Prólogo
- Amor, a mamãe precisa cuidar da Lola! – falou para a filha que a encarava entediada.
- Ninguém me deixa brincar com os cachorros. – a pequena fez bico, o que fez a mais velha rir e passar a mão por seus cabelos.
- Nem todos são tão amigáveis à crianças, Bells.
- Mas, mamãe... A Lola é, não é? – os olhos da menina brilharam.
- Ela é, se quiser, pode me ajudar com ela. – a criança comemorou, batendo palmas e logo correndo em direção à tão velha conhecida.
era parceira da instituição Dogs Trust em Londres. A garota ajudara o local desde que chegara do Brasil, há muitos anos, e assim que firmou sua vida no país e conseguiu seu próprio negócio, se tornara parceira para ajudar o máximo que poderia. Isabelle, sua pequena de cinco anos já era acostumada com os animais desde os primeiros passos, então acompanhava a mãe a todo tempo em seu segundo lar, como a mesma chamava. Bom, terceiro, porque ela tinha a casa do papai também.
- Lola! – a criança gritou quando encontrou a cachorra de pelos negros abanando o rabo insistentemente por sua chegada. – Ah, mamãe, eu queria muito levar a Lola pra casa. – viu sua filha fazer bico novamente e abaixou ao lado dela.
- Sexta-feira vai ter um evento aqui pra adoção, e pode ser que a Lola finalmente consiga uma casinha e uma família que a ame tanto quanto a gente!
- Mas eu queria ela. – a garota abraçou a cachorra com quem tinha contato desde muito novinha e juntou seu rosto ao dela, sorrindo. – A gente até se parece, olha! – uma senhora passou em frente a elas e sorriu para a cena, encantada com a pequena.
- Aí, Bells. – suspirou. – Se dessa vez ninguém levar, a mamãe adota a Lola pra ser companheira da Chelsea.
- É sério? – a pequena deixou com que seus olhos brilhassem e um enorme sorriso tomasse seu rosto. – Promete?
- Prometo. – a mãe levantou seu dedinho e a filha grudou o seu no dela, selando uma promessa como elas sempre faziam.
- Ninguém me deixa brincar com os cachorros. – a pequena fez bico, o que fez a mais velha rir e passar a mão por seus cabelos.
- Nem todos são tão amigáveis à crianças, Bells.
- Mas, mamãe... A Lola é, não é? – os olhos da menina brilharam.
- Ela é, se quiser, pode me ajudar com ela. – a criança comemorou, batendo palmas e logo correndo em direção à tão velha conhecida.
era parceira da instituição Dogs Trust em Londres. A garota ajudara o local desde que chegara do Brasil, há muitos anos, e assim que firmou sua vida no país e conseguiu seu próprio negócio, se tornara parceira para ajudar o máximo que poderia. Isabelle, sua pequena de cinco anos já era acostumada com os animais desde os primeiros passos, então acompanhava a mãe a todo tempo em seu segundo lar, como a mesma chamava. Bom, terceiro, porque ela tinha a casa do papai também.
- Lola! – a criança gritou quando encontrou a cachorra de pelos negros abanando o rabo insistentemente por sua chegada. – Ah, mamãe, eu queria muito levar a Lola pra casa. – viu sua filha fazer bico novamente e abaixou ao lado dela.
- Sexta-feira vai ter um evento aqui pra adoção, e pode ser que a Lola finalmente consiga uma casinha e uma família que a ame tanto quanto a gente!
- Mas eu queria ela. – a garota abraçou a cachorra com quem tinha contato desde muito novinha e juntou seu rosto ao dela, sorrindo. – A gente até se parece, olha! – uma senhora passou em frente a elas e sorriu para a cena, encantada com a pequena.
- Aí, Bells. – suspirou. – Se dessa vez ninguém levar, a mamãe adota a Lola pra ser companheira da Chelsea.
- É sério? – a pequena deixou com que seus olhos brilhassem e um enorme sorriso tomasse seu rosto. – Promete?
- Prometo. – a mãe levantou seu dedinho e a filha grudou o seu no dela, selando uma promessa como elas sempre faziam.
Capítulo 01
“Before you met me, I was alright, but things were kinda heavy. You brought me to life.” (Teenage Dream – Katy Perry)
Por
Apesar de estranho, não era impossível para que eu fizesse as coisas por mim mesmo. O homem que me acompanhava não deixaria, em momento algum, por ordens de meu agente, mas apenas com um motorista me sentia quase livre. Desci do carro e observei enquanto ele estacionava o automóvel, já acenando e entrando no local.
Estava cumprindo minha agenda, e incrivelmente, dessa vez era com algo que gostava demais. Nunca fui a pessoa mais sociável do mundo com pessoas, mas os cachorros sempre me fascinaram de uma forma sem igual, o que tornou interessante o novo projeto que me foi proposto. Ficar próximo aos animais parece muito melhor do que ficar próximo as pessoas, afinal, o coração deles é sempre mais confiável.
Entrei no local e logo fui recepcionado pela responsável, que já me esperava. Ela dissera que não havia contado a ninguém, como era combinado. Jogar como titular em um time de Londres me tornava conhecido até demais, o que fazia com que as pessoas me parassem em todos os lugares para um autógrafo ou uma foto. Nunca achei isso ruim, muito pelo contrário, era incrível poder retribuir um pouco do que as pessoas faziam por mim, mesmo que nem todas torcessem para o Chelsea.
- Olá, senhor !
- está ótimo. – sorri e a moça retribuiu, começando a contar um pouco do local e como em apenas duas horas já haviam conseguido fazer com que dez cachorros ganhassem um novo lar. Aquilo era incrível.
- Mariah, temos um problema ali! – o homem esticou a mão para me cumprimentar. – Sinto muito, senhor , é ótimo tê-lo aqui.
- Preciso auxiliar aqui, amor! Não consegue resolver? – ele negou com a cabeça parecendo preocupado.
- Está tudo bem, eu vou andar um pouco e quando puder, me encontre novamente! Em qualquer caso, falo com pessoas com o colete igual ao seu.
- Me desculpe, . – os dois saíram andando rapidamente na direção em que o marido de Mariah mostrara, onde parecia ocorrer uma pequena confusão.
Enquanto eu andava por ali podia perceber diversas pessoas me encarando, mas poucas se aproximavam. Algumas crianças sorriam e cutucavam seus pais que me encaravam de olhos semicerrados. Eu não entendia muito bem o quão surpreendente poderia ser um jogador de futebol em uma feira de adoção de cães, quando não durmo com alguém em minha casa fico completamente sozinho, então talvez não fosse uma má ideia ter um companheiro.
Me aproximei de um cercado em que havia uma cachorra que era paparicada por todos. Seus olhos eram de uma cor de mel apaixonante e seus pelos pretos pareciam implorar por carinho enquanto seus olhos brilhavam por atenção. Me aproximei e a acariciei, sorrindo, nossa ligação pareceu instantânea e eu ri ao perceber que mal precisei me convencer de que provavelmente queria um para mim que de repente todos pareciam implorar por um dono.
- Não! – ouvi uma voz fina falando abaixo de mim e então senti um tapa em minha mão, me afastando da cachorra que abanou o rabo, feliz.
- Bells! Você não pode fazer isso, filha! – ela pegou a pequena garota no colo e notei que ela ficara triste, se escondendo no ombro da mãe. – Me desculpe, por favor. – a mulher olhou em meus olhos e então seu rosto se transformou em um sorriso. – Oh, não acredito. Bells, olha!
- Não, mamãe! O moço quer levar a Lola! - ela fungou.
- Isabelle, olha o moço! - a menina então se afastou do corpo da mãe, coçando os olhos para afastar os cabelos de sua franja que os cobriam. Seus olhos se arregalaram e ela abriu a boca, logo transformando sua expressão em um sorriso.
- Acho que encontrei uma fã aqui! - falei, sem jeito. Não era o melhor do mundo com crianças, mas me esforçava.
- Oi! - ela sorriu, simpática.
- Oi, pequena! Como você chama? - peguei uma mecha de seu cabelo e empurrei para trás, a ajudando.
- Isabelle, Bells, como a Lola! - ela apontou para a cachorra de pelos negros que eu acariciara alguns segundos antes e eu pude ver seu nome na coleira: "Lola Bells".
- Como assim vocês têm o mesmo nome? - perguntei, olhando para a mãe da criança.
- Juro que não dei o nome de uma cachorra que eu gostava pra minha filha. - ela disse, rindo. - Foi ao contrário, Bells tinha três anos e já era apaixonada na Lola quando ela chegou, então demos um segundo nome pra ela. - a mulher deu de ombros, sem jeito.
- A gente vai levar a Lola pra casa, pra fazer companhia pra Chelsea!
- Você tem uma cachorra chamada Chelsea? - perguntei, arqueando as sobrancelhas, e a mãe riu.
- Foi o pai dela!
- O papai gosta muito de você, e eu também! E a mamãe também!
- E a mamãe se chama? - perguntei, sem tirar os olhos da garotinha.
- , desculpe! - me virei para ela e sorri, notando agora detalhadamente os traços de seu rosto.
- Então, . Vamos ter um grave problema, a Chelsea não poderá ter uma companheira, pois eu quero a Lola para mim.
- Não! - Bells se remexia no colo da mãe, pedindo para descer. a soltou e ela se enroscou em minhas pernas. - Eu amo a Lola, tio! Tem vários outros cachorros legais aqui, você tem que conhecer o Bob, ele é incrível! - ela segurou minha mão e tinha a intenção de me puxar para outro lugar.
- Bells, ele também pode amar a Lola! Você sabe que é difícil cuidarmos apenas da Chelsea, imagine mais uma! - ela puxou a filha pelo ombro, que se enroscou em minhas pernas.
- Mas você prometeu, mamãe! - vi se abaixar, até ficar da altura da criança.
- Meu amor, eu prometi que a gente ficaria com ela se ninguém ficasse.
- Mas... - a garota se desenroscou de minhas pernas e abraçou a mãe. - Tudo bem. - ela se virou para mim, olhando para cima. - Tio, você tem que me prometer que vai cuidar muito bem da Lola, cachorrinhos são muito importantes e é pra isso que a gente tá aqui, pra cuidar deles. Você tem que dar comida, passear, brincar, deixar ele dormir na sua cama, bem quentinha, dar banho. Eles são muito especiais.
sorria abertamente ao ver a filha com as mãos na cintura, aceitando que eu queria levar sua cachorra preferida embora e ainda me dando dicas do que fazer. Aparentemente, a pequena crescera mesmo ali entre os animais com a mãe, que vestia um colete rosa como o de Mariah, indicando que ela era uma ajudante ali também.
- Eu prometo que vou cuidar muito bem dela! - ela esticou seu dedinho para mim, e eu a encarei, tentando entender.
- Vocês têm que juntar os dedinhos, pra selar a promessa. - falou, sorridente.
- A gente nunca mais vai ver a Lola, mamãe? - a pequena disse quando a mãe a pegou no colo novamente.
- Ela vai ser bem cuidada, meu amor. - eu a ouvi falar enquanto conversava com a moça que estava responsável pela área onde Lola estava. - E o tio pode postar muitas fotos na internet pra gente sempre acompanhar, não é? - a mulher piscou pra mim quando a encarei, e eu confirmei, notando como era claro o apego das duas pela cachorra.
- Se você quiser... - estendi os braços para Bells, pedindo permissão para , que me entregou a pequena. - Pode até mesmo visitá-la, não moro muito longe daqui. - dei de ombros e a mulher arregalou os olhos, espantada.
- De forma alguma, senhor , imagina!
- , por favor. - eu sorri ao ver os olhos de Isabelle brilhando. - Você, a mamãe e o papai podem visitar a Lola quando quiserem.
- Vamos mamãe, por favor! - negava insistentemente, afirmando que aquilo não aconteceria, quando Bells pulou de meu colo e correu em direção a um homem que entrava no local.
- Eu estou falando sério. Não quero que sua filha fique triste por perder algo que tanto gosta, eu não me importo.
- Ela pode superar, . Ela tem apenas cinco anos, logo ela vai se esquecer.
- Olá, . - o homem se aproximou de nós, carregando Bells em seu pescoço e acenou com a cabeça para a mulher.
- Papai, olha quem é! - me virei e encarei o homem que sorriu abertamente, esticando a mão para me cumprimentar.
- ! Caraca! Grande fã. - sorri, agradecido.
- Um torcedor do Chelsea, huh? Fiquei sabendo que até uma cachorrinha fanática pelos Blues vocês têm. - ri e ele concordou com a cabeça.
- Essa foi ideia minha, confesso! Como a Chelsea está, querida? - ele perguntou para a filha e riu.
- Chelsea acabou de perder a Lola como companhia porque o senhor aqui decidiu que vai levá-la. – o homem olhou para Bells, que fez bico.
- Mas eu já falei pra ele tudo que tem que fazer, papai, e ele disse que a gente pode visitar ela, ele não mora longe, você me leva?
- Tenho certeza que sua mãe te levaria, Bells! – ele sorriu amarelo e negou insistentemente com a cabeça.
- Deixa seu telefone comigo, e eu vou deixar o meu com você, pode ser? – falei para a mulher, enquanto Bells e o pai se abaixavam para brincar um pouco com minha nova companhia. afirmou a contragosto e logo pegou seu aparelho para trocarmos os números. – Vocês são uma bela família. – sorri, os olhando quando a mulher também abaixou para cumprimentar Lola mais uma vez.
🎵
- Boa noite. – falei quando entrei na farmácia mais próxima que havia encontrado ao sair do pub. Uma menina, acredito que chamada Juliet, estava agarrada ao meu braço enquanto eu procurava camisinhas. Maldito dia para esquecer de comprar.
- Boa noite! – olhei para a mulher e sorri. – ! Que coincidência.
- Eu que o diga, aparentemente não cuida apenas de cachorros, huh? – me virei e notei que Juliet nos encarava. – Como está a pequena? – perguntei.
- Está bem, contando para todo mundo que conheceu e ele adorou sua quase irmã. – ela rolou os olhos e eu gargalhei. - Como está a Lola?
- Incrivelmente feliz, estou me sentindo um ótimo pai, nunca imaginei que levaria jeito. - ri e ela negou com a cabeça, sorrindo.
- Você tem uma filha? - Juliet perguntou, de olhos arregalados, fazendo com que escondesse um sorriso.
- É apenas uma cachorra, fica tranquila. - resmunguei e a mulher assentiu, parecendo aliviada. - Vocês poderiam ir ver o jogo algum dia, não? - voltei meu olhar para a mulher atrás do balcão. - Ela gostaria muito, tenho certeza, e acredito que seu marido também. – coloquei os pacotes em cima do balcão e ela riu.
- Noite boa, não? – sua risada foi nasalada e eu sorri, me sentindo um tanto quanto envergonhado, dando de ombros. – Ele vai em vários, mas quando é pra levar a Bells prefiro ir.
- Leva ela então, por favor! Vou ficar muito feliz! Ela é encantadora. – admiti, com um sorriso no rosto. Inseri meu cartão na máquina, pronto para pagar. – Eu te ligo, e não vou aceitar um não como resposta. Posso conseguir um ótimo lugar para vocês.
- Você é sempre tão simpático assim? - perguntou, desconfiada, enquanto eu retirava meu cartão da máquina e ela me entregava a nota.
- Isso é um elogio? - perguntei, me escorando no balcão. A mulher riu.
- Talvez seja mais uma desconfiança mesmo, sabe como é. - ela deu de ombros e eu senti minha testa se enrugar.
- O quê? - questionei, sem entender.
- Ah, sei lá! - ela riu, mais uma vez. - Admita que é uma situação estranha, você é , um jogador de futebol mundialmente famoso. Confesso que esperava um pouco mais de arrogância. - admitiu.
- Agora minha meta será acabar com esse preconceito. Com todo respeito. - beijei sua bochecha e ela se assustou. - Eu te ligo amanhã para combinarmos o dia que iremos nos ver, no Stanford Bridge. - pisquei para ela e chamei por Juliet, que estava encarando a sessão de produtos de cabelo. - Até amanhã, .
Por
Apesar de estranho, não era impossível para que eu fizesse as coisas por mim mesmo. O homem que me acompanhava não deixaria, em momento algum, por ordens de meu agente, mas apenas com um motorista me sentia quase livre. Desci do carro e observei enquanto ele estacionava o automóvel, já acenando e entrando no local.
Estava cumprindo minha agenda, e incrivelmente, dessa vez era com algo que gostava demais. Nunca fui a pessoa mais sociável do mundo com pessoas, mas os cachorros sempre me fascinaram de uma forma sem igual, o que tornou interessante o novo projeto que me foi proposto. Ficar próximo aos animais parece muito melhor do que ficar próximo as pessoas, afinal, o coração deles é sempre mais confiável.
Entrei no local e logo fui recepcionado pela responsável, que já me esperava. Ela dissera que não havia contado a ninguém, como era combinado. Jogar como titular em um time de Londres me tornava conhecido até demais, o que fazia com que as pessoas me parassem em todos os lugares para um autógrafo ou uma foto. Nunca achei isso ruim, muito pelo contrário, era incrível poder retribuir um pouco do que as pessoas faziam por mim, mesmo que nem todas torcessem para o Chelsea.
- Olá, senhor !
- está ótimo. – sorri e a moça retribuiu, começando a contar um pouco do local e como em apenas duas horas já haviam conseguido fazer com que dez cachorros ganhassem um novo lar. Aquilo era incrível.
- Mariah, temos um problema ali! – o homem esticou a mão para me cumprimentar. – Sinto muito, senhor , é ótimo tê-lo aqui.
- Preciso auxiliar aqui, amor! Não consegue resolver? – ele negou com a cabeça parecendo preocupado.
- Está tudo bem, eu vou andar um pouco e quando puder, me encontre novamente! Em qualquer caso, falo com pessoas com o colete igual ao seu.
- Me desculpe, . – os dois saíram andando rapidamente na direção em que o marido de Mariah mostrara, onde parecia ocorrer uma pequena confusão.
Enquanto eu andava por ali podia perceber diversas pessoas me encarando, mas poucas se aproximavam. Algumas crianças sorriam e cutucavam seus pais que me encaravam de olhos semicerrados. Eu não entendia muito bem o quão surpreendente poderia ser um jogador de futebol em uma feira de adoção de cães, quando não durmo com alguém em minha casa fico completamente sozinho, então talvez não fosse uma má ideia ter um companheiro.
Me aproximei de um cercado em que havia uma cachorra que era paparicada por todos. Seus olhos eram de uma cor de mel apaixonante e seus pelos pretos pareciam implorar por carinho enquanto seus olhos brilhavam por atenção. Me aproximei e a acariciei, sorrindo, nossa ligação pareceu instantânea e eu ri ao perceber que mal precisei me convencer de que provavelmente queria um para mim que de repente todos pareciam implorar por um dono.
- Não! – ouvi uma voz fina falando abaixo de mim e então senti um tapa em minha mão, me afastando da cachorra que abanou o rabo, feliz.
- Bells! Você não pode fazer isso, filha! – ela pegou a pequena garota no colo e notei que ela ficara triste, se escondendo no ombro da mãe. – Me desculpe, por favor. – a mulher olhou em meus olhos e então seu rosto se transformou em um sorriso. – Oh, não acredito. Bells, olha!
- Não, mamãe! O moço quer levar a Lola! - ela fungou.
- Isabelle, olha o moço! - a menina então se afastou do corpo da mãe, coçando os olhos para afastar os cabelos de sua franja que os cobriam. Seus olhos se arregalaram e ela abriu a boca, logo transformando sua expressão em um sorriso.
- Acho que encontrei uma fã aqui! - falei, sem jeito. Não era o melhor do mundo com crianças, mas me esforçava.
- Oi! - ela sorriu, simpática.
- Oi, pequena! Como você chama? - peguei uma mecha de seu cabelo e empurrei para trás, a ajudando.
- Isabelle, Bells, como a Lola! - ela apontou para a cachorra de pelos negros que eu acariciara alguns segundos antes e eu pude ver seu nome na coleira: "Lola Bells".
- Como assim vocês têm o mesmo nome? - perguntei, olhando para a mãe da criança.
- Juro que não dei o nome de uma cachorra que eu gostava pra minha filha. - ela disse, rindo. - Foi ao contrário, Bells tinha três anos e já era apaixonada na Lola quando ela chegou, então demos um segundo nome pra ela. - a mulher deu de ombros, sem jeito.
- A gente vai levar a Lola pra casa, pra fazer companhia pra Chelsea!
- Você tem uma cachorra chamada Chelsea? - perguntei, arqueando as sobrancelhas, e a mãe riu.
- Foi o pai dela!
- O papai gosta muito de você, e eu também! E a mamãe também!
- E a mamãe se chama? - perguntei, sem tirar os olhos da garotinha.
- , desculpe! - me virei para ela e sorri, notando agora detalhadamente os traços de seu rosto.
- Então, . Vamos ter um grave problema, a Chelsea não poderá ter uma companheira, pois eu quero a Lola para mim.
- Não! - Bells se remexia no colo da mãe, pedindo para descer. a soltou e ela se enroscou em minhas pernas. - Eu amo a Lola, tio! Tem vários outros cachorros legais aqui, você tem que conhecer o Bob, ele é incrível! - ela segurou minha mão e tinha a intenção de me puxar para outro lugar.
- Bells, ele também pode amar a Lola! Você sabe que é difícil cuidarmos apenas da Chelsea, imagine mais uma! - ela puxou a filha pelo ombro, que se enroscou em minhas pernas.
- Mas você prometeu, mamãe! - vi se abaixar, até ficar da altura da criança.
- Meu amor, eu prometi que a gente ficaria com ela se ninguém ficasse.
- Mas... - a garota se desenroscou de minhas pernas e abraçou a mãe. - Tudo bem. - ela se virou para mim, olhando para cima. - Tio, você tem que me prometer que vai cuidar muito bem da Lola, cachorrinhos são muito importantes e é pra isso que a gente tá aqui, pra cuidar deles. Você tem que dar comida, passear, brincar, deixar ele dormir na sua cama, bem quentinha, dar banho. Eles são muito especiais.
sorria abertamente ao ver a filha com as mãos na cintura, aceitando que eu queria levar sua cachorra preferida embora e ainda me dando dicas do que fazer. Aparentemente, a pequena crescera mesmo ali entre os animais com a mãe, que vestia um colete rosa como o de Mariah, indicando que ela era uma ajudante ali também.
- Eu prometo que vou cuidar muito bem dela! - ela esticou seu dedinho para mim, e eu a encarei, tentando entender.
- Vocês têm que juntar os dedinhos, pra selar a promessa. - falou, sorridente.
- A gente nunca mais vai ver a Lola, mamãe? - a pequena disse quando a mãe a pegou no colo novamente.
- Ela vai ser bem cuidada, meu amor. - eu a ouvi falar enquanto conversava com a moça que estava responsável pela área onde Lola estava. - E o tio pode postar muitas fotos na internet pra gente sempre acompanhar, não é? - a mulher piscou pra mim quando a encarei, e eu confirmei, notando como era claro o apego das duas pela cachorra.
- Se você quiser... - estendi os braços para Bells, pedindo permissão para , que me entregou a pequena. - Pode até mesmo visitá-la, não moro muito longe daqui. - dei de ombros e a mulher arregalou os olhos, espantada.
- De forma alguma, senhor , imagina!
- , por favor. - eu sorri ao ver os olhos de Isabelle brilhando. - Você, a mamãe e o papai podem visitar a Lola quando quiserem.
- Vamos mamãe, por favor! - negava insistentemente, afirmando que aquilo não aconteceria, quando Bells pulou de meu colo e correu em direção a um homem que entrava no local.
- Eu estou falando sério. Não quero que sua filha fique triste por perder algo que tanto gosta, eu não me importo.
- Ela pode superar, . Ela tem apenas cinco anos, logo ela vai se esquecer.
- Olá, . - o homem se aproximou de nós, carregando Bells em seu pescoço e acenou com a cabeça para a mulher.
- Papai, olha quem é! - me virei e encarei o homem que sorriu abertamente, esticando a mão para me cumprimentar.
- ! Caraca! Grande fã. - sorri, agradecido.
- Um torcedor do Chelsea, huh? Fiquei sabendo que até uma cachorrinha fanática pelos Blues vocês têm. - ri e ele concordou com a cabeça.
- Essa foi ideia minha, confesso! Como a Chelsea está, querida? - ele perguntou para a filha e riu.
- Chelsea acabou de perder a Lola como companhia porque o senhor aqui decidiu que vai levá-la. – o homem olhou para Bells, que fez bico.
- Mas eu já falei pra ele tudo que tem que fazer, papai, e ele disse que a gente pode visitar ela, ele não mora longe, você me leva?
- Tenho certeza que sua mãe te levaria, Bells! – ele sorriu amarelo e negou insistentemente com a cabeça.
- Deixa seu telefone comigo, e eu vou deixar o meu com você, pode ser? – falei para a mulher, enquanto Bells e o pai se abaixavam para brincar um pouco com minha nova companhia. afirmou a contragosto e logo pegou seu aparelho para trocarmos os números. – Vocês são uma bela família. – sorri, os olhando quando a mulher também abaixou para cumprimentar Lola mais uma vez.
- Boa noite! – olhei para a mulher e sorri. – ! Que coincidência.
- Eu que o diga, aparentemente não cuida apenas de cachorros, huh? – me virei e notei que Juliet nos encarava. – Como está a pequena? – perguntei.
- Está bem, contando para todo mundo que conheceu e ele adorou sua quase irmã. – ela rolou os olhos e eu gargalhei. - Como está a Lola?
- Incrivelmente feliz, estou me sentindo um ótimo pai, nunca imaginei que levaria jeito. - ri e ela negou com a cabeça, sorrindo.
- Você tem uma filha? - Juliet perguntou, de olhos arregalados, fazendo com que escondesse um sorriso.
- É apenas uma cachorra, fica tranquila. - resmunguei e a mulher assentiu, parecendo aliviada. - Vocês poderiam ir ver o jogo algum dia, não? - voltei meu olhar para a mulher atrás do balcão. - Ela gostaria muito, tenho certeza, e acredito que seu marido também. – coloquei os pacotes em cima do balcão e ela riu.
- Noite boa, não? – sua risada foi nasalada e eu sorri, me sentindo um tanto quanto envergonhado, dando de ombros. – Ele vai em vários, mas quando é pra levar a Bells prefiro ir.
- Leva ela então, por favor! Vou ficar muito feliz! Ela é encantadora. – admiti, com um sorriso no rosto. Inseri meu cartão na máquina, pronto para pagar. – Eu te ligo, e não vou aceitar um não como resposta. Posso conseguir um ótimo lugar para vocês.
- Você é sempre tão simpático assim? - perguntou, desconfiada, enquanto eu retirava meu cartão da máquina e ela me entregava a nota.
- Isso é um elogio? - perguntei, me escorando no balcão. A mulher riu.
- Talvez seja mais uma desconfiança mesmo, sabe como é. - ela deu de ombros e eu senti minha testa se enrugar.
- O quê? - questionei, sem entender.
- Ah, sei lá! - ela riu, mais uma vez. - Admita que é uma situação estranha, você é , um jogador de futebol mundialmente famoso. Confesso que esperava um pouco mais de arrogância. - admitiu.
- Agora minha meta será acabar com esse preconceito. Com todo respeito. - beijei sua bochecha e ela se assustou. - Eu te ligo amanhã para combinarmos o dia que iremos nos ver, no Stanford Bridge. - pisquei para ela e chamei por Juliet, que estava encarando a sessão de produtos de cabelo. - Até amanhã, .
Capítulo 02
“In this passenger's seat, you put your eyes on me. In this moment now capture it, remember it” (Fearless – Taylor Swift)
Por
- ? – disse quando ouvi sua voz num preguiçoso “alô”.
- ? Olá! – ela parecia surpresa.
- Achou que eu não ligaria? – ela soltou um “uhum” tímido. – Eu disse que ia mudar essa concepção.
- Só não consigo entender. – ouvi ela dizer “É o , meu amor, ele ligou pra falar com você.” – Vou passar pra Bells tá?
- Oi, tio! – eu sorri ao ouvir sua voz fina no telefone.
- Oi, Bells, você tá bem?
- Tô sim, e a Lola? Como ela tá?
- Ela tá bem! Sente a sua falta, sabia? Um dia levo ela pra te visitar!
- Eu e a Chelsea vamos adorar! – imaginei que naquele minuto ela sorria sincera e provavelmente estava mexendo a cabeça de um lado para o outro em negação.
- Você pode passar pra mamãe, de novo? – falei.
- Claro! Tchau, tio! – “ele quer falar com você”, ela disse, entregando o telefone para a mais velha.
- Oi.
- Semana que vem? Chelsea x Liverpool? – perguntei.
- Vai adiantar que eu negue? – ela riu.
- Não! Bom, eu teria que apelar pra pequena. Ou para o seu marido. Três entradas?
- Apenas eu e a Bells, acredito que Michael já deva ter se programado para esse há muito tempo.
- Ela pode entrar comigo? Ou seria um convite muito grande?
- Você está me assustando! – ela gargalhou. – A Bells vai amar! Tenho certeza! Nem vou contar antes pra ela não se desesperar e não me deixar dormir. Você está sendo muito gentil, , não estou entendendo. Você nem nos conhece direito. – notei certa dúvida em sua voz.
- Estou querendo conhecer, mas se isso tiver te incomodando, eu posso parar, sério. Se estiver incomodando qualquer um de vocês. Não sei, acredito que ter roubado a cachorrinha da sua filha tenha me deixado com um leve peso na consciência. – ri.
- Outch, somos apenas um peso na sua consciência? – ela perguntou, parecendo ofendida.
- Não, ! De forma alguma! – praticamente gritei, desesperado por ter soado dessa forma.
- Relaxa! – ela riu. – Como fazemos pra entrar?
- Te mando as informações por mensagem, certo? Certeza que Michael não gostaria de ir com vocês?
- , não somos tão amigos assim. Foi um término amigável, mas não tão amigável assim, vivemos muito bem separados. – ela riu, nasaladamente.
- Como assim? – tossi, deixando transparecer minha surpresa.
- Ah, meu Deus, você não entendeu que não somos casados? Achei que você estivesse brincando ao se referir a ele como meu marido! – ela começou a rir. – E eu já achando que você estava dando em cima de mim e tentando me ganhar através da minha filha! – sua risada se estendeu por mais tempo ainda, me fazendo rir.
- E você estava gostando disso? – perguntei, rindo também. – Não era minha intenção, mas pode se tornar. – brinquei.
- Menos, sr. . – ela ainda ria. – Se continuar tentando me convencer de que você é alguém legal, pode ser que eu te conte melhor.
- Acredite, fiquei ainda mais curioso em te conhecer. Com todo respeito do mundo? Pode ter certeza que continuarei na missão. – falei enquanto sorria.
- Preciso dar banho na Bells, até semana que vem então.
- Até, . Mande um beijo para ela.
🎵
Estava no vestiário com o celular em mãos, esperando por uma mensagem de . William me cutucou e deu um tapa em minha cabeça.
- Esperando alguém? - ele perguntou, enquanto se sentava para calçar as chuteiras. Apenas assenti e me distanciei ao sentir a vibração do aparelho.
- Tio! - vi Bells acenando para mim e andei na direção das duas.
- Oi! Preparada? - perguntei, a pegando no colo. Me aproximei de e beijei sua bochecha, vendo-a tirar os óculos de sol que usava, em seguida. - Oi.
- Eu ainda não contei. – a mulher sorriu e eu soltei um “ah”!
- O quê? – a menina mudava o olhar entre a mãe e eu, desconfiada.
- Vamos. – falei, sorrindo, carregando-a comigo de volta para os vestiários. Acenei para e a mesma se sentou e acenou para nós.
Isabelle olhava tudo a nossa volta com atenção. Ela observava as pessoas e os lugares, mas diferente de sempre, estava em silêncio.
- Você espera só um pouquinho aqui com as outras crianças? Enquanto eu vou me preparar? – perguntei para ela, colocando-a no chão. – A Rose vai preparar você. – sorri, apresentando-a para a responsável daquela área.
- Eu vou entrar no campo? Igual as outras crianças? – ela arregalou os olhos e eu passei a mão em seus cabelos, ainda com um sorriso no rosto, e assenti.
- Rose, você pode levá-la para a mãe depois? E dizer que as encontro assim que for possível? – ela afirmou e então começamos a nos posicionar em fila, prontos para entrar. Procurei por Bells com os olhos e a encontrei ao lado de Jorginho.
- Essa é minha! – dei um tapa em sua cabeça e ele me olhou, de sobrancelhas arqueadas, chamando atenção também dos outros caras.
- Okay né? – ele levantou os braços, como em rendição.
- Vamos? – puxei Bells comigo e voltei para meu lugar. Ela pegou minha mão e antes que pudesse falar qualquer outra coisa para a garota, saímos em direção ao campo. Eu tentava ignorar, mas aquela partida estava me preocupando. Era apenas o começo do campeonato, mas era uma disputa direta pela liderança.
- Quantas mil fotos você tirou? – perguntei ao encontrar as duas, já do lado de fora do estádio, sendo recepcionado pelos braços de Bells enrolados em minhas pernas.
- Talvez eu tenha tirado mil, e Michael tenha tirado mil e uma. – ela sorriu, me mostrando a galeria de seu celular. – Você está bem? – ela perguntou.
- Um tanto quanto irritado, vamos acabar entregando a liderança de bandeja.
- Vocês conseguem recuperar, tenho certeza. Logo tem Liverpool e City, é a chance de vocês. – ela piscou.
- Querem comer algo? – perguntei e vi negar, mas ser contrariada pela filha que gritou um “sim” extremamente animado.
- ... – ela começaria a falar, mas revirei meus olhos e comecei a andar, com Bells ao lado. – Abusado. – ela nos alcançou. – Queria saber o motivo de você estar fazendo isso.
- Olha, eu mesmo não sei. – tirei minha chave do bolso e dei de ombros, encarando-a. – Mas eu juro que não quero sequestrar vocês, por exemplo. Acho que apenas confio na Lola. – vi sua testa se enrugar. – Ela nos apresentou, não? Confio nela. Tenho aquele pensamento de que nem tudo é por acaso. – Vocês vieram de metrô, certo? – ela assentiu.
Abri a porta de trás do carro e Bells entrou, animada, andando até a porta contrária. Estendi os braços para que entrasse e ela me agradeceu, imaginei que ela gostaria de ir atrás com a filha, já que eu claramente não tinha uma cadeirinha ali. Bati a porta apenas ao ver que as duas já estavam acomodadas e com o cinto de segurança, então andei até minha porta e entrei, colocando o cinto e encaixando minha chave na ignição.
- ... – falei, a olhando através do retrovisor e admirando sua expressão, que era suave e parecia relaxar a cada segundo.
- , por favor. – ela sorriu.
- ... – limpei a garganta, um pouco envergonhado. – Seria muito ruim se a gente pegasse algo para comer e fosse para minha casa? – falei baixo, percebendo que a pequena estava distraída na janela. Vi a mulher torcer o nariz. – Eu não quero que pareça algo estranho, mas eu pensei que ela gostaria de ver a Lola.
- , eu não sei, eu não quero te dar trabalho, nem quero te tirar do seu descanso por causa da Bells. Nós nem ao menos nos conhecemos direito, eu sei que é fácil fazer amizade com ela, mas não é porque ela é uma criança, que precisa fazer tudo que ela quiser. Olha onde você a trouxe! Ela está muito feliz, você sabe.
- Eu passo a maior parte do meu tempo sozinho, acredite, ter uma amizade assim me faz muito bem. E não fala que não nos conhecemos direito, pois isso me faz querer conhecer. – sorri, sincero. – Ela gosta de pizza? – ela assentiu, rolando os olhos e relaxando os ombros, se dando por vencida.
🎵
- AI! – ouvi Bells gritar e logo vi seu corpo chegar ao chão com um baque. – LOLA! – a pequena falou, animada. Vi sorrir e se aproximar da filha e da cachorra. Me virei para fechar a porta, enquanto as três tinham seu reencontro, e deixei as caixas de pizza em cima da bancada.
- Fiquem à vontade. – me aproximei delas e me sentei no chão, chamando por Lola que logo correu para o meu colo, junto com Bells.
- Eu tava com saudade! – vi a pequena falar, abraçando o corpo da cachorra. – Olha, tio, a gente é muito parecida, quando eu falo, as pessoas dão risada. – eu gargalhei, mas notei que ela me encarava, brava.
- Vocês são muito parecidas, com certeza! – segurava o riso e me repreendia com o olhar.
- Eu sei! – a garota sorriu, contente.
- Vamos comer! – levantei do chão em um pulo. – Tô com fome! – dei de ombros e estiquei a mão, para que se apoiasse para levantar. Ela agradeceu com um aceno de cabeça e andou até a filha, a pegando no colo e se aproximando da pia para lavar suas mãos.
- Não, Bells! – ouvi gritar enquanto ajeitava as coisas para comermos. – Ah! – ela grunhiu.
- Tudo bem? – perguntei, me aproximando. Sua roupa estava molhada, assim como seus cabelos, e um pouco da roupa da pequena. – Ops. – tentei segurar a risada, mas notei que ela mesma não estava aguentando.
- Vamos comer, pelo menos passa a raiva. – ela riu, e deu um pequeno puxão no cabelo de Bells, que deu de ombros para a mãe, brincando.
🎵
- Você não precisava fazer isso. – reclamei, me aproximando de na pia. – Eu podia lavar depois.
- Ah, . Eu já tô aqui, completamente aleatória, e ainda vou deixar louça pra você? Era só um pouquinho também. – ela deu de ombros, enxaguando as mãos cheias de espuma. – Nossa, já está super tarde! – ela disse, olhando para o relógio na parede. – Bells, arruma suas coisas!
Procurei Isabelle pela sala e ela estava exatamente onde eu a tinha deixado. Mas ao invés de assistir ao desenho no celular da mãe, o aparelho estava jogando no encosto do sofá, assim como seus braços. Sua cabeça estava encostada em uma almofada, e seus pés pendiam para fora do móvel, em direção ao chão. Eu sorri, pois aquela era uma cena muito fofa, a qual eu não estava acostumado, pois não passava tempo suficiente com os adultos da minha família, quem dirá os pequenos.
- . – a cutuquei, apontando para o sofá.
- Ah não! – ela bateu na própria testa, sem se lembrar de que tinha as mãos molhadas. Eu ri e peguei um pano de prato na gaveta, enxugando o local. – Como ela dormiu tão rápido? – a mulher rolou os olhos. – Você pode chamar um táxi para mim? – ela tomou o pano entre as mãos e as secou.
- Ah, fala sério, . – rolei os olhos. – Eu vou te levar, eu te trouxe até aqui!
- De forma alguma, . Já foi demais por hoje. – ela disse, nervosa.
- Outch. – coloquei a mão sobre o peito, como se tivesse sentido o impacto de sua resposta.
- Desculpa. – ela sorriu, tímida.
- Você podia me dar um pouco mais de abertura, sabe? Não sou uma pessoa tão ruim. – encostei meu corpo na bancada, ficando de frente para ela, que se encostava na pia.
- Não acredita ser um pouco estranho quando um cara qualquer te conhece em uma feira de adoção em uma semana, te convida pra ir no jogo dele na próxima, e após isso, te leva pra casa dele? Ah, e tudo isso através da sua filha.
- Um estranho que na verdade não é exatamente um estranho, pois se você for pensar e colocar dessa forma, você sabe muito mais sobre eu, do que sei sobre você, . – pisquei para ela, e vi seu rosto se tornar inexpressivo, talvez considerando que eu falara uma verdade. – E, bom, a princípio, era um convite para as duas e o marido que eu acreditava existir, não é como se tivesse tentando algo com as duas mocinhas. – dei de ombros e vi um sorriso brotar em seus lábios.
- Você tem um ponto, confesso. Você sabe como funciona coração de mãe, né? Você fez bem pra minha filha, deu a ela uma oportunidade incrível em algo que ela adora, então me fez feliz também. Muito obrigada. – ela sorriu, agradecida.
- Não tem porquê agradecer, . A Bells é incrível, e vocês colocaram a Lola na minha vida pra ser minha companheira, acho que sou muito grato a vocês. E vocês me proporcionaram um final de dia incrível, sem que eu ficasse chorando por um empate horroroso. – ri e vi a mulher me acompanhar, balançando a cabeça em concordância. – Quer ir? – perguntei, a contragosto, e a vi assentir.
A vi pegar sua bolsa em cima da bancada e a colocar no ombro. Me adiantei então e fui até o sofá, tentando pegar a pequena com delicadeza, para que ela não acordasse. A peguei em meu colo, encostando sua cabeça em meu ombro. Ela já não era mais tão pequena, mas ainda tinha o tamanho perfeito para dormir no sofá e acordar na cama, se perguntando como havia chegado ali. sorriu, agradecida e enquanto andávamos até a porta ouvi Bells resmungar, mas sem nem mesmo parecer que acordaria.
Quando chegamos ao carro, se sentou no banco de trás e eu coloquei Bells em seu colo, na mesma posição em que estava no meu. Logo andei até a porta da frente e entrei no carro.
- Não é tão longe daqui. - ouvi-a falar, enquanto saia da garagem do prédio.
- Quer dizer que moramos perto? Isso não é bom para você. – falei, rindo. Ela começara a dar suas coordenadas.
- Você é louco, tenho certeza disso. – ela riu, balançando a cabeça em negação.
- Só levo patada, meu Deus! Um dia você vai me elogiar tanto que vai até doer! Tenho certeza. – dei de ombros e lhe mostrei a língua.
- Vai sonhando, . – ela me mandou o dedo do meio.
- Olha, ela tem senso de humor! – eu ri, a fazendo rolar os olhos.
- Quer ajuda? – perguntei, já descendo do carro para abrir a porta para ela.
- Quero! – me abaixei e peguei Bells em meu colo novamente, a ajeitando. Não queria me oferecer para entrar em sua casa porque considerei que seria demais, mas ela logo estava abrindo o portão para entrarmos e tomando a chave do carro de minhas mãos para acionar o alarme.
- Está tudo meio fora de ordem, é uma casa com criança, você deve imaginar. – ela riu, acendendo as luzes. – Final do corredor. – ela apontou.
Andei pelo corredor claro e notei alguns riscos na parede, Bells devia ser uma criança incrível, mas com certeza enlouquecia a mãe. Abri a porta devagar e a coloquei na cama, a separando de meu corpo aos poucos para que ela não acordasse. Puxei o cobertor que estava nos pés do colchão e joguei por cima de seu corpo, logo saindo do quarto e caminhando até a sala.
- Muito obrigada. – ela estava bebendo um copo de água. – Quer? – neguei com a cabeça.
Me aproximei da porta e logo ela estava ali, pronta para se despedir. Passei para o lado de fora e então me virei para ela, novamente.
- Saí comigo? – perguntei, subitamente. Sua expressão se definiu em surpresa, seus olhos estavam um pouco arregalados e sua testa enrugada. – Muito cedo? Não é uma boa ideia? Ah, desculpa. – encostei na parede, levando as mãos aos meus cabelos.
- ... Eu não sei. – ela sorriu, tímida. – Seria uma boa ideia? Desculpa, é estranho pra mim. Acredite, faz um tempo desde que não saio com ninguém.
- Eu não sei, . Eu só queria te conhecer, não sei, nem eu me entendo. Eu não pensei, só falei, não queria te assustar, nem nada assim. E juro... – cruzei os dedos sobre a boca como em juramento – Sem segundas intenções, eu só quero me aproximar, você é incrível e eu quero te conhecer. – dei de ombros – Não dei em cima de você, ainda, então acredito que pode confiar. – ri de sua expressão.
- Tudo bem. – ela beijou minha bochecha em despedida. – Quando quiser, você tem meu número. – e então fechou a porta, antes mesmo que eu pudesse responder.
Por
- ? – disse quando ouvi sua voz num preguiçoso “alô”.
- ? Olá! – ela parecia surpresa.
- Achou que eu não ligaria? – ela soltou um “uhum” tímido. – Eu disse que ia mudar essa concepção.
- Só não consigo entender. – ouvi ela dizer “É o , meu amor, ele ligou pra falar com você.” – Vou passar pra Bells tá?
- Oi, tio! – eu sorri ao ouvir sua voz fina no telefone.
- Oi, Bells, você tá bem?
- Tô sim, e a Lola? Como ela tá?
- Ela tá bem! Sente a sua falta, sabia? Um dia levo ela pra te visitar!
- Eu e a Chelsea vamos adorar! – imaginei que naquele minuto ela sorria sincera e provavelmente estava mexendo a cabeça de um lado para o outro em negação.
- Você pode passar pra mamãe, de novo? – falei.
- Claro! Tchau, tio! – “ele quer falar com você”, ela disse, entregando o telefone para a mais velha.
- Oi.
- Semana que vem? Chelsea x Liverpool? – perguntei.
- Vai adiantar que eu negue? – ela riu.
- Não! Bom, eu teria que apelar pra pequena. Ou para o seu marido. Três entradas?
- Apenas eu e a Bells, acredito que Michael já deva ter se programado para esse há muito tempo.
- Ela pode entrar comigo? Ou seria um convite muito grande?
- Você está me assustando! – ela gargalhou. – A Bells vai amar! Tenho certeza! Nem vou contar antes pra ela não se desesperar e não me deixar dormir. Você está sendo muito gentil, , não estou entendendo. Você nem nos conhece direito. – notei certa dúvida em sua voz.
- Estou querendo conhecer, mas se isso tiver te incomodando, eu posso parar, sério. Se estiver incomodando qualquer um de vocês. Não sei, acredito que ter roubado a cachorrinha da sua filha tenha me deixado com um leve peso na consciência. – ri.
- Outch, somos apenas um peso na sua consciência? – ela perguntou, parecendo ofendida.
- Não, ! De forma alguma! – praticamente gritei, desesperado por ter soado dessa forma.
- Relaxa! – ela riu. – Como fazemos pra entrar?
- Te mando as informações por mensagem, certo? Certeza que Michael não gostaria de ir com vocês?
- , não somos tão amigos assim. Foi um término amigável, mas não tão amigável assim, vivemos muito bem separados. – ela riu, nasaladamente.
- Como assim? – tossi, deixando transparecer minha surpresa.
- Ah, meu Deus, você não entendeu que não somos casados? Achei que você estivesse brincando ao se referir a ele como meu marido! – ela começou a rir. – E eu já achando que você estava dando em cima de mim e tentando me ganhar através da minha filha! – sua risada se estendeu por mais tempo ainda, me fazendo rir.
- E você estava gostando disso? – perguntei, rindo também. – Não era minha intenção, mas pode se tornar. – brinquei.
- Menos, sr. . – ela ainda ria. – Se continuar tentando me convencer de que você é alguém legal, pode ser que eu te conte melhor.
- Acredite, fiquei ainda mais curioso em te conhecer. Com todo respeito do mundo? Pode ter certeza que continuarei na missão. – falei enquanto sorria.
- Preciso dar banho na Bells, até semana que vem então.
- Até, . Mande um beijo para ela.
- Esperando alguém? - ele perguntou, enquanto se sentava para calçar as chuteiras. Apenas assenti e me distanciei ao sentir a vibração do aparelho.
- Tio! - vi Bells acenando para mim e andei na direção das duas.
- Oi! Preparada? - perguntei, a pegando no colo. Me aproximei de e beijei sua bochecha, vendo-a tirar os óculos de sol que usava, em seguida. - Oi.
- Eu ainda não contei. – a mulher sorriu e eu soltei um “ah”!
- O quê? – a menina mudava o olhar entre a mãe e eu, desconfiada.
- Vamos. – falei, sorrindo, carregando-a comigo de volta para os vestiários. Acenei para e a mesma se sentou e acenou para nós.
Isabelle olhava tudo a nossa volta com atenção. Ela observava as pessoas e os lugares, mas diferente de sempre, estava em silêncio.
- Você espera só um pouquinho aqui com as outras crianças? Enquanto eu vou me preparar? – perguntei para ela, colocando-a no chão. – A Rose vai preparar você. – sorri, apresentando-a para a responsável daquela área.
- Eu vou entrar no campo? Igual as outras crianças? – ela arregalou os olhos e eu passei a mão em seus cabelos, ainda com um sorriso no rosto, e assenti.
- Rose, você pode levá-la para a mãe depois? E dizer que as encontro assim que for possível? – ela afirmou e então começamos a nos posicionar em fila, prontos para entrar. Procurei por Bells com os olhos e a encontrei ao lado de Jorginho.
- Essa é minha! – dei um tapa em sua cabeça e ele me olhou, de sobrancelhas arqueadas, chamando atenção também dos outros caras.
- Okay né? – ele levantou os braços, como em rendição.
- Vamos? – puxei Bells comigo e voltei para meu lugar. Ela pegou minha mão e antes que pudesse falar qualquer outra coisa para a garota, saímos em direção ao campo. Eu tentava ignorar, mas aquela partida estava me preocupando. Era apenas o começo do campeonato, mas era uma disputa direta pela liderança.
- Quantas mil fotos você tirou? – perguntei ao encontrar as duas, já do lado de fora do estádio, sendo recepcionado pelos braços de Bells enrolados em minhas pernas.
- Talvez eu tenha tirado mil, e Michael tenha tirado mil e uma. – ela sorriu, me mostrando a galeria de seu celular. – Você está bem? – ela perguntou.
- Um tanto quanto irritado, vamos acabar entregando a liderança de bandeja.
- Vocês conseguem recuperar, tenho certeza. Logo tem Liverpool e City, é a chance de vocês. – ela piscou.
- Querem comer algo? – perguntei e vi negar, mas ser contrariada pela filha que gritou um “sim” extremamente animado.
- ... – ela começaria a falar, mas revirei meus olhos e comecei a andar, com Bells ao lado. – Abusado. – ela nos alcançou. – Queria saber o motivo de você estar fazendo isso.
- Olha, eu mesmo não sei. – tirei minha chave do bolso e dei de ombros, encarando-a. – Mas eu juro que não quero sequestrar vocês, por exemplo. Acho que apenas confio na Lola. – vi sua testa se enrugar. – Ela nos apresentou, não? Confio nela. Tenho aquele pensamento de que nem tudo é por acaso. – Vocês vieram de metrô, certo? – ela assentiu.
Abri a porta de trás do carro e Bells entrou, animada, andando até a porta contrária. Estendi os braços para que entrasse e ela me agradeceu, imaginei que ela gostaria de ir atrás com a filha, já que eu claramente não tinha uma cadeirinha ali. Bati a porta apenas ao ver que as duas já estavam acomodadas e com o cinto de segurança, então andei até minha porta e entrei, colocando o cinto e encaixando minha chave na ignição.
- ... – falei, a olhando através do retrovisor e admirando sua expressão, que era suave e parecia relaxar a cada segundo.
- , por favor. – ela sorriu.
- ... – limpei a garganta, um pouco envergonhado. – Seria muito ruim se a gente pegasse algo para comer e fosse para minha casa? – falei baixo, percebendo que a pequena estava distraída na janela. Vi a mulher torcer o nariz. – Eu não quero que pareça algo estranho, mas eu pensei que ela gostaria de ver a Lola.
- , eu não sei, eu não quero te dar trabalho, nem quero te tirar do seu descanso por causa da Bells. Nós nem ao menos nos conhecemos direito, eu sei que é fácil fazer amizade com ela, mas não é porque ela é uma criança, que precisa fazer tudo que ela quiser. Olha onde você a trouxe! Ela está muito feliz, você sabe.
- Eu passo a maior parte do meu tempo sozinho, acredite, ter uma amizade assim me faz muito bem. E não fala que não nos conhecemos direito, pois isso me faz querer conhecer. – sorri, sincero. – Ela gosta de pizza? – ela assentiu, rolando os olhos e relaxando os ombros, se dando por vencida.
- Fiquem à vontade. – me aproximei delas e me sentei no chão, chamando por Lola que logo correu para o meu colo, junto com Bells.
- Eu tava com saudade! – vi a pequena falar, abraçando o corpo da cachorra. – Olha, tio, a gente é muito parecida, quando eu falo, as pessoas dão risada. – eu gargalhei, mas notei que ela me encarava, brava.
- Vocês são muito parecidas, com certeza! – segurava o riso e me repreendia com o olhar.
- Eu sei! – a garota sorriu, contente.
- Vamos comer! – levantei do chão em um pulo. – Tô com fome! – dei de ombros e estiquei a mão, para que se apoiasse para levantar. Ela agradeceu com um aceno de cabeça e andou até a filha, a pegando no colo e se aproximando da pia para lavar suas mãos.
- Não, Bells! – ouvi gritar enquanto ajeitava as coisas para comermos. – Ah! – ela grunhiu.
- Tudo bem? – perguntei, me aproximando. Sua roupa estava molhada, assim como seus cabelos, e um pouco da roupa da pequena. – Ops. – tentei segurar a risada, mas notei que ela mesma não estava aguentando.
- Vamos comer, pelo menos passa a raiva. – ela riu, e deu um pequeno puxão no cabelo de Bells, que deu de ombros para a mãe, brincando.
- Ah, . Eu já tô aqui, completamente aleatória, e ainda vou deixar louça pra você? Era só um pouquinho também. – ela deu de ombros, enxaguando as mãos cheias de espuma. – Nossa, já está super tarde! – ela disse, olhando para o relógio na parede. – Bells, arruma suas coisas!
Procurei Isabelle pela sala e ela estava exatamente onde eu a tinha deixado. Mas ao invés de assistir ao desenho no celular da mãe, o aparelho estava jogando no encosto do sofá, assim como seus braços. Sua cabeça estava encostada em uma almofada, e seus pés pendiam para fora do móvel, em direção ao chão. Eu sorri, pois aquela era uma cena muito fofa, a qual eu não estava acostumado, pois não passava tempo suficiente com os adultos da minha família, quem dirá os pequenos.
- . – a cutuquei, apontando para o sofá.
- Ah não! – ela bateu na própria testa, sem se lembrar de que tinha as mãos molhadas. Eu ri e peguei um pano de prato na gaveta, enxugando o local. – Como ela dormiu tão rápido? – a mulher rolou os olhos. – Você pode chamar um táxi para mim? – ela tomou o pano entre as mãos e as secou.
- Ah, fala sério, . – rolei os olhos. – Eu vou te levar, eu te trouxe até aqui!
- De forma alguma, . Já foi demais por hoje. – ela disse, nervosa.
- Outch. – coloquei a mão sobre o peito, como se tivesse sentido o impacto de sua resposta.
- Desculpa. – ela sorriu, tímida.
- Você podia me dar um pouco mais de abertura, sabe? Não sou uma pessoa tão ruim. – encostei meu corpo na bancada, ficando de frente para ela, que se encostava na pia.
- Não acredita ser um pouco estranho quando um cara qualquer te conhece em uma feira de adoção em uma semana, te convida pra ir no jogo dele na próxima, e após isso, te leva pra casa dele? Ah, e tudo isso através da sua filha.
- Um estranho que na verdade não é exatamente um estranho, pois se você for pensar e colocar dessa forma, você sabe muito mais sobre eu, do que sei sobre você, . – pisquei para ela, e vi seu rosto se tornar inexpressivo, talvez considerando que eu falara uma verdade. – E, bom, a princípio, era um convite para as duas e o marido que eu acreditava existir, não é como se tivesse tentando algo com as duas mocinhas. – dei de ombros e vi um sorriso brotar em seus lábios.
- Você tem um ponto, confesso. Você sabe como funciona coração de mãe, né? Você fez bem pra minha filha, deu a ela uma oportunidade incrível em algo que ela adora, então me fez feliz também. Muito obrigada. – ela sorriu, agradecida.
- Não tem porquê agradecer, . A Bells é incrível, e vocês colocaram a Lola na minha vida pra ser minha companheira, acho que sou muito grato a vocês. E vocês me proporcionaram um final de dia incrível, sem que eu ficasse chorando por um empate horroroso. – ri e vi a mulher me acompanhar, balançando a cabeça em concordância. – Quer ir? – perguntei, a contragosto, e a vi assentir.
A vi pegar sua bolsa em cima da bancada e a colocar no ombro. Me adiantei então e fui até o sofá, tentando pegar a pequena com delicadeza, para que ela não acordasse. A peguei em meu colo, encostando sua cabeça em meu ombro. Ela já não era mais tão pequena, mas ainda tinha o tamanho perfeito para dormir no sofá e acordar na cama, se perguntando como havia chegado ali. sorriu, agradecida e enquanto andávamos até a porta ouvi Bells resmungar, mas sem nem mesmo parecer que acordaria.
Quando chegamos ao carro, se sentou no banco de trás e eu coloquei Bells em seu colo, na mesma posição em que estava no meu. Logo andei até a porta da frente e entrei no carro.
- Não é tão longe daqui. - ouvi-a falar, enquanto saia da garagem do prédio.
- Quer dizer que moramos perto? Isso não é bom para você. – falei, rindo. Ela começara a dar suas coordenadas.
- Você é louco, tenho certeza disso. – ela riu, balançando a cabeça em negação.
- Só levo patada, meu Deus! Um dia você vai me elogiar tanto que vai até doer! Tenho certeza. – dei de ombros e lhe mostrei a língua.
- Vai sonhando, . – ela me mandou o dedo do meio.
- Olha, ela tem senso de humor! – eu ri, a fazendo rolar os olhos.
- Quer ajuda? – perguntei, já descendo do carro para abrir a porta para ela.
- Quero! – me abaixei e peguei Bells em meu colo novamente, a ajeitando. Não queria me oferecer para entrar em sua casa porque considerei que seria demais, mas ela logo estava abrindo o portão para entrarmos e tomando a chave do carro de minhas mãos para acionar o alarme.
- Está tudo meio fora de ordem, é uma casa com criança, você deve imaginar. – ela riu, acendendo as luzes. – Final do corredor. – ela apontou.
Andei pelo corredor claro e notei alguns riscos na parede, Bells devia ser uma criança incrível, mas com certeza enlouquecia a mãe. Abri a porta devagar e a coloquei na cama, a separando de meu corpo aos poucos para que ela não acordasse. Puxei o cobertor que estava nos pés do colchão e joguei por cima de seu corpo, logo saindo do quarto e caminhando até a sala.
- Muito obrigada. – ela estava bebendo um copo de água. – Quer? – neguei com a cabeça.
Me aproximei da porta e logo ela estava ali, pronta para se despedir. Passei para o lado de fora e então me virei para ela, novamente.
- Saí comigo? – perguntei, subitamente. Sua expressão se definiu em surpresa, seus olhos estavam um pouco arregalados e sua testa enrugada. – Muito cedo? Não é uma boa ideia? Ah, desculpa. – encostei na parede, levando as mãos aos meus cabelos.
- ... Eu não sei. – ela sorriu, tímida. – Seria uma boa ideia? Desculpa, é estranho pra mim. Acredite, faz um tempo desde que não saio com ninguém.
- Eu não sei, . Eu só queria te conhecer, não sei, nem eu me entendo. Eu não pensei, só falei, não queria te assustar, nem nada assim. E juro... – cruzei os dedos sobre a boca como em juramento – Sem segundas intenções, eu só quero me aproximar, você é incrível e eu quero te conhecer. – dei de ombros – Não dei em cima de você, ainda, então acredito que pode confiar. – ri de sua expressão.
- Tudo bem. – ela beijou minha bochecha em despedida. – Quando quiser, você tem meu número. – e então fechou a porta, antes mesmo que eu pudesse responder.
Capítulo 03
“We're tripping in our hearts and it's reckless and clumsy...” (Stuckin the moment – Justin Bieber)
Por
- Atende pra mim, por favor! – gritei do banheiro quando ouvi meu telefone tocar. – Filha, por favor, não torna as coisas difíceis pra mamãe, vamos sair logo do banho. – ela negou com a cabeça e se virou de costas pra mim, me fazendo urrar de raiva.
Me levantei e abri a porta, a deixando lá mais alguns minutos.
- Quem é? – ouvi Michael perguntar para a pessoa que estava no telefone e sua expressão se tornou em algo confuso. – Ela tá ocupada, pode ligar depois? – ele esperou alguns segundos e antes que ele pudesse falar alguma coisa, acenei.
- Pode passar pra mim. – estendi minha mão e ele me entregou o celular. – Quem é? – perguntei.
- . – ele cuspiu e eu soltei um “ah”.
- Tenta tirar ela do banho pra mim, por favor. – falei quando ele se virou de costas. – Oi! – tentei não parecer tão animada ao atender.
- , tudo bem?
- Tô bem sim, e você? Cansado? – perguntei, sabendo que ele havia jogado hoje.
- Um pouco, entediado também. Você tá ocupada, né? Não queria te atrapalhar.
- A Bells não quer sair do banho, está lutando. Michael vai levar ela pra sair e vão passar o fim de semana por lá. Ela sempre gosta de ir, e volta imensamente feliz, mas pra tirar ela de casa às vezes é um sacrifício.
- Fala pra ela que a Lola mandou ela sair do banho. – ele riu e eu concordei. – Vai lá cuidar dela, depois a gente se fala.
- Tudo bem, . Até mais.
- Até, . – desliguei o celular e já corri em direção ao banheiro, vendo Michael tentando convencê-la.
- Isabelle, chega. Saí daí agora! – me aproximei dos dois e coloquei minha mão no registro, fechando-o. Michael riu e ela começou a gritar, fazendo birra. – Vamos! – a puxei para o tapete do banheiro e enrolei na toalha, logo a empurrando em direção ao quarto para vesti-la.
- , huh? – Michael falou, se sentando na cama e me ajudando a arrumar Bells. – Não imaginei que vocês manteriam contato.
- É. – disse, sem mais detalhes.
- Mamãe, cuida bem da Chelsea, tá? – Bells me disse quando me abaixei para nos despedirmos. Seus braços se enrolaram em meu pescoço e ela me apertou. – Amo você.
- Também te amo, chatinha. – beijei seus cabelos e ela se distanciou, ficando ao lado do pai. – Até mais. – acenei para Michael, me levantando e fechando a porta quando vi os dois já próximos ao portão.
🎵
- Alô? – falei quando peguei o telefone que estava ao meu lado na cama.
- Te acordei?
- Sim. – afirmei. – Vou te matar. Uma mãe, em um domingo sozinha, ! Tudo que eu queria era dormir.
- Mas você não acha mais produtivo levantar e ir tomar café comigo? Eu acho.
- Você não dorme?
- Sei lá, acordei cedo hoje. Você vai?
- Ah, ... – considerei a oferta diversas vezes em minha mente.
- Por favor!
- Tudo bem, que horas?
- Tô te esperando aqui na frente, até. – ele desligou a ligação antes que eu respondesse.
Me levantei em um pulo, tomando coragem. Dei uma olhada pela janela e realmente vi seu carro do lado de fora, e ele com seus óculos escuros, mexendo no celular. Rolei os olhos quase que inconscientemente e caminhei até o banheiro, para um banho rápido.
Saí do banho e escolhi uma roupa que combinasse com o pouco sol que tinha lá fora. Peguei minhas coisas rapidamente, bolsa, celular, óculos de sol, e um carregador, claro. Peguei também um casaco, pois nunca se sabe.
- Oi. – ele disse após sair do carro ao ver que eu me aproximava.
- Você não existe. – beijei sua bochecha em cumprimento.
- Juro que existo, só queria uma companhia para o café da manhã, não me julgue. – ele disse, andando até o seu lado do carro para entrar.
- Uma companhia? Poderia ser qualquer outra, então? Não é assim que se conquista a confiança de alguém, . – eu ri.
- Eu queria a sua companhia, piadista. – ele retrucou. – Hoje minha intenção é matar minha curiosidade e saber sobre você. – ele piscou e eu apenas rolei os olhos.
- Não é como se minha vida fosse interessante, não sou uma jogadora de futebol. – dei de ombros.
- Só de não ser pública, sua vida já é mil vezes mais interessante que a minha.
- Tá afiado hoje, huh? – brinquei. – Não sei o que quer saber.
- Nem eu, eu só quero.
- E por quê?
- Ah, vai começar de novo? Você tem algo contra fazer amizades? Ainda me acha um completo desconhecido?
- , já apanhei muito na vida, nunca vou deixar de achar essa situação uma coisa esquisita, e talvez, uma completa loucura. Não me julgue.
- Você aceitou sair comigo, então acredito que isso significaria dar abertura, cumpra sua parte. – ele rolou os olhos e gargalhou. – Você me tira do sério. – dei de ombros.
- Alguém já te disse o quão chato você é? Só pra saber, mesmo.
- Me dizem sempre, fica em paz.
- Ovos mexidos e bacon, por favor. – sorri para o garçom, sem nem abrir o cardápio. – E por favor, uma Coca-Cola. – me encarou, de olhos arregalados, assim como vi o garçom rir, indignado.
- Sei que já são onze da manhã, mas ainda não é horário de almoço! – ele riu e o garçom o acompanhou, discreto. – Quero o mesmo, exceto pela Coca-Cola. – ele assentiu e se retirou.
- Eu não gosto de café, não bebo muita água, leite essa hora não tô afim também... Me resta a coca, ué. – dei de ombros e ele balançou a cabeça em negação, rindo. – Você não queria saber mais? Isso me define.
- Louca?
- Exatamente! Tenho 28 anos, mas sou quase uma criança.
- 28? – ele perguntou, um pouco espantado, e eu gargalhei.
- Sim, 28. – dei de ombros.
- Como assim? Isso é impossível. Fui enganado!
- Isso deveria ser um elogio? – perguntei, rindo.
- Não sei, acredito que seja apenas surpresa mesmo. Desculpa, , eu somava uns 4 anos pra Bells, uma gravidez precoce, e você com uns 24, no máximo 25.
- Você é sincero, pelo menos. – sorri, agradecida. – Nada de gravidez precoce. Cheguei aqui com 14 anos. Conheci Michael com 19, nos casamos quando eu tinha 22, e quando a Bells nasceu, eu tinha 23.
- Então vocês tinham uma bela história, não? – ele agradeceu ao garçom que viera entregar nossos pratos. E eu afirmei, com um sorriso.
- Mas nem sempre tudo dá certo, faz parte da vida. – ele assentiu. – Vai, já que começamos por essa parte da vida, me conta da sua! Namora? Namorou? Casou? Teve filhos? – perguntei, animada, enquanto dava uma garfada em meus ovos mexidos.
- Não acompanha muito a mídia? – ele perguntou e eu dei de ombros.
- Acompanho um pouco, mas nem tudo. Já te vi em algumas matérias, mas você não é tão assediado a ponto de ter tudo sobre você lá. Namorou uma vez, não? – ele assentiu.
- Achei até que ia dar casamento, mas na minha mudança de time tudo complicou. Ela não queria sair da Espanha, e eu queria muito vir pra Inglaterra e de preferência ficar aqui sem me mudar mais. Ela não acreditou nisso, disse que se outro time oferecesse e eu estivesse irritado aqui, eu aceitaria e ela teria que mudar tudo de novo. Então eu desisti. – ele deu de ombros. – Gostava muito dela, e ela também gostava muito de mim, era incrível. Mas não sei, se ela não quisesse se mudar, a gente daria um jeito, mas ela não confiou em mim.
- Mas você é daqui, não? – ele afirmou.
- Comecei em uma base aqui, e fui para um time lá, onde cresci. Então, me compraram aqui novamente.
- Essa história de ser comprado me deixa meio arrepiada. É engraçado e bizarro, compram pessoas, parece tráfico. – eu gargalhei e ele fez o mesmo.
- Você é péssima, . – ele falou, quando recuperou a postura para voltar para a conversa.
- Vai dizer que nunca pensou nisso? Você é quase um garoto de programa, te compram pelo seu talento. – ri novamente. – Ok, parei de falar asneira, prometo. – ele negou com a cabeça.
- Não para não. – vi seu sorriso se abrir e imagino que tenha corado.
- Você trouxe o pior de mim! – olhou para cima, fingindo não ter culpa. – Vai, me fala mais!
- Não, eu que queria te conhecer, não o contrário. Você que tem que responder minhas perguntas. – me mostrou a língua. – Nasceu muito longe daqui? Interior? – ri, alto.
- Impossível que você não tenha percebido que não sou daqui.
- Notei que não é de Londres. Não é algo?
- Tudo bem, já é alguma coisa. – sorri – Quando disse que cheguei aqui aos 14, quis dizer de outro país. Sou brasileira. – sua boca se abriu em um perfeito 'O' e eu entrei em uma nova crise de risos.
- Como assim!? – sua expressão ficava entre surpresa e dúvida.
- O espanto seria por...? – questionei, de sobrancelhas arqueadas.
- Não teria como perceber, seu inglês parece nativo, até mesmo o sotaque.
- Bom, isso é um grande elogio. – ri. – Acredito que depois de mais de 10 anos, não deveria ser diferente.
- Acontece. Nem todos realmente falam dessa forma, mesmo com 20 anos, que seja. Ainda usa o português naturalmente?
- Claro, ! – ri de sua inocência. – Pelo menos não perguntou se eu falava o espanhol naturalmente.
- Willian, David Luiz, entre outros diversos que conheço. Ser jogador é conhecer muitas culturas diferentes. – ele deu de ombros, com um grande sorriso no rosto.
- Desculpe, isso foi rude.
- Tudo bem. Você já deve ter escutado muita coisa. – sorriu.
- O que vamos fazer agora? – perguntou quando entramos no carro. O encarei, sem entender. – Tem planos? Pra tarde? – neguei com a cabeça. – Então por que essa expressão?
- Não sei. – confessei.
- Fala sério... Você não gosta de mim? Só me tolera? E eu tô forçando a barra? – ele disse, sério.
- Não, ! Nada disso, não me entenda mal.
- Eu sei, eu tô brincando. – ele riu e suavizou sua expressão. – Só queria ver sua reação mesmo. – dei um tapa em seu braço, que poderia ter sido ouvido até por quem estava fora do carro. – Aí. – ouvi meu celular tocar e automaticamente levei minha mão ao bolso, vendo que era uma chamada de vídeo feita por Michael.
- Bells. – mostrei o celular para e ele sorriu. – Oi, filha! – falei, atendendo.
- Mamãe! Cadê você? – ela fez bico e eu arqueei minhas sobrancelhas, sem entender. Ela então apontou meu celular para a porta de casa.
- Você já voltou, Bells? Achei que você chegaria mais tarde!
- A vovó não tava muito bem, então a titia ia no hospital com ela e o papai vai pra lá também.
- Posso falar com o papai? – ela entregou o telefone para Michael, que tentou aparecer o menos possível na câmera, apenas alcançando o microfone. – Está tudo bem com ela? – falei, preocupada. Se tinha uma pessoa a quem eu guardava todo meu carinho era Kate.
- Eu acredito que tenha sido apenas uma queda de pressão, mas você sabe que não podemos brincar com qualquer queda de pressão dela.
- Me desculpe, estou indo pra casa, tudo bem? Chego em pouco tempo. – falei e ele assentiu, desligando. – Desculpe, . – eu sorri, envergonhada.
- Ei, está tudo bem, . Vamos lá.
- Mamãe! – Bells gritou ao me ver descer do carro, correndo em minha direção. – Tio! – ela se animou ainda mais quando viu descer logo atrás.
- E aí, pequena? – ele disse, se abaixando para pegá-la no colo e depositar um beijo em seus cabelos.
- Olá, . – Michael acenou, se aproximando. – . – ele apenas balançou a cabeça, o cumprimentando. – Desculpe por ter que te fazer voltar.
- Imagina, Mike. Me dê notícias dela depois, por favor. – vi colocar Bells no chão e ela correu para o pai, abraçando suas pernas. Ele levantou a filha e a abraçou, se despedindo.
- E agora, o que vamos fazer? – olhei para Bells, a puxando para perto de mim. Ela deu de ombros.
- Não sei o que vocês vão fazer, mas acho que vou no parque. – deu de ombros, encarando Bells. Eu balancei a cabeça, inconformada.
- Só inventa! – ele riu.
- Mãe, a gente pode ir também? Por favor. – ela juntou as mãos, como se implorasse.
- Claro. – rolei os olhos.
O Hyde Park era um dos meus lugares favoritos desde sempre. Quando eu chegara aqui, corria para cá toda vez que sentia saudades de casa. Meus pais estavam aqui, mas se adaptar a outro país, por mais que maravilhoso, não havia sido fácil. Me acostumar a tudo novo e saber que não teria ninguém além de meus pais, fazia com que tudo fosse desesperador.
O Hyde Park me deixava tranquila, e eu morava perto dali com meus pais, então eles também sabiam onde me procurar, caso eu sumisse por mais tempo do que deveria. Sempre embaixo da mesma árvore.
- Onde você quer ir? - perguntou.
- Tenho um lugar, continua andando. - dei um empurrãozinho nele, que carregava Bells nas costas. - Você é uma folgada, Isabelle. Nem parece que te criei direito. - resmunguei e rolou os olhos, enquanto a garota ria, se divertindo. - Tenho uma pergunta.
- Diga.
- Não tem problema, você sair assim? Sei que jogadores de futebol são muito menos perseguidos do que cantores e atores, mas sei lá.
- Olha, normalmente fica tudo bem. Algumas vezes as pessoas aparecem e tiram fotos, mas não sei, eu sempre estou sozinho, não pensei nisso, desculpe. - ele disse, sincero, agora olhando em volta.
- Não, tá tudo bem. - eu sorri. - Não estamos fazendo nada demais, mas eu não sei o que isso seria pra sua imagem. - apontei para nós três.
- " sossegou" provavelmente seria a primeira matéria. A segunda seria algo do tipo " tem uma filha?". Ou algo como, " adotou uma criança e uma babá?". - ele gargalhou, me fazendo rir também.
- Jura que isso é possível? - perguntei, inocente.
- Juro, nunca se sabe o que esperar das pessoas. - ele deu de ombros. - Se você percebeu agora essa situação, , eu não me importaria de ir embora. Eu mesmo não havia pensado nisso. Não quero isso pra vocês. - ele disse, enquanto sentávamos onde eu havia indicado, e Bells já corria para brincar.
- Tá tudo bem. - eu sorri. - Não acredito que vá acontecer nada. E bom, não existe nada para retratarem, não serão nada além de boatos. - dei de ombros.
- Fico feliz que você pense assim. Eu realmente gostei demais de vocês duas e nunca vou cansar de dizer isso.
- Você é louco. - eu ri. - Isso é algo completamente aleatório. Acho que você é muito carente, .
- Talvez eu seja, e vocês tenham me ajudado nisso. - ele riu. - Mas nunca diga que você também não está curtindo. - ele me encarou, ficando sério. - Vou gostar de ter sua amizade, e você? - perguntou, ainda sério.
- Eu estou adorando. E podemos ver que Bells também. - sorri para ele e ele aproveitou para abrir os braços e segurar minha filha, que viera correndo e se jogara em seu colo, derrubando os dois.
Por
- Atende pra mim, por favor! – gritei do banheiro quando ouvi meu telefone tocar. – Filha, por favor, não torna as coisas difíceis pra mamãe, vamos sair logo do banho. – ela negou com a cabeça e se virou de costas pra mim, me fazendo urrar de raiva.
Me levantei e abri a porta, a deixando lá mais alguns minutos.
- Quem é? – ouvi Michael perguntar para a pessoa que estava no telefone e sua expressão se tornou em algo confuso. – Ela tá ocupada, pode ligar depois? – ele esperou alguns segundos e antes que ele pudesse falar alguma coisa, acenei.
- Pode passar pra mim. – estendi minha mão e ele me entregou o celular. – Quem é? – perguntei.
- . – ele cuspiu e eu soltei um “ah”.
- Tenta tirar ela do banho pra mim, por favor. – falei quando ele se virou de costas. – Oi! – tentei não parecer tão animada ao atender.
- , tudo bem?
- Tô bem sim, e você? Cansado? – perguntei, sabendo que ele havia jogado hoje.
- Um pouco, entediado também. Você tá ocupada, né? Não queria te atrapalhar.
- A Bells não quer sair do banho, está lutando. Michael vai levar ela pra sair e vão passar o fim de semana por lá. Ela sempre gosta de ir, e volta imensamente feliz, mas pra tirar ela de casa às vezes é um sacrifício.
- Fala pra ela que a Lola mandou ela sair do banho. – ele riu e eu concordei. – Vai lá cuidar dela, depois a gente se fala.
- Tudo bem, . Até mais.
- Até, . – desliguei o celular e já corri em direção ao banheiro, vendo Michael tentando convencê-la.
- Isabelle, chega. Saí daí agora! – me aproximei dos dois e coloquei minha mão no registro, fechando-o. Michael riu e ela começou a gritar, fazendo birra. – Vamos! – a puxei para o tapete do banheiro e enrolei na toalha, logo a empurrando em direção ao quarto para vesti-la.
- , huh? – Michael falou, se sentando na cama e me ajudando a arrumar Bells. – Não imaginei que vocês manteriam contato.
- É. – disse, sem mais detalhes.
- Mamãe, cuida bem da Chelsea, tá? – Bells me disse quando me abaixei para nos despedirmos. Seus braços se enrolaram em meu pescoço e ela me apertou. – Amo você.
- Também te amo, chatinha. – beijei seus cabelos e ela se distanciou, ficando ao lado do pai. – Até mais. – acenei para Michael, me levantando e fechando a porta quando vi os dois já próximos ao portão.
- Te acordei?
- Sim. – afirmei. – Vou te matar. Uma mãe, em um domingo sozinha, ! Tudo que eu queria era dormir.
- Mas você não acha mais produtivo levantar e ir tomar café comigo? Eu acho.
- Você não dorme?
- Sei lá, acordei cedo hoje. Você vai?
- Ah, ... – considerei a oferta diversas vezes em minha mente.
- Por favor!
- Tudo bem, que horas?
- Tô te esperando aqui na frente, até. – ele desligou a ligação antes que eu respondesse.
Me levantei em um pulo, tomando coragem. Dei uma olhada pela janela e realmente vi seu carro do lado de fora, e ele com seus óculos escuros, mexendo no celular. Rolei os olhos quase que inconscientemente e caminhei até o banheiro, para um banho rápido.
Saí do banho e escolhi uma roupa que combinasse com o pouco sol que tinha lá fora. Peguei minhas coisas rapidamente, bolsa, celular, óculos de sol, e um carregador, claro. Peguei também um casaco, pois nunca se sabe.
- Oi. – ele disse após sair do carro ao ver que eu me aproximava.
- Você não existe. – beijei sua bochecha em cumprimento.
- Juro que existo, só queria uma companhia para o café da manhã, não me julgue. – ele disse, andando até o seu lado do carro para entrar.
- Uma companhia? Poderia ser qualquer outra, então? Não é assim que se conquista a confiança de alguém, . – eu ri.
- Eu queria a sua companhia, piadista. – ele retrucou. – Hoje minha intenção é matar minha curiosidade e saber sobre você. – ele piscou e eu apenas rolei os olhos.
- Não é como se minha vida fosse interessante, não sou uma jogadora de futebol. – dei de ombros.
- Só de não ser pública, sua vida já é mil vezes mais interessante que a minha.
- Tá afiado hoje, huh? – brinquei. – Não sei o que quer saber.
- Nem eu, eu só quero.
- E por quê?
- Ah, vai começar de novo? Você tem algo contra fazer amizades? Ainda me acha um completo desconhecido?
- , já apanhei muito na vida, nunca vou deixar de achar essa situação uma coisa esquisita, e talvez, uma completa loucura. Não me julgue.
- Você aceitou sair comigo, então acredito que isso significaria dar abertura, cumpra sua parte. – ele rolou os olhos e gargalhou. – Você me tira do sério. – dei de ombros.
- Alguém já te disse o quão chato você é? Só pra saber, mesmo.
- Me dizem sempre, fica em paz.
- Ovos mexidos e bacon, por favor. – sorri para o garçom, sem nem abrir o cardápio. – E por favor, uma Coca-Cola. – me encarou, de olhos arregalados, assim como vi o garçom rir, indignado.
- Sei que já são onze da manhã, mas ainda não é horário de almoço! – ele riu e o garçom o acompanhou, discreto. – Quero o mesmo, exceto pela Coca-Cola. – ele assentiu e se retirou.
- Eu não gosto de café, não bebo muita água, leite essa hora não tô afim também... Me resta a coca, ué. – dei de ombros e ele balançou a cabeça em negação, rindo. – Você não queria saber mais? Isso me define.
- Louca?
- Exatamente! Tenho 28 anos, mas sou quase uma criança.
- 28? – ele perguntou, um pouco espantado, e eu gargalhei.
- Sim, 28. – dei de ombros.
- Como assim? Isso é impossível. Fui enganado!
- Isso deveria ser um elogio? – perguntei, rindo.
- Não sei, acredito que seja apenas surpresa mesmo. Desculpa, , eu somava uns 4 anos pra Bells, uma gravidez precoce, e você com uns 24, no máximo 25.
- Você é sincero, pelo menos. – sorri, agradecida. – Nada de gravidez precoce. Cheguei aqui com 14 anos. Conheci Michael com 19, nos casamos quando eu tinha 22, e quando a Bells nasceu, eu tinha 23.
- Então vocês tinham uma bela história, não? – ele agradeceu ao garçom que viera entregar nossos pratos. E eu afirmei, com um sorriso.
- Mas nem sempre tudo dá certo, faz parte da vida. – ele assentiu. – Vai, já que começamos por essa parte da vida, me conta da sua! Namora? Namorou? Casou? Teve filhos? – perguntei, animada, enquanto dava uma garfada em meus ovos mexidos.
- Não acompanha muito a mídia? – ele perguntou e eu dei de ombros.
- Acompanho um pouco, mas nem tudo. Já te vi em algumas matérias, mas você não é tão assediado a ponto de ter tudo sobre você lá. Namorou uma vez, não? – ele assentiu.
- Achei até que ia dar casamento, mas na minha mudança de time tudo complicou. Ela não queria sair da Espanha, e eu queria muito vir pra Inglaterra e de preferência ficar aqui sem me mudar mais. Ela não acreditou nisso, disse que se outro time oferecesse e eu estivesse irritado aqui, eu aceitaria e ela teria que mudar tudo de novo. Então eu desisti. – ele deu de ombros. – Gostava muito dela, e ela também gostava muito de mim, era incrível. Mas não sei, se ela não quisesse se mudar, a gente daria um jeito, mas ela não confiou em mim.
- Mas você é daqui, não? – ele afirmou.
- Comecei em uma base aqui, e fui para um time lá, onde cresci. Então, me compraram aqui novamente.
- Essa história de ser comprado me deixa meio arrepiada. É engraçado e bizarro, compram pessoas, parece tráfico. – eu gargalhei e ele fez o mesmo.
- Você é péssima, . – ele falou, quando recuperou a postura para voltar para a conversa.
- Vai dizer que nunca pensou nisso? Você é quase um garoto de programa, te compram pelo seu talento. – ri novamente. – Ok, parei de falar asneira, prometo. – ele negou com a cabeça.
- Não para não. – vi seu sorriso se abrir e imagino que tenha corado.
- Você trouxe o pior de mim! – olhou para cima, fingindo não ter culpa. – Vai, me fala mais!
- Não, eu que queria te conhecer, não o contrário. Você que tem que responder minhas perguntas. – me mostrou a língua. – Nasceu muito longe daqui? Interior? – ri, alto.
- Impossível que você não tenha percebido que não sou daqui.
- Notei que não é de Londres. Não é algo?
- Tudo bem, já é alguma coisa. – sorri – Quando disse que cheguei aqui aos 14, quis dizer de outro país. Sou brasileira. – sua boca se abriu em um perfeito 'O' e eu entrei em uma nova crise de risos.
- Como assim!? – sua expressão ficava entre surpresa e dúvida.
- O espanto seria por...? – questionei, de sobrancelhas arqueadas.
- Não teria como perceber, seu inglês parece nativo, até mesmo o sotaque.
- Bom, isso é um grande elogio. – ri. – Acredito que depois de mais de 10 anos, não deveria ser diferente.
- Acontece. Nem todos realmente falam dessa forma, mesmo com 20 anos, que seja. Ainda usa o português naturalmente?
- Claro, ! – ri de sua inocência. – Pelo menos não perguntou se eu falava o espanhol naturalmente.
- Willian, David Luiz, entre outros diversos que conheço. Ser jogador é conhecer muitas culturas diferentes. – ele deu de ombros, com um grande sorriso no rosto.
- Desculpe, isso foi rude.
- Tudo bem. Você já deve ter escutado muita coisa. – sorriu.
- O que vamos fazer agora? – perguntou quando entramos no carro. O encarei, sem entender. – Tem planos? Pra tarde? – neguei com a cabeça. – Então por que essa expressão?
- Não sei. – confessei.
- Fala sério... Você não gosta de mim? Só me tolera? E eu tô forçando a barra? – ele disse, sério.
- Não, ! Nada disso, não me entenda mal.
- Eu sei, eu tô brincando. – ele riu e suavizou sua expressão. – Só queria ver sua reação mesmo. – dei um tapa em seu braço, que poderia ter sido ouvido até por quem estava fora do carro. – Aí. – ouvi meu celular tocar e automaticamente levei minha mão ao bolso, vendo que era uma chamada de vídeo feita por Michael.
- Bells. – mostrei o celular para e ele sorriu. – Oi, filha! – falei, atendendo.
- Mamãe! Cadê você? – ela fez bico e eu arqueei minhas sobrancelhas, sem entender. Ela então apontou meu celular para a porta de casa.
- Você já voltou, Bells? Achei que você chegaria mais tarde!
- A vovó não tava muito bem, então a titia ia no hospital com ela e o papai vai pra lá também.
- Posso falar com o papai? – ela entregou o telefone para Michael, que tentou aparecer o menos possível na câmera, apenas alcançando o microfone. – Está tudo bem com ela? – falei, preocupada. Se tinha uma pessoa a quem eu guardava todo meu carinho era Kate.
- Eu acredito que tenha sido apenas uma queda de pressão, mas você sabe que não podemos brincar com qualquer queda de pressão dela.
- Me desculpe, estou indo pra casa, tudo bem? Chego em pouco tempo. – falei e ele assentiu, desligando. – Desculpe, . – eu sorri, envergonhada.
- Ei, está tudo bem, . Vamos lá.
- Mamãe! – Bells gritou ao me ver descer do carro, correndo em minha direção. – Tio! – ela se animou ainda mais quando viu descer logo atrás.
- E aí, pequena? – ele disse, se abaixando para pegá-la no colo e depositar um beijo em seus cabelos.
- Olá, . – Michael acenou, se aproximando. – . – ele apenas balançou a cabeça, o cumprimentando. – Desculpe por ter que te fazer voltar.
- Imagina, Mike. Me dê notícias dela depois, por favor. – vi colocar Bells no chão e ela correu para o pai, abraçando suas pernas. Ele levantou a filha e a abraçou, se despedindo.
- E agora, o que vamos fazer? – olhei para Bells, a puxando para perto de mim. Ela deu de ombros.
- Não sei o que vocês vão fazer, mas acho que vou no parque. – deu de ombros, encarando Bells. Eu balancei a cabeça, inconformada.
- Só inventa! – ele riu.
- Mãe, a gente pode ir também? Por favor. – ela juntou as mãos, como se implorasse.
- Claro. – rolei os olhos.
O Hyde Park era um dos meus lugares favoritos desde sempre. Quando eu chegara aqui, corria para cá toda vez que sentia saudades de casa. Meus pais estavam aqui, mas se adaptar a outro país, por mais que maravilhoso, não havia sido fácil. Me acostumar a tudo novo e saber que não teria ninguém além de meus pais, fazia com que tudo fosse desesperador.
O Hyde Park me deixava tranquila, e eu morava perto dali com meus pais, então eles também sabiam onde me procurar, caso eu sumisse por mais tempo do que deveria. Sempre embaixo da mesma árvore.
- Onde você quer ir? - perguntou.
- Tenho um lugar, continua andando. - dei um empurrãozinho nele, que carregava Bells nas costas. - Você é uma folgada, Isabelle. Nem parece que te criei direito. - resmunguei e rolou os olhos, enquanto a garota ria, se divertindo. - Tenho uma pergunta.
- Diga.
- Não tem problema, você sair assim? Sei que jogadores de futebol são muito menos perseguidos do que cantores e atores, mas sei lá.
- Olha, normalmente fica tudo bem. Algumas vezes as pessoas aparecem e tiram fotos, mas não sei, eu sempre estou sozinho, não pensei nisso, desculpe. - ele disse, sincero, agora olhando em volta.
- Não, tá tudo bem. - eu sorri. - Não estamos fazendo nada demais, mas eu não sei o que isso seria pra sua imagem. - apontei para nós três.
- " sossegou" provavelmente seria a primeira matéria. A segunda seria algo do tipo " tem uma filha?". Ou algo como, " adotou uma criança e uma babá?". - ele gargalhou, me fazendo rir também.
- Jura que isso é possível? - perguntei, inocente.
- Juro, nunca se sabe o que esperar das pessoas. - ele deu de ombros. - Se você percebeu agora essa situação, , eu não me importaria de ir embora. Eu mesmo não havia pensado nisso. Não quero isso pra vocês. - ele disse, enquanto sentávamos onde eu havia indicado, e Bells já corria para brincar.
- Tá tudo bem. - eu sorri. - Não acredito que vá acontecer nada. E bom, não existe nada para retratarem, não serão nada além de boatos. - dei de ombros.
- Fico feliz que você pense assim. Eu realmente gostei demais de vocês duas e nunca vou cansar de dizer isso.
- Você é louco. - eu ri. - Isso é algo completamente aleatório. Acho que você é muito carente, .
- Talvez eu seja, e vocês tenham me ajudado nisso. - ele riu. - Mas nunca diga que você também não está curtindo. - ele me encarou, ficando sério. - Vou gostar de ter sua amizade, e você? - perguntou, ainda sério.
- Eu estou adorando. E podemos ver que Bells também. - sorri para ele e ele aproveitou para abrir os braços e segurar minha filha, que viera correndo e se jogara em seu colo, derrubando os dois.
Capítulo 04
“Just wait
Can you come here please?
'Cause I wanna be with you
” (Wait – Maroon 5)
Por
- Sei que você avisou e eu disse que estava tudo bem, mas é terrivelmente estranho. Meu pai me ligou porque viu na banca de jornal. E ele tem 70 anos! E o pior! Ele torce pro City! – gargalhou, provavelmente da minha voz de desespero.
- Preciso conhecer seu pai, ele precisa urgentemente mudar de time!
- Ah, isso é terrível, .
- Mas, , não foi nada demais.
- Eu sei que não, mas ah, sei lá!
- Realmente não sei o que dizer pra você, . – sua voz soava triste, e um tanto quanto preocupada.
- Tá tudo bem. Sério. A gente vai resolver. – eu sorri, mesmo sabendo que ele não veria.
- Você é incrível.
- Ansioso pro jogo? – mudei de assunto, me referindo a próxima partida, que traria Chelsea x Manchester United.
- Muito. Quer ir? – ele perguntou, rapidamente.
- Não, esse vou ver pela tv. – eu ri. – Eu e Bells estaremos torcendo, como sempre.
- Você vive me julgando, que eu sou louco e tudo mais. Que eu me aproximei dessa forma de vocês. Mas como foi pra vocês? – eu me joguei na cama, colocando as pernas para cima da cabeceira.
- Não sei te responder. Ainda acho essa amizade algo completamente aleatório. É estranho.
- Por quanto tempo você vai me dizer que é estranho ainda? Deixa eu te lembrar que somos um belo casal de namorados. E adoramos levar nossa sobrinha para passear – eu gargalhei ao vê-lo fazer referência a matéria que havia sido publicada com algumas fotos nossas no parque alguns dias atrás. Me surpreendi de que não haviam mais fotos de outros dias.
- Você não presta!
- Nem você! Por isso nos demos bem. Só espero que a Bells preste! – ele riu. – Inclusive, por que Isabelle?
- Não posso estender muito o papo, . Hoje preciso ir pra farmácia, preciso me arrumar.
- Ah, tudo bem. – ele disse desanimado. – Acho que vou marcar um psicólogo para as horas que não pode falar comigo, desacostumei a ficar completamente sozinho.
- Não acha que a gente conversa demais? Daqui a pouco as duas “Belle” ficarão com ciúmes. Ah, Bells fica me dizendo que está com saudades do Tio , e em seguida me pergunta “tem jogo?”
- Quando a senhorita quiser, podem vir me visitar, ou me convidar para visitá-las.
- Preciso ir, tudo bem? – falei.
- Tudo bem, bom trabalho, .
Desliguei o telefone e me levantei da cama preguiçosamente. Peguei minha roupa e fui para o banho, olhando o horário para ter ideia de quanto tempo poderia enrolar ali. Liguei o chuveiro e me virei de costas, deixando com que a água escorresse livremente na temperatura ideal.
Era incrível como um banho colocava pensamentos em nossa mente, por mais que acreditasse que eles não rondavam minha cabeça. sempre me perguntava qualquer coisa e eu era completamente evasiva, enquanto ele tentava cada vez mais me conhecer, conhecer Bells, e fazia isso de forma completamente inocente, era algo possível de ver em seus olhos.
Eu não sabia se era por ser mais novo que eu, e apesar de saber que ele já poderia ter passado por muita coisa na vida, eu o enxergava como alguém inocente, que apenas aproveitava o que tinha, por merecimento, é claro. Mas eu enxergava nele o que ele tentava colocar em palavras algumas vezes, a respeito de como tudo poderia ser solitário, apenas entre as mesmas pessoas sempre.
Eu havia criado por ele um carinho. Ele conseguira cativar a mim, e a Bells, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que deveria pisar em ovos. Mesmo sabendo que tínhamos apenas uma amizade, não era assim que seria facilmente visto de fora, e isso me incomodava mais do que eu pensara que poderia. Não era algo em que eu queria me envolver agora que conseguira ajeitar minha vida depois de toda a separação e me acostumar a ficar só com minha filha.
Minha farmácia, depois de muito investimento, ia bem sozinha. Havia contratado funcionários incríveis que cuidavam muito bem dali, e eu havia aprendido a administrá-la extremamente bem, de uma forma que eu mesma passei a admirar. Eu não ficava lá tanto tempo, mas ia sempre algumas vezes na semana. Era algo que eu sempre gostei de fazer. Atender as pessoas ainda era algo em que eu me identificava.
Decidi que ficaria lá até mais tarde, então liguei para minha mãe e pedi para que ela fizesse o favor de buscar Bells na escola e ficar com ela até que eu pudesse buscá-la.
🎵
Eram nove horas da noite quando o vi passar pela porta da farmácia e parar na sessão de shampoos. Neguei com a cabeça para mim mesma, já que ele não estava olhando, e apenas sorri para Phillip, meu estagiário que pensara em se deslocar para atender o cliente.
- É o , não é? – ele perguntou, baixo, sorrindo em minha direção. Eu afirmei. – Eu vi as notícias. – ele piscou para mim, e eu apenas rolei os olhos.
Saí de trás do balcão e andei até onde ele encarava todos os produtos que estavam na prateleira, de forma enigmática.
- Precisa de ajuda, senhor? – perguntei, séria.
- Sim, claro. Eu estou com uma gigante dor de cabeça. – ele reclamou.
- E por isso está olhando a sessão de cosméticos?
- Não, só ia aproveitar pra comprar meu shampoo mesmo. – ele deu de ombros. – Acredito que posso fazer os dois, não? – disse ele, debochado. Dei um tapa em sua cabeça e o abracei, deixando um beijo em seu rosto. – Tudo bem?
- Sim, e você? – perguntei e ele assentiu.
- Tirando a real dor de cabeça, tá difícil. – o puxei comigo em direção ao balcão, onde Phillip acenou para ele, pronunciando tímido algo como “grande fã” e sorriu para ele, apertando sua mão.
- Aqui. – o entreguei o medicamento e ele sorriu, agradecido. – Essa não é a farmácia mais próxima da sua casa, o que faz aqui? – perguntei, curiosa.
- Estava indo pra outro lugar. – ele deu de ombros. – Nem vem, eu não imaginei que ainda estaria aqui. Está se achando demais, .
- Tudo bem, então. – dei de ombros.
- Eu só tinha esperanças. – ele admitiu, rindo. – Mas realmente estava apenas passando, vou sair. – ele sorriu.
- Então, por favor, leve camisinhas antes dessa vez, já vamos fechar. – eu gargalhei e ele rolou os olhos, pegando diversos pacotes e jogando em cima do balcão, me fazendo o encarar de olhos arregalados.
- Foi você quem sugeriu. – ele deu de ombros. Quando peguei, em silêncio, o primeiro pacote para passar no caixa, ele gargalhou, puxando-os de volta e começando a colocá-los novamente na prateleira. – Eu estou brincando, . E nem sempre sair, significa isso. – ele mostrou a língua. – Inclusive, se quiser ir comigo, posso te levar. – ele deu de ombros novamente, mas dessa vez tímido. – Vou encontrar os caras do time, apenas para dar umas risadas, relaxar. – sorri para ele.
- Obrigada pelo convite, mas vou buscar Bells na minha mãe e ir para casa.
- Ah, tudo bem. – ele sorriu, triste. – Nos falamos amanhã? – assenti e ele passou o corpo por cima do balcão, deixando um beijo em meu rosto. – Até, .
- Até, . – ele acenou para Phillip e então deixou a farmácia.
- Um belo casal, senhorita, um incrível casal. – o garoto deu de ombros, logo encolhendo seu corpo ao ver meu braço indo em sua direção para lhe atingir com um tapa. – Não negue, ele está na sua. Está escrito nos olhos dele, .
- As coisas não funcionam assim, bonitinho. – rolei os olhos. – Apenas amigos. – sorri para ele, e acenei para que arrancava com o carro agora.
🎵
- Mamãe! – Bells correu em minha direção quando abri a porta da casa de minha mãe.
- Oi, meu amor! – a abracei, me abaixando. – Tudo bem hoje? – ela assentiu.
- A vovó fez uma comida deliciosa. – ela sorriu, batendo na barriga como se estivesse cheia.
- E sobrou pra mamãe? – falei, olhando para minha mãe que agora se levantava do sofá e vinha em minha direção, enquanto eu mexia nas panelas.
- Como se a sua “mamãe” não te conhecesse. – a abracei e beijei sua bochecha.
- Por isso você é a melhor mãe do mundo. – ri, apertando-a mais entre meus braços, antes de deixá-la para pegar um prato no armário e correr de volta para as panelas.
- E por algum acaso, você vai contar pra melhor mãe do mundo o que está acontecendo? - ela perguntou, quando viu Bells se distraindo novamente com a televisão, e eu colocava minha comida para esquentar.
- Melhor mãe do mundo, e a mais curiosa também, não? Papai já está dormindo? - perguntei, olhando para o corredor, e ela assentiu. - Adivinha? - sua expressão se tornou em algo animado. - Nada! Exatamente isso que está acontecendo, nada! Mas aparentemente as pessoas ganham dinheiro inventando relacionamentos para as pessoas, não os culpo. - dei de ombros e ela rolou os olhos.
- Ele é bonito. - ela sorriu.
- Muito, e bem simpático também. A gente se dá muito bem, mas somos só amigos. Ele e a Bells também se adoraram.
- Apenas não deixe oportunidades passarem por medo ou qualquer coisa assim, minha filha. - ela passou a mão em meus ombros, como se fosse massageá-los, quando me sentei em frente à mesa.
- Eu não tenho medo, mãe. - resmunguei, dando a primeira garfada em minha comida. - Não sei por que eu teria. - falei de boca cheia, sendo repreendida por ela.
- Bom, vamos fingir que não está mais aqui quem falou, huh?
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- Você pretende fugir por quanto mais tempo? - me surpreendi ao abrir a porta e encontrar do outro lado.
- Tio! – Isabelle gritou ao vê-lo e saiu correndo em sua direção, para abraçá-lo.
- Oi, Bells! – ele
- Oi, pequena! - ele afagou seus cabelos. - Lola mandou uma lambida pra você. - Bells riu, fazendo um gesto de lambida como de um cachorro. - Tudo bem, vou mandar de volta pra ela! - ele colocou-a no chão novamente e se aproximou de mim, beijando minha bochecha. - Estou atrapalhando?
- Não. - respondi, ainda sem saber o que falar. - O que faz aqui? - perguntei, tentando soar simpática, mas percebi que não estava sendo muito bem-sucedida quando vi sua expressão.
- Não vai nem mesmo negar, ? - ele balançou a cabeça em negação. - Desculpe ser insistente então. - ele sorriu, envergonhado, voltando seu corpo para a porta novamente.
Já haviam se passado duas semanas desde o dia em que estivera na farmácia. E desde aquele dia, nós havíamos apenas conversado por telefone, ou mensagens, mas eu passara a evitar um pouco seus convites para sair. Até mesmo no último final de semana, onde eu ficara sozinha.
Depois que minha mãe passara a insistir em entender o que estava acontecendo, eu parara para pensar que talvez não quisesse pessoas em cima da minha vida. Nisso, já bastava minha própria mãe, como sempre. Não era necessário mais ninguém me perguntando sobre coisas que não existiam, coisas para as quais não tinham respostas.
Talvez meus pensamentos ainda estivessem extremamente bagunçados devido ao pouco tempo em que tudo ocorrera. E talvez, apenas talvez, me irritasse um pouco com sua insistência. Ele não era um stalker, nem nada assim, e eu o dera liberdade para se aproximar e fazer parte de nossas vidas, mas eu acredito que ele se empolgara um tanto quanto demais com isso. Era algo incrivelmente lindo, eu não podia negar, mas era como se fôssemos amigos de infância em um mês, e isso era um pouco assustador para quem nunca tivera amizades dessa forma.
- Desculpa. - falei, baixo.
- Tá tudo bem. - ele relaxou os ombros. - Eu realmente deveria me desculpar. Talvez não seja uma boa hora pra conversar, quer deixar pra depois?
- É uma boa hora. - dei de ombros e puxei uma cadeira na cozinha, esperando que ele fizesse o mesmo.
- Tio! Vem assistir comigo! – Bells se aproximou, puxando pela perna. Ele me encarou, sorrindo. – Por favor. – vi minha filha fazer bico e ele me olhou novamente, quase implorando para que eu esperasse.
- É só um pouquinho, eu não posso negar. – ele fez bico também, rindo. Balancei a cabeça e ri, abanando minha mão no ar, mandando-o ir.
Quando ele saiu da cozinha, olhei para o portão que dividia o cômodo com um pequeno quintal, e então me lembrei que em todas as poucas vezes que estivera aqui, ele ainda não havia conhecido Chelsea, por qualquer motivo que fosse. Um dos dias a cachorra havia sido levada para tomar banho, em outro, ela apenas estava presa no quintal. Andei até lá e destravei o portão, estalando meus dedos, chamando-a para dentro.
- Chelsea! – ouvi Bells gritar, animada, enquanto a cachorra pulava em cima de no sofá. Ela latia, animada, e rodava no próprio lugar, alternadamente com se assanhar para o lado do homem.
- E ai, garota! – dizia repetidamente, rindo. Ele tentava a afastar ao menos um pouco, para respirar, mas ela insistia em se jogar em cima dele.
- Me lembrei que você ainda não havia a conhecido. – dei de ombros e ele riu, afirmando.
- Você é linda! – ele resmungou para Chelsea, enquanto ela se acalmava e apenas se mantinha em sua frente, feliz.
- Podemos? – ele se sentou na cadeira em minha frente, quando Bells prestava mais atenção no filme que passava do que nele. Deixei meu celular, no qual eu mexia, de lado e o encarei.
- Claro. – sorri. – Pode falar.
- Isso tá parecendo uma DR. – ele riu e eu o acompanhei. – Aí, , não quero transformar isso em algo sério, eu só queria conversar mesmo, saber por que você tá tentando se distanciar, se eu fiz algo.
- Ah, , não é nada, poxa.
- É claro que é. Posso tentar adivinhar? – eu rolei os olhos. – Você descobriu que já me ama, que sou o amor da sua vida e está em negação? – fingi que iria vomitar e ele riu. – Ufa, fico extremamente feliz com isso. – arqueei as sobrancelhas. – Acho que não estou pronto pra isso. – ele deu de ombros, tímido. – Você descobriu que tem uma doença muito séria, acreditou que eu estava apaixonado e não quis me magoar? – neguei com a cabeça, segurando a risada. – Você estava secretamente planejando me pedir em casamento?
- Junta todos esses motivos, e encontra o certo! É fácil! – ele olhou para cima, pensativo. – , eu odeio que ninguém possa levar a sério uma amizade entre duas pessoas. Ver nossa foto aquele dia me deixou meio irritada, sabe? Odeio que sempre vão enxergar de outra forma, e que até meus pais vão me encher com isso.
- Por sinal, minha mãe está ansiosa por conhecer a neta. Ela não caiu nessa de sobrinha. – ele torceu a boca, num sinal de ironia.
- Aí, meu Deus, . – eu escondi meu rosto entre minhas mãos. – Ah, isso é horrível, sério!
- , relaxa. Minha mãe é o de menos, ela é muito gente boa. Uma ótima sogra, se quiser considerar. – falou, brincalhão.
- Pode deixar, vou anotar aqui na minha mente.
- Não se afasta de mim por causa disso não. – ele sorriu, envergonhado. – Eu realmente me importo com a nossa amizade, por mais imprevisível, esquisita, e louca que ela seja. Talvez a gente tenha atropelado tudo e eu tenha te tornado mais minha terapeuta do que amiga, e eu nem tenho explicação pra isso.
- Ah, eu vou te bater, você não tem direito de ser assim! – eu ri, bagunçando seus cabelos. – Eu tava considerando esses dias atrás, e percebi que nunca tive uma amizade, amizade mesmo, por aqui sabia?
- Me dá a honra, senhorita? – ele se levantou e foi até meu lado, se abaixando e puxando minha mão para depositar um beijo. – Mas assim, é muito cedo pra fazer aquele pacto que se em tantos anos a gente não desencalhar, casamos? – acertei sua cabeça com um tapa e ele me mostrou a língua, correndo de volta para o sofá, para brincar com Isabelle e Chelsea que ainda se encontrava esparramada no tapete.
Por
- Sei que você avisou e eu disse que estava tudo bem, mas é terrivelmente estranho. Meu pai me ligou porque viu na banca de jornal. E ele tem 70 anos! E o pior! Ele torce pro City! – gargalhou, provavelmente da minha voz de desespero.
- Preciso conhecer seu pai, ele precisa urgentemente mudar de time!
- Ah, isso é terrível, .
- Mas, , não foi nada demais.
- Eu sei que não, mas ah, sei lá!
- Realmente não sei o que dizer pra você, . – sua voz soava triste, e um tanto quanto preocupada.
- Tá tudo bem. Sério. A gente vai resolver. – eu sorri, mesmo sabendo que ele não veria.
- Você é incrível.
- Ansioso pro jogo? – mudei de assunto, me referindo a próxima partida, que traria Chelsea x Manchester United.
- Muito. Quer ir? – ele perguntou, rapidamente.
- Não, esse vou ver pela tv. – eu ri. – Eu e Bells estaremos torcendo, como sempre.
- Você vive me julgando, que eu sou louco e tudo mais. Que eu me aproximei dessa forma de vocês. Mas como foi pra vocês? – eu me joguei na cama, colocando as pernas para cima da cabeceira.
- Não sei te responder. Ainda acho essa amizade algo completamente aleatório. É estranho.
- Por quanto tempo você vai me dizer que é estranho ainda? Deixa eu te lembrar que somos um belo casal de namorados. E adoramos levar nossa sobrinha para passear – eu gargalhei ao vê-lo fazer referência a matéria que havia sido publicada com algumas fotos nossas no parque alguns dias atrás. Me surpreendi de que não haviam mais fotos de outros dias.
- Você não presta!
- Nem você! Por isso nos demos bem. Só espero que a Bells preste! – ele riu. – Inclusive, por que Isabelle?
- Não posso estender muito o papo, . Hoje preciso ir pra farmácia, preciso me arrumar.
- Ah, tudo bem. – ele disse desanimado. – Acho que vou marcar um psicólogo para as horas que não pode falar comigo, desacostumei a ficar completamente sozinho.
- Não acha que a gente conversa demais? Daqui a pouco as duas “Belle” ficarão com ciúmes. Ah, Bells fica me dizendo que está com saudades do Tio , e em seguida me pergunta “tem jogo?”
- Quando a senhorita quiser, podem vir me visitar, ou me convidar para visitá-las.
- Preciso ir, tudo bem? – falei.
- Tudo bem, bom trabalho, .
Desliguei o telefone e me levantei da cama preguiçosamente. Peguei minha roupa e fui para o banho, olhando o horário para ter ideia de quanto tempo poderia enrolar ali. Liguei o chuveiro e me virei de costas, deixando com que a água escorresse livremente na temperatura ideal.
Era incrível como um banho colocava pensamentos em nossa mente, por mais que acreditasse que eles não rondavam minha cabeça. sempre me perguntava qualquer coisa e eu era completamente evasiva, enquanto ele tentava cada vez mais me conhecer, conhecer Bells, e fazia isso de forma completamente inocente, era algo possível de ver em seus olhos.
Eu não sabia se era por ser mais novo que eu, e apesar de saber que ele já poderia ter passado por muita coisa na vida, eu o enxergava como alguém inocente, que apenas aproveitava o que tinha, por merecimento, é claro. Mas eu enxergava nele o que ele tentava colocar em palavras algumas vezes, a respeito de como tudo poderia ser solitário, apenas entre as mesmas pessoas sempre.
Eu havia criado por ele um carinho. Ele conseguira cativar a mim, e a Bells, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que deveria pisar em ovos. Mesmo sabendo que tínhamos apenas uma amizade, não era assim que seria facilmente visto de fora, e isso me incomodava mais do que eu pensara que poderia. Não era algo em que eu queria me envolver agora que conseguira ajeitar minha vida depois de toda a separação e me acostumar a ficar só com minha filha.
Minha farmácia, depois de muito investimento, ia bem sozinha. Havia contratado funcionários incríveis que cuidavam muito bem dali, e eu havia aprendido a administrá-la extremamente bem, de uma forma que eu mesma passei a admirar. Eu não ficava lá tanto tempo, mas ia sempre algumas vezes na semana. Era algo que eu sempre gostei de fazer. Atender as pessoas ainda era algo em que eu me identificava.
Decidi que ficaria lá até mais tarde, então liguei para minha mãe e pedi para que ela fizesse o favor de buscar Bells na escola e ficar com ela até que eu pudesse buscá-la.
- É o , não é? – ele perguntou, baixo, sorrindo em minha direção. Eu afirmei. – Eu vi as notícias. – ele piscou para mim, e eu apenas rolei os olhos.
Saí de trás do balcão e andei até onde ele encarava todos os produtos que estavam na prateleira, de forma enigmática.
- Precisa de ajuda, senhor? – perguntei, séria.
- Sim, claro. Eu estou com uma gigante dor de cabeça. – ele reclamou.
- E por isso está olhando a sessão de cosméticos?
- Não, só ia aproveitar pra comprar meu shampoo mesmo. – ele deu de ombros. – Acredito que posso fazer os dois, não? – disse ele, debochado. Dei um tapa em sua cabeça e o abracei, deixando um beijo em seu rosto. – Tudo bem?
- Sim, e você? – perguntei e ele assentiu.
- Tirando a real dor de cabeça, tá difícil. – o puxei comigo em direção ao balcão, onde Phillip acenou para ele, pronunciando tímido algo como “grande fã” e sorriu para ele, apertando sua mão.
- Aqui. – o entreguei o medicamento e ele sorriu, agradecido. – Essa não é a farmácia mais próxima da sua casa, o que faz aqui? – perguntei, curiosa.
- Estava indo pra outro lugar. – ele deu de ombros. – Nem vem, eu não imaginei que ainda estaria aqui. Está se achando demais, .
- Tudo bem, então. – dei de ombros.
- Eu só tinha esperanças. – ele admitiu, rindo. – Mas realmente estava apenas passando, vou sair. – ele sorriu.
- Então, por favor, leve camisinhas antes dessa vez, já vamos fechar. – eu gargalhei e ele rolou os olhos, pegando diversos pacotes e jogando em cima do balcão, me fazendo o encarar de olhos arregalados.
- Foi você quem sugeriu. – ele deu de ombros. Quando peguei, em silêncio, o primeiro pacote para passar no caixa, ele gargalhou, puxando-os de volta e começando a colocá-los novamente na prateleira. – Eu estou brincando, . E nem sempre sair, significa isso. – ele mostrou a língua. – Inclusive, se quiser ir comigo, posso te levar. – ele deu de ombros novamente, mas dessa vez tímido. – Vou encontrar os caras do time, apenas para dar umas risadas, relaxar. – sorri para ele.
- Obrigada pelo convite, mas vou buscar Bells na minha mãe e ir para casa.
- Ah, tudo bem. – ele sorriu, triste. – Nos falamos amanhã? – assenti e ele passou o corpo por cima do balcão, deixando um beijo em meu rosto. – Até, .
- Até, . – ele acenou para Phillip e então deixou a farmácia.
- Um belo casal, senhorita, um incrível casal. – o garoto deu de ombros, logo encolhendo seu corpo ao ver meu braço indo em sua direção para lhe atingir com um tapa. – Não negue, ele está na sua. Está escrito nos olhos dele, .
- As coisas não funcionam assim, bonitinho. – rolei os olhos. – Apenas amigos. – sorri para ele, e acenei para que arrancava com o carro agora.
- Mamãe! – Bells correu em minha direção quando abri a porta da casa de minha mãe.
- Oi, meu amor! – a abracei, me abaixando. – Tudo bem hoje? – ela assentiu.
- A vovó fez uma comida deliciosa. – ela sorriu, batendo na barriga como se estivesse cheia.
- E sobrou pra mamãe? – falei, olhando para minha mãe que agora se levantava do sofá e vinha em minha direção, enquanto eu mexia nas panelas.
- Como se a sua “mamãe” não te conhecesse. – a abracei e beijei sua bochecha.
- Por isso você é a melhor mãe do mundo. – ri, apertando-a mais entre meus braços, antes de deixá-la para pegar um prato no armário e correr de volta para as panelas.
- E por algum acaso, você vai contar pra melhor mãe do mundo o que está acontecendo? - ela perguntou, quando viu Bells se distraindo novamente com a televisão, e eu colocava minha comida para esquentar.
- Melhor mãe do mundo, e a mais curiosa também, não? Papai já está dormindo? - perguntei, olhando para o corredor, e ela assentiu. - Adivinha? - sua expressão se tornou em algo animado. - Nada! Exatamente isso que está acontecendo, nada! Mas aparentemente as pessoas ganham dinheiro inventando relacionamentos para as pessoas, não os culpo. - dei de ombros e ela rolou os olhos.
- Ele é bonito. - ela sorriu.
- Muito, e bem simpático também. A gente se dá muito bem, mas somos só amigos. Ele e a Bells também se adoraram.
- Apenas não deixe oportunidades passarem por medo ou qualquer coisa assim, minha filha. - ela passou a mão em meus ombros, como se fosse massageá-los, quando me sentei em frente à mesa.
- Eu não tenho medo, mãe. - resmunguei, dando a primeira garfada em minha comida. - Não sei por que eu teria. - falei de boca cheia, sendo repreendida por ela.
- Bom, vamos fingir que não está mais aqui quem falou, huh?
- Tio! – Isabelle gritou ao vê-lo e saiu correndo em sua direção, para abraçá-lo.
- Oi, Bells! – ele
- Oi, pequena! - ele afagou seus cabelos. - Lola mandou uma lambida pra você. - Bells riu, fazendo um gesto de lambida como de um cachorro. - Tudo bem, vou mandar de volta pra ela! - ele colocou-a no chão novamente e se aproximou de mim, beijando minha bochecha. - Estou atrapalhando?
- Não. - respondi, ainda sem saber o que falar. - O que faz aqui? - perguntei, tentando soar simpática, mas percebi que não estava sendo muito bem-sucedida quando vi sua expressão.
- Não vai nem mesmo negar, ? - ele balançou a cabeça em negação. - Desculpe ser insistente então. - ele sorriu, envergonhado, voltando seu corpo para a porta novamente.
Já haviam se passado duas semanas desde o dia em que estivera na farmácia. E desde aquele dia, nós havíamos apenas conversado por telefone, ou mensagens, mas eu passara a evitar um pouco seus convites para sair. Até mesmo no último final de semana, onde eu ficara sozinha.
Depois que minha mãe passara a insistir em entender o que estava acontecendo, eu parara para pensar que talvez não quisesse pessoas em cima da minha vida. Nisso, já bastava minha própria mãe, como sempre. Não era necessário mais ninguém me perguntando sobre coisas que não existiam, coisas para as quais não tinham respostas.
Talvez meus pensamentos ainda estivessem extremamente bagunçados devido ao pouco tempo em que tudo ocorrera. E talvez, apenas talvez, me irritasse um pouco com sua insistência. Ele não era um stalker, nem nada assim, e eu o dera liberdade para se aproximar e fazer parte de nossas vidas, mas eu acredito que ele se empolgara um tanto quanto demais com isso. Era algo incrivelmente lindo, eu não podia negar, mas era como se fôssemos amigos de infância em um mês, e isso era um pouco assustador para quem nunca tivera amizades dessa forma.
- Desculpa. - falei, baixo.
- Tá tudo bem. - ele relaxou os ombros. - Eu realmente deveria me desculpar. Talvez não seja uma boa hora pra conversar, quer deixar pra depois?
- É uma boa hora. - dei de ombros e puxei uma cadeira na cozinha, esperando que ele fizesse o mesmo.
- Tio! Vem assistir comigo! – Bells se aproximou, puxando pela perna. Ele me encarou, sorrindo. – Por favor. – vi minha filha fazer bico e ele me olhou novamente, quase implorando para que eu esperasse.
- É só um pouquinho, eu não posso negar. – ele fez bico também, rindo. Balancei a cabeça e ri, abanando minha mão no ar, mandando-o ir.
Quando ele saiu da cozinha, olhei para o portão que dividia o cômodo com um pequeno quintal, e então me lembrei que em todas as poucas vezes que estivera aqui, ele ainda não havia conhecido Chelsea, por qualquer motivo que fosse. Um dos dias a cachorra havia sido levada para tomar banho, em outro, ela apenas estava presa no quintal. Andei até lá e destravei o portão, estalando meus dedos, chamando-a para dentro.
- Chelsea! – ouvi Bells gritar, animada, enquanto a cachorra pulava em cima de no sofá. Ela latia, animada, e rodava no próprio lugar, alternadamente com se assanhar para o lado do homem.
- E ai, garota! – dizia repetidamente, rindo. Ele tentava a afastar ao menos um pouco, para respirar, mas ela insistia em se jogar em cima dele.
- Me lembrei que você ainda não havia a conhecido. – dei de ombros e ele riu, afirmando.
- Você é linda! – ele resmungou para Chelsea, enquanto ela se acalmava e apenas se mantinha em sua frente, feliz.
- Podemos? – ele se sentou na cadeira em minha frente, quando Bells prestava mais atenção no filme que passava do que nele. Deixei meu celular, no qual eu mexia, de lado e o encarei.
- Claro. – sorri. – Pode falar.
- Isso tá parecendo uma DR. – ele riu e eu o acompanhei. – Aí, , não quero transformar isso em algo sério, eu só queria conversar mesmo, saber por que você tá tentando se distanciar, se eu fiz algo.
- Ah, , não é nada, poxa.
- É claro que é. Posso tentar adivinhar? – eu rolei os olhos. – Você descobriu que já me ama, que sou o amor da sua vida e está em negação? – fingi que iria vomitar e ele riu. – Ufa, fico extremamente feliz com isso. – arqueei as sobrancelhas. – Acho que não estou pronto pra isso. – ele deu de ombros, tímido. – Você descobriu que tem uma doença muito séria, acreditou que eu estava apaixonado e não quis me magoar? – neguei com a cabeça, segurando a risada. – Você estava secretamente planejando me pedir em casamento?
- Junta todos esses motivos, e encontra o certo! É fácil! – ele olhou para cima, pensativo. – , eu odeio que ninguém possa levar a sério uma amizade entre duas pessoas. Ver nossa foto aquele dia me deixou meio irritada, sabe? Odeio que sempre vão enxergar de outra forma, e que até meus pais vão me encher com isso.
- Por sinal, minha mãe está ansiosa por conhecer a neta. Ela não caiu nessa de sobrinha. – ele torceu a boca, num sinal de ironia.
- Aí, meu Deus, . – eu escondi meu rosto entre minhas mãos. – Ah, isso é horrível, sério!
- , relaxa. Minha mãe é o de menos, ela é muito gente boa. Uma ótima sogra, se quiser considerar. – falou, brincalhão.
- Pode deixar, vou anotar aqui na minha mente.
- Não se afasta de mim por causa disso não. – ele sorriu, envergonhado. – Eu realmente me importo com a nossa amizade, por mais imprevisível, esquisita, e louca que ela seja. Talvez a gente tenha atropelado tudo e eu tenha te tornado mais minha terapeuta do que amiga, e eu nem tenho explicação pra isso.
- Ah, eu vou te bater, você não tem direito de ser assim! – eu ri, bagunçando seus cabelos. – Eu tava considerando esses dias atrás, e percebi que nunca tive uma amizade, amizade mesmo, por aqui sabia?
- Me dá a honra, senhorita? – ele se levantou e foi até meu lado, se abaixando e puxando minha mão para depositar um beijo. – Mas assim, é muito cedo pra fazer aquele pacto que se em tantos anos a gente não desencalhar, casamos? – acertei sua cabeça com um tapa e ele me mostrou a língua, correndo de volta para o sofá, para brincar com Isabelle e Chelsea que ainda se encontrava esparramada no tapete.
Capítulo 05
“Well I met you yesterday, you took my breath away and I kinda like the way that you're so damn unpredictable. That was just history, It turned into you and me, it happened so easily, like I'm livin' some kind of miracle.”(High Hopes – The Vamps)
Por
- E aí, pequena, viu o gol bonito que fiz? – fiz um toque de mãos com Bells quando me aproximei dela e de , após o jogo que elas haviam assistido entre Chelsea e Leicester.
- Foi incrível! – ela me abraçou, animada.
- Foi mesmo. – sorriu, bagunçando meus cabelos com as pontas dos dedos.
- E agora? Vamos fazer o quê? – perguntei a elas e vi torcer a boca.
- , temos que arrumar nossas coisas para viajar.
- E é por isso mesmo que quero fazer algo, vamos comemorar nosso natal hoje, já que vocês não estarão aqui. – eu dei de ombros. – Por favor.
- Vamos, mamãe, por favor! – Bells juntou a mão, implorando para a mãe na intenção de me ajudar. – Aí vamos ter natal duas vezes! Isso é muito legal!
- E depois a senhorita por acaso vai me ajudar a arrumar tudo? Não vai, né?
- O tio ajuda! – ela falou, como se fosse óbvio e eu bati minha mão em minha testa, rindo.
- Obrigado, hein? – a encarei e ela sorriu. ria sozinha, com a cabeça escorada em suas mãos.
- Vamos, vai! Antes que eu desista. – saíra andando em direção ao seu carro, com Bells em seu encalço e eu segui na mesma direção, mas meu carro estava um pouco mais distante.
- Mercado e depois minha casa? – perguntei, gritando por estar um tanto distante e ela assentiu.
- Vai que eu te sigo. – vi que ela arrumava Bells no banco e quando entrou no carro, fiz o mesmo e dei partida, aguardando que ela estivesse perto o suficiente para irmos.
- Não vai querer assar um peru, né? – ela perguntou, quando entramos na parte de congelados.
- Demoraria demais, não? – perguntei em dúvida.
- Sim, demais. – ela riu.
- Então, hambúrgueres seriam uma boa?
- Vou ter que sujar a mão. – ela mostrou a língua, fazendo cara de nojo. – Mas tudo bem.
- Eu amo hambúrguer. – Bells falou, sacudindo os ombros.
- E a senhorita deseja mais alguma coisa? – perguntei, me abaixando e ela então se aproximou para sussurrar no meu ouvido.
- Doces! E refrigerante! – ela falou, animada. Me levantei, rindo, e me olhou curiosa.
- Segredo nosso. – dei de ombros.
- Achei que fôssemos amigos. – ela fez bico, enquanto procurava pela carne.
- Somos, mas ela também é minha amiga. – fiz um toque de mãos com Bells, que riu da indignação da mãe.
- Eu odeio sujar minhas mãos. – reclamou, fazendo cara feia para a bacia em sua frente, onde ela misturava a carne com temperos, pensando no momento posterior, onde colocaria suas mãos para amassar.
- Quer uma luva? – ela rolou os olhos.
- Já tentou fazer algo com luvas? – perguntou.
- Não. – dei de ombros.
- Já tentou fazer qualquer coisa? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Sei fazer o básico. – sorri forçado, para irritá-la. – E o mais importante, sei acender a churrasqueira, então tchau. – mostrei a língua e sai correndo em direção a varanda, acompanhado de resmungos da mulher.
- Devia te deixar sem comida. – ela gritou da cozinha.
- Eu também, mamãe? – Bells, que estava no cômodo entre nós dois, gritou nos olhando e eu gargalhei.
- Você vai traumatizar sua filha.
- Você não, meu amor, só o tio . Ele é chato.
- Ele não é chato, mamãe. – Bells me defendeu e eu gargalhei mais uma vez e sai correndo em direção a menina, pegando a no colo e enchendo de beijos em seu rosto.
- Melhor criança do mundo! – a joguei no sofá e comecei a fazer cócegas, ouvindo seus gritos de “para, tio”. ainda sorria na cozinha, indignada.
- . - ouvi-a perto de mim e me virei, sendo então atingido por carne moída em meu nariz. Vi suas mãos completamente sujas e a olhei, com as sobrancelhas arqueadas.
- Você sabe que vai pagar, não?
- Pela plástica no seu nariz? Ele já é feio, , não foi a carne quem fez isso aí. – ela apontou para meu nariz, me fazendo ficar vesgo ao olhá-lo.
A encarei e limpei a sujeira que tinha em meu rosto, e ouvi um “vai, tio!” vindo de Bells no sofá, então começou a correr em direção as escadas, tentando fugir. Em passos largos fui me aproximando da mulher, que já se escondia em meu quarto, sem nem ao menos ter que correr.
- Como fugir de um cara qual o trabalho é correr? – ela riu, tentando fechar a porta do meu banheiro antes que eu chegasse. Coloquei meu pé entre o batente e a porta e ela tentou esmagá-lo ali, fazendo força, mas fui mais rápido e empurrei o suficiente para fazê-la se render. – Droga. – ela riu, fechando a tampa do vaso sanitário e se sentando.
- Você tem sorte que não tenho nada nojento nesse momento pra esfregar no seu rosto. – dei um tapa de leve em sua cabeça e ela se abaixou, para desviar.
- Eca, . – ela colocou a língua para fora, fazendo cara de nojo e se levantando. – Quanta camisinha. – ela gargalhou e eu a acompanhei, reparando nas diversas camisinhas usadas que estavam jogadas ali. Dei de ombros e segurei em seu braço, a puxando para fora do banheiro.
- Tenho uma boa vida sexual, não posso reclamar. – falei, ainda rindo e fez como se fosse vomitar. – Se quiser testar, me avisa, tá? – pisquei para ela e vi seu rosto ficar sério e ela rolar os olhos.
- Te odeio. – ela me mostrou a língua.
- Você está a um passo de me amar, não negue, . – sorri para ela e descemos novamente as escadas, encontrando Bells nos esperando deitada no sofá. – Vamos acelerar essa comida, antes que alguém durma. – apontei para a menina que estava quase com os olhos fechados e assentiu, voltando para a cozinha enquanto eu caminhava em direção às churrasqueira novamente.
- Pena que esse Natal não tem Papai Noel, né? – falei, fazendo bico, e Bells concordou me imitando. – Mas prometo que no dia certo ele vem! – pisquei para e ela negou com a cabeça, fazendo palavras com a boca que formaram um bravo “Nem pense, ”. Sorri de lado e dei de ombros, deixando-a irritada. – Vocês voltam no dia 25? – perguntei.
- 26. – respondeu e eu assenti. – Tem jogo, né? – assenti novamente.
- Posso encontrar vocês depois do jogo? – Bells enfiava um enorme pedaço de hambúrguer inteiro na boca enquanto conversávamos, o que nos fez rir. apenas assentiu, concordando. – Passo lá pra ver vocês, então. Ajudo até a desfazer a mala se precisar.
- Você sabe que odeio isso, né? – eu concordei. – Seria uma ótima ajuda. – ela riu, sincera.
- Nem te conheço, né? – sorri e ela mostrou a língua.
🎵
- Ei, feliz natal. – falei, quando a ouvi atendendo a ligação.
- Oi, ! Feliz natal! – ela falou, animada. – Achei que você ligaria antes.
- Esperei até que você pudesse felicitar todo mundo aí, antes de poder me dar atenção.
- Você nem imagina como está isso aqui. Todo mundo se cumprimentou rapidinho à meia-noite e foram dormir. Não acredito que eles aderiram à Inglaterra nesse ano. Normalmente ficamos acordados até tarde comendo e conversando. Nesse ponto prefiro o Brasil.
- E a Bells?
- Também já me abandonou, já estou deitada de pijama olhando ela dormir. Já estava considerando te ligar. É natal, . Eu fico muito animada. – sua voz realmente soava como se ela estivesse extremamente feliz, o que me deixava animado também.
- Estou vendo, parece que você tomou diversos energéticos. Está me lembrando aquele personagem de Deu a Louca na Chapeuzinho.
- Acho que ele me representa nas festas de fim de ano, sério. – ela respirou fundo. – Como foi aí?
- Comprei um peru pronto, cervejas, uma torta e estou aqui, de barriga cheia, deitado no chão da varanda falando com você. Não é um Natal de todo ruim. – falei, sincero.
- Achei que você iria sair, beber, levar uma mamãe Noel pra casa. – ela gargalhou.
- Nem só de sexo vive esse homem, senhorita.
- Bom saber, senhor. – ela ficou muda durante alguns segundos. – Já está pensando em dormir? – perguntou.
- Não, e você? – perguntei.
- Não.
- Quer jogar alguma coisa?
- Tipo o quê?
- Não sei, que tal verdade ou desafio? – eu ri, falando a primeira coisa que viera à minha cabeça.
- Pelo telefone e em duas pessoas? – ela perguntou, rindo e eu concordei. – Vamos lá, não é como se eu tivesse outra ideia ou qualquer coisa para fazer.
- Se tivesse, negaria minha ideia? É isso? – me fiz de ofendido e ela resmungou, falando sobre o quão chato eu era.
- Começa logo. – ela falou.
- Tudo bem. Verdade ou desafio?
- Vou começar com verdade, vai. – fiquei um tempo em silêncio, pensando.
- , não pode ser algo do tipo, pergunta ou desafio? Ficar procurando verdades é difícil. – reclamei, rindo, pois ainda não havia achado algo legal o suficiente para falar.
- Pode ser, pra você é fácil de perguntar, é só abrir notícias na internet e te perguntar se é verdade. – ela riu, nasaladamente.
- Você acredita em Deus? Em anjos, em destino. Coisas assim, sabe? – perguntei, depois de um tempo pensando.
- Que específico. – ela riu. – Acredito em Deus, mas não frequento ativamente a igreja. Acredito em anjos e tudo mais nesse sentido religioso, mas destino foge um pouco disso e não tenho certeza de que seja algo em que eu realmente creio. Acredito em amor, amizade... Mas destino é algo muito estranho. – apenas concordei com um pigarro e ela então voltou a falar. – Verdade ou desafio?
- Desafio.
- Droga, sou péssima nisso. – ela falou rindo. – Posta uma foto no Instagram com uma legenda que só eu entenda. – ela disse, depois de um pequeno tempo pensando.
- Isso nem é um desafio de verdade, mas tudo bem. – eu ri, colocando o celular no viva-voz e abrindo o aplicativo. – Se quiser continuar falando, estou fazendo.
- Tenho medo de pedir desafio, já que isso não é um desafio pra você. – ela riu, baixo.
- Você tá tendo que sussurrar, né? – eu falei, enquanto tirava uma foto das minhas pernas jogadas na varanda e adicionava um filtro. – Não pode sair do quarto?
- Tô com preguiça.
- Feito! – falei e ela pediu que eu esperasse um minuto para que pudesse olhar.
- Bom, foi uma boa ideia. – ela riu. – Justo, cumpriu.
- Foi uma pergunta, já pode responder. – me referi a legenda da foto, que fora “Verdade ou desafio?”
- Imagina o tanto de meninas que vão responder desafio naquela foto. – eu gargalhei, concordando.
- Mas quem eu quero que responda é você, vai!
- Apressado! Verdade, porque tenho medo de você.
- Chata. – reclamei. – Existe algo pelo qual você se arrependa?
- De forma alguma. – ela respondeu rapidamente. – Não acho que você deva se arrepender de qualquer coisa, se aconteceu, era porque deveria acontecer. Às vezes a gente até sente aquela coisinha ruim de “ah, por que eu fiz isso?”, mas só. Verdade ou desafio?
- Verdade.
- Você sente falta de ter alguém? Um relacionamento. – ela perguntou, parecendo receosa de tocar no assunto.
- As vezes. Durante algum tempo fui acostumado com isso, né? Mas acredito que é da mesma forma que você. Sinto falta, mas não estou extremamente desesperado. – ri, ouvindo ela fazer o mesmo. – Verdade ou desafio? – perguntei.
- Desafio. Não me faça me arrepender.
- Quero que você vá do lado de fora, do jeito que está e faça uma chamada de vídeo comigo.
- , eu estou de shorts e está nevando! Você é louco? – ela riu.
- Se você ficar doente, te pago um médico. – debochei e tive certeza que ela rolava os olhos.
- Te odeio. Já ligo. – ela disse finalizando a ligação.
- Ei. – falei, sorrindo ao vê-la na câmera.
- Tá muito frio! – ela quase gritou.
- Entra, ! – falei desesperado. – Não disse que era pra você me ligar daí de fora. – dei de ombros e ela me mandou o dedo do meio.
- Agora vou ficar aqui até ficar doente, só pra te dar despesa. – ela gargalhou, caminhando porta adentro de novo.
- Você está linda. – comentei sorrindo, quando ela se sentou no chão do que aparentemente era o hall. Ela virou o celular para cima, envergonhada.
- Verdade ou desafio. – perguntou.
- Verdade. – falei, após pensar rapidamente.
- O que você realmente sente por mim? Por que eu? – ela disse, sem nem ao menos pensar, como se aquilo já rondasse sua mente.
- Outch. – reclamei. – Eu não sei, , eu só realmente gosto muito de você, gosto da sua companhia, do seu jeito. Você me faz muito bem. E porque você, eu não sei. Me apeguei de uma forma engraçada, né?
- Bastante. – ela riu. – Você me faz bem também.
- Feliz Natal, .
- Feliz Natal, .
Por
- E aí, pequena, viu o gol bonito que fiz? – fiz um toque de mãos com Bells quando me aproximei dela e de , após o jogo que elas haviam assistido entre Chelsea e Leicester.
- Foi incrível! – ela me abraçou, animada.
- Foi mesmo. – sorriu, bagunçando meus cabelos com as pontas dos dedos.
- E agora? Vamos fazer o quê? – perguntei a elas e vi torcer a boca.
- , temos que arrumar nossas coisas para viajar.
- E é por isso mesmo que quero fazer algo, vamos comemorar nosso natal hoje, já que vocês não estarão aqui. – eu dei de ombros. – Por favor.
- Vamos, mamãe, por favor! – Bells juntou a mão, implorando para a mãe na intenção de me ajudar. – Aí vamos ter natal duas vezes! Isso é muito legal!
- E depois a senhorita por acaso vai me ajudar a arrumar tudo? Não vai, né?
- O tio ajuda! – ela falou, como se fosse óbvio e eu bati minha mão em minha testa, rindo.
- Obrigado, hein? – a encarei e ela sorriu. ria sozinha, com a cabeça escorada em suas mãos.
- Vamos, vai! Antes que eu desista. – saíra andando em direção ao seu carro, com Bells em seu encalço e eu segui na mesma direção, mas meu carro estava um pouco mais distante.
- Mercado e depois minha casa? – perguntei, gritando por estar um tanto distante e ela assentiu.
- Vai que eu te sigo. – vi que ela arrumava Bells no banco e quando entrou no carro, fiz o mesmo e dei partida, aguardando que ela estivesse perto o suficiente para irmos.
- Não vai querer assar um peru, né? – ela perguntou, quando entramos na parte de congelados.
- Demoraria demais, não? – perguntei em dúvida.
- Sim, demais. – ela riu.
- Então, hambúrgueres seriam uma boa?
- Vou ter que sujar a mão. – ela mostrou a língua, fazendo cara de nojo. – Mas tudo bem.
- Eu amo hambúrguer. – Bells falou, sacudindo os ombros.
- E a senhorita deseja mais alguma coisa? – perguntei, me abaixando e ela então se aproximou para sussurrar no meu ouvido.
- Doces! E refrigerante! – ela falou, animada. Me levantei, rindo, e me olhou curiosa.
- Segredo nosso. – dei de ombros.
- Achei que fôssemos amigos. – ela fez bico, enquanto procurava pela carne.
- Somos, mas ela também é minha amiga. – fiz um toque de mãos com Bells, que riu da indignação da mãe.
- Eu odeio sujar minhas mãos. – reclamou, fazendo cara feia para a bacia em sua frente, onde ela misturava a carne com temperos, pensando no momento posterior, onde colocaria suas mãos para amassar.
- Quer uma luva? – ela rolou os olhos.
- Já tentou fazer algo com luvas? – perguntou.
- Não. – dei de ombros.
- Já tentou fazer qualquer coisa? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Sei fazer o básico. – sorri forçado, para irritá-la. – E o mais importante, sei acender a churrasqueira, então tchau. – mostrei a língua e sai correndo em direção a varanda, acompanhado de resmungos da mulher.
- Devia te deixar sem comida. – ela gritou da cozinha.
- Eu também, mamãe? – Bells, que estava no cômodo entre nós dois, gritou nos olhando e eu gargalhei.
- Você vai traumatizar sua filha.
- Você não, meu amor, só o tio . Ele é chato.
- Ele não é chato, mamãe. – Bells me defendeu e eu gargalhei mais uma vez e sai correndo em direção a menina, pegando a no colo e enchendo de beijos em seu rosto.
- Melhor criança do mundo! – a joguei no sofá e comecei a fazer cócegas, ouvindo seus gritos de “para, tio”. ainda sorria na cozinha, indignada.
- . - ouvi-a perto de mim e me virei, sendo então atingido por carne moída em meu nariz. Vi suas mãos completamente sujas e a olhei, com as sobrancelhas arqueadas.
- Você sabe que vai pagar, não?
- Pela plástica no seu nariz? Ele já é feio, , não foi a carne quem fez isso aí. – ela apontou para meu nariz, me fazendo ficar vesgo ao olhá-lo.
A encarei e limpei a sujeira que tinha em meu rosto, e ouvi um “vai, tio!” vindo de Bells no sofá, então começou a correr em direção as escadas, tentando fugir. Em passos largos fui me aproximando da mulher, que já se escondia em meu quarto, sem nem ao menos ter que correr.
- Como fugir de um cara qual o trabalho é correr? – ela riu, tentando fechar a porta do meu banheiro antes que eu chegasse. Coloquei meu pé entre o batente e a porta e ela tentou esmagá-lo ali, fazendo força, mas fui mais rápido e empurrei o suficiente para fazê-la se render. – Droga. – ela riu, fechando a tampa do vaso sanitário e se sentando.
- Você tem sorte que não tenho nada nojento nesse momento pra esfregar no seu rosto. – dei um tapa de leve em sua cabeça e ela se abaixou, para desviar.
- Eca, . – ela colocou a língua para fora, fazendo cara de nojo e se levantando. – Quanta camisinha. – ela gargalhou e eu a acompanhei, reparando nas diversas camisinhas usadas que estavam jogadas ali. Dei de ombros e segurei em seu braço, a puxando para fora do banheiro.
- Tenho uma boa vida sexual, não posso reclamar. – falei, ainda rindo e fez como se fosse vomitar. – Se quiser testar, me avisa, tá? – pisquei para ela e vi seu rosto ficar sério e ela rolar os olhos.
- Te odeio. – ela me mostrou a língua.
- Você está a um passo de me amar, não negue, . – sorri para ela e descemos novamente as escadas, encontrando Bells nos esperando deitada no sofá. – Vamos acelerar essa comida, antes que alguém durma. – apontei para a menina que estava quase com os olhos fechados e assentiu, voltando para a cozinha enquanto eu caminhava em direção às churrasqueira novamente.
- Pena que esse Natal não tem Papai Noel, né? – falei, fazendo bico, e Bells concordou me imitando. – Mas prometo que no dia certo ele vem! – pisquei para e ela negou com a cabeça, fazendo palavras com a boca que formaram um bravo “Nem pense, ”. Sorri de lado e dei de ombros, deixando-a irritada. – Vocês voltam no dia 25? – perguntei.
- 26. – respondeu e eu assenti. – Tem jogo, né? – assenti novamente.
- Posso encontrar vocês depois do jogo? – Bells enfiava um enorme pedaço de hambúrguer inteiro na boca enquanto conversávamos, o que nos fez rir. apenas assentiu, concordando. – Passo lá pra ver vocês, então. Ajudo até a desfazer a mala se precisar.
- Você sabe que odeio isso, né? – eu concordei. – Seria uma ótima ajuda. – ela riu, sincera.
- Nem te conheço, né? – sorri e ela mostrou a língua.
- Oi, ! Feliz natal! – ela falou, animada. – Achei que você ligaria antes.
- Esperei até que você pudesse felicitar todo mundo aí, antes de poder me dar atenção.
- Você nem imagina como está isso aqui. Todo mundo se cumprimentou rapidinho à meia-noite e foram dormir. Não acredito que eles aderiram à Inglaterra nesse ano. Normalmente ficamos acordados até tarde comendo e conversando. Nesse ponto prefiro o Brasil.
- E a Bells?
- Também já me abandonou, já estou deitada de pijama olhando ela dormir. Já estava considerando te ligar. É natal, . Eu fico muito animada. – sua voz realmente soava como se ela estivesse extremamente feliz, o que me deixava animado também.
- Estou vendo, parece que você tomou diversos energéticos. Está me lembrando aquele personagem de Deu a Louca na Chapeuzinho.
- Acho que ele me representa nas festas de fim de ano, sério. – ela respirou fundo. – Como foi aí?
- Comprei um peru pronto, cervejas, uma torta e estou aqui, de barriga cheia, deitado no chão da varanda falando com você. Não é um Natal de todo ruim. – falei, sincero.
- Achei que você iria sair, beber, levar uma mamãe Noel pra casa. – ela gargalhou.
- Nem só de sexo vive esse homem, senhorita.
- Bom saber, senhor. – ela ficou muda durante alguns segundos. – Já está pensando em dormir? – perguntou.
- Não, e você? – perguntei.
- Não.
- Quer jogar alguma coisa?
- Tipo o quê?
- Não sei, que tal verdade ou desafio? – eu ri, falando a primeira coisa que viera à minha cabeça.
- Pelo telefone e em duas pessoas? – ela perguntou, rindo e eu concordei. – Vamos lá, não é como se eu tivesse outra ideia ou qualquer coisa para fazer.
- Se tivesse, negaria minha ideia? É isso? – me fiz de ofendido e ela resmungou, falando sobre o quão chato eu era.
- Começa logo. – ela falou.
- Tudo bem. Verdade ou desafio?
- Vou começar com verdade, vai. – fiquei um tempo em silêncio, pensando.
- , não pode ser algo do tipo, pergunta ou desafio? Ficar procurando verdades é difícil. – reclamei, rindo, pois ainda não havia achado algo legal o suficiente para falar.
- Pode ser, pra você é fácil de perguntar, é só abrir notícias na internet e te perguntar se é verdade. – ela riu, nasaladamente.
- Você acredita em Deus? Em anjos, em destino. Coisas assim, sabe? – perguntei, depois de um tempo pensando.
- Que específico. – ela riu. – Acredito em Deus, mas não frequento ativamente a igreja. Acredito em anjos e tudo mais nesse sentido religioso, mas destino foge um pouco disso e não tenho certeza de que seja algo em que eu realmente creio. Acredito em amor, amizade... Mas destino é algo muito estranho. – apenas concordei com um pigarro e ela então voltou a falar. – Verdade ou desafio?
- Desafio.
- Droga, sou péssima nisso. – ela falou rindo. – Posta uma foto no Instagram com uma legenda que só eu entenda. – ela disse, depois de um pequeno tempo pensando.
- Isso nem é um desafio de verdade, mas tudo bem. – eu ri, colocando o celular no viva-voz e abrindo o aplicativo. – Se quiser continuar falando, estou fazendo.
- Tenho medo de pedir desafio, já que isso não é um desafio pra você. – ela riu, baixo.
- Você tá tendo que sussurrar, né? – eu falei, enquanto tirava uma foto das minhas pernas jogadas na varanda e adicionava um filtro. – Não pode sair do quarto?
- Tô com preguiça.
- Feito! – falei e ela pediu que eu esperasse um minuto para que pudesse olhar.
- Bom, foi uma boa ideia. – ela riu. – Justo, cumpriu.
- Foi uma pergunta, já pode responder. – me referi a legenda da foto, que fora “Verdade ou desafio?”
- Imagina o tanto de meninas que vão responder desafio naquela foto. – eu gargalhei, concordando.
- Mas quem eu quero que responda é você, vai!
- Apressado! Verdade, porque tenho medo de você.
- Chata. – reclamei. – Existe algo pelo qual você se arrependa?
- De forma alguma. – ela respondeu rapidamente. – Não acho que você deva se arrepender de qualquer coisa, se aconteceu, era porque deveria acontecer. Às vezes a gente até sente aquela coisinha ruim de “ah, por que eu fiz isso?”, mas só. Verdade ou desafio?
- Verdade.
- Você sente falta de ter alguém? Um relacionamento. – ela perguntou, parecendo receosa de tocar no assunto.
- As vezes. Durante algum tempo fui acostumado com isso, né? Mas acredito que é da mesma forma que você. Sinto falta, mas não estou extremamente desesperado. – ri, ouvindo ela fazer o mesmo. – Verdade ou desafio? – perguntei.
- Desafio. Não me faça me arrepender.
- Quero que você vá do lado de fora, do jeito que está e faça uma chamada de vídeo comigo.
- , eu estou de shorts e está nevando! Você é louco? – ela riu.
- Se você ficar doente, te pago um médico. – debochei e tive certeza que ela rolava os olhos.
- Te odeio. Já ligo. – ela disse finalizando a ligação.
- Ei. – falei, sorrindo ao vê-la na câmera.
- Tá muito frio! – ela quase gritou.
- Entra, ! – falei desesperado. – Não disse que era pra você me ligar daí de fora. – dei de ombros e ela me mandou o dedo do meio.
- Agora vou ficar aqui até ficar doente, só pra te dar despesa. – ela gargalhou, caminhando porta adentro de novo.
- Você está linda. – comentei sorrindo, quando ela se sentou no chão do que aparentemente era o hall. Ela virou o celular para cima, envergonhada.
- Verdade ou desafio. – perguntou.
- Verdade. – falei, após pensar rapidamente.
- O que você realmente sente por mim? Por que eu? – ela disse, sem nem ao menos pensar, como se aquilo já rondasse sua mente.
- Outch. – reclamei. – Eu não sei, , eu só realmente gosto muito de você, gosto da sua companhia, do seu jeito. Você me faz muito bem. E porque você, eu não sei. Me apeguei de uma forma engraçada, né?
- Bastante. – ela riu. – Você me faz bem também.
- Feliz Natal, .
- Feliz Natal, .
Capítulo 06
“Settle down with me and I'll be your safety, you'll be my lady. I was made to keep your body warm, but I'm cold as the wind blows so hold me in your arms” (Kiss Me – Ed Sheeran)
Por
- Eu já te falei que amo seu macarrão? – falei para quando me sentei na mesa, esperando que ela colocasse a panela que faltava ali e se sentasse junto a Bells e eu.
- Algumas poucas vezes. – ela riu.
- É muito gostoso. – Bells concordou, tomando o refrigerante que estava em seu copo.
- , você tem que parar de se sentir de casa. – riu, quando me viu levantar e pegar os pratos e talheres no armário.
- Outch, ! Isso é ruim? – perguntei ofendido.
- Ah, gosto de tratar as pessoas como visita! Você me tira esse direito. – ela riu, se sentando. – Me sirva então. – ela deu de ombros e Bells esticou seu prato de plástico rosa na minha direção, agindo como a mãe.
- Ah não, fala sério vocês duas! – eu ri, pegando o macarrão e servindo os pratos enquanto resmungava e as duas riam de mim. – Onde fui me amarrar? – me mostrou a língua e Bells sorriu, dando sua primeira garfada.
- Eu te dei a opção de fugir diversas vezes. – ela deu de ombros.
- E eu não quis, e você vai querer jogar isso pra mim toda vez, eu sei. – também mostrei a língua para ela, que apenas riu.
- Bells. – falei quando entrei novamente pela porta da sala, já procurando pela menina. me encarou com os olhos semicerrados ao ver o pacote em minhas mãos e eu dei de ombros. – Feliz Natal, pequena! – entreguei o pacote rosa com um laço amarelo, que havia sido feito pela vendedora da loja, em suas mãos.
- Tio! – a menina falou animada. – Obrigada! – e então ela saíra correndo em direção ao sofá para abri-lo.
- ! – reclamou, se aproximando de mim. – Ah, não! – ela ralhou irritada, ao ver o pequeno pacote em papel azul que eu levantei, deixando-o em sua visão.
- Feliz Natal, ! – sorri, fazendo-a me dar um tapa no ombro esquerdo.
- Eu te odeio, ! Você não tinha o direito de fazer isso.
- Comprar presentes pra vocês? Eu tenho direito de comprar pra quem eu quiser, ué. – me fiz de desentendido, tentando irritá-la.
- Você entendeu! – ela cerrou os dentes. – Eu não comprei nada pra você. – seu olhar amoleceu, fazendo-me sorrir.
- Para de ser assim e só pega, . Eu não fiz isso na intenção de receber nada em troca e você sabe disso. Eu só vi as coisas e me deu vontade de comprar. – segurei uma ponta de seus cabelos e a enrolei em meu dedo indicador. – Olha como a Bells tá feliz. – eu gargalhei, vendo a menina encarar a boneca em sua frente fascinada.
- Agradece, filha.
- Muito obrigada, . – ela abraçou minhas pernas rapidamente, logo correndo de volta para a boneca, ansiosa por abrir a caixa e tirá-la de lá.
- Não vai abrir? – perguntei, ao vê-la levantar o pequeno pacote e encará-lo. – Eu juro que não é uma bomba. – ela sorriu.
- Você não me daria uma bomba e a entregaria enquanto você ainda estivesse aqui. Acredito que não faria muito sentido.
- Sua inteligência me fascina. – falei rindo e me virando em direção a porta. – Até mais... – brinquei e ela rolou os olhos, me puxando para perto dela novamente e logo puxando a fita que abriria o presente.
- . – ela falou surpresa, puxando seu fôlego. – Ah, meu Deus. É linda. – ela encarou a joia com os olhos arregalados. – , eu não posso aceitar isso. É demais.
- Não é demais, . – falei, olhando novamente para a pulseira que eu comprara, pois simplesmente havia me encantado ao notá-la na vitrine. Sua simplicidade, e as poucas pedras que a compunham haviam me deixado embasbacado. Sua cor prateada a dava um ar despojado, e eu sabia que poderia usá-la em qualquer ocasião. E eu havia pensado em quando a vi, quase que automaticamente, algo que me fizera sorrir, também quase automaticamente.
- . – ela respirara fundo mais uma vez e eu então pegara o adereço de sua mão, a assustando. Abri rapidamente o feixe e puxei seu braço para mim, pendurando-a.
- Ficou linda. Pare de reclamar e apenas aceite, combina com você. – reclamei. Ela assentiu, envergonhada e então se aproximara, juntando nossos corpos em um abraço. Algo que raramente acontecera durante todos esses meses de amizade.
Suas mãos passaram-se por minha cintura e seu corpo se encostou ao meu delicadamente enquanto meus braços se ajeitavam por cima de seus ombros. Depositei um beijo em sua cabeça e ela logo se afastara, balançando a cabeça como em negação e voltando a encarar o objeto em seu braço.
- Obrigada. – ela sussurrara. – Você é incrível.
- Eu sei. – dei de ombros e ela estapeou meu braço. – Desculpa, estraguei o momento. – eu ri, mas antes que pudesse falar qualquer outra coisa, ouvimos um barulho alto de algo chegando ao chão estrondosamente.
- Bells! – gritou ao ver a boneca no chão e a filha assustada com as mãos no rosto.
- Ela morreu, mamãe? – os olhos da menina se fecharam e eu então notei que eles estavam cheios de lágrimas.
- Não! – falei rapidamente, me aproximando dela e pegando a boneca do chão. – Ela está ótima! Olha! – entreguei o brinquedo novamente em seus braços e vi um sorriso brotar em seu rosto, ainda entre algumas lágrimas teimosas que queriam molhar seu rosto.
- Obrigada, tio! Você salvou ela! – ela abraçou meu pescoço apertado.
- Imagina, pequena! Sempre que precisar. – eu sorri, colocando-a no sofá para que voltasse a brincar.
- Por qual motivo ela pensaria que a boneca morreu? – comentou quando me aproximei, sorrindo para tentar parecer que não estava preocupada.
- Não faço a mínima ideia, essa menina é demais. – eu ri. – Relaxa, . – beijei sua testa. – Não é nada demais, provavelmente ela viu isso em algum vídeo do youtube, ou algum filme.
- Ela é inteligente demais. – a vi sorrir, parecendo mais aliviada.
- Puxou a mãe. – mostrei a língua para ela e recebi o mesmo em retorno, mas com o adicional de a ver corar.
🎵
- Esses jogos no fim de ano são terríveis, não? – perguntou em meio a nossa conversa no telefone.
- Um pouco. – confessei.
- Não podem nem viajar ou qualquer coisa assim, né? Nem dá tempo.
- Algumas vezes minha família vem para cá, para colaborar com esse fato. Mas esse ano não. Vou passar só.
- E eu? Primeiro ano novo sem a minha pequena.
- Ela vai viajar?
- Michael vai passar com alguns parentes e acordamos que ele a levaria, pois queriam vê-la.
- Justo.
- Muito, mas agoniante para a mamãe-urso. – ela riu nasaladamente, reforçando seu desespero.
- Passa comigo. – falei sem nem pensar.
- Passar o ano novo com você? Apenas nós? – ela riu, soando envergonhada.
- Qual o problema, ? – perguntei sério.
- Ah, não sei, . Só não esperava o convite. Ia passar com os meus pais mesmo.
- Ia? – soei esperançoso.
- Vou pensar no seu caso. Agora preciso ir, se cuida!
- Pensa com carinho, tá? – ouvi sua risada novamente. – Tchau, .
: Onde vamos passar a virada de ano? 🤔
: Ganhei companhia?
: Vou quebrar seu galho nessa. 😋
: Pode parecer meio bobo, mas nunca acompanhei a clássica queima de fogos de perto. Topa?
: Com certeza.
: Te busco às oito então, pode ser?
: Combinado.
: Obrigado, . ❤️
: ❤️
“É 31 de dezembro, fim de mais um ano...”
Tomei água rapidamente e peguei meu moletom branco de cima do sofá, vestindo-o e correndo para a porta, preparado para encontrar o motivo pelo qual eu não queria me atrasar.
Entrei em meu carro e saindo da garagem me deparei com o caos. Viver no centro era maravilhoso, eu adorava, mas nesses momentos era loucura. As ruas estavam cheias de carro, os metrôs pareciam abarrotados. Mas ainda assim, todos sorriam. Era possível ver os diversos sorrisos se escondendo nas golas altas das roupas quentes que as pessoas vestiam. Estávamos com 5ºC, quanto mais roupa nessas horas, melhor, mesmo que parecêssemos bonecos de neve todos em branco.
Peguei o caminho mais rápido para casa de , e apesar de o mais rápido, hoje não era exatamente isso. Liguei para ela que me informou já estar pronta, então a comuniquei do caos em que estávamos aqui na zona 02*. Apertei o botão do rádio e deixei em uma estação qualquer que pudesse me distrair, sorrindo ao ouvir que tocava Maroon 5, uma banda que eu gostava e sabia que também adorava.
Me animei com a música e então peguei meu celular, sabendo o quão errado é fazer isso enquanto se dirige, e conectei meu aplicativo ao aparelho, selecionando uma playlist da banda.
- I'm hurting, baby, I'm broken down, I need your loving, loving, I need it now. When I'm without you I'm something weak... - entrara no carro rindo de minha performance. Parei em sua porta com os vidros abertos, cantando no mesmo tom de Adam Levine. Tentando, claro.
- You got me begging, begging, I’m on my knees... - ela continuara a música ao se sentar ao meu lado e colocar o cinto de segurança, logo se inclinando para beijar minha bochecha. - Está animado? - eu assenti, sorrindo e logo saindo com o carro do lugar.
- Muito. Adoro ano novo. - dei de ombros.
- Com esse sorriso no rosto parece a criancinha que gosta de Natal.
- A criancinha como você? - mostrei a língua e ela encostou sua cabeça no vidro, envergonhada. - E a Bells? - perguntei.
- Nem se importa de ficar sem a mãe. Inacreditável. - ela rolou os olhos e eu ri.
- Mamãe urso mesmo, não? - ela assentiu. - Queria que ela estivesse com a gente, ela ia gostar.
- Ela sempre me pediu pra vir, vai ficar bem triste que vim sem ela. - ela sorriu triste.
- Nunca a trouxe por algum motivo específico?
- Muito cheio, acho perigoso. - ela deu de ombros. - Um dia você vai entender, é coisa de mãe e pai. - ela sorriu.
- Será que vou? - eu ri.
- Não tem vontade de ter filhos? - ela perguntou, despreocupada.
- Tenho. - respondi prontamente. - Sempre achei que tinha dificuldade com criança ou que não me daria bem, mas a Bells vem me mostrando o contrário. - eu sorri feliz.
- Ela realmente gosta de você. - sorri e a vi fazer o mesmo.
Estacionei novamente na garagem de casa e descemos do carro. usava uma calça jeans de lavagem clara e parecia carregar milhões de blusas em seu corpo, mas a vista usava uma blusa rosa de lã, com uma jaqueta branca por cima, e em seus pés, um par de all star rosa.
- Melhor deixar sua bolsa em casa, não? - ela assentiu. - Não é como se eu fosse te deixar ir embora de metrô depois, . - rolei os olhos e ela me encarou.
- Eu não achei que deixaria. - ela aliviou sua expressão e riu. - Vamos logo. - ela apertou o botão do elevador.
- Eu subo rapidinho, pode esperar aí. - ela sorriu, agradecida, e me entregou a bolsa.
- Vamos? - perguntei, fazendo-a acordar de um transe.
- Vamos!
Saímos do prédio e nos deparamos com uma multidão seguindo na mesma direção, a qual acompanhamos.
parecia extremamente animada. Ela sorria para todos os lados enquanto assoprava as próprias mãos, que havia coberto com luvas desde que pisamos fora de casa. Seguimos em silêncio junto com as pessoas que nos rodeavam, parecia que estávamos em meio a uma procissão, e esse pensamento me fizera rir, deixando curiosa.
- Não parece uma procissão? - perguntei e ouvi ela gargalhar em resposta.
- No próximo ano me lembre de trazer uma vela. - ela comentou, enquanto eu entregava nossos ingressos para a pessoa responsável, para que entrássemos na área mais próxima que agora tinha ingressos vendidos dois meses antes da data. Era possível ver a queima de fogos de qualquer lugar em volta, mas para diminuir o tumulto em torno do lugar, eles haviam tornado pago, para controle do número de pessoas e maior conforto. Ou melhor, menor desconforto pelo que as pessoas me contavam.
- Acredita que no próximo ano estaremos aqui? - perguntei, aproveitando sua escolha de palavras e fazendo-a corar e dar de ombros, sem me dar diretamente uma resposta. - Bom, eu espero que sim. - falei sincero. Ela assentiu, sorrindo de lado. - Sempre vou te lembrar disso, toda vez que puder.
- Você gosta tanto assim de ser romântico dessa forma?
- Eu sou romântico? Temos um romance aqui? - apontei para nós dois, me fazendo de desentendido.
- Argh. - ela resmungou, estapeando meu braço. – Sem graça. Falta muito? – ela perguntou, se referindo à meia-noite e eu assenti.
- Ainda são dez, vai ter que me aguentar mais um pouco.
- Seria muito ruim se eu sentasse aqui no chão?
- Morta! Não aguenta nem cinco minutos em pé.
- O jogador de futebol aqui é você, não eu. – ela me mostrou a língua e eu, sem pensar, a tomei em meus braços e a abracei.
- As vezes dá vontade de te apertar até você gritar, de tão fofa que você é com alguns gestos. – falei, rindo e soltando-a, vendo seu rosto corar e ela se encolher.
- O que vamos fazer em tanto tempo? – ela perguntou, mudando de assunto.
- Quer jogar verdade ou desafio de novo? – perguntei.
- Só se for pra te desafiar a pular no Tâmisa. Estamos no meio de uma multidão, menos, .
- Eu pularia. – dei de ombros e ela riu, mantendo um silêncio entre nós por um tempo, prestando atenção a nossa volta e todas as pessoas que estavam ali.
então puxara assunto com a mulher ao seu lado, que estava ali com o marido e a filha para ver os fogos. Ela se aproximara no momento em que a menina esbarrara em sua perna, fazendo-a cambalear para se manter em pé, então ela e a mãe em meio a desculpas, engataram uma conversa sobre filhos, logo dando sequência em diversos assuntos, aos quais me enturmei também.
- Sabe o que me pergunto? – falou, se aproximando de mim quando a família decidira procurar alguns amigos que os esperavam mais para frente. – Como as pessoas não te reconhecem? Ou reconhecem e não falam nada? Normalmente todo mundo se desespera por ver alguém famoso. E bom, não vi ninguém tirando fotos também. - ela riu.
- Ainda um pouco traumatizada? - ela assentiu. - Muita gente fica olhando, já vi pelo menos umas cinco pessoas aqui em volta me encarando. Muitas pessoas acompanham futebol, mas nem todas prestam realmente atenção nos rostos dos jogadores. O que é ótimo pra mim, confesso. Mas, por exemplo, o cara com quem a gente tava conversando, ele sabia, mas preferiu ficar quieto. Dava pra ver que ele queria falar algo. O que importa é que estamos em paz. - deixei meus ombros relaxarem e aproximei mais meu corpo do dela.
- Falta muito? - ela perguntou curiosa.
- Aparentemente nos distraímos bem, apenas mais meia hora até 2019. Não quer fazer uma revisão do seu ano?
- Não sei se tenho muito o que rever. Tô feliz com esse ano, as coisas parecem certas. A Bells está ótima, minha família está bem, a farmácia tá indo incrivelmente bem de uma forma que eu nem mesmo esperava...
- E ainda tem eu! - a cutuquei, fazendo-a rir. - Eu gostei bastante desse ano também. Minha família está bem, minha vida está ótima, o time tá indo bem demais!
- Isso é bom pra mim também, não sou um exemplo de torcedora, mas confesso que é mesmo meu preferido.
- Uma ótima confissão pra fazer pra um jogador dele. E tá ansiosa? Pra 2019? - riu e eu percebi que estava parecendo um primeiro encontro onde a pessoa está desesperada pra conversar e não quer ficar em silêncio. - Desculpa.
- Tá tudo bem. Eu gosto quando você fica tagarela assim, é engraçado. Só espero que seja tão bom quanto esse ano. E você?
- De diferente, só quero que isso continue. - falei sincero parecendo um disco arranhado com todas as vezes em que falava algo do tipo e encostou a cabeça em meu peito, tentando se esconder. Passei meus braços em volta de seu corpo e a grudei próxima a mim.
- Eu gosto demais de você, . - falei próximo ao ouvido dela.
- . - ela falou com tom de repreensão e se virou, ficando de frente para mim.
- Poxa, eu só tô sendo sincero. Eu não quero levar isso pro próximo ano sem nem ao menos você saber.
Ela sorriu e abaixou a cabeça, repetindo o gesto que a acompanhava em momentos que se sentia constrangida. Fiquei encarando-a e senti suas mãos se espalmarem em meu peito e seu corpo se aproximar do meu com um passo em meio aos gritos de contagem regressiva que podíamos ouvir mesmo de dentro da nossa própria bolha.
5
- Eu sei, .
4
- Você não precisa falar nada, eu só queria mesmo soltar isso.
3
- Eu sou um peso nas suas costas pra você aliviar? – ela riu e eu dei um tapa em seu ombro.
2
- De forma alguma. – falei, respirando fundo.
1
- Tá mais pra pessoa que fica insistentemente na minha cabeça desde que eu me aproximei.
Ouvimos diversos gritos e então os fogos explodiram pelo céu. Eu olhei para cima rapidamente e então abaixei meu olhar, encontrando com o de que me encarava. Juntei minhas mãos as dela e então juntos encaramos o início daquela queima de fogos, uma das mais bonitas ao redor do mundo. Diversos casais apaixonados em nossa volta se beijavam, crianças pulavam em volta dos pais e observavam atentamente o céu, admirados com a beleza daquela ocasião.
Tentei manter meus olhos no espetáculo, tentei manter minha cabeça no novo ano e em silêncio fazer promessas em relação a ele, mas naquele primeiro minuto do ano, junto a mulher em minha frente, eu não tinha olhos para mais nada. sorria para o céu, mas desviava os olhos envergonhados para mim a cada segundo, tornando o trabalho de admirá-la cada vez melhor.
- . - chamei-a e seus olhos focaram-se nos meus.
- Oi.
Em um ímpeto curvei meu corpo, coloquei minhas mãos em seu rosto gelado e aproximei meu rosto do seu, parando a centímetros antes de deixar com que nossos lábios se encontrassem. Ela tinha uma expressão suave, e um sorriso parecia querer se desenrolar, então quando notei que ela não repreendia minha ação, toquei suavemente sua boca com a minha em um selinho demorado. As mãos de foram para minha cintura em um abraço, e eu podia sentir seu corpo relaxado com nossa proximidade.
Era possível ouvir ao longe o som de gritaria das pessoas e os estouros que os fogos faziam ao chegar ao céu, mas eu não os via, e também não. Estávamos cercados apenas por nossas vontades e sentimentos bagunçados. Eu estava cercado por seus braços, e nada poderia ser mais quente naquela noite fria.
*Zona 02 = modo como é dividida Londres. As zonas 01 e 02 são as principais, onde ficam por exemplo, a London Eye e os principais pontos turísticos em torno dela e o Stamford Bridge, estádio do Chelsea.
Por
- Eu já te falei que amo seu macarrão? – falei para quando me sentei na mesa, esperando que ela colocasse a panela que faltava ali e se sentasse junto a Bells e eu.
- Algumas poucas vezes. – ela riu.
- É muito gostoso. – Bells concordou, tomando o refrigerante que estava em seu copo.
- , você tem que parar de se sentir de casa. – riu, quando me viu levantar e pegar os pratos e talheres no armário.
- Outch, ! Isso é ruim? – perguntei ofendido.
- Ah, gosto de tratar as pessoas como visita! Você me tira esse direito. – ela riu, se sentando. – Me sirva então. – ela deu de ombros e Bells esticou seu prato de plástico rosa na minha direção, agindo como a mãe.
- Ah não, fala sério vocês duas! – eu ri, pegando o macarrão e servindo os pratos enquanto resmungava e as duas riam de mim. – Onde fui me amarrar? – me mostrou a língua e Bells sorriu, dando sua primeira garfada.
- Eu te dei a opção de fugir diversas vezes. – ela deu de ombros.
- E eu não quis, e você vai querer jogar isso pra mim toda vez, eu sei. – também mostrei a língua para ela, que apenas riu.
- Bells. – falei quando entrei novamente pela porta da sala, já procurando pela menina. me encarou com os olhos semicerrados ao ver o pacote em minhas mãos e eu dei de ombros. – Feliz Natal, pequena! – entreguei o pacote rosa com um laço amarelo, que havia sido feito pela vendedora da loja, em suas mãos.
- Tio! – a menina falou animada. – Obrigada! – e então ela saíra correndo em direção ao sofá para abri-lo.
- ! – reclamou, se aproximando de mim. – Ah, não! – ela ralhou irritada, ao ver o pequeno pacote em papel azul que eu levantei, deixando-o em sua visão.
- Feliz Natal, ! – sorri, fazendo-a me dar um tapa no ombro esquerdo.
- Eu te odeio, ! Você não tinha o direito de fazer isso.
- Comprar presentes pra vocês? Eu tenho direito de comprar pra quem eu quiser, ué. – me fiz de desentendido, tentando irritá-la.
- Você entendeu! – ela cerrou os dentes. – Eu não comprei nada pra você. – seu olhar amoleceu, fazendo-me sorrir.
- Para de ser assim e só pega, . Eu não fiz isso na intenção de receber nada em troca e você sabe disso. Eu só vi as coisas e me deu vontade de comprar. – segurei uma ponta de seus cabelos e a enrolei em meu dedo indicador. – Olha como a Bells tá feliz. – eu gargalhei, vendo a menina encarar a boneca em sua frente fascinada.
- Agradece, filha.
- Muito obrigada, . – ela abraçou minhas pernas rapidamente, logo correndo de volta para a boneca, ansiosa por abrir a caixa e tirá-la de lá.
- Não vai abrir? – perguntei, ao vê-la levantar o pequeno pacote e encará-lo. – Eu juro que não é uma bomba. – ela sorriu.
- Você não me daria uma bomba e a entregaria enquanto você ainda estivesse aqui. Acredito que não faria muito sentido.
- Sua inteligência me fascina. – falei rindo e me virando em direção a porta. – Até mais... – brinquei e ela rolou os olhos, me puxando para perto dela novamente e logo puxando a fita que abriria o presente.
- . – ela falou surpresa, puxando seu fôlego. – Ah, meu Deus. É linda. – ela encarou a joia com os olhos arregalados. – , eu não posso aceitar isso. É demais.
- Não é demais, . – falei, olhando novamente para a pulseira que eu comprara, pois simplesmente havia me encantado ao notá-la na vitrine. Sua simplicidade, e as poucas pedras que a compunham haviam me deixado embasbacado. Sua cor prateada a dava um ar despojado, e eu sabia que poderia usá-la em qualquer ocasião. E eu havia pensado em quando a vi, quase que automaticamente, algo que me fizera sorrir, também quase automaticamente.
- . – ela respirara fundo mais uma vez e eu então pegara o adereço de sua mão, a assustando. Abri rapidamente o feixe e puxei seu braço para mim, pendurando-a.
- Ficou linda. Pare de reclamar e apenas aceite, combina com você. – reclamei. Ela assentiu, envergonhada e então se aproximara, juntando nossos corpos em um abraço. Algo que raramente acontecera durante todos esses meses de amizade.
Suas mãos passaram-se por minha cintura e seu corpo se encostou ao meu delicadamente enquanto meus braços se ajeitavam por cima de seus ombros. Depositei um beijo em sua cabeça e ela logo se afastara, balançando a cabeça como em negação e voltando a encarar o objeto em seu braço.
- Obrigada. – ela sussurrara. – Você é incrível.
- Eu sei. – dei de ombros e ela estapeou meu braço. – Desculpa, estraguei o momento. – eu ri, mas antes que pudesse falar qualquer outra coisa, ouvimos um barulho alto de algo chegando ao chão estrondosamente.
- Bells! – gritou ao ver a boneca no chão e a filha assustada com as mãos no rosto.
- Ela morreu, mamãe? – os olhos da menina se fecharam e eu então notei que eles estavam cheios de lágrimas.
- Não! – falei rapidamente, me aproximando dela e pegando a boneca do chão. – Ela está ótima! Olha! – entreguei o brinquedo novamente em seus braços e vi um sorriso brotar em seu rosto, ainda entre algumas lágrimas teimosas que queriam molhar seu rosto.
- Obrigada, tio! Você salvou ela! – ela abraçou meu pescoço apertado.
- Imagina, pequena! Sempre que precisar. – eu sorri, colocando-a no sofá para que voltasse a brincar.
- Por qual motivo ela pensaria que a boneca morreu? – comentou quando me aproximei, sorrindo para tentar parecer que não estava preocupada.
- Não faço a mínima ideia, essa menina é demais. – eu ri. – Relaxa, . – beijei sua testa. – Não é nada demais, provavelmente ela viu isso em algum vídeo do youtube, ou algum filme.
- Ela é inteligente demais. – a vi sorrir, parecendo mais aliviada.
- Puxou a mãe. – mostrei a língua para ela e recebi o mesmo em retorno, mas com o adicional de a ver corar.
- Um pouco. – confessei.
- Não podem nem viajar ou qualquer coisa assim, né? Nem dá tempo.
- Algumas vezes minha família vem para cá, para colaborar com esse fato. Mas esse ano não. Vou passar só.
- E eu? Primeiro ano novo sem a minha pequena.
- Ela vai viajar?
- Michael vai passar com alguns parentes e acordamos que ele a levaria, pois queriam vê-la.
- Justo.
- Muito, mas agoniante para a mamãe-urso. – ela riu nasaladamente, reforçando seu desespero.
- Passa comigo. – falei sem nem pensar.
- Passar o ano novo com você? Apenas nós? – ela riu, soando envergonhada.
- Qual o problema, ? – perguntei sério.
- Ah, não sei, . Só não esperava o convite. Ia passar com os meus pais mesmo.
- Ia? – soei esperançoso.
- Vou pensar no seu caso. Agora preciso ir, se cuida!
- Pensa com carinho, tá? – ouvi sua risada novamente. – Tchau, .
: Onde vamos passar a virada de ano? 🤔
: Ganhei companhia?
: Vou quebrar seu galho nessa. 😋
: Pode parecer meio bobo, mas nunca acompanhei a clássica queima de fogos de perto. Topa?
: Com certeza.
: Te busco às oito então, pode ser?
: Combinado.
: Obrigado, . ❤️
: ❤️
“É 31 de dezembro, fim de mais um ano...”
Tomei água rapidamente e peguei meu moletom branco de cima do sofá, vestindo-o e correndo para a porta, preparado para encontrar o motivo pelo qual eu não queria me atrasar.
Entrei em meu carro e saindo da garagem me deparei com o caos. Viver no centro era maravilhoso, eu adorava, mas nesses momentos era loucura. As ruas estavam cheias de carro, os metrôs pareciam abarrotados. Mas ainda assim, todos sorriam. Era possível ver os diversos sorrisos se escondendo nas golas altas das roupas quentes que as pessoas vestiam. Estávamos com 5ºC, quanto mais roupa nessas horas, melhor, mesmo que parecêssemos bonecos de neve todos em branco.
Peguei o caminho mais rápido para casa de , e apesar de o mais rápido, hoje não era exatamente isso. Liguei para ela que me informou já estar pronta, então a comuniquei do caos em que estávamos aqui na zona 02*. Apertei o botão do rádio e deixei em uma estação qualquer que pudesse me distrair, sorrindo ao ouvir que tocava Maroon 5, uma banda que eu gostava e sabia que também adorava.
Me animei com a música e então peguei meu celular, sabendo o quão errado é fazer isso enquanto se dirige, e conectei meu aplicativo ao aparelho, selecionando uma playlist da banda.
- I'm hurting, baby, I'm broken down, I need your loving, loving, I need it now. When I'm without you I'm something weak... - entrara no carro rindo de minha performance. Parei em sua porta com os vidros abertos, cantando no mesmo tom de Adam Levine. Tentando, claro.
- You got me begging, begging, I’m on my knees... - ela continuara a música ao se sentar ao meu lado e colocar o cinto de segurança, logo se inclinando para beijar minha bochecha. - Está animado? - eu assenti, sorrindo e logo saindo com o carro do lugar.
- Muito. Adoro ano novo. - dei de ombros.
- Com esse sorriso no rosto parece a criancinha que gosta de Natal.
- A criancinha como você? - mostrei a língua e ela encostou sua cabeça no vidro, envergonhada. - E a Bells? - perguntei.
- Nem se importa de ficar sem a mãe. Inacreditável. - ela rolou os olhos e eu ri.
- Mamãe urso mesmo, não? - ela assentiu. - Queria que ela estivesse com a gente, ela ia gostar.
- Ela sempre me pediu pra vir, vai ficar bem triste que vim sem ela. - ela sorriu triste.
- Nunca a trouxe por algum motivo específico?
- Muito cheio, acho perigoso. - ela deu de ombros. - Um dia você vai entender, é coisa de mãe e pai. - ela sorriu.
- Será que vou? - eu ri.
- Não tem vontade de ter filhos? - ela perguntou, despreocupada.
- Tenho. - respondi prontamente. - Sempre achei que tinha dificuldade com criança ou que não me daria bem, mas a Bells vem me mostrando o contrário. - eu sorri feliz.
- Ela realmente gosta de você. - sorri e a vi fazer o mesmo.
Estacionei novamente na garagem de casa e descemos do carro. usava uma calça jeans de lavagem clara e parecia carregar milhões de blusas em seu corpo, mas a vista usava uma blusa rosa de lã, com uma jaqueta branca por cima, e em seus pés, um par de all star rosa.
- Melhor deixar sua bolsa em casa, não? - ela assentiu. - Não é como se eu fosse te deixar ir embora de metrô depois, . - rolei os olhos e ela me encarou.
- Eu não achei que deixaria. - ela aliviou sua expressão e riu. - Vamos logo. - ela apertou o botão do elevador.
- Eu subo rapidinho, pode esperar aí. - ela sorriu, agradecida, e me entregou a bolsa.
- Vamos? - perguntei, fazendo-a acordar de um transe.
- Vamos!
Saímos do prédio e nos deparamos com uma multidão seguindo na mesma direção, a qual acompanhamos.
parecia extremamente animada. Ela sorria para todos os lados enquanto assoprava as próprias mãos, que havia coberto com luvas desde que pisamos fora de casa. Seguimos em silêncio junto com as pessoas que nos rodeavam, parecia que estávamos em meio a uma procissão, e esse pensamento me fizera rir, deixando curiosa.
- Não parece uma procissão? - perguntei e ouvi ela gargalhar em resposta.
- No próximo ano me lembre de trazer uma vela. - ela comentou, enquanto eu entregava nossos ingressos para a pessoa responsável, para que entrássemos na área mais próxima que agora tinha ingressos vendidos dois meses antes da data. Era possível ver a queima de fogos de qualquer lugar em volta, mas para diminuir o tumulto em torno do lugar, eles haviam tornado pago, para controle do número de pessoas e maior conforto. Ou melhor, menor desconforto pelo que as pessoas me contavam.
- Acredita que no próximo ano estaremos aqui? - perguntei, aproveitando sua escolha de palavras e fazendo-a corar e dar de ombros, sem me dar diretamente uma resposta. - Bom, eu espero que sim. - falei sincero. Ela assentiu, sorrindo de lado. - Sempre vou te lembrar disso, toda vez que puder.
- Você gosta tanto assim de ser romântico dessa forma?
- Eu sou romântico? Temos um romance aqui? - apontei para nós dois, me fazendo de desentendido.
- Argh. - ela resmungou, estapeando meu braço. – Sem graça. Falta muito? – ela perguntou, se referindo à meia-noite e eu assenti.
- Ainda são dez, vai ter que me aguentar mais um pouco.
- Seria muito ruim se eu sentasse aqui no chão?
- Morta! Não aguenta nem cinco minutos em pé.
- O jogador de futebol aqui é você, não eu. – ela me mostrou a língua e eu, sem pensar, a tomei em meus braços e a abracei.
- As vezes dá vontade de te apertar até você gritar, de tão fofa que você é com alguns gestos. – falei, rindo e soltando-a, vendo seu rosto corar e ela se encolher.
- O que vamos fazer em tanto tempo? – ela perguntou, mudando de assunto.
- Quer jogar verdade ou desafio de novo? – perguntei.
- Só se for pra te desafiar a pular no Tâmisa. Estamos no meio de uma multidão, menos, .
- Eu pularia. – dei de ombros e ela riu, mantendo um silêncio entre nós por um tempo, prestando atenção a nossa volta e todas as pessoas que estavam ali.
então puxara assunto com a mulher ao seu lado, que estava ali com o marido e a filha para ver os fogos. Ela se aproximara no momento em que a menina esbarrara em sua perna, fazendo-a cambalear para se manter em pé, então ela e a mãe em meio a desculpas, engataram uma conversa sobre filhos, logo dando sequência em diversos assuntos, aos quais me enturmei também.
- Sabe o que me pergunto? – falou, se aproximando de mim quando a família decidira procurar alguns amigos que os esperavam mais para frente. – Como as pessoas não te reconhecem? Ou reconhecem e não falam nada? Normalmente todo mundo se desespera por ver alguém famoso. E bom, não vi ninguém tirando fotos também. - ela riu.
- Ainda um pouco traumatizada? - ela assentiu. - Muita gente fica olhando, já vi pelo menos umas cinco pessoas aqui em volta me encarando. Muitas pessoas acompanham futebol, mas nem todas prestam realmente atenção nos rostos dos jogadores. O que é ótimo pra mim, confesso. Mas, por exemplo, o cara com quem a gente tava conversando, ele sabia, mas preferiu ficar quieto. Dava pra ver que ele queria falar algo. O que importa é que estamos em paz. - deixei meus ombros relaxarem e aproximei mais meu corpo do dela.
- Falta muito? - ela perguntou curiosa.
- Aparentemente nos distraímos bem, apenas mais meia hora até 2019. Não quer fazer uma revisão do seu ano?
- Não sei se tenho muito o que rever. Tô feliz com esse ano, as coisas parecem certas. A Bells está ótima, minha família está bem, a farmácia tá indo incrivelmente bem de uma forma que eu nem mesmo esperava...
- E ainda tem eu! - a cutuquei, fazendo-a rir. - Eu gostei bastante desse ano também. Minha família está bem, minha vida está ótima, o time tá indo bem demais!
- Isso é bom pra mim também, não sou um exemplo de torcedora, mas confesso que é mesmo meu preferido.
- Uma ótima confissão pra fazer pra um jogador dele. E tá ansiosa? Pra 2019? - riu e eu percebi que estava parecendo um primeiro encontro onde a pessoa está desesperada pra conversar e não quer ficar em silêncio. - Desculpa.
- Tá tudo bem. Eu gosto quando você fica tagarela assim, é engraçado. Só espero que seja tão bom quanto esse ano. E você?
- De diferente, só quero que isso continue. - falei sincero parecendo um disco arranhado com todas as vezes em que falava algo do tipo e encostou a cabeça em meu peito, tentando se esconder. Passei meus braços em volta de seu corpo e a grudei próxima a mim.
- Eu gosto demais de você, . - falei próximo ao ouvido dela.
- . - ela falou com tom de repreensão e se virou, ficando de frente para mim.
- Poxa, eu só tô sendo sincero. Eu não quero levar isso pro próximo ano sem nem ao menos você saber.
Ela sorriu e abaixou a cabeça, repetindo o gesto que a acompanhava em momentos que se sentia constrangida. Fiquei encarando-a e senti suas mãos se espalmarem em meu peito e seu corpo se aproximar do meu com um passo em meio aos gritos de contagem regressiva que podíamos ouvir mesmo de dentro da nossa própria bolha.
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- Eu sei, .
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- Você não precisa falar nada, eu só queria mesmo soltar isso.
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- Eu sou um peso nas suas costas pra você aliviar? – ela riu e eu dei um tapa em seu ombro.
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- De forma alguma. – falei, respirando fundo.
1
- Tá mais pra pessoa que fica insistentemente na minha cabeça desde que eu me aproximei.
Ouvimos diversos gritos e então os fogos explodiram pelo céu. Eu olhei para cima rapidamente e então abaixei meu olhar, encontrando com o de que me encarava. Juntei minhas mãos as dela e então juntos encaramos o início daquela queima de fogos, uma das mais bonitas ao redor do mundo. Diversos casais apaixonados em nossa volta se beijavam, crianças pulavam em volta dos pais e observavam atentamente o céu, admirados com a beleza daquela ocasião.
Tentei manter meus olhos no espetáculo, tentei manter minha cabeça no novo ano e em silêncio fazer promessas em relação a ele, mas naquele primeiro minuto do ano, junto a mulher em minha frente, eu não tinha olhos para mais nada. sorria para o céu, mas desviava os olhos envergonhados para mim a cada segundo, tornando o trabalho de admirá-la cada vez melhor.
- . - chamei-a e seus olhos focaram-se nos meus.
- Oi.
Em um ímpeto curvei meu corpo, coloquei minhas mãos em seu rosto gelado e aproximei meu rosto do seu, parando a centímetros antes de deixar com que nossos lábios se encontrassem. Ela tinha uma expressão suave, e um sorriso parecia querer se desenrolar, então quando notei que ela não repreendia minha ação, toquei suavemente sua boca com a minha em um selinho demorado. As mãos de foram para minha cintura em um abraço, e eu podia sentir seu corpo relaxado com nossa proximidade.
Era possível ouvir ao longe o som de gritaria das pessoas e os estouros que os fogos faziam ao chegar ao céu, mas eu não os via, e também não. Estávamos cercados apenas por nossas vontades e sentimentos bagunçados. Eu estava cercado por seus braços, e nada poderia ser mais quente naquela noite fria.
*Zona 02 = modo como é dividida Londres. As zonas 01 e 02 são as principais, onde ficam por exemplo, a London Eye e os principais pontos turísticos em torno dela e o Stamford Bridge, estádio do Chelsea.
Capítulo 07
“Fathers, be good to your daughters. Daughters will love like you do, girls become lovers who turn into mothers, so mothers be good to your daughters too” (Daughters - John Mayer)
Por
- ? Estamos chegando, está acordada? – ouvi a voz de Michael no telefone e tentei abrir meus olhos, mas não consegui.
- Agora estou.
- Tudo bem, cinco minutos e estamos aí. – grunhi algo em resposta e joguei o celular ao meu lado na cama.
Abri os olhos e encarei o teto branco do quarto, tentando acordar. Puxei meu celular novamente e liguei a internet, colocando-o no modo para vibrar, já que odiava o toque de notificações. Quando as notificações de Facebook e e-mail pararam de chegar, pude ver logo cedo uma mensagem de , dizendo bom dia. Abri a conversa e o respondi, vendo que a mensagem era de uma hora atrás e eu não sabia o porquê ele teria acordado tão cedo.
Me levantei e fui para o banheiro, aproveitando os poucos segundos que tinha para ao menos escovar meus dentes e vestir algo mais decente que meu pijama, coloquei uma blusa de manga comprida e minha calça jeans e sai do quarto, calçando meus chinelos que estavam na porta.
Liguei a torradeira e coloquei o pão, pensando em já deixar tudo pronto e quente para Bells quando chegasse. Eram oito horas, e Michael entraria no trabalho às nove, então preparei também algo para ele. Ouvi a campainha tocar e rapidamente andei até eles, abrindo a porta.
- Mamãe! – Bells gritou, abraçando minhas pernas.
- Oi, meu anjo! Você está bem? Que animação pra quem viajou de madrugada, huh? – eu ri, puxando-a para meu colo e apertando-a em meus braços. – Olá, Michael. – sorri, cumprimentando-o com um aceno de cabeça. – Estou fazendo café da manhã, vem. – chamei e ele sorriu, agradecido.
- Amo essas torradas, e sua geleia sempre vai ser a melhor. – o homem se pronunciou ao colocar o primeiro pedaço na boca. Sorri, envergonhada.
- Tudo que a mamãe faz é ótimo. – minha filha puxou meu saco, como sempre, nos fazendo rir.
- E a comida da vovó estava boa esses dias?
- Incrível, mamãe! E o papai cozinhou pra mim também. – franzi as sobrancelhas, encarando Mike, que deu de ombros.
- Novos dotes culinários? – brinquei.
- Achei que seria legal. – ele sorriu, dando um gole em seu café. – Um dia cozinho pra você. – ele piscou, me fazendo derramar um pouco do leite que estava em meu copo. – Bom, preciso trabalhar. Obrigada, . – ele riu e se abaixou, depositando um beijo em minha bochecha. – Tchau, meu amor. – ele beijou a cabeça de Bells e acenou para nós duas, enquanto caminhava até a porta, fechando-a ao sair.
: Não estava conseguindo dormir, então levantei e fui correr um pouco.
: Preocupado com o jogo? O Southampton não vai ser nada pra vocês, tenho certeza. :D
: Adoro saber que você acompanha. <3
: Acompanhava bem menos, agora fico sem opção, não?
: Um pouquinho. E a Bells? Voltou?
: Sim! Chegaram aqui cedo, Michael tinha que trabalhar. Ele estava bem estranho.
: Estranho como?
: Não sei, depois te conto. Preciso arrumar as coisas da Bells.
: Fala pra ela que eu mandei um beijo, tá?
: Falo sim! Logo ela tá perguntando de você.
🎵
- Quer sair pra comer, meu amor? – perguntei a Bells, que estava jogada no sofá ao meu lado. Ela assentiu, pulando do lugar.
- Onde?
- Onde você quer? – perguntei, sabendo a resposta.
- Vamos ao shopping. – a menina sorriu, mostrando todos os dentes possíveis.
- Vai lá escolher sua roupa. Tá muito frio, senhorita, não se esqueça. – adverti, sabendo da propensão da minha filha em escolher um vestido para usar nos dias mais frios e nós brigarmos loucamente até ela mudar.
- Tá bom, mamãe. – ela rolou os olhos e correu para o quarto, enquanto eu também caminhava até o meu.
Coloquei uma calça jeans, diversas blusas quentinhas junto a um moletom e calcei minhas meias e minha bota.
- Bells, tá pronta? – perguntei, saindo do quarto.
- Tô. – ela saiu também de seu quarto, vestindo uma roupa extremamente decente para o frio, o que me fez rir. Meu bebê estava crescendo.
- Então vamos. – me abaixei em sua frente e passei as mãos em seus cabelos, ajeitando-os.
🎵
- Mamãe, olha o papai! – Bells gritou, chamando a atenção de Michael que estava alguns metros a frente com seus amigos do trabalho.
- Ei, filha! – o homem se abaixou, deixando com que Bells pulasse em seu colo. – Que coincidência, não? – ele riu, me encarando.
- Mudou seu horário de almoço? – perguntei, me aproximando e cumprimentando seus colegas com um aceno de cabeça. Ele assentiu, sorrindo.
- Acabei de sair, estão indo comer? – Bells confirmou. – Posso me juntar a vocês?
- Eba! – Bells comemorou.
- Claro!
Michael agradeceu, sorrindo. Ele conversou rapidamente com os amigos que o acompanhavam e então seguimos em direção diferente deles, caminhando lentamente e tentando segurar para que nossa filha não tentasse entrar em todas as lojas, curiosa.
- Onde vão? - Mike perguntou.
- No restaurante que tem o mini hambúrguer que a Bells ama. - falei, apontando. Isabelle então soltou minha mão e correu até o local, pulando animada em frente à recepcionista.
- Três. - ouvi Bells falar para a simpática moça que sorriu para ela, lhe mostrando o caminho. - Mesa com banco legal, por favor. - ela disse, se sentindo incrivelmente adulta. Sorri para a moça e balancei a cabeça, tentando me desculpar silenciosamente.
- É sempre assim? - Michael questionou, rindo.
- Quando comemos aqui? Sim! - eu ri, vendo Bells se sentar no canto do banco, chamando o pai para sentar ao seu lado. A fitei de sobrancelhas arqueadas e ela sorriu, culpada. Me sentei então de frente a ela, recebendo um sorriso amarelo de Mike, que tentava não rir.
- Como vão as coisas no trabalho? - perguntei, tentando puxar assunto enquanto ele encarava o cardápio. - Esse é ótimo. - apontei, lhe indicando meu prato preferido.
- Esse prato grita “”. - ele riu. - As coisas vão bem, estou pra fechar um projeto ótimo. - ele deu de ombros. - Inclusive, se tudo der certo, Bells vai ter a melhor festa de aniversário do mundo. - ele cutucou a filha, fazendo cócegas em sua barriga.
- Falta muito, papai? - ela perguntou, com os olhos brilhando.
- Um pouco mais de um mês, meu anjo.
- E minha festa pode ter tema, papai? Igual aquele da Ladybug?
- Claro! É só escolher, filha! - respondi e vi Mike concordar prontamente.
- Vou começar a pensar então.
- Isso ai! Já começa a pensar, que a gente começa a preparar.
Sorri para ele, que me retribuiu animado, logo abaixando seus olhos para o cardápio novamente e começando a comentar sobre os diversos pratos dali.
- Vamos? - perguntei quando vi Bells terminar sua última batata-frita e o garçom me entregava meu cartão, interrompendo minha conversa com Michael sobre o andamento da farmácia, a qual ele me ajudara muito na decisão de investir.
- Vamos. - ela pulou por cima do pai, se colocando ao meu lado e me puxando da mesa. - Sorvete? - ela sorriu, descarada.
- Quem não te conhece que te compre, dona Isabelle. - puxei levemente uma mecha de seu cabelo, brincando.
Saímos do restaurante, caminhando pelo corredor em direção a sorveteria. Bells como sempre encarava todas as lojas, comentando sobre a roupa que via em uma, ou o belo colar que tinha em outra. Passamos por uma joalheria e então notei a marca da pulseira que eu carregava em meu pulso, curiosa em olhar a vitrine, passei o mais rápido possível para não me arrepender.
- Chocolate? - minha filha assentiu, grudando na vitrine de uma loja de esportes e chamando o pai insistentemente. Paguei pela sobremesa e a peguei, andando até eles enquanto Bells pulava animada.
- Papai! Eu já sei qual vai ser o tema da minha festa. - a garota saltitava ao meu redor, antes de tomar seu sorvete de minha mão. - Eu quero que seja tudo azul, com bastante coisa do Chelsea, e eu quero usar minha camisa. - Mike a encarou, rindo assim como eu. Antes que ele pudesse concordar, Bells se virou em minha direção. - E o vai, né mamãe? - vi o sorriso de Michael se desmanchar, enquanto o de Bells se tornava cada vez maior. Encarei meu ex-marido, que passou a fitar o chão, sem graça.
- Bom, acredito que sua mãe pode falar com ele. – Michael falou, quebrando a situação constrangedora que se instalara ali. Assenti para Bells, que abraçou minhas pernas e as do pai.
- Obrigada. – ela gritou sincera, me fazendo sorrir amarelo para Michael, que parecia incomodado.
: A Bells acabou de me proporcionar aquele momento “onde eu vou enfiar minha cara” clássico de filho. E o pior? Por sua culpa, .
Mandei a mensagem quando entrei no carro, pronta para voltar para casa. Sabia que ele não responderia naquele momento, mas eu realmente precisava contar para ele quando fosse possível.
- Mãe. – Bells chamou e eu a encarei pelo retrovisor. – Tô animada. A gente pode contar pro ?
- Ele está se preparando pro jogo, mas depois podemos sim. – eu falei, rindo. – Aí, Bells, você é demais. – ela sorriu sem entender e se aconchegou na janela, eu sabia que ela dormiria até chegarmos em casa, mesmo não sendo longe. Então liguei o rádio e logo estava em meio ao trânsito.
🎵
Senti meu celular vibrar e olhei para o horário, considerando que deveria ser agora que o jogo já chegava ao seu fim.
Michael: Oi, . Consegui fechar o projeto.
: Que incrível, Mike. Parabéns!
Michael: Depois podemos comemorar e começar a organizar o aniversário da Bells, não acha?
: 🙂
Michael não me mandava uma mensagem há séculos, e eu não sabia o que tinha causado uma aproximação tão repentina ao longo de todo aquele dia, desde cedo. Apesar de ter uma pequena suspeita. Joguei meu celular longe e tentei afastar essa situação para longe da mente, pois me sentia um tanto quanto envergonhada. Peguei o celular novamente e abri a conversa de , vendo que ele estava online, mas ainda não respondera minha mensagem. Desliguei o som do celular e peguei uma Bells adormecida no sofá, levei-a até minha cama e me preparei para dormir também. Ela ficaria feliz em acordar com a mãe, e eu queria companhia naquele momento, nada melhor que meu bebê. Beijei sua testa e me ajeitei ao seu lado.
🎵
Acordei Bells delicadamente e a lembrei que hoje suas aulas voltavam, então ela teria que levantar logo. Ela piscou diversas vezes e olhou em volta, notando que não estava no próprio quarto. Ouvi seu grunhido de reprovação e ela me abraçou, se aconchegando ao meu corpo com um sorriso discreto nos lábios.
- Bom dia, meu anjo. – beijei seus cabelos.
- Bom dia, mamãe. – ela beijou minha bochecha, carinhosa como sempre.
- Preparada para aula? – ela negou, fazendo bico. – Vamos logo, senão vamos nos atrasar.
Terminei de arrumar Bells em pouco tempo, enquanto cuidava também de seu café da manhã e sua lancheira. Ela se sentou com a maior cara de sono para comer e apenas beliscou sua comida, me fazendo brigar com ela, pois a garota sabia que deveria comer, sua próxima refeição demoraria um tempo.
- Então vamos, senhorita irritante. – rolei os olhos e ela se levantou, pegando suas coisas e correndo em direção a porta, quando ouvimos a campainha tocar. Não imaginava quem poderia estar ali naquele horário, então me assustei. Bells virou a chave, levando um olhar completamente irritado meu. Me aproximei e girei a maçaneta, encontrando encostado na parede do outro lado com um sorriso.
- Oi! Estão de saída?
Por
- ? Estamos chegando, está acordada? – ouvi a voz de Michael no telefone e tentei abrir meus olhos, mas não consegui.
- Agora estou.
- Tudo bem, cinco minutos e estamos aí. – grunhi algo em resposta e joguei o celular ao meu lado na cama.
Abri os olhos e encarei o teto branco do quarto, tentando acordar. Puxei meu celular novamente e liguei a internet, colocando-o no modo para vibrar, já que odiava o toque de notificações. Quando as notificações de Facebook e e-mail pararam de chegar, pude ver logo cedo uma mensagem de , dizendo bom dia. Abri a conversa e o respondi, vendo que a mensagem era de uma hora atrás e eu não sabia o porquê ele teria acordado tão cedo.
Me levantei e fui para o banheiro, aproveitando os poucos segundos que tinha para ao menos escovar meus dentes e vestir algo mais decente que meu pijama, coloquei uma blusa de manga comprida e minha calça jeans e sai do quarto, calçando meus chinelos que estavam na porta.
Liguei a torradeira e coloquei o pão, pensando em já deixar tudo pronto e quente para Bells quando chegasse. Eram oito horas, e Michael entraria no trabalho às nove, então preparei também algo para ele. Ouvi a campainha tocar e rapidamente andei até eles, abrindo a porta.
- Mamãe! – Bells gritou, abraçando minhas pernas.
- Oi, meu anjo! Você está bem? Que animação pra quem viajou de madrugada, huh? – eu ri, puxando-a para meu colo e apertando-a em meus braços. – Olá, Michael. – sorri, cumprimentando-o com um aceno de cabeça. – Estou fazendo café da manhã, vem. – chamei e ele sorriu, agradecido.
- Amo essas torradas, e sua geleia sempre vai ser a melhor. – o homem se pronunciou ao colocar o primeiro pedaço na boca. Sorri, envergonhada.
- Tudo que a mamãe faz é ótimo. – minha filha puxou meu saco, como sempre, nos fazendo rir.
- E a comida da vovó estava boa esses dias?
- Incrível, mamãe! E o papai cozinhou pra mim também. – franzi as sobrancelhas, encarando Mike, que deu de ombros.
- Novos dotes culinários? – brinquei.
- Achei que seria legal. – ele sorriu, dando um gole em seu café. – Um dia cozinho pra você. – ele piscou, me fazendo derramar um pouco do leite que estava em meu copo. – Bom, preciso trabalhar. Obrigada, . – ele riu e se abaixou, depositando um beijo em minha bochecha. – Tchau, meu amor. – ele beijou a cabeça de Bells e acenou para nós duas, enquanto caminhava até a porta, fechando-a ao sair.
: Não estava conseguindo dormir, então levantei e fui correr um pouco.
: Preocupado com o jogo? O Southampton não vai ser nada pra vocês, tenho certeza. :D
: Adoro saber que você acompanha. <3
: Acompanhava bem menos, agora fico sem opção, não?
: Um pouquinho. E a Bells? Voltou?
: Sim! Chegaram aqui cedo, Michael tinha que trabalhar. Ele estava bem estranho.
: Estranho como?
: Não sei, depois te conto. Preciso arrumar as coisas da Bells.
: Fala pra ela que eu mandei um beijo, tá?
: Falo sim! Logo ela tá perguntando de você.
- Onde?
- Onde você quer? – perguntei, sabendo a resposta.
- Vamos ao shopping. – a menina sorriu, mostrando todos os dentes possíveis.
- Vai lá escolher sua roupa. Tá muito frio, senhorita, não se esqueça. – adverti, sabendo da propensão da minha filha em escolher um vestido para usar nos dias mais frios e nós brigarmos loucamente até ela mudar.
- Tá bom, mamãe. – ela rolou os olhos e correu para o quarto, enquanto eu também caminhava até o meu.
Coloquei uma calça jeans, diversas blusas quentinhas junto a um moletom e calcei minhas meias e minha bota.
- Bells, tá pronta? – perguntei, saindo do quarto.
- Tô. – ela saiu também de seu quarto, vestindo uma roupa extremamente decente para o frio, o que me fez rir. Meu bebê estava crescendo.
- Então vamos. – me abaixei em sua frente e passei as mãos em seus cabelos, ajeitando-os.
- Ei, filha! – o homem se abaixou, deixando com que Bells pulasse em seu colo. – Que coincidência, não? – ele riu, me encarando.
- Mudou seu horário de almoço? – perguntei, me aproximando e cumprimentando seus colegas com um aceno de cabeça. Ele assentiu, sorrindo.
- Acabei de sair, estão indo comer? – Bells confirmou. – Posso me juntar a vocês?
- Eba! – Bells comemorou.
- Claro!
Michael agradeceu, sorrindo. Ele conversou rapidamente com os amigos que o acompanhavam e então seguimos em direção diferente deles, caminhando lentamente e tentando segurar para que nossa filha não tentasse entrar em todas as lojas, curiosa.
- Onde vão? - Mike perguntou.
- No restaurante que tem o mini hambúrguer que a Bells ama. - falei, apontando. Isabelle então soltou minha mão e correu até o local, pulando animada em frente à recepcionista.
- Três. - ouvi Bells falar para a simpática moça que sorriu para ela, lhe mostrando o caminho. - Mesa com banco legal, por favor. - ela disse, se sentindo incrivelmente adulta. Sorri para a moça e balancei a cabeça, tentando me desculpar silenciosamente.
- É sempre assim? - Michael questionou, rindo.
- Quando comemos aqui? Sim! - eu ri, vendo Bells se sentar no canto do banco, chamando o pai para sentar ao seu lado. A fitei de sobrancelhas arqueadas e ela sorriu, culpada. Me sentei então de frente a ela, recebendo um sorriso amarelo de Mike, que tentava não rir.
- Como vão as coisas no trabalho? - perguntei, tentando puxar assunto enquanto ele encarava o cardápio. - Esse é ótimo. - apontei, lhe indicando meu prato preferido.
- Esse prato grita “”. - ele riu. - As coisas vão bem, estou pra fechar um projeto ótimo. - ele deu de ombros. - Inclusive, se tudo der certo, Bells vai ter a melhor festa de aniversário do mundo. - ele cutucou a filha, fazendo cócegas em sua barriga.
- Falta muito, papai? - ela perguntou, com os olhos brilhando.
- Um pouco mais de um mês, meu anjo.
- E minha festa pode ter tema, papai? Igual aquele da Ladybug?
- Claro! É só escolher, filha! - respondi e vi Mike concordar prontamente.
- Vou começar a pensar então.
- Isso ai! Já começa a pensar, que a gente começa a preparar.
Sorri para ele, que me retribuiu animado, logo abaixando seus olhos para o cardápio novamente e começando a comentar sobre os diversos pratos dali.
- Vamos? - perguntei quando vi Bells terminar sua última batata-frita e o garçom me entregava meu cartão, interrompendo minha conversa com Michael sobre o andamento da farmácia, a qual ele me ajudara muito na decisão de investir.
- Vamos. - ela pulou por cima do pai, se colocando ao meu lado e me puxando da mesa. - Sorvete? - ela sorriu, descarada.
- Quem não te conhece que te compre, dona Isabelle. - puxei levemente uma mecha de seu cabelo, brincando.
Saímos do restaurante, caminhando pelo corredor em direção a sorveteria. Bells como sempre encarava todas as lojas, comentando sobre a roupa que via em uma, ou o belo colar que tinha em outra. Passamos por uma joalheria e então notei a marca da pulseira que eu carregava em meu pulso, curiosa em olhar a vitrine, passei o mais rápido possível para não me arrepender.
- Chocolate? - minha filha assentiu, grudando na vitrine de uma loja de esportes e chamando o pai insistentemente. Paguei pela sobremesa e a peguei, andando até eles enquanto Bells pulava animada.
- Papai! Eu já sei qual vai ser o tema da minha festa. - a garota saltitava ao meu redor, antes de tomar seu sorvete de minha mão. - Eu quero que seja tudo azul, com bastante coisa do Chelsea, e eu quero usar minha camisa. - Mike a encarou, rindo assim como eu. Antes que ele pudesse concordar, Bells se virou em minha direção. - E o vai, né mamãe? - vi o sorriso de Michael se desmanchar, enquanto o de Bells se tornava cada vez maior. Encarei meu ex-marido, que passou a fitar o chão, sem graça.
- Bom, acredito que sua mãe pode falar com ele. – Michael falou, quebrando a situação constrangedora que se instalara ali. Assenti para Bells, que abraçou minhas pernas e as do pai.
- Obrigada. – ela gritou sincera, me fazendo sorrir amarelo para Michael, que parecia incomodado.
: A Bells acabou de me proporcionar aquele momento “onde eu vou enfiar minha cara” clássico de filho. E o pior? Por sua culpa, .
Mandei a mensagem quando entrei no carro, pronta para voltar para casa. Sabia que ele não responderia naquele momento, mas eu realmente precisava contar para ele quando fosse possível.
- Mãe. – Bells chamou e eu a encarei pelo retrovisor. – Tô animada. A gente pode contar pro ?
- Ele está se preparando pro jogo, mas depois podemos sim. – eu falei, rindo. – Aí, Bells, você é demais. – ela sorriu sem entender e se aconchegou na janela, eu sabia que ela dormiria até chegarmos em casa, mesmo não sendo longe. Então liguei o rádio e logo estava em meio ao trânsito.
Michael: Oi, . Consegui fechar o projeto.
: Que incrível, Mike. Parabéns!
Michael: Depois podemos comemorar e começar a organizar o aniversário da Bells, não acha?
: 🙂
Michael não me mandava uma mensagem há séculos, e eu não sabia o que tinha causado uma aproximação tão repentina ao longo de todo aquele dia, desde cedo. Apesar de ter uma pequena suspeita. Joguei meu celular longe e tentei afastar essa situação para longe da mente, pois me sentia um tanto quanto envergonhada. Peguei o celular novamente e abri a conversa de , vendo que ele estava online, mas ainda não respondera minha mensagem. Desliguei o som do celular e peguei uma Bells adormecida no sofá, levei-a até minha cama e me preparei para dormir também. Ela ficaria feliz em acordar com a mãe, e eu queria companhia naquele momento, nada melhor que meu bebê. Beijei sua testa e me ajeitei ao seu lado.
- Bom dia, meu anjo. – beijei seus cabelos.
- Bom dia, mamãe. – ela beijou minha bochecha, carinhosa como sempre.
- Preparada para aula? – ela negou, fazendo bico. – Vamos logo, senão vamos nos atrasar.
Terminei de arrumar Bells em pouco tempo, enquanto cuidava também de seu café da manhã e sua lancheira. Ela se sentou com a maior cara de sono para comer e apenas beliscou sua comida, me fazendo brigar com ela, pois a garota sabia que deveria comer, sua próxima refeição demoraria um tempo.
- Então vamos, senhorita irritante. – rolei os olhos e ela se levantou, pegando suas coisas e correndo em direção a porta, quando ouvimos a campainha tocar. Não imaginava quem poderia estar ali naquele horário, então me assustei. Bells virou a chave, levando um olhar completamente irritado meu. Me aproximei e girei a maçaneta, encontrando encostado na parede do outro lado com um sorriso.
- Oi! Estão de saída?
Capítulo 08
“Never thought I'd take you serious now I need you, not a moment later, losin' it, I'm so delirious. And I'ma put up a fight for it, never give up a love like this [...] You ain't gotta make your mind up right now, I'll be waiting for you, don't rush, no pressure.” (No Pressure – Justin Bieber)
Por
Encarei as coisas que as duas seguravam e deixei a passagem para elas livre, percebendo que elas sairiam.
- ! – Bells gritou e se agarrou em minhas pernas.
- Oi. – abracei Bells e logo me aproximei de que abaixou a cabeça, tentando esconder o rosto, rindo da felicidade da filha. Ri nasaladamente e beijei seus cabelos.
- Oi. – ela disse. – Vou levar a Bells na escola e volto para casa. Quer me acompanhar? – assenti, pegando a mochila de Bells de sua mão e caminhando até meu carro com a pequena, enquanto trancava a porta e andava até nós. – Eu ia com o meu. – ela deu de ombros.
- O meu já tá fácil aqui. – falei e ela concordou, entrando no banco de trás com a filha.
- Como foi o jogo? – ela perguntou, colocando o cinto em Bells e me encarando pelo retrovisor.
- Tirando o empate e o chute absurdo que tomei na canela? Foi ótimo. – falei com raiva. – Fiquei com uma vontade absurda de socar o cara, mas não ia prejudicar o time.
- Ainda bem que você tem noção, né? – ela rolou os olhos e riu.
- Só as vezes. – mostrei a língua. – E você e a Bells? Qual a novidade? – perguntei, me lembrando de sua mensagem.
- Depois. – assenti.
- Tio... Você vai me deixar na escola hoje? – Bells perguntou, vendo o caminho que fazíamos conforme dava as direções.
- Vou sim, pequena! Gostou? – arrumei o retrovisor de forma que conseguisse vê-la também. A garota assentiu com um sorriso no rosto.
- Mas eu preferia ir para o parque. – riu ao ver o bico que a filha fizera.
- Mas você precisa estudar, não acha? Pra crescer e ficar linda e inteligente como a mamãe. – ela assentiu mais uma vez. – O que você mais gosta de estudar? – perguntei, puxando um assunto para matar tempo até chegarmos lá.
Durante todo o caminho, que não era longo, conversei com Bells e observei uma mais calada. Ela encarava a janela, parecendo muito interessada no tempo lá fora. Tentei colocá-la no assunto, mas ela respondia com curtas respostas, não deixando para trás os prováveis pensamentos que rondavam sua mente.
- Ah, já chegou. – Bells comentou, desanimada.
- Sim, senhorita! Está entregue. Lembra do que falei, estudar muito pra ficar linda e inteligente como a mamãe. – pisquei para ela e estiquei a mão para trás, para fazermos um toque. Bells sorriu e tirou seu cinto quando apareceu pela porta do outro lado para tirá-la do carro.
- Tchau, tio. – ela acenou, fechando a porta. Acenei para ela, logo saindo com o carro e estacionando alguns metros para frente para esperar .
abriu a porta do passageiro e sentou-se, batendo-a logo em seguida. Ela inclinou seu corpo e puxou o cinto de segurança, travando-o.
- Ei, tá tudo bem? – perguntei, encostando minha mão levemente na dela, que estava em sua coxa. balançou a cabeça, parecendo ponderar o que responder, e então tirou sua mão debaixo da minha, fingindo que iria arrumar o cinto novamente. – Nossa, . – eu ri nasaladamente, prestando atenção no caminho a minha frente quando sai do lugar.
- Desculpa. – ela respirou fundo.
- Achei que as coisas estariam um pouco melhores. – eu sorri, me lembrando do ano novo. Ela balançou a cabeça em negação e notei também que ela havia ficado envergonhada.
- , eu não quero falar disso...
- Desculpa, eu achei que estava tudo bem.
- Está, mas ainda não sei o que pensar. – ela sorriu, discreta.
- Pensa em mim. – dei de ombros e ela riu, me dando um tapa no braço.
- Eu penso, então eu mando mensagem e você fica online e não me responde. – ela cuspiu as palavras, rapidamente.
- Ah, então é por isso que a senhorita está agressiva? – a encarei, parando o carro em um semáforo.
- Não estou agressiva. – falou, na defensiva.
- Eu que estou, não? – ela fez bico, virando seu rosto para fora. – Eu saí com o pessoal...
- Você não me deve satisfações, . – ela me encarou, indignada. – Nem sei porquê falei isso, na verdade, foi bobo da minha parte, não sou assim.
- Decide o que você quer, mulher! – eu gargalhei. – Eu sumo, você reclama. Eu tento explicar o motivo, você também reclama. Fica difícil, não? – ela deixou todo o ar sair de seus pulmões, bufando. – Eu vi sua mensagem, saímos tarde de lá e invés de voltar pra casa, fui para a sua e fiquei esperando dar o horário que você acordaria. – dei de ombros e ela me encarou mais uma vez, com a mesma expressão de indignação.
- !
- Pra você ver como eu apenas queria falar com você. Eu demorei pra melhorar e realmente conseguir ler a mensagem. Guardei o celular e pensei “tô meio tonto, vai que acabo pedindo ela em casamento. Ela não vai aceitar, ainda, e eu vou ficar mal.” – ela gargalhou e estapeou meu braço novamente. Estacionei o carro em frente sua casa. Desci do mesmo e caminhei até seu lado, pois ela já havia descido também e caminhava em direção a porta. A vi parando para me esperar e senti seus braços passarem por minha cintura, em um quase abraço. – Agora você vai me contar o que tinha pra contar? – ela assentiu, rindo.
- Quer de que parte?
- Michael.
- Tudo é sobre ele. – ela riu e eu levantei uma sobrancelha, fazendo-a balançar a cabeça em negação. – Ele chegou aqui com a Bells cedo e simplesmente veio todo simpático e cheio de elogios. A Bells elogiou que ele havia cozinhado para ela, e ele disse que faria pra mim também.
- O quê? – questionei, desencostando do sofá e apoiando meus braços em minhas pernas.
- Pois é. Foi muito estranho, . Aí vem o pior, fui levar a Bells no shopping para comer no lugar que ela gosta e no caminho até o restaurante ele apareceu, estava no horário de almoço.
- Foi almoçar com vocês, imagino eu. – ela assentiu e eu fiz cara de nojo, fazendo-a rir.
- Eu te falei que as coisas não acabaram tão mal, por mim estava okay, apesar de eu ter achado o comportamento dele esquisito. Fomos até lá, e ele contou do trabalho dele e que estava para fechar um projeto grande e que usaria todo o dinheiro para uma festa pra Bells. Falta pouco para o aniversário dela. – ela adicionou. – Então ele falou para ela ir pensando no tema, no que queria e tudo mais. Agora vamos ao pior. – ela suspirou, tentando segurar a risada. – Quando saímos de lá, ele estava super animado e eu fui comprar sorvete para Bells enquanto ele ia olhar algumas vitrines com ela, porque ela adora. Eis que eu encontro eles e ela está pulando de animação enquanto ele a encara. “Mãe. – ela fez aspas com as mãos. – Minha festa pode ser do Chelsea, né?” Ela apontou para a camisa que estava na loja e tudo. Antes que o Michael ao menos pudesse pensar em qualquer coisa, ela adicionou um “E o pode ir, né?”. Eu estou até agora rindo da expressão dele, . Eu não sabia onde me enfiar. – eu gargalhei, me lembrando de comprar um presente maravilhoso para Bells por ela ter me dado esse presente! – Então Michael soltou um “Acredito que sua mãe pode falar com ele.”
- Se a Bells não é a melhor criança que eu já conheci, não sei quem é.
- Não comece a se achar, senhor. Ah, e depois ele ainda me mandou uma mensagem dizendo que fechou com o cliente e que podíamos comemorar e começar a preparar as coisas. – fiz cara de nojo e riu.
- Eu acho que ele ainda não entendeu aquela parte de “ex”, não? – rolei os olhos e deu de ombros. – Ele só não consegue se conformar que você seguiu em frente. – soltei, tentando ser o mais direto possível. arregalou os olhos e torceu o nariz.
- ...
- Relaxa. – sorri, apertando sua mão que estava próxima a minha. – É só uma brincadeirinha. – me aproximei de seu rosto, beijando sua bochecha. – Por enquanto, pelo menos. – sorri, me afastando e notando que seu corpo se retraíra com a proximidade. – Enfim. – falei, quebrando o momento de vergonha de , que estava um tanto quanto vermelha. – Posso ajudar também? Acredito que me dou bem com esse tema. – dei de ombros, sendo irônico.
- Ah, eu acho que você combinaria mais com Manchester United, não sei... – ela riu, brincando. – Você iria? – perguntou, curiosa.
- É claro, ! – respondi, em tom de obviedade.
- Ah, . Não sei. Convidados, pessoas estranhas, um monte de gente que você não conhece. Não sei como isso funciona para você.
- , enfia na sua cabecinha que sou uma pessoa normal. Por sinal, sabia que eu tenho família? E nasci da barriga da minha mãe? Absurdo, não? – ela gargalhou, estapeando meu ombro.
- ! Você entendeu, poxa.
- Você, por algum acaso, se fosse qualquer outro tema e ela não pedisse assim... Deixaria de me convidar?
- Não, é que... – ela pareceu ponderar. – Sei lá. Você vai conhecer minha família. Junto com a do meu ex-marido. – ela riu, nervosa.
- Não tinha pensado por esse lado. – dei de ombros, e logo me ajeitei, aproximando meu corpo novamente do dela. – Mas, se você pensou, quer dizer que anda pensando demais e está incomodada com esse fato. – sorri, aproximando nossos rostos.
- ... – ela sorriu, mais uma vez envergonhada.
- Eu sei, um tempo. – repeti o que ela dissera na manhã de ano novo, quando a levei embora depois de passarmos a noite jogando conversa fora e trocando carinhos inocentes. – Dois dias é um tempo, não?
- Tá ansioso? – ela perguntou, sustentando seu olhar no meu. Assenti, pegando-a de surpresa ao invés de entrar na brincadeira. Encostei meus lábios rapidamente nos seus, pegando-a de surpresa novamente e vendo um sorriso brotar em seus lábios em seguida. – Você é difícil, .
- Não, . Você é difícil. – eu ri, me afastando dela. – Queria falar com a Bells sobre a festa. Se importaria se eu cochilasse no seu sofá e fosse com você buscar ela depois, senhorita?
- Está propondo passar o dia aqui comigo? – ela perguntou, de sobrancelhas arqueadas.
- Bom, se você quiser sair e me deixar aqui, não vou me importar também. Mas, se quiser dormir de conchinha, vou adorar. – ela jogou uma almofada em minha direção, se levantando.
- Vou fazer minhas coisas, vai dormir. Se quiser usar minha cama, sabe onde fica. – ela pareceu repensar e riu em seguida. – Isso soou estranho, mas tudo bem.
Puxei-a para o sofá novamente, deitando-a no móvel e jogando meu corpo por cima. Enchi seu rosto de beijos e me levantei, deixando que uma completamente vermelha se levantasse também e seguisse seu caminho até a cozinha.
- Boa noite, . – ela mostrou a língua, brincalhona, enquanto eu me encostava de forma confortável em seu sofá. – Ei, quarto! Eu vou assistir tv. – rolei os olhos e me levantei, mandando beijo para ela e me arrastando até o quarto. – Ô amigo folgado e esquisito que eu fui arrumar. Intimidade é uma droga. – Sem nem me virar mostrei o dedo do meio para ela e entrei no quarto, me jogando na cama e considerando como eu conseguiria dormir ali, em meio ao cheiro dela que estava, obviamente, por todo lado. Ah, . Abracei um travesseiro e fechei os olhos.
- . Quer comer? – abri os olhos e me virei lentamente, vendo sentada na ponta da cama. Sorri para ela e num movimento rápido a puxei, deitando-a ao meu lado e a segurando entre meus braços. – Ei! – ela riu, sem nem mesmo tentar se soltar.
- Deu vontade. – sorri para ela, soltando-a e me ajeitando ao seu lado. Apoiei minha cabeça em meu braço e comecei a mexer em seus cabelos, encarando seus olhos. Ela assentiu, com um sorriso no rosto. – Tão linda. – vi suas bochechas tomarem um tom rosado e ela virou seu corpo de bruços, escondendo o rosto no travesseiro.
- Você me deixa com vergonha. – sua risada foi abafada pelo travesseiro, mas ainda era perceptível.
- , não é por nada, mas vou aproveitar que você já está e dizer que minha vista daqui está sensacional. – apoiei a mão na base de suas costas e apertei levemente, brincando. – Que bunda, senhoras e senhores. – falei mais alto, como se anunciasse em um microfone e ela se virou novamente, gargalhando.
- Ah! – ela suspirou, beijando minha bochecha. Fiz bico e me surpreendi quando senti seus lábios tocarem os meus de forma rápida. Arregalei os olhos, como se a questionasse, e ela sorriu sincera, dando de ombros e se levantando para deixar o quarto logo em seguida. Suspirei e joguei meu corpo para trás, caindo na cama novamente e tentando entender aquela mulher. Eu estava ficando louco. – Vamos! – ela apareceu na porta e gritou, me fazendo sair de meus pensamentos e segui-la até a sala.
- O que você quer, ser humano? – falei, me jogando no sofá.
- Aí, , você tá morto? Só quer ficar encostado.
- Quero que o mundo acabe em barranco, pra morrer deitado. – resmunguei, fazendo-a rir.
- Eu tenho fome.
- Você quer sair? Por isso tá em pé? – ela assentiu e eu coloquei meus tênis que estavam próximos ao sofá. – Vamos, vai.
- A gente come, enrola um pouco e já dá o horário de buscar a Bells. – assenti, olhando o horário. – Vamos.
🎵
- E aí, pequena! – estendi a mão para um hi-5 de Bells, que entrava no banco de trás com .
- , você veio me buscar! – ela gritou, feliz.
- É claro! Sua mãe e eu precisávamos conversar. – pisquei para , que riu. – Ela precisava me fazer um convite... Mas, acho que seria legal ouvir da aniversariante. – virei meu olhar para o teto do carro, me fazendo de desentendido.
- A mamãe te falou? Você vai né, ? Na minha festa de aniversário. – perguntou, animada.
- Será uma honra!
- Eu quero tudo azul, e com bastante coisa, e mamãe, tem que ter brigadeiros, porque eles tem formato de bola.
- O quê? – perguntei, sem entender o que ela queria com formato de bolas. gargalhou da minha expressão perdida.
- Brigadeiro, . Doce brasileiro, é de chocolate e muito comum em festas infantis. Gosto de manter pra Bells algumas tradições que eu tive. – ela deu de ombros, parecendo nostálgica. – E minha mãe também adora, você verá, nossos aniversários sempre são bem legais.
- Estão me deixando ansioso. – falei, arrancando com um carro após ouvir a buzina do veículo de trás.
- Falta muito, mãe?
- Ah, Bells. Você não vai começar a perguntar isso todo dia, né? – reclamou e pelo retrovisor vi a menina fingir que passava um cadeado na boca e o jogava pela janela.
- Nossa, esqueci completamente de te falar. Minha mãe perguntou de você ontem. – falei com um sorriso no rosto, caminhando até a porta para deixar a casa de . Já era tarde da noite e Bells estava quase adormecendo.
- O quê? – engoliu seco. – Como assim sua mãe, ?
- Bom, vamos ter que passar novamente pela explicação de pessoa normal, nascido da barriga de outro ser humano e tudo mais?
- Argh. – ela reclamou, dando um soco em meu braço.
- Só deixando claro, não vim de uma cegonha, ok? – gargalhei de sua expressão e dei dois passos para trás antes que ela me atingisse novamente. – Ela viu aquelas fotos, as mesmas que seus pais viram, e mais algumas que saíram, não sei se você viu. – ela assentiu, sorrindo torto. – Ela me perguntou mais sobre você, claramente tentando chegar a que relacionamento tínhamos e porquê não contei que estava namorando, e o principal, como eu assumiria uma filha assim, desde quando eu sabia. – apoiou a cabeça em suas mãos e eu me escorei no batente da porta, apenas observando sua reação.
- Você é lindo. – ela soltou sem pensar, parecendo distraída, me surpreendendo e corando instantaneamente. Ela pigarreou. – Nem sei o que dizer, sua mãe já pensa no pior, não? – sorriu, triste. – Mas realmente, seria absurdo que você assumisse uma filha. Um relacionamento com uma criança envolvida, qualquer coisa assim... – ela olhou para o chão em sua frente
- Não, não, não. Eu não estou te falando isso pra que você pense exatamente isso, . Pelo amor de Deus. – segurei seu rosto entre minhas mãos. – Eu só quis comentar. Não faz isso, eu não queria colocar nada assim nos seus pensamentos. Pelo contrário. Ah, eu estrago tudo. – bati em minha testa após falar tudo numa rapidez absurda e em seguida puxei seu corpo para o meu, grudando-a em meu peito. – Se eu estou tentando, e você sabe que eu estou, é porque tenho plena consciência de tudo a minha volta. Espero que você se lembre sempre disso. Não se deixe enganar por qualquer coisa, qualquer um saberia que estou entrando de cabeça nisso. – sussurrei em seu ouvido, depositando um beijo em sua testa no final. Senti ela mexer a cabeça, concordando. – Vou ir, tudo bem? – ela assentiu novamente e apertou seus braços em minha cintura, me abraçando.
Por
Encarei as coisas que as duas seguravam e deixei a passagem para elas livre, percebendo que elas sairiam.
- ! – Bells gritou e se agarrou em minhas pernas.
- Oi. – abracei Bells e logo me aproximei de que abaixou a cabeça, tentando esconder o rosto, rindo da felicidade da filha. Ri nasaladamente e beijei seus cabelos.
- Oi. – ela disse. – Vou levar a Bells na escola e volto para casa. Quer me acompanhar? – assenti, pegando a mochila de Bells de sua mão e caminhando até meu carro com a pequena, enquanto trancava a porta e andava até nós. – Eu ia com o meu. – ela deu de ombros.
- O meu já tá fácil aqui. – falei e ela concordou, entrando no banco de trás com a filha.
- Como foi o jogo? – ela perguntou, colocando o cinto em Bells e me encarando pelo retrovisor.
- Tirando o empate e o chute absurdo que tomei na canela? Foi ótimo. – falei com raiva. – Fiquei com uma vontade absurda de socar o cara, mas não ia prejudicar o time.
- Ainda bem que você tem noção, né? – ela rolou os olhos e riu.
- Só as vezes. – mostrei a língua. – E você e a Bells? Qual a novidade? – perguntei, me lembrando de sua mensagem.
- Depois. – assenti.
- Tio... Você vai me deixar na escola hoje? – Bells perguntou, vendo o caminho que fazíamos conforme dava as direções.
- Vou sim, pequena! Gostou? – arrumei o retrovisor de forma que conseguisse vê-la também. A garota assentiu com um sorriso no rosto.
- Mas eu preferia ir para o parque. – riu ao ver o bico que a filha fizera.
- Mas você precisa estudar, não acha? Pra crescer e ficar linda e inteligente como a mamãe. – ela assentiu mais uma vez. – O que você mais gosta de estudar? – perguntei, puxando um assunto para matar tempo até chegarmos lá.
Durante todo o caminho, que não era longo, conversei com Bells e observei uma mais calada. Ela encarava a janela, parecendo muito interessada no tempo lá fora. Tentei colocá-la no assunto, mas ela respondia com curtas respostas, não deixando para trás os prováveis pensamentos que rondavam sua mente.
- Ah, já chegou. – Bells comentou, desanimada.
- Sim, senhorita! Está entregue. Lembra do que falei, estudar muito pra ficar linda e inteligente como a mamãe. – pisquei para ela e estiquei a mão para trás, para fazermos um toque. Bells sorriu e tirou seu cinto quando apareceu pela porta do outro lado para tirá-la do carro.
- Tchau, tio. – ela acenou, fechando a porta. Acenei para ela, logo saindo com o carro e estacionando alguns metros para frente para esperar .
abriu a porta do passageiro e sentou-se, batendo-a logo em seguida. Ela inclinou seu corpo e puxou o cinto de segurança, travando-o.
- Ei, tá tudo bem? – perguntei, encostando minha mão levemente na dela, que estava em sua coxa. balançou a cabeça, parecendo ponderar o que responder, e então tirou sua mão debaixo da minha, fingindo que iria arrumar o cinto novamente. – Nossa, . – eu ri nasaladamente, prestando atenção no caminho a minha frente quando sai do lugar.
- Desculpa. – ela respirou fundo.
- Achei que as coisas estariam um pouco melhores. – eu sorri, me lembrando do ano novo. Ela balançou a cabeça em negação e notei também que ela havia ficado envergonhada.
- , eu não quero falar disso...
- Desculpa, eu achei que estava tudo bem.
- Está, mas ainda não sei o que pensar. – ela sorriu, discreta.
- Pensa em mim. – dei de ombros e ela riu, me dando um tapa no braço.
- Eu penso, então eu mando mensagem e você fica online e não me responde. – ela cuspiu as palavras, rapidamente.
- Ah, então é por isso que a senhorita está agressiva? – a encarei, parando o carro em um semáforo.
- Não estou agressiva. – falou, na defensiva.
- Eu que estou, não? – ela fez bico, virando seu rosto para fora. – Eu saí com o pessoal...
- Você não me deve satisfações, . – ela me encarou, indignada. – Nem sei porquê falei isso, na verdade, foi bobo da minha parte, não sou assim.
- Decide o que você quer, mulher! – eu gargalhei. – Eu sumo, você reclama. Eu tento explicar o motivo, você também reclama. Fica difícil, não? – ela deixou todo o ar sair de seus pulmões, bufando. – Eu vi sua mensagem, saímos tarde de lá e invés de voltar pra casa, fui para a sua e fiquei esperando dar o horário que você acordaria. – dei de ombros e ela me encarou mais uma vez, com a mesma expressão de indignação.
- !
- Pra você ver como eu apenas queria falar com você. Eu demorei pra melhorar e realmente conseguir ler a mensagem. Guardei o celular e pensei “tô meio tonto, vai que acabo pedindo ela em casamento. Ela não vai aceitar, ainda, e eu vou ficar mal.” – ela gargalhou e estapeou meu braço novamente. Estacionei o carro em frente sua casa. Desci do mesmo e caminhei até seu lado, pois ela já havia descido também e caminhava em direção a porta. A vi parando para me esperar e senti seus braços passarem por minha cintura, em um quase abraço. – Agora você vai me contar o que tinha pra contar? – ela assentiu, rindo.
- Quer de que parte?
- Michael.
- Tudo é sobre ele. – ela riu e eu levantei uma sobrancelha, fazendo-a balançar a cabeça em negação. – Ele chegou aqui com a Bells cedo e simplesmente veio todo simpático e cheio de elogios. A Bells elogiou que ele havia cozinhado para ela, e ele disse que faria pra mim também.
- O quê? – questionei, desencostando do sofá e apoiando meus braços em minhas pernas.
- Pois é. Foi muito estranho, . Aí vem o pior, fui levar a Bells no shopping para comer no lugar que ela gosta e no caminho até o restaurante ele apareceu, estava no horário de almoço.
- Foi almoçar com vocês, imagino eu. – ela assentiu e eu fiz cara de nojo, fazendo-a rir.
- Eu te falei que as coisas não acabaram tão mal, por mim estava okay, apesar de eu ter achado o comportamento dele esquisito. Fomos até lá, e ele contou do trabalho dele e que estava para fechar um projeto grande e que usaria todo o dinheiro para uma festa pra Bells. Falta pouco para o aniversário dela. – ela adicionou. – Então ele falou para ela ir pensando no tema, no que queria e tudo mais. Agora vamos ao pior. – ela suspirou, tentando segurar a risada. – Quando saímos de lá, ele estava super animado e eu fui comprar sorvete para Bells enquanto ele ia olhar algumas vitrines com ela, porque ela adora. Eis que eu encontro eles e ela está pulando de animação enquanto ele a encara. “Mãe. – ela fez aspas com as mãos. – Minha festa pode ser do Chelsea, né?” Ela apontou para a camisa que estava na loja e tudo. Antes que o Michael ao menos pudesse pensar em qualquer coisa, ela adicionou um “E o pode ir, né?”. Eu estou até agora rindo da expressão dele, . Eu não sabia onde me enfiar. – eu gargalhei, me lembrando de comprar um presente maravilhoso para Bells por ela ter me dado esse presente! – Então Michael soltou um “Acredito que sua mãe pode falar com ele.”
- Se a Bells não é a melhor criança que eu já conheci, não sei quem é.
- Não comece a se achar, senhor. Ah, e depois ele ainda me mandou uma mensagem dizendo que fechou com o cliente e que podíamos comemorar e começar a preparar as coisas. – fiz cara de nojo e riu.
- Eu acho que ele ainda não entendeu aquela parte de “ex”, não? – rolei os olhos e deu de ombros. – Ele só não consegue se conformar que você seguiu em frente. – soltei, tentando ser o mais direto possível. arregalou os olhos e torceu o nariz.
- ...
- Relaxa. – sorri, apertando sua mão que estava próxima a minha. – É só uma brincadeirinha. – me aproximei de seu rosto, beijando sua bochecha. – Por enquanto, pelo menos. – sorri, me afastando e notando que seu corpo se retraíra com a proximidade. – Enfim. – falei, quebrando o momento de vergonha de , que estava um tanto quanto vermelha. – Posso ajudar também? Acredito que me dou bem com esse tema. – dei de ombros, sendo irônico.
- Ah, eu acho que você combinaria mais com Manchester United, não sei... – ela riu, brincando. – Você iria? – perguntou, curiosa.
- É claro, ! – respondi, em tom de obviedade.
- Ah, . Não sei. Convidados, pessoas estranhas, um monte de gente que você não conhece. Não sei como isso funciona para você.
- , enfia na sua cabecinha que sou uma pessoa normal. Por sinal, sabia que eu tenho família? E nasci da barriga da minha mãe? Absurdo, não? – ela gargalhou, estapeando meu ombro.
- ! Você entendeu, poxa.
- Você, por algum acaso, se fosse qualquer outro tema e ela não pedisse assim... Deixaria de me convidar?
- Não, é que... – ela pareceu ponderar. – Sei lá. Você vai conhecer minha família. Junto com a do meu ex-marido. – ela riu, nervosa.
- Não tinha pensado por esse lado. – dei de ombros, e logo me ajeitei, aproximando meu corpo novamente do dela. – Mas, se você pensou, quer dizer que anda pensando demais e está incomodada com esse fato. – sorri, aproximando nossos rostos.
- ... – ela sorriu, mais uma vez envergonhada.
- Eu sei, um tempo. – repeti o que ela dissera na manhã de ano novo, quando a levei embora depois de passarmos a noite jogando conversa fora e trocando carinhos inocentes. – Dois dias é um tempo, não?
- Tá ansioso? – ela perguntou, sustentando seu olhar no meu. Assenti, pegando-a de surpresa ao invés de entrar na brincadeira. Encostei meus lábios rapidamente nos seus, pegando-a de surpresa novamente e vendo um sorriso brotar em seus lábios em seguida. – Você é difícil, .
- Não, . Você é difícil. – eu ri, me afastando dela. – Queria falar com a Bells sobre a festa. Se importaria se eu cochilasse no seu sofá e fosse com você buscar ela depois, senhorita?
- Está propondo passar o dia aqui comigo? – ela perguntou, de sobrancelhas arqueadas.
- Bom, se você quiser sair e me deixar aqui, não vou me importar também. Mas, se quiser dormir de conchinha, vou adorar. – ela jogou uma almofada em minha direção, se levantando.
- Vou fazer minhas coisas, vai dormir. Se quiser usar minha cama, sabe onde fica. – ela pareceu repensar e riu em seguida. – Isso soou estranho, mas tudo bem.
Puxei-a para o sofá novamente, deitando-a no móvel e jogando meu corpo por cima. Enchi seu rosto de beijos e me levantei, deixando que uma completamente vermelha se levantasse também e seguisse seu caminho até a cozinha.
- Boa noite, . – ela mostrou a língua, brincalhona, enquanto eu me encostava de forma confortável em seu sofá. – Ei, quarto! Eu vou assistir tv. – rolei os olhos e me levantei, mandando beijo para ela e me arrastando até o quarto. – Ô amigo folgado e esquisito que eu fui arrumar. Intimidade é uma droga. – Sem nem me virar mostrei o dedo do meio para ela e entrei no quarto, me jogando na cama e considerando como eu conseguiria dormir ali, em meio ao cheiro dela que estava, obviamente, por todo lado. Ah, . Abracei um travesseiro e fechei os olhos.
- . Quer comer? – abri os olhos e me virei lentamente, vendo sentada na ponta da cama. Sorri para ela e num movimento rápido a puxei, deitando-a ao meu lado e a segurando entre meus braços. – Ei! – ela riu, sem nem mesmo tentar se soltar.
- Deu vontade. – sorri para ela, soltando-a e me ajeitando ao seu lado. Apoiei minha cabeça em meu braço e comecei a mexer em seus cabelos, encarando seus olhos. Ela assentiu, com um sorriso no rosto. – Tão linda. – vi suas bochechas tomarem um tom rosado e ela virou seu corpo de bruços, escondendo o rosto no travesseiro.
- Você me deixa com vergonha. – sua risada foi abafada pelo travesseiro, mas ainda era perceptível.
- , não é por nada, mas vou aproveitar que você já está e dizer que minha vista daqui está sensacional. – apoiei a mão na base de suas costas e apertei levemente, brincando. – Que bunda, senhoras e senhores. – falei mais alto, como se anunciasse em um microfone e ela se virou novamente, gargalhando.
- Ah! – ela suspirou, beijando minha bochecha. Fiz bico e me surpreendi quando senti seus lábios tocarem os meus de forma rápida. Arregalei os olhos, como se a questionasse, e ela sorriu sincera, dando de ombros e se levantando para deixar o quarto logo em seguida. Suspirei e joguei meu corpo para trás, caindo na cama novamente e tentando entender aquela mulher. Eu estava ficando louco. – Vamos! – ela apareceu na porta e gritou, me fazendo sair de meus pensamentos e segui-la até a sala.
- O que você quer, ser humano? – falei, me jogando no sofá.
- Aí, , você tá morto? Só quer ficar encostado.
- Quero que o mundo acabe em barranco, pra morrer deitado. – resmunguei, fazendo-a rir.
- Eu tenho fome.
- Você quer sair? Por isso tá em pé? – ela assentiu e eu coloquei meus tênis que estavam próximos ao sofá. – Vamos, vai.
- A gente come, enrola um pouco e já dá o horário de buscar a Bells. – assenti, olhando o horário. – Vamos.
- , você veio me buscar! – ela gritou, feliz.
- É claro! Sua mãe e eu precisávamos conversar. – pisquei para , que riu. – Ela precisava me fazer um convite... Mas, acho que seria legal ouvir da aniversariante. – virei meu olhar para o teto do carro, me fazendo de desentendido.
- A mamãe te falou? Você vai né, ? Na minha festa de aniversário. – perguntou, animada.
- Será uma honra!
- Eu quero tudo azul, e com bastante coisa, e mamãe, tem que ter brigadeiros, porque eles tem formato de bola.
- O quê? – perguntei, sem entender o que ela queria com formato de bolas. gargalhou da minha expressão perdida.
- Brigadeiro, . Doce brasileiro, é de chocolate e muito comum em festas infantis. Gosto de manter pra Bells algumas tradições que eu tive. – ela deu de ombros, parecendo nostálgica. – E minha mãe também adora, você verá, nossos aniversários sempre são bem legais.
- Estão me deixando ansioso. – falei, arrancando com um carro após ouvir a buzina do veículo de trás.
- Falta muito, mãe?
- Ah, Bells. Você não vai começar a perguntar isso todo dia, né? – reclamou e pelo retrovisor vi a menina fingir que passava um cadeado na boca e o jogava pela janela.
- Nossa, esqueci completamente de te falar. Minha mãe perguntou de você ontem. – falei com um sorriso no rosto, caminhando até a porta para deixar a casa de . Já era tarde da noite e Bells estava quase adormecendo.
- O quê? – engoliu seco. – Como assim sua mãe, ?
- Bom, vamos ter que passar novamente pela explicação de pessoa normal, nascido da barriga de outro ser humano e tudo mais?
- Argh. – ela reclamou, dando um soco em meu braço.
- Só deixando claro, não vim de uma cegonha, ok? – gargalhei de sua expressão e dei dois passos para trás antes que ela me atingisse novamente. – Ela viu aquelas fotos, as mesmas que seus pais viram, e mais algumas que saíram, não sei se você viu. – ela assentiu, sorrindo torto. – Ela me perguntou mais sobre você, claramente tentando chegar a que relacionamento tínhamos e porquê não contei que estava namorando, e o principal, como eu assumiria uma filha assim, desde quando eu sabia. – apoiou a cabeça em suas mãos e eu me escorei no batente da porta, apenas observando sua reação.
- Você é lindo. – ela soltou sem pensar, parecendo distraída, me surpreendendo e corando instantaneamente. Ela pigarreou. – Nem sei o que dizer, sua mãe já pensa no pior, não? – sorriu, triste. – Mas realmente, seria absurdo que você assumisse uma filha. Um relacionamento com uma criança envolvida, qualquer coisa assim... – ela olhou para o chão em sua frente
- Não, não, não. Eu não estou te falando isso pra que você pense exatamente isso, . Pelo amor de Deus. – segurei seu rosto entre minhas mãos. – Eu só quis comentar. Não faz isso, eu não queria colocar nada assim nos seus pensamentos. Pelo contrário. Ah, eu estrago tudo. – bati em minha testa após falar tudo numa rapidez absurda e em seguida puxei seu corpo para o meu, grudando-a em meu peito. – Se eu estou tentando, e você sabe que eu estou, é porque tenho plena consciência de tudo a minha volta. Espero que você se lembre sempre disso. Não se deixe enganar por qualquer coisa, qualquer um saberia que estou entrando de cabeça nisso. – sussurrei em seu ouvido, depositando um beijo em sua testa no final. Senti ela mexer a cabeça, concordando. – Vou ir, tudo bem? – ela assentiu novamente e apertou seus braços em minha cintura, me abraçando.
Capítulo 09
“All of my love, all of my love, my time, my attention, my patience, I'm giving it all. [...] Would I lose, if I bet my heart on you?” (Bet My Heart – Maroon 5)
Por
- Seis anos, Michael. Como nossa filha já vai fazer seis anos? – reclamei, indignada, esbarrando em uma prateleira de artigos de festa e derrubando alguns kits. Michael riu e se abaixou para pegar, colocando-os de volta.
- Está nostálgica? – assenti e cocei os olhos, fingindo que chorava. – Me sinto um pouco também. Imagine quando ela tiver fazendo 20.
- Nem quero pensar nisso. Acredito que nem ao menos consigo me ver daqui a 14 anos. Vou ter 42 anos, meu Deus. – gargalhei e tentei afastar o pensamento.
- Tenho certeza que não terá mudado nada, assim como continua a mesma há 10 anos. – ele sorriu, colocando uma mecha do meu cabelo para trás. Sorri, envergonhada e me virei para o outro lado, ansiosa para mudar de assunto.
- Nem sei muito bem como decorar as coisas, que tema difícil. – reclamei.
- Temos uma filha extremamente diferente, paciência.
- Culpe o pai dela que a colocou nessa ideia. Seu vício contagiou demais a Bells. – ele deu de ombros.
- Contagiou você primeiro, lembra? – assenti, rindo.
- Eu já via um pouco de futebol no Brasil, por causa do meu pai, mas aqui na Inglaterra não me importei muito com isso até te conhecer.
- O fanatismo é de família, você sabe.
- Você contou para o pessoal... – fiz uma pausa, repensando se deveria entrar nesse assunto. – Que conheceu um jogador? – Michael segurou a vontade de revirar os olhos, era perceptível.
- Sim. Eles perguntaram como a Bells tinha entrado no campo, eles enlouqueceram, você deve imaginar. Mas no primeiro dia que vimos ele na Dogs Trust, eu já havia mencionado. Meu pai endoidou. – ele riu, provavelmente se lembrando.
- Seu pai é realmente um fanático. Bom, eles vão ficar felizes de conhecer o , então. – tentei animá-lo, mesmo sabendo que era errado, imaginando o que ele provavelmente pensava de nós dois.
- O que realmente rola entre vocês? Desculpa, , eu preciso perguntar. – ele soltou os pratos que olhava de volta na prateleira e me encarou, se virando em minha direção. Fiquei estática no lugar, o encarando também.
- Ahn... Não sei, Mike. E também não acho que exatamente lhe diz respeito. – tentei soar o menos arrogante possível.
- Ah, tudo bem. – ele se virou novamente para o outro lado. – É que vocês parecem bem próximos.
- Ele é ótimo, bem legal. Bells gosta muito dele, e gosta de poder ver a Lola às vezes. – notei que ele torcera o nariz, provavelmente com a ideia de que a filha estava visitando o apartamento de .
- Acho que temos que comprar um uniforme pra ela, né? Aquele está um pouco pequeno já. - Mike falou quando saímos da loja, indicando a de esportes em nossa frente.
- Ahn... Acredito que o vai cuidar disso. – falei, sem jeito. – Ele disse que seria um presente pra ela.
- Caralho, viu. – ele rosnou. – Ela é minha filha, . Vocês podem estar juntos, mas ela é minha filha. – vi seu rosto ficar vermelho e ele virou de costas, irritado. Tentei me acalmar antes de respondê-lo, para não falar nada que piorasse, afinal, eu sabia que era apenas ciúmes.
- Mike, pode parar. Pra começar eu e não estamos juntos, e mesmo que estivéssemos, pelo amor de Deus, você é pai dela e ninguém nunca iria querer tirar isso de você. De que diabos você tirou essa ideia?
- Desculpa, explodi. – ele falou curto e sincero, rindo. Apenas assenti, aceitando seu pedido.
- Você deveria estar feliz, ela vai adorar, você sabe. – ele assentiu, concordando e tentando dar um sorriso.
- É inevitável. Acho que nunca pensei que te perderia de vez. – ele se aproximou, acariciando meu rosto e fixando seu olhar ao meu. Prendi o ar, um tanto quanto assustada com a proximidade. – ... – meu telefone começou a tocar e eu me movi rapidamente para pegá-lo no bolso, cortando seja o que Michael quisesse falar. Suspirei aliviada e ri naturalmente quando olhei para a tela e vi quem ligava. Era impossível.
- Oi. – pedi licença para Michael, apontando para o celular.
- Oi. Liguei só pra saber se tá tudo bem. – ele falou.
- Tá sim, e você? Tudo certo? – tentei ser o mais breve possível.
- Uhum. Você tá meio seca, tá tudo bem mesmo? Quer conversar depois? Tá ocupada?
- Sim, seria ótimo. – ri.
- Acabei de me lembrar, você ia comprar as coisas pro aniversário da Bells.
- Exatamente.
- E o Michael está com você.
- Sim, nos falamos depois então, certo?
- Beijo, .
Desliguei sem me estender muito e encontrei Michael ao meu lado, olhando para cima, provavelmente fingindo estar distraído.
- Era ele, não era? – assenti, vendo-o rir, incrédulo. – Enfim, vamos. – ele começou a caminhar em direção a próxima loja que precisávamos visitar.
🎵
- Mamãe, tô com saudade da Lola. – Bells falou ao ver um cachorro em uma propaganda da tevê, jogada no sofá ao lado de minha mãe.
- Que Lola, meu amor? – minha mãe perguntou, de sobrancelhas arqueadas.
- A cachorrinha, vovó. Do . – revirei os olhos, esperando o olhar que ganharia dela.
- Não comece, dona Karen. Eu te conheço. – ela deu de ombros, sorrindo.
- Vou conhecê-lo, não vou? – perguntou, curiosa.
- Vai. – rolei os olhos mais uma vez. – Não me faça passar vergonha.
- Aí, . Que coisa feia, tem vergonha da sua mãe?
- Não distorça os fatos. – ela riu. – Você sabe do que estou falando.
- Prometo que não vou fazer nada. Se preocupe com seu pai.
- Aí, meu Deus, o papai vai surtar. Eu te falei qual o tema que ela escolheu? – minha mãe negou com a cabeça.
- Você não, mas ela está aparentemente muito ansiosa e já chegou aqui falando sobre isso.
- Mamãe. – Bells abraçou minhas pernas. – Falta muito pro meu aniversário? – ela fez bico e eu ri, enrolando seus cabelos em meu dedo indicador.
Era engraçado como Bells sofria um pouco com o português quando estávamos em casa, conversando com meus pais, por exemplo. Ela se enrolava em algumas palavras, e seu vocabulário não era tão grande quanto no inglês, mas ela conseguia desenvolver bem e entender tudo. Talvez fosse um pouco difícil crescer entre duas línguas, mas optamos por manter assim para ser melhor para ela no futuro, e bom, ela se divertia ao poder falar pras pessoas sobre parte da sua família ser dali e outra parte do Brasil.
- Não, meu anjo. Só uma semana! A mamãe já está com quase tudo pronto, hoje eu e o papai fomos comprar as coisas. – sorri para ela e vi minha mãe suspirar.
- Michael! E como ele está? – perguntou, com os olhos brilhando.
- Está bem. Provavelmente tentando me reconquistar. – me joguei no sofá e ela me encarou, com uma reação um pouco espantada. – Pois é, está sendo bem estranho, mas aparentemente ele só está mesmo com ciúmes do . Hoje ele disse que nunca esperou me perder de vez e quis até mesmo saber sobre meu relacionamento com ele.
- Ah, filha. – ela suspirou. – Ele ainda te ama. Você não considera dar mais uma chance pra vocês? – perguntou, esperançosa.
- Mãe, seguimos em frente, não? Então deixemos assim. Estou bem da forma que estou. – ela deu de ombros, compreendendo. – me faz bem. – suspirei, colocando para fora. Ela sorriu, animada que eu finalmente abrira a conversa para ela.
- Dá pra ver, meu amor. Me conta mais sobre ele. – pediu, ansiosa. Minha mãe sempre fora minha melhor amiga, nossa relação era incrível e trazia uma amizade muito forte, algo que eu tentava sempre manter com Bells.
: Tá em casa?
Digitei enquanto falava com minha mãe, que perguntava tudo que era possível sobre . Ela estava feliz e parecia animada em conhecê-lo, mas não deixava de falar sobre seu pé atrás a respeito dele ser um jogador de futebol, estar sempre na mídia, sair sempre com garotas. Me atentei nessa parte da conversa ao fato de que eu nunca realmente me importei com isso ou duvidei dos sentimentos e da lealdade dele comigo. me passava uma segurança incrível, e eu acredito que se um dia me machucasse, a queda seria absurdamente feia.
: Tô sim. Cheguei agora do treino.
Ele respondeu, mais rápido do que eu esperava.
: Muito cansado pra duas visitas?
: Pra vocês, nunca. Estão vindo? Vou pedir algo pra gente comer.
: Vamos sair da minha mãe em alguns minutos, te aviso quando estivermos chegando.
: Tudo bem, vou tomar um banho. Manda um beijo pra minha sogra.
: Não quero ter que responder mais mil perguntas sobre você, obrigada!
: Como assim?
: Depois conversamos. Uma semana pra vocês se conhecerem, se prepare.
: Esperando ansiosamente pra ganhar o coração dela. Bom, garantindo que tenha ganhado o seu primeiro, né?
: Tchau, . Vai tomar seu banho.
: <3
- Vamos, Bells? – perguntei, me levantando. Ela rapidamente começou a calçar seu tênis.
- Fica pra jantar, filha. – minha mãe pediu.
- Ah, mãe. Acabei de combinar com o que passaria lá. – sorri, como se pedisse desculpas.
- A gente vai na casa do tio ? – Bells pulou até mim, extremamente feliz. Assenti e ela correu até o quarto para pegar suas coisas.
- Ela gosta muito dele, não? – minha mãe riu da reação da neta. – Bom, fica pra próxima então, não insistirei em atrapalhar seu encontro. – revirei os olhos e ela gargalhou.
🎵
- Oi. – sorri para , que abriu a porta vestido com uma bermuda jeans e uma camisa gola V vermelha, que ficava linda nele. Na verdade, parecia que tudo ficava lindo nele. Era incrível.
- Oi. – ele me respondeu, beijando minha bochecha e em seguida se abaixando pra pegar Bells no colo e a esmagar em um abraço. – Oi, pequena!
- Tio, você vai amassar minha roupa. – ele a colocou no chão e a encarou, incrédulo. Bells riu e deu de ombros, correndo para dentro do apartamento e encontrando Lola deitada no sofá. Ela tirou os sapatos e se jogou ao lado da cachorra, me fazendo sentir vergonha.
- Ela se sente em casa demais, desculpa. – senti meu rosto esquentar.
- , para, né? Você sabe que adoro isso. – ele falou, sorrindo para a cena e fechando a porta atrás de nós. – Estava com saudades? – revirei os olhos e ele riu, me abraçando pelos ombros.
- Não.
- Eu estava. – ele deu de ombros e beijou meus cabelos, se afastando em seguida para ir até Bells. Fazia duas semanas que não nos encontrávamos, já que a agenda de jogos de janeiro estava uma loucura.
- Tá extremamente cansado, né? – perguntei e ele assentiu, em meio a conversa com a minha filha sobre como Lola vinha se comportando e como uns dias atrás ela quase quebrou a porta ao ouvi-lo chegar de tanto que pulava. – Vocês vão morrer nessa correria toda.
- É sempre assim, mas depois acho que melhora um pouco. Só seria melhor se estivéssemos disputando a Champions, mas né. – ele rolou os olhos e eu sorri, me sentando ao seu lado e apoiando minha mão em sua perna.
- Esse ano dá, você vai ver!
- Você vai me dar sorte, tenho certeza disso. – ele sorriu, sincero.
- Tomara. Vou ficar feliz.
- Você podia ir em alguns jogos às vezes, não? – ele perguntou, depois de alguns minutos em silêncio, brincando com Bells e Lola enquanto Patrulha Canina passava na televisão.
- Ah... Não sei, . – falei, sem jeito.
- Seria legal. – ele deu de ombros. – Algumas vezes você poderia levar ela também. São boas companhias. – sorriu me olhando e eu joguei minha cabeça para trás, suspirando. – O que foi? – ele riu, se aproximando de mim, de modo que pudesse encarar meus olhos, mesmo com a minha cabeça jogada no encosto do sofá.
- Eu te odeio! – falei, rindo. Fechei os olhos e os abri lentamente um pouco depois.
- E o que eu fiz?
- Você mexe comigo. – respondi, sincera e diretamente.
- É apenas o troco por tudo que você fez na minha cabeça desde que conheci vocês.
- Eu vou me arrepender? – perguntei, sentando normalmente e encarando Bells, que parecia distraída o suficiente com Lola jogada por cima de seu corpo, lambendo suas mãos enquanto ela gritava. arqueou as sobrancelhas. – Eu vou me arrepender disso? – apontei para nós dois e ele me encarou, surpreso. – Odeio não saber se estou fazendo a coisa certa, mas eu quero apostar em você, .
- Normalmente as apostas em mim dão certo. – ele segurou minha mão próxima ao seu corpo.
- Normalmente as apostas não envolvem meu coração. – eu ri, fazendo-o sorrir concordando em resposta.
- Eu acho que dou conta, mas você vai ter que confiar em mim.
- Eu não quero entrar de cabeça nisso. – falei, notando o quanto minha voz soava assustada. Me senti uma garota do tamanho de Bells naquele momento.
- Não tem como entrar nisso pela metade, . Mas, confesso que até mesmo uma metade sua já é o suficiente para mim. – sorri e acariciei seu rosto com a ponta de meus dedos. – Você não vai se arrepender, eu prometo. Me deixa cuidar de você e te mostrar isso. De vocês, na verdade. – ele olhou para Bells ternamente e eu assenti, recebendo uma reação de olhos arregalados. – É sério? – ele perguntou e eu ri, confirmando mais uma vez com um aceno de cabeça.
- Não me deixe me arrepender disso, . Por favor. Eu não tenho mais idade pra brincarem com o meu coração.
- Eu vou ser sua melhor aposta, . – seu sorriso se iluminou e ele aproveitou que Bells corria no corredor com Lola e encostou seus lábios nos meus em um rápido selinho.
- Lola! – ouvimos Bells gritar e então se levantou rapidamente, indo correr atrás das duas para se juntar à brincadeira.
Por
- Seis anos, Michael. Como nossa filha já vai fazer seis anos? – reclamei, indignada, esbarrando em uma prateleira de artigos de festa e derrubando alguns kits. Michael riu e se abaixou para pegar, colocando-os de volta.
- Está nostálgica? – assenti e cocei os olhos, fingindo que chorava. – Me sinto um pouco também. Imagine quando ela tiver fazendo 20.
- Nem quero pensar nisso. Acredito que nem ao menos consigo me ver daqui a 14 anos. Vou ter 42 anos, meu Deus. – gargalhei e tentei afastar o pensamento.
- Tenho certeza que não terá mudado nada, assim como continua a mesma há 10 anos. – ele sorriu, colocando uma mecha do meu cabelo para trás. Sorri, envergonhada e me virei para o outro lado, ansiosa para mudar de assunto.
- Nem sei muito bem como decorar as coisas, que tema difícil. – reclamei.
- Temos uma filha extremamente diferente, paciência.
- Culpe o pai dela que a colocou nessa ideia. Seu vício contagiou demais a Bells. – ele deu de ombros.
- Contagiou você primeiro, lembra? – assenti, rindo.
- Eu já via um pouco de futebol no Brasil, por causa do meu pai, mas aqui na Inglaterra não me importei muito com isso até te conhecer.
- O fanatismo é de família, você sabe.
- Você contou para o pessoal... – fiz uma pausa, repensando se deveria entrar nesse assunto. – Que conheceu um jogador? – Michael segurou a vontade de revirar os olhos, era perceptível.
- Sim. Eles perguntaram como a Bells tinha entrado no campo, eles enlouqueceram, você deve imaginar. Mas no primeiro dia que vimos ele na Dogs Trust, eu já havia mencionado. Meu pai endoidou. – ele riu, provavelmente se lembrando.
- Seu pai é realmente um fanático. Bom, eles vão ficar felizes de conhecer o , então. – tentei animá-lo, mesmo sabendo que era errado, imaginando o que ele provavelmente pensava de nós dois.
- O que realmente rola entre vocês? Desculpa, , eu preciso perguntar. – ele soltou os pratos que olhava de volta na prateleira e me encarou, se virando em minha direção. Fiquei estática no lugar, o encarando também.
- Ahn... Não sei, Mike. E também não acho que exatamente lhe diz respeito. – tentei soar o menos arrogante possível.
- Ah, tudo bem. – ele se virou novamente para o outro lado. – É que vocês parecem bem próximos.
- Ele é ótimo, bem legal. Bells gosta muito dele, e gosta de poder ver a Lola às vezes. – notei que ele torcera o nariz, provavelmente com a ideia de que a filha estava visitando o apartamento de .
- Acho que temos que comprar um uniforme pra ela, né? Aquele está um pouco pequeno já. - Mike falou quando saímos da loja, indicando a de esportes em nossa frente.
- Ahn... Acredito que o vai cuidar disso. – falei, sem jeito. – Ele disse que seria um presente pra ela.
- Caralho, viu. – ele rosnou. – Ela é minha filha, . Vocês podem estar juntos, mas ela é minha filha. – vi seu rosto ficar vermelho e ele virou de costas, irritado. Tentei me acalmar antes de respondê-lo, para não falar nada que piorasse, afinal, eu sabia que era apenas ciúmes.
- Mike, pode parar. Pra começar eu e não estamos juntos, e mesmo que estivéssemos, pelo amor de Deus, você é pai dela e ninguém nunca iria querer tirar isso de você. De que diabos você tirou essa ideia?
- Desculpa, explodi. – ele falou curto e sincero, rindo. Apenas assenti, aceitando seu pedido.
- Você deveria estar feliz, ela vai adorar, você sabe. – ele assentiu, concordando e tentando dar um sorriso.
- É inevitável. Acho que nunca pensei que te perderia de vez. – ele se aproximou, acariciando meu rosto e fixando seu olhar ao meu. Prendi o ar, um tanto quanto assustada com a proximidade. – ... – meu telefone começou a tocar e eu me movi rapidamente para pegá-lo no bolso, cortando seja o que Michael quisesse falar. Suspirei aliviada e ri naturalmente quando olhei para a tela e vi quem ligava. Era impossível.
- Oi. – pedi licença para Michael, apontando para o celular.
- Oi. Liguei só pra saber se tá tudo bem. – ele falou.
- Tá sim, e você? Tudo certo? – tentei ser o mais breve possível.
- Uhum. Você tá meio seca, tá tudo bem mesmo? Quer conversar depois? Tá ocupada?
- Sim, seria ótimo. – ri.
- Acabei de me lembrar, você ia comprar as coisas pro aniversário da Bells.
- Exatamente.
- E o Michael está com você.
- Sim, nos falamos depois então, certo?
- Beijo, .
Desliguei sem me estender muito e encontrei Michael ao meu lado, olhando para cima, provavelmente fingindo estar distraído.
- Era ele, não era? – assenti, vendo-o rir, incrédulo. – Enfim, vamos. – ele começou a caminhar em direção a próxima loja que precisávamos visitar.
- Que Lola, meu amor? – minha mãe perguntou, de sobrancelhas arqueadas.
- A cachorrinha, vovó. Do . – revirei os olhos, esperando o olhar que ganharia dela.
- Não comece, dona Karen. Eu te conheço. – ela deu de ombros, sorrindo.
- Vou conhecê-lo, não vou? – perguntou, curiosa.
- Vai. – rolei os olhos mais uma vez. – Não me faça passar vergonha.
- Aí, . Que coisa feia, tem vergonha da sua mãe?
- Não distorça os fatos. – ela riu. – Você sabe do que estou falando.
- Prometo que não vou fazer nada. Se preocupe com seu pai.
- Aí, meu Deus, o papai vai surtar. Eu te falei qual o tema que ela escolheu? – minha mãe negou com a cabeça.
- Você não, mas ela está aparentemente muito ansiosa e já chegou aqui falando sobre isso.
- Mamãe. – Bells abraçou minhas pernas. – Falta muito pro meu aniversário? – ela fez bico e eu ri, enrolando seus cabelos em meu dedo indicador.
Era engraçado como Bells sofria um pouco com o português quando estávamos em casa, conversando com meus pais, por exemplo. Ela se enrolava em algumas palavras, e seu vocabulário não era tão grande quanto no inglês, mas ela conseguia desenvolver bem e entender tudo. Talvez fosse um pouco difícil crescer entre duas línguas, mas optamos por manter assim para ser melhor para ela no futuro, e bom, ela se divertia ao poder falar pras pessoas sobre parte da sua família ser dali e outra parte do Brasil.
- Não, meu anjo. Só uma semana! A mamãe já está com quase tudo pronto, hoje eu e o papai fomos comprar as coisas. – sorri para ela e vi minha mãe suspirar.
- Michael! E como ele está? – perguntou, com os olhos brilhando.
- Está bem. Provavelmente tentando me reconquistar. – me joguei no sofá e ela me encarou, com uma reação um pouco espantada. – Pois é, está sendo bem estranho, mas aparentemente ele só está mesmo com ciúmes do . Hoje ele disse que nunca esperou me perder de vez e quis até mesmo saber sobre meu relacionamento com ele.
- Ah, filha. – ela suspirou. – Ele ainda te ama. Você não considera dar mais uma chance pra vocês? – perguntou, esperançosa.
- Mãe, seguimos em frente, não? Então deixemos assim. Estou bem da forma que estou. – ela deu de ombros, compreendendo. – me faz bem. – suspirei, colocando para fora. Ela sorriu, animada que eu finalmente abrira a conversa para ela.
- Dá pra ver, meu amor. Me conta mais sobre ele. – pediu, ansiosa. Minha mãe sempre fora minha melhor amiga, nossa relação era incrível e trazia uma amizade muito forte, algo que eu tentava sempre manter com Bells.
: Tá em casa?
Digitei enquanto falava com minha mãe, que perguntava tudo que era possível sobre . Ela estava feliz e parecia animada em conhecê-lo, mas não deixava de falar sobre seu pé atrás a respeito dele ser um jogador de futebol, estar sempre na mídia, sair sempre com garotas. Me atentei nessa parte da conversa ao fato de que eu nunca realmente me importei com isso ou duvidei dos sentimentos e da lealdade dele comigo. me passava uma segurança incrível, e eu acredito que se um dia me machucasse, a queda seria absurdamente feia.
: Tô sim. Cheguei agora do treino.
Ele respondeu, mais rápido do que eu esperava.
: Muito cansado pra duas visitas?
: Pra vocês, nunca. Estão vindo? Vou pedir algo pra gente comer.
: Vamos sair da minha mãe em alguns minutos, te aviso quando estivermos chegando.
: Tudo bem, vou tomar um banho. Manda um beijo pra minha sogra.
: Não quero ter que responder mais mil perguntas sobre você, obrigada!
: Como assim?
: Depois conversamos. Uma semana pra vocês se conhecerem, se prepare.
: Esperando ansiosamente pra ganhar o coração dela. Bom, garantindo que tenha ganhado o seu primeiro, né?
: Tchau, . Vai tomar seu banho.
: <3
- Vamos, Bells? – perguntei, me levantando. Ela rapidamente começou a calçar seu tênis.
- Fica pra jantar, filha. – minha mãe pediu.
- Ah, mãe. Acabei de combinar com o que passaria lá. – sorri, como se pedisse desculpas.
- A gente vai na casa do tio ? – Bells pulou até mim, extremamente feliz. Assenti e ela correu até o quarto para pegar suas coisas.
- Ela gosta muito dele, não? – minha mãe riu da reação da neta. – Bom, fica pra próxima então, não insistirei em atrapalhar seu encontro. – revirei os olhos e ela gargalhou.
- Oi. – ele me respondeu, beijando minha bochecha e em seguida se abaixando pra pegar Bells no colo e a esmagar em um abraço. – Oi, pequena!
- Tio, você vai amassar minha roupa. – ele a colocou no chão e a encarou, incrédulo. Bells riu e deu de ombros, correndo para dentro do apartamento e encontrando Lola deitada no sofá. Ela tirou os sapatos e se jogou ao lado da cachorra, me fazendo sentir vergonha.
- Ela se sente em casa demais, desculpa. – senti meu rosto esquentar.
- , para, né? Você sabe que adoro isso. – ele falou, sorrindo para a cena e fechando a porta atrás de nós. – Estava com saudades? – revirei os olhos e ele riu, me abraçando pelos ombros.
- Não.
- Eu estava. – ele deu de ombros e beijou meus cabelos, se afastando em seguida para ir até Bells. Fazia duas semanas que não nos encontrávamos, já que a agenda de jogos de janeiro estava uma loucura.
- Tá extremamente cansado, né? – perguntei e ele assentiu, em meio a conversa com a minha filha sobre como Lola vinha se comportando e como uns dias atrás ela quase quebrou a porta ao ouvi-lo chegar de tanto que pulava. – Vocês vão morrer nessa correria toda.
- É sempre assim, mas depois acho que melhora um pouco. Só seria melhor se estivéssemos disputando a Champions, mas né. – ele rolou os olhos e eu sorri, me sentando ao seu lado e apoiando minha mão em sua perna.
- Esse ano dá, você vai ver!
- Você vai me dar sorte, tenho certeza disso. – ele sorriu, sincero.
- Tomara. Vou ficar feliz.
- Você podia ir em alguns jogos às vezes, não? – ele perguntou, depois de alguns minutos em silêncio, brincando com Bells e Lola enquanto Patrulha Canina passava na televisão.
- Ah... Não sei, . – falei, sem jeito.
- Seria legal. – ele deu de ombros. – Algumas vezes você poderia levar ela também. São boas companhias. – sorriu me olhando e eu joguei minha cabeça para trás, suspirando. – O que foi? – ele riu, se aproximando de mim, de modo que pudesse encarar meus olhos, mesmo com a minha cabeça jogada no encosto do sofá.
- Eu te odeio! – falei, rindo. Fechei os olhos e os abri lentamente um pouco depois.
- E o que eu fiz?
- Você mexe comigo. – respondi, sincera e diretamente.
- É apenas o troco por tudo que você fez na minha cabeça desde que conheci vocês.
- Eu vou me arrepender? – perguntei, sentando normalmente e encarando Bells, que parecia distraída o suficiente com Lola jogada por cima de seu corpo, lambendo suas mãos enquanto ela gritava. arqueou as sobrancelhas. – Eu vou me arrepender disso? – apontei para nós dois e ele me encarou, surpreso. – Odeio não saber se estou fazendo a coisa certa, mas eu quero apostar em você, .
- Normalmente as apostas em mim dão certo. – ele segurou minha mão próxima ao seu corpo.
- Normalmente as apostas não envolvem meu coração. – eu ri, fazendo-o sorrir concordando em resposta.
- Eu acho que dou conta, mas você vai ter que confiar em mim.
- Eu não quero entrar de cabeça nisso. – falei, notando o quanto minha voz soava assustada. Me senti uma garota do tamanho de Bells naquele momento.
- Não tem como entrar nisso pela metade, . Mas, confesso que até mesmo uma metade sua já é o suficiente para mim. – sorri e acariciei seu rosto com a ponta de meus dedos. – Você não vai se arrepender, eu prometo. Me deixa cuidar de você e te mostrar isso. De vocês, na verdade. – ele olhou para Bells ternamente e eu assenti, recebendo uma reação de olhos arregalados. – É sério? – ele perguntou e eu ri, confirmando mais uma vez com um aceno de cabeça.
- Não me deixe me arrepender disso, . Por favor. Eu não tenho mais idade pra brincarem com o meu coração.
- Eu vou ser sua melhor aposta, . – seu sorriso se iluminou e ele aproveitou que Bells corria no corredor com Lola e encostou seus lábios nos meus em um rápido selinho.
- Lola! – ouvimos Bells gritar e então se levantou rapidamente, indo correr atrás das duas para se juntar à brincadeira.
Capítulo 10
“And all I feel in my stomach is butterflies, the beautiful kind making up for lost time taking flight, making me feel like I just want to know you better now” (Everything Has Changed – Taylor Swift feat. Ed Sheeran)
Por
: Bells está desesperada querendo saber de você.
: Só a Bells? Acabei de chegar, posso entrar?
Encostei na maçaneta da porta e ao mesmo tempo em que a senti mexer e se abrir em minha frente. Olhei para cima esperando ver , mas encontrei uma Bells agarrada em minhas pernas, invés disso. Rapidamente a puxei para meu colo e a abracei, apertando-a naquele lindo vestido azul que ela usava.
- Parabéns, pequena! – falei, ainda a segurando.
- Obrigada! – ela falou, sorrindo e chacoalhando seus pés para que eu a colocasse de volta no chão.
- O seu presente chegou! – puxei uma sacola um tanto quanto grande que estava encostada na parede ao meu lado e ela arregalou seus olhos, surpresa. Ela puxou o peso da sacola, arrastando-a para dentro da casa da avó e me deixando sozinho do lado de fora.
então se aproximou, vestindo um jeans claro e um all star clássico azul, combinando com sua camisa do Chelsea, que pelo modelo, só poderia ter um número 8 atrás, com o nome de Lampard nela.
- Bonita camisa. – sorri, piscando para ela. Vi seu rosto tomar um tom avermelhado e ri, beijando sua bochecha.
- Por qual motivo o senhor não veio com a sua? Acho que ia ficar boa. – ela riu, fechando a porta e eu ainda não havia conseguido prestar atenção em nada ali em volta.
- Acho que seria demais, não? – ela assentiu, ponderando.
- Relaxa, mesmo sem o uniforme não tem como não te conhecer, Bells já fez questão de gritar aos quatro ventos. – torci a boca em claro sinal de desespero e gargalhou, chamando atenção para nós.
Era hora de confessar que por mais sociável que eu fosse, eu estava desesperado? Caralho, era a família dela, e o pior, a família do ex dela. Ex-marido. Marido. Que estava tentando se aproximar dela. E ela já conhecia a família inteira. E tinha uma filha com ele. Não posso negar que a insegurança me espancou naquele momento. Respirei fundo e dei mais um passo para dentro da sala, seguindo e olhando em volta.
Bells gritava no sofá, rasgando todos papéis de presente que estavam no pacote que dei a ela. Sorri com a cena e a vi puxar a bola de dentro do saco, chutando-a para o que parecia ser seu avô, o pai de , já que provavelmente para pirraçar a neta, ele usava uma camisa do Manchester City. A mãe de estava sentada ao lado de Bells, a ajudando. Não tinha como aquela não ser a mãe dela, era incrível o quanto as pessoas podiam ser parecidas, nunca entenderia essa coisa de genética.
A mulher ao lado dela, deduzi que seria a outra avó de Bells. Ela conversava animadamente com uma moça que estava ao seu lado, enquanto tentava puxar Bells para arrumar o laço de seu vestido. Enquanto eu tentava reparar em tudo ao mesmo tempo, um senhor com a camisa do Chelsea se aproximou, e deduzi que seria o pai de Michael.
- . Achei que meu filho estivesse brincando. – ele esticou a mão para me cumprimentar e a apertou fortemente. – Grande jogador, ainda tem muita história pra fazer por nós, tenho certeza. – sorri, inevitavelmente.
- Se Deus permitir, sem dúvida nenhuma. Jogadores não devem exatamente criar um apego ao time, mas que eu adoro esse lugar, eu adoro.
- Permaneça assim! E bem vindo! – ele indicou para a festa, e fiquei pensando como seria a reação dele ao saber sobre e eu, afinal, eu sabia que eles ainda se davam todos bem. Ri sozinho do pensamento e chacoalhei os ombros, tentando me livrar do peso que carregava a cada segundo pensando coisas assim.
Voltei a encarar o local. havia se distanciado para a cozinha, que ficava atrás de onde eu estava, à esquerda de onde eu havia entrado. Haviam algumas pessoas no quintal, passando a porta da sala que dava acesso ao mesmo, alguns me encaravam, mas seguiam conversando. Algumas pessoas sentadas nas cadeiras espalhadas pelo cômodo e até mesmo algumas no corredor que parecia levar para os quartos. Estava um tanto quanto cheio, e pensei o quanto Bells era querida. Vi também diversas crianças correndo pelo quintal, pareciam brincar de algo, e um menino que aparentava ter a idade da aniversariante a chamava para brincar com eles, recebendo um “espera aí” dela.
- Obrigada, . – ela abraçou minhas pernas e eu a puxei mais uma vez para o meu colo.
- Você vai colocar? – perguntei e ela assentiu, parecendo ansiosa.
- Mamãe falou que ia deixar eu colocar na hora de cantar parabéns.
- Vai ficar linda! – a coloquei no chão e a vi correr em direção ao quintal, deixando a sacola e as coisas espalhadas em cima de sua vó.
- Então foi você o senhor que conquistou minha filha? – vi a mulher se levantar e sussurrar próximo a mim, para que ninguém ouvisse. Olhei em volta, fingindo ignorar que ela falava comigo, e sorri, assentindo.
- Ao menos espero que sim. – ela riu, me dando um abraço apertado.
- Desculpe, alguns costumes do Brasil não mudam. – falou, se referindo ao abraço. – Karen , estava ansiosa por conhecê-lo, Bells não para de falar de você.
- Conquistei a neta primeiro, não temos dúvidas. – sorri, imaginando a animação da menina com a festa e ela tagarelando sem parar no ouvido dos familiares.
- Ah, sem dúvidas, . – ela riu. – Mas fica tranquilo, o brilho nos olhos da mãe eu não via há algum tempo. – ela piscou para mim, e como uma das raras vezes em que isso acontecia, eu senti meu rosto esquentar.
- . – Michael se aproximou, esticando a mão para mim.
- Michael. – o cumprimentei apertando sua mão e balançando a cabeça em um tipo de aceno, e ele logo se distanciou, conversando com outras pessoas.
- Vou apresentá-lo ao meu marido, venha. – Karen segurou meu pulso e andou alguns passos comigo. Passei sorrindo para mais algumas pessoas que não conhecia e encontramos o senhor com camisa do Manchester City agora no jardim, conversando com a outra avó de Bells, que eu nem mesmo vira saindo de onde estávamos quando cheguei.
- Meu bem, este é o .
- Na verdade, este é o . – ele riu, me encarando. – Pelo menos no modo como estou acostumado a ver nos jogos. – ele deu de ombros e eu ri também. – Mas tudo bem, aqui você é apenas o cara de quem a minha neta tanto fala, mal gosto de todos torcer pra esse timezinho, uma pena ter que aceitar. Augusto .
- Olha, não é por nada, mas acho um ótimo time. Quem sou eu pra dizer, não? – ele riu de minha ironia e me puxou para um aperto de mão que se tornou um abraço com tapinha nas costas. E achando que ele seria carrancudo. Bom, ele ainda não sabe sobre a filha, então vamos dar um desconto. Ser amigo do inimigo tudo bem, não sei quanto a namorar.
- Bells realmente falou bastante. Sou Kate. – ela falou seca, o que me fez imaginar que Michael conversava muito com a mãe.
- Prazer, . – sorri, tentando ser simpático.
- ! Vem conhecer meus amigos! – senti Bells cutucar minhas pernas, fazendo Augusto e Karen rirem.
- Claro, pequena. – passei a mão em seus cabelos. – Com licença. – sorri e sai com Bells andando em minha frente, me puxando pelo braço.
- Kate não foi muito simpática, huh? – nos alcançou, andando ao meu lado.
- Ah, apareceu? Depois de me jogar aqui e sumir? – ela riu.
- Dramático.
- Não, ela não foi nada simpática. Até o seu pai foi legal, e ela não. Se bem que acredito ser pelo motivo de não saber o que está acontecendo. – apontei para nós e ela sorriu, concordando.
- , olha! – chegamos em uma mesinha do quintal onde seus amiguinhos estavam sentados em roda. – Essa é Lizzie, ele é o Tom, ela é Jenny, ele é o Robert, esse é o David, e esse o John. – ela apontava para cada um, sorridente. – E aqueles correndo são Ashley e o outro John.
- Oi. – falei, dando um “tchau” para todos, que fizeram o mesmo.
- É verdade que você comprou o presente de natal que a Bells mais gostou? – Tom perguntou.
- Hum, talvez? É? – perguntei para Bells, que afirmou balançando a cabeça diversas vezes.
- E é verdade que você joga mesmo no Chelsea? – perguntou Jenny.
- Sim!
- E é verdade que você e a tia vão casar e ser felizes para sempre? – fui pego de surpresa pela garota que me lembrei ser Lizzie. que nos acompanhava arregalou os olhos e Bells enfiou o rosto entre as mãos.
- Não estava sabendo dessa parte, não. – falei, pensativo. encarou a filha com aquele olhar de depois conversamos e eu ri. – Você aceitou casar comigo e eu não sabia, ?
- . – ela rosnou, rindo. As crianças começaram a rir de Bells, que rolou os olhos como a mãe.
- Bom, pelo menos ela parou de pensar que eu me casaria de novo com Michael. – deu de ombros quando saímos de perto das crianças. – Desculpe por isso. – ela sorriu apertando meu braço e senti uma vontade de segurar suas mãos entre as minhas. Me contive, mas a vontade era grande.
- Sério que acredita ser necessário se desculpar? – questionei, enquanto entravamos novamente na casa.
- Ah, . – ela riu, balançando a cabeça. – Desculpe por me desculpar.
- Bom, a Bells é sonhadora como eu. Deixa a gente sonhar, okay? – senti seu tapa estalar em meu braço.
- Você da corda pra ela! Por isso ela tá assim com isso.
- Ah, . Ela nem entende isso. E ela nem sabe que a gente tá realmente junto. – sussurrei a última parte para que apenas ela ouvisse.
- Estamos? – ela questionou, se servindo de um pouco de refrigerante.
- Ganhei uma chance, não? – ela riu, afirmando com a cabeça.
- Mas ainda temos um longo caminho pela frente, então se aquiete.
- Já ganhei sua mãe e seu pai, fui simpático. – mostrei a língua para ela e senti uma mão em meu ombro, me virando e vendo Karen com um sorriso no rosto.
- Se não querem que a família inteira, incluindo a família do seu ex-marido... – ela apontou para . – Descubra... Falem mais baixo sobre isso.
- Ops. – falei, sem graça. rolou os olhos na direção da mãe.
- Estou seguindo em frente com a minha vida, vou ter que esconder? Até quando? – questionou, irritada.
- Até ter certeza que isso dá certo. – ela apontou para nós dois. – Desculpe, .
- Ahm... Tudo bem. – ela se afastou, deixando uma irritada, de punhos fechados.
- Desculpa, . Mesmo. Minha mãe é ótima, mas ela é um pouco sem noção às vezes.
- , ela só te defende. Relaxa. Eu entendo, a minha é pior. – pisquei para ela, que suspirou, rindo.
- Pretendo não conhecê-la então. Pior que minha mãe, tem tudo pra ser terrível.
- Fica em paz, ela vai me amar, você vai ver. – mostrei a língua para ela, provocando. – Se você gostou, ela também vai.
- Para de falar baboseira e me ajuda com as coisas aqui. – ela pegou uma bandeja com alguns pães e mais algumas coisas e começamos a arrumar uma mesa que já estava um tanto quanto bagunçada. – Aqui todo mundo trabalha, só deixando claro. – eu ri, assentindo.
- Ei, , venha aqui! – ouvi o pai de Michael me chamar quando passei em frente dele, indo em outra direção.
- Oi. – sorri, e enquanto me aproximava dele, vi seu filho fazer o mesmo.
- Pai, não vá encher o saco do cara, hein? Não vá tietar, sabemos que ele não gosta. – falou, com um leve tom de deboche.
- Ele está no aniversário da minha neta, tenho meus direitos. – ele riu, olhando com incerteza para mim.
- Não devia acreditar em tudo que lê na internet, Michael. Estou à disposição, sr. Davies.
- Claramente não vamos ganhar o campeonato esse ano, mas acredita que ainda vamos conseguir a vaga para Champions League? – ele perguntou animado, ignorando o filho e iniciando uma conversa com algo do qual eu com certeza entendia. Já que por hoje, já havia visto e ouvido de tudo por ali, tentando conhecer um pouco de cada um.
- Estamos dando nosso melhor, mas acredito que ainda tem algumas coisas que devem ser acertadas. Principalmente caso a gente consiga a tão esperada vaga.
- Vocês precisam de novas contratações! E manter os bons conosco, não podemos vender alguns ouros que temos no time. Nossa base é tão boa, não sei porquê não usá-la! – sorri, concordando com ele, mas não poderia fazer nada a respeito, claro. Queria o melhor para o time, mas ele sabia que eu era apenas mais um bonequinho que poderia ser vendido a qualquer hora. Por mais que meu contrato ainda durasse por mais um tempo.
- Estão falando desse timezinho ruim de vocês? – Augusto se aproximou de nós, passando a mão no logo de sua camisa azul clara do Manchester City, como se demonstrasse o orgulho do seu time.
- Timezinho ruim que vai detonar vocês na final, no dia 24. Não é, ? – Henry falou.
- Ah, com certeza estamos muito bem preparados para isso.
- Podem ficar tranquilos que esse título já é nosso. E aguardem os próximos passos na Champions League, vamos ter um inglês campeão esse ano. – falou, confiante.
- Ah, . Eu definitivamente apostaria no Liverpool caso venhamos a ter um inglês campeão. – Henry gargalhou e eu o acompanhei, rindo mais discretamente. – Você está com um jogador de alto nível do Chelsea em sua frente, e tem coragem de tentar diminui-lo? – ele arqueou as sobrancelhas, me deixando um tanto quanto sem graça e Augusto também, pois ele se surpreendeu.
- É apenas uma brincadeira, não leve a sério, . Você é um jogador incrível. – ele tentou se redimir, fazendo Henry e eu rirmos.
- Fique tranquilo, sr. . – falei rapidamente, tentando fazer com que ele não se preocupasse. – Eu faria o mesmo no seu lugar, meu time sempre é prioridade.
- Mas, graças a Deus Bells soube escolher um time decente. – Henry falou, zombando dele e fazendo todos nós rirmos.
- Michael foi extremamente influente, e você também. De caso contrário, ela torceria para o City. Quem sabe invés de conhecer o aqui. – ele colocou a mão em meu ombro. – não fizesse amizade com, sei lá, o De Bruyne.
- Outch. Essa doeu. Deixe minha amizade com a e a Bells de fora disso. – gargalhei. – Sou muito mais legal que o De Bruyne, okay?
Ficamos durante mais um bom tempo conversando. Falamos de tudo que era possível, todas as ligas, futebol de todo o mundo, ouvi o senhor falar um pouco sobre o futebol do Brasil, o que foi um tanto quanto divertido, principalmente porque sempre que surgia um jogador brasileiro na conversa, ele se orgulhava e falava de onde o mesmo saíra. Teria muito o que falar para os meus companheiros de time
Vi Bells passar correndo por mim, em direção ao quintal, e depois voltar, gritando por mim. Parei ela no meio da sala, vendo-o a arfar, cansada.
- Eu estava aqui. – apontei para seus avôs e ela sorriu.
- A mamãe pediu pra eu te chamar, vem. – assenti e acenei para os dois, falando que precisava ver o que Bells queria.
- ! Qual o seu problema? – ela tentou não gritar quando entrei no quarto. Olhei para ela, e vi que esticados na cama estavam os três uniformes que eu havia trazido para Bells.
- Qual seria? – vi Bells animada, querendo provar todos.
- Um uniforme, . Um. Não três. Pelo amor de Deus. – ela enfiou o rosto entre as mãos e eu sorri.
- Para com isso, . Vamos escolher um e arrumar ela, depois você discute comigo. – mostrei a língua. – Qual?
- Acho que o principal, não é, meu amor? – Bells assentiu. – Não acredito que minha filha vai trocar esse vestido, por uma bermuda e uma camisa. – ela riu, junto com a pequena que deu de ombros.
- Essa sua filha é incrível. – peguei Bells no colo e a coloquei em cima da cama para ajudá-la com o vestido. Me virei de costas enquanto ela a trocava.
- Estava se divertindo? – perguntou.
- Consegui conversar um pouco com todo mundo. Me senti um pouco abandonado pela senhorita, mas seu pai e o Henry supriram sua falta.
- Não acredito que você ficou conversando com eles. Achei que Michael te faria companhia. – ela gargalhou, enquanto penteava os cabelos da pequena. Me sentei na cama ao lado delas.
- Engraçadinha, né? Depois a gente conversa. – apontei para Bells e ela assentiu. – E você? Tá gostando da festa, chatinha?
- Quero cantar parabéns. Quero bolo. – ela sorriu, animada.
- Eu também. – dei de ombros.
- Mamãe, já posso roubar um brigadeiro?
- Não, e para de tentar me convencer. – mostrou a língua para ela, parecendo mais criança que a própria.
- Está linda! – eu falei, quando terminou de arrumá-la, colocando um all star azul em seus pés.
- Minha filha não existe. – repetiu para si mesma.
- Existe, e ela é incrível como a mãe. – roubei um beijo dela quando vi que Bells já passava pela porta do quarto, preparada para correr até a mesa do bolo.
Seu bolo tinha chantilly colorido de azul, chantilly já costumava ser raro, pois hoje em dia as pessoas só utilizavam pasta americana. Olhei na beirada da mesa e pude ver diversas bolinhas de chocolate, quais Bells observava atentamente e deduzi serem os brigadeiros que a garota tanto falava. chamava as pessoas que estavam mais longe, avisando-as que cantaríamos parabéns.
Ela voltou com Michael ao seu lado e os dois se posicionaram ao lado de Bells para tirar fotos. Vi seus avós fazerem o mesmo, todos os seus amiguinhos, e mais algumas pessoas que queriam uma foto com a garota naquele cenário. Imaginei que fosse um costume deles, pois na minha família a gente só corria pra comer mesmo.
- , vem cá! – ouvi Bells me chamar, olhando para o canto qual eu estava encostado. Neguei com a cabeça, envergonhado. – Eu quero uma foto. – ela fez bico e eu sorri, andando até lá, com o rosto queimando. Bells me queria morto.
se afastou um pouco, nos dando espaço. E Michael nos encarou, do outro lado da mesa com a câmera na mão. Entreguei meu celular para , pedindo que ela também tirasse a foto com o aparelho, e me juntei a Bells, pegando-a no colo.
- Careta! – ela riu mostrando a língua, e eu fiz o mesmo, olhando para a câmera. – Mãe, vem! – arregalou os olhos, negando.
- Não, filha! É só você e o !
- Mas agora eu quero com vocês dois. – olhei para e dei de ombros, vendo seu desespero. Todos encaravam Bells, rindo para a menina.
A mulher então entregou meu celular para a mãe, que estava ao seu lado segurando uma risada, e se aproximou de Bells, ficando do lado contrário ao meu. A pequena continuava em meu colo, e com uma mão segurou ao redor do meu pescoço, enquanto o outro braço passou em torno do pescoço da mãe, juntando-nos mais próximos com um sorriso que ia de orelha a orelha. Olhei para rapidamente e a vi dar de ombros, me virei novamente para frente e nos concentramos na câmera, sorrimos como Bells.
- Você merece apanhar, menina. – sussurrou para a pequena, enquanto eu passava por elas para voltar ao meu canto.
Vi Bells dar de ombros e se fingir de desentendida. riu e me olhou, agradecendo. Vi então que ela estava com um fósforo na mão, preparada para acender as velas e todos já estavam prontos para cantar parabéns para nossa aniversariante. Bells bateu palmas, animada junto a todos ali, ela parecia muito feliz e era algo lindo de se ver. Aniversários eram datas mágicas para todos, ou deveriam ser, mas para crianças eram incrivelmente mais mágicas ainda.
Me lembrei dos meus aniversários de quando era pequeno. Ali na Inglaterra mesmo, com a minha família, eram festas simples. Minha mãe, meu irmão, eu, e as crianças da escolinha. As mães passavam, deixavam as crianças, nós fazíamos algumas brincadeiras, cantávamos parabéns e fim. Servíamos algumas coisas saudáveis, que hoje em dia eu nem mesmo penso em comer, com suco e alguns doces para todo mundo levar para casa.
parecia manter a típica festa brasileira, mesmo que tudo fosse feito para uma maior parte de ingleses. Ela gostava de manter a festa nos modos como conhecia e sempre viveu, e parecia que todos ali já estavam acostumados a isso. Ouvi sua mãe comentando com alguém, acredito que uma mãe de uma das crianças que estava ali e havia se interessado em ficar com a filha que era nova na escola, que eram sempre festas grandes, com bastante família e amigos, e muita comida diferente que nem sempre elas conseguiam fazer por aqui devido a falta de ingredientes, mas elas adoravam manter os costumes de decoração, por exemplo.
- Mamãe, o primeiro pedaço de bolo é seu! Te amo! – a garota falou, entregando um pedaço de bolo para a mãe que a encarou sorridente. Ela beijou a bochecha da filha e olhou para Michael que se preparava para tirar uma foto das duas.
- Bells gosta de distribuir os pedaços de bolo. A questão do primeiro pedaço é algo nosso também, caso não esteja entendendo. É um símbolo de carinho dar o primeiro pedaço pra alguém. Normalmente Bells faz questão de distribuir até o décimo, aí então, ela cansa. – Karen me explicou, provavelmente notando que eu estava tentando entender.
- É tão bom ver uma festa assim, é diferente. – sorri, agradecido. Bells agora se esticava para dar o segundo pedaço de bolo para o pai, que sorriu agradecido e pediu para que tirasse uma foto dos dois. Imaginei que eles tivessem diversas fotos daquelas com os pedaços de bolo.
- ? Cadê você? – encarei Bells, levantando a mão. – Aqui, o terceiro pedaço é seu! – todos se viraram, me encarando. Karen colocou a mão sobre meu ombro, com um sorriso no rosto, e depois encarou a neta.
- Normalmente esse pedaço é meu, Bells! , o que você fez? – ela riu, me empurrando para pegar o bolo que a pequena carregava em minha direção. Beijei seus cabelos e agradeci, passando um pouco do chantilly azul em meus dedos e esfregando na ponta de seu nariz.
Bells abraçou minhas pernas e limpou o chantilly em minha calça, pirraçando. Mostrei a língua para ela, que retribuiu o gesto e voltou para a mesa pronta para entregar o próximo pedaço, para a avó. Fiquei imaginando quem perderia o décimo pedaço por minha culpa.
Senti o olhar de sobre mim e a encarei, recebendo um grande sorriso dela. Me aproximei, notando que as pessoas já haviam se dispersado e ela apenas deixava mais alguns pedaços de bolo na mesa, para os convidados pegarem.
- Terceiro pedaço, huh? – ela falou, dando de ombros.
- Eu estou com vergonha até agora. Sério.
- Ela gosta de você, . E ela não tem medo de mostrar isso pra todo mundo. É estranho pras pessoas, mas bom, pelo menos elas já se acostumam, não?
- Você está fazendo uma expressão tão fofa agora que eu só queria poder te beijar. – falei sem pensar, fazendo-a rir.
- Acho que o pessoal gostou de você, e tão logo. – a encarei, incerto do que ela queria dizer.
- Eu estou passando por um teste, algo assim? – ela afirmou. – Bom saber, senhorita.
- Você me mandou levar a sério, não foi? Eu estou levando, vai me acompanhar?
- Sem dúvida nenhuma, . – me aproximei dela e então me afastei novamente. - Ah, que raiva! – ela riu de minha reação e se aproximou, em um abraço rápido.
- Vou ajudar a limpar tudo por aqui, e arrumar. Bells vai para casa do Michael, porque ele disse que tinha um presente guardado para ela, assim como Kate. Quer ir pra casa? – a encarei, com meu melhor olhar malicioso. Ela gargalhou. – Pare com isso! Pervertido!
- Pode ser. Vou te ajudar com tudo, então. Vou levar algumas encaradas por não ir embora, e talvez uns comentários do tipo “ainda tá aqui?” do seu pai, quem sabe, mas vamos lá. Pelo menos sinto que estou te conhecendo melhor, sabia? Adorei a parte de conhecer a família, parece que deixa tudo mais real, tudo muda. – dei de ombros, falando mais baixo e recebendo um sorriso.
Por
: Bells está desesperada querendo saber de você.
: Só a Bells? Acabei de chegar, posso entrar?
Encostei na maçaneta da porta e ao mesmo tempo em que a senti mexer e se abrir em minha frente. Olhei para cima esperando ver , mas encontrei uma Bells agarrada em minhas pernas, invés disso. Rapidamente a puxei para meu colo e a abracei, apertando-a naquele lindo vestido azul que ela usava.
- Parabéns, pequena! – falei, ainda a segurando.
- Obrigada! – ela falou, sorrindo e chacoalhando seus pés para que eu a colocasse de volta no chão.
- O seu presente chegou! – puxei uma sacola um tanto quanto grande que estava encostada na parede ao meu lado e ela arregalou seus olhos, surpresa. Ela puxou o peso da sacola, arrastando-a para dentro da casa da avó e me deixando sozinho do lado de fora.
então se aproximou, vestindo um jeans claro e um all star clássico azul, combinando com sua camisa do Chelsea, que pelo modelo, só poderia ter um número 8 atrás, com o nome de Lampard nela.
- Bonita camisa. – sorri, piscando para ela. Vi seu rosto tomar um tom avermelhado e ri, beijando sua bochecha.
- Por qual motivo o senhor não veio com a sua? Acho que ia ficar boa. – ela riu, fechando a porta e eu ainda não havia conseguido prestar atenção em nada ali em volta.
- Acho que seria demais, não? – ela assentiu, ponderando.
- Relaxa, mesmo sem o uniforme não tem como não te conhecer, Bells já fez questão de gritar aos quatro ventos. – torci a boca em claro sinal de desespero e gargalhou, chamando atenção para nós.
Era hora de confessar que por mais sociável que eu fosse, eu estava desesperado? Caralho, era a família dela, e o pior, a família do ex dela. Ex-marido. Marido. Que estava tentando se aproximar dela. E ela já conhecia a família inteira. E tinha uma filha com ele. Não posso negar que a insegurança me espancou naquele momento. Respirei fundo e dei mais um passo para dentro da sala, seguindo e olhando em volta.
Bells gritava no sofá, rasgando todos papéis de presente que estavam no pacote que dei a ela. Sorri com a cena e a vi puxar a bola de dentro do saco, chutando-a para o que parecia ser seu avô, o pai de , já que provavelmente para pirraçar a neta, ele usava uma camisa do Manchester City. A mãe de estava sentada ao lado de Bells, a ajudando. Não tinha como aquela não ser a mãe dela, era incrível o quanto as pessoas podiam ser parecidas, nunca entenderia essa coisa de genética.
A mulher ao lado dela, deduzi que seria a outra avó de Bells. Ela conversava animadamente com uma moça que estava ao seu lado, enquanto tentava puxar Bells para arrumar o laço de seu vestido. Enquanto eu tentava reparar em tudo ao mesmo tempo, um senhor com a camisa do Chelsea se aproximou, e deduzi que seria o pai de Michael.
- . Achei que meu filho estivesse brincando. – ele esticou a mão para me cumprimentar e a apertou fortemente. – Grande jogador, ainda tem muita história pra fazer por nós, tenho certeza. – sorri, inevitavelmente.
- Se Deus permitir, sem dúvida nenhuma. Jogadores não devem exatamente criar um apego ao time, mas que eu adoro esse lugar, eu adoro.
- Permaneça assim! E bem vindo! – ele indicou para a festa, e fiquei pensando como seria a reação dele ao saber sobre e eu, afinal, eu sabia que eles ainda se davam todos bem. Ri sozinho do pensamento e chacoalhei os ombros, tentando me livrar do peso que carregava a cada segundo pensando coisas assim.
Voltei a encarar o local. havia se distanciado para a cozinha, que ficava atrás de onde eu estava, à esquerda de onde eu havia entrado. Haviam algumas pessoas no quintal, passando a porta da sala que dava acesso ao mesmo, alguns me encaravam, mas seguiam conversando. Algumas pessoas sentadas nas cadeiras espalhadas pelo cômodo e até mesmo algumas no corredor que parecia levar para os quartos. Estava um tanto quanto cheio, e pensei o quanto Bells era querida. Vi também diversas crianças correndo pelo quintal, pareciam brincar de algo, e um menino que aparentava ter a idade da aniversariante a chamava para brincar com eles, recebendo um “espera aí” dela.
- Obrigada, . – ela abraçou minhas pernas e eu a puxei mais uma vez para o meu colo.
- Você vai colocar? – perguntei e ela assentiu, parecendo ansiosa.
- Mamãe falou que ia deixar eu colocar na hora de cantar parabéns.
- Vai ficar linda! – a coloquei no chão e a vi correr em direção ao quintal, deixando a sacola e as coisas espalhadas em cima de sua vó.
- Então foi você o senhor que conquistou minha filha? – vi a mulher se levantar e sussurrar próximo a mim, para que ninguém ouvisse. Olhei em volta, fingindo ignorar que ela falava comigo, e sorri, assentindo.
- Ao menos espero que sim. – ela riu, me dando um abraço apertado.
- Desculpe, alguns costumes do Brasil não mudam. – falou, se referindo ao abraço. – Karen , estava ansiosa por conhecê-lo, Bells não para de falar de você.
- Conquistei a neta primeiro, não temos dúvidas. – sorri, imaginando a animação da menina com a festa e ela tagarelando sem parar no ouvido dos familiares.
- Ah, sem dúvidas, . – ela riu. – Mas fica tranquilo, o brilho nos olhos da mãe eu não via há algum tempo. – ela piscou para mim, e como uma das raras vezes em que isso acontecia, eu senti meu rosto esquentar.
- . – Michael se aproximou, esticando a mão para mim.
- Michael. – o cumprimentei apertando sua mão e balançando a cabeça em um tipo de aceno, e ele logo se distanciou, conversando com outras pessoas.
- Vou apresentá-lo ao meu marido, venha. – Karen segurou meu pulso e andou alguns passos comigo. Passei sorrindo para mais algumas pessoas que não conhecia e encontramos o senhor com camisa do Manchester City agora no jardim, conversando com a outra avó de Bells, que eu nem mesmo vira saindo de onde estávamos quando cheguei.
- Meu bem, este é o .
- Na verdade, este é o . – ele riu, me encarando. – Pelo menos no modo como estou acostumado a ver nos jogos. – ele deu de ombros e eu ri também. – Mas tudo bem, aqui você é apenas o cara de quem a minha neta tanto fala, mal gosto de todos torcer pra esse timezinho, uma pena ter que aceitar. Augusto .
- Olha, não é por nada, mas acho um ótimo time. Quem sou eu pra dizer, não? – ele riu de minha ironia e me puxou para um aperto de mão que se tornou um abraço com tapinha nas costas. E achando que ele seria carrancudo. Bom, ele ainda não sabe sobre a filha, então vamos dar um desconto. Ser amigo do inimigo tudo bem, não sei quanto a namorar.
- Bells realmente falou bastante. Sou Kate. – ela falou seca, o que me fez imaginar que Michael conversava muito com a mãe.
- Prazer, . – sorri, tentando ser simpático.
- ! Vem conhecer meus amigos! – senti Bells cutucar minhas pernas, fazendo Augusto e Karen rirem.
- Claro, pequena. – passei a mão em seus cabelos. – Com licença. – sorri e sai com Bells andando em minha frente, me puxando pelo braço.
- Kate não foi muito simpática, huh? – nos alcançou, andando ao meu lado.
- Ah, apareceu? Depois de me jogar aqui e sumir? – ela riu.
- Dramático.
- Não, ela não foi nada simpática. Até o seu pai foi legal, e ela não. Se bem que acredito ser pelo motivo de não saber o que está acontecendo. – apontei para nós e ela sorriu, concordando.
- , olha! – chegamos em uma mesinha do quintal onde seus amiguinhos estavam sentados em roda. – Essa é Lizzie, ele é o Tom, ela é Jenny, ele é o Robert, esse é o David, e esse o John. – ela apontava para cada um, sorridente. – E aqueles correndo são Ashley e o outro John.
- Oi. – falei, dando um “tchau” para todos, que fizeram o mesmo.
- É verdade que você comprou o presente de natal que a Bells mais gostou? – Tom perguntou.
- Hum, talvez? É? – perguntei para Bells, que afirmou balançando a cabeça diversas vezes.
- E é verdade que você joga mesmo no Chelsea? – perguntou Jenny.
- Sim!
- E é verdade que você e a tia vão casar e ser felizes para sempre? – fui pego de surpresa pela garota que me lembrei ser Lizzie. que nos acompanhava arregalou os olhos e Bells enfiou o rosto entre as mãos.
- Não estava sabendo dessa parte, não. – falei, pensativo. encarou a filha com aquele olhar de depois conversamos e eu ri. – Você aceitou casar comigo e eu não sabia, ?
- . – ela rosnou, rindo. As crianças começaram a rir de Bells, que rolou os olhos como a mãe.
- Bom, pelo menos ela parou de pensar que eu me casaria de novo com Michael. – deu de ombros quando saímos de perto das crianças. – Desculpe por isso. – ela sorriu apertando meu braço e senti uma vontade de segurar suas mãos entre as minhas. Me contive, mas a vontade era grande.
- Sério que acredita ser necessário se desculpar? – questionei, enquanto entravamos novamente na casa.
- Ah, . – ela riu, balançando a cabeça. – Desculpe por me desculpar.
- Bom, a Bells é sonhadora como eu. Deixa a gente sonhar, okay? – senti seu tapa estalar em meu braço.
- Você da corda pra ela! Por isso ela tá assim com isso.
- Ah, . Ela nem entende isso. E ela nem sabe que a gente tá realmente junto. – sussurrei a última parte para que apenas ela ouvisse.
- Estamos? – ela questionou, se servindo de um pouco de refrigerante.
- Ganhei uma chance, não? – ela riu, afirmando com a cabeça.
- Mas ainda temos um longo caminho pela frente, então se aquiete.
- Já ganhei sua mãe e seu pai, fui simpático. – mostrei a língua para ela e senti uma mão em meu ombro, me virando e vendo Karen com um sorriso no rosto.
- Se não querem que a família inteira, incluindo a família do seu ex-marido... – ela apontou para . – Descubra... Falem mais baixo sobre isso.
- Ops. – falei, sem graça. rolou os olhos na direção da mãe.
- Estou seguindo em frente com a minha vida, vou ter que esconder? Até quando? – questionou, irritada.
- Até ter certeza que isso dá certo. – ela apontou para nós dois. – Desculpe, .
- Ahm... Tudo bem. – ela se afastou, deixando uma irritada, de punhos fechados.
- Desculpa, . Mesmo. Minha mãe é ótima, mas ela é um pouco sem noção às vezes.
- , ela só te defende. Relaxa. Eu entendo, a minha é pior. – pisquei para ela, que suspirou, rindo.
- Pretendo não conhecê-la então. Pior que minha mãe, tem tudo pra ser terrível.
- Fica em paz, ela vai me amar, você vai ver. – mostrei a língua para ela, provocando. – Se você gostou, ela também vai.
- Para de falar baboseira e me ajuda com as coisas aqui. – ela pegou uma bandeja com alguns pães e mais algumas coisas e começamos a arrumar uma mesa que já estava um tanto quanto bagunçada. – Aqui todo mundo trabalha, só deixando claro. – eu ri, assentindo.
- Ei, , venha aqui! – ouvi o pai de Michael me chamar quando passei em frente dele, indo em outra direção.
- Oi. – sorri, e enquanto me aproximava dele, vi seu filho fazer o mesmo.
- Pai, não vá encher o saco do cara, hein? Não vá tietar, sabemos que ele não gosta. – falou, com um leve tom de deboche.
- Ele está no aniversário da minha neta, tenho meus direitos. – ele riu, olhando com incerteza para mim.
- Não devia acreditar em tudo que lê na internet, Michael. Estou à disposição, sr. Davies.
- Claramente não vamos ganhar o campeonato esse ano, mas acredita que ainda vamos conseguir a vaga para Champions League? – ele perguntou animado, ignorando o filho e iniciando uma conversa com algo do qual eu com certeza entendia. Já que por hoje, já havia visto e ouvido de tudo por ali, tentando conhecer um pouco de cada um.
- Estamos dando nosso melhor, mas acredito que ainda tem algumas coisas que devem ser acertadas. Principalmente caso a gente consiga a tão esperada vaga.
- Vocês precisam de novas contratações! E manter os bons conosco, não podemos vender alguns ouros que temos no time. Nossa base é tão boa, não sei porquê não usá-la! – sorri, concordando com ele, mas não poderia fazer nada a respeito, claro. Queria o melhor para o time, mas ele sabia que eu era apenas mais um bonequinho que poderia ser vendido a qualquer hora. Por mais que meu contrato ainda durasse por mais um tempo.
- Estão falando desse timezinho ruim de vocês? – Augusto se aproximou de nós, passando a mão no logo de sua camisa azul clara do Manchester City, como se demonstrasse o orgulho do seu time.
- Timezinho ruim que vai detonar vocês na final, no dia 24. Não é, ? – Henry falou.
- Ah, com certeza estamos muito bem preparados para isso.
- Podem ficar tranquilos que esse título já é nosso. E aguardem os próximos passos na Champions League, vamos ter um inglês campeão esse ano. – falou, confiante.
- Ah, . Eu definitivamente apostaria no Liverpool caso venhamos a ter um inglês campeão. – Henry gargalhou e eu o acompanhei, rindo mais discretamente. – Você está com um jogador de alto nível do Chelsea em sua frente, e tem coragem de tentar diminui-lo? – ele arqueou as sobrancelhas, me deixando um tanto quanto sem graça e Augusto também, pois ele se surpreendeu.
- É apenas uma brincadeira, não leve a sério, . Você é um jogador incrível. – ele tentou se redimir, fazendo Henry e eu rirmos.
- Fique tranquilo, sr. . – falei rapidamente, tentando fazer com que ele não se preocupasse. – Eu faria o mesmo no seu lugar, meu time sempre é prioridade.
- Mas, graças a Deus Bells soube escolher um time decente. – Henry falou, zombando dele e fazendo todos nós rirmos.
- Michael foi extremamente influente, e você também. De caso contrário, ela torceria para o City. Quem sabe invés de conhecer o aqui. – ele colocou a mão em meu ombro. – não fizesse amizade com, sei lá, o De Bruyne.
- Outch. Essa doeu. Deixe minha amizade com a e a Bells de fora disso. – gargalhei. – Sou muito mais legal que o De Bruyne, okay?
Ficamos durante mais um bom tempo conversando. Falamos de tudo que era possível, todas as ligas, futebol de todo o mundo, ouvi o senhor falar um pouco sobre o futebol do Brasil, o que foi um tanto quanto divertido, principalmente porque sempre que surgia um jogador brasileiro na conversa, ele se orgulhava e falava de onde o mesmo saíra. Teria muito o que falar para os meus companheiros de time
Vi Bells passar correndo por mim, em direção ao quintal, e depois voltar, gritando por mim. Parei ela no meio da sala, vendo-o a arfar, cansada.
- Eu estava aqui. – apontei para seus avôs e ela sorriu.
- A mamãe pediu pra eu te chamar, vem. – assenti e acenei para os dois, falando que precisava ver o que Bells queria.
- ! Qual o seu problema? – ela tentou não gritar quando entrei no quarto. Olhei para ela, e vi que esticados na cama estavam os três uniformes que eu havia trazido para Bells.
- Qual seria? – vi Bells animada, querendo provar todos.
- Um uniforme, . Um. Não três. Pelo amor de Deus. – ela enfiou o rosto entre as mãos e eu sorri.
- Para com isso, . Vamos escolher um e arrumar ela, depois você discute comigo. – mostrei a língua. – Qual?
- Acho que o principal, não é, meu amor? – Bells assentiu. – Não acredito que minha filha vai trocar esse vestido, por uma bermuda e uma camisa. – ela riu, junto com a pequena que deu de ombros.
- Essa sua filha é incrível. – peguei Bells no colo e a coloquei em cima da cama para ajudá-la com o vestido. Me virei de costas enquanto ela a trocava.
- Estava se divertindo? – perguntou.
- Consegui conversar um pouco com todo mundo. Me senti um pouco abandonado pela senhorita, mas seu pai e o Henry supriram sua falta.
- Não acredito que você ficou conversando com eles. Achei que Michael te faria companhia. – ela gargalhou, enquanto penteava os cabelos da pequena. Me sentei na cama ao lado delas.
- Engraçadinha, né? Depois a gente conversa. – apontei para Bells e ela assentiu. – E você? Tá gostando da festa, chatinha?
- Quero cantar parabéns. Quero bolo. – ela sorriu, animada.
- Eu também. – dei de ombros.
- Mamãe, já posso roubar um brigadeiro?
- Não, e para de tentar me convencer. – mostrou a língua para ela, parecendo mais criança que a própria.
- Está linda! – eu falei, quando terminou de arrumá-la, colocando um all star azul em seus pés.
- Minha filha não existe. – repetiu para si mesma.
- Existe, e ela é incrível como a mãe. – roubei um beijo dela quando vi que Bells já passava pela porta do quarto, preparada para correr até a mesa do bolo.
Seu bolo tinha chantilly colorido de azul, chantilly já costumava ser raro, pois hoje em dia as pessoas só utilizavam pasta americana. Olhei na beirada da mesa e pude ver diversas bolinhas de chocolate, quais Bells observava atentamente e deduzi serem os brigadeiros que a garota tanto falava. chamava as pessoas que estavam mais longe, avisando-as que cantaríamos parabéns.
Ela voltou com Michael ao seu lado e os dois se posicionaram ao lado de Bells para tirar fotos. Vi seus avós fazerem o mesmo, todos os seus amiguinhos, e mais algumas pessoas que queriam uma foto com a garota naquele cenário. Imaginei que fosse um costume deles, pois na minha família a gente só corria pra comer mesmo.
- , vem cá! – ouvi Bells me chamar, olhando para o canto qual eu estava encostado. Neguei com a cabeça, envergonhado. – Eu quero uma foto. – ela fez bico e eu sorri, andando até lá, com o rosto queimando. Bells me queria morto.
se afastou um pouco, nos dando espaço. E Michael nos encarou, do outro lado da mesa com a câmera na mão. Entreguei meu celular para , pedindo que ela também tirasse a foto com o aparelho, e me juntei a Bells, pegando-a no colo.
- Careta! – ela riu mostrando a língua, e eu fiz o mesmo, olhando para a câmera. – Mãe, vem! – arregalou os olhos, negando.
- Não, filha! É só você e o !
- Mas agora eu quero com vocês dois. – olhei para e dei de ombros, vendo seu desespero. Todos encaravam Bells, rindo para a menina.
A mulher então entregou meu celular para a mãe, que estava ao seu lado segurando uma risada, e se aproximou de Bells, ficando do lado contrário ao meu. A pequena continuava em meu colo, e com uma mão segurou ao redor do meu pescoço, enquanto o outro braço passou em torno do pescoço da mãe, juntando-nos mais próximos com um sorriso que ia de orelha a orelha. Olhei para rapidamente e a vi dar de ombros, me virei novamente para frente e nos concentramos na câmera, sorrimos como Bells.
- Você merece apanhar, menina. – sussurrou para a pequena, enquanto eu passava por elas para voltar ao meu canto.
Vi Bells dar de ombros e se fingir de desentendida. riu e me olhou, agradecendo. Vi então que ela estava com um fósforo na mão, preparada para acender as velas e todos já estavam prontos para cantar parabéns para nossa aniversariante. Bells bateu palmas, animada junto a todos ali, ela parecia muito feliz e era algo lindo de se ver. Aniversários eram datas mágicas para todos, ou deveriam ser, mas para crianças eram incrivelmente mais mágicas ainda.
Me lembrei dos meus aniversários de quando era pequeno. Ali na Inglaterra mesmo, com a minha família, eram festas simples. Minha mãe, meu irmão, eu, e as crianças da escolinha. As mães passavam, deixavam as crianças, nós fazíamos algumas brincadeiras, cantávamos parabéns e fim. Servíamos algumas coisas saudáveis, que hoje em dia eu nem mesmo penso em comer, com suco e alguns doces para todo mundo levar para casa.
parecia manter a típica festa brasileira, mesmo que tudo fosse feito para uma maior parte de ingleses. Ela gostava de manter a festa nos modos como conhecia e sempre viveu, e parecia que todos ali já estavam acostumados a isso. Ouvi sua mãe comentando com alguém, acredito que uma mãe de uma das crianças que estava ali e havia se interessado em ficar com a filha que era nova na escola, que eram sempre festas grandes, com bastante família e amigos, e muita comida diferente que nem sempre elas conseguiam fazer por aqui devido a falta de ingredientes, mas elas adoravam manter os costumes de decoração, por exemplo.
- Mamãe, o primeiro pedaço de bolo é seu! Te amo! – a garota falou, entregando um pedaço de bolo para a mãe que a encarou sorridente. Ela beijou a bochecha da filha e olhou para Michael que se preparava para tirar uma foto das duas.
- Bells gosta de distribuir os pedaços de bolo. A questão do primeiro pedaço é algo nosso também, caso não esteja entendendo. É um símbolo de carinho dar o primeiro pedaço pra alguém. Normalmente Bells faz questão de distribuir até o décimo, aí então, ela cansa. – Karen me explicou, provavelmente notando que eu estava tentando entender.
- É tão bom ver uma festa assim, é diferente. – sorri, agradecido. Bells agora se esticava para dar o segundo pedaço de bolo para o pai, que sorriu agradecido e pediu para que tirasse uma foto dos dois. Imaginei que eles tivessem diversas fotos daquelas com os pedaços de bolo.
- ? Cadê você? – encarei Bells, levantando a mão. – Aqui, o terceiro pedaço é seu! – todos se viraram, me encarando. Karen colocou a mão sobre meu ombro, com um sorriso no rosto, e depois encarou a neta.
- Normalmente esse pedaço é meu, Bells! , o que você fez? – ela riu, me empurrando para pegar o bolo que a pequena carregava em minha direção. Beijei seus cabelos e agradeci, passando um pouco do chantilly azul em meus dedos e esfregando na ponta de seu nariz.
Bells abraçou minhas pernas e limpou o chantilly em minha calça, pirraçando. Mostrei a língua para ela, que retribuiu o gesto e voltou para a mesa pronta para entregar o próximo pedaço, para a avó. Fiquei imaginando quem perderia o décimo pedaço por minha culpa.
Senti o olhar de sobre mim e a encarei, recebendo um grande sorriso dela. Me aproximei, notando que as pessoas já haviam se dispersado e ela apenas deixava mais alguns pedaços de bolo na mesa, para os convidados pegarem.
- Terceiro pedaço, huh? – ela falou, dando de ombros.
- Eu estou com vergonha até agora. Sério.
- Ela gosta de você, . E ela não tem medo de mostrar isso pra todo mundo. É estranho pras pessoas, mas bom, pelo menos elas já se acostumam, não?
- Você está fazendo uma expressão tão fofa agora que eu só queria poder te beijar. – falei sem pensar, fazendo-a rir.
- Acho que o pessoal gostou de você, e tão logo. – a encarei, incerto do que ela queria dizer.
- Eu estou passando por um teste, algo assim? – ela afirmou. – Bom saber, senhorita.
- Você me mandou levar a sério, não foi? Eu estou levando, vai me acompanhar?
- Sem dúvida nenhuma, . – me aproximei dela e então me afastei novamente. - Ah, que raiva! – ela riu de minha reação e se aproximou, em um abraço rápido.
- Vou ajudar a limpar tudo por aqui, e arrumar. Bells vai para casa do Michael, porque ele disse que tinha um presente guardado para ela, assim como Kate. Quer ir pra casa? – a encarei, com meu melhor olhar malicioso. Ela gargalhou. – Pare com isso! Pervertido!
- Pode ser. Vou te ajudar com tudo, então. Vou levar algumas encaradas por não ir embora, e talvez uns comentários do tipo “ainda tá aqui?” do seu pai, quem sabe, mas vamos lá. Pelo menos sinto que estou te conhecendo melhor, sabia? Adorei a parte de conhecer a família, parece que deixa tudo mais real, tudo muda. – dei de ombros, falando mais baixo e recebendo um sorriso.
Capítulo 11
Por
- Seu pai é demais! – falei assim que descemos de nossos carros e encostamos na casa de . Eu carregava algumas coisas que tinham sido levadas para casa de Karen e carregava mais algumas.
- Nossa, você gostou muito mesmo dele, não? – ela riu, abrindo a porta para que entrássemos. – Aí, meu Deus, a Chelsea tá solta. – ela se lembrou e eu senti um grande peso avançando em minhas pernas. Fiz o que pude para me equilibrar e me encostei na parede, ouvindo as risadas de , que tentava soltar as coisas de sua mão para acalmar a peluda.
- Ei, menina! Também estou feliz em te ver! Posso entrar agora? – ela abanava o rabo diversas vezes por segundo, quando finalmente conseguiu puxá-la para perto de onde havia se sentado no sofá. Equilibrei novamente as coisas em meus braços e fechei a porta com o pé, caminhando até a cozinha e deixando as coisas em cima do balcão. – Vem aqui! – bati as mãos em minhas pernas, chamando aquela bola de pelos brancos em minha direção e já me sentando no chão para que ela fizesse toda sua “investigação”, sempre que eu chegava ali, por mais que eu não viesse de casa para que ela sentisse o cheiro de Lola, ela o encontrava.
- Até a Chelsea te ama, o que você fez? – riu, estendendo a mão para que eu me levantasse e me sentasse ao seu lado no sofá.
- Eu não sei, mas estou bem feliz com isso. – dei de ombros, sincero. Me movi um pouco para o lado contrário ao qual estava e deitei meu tronco, encostando minha cabeça em seu colo. – Gostei da sua família e acho que eles gostaram de mim.
- , até mesmo a família do Mike gostou de você. E eles não deveriam. – ela gargalhou. – Eles ainda tem essa louca ideia de que nascemos um para o outro e vamos voltar. Talvez até seja por isso que Michael acaba agindo como fez no último mês. Kate deve estar falando um monte.
- Ela é estranha. – confessei. – Ela me encarou o tempo todo.
- Isso porque você não viu a reação dela com a Bells te chamando pra tirar foto. Minha mãe disse que piorou quando ela pediu para que fôssemos juntos. Inclusive, posso ver? Não quero pegar a câmera agora. – ela fez bico e eu assenti, tirando o celular do bolso e entregando a ela.
- 2013. – falei, revelando a senha. Ela me encarou, de sobrancelhas arqueadas.
- Posso saber a senha do seu celular? Quanta intimidade. – ela riu.
- Por que não poderia? Fala sério, , não tenho essas besteiras.
- E por que 2013? – ela perguntou, sorrindo ainda com a minha reação.
- Ano que cheguei no Chelsea. – fechei meus olhos para sentir melhor o carinho que a mulher fazia em meus cabelos com uma mão, enquanto a outra procurava por nossa foto na galeria.
- Ficou linda. – ela me mostrou e observamos a foto em que sorriamos para a câmera, mas parecia ficar ainda mais incrível tirada daquele ângulo. – Bells estava muito feliz.
- Eu também.
- E eu também. – ela bloqueou o celular, o colocando de lado e depositando um beijo em minha testa. Fiz bico para ela, como se pedisse um beijo e ela sorriu, grudando seus lábios nos meus em um selinho. – Eu vou poder dormir aqui? – me aconcheguei no sofá, como uma criança.
- Não sei dizer se eu estaria pronta pra isso, mas talvez sim? – ela sorriu e eu apertei sua mão na minha.
- Eu durmo no sofá? – falei em dúvida, tentando convencê-la. Ela me mostrou a língua e encostou a cabeça no sofá. Fiquei encarando-a, e tentando guardar em minha mente cada detalhe do seu rosto, como eu vinha fazendo desde o primeiro dia em que nos conhecemos e com mais força ainda quando descobri que ela não era casada.
Era incrível pensar no modo como ela mexera comigo desde o primeiro momento. Claro que Bells roubou toda a cena no princípio, mas estava lá, entre cachorros pra adoção, com uma criança no colo. Quem não voltaria sua atenção toda para a cena? Seu rosto parecia estar estampado na minha cabeça em todos os momentos, e eu sentia que a cada dia mais parecia minha obsessão.
- Você acha que eu sou obcecado por você? – perguntei, não conseguindo segurar os pensamentos que me atormentavam desde o dia que ela dissera me dar uma chance. A vi abrir seus olhos lentamente e rir, negando com a cabeça, provavelmente pensando em como aquilo era algo bobo.
- Olha, às vezes até dá pra considerar que sim, sabia?
- Eu ‘tô falando sério. É absurdo como eu penso em você em todos os segundos do dia, e como as vezes até canso de pensar que parece que corri uma maratona.
- , para com isso. – ela riu, envergonhada.
- Sabe o pior? Desde o princípio você alimenta isso aqui. – eu apontei para minha própria cabeça, rindo de pensar em alguns momentos. – Você me dá bola, depois se faz de difícil, depois fala que vai me dar uma chance e sempre parece que vai voltar atrás. Você me enlouquece, no melhor sentido que essa palavra pode ter. Se eu te mando uma mensagem você responde em segundos. Se eu te provoco, você entra na brincadeira. Você me conta tudo que faz o dia todo, o que me faz pensar mais ainda em você. Você deixou que eu me aproximasse da Bells, e isso me deixa incrivelmente feliz. Tudo no seu dia, se tornou o meu dia.
- ... – fiz um sinal de “shh”, e ela arqueou as sobrancelhas, parecendo irritada.
- Eu não terminei! – me levantei, sentando ao seu lado e segurando suas mãos. – , sabe o que eu acho? Que eu estou obcecado em estar apaixonado por você.
- ...
- E se... – falei, atrapalhando ela mais uma vez. – o Chelsea perder essa temporada porque eu joguei mal, a culpa é toda sua. Não tenho culpa que você não sai da cabeça e eu só fico pensando em ficar com você, nas coisas que você fala, ou só no quão incrível eu acho que você é mesmo. – dei de ombros e ela riu, negando com a cabeça.
- Eu te odeio, . Não me envolva nos resultados dos jogos não! Os próximos são difíceis, não vou deixar você pesar isso na minha cabeça. – ela me mostrou a língua e eu me lembrei rapidamente da quantidade de jogos que tínhamos nas próximas semanas. Nesse domingo pegaríamos o City, logo depois o United fora da PL, o City novamente na final da Copa da Liga Inglesa, e o Tottenham. As coisas se complicariam e muito nesse mês. - Ei, tudo bem? – ela perguntou, passando a mão suavemente em meu rosto.
- Desculpa, me desliguei. – me aproximei dela e dei um selinho rápido em seus lábios. – Vou ficar sem saber o que você pensa sobre tudo que falei?
- Ah, ... Você não é normal. – ela gargalhou e notei que ela estava envergonhada, provavelmente tentaria fugir da conversa.
- E você é difícil demais. Quando vai se abrir comigo? – me sentei normalmente e me encostei no sofá, puxando a mulher para meu colo. Encostei seu tronco em meu peito e apoiei uma de minhas mãos em sua coxa, enquanto a outra acariciava seus cabelos. Notei que ela se aconchegara ali, o que me fez sorrir.
- É que, você sabe, eu não tenho idade pra isso. Eu me sinto velha, e você vai soltando tudo assim com tanta facilidade. Fico com medo de não te corresponder na mesma intensidade. Eu não sei colocar em palavras, . – ela escondia cada vez mais seu rosto em meu peito, fazendo com que sua voz saísse abafada. – Mas eu acredito que não tem nada mais notável do que o fato de que eu estou claramente apaixonada por você. E às vezes eu acho que foi tudo rápido demais, mas, ao mesmo tempo, demorou tanto... É engraçado.
- Eu ‘tô tão feliz de ouvir isso. – apertei ela em meu abraço e a afastei um pouco em seguida para lhe dar um selinho. – Você é tão linda. E desculpa, eu nem penso muito pra falar. – eu ri, sabendo que ela ficaria constrangida a cada elogio, mesmo que fosse depois de um longo tempo, era seu jeito, e era encantador.
- E eu ‘tô feliz de ter um tempo com você. – ela sorriu, se desvencilhando de meus braços e provavelmente querendo fugir um pouco do clima, o que me fez rir. – O que vamos fazer? – ela perguntou, pegando o controle da TV. – Lembrando que o senhor não pode dormir tarde, sei que está preocupado com o jogo contra o City na final da Copa da Liga Inglesa, mas amanhã precisamos dos pontos na PL, por favor.
- Ah, meu Deus. Agora vou ter que aguentar você me cobrando, ‘tô ferrado. Vou dormir então! – tirei meus tênis e me ajeitei em seu colo mais uma vez, como fizera mais cedo.
- Ah, agora não, . Eu não tô com sono ainda. – ela fez bico, olhando para TV e passando os canais aleatoriamente.
- Estou com a ou a Bells? Tá parecendo uma criança. Tal mãe, tal filha, não?
- Se for dormir agora, vai dormir na sua casa, tchau.
- Eu não, vai ter que me aguentar. É o teste final. – falei, rindo.
- Teste final para quê? – ela me encarou.
- Pra saber se vamos ser felizes para sempre. Eu tô apostando que sim, mas nunca se sabe, né?
- Estou com o ou a Bells? Tá difícil de diferenciar. – ela me mostrou a língua, repetindo a frase que eu dissera antes.
- Definitivamente com uma mistura dos dois.
- Preciso deixar a Bells bem longe de você, já imaginou se ela ficar pior do que já é por sua causa? Ninguém aguenta. – rolei os olhos e ela riu.
- Deixa minha relação com a Bells fora disso, sem ameaças, não gosto. – ela concordou, ainda rindo. – É sério.
- Bebezão.
- Alô. – atendi ao telefone sem nem mesmo olhar para o visor e ouvi a voz de minha mãe responder, sorri automaticamente. – Oi, mãe! Como você tá?... Eu tô bem também. E aí? Tá passeando?... Não, não tô em casa, ‘tô na . – olhei para , que pausou o filme que assistíamos e me encarou, negando com a cabeça. – Ela tá me encarando aqui só porque eu falei o nome dela com a maior naturalidade, acho que ela percebeu que você realmente sabe quem ela é... Ah, mãe, eu posso tentar, ‘perai. – encarei a garota, que parecia querer me desfazer em pó com os olhos. – Minha mãe quer saber quando você vai lá em casa comigo...
- ! – ela falou, em repreensão.
- Mãe, acho que ela não tá preparada pra isso... Ouviu esse tom de voz? Coitada. – falei, rindo e ouvindo minha mãe rir comigo do outro lado da linha. Talvez, só talvez, eu tivesse herdado o jeito dela. Ela provavelmente estava chorando de rir apenas de imaginar a reação de com o que eu estava fazendo. Eu conversava com ela, então eu já tinha falado tudo que fosse possível sobre a mulher para ela. Ela talvez conhecesse mais do que eu, só pelo que eu falava.
- , eu te odeio! – apontei o celular para ela e a vi bufar, irritada.
- É sério, ela quer falar com você. – dei de ombros ao vê-la arregalar os olhos. – Realmente não quer falar com a minha mãe, ? Que feio... – coloquei o telefone no ouvido novamente. – Sim, mãe. Quase 30 anos e age como uma criança.... Juro, quase 30... Ela vai me matar, acho que ela tá até ignorando que amanhã tenho que estar vivo. – pulou em meu colo e puxou o telefone de minha mão, colocando no viva-voz.
- Oi, senhora .
- , tudo bem? – ela falou rindo, surpresa.
- Estou bem, e a senhora?
- Você, por favor. Estou bem também. Está brava? – ela perguntou irônica, e já imaginei que estava se perguntando onde estava se metendo.
- Não. gosta de testar a paciência da velha de quase 30 anos. – naquele momento eu soube que ela guardaria aquela frase para sempre e eu teria que aguentar o peso de ter falado. Agora ela se autodenominaria a velha de quase 30 anos, ao menos até se tornar a velha de quase 40 anos, o que eu não falaria para ela.
- é um idiota, e ainda tem uma mãe que da corda para ele. Estou ansiosa por conhecê-la. Na verdade, conhecê-las. Não aguento mais ouvir falar da Bells, já me sinto íntima de vocês. – riu, sem graça.
- Vamos marcar então, tudo bem? Vou dar uma olhada quando vai ficar mais tranquilo. – encarei , para entender se para ela estava tudo bem, e ela confirmou com um sorriso.
- Cuidado para voltar pra casa, . – minha mãe falou, advertindo. tentou segurar o sorriso que queria brotar em seus lábios e eu apenas pigarreei, confirmando em seguida.
- Tchau, mãe.
também murmurou um tchau e minha mãe se despediu de nós animada.
- Cuidado pra voltar pra casa, . – gargalhou. – Você passava diversas noites fora. – neguei com a cabeça, arqueando minhas sobrancelhas. – , você foi na minha farmácia comprar camisinhas, por favor, não negue. – gargalhei, confirmando com a cabeça. – Então, você passava diversas noites fora, por qual motivo ela estaria nessa noite te falando pra tomar cuidado ao voltar pra casa?
- Talvez porquê em todas as noites em que eu passei fora, a gente nunca conversasse no telefone. E ela não imagina que eu vá passar a noite aqui, já que ela não quer isso. – falei, sorrindo.
- Como assim? – ela perguntou, confusa.
- Ela tem medo de acelerarmos as coisas e estragarmos tudo. – eu sorri, a abraçando em meu colo, como ela estava desde o momento em que pegou o telefone de minhas mãos. – Mas mesmo com muita conversa, talvez ela, assim como você, ainda não tenham levado completamente a sério o quanto eu ‘tô feliz assim e não tem nada que estrague.
- Ei, eu confio em você. – ela falou, sincera. Abri minha boca para responder, mas estava surpreso, não sabia ao certo o que dizer. – Por que a surpresa? – ela riu.
- Não sei, . Sempre achei que essa parte de passado pudesse ficar no fundo da sua cabeça, assim como você achou que a Bells poderia ser um peso na minha. Sei que eu nunca fui o típico jogador de futebol festeiro que aparece nas revistas, e você mesma sabe que já tive um grande relacionamento, mas achei que o passado pudesse te incomodar. – dei de ombros. – Gosto tanto de poder falar assim com você, sem me preocupar com nada, só falar. – adicionei, fazendo-a sorrir.
- De forma alguma, . – ela acariciou minha bochecha de uma forma gostosa. – Eu não duvidei de você, tudo bem? Eu confio em você desde o primeiro dia, e sei o quanto você se aproximou com as melhores intenções, sem nem criar uma segunda. Eu nunca me preocupei com essa parte, caramba, , você quer mais passado do que eu levo? E outra, isso não seria motivo de desconfiança. Não acredito que você me trocaria por qualquer uma.
- Essa conversa tá bem de casal, né? – a encarei, procurando por uma reação. Ela sorriu, envergonhada e me apertou em um abraço.
- Sim, está. Você me cortou pra fazer essa observação? Tá querendo descobrir o que está rolando aqui?
- Você quer um grande gesto ou é só assim mesmo? – ela me encarou, arqueando as sobrancelhas. Vi um sorriso nascer em seus lábios e ela me deu um selinho demorado.
- Sem grandes gestos, você já é um grande gesto naturalmente. – ela riu e eu concordei, convencido.
- Tudo bem usar a palavra com N, então? Somos noivos? – falei sério, arrancando uma gargalhada da mulher. – Estamos falando em códigos, posso considerar o que eu quiser. – dei de ombros e a apertei em meu colo. – Posso te chamar de namorada? Mesmo, mesmo? – ela assentiu.
- Aí, meu Deus, uma velha de quase 30 anos namorando. Que absurdo. – ela bateu em meu ombro, descontando pela frase como ainda não havia feito.
- Publicamente? – adicionei, ignorando o tapa. Ela torceu a boca, um pouco controversa. – Tudo bem, vamos aos poucos. – ela assentiu, sorridente.
- Eu gosto muito de você, e gosto muito do jeito que você torna as coisas simples e aceita meu jeito de ir devagar. Juro que vou tentar falar mais, tudo bem? – assenti, com um grande sorriso no rosto por ouvir o que ela havia falado. A ajeitei em meus braços e puxei sua cabeça próxima à minha, encostando meus lábios nos seus. Minhas mãos automaticamente agarraram sua cintura, e senti os braços de sendo jogados em meu pescoço.
Senti sua língua invadir minha boca e meu único pensamento se tornara “caralho!”, porque era indescritível. Cada vez que eu a beijasse eu sabia que meu pensamento seria o mesmo. Me lembrei da noite de ano novo, onde nos beijamos pela primeira vez, e sorri, fazendo-a sorrir também. Com sua unha ela acariciava lentamente minha nuca, me fazendo arrepiar por inteiro, algo que ela percebera e provavelmente agora fazia com esse propósito.
Desci meus beijos para seu pescoço e colo, fazendo-a a arrepiar também. Passei minha mão por baixo da blusa que ela usava, apertando sua cintura e ouvindo ela arfar, jogando uma mão em meu cabelo e puxando-o. Mordi levemente seu pescoço e senti um tapa em meu ombro, acompanhado de uma risada.
- , eu sou uma mãe de família, por favor! – ela me encarou.
- Desculpa, eu não consegui me conter. – dei um selinho nela e senti seus braços automaticamente me puxarem para mais perto, aprofundando o beijo novamente. Suas mãos desceram para meu peito, deixando ali um carinho, e logo em seguida desceram mais, chegando até a barra de minha camisa.
Surpreso, separei nossos lábios e a encarei. Seus olhos brilhavam de uma forma que eu ainda não havia visto, e ela apenas escondeu seu rosto em meu corpo, envergonhada. Puxei-a para mim e sorri, negando com a cabeça. Não queria envergonhá-la, de forma alguma. Grudei nossos lábios novamente e voltei suas mãos para onde estavam, fazendo-a rir entre o beijo. Suas mãos agilmente puxaram minha camisa, nos separando apenas para que eu a tirasse e jogasse para o lado, acertando uma garrafa em cima da mesa e a jogando longe por estar vazia.
Ela afastou um pouco seu corpo do meu e encarou a camisa jogada longe, olhando para mim em seguida. Dessa vez quem sorriu envergonhado fui eu, puxando seus cabelos para que voltássemos ao beijo, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela se levantou, e se sentou novamente, agora de frente para mim, com as duas pernas ao lado do meu corpo. Ela então cruzou as mãos em frente ao seu corpo, puxando sua blusa para cima.
Tentei manter meus olhos nos seus, mas ela estava me provocando e ela sabia disso. Seu sorriso era de pura luxúria, e eu achei que nunca fosse vê-la tão daquela forma. A vi morder o lábio e sabia que aquele gesto significava tanto ela demonstrando sua vergonha, quanto sua provável incerteza do que estava fazendo. Encarei seu tronco semi vestido, respirei fundo e sorri para ela. Em apenas um movimento a deitei no sofá, jogando-me por cima e voltando a beijá-la enquanto minhas mãos passeavam pelo seu corpo, assim como suas mãos se revezavam no meu.
Tudo que eu havia falado na melhor intenção anteriormente se passava na minha cabeça agora de uma forma nova, envolvendo também meu desejo por ela. Eu estava obcecado por aquela mulher, e ela fazia questão de triplicar todo aquele sentimento. E agora, era da forma mais nua possível que alguém poderia o fazer. Eu sabia que aquilo significaria muito pra ela, e me perguntava se ela tinha ideia do quanto significava também para mim.
Capítulo 12
“How many times do I have to tell you even when you’re crying you’re beautiful too. The world is beating you down, I’m around through every move.” (Allof Me – John Legend)
Por
- Tá tudo dando errado. – entrou em casa, batendo a porta atrás de si. Bells estava deitada em um sofá enquanto eu estava jogada em outro. deu um beijo em minha testa e outro em Bells, logo se jogando ao meu lado e deitando em meu colo.
- Ei, calma. – seus olhos estavam vermelhos e eu notei que ele havia chorado. – , pelo amor de Deus, não é culpa sua o que aconteceu.
- , eu errei aquele pênalti!* Eu! Era a única coisa que eu não poderia fazer. Já haviam errado um, eu tinha que fazer a minha parte.
- Você fez sua parte o jogo inteiro, essas coisas acontecem. Eu sei que é muito frustrante, sei mesmo, mas você fez tudo que podia. Você bateu superbem, você é um incrível batedor de pênalti, não tenho nada para te dizer além disso.
- Mas dessa vez não deu, . E tá tudo horrível, tudo que está acontecendo está deixando as coisas péssimas por lá. – acariciei seus cabelos e comecei a me lembrar de tudo o que estava acontecendo naquele mês.
No dia seguinte da festa de Bells, o Chelsea perdera para o Manchester City de 6x0. sumiu por dois dias, entre vergonha de respirar (de acordo com ele) e ficar preso no clube em meio a reuniões. Havia sido a primeira goleada dos grandes times da Premier League desde 2014, se tornara um marco histórico, infelizmente.
Depois disso, tivemos o episódio em que o Chelsea recebeu uma punição por contratos com menores de 18 anos, infringindo alguma regra da FIFA que eu ainda não havia entendido por inteiro. A punição será que o time não pode efetuar contratações durante duas janelas de transferências, sendo assim, só poderá voltar a contratar em junho de 2020. Com diversos jogadores com seus contratos acabando e a crise que vinha se instalando no time desde as últimas derrotas que os fizeram sair da lista de classificação para a Champions, isso jogou tudo para baixo de uma vez.
tinha que se concentrar nos jogos, e ele sempre fazia o melhor para isso, mas ele voltava cada vez mais carregado. O clima estava tenso no vestiário, e ele disse estar até mesmo receoso com os companheiros de equipe que poderiam vir a abandonar o time na próxima janela. Sua decisão estava tomada, por mais que qualquer time o procurasse, ele não sairia dali. Pelo menos não até ver que as coisas estariam nos trilhos novamente. Era incrível a paixão que ele tinha por aquele time, me fazia ver o futebol de uma forma que talvez poucos enxergassem. Não era só o dinheiro, ou um gol, realmente suava por aquilo, ele fazia parte do clássico “vestir a camisa”.
O Chelsea, claramente, estava tentando recorrer a essa decisão da FIFA. A diretoria pretende solicitar a prorrogação da pena para que se inicie na próxima janela de transferências, para que eles tenham ao menos a chance de “ajeitar a casa”, mas me dissera acreditar ser improvável que o pedido fosse aceito. E em meio a tantos problemas, se preocupava apenas em ver o técnico do time fora.
sempre definiu Sarrí como uma boa pessoa, um ótimo profissional, e quem sabe, uma esperança para o time. Mas desde o início do ano, a visão se tornara um pouco distorcida, e ele dizia que não aguentava mais o clima da equipe por conta do italiano. O homem tentava impor respeito, mas não era mais atendido. A equipe estava insatisfeita com suas táticas, e isso fazia com que todos se tornassem mimados o suficiente para fazer birra. Uma coisa que havia ficado em evidência no jogo de hoje, o qual acabara de chegar. Manchester City x Chelsea, novamente, dessa vez pela final da Copa da Liga Inglesa.
O jogo havia ficado no 0x0 e estava na prorrogação quando Kepa, o goleiro que eu havia deixado claro para que achava uma gracinha, precisou de atendimento médico duas vezes devido a câimbras. Na segunda vez em que o garoto se levantou para voltar ao jogo, faltando alguns minutos para o final da prorrogação e o momento de ir para os pênaltis, Sarri buscou sua substituição. Quando o goleiro viu que seria substituído, se negou a sair de campo e começou a negar para o técnico, informando-o que estava bem. O clima no campo se tornou pesado, e entre diversos gritos e conversas, um técnico louco de ódio, o goleiro reserva pronto para entrar, um Kepa recusando avidamente uma ordem, e tentando conversar com o garoto para resolver a situação o mais rápido possível, Sarrí perdeu completamente sua compostura e também o respeito que já mostrava não ter. Depois do jogo, houve a parte em que todos tentaram acalmar os ânimos e passar um pano quente na situação, mas todos sabiam que a confusão não se tratava de uma falha de comunicação.
Após todo esse problema, no momento dos pênaltis, Jorginho batera o primeiro para o Chelsea e errara, tornando a situação desde o princípio muito delicada. Quando chegou a vez de bater, ele chutara na trave, deixando o Manchester City com uma vantagem que não foi recompensada, deixando-os com o título. saíra de campo o mais rápido possível, se desculpando com os torcedores que ali estavam os assistindo, com seus olhos cheios de lágrimas que agora apareciam para mim em meio a um rosto vermelho.
- , você tá triste? Tá tudo bem, ninguém te odeia. Você só errou, ué. – Bells falou, acariciando o rosto dele.
- Bells! – falei, segurando a risada, diferente de que não aguentou.
- O que fazer com você, menina?! – ele levantou, pegando-a no colo e a apertando. – Não tem nem como ficar triste do seu lado. Só ‘tô chateado, tudo bem? – ela assentiu, beijando seu rosto.
- Que criança mais carinhosa, a mamãe ganha beijo também? – Bells pulou em meu colo e me deu um beijo junto a um abraço apertado, logo descendo do sofá e voltando a deitar no outro.
- Não me leve a mal pelo que vou dizer, por favor! – falou, olhando para Bells com um sorriso no rosto. – A Bells faz qualquer pessoa desejar um filho, porque se todos fossem assim como ela seria incrível.
- Isso é porquê você não viu a pior época, com três anos ninguém queria chegar perto dela. Ela teve uma fase horrível, assim como toda criança.
- Isso é o de menos, eu não vi, me deixa me iludir. – ele se deitou novamente em meu colo e puxou minha mão para seu peito, colocando a sua por cima da minha. – Obrigado por me deixar vir pra cá.
- Você mandar uma mensagem “, tô indo aí” cinco minutos antes de chegar não é bem deixar, né, a gente fica meio sem escolha. – o vi me encarar indignado e ri, fazendo-o levantar.
- Eu vou embora então.
- Tudo bem. – me ajeitei no sofá, jogando meus pés para cima.
- Nossa, você é muito ruim! Que coração malvado. – ele riu, levantando meus pés e se sentando, jogando minhas pernas por cima das suas. – Tão triste que amanhã já é segunda.
- Falou a pessoa que não vai trabalhar, né?
- Pior, vou pra lá ouvir um monte. – ele sorriu, desanimado. – Mas falou a pessoa que trabalha todos os dias, das sete à meia-noite, né? – ironizou.
- A única que tem direito a reclamar aqui é a Bells, porque ela vai acordar cedo e não tem opção, tem que ir pra escola. – olhei para minha filha e ela me encarou, começando a tossir.
- Não posso, ‘tô doente, mamãe. – ela sorriu, parando de fingir a tosse e imitando um espirro. gargalhou e eu apenas assenti, encarando-a.
- Menina, o que eu fiz para merecer você? Vou te colocar numa escola para ser atriz, você tá valendo o investimento. – ela riu, voltando a prestar atenção na televisão. Era incrível o quão inteligente aquele pingo de ser humano podia ser.
- Digo e repito, eu adoro essa menina. Ela é tão legal que não sei como saiu de você. A parte legal dela com certeza veio do Michael. – falou, pressionando os lábios para segurar a risada.
- Pelo menos você fez o tio rir.
- Mãe, a gente não pode levar o tio pra passear pra ele ficar feliz? Naquele lugar especial? – Bells piscou para mim e eu sorri, pensando o quão incrível ela era. E bom, ia gostar, por mais bobo que fosse. Olhei para ele e vi suas sobrancelhas arqueadas, curioso.
- Onde?
- Não interessa, vai se agasalhar, Bells, vamos levar o pra passear.
- Falando assim parece que você vai colocar uma coleira em mim e me levar para fazer xixi. – ele gargalhou e eu parei para analisar que realmente estava parecendo isso. Me levantei, ainda rindo, e caminhei em direção ao meu quarto para me vestir também.
- Você tá bem agasalhado? Tem blusa? – ouvi ele soltar um “acho que sim” e sorri, fechando a porta para me trocar.
- Quer ir com o seu e eu vou com o meu? – perguntei e o vi negar.
- Posso ir com vocês e volto para ir embora? – assenti e ele sorriu abrindo o próprio carro e vasculhando o banco de trás. Abri meu carro e Bells entrou. Passei o cinto na garota e bati a porta, indo para o banco de motorista e vendo vestir uma blusa de manga comprida e seu agasalho, que parecia muito quentinho, do time.
- Não sei se é muito bonito sair com isso hoje, muito menos eu, mas né.
- Larga de ser bobo, . – ele deu de ombros e bateu a porta. – Onde você vai me levar? – ele torceu seu corpo para trás, olhando para Bells.
- Segredo. – ela riu e fez um sinal de silêncio para , que a encarou incrédulo.
- Vocês são muito cúmplices, senhoritas. – Bells piscou para mim e eu mandei um beijo para ela.
- Você vai gostar, . É perto. – ela falou, encarando a janela e se distraindo com a rua lá fora.
- Você acha que eu devo conversar com ela? – falei alguns minutos depois de ligar o rádio e ver minha filha completamente distraída com a janela ainda, e cantando uma música do Shawn Mendes que tocava pelos alto falantes.
- Acho que a pergunta é se você acha que deve conversar, . – ele riu, dando de ombros.
- Não sei se ela entende as coisas. Tenho medo de confundir a cabeça dela. – ele pareceu ponderar e então um sorriso brotou em seus lábios.
- Ela já espalhou para os amiguinhos que a gente casaria. Eu não acho que ela não entenda. Talvez ela até não entenda completamente, mas ela sabe como funcionam as coisas. Como foi quando você separou do Michael?
- Ela era pequena.
- Mas você teve que explicar em algum momento, não? A Bells com certeza já perguntou, mais curiosa que essa menina não tem.
- Ela entendeu bem. – eu sorri, me lembrando.
- Mamãe. – a garota estava tomando banho e gritou pela mãe enquanto deixava a água cair em seu cabelo, durante o tempo em que não voltava para lavá-los.
- Oi, meu amor. – a mulher entrou no banheiro, sentando em um banquinho ao lado do chuveiro para auxiliar a filha.
- A tia Lena e o tio John foram buscar a Tina hoje... Por que você nunca me busca com o papai? E eles moram juntos com a Tina também, por que o papai não mora aqui? – a mãe sorriu triste, não acreditando que já tinha chegado o dia em que sua filha lhe perguntaria aquilo.
- Eu e o papai não moramos juntos igual o tio John e a tia Lena porque nós decidimos que não estava legal dessa forma, Bells. Foi assim... – a mulher ensaboava as costas da filha enquanto escolhia as palavras para lhe explicar a situação. – A mamãe e o papai ficaram muito tempo juntos, e a mamãe ama o papai, assim como o papai ama a mamãe, certo? Mas nós estávamos ficando chatos juntos, tipo... Sabe quando o seu pianinho cai e fica tocando sozinho e você fica chateada com o barulho que ele está fazendo? Porquê é irritante. – a pequena assentiu, rindo. – Nós estávamos assim. Aí a gente decidiu que não queríamos te irritar igual o pianinho, porque você merece todo amor do mundo de nós dois, mesmo que a gente não esteja igual a tia Lena e o tio John. Você gosta de ficar com a mamãe e sempre ver o papai, visitar ele e a vovó... Não gosta? – ela concordou, com um sorriso no rosto.
- É legal ter duas casas. – ela deu de ombros jogando água no rosto da mãe que a encarou de sobrancelhas arqueadas.
- Espertinha.
- Mas um dia eu vou ter um novo papai e uma nova mamãe? Que vão morar com você e com o papai? – agora a pergunta se tornara um pouco mais complicada e torceu o nariz, tentando encontrar uma forma de responder bem. – O Phill disse que ele tem duas mamães, porque quando ele vai pra casa do tio Frank, tem uma mamãe e ele tem um irmãozinho também. E eles moram todos juntos.
- Talvez, filha. A mamãe pode arrumar uma pessoa que goste muito dela, assim como o papai pode arrumar alguém que goste muito dele. A única coisa que importa é essa pessoa gostar muito de você também, porque é o que importa para nós dois. – a garota sorriu, feliz com a resposta. Para ela, era apenas mais uma pessoa para ela brincar, então estava tudo bem.
- Eu, particularmente, acredito que ela vai adorar. – ele encheu seu peito de ar, parecendo inflar seu ego, o que me fez gargalhar.
- O que eu fiz para te merecer, ? – ele deu de ombros.
- Vocês estão me levando para o lugar mais clichê de Londres ou é impressão minha? – ele aumentou a voz, direcionando sua frase para Bells, que o encarou com um sorriso no rosto quando percebeu onde estava. Por trás das ruas em que passávamos, atrás dos prédios antigos, era possível ver o brilho da roda gigante.
Bells realmente amava aquele lugar. Assim como aquele lugar fora mágico para e eu no ano novo, era mágico para Bells por simplesmente ser lindo. Aquele era realmente o lugar preferido da garota, e eu confesso que aprendera a amar tanto quanto, mesmo com toda a movimentação que sempre havia ali.
- Não deixa de ser mágico nunca, não é? – falou, parecendo ler meus pensamentos. – Boas lembranças. – ele sorriu, me encarando enquanto eu estacionava o carro.
- Sinto que ainda temos muito o que fazer com esse cenário. Por mais clichê que ele seja, senhor .
- O que seria de um casal em Londres sem os pontos turísticos, não?
- Se não morássemos tão no centro na verdade não seria tão comum andar por aqui, mas poxa, estamos tão perto. – ele riu, concordando. – E eu tenho uma filha apaixonada pela cidade onde mora, uma filha que ama encarar a London Eye mesmo que seja de baixo, ama andar pela beirada do Tâmisa e tirar fotos para eu mandar para todo mundo, ama comer nos lugares em volta, e até mesmo ficar sentada naquele café ali... – apontei para o local que ficava a poucos metros de onde eu havia estacionado. – Pelo simples fato de ter uma vista bonita.
- Você é tão linda falando assim que eu só não vou te dar um beijo bem aqui porque estamos sendo encarados por esses olhinhos lindos. – ele indicou o banco de trás com a cabeça e Bells expressou sua curiosidade quando, juntos, olhamos para ela.
- Podemos ir? – ela questionou, soltando o cinto de segurança.
- Podemos, senhorita.
- , não tem nenhum problema você estar aqui, né? – perguntei, antes de destravar as portas. Ele me encarou e negou, abrindo sua porta sozinho.
- Teria problema se eu estivesse sozinho. – ele piscou e eu sorri, boba. Destravei as portas e desci, o vendo abrir a porta para Bells e ajudá-la a descer, segurando sua mão quando ela parou ao seu lado.
- Queria ter colocado meu moletom do Chelsea também, tá todo mundo te olhando, é o melhor time, né? – Bells falou, encarando algumas pessoas em volta.
- Filha, talvez eles estejam olhando para o , e não para o moletom. – falei rindo e ela fez a maior expressão de “ah, verdade” que eu já a havia visto fazer. gargalhou e a pegou no colo, colocando-a em frente ao seu rosto como se estivesse se escondendo.
- Seja o centro das atenções então, bobona! – Bells ria enquanto a girava. Ele se encostou no muro no rio e a apertou em seu colo, se debruçando ali e fingindo que a jogaria. – A água nem deve tá tão gelada.
- Mamãe, me salva! – ela reclamou, ainda rindo.
- Vocês que se resolvam, eu não me importo. – dei de ombros e os dois me encararam. Vi dar dois passos para trás e soltar Bells, com quem trocou um olhar cúmplice.
Ela se encostou no muro ao lado dele e em segundos, antes que eu pudesse me dar conta, passou um braço por baixo de minhas pernas e apoiou o outro por baixo de meus braços e me pegou no colo, assim como fizera com minha filha segundos antes. Senti meu corpo encostar, embaixo de várias camadas de roupa, no muro gelado e tentei não gritar.
- , isso não tem graça. – ouvi Bells rindo e revirei os olhos, o encarando.
- Desculpa, , mas aparentemente tem graça sim.
- Me desce daqui. – fiz bico tentando convencê-lo. – Provavelmente tem alguém tirando foto disso, você vai se arrepender quando abrir o site, sei lá, da ESPN e ver uma matéria sobre estar tentando jogar sua amiga e sua sobrinha no Tâmisa. – ele beijou minha bochecha e me colocou no chão, rindo.
- Será que se eu te der um beijo bem romântico aqui, eles ainda vão tentar fugir do fato? Não sou nenhum, sei lá, Justin Bieber? Harry Styles? Mas dou para o gasto. – ele deu de ombros. – Eu apareço em site de fofocas até demais, sabia? Fizemos uma estimativa entre os jogadores de lá e eu ganhei.
- É, a parte de dar para o gasto vou fingir que concordo pra não ficar feio, tudo bem? – torci o nariz e o vi arquear as sobrancelhas. segurou a mão de Bells e começamos a andar novamente, nos aproximando de algumas barracas que ficavam ao lado da descida da ponte Golden Jubilee.
- Mãe, a gente pode ir? – Bells falou, apontando para a roda gigante. Olhei para o relógio e notei já ser mais de oito e meia, então já estaria fechada para novas pessoas, a fila apenas terminava com as que já estavam ali.
- Já fechou, meu amor. – beijei seus cabelos, a abraçando. – Outro dia, tudo bem?
- , você vem junto com a gente outro dia?
- Claro que venho. – ele concordou, com um sorriso no rosto. – E sabia que eu estou feliz? De ter vindo para cá com vocês. Você sabe como ajudar uma pessoa, huh?
- Eu sabia que você ia melhorar. Já dá até pra esquecer que você não fez o gol. – ela sorriu e eu ri.
- Filha! Agora você o lembrou. – fez bico e ela pareceu entender, então o imitou.
- Desculpa. Mas tá tudo bem. – ela abraçou suas pernas, como se o consolasse.
- Vou até comprar alguma coisa para você comer depois dessa. – ele sorriu, se aproximando com ela dos lugares e pedindo pra que ela escolhesse. – Depois a gente vai embora porque a senhorita tem aula, tudo bem? – ela assentiu, concordando. – Mas prometo que outro dia a gente volta para ficar mais tempo.
Estacionei o carro em frente de casa e desceu rápido, pegando uma Bells quase adormecida no banco de trás. Desci e tranquei o carro, andando rapidamente até eles que estavam na porta.
- Você ainda tem que tomar banho, filha. – falei, tentando não assustá-la. Ela negou com a cabeça sem nem abrir os olhos, se ajeitando no colo de e se debruçando em seu ombro.
- Dei banho nela hoje de manhã, pode deixar. Coloca ela na cama dela, por favor, vou só trocar.
Grandes decisões que mãe deve tomar. Ri sozinha com o pensamento e segui no corredor até o quarto de minha filha, já buscando por seu pijama na gaveta. beijou sua testa e saiu do cômodo enquanto eu a trocava e separava suas coisas para o dia seguinte. Dobrei as roupas que ela usava e deixei separadas, logo apagando a luz e deixando o quarto. Bati a porta e pude ver ao meu lado, no mesmo momento em que ele me puxou, fazendo meu corpo se chocar no seu.
Senti seu nariz grudar no meu enquanto nossos olhos se encaravam. Eu sorri e neguei com a cabeça, enquanto ele ria de saber o que eu estava pensando. Aquele homem não existia, ele não valia nada. Grudei nossos lábios e me rendi à sua mão que agarrava minha cintura, deixando meu corpo ceder em seus braços.
- Você tem mais alguma coisa que precisa fazer? – ele perguntou, distribuindo beijos pelo meu pescoço. Neguei com a cabeça.
- Nada que eu não possa fazer amanhã.
- Então agora a senhorita está sendo convocada pra ser o meu real consolo. – ele riu, me fazendo rir também.
- Você é demais, . – ainda rindo apertei minhas unhas em sua nuca, vendo seus pelos se eriçarem, deixando-o alerta.
- . – ele resmungou, fechando os olhos. Em poucos segundos ele recobrou sua consciência e a última coisa que me lembro é do meu corpo sendo jogado em minha cama, enquanto dividimos risadas.
* Utilizei a situação do David Luiz para o pp, pois no jogo foi ele quem perdeu o pênalti.
Por
- Tá tudo dando errado. – entrou em casa, batendo a porta atrás de si. Bells estava deitada em um sofá enquanto eu estava jogada em outro. deu um beijo em minha testa e outro em Bells, logo se jogando ao meu lado e deitando em meu colo.
- Ei, calma. – seus olhos estavam vermelhos e eu notei que ele havia chorado. – , pelo amor de Deus, não é culpa sua o que aconteceu.
- , eu errei aquele pênalti!* Eu! Era a única coisa que eu não poderia fazer. Já haviam errado um, eu tinha que fazer a minha parte.
- Você fez sua parte o jogo inteiro, essas coisas acontecem. Eu sei que é muito frustrante, sei mesmo, mas você fez tudo que podia. Você bateu superbem, você é um incrível batedor de pênalti, não tenho nada para te dizer além disso.
- Mas dessa vez não deu, . E tá tudo horrível, tudo que está acontecendo está deixando as coisas péssimas por lá. – acariciei seus cabelos e comecei a me lembrar de tudo o que estava acontecendo naquele mês.
No dia seguinte da festa de Bells, o Chelsea perdera para o Manchester City de 6x0. sumiu por dois dias, entre vergonha de respirar (de acordo com ele) e ficar preso no clube em meio a reuniões. Havia sido a primeira goleada dos grandes times da Premier League desde 2014, se tornara um marco histórico, infelizmente.
Depois disso, tivemos o episódio em que o Chelsea recebeu uma punição por contratos com menores de 18 anos, infringindo alguma regra da FIFA que eu ainda não havia entendido por inteiro. A punição será que o time não pode efetuar contratações durante duas janelas de transferências, sendo assim, só poderá voltar a contratar em junho de 2020. Com diversos jogadores com seus contratos acabando e a crise que vinha se instalando no time desde as últimas derrotas que os fizeram sair da lista de classificação para a Champions, isso jogou tudo para baixo de uma vez.
tinha que se concentrar nos jogos, e ele sempre fazia o melhor para isso, mas ele voltava cada vez mais carregado. O clima estava tenso no vestiário, e ele disse estar até mesmo receoso com os companheiros de equipe que poderiam vir a abandonar o time na próxima janela. Sua decisão estava tomada, por mais que qualquer time o procurasse, ele não sairia dali. Pelo menos não até ver que as coisas estariam nos trilhos novamente. Era incrível a paixão que ele tinha por aquele time, me fazia ver o futebol de uma forma que talvez poucos enxergassem. Não era só o dinheiro, ou um gol, realmente suava por aquilo, ele fazia parte do clássico “vestir a camisa”.
O Chelsea, claramente, estava tentando recorrer a essa decisão da FIFA. A diretoria pretende solicitar a prorrogação da pena para que se inicie na próxima janela de transferências, para que eles tenham ao menos a chance de “ajeitar a casa”, mas me dissera acreditar ser improvável que o pedido fosse aceito. E em meio a tantos problemas, se preocupava apenas em ver o técnico do time fora.
sempre definiu Sarrí como uma boa pessoa, um ótimo profissional, e quem sabe, uma esperança para o time. Mas desde o início do ano, a visão se tornara um pouco distorcida, e ele dizia que não aguentava mais o clima da equipe por conta do italiano. O homem tentava impor respeito, mas não era mais atendido. A equipe estava insatisfeita com suas táticas, e isso fazia com que todos se tornassem mimados o suficiente para fazer birra. Uma coisa que havia ficado em evidência no jogo de hoje, o qual acabara de chegar. Manchester City x Chelsea, novamente, dessa vez pela final da Copa da Liga Inglesa.
O jogo havia ficado no 0x0 e estava na prorrogação quando Kepa, o goleiro que eu havia deixado claro para que achava uma gracinha, precisou de atendimento médico duas vezes devido a câimbras. Na segunda vez em que o garoto se levantou para voltar ao jogo, faltando alguns minutos para o final da prorrogação e o momento de ir para os pênaltis, Sarri buscou sua substituição. Quando o goleiro viu que seria substituído, se negou a sair de campo e começou a negar para o técnico, informando-o que estava bem. O clima no campo se tornou pesado, e entre diversos gritos e conversas, um técnico louco de ódio, o goleiro reserva pronto para entrar, um Kepa recusando avidamente uma ordem, e tentando conversar com o garoto para resolver a situação o mais rápido possível, Sarrí perdeu completamente sua compostura e também o respeito que já mostrava não ter. Depois do jogo, houve a parte em que todos tentaram acalmar os ânimos e passar um pano quente na situação, mas todos sabiam que a confusão não se tratava de uma falha de comunicação.
Após todo esse problema, no momento dos pênaltis, Jorginho batera o primeiro para o Chelsea e errara, tornando a situação desde o princípio muito delicada. Quando chegou a vez de bater, ele chutara na trave, deixando o Manchester City com uma vantagem que não foi recompensada, deixando-os com o título. saíra de campo o mais rápido possível, se desculpando com os torcedores que ali estavam os assistindo, com seus olhos cheios de lágrimas que agora apareciam para mim em meio a um rosto vermelho.
- , você tá triste? Tá tudo bem, ninguém te odeia. Você só errou, ué. – Bells falou, acariciando o rosto dele.
- Bells! – falei, segurando a risada, diferente de que não aguentou.
- O que fazer com você, menina?! – ele levantou, pegando-a no colo e a apertando. – Não tem nem como ficar triste do seu lado. Só ‘tô chateado, tudo bem? – ela assentiu, beijando seu rosto.
- Que criança mais carinhosa, a mamãe ganha beijo também? – Bells pulou em meu colo e me deu um beijo junto a um abraço apertado, logo descendo do sofá e voltando a deitar no outro.
- Não me leve a mal pelo que vou dizer, por favor! – falou, olhando para Bells com um sorriso no rosto. – A Bells faz qualquer pessoa desejar um filho, porque se todos fossem assim como ela seria incrível.
- Isso é porquê você não viu a pior época, com três anos ninguém queria chegar perto dela. Ela teve uma fase horrível, assim como toda criança.
- Isso é o de menos, eu não vi, me deixa me iludir. – ele se deitou novamente em meu colo e puxou minha mão para seu peito, colocando a sua por cima da minha. – Obrigado por me deixar vir pra cá.
- Você mandar uma mensagem “, tô indo aí” cinco minutos antes de chegar não é bem deixar, né, a gente fica meio sem escolha. – o vi me encarar indignado e ri, fazendo-o levantar.
- Eu vou embora então.
- Tudo bem. – me ajeitei no sofá, jogando meus pés para cima.
- Nossa, você é muito ruim! Que coração malvado. – ele riu, levantando meus pés e se sentando, jogando minhas pernas por cima das suas. – Tão triste que amanhã já é segunda.
- Falou a pessoa que não vai trabalhar, né?
- Pior, vou pra lá ouvir um monte. – ele sorriu, desanimado. – Mas falou a pessoa que trabalha todos os dias, das sete à meia-noite, né? – ironizou.
- A única que tem direito a reclamar aqui é a Bells, porque ela vai acordar cedo e não tem opção, tem que ir pra escola. – olhei para minha filha e ela me encarou, começando a tossir.
- Não posso, ‘tô doente, mamãe. – ela sorriu, parando de fingir a tosse e imitando um espirro. gargalhou e eu apenas assenti, encarando-a.
- Menina, o que eu fiz para merecer você? Vou te colocar numa escola para ser atriz, você tá valendo o investimento. – ela riu, voltando a prestar atenção na televisão. Era incrível o quão inteligente aquele pingo de ser humano podia ser.
- Digo e repito, eu adoro essa menina. Ela é tão legal que não sei como saiu de você. A parte legal dela com certeza veio do Michael. – falou, pressionando os lábios para segurar a risada.
- Pelo menos você fez o tio rir.
- Mãe, a gente não pode levar o tio pra passear pra ele ficar feliz? Naquele lugar especial? – Bells piscou para mim e eu sorri, pensando o quão incrível ela era. E bom, ia gostar, por mais bobo que fosse. Olhei para ele e vi suas sobrancelhas arqueadas, curioso.
- Onde?
- Não interessa, vai se agasalhar, Bells, vamos levar o pra passear.
- Falando assim parece que você vai colocar uma coleira em mim e me levar para fazer xixi. – ele gargalhou e eu parei para analisar que realmente estava parecendo isso. Me levantei, ainda rindo, e caminhei em direção ao meu quarto para me vestir também.
- Você tá bem agasalhado? Tem blusa? – ouvi ele soltar um “acho que sim” e sorri, fechando a porta para me trocar.
- Quer ir com o seu e eu vou com o meu? – perguntei e o vi negar.
- Posso ir com vocês e volto para ir embora? – assenti e ele sorriu abrindo o próprio carro e vasculhando o banco de trás. Abri meu carro e Bells entrou. Passei o cinto na garota e bati a porta, indo para o banco de motorista e vendo vestir uma blusa de manga comprida e seu agasalho, que parecia muito quentinho, do time.
- Não sei se é muito bonito sair com isso hoje, muito menos eu, mas né.
- Larga de ser bobo, . – ele deu de ombros e bateu a porta. – Onde você vai me levar? – ele torceu seu corpo para trás, olhando para Bells.
- Segredo. – ela riu e fez um sinal de silêncio para , que a encarou incrédulo.
- Vocês são muito cúmplices, senhoritas. – Bells piscou para mim e eu mandei um beijo para ela.
- Você vai gostar, . É perto. – ela falou, encarando a janela e se distraindo com a rua lá fora.
- Você acha que eu devo conversar com ela? – falei alguns minutos depois de ligar o rádio e ver minha filha completamente distraída com a janela ainda, e cantando uma música do Shawn Mendes que tocava pelos alto falantes.
- Acho que a pergunta é se você acha que deve conversar, . – ele riu, dando de ombros.
- Não sei se ela entende as coisas. Tenho medo de confundir a cabeça dela. – ele pareceu ponderar e então um sorriso brotou em seus lábios.
- Ela já espalhou para os amiguinhos que a gente casaria. Eu não acho que ela não entenda. Talvez ela até não entenda completamente, mas ela sabe como funcionam as coisas. Como foi quando você separou do Michael?
- Ela era pequena.
- Mas você teve que explicar em algum momento, não? A Bells com certeza já perguntou, mais curiosa que essa menina não tem.
- Ela entendeu bem. – eu sorri, me lembrando.
- Mamãe. – a garota estava tomando banho e gritou pela mãe enquanto deixava a água cair em seu cabelo, durante o tempo em que não voltava para lavá-los.
- Oi, meu amor. – a mulher entrou no banheiro, sentando em um banquinho ao lado do chuveiro para auxiliar a filha.
- A tia Lena e o tio John foram buscar a Tina hoje... Por que você nunca me busca com o papai? E eles moram juntos com a Tina também, por que o papai não mora aqui? – a mãe sorriu triste, não acreditando que já tinha chegado o dia em que sua filha lhe perguntaria aquilo.
- Eu e o papai não moramos juntos igual o tio John e a tia Lena porque nós decidimos que não estava legal dessa forma, Bells. Foi assim... – a mulher ensaboava as costas da filha enquanto escolhia as palavras para lhe explicar a situação. – A mamãe e o papai ficaram muito tempo juntos, e a mamãe ama o papai, assim como o papai ama a mamãe, certo? Mas nós estávamos ficando chatos juntos, tipo... Sabe quando o seu pianinho cai e fica tocando sozinho e você fica chateada com o barulho que ele está fazendo? Porquê é irritante. – a pequena assentiu, rindo. – Nós estávamos assim. Aí a gente decidiu que não queríamos te irritar igual o pianinho, porque você merece todo amor do mundo de nós dois, mesmo que a gente não esteja igual a tia Lena e o tio John. Você gosta de ficar com a mamãe e sempre ver o papai, visitar ele e a vovó... Não gosta? – ela concordou, com um sorriso no rosto.
- É legal ter duas casas. – ela deu de ombros jogando água no rosto da mãe que a encarou de sobrancelhas arqueadas.
- Espertinha.
- Mas um dia eu vou ter um novo papai e uma nova mamãe? Que vão morar com você e com o papai? – agora a pergunta se tornara um pouco mais complicada e torceu o nariz, tentando encontrar uma forma de responder bem. – O Phill disse que ele tem duas mamães, porque quando ele vai pra casa do tio Frank, tem uma mamãe e ele tem um irmãozinho também. E eles moram todos juntos.
- Talvez, filha. A mamãe pode arrumar uma pessoa que goste muito dela, assim como o papai pode arrumar alguém que goste muito dele. A única coisa que importa é essa pessoa gostar muito de você também, porque é o que importa para nós dois. – a garota sorriu, feliz com a resposta. Para ela, era apenas mais uma pessoa para ela brincar, então estava tudo bem.
- Eu, particularmente, acredito que ela vai adorar. – ele encheu seu peito de ar, parecendo inflar seu ego, o que me fez gargalhar.
- O que eu fiz para te merecer, ? – ele deu de ombros.
- Vocês estão me levando para o lugar mais clichê de Londres ou é impressão minha? – ele aumentou a voz, direcionando sua frase para Bells, que o encarou com um sorriso no rosto quando percebeu onde estava. Por trás das ruas em que passávamos, atrás dos prédios antigos, era possível ver o brilho da roda gigante.
Bells realmente amava aquele lugar. Assim como aquele lugar fora mágico para e eu no ano novo, era mágico para Bells por simplesmente ser lindo. Aquele era realmente o lugar preferido da garota, e eu confesso que aprendera a amar tanto quanto, mesmo com toda a movimentação que sempre havia ali.
- Não deixa de ser mágico nunca, não é? – falou, parecendo ler meus pensamentos. – Boas lembranças. – ele sorriu, me encarando enquanto eu estacionava o carro.
- Sinto que ainda temos muito o que fazer com esse cenário. Por mais clichê que ele seja, senhor .
- O que seria de um casal em Londres sem os pontos turísticos, não?
- Se não morássemos tão no centro na verdade não seria tão comum andar por aqui, mas poxa, estamos tão perto. – ele riu, concordando. – E eu tenho uma filha apaixonada pela cidade onde mora, uma filha que ama encarar a London Eye mesmo que seja de baixo, ama andar pela beirada do Tâmisa e tirar fotos para eu mandar para todo mundo, ama comer nos lugares em volta, e até mesmo ficar sentada naquele café ali... – apontei para o local que ficava a poucos metros de onde eu havia estacionado. – Pelo simples fato de ter uma vista bonita.
- Você é tão linda falando assim que eu só não vou te dar um beijo bem aqui porque estamos sendo encarados por esses olhinhos lindos. – ele indicou o banco de trás com a cabeça e Bells expressou sua curiosidade quando, juntos, olhamos para ela.
- Podemos ir? – ela questionou, soltando o cinto de segurança.
- Podemos, senhorita.
- , não tem nenhum problema você estar aqui, né? – perguntei, antes de destravar as portas. Ele me encarou e negou, abrindo sua porta sozinho.
- Teria problema se eu estivesse sozinho. – ele piscou e eu sorri, boba. Destravei as portas e desci, o vendo abrir a porta para Bells e ajudá-la a descer, segurando sua mão quando ela parou ao seu lado.
- Queria ter colocado meu moletom do Chelsea também, tá todo mundo te olhando, é o melhor time, né? – Bells falou, encarando algumas pessoas em volta.
- Filha, talvez eles estejam olhando para o , e não para o moletom. – falei rindo e ela fez a maior expressão de “ah, verdade” que eu já a havia visto fazer. gargalhou e a pegou no colo, colocando-a em frente ao seu rosto como se estivesse se escondendo.
- Seja o centro das atenções então, bobona! – Bells ria enquanto a girava. Ele se encostou no muro no rio e a apertou em seu colo, se debruçando ali e fingindo que a jogaria. – A água nem deve tá tão gelada.
- Mamãe, me salva! – ela reclamou, ainda rindo.
- Vocês que se resolvam, eu não me importo. – dei de ombros e os dois me encararam. Vi dar dois passos para trás e soltar Bells, com quem trocou um olhar cúmplice.
Ela se encostou no muro ao lado dele e em segundos, antes que eu pudesse me dar conta, passou um braço por baixo de minhas pernas e apoiou o outro por baixo de meus braços e me pegou no colo, assim como fizera com minha filha segundos antes. Senti meu corpo encostar, embaixo de várias camadas de roupa, no muro gelado e tentei não gritar.
- , isso não tem graça. – ouvi Bells rindo e revirei os olhos, o encarando.
- Desculpa, , mas aparentemente tem graça sim.
- Me desce daqui. – fiz bico tentando convencê-lo. – Provavelmente tem alguém tirando foto disso, você vai se arrepender quando abrir o site, sei lá, da ESPN e ver uma matéria sobre estar tentando jogar sua amiga e sua sobrinha no Tâmisa. – ele beijou minha bochecha e me colocou no chão, rindo.
- Será que se eu te der um beijo bem romântico aqui, eles ainda vão tentar fugir do fato? Não sou nenhum, sei lá, Justin Bieber? Harry Styles? Mas dou para o gasto. – ele deu de ombros. – Eu apareço em site de fofocas até demais, sabia? Fizemos uma estimativa entre os jogadores de lá e eu ganhei.
- É, a parte de dar para o gasto vou fingir que concordo pra não ficar feio, tudo bem? – torci o nariz e o vi arquear as sobrancelhas. segurou a mão de Bells e começamos a andar novamente, nos aproximando de algumas barracas que ficavam ao lado da descida da ponte Golden Jubilee.
- Mãe, a gente pode ir? – Bells falou, apontando para a roda gigante. Olhei para o relógio e notei já ser mais de oito e meia, então já estaria fechada para novas pessoas, a fila apenas terminava com as que já estavam ali.
- Já fechou, meu amor. – beijei seus cabelos, a abraçando. – Outro dia, tudo bem?
- , você vem junto com a gente outro dia?
- Claro que venho. – ele concordou, com um sorriso no rosto. – E sabia que eu estou feliz? De ter vindo para cá com vocês. Você sabe como ajudar uma pessoa, huh?
- Eu sabia que você ia melhorar. Já dá até pra esquecer que você não fez o gol. – ela sorriu e eu ri.
- Filha! Agora você o lembrou. – fez bico e ela pareceu entender, então o imitou.
- Desculpa. Mas tá tudo bem. – ela abraçou suas pernas, como se o consolasse.
- Vou até comprar alguma coisa para você comer depois dessa. – ele sorriu, se aproximando com ela dos lugares e pedindo pra que ela escolhesse. – Depois a gente vai embora porque a senhorita tem aula, tudo bem? – ela assentiu, concordando. – Mas prometo que outro dia a gente volta para ficar mais tempo.
Estacionei o carro em frente de casa e desceu rápido, pegando uma Bells quase adormecida no banco de trás. Desci e tranquei o carro, andando rapidamente até eles que estavam na porta.
- Você ainda tem que tomar banho, filha. – falei, tentando não assustá-la. Ela negou com a cabeça sem nem abrir os olhos, se ajeitando no colo de e se debruçando em seu ombro.
- Dei banho nela hoje de manhã, pode deixar. Coloca ela na cama dela, por favor, vou só trocar.
Grandes decisões que mãe deve tomar. Ri sozinha com o pensamento e segui no corredor até o quarto de minha filha, já buscando por seu pijama na gaveta. beijou sua testa e saiu do cômodo enquanto eu a trocava e separava suas coisas para o dia seguinte. Dobrei as roupas que ela usava e deixei separadas, logo apagando a luz e deixando o quarto. Bati a porta e pude ver ao meu lado, no mesmo momento em que ele me puxou, fazendo meu corpo se chocar no seu.
Senti seu nariz grudar no meu enquanto nossos olhos se encaravam. Eu sorri e neguei com a cabeça, enquanto ele ria de saber o que eu estava pensando. Aquele homem não existia, ele não valia nada. Grudei nossos lábios e me rendi à sua mão que agarrava minha cintura, deixando meu corpo ceder em seus braços.
- Você tem mais alguma coisa que precisa fazer? – ele perguntou, distribuindo beijos pelo meu pescoço. Neguei com a cabeça.
- Nada que eu não possa fazer amanhã.
- Então agora a senhorita está sendo convocada pra ser o meu real consolo. – ele riu, me fazendo rir também.
- Você é demais, . – ainda rindo apertei minhas unhas em sua nuca, vendo seus pelos se eriçarem, deixando-o alerta.
- . – ele resmungou, fechando os olhos. Em poucos segundos ele recobrou sua consciência e a última coisa que me lembro é do meu corpo sendo jogado em minha cama, enquanto dividimos risadas.
* Utilizei a situação do David Luiz para o pp, pois no jogo foi ele quem perdeu o pênalti.
Capítulo 13
“And with every step together we just keep on getting better. So can I have this dance?” (Can I Have This Dance – Vanessa Hudgens e Zac Efron)
Por
: Ei, tudo bem? Vai fazer alguma coisa a noite?
Saí do treino para almoçar e peguei meu celular, sorrindo ao ver a mensagem de nele. Já fazia um mês que ela havia aceito meu pedido de namoro e estávamos muito bem. Todos viviam me dizendo que eu não parava de sorrir para todos os lados, a situação das pessoas comigo no time já estava até mesmo irritante. Principalmente quando tive que contar todos os detalhes para os caras no vestiário, fui abordado como garotas em uma festa do pijama. Algumas fotos nossas acabaram por parar em jornais esportivos, ou não, e até mesmo eram colocadas em meio a brincadeiras relacionadas a como eu estava melhor em campo desde o surgimento da mulher que aparecera comigo em diversos lugares desde alguns meses atrás.
- Sorrisinho de quem recebeu mensagem da . – vi David falando. – Quando vou conhecer minha parceira do Brasil? – tentei identificar a palavra que ele falara, que soou como português, sem sucesso.
- Nunca, de preferência. Vocês vão me deixar de fora do assunto. – ele riu, concordando.
- É, pode ser. – o vi dar de ombros e Willian aparecer, concordando.
- Parem de tirar uma com o cara só porquê ele está enamorado, deixem o bebê em paz. – Kepa apareceu, utilizando palavras de sua língua também. Algumas vezes aquele vestiário parecia uma zona com tantos idiomas sendo falados ao mesmo tempo. Ele deu um tapa em minhas costas.
- Meu aniversário está chegando, ótima oportunidade. – Kanté comentou. – Todo mundo vai em casa, certo?
- Posso falar com ela. – dei de ombros depois de ver todos concordarem que iriam.
- Ela não estará sozinha, a Bruna vai. – David falou, sorrindo e vendo todos concordarem que levariam suas namoradas ou esposas também. – Eu falo com ela se você quiser. – ele tomou meu celular de minha mão como uma criança e apagou a mensagem que eu digitava para ela, preparando-se para gravar um áudio para a mulher pelo aplicativo. Nem mesmo me movi para tentar pegar, jogar contra ele em alguns momentos do treino já era humilhante o suficiente. – Ei, ! Tudo bem? David aqui. Acredito que você sabe quem é, o falou que você acompanha e não acho que tenha outro David que possa falar português para você. Inclusive, o tá me olhando com um olhar superesquisito só porque ele não tá entendendo nada que eu ‘tô falando. Enfim, esse fim de semana tem o aniversário do Kanté, e a gente quer te conhecer. Todo mundo do time. Você vai, né? Minha namorada vai também, e a dos caras também. A gente jura que não morde, a não ser que peça. E bom, o pode morder, aí fica entre vocês. Mas vai sim, por favor! Falou.
- E? – perguntei, sem ter entendido nem meia palavra que ele havia gravado naquele áudio que deve ter durado por volta de um minuto. Ele deu de ombros, rindo junto aos outros.
- Ele não falou nada ruim, fica em paz. – Higuain falou, aparecendo no meio de todos nós.
- Se ele tivesse falado, você falaria? – Pedro questionou e todos riram, sabendo que não. – Vamos. – ele saiu na frente de todos nós, puxando a gangue para o almoço.
: Desculpa pelo áudio, eu não sei o que ele falou. Mas estou bem, bem cansado, e você? Hahaha Não vou fazer nada, algum plano?
- , come invés de ficar esperando mensagem da , meu Deus. – ouvi Willian reclamar, caçoando.
- Vocês não podem me deixar em paz? Eu nunca fui chato assim com vocês. – todos me encararam e eu dei de ombros, rindo ao me lembrar das diversas vezes que quase espantei as garotas que eles apresentavam. Eu era, de fato, o pior dali.
- É hora da vingança, meu garoto. – Jorginho riu, fingindo maldade.
: Tem uma festa de primavera na escola da Bells. Eu tenho que ir, é como uma reunião de pais, mas mais arrumada. Nunca entendo bem, mas tenho que ir. Quer me acompanhar?
: Que horas?
: Precisa olhar sua agenda?
: Que horas eu passo aí, boba! Hahaha
: Umas sete horas? Pode ser?
: Okay! Até mais tarde, vou voltar a comer antes que gritem mais comigo. Beijo.
: Espera aí! Vou ouvir esse áudio e responder, quem foi? Você não manda áudio.
: Só ouve 🙄
- Ela falou que vai ouvir seu áudio. – falei, me dirigindo à David.
- Cadê? – ele se aproximou, olhando para a tela do celular que estava em cima da mesa.
- Calma. – falei, rindo. – Vocês são muito desesperados, estão parecendo meninas no primeiro beijo com o cara mais bonito da escola. Passei muito por isso. – dei de ombros e eles gargalharam, concordando em fingimento.
- Dá aqui! – ele pegou o celular e soltou o áudio que a mulher havia enviado. O vi sorrir, assim como outros caras que entendiam pelo menos algumas palavras que ela falava.
- E? Vou ter que convencer ela ou não?
- Eu sou muito bom nisso, é claro que não. Ela falou que vai, só precisa procurar com quem deixar a pequena.
- É só levar, não tem problema nenhum. – Willian falou e Kanté, que estava na mesa de trás o ouviu.
- Festa de família, cara. Não vou convidar prostitutas, nem nada. – ele gargalhou, fazendo todos rirem e alguns solteiros contrariarem fingindo insatisfação.
- A Bells é incrivelmente acelerada, vocês tem certeza?
- Eu tenho gêmeas, acredite, eu sei. E você sabe disso, elas não são nada fáceis.
- Tudo bem então. – concordei, rindo ao me lembrar de Manuela e Valentina, as gêmeas de Willian. – Vou falar com ela.
: Chegando!
: Você tá dirigindo e digitando, ?
: Hm, não?
: Vergonha na cara falta, né?
: Talvez. Para de reclamar e termina de se arrumar que 2min tô aí. Beijo.
: Beijo.
- Ai, meu Deus, como você tá linda! – falei animado, vendo Bells entrar no banco de trás. afivelava o cinto enquanto a pequena, com um sorriso no rosto, esticava a mão em minha direção para que eu beijasse. – É uma bela senhorita? – sorri, recebendo um aceno de cabeça como afirmação. Ela usava um vestido florido, com meia calça e sapatilha. Um casaco cobria seu corpo, pois ainda não estávamos em uma temperatura tão amena.
- Você também tá lindo, . – ela piscou para mim e eu sorri, agradecendo e mandando um beijo para ela enquanto via se sentar ao meu lado e bater a porta. – A mamãe tá muito linda também, né? – ela então me encarou, curiosa.
- Ela está sempre maravilhosa, Bells. – sorri para , que ficou vermelha com o comentário. Bells pareceu satisfeita com a resposta.
- Obrigada. – riu, ainda envergonhada.
- Apenas a verdade. – apertei sua mão e a encarei enquanto ligava o carro. – Como você tá?
- ‘Tô bem, e você?
- Cansado.
- Cansado do quê? Fica o tempo todo conversando. – ela riu, provavelmente se referindo ao almoço de hoje.
- Por sinal, o que ele te falou? – perguntei, curioso.
- Nada demais. – ela riu.
- E sobre a festa? – desisti de saber o que ele havia falado e mudei de assunto, ansioso por ver sua reação.
- Eu gostei de ser convidada. – ela deu de ombros. – A gente vai?
- Se você falar que a gente vai, a gente vai. – eu ri e ela deu de ombros, concordando.
- Eu quero. Só preciso ver. – ela apontou para o banco de trás e através do retrovisor pude perceber que Bells prestava atenção em nossa conversa.
- Ah, é sobre isso que eu ia falar. Relaxa que não é nada do que você vê nas notícias da maioria dos jogadores. – eu ri, vendo ela semicerrar os olhos, sem entender. – As crianças dos outros vão também.
- Mas você acha uma boa levar a Bells? – vi a pequena se remexer na cadeira, nos acompanhando.
- Onde vamos? – ela perguntou, curiosa.
- Você quer conhecer os amigos do ? – perguntou e ela abriu um sorriso.
- Do Chelsea. – adicionei.
- Sim!
- Então nós vamos. – fiz um hi-5 com ela quando estacionei o carro próximo a escola.
- Uau. Isso está lindo. – falei, admirando o salão enfeitado com decorações de primavera. Diversas flores preenchiam as paredes e fitas de cores fortes e variadas enfeitavam o lugar deixando-o com um ar extremamente feliz e agradável. Bells assentiu concordando e logo em seguida correu em direção a algumas crianças que estavam em roda mais a frente. Olhei em volta e vi diversos pais conversando reunidos. Todos estavam muito bem arrumados e pareciam se conhecer há algum tempo. Essas reuniões provavelmente eram bem comuns.
andou, me puxando pela mão. A vi acenar para uma pessoa ou outra com um sorriso no rosto, e também vi algumas das pessoas para quem ela sorria me encararem, talvez um pouco surpresas. Ignorei e continuei andando com a mulher até que paramos ao lado de uma mulher que deveria ter aproximadamente a idade de , e a abraçou calorosamente falando palavras que eu não entendi, deduzindo que ela também fosse brasileira.
- Lisa, esse é...
- , desculpa , não tem como não conhecer. – a mulher riu, se aproximando para me abraçar também. - Vi um pessoal passando e falando algo do tipo, mas não imaginei que você o tivesse trazido. Amigos? – ela arqueou as sobrancelhas e eu ri, vendo ficar vermelha.
- Você não perde a oportunidade, não?
- Sabia! – ela piscou para amiga, soltando mais algumas palavras que eu não compreendia.
- Já vi que para não sofrer o resto da vida vou ter que aprender português. – reclamei, fazendo com que elas rissem.
- Aprenda o de Portugal, é mais legal.
- Nunca, Mandy. – retrucou, rapidamente.
- Ah, você é de Portugal? Que legal. – falei, pensando na quantidade de pessoas de nacionalidades variadas que tínhamos em Londres. Por onde se anda, aparecem pessoas falando em línguas diferentes.
- Coincidência, não? Ela é a professora da Bells.
- E cadê a Bells? – ela perguntou, procurando com os olhos pelo salão.
- Saiu correndo quando chegamos e sumiu entre as crianças. – dei de ombros e ela riu.
- Fazia algum tempo que não nos víamos. Como estão as coisas? Bom, elas estão muito boas a princípio. – a vi rir apontando para mim e senti meus rosto esquentar. – Desculpe. – riu e segurou minha mão, encostando seu corpo no meu.
- Desde a última vez que conversamos, a única novidade que tenho é estar namorando. Eu, namorando. – ela riu, repetindo pausadamente.
- Olá. – vi Michael se aproximar da conversa e seus olhos pareciam brilhar, não de um modo bom. sorriu torto e Mandy puxou o ar.
- Michael, que bom vê-lo! – ela deu um passo a frente e o abraçou. – Como você está? Tudo bem?
- Não muito, e você? – ele não parecia nem um pouco insatisfeito em demonstrar seu descontentamento, encarando . Não tínhamos dúvida nenhuma de que ele ouvira as novidades da ex-mulher e não havia gostado muito.
- Aí, que horror, eu estou bem. Faz tempo que você não aparece. Como foi a festa da Bells, fiquei triste por não ter ido.
- Com licença, onde está a Bells? – ele perguntou para , desviando seu olhar de mim. Eu sou uma pessoa muito em paz, e nunca dei o mínimo motivo para isso, mas já estava me irritando. Tentei me lembrar que estava em uma festa de escola e, diferente dele, tinha autocontrole e sabia não ser hora de tomar um cartão amarelo de minha namorada.
- Brincando com as crianças. Boa noite para você também, Mike. Alguns dias sendo tão educado, outros sem a mínima educação. – ela retrucou ácida e eu encarei Mandy, que assim como eu tentava segurar a risada e não entrar no meio. Invés de respondê-la, Michael virou de costas e saiu caminhando pelo salão. – Desculpem. – sorriu torto, com uma expressão envergonhada.
- Você não fez nada de errado. – Mandy disse e eu concordei, balançando a cabeça.
- Relaxa, . – abracei seus ombros e dei um beijo em sua cabeça, sentindo seu corpo desmanchar a tensão que havia criado.
- Isso me irrita, não gosto do clima que fica.
- Até ele aceitar vai ser assim. – falei.
- Desculpa, mas eu acredito que não seja algo tão aceitável na mente dele. Seria difícil para qualquer um. Imagine ao contrário. – ela encarou , que pareceu ponderar. Fiquei quieto, fingindo por um momento que um leve ar de ciúmes não passou por meu rosto, me fazendo sorrir com a bobeira do pensamento. – Vou ali dar uma olhada nas crianças, tudo bem? – a mulher apoiou suas mãos nos ombros de . – Fica em paz. – e saiu, deixando uma piscadinha para nós.
- Deu para ver que ela não vale nada, né?
- Com certeza. – virei meu corpo de frente para o dela, segurando suas mãos. – Você está bem? – ela assentiu.
- Desculpa. – seus olhos abaixaram em direção ao chão e eu levantei sua cabeça, tocando levemente seu queixo com minha mão.
- Pode parar. – a abracei rapidamente. – A situação foi um pouco incomoda, eu sei, mas é muito bom que ele tenha vindo, fico feliz.
- Ele sempre vem. Nunca vou negar que Michael é um pai maravilhoso, fico muito feliz. – ela sorriu, sincera. – Vem, vamos sentar, vão começar as apresentações e o blá, blá. Blá, básico de toda comemoração de escola.
- Não me desanime, eu nunca estive algo assim. – falei, indo em direção as cadeiras de mãos dadas com .
- Fico feliz em saber, um grande sinal que você não está me escondendo um filho. – ela riu, indicando um lugar onde poderíamos sentar. Ao longe vi Bells ser levada por Mandy para trás do palco improvisado.
- A não ser que eu seja aqueles pais horríveis que só colocam a criança no mundo.
- Você não tem coração para isso, , a gente sabe. – ela beijou minha bochecha e eu sorri para ela, beijando a sua também.
- Acabou? – perguntei, vendo as pessoas começarem a se levantar. assentiu, se levantando também e assim como os outros, pegando sua cadeira e levando para a lateral do salão.
- Mamãe, a gente pode ficar mais um pouquinho?
- Claro, meu anjo, você já viu o papai? – ela perguntou, vendo os olhos da filha brilharem.
- Ele tá aqui? – perguntou, animada.
- Tá sim, chama ele para dançar com você.
- Vou lá procurar ele, pode ser? – perguntei, direcionando minha pergunta para , que arqueou as sobrancelhas.
- É uma boa ideia?
- Não me importo. Não é como se eu fosse arrumar briga, cair em pilha de alguém. Se eu não me irrito com brutamontes subindo em mim, homem tentando arrebentar minhas pernas, juiz roubando meu time, seu ex-marido é o menor dos meus problemas. – ela gargalhou pela associação e eu sai, procurando por Michael com os olhos.
Sai do salão e passei por um corredor vazio, andando por ele ao ouvir vozes em uma sala no final. Me aproximei da conversa e não resisti em não ouvi-la.
- Eu só não consigo acreditar. – Michael falou, com a voz embargada.
- Uma hora ia acontecer. E na verdade, já tinha passado da hora, Mike. Sei que não faz tanto tempo, mas vocês combinaram de seguir em frente, não foi?
- Foi, mas no momento de colocar em prática não é tão fácil assim. Foi muito tempo o que ficamos juntos, Mandy.
- Eu sei, e vocês eram um casal maravilhoso, mesmo no fim do relacionamento que foi quando conheci vocês.
- Sabe qual a maior ironia da vida? – senti um ar mais pesado em sua voz, e imaginei qual seria a resposta para aquela pergunta retórica. – A pessoa com quem ela está. – ele riu, desgostoso. – Estou caindo para minha grande paixão, para o meu próprio time. É bobo, mas é inacreditável.
- Para com isso, Mike. Vamos para lá aproveitar, a Bells provavelmente quer te ver. O que precisar, pode contar comigo, tudo bem? Você tem meu telefone.
Me adiantei em bater à porta antes que eles pudessem sair da sala e me encontrar ali, ouvindo.
- Olá? – apareci na porta, recebendo os olhares dos dois sobre mim. – Michael, a Bells está te procurando, ela disse que não te viu. – ele assentiu.
- Obrigado, Mandy. – ele a agradeceu com um sorriso e então passou ao meu lado, para sair em direção ao salão. – . – balançou a cabeça como em um cumprimento. Sorri para Mandy, que me encarou com as sobrancelhas arqueadas.
- Escutar a conversa dos outros é algo feio, . – arregalei os olhos e ela deu de ombros. – Eu trabalho com crianças, conheço bem uma expressão culpada. Vamos. – ela passou, me puxando pelo braço para voltarmos ao salão.
- Ei. Tudo bem? – perguntou quando me aproximei. Eu assenti.
- Estamos vivos, não? – ela bateu em meu braço, reclamando da frase.
A música tocava e preenchia o salão, as crianças dançavam de um lado para o outro, algumas sozinhas e outras com seus pais. Sorri vendo Bells dançando uma música lenta abraçada ao pai, seus bracinhos estavam jogados sobre os ombros dele, e ele a girava pelo lugar, fazendo-a rir. Vi alguns casais se levantarem para dançar também e sorri com meu pensamento.
- Vem. – estiquei minha mão para ela, que mesmo sem entender a segurou. Andei em direção a saída do salão e me aproximei novamente do corredor vazio de onde tinha vindo antes. – Se fosse lá, você ia negar, eu sei. – peguei sua mão que eu segurava e a coloquei em meu ombro, fazendo o mesmo com a outra e vendo um sorriso tímido aparecer nos lábios da mulher.
- Ah, . – ela riu feliz, aproximando mais seu corpo do meu.
Coloquei meus braços em sua cintura e comecei a me mexer de um lado para o outro, apenas nos levando no ritmo da música. O corredor estava um tanto quanto escurecido, mas pude ver que ele também tinha diversos enfeites de acordo com o tema da confraternização. A música para nós soava um pouco mais baixa, mas ainda era possível ouvi-la com perfeição. resmungava baixinho a letra, com a cabeça quase apoiada em meu corpo.
- Acho que você é meu Troy Bolton. – ela sussurrou, rindo e quebrando o clima.
- Você não sabe só curtir o momento, né? – reclamei, fazendo-a rir mais ainda. – Sou seu Troy Bolton, me perdoa por não ter te levado para o jardim e feito toda a cena. – fiz bico e ela me encarou, parando de dançar.
- Você já viu High School Musical?
- É algo assim tão inacreditável? – levantei minha sobrancelha, expressando minha indignação. – É meu guilty pleasure*. Gosto de qualquer coisa da Disney, infelizmente não posso negar.
- , você é demais. – ela gargalhou, o que ecoou no corredor vazio, me fazendo rir.
- Agora você estragou nosso momento can I have this dance, estou chateado.
- Vem cá. - ela deu dois passos para trás e esticou sua mão para mim. – Take my hand... – em segundos estávamos os dois rindo novamente.
- Depois de você estragar meu momento, duas vezes... – me aproximei dela, juntando nossos corpos enquanto levava o meu em direção à parede que estava atrás de mim. – Eu mereço pelo menos um beijo, né? – sorri, colocando uma mão em sua cintura, e a outra em sua nuca.
- Não consigo não me apaixonar a cada dia mais por você.
- É tão bom ouvir você falar isso, você não faz ideia. – sorri. – Só espero que quando eu te beije os sprinters não ativem, não quero essa parte deles. – ela riu e juntou nossos lábios em um selinho, direcionando suas mãos para colocar em meu peito enquanto eu aprofundava o beijo, pressionando sua nuca.
Só esperei que ninguém chegasse ali, porque eu só queria aproveitar aquilo pelo mínimo tempo que fosse.
- Mãe? Mãe? – ouvi a voz de Bells se aproximar, próxima a porta do salão. Eu e nos separamos, rindo.
- Tô aqui, meu amor. – ela apareceu na porta, para que a filha a visse.
- Vem dançar comigo. – a pequena gritou, fazendo Michael, que a acompanhava, rir. – Você também. – ela colocou a mão na cintura, como se estivesse brava, e então esticou a mão para que eu a pegasse e a acompanhasse. deu de ombros e eu as segui, com um sorriso no rosto.
*Guilty Pleasure: Um prazer culpado é algo, como um filme, um programa de televisão ou uma peça de música, que se desfruta, a despeito do entendimento de que geralmente não é tido em alta consideração, ou é visto como incomum ou esquisito.
Por
: Ei, tudo bem? Vai fazer alguma coisa a noite?
Saí do treino para almoçar e peguei meu celular, sorrindo ao ver a mensagem de nele. Já fazia um mês que ela havia aceito meu pedido de namoro e estávamos muito bem. Todos viviam me dizendo que eu não parava de sorrir para todos os lados, a situação das pessoas comigo no time já estava até mesmo irritante. Principalmente quando tive que contar todos os detalhes para os caras no vestiário, fui abordado como garotas em uma festa do pijama. Algumas fotos nossas acabaram por parar em jornais esportivos, ou não, e até mesmo eram colocadas em meio a brincadeiras relacionadas a como eu estava melhor em campo desde o surgimento da mulher que aparecera comigo em diversos lugares desde alguns meses atrás.
- Sorrisinho de quem recebeu mensagem da . – vi David falando. – Quando vou conhecer minha parceira do Brasil? – tentei identificar a palavra que ele falara, que soou como português, sem sucesso.
- Nunca, de preferência. Vocês vão me deixar de fora do assunto. – ele riu, concordando.
- É, pode ser. – o vi dar de ombros e Willian aparecer, concordando.
- Parem de tirar uma com o cara só porquê ele está enamorado, deixem o bebê em paz. – Kepa apareceu, utilizando palavras de sua língua também. Algumas vezes aquele vestiário parecia uma zona com tantos idiomas sendo falados ao mesmo tempo. Ele deu um tapa em minhas costas.
- Meu aniversário está chegando, ótima oportunidade. – Kanté comentou. – Todo mundo vai em casa, certo?
- Posso falar com ela. – dei de ombros depois de ver todos concordarem que iriam.
- Ela não estará sozinha, a Bruna vai. – David falou, sorrindo e vendo todos concordarem que levariam suas namoradas ou esposas também. – Eu falo com ela se você quiser. – ele tomou meu celular de minha mão como uma criança e apagou a mensagem que eu digitava para ela, preparando-se para gravar um áudio para a mulher pelo aplicativo. Nem mesmo me movi para tentar pegar, jogar contra ele em alguns momentos do treino já era humilhante o suficiente. – Ei, ! Tudo bem? David aqui. Acredito que você sabe quem é, o falou que você acompanha e não acho que tenha outro David que possa falar português para você. Inclusive, o tá me olhando com um olhar superesquisito só porque ele não tá entendendo nada que eu ‘tô falando. Enfim, esse fim de semana tem o aniversário do Kanté, e a gente quer te conhecer. Todo mundo do time. Você vai, né? Minha namorada vai também, e a dos caras também. A gente jura que não morde, a não ser que peça. E bom, o pode morder, aí fica entre vocês. Mas vai sim, por favor! Falou.
- E? – perguntei, sem ter entendido nem meia palavra que ele havia gravado naquele áudio que deve ter durado por volta de um minuto. Ele deu de ombros, rindo junto aos outros.
- Ele não falou nada ruim, fica em paz. – Higuain falou, aparecendo no meio de todos nós.
- Se ele tivesse falado, você falaria? – Pedro questionou e todos riram, sabendo que não. – Vamos. – ele saiu na frente de todos nós, puxando a gangue para o almoço.
: Desculpa pelo áudio, eu não sei o que ele falou. Mas estou bem, bem cansado, e você? Hahaha Não vou fazer nada, algum plano?
- , come invés de ficar esperando mensagem da , meu Deus. – ouvi Willian reclamar, caçoando.
- Vocês não podem me deixar em paz? Eu nunca fui chato assim com vocês. – todos me encararam e eu dei de ombros, rindo ao me lembrar das diversas vezes que quase espantei as garotas que eles apresentavam. Eu era, de fato, o pior dali.
- É hora da vingança, meu garoto. – Jorginho riu, fingindo maldade.
: Tem uma festa de primavera na escola da Bells. Eu tenho que ir, é como uma reunião de pais, mas mais arrumada. Nunca entendo bem, mas tenho que ir. Quer me acompanhar?
: Que horas?
: Precisa olhar sua agenda?
: Que horas eu passo aí, boba! Hahaha
: Umas sete horas? Pode ser?
: Okay! Até mais tarde, vou voltar a comer antes que gritem mais comigo. Beijo.
: Espera aí! Vou ouvir esse áudio e responder, quem foi? Você não manda áudio.
: Só ouve 🙄
- Ela falou que vai ouvir seu áudio. – falei, me dirigindo à David.
- Cadê? – ele se aproximou, olhando para a tela do celular que estava em cima da mesa.
- Calma. – falei, rindo. – Vocês são muito desesperados, estão parecendo meninas no primeiro beijo com o cara mais bonito da escola. Passei muito por isso. – dei de ombros e eles gargalharam, concordando em fingimento.
- Dá aqui! – ele pegou o celular e soltou o áudio que a mulher havia enviado. O vi sorrir, assim como outros caras que entendiam pelo menos algumas palavras que ela falava.
- E? Vou ter que convencer ela ou não?
- Eu sou muito bom nisso, é claro que não. Ela falou que vai, só precisa procurar com quem deixar a pequena.
- É só levar, não tem problema nenhum. – Willian falou e Kanté, que estava na mesa de trás o ouviu.
- Festa de família, cara. Não vou convidar prostitutas, nem nada. – ele gargalhou, fazendo todos rirem e alguns solteiros contrariarem fingindo insatisfação.
- A Bells é incrivelmente acelerada, vocês tem certeza?
- Eu tenho gêmeas, acredite, eu sei. E você sabe disso, elas não são nada fáceis.
- Tudo bem então. – concordei, rindo ao me lembrar de Manuela e Valentina, as gêmeas de Willian. – Vou falar com ela.
: Chegando!
: Você tá dirigindo e digitando, ?
: Hm, não?
: Vergonha na cara falta, né?
: Talvez. Para de reclamar e termina de se arrumar que 2min tô aí. Beijo.
: Beijo.
- Ai, meu Deus, como você tá linda! – falei animado, vendo Bells entrar no banco de trás. afivelava o cinto enquanto a pequena, com um sorriso no rosto, esticava a mão em minha direção para que eu beijasse. – É uma bela senhorita? – sorri, recebendo um aceno de cabeça como afirmação. Ela usava um vestido florido, com meia calça e sapatilha. Um casaco cobria seu corpo, pois ainda não estávamos em uma temperatura tão amena.
- Você também tá lindo, . – ela piscou para mim e eu sorri, agradecendo e mandando um beijo para ela enquanto via se sentar ao meu lado e bater a porta. – A mamãe tá muito linda também, né? – ela então me encarou, curiosa.
- Ela está sempre maravilhosa, Bells. – sorri para , que ficou vermelha com o comentário. Bells pareceu satisfeita com a resposta.
- Obrigada. – riu, ainda envergonhada.
- Apenas a verdade. – apertei sua mão e a encarei enquanto ligava o carro. – Como você tá?
- ‘Tô bem, e você?
- Cansado.
- Cansado do quê? Fica o tempo todo conversando. – ela riu, provavelmente se referindo ao almoço de hoje.
- Por sinal, o que ele te falou? – perguntei, curioso.
- Nada demais. – ela riu.
- E sobre a festa? – desisti de saber o que ele havia falado e mudei de assunto, ansioso por ver sua reação.
- Eu gostei de ser convidada. – ela deu de ombros. – A gente vai?
- Se você falar que a gente vai, a gente vai. – eu ri e ela deu de ombros, concordando.
- Eu quero. Só preciso ver. – ela apontou para o banco de trás e através do retrovisor pude perceber que Bells prestava atenção em nossa conversa.
- Ah, é sobre isso que eu ia falar. Relaxa que não é nada do que você vê nas notícias da maioria dos jogadores. – eu ri, vendo ela semicerrar os olhos, sem entender. – As crianças dos outros vão também.
- Mas você acha uma boa levar a Bells? – vi a pequena se remexer na cadeira, nos acompanhando.
- Onde vamos? – ela perguntou, curiosa.
- Você quer conhecer os amigos do ? – perguntou e ela abriu um sorriso.
- Do Chelsea. – adicionei.
- Sim!
- Então nós vamos. – fiz um hi-5 com ela quando estacionei o carro próximo a escola.
- Uau. Isso está lindo. – falei, admirando o salão enfeitado com decorações de primavera. Diversas flores preenchiam as paredes e fitas de cores fortes e variadas enfeitavam o lugar deixando-o com um ar extremamente feliz e agradável. Bells assentiu concordando e logo em seguida correu em direção a algumas crianças que estavam em roda mais a frente. Olhei em volta e vi diversos pais conversando reunidos. Todos estavam muito bem arrumados e pareciam se conhecer há algum tempo. Essas reuniões provavelmente eram bem comuns.
andou, me puxando pela mão. A vi acenar para uma pessoa ou outra com um sorriso no rosto, e também vi algumas das pessoas para quem ela sorria me encararem, talvez um pouco surpresas. Ignorei e continuei andando com a mulher até que paramos ao lado de uma mulher que deveria ter aproximadamente a idade de , e a abraçou calorosamente falando palavras que eu não entendi, deduzindo que ela também fosse brasileira.
- Lisa, esse é...
- , desculpa , não tem como não conhecer. – a mulher riu, se aproximando para me abraçar também. - Vi um pessoal passando e falando algo do tipo, mas não imaginei que você o tivesse trazido. Amigos? – ela arqueou as sobrancelhas e eu ri, vendo ficar vermelha.
- Você não perde a oportunidade, não?
- Sabia! – ela piscou para amiga, soltando mais algumas palavras que eu não compreendia.
- Já vi que para não sofrer o resto da vida vou ter que aprender português. – reclamei, fazendo com que elas rissem.
- Aprenda o de Portugal, é mais legal.
- Nunca, Mandy. – retrucou, rapidamente.
- Ah, você é de Portugal? Que legal. – falei, pensando na quantidade de pessoas de nacionalidades variadas que tínhamos em Londres. Por onde se anda, aparecem pessoas falando em línguas diferentes.
- Coincidência, não? Ela é a professora da Bells.
- E cadê a Bells? – ela perguntou, procurando com os olhos pelo salão.
- Saiu correndo quando chegamos e sumiu entre as crianças. – dei de ombros e ela riu.
- Fazia algum tempo que não nos víamos. Como estão as coisas? Bom, elas estão muito boas a princípio. – a vi rir apontando para mim e senti meus rosto esquentar. – Desculpe. – riu e segurou minha mão, encostando seu corpo no meu.
- Desde a última vez que conversamos, a única novidade que tenho é estar namorando. Eu, namorando. – ela riu, repetindo pausadamente.
- Olá. – vi Michael se aproximar da conversa e seus olhos pareciam brilhar, não de um modo bom. sorriu torto e Mandy puxou o ar.
- Michael, que bom vê-lo! – ela deu um passo a frente e o abraçou. – Como você está? Tudo bem?
- Não muito, e você? – ele não parecia nem um pouco insatisfeito em demonstrar seu descontentamento, encarando . Não tínhamos dúvida nenhuma de que ele ouvira as novidades da ex-mulher e não havia gostado muito.
- Aí, que horror, eu estou bem. Faz tempo que você não aparece. Como foi a festa da Bells, fiquei triste por não ter ido.
- Com licença, onde está a Bells? – ele perguntou para , desviando seu olhar de mim. Eu sou uma pessoa muito em paz, e nunca dei o mínimo motivo para isso, mas já estava me irritando. Tentei me lembrar que estava em uma festa de escola e, diferente dele, tinha autocontrole e sabia não ser hora de tomar um cartão amarelo de minha namorada.
- Brincando com as crianças. Boa noite para você também, Mike. Alguns dias sendo tão educado, outros sem a mínima educação. – ela retrucou ácida e eu encarei Mandy, que assim como eu tentava segurar a risada e não entrar no meio. Invés de respondê-la, Michael virou de costas e saiu caminhando pelo salão. – Desculpem. – sorriu torto, com uma expressão envergonhada.
- Você não fez nada de errado. – Mandy disse e eu concordei, balançando a cabeça.
- Relaxa, . – abracei seus ombros e dei um beijo em sua cabeça, sentindo seu corpo desmanchar a tensão que havia criado.
- Isso me irrita, não gosto do clima que fica.
- Até ele aceitar vai ser assim. – falei.
- Desculpa, mas eu acredito que não seja algo tão aceitável na mente dele. Seria difícil para qualquer um. Imagine ao contrário. – ela encarou , que pareceu ponderar. Fiquei quieto, fingindo por um momento que um leve ar de ciúmes não passou por meu rosto, me fazendo sorrir com a bobeira do pensamento. – Vou ali dar uma olhada nas crianças, tudo bem? – a mulher apoiou suas mãos nos ombros de . – Fica em paz. – e saiu, deixando uma piscadinha para nós.
- Deu para ver que ela não vale nada, né?
- Com certeza. – virei meu corpo de frente para o dela, segurando suas mãos. – Você está bem? – ela assentiu.
- Desculpa. – seus olhos abaixaram em direção ao chão e eu levantei sua cabeça, tocando levemente seu queixo com minha mão.
- Pode parar. – a abracei rapidamente. – A situação foi um pouco incomoda, eu sei, mas é muito bom que ele tenha vindo, fico feliz.
- Ele sempre vem. Nunca vou negar que Michael é um pai maravilhoso, fico muito feliz. – ela sorriu, sincera. – Vem, vamos sentar, vão começar as apresentações e o blá, blá. Blá, básico de toda comemoração de escola.
- Não me desanime, eu nunca estive algo assim. – falei, indo em direção as cadeiras de mãos dadas com .
- Fico feliz em saber, um grande sinal que você não está me escondendo um filho. – ela riu, indicando um lugar onde poderíamos sentar. Ao longe vi Bells ser levada por Mandy para trás do palco improvisado.
- A não ser que eu seja aqueles pais horríveis que só colocam a criança no mundo.
- Você não tem coração para isso, , a gente sabe. – ela beijou minha bochecha e eu sorri para ela, beijando a sua também.
- Acabou? – perguntei, vendo as pessoas começarem a se levantar. assentiu, se levantando também e assim como os outros, pegando sua cadeira e levando para a lateral do salão.
- Mamãe, a gente pode ficar mais um pouquinho?
- Claro, meu anjo, você já viu o papai? – ela perguntou, vendo os olhos da filha brilharem.
- Ele tá aqui? – perguntou, animada.
- Tá sim, chama ele para dançar com você.
- Vou lá procurar ele, pode ser? – perguntei, direcionando minha pergunta para , que arqueou as sobrancelhas.
- É uma boa ideia?
- Não me importo. Não é como se eu fosse arrumar briga, cair em pilha de alguém. Se eu não me irrito com brutamontes subindo em mim, homem tentando arrebentar minhas pernas, juiz roubando meu time, seu ex-marido é o menor dos meus problemas. – ela gargalhou pela associação e eu sai, procurando por Michael com os olhos.
Sai do salão e passei por um corredor vazio, andando por ele ao ouvir vozes em uma sala no final. Me aproximei da conversa e não resisti em não ouvi-la.
- Eu só não consigo acreditar. – Michael falou, com a voz embargada.
- Uma hora ia acontecer. E na verdade, já tinha passado da hora, Mike. Sei que não faz tanto tempo, mas vocês combinaram de seguir em frente, não foi?
- Foi, mas no momento de colocar em prática não é tão fácil assim. Foi muito tempo o que ficamos juntos, Mandy.
- Eu sei, e vocês eram um casal maravilhoso, mesmo no fim do relacionamento que foi quando conheci vocês.
- Sabe qual a maior ironia da vida? – senti um ar mais pesado em sua voz, e imaginei qual seria a resposta para aquela pergunta retórica. – A pessoa com quem ela está. – ele riu, desgostoso. – Estou caindo para minha grande paixão, para o meu próprio time. É bobo, mas é inacreditável.
- Para com isso, Mike. Vamos para lá aproveitar, a Bells provavelmente quer te ver. O que precisar, pode contar comigo, tudo bem? Você tem meu telefone.
Me adiantei em bater à porta antes que eles pudessem sair da sala e me encontrar ali, ouvindo.
- Olá? – apareci na porta, recebendo os olhares dos dois sobre mim. – Michael, a Bells está te procurando, ela disse que não te viu. – ele assentiu.
- Obrigado, Mandy. – ele a agradeceu com um sorriso e então passou ao meu lado, para sair em direção ao salão. – . – balançou a cabeça como em um cumprimento. Sorri para Mandy, que me encarou com as sobrancelhas arqueadas.
- Escutar a conversa dos outros é algo feio, . – arregalei os olhos e ela deu de ombros. – Eu trabalho com crianças, conheço bem uma expressão culpada. Vamos. – ela passou, me puxando pelo braço para voltarmos ao salão.
- Ei. Tudo bem? – perguntou quando me aproximei. Eu assenti.
- Estamos vivos, não? – ela bateu em meu braço, reclamando da frase.
A música tocava e preenchia o salão, as crianças dançavam de um lado para o outro, algumas sozinhas e outras com seus pais. Sorri vendo Bells dançando uma música lenta abraçada ao pai, seus bracinhos estavam jogados sobre os ombros dele, e ele a girava pelo lugar, fazendo-a rir. Vi alguns casais se levantarem para dançar também e sorri com meu pensamento.
- Vem. – estiquei minha mão para ela, que mesmo sem entender a segurou. Andei em direção a saída do salão e me aproximei novamente do corredor vazio de onde tinha vindo antes. – Se fosse lá, você ia negar, eu sei. – peguei sua mão que eu segurava e a coloquei em meu ombro, fazendo o mesmo com a outra e vendo um sorriso tímido aparecer nos lábios da mulher.
- Ah, . – ela riu feliz, aproximando mais seu corpo do meu.
Coloquei meus braços em sua cintura e comecei a me mexer de um lado para o outro, apenas nos levando no ritmo da música. O corredor estava um tanto quanto escurecido, mas pude ver que ele também tinha diversos enfeites de acordo com o tema da confraternização. A música para nós soava um pouco mais baixa, mas ainda era possível ouvi-la com perfeição. resmungava baixinho a letra, com a cabeça quase apoiada em meu corpo.
- Acho que você é meu Troy Bolton. – ela sussurrou, rindo e quebrando o clima.
- Você não sabe só curtir o momento, né? – reclamei, fazendo-a rir mais ainda. – Sou seu Troy Bolton, me perdoa por não ter te levado para o jardim e feito toda a cena. – fiz bico e ela me encarou, parando de dançar.
- Você já viu High School Musical?
- É algo assim tão inacreditável? – levantei minha sobrancelha, expressando minha indignação. – É meu guilty pleasure*. Gosto de qualquer coisa da Disney, infelizmente não posso negar.
- , você é demais. – ela gargalhou, o que ecoou no corredor vazio, me fazendo rir.
- Agora você estragou nosso momento can I have this dance, estou chateado.
- Vem cá. - ela deu dois passos para trás e esticou sua mão para mim. – Take my hand... – em segundos estávamos os dois rindo novamente.
- Depois de você estragar meu momento, duas vezes... – me aproximei dela, juntando nossos corpos enquanto levava o meu em direção à parede que estava atrás de mim. – Eu mereço pelo menos um beijo, né? – sorri, colocando uma mão em sua cintura, e a outra em sua nuca.
- Não consigo não me apaixonar a cada dia mais por você.
- É tão bom ouvir você falar isso, você não faz ideia. – sorri. – Só espero que quando eu te beije os sprinters não ativem, não quero essa parte deles. – ela riu e juntou nossos lábios em um selinho, direcionando suas mãos para colocar em meu peito enquanto eu aprofundava o beijo, pressionando sua nuca.
Só esperei que ninguém chegasse ali, porque eu só queria aproveitar aquilo pelo mínimo tempo que fosse.
- Mãe? Mãe? – ouvi a voz de Bells se aproximar, próxima a porta do salão. Eu e nos separamos, rindo.
- Tô aqui, meu amor. – ela apareceu na porta, para que a filha a visse.
- Vem dançar comigo. – a pequena gritou, fazendo Michael, que a acompanhava, rir. – Você também. – ela colocou a mão na cintura, como se estivesse brava, e então esticou a mão para que eu a pegasse e a acompanhasse. deu de ombros e eu as segui, com um sorriso no rosto.
*Guilty Pleasure: Um prazer culpado é algo, como um filme, um programa de televisão ou uma peça de música, que se desfruta, a despeito do entendimento de que geralmente não é tido em alta consideração, ou é visto como incomum ou esquisito.
Capítulo 14
“Se esse sorriso for para mim, eu sou o cara que tem mais sorte no mundo. Azar de quem perdeu, agora sou eu.” (Cantada – Luan Santana)
Por
- Confesso que ‘tô com um pouco de vergonha. – falei quando estacionou o carro. A casa de Kanté não era longe, então havíamos levado pouco tempo para chegar ali, o que não me deu tempo suficiente para me preparar. Ia conhecer todos os amigos de de uma vez.
Não passei por isso com Michael, quando namoramos. Como tínhamos alguns amigos em comum, alguns outros foram sendo apresentados aos poucos, mas eram todos do mesmo grupinho, o que fazia com que todos se conhecessem e parecesse algo mais simples. Isso não faz sentido nenhum, e eu sabia que estava tentando afastar o pensamento de que estava nervosa simplesmente pelo fato de serem todos jogadores de futebol. Era estranho.
- Você tá nervosa? – riu, abrindo a porta de trás do carro para pegar Bells.
- ‘Tô, não me julga. – reclamei e bati a porta.
- Nunca. – ele ativou o alarme do carro e se aproximou, segurando minha mão com sua mão livre, já que a outra segurava a mão de minha filha. – Você vai ver que é todo mundo muito tranquilo, igual eu. – dei risada e o vi arquear as sobrancelhas. – Algo a dizer, senhorita? – neguei com a cabeça e ele sorriu, parecendo se divertir.
- Ah, , vários jogadores de futebol no mesmo lugar. Eu, super de fora do grupo...
- É assim que se torna do grupo, . Parece que você está no primeiro ano de escola, com medo de fazer amizades. Bom, de não fazer. Você vai gostar, sério. Só tem um ou outro que são mais chatos... Mas você vai ver. – ele apertou minha mão carinhosamente, me encorajando. – Qualquer coisa você me avisa, que a gente vai embora, tá? – assenti, vendo ele abrir a porta para que entrássemos.
Entrei e logo pude observar o lugar, que não estava tão cheio. A casa era bonita, e estava muito bem organizada, haviam pessoas em pé conversando, alguns estavam jogados no sofá para jogar videogame, outros estavam mais para frente em outro cômodo que imaginei ser a cozinha, e eu só conseguia pensar em ter que cumprimentar todas essas pessoas, por menos que fossem. Mas então me lembrei que aqui ninguém fazia isso. Exceto, talvez, a primeira pessoa que saltou do sofá e vinha em minha direção.
- Finalmente! Quem estávamos esperando. – David gritou em meio a risadas, chamando atenção de todos. se colocou em minha frente e de Bells, fazendo graça, mas o brasileiro o empurrou, se aproximando de Bells, que pulara em meu colo, e eu.
- Fico extremamente feliz em conhecê-la, senhorita. – ele beijou meu rosto e dividiu um abraço comigo e minha filha. – Você é tão linda, quer jogar videogame?
- O prazer é meu. – sorri, agradecida. Bells o encarou e olhou para mim, como se pedisse permissão. Dei de ombros e ela imitou meu gesto, descendo de meu colo e dando a mão para o homem, que agora a apresentava à mulher que estava atrás de si, que eu imaginava ser sua namorada. A mulher abaixou e beijou a bochecha de Bells, logo em seguida fazendo o mesmo comigo.
- Mais uma brasileira para se misturar. – ela riu, se apresentando como Bruna e me dando um abraço. – Nem acredito que o deu uma dentro. O cara é tão chato que sempre esperei que quando ele desencalhasse seria com uma pessoa horrível. - ao ouvir seu nome, nos encarou, parecendo irritado.
- Agora vocês vão ficar falando português e me deixar de fora? Vai ser assim o tempo todo? – olhei para Bruna que me encarou e assim como eu, concordou rindo. – Coisa chata. – ele revirou os olhos e eu segurei sua mão, me aproximando dele.
- Isso não é chato, você é chato.
- Você não tem ideia de como é bom encontrar alguém do seu país em outro, é uma sensação indescritível. – ela falou sincera e eu ri, concordando. – Por mais que a gente sempre tenha com quem conversar, família e tudo, pessoas novas para isso na vida sempre são bem-vindas. Por sinal, bem-vinda à essa loucura. – ela apontou para o ambiente no geral, me fazendo rir.
- Vem, vamos conhecer as outras pessoas, a Bru me maltrata. – ele mostrou a língua para ela, que retribuiu da mesma forma.
Procurei por Bells pela sala e a encontrei como centro das atenções no sofá. Ela estava com o controle na mão e olhava atenta para a televisão enquanto Jorginho estava ao seu lado, da mesma forma. Caminhamos até eles e nos encostamos próximos ao sofá. segurava minha mão e puxava meu corpo sempre para perto do seu, me fazendo sorrir com a preocupação.
- Ei, ! – todos perceberam que eu estava ali e começaram a levantar mãos para me cumprimentar, soltando diferentes tipos de “oi” “olá”, alguns até em espanhol ou outras línguas, o que para mim era engraçado.
- Olá. – sorri, cumprimentando a todos. Sentados ali estavam Christensen, Pedro, Rudiger, Alonso, David que havia colocado minha filha para jogar e Jorginho que jogava com ela. – Vocês já a colocaram para jogar? Corajosos, quero ver quem tira agora.
- Já vimos que o Jorginho que não vai ser, porquê ele já está perdendo. – Pedro falou, dando um tapa na cabeça do amigo.
- É injusta essa vida. – ele reclamou, rindo.
- Eu não tenho culpa que você é ruim. – Bells falou, ainda prestando atenção ao jogo.
- Isabelle! – tentei repreendê-la, mas todos já riam, inclusive Jorginho que jogara o controle na mão do próximo quando viu que o último segundo de jogo havia terminado.
- Me coloquem de próximo. – gritou, e todos concordaram. Bells olhou para trás, o encarando. – Ah, agora você está com medo, não é, bonitinha? Eu não te dou moleza e você sabe. – ele bagunçou o cabelo da pequena e se virou para mim. – Vem, vamos encontrar o restante.
Caminhei ao seu lado até onde parecia ser a cozinha, encontrando um cômodo muito bem limpo e iluminado. Alguns petiscos estavam espalhados pela bancada ao lado das bebidas e vi que algumas mulheres, entre elas estava Bruna, os rodeavam, comendo.
- Alô. – já apareceu chamando a atenção de todos, me deixando com vergonha. – Essa é a . – ele esticou seu braço em minha direção como se me apresentasse em um programa de TV. Rolei os olhos para ele, e levantei a mão um tanto quanto tímida para acenar para as pessoas.
- Muito bem-vinda. – Kanté se aproximou.
- Oi! Muito obrigada. – falei, sem graça.
- O fala muito de você. – Higuain apareceu, rindo para o amigo. – É bem irritante, na verdade, mas ele fica bem vermelho quando a gente afirma isso. – olhei para , que tinha o rosto corado.
- Já vi que hoje é dia de todo mundo me dedurar, não esperava menos de vocês.
- Olá, garota bonita. – senti uma mão em minha cintura e sorri ao ver Giroud me cumprimentando.
- Ei, olá. – sorri, envergonhada.
- , não é? Sua pequena é muito parecida com você. – ele apontou para Bells, vendo que eu estava encostada a observando.
- Acredite, ela é uma boa mistura dos dois.
- Eu entendo, os meus também. – ele apontou para um casal que corria em volta da mesa da sala de jantar.
- São lindos. – sorri vendo sua expressão orgulhosa.
- Olá! Estou atrasado, mas cheguei. Posso roubar? – Willian apontou para mim, perguntando para Giroud. O homem sorriu, assentindo e andando na direção da mulher que o chamava. – Prazer. – ele disse, beijando minha bochecha e automaticamente mudando o idioma da nossa conversa para português. Esperava que as pessoas vissem o quanto isso me fazia feliz, eu não cansaria de pensar isso em momento algum.
- Estavam todos tão ansiosos assim para me conhecer? – perguntei, rindo.
- Você não tem ideia, vai ser incrivelmente bom poder pirraçar o com maior propriedade ainda depois de te conhecer.
- Estou até ficando com pena dele. Não, não estou não. – dei de ombros, fazendo Willian rir.
- Eu quero poder pirraçá-lo, mas confesso que também estava ansioso para ser o cara chato que vai te encher falando o quão feliz ele está. – ele disse, sincero. – Sério, o cara tá nas nuvens, é engraçado. Só continue assim, vai ajudar o time. – ele gargalhou, me fazendo rir.
- Olha, o time tá precisando que todo mundo fique nesse nível então, porque só assim para salvar.
- Ei, não está tão ruim.
- Não, está péssimo.
- Sincera, não? – dei de ombros e ele pareceu considerar. – Está ruim mesmo. Mas vai melhorar. – o vi balançar a mão para alguém, chamando a atenção.
- Ah sim, finalmente a reuniãozinha que eu queria. – David se aproximou com um refrigerante na mão, apoiando seu braço em meu ombro esquerdo como apoio.
- É tão bom estar com brasileiros. – soltei, rindo. – Vocês não tem ideia. Eu não tenho amizades, não amizades, amizades mesmo, sabe? Principalmente com brasileiros. Tenho meus pais, e a Bells também é criada falando em português comigo, mas faz uma falta.
- Você é paulista, né?
- Paulistana, até. – falei rindo, indicando ser da capital de São Paulo.
- Ah, , eu te amo. – David falou, olhando para cima como se agradecesse. – Impossível que ele tenha encontrado alguém tão gente como a gente. – ele direcionou sua frase para Willian.
- Bom, não jogo futebol. – ri e eles me acompanharam.
- Isso é ótimo, senão ia ficar feio para o , você com certeza seria melhor que ele e isso prejudicaria o relacionamento, ele não ia aceitar bem, ele é bem infantil. Agora me conta, você faz o quê? Como veio parar aqui?
- Mamãe, mamãe! – Bells abraçou minhas pernas, gritando.
- Kepa, você consegue ser mais criança que ela. – David falou, rindo e pegando Bells no colo. – Eu vou te salvar. – ele então começou a correr pela casa com minha filha no colo. Ela ria desesperadamente.
- Cansei. – Kepa sorriu, encostando ao meu lado. – Então você é a namorada do , não? – assenti, afirmando.
- Ele não avisou que você seria tão bonita. – seu sorriso se alargou e ele esticou a mão para me cumprimentar. – Kepa Arrizabalaga.
- Você sabe que eu sei seu nome, não? – ele deu de ombros.
- Gosto de me apresentar mesmo assim. É torcedora também ou apenas conheceu por influência?
- Foi por influência, mas do meu ex-marido, então me tornei torcedora.
- Uau, ele está se mordendo agora? – ele gargalhou ao me ver concordar. – Eu imagino, sinto até um pouco de dó.
- Eu também, às vezes. Mas ninguém tem culpa que é tão insistente, podíamos ser só amigos, mas ele não aceitou. – brinquei, o vendo concordar. – Acho que posso comparar a insistência dele com a sua em ficar no campo contra o City.
- Outch. Eu senti a crítica. – ele levantou os braços, se mostrando rendido.
- Eu curti. – dei de ombros.
- Então gosto de você. – Kepa piscou para mim e deu um beijo em minha testa, como se nos conhecêssemos há muito tempo, o que me fez rir. Ele então se distanciou, parecendo procurar por alguém com os olhos.
- Quanta intimidade, não? – se aproximou, grudando seu corpo ao meu, me segurando pela cintura.
- Achei engraçadinho, ele é fofo. – comentei, vendo me soltar e me encarar. – Quero adotar. Já adotei você. – dei de ombros e ele riu, me dando um selinho.
- Você é estranha.
- Eu sei. Mas ele realmente é bem fofo, achei engraçado o modo como ele me tratou.
- Ele tá conquistando todo mundo. Ele parece bem mais novo do que é, é engraçado. – se encostou da mesma forma que eu estava, de frente para mim. – Mas tirando o Kepa, está gostando? – assenti.
- Acredito que não mais que Bells, por ser impossível. – apontei para ela, que ainda corria e a cada momento tinha um para ir atrás dela e das gêmeas de Willian que se provaram tão agitadas quanto minha filha. – Ela tá no lugar certo, só vários jogadores de futebol para aguentar esse pique todo.
- Nunca tinha pensado nisso, sabia? – balancei a cabeça, afirmando o ponto que tinha colocado para conversa.
- Por isso sempre que a Bells tiver querendo correr, brincar, qualquer coisa assim, vou colocar você com ela. Esse sempre foi meu único interesse, nunca percebeu?
- Agora vejo tudo com clareza. Só não vou reclamar porquê é certeza que eu tenho muito mais pique do que você. Você é uma morta, .
- ! – estapeei seu braço e ele riu, me abraçando.
- Cara, cansei. – Kepa voltou, se jogando no chão ao nosso lado. chutou levemente suas costelas e então o garoto o puxou pelas pernas, o jogando no chão.
- Ah, na frente da não, poxa. – brincou, fingindo-se bravo.
- É essa a graça, para ela ver como é fácil. – vi meu namorado empurrar levemente sua cabeça, brincando e então ele se levantou, esticando a mão para que o espanhol também se levantasse.
- Tá cheio das graças, né? – ele deu de ombros, rindo. – Ele chegou todo nariz em pé no time, tá na hora de alguém abaixar a bola dele. – falou direcionando a palavra para mim, fazendo com que Kepa o encarasse, incrédulo.
- Era só o que me faltava mesmo.
- Não vou concordar, nem discordar, nessa briga eu não me meto. – falei quando os dois me encaravam esperando uma posição.
- Eu sou seu namorado, nem isso eu mereço? – questionou, fazendo bico.
- Eu e a já somos amigos, ela não pode escolher, se conforme. – o garoto me abraçou pelos ombros, fazendo arquear as sobrancelhas.
- , estou tentando me enturmar, não posso fazer feio. – falei, rindo como se fosse óbvio.
- Tudo bem, dessa vez passa.
- Hora da foto! – ouvimos alguém perdido entre todas aquelas pessoas gritar.
- Vamos. Tchau, . – Kepa seguiu me conduzindo com os braços em meus ombros até onde o resto do pessoal estava, todos amontoados enquanto Alonso se pendurava em cima de uma cadeira para que a câmera conseguisse pegar todos que estavam na sala.
- É muita gente alta para pouca gente pequena. – Bruna gritou e a encontrei à frente de todos, próxima a Alonso ao lado de David. – Cadê a ? – levantei o braço e ela me encontrou. – Vem aqui para frente!
- Não, tá tudo bem aqui. Vou aparecer. – falei rindo e peguei Bells, que aparecera magicamente ao meu lado, no colo.
- Dá ela aqui, senão você não vai aparecer e a Bruna vai gritar com todo mundo. – passei Bells para o colo de Kepa, que a levantou e eu vi na tela do celular que ela estava aparecendo. Assim como eu, e que chegara ao meu lado.
- Estou de olho em você. – resmungou para Kepa, que o mostrou o dedo do meio.
- Não seja ciumento, , é feio.
- Todo mundo pronto? – Alonso gritou e todos responderam rindo, com gritos. – Sorriam. – ele falou irônico e pude ver aquilo virar uma zona. Cada um fazia uma coisa, algumas pessoas pularam desfazendo a organização, uns subiram nas costas dos outros e todos riam.
- Vocês são esquisitos. – falei para , que riu, me abraçando.
- Casal, eu acho que mesmo com toda energia do mundo, tem alguém com sono. – Kepa apontou para uma Bells bocejando em seu colo. Ela parecia querer se encostar em seu ombro e eu sorri vendo a cena. se aproximou, a puxando para seu colo.
- Tá com sono, pequena? - ela assentiu, agora escorando sua cabeça no ombro de . – Quer ir, então?
- Pode ser. – sorri para ele, vendo que mais algumas pessoas pareciam já prontas para sair também.
e eu passamos por todos, cumprimentando-os nos despedindo. Ouvi diversos “você volta mais vezes, né?” e outros “não abandone o , ele fica mais legal com você na vida dele” e algumas outras bobagens assim do pessoal. Bruna e David me deram um abraço apertado e falaram que deveríamos marcar mais algumas coisas mais vezes, e que Bells estava devendo uma revanche para ele no videogame. Willian me abraçou mais uma vez e me despedi dele, da esposa e das filhas também combinando para que marcássemos algo em outro momento. Agradeci a Kanté pelo convite e recebi um abraço em grupo dele, Giroud, Azpi e Émerson, o último me pedindo para lhe convidar para um almoço para que tentássemos fazer o nosso churrasco, pois estava cansado do churrasco britânico. Sorri, concordando.
- Ei, até a próxima. – sorri, me aproximando de Kepa. – Garantindo que você não seja chutado para fora do time por péssimo comportamento.
- Você é bem inconveniente, não? – ele riu, me abraçando. – Até a próxima, . Se o não te quiser mais, eu quero, tá? – ele piscou para mim e encarou , que o olhava com as sobrancelhas arqueadas.
- Cara, você tá realmente muito fodido na minha mão. – ele falou, pedindo desculpas pelo palavrão por conta de Bells que estava quase adormecida em seu colo.
esticou a mão para apertar a de Kepa e eles deram um abraço desajeitado de homem enquanto o garoto fazia sinal de “me liga” para mim, recebendo um soco em seu braço junto a uma risada de meu namorado. Confirmei, falando que ligaria, e sai rindo.
- Feliz? – perguntou quando entrou no carro, pronto para dirigir. Bells estava adormecida no banco de trás e nem reclamei ou tentei segurá-la, chegando em casa só a trocaria na cama e ela continuaria dormindo, não seria novidade, aquilo sempre acontecia.
- Muito. Eu realmente gostei. Esperava algo diferente.
- Um monte de gente rica, falando de gente rica ou futebol? – afirmei, envergonhada. – Era de se esperar, relaxa. – ele riu.
- Todos me trataram muito bem, estou realmente apaixonada pelo Kepa. Só tenho vontade de rir a cada vez que falo o nome dele, mas tudo bem. Para um brasileiro é um nome engraçado, não sei se para vocês seria.
- Outch. Realmente apaixonada e outro nome no fim não soa bem, . – ele riu, levando minha mão que estava em sua coxa até sua boca para depositar um beijo carinhoso.
- Você entendeu. – sorri, agradecida. Gestos dele como aquele simples beijo me deixavam o sentimento de adolescente inconsequente vivendo o primeiro amor, era a melhor sensação que eu poderia ter. – Todos são incríveis.
- Então você voltaria? – ele perguntou, curioso.
- Sem dúvida nenhuma, . Não tenho muitos amigos, na verdade, sou uma adulta chata que não tem muita vida social, vou ter que aderir a sua.
- Ficarei lisonjeado. Principalmente porque eu ainda amo ver você falar de coisas nossas, dividir, e tudo ligado a eventos futuros.
- Nunca vou me acostumar a essas suas reações, elas são tão lindas. – falei na maior sinceridade que poderia expressar.
- E eu nunca vou me acostumar a estar tão feliz com algo. Sem brincadeira, . Às vezes acho que não consigo expressar o quão feliz eu ‘tô. É surreal. – um sorriso ficou em seu rosto enquanto ele falava, o que me fez sorrir.
- Mas pode ter certeza que falam por você. Ouvi isso de todo mundo hoje, foi bom, meu ego está inflado.
- Você passa por várias coisas e seu ego nunca fica inflado, . Você é estranha.
- É para equilibrar, porque o seu toma conta de nós dois. Se eu não abrir a janela no carro, eu e a Bells ficamos sufocadas. Toda vez. – falei séria e ele me encarou entre manter os olhos na rua e realmente me encarar.
- O que eu estou fazendo mesmo? Eu não mereço isso. – ele riu, abrindo todo o vidro. – Tá melhor?
- Fecha isso aí, vai ficar frio para Bells, doido. – joguei meu corpo por cima do dele, de forma que não atrapalhasse, e subi o vidro rapidamente.
- Tá abusada, né? – questionou.
- Um pouco, mas eu posso.
- Sabia que eu ainda acho ruim ter que dar tchau? – ele comentou, se encostando na parede da entrada de casa, onde nos despedíamos, depois de ter colocado Bells na cama. – As vezes não lembro que somos dois adultos e isso não deveria me afetar.
- E só porque somos dois adultos, não podemos ter esses sentimentos? São sentimentos muito bons, todo início de namoro tem. – dei de ombros, me aproximando dele e jogando meus braços ao lado de seu pescoço e acariciando sua nuca. Ele fechou os olhos e sorriu, me fazendo sorrir ao ver seu rosto tão feliz quanto naquele momento. – Não faz essa carinha de anjo que eu me apaixono de novo. – sorri, dando nele um selinho.
- Eu gosto tanto de você. – ele falou, naturalmente. – E me faz muito bem falar isso, só para ver esse seu sorriso de lado, envergonhada. Seu sorriso me deixa tão feliz. Eu amo seu sorriso, já falei isso? – ele acariciou meu rosto, me fazendo olhá-lo.
- Você é incrível. Obrigada, .
- Vai conversando comigo no telefone? – ele perguntou, se referindo ao caminho dele até em casa. Eu assenti. – Não vai te atrapalhar?
- Claro que não, vou fazendo o que preciso e conversando, relaxa.
- Obrigado. – ele me deu um selinho e jogou seus braços em minha cintura, me levantando do chão em um abraço. – Até amanhã? – ele perguntou, sem me encarar, o que me fez rir.
- Até amanhã. – o beijei novamente, dessa vez de forma mais demorada. – É difícil largar mesmo, né? – considerei.
- Muito. – falou, com os braços ainda ao redor de meu corpo.
- Não quer dormir aqui? – perguntei, quase sem pensar.
- Se você insiste... – ele disse, aproximando seu rosto do meu novamente e caminhando comigo porta adentro, sem perder qualquer contato.
- Ai, , o que você fez comigo? – eu ri, fechando a porta e a trancando.
- Amanhã tenho que ir cedo, tudo bem? – assenti, e ele sorriu malicioso. – Agora vamos.
Ele me puxou para seu colo em um único movimento e me encostou na parede do corredor, iniciando um beijo mais urgente que me fez agradecer não estar com os pés no chão.
Por
- Confesso que ‘tô com um pouco de vergonha. – falei quando estacionou o carro. A casa de Kanté não era longe, então havíamos levado pouco tempo para chegar ali, o que não me deu tempo suficiente para me preparar. Ia conhecer todos os amigos de de uma vez.
Não passei por isso com Michael, quando namoramos. Como tínhamos alguns amigos em comum, alguns outros foram sendo apresentados aos poucos, mas eram todos do mesmo grupinho, o que fazia com que todos se conhecessem e parecesse algo mais simples. Isso não faz sentido nenhum, e eu sabia que estava tentando afastar o pensamento de que estava nervosa simplesmente pelo fato de serem todos jogadores de futebol. Era estranho.
- Você tá nervosa? – riu, abrindo a porta de trás do carro para pegar Bells.
- ‘Tô, não me julga. – reclamei e bati a porta.
- Nunca. – ele ativou o alarme do carro e se aproximou, segurando minha mão com sua mão livre, já que a outra segurava a mão de minha filha. – Você vai ver que é todo mundo muito tranquilo, igual eu. – dei risada e o vi arquear as sobrancelhas. – Algo a dizer, senhorita? – neguei com a cabeça e ele sorriu, parecendo se divertir.
- Ah, , vários jogadores de futebol no mesmo lugar. Eu, super de fora do grupo...
- É assim que se torna do grupo, . Parece que você está no primeiro ano de escola, com medo de fazer amizades. Bom, de não fazer. Você vai gostar, sério. Só tem um ou outro que são mais chatos... Mas você vai ver. – ele apertou minha mão carinhosamente, me encorajando. – Qualquer coisa você me avisa, que a gente vai embora, tá? – assenti, vendo ele abrir a porta para que entrássemos.
Entrei e logo pude observar o lugar, que não estava tão cheio. A casa era bonita, e estava muito bem organizada, haviam pessoas em pé conversando, alguns estavam jogados no sofá para jogar videogame, outros estavam mais para frente em outro cômodo que imaginei ser a cozinha, e eu só conseguia pensar em ter que cumprimentar todas essas pessoas, por menos que fossem. Mas então me lembrei que aqui ninguém fazia isso. Exceto, talvez, a primeira pessoa que saltou do sofá e vinha em minha direção.
- Finalmente! Quem estávamos esperando. – David gritou em meio a risadas, chamando atenção de todos. se colocou em minha frente e de Bells, fazendo graça, mas o brasileiro o empurrou, se aproximando de Bells, que pulara em meu colo, e eu.
- Fico extremamente feliz em conhecê-la, senhorita. – ele beijou meu rosto e dividiu um abraço comigo e minha filha. – Você é tão linda, quer jogar videogame?
- O prazer é meu. – sorri, agradecida. Bells o encarou e olhou para mim, como se pedisse permissão. Dei de ombros e ela imitou meu gesto, descendo de meu colo e dando a mão para o homem, que agora a apresentava à mulher que estava atrás de si, que eu imaginava ser sua namorada. A mulher abaixou e beijou a bochecha de Bells, logo em seguida fazendo o mesmo comigo.
- Mais uma brasileira para se misturar. – ela riu, se apresentando como Bruna e me dando um abraço. – Nem acredito que o deu uma dentro. O cara é tão chato que sempre esperei que quando ele desencalhasse seria com uma pessoa horrível. - ao ouvir seu nome, nos encarou, parecendo irritado.
- Agora vocês vão ficar falando português e me deixar de fora? Vai ser assim o tempo todo? – olhei para Bruna que me encarou e assim como eu, concordou rindo. – Coisa chata. – ele revirou os olhos e eu segurei sua mão, me aproximando dele.
- Isso não é chato, você é chato.
- Você não tem ideia de como é bom encontrar alguém do seu país em outro, é uma sensação indescritível. – ela falou sincera e eu ri, concordando. – Por mais que a gente sempre tenha com quem conversar, família e tudo, pessoas novas para isso na vida sempre são bem-vindas. Por sinal, bem-vinda à essa loucura. – ela apontou para o ambiente no geral, me fazendo rir.
- Vem, vamos conhecer as outras pessoas, a Bru me maltrata. – ele mostrou a língua para ela, que retribuiu da mesma forma.
Procurei por Bells pela sala e a encontrei como centro das atenções no sofá. Ela estava com o controle na mão e olhava atenta para a televisão enquanto Jorginho estava ao seu lado, da mesma forma. Caminhamos até eles e nos encostamos próximos ao sofá. segurava minha mão e puxava meu corpo sempre para perto do seu, me fazendo sorrir com a preocupação.
- Ei, ! – todos perceberam que eu estava ali e começaram a levantar mãos para me cumprimentar, soltando diferentes tipos de “oi” “olá”, alguns até em espanhol ou outras línguas, o que para mim era engraçado.
- Olá. – sorri, cumprimentando a todos. Sentados ali estavam Christensen, Pedro, Rudiger, Alonso, David que havia colocado minha filha para jogar e Jorginho que jogava com ela. – Vocês já a colocaram para jogar? Corajosos, quero ver quem tira agora.
- Já vimos que o Jorginho que não vai ser, porquê ele já está perdendo. – Pedro falou, dando um tapa na cabeça do amigo.
- É injusta essa vida. – ele reclamou, rindo.
- Eu não tenho culpa que você é ruim. – Bells falou, ainda prestando atenção ao jogo.
- Isabelle! – tentei repreendê-la, mas todos já riam, inclusive Jorginho que jogara o controle na mão do próximo quando viu que o último segundo de jogo havia terminado.
- Me coloquem de próximo. – gritou, e todos concordaram. Bells olhou para trás, o encarando. – Ah, agora você está com medo, não é, bonitinha? Eu não te dou moleza e você sabe. – ele bagunçou o cabelo da pequena e se virou para mim. – Vem, vamos encontrar o restante.
Caminhei ao seu lado até onde parecia ser a cozinha, encontrando um cômodo muito bem limpo e iluminado. Alguns petiscos estavam espalhados pela bancada ao lado das bebidas e vi que algumas mulheres, entre elas estava Bruna, os rodeavam, comendo.
- Alô. – já apareceu chamando a atenção de todos, me deixando com vergonha. – Essa é a . – ele esticou seu braço em minha direção como se me apresentasse em um programa de TV. Rolei os olhos para ele, e levantei a mão um tanto quanto tímida para acenar para as pessoas.
- Muito bem-vinda. – Kanté se aproximou.
- Oi! Muito obrigada. – falei, sem graça.
- O fala muito de você. – Higuain apareceu, rindo para o amigo. – É bem irritante, na verdade, mas ele fica bem vermelho quando a gente afirma isso. – olhei para , que tinha o rosto corado.
- Já vi que hoje é dia de todo mundo me dedurar, não esperava menos de vocês.
- Olá, garota bonita. – senti uma mão em minha cintura e sorri ao ver Giroud me cumprimentando.
- Ei, olá. – sorri, envergonhada.
- , não é? Sua pequena é muito parecida com você. – ele apontou para Bells, vendo que eu estava encostada a observando.
- Acredite, ela é uma boa mistura dos dois.
- Eu entendo, os meus também. – ele apontou para um casal que corria em volta da mesa da sala de jantar.
- São lindos. – sorri vendo sua expressão orgulhosa.
- Olá! Estou atrasado, mas cheguei. Posso roubar? – Willian apontou para mim, perguntando para Giroud. O homem sorriu, assentindo e andando na direção da mulher que o chamava. – Prazer. – ele disse, beijando minha bochecha e automaticamente mudando o idioma da nossa conversa para português. Esperava que as pessoas vissem o quanto isso me fazia feliz, eu não cansaria de pensar isso em momento algum.
- Estavam todos tão ansiosos assim para me conhecer? – perguntei, rindo.
- Você não tem ideia, vai ser incrivelmente bom poder pirraçar o com maior propriedade ainda depois de te conhecer.
- Estou até ficando com pena dele. Não, não estou não. – dei de ombros, fazendo Willian rir.
- Eu quero poder pirraçá-lo, mas confesso que também estava ansioso para ser o cara chato que vai te encher falando o quão feliz ele está. – ele disse, sincero. – Sério, o cara tá nas nuvens, é engraçado. Só continue assim, vai ajudar o time. – ele gargalhou, me fazendo rir.
- Olha, o time tá precisando que todo mundo fique nesse nível então, porque só assim para salvar.
- Ei, não está tão ruim.
- Não, está péssimo.
- Sincera, não? – dei de ombros e ele pareceu considerar. – Está ruim mesmo. Mas vai melhorar. – o vi balançar a mão para alguém, chamando a atenção.
- Ah sim, finalmente a reuniãozinha que eu queria. – David se aproximou com um refrigerante na mão, apoiando seu braço em meu ombro esquerdo como apoio.
- É tão bom estar com brasileiros. – soltei, rindo. – Vocês não tem ideia. Eu não tenho amizades, não amizades, amizades mesmo, sabe? Principalmente com brasileiros. Tenho meus pais, e a Bells também é criada falando em português comigo, mas faz uma falta.
- Você é paulista, né?
- Paulistana, até. – falei rindo, indicando ser da capital de São Paulo.
- Ah, , eu te amo. – David falou, olhando para cima como se agradecesse. – Impossível que ele tenha encontrado alguém tão gente como a gente. – ele direcionou sua frase para Willian.
- Bom, não jogo futebol. – ri e eles me acompanharam.
- Isso é ótimo, senão ia ficar feio para o , você com certeza seria melhor que ele e isso prejudicaria o relacionamento, ele não ia aceitar bem, ele é bem infantil. Agora me conta, você faz o quê? Como veio parar aqui?
- Mamãe, mamãe! – Bells abraçou minhas pernas, gritando.
- Kepa, você consegue ser mais criança que ela. – David falou, rindo e pegando Bells no colo. – Eu vou te salvar. – ele então começou a correr pela casa com minha filha no colo. Ela ria desesperadamente.
- Cansei. – Kepa sorriu, encostando ao meu lado. – Então você é a namorada do , não? – assenti, afirmando.
- Ele não avisou que você seria tão bonita. – seu sorriso se alargou e ele esticou a mão para me cumprimentar. – Kepa Arrizabalaga.
- Você sabe que eu sei seu nome, não? – ele deu de ombros.
- Gosto de me apresentar mesmo assim. É torcedora também ou apenas conheceu por influência?
- Foi por influência, mas do meu ex-marido, então me tornei torcedora.
- Uau, ele está se mordendo agora? – ele gargalhou ao me ver concordar. – Eu imagino, sinto até um pouco de dó.
- Eu também, às vezes. Mas ninguém tem culpa que é tão insistente, podíamos ser só amigos, mas ele não aceitou. – brinquei, o vendo concordar. – Acho que posso comparar a insistência dele com a sua em ficar no campo contra o City.
- Outch. Eu senti a crítica. – ele levantou os braços, se mostrando rendido.
- Eu curti. – dei de ombros.
- Então gosto de você. – Kepa piscou para mim e deu um beijo em minha testa, como se nos conhecêssemos há muito tempo, o que me fez rir. Ele então se distanciou, parecendo procurar por alguém com os olhos.
- Quanta intimidade, não? – se aproximou, grudando seu corpo ao meu, me segurando pela cintura.
- Achei engraçadinho, ele é fofo. – comentei, vendo me soltar e me encarar. – Quero adotar. Já adotei você. – dei de ombros e ele riu, me dando um selinho.
- Você é estranha.
- Eu sei. Mas ele realmente é bem fofo, achei engraçado o modo como ele me tratou.
- Ele tá conquistando todo mundo. Ele parece bem mais novo do que é, é engraçado. – se encostou da mesma forma que eu estava, de frente para mim. – Mas tirando o Kepa, está gostando? – assenti.
- Acredito que não mais que Bells, por ser impossível. – apontei para ela, que ainda corria e a cada momento tinha um para ir atrás dela e das gêmeas de Willian que se provaram tão agitadas quanto minha filha. – Ela tá no lugar certo, só vários jogadores de futebol para aguentar esse pique todo.
- Nunca tinha pensado nisso, sabia? – balancei a cabeça, afirmando o ponto que tinha colocado para conversa.
- Por isso sempre que a Bells tiver querendo correr, brincar, qualquer coisa assim, vou colocar você com ela. Esse sempre foi meu único interesse, nunca percebeu?
- Agora vejo tudo com clareza. Só não vou reclamar porquê é certeza que eu tenho muito mais pique do que você. Você é uma morta, .
- ! – estapeei seu braço e ele riu, me abraçando.
- Cara, cansei. – Kepa voltou, se jogando no chão ao nosso lado. chutou levemente suas costelas e então o garoto o puxou pelas pernas, o jogando no chão.
- Ah, na frente da não, poxa. – brincou, fingindo-se bravo.
- É essa a graça, para ela ver como é fácil. – vi meu namorado empurrar levemente sua cabeça, brincando e então ele se levantou, esticando a mão para que o espanhol também se levantasse.
- Tá cheio das graças, né? – ele deu de ombros, rindo. – Ele chegou todo nariz em pé no time, tá na hora de alguém abaixar a bola dele. – falou direcionando a palavra para mim, fazendo com que Kepa o encarasse, incrédulo.
- Era só o que me faltava mesmo.
- Não vou concordar, nem discordar, nessa briga eu não me meto. – falei quando os dois me encaravam esperando uma posição.
- Eu sou seu namorado, nem isso eu mereço? – questionou, fazendo bico.
- Eu e a já somos amigos, ela não pode escolher, se conforme. – o garoto me abraçou pelos ombros, fazendo arquear as sobrancelhas.
- , estou tentando me enturmar, não posso fazer feio. – falei, rindo como se fosse óbvio.
- Tudo bem, dessa vez passa.
- Hora da foto! – ouvimos alguém perdido entre todas aquelas pessoas gritar.
- Vamos. Tchau, . – Kepa seguiu me conduzindo com os braços em meus ombros até onde o resto do pessoal estava, todos amontoados enquanto Alonso se pendurava em cima de uma cadeira para que a câmera conseguisse pegar todos que estavam na sala.
- É muita gente alta para pouca gente pequena. – Bruna gritou e a encontrei à frente de todos, próxima a Alonso ao lado de David. – Cadê a ? – levantei o braço e ela me encontrou. – Vem aqui para frente!
- Não, tá tudo bem aqui. Vou aparecer. – falei rindo e peguei Bells, que aparecera magicamente ao meu lado, no colo.
- Dá ela aqui, senão você não vai aparecer e a Bruna vai gritar com todo mundo. – passei Bells para o colo de Kepa, que a levantou e eu vi na tela do celular que ela estava aparecendo. Assim como eu, e que chegara ao meu lado.
- Estou de olho em você. – resmungou para Kepa, que o mostrou o dedo do meio.
- Não seja ciumento, , é feio.
- Todo mundo pronto? – Alonso gritou e todos responderam rindo, com gritos. – Sorriam. – ele falou irônico e pude ver aquilo virar uma zona. Cada um fazia uma coisa, algumas pessoas pularam desfazendo a organização, uns subiram nas costas dos outros e todos riam.
- Vocês são esquisitos. – falei para , que riu, me abraçando.
- Casal, eu acho que mesmo com toda energia do mundo, tem alguém com sono. – Kepa apontou para uma Bells bocejando em seu colo. Ela parecia querer se encostar em seu ombro e eu sorri vendo a cena. se aproximou, a puxando para seu colo.
- Tá com sono, pequena? - ela assentiu, agora escorando sua cabeça no ombro de . – Quer ir, então?
- Pode ser. – sorri para ele, vendo que mais algumas pessoas pareciam já prontas para sair também.
e eu passamos por todos, cumprimentando-os nos despedindo. Ouvi diversos “você volta mais vezes, né?” e outros “não abandone o , ele fica mais legal com você na vida dele” e algumas outras bobagens assim do pessoal. Bruna e David me deram um abraço apertado e falaram que deveríamos marcar mais algumas coisas mais vezes, e que Bells estava devendo uma revanche para ele no videogame. Willian me abraçou mais uma vez e me despedi dele, da esposa e das filhas também combinando para que marcássemos algo em outro momento. Agradeci a Kanté pelo convite e recebi um abraço em grupo dele, Giroud, Azpi e Émerson, o último me pedindo para lhe convidar para um almoço para que tentássemos fazer o nosso churrasco, pois estava cansado do churrasco britânico. Sorri, concordando.
- Ei, até a próxima. – sorri, me aproximando de Kepa. – Garantindo que você não seja chutado para fora do time por péssimo comportamento.
- Você é bem inconveniente, não? – ele riu, me abraçando. – Até a próxima, . Se o não te quiser mais, eu quero, tá? – ele piscou para mim e encarou , que o olhava com as sobrancelhas arqueadas.
- Cara, você tá realmente muito fodido na minha mão. – ele falou, pedindo desculpas pelo palavrão por conta de Bells que estava quase adormecida em seu colo.
esticou a mão para apertar a de Kepa e eles deram um abraço desajeitado de homem enquanto o garoto fazia sinal de “me liga” para mim, recebendo um soco em seu braço junto a uma risada de meu namorado. Confirmei, falando que ligaria, e sai rindo.
- Feliz? – perguntou quando entrou no carro, pronto para dirigir. Bells estava adormecida no banco de trás e nem reclamei ou tentei segurá-la, chegando em casa só a trocaria na cama e ela continuaria dormindo, não seria novidade, aquilo sempre acontecia.
- Muito. Eu realmente gostei. Esperava algo diferente.
- Um monte de gente rica, falando de gente rica ou futebol? – afirmei, envergonhada. – Era de se esperar, relaxa. – ele riu.
- Todos me trataram muito bem, estou realmente apaixonada pelo Kepa. Só tenho vontade de rir a cada vez que falo o nome dele, mas tudo bem. Para um brasileiro é um nome engraçado, não sei se para vocês seria.
- Outch. Realmente apaixonada e outro nome no fim não soa bem, . – ele riu, levando minha mão que estava em sua coxa até sua boca para depositar um beijo carinhoso.
- Você entendeu. – sorri, agradecida. Gestos dele como aquele simples beijo me deixavam o sentimento de adolescente inconsequente vivendo o primeiro amor, era a melhor sensação que eu poderia ter. – Todos são incríveis.
- Então você voltaria? – ele perguntou, curioso.
- Sem dúvida nenhuma, . Não tenho muitos amigos, na verdade, sou uma adulta chata que não tem muita vida social, vou ter que aderir a sua.
- Ficarei lisonjeado. Principalmente porque eu ainda amo ver você falar de coisas nossas, dividir, e tudo ligado a eventos futuros.
- Nunca vou me acostumar a essas suas reações, elas são tão lindas. – falei na maior sinceridade que poderia expressar.
- E eu nunca vou me acostumar a estar tão feliz com algo. Sem brincadeira, . Às vezes acho que não consigo expressar o quão feliz eu ‘tô. É surreal. – um sorriso ficou em seu rosto enquanto ele falava, o que me fez sorrir.
- Mas pode ter certeza que falam por você. Ouvi isso de todo mundo hoje, foi bom, meu ego está inflado.
- Você passa por várias coisas e seu ego nunca fica inflado, . Você é estranha.
- É para equilibrar, porque o seu toma conta de nós dois. Se eu não abrir a janela no carro, eu e a Bells ficamos sufocadas. Toda vez. – falei séria e ele me encarou entre manter os olhos na rua e realmente me encarar.
- O que eu estou fazendo mesmo? Eu não mereço isso. – ele riu, abrindo todo o vidro. – Tá melhor?
- Fecha isso aí, vai ficar frio para Bells, doido. – joguei meu corpo por cima do dele, de forma que não atrapalhasse, e subi o vidro rapidamente.
- Tá abusada, né? – questionou.
- Um pouco, mas eu posso.
- Sabia que eu ainda acho ruim ter que dar tchau? – ele comentou, se encostando na parede da entrada de casa, onde nos despedíamos, depois de ter colocado Bells na cama. – As vezes não lembro que somos dois adultos e isso não deveria me afetar.
- E só porque somos dois adultos, não podemos ter esses sentimentos? São sentimentos muito bons, todo início de namoro tem. – dei de ombros, me aproximando dele e jogando meus braços ao lado de seu pescoço e acariciando sua nuca. Ele fechou os olhos e sorriu, me fazendo sorrir ao ver seu rosto tão feliz quanto naquele momento. – Não faz essa carinha de anjo que eu me apaixono de novo. – sorri, dando nele um selinho.
- Eu gosto tanto de você. – ele falou, naturalmente. – E me faz muito bem falar isso, só para ver esse seu sorriso de lado, envergonhada. Seu sorriso me deixa tão feliz. Eu amo seu sorriso, já falei isso? – ele acariciou meu rosto, me fazendo olhá-lo.
- Você é incrível. Obrigada, .
- Vai conversando comigo no telefone? – ele perguntou, se referindo ao caminho dele até em casa. Eu assenti. – Não vai te atrapalhar?
- Claro que não, vou fazendo o que preciso e conversando, relaxa.
- Obrigado. – ele me deu um selinho e jogou seus braços em minha cintura, me levantando do chão em um abraço. – Até amanhã? – ele perguntou, sem me encarar, o que me fez rir.
- Até amanhã. – o beijei novamente, dessa vez de forma mais demorada. – É difícil largar mesmo, né? – considerei.
- Muito. – falou, com os braços ainda ao redor de meu corpo.
- Não quer dormir aqui? – perguntei, quase sem pensar.
- Se você insiste... – ele disse, aproximando seu rosto do meu novamente e caminhando comigo porta adentro, sem perder qualquer contato.
- Ai, , o que você fez comigo? – eu ri, fechando a porta e a trancando.
- Amanhã tenho que ir cedo, tudo bem? – assenti, e ele sorriu malicioso. – Agora vamos.
Ele me puxou para seu colo em um único movimento e me encostou na parede do corredor, iniciando um beijo mais urgente que me fez agradecer não estar com os pés no chão.
Capítulo 15
“See this heart, won't settle down, like a child running scared from a clown.
But I'm terrified of what you do, my stomach screams just when I look at you.” (Catch Me – Demi Lovato)
Por
- Uma semana de “folga”. – ele disse, fazendo aspas com os dedos no ar. – Isso é horrível. – reclamou, se jogando no sofá.
- , você tá bem? – perguntei preocupada.
- Eu ‘tô, só não posso treinar e jogar. Pelo menos não por alguns dias. – ele fez bico e eu sorri, me aproximando dele.
- Para de ser dramático, . É só uma semana, imagina se você tivesse se machucado de uma forma pior? Você já foi teimoso por não sair de campo quando começou a sentir. – me referi ao momento do jogo onde pisaram em seu tornozelo em uma disputa de bola e o mesmo caíra no chão, preocupando a todos. foi atendido, mas disse que estava bem e seguiu no jogo, porém, por volta de dez minutos depois ele se jogou sentado na lateral, já pedindo pela substituição, o que assustou todos ali.
- Ah, . Eu vou perder um jogo da Premier e um jogo da Europa League, isso é triste. E o pior, vou perder o jogo contra o Liverpool.
- Tenho certeza que o time da conta. Você não confia em ninguém? – ri.
- Não tanto quanto confio em mim. – ele deu de ombros, rindo também.
- Justo. – concordei. – Você nem vai para lá essa semana, então? – perguntei.
- Só na segunda. Eu até posso ir para assistir os jogos. A volta da EL é aqui e o jogo contra o Liverpool com certeza vai ser muito bom. Quer ir de torcida comigo? – ele sorriu, se deitando em meu colo. – Apesar de eu ter outra ideia, já que estou de folga.
- E qual seria? – fiz carinho em seus cabelos, fazendo-o respirar fundo.
- Vamos visitar minha mãe? – ele riu ao ver minha expressão, que talvez nem eu consiga definir muito bem qual foi.
- Visitar sua mãe? Mesmo? – confirmei a informação, a fim de saber se ele não estava brincando.
- Claro, . Ela quer te conhecer. Você está mesmo com medo da minha mãe? – assenti sincera.
- Eu odeio a tensão de conhecer a família, juro. – ri nervosa.
- Eu também, mas se eu sobrevivi a conhecer a sua família junto com a do seu ex-marido, minha família não é nada.
- Odeio quando você tem razão.
- Isso acontece bastante.
- E isso seria quando? – questionei, ignorando seu comentário anterior.
- Poderíamos sair na quinta a noite ou sexta de manhã.
- Acho que chegar na casa da sua mãe a noite para conhecê-la não vai ser tão legal.
- Tudo bem, você está querendo fugir. – ele riu. – Vamos chegar na sexta-feira para almoçar, vamos sair cedo então. – assenti.
- Ela vai amar conhecer a Bells, você não tem ideia.
- Para de me deixar nervosa, . E eu tenho uma condição.
- Qual? – perguntou, curioso.
- Eu dirijo. Você não vai ficar dirigindo machucado, você tem que se recuperar, já estou brava o suficiente por você ter vindo até aqui.
- Eu queria companhia. – ele fez bico.
- Você tinha a Lola.
- Nossa, a gente bem que podia levar a Lola e a Chelsea, né?
- Para sua mãe? – perguntei arregalando os olhos.
- Ela tem um quintal bem grande, é triste deixá-las sozinhas aqui. – ele deu de ombros.
- Você acha que vai ser tranquilo Bells e duas cachorras no banco de trás? – falei, rindo.
- Não sei, mas acho que vale a tentativa. Família completa. – ele se jogou em cima de mim, me abraçando.
- Mamãe, eu ‘tô com sono. – Bells jogou seu corpo para o outro lado da cama, ficando de costas para mim.
- Você pode dormir no carro, meu amor. Vamos levantar. – mexi nela, fazendo carinho em seus cabelos.
- Não quero. – ela resmungou.
- Bells, por favor. – ela bufou e se sentou na cama, se jogando em meu colo. – Nós vamos viajar de carro, vamos conhecer a mamãe do , vamos passar o fim de semana todo com eles. Você não tá animada? – ela bufou novamente e se levantou, rolando os olhos e indo para o banheiro. Minha criança tinha espírito de adolescente revoltada, eu ri sozinha do pensamento e a segui, entrando no banheiro e a pegando no colo para enchê-la de beijos.
- Vocês estão prontas? – falou fingindo animação com uma grande expressão sonolenta na porta da minha casa.
- Estamos, capitão. – brinquei e ele rolou os olhos, se aproximando e me dando um selinho. – Vamos, vou ajudar a levar as coisas, mas não posso enrolar, senão a Lola vai destruir o carro.
- Ainda não acredito que sua ideia era séria.
- Arrumou as coisas da Chelsea? – eu assenti. – Bells, cadê você? – perguntou, procurando pela garota.
- Oi. – ela apareceu pelo corredor, andando rapidamente na direção de . Ela estava com uma mochila com alguns brinquedos nas costas que fazia barulho a cada passo, fazendo-nos rir. Ele a pegou no colo e a abraçou.
– Vamos? – ela assentiu.
- Só tenho que me despedir da Chelsea. – ela pediu para descer do colo dele, mas ele a segurou, me encarando.
- Eu te falei que ela é ansiosa, não posso falar essas coisas.
- Olha quem tá lá no carro. – ele caminhou para fora com ela, a levando até o carro. Aproveitei para entrar e já levar as malas até eles. Não havia separado tanta coisa, mas era bom que o porta-malas do carro de fosse espaçoso.
- Mamãe, a Lola vai com a gente! – Bells quase me atropelou, correndo em minha direção.
- E a Chelsea também. O é maluco. – reclamei, a fazendo rir. – Mas você que vai ter que ir com elas, então qualquer coisa reclama com ele.
- Bells. – ele falou, enquanto pegava as malas de minha mão para colocar no carro. – Se você quiser, pode dirigir e eu vou atrás com elas.
- Posso? Eu quero. – ela falou inocente, nos fazendo rir.
- Quando tiver idade suficiente, meu amor. Vai demorar. – mexi em seus cabelos carinhosamente. – Vem, vamos terminar de pegar as coisas.
- , será que eu ‘tô preparada para isso? – tive um ataque de risos ao questionar. Estava nervosa e estávamos a alguns minutos de chegar até a casa de Chloe. havia assumido o volante quando entramos na cidade, contra minha vontade, mas parecia tudo bem, então me permiti relaxar e ficar nervosa.
- Para com isso, . – ele riu também.
- Eu nunca senti isso, é horrível. Você sabe que eu fiquei nervosa a semana toda, agora só tá pior.
- Você vai se dar tão bem com ela que vai ficar irritada depois. Vai ser engraçado. – ele deu de ombros. – Mas como sempre, se acontecer qualquer coisa e você quiser sair, me fala. Por favor, tá? – eu assenti, tentando me acalmar. – Chegamos. – ele disse ao estacionar o carro em frente a uma casa um tanto quanto grande.
disse que tentou fazê-la se mudar para um apartamento próximo ao dele já que ela morava sozinha, mas a mesma tinha apego à sua casa, e isso a fazia nem mesmo considerar a ideia. Ele sempre chamara a mãe de cabeça dura, isso era sem dúvidas uma verdade, morar sozinha numa casa daquela não deveria ser extremamente bom, claro que ela provavelmente tinha alguém que limpasse para ela, e ela não era exatamente uma senhora cheia dos problemas de coluna e indefesa, mas não sei, ainda concordava com o cabeça dura.
- Vamos, meu amor? – me inclinei para ver Bells no banco de trás, ela sorriu, olhando para fora e soltando seu cinto. Lola e Chelsea pareciam ter percebido tardiamente que o carro havia parado. As duas cachorras se levantaram, olhando para todos os lados e então começando a latir, de forma descontrolada. – , eu te odeio. – falei rindo, assustada com os latidos. Ele deu de ombros e abriu a porta de trás, preparado para tirá-las de lá.
- Pelo menos elas se deram bem, você acreditou que não ia dar certo.
- É estranho que elas tenham se dado bem, não tenho culpa. De acordo com o sentido da vida, elas deveriam tentar se matar. – abri a porta de trás e peguei Bells no colo, tirando-a do carro enquanto prendia as duas na coleira, pelo menos até entrarmos para soltá-las.
- Vocês chegaram! – ouvi a voz da mãe de no portão e ele logo deu a volta no carro, acionando o alarme para trancá-lo. Ele se atropelava para andar, pois Chelsea e Lola trançavam por entre suas pernas. As duas não eram pequenas, então era uma cena um tanto quanto engraçada de se ver, ainda mais pelo contraste que tínhamos entre elas, Chelsea com seus pelos grandes e brancos, e Lola com seus pelos negros e curtinhos.
- Oi, mãe! – ele abraçou a mulher que jogou os braços por cima de seus ombros o apertando mais perto de seu corpo.
- , você quis encher minha casa? – ela riu, acariciando as duas cachorras que a cheiravam descontroladamente.
- Essa é sua neta, Lola. – ele apontou para sua cachorra e logo em seguida para a branca estabanada. – E essa é a Chelsea.
- Vou te falar que a primeira paixão dele foi saber que você tinha uma cachorra com o nome Chelsea. – ela me olhava enquanto eu me aproximava com Bells no colo. – “Mãe, conheci uma moça tão bonita hoje, tomei bronca da filha dela por querer adotar uma cachorrinha linda, pena que ela tem marido. Por sinal, adotei a cachorra.” – ela fingia imitar a voz do filho, o que me fez rir e corar com o comentário de quando nos conhecemos. – Depois também te conto como foi a reação dele quando descobriu que seu marido era ex. – ela gargalhou e vi olhar para o chão, envergonhado. – É um prazer finalmente te conhecer, . – ela me puxou para um rápido abraço com Bells entre nós. – E você é a Bells, certo? – minha filha assentiu, com um sorriso tímido de lábios grudados. – Você é tão linda, por sinal, tão linda quanto sua mãe. Ela parece demais com você. – eu assenti.
- Estamos muito felizes em te conhecer, senhora . – falei e vi Bells assentir, concordando.
- Vem, vamos entrar. E, por favor, me chame de Chloe. , o que você tem na cabeça? – ela gargalhou enquanto ele tentava passar pela porta com as duas cachorras com ele, o que parecia quase impossível.
- , se você soltá-las, elas não vão fugir. – falei rindo e coloquei Bells no chão para que ela o ajudasse.
- No máximo vão derrubar a casa, não? – ele falou, irônico. Mostrei o dedo do meio para ele e sua mãe riu.
- Se elas derrubarem, você arruma depois. – ela falou, fazendo-o rolar os olhos. – E nem pense em falar que você paga alguém para isso. – ela rebateu quando percebeu que ele estava prestes a abrir a boca para responder. – O almoço já está quase pronto. – ela bateu a porta atrás de si e seguiu pelo corredor depois da sala, provavelmente indo para a cozinha.
- Você está bem? – Chloe perguntou para enquanto estávamos sentados ao redor da mesa comendo. Bells comia sua batata frita com a maior felicidade do mundo, enquanto assistia desenhos no celular.
- Você já perguntou isso diversas vezes essa semana. – ele respondeu.
- Mas nas outras eu não podia ver seu rosto quando me responde. Você está bem?
- Estou. Agora muito melhor, ainda estou me divertindo do nervosismo da em chegar aqui.
- Eu estava um pouco assustada, confesso. – eu ri, xingando mentalmente.
- Passou? – ele perguntou com um tom debochado que me fez ficar ainda mais irritada. Mostrei a língua para ele e encarei Chloe.
- Como você pode aguentar isso há tantos anos?
- Se quiser testar, fique à vontade, ainda tenho muitos pela frente. Se quiser se juntar a mim em todos eles com uma aliança no dedo e tudo mais, a gente pode conversar. – ele deu de ombros, rindo e quase me fazendo engasgar com a brincadeira.
- Não a faça desistir antes desse momento, por favor. – ela riu e eu concordei. – Sei que temos muito tempo, mas queria muito saber mais de você. – ela colocou sua mão por cima da minha.
- Sou uma pessoa completamente sem graça. – falei rindo. – Não tenho nada de realmente interessante.
- Aí, . Você é um saco. – reclamou, nos fazendo rir.
- O que eu sei já é interessante o suficiente, mas quero ouvir de você.
Tomei fôlego e comecei então a falar um pouco de como havíamos chegado ali. Falei que era brasileira, sobre minha família e como nos mudamos para cá. Falei sobre a chegada aqui, sobre a escola e a decisão de ir para a faculdade, sobre meu primeiro trabalho e cheguei em meu primeiro amor, Michael. Contei a ela um pouco sobre nós, e como nos demos bem e ficamos um bom tempo juntos até decidirmos casar e logo em seguida ter Bells. Contei como decidi abrir a farmácia e ele me apoiou, o quanto trabalhei no começo já que ficava praticamente sozinha por lá e como hoje ela anda por conta própria, mas ainda adoro passar meu tempo lá. Falei sobre a separação do casamento e como foi tudo feito amigavelmente e expliquei um pouco sobre como está sendo ficar apenas eu e Bells desde então.
- E é isso, temos sido eu e ela. Bom, até a chegada desse ser humano que não saiu mais da nossa cola. – apontei para que me mandou um beijo.
- Não quero ser inoportuna, mas com tanta coisa já vivida, quantos anos a senhorita tem? – ela sorriu, parecendo pensativa.
- 28.
- Não é possível. – ela riu, parecendo não acreditar.
- Eu quase caí de costas quando soube. Mas essa carinha de anjo já é muito velha. Quase um anjo sênior. – mostrei a ele o dedo do meio mais uma vez naquele dia.
- Você não presta, . Parece que não te dei educação.
- Anjo mesmo é essa coisinha aqui que não dá atenção para ninguém quando tá assistindo nesse celular. – ele colocou a mão na frente do celular que estava com Bells, a irritando.
- . – ela reclamou, batendo na mão dele. Ele então derrubou o celular com a tela para baixo na mesa, fazendo com que ela fizesse algo como um rosnado para ele.
- Como você aguenta duas crianças? – Chloe perguntou.
- Eu sempre vou me perguntar isso. Acho que tenho um parafuso a menos.
- Eu tenho que concordar.
- A gente pode esperar a Bells dormir e dar uma volta? – se sentou ao meu lado na cama e me abraçou, deixando um beijo em meu rosto.
- Deve estar gelado lá fora. – reclamei e ele rolou os olhos. – Tudo bem. Eu vou tirá-la do banho e provavelmente ela já durma, ela com certeza está cansada.
Depois do almoço passamos a tarde conversando e brincando com Bells, ela havia cansado todos nós, mas ela com certeza também estava cansada. correu atrás dela por toda a casa, e toda casa envolvia um tamanho muito grande contando com o quintal nos fundos da casa onde Chelsea e Lola estavam. As duas também aproveitaram muito a tarde aos nossos pés enquanto conversávamos e correndo atrás de e Bells entre suas próprias brincadeiras, mesmo que elas se estranhassem algumas vezes.
- Tá gelado, mas nem tanto. – sorriu, fechando a porta atrás de si. Murmurei um “uhum” e ele se aproximou entrelaçando seu braço no meu.
- Onde iremos, senhor? – perguntei olhando para todos os lados.
- Na realidade acho que eu só queria dar uma volta com você. – ele riu envergonhado. – Estou feliz, precisava de uns minutinhos. – encarei sua expressão completamente fofa e o parei de frente para mim, lhe dando um selinho.
- Se tem coisa mais linda que você e essa sua expressão de felicidade, eu desconheço.
- Tem, você! – ele me abraçou, me apertando entre seus braços. – Eu só ‘tô muito feliz que você tá aqui comigo, e minha mãe gostou mesmo de você. Nem tinha como não gostar, né? Acho que todo mundo gosta.
- Eu tenho um dom, confesso. – dei de ombros e ele riu, me empurrando. – Mas, sério, agora você pode achar algo para gente fazer.
- Tá. – ele destravou o carro pelo alarme e abriu a porta do passageiro para mim. O encarei com a sobrancelha arqueada.
- Sério? Achei que íamos andar. É longe?
- , eu ‘tô com muita preguiça, só entra logo no carro. – ele riu, indicando a porta para mim. Revirei os olhos e entrei. Ele bateu a porta e correu até o outro lado já entrando também.
- Tem uma cafeteria 24h aqui perto, eu gostava muito de ir lá, é aquelas com tema antigo, sabe? – assenti e encarei o caminho assim como ele. Sua mente parecia estar distante e seus pensamentos quase faziam barulho.
- Tá tudo bem, ? – ele assentiu, estendendo sua mão por cima de minha coxa.
- E a senhorita? Tudo bem? – tentou desviar o assunto.
- Te conheço, senhor.
- É sério, ‘tô bem. – ele sorriu, estacionando e em seguida me dando um selinho rápido. – Vamos que eu quero um milk shake.
But I'm terrified of what you do, my stomach screams just when I look at you.” (Catch Me – Demi Lovato)
Por
- Uma semana de “folga”. – ele disse, fazendo aspas com os dedos no ar. – Isso é horrível. – reclamou, se jogando no sofá.
- , você tá bem? – perguntei preocupada.
- Eu ‘tô, só não posso treinar e jogar. Pelo menos não por alguns dias. – ele fez bico e eu sorri, me aproximando dele.
- Para de ser dramático, . É só uma semana, imagina se você tivesse se machucado de uma forma pior? Você já foi teimoso por não sair de campo quando começou a sentir. – me referi ao momento do jogo onde pisaram em seu tornozelo em uma disputa de bola e o mesmo caíra no chão, preocupando a todos. foi atendido, mas disse que estava bem e seguiu no jogo, porém, por volta de dez minutos depois ele se jogou sentado na lateral, já pedindo pela substituição, o que assustou todos ali.
- Ah, . Eu vou perder um jogo da Premier e um jogo da Europa League, isso é triste. E o pior, vou perder o jogo contra o Liverpool.
- Tenho certeza que o time da conta. Você não confia em ninguém? – ri.
- Não tanto quanto confio em mim. – ele deu de ombros, rindo também.
- Justo. – concordei. – Você nem vai para lá essa semana, então? – perguntei.
- Só na segunda. Eu até posso ir para assistir os jogos. A volta da EL é aqui e o jogo contra o Liverpool com certeza vai ser muito bom. Quer ir de torcida comigo? – ele sorriu, se deitando em meu colo. – Apesar de eu ter outra ideia, já que estou de folga.
- E qual seria? – fiz carinho em seus cabelos, fazendo-o respirar fundo.
- Vamos visitar minha mãe? – ele riu ao ver minha expressão, que talvez nem eu consiga definir muito bem qual foi.
- Visitar sua mãe? Mesmo? – confirmei a informação, a fim de saber se ele não estava brincando.
- Claro, . Ela quer te conhecer. Você está mesmo com medo da minha mãe? – assenti sincera.
- Eu odeio a tensão de conhecer a família, juro. – ri nervosa.
- Eu também, mas se eu sobrevivi a conhecer a sua família junto com a do seu ex-marido, minha família não é nada.
- Odeio quando você tem razão.
- Isso acontece bastante.
- E isso seria quando? – questionei, ignorando seu comentário anterior.
- Poderíamos sair na quinta a noite ou sexta de manhã.
- Acho que chegar na casa da sua mãe a noite para conhecê-la não vai ser tão legal.
- Tudo bem, você está querendo fugir. – ele riu. – Vamos chegar na sexta-feira para almoçar, vamos sair cedo então. – assenti.
- Ela vai amar conhecer a Bells, você não tem ideia.
- Para de me deixar nervosa, . E eu tenho uma condição.
- Qual? – perguntou, curioso.
- Eu dirijo. Você não vai ficar dirigindo machucado, você tem que se recuperar, já estou brava o suficiente por você ter vindo até aqui.
- Eu queria companhia. – ele fez bico.
- Você tinha a Lola.
- Nossa, a gente bem que podia levar a Lola e a Chelsea, né?
- Para sua mãe? – perguntei arregalando os olhos.
- Ela tem um quintal bem grande, é triste deixá-las sozinhas aqui. – ele deu de ombros.
- Você acha que vai ser tranquilo Bells e duas cachorras no banco de trás? – falei, rindo.
- Não sei, mas acho que vale a tentativa. Família completa. – ele se jogou em cima de mim, me abraçando.
- Mamãe, eu ‘tô com sono. – Bells jogou seu corpo para o outro lado da cama, ficando de costas para mim.
- Você pode dormir no carro, meu amor. Vamos levantar. – mexi nela, fazendo carinho em seus cabelos.
- Não quero. – ela resmungou.
- Bells, por favor. – ela bufou e se sentou na cama, se jogando em meu colo. – Nós vamos viajar de carro, vamos conhecer a mamãe do , vamos passar o fim de semana todo com eles. Você não tá animada? – ela bufou novamente e se levantou, rolando os olhos e indo para o banheiro. Minha criança tinha espírito de adolescente revoltada, eu ri sozinha do pensamento e a segui, entrando no banheiro e a pegando no colo para enchê-la de beijos.
- Vocês estão prontas? – falou fingindo animação com uma grande expressão sonolenta na porta da minha casa.
- Estamos, capitão. – brinquei e ele rolou os olhos, se aproximando e me dando um selinho. – Vamos, vou ajudar a levar as coisas, mas não posso enrolar, senão a Lola vai destruir o carro.
- Ainda não acredito que sua ideia era séria.
- Arrumou as coisas da Chelsea? – eu assenti. – Bells, cadê você? – perguntou, procurando pela garota.
- Oi. – ela apareceu pelo corredor, andando rapidamente na direção de . Ela estava com uma mochila com alguns brinquedos nas costas que fazia barulho a cada passo, fazendo-nos rir. Ele a pegou no colo e a abraçou.
– Vamos? – ela assentiu.
- Só tenho que me despedir da Chelsea. – ela pediu para descer do colo dele, mas ele a segurou, me encarando.
- Eu te falei que ela é ansiosa, não posso falar essas coisas.
- Olha quem tá lá no carro. – ele caminhou para fora com ela, a levando até o carro. Aproveitei para entrar e já levar as malas até eles. Não havia separado tanta coisa, mas era bom que o porta-malas do carro de fosse espaçoso.
- Mamãe, a Lola vai com a gente! – Bells quase me atropelou, correndo em minha direção.
- E a Chelsea também. O é maluco. – reclamei, a fazendo rir. – Mas você que vai ter que ir com elas, então qualquer coisa reclama com ele.
- Bells. – ele falou, enquanto pegava as malas de minha mão para colocar no carro. – Se você quiser, pode dirigir e eu vou atrás com elas.
- Posso? Eu quero. – ela falou inocente, nos fazendo rir.
- Quando tiver idade suficiente, meu amor. Vai demorar. – mexi em seus cabelos carinhosamente. – Vem, vamos terminar de pegar as coisas.
- , será que eu ‘tô preparada para isso? – tive um ataque de risos ao questionar. Estava nervosa e estávamos a alguns minutos de chegar até a casa de Chloe. havia assumido o volante quando entramos na cidade, contra minha vontade, mas parecia tudo bem, então me permiti relaxar e ficar nervosa.
- Para com isso, . – ele riu também.
- Eu nunca senti isso, é horrível. Você sabe que eu fiquei nervosa a semana toda, agora só tá pior.
- Você vai se dar tão bem com ela que vai ficar irritada depois. Vai ser engraçado. – ele deu de ombros. – Mas como sempre, se acontecer qualquer coisa e você quiser sair, me fala. Por favor, tá? – eu assenti, tentando me acalmar. – Chegamos. – ele disse ao estacionar o carro em frente a uma casa um tanto quanto grande.
disse que tentou fazê-la se mudar para um apartamento próximo ao dele já que ela morava sozinha, mas a mesma tinha apego à sua casa, e isso a fazia nem mesmo considerar a ideia. Ele sempre chamara a mãe de cabeça dura, isso era sem dúvidas uma verdade, morar sozinha numa casa daquela não deveria ser extremamente bom, claro que ela provavelmente tinha alguém que limpasse para ela, e ela não era exatamente uma senhora cheia dos problemas de coluna e indefesa, mas não sei, ainda concordava com o cabeça dura.
- Vamos, meu amor? – me inclinei para ver Bells no banco de trás, ela sorriu, olhando para fora e soltando seu cinto. Lola e Chelsea pareciam ter percebido tardiamente que o carro havia parado. As duas cachorras se levantaram, olhando para todos os lados e então começando a latir, de forma descontrolada. – , eu te odeio. – falei rindo, assustada com os latidos. Ele deu de ombros e abriu a porta de trás, preparado para tirá-las de lá.
- Pelo menos elas se deram bem, você acreditou que não ia dar certo.
- É estranho que elas tenham se dado bem, não tenho culpa. De acordo com o sentido da vida, elas deveriam tentar se matar. – abri a porta de trás e peguei Bells no colo, tirando-a do carro enquanto prendia as duas na coleira, pelo menos até entrarmos para soltá-las.
- Vocês chegaram! – ouvi a voz da mãe de no portão e ele logo deu a volta no carro, acionando o alarme para trancá-lo. Ele se atropelava para andar, pois Chelsea e Lola trançavam por entre suas pernas. As duas não eram pequenas, então era uma cena um tanto quanto engraçada de se ver, ainda mais pelo contraste que tínhamos entre elas, Chelsea com seus pelos grandes e brancos, e Lola com seus pelos negros e curtinhos.
- Oi, mãe! – ele abraçou a mulher que jogou os braços por cima de seus ombros o apertando mais perto de seu corpo.
- , você quis encher minha casa? – ela riu, acariciando as duas cachorras que a cheiravam descontroladamente.
- Essa é sua neta, Lola. – ele apontou para sua cachorra e logo em seguida para a branca estabanada. – E essa é a Chelsea.
- Vou te falar que a primeira paixão dele foi saber que você tinha uma cachorra com o nome Chelsea. – ela me olhava enquanto eu me aproximava com Bells no colo. – “Mãe, conheci uma moça tão bonita hoje, tomei bronca da filha dela por querer adotar uma cachorrinha linda, pena que ela tem marido. Por sinal, adotei a cachorra.” – ela fingia imitar a voz do filho, o que me fez rir e corar com o comentário de quando nos conhecemos. – Depois também te conto como foi a reação dele quando descobriu que seu marido era ex. – ela gargalhou e vi olhar para o chão, envergonhado. – É um prazer finalmente te conhecer, . – ela me puxou para um rápido abraço com Bells entre nós. – E você é a Bells, certo? – minha filha assentiu, com um sorriso tímido de lábios grudados. – Você é tão linda, por sinal, tão linda quanto sua mãe. Ela parece demais com você. – eu assenti.
- Estamos muito felizes em te conhecer, senhora . – falei e vi Bells assentir, concordando.
- Vem, vamos entrar. E, por favor, me chame de Chloe. , o que você tem na cabeça? – ela gargalhou enquanto ele tentava passar pela porta com as duas cachorras com ele, o que parecia quase impossível.
- , se você soltá-las, elas não vão fugir. – falei rindo e coloquei Bells no chão para que ela o ajudasse.
- No máximo vão derrubar a casa, não? – ele falou, irônico. Mostrei o dedo do meio para ele e sua mãe riu.
- Se elas derrubarem, você arruma depois. – ela falou, fazendo-o rolar os olhos. – E nem pense em falar que você paga alguém para isso. – ela rebateu quando percebeu que ele estava prestes a abrir a boca para responder. – O almoço já está quase pronto. – ela bateu a porta atrás de si e seguiu pelo corredor depois da sala, provavelmente indo para a cozinha.
- Você está bem? – Chloe perguntou para enquanto estávamos sentados ao redor da mesa comendo. Bells comia sua batata frita com a maior felicidade do mundo, enquanto assistia desenhos no celular.
- Você já perguntou isso diversas vezes essa semana. – ele respondeu.
- Mas nas outras eu não podia ver seu rosto quando me responde. Você está bem?
- Estou. Agora muito melhor, ainda estou me divertindo do nervosismo da em chegar aqui.
- Eu estava um pouco assustada, confesso. – eu ri, xingando mentalmente.
- Passou? – ele perguntou com um tom debochado que me fez ficar ainda mais irritada. Mostrei a língua para ele e encarei Chloe.
- Como você pode aguentar isso há tantos anos?
- Se quiser testar, fique à vontade, ainda tenho muitos pela frente. Se quiser se juntar a mim em todos eles com uma aliança no dedo e tudo mais, a gente pode conversar. – ele deu de ombros, rindo e quase me fazendo engasgar com a brincadeira.
- Não a faça desistir antes desse momento, por favor. – ela riu e eu concordei. – Sei que temos muito tempo, mas queria muito saber mais de você. – ela colocou sua mão por cima da minha.
- Sou uma pessoa completamente sem graça. – falei rindo. – Não tenho nada de realmente interessante.
- Aí, . Você é um saco. – reclamou, nos fazendo rir.
- O que eu sei já é interessante o suficiente, mas quero ouvir de você.
Tomei fôlego e comecei então a falar um pouco de como havíamos chegado ali. Falei que era brasileira, sobre minha família e como nos mudamos para cá. Falei sobre a chegada aqui, sobre a escola e a decisão de ir para a faculdade, sobre meu primeiro trabalho e cheguei em meu primeiro amor, Michael. Contei a ela um pouco sobre nós, e como nos demos bem e ficamos um bom tempo juntos até decidirmos casar e logo em seguida ter Bells. Contei como decidi abrir a farmácia e ele me apoiou, o quanto trabalhei no começo já que ficava praticamente sozinha por lá e como hoje ela anda por conta própria, mas ainda adoro passar meu tempo lá. Falei sobre a separação do casamento e como foi tudo feito amigavelmente e expliquei um pouco sobre como está sendo ficar apenas eu e Bells desde então.
- E é isso, temos sido eu e ela. Bom, até a chegada desse ser humano que não saiu mais da nossa cola. – apontei para que me mandou um beijo.
- Não quero ser inoportuna, mas com tanta coisa já vivida, quantos anos a senhorita tem? – ela sorriu, parecendo pensativa.
- 28.
- Não é possível. – ela riu, parecendo não acreditar.
- Eu quase caí de costas quando soube. Mas essa carinha de anjo já é muito velha. Quase um anjo sênior. – mostrei a ele o dedo do meio mais uma vez naquele dia.
- Você não presta, . Parece que não te dei educação.
- Anjo mesmo é essa coisinha aqui que não dá atenção para ninguém quando tá assistindo nesse celular. – ele colocou a mão na frente do celular que estava com Bells, a irritando.
- . – ela reclamou, batendo na mão dele. Ele então derrubou o celular com a tela para baixo na mesa, fazendo com que ela fizesse algo como um rosnado para ele.
- Como você aguenta duas crianças? – Chloe perguntou.
- Eu sempre vou me perguntar isso. Acho que tenho um parafuso a menos.
- Eu tenho que concordar.
- A gente pode esperar a Bells dormir e dar uma volta? – se sentou ao meu lado na cama e me abraçou, deixando um beijo em meu rosto.
- Deve estar gelado lá fora. – reclamei e ele rolou os olhos. – Tudo bem. Eu vou tirá-la do banho e provavelmente ela já durma, ela com certeza está cansada.
Depois do almoço passamos a tarde conversando e brincando com Bells, ela havia cansado todos nós, mas ela com certeza também estava cansada. correu atrás dela por toda a casa, e toda casa envolvia um tamanho muito grande contando com o quintal nos fundos da casa onde Chelsea e Lola estavam. As duas também aproveitaram muito a tarde aos nossos pés enquanto conversávamos e correndo atrás de e Bells entre suas próprias brincadeiras, mesmo que elas se estranhassem algumas vezes.
- Tá gelado, mas nem tanto. – sorriu, fechando a porta atrás de si. Murmurei um “uhum” e ele se aproximou entrelaçando seu braço no meu.
- Onde iremos, senhor? – perguntei olhando para todos os lados.
- Na realidade acho que eu só queria dar uma volta com você. – ele riu envergonhado. – Estou feliz, precisava de uns minutinhos. – encarei sua expressão completamente fofa e o parei de frente para mim, lhe dando um selinho.
- Se tem coisa mais linda que você e essa sua expressão de felicidade, eu desconheço.
- Tem, você! – ele me abraçou, me apertando entre seus braços. – Eu só ‘tô muito feliz que você tá aqui comigo, e minha mãe gostou mesmo de você. Nem tinha como não gostar, né? Acho que todo mundo gosta.
- Eu tenho um dom, confesso. – dei de ombros e ele riu, me empurrando. – Mas, sério, agora você pode achar algo para gente fazer.
- Tá. – ele destravou o carro pelo alarme e abriu a porta do passageiro para mim. O encarei com a sobrancelha arqueada.
- Sério? Achei que íamos andar. É longe?
- , eu ‘tô com muita preguiça, só entra logo no carro. – ele riu, indicando a porta para mim. Revirei os olhos e entrei. Ele bateu a porta e correu até o outro lado já entrando também.
- Tem uma cafeteria 24h aqui perto, eu gostava muito de ir lá, é aquelas com tema antigo, sabe? – assenti e encarei o caminho assim como ele. Sua mente parecia estar distante e seus pensamentos quase faziam barulho.
- Tá tudo bem, ? – ele assentiu, estendendo sua mão por cima de minha coxa.
- E a senhorita? Tudo bem? – tentou desviar o assunto.
- Te conheço, senhor.
- É sério, ‘tô bem. – ele sorriu, estacionando e em seguida me dando um selinho rápido. – Vamos que eu quero um milk shake.
Capítulo 16
“And I might even want to hide, cause’ I never knew what I wanted til' I looked into your eyes. So am I in this alone? What I'm looking for is a sign that you feel how I feel for you.” (Please Don't Let Me Go – Olly Murs)
Por
- Meu Deus, o que é isso? – vi o irmão de entrar pela porta e ser atacado por Lola e Chelsea que corriam desesperadamente pela casa. – Mãe, temos um zoológico agora? – ele gritou tentando acalmá-las e logo dando espaço para que sua mulher e seus filhos passassem também.
- Aí que linda! – a garota exclamou, feliz.
Eu estava sentada no sofá com Bells ao meu lado e eles estavam parados em frente a porta me encarando, o que me deixou com um pouco de vergonha. Ainda mais quando o homem decidiu se pronunciar.
- Eu não acredito, você realmente existe. Isso é impossível. – ele ajoelhou e esticou suas mãos para o alto, fazendo um irritado entrar na sala e o empurrar de costas no chão.
- Por favor, apenas o ignore. – a mulher se aproximou sorrindo e estendeu sua mão para mim. – Sou Thea, é um prazer, . O idiota você deve imaginar ser Peter.
- Tão bobo quanto o irmão, certo? – ela assentiu.
- Esses são Ben e Ellen. – ela apresentou as crianças enquanto abraçava Peter de uma forma desajeitada.
- Olá! Bells vai ficar muito feliz de conhecer vocês, ela está na cozinha com a Chloe. – apontei e vi as duas crianças correrem gritando a avó.
- Peter, essa é a minha namorada, real, nada inventada, . – apresentou, fazendo graça.
- Não é como se Deus e o mundo já não soubessem quem é. Você fala demais quando está apaixonado. – eu ri da reação de e me convenci que aquilo era uma grande verdade já que ouvira o mesmo de todos os lados possíveis. O homem que era um tanto quanto parecido com o irmão esticou sua mão e apertou a minha, se aproximando para um semi abraço. – Mas confesso que estou ansioso para conhecer a pequena por quem ele se apaixonou primeiro, nunca foi o melhor com crianças, estou pagando para ver.
- Ele é um babão, você não tem ideia.
- Ah, . – Peter bateu em suas costas e rolou os olhos para mim, apenas dei de ombros e os acompanhei até a cozinha.
Observei enquanto Peter, Thea e os pequenos cumprimentavam Chloe que tinha suas mãos na carne que estava preparando. Bells estava ao seu lado prestando toda a atenção do mundo, o que me fez sorrir. Thea parou ao lado dela e pude ver minha filha encará-la, e alguns segundos depois sorrir ao encontrar Ellen atrás da mesma.
- Agora você vai me abandonar, não é? – Chloe perguntou para Bells ao vê-la descer da cadeira. A garota apenas assentiu com a cabeça, fazendo todos, inclusive Ellen, rirem. Ben apenas acenou para Bells e se escondeu nas pernas do pai, apenas observando enquanto outra garota puxava sua irmã para longe.
- Mãe, o Peter já está me maltratando. Depois você pergunta porquê eu nunca venho aqui.
- , você não vem aqui porque você não quer, não tente encontrar desculpas. Nem vergonha na cara você tem. – sua mãe rebateu, o deixando com uma expressão irritada.
- Eu mereço mesmo, viu? Em todo caso, culpem a , ela toma todo meu tempo livre.
- Eu? – falei alto, me defendendo. – , me poupe. – ele se aproximou de mim, jogando seus braços ao redor do meu corpo e me abraçando enquanto ríamos.
- , é assim mesmo. Jogadores de futebol são assim, inclusive, lembre de nunca confiar demais. – Peter falou, tentando irritar o irmão mais uma vez.
- Um passo para frente, mas um pé sempre atrás. – dei de ombros e me encarou indignado.
- É assim, ? Bom saber. – ele me encarou com as sobrancelhas arqueadas. – Você vai voltar a pé para casa.
- Eu te levo, . – ouvi Thea falar.
- Tudo bem, já entendi que são todos contra mim. Vou me calar que é melhor. Vem, Ben, vamos jogar. – ele se abaixou, chamando o sobrinho que estava quieto encostado na parede próximo ao pai.
- . – reclamei e ele me encarou.
- Eu não vou forçar. – ele murmurou parecendo uma criança.
- Depois não vem chorar no meu ouvido. – mostrei a língua para ele e o vi fechar os olhos de Ben com uma mão e me mostrar o dedo do meio com a outra, fazendo todos rirem.
- E os rumores de transferência? O que está rolando que você não conta para o seu irmão? – ouvi a voz de Peter puxando assunto com na sala quando ele entrou com Ben enquanto eu estava com Thea e as meninas na mesa da cozinha, dando comida.
- Fica quieto, Peter. – resmungou e pareceu continuar o assunto ainda mais baixo junto ao seu irmão que agora também sussurrava.
Por alguns segundos fiquei estática, queria ouvi-los, mas acredito que por outro lado não queria. Talvez fosse melhor não. Voltei a realidade com Thea me perguntando como Bells ia na escola, se ela gostava ou não, e tentei afastar o assunto de minha mente. Já havia visto algumas notícias sobre, não é como se o próprio Google não me mantivesse atualizada desde meses e meses atrás quando pesquisei sobre , mas acredito que se tivesse qualquer ponta de verdade na história, ele falaria comigo. Ele me dissera uma vez que toda janela de transferências acontecia a mesma coisa, rolavam diversas especulações sobre sua saída, e ele nunca queria realmente sair, então ficavam apenas especulações.
- Relaxa, eu sei como é. – ouvi Peter dizendo ao encerrar o assunto e vi vir em nossa direção, sentando ao lado de Bells.
- Me dá um pouquinho da sua comida? – ele brincou, abrindo a boca.
- Sai daqui, . – ela rolou os olhos fazendo todos rirem.
- ‘Tô tomando de todos os lados, tá triste isso. – ele reclamou, fazendo bico. – Cansei, vou me isolar no meu quarto.
- A vontade. – Thea resmungou.
- Vai tomar um banho. – beijei seu rosto quando ele se aproximou para me abraçar.
- Vou, e depois de comer quero dormir. – assenti, pois também queria e pelos olhos fechando de Bells eu teria essa chance.
- Vocês realmente se deram muito bem, não? – a mulher perguntou quando saiu de perto de nós e eu assenti. – É muito bom ver ele feliz assim, acho que nunca o vi tão radiante. é sempre muito animado, agitado, sorridente, mas os olhos brilhando normalmente ficam em falta. Ele nunca está de mal com a vida, mas não completamente de bem também, como vejo agora.
- Você conhece ele há muito tempo, né? – ela assentiu.
- Estou com Peter há muito tempo, só não somos mais próximos por conta da distância mesmo, ele é muito ocupado com os jogos e tudo mais. Isso não afeta vocês? – neguei.
- Como moramos um tanto quanto perto e com o estádio próximo também, as coisas são mais fáceis. Só ficamos longe mesmo quando ele vai para os jogos mais longe, mas não é como se durasse muito tempo. Nos dias normais ele sempre dá um jeito de passar em casa depois do treino, ou depois do jogo, ou eu vou até a casa dele.
- Posso te fazer uma pergunta que talvez seja um pouco pessoal? – ela sorriu parecendo com medo de minha reação, apenas assenti para que ela continuasse. – E a Bells? Vi que ela gosta muito dele, acho que todo mundo vê, mas isso te preocupa?
- Foi o motivo de que eu enrolasse meses para decidir que tudo que estava acontecendo era certo e eu não poderia me privar de gostar de alguém. Eu sabia que queria ficar com ele, mas o medo de qualquer coisa sair errada e no meio de tudo a Bells se machucar sempre me preocupou. Ainda me preocupa, claro. Ela é nova, Thea, mas é uma pequenininha incrível. Acredito que ela entenderia, por mais que goste tanto do , afinal, foi ela que fez com que ficássemos juntos.
- Ele fala dela com um carinho gigante para gente. Desculpa te fazer falar disso, mas tento me colocar no seu lugar e sou muito curiosa.
- Agora me fala um pouco mais da Ellen e do Ben. – puxei um novo assunto para afastar um pouco a atenção de mim. Entendo que todos ali querem me conhecer, mas não sou a pessoa mais adorável quando se trata de falar sobre mim.
Coloquei Bells na cama e falei para ela que iria ao banheiro e já voltava para deitar também, mas quando voltei a encontrei já adormecida e ao seu lado encarando o teto.
- Tem espaço aí para mim? – perguntei, sorrindo. Ele assentiu e se levantou para que eu deitasse ao lado de Bells, e ele ficasse na ponta da cama. – Você tá bem?
- ‘Tô. – ele sorriu se virando de lado para que ficássemos frente a frente.
- Você tem certeza?
- Tenho, . Só estou um pouco pensativo. Vocês me tratam muito mal quando estão todos juntos, ‘tô pensando em pular da ponte. – bati em seu braço enquanto ele ria da minha reação.
- Quando acho que você vai falar algo sério, você me aparece com cada uma.
- Você quer ouvir algo sério? Que eu estou realmente pensativo? – ele falou mudando sua expressão, o que me deixou apreensiva.
- Aí , que medo, para com isso. – falei rindo nervosa.
- Para de ser boba, , parece que não me conhece. – ele aliviou sua expressão e vi aparecer o sorriso que tanto gostava.
Nesses momentos em que estávamos a sós as coisas pareciam mais leves que o normal. Não existiam momentos pesados entre nós, e se fosse um momento de considerar, não era mais um relacionamento de dois meses. Estávamos juntos como algo oficial há não muito tempo, mas já estávamos quase em um ano que nos conhecemos e não tivemos algo ruim durante todo esse tempo. A suavidade de nosso relacionamento me trazia paz, pois quando se ama tão jovem tudo parece uma loucura e as coisas parecem acontecer rápido demais, enquanto nesse caso, eu sempre senti que nada seria atropelado, as coisas acontecem aos poucos e o sentimento se desenvolve de forma atrapalhada, rápida e com uma certeza sem igual. Sinto que na minha idade, por mais que não seja tão velha assim, não existem muito mais dúvidas. As dúvidas que tive foram antes, a partir do momento que aceitei que era para ser e já tinha me ganhado há algum tempo, eu deixei tudo para trás.
- Agora você quem está pensativa, então não vou falar. – ele falou, colocando a mão em meu rosto para que eu olhasse para ele novamente. – Tá pensando em quê?
- Em você, por incrível que pareça. – eu sorri, dando um beijo na ponta de seu nariz e levando meu corpo para mais perto do seu. – Viu? Eu falo no que eu tava pensando.
- Eu tava pensando em você também, sem graça. – ele buscou minha mão e a colocou junto a sua em seu peito.
- É um sentimento bom, né? – apontei para as nossas mãos. – Ficar assim.
- , posso te fazer uma pergunta? Não quero que me entenda mal.
- Claro, . – eu sorri de sobrancelhas arqueadas, curiosa por seu tom de voz.
- Você tem certeza mesmo, né? De nós. Eu sei que já devo ter perguntado muitas vezes, mas é importante saber.
- Era isso que eu estava pensando. Na certeza que eu tenho. – sorri para acalmá-lo.
- E chegou a alguma conclusão? – perguntou brincalhão.
- Que eu amo estar com você e que essa sensação é a melhor de todas. – seu sorriso aumentou e pude ver seus olhos brilhando. – Eu amo você, . Você me irrita, é chato, parece uma criança, e eu ainda tenho medo desse sentimento, mas não é como se eu pudesse esconder de mim mesma que eu o sinto e você sabe disso. Quando eu te dei uma chance eu já sabia disso e você também.
- ‘Tô digerindo a informação porque eu ia falar primeiro, só um minuto. - ele ficou mais sério, me fazendo rir. - Eu amo você, . - ele colocou uma mão em minha cintura e levou a outra para meu rosto se aproximando delicadamente e me dando um selinho demorado. - Eu não esperava isso. - falou sincero.
- Eu acho que eu não esperava também, mas pensei em tanta coisa em poucos segundos que pareceu certo.
- Você consegue me surpreender a cada dia, e acho que não tem nada mais lindo que isso. Exceto me proporcionar isso numa cena tão linda quanto essa. – ele apontou para nós três deitados na cama. – Posso acordar a Bells para falar que a amo também?
- Melhor deixar para mais tarde quando ela acordar sozinha, não acha? Ela vai estar mais calma do que sendo acordada. – ele pareceu ponderar a ideia e sorriu novamente me dando um selinho.
- Depois daquele dia, nunca mais a acordo. – ele falou se lembrando do dia que tentou acordá-la durante dez minutos e quando finalmente conseguiu, a garota só falou com ele no dia seguinte.
- Traumatizou, huh? – ele assentiu, rindo. – , você acha que gostaram de mim? – perguntei tímida. Tinha medo de que ele chegasse falando isso para todos apenas para me irritar.
- Claro que gostaram, . A Thea já quer virar sua melhor amiga, está chateada que a gente não more tão perto.
- Eu gostei muito dela também. Já trocamos telefones e tudo mais para que ela possa ir em casa.
- Isso me faz tão feliz.
- Você ainda parece pensativo, . Tem certeza que não tem nada acontecendo? – ele assentiu.
- Não é nada, . Eu ‘tô feliz e talvez pareça pensativo por estar pensando na minha felicidade. Pode ser, não pode? – brincou.
- Duvido, mas vou fingir que acredito. Posso dormir agora?
- E eu estava te impedindo, por acaso?
- Você fala demais.
- As vezes eu te odeio, sem graça. – ele riu e deu um beijo em minha testa. – Amo você. Desculpa, eu precisava falar isso de novo, é tão bom.
- Eu também amo você. – juntei nossos lábios e após um beijo calmo virei de costas para ele e a última coisa que lembro é de sentir seu braço me envolver para que nossos corpos não perdessem qualquer contato.
Por
- Meu Deus, o que é isso? – vi o irmão de entrar pela porta e ser atacado por Lola e Chelsea que corriam desesperadamente pela casa. – Mãe, temos um zoológico agora? – ele gritou tentando acalmá-las e logo dando espaço para que sua mulher e seus filhos passassem também.
- Aí que linda! – a garota exclamou, feliz.
Eu estava sentada no sofá com Bells ao meu lado e eles estavam parados em frente a porta me encarando, o que me deixou com um pouco de vergonha. Ainda mais quando o homem decidiu se pronunciar.
- Eu não acredito, você realmente existe. Isso é impossível. – ele ajoelhou e esticou suas mãos para o alto, fazendo um irritado entrar na sala e o empurrar de costas no chão.
- Por favor, apenas o ignore. – a mulher se aproximou sorrindo e estendeu sua mão para mim. – Sou Thea, é um prazer, . O idiota você deve imaginar ser Peter.
- Tão bobo quanto o irmão, certo? – ela assentiu.
- Esses são Ben e Ellen. – ela apresentou as crianças enquanto abraçava Peter de uma forma desajeitada.
- Olá! Bells vai ficar muito feliz de conhecer vocês, ela está na cozinha com a Chloe. – apontei e vi as duas crianças correrem gritando a avó.
- Peter, essa é a minha namorada, real, nada inventada, . – apresentou, fazendo graça.
- Não é como se Deus e o mundo já não soubessem quem é. Você fala demais quando está apaixonado. – eu ri da reação de e me convenci que aquilo era uma grande verdade já que ouvira o mesmo de todos os lados possíveis. O homem que era um tanto quanto parecido com o irmão esticou sua mão e apertou a minha, se aproximando para um semi abraço. – Mas confesso que estou ansioso para conhecer a pequena por quem ele se apaixonou primeiro, nunca foi o melhor com crianças, estou pagando para ver.
- Ele é um babão, você não tem ideia.
- Ah, . – Peter bateu em suas costas e rolou os olhos para mim, apenas dei de ombros e os acompanhei até a cozinha.
Observei enquanto Peter, Thea e os pequenos cumprimentavam Chloe que tinha suas mãos na carne que estava preparando. Bells estava ao seu lado prestando toda a atenção do mundo, o que me fez sorrir. Thea parou ao lado dela e pude ver minha filha encará-la, e alguns segundos depois sorrir ao encontrar Ellen atrás da mesma.
- Agora você vai me abandonar, não é? – Chloe perguntou para Bells ao vê-la descer da cadeira. A garota apenas assentiu com a cabeça, fazendo todos, inclusive Ellen, rirem. Ben apenas acenou para Bells e se escondeu nas pernas do pai, apenas observando enquanto outra garota puxava sua irmã para longe.
- Mãe, o Peter já está me maltratando. Depois você pergunta porquê eu nunca venho aqui.
- , você não vem aqui porque você não quer, não tente encontrar desculpas. Nem vergonha na cara você tem. – sua mãe rebateu, o deixando com uma expressão irritada.
- Eu mereço mesmo, viu? Em todo caso, culpem a , ela toma todo meu tempo livre.
- Eu? – falei alto, me defendendo. – , me poupe. – ele se aproximou de mim, jogando seus braços ao redor do meu corpo e me abraçando enquanto ríamos.
- , é assim mesmo. Jogadores de futebol são assim, inclusive, lembre de nunca confiar demais. – Peter falou, tentando irritar o irmão mais uma vez.
- Um passo para frente, mas um pé sempre atrás. – dei de ombros e me encarou indignado.
- É assim, ? Bom saber. – ele me encarou com as sobrancelhas arqueadas. – Você vai voltar a pé para casa.
- Eu te levo, . – ouvi Thea falar.
- Tudo bem, já entendi que são todos contra mim. Vou me calar que é melhor. Vem, Ben, vamos jogar. – ele se abaixou, chamando o sobrinho que estava quieto encostado na parede próximo ao pai.
- . – reclamei e ele me encarou.
- Eu não vou forçar. – ele murmurou parecendo uma criança.
- Depois não vem chorar no meu ouvido. – mostrei a língua para ele e o vi fechar os olhos de Ben com uma mão e me mostrar o dedo do meio com a outra, fazendo todos rirem.
- E os rumores de transferência? O que está rolando que você não conta para o seu irmão? – ouvi a voz de Peter puxando assunto com na sala quando ele entrou com Ben enquanto eu estava com Thea e as meninas na mesa da cozinha, dando comida.
- Fica quieto, Peter. – resmungou e pareceu continuar o assunto ainda mais baixo junto ao seu irmão que agora também sussurrava.
Por alguns segundos fiquei estática, queria ouvi-los, mas acredito que por outro lado não queria. Talvez fosse melhor não. Voltei a realidade com Thea me perguntando como Bells ia na escola, se ela gostava ou não, e tentei afastar o assunto de minha mente. Já havia visto algumas notícias sobre, não é como se o próprio Google não me mantivesse atualizada desde meses e meses atrás quando pesquisei sobre , mas acredito que se tivesse qualquer ponta de verdade na história, ele falaria comigo. Ele me dissera uma vez que toda janela de transferências acontecia a mesma coisa, rolavam diversas especulações sobre sua saída, e ele nunca queria realmente sair, então ficavam apenas especulações.
- Relaxa, eu sei como é. – ouvi Peter dizendo ao encerrar o assunto e vi vir em nossa direção, sentando ao lado de Bells.
- Me dá um pouquinho da sua comida? – ele brincou, abrindo a boca.
- Sai daqui, . – ela rolou os olhos fazendo todos rirem.
- ‘Tô tomando de todos os lados, tá triste isso. – ele reclamou, fazendo bico. – Cansei, vou me isolar no meu quarto.
- A vontade. – Thea resmungou.
- Vai tomar um banho. – beijei seu rosto quando ele se aproximou para me abraçar.
- Vou, e depois de comer quero dormir. – assenti, pois também queria e pelos olhos fechando de Bells eu teria essa chance.
- Vocês realmente se deram muito bem, não? – a mulher perguntou quando saiu de perto de nós e eu assenti. – É muito bom ver ele feliz assim, acho que nunca o vi tão radiante. é sempre muito animado, agitado, sorridente, mas os olhos brilhando normalmente ficam em falta. Ele nunca está de mal com a vida, mas não completamente de bem também, como vejo agora.
- Você conhece ele há muito tempo, né? – ela assentiu.
- Estou com Peter há muito tempo, só não somos mais próximos por conta da distância mesmo, ele é muito ocupado com os jogos e tudo mais. Isso não afeta vocês? – neguei.
- Como moramos um tanto quanto perto e com o estádio próximo também, as coisas são mais fáceis. Só ficamos longe mesmo quando ele vai para os jogos mais longe, mas não é como se durasse muito tempo. Nos dias normais ele sempre dá um jeito de passar em casa depois do treino, ou depois do jogo, ou eu vou até a casa dele.
- Posso te fazer uma pergunta que talvez seja um pouco pessoal? – ela sorriu parecendo com medo de minha reação, apenas assenti para que ela continuasse. – E a Bells? Vi que ela gosta muito dele, acho que todo mundo vê, mas isso te preocupa?
- Foi o motivo de que eu enrolasse meses para decidir que tudo que estava acontecendo era certo e eu não poderia me privar de gostar de alguém. Eu sabia que queria ficar com ele, mas o medo de qualquer coisa sair errada e no meio de tudo a Bells se machucar sempre me preocupou. Ainda me preocupa, claro. Ela é nova, Thea, mas é uma pequenininha incrível. Acredito que ela entenderia, por mais que goste tanto do , afinal, foi ela que fez com que ficássemos juntos.
- Ele fala dela com um carinho gigante para gente. Desculpa te fazer falar disso, mas tento me colocar no seu lugar e sou muito curiosa.
- Agora me fala um pouco mais da Ellen e do Ben. – puxei um novo assunto para afastar um pouco a atenção de mim. Entendo que todos ali querem me conhecer, mas não sou a pessoa mais adorável quando se trata de falar sobre mim.
Coloquei Bells na cama e falei para ela que iria ao banheiro e já voltava para deitar também, mas quando voltei a encontrei já adormecida e ao seu lado encarando o teto.
- Tem espaço aí para mim? – perguntei, sorrindo. Ele assentiu e se levantou para que eu deitasse ao lado de Bells, e ele ficasse na ponta da cama. – Você tá bem?
- ‘Tô. – ele sorriu se virando de lado para que ficássemos frente a frente.
- Você tem certeza?
- Tenho, . Só estou um pouco pensativo. Vocês me tratam muito mal quando estão todos juntos, ‘tô pensando em pular da ponte. – bati em seu braço enquanto ele ria da minha reação.
- Quando acho que você vai falar algo sério, você me aparece com cada uma.
- Você quer ouvir algo sério? Que eu estou realmente pensativo? – ele falou mudando sua expressão, o que me deixou apreensiva.
- Aí , que medo, para com isso. – falei rindo nervosa.
- Para de ser boba, , parece que não me conhece. – ele aliviou sua expressão e vi aparecer o sorriso que tanto gostava.
Nesses momentos em que estávamos a sós as coisas pareciam mais leves que o normal. Não existiam momentos pesados entre nós, e se fosse um momento de considerar, não era mais um relacionamento de dois meses. Estávamos juntos como algo oficial há não muito tempo, mas já estávamos quase em um ano que nos conhecemos e não tivemos algo ruim durante todo esse tempo. A suavidade de nosso relacionamento me trazia paz, pois quando se ama tão jovem tudo parece uma loucura e as coisas parecem acontecer rápido demais, enquanto nesse caso, eu sempre senti que nada seria atropelado, as coisas acontecem aos poucos e o sentimento se desenvolve de forma atrapalhada, rápida e com uma certeza sem igual. Sinto que na minha idade, por mais que não seja tão velha assim, não existem muito mais dúvidas. As dúvidas que tive foram antes, a partir do momento que aceitei que era para ser e já tinha me ganhado há algum tempo, eu deixei tudo para trás.
- Agora você quem está pensativa, então não vou falar. – ele falou, colocando a mão em meu rosto para que eu olhasse para ele novamente. – Tá pensando em quê?
- Em você, por incrível que pareça. – eu sorri, dando um beijo na ponta de seu nariz e levando meu corpo para mais perto do seu. – Viu? Eu falo no que eu tava pensando.
- Eu tava pensando em você também, sem graça. – ele buscou minha mão e a colocou junto a sua em seu peito.
- É um sentimento bom, né? – apontei para as nossas mãos. – Ficar assim.
- , posso te fazer uma pergunta? Não quero que me entenda mal.
- Claro, . – eu sorri de sobrancelhas arqueadas, curiosa por seu tom de voz.
- Você tem certeza mesmo, né? De nós. Eu sei que já devo ter perguntado muitas vezes, mas é importante saber.
- Era isso que eu estava pensando. Na certeza que eu tenho. – sorri para acalmá-lo.
- E chegou a alguma conclusão? – perguntou brincalhão.
- Que eu amo estar com você e que essa sensação é a melhor de todas. – seu sorriso aumentou e pude ver seus olhos brilhando. – Eu amo você, . Você me irrita, é chato, parece uma criança, e eu ainda tenho medo desse sentimento, mas não é como se eu pudesse esconder de mim mesma que eu o sinto e você sabe disso. Quando eu te dei uma chance eu já sabia disso e você também.
- ‘Tô digerindo a informação porque eu ia falar primeiro, só um minuto. - ele ficou mais sério, me fazendo rir. - Eu amo você, . - ele colocou uma mão em minha cintura e levou a outra para meu rosto se aproximando delicadamente e me dando um selinho demorado. - Eu não esperava isso. - falou sincero.
- Eu acho que eu não esperava também, mas pensei em tanta coisa em poucos segundos que pareceu certo.
- Você consegue me surpreender a cada dia, e acho que não tem nada mais lindo que isso. Exceto me proporcionar isso numa cena tão linda quanto essa. – ele apontou para nós três deitados na cama. – Posso acordar a Bells para falar que a amo também?
- Melhor deixar para mais tarde quando ela acordar sozinha, não acha? Ela vai estar mais calma do que sendo acordada. – ele pareceu ponderar a ideia e sorriu novamente me dando um selinho.
- Depois daquele dia, nunca mais a acordo. – ele falou se lembrando do dia que tentou acordá-la durante dez minutos e quando finalmente conseguiu, a garota só falou com ele no dia seguinte.
- Traumatizou, huh? – ele assentiu, rindo. – , você acha que gostaram de mim? – perguntei tímida. Tinha medo de que ele chegasse falando isso para todos apenas para me irritar.
- Claro que gostaram, . A Thea já quer virar sua melhor amiga, está chateada que a gente não more tão perto.
- Eu gostei muito dela também. Já trocamos telefones e tudo mais para que ela possa ir em casa.
- Isso me faz tão feliz.
- Você ainda parece pensativo, . Tem certeza que não tem nada acontecendo? – ele assentiu.
- Não é nada, . Eu ‘tô feliz e talvez pareça pensativo por estar pensando na minha felicidade. Pode ser, não pode? – brincou.
- Duvido, mas vou fingir que acredito. Posso dormir agora?
- E eu estava te impedindo, por acaso?
- Você fala demais.
- As vezes eu te odeio, sem graça. – ele riu e deu um beijo em minha testa. – Amo você. Desculpa, eu precisava falar isso de novo, é tão bom.
- Eu também amo você. – juntei nossos lábios e após um beijo calmo virei de costas para ele e a última coisa que lembro é de sentir seu braço me envolver para que nossos corpos não perdessem qualquer contato.
Capítulo 17
“Can you feel it building like a wave the ocean just can't control, connected by a feeling in our very souls.” (Breaking Free – High School Musical)
Por
- Estou tão cansada que nem parece que descansei todos esses dias. – rolei na cama, preguiçosa.
- Falta pouco para as férias da Bells, aí vocês podem dormir o dia todo juntas. – ele falou ao me abraçar.
- Eu trabalho, tá?
- Ah, . Não fala isso, você tem liberdade de entrar qualquer horário. – dei de ombros e ele riu. – Você nem precisa ir.
- Não mesmo, mas eu gosto. Você, por outro lado, ganha, sei lá, ia falar o triplo por costume, mas é muito mais. – gargalhei e ele me acompanhou, se escondendo de brincadeira. – E tem que ir pelo menos prestar sua tristeza com o seu time, porque vocês perderam ontem, então levanta e vai lá.
- Chata. – ele resmungou se levantando. – Vou preparar o café, vai se arrumando e a arrumando
- Já conseguiu acordá-la? – apareceu no corredor me procurando e eu neguei, aparecendo na porta de meu quarto já trocada.
- Tá difícil, mas sigo na luta. – dei risada e ele entrou no quarto colocando uma camiseta. – Tava melhor antes. – dei de ombros e ele se aproximou, me encostando rapidamente na parede e juntando nossos lábios.
- Não faz gracinha que eu tiro e aproveito para tirar a sua também. – ele mostrou a língua e se afastou, me fazendo rir. Ouvi o barulho da campainha e me assustei, sem imaginar quem poderia ser naquele horário. – Eu abro. – apontei para cueca dele e ele me encarou, considerando e logo vestindo seu calção azul que estava no chão.
- Senhor , como vai? – ouvi aumentar a voz na sala e me assustei, tentando não rir. Aí, meu Deus, péssimo jeito de oficializar a relação para o meu pai.
- A está? – ele questionou de nariz torcido antes de me ver já na sala.
- Oi, pai! Tudo bem? Oi, mãe. – me aproximei abraçando-os animada, o que minha mãe reconheceria como completamente desastrada.
- Oi, Karen.
- , querido. – ela o abraçou, segurando a risada e trocando comigo um olhar cúmplice.
- Decidiram pular cedo? – perguntei chamando-os para sentar no sofá enquanto corria para a cozinha para não deixar que nossas torradas queimassem a ponto de não conseguirmos comer, como já acontecera anteriormente por descuido.
- Queríamos fazer uma surpresa para Bells e levá-la para escola, mas acho que a surpresa foi toda minha, não? – meu pai comentou com uma expressão um pouco fechada. – Eu achei que eram amigos, .
- E éramos, pai. – rolei os olhos. – Não acha que sou muito velha para sermão? Eu e nos damos muito bem, okay? Assim como ele e a Bells.
- Só acho errado colocar um homem dentro de sua casa com a sua filha, ainda mais um jogador de futebol.
- Acho que essa é a primeira coisa que vou escutar de qualquer um, impossível. Bom, não vou ficar trocando farpas, você gostou dele antes, se contente e pelo menos o trate com respeito.
- Você sabia disso? – ele questionou minha mãe ao vê-la em silêncio e ela assentiu, se levantando.
- E não, eu não preciso que ela me conte, eu a conheço. – ela sorriu e andou pelo corredor na direção do quarto de Bells.
- Estou fazendo mais torradas. – se aproximou sorridente. – E aí, vai dar City ou o Liverpool passa?
- Com certeza vamos ser campeões, Liverpool não conseguirá. – ele disse um tanto quanto seco, fazendo murchar. – E vocês não vão conseguir a vaga, sinto muito.
- Ainda temos a Europa League. – ele respondeu, ríspido.
- Não é como se fossem conseguir isso, o time é fraco.
- O senhor pode até me criticar, ficar triste ou irritado por me encontrar aqui, mas não desconte no meu time. – reclamou rudemente.
- . – adverti e meu pai abaixou a cabeça, respirando fundo.
- Desculpe, é um pouco difícil. – admitiu e se levantou quando viu Bells passar sonolenta para o banheiro, andando atrás dela e de minha mãe. Suspirei e me abraçou, beijando minha cabeça.
- Desculpa, tudo bem? – assenti e ele nos separou, indo novamente até a cozinha.
- Ele vai ficar bem, é só o surto de início. – sorri para ele e andei rumo ao quarto de Bells. – Bom dia, meu amor. – me aproximei dela que se trocava com a ajuda da avó e beijei seus cabelos. Recebi um sorriso mal humorado em retorno. Um doce quando acorda, como sempre.
- Vovó, vocês vieram para me levar para escola? O vai ficar chateado, ele disse que ia me levar.
- Tá tudo bem, princesa. Eu levo você outro dia. – ele apareceu na porta mandando um beijo para ela. Vi meu pai torcer o nariz e minha mãe sorrir com o gesto ao ver Bells concordar. entrou no meu quarto, na porta em frente, e a fechou, provavelmente para se trocar.
- Ele é um amor, não é? Com a Bells. – ouvi minha mãe falar baixo enquanto a neta penteava os próprios cabelos. Assenti e vi o Sr. interessado na conversa.
- Ele é incrível com ela, e comigo. – respondi e então aproveitei a deixa, virando-me para o mais velho. - Então não temos motivos para surtos, certo? Trate o como tratou quando o conheceu e achou super legal que eu fosse amiga de um jogador. Não é como se tivesse algum motivo para isso, ele não é um Neymar da vida que vive na mídia por conta dos diversos escândalos. O respeite, pai, eu gosto mesmo dele e sei que o que ele sente por mim é verdadeiro. – ele assentiu, olhando para a porta que se abrira e mostrava um com seu uniforme de treino.
- Já está melhor? – ele perguntou então. – Vi que você não jogou.
- Me sinto melhor, troquei as intensas horas de fisioterapia por um descanso. Foi difícil, mas foi útil. Hoje ainda não treino, mas vou lá apoiar todo mundo e fazer um pouco da fisioterapia para ver se está tudo bem. Não foi nada demais, mas preferimos assim para que eu não tenha que parar mais para frente. – sorri vendo meu pai sair do quarto e seguir até a sala, mantendo a conversa entre eles.
- Você sabia que era só marra, né? – minha mãe perguntou, rindo.
- Sim, mas o pai exagera, preferi cortar antes que ele enrolasse mais e surtasse.
- Vocês ficam muito bem juntos. Só não imaginei que já estivessem nesse nível, se algo ainda der errado vai ser ruim para vocês.
- Esperamos que não dê. Mas, se der, estou com a cabeça preparada. Acredito, pelo menos. – dei de ombros e ela se virou, terminando de juntar as coisas na mochila de Bells.
- Ninguém nunca está, filha. – assenti, sabendo que era a verdade.
- Vou indo também, tudo bem? – parou na entrada da porta enquanto víamos Bells e meus pais se afastarem, indo até o carro.
- Ah, não. – o abracei, fazendo graça.
- Quem dera eu pudesse ficar. – ele fez bico. – Mas tivemos dias incríveis e eu estou tão feliz.
- Eu também. – juntei nossos lábios em um selinho. – Se recupere logo, okay? E me dê notícias de como estão as coisas. Manda um beijo para o Kepa. – ele rolou os olhos, rindo. se aproximou, me abraçando.
- Se cuida. – ele beijou minha testa e andou em direção ao seu carro, se virando novamente para acenar para mim antes de entrar no veículo.
- , tudo bem? – ouvi a voz de Julian, meu funcionário.
- Oi, ‘tô bem sim e você?
- Não muito, estou te ligando porque estou bem mal, e com febre alta. Eu preciso ir para um hospital.
- Já deveria ter ido. O Phillip consegue cuidar das coisas até que eu chegue, certo?
- Claro. Me desculpe, .
- Imagina, por favor, se cuide e me avise, tá?
- Claro, obrigado.
Levantei do sofá espreguiçando todo meu sono para fora. Eram duas da tarde e eu havia tentando limpar alguns cômodos da casa, me arrastando, e não tendo sucesso em quase nenhum. Me joguei no sofá e acabei apagando quase instantaneamente, acordando apenas com a ligação que me assustou.
Andei até o quarto e separei minha roupa, indo rapidamente até o banheiro para um banho rápido para acordar decentemente. Phillip se virava incrivelmente bem sozinho, mas não poderia deixá-lo só por muito tempo. Até mesmo por se tratar de uma segunda-feira, um dia de grande movimento em estabelecimentos.
Sai do banho e me troquei, calcei meu tênis e em pouco tempo já estava arrumada. Encontrei a cozinha limpa e sorri aliviada de que ao menos alguma coisa eu havia feito. Fiquei com pena de sujar novamente sabendo que só voltaria mais tarde e decidi passar em algum lugar para pegar alguma coisa. Ao lado da farmácia havia um pequeno mercado também, serviria.
- Ei, Phillip. – acenei para ele da porta da farmácia, recebendo um aceno em resposta também. – Já volto, vou pegar algo para comer. Quer alguma coisa? – ele negou com a cabeça e eu assenti, saindo de lá e entrando no mercado.
Peguei alguns pães e frios, também alguns doces e para passar o tempo decidi pegar uma revista daquelas com os mais variados tipos de assuntos. Passei pelo caixa e em menos de quinze minutos já estava na cozinha da farmácia, comendo.
- , como está? – Phillip perguntou, sorridente.
- Eu estou bem, e você? Estou sumida, não? – ele riu, assentindo.
- Só porque está de rolo com o está desaparecida.
- Você não existe, menino. Deixe meu rolo quieto. – mostrei a língua e ele fez o mesmo em retorno. – Rolo não, namoro, okay?
- Namoro, ? Como assim? – perguntou, animado.
- Ah, Phil. – sorri. – Vou te contar.
Expliquei a ele desde o começo como as coisas aconteceram. Ele o vira nos dois dias que passou aqui na farmácia, o que foi por acaso, e o que estava me sondando, então expliquei a ele desde o segundo. Falei de como nos aproximamos e conversávamos o tempo todo, como ele me tratava incrivelmente bem e adorava Bells. Contei como nós saímos algumas vezes e sobre o aniversário da pequena. Contei que já havia conhecido a família dele e que hoje numa reviravolta tive que apresentá-lo como namorado ao meu pai. O garoto riu ao se lembrar que meu pai é torcedor assíduo do City. Pela primeira vez coloquei para fora a frase “Estou apaixonada”, o que o fez sorrir comigo.
- Quem podia imaginar, não? – ele disse. – E a melhor parte é que é um jogador de futebol, não um ator ou cantor, então sua privacidade continua quase intacta.
- Quase. – puxei a revista que havia comprado e o mostrei o motivo de a ter comprado, vendo uma foto nossa em uma das matérias. – Nem vou ler agora, mas fiz questão de pegar.
- São poucas vezes, , isso que importa. – assenti e andei até a metade da loja para atender uma pessoa que entrava no estabelecimento.
: Os caras tão treinando mais duro que o normal, você não tem ideia!
Sorri ao ver a mensagem de em meu celular e então me sentei atrás do balcão para respondê-lo, a farmácia já esvaziara novamente depois de um pico.
: Mas está tudo bem por aí?
: Sim, eles estão confiantes. O Sarrí tá pegando pesado, mas ele parece positivo, até mais que os caras.
: Você vai ver, vocês vão conseguir a vaga e ainda a EL. Por sinal, nós vamos poder ir para a final caso vocês passem?
: Você quer ir para Baku?
: Ah, , seria legal poder te acompanhar. Vai ser um grande momento.
: Eu com certeza quero sua companhia, . Ter você e a Bells lá vai ser mais que especial. Bom, vamos ganhar e aí nos ajeitamos para que vocês estejam lá.
: Vai jogar no domingo contra o MU?
: Bem provável, já estou melhor e até lá estarei melhor ainda. Vou sumir um pouco, ok? Estou na fisioterapia. Beijo.
: Se cuide, beijo.
- , eu juro que tentei me segurar, mas como vocês vão continuar com a transferência? É certeza já, não é? – Phil disse, me fazendo arquear as sobrancelhas.
- Que transferência, Phil?
- Como assim? É a transferência mais comentada, todos estão esperando abrir a janela para esperar o anúncio. Ele até falou ser um sonho jogar no Real Madrid, e agora estão todos atrás dele.
- não falou nada comigo sobre, e acredito que eu saberia se ele fosse assinar com um time na Espanha, não? – sorri, nervosa. Naqueles segundos duvidei de que eu mesma acreditava no que estava falando. – Todo ano rola a mesma coisa.
- É, isso é verdade... – ele sorriu tentando me confortar, porém naquela altura eu já estava com todo meu corpo atrás, não apenas o pé.
- Vou conversar com ele e te dou a notícia em primeira mão, seja ela boa ou ruim. Se quiser um autógrafo para vender já fala logo que eu pego antes dele ir embora. – ri demonstrando meu nervosismo, mas ainda brincando.
- , você não existe. – dei de ombros e ele me abraçou. – Acho que dá um bom dinheiro, quero. – dei um tapa em seu braço e ele se afastou em meio a uma gargalhada que me fez o acompanhar.
- Oi ! – ele atendeu o telefone com a voz animada.
- , tudo bem?
- Tudo sim e por aí?
- Bem também. Deixa eu te perguntar uma coisa, sei que está tarde, mas se importaria se eu fosse para aí?
- Claro que não, quer que eu vá até sua casa?
- Não, a Bells está na minha mãe, saindo daqui da farmácia vou até aí.
- Vou fazer alguma coisa para gente comer então, tá tudo bem mesmo?
- Tá sim, até daqui a pouco.
Entrei no carro e acenei para Phillip enquanto ele fechava tudo. Liguei o motor e em poucos segundos já estava dirigindo em direção a casa de que não era tão longe dali.
Estacionei próximo ao prédio e desci do carro, acionando o alarme. Enquanto acenava para o porteiro, que nem precisaria me anunciar, liguei para minha mãe e avisei que poderia demorar um pouco demais. Ela disse que Bells já estava dormindo, pois havia feito diversas coisas com eles durante a tarde e naquela hora já estava cansada demais. Meus pais a levariam na escola pela manhã.
Entrei no elevador e apertei o botão para o andar do apartamento dele e respirei fundo, não sei o que eu estava preparada para ouvir, porque acredito que não estava preparada para ouvir nada. Bati em sua porta e o ouvi dizer que a mesma estava aberta. Entrei e fechei a porta atrás de mim, logo sendo atacada por uma Lola extremamente feliz.
- Ei. – ele se aproximou animado e me deu um selinho enquanto a cachorra nos rondava abanando o rabo insanamente.
- Oi. Que cheiro bom. – apontei para a cozinha e vi algumas panelas no fogo. – ... – me sentei no sofá enquanto o via apagar o fogo. – A gente precisa conversar, teria problema se a gente comesse depois? – bati na almofada ao meu lado, indicando para que ele se sentasse ali comigo.
- Você está me assustando, . – ele sorriu e se sentou ao meu lado, me puxando para seu colo.
Por
- Estou tão cansada que nem parece que descansei todos esses dias. – rolei na cama, preguiçosa.
- Falta pouco para as férias da Bells, aí vocês podem dormir o dia todo juntas. – ele falou ao me abraçar.
- Eu trabalho, tá?
- Ah, . Não fala isso, você tem liberdade de entrar qualquer horário. – dei de ombros e ele riu. – Você nem precisa ir.
- Não mesmo, mas eu gosto. Você, por outro lado, ganha, sei lá, ia falar o triplo por costume, mas é muito mais. – gargalhei e ele me acompanhou, se escondendo de brincadeira. – E tem que ir pelo menos prestar sua tristeza com o seu time, porque vocês perderam ontem, então levanta e vai lá.
- Chata. – ele resmungou se levantando. – Vou preparar o café, vai se arrumando e a arrumando
- Já conseguiu acordá-la? – apareceu no corredor me procurando e eu neguei, aparecendo na porta de meu quarto já trocada.
- Tá difícil, mas sigo na luta. – dei risada e ele entrou no quarto colocando uma camiseta. – Tava melhor antes. – dei de ombros e ele se aproximou, me encostando rapidamente na parede e juntando nossos lábios.
- Não faz gracinha que eu tiro e aproveito para tirar a sua também. – ele mostrou a língua e se afastou, me fazendo rir. Ouvi o barulho da campainha e me assustei, sem imaginar quem poderia ser naquele horário. – Eu abro. – apontei para cueca dele e ele me encarou, considerando e logo vestindo seu calção azul que estava no chão.
- Senhor , como vai? – ouvi aumentar a voz na sala e me assustei, tentando não rir. Aí, meu Deus, péssimo jeito de oficializar a relação para o meu pai.
- A está? – ele questionou de nariz torcido antes de me ver já na sala.
- Oi, pai! Tudo bem? Oi, mãe. – me aproximei abraçando-os animada, o que minha mãe reconheceria como completamente desastrada.
- Oi, Karen.
- , querido. – ela o abraçou, segurando a risada e trocando comigo um olhar cúmplice.
- Decidiram pular cedo? – perguntei chamando-os para sentar no sofá enquanto corria para a cozinha para não deixar que nossas torradas queimassem a ponto de não conseguirmos comer, como já acontecera anteriormente por descuido.
- Queríamos fazer uma surpresa para Bells e levá-la para escola, mas acho que a surpresa foi toda minha, não? – meu pai comentou com uma expressão um pouco fechada. – Eu achei que eram amigos, .
- E éramos, pai. – rolei os olhos. – Não acha que sou muito velha para sermão? Eu e nos damos muito bem, okay? Assim como ele e a Bells.
- Só acho errado colocar um homem dentro de sua casa com a sua filha, ainda mais um jogador de futebol.
- Acho que essa é a primeira coisa que vou escutar de qualquer um, impossível. Bom, não vou ficar trocando farpas, você gostou dele antes, se contente e pelo menos o trate com respeito.
- Você sabia disso? – ele questionou minha mãe ao vê-la em silêncio e ela assentiu, se levantando.
- E não, eu não preciso que ela me conte, eu a conheço. – ela sorriu e andou pelo corredor na direção do quarto de Bells.
- Estou fazendo mais torradas. – se aproximou sorridente. – E aí, vai dar City ou o Liverpool passa?
- Com certeza vamos ser campeões, Liverpool não conseguirá. – ele disse um tanto quanto seco, fazendo murchar. – E vocês não vão conseguir a vaga, sinto muito.
- Ainda temos a Europa League. – ele respondeu, ríspido.
- Não é como se fossem conseguir isso, o time é fraco.
- O senhor pode até me criticar, ficar triste ou irritado por me encontrar aqui, mas não desconte no meu time. – reclamou rudemente.
- . – adverti e meu pai abaixou a cabeça, respirando fundo.
- Desculpe, é um pouco difícil. – admitiu e se levantou quando viu Bells passar sonolenta para o banheiro, andando atrás dela e de minha mãe. Suspirei e me abraçou, beijando minha cabeça.
- Desculpa, tudo bem? – assenti e ele nos separou, indo novamente até a cozinha.
- Ele vai ficar bem, é só o surto de início. – sorri para ele e andei rumo ao quarto de Bells. – Bom dia, meu amor. – me aproximei dela que se trocava com a ajuda da avó e beijei seus cabelos. Recebi um sorriso mal humorado em retorno. Um doce quando acorda, como sempre.
- Vovó, vocês vieram para me levar para escola? O vai ficar chateado, ele disse que ia me levar.
- Tá tudo bem, princesa. Eu levo você outro dia. – ele apareceu na porta mandando um beijo para ela. Vi meu pai torcer o nariz e minha mãe sorrir com o gesto ao ver Bells concordar. entrou no meu quarto, na porta em frente, e a fechou, provavelmente para se trocar.
- Ele é um amor, não é? Com a Bells. – ouvi minha mãe falar baixo enquanto a neta penteava os próprios cabelos. Assenti e vi o Sr. interessado na conversa.
- Ele é incrível com ela, e comigo. – respondi e então aproveitei a deixa, virando-me para o mais velho. - Então não temos motivos para surtos, certo? Trate o como tratou quando o conheceu e achou super legal que eu fosse amiga de um jogador. Não é como se tivesse algum motivo para isso, ele não é um Neymar da vida que vive na mídia por conta dos diversos escândalos. O respeite, pai, eu gosto mesmo dele e sei que o que ele sente por mim é verdadeiro. – ele assentiu, olhando para a porta que se abrira e mostrava um com seu uniforme de treino.
- Já está melhor? – ele perguntou então. – Vi que você não jogou.
- Me sinto melhor, troquei as intensas horas de fisioterapia por um descanso. Foi difícil, mas foi útil. Hoje ainda não treino, mas vou lá apoiar todo mundo e fazer um pouco da fisioterapia para ver se está tudo bem. Não foi nada demais, mas preferimos assim para que eu não tenha que parar mais para frente. – sorri vendo meu pai sair do quarto e seguir até a sala, mantendo a conversa entre eles.
- Você sabia que era só marra, né? – minha mãe perguntou, rindo.
- Sim, mas o pai exagera, preferi cortar antes que ele enrolasse mais e surtasse.
- Vocês ficam muito bem juntos. Só não imaginei que já estivessem nesse nível, se algo ainda der errado vai ser ruim para vocês.
- Esperamos que não dê. Mas, se der, estou com a cabeça preparada. Acredito, pelo menos. – dei de ombros e ela se virou, terminando de juntar as coisas na mochila de Bells.
- Ninguém nunca está, filha. – assenti, sabendo que era a verdade.
- Vou indo também, tudo bem? – parou na entrada da porta enquanto víamos Bells e meus pais se afastarem, indo até o carro.
- Ah, não. – o abracei, fazendo graça.
- Quem dera eu pudesse ficar. – ele fez bico. – Mas tivemos dias incríveis e eu estou tão feliz.
- Eu também. – juntei nossos lábios em um selinho. – Se recupere logo, okay? E me dê notícias de como estão as coisas. Manda um beijo para o Kepa. – ele rolou os olhos, rindo. se aproximou, me abraçando.
- Se cuida. – ele beijou minha testa e andou em direção ao seu carro, se virando novamente para acenar para mim antes de entrar no veículo.
- , tudo bem? – ouvi a voz de Julian, meu funcionário.
- Oi, ‘tô bem sim e você?
- Não muito, estou te ligando porque estou bem mal, e com febre alta. Eu preciso ir para um hospital.
- Já deveria ter ido. O Phillip consegue cuidar das coisas até que eu chegue, certo?
- Claro. Me desculpe, .
- Imagina, por favor, se cuide e me avise, tá?
- Claro, obrigado.
Levantei do sofá espreguiçando todo meu sono para fora. Eram duas da tarde e eu havia tentando limpar alguns cômodos da casa, me arrastando, e não tendo sucesso em quase nenhum. Me joguei no sofá e acabei apagando quase instantaneamente, acordando apenas com a ligação que me assustou.
Andei até o quarto e separei minha roupa, indo rapidamente até o banheiro para um banho rápido para acordar decentemente. Phillip se virava incrivelmente bem sozinho, mas não poderia deixá-lo só por muito tempo. Até mesmo por se tratar de uma segunda-feira, um dia de grande movimento em estabelecimentos.
Sai do banho e me troquei, calcei meu tênis e em pouco tempo já estava arrumada. Encontrei a cozinha limpa e sorri aliviada de que ao menos alguma coisa eu havia feito. Fiquei com pena de sujar novamente sabendo que só voltaria mais tarde e decidi passar em algum lugar para pegar alguma coisa. Ao lado da farmácia havia um pequeno mercado também, serviria.
- Ei, Phillip. – acenei para ele da porta da farmácia, recebendo um aceno em resposta também. – Já volto, vou pegar algo para comer. Quer alguma coisa? – ele negou com a cabeça e eu assenti, saindo de lá e entrando no mercado.
Peguei alguns pães e frios, também alguns doces e para passar o tempo decidi pegar uma revista daquelas com os mais variados tipos de assuntos. Passei pelo caixa e em menos de quinze minutos já estava na cozinha da farmácia, comendo.
- , como está? – Phillip perguntou, sorridente.
- Eu estou bem, e você? Estou sumida, não? – ele riu, assentindo.
- Só porque está de rolo com o está desaparecida.
- Você não existe, menino. Deixe meu rolo quieto. – mostrei a língua e ele fez o mesmo em retorno. – Rolo não, namoro, okay?
- Namoro, ? Como assim? – perguntou, animado.
- Ah, Phil. – sorri. – Vou te contar.
Expliquei a ele desde o começo como as coisas aconteceram. Ele o vira nos dois dias que passou aqui na farmácia, o que foi por acaso, e o que estava me sondando, então expliquei a ele desde o segundo. Falei de como nos aproximamos e conversávamos o tempo todo, como ele me tratava incrivelmente bem e adorava Bells. Contei como nós saímos algumas vezes e sobre o aniversário da pequena. Contei que já havia conhecido a família dele e que hoje numa reviravolta tive que apresentá-lo como namorado ao meu pai. O garoto riu ao se lembrar que meu pai é torcedor assíduo do City. Pela primeira vez coloquei para fora a frase “Estou apaixonada”, o que o fez sorrir comigo.
- Quem podia imaginar, não? – ele disse. – E a melhor parte é que é um jogador de futebol, não um ator ou cantor, então sua privacidade continua quase intacta.
- Quase. – puxei a revista que havia comprado e o mostrei o motivo de a ter comprado, vendo uma foto nossa em uma das matérias. – Nem vou ler agora, mas fiz questão de pegar.
- São poucas vezes, , isso que importa. – assenti e andei até a metade da loja para atender uma pessoa que entrava no estabelecimento.
: Os caras tão treinando mais duro que o normal, você não tem ideia!
Sorri ao ver a mensagem de em meu celular e então me sentei atrás do balcão para respondê-lo, a farmácia já esvaziara novamente depois de um pico.
: Mas está tudo bem por aí?
: Sim, eles estão confiantes. O Sarrí tá pegando pesado, mas ele parece positivo, até mais que os caras.
: Você vai ver, vocês vão conseguir a vaga e ainda a EL. Por sinal, nós vamos poder ir para a final caso vocês passem?
: Você quer ir para Baku?
: Ah, , seria legal poder te acompanhar. Vai ser um grande momento.
: Eu com certeza quero sua companhia, . Ter você e a Bells lá vai ser mais que especial. Bom, vamos ganhar e aí nos ajeitamos para que vocês estejam lá.
: Vai jogar no domingo contra o MU?
: Bem provável, já estou melhor e até lá estarei melhor ainda. Vou sumir um pouco, ok? Estou na fisioterapia. Beijo.
: Se cuide, beijo.
- , eu juro que tentei me segurar, mas como vocês vão continuar com a transferência? É certeza já, não é? – Phil disse, me fazendo arquear as sobrancelhas.
- Que transferência, Phil?
- Como assim? É a transferência mais comentada, todos estão esperando abrir a janela para esperar o anúncio. Ele até falou ser um sonho jogar no Real Madrid, e agora estão todos atrás dele.
- não falou nada comigo sobre, e acredito que eu saberia se ele fosse assinar com um time na Espanha, não? – sorri, nervosa. Naqueles segundos duvidei de que eu mesma acreditava no que estava falando. – Todo ano rola a mesma coisa.
- É, isso é verdade... – ele sorriu tentando me confortar, porém naquela altura eu já estava com todo meu corpo atrás, não apenas o pé.
- Vou conversar com ele e te dou a notícia em primeira mão, seja ela boa ou ruim. Se quiser um autógrafo para vender já fala logo que eu pego antes dele ir embora. – ri demonstrando meu nervosismo, mas ainda brincando.
- , você não existe. – dei de ombros e ele me abraçou. – Acho que dá um bom dinheiro, quero. – dei um tapa em seu braço e ele se afastou em meio a uma gargalhada que me fez o acompanhar.
- Oi ! – ele atendeu o telefone com a voz animada.
- , tudo bem?
- Tudo sim e por aí?
- Bem também. Deixa eu te perguntar uma coisa, sei que está tarde, mas se importaria se eu fosse para aí?
- Claro que não, quer que eu vá até sua casa?
- Não, a Bells está na minha mãe, saindo daqui da farmácia vou até aí.
- Vou fazer alguma coisa para gente comer então, tá tudo bem mesmo?
- Tá sim, até daqui a pouco.
Entrei no carro e acenei para Phillip enquanto ele fechava tudo. Liguei o motor e em poucos segundos já estava dirigindo em direção a casa de que não era tão longe dali.
Estacionei próximo ao prédio e desci do carro, acionando o alarme. Enquanto acenava para o porteiro, que nem precisaria me anunciar, liguei para minha mãe e avisei que poderia demorar um pouco demais. Ela disse que Bells já estava dormindo, pois havia feito diversas coisas com eles durante a tarde e naquela hora já estava cansada demais. Meus pais a levariam na escola pela manhã.
Entrei no elevador e apertei o botão para o andar do apartamento dele e respirei fundo, não sei o que eu estava preparada para ouvir, porque acredito que não estava preparada para ouvir nada. Bati em sua porta e o ouvi dizer que a mesma estava aberta. Entrei e fechei a porta atrás de mim, logo sendo atacada por uma Lola extremamente feliz.
- Ei. – ele se aproximou animado e me deu um selinho enquanto a cachorra nos rondava abanando o rabo insanamente.
- Oi. Que cheiro bom. – apontei para a cozinha e vi algumas panelas no fogo. – ... – me sentei no sofá enquanto o via apagar o fogo. – A gente precisa conversar, teria problema se a gente comesse depois? – bati na almofada ao meu lado, indicando para que ele se sentasse ali comigo.
- Você está me assustando, . – ele sorriu e se sentou ao meu lado, me puxando para seu colo.
Capítulo 18
“You know I want you, it's not a secret I try to hide. But I can't have you, we're bound to break and my hands are tied.” (Rewrite the Stars – Zac Efron e Zendaya)
Por
Quando ela me pediu para que me sentasse no sofá para que pudéssemos conversar fiquei um tanto quanto assustado, pois seu olhar parecia me quebrar em dois. Puxei-a para meu colo e a abracei, sentindo seu perfume mais próximo. Ela então se ajeitou ali de uma forma que pudesse me encarar e respirou fundo.
- Por que todos estão sabendo sobre você ir para o Real Madrid e eu não? – ela olhou para baixo, desviando o olhar do meu.
- É só isso, ? Você realmente me assustou. Eu não vou para o Real Madrid, por isso você não estava sabendo. Eu já neguei a oferta diversas vezes. – vi seus olhos encherem de lágrimas e não pude entender o motivo. – . – a abracei, grudando seu rosto em meu peito e a apertando em meus braços.
- , qual o motivo para que você tenha negado?
- Ah... – respirei fundo, pensando no que seria ideal colocar naquele momento. – Não sei, não é a hora para isso.
- , eu quero que você seja sincero comigo. – ela se posicionou novamente no sofá, evitando qualquer contato entre nós.
- Eu não quero sair daqui, você sabe, não precisa me obrigar a falar. – falei sincero. Ela sabia o motivo, ela apenas queria ouvi-lo de mim. E esse era o porquê eu não havia contado para ela de qualquer proposta ou qualquer coisa. Ela não aceitaria isso.
- Você não pode fazer isso. – ela fungou e puxou minha mão e entrelaçou junto a dela.
- Não, . Não começa, por favor. – senti meus olhos arderem ao ter certeza de onde aquela conversa chegaria.
- , me perdoa, mas você sabe que não posso deixar isso acontecer.
- Claro que pode! É uma decisão minha que já foi tomada. Eu escolhi isso. – me levantei, exaltado.
- Você não está pensando direito e sabe disso. – ela falou baixo.
- Eu estou pensando em você, em nós. Eu tenho esse direito.
- , é seu sonho. Eu sei que você deu uma entrevista dizendo que é seu sonho.
- Foram ordens para aumentar as especulações, o show faz parte.
- Como se fosse difícil dizer isso, huh? Eu te conheço, foi o único time sobre o qual conversamos e já vi seus olhos brilharem. Eu não aceito ter esse peso na sua decisão. – ela colocou sua cabeça entre as mãos que estavam apoiadas nos joelhos e deixou com que suas lágrimas corressem livremente. Seu corpo se movia pesadamente devido a sua respiração e eu senti que algumas lágrimas já corriam meu rosto também por vê-la daquela jeito. Tentei me acalmar e me sentei novamente ao seu lado.
Quando ela sentiu que eu estava novamente ali ao seu lado, ela se virou para mim, se encostando no meu corpo mais uma vez. Ficamos naquela posição durante alguns minutos, até que pudéssemos nos acalmar. Eu sabia que a conversa ainda seria longa, e que o final não seria de forma nenhuma vantajoso para nós. Eu só queria prolongar ao máximo o que tínhamos ali.
- Eu fui egoísta. Eu devia ter te contado. – me pronunciei quando vi que ela parecia mais calma e conseguiria falar. – Mas você tem que entender que eu não te contei por isso. – apontei para nós dois ali naquela situação e ela assentiu.
- Ainda assim, foi extremamente errado. Você estava distante durante vários dias, eu ouvi seu irmão falar algo sobre transferências, vi algumas notícias na internet, hoje Phil me perguntou sobre e eu fui pega de surpresa. Você mesmo me disse, as especulações acontecem todo ano, não é como se nesse elas fossem reais. Mas são. – ela finalizou a frase mais para ela, do que para mim. Respirei fundo antes que pudesse responder.
- Elas são reais, mas são apenas especulações, . Sim, eu estava distante, me colocaram uma pressão enorme a respeito disso. Se o Chelsea quisesse me vender, eu não teria opção, mas na posição atual, eu tenho. E eu pude deixar claro que não estava interessado.
- . – ela puxou o ar para evitar os soluços que a acompanhavam devido ao choro. – Você tem interesse. Nós dois sabemos que seria incrível para sua carreira. É o Real Madrid. Eles tiveram uma péssima temporada se considerarmos o histórico anterior, imagina que você poderia chegar lá e mudar isso. Você pode fazer história. – ela sorriu com os próprios pensamentos, me fazendo sorrir também.
- Você iria comigo? Desculpe, mas isso é a única coisa que não sai da minha cabeça, . A gente podia, não sei, casar, criar uma vida só nossa lá. – vi suas lágrimas aumentarem novamente e temi que já sabia a resposta antes mesmo de questioná-la.
- Eu não posso, . Você sabe que não posso. – seus soluços aumentavam a cada palavra que ela tentava dizer.
- Ei, calma. – me ajoelhei em frente a ela entre suas pernas, abraçando-a pela cintura.
- Eu tenho uma vida aqui com a Bells, eu não posso deixar isso. Não faria bem para ela, nem para mim.
- Eu nunca te pediria isso, . Nunca. Eu só perguntei porque queria saber se teria qualquer chance disso, mas eu nunca te pediria, foi só uma ideia. Desculpa.
- Eu queria que essa fosse uma boa ideia para mim, mas não tem como. E isso acaba comigo. – ela se levantou e correu para varanda, fechando a porta que fazia divisão com a sala e se sentando no chão. Percebi que ela queria ficar sozinha e apenas me sentei do outro lado, observando-a chorar enquanto minhas próprias lágrimas faziam tanto barulho quanto as dela.
Não é como se eu não soubesse que ir para Espanha seria a melhor e maior chance da minha vida. Essa chance já me perseguira diversas vezes antes, mas nunca pareceu tão certa quanto nesse momento da minha história. Claro que ninguém daquele mundo do futebol, do por trás do campo, entenderia que eu não gostaria de me mudar dali por ter encontrado a mulher da minha vida. Para todos ali, qualquer mulher que escolhêssemos para nossa vida, nos seguiria onde fosse. Para muitos era realmente assim, mas eu sempre soube que com não seria.
Ela ficou com o pé atrás sobre um jogador de futebol, eu sabia que ela havia ficado, e que todos em sua volta a faziam ficar ainda mais. Mas ela se deu uma chance, pois ela não se apaixonou por um jogador de futebol pensando em entrar em um simples relacionamento, ela se entregou a isso, ela confiou em mim, e ela não entrou sozinha. Desde o início nosso relacionamento foi: ela, Bells e eu. E eu sabia que isso nos tornava ainda mais próximos, mas também sabia que era um motivo pelo qual eu nunca poderia pedir para que ela fizesse algo como mudar de país por mim.
Desde que conheci Bells eu a amei. Era uma ligação que eu nunca seria capaz de explicar, a garotinha havia me ganhado de uma forma que eu nunca vira antes. Claro que eu havia criado uma fantasia com em minha cabeça, fantasia essa que estava vivendo até o dia anterior. Ainda me lembro quando deixou de ser uma fantasia absurda, quando ela contou que Michael era seu ex-marido. Acredito que eu nunca tenha tido uma notícia tão feliz na minha vida, eu já havia amaldiçoado o homem diversas vezes inconscientemente, e isso passou no momento em que abriu a notícia para mim. Eu me senti nas nuvens em pensar que o que eu estava sentindo pela mulher não era errado, e que eu poderia tentar me aproximar, mesmo que aos poucos. Naquele dia, eu senti como se pudesse fazer qualquer coisa, e foi naquele dia que decidi que deveria lutar por nós. E a primeira coisa que pensei foi que queria sim aquela mulher na minha vida, e mais que isso, queria aquela criança alegrando todos os meus dias.
As duas eram motivos suficientes para que eu as colocasse acima da minha carreira, por mais que ninguém pudesse ou quisesse fingir que entendia isso, então apenas comuniquei que não era de meu interesse. Eu me segurei para não comentar com sobre isso, porque minha única certeza era de que ela deixaria claro que eu deveria ir. Ela pensaria em mim mais do que eu mesmo poderia pensar, e apenas pensar em passar pelo momento que estou vivendo agora, me assustava. Tudo que eu menos queria era que aquilo tivesse um fim. Eu não queria me separar dela, eu não queria me separar de Bells, e eu só queria que ela entendesse isso.
- . – abri a porta devagar e ela não se virou para me olhar. – Tá gelado aqui fora, entra. – ela negou com a cabeça e eu me sentei ao seu lado. – Eu amo você, eu não quero que isso acabe.
- Eu amo você, , mas por mais que quando estamos juntos eu me sinta uma adolescente, sou adulta o suficiente para saber que não devo estar no meio da decisão da sua carreira. Na verdade, devo, mas incentivando você. Eu te amo o suficiente para saber com toda certeza que quero seu crescimento. Quero acompanhar esse crescimento, mesmo que de longe.
- Eu não quero isso, . Eu não quero ficar longe de você e da Bells.
- Você sempre vai ter uma lembrança nossa, mesmo em outro país. – ela apontou para Lola que estava deitada no sofá desde que saímos de lá. – Você ainda tem como aceitar? – ela perguntou suspirando e eu assenti.
- , eu acho que essa deve ser uma decisão minha, não deve? – tentei soar o menos rude possível e ela riu ao perceber isso.
- Até deveria, se o motivo do caminho a seguir não envolvesse nós. A partir do momento que estou envolvida, se torna parte do nosso relacionamento e todas as decisões dele devemos tomar juntos, por mais dolorosas que elas sejam. Faz parte da vida a dois. – ela beijou minha bochecha, carinhosamente. – A três, na verdade, mas a terceira parte é de menor e o voto dela é meu.
- Eu não quero que a Bells me odeie. – senti meus olhos encherem de lágrimas mais uma vez. – Não faz isso comigo.
- Não deixa com que isso pese na sua mente, . Ela é uma criança, ela vai entender, e ela não vai te odiar.
- A gente pode tentar continuar? Eu não quero perder vocês, . – falei, desesperado. – Eu posso vir ver vocês sempre, não termina isso da pior maneira.
- Seria muito mais dolorido aguentar algo a distância do que distanciarmos de vez. Pense o quão dolorida seria a saudade para ela. – suas mãos encontraram meu rosto e deixavam ali um carinho gostoso.
- Eu vou matar o Phil. – resmunguei.
- Você acha que isso ficaria escondido por muito tempo? – neguei com a cabeça.
- , a gente não tem outra opção? Por favor, me diz que temos. – senti minha voz soar desesperada novamente, enquanto ela tentava manter a calma.
- Não temos, meu amor. – ela limpou minhas lágrimas com suas mãos. – Eu prometo que vou te acompanhar em tudo, mesmo de longe. Vou acompanhar todas as notícias, todos os jogos, e vou ser sua maior fã. Hala Madrid. – ela sorriu. – Não vou deixar de te seguir nas redes sociais e nem de tentar saber um pouquinho de você sempre que possível.
- Eu posso te acompanhar de longe também? Mesmo que não tenham notícias, jogos, eu já sou seu maior fã. Não me bloqueie das redes sociais ou qualquer coisa assim, por favor. Eu preciso sofrer a cada foto sua ou da pequena. Eu quero acompanhá-la crescer, não me tire isso. – naquele momento eu quem precisei segurar as palavras por não ter mais forças para falar. Vi os olhos de se encherem novamente também, mas eu já tentava segurar o soluço que estava vindo, sem sucesso. – Eu não aceito isso, eu não aceito que a gente não vá ficar junto. , eu te prometo, eu vou voltar e você vai ser minha. Esse é meu futuro e eu tenho certeza disso. Eu não peço para que você me espere, de forma alguma, mas eu sei que Deus vai acompanhar a nossa história, e o que Ele quiser que seja, vai ser. Eu acredito em destino, e acredito que você é o meu, ninguém pode me fazer parar de acreditar nisso.
- Se nossos caminhos tiverem que se cruzar ainda, eles vão. O destino por enquanto está nos puxando para longe um do outro e por mais que eu quisesse correr atrás de você, tenho alguns limites que não posso cruzar. Eu espero, de coração, que você entenda isso. Eu te disse uma vez que destino fugia das coisas que eu acreditava, mas quem sabe agora você possa me fazer acreditar? Por enquanto, estou de mãos atadas, temos que fazer isso. Mas no futuro, só o destino pode falar. – ela encostou sua cabeça em meu ombro. – Quando você vai?
- Só depois da final da Europa League, caso a gente passe.
- Vocês vão passar. Temos mais um mês, então? – assenti.
- Então não estamos terminando isso aqui e agora, né?
- Não, isso só vai terminar quando você embarcar em um avião para Espanha com tudo certo. Eu não quero perder um minuto do tempo que posso ter com você.
- Isso nem vai terminar, . Você vai ver.
- Eu só quero que você me prometa que vai ser feliz, . Por favor, não me odeie por te obrigar a tomar a decisão certa.
- , se eu ficar depois de tudo isso, sabendo todos os seus pensamentos, as coisas não vão ser certas e eu sei disso. Você nunca me perdoaria e eu vejo isso. Sinto que sei disso desde o começo e estava apenas adiando, não é como se você não fosse descobrir, fui completamente ingênuo.
- Foi mesmo. – ela riu. – Eu só quero ter as melhores lembranças do mundo com você antes da despedida. Eu acho que nunca vou me abrir para alguém como fiz com você, . Fico feliz de ter vivido isso, e é o que realmente importa para mim.
- Eu odeio o tom de despedida a cada palavra, isso está rasgando meu coração pedacinho por pedacinho.
- Acredite, está fazendo o mesmo com o meu.
- Você vai assistir algum jogo meu, do Madrid? – ela assentiu, me confortando. – Não me abandona no começo, por favor, eu preciso de você para ser forte, .
- Temos que tomar cuidado, , temos que aprender a sermos fortes sem o outro.
- Sabe o que é mais absurdo? Você já passou por uma grande separação, e eu já passei por uma grande separação, porque na minha cabeça parece tão impossível que a gente sobreviva a isso? Todos dizem que na hora é difícil, mas passa. Porém, dessa vez, eu sinto que não vai ser a coisa mais simples do mundo para passar.
- Porque o que temos é especial de alguma forma. De todas as formas, na verdade. Eu não sei o que temos, , mas eu também sinto o mesmo que você. Toda separação é algo difícil, mas a gente vai superar e temos que continuar acreditando nisso.
- Eu queria acreditar que isso não está acontecendo, só isso. – coloquei minha cabeça entre as mãos e suspirei.
- Ei, continua com o pensamento de que se for para ser, vai ser. Você parecia um pouco mais animado.
- Tomara mesmo que a gente tenha aquelas histórias de filme, sabe? Daqueles bem dramáticos. – tentei voltar ao meu normal para que pudéssemos conversar normalmente. – Vou tentar não me deixar abater, para que a gente tenha um mês incrível. Esse vai ser o melhor mês de namoro da sua vida. – juntei meus lábios nos dela e senti seus braços em meu pescoço, me puxando para um abraço.
- Tudo do seu lado vem sendo “o melhor da minha vida”. – ela fez aspas com as mãos, me fazendo querer apertá-la a cada segundo mais forte.
- Você é a mulher mais incrível que alguém poderia conhecer, .
- Mas quem deu essa sorte foi você. – ela mostrou a língua, convencida.
- Dei mesmo. – puxei seu corpo para que ela deitasse em meu colo. – Você é tão linda. – passei meus dedos por entre seus cabelos e ela sorriu tímida, tentando se esconder atrás dos fios.
- Eu falar que te amava foi a gota d’água para que você negasse a proposta, não foi? – ela perguntou, parecendo se lembrar do momento.
- Eu digitei a mensagem no minuto em que você dormiu. Eu já tinha recusado, mas reafirmei a negativa. Você me ama, o que eu preciso mais? - dei de ombros e ela riu, se levantando e se sentando em minhas pernas que estavam cruzadas uma por cima da outra.
- Esse deveria ser o meu pensamento, não o seu. Você tem uma carreira incrível pela frente ainda.
- Mas entenda que se você não fosse sofrer tanto por ter um peso tão grande na minha vida, eu nunca colocaria minha carreira à frente de nós. O Real Madrid é meu sonho, mas ter uma família com você também se tornou um, acredite. - puxei-a para mais perto e a abracei, nos fazendo permanecer ali por tempo suficiente para que aproveitássemos o nosso silêncio. Ainda precisaria de muitos daqueles para que me acostumasse com a ideia de ficar sem aquela mulher.
Por
Quando ela me pediu para que me sentasse no sofá para que pudéssemos conversar fiquei um tanto quanto assustado, pois seu olhar parecia me quebrar em dois. Puxei-a para meu colo e a abracei, sentindo seu perfume mais próximo. Ela então se ajeitou ali de uma forma que pudesse me encarar e respirou fundo.
- Por que todos estão sabendo sobre você ir para o Real Madrid e eu não? – ela olhou para baixo, desviando o olhar do meu.
- É só isso, ? Você realmente me assustou. Eu não vou para o Real Madrid, por isso você não estava sabendo. Eu já neguei a oferta diversas vezes. – vi seus olhos encherem de lágrimas e não pude entender o motivo. – . – a abracei, grudando seu rosto em meu peito e a apertando em meus braços.
- , qual o motivo para que você tenha negado?
- Ah... – respirei fundo, pensando no que seria ideal colocar naquele momento. – Não sei, não é a hora para isso.
- , eu quero que você seja sincero comigo. – ela se posicionou novamente no sofá, evitando qualquer contato entre nós.
- Eu não quero sair daqui, você sabe, não precisa me obrigar a falar. – falei sincero. Ela sabia o motivo, ela apenas queria ouvi-lo de mim. E esse era o porquê eu não havia contado para ela de qualquer proposta ou qualquer coisa. Ela não aceitaria isso.
- Você não pode fazer isso. – ela fungou e puxou minha mão e entrelaçou junto a dela.
- Não, . Não começa, por favor. – senti meus olhos arderem ao ter certeza de onde aquela conversa chegaria.
- , me perdoa, mas você sabe que não posso deixar isso acontecer.
- Claro que pode! É uma decisão minha que já foi tomada. Eu escolhi isso. – me levantei, exaltado.
- Você não está pensando direito e sabe disso. – ela falou baixo.
- Eu estou pensando em você, em nós. Eu tenho esse direito.
- , é seu sonho. Eu sei que você deu uma entrevista dizendo que é seu sonho.
- Foram ordens para aumentar as especulações, o show faz parte.
- Como se fosse difícil dizer isso, huh? Eu te conheço, foi o único time sobre o qual conversamos e já vi seus olhos brilharem. Eu não aceito ter esse peso na sua decisão. – ela colocou sua cabeça entre as mãos que estavam apoiadas nos joelhos e deixou com que suas lágrimas corressem livremente. Seu corpo se movia pesadamente devido a sua respiração e eu senti que algumas lágrimas já corriam meu rosto também por vê-la daquela jeito. Tentei me acalmar e me sentei novamente ao seu lado.
Quando ela sentiu que eu estava novamente ali ao seu lado, ela se virou para mim, se encostando no meu corpo mais uma vez. Ficamos naquela posição durante alguns minutos, até que pudéssemos nos acalmar. Eu sabia que a conversa ainda seria longa, e que o final não seria de forma nenhuma vantajoso para nós. Eu só queria prolongar ao máximo o que tínhamos ali.
- Eu fui egoísta. Eu devia ter te contado. – me pronunciei quando vi que ela parecia mais calma e conseguiria falar. – Mas você tem que entender que eu não te contei por isso. – apontei para nós dois ali naquela situação e ela assentiu.
- Ainda assim, foi extremamente errado. Você estava distante durante vários dias, eu ouvi seu irmão falar algo sobre transferências, vi algumas notícias na internet, hoje Phil me perguntou sobre e eu fui pega de surpresa. Você mesmo me disse, as especulações acontecem todo ano, não é como se nesse elas fossem reais. Mas são. – ela finalizou a frase mais para ela, do que para mim. Respirei fundo antes que pudesse responder.
- Elas são reais, mas são apenas especulações, . Sim, eu estava distante, me colocaram uma pressão enorme a respeito disso. Se o Chelsea quisesse me vender, eu não teria opção, mas na posição atual, eu tenho. E eu pude deixar claro que não estava interessado.
- . – ela puxou o ar para evitar os soluços que a acompanhavam devido ao choro. – Você tem interesse. Nós dois sabemos que seria incrível para sua carreira. É o Real Madrid. Eles tiveram uma péssima temporada se considerarmos o histórico anterior, imagina que você poderia chegar lá e mudar isso. Você pode fazer história. – ela sorriu com os próprios pensamentos, me fazendo sorrir também.
- Você iria comigo? Desculpe, mas isso é a única coisa que não sai da minha cabeça, . A gente podia, não sei, casar, criar uma vida só nossa lá. – vi suas lágrimas aumentarem novamente e temi que já sabia a resposta antes mesmo de questioná-la.
- Eu não posso, . Você sabe que não posso. – seus soluços aumentavam a cada palavra que ela tentava dizer.
- Ei, calma. – me ajoelhei em frente a ela entre suas pernas, abraçando-a pela cintura.
- Eu tenho uma vida aqui com a Bells, eu não posso deixar isso. Não faria bem para ela, nem para mim.
- Eu nunca te pediria isso, . Nunca. Eu só perguntei porque queria saber se teria qualquer chance disso, mas eu nunca te pediria, foi só uma ideia. Desculpa.
- Eu queria que essa fosse uma boa ideia para mim, mas não tem como. E isso acaba comigo. – ela se levantou e correu para varanda, fechando a porta que fazia divisão com a sala e se sentando no chão. Percebi que ela queria ficar sozinha e apenas me sentei do outro lado, observando-a chorar enquanto minhas próprias lágrimas faziam tanto barulho quanto as dela.
Não é como se eu não soubesse que ir para Espanha seria a melhor e maior chance da minha vida. Essa chance já me perseguira diversas vezes antes, mas nunca pareceu tão certa quanto nesse momento da minha história. Claro que ninguém daquele mundo do futebol, do por trás do campo, entenderia que eu não gostaria de me mudar dali por ter encontrado a mulher da minha vida. Para todos ali, qualquer mulher que escolhêssemos para nossa vida, nos seguiria onde fosse. Para muitos era realmente assim, mas eu sempre soube que com não seria.
Ela ficou com o pé atrás sobre um jogador de futebol, eu sabia que ela havia ficado, e que todos em sua volta a faziam ficar ainda mais. Mas ela se deu uma chance, pois ela não se apaixonou por um jogador de futebol pensando em entrar em um simples relacionamento, ela se entregou a isso, ela confiou em mim, e ela não entrou sozinha. Desde o início nosso relacionamento foi: ela, Bells e eu. E eu sabia que isso nos tornava ainda mais próximos, mas também sabia que era um motivo pelo qual eu nunca poderia pedir para que ela fizesse algo como mudar de país por mim.
Desde que conheci Bells eu a amei. Era uma ligação que eu nunca seria capaz de explicar, a garotinha havia me ganhado de uma forma que eu nunca vira antes. Claro que eu havia criado uma fantasia com em minha cabeça, fantasia essa que estava vivendo até o dia anterior. Ainda me lembro quando deixou de ser uma fantasia absurda, quando ela contou que Michael era seu ex-marido. Acredito que eu nunca tenha tido uma notícia tão feliz na minha vida, eu já havia amaldiçoado o homem diversas vezes inconscientemente, e isso passou no momento em que abriu a notícia para mim. Eu me senti nas nuvens em pensar que o que eu estava sentindo pela mulher não era errado, e que eu poderia tentar me aproximar, mesmo que aos poucos. Naquele dia, eu senti como se pudesse fazer qualquer coisa, e foi naquele dia que decidi que deveria lutar por nós. E a primeira coisa que pensei foi que queria sim aquela mulher na minha vida, e mais que isso, queria aquela criança alegrando todos os meus dias.
As duas eram motivos suficientes para que eu as colocasse acima da minha carreira, por mais que ninguém pudesse ou quisesse fingir que entendia isso, então apenas comuniquei que não era de meu interesse. Eu me segurei para não comentar com sobre isso, porque minha única certeza era de que ela deixaria claro que eu deveria ir. Ela pensaria em mim mais do que eu mesmo poderia pensar, e apenas pensar em passar pelo momento que estou vivendo agora, me assustava. Tudo que eu menos queria era que aquilo tivesse um fim. Eu não queria me separar dela, eu não queria me separar de Bells, e eu só queria que ela entendesse isso.
- . – abri a porta devagar e ela não se virou para me olhar. – Tá gelado aqui fora, entra. – ela negou com a cabeça e eu me sentei ao seu lado. – Eu amo você, eu não quero que isso acabe.
- Eu amo você, , mas por mais que quando estamos juntos eu me sinta uma adolescente, sou adulta o suficiente para saber que não devo estar no meio da decisão da sua carreira. Na verdade, devo, mas incentivando você. Eu te amo o suficiente para saber com toda certeza que quero seu crescimento. Quero acompanhar esse crescimento, mesmo que de longe.
- Eu não quero isso, . Eu não quero ficar longe de você e da Bells.
- Você sempre vai ter uma lembrança nossa, mesmo em outro país. – ela apontou para Lola que estava deitada no sofá desde que saímos de lá. – Você ainda tem como aceitar? – ela perguntou suspirando e eu assenti.
- , eu acho que essa deve ser uma decisão minha, não deve? – tentei soar o menos rude possível e ela riu ao perceber isso.
- Até deveria, se o motivo do caminho a seguir não envolvesse nós. A partir do momento que estou envolvida, se torna parte do nosso relacionamento e todas as decisões dele devemos tomar juntos, por mais dolorosas que elas sejam. Faz parte da vida a dois. – ela beijou minha bochecha, carinhosamente. – A três, na verdade, mas a terceira parte é de menor e o voto dela é meu.
- Eu não quero que a Bells me odeie. – senti meus olhos encherem de lágrimas mais uma vez. – Não faz isso comigo.
- Não deixa com que isso pese na sua mente, . Ela é uma criança, ela vai entender, e ela não vai te odiar.
- A gente pode tentar continuar? Eu não quero perder vocês, . – falei, desesperado. – Eu posso vir ver vocês sempre, não termina isso da pior maneira.
- Seria muito mais dolorido aguentar algo a distância do que distanciarmos de vez. Pense o quão dolorida seria a saudade para ela. – suas mãos encontraram meu rosto e deixavam ali um carinho gostoso.
- Eu vou matar o Phil. – resmunguei.
- Você acha que isso ficaria escondido por muito tempo? – neguei com a cabeça.
- , a gente não tem outra opção? Por favor, me diz que temos. – senti minha voz soar desesperada novamente, enquanto ela tentava manter a calma.
- Não temos, meu amor. – ela limpou minhas lágrimas com suas mãos. – Eu prometo que vou te acompanhar em tudo, mesmo de longe. Vou acompanhar todas as notícias, todos os jogos, e vou ser sua maior fã. Hala Madrid. – ela sorriu. – Não vou deixar de te seguir nas redes sociais e nem de tentar saber um pouquinho de você sempre que possível.
- Eu posso te acompanhar de longe também? Mesmo que não tenham notícias, jogos, eu já sou seu maior fã. Não me bloqueie das redes sociais ou qualquer coisa assim, por favor. Eu preciso sofrer a cada foto sua ou da pequena. Eu quero acompanhá-la crescer, não me tire isso. – naquele momento eu quem precisei segurar as palavras por não ter mais forças para falar. Vi os olhos de se encherem novamente também, mas eu já tentava segurar o soluço que estava vindo, sem sucesso. – Eu não aceito isso, eu não aceito que a gente não vá ficar junto. , eu te prometo, eu vou voltar e você vai ser minha. Esse é meu futuro e eu tenho certeza disso. Eu não peço para que você me espere, de forma alguma, mas eu sei que Deus vai acompanhar a nossa história, e o que Ele quiser que seja, vai ser. Eu acredito em destino, e acredito que você é o meu, ninguém pode me fazer parar de acreditar nisso.
- Se nossos caminhos tiverem que se cruzar ainda, eles vão. O destino por enquanto está nos puxando para longe um do outro e por mais que eu quisesse correr atrás de você, tenho alguns limites que não posso cruzar. Eu espero, de coração, que você entenda isso. Eu te disse uma vez que destino fugia das coisas que eu acreditava, mas quem sabe agora você possa me fazer acreditar? Por enquanto, estou de mãos atadas, temos que fazer isso. Mas no futuro, só o destino pode falar. – ela encostou sua cabeça em meu ombro. – Quando você vai?
- Só depois da final da Europa League, caso a gente passe.
- Vocês vão passar. Temos mais um mês, então? – assenti.
- Então não estamos terminando isso aqui e agora, né?
- Não, isso só vai terminar quando você embarcar em um avião para Espanha com tudo certo. Eu não quero perder um minuto do tempo que posso ter com você.
- Isso nem vai terminar, . Você vai ver.
- Eu só quero que você me prometa que vai ser feliz, . Por favor, não me odeie por te obrigar a tomar a decisão certa.
- , se eu ficar depois de tudo isso, sabendo todos os seus pensamentos, as coisas não vão ser certas e eu sei disso. Você nunca me perdoaria e eu vejo isso. Sinto que sei disso desde o começo e estava apenas adiando, não é como se você não fosse descobrir, fui completamente ingênuo.
- Foi mesmo. – ela riu. – Eu só quero ter as melhores lembranças do mundo com você antes da despedida. Eu acho que nunca vou me abrir para alguém como fiz com você, . Fico feliz de ter vivido isso, e é o que realmente importa para mim.
- Eu odeio o tom de despedida a cada palavra, isso está rasgando meu coração pedacinho por pedacinho.
- Acredite, está fazendo o mesmo com o meu.
- Você vai assistir algum jogo meu, do Madrid? – ela assentiu, me confortando. – Não me abandona no começo, por favor, eu preciso de você para ser forte, .
- Temos que tomar cuidado, , temos que aprender a sermos fortes sem o outro.
- Sabe o que é mais absurdo? Você já passou por uma grande separação, e eu já passei por uma grande separação, porque na minha cabeça parece tão impossível que a gente sobreviva a isso? Todos dizem que na hora é difícil, mas passa. Porém, dessa vez, eu sinto que não vai ser a coisa mais simples do mundo para passar.
- Porque o que temos é especial de alguma forma. De todas as formas, na verdade. Eu não sei o que temos, , mas eu também sinto o mesmo que você. Toda separação é algo difícil, mas a gente vai superar e temos que continuar acreditando nisso.
- Eu queria acreditar que isso não está acontecendo, só isso. – coloquei minha cabeça entre as mãos e suspirei.
- Ei, continua com o pensamento de que se for para ser, vai ser. Você parecia um pouco mais animado.
- Tomara mesmo que a gente tenha aquelas histórias de filme, sabe? Daqueles bem dramáticos. – tentei voltar ao meu normal para que pudéssemos conversar normalmente. – Vou tentar não me deixar abater, para que a gente tenha um mês incrível. Esse vai ser o melhor mês de namoro da sua vida. – juntei meus lábios nos dela e senti seus braços em meu pescoço, me puxando para um abraço.
- Tudo do seu lado vem sendo “o melhor da minha vida”. – ela fez aspas com as mãos, me fazendo querer apertá-la a cada segundo mais forte.
- Você é a mulher mais incrível que alguém poderia conhecer, .
- Mas quem deu essa sorte foi você. – ela mostrou a língua, convencida.
- Dei mesmo. – puxei seu corpo para que ela deitasse em meu colo. – Você é tão linda. – passei meus dedos por entre seus cabelos e ela sorriu tímida, tentando se esconder atrás dos fios.
- Eu falar que te amava foi a gota d’água para que você negasse a proposta, não foi? – ela perguntou, parecendo se lembrar do momento.
- Eu digitei a mensagem no minuto em que você dormiu. Eu já tinha recusado, mas reafirmei a negativa. Você me ama, o que eu preciso mais? - dei de ombros e ela riu, se levantando e se sentando em minhas pernas que estavam cruzadas uma por cima da outra.
- Esse deveria ser o meu pensamento, não o seu. Você tem uma carreira incrível pela frente ainda.
- Mas entenda que se você não fosse sofrer tanto por ter um peso tão grande na minha vida, eu nunca colocaria minha carreira à frente de nós. O Real Madrid é meu sonho, mas ter uma família com você também se tornou um, acredite. - puxei-a para mais perto e a abracei, nos fazendo permanecer ali por tempo suficiente para que aproveitássemos o nosso silêncio. Ainda precisaria de muitos daqueles para que me acostumasse com a ideia de ficar sem aquela mulher.
Capítulo 19
What if this could be a real love? I write our names down in the sand, picturing all our plans, I close my eyes and I can see you, and you ask, "Will you marry me?" (What If – Colbie Caillat)
Por
- Eu não acredito que a gente tá na final! – gritou no meu ouvido assim que saímos do Stamford Bridge onde eu estava assistindo Chelsea x Porto pela semifinal da Champions League para acompanhá-lo.
- Vocês estão na final! – o abracei animada – Vocês merecem tanto! Vocês vão sair para comemorar, não vão?
- Você vai junto?
- Ah, , tô com preguicinha.
- Por favor. – ele fez bico e eu o encarei, derrotada.
- Vou avisar minha mãe que vou com vocês. Kepa vai? – perguntei na intenção de irritá-lo.
- Vai. – ele revirou os olhos e me mostrou a língua. – Amiguinhos demais.
- Quando você não tá falando comigo, ele tá, pelo menos não fico abandonada.
- Extremamente cara de pau a senhorita. Entra aí, vai. – ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei, rindo.
- Toda vez que venho aqui me lembro da primeira. – comentei quando ele entrou no carro.
- Eu nem imaginei que ia te conquistar.
- Não é como se não fosse a coisa mais possível do mundo, . Você foi encantador desde o começo. Bom, menos com a história das camisinhas jogadas no seu banheiro. – fiz uma expressão de nojo e ele soltou uma gargalhada também se lembrando do momento.
- Já faz mais de um ano, tão bom. – ele parou no semáforo e colocou sua mão em minha coxa. Coloquei minha mão por cima da sua e ele encarou nossa aliança de namoro na mesma, sorrindo. Ela era simples, o que sempre me fazia amá-la. A ideia de usá-la foi dele, disse que queria que tivéssemos algo bonitinho combinando. – Um ano atrás estávamos nos classificando para Champions, e agora estamos na final, eu não poderia ficar mais feliz. Sonho em jogar a final com o Chelsea desde 2013.
- Ganhamos um ano antes de você entrar, né? – ele assentiu.
- Será que sou o azar do time? – questionou, focado na rua em sua frente.
- Bem provável, e eu sou a sorte. – dei de ombros.
- Não sei do time, mas toda a minha. – beijou meus lábios assim que estacionou em frente a um pub, onde os outros também chegariam em alguns minutos, além dos que já haviam chegado.
Abri a porta e deixei fechando o carro enquanto corria um pedacinho da calçada, pulando nas costas de Kepa que estava na entrada do pub conversando com Alonso. Ele se assustou e começou a rir, fazendo com que eu e Alonso o acompanhássemos.
- Eu nem tenho como não saber quem é, não? – ele se virou para mim, me abraçando. – Oi, .
- Você foi incrível hoje! Todos foram, mas aquela bola que você pegou foi sensacional!
- Tenho que reconhecer que foi mesmo. – Alonso falou, se aproximando para me cumprimentar. – Você está bem?
- Bem feliz. Fico feliz quando vocês vão bem, estou animada para final. Ano passado, final da Europa League, esse ano, final da Champions League, tô ficando mal acostumada.
- Aí depois começamos a perder e você nos abandona, quero ver.
- Nunca, sou fiel a vocês. – mostrei a língua e recebi um abraço de lado de Kepa.
- Vamos largar, né? – se aproximou brincando como sempre.
- Você sabe que temos a guarda compartilhada, ninguém mandou nos apresentar.
- As meninas vêm também, né? – perguntei me referindo às outras namoradas e esposas e eles assentiram.
- Se você não levar ela para dançar, eu vou. – Pulisic gritou para depois de algumas bebidas e todos os casais que estavam na mesa já estarem na pista. Kepa riu, concordando. Pulisic entrou no time na temporada anterior e desde então virara um dos amigos mais próximos de .
- Agradecida, por isso gosto de vocês. – me levantei e ele se levantou junto, rolando os olhos. – Se não quiser, tudo bem, eu aceito dançar com um dos dois.
- Só vou aceitar porque eu gosto muito de te ver dançar. – ele segurou minha mão e caminhou comigo até ficarmos próximos aos outros, em volta de nós estavam David, Willian, Giroud e Azpi, todos se divertiam muito com suas mulheres.
Quando comecei a me mexer no ritmo da música, a mesma estava acabando e dando início a Only Human, dos Jonas Brothers. Mudei meu ritmo quase automaticamente e sorriu, me seguindo. Ele colocou suas mãos em minha cintura e me acompanhava de acordo com a batida da música.
- Me diz que a Bells pode ficar na sua mãe hoje. – o ouvi dizer em meu ouvido e eu, afirmando. – Amo aquela criança, mas assim fica difícil, . – ele colocou sua cabeça em meu pescoço e depositou um beijo ali, fazendo minha nuca se arrepiar.
- Você não tem nem vergonha na cara, , não dá para acreditar. – dei um selinho nele e senti-o apertar mais minha cintura, me puxando em direção ao seu corpo mais uma vez.
- Eu até tenho, mas às vezes você consegue tirar ela. – ele riu e nos afastou um pouco, me deixando dançar de uma forma mais livre.
– Já estou cansado. – suspirou derrotado após a segunda música. – Não sei como eles estão conseguindo ficar em pé, estou morto.
- Ah, . Como você é chato. – reclamei.
- Vou te colocar para correr 90 minutos sob uma pressão absurda, bonitinha. Vou chamar o Kepa para te fazer companhia, muito cômodo só ele ficar ali sentado. – notei que ele realmente estava só na mesa, Pulisic dançava com uma garota desconhecida um pouco afastado do resto do time. – Mas dá uma segurada em tudo isso pro menino não infartar. – ele piscou, apontando para mim e me fazendo rir. Assenti mandando um beijo para ele.
Observei em volta de nós e todos pareciam cada vez mais cansados, mas resistindo. Sorri sozinha e continuei dançando ao som de Charlie Puth que soava nos alto-falantes até ver o garoto se aproximar, sorrindo para mim.
- Seu futuro marido está de brincadeira comigo, hein? Se ele não aguenta nem dançar por muito tempo, tenho dó de você.
- Ah, nisso ele não deixa a dever não. – pisquei e ele riu.
- Sem detalhes sórdidos, .
- Você quem começou. – dei de ombros e me aproximei dele, pegando suas mãos e fazendo-o se mexer no ritmo da música. – Meu Deus, parece um pedaço de madeira. – falei, me referindo a seu corpo que não se mexia.
- Eu tenho vergonha, me deixa. – vi suas bochechas ficarem rosadas e as apertei com minhas mãos.
- Vou te fazer passar vergonha aqui no meio de todo mundo. – ele revirou os olhos e começou a se mexer desengonçadamente. – Tem muito a aprender, não acha? – vi-o assentir e continuei dançando mais sozinha do que com ele, até que Bruna chegou ao meu lado e David puxou Kepa para o bar, salvando-o.
- Precisamos de uma nova noite das garotas. – ela falou, lembrando-se da anterior. Eu e Bruna viramos grandes amigas, ainda mais depois de descobrirmos morar tão próximas.
- A gente pode ir embora? – se aproximou questionando.
- Podemos. – sorri para ele, lhe dando um selinho. – Já cansei também.
- Finalmente. – brincou. Ele puxou minha mão e nos levou até a mesa para que pudéssemos nos despedir de todos com uma calorosa gritaria de “tchaus” e “Come on Blues”, nos lembrando o motivo de estarmos ali. – Quero dormir. – ele falou depois que saímos do barulho que fazia lá dentro. – Minha cabeça dói.
- Você foi demais hoje, merece todo descanso do mundo. – andei abraçada a ele até o carro e ri ao ver sua expressão maliciosa que indicava algum pensamento que se passava por sua cabeça.
- Mereço todo descanso do mundo, mas depois de uma boa noite. – ele me beijou enquanto destravava o carro e puxava a porta para que se abrisse para mim. – Eu não esqueci. – ele encerrou o beijo com alguns selinhos, me fazendo rir.
- Eu sei que não.
Acordei com o barulho da campainha tocando e pulei da cama, mas pareceu pular mais rápido que eu e correu em minha frente me mandando ficar deitada. Dei risada de sua reação, mas segui seu conselho e continuei embaixo das cobertas.
- ! – ouvi a voz de Bells e a risada de que provavelmente havia sido atacado pela pequena garota.
Ele pareceu se despedir do que deveriam ser meus pais e logo ouvi os passos de Bells no corredor, ela deixara suas coisas em seu quarto e em poucos segundos estava pulando em minha cama e me enchendo de beijos.
- Que criança mais carinhosa essa que tenho, só queria saber o que ela está fazendo em casa, não deveria estar a caminho da escola? – perguntei e ela me abraçou, deitada por cima do meu corpo.
- Minha barriga dói, a vovó deixou eu ficar em casa. Ela falou pra você me dar algum chá. – ela fez expressão de nojo, me fazendo rir.
- Então vamos ter uma quinta-feira de preguiça em família? – apareceu no quarto, pulando em minha cama também. Minha cama que já havia se tornado mais “nossa” do que “minha”. – Você vai melhorar rapidinho. – ele a abraçou e me puxou para mais perto também. – Vamos fazer um sanduíche de Bells que ela melhora.
- Aí! – ela ria descontroladamente e quando nos afastamos ela suspirou, tentando recuperar o ar.
- Podemos passar o dia todo aqui? – perguntei, os encarando. Eles assentiram, sorrindo.
- Mas eu ‘tô com fome. – Bells falou, me fazendo rolar os olhos e em seguida a abraçar, enchendo-a de beijos.
- Essa vida de mãe não tem sossego, é impossível.
- Fica aí que eu vou lá, . – ele se levantou em minha frente. – O que as senhoritas desejam, vou trazer aqui.
- Que homem maravilhoso que eu arrumei. – mandei um beijo para ele, que fingiu pegar no ar. – O que você fizer está ótimo. – Bells assentiu.
- Isso, e cereal pra mim, por favor. – ela deu um sorriso forçado, nos fazendo rir.
- Vou pegar remédio para você, tudo bem?
- Eca.
- Eca, mas vai tomar. Você sabe que tem que melhorar. – ela fez bico, mas assentiu em seguida.
Me levantei, seguindo até o quarto dela e alcançando a última prateleira com a ajuda de uma escadinha e pegando o medicamento que a deixaria melhor. Sai do quarto e apaguei a luz, gritando no corredor para que trouxesse uma colher e água quando viesse para o cômodo.
- Que café da manhã mais lindo. – sorri ao vê-lo entrar no quarto com uma assadeira improvisada como bandeja. As comidas estavam em cima, junto a uma flor, que ele provavelmente roubara de nosso vizinho, e um porta retrato que continha uma foto de nossa viagem para praia alguns meses antes. A imagem mostrava o que fizera naquele dia, ele escrevera nossos nomes na areia, “, e Bells” e fez com que tirássemos uma foto em frente, foto qual nos mostrava rindo muito.
- Vocês merecem. – ele deixou a bandeja na cômoda ao meu lado, beijou minha testa e em seguida beijou a de Bells.
- A minha boneca pode comer também? – minha filha perguntou, pulando para ponta da cama preparada para ir até a sala buscar o brinquedo.
- Só depois do remédio, senhorita. – ela resmungou, mas voltou para o meu lado enquanto contava as gotinhas na colher para mim e me entregava com o copo de água. – Agora pode ir lá.
me entregou a bandeja e se sentou no chão ao meu lado, roubando uma torrada dali. Indiquei a cama para que ele se sentasse e ele negou com a cabeça, provavelmente esperando que Bells voltasse para que ele se deitasse na outra ponta. Mordi uma torrada e fiz uma grande sujeira cuspindo-a quando minha filha entrou no quarto correndo e gritando com uma caixinha de veludo preta em sua mão.
- Mamãe, mamãe, olha o que eu achei, é lindo! É seu? – ela olhava encantada para o anel que estava dentro e eu aproveitei para beber o iogurte que estava em minha frente, esperando que os pedaços restantes da torrada descessem junto à expressão surpresa de que não sabia se ria ou jogava Bells da janela.
- Bells, eu não acredito que você fez isso. – ele gargalhou, fazendo a garota rir também. – Onde você encontrou isso?
- Tava embaixo da mesa com a minha boneca. – ela deu de ombros. – É seu, ? Eu acho que combina mais com a mamãe, tem muito brilho. – eu ri, me recompondo.
- Você quer me explicar? – perguntei, esperando que ele conseguisse me encarar, o que parecia um tanto quanto difícil naquele minuto.
- Eu acho que não tenho muita explicação, tenho? – ele sorriu para mim, piscando. – Bells, você pode me emprestar por um minutinho, por favor? – ela assentiu, entregando a caixinha com o belo anel para . – Não era para ser exatamente nesse minuto, mas já que estamos aqui. – ele se colocou de joelho e afastou a bandeja para meu lado na cama, apoiando uma de suas mãos em cima da minha, enquanto segurava a caixinha com a outra. – Eu amo você, , e eu quero passar o resto da minha vida em momentos como esse, junto com vocês duas. – ele puxou Bells para mais perto. – Se a senhorita permitir, eu quero pedir para sua mãe se casar comigo. – ele falou para Bells, buscando meus olhos logo em seguida.
- Ah! – Bells gritou. – Aceita, mãe! Um casamento, deve ser muito legal. Vai ser igual ao da tia que eu fui?
- Vai ser ainda melhor, porque você vai fazer parte dele. – piscou para ela, que o abraçou. – Só resta sua mãe aceitar.
- É claro que eu aceito. Eu te amo, . – eu ri, abraçando os dois e enchendo de selinhos. Bells gritou, festejando, e eu apenas torci para que aquele momento se eternizasse em minha memória.
Por
- Eu não acredito que a gente tá na final! – gritou no meu ouvido assim que saímos do Stamford Bridge onde eu estava assistindo Chelsea x Porto pela semifinal da Champions League para acompanhá-lo.
- Vocês estão na final! – o abracei animada – Vocês merecem tanto! Vocês vão sair para comemorar, não vão?
- Você vai junto?
- Ah, , tô com preguicinha.
- Por favor. – ele fez bico e eu o encarei, derrotada.
- Vou avisar minha mãe que vou com vocês. Kepa vai? – perguntei na intenção de irritá-lo.
- Vai. – ele revirou os olhos e me mostrou a língua. – Amiguinhos demais.
- Quando você não tá falando comigo, ele tá, pelo menos não fico abandonada.
- Extremamente cara de pau a senhorita. Entra aí, vai. – ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei, rindo.
- Toda vez que venho aqui me lembro da primeira. – comentei quando ele entrou no carro.
- Eu nem imaginei que ia te conquistar.
- Não é como se não fosse a coisa mais possível do mundo, . Você foi encantador desde o começo. Bom, menos com a história das camisinhas jogadas no seu banheiro. – fiz uma expressão de nojo e ele soltou uma gargalhada também se lembrando do momento.
- Já faz mais de um ano, tão bom. – ele parou no semáforo e colocou sua mão em minha coxa. Coloquei minha mão por cima da sua e ele encarou nossa aliança de namoro na mesma, sorrindo. Ela era simples, o que sempre me fazia amá-la. A ideia de usá-la foi dele, disse que queria que tivéssemos algo bonitinho combinando. – Um ano atrás estávamos nos classificando para Champions, e agora estamos na final, eu não poderia ficar mais feliz. Sonho em jogar a final com o Chelsea desde 2013.
- Ganhamos um ano antes de você entrar, né? – ele assentiu.
- Será que sou o azar do time? – questionou, focado na rua em sua frente.
- Bem provável, e eu sou a sorte. – dei de ombros.
- Não sei do time, mas toda a minha. – beijou meus lábios assim que estacionou em frente a um pub, onde os outros também chegariam em alguns minutos, além dos que já haviam chegado.
Abri a porta e deixei fechando o carro enquanto corria um pedacinho da calçada, pulando nas costas de Kepa que estava na entrada do pub conversando com Alonso. Ele se assustou e começou a rir, fazendo com que eu e Alonso o acompanhássemos.
- Eu nem tenho como não saber quem é, não? – ele se virou para mim, me abraçando. – Oi, .
- Você foi incrível hoje! Todos foram, mas aquela bola que você pegou foi sensacional!
- Tenho que reconhecer que foi mesmo. – Alonso falou, se aproximando para me cumprimentar. – Você está bem?
- Bem feliz. Fico feliz quando vocês vão bem, estou animada para final. Ano passado, final da Europa League, esse ano, final da Champions League, tô ficando mal acostumada.
- Aí depois começamos a perder e você nos abandona, quero ver.
- Nunca, sou fiel a vocês. – mostrei a língua e recebi um abraço de lado de Kepa.
- Vamos largar, né? – se aproximou brincando como sempre.
- Você sabe que temos a guarda compartilhada, ninguém mandou nos apresentar.
- As meninas vêm também, né? – perguntei me referindo às outras namoradas e esposas e eles assentiram.
- Se você não levar ela para dançar, eu vou. – Pulisic gritou para depois de algumas bebidas e todos os casais que estavam na mesa já estarem na pista. Kepa riu, concordando. Pulisic entrou no time na temporada anterior e desde então virara um dos amigos mais próximos de .
- Agradecida, por isso gosto de vocês. – me levantei e ele se levantou junto, rolando os olhos. – Se não quiser, tudo bem, eu aceito dançar com um dos dois.
- Só vou aceitar porque eu gosto muito de te ver dançar. – ele segurou minha mão e caminhou comigo até ficarmos próximos aos outros, em volta de nós estavam David, Willian, Giroud e Azpi, todos se divertiam muito com suas mulheres.
Quando comecei a me mexer no ritmo da música, a mesma estava acabando e dando início a Only Human, dos Jonas Brothers. Mudei meu ritmo quase automaticamente e sorriu, me seguindo. Ele colocou suas mãos em minha cintura e me acompanhava de acordo com a batida da música.
- Me diz que a Bells pode ficar na sua mãe hoje. – o ouvi dizer em meu ouvido e eu, afirmando. – Amo aquela criança, mas assim fica difícil, . – ele colocou sua cabeça em meu pescoço e depositou um beijo ali, fazendo minha nuca se arrepiar.
- Você não tem nem vergonha na cara, , não dá para acreditar. – dei um selinho nele e senti-o apertar mais minha cintura, me puxando em direção ao seu corpo mais uma vez.
- Eu até tenho, mas às vezes você consegue tirar ela. – ele riu e nos afastou um pouco, me deixando dançar de uma forma mais livre.
– Já estou cansado. – suspirou derrotado após a segunda música. – Não sei como eles estão conseguindo ficar em pé, estou morto.
- Ah, . Como você é chato. – reclamei.
- Vou te colocar para correr 90 minutos sob uma pressão absurda, bonitinha. Vou chamar o Kepa para te fazer companhia, muito cômodo só ele ficar ali sentado. – notei que ele realmente estava só na mesa, Pulisic dançava com uma garota desconhecida um pouco afastado do resto do time. – Mas dá uma segurada em tudo isso pro menino não infartar. – ele piscou, apontando para mim e me fazendo rir. Assenti mandando um beijo para ele.
Observei em volta de nós e todos pareciam cada vez mais cansados, mas resistindo. Sorri sozinha e continuei dançando ao som de Charlie Puth que soava nos alto-falantes até ver o garoto se aproximar, sorrindo para mim.
- Seu futuro marido está de brincadeira comigo, hein? Se ele não aguenta nem dançar por muito tempo, tenho dó de você.
- Ah, nisso ele não deixa a dever não. – pisquei e ele riu.
- Sem detalhes sórdidos, .
- Você quem começou. – dei de ombros e me aproximei dele, pegando suas mãos e fazendo-o se mexer no ritmo da música. – Meu Deus, parece um pedaço de madeira. – falei, me referindo a seu corpo que não se mexia.
- Eu tenho vergonha, me deixa. – vi suas bochechas ficarem rosadas e as apertei com minhas mãos.
- Vou te fazer passar vergonha aqui no meio de todo mundo. – ele revirou os olhos e começou a se mexer desengonçadamente. – Tem muito a aprender, não acha? – vi-o assentir e continuei dançando mais sozinha do que com ele, até que Bruna chegou ao meu lado e David puxou Kepa para o bar, salvando-o.
- Precisamos de uma nova noite das garotas. – ela falou, lembrando-se da anterior. Eu e Bruna viramos grandes amigas, ainda mais depois de descobrirmos morar tão próximas.
- A gente pode ir embora? – se aproximou questionando.
- Podemos. – sorri para ele, lhe dando um selinho. – Já cansei também.
- Finalmente. – brincou. Ele puxou minha mão e nos levou até a mesa para que pudéssemos nos despedir de todos com uma calorosa gritaria de “tchaus” e “Come on Blues”, nos lembrando o motivo de estarmos ali. – Quero dormir. – ele falou depois que saímos do barulho que fazia lá dentro. – Minha cabeça dói.
- Você foi demais hoje, merece todo descanso do mundo. – andei abraçada a ele até o carro e ri ao ver sua expressão maliciosa que indicava algum pensamento que se passava por sua cabeça.
- Mereço todo descanso do mundo, mas depois de uma boa noite. – ele me beijou enquanto destravava o carro e puxava a porta para que se abrisse para mim. – Eu não esqueci. – ele encerrou o beijo com alguns selinhos, me fazendo rir.
- Eu sei que não.
Acordei com o barulho da campainha tocando e pulei da cama, mas pareceu pular mais rápido que eu e correu em minha frente me mandando ficar deitada. Dei risada de sua reação, mas segui seu conselho e continuei embaixo das cobertas.
- ! – ouvi a voz de Bells e a risada de que provavelmente havia sido atacado pela pequena garota.
Ele pareceu se despedir do que deveriam ser meus pais e logo ouvi os passos de Bells no corredor, ela deixara suas coisas em seu quarto e em poucos segundos estava pulando em minha cama e me enchendo de beijos.
- Que criança mais carinhosa essa que tenho, só queria saber o que ela está fazendo em casa, não deveria estar a caminho da escola? – perguntei e ela me abraçou, deitada por cima do meu corpo.
- Minha barriga dói, a vovó deixou eu ficar em casa. Ela falou pra você me dar algum chá. – ela fez expressão de nojo, me fazendo rir.
- Então vamos ter uma quinta-feira de preguiça em família? – apareceu no quarto, pulando em minha cama também. Minha cama que já havia se tornado mais “nossa” do que “minha”. – Você vai melhorar rapidinho. – ele a abraçou e me puxou para mais perto também. – Vamos fazer um sanduíche de Bells que ela melhora.
- Aí! – ela ria descontroladamente e quando nos afastamos ela suspirou, tentando recuperar o ar.
- Podemos passar o dia todo aqui? – perguntei, os encarando. Eles assentiram, sorrindo.
- Mas eu ‘tô com fome. – Bells falou, me fazendo rolar os olhos e em seguida a abraçar, enchendo-a de beijos.
- Essa vida de mãe não tem sossego, é impossível.
- Fica aí que eu vou lá, . – ele se levantou em minha frente. – O que as senhoritas desejam, vou trazer aqui.
- Que homem maravilhoso que eu arrumei. – mandei um beijo para ele, que fingiu pegar no ar. – O que você fizer está ótimo. – Bells assentiu.
- Isso, e cereal pra mim, por favor. – ela deu um sorriso forçado, nos fazendo rir.
- Vou pegar remédio para você, tudo bem?
- Eca.
- Eca, mas vai tomar. Você sabe que tem que melhorar. – ela fez bico, mas assentiu em seguida.
Me levantei, seguindo até o quarto dela e alcançando a última prateleira com a ajuda de uma escadinha e pegando o medicamento que a deixaria melhor. Sai do quarto e apaguei a luz, gritando no corredor para que trouxesse uma colher e água quando viesse para o cômodo.
- Que café da manhã mais lindo. – sorri ao vê-lo entrar no quarto com uma assadeira improvisada como bandeja. As comidas estavam em cima, junto a uma flor, que ele provavelmente roubara de nosso vizinho, e um porta retrato que continha uma foto de nossa viagem para praia alguns meses antes. A imagem mostrava o que fizera naquele dia, ele escrevera nossos nomes na areia, “, e Bells” e fez com que tirássemos uma foto em frente, foto qual nos mostrava rindo muito.
- Vocês merecem. – ele deixou a bandeja na cômoda ao meu lado, beijou minha testa e em seguida beijou a de Bells.
- A minha boneca pode comer também? – minha filha perguntou, pulando para ponta da cama preparada para ir até a sala buscar o brinquedo.
- Só depois do remédio, senhorita. – ela resmungou, mas voltou para o meu lado enquanto contava as gotinhas na colher para mim e me entregava com o copo de água. – Agora pode ir lá.
me entregou a bandeja e se sentou no chão ao meu lado, roubando uma torrada dali. Indiquei a cama para que ele se sentasse e ele negou com a cabeça, provavelmente esperando que Bells voltasse para que ele se deitasse na outra ponta. Mordi uma torrada e fiz uma grande sujeira cuspindo-a quando minha filha entrou no quarto correndo e gritando com uma caixinha de veludo preta em sua mão.
- Mamãe, mamãe, olha o que eu achei, é lindo! É seu? – ela olhava encantada para o anel que estava dentro e eu aproveitei para beber o iogurte que estava em minha frente, esperando que os pedaços restantes da torrada descessem junto à expressão surpresa de que não sabia se ria ou jogava Bells da janela.
- Bells, eu não acredito que você fez isso. – ele gargalhou, fazendo a garota rir também. – Onde você encontrou isso?
- Tava embaixo da mesa com a minha boneca. – ela deu de ombros. – É seu, ? Eu acho que combina mais com a mamãe, tem muito brilho. – eu ri, me recompondo.
- Você quer me explicar? – perguntei, esperando que ele conseguisse me encarar, o que parecia um tanto quanto difícil naquele minuto.
- Eu acho que não tenho muita explicação, tenho? – ele sorriu para mim, piscando. – Bells, você pode me emprestar por um minutinho, por favor? – ela assentiu, entregando a caixinha com o belo anel para . – Não era para ser exatamente nesse minuto, mas já que estamos aqui. – ele se colocou de joelho e afastou a bandeja para meu lado na cama, apoiando uma de suas mãos em cima da minha, enquanto segurava a caixinha com a outra. – Eu amo você, , e eu quero passar o resto da minha vida em momentos como esse, junto com vocês duas. – ele puxou Bells para mais perto. – Se a senhorita permitir, eu quero pedir para sua mãe se casar comigo. – ele falou para Bells, buscando meus olhos logo em seguida.
- Ah! – Bells gritou. – Aceita, mãe! Um casamento, deve ser muito legal. Vai ser igual ao da tia que eu fui?
- Vai ser ainda melhor, porque você vai fazer parte dele. – piscou para ela, que o abraçou. – Só resta sua mãe aceitar.
- É claro que eu aceito. Eu te amo, . – eu ri, abraçando os dois e enchendo de selinhos. Bells gritou, festejando, e eu apenas torci para que aquele momento se eternizasse em minha memória.
Capítulo 20
“This is me praying that this was the very first page not where the story line ends, my thoughts will echo your name, until I see you again. These are the words I held back as I was leaving too soon, I was enchanted to meet you." (Enchanted – Taylor Swift)
Por
Classificados para final da Europa League em um semifinal de tirar o fôlego indo para as penalidades com o Eintracht Frankfurt;
Classificados para a próxima Champions League;
Terceiro lugar da Premier League.
Uma grande atuação em todos esses jogos e eu ainda me sentia terrivelmente vazio, de uma forma que eu saberia que não seria preenchida nem mesmo com o troféu da Europa League caso fossemos campeões hoje, afinal, o momento estava chegando e eu não deixava de pensar nisso em segundo nenhum. Durante esse mês eu aprendi que posso ser muito bom em separar certas emoções, mas principalmente em separar meu futebol da minha vida pessoal. Eu consegui continuar jogando em alto nível, mesmo enquanto minha mente ruía a cada dia.
Cada encontro com me fazia ter lembranças desse ano incrível que tivemos juntos, e cada situação nova que aparecia e nos fazia pensar que logo nos separaríamos, gerava um silêncio desconfortável entre nós, algo que nunca acontecia, não era comum entre nós. Continuamos nos vendo normalmente, com exceção de nosso pouco tempo por conta dos milhões de jogos que tive nos últimos dias, o final de temporada é algo extremamente agitado. Ela tentou ir à maior parte dos jogos, até mesmo viajou comigo para o primeiro jogo da semifinal da EL, na Alemanha. Nos jogos que tínhamos em casa, ela levava Bells para que pudéssemos aproveitar todos juntos.
Bells, esse estava sendo o ponto mais complicado de tudo, aquele que tirava meu sono. Depois de conversarmos e ter praticamente me obrigado a seguir com minha carreira, sentamos para conversar com a pequena. acreditou que deveria fazer isso sozinha, mas eu não aceitaria, para mim seria como fugir. Eu sabia que Bells era pequena, e eu sabia que ela poderia achar ruim e chorar naquele momento, mas ela logo esqueceria. Porém, ela sofreria, e o simples fato de ela sofrer nem que fosse por um minuto, destroçava meu coração.
Eu nunca poderia imaginar que em um ano uma criança poderia me trazer a minha melhor versão de todas as formas. Mais do que machucar , eu machucaria Bells junto ao ir embora, e por isso eu não aceitava ainda a ideia de que estava realmente de mudança. Eu poderia jogar a culpa toda em , por ela ter me feito aceitar a proposta, mas não seria justo, eu sabia que ela estava pensando exclusivamente em mim naquele momento, e nada era mais bonito que isso, pois eu sabia que ela estava sofrendo em abrir mão de um sentimento que ela demorara para aceitar.
Bells aceitou bem. Ela soltara algo como “Que legal, o Real Madrid é legal.”, e depois saíra de perto indo brincar com suas coisas. Então eu me aproximei novamente e tentei conversar, dizendo que estava triste em ter que ir embora e ela só falou, “Mas é legal, . Eu prefiro o Chelsea, mas vou ficar feliz de ver o Real Madrid também, o papai disse que se ele morasse na Espanha acompanharia todos os jogos deles que nem o Chelsea. Você vai visitar a gente sempre que puder, né?”. Foi aí que percebi que ela não tinha entendido por completo, e que claro, sendo uma criança, não tinha ainda ideia da distância entre a Espanha e a Inglaterra. Não era algo como do outro lado do mundo, mas não era um percurso de carro de duas ou seis horas, que fosse. Foi então que me afastei com os olhos marejados e se ajoelhou ao lado dela, explicando que eu moraria lá, e que não iríamos mais nos ver como era agora. Ela explicou que iriamos nos separar e foi então que Bells pareceu entender, abraçando a mãe com o sorriso mais triste que eu já havia visto.
Dois dias atrás ela me disse que me acompanharia junto com a mãe. Ela disse que estaria sempre vendo os jogos de casa e torcendo por mim, o que fez meus olhos marejarem e suas pequenas mãos me acolheram, limpando as lágrimas que escorreram em seguida. Aquela garotinha me amava, e eu amava ela de uma forma que nem saberia explicar, era culpa dela aquele ano maravilhoso que tive e o amor que ganhei dele.
Com um pesar gigante e uma bronca, me despedi dos pais de . Tivemos alguns encontros durante aquele mês, onde contamos tudo, nos divertimos, e demos a notícia de que infelizmente eu mal os conhecera e já teria que partir. Augusto ficou extremamente bravo, e disse que sempre soube que magoaria a filha dele, o que levou nosso último encontro ao fim de uma forma triste, brigados. Karen tentou aliviar, disse que sabia que era o certo a fazer, mas ela parecia tão desapontada quanto ele.
conversou com Thea diversas vezes durante esses dias, elas pareciam realmente amigas, o que me fez ter uma pontinha de esperança em nosso futuro. Eu voltaria um dia, eu amava Londres, quem sabe elas ainda fossem amigas e isso fizesse com que nos encontrássemos novamente. Não que, se eu voltasse, eu não teria como prioridade encontrar , mas assim eu poderia fingir que era ao acaso. Eram esses pensamentos que me atingiam durante a noite e me faziam considerar que eu nem sabia quanto tempo ficaria fora e como as coisas seriam para poder considerar um reencontro em algum momento.
Eram esses pensamentos que me atingiam durante a noite e não poderiam estar aqui agora, no vestiário, prestes a entrar em campo em Baku pela final da Europa League contra o Arsenal. Mas eles ficavam cada vez mais em cima de mim, pois hoje era nosso último dia juntos. Daqui, da comemoração ou derrota, eu partiria para Espanha para acertarmos as coisas com o Real Madrid. e Bells estavam aqui, como meu maior apoio, assim como minha mãe, Peter, Thea e as crianças. Eles voltariam para Londres todos juntos, e então para minhas meninas, era um adeus. Eu só queria que aquele jogo nunca acabasse, os 90 minutos poderiam rolar por 900, 9.000, 90.000, eu não me importaria de continuar jogando sabendo que as tinha ali ao meu lado.
Todos estavam concentrados em seus próprios pensamentos, e notei que era hora de deixar os meus de lado quando Sarrí nos chamou para uma conversa incentivadora, ou uma “dura” como eu já esperava. Era incrível estarmos ali, uma sensação indescritível. Não era uma Champions, mas uma final de Europa League contra outro time do “Big Six”, e ainda Londrino, era algo histórico. Quem perdesse esse jogo seria chacota durante um bom tempo, e era o que eu esperava não deixar para o Chelsea. Eu esperava sair dali de cabeça erguida, com uma vitória em minha melhor atuação. Hoje eu encerraria meus sete anos de batalhas por aquele clube, e eu não poderia deixar de me sentir um cara incrivelmente sortudo por tudo que me fora proporcionado. Deixar o Chelsea era algo difícil, ali eu me sentia em casa, como eu sabia que não devia acontecer com qualquer jogador. Aquele se tornara meu time do coração, e foi com esse pensamento que me juntei a todos na roda em uma grande gritaria e então saímos em direção ao campo, prontos para uma partida incrível.
Uma assistência, um pênalti e um gol. Participação em três dos quatro gols feitos em cima do Arsenal. Aquele era um final e tanto para minha história ali. O jogo fora puxado, nós sabíamos que não seria fácil, principalmente pelo fato de termos tirado a vaga na Champions do Arsenal através da Premier League e que aquela seria a chance deles de consegui-la de outra forma. Mas estávamos em um bom dia, e apesar de um jogo de igual para igual com diversas tentativas, tudo mudou aos 49 minutos, quando Giroud fez o primeiro gol. Foi aí que a equipe adversária se perdeu e abriu a brecha para ampliarmos a vantagem com Pedro aos 60 minutos, quando consegui realizar o passe para que ele chutasse para dentro da rede. Aos 64, Giroud foi empurrado na área e sob uma pressão absurda, vendo o grande Peter Cech em minha frente, consegui mais um gol aos 65 minutos, quando ele caiu para o lado contrário ao que eu havia batido.
Aos 68 para diminuir a vantagem, Iwobi bateu de fora da área e Kepa não pode alcançar a bola que acertou o ângulo em um golaço. Eles tentariam ao máximo ainda tirar aquele título de nós, mas não houve tempo suficiente para que eles tivessem esperança, pois aos 71 após uma roubada de bola que passei para Giroud e recebi novamente a bola em meus pés, pude deixar o meu gol, aquele que transformaria as manchetes em “Chocolate Londrino” e outras diversas piadas sobre esse 4x1 em um clássico tão importante quanto aquele.
Era uma atuação e tanto para uma despedida, e eu sabia que após o jogo essas seriam as matérias sobre mim, pois ali, todos já sabiam que eu estava de saída. Não, ainda não havia sido feita a confirmação, mas as coisas corriam de uma forma que não era possível segurar, e eu sabia que podia sair dali confirmando para todos. Aquele havia sido meu último jogo, e os diversos abraços e palavras de carinho que recebi de meus companheiros ao entrarmos no vestiário após toda cerimônia de campeões apenas tornaram aquele momento o mais importante, era uma despedida e tanto. Ainda tínhamos mais comemorações pela noite, todos juntos e com nossas famílias, mas aquele momento era meu e da equipe, os últimos minutos suando aquela camisa em meio a toda champanhe no vestiário.
- Não sei se devemos pedir um discurso ou se você vai chorar se tentar falar. – Willian gritou, fazendo todos olharem para mim.
- Eu provavelmente choro só no pensamento. – dei risada e todos me acompanharam. – Mas não é por isso que vou deixar de no mínimo agradecer por todo o nosso trabalho durante esses anos que estive aqui. Trabalhar com cada um de vocês me fez alguém melhor, vocês me ajudaram a crescer e me tornar o jogador que sou hoje. Agradeço a cada um dentro do Chelsea que me acolheu há anos. Por favor, façam com a pessoa que herde essa camisa a suar muito.
- Não sei quem vai ficar com a camisa, mas se quiser eu posso ficar com a . – Kepa gritou do fundo da roda, me fazendo mostrar o dedo do meio e todos em volta gargalharem.
- Muito cedo para essa piada. – reclamei e ele se aproximou, sendo o primeiro a se posicionar para me levantar com a ajuda de David.
- Campeão! – se aproximou me abraçando apertado e gritando em meu ouvido. – Você foi incrível, eu estou tão feliz. – segurei seu rosto em minhas mãos e lhe dei um selinho, sorrindo logo em seguida.
- Estou feliz que você está aqui comigo. – a abracei novamente, ouvindo-a fungar discretamente.
- Você ganhou, ! – Bells puxou minha blusa, me pedindo para abaixar ao seu lado e jogando seus braços ao redor de meu pescoço. Me levantei com ela em meu colo e a apertei entre meus braços. – Um abraço de urso. – ela riu, fingindo estar sufocada.
- Obrigado por estarem aqui. Eu amo vocês. – fizemos um abraço em grupo e as soltei em seguida para cumprimentar minha família que assistia nosso momento enquanto Bells e abraçavam o resto do time parabenizando a todos.
- Hoje é dia de todo mundo beber, certo? – vi Pedro gritar em meio ao grupo.
- Digo mais, hoje é dia de beber por vários motivos. – Giroud gritou, completando. Ele estava abraçado em sua mulher. – Com respeito às crianças. – todos riram, concordando. – Então vamos lá, pode mandar a primeira rodada. – ele apontou para o bar, que atendeu prontamente com todas as canecas preparadas.
- E, por favor, mais uma vez nossa música. – Azpi gritou para o DJ, que quase prontamente nos colocou para ouvir “We Are The Champions”. Todos fizeram uma roda, um abraçado ao outro, e um coro podia ser ouvido até mesmo de fora do salão. Eu sentiria falta daquilo.
Aos poucos a roda foi se dissipando e grupinhos eram formados, famílias ou os que tinham mais afinidade lado a lado. já tinha um bom relacionamento com todos, assim como algumas outras mulheres, já os demais familiares começavam a se juntar aos poucos com os familiares de outros. Vi minha mãe, Peter e Thea com a família de Caballero. As crianças todas se juntaram e estavam brincando em um canto, sempre com alguém de olho.
Como eu pensei, já tinha um bom relacionamento com todos, mas era óbvio onde ela estava, me fazendo rir. Ela conversava animadamente com a família de Kepa quando me aproximei. Fiquei me perguntando se eles seriam amigos ainda que eu fosse embora, e eu esperava que sim, pois em meio a todas as brincadeiras que tínhamos, a amizade deles me fazia feliz. Era algo surpreendente, mas eles contavam muito um com o outro.
- Espero muito que não se torne sua nora assim que eu virar as costas. – entrei na conversa recebendo um tapa de Kepa no ombro enquanto cumprimentava sua mãe.
- ! – ela riu, me repreendendo.
- Não seria uma má ideia, essa menina é incrível. – eu ri, concordando.
- Sou um homem de sorte. – abracei pelos ombros, a puxando para mim e deixando um beijo em sua testa. – E o homem de sorte poderia roubá-la um pouquinho? – todos assentiram, se despedindo em meio a risadas e piadinhas animadas.
- Você não está bem no espírito de festa, não é? – ela perguntou, entrelaçando sua mão com a minha.
- Nem um pouco. Até queria me divertir, mas acho que já separei as coisas por muito tempo, em um momento não conseguiria mais. – ela concordou. – Não é como se você estivesse muito diferente.
- Compreensível, não? – assenti. – Bells está um pouco sentida, acho que ela sonhou com você essa noite, porque ela acordou te gritando.
- Não precisava me contar isso. Só piora tudo. – senti meu coração apertar e me abraçou.
- Eu precisava te contar para te mostrar o quão importante você é para nós, . – fiz bico e ela sorriu, grudando seus lábios nos meus em um selinho rápido. – Acho que vou ter pesadelos com o Emerson dançando. – ela apontou para rodinha onde eles estavam juntos mostrando alguns passos de dança.
- Acho que todo mundo vai ter pesadelos com isso. – virei meu corpo em direção ao dela novamente. – Podemos ir embora mais cedo? – ela assentiu.
- Só não se esqueça que é também sua despedida do time.
- Tivemos um bom momento no vestiário. – sorri, me lembrando. – Eles não vão se importar, provavelmente meu caminho vai cruzar com muitos deles ainda.
- Já está saindo para um, pensando em ir para algum outro? – ela riu, arqueando as sobrancelhas.
- Acho que não sou assim. Gosto de criar raízes, vou ser um jogador de poucos clubes. – dei de ombros, pensando no assunto. – Só sairei de lá se perceber que as coisas não estão mesmo boas, ou se não tiver opção e quiserem me colocar para fora.
- O que provavelmente não vai acontecer. Você é incrível. – ela apertou minha mão na sua em demonstração de apoio. Sorri agradecido. – Agora vai aproveitar a festa de campeões, você merece. Mais tarde teremos um bom tempo juntos. – assenti e aproveitei que as crianças passavam em nossa frente correndo e as segui, correndo atrás de Bells.
Eu aproveitaria aquela festa com ela, por mais chato e irritante que fosse para as crianças terem um adulto entre elas. Vi o sorriso de em seu rosto e ela negou com a cabeça em desaprovação, pois ela com certeza sabia meus pensamentos e sabia que eu tentaria aproveitar com elas de todas as formas possíveis. Ela então se juntou a mim, ajudando nas brincadeiras com todos os pequenos.
- A gente pode ir? – perguntei para , baixo próximo ao seu ouvido. – Por favor. – ela assentiu, sorrindo triste.
Já havíamos brincado bastante com as crianças, e curtido um pouco o momento com cada grupinho ali. Eu não estava bebendo, assim como , e já não estava mais com vontade de comer também. E desde o começo, minha vontade de festejar era quase igual a 0.
- Vamos nos despedir das pessoas. – ela falou, começando a andar em direção ao grupinho mais próximo de nós.
Passei por cada um ali dando um forte abraço e ouvindo as diversas palavras direcionadas a mim. Alguns conseguiram marejar meus olhos com os sentimentos colocados naquele momento de despedida, outros me fizeram rir em suas grandes estimas de sorte. Demorei um pouco mais com alguns, e uma passada rápida por outros, mas levava de cada um deles, um enorme carinho e respeito.
se despedia de todos eles com o coração apertado. Ela fizera uma grande amizade com todos, e eu ouvia sempre alguém dizer “Não suma da nossa vida, , podemos continuar sendo amiguinhos.”, ela trocou telefones com alguns deles, e com outros já tinha uma maior intimidade, como com algumas namoradas. Vi alguém a chamar para o próximo aniversário, pedindo para que ela já deixasse anotado e ela prometeu que iria, o que me fez rir. Ela ganhou um time de futebol como amigos, ela se entrosou a ponto de se tornar família deles, se tornou parte da equipe. Me sentia feliz de deixar aquilo para ela, e eu sabia que ela estava feliz com as pessoas que levaria dali. Nossa aproximação lhe fizera melhor do que eu poderia imaginar, e isso tranquilizava minha mente, pois entre brincadeiras e brincadeiras, eu esperava que os caras nunca a deixassem sozinha de verdade.
- Se lembre da nossa conversa. – falei a Kepa quando lhe abracei. Ele me encarou e sorriu, assentindo.
- Qualquer coisa, eu te aviso. Vou estar com ela.
- Estou confiando em você. – ele assentiu mais uma vez e bateu continência, brincando.
- Não vou me despedir de vocês, voltaremos todos juntos amanhã para Londres, certo? – vi minha família assentir quando perguntou.
- Vocês vão ficar por aqui? – perguntei a eles.
- Não, já vamos para o quarto também. – minha mãe respondeu com um sorriso de lado.
- Onde está Bells? – Thea perguntou, procurando por ela seus filhos também. Quando a viram chamar, correram até nós. – Pequena, o que acha de uma festa do pijama hoje? – ela passou a mão nos cabelos de Bells, carinhosa.
- Eba! - Ellen comemorou, abraçando Bells.
- Posso, mamãe? – ela perguntou para , que olhou para Thea com um sorriso no rosto, assentindo em agradecimento.
- Claro, meu amor. Vamos subir e pegamos suas coisas, então você pode ir pro quarto com a Ellen. – acenou para todos e andamos até o elevador enquanto minha família se despedia de todos ali para pegar o mesmo caminho.
- Vou te dar seu pijama e a roupa que você deve colocar amanhã, tudo bem? Você quer mesmo dormir lá? – Bells assentiu e se sentou na cama ao meu lado enquanto mexia em sua mala. Ela entregou as coisas da filha em uma pequena bolsa que a menina colocou nas costas.
- Devo me despedir, certo? – falei em silêncio para , apenas movimentando meus lábios. Ela assentiu, deixando a tristeza tomar sua expressão.
- Ei, pequena. Amanhã eu vou embora cedo, então preciso te dar tchau hoje, tudo bem? – ela assentiu, tirando a bolsa de suas costas e me abraçando. – Promete que vai cuidar da mamãe? E que vai obedecê-la, e ser a criança mais estudiosa do mundo?
- Prometo, . Você não vai esquecer a gente, né? Por favor. – ela fez bico e vi seus olhos se encherem de lágrimas, partindo meu coração.
- Nunca, Bells. Vou sempre estar de olho em vocês, tá? Vou ver todas as suas fotos no Instagram, e vou sempre acompanhar vocês de longe, eu prometo. A gente ainda se vê, tudo bem? Só não me esquece. Eu amo você, princesa. E prometo que vou cuidar muito bem da Lola, do jeito que você me ensinou. – beijei a testa dela e senti seus bracinhos me apertarem ainda mais.
- Te amo, . Cuida da mamãe hoje, tá? Ela tá muito triste. – ela sussurrou em meu ouvido e vi torcer o nariz.
- Dedo duro. – ela resmungou para filha, a abraçando pelos ombros e andando até a porta para levá-la para o quarto de Thea, que ficava em nosso corredor também.
- Tchau, . – acenei para ela e quando fechou a porta deixei meu corpo relaxar, me jogando de costas na cama. Não tinha algo mais doloroso que aquilo.
- Não vai ficar tudo bem. – resmunguei quando abriu a porta. – Eu sei que você vai falar isso.
- Em algum momento você melhora. – senti o corpo dela afundar na cama ao lado do meu. Eu estava de bruços, então ela se apoiou no travesseiro ao meu lado e colocou sua mão em minha cabeça, acariciando meus cabelos.
- Esse algum momento parece que nunca vai chegar. Ela vai ficar bem, né? – perguntei, me referindo à Bells.
- Claro, . Ela é uma criança, isso logo passa. Ela vai ficar um tempo perguntando, mas ela vai se acostumar.
- As vezes acredito que ainda não chorei o suficiente e que preciso disso para acreditar. Sou muito mole, não sou? – a encarei e ela assentiu, rindo.
- Brincadeira. Eu também não chorei tanto assim ainda. Você é chorão e eu sei, então não te julgo. – ela deu de ombros, e eu revirei os olhos, rindo.
- Vou sentir falta disso. Você é tão incrível. – deitei em seu colo e ela continuou passando sua mão entre meus fios de cabelos. – , você vai arrumar outra pessoa logo.
- . Que pensamento para se ter essas horas. – ela parou o movimento que fazia com as mãos e me encarou.
- Eu só estou pensando que você é incrível e não é possível que você não arrume alguém super-rápido. Eu tô me sentindo carente, começo a ter pensamentos assim, minha mente está divagando. – sorri, fazendo-a rir.
- Eu vou sentir tanto a sua falta, . Não consigo parar de pensar nisso por um segundo sequer. Vou sentir falta de cada momento que a gente tem, e cada mania. Vou sentir saudade desse sorriso lindo, de fazer carinho no seu cabelo, das suas risadas, das brincadeiras sem graça, do seu cuidado com a Bells, de você rolando no tapete com a Chelsea em casa. Vou sentir falta de tudo que você trouxe para minha vida.
- Se eu começar a chorar, a culpa é completamente sua. – me levantei de seu colo, me sentando encostado na cabeceira da cama e puxando seu corpo junto ao meu, deitando sua cabeça em meu peito enquanto entrelaçava nossas mãos. – Eu também vou sentir falta de tudo que a gente teve nesse tempo, . Eu queria que essa noite durasse pra sempre, você não tem ideia.
- , você brincou que eu arrumaria alguém logo, então eu tenho que aproveitar e tratar um assunto muito sério com você. – ela se sentou de frente para mim, nos afastando e me fazendo arquear as sobrancelhas.
- Não vai me dizer que já tem alguém, né? – ela deu de ombros, deixando sua expressão séria.
- Você sabe quem é. – ela comentou, me fazendo arregalar os olhos. – Eu ‘tô brincando , pelo amor de Deus. – ela gargalhou e eu me joguei em seu colo, rindo junto. – Mas, o assunto ainda é verdade. Você me promete que não vai deixar as oportunidades passarem?
- Não estou deixando o Real Madrid passar, o que eu deixaria? – eu ri, sem entender.
- Pessoas, . – ela rolou os olhos.
- Ah, . Depois eu que tenho pensamentos estranhos para essas horas, não?
- Eu estou falando muito sério.
- Eu não vou deixar. – resmunguei apenas na intenção de cortar o assunto.
- . – estávamos há alguns minutos sem dizer nada, apenas juntos revezando quem dava colo um ao outro. – Me diz uma coisa, você se arrependeu?
- Como assim, ? – ela perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Você tinha medo de se arrepender, com medo de que apostar em mim fosse te machucar. Você se arrependeu? – me levantei, encarando-a. Ela pareceu ponderar, abrindo um sorriso.
- De forma alguma. Você não me dá motivos para que eu me arrependa. Você não está me machucando, sabemos que é o que deve acontecer e pronto. Estamos nos separando por algo que precisava acontecer e minha mente continua tranquila com isso.
- Estava com medo de ouvir um “sim”, você não tem ideia. – sorri e ela se aproximou, me dando um selinho.
- Podemos continuar não fazendo dessa despedida um momento triste? – ela perguntou, deitando seu corpo por cima do meu.
- Podemos, inclusive, temos algo mais legal para fazer. – coloquei minha mão em sua cintura, a puxando ainda mais para mim. Suas pernas se abriram de forma que ficaram uma de cada lado do meu corpo e ela sorriu para mim, se aproximando para me beijar.
Acordei inconscientemente cinco minutos antes do meu despertador. Fiquei extremamente feliz com isso, pois ele provavelmente faria acordar, e eu não sei se teria estômago para ouvi-la dizer “tchau” pela última vez.
Me levantei da cama lentamente e fui até o banheiro para tomar um banho e tentar relaxar a tensão de meus ombros. Nossa noite fora incrível, mas parecia já demonstrar a saudade entre nós e isso continuava partindo meu coração, assim como sabia que partia o dela.
Sai do banho e mandei uma mensagem para Thea e para minha mãe, para que pudéssemos nos despedir. Elas sabiam que eu sairia cedo, então combinamos um horário para que não acordássemos as crianças. Recebi um “Estamos indo até aí.” e em seguida já sai do quarto, fechando a porta lentamente.
- Tá preparado? – Peter perguntou, sorrindo.
- Pro novo time? Sim. Para deixar o que tenho aqui? De forma alguma. – sorri triste e vi os olhares dos três focados em mim. – Logo vocês vão me visitar, né?
- Mês que vem estou lá com você. – minha mãe falou, sorridente. – Tenha uma boa viagem e boa sorte com as novidades. – ela me abraçou. – Lembre-se que tenho muito orgulho de você.
- Todos nós temos. – Peter me abraçou também, dando tapinhas em minhas costas. – Assim que eu pegar férias iremos para lá.
- Vou estar esperando. Mas, logo estou por aqui também. Sempre que possível. Dê um beijo nas crianças por mim, inclusive na Bells. – ele assentiu, sorrindo.
- Nós amamos você, , você vai ter um grande sucesso. Me orgulho de você, da sua carreira, você é o melhor. – Thea falou próximo a mim, me abraçando em seguida. – Mesmo de longe estaremos com você.
- Cuida dela, por favor. Não a deixe sozinha, sei que vocês ainda serão amigas.
- Claro que vamos ser. Estarei aqui do lado dela sempre que ela precisar, e ao seu lado também. Não se preocupe, vocês irão superar. – fiz bico e ela sorriu, apertando minhas bochechas. – Vai lá terminar de arrumar suas coisas. – assenti e abracei rapidamente todos eles mais uma vez.
Entrei no quarto novamente e fechei a porta devagar. Encarei minhas malas prontas no canto, próximas à mesinha. Encarei deitada, sua respiração fazendo seu corpo subir e descer e os pedaços expostos de sua pele arrepiados com o vento gelado do ar-condicionado. Respirei fundo e olhei o horário, sabendo que eu teria que ir.
Me aproximei da cama e com um aperto no coração me abaixei, deixando um beijo em sua testa. Toquei sua mão uma última vez e a acariciei, tentando gravar aquele toque em minha mente, pois por mais positivo que eu pudesse tentar estar com o destino, eu não sabia se a veria novamente, ou ainda se ela poderia ser minha outra vez.
Levantei da cama e peguei o pacote que estava em cima da minha pequena mala e coloquei na mesinha em frente à cama. Peguei o post it e a caneta que estavam ali para anotações e grudei junto ao presente, uma camisa do Chelsea com meu número.
“Tenho a maior sorte do mundo em ter te conhecido, obrigado por tudo. Eu amo você, .
PS: Quem sabe assim você aposente a sua do Lampard... Inclusive, pede pro Kepa levar pra ele assinar, já que talvez ele se torne técnico dos Blues. Notícia em primeira mão, hein? É o que corre pelos bastidores, segredo nosso.”
“I was getting kinda used to being someone you loved.” 🎶
Por
Classificados para final da Europa League em um semifinal de tirar o fôlego indo para as penalidades com o Eintracht Frankfurt;
Classificados para a próxima Champions League;
Terceiro lugar da Premier League.
Uma grande atuação em todos esses jogos e eu ainda me sentia terrivelmente vazio, de uma forma que eu saberia que não seria preenchida nem mesmo com o troféu da Europa League caso fossemos campeões hoje, afinal, o momento estava chegando e eu não deixava de pensar nisso em segundo nenhum. Durante esse mês eu aprendi que posso ser muito bom em separar certas emoções, mas principalmente em separar meu futebol da minha vida pessoal. Eu consegui continuar jogando em alto nível, mesmo enquanto minha mente ruía a cada dia.
Cada encontro com me fazia ter lembranças desse ano incrível que tivemos juntos, e cada situação nova que aparecia e nos fazia pensar que logo nos separaríamos, gerava um silêncio desconfortável entre nós, algo que nunca acontecia, não era comum entre nós. Continuamos nos vendo normalmente, com exceção de nosso pouco tempo por conta dos milhões de jogos que tive nos últimos dias, o final de temporada é algo extremamente agitado. Ela tentou ir à maior parte dos jogos, até mesmo viajou comigo para o primeiro jogo da semifinal da EL, na Alemanha. Nos jogos que tínhamos em casa, ela levava Bells para que pudéssemos aproveitar todos juntos.
Bells, esse estava sendo o ponto mais complicado de tudo, aquele que tirava meu sono. Depois de conversarmos e ter praticamente me obrigado a seguir com minha carreira, sentamos para conversar com a pequena. acreditou que deveria fazer isso sozinha, mas eu não aceitaria, para mim seria como fugir. Eu sabia que Bells era pequena, e eu sabia que ela poderia achar ruim e chorar naquele momento, mas ela logo esqueceria. Porém, ela sofreria, e o simples fato de ela sofrer nem que fosse por um minuto, destroçava meu coração.
Eu nunca poderia imaginar que em um ano uma criança poderia me trazer a minha melhor versão de todas as formas. Mais do que machucar , eu machucaria Bells junto ao ir embora, e por isso eu não aceitava ainda a ideia de que estava realmente de mudança. Eu poderia jogar a culpa toda em , por ela ter me feito aceitar a proposta, mas não seria justo, eu sabia que ela estava pensando exclusivamente em mim naquele momento, e nada era mais bonito que isso, pois eu sabia que ela estava sofrendo em abrir mão de um sentimento que ela demorara para aceitar.
Bells aceitou bem. Ela soltara algo como “Que legal, o Real Madrid é legal.”, e depois saíra de perto indo brincar com suas coisas. Então eu me aproximei novamente e tentei conversar, dizendo que estava triste em ter que ir embora e ela só falou, “Mas é legal, . Eu prefiro o Chelsea, mas vou ficar feliz de ver o Real Madrid também, o papai disse que se ele morasse na Espanha acompanharia todos os jogos deles que nem o Chelsea. Você vai visitar a gente sempre que puder, né?”. Foi aí que percebi que ela não tinha entendido por completo, e que claro, sendo uma criança, não tinha ainda ideia da distância entre a Espanha e a Inglaterra. Não era algo como do outro lado do mundo, mas não era um percurso de carro de duas ou seis horas, que fosse. Foi então que me afastei com os olhos marejados e se ajoelhou ao lado dela, explicando que eu moraria lá, e que não iríamos mais nos ver como era agora. Ela explicou que iriamos nos separar e foi então que Bells pareceu entender, abraçando a mãe com o sorriso mais triste que eu já havia visto.
Dois dias atrás ela me disse que me acompanharia junto com a mãe. Ela disse que estaria sempre vendo os jogos de casa e torcendo por mim, o que fez meus olhos marejarem e suas pequenas mãos me acolheram, limpando as lágrimas que escorreram em seguida. Aquela garotinha me amava, e eu amava ela de uma forma que nem saberia explicar, era culpa dela aquele ano maravilhoso que tive e o amor que ganhei dele.
Com um pesar gigante e uma bronca, me despedi dos pais de . Tivemos alguns encontros durante aquele mês, onde contamos tudo, nos divertimos, e demos a notícia de que infelizmente eu mal os conhecera e já teria que partir. Augusto ficou extremamente bravo, e disse que sempre soube que magoaria a filha dele, o que levou nosso último encontro ao fim de uma forma triste, brigados. Karen tentou aliviar, disse que sabia que era o certo a fazer, mas ela parecia tão desapontada quanto ele.
conversou com Thea diversas vezes durante esses dias, elas pareciam realmente amigas, o que me fez ter uma pontinha de esperança em nosso futuro. Eu voltaria um dia, eu amava Londres, quem sabe elas ainda fossem amigas e isso fizesse com que nos encontrássemos novamente. Não que, se eu voltasse, eu não teria como prioridade encontrar , mas assim eu poderia fingir que era ao acaso. Eram esses pensamentos que me atingiam durante a noite e me faziam considerar que eu nem sabia quanto tempo ficaria fora e como as coisas seriam para poder considerar um reencontro em algum momento.
Eram esses pensamentos que me atingiam durante a noite e não poderiam estar aqui agora, no vestiário, prestes a entrar em campo em Baku pela final da Europa League contra o Arsenal. Mas eles ficavam cada vez mais em cima de mim, pois hoje era nosso último dia juntos. Daqui, da comemoração ou derrota, eu partiria para Espanha para acertarmos as coisas com o Real Madrid. e Bells estavam aqui, como meu maior apoio, assim como minha mãe, Peter, Thea e as crianças. Eles voltariam para Londres todos juntos, e então para minhas meninas, era um adeus. Eu só queria que aquele jogo nunca acabasse, os 90 minutos poderiam rolar por 900, 9.000, 90.000, eu não me importaria de continuar jogando sabendo que as tinha ali ao meu lado.
Todos estavam concentrados em seus próprios pensamentos, e notei que era hora de deixar os meus de lado quando Sarrí nos chamou para uma conversa incentivadora, ou uma “dura” como eu já esperava. Era incrível estarmos ali, uma sensação indescritível. Não era uma Champions, mas uma final de Europa League contra outro time do “Big Six”, e ainda Londrino, era algo histórico. Quem perdesse esse jogo seria chacota durante um bom tempo, e era o que eu esperava não deixar para o Chelsea. Eu esperava sair dali de cabeça erguida, com uma vitória em minha melhor atuação. Hoje eu encerraria meus sete anos de batalhas por aquele clube, e eu não poderia deixar de me sentir um cara incrivelmente sortudo por tudo que me fora proporcionado. Deixar o Chelsea era algo difícil, ali eu me sentia em casa, como eu sabia que não devia acontecer com qualquer jogador. Aquele se tornara meu time do coração, e foi com esse pensamento que me juntei a todos na roda em uma grande gritaria e então saímos em direção ao campo, prontos para uma partida incrível.
Uma assistência, um pênalti e um gol. Participação em três dos quatro gols feitos em cima do Arsenal. Aquele era um final e tanto para minha história ali. O jogo fora puxado, nós sabíamos que não seria fácil, principalmente pelo fato de termos tirado a vaga na Champions do Arsenal através da Premier League e que aquela seria a chance deles de consegui-la de outra forma. Mas estávamos em um bom dia, e apesar de um jogo de igual para igual com diversas tentativas, tudo mudou aos 49 minutos, quando Giroud fez o primeiro gol. Foi aí que a equipe adversária se perdeu e abriu a brecha para ampliarmos a vantagem com Pedro aos 60 minutos, quando consegui realizar o passe para que ele chutasse para dentro da rede. Aos 64, Giroud foi empurrado na área e sob uma pressão absurda, vendo o grande Peter Cech em minha frente, consegui mais um gol aos 65 minutos, quando ele caiu para o lado contrário ao que eu havia batido.
Aos 68 para diminuir a vantagem, Iwobi bateu de fora da área e Kepa não pode alcançar a bola que acertou o ângulo em um golaço. Eles tentariam ao máximo ainda tirar aquele título de nós, mas não houve tempo suficiente para que eles tivessem esperança, pois aos 71 após uma roubada de bola que passei para Giroud e recebi novamente a bola em meus pés, pude deixar o meu gol, aquele que transformaria as manchetes em “Chocolate Londrino” e outras diversas piadas sobre esse 4x1 em um clássico tão importante quanto aquele.
Era uma atuação e tanto para uma despedida, e eu sabia que após o jogo essas seriam as matérias sobre mim, pois ali, todos já sabiam que eu estava de saída. Não, ainda não havia sido feita a confirmação, mas as coisas corriam de uma forma que não era possível segurar, e eu sabia que podia sair dali confirmando para todos. Aquele havia sido meu último jogo, e os diversos abraços e palavras de carinho que recebi de meus companheiros ao entrarmos no vestiário após toda cerimônia de campeões apenas tornaram aquele momento o mais importante, era uma despedida e tanto. Ainda tínhamos mais comemorações pela noite, todos juntos e com nossas famílias, mas aquele momento era meu e da equipe, os últimos minutos suando aquela camisa em meio a toda champanhe no vestiário.
- Não sei se devemos pedir um discurso ou se você vai chorar se tentar falar. – Willian gritou, fazendo todos olharem para mim.
- Eu provavelmente choro só no pensamento. – dei risada e todos me acompanharam. – Mas não é por isso que vou deixar de no mínimo agradecer por todo o nosso trabalho durante esses anos que estive aqui. Trabalhar com cada um de vocês me fez alguém melhor, vocês me ajudaram a crescer e me tornar o jogador que sou hoje. Agradeço a cada um dentro do Chelsea que me acolheu há anos. Por favor, façam com a pessoa que herde essa camisa a suar muito.
- Não sei quem vai ficar com a camisa, mas se quiser eu posso ficar com a . – Kepa gritou do fundo da roda, me fazendo mostrar o dedo do meio e todos em volta gargalharem.
- Muito cedo para essa piada. – reclamei e ele se aproximou, sendo o primeiro a se posicionar para me levantar com a ajuda de David.
- Campeão! – se aproximou me abraçando apertado e gritando em meu ouvido. – Você foi incrível, eu estou tão feliz. – segurei seu rosto em minhas mãos e lhe dei um selinho, sorrindo logo em seguida.
- Estou feliz que você está aqui comigo. – a abracei novamente, ouvindo-a fungar discretamente.
- Você ganhou, ! – Bells puxou minha blusa, me pedindo para abaixar ao seu lado e jogando seus braços ao redor de meu pescoço. Me levantei com ela em meu colo e a apertei entre meus braços. – Um abraço de urso. – ela riu, fingindo estar sufocada.
- Obrigado por estarem aqui. Eu amo vocês. – fizemos um abraço em grupo e as soltei em seguida para cumprimentar minha família que assistia nosso momento enquanto Bells e abraçavam o resto do time parabenizando a todos.
- Hoje é dia de todo mundo beber, certo? – vi Pedro gritar em meio ao grupo.
- Digo mais, hoje é dia de beber por vários motivos. – Giroud gritou, completando. Ele estava abraçado em sua mulher. – Com respeito às crianças. – todos riram, concordando. – Então vamos lá, pode mandar a primeira rodada. – ele apontou para o bar, que atendeu prontamente com todas as canecas preparadas.
- E, por favor, mais uma vez nossa música. – Azpi gritou para o DJ, que quase prontamente nos colocou para ouvir “We Are The Champions”. Todos fizeram uma roda, um abraçado ao outro, e um coro podia ser ouvido até mesmo de fora do salão. Eu sentiria falta daquilo.
Aos poucos a roda foi se dissipando e grupinhos eram formados, famílias ou os que tinham mais afinidade lado a lado. já tinha um bom relacionamento com todos, assim como algumas outras mulheres, já os demais familiares começavam a se juntar aos poucos com os familiares de outros. Vi minha mãe, Peter e Thea com a família de Caballero. As crianças todas se juntaram e estavam brincando em um canto, sempre com alguém de olho.
Como eu pensei, já tinha um bom relacionamento com todos, mas era óbvio onde ela estava, me fazendo rir. Ela conversava animadamente com a família de Kepa quando me aproximei. Fiquei me perguntando se eles seriam amigos ainda que eu fosse embora, e eu esperava que sim, pois em meio a todas as brincadeiras que tínhamos, a amizade deles me fazia feliz. Era algo surpreendente, mas eles contavam muito um com o outro.
- Espero muito que não se torne sua nora assim que eu virar as costas. – entrei na conversa recebendo um tapa de Kepa no ombro enquanto cumprimentava sua mãe.
- ! – ela riu, me repreendendo.
- Não seria uma má ideia, essa menina é incrível. – eu ri, concordando.
- Sou um homem de sorte. – abracei pelos ombros, a puxando para mim e deixando um beijo em sua testa. – E o homem de sorte poderia roubá-la um pouquinho? – todos assentiram, se despedindo em meio a risadas e piadinhas animadas.
- Você não está bem no espírito de festa, não é? – ela perguntou, entrelaçando sua mão com a minha.
- Nem um pouco. Até queria me divertir, mas acho que já separei as coisas por muito tempo, em um momento não conseguiria mais. – ela concordou. – Não é como se você estivesse muito diferente.
- Compreensível, não? – assenti. – Bells está um pouco sentida, acho que ela sonhou com você essa noite, porque ela acordou te gritando.
- Não precisava me contar isso. Só piora tudo. – senti meu coração apertar e me abraçou.
- Eu precisava te contar para te mostrar o quão importante você é para nós, . – fiz bico e ela sorriu, grudando seus lábios nos meus em um selinho rápido. – Acho que vou ter pesadelos com o Emerson dançando. – ela apontou para rodinha onde eles estavam juntos mostrando alguns passos de dança.
- Acho que todo mundo vai ter pesadelos com isso. – virei meu corpo em direção ao dela novamente. – Podemos ir embora mais cedo? – ela assentiu.
- Só não se esqueça que é também sua despedida do time.
- Tivemos um bom momento no vestiário. – sorri, me lembrando. – Eles não vão se importar, provavelmente meu caminho vai cruzar com muitos deles ainda.
- Já está saindo para um, pensando em ir para algum outro? – ela riu, arqueando as sobrancelhas.
- Acho que não sou assim. Gosto de criar raízes, vou ser um jogador de poucos clubes. – dei de ombros, pensando no assunto. – Só sairei de lá se perceber que as coisas não estão mesmo boas, ou se não tiver opção e quiserem me colocar para fora.
- O que provavelmente não vai acontecer. Você é incrível. – ela apertou minha mão na sua em demonstração de apoio. Sorri agradecido. – Agora vai aproveitar a festa de campeões, você merece. Mais tarde teremos um bom tempo juntos. – assenti e aproveitei que as crianças passavam em nossa frente correndo e as segui, correndo atrás de Bells.
Eu aproveitaria aquela festa com ela, por mais chato e irritante que fosse para as crianças terem um adulto entre elas. Vi o sorriso de em seu rosto e ela negou com a cabeça em desaprovação, pois ela com certeza sabia meus pensamentos e sabia que eu tentaria aproveitar com elas de todas as formas possíveis. Ela então se juntou a mim, ajudando nas brincadeiras com todos os pequenos.
- A gente pode ir? – perguntei para , baixo próximo ao seu ouvido. – Por favor. – ela assentiu, sorrindo triste.
Já havíamos brincado bastante com as crianças, e curtido um pouco o momento com cada grupinho ali. Eu não estava bebendo, assim como , e já não estava mais com vontade de comer também. E desde o começo, minha vontade de festejar era quase igual a 0.
- Vamos nos despedir das pessoas. – ela falou, começando a andar em direção ao grupinho mais próximo de nós.
Passei por cada um ali dando um forte abraço e ouvindo as diversas palavras direcionadas a mim. Alguns conseguiram marejar meus olhos com os sentimentos colocados naquele momento de despedida, outros me fizeram rir em suas grandes estimas de sorte. Demorei um pouco mais com alguns, e uma passada rápida por outros, mas levava de cada um deles, um enorme carinho e respeito.
se despedia de todos eles com o coração apertado. Ela fizera uma grande amizade com todos, e eu ouvia sempre alguém dizer “Não suma da nossa vida, , podemos continuar sendo amiguinhos.”, ela trocou telefones com alguns deles, e com outros já tinha uma maior intimidade, como com algumas namoradas. Vi alguém a chamar para o próximo aniversário, pedindo para que ela já deixasse anotado e ela prometeu que iria, o que me fez rir. Ela ganhou um time de futebol como amigos, ela se entrosou a ponto de se tornar família deles, se tornou parte da equipe. Me sentia feliz de deixar aquilo para ela, e eu sabia que ela estava feliz com as pessoas que levaria dali. Nossa aproximação lhe fizera melhor do que eu poderia imaginar, e isso tranquilizava minha mente, pois entre brincadeiras e brincadeiras, eu esperava que os caras nunca a deixassem sozinha de verdade.
- Se lembre da nossa conversa. – falei a Kepa quando lhe abracei. Ele me encarou e sorriu, assentindo.
- Qualquer coisa, eu te aviso. Vou estar com ela.
- Estou confiando em você. – ele assentiu mais uma vez e bateu continência, brincando.
- Não vou me despedir de vocês, voltaremos todos juntos amanhã para Londres, certo? – vi minha família assentir quando perguntou.
- Vocês vão ficar por aqui? – perguntei a eles.
- Não, já vamos para o quarto também. – minha mãe respondeu com um sorriso de lado.
- Onde está Bells? – Thea perguntou, procurando por ela seus filhos também. Quando a viram chamar, correram até nós. – Pequena, o que acha de uma festa do pijama hoje? – ela passou a mão nos cabelos de Bells, carinhosa.
- Eba! - Ellen comemorou, abraçando Bells.
- Posso, mamãe? – ela perguntou para , que olhou para Thea com um sorriso no rosto, assentindo em agradecimento.
- Claro, meu amor. Vamos subir e pegamos suas coisas, então você pode ir pro quarto com a Ellen. – acenou para todos e andamos até o elevador enquanto minha família se despedia de todos ali para pegar o mesmo caminho.
- Vou te dar seu pijama e a roupa que você deve colocar amanhã, tudo bem? Você quer mesmo dormir lá? – Bells assentiu e se sentou na cama ao meu lado enquanto mexia em sua mala. Ela entregou as coisas da filha em uma pequena bolsa que a menina colocou nas costas.
- Devo me despedir, certo? – falei em silêncio para , apenas movimentando meus lábios. Ela assentiu, deixando a tristeza tomar sua expressão.
- Ei, pequena. Amanhã eu vou embora cedo, então preciso te dar tchau hoje, tudo bem? – ela assentiu, tirando a bolsa de suas costas e me abraçando. – Promete que vai cuidar da mamãe? E que vai obedecê-la, e ser a criança mais estudiosa do mundo?
- Prometo, . Você não vai esquecer a gente, né? Por favor. – ela fez bico e vi seus olhos se encherem de lágrimas, partindo meu coração.
- Nunca, Bells. Vou sempre estar de olho em vocês, tá? Vou ver todas as suas fotos no Instagram, e vou sempre acompanhar vocês de longe, eu prometo. A gente ainda se vê, tudo bem? Só não me esquece. Eu amo você, princesa. E prometo que vou cuidar muito bem da Lola, do jeito que você me ensinou. – beijei a testa dela e senti seus bracinhos me apertarem ainda mais.
- Te amo, . Cuida da mamãe hoje, tá? Ela tá muito triste. – ela sussurrou em meu ouvido e vi torcer o nariz.
- Dedo duro. – ela resmungou para filha, a abraçando pelos ombros e andando até a porta para levá-la para o quarto de Thea, que ficava em nosso corredor também.
- Tchau, . – acenei para ela e quando fechou a porta deixei meu corpo relaxar, me jogando de costas na cama. Não tinha algo mais doloroso que aquilo.
- Não vai ficar tudo bem. – resmunguei quando abriu a porta. – Eu sei que você vai falar isso.
- Em algum momento você melhora. – senti o corpo dela afundar na cama ao lado do meu. Eu estava de bruços, então ela se apoiou no travesseiro ao meu lado e colocou sua mão em minha cabeça, acariciando meus cabelos.
- Esse algum momento parece que nunca vai chegar. Ela vai ficar bem, né? – perguntei, me referindo à Bells.
- Claro, . Ela é uma criança, isso logo passa. Ela vai ficar um tempo perguntando, mas ela vai se acostumar.
- As vezes acredito que ainda não chorei o suficiente e que preciso disso para acreditar. Sou muito mole, não sou? – a encarei e ela assentiu, rindo.
- Brincadeira. Eu também não chorei tanto assim ainda. Você é chorão e eu sei, então não te julgo. – ela deu de ombros, e eu revirei os olhos, rindo.
- Vou sentir falta disso. Você é tão incrível. – deitei em seu colo e ela continuou passando sua mão entre meus fios de cabelos. – , você vai arrumar outra pessoa logo.
- . Que pensamento para se ter essas horas. – ela parou o movimento que fazia com as mãos e me encarou.
- Eu só estou pensando que você é incrível e não é possível que você não arrume alguém super-rápido. Eu tô me sentindo carente, começo a ter pensamentos assim, minha mente está divagando. – sorri, fazendo-a rir.
- Eu vou sentir tanto a sua falta, . Não consigo parar de pensar nisso por um segundo sequer. Vou sentir falta de cada momento que a gente tem, e cada mania. Vou sentir saudade desse sorriso lindo, de fazer carinho no seu cabelo, das suas risadas, das brincadeiras sem graça, do seu cuidado com a Bells, de você rolando no tapete com a Chelsea em casa. Vou sentir falta de tudo que você trouxe para minha vida.
- Se eu começar a chorar, a culpa é completamente sua. – me levantei de seu colo, me sentando encostado na cabeceira da cama e puxando seu corpo junto ao meu, deitando sua cabeça em meu peito enquanto entrelaçava nossas mãos. – Eu também vou sentir falta de tudo que a gente teve nesse tempo, . Eu queria que essa noite durasse pra sempre, você não tem ideia.
- , você brincou que eu arrumaria alguém logo, então eu tenho que aproveitar e tratar um assunto muito sério com você. – ela se sentou de frente para mim, nos afastando e me fazendo arquear as sobrancelhas.
- Não vai me dizer que já tem alguém, né? – ela deu de ombros, deixando sua expressão séria.
- Você sabe quem é. – ela comentou, me fazendo arregalar os olhos. – Eu ‘tô brincando , pelo amor de Deus. – ela gargalhou e eu me joguei em seu colo, rindo junto. – Mas, o assunto ainda é verdade. Você me promete que não vai deixar as oportunidades passarem?
- Não estou deixando o Real Madrid passar, o que eu deixaria? – eu ri, sem entender.
- Pessoas, . – ela rolou os olhos.
- Ah, . Depois eu que tenho pensamentos estranhos para essas horas, não?
- Eu estou falando muito sério.
- Eu não vou deixar. – resmunguei apenas na intenção de cortar o assunto.
- . – estávamos há alguns minutos sem dizer nada, apenas juntos revezando quem dava colo um ao outro. – Me diz uma coisa, você se arrependeu?
- Como assim, ? – ela perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Você tinha medo de se arrepender, com medo de que apostar em mim fosse te machucar. Você se arrependeu? – me levantei, encarando-a. Ela pareceu ponderar, abrindo um sorriso.
- De forma alguma. Você não me dá motivos para que eu me arrependa. Você não está me machucando, sabemos que é o que deve acontecer e pronto. Estamos nos separando por algo que precisava acontecer e minha mente continua tranquila com isso.
- Estava com medo de ouvir um “sim”, você não tem ideia. – sorri e ela se aproximou, me dando um selinho.
- Podemos continuar não fazendo dessa despedida um momento triste? – ela perguntou, deitando seu corpo por cima do meu.
- Podemos, inclusive, temos algo mais legal para fazer. – coloquei minha mão em sua cintura, a puxando ainda mais para mim. Suas pernas se abriram de forma que ficaram uma de cada lado do meu corpo e ela sorriu para mim, se aproximando para me beijar.
Acordei inconscientemente cinco minutos antes do meu despertador. Fiquei extremamente feliz com isso, pois ele provavelmente faria acordar, e eu não sei se teria estômago para ouvi-la dizer “tchau” pela última vez.
Me levantei da cama lentamente e fui até o banheiro para tomar um banho e tentar relaxar a tensão de meus ombros. Nossa noite fora incrível, mas parecia já demonstrar a saudade entre nós e isso continuava partindo meu coração, assim como sabia que partia o dela.
Sai do banho e mandei uma mensagem para Thea e para minha mãe, para que pudéssemos nos despedir. Elas sabiam que eu sairia cedo, então combinamos um horário para que não acordássemos as crianças. Recebi um “Estamos indo até aí.” e em seguida já sai do quarto, fechando a porta lentamente.
- Tá preparado? – Peter perguntou, sorrindo.
- Pro novo time? Sim. Para deixar o que tenho aqui? De forma alguma. – sorri triste e vi os olhares dos três focados em mim. – Logo vocês vão me visitar, né?
- Mês que vem estou lá com você. – minha mãe falou, sorridente. – Tenha uma boa viagem e boa sorte com as novidades. – ela me abraçou. – Lembre-se que tenho muito orgulho de você.
- Todos nós temos. – Peter me abraçou também, dando tapinhas em minhas costas. – Assim que eu pegar férias iremos para lá.
- Vou estar esperando. Mas, logo estou por aqui também. Sempre que possível. Dê um beijo nas crianças por mim, inclusive na Bells. – ele assentiu, sorrindo.
- Nós amamos você, , você vai ter um grande sucesso. Me orgulho de você, da sua carreira, você é o melhor. – Thea falou próximo a mim, me abraçando em seguida. – Mesmo de longe estaremos com você.
- Cuida dela, por favor. Não a deixe sozinha, sei que vocês ainda serão amigas.
- Claro que vamos ser. Estarei aqui do lado dela sempre que ela precisar, e ao seu lado também. Não se preocupe, vocês irão superar. – fiz bico e ela sorriu, apertando minhas bochechas. – Vai lá terminar de arrumar suas coisas. – assenti e abracei rapidamente todos eles mais uma vez.
Entrei no quarto novamente e fechei a porta devagar. Encarei minhas malas prontas no canto, próximas à mesinha. Encarei deitada, sua respiração fazendo seu corpo subir e descer e os pedaços expostos de sua pele arrepiados com o vento gelado do ar-condicionado. Respirei fundo e olhei o horário, sabendo que eu teria que ir.
Me aproximei da cama e com um aperto no coração me abaixei, deixando um beijo em sua testa. Toquei sua mão uma última vez e a acariciei, tentando gravar aquele toque em minha mente, pois por mais positivo que eu pudesse tentar estar com o destino, eu não sabia se a veria novamente, ou ainda se ela poderia ser minha outra vez.
Levantei da cama e peguei o pacote que estava em cima da minha pequena mala e coloquei na mesinha em frente à cama. Peguei o post it e a caneta que estavam ali para anotações e grudei junto ao presente, uma camisa do Chelsea com meu número.
“Tenho a maior sorte do mundo em ter te conhecido, obrigado por tudo. Eu amo você, .
PS: Quem sabe assim você aposente a sua do Lampard... Inclusive, pede pro Kepa levar pra ele assinar, já que talvez ele se torne técnico dos Blues. Notícia em primeira mão, hein? É o que corre pelos bastidores, segredo nosso.”
“I was getting kinda used to being someone you loved.” 🎶
Capítulo 21
“If today I woke up with you right beside me like all of this was just some twisted dream, I'd hold you closer than I ever did before and you'd never slip away [...] ‘Cause I'm not fine at all." (Amnesia – 5 Seconds of Summer)
Londres, novembro de 2020.
- Bells, vamos? Vou te deixar na vovó. – falei chamando minha filha que estava deitada esperando que eu terminasse de arrumar suas coisas.
- Eu vou dormir lá? – ela questionou, vindo em minha direção. Eu assenti, pegando sua mão e caminhando até a porta.
- Amanhã de manhã eu pego você, tudo bem?
- Sim, gosto de ficar com a vovó e o vovô.
- E lembra o que te falei.
- Falar português para não esquecer. – ela falou pausadamente e rolou os olhos, o que me fez rir. 7 anos e um gênio absurdo, aquela menina só podia ser minha filha mesmo.
- Ei, tudo bem? - me aproximei da mesa, sorrindo para Thea que se levantava para me abraçar.
- Aí que saudade, ! Você não pode me negar assim, okay? Eu gosto demais de você. – me sentei em sua frente, respirando fundo.
- Me perdoa, tive um momento difícil. – sorri de lado, vendo-a assentir mostrando que entendia.
- Se me permite dizer, não só você. – suspirei, imaginando que ele com certeza havia sofrido tanto quanto eu.
Havia se passado pouco mais de um ano, e mesmo que fosse um ano inteiro sem nos vermos, e tantas coisas tenham acontecido, era como se fosse muito recente. Nunca imaginei que fosse passar por uma fase tão ruim, fui tão adulta ao tomar a decisão. Quando me divorciei tudo pareceu tão mais descomplicado, e eram anos de convivência com Michael, mas me separar de havia sido incrivelmente doloroso. Eu senti falta de conversar com ele todos os dias, eu ainda sentia. Eu acompanhava notícias dele pela internet, era impossível não vê-las. Sua primeira temporada lá não havia sido boa, mas agora estava melhor e ele ao menos parecia feliz.
Algumas notícias suas me faziam sorrir. Ele usava uma chuteira azul, um azul que claramente o lembrava de casa, o lembrava do time que ele havia passado sete anos. Time que agora estava entre os cinco primeiros no campeonato, na briga por uma vaga na próxima Champions League e era comandado pelo ídolo Frank Lampard, como ele me falara no bilhete que deixou no dia em que foi embora.
Ele já havia dado declarações sobre como ficava feliz por ver a boa fase do Chelsea, afinal, todos diziam que esse não seria um bom ano por causa das complicações como sua saída, e a penalidade de não realizar contratações. Mas os meninos, muitos da base, estavam dando conta, e jogavam com toda sua raça, eles davam seu coração ali no campo.
Eu ainda era próxima do time e conhecia os meninos novos, essa foi uma herança que ficou, apesar de sempre me sentir uma intrusa entre eles e ser um momento em que a falta que sentia de aumentava. Por um tempo tentei me manter longe, mas Kepa havia insistido que eles sentiam saudades, e eu deveria tentar, valia a pena conhecer o pessoal novo.
Kepa foi minha salvação nesse ano que havia se passado. Ele me visitava sempre que podia, me fazia ir em alguns jogos com Bells e nós conversávamos bastante pelo telefone. Ele era um grande amigo e eu tentava não choramingar cada vez que pensava que em algum momento ele também iria embora, com certeza. Esse era o mal em estar fazendo amizade apenas com jogadores de futebol, eu sempre os perderia.
Bom, mais ou menos, David Luiz me irritou absurdamente ao ir para o Arsenal, mas nossa amizade se manteve. Acredito que em partes por eu amar sua namorada e termos virado amigas, pois eu quase o soquei ao ver a notícia. ir para o Real Madrid, tudo bem, mas sair do Chelsea para ir para o rival? Pena de morte. Atualmente os meninos o aceitam por perto, mas nos primeiros meses as coisas ficaram um pouco caóticas.
Eu havia feito novas amizades também, apesar de ser muito novo, Mount havia me conquistado. O garoto era incrivelmente educado e parecia ter uma mentalidade muito mais velha que seus 20 anos. Tínhamos 10 anos de diferença, mas nos demos muito bem e eu agora o considerava um bom amigo. Apesar de não ser tão próxima, gostava bastante de Pulisic também, ele era extremamente engraçado e conseguia animar qualquer um. Uma coisa que não mudava nas conversas de todos, principalmente entre os mais jovens, era a admiração por . Ele saíra do time aplaudido e continuaria sendo, então era sempre impossível evitar ouvir sobre ele.
Passei por alguns momentos engraçados nas primeiras vezes que me convenci a reencontrar o time, pois todos acreditavam que eu estava com Kepa, até que percebi em uma das vezes se referirem a mim como sua namorada, já que ainda não havia me enturmado com os novatos e eles não me conheciam. Kepa riu, me encarando e fazendo cara de nojo para todos, que o olharam sem entender. Ele então soltou um “Eca, somos só amigos.” e antes que ele pudesse completar a frase, todos nos olhavam maliciosamente com expressões de “Sei, só amigos.” até que eu entrei na roda e soltei a frase “Sou ex-namorada do .” fazendo todos se calarem e me encararem sem saber se falavam alguma coisa ou deixavam para lá. Kepa riu e Pulisic foi o primeiro a quebrar o momento com “Caraca, e ele preferiu o Real Madrid?” o que fez todos gargalharem, até mesmo eu. E então todos começaram a me encher de perguntas e foi assim que me aproximei até mesmo da nova turma.
- E como você está agora? Da última vez que nos vimos você estava bem, e então passou por uma fase ruim, agora está bem de novo? E de vez? – Thea perguntou.
- Sim, nada vai mudar o que senti, mas acho que um ano foi um bom tempo para mim. Estou naquela de guardar as memórias com carinho. Mas nossa, que situação, dou risada em me ver assim, fui tão cabeça no momento que achei que nem ia sentir. E olha eu aqui, um ano depois ainda falando sobre isso. – respirei fundo, rindo.
- E como está o resto da vida? A farmácia, seus pais, a Bells...
- Todos bem, inclusive, sobre a farmácia, estou pensando em abrir uma outra próxima de casa. Acho que vai ser uma boa, falta uma por ali. – Thea assentiu, concordando. – Meus pais estão bem, e Bells continua me enlouquecendo tanto quanto há um ano. As vezes fico pensando que faltam apenas 11 anos para os 18 anos dela, mas depois sei que vou me arrepender quando eles chegarem. – dei de ombros e ela gargalhou, me chamando de malvada. – Ela me deixa doida, Thea.
- Eu sei, Ellen é assim também.
- E como ela está? E todos, na verdade. Vi sua sogra uns dois meses atrás, coincidentemente, mas depois saímos para jantar.
- Ela me contou, com o maior sorriso do mundo no rosto. Apenas um pequeno contato e ela já se apaixonou por você, . Acho que ela mal te conheceu e já sentiu sua falta, você encanta qualquer um. Bom, as vezes acho que é a Bells, e não você, mas a gente releva, né? – mostrei a língua para ela e a vi dar de ombros. – Todos estão bem, estamos nos preparando para ir para Espanha no final do ano, as crianças estão animadas.
Entrei no carro após passar horas conversando com Thea. Como ainda estava cedo pensei em passar para pegar Bells na minha mãe, mas senti que precisava de um momento sozinha, então logo peguei o caminho de casa.
Abri a porta e logo fui recepcionada por Chelsea pulando em meu corpo. Me abaixei e a acariciei, brincando um pouco com seus pelos que estavam longos. Fechei a porta atrás de mim e sem pensar em fazer mais nada, joguei meu corpo no sofá e alcancei o controle remoto ligando a TV.
Peguei meu celular e comecei a rolar meu feed no instagram, parando em uma foto dele, o que eu evitava fazer desde sempre. Mas senti que depois da conversa com Thea, era o que eu precisava para seguir em frente. Abri seu perfil e então comecei a mexer, vendo todas suas fotos recentes e seu sorriso com a camisa branca e dourada do Real Madrid. Sorri junto ao ver sua felicidade, mesmo com a má fase que havia passado, pois era impossível não acompanhar as notícias e não saber quão ruim a equipe merengue estava na temporada anterior. Vi alguns resultados e alguns vídeos de gols que ele fizera recentemente, onde o time iniciara bem no campeonato e com muitas vitórias, e vi também suas fotos passeando por Madrid.
Respirei fundo ao ver sua foto com a legenda “verdade ou desafio” ainda ali entre suas coisas. Ele não deixaria tudo pra trás, eu sabia disso, e era algo que me fazia suspirar. Ele ainda me fazia suspirar. A quem eu estava tentando enganar, um ano com ele havia sido algo extremamente grande e importante, porque eu tentava me convencer que um ano sem ele seria simples e suficiente para deixar tudo para trás. Encostei minha cabeça no sofá e me deixei descansar pensando em nossos bons momentos.
Me deixei levar por meus pensamentos e comecei a considerar como seria se ele não tivesse ido, se ainda estivéssemos juntos. Mais um ano teria se passado, e com certeza muita coisa estaria acontecendo. Pensei o quão bom seria se ele estivesse ali para me ajudar no dia da primeira briga de Bells na escola, apesar de as vezes acreditar que ele a defenderia. Pensei como seria legal se fôssemos ter mais um ano novo juntos, ou como seria engraçado se dessa vez ele me acompanhasse no Natal invés de ficarmos em uma videochamada durante a noite. Havíamos perdido tantas coisas por ficarmos pouco tempo juntos que parecia injusto.
Mais uma vez eu me lembrava que tinha tomado a decisão certa, e eu não duvidava disso por um minuto sequer, mas algumas vezes eu imaginava como seriam as coisas se ele estivesse aqui. Ele estaria feliz? Acho que essa é a maior das minhas inúmeras hipóteses. Peguei meu celular novamente e respirei fundo. Durante todo esse tempo não havíamos nos falado, pois por fim, havíamos combinado cortar completamente nossa relação, já que assim com certeza seria mais fácil de deixar pra trás. Não que estivesse funcionando muito também. Abri seu contato e suspirei, encarando o símbolo de videochamada ao lado de sua foto. Aquilo não era certo, e se ele já estivesse melhor? Thea dissera que ele também passou por um período difícil, mas e se nesse momento ele estivesse recuperado e eu me decepcionasse mais?
Eu me deixaria ser fraca uma vez, eu não me importava de demonstrar isso naquele momento, eu precisava. Sem considerar nenhuma outra vez, apertei no símbolo que me encarava de volta e vi sua foto ampliar-se na tela enquanto ouvia os toques da chamada, aquele “Tuuu” irritante que me deixava ansiosa.
“There's a lot of things that I may not know, but missing you baby is the only thing I know." (Paper Hearts – The Vamps)
Espanha, novembro de 2020.
Me joguei no sofá pensando o quanto queria que essa temporada fosse incrível para mim. Ela já estava melhor que a anterior, sem dúvida alguma, mas eu buscava por mais. Eu esperava que o Real Madrid se tornasse uma casa tão boa quanto o Chelsea, esperava me destacar a ponto de ao menos concorrer a melhor do mundo. Seria hipocrisia dizer que não eu pensava nisso, todo jogador sonha com tal reconhecimento e eu não seria diferente.
Havíamos ganhado do Atlético de Madrid hoje, e nada poderia trazer uma sensação tão boa quanto vencer um clássico. Não havia feito gols, mas duas assistências foram minhas e sabia que isso já seria reconhecido, pois comparado à temporada anterior, aquilo era um avanço gigantesco. Ri sozinho me lembrando do fiasco que fora minha primeira temporada ali e quanto todos falavam que eu não deveria ter saído dos Blues. Mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa, por mais que eu tivesse meus motivos para demorar a perceber. Assim como eu sabia qual era o motivo da péssima temporada, um péssimo foco, ou melhor, quase nenhum.
Foi uma temporada difícil, eu me foquei nos treinos e me focava nos jogos, mas nada parecia ser suficiente pra suprir meu estado emocional, e eu sabia que isso atrapalhava. No começo minha mãe ficou comigo mais do que ela havia planejado, ela estava lá para me apoiar, mas quando Thea decidiu viajar com meu irmão para minha casa pela primeira vez todo o bom trabalho que eu vinha fazendo em tentar ignorar foi por água abaixo, afinal, eu havia perguntado como estava e ela fora sincera.
Ela me contou que ela e Bells estavam bem, estavam aceitando os fatos, mas que ao conversar era possível perceber que estava num estado tão deplorável quanto o meu. Era engraçado pensarmos que isso não aconteceria, fomos extremamente maduros, mas nem toda maturidade do mundo poderia esconder a tristeza de deixar alguém que se ama e seguir em frente. Ainda mais quando não houve um conflito sequer para isso.
Durante esse período eu saí bastante. Estava sempre bem acompanhado dos caras do time, havia feito ótimas amizades e reencontrado pessoas como Courtois, com quem já havia jogado no Chelsea. A festa para minha chegada havia sido grande e eu me orgulhava, mas também trouxera grandes expectativas que começavam a ser atendidas agora. Mas foi um tempo que tive para me ajeitar ali e criar os laços com as pessoas, me entrosar fora do campo trouxe uma mudança para dentro dele.
Sempre me misturei bem com todos, saindo com os caras que tinham família e também para curtir com os solteiros, mas percebi que ali algumas coisas eram diferentes, pois não era sempre que essas duas turmas se misturavam como fazíamos em Londres. Conheci algumas garotas, fiquei com uma ou outra, mas esse não era meu foco ali e não me importei em assumir isso para mim mesmo.
Tinha algo que me confortava todos os dias ao chegar em casa, mesmo que eu estivesse nos piores, era algo que eu sabia que durante muitos anos não me deixariam esquecer minhas meninas. Era só entrar em meu apartamento que minha pequena cachorra de pelos pretos e olhos caramelo vinha pular em minhas pernas com a maior alegria de todas. Ela havia se acostumado bem na Espanha, mas eu tinha certeza que ela preferia no ano anterior quando podia ver Bells algumas vezes. Lola era minha grande parceira, ela andava comigo pela casa toda, fazia bagunça, me fazia rir, e sempre me aproximava de lembranças que por mais que agora fossem doloridas, eu jamais gostaria de esquecer. Foi ela quem me apresentou a e Bells, então um pedaço daquela história sempre estaria comigo, mesmo que não fosse para terminar da forma como eu ainda torcia.
Vi a mensagem de Thibaut chegar, comentando sobre a comemoração que teríamos dali algumas horas. Fechei meus olhos e joguei o celular no outro lado da cama, não estava no espírito, ia ficar acompanhado da televisão, Lola e algum petisco dessa vez. Me levantei e andei até a sala, me jogando no sofá e adormecendo mais rápido do que eu esperava com a cachorra jogada aos meus pés.
Acordei com meu telefone tocando e corri até o quarto para pegá-lo, imaginando que seria um dos caras me enchendo o saco por não ter aparecido. Quando consegui alcançar o aparelho, o mesmo já havia parado de tocar, então o peguei e andei até a sala, buscando pela chamada perdida e localizando duas. Uma era de Isco, que com certeza estaria me xingando, e a outra era a chamada mais estranha que eu poderia esperar. Quando li o nome de na tela eu pisquei duas vezes e tentei limpar os olhos com as mãos, para garantir que não estava lendo nenhuma letra errada. Considerei se ela teria ligado errado, mas antes que pudesse acreditar nisso já estava ligando de volta para seu número também no modo de vídeo.
- Achei que você não queria atender. – ela falou rapidamente quando atendeu a ligação. Encarei seu rosto que aparecia naquela tela e vi que nada havia mudado. Seu rosto estava exatamente igual, seu cabelo era o mesmo, apenas um pouco mais longo, seus olhos ainda tinham a mesma coisa que me fizeram me apaixonar. Suspirei e respirei fundo antes de falar.
- Não foi uma ligação errada, então? – perguntei, vendo-a negar.
- Eu precisava disso, desculpa. Estou sentindo sua falta mais do que o habitual, jantei com a Thea hoje. Mas realmente achei que você poderia não me atender.
- Eu nunca deixaria de te atender, . Eu estava dormindo no sofá, corri pro quarto para pegar o telefone, mas não deu tempo. Também senti muito sua falta hoje, acho que os pensamentos estavam sendo transmitidos.
- Talvez estivessem.
Ficamos em silêncio apenas encarando um ao outro. Aquele celular parecia piorar toda a situação no meu peito e eu só conseguia pensar em quanto queria estar ao lado dela, apenas segurando sua mão e sentindo seu cheiro. Pensei o quanto queria colocar uma blusa e uma calça numa mochila qualquer e correr até o aeroporto para pegar o próximo avião para Londres e apenas abraçá-la. Sorri com essa possibilidade e com a possibilidade de chegar lá e apanhar da mulher, com toda certeza.
- E esse sorriso? – ela riu, apontando para tela.
- Desculpa, um momento de felicidade. Tava pensando o quanto eu ia apanhar se pegasse o próximo avião para Londres só para te ver. Não ligaria de apanhar por isso.
- Mas você iria, você sabe, né?
- Com certeza. – eu sorri novamente, não conseguindo tirar minha expressão de bobo do rosto.
- Como você está, ?
- Depende. – dei de ombros, vendo ela rolar os olhos na imagem.
- Se fosse para me deprimir mais, eu nem teria ligado.
- Certo, então. Eu estou bem. As coisas vão bem nessa temporada, em comparação com a primeira, me instalei bem aqui, meu apartamento é legal, os caras do time são legais. Ainda não consegui me sentir exatamente em casa, mas quem sabe um dia. E você, está bem?
- Para começar, em comparação com a primeira temporada acho que qualquer coisa pode ser melhor, não? Considerei até a ideia de que você tinha sido abduzido, decidi até procurar seu talento no meu bolso para ver se você não tinha deixado aqui.
- Engraçadinha você, né? Aí ficou só o coração mesmo, . – ela rolou os olhos, rindo enquanto sua bochecha tomava um tom envergonhado. – E não foge da minha pergunta, e você?
- Estou bem, as coisas estão bem. Minha rotina continua a mesma, sem muita novidade. Bells está ótima, passou por uma fase difícil na escola, ficou um pouco rebelde, mas já voltou ao normal.
- Fico imaginando a Bells em uma fase rebelde, ela é um doce, .
- Não estou exagerando, você conhece o gênio dessa menina, quando ela usa pro lado errado as coisas se complicam.
- Claro que eu conheço o gênio dela, ela parece pouco com a mãe? – ela rolou os olhos e riu, deitando e apoiando o celular em sua frente. – Você tá linda como sempre. Eu sinto tanto sua falta, desculpa, eu preciso falar. Eu sinto sua falta todos os dias, sinto falta de como as coisas eram aí, fico imaginando como seriam se eu ainda estivesse ai, já estaríamos no caminho para dois anos de namoro, eu ainda não consegui desapegar, parece impossível. Me sinto uma criança.
- Ah, . – ela respirou fundo e vi seus olhos marejarem. – Eu me sinto da mesma forma, tento levar as coisas na brincadeira, meus próprios pensamentos, mas as vezes é tão difícil. Mas sei que vamos superar. Saiba que penso em você o tempo todo também, mesmo que já tenha se passado um bom tempinho. É engraçado, as vezes parece diminuir, então passo em algum lugar ou vejo alguma coisa e parece que tudo aumenta de novo. Eu guardo você no coração com muito carinho, e por isso decidi ligar, antes de tudo você foi meu amigo, um alguém que eu nunca tinha tido na vida, alguém para contar estando em um relacionamento ou não. E sabe o melhor? Por sua causa hoje tenho pessoas com quem sei que posso contar, e eu acho que precisava te agradecer de alguma forma.
- Se eu começar a chorar você pode ignorar, por favor? – falei, rindo. Ela assentiu com um sorriso no rosto. – Eu fico feliz de ter te deixado algo, , porque você me deixou muita coisa. Sinto que mudei muito com você, passei a ver as coisas de outra forma, e isso me fez crescer ainda mais, mesmo que eu nunca tenha sido exatamente o jovem inconsequente que todos esperavam que eu fosse. Você ainda fala com o time? – perguntei, curioso.
- Sim, eu tentei fugir, mas Kepa não deixou. Ele me apresentou pro pessoal novo, foi engraçado, acharam que a gente namorava.
- Você e ele? – falei, rindo.
- Sim, foi hilário quando contei que na verdade era sua ex-namorada. Você sabe, tem bastante menino novo, você é uma lenda. Lampard é uma lenda que está lá, e você é a lenda mais recente que saiu de lá, vocês são venerados por eles.
- Meu ego vai lá em cima sabendo disso. Alguma criança se jogou para cima de você? – arqueei as sobrancelhas e ela riu, sabendo que eu estava brincando. – E eles são legais?
- Muito, me sinto muito de fora algumas vezes, mas tenho uma boa amizade com alguns. Willian estava falando o quanto sente sua falta também esses dias, disse que espera ansiosamente pegar vocês em alguma competição. Achei que vocês manteriam contato.
- Algumas vezes a gente até se fala, mas não é sempre, é complicado. – dei de ombros e ela assentiu, compreendendo.
- E o time aí?
- É uma boa equipe, gosto do pessoal, mas confesso que acho tudo muito diferente. Foi o que falei para minha mãe esses dias, ainda não me sinto em casa.
- Em algum momento vai sentir, eu tenho certeza.
- A Bells não tá aí, né? – ela negou com a cabeça.
- Ela ficou na minha mãe para que eu e Thea pudéssemos conversar. Mas você sabe, não seria muito bom para ela.
- Eu sei. Ando pelos lugares e vejo diversas coisas que me lembram ela. Sabe aquelas cenas de filme em que a pessoa vai andando pelos lugares e vendo as coisas, e vai passando alguns flashbacks que fazem com que ela perceba que está arrependida? É engraçado, as vezes me sinto nessas cenas enquanto ando por aqui e penso “caramba, a Bells ia adorar esse lago”, “imagina se ela visse essa roda gigante?”
- Agora ela diminuiu a intensidade, mas no começo para tudo ela falava de você. Ela contava para todo mundo várias vezes todos os lugares que a gente foi, sobre os jogos e como você era incrível, acho que as pessoas estavam enjoando mais da saudade dela do que quando ela falava enquanto você ainda estava aqui. Uma vez achei que minha mãe ia dar um remédio para ela dormir para que ela parasse de falar um pouco.
- Seus pais me odeiam? – perguntei subitamente, antes que pudesse pensar em guardar aquela dúvida para mim.
- Claro que não, . – ela respondeu, prontamente. – Meu pai ficou um tanto quanto chateado e não vou mentir, tive que ouvir um “eu te avisei”, mas ele me apoiou. Ele sabia que por mais que fosse o momento da sua vida, a decisão conseguia ser mais minha te empurrando do que sua desesperado para ir, ele me conhece. Minha mãe queria que eu fosse atrás, falou que seria legal morar na Espanha, ela é louca. Ela te adora, não guarda mágoas, fique tranquilo. – soltei o ar que estava segurando e ela riu.
- E o Michael? – perguntei, curioso e ela gargalhou, me fazendo ficar sem entender.
- , foi incrível, você tinha que ver quando cheguei de Baku. Ele veio até aqui em casa buscar a Bells, eu mal abri a porta e ele soltou um “, como você não me contou que ele iria sair do time? Isso é o tipo de informação que não se esconde de alguém que você sabe que é louco pelo time. Você podia ter me contado.” – ela imitou a voz de Michael, me fazendo rir. - Eu o encarei e respirei fundo, então ele percebeu que estava surtando e me perguntou se eu estava bem, como ficariam as coisas entre nós, mas tudo com muito respeito. Ele desistiu da ideia maluca de voltarmos, e você não sabe, ele está namorando com a Mandy, que era professora da Bells.
- Fico feliz que ele tenha seguido em frente, ele não é ruim, acho que aquele foi só um momento de loucura por pensar que estava te perdendo de vez. – dei de ombros e ela concordou. – , obrigado por isso.
- Obrigada por ainda ser o mesmo, por não ter desligado na minha cara ou qualquer coisa assim. – ela sorriu e eu rolei os olhos.
- Queria te abraçar agora. – falei aleatoriamente.
- Eu também queria. – a vi suspirar e seus olhos mostravam-se tão chateados quanto os meus.
“Mal chegou ao Real Madrid e Eden Hazard já promete que voltará ao Chelsea. O astro belga foi flagrado conversando com um torcedor do clube inglês e confessou que, assim que terminar o que precisa fazer na Espanha, pretende retornar ao Chelsea”
Londres, novembro de 2020.
- Bells, vamos? Vou te deixar na vovó. – falei chamando minha filha que estava deitada esperando que eu terminasse de arrumar suas coisas.
- Eu vou dormir lá? – ela questionou, vindo em minha direção. Eu assenti, pegando sua mão e caminhando até a porta.
- Amanhã de manhã eu pego você, tudo bem?
- Sim, gosto de ficar com a vovó e o vovô.
- E lembra o que te falei.
- Falar português para não esquecer. – ela falou pausadamente e rolou os olhos, o que me fez rir. 7 anos e um gênio absurdo, aquela menina só podia ser minha filha mesmo.
- Ei, tudo bem? - me aproximei da mesa, sorrindo para Thea que se levantava para me abraçar.
- Aí que saudade, ! Você não pode me negar assim, okay? Eu gosto demais de você. – me sentei em sua frente, respirando fundo.
- Me perdoa, tive um momento difícil. – sorri de lado, vendo-a assentir mostrando que entendia.
- Se me permite dizer, não só você. – suspirei, imaginando que ele com certeza havia sofrido tanto quanto eu.
Havia se passado pouco mais de um ano, e mesmo que fosse um ano inteiro sem nos vermos, e tantas coisas tenham acontecido, era como se fosse muito recente. Nunca imaginei que fosse passar por uma fase tão ruim, fui tão adulta ao tomar a decisão. Quando me divorciei tudo pareceu tão mais descomplicado, e eram anos de convivência com Michael, mas me separar de havia sido incrivelmente doloroso. Eu senti falta de conversar com ele todos os dias, eu ainda sentia. Eu acompanhava notícias dele pela internet, era impossível não vê-las. Sua primeira temporada lá não havia sido boa, mas agora estava melhor e ele ao menos parecia feliz.
Algumas notícias suas me faziam sorrir. Ele usava uma chuteira azul, um azul que claramente o lembrava de casa, o lembrava do time que ele havia passado sete anos. Time que agora estava entre os cinco primeiros no campeonato, na briga por uma vaga na próxima Champions League e era comandado pelo ídolo Frank Lampard, como ele me falara no bilhete que deixou no dia em que foi embora.
Ele já havia dado declarações sobre como ficava feliz por ver a boa fase do Chelsea, afinal, todos diziam que esse não seria um bom ano por causa das complicações como sua saída, e a penalidade de não realizar contratações. Mas os meninos, muitos da base, estavam dando conta, e jogavam com toda sua raça, eles davam seu coração ali no campo.
Eu ainda era próxima do time e conhecia os meninos novos, essa foi uma herança que ficou, apesar de sempre me sentir uma intrusa entre eles e ser um momento em que a falta que sentia de aumentava. Por um tempo tentei me manter longe, mas Kepa havia insistido que eles sentiam saudades, e eu deveria tentar, valia a pena conhecer o pessoal novo.
Kepa foi minha salvação nesse ano que havia se passado. Ele me visitava sempre que podia, me fazia ir em alguns jogos com Bells e nós conversávamos bastante pelo telefone. Ele era um grande amigo e eu tentava não choramingar cada vez que pensava que em algum momento ele também iria embora, com certeza. Esse era o mal em estar fazendo amizade apenas com jogadores de futebol, eu sempre os perderia.
Bom, mais ou menos, David Luiz me irritou absurdamente ao ir para o Arsenal, mas nossa amizade se manteve. Acredito que em partes por eu amar sua namorada e termos virado amigas, pois eu quase o soquei ao ver a notícia. ir para o Real Madrid, tudo bem, mas sair do Chelsea para ir para o rival? Pena de morte. Atualmente os meninos o aceitam por perto, mas nos primeiros meses as coisas ficaram um pouco caóticas.
Eu havia feito novas amizades também, apesar de ser muito novo, Mount havia me conquistado. O garoto era incrivelmente educado e parecia ter uma mentalidade muito mais velha que seus 20 anos. Tínhamos 10 anos de diferença, mas nos demos muito bem e eu agora o considerava um bom amigo. Apesar de não ser tão próxima, gostava bastante de Pulisic também, ele era extremamente engraçado e conseguia animar qualquer um. Uma coisa que não mudava nas conversas de todos, principalmente entre os mais jovens, era a admiração por . Ele saíra do time aplaudido e continuaria sendo, então era sempre impossível evitar ouvir sobre ele.
Passei por alguns momentos engraçados nas primeiras vezes que me convenci a reencontrar o time, pois todos acreditavam que eu estava com Kepa, até que percebi em uma das vezes se referirem a mim como sua namorada, já que ainda não havia me enturmado com os novatos e eles não me conheciam. Kepa riu, me encarando e fazendo cara de nojo para todos, que o olharam sem entender. Ele então soltou um “Eca, somos só amigos.” e antes que ele pudesse completar a frase, todos nos olhavam maliciosamente com expressões de “Sei, só amigos.” até que eu entrei na roda e soltei a frase “Sou ex-namorada do .” fazendo todos se calarem e me encararem sem saber se falavam alguma coisa ou deixavam para lá. Kepa riu e Pulisic foi o primeiro a quebrar o momento com “Caraca, e ele preferiu o Real Madrid?” o que fez todos gargalharem, até mesmo eu. E então todos começaram a me encher de perguntas e foi assim que me aproximei até mesmo da nova turma.
- E como você está agora? Da última vez que nos vimos você estava bem, e então passou por uma fase ruim, agora está bem de novo? E de vez? – Thea perguntou.
- Sim, nada vai mudar o que senti, mas acho que um ano foi um bom tempo para mim. Estou naquela de guardar as memórias com carinho. Mas nossa, que situação, dou risada em me ver assim, fui tão cabeça no momento que achei que nem ia sentir. E olha eu aqui, um ano depois ainda falando sobre isso. – respirei fundo, rindo.
- E como está o resto da vida? A farmácia, seus pais, a Bells...
- Todos bem, inclusive, sobre a farmácia, estou pensando em abrir uma outra próxima de casa. Acho que vai ser uma boa, falta uma por ali. – Thea assentiu, concordando. – Meus pais estão bem, e Bells continua me enlouquecendo tanto quanto há um ano. As vezes fico pensando que faltam apenas 11 anos para os 18 anos dela, mas depois sei que vou me arrepender quando eles chegarem. – dei de ombros e ela gargalhou, me chamando de malvada. – Ela me deixa doida, Thea.
- Eu sei, Ellen é assim também.
- E como ela está? E todos, na verdade. Vi sua sogra uns dois meses atrás, coincidentemente, mas depois saímos para jantar.
- Ela me contou, com o maior sorriso do mundo no rosto. Apenas um pequeno contato e ela já se apaixonou por você, . Acho que ela mal te conheceu e já sentiu sua falta, você encanta qualquer um. Bom, as vezes acho que é a Bells, e não você, mas a gente releva, né? – mostrei a língua para ela e a vi dar de ombros. – Todos estão bem, estamos nos preparando para ir para Espanha no final do ano, as crianças estão animadas.
Entrei no carro após passar horas conversando com Thea. Como ainda estava cedo pensei em passar para pegar Bells na minha mãe, mas senti que precisava de um momento sozinha, então logo peguei o caminho de casa.
Abri a porta e logo fui recepcionada por Chelsea pulando em meu corpo. Me abaixei e a acariciei, brincando um pouco com seus pelos que estavam longos. Fechei a porta atrás de mim e sem pensar em fazer mais nada, joguei meu corpo no sofá e alcancei o controle remoto ligando a TV.
Peguei meu celular e comecei a rolar meu feed no instagram, parando em uma foto dele, o que eu evitava fazer desde sempre. Mas senti que depois da conversa com Thea, era o que eu precisava para seguir em frente. Abri seu perfil e então comecei a mexer, vendo todas suas fotos recentes e seu sorriso com a camisa branca e dourada do Real Madrid. Sorri junto ao ver sua felicidade, mesmo com a má fase que havia passado, pois era impossível não acompanhar as notícias e não saber quão ruim a equipe merengue estava na temporada anterior. Vi alguns resultados e alguns vídeos de gols que ele fizera recentemente, onde o time iniciara bem no campeonato e com muitas vitórias, e vi também suas fotos passeando por Madrid.
Respirei fundo ao ver sua foto com a legenda “verdade ou desafio” ainda ali entre suas coisas. Ele não deixaria tudo pra trás, eu sabia disso, e era algo que me fazia suspirar. Ele ainda me fazia suspirar. A quem eu estava tentando enganar, um ano com ele havia sido algo extremamente grande e importante, porque eu tentava me convencer que um ano sem ele seria simples e suficiente para deixar tudo para trás. Encostei minha cabeça no sofá e me deixei descansar pensando em nossos bons momentos.
Me deixei levar por meus pensamentos e comecei a considerar como seria se ele não tivesse ido, se ainda estivéssemos juntos. Mais um ano teria se passado, e com certeza muita coisa estaria acontecendo. Pensei o quão bom seria se ele estivesse ali para me ajudar no dia da primeira briga de Bells na escola, apesar de as vezes acreditar que ele a defenderia. Pensei como seria legal se fôssemos ter mais um ano novo juntos, ou como seria engraçado se dessa vez ele me acompanhasse no Natal invés de ficarmos em uma videochamada durante a noite. Havíamos perdido tantas coisas por ficarmos pouco tempo juntos que parecia injusto.
Mais uma vez eu me lembrava que tinha tomado a decisão certa, e eu não duvidava disso por um minuto sequer, mas algumas vezes eu imaginava como seriam as coisas se ele estivesse aqui. Ele estaria feliz? Acho que essa é a maior das minhas inúmeras hipóteses. Peguei meu celular novamente e respirei fundo. Durante todo esse tempo não havíamos nos falado, pois por fim, havíamos combinado cortar completamente nossa relação, já que assim com certeza seria mais fácil de deixar pra trás. Não que estivesse funcionando muito também. Abri seu contato e suspirei, encarando o símbolo de videochamada ao lado de sua foto. Aquilo não era certo, e se ele já estivesse melhor? Thea dissera que ele também passou por um período difícil, mas e se nesse momento ele estivesse recuperado e eu me decepcionasse mais?
Eu me deixaria ser fraca uma vez, eu não me importava de demonstrar isso naquele momento, eu precisava. Sem considerar nenhuma outra vez, apertei no símbolo que me encarava de volta e vi sua foto ampliar-se na tela enquanto ouvia os toques da chamada, aquele “Tuuu” irritante que me deixava ansiosa.
“There's a lot of things that I may not know, but missing you baby is the only thing I know." (Paper Hearts – The Vamps)
Espanha, novembro de 2020.
Me joguei no sofá pensando o quanto queria que essa temporada fosse incrível para mim. Ela já estava melhor que a anterior, sem dúvida alguma, mas eu buscava por mais. Eu esperava que o Real Madrid se tornasse uma casa tão boa quanto o Chelsea, esperava me destacar a ponto de ao menos concorrer a melhor do mundo. Seria hipocrisia dizer que não eu pensava nisso, todo jogador sonha com tal reconhecimento e eu não seria diferente.
Havíamos ganhado do Atlético de Madrid hoje, e nada poderia trazer uma sensação tão boa quanto vencer um clássico. Não havia feito gols, mas duas assistências foram minhas e sabia que isso já seria reconhecido, pois comparado à temporada anterior, aquilo era um avanço gigantesco. Ri sozinho me lembrando do fiasco que fora minha primeira temporada ali e quanto todos falavam que eu não deveria ter saído dos Blues. Mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa, por mais que eu tivesse meus motivos para demorar a perceber. Assim como eu sabia qual era o motivo da péssima temporada, um péssimo foco, ou melhor, quase nenhum.
Foi uma temporada difícil, eu me foquei nos treinos e me focava nos jogos, mas nada parecia ser suficiente pra suprir meu estado emocional, e eu sabia que isso atrapalhava. No começo minha mãe ficou comigo mais do que ela havia planejado, ela estava lá para me apoiar, mas quando Thea decidiu viajar com meu irmão para minha casa pela primeira vez todo o bom trabalho que eu vinha fazendo em tentar ignorar foi por água abaixo, afinal, eu havia perguntado como estava e ela fora sincera.
Ela me contou que ela e Bells estavam bem, estavam aceitando os fatos, mas que ao conversar era possível perceber que estava num estado tão deplorável quanto o meu. Era engraçado pensarmos que isso não aconteceria, fomos extremamente maduros, mas nem toda maturidade do mundo poderia esconder a tristeza de deixar alguém que se ama e seguir em frente. Ainda mais quando não houve um conflito sequer para isso.
Durante esse período eu saí bastante. Estava sempre bem acompanhado dos caras do time, havia feito ótimas amizades e reencontrado pessoas como Courtois, com quem já havia jogado no Chelsea. A festa para minha chegada havia sido grande e eu me orgulhava, mas também trouxera grandes expectativas que começavam a ser atendidas agora. Mas foi um tempo que tive para me ajeitar ali e criar os laços com as pessoas, me entrosar fora do campo trouxe uma mudança para dentro dele.
Sempre me misturei bem com todos, saindo com os caras que tinham família e também para curtir com os solteiros, mas percebi que ali algumas coisas eram diferentes, pois não era sempre que essas duas turmas se misturavam como fazíamos em Londres. Conheci algumas garotas, fiquei com uma ou outra, mas esse não era meu foco ali e não me importei em assumir isso para mim mesmo.
Tinha algo que me confortava todos os dias ao chegar em casa, mesmo que eu estivesse nos piores, era algo que eu sabia que durante muitos anos não me deixariam esquecer minhas meninas. Era só entrar em meu apartamento que minha pequena cachorra de pelos pretos e olhos caramelo vinha pular em minhas pernas com a maior alegria de todas. Ela havia se acostumado bem na Espanha, mas eu tinha certeza que ela preferia no ano anterior quando podia ver Bells algumas vezes. Lola era minha grande parceira, ela andava comigo pela casa toda, fazia bagunça, me fazia rir, e sempre me aproximava de lembranças que por mais que agora fossem doloridas, eu jamais gostaria de esquecer. Foi ela quem me apresentou a e Bells, então um pedaço daquela história sempre estaria comigo, mesmo que não fosse para terminar da forma como eu ainda torcia.
Vi a mensagem de Thibaut chegar, comentando sobre a comemoração que teríamos dali algumas horas. Fechei meus olhos e joguei o celular no outro lado da cama, não estava no espírito, ia ficar acompanhado da televisão, Lola e algum petisco dessa vez. Me levantei e andei até a sala, me jogando no sofá e adormecendo mais rápido do que eu esperava com a cachorra jogada aos meus pés.
Acordei com meu telefone tocando e corri até o quarto para pegá-lo, imaginando que seria um dos caras me enchendo o saco por não ter aparecido. Quando consegui alcançar o aparelho, o mesmo já havia parado de tocar, então o peguei e andei até a sala, buscando pela chamada perdida e localizando duas. Uma era de Isco, que com certeza estaria me xingando, e a outra era a chamada mais estranha que eu poderia esperar. Quando li o nome de na tela eu pisquei duas vezes e tentei limpar os olhos com as mãos, para garantir que não estava lendo nenhuma letra errada. Considerei se ela teria ligado errado, mas antes que pudesse acreditar nisso já estava ligando de volta para seu número também no modo de vídeo.
- Achei que você não queria atender. – ela falou rapidamente quando atendeu a ligação. Encarei seu rosto que aparecia naquela tela e vi que nada havia mudado. Seu rosto estava exatamente igual, seu cabelo era o mesmo, apenas um pouco mais longo, seus olhos ainda tinham a mesma coisa que me fizeram me apaixonar. Suspirei e respirei fundo antes de falar.
- Não foi uma ligação errada, então? – perguntei, vendo-a negar.
- Eu precisava disso, desculpa. Estou sentindo sua falta mais do que o habitual, jantei com a Thea hoje. Mas realmente achei que você poderia não me atender.
- Eu nunca deixaria de te atender, . Eu estava dormindo no sofá, corri pro quarto para pegar o telefone, mas não deu tempo. Também senti muito sua falta hoje, acho que os pensamentos estavam sendo transmitidos.
- Talvez estivessem.
Ficamos em silêncio apenas encarando um ao outro. Aquele celular parecia piorar toda a situação no meu peito e eu só conseguia pensar em quanto queria estar ao lado dela, apenas segurando sua mão e sentindo seu cheiro. Pensei o quanto queria colocar uma blusa e uma calça numa mochila qualquer e correr até o aeroporto para pegar o próximo avião para Londres e apenas abraçá-la. Sorri com essa possibilidade e com a possibilidade de chegar lá e apanhar da mulher, com toda certeza.
- E esse sorriso? – ela riu, apontando para tela.
- Desculpa, um momento de felicidade. Tava pensando o quanto eu ia apanhar se pegasse o próximo avião para Londres só para te ver. Não ligaria de apanhar por isso.
- Mas você iria, você sabe, né?
- Com certeza. – eu sorri novamente, não conseguindo tirar minha expressão de bobo do rosto.
- Como você está, ?
- Depende. – dei de ombros, vendo ela rolar os olhos na imagem.
- Se fosse para me deprimir mais, eu nem teria ligado.
- Certo, então. Eu estou bem. As coisas vão bem nessa temporada, em comparação com a primeira, me instalei bem aqui, meu apartamento é legal, os caras do time são legais. Ainda não consegui me sentir exatamente em casa, mas quem sabe um dia. E você, está bem?
- Para começar, em comparação com a primeira temporada acho que qualquer coisa pode ser melhor, não? Considerei até a ideia de que você tinha sido abduzido, decidi até procurar seu talento no meu bolso para ver se você não tinha deixado aqui.
- Engraçadinha você, né? Aí ficou só o coração mesmo, . – ela rolou os olhos, rindo enquanto sua bochecha tomava um tom envergonhado. – E não foge da minha pergunta, e você?
- Estou bem, as coisas estão bem. Minha rotina continua a mesma, sem muita novidade. Bells está ótima, passou por uma fase difícil na escola, ficou um pouco rebelde, mas já voltou ao normal.
- Fico imaginando a Bells em uma fase rebelde, ela é um doce, .
- Não estou exagerando, você conhece o gênio dessa menina, quando ela usa pro lado errado as coisas se complicam.
- Claro que eu conheço o gênio dela, ela parece pouco com a mãe? – ela rolou os olhos e riu, deitando e apoiando o celular em sua frente. – Você tá linda como sempre. Eu sinto tanto sua falta, desculpa, eu preciso falar. Eu sinto sua falta todos os dias, sinto falta de como as coisas eram aí, fico imaginando como seriam se eu ainda estivesse ai, já estaríamos no caminho para dois anos de namoro, eu ainda não consegui desapegar, parece impossível. Me sinto uma criança.
- Ah, . – ela respirou fundo e vi seus olhos marejarem. – Eu me sinto da mesma forma, tento levar as coisas na brincadeira, meus próprios pensamentos, mas as vezes é tão difícil. Mas sei que vamos superar. Saiba que penso em você o tempo todo também, mesmo que já tenha se passado um bom tempinho. É engraçado, as vezes parece diminuir, então passo em algum lugar ou vejo alguma coisa e parece que tudo aumenta de novo. Eu guardo você no coração com muito carinho, e por isso decidi ligar, antes de tudo você foi meu amigo, um alguém que eu nunca tinha tido na vida, alguém para contar estando em um relacionamento ou não. E sabe o melhor? Por sua causa hoje tenho pessoas com quem sei que posso contar, e eu acho que precisava te agradecer de alguma forma.
- Se eu começar a chorar você pode ignorar, por favor? – falei, rindo. Ela assentiu com um sorriso no rosto. – Eu fico feliz de ter te deixado algo, , porque você me deixou muita coisa. Sinto que mudei muito com você, passei a ver as coisas de outra forma, e isso me fez crescer ainda mais, mesmo que eu nunca tenha sido exatamente o jovem inconsequente que todos esperavam que eu fosse. Você ainda fala com o time? – perguntei, curioso.
- Sim, eu tentei fugir, mas Kepa não deixou. Ele me apresentou pro pessoal novo, foi engraçado, acharam que a gente namorava.
- Você e ele? – falei, rindo.
- Sim, foi hilário quando contei que na verdade era sua ex-namorada. Você sabe, tem bastante menino novo, você é uma lenda. Lampard é uma lenda que está lá, e você é a lenda mais recente que saiu de lá, vocês são venerados por eles.
- Meu ego vai lá em cima sabendo disso. Alguma criança se jogou para cima de você? – arqueei as sobrancelhas e ela riu, sabendo que eu estava brincando. – E eles são legais?
- Muito, me sinto muito de fora algumas vezes, mas tenho uma boa amizade com alguns. Willian estava falando o quanto sente sua falta também esses dias, disse que espera ansiosamente pegar vocês em alguma competição. Achei que vocês manteriam contato.
- Algumas vezes a gente até se fala, mas não é sempre, é complicado. – dei de ombros e ela assentiu, compreendendo.
- E o time aí?
- É uma boa equipe, gosto do pessoal, mas confesso que acho tudo muito diferente. Foi o que falei para minha mãe esses dias, ainda não me sinto em casa.
- Em algum momento vai sentir, eu tenho certeza.
- A Bells não tá aí, né? – ela negou com a cabeça.
- Ela ficou na minha mãe para que eu e Thea pudéssemos conversar. Mas você sabe, não seria muito bom para ela.
- Eu sei. Ando pelos lugares e vejo diversas coisas que me lembram ela. Sabe aquelas cenas de filme em que a pessoa vai andando pelos lugares e vendo as coisas, e vai passando alguns flashbacks que fazem com que ela perceba que está arrependida? É engraçado, as vezes me sinto nessas cenas enquanto ando por aqui e penso “caramba, a Bells ia adorar esse lago”, “imagina se ela visse essa roda gigante?”
- Agora ela diminuiu a intensidade, mas no começo para tudo ela falava de você. Ela contava para todo mundo várias vezes todos os lugares que a gente foi, sobre os jogos e como você era incrível, acho que as pessoas estavam enjoando mais da saudade dela do que quando ela falava enquanto você ainda estava aqui. Uma vez achei que minha mãe ia dar um remédio para ela dormir para que ela parasse de falar um pouco.
- Seus pais me odeiam? – perguntei subitamente, antes que pudesse pensar em guardar aquela dúvida para mim.
- Claro que não, . – ela respondeu, prontamente. – Meu pai ficou um tanto quanto chateado e não vou mentir, tive que ouvir um “eu te avisei”, mas ele me apoiou. Ele sabia que por mais que fosse o momento da sua vida, a decisão conseguia ser mais minha te empurrando do que sua desesperado para ir, ele me conhece. Minha mãe queria que eu fosse atrás, falou que seria legal morar na Espanha, ela é louca. Ela te adora, não guarda mágoas, fique tranquilo. – soltei o ar que estava segurando e ela riu.
- E o Michael? – perguntei, curioso e ela gargalhou, me fazendo ficar sem entender.
- , foi incrível, você tinha que ver quando cheguei de Baku. Ele veio até aqui em casa buscar a Bells, eu mal abri a porta e ele soltou um “, como você não me contou que ele iria sair do time? Isso é o tipo de informação que não se esconde de alguém que você sabe que é louco pelo time. Você podia ter me contado.” – ela imitou a voz de Michael, me fazendo rir. - Eu o encarei e respirei fundo, então ele percebeu que estava surtando e me perguntou se eu estava bem, como ficariam as coisas entre nós, mas tudo com muito respeito. Ele desistiu da ideia maluca de voltarmos, e você não sabe, ele está namorando com a Mandy, que era professora da Bells.
- Fico feliz que ele tenha seguido em frente, ele não é ruim, acho que aquele foi só um momento de loucura por pensar que estava te perdendo de vez. – dei de ombros e ela concordou. – , obrigado por isso.
- Obrigada por ainda ser o mesmo, por não ter desligado na minha cara ou qualquer coisa assim. – ela sorriu e eu rolei os olhos.
- Queria te abraçar agora. – falei aleatoriamente.
- Eu também queria. – a vi suspirar e seus olhos mostravam-se tão chateados quanto os meus.
“Mal chegou ao Real Madrid e Eden Hazard já promete que voltará ao Chelsea. O astro belga foi flagrado conversando com um torcedor do clube inglês e confessou que, assim que terminar o que precisa fazer na Espanha, pretende retornar ao Chelsea”
Capítulo 22
“Nowhere you can be that isn't where you're meant to be, it's easy, all you need is love." (All You Need Is Love – The Beatles)
Londres, setembro de 2023.
- Mãe, eu não sei o que te dar de aniversário. – Bells reclamou jogada no sofá enquanto eu estava na cozinha fazendo um bolo.
Meu aniversário seria amanhã, e eu já estava preparando as coisas para fazer uma quase festa na casa da minha mãe. Havia convidado poucas pessoas, mas sabia que quem eu havia convidado estaria lá. Decidi fazer algo simples, mas era importante comemorar.
- Você sabe que eu não me importo com presentes, não sabe, filha?
- Eu sei, mãe. Mas eu queria te dar alguma coisa. – apenas por seu tom de voz eu podia dizer que ela estava jogando por alguém que queria saber o que eu queria, só não conseguia ter certeza de quem poderia ser, qualquer um pediria ajuda para ela, ainda mais agora que ela tinha um celular. Controlado por mim durante todo o tempo, é claro. Ela não era mais um bebê, mas ainda tinha 10 anos.
- Confio no seu bom gosto, sei que você vai acertar. – falei irritando-a. Era engraçado, pois ela não conseguiria comprar nada para mim sem meu cartão, ela não havia visto Michael na última semana para lhe pedir dinheiro também, então quem conversou com ela com certeza foi ingênuo em pensar que me enganaria.
- Mãe, meu pai vai com a Mandy?
- Vai sim, meu amor. Eu os convidei. – falei, sorrindo. Michael acabara se tornando o grande amigo que conheci antes de nos relacionarmos. Mandy se sentira péssima no começo e ficou envergonhada em falar comigo, porém, ela sabia que eu não tinha qualquer sentimento pelo homem e eu fiz questão de lembrá-la disso, assim continuamos nossa amizade. Eles agora estavam juntos há alguns anos e pensavam em se casar, fazendo a felicidade de Bells que estava ansiosa por participar de um casamento.
- Posso escolher minha roupa? – perguntou, inquieta.
- Pode, desde que ela seja compatível com o tempo, sem essa ideia louca de colocar vestido e sandália no frio. – a garota rolou os olhos e correu para seu quarto, com Chelsea em seu encalço, seguindo-a.
Bells estava na fase onde se considerava dona do próprio nariz, e era uma experiência extremamente louca onde estávamos brigando horrores. Eu sabia que ainda seria pior daqui uns quatro anos com toda sua genialidade decidida e rebelde, então tentava aproveitar enquanto ainda tinha algum controle. Ela ainda era uma menina doce, mas em alguns momentos ela conseguia me tirar da minha linha de paz, principalmente para escolher roupas. Era inverno e ela decidia que queria sair de shorts, no verão ela quer sair com uma manga comprida, no outono decide usar uma saia, e na primavera um casaco de pelos. Alguém conseguia entender? Não, ninguém, porque crianças nessa idade não fazem sentido algum.
Ainda assim, ela era minha maior companheira e meu orgulho na vida. Era uma ótima aluna, por mais que falasse mais do que estudasse. Era educada com todos, simpática, e sempre corria atrás dos objetivos que colocava para si. Fico feliz a cada dia que passa e posso ver que ela me considerava sua amiga, ela me conta suas coisas, ela cuida de mim como cuido dela, e raramente guardamos segredos uma da outra. Eu tinha uma companheira para vida inteira, eu sempre soube disso, mas agora eu podia afirmar com todas as letras.
- Deixa que eu te ajudo com as coisas. – James se aproximou, pegando o bolo que estava em minha mão e beijando minha bochecha. – Parabéns, . – ele sorriu, entrando com o bolo e me deixando ali com um sorriso no rosto.
Abri a porta do carro para Bells e ela foi até o porta-malas comigo pegando algumas sacolas e correndo para dentro de casa. James a encontrou no meio do caminho e a levantou no ar, fazendo-a rir.
- Aquele bolo tá com uma cara muito boa. – ele se aproximou, me abraçando por trás e beijando minha nuca, me fazendo arrepiar.
- E ele deve estar bom, fui eu que fiz, né?
- Pouquíssimo convencida você, né?
- Só um pouquinho. – dei um selinho nele enquanto abaixava a porta do porta-malas e trancava o carro, carregando as últimas coisas para dentro junto com ele.
- Sua mãe está animada, ela disse que faz um tempo que você não comemora seu aniversário assim, seu pai nem tanto. – ele riu, dando de ombros.
- Meu pai é de lua, você sabe, daqui a pouco ele tá todo feliz, ele adora casa cheia.
- E como você está, se sentindo mais velha?
- Me sinto a mesma que ontem, só virou um dígito. – ele riu e deixamos as coisas na cozinha enquanto minha mãe andava até mim.
- Parabéns, meu amor. – ela me abraçou, me apertando entre seus braços.
- Obrigada, mãe. E obrigada por me deixar fazer bagunça aqui como sempre. – ela riu, passando a mão em meus cabelos.
- Todo mundo vem? – ela perguntou, começando a arrumar as coisas que eu havia trazido na mesa para me ajudar. Assenti e ela sorriu, animada.
- Oi, filha. – meu pai se aproximou, beijando o topo de minha cabeça. – Parabéns.
- Obrigada, pai.
- James, vai começar o jogo. – ele avisou meu namorado que prontamente me encarou como quem diz, “se importa?”. Sorri para ele, mandando-o ir. Bells rolou os olhos, sendo a clubista apaixonada por futebol que era desde sempre. James torcia para o Manchester City como meu pai, o que fizera a felicidade dele pelo menos uma vez, já que eu continuava andando com o time do Chelsea para seu desespero futebolístico.
Por mais que tivesse me afastado um pouco dos meninos durante o último ano, ainda mantinha amizade com grande parte deles, por isso os esperava aqui hoje. Carreguei boas amizades daquela fase, e até hoje acho inacreditável que isso possa ter acontecido. Ainda era um pouco surreal ser amiga de diversos jogadores de futebol, e confesso que foi um pouco difícil de fazer James entender. Ele não fazia o tipo ciumento, o que era incrível, mas seria estranho para qualquer um entender você ter uma grande amizade com jogadores do time do seu ex-namorado.
James era incrível, nos conhecemos em um pub há mais de um ano e não demoramos muito para engatar um relacionamento. Ele é dois anos mais velho que eu, um verdadeiro cavalheiro e trabalha com crianças em um centro de adoção, o que me fez saber que não teríamos problemas com Bells, a parte mais importante em qualquer relacionamento para mim.
Bells gostava dele, meus pais gostavam dele, meus amigos gostavam dele, tudo parecia extremamente certo, estávamos em um relacionamento muito bom, e eu finalmente me sentia feliz e completa. Apenas me sentia incomodada em perceber que James com certeza queria casar, pois eu ainda não me sentia preparada para isso novamente, então respirava fundo cada vez que chegávamos próximos desse assunto.
Parei por um minuto encostada no canto da sala e encarei ao meu redor. Kepa, David, Willian, Azpi e Pulisic com suas respectivas namoradas ou esposas, e Mount junto a eles como vela. Meus pais conversando animadamente com James e seus pais. Bells e alguns amigos que ela havia chamado estavam brincando do lado de fora com a supervisão de Thea, que havia vindo com Ellen e Ben e conversava animadamente com Michael e Mandy. Nada mais estranho que Thea estar ali, eu sei, mas nossa amizade havia permanecido de forma verdadeira, e ela tinha sido a primeira a me indicar em tomar um passo a frente com James. Eu estava cercada de todas as pessoas que amava e me amavam, e eu acredito que nunca tenha passado um aniversário tão feliz dessa forma, era gratificante.
Fui até a cozinha e peguei um fósforo para acender as velas, James se posicionou ao meu lado junto à Bells e então encarei enquanto todos cantavam um parabéns animado para mim. Sorri durante todo o tempo e percebi como algumas coisas simples podem virar a vida de alguém de ponta cabeça. Como um único acontecimento pode ter me dado tantas amizades ao ponto de eu me tornar uma pessoa mais aberta, mais feliz, uma pessoa com vontade de colocar todo mundo no mesmo lugar para uma comemoração como nunca tive o costume de fazer. Apaguei as velas agradecendo a Deus por aquele momento invés de pedir qualquer coisa, e ouvi todos pedindo por um discurso, enquanto eu observava cada um xingando mentalmente seja lá quem tivesse começado com essa ideia. Falar em público sobre mim ou pessoas que amo ainda era algo que eu não gostava e nunca gostaria.
- Não tenho muito o que discursar, apenas quero saber quem teve essa ideia para que eu possa jogar no Tâmisa. – todos riram e vi alguns dedos sendo apontados, mas ignorei, apenas rolando os olhos. – Só quero agradecer a presença de cada um aqui e dizer que serei eternamente grata por ter vocês em minha vida, vocês fazem meus momentos melhores e me deram uma família. Antes eu tinha apenas minha mãe, meu pai e Bells comigo, agora eu tenho todos vocês para encher o saco. Muito obrigada, de verdade.
Antes que eu cortasse o bolo algumas pessoas foram ficando em volta de mim para tirarmos fotos. Bells, minha mãe e meu pai, James, Thea e por último os caras do time, que fizeram uma grande bagunça quase derrubando o bolo.
- Fico feliz de poder fazer parte de tudo isso, . – James se aproximou de mim na porta de casa me dando um beijo rápido.
- E eu fico feliz que você esteja aqui. – abracei-o pela cintura e o senti escorar seu queixo em minha cabeça, nos aproximando. – Obrigada, James.
- Eu que tenho que agradecer, . Eu amo você.
- Eu também amo você, Jay.
- Você gostou mesmo, né? – ele apontou para o par de brincos que eu usava, os que ele me dera há alguns minutos e eu colocara em minhas orelhas para que ele visse.
- Sim, muito obrigada. – sorri, tentando mostrar sinceridade. Eu odiava usar brincos, era algo que me incomodava, eu os colocava e tirava em menos de uma hora. Eram lindos, mas eu sabia que os usaria pouco.
“I've had my share of sand kicked in my face but I've come through, and we mean to go on and on and on and on." (We Are The Champions - Queen)
Espanha, novembro de 2023.
Finalmente, depois de anos, eu estava ali. Minha primeira vez concorrendo ao prêmio mais aguardado por todos, e eu sentia que finalmente era o meu momento. Eu havia feito uma excelente temporada, meus números não se comparavam aos de ninguém. O Real Madrid havia vencido todas as competições possíveis e eu não poderia estar mais feliz com esse resultado, era incrível o reconhecimento que eu estava tendo por conta disso.
Me sentei na terceira fileira com Luna ao meu lado e entrelaçamos nossas mãos enquanto aguardávamos o início da premiação. Ela me conhecia, então em nenhum momento ela se irritara com minhas pernas balançando ou meus ombros inquietos de ansiedade, a mulher sorria cada vez em que eu parecia ter um chilique.
Acompanhamos tudo atentamente e vi diversos companheiros de equipe sendo reconhecidos como melhor isso ou melhor aquilo, sempre muito bem disputado com ex-colegas do futebol inglês. Sabia que encontraria ali algumas pessoas que conhecera em Londres, afinal, o prêmio Luva de Ouro estava chegando e todos sabíamos que Kepa se enquadrava perfeitamente para recebê-lo, ele tivera um ano maravilhoso, tanto no Chelsea quanto na seleção Espanhola, que eu fizera questão de acompanhar da forma que desse.
Levantei para aplaudi-lo quando o momento chegou e apesar de muitas formalidades que vira ali, não resisti em dar um assovio chato que irritaria qualquer um. Ele agradeceu sorridente e desceu do palco com os olhos brilhando, o que me fizera rir, ele merecia demais.
O lugar estava silencioso e então meu coração acelerou. Apertei a mão de Luna e ela sorriu confiante para mim enquanto todos se posicionavam no palco com a Bola de Ouro parada ali. A tão cobiçada Bola de Ouro, que todos encaravam tão avidamente, estava mais próxima do que eu queria imaginar.
O momento parou quando ouvi meu nome e me levantei para acenar para todos e logo em seguida vi meus concorrentes fazerem o mesmo. Respirei fundo e enquanto os tambores rufaram em minha mente, tudo acontecia rápido e eu já senti Luna me abraçando e eu apenas sorri sem muita emoção, um pouco em choque enquanto meus pés me carregavam para o palco. Ali meu sonho estava completo, era por isso que eu estava ali, era por isso que eu aceitara a oferta do Real Madrid, eu sabia que eu poderia me destacar a esse ponto e eu estava orgulhoso.
Apertei as mãos de todos que me encaravam no palco sem dar muita atenção e então recebi o troféu em minhas mãos, me dirigindo ao palanque e arrumando o microfone para falar o que eu nem sabia.
- Queria agradecer primeiramente a Deus, e por todos que me ajudaram a chegar nesse momento, as pessoas que me treinaram em cada time que passei e também minha família que sempre esteve o mais perto possível de mim, independente de qual país eu estivesse jogando. Estou um pouco em choque, por isso nem sei o que dizer, perdão gaguejar tanto, sou melhor com uma bola no pé do que com um microfone. – ouvi todas as risadas e sorri, respirando fundo. – Obrigado a todos e parabéns aos que competiam também pelo prêmio, é uma honra estar aqui com vocês.
Acenei para as câmeras e desci do palco passando por diversas mãos que me cumprimentavam e segui por um corredor em frente a plateia, indo para um painel onde seriam tiradas as fotos com o prêmio.
- Vem aqui que eu estou muito orgulhoso de nós. – Kepa entrou na roda de conversa onde eu estava, me puxando para fora da mesma.
- Parabéns. – falei, o abraçando. – Você mereceu demais, que ano!
- Digo o mesmo, . Eu sabia que você conseguiria.
Começamos a conversar sobre como estava aquele ano para nós, os novos desafios, o quão incrível foi o ano anterior. Ele me atualizou de tudo em Londres e eu contei a ele um pouco mais sobre como estava sendo jogar na Espanha, local que ele com certeza dominava, já que havia se tornado titular da seleção espanhola nesse ano.
- Ei, essa é Luna, minha namorada. – apresentei a mulher quando ela se aproximou, envolvendo seu braço no meu. – Luna, esse é Kepa. – ela se aproximou dele, o beijando no rosto. Ele sorriu, a cumprimentando da mesma forma.
- Difícil aguentar esse cara, não? – ele brincou.
- Muito, você não faz ideia.
- , vou estar ali tá? – ela apontou para o outro lado do salão e eu assenti, juntando nossos lábios em um rápido selinho e vendo-a acenar, se distanciando de nós.
- Muito bonita, uau. – ele riu, aplaudindo cheio de graça.
- Você é um pouco sem noção, por sinal, sempre né? – reclamei, rindo. Ele sabia que eu estava brincando, Kepa era uma das melhores amizades que eu tinha nesse mundo da bola, por mais que ficássemos muito tempo sem nos falarmos. – Algum plano de sair de onde está ou vai criar raiz?
- Estou começando um romance, tô quase começando a achar que vou criar raiz mesmo. ‘Tô apaixonado, . – eu ri da expressão sonhadora que ele tinha. – Eu acabei de ganhar a Luva de Ouro, e eu só consigo pensar em me fechar no banheiro e ligar para ela. Tem algo errado?
- Não, está certo demais. – eu ri, concordando.
- Eu preciso te falar a verdade, acho errado eu guardar isso. – ele respirou fundo e sua expressão mudou para uma seriedade que nunca via nele. – Eu tô namorando sua ex. – ele soltou o ar. – Não deu para gente resistir, a gente se aproximou muito, mas a gente deu tempo ao tempo e eu não...
- Você o quê? – o interrompi, contando até 10 mentalmente. Claro que cada um tinha o direito de ficar com quem devia, e eu não deveria nem mesmo me importar com isso, mas eu não via sentido. Eles eram muito amigos, por que isso aconteceria? Kepa era muito mais novo que ela, essa ideia não parecia ter sentido em minha mente.
- Eu ‘tô brincando. – ele gargalhou, provavelmente se divertindo muito com a minha expressão. – É, certas coisas a vida não nos deixa superar.
- Nada disso. – neguei, mantendo minha expressão séria. – Passado é passado, Arrizabalaga, guardo uma memória muito boa dela, mas a vida acontece. – sorri, vendo-o me encarar admirado.
- Quem te viu não te reconheceria, . Mas você devia ter se visto, foi incrível. Vi o de quatro anos atrás em minha frente.
- Eu nem consigo acreditar que você é o melhor jogador do mundo, eu te falei, amor. Eu sabia que isso aconteceria. – Luna sorriu para mim quando entramos no carro, segurando meu rosto entre suas mãos. Não costumávamos ter grandes cenas afetuosas em frente às câmeras, éramos um tanto quanto reservados, tanto por mim, quanto por ela que não gostava muito.
- Você sabe que tem uma grande parte nisso, não sabe? – falei, beijando seu rosto. – Você é a melhor e me faz ser o melhor, literalmente agora. – falei ainda desacreditado.
- Nós vamos comemorar, não vamos? – ela perguntou, descendo seus beijos para meu pescoço enquanto eu ainda não dirigia.
- Com certeza vamos, merecemos uma grande comemoração. – eu sorri, apertando suas volumosas coxas no banco do passageiro.
Abri a porta de casa e Luna estava agarrada em meu corpo, me beijando vorazmente. Coloquei a mão em sua bunda e a puxei para meu colo enquanto batia a porta atrás de mim. Em poucos segundos, enquanto tentava caminhar até o quarto, senti Lola em meus pés, me fazendo rir enquanto pulava em volta de meu corpo. Sem entender o que aconteceu, cheguei ao chão com a mulher por cima de mim e uma bela cachorrinha preta lambendo meus braços e se enroscando entre Luna e eu.
- Ela tem um pouco de ciúmes sempre, não consigo acreditar. – a mulher ria, acariciando Lola.
- Ela sempre foi muito ciumenta, mas tudo piorou. – senti meu celular vibrar em meu bolso e o peguei enquanto assistia Luna amarrando seus cabelos.
- Oi, gente! – falei animado, me arrumando. Minha mãe estava ligando por chamada de vídeo e aparentemente todos estavam junto com ela.
- Você é incrível, ! Que orgulho de você. Queria estar aí para comemorarmos. – minha mãe falou com lágrimas nos olhos.
- Obrigado, mãe. – senti meus olhos marejarem em ver seu orgulho transbordando, mas recuperei meu ar e consegui me manter tranquilo.
- Luna está com você? – ela perguntou e eu virei a câmera, mostrando a mulher para minha mãe. Ela tomou o celular de minha mão e iniciou uma conversa animada com minha família enquanto eu me levantava para me sentar no sofá ao lado de Lola.
- Quando vocês vem? – perguntei quando peguei meu celular de volta.
- Em três semanas estamos aí. – Thea falou animada. – Estamos com saudades.
- Sinto falta de vocês também, muito ruim eu não conseguir viajar.
- Não nos importamos em ir para aí, . – meu irmão falou, rindo. – Ben e Ellen gostam muito, por sinal.
- Vou esperar vocês então. Obrigado por todo o apoio sempre, deixo o discurso para quando puder abraçar cada um.
Me despedi rapidamente de todos e vi Luna aparecer no corredor, me chamando com seu dedo. Sorri em sua direção e corri até a mulher, grudando nossos corpos e andando colado a ela até meu quarto para terminarmos o que havíamos começado antes do desastre na sala de estar.
Londres, setembro de 2023.
- Mãe, eu não sei o que te dar de aniversário. – Bells reclamou jogada no sofá enquanto eu estava na cozinha fazendo um bolo.
Meu aniversário seria amanhã, e eu já estava preparando as coisas para fazer uma quase festa na casa da minha mãe. Havia convidado poucas pessoas, mas sabia que quem eu havia convidado estaria lá. Decidi fazer algo simples, mas era importante comemorar.
- Você sabe que eu não me importo com presentes, não sabe, filha?
- Eu sei, mãe. Mas eu queria te dar alguma coisa. – apenas por seu tom de voz eu podia dizer que ela estava jogando por alguém que queria saber o que eu queria, só não conseguia ter certeza de quem poderia ser, qualquer um pediria ajuda para ela, ainda mais agora que ela tinha um celular. Controlado por mim durante todo o tempo, é claro. Ela não era mais um bebê, mas ainda tinha 10 anos.
- Confio no seu bom gosto, sei que você vai acertar. – falei irritando-a. Era engraçado, pois ela não conseguiria comprar nada para mim sem meu cartão, ela não havia visto Michael na última semana para lhe pedir dinheiro também, então quem conversou com ela com certeza foi ingênuo em pensar que me enganaria.
- Mãe, meu pai vai com a Mandy?
- Vai sim, meu amor. Eu os convidei. – falei, sorrindo. Michael acabara se tornando o grande amigo que conheci antes de nos relacionarmos. Mandy se sentira péssima no começo e ficou envergonhada em falar comigo, porém, ela sabia que eu não tinha qualquer sentimento pelo homem e eu fiz questão de lembrá-la disso, assim continuamos nossa amizade. Eles agora estavam juntos há alguns anos e pensavam em se casar, fazendo a felicidade de Bells que estava ansiosa por participar de um casamento.
- Posso escolher minha roupa? – perguntou, inquieta.
- Pode, desde que ela seja compatível com o tempo, sem essa ideia louca de colocar vestido e sandália no frio. – a garota rolou os olhos e correu para seu quarto, com Chelsea em seu encalço, seguindo-a.
Bells estava na fase onde se considerava dona do próprio nariz, e era uma experiência extremamente louca onde estávamos brigando horrores. Eu sabia que ainda seria pior daqui uns quatro anos com toda sua genialidade decidida e rebelde, então tentava aproveitar enquanto ainda tinha algum controle. Ela ainda era uma menina doce, mas em alguns momentos ela conseguia me tirar da minha linha de paz, principalmente para escolher roupas. Era inverno e ela decidia que queria sair de shorts, no verão ela quer sair com uma manga comprida, no outono decide usar uma saia, e na primavera um casaco de pelos. Alguém conseguia entender? Não, ninguém, porque crianças nessa idade não fazem sentido algum.
Ainda assim, ela era minha maior companheira e meu orgulho na vida. Era uma ótima aluna, por mais que falasse mais do que estudasse. Era educada com todos, simpática, e sempre corria atrás dos objetivos que colocava para si. Fico feliz a cada dia que passa e posso ver que ela me considerava sua amiga, ela me conta suas coisas, ela cuida de mim como cuido dela, e raramente guardamos segredos uma da outra. Eu tinha uma companheira para vida inteira, eu sempre soube disso, mas agora eu podia afirmar com todas as letras.
- Deixa que eu te ajudo com as coisas. – James se aproximou, pegando o bolo que estava em minha mão e beijando minha bochecha. – Parabéns, . – ele sorriu, entrando com o bolo e me deixando ali com um sorriso no rosto.
Abri a porta do carro para Bells e ela foi até o porta-malas comigo pegando algumas sacolas e correndo para dentro de casa. James a encontrou no meio do caminho e a levantou no ar, fazendo-a rir.
- Aquele bolo tá com uma cara muito boa. – ele se aproximou, me abraçando por trás e beijando minha nuca, me fazendo arrepiar.
- E ele deve estar bom, fui eu que fiz, né?
- Pouquíssimo convencida você, né?
- Só um pouquinho. – dei um selinho nele enquanto abaixava a porta do porta-malas e trancava o carro, carregando as últimas coisas para dentro junto com ele.
- Sua mãe está animada, ela disse que faz um tempo que você não comemora seu aniversário assim, seu pai nem tanto. – ele riu, dando de ombros.
- Meu pai é de lua, você sabe, daqui a pouco ele tá todo feliz, ele adora casa cheia.
- E como você está, se sentindo mais velha?
- Me sinto a mesma que ontem, só virou um dígito. – ele riu e deixamos as coisas na cozinha enquanto minha mãe andava até mim.
- Parabéns, meu amor. – ela me abraçou, me apertando entre seus braços.
- Obrigada, mãe. E obrigada por me deixar fazer bagunça aqui como sempre. – ela riu, passando a mão em meus cabelos.
- Todo mundo vem? – ela perguntou, começando a arrumar as coisas que eu havia trazido na mesa para me ajudar. Assenti e ela sorriu, animada.
- Oi, filha. – meu pai se aproximou, beijando o topo de minha cabeça. – Parabéns.
- Obrigada, pai.
- James, vai começar o jogo. – ele avisou meu namorado que prontamente me encarou como quem diz, “se importa?”. Sorri para ele, mandando-o ir. Bells rolou os olhos, sendo a clubista apaixonada por futebol que era desde sempre. James torcia para o Manchester City como meu pai, o que fizera a felicidade dele pelo menos uma vez, já que eu continuava andando com o time do Chelsea para seu desespero futebolístico.
Por mais que tivesse me afastado um pouco dos meninos durante o último ano, ainda mantinha amizade com grande parte deles, por isso os esperava aqui hoje. Carreguei boas amizades daquela fase, e até hoje acho inacreditável que isso possa ter acontecido. Ainda era um pouco surreal ser amiga de diversos jogadores de futebol, e confesso que foi um pouco difícil de fazer James entender. Ele não fazia o tipo ciumento, o que era incrível, mas seria estranho para qualquer um entender você ter uma grande amizade com jogadores do time do seu ex-namorado.
James era incrível, nos conhecemos em um pub há mais de um ano e não demoramos muito para engatar um relacionamento. Ele é dois anos mais velho que eu, um verdadeiro cavalheiro e trabalha com crianças em um centro de adoção, o que me fez saber que não teríamos problemas com Bells, a parte mais importante em qualquer relacionamento para mim.
Bells gostava dele, meus pais gostavam dele, meus amigos gostavam dele, tudo parecia extremamente certo, estávamos em um relacionamento muito bom, e eu finalmente me sentia feliz e completa. Apenas me sentia incomodada em perceber que James com certeza queria casar, pois eu ainda não me sentia preparada para isso novamente, então respirava fundo cada vez que chegávamos próximos desse assunto.
Parei por um minuto encostada no canto da sala e encarei ao meu redor. Kepa, David, Willian, Azpi e Pulisic com suas respectivas namoradas ou esposas, e Mount junto a eles como vela. Meus pais conversando animadamente com James e seus pais. Bells e alguns amigos que ela havia chamado estavam brincando do lado de fora com a supervisão de Thea, que havia vindo com Ellen e Ben e conversava animadamente com Michael e Mandy. Nada mais estranho que Thea estar ali, eu sei, mas nossa amizade havia permanecido de forma verdadeira, e ela tinha sido a primeira a me indicar em tomar um passo a frente com James. Eu estava cercada de todas as pessoas que amava e me amavam, e eu acredito que nunca tenha passado um aniversário tão feliz dessa forma, era gratificante.
Fui até a cozinha e peguei um fósforo para acender as velas, James se posicionou ao meu lado junto à Bells e então encarei enquanto todos cantavam um parabéns animado para mim. Sorri durante todo o tempo e percebi como algumas coisas simples podem virar a vida de alguém de ponta cabeça. Como um único acontecimento pode ter me dado tantas amizades ao ponto de eu me tornar uma pessoa mais aberta, mais feliz, uma pessoa com vontade de colocar todo mundo no mesmo lugar para uma comemoração como nunca tive o costume de fazer. Apaguei as velas agradecendo a Deus por aquele momento invés de pedir qualquer coisa, e ouvi todos pedindo por um discurso, enquanto eu observava cada um xingando mentalmente seja lá quem tivesse começado com essa ideia. Falar em público sobre mim ou pessoas que amo ainda era algo que eu não gostava e nunca gostaria.
- Não tenho muito o que discursar, apenas quero saber quem teve essa ideia para que eu possa jogar no Tâmisa. – todos riram e vi alguns dedos sendo apontados, mas ignorei, apenas rolando os olhos. – Só quero agradecer a presença de cada um aqui e dizer que serei eternamente grata por ter vocês em minha vida, vocês fazem meus momentos melhores e me deram uma família. Antes eu tinha apenas minha mãe, meu pai e Bells comigo, agora eu tenho todos vocês para encher o saco. Muito obrigada, de verdade.
Antes que eu cortasse o bolo algumas pessoas foram ficando em volta de mim para tirarmos fotos. Bells, minha mãe e meu pai, James, Thea e por último os caras do time, que fizeram uma grande bagunça quase derrubando o bolo.
- Fico feliz de poder fazer parte de tudo isso, . – James se aproximou de mim na porta de casa me dando um beijo rápido.
- E eu fico feliz que você esteja aqui. – abracei-o pela cintura e o senti escorar seu queixo em minha cabeça, nos aproximando. – Obrigada, James.
- Eu que tenho que agradecer, . Eu amo você.
- Eu também amo você, Jay.
- Você gostou mesmo, né? – ele apontou para o par de brincos que eu usava, os que ele me dera há alguns minutos e eu colocara em minhas orelhas para que ele visse.
- Sim, muito obrigada. – sorri, tentando mostrar sinceridade. Eu odiava usar brincos, era algo que me incomodava, eu os colocava e tirava em menos de uma hora. Eram lindos, mas eu sabia que os usaria pouco.
“I've had my share of sand kicked in my face but I've come through, and we mean to go on and on and on and on." (We Are The Champions - Queen)
Espanha, novembro de 2023.
Finalmente, depois de anos, eu estava ali. Minha primeira vez concorrendo ao prêmio mais aguardado por todos, e eu sentia que finalmente era o meu momento. Eu havia feito uma excelente temporada, meus números não se comparavam aos de ninguém. O Real Madrid havia vencido todas as competições possíveis e eu não poderia estar mais feliz com esse resultado, era incrível o reconhecimento que eu estava tendo por conta disso.
Me sentei na terceira fileira com Luna ao meu lado e entrelaçamos nossas mãos enquanto aguardávamos o início da premiação. Ela me conhecia, então em nenhum momento ela se irritara com minhas pernas balançando ou meus ombros inquietos de ansiedade, a mulher sorria cada vez em que eu parecia ter um chilique.
Acompanhamos tudo atentamente e vi diversos companheiros de equipe sendo reconhecidos como melhor isso ou melhor aquilo, sempre muito bem disputado com ex-colegas do futebol inglês. Sabia que encontraria ali algumas pessoas que conhecera em Londres, afinal, o prêmio Luva de Ouro estava chegando e todos sabíamos que Kepa se enquadrava perfeitamente para recebê-lo, ele tivera um ano maravilhoso, tanto no Chelsea quanto na seleção Espanhola, que eu fizera questão de acompanhar da forma que desse.
Levantei para aplaudi-lo quando o momento chegou e apesar de muitas formalidades que vira ali, não resisti em dar um assovio chato que irritaria qualquer um. Ele agradeceu sorridente e desceu do palco com os olhos brilhando, o que me fizera rir, ele merecia demais.
O lugar estava silencioso e então meu coração acelerou. Apertei a mão de Luna e ela sorriu confiante para mim enquanto todos se posicionavam no palco com a Bola de Ouro parada ali. A tão cobiçada Bola de Ouro, que todos encaravam tão avidamente, estava mais próxima do que eu queria imaginar.
O momento parou quando ouvi meu nome e me levantei para acenar para todos e logo em seguida vi meus concorrentes fazerem o mesmo. Respirei fundo e enquanto os tambores rufaram em minha mente, tudo acontecia rápido e eu já senti Luna me abraçando e eu apenas sorri sem muita emoção, um pouco em choque enquanto meus pés me carregavam para o palco. Ali meu sonho estava completo, era por isso que eu estava ali, era por isso que eu aceitara a oferta do Real Madrid, eu sabia que eu poderia me destacar a esse ponto e eu estava orgulhoso.
Apertei as mãos de todos que me encaravam no palco sem dar muita atenção e então recebi o troféu em minhas mãos, me dirigindo ao palanque e arrumando o microfone para falar o que eu nem sabia.
- Queria agradecer primeiramente a Deus, e por todos que me ajudaram a chegar nesse momento, as pessoas que me treinaram em cada time que passei e também minha família que sempre esteve o mais perto possível de mim, independente de qual país eu estivesse jogando. Estou um pouco em choque, por isso nem sei o que dizer, perdão gaguejar tanto, sou melhor com uma bola no pé do que com um microfone. – ouvi todas as risadas e sorri, respirando fundo. – Obrigado a todos e parabéns aos que competiam também pelo prêmio, é uma honra estar aqui com vocês.
Acenei para as câmeras e desci do palco passando por diversas mãos que me cumprimentavam e segui por um corredor em frente a plateia, indo para um painel onde seriam tiradas as fotos com o prêmio.
- Vem aqui que eu estou muito orgulhoso de nós. – Kepa entrou na roda de conversa onde eu estava, me puxando para fora da mesma.
- Parabéns. – falei, o abraçando. – Você mereceu demais, que ano!
- Digo o mesmo, . Eu sabia que você conseguiria.
Começamos a conversar sobre como estava aquele ano para nós, os novos desafios, o quão incrível foi o ano anterior. Ele me atualizou de tudo em Londres e eu contei a ele um pouco mais sobre como estava sendo jogar na Espanha, local que ele com certeza dominava, já que havia se tornado titular da seleção espanhola nesse ano.
- Ei, essa é Luna, minha namorada. – apresentei a mulher quando ela se aproximou, envolvendo seu braço no meu. – Luna, esse é Kepa. – ela se aproximou dele, o beijando no rosto. Ele sorriu, a cumprimentando da mesma forma.
- Difícil aguentar esse cara, não? – ele brincou.
- Muito, você não faz ideia.
- , vou estar ali tá? – ela apontou para o outro lado do salão e eu assenti, juntando nossos lábios em um rápido selinho e vendo-a acenar, se distanciando de nós.
- Muito bonita, uau. – ele riu, aplaudindo cheio de graça.
- Você é um pouco sem noção, por sinal, sempre né? – reclamei, rindo. Ele sabia que eu estava brincando, Kepa era uma das melhores amizades que eu tinha nesse mundo da bola, por mais que ficássemos muito tempo sem nos falarmos. – Algum plano de sair de onde está ou vai criar raiz?
- Estou começando um romance, tô quase começando a achar que vou criar raiz mesmo. ‘Tô apaixonado, . – eu ri da expressão sonhadora que ele tinha. – Eu acabei de ganhar a Luva de Ouro, e eu só consigo pensar em me fechar no banheiro e ligar para ela. Tem algo errado?
- Não, está certo demais. – eu ri, concordando.
- Eu preciso te falar a verdade, acho errado eu guardar isso. – ele respirou fundo e sua expressão mudou para uma seriedade que nunca via nele. – Eu tô namorando sua ex. – ele soltou o ar. – Não deu para gente resistir, a gente se aproximou muito, mas a gente deu tempo ao tempo e eu não...
- Você o quê? – o interrompi, contando até 10 mentalmente. Claro que cada um tinha o direito de ficar com quem devia, e eu não deveria nem mesmo me importar com isso, mas eu não via sentido. Eles eram muito amigos, por que isso aconteceria? Kepa era muito mais novo que ela, essa ideia não parecia ter sentido em minha mente.
- Eu ‘tô brincando. – ele gargalhou, provavelmente se divertindo muito com a minha expressão. – É, certas coisas a vida não nos deixa superar.
- Nada disso. – neguei, mantendo minha expressão séria. – Passado é passado, Arrizabalaga, guardo uma memória muito boa dela, mas a vida acontece. – sorri, vendo-o me encarar admirado.
- Quem te viu não te reconheceria, . Mas você devia ter se visto, foi incrível. Vi o de quatro anos atrás em minha frente.
- Eu nem consigo acreditar que você é o melhor jogador do mundo, eu te falei, amor. Eu sabia que isso aconteceria. – Luna sorriu para mim quando entramos no carro, segurando meu rosto entre suas mãos. Não costumávamos ter grandes cenas afetuosas em frente às câmeras, éramos um tanto quanto reservados, tanto por mim, quanto por ela que não gostava muito.
- Você sabe que tem uma grande parte nisso, não sabe? – falei, beijando seu rosto. – Você é a melhor e me faz ser o melhor, literalmente agora. – falei ainda desacreditado.
- Nós vamos comemorar, não vamos? – ela perguntou, descendo seus beijos para meu pescoço enquanto eu ainda não dirigia.
- Com certeza vamos, merecemos uma grande comemoração. – eu sorri, apertando suas volumosas coxas no banco do passageiro.
Abri a porta de casa e Luna estava agarrada em meu corpo, me beijando vorazmente. Coloquei a mão em sua bunda e a puxei para meu colo enquanto batia a porta atrás de mim. Em poucos segundos, enquanto tentava caminhar até o quarto, senti Lola em meus pés, me fazendo rir enquanto pulava em volta de meu corpo. Sem entender o que aconteceu, cheguei ao chão com a mulher por cima de mim e uma bela cachorrinha preta lambendo meus braços e se enroscando entre Luna e eu.
- Ela tem um pouco de ciúmes sempre, não consigo acreditar. – a mulher ria, acariciando Lola.
- Ela sempre foi muito ciumenta, mas tudo piorou. – senti meu celular vibrar em meu bolso e o peguei enquanto assistia Luna amarrando seus cabelos.
- Oi, gente! – falei animado, me arrumando. Minha mãe estava ligando por chamada de vídeo e aparentemente todos estavam junto com ela.
- Você é incrível, ! Que orgulho de você. Queria estar aí para comemorarmos. – minha mãe falou com lágrimas nos olhos.
- Obrigado, mãe. – senti meus olhos marejarem em ver seu orgulho transbordando, mas recuperei meu ar e consegui me manter tranquilo.
- Luna está com você? – ela perguntou e eu virei a câmera, mostrando a mulher para minha mãe. Ela tomou o celular de minha mão e iniciou uma conversa animada com minha família enquanto eu me levantava para me sentar no sofá ao lado de Lola.
- Quando vocês vem? – perguntei quando peguei meu celular de volta.
- Em três semanas estamos aí. – Thea falou animada. – Estamos com saudades.
- Sinto falta de vocês também, muito ruim eu não conseguir viajar.
- Não nos importamos em ir para aí, . – meu irmão falou, rindo. – Ben e Ellen gostam muito, por sinal.
- Vou esperar vocês então. Obrigado por todo o apoio sempre, deixo o discurso para quando puder abraçar cada um.
Me despedi rapidamente de todos e vi Luna aparecer no corredor, me chamando com seu dedo. Sorri em sua direção e corri até a mulher, grudando nossos corpos e andando colado a ela até meu quarto para terminarmos o que havíamos começado antes do desastre na sala de estar.
Capítulo 23
“Right now it's pretty crazy and I don't know how to stop or slow it down." (Never Be Alone – Shawn Mendes)
Londres, junho de 2027
- Você está linda. – sorri encarando minha filha parada no corredor em seu vestido de formatura. Ela estava se formando no que seria equivalente ao ensino fundamental no Brasil, e eu não poderia estar mais orgulhosa.
Bells estava linda em seu vestido lilás. Era um vestido simples, não era uma formatura incrivelmente grande ou qualquer coisa assim, então optamos por algo mais delicado, por mais que ela estivesse muito crescida. Seus 14 anos completados no começo daquele ano pareciam tê-la mudado. Ela começava a pensar seriamente em ideias para seu futuro e assim como a maior parte dos colegas, queria começar a aproveitar seu tempo em procurar algo para fazer no ano seguinte quando fizesse 15 anos.
Eu não podia evitar observar, Bells não fazia muito o estilo menininha fofinha, no estilo que gosta de “fru frus” e estilos grandiosos. Ela não teria com quem aprender isso, mas eu poderia ter me esforçado mais, assim quem sabe não veria ela naquele momento com um lindo vestido curto e um all star branco nos pés. Eu tentei a convencer de usar salto, porém, isso apenas resultou em uma garota jogada no chão com um pé quase torcido e o sapato sendo jogado em mim. Foi um bom motivo para desistência.
- Mãe, para de me encarar. – ela rolou os olhos colocando sua pulseira e estendendo o pulso para que eu prendesse.
- O mínimo que eu posso fazer é encarar minha filha crescida indo para formatura dela, não acha?
- Vou deixar só porque eu estou muito linda, tá? – ela sorriu e me encarou com um olhar superior, rindo logo em seguida. – Vamos antes que a gente atrase. A vovó e o vovô vão mesmo, né? – eu assenti e ela pegou seu celular em cima da estante e saiu andando em minha frente.
Peguei minhas coisas e corri em meu quarto para passar o perfume que havia esquecido e peguei o brinco que estava em cima do criado-mudo. Corri até a sala e Bells já me esperava do lado de fora com a porta aberta. Dei risada e ela rolou os olhos enquanto me via andando com a carteira e o celular equilibrados na mão, ao mesmo tempo que tentava colocar o brinco em minhas orelhas.
- Você está linda também, quer arrumar um bom partido? – ela falou rindo. Olhei meu vestido preto e minhas sandálias vermelhas pensando que realmente estava com um look legal.
- Agradeço pelo elogio, mas acho que posso ficar distante de bons partidos por um tempo, cansativo demais conhecer alguém para depois dar errado. – dei de ombros e ela pareceu ponderar, fazendo o mesmo logo em seguida.
- Eu estou tão feliz que vocês estão todos aqui. – minha filha sorriu, abraçando Mandy e Michael que haviam acabado de chegar. – Vocês sabem que não é nada demais, não precisavam ter vindo. – ela falou direcionando sua frase para todos, mas todos ali sabiam que para ela era importante, por menor que fosse o evento. – Oi, pequeno! – ela sorriu pegando o irmão do colo de Mandy. Jason tinha recém completado um ano e era a paixão da vida da irmã.
Bells passava boa parte do seu tempo com eles, sempre que podia ela ia para casa do pai para passar os fins de semana e ajudar a cuidar do garoto que já aprontava todas em todos os cômodos, deixando Michael e Mandy desesperados. Mandy era mãe pela primeira vez, mas Michael sabia como acalmá-la, ele era um bom pai, sempre fora.
Minha relação com eles apenas melhorava, estávamos sempre próximos por causa de minha filha, mas a prévia amizade com Mandy também facilitava o processo, era ótimo como nos dávamos bem. Ela sabia de todo meu passado com Michael, sabia que eu realmente nunca tive qualquer interesse após o término de nosso casamento, e ela sabia que ele era uma pessoa incrível, o que ele provou para ela de diversas maneiras e agora a fazia muito feliz, me deixando feliz por eles no processo.
- Isabelle Davies. – a garota subiu no palco para receber seu certificado e nós pudemos todos aplaudir em meio a alguns gritos animados que nenhum outro formando havia recebido, pois as pessoas pareciam consideravelmente educadas. Ela sorriu em nossa direção mandando um beijo após ter apertado a mão cumprimentando os professores que estavam na bancada.
Me dei conta de que ela estava completando um dos primeiros ciclos que mudariam sua vida e respirei fundo tentando controlar a lágrima que queria escorrer de meus olhos. Estava me sentindo orgulhosa de ver que havia conseguido a criar tão bem até ali e a partir de então começaria a vê-la tomando suas próprias decisões. Sabia que ela via em mim uma amiga e não nos separaríamos por conta dessas decisões tão cedo, mas era inevitável pensar em quanto tempo tinha se passado. 14 anos de idade, há pouco tempo ainda me acostumava com suas primeiras palavras ou as primeiras situações engraçadas que ela costumava me colocar.
- Eu dei aula para essa coisinha pequenininha, . Inacreditável. Primeiro passo para uma vida incrível que sabemos que ela tem pela frente. – assenti e Mandy sorriu, me abraçando de lado.
- Você é uma mãe maravilhosa, . Sei que também fui um bom pai. – ele falou rindo de sua modéstia. – Mas você fez um trabalho magnífico, sei que podemos esperar grandes coisas da nossa menininha. – assenti e minha mãe e meu pai me abraçaram, também muito felizes.
- Oi. – Bells falou quando se aproximou de nós, sendo abraçada por todos os lados.
- Parabéns, meu amor. – falei a tomando em meus braços quando todos se afastaram. – Reservei seu restaurante de sempre para nós, tudo bem? – contei enquanto ela era abraçada por cada um e ela sorriu para mim.
- Você é a melhor. Eu estou vendo você segurando essas lágrimas ai. – ela apontou para o meu rosto e eu revirei os olhos. Ela se aproximou me dando outro abraço. – Amo você, mãe. – ela sussurrou em meu ouvido e eu a apertei mais próxima de mim.
- Vamos? – perguntei e vi todos assentirem. – Nos encontramos lá?
- Um dia esse restaurante vai deixar de ser seu favorito? – perguntei ao estacionarmos no shopping.
- De jeito nenhum, melhor lugar de todos. E não reclame, eu sei que você também ama, você só gosta de jogar a culpa para mim, mas sempre vamos vir aqui e escolher o mesmo prato. – ela deu de ombros e eu concordei rindo. – Mãe... Depois que a gente comemorar, eu posso ir para casa do Tom? A gente vai todo mundo se reunir lá.
- Eu sabia que tinha motivo para tanto carinho assim. – reclamei e ela me encarou com uma expressão indignada.
- Falsa, eu sou sempre carinhosa.
- Os pais dele vão estar lá e vocês vão ficar pela noite, certo? - ela assentiu. – Imaginei, sem problemas, te deixo lá e te busco amanhã. Não sei como a Ivy aguenta vocês todos toda vez.
- Ninguém sabe, mas ela e o Mario são incríveis. Acho que o maior problema são os Johns, meu Deus, como eles enchem o saco, mãe. – ela riu com a mão na cabeça numa posição fingindo preocupação.
- Desde pequenos, filha. Apenas de olho na senhorita e no Tom, viu? – pisquei para ela e a vi corar. – Ele ficou te seguindo desesperadamente com os olhos quando você subiu. É bonitinho, acho que você achou um bom partido antes que eu. – dei de ombros.
- Você não é uma mãe comum, impossível. – ela riu, ainda sem negar. – Ele é legal, mas ainda não é hora de nada disso. – confessou.
- Eu sei. Vamos antes que venham nos buscar aqui. – destravei as portas e saímos do carro em direção a entrada.
“Then only for a minute I want to change my mind, 'cause this just don't feel right to me [...] Know that means I'll have to leave." (Happier – Marshmello feat Bastille)
Espanha, dezembro de 2027
- , como você está? – ouvi a voz de minha mãe preocupada no telefone.
- Eu estou bem, mãe. – falei com a voz embargada, tentando não pensar no que havia acontecido. Olhei para meu joelho e ele estava parecendo uma bola de futebol, não tinha um modo de não fazer essa comparação.
Me deitei na maca relaxado e deixei com que os médicos se preocupassem em olhar o que havia acontecido. O jogo ainda rolava lá fora, eu podia ouvir a torcida gritar. Ganhávamos de 2x0 do Sevilla, o que nos isolava no topo da tabela e trazia esse canto incrível da torcida.
Eu não podia culpar ninguém pelo que havia acontecido. Eu marquei o gol, mas eu sabia que aquele gol me custaria muito. Estava próximo a trave esquerda quando tudo aconteceu, de um rebote a bola caiu em meus pés e sem pensar eu chutei, ao mesmo tempo em que meu pé de apoio escorregou. A perna que eu levantara para chutar foi em direção a trave e eu não pude evitar, cai no chão e já levantei os braços pedindo pela substituição e fui socorrido por todos os lados. A dor era imensa, eu sabia que era apenas uma pancada, mas aquele era o mesmo joelho que eu já havia machucado dois anos atrás e levara meses para recuperar. Eu não era mais tão novo, lesões agora vinham e iam o tempo todo, eu havia me desgastado muito nos últimos anos e eu sabia que um dia me prejudicaria.
- É, , vamos fazer os exames, mas você tem uns bons meses de recuperação pela frente. Acredito que ao menos seis.
O mesmo tempo que fiquei da outra vez. Era impossível que eu tivesse lesionado o ligamento novamente, a sorte não queria me acompanhar.
Bedford, janeiro de 2028
- Que péssimo início de ano, não? – minha mãe falou ao abrir a porta de sua casa para mim.
Eu ainda estava fazendo fisioterapia e todo tipo de tratamento possível para retornar o quanto antes para os jogos, porém, eu já estava muito mal com toda a situação. Pedi para que pudesse viajar para casa ao menos alguns dias para que estivesse com minha família e a diretoria autorizou desde que eu mantivesse meu tratamento por aqui.
- Bem ruim, mãe. – sorri triste para ela e senti seus braços me envolverem da forma que eu precisava, a forma pela qual eu ansiava há alguns dias. Meu psicológico realmente parecia brincar comigo nos últimos dias e diversos pensamentos começavam a rondar minha cabeça.
- E aí. – Peter esticou a mão para que eu apertasse e logo me puxou para um abraço e eu vi que Thea estava ali com Ben. Encostei minhas muletas ao lado da porta e pulei até minha cunhada sendo abraçado por ela que na maior parte das vezes era uma grande amiga. Ela ouvia minhas lamentações sempre que eu precisava, e até mesmo quando eu não precisava e ela me forçava a colocar para fora.
Me joguei no sofá e enquanto minha mãe fechava a porta todos foram se sentando, um a um, ao meu redor. Ben estava enorme e eu apenas o abracei, bagunçando seus cabelos e ouvindo um “Tio , estava com saudades”, o que valeu por cada minuto de viagem.
- Como você está se sentindo? – meu irmão perguntou.
- Um saco de batatas, acho que é uma boa definição. Ou não, um saco de batatas é muito útil, já eu, nem tanto. – minha mãe rolou os olhos e eu sorri fingindo que seria uma brincadeira, mas não era, era como me sentia. – Eu mal voltei da lesão anterior e já estou parado de novo, e dessa vez nem mesmo existe um culpado, foi apenas uma burrada minha.
- Você tem que parar de se culpar, . Essas coisas acontecem com todos os jogadores, lesões são mais que normais e não se esqueça que você não é mais tão novo assim também.
- Precisa me lembrar de tudo que os jornais já fazem questão de fazer? – reclamei, irritado. – Eu sei que estou velho e logo tenho que encerrar minha carreira, mas não sinto que é a hora ainda, eu ainda sinto que posso fazer mais.
- Não está mais aqui quem falou. – Thea retrucou.
- Desculpa.
- Tudo bem, você está amargo. – ela deu de ombros e todos riram quando viram minha expressão irritada. – Vai tomar um banho e te esperamos para comer. – assenti e encarei as escadas pensando o quão chato seria para subi-las.
- Arrumei o quarto dos fundos para você. – minha mãe falou com um sorriso no rosto e eu me encostei em seu colo, agradecendo. – Mas sei que em algum momento você vai querer subir, você tem um apego com seu quarto.
- Onde está a Ellen? – perguntei quando desci pronto para jantar.
- Na casa de uma amiga, ela não é mais uma criança que posso manter embaixo da asa, sabe? – ela sorriu e Peter rolou os olhos.
- Eu queria poder manter, você não tem ideia.
- Ah, eu tenho. – resmunguei e respirei fundo tentando afastar o pensamento que havia tido enquanto via minha cunhada me observar com um sorriso no rosto.
Desde a lesão alguns “e se” voltavam a passar em minha mente e atormentar meus dias. Cada dia eu revivia um momento em que me preocupava em saber o que poderia ter acontecido se eu tivesse tomado um lado diferente do que seguira. Era engraçado como a cabeça podia brincar com a gente.
- Ela pediu para te mandar um beijo, mas disse que posso buscar ela amanhã para te ver. – assenti com um sorriso no rosto.
Já era minha segunda semana ali e hoje assim que me levantei andei até o quintal me sentando numa cadeira que havia ali e encarando o pedaço da rua que era possível observar. Eu amava o ar da Inglaterra, era diferente da Espanha em todos os aspectos, pois ali eu me sentia eu. Já haviam se passado 9 anos que eu saíra dali e meu sentimento de casa ainda era por esse lugar. Talvez a parte de minha família estar aqui fazia uma grande força nisso, mas só de pensar em Londres minhas mãos suavam frio.
Com exceção de algumas disputas com times ingleses que o Real Madrid teve durante os anos que se passaram, eu não havia pisado em Londres. Sempre vinha para casa de minha mãe, ou visitava Thea, mas Londres eu não chegara a me atrever. Eu sabia que a partir do momento em que eu pisasse ali, eu iria querer voltar. Andar por aquelas ruas, visitar meus lugares favoritos, encontrar um novo apartamento e apenas observar a cidade de lá de cima.
Respirei fundo tentando manter minha nostalgia afastada de minha cabeça e baguncei meus cabelos com as mãos como se isso fosse tirar os pensamentos dali. Rapidamente me levantei e andei por dentro de casa, sabendo que minha mãe ainda estaria dormindo. Encarei a escada que levaria ao andar de cima e sorri, pensando que seria uma cena um tanto quanto engraçada, mas era a única forma de fazer o que queria sem me machucar mais. Deixei minhas muletas ao lado do sofá e me sentei no terceiro degrau, impulsionando meu corpo de um em um para chegar ao segundo andar.
Me levantei no último degrau com mais esforço do que queria ou deveria, porém, minha vontade era maior. Observei a porta do quarto de minha mãe e passei reto, eu sabia que tinha tempo para descer novamente antes que ela suspeitasse que estivera ali. Como ela mesma dissera, eu tinha um apego em meu quarto e não podia negar.
Entrei no cômodo e vi que tudo estava limpo, mas as coisas haviam ficado exatamente como eu deixara na última que vez que havia a visitado. Talvez não entrar aqui dessa vez era um sinal, mas eu insisti sem me lembrar o que o quarto me traria. Já havia se passado muito tempo, e apesar de ser uma lembrança de um curto tempo ou apenas uma cena que não saia de minha cabeça, eu ainda suspirava.
Eu sabia que muito tempo havia se passado, mas eu guardava aquelas duas com um carinho enorme em meu coração, e um dos grandes motivos para Londres ser uma cidade que eu não pudera visitar por um longo tempo eram elas. Tudo me lembrava elas, até os que eram meus lugares preferidos, haviam se tornado nossos.
Algumas vezes ficava imaginando como estariam as coisas agora e então afastava os pensamentos, pois sabia que quase 10 anos eram muita coisa e tudo que fosse possível já teria acontecido na vida delas. Eu sabia que elas estavam bem, mas apenas isso, não tentava me informar além. Era engraçado como algumas coisas não podiam ser esquecidas, mesmo com um longo período passado. Meu carinho por aquelas memórias ainda era o mesmo, e acredito que esse carinho moldara muito a pessoa que me tornei nos últimos anos. Me sentei na cama e fiquei ali durante um tempo, apenas observando cada detalhe do quarto em volta de mim e tentando afastar os pensamentos que me levavam de volta há 9 anos.
Me assustei ao olhar para porta e ver minha mãe encostada no batente me encarando com um sorriso no rosto. Ela andou até mim sem falar nada e se sentou ao meu lado, abraçando meus ombros.
- Eu sabia que você não resistiria. Estou brava por você ter vindo sem minha ajuda, mas eu sabia que o encontraria aqui em algum momento.
- Desculpa. – falei baixo, me encostando nela.
- Você sempre foi apegado e isso foi aumentando durante os anos, mas não costumava te ver sentado aqui com essa expressão desolada.
- Tenho algumas lembranças daqui que são um pouco persistentes em relação aos pensamentos que correm na minha cabeça. – sorri de lado e ela assentiu, entendendo. – Mãe, eu acho que quero dar uma volta em Londres, você poderia ir comigo?
Depois do almoço, ela me acompanhara até lá, dirigindo para mim, já que isso eu estava estritamente proibido de fazer. Londres era enorme, mas eu queria apenas passear por seus lugares turísticos. Eu indicava para ela os caminhos que queria seguir e ela fazia sem questionar, conversando comigo sobre diversos assuntos aleatórios.
Indiquei para ela um caminho que saberia o sentimento que traria, e ainda assim, decidi que deveria segui-lo. Ao entrar no bairro eu já podia me localizar e encontrá-lo de longe, mas ao passarmos em frente a ele, um sorriso nasceu em meus lábios.
- Eu sabia que você não viria para cá sem passar aqui, .
- É meu ponto fraco. – dei de ombros e ela estacionou em uma rua paralela. – Eles vem me mandando propostas, sabia? Há uns dois anos. – falei, olhando atentamente cada detalhe do Stamford Bridge, que havia sido reformado há uns dois anos, mas sem nenhuma mudança radical.
- E o que você pensa? – ela perguntou, tentando me fazer falar.
- Eu acho que é hora das minhas últimas temporadas, mãe. Eu tenho que aceitar, é difícil, mas meu corpo já está pedindo. Eu vou aguentar mais um pouco, mas vai ser em casa.
Londres, junho de 2027
- Você está linda. – sorri encarando minha filha parada no corredor em seu vestido de formatura. Ela estava se formando no que seria equivalente ao ensino fundamental no Brasil, e eu não poderia estar mais orgulhosa.
Bells estava linda em seu vestido lilás. Era um vestido simples, não era uma formatura incrivelmente grande ou qualquer coisa assim, então optamos por algo mais delicado, por mais que ela estivesse muito crescida. Seus 14 anos completados no começo daquele ano pareciam tê-la mudado. Ela começava a pensar seriamente em ideias para seu futuro e assim como a maior parte dos colegas, queria começar a aproveitar seu tempo em procurar algo para fazer no ano seguinte quando fizesse 15 anos.
Eu não podia evitar observar, Bells não fazia muito o estilo menininha fofinha, no estilo que gosta de “fru frus” e estilos grandiosos. Ela não teria com quem aprender isso, mas eu poderia ter me esforçado mais, assim quem sabe não veria ela naquele momento com um lindo vestido curto e um all star branco nos pés. Eu tentei a convencer de usar salto, porém, isso apenas resultou em uma garota jogada no chão com um pé quase torcido e o sapato sendo jogado em mim. Foi um bom motivo para desistência.
- Mãe, para de me encarar. – ela rolou os olhos colocando sua pulseira e estendendo o pulso para que eu prendesse.
- O mínimo que eu posso fazer é encarar minha filha crescida indo para formatura dela, não acha?
- Vou deixar só porque eu estou muito linda, tá? – ela sorriu e me encarou com um olhar superior, rindo logo em seguida. – Vamos antes que a gente atrase. A vovó e o vovô vão mesmo, né? – eu assenti e ela pegou seu celular em cima da estante e saiu andando em minha frente.
Peguei minhas coisas e corri em meu quarto para passar o perfume que havia esquecido e peguei o brinco que estava em cima do criado-mudo. Corri até a sala e Bells já me esperava do lado de fora com a porta aberta. Dei risada e ela rolou os olhos enquanto me via andando com a carteira e o celular equilibrados na mão, ao mesmo tempo que tentava colocar o brinco em minhas orelhas.
- Você está linda também, quer arrumar um bom partido? – ela falou rindo. Olhei meu vestido preto e minhas sandálias vermelhas pensando que realmente estava com um look legal.
- Agradeço pelo elogio, mas acho que posso ficar distante de bons partidos por um tempo, cansativo demais conhecer alguém para depois dar errado. – dei de ombros e ela pareceu ponderar, fazendo o mesmo logo em seguida.
- Eu estou tão feliz que vocês estão todos aqui. – minha filha sorriu, abraçando Mandy e Michael que haviam acabado de chegar. – Vocês sabem que não é nada demais, não precisavam ter vindo. – ela falou direcionando sua frase para todos, mas todos ali sabiam que para ela era importante, por menor que fosse o evento. – Oi, pequeno! – ela sorriu pegando o irmão do colo de Mandy. Jason tinha recém completado um ano e era a paixão da vida da irmã.
Bells passava boa parte do seu tempo com eles, sempre que podia ela ia para casa do pai para passar os fins de semana e ajudar a cuidar do garoto que já aprontava todas em todos os cômodos, deixando Michael e Mandy desesperados. Mandy era mãe pela primeira vez, mas Michael sabia como acalmá-la, ele era um bom pai, sempre fora.
Minha relação com eles apenas melhorava, estávamos sempre próximos por causa de minha filha, mas a prévia amizade com Mandy também facilitava o processo, era ótimo como nos dávamos bem. Ela sabia de todo meu passado com Michael, sabia que eu realmente nunca tive qualquer interesse após o término de nosso casamento, e ela sabia que ele era uma pessoa incrível, o que ele provou para ela de diversas maneiras e agora a fazia muito feliz, me deixando feliz por eles no processo.
- Isabelle Davies. – a garota subiu no palco para receber seu certificado e nós pudemos todos aplaudir em meio a alguns gritos animados que nenhum outro formando havia recebido, pois as pessoas pareciam consideravelmente educadas. Ela sorriu em nossa direção mandando um beijo após ter apertado a mão cumprimentando os professores que estavam na bancada.
Me dei conta de que ela estava completando um dos primeiros ciclos que mudariam sua vida e respirei fundo tentando controlar a lágrima que queria escorrer de meus olhos. Estava me sentindo orgulhosa de ver que havia conseguido a criar tão bem até ali e a partir de então começaria a vê-la tomando suas próprias decisões. Sabia que ela via em mim uma amiga e não nos separaríamos por conta dessas decisões tão cedo, mas era inevitável pensar em quanto tempo tinha se passado. 14 anos de idade, há pouco tempo ainda me acostumava com suas primeiras palavras ou as primeiras situações engraçadas que ela costumava me colocar.
- Eu dei aula para essa coisinha pequenininha, . Inacreditável. Primeiro passo para uma vida incrível que sabemos que ela tem pela frente. – assenti e Mandy sorriu, me abraçando de lado.
- Você é uma mãe maravilhosa, . Sei que também fui um bom pai. – ele falou rindo de sua modéstia. – Mas você fez um trabalho magnífico, sei que podemos esperar grandes coisas da nossa menininha. – assenti e minha mãe e meu pai me abraçaram, também muito felizes.
- Oi. – Bells falou quando se aproximou de nós, sendo abraçada por todos os lados.
- Parabéns, meu amor. – falei a tomando em meus braços quando todos se afastaram. – Reservei seu restaurante de sempre para nós, tudo bem? – contei enquanto ela era abraçada por cada um e ela sorriu para mim.
- Você é a melhor. Eu estou vendo você segurando essas lágrimas ai. – ela apontou para o meu rosto e eu revirei os olhos. Ela se aproximou me dando outro abraço. – Amo você, mãe. – ela sussurrou em meu ouvido e eu a apertei mais próxima de mim.
- Vamos? – perguntei e vi todos assentirem. – Nos encontramos lá?
- Um dia esse restaurante vai deixar de ser seu favorito? – perguntei ao estacionarmos no shopping.
- De jeito nenhum, melhor lugar de todos. E não reclame, eu sei que você também ama, você só gosta de jogar a culpa para mim, mas sempre vamos vir aqui e escolher o mesmo prato. – ela deu de ombros e eu concordei rindo. – Mãe... Depois que a gente comemorar, eu posso ir para casa do Tom? A gente vai todo mundo se reunir lá.
- Eu sabia que tinha motivo para tanto carinho assim. – reclamei e ela me encarou com uma expressão indignada.
- Falsa, eu sou sempre carinhosa.
- Os pais dele vão estar lá e vocês vão ficar pela noite, certo? - ela assentiu. – Imaginei, sem problemas, te deixo lá e te busco amanhã. Não sei como a Ivy aguenta vocês todos toda vez.
- Ninguém sabe, mas ela e o Mario são incríveis. Acho que o maior problema são os Johns, meu Deus, como eles enchem o saco, mãe. – ela riu com a mão na cabeça numa posição fingindo preocupação.
- Desde pequenos, filha. Apenas de olho na senhorita e no Tom, viu? – pisquei para ela e a vi corar. – Ele ficou te seguindo desesperadamente com os olhos quando você subiu. É bonitinho, acho que você achou um bom partido antes que eu. – dei de ombros.
- Você não é uma mãe comum, impossível. – ela riu, ainda sem negar. – Ele é legal, mas ainda não é hora de nada disso. – confessou.
- Eu sei. Vamos antes que venham nos buscar aqui. – destravei as portas e saímos do carro em direção a entrada.
“Then only for a minute I want to change my mind, 'cause this just don't feel right to me [...] Know that means I'll have to leave." (Happier – Marshmello feat Bastille)
Espanha, dezembro de 2027
- , como você está? – ouvi a voz de minha mãe preocupada no telefone.
- Eu estou bem, mãe. – falei com a voz embargada, tentando não pensar no que havia acontecido. Olhei para meu joelho e ele estava parecendo uma bola de futebol, não tinha um modo de não fazer essa comparação.
Me deitei na maca relaxado e deixei com que os médicos se preocupassem em olhar o que havia acontecido. O jogo ainda rolava lá fora, eu podia ouvir a torcida gritar. Ganhávamos de 2x0 do Sevilla, o que nos isolava no topo da tabela e trazia esse canto incrível da torcida.
Eu não podia culpar ninguém pelo que havia acontecido. Eu marquei o gol, mas eu sabia que aquele gol me custaria muito. Estava próximo a trave esquerda quando tudo aconteceu, de um rebote a bola caiu em meus pés e sem pensar eu chutei, ao mesmo tempo em que meu pé de apoio escorregou. A perna que eu levantara para chutar foi em direção a trave e eu não pude evitar, cai no chão e já levantei os braços pedindo pela substituição e fui socorrido por todos os lados. A dor era imensa, eu sabia que era apenas uma pancada, mas aquele era o mesmo joelho que eu já havia machucado dois anos atrás e levara meses para recuperar. Eu não era mais tão novo, lesões agora vinham e iam o tempo todo, eu havia me desgastado muito nos últimos anos e eu sabia que um dia me prejudicaria.
- É, , vamos fazer os exames, mas você tem uns bons meses de recuperação pela frente. Acredito que ao menos seis.
O mesmo tempo que fiquei da outra vez. Era impossível que eu tivesse lesionado o ligamento novamente, a sorte não queria me acompanhar.
Bedford, janeiro de 2028
- Que péssimo início de ano, não? – minha mãe falou ao abrir a porta de sua casa para mim.
Eu ainda estava fazendo fisioterapia e todo tipo de tratamento possível para retornar o quanto antes para os jogos, porém, eu já estava muito mal com toda a situação. Pedi para que pudesse viajar para casa ao menos alguns dias para que estivesse com minha família e a diretoria autorizou desde que eu mantivesse meu tratamento por aqui.
- Bem ruim, mãe. – sorri triste para ela e senti seus braços me envolverem da forma que eu precisava, a forma pela qual eu ansiava há alguns dias. Meu psicológico realmente parecia brincar comigo nos últimos dias e diversos pensamentos começavam a rondar minha cabeça.
- E aí. – Peter esticou a mão para que eu apertasse e logo me puxou para um abraço e eu vi que Thea estava ali com Ben. Encostei minhas muletas ao lado da porta e pulei até minha cunhada sendo abraçado por ela que na maior parte das vezes era uma grande amiga. Ela ouvia minhas lamentações sempre que eu precisava, e até mesmo quando eu não precisava e ela me forçava a colocar para fora.
Me joguei no sofá e enquanto minha mãe fechava a porta todos foram se sentando, um a um, ao meu redor. Ben estava enorme e eu apenas o abracei, bagunçando seus cabelos e ouvindo um “Tio , estava com saudades”, o que valeu por cada minuto de viagem.
- Como você está se sentindo? – meu irmão perguntou.
- Um saco de batatas, acho que é uma boa definição. Ou não, um saco de batatas é muito útil, já eu, nem tanto. – minha mãe rolou os olhos e eu sorri fingindo que seria uma brincadeira, mas não era, era como me sentia. – Eu mal voltei da lesão anterior e já estou parado de novo, e dessa vez nem mesmo existe um culpado, foi apenas uma burrada minha.
- Você tem que parar de se culpar, . Essas coisas acontecem com todos os jogadores, lesões são mais que normais e não se esqueça que você não é mais tão novo assim também.
- Precisa me lembrar de tudo que os jornais já fazem questão de fazer? – reclamei, irritado. – Eu sei que estou velho e logo tenho que encerrar minha carreira, mas não sinto que é a hora ainda, eu ainda sinto que posso fazer mais.
- Não está mais aqui quem falou. – Thea retrucou.
- Desculpa.
- Tudo bem, você está amargo. – ela deu de ombros e todos riram quando viram minha expressão irritada. – Vai tomar um banho e te esperamos para comer. – assenti e encarei as escadas pensando o quão chato seria para subi-las.
- Arrumei o quarto dos fundos para você. – minha mãe falou com um sorriso no rosto e eu me encostei em seu colo, agradecendo. – Mas sei que em algum momento você vai querer subir, você tem um apego com seu quarto.
- Onde está a Ellen? – perguntei quando desci pronto para jantar.
- Na casa de uma amiga, ela não é mais uma criança que posso manter embaixo da asa, sabe? – ela sorriu e Peter rolou os olhos.
- Eu queria poder manter, você não tem ideia.
- Ah, eu tenho. – resmunguei e respirei fundo tentando afastar o pensamento que havia tido enquanto via minha cunhada me observar com um sorriso no rosto.
Desde a lesão alguns “e se” voltavam a passar em minha mente e atormentar meus dias. Cada dia eu revivia um momento em que me preocupava em saber o que poderia ter acontecido se eu tivesse tomado um lado diferente do que seguira. Era engraçado como a cabeça podia brincar com a gente.
- Ela pediu para te mandar um beijo, mas disse que posso buscar ela amanhã para te ver. – assenti com um sorriso no rosto.
Já era minha segunda semana ali e hoje assim que me levantei andei até o quintal me sentando numa cadeira que havia ali e encarando o pedaço da rua que era possível observar. Eu amava o ar da Inglaterra, era diferente da Espanha em todos os aspectos, pois ali eu me sentia eu. Já haviam se passado 9 anos que eu saíra dali e meu sentimento de casa ainda era por esse lugar. Talvez a parte de minha família estar aqui fazia uma grande força nisso, mas só de pensar em Londres minhas mãos suavam frio.
Com exceção de algumas disputas com times ingleses que o Real Madrid teve durante os anos que se passaram, eu não havia pisado em Londres. Sempre vinha para casa de minha mãe, ou visitava Thea, mas Londres eu não chegara a me atrever. Eu sabia que a partir do momento em que eu pisasse ali, eu iria querer voltar. Andar por aquelas ruas, visitar meus lugares favoritos, encontrar um novo apartamento e apenas observar a cidade de lá de cima.
Respirei fundo tentando manter minha nostalgia afastada de minha cabeça e baguncei meus cabelos com as mãos como se isso fosse tirar os pensamentos dali. Rapidamente me levantei e andei por dentro de casa, sabendo que minha mãe ainda estaria dormindo. Encarei a escada que levaria ao andar de cima e sorri, pensando que seria uma cena um tanto quanto engraçada, mas era a única forma de fazer o que queria sem me machucar mais. Deixei minhas muletas ao lado do sofá e me sentei no terceiro degrau, impulsionando meu corpo de um em um para chegar ao segundo andar.
Me levantei no último degrau com mais esforço do que queria ou deveria, porém, minha vontade era maior. Observei a porta do quarto de minha mãe e passei reto, eu sabia que tinha tempo para descer novamente antes que ela suspeitasse que estivera ali. Como ela mesma dissera, eu tinha um apego em meu quarto e não podia negar.
Entrei no cômodo e vi que tudo estava limpo, mas as coisas haviam ficado exatamente como eu deixara na última que vez que havia a visitado. Talvez não entrar aqui dessa vez era um sinal, mas eu insisti sem me lembrar o que o quarto me traria. Já havia se passado muito tempo, e apesar de ser uma lembrança de um curto tempo ou apenas uma cena que não saia de minha cabeça, eu ainda suspirava.
Eu sabia que muito tempo havia se passado, mas eu guardava aquelas duas com um carinho enorme em meu coração, e um dos grandes motivos para Londres ser uma cidade que eu não pudera visitar por um longo tempo eram elas. Tudo me lembrava elas, até os que eram meus lugares preferidos, haviam se tornado nossos.
Algumas vezes ficava imaginando como estariam as coisas agora e então afastava os pensamentos, pois sabia que quase 10 anos eram muita coisa e tudo que fosse possível já teria acontecido na vida delas. Eu sabia que elas estavam bem, mas apenas isso, não tentava me informar além. Era engraçado como algumas coisas não podiam ser esquecidas, mesmo com um longo período passado. Meu carinho por aquelas memórias ainda era o mesmo, e acredito que esse carinho moldara muito a pessoa que me tornei nos últimos anos. Me sentei na cama e fiquei ali durante um tempo, apenas observando cada detalhe do quarto em volta de mim e tentando afastar os pensamentos que me levavam de volta há 9 anos.
Me assustei ao olhar para porta e ver minha mãe encostada no batente me encarando com um sorriso no rosto. Ela andou até mim sem falar nada e se sentou ao meu lado, abraçando meus ombros.
- Eu sabia que você não resistiria. Estou brava por você ter vindo sem minha ajuda, mas eu sabia que o encontraria aqui em algum momento.
- Desculpa. – falei baixo, me encostando nela.
- Você sempre foi apegado e isso foi aumentando durante os anos, mas não costumava te ver sentado aqui com essa expressão desolada.
- Tenho algumas lembranças daqui que são um pouco persistentes em relação aos pensamentos que correm na minha cabeça. – sorri de lado e ela assentiu, entendendo. – Mãe, eu acho que quero dar uma volta em Londres, você poderia ir comigo?
Depois do almoço, ela me acompanhara até lá, dirigindo para mim, já que isso eu estava estritamente proibido de fazer. Londres era enorme, mas eu queria apenas passear por seus lugares turísticos. Eu indicava para ela os caminhos que queria seguir e ela fazia sem questionar, conversando comigo sobre diversos assuntos aleatórios.
Indiquei para ela um caminho que saberia o sentimento que traria, e ainda assim, decidi que deveria segui-lo. Ao entrar no bairro eu já podia me localizar e encontrá-lo de longe, mas ao passarmos em frente a ele, um sorriso nasceu em meus lábios.
- Eu sabia que você não viria para cá sem passar aqui, .
- É meu ponto fraco. – dei de ombros e ela estacionou em uma rua paralela. – Eles vem me mandando propostas, sabia? Há uns dois anos. – falei, olhando atentamente cada detalhe do Stamford Bridge, que havia sido reformado há uns dois anos, mas sem nenhuma mudança radical.
- E o que você pensa? – ela perguntou, tentando me fazer falar.
- Eu acho que é hora das minhas últimas temporadas, mãe. Eu tenho que aceitar, é difícil, mas meu corpo já está pedindo. Eu vou aguentar mais um pouco, mas vai ser em casa.