Temos de ir.
Ela fez uma expressão de protesto, mas sabia que o agente tinha razão. O que ele não sabia é que logo tudo o que fez iria por água a baixo e seus esforços pareceriam ter sido em vão. Ele fez um sinal.
- Vamos. Prometo que logo iremos descansar. Em casa.
Ela fez uma cara de poucos amigos e se levantou. Os dois se dirigiram até a porta. Assim que passaram por ela, entraram em uma sala com uma grande escada no meio. Várias tochas iluminavam o lugar. No alto da escada, um altar. E na frente do altar, estava ele, Osmund Saddler. Mesmo de costas, ele falou com os dois.
- Eu posso senti-los.
Ele estava com sua túnica roxa, mas agora, o capuz estava recolhido. Dava para ver os cabelos brancos de Saddler. O que ele é? Será que algum dia já foi humano? Leon achava que não. Nas costas da túnica, reluzia, sob a iluminação das tochas a insígnia dos Illuminados. Saddler se virou para os visitantes.
- Crescendo e se tornando mais fortes dentro de vocês.
Leon saiu correndo em direção ao líder da seita.
- Saddler!
Mas de repente parou. Não conseguia mais se mover. Seus músculos todos ficaram paralisados. E Leon sentiu uma dor que nunca havia sentido na vida. Era como se algo estivesse vivo dentro dele, se debatendo. Osmund Saddler olhou para o agente, com um sorriso no rosto.
- Pelo que vejo, você ainda consegue resistir. Mas não pode desobedecer.
Ainda com aquele sorriso no rosto, Saddler olhou para a garota.
- Agora, venha comigo, Ashley.
Enquanto Leon permanecia paralisado, imóvel, sem conseguir mover um músculo e sentindo dores por todo o corpo, Ashley deixou sua cabeça cair. Era como se tivesse desacordado. De repente, ela levantou o rosto e encarou Saddler. E então, saiu caminhando lentamente na direção do líder dos Illuminados. Estava obedecendo às ordens do mestre. Leon viu os olhos da filha do presidente dos Estados Unidos ficarem vermelhos, como os dos ganados. Ela estava se tornando um deles. Ela passou lentamente pelo agente, que não conseguiu fazer nada para evitar. Apenas jogou um chip que se grudou na roupa da garota. Ele poderia localizá-la. E teria de conseguir dar um jeito de resgatá-la e levar ela de volta aos Estados Unidos e fazer a cura. Se não, Ashley logo seria mais um dos integrantes do grupo de Saddler. Se é que ainda haveria salvação. Assim que ela chegou em frente ao altar, estendeu a mão para Osmund Saddler, que a levou pela porta que estava à direita deles. Depois disso, sumiram da vista de Leon, que levantou-se, agora sendo libertado do poder de Osmund Saddler.
- Então, começou.
Era o que ele temia. Ashley já obedecia às ordens de Osmund Saddler. Logo ele iria pelo mesmo caminho. Se isso ocorresse, ninguém mais iria se opor aos planos dos Illuminados. E quando voltassem aos Estados Unidos, seriam duas marionetes deste maníaco. Teria de dar um jeito de mudar isso. Não podia ser. Leon não queria acreditar que esse era o destino dele e de Ashley. Não tinha chegado tão longe para fracassar. Não agora.


Capítulo 37

Iriam receber visitas. E em poucas horas. Krauser sabia disso. Então, passou a arrumar a ilha. Deu ordens para aprontarem barricadas, trincheiras, armadilhas. Tudo teria de estar pronto para quando Leon chegasse. E ele iria chegar. Sabia também que Ada viria à ilha. Por isso, mostrou a foto dela para todos os soldados e deu ordens para que não a atacassem. Ele precisava falar com a espiã. Até segunda ordem, eles deviam deixá-la andar livremente pela ilha. Se depois ele decidisse que ela podia ser morta, ou devesse ser eliminada, daria ordens para que a matassem. Mas por enquanto, não.
Suas suspeitas foram ficando cada vez mais evidentes quando Osmund Saddler confirmou que faria o ritual na ilha e não mais no castelo. Apesar de lá ter a estrutura ideal, com os monges e tudo mais, o líder dos Illuminados decidiu trazê-la à ilha, pois era evidente que não sentia segurança na propriedade de Ramon Salazar. O castelão não estava conseguindo se livrar de Leon. Tudo o que teria de fazer, seria atrasar o agente americano. Mas Krauser sabia que nem isso aquele baixinho conseguiria.
Além das armadilhas e dos últimos treinamentos passados aos soldados, Krauser ainda contava com algo mais para deter Leon. Os monstros que se regeneram, os Regenerators e aquela coisa chamada U3. Uma criatura híbrida que tinha alguns traços humanos, um corpo que lembrava um escorpião e que conseguia se enterrar no solo como uma toupeira. Mas será que conseguiriam matar o agente? Krauser estava inclinado a pensar que elas iriam no máximo, atrasá-lo. Ou estaria superestimando as habilidades de seu ex-parceiro? Achava que não. Além do mais, precaução nunca era muita. Seu telefone tocou. Era Albert Wesker.
- Krauser.
- Na escuta.
- Parece que estamos tendo problemas. Temos um sobrevivente de Raccoon City se dirigindo à ilha. Ele se chama Leon. Você o conhece e sabe do potencial do agora agente do governo.
- Sim. Conheço. Ao que me consta, Ada também sobreviveu à tragédia. Qual a relação dela com Leon?
- Esse é um ponto que eu queria destacar. Quando ela estava no castelo, dei uma ordem explícita. Matar Leon. Mas parece que ela se recusa a cumprir a ordem.
- Entendo.
- Ela está divagando quando a questiono se já teve a oportunidade de eliminar o agente. Sinto que ela teve sim, mas não quis fazê-lo. Você teria de enfrentar algum dilema pessoal em se livrar de Leon?
Krauser riu no telefone.
- Claro que não. Aliás, isso me daria grande satisfação. Pode deixar que eu faço isso.
- Muito bem. Então, vou passar novas ordens a Ada. A partir de agora, ela fica responsável por apanhar a amostra de Saddler. E você se encarrega de eliminar Leon.
- Posso conseguir a amostra também.
- Se fizer ambas as coisas, melhor. Caso não consiga, dê prioridade para matar o agente.
- Entendido.
O presidente da Umbrela desligou o telefone. Agora Wesker passou para Jack Krauser a missão de matar Leon. Saddler também queria isso. Perfeito. Será que depois de cumprir essa missão, teria a confiança do líder da seita? E como estava seu conceito com Wesker? Parece que Ada não estava cumprindo a contento as ordens. Poderia mostrar que era melhor que a espiã. Que poderia se tornar o braço direito de Albert Wesker na Umbrela. Ou quando ele saísse da empresa e criasse a sua própria. Ou ainda, ele mesmo assumir a chefia da empresa, desafiando Wesker algum dia. Mas para isso, teria de ter certeza que poderia se erguer contra o presidente da Umbrela. Apesar de ter certeza de que já estava muito mais forte do que quando saiu dos Estados Unidos.
Assim que foi informado que uma lancha parou na encosta da ilha e que um homem e uma mulher foram vistos, Jack Krauser já sabia de quem se tratava. Leon e Ada. Vieram juntos. Então, ordenou que seus soldados fizessem uma busca na ilha atrás da mulher do vestido cor de vinho e a trouxessem à sua sala. Depois de dar a ordem, se dirigiu ao local onde seria a reunião. Iria ver se conseguia extrair alguma informação importante dela. Ou se poderia colocá-la no mesmo patamar de Leon. No de inimigo. Nesse caso, teria de matá-la também. E iria fazer isso sem pensar duas vezes. Não demorou muito e um soldado apareceu com a espiã.
A sala do comandante do grupo não era grande. Era ali, no entanto que ele montava as estratégias. Que, com o mapa da ilha, posicionava as forças defensivas e que guardava seu arsenal. Arsenal que fora drasticamente diminuído, quando Leon passou por ali. Mas ele tinha reservas. Não iria sentir muita falta daquelas armas. Todavia, sabia que com isso, seu inimigo ficava mais forte. Muito mais forte. Com pouca munição, o agente americano seria uma presa fácil. Agora, teria de enfrentá-lo de igual para igual. Não que isso incomodasse Jack Krauser. Na verdade, o deixava mais excitado. Com mais vontade de partir logo para o combate. Se dependesse dele, tinha ido à frente, mas Saddler não queria assim. No entanto, ele sabia que mais cedo ou mais tarde, acabaria lutando contra o ex-companheiro de missão. E mal podia esperar por isso.
Krauser jogava sua faca no ar, enquanto uma mulher com um longo vestido cor de vinho, cabelos curtos pretos e olhos da mesma cor o fitava. Uma lâmpada fluorescente sobre eles dava uma iluminação esbranquiçada à sala. Krauser estava desconfiado da lealdade de Ada Wong, por isso a estava interrogando. - Quais as novidades do nosso amigo Leon?
Ela estava de braços cruzados, olhando para o chão. Ergueu a cabeça e olhou para o militar.
- Ele não está facilitando. E a amostra?
Krauser olhava-a com a faca na mão, como que testando o fio da arma.
- Saddler está com ela. E parece que ele está percebendo nosso jogo.
Ada se virou de costas para o militar.
- Perfeito!
Jack pegou no cabo da faca e olhou para Ada. Sua vontade era matá-la ali mesmo. Sabia que no fim ela trairia a empresa para o qual trabalhava. Mas não podia desobedecer Wesker. Pelo menos enquanto ela não desse um motivo para isso. Mas sabia que mais cedo ou mais tarde, Ada daria esse motivo.
- Só mais uma coisa. Para nos entendermos. Eu não confio em você. E nem em Wesker. E se tentar dar uma de esperta, a mato.
Sem se dar ao trabalho de virar para o interlocutor, Ada perguntou com certo tom de ironia.
- Verdade? Sabe, conheço Wesker há muito mais tempo do que você.
- Veremos em breve se isso é verdade.
- Sim, veremos.
Ao dizer isso, Ada abriu a porta e saiu da sala onde Krauser estava. O comandante do exército de Saddler ficou apenas olhando para a porta com cara de poucos amigos. Sabia que Ada não era de confiança. Mas será que ela iria ajudar Leon? Não duvidava. Iria ela querer ficar com a amostra para si? Também achava provável. Mas agora ele teria outra missão. Tinha outros planos para o momento. Então, teria de se apressar. Seu amigo deveria estar chegando ao lugar de seu encontro. Logo estaria frente a frente com Leon Scott Kennedy. E se tudo saísse conforme o planejado, teria um incômodo a menos. Iria partir aquele bajulador dos poderosos em dois e mandar seu corpo embalado para presente ao presidente dos Estados Unidos. Mas antes de sair, se dirigiu a um dos soldados.
- Se lembra daquela ordem de não matarem a mulher do vestido cor de vinho?
O militar olhou para Krauser e assentiu com a cabeça, enquanto respondeu.
- Sim.
Krauser riu.
- Esqueça a ordem. Podem eliminá-la.
O soldado deu um sorriso com o canto da boca.
- Entendido.
Jack Krauser se encaminhou ao local onde seria a luta. Pelos relatos que tinha, Leon estaria chegando à sala em que ficava a plataforma onde seria o confronto. Seus soldados conseguiriam atrasá-lo um pouco, mas não o matariam, disso o militar tinha certeza. Ao chegar, ficou apenas observando o lado de fora e aguardando Leon aparecer. Será que iria demorar? Achava que não. E como Ada estaria se virando agora, que os soldados passariam a atacá-la? Conseguiria dar conta? Krauser também estava inclinado a pensar que ela acabaria sobrevivendo. Apesar de não poder afirmar isso com segurança.
Enquanto esperava, no entanto, ficou pensando no que faria depois de eliminar Leon. Tentaria ser o homem de confiança de Osmund Saddler. A essa hora, tanto Bitores Mendez quanto Ramon Salazar estavam mortos e o líder dos Illuminados não tinha mais ninguém em quem confiar. Perdera seus dois grandes aliados. Sendo assim, precisaria de um braço direito. De alguém que pudesse ajudá-lo a por seus planos em prática. E quem melhor do que Jack Krauser para isso? Seria natural. E era isso o que a Umbrela esperava dele.
Só que quando Osmund Saddler menos esperasse, Krauser iria dar duas escolhas. Ou ele, Saddler passaria a obedecer as ordens do militar ou seria morto. Krauser tinha certeza que poderia desafiar o líder dos Illuminados e sair vitorioso. Suas habilidades e força nunca estiveram tão bem. Era uma questão de tempo. Então, ele se tornaria o líder na prática do movimento que podia controlar as mentes das pessoas do mundo inteiro. Saddler não sabia que Krauser possuía a plaga controladora. E para levar seu plano a diante, poderia ainda contar com aliados mais capazes do que Saddler. Enquanto ele possuía os soldados da ilha e os comandava com a disciplina de um líder militar, Osmund Saddler tinha sob seu comando quem? Um grupo de monges fanáticos? O que eles poderiam fazer contra seus soldados treinados e disciplinados? Rezar? É, teriam de fazer isso. E muito.
Por outro lado, o que faria com respeito a Wesker? O presidente da Umbrela não tinha inteira confiança nele. E o fato de ter dados missões semelhantes para ele e Ada era a prova disso. Ela não viera o ajudar. Viera cumprir sua missão caso ele falhasse. Ou caso decidisse trair a corporação. Se Wesker cogitava essa hipótese, era por não confiar em Krauser. Isso o incomodava. Mais cedo ou mais tarde, acabaria entrando em rota de colisão com o presidente da Umbrela. Isso era evidente. Então, nem se esforçaria para evitar o confronto. Pelo contrário. Assim que voltasse, deixaria claro que iria querer mais poder e prestígio dentro da organização. Se não fosse por bem, seria por mal.
De repente, ele apareceu. Leon saiu de dentro do outro prédio, que ficava em frente à instalação onde esperava pelo agente. Sim, ele seria um adversário formidável. Conseguiu passar por todos os seus soldados, pelos monstros regeneradores e por todas as armadilhas colocadas no caminho. Mas Krauser o desafiaria para uma luta de facas. Leon não iria usar armas de fogo se ele não usasse. O agente era politicamente correto demais para tal atitude. Se Jack Krauser fosse apenas armado com sua adaga, Leon usaria uma arma semelhante. E então, provaria que era o melhor nesse tipo de combate. E derrotaria o agente do governo americano.
Leon se dirigiu até o elevador. Krauser ficou apenas observando. O agente foi até a plataforma e se dirigiu à porta de entrada da instalação. O militar se escondeu nas sombras e observou a porta. E ela se abriu. Leon Scott Kennedy passou por ela e veio caminhando cuidadosamente, com a pistola em punho, olhando para os lados. O agente não estava vendo ninguém, mas conseguia sentir que era observado. Krauser então riu consigo mesmo. Ele tem instintos de um militar. Então, o soldado se pendurou em uma das vigas de metal que cruzava a instalação e se projetou sobre o agente. O espetáculo iria começar.


Capítulo 38

A sala era grande, com escadas bem ao centro. À frente, o altar. À esquerda da escada, a porta por onde Saddler e Ashley saíram. Sobre o altar, um pedaço de papel. Parecia um dos textos deixados por Luis Sera. Mas não era. O autor daquele texto era o próprio líder dos Illuminados, Osmund Saddler.

“Por causa daquele agente, perdemos o Chefe Mendez e Ramon. Mas apesar disso, tudo procederá de acordo com o plano. Devo admitir, no entanto, que a perda de meus homens fiéis é um pouco entristecedor. Mas eu lidarei com isso. Reparar a perda não será fácil. Eu devo escolher com sabedoria, já que a Plaga reflete a consciência de seu hospedeiro. Se eu escolher sem pensar, eles podem me trair. Eu preciso de homens que jurem obediência a mim. Eu aprendi a lição quando Sera me traiu. Não cometerei o mesmo erro novamente. Nesta hora importante, eu não posso e não terei ninguém no meio do meu caminho.”

Sim, Saddler não perdoava Luis Sera. Matou-o por dois motivos. Primeiro, para recuperar a amostra. Mas principalmente, pelo fato de o cientista tê-lo enganado, traído. O líder dos Illuminados não admitia que fora passado para trás. E por isso matou o cientista. Foi uma questão de honra. Osmund Saddler se acha tão esperto. Nunca poderia aceitar que fora feito de bobo por um ser inferior. Então, matou três coelhos com uma cajadada. Livrou-se do traidor, recuperou a amostra e se vingou. Mas quem agora seria o braço direito desse lunático? A quem ele iria delegar as funções que antes foram de Mendes e de Salazar? A princípio, havia apenas os ganados, mas estes possuem reduzido poder de raciocínio, ou praticamente nenhum. Se é que de fato pensam. Ao ver de Leon, eram apenas marionetes. Por outro lado, havia o líder dos soldados. Este parecia ser um homem metódico. Se é que não fosse o próprios Saddler. Quem poderia ser? Algum militar de fato estava sob comando dele? Teria de descobrir. E iria, logo.
Após passar pela porta, Leon se viu a cima de uma plataforma de metal. Uma escada conduzia a um patamar mais a baixo. Ali, havia outra escada mais à frente, dobrando à esquerda. Só que era possível ouvir o barulho dos bastões elétricos. Em algum lugar ali havia um daqueles soldados. O agente começou a olhar em redor. Não viu ninguém, apenas ouvia o som vindo da arma. Ficou parado e atento. O inimigo poderia surgir de qualquer lugar. Não podia ser apanhado desprevenido. Deu um passo e de repente, ouviu alguém subindo as escadas, vindo de baixo. Era ele. O agente conseguiu dar um passo para trás para não ser surpreendido e atirou na cabeça do soldado, que caiu. Surgiu uma plaga da cabeça do militar. Ele levantou e veio caminhando de modo autômato. Leon atirou exatamente na coisa que saiu da cabeça do soldado e a matou. Depois disso, ele desabou.
Desceu as escadas e chegou até uma porta à esquerda. À direita, havia uma cerca de arame farpado e uma máquina do lado de dentro. Não era possível dizer qual a função, mas o motor dela funcionava sem pausa. Assim que entrou, deu de cara com dois arqueiros e mais um daqueles soldados com o bastão elétrico. O agente apanhou uma granada e jogou-a. Matou os três. Foi então que viu o motivo do calor ali ser tão forte. Ali dentro havia fornos. Estavam abertos e algo que parecia metal derretido aparecia do lado de dentro. Saía fumaça pelas aberturas deles. Leon suava e sentia suas roupas grudarem em seu corpo. Seu cabelo parecia colado em sua testa e coçava. A respiração ficara difícil. Olhou para frente e chegou a ficar com a visão turva, devido à altíssima temperatura. Mas precisava avançar.
Saindo da sala, sentiu frio. A temperatura ali não estava baixa. Mas qualquer coisa fora daquela sala seria frio. Mas era aliviante conseguir respirar novamente. Leon estava agora em um corredor. Correu e dobrou à esquerda. Ao abrir a porta, saiu da instalação. O agente parou um pouco. Era muito bom poder respirar ar puro, ficar ao ar livre. Ficou alguns segundos apenas inspirando e expirando. Depois de respirar fundo, tomou fôlego para prosseguir. Chegou a um elevador e acionou o comando para subir. Saindo dele, entrou em outra parte da instalação.
Agora estava em um local muito grande. Caminhava sobre uma plataforma de metal. Havia um guarda-corpo ao redor da plataforma em forma de ponte, que ligava as duas extremidades do local. Sobre a cabeça de Leon, muitas grades, canos, tubos e exaustores no teto. Dos lados das paredes, coisas parecidas com turbinas funcionavam e faziam um grande barulho. Não havia ninguém ali, aparentemente, mas os instintos de Leon diziam que ele estava sendo vigiado e que seria atacado. Diminuiu o ritmo, retirou a faca do bolso e ficou na expectativa de ter de reagir rapidamente. De repente, a impressão de ter ouvido algo atrás de si. Virou-se rapidamente, mas não viu ninguém. A respiração chegou até a cessar e os batimentos cardíacos se aceleraram. Havia sim alguém, mas estava se escondendo. Seria o chefe dos soldados ganados? Provavelmente sim.
De repente, o barulho em um dos tubos sobre a cabeça de Leon. Ele olhou para cima e viu uma sombra. Alguém estava saltando sobre ele. Leon no puro reflexo saltou para trás e, enquanto rolava no chão, ouviu o som da faca batendo de ponta no metal da plataforma sobre a qual pisavam. O agente se levantou e passou a mão no rosto. E viu sangue na luva. Fora apenas um toque superficial na pele de Leon, mas o suficiente para produzir um corte. Que fio era esse? Teria de se cuidar muito. Só o toque daquela faca produzira um corte. Então, o agente levantou a cabeça para ver quem era o comandante dos soldados da ilha. E contra quem iria lutar.
A faca do inimigo ainda pingava sangue. Ele a recolheu. Era um soldado. Com o uniforme militar, a boina vermelha, louro. A cicatriz no rosto. Tirando esse detalhe, ele estava como o vira pela última vez. Krauser deu um passo à frente.
- Há quanto tempo, camarada.
Não podia ser verdade. Ele estava morto. Ouvira esses boatos. Mas pelo jeito não passaram de boatos. Sim, o líder dos soldados ganados era ele. Seu ex-parceiro. Como isso era possível? Leon não conseguia acreditar, mas se juntasse as peças, poderia ter chegado a essa conclusão antes. A faca que encontrara na sala. A organização e o trabalho metódico nas instruções. Tudo tinha a assinatura de Jack Krauser. E embora não conseguisse acreditar, estavam frente a frente. Era Krauser. Não tinha a menor dúvida quanto a isso.
- Krauser!
A expressão de espanto no rosto de Leon não deixava dúvidas do espanto deste. Krauser pareceu se divertir com isso. Enquanto caminhava pela plataforma, ia falando, com a faca sempre apontada para o agente.
- O que disseram a meu respeito? Que morri em um acidente há dois anos. Certo? Foi isso, não foi?
- Foi você quem sequestrou Ashley?
Sim. Agora tudo fazia sentido. Desconfiavam de um traidor dentro das Forças Armadas dos Estados Unidos. Fora Krauser. Como nem todos ficaram sabendo de sua suposta morte, ele deve ter usado o fato de ser do Exército para se infiltrar na segurança de Ashley e raptá-la. Mas como ninguém o deteve? Isso ainda iria descobrir.
- É, meu caro Leon. Você descobre rápido as coisas. Eu esperava por isso. A final de contas, nós dois sabemos de onde viemos.
Ao dizer isso, Krauser avançou com a faca na direção do pescoço de Leon. O agente conseguiu se esquivar e contra-atacou. Mas o militar também conseguiu esquivar. O agente sabia que o soldado era muito bom no combate corpo a corpo. Seria uma luta difícil. Seria um páreo duríssimo. Com a arma em punho, Leon perguntou, sem tirar os olhos do inimigo.
- O que você quer?
Ainda sem responder, Krauser atacou novamente. A faca passou raspando o rosto de Leon, que chegou a sentir o vento da mão do militar. Foram dois ataques e o agente se esquivou dos dois. Mas foi por pouco. Krauser estava na ofensiva e Leon só conseguia se esquivar. Tinha de partir para o ataque, para pressioná-lo. Mas como? Krauser era experiente nesse tipo de luta. O militar respondeu depois de ver frustrada sua tentativa de ataque.
- Só quero a amostra desenvolvida por Saddler. Apenas isso.
Assim que falou, Krauser atacou novamente. Leon se defendeu usando a faca e as duas se chocaram, deixando sair faíscas do encontro de metal com metal. O agente não tirava os olhos do militar enquanto falava.
- Se é isso o que quer, deixe Ashley de fora.
- Precisei dela para comprar a confiança de Saddler. Como você, eu sou americano. E ele não confia em americanos. Você deve ter percebido.
Ao terminar a frase, Krauser chutou um latão na direção de Leon, que se esquivou e na sequência, atacou com a faca. Leon se defendeu com a sua, mas se desequilibrou. Sentiu que ia cair da plataforma, então saltou. Não tinha certeza da altura, mas tentaria pousar da melhor maneira possível. Treinamento para isso, ele tinha. Jack saltou atrás. Leon usou a técnica de dar um rolo quando caiu, para distribuir melhor o peso. Krauser caiu agachado. Ao levantar, o agente se virou para o militar. Queria mais informações.
- Você se envolveu no caso só por isso?
Agora foi a vez de Leon atacar. Krauser se defendeu usando a faca. O agente foi para cima e então, sua faca rasgou a pele do militar. Na sua camisa, na altura do peito, ficou uma faixa vermelha de sangue. Ele nem ligou para o ferimento, apenas grunhiu. O ferimento fora superficial. Enfurecido, o militar foi para cima do agente, que se esquivou do primeiro ataque e segurou o punho do atacante. Os dois tentaram acertar o outro com um soco, mas não conseguiram e Krauser chutou a perna de Leon, que caiu no chão. Krauser veio caminhando lentamente na direção do agente. Então falou algo que Leon já não esperava mais ouvir. O nome de uma empresa que, para todos os efeitos, não existia mais.
- Tudo pela Umbrela.
- A Umbrela?
Krauser olhou para cima.
- Quase deixei escapar.
Então, ele encarou Leon, apontou a faca e começou a correr.
- Chega de conversa. É hora de morrer, camarada.
Krauser saltou e Leon apenas viu aquela faca vindo à direção do seu rosto e conseguiu segurar as mãos do soldado. Ele caiu sobre o agente e passou a forçar. Leon viu que não conseguiria evitar o pior. Krauser iria matá-lo, se não fizesse nada. Mas fazer o que? O militar estava longe do alcance dos seus pés. Não tinha como usar as mãos. Apenas conseguiria evitar que a faca fosse cravada na sua cabeça agora, mas não teria forças para ficar ali o tempo todo. Até por que Krauser tinha uma grande força física. E agora, parecia estar mais forte do que nunca. Devia ter alguma interferência do Vírus T ou algo do gênero nessa força física e rapidez do militar. Foi quando um tiro foi ouvido e Leon conseguiu se livrar do ataque de Krauser. O militar saltou. De cima da plataforma, Ada ainda tinha a pistola fumegando. Leon ficou surpreso.
- Ada!
Krauser se levantou enfurecido.
- Vejam só se não é a vadia do vestido vermelho.
Ada continuou com a arma apontada para Krauser.
- Parece que estamos em vantagem por aqui.
Sem dizer nada, Krauser deu um salto monstruoso até a plataforma. Ele tinha molas nos pés? Aquilo não podia ser natural. Era uma influência do vírus T, com certeza. Não podia ser outra coisa. Leon ficou apenas olhando. Krauser olhou para o agente com desprezo.
- Você pode ter prolongado sua vida. Mas não poderá escapar da inevitável morte.
Depois disso, o militar deu meia volta e saiu, sumindo do campo de visão de Leon e de Ada. A espiã ficou ali, caminhou na direção do agente.
- Vocês se conhecem?
Leon retirou a faca, que estava cravada em um vão que ficava entre uma plataforma e outra.
- Mais ou menos.
Ele encarou Ada.
- Talvez esteja na hora de você começar a falar o motivo de estar aqui.
Ada saiu caminhando, sem olhar para trás.
- Talvez outra hora eu conto.
Ela saltou para um piso a baixo da plataforma onde estavam. Logo depois, o transmissor tocou. Era Saddler.
- Aproveitou o encontro com o velho amigo?
- Para falar a verdade, sim.
- Estupendo. Eu não iria querer que meus convidados se sentissem sozinhos nesta ilha.
- Decerto, acha que eu deveria lhe ser grato, não é?
- Tenho uma ideia. Já que está aqui, vou lhe apresentar a “ele”. Deve mantê-lo ocupado.
- Não consegue se lembrar do nome? Deve ser um sintoma de alguma doença degenerativa da idade. Saddler deu uma gargalhada no transmissor.
- Divirta-se, meu amigo americano.


Capítulo 39

Então, está chegando o momento de encontrar Jack Krauser. Ada, enquanto dirigia, ia pensando no que estava por vir.
Krauser foi objeto de muito estudo e pesquisa por parte da Umbrela. Suas habilidades e a sua personalidade foram testadas dentro e fora do campo de batalha. Se não fosse o melhor, seria um empecilho para a organização, pois sua existência é um perigo para nós. Qual a minha opinião quanto a ele? É um ótimo soldado. Nada a mais, nada a menos. Desde que seja bem recompensado, não nos causará problemas. Por outro lado, se começar a ficar nervosinho, acabo com ele. Estive estudando seu estilo de combate e posso dar conta daquele braço, se for necessário. Krauser responde diretamente a Wesker. Foi ele quem decidiu que o militar seria enviado para espionar a seita. Mas Wesker também me enviou. Para vigiar Krauser? Talvez. Não há dúvidas de que Krauser sucumbiu à tentação de obter o poder que o parasita “Las Plagas” oferece a quem possui a plaga controladora. Isso pode trazer severas consequências à Umbrela. Porém, por outro lado, seria um mal menor. Apesar de tudo, sua missão era acabar com esta farsa. Temo que no final, todo este cenário venha a baixo. Nesse caso, azar o dele. No fim, Krauser será o bode expiatório. Por isso, tenho que me certificar de que tudo continuará correndo como está agora. No fim, cada um acabaria expondo seus reais objetivos.
E Leon era agora, com a morte de Sera, o único que não estava escondendo o jogo. Queria resgatar Ashley. E se curar, além de retirar o parasita da garota. Quanto a Ada Wong e Jack Krauser, não se podia dizer realmente se estavam servindo a quem diziam estar. Talvez o desenrolar dos fatos contribuísse para que cada um mostrasse seus reais objetivos.
A lancha encostou à beira de uma montanha de pedra. Ada se levantou e olhou para cima. Puxou sua pistola com o gancho e disparou. Quando ele se firmou lá no topo, ela se virou para Leon, deu um sorriso com o canto da boca e disse:
- Tenho alguns assuntos pendentes. Vejo você por aí.
E se içou para cima, deixando Leon sem reação, apenas a observando. Ada nem teve tempo de pensar no que iria acontecer. Sem demora, caiu sobre o terreno. Era perto de um acampamento militar. Podia ver as barracas. Vários soldados estavam aparentemente organizando uma defesa. Pareciam esperar um ataque. Alguns davam ordens, outros as seguiam. Não se deram conta de que estavam sendo espionados. A espiã estava em um ponto mais alto, o que lhe dava uma boa visão do lugar. Então, apanhou o monóculo e visualizou toda a ilha praticamente. E viu um soldado carregando Ashley. Ele entrou em uma caverna, mas em sua saída tinha uma porta de ferro, que se fechou assim que ele passou. O soldado carregava a filha do presidente dos Estados Unidos sobre o ombro. Ela se debatia, mas em vão. Só que ela não era problema de Ada. Leon é quem tinha de correr atrás dela. A espiã tinha um objetivo bem claro: recuperar a amostra. Para isso, teria de encontrar Osmund Saddler.
Jack Krauser também queria encontrar a amostra. Mas o que ele faria com ela? Não tinha como saber. A fidelidade do militar era com Wesker. E este estava tencionando abandonar a Umbrela. Qual seria reação de Krauser quando e se tivesse a amostra? Entregaria a Wesker? Ada acreditava que sim. Por outro lado, o ex parceiro de Leon tinha uma ambição e uma sede por poder incontroláveis. Poderia ele ficar com a mostra para si? Também era possível. Até pelo fato de que Krauser já está infectado com “Las Plagas” em sua forma controladora. Como ele teve acesso a ela? Ora, ele tem acesso aos laboratórios que ficam na ilha. E Saddler nem sempre está na ilha.
O plano de Ada era avançar evitando sempre que possível os confrontos com as forças militares do local. Assim como os aldeões, certamente estes, devem atacar a todos os forasteiros. Menos Krauser. Ele é a única pessoa de fora com liberdade para andar por aqui livremente. A final, é ele quem está treinando esses soldados. Neste momento, Ada pensou em outra coisa. Nesse caso, a quem eles são fiéis? A Saddler ou a Krauser? Sim, ambos têm a plaga controladora. Se as ordens dos dois entrarem em conflito, a quem seguirão? Ada desconfiava que Saddler tinha ainda alguma preponderância sobre seus subordinados. A diferença é que Bitores Mendez e Ramon Salazar realmente eram fiéis a Saddler e nunca entraram em conflito com ele. Já Krauser… não se podia dizer o mesmo. Mas é claro que o líder dos Illuminados não devia ter a mesma confiança neste que depositava nos outros dois.
Ada chegou a um ponto em que poderia entrar na base militar por uma janela. Primeiro, ela se alçou ao ar com o gancho e se pendurou, observando o lado de dentro. Havia muitos soldados. Eles saíram cada um para um lado, mas logo em seguida, passou por ali uma criatura estranha. Era mais um dos monstros de Saddler, pensou. Aquela coisa tinha braços e pernas, que vagamente lembravam um ser humano. Mas era um ser grotesco. Caminhava todo desajeitado, sua boca tinha uns dentes horríveis para fora da boca e soltava um barulho assustador, que não se podia dizer se era resultante de sua respiração ou uma risada. O fato é que Ada resolveu não entrar por ali. De repente, uma mensagem chegou ao seu telefone celular.

“Vejo que já está na ilha. Vou encontrá-la. JK.”

Jack Krauser. Ele descobriu a chegada de Ada. Será que viu ela trazendo Leon? Esperava que não. A final de contas, pelo jeito, agora a missão de eliminar o agente passou para ele. Só que a espiã não estava disposta a deixar isso ocorrer. Caminhando por fora da instalação, conseguia ouvir os barulhos de tiros lá de dentro vez por outra. Leon estava avançando. De repente, ela passou por uma saída. Dava para entrar por ali. Ela entrou. Foi, sempre que possível, evitando ser vista.
Para isso, usava seu gancho, mas de repente, parou em frente a um soldado. Ele a olhou e ficou imóvel. Então, apanhou uma espécie de comunicador.
- Ela está aqui, senhor. No laboratório.
Depois ele desligou e se virou para ela.
- O comandante quer vê-la.
Ele falou em espanhol, mas Ada compreendeu. Não iriam atacá-la, pelo menos não por enquanto. Tinham ordens de Krauser. Não sabia quanto tempo a tolerariam ali. Pelo menos até o encontro que teria com o militar. Ela aproveitou para circular ali por dentro e viu que a saída por onde entrou dava em um depósito de lixo. Ela lançou seu gancho até o teto e subiu. Estava dentro da base militar. Continuou caminhando. Os monstros. Era melhor evitá-los. Não sabia se eles seguiriam a ordem de Krauser de não atacá-la. Era melhor não arriscar. Ela viu Leon lutando contra um daqueles monstros. Depois de vários tiros com um rifle, o agente conseguiu matá-lo. Onde ele conseguiu um rifle? Deve ter apanhado na sala do comandante. Só podia.
De repente, Ada passou por uma porta que tinha uma pequena grade na parte superior. Ela se aproximou e visualizou a parte de dentro e viu Ashley Graham. Ela estava sentada em um canto da cela, encolhida e com a cabeça entre os joelhos. Estava chorando. Sequer ergueu os olhos. Ela ouviu movimentações e saiu apressada. Achou uma janela alta, lançou o gancho e passou para o lado de fora. Era uma das poucas que não eram do modelo basculante. Ficou apenas escutando o que se passava. Leon passou por uma vigia que estava próximo à cela e entrou. Deu para ouvir a conversa do agente com a filha do presidente dos Estados Unidos. Ada escreveu um bilhete e jogou para dentro da cela, por uma pequena janela que dava para fora. “Acho que você já deve ter pensado nisso, mas é possível sair pelo depósito de lixo”.
Quando deu meia volta para seguir farejando onde pudesse estar Saddler, Ada teve uma surpresa nada agradável. Atrás dela, com um bastão elétrico, estava um dos soldados. Não dava para ver o rosto dele, pois usava uma máscara que cobria toda a sua cabeça, deixando apenas um espaço para os olhos, que dava para ver, pois eram de um vermelho brilhante. Pareciam duas bolas vermelhas dentro de um vidro que fazia parte da máscara, servindo de viseira. Mas ele não atacara. Se quisesse, poderia ter golpeado Ada sem maiores dificuldades. Ele falou, mas sua voz era muito rouca, devido à máscara. Praticamente não tinha como entender o que ele dizia. Mas, fazendo um esforço, a espiã conseguiu:
- O comandante quer vê-la. Ele pediu para conduzi-la até ele.
Ada entendeu. Não era um convite. O primeiro soldado dissera que Krauser queria vê-la. Agora, o militar mandou que a levassem Então, teria de ir. O soldado foi na frente, com a espiã indo atrás. Ele caminhava rápido, sempre espiando sobre o ombro de tempos em tempos. Passaram por acampamentos militares, até chegarem a uma grande porta de metal. O soldado abriu-a e mandou Ada entrar na frente. É cavalheiro ele, pensou Ada? Não. Ele quer garantir que eu não vou tomar outro caminho. Como que lendo os pensamentos de Ada, o soldado disse:
- Não seria bom a senhora andar sem a companhia de um de nós aqui dentro, ou do próprio comandante. Há Regenrators aqui e eles não sabem distinguir muito bem quem eles podem atacar e quem não podem. Pode não ser muito seguro para uma estranha encontrar um deles.
Ela se lembrou da criatura que vira antes.
- Sim, suponho que não.
Depois de passar por algumas salas, descer uma pequena escada e abrir uma porta, o soldado fez um sinal para que Ada entrasse em uma sala.
- O comandante Krauser a espera.
Dito isso, o soldado se retirou. Ada viu a porta se fechar e ouviu os passos do militar que a trouxe se distanciarem. Virou-se para trás e viu quem a estava esperando. Era ele. De uniforme militar, uma boina vermelha, aquela inconfundível cicatriz no rosto que ia do olho até a boca e seu jeito desconfiado de sempre. Krauser parecia sempre igual. Nunca mudava. Desde a primeira vez que a espiã o vira, ele era assim. Estava sentado em uma cadeira, com uma faca na mão.
Ele a atirava para o alto distraidamente e a apanhava quando caía. Ada pensava em como o militar fazia aquilo sem nenhum medo de se ferir. Aliás, aquelas cicatrizes no rosto lhe causavam um mal estar. Como Wesker encontrou ele? Ou como Krauser encontrou Wesker? Isso ela não sabia, mas tinha muita curiosidade em saber. O calor ali era insuportável. Ada não sabia como Krauser aguentava com aquela roupa de militar e a boina na cabeça. Não havia uma única abertura, que trouxesse um ar fresco de fora. Mas o soldado não parecia nem um pouco incomodado com este fato. Jack Krauser apanhou a faca, encarou Ada e disse:
- Quais as novidades do nosso amigo Leon?
Ela estava de braços cruzados, olhando para o chão. Neste momento, ergueu a cabeça e olhou para o militar.
- Ele não está facilitando. E a amostra?
Krauser olhava-a com a faca na mão, como que testando o fio da arma.
- Saddler está com ela. E parece que ele está percebendo nosso jogo.
Ada se virou de costas para o militar.
- Perfeito!
Como estava a relação de Krauser com Saddler? Ada não sabia, mas ao que tudo indicava, o líder da seita não confiava no militar, principalmente por ele ser americano. Os soldados o obedeciam, mas Osmund Saddler nunca entregaria a ele nada que pudesse colocar a ordem em risco. E Krauser sabia disso. Mesmo tendo sequestrado Ashley Graham, ele não conseguiu cair nas graças de Saddler. E se conseguisse matar Leon? Bem, talvez nesse caso, ele obtivesse mais pontos, até por que os dois subordinados que tinham a confiança do líder morreram pelas mãos do agente. Com certeza Jack Krauser pensava nisso. Não pensaria duas vezes em matar Leon. Antes de falar, Krauser apontou a faca para Ada, que até ria das tentativas do militar de intimidá-la.
- Só mais uma coisa. Para nos entendermos. Eu não confio em você. E nem em Wesker. E se tentar dar uma de esperta, a mato.
Sem se dar ao trabalho de virar para o interlocutor, Ada perguntou com certo tom de ironia.
- Verdade? Sabe, conheço Wesker há muito mais tempo do que você.
- Veremos em breve se isso é verdade.
- Sim, veremos.
Ada saiu da sala do comandante e entrou em um corredor. Foi quando viu um grupo de soldados. Ela caminhou um pouco e voltou até atrás da porta. Um deles entrou na porta e o outro seguiu seu caminho. A espiã encostou o ouvido para ouvir o que Krauser diria. Foi o que salvou-a.
- Lembrem-se da ordem que eu dei? A de não atacarem a mulher?
- Sim, comandante.
- Esqueçam-se dela. Podem fazer o que o Lorde pediu, com uma condição. Tragam-me o corpo dela.
- Certo.
Ada saiu correndo. Agora, não estaria mais segura. Krauser deve desconfiar dela. Deve acreditar que a espiã vai dar ajuda a Leon. O jeito era correr o mais rápido que conseguisse. Mas os soldados que apareceram já tentaram atacá-la. Ada teve de se virar com alguns deles. Passou por algumas salas e então encontrou uma saída. Dava em uma ponte. Dali dava para ver boa parte da ilha. Tinha ainda uma torre. Neste momento, seu telefone tocou. Era Wesker. E parecia estar satisfeito.
- Que bagunça está fazendo o Leon. Isso é muito bom. O pessoal de Saddler está em pânico. A destruição dele é uma questão de tempo.
- Sim, mas quando Leon conseguir resgatar Ashley, sairá do campo de batalha. Então não será mais um problema.
- Não. Krauser se ocupará de Leon. Agora corra e recupere a amostra.
Ada parou. Sentiu uma pedra gelada descendo pelo estômago. Ficou sem ar e por um instante pareceu que tudo ao seu redor parou. Leon agora seria problema de Krauser? Ela sabia que o militar não hesitaria em cumprir a ordem. O agente estava marcado para morrer. Ela conseguiu protelar o confronto, até se negando a encontrá-lo, mas Jack Krauser com certeza sentiria prazer e liquidar Leon. A espiã saíra da sala do militar há pouco tempo. Então, não devia ter chegado ao local da luta. Ela teria de encontrar o agente e correr até onde seria o possível confronto. Não tinha mais tempo a perder.
Ada entrou em um túnel, que estava parcialmente destruído. Seria um caminho mais rápido ao local onde Leon deveria estar. Com certeza, deveria estar atrás do caminho para o laboratório. Conforme um mapa conseguido pela organização, tinha um meio alternativo de chegar até lá, mas para isso, teria de passar por uma embarcação que estava ancorada na entrada da ilha. E teria de enfrentar os soldados a partir de agora. Até então, a presença deles não fora uma ameaça. Agora, todo o cuidado seria pouco.
O caminho estava bloqueado. Havia tonéis, um pedaço de cerca, escombros. Lâmpadas fluorescentes no teto iluminavam o lugar. Ada teve de tomar um caminho que ia para o lado esquerdo. Quando dobrou, dois soldados vieram, um com um escudo e outro com um bastão elétrico. Ada apanhou a metralhadora e fuzilou os dois. Agora eles viriam para matá-la. Teria de ser rápida, pois não seriam monges e aldeões sem treinamento no manejo de armas, mas sim militares treinados. E treinados por Krauser. Ada Wong conhecia bem a capacidade dele. Mas ela entrou em uma sala sem saída. Voltou. Teve de ir através dos tonéis, da cerca. Mais soldados a estavam esperando. Ela teve de metralhar eles rápido.
Ada teve de entrar por outra porta, pois agora, o caminho estava totalmente bloqueado. Ao entrar, deu de cara com mais soldados. A lâmpada estava piscando, deixando mais difícil enxergar os inimigos. Ada caminhou sem enxergar muito bem, mas não quis disparar antes de se certificar que eles estavam chegando perto. Por outro lado, pensou que se demorasse, poderia ser atingida. De repente, ouviu passos e disparou. Quando passou para a parte da sala em que a luz não piscava, viu mais dois soldados mortos. Então, correu até a porta do outro lado, que dava acesso ao túnel. Assim que saiu, não viu ninguém, o que a deixou inquieta. Deu um passo em frente e nada se moveu. Tudo estava em silêncio. Quando colocou os pés no túnel, viu uma coisa clara e se jogou para trás. Sentiu o vento de algo que passou raspando seu braço. Uma flecha com a ponta incendiada se cravou no marco da porta por onde saíra. No alto de uma parede que ficava em frente, estava o arqueiro. Ada fez mira e o matou. O elemento surpresa era o que ele tinha. Mas o local onde ele estava fora erguido. Era uma parede de metal vermelho que interrompia o túnel. Ada pegou o gancho e se preparou para subir.
A espiã subiu sobre uma ponte que passava sobre a estrada no túnel. Normalmente não havia aquela parede debaixo dela. Era ali que estava o arqueiro. Ada deu uma olhada sobre todo o local e viu uma porta à frente. Era ali que ela deveria entrar? O que a aguardaria do outro lado? Só tinha um jeito de saber.
Assim que ela passou pela porta, saiu em uma espécie de porto. Estava caminhando sobre um piso de metal, com uma parede do lado direito e um guarda corpo do esquerdo, protegendo de uma enorme queda. Ela passou por uma escada e chegou a uma metralhadora, que ficava acoplada a um assento. Para operá-la, no entanto, era necessário encaixar um cartão. E ela teria de encontrá-lo. Tudo estava, no entanto, muito esquisito. De repente, quando Ada desceu mais um lance de escada, uma porta se abriu e uns cinco ou seis soldados saíram de dentro dela. A situação poderia piorar? Ouviu-se um barulho vindo do alto. A metralhadora girou para o lugar onde ela estava. Um soldado a estava operando. Ele colocou o cartão. Agora ela teria de chegar até a metralhadora. Mas para isso, teria de matar os soldados que a cercavam e escapar dos tiros vindos da metralhadora. Só que assim que ela correu para trás de uma das proteções, um foguete explodiu ali perto. Ada olhou em volta e viu agora também um canhão. Que ótimo, Teria de se livrar dos utilizadores das duas máquinas.
Quando ocorreu um intervalo entre uma rajada de tiros da metralhadora e outra, Ada saiu correndo pela escada de volta até onde estava a arma com o soldado. Teria de correr, pois sabia que disparariam um tiro com o canhão. Assim que ela viu um clarão ao longe, correu o máximo que conseguiu e atrás de si, ouviu uma explosão. Erraram o tiro. De repente, se viu diante da metralhadora. Ada sacou a arma e matou o soldado que a operava. Depois derrubou-o e subiu sobre a enorme arma.
Dali era possível ter uma ampla visão do lugar. Tinha mais uns dois canhões voltados para lugares por onde Ada teria de passar. E havia muitos soldados. A espiã fuzilou todos eles e, aproveitando que estava sobre a metralhadora, destruiu os canhões que estavam ameaçadoramente mirando sobre os locais por onde ela passaria. Só que quando ela destruiu o último dos canhões, este ainda disparou um último tiro, que atingiu a metralhadora onde Ada estava e ela teve de saltar para não ser ferida. No entanto, já havia destruído boa parte dos canhões dali. Será que haveria mais? Algo dizia que sim.
Ada desceu de volta a escada para o local onde fora atacada pelos soldados e de onde tivera de correr para não ser atingida. Ali havia uma escada de escalar. Era por ali o caminho. A espiã a escalou, chegando a outro patamar. Mais uma vez, caminhou tomando todo o cuidado. Olhava atentamente para qualquer movimento suspeito. Principalmente por levar em consideração que poderia haver mais canhões e metralhadoras giratórias no navio. Mas não aconteceu nada. Para chegar ao patamar mais alto, Ada lançou o gancho e se içou para cima.
Logo em seguida, saltou sobre uma plataforma que descia. A espiã foi levada para o outro lado, subindo em outro piso. Agora, foi recepcionada por uma comitiva de soldados com bastões elétricos e por arqueiros. Ada teve de se abaixar atrás de uma caixa de madeira para evitar uma flecha. Logo em seguida, se levantou e atirou uma granada cegadora. Todos ficaram atordoados e Ada aproveitou o momento para sacar a metralhadora e matar todos. Feito isso, ela correu até perto de uma parede que continha uma espécie de escada presa na parede. Teria de escalar por ali para continuar subindo.
Assim que terminou de subir, encontrou mais três soldados a esperando. Ainda com a metralhadora em mãos, teve de ser rápida para escapar de um machado que voou em sua direção. Ela disparou tiros em todos eles. A espiã correu e chegou a um local que teria de saltar para outra plataforma. Mas não tinha como ver se havia alguém ali, pois uma parede servia de esconderijo a qualquer um que porventura estivesse preparando alguma emboscada. Ada pensou em como poderia saltar ali. Atiraria uma de suas granadas cegadoras? Pensou que poderia ser uma boa ideia, mas por outro lado, se não tivesse ninguém ali, teria desperdiçado uma granada. Mas se saltasse e tivesse, poderia ser surpreendida. Resolveu arriscar saltar. Mas tentaria ser o mais rápido que conseguisse para poder levantar-se já em posição de atirar, caso fosse necessário.
E assim que caiu no chão da plataforma à frente, um soldado saiu de trás da parede. Ada deu uma rolada no chão e se levantou atirando nele, torcendo para que ele tivesse vindo atrás. Deu certo. O soldado caiu morto. Em frente, escalou uma escada, chegando a um patamar mais alto. Um soldado com um escudo chegou perto, seguido por outro com uma dinamite. A espiã usou a metralhadora para se livrar dos dois. Parecia que o número de soldados nunca diminuía. Sempre vinham mais.
Ada ficou parada alguns segundos olhando em volta. De repente, tudo ficou quieto. E disso, ela não gostava. Normalmente significava armadilha. Alguma coisa estava errada. A espiã ficou em silêncio, apenas observando o entorno. Nada se movimentava. Era como se de repente todos tivessem sumido. Ela deu um passo e olhou para trás. Ninguém apareceu. Alguma coisa dizia que era para ela ficar alerta. Há pouco passara por uma situação semelhante, quando desceu os degraus logo depois de entrar no navio. Também no castelo, quando a gaiola caiu sobre ela. O que iria acontecer? Deu mais um passo. Nada. O coração começou a bater mais rápido. Ada andou mais um passo para a frente e nada aconteceu novamente. Será que não tinha armadilha nenhuma? Então, ela resolveu andar e ver o que aconteceria. Quando deu mais uns dois passos, o chão à sua frente se abriu. Pronto. Era a armadilha. De dentro da abertura, surgiu uma espécie de canhão com uma metralhadora giratória apontando para ela, a uns dois metros de distância da cabeça de Ada. O que ela poderia fazer? Para piorar a situação. Ouviu-se mais canhões surgindo ao redor. Pelo menos mais uns quatro. Ada olhou para os lados e a única alternativa na hora foi lançar o gancho para uma plataforma que ficava a cima, para subir. Enquanto ela se içava para cima, ouviu os barulhos dos tiros. Assim que chegou à parte de cima. Teria de correr e torcer para que nenhuma bala ou algum tiro dos canhões a atingissem.
Depressa, Ada olhou para frente e viu que poderia lançar o gancho na parede que ficava em frente, mais a cima. Ela o lançou e se alçou sobre outra plataforma. Correndo sempre muito rápido, a espiã conseguiu chegar a um dos canhões. Ela subiu no lugar destinado a algum controlador. Estes agora, estavam sendo controlados por algum programa, mas a espiã tomou um deles. Agora, poderia destruir os outros. Ada mirou nos canhões ao redor e destruiu todos eles. Atirou também em aglomerações de soldados. Mas, de repente, o canhão onde estava foi atingido por um tiro de uma das metralhadoras e parou de funcionar. Ada desceu. Teria de seguir.
Ada saltou dois patamares a baixo. De repente, viu que havia um visor no alto do navio, com uma contagem regressiva. Ela não soube exatamente o que era, mas decidiu que teria de sair do navio antes que ela chegasse a zero. A final de contas, geralmente, contagens regressivas não eram um bom sinal. Após escalar uma escada, subiu em uma plataforma que levava ao outro lado do navio. Teria de encontrar a saída. Enquanto a plataforma se movia, Ada aproveitou para recarregar a pistola e a metralhadora e ficou com esta pronta para entrar em combate.
Assim que saltou da plataforma, quatro soldados correram na sua direção. Ada disparou com a metralhadora, matando eles. Não podia errar. Não podia ser detida agora. Tinha de correr, até porque sabia que neste momento, Krauser estava indo matar Leon. E ela tinha quase certeza de onde seria o local. Pelo mapa que tinha, o agente devia estar procurando o laboratório. E o militar iria interceptá-lo. E de onde ele saíra, ela sabia exatamente em que local os caminhos se cruzavam. Depois de matar os soldados, ela escalou uma escada. Olhou para o visor e viu que faltava menos de um minuto para a contagem zerar.
Quando ela chegou, mais soldados a esperavam. Queriam fazê-la perder tempo, era evidente. Com a arma em mãos, os matou o mais depressa que conseguiu. O navio iria explodir? Sim, era óbvio. Ela escalou mais uma escada e viu ao longe, um soldado com uma dinamite. Antes de ele conseguir acendê-la, Ada o matou. Faltavam dez segundos para zerar a contagem. Atrás do soldado, tinha um portão de grade. A espiã o chutou, abrindo-o. Correu para a plataforma depois dele e de repente, ouviu um estrondo. Olhou para trás e viu o navio todo explodindo. Estava salva. Agora, era achar Leon e impedir que Krauser o matasse. Ada subiu outra escada, até chegar no alto da plataforma e encontrar uma grande porta de ferro. Era a saída.
Ada saiu em uma plataforma externa. Era possível ver o céu. Nuvens cobriam-no, misturadas à fumaça que saía de enormes chaminés de máquinas na ilha. Ao redor havia muitas caixas espalhadas de madeira, latas e outros objetos deixados ali aleatoriamente. O piso era todo em metal, com um guarda corpo que evitava uma queda brusca. A espiã não gostava deste tipo de piso, pois era impossível caminhar sem fazer barulho. Ela tomou cuidado. Passou por uma pequena elevação no chão e chegou a um ponto em que teria de dobrar à esquerda. Bem na esquina do piso, tinha uma pilha de caixas de madeira, de modo que não podia-se enxergar o que havia atrás dela. E como o piso era estreito, não tinha como ir para o lado. Ada caminhou atenta, pois queria evitar surpresas. Não ouviu barulho algum, então, parou atrás da pilha de caixas. Colocou a cabeça para a frente, tentando espiar, mas não dava para ver nada. Deu um passo e… duas mãos agarraram seu pescoço.
Quando se deu conta do que estava acontecendo, Ada estava com um militar apertando seu pescoço. Os olhos dele brilhavam à noite e as plagas lhe davam uma força descomunal. A espiã começava a perder o ar. Sentia o corpo começando a amolecer e a visão parecia ficar turva. Em um último esforço ainda, se segurou na pilha de caixas à sua esquerda e no guarda corpo do lado direito, se suspendeu no ar e acertou com os dois pés na altura do peito do soldado, que a soltou e caiu para trás. Então, a espiã sacou a pistola e atirou na altura do peito do homem que quase a matara. Ele morreu.
Ada ficou arfando alguns instantes. Caiu de joelhos e pensou que por muito pouco, tudo quase acabou. Quase morrera nas mãos daquele soldado. Tomara muito pouco cuidado. Não podia desleixar e pensar que estes infectados eram previsíveis. Eles eram inteligentes, apesar de serem controlados por uma vontade externa. A espiã sentia-se tonta ainda e a visão ainda estava voltando ao normal. Seu coração batia em disparada e a respiração estava ofegante. Precisava se apressar, no entanto. Não queria e não podia deixar Krauser matar Leon. E qualquer segundo poderia ser decisivo. Poderia significar a vida ou a morte do agente. Ada, respirou fundo, sacudiu a cabeça para os lados e seguiu em frente. Teria de tomar mais cuidado. O próximo poderia estar armado.
Ada caminhou até outra esquina. Mais uma vez não ouviu barulho nenhum. Ficou parada, pensando na melhor maneira de sair de trás de outra pilha de caixas. Preparou a pistola e deu um passo, com o dedo no gatilho. Mas agora não veio ninguém. O único soldado que vinha ainda estava a uma distância considerável. Cobria-se com um escudo. Então, Ada mirou no pé dele e atirou. Assim que o soldado se abaixou, a espiã atirou na cabeça dele.
À frente, mais embaixo, havia fogo. O piso onde Ada caminhava seguia até uma escada. Ela saltou ao patamar de baixo. De repente, um soldado com um bastão elétrico surgiu de trás de um pilar que sustentava o piso superior, onde a espiã estivera caminhando antes. Desta vez, assim que atirou na cabeça do soldado, esta estourou e saiu a plaga mais uma vez. A espiã mirou naquela coisa que agitava a ponta na sua direção. Tinha de acertar logo. Ela, fez mira e atirou, matando a criatura que controlava os movimentos do soldado. Logo atrás veio um com uma bola de espinhos presa a um bastão por uma corrente. Ada desta vez não teve trabalho em se livrar dele.
A espiã saltou do piso para baixo, chegando ao chão. Ali era um espaço maior, com o chão de terra, veículos parcialmente destruídos, vigas de metal que sustentavam a estrutura toda e barris de líquido inflamável, usados para acender as fogueiras que esquentavam coisas que pareciam enormes caldeiras. De repente, vários soldados surgiram e correram na direção de Ada. Ela olhou rapidamente ao redor e viu um dos barris. Atirou nele quando os soldados chegaram perto e a explosão matou a todos. Depois disso, Ada deu alguns passos à frente e viu uma estrutura mais alta, com dois arqueiros sobre ela. Antes que eles atirassem, a espiã matou o primeiro e se escondeu atrás de uma caixa. Assim que se abaixou, uma flecha com a ponta em chamas passou por sua cabeça. Ela se levantou e atirou no arqueiro.
Após se livrar dos dois, Ada chegou perto e lançou o gancho na plataforma onde os arqueiros estavam e subiu. Ao chegar lá, olhou para os lados. Viu uma escada de escalar. Assim que chegou ao patamar de cima, um grupo de soldados veio correndo. Mais uma vez, havia um tonel com líquido usado nas caldeiras para acender o fogo e Ada se aproveitou disso para com um tiro só matar todos, causando a explosão do recipiente. Caminho livre. Ela chegou até uma porta que ficava em meio a uma cerca de arame farpado. Abriu-a e desceu uma escada.
Assim que caiu, Ada olhou para os lados. Não tinha ninguém. Então correu. Era preciso se apressar. O tempo estava correndo contra. Tinha de chegar a tempo de evitar que Krauser matasse Leon. Depois de passar por alguns degraus para baixo, chegou em frente a uma pequena mureta de metal. Mais dois soldados com escudos chegaram perto e Ada teve de usar a metralhadora para se livrar deles. Depois, a espiã parou em frente a uma ponte feita com tábuas de madeira, que ligava a plataforma de metal onde estava a outro piso. Nele, havia um cercado e atrás deste cercado, uma edificação com vários cartazes adesivos contendo um símbolo muito conhecido por ela. Risco biológico. Ada correu até entrar em uma pequena sala com uma escada de escalar subiu.
Assim que chegou ao fim, estava dentro de uma sala grande, com uma porta à esquerda e várias colunas de metal. À sua direita, uma escada de alguns degraus que conduziam a um piso mais alto. Ada abriu a porta e entrou em outra sala, parecida com a que estava, mas menor. Observou algumas prateleiras encostadas nas paredes e vários quadros nas paredes. Caminhou até a porta de saída. Quando passou por ela, se surpreendeu. Estava tudo destruído do lado de fora. Uma empilhadeira ainda estava com o motor funcionando. A espiã chegou perto dela e olhou para trás. Ao longe, era possível ver corpos de soldados mortos. Então, Leon já passara por ali. Ada teria de voltar rápido.
De volta à outra sala, Ada subiu as escadas rápido e chegou em frente a uma espécie de altar, com um livro aberto sobre uma mesa, ladeado por duas velas. A espiã se virou para a esquerda e correu até uma porta, abrindo-a. Depois disso, desceu a outra plataforma de metal. O teto ali era de vidro, dando para ver a noite e o céu enevoado. Um soldado veio do lance de escadas ao lado e quase acertou Ada com um bastão elétrico. Depois de se esquivar do ataque, a espiã o matou com um tiro na cabeça. Ela desceu todos os lances de escada, chegando ao chão. À esquerda, havia outra porta. Ada parou um pouco e procurou ouvir o que a esperava. Mas o barulho de máquinas em funcionamento não permitiu-a ouvir nada.
Assim que ela abriu a porta, um soldado com um bastão elétrico saltou de cima de uma plataforma dentro da sala a que a porta dava acesso e veio na direção de Ada. Ela atirou rápido na cabeça dele, matando-o. Ela chegou ao centro da sala. Dos dois lados de uma espécie de corredor, havia fornos acesos com a abertura por onde as fogueiras eram alimentadas expelindo fumaça e um calor quase insuportável. O vestido começou a grudar nas pernas e o cabelo mesmo não sendo longo, grudou no pescoço. Gotas de suor brotaram da pele de Ada e até sua visão começou a turvar. O ar era sufocante e parecia até difícil de respirar. Tinha a impressão de o ar iria queimar seus pulmões. A espiã então, correndo o mais rápido que conseguia, chegou até a porta de saída. O trinco estava quente, então ela deu um chute, abrindo-a. Sabia que não era recomendado fazer isso, pois o barulho poderia atrair os soldados, mas não queria queimar a mão no trinco. Assim que saiu da sala, Ada chegou a um pequeno corredor que terminava em outra porta. Saiu ao ar livre. Ao sair da porta, sentiu o frescor da noite e o vento batendo em seu suor chegou a lhe causar crises de arrepios. Mas o vento frio chegava a ser agradável, depois de ter passado por aquela amostra do inferno. Dos lados, havia cercados com máquinas atrás deles. Andou até uma plataforma mais elevada e lançou o gancho, subindo. Atrás dela, tinha um elevador, que fora usado para subir. Leon provavelmente fora quem o acionou. Assim que começou a caminhar na plataforma, viu uma porta, que estava aberta. Entrou e então viu. Por muito pouco não se atrasara. Mas ainda poderia evitar o pior.
Assim que passou pela porta e caminhou sobre uma plataforma de metal, ouviu sons de uma luta. Ao ir mais à frente, viu no patamar de baixo Jack Krauser e Leon lutando somente com facas. A luta parecia muito equilibrada. Aparentemente nenhum dos dois levava vantagem. Então, de repente, o agente passou sua faca no peito do militar, rasgando a camisa deste e provocando um ferimento. A roupa de Krauser se tingiu de vermelho na região do ferimento, mas ele pareceu não sentir dor. Apenas ficou irritado. Então, partiu com tudo para cima de Leon, que se esquivou do ataque, segurando a mão do soldado. No entanto, quando tentou contra-atacar, o agente teve sua outra mão também barrada. Os dois ficaram alguns segundos segurando um ao outro, ao mesmo tempo estudando uma maneira de se soltar e de evitar o ataque do outro.
Krauser conseguiu girar e dar um chute nas costas de Leon, que caiu no chão. Ada sabia como o militar era bom nesse tipo de luta. Era extremamente difícil superá-lo no confronto físico. De onde estava, Ada pôde ouvir o militar dizer:
- Tudo pela Umbrela.
Leon olhou para ele e perguntou:
- Umbrela?
Krauser olhou para cima e disse:
- Quase falei muito. Mas chega de conversa.
Olhando para o agente ainda caído no chão, Krauser segurou firme a faca em uma das mãos e gritou: - Morra, camarada.
Então, saltou sobre Leon, que conseguiu segurar o ataque com as mãos. Mas era apenas questão de tempo. Krauser era muito forte e acabaria conseguindo cravar a faca no pescoço do agente. Ada sentiu que não podia esperar. Só tinha uma coisa a fazer naquela hora. Ela sacou a pistola e deu um tiro em Krauser. A faca dele voou para longe e ele deu uma cambalhota para trás, levantando-se como se não tivesse sido atingido. Leon conseguiu se levantar. O agente olhou para o lado de onde veio o tiro e se surpreendeu com a visão.
- Ada!
Ada viu Krauser lhe lançar um olhar de desprezo.
- Olha se não é a vadia do vestido vermelho…
Ada sabia que naquele momento tinha transgredido uma ordem direta de Wesker. Não só tinha se recusado a eliminar Leon, como tinha evitado que Krauser cumprisse o que o presidente da Umbrela ordenara. Agora não tinha como negar, nem como disfarçar. Teria de ir em frente. Não dava mais para voltar atrás. Teria de revelar que não estava ali seguindo o jogo de Albert Wesker. Que tinha outros objetivos.
- Parece que estamos em maior número aqui, Krauser.
Ada viu então Krauser dar um salto inacreditável para cima da plataforma de onde ela mesma viera. Antes de sair, ele lançou mais um olhar cheio de ódio para Leon.
- Você pode ter prolongado sua vida. Mas não pense que irá escapar de sua inevitável morte. Depois de dizer isso, Krauser deu meia volta e se retirou. Ada saltou até onde Leon estava e o observou ir pegar sua faca, que estava presa entre duas placas de metal. Enquanto o agente se abaixava para apanhar sua arma, a espiã o questionou:
- Vocês se conhecem?
Sem se virar para Ada, Leon respondeu distraidamente:
- Mais ou menos.
O agente se virou para a espiã, agora com a faca na mão, guardando-a e disse:
- Talvez seja o momento de contar o motivo de você estar aqui.
Ada foi caminhando enquanto respondeu sem olhar para seu interlocutor.
- Talvez em outra hora.
Ada caminhou então, sem olhar para trás e saltou para o patamar de baixo. Era só o que faltava. Ela acabou de salvar a vida de Leon e ele tinha a cara de pau de exigir explicações. Se ela não estivesse ali naquele momento, ele estaria morto, sua missão teria acabado e aquela fedelha da filha do presidente dos Estados Unidos nunca mais iria se curar do parasita e voltaria para casa como uma marionete de Saddler. Por outro lado, Ada viu que Leon mentiu. Ele não conhecia Krauser apenas mais ou menos. O militar não tinha o hábito de chamar qualquer um de camarada. Além do mais, parecia que Jack Krauser estava lutando com raiva. Sim, ele estava com raiva. E apesar de ser uma pessoa de temperamento instável, o comportamento dele durante a luta não fora o seu costumeiro. O soldado tinha algum motivo para estar assim. Ele queria lutar com Leon especificamente. Não apenas matar para cumprir a ordem. Se fosse assim, poderia ter dado um tiro simplesmente em Leon, mas não. Ele queria lutar para mostrar alguma coisa. Como se quisesse provar algo para si mesmo.
Então, a única conclusão a que Ada chegou e a única possível era a seguinte. Leon fora militar? Provável que sim. Foi a alguma ou algumas missões com Krauser, por isso o “camarada”. Eles já foram parceiros. Mas por algum motivo, o agente superara o militar. Em algum momento, Leon se destacou mais aos olhos de algum superior, que poderia ser algum chefe militar ou mesmo o presidente. E Krauser se sentiu inferiorizado e com inveja. Agora ele quer provar que é melhor. Provar para si mesmo. E como sabe que o agente está em uma missão de resgate da filha do presidente, sabe que se matá-lo, irá mostrar ao chefe da nação que é o melhor. É por isso que Krauser quer tanto lutar contra Leon. Só pode ser. E se é por isso, aquele não vai descansar enquanto não matar este. Ou enquanto não for morto.

Capítulo 40

Raiva. O sangue fervia nas veias. O coração batendo em disparada, a respiração ofegante, o suor escorrendo pela testa. Era o único sentimento que Jack Krauser conseguia sentir naquele momento. Idiota. Mulher idiota. Era o que ele pensava de Ada Wong. Como pode? Ela nos traiu, pensava ele. Por que aquela vadia não ficou quieta no seu lugar e foi apanhar a amostra, sendo que esta era a sua missão? Mas não. Ela tinha de vir se intrometer na luta e salvar a pele do Leon. Se não fosse aquela desgraçada, a vida do agente tinha chegado ao fim. Jack Krauser teria enfiado sua adaga no meio da cara de Leon e agora não teria mais com o que se preocupar. Então, Ada apareceu e deu um tiro nele. E para completar, ainda o ameaçou. Ela iria se aliar a Leon? Iria trair a corporação? Desobedecer a uma ordem direta de Wesker?
Sim, uma ordem de Albert Wesker. A primeira coisa que Jack Krauser pensou assim que voltou a raciocinar foi em fazer uma denúncia ao presidente da Umbrela. Ele teria de saber o que estava ocorrendo. Neste caso, com toda a certeza, o militar receberia ordens para acabar com a vida dos dois. E isso ele faria com todo o prazer. Chegou a apanhar o telefone. Por outro lado, sabia que ela poderia contradizê-lo e, nesse caso, Wesker teria de escolher em quem acreditar, pois nenhum dos dois teria como provar o que estava dizendo. Neste caso, seria mais provável que o presidente da corporação acreditasse mais nas palavras da espiã, que o conhece há mais tempo. Depois de pensar melhor, Krauser decidiu não telefonar.
Mas os próximos passos de Jack Krauser já estavam definidos. Osmund Saddler levaria Ashley ao laboratório da ilha, onde ela ficaria trancafiada em uma redoma de vidro até que o parasita se desenvolvesse por completo. E o ex-soldado sabia que Leon tentaria chegar até este laboratório. Só que para chegar até lá, só havia um caminho. E seria exatamente neste caminho que Leon iria morrer. Nunca iria deixar o agente chegar até o local para onde estava indo.
Primeiro, Jack Krauser correu até o acampamento militar que ficava logo a diante da gaiola onde U3 morava e deu uma rápida olhada para o monstro. Ficou pensando que Saddler o usaria para deter Leon. Mais um dos monstros criados pela seita. Só que Krauser tinha certeza de que nem ele seria capaz de derrotar o agente. E no fundo, queria mesmo que não conseguisse. Ansiava pela luta. Queria que Leon Scott Kennedy morresse pelas suas mãos.
Assim que saltou do penhasco que ficava ao lado do acampamento, encontrou um grupo de soldados se preparando para entrar em combate. Krauser olhou para eles.
— Preparem-se. Logo teremos visitas.
— Sim, comandante.
Todos responderam em uníssono e continuaram suas atividades. Krauser foi para o interior da barraca que ele utilizava quando vinha ao local e apanhou suas armas. Pegou uma faca e deu uma afiada. Enquanto a amolava, ficou a pensar em como seria o combate final. Iria levar a luta para as ruínas que não ficavam muito longe dali. Então, iria cansar Leon e atacá-lo, utilizando as armadilhas naturais do local, como a areia e as ruínas mesmo. Esconder-se-ia e atacaria nas oportunidades em que Leon não estivesse vendo. Sim, essas táticas sempre causavam muitos danos em exércitos regulares. Contra o agente, teria de dar certo. Além do mais, Krauser usaria sua velocidade e força dadas pelo parasita Las Plagas e pelo Vírus T para obter vantagem física na luta. Esperava só não ser interrompido novamente. Mas se fosse, desta vez, no cenário por ele escolhido, nas ruínas, poderia matar tanto o agente, como Ada Wong. Sua vitória era inevitável. Agora a única pergunta era: quando?
Depois de amolar a faca, guardou-a na bainha, não sem antes se espelhar nela. Passou o dedo no fio e só de encostá-lo, viu um filete de sangue correndo. Estava com um fio impecável. Seria com esta arma que colocaria fim à vida de Leon Scott Kennedy. A vida do agente americano estava chegando ao fim. Depois, passou a apanhar outras armas. Pegou sua metralhadora automática e munição. Iria utilizá-la no combate. As escopetas poderiam ser mais potentes, mas eram lentas para recarregar e pesadas. Iriam lhe tirar mobilidade. Depois, outra coisa muito importante: granadas cegadoras. Elas iriam garantir que em um momento de dificuldades, poderia ser úteis para escapar. Seria útil principalmente para o caso de ter de lutar contra Leon e Ada ao mesmo tempo. Por fim, pegou seu arco, que pendurou nas costas, com várias flechas. Elas explodiam quando atingiam o alvo. Seria uma arma muito útil, tendo em vista que não fazia barulho ao ser disparada. Assim, Krauser poderia atirar sem denunciar sua posição ao adversário. Estava preparado quanto às armas. Agora, iria preparar o local.
Cada local por onde o agente fosse passar estaria cuidadosamente arrumado. O primeiro abrigo, onde com certeza Leon entraria. Assim que colocasse os pés na ruína, Krauser o recepcionaria com uma rajada de tiros. Seu visitante iria correr e entraria no abrigo que fica à esquerda de quem chega. Depois, tentaria sair pela porta à direita de quem entra, pois o militar o encurralaria pela porta de entrada. E estaria trancada. Jack Krauser colocou um temporizador. Ela só abriria depois de alguns minutos. Talvez, Leon já estivesse morto a esse tempo. Mas teria mais.
Caso Leon conseguisse sair do abrigo, e Krauser esperava que sim, a brincadeira teria mais graça. Ele iria correr até encontrar a primeira parte da insígnia. O soldado apanhou as três partes da gravura que abria o portão que dava acesso ao caminho que levava ao laboratório onde Ashley seria reclusa. A primeira, colocou no chão. Faria parte de uma espécie de competição. Iria cansar Leon até matá-lo. Depois disso, o próprio Krauser caçaria seu inimigo nos labirintos das ruínas até levá-lo a um local aberto, com uma plataforma mais alta. Ali, quando o agente entrasse, as portas de acesso se trancariam e os dois teriam mais algum tempo de diversão a sós. Leon conseguiria sair dali, provavelmente e correria escada a baixo.
Prevendo isso, Krauser instalou uma série de bombas terrestres e pequenos robôs em forma de aranha com explosivos, além de outros que voavam na direção de um alvo pré-definido e explodiam. Essas armas eram sua especialidade. O militar queria que Leon aproveitasse bem esse jogo, pois seria o último de sua vida. Após sair dali, Jack Krauser colocou a segunda parte da insígnia em um local alto. Subiu por uma escada e chegou ao pico de uma torre, onde era possível ver praticamente todo o terreno. Ali seria o embate final, se Leon não tivesse morrido antes. E o soldado esperava que não. O agente não iria decepcioná-lo. Seria um adversário a altura. Daria uma luta muito divertida. E seria mais divertido ainda vê-lo morrer. Krauser já estava ansioso. Não via a hora de matar Leon Scott Kennedy. Seria agora uma longa espera. E ele pensou. Não morra, Leon. Venha até mim. Eu vou matá-lo.
Depois de preparado o terreno. Krauser desceu até a entrada e ficou admirando o local, segurando algumas armas que colocara nas mãos e fazendo uma projeção de como seria a luta, desde a entrada de Leon nas ruínas até o momento de sua morte. Seria a glória de Jack Krauser. O que diriam os políticos que nunca reconheceram seu trabalho? Veriam qual dos dois era o melhor. Veriam que Krauser era muito superior àquele bajulador. Era só esperar. De repente, surgiram duas pessoas. Não, três. Um soldado, Saddler e uma garota. Sim. Era Ashley Graham, a filha do presidente dos Estados Unidos. Eles se aproximaram e pararam. O líder dos Illuminados tomou a palavra.
— Krauser, pelo jeito está preparando o terreno para uma guerra. Vejo bombas, armadilhas. Vai receber seu amigo aqui?
Jack Krauser foi despertado de seus pensamentos, então, vendo os três à sua frente, respondeu:
— Espero desta vez não ser atrapalhado. Teria eliminado Leon se não houvesse interferências externas.
Fez-se silêncio por alguns instantes. Então, Osmund Saddler, com um ar de surpresa perguntou:
— Quem o atrapalhou?
Droga, falou o que não devia. Krauser franziu o cenho e pensou em qual resposta poderia dar. Não podia ser ligado de alguma forma a Ada. Poderiam suspeitar de suas verdadeiras razões de estar ali. Saddler nunca confiou inteiramente no militar americano e saber que ele podia estar ligado a mais pessoas de fora certamente não iria contribuir em nada naquele momento.
— Eu resolvo isso.
Então, Krauser ficou apenas observando o líder dos Illuminados para estudar sua reação. Se ele aceitaria aquela resposta. Se não iria investigar mais. Mas pelo jeito, Saddler não estava preocupado com isso no momento.
— Certo. Mas acredito que não precisará lutar com o senhor Kennedy.
Sério? Saddler realmente pensa que aquela coisa que eles chamam de U3 vai matar Leon? Eles não conhecem o agente americano. Não lutaram com ele. Não o viram em ação. Eles enfrentaram criaturas até piores na missão Javier Hidalgo e o agente saiu ileso. Não, U3 não teria chances. Krauser deu uma gargalhada forçada para demonstrar o quão errado estava o raciocínio de Osmund Saddler.
— Saddler, a essa hora, U3 já deve estar morto. Podem mandar buscar os restos dele.
O líder da seita fez uma expressão de que não gostou do que ouviu. Sim, para começar, todos o chamavam de Lorde Saddler. Mas Krauser se referia a ele como Saddler. Isso o perturbava. Mas o militar não ligava para isso. Osmund Saddler então, o retrucou.
— Você superestima a capacidade daquele agente.
Não, pensou Krauser. Você é que o subestima. Além disso, não era somente palpite do militar de que Leon chegaria até ali. Era um desejo. O desejo de vingança. Não contra o agente, mas contra o que ele representava. Contra o governo americano. Leon Scott Kennedy era mais um bode expiatório. Se não fosse ele, seria outro. A vontade era mostrar aos Estados Unidos que quem os derrotou foi o oficial rejeitado por eles. Considerado incapaz. Além de mostrar que ele representava a evolução do ser humano. Enquanto pensava em tudo isso, ele serrou o punho com tanta força, que sentiu as unhas cravando na palma da mão.
— Eu vou matá-lo.
Sem mudar a expressão, Saddler deu meia volta e se dirigiu à saída. Krauser ficou ali apenas observando-os sair. Estavam indo ao laboratório. Enquanto isso, o militar se dirigiu ao local onde esperaria por Leon. Ficou de frente para a entrada e teria uma visão de todo o perímetro à sua frente. Ainda antes de sair do campo de visão de Jack Krauser, Osmund Saddler ainda disse:
— Tudo bem. Tenho outros assuntos a tratar. Vamos cuidar dela até que o parasita termine de se desenvolver.
Assentindo com a cabeça, já se dirigindo ao seu posto, o militar respondeu:
— Certo. Mas esperem. Só eu consigo abrir o portão.
Então, Jack Krauser apanhou uma parte de uma figura que ele tinha em consigo, em um bolso interno do colete que usava. Depois disso, correu até as outras partes e conduziu Saddler, a garota e o soldado até o portão. Assim que ele encaixou as partes, imediatamente ele se abriu. Os três, se olharam e fizeram um sinal com a cabeça ao se despedir. Ashley apenas observava o que se passava. Logo o portão se fechou novamente e o líder dos Illuminados, seu acompanhante e a filha do presidente dos Estados Unidos sumiram. Krauser pegou novamente as partes da insígnia e iria colocá-las novamente em seus lugares.
Agora era apenas uma questão de tempo. Logo, Leon Scott Kennedy estaria entrando pelo portão que estava de frente para as ruínas onde Jack Krauser o aguardava. E então, a diversão iria começar. O soldado sabia que seria uma luta difícil, mas tinha convicção, ou melhor, a certeza de que iria vencer. Era um ser humano evoluído e mais forte, mais rápido e com uma visão melhor. O agente não teria a menor chance. E depois que matasse Leon, faria o que? Mataria Ada. Por ela ter se intrometido na luta entre os dois. Por ter traído a corporação e seu chefe. Principalmente: por ter ajudado seu inimigo. Tinha de pagar.
Osmund Saddler pode não ter percebido que tinham companhia, mas Krauser sim. Ele apanhou uma de suas granadas cegadoras e jogou perto de onde Ada Wong estava escondida. Assim que tudo ficou claro, a espiã saiu das sombras, com as mãos em frente aos olhos, praguejando por ter sido descuidada. Jack Krauser a saudou.
— O que faz aqui? Achou que não tinha visto você?
Krauser arreganhou os dentes antes de continuar falando.
— Dê-me um bom motivo para não matar você agora.
Jack Krauser gostou de ver a expressão assustada da espiã. Ele então, prosseguiu:
— Diga-me. Do lado de quem você está, Ada? Acho que você descumpriu uma ordem dada por Wesker. O que vou dizer? Que eu ia cumprir o que me foi ordenado, mas a senhorita Wong me impediu. Nosso chefe vai ficar meio… chateado. Não vai?
Ada ainda recuperava a sua visão, então, ela olhou para o militar antes de falar.
— Estou indo atrás do Saddler. Mas Leon não precisa morrer para atingir nossos objetivos.
Qual o motivo dessa proteção àquele agente? Será que ela nutre algum sentimento por ele? Só podia ser. Era a única explicação para Krauser. Mas ele não iria se importar com sentimentalismos dos outros. Não iria poupar Leon, até por que ele seria uma pedra no caminho deles, isso era certo. Então, olhando para a espiã, Krauser disse em bom tom.
— Ele deve morrer. Wesker mandou.
Ada riu do que Krauser disse.
— Ora, nem você é tão fiel a Wesker. Se conseguirmos a amostra, pouco importa se Leon estiver vivo ou morto. Agora diga uma coisa. Você quer matar ele. Mesmo que não houvesse ordem nenhuma. Estou certa?
Krauser não quis responder. O que havia entre ele e Leon era problema deles e ninguém mais tinha nada a ver com isso.
— Ada, vamos fazer nossa parte. Pegue a amostra. Só isso. Se interferir na minha luta com Leon novamente, mato vocês dois. Estou sendo claro?
Ada olhou para o lado da saída antes de falar.
— Sim. Agora, se me permite, tenho que seguir Saddler.
Krauser apanhou a parte da figura que abria o portão e mostrou-a para Ada.
— Só tem uma coisa. O portão só abre com essas peças. Estão espalhadas por aí.
Ada mostrou uma pistola com um gancho na ponta.
— Tudo bem. Eu tenho como sair daqui.
Krauser estava ficando farto daquela conversa com aquela traidora. Iria matar ela logo. Mas agora sua prioridade era Leon. Para se livrar logo dela, disse:
— Ótimo. Então acho bom se apressar.
Ada Wong saiu do campo de visão de Jack Krauser, que ficou pensando em como iria matar a espiã depois de acabar do Leon Scott Kennedy. Provavelmente seria mais fácil que o agente. Ela seria sempre um perigo para a missão. Se conseguisse apanhar a amostra, provavelmente não a entregaria a Wesker. Ficaria com o frasco para si. Jack Krauser nunca confiou no jeito dissimulado de Ada. Cada vez tinha mais motivos para eliminá-la. Então, depois de uma interminável espera, Leon apareceu no portão. Chegou o momento.

Capítulo 41

Leon desligou o transmissor. Saltou para o piso de baixo, assim como Ada e saiu. Logo se viu diante de outra porta. Parecia um corredor. Era iluminado por lâmpadas no alto das paredes e tinha uma aparência futurista. Parecia ser todo de metal. O agente entrou e viu uma porta na outra extremidade. Parou na entrada. Não tinha ninguém ali. Olhou para trás para se certificar de que não fora seguido. Ninguém. Estava tudo muito estranho. Passou a caminhar para dentro, sempre tomando todo o cuidado, pois desde que chegara ao povoado, algum inimigo o estava espiando, pronto para atacar. Entretanto, logo viu o motivo de não ter ninguém. O corredor era uma armadilha mortal. Uma armadilha que ele conhecia muito bem, desde Raccoon City.
Duas linhas de laser verticais e uma na horizontal, na altura do pescoço de Leon. Ele sabia que elas cortariam o que estivesse na sua frente. Mais recordações da Umbrela. As linhas verticais se moviam para os lados e o agente teve de calcular o momento exato para não ser partido ao meio. Mas teria mais. Ele sabia. Agora as linhas formaram um quadrado suspenso. Mas elas se moviam e vieram ao encontro de Leon, que teve mais uma vez de correr no momento exato. Então, várias linhas diagonais surgiram à sua frente e vieram para lhe fatiar. Leon saltou pela única brecha que encontrou. Caiu e levantou-se o mais rápido que conseguiu. Sim, faltava a última. Se tudo fosse como era na Umbrela, faltava a rede. Mas tinha uma que ele não contava, de repente, do nada, várias linhas horizontais surgiram e quase o atingiram. Então elas vieram para frente. Leon conseguiu saltar para trás e o laser passou por ele. Leon se levantou. Respirou fundo. As linhas em forma de rede não viriam? Ele correu até um interruptor que tinha do lado da porta. Foi nete momento que ouviu um barulho. Sim, as linhas formaram uma rede se cruzando praticamente do teto até o chão. Ele correu em direção à porta. As linhas vieram. Ele saltou na parede, usando toda sua força e sua impulsão. Deu dois passos para cima e se projetou para trás, dando uma cambalhota. As linhas passaram sob Leon, que caiu no chão. A porta se abriu.
Agora, Leon estava dentro de uma sala de clima bem futurista. Não tinha decoração nenhuma, e a iluminação vinha de lâmpadas embutidas nas paredes. Bem ao centro, uma grande poltrona fazia as vezes de trono e atrás dela, havia um estandarte com a insígnia dos Illuminados. Devia ser ali que Osmund Saddler ficava e dava as suas ordens. Atrás do trono, uma porta se abriu e revelou um elevador. O agente entrou e acionou o mecanismo. Só dava para descer e a plataforma se moveu para baixo.
Leon saiu em um túnel. Desceu uma escada e foi para outro túnel. No fim, havia um papel cravado na parede lateral, perto da saída. Era um documento assinado por Luis Sera. Alguém o deixou ali. Certamente foi Ada, para ajudar a combater Las Plagas.

“Relatarei aqui minhas descobertas sobre as Plagas. As Plagas tem três características distintas: 1. Como mencionado anteriormente, as Plagas tem a habilidade de manipular o comportamento de seus hospedeiros. 2. As Plagas são organismos sociais. Com isto, quero dizer que ao invés de viverem individualmente, elas vivem em perfeita harmonia social. Acredita—se que elas tenham uma inteligência coletiva. Este tipo de comportamento pode ser visto em insetos como abelhas e formigas. Porém, este tipo de comportamento social é raramente visto em organismos parasíticos. Talvez isto tenha sido um comportamento aprendido pelas Plagas. Estou pesquisando se há alguma relação com a primeira característica. 3. As Plagas têm um instinto excepcional de adaptação. Elas são capazes de viver em muitos tipos de organismos criando rapidamente um ambiente simbiôntico. Esta habilidade, quando combinada com seu comportamento social, permite que elas interajam com inteligência entre os hospedeiros, não importando o organismo do hospedeiro. Tenho vergonha de admitir que minha pura fascinação pelas Plagas, numa percepção tardia, me tenha cegado para os reais objetivos da pesquisa dos Los Illuminados.

Mesmo sabendo que Saddler iria abusar dos resultados de seus experimentos, eu não podia me afastar da minha pesquisa. Como consequência, sou tão responsável por toda essa bagunça quanto ele. Eu vejo agora que estava errado, mas será que eu consigo impedir seus planos malignos sozinho...?”
Ao sair do túnel, Leon correu até um portão de madeira. A noite estava fria ali e o vento soprava forte. Não havia nuvens no céu. Leon parou por alguns instantes antes do portão e procurou ouvir se havia algo do outro lado. Não ouviu nada. Então, abriu o portão. Viu-se em outro corredor estreito, cercado por montes de pedra. Ao sair, foi para um espaço aberto. À frente, havia uma plataforma suspensa, presa por correntes. Havia uma ponte ligando à parte de terra. Mas não se observava um único movimento. Leon chegou perto da borda e observou melhor a plataforma. Havia várias portas lá. Era uma espécie de labirinto. Qual a finalidade daquilo ali? Não estava morrendo de curiosidade, mas sabia que logo veria a finalidade da estrutura.
O agente subiu o piso de terra que ficava ao redor da estrutura e algo chamou sua atenção. Dentro de uma poça d’água, algo estava brilhando. Não podia ser o que Leon estava pensando que fosse. Quando chegou perto e apanhou o pequeno objeto, sentiu uma pontada de desânimo. Era o rastreador que ele colocara em Ashley. Não teria como localizar ela. Pelo jeito seu esforço foi em vão. Baixou a cabeça e suspirou. Todavia, sabia que não havia tempo para ficar se lamentando.
Quando ele se levantou, o chão começou a tremer. E Leon não achou que se tratasse de um terremoto. O agente olhou rapidamente para os lados, mas tudo o que via eram as montanhas de pedra o cercando e o buraco imenso com a plataforma suspensa. Mas o chão estava tremendo. Então, uma das paredes de pedra simplesmente explodiu e Leon foi jogado para trás, caindo na entrada da plataforma suspensa. À sua frente, surgiu um monstro como ele nunca havia visto nada igual. Era enorme. Tinha quatro pernas duas coisas que poderiam ser braços, mas não tinham mãos e sim duas pontas. A cabeça da coisa era grotesca, com dois olhos enormes e uma boca desproporcional e uma língua que caía até o tórax da criatura. Tudo indicava que algum dia ele já foi um ser humano, pois seu abdômen ainda tinha o formato de o de uma pessoa. A cabeça tinha alguns traços de humanidade. Mas era uma coisa. Um monstro. Mais uma das criaturas de Osmund Saddler. Era a isso que ele se referiu quando disse “ele”. Leon olhou ao redor e pensou em como enfrentar aquilo dentro de uma espécie de gaiola pendurada em correntes. Não sabia como fazer, mas teria de fazer.
A coisa à frente de Leon atendia pelo nome de U3 e é mais um dos experimentos com Las Plagas feito por Osmund Saddler. Ele tentou acertar o agente com uma daquelas coisas que deveriam ser braços, mas este conseguiu se esquivar a tempo. Depois disso, a criatura subiu sobre a gaiola. Leon passou pelo corredor, ouvindo os barulhos de U3 pisando sobre a grade. A coisa desceria a qualquer momento, ou atacaria de cima mesmo. Tinha de estar atento para desviar de qualquer coisa que viesse do alto. O agente chegou a um interruptor vermelho e o apertou. Assim que deu meia volta, U3 desceu novamente em frente ao americano. Estava cercado. Teria de ser rápido. E o ataque veio de frente de novo. Leon conseguiu saltar e evitar ser atingido. Para a sorte sua, o monstro era lento para se recompor depois de errar o golpe. Leon correu e viu um segundo interruptor. Também estava vermelho. Correu com toda sua velocidade até ele o pressionou. O interruptor ficou verde e uma porta abriu à esquerda do agente. Ele correu até ela. Foi só o tempo de sair da plataforma em que estava, que ela desabou para o vazio. U3 conseguiu saltar dela também.
Leon viu uma porta fechada e atirou no ponto verde a cima dela. Abriu-a. Mal deu tempo de ver uma sombra na luz e o monstro saltou à sua frente, desferindo um ataque. O agente deu uma cambalhota para trás, se esquivando por pouco. Depois disso, o agente correu até o interruptor. Tinha de ser rápido, pois U3 vinha em seu encalço. Assim que pressionou o botão e este mudou da cor vermelha para verde, a criatura apareceu. Leon nem pensou, simplesmente correu. O monstro estava em sua frente e o americano se dirigiu de encontro àquela coisa, que não conseguiu atacá-lo. Depois de passar por ele, o agente foi em direção ao outro interruptor. Enquanto corria, dava para ouvir os passos de U3 atrás. Leon chegou ao outro interruptor e o pressionou. Ouviu a porta abrindo, mas estava mais longe. Uma contagem de 30 segundos iniciou no interruptor. Leon teria esse tempo para chegar à porta. E avançou. U3 correu por cima da plataforma, sem conseguir alcançá-lo. Então, este chegou à porta e saltou para a outra plataforma.
Assim que conseguiu olhar para trás, a estrutura de onde havia saído desabou. O monstro teria caído junto? Quando o agente ouviu um estrondo e sentiu a gaiola onde estava estremecer, soube que não.
Assim que se virou para o lado, Leon já se viu de frente para o interruptor. Apertou o botão e uma porta à sua esquerda se abriu. O monstro não estava naquele local ainda. Mas de repente, U3 caiu em frente ao agente e se agachou. Neste momento, de suas costas, saiu uma coisa, que poderia ser uma cauda de escorpião, mas com duas pontas. O monstro ficava cada vez mais monstruoso. Leon aproveitou que a coisa ainda estava se transformando e correu para dentro do túnel que se abriu. Ao sair, deparou-se com uma grade e outra luz sobre uma porta. Teria de atirar na lâmpada. Assim que o fez, a porta se abriu. O agente voltou para dentro do túnel e a plataforma tremeu, indicando que U3 subiu sobre ela. Enquanto percorria o túnel, Leon escutava o monstro caminhando sobre ele. De repente, um baque. A coisa saltou novamente para dentro da plataforma. Assim que ele pressionou o botão, U3 apareceu à sua frente. Mais uma vez, o agente correu na direção do monstro, que errou o golpe, mas por muito pouco. O agente chegou a sentir o vento da cauda da criatura atrás de si, mas conseguiu voltar ao túnel. Ao sair, sabia que teria poucos segundos para saltar fora. Chegou à porta de saída e quando a abriu, viu um pequeno espaço à frente que não se ligava a nada. Um gancho em uma corrente seria a única salvação. Leon se atirou e se agarrou nele. U3 saltou atrás, mas não conseguiu alcançar o agente, caindo no vazio, junto com a plataforma. A corrente onde ele estava subiu, levando-o até terra firme de novo.
Leon voltou à terra firme, agora do outro lado do lugar por onde entrara. O local era cercado de montanhas e cavernas. Em frente a cada caverna, havia grades suspensas. Será que elas se fechariam? O agente tinha praticamente certeza que sim. De repente, se ouviu um barulho e o chão começou a tremer. Leon sabia o que era e correu para a caverna à sua frente. Quando ele conseguiu saltar para a parte de dentro, a criatura caiu na entrada, bloqueando a saída. Com o impacto, a grade caiu atrás de U3, fechando a caverna. Leon, que estava carregando a sacola como uma mochila, pegou a escopeta. Sacou-a e atirou no monstro. U3 não estava conseguindo reagir. O agente aproveitou então para apanhar uma granada e jogar. O monstro sentiu a explosão. Então, a coisa fez um movimento com a cauda e foi para dentro da terra, escavando um buraco. Leon ficou olhando para os lados. Teria de ficar especialmente atento para qualquer coisa que percebesse. De repente, o chão tremeu. O agente esperou até o sentir o tremor sob os pés e saltou para trás. Exatamente onde ele estava, surgiu a cauda de U3, como se fosse uma garra enorme. As duas pontas apertaram o vento apenas e se enterraram. Então, mais uma vez o chão tremeu e Leon teve de saltar, vendo aquela coisa brotar do chão novamente. Estava conseguindo escapar, mas até quando? Repentinamente, U3 subiu à superfície e veio atrás do agente. Este apontou a escopeta e quando a criatura apareceu, disparou na cabeça. Deu tantos tiros quantos conseguiu, mas o monstro parecia imortal. Então, a coisa se enterrou novamente. Leon correu a uma alavanca e abriu mais uma daquelas espécies de portas que bloqueavam a entrada das cavernas. Quando estava quase entrando, sentiu o chão tremer. No exato instante que saltou, a cauda de U3 saiu do chão. A coisa veio correndo atrás de Leon, que apanhou uma granada e jogou-a na criatura. Desta vez, quando deu a explosão, U3 emitiu um grito e algo que poderia se sangue espirrou de sua boca. Em seguida, o monstro se contorceu e caiu no chão, onde ficou imóvel. Leon chegou perto para se certificar de que a coisa estava morta. Sim, estava. Agora, poderia seguir em frente.
Depois disso, o agente parou e ficou apenas respirando fundo. Precisava recuperar o fôlego. Então, passou a caminhar mais vagarosamente. Tinha de dar uma descansada. Chegou a uma porta de ferro. Abriu-a e entrou em um túnel. Após o túnel, Leon chegou a uma escada de escalar e depois em outra, até uma porta. Saiu em um espaço aberto, que continha apenas uma cerca de arame farpado em frente e uma escada de escalar ao lado. Leon se aproximou dela e olhou para baixo. Havia muitos soldados ali em torno de barracas, só que também tinha muitos barris de combustível, usado nos lampiões que iluminavam o acampamento. Leon pegou uma granada e jogou no barril mais ao centro, pois sua explosão atingiria os demais, gerando uma reação em cadeia. Deu certo e tudo ali foi pelos ares. Todos os soldados foram mortos. Depois disso, o agente desceu.
Na parte de baixo, Leon caminhou pelas barracas do acampamento. Ao entrar em uma delas, viu um buraco com uma escada. O agente desceu por ela. Ele saiu em um túnel que tinha um trilho. Na parte do teto, a claridade vinha das lâmpadas incandescentes penduradas. Leon correu até chegar a outra escada, a que dava acesso à saída do túnel. Em uma mesa, dava para ver um pedaço de papel assinado por Krauser.

“Acontece que o velho Saddler não me aceitava no começo. Mesmo eu tendo conseguido raptar Ashley, eu meio que percebi isso quando Saddler não me aceitou. Sob essas circunstâncias, eu não tinha alternativa, senão pedir sua ajuda. Talvez ela soubesse o tempo todo que isso acabaria acontecendo… Meu palpite é que seu objetivo real possa ser diferente do objetivo de Wesker e do meu. Esta é a oportunidade perfeita para descobrir. E depois que eu me livrar de Leon e conseguir a amostra, vou colocar seu cadáver um saco junto com o de Leon e mandá-los para Wesker.”

Após escalar a escada, Leon saiu de um buraco em frente a um portão alto de madeira, com o topo arredondado e com duas tochas, uma de cada lado iluminando o local. O céu tinha algumas nuvens, mas o tempo era bom e já estava amanhecendo. A brisa fresca fez o agente recordar dos tempos em que saía nas campanhas antes de o dia raiar e ele respirou fundo. O sol ainda não apareceu, mas em poucas horas, já estaria visível. Deviam ser algo entre cinco e seis horas da manhã. Quanto tempo se passara desde que chegou ao vilarejo? Parecia que tinham se passado dias, mas na verdade, foram horas. Sim. Às seis horas do dia anterior. Há quase doze horas, ainda estava no vilarejo. Foi nesta hora em que acordou-se naquela cabana. De lá para cá, muita coisa aconteceu. O jeito era prosseguir.
Assim que o agente passou pelo portão, saiu em um ambiente aberto. Do lado direito, um penhasco que dava no mar. Do lado direito, uma montanha. À frente, algo que parecia uma grande construção de tijolos. Assim que Leon chegou ao fim do caminho, viu o que era. Sim, era uma enorme construção, toda em alvenaria. Em vários locais, havia latões com fogo dentro, iluminando o local. Ele saltou e se viu entre várias casas, algumas de um piso, outras de dois. Mas não tinha ninguém ali. A única coisa que se escutava eram os próprios passos e o crepitar do fogo. Mas algo dizia que ele estava sendo vigiado. Sabiam de sua presença e logo se revelariam. E Leon desconfiava que encontraria Krauser. Talvez para o derradeiro confronto. O agente foi caminhando, olhando atentamente para os lados, quando ouviu a voz do ex-parceiro de campanha. Krauser saiu de trás de um pilar que sustentava a estrutura à frente de onde Leon estava. Falou caminhando para o lado. Trajava o uniforme de guerra, com sua boina vermelha sobre a cabeça.
— Então agora vocês estão juntinhos, não é?
Leon parou e olhou para onde o militar estava e perguntou:
— Onde está Ashley?
Krauser parou e olhou de volta antes de responder com outra pergunta.
— Você quer mesmo saber? Está além daquele portão.
Ao dizer isso, apontou com a cabeça. Depois prosseguiu.
— Mas para abri-lo, precisará de três insígnias.
— O que você vai fazer Krauser?
— Há uma que está na ala norte, há outra, na ala leste.
— E deixe-me adivinhar. Você tem a última. Certo?
— O que significa que você está em uma enrascada.
Krauser parou e se virou para Leon. Apanhou uma metralhadora automática e fez mira. Leon falou mais para si do que para o inimigo.
— Parece que você armou tudo direitinho.
Neste momento, Leon apanhou um objeto pontiagudo de um dos bolsos, semelhante ao que usou para se pendurar quando foi jogado no castelo, mas sem a corda e jogou contra o militar. Ela atingiu a metralhadora de Krauser, mas logo este se recuperou e disparou uma rajada de tiros na direção do agente americano, que correu para trás de um muro de concreto e se jogou atrás dele. Então, os tiros pararam. De repente, uma flecha acertou o muro. Leon se perguntou o motivo de Krauser ter atirado ali, então ela começou a emitir um “bip”. Leon saiu correndo e o muro explodiu. Enquanto corria, ouviu outra explosão atrás. Leon entrou em uma das casas que havia ali. Havia um temporizador na porta ao lado da que entrara. O agente apertou-o.
Não demorou muito e a porta de madeira do abrigo estourou e Krauser apareceu ali. Ele atacou Leon com a faca, mas este conseguiu esquivar e contra-atacar, derrubando o inimigo, que se levantou com uma rapidez anormal. Ele se movimentava a uma velocidade que não era humana. Ao tentar atacar novamente, Leon mais uma vez se esquivou e acertou-o. Desta vez, Krauser usou uma granada cegadora. Quando o agente voltou a enxergar, estava sozinho na pequena casa. O temporizador destrancou a porta. O agente chutou-a e saiu.
Enquanto corria, Leon ouviu passos e se virou para trás. Krauser estava em seu encalço mais uma vez e o atacou. As facas se encontraram e saiu faísca dos golpes. O militar tentou mais uma vez, mas errou o ataque e Leon o acertou de novo. O agente encurralou Krauser entre dois muros, mas este jogou mais uma granada cegadora. Depois de passar o efeito, Leon se viu sozinho mais uma vez.
O agente desceu uma escada e passou por um portão, onde havia espaço para as três insígnias. Passou reto e subiu uma escada. Passou exatamente pelo ponto onde Krauser esteve antes, quando ouviu uma flecha se cravando no muro de tijolos logo atrás e o “bip” emitido por ela. Alguns segundos mais tarde, a explosão fez o chão tremer. Após subir uma segunda escada, Leon parou e então viu a primeira insígnia. Estava em uma poça d’água. Então, quando se levantou, o agente viu Krauser se aproximando, com a faca em punho.
— Krauser, o que você pretende, ajudando a restaurar a Umbrela?
O militar caminhava ao redor de Leon, sempre o observando, com a faca em posição de ataque.
— Trazer ordem e equilíbrio para este mundo insano.
— Um psicopata como você não pode trazer ordem e equilíbrio a lugar nenhum.
— Você não acha que uma mente conservadora pode traçar um novo rumo. Um caminho para um mundo novo. Acha?
Neste momento, a porta que dava acesso à saída se fechou e Krauser saltou sobre um muro que cercava o local e jogou uma granada. Leon saltou para trás e escapou. Ficou exatamente sob o local onde o militar estava. Havia muro dos lados, com uma pequena cobertura, sustentada por colunas. Krauser saltou e neste momento, Leon apanhou sua metralhadora e atirou. Mas o militar se esquivou dos tiros com sua velocidade sobre-humana. Em zigue zague, ele se aproximou do agente e atacou com a faca. Leon se esquivou. Quando o agente tentou contra-atacar, o militar jogou mais uma granada cegadora.
Foi quando, uma coisa chamou a atenção do agente. Havia uma parte do chão destacada. Sim, como os blocos no piso do castelo. Teria de colocar algo pesado sobre ele. Leon olhou rapidamente ao redor e viu uma estátua. Então, correu até ela e a empurrou sobre o bloco, que imediatamente cedeu alguns centímetros. Neste momento, a grade que protegia uma alavanca na outra extremidade da área onde estavam se abriu e a porta que dava acesso à saída foi aberta assim que Leon acionou a alavanca.
Ao passar pela porta, o agente desceu uma escada em espiral. As paredes eram todas em pedras por dentro, com tochas iluminando o local. Leon se aproximou de uma porta fechada com uma grade. Ao lado dela havia uma alavanca, mas antes de conseguir chegar a ela, o agente foi surpreendido por Krauser, que estava escondido atrás de uma parede. Leon saltou rápido, mas chegou a sentir o vento do golpe do militar em seu rosto. Mais uma vez, Krauser tentou atacar o agente, mas este conseguiu esquivar e desta vez contra-atacou. Acertou com a faca no corpo de Krauser, que deu uma cambalhota para trás. Quando estava sendo encurralado, Krauser jogou mais uma granada cegadora. E novamente, quando voltou a enxergar, Leon estava sozinho. O agente acionou a alavanca e a grade abriu.
À frente, havia uma escada. Leon saltou até a parte de baixo. Então, duas espécies de aranhas mecânicas equipadas com explosivos vieram caminhando na direção do agente, que atirou nelas, explodindo-as. O agente seguiu e encontrou só uma câmera sobre o chão de areia. Ele atirou e ela explodiu. Era uma daquelas aranhas enterradas. Essas armas eram uma das especialidades de Krauser. Quando ele deu mais uns dois passos para frente, ouviu um “bip”. Então, algo semelhante a um pequeno avião veio na direção de Leon, que atirou nela, explodindo-a antes de ser atingido. Depois disso, o agente entrou em um túnel, encontrando mais duas daquelas aranhas enterradas. Atirou nelas. Por sorte já lutara ao lado de Krauser, por isso, conhecia bem seus truques. Quando saiu do túnel, encontrou o militar novamente.
— Então, por que estás lutando, camarada?
— Por meu passado, suponho.
— Eu… pela Umbrela.
Depois disso, Leon seguiu e entrou em outro túnel. A porta de saída se fechou atrás de si e sobrou apenas um caminho por uma escada estreita em espiral. Quando terminou, chegou a uma escada de escalar. Quando terminou, saiu no alto de uma espécie de torre. Um piso de madeira a circundava e sobre ele, estava a segunda insígnia. Então, no alto de um pilar, estava Krauser. Leon olhou para cima e falou, encarando o militar.
— Já encontrei duas. Só falta uma, Krauser.
— Veremos. Venha buscar.
Krauser começou a gritar e jogou a metralhadora no chão. Seu braço esquerdo começou a se transformar. Aumentou de tamanho e no lugar de sua mão, surgiram pontas. A pele aparentemente se rasgou e o local onde antes estivera um braço, ficou algo que lembrava um tentáculo. Depois de concluída a transformação, Krauser olhou para o agente com desprezo.
— Agora, Leon, presencie o poder.
— Você está completamente louco, Krauser.
— Prepare-se para morrer, Leon.
Neste momento, Krauser saltou com aquele tentáculo na direção de Leon. O agente teve apenas alguns segundos para saltar para o lado, cuidando para não cair do piso de madeira, pois a altura era vertiginosa. Escapou por pouco. Krauser cravou a ponta do braço na madeira e Leon aproveitou para sacar a metralhadora e atirou no peito do militar que se levantou e atacou novamente. Leon viu que Krauser estava ferido e por isso se movia mais lentamente. Esquivou-se do ataque novamente. O soldado já não conseguia mais se recuperar rapidamente. Leon sabia que este era o momento. Tinha de aproveitar que o ferimento ainda era grave. Apontou a metralhadora e descarregou a munição. Krauser ficou em pé. Um buraco se abriu no peito do militar e ele vomitou sangue. Depois de alguns segundos de agonia, Krauser caiu inerte no chão. Leon se aproximou do inimigo e apanhou a insígnia que faltava.
Krauser tinha tanta confiança em sua arma biológica que descartou a arma de fogo. Seu excesso de confiança foi o que o matou. Aliás, Krauser sempre sofrera deste problema. Foi isso que quase colocou a missão Javier a perder. Se não fosse Leon salvar o ex-companheiro, ambos poderiam ter morrido. Mas, o agente sentiu uma certa melancolia de ter sido obrigado a matar o militar. Não acreditava que fosse acontecer, mas tinha alguma esperança que ainda Krauser iria enxergar o absurdo que estava fazendo trair Saddler. Não aconteceu.
Neste momento, Leon ouviu um “bip” vindo de baixo. Sem saber o que era, o agente resolveu correr. Quando saltou para o lugar onde estava, viu que havia muitas bombas com um temporizador ligado. A contagem regressiva registrava menos de dois minutos. O lugar iria todo pelos ares. Teria de correr. Leon temeu ter perdido o caminho até o portão onde encaixaria as insígnias. Sem contar que teria de ter tempo de fazer isso. Quando chegou em frente ao portão, retirou as três partes guardadas e as colocou no baixo relevo, completando a figura. Passou pelo portão e saiu correndo. Quando estava já a alguns metros do local, Leon escutou um estrondo e o chão começou a estremecer. Uma nuvem de poeira pairou sobre o portão. Krauser estava morto e sua base destruída. Agora, o próximo era Osmund Saddler. Leon pensou no líder dos Illuminados, deu um pequeno sorriso e disse para si mesmo: “Sua hora está chegando”.

Capítulo 42

Enquanto caminhava, Ada Wong ainda pensava no que tinha acabado de acontecer. Leon Scott Kennedy. Talvez ele fosse a peça mais importante da missão. A história não estaria completa sem ele e sua habilidade de sobreviver. Ele sabe como sair rapidamente de qualquer situação. A espiã já o vira fazer isso antes, e ele melhorou desde então. Praticamente um gênio, ele tem cérebro e sabe como usá-lo. Além disso, sua carreira como agente do governo o fortaleceu.
Ada terá de trabalhar nos bastidores para fazer com que o agente pense que ele é a figura principal aqui, mas isso não vai ser um trabalho fácil. Considerando as presenças de Osmund Saddler e de Jack Krauser, é possível que ocorram alguns imprevistos. Mas Ada sabe que precisa da ajuda de Leon para conseguir alcançar seus objetivos. E fará o que precisar para manter o agente em seu lugar e para se assegurar que tudo saia bem. É claro, seu papel não existia até há alguns meses atrás. E assim o papel de Ada Wong poderia ser mais simples. Mas isso foi antes de sequestrarem a filha do presidente dos Estados Unidos e Leon ter sido enviada para resgatá-la, causando uma mudança nos planos. Ada não crê que será preciso se preocupar. Leon já passou por situações piores e saiu ileso. Sua incrível sorte é um dos motivos que faz Ada ter fé no destino que o aguarda.
Então, assim que saiu do local onde se desenrolou a luta entre Leon e Krauser, Ada teve de se esconder. Ouviu passos de duas pessoas que vinham conversando. Um delas era Osmund Saddler, isso a espiã teve certeza. Falavam em espanhol, mas dava para compreender tudo. Havia muitos lugares onde se esconder, por causa da pouca iluminação. Então, aproveitaria os palanques, as pilhas de caixas e os tonéis. Ou seja, usaria os mesmo lugares que os soldados da seita usavam para lhe preparar emboscadas. De repente, viu Saddler e um soldado vindo. Havia uma terceira pessoa caminhando com eles, mas parecia estar em transe. Uma garota. Só podia ser Ashley. Neste exato momento, estavam em silêncio. O líder dos Illuminados caminhava, como sempre, com seu cajado com aquela espécie de cabeça na ponta, com tentáculos. Tinha a túnica roxa com o capuz a lhe cobrir o rosto e passou sem olhar para os lados. Os dois chegaram a um corredor. Era a única passagem dali para fora. Eles entraram. Ada esperou um pouco e foi atrás. Assim que a porta ao fim do corredor se fechou, a espiã entrou atrás.
Mas de repente, ela se deu conta da besteira que fez. A porta ao se fechar, acionou uma armadilha. Ada conseguiu escapar da primeira. Eram linhas de laser que vinham na direção de quem entrava e cortavam tudo o que tocavam. Por fim, a última. A espiã não pensou duas vezes. Prendeu seu gancho no teto e se içou para cima e levantou os pés o máximo que conseguiu. As linhas passaram a baixo dela e a porta se abriu. Ada caiu no chão e saltou para dentro da sala. Saddler e o soldado já não estavam mais ali. Mas haviam saído há pouco. A espiã correu e chegou atrás de uma espécie de trono que tinha no lado oposto ao da porta de entrada. Viu um elevador. Ada subiu nele e o acionou. Assim que terminou de descer, saiu em um corredor subterrâneo e voltou a ouvir a voz de Saddler. Então correu.
Ainda não era possível compreender o que era dito, mas ela não queria arriscar ser vista. Assim que saiu de um túnel, chegou a um local com uma espécie de plataforma suspensa. Parecia uma gaiola. O chão tinha alguns metros à frente. Para o lado, havia uma subida. Então, Saddler pegou algo que estava preso na roupa da garota e jogou no chão. Após rir, falou:
— O senhor Kennedy pensa que sou otário. Ele vai vir aqui. É isso o que queremos.
O soldado de uma gargalhada.
— Deixe que o U3 brinque com ele.
Os dois riram. Saddler completou:
— Vai ser divertido. Pena que não vou poder ver nosso mascote se entretendo com aquele agente americano.
Os dois voltaram a caminhar e Ada conseguiu ouvir o líder da seita dizer ainda:
— Por falar em americano, vamos ver o que Krauser está fazendo.
— Sim, vamos.
Os dois continuaram a caminhada. Ada não tinha a intenção de seguir pelo caminho dos dois, pois era provável que haveria alguma armadilha ali. Então, lançou o gancho até a plataforma. E dali para o outro lado. Viu Saddler e o soldado pegando uma espécie de teleférico. Ela os seguiu usando o gancho. Por fim, os dois chegaram em um local plano e pararam em frente a um penhasco. Havia uma escada e os três desceram. Ada chegou ali perto e observou-os. Eles entraram em uma barraca. Era um acampamento militar. Ada desceu e ficou ali esperando. Não tinha ninguém ali. De dentro, ouviu o soldado.
— Lorde, logo o pelotão estará todo aqui esperando o agente.
Osmund Saddler deu uma gargalhada.
— Vão ficar esperando? Acho que já podem se dedicar ao restante do plano. Ele não virá. Nosso amigo U3 vai eliminá-lo. Tenho certeza disso.
— Bem, mas por precaução, vamos deixar um grupo aqui para esperá-lo.
— Como quiserem.
Ada entrou na barraca. A voz deles ficou muito distante. Ela viu um buraco e desceu. Quando saiu do outro lado, estava em um local aberto novamente. Caminhou até um grande portão em madeira e o abriu. E viu o que pareciam ruínas. Correu até atrás de um muro e se abaixou. Osmund Saddler, o soldado e Jack Krauser estavam conversando agora. Desta vez, o líder da seita falava em inglês.
— Krauser, pelo jeito está preparando o terreno para uma guerra. Vejo bombas, armadilhas. Vai receber seu amigo aqui?
Krauser, sempre sério, respondeu:
— Espero desta vez não ser atrapalhado. Teria eliminado Leon se não fossem interferências externas.
— Quem o atrapalhou?
Krauser olhou para Saddler, sério.
— Eu resolvo isso.
— Certo. Mas acredito que não precisará lutar com o senhor Kennedy.
Krauser riu.
— Saddler, a essa hora, U3 já deve estar morto. Podem mandar buscar os restos dele.
— Você superestima a capacidade daquele agente.
— Eu vou matá-lo.
— Tudo bem. Tenho outros assuntos a tratar. Vamos cuidar dela até que o parasita termine de se desenvolver.
— Certo. Mas esperem. Só eu consigo abrir o portão.
Saddler e o soldado pararam e esperaram por Jack Krauser. Ada ficou observando nas sombras, escondida. Eles chegaram perto de um grande portão. Havia uma escultura em baixo relevo ali. Passaram-se alguns minutos e o militar apareceu com três fragmentos de uma figura, que encaixaram no portão. Agora, a escultura deixou de ser em baixo para ficar em alto relevo. O portão imediatamente se abriu. Saddler, o soldado e a garota passaram por ele e Krauser escalou a lateral do portão, apanhando novamente os fragmentos da figura. A saída se fechou novamente. Depois que os três saíram, Krauser apanhou três partes da escultura, que agora ficou em baixo relevo. Uma, o militar guardou consigo. Uma segunda, deixou não muito longe dali. A espiã esperou Jack Krauser sair e se aproximou do portão. Então, de repente, tudo ficou claro. Ela não enxergou mais nada. O que houve? Ada se virou para trás totalmente perdida, atordoada. Sim, ela sabia o que era. Uma granada cegadora. Então, ouviu uma voz.
— O que faz aqui? Achou que não tinha visto você?
Não! Krauser. Quando a visão foi voltando, Ada se viu de frente com o militar.
— Diga-me. Do lado de quem você está, Ada? Acho que você descumpriu uma ordem dada por Wesker. O que vou dizer? Que eu ia cumprir o que me foi ordenado, mas a senhorita Wong me impediu. Nosso chefe vai ficar meio… chateado. Não vai?
Ada olhou para Krauser.
— Estou indo atrás do Saddler. Mas Leon não precisa morrer para atingir nossos objetivos.
— Ele deve morrer. Wesker mandou.
— Ora, nem você é tão fiel a Wesker. Se conseguirmos a amostra, pouco importa se Leon estiver vivo ou morto. Agora diga uma coisa. Você quer matar ele. Mesmo que não houvesse ordem nenhuma. Estou certa?
Krauser ficou um pouco em silêncio.
— Ada, vamos fazer nossa parte. Pegue a amostra. Só isso. Se interferir na minha luta com Leon novamente, mato vocês dois. Estou sendo claro?
— Sim. Agora, se me permite, tenho que seguir Saddler.
— Só tem uma coisa. O portão só abre com essas peças. Estão espalhadas por aí.
Ada mostrou o gancho.
— Tudo bem. Eu tenho como sair daqui.
— Ótimo. Então acho bom se apressar.
Só que Ada resolveu esperar. Escondeu-se e ficou apenas observando, até que de repente, Leon entrou. Ele caminhou pela parte da frente das ruínas e então, Krauser saltou até onde o agente estava e começou a luta. Ada não iria interferir. Mas se visse que Leon estava em perigo, conseguiria não ajudar? Só se Krauser estivesse a ponto de matá-lo. Mas desta vez, o agente conseguiu equilibrar tudo. Parecia mais determinado. De repente, os dois subiram a um local que quase não dava para ver. Por fim, sumiram do campo de visão. Ada teria de esperar. A luta teria seu derradeiro fim. Apenas um dos dois sairia vivo. Qual deles?
Depois de uma interminável espera, Leon desceu correndo. Ada até se içou para cima e chegou ao local da luta. Krauser jazia morto. Mas o local inteiro ia explodir. A espiã saltou lá de cima, se prendeu à estrutura onde o militar estava e se lançou sobre o portão de saída. Leon acabara de passar por baixo dele e corria para um acampamento militar mais à frente. Atrás, a espiã ouviu a explosão e tudo começou a desmoronar.
Ada saltou, caindo no chão de terra. Havia uma montanha do lado esquerdo e o terreno bastante irregular do lado direito. À frente, muitos abrigos e barracas militares. De repente, um helicóptero passou sobre ela e parou em frente à montanha da esquerda, disparando uma rajada de tiros. Houve uma explosão. Sim, pelo jeito o veículo estava ali para auxiliar Leon. Dava para ver muitas chaminés cuspindo fogo. Eram elas que forneciam grande parte da claridade ao lugar. Então, o telefone tocou. Ada atendeu. Era Wesker.
— Me informe. O tempo está quase acabando.
O presidente da Umbrela não parecia nada satisfeito.
— Krauser está morto.
— Sério? É, Leon não morre fácil. E isso é bom. Tenho um novo plano. Vamos usar o agente. Ele vai matar Saddler por nós. Iremos deixá-lo lutar contra o líder da seita e veremos quem leva a pior.
— Mais fácil falar do que fazer…
— Em todo caso, o seu trabalho será limpar o que sobrar quando a luta acabar. Não se esqueça de quem está no comando. O que quer que aconteça, nenhum dos dois pode sobreviver. Recupere a amostra e se livre das pontas soltas.
Depois disso, Wesker desligou. É, ele estava desconfiando de algo. Deve pensar que Ada ajudou Leon a matar Krauser. Desta última vez não, mas se não houvesse sua interferência na primeira luta entre os dois, certamente o agente não estaria mais vivo. E o militar sim. Ada iria recuperar a amostra. Mas se faria do jeito que Wesker queria, isso é outra história.
Assim que passou por um abrigo, viu um container de metal, com uma placa de zinco à frente. Atrás, um arqueiro a esperava. Ada ainda não estava visível, então mirou e acertou na cabeça dele. Estava tudo destruído já. O helicóptero fizera um estrago considerável e havia muitos corpos pelo chão. Leon também não deixou por menos. Mas ainda havia muitos soldados pela frente. A espiã continuou caminhando, passando por trincheiras, pilhas de caixotes, barracas. De repente, um soldado enorme com uma metralhadora giratória saltou de cima de uma estrutura de dois pisos. Assim que ele se levantou, Ada apontou a metralhadora automática e disparou uma rajada de tiros, matando-o.
Depois disso, ela lançou o gancho e subiu sobre a estrutura de metal. Não tinha saída. Teve que descer. À frente, havia uma parede de mais ou menos um metro e cinquenta, de metal. Atrás dela, dois soldados saíram e quase acertaram Ada, que sacou a pistola e matou-os. De repente, um clarão no canto do olho e a espiã saltou para o lado, ouvindo a explosão de um foguete. Acertou exatamente o local onde ela estava. Atrás de uma rocha estava um soldado com um lançador de foguetes. Ada apanhou a metralhadora e atirou nele. Sorte e rapidez. Por muito pouco não morrera. Mas não dava para ficar pensado nisso.
Depois disso, Ada correu até um abrigo, que era o único meio de chegar ao outro lado, pois havia um buraco entre o local onde estava e a outra margem. O abrigo ficava sobre uma chapa de concreto e metal. Quando ela entrou, no entanto, ouviu uma explosão do lado de fora. A porta do lado oposto ao que entrou estava trancada e a primeira, agora estava com fogo. Teria de sair pela segunda, mas para isso, teria de destrancá-la. Ada apertou um botão ao lado dela, mas apenas ouviu um barulho. Ela acionou um temporizador. A porta se abriria, mas iria demorar algum tempo. Neste momento, do teto, saltou um grupo de soldados através de um buraco. Era uma armadilha. Com a metralhadora em mãos, ela matou todos. Mas dois se levantaram novamente, agora com as plagas no lugar das suas cabeças. Eram dois. Ada apanhou da mochila, uma granada cegadora. Jogou e as plagas explodiram. Depois do tempo programado, porta da saída abriu.
Ada correu até uma escada. Para sair dali, teria de abrir o portão, que era fechado por um interruptor. Ela subiu dois lances de escada e chegou até uma tirolesa. A espiã desceu até o local onde ele estava e o acionou, abrindo o portão que dava acesso à saída. Só que assim que passou pelo portão, este se fechou novamente, bem como o da frente. Deu para ver dois interruptores do outro lado do local, um de cada lado. Agora, teria de acionar os dois. Pela frente, muitas trincheiras, cercas de arames farpados, abrigos de madeira e uma estrutura metálica que circundava todo o local, formando um piso suspenso, com mais abrigos sobre ele. Do alto, um arqueiro atirou uma flecha e Ada conseguiu se esquivar, entrando em um dos abrigos. Ela espiou e teve de recuar para dentro, pois mais uma flecha passou por ela, muito perto. Ela aproveitou o tempo que o arqueiro teria para recarregar o arco, deu um passo para o lado, fez mira e atirou na cabeça dele.
Ada escalou até a parte de cima da estrutura, para chegar aos interruptores. Mas protegendo o primeiro, estava um soldado com uma metralhadora giratória. Assim que ele disparou a rajada de tiros, Ada saltou para dentro de um abrigo e as balas acertaram a entrada. Foi por muito pouco. Depois disso, ela aproveitou o tempo em que o soldado demorava para recarregar a arma, pegou sua metralhadora automática e o fuzilou. Assim que se livrou dele, abriu o portão que ficava em frente ao interruptor. Ao acioná-lo, a luz vermelha dele mudou para verde. Tinha de chegar ao segundo.
Ada saltou no chão e correu até uma escada, subindo no outro lado da plataforma. Outro soldado com a metralhadora giratória estava ali, guardando o outro interruptor. Este veio atrás de Ada. Ela se protegeu atrás de uma pilha de caixas de madeira e fuzilou-o. Chegou ao segundo interruptor, acionando-o. Assim que a luz vermelha mudou para verde, o portão de saída se abriu. Ada então saltou e correu até a saída. Ao sair por ele, deu de cara com outro portão. Mas este não estava trancado.
Ao passar pelo portão, ela chegou a uma escada. A iluminação ali vinha de tochas colocadas dos lados e dava para ver o céu nublado. Ada subiu as escadas e ao chegar à parte de cima, viu a destruição. Havia fumaça por todo o lado, vigas de concreto caídas e corpos mortos. Bem à frente, um soldado com um lançador de foguetes estava virado para a parte da frente, como se esperasse que alguém passasse. Não viu a espiã, que deu um tiro na cabeça dele, matando. Ada chegou até a borda do piso, onde havia um penhasco. Lá embaixo, jazia um helicóptero, ou melhor, o que restava de um. Subia uma fumaça negra dele, e um pedaço da hélice ainda pendia, se agitando no ar. Era auxílio de Leon. Foi abatido.
A espiã correu até um portão de madeira, com duas tochas, uma de cada lado e o abriu. Saiu em meio a ruínas e correu sobre o chão de areia. Saltou para baixo e encontrou um buraco com uma escada. Desceu ao nível inferior. Entrou por uma porta e ouviu passos. Alguém estava ali, atrás dela. Ada recarregou a arma e se virou. Era Leon. Mas ele não a viu. Estava mal, se contorcendo de dor, com as mãos sobre o abdome, tossindo. Deu para ver que havia sangue saindo da boca do agente. Ada correu até ele.
— Leon, você está bem?
O agente fez um sinal para ela, para que ficasse onde estava e continuou tossindo, sem conseguir dizer nada. Era o parasita. Ada sabia disso. Sim, ele estava infectado também. O braço de Leon começou a ficar marcado. As veias ficaram escuras. E ele se levantou. A tosse parou e seus movimentos voltaram ao normal. Mas não estava normal. Ada sentiu medo. O agente olhou para a espiã, mas seus olhos estavam brilhando, vermelhos, como os dos ganados. E então, com tudo parecendo irreal, ele agarrou o pescoço de Ada e começou a apertar. Não podia ser. Ada que tantas vezes salvara Leon. Que descumprira uma ordem de seu chefe e não o matou. Ela seria morta justamente por Leon? Não, nem que agora ela tivesse realmente que matá-lo. Mas esse não era Leon. Era um dos soldados de Saddler. No entanto, ainda dava para fazê-lo voltar. Ela apanhou a faca e cravou na perna do agente, que a soltou. Para sua surpresa, o ferimento começou a se regenerar assim que a faca saiu da perna dele. Leon se levantou.
— Me desculpe Ada. Não sei o que houve.
Ele estava de volta. Depois disso, ele tomou uma daquelas cápsulas dadas por Luis Sera. Ada, ainda se recuperando, disse:
— Nós temos de eliminar esse parasita do seu organismo o mais rápido que conseguirmos.
Sem olhar para a espiã, Leon respondeu:
— Sim, mas antes tenho de salvar Ashley.
— Certo. Vamos nos separar.
Ada saiu sem olhar para trás. Apenas pensou em como Leon iria salvar Ashley se ele mesmo poderia ser uma ameaça. Mas era melhor não pensar nisso. Além do mais, o agente tem os remédios. A garota é quem inspira mais cuidados. Ao que tudo indica, ela será levada para algum dos laboratórios da ilha. Ada entrou em uma sala com uma mesa no interior, contêineres abertos dos lados e uma lâmpada pendendo do teto, balançando, dando uma iluminação fraca e oscilante ao lugar. Dentro do container aberto, havia um saco amarrado em uma extremidade. O que quer que fosse que estava preso nele, se debatia. Ada o fechou.
Ela entrou por um corredor. Havia portas com grades dos lados e dentro de uma delas, um corpo repousava sobre uma cama de hospital. Era uma coisa daquelas que a espiã vira caminhando dentro da instalação, que eles chamavam de Regenerator. Estava desacordado. Ela passou por ali o mais rápido que conseguiu. Ao fim do corredor, a porta de saída estava sobre um piso mais elevado, mas a escada estava parcialmente destruída. Ela teve de saltar. Finalmente saiu daquele corredor. Quem viesse depois, encontraria aquela coisa, mas Ada tinha certeza que Leon daria conta. A espiã desceu a escada, olhou ao redor. À frente, havia uma torre e ao lado dela, uma escada que conduzia à outra parte da instalação.
Foi quando ouviu um barulho. De cima da torre, um alguém agarrou uma viga de ferro. Quando Ada olhou para o lado de aonde veio o barulho, viu apenas alguma coisa voando em sua direção. A espiã saltou para o lado e ouviu a viga se chocando com a parede. Quem fizera isso? Quem conseguiria atirar aquela viga de ferro como se fosse uma lança? Uma gota de sangue pingou do alto. E Ada olhou para cima. Sobre a torre, um homem surgiu. Vestia uma calça militar, suja de sangue. Seu braço esquerdo não era um braço, mas sim um tentáculo com pontas. Dava para ver que estava ferido. O sangue da espiã gelou nas veias. Como Jack Krauser podia estar ali? Ela o vira morrer pelas mãos de Leon. Mas ele estava ali. E agora queria matá-la. Ada tinha certeza que poderia enfrentá-lo. Mas ela apenas sabia na teoria como evitar os ataques daquele braço. Agora, teria como passar a teoria para a prática? Só tinha um jeito de saber.


Capítulo 43

O que estava acontecendo? Ashley não queria ir. Não devia, não podia. Mas suas pernas pareciam ter vontade própria. Alguma coisa lá dentro de sua cabeça, quase uma vontade inconsciente dizia que ela tinha de obedecer às ordens de Osmund Saddler. E ele a estava chamando. Era impossível resistir. Tinha de obedecer. A filha do presidente dos Estados Unidos caminhou até a escada. Ela sentia como se houvesse algo errado com seu corpo. Suas veias pareciam queimar. Seu sangue parecia estar fervendo. A cabeça doía. Ela começou a subir as escadas até onde o líder dos Illuminados estava. O parasita se desenvolvia. Logo Ashley não teria mais estes conflitos. Iria simplesmente obedecer. Neste momento, estaria pronta para retornar aos Estados Unidos.
Assim que ela chegou ao topo da escada, em um piso superior, em frente a uma espécie de altar, Osmund Saddler, sorrindo lhe estendeu a mão, e Ashley segurou-a. Ambos saíram caminhando, deixando um perplexo Leon apenas chamando pela garota que ele tinha vindo resgatar. Ashley sequer se deu conta de que era chamada. Estava em transe. Caminhando como um ser autômato, sem vontade própria. Os dois passaram por uma porta, depois de descerem dois lances de escada e então, saíram da instalação. Encontraram grupos de soldados e todos se curvavam e pronunciavam “Lorde Saddler” quando ele passava. Chegaram a um elevador e subiram até outra plataforma.
Quando Ashley se deu conta, estavam em um corredor sem aberturas. Foi como se de repente ela tivesse acordado. Olhou para os lados e não viu mais Leon, O que estava acontecendo? Ela quis gritar, mas se deu conta de que caminhava segurando na mão de ninguém menos que Osmund Saddler. Lembrou-se de que parecia ter deixado o agente para trás. Novamente havia sido sequestrada. Se bem que desta vez, ela foi sozinha até seu captor. No entanto, teria adiantado resistir? Provavelmente não. Talvez tenha sido melhor assim. Os dois entraram em uma sala com uma poltrona ao fundo. Foi então que ela se deu conta de que estavam em companhia de mais um soldado. O que eles vinham conversando? Não soube. Agora, procuraria prestar atenção.
O soldado, falando em espanhol, perguntava a Saddler sobre ela própria.
— Quando a enviaremos de volta?
Saddler riu.
— Ora, quando o pai dela nos pagar o resgate. Então a enviaremos com nossas lembranças a ele.
O soldado riu também.
— Vão desejar que ela nem voltasse.
— Quando se derem conta, vai ser tarde de mais.
Assim que a porta de entrada se fechou, Saddler apertou alguns botões em um painel que subiu em frente à poltrona. Ele olhou para Ashley antes de falar.
— Se estiver consciente, senhorita Graham, vou dizer uma coisa. Se seu amigo vier atrás de nós, este corredor será o túmulo dele.
Depois disso, deu uma gargalhada. Ashley não entendeu o que ele quis dizer, mas percebeu que Saddler deve ter notado que ela tinha acordado do transe. Sentiu medo, no entanto. Saddler estava preparado, caso Leon viesse atrás deles. Se ele conseguisse se livrar dos inimigos que o estariam esperando. Continuaram caminhando e atrás da poltrona havia uma espécie de elevador, que ia para baixo. Na verdade, tratava-se de uma plataforma circular que descia. Os três subiram nela e o líder da seita acionou o comando para descer. Depois, se dirigiram a um grande portão de madeira. Ao atravessarem, chegaram a um local que ficava de frente para um abismo. No meio dele, havia uma plataforma suspensa, pendurada por cordas com luzes piscando dentro dela. O que faziam ali? Não tinha como saber, mas parecia uma gaiola gigantesca. Eles seguiram para a esquerda, em uma leve subida, contornando um morro de pedra. Saddler apanhou um pequeno objeto preso à roupa de Ashley. Leon o jogara no momento em que ela foi na direção de Osmund Saddler. Depois, atirou o objeto no chão e deu uma gargalhada.
— O senhor Kennedy pensa que sou otário. Ele vai vir aqui. É isso o que queremos.
O soldado estava se divertindo com a ideia também.
— Deixe que o U3 brinque com ele.
Os dois desataram a rir. Ashley estava tremendo. O que quer que fosse esse tal de U3, devia ser um dos monstros criados pela seita. E se fazia jus à confiança que Saddler colocava nele, tinha de ser um inimigo terrível. Osmund Saddler continuou:
— Vai ser divertido. Pena que não vou poder ver nosso mascote se entretendo com aquele agente americano.
Os dois continuaram caminhando, agora em direção a um teleférico que levava para outro morro. Saddler, disse, agora em um tom mais distraído.
— Por falar em americano, vamos ver o que Krauser está fazendo.
O soldado que caminhava com ele, assentiu com a cabeça.
— Sim, vamos.
Os três subiram no teleférico e chegaram ao outro morro. Depois de caminharem alguns passos, pararam em frente a outro penhasco. Havia uma escada de escalar, que levava a um nível inferior. Saddler olhou para Ashley e ordenou que ela fosse à frente. Não teria como fugir lá em baixo. Quando eles chegaram ao chão, o líder dos Illuminados os conduziu a uma barraca bem ao centro do terreno. Já dentro do acampamento militar, o soldado disse:
— Lorde, logo o pelotão estará todo aqui esperando o agente.
Ashley olhou para Osmund Saddler, que exibia um largo sorriso no rosto quando ouviu o que o soldado disse.
— Vão ficar esperando? Acho que já podem se dedicar ao restante do plano. Ele não virá. Nosso amigo U3 vai eliminá-lo. Tenho certeza disso.
Como? Esse monstro seria capaz? Ashley estava cada vez com mais medo. O soldado respondeu:
— Bem, mas por precaução, vamos deixar um grupo aqui para esperá-lo.
Demonstrando certa contrariedade no rosto, Saddler apenas respondeu:
— Como quiserem.
No centro da barraca havia um buraco com outra escada. Mais uma vez, Osmund Saddler fez sinal para que Ashley fosse à frente. Ela desceu e logo os outros dois vieram. Estavam em um túnel que percorria o subsolo até chegar a outra escada. Agora esta subia. A filha do presidente dos Estados Unidos foi na frente e logo em seguida, o soldado e Saddler vieram. Então, caminharam até um grande portão de madeira. Ao abrirem, chegaram a um local em ruínas. Saddler foi à frente agora, até encontrar um homem. O soldado que raptou Ashley.
— Krauser, pelo jeito está preparando o terreno para uma guerra. Vejo bombas, armadilhas. Vai receber seu amigo aqui?
O militar nem notou a presença de Ashley e respondeu:
— Espero desta vez não ser atrapalhado. Teria eliminado Leon se não fossem interferências externas.
Saddler pareceu surpreso.
— Quem o atrapalhou?
Krauser estava com cara de poucos amigos.
— Eu resolvo isso.
Osmund Saddler parecia muito confiante, e deu uma risada antes de falar.
— Certo. Mas acredito que não precisará lutar com o senhor Kennedy.
Agora foi Krauser quem riu. Mas era um riso forçado, já que sua expressão séria não mudava.
— Saddler, a essa hora, U3 já deve estar morto. Podem mandar buscar os restos dele.
— Você superestima a capacidade daquele agente.
Neste momento, Krauser cerrou o punho esquerdo e fechou a expressão.
— Eu vou matá-lo.
Saddler olhou em volta e disse, já começando a se retirar.
— Tudo bem. Tenho outros assuntos a tratar. Vamos cuidar dela até que o parasita termine de se desenvolver.
Krauser assentiu com a cabeça e disse;
— Certo. Mas esperem. Só eu consigo abrir o portão.
Agora eles estavam saindo daquelas ruínas. Passaram por um portão que tinha uma gravura que chamava a atenção. Parecia um grande leão, esculpido em baixo relevo. Assim que chegaram a frente dele, ficaram aguardando alguns instantes, até que Krauser chegasse. Ele colocou três fragmentos da escultura, preenchendo-a e fazendo a mesma ficar em alto relevo. O portão abriu-se imediatamente. Ao passarem pela saída, chegaram a um terreno que lembrava uma zona de guerra. Foram caminhando rapidamente agora, passando por portões, trincheiras, soldados se equipando, metralhadoras giratórias e um soldado enorme com uma destas armas empunhada, como se fosse uma pistola. Se Leon chegasse ali, como iria conseguir se livrar deles? Ashley nem queria pensar.
Depois disso, entraram novamente em um túnel subterrâneo. Caminhariam ainda quanto tempo? Aonde estavam ido? Ashley estava ficando aterrorizada. Será que Leon conseguiria chegar até ela? Agora ele teria de enfrentar soldados treinados e armados até os dentes. Mas uma coisa a intrigava. Por que aquele soldado queria tanto matar Leon? Não parecia ser somente para cumprir as ordens. Krauser parecia ter motivações pessoais para isso. Caso contrário, não iria querer matá-lo ele mesmo. Será que eles se conhecem e são inimigos? É possível, pois ambos são americanos, como ela. Deviam trabalhar juntos. E por algum motivo, se tornaram rivais e daí em diante, o militar passou a odiar o agente. Mas qual o motivo? Bem, não adianta ficar se perguntando sobre isso agora.
Depois de muito caminhar, subir escadas, passaram por um pátio sobre uma colina, com colunas, uma calçada e algumas tochas para iluminar o local. Chegaram a uma sala, com um aspecto horrível. Água pingava do teto, demonstrando que havia infiltração. Ao lado da porta, do lado esquerdo, um container exibia, com a tampa aberta, um saco de lixo amarrado em uma das extremidades. No entanto, dentro dele havia alguma coisa se debatendo. Estava vivo. O que seria? Não era um ser humano, pois era muito pequeno. Mas Ashley sentiu calafrios em pensar no que poderia estar ali dentro. Seguiram caminhando, agora por um corredor, com portas de celas dos dois lados. E dentro de uma das celas, tinha uma cama de hospital. E sobre a cama, um daqueles monstros que ela vira no interior da base. Ela os vira em ação por duas vezes. Leon os matou. Mas eram criaturas difíceis de matar. Eles tinham o poder de se regenerar e, ao menos que acertassem determinados alvos em seu corpo, coisas como sanguessugas, eles não morriam. Eles terminaram de atravessar o corredor e, notando a expressão que Ashley fez ao olhar para a criatura deitada na cama, Saddler deu um riso com o canto da boca e disse:
— Este é um dos nossos Regenerators. Você já viu algum deles em ação? Eles regeneram partes do corpo que foram feridas. São inimigos terríveis. Mas logo você não precisará mais se preocupar com eles. Por sinal, será protegida por eles. Assim que o parasita terminar de se desenvolver e você ganhar nosso poder por completo.
Ashley só olhou para Osmund Saddler e não disse nada. Não queria nem pensar em se tornar um fantoche nas mãos daquele lunático. Chegaram a uma área que parecia uma verdadeira área de combate. Havia mais torres, trincheiras, cercas de arame farpado, sacos cheios de terra para todos os lados. E mais um daqueles soldados com a metralhadora giratória. Todos eles saudaram Osmund Saddler. Eles passaram reto pelos soldados até uma porta que ficava à direita. Seguiram por alguns corredores, todos com a mesma aparência. A iluminação vinha de lâmpadas fluorescentes no teto, com prateleiras contendo armamentos e munição nas paredes, bem como trajes militares. Fios no teto, muitos deles desencapados e poças d’água no chão enfeitavam o lugar. Ashley se lembrava que eletricidade e água não dava uma combinação muito boa.
De repente, depois de passarem por uma porta, chegaram a um laboratório. Ao redor, contornando as paredes, havia um piso de metal. À frente da porta, uma redoma de vidro aberta, com uma espécie de cama de hospital, só que posicionada na vertical, com braçadeiras nos lados. Seriam usadas para prender alguém. Ao lado da redoma de vidro, um teclado de computador, com um painel. Serviria para manipular algumas máquinas que estavam paradas no momento, posicionadas sobre a plataforma. Do outro lado, outra porta e sobre ela, tonéis com o símbolo de inflamável. Havia muitas máquinas funcionando com líquidos inflamáveis, como diesel, gasolina e álcool. Mas o que ou quem iria dentro da redoma? Ashley já estava desconfiando, por isso, começou a suar e a tremer. Seus olhos deviam demonstrar o pânico que estava sentindo, pois Osmund Saddler se virou para ela rindo.
— Bem, senhorita Graham. Enquanto seu parasita não termina de se desenvolver, vamos ter de deixá-la por aqui. Acho que você já está desconfiada disso. Posso ver em seu rosto. Assim como posso ver que ainda não está pronta. Mas logo estará.
Ashley foi falar alguma coisa. Dizer que Saddler podia esperar que isso nunca iria acontecer. Que Leon viria para resgatá-la novamente, mas de repente, sentiu uma picada em seu pescoço. A visão começou a ficar embaçada e o chão pareceu ficar mais perto. Sabia o que tinha acontecido. Sentiu seu corpo amolecendo e ouviu aquele zumbido que ouvira no carro quando foi sequestrada por Krauser. Então, de repente, tudo ficou escuro.


Capítulo 44

Escuro. De repente, os olhos de Jack Krauser pararam de enxergar e ele sentiu que estava caindo e então, sentiu seu corpo se chocando com o chão. E não sentiu mais nada. Caiu envolto em uma poça de sangue. Sangue que corria dos tiros que Leon disparou. O agente parou e olhou para o militar e saiu, mas Krauser não viu nada disso. Houve uma explosão. Os dispositivos haviam sido acionados pelo soldado, mas acreditando que conseguiria derrotar o agente e que o manteria ali para morrer. Mas fora ele quem ficou.
Jack Krauser sentiu como se estivesse flutuando. Não sentia o corpo, nem dor, nem nada. Foi quando começou. Sentiu uma ardência no tórax, como se estivesse queimando. Suas veias pareciam ferver. Uma coceira misturada à dor no local dos ferimentos começou e foi aumentando até se tornar insuportável. De repente, parecia que estava dentro de uma piscina. Sentiu-se molhado, empapado. Era seu sangue. Foi então que Krauser se deu conta de uma coisa. Se sentia aquela ardência em seus ferimentos, aquela dor, aquela sensação de que seu corpo estava pegando fogo, não estava morto. Sim, ainda respirava. Então, abriu os olhos e viu que ainda estava nas ruínas. Virou-se de barriga para cima e viu o céu. Ainda era noite, mas alguns tons indicavam que o amanhecer estava próximo. Mas o fato de estar vendo o céu indicava que Leon não o matara.
Krauser tentou se levantar, mas ainda estava muito fraco. Sentou-se no chão e ficou olhando ao redor. Tudo estava destruído. A explosão fora grande. Tentou levantar novamente, mas de novo caiu sentado. As pernas tremiam. Perdera muito sangue. A tonalidade vermelha no chão demonstrava isso. Sentiu frio. Estava sem camisa, apenas com uma calça do exército e um colete. E o vento soprava forte e frio. Isso indicava mesmo que estava fraco. O militar passou a mão no rosto e sua luva foi tingida de vermelho. Estava sangrando muito. Foi então, que a comichão no seu tórax chamou seu olhar. E ele sentiu uma grande euforia, misturada a medo. Seus ferimentos estavam fechando. Que criatura ele se tornara?
O sangue estava parando de correr. Estava estancando. Não parecia verdade. Iria demorar para cicatrizar por completo, mas iria melhorar. Aos poucos foi começando a sentir as forças voltarem ao corpo, enquanto observava as feridas causadas pelas balas irem fechando aos poucos. O que iria fazer? Iria esperar até ter condições novamente e caçar Leon. Agora, aquele agente teria o que merecia. Começou a sentir uma raiva não só do seu inimigo, mas de si próprio. Como fora derrotado? Quase morreu na luta. Continuava vivo, mas por muito pouco. E só não foi morto por estar infectado com o Vírus T e com Las Plagas. Se estivesse em igualdade de condições, já não estaria mais vendo nada, nem sentindo nada. Seria apenas um corpo sem vida, esperando pela decomposição. Então, enquanto recuperava as forças, iria refletir e pensar em quais foram os motivos que o levaram a essa derrota. Como Leon o venceu? Há pouco tempo, na instalação, ele, Jack Krauser teria vencido facilmente. Teria matado Leon, se Ada não tivesse se intrometido na luta. Ela também era culpada do que aconteceu. Sim, ela também tinha de morrer.
Para aonde Ada Wong teria ido? Provavelmente iria trás de Leon, para ajudá-lo. E o agente estava indo para o laboratório, atrás da filha do presidente. Iria para lá. Krauser se levantou, mas suas pernas ainda tremiam. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Ainda estava muito enfraquecido. Não seria páreo para uma luta, mas se ficasse esperando até estar totalmente recuperado, nem precisaria mais lutar. Tudo já estaria acabado. Teria de dar um jeito de conseguir se recuperar. Saiu andando, mesmo sentindo as pernas ainda fracas, devido à perda de sangue. Chegou até o portão que dava acesso à saída. Estava bloqueado. Aliás, tudo ali estava completamente destruído. Não restava praticamente pedra sobre pedra. Se quisesse sair, teria de saltar. E foi o que fez.
Assim que caiu do outro lado, sentiu uma dor lancinante percorrer todo o seu corpo e do ferimento aberto em seu peito, causado pelos disparos da arma de Leon, saiu mais sangue. Os buracos abertos pelas balas estavam se fechando, mas em um ritmo muito lento. Mesmo tendo recuperado um pouco das forças, não teria, no momento, a mesma energia, nem a mesma velocidade que um confronto contra qualquer um exigiria. Mas iria caçá-los. Se os encontrasse, teria de superar suas limitações físicas com sua persistência, sua fibra e sua coragem.
Assim que começou a andar pelo acampamento militar, quase não acreditou no que estava vendo. Havia corpos espalhados para todos os lados. A caixa d’água fora derrubada. Isso não era serviço de uma arma comum. Leon deve ter tido ajuda. Só pode ter sido isso. E de alguém de fora, com armamento superior. A metralhadora giratória instalada estava em ruínas. Parecia que havia caído uma bomba no local. Jack Krauser seguiu até chegar ao abrigo. Estava aberto.
Ao passar, viu o soldado com outra metralhadora giratória morto. Assim como muitos outros. Havia tantos cadáveres no chão que era difícil contá-los. Krauser foi ficando cada vez com mais raiva. Eles teriam de pagar por essa matança. Mesmo assim, ao mesmo tempo, ficava admirado. Como conseguiram eliminar tantos soldados treinados? Ele ficou espantado com a capacidade de Leon e de Ada. Se tivesse de lutar com eles, seria uma luta muito difícil. Aliás, Krauser agora estaria em condição de inferioridade. Teria de abandonar seu orgulho e sua arrogância e superar suas limitações que os ferimentos causaram.
Quando Jack Krauser chegou a um ponto elevado do terreno que muitas de suas dúvidas foram explicadas. Primeiro, ele ficou pasmo com o que viu. Torres derrubadas, milhares de cadáveres. Todos os soldados mortos estavam como que cercando a entrada. Se alguém tivesse saído pelo túnel de onde saiu, seria praticamente impossível se livrar de todos aqueles soldados. Ficaria cercado. Então, duas coisas chamaram sua atenção. A primeira, foi que havia alguns buracos de bala em um muro e nas colunas derrubadas. Eram muito maiores que das metralhadoras que Leon e Ada carregavam, pois eram automáticas iguais à sua. Essas balas eram de um calibre maior, parecido com as metralhadoras giratórias que ele colocara sobre os canhões na instalação e no navio. À sua direita, Krauser viu uma coluna de fumaça negra se erguendo e caminhou para lá. Chegou à beira do terreno, olhando para um desfiladeiro e lá em baixo, um helicóptero abatido. Sim, ele conhecia aquela máquina. Pertencia ao Exército americano. Agora muita coisa estava explicada. Leon teve ajuda. Enviaram reforços. Mas este não irá mais ser de grande valia.
O militar seguiu até um grande portão de madeira. Atravessou-o e saltou em um buraco que dava acesso a um nível subterrâneo. Neste momento, viu Ada e se escondeu. Ela entrou em uma porta e deixou-a um pouco aberta. O suficiente para ele poder enxergar o que se passava lá dentro. E a visão que teve o deixou perplexo. Leon estava lá, mas parecia passar mal. A espiã chegou perto do agente. E de repente, ele tentou matá-la. Krauser ficou pasmo observando a cena. Não iria fazer nada, só esperar. Ada Wong apanhou uma faca e acertou o agente americano na perna. Este caiu no chão e depois de alguns segundos, se levantou. O ferimento cicatrizou muito rápido. Sim, ele está infectado com Las Plagas. Krauser já desconfiava disso. Logo acabaria se juntando aos comandados de Saddler. Mas isso não iria mudar o destino de Leon Scott Kennedy. Ele teria de morrer, e pelas mãos de Jack Krauser.
Depois disso, Leon e Ada se separaram e cada um entrou por uma porta diferente. Krauser tomou outro caminho que só ele conhecia para chegar à instalação militar primeiro que os dois. Então, usando a agilidade que o parasita e o vírus T lhe deram, subiu até o teto da construção que ficava à frente e seguiu até uma torre de comando. Dali, podia ter uma visão privilegiada. Seus soldados estavam se preparando para enfrentar quem quer que viesse. O próprio Krauser sentia cada vez mais as forças voltando. Não sabia se seria o suficiente para enfrentar Leon ou Ada, mas não teria outro jeito de saber se não os enfrentando. Agora era tarde para dúvidas. Caso falhasse, morreria. Mas se obtivesse sucesso, seria sua glória. Em quantas missões arriscou sua vida? Essa não seria a primeira, nem a última vez que faria algo do gênero. Agora era vencer ou morrer tentando.
De repente, Ada surgiu na parte de baixo. Ela atravessou a porta e ficou observando o cenário. Seria ela a primeira a morrer, pensou Krauser. O soldado se aproximou de uma viga de metal que sustentava um cercado na plataforma onde estava. Conseguiria arrancá-la? Se fosse quando estava no auge de suas forças, isso sequer seria considerado uma dificuldade. Arrancaria aquela viga como se fosse um graveto de madeira fincado na terra úmida. Mas agora, provavelmente teria dificuldades. Então, colocou as mãos ao redor do objeto e o puxou. Ele não saiu do lugar. Sim, ainda estava muito enfraquecido. Conseguiria lutar? O vento ali era frio e quando tocaram as gotas de suor que corriam do cabelo do militar, lhe causaram um leve tremor. Mas isso não iria detê-lo. Na segunda tentativa, a viga veio em suas mãos. Ele quase se desequilibrou, mas conseguiu se manter em pé.
Colocou-a sobre o ombro direito, que era o lado de seu corpo que não fora ferido. Sentia menos dor ali do que no lado esquerdo. Mesmo assim, o sangue correu dos ferimentos ainda não cicatrizados. A visão ficou um pouco turva e tudo escureceu. Jack Krauser ficou um pouco tonto, mas se recuperou logo. Ele fez mira e se preparou para jogar o objeto. O plano seria apanhar Ada Wong desprevenida. Se acertasse, ela morreria na hora. Nesse caso, Leon a encontraria morta quando entrasse naquele corredor e o efeito psicológico que essa visão causaria ao agente acabaria jogando ao seu favor. Depois de se concentrar, Krauser lançou a viga, como se fosse uma lança. Por incontáveis segundos, o objeto cruzou o ar. A grande chance que Krauser teria de matar Ada seria acertando-a com este arremesso. Quando o objeto chegou perto de seu alvo, Ada se jogou para o lado e a viga se chocou com a parede de alvenaria, causando um estrondo. Mas não atingiu seu alvo. Krauser errara. Agora, revelara sua posição. Teria de lutar contra Ada.
Como seria essa luta? A espiã olhou para cima e o viu. O espanto no rosto dela era inegável. Teria de usar de jogos psicológicos para disfarçar sua fraqueza física. Mas teria de conseguir. Usaria toda a sua raiva pelas traições da espiã como um estimulante. Faria os níveis de adrenalina subirem de tal forma que ele ignorasse toda a dor que sentisse. Teria de fazer com que a vontade de se vingar dela e de Leon funcionassem como uma substância a potencializar sua força física. Era o momento. Era agora ou nunca. A luta iria começar. A hora da verdade chegou.


Capítulo 45

Leon se viu em um corredor estreito entre duas montanhas de terra, com cabanas de madeira cobertas de zinco no lado do caminho. Assim que começou a caminhar, seu transmissor tocou. O agente atendeu. Teria más notícias para dar a Osmund Saddler.
- Então parece que você matou Krauser. Como eu deveria lhe agradecer?
- Do que você está falando? Eu pensei que ele trabalhava para você.
- Do que você está falando? Realmente acreditou que eu confiaria em um americano? Para falar a verdade, eu estava pensando em um meio de me livrar dele. Mas graças a você, isso não será mais necessário.
- Você apenas usou ele desde o início.
- Devo entregá-lo a você? Está se revelando uma promessa matando Krauser. Quando a plaga for totalmente assimilada por seu corpo, terei você me servindo como meu guarda-costas.
- Infelizmente, terei de recusar sua generosa oferta de trabalho. Sabe, eu já tenho contrato e não sou homem de não cumprir meus compromissos anteriores.
- Desfrute de sua inteligência enquanto pode.
Assim que passou da montanha, teve a visão do que o aguardava. Era uma base militar. Havia chaminés cuspindo fogo para o céu, fogueiras em tonéis e trincheiras. Leon segurou a sacola com as armas que apanhou na sala de Krauser. Para sua sorte, tinha bastante munição e diferentes tipos de armas, pois pelo que estava sentindo, teria de dar muitos tiros e correr muito.
Só que esperando pelo agente, estava um pelotão inteiro. Um dos soldados falou para o outro.
- Verifique a pressão.
Apontou para uma das máquinas que estava em funcionamento. Eles se posicionaram. Um dos solados apanhou uma bazuca. Os soldados ganados estavam armados até os dentes. Enquanto esperavam eles acertavam os últimos detalhes de posicionamento e ajustes nas máquinas de artilharia e de explosivos para a hora que o visitante chegasse. Leon teria uma recepção bem calorosa. Um deles andou à frente dos demais soldados.
- Então. Tudo certo?
O que estava mais à frente, atrás de uma metralhadora giratória, respondeu prontamente.
- Nenhum problema.
Leon avistou todo aquele destacamento militar e se escondeu atrás de um container. Como iria passar por todos aqueles soldados ganados? Não teria como. Sem contar que agora eles tinham armamento pesado, como bombas, granadas, uma bazuca e uma metralhadora giratória. Seria impossível passar por ali de peito aberto, na força bruta. Teria de encontrar uma maneira de contornar aquela linha defensiva. Mas como? Teria de pensar rápido. Eles sabiam que o agente estava ali, ou pelo menos, muito próximo, pois já era do conhecimento de todos ali que Krauser fora derrotado. Neste momento, uma luz ofuscou a visão de Leon e seu rádio transmissor tocou. Ele atendeu com uma certa resistência.
Mas quando olhou melhor, viu um helicóptero a cima deles. Já era hora. Ele mal podia acreditar. Chegou ajuda. Do outro lado o piloto, chamado Mike, respondeu.
- Desculpe o atraso, Leon, mas peguei trânsito. Eu vou te cobrir.
Depois de dizer isso, o helicóptero sumiu de vista do agente. Enquanto isso, os soldados ganados estavam ficando impacientes, andando de um lado para o outro. Atrás deles, a caixa d’água começou a ceder. Os soldados olharam para ela e viram o helicóptero sobrevoando o local. Estava derrubando a estrutura. Quando a caixa caiu, matou muitos soldados ganados. Feito isso, o piloto deu meia volta, colocando o foco nos soldados e ativou as duas metralhadoras giratórias que ficavam localizadas uma de cada lado da nave. Foi um verdadeiro massacre. Matou todos os soldados ganados que estavam na recepção de Leon. O agente saiu de trás do container e falou no transmissor.
- Isso é o que eu chamo de reforço.
O piloto respondeu.
- Meu nome é Mike. Se você procura poder de fogo, veio ao lugar certo. Fique em locais seguros que eu vou abrindo caminho.
Leon então partiu correndo e entrou em uma barraca. Neste momento, mais um soldado, em outro local ativou uma metralhadora giratória e quase acertou o agente, mas o piloto o acertou antes com a sua metralhadora. O agente correu para trás de uma trincheira e visualizou um grupo de soldados ganados o esperando. Teria de atraí-los. Para isso, atirou em um deles, matando-o e revelando sua posição. Os demais viram e se dirigiram até o local onde Leon estava. O grupo era grande. O agente se aproveitou da trincheira e pôde enfrentá-los sem ser cercado. Depois de matar alguns, o helicóptero voltou e limpou o campo. Leon poderia avançar.
O agente americano avançou até um abrigo. Do lado oposto ao da entrada, havia uma porta com um botão do lado. Ela estava trancada e ao apertar o botão, ele trocou de cor, passando de vermelho para verde e a porta se abriu. No entanto, quando Leon colocou os pés do lado de fora do abrigo, um soldado enorme carregando uma metralhadora giratória saiu de outro, mais a frente e disparou uma rajada de tiros. Leon saltou de volta para o abrigo, não sendo atingido por muito pouco. Depois que a carga de tiros acabou, Leon saiu correndo, pois sabia que o soldado teria de recarregar a gigantesca arma. Conseguiu chegar a um abrigo, entrando nele assim que a rajada de tiros recomeçou. Quando acabou, o agente correu para um plano mais elevado, pegando carona em uma espécie de tirolesa. O soldado recarregou a metralhadora e atirou, mas Leon já estava fora do alcance da arma. Quando este passou pelo militar, deu um chute na cabeça deste, derrubando-o. O americano saltou no chão e se levantou, apanhando a escopeta da mala. Antes que o militar recarregasse a metralhadora, agora estando os dois a mais ou menos meio metro de distância, Leon disparou a queima roupa duas vezes, matando o inimigo. Depois disso, o agente chegou a uma alavanca com uma luz vermelha sobre ela. Ao puxar, a luz passou a ficar verde e um portão no lado de baixo abriu. Leon saltou e passou pelo portão.
Agora, Leon estava em uma área com muitas trincheiras e com uma estrutura de metal de dois pisos que contornava o local. Assim que ele entrou no pátio, o portão atrás se fechou e um soldado subiu sobre uma metralhadora giratória e descarregou uma carga de tiros. Para a sorte do agente, ele apanhara um rifle. Então, entrou no abrigo e pegou a arma da mala que trazia. Teve de retirar a mira térmica e colocar a telescópica. Agora poderia enxergar melhor. Com esta arma, Leon conseguiu matar o atirador. Só que tinham dois e o segundo estava com a cabeça protegida por um capacete. O agente americano voltou para o abrigo, guardou o rifle e apanhou a metralhadora e uma granada. E correu pela plataforma que circundava o local até o lado oposto, aproveitando que conseguia correr mais rápido do que o soldado conseguia virar a metralhadora giratória, que era grande e pesada. O agente aproveitou o intervalo entre uma rajada de tiro e outra para correr até um lugar fora do alcance da metralhadora. Conseguiu chegar ao lado do soldado que manipulava a arma e o acertou com um tiro, matando-o.
Quando Leon saiu para a plataforma, viu um soldado com uma bazuca disparando um tiro. Teve tempo de se esconder exatamente onde o soldado que usava a metralhadora estava. Foi por pouco. Depois que a bazuca é disparada, no entanto, ela se torna inútil, pois dá apenas um tiro. O soldado ficou sem armas depois disso. Não era mais um problema, a não ser que chegasse perto. Depois de passar toda a extensão da plataforma, alguém do outro lado baixou o interruptor, trancando a saída. Agora, Leon teria de voltar. Antes, ativou o primeiro interruptor. Mas teria de fazer isso no segundo. Assim que começou a voltar, foi surpreendido por um dos soldados. Mas este não foi páreo. Depois de passar toda a extensão da plataforma, chegou ao segundo interruptor e o ligou novamente, abrindo o portão que dava acesso à saída.
Ao sair, deu de cara com uma escada em pedra, cercada por montanhas dos dois lados, com tochas para iluminar o caminho. Quando chegou ao fim da escada, Leon parou, pensando em dar uma respirada, mas quase teve um ataque do coração. Viu-se em um espaço aberto e totalmente cercado. Vieram soldados de todos os lados. Não tinha para onde escapar. Não teria como lidar com todos eles ao mesmo tempo, mesmo usando a metralhadora. Teria? Bem, teria de tentar. O coração de Leon pareceu parar de bater. Chegou a ficar sem respirar e a saliva pareceu grossa demais para engolir. Ouviu um barulho ensurdecedor vindo do lado oposto ao que entrou, de um penhasco. O que seria? Então, as hélices de um helicóptero apareceram e assim que ele subiu, com o facho de luz voltado para todos os que estavam naquele espaço, Mike falou ao microfone.
- Leon, proteja-se.
Leon se atirou atrás de um muro de pedra e o piloto acionou as metralhadoras giratórias do helicóptero. O agente viu todos os soldados sendo mortos um a um, enquanto apenas pensava que tivera muita sorte, mais uma vez. Quantas vezes fora salvo em situações semelhantes, desde que chegara? Nem queria pensar, mas foram muitas. Algumas delas ele nem sabia quem o tinha salvo, como na do sino da igreja. Mas agora, tinha de ser grato a Mike. Quando cessaram os tiros, o agente se levantou de trás do muro e observou o que via. As colunas que estiveram em pé estavam caídas, com soldados sob elas. Havia muitos corpos no chão, dezenas. Leon não iria ficar contando um a um. O cenário era de destruição total. Então, ele olhou para o piloto, apanhou seu transmissor e falou:
- Muito obrigado, Mike. Quando isso tudo acabar e estivermos longe daqui, pago uma bebida.
- É isso aí. Conheço um bar muito bom.
Mas o que ocorreu na sequência pareceu irreal. Leon teve a impressão de ter visto tudo em câmera lenta. Teve a impressão que poderia ter impedido, mas mesmo depois, quanto mais tentaria lembrar-se do que ocorreu, mais veria que não tinha tido a menor chance. Iria fazer o que? De repente, algo brilhou em um ponto a baixo de onde eles estavam. E uma fumaça cortou o céu, mas o agente nem prestou atenção nela. Não prestou atenção até o helicóptero explodir. O fogo saiu pela janela do lado e logo em seguida, pela frente. Pedaços da hélice saltaram para os lados. A cauda se desprendeu do corpo da nave, que pegando fogo, caiu e explodiu ao atingir o chão. Foi nesse momento que Leon se deu conta do que estava acontecendo. Mike foi atingido por um tiro de bazuca e seu helicóptero, abatido. O agente correu até a borda do terreno, olhando para baixo, conseguindo apenas gritar.
- Mike. Não!!!
Leon olhou para o lado de onde viu o brilho antes e, sobre uma plataforma com um muro, havia um soldado com uma bazuca ainda cuspindo fogo e ao lado dele, Osmund Saddler. Os dois deram meia volta e se retiraram. O agente ficou ali, apenas falou para si mesmo.
- Vou me certificar que você seja o próximo a morrer, Saddler.
De novo, na sua frente. Outra pessoa que ajudava Leon era morta por Osmund Saddler. E novamente aquela sensação que poderia ter sido diferente. Primeiro com Luis Sera no castelo. E agora, Mike. Isso tinha de acabar. Saddler, aquele lunático precisa ser detido, Leon pensava. Agora, tudo o que restava eram os destroços do helicóptero e o cadáver do piloto. Não chegara a conhecer Mike, mas sentia muito aquela morte, pois este já salvara a vida de Leon pelo menos umas duas vezes. E o agente não conseguira salvá-lo quando foi preciso. Mas tinha de seguir. Não podia ficar ali lamentando pelo ocorrido. Tinha de matar Saddler e recuperar a amostra, até para que as mortes de Sera e de Mike não fossem em vão. Para que tivessem um sentido. O transmissor tocou. Era Saddler agora.
- Oh! Me desculpe Leon.
- Saddler, seu desgraçado!
- Ah! Não é nada para ficar aborrecido. Não me diga que nunca teve de esmagar um inseto que o está incomodando? Foi isso o que aconteceu.
- O que foi que você disse? Vidas de insetos não se comparam a vidas humanas.
- Quando você tiver adquirido o meu poder, irá entender.
- Esse é o melhor dos motivos para eu fazer o possível para tirar esse parasita do meu corpo.
- Boa sorte.
Osmund Saddler riu e desligou o transmissor. Leon caminhou em direção à saída. Chegou a um grande portão de madeira. Abriu-o. Apenas ruínas havia do outro lado. Estava ficando cada vez mais claro, o sol estava por raiar a qualquer momento. Leon chegou a um buraco e saltou dentro. Haveria mais gente por ali? Foi caminhando com cuidado, pois ali seria um lugar perfeito para uma emboscada. Quando o agente passou por uma porta, começou a sentir dores no corpo. Muitas dores. Terríveis. Seu sangue começou a esquentar. Parecia que estava fervendo nas veias. A cabeça latejava, dando a impressão que se partiria em duas e seus olhos pareceram querer saltar das órbitas. Alguém se aproximou. Leon olhou para trás e viu. Tinha de matar. Era uma mulher com um vestido cor de vinho, cabelos pretos e curtos. Tinha de matar ela. Era uma forasteira. O agente correu para Ada e a segurou pelo pescoço. Começou a apertar. Tinha de fazer isso? Por quê? Eram ordens de Saddler. Seus olhos estavam brilhando, vermelhos, como os dos ganados. Ela conseguiu apanhar uma faca e cravar na perna de Leon e depois atingi-lo com um chute, jogando-o no chão. Para seu espanto, o ferimento se fechou. A plaga estava começando a tomar conta. Se Leon não se livrasse dela logo, acabaria se tornando um servo dos Illuminados. O agente voltou a si.
Ele se levantou e viu o que havia ocorrido.
- Sinto muito Ada.
Leon apanhou um frasco com os remédios dados por Sera e engoliu uma cápsula.
- Acho que temos de retirar este parasita do seu corpo o quanto antes.
- Sim, mas antes, tenho de salvar Ashley.
- Sim, vamos nos dividir.
Leon guardou os remédios e olhou para trás pensando no que acabara de ocorrer. O agente ficou pensando na besteira que quase fizera. Por pouco não matou Ada. Para sua sorte, ela era treinada e especialista em sair dessas situações. Mas teria de correr. Se ele já estava quase se tornando um ganado, como estaria Ashley, que fora infectada antes dele? Ainda haveria alguma chance de salvá-la? Quando se voltou para a frente, já não viu mais a espiã. Bem, não tinha mais tempo a perder. Teria de seguir em frente.
Leon avançou até uma porta. Abriu-a com cuidado. Dava acesso a uma sala sem ninguém ali. Mas tinha barulho por perto. O agente olhou para os lados. Havia estantes escoradas na parede. Uma mesa em frente à porta, com uma cadeira entre ela e a parede. Havia vários latões de lixo abertos e de dentro de um deles é que vinha o barulho que Leon escutou. Ele se aproximou. Era do segundo. Dentro dele, tinha um saco de pano, amarrado em uma extremidade, com algo dentro. Estava cheio e se contorcia. Tinha algo vivo ali. O que era? Bem, agora não importava muito, pois estava preso naquele saco de pano. Não parecia haver mais ninguém ali. O agente caminhou até uma porta com grades ao redor e passou. Quando deu uns dois passos para dentro, ouviu o barulho de um Regenerator. Leon olhou para os lados e correu de volta, ficando atrás da mesa. Colocou a mala com as armas sobre ela, sacou o rifle e colocou rapidamente a mira térmica nele. A criatura veio em sem costumeiro caminhar lento e desajeitado. Com o rifle em mãos, Leon atirou nas sanguessugas, matando uma a uma. Até atirar em todas, ele até chegou perto, mas não o bastante. Agora, poderia avançar até a porta que ficava ao fim do corredor.
Ao passar pelo corredor, Leon viu várias portas de celas, com uma cama em seu interior. Aquilo ali era uma prisão? Era o que parecia. Quando chegou ao lado oposto ao da entrada, subiu até a frente da porta que dava acesso à saída. O agente saiu em uma espécie de outro corredor, logo depois de uma escada, que seguia até uma porta grande. Ela ficava à sua direita, em frente a alguns degraus e estava aberta. Leon se escondeu, apanhou a mala que trazia nas costas e recarregou todas as armas. Tinha de estar pronto para o pior. Assim que voltou a caminhar, viu do lado esquerdo da entrada, sobre os degraus uma trincheira e um arqueiro. O agente conseguiu acertá-lo de longe.
Feito isso, continuou caminhando atentamente. Ao chegar aos degraus, ouviu o barulho de bastões elétricos, mas não viu ninguém. Então, de trás da parede do lado direito, surgiu um daqueles soldados com a metralhadora giratória. Leon nem teve muito tempo de pensar. Simplesmente apanhou a escopeta da mala o mais rápido que conseguiu e atirou na cabeça dele. Este soldado era muito resistente. Teve de dar três tiros para matá-lo. Depois, deu tempo de guardar a escopeta e pegar a metralhadora automática.
O local era uma base militar. A parte de baixo continha trincheiras e cercados com escadas que davam acesso à parte de cima. Leon correu até a porta da saída, mas ela estava trancada. No entanto, como ficava ao fim de um corredor, era um bom lugar para ficar. Eram muitos soldados ali, e onde estava, eles teriam de vir em fila para atacar. Assim, com a metralhadora automática em mãos, foi mais fácil lidar com eles. A final de contas, parece que mesmo mantendo as funções cerebrais, as plagas aumentavam tanto a agressividade de seus hospedeiros que eles simplesmente deixam de calcular os riscos e simplesmente atacam sempre. Às vezes, de maneira suicida.
Depois de eliminar os militares, Leon caminhou pelo local vazio. Abriu uma porta que ficava em uma cerca de arame farpado e viu uma escada de escalar. Subiu-a e saiu em uma sala com muitas estantes de ferro e um interruptor no lado oposto de onde se encontrava. Estava com uma luz verde, indicando que o que quer que estivesse controlando, estava destravado. Ao sair da sala, o agente correu por uma plataforma de metal, entrando em outra. Não tinha nada ali, exceto mais estantes. Ao sair, saltou para outra plataforma, a um nível mais baixo. Entrou em outra sala. Então, no interruptor por onde Leon passara, um dos soldados retirou o cartão e o travou. Todos os outros interruptores passaram a exibir a cor vermelha e um “bip” soou por todo o local. Leon olhou para fora e viu soldados vindo de todas as direções e pensou: mais uma armadilha.
A porta por onde Leon entrou era o acesso ao local e por ali, muitos soldados começaram a entrar. Na parte de cima da plataforma, arqueiros ficaram à espreita, mas o agente conseguiu se posicionar fora do alcance deles. Foram aparecendo militares aos montes. A sorte é que o agente estava com a metralhadora automática em mãos e conseguiu dar conta de todos. Mas teria dificuldade com os arqueiros. Um deles era justamente o que retirou o cartão do interruptor. Estava com ele preso no pescoço. Assim que o matou, Leon apanhou-o novamente para poder liberar a porta. Nesta sala também havia um interruptor, mas só poderia ser acionado se o cartão estivesse colocado no primeiro.
Enfim, quando o ataque cessou, Leon correu até outra sala, no final da plataforma, pois lá também devia haver outro interruptor. Os três têm de estar destravados para abrir a porta no térreo e ter acesso à saída. A sala onde entrou tinha uma mesa ao centro, com cadeiras em volta, uma escada para descer ao térreo e um interruptor. Assim como o da sala de onde saíra, para poder liberá-lo, deveria colocar o cartão lá no primeiro. Então, correu até a primeira sala, onde estava o interruptor com o cartão.
Assim que Leon chegou ao interruptor com o local do cartão e o inseriu, a luz dele mudou de vermelho para verde e soou um “bip”, liberando os três interruptores. Depois disso, o agente foi até a primeira sala na parte de baixo da plataforma e acionou o interruptor. Sobre ele, havia duas luzes, e no momento em que pressionou o botão, a vermelha se apagou e a verde acendeu. Depois, o agente correu até a segunda sala da parte de baixo da plataforma e acionou o segundo interruptor, que também acendeu a luz verde. Logo em seguida, se ouviu o barulho da porta do lado de baixo se abrindo. O caminho para fora dali estava liberado. Leon saltou para o primeiro piso e correu até a porta da saída.
Assim que cruzou a porta, chegou a uma pequena escada à sua direita que terminava em frente a uma porta de metal. Leon abriu-a e entrou em um corredor. A estrutura era toda de metal e escoradas nas paredes, havia várias estantes com latas sobre elas. Não dava para saber o que havia dentro delas. Dois soldados com escudos de madeira vieram na direção do agente, que usou a metralhadora automática para se livrar deles. Depois disso, Leon chegou em frente a uma porta grande e a abriu. Quando entrou, não acreditou.
Era um laboratório. Uma sala enorme, com lâmpadas fluorescentes por todos os lados. Do lado esquerdo, sobre uma plataforma, muitos barris com líquido inflamável. Do lado direito, um computador. E ao centro, dentro de uma redoma de vidro, estava Ashley. Parecia estar desacordada. Ao chegar perto da filha do presidente dos Estados Unidos, ouviu Osmund Saddler atrás de si falando.
- Você está prestes a receber um poder incrível. Mas parece preferir a morte.
Leon se virou para Saddler antes de responder.
- Vou levar Ashley para casa mesmo que seja contra a sua vontade.
- A audácia da juventude.
Neste momento, Osmund Saddler, a uma velocidade sobre humana chegou até onde Leon estava e o golpeou, atirando o agente vários metros para trás, fazendo o se chocar contra a redoma de vidro em que Ashley estava. O líder dos Illuminados foi se aproximando de Leon, com um sorriso de satisfação no rosto, com a mão espalmada na direção do agente. Então, foi atingido por uma rajada de tiros de uma metralhadora automática. Na plataforma que circundava o laboratório, Ada sorria, com a metralhadora ainda fumegando. Ela olhou para o agente e gritou:
- Leon, corra!
Leon aproveitou que Saddler ainda estava se recuperando da rajada de tiros que recebeu e apertou o botão que abria a redoma onde Ashley estava. Em seguida, a libertou das cintas que a prendiam. A filha do presidente caiu inerte em seus braços. Quando o agente levantou a cabeça, viu Osmund Saddler caminhando em sua direção. O líder dos Illuminados parou. Ainda saía fumaça dos locais onde fora atingido. Ele estava furioso. As balas começaram a fluir por seus braços até serem expulsas por suas mãos, caindo no chão, como pequenos pedaços de chumbo. Depois disso, ele olhou para Leon, com um sorriso no rosto. Ada gritou:
- Anda Leon, saia logo daqui!
Com Ashley ainda em estado de torpor, começando a acordar, Leon saiu correndo em direção à porta. Osmund Saddler foi caminhando atrás dos dois. Ada recarregou a metralhadora automática e descarregou no líder dos Illuminados mais uma vez, mas nada parecia fazê-lo parar. Ele estava decidido a alcançar o agente e a filha do presidente dos Estados Unidos. Então, Ada atirou nos tonéis de líquido inflamável que estavam em uma plataforma sobre a porta da saída, fazendo tudo explodir e cair em frente a ela, bloqueando a passagem.
Agora com Ashley acordada, Leon chegou a outro corredor. Havia várias máquinas nas paredes e tubos no chão ligados a elas. A iluminação vinha de lâmpadas fluorescentes. Agora tinham de encontrar onde havia a máquina para retirar a plaga. Olhando para trás, Leon ficou pensando que, no entanto, Ada ficara presa com Osmund Saddler. O que aconteceria agora? Ela fechou a saída. Teria de enfrentar aquele monstro, com as armas que possuía. Leon sabia de todo o potencial da espiã, mas temia que Saddler talvez fosse um inimigo perigoso de mais para ela. No entanto, agora não teria mais nada que pudesse fazer, a não ser torcer para que não acontecesse o pior. Teria de seguir sem ficar ali pensando em Ada Wong. Se tudo desse certo, ela daria conta do líder dos Illuminados. No entanto, algo dentro dele dizia que esta não tinha sido a última vez que o veria. E se encontrasse Saddler novamente, seria por que provavelmente não veria mais Ada. Leon sentiu um aperto no peito, e teve um pouco de dificuldade para engolir. Sua garganta apertou. Ela salvou sua vida novamente. Mas seria mais uma morta por aquele lunático? Como Sera? Como Mike? Não queria acreditar que iria acontecer novamente. Mas agora, estava fora do seu alcance. Teria de seguir.
- Vamos Ashley.
Ela assentiu com a cabeça. Quando seguiram pelo corredor, encontraram mais uma carta escrita por Luis Sera.
“Desde os estágios iniciais da pesquisa, nós temos buscado um procedimento seguro e prático de remoção da Plaga.
Ironicamente, a verdade é que o real objetivo desta pesquisa não era encontrar um modo de remover as Plagas de pessoas infectadas, mas de achar uma maneira de fazer com que a Plaga não possa ser facilmente removida do corpo.
No fim, conseguimos descobrir que as Plagas só podem ser removidas ao expô-las a uma radiação especial. O único efeito colateral deste método é que é um procedimento muito doloroso. Assim que a Plaga se anexa aos nervos, há uma possibilidade de que isso possa prejudicar a consciência do hospedeiro.
Outro fato que deve ser mencionado é que quando a Plaga se transforma em adulta, o procedimento de remoção pode matar o hospedeiro. Mas talvez a morte não seja tão ruim quando se pensa na alternativa.”
Depois de ler a carta de Sera, Leon já sabia como teria de eliminar as plagas de seu corpo e do de Ashley. Faltava ainda encontrar o laboratório onde isso poderia ser feito. Os dois chegaram a uma porta e saíram para ar livre, mas logo à frente havia outra entrada. Assim que entraram no laboratório, foram recepcionados por dois soldados enormes. Leon teve de usar a escopeta para matar eles. Depois passaram por outra porta.
Quando chegaram à outra sala, encontraram o que estavam procurando. Era uma cadeira com duas espécies de agulhas gigantes suspensas sob um braço. Parecia uma cadeira de dentista, com uma estrutura que dispararia o raio que eliminaria a plaga. Ashley olhou assustada para a máquina.
- É essa sucata? Será que vai dar certo?
Leon chegou perto dela, passou a mão na cadeira e olhou de volta para Ashley.
- Só tem uma maneira de descobrir. Você opera a máquina.
Ashley foi ao local que a comandava. Assim que acionou o dispositivo, os pulsos do agente foram presos por duas pulseiras de metal. À frente da filha do presidente dos Estados Unidos, um monitor mostrava a imagem interna do corpo de Leon, com o parasita visível. Ela sentia medo.
- Tem certeza que quer seguir com isso, Leon?
- Sim.
Leon estava encarando as duas agulhas suspensas à sua frente.
- Certo. Então, lá vamos nós.
Ashley pressionou o botão que dava início ao processo e um raio atingiu o tórax de Leon, que se contorceu de dor. No monitor em frente à filha do presidente dos Estados Unidos, a plaga se dissolveu. Depois de concluído o processo, Leon caiu e ficou imóvel na cadeira. Ashley correu na direção do agente.
- Leon, está tudo bem? Como você está se sentindo?
- Com um milhão de dólares.
- Achei que você fosse morrer. Agora é a minha vez, certo?
- Exato.
Agora foi Leon quem operou a máquina. Procurou não olhar para Ashley se contorcendo sobre a cadeira, nem ouvir seus gritos de dor. Sabia que seria melhor tanto se tivesse sucesso em remover a plaga, como inclusive, se o pior ocorresse. Leon se aproximou dela depois de terminado o procedimento. Ashley se levantou e abraçou o agente. Ele olhou para o rosto da filha do presidente.
- Agora, é hora de irmos para casa.
Sim, pela primeira vez Leon viu que não precisava mais da amostra. Poderiam voltar simplesmente. Tanto ele como Ashley estavam livres da plaga. Mas não era tão simples. Precisava matar Saddler. Sim. Porque ele é uma ameaça que se continuar viva, pode elaborar outro plano. Porque ele matou e precisa pagar pelo que fez. Matou Sera, Mike e outros. Ramon Salazar não era uma pessoa má antes de ser contaminado por Saddler, nem Bitores Mendez. E até Krauser entrava na sua conta. Sim, Osmund Saddler precisava pagar.

Capítulo 46

Não parecia real. Ada o vira morto. Leon matara Krauser. Não havia a menor dúvida. Ada o deixou lá nas ruínas e saíra correndo antes da explosão. Ou seja, por mais que não tivesse sido morto pelo agente, era muito pouco provável que sobrevivesse à explosão. No entanto, Jack Krauser estava ali, diante dos olhos da espiã. E estava furioso. Sim. Agora se sentia traído. Se não fosse a atuação de Ada, ele teria matado Leon ainda na instalação. Agora ele não queria apenas matar Leon, mas sim, queria vingança. A espiã sabia que agora, teria de lutar com ele. - Oh, Krauser. Sinto muito pelo que aconteceu. Acho que me precipitei quando anunciei que você estava morto. Então ela lançou o gancho e se içou para cima da torre onde o militar estava. Caiu em uma plataforma quadrada, bem no alto da instalação. Havia um guarda corpo ao redor do local, mas era baixo, de modo que além de lutar contra Krauser, Ada precisaria cuidar para não cair, pois poderia significar se arrebentar no chão. Ainda de costas para Krauser, Ada continuou: - Pense na quantidade de papéis que você teria de preencher em caso de sobreviver. Os ferimentos dele estavam muito grandes. Sim, Krauser fora gravemente ferido por Leon, mas ainda estava vivo. O militar não disse palavra, apenas armou seu braço, que de repente se transformou em algo parecido com um grande escudo, ou uma asa de alguma ave e correu na direção de Ada. Ela rolou para o lado e ouviu o braço de Krauser acertando o chão. O militar se levantou rápido e deu duas cambalhotas para trás. Mas a espiã aproveitou o momento em que ele se levantou e antes que o militar conseguisse levantar o braço, deu um tiro, acertando-o no peito. O sangue espirrou. Sim, o ferimento dele ainda o estava prejudicando. Teria de matá-lo agora, enquanto ainda ele estava enfraquecido. Krauser jogou uma granada cegadora e Ada ouviu-o saltando. Quando a visão retornou, ele já não estava mais ali, mas sim em outra plataforma. Ada novamente lançou o gancho e se lançou atrás do militar, caindo em outra plataforma semelhante, mas esta, com uma saída de ar de um exaustor bem no centro. Desta vez havia apenas alguma correntes ao redor dela para evitar uma possível queda. Assim que caiu sobre a plataforma, Krauser avançou com aquele braço em forma de asa como se fosse uma navalha. Ele passou-a e Ada teve de saltar para trás para não ser atingida. Chegou a sentir o vento do golpe em seu rosto, mas conseguiu se esquivar. Krauser logo depois do ataque, saltou para trás novamente. Ada avançou depressa e quando se levantou, Krauser viu a espiã muito próxima a ele. O militar tentou acertar ela, mas Ada esquivou mais uma vez e parou a centímetros do inimigo, disparando uma rajada de tiros nele. Krauser jogou mais uma granada cegadora. Quando Ada voltou a enxergar, ele já não estava mais ali. Então, olhando em volta, em uma plataforma mais alta, lá estava o militar, que fez um sinal, chamando-a para o combate. Ada prendeu o gancho na plataforma e se puxou até lá. Assim que caiu, Krauser a atacou, mas a espiã conseguiu esquivar dos chutes e do braço dele. O soldado estava enfraquecido ainda do combate com Leon, isso era evidente. Dava para ver pela forma como ele atacava. Não estava tão rápido como costumava ser. Ada se lembrou das vezes em que o viu lutando. Mal dava para acompanhar os movimentos de Krauser. Apesar de saber que em tese, poderia vencê-lo, mesmo ele estando na plenitude de sua forma, sabia que seria muito mais difícil. Além do mais, Krauser estava irritado. Estava transtornado, para falar a verdade, e a espiã teria de saber tirar o maior proveito possível do descontrole emocional de seu inimigo. Assim que se levantou, Krauser já estava próximo dela novamente e deu tempo de Ada rolar para o lado e sentir o vento daquela coisa que saía do braço do militar passar muito perto de sua cabeça. Nem queria pensar no que poderia acontecer se fosse atingida. Quando se levantou, viu mais uma vez Krauser atacando. Ada deu uma cambalhota para trás. Estava conseguindo escapar. Mas acabaria cansando. E o soldado parecia não cansar, mesmo estando gravemente ferido, tanto por Leon, quanto pelos ferimentos que ela própria causara. Assim que chegou perto da borda, se agarrou a uma das correntes. Não tinha a menor intenção de cair. Seria certeza de morte caso não conseguisse lançar o gancho a tempo. Então, ao olhar para baixo, viu Leon Scott Kennedy. Ele estava na base lá embaixo, enfrentando dezenas de soldados. Parecia que estava conseguindo dar conta de todos, e seria bom que conseguisse. A final de contas, ela não teria como ajudá-lo agora. Aliás, não estava conseguindo ajudar nem a ela mesma. Teria de vencer Krauser, custasse o que custasse. A luta estava sendo mais difícil do que poderia ter imaginado. Rapidamente ela se virou para seu adversário, que estava com um sorriso no rosto, o sangue pingando pela sua boca. - Parece que seu amigo está lá embaixo enfrentando meus homens. Não se preocupe. Assim que eu matar você, mando ele para lhe fazer companhia. Ada encarou Krauser com um sorriso no canto da boca. - Olha o estado em que você está. Acha que consegue me derrotar? Eu aceito sua rendição. Se quiser colaborar comigo, posso poupar sua vida. Krauser deu uma gargalhada. - Não diga asneiras. É hora de morrer. Krauser avançou rapidamente e atacou com o braço, agora aparentando ser uma asa com lâminas nas pontas como se fossem as penas de um grande pássaro. Por pouco não atingiram a espiã, que conseguiu se desviar. Em seguida, veio outro ataque e Ada se esquivou novamente. Quando levantou- se, Ada viu a sombra do braço de Krauser e rolou para o lado, sentindo mais uma vez o vento sobre o cabelo. Quando ficou em pé, a espiã apanhou a metralhadora automática e disparou contra o peito do militar. Desta vez, seus braços baixaram e um buraco se abriu no lugar onde ele fora atingido. Krauser tentou permanecer em pé, como se estivesse lutando, mas então, o buraco em seu peito aumentou e o sangue jorrou. O soldado ainda colocou a mão direita sobre o local, tentando estancar o sangue, em vão. De repente, ele estacou reto olhando para cima. Seus olhos pararam e então, Jack Krauser desabou no chão, ficando imóvel. Estava morto. Agora, definitivamente. Ada caminhou até onde jazia o corpo do militar. Às costas de Krauser, havia agora um buraco enorme, deixando exposto seu esqueleto. Dava para ver sua coluna e as costelas. Mas o que chamou a atenção foi aquela coisa no braço. Parecia agora um grande tentáculo com diversas pontas, terminando em uma extremidade que se parecia com uma grande agulha. O líquido que saía do braço era diferente do sangue que corria do corpo. Parecia borbulhar e tinha uma tonalidade esverdeada. Aos poucos, foi se formando uma poça de sangue ao redor do corpo de Jack Krauser. Ada Wong depois de algum tempo olhando para o cadáver do soldado, deu meia volta e lançou o gancho até outra plataforma. Ao cair na outra plataforma, caminhou por um piso estreito, que contornava um prédio. Deu a volta nela até chegar em frente a uma janela alta. Para entrar, a espiã lançou o gancho e se alçou para dentro do prédio. Quando entrou, se escondeu. Estava dentro de uma espécie de laboratório. Viu um controlador com uma tela e um teclado. Ao centro, estava Ashley Graham, dentro de uma redoma de vidro. A garota estava desacordada, com a cabeça pendendo sobre o peito. Tudo estava quieto. Não havia ninguém ali. Ada estava sobre uma plataforma de metal que contornava as paredes. Iria ajudá-la? Achava melhor não. Isso era papel de Leon. À espiã, cabia a missão de encontrar Saddler. Repentinamente, do outro lado do laboratório, a porta se abriu. Ada se escondeu e ficou observando. Leon Scott Kennedy entrou pela porta e correu até perto da redoma, mas parou ao ouvir uma voz. Ada olhou para a entrada do laboratório e fechando a porta, estava Osmund Saddler. - Dentro de pouco tempo, você ganhará um incrível poder, mas parece preferir a morte. O agente se voltou para Saddler. - Eu vou levar a Ashley queira você ou não. Saddler olhava para ele com uma expressão arrogante enquanto falava. - A ousadia dos jovens. Então, o que se seguiu foi muito rápido. Levou segundos. Osmund Saddler sumiu. Não, ele se moveu a uma velocidade incrível, sobre humana. E atingiu Leon, fazendo o agente voar até se chocar contra a redoma de vidro onde Ashley estava presa. Leon se contorceu no chão e tentou levantar-se. Ada tinha de fazer alguma coisa. Caso contrário, Saddler mataria o agente americano. Neste momento, Ada, vendo o líder da seita caminhar até onde Leon estava deitado, apanhou sua metralhadora automática, recarregou e disparou uma rajada de tiros, atingindo o homem da túnica roxa no peito. Ele recuou, caminhou para trás e ficou paralisado por algum tempo, mas não caiu. Ada viu Leon em pé e gritou: - Leon! Agora! O agente entendeu o recado. Leon bateu em um botão verde, que abriu a porta da redoma de vidro e baixou o suporte que prendia a filha do presidente dos Estados Unidos. Em seguida, ela foi libertada, caindo nos braços do agente. Ashley parecia entorpecida, mas dava sinais de que começava a recobrar os sentidos. Enquanto isso, Saddler levantou a cabeça com uma expressão de fúria. Ada viu as balas que saíram de sua metralhadora e atingiram o líder dos Illuminados correrem pelas mãos dele e caírem no chão. Ele deu um sorriso, olhando para o rosto assustado de Leon. Ashley finalmente parecia acordada. Ada gritou para eles: - Movam-se! Leon segurou o braço de Ashley sobre seu ombro e saiu correndo do laboratório. Saddler saiu atrás deles. Ada disparou mais uma rajada de tiros nas costas do líder da seita, mas nada parecia fazê-lo parar. Saddler não parecia disposto a perder tempo com a espiã. Ada não viu alternativa. Sobre a porta, havia uma plataforma com tonéis de líquido inflamável. A espiã atirou neles, causando uma explosão. A plataforma caiu e a saída ficou bloqueada. Osmund Saddler não teria como sair atrás do agente e da filha do presidente dos Estados Unidos. Agora, iria se voltar para Ada. Ela teria de enfrentar o líder dos Illuminados. Pensou que, se conseguisse derrotá-lo, teria a amostra do parasita para levar. Mas seria uma luta extremamente difícil. Osmund Saddler veio caminhando na direção da plataforma. Seu braço se transformou em um tentáculo, mas este diferente daquele de Krauser. Era como o de um polvo, flexível. Parecia um grande chicote. Saddler o lançou a um dos pilares que sustentava a estrutura onde Ada estava e o usou como ela usava seu gancho, para se alçar para cima, caindo sobre a plataforma, bem em frente à espiã. Sem mais delongas, Osmund Saddler apresentou seu cartão de visitas e deu um golpe com o seu braço que quase atingiu Ada. Ela teve de dar uma cambalhota para trás o mais rápido que conseguiu. Então, pegou a metralhadora e disparou em Saddler, enquanto ele ainda se levantava. Mas ele logo se recuperou. Saddler usou o braço chicote dele e o lançou na direção de Ada, que deu um rolinho para o lado. Mas foi tudo muito rápido. Quando se levantou, a espiã sentiu uma ardência no rosto e passou a mão. Estava sangrando. Fora atingida de raspão. E ficou pensando em como Saddler conseguiu acertá-la? Ela teve convicção de que havia se desviado do golpe. O líder dos Illuminados era muito mais veloz do que poderia se supor. Ada teria de ficar esperta o tempo todo. E iria ter de prestar muita atenção a todos os movimentos de seu inimigo. Não podia deixar ele escapar um único instante do seu campo de visão. Por um instante, Ada viu Saddler se mover e saltou para trás, dando uma cambalhota e ouviu um baque. Seu adversário estava parado ali, com o braço/chicote no chão, se levantando e olhando para a espiã. Ada mais uma vez, aproveitando que estava longe, mirou agora na cabeça do líder dos Illuminados e disparou mais uma rajada de tiros. Como que se tudo fosse um filme, a cena seguinte pareceu irreal. Saddler arregalou os olhos, colocou as mãos sobre o peito, como se estivesse sentindo grande dor e urrou. Um líquido verde espirrou da boca de Osmund Saddler e ele saiu cambaleando. Estaria morrendo? Seria bom demais para ser verdade. Saddler desabou no chão e ficou olhando o teto. Sua boca se escancarou e de dentro dela dava para ver um olho. Ada sentiu um arrepio ao ter aquela visão grotesca. E então, o líder daquela estranha seita ficou ali, imóvel. Seus olhos vidraram. Ada Wong esperou por um instante para se certificar de que Osmund Saddler não se moveria mais. Caminhou até onde ele jazia e viu que um frasco com a amostra do parasita rolou para o chão. A espiã olhou para o objeto e se abaixou para apanhá-lo, deixando o corpo do líder dos Illuminados para trás. Ela por um único instante se esqueceu de que não poderia deixar Saddler fora do seu campo de visão por nenhum momento. Este foi o único erro que Ada cometeu durante todo o tempo. Mas esse erro fez toda a diferença. De costas para Osmund Saddler, Ada não viu que aquele tentáculo em forma de chicote estava vindo em sua direção. A espiã foi caminhando em direção à porta, mal acreditando que tinha conseguido derrotar Osmund Saddler. Não dependeria mais de ter de esperar que Leon o fizesse. E não precisaria matar o agente. Agora era simplesmente ir embora. Entregaria a amostra a Wesker? Na verdade ela tinha outros planos. Até entregaria uma amostra. Mas ela sabia qual era a plaga controladora e qual era a controlada. Seu chefe não precisava saber. Só que quando Ada Wong foi abrir a porta pelo qual Leon havia entrado para sair do laboratório, sentiu algo envolvendo seu corpo e de repente, tudo foi engolido pela escuridão. Quando abriu os olhos, Ada não sentia o chão sob seus pés. Estava amarrada e pendurada em uma espécie de guindaste. O que acontecera? Alguém a apagou, a prendeu e a colocou lá em cima. Sim, estava sendo usada como isca para Leon. Quem fizera isso? Saddler. Assim que chegou a essa conclusão, a espiã viu o líder dos Illuminados parado, olhando para um elevador que vinha de baixo. Então ele estava vivo. Ada não o derrotara. Realmente era muito bom para ser verdade. Agora ela estava ali, presa, esperando pelo agente. Ele viria salvá-la e cairia na armadilha de Osmund Saddler. Era isso o que este queria que acontecesse. E então o líder da seita iria lutar pessoalmente contra o agente americano. Ada ainda procurou pela amostra, mas já não estava mais em seu poder. Saddler a pegou de volta. De repente, o elevador começou a funcionar. Osmund Saddler levantou a cabeça e olhou para Ada Wong e riu antes de se voltar para o lugar de onde Leon deveria aparecer. - Seu amigo está vindo. Vou dar uma boa recepção a ele. Ada não conseguiu falar nada. Não queria falar com Saddler. Estava se sentindo extremamente mal. O papel da mocinha em apuros para ser salva pelo protagonista da história não lhe caía nada bem. Ela sentia-se quase em condição humilhante. Como pudera ser tão negligente? Tão imprudente? Nunca deveria ter dado as costas a Saddler, mesmo com ele estando aparentemente morto. Não. Tinha de ter se certificado de que ele não levantaria de novo. E mesmo assim, tinha de ter saído, mantendo-o sob seu constante olhar, sob permanente vigilância. Agora, no entanto, era tarde. Teria de esperar que Leon a libertasse. Mas isso feria de morte seu orgulho. O elevador parou. O agente surgiu na plataforma. Osmund Saddler caminhou na direção de Leon, com aquele cajado contendo a plaga e espalmou a mão na direção do agente. Só que o que se seguiu deste momento em diante saiu do controle do líder da seita. Leon não estava mais sob controle da plaga. Sim, ele conseguiu removê-la de seu corpo. Estava curado. O que deixava Ada mais livre, pois agora, ele não precisaria mais da amostra para produzir uma cura tanto para ele, como para Ashley. O agente apontou a faca para Ada e jogou-a, cortando a corda que a prendia. A espiã caiu sobre sacos que estavam empilhados com uma lona os cobrindo. Osmund Saddler foi caminhando na direção de Leon dando risada. Ada ouviu o diálogo dos dois, enquanto conseguiu apanhar sua faca para cortar a corda que prendia suas mãos. Ela rompeu as amarras o mais rápido que pôde. Então, ouviu claramente o líder dos Illuminados falar: - Um clichê dos filmes de Hollywood. Senhor Kennedy, você me diverte. E para mostrar minha gratidão, vou fazê-lo acordar do seu mundo de clichês. Enquanto Saddler se transformava em uma criatura grotesca, com aquele olho que ela vira aparecendo dentro da sua boca novamente ficando visível, Ada ouviu Leon dizer: - Ada! Corra! Enquanto ouviu os sons da transformação de Osmund Saddler, Ada Wong não pensou duas vezes. Assim que se viu livre das cordas, apanhou seu gancho e lançou para uma plataforma que ficava bem a cima da que estava e se lançou para lá. Só que ela ainda não tinha a amostra. Então, não poderia ir. Teria de esperar o desfecho do confronto. Assim que chegou à beirada da plataforma, vislumbrou a luta que seguia entre Leon e Saddler. O líder dos Illuminados parecia algo como uma aranha gigante, com pernas que brotavam do seu pescoço e deixavam seu agora minúsculo corpo suspenso no ar. Ele movia seus braços sem objetivo nenhum, sendo que um deles era um chicote. Como quando a enfrentou. Mas eram naquelas espécies de pernas que ele concentrava seus ataques. Leon se virava como podia para se manter afastado de Saddler. Olhando para o outro lado, lá no térreo, a espiã viu Ashley. A garota estava assustada, olhando para os lados, alheia ao que se passava sobre a plataforma. Talvez fosse melhor assim. Ela tremia e vez por outra, roia as unhas. Ada então apanhou o seu monóculo para verificar o que havia ao redor. Parecia tudo quieto. Não se via mais ninguém por ali além dela, da filha do presidente, de Leon e de Saddler. De repente, ela olhou para outra plataforma, longe dali. E viu uma coisa que poderia sim ser útil para a luta. Uma bazuca. Estava largada sobre um container. Sim, aquilo tinha de matar Osmund Saddler. Ela tinha de chegar lá e dar um jeito de fazer aquela arma ir parar nas mãos de Leon. Antes que fosse tarde. Então, teria de correr. De repente, a espiã olhou melhor nas estruturas da plataforma. Um barulho que vinha delas estava a intrigando e só podia ser uma coisa. Tratava-se de um “bip” que tinha de indicar que havia um dispositivo pronto para explodir. Era uma contagem regressiva. Sim, isso indicava que ela teria de ser muito rápida. Saddler estava precavido para o caso de tudo dar errado. Então, um soldado com um escudo apareceu em frente a ela. Ada atirou com a metralhadora automática e estourou a cabeça dele. Não daria para perder tempo. Ela correu e saltou para um nível a baixo do que o que estava. Assim que dobrou, correndo sobre a plataforma, quase foi surpreendida por outro soldado, mas fez mira e atirou. Teria de correr mais. Tinha dois motivos para isso. Ajudar Leon o mais rápido que conseguisse, antes que Saddler o matasse e fazer tudo antes que a ilha explodisse. Ada saltou mais um nível para baixo, e correu até a beirada da plataforma, onde teve de matar mais um soldado. Eles não representavam risco, mas estavam ali com o propósito de fazê-la perder tempo. Depois, Ada Wong lançou o gancho e se alçou para outra plataforma, agora mais alta. Após passar por duas hélices girando, dois soldados bloquearam seu caminho. Ada os metralhou e recarregou a arma enquanto corria. Em frente a uma escada de escalar estava um arqueiro. Ada teve de ser rápida para evitar que ele atirasse qualquer flecha. Se fosse ferida agora, toda a missão poderia se perder. Matou-o e escalou. Assim que chegou na parte de cima da plataforma, foi surpreendida por um soldado enorme com uma placa de metal na cabeça. Ada disparou uma rajada de tiros nele. Não podia demorar. O tempo corria. Então, quando dobrou outra quina na plataforma, deu de cara com um soldado com uma bazuca mirando nela. Sem pensar, nem fazer mira, Ada simplesmente apertou o gatilho e uma rajada de tiros matou o soldado, que caiu e deixou a arma no chão. Se ele tivesse atirado, a espiã nem queria pensar no que teria acontecido. Era a arma que ela vira. Ada a apanhou. Era pesada, mas teria de conseguir levar a um ponto onde pudesse jogá-la a Leon. Ela, viu um local bem no alto e lançou o gancho que se prendeu, sendo alçada até o local. Lá, ela podia ver a luta ainda se desenrolando. Leon estava precisando de ajuda. A final de contas, parecia impossível destruir Osmund Saddler. Ada juntou todas as forças que tinha no corpo e lançou a arma o mais longe que conseguiu.

Capítulo 47

Livres da plaga, a final. Agora não precisariam mais temer. Não entrariam para o exército de Osmund Saddler e poderiam voltar para casa. Agora, no entanto, faltava cobrar a imensa dívida do lunático líder dos Illuminados. Leon não descansaria enquanto não visse Osmund Saddler morto. Vivo, ele seria ainda um risco. Poderia se reerguer, formar outro exército e tentar novamente. Não era de se supor que Saddler iria desistir. O agente e Ashley foram até a saída do laboratório. Quando chegaram perto da porta, encontraram sobre uma mesa, uma carta de Osmund Saddler, dirigida aos seus subordinados. Falava dos planos do líder da seita. Ele tinha, na verdade outro plano, mas pelo visto, o sequestro da filha do presidente fora um adicional, provavelmente proposto por Krauser. Agora, Saddler tinha a ideia de voltar ao plano original. Era o que se podia supor por suas anotações. “O real poder dos Estados Unidos está em três áreas. O Departamento de Justiça, os corpos Administrativos e o Militar. Para ter o controle dessas áreas, devemos influenciar as mentes das pessoas que aconselham o Presidente. Depois que isso for feito, o resto dos departamentos cairá facilmente em nosso controle. Se por acaso os Estados Unidos descobrirem nosso plano, o dano causado poderá ser mínimo. Nós ainda poderemos conquistar o país como planejado usando nosso plano extra. Assim que controlarmos o país, usaremos sua influência internacional a nosso favor. O resto do mundo cairá rapidamente. Como já afirmei, se nosso primeiro plano não correr como esperado, procederemos com nosso plano secundário. Enviando nossas forças "especiais", infiltraremos no país por dentro. Medo e caos se espalharão pela nação como um vírus. Será apenas uma questão de tempo até que o país perca sua estabilidade. Neste momento, quando eles estiverem mais vulneráveis, nós atacaremos. Alegrem-se, meus irmãos; o mundo logo estará purificado.” Sim, tudo indica que Saddler mudou seus planos quando teve a filha do presidente dos Estados Unidos sob seu controle. Mas ele tinha outras maneiras de manipular o país que era, militarmente e economicamente mais poderoso do mundo. E realmente, depois que estivesse controlando os Estados Unidos, contando com aliados poderosos, como Alemanha, Reino Unido, França e quem sabe, contando com toda a União Europeia, não seria mais uma missão difícil dominar o mundo. Era preciso então, liquidar com a ameaça Saddler enquanto havia tempo. Ele não estava parado. Assim que saíra do laboratório, Leon e Ashley se viram em uma área que parecia uma obra gigantesca. Havia cones espalhados por todos os lados, o chão era de terra e era possível ver escombros de concreto e vigas de ferro. Eles chegaram até um elevador que levava a uma plataforma de metal. Não dava para ver o que havia nela. Assim que os dois pararam em frente à plataforma que era o elevador, ficaram um tempo olhando para tudo em volta. Leon olhou para a filha do presidente dos Estados Unidos e depois, de volta para a plataforma a cima deles. - Tem algo errado com isso tudo. Ashley, fique aqui em baixo. Eu subirei para ver o que há lá em cima. Ela apenas assentiu com a cabeça. Leon correu até o elevador. Antes de acionar o mecanismo, lembrou-se de Ada. O que teria lhe acontecido? Teria tido êxito em se livrar de Osmund Saddler? Não sabia o motivo, mas estava com um péssimo pressentimento. E se tudo não passasse de uma armadilha? Então, enquanto a plataforma subia lentamente, olhou para Ashley. Ela estava sozinha, olhando para cima. Ninguém viera atacá-la. Mas o que teria lá em cima? O agente estava ficando apreensivo. Queria chegar logo, mas ao mesmo tempo tinha receio do que iria ver. Mesmo assim, sabia que teria de enfrentar a realidade mais cedo ou mais tarde. Se Saddler estivesse ali, então é porque Ada não conseguira derrotá-lo. E neste caso, a espiã ou estaria morta, ou estaria bem enrascada. Mas logo iria saber o que se passou. Leon respirou fundo, carregou sua metralhadora e ficou em silêncio, apenas ouvindo o barulho do motor que fazia subir a plataforma e sentindo o pulsar do seu coração. Seus olhos estavam arregalados. Ele engoliu em seco. O elevador parou. Chegou à plataforma. Era a hora da verdade. A primeira coisa que viu, fez seu coração quase parar de bater. Ada Wong. Estava pendurada em um gancho, há uns três metros do chão, toda amarrada. Mas estava viva. Sim, era a isca. Leon correu para perto dela. Então, antes que pudesse fazer alguma coisa, Osmund Saddler veio caminhando do lado oposto ao qual o agente havia entrado. O líder dos Illuminados o estava esperando. Ele espalmou a mão na direção de Leon, esperando fazê-lo recuar. Mas não obteve efeito algum. Neste momento, viu que o agente não estava mais infectado com Las Plagas. Este apanhou a faca do bolso e falou: - É melhor começar a tentar outros truques, porque este está ficando velho. Logo que falou, Leon jogou a faca na corda que prendia Ada, que caiu. O agente olhou para a espiã e perguntou: - Como está se sentindo Ada? Ela, levantando-se, olhou com um pequeno riso no canto da boca. - Já me senti melhor. Enquanto isso, Osmund Saddler soltou uma gargalhada. Leon o questionou: - O que pode ser tão engraçado Saddler? - Acho que você sabe. O americano vencedor é um clichê que só acontece nos filmes de Hollywood. Fez-se silêncio, enquanto o líder dos Illuminados caminhava na direção do agente, sempre com seu bastão ao lado e aquela coisa no seu topo, que lembrava uma pequena cabeça com tentáculos ao seu redor. Saddler continuou falando. - Senhor Kennedy, você me deu um bom entretenimento. Para mostrar minha gratidão, lhe mostrarei o mundo dos clichês. Mas aqui será diferente. Então, a boca de Osmund Saddler se abriu de um modo grotesco. De dentro dela, surgiu um olho. Leon olhou rapidamente para Ada, que ainda estava se soltando das cordas. - Corra Ada, depressa! Fuja! A espiã conseguiu se desvencilhar das cordas e saiu correndo pela plataforma por onde Leon viera. Enquanto isso, Saddler estava se transformando. Sua cabeça assumia uma forma horrenda, pendurada em um pescoço enorme em um corpo que em mais nada lembrava um ser humano. Seu pescoço virou uma espécie de aranha gigantesca. O que antes fora o corpo de Osmund Saddler, agora parecia apenas uma pequena túnica roxa pendurada sob aquela coisa monstruosa, cheia de pernas e olhos, sob aquela cabeça grotesca. Leon compreendeu que para enfraquecer Saddler, teria de atirar nos olhos que ficavam naquelas pernas. Mas usando uma espécie de tentáculo, aquela coisa quase acertou o agente. Assim que conseguiu se esquivar, Leon disparou uma rajada de tiros com a metralhadora automática em um daqueles olhos. Então, a criatura abaixou por um momento aquela cabeça grotesca e a boca de Saddler abriu, exibindo aquele olho novamente. Leon instintivamente correu e a acertou com a faca. Depois disso, Leon correu para o lugar mais distante daquela coisa que conseguiu. Passou correndo por vários tonéis de líquido inflamável, usado nas máquinas da plataforma. Saddler veio atrás e quando se aproximou dos tonéis, Leon atirou neles, causando uma grande explosão. O monstro recuou. O impacto da explosão fora violento. O agente aproveitou e chegou perto do líder dos Illuminados, que estava ainda se recuperando do golpe, com a cabeça baixa. Mirou naquele olho dentro da boca dele e disparou mais uma rajada de tiros. Depois disso, Leon correu para o lado oposto novamente, chegando perto de uma parte mais elevada da plataforma. O dia estava começando a clarear, já era possível ver os primeiros raios do sol. Saddler deu meia volta e veio novamente no encalço de Leon. O agente viu que havia um guindaste com muitas vigas de ferro bem grandes penduradas em sua haste. Então, subiu no mecanismo que controla o guindaste e o acionou, bem no momento em que o líder da seita passava pelo local onde poderia ser atingido. Conforme o plano. As vigas o atingiram em cheio. Leon aproveitou e quando viu que Saddler expôs o olho que ficava dentro de sua cabeça, disparou mais uma rajada de tiros. Mas parecia que ele não morria nunca. Como uma criatura pode ser tão resistente, pensava Leon? Que arma teria de usar para conseguir matá-lo? Foi quando, Leon escutou algo. Não conseguiu saber se era real ou se estava imaginando coisas. Quando foi chamado pela segunda vez, olhou para cima e viu Ada Wong. Ela trazia uma bazuca e a arremessou. A arma caiu na plataforma, produzindo um baque estrondoso. Quando o agente olhou para cima novamente, a espiã havia sumido. Mas a arma caiu na outra plataforma. E para chegar lá, Leon teria de esperar o momento em que a ponte entre uma e outra estivesse em posição. Tratava-se de duas partes e elas ficavam descendo e subindo o tempo todo. Leon teve de ficar esperando até elas se encontrarem. Enquanto isso, Osmund Saddler começou a se recuperar da sequência de golpes que recebeu. A ponte ainda não estava em posição. Saddler se levantou e começou a avançar. A primeira ponte ficou na posição, a do lado oposto, ligada à outra plataforma. A criatura chegou e atacou. O agente conseguiu rolar para o lado, no exato momento em que a ponte do lado em que eles estavam subiu para a posição. Leon agora teria poucos segundos para correr. Se a ponte descesse enquanto estava sobre ela, certamente o agente cairia para a morte. Leon conseguiu se desviar dos tentáculos do Saddler monstro e correu para a ponte. Assim que começou a avançar, sentiu algo estremecendo sob seus pés. A ponte iria descer logo. Quando passou da metade da ponte, a luz do outro lado, que estava verde, mudou para vermelho. Leon acelerou o mais que conseguiu, pois se ficasse sem chão, teria de saltar com todas as sua forças. Ao passar da metade, sentiu o chão descer e tomou impulso. Foi sua sorte. Segundos depois, estava flutuando, sem nada sob seus pés. Esticou os braços e abriu as mãos. Sentiu quase como se fosse um boneco de molas. Quando achou que a queda o aguardava, sentiu o aço da plataforma em suas mãos e agarrou-se com todas as forças. Olhou para baixo. Agora, teria de subir rápido, antes que Saddler saltasse para este lado da plataforma e pudesse jogá-lo para baixo. Puxou seu corpo para cima. Quando conseguiu colocar a perna sobre a plataforma, viu uma sombra passando sobre sua cabeça e, logo depois o chão estremeceu e ouviu-se o baque de algo muito grande caindo sobre o piso metálico. Saddler passara para a outra plataforma. Assim que se levantou, Leon viu Osmund Saddler. O líder dos Illuminados estava se dirigindo exatamente para onde estava a bazuca. Leon teria de correr mais rápido que ele. O agente apertou o passo e correu com toda a sua velocidade. Saddler já estava chegando. Então, aproveitando que estava começando a chover, Leon se jogou no metal liso e escorregou até o local onde a arma estava. Apanhou-a e seguiu escorregando até bater em um container de lata. Sentiu uma dor tremenda nas pernas, mas nem teve tempo de ligar para isso. Levantou-se e colocou Osmund Saddler na mira. O líder dos Illuminados começou a correr na direção do agente. Neste momento, Leon disparou. Sentiu seu corpo sendo projetado para trás e caiu de costas. Enquanto isso, viu o foguete sendo disparado de sua arma e indo diretamente na direção de Osmund Saddler. Tudo pareceu irreal naquela hora, assim como fora na morte de Mike. O projétil atingiu Osmund Saddler, explodindo. Tudo ali virou uma gigantesca bola de fogo e Leon teve de rolar para trás de um container para se proteger da explosão. Quando olhou, depois do tremor na plataforma cessar, não viu nada além dos restos da roupa do líder dos Illuminados fragmentos dos objetos que estavam perto no momento em que este fora atingido. E no chão, a amostra estava intacta. Parecia bom demais para ser verdade. Leon se levantou e caminhou, ainda meio tonto até o frasco. E então, quando se abaixou para apanhá-lo, escutou o engatilhar de um revólver atrás de sua cabeça. Sim, só podia ser. Ada falou com dureza. - Anda, Leon. Passa a amostra para mim. Agora! Ainda tomado pela surpresa, Leon tentou se enganar, pensando que a espiã não estava fazendo o que ele achava que estava. - Ada, você sabe o que é isso? Ela apenas riu, enquanto Leon lhe passava o frasco. Quando a espiã o teve em seu poder, girou os calcanhares e saiu correndo. O agente ficou apenas olhando Ada saltar da plataforma. Como assim? Segundos depois, um helicóptero apareceu, com a espiã no banco de trás. Ela falou sorrindo. - Não se preocupe, vou cuidar bem da amostra. Mas agora tenho de ir. E quer um conselho? Se eu fosse você, daria um jeito de sair desta ilha o mais rápido que puder. Ao dizer isso, Ada jogou um chaveiro com um ursinho para Leon. - Pegue. É melhor correr. Vejo você por aí. O helicóptero seguiu e Leon o observou diminuir no seu campo de visão até sumir completamente. Então, ergueu o chaveiro e o observou. - Que bonitinho. O fato é que agora, teria pouco mais de dois minutos para correr até o elevador e levar Ashley até o barco em que viera. Correu, passou pela ponte, agora sem precisar saltar. Pegou o elevador. Ao descer, Ashley o estava esperando. Leon, sem muito tempo, quase gritou: - Ashley. Este lugar vai explodir em menos de dois minutos. Temos de correr! Agora! O rosto de Ashley empalideceu, seus olhos arregalaram e ela ficou atônita. Não era momento de entrar em pânico. Então, ela saiu correndo atrás de Leon. Passaram por um túnel. O chão tremia. Chegaram a um buraco. Leon saltou e depois segurou a filha do presidente dos Estados Unidos. Teriam de seguir correndo. Chegaram, enfim à margem do rio. Um jet ski os aguardava. Fora deixado ali pela espiã, ou quem quer que estivesse com ela. Subiram nele. Leon cortou a corda que o prendia e usou a chave que ganhou para dar ignição no motor. Teriam pouco tempo para se distanciar o máximo que conseguissem da ilha. Tudo ali iria pelos ares. Mas não poderia falhar. Não agora. Sua missão estava completa. Era só voltar para casa. Resgatou a filha do presidente e destruiu Osmund Saddler, o líder da seita Los Illuminados. Não conseguira a amostra, mas agora, ela não seria mais tão necessária. Era só voltar para casa e entregar Ashley curada para seu pai. Mas para isso, teria de conseguir sair dali. Leon subiu no veículo e deu a partida. Ashley subiu logo depois. O agente olhou para trás. - Segure-se que vamos ter de ser meio rápidos. Ela não falou nada, apenas seguiu a ordem. Então, Leon partiu por um túnel. Era estreito e com curvas. Teria de por à prova toda a sua habilidade e reflexos. Em alguns pontos tiveram de passar por portas. A iluminação vinha da parte de cima, de lâmpadas. Começou a haver explosões e pedaços de pedra estouravam e quase acertaram a cabeça de Leon e de Ashley. Dava para sentir o tremor das explosões. A ilha começou a ir pelos ares. Ashley olhou para trás e viu uma onda se aproximando, com pedaços de pedra. Ela gritou: - Leon, há ondas atrás de nós! - Eu sei. Segure-se! Leon acelerou mais. Era preciso ser mais rápido do que estavam sendo. A situação começou a se complicar. Agora, a todo o momento o teto tremia e estilhaços de pedra voavam contra os dois. O teto começou a desabar. Caíam por toda a parte partes do túnel de pedra, enormes. Se fossem atingidos seriam esmagados instantaneamente. O agente precisava ser muito rápido, pois às vezes, os blocos de rocha caíam quase sobre eles. Parecia uma armadilha, mas agora era apenas a ilha se desfazendo aos poucos. Por todos os lados dava para ver explosões e blocos de pedra caindo. Foi quando, apareceu o fim do túnel, a saída. Leon acelerou tudo o que podia e então… finalmente saíram. O túnel acabava em uma queda d’água e o jet ski voou até aterrissar. Atrás deles, a saída do túnel foi coberta por uma nuvem de poeira estilhaços de pedra. A cima dele, tudo o que havia sobre a ilha deixava de existir após a explosão. Na queda, Ashley se soltou e foi caiu na água. O sol já havia nascido e o spray de água que se formou, deixado pelo jet ski, formou um arco íris. Leon sentiu que perdera a caroneira e parou o veículo, assim que conseguiu controlá-lo e voltou angustiado. Não, nada poderia dar errado agora. - Ashley, onde você está? Neste momento, a filha do presidente emergiu, cuspindo água, arfando e olhando para os lados. Sem ver direito o que tinha ao redor, ela simplesmente gritou: - Leon! O agente olhou para trás, deu meia volta no jet ski e parou perto da garota. Estendeu a mão e a colocou na garupa do veículo. Leon olhou para trás e falou: - Certo. Vamos para casa. - Parece uma ótima ideia. Missão cumprida, certo Leon? - Não exatamente. Ainda tenho de levá-la em segurança para casa. A ilha de Osmund Saddler foi ficando para trás. Agora, ao longe, ela parecia apenas um amontoado de estruturas semi-destruídas e fumaça saindo por todos os lados. O local foi diminuindo no espelho retrovisor do jet ski e Leon foi vendo-o se reduzir até sair de foco e sumir completamente. Agora, teria de chegar a uma margem segura, entrar em contato com Hunnigan e solicitar transporte para os Estados Unidos novamente. E esperar que não estivessem sendo esperados por mais ninguém fiel a Saddler na margem. Não, agora ele achava que isso não iria acontecer. Enquanto ainda estava imerso em seus pensamentos, Ashley chamou a atenção do agente: - E depois que me deixar em casa, não iria querer ter algum outro passa tempo? Tipo… fazer uma hora extra? Leon demorou um instante para responder. Depois de limpar a garganta, ele respondeu: - Me desculpe. Ashley riu. - Eu tinha a impressão que você responderia algo parecido com isso. Mas perguntar não ofende, certo? Mas me diga uma coisa. Quem é aquela mulher do vestido cor de vinho? - Por que a pergunta? - Vamos, me conta. - É uma parte de mim que não consigo esquecer. Vamos deixar assim. Os dois foram na direção da margem mais próxima, com o nascer do sol à sua frente. Logo chegaria a hora em que Leon entregaria Ashley Graham a seu pai e teria mais uma missão cumprida em seu currículo. De repente, o transmissor tocou. - Olá Leon, conseguimos recuperar a linha. - Que bom. - Qual o status da missão? - Resgatei o objetivo. Vamos voltar para casa. - Você conseguiu Leon. Foi um trabalho fantástico. - Obrigado. Agora Leon iria pedir um descanso, tirar umas férias. Mas esperava que sua próxima missão fosse algo mais normal, de preferência, combatendo apenas pessoas vivas e deste mundo. Mal sabia ele, que seu próximo trabalho será, na verdade um retorno ao passado, que o remeterá aos acontecimentos de Raccoon City. Porém, até enfrentar os mortos-vivos novamente, Leon Scott Kennedy poderá curtir os status de ter salvado a filha do presidente dos Estados Unidos, Ashley Graham, tornando-se de vez o homem de confiança do político mais poderoso do mundo.

Epílogo

- Leon, use isso! A bazuca voou e caiu sobre a plataforma de metal. Ela não viu muito bem o que ocorreu logo em seguida. Mas quando deu por si, viu o agente escorregando sob o corpo de Osmund Saddler e apanhando a arma que ela jogou. Viu Leon lançar o projétil que explodiu Osmund Saddler. O que restou do líder dos Illuminados foi se deteriorando até desaparecer. Em seu lugar, ficou o frasco com a amostra do parasita Las Plagas. E tinha de ser dela. Ada lançou o gancho e saltou sobre a plataforma onde Leon estava. Apanhou sua pistola e quando o agente foi apanhar o frasco, colocou a arma em sua nuca. - Sinto muito, Leon. Solte-a! Sem se virar para ela, Leon respondeu: - Ada, você sabe o que é isso. A espiã não disse nada, apenas saiu correndo, com o frasco nas mãos e saltou da plataforma. Um helicóptero a estava esperando. Assim que ele levantou voo, ela viu o agente parado na beirada. Então, disse: - Não se preocupe, cuidarei muito bem disso. Ada, apanhou a chave do jet ski que veio no helicóptero e que ficaria esperando por Leon, para que ele pudesse sair da ilha com Ashley antes que tudo fosse pelos ares. - É melhor se apressar. A gente se vê por aí. Depois disso, o helicóptero deu meia volta e partiu. Ada não viu como Leon saiu da ilha, mas nem chegou a ficar preocupada. Sabia que o agente iria sair daquela situação sem maiores problemas. Ele sempre conseguia. Já se livrara de situações muito piores. O simples fato de ainda estar vivo o credenciava a isso. Ada guardou a amostra em uma maleta, contendo o símbolo de risco biológico. Fechou os olhos e respirou fundo. Sim, conseguira cumprir o que se propusera a fazer. Em vários momentos temeu pela sua segurança ou mesmo por sua vida. Mas agora estava a salvo. Estava em segurança. Tudo acabou. Para ela e para Leon. O agente levaria Ashley Graham para casa. E ela retornaria com a amostra. Essa fora uma das missões mais difíceis de sua vida, se não a mais difícil. Mas, acabou. Cumpriu-a com êxito. Agora, era só curtir o momento e desacelerar. Respirar fundo e se preparar para a próxima missão. De repente, Ada Wong abriu os olhos e olhou para a frente. Dava para ver os dois pilotos e, o nascer do sol. Estava amanhecendo o dia. Sim, tudo se passara em pouco mais de doze horas. Mas pareceram dias, semanas. A ação foi tão intensa, que sequer foi possível em algum momento mensurar o tempo que se passou desde a hora em que Ada chegou ao povoado até o momento em que deixava a ilha. Algumas nuvens passavam à sua frente. E a espiã ficou um tempo admirando aquela imagem. A aurora. E sorriu. O que a espiã faria com a amostra? Seu chefe Albert Wesker estava esperando que Ada a enviasse. Mas ela sabia com quais objetivos. Ele iria aproveitar para fundar outra empresa, saindo da Umbrela. Ela enviaria sim a amostra, mas não seria bem a que Wesker estava esperando. A mulher do vestido cor de vinho havia conseguido duas amostras, uma controladora e uma controlada. E seria esta que seria enviada de presente a Wesker. A final de contas, não estaria mentindo, nem traindo a corporação. Era uma amostra genuína do parasita Las Plagas. Não a que controlava os outros, não a mais útil para os planos do presidente da Umbrela. Mas uma amostra. O que Ada Wong não sabia é que mesmo com uma amostra submissa em mãos, Albert Wesker não ficaria tão desapontado e a usaria mesmo assim no comércio das armas biológicas.


Fim



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Nota do Autor: Gostaria de agradecer a todos aqueles que terminaram este FIC. Que tiveram paciência de lê-la toda, a final ela foi bastante longa.
Aproveito para pedir que, se houver interesse, posso começar a preparar uma nova FIC. Agora seria baseada em Resident Evil 5. Tenho planos para seguir até os jogos atuais. Mas apenas se houver interesse dos leitores.
Um abraço a todos.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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