Finalizada em: 20/04/2020
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Capítulo 24

“'Cause after all this time I'm still into you. I should be over all the butterflies, but I'm into you." (Still Into You - Paramore)

Por

Sai de dentro da sala de fisioterapia com um sorriso no rosto, era incrível saber que finalmente estava melhorando. Eu já conseguia andar normalmente e já estava pronto para iniciar meus treinos e ver como ficaria.
Fiquei no Real Madrid durante o final da temporada, mas afastado dos campos, não podendo nem ao menos fazer um jogo de despedida devido as minhas condições. Os fãs já esperavam, eles sabiam que minha hora havia chegado e todas as notícias já especulavam o que eu faria em seguida e eu deixei que tudo rolasse sem dar qualquer dica, mas acredito que todos sabiam para onde eu estava indo. No início de junho eu já estava de volta a Londres e todos os jornais especulavam meu retorno aos Blues com diversas manchetes nostálgicas enquanto eu me instalava em uma casa que havia comprado próxima ao estádio.
Quando sai da sala de fisioterapia pensei em ir embora para terminar de arrumar algumas coisas, porém, há alguns dias eu queria sentir aquele estádio novamente. Virei na direção contrária e atravessei toda a extensão até o campo, acenando para o segurança que me deixou entrar.
O estádio vazio era algo engraçado, quase era possível ver a torcida ali, cantando e gritando. Algumas faixas se mantinham penduradas e algumas delas até mesmo eram muito antigas, da época em que eu ainda jogava. Respirei fundo e andei até a arquibancada para me sentar e sentir o momento, exatamente o que eu estava precisando.
Peguei meu celular e fiquei mexendo por algum tempo enquanto aproveitava o campo vazio. Vi uma movimentação no lado contrário de onde eu estava e me abaixei, tentando não ficar tão a vista. Era um grupo todo vestido com coletes da equipe e todos pareciam adolescentes, provavelmente eram os novos voluntários do time.
Entre eles pude ver meninos e meninas, e fiquei considerando se não seria uma boa ideia dar as boas vindas. Me mantive sentado durante todo o tempo em que o guia mostrava o campo para eles e provavelmente contava diversas curiosidades. Decidi segui-los quando saíram dali e faziam o caminho para sala de troféus.
Permaneci em uma boa distância deles para que não fosse visto, e quando todos pararam para ver a explicação do guia, fiquei atrás deles prestando atenção. Ele citava alguns troféus e competições importantes e falava um pouco mais do time, por mais que todos ali pareciam conhecer.
- Senhor Harris. – uma garota levantou a mão, querendo fazer uma pergunta. Mas eu não consegui prestar atenção no que ela perguntava, pois mesmo em muitos anos, eu nunca deixaria de reconhecer aquele rosto. Respirei fundo e tentei manter a calma, acreditando que aquilo não seria possível, aquela coincidência era quase demais para minha cabeça.
- Uma boa pergunta, senhorita Isabelle. – ele disse lendo o crachá da garota e vendo-a sorrir agradecida. A coincidência era incrível, mas ela era real, aquela era a confirmação que eu queria.
Vi que o grupo andava em direção a próxima área, mas não consegui me mover. Fiquei parado os encarando por alguns minutos até conseguir respirar fundo e sair de trás da coluna em que me escondia para andar com eles até a sala onde eles aparentemente estavam assinando algo. Eu havia pegado o final do tour, e agora sabia que eles sairiam dali para ir embora, precisava tomar uma decisão.
Eu queria entrar ali e dar boas vindas a todos, mas como ela reagiria? A pequena Bells que eu conhecera ficaria feliz, mas e se ela nem se lembrasse de mim? Eu tinha medo de correr o risco. Talvez fosse melhor encontrá-la sozinha para evitar qualquer coisa que eu quisesse evitar.
- ? – um dos garotos havia me visto na hora de sair da sala e eu sorri amarelo. – Você está de volta? É verdade? Cara, você é incrível. Eu nem acredito que estou te conhecendo. – ele se aproximou e me estendeu a mão e eu a apertei dando-lhe um abraço em seguida.
- E aí, cara. – sorri amarelo vendo que os outros de dentro da sala agora me encaravam também, até mesmo Bells que parecia me olhar com uma expressão dividida entre surpresa e timidez.
Cumprimentei um por um quando eles saiam da sala e tirei fotos com todos. Antes que todos fossem embora, o guia, que agora sabia ser “senhor Harris”, pediu se podíamos aproveitar e juntar a turma para tirar uma foto comigo. Assenti e me posicionei entre todos para a foto, vendo Bells sair da sala rapidamente para entrar na foto. Ela sorriu para mim antes de se abaixar em frente junto aos colegas.
Após a foto recebi diversos acenos e “tchaus” enquanto todos iam em direção ao portão de saída. Senhor Harris entrou na sala e pegou os papéis apagando a luz em seguida e parando ao lado de Bells enquanto a garota pegava sua bolsa na sala.
- Precisa de mais alguma coisa, senhorita Isabelle? – ele perguntou, simpático.
- Não, senhor Harris, obrigada. – ela sorriu, saindo da sala e eu a observei, parado ali ainda.
- Essa eu acompanho até a saída, Harris. – percebi quando ele me encarou ao me ver parado mesmo após todos terem ido embora. Ele assentiu com uma expressão confusa.
- Já conheço o , senhor Harris, está tudo bem. – ela disse, acalmando o senhor que estava estranhando a cena. Ele então acenou para mim e caminhou em frente. – Eu ‘tô um pouco surpresa, confesso. Mesmo com todas as notícias, eu estava meio desacreditada em ser verdade que você voltaria.
- Meu Deus, você está tão grande, Bells. – falei por impulso e ela riu, me abraçando. – Desculpa, me senti um velho agora, sei o quanto é chato ouvir isso.
- Muito, mas vou deixar passar por ser você. – ela deu de ombros.
- Você não está me cumprimentando por educação, né? Você realmente... – pigarreei, pensando em como dizer. – Se lembra de mim.
- , por favor, eu era muito pequena, mas não é como se não me lembrasse de nada ou não tivesse fotos o suficiente para me fazer lembrar. É um pouco estranho, confesso, afinal você é O . – ela deu ênfase no “O” e eu rolei os olhos, fazendo-a rir.
- Para você eu nunca fui “o” .
- Relaxa, , eu ‘tô brincando. Eu ‘tô feliz em te ver, muito feliz. É estranho num geral, por tudo, mas eu estou muito feliz.
- Como eu senti sua falta, pequena. – eu a abracei, apertando-a em meus braços. – Sei que já faz muito tempo, mas eu pensei em você o tempo todo, nunca me esqueci. Ah não, ‘tô com o papo de velho de novo, desculpa. – rimos junto. - Me conta, vai ser voluntária aqui então? – perguntei interessado enquanto andávamos lentamente até o portão.
- Sim, eu estava louca para começar a fazer alguma coisa, e minha paixão pelo Chelsea nunca mudou, então fiz a inscrição esse ano, assim que fiz 15. Confesso que tive uma ajudinha para conseguir, não me orgulho disso, mas era algo que eu queria muito e minha mãe sabia. Kepa pediu um favor para algum conhecido.
- Você ainda fala com ele? – sorri, animado. Ela assentiu.
- Temos contato com bastante gente ainda, por incrível que pareça. Por isso disse que não tinha como não lembrar, . O assunto nunca morreu de verdade, principalmente levando em conta as amizades.
- E... Sua mãe... Ela está bem? – falei pausadamente, sentindo meu rosto corar. Eu estava envergonhado em perguntar, mas não podia evitar.
- Você conseguiu segurar bastante, interessante. – ela gargalhou e senti meu rosto esquentar mais um pouco. – Ela está bem, .
- Muito difícil conversar com você sem ser uma criança, você não era tão maldosa quando era pequena. – rolei os olhos e ela riu.
- Os anos passam, não? Muitas coisas mudam. – ela deu de ombros, sorrindo. - Acho que vamos nos ver bastante agora.
- Com certeza. – falei animado. – Estou muito feliz que você esteja aqui, sei o quanto você sempre gostou.
- Obrigada, . Estou muito feliz que você esteja de volta, todos sabemos que aqui é sua casa. – ela me abraçou mais uma vez e caminhou para fora do estádio.
- Bells. – gritei antes que ela se distanciasse mais. Ela olhou para trás com as sobrancelhas franzidas e eu andei até ela. – Você quer uma carona?

- Não vai te atrapalhar mesmo? – ela perguntou, abrindo a porta do banco do passageiro alguns minutos depois já que tivemos que atravessar todo percurso novamente até o outro lado do estádio.
- Nem um pouco, faço questão. – ela sorriu, tímida. – Vai, me conta. Como você tá se sentindo em voltar para cá? Eu e minha mãe falamos disso uma vez, eu apostei que você não voltaria, ela apostou que você voltaria.
- Ah, é? – tentei não deixar um sorriso aparecer em meus lábios, mas não foi possível esconder. – Eu sempre soube que acabaria voltando, era inevitável. Eu estou bem feliz em estar de volta, me sinto em casa em Londres, mesmo tendo passado tanto tempo na Espanha.
- , e a Lola? – ela perguntou.
- Olha, até que você conseguiu segurar bastante, não é? – falei, imitando-a há alguns minutos.
- Sem graça. – ela riu.
- Ela está bem, quando quiser te levo para vê-la, tenho certeza que ela vai ficar muito feliz.
- Ela está linda, vi fotos dela no seu instagram.
- E a Chelsea está bem também, não? Vi fotos dela... – pigarreei envergonhado mais uma vez. – No instagram da sua mãe.
- Você é inacreditável. – ela gargalhou. – Já faz anos, .
- Ei, eu não tenho culpa, nunca dei unfollow nela. Eu queria saber de vocês, saber se estavam bem. Das duas, bonitinha, eu estava acompanhando a senhorita também. Me perdoe se não consegui desapegar. – eu rolei os olhos e a encarei me fingindo de bravo.
- Tudo bem, vou aceitar só porque tenho que reconhecer que é incrivelmente fofo.
- Ainda no mesmo lugar? – perguntei depois de perceber que já estava no caminho que era tão conhecido por mim alguns bons anos atrás.
- Sim. – ela sorriu e ligou o rádio, balançando a cabeça com a música que tocava.
- Você está muito igual à sua mãe, incrível. – observei seu jeito, rindo. Me lembrava de gritando as músicas que gostava dentro do carro comigo, claro, depois que ela perdera a vergonha.

- Obrigada, . – ela me abraçou. – Nos vemos logo, acredito.
- Com certeza nos veremos, vou te procurar. – dei de ombros e ela riu, assentindo e fechando a porta.
- Bells. – chamei, com um tom de incerteza em minha voz.
- Não. – ela respondeu prontamente antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa. Sorri e ela piscou para mim.

Cheguei em casa e Lola veio até mim pulando, ela começava a apresentar alguns pelos mais brancos próximos ao seu focinho, o que me fazia rir, pois eram a coisa mais fofa. Me sentei no sofá e ela se jogou ao meu lado de barriga para cima pedindo carinho. Lola era uma maravilhosa companhia.
Peguei meu celular e procurei Bells no Instagram, decidido a não perder contato de forma alguma com ela.
Olhei suas fotos e sorri vendo diversas fotos com com legendas de músicas, as duas eram grudadas mesmo na adolescência dela. Conhecia muitas que se afastavam quando começavam a trilhar seu próprio caminho, mas eu sabia que elas ainda se manteriam fortes.

Há alguns dias eu havia voltado a treinar, mas aquele treino junto a todos, não mais os pequenos treinos que estava fazendo durante minha recuperação. Eu estava muito bem recuperado e agora era o momento de entrar no jogo novamente e iniciar essa nova temporada já em campo. As notícias já anunciavam meu retorno com certeza após eu mesmo ter divulgado em minhas redes sociais e o time também.
Cumprimentei todos do time ao entrar no estádio e parei junto a eles para ouvir o técnico falar. Atualmente tínhamos em comando um técnico português, o que me lembrava da primeira época em que atuei no Chelsea e éramos liderados por Mourinho. A equipe possuía diversos jovens e alguns veteranos, mas não da mesma época em que eu jogava ali, já que alguns já haviam se aposentado e outros estavam fazendo o mesmo que eu e retornando para suas equipes de coração para encerrar a carreira. William e David Luiz, por exemplo, haviam retornado ao Brasil. Kepa estava em uma brilhante carreira ainda na Espanha. Azpi já estava curtindo sua aposentadoria e cheguei a ouvir que ele em algum momento se tornaria técnico. Kanté estava jogando na França, assim como Giroud, e diversos outros estavam perdidos entre times que eu torcia ter a chance de ainda jogar contra.
No primeiro jogo pegaríamos o Leicester, já começando em alto nível. Seria um momento marcante, já que iremos estrear em casa em meu jogo de volta e sabíamos que teria uma grande festa por parte da torcida. Estávamos a dois dias desse momento e meu coração já não cabia no peito de ansiedade.

Enquanto todos bebiam água, vi novamente a turma de Bells passando pelo canto do campo e sorri, correndo atrás deles para procurá-la apenas para dar um oi. Olhei para todos que andavam a procurando e estreitei meus olhos mais atentamente ao perceber que ela parecia não estar ali entre eles. Sr. Harris me viu e sorriu em minha direção.
- Ela está atrasada, acabou de chegar e está entrando pelo portão da frente. – assenti e acenei para ele, andando alguns passos para chegar ao portão que ele falara para brincar sobre o atraso.
Cheguei ao portão e notei que ela não havia entrado ainda, então pedi gentilmente para moça que estava ali abri-lo para mim quando a vi se aproximar. Meu corpo ficou estático quando notei que ela andava naquela direção, mas se virava de costas para acenar para a pessoa que estava a alguns passos de distância.
estava parada a poucos metros vestindo uma calça jeans e uma blusa roxa, com uma jaqueta também jeans por cima. Seus cabelos voavam com o leve vento que fazia ali e quase podia me lembrar de seu cheiro. Respirei fundo e vi Bells chegando próxima a mim com um grande sorriso.
- Acho que eu ‘tô ouvindo daqui. – ela apontou para meu peito e eu lhe mostrei o dedo do meio. – Larga de ser mole, . – ela estendeu seus braços em direção a mãe, que se virava para andar para fora dali.
Eu não sabia se ela havia me visto e estava fugindo, ou se ela não havia me visto devido ao lugar onde eu estava, então eu apenas corri, decidido a falar com ela.
- . – chamei, tentando não deixar com que minha ansiedade me fizesse gritar. Me aproximei e segurei levemente em seu pulso para que ela parasse de andar.
- . – ela falou, parecendo nervosa. – Oi.
- Oi. – soltei seu braço quando percebi que ainda o segurava e notei que nele estava a pulseira que eu havia lhe dado de presente anos atrás quando nos conhecemos. Segurei sua mão um pouco mais próxima e sorri para ela indicando o acessório. – Muito bonita, quem te deu tem bom gosto. – dei de ombros e ela riu, me fazendo suspirar inconscientemente ao ouvir aquele som.
- Como você está? Você já a viu? – ela apontou para o portão onde Bells havia passado e já não estava mais.
- Ela não te contou? – a encarei com dúvida em meu olhar e ela parecia sem entender. – Eu a vi no dia em que ela começou aqui, conversamos bastante.
- Ah, ela me conta que teve um ótimo dia, mas deixa de fora essa parte. Vou pegar ela de jeito depois.
- Ela sempre foi esperta, com certeza teve motivo. – dei de ombros, rindo.
- Ela está muito grande, né? – ela falou como uma mãe orgulhosa.
- E muito linda também, inclusive, está extremamente parecida com você, . – falei, sincero. Seu rosto corou e eu sorri com sua reação tímida. Senti como se estivesse em 2018 novamente, quando nos conhecêssemos.
- Eu acho que... Eu tenho que ir. – ela apontou em direção a rua e sorriu. – Foi bom te ver. – disse, sem jeito.
- Foi muito bom te ver. – dei de ombros e sorri, me aproximando para beijar seu rosto. Ela se virou de costas e começou a andar, após acenar para mim.
- . - chamei-a de novo e ela se virou prontamente. – Você ainda não acredita em destino?



Capítulo 25

“Even ten years from now if you haven't found somebody I promise, I'll be around. Tell me when you're ready, I'm waitin'.” (When You're Ready – Shawn Mendes)

Por

Acordei preparado para minha estreia. Minha cabeça estava limpa, e meu corpo parecia novo, por incrível que pareça. Eu estava muito ansioso por esse dia desde que decidi retornar, eu daria 110% em campo hoje e faria o melhor para que levássemos os primeiros três pontos.
Levantei cedo e preparei tudo que poderia, tomei banho, comi e arrumei algumas coisas que estavam jogadas. Peguei meu celular e decidi abrir as notícias para ver o que a imprensa falava, pois, com certeza qualquer crítica me motivaria e era um ótimo dia para estar motivado.
O Chelsea postara alguns jogos contra o Leicester, entre eles até gols meus de 10 anos atrás estavam inclusos. Os jornais da Espanha pareciam saudosos em acompanhar minha nova estreia, o que me fizera feliz. Os jornais da Inglaterra pareciam ansiosos, porém, notei que nenhum deles realmente tinha fé no que eu ainda poderia fazer, eu até mesmo entendia que era por conta de todas as lesões recentes, mas eu ainda sabia me virar muito bem com a bola no pé, pode ter certeza.

- Você está preparado? – o técnico perguntou, se aproximando de mim na fila que se preparava para entrar em campo.
- Sem dúvida alguma. – ele sorriu e bateu em meu ombro, demonstrando seu apoio.

- Estreia com gol é para poucos, . – um dos caras falou, me cumprimentando.
Havia sido uma partida muito disputada, o Leicester vinha com um bom time, mas nos havíamos entregado nosso melhor dentro do campo e saído com a vitória. Aos 44min eles fizeram o primeiro gol, então aos 56min nós empatamos, e aos 75min eu consegui o gol da virada. Não posso negar, isso havia me feito muito bem. Eu estava muito feliz e nesse momento meu ego estava em um nível um tanto quanto alto.
- Comemoração? – todos no vestiário gritaram e eu sorri, concordando e me juntando a eles em um abraço muito suado em grupo.
- Na verdade... – eu olhei para fora dali e vi Bells passando pelo corredor. – Não vou poder hoje, pessoal, desculpa.
Peguei minhas coisas e corri rapidamente para tomar um banho e sair dali o quanto antes, não queria perdê-la, não sabia se ela iria embora logo após o jogo ou se fazia algo ainda. Aquele seria o banho mais rápido da minha vida, sem dúvida nenhuma.

- Ei, Bells! – gritei quando finalmente a encontrei em seu armário pegando suas coisas. Ela se virou em minha direção e riu, apontando para trás.
- Você está perseguindo minha filha, ? – ouvi a voz de atrás de mim e sorri. – Bom, de novo. – ela deu de ombros e eu rolei os olhos.
- Olha, da última vez a perseguição acabou muito bem, acho válido que eu faça de novo. – seu rosto se tornou um tom rosado e eu ri, beijando sua bochecha. – Não tente entrar em um jogo que a gente sabe que eu ganharia, , você só me da mais brechas para o gol.
- Você não muda? – ela me encarou tentando esconder um sorriso. Neguei com a cabeça e ela apontou para Bells que vinha caminhando até nós.
- Lá vou eu me sentir com seis anos de idade de novo. Oi, . – ela riu e me abraçou. – Vai comemorar com a gente o meu primeiro dia de verdade?
- Eu ia te convidar para isso, não sabia que você estaria acompanhada. – encarei , arqueando minhas sobrancelhas.
- Achou que eu não estaria aqui com ela? Sério, ? – sua expressão se tornou algo como irritada e eu ri.
- Quando eu digo que você da brecha eu não estou brincando, . Eu tinha certeza que você estaria aqui, por isso falei com o time que não poderia ir comemorar com eles. – dei de ombros e ela riu, mas parecia nervosa. – Eu tento ser discreto, mas se você gosta de jogo aberto, tudo bem.
- Ah, eu não sou obrigada a ver isso. – Bells rolou os olhos e pareceu concordar.
- Você já está bem grandinha para ver essa conversa, Bells. – ela me mostrou a língua.
- Ah, Bells então? – a encarou e ela virou de costas e saiu andando, me fazendo ficar sem entender. – Volta aqui, Isabelle.
- Ah, mãe. – ela riu envergonhada. – É o , eu não ia falar isso para ele logo quando ele voltou.
- Então a senhorita tem preferências? Jogadores de futebol, tudo bem? Sua mãe não?
- Outch, jogadores de futebol. – coloquei a mão em meu peito como se algo tivesse me atingido e riu. – Alguém me explica no caminho? – falei, empurrando as duas em direção a saída.
- A senhorita aqui. – apontou para Bells que andava um pouco a frente de nós. – Não aceita mais ser chamada de Bells. Tivemos uma longa e séria conversa e ela pediu para que todos parassem, até os avós. Agora é Belle, Isabelle ou por sobrenome. Ela disse que Bells soa muito infantil.
- Ah, eu não acredito nisso. – reclamei e ela olhou para trás.
- Eu não tenho culpa que é verdade, você sabe que é infantil, .
- E você é a grande adulta, né? – dei de ombros e ela resmungou. – Continuarei chamando de Bells, não participei da longa e séria conversa mesmo.
- Vai adiantar eu reclamar? – neguei com a cabeça e nos encarou indignada.
- Ah, Isabelle. Deixa você, vou te deixar sem ter onde morar.
- A gente dá um jeito. – pisquei para ela, fazendo as duas rirem.
- Logo você se acostuma com todo mundo usando o Isabelle e vai passar a me chamar assim também, você vai ver.
- Isabelle! – a encarou, advertindo-a.
- Então, eu vou me acostumar com todo mundo te chamando assim? – frisei o todo mundo e olhei discretamente para enquanto dirigia.
- Vou fingir que não estou aqui, talvez seja melhor não ser colocada para fora de casa mesmo. Não confio que você ainda vai dar um jeito se ela já tiver feito sua cabeça.
- Tô adorando que você já está prevendo o futuro. – pisquei para ela através do retrovisor e ela riu, fazendo o mesmo.
- Vocês dois juntos de novo como se fossem velhos amigos é um pesadelo. – ela balançou a cabeça em negação.
- Sabe a melhor parte, mãe? Você não reclamou de verdade ou pediu para parar ainda.
- Você é minha filha ou dele? Posso saber?
- Só deixando claro que se precisar de mais um pai, ‘tô aqui aceitando, viu? Só peço a mãe como doação. Nada demais. – Bells gargalhou e vi que até tentava segurar a risada.
- Eu odeio você, . – ela disse quando não conseguiu mais aguentar e aumentou o volume do rádio como se fosse me fazer ficar em silêncio.

- Achei que sua mãe e seu irmão estariam aqui em Londres. – falou enquanto olhava o cardápio do restaurante. – Na verdade, mais sua mãe. Thea não está muito bem, né?
- Sim, ele preferiu ficar com ela em casa. Mas no próximo eles irão. Como você sabia da Thea? – perguntei e ela sorriu.
- Falei com ela pela manhã. Nós conversamos bastante, . Ellen vive em casa com a Belle e vice-versa.
- Thea e você tem todo esse contato e ninguém nunca pensou em me contar?
- Não, deveríamos? – suas sobrancelhas estavam arqueadas e eu ri, sabendo que ela tentava se fazer de brava.
- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. – mostrei a língua. – É que ela nunca me falou, principalmente que Ellen e Bells estavam sempre juntas, eu ficaria feliz em saber disso.
- Eu pedi, tudo bem? – assenti, entendendo então o motivo e claro, compreendia perfeitamente. Por sinal, não era mesmo da minha conta, mas estava feliz em saber disso agora.
- Mãe. – Bells aparecera com o celular na orelha, voltando do banheiro. – O pessoal está saindo daqui de perto e indo para outro lugar, eu posso ir com eles? Vocês se importariam? – ela sorriu forçado, fazendo rolar os olhos.
- Eu não. – falei rapidamente, olhando para fora e tentando segurar a risada enquanto provavelmente a olhava torto.
- Belle, o queria comemorar com você e você vai deixar ele aqui?
- Não, eu estaria deixando vocês dois aqui, não ele sozinho e ele disse que não se importa. – ela respondeu imediatamente e eu evitei olhar para elas, para que não atrapalhasse a discussão.
- Por favor, mãe. , me ajuda aqui, vai.
- Ah, você realmente quer me colocar nessa? – perguntei a encarando e ela tinha em seu rosto uma expressão pidona.
- Ah, Isabelle, vai logo. – resmungou estressada e a menina abraçou a mãe.
- , você cuida bem dela. – ela se abaixou e beijou minha bochecha. – Vocês não são estranhos, não ajam como estranhos. – ela piscou para mim e saiu correndo em direção a porta.
- Abusada. – reclamou. – Agora é sempre assim, ela está me largando aos poucos.
- Não vou soltar uma frase clichê sobre os filhos serem criados para irem embora, você está um pouco estressada demais para isso. – ela riu, negando com a cabeça.
- Não estou estressada.
- Tem razão, eu quem estou. – falei irônico.
- Não me estresse mais. – ela me encarou.
- Mas você disse que não estava estressada.
- Tá, você ganhou. – ela se deu por vencida e relaxou os ombros, rindo. – Só fico preocupada demais com ela. Ela é muito responsável, mas o coração fica pequenininho cada vez que ela sai e eu sei que vai demorar para chegar. Ela tem uma turminha bem legal, todo mundo bem tranquilo, são os mesmos desde sempre, mas você sabe como é coração de mãe.
- Ah, com certeza sei, minha mãe sofreu bastante. – dei de ombros e ela concordou.
- Pode ter certeza que ela sofreu, ela sem dúvidas sabia que o filho tinha um parafuso a menos.
- Eu amadureci muito, tá? Nos últimos nove anos. – rolei os olhos e ela riu, sabendo que eu estava brincando. – Mentira, sou exatamente o mesmo.
- Estou vendo.
- Acho que só teve uma coisa estranha, provavelmente meu coração congelou nesses últimos anos, porque parece que nunca nem sai daqui. – ela sorriu, abaixando a cabeça. Imaginei que ela estivesse corando nesse momento. – Me diz uma coisa... Tenho que me preocupar com algum marido dessa vez?
- Como você pode ser tão direto, ?
- Eu sei o que quero, por que eu enrolaria? – ela fingiu pensar nesse motivo e riu. Coloquei minha mão por cima da sua na mesa e notei ela respirar fundo. – E se você não tivesse o mesmo pensamento que o meu, você já não estaria mais aqui comigo, .
- Você não acha que muita coisa muda em tanto tempo assim? – ela perguntou séria, mas ainda sem cortar nosso contato.
- Confesso que para mim não. Mas acho que preciso saber de você, não é? – apertei sua mão, acariciando-a em seguida. – Mudam? – ela fechou os olhos e eu sorri olhando cada detalhe seu. Ela então suspirou e segurou minha mão de uma forma mais forte, acariciando-a da mesma forma que eu havia feito. Ainda de olhos fechados, sua cabeça balançou de um lado para o outro indicando uma negativa, o que me fez sorrir prontamente. – É bom saber. – colei meus lábios brevemente em sua mão que estava entrelaçada à minha.
- Vai, , aproveita que estamos aqui, me conta sobre os últimos anos.
- Não acha que é muita coisa?
- Ah, por favor, eu quero saber de coisas como a Bola de Ouro. Só desse nível para cima. – ela riu.
- Ah, entendi. Você quer saber só do “jogador de futebol”. – fiz aspas com os dedos, me referindo ao que ela falara para Bells anteriormente.
- Você se apega a alguns detalhes, não? – ela rolou os olhos e eu dei de ombros.
- Foi maravilhoso, . Eu tava esperançoso, mas quando ouvi meu nome eu achei que meu coração ia sair do corpo.
- Eu tava desesperada em casa, assistindo. Imagina, você e o Kepa. Eu falei com ele depois, ele estava surtando, imaginei que você estivesse na mesma.
- Ele falou comigo lá.
- Eu sei. Sinto saudade dele. – ela falou, triste. – Ele foi uma boa companhia.
- Fico mais tranquilo que agora ele está namorando. – respirei aliviado e ele riu, dando um tapa leve em meu braço. – Brincadeira, eu sei que não te perderia para ele. Na verdade, para ninguém. Fala sério, . É para ser, você sabe. – dei de ombros.
- Você é muito presunçoso, .
- Eu só ‘tô feliz. – confessei, rindo. – Você não tem ideia. Minha cabeça nesse momento está tipo nas nuvens, sinto que tem um monte de desenhos bobos e felizes passando por ela. E não ri de mim.

- Quando você decidiu voltar? – ela perguntou enquanto estávamos em frente de sua casa e já tínhamos colocado quase todo o assunto em dia. Estávamos parados ali dentro do carro há quase uma hora e nenhum de nós parecia querer se mover. Eu tinha medo de que quando ela saísse do carro, eu a perderia de novo.
- Depois que me lesionei e não podia jogar pedi para voltar para casa um pouco. Eu precisava me afastar de lá, minha cabeça não estava boa. Fiquei uns dias na minha mãe, fiquei pensativo, e então decidi visitar Londres. Foi quando tive certeza, foi engraçado. Eu passei em frente a alguns pontos e me lembrei que era aqui que eu me sentia em casa de verdade, principalmente quando passei pelo Stamford Bridge. Inclusive, me lembrei de você quando vi a London Eye, você não tem ideia, sei que são muitos lugares que me lembram nós, mas um primeiro beijo no lugar mais clichê dessa cidade é algo marcante. – peguei sua mão e levei minha cabeça próxima a seu corpo, sentindo seu cheiro. – Caralho, . – respirei fundo e ri discretamente, fazendo-a se virar para me encarar confusa. – Não é possível que isso seja normal. O que eu sinto. Eu quero muito falar o que eu estou pensando, mas vou me segurar dessa vez, preciso lembrar que não somos mais tão novinhos e eu não deveria agir como um louco.
- Não deveria agir como seu natural? – ela gargalhou, me fazendo arquear a sobrancelha e lhe mostrar a língua em seguida. – Imagina como foi para mim, . Eu fiquei aqui, e por mais que eu more aqui quase minha vida inteira, tudo me fazia lembrar você no começo. Depois de um tempo eu me acostumei, claro, mas no começo foi quase impossível ficar realmente bem. O mais engraçado foi quando eu vi que você tinha voltado, comecei a passar pelos lugares e sentir a mesma coisa de novo, como se nunca tivesse me acostumado, a pulseira até voltou a pesar no braço, por mais que eu nunca tivesse deixado de usá-la. – ela balançou o braço, mostrando o presente que eu dera há tantos anos e notara em seu braço alguns dias atrás quando nos encontramos.
- Ah, . – eu suspirei e segurei seu rosto, acariciando sua bochecha. Me aproximei dela, deixando nossos rostos em uma proximidade que eu sabia que seria difícil controlar meus sentimentos, por mais descontrolados que eu já soubesse que eles estavam. Vi que sua respiração se tornara lenta, e ela encarava meus olhos. Sorri e a vi fazer o mesmo, então ela se aproximou e beijou minha bochecha, nos afastando novamente.
- Não digo para irmos devagar, . – ela segurou minha mão. – Mas, não agora.
- Eu não ia fazer nada, mas se você pensou, é porque você quer tanto quanto eu. – mostrei a língua e ela soltou minha mão, se apoiando na porta e abrindo-a. – Obrigado pela noite, . Espero te ver logo. Manda um beijo para Bells. – apontei para janela da casa, de onde a garota acenava.
- Ela está em casa? – ela me encarou incrédula, olhando para janela novamente. Pisquei para ela, rindo. – ! Eu não acredito. Eu odeio vocês dois. – dei de ombros e lhe mandei um beijo enquanto ela batia a porta já gritando um “Isabelle!” para todos os vizinhos ouvirem e a menina ria descontroladamente de dentro de casa. Aquela garota era tão incrível quanto quando era criança.
Liguei o carro e sai com um sorriso no rosto, pensando o quão engraçado era essa situação, eu e ainda parecíamos os mesmos. Eu sabia que muita coisa tinha acontecido, eu sabia que muitos anos haviam se passado e fora difícil cada minuto dessa separação, mas o fato de termos nos separado tão bem quanto havia acontecido, colaborava agora em nossa relação. Nós paramos em um ponto em que era inevitável sofrer, pois estávamos caminhando para algo que sabíamos que era grande. Parar naquele momento nos dava um motivo para continuar, e eu sabia que se algum dia a encontrasse mais uma vez, eu largaria tudo para viver esse sentimento de novo.
Apesar de pensar nela quando voltamos, não imaginei que as coisas aconteceriam assim, tão facilmente. Eu pensei diversas vezes em buscar seu contato, em chamá-la através de redes sociais, mas estava com medo. Por mais direto e brincalhão que fosse em meu normal, o medo de uma rejeição da parte dela havia me feito amarelar. Quando é para ser, nada tira do seu caminho e essa era a única coisa que passava pela minha cabeça nos vendo aqui, agora, num novo começo. Eu estava preparado para ter de novo, e ter a certeza de que ela me permitiria tentar isso, havia apenas aumentado toda minha ansiedade.



Capítulo 26

“'Cause the drinks bring back all the memories of everything we've been through [...] And the memories bring back, memories bring back you.” (Memories – Maroon 5)

Por

- Isabelle! – entrei em casa e a encontrei mexendo no celular, sentada no sofá.
- Oi, mãe, tudo bem? Como vai a vida? – ela falou, se achando engraçada e rindo de si mesma.
- A minha vai bem, a sua eu já não tenho tanta certeza. Você tem um parafuso a menos? Você não ia sair com os seus amigos? – perguntei, jogando minha bolsa no sofá e largando meu corpo nele em seguida.
- Eu não tava afim. – ela fez bico e levantou. – Vai para lá. – senti seu corpo empurrar o meu e ela se espremeu ao meu lado no sofá, deitando próxima a mim. – Como foi?
- Eu estou muito brava para conversar com você. – reclamei.
- Mãe, para com isso. – ela rolou os olhos.
- Eu achei que você era minha parceira, você tá jogando sujo.
- Não ‘tô jogando sujo, até o percebeu que eu estava mentindo. Você tava tão cega que nem conseguiu ver.
- Agora você tá meio abusada, não acha? – eu ri da forma que ela havia falado e ela apenas sorriu. – Eu não tava cega, eu só achei que era verdade. percebeu porque ele é esperto demais para esse tipo de coisa, eu sou inocente. – dei de ombros e ela gargalhou.
- Inocente, mãe? Jura?
- Uhum. – falei com a maior sinceridade, brincando com ela.
- Agora me fala de verdade, como foi?
- O certo não seria você estar tratando esses assuntos comigo? E não o contrário?
- Não se é você quem tem um grande amor que reapareceu. Eu não lembro de tudo, claro, mas a vovó já me falou de como foi. Ela disse que surpreendeu até a ela, a forma que você ficou. Ela disse que se lembrou da você mais jovem que se apaixonou pelo meu pai, mas que ainda parecia ter um algo a mais.
- Sua avó é uma dedo duro, Belle. – suspirei e ela me encarou, aguardando que eu falasse. – Foi muito bom, não posso negar, filha. Eu queria me enganar pensando que foi só “okay”. – fiz aspas com as mãos para reforçar e ela negou com a cabeça, rindo. – Mas foi mais que isso. Eu não consigo entender, nunca consegui, não é agora que vou. É incrível o que aquele ser humano causa, Bells. Ele é todo brincalhão daquele jeito, mas ele é completamente sincero, tudo que ele fala, não é exatamente uma brincadeira. Eu nem consigo evitar em saber que já estou perdida mais uma vez. Não é nem que eu vá ficar perdida, eu já estou. Desde o minuto em que o vi aquele dia.
- Ah, mãe. – ela sorriu feliz e me abraçou. – Isso é tão bonitinho, quero tanto te ver sempre feliz desse jeito.
- Você está me deixando com vergonha. – reclamei.
- Não tem motivo, sou sua melhor amiga, sua chata.
- É mesmo. – beijei seu rosto e ela me mostrou a língua. – Não sei onde vai dar, mas confesso que não tenho nenhum motivo para não entrar de cabeça nisso. Se em quase dez anos nada na nossa cabeça mudou, por mais que eu tenha tido um relacionamento e eu sei que ele também, eu não vou negar que começo a acreditar que era para ser. E eu quero que seja, não quero deixar para daqui vinte anos. Da primeira vez, a minha maior preocupação era você pequena, era tudo muito fofo e engraçadinho, eu me sentia bem, mas ficava com o pensamento todo em como seria com você. Quando percebi que ele havia entrado nessa com o combo, sem qualquer preocupação, eu aceitei. Agora, eu não tenho nem mesmo essa, você já tem 15 anos e não é como se ele fosse um desconhecido. Mas, eu ainda acho que quero uma aprovação sua, quero saber o que você pensa, se você acha errado, não sei.
- Vou tentar me manter séria para esse assunto, juro. – ela beijou os dedos em frente dos lábios, como em uma promessa. – Eu ‘tô muito feliz. Vai fundo. – ela gritou, se levantando e pulando pela sala como numa grande comemoração. – Chega. – ela se deitou novamente, como se nunca tivesse saído dali. – Então, eu acho que basicamente já passou da hora disso dar certo. Se anos atrás você tinha um pensamento e hoje já não tem mais, entra de cabeça de uma vez, não tem motivo para ficar de gracinha. Eu ‘tô ansiosa até, você não tem ideia. O é legal, mãe. Você tinha que ver a felicidade dele quando me viu no estádio, ele teve que cumprimentar toda a turma, claro, mas ele ficava me encarando como se para saber se eu era mesmo real ou quem ele estava pensando. Foi a coisa mais fofa.
- A parte mais difícil para ele quando foi embora, foi pensar em como você ficaria. Falei que você era pequena e logo se esqueceria, mas ele não. A Thea disse que ele sempre evitava perguntar de mim, mas ele sempre queria saber se você estava bem.
- Quero passar mais tempo com ele para lembrar porquê eu gostava tanto assim dele.
- Eu acho que não tem alguém que não goste, Belle.
- Você vai contar para vovó e pro vovô? – ela questionou, arqueando as sobrancelhas.
- Acho que ainda não, não preciso fazer fofoca com a sua vó nesse exato minuto.
- Ah, mãe. Eu quero falar com ela. – ela riu.
- Você quer um apoio em me encher o saco, eu sei disso. Te conheço, Isabelle. Quando formos lá, nós contamos. – mostrei a língua e ela me abraçou. – Obrigada, tá?
- Amo você. Seja feliz e me faça feliz, obrigada.
- Também amo você, minha adolescente pestinha.

“Boa noite, .”
Li a mensagem em meu celular e respirei fundo, me jogando na cama. Havia acabado de sair do banho, onde tentava conter meus pensamentos e ansiedades que pareciam não querer se distanciar de forma fácil.
“Boa noite, .”
Respondi a mensagem e coloquei o aparelho em baixo do meu travesseiro, me preparando para fechar os olhos e ficar rolando naquela cama até que o sono decidisse aparecer e embalar minhas angústias para outro momento. Senti-o vibrar e decidi que o ignoraria, até notar que ele vibrava repetidas vezes.
- Você não consegue mesmo me largar, não é?
- Eu aposto que você está no clima para dormir tanto quanto eu, .
- Eu estou com muito sono, okay?
- Não, não está. Você com sono já teria colocado alguns muitos palavrões na frase.
- É, talvez eu não esteja com tanto sono assim.
- Já quero começar pedindo desculpas, eu te conheço e você vai me xingar. Quais são as chances de você vir em casa na sexta?
- Ah, .
- Não temos necessidade de um primeiro encontro em público, temos?
- Não, não temos.
- E você prefere algo em casa, eu sei. Eu não quero ficar longe de você enquanto recomeçamos, colabora comigo, por favor.
- Eu também não quero, . Você me acha uma pessoa completamente fria, é incrível, sempre batendo na mesma tecla.
- Não comece com as suas neuras porque eu estou brincando e nada estraga meu humor, vai dormir que o seu mal só pode ser sono agora.
- Ou meu mal é o mesmo há alguns anos, você.
- Pelo contrário, não acha?
- Vai dormir, . Sexta à noite, vou ficar na farmácia durante o dia.
- Te pego lá.

- Belle. - chamei-a pela manhã, a acordando e sabendo que receberia um travesseiro na direção da porta.
- Hum. – ela resmungou, provavelmente usando alguns palavrões para me xingar em sua mente.
- Estou tomando café e vou ir para farmácia, tudo bem?
- Tá.
- Você se importa de ir para sua vó depois que sair do estádio e ficar por lá?
- Nem um pouco, mas você me pega lá mais tarde? – me aproximei da cama e me sentei ao seu lado, beijando seus cabelos.
- Vou sair com o depois que sair da farmácia, mas te pego depois disso, tudo bem? – ela abriu os olhos, agora parecendo completamente desperta.
- E onde vocês vão? Quando combinou isso e não me contou? Ah, mãe. – ela me encarou e se sentou na cama.
- Depois eu te conto tudo, sua curiosa. Eu prometo. – levantei minha mão como em uma promessa e ela rolou os olhos.
- Se divirta e me avise quando chegar lá, tudo bem?
- Me avisa quando estiver na vovó também, e por favor...
- Sem comentar nada com ela, eu sei. Vou dar meu melhor. Eu amo você.
- Também amo você. – beijei seu rosto e me levantei, fechando a porta atrás de mim e ouvindo-a gritar “Não me acorde de novo.”

- Você fecha tudo por aqui? – perguntei para Ryan, farmacêutico que ficava responsável por aquela nova unidade há alguns meses.
- Fecho sim, chefe, pode deixar.
- Vou indo então, tudo bem? – beijei seu rosto e peguei minhas coisas, vendo o carro de estacionado em frente ao estabelecimento. Ele abriu o vidro e buzinou, me apressando para me irritar. – Eu te odeio. – gritei para ele, mostrando o dedo do meio.
- Aquele é ? – assenti e Ryan me encarou com as sobrancelhas arqueadas. – Você é amiga do ?
- É, quase isso. – senti meu rosto esquentar e ele riu.
- Como eu não sabia disso?
- Olha, eu também não sei, mas se você não costuma procurar sua chefe na internet para tentar saber toda a vida dela, acho que fico feliz com isso. – ele gargalhou, negando com a cabeça.
- Sou torcedor do Tottenham, mas admiro ele.
- Tenho uma grande relação com o time do Chelsea. Era maior há alguns anos. – dei de ombros.
- Achei que sua única relação lá era o trabalho da Bells. – neguei com a cabeça.
- Prometo que te explico melhor, só não vá tentar fazer fofoca em algum lugar para ganhar dinheiro, por favor. Até porquê, ninguém se importa, tiveram notícias na época, mas nada grandioso. – eu ri e ele me acompanhou. – Logo você o conhecerá melhor.
- Aproveita o encontro, chefe. Só vou fofocar para Terry. – ele sorriu se referindo à namorada e eu assenti, mandando um beijo no ar.
Ryan havia sido uma ótima contratação para essa loja, e eu sabia que poderia confiar nele para as coisas ali, pois ele era irmão de Phillip. Phil havia sido estagiário da minha farmácia há muitos anos, e depois de sua formação e a saída de Julian, se tornara um dos responsáveis pelo estabelecimento, até se tornar meu braço direito. Os dois agora eram como família para mim, e eu sabia que tudo estava bem nas mãos deles.

- Que enrolação. – rolou os olhos quando bati a porta do carro.
- Só lembrando, vai se foder. – falei, rindo. – Um ótimo jeito de recepcionar alguém para um encontro, não é?
- Isso é um encontro? Estamos dando nome? – ele brincou.
- Você quem disse que não tínhamos necessidade de um primeiro encontro em público, você quem deu o nome.
- Droga. – ele reclamou, percebendo que eu havia ganhado ao menos um ponto naquela discussão. – Sabe o mais engraçado? É ter um segundo primeiro encontro.
- O mais engraçado é não ficar nervosa para um encontro. – comentei, ligando o rádio. – Poder colocar a mão no seu rádio sem me preocupar com o que você pensa, inclusive, podendo colocar qualquer música que eu goste sem me importar se você gosta também ou não. – dei de ombros e ele riu.
- Não que no nosso primeiro encontro você fosse a pessoa mais nervosa do mundo, .
- , eu estava quase vomitando antes de todas as primeiras vezes que saímos juntos, juro. Você era estranho, não me sentia confortável. – senti seu olhar indignado e gargalhei. – Tudo bem, essa parte estou brincando, mas eu realmente quase vomitei antes dos nossos primeiros encontros.
- Um primeiro encontro não te deixa nervosa nem mesmo sendo na minha casa? Só nós dois? Sem público para te salvar?
- Me salvar de quê? Você tem medo até de chutar a bola, . Só tenho medo das suas piadas sem graça.
- É exatamente a elas que eu estava me referindo. – ele riu, me fazendo rir também. - E chegamos.
- , você está morando aqui? – perguntei, olhando para a casa onde ele estacionara.
- Eu juro que não é perseguição. Eu apenas queria algo próximo do estádio. A curiosidade é que aqui estou exatamente entre o estádio e sua casa. – ele deu de ombros e eu o encarei. – Nem vem, eu não sabia que ia te reencontrar, .
- E não ia nem tentar? – questionei, arqueando a sobrancelha e tentando esconder um sorriso.
- Eu ia, mas as coisas aconteceram mais naturalmente e eu não precisei passar por esse desespero. – ele mostrou a língua. – Foi uma loucura momentânea que me fez escolher exatamente essa casa, confesso que tinha uma mais próxima. – ele respirou fundo. – Eu nem sabia que você estava na mesma casa. Foi só uma quase coincidência. Mas agora ela me faz feliz, concorda que antes mesmo que eu não estivesse longe, era um pouco contramão?
- Sabe a coisa mais maravilhosa de tudo? Você já tem toda a certeza que tudo vai dar certo, . – eu ri, desacreditada. – Você já está com planos avançados e pensamentos distantes, o próximo passo é dizer que a casa tem três quartos. – ele abriu a porta do carro e olhou para cima, brincando como se tentasse disfarçar algo. – . – chamei sua atenção, descendo do carro também.
- Eu poderia estar me preparando pro futuro com qualquer pessoa, . – ele reclamou, me encontrando na frente do carro e entrelaçando nossos dedos enquanto andávamos em direção a porta. – Eu não estava, mas poderia ter sido meu pensamento. – ele riu, se afastando ao perceber que eu lhe daria um tapa no braço.

- Bem vinda à minha nova casa. – ele falou após abrir a porta e indicar o interior da mesma em um gesto exagerado.
Quando dei o primeiro passo, ouvi um barulho conhecido e automaticamente sorri, olhando para baixo.
- Ai, meu Deus! – me joguei no chão sem nem mesmo olhar o ambiente e vi rir, fechando a porta.
- Ei, sua curiosa! Invés de me cumprimentar primeiro, você corre para conhecer a nova velha carne?
- Lola! Você lembra de mim? Ai, que saudade de você, menina! Como você está grande, ainda parece um bebê, mas está tão grande. – Lola era incrivelmente dócil, então ela me cheirara rapidamente e em poucos segundos eu já podia abraçá-la sem preocupação.
Olhar para ela me fazia lembrar da forma que eu e nos conhecemos e como ela quem nos levou até ali, ela e Bells. Ainda como parte da Dogs Trust em Londres, todas as vezes em que eu era voluntária, eu me lembrava da primeira vez em que nos vimos. Era maravilhoso que eram apenas aproximadamente quatro vezes no ano, pois nos últimos teria sido uma tortura estar sempre presente com a lembrança.
Minha relação e de Bells com Lola era muito intensa na época em que eu era uma voluntária ainda mais ativa, sendo que isso fizera com que seu nome fosse Lola Belle, um carinho de todos da equipe por Isabelle. Ver ela ali depois de tantos anos me fazia sentir uma nostalgia maravilhosa.
- Não me canso de dizer que ela foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – comentou, acariciando-a. – Por diversos motivos, você sabe.
- Também estou pensando nisso. – sorri, me levantando. – Estou velha. – coloquei as mãos nas costas ao me levantar e ele riu.
- Desculpa, não posso discordar. Mas você continua linda, parecem que os anos nem passaram. – ele se aproximou, beijando minha bochecha.
- Agora você vai falar para todo mundo que tá com uma mulher de “quase quarenta anos”? – fiz aspas com as mãos, dando ênfase e insinuando em minha voz o deboche, me lembrando de como ele agira quando nos conhecemos.
- Acho que alguém guarda rancor. Mas, me diz... Eu ‘tô com uma mulher de quase quarenta anos? – seus olhos brilharam e eu ri de sua reação.
- Te odeio, . O que você fez para gente comer? – falei desconversando enquanto olhava em volta, vendo sua decoração simples e com poucas cores fortes.
- Nada. – ele deu de ombros e eu o encarei, entrando em sua cozinha e abrindo a geladeira, encontrando apenas vinho, refrigerante, alguns ovos e poucos condimentos. – Nós vamos pedir alguma coisa, eu não queria cozinhar, ‘tô cansado.
- Ah, ! – gritei, reclamando. – Você não se deu o trabalho de fazer nada? – ele negou com a cabeça, colocando seus braços em volta de mim quando me encostei na bancada.
- Para de surtar, . Não ‘tô te entendendo.
- Nem eu. – comecei a rir e ele me encarou, perdido. – Eu só tô testando minhas habilidades de atuação, vamos logo ligar e pedir algo porque estou com fome. – abaixei e passei por seus braços, indo até a sala e me jogando no sofá enquanto ele ria sozinho, ainda escorado onde estávamos.

- Vinho ou refrigerante? – ele perguntou, abrindo a geladeira.
- Não sei se vinho é algo que combine com a pura gordura desse lanche, mas vamos lá. – apontei para garrafa em sua mão.
- Esse lanche é muito bom, qualquer coisa combina com ele. – ele deu de ombros e caminhou até o sofá com a garrafa e duas taças. – Depois não diga que tentei te embebedar.
- Nunca. – neguei com a cabeça e dei o primeiro gole na bebida. – Respondo por meus atos até mesmo bêbada, você sabe que me controlo bem.
- Nunca te vi bêbada, mas você fica alegre, é engraçado.
- Se eu falar besteira, apenas me ignore. – mostrei a língua e abri meu lanche, dando a primeira mordida e vendo-o fazer o mesmo.

- E agora chega. – vi-o pegar a garrafa de vinho que estava na metade e tirar de cima da mesa de centro, colocando na geladeira. Assenti, rindo ainda do assunto anterior em que lembrávamos de diversas situações engraçadas de quando nos conhecemos. – Você bebeu mais da metade da garrafa sozinha, .
- Nem vem, você bebeu também. – ele me encarou, apontando para sua taça ainda cheia. – Você não bebeu? – ele balançou a cabeça, negando.
- Não estava afim, e se eu tiver que cuidar de você, prefiro estar bem. – ele deu de ombros. – Sei que você não fica ruim, mas e se eu tiver que dirigir para te levar? – ele se aproximou, me puxando para seus braços de forma que eu ficasse deitada sobre seu peito.
- E se? – perguntei arqueando as sobrancelhas e ele riu.
- É, podemos querer ficar assistindo a um filme aqui. – ele deu de ombros e eu ri. – Você está bem mesmo, né?
- Sim, mais uma e eu ficaria alegre, mas estou bem. – mostrei a língua e ele me apertou mais em seu corpo. – Está com medo de que eu fique bêbada por algum motivo, ? – ele assentiu, me encarando.
- Não queria duvidar por nenhum segundo de que você estava muito bem nesse segundo primeiro encontro. – ele se aproximou e juntou nossos lábios, trazendo de volta uma sensação de anos atrás que parecia nunca ter sido abandonada por nós.
Aquele primeiro beijo parecia mais urgente que o normal, nos mantendo quase extasiados em estar vivendo aquilo novamente. Minhas mãos estavam em sua nuca, enquanto as suas apertavam minha cintura e sempre pareciam tentar me aproximar mais do que era possível de seu corpo.
Nos separamos por alguns segundos apenas para recuperar o ar e percebi que ele me encarava, parecendo ter mil coisas em sua mente e então eu sorri, colocando minha mão por baixo de sua camisa e puxando-a para cima, fazendo-o me olhar surpreso. Poucos segundos depois, após recobrar sua total consciência, ele já se levantava comigo em seu colo e caminhava corredor adentro me levando para conhecer seu quarto.

- Ainda é tão incrível quanto eu me lembrava. – ele falou, tocando meus lábios novamente em um selinho. – Eu senti tanto a sua falta, .
- Eu também senti muito a sua falta, . Nossa. – suspirei, enquanto ele me segurava deitada em seus braços. – Eu ‘tô muito feliz.
- Eu achei que você ia ficar pensando, e pensando, e pensando. – ele confessou, rindo.
- Não tenho muito no que pensar, é diferente de antes, você sabe. – ele assentiu e eu me levantei, correndo até a sala e pegando meu celular. – Preciso avisar a Belle que não vou pegar ela.
- Não vai? – ele jogou seu corpo por cima do meu e eu ri, empurrando-o.
- Não vou. – sorri, lhe dando um selinho e mandei uma mensagem para minha filha pedindo para que ela dormisse na avó e amanhã eu a buscaria.



Capítulo 27

“Now I'm speechless, over the edge I'm just breathless, I never thought that I'd catch this lovebug again.” (Lovebug – Jonas Brothers)

Por

- Posso te fazer uma pergunta séria? – o encarei enquanto saíamos de sua casa e ele fechava a porta, já vestido para o treino. – Você realmente voltou para Londres pensando em nós? 10 anos , 10 anos são muita coisa.
- Eu sei que 10 anos são muita coisa, , mas eu voltei com o mínimo de esperança que eu poderia ter. Não imaginei que você pudesse realmente estar sozinha ainda, e eu sabia que você tinha tido um longo relacionamento nesses anos, não imaginei que havia acabado.
- Foi no ano passado, não parecia certo em algumas coisas e eu não conseguia dar um próximo passo, então eu terminei.
- E você sabe o motivo de não parecer certo? Eu estava voltando. – ele deu de ombros e me empurrou para o lado, fazendo graça.
- Pretensioso, não?
- Muito. – entramos no carro e percebi que ele ainda sorria. – 10 anos são muita coisa, mas na minha cabeça nós tínhamos algo que não foi terminado, o que torna difícil de esquecer. Já vi muita coisa de casais que terminaram e voltaram anos depois, mas não imaginei que pudesse dar tão certo. – ele se aproximou me dando um selinho enquanto ligava o carro para pegar o caminho da minha casa antes de ir para o estádio.

- Ah, não. – respirei fundo quando encostou na porta de casa e vi minha mãe descendo do carro junto com Belle.
- Quer que eu fuja? – ele perguntou, sem desligar o carro e tentando segurar a risada. Neguei com a cabeça e abri a porta do carro vendo-a me encarar enquanto minha filha ria.
- Esqueceu que eu tinha que ir trabalhar? – Belle perguntou vindo ao meu encontro e abraçando-me.
- Pior que esqueci. – sussurrei em seu ouvido e ela tentou segurar a risada novamente. – Você não falou nada para ela, né? – ela negou com a cabeça, me surpreendendo. – Talvez fosse melhor se você tivesse sido a fofoqueira de sempre.
Vi descer do carro e minha filha correu para abraçá-lo enquanto minha mãe se mantinha parada, nos encarando. Andei até ela e a cumprimentei com um beijo no rosto, mas seus olhos estavam direcionados para , que agora vinha até nós ao mesmo tempo que Belle andava até a porta de casa, provavelmente correndo para se arrumar.
- , pelo jeito voltou por completo não? – ela sorriu, abraçando-o apertado.
- Foi nosso primeiro encontro, não brigue comigo, eu ia te contar. – soltei na defensiva e ela me olhou com uma sobrancelha arqueada, me fazendo rir. Ter sua mãe como melhor amiga era maravilhoso, mas nessas horas ela te cobrava duas vezes mais por esconder qualquer coisa.
- Quanto tempo, garoto. Como você está? – ela perguntou, ainda segurando suas mãos fraternalmente.
- Muito bem. – ele sorriu, desviando o olhar para mim. – E a senhora? E seu marido? Não sei se estou preparado para encará-lo novamente. – minha mãe riu, negando com a cabeça.
- Acredite, acho que dessa vez ele ficará mais feliz. Ruim com você, pior sem. – ela apontou para mim e eu a encarei, indignada.
- Mãe. – reclamei e ela me ignorou.
- Vem, vamos tomar café enquanto Belle se arruma e depois vou levá-la ao estádio.
- Posso levá-la, vou para lá também. – ele deu de ombros e minha mãe pareceu ponderar.
- Faz sentido, esqueci que aquele também é seu local de trabalho. – ela riu e eu entrei em casa, deixando minha bolsa no sofá.
- Chelsea! – disse ao entrar e me virei a tempo de vê-lo correr até a porta dos fundos e abri-la, deixando a cachorra entrar. – Ei, menina! Quanto tempo. Que saudade! – ele se sentou no chão e a deixou cheirá-lo, seu rabo abanava de forma enérgica e eu sorri com a cena, sendo pega por minha mãe que negava com a cabeça. Eu sabia o que ela estava dizendo sem que ela precisasse falar, mas ela estava feliz.

- Ia contar quando? – dei risada ao ouvir minha mãe perguntar assim que e Belle saíram pela porta correndo e reclamando que estavam atrasados. Belle reclamou que não tinha as regalias dele de jogador e ele disse que se ele quisesse ela teria, apenas por saber que aquilo com certeza a irritaria. Nem parecia que eles não se conheciam, pois considerando a idade de Belle quando ele foi embora, ela era uma adolescente agora, tinha criado completamente sua personalidade. Eles pareciam ser amigos há muito tempo, o que me fazia feliz, confesso.
- Ia contar quando desse certo. – reclamei, me jogando ao seu lado no sofá e ignorando as coisas que estavam esparramadas no balcão.
- , quais são as chances de não dar? – ela gargalhou, me fazendo rolar os olhos. – Eu estou muito feliz por você, filha. Acredito que já ouviu isso da sua filha também. – assenti, me lembrando da conversa com Belle.
- Vocês dois juntos fazem parecer que não se passaram tantos anos, as coisas parecem as mesmas. É como se vocês tivessem congelado o tempo.
- Isso é bom, não é? – perguntei, pensativa.
- Sem dúvida nenhuma.
- Nós não tivemos nenhuma conversa muito séria ainda, apenas estamos aproveitando o momento e continua o mesmo palhaço de sempre.
- Não acho que vocês precisem, .
- Ah, mãe. É sempre bom. – dei risada e ela me acompanhou, concordando. – Logo o levo para ver o papai, prometo.
- Só não os chamo para almoçar conosco amanhã porque sei que tem jogo. – assenti. – Mas durante a semana podiam ir jantar, não acha?
- Vou conversar com , mas não é como se ele fosse negar.
- Só me avise antes para que eu possa preparar algo gostoso. – ela piscou e eu a abracei.
- Tudo que você faz é incrível, mãe. O quase não teve oportunidade de provar sua comida, ele vai amar. Eu amo você, obrigada por estar feliz por mim.
- Eu também amo você, filha.

- Como foi com a sua mãe hoje? – ouvi a risada de no telefone e senti vontade de bater nele.
- Para você já foi divertido, não foi?
- Sem dúvida nenhuma, estou louco para ver seu pai.
- Isso eu também estou, e acho que sua mãe também.
- Ela está feliz, mesmo.
- Que engraçado, temos muito em comum, também estou feliz.
- Olha, todos temos algo em comum.
– ele riu e eu me lembrei do convite da minha mãe. – Ela pediu para que fôssemos comer lá um dia a noite nessa semana, pode ser por você?
- Terça está bom?
– ele perguntou, prontamente e eu resmunguei concordando. – Mas nós já estamos prontos para dar esse passo? O que acha? – falou em tom debochado.
- Você é inacreditável, .
- Agora me fala uma coisa... Quem é Tom?
– ele perguntou, curioso.
- Ih, começou. Eu sabia que esse momento chegaria.
- Não estou falando nada demais, só queria saber quem é...
– ele riu. – Ouvi ela falando com ele no telefone, os olhos dela até brilham, é engraçado.
- Bem-vindo à mágica de uma adolescente apaixonada. Detalhe, ela e Tom se conhecem desde pequenos, prevejo um grande amor, ou uma grande decepção.
- Bom, o que importa é que passaremos por isso juntos, não é?
- Com certeza. –
sorri sozinha em meu quarto, achando bom que ele não veria. Eu com certeza estava da mesma forma que ele descrevera Belle, mas nunca assumiria. Não novamente. Ri sozinha com meu pensamento e ouvi-o suspirar.
- Nos vemos na terça-feira então?
- Sim, você aguenta até lá?
– perguntei.
- Vou tentar, prometo. Tchau, .
- Tchau, .

- Você precisa dar menos bandeira. – falei, entrando no quarto de Belle e deixando-a confusa. – Até já percebeu sobre o Tom.
- Não tem nem o que perceber, vocês são neuróticos. – ela tentou desconversar e eu ri, me sentando na poltrona em frente de sua cama.
- Não precisa entrar na defensiva, bonitinha. Só estou brincando com você, mas adoro quando você tenta fugir e pula de cabeça no que quero provar.
- Chata. – ela reclamou e jogou uma almofada em mim. – O é um saco. Vocês dois estão apaixonados e querem ver todo mundo da mesma forma.
- Engraçado que ninguém falou sobre estar apaixonado. – falei e sai correndo, batendo a porta em minhas costas enquanto ela jogava diversos travesseiros naquela direção.

- ‘Tô ansiosa para quando o vovô te ver. – Belle falou sentada no banco de trás, rindo de que parecia nervoso. – A vovó me contou que ele ficou muito irritado quando percebeu que vocês estavam juntos.
- Mas depois tudo ficou bem. – falei.
- E eu fui embora. – deu um sorriso amarelo e sacudiu a cabeça em seguida, parecendo querer afastar o pensamento.
- E agora voltou e vai ficar tudo bem de novo. – Belle falou e tirou dele um grande sorriso. – Você tem que parar de ser depressivo pensando no que já passou, . – ela reclamou e eu a encarei de sobrancelhas arqueadas.
- Você tem quinze anos ou trinta e dois e virou terapeuta?
- Talvez os dois, eu viajo no tempo, minha mãe não te contou?
- Desculpa, preferi esconder para não afastá-lo. Sabe como é, eu gosto um pouquinho dele.
- Acho que o pode superar algo assim, confio nele. – ela falava com uma seriedade fora do normal e parecia tentar segurar sua risada.
- Eu não sei se posso lidar com isso, me desculpem. Posso voltar para casa agora?
- Ah, não é agora que vamos te deixar fugir, . – falei, rindo.
- Não é como se eu quisesse. – ele me mostrou a língua e vi Belle revirar os olhos.
- Ver gente velha apaixonada é engraçado. – ela falou enquanto estacionava o carro. Quando já estávamos parados, eu e a encaramos.
- Desde quando quarenta anos é velha, pirralha?
- Trinta e oito, . – dei um tapa em seu braço, sabia que ele queria me irritar.
- Tá quase lá. – ele e Belle falaram juntos e eu não pude segurar a risada, vendo-os trocar um olhar cúmplice.
- Vamos. – abri a porta, apontando para meus pais que já estavam na frente da casa nos esperando.
- Que grande visita temos aqui. – vi meu pai falar ao ver descendo do carro.
- Acho que a partir de agora será mais que uma visita, meu bem. – sorri para minha mãe, sentindo meu rosto esquentar.
- Acho que talvez isso seja bem provável, senhor Augusto. – ele falou, apontando para minha mãe enquanto apertava a mão de meu pai.
- E a senhora sabia disso, novamente? – meu pai perguntou, se virando para encarar minha mãe enquanto a abraçava.
- Descobri no sábado, mas precisava ver sua reação, não podia te contar. – ela riu, nos convidando para entrar.
- Você é demais, mulher. – ele riu, negando com a cabeça e entrando para se sentar ao lado de uma Belle que já estava jogada no sofá mexendo em seu celular.

- Agora é a hora que todo mundo me conta como foram as coisas quando eu era menor? – Belle perguntou, se sentando conosco na mesa para comer.
- Nem temos tanta coisa para contar. As mais engraçadas eu te contei aquele dia no carro. – falou e ela riu, se lembrando.
- Sobre como o senhor o tratou mal. – ela apontou para o avô, que encarou .
- É assim que você conta a história para minha neta, ?
- Ele não mentiu em momento nenhum, pai. – falei rindo e minha mãe me acompanhou, concordando.
- Todos os minutos daquele dia ele passou resmungando “minha filha e um jogador de futebol, que absurdo” e ainda tinha o complemento, claro.
- Um jogador de futebol do Chelsea. – meu pai completou, rindo. – Ainda acho um absurdo toda essa trairagem em família. – ele apontou para nós três.
- Eu acho que o erro todo aqui, é que o senhor ainda não veio pro lado certo da história. – deu de ombros e Belle e eu concordamos.
- Nunca! – ele gritou, nos fazendo rir. – Fico feliz que você esteja de volta, . E já voltou para o time muito bem, gostaria de adicionar. , e o Kepa? Tem falado com ele? – me olhou de sobrancelhas arqueadas.
- Está bem, pai. Ele mandou um abraço para vocês, falei com ele ontem.
- Então o problema com o Chelsea era apenas eu? – perguntou e meu pai assentiu.
- Kepa não estava tentando namorar minha filha.
- Ainda bem, não? Acho que só um jogador já estava de bom tamanho, caso contrário o senhor já teria surtado há um tempo. – ele deu de ombros e todos riram. – E gostaria de lembrar que nunca tentei namorar sua filha, eu consegui. E se tudo der certo, estou conseguindo mais uma vez. – ele me mostrou a língua e senti meu rosto esquentar mais uma vez naquela noite.
não se importava se tinham pessoas perto ou não, ele apenas agia de seu jeito a todo tempo, o que era uma grande característica sua. Ele nunca mudava, ele me tratava daquela forma estando apenas nós dois, ou toda minha família a sua volta.
Pensar em sua família me fazia questionar o quão feliz Thea ficaria com aquela notícia. Eu ainda não havia contado para ela, mesmo que nos falássemos quase todos os dias. Ela provavelmente teria uma grande briga comigo por ter escondido, mas ela seria uma das pessoas mais felizes com a notícia.
No momento em que percebi que a amiga mais próxima que tenho, é a cunhada de que foi meu ex durante todos esses anos, pude sentir que nunca havia me afastado por completo desse sentimento que tenho agora. Eu me joguei de cabeça em nosso relacionamento quando me permiti, mas em nenhum momento eu saí dele de corpo e alma. No fundo todo o discurso de sobre talvez algum dia nos encontrarmos provavelmente havia ficado lá no fundo de minha mente sem que eu percebesse. No fundo, aquele jeito dele que eu tanto admirava não havia me deixado seguir em frente, pois a esperança de voltar a viver tudo isso ainda estava lá.
Todo mundo já leu sobre histórias de casais que se separaram e voltaram depois de anos, casais que se distanciaram por até mais tempo que nossos nove anos que se passaram. Eu penso nessas histórias e penso que a todo segundo acreditei que seu retorno me traria dúvidas e mais dúvidas. Como seria possível estar próxima de alguém que já estive e poderia ter mudado tanto depois desse tempo, e ter apenas certezas como eu tinha agora?
Algumas vezes eu até achava que essas histórias eram apenas para televisão ou livros, e não que o destino realmente pudesse brincar com as pessoas. Ou que o cupido existisse mesmo e fizesse sua parte com os apaixonados. Ou que tivesse uma linha vermelha que ficasse amarrada entre duas pessoas e elas pudessem ser almas gêmeas. Nesse momento eu sentia que minha história era uma dessas, e aquilo apenas me fazia rir. Quase quarenta anos de idade e começando a acreditar de verdade nos contos de fadas que lia para Belle.

- Quando eu vou poder sentar na frente e comandar o rádio? – Belle falou, reclamando da música que tocava e eu e nem prestávamos atenção já que estávamos discutindo sobre as vias que precisavam de algumas melhorias.
- Você se resolva com a sua mãe, meu carro sou eu quem dirijo, então o banco do passageiro vocês que briguem. – ele deu de ombros e eu o encarei. – Desculpa, só quero tirar me tirar dessa.
- Muito espertinho você, não acha? Ainda bem que você não tem filhos, , senão eles já seriam estragados com esse seu pulso forte. – falei ironicamente e ele mostrou a língua, rindo.
- Estão entregues, garotas. – ele falou, estacionando na porta de casa.
- Mãe, dá a chave. – Belle estendeu a mão para frente, se esticando para pegar a chave de minha mão. – Tchau, . – ela beijou seu rosto e saiu do carro resmungando algo como “vocês vão enrolar mesmo”.
- Não vou enrolar porquê preciso dormir, amanhã tenho que ir cedo para farmácia. – rolei os olhos me jogando para trás no banco.
- Eu posso te ver amanhã de novo ou seria pedir demais? – o vi fazer bico e sorri, lhe dando um selinho.
- Fico até às três lá, depois estou livre. Só não posso demorar, não quero deixar Belle sozinha, logo ela está me dizendo que a troquei.
- Até ela te trocar pelo Tom. – notei o descaso em sua voz e ri, fazendo-o rir também.
- Você sabe que essa é a vida, certo? – ele assentiu.
- Só achei que teria mais tempo até isso acontecer, mas tudo bem, eu cheguei um pouco tarde.
- Não comece a se culpar, você sabe que ela te adora, .
- Deixa eu me culpar em paz, obrigado. – ele resmungou, passando seus braços ao redor da minha cintura e me fazendo deitar desconfortável sobre seu ombro.
- Você não acha que temos que conversar direito sobre tudo isso? – perguntei, apontando para nós dois.
- Peguei trauma de conversas com você, fico até assustado agora. Mas sei que talvez tenham algumas coisas a serem decididas. Por você, por mim tá bom do jeito que tá. – ele deu de ombros, me fazendo rir.
- Normal, não é ?
- Amanhã eu te pego lá e nós conversamos sobre o que você quiser, tudo bem? – assenti e senti que ele deixava um beijo em meus cabelos. – Até amanhã, .
- Até amanhã, . – lhe dei um selinho e ele aproveitou para me abraçar o mais apertado que era possível estando ali dentro.



Capítulo 28

“Who knows where this road is supposed to lead we got nothing but time. As long as you're right here next to me, everything's gonna be alright.” (Meant to Be – Bebe Rexha)

Por

Estacionei em frente à farmácia e buzinei, esperando uma mensagem sua dizendo que não estava pronta para sair ainda, pois era o que ela sempre fazia. Encarei meu celular e nada havia chegado, o que me fez estranhar. Olhei para o local e a vi sair rapidamente de trás do balcão.
- Isso é um milagre, você já estava me esperando? – questionei indignado e ela me mostrou o dedo do meio antes de entrar no carro.
- Você gosta de me irritar, eu sei. – ela se aproximou, juntando nossos lábios em um selinho.
- Meu cérebro só trabalha para isso, .
- E eu não sei disso, né? – ela reclamou, brincando. – Para onde vamos?
- Eu quero comer doce, então pensei em ir até um café.
- Até hoje eu não sei como você mantém seu corpo em forma.
- Muito exercício físico, dentro e fora do campo. – pisquei para ela e a vi rir e corar.
- Prefiro não saber como você chegou aqui já em forma. – ela fez uma careta e gargalhou em seguida. Neguei com a cabeça enquanto ria de seus pensamentos.

- O dia tá bonito hoje, né? – ela olhou o céu nublado e sorriu.
- Você está querendo me enrolar, senhorita?
- Enrolar? Por quê? – ela perguntou, se fazendo de desentendida.
- Vai, , eu quero saber o que você quer conversar. Quase não dormi a noite, fiquei pensando se você não ia me chutar.
- Você é incrível, , como pode ter esses pensamentos? – ela riu, tentando se controlar para não rir alto.
- Eu não sei, eu te falei que tenho traumas de um “precisamos conversar” seu. – fiz aspas com as mãos, sendo dramático.
- Depois que a gente comer, a gente dá uma volta por aqui e conversamos. Não é nada, , eu só quero saber como estamos, o que você quer, o que espera. Sei lá. – ela parecia nervosa e desviou os olhos para seu chocolate quente que ainda borbulhava.
- Cuidado para não se queimar. – bati levemente na mão dela ao ver que o líquido escorreria e a machucaria por estar muito quente. – Tudo bem, . Só estou te achando estranha, tá tudo bem? – ela assentiu, olhando para o lado de fora.
- São só alguns pensamentos bobos na cabeça. – ela reclamou, baixo.
- Divide comigo, é para isso que temos amigos e mais que amigos, não é? – falei, fazendo-a sorrir e se virar para mim novamente. Segurei suas mãos entre as minhas e ela encarou o gesto, como se pensasse longe ainda.
- Como pode, ? – ela fez um som, resmungando e respirando fundo em seguida.
- O quê? – perguntei, sem entender.
- Nada, come aí e eu vou tentar beber esse pouquinho de lava aqui.

Saímos do estabelecimento e juntou seu corpo ao meu, entrelaçando nossos braços. Invés de irmos até o carro, ela virou o corpo em outra direção, mirando o parque que via ao longe.
- Quero andar um pouco, sério. – ela deu de ombros e eu assenti.
- Você é completamente estranha, nunca vou te entender por inteiro.
- Ah, com certeza não, . Nem em uma vida inteira. – abri um sorriso ao ouvir aquela frase e parei no meio da calçada, puxando seu corpo próximo ao meu e a beijando rapidamente, pegando-a de surpresa.
Ela me encarou com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso brincalhão no rosto, um sorriso que apenas me deixava mais apaixonado do que eu ficava a cada segundo ao seu lado.
- Essa frase foi muito boa de ouvir, só isso. – dei de ombros e ela escondeu seu rosto em meu peito. – Por acaso é sobre isso que você quer conversar, ? – apertei sua cintura e ela se afastou do meu corpo, direcionando seu olhar para o chão em sua frente enquanto caminhava. – Acho que adivinhei. O que te preocupa?
- Não sei, . Para ser bem sincera, eu não tenho ideia.
- Então procure, estou aqui para responder suas dúvidas. – me sentei em um banco próximo e a encarei.
- O próprio guru. – ela riu, se sentando ao meu lado.
- O próprio apaixonado, no caso. Guru não. – mostrei a língua, reclamando. – Você acha que tá tudo muito rápido? – perguntei, sério.
- Não. – ela falou, sincera. – Nem um pouco, dessa vez não tem motivo para enrolação. Eu gosto de você e você gosta de mim, fim.
- Isso deveria resolver tudo, não consigo entender nenhuma preocupação então. – dei risada e ela rolou os olhos, me abraçando.
- Eu tenho uma pergunta. – ela respirou fundo. – O que você pensa pro futuro? Pro nosso futuro?
- Isso é uma entrevista de emprego? – brinquei e ela se manteve séria, negando com a cabeça. – Não sei, . Eu só sei que me vejo com você, isso não é uma resposta suficiente?
- É isso que eu preciso saber, . É suficiente?
- Eu precisaria de mais? É o que eu quero há anos, . Não tô te... – algo apareceu em minha mente, me fazendo entender o motivo de toda aquela investigação, me fazendo ver qual era a sua preocupação. – . – me abaixei em sua frente e segurei suas mãos. – Em algum momento eu te fiz achar que ter filhos era uma preocupação minha?
- Eu não sei, . Você sempre foi tão bom com a Belle, e com seus sobrinhos, e eu sei que você não era a pessoa mais apaixonada do mundo por crianças, mas você é ótimo com elas. E uma vez você comentou sobre talvez ter essa vontade depois de ter se aproximado da Belle quando era pequena.
- Vamos lá. – suspirei e apertei suas mãos entre as minhas. – Primeiro, se você está com essa paranoia de não ter filhos por conta de idade, vamos brigar feio. – ela negou com a cabeça rindo. – Ufa, então agora o motivo certo. Se você está preocupada com isso, por achar que é algo que eu quero, você não tem porquê ficar assim e poderia ter me contado antes. A minha prioridade de vida nunca foi ter filhos, o que eu quero desse relacionamento é nós. Eu quero eu e você, juntos, velhinhos, cuidando da sua farmácia e sabe Deus o que eu vou fazer da minha vida quando parar de jogar. Eu não me importo com essa ideia, e mesmo que eu me importasse, eu levaria muito mais em consideração a sua opinião do que a minha. Você já teve essa experiência uma vez, e por mais que tenha sido pouco, eu gostei de ter provado um pouco quando ela era nova. Mas, , você tem que pensar que nós já temos uma. Eu me casando com você, nós vamos ter a Bells conosco, e eu amo aquela menina de uma forma que não consigo explicar. Ela se tornou realmente uma mini você, e isso a torna alguém incrível, alguém com quem eu goste de conversar, brincar, mas que eu sei que posso dar uns puxões de orelha razoáveis também. Sei que ela já tem 15 anos e vamos ter pouco tempo para aproveitá-la juntos ainda, mas qualquer pouco tempo ao lado de vocês duas é suficiente para mim.
- Ah, . – ela me abraçou, apoiando sua cabeça em meu ombro. – Eu não sei o que fiz para merecer você.
- Você tem certeza que não fez alguma magia? Não sei, não duvidaria muito. – ela acertou minhas costas com um tapa.
- Tenho certeza. Mas ‘tô quase fazendo uma para garantir que você nunca mude de ideia e seja sempre assim, o melhor parceiro de vida. Temos muito pela frente, eu sei disso.
- Não entendo muito bem como funciona o relacionamento quando existe uma pausa de muitos anos no meio dele, mas considerando que já estamos nos vendo novamente há um tempo, você vai ficar assustada por ser pouco se eu disser que amo você? – encarei seus olhos e um sorriso nasceu em seus lábios antes que ela se aproximasse e os grudasse aos meus.
- Nem um pouco, espero que para você não seja muito rápido ouvir que eu amo você também, de novo. Bom, acho que nunca deixei de amar, mas não vamos entrar em detalhes.
- Depende, se você quiser entrar nos detalhes eu não vou me importar, temos o dia inteiro. Vai, quero saber todos. – me sentei novamente no banco, jogando meu braço por cima de seus ombros.
- , vai pro inferno. – ela riu e se levantou, começando a correr pelo parque que estava quase vazio nesse horário.
- Só para saber... Quando você falou da vida inteira e tudo mais, você tava falando sério, né? – perguntei quando a alcancei.
- Sim, . Não tenho pretensão para menos que isso, por favor, né? – ela falou, rindo.
- Ah, é bom saber. – dei de ombros com um grande sorriso no rosto.
- Você acha que precisamos discutir agora se vai ser sua casa ou a minha? – ela me acertou novamente com um leve tapa e eu saí correndo com ela rindo em meu encalço.

- Vai ficar para jantar? – ela perguntou, tentando me convencer com um bico extremamente fofo.
- Como negar? – perguntei, rindo. Fechei os vidros do carro e desci, assim como ela que já estava na porta me esperando. – Você tá muito grudenta, nem parece a minha .
- , você tá realmente me chamando de grudenta? – ela perguntou, entrando em casa e sorrindo ao ver que tinha visitas. Enquanto eu entrava, ela já estava abaixada ao lado do braço do sofá apertando uma criança incrivelmente fofa que sorria para ela. – Oi, Jason! Como você está lindo, pequeno.
Fiquei parado na porta observando enquanto ela cumprimentava animadamente Michael e a mulher, que eu senti que já havia visto em algum lugar. a abraçou e em seguida abraçou Michael também. Ela então fez um toque de mãos com Belle e se lembrou que eu estava ali, voltando ao meu lado. Fechei a porta e sorri sem graça, acho que eu não havia sido completamente atualizado de algumas coisas ainda.
- Acho que ainda não havia te contado isso, . – ela riu. – Você se lembra da Mandy? Professora da Belle, fomos até numa reunião de escola e você a conheceu.
- Ah! Por isso senti que a conhecia. Oi. – me aproximei a cumprimentando. – Acho que não esperava isso. – sorri, brincando.
- ! Você está de volta! – ela exclamou, parecendo ainda animada da forma que me lembrava.
- Michael. – me aproximei, apertando sua mão e ele me puxou para um rápido abraço com batidinhas nas costas.
- E aí, , como está? Não imaginei que estivesse de volta aqui também, além do Chelsea.
- Coincidências da vida, nos encontramos novamente. – sorri, apontando para . – E aí, chata. – fiz um Hi-5 com Bells, que revirou os olhos.
- Insuportável. – ela mostrou a língua e sorriu em seguida.
- Mandy e Michael estão juntos há alguns anos e eles tiveram o Jason. – ela se aproximou novamente da criança, apertando suas bochechas.
- E ai, carinha. – me abaixei, estendendo a mão para que ele batesse, o cumprimentando.
- Oi. – ele falou, tímido e eu me sentei no chão ao seu lado.
- Bom. – olhou para o relógio na cozinha, conferindo o horário. – Vou aproveitar que estão aqui e fazer comida, jantamos todos juntos. Não neguem. – ela apontou para Michael, que parecia se preparar para falar algo. Mandy apertou sua mão e riu.
- Nós ficamos sim, . Vou te ajudar, tem gente suficiente para ficar de olho no Jason.

- A lembrou daquela reunião na escola, e isso me fez lembrar que foi nela que Michael e eu começamos a conversar. Ele estava tendo um leve ataque de ciúmes de vocês dois. – Mandy riu enquanto colocava as coisas na mesa, enquanto eu estava há algum tempo no sofá conversando com Mike e observando Bells brincar com Jason.
- Amor, você não precisa contar essas coisas. – ele gargalhou, e seu rosto ficou um pouco avermelhado.
- Já faz muitos anos, deixa de ser bobo, Mike. – ela reclamou.
- Foi depois daquele dia que vocês ficaram juntos, então? – perguntei e ele negou com a cabeça, mas antes que pudesse responder, o atropelou.
- Foram dois molengas, . Eles demoraram para decidir sair, e você tinha que ver a Mandy com vergonha de contar para mim um tempo depois. Demorou uns dois ou três anos até eles se acertarem de vez.
- É muito estranho ver todos vocês dentro do mesmo lugar. – Bells comentou, fazendo todos rirem. – Apesar de já estar acostumada com a minha mãe, tendo o junto tudo volta a ser um pouco esquisito.
- Você está me chamando de estranho, Isabelle? – perguntei, arqueando as sobrancelhas.
- Não estou chamando, mas você sabe que é, não negue. – ela se manteve séria e eu não aguentei, rindo primeiro.
- Sou obrigado a concordar com ela. – Mike falou.
- Que eu sou esquisito? – perguntei, o encarando.
- Sobre a situação, . – ele riu, colocando a mão em meu ombro. – Mas é bom. Muito bom também que você tenha voltado, afinal, agora posso te cobrar muito sobre essa temporada.
- Interesseiro. – Mandy falou, jogando um pacote de guardanapos nele.
- Mas não é uma má ideia, cobrar ele é bom, tem que trabalhar sob pressão. – comentou.
- A pressão do clube e da torcida não é suficiente? – perguntei.
- Não, uma pressão pessoal sempre ajuda. – ela riu e eu me levantei, indo até seu lado e puxando seu cabelo de leve para irritá-la.
- Você está extremamente abusada. - peguei os pratos no armário que estava acima dela e entreguei para Mandy colocá-los na mesa.
- Ela está descontando a falta que sentiu de você. James era meio... Não sei descrever. – ela fez uma careta e riu, lhe mostrando o dedo do meio.
- Ninguém me contou direito sobre ele. – me sentei na mesa e coloquei minhas mãos embaixo de meu queixo, como se esperasse por respostas.
- Talvez porquê não seja de seu interesse. – me mostrou a língua e olhou ameaçadoramente para Mandy e Michael.
- Ele não era superlegal comigo. Ele era okay, mas não tinha muito jeito para as minhas perguntas chatas de criança.
- Isabelle. – reclamou e ela deu de ombros, fazendo todos rirem.
- Não perdeu nada, . Ele não era ruim, e fazia feliz, mas ela não era legal como é aqui. E o olho dela não brilhava assim como quando ela quer mandar você pro inferno como está agora. – Mandy falou.
- Vou parar de querer saber antes que você brigue comigo, tá? – me aproximei dela e beijei sua bochecha, vendo-a sorrir.
- Mandy, você está morta. – ela falou para mulher, apontando o dedo para ela. – Vou te dar comida fria. Se você falasse só um pouco mais, teríamos que sair daqui para caber o ego do .
- Que exagero, você me ama. – ela deu de ombros e rolou os olhos. – Viu, nem pode negar. – elas riram e pegou a última panela que faltava e colocou na mesa.
- Vamos comer?

- Isso foi muito estranho. – falei me jogando no sofá quando Michael, Mandy e Jason foram embora. – Foi bem divertido também, mas foi estranho.
- Eu sei, mas é ótimo ter eles por perto. E a Belle fica muito feliz também.
- Tão bom ficar perto do Michael sem ele ficar torcendo o nariz para mim. – eu ri e ela concordou.
- Quando eles começaram a namorar, foi muito legal. Eles morriam de vergonha, mas eu fiquei muito feliz. E agora estou mais feliz ainda por ter você comigo. – ela se sentou ao meu lado e beijou minha bochecha.
- Você está muito apaixonada, tem certeza que está tudo bem? – eu ri, a encarando.
- Aí, , você decide se você quer que eu demonstre minha felicidade e meus sentimentos ou não. – ela rolou os olhos em resposta, sabendo que eu estava brincando.
- Nunca vou cansar de dizer o quanto é incrível estar de volta, .
- Ah, realmente, é muito legal. – Bells entrou na sala e correu até nós, se sentando no meio.
- Isabelle, você é muito chata. – falou, rindo.

- Ia te perguntar uma coisa e esqueci. Como está a Belle lá? – ela abriu a porta, se assustando com o vento que entrou e a fez rir.
- Eu tento não me intrometer muito, mas confesso que já perguntei para saber. Todos a adoram, . Ela está indo muito bem. – ela assentiu com um sorriso no rosto e fechou a porta atrás de si, em silêncio.
- Você está mesmo tranquilo com a conversa de hoje mais cedo? – ela perguntou me acompanhando até o carro.
- Completamente, pode deitar sua cabeça em paz no travesseiro. – me encostei no carro e puxei seu corpo próximo ao meu, deixando um beijo em sua testa. – Posso falar uma coisa muito boba? Que me faz parecer um idiota? – ela me encarou, esperando que eu continuasse. – Fico tão feliz de saber que seu relacionamento não deu certo, e principalmente em saber que ninguém sentia que era certo como isso. – apontei para nós dois e ela sorriu, negando com a cabeça como se desaprovasse o que falei. – Sei que é bem errado, me sinto mais idiota ainda falando isso em voz alta, mas não consigo imaginar chegar aqui em Londres, te procurar, e você estar casada com outro. Na minha cabeça o conto de fadas estava praticamente pronto.
- Você é muito bobo, .
- Eu sei, não consigo evitar. – ela colocou suas mãos em meu rosto, acariciando minha bochecha.
- Destino é algo engraçado. – ela deu de ombros e eu abri um sorriso, a beijando em seguida.



Capítulo 29

“What if the one who was meant for you, was all along right in front of you. Just didn't see it, it was there all the time gotta feel it tonight, the stars align” (Parallel – Heffron Drive)

Por Bells

- Eu não aguento mais vocês dois, meu Deus, vou pedir divórcio de vocês. – falei me levantando da mesa e correndo até meu quarto para atender a ligação de vídeo de Tom, motivo pelo qual minha mãe e estavam rindo escandalosamente agora.
- Oi, Bells. – ele falou, abrindo um sorriso ao me ver em sua tela. – Tudo bem? Está meio vermelha.
- e . Você liga nos piores momentos.
– falei, rindo.
- Eles continuam te enchendo? – assenti e o vi se jogar na cama, mudando o celular de posição. – Ah, Bells, acho que você devia contar.
- Sinceramente? Preciso virar o jogo novamente, nas últimas semanas só eles estão cheio de gracinhas comigo, preciso voltar a irritá-los por serem velhos apaixonados. Dois contra um é sacanagem.
- Por isso você tem a mim.
– ele mostrou a língua e eu sorri após lhe devolver o gesto.
- A família do vem almoçar aqui no sábado, seria uma ideia ruim eu te convidar?
- Eu ficaria lisonjeado. Não sei porquê fica nervosa, sua mãe é a pessoa mais incrível do mundo, e é ótimo também.
- Você ainda não entendeu que todo problema é nossa briga eterna de quem faz mais piada do outro? Mas é bom que eles saibam que tenho um aliado.
- E fala sério.
– ele jogou sua franja para o lado, brincando. – Você não poderia ter um aliado melhor.
- Não, Thomas, eu não poderia.
– rolei os olhos e ele riu, me dando uma piscadela.
- E eu não poderia ter uma melhor parceira. Agora vai ajeitar suas coisas e dormir, amanhã nos vemos. Boa noite, Bells.
- Boa noite, Tom.
– sorri e lhe mandei um beijo antes de desligar.
Minha mãe sempre esteve certa e em algum momento eu finalmente percebi que era inevitável que eu e Tom ficássemos juntos. Nós éramos amigos desde que eu me conhecia por gente e ele sempre foi a pessoa mais próxima que eu tive em nosso grupinho. Ele era quem corria atrás de mim, mesmo em um pega-pega com mais dezenas de crianças, ele era quem parava tudo para me ajudar quando eu me machucava, ele era quem me consolava quando eu precisava chorar independente da idade ou motivo.
Eu adorava seus pais e ele tinha minha mãe como sua fã. Eu realmente gostava dele, e talvez 15 anos fosse pouca idade para acreditar em um longo namoro, mas por ele eu sabia que valia a pena tentar. Ele gostava de mim da mesma forma e foi algo extremamente engraçado quando percebemos isso. Não tivemos uma paranoia sobre amizade ou qualquer coisa assim, foi tão natural quanto deveria, sabíamos que era para acontecer.
- Você vai me ajudar? – minha mãe entrou em meu quarto no sábado e eu a encarei, assentindo.
- ‘Tô com preguiça, mas vou jogar ela fora por você.
- Ah, me sinto amada dessa forma. – ela ironizou e eu ri, me levantando e a seguindo até a cozinha.
- Você já comprou tudo? Então cozinha e eu te dou apoio moral, só sou boa em ajudar a comprar, cozinha não é meu forte. – falei e ela me mostrou o dedo do meio.
- Pode começar a cortar as coisas, espertinha.
- O que seria da sua vida sem alguém para mandar, né? E agora você tem dois ainda, é a vida que você pediu para Deus.
- Ah, Isabelle, você está ferrada. – ela riu, não conseguindo segurar. – Preciso me lembrar onde te dei essa liberdade toda, agora você se sente a mãe invés de ser a filha.
- “Aí, minha filha é minha melhor amiga, não tem nada melhor que isso.” – falei, fazendo aspas com os dedos.
- Vai se trocar e escovar esses dentes que não sou obrigada a aguentar esse bafo. – mostrei a língua e corri até o banheiro vendo que ela buscava algo para jogar em mim.
Enquanto escolhia minha roupa mandei uma mensagem para Tom, falando que ele poderia chegar mais cedo, assim me ajudaria com as coisas. Ele me chamou de folgada, mas respondeu que estaria aqui o quanto antes.
Confesso que estava ansiosa pela reação de minha mãe e de . Ainda não havia encontrado meu pai a ponto de poder lhe contar também, com o trabalho no estádio as coisas estavam um pouco bagunçadas, pois eu trabalhava alguns dias variados de treinos e jogos e isso envolvia os fins de semana também, então não havia conseguido ir para sua casa. Apesar dele ter me visitado aqui em casa já uns dias, eu estava ansiosa para falar para ele e Mandy, e também estava com saudades de ficar mais tempo com Jason, meu irmão.
- O vai demorar para chegar? – perguntei ao entrar na cozinha.
- A senhorita não tinha que ir hoje, mas ele ainda joga lá, viu?
- Ah, treino. – bufei. – Aí eu tenho que me virar aqui sozinha com você, né?
- Sim, inclusive foi para isso que tive você, para ser minha empregada. Vamos, vamos, vamos. – ela começou a gritar em meu ouvido e bateu em mim com o pano de prato que estava em sua mão.

- Meu Deus, eles já chegaram? – minha mãe gritou, espantada ao ouvir a campainha tocar. – Eu marquei para uma hora, como é possível terem se adiantado tanto?
- Não surte. – brinquei, a encarando. Andei até a porta e percebi que ela tentava inutilmente arrumar ao menos seu cabelo. – Oi. – sorri ao vê-lo parado ali com um simples buquê de flores. Eu sabia para quem era, e isso aumentou ainda mais meu sorriso.
- Oi, . – Tom entrou na cozinha, fazendo minha mãe encará-lo surpresa. Ele lhe entregou as flores e ela ficou nos olhando sem dizer nada.
- Oi, Tom. Pelo jeito vou ter que mudar a tratativa para senhora , não? Acho que estou ficando velha. – ela sorriu, o abraçando. – Ah, dona Isabelle, eu te pego.
- Achei que era um bom momento. – dei de ombros e ela assentiu, concordando.
- O vai surtar, meu Deus. E seu pai, então? Não quero nem ver quando ele souber.
- Sabe o mais engraçado? – Tom falou enquanto colocava o buquê na sala, para que não atrapalhasse na cozinha. – Você fala de todo mundo surtar e está aí, tranquila.
- Eu já sabia, por isso estou bem. – ele me olhou e eu neguei com a cabeça.
- Eu não contei nada, ela diz que é o faro de mãe. Ela não tinha certeza, mas ela sempre apostou, você sabe. – me aproximei dele, beijando sua bochecha.
- Vocês fazem um casal tão fofo. Lembro tanto de vocês pequenininhos. Dizem que a melhor coisa é namorar alguém com quem você tem uma forte amizade, acho que vocês vão descobrir isso.
- Estamos descobrindo. – falei, envergonhada. – Agora pare de ser tão mãe e vamos cozinhar, o Tom vai arrumar a mesa.
- Folgada. – ele me mostrou a língua e começou a mexer nas coisas que estavam jogadas pela casa e guardá-las.

- Mãe? – perguntei, querendo saber se ela estava pronta já que a campainha estava tocando.
- Pode abrir, Belle. Estou indo. – assenti ao vê-la arrumada no corredor. Andei até a porta e a abri com Tom ao meu lado.
- Belle. – Thea falou animada e eu a abracei forte. – Que saudades, menina! Tom, não sabia que você estaria aqui. – ela sorriu, me cutucando como se estivesse sendo discreta.
- Oi, Peter! – cumprimentei Peter e Ben vinha logo em seguida, também me abraçando. – Oi. – sabia que aquela era a mãe de , mas não me lembrava bem dela. Thea, Peter, Ben e Ellen estavam sempre comigo e com minha mãe, Ellen era minha melhor amiga, mesmo que não morássemos tão perto. Infelizmente eu sabia que hoje ela não estaria aqui.
- Belle, como você está linda. Eu vi por fotos, claro, mas pessoalmente é ainda mais incrível. Sou a Chloe, mãe do .
- A primeira coisa que penso é: como você aguentou ter aquilo como filho? – falei, rindo e a abraçando.
- Nem eu sei, meu amor. Sua mãe já me fez essa pergunta também. – ela sorriu para minha mãe, andando em sua direção e a abraçando. – Essa sensação de ter você novamente é maravilhosa. Eu sabia que isso ia acontecer um dia, nem que vocês já tivessem sessenta anos.
- Gosto que todo mundo tinha essa sensação, só eu não tinha esperanças. – ela falou rindo e fazendo todos rirem. Vi Thea a encarar, rolando os olhos.
- Ainda estou brava que não me contou antes, mas tô tentando fingir que não te odeio. – minha mãe mostrou a língua para ela e elas se abraçaram mais uma vez em seguida.
- Como só a Thea o conhece, e minha filha não é nada simpática... Esse é Tom, melhor amigo e agora namorado da Belle. – vi Tom enrubescer e dei uma risada, tentando ser discreta.
- Essa parte não me contou. – Chloe falou, o cumprimentando. – Cuida dela, viu? Aquele recado clássico que toda mãe sempre faz, independente para quem seja.
- É porque ele ainda não sabe. – eu e minha mãe rimos.
- Ela e Tom são amigos desde pequenos, mas faz mais ou menos uma hora que ele entrou aqui em casa trazendo a notícia.
- Aproveitei a reunião. – dei de ombros. – Assim não ia ter que aguentar você e o sozinha, vocês são irritantes.
- Eu fico imaginando o que você sofre, sério, é um pior que o outro e talvez seja por isso que eles se completem tão bem. – Peter falou, recebendo um empurrão de minha mãe.
- Falar que você também é chata igual você não fala, não é?
- Não posso discordar. – Thea comentou, rindo.
- Tom, vai lá, abre a porta. – falei quando ouvi a campainha tocar e vi minha mãe gargalhar.
- Você gosta de enlouquecer o , isso é incrível.
Tom deu de ombros e andou até a porta, girando a chave. Ele não estava tão nervoso ou desconfortável ali por já ser um conhecido, achei isso algo extremamente fofo e sorri sozinha sabendo que ele seria um ótimo parceiro. O melhor era saber que ele não deixaria com que e minha mãe vencessem aquela disputa silenciosa. Eu amava nosso jeito de família, não podia negar, e Tom completariam a sincronia que eu e minha mãe sempre tivemos. Brigas sempre teriam, mas éramos mais propensos a sair nos tapas em uma brincadeira qualquer.
- Casa cheia. – entrou, rindo e encarando todos em volta. – Ei, que estranho te ver grande, lembro do seu rosto gordinho e suas pernas curtas quando era pequeno. Mas sei que você é o Tom, já que Bells não para de encarar suas fotos.
- Ah, é? – ele me encarou e eu rolei os olhos, mostrando o dedo do meio para e ouvindo minha mãe resmungar atrás de mim sobre minha educação. – É um prazer te conhecer novamente, . Sou o Tom, namorado da Bells. – vi nos encarar, passando seus olhos de Tom para mim com uma das sobrancelhas arqueadas.
- Ah, sua pirralha. – ele correu em minha direção e eu abri a porta que dava para o quintal, correndo o máximo que podia. – Você e sua mãe tem problemas, vocês acham que conseguem fugir de um jogador de futebol mesmo com todo esse sedentarismo de vocês. – ele passou seus braços em volta de mim e usou uma de suas mãos para bagunçar completamente meu cabelo até fazer um grande nó.
Com toda delicadeza que ele conseguia ter, ele segurou meus braços e passou sua perna por trás da minha para me derrubar e me deixar no chão, enquanto andava de volta para sala e Chelsea vinha em minha direção para me lamber. Não sem antes parar ao lado dele com o rabo abanando para receber um carinho. Todos encaravam da sala e riam de minha situação, vi Tom passar por ali e parar na frente de para receber um abraço demorado do mesmo, o que eu imaginei que vinha com diversos avisos em seu ouvido.
- Ele está bem feliz. – Tom falou ao se aproximar de mim estendendo a mão para que eu me levantasse.
- Eu sei. – falei, sorrindo e olhando todos se cumprimentando na sala. – Eu também. – lhe roubei um selinho e suas bochechas tomaram um leve tom rosado enquanto ele parecia verificar se não tinha ninguém olhando, o que me fez rir.
- Eu tenho certeza que seu pai vai fazer muito pior. – falou enquanto eu me sentava na ponta do corredor tentando desembaraçar meus cabelos.
- Eu tenho certeza disso. – Tom nos encarou calado e minha mãe o abraçou, sorridente.
- Eles só estão brincando, querido. Michael é tão idiota quanto , ainda mais se tratando de Isabelle. – Vi mostrar a língua para ela e ela dar de ombros feito criança.
- A competição com certeza é acirrada, pois compete a idiota do ano em todos os anos. – Peter comentou, fazendo com o que o irmão lhe mostrasse o dedo do meio.
- Mas esse ano pelo menos ele vai concorrer a idiota apaixonado de novo, é bonitinho. – Thea falou, vendo todos rirem e rolar os olhos, resmungando.
- É tão bom não ser o centro das piadas, vocês não querem ficar aqui para sempre? O e a minha mãe me maltratam. – fiz bico e minha mãe levantou a mão, batendo em minha cabeça. – Viu? – todos riram e eu a abracei pela cintura antes dela sair correndo em direção à cozinha para pegar as coisas e colocar na bancada para que pudéssemos comer.

- Eu gosto muito de você, sabia? Obrigada por ficar aqui comigo hoje. – estava deitada na cama com Tom encostado em meu corpo. Fiz carinho em seus cabelos e o vi sorrir.
- E eu gosto muito de você. Obrigado por me convidar, sua família e sua nova família agregada são muito legais.
- É bom saber que agora tenho várias famílias. Minha família em casa agora vai deixar de ser só eu e minha mãe, tenho certeza que logo, não vai aguentar ficar longe dela. – falei rindo e sabendo que ele era desesperado pelo que minha mãe me contava. – E logo vou ter sua família também. – dei de ombros e ele assentiu.
- Precisamos marcar para que você vá em casa, minha mãe vai ficar muito feliz, você sabe.
- Estou louca para contar para ela.
- No próximo fim de semana você pode? – assenti, pensando bem.
- No jantar no sábado, ou almoço no domingo, sábado o jogo é às onze. Provavelmente eu vá voltar com o e depois disso estou livre.
- Podíamos jantar com meus pais e depois chamar todo mundo para fazermos algo, o que acha? – ele se aproximou, grudando seus lábios nos meus enquanto suas mãos apertavam minha cintura.
- Ótima ideia.
- E a gente já pode assumir para todo mundo? – ele fez bico e vi seus olhos brilharam de ansiedade, pois a decisão de ainda não termos ficado em público era minha. Queria primeiro que nossos pais soubessem, para que depois nossos amigos pudessem falar o que quisessem, sabíamos que viriam várias piadinhas.
- Só porque você é legalzinho. – mostrei a língua e ele riu, me abraçando mais uma vez.
- Isabelle. – ouvi minha mãe chamar na porta e então a abrir. – Venham se despedir. – assenti e nos levantamos, andando em direção à sala.

- Eu preciso ir também. – Tom falou próximo a mim e eu fiz bico, não queria que ele fosse, mas sabia que ele precisava.
- Eu levo você. – falou, passando ao nosso lado depois de abraçar Ben.
Ele pegou a chave do carro e se aproximou de minha mãe, sussurrando algo em seu ouvido. A vi assentir e em seguida dar um selinho nele e sorrir ao vê-lo virar de costas. Meus pensamentos sempre se voltavam para o quão lindo era vê-la apaixonada. Com James havia sido diferente, nada se comparava ao que eu via em volta dela e de , era quase literal aquela coisa do casal em sua própria bolha, mas eles conseguiram compartilhar a deles com todos ao redor.
- Eu vou junto. – apertei a mão de Tom na minha e ele sorriu, animado. – Mãe, posso ir com eles? – ela assentiu e se aproximou de meu namorado, o abraçando.
- Você é maravilhoso, Tom. Estou muito feliz por vocês, sei que você vai cuidar muito bem da minha menina, como sempre fez. Volte sempre aqui, tudo bem? – ela pareceu ter algum pensamento muito engraçado e a vi apoiar a mão no ombro de , chamando sua atenção para nós. – Você já pensou que agora vou sair em casal com a minha própria filha? , eu estou velha. – ela fingiu chorar e todos rimos, a abraçando.
- Sua filha que é avançada. – ele beijou sua bochecha e mostrou a língua para mim como uma criança. – Vamos? – nós dois assentimos e mandei um beijo para minha mãe enquanto fechava a porta. – Você é muito chata, nós íamos ter uma conversa de homem para homem no carro. – ele segurou Tom pelo ombro, apertando o suficiente para que fosse possível ver a roupa se amassando.
- , não tente dar uma de protetor malvado, não combina com a sua postura infantil. - ele me encarou de sobrancelhas arqueadas e não aguentou em segurar a risada.

- Por que está sorrindo assim? – perguntei ao entrar no carro depois de descer para me despedir de Tom.
- Queria ter conhecido sua mãe tão cedo dessa forma, fico imaginando como seria ter ela na minha vida desde sempre.
- Pensa que talvez não tivesse dado certo. – coloquei o cinto e ele me encarou, parecendo ponderar. – E bem provavelmente eu não existiria, então colabora comigo e esquece essa possibilidade. – falei rindo e ele assentiu, concordando e sabendo que fazia sentido.
- É muito bonitinho, sei que vocês vão se dar tão bem quanto já se dão. me contou bastante sobre vocês, histórias de quando eram pequenos, dos últimos anos. Ele te olha de uma forma muito engraçada quando você não está olhando. – senti meu rosto esquentar e me virei para janela, tentando esconder.
- Espero que seja da mesma forma que você olha para minha mãe, acho que essa é a meta da vida de qualquer um.
- Sou muito apaixonado por ela, você sabe, não sabe? – ele manteve seus olhos em mim, enquanto aguardava o semáforo abrir.
- Eu sei, . – pisquei para ele e o vi sorrir, parecendo ter seus pensamentos longe.
- Bells. – ele respirou fundo parecendo considerar suas palavras antes de colocá-las para fora. – Você acha que seria muita loucura eu querer viver o resto da vida com ela? Com vocês. – ele suspirou, parecendo arrependido do que falara, mas confirmando o que eu falara para Tom mais cedo. – Desculpa, eu não devia jogar isso para cima de você.
- Eu acho que não tem alguém melhor para você falar. – dei de ombros e ele pareceu relaxar seu corpo. – Eu me sinto muito à vontade com a relação de vocês, . Você é um homem incrível e eu me sinto muito bem com você. Acima de tudo, eu vejo o quão feliz minha mãe é ao seu lado, e isso é tudo o que eu quero. E eu sou feliz com vocês também, sei que faz a diferença para você, saber disso.
- Faz toda diferença do mundo, pequena que não é mais tão pequena. – ele riu de seu próprio comentário. - Eu me sinto acelerando as coisas pensando na parte do viveram felizes para sempre, mas eu não quero mais me afastar de vocês, Bells.
- Eu acho que vocês já passaram muito tempo afastados, não existe nada mais lento que uma relação que demorou anos para ter uma chance de dar certo. Essa é a chance, , eu estou aqui te dando todo apoio do mundo para agarrá-la.
- Me sinto tão emocionado de te ver falando assim. Eu vou sempre estar aqui para você, Bells. Sei que não posso dizer que sempre estive, mas você sabe que desde que consegui voltar para vida de vocês, tenho toda certeza do mundo que agora vou estar.
- Eu tenho tanta certeza disso que é o que me faz pensar que vocês já demoraram para juntar as coisinhas e pular pro final do conto de fadas. Só não conta para minha mãe que penso nisso, tenho que fingir para ela que sou durona. – falei, rindo.
- Prometo que não vou demorar muito, tudo bem? Mas também não vou ser tão rápido, para não parecer desesperado. – ele riu e eu assenti, concordando. – E essa conversa nunca aconteceu, não é mesmo?
- Que conversa? – perguntei para ele enquanto abria a porta e descia do carro com um grande sorriso no rosto, vendo o mesmo no dele.



Capítulo 30

"My heart’s been borrowed and yours has been blue. All’s well that ends well to end up with you.” (Lover – Taylor Swift)

Por

Acordei sentindo a cama vazia ao meu lado e respirei fundo pensando naquele dia. provavelmente já havia se levantado para preparar as coisas, pois era a primeira vez que iríamos colocar a família dela e a minha no mesmo lugar, já que havíamos decidido passarmos todos juntos aquele 31 de dezembro que encerrava mais um ano.
Um ano que me surpreendeu e me trouxe para onde estou agora, enrolado no melhor relacionamento que poderia ter, com a mulher que eu sei há muito ser a mulher da minha vida. Já haviam se passado aproximadamente cinco meses desde que estávamos juntos novamente e tudo sempre parecia melhorar.
Nós tínhamos nossas brigas de casais como todos, claro, mas elas se aproximavam mais das brigas de casados que discutem qual marca comprar no mercado, do que de namorados que brigam por ciúmes, por exemplo. Nós ainda não havíamos dado nem um passo para frente ou para trás, nos víamos o tempo todo e eu passava mais tempo com ela e Bells do que sozinho, mas cada um ainda no seu próprio canto, com algumas exceções em que ela dormia em casa quando Bells queria ficar na avó.
Bells apenas melhorava no Stamford Bridge e eu sabia que ela tinha grandes chances de aprendizado ali. Eu acompanhava sempre que podia o seu trabalho, mas sem me aproximar, pois sabia que isso a incomodaria. Íamos e voltávamos juntos sempre que possível, ela era uma companhia maravilhosa e eu repetia isso para todos a minha volta. Era incrível a capacidade que ela tinha de melhorar mais ainda meu relacionamento com , parecia que ela nos aproximava, o que me deixava sempre surpreso.
- Ei, ei. Vem cá. – reclamei esticando meus braços na cama em direção a , que passava rapidamente pela porta em direção ao meu guarda-roupa do outro lado do quarto.
- Não, . Tenho que comprar as coisas e começar a arrumar aqui. – ela resmungou, fazendo força contrária a que eu a puxava para cama.
- Eu vou te ajudar em tudo, , me dá uma atenção, poxa. – fiz bico e ela revirou os olhos, se sentando na beirada da cama ainda distante. – Chata demais, meu Deus. – me aproximei, deitando-me em seu colo. – Você acordou faz tempo?
- Algum tempo...- ela respirou fundo, parecendo cansada.
- , algum tempo quanto? – perguntei, um pouco irritado por imaginar a resposta.
- Umas duas horas. Já limpei quase tudo, faltam só os quartos e o jardim. – a mulher torceu seus lábios incomodada, sabendo que eu brigaria.
- Poxa, . Eu falei que eu ia limpar e ia te ajudar com cada detalhe.
- Eu sei. – ela se jogou ao meu lado e eu me ajeitei, passando meus braços por cima de sua cintura. – Mas eu tô ansiosa. Sei lá, eu amo o ano novo, eu amo minha família, eu amo sua família, eu amo vocês e eu amo pensar que vamos estar todos juntos hoje.
- Eu nem preciso dizer o quanto isso é bonitinho, né?
- Para, . – ela riu, sem graça. – Eu estou feliz e isso me deixa ansiosa. Ah, a Bells disse que o Tom vai vir também, isso me animou mais, ela deve estar muito feliz.
- Eu estou muito feliz também, mas poucas felicidades vão me acordar às sete da manhã ou me fazer perder o sono.
- Eu já perdi a conta de quantas vezes falei que te odeio, mas quero reforçar mais uma vez esse ano. Me deixa perder o sono em paz, o sono é meu.
- Grossa. – me aproximei de seu rosto e a beijei, fazendo-a rir. – Eu também amo você, . Você não acha que eu deveria encontrar um apelido carinhoso para você? – perguntei a puxando de volta enquanto ela tentava se levantar. – Tipo baby, little bear, angel, boo...
- Ai, meu Deus, , você não tem mais o que fazer. – ela gargalhou, se levantando de uma vez. – Vai tomar um banho e vem me ajudar, por favor. E nunca ouse me chamar de qualquer um desses nomes ou a gente já corta esse relacionamento agora.
- Corta nada, isso é só charminho, little bear. – falei para irritá-la e recebi um travesseiro de uma forma levemente agressiva voar em minha direção. Ele só não fora mais agressivo que seu olhar, então levantei rapidamente e beijei sua testa antes de correr para o banheiro.

- , é impossível fazer as coisas com você. Eu não tenho mais idade para isso, eu não jogo futebol e eu tenho um monte de coisa para fazer. Está frio para caralho. – ela falou enquanto escorregava no chão ao tentar fugir de meus braços.
- Eu sei, eu ‘tô sentindo. – falei batendo os dentes ao sentir nossos corpos esfriando ainda mais em contato com a água no chão. Lola estava presa dentro de casa e era engraçado vê-la pela porta de vidro nos observando como se quisesse estar ali também.
Havia ido limpar o quintal sozinho, pois estava frio e queria poupar disso, porém, ela se irritara com algo que eu estava fazendo errado, e eu não havia entendido até agora, e apareceu ali começando a gritar comigo. Então, acidentalmente, a mangueira que eu usava para jogar água nas poucas plantas sobreviventes daquele frio escorregara, dando um banho na mulher.
Acreditando que eu a havia molhado de propósito, ela tomou o objeto de minha mão e o direcionou para meu rosto, me molhando também. Claro que isso deu início a uma longa guerra e agora o quintal estava completamente encharcado e cheio de poças que nos faziam escorregar e nos levaram a um quase estado de hipotermia enquanto rolávamos no chão um atrás do outro.
- Eu odeio muito estar de meias molhadas, . – ela reclamou, se rendendo e me deixando abraçá-la.
- Você está completamente molhada, em 6°C, e a sua única reclamação é das meias? – perguntei, apertando-a em meu corpo como se isso fosse diminuir o frio que sentíamos.
- Não é a única, mas essa me dá tanta agonia. – ela retorceu todo seu rosto em uma expressão muito engraçada.
- Vem, vou te levar pro banho. – ela me encarou maliciosamente e eu gargalhei enquanto me levantava e a pegava no colo, indo em direção a porta para entrarmos em casa. – Se eu sugerir isso, você provavelmente vai me matar, .
- Mas quem sugeriu fui eu. – ela deu de ombros e sua expressão mudou para horror em poucos segundos, quando a ouvi gritar. – Você vai molhar a casa inteira, .
- E nós vamos ficar aqui fora, ? – perguntei, tentando a entender.
- Por favor, vai rápido e tenta fazer um caminho bem certinho para limparmos depois. – ela fez uma expressão triste que quase me convenceu.
- Eu limpo enquanto você toma banho, tudo bem? – falei e ela negou com a cabeça, me dando mais um sorriso malicioso que me fez rir e dar de ombros. – Bom, se você sugeriu, eu não vou negar. – abri a porta e corri casa adentro com Lola latindo em torno de nós e tentando alcançar a ponta do cardigã molhado de que estava pendurado e pingava a cada passo.

- Você quer que eu coloque a carne no forno, ? – perguntei a ouvindo derrubar algo no quarto enquanto procurava por alguma coisa.
- Não, pode deixar que eu coloco. – ela gritou e ouvi sua voz se aproximando com um “alô”.
- É a Isabelle? – perguntei e ela assentiu fazendo uma expressão irritada por eu estar falando enquanto ela tentava ouvir a filha.
- Você consegue ir buscar ela e o Tom para mim? Ela está em casa e eu preciso que ela pegue algumas coisas para mim, e depois vocês podem passar e pegá-lo. – assenti, limpando o balcão que ela havia usado e estava sujo agora. Ela então respondeu a garota em português e eu ri ao perceber sua troca de idioma, pois não fazia sentido nenhum ela usar duas línguas em uma mesma conversa, mas percebi que algumas vezes ela se sentia feliz utilizando sua língua nativa e fazia isso em situações que estava nervosa.
- Ainda não entendo o motivo de estar tão nervosa ou ansiosa, ou a forma que queira chamar. – falei, começando a lavar a louça que ela havia sujado para preparar as primeiras coisas.
- Eu não estou, estou melhor.
- , você misturou inglês e português de novo.
- Droga. – ela riu ao perceber que o que eu falara era verdade.
- Por sinal, é engraçado quando você pronuncia o nome dela em português, você muda o som.
- Eu escolhi o nome dela pensando no som em português, por conta de uma amiga do Brasil com esse nome, mas sabendo que seria bonito aqui também, e que o apelido seria lembrando a princesa. Nunca tinha te falado isso? Acho que já, não? Droga, estou tagarela também. Certo, estou nervosa. – ela suspirou, se sentando no braço do sofá e rindo sozinha de sua própria reação. – Vou pedir para ela pegar uma outra roupa e mais um pijama, e um pijama para ela também. Podemos ficar aqui essa noite, né? Eu arrumei o quarto para ela. Aí de manhã arrumamos tudo que ficar de hoje.
- Claro que podem, . Minha casa é de vocês, também. – após colocar o último prato na lava louças, me aproximei dela e beijei seu rosto, sorrindo em pensar que as duas ficariam aqui essa noite. Seria ótimo não ter aquela casa vazia apenas com meus pensamentos e as ligações com . – Lola vai ficar feliz também, sem dúvida nenhuma.
- Ah, com certeza. – ela se sentou no chão, alcançando a orelha da cachorra com os dedos.
- . – respirei fundo e repensei o que estava quase saindo de minha boca. – Vou lá buscar a Bells, então, tá? – mudei minha frase e a vi assentir, se levantando.
- Te mando mensagem se esquecer alguma coisa, vai lá. E se agasalha. – ela beijou meu rosto e me entregou minha carteira, meu celular e minhas chaves que estavam na estante ao seu lado.
- Já volto. – vesti meu moletom que estava jogado no sofá e coloquei as coisas no bolso, me aproximando e lhe dando um selinho.
Sai de casa e enquanto entrava no carro percebi que havia esquecido algo. Entrei novamente em casa e corri até meu quarto, encontrando ali mexendo no celular.
- O que foi? – ela perguntou enquanto eu mexia discretamente no criado-mudo ao lado da cama.
- Fiquei com saudade, queria te dar um beijo. – pulei rapidamente por cima dela e grudei nossos lábios.
- Você é estranho. – ela gritou enquanto eu corria para fora do quarto com um sorriso no rosto.

- Para de buzinar, ! – Bells gritou colocando a cabeça para fora da janela da sala. Ignorei-a e continuei pressionando. – , eu não vou sair até você parar. – ela gritou novamente e eu parei, rindo. – Ninguém mandou não avisar que estava chegando.
- Olha seu celular antes de falar que não avisei. – reclamei enquanto ela caminhava com diversas coisas na mão. Sai do carro e abri a porta de trás para que ela colocasse tudo.
- Não chegou nada. – ela falou com toda certeza que poderia ter, mas enquanto voltava para fechar a porta, a vi pegar o aparelho e bufar. – Não é justo, não vibrou.
- Aí a culpa já não é minha. – dei de ombros e ela revirou os olhos, entrando no banco do passageiro ao meu lado.
- Nem minha. Espero que os vizinhos te denunciem pelo barulho, esse não é nem perto o uso correto da buzina. Parece que está aprendendo com a minha mãe.
- Talvez eu esteja. O Tom está pronto? – perguntei, batendo ansiosamente no volante no ritmo da música que tocava no rádio.
- Sim, está com pressa? Que eu saiba só é ano novo à meia-noite.
- Meu Deus, Isabelle, você não consegue ser pior que isso, né? Que pirralha irritante. Eu preciso passar em uma loja antes de voltar para casa.
- Minha mãe esqueceu alguma coisa, né? Eu sabia que ela ia esquecer.
- Sua mãe não esqueceu nada, preciso comprar algo. Ia te chamar para me ajudar, mas você está insuportável hoje.
- Ah, , o que você vai comprar? Eu quero ajudar. – ela pareceu interessada, me encarando.
- Quando chegarmos lá, você vê.

Depois de pegarmos Tom, parei na loja mais próxima no caminho de casa e desci do carro, indo até o outro lado e abrindo a porta para Bells.
- , eu não achei que o seu para sempre quando conversamos já era esse logo agora. Tava pensando em vocês querendo morar juntos, algo bem relacionamento atual, sei lá, mas não imaginei que você já ia para essa parte! Você não podia deixar isso para depois do último dia do ano? O que aconteceu com o não parecer desesperado? – ela falou, rindo.
- Eu tive a ideia antes de sair de casa, eu surtei e eu quero fazer isso. É muito louco? – perguntei pegando o anel de que tinha roubado do criado-mudo quando entrei no quarto para me despedir pela segunda vez. Segurei o anel em minha mão e mostrei para ela, vendo-a negar com a cabeça ao tentar controlar sua risada no modo escandaloso.
- É bem louco sim. Mas eu estou muito feliz e quero muito ver o surto da minha mãe com isso. – ela soltou a risada que guardava e começou a pular em volta de mim.
- Bells, eu tô falando sério, é muito absurdo eu fazer isso? - segurei-a parada e a encarei, falando seriamente.
- Claro que não, . Eu só fiquei surpresa por você ter decidido isso do nada. Achei que ia preparar algo mais elaborado, pensar um tempo, não sei. Não esperava que fosse do nada, mas, ao mesmo tempo, combina tanto com você. Você é o melhor, vamos logo. – ela apertou minha bochecha como se eu fosse a criança ali e correu para dentro da joalheria animada, ignorando que Tom ainda estava fechado no carro no banco de trás nos encarando.
- Você acha que ela vai aceitar? – perguntei enquanto passava olhando todas as peças até alcançarmos a vendedora no fundo da loja.
- Eu acho que ela seria louca de dizer não. – ela sorriu, sincera. – Ele decidiu pedir minha mãe em casamento hoje, precisamos de ideias. – seu corpo se virou para moça da loja que nos observava.
- Senhor , é um prazer recebê-lo, teria alguma ideia?
- Nenhuma, mas quanto mais simples melhor. – sorri ao ver Bells concordar.

- Se demorassem mais dez minutos, eu ia mandar a polícia atrás de vocês. – falou quando abri a porta da sala com Bells e Tom atrás de mim.
- Você é muito exagerada, mãe. – Bells reclamou, colocando as coisas que segurava no sofá. – Onde coloco minhas coisas, ?
- Último quarto do corredor. - ela assentiu e seguiu até lá com Tom, parando antes para cumprimentar a mãe.
- Demoraram muito, . – reclamou se encostando no sofá, cansada.
- Eu sei, desculpa. A Bells enrolou muito para sair. – falei aumentando meu tom de voz para que a garota ouvisse minha desculpa e ela logo apareceu na sala novamente.
- Eu demorei também, , desculpa. – Tom falou, querendo ajudar.
- Combinamos às dez, então temos duas horas para terminar tudo e nos arrumarmos. – falei e todos concordaram assentindo. – e Bells terminam a comida e eu e Tom arrumamos as mesas e colocamos todos os detalhes que faltam. Ainda acho que precisamos passar um tempo e termos aquela conversa de homem para homem que ficou para trás.
- . – e Bells falaram juntas, rolando os olhos. Se fosse combinado, não seria tão engraçado quanto fora.
- Você torna tudo enrolado, você vai me ajudar limpando a cozinha enquanto termino a comida e Bells e Tom finalizam as mesas e detalhes. Não vai fugir de mim. – falou, me puxando em direção a cozinha.
- Não é como se eu quisesse. – me aproximei lhe dando um rápido selinho. – Nunca, por sinal.
- Estou acelerada demais pro seu romantismo.
- Outch. – coloquei a mão no peito fingindo dor e ela riu. – Deixa eu pegar a bucha aqui e começar a lavar a louça antes que você decida me magoar de alguma outra forma.
- Dramático.

Me sentei no chão no canto da sala e decidi encarar aquela cena e aproveitar o momento. Acho que eu nunca havia me sentido tão completo quanto ali. Encarei minha mãe conversando com Augusto e Karen ainda sentados na mesa enquanto Thea observava Ben e Peter brincando com Lola no quintal, e Bells, Tom, e Ellen tiravam fotos sentados no sofá. terminava de colocar o último prato na pia e parecia fazer o mesmo que eu quando encarou a sala sorrindo e encontrou-me do lado contrário ao seu.
- Vem cá enquanto tá todo mundo ocupado. – falei quando ela se aproximou, a puxando pro chão em direção ao meu colo.
- Faltam cinco minutos, . – ela disse, olhando no relógio.
- Não é como se a gente tivesse fazendo contagem regressiva na London Eye, . Por sinal, quer fazer uma revisão do seu ano como fizemos naquela vez? – entrelacei nossas mãos e ela se encostou em meu peito, parecendo pensativa.
- Foi um bom ano. As coisas na nova farmácia foram bem, assim como na primeira, a Belle conseguiu o trabalho no estádio da forma que queria, meus pais estão muito bem... É, acho que é isso. – ela fingia pensar e eu ri, rolando os olhos.
- É, eu ‘tô bem no Chelsea novamente, parece que consegui ficar ao menos seis meses sem me machucar e vou poder encerrar minha carreira muito bem, deixando algo de bom pro time. Minha família está tão bem quanto a sua como podemos ver. Ah, e tem também a Belle. Ver a Belle indo bem no estádio está me fazendo muito feliz, espero que ela continue assim. – sorri e olhei para cima, fingindo estar distraído pensando em mais coisas. – Bom, talvez ter encontrado a pessoa que ficou no fundo dos meus pensamentos durante dez anos tenha feito algo de bom para esse ano.
- É, talvez? – ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Foi bom para você? – perguntei e juntei nossos lábios em um rápido selinho.
- Foi a melhor parte do meu ano, . Eu ‘tô tão feliz que eu não consigo parar de agradecer esse ano, e agradecer por esse momento incrível que estamos. Olhando tudo aqui, eu me sinto tão feliz que não consigo me expressar. Eu ‘tô tão feliz que não estão nos encarando, porque eu devo estar com uma expressão tão boba. – ela manteve seu rosto próximo ao meu e segurou minhas bochechas entre suas mãos.
- Agora eu tenho uma pergunta mais importante, o que você espera pro próximo ano? – olhei no relógio e vi que ainda tínhamos dois minutos até a meia-noite.
- Só eu tenho que responder? – ela questionou.
- Vai, responde logo e depois eu respondo também.
- Não sei, , eu só espero que isso continue. – ela falou rindo ao se lembrar que fora isso que falei no ano que nos conhecemos e passamos essa data juntos. – Mas dessa vez de verdade, sem o drama de mais anos separados.
- Nem brinca com isso. – a beijei novamente e ela desceu suas mãos para minha cintura, me abraçando.
- E você? – ela perguntou, olhando o relógio e se distanciando um pouco, de meu corpo, provavelmente ansiosa pela meia-noite.
- Eu quero muito que isso continue, . Mas eu quero que isso continue de verdade, sabe? Com felizes para sempre e tudo, com o passo certo. E por isso... – pendi meu corpo para o lado e estendi minha mão para alcançar a caixinha que ficara ali desde que eu havia me sentado no chão. – Eu queria saber, se a senhorita quer se casar comigo. – falei da forma mais natural que conseguia e olhei no relógio novamente e vi que havia acabado de virar o ano, sorri com a assertividade do momento, da forma como queria que fosse. Abri a caixinha e deixei com que ela encarasse o anel prateado que brilhava em minha mão, sua pedra simples, mas talvez um pouco maior do que ela esperaria. A vi respirar fundo enquanto dividia seu olhar entre o anel e meus olhos. – Fala alguma coisa, . – suspirei pesadamente, ansioso por sua resposta.
- , meu Deus. Me desculpa, eu ‘tô... – ela não sabia o que falar e eu sabia que aquela reação era completamente normal, considerando que eu estava a pegando de surpresa. – Eu ouvi certo? Nós nem falamos sobre estarmos namorando, , você realmente pediu o que eu ouvi você pedindo?
- Sim, . – falei rindo. – Eu acabei de te pedir em casamento, eu quero casar com você, dividir o resto das nossas vidas dessa forma. Casados no papel, dividir o mesmo sobrenome, termos a nossa casa, passar todos os dias juntos, não ter que me despedir ao final de cada dia que te vejo, acompanhar sua rotina, criar a nossa rotina. Agora só preciso saber se você quer. – perguntei novamente, vendo-a suspirar e seus olhos marejarem, uma reação que eu confesso que não esperava. Ela então assentiu com a cabeça e deixou com que suas poucas lágrimas caíssem, molhando minha camisa ao encostar-se em meu peito para um abraço desajeitado com uma respiração descompassada. – Eu te amo tanto, feliz ano novo, . – beijei seus cabelos e tirei o anel da caixinha, colocando em seu dedo enquanto suas mãos tremiam.
- Eu amo você, . Eu te diria sim um milhão de vezes. Feliz ano novo. – ela colocou as mãos em minhas bochechas novamente e selou nos lábios em um beijo um pouco mais longo dessa vez. Quando nos separamos passei a mão em seu rosto, limpando as últimas lágrimas que estavam ali e admirando o sorriso que via em seus lábios enquanto ela me olhava. Ela havia dito sim, e eu não poderia evitar em dizer que era o homem mais feliz do mundo, por mais clichê que fosse.
- Eu acho que lembraram da nossa existência. – falei, vendo Bells e Tom vindo em nossa direção enquanto todos os outros se abraçavam.
- Feliz ano novo! – ela gritou, enquanto nos levantávamos para abraçá-la. – Aí, meu Deus! – ela encarou o anel no dedo da mãe e começou a pular enquanto ria. – , eu não acredito que você já fez, eu te odeio. – ela me abraçou, ainda pulando.
- Você sabia disso? – perguntou e Bells assentiu, apontando para Tom para dizer que ele também.
- decidiu isso quando foi nos buscar. – Tom falou e ela se virou para mim novamente, sorrindo e negando com a cabeça.
- Você é inacreditável, . – ela passou os braços por minha cintura, me abraçando novamente. Todos pareciam já ter se cumprimentado e agora vinham em nossa direção, então aproveitei que parecia um bom momento para fazer o que eu fazia de melhor, ser um idiota completamente apaixonado.
- Antes de qualquer abraço, e desejo de feliz ano novo. – subi no sofá e fiz com que todos parassem de andar quando gritei, fazendo todos rirem. – Vocês precisam saber que agora estarão abraçando minha futura esposa. – vi algumas mãos serem levadas a boca em sinal de surpresa. – É só isso mesmo, eu precisava dizer em voz alta para acreditar. – desci do sofá e encarei uma completamente vermelha e todos em volta surpresos, mas agora com grandes sorrisos nos rostos. Abracei minha noiva mais uma vez e juntos recebemos os diversos desejos de feliz ano novo que eram misturados aos parabéns.



Epílogo

- Eu te vejo mais tarde? – perguntou para mulher ao abrir a porta em direção a rua.
- Acho que sim, dá para te encaixar nos meus planos.
- Te espero no altar então, tudo bem?
- Tudo bem, caso tenha dificuldade para me achar, estarei de vestido branco. Vou pedir pro meu pai me levar. – ela piscou para o noivo e ele riu, voltando para dentro da casa e beijando-a apaixonadamente antes de sair de vez carregando seu terno nos ombros.

- Mãe, você tá tão linda. – a garota encarou a mais velha através do espelho e lhe deu um sorriso.
- Eu me sinto bem. – ela sorriu em resposta e encarou seu cabelo que tinha grande parte solta e sua maquiagem, que era leve, mas marcante em seu batom vermelho.
- Preparada para colocar a parte mais importante? – Isabelle perguntou, apontando para o vestido que permanecia guardado no canto da sala.
- Muito preparada. – ela caminhava para pegá-lo quando quase foi acertada pela porta que se abria.
- Thea, oi! – a mulher riu, cumprimentando sua madrinha que estava pronta em seu vestido roxo.
- Achei que já estivesse vestida, . Vou te ajudar. – ela reclamou. – Mas antes... Eu não sei como foi seu casamento anterior, mas eu e minha mãe levamos muito a sério a tradição. – ela levantou a caixinha que segurava e semicerrou os olhos, demonstrando confusão. – “Something old, something new. Something borrowed, something blue and a sixpence in her shoe.”* Para dar sorte no casamento, sabe? – a mulher assentiu, se lembrando da tradição que vira em diversos filmes e pegando a caixa que Thea a entregava.
“Algo velho, essa é uma pulseira que minha mãe tem desde mais nova, imaginei que você usaria essa que está em seu braço e a dela combinaria para que você usasse. Não adianta recusar, você não pode, mas cuide bem dela. Algo novo, você tem diversas coisas, então tudo certo. Algo emprestado, tem que ser de uma noiva feliz. Essa é uma das presilhas que usei em meu casamento, espero que você goste, vai combinar também, substitua essa que está usando. Algo azul, tenho esse laço, amarre onde desejar, mas use. E os sixpence que acompanha a fita adesiva para colarmos em seu sapato.”
- Thea, meu Deus, é muita coisa. – falou rindo.
- Eu sei, vai se arrumando que eu vou colar a moeda e eu e Bells te ajudamos em tudo. Já aviso que é um saco andar com esse pedaço de metal no sapato.
- Tudo bem. – a mulher tentou novamente andar até o vestido, mas mais uma vez foi interrompida pela porta, que dessa vez recebia leves batidas. Ela então abriu e se surpreendeu com a imagem de ali, a encarando.
- , eu não acredito. Ainda bem que não estou vestida, senão sua irmã cancelaria o casamento por medo de dar errado.
- Eu não aguento mais esperar, eu só queria te ver. Você está linda, noiva. – ele sorriu e se aproximou da leve abertura da porta para dar um rápido beijo na mulher.
- Você também está incrível, noivo. Agora some daqui. – ela bateu a porta e correu até o vestido, pegando-o e se preparando para vesti-lo. Não era sua primeira vez naquela posição, mas ela sentia como se fosse.

respirou fundo quando ouviu a marcha nupcial soar ali e imaginou que todos se preparavam para sua entrada. Ela tentou controlar suas emoções e apertou sua mão no braço de seu pai, vendo-o sorrir, também nervoso.
- Você não deseja mesmo fugir? – ele perguntou, brincando com a filha.
- De forma alguma, pai. – ele sorriu e assentiu, vendo a mulher ao seu lado que era tão segura, ansiosa de todas as formas possíveis. Ele podia sentir suas pernas tremendo por baixo daquele vestido.
A porta se abriu e eles encararam tudo em sua frente em questão de segundos. A decoração do local, as pessoas que esperavam, as madrinhas e padrinhos ao lado do noivo, Isabelle que estava extremamente linda e entrara pouco antes deles e estava sentada na primeira fileira com o namorado, e claro, o noivo ansioso que parecia tremer ainda mais que ela.
respirou fundo e se preparou para dar o primeiro passo para dentro de sua nova vida quando percebeu algo que ali, considerava bobo, mas sentia ser importante e que se lembraria sempre como sua decisão. Ela se arrependeria se não fizesse o que acabara de notar, então surpreendendo a todos, a mulher se abaixou e puxou levemente seu vestido, desamarrando o laço azul dado por Thea que estava em seu tornozelo. Ela largou-o no chão e imaginou o desespero de sua cunhada com aquela decisão que ia contra o desejo de fidelidade que significava o azul na tradição.
A mulher percebeu que seu “algo azul” já estava presente em seu casamento, não era nada para utilizar, não era um adereço ou qualquer objeto supérfluo. Olhando para seu noivo que a esperava ali, o que por si só já significava fidelidade para sua vida como a tradição indicava, ela se lembrou que o conhecera inicialmente apenas como um jogador de futebol do Chelsea. Ela se lembrou de como entrou também para o time junto a ele quando namoraram, e de como cada um daquela equipe estivera presente ao seu lado como estavam agora a encarando em meio àquela multidão de olhos. Seu “algo azul” sempre esteve ali, todos que fizeram parte daquela história faziam parte do que no início era só um jogador dos Blues que Bells reconhecera no primeiro dia que eles se encontraram. era seu “algo azul” e nenhuma fita boba poderia tomar aquele papel dele.

* “Something old, something new. Something borrowed, something blue and a sixpence in her shoe.” –
Algo velho, algo novo. Algo emprestado, algo azul e sixpence (moeda britânica) em seu sapato.





Fim.



Nota da autora: Meu Deus, aqui encerro 01 ano e meio da minha vida! Parece pouco tempo, e eu sinto que passou rápido demais, mas foram tantos sentimentos por essa história nesse tempo que eu só quero chorar. Eu espero muito que vocês tenham amado tudo isso como eu amei, toda essa viagem pela história desses pp's e essa criança (agora adolescente) maravilhosa que agora seguem seu final de "felizes para sempre". Final esse que eu realmente amei, pois esses pps mereciam demais algo com tanto sentimento quanto, algo que mostrasse a grandiosidade do sentimento deles e tudo que aconteceu 💙 Nesse 01 ano e meio rolaram tantas coisas e vocês estiveram aqui comigo, então quero muito agradecer a cada pessoinha linda que passou por aqui e deixou comentários, algumas apareceram lá no começo e vieram até o final, outras chegaram no começo e desapareceram, outras chegaram no começo, desapareceram e voltaram, e ainda temos as que chegaram no finalzinho, mas estiveram aqui em cada momento até o fim! Quero muito agradecer alguns nomes constantes, como a Jessica, Hannah, Ingrid, Mel, Mariana B., Anmi, Lais, Vih, Gislene, Alexia, Kézia, Tris, Andressa, Ewok, "hey", Ana R. e a Raiane (que por conta de uma brincadeira deu até a inspiração pra um capítulo indicando uma música no grupo do FFOBS), vocês fizeram dessa história o que ela é, vocês não me deixaram desistir em qualquer bloqueio ou qualquer adversidade, pois eu sempre lembrava dos comentários de vocês, sempre aqui comigo. Muito obrigada de coração a cada leitora, eu nunca vou esquecer dos seus comentários maravilhosos que iluminavam meus dias. Espero ver muitos comentários aqui embaixo, pra poder agradecer a cada um que deu um pouquinho do seu tempo pra acompanhar a história, mesmo que nunca tenha aparecido por aqui antes 💙
Quero agradecer também a Flávia, minha capista que me suporta com todos os pedidos, quem fez a capa, aesthetic e divisões da fic (sou chata de mais). Além de capista, é uma das minhas melhores amigas, a que me ajudou em vários momentos pra desenrolar a história, e quem lá no começo me deu o maior apoio. Inclusive quando dei o nome da história de Something Blue, ela falou "você sabe que no final você vai acabar tendo que dar um significado pra esse nome, né?", e desde então fiquei com isso na cabeça e sabia que era esse final que tinha que acontecer. Por mais estranho que seja, não posso deixar de citar: queria agradecer meu namorado por me ver surtar todos os dias com essa história e não desistir de mim hahahahah ele é realmente um dos meus maiores apoiadores e ele lê e vibra com cada acontecimento, como "vou lá te xingar junto com as leitoras, PQ VOCÊ SEPAROU OS DOIS? EU TE ODEIO, NÃO VOU LER MAIS". (ele realmente abandonou por um tempo). Obrigada por ser o melhor e sempre me apoiar e incentivar a escrever.
E por último, um dos motivos de eu ter adiado tanto enviar essa N/A com o capítulo pra ela, porque sei que vou chorar: minha beta e também uma das minhas melhores amigas! A Nat com certeza foi a pessoa que mais me ajudou durante todo esse tempo, não só na betagem, mas me apoiando a cada capítulo, sendo no whatsapp ou com cada notinha no site. Ela me viu surtar por estar com bloqueio, ela me deu ideias, ela surtou comigo por eu não ter ideia de como seguir, ela ouviu cada ideia estranha que graças a Deus não entrou na fic hahahahaha Eu não sei como ela não desistiu de mim ou não me mandou pro inferno em nenhum momento! Ela foi mais do que uma beta, sem dúvida nenhuma, e eu só tenho a agradecer por essa companhia durante esse tempo que só nos aproximou. Você é a melhor, e eu não tenho palavras pra te agradecer! Você aguentou esse 01 ano e meio firme comigo, e eu espero te ter aqui em qualquer outra long que venha no caminho, Something Blue não seria a mesma sem você, muito obrigada, de coração!
E agora vou parar de chorar nessa N/A que já está do tamanho do epílogo e vou ficar aqui aguardando o comentáriozinho de vocês, espero muito mesmo que vocês tenham gostado e quero muito ver vocês novamente, seja em outra long ou nos meus ficstapes perdidos na vida. Entrem no grupo do face, por lá sempre vou atualizar se tenho algo novo, ou podem ler as que já tenho no site, todas tão fofinhas e clichês quanto SB hahaha Muito obrigada por cada momento e por cada uma de vocês estarem aqui, eu amei toda essa experiência e espero que vocês tenham amado fazer parte dela. Um beijo e até a próxima 💙
Ah, quando sentirem saudade, não deixem de ouvir a playlist no Spotify, eu mesma fico ouvindo pra lembrar de tudo hahahah 💙







Shorts

04. She Will Be Loved
14. Maneira Errada (continuação de She Will Be Loved)
I Do (continuação de She Will Be Loved e Maneira Errada)
Mixtape: Uma Criança Com Seu Olhar
01. Dancing Queen
07. Fall
07. You're My Favorite Song
08. Two Worlds Collide
09. Baby


Nota da beta: Primeiramente, eu achei a coisa mais maravilhosa esse capítulo, o pedido a lá , todo desajeitado e decidido em cima da hora, ficou tão ele hahah. Eu já tinha achado tudo muito estranho quando ele já estava praticamente no carro e subiu para dar um beijo nela, mas era só para pegar o anel dela. E o pedido? Ahhh, foi emocionante porque casou e muito com toda a coisa de virada do ano, e foi lindo, lindo e lindo!
Meu Deus, e o lance todo com o nome da fanfic e a explicação final? Meu, realmente não poderia ter tido uma explicação melhor, você arrasou na ideia, ela toda rebelde desamarrando o laço, aaaa meu coração! Você sempre arrasa!
Você me deixou sem palavras com o agradecimento, sério, não precisava agradecer, betar Something Blue foi incrível, acompanhar todo o crescimento dela, surtar contigo no whats, te ajudar nos momentos de desespero, só fortaleceu a nossa amizade. Eu que agradeço por ter me escolhido como beta desde meados do Mixtape Uma Criança com seu Olhar (inclusive leiam, meninas), quem diria que seríamos amigas? Amo você, e betaria tudo o que você quiser, porque você escreve maravilhosamente bem! 😍😍

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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